Pregação no Contexto Africano Como Pregamos

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Pregação no Contexto Africano Como Pregamos
Pregação no Contexto Africano Como Pregamos Por Bispo Eben Kanukayi Nhiwatiwa Africa Ministry Series
Africa Ministry Series
Pregação no Contexto Africano: Como Pregamos
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Composição:
Primeira impressão: 2012
Library Of Congress Catalo ging-In-Publication Data
ISBN 978-0-88177-611-9
Impresso pela??????.
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Conteúdos
Prefácio
Agradecimentos
Capítulo 1: Preparação para Pregar
A Situação do Pregador Africano
Visões Gerais sobre a Preparação para Pregar
Passos Cruciais na Preparação para Pregar
Oração
A idéia do Sermão
Exegese do Texto para a Pregação
O Esboço do Sermão
“Faça Tudo o que Estiver ao seu Alcance”
Capítulo 2: O que você Prega? A Mensagem
A mensagem Pregada e a Congregação
Elementos da Mensagem Pregada para África
Prega uma Mensagem Bíblica e Teológica
A Mensagem para Ocasiões Diferentes
Sacramentos e Acontecimentos Relacionados ao Leccionário
Casamentos
Funerais
Capítulo 3: Como Você Prega? Um Repertório de Habilidades
Uso da Linguagem Inclusiva
Uso de Provérbios
Imaginação na Pregação
A Linguagem da Pregação
Pregação como Conto de Histórias
Uso da Canção
Ilustrações
Introdução ao Sermão
Conclusão do Sermão
Um Conjunto de Habilidades
A. Pregar Sem Anotações
B. Contacto olho a olho
C. Voz
D. Comunicação Directa ou Indirecta
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E. Gestos
F. Maneirismos
G. Humor
Plágio
Dinâmica Congregacional
Capítulo 4: A Pregação Pode Ser Ensinada?
Princípios de Ensino
A Perspectiva Principal
Abordagens no Ensino/Aprendizagem: Tópicos Seleccionados
A. Pregação Contextual
B. O que é Pregação?
C. O Retrato do Pregador
D. Preparação para Pregar
E. O que Pregar?
F. Como Pregar?
G. Análise do Sermão
Auto-Avaliação
Educação Continuada
Capítulo 5: Resumo
Notas
Bibliografia
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Prefácio
Este livro é um dos dois volumes sobre a Pregação no Contexto Africano. No
volume um, exploro Porquê pregamos e os princípios da pregação contextual
em África. Neste segundo volume, exploro Como Nós pregamos e a prática da
pregação contextual em África. Os dois volumes andam de mãos dadas; os
princípios precisam de uma boa prática para se tornarem uma pregação
contextual, e a nossa prática necessita de princípios para garantir a integridade.
Os dois volumes juntos têm a intenção de resolver a escassez de literatura
sobre a pregação de um ponto de vista Africano que vi, ainda na Faculdade de
Teologia na Universidade de África.
Há necessidade premente na educação teológica de se ensinar e estudar todas
as disciplinas contextualmente. Senti a necessidade para um texto de pregação
que reúne informações a partir da literatura existente e textos para o Pregador
africano. As discussões com os estudantes de todos os cantos de África
ajudaram-me a contextualizar a pregação. É presunçoso escrever um livro na
pregação que faz justiça às experiências divergentes em África. Mas
experiências compartilhadas podem ser adaptadas e aplicadas a contextos
particulares.
Pregação contextual serve como a forma mais adequada de comunicar o
evangelho em África: ela pode se conectar com as pessoas e envolver as
mentes das pessoas de forma eficaz. Compete aos Teólogos africanos pregar o
evangelho de formas que reconheçam modos culturais africanos de
comunicação. Pregadores africanos não estão alheios à necessidade da
sensibilidade cultural. O uso das línguas nacionais nas igrejas africanas é em si
um marco no processo de contextualização.
Reacções congregacionais com o ulular ou canções acompanhadas por
tambores, chocalhos, e dança, são sinais positivos de um povo a cultuar em
contexto. O que ainda falta aos pregadores é a intencionalidade relativamente a
pregação contextual. Esta observação é ainda mais confirmada através de
experiências que tenho quando viajo como Bispo residente da Área Episcopal do
Zimbábue. Meu objectivo neste livro é prover aos pastores e pregadores leigos,
com práticas que os ajudarão a serem mais sensíveis as nuances culturais
Africanas.
Finalmente, este livro é tanto para pregadores experientes como principiantes,
incluindo estudantes nos seminários, escolas Bíblicas e universidades.
A pregação é um aspecto urgente do ministério que pode abrir novos horizontes
e dar nova perspectiva para o futuro. A pregação cristã é sustentada pela crença
na ressurreição de Jesus Cristo.
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Agradecimentos
Primeiro, gostaria de agradecer a Universidade de África por me conceder a
licença sabática para estudo. Ainda, uma palavra especial de apreço vai para os
Professores Edward P. Wimberly e Anne Streaty Wimberly por facilitarem a
estadia de um mês da minha família no Interdenominational Theological Center,
Atlanta, Georgia, EUA, e por organizarem para mim o uso da livraria da
Universidade Clark Atlanta. A todos os pregadores cujos sermões encontraram o
seu caminho neste estudo, agradeço. Além disso, uma palavra de
agradecimento vai para a Sra. Redempter Gambinga, a dactilógrafa que
sustentou o meu manuscrito original no computador nos Serviços de digitação
Ocasia em Mutare, pela sua paciência e diligência. Expressão de gratidão ainda
para a Sra. Patience Gwaradzimba, a minha secretária no escritório do Bispo,
por classificar o material do livro para reescrever conforme o exigido pelo editor.
Minha esposa, Greater Tarememredzwa, e filha Nyasha que não me
perturbaram por longas horas enquanto eu trabalhava no livro. Agradeço-lhes
pela sua paciência e encorajamento. A todos os estudantes actuais e antigos na
minha turma de Homilética, sou grato pelas discussões e opiniões divergentes
que nós compartilhamos, cujos frutos encontraram seu caminho neste livro.
Agradeço e dedico ainda este livro, ao meu primeiro professor de Homilética, o
recentemente falecido Reverendo Dr. Maurice Culver, e ao meu recentemente
falecido pastor da Missão do Old Mutare, o Reverendo David Mudzengerere,
que me encorajaram a juntar-me ao ministério ordenado. O Reverendo
Mudzengerere instou-me: "Nhiwatiwa, kana uchiparidza usazotamba nevanhu",
traduzido literalmente, "Nhiwatiwa, quando pregares nunca brinques com as
pessoas."
Finalmente, permitam-me agradecer uma equipe de colegas de trabalho que
mais tarde envolveu-se neste livro, como que pela providência divina.
Reverendo Steve Bryant e Sra. Kara Lassen Oliver da Junta Geral do
Discipulado da Igreja Metodista Unida trabalham com as Conferências Centrais
em África para produzir material de ensino devocional e teológico para a Igreja e
seminários. Foi durante tais processos e discussão que Steve acabou sabendo
do meu manuscrito e ficou interessado. Com uma visão instantânea, Kara
sugeriu que o manuscrito pudesse ser dividido em dois livros: a primeira parte se
focalizando na teoria da pregação e a segunda no seu lado prático. Sem o seu
apoio este trabalho estaria ainda em forma de um manuscrito. Digo obrigado a
Junta Geral do Discipulado por ver algo de substância nestes livros como
valendo a pena publicar sob seus auspícios.
Finalmente, para Kathleen Stephens, minha editora para os livros, por colocar
um toque refinado ao manuscrito e, assim, moldar o material em livros de leitura,
digo obrigado. Na verdade, é minha esperança para sempre levar a sério a
pregação, como o Reverendo Mudzengerere me incentivou. Que este livro
inspire mais pregadores na sua proclamação do evangelho.E. K. N.
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Capítulo 1
Preparação para Pregar
Antes de descolar, os tripulantes do avião explicam aos passageiros as medidas
a tomar em caso de emergência. Estas eventuais emergências são geralmente
maiores, tal como a falta de pressão na cabine, o que significa que não haverá
oxigênio na aterragem de emergência. Não há menção do acidente, embora é o
que está implícito. Numa aeronave o capitão aconselhou-nos a ouvir as
instruções "no caso pouco provável haveria um problema." A quastão é que
apesar dos avanços tecnológicos, inspecções detalhadas por técnicos
qualificados e preparativos detalhados antes de um vôo, não se pode descartar
a possibilidade de um desastre.
Da mesma forma, preparação para pregar não é garantia de que o sermão não
vai espatifar-se. A diferença na analogia é que os passageiros do avião são
instruídos sobre que precauções tomar. Mas ninguém informa a pobre
congregação do que prestar atenção num sermão, para que ela possa sair do
templo para sua própria segurança! Nós, entretanto, exortamos os pregadores a
tomarem a sério as etapas na preparação de sermões, se por nenhum outro
motivo que aqueles desastres poderem ser atenuados, e acima de tudo estarem
mais prontos para a elevação do Espírito em comunicar a mensagem de Deus
às pessoas com poder.
A Situação do Pregador Africano
Na linguagem empresarial moderna, fala-se sobre as condições de trabalho,
uma expressão que significa normas, códigos de conduta, e os benefícios
devidos ao funcionário.
O que não é geralmente considerado nas condições de trabalho é o ambiente
geral no qual cada funcionário se irá encontrar.
Todo o ambiente afecta o desempenho e a produtividade dos funcionários do
que aquele do local imediato. O ambiente no qual o pregador Africano opera
deve ser examinado com o objectivo de determinar alguns factores
constrangedores que possam afectar negativamente a proferição dos sermões.
Pregação exige preparação minuciosa que envolve todo o ser do pregador. É
difícil, um trabalho que consome tempo para ministrar no seu melhor. Há, no
entanto, factores que dificultam o pregador Africano de prestar atenção à
preparação dos sermões. O hábito e tradição desempenham um papel nisto. Os
africanos são geralmente oradores de improviso. Esta convicção segura de si
pode levar a pregar sem preparação.
Falar de improviso é uma capacidade e habilidade que pode melhorar a
proferição oral de alguém, mas quando passa por pouca preparação dificulta a
capacidade de pregar bem.
Outro factor é que os pregadores Africanos estão geralmente sobrecarregados e
esgotados a maior parte do tempo. Conseqüentemente, eles são geralmente
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privados de tempo adequado para preparar sermões. Pode-se ouvir um pastor
numa função da igreja num Sábado afirmando com surpresa que amanhã é
Domingo e que ele é quem prega. Isso geralmente indica que o pastor não
terminou de preparar o sermão do dia seguinte ou, pior, não começou a
preparação.
Visita pastoral é a norma na igreja Africana, mas a maioria dos pastores
africanos não têm meios de transporte privados. Isto é particularmente difícil
para aqueles nas zonas rurais. Os paroquianos devem ser visitados, assim o
pastor o faz andando de casa em casa em toda a aldeia. Se um membro não
está em casa, o pastor pode ir ao encontro dele na machamba, isso pode ser
cinco ou mais quilómetros de distância. Ao regressar a casa, das visitas aos
membros, o pastor pode ouvir que um membro morreu numa aldeia vizinha,
onde um outro ponto de pregação está situado.
Ser um bom pastor significa que não deve descansar, mas ir estar com a família
enlutada.
Num ambiente de aldeia e em centros de missão, o pastor muitas vezes faz o
papel de chefe da povoação. Viajantes, que geralmente chegam à noite,
precisam de alimento e abrigo, não importa o quão tarde seja. Tudo isso deve
ser feito apesar do cansaço do pastor do dia da caminhada. Pastores urbanos
podem ser relativamente melhores, mas há várias circunstâncias que também
enchem a jornada de trabalho e deixam pouco tempo para preparar um sermão.
Uma outra complicação é a falta de educação e recursos.
Ferramentas de homilia para a elaboração de sermões que estão prontamente
disponíveis no Mundo ocidental, são na maioria dos casos inexistentes para o
pregador Africano.
Muitas vezes, pastores se formam nos Seminários com apenas o livro didáctico
prescrito para cada um dos cursos que eles tiveram. De facto, muitos pastores
estudantes dependem da biblioteca porque os livros são tão caros, se até
estiverem disponíveis.
Isto significa que mesmo um pregador bem treinado pode secar intelectualmente
devido à falta de recursos. Para agravar o problema está o facto de que
a maioria das igrejas africanas estão sendo servidas por pregadores que não
têm muita educação formal.1
Para sobreviverem no púlpito, os pregadores podem cair na tentação de pregar
sermões superficiais. Aqueles abençoados com talento musical podem usar três
quartos do tempo do sermão para cantar e um quarto para a narrativa. Em
alguns casos, o pastor repete o mesmo sermão com mudanças mínimas. Ou, os
pastores podem pregar um outro sermão como se fosse seu próprio sermão.
Falando de pregadores que enfrentam desafios semelhantes na Correia, Chang
Bok Chung disse: "O plágio de material do sermão é um problema sério entre os
muitos pregadores. Como os pastores correanos são pressionados pela sua
agenda pesada, eles preferem copiar sermões de outras pessoas sem aplicar
seu próprio esforço. Portanto, a criatividade e a frescura da mensagem no
púlpito não é muito vivida".2 Com base em alguns sermões que ouvi no
Zimbábue, pode-se dizer o mesmo, que eles não têm a profundidade de
conteúdo e evidência de uma preparação séria para se envolver a mente e o
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coração do ouvinte.
Eu apresento isto na esperança de que o pregador Africano vai abordar a tarefa
de pregar, plenamente consciente dos obstáculos. Um problema cujas
dimensões são claramente compreendidas é um problema meio resolvido. Os
povos africanos enfrentam inúmeros problemas provenientes da falta de
recursos e outras condições prevalecentes, mas eles costumam superá-los pela
sua desenvoltura. Ao discutir os meandros da preparação para pregar com
todas as capacidades implícitas do pregador, minha esperança é que os
pastores serão incentivados a escavar o seu estojo de engenho para preencher
as lacunas.
Visões Gerais sobre a Preparação para Pregar
A secção transversal de idéias sobre o que está envolvido na preparação para
pregar prontamente existe. Há um consenso geral entre os homiléticos de que o
estudo é um elemento importante na preparação dos sermões.3 Seria estudar o
texto em particular, a Bíblia como um todo, ou outros livros. Como já
observamos, a pesquisa como é praticado no Ocidente sobre a preparação para
a pregação, é o elo mais fraco para o pregador Africano. Mas onde a pesquisa é
cuidadosamente considerada durante a preparação de um sermão, maior é a
recompensa.
O conhecimento da congregação pelo pregador é outro elemento importante na
preparação de um sermão. Samuel Proctor chama esta consciência contextual
da congregação "a ecologia do sermão."4 Conhecer a congregação não é uma
tarefa fácil, especialmente para os povos africanos.
Enquanto os africanos falam tanto sobre a vida comunitária, eles podem estar
muito fechados em suas vidas privadas. Leva tempo para o Africano confiar e
se abrir para o outro. O pastor muitas vezes é visto como um estranho que
deveria ser mantido na periferia das preocupações de um membro ou de uma
família. Pastores jovens devem trabalhar muito do que os outros, para ganharem
a confiança dos membros, uma vez que a idade é geralmente equiparada com
sabedoria em matéria de experiência da vida.
Em alguns casos, as tradições culturais podem manter os africanos de se
conhecerem verdadeiramente uns aos outros. Por exemplo, os Manyika, um
grupo étnico encontrado principalmente na parte nordeste do Zimbábue,
tradicionalmente respondem positivamente em conversa com os outros, mesmo
quando a verdade é o contrário. Tal custume pode ser uma barreira para um
pregador que está tentando conhecer as pessoas. Estar ciente de que é difícil
saber o que faz o seu povo arrogar-se, é um elemento importante para conhecêlos.
Na maioria dos casos, é possível conhecer a própria congregação. Por
visitá-los, o pastor obtêm informações sobre os grupos etários, os padrões de
profissão, estratificação social, os interesses gerais da comunidade, e as redes
de relacionamentos na congregação. Congregações africanas têm uma teia de
relações entrelaçadas por totens, famílias alargadas e ligações conjugais. Um
desentendimento com uma pessoa pode afectar relações do pregador com uma
grande parte da congregação por causa das ligações relaccionais. Conhecer a
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congregação também significa o sentido literal de visualizar os rostos dos
membros sentados no templo a ouvirem o seu sermão. Assim que preparares o
sermão com estes rostos em mente, o sermão se torna personalizado para
os indivíduos em questão. É por isso que pregadores hóspedes devem ser
usados apenas ocasionalmente, e não regularmente.
Mais um conceito sobre a preparação de um sermão é que o processo envolve a
moldagem da pessoa após a pregação.
Em Preaching the Story (Pregar a História), Charles Rice, escreve, "aprendi em
todo o processo de preparação do sermão desde a escolha de um texto ou tema
para ouvir o que afirma um determinado texto para a minha situação pastoral
particular, para encontrar uma forma que se encaixa no conteúdo e pregador e
congregação – estou finalmente, a preparar uma pessoa ao invés de um
produto."5 Rice continua, "A palavra encarnada solicita a preparação de todo o
ser, incluindo o corpo, por esta vocação sagrada." Ele continua a dizer:
"Qualquer que seja a forma que tome, sem cuidado, disciplina intencional
nenhum artista consegue, e é tão verdadeiro para o pregador, como o actor ou
bailarino que devemos colocar todo o nosso ser, incluindo nossos corpos para a
tarefa."6
Lembro-me de um colega meu de escola que era um astro no futebol.
Ele manifestou entusiasmo pelo desporto, dizendo-nos que no jogo ele ia deixar
a perna no campo de futebol. Tal expressão indicava como ele coloca todo o seu
ser para o jogo. Da mesma forma, mantenha esse versículo em mente ao
preparar e pregar o seu sermão: "Portanto nós também, pois que estamos
rodeados de uma tão grande nuvem de testemunhas, deixemos todo o
embaraço...e corramos com paciência a carreira que nos está proposta" (Hb
12:1). Assim, sendo aplaudido por essas testemunhas, o pregador coloca tudo
no sermão com a esperança de que não vai falhar. No meu sistema de crenças
africanas de que os mortos estão vivos e participam connosco na vida, embora
de formas misteriosas, vejo pessoas de fé conhecidas por mim que estão
descansando no Senhor como representantes concretos dessa nuvem de
testemunhas vendo meu cumprimento em proclamar a Palavra. Cada pregador
descobre sua própria maneira de evocar um sentimento transcendente na
preparação e proferição de sermões.
Passos Cruciais na Preparação para Pregar
Discutimos alguns aspectos diferentes e opiniões gerais relativas à preparação
da pregação. Existem algumas etapas específicas que cada pregador segue, de
uma maneira ou de outra. O pregador não deve estar surpreendido ao ter uma
visão que melhor se adapta a conclusão de um sermão e que ainda não têm
nenhum sentido no momento em que a ideia do sermão poderia ser
desenvolvida para coincidir com o fim. Isto é para dizer que não existem regras
rígidas na pregação mas os princípios testados que tiveram resultados positivos
ao longo dos tempos. Vamos agora olhar para algumas das etapas que o
pregador passa ao preparar um sermão. A lista não é exaustiva. Através da
experiência e uma vasta leitura o pregador será capaz de aumentar a lista.
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Oração
Os homiléticos sentem-se obrigados a lembrar aos pregadores a iniciarem o
processo de preparar sermões com oração.7 Seria de esperar que cada
pregador percebesse a importância da oração, sem ser lembrado. Existe uma
diferença em saber que é preciso orar e depois não fazê-lo, e não saber que é
preciso orar. Estou disposto a pensar que a maioria dos pregadores que
negligenciam a oração estão plenamente conscientes da sua necessidade de
oração. Talvez separamos Jesus Cristo, a mensagem a ser pregada, de Jesus
Cristo, o médico que deve ser o nosso modelo na pregação. As scrituras
mencionam que Jesus Cristo geralmente iniciava um acontecimento importante
ou actividade com oração.
O seu ministério começou com um período prolongado de se concentrar em
Deus através do jejum (Mt 4:2). Ao escolher os seus discípulos, Jesus Cristo
saiu para o monte para orar e continuou orando a Deus a noite inteira (Lucas
6:12). Nós todos sabemos da vigília no Jardim do Getsêmani, quando Jesus
Cristo se preparou para enfrentar a cruz. Seguindo os passos do Senhor, o
pregador deve ser uma pessoa de oração em todos os momentos, inclusive
quando se prepara para a pregação.
A oração do pregador é uma admissão humilde a Deus de que a tarefa pertence
ao Criador. Através deste tipo de oração, o pregador, ouve e fala com Deus.
Pedimos a Deus que a plenitude da sua Palavra seja revelada em nós. Na
oração, deixamos que Deus conheça os nossos medos, dúvidas, fraquezas,
e pontos fortes, e pedir a Deus para moldar-nos em algo aceitável e completo
para a congregação.
Além disso, a oração é uma fonte de inspiração em assuntos espirituais para
todos aqueles que acreditam. Como um pregador colocou-o, "A preparação
pode trazer um pregador ao púlpito, mas a oração vai trazer o Espírito Santo
naquele lugar."8 Na religião tradicional Africana, a oração precedia muitos
eventos da família e da comunidade. Episódios de caça, plantio e colheita, e
festivais da comunidade são apresentados pela primeira vez a Deus através da
oração.9 O pregador Africano também pode invocar orações como estas quando
se prepara para pregar.
A idéia do Sermão
Mesmo que haja uma lista interminável de tópicos de sermões e temas
disponíveis, os pregadores ainda se esforçam com o que pregam. É um
equívoco pensar que o problema é menos oneroso ao usar o leccionário como
uma fonte. A verdade é que ter um texto já seleccionado não garante que o
pregador terá algo a dizer. Independentemente das dificuldades, identificar
claramente a idéia do sermão é tão importante no desenvolvimento do sermão.
Sem uma clara compreensão do que deve ser pregado, não há sermão. Às
vezes entre homiléticos há muita preocupação sobre os métodos de
comunicação em detrimento da própria mensagem em si. Métodos educados de
comunicar o evangelho com uma mensagem frágil não serão nada mas uma
exibição fabulosa de artifícios.
Onde, então, o pregador encontra idéias para a pregação? A Bíblia é em
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primeiro lugar a fonte para o planeiamento do sermão. A Bíblia contém o grande
sermão inesgotável cujo tema é o plano de Deus para a salvação.
A partir desta fonte, pregadores extraem e desenvolvem idéias para responder
às necessidades específicas das suas congregações. Visto que cada situação
humana está espelhada na Bíblia, é a fonte suprema para os pregadores. Há um
mal-entendido de que a obtenção de uma idéia a partir do leccionário é diferente
de obter temas da Bíblia. O leccionário baseia-se na Bíblia e ajuda tanto o
pregador como a congregação a se concentrarem nos grandes temas
seleccionados da fé cristã.
Outra forma de achar idéias do sermão é começar com os assuntos evidentes
na congregação, a comunidade próxima, ou nação como um todo. Escolher
temas para sermões para além do leccionário tem seus próprios pontos fortes e
fraquezas. Nessa abordagem a responsabilidade de decidir o que a
congregação precisa ouvir cabe muito ao pregador. O pregador tende a escolher
seu tema favorito ou aqueles dos anteriores sermões que foram bem sucedidos.
Isto é mais provável de acontecer quando os pregadores não têm tempo para se
prepararem adequadamente.
Simplificando, as idéias para o desenvolvimento de sermões vêm da vida
diária.10 Para estar atento a essas possibilidades, o pregador pode manter um
bloco de notas para registar alguns acontecimentos para uso futuro como
material do sermão.
O que torna um sermão bom não é que a idéia nunca foi antes ouvida. Ao
contrário, é a capacidade do pregador desenvolver e comunicar idéias comuns
de forma extraordinária. O presidente Sul Africano Thabo Mbeki disse que o
século XXI é o século para a Renascimento Africano. Esta afirmação é
memorável, não porque as palavras são novas, mas porque o padrão em que
essas palavras aparecem juntas criam um pensamento poderoso sobre o
desenvolvimento para o continente Africano. Como Phillips Brooks disse, "O
melhor sermão de qualquer momento é esse melhor período de expressão"...
Portanto, acho que o melhor sermão de um homem é a melhor expressão da
sua vida."11 Estudo, observações, conversas no mercado, boletins noticiosos,
bactérias de idéias de outros pregadores–tudo são fontes vitais para as idéias do
sermão. Como disse Edgar N. Jackson, "sermões não acontecem. Eles
germinam. Eles se enraizam na vida, se ramificam na experiência, e florescem
nessa interacção criativa das mentes que é a relação ideal do pregadorouvinte."12
Na religião tradicional Africana da cultura Shona, as pessoas tinham o privilégio
de introduzir o que eles gostariam de ouvir do oráculo.
Representantes do povo iam para o culto Mwari em Matopos para consultar o
oráculo sobre as questões que consideravam importantes.13 Da mesma forma,
os ouvintes do evangelho precisam ser capazes de consultar com o pregador
sua pesquisa pela voz de Deus sobre determinados assuntos. Às vezes,
membros da igreja indagavam-me sobre o que eu pensava sobre um
determinado assunto. Uma vez, alguns clubes de ganhar dinheiro proliferaram
no Zimbábue, levando às investigações policiais as alegações de que as
pessoas estavam sendo surrupiadas o seu dinheiro suado. Alguns cristãos
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estavam obstinados sobre o problema e precisavam de orientação bíblica e
teológica baseada na fé em Deus. Quando os pregadores estão mudos sobre
tais questões, as pessoas podem ansiar consultar um profeta. Mesmo que a
questão não diz respeito à maioria dos fiéis, essa mensagem particular pode
trazer de volta a única ovelha para se juntar às noventa e nove no aprisco.
A atenção concentrada numa idéia para o sermão não significa necessariamente
que é o que a congregação vai ouvir. É comum para os pregadores ouvirem
comentários positivos sobre aspectos de um sermão que eles não imaginaram
serem as características marcantes para o ouvinte. No Zimbábue a maioria das
denominações organiza as comunidades em secções onde as pessoas
reúnem-se em pequenos grupos familiares. Após a pregação numa secção, as
pessoas são geralmente dadas tempo para reagir ao sermão. Esta é uma
oportunidade rara para o pregador obter comentários dos ouvintes. Eu
geralmente fico impressionado pelas formas multifacetadas em que um sermão
chega aos ouvidos do ouvinte. Parei de dizer às pessoas qual é o foco do
sermão a fim de deixar as suas mentes viajarem o mais livremente possível.
A noção de que um texto tem apenas um ponto precisa de alguma revisão.
Comentários acentuam este ponto num texto bíblico. Um pregador que aborda o
texto determinado para localizar um ponto que será "desligar todas as outras
interpretações possíveis para os seus ouvintes pela insistência de que o seu
propósito é apenas um", como Paul Scott Wilson disse.14
Nós pregadores precisamos de uma idéia para organizar os nossos
pensamentos, mas, ao mesmo tempo devemos ser suficientemente flexíveis
para permitir que as pessoas ouçam a palavra com a qual eles estão
sintonizados com ela. Finalmente porém, a palavra que é recebida pelo ouvinte
não é determinada pelo pregador apenas. Como um pregador disse: "Um
sermão tem muitos ouvidos, mas apenas uma boca."15
Exegese do Texto para a Pregação
Exegese é o processo pelo qual o leitor contemporâneo compreende o texto
bíblico, no contexto do seu mundo bíblico. O esforço é baseado no facto de que
a Bíblia não é um livro, mas livros que foram escritos por diferentes autores,
para leitores diferentes em momentos diferentes. O idioma utilizado reflecte o
mundo socioeconômico, político e histórico desse tempo.
Depois de obter uma idéia para um sermão, assumimos que o pregador irá
então seleccionar o texto, uma vez que as idéias do sermão devem vir de um
texto bíblico.
Ao seleccionar o texto, o pregador deve determinar o início e o fim da perícope
que mantém a essência da história, evento ou episódio de uma forma
significativa. Usando os segmentos do texto de uma maneira que distorce a
história impede o ouvinte de ouvir a Palavra da Bíblia.
Outra suposição que fazemos é que antes da exegese, os pregadores já
reuniram uma grande quantidade de material com base em suas percepções e
material de referência sobre o tema. Então, comentários e outros livros usados
no processo da exegese podem desencorajar o pregador de quaisquer idéias
com que ele se tenha interessado. O pastor Africano depende muito da sua
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imaginação, ao produzir um sermão do texto bíblico, e portanto devia explicar o
texto para um ponto de vista esclarecido.
Na sua análise de sermões pregados por pregadores Chewa do Malawi, Ernst R.
Wendland observou que não havia nenhuma exegese abrangente dos textos.
Ele disse: "Portanto, a questão crucial da ignorância generalizada sobre as
Escrituras e o que elas têm a dizer na sua própria definição contextual (histórico,
sociocultural, geográfica, etc.) não está sendo adequadamente abordado."16
Essa visão de pregadores Africanos tão alheia ao contexto histórico do texto é
nitidamente explicada por Horst Burkle. Burkle diz que para o Africano, o
passado é existencialmente vivido e experienciado no presente. "Não há
verdadeira lacuna que separa o passado do presente"17.
