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ISSN 1519-0412 vol. IX nº 38 out./dez. 2007 Pensar Co ntábil Corpo Editorial Francisco José dos Santos Alves Rio de Janeiro - RJ Editor Doutor em Contabilidade e Controladoria – FEA/USP Professor da Universidade Estácio de Sá Professor da UERJ Antonio Miguel Fernandes Rio de Janeiro - RJ Expediente Mestre em Ciências Contábeis – UERJ Professor da Faculdade Moraes Júnior, da EPGE da FGV Management e do CPGE da UCAM Conselho Diretor do CRC-RJ Antonio Miguel Fernandes Presidente José Alonso Borba Carlos de La Rocque Vice-presidente Doutor em Contabilidade - USP Professor da UFSC Francisco José dos Santos Alves Josir Simeone Gomes Vice-presidente de Pesquisa e Desenvolvimento Profissional Pós-doutorado em Controle de Gestão na Universidade Carlos III de Madrid Professor da UERJ Florianópolis - SC Lílian Lima Alves Vice-presidente de Administração e Finanças Rio de Janeiro - RJ Maria Thereza Pompa Antunes São Paulo - SP Nelma Bello Goulart de Albuquerque Doutora em Controladoria e Contabilidade – USP Professora Adjunta – Universidade Presbiteriana Mackenzie/FAAP Vice-presidente de Fiscalização e de Ética e Disciplina Carlos Alberto do Nascimento Nahor Plácido Lisboa Vice-presidente de Registro Profissional São Paulo - SP Doutor em Controladoria e Contabilidade – FEA/USP Professor da FEA/USP e Pesquisador da FIPECAFI Cezar Stagi Vice-presidente de Interior Sandra Maria dos Santos Fortaleza - CE Pós-Doutorado em Economia Regional e Urbana – UFPE/PIMES Doutora em Economia Industrial – UFPE/PIMES Editora-Chefe da Contextus – Revista Contemporânea de Economia e Gestão Conselho Regional de Contabilidade do Estado do Rio de Janeiro Rua Primeiro de Março, 33 – Centro – Rio de Janeiro - RJ CEP: 20.010-000 • tel.: (21) 2216-9595 - fax: (21) 2516-0878 www.crc.org.br Envio de artigos e assinatura: [email protected] Data de impressão: dezembro/2007 Tiragem: 2.000 exemplares Waldir Jorge Ladeira dos Santos ISSN 1519-0412 Distribuição: por assinatura anual (R$ 16,00) Atendimento ao assinante -tel.: (21) 2216-9544 / fax: (21) 2216-9607 Dr. André Carlos Busanelli de Aquino, Dr. Edson Ishikura, Dr. Francisco Bezerra, Dr. Marcelo Coletto Pohlmann, Dr. Natan Szuster, Dr. Poueri do Carmo Mario, Dr. Ricardo Lopes Cardoso, Dr. Roni Cleber Bonizio e Dr. Vinícius Avesari Martins. “As opiniões emitidas em artigos são de exclusiva responsabilidade de seus autores. É permitida a reprodução de qualquer matéria, desde que citada a fonte.” Jornalista responsável: Alessandra Vale (Mtb 21.215) Capa e diagramação: Renata Aguiar Revisão: Carlos Nougué Produção editorial: Cajá – Agência de Comunicação Impressão: Gráfica Sermograf Apoio administrativo: Fátima Bacelo e Patrícia Silva Rio de Janeiro - RJ Mestre em Contabilidade Financeira – UERJ Professor da UERJ, da Faculdade Moraes Junior e da EPGE da FGV Management Consultores Ad Hoc CONCEITO QUALIS/CAPES: NACIONAL C Ficha catalográfica P418 Pensar Contábil, v. 1, n.1, ago. 1998-. - Rio de Janeiro: CRC-RJ, 1998-. Trimestral ISSN 1519-0412 1.Contabilidade. I.Conselho Regional de Contabilidade do Estado do Rio de Janeiro CDU – 657 Editorial Base de dados de periódicos científicos da área contábil e Prêmio Contador Geraldo de La Rocque Prezado leitor, O Conselho Regional de Contabilidade do Estado do Rio de Janeiro está implantando a REVISTA ELETRÔNICA Pensar Contábil, com a utilização do software livre SEER do IBICT – Instituto Brasileiro de Ciência e Tecnologia. Este é um passo importante para nós e para a área acadêmica, uma vez que, desta forma, a revista estará disponibilizada para pesquisa eletrônica, bem como teremos a possibilidade de aumentar sua pontuação junto à CAPES. Mais do que isso, por iniciativa do CRC-RJ em parceria com a UFRJ, iremos viabilizar uma base de dados disponibilizando o acesso a periódicos científicos de acesso aberto na área de contabilidade e gestão. É de grande importância a possibilidade oferecida aos contabilistas, acadêmicos, estudantes e público em geral, de obter esse acesso em um único portal. A tecnologia da informação e a Internet se tornaram excelentes fontes de pesquisa para o mundo profissional e acadêmico. As vantagens são muitas: a rapidez, conforto, conveniência e número de fontes disponíveis estão entre elas. Por outro lado, a quantidade de informação disponível, a dispersão das fontes e a falta de capacidade de se verificar a fidedignidade de alguns sites acabam por comprometer a pesquisa. O movimento para o acesso livre ao conhecimento científico pode ser considerado como o fato mais importante nos dias atuais no que se refere à comunicação científica. Em novembro de 2007, a exemplo de anos anteriores, o CRC-RJ outorgou o Prêmio Contador Geraldo de La Rocque, que tem como objetivo incentivar a pesquisa no plano técnico e ético do exercício da profissão contábil. Concorreram 21 trabalhos e, de acordo com o regulamento, foram classificados cinco. Nesta edição, estamos publicando os trabalhos classificados do primeiro ao terceiro lugar e na próxima edição publicaremos os classificados em quarto e quinto lugares. O primeiro lugar, “Análise da Utilização dos Indicadores Essenciais da Global Reporting Initiative (GRI) nos Relatórios Sociais de Empresas Latino-Americanas”, dentre as conclusões relatadas no trabalho, destaca o fato de que: (a) os menores índices tanto de GAPIE-GRI quanto de GEE estão concentrados no grupo de indicadores sociais; (b) o grupo de indicadores econômicos é o que apresenta maior média; (c) as empresas que afirmam possuir um relatório “de acordo com” a GRI não foram as que obtiveram os melhores resultados; e (d) as empresas analisadas encontram-se em diferentes estágios de aderência às diretrizes da GRI. O trabalho classificado em segundo lugar, “As Indústrias de Pequeno Porte e o Orçamento de Capital: um Estudo sobre Análise de Investimentos na Baixada Fluminense”, teve por objetivo analisar o processo de investimento de capital em empresa industrial de pequeno porte localizada na região que abrange os municípios de Duque de Caxias e Nova Iguaçu. O terceiro lugar, “Considerações sobre a Evidenciação de Ativos Intangíveis no Contexto Brasileiro: Estudo de Caso da Perdigão S/A.”, tem por objetivo analisar como as empresas brasileiras estão evidenciando seus ativos intangíveis, comparando-o com as normas brasileiras e internacionais de contabilidade. Esperamos que para a edição do Prêmio em 2008 possamos receber mais trabalhos, até de outros estados. Estamos, também, publicando o artigo “Análise de Geração de Valor através da Gestão por Atividades: um Estudo de Caso”, que busca examinar até que ponto recursos consumidos por atividades produtivas estão agregando ou destruindo valor para os acionistas. Sumário Summary Análise de Geração de Valor através da Gestão por Atividades: um estudo de caso 5 Dr. Francisco José dos Santos Alves Vice-Presidente de Pesquisa e Desenvolvimento Profissional Value Added Analysis Using Activity Based Management: a Case Study Raimundo Nonato Sousa da Silva Tiago de Amorim Bueno Vieira Raimundo Nonato Sousa da Silva Tiago de Amorim Bueno Vieira Análise da Utilização dos Indicadores Essenciais da Global Reporting Initiative nos Relatórios Sociais de Empresas Latino-Americanas 14 The Usage of Global Reporting Initiative Essencial Indicators in the Latin American Corporations Fernanda de Medeiros Carvalho Jose Ricardo Maia de Siqueira Fernanda de Medeiros Carvalho Jose Ricardo Maia de Siqueira As Indústrias de Pequeno Porte e o Orçamento de Capital: um Estudo sobre Análise de Investimentos na Baixada Fluminense 23 Marcio de Araújo Resende Jose Ricardo Maia de Siqueira Considerações Sobre a Evidenciação de Ativos Intangíveis no Contexto Brasileiro: Estudo de Caso da Perdigão S/A Bárbara de Souza Galvão José Paulo Cosenza The Small Industries and the Capital Budget: an Study about the Investment Analysis in the Baixada Fluminense Region 14 23 Marcio de Araújo Resende Jose Ricardo Maia de Siqueira 31 Discussion on Disclosure of the Intangible Assets in the Brazilian Context: the Case of Perdigão S/A Bárbara de Souza Galvão José Paulo Cosenza Uma publicação do Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 9, n. 38, p. 3 - 4, out./dez. 2007 5 31 Pensar Contábil CRC-RJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Orientações aos colaboradores da Revista Pensar Contábil Perfil temático e objetivos da publicação: A Revista Pensar Contábil é um periódico trimestral do Conselho Regional de Contabilidade, existente desde agosto de 1998, e tem como missão a divulgação de artigos relevantes na área de contabilidade, com o objetivo de fomentar a pesquisa. Mecanismo de avaliação de artigos: Podem encaminhar artigos para a revista colaboradores do Brasil e do exterior. Os artigos recebidos são avaliados pelo Corpo Editorial e consultores externos, através do sistema double blind review, não sendo conhecidos os autores durante a avaliação. Envio e regras para publicação de artigos: Os artigos deverão ser inéditos, podendo estar no idioma português, espanhol ou inglês. Devem ser encaminhados para o e-mail [email protected], nos prazos e características a seguir: Para publicação na Revista número 39 – Jan/Fev/Mar - 2008 40 – Abr/Mai/Jun - 2008 41 – Jul/Ago/Set - 2008 Prazo para receber artigos 29/12/07 28/03/08 30/06/08 a) em folha de rosto, deverá constar: - o título do artigo; - identificação e qualificação do(s) autor(es) constando: o nome completo, número de registro (se for o caso), formação e qualificação profissional e/ou acadêmica (no caso de citar instituição de ensino, informar também o CEP, Cidade e UF correspondente); - endereço completo, telefone, fax e e-mail do(s) autor(es); b) a estrutura de apresentação do artigo deverá conter: título do artigo, resumo e palavras-chaves, assim como os mesmos tópicos em inglês (title, abstract, key words), introdução, desenvolvimento e conclusão; c) a bibliografia completa deverá ser apresentada em ordem alfabética no fim do texto, de acordo com as normas da ABNT (NBR-6023 revisada); d) a formatação do artigo deve ser: - digitado em Word, tamanho A4, fonte Times New Roman; - fonte tamanho 12 para texto e tamanho menor para citações de mais de 3 linhas, notas de rodapé, paginação e legendas das ilustrações e tabelas; - as folhas devem apresentar margem esquerda e superior de 3 cm; direita e inferior de 2 cm; - entrelinhas simples; - alinhamento justificado; e) os artigos deverão estar redigidos em português. Os artigos de autores do exterior serão publicados em inglês, espanhol ou português, conforme o caso; f) os artigos deverão ter no mínimo 10 e no máximo 15 páginas; g) os artigos deverão ter sido completa e perfeitamente revisados; h) os direitos autorais dos artigos publicados nesta revista são dos autores, sendo concedidos pelos mesmos os direitos da primeira publicação ao Conselho Regional de Contabilidade do Estado do Rio de Janeiro. Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 9, n. 38, p. 3 - 4, out./dez. 2007 Pensar Contábil CRC-RJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Análise de Geração de Valor através da Gestão por Atividades: um Estudo de Caso Resumo Análise de geração de valor agregado tem sido aplicada em larga escala em empresas ou unidades de negócios com vistas à criação de riquezas para o dono do capital. Este estudo, por sua vez, busca examinar até que ponto recursos consumidos por atividades produtivas estão agregando ou destruindo valor para os acionistas. Para a consecução do estudo, toma como base o sistema ABC-EVA Integrados e demonstra como uma ferramenta de gestão consegue gerar informações para avaliação de criação/destruição de valor. Os resultados são ilustrados em um exemplo de uma empresa prestadora de serviços para a indústria siderúrgica. Palavras-chave: Custeio Baseado em Atividades, Valor Econômico Agregado, Sistema de Custeio. Abstract The analysis of value added increase has been applied in a large scale in companies or business units with a view to generate income to investors. The present study aims to examine the extent to which the resources used in production activities can increase or decrease value to the stakeholders. In order to achieve this aim this study examines the ABC-EVA integrated system and demonstrates how a management tool can provide information to assess creation or destruction of value. The results are illustrated focusing on a service company for the steel industry. Key Words: Activity Based Cost; Economic Value Added; Cost Systems. 1. Introdução As práticas de gestão (melhoria contínua, qualidade total, gestão total de custos etc.) têm como suporte um sistema de informações flexível e ágil, que forneça informações de confiança para a administração, em especial as relacionadas com os custos da empresa. Em geral, quanto mais confiáveis forem as informações de custos providas pelo sistema de custos, melhor será o gerenciamento da tomada de decisão e mais forte será o desempenho da empresa (Roztocki, 2001a). Uma completa informação de custos é necessária para uma melhor tomada de decisão. Essa informação deve conter todas as informações necessárias para se criar um produto, ou prestar um serviço. Todas as informações não devem ser entendidas apenas como os custos tangíveis, mas inclusive o custo de capital esperado pelo investidor e/ou credor. Raimundo Nonato Sousa da Silva Rio de Janeiro – RJ Contador Mestre em Contabilidade pela FGV1 Doutor em Engenharia de Produção pela COPPE/UFRJ2 [email protected] Tiago de Amorim Bueno Vieira Rio de Janeiro – RJ Mestre em Administração pela Faculdade IBMEC3 [email protected] O objetivo geral deste trabalho é contribuir para o estudo de aprimoramento de informação de gestão com base no valor para atividades. É descrever dois conceitos que surgiram nas últimas duas décadas: o ABC e o EVA, e como eles, integrados e implementados em empresas, podem se transformar numa ferramenta de gestão para tomada de decisão. Com relação aos objetivos específicos do trabalho, pretende-se demonstrar como o Sistema ABC-EVA Integrados pode ser usado como uma ferramenta de gestão capaz de gerar informações para avaliação de criação/destruição de valor de cada produto. O ABC/ABM e o EVA são ferramentas gerenciais que dão às organizações uma visão muito mais clara de sua economia interna e externa. Devem ser utilizados pelos executivos que precisam tomar uma série de decisões a respeito de suas operações, dos processos de produção, seus objetivos, seus produtos e seus clientes. É importante destacar os pontos convergentes entre essas duas metodologias que possibilitam a integração. O Sistema Tradicional de Custeio (Traditional Cost Accounting, ou simplesmente TCA) aloca arbitrariamente os custos indiretos (overhead) nos objetos de custos, baseados, normalmente, em algum critério de volume, tais como horas trabalhadas. O Sistema Baseado em Atividades (ABC), que é uma técnica aplicada na apropriação de custos indiretos através do reconhecimento causal existente entre as atividades e os objetos de custo, todavia, não leva em consideração o custo do total de capital associado àquele objeto de custo. Quando os gerentes utilizam somente o ABC para análise, eles têm dificuldade em atingir as expectativas dos investidores. O sistema ABC-EVA integrados não é somente um sistema de custos. Além de fornecer aos gerentes informações consistentes com a correta alocação do custo de capital entre os objetos de custos, ele provê as informações de cada objeto de cus- FGV – Fundação Getúlio Vargas – CEP 22250-900 – Rio de Janeiro – RJ. COPPE/UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro – CEP 22.920-240 – Rio de Janeiro – RJ. 3 IBMEC – Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais – CEP 20030-020 – Rio de Janeiro – RJ. 1 2 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 9, n. 38, p. 5 - 13, out./dez. 2007 Artigo recebido em 1º/06/2007 e aceito em 09/08/2007. Pensar Contábil CRC-RJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Raimundo Nonato Sousa da Silva Tiago de Amorim Bueno Vieira tos separadamente. Depois de implementado o sistema, o gerente será capaz de avaliar quais fatores, componentes, processos ou operações estão adicionando valor à empresa (Roztocki & Needy, 1999). Com relação à contribuição prática, o estudo trará resultados suscetíveis de ser utilizados por empresas de manufaturas e de serviços que tenham elevados custos indiretos e investimentos, informando-as sobre essa ferramenta e suas aplicações. Como este assunto ainda não foi totalmente estudado, ainda existem pontos a ser explorados e este trabalho ajudará a verificar como é possível identificar atividades que destroem valor. 2. Sistema de Custos Baseados em Atividades (ABC) e Gerenciamento Baseado em Atividades (ABM) Enquanto a discussão de qual é o melhor sistema de custeio, se por Absorção Tradicional ou Custeio Direto/Variável, e se eles se completam, se arrasta ao longo dos anos, a economia evolui e a necessidade de um sistema de custeio que atenda aos anseios desta evolução é cada vez mais percebida. Johnson e Kaplan (1993) afirmam que, a partir dos anos 80, a obsolescência dos sistemas de contabilidade de custos e controle gerencial tornou-os particularmente desfavoráveis, no quadro de competição global. As conseqüências de custos inexatos de produtos e sistemas contábeis deficientes no controle de processos e avaliação de desempenho se transformaram em um grave problema para a indústria americana, num mercado cada vez mais competitivo. O sistema ABC (Activity-Based Costing ou Custeio Baseado em Atividades) foi desenvolvido, inicialmente, para atender às empresas de manufatura que precisavam melhorar a gestão dos custos, a fim de aprimorar os processos de produção e atendimento ao cliente, transformando, assim, a função financeira de mera narrativa passiva do passado em agente preventivo do futuro (Kaplan, 1998). O ABC é uma técnica em que os custos indiretos são apropriados a várias unidades através de algumas bases que não são relacionadas aos volumes dos fatores, chamadas de drivers, ou direcionadores de custos. Os custos indiretos são associados às atividades necessárias para gerar os produtos. A metodologia ABC pressupõe que as atividades consomem recursos e são necessárias para a fabricação de produtos ou prestação de serviços. Através da acumulação dos custos em atividades homogêneas, podem-se apurar os custos