Guia - O Caminho do Sertão

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Guia - O Caminho do Sertão
SUMÁRIO:
1) VIAJAR! – MAS DE OUTRAS MANEIRAS: TRANSPORTAR O SIM DESSES HORIZONTES
Por José Idelbrando Ferreira de Souza
2) A VIAGEM COMO EXPERIÊNCIA AFETIVA
05
Por Gustavo Meyer
3) ESPIRITUALIDADE E SUSTENTABILIDADE NO COTIDIANO
07
Por Everardo de Aguiar
4) GEOGRAFIA E LITERATURA SE ENCONTRAM NO MUNDO E NA VIAGEM
09
Por Fábio Borges Brasileiro
5) DO LADO DE CÁ DA MARGEM DO OCIDENTE E DO ATLÂNTICO, VIAGENS PELO
BRASIL
Por Fábio Borges Brasileiro
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6) A PAISAGEM, A VIAGEM, O BRASIL: OU TOMAR O MUNDO POR DESENHO E ESCRITO
Por Fábio Borges Brasileiro
7) MINAS GERAIS, LITERATURA E VIAGEM: GUIMARÃES ROSA E O VALE DO URUCUIA
Por Fábio Borges Brasileiro
8) CONSIDERAÇÕES SOBRE UMA “BREVÍSSIMA” HISTÓRIA DO VÃO DO URUCUIA
Por Xiko Mendes
9) DE LONGES DISTÂNCIAS E AUSENTES NOS LIVROS: A LUTA DO POVO URUCUIANO
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Por Fábio Borges Brasileiro
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10) PROGRAMAÇÃO DA VIAGEM
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11) MAPA DA VIAGEM
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12) AGRADECIMENTOS
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13) BIOGRAFIA DOS ORGANIZADORES
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14) MEU DIÁRIO DE VIAGEM
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Ao sim, tinha viajado, tinha ido até princípio de sua terra natural, êle Pedro
Orósio, catrumano dos Gerais. Agora, vez, era que podia ter Saudade de
lá, Saudade firme. Do chapadão – de onde tudo se enxerga. Do chapadão,
com desprumo de duras ladeiras repentinas, onde a areia se cimenta: a
grava do areal rosado, fazendo pururuca debaixo dos cascos dos cavalos
e da sola crúa das alpercatas. Ou aquela areia branca, por baixo da areia
amarela, por baixo da areia rosa, por baixo da areia vermelha – sarapintada
de areia verde: aquilo, sim, era ter Saudade! O vivido velho dos vaqueiros,
gritando galope, encourados rentes, aboiando. Os bois de todo berro,
marruás com marcas de unhas de onça. Chovia de escurecer, trovoava,
trovoava, a escuridão lavrava em fogo. E na chapada a chuva sumia,
bebia, como por encanto, não deitava um lenço de lama, não enxurrava
meio rêgo. Depois, subia um branco poder de sol, e um vento enorme
falava, respondiam tôdas as árvores do cerrado – a caraíba, a bate-caixa,
a simaruba, o pau-santo, a bolsa-de-pastor. De lua a lua. Sempre corriam
as emas, os veados, as antas. Sonsa, nadava a sucurijú. Tanto o gruxo
de gaviões, que voavam altos, os papagaios e araras, e a Maria- branca
cantava meiguinha, todo aquêle arvoredo ela conhecia, simples, saía pimpã
do meio das fôlhas verdes com um fiinho de cabelo de boi no bico. Ar assim
farto, céu azul assim, outro nenhum. Uma luz mãe, de milagre. E o coração
e corôo de tudo, o real daquela terra, eram as veredas vivendo em verde
com muito espêlho de suas águas, para os passarinhos, mil e buritizal,
realegre sempre em festa, o belo-belo dos buritis em tanto, a contra-sol.
Um homem chega à porta de sua casa, se rindo de si e escorrendo água,
desvestia pesada a croça de fibra de palmeira bôa. E uma mulher môça,
dentro de casa, se rindo para o homem, dando a êle chá de folha de campo
e creme de côcos bravos. E um menino, se rindo para a mãe na alegria
de tudo, como quando tudo era falante, no inteiro dos Campos-Gerais . . .
(O Recado do Morro, de João Guimarães Rosa)
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VIAJAR! – MAS DE OUT RAS MANEIRAS:
T RANSPORTAR O SIM DESSES HORIZONTES...
Por José Idelbrando Ferreira de Souza
O “Caminho do sertão – de Sagarana ao Grande Sertão: Veredas” apresenta
aos caminhantes a oportunidade de viajar de outras maneiras. Diante das
comodidades ofertadas pelo frenético mundo da mercadoria, do consumo e do
supérfluo, propõe-se viajar valendo-se dos “equipamentos” da mais autêntica
simplicidade e autonomia – o seu próprio corpo. Convida-se à experiência
do bastar-se de pouco para contentar-se com o necessário. Partindo da
compreensão de que a viagem é a experiência da vida como passagem,
transitoriedade, travessia; travar contato com a amplitude da realidade
sertaneja, com outros ritmos, temporalidades, saberes e fazeres, e educar o
olhar para apreender e “transportar (consigo) o sim desses horizontes”, numa
reflexão filosófico-existencial pródiga e marcante.
Horizontes, limites e fronteiras têm relação direta com a noção de sertão.
Este é também migrante, uma vez que, desde a conquista/colonização a ideia
de sertão remete para um movimento rumo ao noroeste do país, ao espaço
desconhecido do interior. É como se o sertão fugisse do processo de ocupação
e urbanização implantados pelos conquistadores a partir do litoral. Daí, as
dicotomias sociológicas que se estabeleceram: litoral/sertão, cidade/campo,
capital/interior, civilização/barbárie. O sertão histórico consolidou-se como o
horizonte da alteridade negada, a ser transformada ou eliminada, dando lugar
à civilização/modernidade.
Outro campo de horizonte migrante são as utopias. Os horizontes utópicos migram
na medida mesma em que deles nos aproximamos. As utopias não são metas a
serem alcançadas e realizadas, mas inspiração, motivação e orientação para o
caminhar. As utopias são, portanto, horizontes de sentido que abrem os processos
históricos às transformações e superações necessárias.
Ao viajar de Sagarana ao Grande Sertão: Veredas, passar por terras de
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posseiros e por assentamentos de reforma agrária, somos instados a refletir
sobre as utopias agrárias de caráter comunal inscritas no espaço do sertão:
desde Canudos, Palmares, Caldeirão, dentre outras, até aquelas mais simples
que dizem respeito ao direito de ter acesso à terra e cultivar seus valores
colaborativos, comunitários e identitários com liberdade e dignidade.
Propomos, pois, que, ao caminhar rumo ao Encontro dos Povos do Grande
Sertão Veredas, o façamos na perspectiva da viagem e da vereda. Viagem e
vereda que se constituem, na dinâmica dos passos, em caminho. Caminho
que faz do mundo-sertão um lugar próprio.
Lugar de esperança cidadã na afirmação da dignidade humana, na resistência
das modalidades de organização social não hegemônicas, na permanente
reinvenção das práticas solidárias, que remetem ao trato comunitário, coletivo,
de reciprocidade, mutual e de lutas. Lugar que pretende resgatar, na geografia
e na paisagem, o território – lugar onde a identidade individual e coletiva se sinta
em casa, confortável e segura para, naturalmente, exercitar sua singularidade
de modo de vida que articule temporalidades, ritmos, saberes e fazeres distintos
daqueles da racionalidade do pensamento único, imposto pela insensata
globalização em curso no Planeta.
