protocolo de abortamento 1 introdução
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protocolo de abortamento 1 introdução
Protocolo Clínico do Hospital Universitário de Santa Maria PROTOCOLO CLÍNICO PROTOCOLO DE ABORTAMENTO Código: PC16 ABORT Data: Março/2016 Especialidade: Ginecologia e Obstetrícia Responsável: Cristine Kolling Konopka Colaboradores: Elaine Verena Resener; Luciana Zafari; Francisco Galarretta; Caroline Mombaque dos Santos; Lia Mara Montagner; Paulo Afonso Beltrame. 1 INTRODUÇÃO 1.1 Conceito Interrupção da gravidez com feto com peso menor que 500g, ou seja, por volta das 20 a 22 semanas de gestação (a OMS define a idade gestacional menor que 20 semanas e o Ministério da Saúde e a Febrasgo menor que 22 semanas). Pode ser espontâneo ou provocado (quando medicamento ou manobra o induziu); subclínico (quando ocorre antes da próxima falha menstrual) ou clínico (quando ocorre após confirmada a gravidez). É dito precoce quando ocorre até 12 semanas e tardio após 12 semanas de gestação ou com peso fetal menor que 500g. Aborto é o produto da concepção, eliminado no abortamento. 1.2 Incidência Aproximadamente 15 a 20% das gestações clinicamente reconhecidas terminam em abortamento e destes 80% ocorrem até a 12ª semana. 1.3 1.3.1 Etiologia Causas embrionárias ou fetais 1.3.1.1 Cromossomopatias: As anomalias cromossômicas causam 50 a 80% dos abortamentos espontâneos. As trissomias são as aneuploidias mais encontradas em casos de abortamentos (52%), sendo a mais frequente a do cromossomo 16. 1/20 Protocolo Clínico do Hospital Universitário de Santa Maria 1.3.1.2 Ovopatias São as anormalidades do desenvolvimento do zigoto, e podem ser causadas por alterações genéticas e ambientais, como a radiação. 1.3.2 Causas Maternas Mais comuns a partir da 13ª semana. Infecções: toxoplasmose, rubéola, citomegalovírus, parvovírus B19, sífilis, hepatite, HIV. Doenças sistêmicas: diabetes, lúpus eritematoso sistêmico. Alterações hormonais: hipoireoidismo e hipertireoidismo, insuficiência do corpo lúteo (deficiência de progesterona). Fatores imunológicos: trombofilias adquiridas (síndrome do anticorpo antifosfolípídeo - SAF) e hereditárias. Uso abusivo do fumo, cafeína e álcool. Intoxicações: chumbo, arsênio, benzeno, etc. Medicamentos teratogênicos: talidomida, antiblásticos, antagonistas do ácido fólico, etc. Procedimentos invasivos: biópsia de vilo corial, amniocentese. Anormalidades uterinas: Adquiridas: miomas, sinéquias, incompetência istmo-cervical (IIC). Congênitas: útero bicorno, didelfo, septado, IIC. 1.4 Fatores de Risco Idade materna avançada é o mais importante fator de risco (35 anos - 20%, 40 anos - 40%, 45 anos - 80%). Paridade: 5% primíparas e 14% multíparas. Abortamento prévio. Cariótipo anormal do casal: quando presente é o fator de risco mais importante. Tabagismo – alcoolismo. Consumo de drogas ilícitas. 2/20 Protocolo Clínico do Hospital Universitário de Santa Maria Índice de massa corpórea < 18,5 Kg/m2 ou >25Kg/m2. 1.5 Tipos de Abortamento Ameaça de abortamento; Abortamento inevitável; Abortamento incompleto; Abortamento completo; Abortamento retido; Abortamento infectado; Abortamento habitual; Abortamento provocado legal; Abortamento provocado ilegal. 2 CLASSIFICAÇÃO CID 10 N96 Abortamento habitual; O02.1 Aborto retido; O03 Aborto espontâneo; O03.0 Aborto espontâneo - incompleto, complicado por infecção do trato genital ou dos órgãos pélvicos; O03.1 Aborto espontâneo - incompleto, complicado por hemorragia excessiva ou tardia; O03.2 Aborto espontâneo - incompleto, complicado por embolia; O03.3 Aborto espontâneo - incompleto, com outras complicações ou com complicações não especificadas; O03.4 Aborto espontâneo - incompleto, sem complicações; O03.5 Aborto espontâneo - completo ou não especificado, complicado por infecções do trato genital ou dos órgãos pélvicos; O03.6 Aborto espontâneo - completo ou não especificado, complicado por hemorragia excessiva ou tardia; O03.7 Aborto