O teólogo e filósofo Africano John S. Mbiti afirma que a noção do tempo do
africano funde-se no passado com o presente. "Mas, tanto para a comunidade
como o indivíduo, o momento mais marcante é o ponto AGORA...", disse Mbiti.18
No entanto, é insuficiente dizer que os pregadores Africanos não procuram as
circunstâncias históricas de um texto apenas porque eles não têm sentido da
história. Pregadores africanos preenchem a lacuna que separa o texto na
história e o presente, usando a sua imaginação. Muitos deles não têm as
habilidades necessárias e ferramentas necessárias para um trabalho completo
de exegese do texto.
O evangelista Shadrack Wame, cujos sermões Wendland pesquisou, não
recebeu treinamento formal em pregação. Deus o escolheu quando ele era um
jardineiro e formou um pregador dele.19 Não diríamos que Wame não fez a
exegese do texto simplesmente porque ele carecia de um senso de história. Em
vez disso, é a falta de formação que priva tais pregadores Africanos de uma
apreciação clara da necessidade de preparação exegética como um elemento
essencial da pregação. Além disso, devemos também lembrar que a exegese
textual não se limita à crítica histórica. Exegese é uma mina homilética que leva
a informação inestimável para o benefício dos ouvintes. Na verdade, a
informação obtida através da exegese pode ajudar o ouvinte a perceber que os
acontecimentos em torno do texto também são contemporâneos para o
presente. Assim, a exegese poderia ajudar a preencher a lacuna que separa o
passado do presente.
Antes de ir além na tentativa de suspiro que o processo exegético implica, uma
olhada em alguns termos pertinentes vai ajudar a trazer alguma luz.
Uma lenda grega diz que havia dois seres que eram mensageiros dos deuses.
Um deles era intérprete, cujo papel era o de interpretar as mensagens dos
deuses para o homem. O outro era Hermes, o mensageiro de pés alados
que carregava as mensagens entre os deuses e humanos.20 Dos seus dois
nomes provêm duas palavras, a interpretação e hermenêutica. A palavra
exegese tem suas raízes no idioma grego em que o prefixo ex significa "de" e
exegeisthai, a partir do qual a exegese aparece, significa "mostrar o sentido de."
Os termos combinam-se para dizer "obter significado de texto. "Hermenêutica
estabelece os princípios e directrizes como uma abordagem teórica que mostra
como obter a mensagem da Bíblia. Os resultados da exegese concluem o
processo hermenêutico.21 Hermenêutica visa ligar o texto bíblico e a vida do
16
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contexto contemporâneo, numa forma relevante. Interpretação hermenêutica é
um processo de descascar os invólucros antigos do texto bíblico e deixá-lo ser
prcebido novamente num determinado cenário contemporâneo e contextual.
Exegese é um passo crucial na preparação de um sermão, mas não é limitado
ao atendimento das necessidades do pregador. Na verdade, os estudiosos que
dão atenção detalhada a exegese não são na maioria dos casos pregadores.
Em vez disso, os pregadores beneficiam-se enormemente a partir dos frutos
desses exegetas. É importante para o pregador estar ciente de que não há
exegese para o exercício acadêmico ter uma visão ampla do texto, e da exegese
para o propósito de comunicar o evangelho. Vamos elaborar e ilustrar esta
distinção mais tarde. Exegese é um exercício de questão dirigida que pode levar
a este princípio: As perguntas mais pertinentes que se fazem quanto mais ele ou
ela entende as dimensões complexas do texto bíblico. As questões podem ser
formuladas para solicitar informação sobre o autor, objectivo da escrita, data de
autoria, o meio sócio-econômico e político do momento, a composição da
audiência, género literário sobre o qual o texto recai, a classificação das formas
de linguagem utilizadas, e muito mais.
Uma ilustração para a situação do Zimbábue que pode ser adaptada para
qualquer contexto com eventos semelhantes ou episódios históricos é
necessária.
Imagine que dois mil anos a partir de hoje alguém se depara com palavras chef
e povo num livro sobre cultura Shona ou Ndebele escrita em 1982. O pregador
provavelmente sentirá que as palavras chef e povo não são parte do vocabulário
das línguas étnicas Ndebele ou Shona. No processo de encontrar seus
significados e como eles entraram na cultura Zimbabueana, o leitor localiza as
palavras na língua Portuguesa e finalmente em Moçambique. Ao ler outros livros
sobre a história do Zimbábue, nosso leitor torna-se ciente de que os
zimbabuanos travaram uma guerra de libertação a partir das bases em
Moçambique, levando à independência em 1980. Um estudo do significado das
palavras em Português mostra que chef significa chefe ou alguém em posição
de liderança e autoridade e povo significa pessoas comuns que olham para os
chefes ou aqueles que têm autoridade para a direcção e liderança. Equipado
com esse significado histórico e acontecimento o leitor está agora mais
informado para entender essa passagem no livro Shona ou Ndebele sobre a
cultura. O leitor fez a exegese da passagem nesse livro. Claro que isto é uma
versão simplificada de um processo complexo, mas este exemplo está próximo
do processo real seguido na exegese.
Quanto à distinção entre exegese para a pregação e aquela feita para satisfazer
a mente inquiridora do estudioso, a exegese para pregação é feita para
satisfazer as suas indagações hermenêuticas sobre o texto e é selectivo na
natureza. Compreender o texto para o propósito da pregação não é apenas uma
tarefa cerebral. O leitor permite o texto induzir algumas emoções nele.22 Mais
uma vez, uma ilustração pode ser útil em diferenciar os dois processos. Quando
lemos a parábola do Filho Pródigo (Lucas 15:11-32), a exegese, nos dirá que
para um judeu, alimentar porcos e os contemplar comendo a mesma comida
como porcos ou suínos era degradante. Lendo que o pai correu ao encontro de
17
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seu filho indica a urgência da situação para os africanos, porque isso não é
esperado de adultos, especialmente na cultura do Zimbábue.
O exegeta pode também aprender que não era invulgar para o pai distribuir sua
herança entre os filhos dele enquanto ainda estivesse vivo. Vamos imaginar que
a exegese fornecesse informações sobre o número de suínos que o filho estava
provavelmente para alimentar, seu peso necessário antes de serem vendidos no
mercado, e todos os tipos de informações mais detalhados. A tarefa para o
pregador é seleccionar apenas as informações que são susceptíveis de ter uma
finalidade directa de comunicar o evangelho. No nosso exemplo, o peso dos
porcos e do número que alguém poderia alimentar é irrelevante para o propósito
da pregação. Mas saber que o pai correu para mostrar a sua ânsia de encontrar
seu filho é válido. Exegese para a pregação levanta a questão da aplicação do
texto à situação contemporânea.
Mais uma palavra sobre a hermenêutica é que não há nenhum significado de um
texto bíblico que deve ser considerado como os télos para todos os tempos e
pessoas em todos os contextos. O estudo bíblico recentemente testemunhou o
surgimento de uma hermenêutica da suspeita como leitura de relação feminista
e exegese da Bíblia. As feministas detectaram com sucesso e esperaram a
visão masculina como a perspectiva de suporte na interpretação bíblica. É nessa
luz que exorto o exegeta Africano abordar o texto com análise motivada por um
sentido de suspeita sobre a natureza e alcance de imagens, sentimentos e
experiências que se tornam o repositório de reservatório de interpretação.
O exegeta Africano deve perguntar sobre o texto, enquanto usa lentes Africanas
e identidade cultural. O Africano não deve tremer na menção de eisegesis, que é
ler seu próprio pensamento no texto, porque toda a pregação tem alguns
elementos de eisegesis se o texto é para falar com as experiências das pessoas.
Embora não apoiando abertamente eisegesis na interpretação do texto, Fred B.
Craddock advertiu contra uma forma de abordagem de camisa de força rígida
para a exegese do texto. Embora o medo de eisegesis deve ser acolhido, deve
também ser entendido que uma clara compreensão da situação existencial
adiciona matéria e textura para o significado do texto.23 "Sensibilidade para as
questões concretas do seu próprio tempo", disse Craddock, "aumenta a
sensibilidade para as questões do texto contribuindo positivamente para a
compreensão da passagem da Escritura"24.
O Esboço do Sermão
Agora que o pregador tem um texto que produziu alguns pensamentos
através da reflexão e da exegese, somado ao que algum material acumulado a
partir de estudo e observação, o próximo passo é o de desenvolver um esquema
que impõe a ordem na informação recolhida em torno da idéia do sermão. O
esboço do sermão é o esqueleto em torno do qual a matéria da mensagem está
ligada. Um esboço ajuda o pregador ver o que vem primeiro, que ilustração deve
ser incluída e em que ponto do sermão, e quanto material deve ser incluído num
subtítulo. Ajuda a determinar a progressão suave e o desenvolvimento das
idéias do sermão proporcionais a cada segmento.
Diferentes tipos de esboços do sermão, foram exaustivamente discutidos
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e exemplificados em fontes acessíveis facilmente e não pretendo repeti-los
aqui.25 Para dar um exemplo, podemos ter uma questão baseada no esboço:
Quem é Jesus Cristo? Por que ele veio? O que poderíamos fazer com ele?
Quais são as conseqüências de não fazer nada com ele? Eu tenho em mente
um sermão baseado na pergunta que Pilatos fez: "Que farei então de Jesus,
chamado Cristo? "(Mt 27:22). Esboços do sermão geralmente se desenvolvem a
partir do próprio texto bíblico, embora haveria flexibilidade para fazer o que é
natural para o propósito do sermão. Os três pontos do esboço do sermão ainda
vivem, mas já não é a norma. O conteúdo e tempo disponível vai influenciar a
natureza de um esboço.
Um ponto a salientar, porém, é que um esboço do sermão que exige meticulosa
atenção do pregador é estranho na tradição de língua oral dos africanos. Todo o
esboço detectável na superfície do discurso do chefe ou do ancião como uma
característica natural desse discurso especial, e não como um resultado de
esforço deliberado. O discurso tradicional Africano era baseado em experiências
vividas e sofridas pela sabedoria cultural através de provérbios, idiomas, e
outras formas de retórica. Um esboço implica que o orador vai se referir a isso
para se manter na pista porque o assunto é relativamente novo.
Com experiências vividas, o discurso é absorvido e se torna parte do ser do
orador e portanto, não há necessidade de um esboço. Além disso, o discurso
africano é principalmente de conversação e não argumentativo.
O objectivo não é ganhar pontos, mas para chegar a um consenso e trazer o
repouso a bordo. Esta retórica de consenso orientado é mais evidente no
tribunal do chefe onde os casos são julgados.26 Numa conversa alguém não se
preocupa com esboços. Além disso, o padrão de fazer discursos é mais ou
menos caracterizado pela uniformidade. O orador Africano normalmente começa
por fazer um esforço consciente para construir afinidade com os ouvintes, e
depois diz o que deve ser dito, sempre verificando se o público ainda está
escutando. Tal padrão familiar significava que não havia necessidade de um
esboço.
Talvez o que M. Bloch descobriu sobre os discursos políticos da Merina de
Madagascar contêm alguns elementos aplicáveis a outros contextos africanos.
Uma oradora Merina começa por expressar quão indigno é falar na tal reunião. A
idéia é ser educado e despresuçoso diante dos outros. Em seguida, o discurso
se desenrola, por se referir aos valores amplamente aceites na comunidade, de
modo que a opinião das pessoas se aglutine num ponto de concordância.
Depois, a ideia pretendida é apresentada formulada nos provérbios adequados
destinados a fortalecer a proposta. Um momento de silêncio se segue, o que
indica que o público aceitou o orador e a mensagem.27 Tal caminho bem
percorrido em discursos não requer um esboço.
Com base no que observei na côrte do chefe na minha aldeia natal no
Gandanzara, outra razão para não precisar de um esboço é que os discursos
tradicionais africanos são curtos e objectivos. Esqueça o discurso moderno
ocidentalizado, que pode durar mais de uma hora. O discurso tradicional
Africano é breve, pois envolve conversação e diálogo para permitir aos ouvintes
darem o seu contributo pelo caminho. O discurso como um longo monólogo não
19
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é comum na cultura tradicional Africana.
Provavelmente mais do que qualquer outra razão para não depender de um
esboço está o facto de que a forma tradicional de comunicação em África é a
oral.
Um esboço para o qual o orador pudesse se referir pressupõe uma cultura de
comunicação escrita. Mesmo na África de hoje, a palavra escrita desempenha
posição secundária para a palavra falada. Quando homiléticos, especialmente
aqueles no Ocidente, incentivam pregadores a pregar sem notas, não é uma
afirmação indirecta da forma tradicional Africana de discurso? No final o que
importa é se o pregador pode dar sentido do material e têm uma ordem
interiorizada para permitir que ele ou ela e os ouvintes sigam da maneira mais
natural possível. Há um provérbio em Shona que diz: "Mbudzi kudya
mufenjekutodzamai" (para uma cabra comer folhas de uma determinada árvore
é que está imitando a sua mãe). Pregadores africanos farão melhor para
aprender com a sua cultura tradicional oral e usarem esboço apenas como
auxiliares subordinados a elaboração do seu sermão e proferição do mesmo.
“Faça Tudo o que Estiver ao seu Alcance”
Quando o sermão está pronto, o próximo passo é planejar a proferição. Há
duas fases de entrega de um sermão – a prática de proferição preliminar e a
efectiva proferição do sermão. A decisão de levar ao púlpito um sermão escrito
completo ou notas escassas ou nenhumas notas é feita nesta fase.
O pregador não deve tomar como certo que todo o trabalho árduo e inspiração
conduzirá a uma proferição suave. Praticar o sermão de antemão será útil na
identificação de potenciais problemas. Não há necessidade de pensar que tal
prática transforma a pregação em execução.
Preparações de pre-proferição não irão adicionar ou subtrair nada da arte da
pregação. Praticar algo com o objectivo de aperfeiçoá-lo não significa que você
acredita menos no que você está fazendo. É melhor ajustar carcterísticas de
distracção ou inúteis antes que esteja no púlpito. Com a passagem do tempo e a
experiência, o pregador pode confortavelmente ignorar esta prática.
Se o pregador for um convidado, é aconselhável que esteja no templo antes da
hora do culto para se familiarizar com a configuração. Várias congregações
africanas não cabem nos seus templos, assim, algumas pessoas se sentam
fora. Chegar cedo dá tempo para avaliar como projectar sua voz para alcançar a
todos. Peça o técnico para configurar e verificar a eficiência do microfone onde
estiver colocado. Se, ocasionalmente, sair do púlpito para alcançar a
congregação (como a maioria dos pregadores Africanos gosta de fazer), então,
verifica para ver se isso é possível.
Como é que um pregador sabe que está preparado? De acordo com Fred B.
Craddock, "Em última análise, a adequação de preparação não é
consistentemente evidenciada sobre quanto papel, se houver, alguém carrega
no púlpito. Antes, a disponibilidade para pregar é demonstrada pela certeza do
tema e objectivo e claro movimento em direcção a meta de alguém com séria
satisfação."28 No mesmo sentido, H. Beecher Hicks indicou que o processo de
retirar o material a partir do estudo para fazer o que se pretendia no púlpito é
20
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uma questão complexa para cada pregador. "O pregador legítimo", disse Hicks,
"vem ao púlpito sem certeza se os ossos podem viver. Ele só pode responder à
pergunta, dizendo: ‘Senhor Deus, Tú sabes’."29 Como na analogia sobre as
precauções de segurança numa aeronave no início deste capítulo, a preparação
para pregar deve ser realizada com a garantia de que é pouco provável que o
Espírito Santo deixará que tudo corra mal.
21
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Capítulo 2
O que você prega? A Mensagem
O mistério a respeito da pregação é que não há nada de intrinsecamente novo
sobre a mensagem e ainda as pessoas continuamente voltam a ouvir essa
mesma mensagem. Para o fiél a esperança é de que nesta mais uma vez, a
mensagem terá um novo significado. Não se pode explicar esta vontade
recorrente de ouvir a mesma mensagem para além do que Jesus Cristo nos
disse: "Está escrito: ‘O homem não vive somente de pão, mas por toda palavra
que procede da boca de Deus’" (Mt 4:4). Esta é a fome da Palavra de Deus que
levou Agostinho a declarar que a sua alma não conseguia descansar até que ele
descansou em Deus.1
Na verdade, a mensagem é a mesma, mas apenas na medida em que Cristo
Jesus, crucificado e ressuscitado dentre os mortos, é pregado. Isto não exclui
a diversidade com que esta mensagem seja comunicada em várias
circunstâncias e contextos. Em alguns casos, a mensagem de Jesus Cristo
assegura e afirma. Em outros casos, a mensagem de Jesus Cristo conforta
aqueles que são oprimidos e lhes promete descanso. Que Jesus Cristo está
encarnado em todo o contexto concebível mantém esta aparente mesma
mensagem, relevante e significativa para todas as pessoas em todos os
momentos. Com Cristo como o centro de tudo isto, a mensagem do evangelho
para a África, todavia, deveria se concentrar em alguns aspectos pertinentes à
situação Africana para que seja significativa. Contextualizar a mensagem
pregada pode ser feito em qualquer parte do mundo onde Jesus Cristo é
pregado.
Reconhecer a necessidade de uma mensagem contextualizada não significa que
marginalizamos as máximas gerais sobre a pregação. Ainda cabe a cada
pregador Africano ter por objectivo a atingir na pregação "todo o desígnio de
Deus."2 Além disso, a mensagem pregada é mais importante em qualquer forma
de comunicação que o método de proferição.3 Ao tomar um caso para a
contextualização do evangelho, os teólogos africanos se concentram no modo
de comunicação em vez de novas formas passíveis de articular o evangelho, e
compatíveis com a cultura africana.4 Os teólogos africanos deviam estender
suas mentes e enfrentarem a necessidade urgente agora, para um evangelho
especialmente moldado e embalado para África. É meu esforço neste capítulo
mostrar a necessidade de uma mensagem contextualizada, não somente os
modos de inculturação da pregação. Este capítulo também lida com outros
aspectos essenciais que fazem parte da mensagem pregada em qualquer
situação.
A Mensagem Pregada e a Congregação
A natureza e o alcance da mensagem dependem da compreensão de uma dada
congregação. Cada congregação dentro da fé Cristã tem as suas etapas e
22
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padrões de desenvolvimento. Há gostos e desgostos, medos e dúvidas, pontos
fortes e fracos que no final influenciam a extensão e profundidade da mensagem
pregada. Ouça São Paulo: "Com leite vos criei, e não com carne, porque ainda
não podíeis, nem tampouco ainda agora podeis" (1 Cor. 3:2). Esta expressão
metafórica pode ser aplicada a qualquer congregação onde as pessoas não
estão a crescer na sua fé. Uma congregação que não tenha levado a sério
"Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus" irá retardar o progresso
para ser alimentada a outra "comida sólida" do evangelho (Mt 3:2). Ao mesmo
tempo, há congregações que imploram o pregador a não agradar os gostos e
interesses de egocentrismo dos ouvintes.5 Em primeiro lugar, o evangelho
levanta Cruz diante da congregação e depois a ressurreição se segue.
Alegria sempre segue a Cruz, cuja presença continuada é uma realidade para
todas as vezes em todos os contextos.6
Uma mensagem preparada para a congregação pode ter diferentes propósitos,
mas acima de tudo, deve trazer conforto e encorajamento.
Como Austin Phelps disse: "Se há uma coisa mais óbvia que a outra no esforço
geral da pregação apostólica, é a preponderância de palavras de encorajamento
sobre as de repreensação e cominação."7 A essência da fé Cristã é uma visão
optimista da vida que infunde o coração humano com esperança.8 No contexto
Africano onde as pessoas vivem com circunstâncias socioeconômicas e políticas
em constante mudança e imprevisíveis, a mensagem do evangelho deve
enfatizar o cuidado pastoral e compaixão. Acredito que toda pregação precisa
ter uma componente pastoral nela. Sem esse elemento, a construção da
comunidade de Deus torna-se difícil. Estou falando da pregação pastoral como
"uma tentativa para atender às necessidades individuais e pessoais das pessoas
por meios de um sermão", como Charles F. Kemp diz.9 Para que cada
mensagem seja significativa deve envolver as preocupações do indivíduo, por
isso, toda a pregação eficaz é pastoral. O pregador Africano é convidado a ver a
congregação com compaixão. Na verdade, "a maneira como o pastor visualiza a
sua congregação," Kemp disse, "determinará em grande medida suas próprias
atitudes, o conteúdo da sua mensagem, mesmo o seu tom de voz."10
Através de uma mensagem pastoral para África não queremos dizer pé no céu.
Pelo contrário é o evangelho de presença, onde Jesus Cristo promete ficar com
a mulher que foi abandonada pelo marido e deixada sozinha a cuidar de si
mesma e seus filhos. É uma mensagem que conforta um homem cuja família
inteira foi dizimada na guerra civil. Esta mensagem pastoral é também alargada
para aqueles que estão desempregados e cujas perspectivas para o futuro são
sombrias. O Jesus Cristo pregado em África deveria dizer algo esperançoso
sobre estas questões sócio-econômicas complexas e ao desespero que elas
criam.
A mensagem pastoral deve persuadir os ouvintes "para mudar suas vidas
para o melhor."11 Este é um ponto central nobre para um pregador, mas as
instituições Africanas sociais e políticas podem invalidar os esforços que os
indivíduos fazem para tentar viver uma vida melhor. Precisamos de uma
abordagem holística para a mensagem, que trate a pessoa como um todo, tanto
física quanto espiritualmente. Visto que os Africanos encontram consolo na
23
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melhoria espiritual momentânea através da mensagem, os pregadores não
devem se contentar apenas por esses vôos episódicos espirituais. Nada há de
errado em experienciar emoções no culto, o problema surge quando tais
experiências se tornam a finalidade da mensagem.
África precisa de mensagens que encorajam as pessoas a transformarem o que
eles ouvem em orientações práticas para a vida aqui e no além.
Como um autor o expõe, um sermão não deve ser como dar uma palestra
sobre a medicina para pessoas doentes. O que as pessoas doentes precisam é
o remédio em si.12 Ao invés de apenas divulgar a informação, a mensagem deve
articular a essência de como Deus age em Jesus Cristo.13
Para a congregação Africana a mensagem deve estar cheia de "palavras re,
renovar, renascer, restaurar, reconstruir, reconciliar."14 Como qualquer outro
povo, os Africanos almejam uma mensagem que lhes refaça novamente em face
das forças desintegradoras do mal.
Povos africanos sentem-se sob ameaça de forças reais e imaginárias do mal.
Como Henry H. Mitchell expôs, "Apenas verdades positivas sobre Deus através
de Cristo dão cura e fortalecimento, causando grande alegria e louvor. Quanto
mais as pessoas se alegram sobre a bondade e fidelidade de Deus, quanto mais
estabelecem essa qualidade de alegria ou clima no espaço psíquico de suas
vidas, independentemente do caos exterior"15.
Elementos da Mensagem Pregada para África
Na secção anterior discutimos o tom que a mensagem do púlpito Africano deve
assumir. Nosso objectivo agora é propor o que pregar a mensagem do
evangelho de Jesus Cristo implicaria. Na sua pesquisa ao pregar no Malawi,
Ross descobriu que a mensagem é geralmente abstrata sem foco real sobre as
questões urgentes existenciais da vida. Há pouca atenção na família ou na
sociedade como um todo. Em vez disso, pregação aborda moralidade pessoal.16
É importante pregar sobre moralidade pessoal, mas pregar contra o adultério e a
promiscuidade geral, roubar, ódio, orgulho, embriaguez, o ciúme, a mentira, e
assim por diante não é suficiente.17 A mensagem pregada nas igrejas do
Zimbábue também visa muitas vezes melhorar a moralidade pessoal.
Pregadores podem ganhar terreno quando eles percebem que os pecados
contra os quais eles alertam as pessoas devem ser vistos à luz do meio
socioeconômico e político vigente. É comum ouvir profissionais do sexo no
Zimbábue vangloriando na mídia que é melhor morrer de SIDA do que morrer de
fome. Esta não é uma declaração de se auto-acusação mas uma crítica à
pobreza no Zimbábue que leva as pessoas a tal comportamento suicida. Na sua
maioria esses pecados são um meio de sobrevivência.
A mensagem para a África não pode continuar a ser limitada à ideia de salvação
para o indivíduo, "que é chamado a renunciar a si mesmo, e adoptar certas
atitudes e fugir da influência do seu ambiente enquanto se prepara para ir ao
Céu e esperar o fim desta era"18.
Há uma forte tendência entre os pregadores Africanos e as pessoas a usar o
evangelho como uma fuga das realidades deste mundo. O futuro é visto como o
início do fim do mundo. O mundo como um espaço transitório é destacado.19 "Há
24
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muito interesse no paraíso" como uma entidade espiritual em vez de um
objectivo existencial concreto a alcançar.20 Tal atitude derrotista explica porquê a
África é fértil para o plantio e expansão dos cultos apocalípticos e outras seitas
religiosas com ensinamentos duvidosos. Se a energia de expressão espiritual e
emocional pode ser equilibrada com reflexão realista sobre o que deve ser feito
para melhorar o seu ambiente de maneira concreta e activa, então a
efervescência religiosa em África pode ser para o bem da pessoa como um todo.
Que fundamentos específicos da mensagem pregada para a África podem
equilibrar sentimentalismo com o realismo da vida? Primeiro, a mensagem do
púlpito Africano deve expressar a necessidade para a comunidade. Comunidade
é um conceito bíblico, bem como uma característica brilhante da cultura
tradicional africana. Como o ex-presidente da África do Sul Nelson Mandela
disse uma vez, ele sentiu que expressou o seu primeiro voto não sozinho, mas
com aqueles que partiram antes dele.21 Apesar das pressões trazidas pela
industrialização e urbanização, os africanos devem resistir a um estilo de vida
baseado no individualismo desenfreado. A resposta que Caim deu ao Senhor
depois de assassinar sue irmão Abel, "Não sei: sou eu guardador do meu
irmão?" (Gn 4:9b), não compete ao Africano. É da responsabilidade do pregador
Africano lembrar ao povo que sua força moral reside em ser responsável perante
seus irmãos e irmãs.
Africanos expressam um sentido de presença e existência dentro da
comunidade.
Eles não consideram o tempo de estarem apenas entre si como perdido. Como
um missionário com perspicácia observou, "Africanos apreciam os cultos de
duas a três horas, a sua maneira de relaxar por apenas estar na companhia dos
outros, não esperar por algo, sua demora e as fórmulas educadas de saudação
– todos falam de uma cultura que coloca a realização num lugar secundário à
vida."22 Não faz sentido para o pastor Africano liderar a adoração como um meio
de construir uma comunidade de crentes e ainda abster-se de pregar uma
mensagem orientada para a comunidade. Embora ensinamos em seminários o
valor dos grupos de Koinonia e acordos de convênio, essas práticas emergentes
do Ocidente não têm muito a ensinar aos africanos sobre o significado da vida
comunitária.
A comunidade se desenvolve sobre fluidez de comunicação e quando as
pessoas têm tempo para um ao outro. Algumas das tensões que os africanos
sofrem são resultado da falta de tempo. Os africanos medem o tempo no que diz
respeito a satifação das necessidades humanas mais do que em termos de
estarem ocupados. Eu não acho que Jesus Cristo estava despreocupado a
ponto de não ter uma programação diária.
No entanto, vemos que as expressões de compaixão e cuidado tiveram
precedência sobre tudo o que ele se propôs a fazer. Muitos africanos se atrasam
para encontros marcados porque eles encontram um amigo ou um parente ao
longo do caminho e conversam um pouco fora de cortesia. Eles não se sentem
mal por estarem atrasados. Na verdade, simplesmente passando por essa
pessoa com pressa para chegar a reunião a tempo pode incomodá-lo. Isto não é
para dizer que os africanos de hoje podem ignorar as exigências de tempo. Meu
25
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ponto é que a mensagem pregada deve ajudar os ouvintes africanos a
valorizarem o tempo gasto na companhia de outros como crucial para a defesa
da comunidade.
Participei numa assembléia nos Estados Unidos há vários anos (25 a 26 de
Fevereiro de 2000) sobre "Levantar o Estandarte: Recuperar a Vila" O propósito
da assembléia era "proporcionar um fórum para discutir e criar um plano de
acção que pode resultar em relações favoráveis e úteis entre os jovens,
nas famílias e comunidades."23 Tópicos centrados na família e na vila como
aspectos vitais da vida da comunidade. O tema da assembléia mostra a
consciência emergente entre Afro-americanos para a recuperação das raízes
que compartilham na herança Africana da comunidade. Portanto, compete ao
pregador Africano enaltecer os valores da vida baseados na comunidade. Pregar
com um olho na comunidade, é viver até a esperança da igreja que a mensagem
deveria formar a communidade.24
Outro tema que a pregação Africana deve tratar com cuidado, mas
urgentemente é a superstição. Digo com cuidado porque simplesmente castigar
um sistema de crença sem cuidadosamente ponderar as dimensões do assunto
pode agravar o problema. Através de crenças supersticiosas as pessoas se
expõem a batoteiros e perdem dinheiro e bens no processo. Em alguns casos a
superstição impede o progresso como as pessoas valorizam magia além do
trabalho árduo. Crenças supersticiosas são um obstáculo para o governo,
organizações não-governamentais e a própria igreja nos seus esforços para
reduzir a propagação do HIV e SIDA.
Num antigo assentamento mineiro perto de Bindura no Zimbábue, mortes
causadas por complicações relacionadas à SIDA foram atribuídas à bruxaria.