Por fim, vale registrar que a proposta do caminho do sertão pretende, para
além da integração dos diversos atores socioculturais da região dos vales dos
rios Carinhanha e Urucuia – entre si e com os visitantes – constituir-se num
tributo aos esforços comunitários e emancipatórios que se organizaram em
torno do Encontro dos Povos do Grande Sertão Veredas, neste ano de 2014,
em sua XIII edição.
No caminho do sertão. Pelo cerrado e suas culturas de Pé!
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A VIAGEM COMO EXPERIÊNCIA AFET IVA
Por Gustavo Meyer
Por que estamos aqui é uma importante questão a nos fazermos ao
avançarmos de lusco-fusco a lusco-fusco nesses sete dias de caminhada
pelo sertão “roseano”. No meu modo particular de explicar as coisas,
estamos aqui por afinidades. Mas se aqui estamos, percorrendo a linha
deste inexato caminho, é porque certa vez este que lhes escreve esteve a
passear por fazendas no Estado de Goiás, isso já há muito anos. Recordome, não precisamente, mas intensamente, de algumas sensações corporais
que, à época, me tocaram em demasia. As canelas a descascar por conta
da seca, a pele exalando limpeza por umidade pouca, a forma de ouvir
os sons, e uma confortante sensação de acolhimento, sempre atualizada
pelas pessoas que me encontravam a vagar por lá; em geral eu seguia
montado a cavalo, acompanhado por fina gente dali.
Sou daquelas pessoas que gosta de dar vida à natureza – essa que nos
afeta as sensações –, que a vê inclusive como um ente com vontades e
afetos. A natureza, naquela época em Goiás, criou gosto de mim (seria um
presente?), de criar gosto assim como as pessoas criam gosto umas das
outras. Se afetuou de mim a pobre... me imprimindo indeléveis marcas!
Passados muitos anos dessa experiência, resolvi, imbuído de uma espécie
de sentimento sobrenatural, empreitar uma pesquisa acadêmica no
noroeste de Minas, seguindo a intuição de que aquela mesma natureza
estaria ali ao meu aguardo, a despeito do noroeste de Minas não ser
precisamente o Goiás. Minha intuição estava aguçada, porque encontrei,
nos arredores desse Caminho do Sertão, aquele mesmo afeto, aquelas
mesmas sensações. Seria um chamado?
Tendo sido eu incumbido de realizar a difícil e exaustivamente prazerosa
tarefa de propor o trajeto de Sagarana até o Grande Sertão Veredas, o
então Caminho do Sertão não poderia ser menos do que produto daquela
curiosa relação afetiva que se deu em Goiás. Mas não exclusivamente
dela, porque o projeto de Sagarana, enquanto espaço de ação coletiva, a
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exemplo do Festival Sagarana, parece também ter sido profundamente afetado
por semelhante natureza. Assim, há intensa conexão entre a ideia de Caminho
que brotou em Sagarana e sua própria operação, por sua vez encarnada no
desenho do trajeto que estamos aqui a realizar. Tal conexão, no entanto, me
parece ser muito mais ampla, porque o afeto da natureza fica sumamente
transposto aos caminhantes que, assim como eu, aderiram ao Caminho. Assim
que aqui ganham vida os afetos estabelecidos entre os caminhantes-leitores e a
natureza. Seriam os mesmo afetos sobrenaturais que, através do aparecimento
de um barranco, salvaram Augusto Matraga da morte e que, posteriormente,
foram “retribuídos” em termos de resignação e contemplação?
Nessa brincadeira lógica, fica curioso imaginar de que modo o Caminho –
produto relacional de entes humanos, naturais e sobrenaturais –, enquanto
metáfora de travessia, irá transpassar ainda outras relações. Por que tudo
que dele se vê, se ouve e se cheira é também produto de afetos estabelecidos
entre a natureza e as pessoas que ali habitam... Pessoas que, ao seu modo,
plantam, lidam com o gado, cantam, se movimentam, tocam, que têm a
literatura na oralidade e que dão verdadeira vida às ficções roseanas...
Alguém poderá vir a se perguntar: seria mesmo “outras” relações? Não
estaríamos todos numa grande dança?
Se o Caminho são relações que transpassam relações, ele é também travessias
de travessias, afetos de afetos. Por que não buscar liquefazer conceitos, preceitos
e preconceitos em afetos e perceptos? Há uma forte ligação entre todos nós?
Boa caminhada!
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ESPIRIT UALIDADE E SUSTENTABILIDADE
NO COT IDIANO
Por Everardo de Aguiar
A sociedade é como uma procissão (por exemplo o Círio de Nazaré em
Belém do Pará) são caminhantes em uma grande peregrinação. Quando
alguém não suporta tantas dores no corpo, alguns caminhantes os colocam
nos ombros e juntos, os romeiros continuam sua caminhada cantando sua
fé. Ou seja, a sociedade é um ambiente colaborativo.
Em ambientes de lógicas competitivas há muitas desagregações e
fragmentações das nossas ações, criando vários grupos, quebrando
uma unidade de convergências das forças transformadoras que juntos
podemos ter. A espiritualidade nos dá forças e nos encoraja para uma
afinidade natural entre as pessoas, para nos UNIRMOS em torno do
resgate do ideal planetário.
A essência da colaboração entre as pessoas, nascida do caminhar juntos,
fundamenta a expansão do SER. Portanto, as sociedades são como
esse grupo de caminhantes convergindo em um extraordinário poder da
mente, fruto do caminhar juntos e, com ajuda desse poder, superamos os
obstáculos da vida cotidiana das pessoas e do ambiente social.
Assim, nos tornamos mais generosos e expandimos a nossa mente, não
permitindo pensamentos e ou práticas preconceituosas, elitistas, odiosas,
rancorosas, arrogantes, mesquinhas ou violentas, física ou simbólica entre
as pessoas!
O olhar sistêmico para o nosso ambiente social é transformador, a cultura
local, a arte e a literatura, são fontes das quais qualquer pessoa deve
se inspirar, para uma prática que seja capaz de compartilhar todos os
recursos naturais de forma equilibrada e tendo uma afetividade e efetiva
interação local, necessária para a convivência com a diversidade local,
alcançando assim, a paz social e com o meio ambiente.
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No caminho do Sertão, para o qual convidamos você, nos vale também
destacar a importância de uma ética na/da viagem, afinal, não se vai ao
mundo como se ao mercado fosse! Veremos nessa caminhada entre
Sagarana e Chapada Gaúcha, se dispondo para nós ao longo da travessia
sertaneja, e com suporte literário do escritor de Cordisburgo, uma miríade de
questões que envolvem o meio e ambiente e a sustentabilidade; a cultura e
as relações humanas (afinal seremos 70 em contato com as comunidades
que cruzarmos); as artes (sejam elas literárias ou outras formas de
artesanias, como a dos violeiros do Urucuia); as fazendas de gado e o
agro-negócio; as articulações e práticas comunitárias de cooperação do
movimento social no noroeste de MG (a exemplo do Encontro dos Povos
da Chapada).
Namastê!