espontâneo - completo ou não especificado, complicado por embolia; 3/20 Protocolo Clínico do Hospital Universitário de Santa Maria O03.8 Aborto espontâneo - completo ou não especificado, com outras complicações ou com complicações não especificadas; O03.9 Aborto espontâneo - completo ou não especificado, sem complicações O04 Aborto por razões médicas e legais; O04.0 Aborto por razões médicas e legais - incompleto, complicado por infecção do trato genital ou dos órgãos pélvicos; O04.1 Aborto por razões médicas e legais - incompleto, complicado por hemorragia excessiva ou tardia; O04.2 Aborto por razões médicas e legais - incompleto, complicado por embolia; O04.3 Aborto por razões médicas e legais - incompleto, com outras complicações ou com complicações não especificadas; O04.4 Aborto por razões médicas e legais - incompleto, sem complicações; O04.5 Aborto por razões médicas e legais - completo ou não especificado, complicado por infecções do trato genital ou dos órgãos pélvicos; O04.6 Aborto por razões médicas e legais - completo ou não especificado, complicado por hemorragia excessiva ou tardia; O04.7 Aborto por razões médicas e legais - completo ou não especificado, complicado por embolia; O04.8 Aborto por razões médicas e legais - completo ou não especificado, com outras complicações ou com complicações não especificadas; O04.9 Aborto por razões médicas e legais - completo ou não especificado, sem complicações; O05 Outros tipos de aborto; O05.0 Outros tipos de aborto - incompleto, complicado por infecção do trato genital ou dos órgãos pélvicos; O05.1 Outros tipos de aborto - incompleto, complicado por hemorragia excessiva ou tardia; O05.2 Outros tipos de aborto - incompleto, complicado por embolia; O05.3 Outros tipos de aborto - incompleto, com outras complicações ou com complicações não especificadas; 4/20 Protocolo Clínico do Hospital Universitário de Santa Maria O05.4 Outros tipos de aborto - incompleto, sem complicações; O05.5 Outros tipos de aborto - completo ou não especificado, complicado por infecções do trato genital ou dos órgãos pélvicos; O05.6 Outros tipos de aborto - completo ou não especificado, complicado por hemorragia excessiva ou tardia; O05.7 Outros tipos de aborto - completo ou não especificado, complicado por embolia; O05.8 Outros tipos de aborto - completo ou não especificado, com outras complicações ou com complicações não especificadas; O05.9 Outros tipos de aborto - completo ou não especificado, sem complicações; O06 Aborto não especificado; O06.0 Aborto não especificado - incompleto, complicado por infecção do trato genital ou dos órgãos pélvicos; O06.1 Aborto não especificado - incompleto, complicado por hemorragia excessiva ou tardia; O06.2 Aborto não especificado - incompleto, complicado por embolia; O06.3 Aborto não especificado - incompleto, com outras complicações ou com complicações não especificadas; O06.4 Aborto não especificado - incompleto, sem complicações; O06.5 Aborto não especificado - completo ou não especificado, complicado por infecções do trato genital ou dos órgãos pélvicos; O06.6 Aborto não especificado - completo ou não especificado, complicado por hemorragia excessiva ou tardia; O06.7 Aborto não especificado - completo ou não especificado, complicado por embolia; O06.8 Aborto não especificado - completo ou não especificado, com outras complicações ou com complicações não especificadas; 06.9 Aborto não especificado - completo ou não especificado, sem complicações; O07 Falha de tentativa de aborto; 5/20 Protocolo Clínico do Hospital Universitário de Santa Maria O07.0 Falha de aborto provocado por razões médicas, complicado por infecção do trato genital ou dos órgãos pélvicos; O07.1 Falha de aborto provocado por razões médicas, complicado por hemorragia tardia ou excessiva; O07.2 Falha de aborto provocado por razões médicas, complicado por embolia; O07.3 Falha de aborto provocado por razões médicas, com outras complicações ou com complicações