Um homem de 22 anos de idade culpou os maus espíritos pela sua doença.
Embora sua mãe e a esposa estivessem alegadamente conscientes de que o
seu estado de saúde estava relacionado com a SIDA, eles não contaram ao
jovem. "Minha mulher está doente há cerca de um ano, e antes ela teve dois
abortos. Descobrimos agora um bom curandeiro que é capaz de exorcizar os
maus espíritos importunando-lhes", disse ele.25 Esses curandeiros estão a
aproveitar-se dos pacientes inocentes.
No mesmo jornal assim como o artigo sobre a SIDA, havia um relatório sobre
um agricultor comercial branco que convocou um n'anga para exorcizar sua
comunidade agrícola. O dono da fazenda chamou um curandeiro que
supostamente desenterrou um conjunto de artigos de arrepiar os cabelos:
corujas, cobras, duende maléfico, e partes do corpo humano, incluindo um órgão
sexual masculino. O n'anga disse que os objectos eram usados para causar
doenças misteriosas e morte aos supostos inimigos. "Nós tomamos as medidas
porque tínhamos estado a observar o problema da feitiçaria por muito tempo e
uma vez que eu conheço as pessoas e a sua tradição chamei o n'anga. Espero
que a mudança vai melhorar a moral na fazenda", disse o dono.26
Pregadores africanos devem enfrentar questões que se deixadas crescer terão
impacto negativo no bem-estar da comunidade. A vida comunitária não é
construída sobre fundamentos de suspeitas, de desconfiança um do outro. O
ciúme, a preguiça, e fofocas são alguns dos males que levam à superstição. Ao
26
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mesmo tempo, havia uma crença supersticiosa de que alguém com poderes
mágicos poderia levar as culturas da machamba do outro e transferí-las para a
sua e aumentar a produção. A utilização de diwisi, como a magia é chamada,
supostamente causou aos outros camponeses más colheitas. Esta crença
retardou o desenvolvimento agrícola, porque em vez de melhorar a fertilidade do
solo através da adição de estrume e outros recursos, as pessoas desejavam ter
diwisi. Isto já não é um grande problema com os agricultores africanos.
Este é um exemplo de um problema que os pregadores Africanos devem
enfrentar e abordar. Os males que afectam os africanos são pessoais e se
estendem no tecido social da comunidade. Como Mugambi observou, o
cristianismo pode ter uma mensagem de desenvolvimento e esperança, e ao
mesmo tempo se concentrar numa mensagem pessoal de construir carácter e
oferecer saída para aqueles que estão solitários ou presos em problemas
familiares.27 Pregadores africanos precisam abordar uma mensagem própria de
salvação, bem como uma mensagem de redenção abrangente a pessoa como
um todo.
Além disso, a mensagem profética deve ser um elemento chave na pregação
Africana. Uma mensagem profética autêntica e forte atrai a sua inspiração de
uma teologia profética. Escrevendo no contexto do apartheid da África do Sul,
John W. de Gruchy descreveu as distinções entre teologias diferentes no
momento da formulação do Documento Kairos.
A teologia do Estado reforçou o sistema político sócio-econômico do apartheid; a
teologia da igreja estava contra o apartheid, mas praticamente incapaz de
transformar o Estado; e a teologia profética era crítica do apartheid e convidou a
Igreja a testemunhar e envolver o estado numa mudança transformadora.28
Enquanto a teologia nas igrejas africanas é mais frequentemente incapaz de
introduzir resultados transformadores práticos nas vidas das pessoas, sabemos
conforme evidenciado pela igreja na África do Sul que as mensagens de púlpito
nas igrejas africanas podem ser transformadoras.
No seu livro, (Preaching as Weeping, Confession, and Resistance: Radical
Responses to Radical Evil) Pregação como choro, Confissão e Resistência:
Respostas Radicais para o mal radical, Christine M. Smith, identificou três visões
do mundo da pregação: o mundo do texto, o mundo do pregador e da
comunidade onde a pregação tem lugar, e o mundo da sociedade em geral. A
pregação pode facilmente mostrar uma tendência particular relativamente a uma
das visões do mundo à custa dos outros. Smith apontou que a pregação, muitas
vezes se concentra mais no mundo do pregador do que na sociedade em
geral.29
Isso é verdade para o Zimbábue e grande parte de África. Num reavivamento
organizado pelas mulheres da Igreja Metodista Unida, um pregador pregou
sobre os relacionamentos entre sogras e suas noras. O sermão reagiu
justamente aos casos de relações tensas entre ambas. Em vez de abordar a
questão a partir de um contexto social mais amplo, o pregador emitiu afirmações
de aconselhamento exortando as noras a serem amáveis com suas sogras.
Nenhuma atenção era dada à questão de conflito de gerações ou das mudanças
socioeconômicas que têm desenraizado casais jovens de áreas rurais para as
27
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cidades longe de suas famílias.
Embora este sermão tenha abordado o problema, uma mensagem profética
seria reconhecer os problemas de relacionamento e analisar as questões que
afectam essa relação.
Christine Smith prosseguiu explicando que a pregação é figurativamente
sinónimo de choro porque ela é caracterizada por um sentimento profundamente
apaixonado no rosto do sofrimento generalizado no mundo.30 Há muitas lágrimas
nas igrejas africanas, mas a fonte é mais provável autocompaixão e outros
problemas pessoais do que a preocupação com o sofrimento das pessoas na
sociedade em geral. "Pregadores", disse Smith, "estão muitas vezes melhores
ao descreverem um mundo pelo qual esperam do que articularem a verdade
sobre o mundo real."31
A pregação é direccionada para a comunidade dos crentes para capacitá-los
a viverem uma vida caracterizada por "uma identidade distinta no mundo."32 Ou
por outras palavras, "a pregação é feita geralmente na igreja e para a igreja.
A igreja é um conjunto de pessoas que já foram chamadas pela pregação
anterior."33 Mas para a igreja Africana, o desafio é ampliar e alargar a área de
captação para o Mundo. É uma maneira de ver os ouvintes como pessoas
existentes na sociedade em geral. A mensagem da pregação deve tratar a
congregação como pessoas que estão tanto redimidas como se redimindo. Esta
redenção que as pessoas têm experienciado na igreja por meio de Jesus Cristo
é para ser compartilhada com os outros.
As pessoas por si mostram uma consciência do papel da igreja para erguer uma
voz profética. Uma caricatura apareceu no jornal independente no Zimbábue
com o título, "Um Silêncio Ensurdecedor..." Nela, havia três clérigos, um
segurando as orelhas com uma legenda: "Não ouve nenhum mal", uma
segurando a boca com as palavras: "Não fale nenhum mal", e um terceiro
segurando os olhos com as palavras anexas, "Não veja nenhum mal." Na outra
extremidade estava uma cena que retrata a violência entre os partidos políticos
no Zimbábue assim que a nação se preparava para eleições parlamentares
nacionais para o ano 2000.34 Outro jornal independente mais directamente
convidou a Igreja no Zimbábue para falar contra a violência motivada
politicamente, que ameaçava a paz da nação.35
"É o discurso do profeta que deve ser ouvido no púlpito dos libertos", disse G.
Bromley Oxman. "Deve ser declaração da vontade de Deus: Assim diz o
Senhor"36 Do púlpito deve fluir a mensagem de julgamento, justiça, conduta
moral, ao ousar termos específicos. Gardner C. Taylor usou a imagem de um
atalaia para o pregador. O papel de um atalaia é verificar as florestas e colinas e
avisar o povo do avanço inimigo. Porque a vida do atalaia está em risco, há
também um sentido de urgência.37 Quando a igreja falha no seu dever como um
atalaia, o povo sofre nas mãos do saqueador Satanás. Estou assombrado pelo
relato de que, durante o massacre em Ruanda, as pessoas buscaram refúgio
nas igrejas, mas foram seguidas e assassinadas lá. O simbolismo do incidente
mostra uma igreja impotente em África. Para ser claro, a igreja desempenhou
um papel importante para acabar com a guerra civil e trazer a paz em
Moçambique e pressionar o governo do apartheid na África do Sul, mas deve
28
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fazer mais como uma voz profética na África independente.
Ao avaliar o que Martin Luther King, Jr., viu como a mensagem profética num
sermão, Richard Lischer observou que "se o sermão está a promover os tipos de
libertação e do amor que Deus-em-Jesus tem sido conhecido por apadrinhar na
Bíblia e se isso opõe-se aos tipos de injustiça que Deus sempre odiou, então o
sermão é a palavra de Deus e o seu pregador é um profeta genuino."38
Basicamente, uma mensagem profética é verdadeira para os ensinamentos de
Deus revelado através de Jesus Cristo na Bíblia. Em vez de simplesmente se
ocupar "numa profissão de proibições" na sua pregação, os pregadores
africanos devem dizer as pessoas como elas podem viver com criatividade.39 É
através da mensagem profética que as pessoas vão ampliar sua visão sobre a
vida e viver em abundância, como prometido no evangelho.
Finalmente, cabe a cada pregador saber que como Markquart salientou: "As
raízes do ofício da pregação são encontradas nos profetas. Estes homens e
mulheres foram arraigados e alicerçados na palavra e vontade de Deus e eles
falaram a palavra e vontade de Deus para o mundo em que eles viviam. Nós
pregadores precisamos ter a coragem de fazer o mesmo."40
Este é um convite de trombeta para o pregador Africano.
Prega uma Mensagem Bíblica e Teológica
Para tentar responder com profundidade à pergunta sobre o que deve ser
pregado, chamamos a atenção do pregador para a necessidade de pregar uma
mensagem com base bíblica e teológica. Os elementos da mensagem discutidos
nos segmentos de pregação até agora não estão fora do domínio da Bíblia e
teologia. O objectivo aqui é convencer pregadores Africanos da necessidade de
sermões a serem fundamentados na Bíblia e desenvolvidos sobre sólidas
convicções teológicas. A teologia cristã verdadeira encontra lógica para seus
temas e conclusões, fundamentalmente da Bíblia. No entanto, podemos citar os
dois pólos, bíblico e teológico, para enfatizar a sua relação complementar no
desenvolvimento da mensagem pregada.
"Lendo os esboços do sermão", observou Kenneth R. Ross, "deixou-me com a
impressão de que, se não fosse pelas épocas do Natal e da Páscoa, haveria
relativamente pouca ênfase sobre Cristo em si."41
Esta observação sobre a pregação no Malawi não se limita a esse lugar. Em
1999, fui convidado como pregador por um outro circuito e perdi o culto de
Páscoa na nossa igreja. Quando regressei, um colega contou-me como foi
decepcionante ouvir um sermão de Páscoa, onde não havia foco em Jesus
Cristo. O pregador convidado na nossa igreja, aparentemente, não se referiu a
Jesus Cristo de uma forma que satisfizesse o meu amigo. Pregar por todos os
meios deve ser Cristocêntrico na natureza e foco. Centrar a pregação sobre
Jesus Cristo está acima de tudo quando se prega bíblicamente e
teológicamente.
O pregador do evangelho é um teólogo que fica entre uma extensa tradição
estabelecida. Há crenças básicas a respeito de Jesus Cristo, Deus, o significado
da Igreja como uma comunidade reunida de crentes, a natureza da humanidade
na criação de Deus, o pecado e o perdão que devem ser compartilhados a fundo
29
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com a congregação. Como Elizabeth Achtemeier instou, pregadores devem
desenvolver uma teologia cristã que se torna parte do próprio ser e que a
teologia deve orientar e dar conselhos para todos os sermões pregados.42
Para a teologia cumprir sua missão, deve informar a igreja reunida do alcance e
natureza de vários temas-chave. O reino de Deus deve ser um dos temas
centrais da pregação. Jesus Cristo veio pregar o reino de Deus. Hoje em dia, as
denominações que seguem o leccionário deparam com a época do Kingdomtide
(Reino de Deus). Pregadores podem ajudar as congregações a verem o claro
apelo na Oração do Senhor para que o reino de Deus venha sobre a terra. Quais
são as implicações para a pregação que apela à vontade de Deus acontecer na
terra como no céu? Como os Africanos pregam no contexto de fome
devastadora nos países africanos vizinhos? Pregação existencial reconhece o
que acontece na vida das pessoas. O pregador Africano na tradição do profeta
enfrenta continuamente os desafios de pregar o evangelho do reino de Deus.
Outro tema bíblico e teológico importante é o amor de Deus como nos revelou
através de Jesus Cristo. O amor tem muitas dimensões. Uma dimensão é o
amor entre marido e mulher, que é válido e necessário. Mas os pregadores em
África também devem se concentrar no amor sacrificial, um atributo essencial do
amor de Deus. Este amor exige doação e é baseado na graça e não na lei.
Embora a Bíblia narre incidentes em que Jesus Cristo criticou os fariseus e
outros líderes religiosos, grande parte do evangelho é simplesmente o amor
compassivo. O pregador não deve pregar apenas o que as pessoas querem
ouvir. Às vezes elas precisam ser alertadas e advertidas sobre o pecado. Mas
quando tudo o que foi dito: "Não é o propósito da pregação cristã dispersar a
congregação todos os Domingos com nada mais do que uma má consciência.
Somos chamados a ser anunciadores da graça, não parteiras de calamidade."43
Por último, a pregação hoje existe porque Jesus Cristo ressuscitou dentre os
mortos. São Paulo levantou a consciência sobre a centralidade da Ressurreição,
em termos inequívocos. "E, se Cristo não ressuscitou, logo é vã a nossa
pregação, e também é vã a vossa fé" (1 Cor. 15:14), ele afirmou. Todos os
Domingos devem ser comemorados como Domingo da Ressurreição.
"Na verdade, nossa impotência na pregação do evangelho brota da nossa
incapacidade de perceber que a vida cristã é vivida na Quaresma", lamentou
T.D. Niles.44 Pregação sem mensagem da Ressurreição é, sem dúvida
impotente e não pode por sua vez, fortalecer o público. África precisa de uma
mensagem de autorização que deriva o seu conteúdo e inspiração da
Ressurreição de Jesus Cristo.
A Mensagem para Ocasiões Diferentes
Um estudante perguntou-me uma vez, se eu poderia incluir no currículo do curso
que ensinei, informação sobre como pregar em diferentes ocasiões, tais como
casamentos e funerais. Esta é uma preocupação legítima para estudantes de
pregação e muitos pregadores. Eu pretendo dar algumas orientações que
podem ser usadas sempre que uma situação para pregar numa ocasião
específica surge. Então, vamos seleccionar algumas ocasiões específicas para
uma explicação mais detalhada.
30
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Primeiro, cada sermão é para uma ocasião específica no sentido de que cada
ambiente de adoração é única. Segundo, outras ocasiões específicas estão
inerentes ao ano Cristão. Um pregador que segue o leccionário terá ocasiões
mais distintas para pregar. Terceiro, em outras ocasiões especiais na pregação
vêm em reconhecer dias comemorativos, e outros dias que são celebrados pela
comunidade ou pela nação. Por exemplo, isto podia incluir um Domingo
marcando a fundação de uma igreja local ou dia da independência nacional.
Quarto, o pregador pode ser criativo e criar novos dias para sermões
específicos. Igrejas do Zimbábue tem um Domingo especial de colheita em que
as pessoas dão presentes a Deus em acção de graças pelas bênçãos que tem
recebido. Na cultura tradicional Africana, orações e festivais eram oferecidos
durante a época de plantio. Uma igreja local pode ter um Domingo de plantio,
em que sementes variadas poderiam ser trazidas para a igreja para orações
específicas de dedicação. Isto pode ser mais adequado para igrejas rurais e um
sermão para o tal dia poderia ser desenvolvido.
Quinto, sempre que confrontados com a tarefa de pregar numa ocasião especial
o pregador e a congregação precisam entender o significado do evento e como
se relaciona com o culto de adoração. Como Deus fala através de Jesus Cristo a
um povo confrontado com tal acontecimento em suas vidas? Existe alguma
compreensão teológica específica referente ao acontecimento que o pregador
deve entender e fundamentar o sermão nela?
Sexto, um sermão sobre uma ocasião específica deve incidir nesse
acontecimento.
Torná-lo tão específico para que qualquer um saiba o que os fiéis estão
celebrando somente por ouvir o sermão. Sétimo, o pregador cujos sermões são
orientados para ocasiões específicas vai precisar de acesso a textos bíblicos
adequados. Livros de recurso, tais como Nave’s Topical Bible (livro escrito por
Orville James Nave (1841–1917) e outros serão úteis. Na situação Africana o
pregador pode ter de contactar bibliotecas do Seminário e fazer uma viagem
especial para obter tais recursos. Poderia fazer uma colecção de textos bíblicos
numa variedade de tópicos para uso futuro.
Oitavo, o pregador deve alertar a congregação antes sobre o próximo
acontecimento no culto. Se a congregação não está informada nem preparada, o
pregador do sermão não será ouvido e recebido com um sentimento de
expectativa pelos ouvintes. Nono, a maioria das ocasiões especiais exigem que
o pastor regular deve pregar em vez do pregador convidado. Para uma ocasião
onde a preparação focalizada é necessária, o pastor é a melhor escolha para a
tarefa. Décimo, em alguns casos os sermões devem ser breves para dar tempo
as pessoas participarem activamente no evento. Os africanos gostam de fazer
em conjunto, as coisas na comunidade. Os festivais são populares entre as
congregações africanas e, portanto, deve ser alocado tempo adequado para
uma participação activa.
Vamos agora examinar algumas ocasiões especiais para a pregação e
mostrar como as orientações acima são aplicáveis. Na pregação e no trabalho
pastoral como um todo, um pastor se beneficiará de ser criativo e rico.
31
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Sacramentos e Acontecimentos Relacionados ao Leccionário
Denominações têm diferentes interpretações dos sacramentos, mas aqui tenho
em mente o baptismo e a Santa-Ceia. Até mesmo o nome Santa-Ceia não é
comumente usado por todas as denominações. Apelo para que o pastor esteja
bem informado sobre o ensino da Igreja universal e o que é válido para uma
denominação particular. Outras denominações celebram a Santa-Ceia todos os
Domingos e em outras ocasiões como casamentos ou funerais. Algumas
denominações celebram a Santa-Ceia nos Domingos específicos num mês ou
mensalmente e assim por diante.
Para as igrejas que celebram a Santa-Ceia apenas ocasionalmente, pode ser
importante concentrar todo o sermão nela.
Minha observação é que celebrar a Santa-Ceia às vezes é feito como um
apêndice do sermão. Às vezes, tudo que o pregador faz, refere-se em passar
para a mesa um sermão que estava totalmente focado em outra coisa. Minha
experiência específica na Igreja Metodista Unida no Zimbábue é que a SantaCeia comemorada na Quinta-feira Santa para a semana Santa é dada realce e
atenção especiais.
Mas todas as celebrações da Santa-Ceia tem suas raízes numa que Jesus
Cristo celebrou como a Última Ceia em Jerusalém na noite em que foi traído.
Quando feito com pleno entendimento de implicações abrangentes do
acontecimento para a vida cristã, a Santa-Ceia é um sermão activo que
ultrapassa qualquer homilia que alguém jamais poderia pregar. Aqui está uma
ocasião em que a congregação participa, recebendo o corpo e o sangue de
Cristo que foi dado a eles. A pregação em si não deve tomar uma posição
predominante, em vez disso deve dar mais tempo para a real celebração do
acontecimento.
Na Igreja Metodista Unida e em outras igrejas, dispersamos as pessoas depois
de receberem a Santa-Ceia com citações das escrituras ou outras palavras
inspiradas. As pessoas ouvem com atenção, porque esta palavra é para este
grupo particular que se ajoelha em frente. Tal prática é abandonada sempre que
o tempo foi gasto no sermão e outras coisas. Há também uma prática de chamar
os indivíduos pelos nomes quando recebem os elementos. Isto pode ser
particularmente significativo. Se o pastor não pode lembrar-se de todo o nome, o
destinatário pode dizer seu primeiro nome para o pastor chamar e, em seguida,
dar a Santa-Ceia. Todas estas sugestões destacam a necessidade de fazer a
Santa-Ceia e não o sermão o foco central para esse culto particular.
O mesmo acontece para o baptismo, outro sacramento fundamental na igreja.
No dia do baptismo a congregação deve tomar especial interesse no evento e
toda a adoração deve ser desenvolvida em torno dele. Isto é de novo diferente
para denominações que baptizam quase todos os Domingos.
Mas para aqueles que definem dias específicos para o baptismo, é importante
que o sermão se baseie no acontecimento.
Tanto o pregador como a congregação devem compreender o significado bíblico
e teológico da Santa-Ceia e o Baptismo. Algumas denominações têm seus
32
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próprios teólogos que ajudam a guiar a igreja na interpretação das questões
teológicas. Quando o pregador está informado, o sermão pode ser construído
sobre uma base teológica sólida. Existem vários temas em que o pregador
poderia se concentrar. Estes incluiriam o significado da Santa-Ceia ou o
Baptismo e como cada um se relaciona com a vida cristã contemporânea. Pode
ser demasiado longo um tópico para um sermão, e pode ser dividido em
unidades de sermões múltiplos. Um sermão sobre o baptismo incidiria sobre o
ensino bíblico do baptismo como morrer com Jesus Cristo ou a união com
Cristo. Na Santa-Ceia poderia se concentrar sobre o impulso sacrificial,
agradecimento e outros temas.
Assumimos que o pregador tem um repertório de textos bíblicos nestes assuntos
e seguiu os passos recomendados ao se preparar para pregar. Pregadores em
algum momento pensam que porque eles têm pregado muitas vezes sobre o
baptismo e a santa-ceia, não há necessidade de exegese.
A verdade é que o baptismo e a Santa-Ceia são comunicados na Bíblia através
de textos carregados de imagens muito distantes da nossa compreensão
contemporânea e experiência.
Às vezes os pregadores não concentram seus sermões sobre o baptismo e
a Santa-Ceia porque estas são doutrinas. Tenho observado e ouvido de
pregadores que pregação doutrinária não é o foco dos Africanos no Zimbábue e
alguém provavelmente poderia dizer o mesmo para outros Países africanos.
Mesmo na Páscoa é comum passar por toda temporada sem ouvir um sermão
sólido sobre a doutrina da redenção ou perdão. Pregadores mencionam que
fomos salvos pelo sangue de Jesus Cristo e que os nossos pecados foram
perdoados, mas não explicam como tal salvação e perdão foi feita. O mesmo se
aplica para dias especiais do leccionário como Pentecostes, Epifania, Quartafeira de Cinzas, e Natal. Sermões muitas vezes perdem o conteúdo relevante
baseado numa compreensão justa desses acontecimentos. Uma vez que os
africanos já usam cinzas para a cura e para alguns outros rituais, um pregador
faria uso de tais tradições para tornar o culto na Quarta-feira de Cinzas mais
significativo. Porque, no Zimbábue algumas pessoas Shona polvilham as cinzas
sobre suas cabeças quando há luto de um parente próximo ou de um cônjuge,
usar cinzas na Quarta-feira de Cinzas pode ser mais compreensível.
Se uma criança conquista o pai que ela tem que sair (kutiza botso) de casa
vestindo um pano de saco antes da reconciliação pode ser possível.
Essa prática na cultura Shona combina muito bem com os textos bíblicos sobre
uso de cinzas e vestir saco de pano. Estar alheio a um contexto às vezes, causa
aos pregadores Africanos dependerem muito de significados impostos pelos
ocidentais que estão longe de ter uma autêntica compreensão dessas práticas.
Visto que, comentários não discutem experiências africanas sobre estes e outros
textos, pregadores Africanos precisam criar a sua própria interpretação de
práticas culturais africanas.
Pentecostes é o momento ideal para pregadores relacionarem o sermão à
efervescência espiritual que caracteriza a vida Africana. Este é o tempo para
desenvolver sermões sobre o trabalho e manifestações do Espírito Santo. Tais
sermões poderiam contrariar algumas doutrinas erradas que estão entrando na
33
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igreja. A Igreja em África deve orar pela vinda do Espírito Santo sobre o povo
como parte do seu ministério e a expectativa legítima.
Casamentos
Para casamentos, o sermão se desenvolve como um resultado da relação que o
pastor tem com os cônjuges. Conversas pré-maritais e aconselhamentos
pastorais definem o cenário para os sermões que são pessoais e significativos
ao casal.
Casamentos em África atraem grandes multidões e isso dá ao pastor
oportunidade de pregar para algumas pessoas que raramente vêm à igreja. O
sermão poderia incidir sobre a renovação dos juramentos conjugais para casais
mais velhos. Este é o momento para a Igreja afirmar e enfatizar a aliança entre
Deus e os cônjuges.
No Zimbábue, alguns casais jovens vêem a família alargada como um fardo.
Quando alguém diz que a casa está repleta de E.F. (extended family-família
alargada), isto significa repleta de família alargada. Dadas as dificuldades
económicas da maioria dos povos Africanos, é compreensível que o fardo de
cuidar da família torne-se pesado para jovens a iniciarem uma família. Ainda, o
evangelho que respeita os valores da comunidade e partilha deve ser pregado.
Costumo lembrar aos casais jovens nos seus casamentos, que as dificuldades
económicas não são uma desculpa para evitar dar e partilhar com a própria
família. Em Shona, um ditado popular é, "Ukama igasva hunodzadziswa
nekudya", que significa, ”O relacionamento é incompleto até os familiares
compartilharem e comerem juntos." Em outras palavras, comer juntos é o acto
que consolida os relacionamentos. Geralmente as pessoas recebem esses
sermões calorosamente por causa da tentativa de contextualizar o casamento
na cultura Africana.
Nas igrejas africanas toda a oportunidade, até um casamento, é usado para
evangelismo e trazer novas almas para Cristo. Às vezes, o pregador
equivocadamente presta mais atenção para aqueles que vêm à igreja pela
primeira vez e ignora os cônjuges. Como já dissemos anteriormente, pregar para
ocasiões especiais, deve reflectir e ser significativo para esse evento. O sermão
deve ser tão pessoal quanto o pregador o possa torná-lo.
Nas zonas urbanas, é agora comum filmar-se o sermão e toda a cerimônia. Esta
tecnologia prende a maior parte do ambiente que rodeia o processo de
pregação. Por conseguinte, é mais fácil para o casal ouvir o sermão mais tarde,
num clima mais descontraído e prestar mais atenção à mensagem do que
poderiam ter feito no próprio dia. Sermões pregados em casamentos tendem a
ser ouvidos por mais pessoas para além do público original. Assim, é
duplamente importante para os pregadores tomarem todas as medidas
necessárias para a preparação de um sermão do casamento.
Sermões de casamentos são um exemplo ideal do método Fred Craddock de
pregar o que ele chama de "ouvir por acaso o evangelho." A abordagem é
baseada na premissa de que as pessoas ouvem uma mensagem sem nenhuma
apologia quando elas sentem que elas não são o alvo directo.45 As pessoas
cujos casamentos estão à beira do colapso vão ouvir atentamente num ambiente
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que seja psicologicamente seguro para elas. Uma vez que a mensagem não é
dirigida a elas, podem "ouvir por acaso o evangelho", quando for compartilhado
com os recém casados.
John W. Conway propôs quatro pontos a lembrar num sermão de casamento:
Primeiro, torna-o curto. Segundo, que seja pessoal. Terceiro, esteja ciente do
mistério do casamento. Quarto, aborda o sermão para as pessoas além
daquelas directamente ligadas ao casamento.46 Em África, todos excepto o
primeiro aspecto são válidos. Um casamento é um festival e os africanos gostam
de comemorar juntos. É, portanto, um erro pregar um sermão breve num
casamento Africano. É prudente ao pastor fazer todo o possível para iniciar a
cerimónia pontualmente para que haja tempo suficiente para o sermão.
John Conway referiu-se ao Arcebispo de Canterbury, que pregou em três
minutos no casamento do príncipe Charles e Lady Diana.47
Mas os pregadores Africanos são aconselhados a planejar pregar não menos
que quinze minutos para um breve sermão de casamento e não mais de vinte e
cinco minutos para um sermão regular. Sermões breves para um casamento
seriam a excepção e não a norma.
Funerais
Para os pastores africanos pregar em funerais é uma tarefa regular. Uma das
principais razões é que ainda existem altas taxas de mortalidade nos países
africanos, devido a pandemia da SIDA e outras doenças mortais. Instituições e
serviços de cuidados de saúde são insuficientes para atender à demanda. Em
algumas zonas distantes, os pacientes gravemente doentes são transportados
para clínicas próximas em carrinhas de mão porque os veículos não podem
circular pelas estradas precárias. A malária ainda causa estragos no continente
Africano. HIV e SIDA levou ao ressurgimento de doenças oportunistas como a
tuberculose. Como resultado, os funerais freqüentes fornecem uma plataforma
comum para a pregação do pregador africano.
Há uma série de questões que um pregador Africano deve ter em mente sobre
funerais africanos. Primeiro, os funerais africanos fornecem pistas através das
quais algumas características da cultura tradicional Africana e religião são
expressas. Crenças fortemente arraigadas sobre o que deve ou não ser feito, ou
o que é adequado ou inadequado, são compartilhadas. Segundo, um funeral
Africano é um assunto da comunidade e todos os membros da comunidade
deverão participar. Ao ouvir sobre uma morte, é conveniente procurar estar com
a família enlutada. Quanto mais próximo estiver da família enlutada e o falecido,
o mais urgente é estar na herdade antes do resto das pessoas.