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GEOGRAFIA E LITERAT URA SE
ENCONT RAM NO MUNDO E NA VIAGEM.
Por Fábio Borges Brasileiro
A Odisseia é o texto que se reconhece como fundador da literatura ocidental.
É a narrativa épica de uma viagem que conta o retorno de Ulisses para Ítaca,
após a Guerra de Tróia. Assim é tributado à Homero o começo dos primeiros
registros que deram origem às artes da palavra e da narrativa na forma escrita
que se tem praticado no ocidente, e a partir da Grécia. Pode-se dizer que a
viagem está na origem das artes narrativas, sejam elas orais ou escritas,
como também a viagem está na origem da geografia como campo do saber
científico, não somente humanístico. Literatura e ciência partilham a presença
da viagem nas suas origens mais longínquas no tempo e no espaço. Assim,
viajar pressupõe conhecer, observação e empiria, e várias têm sido as formas de
conhecimento pelas quais homens e mulheres, em diferentes sociedades, nos
legaram algum registro. Muitos desses registros, compilações e sistematizações
de viagens, balizaram de modo considerável nossas formas antigas e atuais
de experimentar as coisas, de conhecer a realidade, até mesmo conhecer as
questões mais abstratas ou científicas que envolvem nossa condição humana.
Desde o renascimento muito do que se registrou sobre o mundo islâmico permitiu
o surgimento da ciência moderna portuguesa e europeia desde o fim da Idade
Média, a exemplo da cartografia, da engenharia naval, da alquimia (origem da
química), da álgebra, da arquitetura.
A Ilíada e a Odisseia marcam na Grécia antiga a passagem entre uma sociedade
rural ágrafa – ainda voltada para o mito e para o remoto alhures e preservando
muito mais suas experiências narrativas pela força da oralidade e das formas
culturais que a legitimaram no seio da comunidade, sejam elas religiosas,
míticas, filosóficas e artísticas – para uma outra sociedade, outro modo de
produção – e que séculos depois, com o florescer da modernidade urbanoindustrial através das grandes navegações mercantis-coloniais, conheceremos
por modo de produção capitalista.
A obra de Homero também marca a narrativa da ascensão do que foi o império grego,
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como a Eneida, de Virgílio, também marca e narra a ascensão do império romano;
ou como Os Lusíadas, de Luís de Camões, marcam epicamente a narrativa da
ascensional do império português: o “start” à modernidade capitalista ao fomentar
as bases da Acumulação Primitiva de Capital. Agora, pergunta-se: quem será
o narrador da epopeia dos Estados Unidos da América, sua ascensão imperial,
cuja forma mais emblemática talvez seja a conquista do espaço extraterreno?
É possível supor que os filmes de guerras contra alienígenas, muito difundidos
pela indústria cultural hollywoodiana, tenham a mesma função (inconsciente)
no imaginário coletivo da humanidade que tiveram aquelas representações
cartográficas que situavam escondidos nos mares e oceanos aqueles enormes
monstros e seres mitológicos imaginários, com vistas a afastar o viajante curioso
das novas descobertas que se planejavam realizar (ou afastar aquele intelectual
que já entendeu que o que se vê na parede, ao fundo da caverna, são apenas
realidades projetadas daquilo que já se sabia existir).
É preciso, pois, sair da caverna! Mesmo que seja para um dia, mais tarde, a ela
retornar, trazendo-lhe luz como fez a Serpente Verde de Goethe ao iluminar seu
interior. O Brasil e o sertão geralista urucuiano, nesse sentido, são invenções
dessa retomada da presença da viagem na constituição da modernidade, algo
que remonta às origens do helenismo grego. Muito embora Guimarães Rosa mais
voltado ao mundo antigo – geograficamente ocupado pelos persas, egípcios,
árabes, fenícios, assírios e mesopotâmios – em sua literatura praticou muito do
que recebeu dessas muito mais milenares culturas. Portanto, é de se supor que o
tema da viagem em sua literatura tenha diversificadas origens, sendo a ocidental
apenas uma entre elas.
Esse é o convite à viagem!
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DO LADO DE CÁ DA MARGEM DO OCIDENTE
E DO AT LÂNT ICO, VIAGENS PELO BRASIL
Por Fábio Borges Brasileiro
Das grandes navegações, das viagens de circunavegação ao derredor da Terra,
nasceu o Brasil. De dimensões continentais e extenso litoral, e sob certo ponto
de mirada, é possível entender que o Brasil foi sendo colonizado e formando
suas fronteiras do leste para o oeste, do litoral para o sertão. Nessa marcha
para o este, entre o primeiro Brasil – definido territorialmente pelo Tratado
de Tordesilhas em 1492 e o atual – muitas águas rolaram por aí nesses 514
anos. Onde hoje está o Distrito Federal, sua borda oeste quase coincide com a
borda oeste do que foi um dia a Capitania de Porto Seguro. O que nos permite
dizer que o Brasil de 1492 até o Tratado de Madri em 1650 se situava entre o
Atlântico e Planaltina de Goiás. Cidade eternizada por Guimarães Rosa em
“Dão Lalalão”, conto de Noites do Sertão, de Corpo de Baile (1956).
A história da conquista do interior do Brasil, da busca da El´dorado mítica,
do cerrado, tem suas origens nos cronistas e viajantes do período colonial.
Desde Hans Staden larga tradição se fez em torno das narrativas de viagem
como forma de conhecimento sobre o Brasil: nos diários, nas memórias e nas
crônicas. O século XIX, com a irrupção da independência política do Brasil e
o começo de uma política integracionista do mercado interno, floresce entre a
aristocracia carioca imperial (o centro político brasileiro à época) a figura do
viajante naturalista que, em grande medida, ao propor modelos de organização
das ciências e das artes ao império brasileiro de Dom Pedro acabou propondo
também que o litoral brasileiro – ainda mais voltado à metrópole – passasse
a valorizar o conhecimento sobre o Brasil de dentro, da cor local, da literatura
lá produzida. Lima Barreto foi primoroso cronista da chegada da literatura
produzida no sertão ao Rio de Janeiro, noticiando o momento em que o litoral
se dá conta das artes literárias sertanejas nos folhetins de jornais, ainda no
século XIX e começo do século XX. Se Lima Barreto chama a atenção do
Brasil para o Brasil, a atenção do Brasil para A América Latina virá quase um
século depois, quando o Brasil conhece As Veias Abertas da América Latina e
conhece o Eduardo Galeano.
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Esse espírito de descobrir o Brasil “aos brasileiros” do viajante naturalista
surgido de modo claro desde 1822 com a independência será orientador: a)
da ação sertanista, movimento no qual o livro Pelo Sertão, de Afonso Arinos,
talvez seja o mais expressivo; b) da ação regionalista, sobretudo quando
em 1926 Gilberto Freire, com seu Manifesto Regionalista passa a liderar
movimento com igual nome, emblemático para se compreender a produção
literária nordestina na década seguinte, sobretudo desde A Bagaceira (1929);
e c) da ação modernista em todas as suas três fases, um século mais tarde
entre 1917 e 1970, desde antes do Estado Novo de Getúlio Vargas até a
ditadura militar de Geisel, ou seja, entre Mário de Andrade, Oswald de Andrade,
Patrícia Galvão e Tarcila do Amaral e o movimento da Nova Narrativa, que
surgirá com rompimento político com aquele projeto modernista que existiu
até a instauração do regime militar em 1964.