não especificadas; O07.4 Falha de aborto provocado por razões médicas, sem complicações; O07.5 Outras formas, e as não especificadas, de falha na provocação de aborto, complicadas por infecção do trato genital e por infecção dos órgãos pélvicos; O07.6 Outras formas, e as não especificadas, de falha na provocação de aborto, complicadas por hemorragia tardia ou excessiva; O07.7 Outras formas, e as não especificadas, de falha na provocação de aborto, complicadas por embolia; O07.8 Outras formas, e as não especificadas, de falha na provocação de aborto, com outras complicações ou com complicações não especificadas; O07.9 Outras formas, e as não especificadas, de falha na provocação de aborto, sem complicação; O08 Complicações consequentes a aborto e gravidez ectópica ou molar; O08.0 Infecção do trato genital e dos órgãos pélvicos consequente a aborto e gravidez ectópica e molar; O08.1 Hemorragia tardia ou excessiva consequente a aborto e a gravidez ectópica e molar; O08.2 Embolia consequente a aborto e a gravidez ectópica e molar; O08.3 Choque consequente a aborto e a gravidez ectópica e molar; O08.4 Insuficiência renal consequente a aborto e a gravidez ectópica e molar; O08.5 Distúrbios metabólicos consequentes a aborto e a gravidez ectópica e molar; O08.6 Lesão a órgãos e a tecidos pélvicos consequentes a aborto e a gravidez ectópica e molar; 6/20 Protocolo Clínico do Hospital Universitário de Santa Maria O08.7 Outras complicações venosas consequentes a aborto e a gravidez ectópica e molar; O08.8 Outras complicações consequentes a aborto e a gravidez ectópica e molar; O08.9 Complicações consequentes a aborto e gravidez ectópica e molar, não especificadas; O20.0 Ameaça de aborto; O26.2 Assistência à gravidez por motivo de abortamento habitual; Z35.1 Supervisão de gravidez com história de aborto. 3 DIAGNÓSTICO 3.1 Clínico Presença de gravidez (história clínica); Volume uterino (toque combinado); Perdas vaginais (sangramento, eliminação de partes fetais ou restos ovulares); Características cervicais (dilatação); Exame especular (constatar a origem intrauterina do sangramento e/ou a eliminação de partes fetais ou restos ovulares). 3.2 Laboratorial ßHCG, hemograma, tipagem sanguínea e fator Rh (se desconhecido), coombs indireto (se tipagem sanguínea Rh negativo), VDRL, anti-HIV e TP + KTTP se necessário. Em uma gravidez normal o valor sérico do βHCG deve aumentar em torno de 66% a cada 48 h. 3.3 Imagem Ultrassonografia transvaginal até as 12 semanas e obstétrica após as 12 semanas (embrião/feto, presença ou ausência de batimentos cardioembrionários, descolamento ovular, restos ovulares). 7/20 Protocolo Clínico do Hospital Universitário de Santa Maria 3.4 3.4.1 Diagnóstico diferencial Gravidez ectópica β-HCG positivo sem achado de gestação intrauterina ao ultrassom transvaginal. Níveis de β-HCG maiores que 500 mUI/ml obrigatoriamente devem cursar com achado de saco gestacional tópico. 3.4.2 Doença trofoblástica gestacional Útero habitualmente maior que o esperado para a idade gestacional e β- HCG maior que gestação normal, achado de vesículas à ultrassonografia TV. O diagnóstico é confirmado pelo exame anatomopatológico do material de abortamento. 3.4.3 Patologias benignas do trato genital inferior Lacerações do colo ou vagina, erosões cervicais, pólipos. 3.4.4 Patologias malignas que causem sangramento, principalmente do colo uterino. 4 APRESENTAÇÃO CLÍNICA 4.1 Ameaça de Abortamento Sangramento genital de intensidade variável, com ou sem cólicas. Útero compatível com a idade gestacional; colo uterino impérvio. Atividade cardíaca embrionária/fetal presente. Ultrassom – saco gestacional bem implantado com adequado desenvolvimento embrionário/fetal. Pode haver área variável de descolamento ovular (hematoma subcoriônico), que quanto maior, maior a chance de abortamento espontâneo. 