Terceiro, nos funerais africanos o foco está em estar com a família enlutada,
e não somente participar no culto e enterro. O corpo é levado para casa para
uma vigília e orações durante a noite, seguido do enterro no dia seguinte. As
mulheres passam a noite aglomeradas na sala onde o caixão está como uma
forma de mostrar solidariedade com a família enlutada. Os homens dormem ao
relento ou em tendas, se estiverem disponíveis. Quarto, por causa do
sentimento generalizado da comunidade, funerais africanos reúnem pessoas de
35
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diferentes denominações e também aquelas que não têm nenhuma afiliação na
igreja.
Quinto, como minha observação, no Zimbábue funerais podem ser uma fonte de
embaraço, tanto para o pastor como a família enlutada. Às vezes o falecido não
era um membro da igreja, mas o cônjuge sobrevivente é um membro activo e
um líder na igreja. O pregador, então, é tentado a comprometer-se, impondo que
o culto para o funeral seja na igreja. Na tradição Africana é difícil para o
pregador ficar fora do processo quando o falecido não era membro. O
compromisso comum em algumas denominações é de o pastor estar presente e
fazer tudo excepto o ritual do enterro.
Tal como acontece com os casamentos, pregar num funeral particular, deve
normalmente ser precedido por alguma relação ou contacto entre o pregador e
o falecido. Esses contactos podem ser feitos durante os acontecimentos de vida
normal ou por meio de visitas no hospital. Ser específico quando pregar um
sermão fúnebre significa ser capaz de entrelaçar as histórias da vida do falecido
com a história do evangelho de Jesus Cristo. Um sermão fúnebre deve dizer
algo sobre a vida do falecido, com objectivo de abençoar aqueles que ainda
estão vivos. Algumas pessoas morrem depois de terem vivido uma vida com
realizações positivas, tanto no seu próprio crescimento cristão ou nas formas
que eles abertamente influenciaram outros para o melhor. Em outros casos, o
pregador tem pouco a dizer da vida do falecido. Qualquer que seja o caso, é
necessário integrar a vida do falecido no sermão.
O tempo que o pastor leva a escutar a família a falar do seu amado pode ser
usado para enriquecer o material para o sermão. Os africanos lamentam
através de discursos monológicos, que são memórias da vida que eles
viveram com o falecido e como o falecido era de valor inestimável para eles.
Aqueles em volta podem expressar algumas afirmações do que está sendo
dito para mostrar um sentimento de união em palavras e actos. Uma vez tive o
privilégio de discursar numa escola de pastores da Igreja Metodista Unida no
tópico, "Como podemos lidar com os funerais?" Eu acredito que podemos lidar
enfatizando o ministério de presença ao invés de sempre pensarmos sobre o
que pregar. A família enlutada se lembra do pastor nem tanto pelo sermão, mas
por "aquilo que nos tornamos para eles neste momento de crise."48
L. Arden Almquist denominou esta tradição Africana de estar entre si em termos
mais expressivos. Ele ressaltou que "para os Africanos, a presença é mais do
que meramente física: tem um carácter sacramental."49 A família Almquist foi
beneficiária desse dom de presença silenciosa durante o seu trabalho
missionário na República Democrática do Congo, então Zaire, em tempos de
luto. O pastor Africano não deve se apressar em pregar, mas ter tempo para
estar presente com a família enlutada e o resto das pessoas. O sermão deve vir
como o apogeu deste acto expresso de união.
O dom da mensagem é a esperança na ressurreição de Jesus Cristo.
A necessidade do pregador alcançar os sem igreja não deve ser feita em
detrimento de pregar a essência da Ressurreição de Jesus Cristo.
Um bom sermão fúnebre acentua por isso que Jesus Cristo veio, viveu, foi
crucificado, morreu, foi sepultado, e depois foi ressuscitado dentre os mortos.
36
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Outro foco para o pregador Africano é lidar com o conceito da vontade de Deus.
Fala-se muito sobre a vontade de Deus na perspectiva teológica Africana como
de sonho. Como foi afirmado anteriormente, doenças graves estão afectando os
africanos por causa da falta dos sistemas de serviços de saúde. Cabe ao
pregador Africano pregar sermões que tornam as pessoas conscientes do seu
papel na prevenção de doenças. Às vezes as pessoas prestam mais atenção
quando são confrontadas com uma morte. A maior parte da sociedade deve
aceitar a responsabilidade por algumas das mortes. A mensagem sobre o reino
de Deus deverá apontar não somente o ir ao céu, mas também que a vontade
de Deus seja feita na terra como no céu. Quando a vontade de Deus é feita na
terra pode significar o desenvolvimento de sistemas de dar a vida e sustentar a
vida para as pessoas. Pregar em funerais africanos também pode retirar a rica
herança da crença entre os africanos na vida após a morte. O pregador não
deve pregar sobre a ressurreição como se fosse um novo conceito para os
africanos. Em vez disso, os africanos precisam de lembretes constantes de que
algumas verdades bíblicas ensinadas por Jesus Cristo são na verdade parte do
seu sistema de crenças. A contextualização da fé cristã deve se concentrar em
idéias e não apenas na mudança de formas de culto. A própria mensagem deve
conter o conteúdo Africano, e um sermão fúnebre oferece essa oportunidade.
Além disso, um funeral Africano é um momento oportuno para o evangelismo.
É comum que um pastor pregue três ou mais sermões a partir do dia da morte
até ao momento do enterro. Reuniões de oração onde os sermões são pregados
são organizadas para as noites. Os pregadores leigos e o pastor se alternam
falando. Não importa quanto tempo os preparativos do funeral levam, as
pessoas devem se reunir para as orações da noite na casa dos enlutados
até o dia do enterro. Esse período prolongado, com os enlutados pode ser
valioso para o evangelismo. O sermão não deve usar a morte para intimidar
pessoas à conversão. Ao contrário, é hora de mostrar a boa vida que se poderia
viver em Jesus Cristo e como os cristãos são o povo da promessa através da
Ressurreição de Jesus Cristo.
É também um momento para o pregador perceber se a superstição surge
entre os enlutados. Os africanos tendem a se envolverem em conversa
supersticiosa e especulação após a morte. O pregador Africano deve enfrentar
as pessoas com uma mensagem realista que reconhece que as pessoas
morrem de causas naturais. A caça às bruxas tem causado muita inimizade
dentro das comunidades Africanas e quebra relacionamentos entre parentes nas
famílias alargadas. É privilégio do pregador falar contra tais crenças à luz do
evangelho de Jesus Cristo.
Nas sociedades africanas patriarcais os homens têm mais voz nos assuntos
domésticos do que as mulheres. Quando alguém morre, a maioria das decisões
tomadas é feita por homens. Se o marido morre, algumas famílias ignoram os
direitos da mulher e fazem todo o possível para despojá-la de sua propriedade.
Embora o pastor não possa aparecer para ser um árbitro na distribuição de
heranças entre as famílias, ainda é responsabilidade do pregador aconselhar
através do evangelho a melhor maneira para cada membro da família
comportar-se. Cada situação é única, mas um pregador avisado encontrará
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oportunidades em pregar em funerais para compartilhar, orientar, aconselhar,
admoestar, encorajar, capacitar, e no final glorificar o nome de Jesus Cristo, o
Senhor ressuscitado.
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Capítulo 3
Como você Prega? Um Repertório de Habilidades
Como o pregar não impede o que pregar. Como o pregar envolve a proferição,
bem como a preparação e a mensagem. Cada passo que um pregador dá,
finalmente, vai adicionar o como ele prega. Para o propósito de simplificar a
discussão do como da pregação, este capítulo irá lidar com o que pregamos no
púlpito e como é comunicado.
É importante que as técnicas que se usam para comunicar o evangelho sejam
biblicamente e culturalmente profundas. Pregação está mergulhada na disciplina
de comunicação, de modo que o pregador deve entender habilidades básicas
da comunicação. Como em qualquer processo de comunicação, o objectivo é
para ser compreendido. Em questões de fé cristã o fim não justifica
necessariamente os meios. A forma e o processo através do qual o fim foi
atingido deve ser igualmente justificável. A utilização de quaisquer meios de
comunicação não deve ser um fim em si, mas basear-se numa explicação
teológica sólida. Meios de comunicação do evangelho não devem estar fora das
normas culturais comuns. Qualquer abordagem experimental deve ser avaliada
dentro das fronteiras culturais, bíblicas e teológicas aceitáveis.
A capacidade de um pregador pregar o evangelho expresso em todos os tipos
de modos e modelos de comunicação não é nenhum substituto para uma
mensagem bem planejada e com sentido. "Nunca é suficiente saber como falar a
menos que o orador tenha algo a dizer", observou R.E.C. Browne,"mas ele
nunca deve abandonar o estudo da técnica, o homem que negligencia a
ciência da sua profissão está logo no fim dos seus recursos."1 Browne
chegou a dizer, "o poder de comunicar do pregador depende da sua capacidade
de interpretar a dôr do ser humano."2 O método e conteúdo da pregação são em
última análise, inseparáveis. Eles se complementam. Quando as questões sobre
a vanguarda da vida e da experiência formam a mensagem, as formas e meios
de comunicação são igualmente e, naturalmente, animados. Na maioria das
vezes, quando o público expressa reprovação do orador não é por causa dos
meios de comunicação, mas por causa do que devia ter sido dito. O ponto dessa
discussão é para alertar o leitor que os meios de comunicação do evangelho
apresentados neste capítulo não devem estar separados da mensagem.
Na pregação, o método de comunicação é um aspecto importante da
mensagem.
Este capítulo irá lidar com as técnicas que melhoram a pregação, especialmente
no contexto Africano. Em alguns casos uma aplicação da habilidade discutida
será feita para demonstrar as possibilidades para uso do pregador. A presunção
é que não existe um método de comunicar o evangelho. O importante é que o
pregador esteja ciente de onde extrair os tipos de habilidades existentes na
pregação.
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Uso da Linguagem Inclusiva
O uso de linguagem inclusiva pode não parecer muito fundamental para o
pregador.
Embora falar da necessidade de uma linguagem inclusiva na adoração e em
outras áreas de comunicação se enraizou no Ocidente, ainda não é assim em
África se usarmos o Zimbábue como um exemplo.3 A África ainda é uma
sociedade patriarcal cujas mulheres são marginalizadas. É comum ouvir em
ilustrações de sermões, onde a mulher é a malvada, mesmo quando é evidente
que o homem foi cúmplice. A sensibilidade do gênero deve estar evidente no
Púlpito africano de hoje. As mulheres na igreja são as mesmas que presidem
reuniões e participam de simpósios e seminários em todo o continente sobre
questões de gênero. É compreensível quando elas avaliam, na mendida em que
os pregadores reconhecem a sua presença. Para ser honesto, se alguém quiser
pregar uma alocução pública, deve estar direccionado aos homens de África, em
vez das mulheres.
Numa ocasião, uma jovem pregou num encontro de oração de secção. Ela deu
uma ilustração em que uma mulher tinha sofrido nas mãos do seu marido.
Curiosamente, ela se desculpou, dizendo que ela não sabia quem causa
problemas internos, mas que as mulheres são as que dizem basta!. A pregadora
estava sensível à sociedade machista e, portanto, ela tentou ser amável embora
estivesse firme em concluir que as mulheres estão no fim de receber a violência
doméstica. Raramente ouvirias um pregador masculino dizer claramente que as
mulheres sofrem nas mãos dos homens. Não estou dizendo que os homens não
pregam sermões que retratam a situação das mulheres. Mas o que é ainda
necessário é uma inclusão mais intencional de questões de gênero.
Outro pregador começou o seu sermão, reorganizando a forma como a
congregação se sentava. Ele queria que os casais se sentassem juntos. O
pregador esqueceu-se dos pais solteiros, viúvas e viúvos, bem como solteiros
que lá estavam. Lembro-me bem como é que aqueles sem cônjuges, trocaram
olhares que pareciam perguntar: "Somos queridos aqui?"
Apesar da maneira como o pregador desenvolveu o sermão, as pessoas se
sentiam excluídas, em detrimento do impacto geral do pregador e sua
mensagem.
Não só o que o pregador diz, mas todo o clima e apresentação do sermão
devem ser convidativos para todos na congregação. A pregação deve visar atrair
todas as pessoas em vez de excluí-las. Convém pregar sermões com a intenção
de abranger todos os segmentos da congregação. O pregador deve fazer uso da
investigação na disciplina de psicologia sobre as necessidades emocionais de
diferentes faixas etárias.
Os jovens precisam ouvir ocasionalmente os seus problemas mencionados no
púlpito, como fazem os mais velhos.
O pregador Africano tem um papel significativo a desempenhar na utilização da
linguagem inclusiva. Não é necessário dizer à congregação que estamos numa
cruzada de promover uma linguagem inclusiva. Às vezes somos mais eficazes
quando as pessoas aprendem a partir da maneira como nos comportamos e
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Africa Ministry Series
falamos do que quando nós apenas expressamos a nossa intenção.
Uso de Provérbios
Um dos sinais a que um Africano está familiarizado numa língua indígena é uma
incursão ocasional nos provérbios. A utilização de provérbios transforma
analogicamente o idioma a partir de um estado líquido para uma entidade sólida.
Ao utilizar os provérbios o pregador anuncia indirectamente à congregação que
ele ou ela está em contacto com o repositório da sabedoria tradicional e é
portanto contextual. As pessoas mostram apreço ao ouvir tal forma refinada de
expressão.
No Domingo de Páscoa, de 23 de Abril de 2000, preguei na Igreja Metodista
Unida de St. Peter, Mutare, Zimbábue, em Inglês em benefício dos membros
internacionais. Meu tradutor, Mr. Chris Makufa, fez um maravilhoso trabalho. No
sermão enfatizei que se alguém encontra-se deprimido ou tem tudo, a
ressurreição de Jesus Cristo é a melhor experiência oferecida a todo aquele que
crê. Na tradução, o Sr. Makufa usou um provérbio Shona, dizendo que a
ressurreição de Jesus Cristo é mesmo para aqueles "Vanoti kutakura mutoro
mbudzi ihata." Ou seja, a Ressurreição de Jesus Cristo é importante em
qualquer situação, mesmo os que são tão ricos que quando querem carregar
algo usam directamente um cabrito nas suas cabeças para aliviar a pressão.
Estou ciente de que fora da cultura Africana onde as pessoas ainda carregam
trouxas nas suas cabeças, o provérbio pode perder seu ímpeto. Mas para
aquela congregação Africana em Mutare naquele Domingo de Páscoa, o
provérbio trouxe o mundo dos ricos perante eles de forma vigorosa. Não admira
que houve aplausos espontâneos e risos em resposta à expressão – algo que
eles não tinham feito em resposta à minha expressão Inglesa dos mesmos
sentimentos.
O uso de provérbios na cultura Africana é tão comum que até mesmo jornalistas
Africanos recorrem a eles para fazerem uma observação nos seus relatórios nos
meios de comunicação.
Referindo-se à situação política no Zimbábue, um repórter usou um provérbio
igbo-povo (um grupo étnico da África ocidental) num dos jornais independentes
do Zimbábue. O provérbio diz: "Um homem que traz um trapo infestado de
vermes na sua casa não deve ficar chocado quando as formigas começam a
visitá-lo."4 Isso significa que quando você faz algo de errado, não se surpreenda
quando você sofrer as conseqüências. No mesmo jornal, um outro provérbio
apareceu em Shona, dizendo: "Dindiringwe rinonaka richakweva rimwe, kana rave iro roti mavara azara ivhu" (As pessoas são felizes quando elas têm tudo a ir na
sua direcção, e rapidamente reclamam quando alguém mais começa a
beneficiar-se).5 Esses provérbios resumiram as questões de uma forma que
longos artigos detalhados não conseguiriam. Embora outras culturas usem
provérbios, a natureza fonética de comunicação entre os africanos destaca a
sua utilização. Mercy Amba Oduyoye observou que a popularidade dos
provérbios entre os africanos é concedida por seu uso continuado e através dos
esforços concertados de africanos para reunirem e colocá-los na escrita.6
Autores africanos há muito tempo reconheceram o papel dos provérbios na
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cultura africana em geral e na pregação Africana, em particular. O significado
dos provérbios está no seu papel na formação de "um dispositivo mnemônico
nas sociedades em que tudo vale a pena conhecer e relevante para a vida diária
tem de estar comprometido com a memória."7 Os povos Yoruba da Nigéria
apreenderam a importância dos provérbios na sua cultura, dizendo:
"Provérbios são cavalos que montamos a procurar da verdade."8 Novamente a
partir da cultura da Nigéria, "Provérbios são o óleo de palmeira com o qual as
palavras são comidas."9 Além disso, existe uma propriedade comum da
sabedoria enriquecida pelos provérbios. Assim, Alex J.C. Pongweni escreveria
"Provérbios, metáforas, parábolas e idiofones geralmente não são para o artista
criar ou inventar um ex vácuo. Eles derivam e expressam o ponto de vista
comum do mundo com base na experiência própria. Como tal, eles pertencem
simultaneamente a cada um e a todos."10
Kurewa lembrou o pregador Africano do papel que os idiomas e provérbios
africanos jogam no discurso.11 Outros autores apontaram que pregadores e
professores na cultura Shona gostam de usar provérbios.12 No entanto,
incentivar pregadores Africanos a usar provérbios sem um exame da sua
natureza multifacetada pode levar a alguns "soluços" de comunicação ao proferir
os sermões. Um exemplo que vem à mente é um provérbio Shona, "Mbudzi
kudya mufenje kutodza mai."
O provérbio traduz-se "Por uma cabra comer folhas de uma árvore de mufenje
está a ser como sua mãe."
Vamos imaginar que se está pregando um sermão exortando as pessoas a
serem perfeitas como seu Deus que está nos céus. Na superfície parece
adequado dizer: "Na nossa língua Shona temos um provérbio, "mbudzi kudya
mufenje kutodza mai" (Por isso, são chamados a ser como o nosso Deus no
céu). Esta aplicação irá criar problemas nas mentes dos ouvintes.
Primeiro, o provérbio é geralmente usado pelo chauvinismo masculino quando
as crianças estão se comportando mal. A questão é que a sua maldade é
derivada da mãe.
Esse tipo de conclusão ilógica prosperou numa sociedade que marginalizou
as mulheres. Segundo, não importa o quanto experimentamos ser perfeitos, não
podemos imitar Deus. Assim, usar tal provérbio vai criar algum tipo de bloqueio
na comunicação, especialmente entre mulheres ouvintes. Portanto, um olhar
para a natureza dos provérbios é necessário, antes de exortar os pregadores a
usá-los.
A maioria dos escritores sobre este assunto focalizam o papel positivo dos
provérbios sem verificar utilizações problemáticas como já ilustrado.
O significado dos provérbios pode mudar com o passar do tempo.13 Um
pregador pode usar um provérbio cujo significado pretendido não é mais aquele
evocado nas mentes dos ouvintes. Como os provérbios são uma forma de
discurso refinado par excelência, segue-se que nem todos numa comunidade
podem ser esperados a compreendê-los. Uma interessante mas igualmente
forma problemática de protocolos para o pregador é que, na cultura Shona os
jovens não citam provérbios aos seus mais velhos. Sobre este ponto Pongweni
tem a dizer isto:
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Africa Ministry Series
O provérbio é marcado não somente pela sua ordem de trabalho
fixa, mas o tom de voz, explícito ou implícito, é também parte
integrante.
E este tom de voz infunde a emissão do provérbio com
um senso de autoridade e impessoalidade. Essa impessoalidade
e qualidade do ensinamento “ex-cathedra” da emissão do provérbio
provavelmente
explica porquê, pelo menos na cultura Shona, os jovens não se
atrevem a citar provérbios aos seus mais velhos.14
A noção de que a idade avançada denota sabedoria é uma visão comumente
mantida entre os africanos. Certa vez perguntei a alguns estudantes na
Universidade de África no Zimbábue sobre a relação entre a idade e a obtenção
da sabedoria na cultura africana. Os de Angola, Moçambique e Zimbábue na
minha aula de Educação Cristã de 1994, concordaram que os anciãos eram
considerados como os repositórios da sabedoria. Então, como um pregador
jovem usa provérbios numa congregação onde os idosos estão presentes? Este
é realmente um problema, embora a função do pastor seja altamente
considerada entre Africanos de todas as idades. No entanto, o pregador jovem
deve usar provérbios numa forma que emana familiaridade e conhecimento
adequado do seu significado.
Se os anciãos concluem que o pastor está fazendo mau uso dos provérbios, ele
perde o respeito não por causa da idade, mas ignorância.
Outra questão relacionada ao uso dos provérbios na pregação no contexto
Africano é que outros novos são formados e continuamente encontram o seu
sentido no vocabulário comum do povo. Este aumento de novos provérbios é
predominante nos centros urbanos onde os jovens são separados dos mais
velhos.15 Um exemplo de um novo provérbio em língua Shona poderia ser:
"Muchena kubata paindihanzi ndava mbozhawo." Isso traduz-se literalmente,
"Um homem pobre segurando uma cerveja pensa que ele é rico demais."16
Tradicionalmente, a cerveja Africana não era comercializada. Mas agora que
aqueles que estão nas cidades mostram seu consumo notável através da
compra de cerveja, um novo provérbio surgiu.
O pregador pode sempre verificar a autenticidade desses provérbios por
consultar os anciãos.
Além disso, alguns destes ditados de sabedoria são misóginos. "Porquê as
mulheres não se sentiriam livres para desmantelar os provérbios que são
sexistas, opressivos ou limitantes para o pleno crescimento da sua humanidade
e a ordem justa da sociedade?" perguntou Oduyoye.17 A maioria se não todas as
sociedades africanas têm provérbios que retratam as mulheres como apêndices
dos homens. Por exemplo, na cultura nigeriana há provérbios tais como: "As
mulheres gostam, onde a riqueza está," e "Enquanto a alma masculina está viva,
a alma feminina não quebra nozes."18 Existe esta dos Tonga da Zâmbia, "Quem
escuta as mulheres sofreu de fome na época da colheita."19
De interesse, está a análise de Bourdillon de que os provérbios em si mesmos
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não nos dizem muito sobre o mundo. Eles estão acustumados a afirmar a
opinião do orador, referindo-se à sabedoria tradicional. Bourdillon tomou nota da
observação de Bloch que provérbios e outras formas de discurso são de
natureza ritualísta. Como todos os rituais, tais formas de expressão servem para
confirmar aqueles em posições de liderança na comunidade.20 Todos estes
exemplos discutidos até ao momento devem servir como um lembrete para o
pregador Africano ser selectivo no uso dos provérbios.
Vamos ilustrar como um pregador pode usar provérbios num sermão.
Na cultura Shona há um provérbio que diz: "Chawaona idya Nehama mutorwa
ane hanganwa." Isso significa que quando você tiver algo para comer,
compartilhe com os parentes, porque um estranho vai esquecer. Tal provérbio
poderia ser usado numa homilia para um serviço da Santa-Ceia. O pregador
pode apontar que Jesus Cristo considerava os discípulos como seus parentes e
decidiu comer a Última Ceia com eles. Até hoje os cristãos vem a mesa da
comunhão não como estranhos, mas como parentes próximos do nosso Senhor
e Salvador Jesus Cristo.
Apesar de não escrever sobre o uso dos provérbios na pregação, ChoanSeng Song ecoou essa abordagem de relacionar a Eucaristia aos motivos
culturais asiáticos. Ele relata como uma mãe asiática lembrou-se do seu filho
que havia morrido na guerra por ritualmente encher a "tigela do seu filho com
arroz fresco todos os dias."21 A tigela de arroz se tornou um símbolo de
esperança e uma força de união entre os vivos e os mortos. Song concluiu seu
estudo, apontando que os asiáticos vão encontrar na Ceia do Senhor "a
promessa e a realidade da vida que eles estão buscando através da tigela de
arroz."22 A cultura de um povo pode fornecer uma entrada legítima para os
mistérios dos acontecimentos da salvação.
Outros provérbios podem ser relacionados a acontecimentos diferentes e
histórias na Bíblia. O que vem à mente é um sermão baseado na história de
José e seus irmãos. O incidente em que a mulher de Potifar tentou seduzir e
forçar José a dormir com ela é propício para um pedido de aplicação proverbial
Shona.
O provérbio diz: "Nhamo inhamo zvayo maihaaroodzwi." Isso significa que
não importa quanta dor e sofrimento se possa viver, não haverá pensamento de
oferecer a própria mãe em casamento. Nos casamentos africanos há pagamento
de lobolo. A implicação é que você não pode esperar para resolver seus
problemas financeiros, dando a sua mãe em casamento. José estava
determinado a resistir. Ele concluiu que, apesar da dor iminente e banimento da
família de seu mestre, ele não ia dar a sua mãe em casamento. O pregador
continuaria a explicar que essa determinação para resistir à tentação a todo o
custo é o que Deus espera de nós. A aplicação dos provérbios nos sermões
exorta a desenvoltura de cada pregador.
Imaginação na Pregação
Após a leitura da literatura emergente na homilética do Ocidente alguém
confrontou-se com o conceito de imaginação na pregação. O ângulo tomado é
que a imaginação é uma habilidade que pode ser ensinada aos pregadores.23
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Alguém interroga-se se houve um momento em que a pregação era possível
sem imaginação. A imaginação é parte integrante da pregação de fazer
anotações aleatórias num bloco de notas, a exegese, e finalmente, proferição.
É enganoso sugerir que a imaginação seja uma opção para o pregador.
Quando Jesus Cristo ensinou que o Reino de Deus é como isto ou aquilo, Ele
utilizou a imaginação para expressar a maneira como as coisas são e também
apelou aos ouvintes a imaginarem com Ele. Pregação sempre envolve
imaginação.
Na pregação há um processo de encarnar o sermão de tornar a palavra pregada
assumir uma vida identificável de si própria dentro das experiências dos
ouvintes. Meu texto bíblico para a compreensão da imaginação é 1 João 1:1:
"Aquilo que era desde o início, que ouvimos, que vimos com os nossos olhos,
que contemplamos e tocamos com as nossas mãos em relação a Palavra da
vida..."
Pregar com imaginação visa para ajudar as pessoas ouvirem a Jesus Cristo
ressuscitado, e vê-lo e tocá-lo através do sermão. Nas palavras de Urbano J.
Holmes III, a imaginação é "essa capacidade no homem de fazer o material a
imagem do imaterial ou espiritual."24 Ou, como Barbara Brown Taylor expõe:
"Para os pregadores a imaginação é a capacidade de formar imagens nas
mentes de seus ouvintes que não estejam fisicamente presentes aos seus
sentidos, de modo que eles se encontrem num mundo mais amplo, com novas
opções sobre quem e como eles serão."25
A visão Africana é ainda passível de imaginação criativa.
Factores determinantes que moldam a mentalidade do Africano não são
totalmente baseados numa visão científica do mundo. Africanos aceitam
prontamente, sem sombra de dúvida, crenças e afirmações, independentemente
de se ficar de pé ou cair na análise científica.26 Ao comparar a cultura oral
Africana da Cultura ocidental ocular, Edward P. Wimberly salientou que a cultura
ocidental se concentra no que pode ser visto, e é baseada na razão e na lógica.
Ele escreveu que a cultura ocidental "aprecia o racional, lógico, abstrato e
dimensões intelectuais de expressão religiosa mais do que o emotivo,
celebrativo, poético, comunal, relacional e de conto de histórias e
dimensões de ouvir a história com tanta força característica da cultura oral."27
O mundo ocidental aborda imaginação com desconfiança e tenta fazer sentido
com isso através da imposição de uma estrutura através da qual faculdades
imaginativas poderiam ser cultivadas e ensinadas. Ao sugerir que os pregadores
precisam de lições em como imaginar através do seu sermão, o processo de
imaginação é invalidado. A imaginação se desenvolve naturalmente numa
cultura livre das exigências infinitas para se comprovar em si, mesmo em
questões de fé.
Lembro-me da minha primeira experiência numa aula de teologia sistemática na
qual o nosso professor ocidental confidentemente anunciou que a lição para o
dia era apresentar prova da existência de Deus. Nós, estudantes trocamos
olhares de incredulidade. Como você prova a existência de Deus por meio de
referências externas para as montanhas, rios, e outra matéria, se você não tem
a sensação interior para salvaguardar a existência do criador?
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Para o Africano, a crença em Deus torna-se uma realidade, como resultado da
própria imaginação, que deve ser dada carta branca. O ambiente Africano e
visão incentivam a sensibilidade à imaginação.
Para a pregação, a imaginação deve ser vista como apresentação imagética
da mensagem bíblica. Pela apresentação imagética quero dizer imaginação
e desenvoltura na apresentação do evangelho. Para mim, o processo não deve
ser diferente de um artigo de jornal aconselhando as pessoas a serem criativas
com as suas saladas. "Use sua imaginação com as suas saladas", escreveu um
autor. "As tornar mais numa refeição por si própria, apresentada de forma
interessante...então as pessoas vão comê-las e elogiar a cozinha."28 Um sermão
imaginativo é uma refeição para a alma do ouvinte e é comestível. Scott Paul
Wilson descreve a imaginação do coração "como a união de duas idéias que
não poderiam ser conectadas e desenvolverem a energia criativa que elas
geram."29 Isso é bom, mas a imaginação não se limita a idéias e conceitos, mas
abraça o espectro do ser e, portanto, apresentação imagética com foco em
imagens concretas.