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A PAISAGEM, A VIAGEM, O BRASIL: OU
TOMAR O MUNDO POR DESENHO E ESCRITO.
Por Fábio Borges Brasileiro
A Independência política em 1822 trouxe ao Brasil muitos dos mais expoentes
representantes do neoclassicismo italiano e francês, origem da pintura de
paisagem na modernidade, reforçando aquela iniciativa já tomada em 1806
quando a corte portuguesa decide se transferir para o Rio de Janeiro, fugindo
de Napoleão Bonaparte em 1806. Rugendas, Debret, Spix, Martius, Charles
Frederick Hartt, Loius Agazzis, Charles Darwin, Burton, são alguns dos mais
conhecidos viajantes naturalistas que percorreram as regiões brasileiras
ao longo do século XIX, e que amplos registros fizeram da natureza e da
cultura nacionais através de suas viagens, percorrendo todos os campos
do conhecimento e das artes modernos (etnografia, cartografia, linguística,
geologia, botânica, pré-história, pintura, etc.).
Dentre as formas de registro deixadas, duas delas são muito interessantes de
serem comentadas, sobretudo pela forma como elas refletem certos modos
de experimentar o mundo (da natureza e da cultura), e como influenciaram o
escritor de Cordisburgo na fatura de suas estórias: a) o diário de viagem, pois
registra o que se vê quase no mesmo instante em que se está experimentando
o mundo, constituindo importante registro in loco. Em 1952, João Guimarães
Rosa realizou uma viagem entre 19 e 29 de maio, entre Felixlândia e Araçaí,
MG, da qual deixou 60 cadernetas com vários tipos de anotações e descrições
da região que, de tão fundamentais, ele mesmo diz, anos mais tarde, que a
viagem foi responsável pelo excesso, se tiver havido, da carga documental
presente em Corpo de Baile e Grande Sertão : Veredas; e b) a pintura de
paisagem, forma de representação plástica da natureza daquele mundo rural
que ia se urbanizando à medida em que se avançava o processo colonial pela
via das navegações marítmo-comerciais, é de grande valor estético para se
entender, por exemplo, a relação “em desenho e escrito” do Guimarães Rosa
com o mundo, com a realidade sertaneja, na ficção e na realidade.
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A pintura de paisagem surge com a pintura de temas rurais no final do período
medieval europeu e expressa, além de a visão estética e artística de mundo
– intricadamente articulada aos conhecimentos de base científicas, daquele
tipo de observador cuja temporalidade da experiência é dada pelo ritmo de
quem caminha à pé ou no lombo de uma égua – um o ponto de mirada
de um observador em viagem, daquele que toma o mundo “por desenho
e escrito”. Voltada ao rural em desfazimento pela modernização, a pintura
de paisagem surge como proto-forma do ambientalismo e do movimento
ecológico hodierno, como consciência crítica dos impactos negativos da
modernização capitalista ainda na sua gênese renascentista. A paisagem – e
isso é essencial em se tratando de literatura e, portanto, de Guimarães Rosa
– expressa uma concepção de poesia e é também o registro estético de um
modo de agir do Estado diante do território, afinal o domínio do espaço e de
suas fronteiras afim de construir identidade nacional, desde o século XIX, tem
sido simbolicamente legitimado fortemente no caso brasileiro pela pintura da
paisagem e pela exaltação – às vezes ufanista ou verdeamarelista – das
belezas naturais nacionais. Guimarães Rosa foi Secretário de Fronteiras no
Brasil por 11 anos e participou ativamente de quatro agremiações geográficas
nacionais, algumas delas recebiam em suas assembleias até mesmo a
participação de Getúlio Vargas, e esteve atento às várias formas de arte e
de conhecimento que reverberaram essa visão do papel do estado sobre
espaço, e atento ao nascedouro da pintura dos temas rurais brasileiros no
instante em que adentramos o mundo capitalista.
Na literatura, a pintura de paisagem nos chegou por José de Alencar. Porém
teve grande lastro nas várias escolas e tradições literárias que, desde 1822,
sistematizaram tentativas de interpretação do Brasil e que tiveram na tradição
dos viajantes enorme fonte de pesquisa e informação sobre o Brasil sertanejo,
distante geograficamente dos grandes centros urbanos e do litoral. Assim,
além de Afonso Arinos e Guimarães Rosa, é possível ver o tema da pintura
de paisagem transfigurado em literatura, em quase todos os representantes
da geração de 30 do romance do nordeste, como Graciliano Ramos ou José
Lins do Rêgo, ou mesmo das décadas seguintes, de 40, com João Cabral de
Melo Neto, ou de 70, com Osman Lins.
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MINAS GERAIS, LITERAT URA E VIAGEM:
GUIMARÃES ROSA E O VALE DO URUCUIA
Por Fábio Borges Brasileiro
“ Te levo pela mão, que o viajar já é mais que a viagem!”
Pelo ponto de vista regional e das políticas federais ao seu desenvolvimento
o norte de Minas Gerais (envolvendo aí as micro-regiões Norte, Noroeste e
Jequitinhonha) tem historicamente recebido apoio, sobretudo quando se
considera índices como o IDH, semelhantes aos que recebem toda a região
nordeste do país. É muito comum a região ser reconhecida como a área
mineira da Sudene. As razões para essa caracterização e divisão regional têm
origens na história da formação social do estado de Minas Gerais e, muitas
delas, só são percebidas (ou preservadas) através das obras de literatura,
pelas narrativas de viagem, pelas memórias dos cronistas, pelos antigos
compêndios de história ou pela tradição oral de base rural.
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Foram as tentativas de se alcançar as cabeceiras da bacia do Rio São
Francisco que levaram muitos dos senhores de engenho, na agricultura
ou na pecuária nordestinas, a subirem rio acima, e dar origem ao que hoje
conhecemos como norte do Estado de Minas Gerais. Matias Cardoso, como
vila, é reconhecida no começo da década de 1640. Portanto, do ponto de vista
da formação, o norte de Minas esteve mais voltado ao nordeste brasileiro, sem
muito diálogo com outras regiões e suas economias, a não ser aquelas além
mar mantidas com a metrópole portuguesa, via nordeste. Na região do Vale
do Peruaçu, afluente do rio São Francisco, em Itacarambi, ainda se preserva
antiga tradição agrária de culto ao boi, capilarizada Brasil adentro desde as
primeiras feitorias coloniais no nordeste do século XVI para celebrar nas festas
de reis e divinos, através de paródias seculares da vida religiosa (sobretudo
do nascimento, morte e ressurreição de Cristo), os cultos e festas em torno do
boi. No caso de Itacarambi e do norte de Minas, vinda pelo São Francisco, a
Folia de Reis do Boi de Sá Martinha permite perceber pela cultura popular o
embate estabelecido entre o nordeste pecuarista e agrícola e o sul extrativista
de minerais pela colonização do norte de Minas Gerais. Não é sem motivo que
a Egüinha de Ouro, personagem oriunda das festas populares celebradas nas
minas de ouro e não nas festas de culto do boi, está perdida e ancorada (quem
sabe até se recompor de modo autônomo num futuro adiante) numa tradição
popular distinta da que lhe deu origem e sentido cultural e geográfico.