8/20 Protocolo Clínico do Hospital Universitário de Santa Maria 4.2 Abortamento Inevitável Caracteriza-se por um ovo íntegro, porém inviável. Contrações uterinas e/ou sangramento, acompanhados por dilatação cervical (nestes casos pode-se dispensar a ultrassonografia). Ainda não houve a eliminação de tecido fetal ou placentário. O volume uterino pode ser incompatível com a idade gestacional. O βHCG normal ou decrescente. Na ultrassonografia o saco gestacional pode estar deformado, irregular e em posição anômala, geralmente baixa na cavidade endometrial. – A gestação anembrionada consiste na ausência de vesícula vitelínica no interior do saco gestacional em gestações de 5 semanas (quando diâmetro médio do saco gestacional é ≥ 20mm) ou de embrião em gestações de 7 semanas (quando diâmetro médio do saco gestacional é ≥ 25mm). 4.3 Abortamento Completo Sangramento e cólicas, expulsão de material embrionário seguidos de diminuição ou cessação da sintomatologia. Útero menor que o esperado para a idade gestacional e colo uterino fechado. Ultrassonografia: Útero vazio ou imagens sugestivas de coágulos. Mais comum no abortamento < 8 semanas. 4.4 Abortamento Incompleto Sangramento mais intenso, com coágulos, cólicas mais fortes que na ameaça de abortamento. Útero menor que o esperado para a idade gestacional. Colo uterino pérvio (material ovular pode ser identificado no canal cervical). O diagnóstico é essencialmente ultrassonográfico com presença de restos ovulares. 4.5 Abortamento Retido Gestação sem evolução há, pelo menos, quatro semanas. 9/20 Protocolo Clínico do Hospital Universitário de Santa Maria Assintomático ou desaparecimento dos sinais e sintomas da gravidez. Útero compatível ou menor que o esperado para a idade gestacional. Sangramento, se presente, discreto; colo fechado. βHCG: níveis decrescentes. Ultrassonografia: – Embrião/feto sem vitalidade ou ausência de embrião ou vesícula vitelínica (ovo anembrionado), saco gestacional irregular, CCN ≥ 5mm sem BCF, pele via transvaginal. Se dúvida diagnóstica repetir o ultrassonografia transvaginal em 7 a 14 dias. Risco: desenvolvimento de coagulação intravascular disseminada (solicitar provas de coagulação, incluindo fibrinogênio) quando há suspeita de interrupção da gravidez há mais de 4 semanas. O colo fechado com sangramento pode ser qualquer outro tipo de abortamento, e a ultrassonografia esclarecerá o diagnóstico. Em gestações iniciais sem definição diagnóstica aconselha-se a realização de ultrassonografia e dosagem sérica de βHCG seriados para confirmar o diagnóstico (tempo em que a maioria dos casos se resolve espontaneamente). 4.6 Abortamento Infectado Quadro infeccioso uterino associado a qualquer das formas do abortamento Etiologia: geralmente polimicrobiana (da própria flora vaginal), com predomínio de gram negativos e/ou anaeróbios. Quadro clínico variável a depender da evolução: febre (geralmente >38ºC), fluxo vaginal com odor fétido (associado ou não a sangramento), dor abdominal. Podemos também observar: sudorese e calafrios, taquicardia, taquisfigmia e taquipnéia; cianose; icterícia; agitação; hipotensão e choque, dependendo da gravidade. Mais frequente após abortamento incompleto e/ou provocado. Considerar a possibilidade de manipulação uterina com instrumentos, podendo haver perfuração uterina e comprometimento de alças intestinais. Exame físico pode apresentar: 10/20 Protocolo Clínico do Hospital Universitário de Santa Maria – Dor abdominal em baixo ventre ou difusa, dor à descompressão abdominal (Blumberg positivo) em casos irritação peritoneal (peritonite – abdome agudo infeccioso). – Dor à mobilização uterina, útero amolecido, colo aberto e grito de Douglas (dor intensa à palpação via vaginal do fundo de saco de Douglas pensar em abscesso). Hemograma apresenta-se infeccioso. Solicitar provas de função hepática e renal nos casos graves. Hemocultura pode ser necessária. Cultura de secreção vaginal e de material endometrial, somente em casos com resposta inadequada (a flora é polimicrobiana). Ultrassonografia pélvica transvaginal: restos ovulares, coleção líquida em fundo de saco de Douglas. Se não tratado adequadamente pode evoluir para parametrite, peritonite, sepse e choque séptico. 