dos objetos de custos mais precisamente. As atividades podem ser identificadas no âmbito da empresa como um todo ou dos departamentos, isto é, os departamentos podem ser encarados como centros de atividades. O processo de distribuição dos recursos aos objetos de custos pode ser assim representado, conforme Cogan (1999): Recursos Direcionador de Custos Centro de Atividades Direcionador de Custos Objetos de Custos Segundo Cogan (1999), uma suposição do ABC é que todos os custos de cada centro de atividades funcionam como se variáveis fossem mantendo proporcionalidade com a respectiva atividade. Lins e Silva (2005) descrevem o direciona- Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 9, n. 38, p. 5 - 13, out./dez. 2007 dor como qualquer fator que cause alteração no custo de uma atividade. É um fato causal que influencia a quantidade de um trabalho e, portanto, do custo de uma atividade, concluem. Roztoki e Needy (1998) mencionam que, apesar de a técnica ABC possibilitar o cálculo dos custos operacionais, é deficiente em não atribuir o custo de todo o capital. Enquanto a depreciação (uma parte do custo de capital) é considerada no cálculo do ABC, os juros sobre o capital investido em uma empresa não são incluídos. Apesar da complexidade de implementação do custeio ABC, este pode ser muito importante na ajuda à gestão da empresa, assim como possibilita o gerenciamento baseado em atividades – ABM (Activity Based Management). Esta técnica compreende a administração baseada em atividades, pois em última análise as atividades desenvolvidas dentro de uma organização são as responsáveis pelo processo de geração de valor. Assim, a técnica ABC tem, tal como o EVA, grande utilidade em uma gestão baseada em valor. O ABC é uma espécie de instrumento revelador, a ferramenta que é empregada para apontar os custos e suas verdadeiras causas, ou seja, relacionando-os com as atividades e processos utilizados na execução de determinadas operações de negócio. O ABM, por sua vez, pode ser encarado como a prática de gestão, que se utiliza das informações de natureza econômica reveladas pelo ABC, e que através de ações integradas e interdependentes produz correções, ajustes e melhorias no status quo da organização. O ABM pode ser apoiado, para finalidade das ações operacionais, por uma ou mais ferramentas e programas de melhoria contínua, como TQM (Total Quality Management), Reengenharia, JIT (Just-in-Time) ou Kaizen. Enquanto na perspectiva tradicional os custos são controlados no âmbito de cada departamento, no ABM o objetivo passa pela otimização dos recursos empregues, através da análise das atividades que consomem esses mesmos recursos. Segundo o ABM, os custos são otimizados através de uma gestão correta das operações realizadas na empresa ou através da eliminação ou minimização das atividades que não criam valor. Uma atividade acrescenta valor se for essencial para o cliente ou para o funcionamento da organização. Ou seja, uma atividade acrescenta valor ao produto, mas, se esse valor não for percebido pelo cliente, será obviamente uma atividade desnecessária. 3. Valor Econômico Adicionado (EVA) O conceito relacionado ao EVA não é uma descoberta recente. Uma medida de performance chamada lucro residual é definida por ser o lucro operacional menos o custo de capital. Alfred Marshal (1890), famoso economista britânico, definiu o real significado do lucro econômico como sendo: “O que resta dos lucros após deduzir os juros sobre o capital empregado a taxa corrente pode ser chamado de ganho real do empreendimento ou gerenciamento”. EVA é simplesmente uma variação do lucro residual. Uma idéia geral do EVA é que os acionistas devem ter um retorno que compense o risco que estão tendo. Em outras palavras, o retorno no investimento deve ser ao menos no mesmo montante de um investimento de mesmo risco em mercados similares. Se este não for o caso, então não se Pensar Contábil CRC-RJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Análise de Geração de Valor através da Gestão por Atividades: um Estudo de Caso tem um lucro verdadeiro, e, na verdade, a empresa está operando com perda do ponto de vista dos acionistas. Por outro lado, se o EVA é zero, esse deverá ser tratado como um retorno suficiente porque o acionista recebeu um retorno que compensava o risco. Análises estatísticas e pesquisas acadêmicas mostram que o EVA é a medida que mais se relaciona com a criação de valor, melhor do que qualquer outra medida de desempenho contábil tradicional. Isto significa que para criar valor os administradores de uma empresa devem se preocupar com muito mais do que somente reduzir custos e melhorar a eficiência do capital. Eles precisam encontrar meios para entregar valor para os clientes através de produtos inovadores, propaganda bem-sucedida, serviços impecáveis e outros (Ehrbar, 1999). A decisão da empresa de adquirir ativos ou investir no desenvolvimento de novos produtos e serviços com taxa de retorno esperada maior do que o custo de oportunidade do capital vem normalmente atrelada à identificação das melhores alternativas de financiamento, vantagens tributárias, fiscais e outras. Portanto, o objetivo da administração da empresa é o de proporcionar aos acionistas valorização constante do investimento efetuado, por meio de uma política de crescimento sustentável vis-à-vis criação de valor. O EVA é uma medida de lucro verdadeiro. Na forma aritmética é o lucro operacional após pagamento de impostos (NOPAT, ou Net Operational Profit After Taxes) menos o encargo sobre capital, apropriado tanto para endividamento quanto para o capital acionário. O resultado é o valor em moeda calculada (dólar, libra, real etc.) que excedeu/faltou para o custo de capital utilizado para realizar aquele lucro. Economistas também se referem a isto como lucro econômico e lucro residual, que, em outras palavras, é o resíduo que sobra depois que todos os custos tenham sido cobertos. A fórmula para o cálculo é: EVA = NOPAT – C% * (TC) onde NOPAT é o lucro operacional líquido após a tributação, C% é o custo de capital em percentual, e TC o capital total. Custo de Capital é a taxa de retorno mínima que uma empresa poderia receber caso escolhesse outro investimento com risco equivalente — em outras palavras, é o custo de oportunidade dos recursos empregados como resultado de uma decisão sobre investimentos (Downes & Goodman, 1993). Embora existam diversas atividades individuais que as pessoas possam perseguir para criar valor, segundo Ehrbar (1999), ao final essas atividades caem em uma das quatro categorias medidas pelo aumento em EVA: 1) Cortar os custos e reduzir os impostos para aumentar o Lucro Operacional (NOPAT) sem acrescer capital. Ou seja, operar de forma mais eficiente para ganhar um maior retorno sobre o capital já investido no negócio. 2) Empreender todos os investimentos nos quais o aumento de NOPAT será maior do que o aumento de encargos de capital. Ou seja, investir em crescimento lucrativo, empreendendo todos os projetos com valor líquido presente positivo que prometam produzir um retorno sobre capital que exceda o custo de capital. Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 9, n. 38, p. 5 - 13, out./dez. 2007 3) Retirar capital de operações quando as economias decorrentes da redução de capital excedam qualquer redução de NOPAT. Ou seja, deixar de investir em — ou liquidar — ativos e atividades que não estejam gerando retornos iguais ou maiores do que o custo de capital. As grandes mudanças nesta área são a venda de ativos que valham mais para outros, mas a categoria também inclui coisas como a redução de estoques e a aceleração da cobrança de contas a pagar (ambas representam investimento de capital). 4) Estruturar as finanças da empresa de tal forma que minimizem o custo de capital, algo que reside exclusivamente nos domínios do departamento financeiro, do CEO e do conselho de administração. Uma grande redução de custos, às vezes, não implica automaticamente uma melhora na criação de valor, que pode permanecer inalterado ou reduzir. Geralmente, as empresas utilizam uma variedade conflitante de medidas como crescimento dos lucros, lucros por ação, retorno sobre capital próprio, margens bruta e líquida, margem de contribuição, fluxo de caixa, valor presente líquido e taxa interna de retorno. Todavia, elas podem não somente levar a tomada de decisões incompatíveis com a criação de valor para o acionista, como também conflitar umas com as outras. Um exemplo retirado de uma apresentação do Sr. John M. Ferguson (Partner da Stern Stewart & Co.) em julho de 2002, em São Paulo, está na Tabela 1 apresentada a seguir. Consiste na análise de um novo negócio para uma empresa qualquer. Tabela 1: Análise de um novo negócio Negócio Atual + Novo Investimento = Após Investimento $1.530 $1.540 Lucro Operacional $230 $170 Margem Operacional % 15% 11% Capital (Ativos Líquidos) $1.000 $1.000 ROI 23% 17% Custo de Capital % 12% 12% Custo de Capital $120 $120 EVA $110 $50 Receita $3.070 $400 13% $2.000 20% 12% $240 $160 A questão no exemplo é se um projeto que reduzisse as margens operacionais de 15% para 13% e o ROI (retorno sobre investimento) de 23% para 20% estaria agregando valor, considerando que a empresa tem um custo de capital de 12% e o projeto de investimento tem um retorno de 17%. Neste caso, a resposta é sim. Apesar de o novo investimento reduzir as margens operacionais e o retorno sobre investimento, o lucro econômico se eleva. Isto ocorre porque, apesar de o novo investimento ser pior quando comparado à sua operação atual, ele ainda é suficientemente bom para cobrir os seus custos de capital. A conclusão mais importante deste exemplo é que, caso a decisão fosse tomada baseando-se nas métricas tradicionais de desempenho, estaria deixando-se de investir em um projeto que adiciona valor, simplesmente pelo fato de que não se conseguiu medir corretamente o seu potencial. Ehrbar (1999) comenta que o EVA utilizado plenamente é muito mais que uma métrica de somar receitas e custos e calcular o lucro residual: é uma forma de medir e gerir o desempenho Pensar Contábil Raimundo Nonato Sousa da Silva CRC-RJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Tiago de Amorim Bueno Vieira empresarial focando a criação de riqueza para os acionistas, uma vez que gerir visando a um EVA mais elevado é, por definição, gerir visando a um preço de ação mais elevado. 