Só quando São Paulo, no auge das bandeiras que colonizaram e fundaram
cidades nas regiões de mineração em Minas Gerais como Vila Rica e Mariana,
passou a enfrentar dificuldades para prover com gêneros alimentícios os
trabalhadores na mineração (pois a produção paulista não dava mais conta
de abastecer seu mercado interno e ainda o mercado nascente em torno do
ouro em Minas Gerais) é que se intentou uma política de integração efetiva
entre a economia agropastoril do norte de Minas e a mineração no centrosul do estado. Foi nessas circunstâncias que o norte, os gerais da pecuária
e da agricultura, passou a ser incorporado, não sem resistência, à dinâmica
colonial que se estabelecera em torno das minas de ouro e diamantes. Ana
Carla Anastasia em Vassalos Rebeldes traça fantástica história das lutas
coloniais em Minas Gerais entre o final do século XVII e a segunda metade do
século XVIII. Ela estabelece várias diferenças entre as razões das lutas nos
Gerais (urucuianos por exemplo) e as razões das lutas nas Minas frente às
demandas coloniais e metropolitanas da Europa, muitas lutas ainda invisíveis
nos manuais de história e geografia escolares. E não é sem motivo que a luta
pela formação do estado do Norte seja um dos principais temas do Grande
Sertão : Veredas ao tematizar o “sistema jagunço”. A aparente unidade talvez
encubra separatismos. São muitas histórias na realidade que não se escreve
e nem se ensina na escola.
Guimarães Rosa, profundo conhecedor da historiografia sobre Minas Gerais,
eternizou a natureza e a cultura que se desenvolveu nas bordas fronteiriças
entre Goiás, Minas Gerais e Bahia, na porção mais a sudeste do Cerrado, suas
chapadas e veredas. Ele nasceu em Cordisburgo em 27 de junho de 1908
e faleceu em 19 de novembro de 1967. E, como geógrafo, foi um viajante.
Além da viagem de 1952, eternizada nas cadernetas e nas obras citadas,
Guimarães Rosa também vai ao Mato Grosso do Sul e deixa registros e
estórias, a exemplo da conversa “Com o Vaqueiro Mariano”.
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O caminho do sertão que faremos nessa viagem entre Sagarana e Chapada
Gaúcha, convidando os moradores da região para seguir conosco na “Garupa
de Rosa”, foi também considerado pelo ponto de vista do romance Grande
Sertão : Veredas, de como a realidade sertaneja do gerais urucuianos foi
transfigurada em literatura, e quais seriam as relações de verossimilhança
entre realidade e ficção nesse caso. Afinal, o mundo que há na literatura, por
ser ficcional, não tem necessariamente aquele compromisso de dizer verdades,
ou de definir as coisas de modo imutável, como muito se quis desde a tradição
do realismo brasileiro, com aquela ideia fundante de que podemos tomar a
realidade pela arte como se a arte fosse a realidade em si e não uma linguagem
em interações com o real; ou ainda como se pretende ao fazer ciência. Daí
também decorre os equívocos em se tomar o discurso do narrador rosiano
como se seu ponto de vista fosse também o do escritor Guimarães Rosa (é
muito comum ele ser confundido com o que é dito por seus personagens) afinal,
muito de nossa formação intelectual adveio da cultura religiosa judaico-cristã, a
partir da qual estamos mais acostumados a tomar o texto bíblico como verdade,
e não como discurso, ou como interpretação de uma época e, muitas vezes,
nos negando a conhecer o mundo por nós mesmos, ao viajar pela geografia
e história de uma região; ou ainda não entendendo a crítica de Sain´t Exupéry
ao diferenciar os tipos de geógrafos quando o Pequeno Príncipe visita o sexto
planeta, dizendo haver o geógrafo viajante e o geógrafo de escritório.
Na realidade e na ficção o rio São Francisco divide e separa margens: na
margem esquerda, onde nascem – das chapadas – os rios que vão para ele
afluir é onde, no romance, se darão todas as batalhas jagunças e as narrativas
das histórias de amor entre Riobaldo e Diadorim. Muitas dessas batalhas
Riobaldo fará ao lado de seu amor e companheiro de guerra, portanto. Anos
mais tarde, por esse motivo, Riobaldo vai dizer que o Urucuia é o rio do amor,
mas também da separação, afinal, além de serem os dois, Riobaldo e Diadorim
homens é também perto dali, em Paredão (situado na zona rural de Buritizeiro),
que se dará a luta que leva Riobaldo a abandonar o jaguncismo e ao desfecho
trágico da narrativa mais fabulosa do século XX brasileiro.
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18
CONSIDERAÇÕES SOBRE UMA “BREVÍSSIMA”
HISTÓRIA DO VÃO DO URUCUIA
Por Xiko Mendes
O Caminho do Sertão – de Sagarana ao Grande Sertão: Veredas atravessa
uma das mais belas regiões de Minas Gerais: o noroeste do Estado onde está
localizada a bacia do rio Urucuia, imortalizada pelo escritor Guimarães Rosa.
E é ele quem nos convida para conhecer as belezas que serão encontradas
pelos nossos caminhantes:
“O senhor vá. Alguma coisa ainda encontra (...). Os lugares
sempre estão aí em si, para confirmar (...)”. Rosa, Guimarães.
GRANDE SERTÃO: VEREDAS, 33ª impressão, Rio, Nova
Fronteira, 1988, p. 19, 22.
“Senhores, MEUS CAVALEIROS, PODEM PASSAR, sem
susto e com gosto (...)”. Rosa, Guimarães; GRANDE SERTÃO:
VEREDAS, 33ª impressão, Rio, Nova Fronteira, 1988, p. 473.
19
O Vão do Urucuia é uma região constituída por dez municípios mineiros:
Arinos, Buritis, Bonfinópolis de Minas, Chapada Gaúcha, Formoso, Pintópolis,
Riachinho, São Romão, Uruana de Minas e Urucuia que, juntos, totalizam um
território com extensão de 27.343, 431 quilômetros quadrados. Além dessas
cidades, também integram a bacia desse rio os municípios de Cabeceiras e
Formosa, em Goiás; e parte de Unaí-MG. A população dos dez municípios
de Minas, segundo dados do IBGE em 2013, totaliza a quantia de 114 mil
habitantes com uma taxa de densidade demográfica regional correspondente
a 4,17 habitantes por quilômetro quadrado. Buritis com 24 mil moradores,
Arinos com 18 mil, Urucuia com 14 mil habitantes e Chapada Gaúcha com
12 mil são, respectivamente, as maiores cidades dessa bacia hidrográfica.
São Romão é a mais antiga cidade do Vão do rio Urucuia e é considerada a
Matriz Fundadora do povoamento desse território. O município está situado
na margem esquerda do rio São Francisco cerca de 25 quilômetros acima
da confluência do rio Urucuia com o “Velho Chico”. O Caminho do Sertão
percorrerá, em nosso itinerário roseano, três municípios: Arinos, Riachinho e
Chapada Gaúcha. Portanto, deixemos que Guimarães Rosa nos situem onde
estamos:
“ ´– Aqui, é como lá, quase igual a Natureza’ – dizia Miguel.