5 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO Não se aplica. 6 CRITÉRIO DE EXCLUSÃO Não se aplica. 7 TRATAMENTO 7.1 Ameaça de Abortamento Tratamento ambulatorial, exceto em situações de sangramento de grande volume. Repouso relativo, abstinência sexual, antiespasmódicos e apoio emocional. Dosagem seriada de βHCG e ultrassonografia são utilizados para monitorização da evolução da gestação. Uso de progesterona natural: nos casos suspeição de insuficiência de corpo lúteo. 11/20 Protocolo Clínico do Hospital Universitário de Santa Maria Administrar imunoglobulina anti-D (300 microgramas IM) quando mãe Rh(-) e pai Rh(+), em caso de sangramento intenso. Se a paciente já estiver isoimunizada (teste de coombs indireto positivo) não se faz a imunoglobulina. 7.2 Abortamento Inevitável O manejo é o mesmo do abortamento incompleto. 7.3 Abortamento Incompleto Internação. Se sangramento volumoso, repor perdas conforme protocolo transfusional ou apenas volume. Reserva de sangue se paciente em risco ou iminência de choque hipovolêmico. Iniciar com solução cristalóide, Ringer lactato 1.000mL EV em gotejo rápido. Encaminhar a paciente para esvaziamento uterino imediato nos casos de sangramento intenso. Se o sangramento for pequeno a moderado, aguardar evolução do trabalho abortivo, no sentido de evitar a dilatação instrumental do colo uterino e curetagem uterina desnecessária (risco de perfuração uterina e de sinéquias uterinas). Nestes casos prescrever SG5% 500mL com ocitocina 10UI, 90 A 120 mL/h (30 a 40 gtas/min). Se o sangramento reduzir e o colo permanecer aberto, desde que a paciente esteja estável, pode-se aguardar até 12 horas pela disponibilidade de ultrassonografista, a fim de definir presença de restos ovulares (ecos endometriais amorfos e mal definidos) e sua quantidade (medida da espessura da cavidade endometrial). Se o sangramento reduzir consideravelmente e/ou o colo fechar realizar ultrassom transvaginal para avaliar a quantidade de restos ovulares. 12/20 Protocolo Clínico do Hospital Universitário de Santa Maria Se cavidade endometrial com espessura < 25 mm: se exames normais dar alta, com solicitação de US transvaginal.e retorno ambulatorial (Ambulatório de Puerpério/Pós-abortamento) em 7 a 10 dias. Se cavidade endometrial com espessura ≥ 25 mm: proceder o esvaziamento da mesma com AMIU ou curetagem uterina. Quadro 1: Conduta conforme espessura endometrial Apesar de a conduta expectante apresentar chance de eliminação incompleta e necessidade de medicação ou curetagem, não está associada a maior risco de infecção. 7.3.1 Esvaziamento uterino conforme a Idade Gestacional 7.3.1.1 Gestação < 12 semanas Aspiração Manual Intrauterina (AMIU) ou curetagem uterina (vide POP AMIU ou curetagem uterina). 7.3.1.2 Gestação ≥ 12 semanas na presença de feto Antes da curetagem é necessária a expulsão fetal. – Misoprostol 400 mcg via vaginal (no fundo de saco vaginal, junto à porção posterior do colo uterino), de 6/6h até a eliminação fetal, ou por 24 horas (4 doses). Se não eliminar o feto, repetir o esquema após 24h. – Em caso de contraindicação ao uso do misoprostol ou na falta deste fármaco: Ocitocina em esquema de macroinfusão: 20UI em 500 ml solução glicosada 5%, 20gts/min (ou 60 ml/h em bomba de infusão), adicionando-se 10UI de ocitocina para cada 100 ml infundidos. Após expulsão: curetagem uterina. Solicitar histopatológico do material eliminado/curetado. Administrar imunoglobulina anti–D (300 microgramas IM) quando mãe Rh(-) e pai Rh(+). Se a paciente já estiver isoimunizada (teste de coombs indireto positivo) não se faz a imunoglobulina. 13/20 Protocolo Clínico do Hospital Universitário de Santa Maria 7.4 Abortamento Completo A espessura do eco endometrial ≤15mm orienta a conduta para abortamento completo. Controle ambulatorial na Unidade Básica de Saúde. Administrar imunoglobulina anti–D (300 microgramas IM) se Rh(-), parceiro Rh(+).Se a paciente já estiver isoimunizada (teste de coombs indireto positivo) não se faz a imunoglobulina. 