4. Sistema ABC-EVA Integrados A maior motivação de investidores que estão procurando por novas oportunidades de negócio é o retorno esperado nos seus investimentos. O gerenciamento de uma organização lucrativa deve visar sempre à criação de valor para seus acionistas, ou seja, gerar valor suficiente para cobrir o custo de capital. Se isso não ocorrer, ela estará destruindo valor, e suas ações gerenciais devem ser corrigidas. Para atender aos interesses dos investidores, os gerentes devem gerenciar custos e valor econômico enquanto mantêm um nível mínimo de lucratividade. Isso leva à necessidade de melhorar sempre criando valor, em oposição à manipulação de valores para ganhos no curto prazo. O sistema tradicional de custeio aloca arbitrariamente os custos indiretos da empresa em seus objetos de custos. O Custeio ABC, por sua vez, é baseado na idéia de que custos indiretos são gerados por um número de atividades necessárias para o sucesso do negócio de manufatura ou processos do negócio. Como as atividades consomem recursos indiretos, e os produtos (projetos ou processos) demandam atividades, os custos dos produtos estão relacionados com o custo dos recursos. Uma grande redução de custos, às vezes, não implica automaticamente uma melhora na criação de valor, que pode permanecer inalterado ou reduzir. Isso vem do fato de que o método ABC, apesar de ser suficiente no cálculo dos custos operacionais, é deficiente com relação ao custo de capital. Apesar de a depreciação (parte do custo de capital) ser considerada no cálculo do ABC, os juros sobre o capital investido na empresa não é (Roztocki & Needy, 1998). Medidas de performance do valor agregado, tais como o EVA, são focadas no custo de capital e no valor dos acionistas. Alguns autores propuseram recentemente a combinação do ABC com o sistema de mensuração de performance EVA. O EVA e ABC são metodologias que se complementam e podem ser usadas de modo integrado para propiciar uma melhor avaliação de desempenho, permitindo um melhor conhecimento dos custos operacionais e de capital. Ambas as metodologias são adequadas a qualquer tipo de empresa (comercial, industrial ou de serviços) e permitem decisões dentro de uma visão de longo prazo, com base na idéia de geração de valor. Medidas de mensuração baseadas em valor ajudam a determinar o nível mínimo de lucratividade que a empresa deve ter para satisfazer os seus investidores e atrair novos. O custo de capital pode ser calculado multiplicando-se o capital pela taxa de custo de capital (CC = TC x C%, capital charge = company’s capital x capital cost charge) (Roztocki & Needy, 1998). Se analisada de forma gerencial, uma forma razoável de considerar o custo de capital seria dividi-lo pelas atividades. Porém, se alocado de forma arbitrária, o custo das atividades ficariam distorcidos. O ABC surgiu em contexto similar para o problema da deficiência da arbitrariedade da alocação de custos indiretos para os produtos. Segundo Roztocki & Needy (1999), Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 9, n. 38, p. 5 - 13, out./dez. 2007 o método de implementação descrito abaixo foi criado por pesquisadores da Universidade de Pittsburgh (University of Pittsburgh) e propôs a combinação do método ABC com mensuração de performance baseada em valor, o que incluía o custo de capital com o sistema de custeio ABC. Os passos para a implementação do sistema ABC-EVA são similares ao tradicional sistema ABC. Seguem abaixo os passos descritos por Roztocki & Needy (1999) para implementação do sistema: 1) Revisão das informações financeiras da empresa. 2) Identificar as principais atividades e os drivers das atividades. 3) Determinar os custos operacionais de cada atividade (utilizando o ABC). 4) Determinar o custo de capital para cada atividade. Esse passo não está presente no ABC. Como muitas atividades consomem, além de custos operacionais, o investimento de capital, o custo total destas atividades é maior que o calculado no Sistema ABC. Como resultado, o ABC tende a subestimar o objeto de custo. O Sistema ABC-EVA integrados calcula o custo de capital para cada atividade e adiciona este custo aos de cada atividade anteriormente calculados no Sistema ABC. 5) Seleção dos drivers para o custo de capital (drivers de capital), da mesma forma como na implementação do ABC. 6) Cálculo do custo dos produtos. Como resultado, apesar de o ABC fornecer custos operacionais corretos, ele não identifica quais produtos são criadores de valor econômico, e contribuem para os acionistas, e quais são destruidores. Em alguns casos, com a inclusão do custo de capital, o custo total do produto aumenta significativamente. Isso pode alterar consideravelmente a definição de quais produtos são mais lucrativos, ou criam valor para a empresa. Em função desses resultados do sistema integrado, outras estratégias podem ser tomadas. A avaliação da criação x destruição de valor por parte de cada produto/serviço da empresa, utilizando para isso o Sistema ABC-EVA Integrados, pode nos levar a surpresa. Uma empresa que trabalha com uma quantidade grande de produtos e tem EVA positivo pode estar tendo um resultado abaixo de seu potencial. Isso se deve ao fato de que alguns produtos que estão criando valor estarem “mascarando” o resultado de outros. A avaliação produto a produto através do sistema integrado traz para a empresa uma ferramenta de gestão mais precisa com relação à criação de valor para os investidores. Uma vez implementado, o Sistema ABC-EVA Integrado pode ser usado como uma ferramenta gerencial para proteger os tomadores de decisão da empresa de fazerem uma escolha de curto prazo, somente levando em consideração a lucratividade, que poderia estar destruindo valor no longo prazo. Segundo Cooper & Slagmulder (1999), são duas as principais vantagens na utilização do sistema ABC-EVA integrados. Primeiramente, o tomador de decisão se torna sensível ao retorno econômico dos produtos e clientes, e, segundo, ele remunera mais eficientemente o uso do capital. 5. Descrição do Caso A Alfa Corporation é uma companhia diversificada, com sede em Camp Hill, Pensilvânia, que atua mundialmente Pensar Contábil CRC-RJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Análise de Geração de Valor através da Gestão por Atividades: um Estudo de Caso na prestação de serviços industriais e com produtos de alto valor para grandes indústrias globais. A Companhia é líder de mercado em cada um dos segmentos em que atua, os quais estão organizados em quatro setores (Mill Services, Access Services, Gás & Fluid Control, Other Infrastructure Products & Services). Mais de 70% das receitas da Alfa são oriundas de serviços industriais, e quase 60% são geradas fora dos EUA. A missão da Alfa é alcançar retornos financeiros positivos de suas operações, criando valor para os seus acionistas através do uso de um modelo de avaliação EVA, o qual enfatiza a otimização do uso dos ativos e a maximização dos lucros. A Alfa tem como alvo o crescimento em mercados e tecnologias familiares à companhia. A BetaServ, cuja unidade escolhida no Brasil é o objeto deste estudo, é subsidiária integral da Alfa Corporation e atua no segmento de serviços industriais (Mill Services), preponderantemente no setor siderúrgico. A empresa presta uma gama de serviços aos seus clientes, desde o manuseio de matérias-primas (sucatas metálicas, minério de ferro, ferro-gusa) até a remoção e processamento dos resíduos (escórias) resultantes do processo de fabricação do aço. Dependendo da demanda e do nível de verticalização de processo de cada cliente, a BetaServ desenvolve outras atividades integrantes do processo produtivo, tais como: corte e entrega de sucatas para alimentação dos alto-fornos, operação e manutenção de carros-torpedo para transporte de ferro-gusa líquido, movimentação e armazenamento de produtos acabados e subprodutos. A divisão de Mill Services atua no Brasil desde 1967, com mais de 1.900 empregados, em 20 sites estruturados dentro das unidades industriais das principais usinas siderúrgicas brasileiras. Na maioria dos serviços prestados pela BetaServ, existe uma grande quantidade de capital em função da necessidade de utilização de equipamentos de grande porte, tais como: planta separadora; guindaste; pórtico; pá-carregadeira; escavadeira; empilhadeira; transportador de pote (Pot Carrier); entre outros. 