‘Que pergunte: a lá, onde? – ‘Nos Gerais’. –‘Mas o Gerais
principia ali donde, logo depois do rio...’. –‘Começa ou
acaba?’. – O Senhor caçoa? É ver o Cerrado aqui, no tempodas-águas...”. Rosa, Guimarães. Noites do Sertão, 9ª ed.,
Nova Fronteira, Rio: 2001, p. 153.
“(...). O senhor vê, nos GERAIS, longe: nuns lugares,
encostando o ouvido no chão, se escuta BARULHO DE
FORTES ÁGUAS, que vão rolando debaixo da terra. O senhor
dorme em sobre um rio? (...). (...). Diadorim – ele ia para uma
banda, eu para outra, diferente; que nem, dos brejos dos
GERAIS, sai uma VEREDA para o nascente e outra para o
poente, RIACHINHOS que se apartam de vez, claramente, na
sombra de seus BURITIZAIS...”. Rosa, Guimarães; GRANDE
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SERTÃO: VEREDAS, 33ª impressão, Rio, Nova Fronteira,
1988, p. 255, 482.
“O SERTÃO aceita todos os nomes: AQUI É O GERAIS, lá é o
Chapadão, lá acolá é a Caatinga (...). O SERTÃO é confusão
em grande demasiado SOSSEGO” Rosa, Guimarães;
GRANDE SERTÃO: VEREDAS, 33ª impressão, Rio, Nova
Fronteira, 1988, p. 432, 400.
A região dos Gerais é uma subdivisão do bioma Cerrado. Denomina-se
Gerais ou Carrascos o conjunto de aspectos geográficos e fito-fisionômicos
identificados como pertencentes à zona de transição ecossistêmica onde os
biomas CERRADO e CAATINGA se encontram. Nessa região onde está o
Parque Nacional Grande Sertão Veredas, o CHAPADÃO DO URUCUIA se
encontra com a planície arenosa do Oeste da Bahia (Vãos do Carinhanha e
Corrente) na fronteira com o Nordeste de Goiás (Vão do Paranã). Geralista
(para quem mora nesta região) é o caipira ou sertanejo típico dessa área de
transição ambiental. O município de Chapada Gaúcha, integralmente, e o
Marco Trijunção (fronteira entre Formoso, Sítio d’Abadia e Cocos) são lugares
bastante identificadores desses aspectos dentro dessa região por onde
passaremos no Caminho do Sertão. O Vão do Urucuia ocupa um território
que foi estratégico nas rotas coloniais que ligavam o Litoral Nordestino com
as regiões mineradoras de Goiás e Mato Grosso. É uma região muito rica de
biodiversidade com paisagens e relevos belíssimos, e com histórias e estórias
que muito inspiraram intelectuais como Guimarães Rosa.
A história do URUCUIA – este grande vale afluente da margem esquerda do rio
São Francisco – está diretamente vinculada à colonização do Centro-oeste do
Brasil e do Norte de Minas. Com a descoberta de ouro em Minas Gerais em 1694
por Antônio Rodrigues Arzão após a expedição de Fernão Dias (1674-1681),
cresceu progressivamente a penetração de garimpeiros, tropeiros, pecuaristas
e aventureiros de toda espécie para o Sertão, sobretudo após a descoberta
também do ouro em Goiás e Mato Grosso nas décadas de 1720/1730.
21
Esse fluxo de pessoas e mercadorias transformou o Vale do Urucuia em
trevo de contatos entre as regiões mineradoras do Centro-oeste e os Currais
do São Francisco, zona de criação de gado que ia do norte de Minas à região
Nordeste. Essas relações comerciais, políticas, culturais e até familiares se
intensificaram com a oficialização, em 1736, por D. João V, da Estrada Real
Picada ou Caminhos da Bahia.
Paralelamente à descoberta de ouro, a expansão da pecuária nordestina
pelo rio São Francisco e seus afluentes como o Urucuia se consolidou a
partir da década de 1690 quando alcançou o Norte-Noroeste de Minas
passando pelo Oeste da Bahia até chegar em Goiás, no Vão do Paranã. Da
Bahia os pecuaristas da Casa da Torre (família Garcia d’Ávila) e da Casa da
Ponte (família Guedes de Brito), de Goiás a Casa de Grijó (família Cerqueira
Brandão) no Paranã, e do Norte-Noroeste de Minas os pecuaristas da família
CARDOSO, se tornaram corresponsáveis pelo intercâmbio entre o comércio
de ouro e o de gado. O Urucuia, por causa disto, se tornou região de grande
movimentação rodoviária e econômica do Brasil-Colônia e até inaugurar
Brasília e desativar essa estrada real com a construção da rodovia BR-O20.
São Romão, situado no baixo Urucuia e na beira do Velho Chico, logo se
tornou entreposto comercial entre o Nordeste, o Norte de Minas e o Centrooeste.
Dentro desse contexto é que se deu a ocupação do Vale do Urucuia a partir
do Norte de Minas por meio das cidades de São Romão, existente desde os
anos 1690 e transformada em cidade em 1719 e também a partir de Paracatu
após a descoberta de ouro nesse município oficializada em 1744. Contratado
para auxiliar o capitão do mato Domingos Jorge Velho no combate aos índios
Cariris, no Ceará, e aos negros quilombolas de Palmares, em Alagoas, o
Tenente-Coronel MATIAS CARDOSO DE ALMEIDA e dois membros de sua
parentela desceram o rio São Francisco no início dos anos 1690, provenientes
de São Paulo, e no retorno se fixaram no Norte de Minas com a instalação de
fazendas e fundando cidades como São Romão, Januária e Montes Claros,
dentre outras. O URUCUIA SE TORNOU MORGADO DOS CARDOSO.
22
Com o fim da Conjuração do São Francisco ou Motins do Sertão, em
1736, iniciada em São Romão como protesto contra a derrama (cobrança
de impostos atrasados) e liderado por Maria da Cruz e pelo Padre Antônio
Mendes Santiago, o território dos atuais dez municípios urucuianos mineiros
passou a ser colonizado de fato por MATIAS CARDOSO DE OLIVEIRA, filho
do Tenente e bandeirante Januário. Daí em diante e também por causa dessa
Estrada Real cujos caminhos margeavam rios afluentes do Velho Chico como
o Urucuia, apareceram outros colonizadores que se fixaram como fundadores
desses municípios na segunda metade do século XVIII. Antes dessa época, a
ocupação se deu por meio da fixação de currais com a criação de gado.
Embora alguns bandeirantes como André Fernandes em 1613 e Lourenço
Castanho Tacques em 1670 tenham cruzado o VALE DO URUCUIA, há que
se afirmar com certeza que a fixação de moradores nos territórios desses
municípios se deu efetivamente após o descoberto de ouro em Paracatu nos
anos 1730/40. O trânsito constante de aventureiros pela Picada ou Caminhos
da Bahia e outras estradas reais como a Picada de Goiás que ligava o Litoral
(RJ e SP) ao Centro-Oeste passando por Paracatu facilitou essa fixação e
a expansão de fazendas e população dentro do VALE DO URUCUIA dando
origem às cidades atuais localizadas no entorno do PARQUE NACIONAL
GRANDE SERTÃO VEREDAS.