7.5 Abortamento Retido Internação para resolução da gestação interrompida. Nas gestações superiores a 12 semanas, quando o tempo de interrupção da gestação presumido é maior que 4 semanas, além dos exames de rotina para abortamento realizar estudo da coagulação com posterior indução do trabalho abortivo. 7.5.1 Esvaziamento uterino conforme a idade gestacional 7.5.1.1 Gestação < 12 semanas Misoprostol 800 mcg via vaginal (no fundo de saco vaginal, junto à porção posterior do colo uterino), a cada 12h (2 doses). Se não eliminar o conteúdo uterino ou não ocorrer resposta à medicação, e houver disponibilidade para esvaziamento uterino, proceder o mesmo (AMIU ou curetagem uterina). Caso contrário, administrar a 3ª dose de 800mcg de misoprostol com 12h de intervalo da 2ª dose. Após a 3ª dose, se não eliminar o conteúdo uterino em até 12 h, realizar o esvaziamento (AMIU ou curetagem uterina). Associar analgesia sempre que necessário. 7.5.1.2 Gestação ≥ 12 semanas na presença de feto Antes da curetagem é necessária a expulsão fetal. Misoprostol 400 mcg a cada 6h via vaginal (no fundo de saco vaginal, junto à porção posterior do colo uterino), até a eliminação fetal, ou por 24 horas (4 14/20 Protocolo Clínico do Hospital Universitário de Santa Maria doses). Se não houver resposta, aguardar 24h e repetir o esquema com misoprostol. Em caso de contraindicação ao uso do misoprostol ou na falta deste fármaco: – Ocitocina em esquema de macroinfusão: 20UI em 500 ml solução glicosada 5%, 20gts/min (ou 60 ml/h em bomba de infusão), adicionando-se 10UI de ocitocina para cada 100 ml infundidos. Após expulsão: curetagem uterina se necessário (presença de restos ovulares e/ou sangramento intenso persistente). Solicitar histopatológico do material eliminado/curetado. Administrar imunoglobulina anti–D (300 microgramas IM) quando mãe Rh(-) e pai Rh(+). Se a paciente já estiver isoimunizada (teste de coombs indireto positivo) não se faz a imunoglobulina anti-D. imunoglobulina. 7.6 Aborto Infectado Internação. Acesso venoso: punção de veia de grosso calibre com agulha calibrosa (reposição de líquidos e hemoderivados caso necessário). Antibioticoterapia: – Metronidazol 500mg EV de 8/8h (ou clindamicina 600mg EV de 6/6h) associado à gentamicina 160 a 240mg EV diluído em dose única diária. – Na ausência de melhora em 48h suspeitar de infecção por enterococo e associar ampicilina 1g EV 6/6h. – Em casos de apresentação clínica grave (leucocitose e desvio à esquerda acentuados) ou sepse, iniciar com esquema tríplice: (ampicilina ou penicilina cristalina + gentamicina + metronidazol ou clindamicina). – Em casos de infecção leve (leucocitose e desvio à esquerda discretos) usar ampicilina 1g, EV, 6/6h (ou penicilina cristalina 4 milhões EV de 6/6h), associada à gentamicina 160 a 240mg, EV diluído em dose única diária. O tratamento antibiótico deverá ser mantido até que a paciente esteja clinicamente bem e afebril por 24 a 48 horas. Não é necessária a manutenção da antibioticoterapia, por via oral, exceto em infecções estafilocócicas, infecções 15/20 Protocolo Clínico do Hospital Universitário de Santa Maria graves, quadros de sepse ou hemocultura positiva. Nestes casos, completar sete dias de tratamento. Após 24 a 48h afebril dar alta com: ampicilina 500mg VO 6/6h e metronidazol 400mg VO 8/8h ou 250mg, 2cp VO de 8/8h. Gestação < 12 semanas: esvaziamento preferentemente por AMIU, por apresentar menor risco de perfuração, desde que não haja suspeita de perfuração uterina prévia. O útero na presença de infecção é propenso à perfuração: fazer ocitocina durante a AMIU ou curetagem uterina. Gestação ≥ 12 semanas na presença de feto: antes da curetagem é necessária a expulsão fetal, conforme anteriormente descrito. Realizar o esvaziamento