Para esclarecer a apresentação imagética do evangelho vamos passar por
algum material ilustrativo. Enquanto servia como pastor na missão Old
Mutare no Zimbábue, convidamos um pregador para a Páscoa.
Num dos seus sermões o Reverendo Thomas Muhomba trouxe para igreja um
lindo cesto. Esperamos ansiosamente para ver o que havia no recipiente.
Quando o pregador abriu o cesto, para nossa surpresa, fomos mostrados uma
cobra morta! O ponto de Muhomba era que as pessoas apresentam uma
falsa imagem de si mesmos, e ainda, interiormente tem personagens podres
como a cobra morta. Esta abordagem pode chocar alguém de outra cultura. Mas
para um pastor Africano apresentar a mensagem contextualmente ir a um tal
ponto é memorável e agradável para o ouvinte.
Num outro sermão sobre o Rico Insensato, um pregador começou por dizer a
congregação que ele queria pintar um retrato de um fazendeiro e seu meio.30 Ele
chegou a dizer que o fazendeiro rico tinha uma casa perto de uma montanha na
fazenda. Havia muito gado, ovelhas e galinhas.
Nos campos podia ver-se cavalos e pessoas que trabalham nos jardins.
Tudo era verde na fazenda, e o fazendeiro saiu-se bem, como resultado do
trabalho árduo. Enquanto o pregador falava, ele imitava uma pintura do artista.
Todo o momento ele se concentrou num canto, como se um retrato real
estivesse a ser pintado. Finalmente, o pregador perguntou: "Porquê Jesus Cristo
o chamaria tolo e mesmo assim é um modelo de trabalho árduo? "O sermão,
então se desenrolou assim que ele explicava a loucura deste homem.
Este é um exemplo de apresentação imagética onde o processo da imaginação
se concentra na criação de imagens. O pregador estava imerso no processo
tanto com a mente como com o corpo. Quando ele olhou para o retrato
imaginário da congregação também viu suas próprias fazendas. No caso do
nosso pregador, o ambiente observável alimentava na sua mente imaginária. A
descrição do fazendeiro se ajusta aos fazendeiros comerciais africanos brancos
que costumam construir suas mansões perto da montanhas na fazenda. Cavalos
e muitos rebanhos são parte da cena numa fazenda comercial. Os ouvintes
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não podiam perder o contexto. Apresentação imagética num sermão ganha
inspiração a partir de situações comuns da vida. Move-se do abstrato ao
o concreto.
A Linguagem da Pregação
A linguagem da pregação inclui todos os aspectos de competência expressos
através de palavras faladas. Mas ainda precisamos falar sobre a linguagem da
pregação como uma habilidade por conta própria. A principal característica
sobre a linguagem da pregação é que ela deve ser concreta. Lembro-me de um
menino que orou por todos na sala. Como que tendo certeza de que Deus
conhecia as pessoas, o menino chamava cada nome, em seguida, caminhava
até onde a pessoa estava e tocava-lhe. A linguagem da pregação não é
simplesmente palavras, mas as palavras que fazem o ouvinte também ver, tocar,
sentir e cheirar. O pregador usa palavras evocativas por natureza, que
transformam idéias em acção. Por exemplo, o amor é sentar com seus filhos e
dar-lhes o seu valioso tempo. A justiça é transformada no direito para os direitos
dos outros, mesmo quando nenhum dos seus próprios direitos foram violados.
Como Barbara Brown Taylor disse, pregar usando linguagem que "apela ao
olho, o nariz, a língua e a pele, bem como ao ouvido. Tem peso e aroma nisso,
textura e temperatura."31 Nossos ouvidos recebem a palavra falada com o
objectivo de distribuí-lo aos outros sentidos. Quando o ouvinte ouve a palavra
pregada, deve imediatamente activar receptores visuais, paladar, sentidos
tácteis, e outros. Quando Jesus Cristo descreveu seus seguidores como "o sal
da terra", ele usou uma linguagem concreta que evocou respostas sensoriais no
ouvinte. Existem numerosos exemplos na Bíblia da linguagem do concreto e do
sentido.
Para Colin Morris a linguagem da pregação deve ser econômica, que é, usar
poucas palavras, mas estar ao ponto. Além disso, o pregador deve usar eufonia,
palavras que são facilmente unidas sem esforço. Finalmente, o pregador
deve se concentrar na sensualidade, palavras que tocam nos cinco sentidos.32
Há uma expressão idiomática Shona que diz: "Nyoka iripo haiwedzi negayi." Isso
traduz-se, "Uma serpente que é, não pode ser medida por meio de fibra da
casca." O significado é que você não deve perder tempo a explicar algo quando
as pessoas podem ver por si mesmas ou podem ouvir em primeira mão da
pessoa envolvida. Isso é o que as palavras pregadas devem fazer - levar as
pessoas aonde está a acção.
Como pode ser observado na cultura Shona no Zimbábue, a linguagem
pictoresca é característica de conversa Africana. Quando perguntado quantos
anos uma criança de casa tem, a resposta tradicional não é dar a sua idade em
anos.
Em vez disso, levanta-se a mão até a altura estimada da criança, embora a
questão não seja a altura. Africanos agem fora da palavra falada sempre e
sempre que possível. Um grupo de homens, o wabvuwi ou pescadores, na Igreja
Metodista Unida, gravou em vídeo uma canção: "Upenyu hwangu nemasimba"
("Minha vida e energia ou poder"). O hino tem uma estrofe que fala sobre
esperar no Senhor. No vídeo os cantores realmente sentam-se para demonstrar
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a acção nas palavras. Para os africanos, executar a palavra falada é esperado e
aceite.
Numa Páscoa eu estava emparelhado com uma mulher pregadora convidada
cujo sermão sobre Maria, a mãe de Jesus, testemunhando e reagindo à
crucificação ainda está vivo na minha mente. Ela trouxe uma grande cruz na
igreja e chorou sobre ela como Maria fez. Não só isso, mas ela também caiu no
chão e se contorceu de dor, como que a imitar Maria. Um estudo cuidadoso das
circunstâncias, em seguida, não confirmam a forma como a mulher pregadora
executou a palavra falada. Mas isso não vem ao caso, que era verbalizar a dor
que Maria sofreu e demonstrá-lo para todos verem.
"Algumas das metáforas mais vivas e apreendidas aparecem nos sermões de
pregadores negros analfabetos", observou Lischer.33 Os que estão no Ocidente
acreditam que tudo que vale a pena deve ser formalmente ensinado. Os
pregadores Afro-Americanos a que se refere Lischer eram incultos ou
analfabetos de outras maneiras, mas não deixaram de extrair da herança
africana residual que permaneceu parte deles. Mesmo em África alguém não
passa por ladainha educacional, a fim de tornar-se eficaz no uso da metáfora.
Uma cultura oral circunda suas línguas faladas com imagens, daí a saturação
com a metáfora.
Línguagens da pregação deviam ser variávelmente informadas pela própria
cultura e experiências das pessoas. O pregador deve estar familiarizado com
expressões formais e informais de diferentes subgrupos de uma cultura. Saiba o
que os jovens dizem e vêem na TV, e usam essa linguagem, quando possível na
pregação do evangelho. Houve um teatro na televisão do Zimbabué com um
personagem que usou a gíria dos biggers para dizer (big) grande, superior, e
todo-poderoso. Durante os dias em que o teatro foi mostrado, eu preguei um
sermão em que eu disse que não há biggers que estejam acima de Jesus Cristo.
A resposta foi esmagadora tanto nos jovens como nos adultos. Todo pregador
deve ter a capacidade de reter a atenção da congregação, é um passo crucial no
sermão que tem impacto positivo na vida das pessoas. A fé cristã deve ser
"Encarnada e enriquecida pela mentalidade local, cultura, língua, e aspirações
do povo."34 Um pregador eficaz não deixaria de fazer tudo o que estiver ao seu
alcance em busca de motivos culturais para enxerto para o sermão.
Oportunidades não faltam, mas temos de estar conscientes e intencionais em
exercitar a habilidade.
Eu sou um pregador convidado regular na Igreja Anglicana Holy Name em
Sakubva, Mutare, Zimbábue. Em certa ocasião, fui convidado para pregar
sobre a oferta a Deus. No sermão eu disse que algumas pessoas dão a Deus
uma quantia em dinheiro equivalente ao que é dado para gupuro. Gupuro é
dinheiro dado pelo marido a mulher, indicando que o casamento bateu as rochas
e ela deve voltar para seus pais. Este costume entre os Shona tem uma taxa
estipulada de vinte e cinco centavos ou um outro montante pequeno.
Ao preparar o pequeno sermão imaginei que o termo gupuro estava a dominar
todas as outras idéias que eu tinha planejado para compartilhar. Havia ecos
positivos nas suas orações e comentários verbais para mim depois do sermão.
Eles interpretaram correctamente que dar com relutância a Deus é como se
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divorciar dele.
Esta palavra tem estado no vocabulário Shona desde tempos imemoráveis, mas
as pessoas a ouviram de uma nova maneira naquele dia.
Pregação como Conto Histórias
De acordo com Ian Pitt-Watson, proclamar o evangelho é "um acontecimento
oral, e aural."35 Talvez nenhum lugar tenha o poder da história ser melhor
capturada do que por Henry H. Mitchell:
Talvez seja demasiado doloroso reconhecer a superioridade
da alteração da cultura popular "primitiva" da mais profunda
sabedoria nos contos...A superioridade dos contos e o semelhante
reside no facto de que as pessoas "vêem" a questão mais claramente
em figuras e parcelas. Na verdade, elas não só compreendem
melhor as ideias: elas também as encontram com toda a sua
personalidade, porque elas se identificam com os detalhes e
personalidades e suas actividades.36
Para o pregador Africano, contar histórias é a abordagem normativa para
comunicação eficaz do evangelho. Tradicionalmente os africanos explicam
acontecimentos por meio de histórias criativas. Eu lembro que me contaram uma
história que explicava as origens de um vale próximo da nossa aldeia. A história
é que duas montanhas lutaram e a derrotada fugiu. No processo da fuga um
vale foi formado por trás dela. Na cultura Africana, raramente recebemos
respostas sim-ou-não das perguntas, mas são respondidas com uma história ou
conversa extensa.
Homiléticos no Ocidente descobriram recentemente o valor de contar histórias.
O que o Ocidente tem feito é citar o que os africanos têm feito desde o início dos
tempos. Os ocidentais estão se revoltando contra a abordagem argumentativa
dos três pontos da pregação. Eles descobriram que a Bíblia é um livro de
histórias.37 O que é negligenciado é que não só a Bíblia tem histórias e portanto,
apela para a pregação baseada em histórias mas também que a igreja como
uma comunidade de crentes deve informar as suas histórias. As pessoas estão
cheias de histórias que constituem suas vidas. Algumas dessas histórias são
alegres, enquanto que algumas são tristes. As pessoas vêm a igreja não para
ouvir os argumentos para marcarem pontos, mas para ouvir a origem de todas
histórias. Quando o Africano canta: "Diga-me as histórias de Jesus," que toca
uma mensagem de concordância na mente do ouvinte Africano. Crianças
africanas crescem exigindo ser contadas histórias pelos anciãos. A igreja como
uma comunidade não prospera em argumentos mas em discurso amigável.
Qualquer pessoa familiarizada com histórias contadas percebe que a discussão
argumentativa imediatamente desaparece quando uma história é contada. Pela
sua própria natureza a igreja como uma comunidade é uma extensão da aldeia.
Histórias trazem e mantêm as aldeias unidas.
Como já foi mencionado, as crianças africanas crescem num ambiente que
cultiva a narrativa enquanto ouvem as fábulas quase todas as noites.
49
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Avós e avôs são geralmente confiados a tarefa de contar essas fábulas. Meu pai
era tão eficaz em contar essas fábulas que às vezes eu poderia encontrar-me
em pé perto da porta com medo de que o animal que ele estava descrevendo
estava prestes a me pegar. Não somente está envolvido o escutar, mas também
a criança está envolvida na aprendizagem da arte de contar histórias.
Quando olhei para trás vim a perceber que essas fábulas não eram apenas
ditas para o entretenimento mas também como uma forma de treinar as crianças
em como contar histórias. No sistema de educação do Zimbábue há tempo
definido para que as crianças contem histórias. Uma revista reportou sobre o
grupo musical Chimanimani em digressão na Inglaterra, onde eles realizaram
espectáculos musicais e aulas de "dança Africana, percussão Africana, contar
histórias e cantar em escolas e centros de lazer."38
Contar histórias não é geralmente consciente ensinado nas histórias africanas.
O ensino acontece de forma subtil e não através da estrutura analítica planejada
do que constitui uma história e como contar histórias. Em África, histórias são
experiências vividas das pessoas porque elas sonham com elas, observam os
que lhes contam, e rapidamente trocam os papéis e tornam-se participantes em
contar suas próprias histórias, em vez de permanecer como observadores.
Ensinar histórias onde a vida comunitária se desintegrou torna-se um exercício
superficial. Histórias pertencem as comunidades de pessoas, não a indivíduos.
Contar histórias não é tanto uma habilidade da pregação como parte integrante
da mensagem. Como qualquer outra habilidade ou técnica na pregação, a
história é significativa, se serve para melhorar o todo. Há várias maneiras
de contar histórias num sermão. Pode-se contar uma história sob forma de uma
ilustração, como é verdadeiro para as parábolas de Jesus Cristo. A outra
abordagem é re-contar a história bíblica adicionando altura, profundidade,
sentimentos, e maneirismos com os personagens. Re-contar a história exige que
a história seja transportada da Palestina antiga para a minha cabana redonda
onde os ouvintes estão sentados em semicírculo. A narrativa fica encapsulada
nos motivos culturais existentes. À medida que a história se desenvolve o
ouvinte é discretamente convidado a prestar atenção a algum ensinamento
moral no que se refere às suas experiências cotidianas. Abaixo está um exemplo
de narrativa baseado novamente sobre a história de José, que inclui um
segmento de sermão no início.
Alguns ainda se lembram vivamente da seca que assolou o Zimbábue em 1992.
O governo disponibilizou algumas fazendas onde as pessoas pudessem levar o
seu gado para pastagem. As pessoas deixaram suas casas e famílias e foram
para áreas muito distantes do país onde nunca tinham estado antes. A Bíblia
nos diz que os filhos de Jacó pastorearam ovelhas longe de casa, não por causa
da seca, mas porque ricas áreas de pastagem não estavam mais disponíveis
perto de casa. De vez em quando mantimentos eram enviados a eles.
A maioria de nós ainda se lembra quando a comida tinha que ser trazida para
onde estávamos trabalhando nas machambas porque não havia tempo para
voltar para casa. Às vezes, quando estamos envolvidos nas ocupações e
situações de salvar a vida não há tempo para ir a casa comer. Já alguma vez
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experienciou uma situação em que regressar a casa para comer é um
desperdício de tempo?
Esta foi a condição na qual os filhos de Jacó se encontravam.
Encontramos José a levar mantimentos aos irmãos. Desconhecidos ao pai e ao
inocente jovem José, o ciúme intenso tomou conta dos corações e mentes dos
irmãos. O ciúme pode criar um abismo entre pessoas da mesma família. Na
maioria das vezes, o nosso chefe do tribunal reúne-se para resolver conflitos
familiares nesta aldeia. Filhos e filhas da mesma família lutam na alocação de
terrenos de cultivo ou na propriedade do gado. Da mesma forma, os filhos mais
velhos de Jacó, estavam distantes do seu irmão mais novo de tal modo que não
poderiam mesmo chamá-lo pelo seu próprio nome. Tudo o que eles pudessem
dizer era "lá vem o sonhador!" Quando reina o ódio, as pessoas chamam uns
aos outros nomes.
A história poderia continuar, com imagens que se desenrolam na descrição.
Contar histórias é aplicado à história bíblica de entrelaçamento com a
experiência vivida dos ouvintes. Neste caso, disputas entre famílias membros
une a história da Bíblia com as pessoas. Intercalar a história das situações do
texto e da vida real, facilmente abre a pregação até a contextualização. Esteja
ciente, porém, da tentação de contar histórias como uma arte e torná-los um fim
em si mesmos, sem qualquer conexão significativa com o texto bíblico.
Uso da Canção
Os africanos são pessoas que cantam. Todas as pessoas cantam, mas para os
africanos cantar é espontâneo e faz parte da maioria dos eventos e actividades
diárias. Existem músicas para trabalhar nos campos, canções para vacas
leiteiras, e assim por diante.
Através do canto, as mensagens são transmitidas de uma pessoa para a
outra. O irmão do meu pai costumava cantar uma música cujo significado não
pude entender quando eu era jovem. Ele cantava "Mombé dzababa dzakapera
nemakiwa." Eu não me lembro o resto, porque ele repetia mais esta estrofe que
as outras. A estrofe diz: "o gado do meu pai foi liquidado pelos brancos." Agora
eu sei que ele estava cantando sobre as experiências da privação da
propriedade que os africanos sofreram sob a ocupação colonial, especialmente
durante os primeiros encontros entre africanos e europeus.
Ouvir parte da música não era assim tão agradável, mas como Francis Bebey
escreveu: "músicos africanos não procuram combinar sons de uma maneira
agradável ao ouvido. Seu objectivo é simplesmente expressar a vida em todos
os seus aspectos por intermédio do som."39
"De acordo com a tradição Africana, canções especiais são compostas para
ocasiões especiais ou a indivíduos de honra", observou H.W. Turner,
"E não há hesitação em cantá-las nos cultos."40 Espera-se que um pregador
Africano embeleze o sermão com canções. Como Ndiokwere observou: "Mesmo
no púlpito o liturgista certamente ganha simpatia, atenção e admiração da
congregação quando intercala sua homilia com canções curtas..."41 Dos eventos
de pregação que testemunhei no Zimbábue, observei que, para os que podem
fazê-lo, misturando o sermão com cânticos, é uma experiência que não cansa a
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congregação. Turner também observou: "A pregação pode durar cinco minutos
ou duas horas..., atenuada pelos coros nos intervalos, e há atenção especial,
com améns e outras exclamações de concordância."42
Apesar de Turner se refererir a um relatório sobre as práticas de culto das
igrejas africanas independentes, o que acontece nessas igrejas sobre o canto
durante o sermão é válido para as igrejas protestantes históricas em África. Os
artistas da mvet e contadores de histórias dos Camarões intercalam suas
histórias com canções.
O riso que interrompe a história neste momento
corresponde à queda da cortina no final de uma
actuação. A audiência, que foi ouvindo atentamente até
aqui, relaxa por alguns momentos, enquanto o artista mvet
pergunta: "O que os vossos ouvidos ouvem?" e a
multidão grita, "Eles ouvem os mvet." Assim, a mvet ataca,
às vezes a solo e, por vezes, acompanha uma música em
que todo o público participa.43
Portanto, para os pregadores Africanos, o canto como parte do sermão é parte
integrante da sua cultura tradicional.
Curiosamente, nem sempre é o pregador que inicia o canto.
Qualquer um na congregação pode começar uma canção durante o sermão. Na
verdade o pregador pode ver isso como uma resposta de cortesia para o
sermão. No interesse da ordem e organização durante o culto, algo que os
missionários ensinaram, poucas pessoas estão dispostas a iniciar uma canção
dentre a congregação, a menos que o pregador peça.
Estas características do culto Africano têm raízes nas culturas tradicionais e não
devem morrer. Os africanos são espontâneos numa série de actividades, ainda
mais ao cantar, onde todos participam com total negligência de experiência
necessária. É esta espontaneidade que a Igreja africana tem reprimido numa
tentativa de manter o culto organizado. Para ser fiel à sua herança, a igreja
Africana e o pregador em particular devem deliberadamente estimular essas
características.
Às vezes o pregador entoa uma canção no início do sermão para activar a
congregação. Em alguns casos, a canção vem aos intervalos durante o sermão.
Alguns pregadores apegam-se a uma música que serve como um refrão durante
todo o sermão. A prática usual é a de cantar mais de uma música ao longo do
caminho. Outros pregadores dão uma breve introdução para explicar como eles
percebem a música e a história do texto. Vamos imaginar que o pregador falou
sobre o sofrimento e prisão de São Paulo. O nosso pregador poderia, então,
colocar uma música na boca de São Paulo: "Jehova Mufidziwangu
handichazoshayiwa ndiye anondiradzika pane mafuro ake", uma tradução Shona
do Salmo 23. O pregador em seguida, explica que São Paulo cantou a canção
confiando totalmente sua vida nas mãos de Deus, o Pastor.
Como sabemos, a exegese vai desmoronar se tentarmos encontrar quando e
onde São Paulo cantou uma canção. Mas é essa liberdade de imaginar e
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expressar sentimentos que fazem a pregação Africana não somente vivificante
ao texto, mas também animada aos ouvintes. Afinal, os apóstolos cantaram na
prisão, então o que está errado dar uma canção com a qual as pessoas
pudessem se identificar e juntarem-se para cantar?
Outro exemplo da utilização de música na pregação aconteceu num sermão pelo
Reverendo Tsaurai Mapfeka, um estudante graduado na Universidade de África,
que pregava na Metodista Unida de São Pedro, no interior da Cidade de Mutare
no Zimbábue a 2 de Abril de 2000. Ele entoou sua música não do hinário, mas
dos cantores de música evangélica que aparecem na televisão nacional. Em
Shona a canção diz, "Waigara zvakanaka nevamwe muraini" acrescentando e
repetindo estas palavras que significam: "A pessoa viveu bem com outras
pessoas da vizinhança." É uma canção cantada em funerais geralmente dando
testemunho positivo sobre a vida do falecido.
Mapfeka estava pregando sobre os acontecimentos da crucificação de Jesus
Cristo.
Seu ponto era que, devido a psicologia de massas algumas pessoas que foram
ajudadas por Jesus Cristo quiseram vê-lo morto, simplesmente para
permanecerem aceitáveis à multidão e aos seus vizinhos. Nós fazemos as
coisas às vezes para cumprir os contratos sociais que temos nas nossas
comunidades e não para uma boa causa. Junto com a congregação cantou uma
canção curta nos intervalos do sermão. Mais interessante, ele advertiu a
congregação a não levantar muito a sua voz, porque, como ele disse, "Estamos
num funeral."
Quando as experiências das pessoas são levantadas no sermão a ser
confrontado com a palavra do texto bíblico, a pregação torna-se uma conversa
significativa.
Ilustrações
Obviamente, Fred Craddock está certo, em grande medida, quando ele diz que,
se atenção especial é dada à linguagem do sermão não há necessidade de
ilustrações.44 A nova homilética não deveria mais contar com ilustrações para
esclarecer pontos do sermão. O que precisa ser enfatizado é o uso de uma
linguagem concreta que apela não só ao ouvido, mas aos sentidos múltiplos.
Muita ênfase em ilustrações é uma admissão de que o conteúdo do sermão é
fraco e as idéias compreensíveis. Quando nos envolvemos em conversa normal
sobre a viagem que realizamos não contamos com ilustrações para esclarecer
as nossas experiências. Em vez disso, descrevemos esses encontros tão
claramente quanto possível.
Todavia, eu disse cuidadosamente que Craddock está certo, em grande medida
porque eu acredito fortemente que as ilustrações em forma de histórias realistas
e significativas são necessárias, especialmente no púlpito Africano. Como já
observamos, a vida comunitária Africana ainda é baseada no conto de histórias.
O ouvinte Africano do sermão está ainda em sintonia com histórias e gosta
de ouvir histórias num sermão. Não iria no mesmo diapasão com Craddock em
afirmar que não há necessidade de ilustrações, independentemente da forma
como o sermão se baseia nas formas concretas de fala.
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Africa Ministry Series
Ilustrações desempenham outras funções essenciais nos sermões. Estou a
pensar na dimensão psicológica na qual ilustrações ajudam a congregação
a ficar tranquila. Nós, que ouvimos atentamente um sermão podemos nos
lembrar dos momentos em que nos sentimos atingidos emocionalmente e
desejamos que o pregador fizesse algo para resfriar-nos. Uma ilustração,
quando adequadamente introduzida no sermão, tem o efeito de relaxar o ouvinte
e prepara-lhe para seguir em frente com o pregador. Os pregadores que
despejam várias idéias sem histórias intermitentes geralmente trilham o caminho
do fracasso, independentemente de quão vigorosamente tais pensamentos são
explicados.
Por outro lado, isto é quando os pregadores africanos amarram as histórias
como miçangas de cores diferentes. Nesses casos, as histórias vêm uma após a
outra sem quaisquer idéias substanciais puxando-as para um certo foco. As
ilustrações não são apêndices para o tema do sermão mas são uma parte
integrante do conteúdo. Ainda assim, elas precisam ser vinculados a algumas
ideias coerentes. É uma marca de um sermão fraco se as pessoas se lembram
de uma história, mas não conseguem lembrar o que o pregador estava
comunicando com essa ilustração.
Certa vez, mandei os estudantes fazerem uma pesquisa de campo para um
projecto de culto. Na minha abordagem ingênua como instrutor júnior, lí o
máximo possível da literatura disponível sobre o culto. Conforme os autores
disseram, também fiquei convencido de que o culto deve ser interessante.45
Então preparei um questionário para os estudantes usarem nas suas entrevistas
com os pastores em Mutare e nos arredores. Uma das questões perguntava aos
pastores o que eles faziam para tornar o culto interessante. Quando uma
estudante católica romana fez essa pergunta a um Padre católico, ela foi dita
claramente que o propósito do culto não é para interessar as pessoas.
Essa resposta me fez rever a minha concordância com esses autores que dizem
que o culto deve ser interessante. Homiléticos escrevem de facto que as
ilustrações tornam os sermões interessantes.46 O problema reside no facto de
que o contexto em que o interessante é usado não é geralmente clarificado. Se,
por interessante simplesmente queremos dizer excitar os sentimentos das
pessoas e atitudes para aquecer ao pregador, então não é isso que o culto e
pregação em particular, destinam-se a ser. Para as ilustrações serem de
interesse no sermão, elas precisam chamar a atenção do ouvinte ao essencial,
bloqueando outras atracções concorrentes e detractoras. Nesse caso, podemos
subscrever a ideia de que as ilustrações fazem os sermões interessantes.
Relacionado com esta questão de fazer o sermão interessante está a idéia
de que ilustrações ajudam a tornar o sermão inesquecível. Precisamos redefinir
o significado da memória quando relacionamos a um sermão. Quando os
ouvintes lembram-se dos sermões conforme demonstrado através da partilha
com aqueles que não ouviram esse sermão particular, essa é memória de baixo
nível.
Mas quando uma ilustração ajuda o ouvinte a se comprometer com a memória
do sermão inteiro ou partes maiores dele e que a memória é transformada em
mudanças comportamentais e de atitude, essa é memória de nível superior. Em
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outras palavras, ilustrações devem ser lembradas através de acção e não só
cognitivamente.
Buttrick estipulou alguns critérios para uma ilustração que vale a pena partilhar.
Primeiro, as relações analógicas entre a ilustração e a idéia a ser esclarecida
devem ser claras. Segundo, a natureza do conteúdo do sermão e a forma ou
estrutura da ilustração deve ser agradável. Terceiro, as ilustrações devem
prontamente harmonizar e avaliar o conteúdo do sermão.47 Além disso, a
Espanha tem outros pontos úteis em relação aos critérios para as ilustrações:
Ilustrações devem ser de bom gosto, as relacionadas com assuntos familiares
pessoais devem ser usadas com moderação, e devem adaptar-se à
congregação em particular.48 Evita ilustrações que dão a impressão aparente de
que sejam adequadas para utilização em qualquer sermão. Também evita
ilustrações que precisam de explicação.
Onde podemos encontrar ilustrações? Embora existam livros de ilustrações,
é uma benção disfarçada de que os pregadores Africanos não tem os recursos
facilmente acessíveis. Há um efeito arrasador sobre o sermão quando
ilustrações são removidas da experiência humano imediata da congregação. As
ilustrações devem estar vivas em si mesmas antes de animarem o sermão, pois
elas são verdadeiras para a vida desta particular congregação, neste preciso
momento. Da mesma maneira que as idéias do sermão vem a partir de
experiências de vida de pessoas comuns, as ilustrações devem vir da mesma
fonte também.
A vasta leitura do pregador, viagens, a Bíblia, e pedir emprestado dos outros,
são todas fontes para as ilustrações. Devemos ser cautelosos para não usar
essas ilustrações meramente para mostrar o quão lidos estamos. Os critérios
acima referidos devem orientar o pregador. Ilustrações da Bíblia são aplicáveis
para todos os tempos e um pregador vai fazer bem em utilizá-los. No entanto,
ouvir sermões pelos meus estudantes em que as ilustrações são retiradas de
histórias bíblicas, tenho notado que eles ofuscam tudo dito nesse sermão. A
razão é óbvia – estes são textos bíblicos que imploram serem pregados por si
próprios. Eles se recusam a ser arbustos, mas se transformarem em florestas no
sermão.