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DE LONGES DISTÂNCIAS E AUSENTES NOS
LIVROS: A LUTA DO POVO URUCUIANO
Por Fábio Borges Brasileiro
CINQUENTA ANOS ATRÁS o Brasil vivia em plena ditadura militar. Por 21
anos, várias violações de direitos humanos foram praticadas por agentes
de estado, em regime de estado de exceção, como torturas, prisões,
desaparecimentos forçados, sequestros, mortes, dentre outras tantas
arbitrariedades. Muitas foram também as violações no campo. Recentemente,
com a criação da Comissão Nacional da Verdade, pesquisadores localizaram
o Relatório Figueiredo, onde consta muito do que se fez contra os povos
indígenas na construção das estradas brasileiras. Talvez seja o Brasil a última
das nações no mundo que ainda não cumpriu as determinações dos fóruns
internacionais de direitos humanos sobre a justiça de transição, ou seja, não
cumpriu seus compromissos de promoção da memória, de preservação da
verdade, de garantia de reparação material, nem mesmo de justiça, para que
enfim adentremos uma sociedade plenamente democrática. Ainda estamos
numa espécie de limbo, num lento e longo amanhecer.
Na viagem feita em maio em preparação desta, que seguiremos juntos,
estivemos na Fazenda Menino. Nela, vive Dona Geralda. Das conversas com
seu marido, Seo Zeca, soubemos de histórias que nunca figuraram as páginas
de livros escolares, nem em manuais universitários, sobre o que foi a luta
camponesa na região do vale do Urucuia durante o período em que vingou no
Brasil, a ditadura militar. Portanto, fatos da história política nacional, da luta e
da resistência em favor da democracia no campo e pela reforma agrária que,
pela forma como nos foi contada, mesmo sendo fatos de trinta ou quarenta
anos atrás, pareciam estar a uma distância bem remota considerando as
formas orais de narrativa, o anedótico, distante de nós quase num tempo
presidido pelo mito e por todo tipo de pensamento anímico, lendário, instintivo,
supra-racional, ou com características das antigas sagas trovadorescas e, por
isso, distantes do mundo fixado pela escrita. O que ela conta, nos chega na
forma de causos, estórias, lendas e sagas.
24
Guimarães Rosa, quando propunha que sua obra também consistisse numa
síntese que equacionava o som e o sentido da palavra (para ela a palavra tinha
plumas como os pássaros!), sugeria também que ela fosse lida em voz alta. É
quando se percebe no texto escrito a fronteira que estabelece em si mesmo
com a narrativa oral, nele presentificada pela ação criadora. Se a realidade
Guimarães Rosa representa por desenho e escrito, ele também encontrou uma
forma na escrita de manifestar a presença da oralidade, representando-a.
Entretanto, entre eles, escrito e oralidade, se vão distâncias e neblinas, e
também a recusa do estado brasileiro de contar sua história pelo ponto de
vista do subalternizado, pelo ponto de vista de quem viu chegar os europeus,
e se levantou contra o colonialismo, ou assistiu toda a luta no país desde
1500 pelas liberdades. Ciente do que era realmente importante, e que
esse importante poderia não ser importante para muita gente, ou que esse
importante extraordinário poderia vir através de um causo, de uma estória
contada – não necessariamente da leitura de um livro, onde costuma-se dizer
que está a verdade –, João Guimarães Rosa se preocupou por isso muito mais,
estilisticamente, em criar processos que lhe permitissem esconder e visibilizar
questões no tecido das narrativas. Um dos preços que diz ter pago para esconder
em sua obra um monte de invisibilidades Históricas é ser compreendido, por
essa escolha, sob a alcunha de regionalista ou realista, como ele disse naquela
entrevista a Fernando Camacho. Daí dizer, em Tutaméia, que a estória prefere
mais se parecer com a anedota do que com a História. O que ele reivindica é
espaço para o invisibilizado pela História.
Histórias como a de Antônio Dó; da Coluna Prestes; de Elói Ferreira; da suposta
presença do Grupo dos 11 Companheiros, os nacionalistas liderados por
Leonel Brizola desde fins de 1963, ou dos vários levantes que se instauraram
pelo Noroeste adentro, Minas afora, desde o século XVII, em favor da reforma
agrária e contra o latifúndio; ainda não encontraram ressonância na memória
coletiva da nação, nem no coração do povo, ou nas páginas dos livros escolares.
Boa parte de nosso caminho, 30 anos depois da morte do líder camponês Elói
Ferreira, a luta pela reforma agrária ainda permanece. O que era antes fazenda
25
de gado ou de alimentos, hoje também produz commodities para exportação,
a exemplo da soja e do eucalipto, indicando que a luta contra o latifúndio, é
também a luta contra as contradições do agronegócio na contemporaneidade,
ou contra os efeitos da desertificação em curso. Pisaremos muitos areais
até empreender todo o percurso e, numa mirada de olhos, poder abarcar o
conjunto das experiências que compõe a existência e a luta dos povos da
chapada e do vale urucuiano.
Esse é o convite!
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PROGRAMAÇÃO DA VIAGEM
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MAPA
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AGRADECIMENTO
Os organizadores
Para agradecer àqueles que contribuíram para a realização do evento “Caminho
do Sertão: de Sagarana ao Grande Sertão Veredas” precisamos fazer um recuo
histórico. Tal recuo permite lembrar e agradecer às iniciativas, ações, lutas e
conquistas que resultaram nos dois topos regionais, o assentamento de reforma
agrária, vila e estação ecológica Sagarana e o Parque Nacional Grande Sertão
Veredas, polos do caminho, que receberam seus nomes em homenagem à
obra do escritor João Guimarães Rosa. A vila Sagarana – hoje distrito de Arinos
(MG) surge do contraditório social provocado pela estrutura fundiária e da
luta pela terra, como a agrovila do primeiro assentamento de reforma agrária
instituído pelo INCRA na região, ainda na década de 70 do século passado. O
Parque Nacional Grande Sertão Veredas, instituído pelo IBAMA, em 1989, que
ocupa áreas dos municípios de Formoso, Chapada Gaúcha e Arinos, é fruto da
luta de cientistas, pesquisadores e ambientalistas, em defesa da preservação
da biodiversidade do cerrado brasileiro – destacando-se nesse processo o
papel desempenhado pela FUNATURA – Fundação Pró-Natureza – com sede
em Brasília (DF).
Agradecemos também às lideranças que, na virada do século, desencadearam
a mobilização pelo desenvolvimento sustentável nas bacias dos rios Urucuia
e Carinhanha – processo que resultou na criação de novas e consequentes
institucionalidades do terceiro setor, todas ativas na região, como a ADSVRU,
Copabase, Central Veredas, Cresertão, dentre outras.
Para que surgisse a ideia do caminho do sertão foi decisivo o histórico das
realizações e acúmulos proporcionados pelo “Encontro dos Povos do
Grande Sertão Veredas” e pelo Festival “Sagarana: feito Rosa para o
sertão – Cultura, Identidade, Sustenatibilidade”, o primeiro em sua XIII e o
segundo em sua VII edição. Aos organizadores destes eventos, nossos sinceros
agradecimentos, extensivos aos seus parceiros institucionais, governamentais
e não-governamentais que, ao longo dos anos, apoiaram todos estes esforços.
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Feito o registro histórico, agradecemos à equipe de execução do projeto do
Caminho do Sertão (pesquisa, textos, programação, mapeamento, logística
e definição do percurso) e aos colaboradores da ADSVRU - Agência de
Desenvolvimento Sustentável e Integrado do Vale do Rio Urucuia.