5.1. Implementação do EVA Em fevereiro de 2001, a Alfa Corporation contratou a Stern Stewart & Co. para auxiliar na implementação do sistema gerencial EVA. Apesar de já ter uma disciplina de gerenciamento financeiro, sua decisão de implementar o EVA permitiu que a empresa formalizasse essas práticas sob uma mesma estrutura por ela toda, inclusive nas operações fora dos EUA. A empresa decidiu empregar o EVA para melhorar os processos de alocação de capital, e de sistema de incentivo e remuneração. Os esforços feitos pela Alfa resultaram em um modelo de programa de implementação efetiva de gerenciamento baseada em valor. Conforme gráfico em seguida, o retorno total para as ações da Alfa foi de 22,7% desde que o gerenciamento começou com a implementação do EVA em fevereiro de 2001, comparado com –35,8% do S&P500. A performance é também impressionante se comparada com um grupo de empresas industriais (Peer Group) cuja média de performance no mesmo período atingiu –10,9%. Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 9, n. 38, p. 5 - 13, out./dez. 2007 Retorno aos Acionistas desde a Implantação do EVA na Alfa 80.0% 60.0% 40.0% 20.0% 0.0% -20.0% -40.0% -60.0% Jan-01 Apr-01 Jul-01 Alfa Oct-01 Jan-02 Apr-02 Peer Group Jul-02 Oct-02 Jan-03 S&P 500 Na implementação do EVA, a Alfa montou um programa através de níveis de Unidades de Negócio: nível BetaServ mundial; nível BetaServ país; e, mais abaixo, no nível de cada planta de cada país. Foi montado um cronograma onde, no final de 2001, estava implementado na BetaServ Brasil o sistema de gerenciamento EVA. Os principais objetivos desse tipo de estrutura eram: identificar valor criando investimento; promover a utilização prudente de capital; e garantir que todos os futuros investimentos adicionassem valor a Alfa. 5.2. BetaServ Brasil – Unidade MBH A Unidade MBH, pertencente a uma das 20 operações da BetaServ Brasil, será o objeto do estudo de caso deste trabalho. A BetaServ presta seis diferentes serviços na unidade MBH: escavação de forno e remoção de escória; quebra e entrega de sucata; corte com maçarico; planta de recuperação de metais aço-carbono; gerenciamento de sucata; e aluguéis de equipamento. Dentro de cada serviço, diferentes equipamentos são utilizados, mas todos com mão-de-obra de operação, manutenção e supervisão da BetaServ. Todos os insumos para operação e manutenção (O&M) utilizados nos serviços também são de responsabilidade da MutiServ. Apresentamos a seguir um breve resumo de cada um dos serviços prestados na unidade MBH: • Atividade 14) Escavação de forno e remoção de escória – processo de limpeza de escória e detritos do forno. Utilização de pás-carregadeiras para a limpeza na aciaria e caminhões basculantes para o transporte para a área de processamento do material. • Atividade 15) Quebra e entrega de sucata – processo de recuperação de sucata do tundish, lingotes e cascão e outros materiais através do processo de drop ball. Utilização de um guindaste para a quebra através do processo drop ball e para a entrega de sucata com caminhões basculantes. • Atividade 16) Corte com maçarico – processo de recuperação de sucata dos tundishs, lingotes, cascão e outros materiais através do corte com maçarico. Para a realização desta atividade, necessita-se de uma escavadeira hidráulica para movimentar a sucata e caminhões para fazer a entrega. Todavia, pela quantidade de maçariqueiros, pode-se perceber que se trata de uma atividade intensiva em mão-de-obra, os maçariqueiros. • Atividade 18) Planta de Recuperação de Metais (Açocarbono) – processamento de todos os tipos de materiais Pensar Contábil Raimundo Nonato Sousa da Silva CRC-RJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Tiago de Amorim Bueno Vieira e de outros decorrentes da separação magnética e classificação de sucata de carbono e escória através de uma instalação fixa ou móvel. Esta operação é diferente das atividades constantes nos itens 15, 16 e 17. Utilização de uma planta de processamento para separar granulometricamente e magneticamente os materiais, de carregadeiras para abastecer a planta e limpar as bicas e carregar os caminhões com os materiais processados, e de caminhões basculantes para fazer a entrega desses materiais. • Atividade 22) Gerenciamento de Sucata – atividade/ serviço de manuseio, preparação, separação e gerenciamento de sucata e sucatas derivadas em nome do cliente. Utilização de escavadeiras hidráulicas para a movimentação de sucata. No intuito de focar a atenção na demonstração da metodologia, em vez de detalhes contábeis, o plano de contas da BetaServ Brasil foi agrupado de modo a facilitar nosso estudo. O critério utilizado para formação de um grupo foi a utilização do mesmo cost driver para efeito de alocação das diferentes contas do grupo às atividades. Procurou-se, ainda, a formação de grupos de contas que não representassem menos de 5% do custo total da fábrica. Assim, para o caso em estudo da unidade MBH, cinco diferentes grupos foram formados: • Mão-de-obra, operação e benefícios. Este grupo inclui todas as contas (salário, operação, encargos, equipamento de proteção individual, programa de participação nos resultados, hora extra, e todos os benefícios) referentes ao custo com mão-de-obra do pessoal diretamente relacionado com a operação. • Supervisão e administração. Da mesma forma que o grupo anterior, este inclui todas as contas referentes ao custo com mão-de-obra do pessoal de supervisão e administração da unidade MBH, treinamento de funcionários, prêmios e seguros, assinaturas e associações, despesas com viagens, auditoria, fretes, consultoria, além de material utilizado no escritório, computadores e softwares, despesas com fotocopiadora, e suprimentos diversos (água potável, luz, telefone, material de limpeza etc.). • Manutenção. Este grupo inclui as contas referentes ao custo com mão-de-obra do pessoal de manutenção, além de todo material de oficina (ferramentas, equipamentos de oficina, insumos para oficina etc.). • Depreciação. Este grupo representa as contas referentes à depreciação e amortização de todos os equipamentos da unidade MBH, além da conta referente a aluguéis de equipamentos. • Materiais de consumo e manutenção. Este grupo inclui os materiais necessários para a operação dos equipamentos utilizados na unidade MBH, tais como óleo diesel, gasolina, álcool, GLP, lubrificantes, pneus e peças. Os drivers utilizados pela empresa para a alocação dos itens de custos às atividades definidas foram determinados, em sua maioria, através de entrevistas. Apesar de os serviços estarem separados em atividades, existe uma sinergia entre os equipamentos e a mão-de-obra dentro da operação, como pode ser visto na Tabela 4 abaixo. 10 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 9, n. 38, p. 5 - 13, out./dez. 2007 Tabela 4: Rateio dos Equipamentos pelas Atividades Equipamento / Atividade Atividade Atividade Atividade Atividade Atividade 14 15 16 18 22 Pá-Carregadeira 1 10% 90% Pá-Carregadeira 2 10% 90% Pá-Carregadeira 3 54% 46% Pá-Carregadeira 4 90% 10% Pá-Carregadeira 5 100% Escavadeira hidráulica 1 100% Escavadeira hidráulica 2 16% 84% Escavadeira hidráulica 3 100% Planta de processamento 100% Guindaste 100% Caminhão basculante 1 75% 25% Caminhão basculante 2 75% 25% Caminhão basculante 3 67% 33% Caminhão basculante 4 80% 20% Caminhão basculante 5 80% 20% Com relação ao EVA, assim como todas as demais unidades da BetaServ no Brasil, ele é medido com base na unidade como um todo, e não por atividade. Ou seja, como descrito no item 3: EVA é o Lucro Líquido Operacional Antes dos Impostos (NOPAT) da unidade MBH menos valor do custo de capital na unidade MBH. O percentual do custo de capital é determinado pelo departamento financeiro da Alfa para cada país onde a BetaServ presta serviço, e é calculado com base em uma ponderação entre o custo de débito e do patrimônio líquido. Este percentual é revisado anualmente. 6. A Aplicação do Sistema ABC-EVA Integrados no Setor de Serviços O novo sistema de gerenciamento será desenvolvido para a unidade MBH da BetaServ Brasil. Assim sendo, o escopo do sistema de custos fica definido como os custos para prestação dos serviços associados a essa unidade, e as atividades já definidas serão utilizadas como base para o novo sistema. 