uterino após 4h do início da antibioticoterapia. Solicitar histopatológico do material eliminado/curetado. Se quadro febril persistente e manutenção ou piora do quadro clínico, pensar em complicações: antibioticoterapia inadequada, persistência de restos ovulares, perfuração uterina, abscesso pélvico, outro sítio infeccioso ou tromboflebite pélvica séptica. Se choque séptico: lembrar-se da etiologia por E. coli, bacteróides, Clostridium (este pode levar a quadro de anemia hemolítica fulminante e insuficiência renal). Monitoramento clínico e laboratorial conforme gravidade (diurese, provas de coagulação, creatinina, ureia, bilirrubinas, funções hepáticas e gasometria). Laparotomia deve ser reservada para casos graves (massas anexiais, abanos, perfuração uterina, sepse). Avaliar a necessidade de realização de histerectomia total e por vezes, também pode se tornar necessária a anexectomia uni ou bilateral, conforme a gravidade do caso. 8 MONITORAMENTO DO TRATAMENTO 8.1 Monitoramento durante a internação no HUSM Curva térmica. Hemograma seriado conforme a gravidade do caso (diário ou a cada dois dias). 16/20 Protocolo Clínico do Hospital Universitário de Santa Maria Em casos de sepse e alteração laboratorial, repetir os exames periodicamente até melhora. 8.2 Critérios de Alta Casos de abortamento não complicado podem receber alta após o esvaziamento uterino (após recuperação anestésica). Casos de abortamento infectado: o tratamento antibiótico deverá ser mantido até que a paciente esteja clinicamente bem e afebril de 24 a 48 horas. 8.3 Recomendações e seguimento pós-abortamento Abstinência sexual por três semanas. Iniciar anticoncepção: dia da curetagem considerar o primeiro dia do ciclo. Iniciar anticoncepcional oral ou injetável. Sulfato ferroso 300mg 3x/dia por 30 dias. Retorno no Centro Obstétrico se dor, sangramento ou febre 8.4 Contra Referencia/Retorno ao Ambulatório Casos de abortamento não complicado: retornar na Unidade Básica de Saúde (UBS) em aproximadamente 20 dias. Em duas a três semanas entrar em contato pelo telefone 3213.1788, de segunda a sexta feira das 7:00 às 12:00h, para ver se o resultado do anatomopatológico está pronto. Se sim, a paciente (ou representante legal) deverá comparecer ao Pré-natal/Puerpério de Alto Risco do HUSM para pegar o resultado impresso (e visto pelo médico do ambulatório, para liberação do mesmo) de segunda a sexta feira das 7:00 às 12:00h. Este resultado deverá ser apresentado ao médico da UBS. Pacientes com conduta expectante de abortamento incompleto ou após alta de abortamento infectado ou supeita de mola: retornar no Ambulatório de Puerpério e Pós-abortamento para a revisão em 7 a 10 dias. 9 CONSENTIMENTO INFORMADO Não se aplica. 17/20 Protocolo Clínico do Hospital Universitário de Santa Maria 10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ. Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas – Maternidade Escola Assis Chateaubriand. 2014. Rotinas em Obstetrícia, 6ª edição, Ed. Artmed, 2011. http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/protocolo_utilizacao_misoprostol_obst etricia.pdf, acessado em 22.06.2015. ZHANG J. GILLES JM, Barnhart K, Creinin MD, Westhoff C, Frederick MM, et al. A comparison of medical management with misoprostol and surgical management for early pregnancy failure. National Institute of Child Health Human Development (NICHD) Management of Early Pregnancy Failure Trial. N Engl J Med 2005;353:761-9. 18/20 Protocolo Clínico do Hospital Universitário de Santa Maria 12 FLUXOGRAMA - ALGORÍTMO PROTOCOLO CLÍNICO ABORTAMENTO Código: PC16 ABORT Data: Março/2016 Especialidade: Ginecologia e Obstetrícia Responsável: Cristine Kolling Konopka Colaboradores: Elaine Verena Resener; Luciana Zafari; Francisco Galarretta; Caroline Mombaque dos Santos; Lia Mara Montagner; Paulo Afonso Beltrame. 19/20 Protocolo Clínico do Hospital Universitário de Santa Maria 20/20
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