Agradecemos ainda às administrações municipais de Arinos e Chapada Gaúcha,
à Secretaria de Cultura do Estado de Minas Gerais, à UNIFAM, aos programas
“Arca das Letras” e “Mala do Livro”, ao porograma de pós-graduação em Teoria
Literária e Literaturas da UNB e demais parceiros, aos proprietários das terras
“cruzadas” pelo caminho, às comunidades que hospedarão os caminhantes,
aos guias, à Polícia Militar, aos Bombeiros Militares, aos profissionais de saúde,
à equipe de suporte e aos velhos e novos amigos/amigas caminhantes.
Sigamos, pelo cerrado e suas culturas de pé!
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BIOGRAFIA DOS ORGANIZADORES
Everardo de Aguiar Lopes
Educador social;
Autor dos livros: Paz, uma viagem a ser realizada /
Saber Mexer e Acreditar em Gente: Um diretor de escola
pública no século XXI. e Cidade Viva!;
Integrante da pró reitoria de pesquisa da Universidade Holística Internacional
- UNIPAZ.
Fábio Borges Brasileiro
Natural de Belo Horizonte, MG, Fábio reside em Brasília
desde 2008. Professor, é graduado em Geografia (2001) e
especialista em História das Ciências (2003) pela UFMG. É
mestre (2011) e doutorando em Teoria Literária e Literaturas
da UnB, com pesquisas sobre as relações estabelecidas por Guimarães
Rosa e Osman Lins entre suas obras e a geografia (a natureza, o espaço
e a paisagem) a partir de suas concepções de poesia e prosa; bem como
acompanha as políticas públicas para promoção do turismo literário em Minas
Gerais desde 1999. Está vinculado a dois grupos de pesquisa. Em Montes
Claros, na Unimontes, ao grupo Nonada, sobre a literatura de Guimarães
Rosa, e com apoio da FAPEMIG e, em Brasília, ao grupo Osmaniano, na UnB,
com apoio do CNPq. É militante em direitos humanos nas pautas indígenas,
do movimento negro, da justiça de transição, do movimento LGBT e da cultura
popular. Colabora na Comissão Anísio Teixeira de Memória e Verdade da UnB;
no Comitê pela Memória, Verdade e Justiça do Distrito Federal; no Movimento
estratégico pelo Estado Laico, MEEL; e na Companhia Revolucionária
Triângulo Rosa.
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Francisco da Paz M. de Souza (Xiko Mendes) nasceu
em Formoso – MG (Bacia do URUCUIA). Vive em Brasília-DF
desde 1989. É Professor da Secretaria de Educação do Distrito
Federal, habilitado em História, Sociologia e Filosofia desde
1994. É especialista em Gestão Ambiental pela Universidade
Católica de Brasília. É autor, entre outros, dos livros: “O Mito da
Interiorização através de Brasília” (1995), “Formoso de Minas no final do Século XX –
130 Anos” (2002), “Celebração de um Momento Único” (2003), “Ideias para um novo
Projeto de Cidade em Formoso de Minas” (2007), “Eco-história Local: Formoso em
Sala de Aula” (2007), “Com a Palavra, o Menino da Capuava” (2007), “O Centenário
de Guimarães Rosa” (2008), “FuXiko na Tribuna” (2008), “Formoso conta a História
de seus Imigrantes” (2010), “Sonhos, Silêncio e Saudade em Minha Viagem ao
Fundo do Lago Formoso” (2012), “Bagominas: Guia Cultural e Ecoturístico do
Entorno do Parque Nacional Grande Sertão Veredas” (2013) e “Sorrisos de Medusa
transforam Sonhos em Pedras” (2013). É coautor, entre outros, dos livros “Momento
Literário de Planaltina” (1999), “Sonhos e Saudades na Abertura do 3º Milênio”
(2000), “Palavras, Sentimento e Paz” (2002), “Pedra Fundamental: Marco Zero
da Capital” (2012) e “A Musa Debutante” (2013). É organizador, entre outros, dos
livros “Projeto Aluno-Escritor/Planaltina”, “Projeto Aluno-Escritor/Sobradinho” (1996).
Tem textos publicados em várias antologias entre as quais “Escritores Brasileiros
Contemporâneos em Prosa e Verso”, do escritor Adrião Neto, e “Geografia Poética
do DF”, de Ronaldo Mousinho. Sua vida e obra são catalogadas no “Dicionário de
Escritores de Brasília” (2ª edição) de Napoleão Valadares; é mencionado no livro
“História da Literatura Brasiliense” de Luís Carlos Guimarães da Costa, no livro
“Literatura: de Homero à Contemporaneidade”, de Ronaldo Mousinho; e o enfoque
de suas pesquisas sobre a transferência da Capital Federal e sobre Formoso de
Minas foi analisado na tese de doutorado “Margens Escritas: Versões da Capital
antes de Brasília”, autoria da Professora Andrea Borghi, no Departamento de
Antropologia da UnB, em 2003. Também é membro efetivo da Academia de Letras
do Noroeste de Minas (Paracatu), da Academia Planaltinense de Letras (DF), da
Academia de Letras e Artes do Planalto (Luziânia-GO), da Academia de Letras e
Artes do Nordeste Goiano (Formosa-GO) e da Associação Nacional de Escritores
(ANE). É membro correspondente da Academia de Ciências, Letras e Artes do vale
do rio São Francisco (ACLECIA, São Francisco-MG) e da Academia de Letras,
Ciências e Letras de Inhumas-Goiás (ALCAI).
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Gustavo Meyer
Natural de Goiânia, GO. Em 1996 enveredou ao ramo
das ciências agrárias. Atuou em instituições políticas e de
pesquisa, com temáticas ambientais e de desenvolvimento
rural. Nos últimos dois anos divide residência entre
Brasília, DF, e Chapada Gaúcha, MG. Atualmente, cursa o Doutorado em
Desenvolvimento Rural, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
estudando relações entre arte, cultura e desenvolvimento rural. No ano de 2013
foi bolsista da Funarte (Interações Estéticas), realizando, em Chapada Gaúcha,
o projeto Pífano e Gente nas Terras do Grande Sertão Veredas, que culminou
na apresentação do grupo Os Pifeiros do Sertão, composto por jovens, em
diversos palcos da região. No ano de 2014, com intermédio da Agência de
Desenvolvimento Integrado e Sustentável do Vale do Rio Urucuia, mapeou
possibilidades de caminhos ligando Sagarana a Chapada Gaúcha, dentre os
quais o Caminho do Sertão, e coordenou a elaboração participativa de sua
programação. É colaborador do Instituo Rosa e Sertão, de Chapada Gaúcha,
do Encontro dos Povos do Grande Sertão Veredas e do Festival Sagarana:
Feito Rosa para o Sertão, onde tem realizado intervenções musicais e oficinas
de construção e prática de pífanos de bambu.
José Idelbrando Ferreira de Souza
graduado em História pela Faculdade do Noroeste de Minas
– FINON, atualmente está cursando o 3º semestre do curso
de Direito na UNIEURO. É servidor público federal há mais
de 30 anos e experiência profissional nas áreas de finanças
públicas e controle social, é também desde 1985 voluntário na Articulação
Comunitária de Arinos e Região, projeto social denominado ACOMAR Urucuia
Grande Sertão.
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MEU DIÁRIO DE VIAGEM
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