6.1. Desenvolvimento do Sistema ABC-EVA integrados na unidade MBH Como a BetaServ Brasil já tem os custos por atividade definidos há um ano, e como não é o objetivo deste trabalho detalhar a construção e modelagem, nem a determinação de drivers de custos sobre o ABC, os três primeiros passos da implantação do sistema ABC-EVA já foram dados. Os dois primeiros foram descritos no item 4. Para a análise gerencial através do Custeio Baseado por Atividade, as informações já estariam disponíveis Pensar Contábil CRC-RJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Análise de Geração de Valor através da Gestão por Atividades: um Estudo de Caso e decisões já poderiam ser tomadas a partir delas. Como cada atividade tem sua receita específica, atualmente a BetaServ já pode determinar se a atividade está gerando lucro (ou prejuízo) operacional (EBIT). Todavia, como neste custo não contempla o custo do capital empregado, não se pode determinar se ela está agregando ou destruindo valor. E é justamente isso o que buscaremos com este estudo de caso. As informações do ABC podem ser vistas através da Tabela 5 abaixo, que é o resumo de um Relatório Gerencial de Atividades de uma Unidade da BetaServ, e demonstra o custo total de cada uma das atividades, através dos grupos de custo especificados no item 5.2: mão-de-obra operação e benefícios; supervisão e administração; manutenção; depreciação; e materiais de consumo e manutenção. Com a receita dos serviços, foi possível obter o Lucro Bruto, ou Gross Profit (GP), e a Margem Bruta, ou Gross Margin (GM). Tabela 5: Resumo de Relatório Gerencial R$ Atividade 14 Mão-de-obra operação e benefícios 12.112,22 Supervisão e administração 7.001,23 Atividade 15 11.012,62 Atividade Atividade Atividade 16 18 22 66.615,88 16.210,26 15.321,70 Tabela 6: Tabela de Análise de Dependência de Capital 4.555,08 24.694,65 7.144,13 7.789,76 Manutenção 8.468,92 1.829,91 1.798,84 4.117,48 7.254,73 Depreciação 28.411,67 13.552,33 9.112,50 21.527,67 21.500,00 Materiais de consumo e manutenção Custo Total 67.085,13 123.079,17 14.495,32 14.249,18 32.615,90 57.467,09 150.192,00 GM (%) INVENTORY Custo de Capital por Linha de Serviço NBV AR Atividade 14 10.228 1.392 97 11.717 Atividade 15 4.879 467 21 5.367 Atividade 16 3.281 1.059 21 4.360 Atividade 18 7.750 868 47 8.665 Atividade 22 7.740 1.235 83 9.058 50.409,67 114.278,82 93.661,70 133.244,83 Total de Custo de Capital 33.878 5.021 269 39.168 Impostos GP R$ 45.445,27 116.471,05 81.615,42 109.333,28 Receita dos Serviços sem rias descritas acima para o nível das Unidades, ainda resta a aplicação do custo de capital sobre os demais ativos: AP (Accounts Payable, ou Contas a Pagar); NBV dos ativos não alocados nas Unidades, o que inclui aqui os equipamentos não alocados nas Unidades e todos os referentes à administração central; e os ajustes no capital. Na Unidade MBH, o rateio de cada categoria foi feito da seguinte forma: • NBV – de acordo com os equipamentos utilizados em cada uma das atividades, conforme Tabela 4, descrita no Item 5.2. Neste caso, quanto menor o Valor de Livro Líquido do equipamento utilizado na atividade, menor será o encargo sobre o capital aplicado nela; • Estoque – por se tratar de peças de reposição, elas também são rateadas conforme equipamentos utilizados em cada atividade. Como, por contrato, os serviços prestados pela BetaServ são ininterruptos, existe uma quantidade mínima de peças que devem estar disponíveis para uma rápida reposição; • AR – como cada atividade tem sua própria receita, o rateio do Contas a Receber é feito pela receita de cada uma delas. Pela soma de cada coluna, determinou-se o custo de capital de cada linha de serviço da empresa. 27.112,83 4.964,40 18% 10% -2.192,23 12.046,28 -2% 23.911,54 13% 18% De posse dessas informações, o passo seguinte é o cálculo do custo de capital para cada atividade. Em outras palavras, o objetivo deste passo é alocar o custo de capital total a cada linha de serviço. Para isso foi montada uma tabela de análise de dependência de capital, onde, para cada linha de serviço (atividade), foi determinado um rateio de cada categoria contábil sujeita a um cálculo de custo de capital, como pode ser verificado na Tabela 6 abaixo. Assumiu-se uma Taxa de Custo de Capital como 0,60% e aplicou-se sobre todas as categorias contábeis. No nível das Unidades, as categorias contábeis para o cálculo do EVA se dividem em três: • NBV (Net Book Value, ou Valor de Livro Líquido). Esta categoria representa o valor adquirido do ativo menos o total já depreciado até o respectivo mês; • Inventory, ou estoque. No caso da BetaServ, é formado basicamente por peças de reposição dos equipamentos da Unidade; e • AR (Accounts Receivable, ou Contas a Receber). Cabe aqui a explicação de que, no caso da BetaServ Brasil, para o cálculo do EVA da empresa, além das catego- Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 9, n. 38, p. 5 - 13, out./dez. 2007 Para o cálculo dos impostos, foi considerada a taxa de 34% sobre o lucro operacional. Como cada atividade tem sua respectiva receita, esta foi multiplicada pela taxa, chegando assim ao rateio dos impostos. O cálculo completo do EVA para todas as cinco atividades é resumido na Tabela 7, abaixo. Tabela 7: Cálculo do EVA Atividade 14 Receita dos Serviços 150.192,00 sem Impostos Lucro Operacional (EBIT) Atividade 15 Atividade 16 50.409,67 114.278,82 Atividade 18 Atividade 22 93.661,70 133.244,83 27.112,83 4.964,40 -2.192,23 12.046,28 23.911,54 9.218,36 1.687,90 -745,36 4.095,73 8.129,92 Lucro Oper. Líquido depois das Taxas (NOPAT) 17.894,47 3.276,50 -1.446,87 7.950,54 15.781,62 Custo de Capital (NBV) 10.228,20 4.878,84 3.280,50 7.749,96 7.740,00 1.391,95 467,19 1.059,12 868,04 1.234,89 97,01 20,96 20,6 47,16 83,1 Impostos Custo de Capital (AR) Custo de Capital (Inventory) EVA 6.177,31 -2.090,48 -5.807,09 -714,62 6.723,63 11 Pensar Contábil CRC-RJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Raimundo Nonato Sousa da Silva Tiago de Amorim Bueno Vieira Pela análise primeiramente do lucro operacional (EBIT) da análise do Custeio Baseado em Atividades, parece-nos que a Atividade 14 é a mais lucrativa, seguida pelas atividades 22, 18 e 15, que, em ordem decrescente de lucratividade, se mantêm lucrativas. Em seguida, temos a atividade 16, que nos parece deficitária para a empresa. Essa análise já era de conhecimento da empresa desde a implantação do ABC. Todavia, a análise dos resultados obtidos pelo novo Sistema ABC-EVA Integrados proveu valiosas informações para os gerentes da BetaServ. As atividades 14 e 22 demonstraram criar valor econômico para a empresa. A receita gerada pelo fornecimento do serviço era capaz de recuperar todos os custos associados ao serviço. A Atividade 16, como já era de esperar, destrói valor para a BetaServ, na medida em que já havia um prejuízo operacional. Entretanto, as Atividades 16 e 18, que geravam lucro operacional, estavam destruindo valor dos acionistas. Os custos totais destes serviços eram maiores que as receitas geradas. A comparação entre os custos informados pelos dois sistemas mostra que, se considerássemos somente o lucro operacional (EBIT) obtido através do Sistema ABC, não teríamos detectado que havia três atividades que estavam destruindo valor da empresa. Para determinarmos precisamente as razões para as três atividades estarem destruindo valor aos acionistas, precisaríamos fazer uma análise detalhada de seus custos operacionais e do dimensionamento utilizado em cada uma delas, além dos preços praticados. No caso específico da Atividade 16, já havia sido detectado no custeio por atividade que se tratava de um serviço que gerava prejuízo para a empresa. Seu custo operacional está maior que a receita. Isso, somado ao custo de capital, faz com que seja a atividade que mais destrói valor na Unidade MBH. Mas, nos casos das Atividades 15 e 18, se somente analisarmos a Tabela 6 de Análise de Dependência de Capital, poderemos perceber que o maior peso do custo de capital se concentra no item de NBV, ou seja, relacionado ao valor líquido de livro dos equipamentos utilizados. Apesar de estarem gerando lucro operacional, este não é capaz de superar o somatório dos encargos de capital. Outra observação importante é que, analisando o lucro operacional, temos a Atividade 14 como a mais lucrativa das cinco. No entanto, por se tratar de uma atividade que utiliza mais capital que as demais, tem, conseqüentemente, um maior custo de capital. Isso faz com que a Atividade 22, que tinha um EBIT menor, agregue mais valor à empresa do que a 14. O EVA total da Unidade MBH e o de cada atividade podem ser vistos na Tabela 8 abaixo. Como pode ser verificado, quando a análise é feita do EVA somente da Unidade MBH, percebe-se que a Unidade está agregando valor ao acionista. Porém apenas pelo Sistema ABC-EVA integrados se pode detectar atividades que estavam destruindo valor. Fica caracterizada a existência de um subsídio cruzado, onde no sistema antigo as Atividades 14 e 22 subsidiam os outros serviços na geração de valor. Tabela 8: EVA total e por atividade TOTAL EVA 12 4.288,74 Atividade 14 Atividade 15 Atividade 16 6.177,31 -2.090,48 -5.807,09 Atividade 18 -714,62 Atividade 22 6.723,63 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 9, n. 38, p. 5 - 13, out./dez. 2007 De posse destas informações, existem algumas opções de decisões que os gerentes da BetaServ podem tomar. Entre as possíveis decisões, eles poderiam otimizar os equipamentos na Unidade MBH, principalmente das atividades que estariam destruindo valor. Ou seja, verificar e analisar a frota de equipamentos destas atividades, de modo a redimensioná-la. Para isso, seria válido desfazer-se (vender) dos equipamentos subtilizados, e otimizar o uso dos equipamentos da unidade, aumentando a utilização daqueles que permanecerem. Desta forma, reduzir-se-iam