Eu desenvolvi as seguintes orientaões para usar histórias da Bíblia como
ilustrações. Primeiro, certifique-se que a história é bem conhecida por quase
todos nessa congregação. Segundo, evita recontar a história completa em vez
disso faça referência a ela, tocando nos principais aspectos para refrescar a
memória das pessoas. Terceiro, assevera se o que aconteceu nessa história
bíblica é a experiência comum para os ouvintes, na medida em que cada um e
todos pudessem se identificar com a história. Não podemos, por exemplo, usar a
conversão de Saulo na estrada de Damasco, no sentido de que Deus espera
que todo aquele que crê tenha uma experiência exacta. Mas o pregador pode
legitimamente usar essa história de convidar as pessoas a recordarem a sua
própria experiência de como eles encontraram a presença de Jesus Cristo e o
Espírito Santo em suas vidas. Quarto, usar ilustrações bíblicas com moderação
e evitar estar viciado neles. Tudo tirado da Bíblia não é necessariamente bom
para o sermão. Ilustrações exigem selecção cuidadosa.
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Outro ponto é que as ilustrações oferecem a maior oportunidade para a
contextualização do evangelho. O pregador Africano deve procurar ilustrações
dentre histórias africanas típicas. Tenho notado (e faço isso intencionalmente)
que cada vez que eu digo "no nosso contexto Africano" as pessoas mostram
sinais evidentes de prestar atenção. Os mais velhos parecem estar dizendo,
Conte-nos para que possamos aprender sobre a nossa herança. Assim, ao
pregador é dado um cheque em branco para preencher com qualquer
quantidade de conteúdos a partir da experiência Africana.
Não é à toa que Jesus Cristo quis dizer: "Um semeador saiu a semear..."
quando era provável que os ouvintes realmente viram um semeador em todo o
riacho nos campos. Não devemos coçar a cabeça em busca de ilustrações, em
vez disso devemos riscar o passado e experiências do nosso povo. As melhores
ilustrações são aquelas às quais as pessoas podem relacionar e reconhecer a si
mesmas que a experiência aconteceu para elas ou para alguém que elas
conhecem. Quando usamos ilustrações removidas a partir do contexto imediato
da congregação, precisamos reestruturar o conteúdo da ilustração usando uma
linguagem familiar para os ouvintes.
Isso significa que no contexto Africano usamos expressões idiomáticas e
provérbios e outras formas de discurso e africanizamos essa história de
qualquer parte do mundo, onde possa ter originado. Por exemplo, se o incidente
para a nossa ilustração aconteceu perto de um rio debaixo de uma montanha,
nós damos nomes familiares a esse rio e montanha.
Afinal, o que é pregação, se não é citar aquilo que os crentes já sabem? "É fora
da nossa percepção espiritual da vida que ilustrações mais profundas entrarão
para a nossa pregação, porque elas são as melhores na parte da teologia
natural," disse Donald English.49 Pode-se acrescentar que "percepção espiritual
da vida" é possível através do entrelaçamento do pregador com outras pessoas
em arenas pastorais e outras.
Introdução ao Sermão
O método dominante de introduzir um sermão no contexto Africano é introduzir
tanto o pregador como o sermão para criar relação especialmente harmoniosa.
Apresentar o pregador não incide em credenciais acadêmicas e outra
experiência profissional. O que importa é que a apresentação diz à congregação
de onde o pregador vem espiritualmente.
Nenhuma outra forma de introduzir o sermão fará o trabalho para uma
congregação Africana. Seja o pregador um convidado ou o pastor regular, é
importante não ignorar esta situação do tipo de introdução.
Em 1976, participei de um culto em Bloomington, Indiana, EUA, onde o pregador
era um Afro-Americano. Ele havia sofrido algum problema com os olhos durante
o fim de semana. Quando ele começou o sermão, garantiu a congregação que,
embora ele não estivesse vendo claramente, os seus olhos espirituais estavam
tão claros como nunca. Eu disse a mim mesmo, estou certamente no continente
Africano. Essa abordagem de espiritualizar todas as experiências e compartilhar
com a congregação na introdução do sermão é uma característica comum na
pregação Africana. Na cultura Shona, introduções são tão cruciais que elas se
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tornam complicadas quando um assunto está para ser discutido.
Todos na família devem ser informados de acordo com suas categorias na
família alargada. Em qualquer reunião os recém-chegados anunciam a sua
presença por bater palmas onde se juntam aqueles já presentes e depois todos
se sentem confortáveis.
Uma outra maneira na qual pregadores Africanos apresentam seus sermões
é em forma de canção. A canção pode ser aquela que convida ao Espírito Santo
dar ao pregador o que dizer ou qualquer outra canção que confirma as crenças
do mensageiro. Se a canção não é usada o pregador pode recorrer a um
membro da congregação para introduzir (Kusuma) o pregador a Deus.
Isso é sempre feito em forma de uma oração. Às vezes, a própria congregação
através do líder do culto selecciona uma canção com propósito de apresentar
(Kusvitsa) o pregador a Deus. A partir da minha observação do que acontece
nas igrejas africanas no Zimbábue, não é a apresentação efectiva do sermão
que importa, mas a do pregador. A apresentação do sermão é uma segunda
fase seguindo a do pregador.
Exorto aos pregadores Africanos a não abandonarem este tipo duplo-prolongado
de introdução no sermão. Dito isto, ainda não estamos cientes do que a
introdução do sermão real destina-se a fazer e como poderia ser feito. A
pregação envolve uma batalha de inteligência e o pregador deve estar
preparado para ganhar a atenção das pessoas. Toda a apresentação do sermão
deve ter um elemento de surpresa que leva as pessoas a querer ouvir o que
se segue. Não quero dar a noção exagerada de que é apenas a introdução do
sermão que deve captar a atenção da congregação. Meu ponto de vista é que
todos os segmentos do sermão devem dominar para chamar a atenção do
ouvinte. Mas este elemento de surpresa irá percorrer um longo caminho no
processo de conexão do ouvinte e o pregador.
Se você começar um sermão sobre o amor de Deus, dizendo: "Deus ama a
todos vós", alguém é obrigado a dizer: "E daí?" Aqueles que são educados
podem perguntar porque não há cintilação interior inflamada com essa
afirmação. Mas se o mesmo é dito a algumas pessoas na região remoto do
mundo que não têm idéia de que elas são os objectos do amor de Deus, então
esta afirmação poderia atrair sua atenção. Assim, uma introdução é determinada
por uma série de factores característicos da congregação. Para aqueles
familiarizados com a Fé cristã, o mesmo sermão sobre o amor de Deus poderia
ser introduzido por dizer: "Estou tão surpreso que Deus poderia decidir sacrificar
o seu único Filho, Jesus Cristo, por criaturas chamadas seres humanos... "Aqui
está um elemento do incomum que contradiz a norma e os ouvintes querem
ouvir como o pregador vai sair do beco sem saída.
Pelas suas histórias de natureza intrínseca há um elemento de surpresa. A
história deve introduzir o sermão, e não mostrar que o pregador é um contador
habilidoso de histórias. Esta história poderia ser qualquer uma ou uma dentro do
texto bíblico. Relacionado com a história no texto está uma explicação do texto
como uma forma de introduzir o sermão. Esta é a oportunidade de compartilhar
os poucos mas relevantes frutos exegéticos com a congregação. A maioria dos
ouvintes de sermões não têm um conhecimento profundo sobre como era no
57
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mundo bíblico e geralmente são surpreendidos quando ouvem. Novamente, a
idéia não é de mostrar o quão instruídos somos.
Aqui estão algumas regras de ouro para manter em mente sobre introduções do
sermão: 1) Varia a sua abordagem para que a congregação não preveja a forma
como você vai começar, 2) Dê a devida atenção à introdução ao preparar o
sermão, e 3) Lembre-se que a introdução dá à congregação a chance de entrar
numa aliança consigo de que eles vão ouvir o que você tem a dizer. A maioria
dos homiléticos concorda que o propósito da introdução do sermão é "para
ajudar a congregação no diálogo do sermão."50 Embora seja importante para
compreender diferentes tipos de apresentações e como usá-los, é ainda mais
urgente para o pregador vir a enfrentar com o propósito de introduções do
sermão.
Conclusão do Sermão
A conclusão melhor e mais importante para um sermão não é o que o pregador
faz, mas o que segue como uma resposta da congregação.
Se todos os sermões terminam com a resposta que Pedro e os outros Apóstolos
receberam das pessoas que lhes ouviram pregar: "Irmãos, o que devemos
fazer? "(Actos 2:37 b), não haveria mais nada a dizer sobre conclusões do
sermão. Muito está escrito sobre como concluir sermões. O problema é que, tal
como as introduções, o foco é mais em métodos que no propósito. As
conclusões para sermões devem ser eficazes para as faculdades mentais.
Como um pregador expôs, pregar visa a um veredicto, onde o ouvinte é
obrigado a dizer sim ou não a algum problema vital da vida.51 Se o que o
pregador disse no sermão é uma questão de vida ou morte, então a conclusão
vai se revelar com força fora do conteúdo, e não como algo imposto no sermão.
Existem orientações a ter em conta. Primeiro, a conclusão de um sermão
deve ser adequada para esse sermão particular apenas e não para qualquer
outro.
Segundo, o pregador deve avaliar cuidadosamente se a conclusão é fiel ao tema
e o conteúdo do sermão. Terceiro, o propósito para essa determinada conclusão
deve se encaixar no objectivo maior solicitado ao terminar os sermões. Quarto, é
melhor terminar o sermão, quando as pessoas ainda estão prestando atenção
do que concluir quando você perdeu quase todos. Quinto, apenas em raras
circunstâncias o pregador deve insinuar que o sermão está prestes a finalizar.
Ninguém deve confundir a conclusão de um sermão por mais nada. Sexto,
permita o Espírito Santo intervir em formas desconhecidas para si. Nestas
circunstâncias, seja flexível e deixa o sermão terminar do jeito que você não
tinha planejado. Sétimo, em alguns casos, a conclusão deve sugerir o caminho a
seguir. Mas o mais importante a lembrar é que os ouvintes são fundamentais
para as escolhas que fazemos ao concluir um sermão.
Um Conjunto de Habilidades
Esta secção lida com uma série de habilidades e matérias com que o pregador
devia estar ciente. A maneira breve em que a maioria destes será tratado aqui
não implica que tais técnicas são de alguma forma menos importantes em
58
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comparação ás já discutidas.
A. Pregar Sem Anotações. Os autores do Ocidente fazem sugestões diferentes
sobre o que o pregador poderia fazer no púlpito para a proferição efectiva dos
sermões. Eles são geralmente acomodativos nisso de que se faria o que é
confortável–do pregar sem anotações ao uso de um manuscrito completo ou
anotações escassas. Para o pregador em África não há escolha, mas
aperfeiçoar a habilidade de pregar sem depender de um manuscrito completo.
Ao pregar sem anotações não quero dizer que não haveria nada no pódio.
Pregar sem anotações significa para mim que o pregador não está colado a tudo
o que foi levado para o púlpito. Deve ser assustador para qualquer pregador
imaginar que enquanto você estiver olhando para as anotações, a congregação
estará olhando para o topo de sua cabeça. Não importa quais os argumentos
que apresenta, para o pregador Africano, pregar sem anotações é a abordagem
mais bem sucedida.
A cultura tradicional africana não confia na palavra escrita. Ainda hoje na África
rural é a palavra espontânea falada que ainda domina as formas de
comunicação. Em suas vidas e experiências cotidianas, os africanos não usam
anotações preparadas para falar. Usar anotações no púlpito, depois, transforma
o pregador num estranho do espaço exterior no seio do povo Africano. As
circunstâncias em que o pregador Africano se encontra, freqüentemente,
determina que as anotações não podem ser facilmente usadas para os
propósitos da pregação. Por exemplo, é comum que o pregador Africano pregue
numa completa escuridão. Isto acontece muitas vezes em funerais, onde as
pessoas são geralmente colocadas fora da herdade do falecido para a noite de
orações. Mesmo em reavivamentos em reuniões campais os sistemas de
iluminação podem ser pouco confiáveis às vezes. Além disso, as pessoas se
sentam em todas as direcções tanto que o pregador deve mover-se de uma
extremidade à outra. Isso acontece quando o edifício da igreja é pequeno e
algumas pessoas têm de se sentar fora.
O pregador deve estar livre em se mover para onde essas pessoas estão.
Talvez uma das razões mais importantes para um pregador estar livre de usar
anotações é que de alguma forma os africanos, pelo menos no Zimbábue,
associam falar a verdade com o falar sem anotações. Um repórter entrevistou
algumas pessoas após um comício político num dos municípios no Zimbábue
sobre as impressões que tiveram do orador. Um entrevistado comentou que,
porque o orador não leu a partir de um discurso preparado, em si estava um
sinal de honestidade e que o discurso veio do coração do orador.52
B. Contacto olho a olho. Quando eu crescia, lembro-me de como nos
reparávamos uns aos outros: "Porquê me olhas assim?" O outro retrucaria:
"Como viste que estava olhando para si?" O ponto é que as pessoas se olham
por razões diferentes, mas subjacente a maior parte do contacto com os olhos é
a comunicação. Nas famílias africanas, as crianças sabem que quando os pais
olham para elas de uma certa forma, na presença de visitantes, eles estão
sendo orientados a ir e brincar fora. Os olhos carregam consigo mensagens que
podem ser facilmente decifradas pelas pessoas familiarizadas com os sinais.
Através do contato com os olhos a pregação pode tornar-se numa comunicação
59
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bidireccional.
Ao olhar amplamente para a congregação, o pregador atento podia discernir
não apenas o que o olho físico está vendo, mas o que somente o intuitivo pode
observar. Contacto visual intuitivo pode ajudar ao pregador determinar se o
sermão está a envolver o ouvinte. Há sempre indivíduos generosos nas
congregações que vão sorrir, rir, ou mesmo rir abertamente, ulular, franzir, ou
exibir alguma outra expressão explícita para o benefício do pregador. Demora
algum tempo para chegar lá, mas um pregador experiente pode até aferir por
olhar para a congregação se eles querem que ele explique um assunto um
pouco mais, desejar que você vá em frente, ou pedir para você parar. Estar em
contacto com a congregação através do contacto visual é uma habilidade
benéfica para o pregador.
Existem algumas questões a considerar no contacto olho a olho. Olhar para
alguém é diferente de encarar uma pessoa. Graças a Deus, não há quase
nenhuma oportunidade para o pregador olhar para qualquer pessoa durante o
sermão.
Mas os membros da congregação tem toda oportunidade do mundo de olhar
para o pregador. Tenho observado em minhas experiências de pregação
que, enquanto o idoso evita olhar muito para o pregador, jovens e jovens adultos
encontram a oportunidade de olhar o pregador nos olhos.
A cultura Africana refere que olhar nos olhos de uma pessoa respeitada, tal
como um pregador e um ancião, é falta de educação. A juventude e os jovens
adultos não tem, necessariamente, falta de educação quando eles olham para o
pregador, mas são apenas a manifestação de uma cultura em transição.
É tentador para o pregador responder aos muitos sinais que se observam entre
os membros da congregação. Você pergunta porquê é que o jovem abana a
cabeça em desaprovação aberta (tive tal experiência na Missão do Old Mutare)?
Você sorri em resposta a esse sorriso feliz, amplo, de um membro que até
mesmo estende sua mão para um aperto de mão ao outro sentado ao lado dela?
Externamente, o pregador pareceria não estar a fazer nada, mas interiormente
ele ou ela devem responder adequadamente para coincidir com os comentários.
Contacto com os olhos para o pregador deve abranger todas as actividades
pastorais. McNulty compreendeu este ponto quando ele pediu aos pregadores
desenvolverem um "bom olho". Quando o pregador desenvolve um bom olho,
ele vai ver o que deve ser visto e, então, diz o que deve ser dito.53
C. Voz. Quando eu era jovem, pensava que a santidade residia na voz do
pregador. Os pastores mudavam a maneira como eles falam no momento em
que estivessem no púlpito para pregar. Bem-aventurados os pregadores que
passaram pela terapia de voz e receberam formação no uso das cordas vocais.
Muitos pregadores aficanos não tem tido a sorte de obter tal treinamento. O que
todos devem fazer, no entanto, é assegurar que a sua voz seja audível o
suficiente para que as pessoas possam ouvir. É útil perguntar a congregação se
você está sendo ouvido. Às vezes, o pregador pode ver as pessoas em posições
tensas a mostrarem que não está sendo ouvido. O microfone só pode aumentar
os problemas. Porque é tão importante que a voz do pregador seja bem
projectada, o pregador deve tentar se familiarizar com tais arranjos antes do
60
Africa Ministry Series
momento real da pregação.
Muitos pregadores Africanos não tem nenhum problema em levantar suas
vozes. As pessoas chamam umas as outras de longe nas aldeias e nos campos,
e assim ficam acustumadas para a necessidade de aumentar as vozes. O
pregador deve visar a pregação num tom normal de voz com um pouco de vida
detrás dela. Variar o tom de voz é uma habilidade que cada pregador deve
aprender. Contar uma história no sermão geralmente ajuda a baixar a voz para o
pregador com um problema de tom alto. Contar uma história exige que a voz
seja ajustada adequadamente.
Uma forma de ajudar o pregador a melhorar a voz para a pregação é
ocasionalmente ouvir ás gravações feitas dos sermões. Seja corajoso
em pedir que os outros ou apenas membros da sua família lhe façam uma
crítica construtiva. Lembre-se que acabamos de falar da pregação em termos
concretos. Quando a pregação envolve alguns personagens no texto bíblico ou
numa história, tenta falar com imaginação como se esses personagens tivessem
falado, gritado, ou chorado. Se bem sucedida, tal criatividade traz uma aura de
realidade para o sermão. Tudo o que podemos dizer é que, uma vez que a
pregação depende muito do uso de palavras faladas, a voz do pregador é um
elemento importante na proferição do sermão.
D. Comunicação Directa ou Indirecta. Pregadores geralmente são
aconselhados que os seus sermões sejam orientados direccionados para essa
congregação particular. Existe, no entanto, o outro lado da moeda do qual o
pregador deve estar ciente. Usar muito o "tú" num sermão pode provocar
mecanismos de defesa de toda a congregação ou entre aqueles que percebem
que são o alvo do sermão. Uma pregação bem-sucedida é o convite na sua
abordagem. O pregador ainda diz em Oséias, "Não te alegres, ó Israel!"
(Os. 9:1), e mais tarde persuade, "Volta, ó Israel, ao Senhor teu Deus..." (Oséias
14:1). É interessante e instrutivo para o pregador que na Bíblia, a mensagem
conclusiva dos profetas é sempre de reconciliação, e não de afastamento.
A nossa pregação deve usar essas habilidades que permitem que a palavra
profética seja anunciada e aprovada pelo amor eterno de Deus pela
humanidade.
O conceito Fred Craddock de "ouvir o evangelho" é de as pessoas ouvirem o
sermão e assimilá-lo positivamente quando a abordagem é indirecta.54 Um
exemplo é quando um pregador dá sermão às crianças na presença dos pais.
Os adultos relaxam e prestam muita atenção no que está sendo dito, porque
eles acreditam que o sermão não se destina a eles. Ou mais próximo da nossa
própria experiência, pensa em como ouvimos uma conversa na qual não
estamos directamente envolvidos. Na maioria dos casos, se a conversa é
interessante ouvimos com atenção, porque não há pressão para pensar com
antecedência que ponto levantar para contar ao outro orador. Não é todo o
sermão que vai acomodar a comunicação indirecta, mas vale a pena estar
atento a essa possibilidade.
E. Gestos. Raramente vemos um Africano falar numa posição rígida, sem
gesticular. Em alguns casos, os gestos culminam na dramatização ou imitar o
que está sendo representado no discurso.
61
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O que pode ser dito sobre gestos é que eles precisam de ser naturais e
combinarem suavemente com a idéia que está sendo enfatizada. Os pequenos e
maiores gestos significativos são o melhor, de outro modo eles se tornam um
obstáculo na comunicação. O pregador vai fazer bem ao se concentrar mais no
acolher os gestos do que qualquer outra coisa. "Gestos, quando empregados
deviam ser, como o pressionar de um martelo sobre a cabeça de um prego.
Deviam dirigir o pensamento...", afirmou W. B. Riley.55
Quando pregamos contextualmente devemos ter tempo para estudar os gestos
que têm um significado distintivo da nossa cultura. Na cultura Africana como em
qualquer outra, há gestos que exibem um senso de autoridade. Colocar as mãos
nos bolsos do outro é um gesto de desrespeito entre o povo Shona. Dispensar a
mão de alguém está associado com saudações alegres e uma boa mensagem.
Assim os gestos devem ser expressos no contexto da experiência
congregacional.
F. Maneirismos. Pregadores tem todos os tipos de maneirismos que eles
exibem no púlpito. A ironia sobre maneirismos ou hábitos é que eles são
geralmente desconhecidos para o pregador. Maneirismos não são habilidades
como tal, mas quando eles não são ofensivos e adicionam algum impacto
positivo para o sermão, eles ajudam na postura total do pregador. Na era
tecnológica de câmeras de vídeo, pregadores devem fazer todo o possível de se
verem a pregar pelo menos uma vez. Se isso for impossível, se não for, podem
pedir algumas pessoas para lhes darem os comentários sobre seus maneirismos
no púlpito.
G. Humor. Os africanos são pessoas de humor na vida cotidiana. Eles são bemhumorados mesmo em funerais, onde os amigos íntimos, sahwiras (para
a área de Murewa no Zimbábue), e noras imitam algumas das características do
falecido. No seu trabalho como missionário no Zaire, agora República
Democrática do Congo, L. Arden Almquist notou a sensação generalizada de
humor entre os africanos lá.56 Humor tem inúmeras funções positivas, uma das
quais é facilitar a uma situação de tensão e, assim, preparar o povo para ouvir
ao que se segue. Ainda mais, há algo espiritualmente edificante sobre o riso.
Todo o pregador deve estar ciente das possíveis consequências do humor.
Tenho ouvido dos pregadores, humor sobre outros grupos étnicos.
Em momentos em que estão incentivando a construção de pontes entre os
diferentes grupos de pessoas, tal humor é de mau gosto.
Homiléticos dão conselhos diferentes sobre o uso do humor no púlpito.
Tais orientações muitas vezes não incluem o uso de humor na introdução e
na conclusão. Além disso, os pregadores são avisados de que há temas
sagrados demais para um toque bem-humorado, como esperança, fé e oração.
Para a pregação, as pessoas devem ser capazes de perceber o objectivo maior,
o sagrado e através do Humor.57 O humor devia ser enxertado no sermão da
maneira mais natural, especialmente quando ele pode facilmente se misturar
com o sermão. Tenho observado que é mais fácil para as pessoas naturalmente
engraçadas usar o humor no púlpito do que aquelas que não são normalmente
dessa inclinação.
Um grande pregador do Zimbábue que usou o humor de forma eficaz na sua
62
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pregação é o bispo Abel T. Muzorewa. Seu humor veio para o crente bem
embrulhado na mensagem. Cabe ao ouvinte decidir o que fazer com ele, porque
o pregador não mostra qualquer sinal de que ele tenciona que a declaração seja
bem-humorada. Lembro-me de um sermão do Bispo quando pregou em Dorowa
num reavivamento. Ele perguntou à audiência, o que fariam se uma família na
vossa aldeia anunciasse que decidiu comer estrume de vaca para o resto da sua
vida. Ele estava pregando sobre a importância de tomar decisões cuidadosas
dentro da oferta de Deus de livre vontade. As pessoas quebraram em risos, mas
ninguém poderia perder a mensagem. Humor não é apenas uma fala quando
vem do púlpito. O uso do humor na pregação exige um elevado grau de
sensibilidade da parte do pregador. O sermão pode facilmente falhar como
resultado da sensação equivocada de humor.
Plágio
O plágio, a prática desonesta de roubar e usar material de outras pessoas,
idéias, criatividade e sem aviso, é geralmente levantada nos círculos
acadêmicos. Não é tão fácil na pregação estar claro sobre onde traçar os limites.
Se alguém vai a um culto ouvir um sermão sobre o que nunca foi dito antes, é
aconselhável ficar em casa. Mas se a intenção é ouvir o que se ouviu antes e
espera que, nesta ocasião em particular o pregador vai dizer isso de forma
diferente, essa é uma expectativa razoável. Então onde é que a questão de
plágio entra? Algumas orientações estão em ordem. Primeiro, o pregador
honesto deve ouvir a sua consciência e determinar se a informação poderia ser
usada sem se reconhecer a fonte. Segundo, o pregador se sentiria confortável
se o autor da idéia ou idéias fosse entrar pela porta durante o sermão? Terceiro,
o agradecimento num sermão não precisa ser complicado. Uma declaração
mencionando que você ouviu essa idéia interessante de um pregador e pensou
em desenvolvê-la desta ou daquela maneira será suficiente. Quarto, é um sinal
de maturidade da parte do pregador dar aos outros o crédito devido a eles. Os
membros da Igreja viajam e se visitam uns aos outros e participam de cultos nos
mais diferentes lugares do que os pregadores normalmente têm a oportunidade
de fazê-lo. Esses membros têm provavelmente ouvido o mesmo sermão pelos
diferentes pregadores sem nenhum deles reconhecer que eles pediram
emprestado de alguém.
De facto, alguns sermões devem ser ouvidos por muitas pessoas em diferentes
locais com pequenas adaptações. Imagino que muitos pregadores concederiam
permissão, se solicitados, aos seus colegas para pregarem o sermão completo
desse pregador. A questão do plágio no púlpito é mais real no contexto africano
onde os pastores estão geralmente sobrecarregados com o trabalho que nós já
mencionamos. Talvez não seja tanto a necessidade de dar crédito aos outros
que importa, mas como tal hábito pode afectar o sentido de trabalho árduo do
pregador em relação aos sermões e criatividade.
Dinâmica Congregacional
Ao discutir a exegese fizemos referência à necessidade de conhecer e
63
Africa Ministry Series
compreender a congregação. Esse nível de compreensão lida com o meio
ambiental e sócio-econômico de uma dada congregação. O que nos referimos
aqui são as nuances silenciosamente colocadas em movimento á medida que o
sermão evolui. Já fizemos um envolvimento semelhante sobre a secção de
contacto olho a olho com a congregação. Aqui o nosso foco é entender as
questões subtís que surgem quando as pessoas ouvem o sermão, e
reciprocamente, torná-lo apoiado ao pregador desenvolver habilidades para ser
capaz de discernir tais dinâmicas. De interesse está a observação que Ralph
Lewis fez de que o ministro pregasse pelo menos quatro sermões
simultaneamente. Os quatro sermões são o auditivo, o visual, o emocional e o
intelectual. Todos os quatro correspondem aos diferentes modos de linguagem.
O auditivo é ouvido mediante a linguagem do som, o visual através da
linguagem de acções corporais, o emocional através da linguagem dos
sentimentos, e o intelectual através da linguagem da mente.58 Um pregador hábil
vai intencionalmente avaliar se o sermão é equilibrado em todos os quatro
idiomas e fazer algo para corrigir qualquer deficiência.
George E. Sweazey notou algo que a maioria das pessoas que também tem
ouvido sermões provavelmente concordaria. Ele disse que os ouvintes não
seguem um sermão num ritmo constante. Em vez disso, eles vêm e vão
mentalmente ao prestarem atenção ao pregador.59 Minha própria experiência em
ouvir sermões é que às vezes o vaguear da minha mente é engendrada pelo
sermão pregado em si. Uma idéia no sermão desencadeia uma série de
associações na minha mente, seguido por uma percepção de que o pregador já
cobriu muito terreno durante meus momentos de reflexão silenciosa. Existem
alguns obstáculos que os ouvintes normalmente trazem para o acto de
adoração. Haveria falta de interesse generalizada, apatia, falta de compromisso,
e exigências de pressões familiares. Adicionando aos obstáculos
congregacionais estão os do pregador, como a falta de tempo e falta de
formação.60 Todos esses factores se aglutinam para criar barreiras que
dificultam conexão suave na pregação entre o pregador e a congregação.
É importante para o pregador se lembrar do óbvio – essa pregação é feita com o
propósito de comunicar o evangelho a ouvintes que normalmente vêm
voluntariamente para ouvir essa mensagem. De que a decisão de vir e ouvir o
evangelho tem sido feita é evidente, o que não é sempre previsível é se eles vão
realmente ouvir quando o sermão for pregado. Todas as discussões sobre
diferentes habilidades à disposição do pregador destinam-se a ser auxiliares no
sentido de facilitar a comunicação e o ouvir o evangelho. Quando tudo está dito,
podemos ainda muito bem dizer com Jesus Cristo, não em desespero, mas com
esperança, que aqueles que têm ouvidos, que ouçam.
Capítulo 4
64
Africa Ministry Series
A Pregação Pode Ser Ensinada?
Quando a pergunta, a pregação pode ser ensinada? aparece, há muitas
suposições por detrás disso. Vejamos algumas dessas suposições. Uma
suposição é de que a pregação é demasiado complexa e sagrada para qualquer
um entender o suficiente para ensinar os outros. Um segundo pressuposto é de
que, uma vez que a pregação é muito sagrada e complexa para qualquer um
poder ensinar aos outros, há um recurso que recebemos de Deus através do
qual as pessoas aprendem a pregar. Uma terceira suposição é de que já que
tanto o instrutor como o aprendiz submetem-se em obediência diante da Palavra
de Deus no sermão, ninguém pode assumir o papel do professor. Quarto, há
questões e aspectos sobre a pregação que desafiam qualquer abordagem no
processo ensino/aprendizagem. E mais suposições podem ser levantadas sobre
se a pregação pode ser ensinada.