os ativos da unidade, principalmente destas atividades. Outra possibilidade é a substituição destes equipamentos por outros com NBV menores. Todas estas soluções estão diretamente ligadas ao custo de capital referente ao NBV. Esta categoria é responsável por 86% do total de custo de capital da Unidade, e, por isso, é a que se refletiria mais fortemente no valor aos acionistas. Outra opção para os gerentes é reduzir o AR. Para isso, existem duas possibilidades principais: tentar, através de uma negociação com o cliente, buscar reduzir o prazo de pagamento; e buscar todas as faturas que ainda estejam sem pagar e buscar uma solução. Outras possibilidades são: a redução de custos operacionais; aumento das receitas através de aumento de preços; aumento de serviço dentro da mesma atividade de modo a aumentar a receita sem aumentar o investimento de capital, ou seja, utilizar os mesmos equipamentos para obter mais receita; ou mesmo procurar no mercado substituição dos equipamentos de modo a obter melhor produtividade e menores custos para aumentar o valor criado. Essas são só algumas das possíveis estratégias de decisão dos gerentes para as Atividades 15, 16 e 18 na Unidade MBH da BetaServ. Em paralelo, a empresa deveria tomar alguma atitude com relação às Atividades 14 e 22, que pelas informações do Sistema ABC-EVA integrados acima demonstram ser mais atrativas. Um exemplo: ela deveria tentar aumentar os esforços de marketing para divulgar estes serviços. Assim, a adoção do novo sistema de custos permite à alta gerência da BetaServ tomar decisões gerenciais com base em um cálculo do custo de serviços mais acurado. 7. Conclusão O trabalho teve como objetivo demonstrar como o Sistema ABC-EVA Integrados pode ser usado como uma ferramenta de gestão capaz de gerar informações para avaliação de criação/destruição de valor de cada produto e para o processo como um todo. As informações extraídas da análise dos resultados obtidos pelo estudo de caso aplicando o Sistema ABC-EVA integrados, ou seja, o conceito de criação de valor para cada atividade, revelaram a magnitude das diferenças constatadas entre análise do Sistema ABC e a abordagem do ABC-EVA integrados. Apesar de o ABC prover precisas informações sobre os custos operacionais dos produtos, ele não identifica quais são criadores de valor econômico e, conseqüentemente, contribuem para a saúde dos seus acionistas, o que é permitido pela integração dos dois sistemas. Entre as principais conclusões que podem ser extraídas deste estudo, está que é possível obter resposta tecnicamen- Pensar Contábil CRC-RJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Análise de Geração de Valor através da Gestão por Atividades: um Estudo de Caso te mais consistente sobre o custo total dos serviços, quando se utiliza o conceito da abordagem de criação de valor ao acionista para cada atividade utilizando-se o Sistema ABCEVA integrados. Finalmente, é oportuno considerar que os resultados ob- tidos neste estudo só foram possíveis em função da disponibilidade de informações de recursos consumidos por atividades, especialmente do custo de capital identificado pelas respectivas atividades, o que permitiu a verificação da geração ou destruição de valor. Bibliografia COGAN, Samuel. Uma contribuição à utilização do EVA® como um modelo de gestão: Integrando o EVA® e o ABC. In: ENANPAD, 26, 2002, Salvador, Bahia. COOPER, R., & KAPLAN, R. S. Activity-Based Systems: Measuring the Costs of Resource, 1992. COOPER, Robin & SLAGMULDER, Regine. Integrating Activity-Based Costing and Economic Value Added. Management Accounting, Jan 1999. DOWNES, John & GOODMAN, Jordan E. Dicionário de Termos Financeiros e de Investimento. Ed. Nobel, 1993. EHRBAR, Al. EVA. Valor Econômico Agregado: a verdadeira chave para a criação de riqueza, tradução de Bazán Tecnologia e Lingüística – Rio de Janeiro: Qualitymark Ed., 1999. 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Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 9, n. 38, p. 5 - 13, out./dez. 2007 13 Pensar Contábil CRC-RJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Trabalho classificado em 1º lugar no Prêmio Contador Geraldo de La Rocque – 2007 Análise da Utilização dos Indicadores Essenciais da Global Reporting Initiative nos Relatórios Sociais de Empresas Latino-Americanas Resumo O documento “Diretrizes para Relatórios de Sustentabilidade”, emitido pela Global Reporting Initiative – GRI, é um guia de elaboração de relatórios sociais mundialmente reconhecido e aplicado, que tem como uma das principais metas o oferecimento aos usuários destas demonstrações de uma informação mais completa, padronizada e confiável. Nesse contexto, o objetivo deste trabalho é verificar o grau de aderência plena aos indicadores essenciais da GRI (GAPIE-GRI), bem como o grau de evidenciação efetiva (GEE) destes, para as empresas latino-americanas que utilizam as Diretrizes GRI (exceto as brasileiras) e que divulgam seus relatórios pela Internet (meio que possibilita ampla divulgação do relatório). Entre as conclusões relatadas no trabalho, destaca-se o fato de que (a) os menores índices tanto de GAPIE-GRI quanto de GEE estão concentrados no grupo de indicadores sociais, (b) o grupo de indicadores econômicos é o que apresenta maior média, (c) as empresas que afirmam possuir um relatório “de acordo com” a GRI não foram as que obtiveram os melhores resultados e (d) as empresas analisadas encontram-se em diferentes estágios de aderência às Diretrizes da GRI. Palavras-chave: relatórios sociais, Global Reporting Initiative, empresas latino-americanas. Abstract The document “Sustentability Reporting Guidelines”, issued by Global Reporting Initiative – GRI, is a worldwide guide which serves for making social reports. It offers, as one of its main objectives, a better way to issue reports within more complete, accurate and trustable information for this specific public. The objective of this work is to identify how strong and effective the GRI index are for the Latin American Corporations that use these informations and that disclosure their reports through internet. Among the conclusions of this work is important to emphasize that: a) the minor indicators from the GAPIE-GRI as such as the GEE are concentrated in the social group indicators, b) the economic group indicators are the ones that show the biggest average, c) the corporations which assert that their reports are “in accordance” with the Fernanda de Medeiros Carvalho Rio de Janeiro-RJ Mestre em Ciencias Contábeis – FACC/UFRJ1 [email protected] Jose Ricardo Maia de Siqueira Rio de Janeiro-RJ Professor do Mestrado em Ciências Contábeis –FACC/UFRJ Doutor em Engenharia de produção – COPPE/UFRJ [email protected] GRI`s were not the ones that obtained the best results and d) the analysed corporations are still in different level in the process of the GRI informations accomplishment. Keywords: social reports, Global Reporting Initiative, latin american corporations. 1. Introdução O balanço social, ou relatório de sustentabilidade, é um demonstrativo que visa à apresentação de informações acerca da interação da empresa com o meio em que se encontra inserida. A elaboração e a publicação deste demonstrativo não são obrigatórias, mas é notavelmente crescente a utilização do balanço social pelas organizações. No entanto, num contexto geral, os balanços sociais apresentados atualmente mostram-se incompletos, possuem baixa padronização e transparência e ainda denotam grande influência da área de marketing (SIQUEIRA, 2003, p. 1). Isto faz com que o referido demonstrativo perca a validade em relação à sua finalidade, que é apresentar informações qualitativas e quantitativas que permitam ao usuário avaliar o perfil social da empresa. Assim como os demonstrativos contábeis seguem princípios e convenções para sua elaboração, os relatórios de sustentabilidade devem também ser elaborados sob a luz de princípios como: transparência, inclusão, verificabilidade, abrangência, relevância, contexto de sustentabilidade, exatidão, neutralidade, comparabilidade, clareza e periodicidade (GRI, 2006, p. 21 e ETHOS, 2006, pp. 7 e 8). Numa tentativa de serem gerados relatórios de sustentabilidade mais completos, padronizados e mais confiáveis, a FACC-UFRJ – Faculdade de Administração e Ciências Contábeis da Universidade Federal do Rio de Janeiro – CEP 21.941-590 – Rio de Janeiro – RJ. 1 Artigo recebido em 28/09/2007 e aceito em 05/11/2007. 14 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 9, n. 38, p. 14 - 22, out./dez. 2007 Pensar Contábil CRC-RJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Análise da Utilização dos Indicadores Essenciais da Global Reporting Initiative nos Relatórios Sociais de Empresas Latino-Americanas Global Reporting Initiative – GRI, percebendo a fragilidade dos relatórios dessa natureza, lançou um guia de elaboração de relatórios de sustentabilidade denominado “Diretrizes GRI” (GRI, 2006). 