Este capítulo baseia-se na firme convicção de que a pregação pode ser
ensinada.
O que precisamos fazer é expandir a nossa compreensão do ambiente no qual
os processos de ensino/aprendizagem de pregação tenham lugar bem como a
sua natureza. Ao invés de nos confinarmos a uma sala de aula tradicional
com estudantes e professores, o nosso horizonte deve incluir a totalidade do
ambiente, tanto como o professor e do local para o aprendizado da pregação.
A sala de aula formal pode dotar os estudantes de pregação com ferramentas
para compreenderem o ambiente em constante expansão de uma forma
significativa. Na situação africana, onde muitos pregadores não têm acesso à
educação formal, perguntas sobre o ensino e aprendizagem da pregação
assumem um significado acrescido.
Uma vez que os sem formação podem pregar, erroneamente segue-se que
não há necessidade de aprender os meandros da pregação. Isso não é
o fim das perguntas sobre ensino/aprendizagem da pregação. Outra pergunta a
respeito da instrução não é como estes pregadores são ensinados, mas como
as pessoas aprendem a pregar?1 É uma questão importante porque saber como
as pessoas aprendem uma disciplina específica determina o método de
de instrução.
Além do ja mencionado acima, este capítulo terá como sua trajectória central,
a maneira como a pregação pode ser melhor ensinada no contexto Africano à
luz do que já foi discutido neste livro. Não se pode pretender desenvolver uma
teoria independente sobre o ensino e aprendizagem da pregação distintamente
para a África somente. Mesmo com essa compreensão, podemos explorar o
processo de ensino/aprendizagem da situação Africana de uma forma que faz
com que seja contextualmente significativa.
Princípios de Ensino
Nas escolas teológicas, os princípios de ensino de educação são assumidos
65
Africa Ministry Series
ao invés de articulados. A forma como o instrutor foi ensinado numa dada
disciplina teológica é mais provável que seja do jeito que ele por sua vez, ensina
os alunos. Um problema é a possibilidade de perpetuar métodos de instrução
desactualizados, apesar de grandes avanços feitos por meio de pesquisa na
melhoria de metodologias de ensino. Minha afirmação é que o ensino homilético
exige que o instrutor esteja ciente do diverso, mas princípios de ensino básicos.
Homilética envolve consciência multi-sensorial tanto por parte do pregador bem
como do ouvinte. Por conseguinte, cabe ao instrutor ensinar de uma forma que
envolve toda a pessoa. Os métodos de pregação devem estar reflectidos nos
métodos envolvidos no ensino e aprendizagem.
Os princípios básicos de homilética de ensino que tenho em mente vêm
da Taxonomia de Bloom de Domínios de aprendizagem:, cognitiva, afectiva, e
psicomotora. É da responsabilidade do instrutor determinar onde cada domínio
de pregação entra em foco. Além disso, a questão, o que é pregação? deve
orientar o desenvolvimento de metas e objectivos para o processo
ensino/aprendizagem. Se dissermos que a pregação é a comunicação, segue-se
que para aprender a pregação, é preciso entender a dinâmica da comunicação.
A tendência é limitar a nossa atenção para a descrição do que a pregação é,
sem tomar nota das implicações da descrição do processo de
ensino/aprendizagem. O ponto é que uma compreensão do que é a pregação
molda os objectivos mais amplos e os objectivos de ensino e aprendizagem.
Outra maneira de colocar é, se dissermos que pregar deve ser feito
contextualmente, por outro lado pela implicação dizemos que o processo de
ensino/aprendizagem deve ser realizado num determinado contexto. Dizer que
pregadores Africanos devem usar expressões idiomáticas, provérbios e outras
formas de discurso relativas à situação Africana não conta toda a história. Na
realidade, o programa deve ser projectado de uma maneira que mostra
especificamente onde e como os estudantes serão ensinados a desenvolver,
reunir e utilizar tais formas de discurso na pregação.
A Perspectiva Principal
Existem algumas perspectivas determinantes dentro das quais o
ensino/aprendizagem da pregação deve ser feito. A primeira é a perspectiva
teológica onde o foco está no desenvolvimento de uma teologia de pregação.2 A
cada estudante deve ser dada a oportunidade de pesquisar e de lidar com o
porquê deve-se pregar. Os estudantes vêm para o processo de aprendizagem
com algumas idéias sobre o suporte teológico para a pregação. Baseando-se no
que já está moldado, o aluno será exposto a outros pensamentos que têm
apoiado este ministério da igreja há séculos.
A segunda é a perspectiva eclesiológica de que a pregação pertence a igreja. Ao
contrário de outras disciplinas teológicas que podem ser facilmente obtidas para
matar a sede intelectual, a pregação somente pode ser estudada numa maneira
significativa, se tanto o pregador e o estudante estão constantemente
conscientes da sua parceria com a já igreja de pregação.
A terceira é a perspectiva cultural que leva em consideração o contexto
particular no qual a pregação ocorre. Um sermão é específico e único,
66
Africa Ministry Series
principalmente porque é desenvolvido com um único grupo de pessoas em
mente num determinado momento. Uma quarta perspectiva de comunicação
é esta: Pregação em última análise, exige que o sabor do pudim esteja no
comer. Ou usando um provérbio Shona, Totenda maruwa dzawa Shakata,
o que significa, "Vamos estar gratos quando as flores da árvore tornarem-se
frutos (Shakata)." No nosso contexto, implica que o que se ensina e aprende na
pregação são apenas "flores" até que o contexto seja comunicado para a
congregação.
No entanto, não é suficiente agrupar estas perspectivas sem alertar o estudante
a reflectir sobre o significado e contexto de cada perspectiva.
Não haverá pregação Africana válida num ambiente onde a teologia Africana
ainda é mantida no limbo. O que, por um exemplo, seria a Cristologia de um
púlpito Africano numa situação onde os teólogos africanos ainda estão a busca
de aprovação? Consequentemente, o ensino da pregação em África não pode
tomar uma teologia de pregação ou a teologia pregada como um dado adquirido.
O processo hermenêutico para o estudante Africano da pregação é complicado.
O processo envolve não somente os textos bíblicos seleccionados, mas a busca
de uma autêntica teologia pertinente a situação africana.
Vindo para a perspectiva eclesiológica, questionamos a identidade da igreja
Africana para a qual o estudante da pregação será chamado a proclamar o
evangelho. Novamente, a questão da identidade da Igreja em África é ainda a
um nível sugestivo de reflexão teológica.
Mas algumas ideias são promissoras, como sugestão Bénezet Bujo duma
"Eclesiologia Eucarística" para a Igreja Africana. A Igreja Africana deve estar
centrada na Eucaristia como "uma refeição que dá vida eclesial." Tal igreja vai
obrigar os seus líderes a satisfazerem as necessidades das pessoas e pregarem
um evangelho que visa erradicar as más condições de vida.3 A imagem da igreja
influencia a pregação do evangelho. Assim, o ensino da pregação em África
deve ser eclético e ter em consideração o trabalho inacabado sobre o significado
do que é a igreja Africana.
A perspectiva cultural é abrangente para o ensino da homilética em África. Este
livro é uma tentativa de colocar o ministério da pregação num microscópico
cultural Africano. A educação do Seminário em África ainda não se fundiu
plenamente na cultura circundante. Como um escritor expõe, "Entre as
conseqüências trágicas do sistema actual de Seminário em África está a
dimensão em que os clérigos indígenas tendem a ser alienados a partir da sua
própria herança cultural."4 Uma razão importante para essa alienação é que na
maioria dos casos, os africanos passam pela educação que está sendo
ensinada em línguas não-indígenas, Francês, Português e Inglês. É bem sabido
que a linguagem do estudo é poderosa em moldar uma visão do mundo.
Além disso, livros e outros recursos utilizados em instituições africanas de
aprendizagem não são preparados com os africanos em mente. A falta de
confiança na parte dos planeadores do currículo para renovar a educação inteira
do seminário para reflectir o contexto Africano é outro motivo importante para tal
alienação de seminaristas da sua cultura. À luz dessa discussão, a necessidade
de abordar a perspectiva cultural de uma forma abrangente no
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Africa Ministry Series
ensino/aprendizagem de homilética torna-se urgente.
Adicionei comunicação como a quarta perspectiva por razões óbvias. A
pregação é por natureza uma disciplina de comunicação. É através
da pregação que o conhecimento aprendido acumulado em várias disciplinas
teológicas é publicamente comunicado à igreja reunida. Também estou
convencido de que, independentemente de quanto se domina as teorias
de homilética e aplicá-las na preparação para pregação pode ainda se vacilar se
a abordagem actual de comunicar a mensagem for ineficaz. Ao escrever sobre o
ensino/aprendizagem de pregação no Japão, Tsuneaki Kato destacou que o
problema enfrentado pelos alunos é como comunicar numa língua oral o que
eles adquiriram através da exegese de uma forma compreensível para a
congregação.5 A comunicação é importante e deve ser seriamente considerada
no processo de ensino/aprendizagem da pregação.
Abordagens no Ensino/Aprendizagem: Tópicos Seleccionados
Nesta parte, vou sugerir como faríamos neste processo de ensino/
aprendizagem de alguns dos temas deste livro. Aqui o foco está nas pressões
contextuais que o instrutor e o aluno poderiam destacar.
A. Pregação Contextual. Aprendi que a maneira mais difícil que quando
abandonados, os estudantes não costumam tomar o caminho contextual como
eles estudam as disciplinas teológicas. É importante ser intencional no ensino da
pregação nas maneiras que são contextuais à situação Africana. Um estudo de
termos como inculturação, adaptação, indigenização, contextualização e
skenosis, será útil se os alunos não tiverem já essa experiência.6
O que geralmente é esquecido é de que fazer estudos teológicos é
contextualmente uma disciplina em si mesmo. Os estudantes não podem
basear-se em como ir por conta própria, e apenas exortá-los a serem
contextuais, pode não ser adequado. Significa que o processo de
ensino/aprendizagem deve fornecer espaço para pensamentos e métodos que
reflectem o contexto Africano.
Se a vida contextual Africana gira em torno da comunidade, os métodos de
ensino/aprendizagem devem deliberadamente estimular uma abordagem
comum para a vida. Uma vez que a pregação não é um ministério privado, os
estudantes devem ser encorajados a trabalhar juntos em grupos ávidos de se
ajudarem uns aos outros. Os pastores no campo tendem a trabalhar em
enclaves separados, algo que pode ser atribuído à sua abordagem individual de
aprender durante os dias do seu seminário. Na verdade, é uma forma de
contextualizar a educação do seminário para remover todos os aspectos da
educação teológica que incentivam competição desnecessária entre os
estudantes.
B. O que é Pregação? Precisamos rever a maneira usual de apresentar uma
palestra preparada com a esperança de informar os estudantes o que significa a
pregação. Don M. Wardlaw diz que, ao realizar seminários sobre pregação, ele
começa por ir ao púlpito pregar, com um aviso de que ele não está dando um
exemplo para os participantes imitarem.7 Infelizmente, os alunos tendem a ver o
que o instrutor ou líder do seminário faz, como definir o tom e exemplo a seguir.
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Gostaria de sugerir que, numa turma de homilética os estudantes devem
começar a aula sobre "O que é a pregação?" por pregar. Costumo verificar nos
meus estudantes para descobrir quantos entre eles nunca pregaram antes. O
número é geralmente de um ou dois numa turma de pelo menos doze
estudantes. Algumas denominações exigem que os candidatos ao ministério
devem primeiro tornar-se pregadores locais. Pedir-lhes para pregar e discutir
suas experiências num ambiente colegial vai ajudá-los a se tornarem mais
confiantes da sua pregação.
Quando a discussão teórica segue o acto da pregação, o significado é claro.
Mesmo quando acham que é útil explorar os princípios e as práticas de
pregação contextual em discussões separadas (como fiz aqui nestes dois
volumes), o processo de ensino/aprendizagem real deve reunir os dois. Os
estudantes aprendem fazendo e, em seguida, reflectem sobre imagens de
proclamar o evangelho no contexto Africano. Informação sobre pregação pode
ser melhor compreendida quando estudada diante do conhecimento da prática
real.
Como observado anteriormente, se a pregação reflectir a personalidade do
pregador, então a questão sobre o que é uma personalidade Africana distinta
torna-se importante. Os africanos têm uma personalidade colectiva enraizada na
cultura tradicional. Esta personalidade corporativa manifesta-se no desejo de
construir comunidades de pessoas, em vez de isolar-se, e é expressa através de
um sentimento que transborda da hospitalidade. Pense no que a pregação
poderia ser quando o pregador naturalmente projecta um humor hospitaleiro
para a congregação. O que se entende na cultura Africana como boa
personalidade e carácter? Ao invés de passar por cima dessas idéias, os
estudantes de homilética devem lidar com tais questões de como eles
relacionam personalidade à pregação.
C. O Retrato do Pregador. É da responsabilidade de cada pregador identificar a
imagem e as implicações para a pregação que gostaria de seguir. A participação
da turma devia começar por se centrar na partilha da percepção do chamado. O
que significa para o pregador ser chamado para pregar? As reflexões não
devem se distanciar das experiências vividas dos estudantes. Deixe-os
compartilhar suas histórias numa atmosfera sem julgamento e descontraída.
Os estudantes devem estar cientes de que a maioria dos pregadores não chega
as igrejas completamente formados, mas sim, eles experienciam uma jornada de
se tornarem o que eles querem ser. A maioria dos livros sobre homilética faz um
excelente trabalho ao descrever o que o personagem de um pregador deveria
ser, mas pouco ou nada dizem sobre como se tornar um peregrino ao longo de
uma carreira de pregador.
Este é o momento em que o ensino/aprendizagem da pregação deve abordar
as exigências espirituais do ministério. Como os estudantes lêem sobre as
imagens do pregador, então podem relacioná-las ao seu contexto. O que
significa para eles estarem separados e serem submarinos com a sereia, nzuzu?
Poderiam eles imaginar em outras imagens de serem independentes e
consagrados para maiores responsabilidades? Embora o pregador não seja um
chefe da aldeia, os ritos tradicionais de como os chefes são seleccionados e
69
Africa Ministry Series
consagrados poderia ser uma fonte de inspiração. Imagens capacitam, inspiram
e pintam uma fotografia real de uma idéia que poderia facilmente dissipar-se do
pensamento abstrato. A pesquisa de tais imagens do pregador de dentro do
contexto Africano seria estimulante.
D. Preparação para pregar. Ao invés de simplesmente escrever notas no
quadro sobre como se prepara para pregar, uma melhor abordagem é a de pedir
aos estudantes que comecem a desenvolver recursos homiléticos. Eles podem
começar por tomar notas e manter idéias para o desenvolvimento futuro. Esta
abordagem vai cultivar o olho e o ouvido do pregador, algo com que eles vão
depender para o resto de suas carreiras de pregação. Novamente, o
entrelaçamento intencional entre a teoria e prática devem caracterizar cada
lição.
No contexto Africano, o instrutor deve inculcar a atitude de que a pregação é um
trabalho árduo, e que aqueles que pretendem, aproximem com sucesso este
ministério com a reverência inspirada pelo sentido do santo.
Temos notado que os africanos têm um talento para falar de improviso, mas
se pensam que não há necessidade para a uma preparação séria isso pode
tornar-se a amargura da sua carreira de pregador. Muito trabalho para os
pastores também pode levar à falta de atenção na preparação dos sermões. O
facto de que os leigos sem formação fazem-no bem na pregação pode enganar
o pastor pensar que alguém pode se levantar e pregar sem nehuma preparação.
Deste modo, existe uma necessidade de moldar atitudes apropriadas de
trabalhar arduamente ao se preparar para pregar. Este trabalho árduo não deve
estar separado dos momentos de oração e de crença sólida no Espírito Santo.
Os estudantes devem ser dados a oportunidade de partilhar sobre viver vidas
baseadas na oração, crença, e confiar na eficácia do Espírito Santo.
Uma outra área que precisa de mais atenção no processo ensino/aprendizagem
de pregar em África é a exegese e hermenêutica. Aqui, novamente, tanto o
instrutor e o estudante devem usar lentes contextuais. Ensinar exegese e
hermenêutica para pregar em África não deve terminar com o método tradicional
de exegese de um texto bíblico. Estudantes africanos na educação teológica, em
geral, e no estudo de homilética em especial devem estar conscientes da
hermenêutica da suspeita.
Basicamente, o paradigma de hermenêuticas da suspeita começa no
pressuposto de que cada texto tem uma máscara que deve ser removida a fim
de se chegar à verdade. A hermenêutica de suspeita exalta dúvida sobre o
consentimento não crítico numa dada interpretação.8
Hermenêutica da suspeita para o teólogo e pregador Africano devem significar
que o texto é abordado na suposição de que a condição Africana e a experiência
tem sido deixados de fora. O mundo Ocidental tem predominantemente
alimentado suas normas nas formas que o texto bíblico é geralmente
interpretado hoje. Este exercício pode começar por traçar o Motivo africano na
Bíblia e tentar discernir o significado dos textos para a igreja Africana
contemporânea. Se a Bíblia tem sido usada para marginalizar as pessoas de
ascendência Africana agora é o momento para elevar e capacitar, através da
proclamação do evangelho àqueles que tem sido desfavorecidos.
70
Africa Ministry Series
Para além da exegese e da hermenêutica, o estudante Africano de pregação
deve ser atraído a ver a interpretação bíblica como interessante e gratificante.
Através disso os estudantes pesquisam textos de informação fascinante.
Eles podem compartilhar suas descobertas na turma e relacionarem as
informações que poderiam ser igualmente de interesse para a congregação e as
que podem ficar de fora. Imagine as descobertas exegéticas de que São Paulo
nunca escreveu que "Ninguém é perfeito" ou "éramos todos pecadores", mas
que essas palavras eram escritas por Petrônio, "um amigo perverso do também
débil Imperador perverso Nero" que queria justificar todos os vícios.9 É provável
que tais informações incentivem os estudantes de pregação a passar por essa
meticulosa pesquisa que acaba por enriquecer a sua compreensão bíblica.
Preparação adicional para a pregação do pastor Africano devia depender
consideravelmente nos contactos pastorais. Africanos valorizam o tempo gasto
na companhia de um e do outro. A maioria das famílias africanas ainda tem
tempo para participar em conversas com significado revelando alguns aspectos
da experiência de vida que eles podem estar passando. Helge Beden Nielsen
indicou a necessidade para a ligação do cuidado pastoral e homilia: "Em tempos
onde o cuidado pastoral é negligenciado frequentemente vemos que os sermões
tendem a ser corpos abstratos por assim dizer, sem conexão com a experiência
humana."10 Eu, pessoalmente, encontrei a conclusão de que um pastor que
visita os paroquianos no Sábado (dia exacto não é importante) terá uma igreja
cheia no Domingo e achei que fosse verdade. Um instrutor de homilética em
África, deve instar os estudantes a combinarem rigorosamente sua pregação
com visita pastoral e cuidado geral dos membros.
E. O que Pregar? Ao ensinar os estudantes a respeito da pregação, é
importante fazê-los perceber que a principal fonte dos problemas na pregação
não é como pregar, mas o que pregar. É lamentável que os estudos em
homilética inclinem-se mais sobre como pregar do que sobre o que pregar.
Em África, a questão sobre o que pregar é essencial porque o evangelho a ser
proclamado deve ser moldado pelas tendências na reflexão teológica Africana. A
hermenêutica da suspeita é estimulada sobre os pregadores Africanos na
premissa de que o evangelho da igreja missionária em África precisa ser
revisitada. África necessita urgentemente de uma mensagem global que
incorpora a salvação para a pessoa no seu todo. Partilhando este entendimento
do significado de o que pregar, Bujo salientou: "Toda a pregação Cristã deve
ajudar a restaurar a confiança do povo de África na sua herança cultural."11 A
dívida econômica Africana é discutida por estrangeiros que protestam por razões
humanitárias, enquanto a Igreja em África continua nas suas obrigações como
de costume. Os pregadores Africanos devem ser desafiados a levantarem essas
questões nos seus sermões para o benefício dos seus povos. África é um
continente onde os direitos humanos não estão garantidos para a maioria das
pessoas. Liberdade em Jesus Cristo deve incidir existencialmente a estas
questões de medo e insegurança que os povos africanos enfrentam diariamente.
O menino Jesus de hoje não pode mais ser levado para África como um refúgio
da perseguição de Herodes. É da responsabilidade do estudante Africano pregar
para entender os problemas e começar a desenvolver sermões que tratam de
71
Africa Ministry Series
problemas que invocam o Espírito Santo para guiar as pessoas em resolvê-los.
Ao analisar o Sermão da Montanha, Manfred Josuttis argumenta que a
montanha é um símbolo de autoridade com que todo pregador é dotado ao
entrar no púlpito. O púlpito não é lugar para conversa cotidiana sobre as
questões sociopolíticas e econômicas existentes. "Quem entra no púlpito fala
com autoridade depois de ter dominado a linguagem da montanha", disse
Josuttis. Ele continuou: "No púlpito não há necessidade de repetir o que foi dito
repetidas vezes no mundo cotidiano da Igreja e da sociedade, da ideologia e da
moral...Quem se atreve a entrar no púlpito deve transcender a visão de todas as
teorias teológicas, psicológicas, pedagógicas e políticas."12 África precisa de
sermões que são mais do que uma mera repetição daquilo que se ouve na rua.
Os estudantes devem ser desafiados a pensar sobre o conteúdo dos seus
sermões à luz da esperança perdida, a pobreza e a insegurança em torno de
questões que caracterizam o contexto Africano.
F. Como Pregar? A linguagem é um elemento chave na pregação e qualquer
processo de ensino/aprendizagem deve destacar isso. Além de comentários e
outras ferramentas para estudos bíblicos, um estudante de homilética em África
deve possuir um dicionário na língua indígena, uma recolha de provérbios e
expressões idiomáticas, e alguns romances africanos. Além disso, sugiro que
uma das práticas a serem realçadas nos estudantes é a de frequentarem os
tribunais e observarem como os chefes e anciãos efectuam discursos.
Dependendo da tradição denominacional, a utilização da canção na pregação
para acentuar o sermão é geralmente bem acolhida pela congregação.
Estudantes africanos de homilética devem ser encorajados a usar a música nas
suas sessões de formação, se for conveniente. É um grupo de pessoas em
África raro, que irá rejeitar o cantar do hinário bem sincronizado durante a
pregação. Escrevendo sobre o canto do povo Zulu da África do Sul, um escritor
considerou a música deles "este dom da Zululândia tão bonito nos seus muitos
tons e modos de expressão."13 Africanos são um povo que canta e cuja música
expressa todos os aspectos da vida. Assim, o uso do canto na proclamação do
evangelho é uma das muitas formas de contextualizar a pregação em África.
Um dos melhores métodos de ensinar os estudantes a pregar é através de
métodos de micro-ensino adaptados à pregação. Micro-ensino é um modelo de
ensino em que um estudante pratica um conjunto de habilidades em bservação.
Por micro-pregação o estudante se prepara e apresenta um sermão com foco
em habilidades seleccionadas, que a turma irá criticar. Onde for possível os
melhores resultados podem ser gerados se a apresentação for gravada em
vídeo e, então, repetida para a crítica. Perguntas preparadas poderiam
ser usadas para verificar habilidades, tais como contacto visual, projecção de
voz, uso de manuscrito, a utilização de várias formas de linguagem, introdução,
conclusão, e assim por diante.
O ensino/aprendizagem de como pregar exige uma abordagem de campo-base
em que as congregações estão envolvidas. Estou ciente de que no Contexto
africano não é fácil encontrar congregações dispostas a crítica de sermões dos
estudantes. Para eles, a palavra pregada de Deus não deve ser submetida a
exame. Lembro-me do Reverendo Jakazi, um pastor Africano na Igreja
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Africa Ministry Series
Anglicana de St. John em Mutare, que tentou envolver a congregação na
reacção aos seus sermões. Numa ocasião eu estava presente, quando ele pediu
aos membros da congregação a ficarem para criticar o seu sermão. Embora a
resposta fosse mínima, estimei o seu esforço em envolver a congregação na sua
pregação.
Ao mesmo tempo eu estava envolvido num seminário de pregação para o grupo
de mulheres no Reino de São Pedro, Igreja Metodista, Mutare. Para a sessão de
encerramento pedi a uma mulher para pregar e os outros para criticarem. Houve
uma resistência inicial que descongelou quando eu expliquei que, para a crítica
do sermão não menospreza a Palavra de Deus de forma alguma. Muito trabalho
pode ser feito no campo para treinar os estudantes em como pregar. Devemos
cultivar e orientar as congregações a se tornarem parceiras em treinar pastores
para pregarem.
A observação é um outro método de ensino/aprendizagem como pregar.
Os estudantes devem aproveitar as oportunidades para observarem os outros a
pregarem. Existem dois tipos de observação: Premeditada e emergente. Na
observação premeditada, o observador tem uma estratégia pré-planejada do que
é para ser observado, com espaço para outros factores a serem incluídos. Na
observação emergente há pre-planeamento no sentido de que o estudante está
ciente de que vai observar um evento, mas o processo está em aberto. O que
deve ser observado não é predeterminado.14 Como os estudantes freqüentam os
cultos, funerais, casamentos e outras ocasiões eles poderiam usar um dos dois
métodos para observar os sermões.
G. Análise do Sermão. Observação e crítica do sermão são componentes de
análise do sermão. Detalhes dessa análise do sermão tem sido descritos em
Why We Preach (Porquê Pregamos), o primeiro livro neste estudo. Os
estudantes de pregação devem estar familiarizados com este método como um
processo de ensino/aprendizagem. Já notamos que os pregadores Africanos
não costumam escrever os seus sermões. Para efeitos de análise, a gravação
em fita ou a gravação em vídeo pode ser usada. A vantagem de se analisar os
sermões por outros pregadores é que os estudantes estão mais relaxados e
abertos em suas respostas do que quando estão se criticando uns aos outros.
Um estudante pode se concentrar em áreas que sente que há necessidade de
aperfeiçoar algumas habilidades.
Auto-Avaliação
Qualquer um que queira ser eficaz na pregação deve aprender a arte de autoavaliação.
O primeiro requisito e mais importante é ser humilde diante de Deus e as
pessoas reconhecerem que um pregador é um aprendiz ao longo da sua
carreira. A auto-avaliação pode ser realizada como uma forma aberta de
pedidos de comentários de amigos ou familiares. A utilização de uma gravação
em fita ou gravação em vídeo pode ser útil no acompanhamento de alguns
aspectos da proferição. Ouvir a sua própria voz geralmente é surpreendente. O
que é necessário é ser honesto consigo mesmo em aprovar os pontos fortes e
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Africa Ministry Series
assinalar as áreas de melhoria.
Educação Continuada
O resultado melhor e mais bem sucedido de homilética de ensino é para
os estudantes desenvolverem uma curiosidade intrínseca para a aprendizagem
sustentada para além dos dias do seminário. Lembro-me de um comentário que
um dos meus estudantes de homilética fez no fim da última aula do semestre na
Universidade de África.
Despedi a turma e desejei-lhes bons exames, e Almeida Lemba, comentou:
"Então acha que podemos pregar?" Não pude responder. Gostaria que tivesse
dito ao estudante que ele podia, com certeza pregar, mas que é uma área
coberta de mistério e incertezas, apenas assegurada pela presença infalível do
Espírito Santo. Mas uma coisa que todos os estudantes de pregação podem
fazer é estudar continuamente a sua disciplina.
A educação continuada no contexto Africano deve ir além de seminários
organizados e outras definições formais planejadas de aprendizagem.
Pastores africanos devem ser criativos na forma como eles continuam a
aprender.
O sentido da vida em comum entre os africanos deveria ser transformada
em realidade. Pastores podem se reunir e compartilhar livros entre si.
Congregações poderiam retirar recursos e comprar livros que os seus
pastores poderiam compartilhar em suas organizações fraternais. É lamentável
que os africanos escrevam tanto sobre o lugar que a comunidade detém nas
suas vidas sem dizer como essa vida centrada na comunidade é necessária hoje
e que pode ser utilizada. No Zimbábue há rumores de se implementar Zunde
raMambo (a machamba do chefe), que existiu na cultura tradicional. Todos na
aldeia eram obrigados a trabalhar neste Zunde (machamba). Culturas da
machamba eram armazenadas e disponibilizadas para os necessitados
gratuitamente.
As formas como tal machamba seria administrada podem mudar nos dias
modernos mas a idéia básica por detrás da prática, cuidar através da partilha,
não muda. Digo isto porque a igreja é uma instituição em África que pode
assumir a liderança em mostrar que as pessoas podem compartilhar, cuidar
umas das outras, e trabalhar em conjunto. Em África ao invés de apenas
reclamarem sobre a falta de recursos, pregadores aprendem a compartilhar
idéias e recursos.
Educação continuada para o pregador Africano também significa que quando
possível, cada pastor deve adorar e ouvir sermões em outras igrejas. É
gratificante ouvir um outro pregador lidar com um texto que também pregou
sobre uma maneira completamente diferente. A imaginação na pregação
normalmente é estimulada por ouvir a forma como os outros usam enfeites
fantásticos em seus sermões. Se um pastor não está a pregar na sua igreja e
não há nenhuma razão para estar presente, cultuar numa igreja vizinha pode
proporcionar um enriquecimento pessoal. Pode também acontecer que os
pastores não cultuem profundamente em suas congregações porque eles estão
sob pressão para supervisionar tudo. Assim, cultuar com outra congregação
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Africa Ministry Series
pode vir a ser útil não apenas para o crescimento pessoal na pregação, mas
também para o enriquecimento espiritual.
Pastores se envergonham de liderar estudos bíblicos nas suas igrejas porque
eles não estão conscientes da estreita ligação entre tais actividades na
educação cristã e pregação. Com certeza, o estudo da Bíblia não garante por si
só uma pregação melhorada, mas tem contribuições positivas para a carreira da
pregação do pastor. Um pastor terá a oportunidade de ler e ouvir textos bíblicos
fora do contexto da preparação de sermões.
Além disso, o pastor vai aprender com as idéias dos paroquianos como eles
compartilham o modo como os textos falam para eles.
Uma vez liderei um grupo de membros da igreja para discutir o dízimo como
uma forma de dar mandatado pela Bíblia. Uma mulher no grupo, a Sra.
Mawoyo, disse que na sua opinião o dízimo é Mombé yeumai, isto é, uma vaca
dada à mãe da noiva, como parte de lobolo na cultura Shona.
Esta vaca é sagrada e altamente valorizada e cada noivo tenta ver essa sogra
sem demora. Esta é uma idéia maravilhosa de contextualizar o ensino do dízimo
que eu, o pastor, nunca tinha pensado. Estudo da Bíblia e outras actividades de
aprendizagem feitas em conjunto com membros da igreja poderiam fornecer
arenas ricas e recursos para a educação continuada como uma actividade
diária.
Wendland vê a necessidade de um esforço combinado em África, onde sermões
de várias regiões do continente poderiam ser reunidos numa forma transcrita e
traduzida. Tal colecção de sermões, poderia depois ser analisada por estudiosos
e profissionais em pregação.15 O material irá prontamente tornar-se no estudo
de casos, bem como partes de comparação em África. Na verdade, esta
abordagem irá avançar o ensino da homilética no continente Africano em
seminários, faculdades e universidades. A universidade de África, através da
sua Faculdade de Teologia e de outros centros regionais do ensino superior
teológico, poderiam assumir a liderança na tal parada.
Sermões recolhidos irão no final permitir cursos ou seminários sustentáveis
sobre a retórica da pregação Africana.
Embora haja vários aspectos de homilética de ensino/aprendizagem, que não
tratei neste capítulo, ainda é minha esperança que as idéias compartilhadas até
aqui, vão proporcionar uma plataforma de lançamento para uma maior
exploração.
O ensinar e aprender têm princípios que todos os que ensinam e aprendem são
melhor servidos em seguir. Igualmente importante estão os estilos que
caracterizam a forma individual de ensinar ou aprender. A minha esperança é
que sugestões feitas aqui não tenham atrofiado o senso de criatividade com que
cada indivíduo é dotado.
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Africa Ministry Series
Capítulo 5
Resumo
O foco deste livro é a prática da pregação em África. É uma coisa para
compreender a teoria de como algo deve ser feito. É na verdade uma outra, de
fazer o que se espera. No capítulo 1, lidamos com a preparação para pregar. A
questão apresentada foi de que inúmeros factores no contexto Africano não
tornam o processo de preparação para pregar fácil para o pregador. Alguns
desses factores são a falta de recursos e cargas de trabalho pesado. Falar de
improviso – talento positivo em si – também pode dificultar o processo de
preparação dos sermões. Os africanos são bons em proferir discurso ou sermão
em pouco tempo. Esta habilidade pode ser mal usada, levando a uma atitude de
indiferença em preparar sermões e para pregação. Preparação para pregar
envolve várias questões que cada pregador deve considerar seriamente. Deve
ser dada especial atenção a exegese, não apenas para acompanhar os
processos tradicionais envolvidos, mas para o pregador Africano questionar a
legitimidade e a primazia de dadas interpretações, quando vistas no contexto da
situação Africana.
Para pregadores Africanos, a resposta para a pergunta, o que pregas?
não é dada. África exige uma mensagem especial profética que pode levar o
ouvinte Africano a dizer no final que foi atingido, mas não destruído.1 Temos
afirmado que um foco excessivo sobre as formas africanas e meios de
comunicação do evangelho em detrimento da natureza da mensagem a ser
pregada, é míope. Pregação como ela é feita em África parece estar orientada
para a salvação individual. Um evangelho holístico é necessário em África. O "o
quê" da pregação precisa de mais atenção dos homiléticos, especialmente no
que se refere ao contexto Africano.
Quando a mensagem está lá a próxima questão é como pregas?
No que diz respeito aos modos de pregação, pregação Africana contribui
vários fundamentos distintos. Pregar sem notas é a forma normativa de proferir
sermões para pregadores Africanos. Além disso, a utilização de formas africanas
de fala, como provérbios, expressões idiomáticas, músicas e conto de histórias
saturado com imaginação é pertinente no contexto Africano onde a palavra
falada é ainda dominante.
Se qualquer avanço é para ser feito na tentativa de contextualizar a pregação,
segue-se que a forma como ensinamos os pregadores deve ser pertinente a
situação Africana existente. É uma área que pede espírito colegial entre os
envolvidos no ensino de outras disciplinas teológicas. É inútil exortar os
estudantes de homilética para serem contextuais, se essa não é a intenção bem
coordenada em todo o currículo. Não importa o quanto enfatizamos a
necessidade de fazer teologia contextual, será de pouco uso até que o toque de
trombeta seja acompanhado de recursos de aprendizagem produzidos com o
contexto Africano em mente.
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Africa Ministry Series
É minha esperança que este livro vai combinar com os esforços dos outros e
juntos providenciarmos um ponto de partida sólido. Estar sempre lembrado em
boa fé dessa pregação contextual, ou qualquer outro método para essa matéria,
não torna a tarefa nada fácil. A pregação é um acto de adoração e é realizada
no contexto da fé, que deve ter precedência e acima de qualquer outro contexto
que podemos imaginar.
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Africa Ministry Series
Notas
Capítulo 1: Preparação para Pregar
1 I have discussed these and other broad issues related to the preaching task in Zimbabwe.
See E. K. Nhiwatiwa, “Preaching Task in Zimbabwe,” in Tsuneaki Kato, ed., Preaching as God’s
Mission: Studia Homiletica 2 (Tokyo: Kyo Bun Kwan, 1999): 154–57.
2 Chang Bok Chung, “Preaching Situation in Korean Church,” in Tsuneaki Kato, ed., Preaching as
God’s Mission, pp. 136–41. Chung raised a number of issues such as overwork and lack of indepth
knowledge in homiletics that are similar to the African context.
3 Fred B. Craddock, As One Without Authority (Nashville: Abingdon Press, 1979), p. 6. See also
John Killinger, Fundamentals of Preaching (Minneapolis: Fortress Press, 1991), p. 91. Evangelist
Wame urges the preacher to “study man” by making regular pastoral visits. See Ernst R.
Wendland, Preaching that Grabs the Heart: A Rhetorical Stylistic Study of the Chichewa Revival Sermons
of Shadrack Wame (Blantyre, Malawi: Christian Literature Association inMalawi, 2000),p. 247.
4 Samuel Proctor, The Certain Sound of the Trumpet: Crafting a Sermon of Authority (Valley Forge, PA:
Judson Press, 1994), p. 22.
5 Edmund A. Steimle, Charles L. Rice, Morris J. Niedenthal, Preaching the Story (Philadelphia:
Fortress Press, 1980), p. 161.
6 For these quotations see Charles L. Rice, The Embodied Word: Preaching as Art and Liturgy
(Minneapolis: Fortress Press, 1991), p. 134.
7 To mention just a few, see O. C. Edwards, Jr., Elements of Homiletic: A Method for Preparing to
Preach (Collegeville, MN: Pueblo Publishing Company, 1982), p. 22; John Killinger, Fundamentals
of Preaching, pp. 190–91; and Illion T. Jones, Principles and Practice of Preaching: A Comprehensive
Study of the Art of Sermon Construction (Nashville: Abingdon Press, 1984), p. 56.
8 The statement was cited by Gardner Taylor in an interview: David Albert Farmer, “Pulpit
Laureate and Presidential Favorite: An Interview with Gardner Taylor,” in Pulpit Digest77, no.
541 (September/October 1996): 101.
9 Africans offer prayers for a variety of occasions. See John S. Mbiti, Introduction to African Religion,
2nd rev. ed. (Oxford: Heinemann Educational Publishers, 1991), pp. 61–63.
10 Illion T. Jones, Principles and Practice of Preaching, p. 70.
11 Phillips Brooks, Lectures on Preaching (Grand Rapids, MI: Zondervan, n.d.), p. 135.
12 Edgar N. Jackson, A Psychology for Preaching (New York: Great Neck Channel Press, 1961), p.
37.
13 Michael Bourdillon, Religion and Society: A Text for Africa (Gweru: Mambo Press, 1990), p. 123.
14 Paul Scott Wilson, “Beyond Narrative: Imagination in the Sermons,” in Gail O’Day and Thomas
G. Long, eds., Listening to the Word: Studies in Honor of Fred B. Craddock (Nashville: Abingdon Press,
1993), p. 139.
15 Fred B. Craddock, Preaching (Nashville: Abingdon Press, 1985), p. 31.
16 Ernst R. Wendland, Preaching that Grabs the Heart, p. 228.
17 Horst Burkle, “Patterns of Sermons from Various Parts of Africa,” in David B. Barrett, ed.,
African Initiatives in Religion (Nairobi, Kenya: East African Publishing House, 1971), p. 224.
18 John S. Mbiti, African Religions and Philosophy, 2nd ed. (London: Heinemann Educational Books,
1990), p. 22.
19 Ernst R. Wendland, Preaching that Grabs the Heart, p. 245.
20 Martin E. Marty, The Word: People Participating in Preaching (Philadelphia: Fortress Press, 1984), p.
69.
21 George E. Sweazey, Preaching the Good News (Englewood Cliffs, NJ: Prentice-Hall, 1976), p. 33.
22 Robert G. Hughes and Robert Kysar, Preaching Doctrine: For the Twenty-First Century (Minneapolis:
Fortress Press, 1997), p. 46.
23 Fred B. Craddock, As One Without Authority, p. 129.
24 Ibid.
25 For details on the different types of sermon outlines see Jones, Principles and Practice of Preaching,
pp. 65–77.
26 A report on decision making among the Tswana says that public policy is openly discussed at
an assembly open to all the men of the tribe. There is wide consultation. See I. Schapera and
John L. Comaroff, The Tswana, rev. ed. (London: Kegan Paul International in Association with
International African Institute, 1991), pp. 46–47. The East African revival groups adopt “group
consensus” as the dominant procedure in making decisions. See Dorothy E. W. Smoker,
“Decision-making in East African Revival Movement Groups,” in David B. Barrett, ed., African
Initiatives in Religion (Nairobi: East African Publishing House, 1971), p. 105.
27 From a summary made by Bourdillon from various studies by M. Bloch especially from
“Decision Making in Councils Among the Merina of Madagascar, 1971,” in Bourdillon, Religion
and Society, p. 108.
28 Fred B. Craddock, Preaching, p. 216.
29 H. Beecher Hicks, “Bones, Sinews, Flesh and Blood Coming to Life,” in Richard Allen Bodey,
Inside the Sermon (Grand Rapids, MI: Baker Publishing Company, 1990), p. 116.
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Capítulo 2: O que você Prega? A Mensagem
1 The Confessions of St. Augustine, trans. John K. Ryan, Book 1, chap. 1 (New York: Image Books/
Doubleday, 1960), p. 43.
2 Olin P. Moyd, The Sacred Art: Preaching and Theology in the African-American Tradition, (Valley Forge,
PA: Judson Press, 1995), p. 50.
3 Ralph Lewis, Persuasive Preaching Today (Ann Arbor, MI: Abury Theological Seminary, 1979) pp.
151–52. On this note of the importance of the message see also Jones, Principles and Practice
of Preaching, p. 182.
4 This is the gist of Desmond Tutu’s view on African theological reflection, “Whither African
Theology,” in E. Fashole-Luke et al., eds., Christianity in Independent Africa (London, 1978), pp.
364–69, cited by Kwame Bediako, “African Theology,” inDavid F. Ford, The Modern Theologians:
An Introduction to Christian Theology in the Twentieth Century, 2nd ed. (Malden, MA: Blackwell
Publishers, 1997), p. 427.
5 Martin E. Marty, The Word: People Participating in Preaching, p. 12.
6 Ibid., pp. 30–31
7 Austin Phelps, quoted in Arthur S. Hoyt, Vital Elements of Preaching (New York: The McMillan
Co.), p. 117.
8 Arthur S. Hoyt, Vital Elements of Preaching, p. 131.
9 Charles F. Kemp, ed., Pastoral Preaching (St. Louis: Bethany Press, 1963), p. 12.
10 Ibid., pp. 17–18
11 Webb B. Garrison, The Preacher and His Audience (New York: Fleming H. Revell, n.d.), p. 41.
12 Phillips Brooks, Lectures on Preaching, p. 126.
13 Reuel L. Howe, Partners in Preaching: Clergy and Laity in Dialogue (New York: The Seabury Press,
1967), p. 42.
14 Edward F. Markquart, Quest for Better Preaching Resources for Renewal in the Pulpit (Minneapolis:
Augsburg Publishing House, 1985), p. 72.
15 Henry H. Mitchell, Celebration and Experience in Preaching (Nashville: Abingdon Press, 1990), p.
63.
16 Kenneth R. Ross, ed., Gospel Ferment in Malawi: Theological Essays (Gweru: Mambo Press, 1995),
p. 84.
17 Ibid., p. 88. Ross found out that the church in Malawi consistently warns its members on the
catalogued vices.
18 Jose B. Chipenda, Andre Karamaga, J .N. K. Mugambi, C. K. Omari, eds., The Church of Africa:
Towards a Theology of Reconstruction (Nairobi: All Africa Conference of Churches, 1991), p. 25.
19 Ross, Gospel Ferment in Malawi, pp. 75–78.
20 Ibid.
21 Nelson Mandela, Long Walk to Freedom: The Autobiography of Nelson Mandela, abr. and ed. Coco
Cachalia and Marc Suttner (Braamfontein, Gauteng, South Africa: Nolwazi Educational
Publishers, 1998), p. 148.
22 L. Arden Almquist was a missionary who spent some time working in Zaire, now the
Democratic Republic of Congo. He grasped and articulated some values he learned from the
Africans in his book Debtor Unashamed: The Road to Mission Is a Two-Way Street (Chicago: Covenant
Publications, 1993), p. 22.
23 The quotation is from the brochure prepared for the itinerary of Convocation 2000 that was
held at the Interdenominational Theological Center, Atlanta, Georgia, under the leadership of
Professor Anne Streaty Wimberly.
24 Richard Lischer, “Preaching as the Church’s Language,” in O’Day and Long, Listening to the
Word, p. 113.
25 Ivy Ncube, “AIDS Threatens To Wipe Out Settlement,” The Herald, 6 November 1999, p. 1.
There are numerous cases where AIDS or other illnesses are blamed on evil spirits or other
superstitious causes that go unreported among the African people in Zimbabwe. This refusal
to face reality holds true in other African countries.
26 “N’angas ‘recover’ owls, snakes, organ from farm workers’ houses,” The Herald, 6 November
1999, p. 1. Such reports of “recovering” mysterious objects are rife throughout towns and
rural areas in Zimbabwe.
27 Mugambi, Critiques of Christianity, p. 67. Here Mugambi cites the critical views of Mbiti.
28 John W. de Gruchy, “African Theology: South Africa,” in Ford, ed., The Modern Theologians, p.
449. The Kairos Document was based on prophetic theology that brought church leaders
and theologians in apartheid South Africa to formulate a united voice of the church against
apartheid.
29 Christine M. Smith, Preaching as Weeping, Confession, and Resistance: Radical Responses to Radical Evil
(Louisville, KY: Westminster John Knox Press, 1992), p. 1.
30 Ibid., p. 4.
31 Ibid., p. 5.
32 Walter Brueggemann, Cadences of Home: Preaching among Exiles (Louisville, KY: Westminster John
Knox Press, 1997), p. 78.
79
Africa Ministry Series
33 Martin E. Marty, The Word: People Participating in Preaching, p. 11.
34 For the cartoon, see The Daily News, 14 April 2000, p. 8. This was a critique of the church for
its failure to speak against the violence in and outside the pulpit.
35 “The Church Must Speak Out!” Zimbabwe Independent, 14 April 2000, p. 6.
36 Bromley G. Oxman, Preaching in a Revolutionary Age (Nashville: Abingdon/Cokesbury Press,
1944), p. 117. The revolutionary age referred to here that demanded a prophetic message
was the period of the Second World War when atrocities of all kinds were reported.
37 Gardner C. Taylor, How Shall They Preach? (Elgin, IL: Progressive Baptist Publishing House,
1977), pp. 78–80. The image of the watchman, found in Ezekiel 33, is a biblical metaphor for
the role of the preacher.
38 Richard Lischer, The Preacher King: Martin Luther King Jr. and the Word that Moved America (New York:
Oxford University Press, 1995), p. 219.
39 Mugambi, ed., Critiques of Christianity, p. 15.
40 Markquart, Quest for Better Preaching, p. 129.
41 Ross, Gospel Ferment in Malawi, p. 85.
42 Elizabeth Achtemeir, Preaching as Theology and Art (Nashville: Abingdon Press, 1984), p. 12.
43 David H. C. Read, Preaching about the Needs of Real People (Philadelphia: Westminster Press, 1988),
p. 35.
44 T. D. Niles, Preaching the Gospel of the Resurrection (Philadelphia: The Westminster Press, 1954), p.
87.
45 For a detailed explanation of this method of preaching, see Fred B. Craddock, Overhearing the
Gospel (Nashville: Abingdon Press, 1978).
46 John W. Conway, “Have Patience—We’ll Be in St. Croix Tonight,” in McNulty, ed., Preaching
Better, p. 122.
47 Ibid., p. 124.
48 Charles Hudson, “Preaching to the Living at a Funeral,” in McNulty, ed., Preaching Better, p.
116.
49 Almquist, Debtor Unashamed, p. 29.
Capítulo 3: Como Você Prega? Um Repertório de Habilidades
1 R. E. C. Browne, The Ministry of the Word (London: SCM Press, 1976), p. 24.
2 Ibid., p. 79.
3 On inclusive language, see the chapter on “Emancipatory Language” in Marjorie Proctor
Smith, In Her Own Rite: Constructing Feminist Liturgical Tradition (Nashville: Abingdon Press, 1990),
pp. 59–84. See also Hoyt L. Hickman, A Primer for Church Worship (Nashville: Abingdon
Press, 1984), pp. 36–37.
4 The Daily News, 20 April 2000, p. 12.
5 Ibid., p. 13
6 Mercy Amba Oduyoye, Daughters of Anowa, p. 55.
7 Onwubiko, African Thought, Religion and Culture, p. 30.
8 Ibid., p. 31.
9 Luke Nnamdi Mbefo, The Reshaping of African Traditions (Enugu, Nigeria: Spiritan Publications,
1988), p. 80.
10 Alec J. C. Pongweni, Figurative Language in Shona Discourse: A Study of the Analogical Imagination
(Gweru, Zimbabwe: Mambo Press, 1989), p. 1.
11 Kurewa, Biblical Proclamation, p. 22.
12 Mordikai A. Hamutyinei and Albert B. Plangger, Tsumo-Shumo: Shona Proverbial Lore and Wisdom
(Gweru, Zimbabwe: Mambo Press, 1974), p. 20.
13 Ibid., p. 3.
14 Ibid., p. 4.
15 Ibid., p. 12.
16 Ibid., p. 13.
17 Oduyoye, Daughters of Anowa, p. 57.
18 Ibid., p. 12.
19 J. T. Milimo, Bantu Wisdom (Lusaka: National Educational Company of Zambia, 1972), p. 116.
20 For these views see Bourdillon, Religion and Society, p. 109.
21 Choan-Seng Song, Third-Eye Theology: Theology in Formation in Asian Settings (Maryknoll, NY:
Orbis Books, 1979), p. 161.
22 Ibid, p. 175.
23 On the view that imagination can be taught, see Paul Scott Wilson, Imagination of the Heart:
New Understanding in Preaching (Nashville: Abingdon Press, 1988), pp. 15–48.The whole book is
focused on how a preacher could be imaginative.
24 Urban T. Holmes III, Ministry and Imagination (New York: The Seabury Press, 1976), pp. 97–98.
25 Barbara Brown Taylor, “Preaching the Body,” in O’Day and Long, Listening to the Word, p. 213.
26 About this uncritical approach to life, see Temba J. Mafico, “Tradition, Faith, and the Africa
University,” Quarterly Review9, no. 2 (Summer 1998): 37.
27 Edward P. Wimberly, “The Black Christian Experience and the Holy Spirit,” Quarterly Review8, no.
2 (Summer 1998): 21. See also similar sentiments in Mitchell, Celebration, p. 17.
28 “Use Your Imagination with Your Salads,” Sunday Mail Magazine, 29 March 1998, p. 13.
80
Africa Ministry Series
29 Scott Paul Wilson, Imagination of the Heart, p. 32.
30 Watson Mabona, “You Fool,” a sermon preached at Chinyausunzi Church of Christ, Sakubva,
Mutare, Zimbabwe, on 22 November 1997. The occasion was an ordination service for Gift
Masengwe, who was then a student in the Faculty of Theology at Africa University. Mabona
had previously worked in the film industry where he showed some advertising motion pictures
in rural areas. No wonder he preached using mental images.
31 Barbara Brown Taylor, “Preaching the Body,” in O’Day and Long, Listening to the Word, p. 217.
See also Lewis, Persuasive Preaching, pp. 216–17.
32 Colin Morris, The Word and the Words, pp. 124–25.
33 Lischer, The Preacher King, p. 122.
34 The African Synod: Documents, Reflections, Perspectives, p. 14. The focus was on the analysis of the
Church in Africa.
35 Ian Pitt-Watson, A Primer for Preachers (Grand Rapids, MI: Baker Book House, 1986), p. 83. See
also George M. Bass, “The Story Sermon,” Preaching 2 (January/February 1987): 33. Bass sees
storytelling as most amenable to free and spontaneous preaching.
36 Henry H. Mitchell, Celebration, p. 37–38.
37 In Chapter 3 we have already cited references focusing on storytelling as the appropriate
method for preaching. See again Holbert, Preaching; Rice, Preaching of the Story; Bausch,
Storytelling; and Thomas G. Long, Preaching and the Literary Forms of the Bible (Philadelphia:
Fortress Press, 1989). Long’s book contends that the method of preaching in a given sermon
is determined by the literary form of the chosen text. As Wendland noted, Chewa sermons
are based on the narrative approach to communicate the gospel. See Wendland, Preaching that
Grabs the Heart, p. 83. He also pointed out that the inductive method of preaching that has
been recently discovered in the West is an integral aspect of Chewa preaching. See Wendland,
Preaching that Grabs the Heart, p. 224.
38 “Have you ever heard of Chimanimani Musical Group?” Parade, November 1999, p. 63.
Chimanimani is a locality in the Eastern border of Zimbabwe. The idea that stories are taught
is prevalent among Western homileticians. See Jay O’Callaghan, “Thoughts on Storytelling” in
McNulty, ed., Preaching Better, p. 31.
39 Francis Bebey, African Music A People’s Art, trans. Josephine Bennett (Westport, N.Y.: Lawrence
Hill & Co., 1975), p. 3.
40 H. W. Turner, African Independent Church: The Life and Faith of the Church of the Lord (Alandura), vol.
2 (Oxford: Clarendon Press, 1967), p. 113.
41 Ndiokwere, The African Church, pp. 263–64.
42 Turner, African Independent Church, p. 117.
43 Bebey, African Music, p. 30. The mvet is a musical instrument that storytellers in Cameroon play
while narrating communal stories at the marketplace.
44 Craddock, Preaching, p. 196. See also Lischer, “Preaching as the Church’s Language,” in O’Day
and Long, Listening to the Word, p. 127. Lischer challenges the use of illustrations on the basis
that they are not formative in helping people become disciples.
45 In African settings, worship should be interesting or “exciting.” See J. W. K. Mugambi and
Laurenti Magesa, eds., The Church in African Christianity: Innovative Essays in Ecclesiology (Nairobi,
Kenya: Initiatives Publishers, 1990), p. 46. “Exciting” worship is specifically experienced in
African independent churches.
46 Sweazey, Preaching the Good News, pp. 193–95.
47 Buttrick, Homiletic, p. 133.
48 Spain, Getting Ready to Preach, pp. 84–87.
49 English, Evangelical Theology of Preaching, p. 134.
50 Allen, Interpreting the Gospels, p. 165. For similar views, see Buttrick, Homiletic, p. 83, 90–91;
Lewis, Persuasive Preaching, p. 181; and Jordan, You Can Preach, p. 115.
51 Sherry, ed., The Riverside Preachers, p. 103. This is the way Ernest Campbell, one of the Riverside
Preachers, saw it. The Riverside Church in New York was blessed to have preachers of high
repute in its pulpit.
52 Grace Mutandwa, “MDC Lays on the Charm in ZANU-PF for Chitungwiza,” The Financial
Gazette,11–17 November 1999, p. 6.
53 McNulty, ed., Preaching Better, p. 4.
54 For details of this concept we refer again to Craddock, Overhearing the Gospel.
55 W. B. Riley, The Preacher and His Preaching (Wheaton, IL: Sword of the Lord Publishers, 1948), p.
143.
56 For these experiences with the African’s sense of humour in (Zaire) DRC, see Almquist, Debtor
Unashamed, p. 22.
57 Although homileticians pay attention to the use of humour in sermons to varying degrees,
one would find most helpful ideas and guidelines in Bob Parrot, God’s Sense of Humour: Where?
When? How? (New York: Philosophy Library, 1984), pp. 8–171. See similar points and a variety
of views in Sweazey, Preaching the Good News, pp. 201–12; Buttrick, Homiletic, pp. 95–96, 146–47;
and Jones says Jesus Christ himself was a humorous person, see Jones, Principles and Practice of
Preaching, p. 141.
58 Lewis, Persuasive Preaching, p. 152.
59 Sweazey, Preaching the Good News, p. 43.
81
Africa Ministry Series
60 For details on listener obstacles, see Millard J. Erickson and James L. Heflin, Old Wine, in New
Wineskins: Doctrinal Preaching in a Changing World (Grand Rapids, MI: Baker Books, 1997), pp. 76,
78, 84.
Capítulo 4: A Pregação Pode Ser Ensinada?
1 Don M. Wardlaw, ed., with Fred Baumer, Donald F. Chatfield, Joan Delaplane, O.P.,O. C. Edwards,
Jr., Edwina Hunter, and Thomas H. Troeger, Learning Preaching: Understanding and Participating in
the Process (Lincoln, IL: The Lincoln Christian College and Seminary Press, 1989), p. 31.
2 For the theological, ecclesiological, and cultural perspectives, see Wardlaw, ed., Learning
Preaching, pp. 7–16.
3 For more on the life-giving Church and the proclamation of the gospel, see Bénezét Bujo,
African Theology in Its Social Context, p. 99.
4 Eugene Hillman, Toward an African Christianity: Inculturation Applied (Mahwah, NJ: Paulist Press,
1993), p. 43.
5 Tsuneaki Kato, “Preaching of the Gospel in the Japan Protestant Church,” in Kato, ed., Preaching
as God’s Mission, p. 239.
6 Martey, African Theology, pp. 63–94. See also Pobee, Skenosis: Christian Faith in an African Context,
pp. 23–41. This is a discussion of different terminologies concerning the Africanization of
doing theology.
7 Don M. Wardlaw, “Toward an Incarnational Homiletical Pedagogy,” p. 2. This is a paper
presented at the Societas Homiletica Conference, Virginia Seminary, Washington DC, USA,
March/April, 1999.
8 See Martey, African Theology, pp. 56–57.
9 These findings surfaced in a sermon preached by Professor Rudolf Bohren on Matthew 5:48
at the Societas Homiletica Conference held in Berlin, Germany, 1995. The sermon was printed
and circulated to participants.
10 Helge Beden Nielsen, “Pastoral Care and Homiletics,” in Kato, ed., Preaching as God’s Mission,
p. 180.
11 Bujo, African Theology, p. 69.
12 Manfred Josuttis, “Preaching with the Authority of the Sermon on the Mount,” a paper
presented at the Societas Homiletica, Berlin, German, June 1995, p. 3.
13 John de Gruchy, Cry Justice: Prayers, Meditations and Readings from South Africa (Maryknoll, NY:
Orbis Books, 1986), p. 88.
14 See K. P. Kasambira, Teaching Methods, reprint 1995, 1997 (Harare, Zimbabwe: College Press
Publishers, Ltd., 1993) p. 132.
15 Wendland, Preaching that Grabs the Heart, pp. 237–38.
Capítulo 5: Resumo
1 The 7th General Assembly of the All Africa Conference of Churches, which met in Addis Abba
in 1997, chose “Troubled But Not Destroyed” as its theme. See Tam tam2 (1996): 2. This is
amagazine published by the All Africa Conferences of Churches (AACC) in Nairobi, Kenya.
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