2. Balanço Social e o Modelo da GRI Souza (1997, p. 2) oferece um bom conceito de balanço social, afirmando que este se trata “de uma avaliação para medir e julgar os fatos sociais vinculados à empresa, tanto internamente (empresa/empregados) como externamente (empresa/comunidades)”. Apesar de ser uma definição simples, não se nota aqui o viés de marketing social encontrado em outros conceitos (Perottoni e Cunha, 1997, p. 13; Arrigoni, 2000, p. 49). Em suma, o balanço social é um instrumento de avaliação que deve refletir o efetivo compromisso social de uma organização. Infelizmente, os balanços sociais vêm apresentando diversos problemas que prejudicam o alcance de seu objetivo, a saber: abrangência limitada, viés para marketing, baixa transparência e uma frágil padronização. 2.1. Abrangência dos balanços sociais Entendendo as vertentes do balanço social elencadas pela Fipecafi (2003) como complementares, se verificará que com freqüência os relatórios sociais não contemplam o conjunto de informações que a sociedade anseia. Cunha e Ribeiro (2004, p. 12) destacam em seu trabalho que, do total de 284 empresas analisadas, apenas três apresentaram informações concernentes a todos os aspectos relevantes. A baixa abrangência aqui destacada encontra respaldo em outras pesquisas (Pinto e Ribeiro, 2004; Siqueira e Vidal, 2003). 2.2. Viés para marketing A prática atual tem sido, freqüentemente, destacar os aspectos positivos, em vez de externalizar o real papel da organização (Silva e Freire, 2001, p. 3), o que vai de encontro ao seu objetivo, ou seja, apresentar dados que permitam identificar a qualidade de suas relações com os empregados, a comunidade e o meio ambiente. A crítica ao uso do balanço social como instrumento para gestão da imagem corporativa é reforçada em várias pesquisas (Silva e Freire, 2001; David e Ott, 2003; Pinto e Ribeiro, 2004; Siqueira e Vidal, 2003). 2.3. Transparência dos balanços sociais A transparência das informações evidenciadas através do balanço social se traduz na existência de uma revisão por entidade independente, na identificação do responsável pelas informações e na emissão de notas explicativas. Três características escassas nos demonstrativos sociais brasileiros. Pinto e Ribeiro (2003) destacam que não encontraram nenhuma nota explicativa na amostra analisada em seu estudo. Outros trabalhos criticam a baixa transparência dos balanços sociais (David e Ott, 2003; Oliveira, 2003). 2.4. Comparabilidade dos balanços sociais brasileiros O grau de responsabilidade social de uma empresa é, em grande parte, uma medida relativa. O balanço social — como instrumento de mensuração da responsabilidade social — tem, em função de sua baixa comparabilidade, falhado em Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 9, n. 38, p. 14 - 22, out./dez. 2007 cumprir com seu principal papel. Guarneri (2001, p. 159) destaca que a inexistência de um padrão desperta a desconfiança dos usuários de que os balanços sociais estão se transformando em peças de marketing. Essa é, possivelmente, uma das principais críticas direcionadas aos balanços sociais pelos pesquisadores (Gray, Kouhy e Lavers, 1995; Deegan e Gordon, 1996; Silva et al, 2001; Miranda et al, 2001; Guarneri, 2001; Siqueira e Vidal, 2003). 2.5. A contribuição do modelo GRI O modelo proposto pela GRI apresenta importantes contribuições, oferecendo uma informação abrangente, não orientada para o gerenciamento da imagem corporativa, e, por ser um modelo consolidado internacionalmente, oferece as bases para uma maior comparabilidade das informações. A GRI representa um grande esforço para a harmonização das informações, o que traz maior valor ao relatório. A GRI foi criada em 1997 pela CERES – Coalition for Environmentally Responsible – em conjunto com a UNEP – United Nation’s Environment Programme (RAAR, 2002, p. 170), com o “objetivo de melhorar a qualidade, o rigor e a aplicabilidade dos relatórios de sustentabilidade” (GRI, 2006, p. I). Em março de 1999, surgiu um esboço das “Diretrizes para Relatórios de Sustentabilidade (Diretrizes)” (RAAR, 2002, p. 170). Essa primeira versão ainda foi aperfeiçoada após as sugestões das partes interessadas, tendo a GRI lançado sua segunda versão em junho de 2002 (MASSIE, 2001, p. 60). Em outubro de 2006, foi lançada a terceira geração das diretrizes (GRI, 2006a). Todo esse esforço é realizado para que a GRI possa concretizar a missão de “desenvolver e divulgar as Diretrizes para Relatórios de Sustentabilidade, de aplicabilidade global” (GRI, 2006, p. 2), e estabelecer princípios amplamente adotados para que se possa promover uma harmonização internacional deste tipo de relatório (WOODS, 2003, p. 60). O resultado de todo o trabalho conduzido pela GRI se configura nas suas Diretrizes. Estas são como um guia na elaboração de relatórios sobre o desempenho das empresas no âmbito econômico, social e ambiental (chamado de triple bottom line – resultado triplo), sendo estes os alicerces da sustentabilidade, conforme afirmam Veleva et al (2003, p. 112). A GRI (2006, p. 13) define que, para que um relatório seja considerado “de acordo com” as Diretrizes, precisa atender aos seguintes requisitos: 1) prestar todas as informações requeridas nas seções 1 a 5 da Parte C (respectivamente: Visão e Estratégia, Perfil, Estrutura de Governança e Sistemas de Gestão, Sumário de Conteúdo da GRI e Indicadores de Desempenho Econômico, Ambiental e Social); 2) seguir os princípios estabelecidos na Parte B das Diretrizes; e 3) apresentar a declaração padrão definida pela GRI, assinada pelo Conselho ou pelo diretor-presidente, onde estes afirmam que o relatório foi elaborado “de acordo com” as Diretrizes e que apresenta um balanço equilibrado e correto do desempenho econômico, ambiental e social da organização. Ainda deve ser frisado que, se a empresa optar por elaborar um relatório “de acordo com”, deve justificar a não divulgação de qualquer indicador considerado essencial pela GRI (GRI, 2006, p. 14). Apesar das vantagens oferecidas pelo modelo, Dias (2006) aponta um risco nos relatórios emitidos usando indicadores 15 Pensar Contábil Fernanda de Medeiros Carvalho CRC-RJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Jose Ricardo Maia de Siqueira do GRI: a possibilidade de haver um descompasso entre o que o modelo solicita e o que é efetivamente publicado. O estudo de Dias (2006) analisou a utilização do modelo proposto pela GRI através do cálculo do grau de aderência plena aos indicadores essenciais de desempenho econômico, ambiental e social da GRI, e nele as empresas foram classificadas de acordo com a conformidade entre os dados informados nos relatórios sociais como referentes ao GRI e o que realmente era solicitado pelo modelo. Neste estudo, evidenciou-se que as empresas brasileiras se encontram em diferentes fases de utilização do GRI, variando este grau de aderência plena aos indicadores de 95,83% (Natura) a 6% (Souza Cruz). 3. Definição do Problema Visando estender as observações feitas por Dias (2006) às demais empresas latino-americanas, é formulada a seguinte questão: Como as empresas latino-americanas (com exceção das brasileiras) que utilizam as Diretrizes da GRI em seus relatórios de sustentabilidade disponibilizados pela Internet acompanham as determinações requeridas pelas Diretrizes para a divulgação de um relatório completo, no que diz respeito à aderência aos indicadores essenciais da GRI e à evidenciação efetiva do solicitado pelas Diretrizes? 4. Objetivo do Trabalho Tendo em vista o problema acima definido, o objetivo geral do estudo é analisar o grau de aderência plena aos indicadores essenciais da GRI, bem como o grau de evidenciação efetiva dos relatórios de sustentabilidade das empresas pertencentes à América Latina. 5. Metodologia Para a seleção da amostra analisada por esta pesquisa, adotaram-se os seguintes critérios: 1) a base de dados utilizada para seleção é a constante no site oficial da GRI no dia 15/09/2006; 2) fazem parte do escopo todas as empresas cuja matriz esteja situada em países da América Latina; 3) excluem-se as empresas com matriz no Brasil; 4) a pesquisa limita-se às empresas com relatório de sustentabilidade do ano base de 2005, contendo o Sumário GRI. Para calcular o grau de evidenciação efetiva e o grau de aderência plena das empresas da América Latina às Diretrizes da GRI, primeiramente foram retiradas as empresas brasileiras que adotam o GRI. Isso se justifica pelo fato de que o grau de aderência plena das empresas brasileiras às Diretrizes da GRI já foi objeto de estudo anterior, de autoria de Dias (2006). Delimitou-se o escopo da pesquisa para os relatórios de sustentabilidade relativos ao ano de 2005 e que apresentassem em seu relatório o sumário GRI, visto que a inexistência deste torna inviável a busca da informação exigida pelo indicador. A fonte definida para a coleta dos dados foi o site oficial da GRI, pois contém dados mais atualizados a respeito das publicações de relatórios de sustentabilidade que utilizam o modelo da GRI, sendo uma fonte segura de captura de informações. Como o site da GRI é atualizado constantemente, foi definida como data de corte, para verificação das empresas relatoras pertencentes à América Latina, o dia 15/09/06. 16 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 9, n. 38, p. 14 - 22, out./dez. 2007 A partir deste critério foram selecionadas oito empresas — conforme quadro abaixo —, sendo estas da Bolívia, Chile, Equador, México e Nicarágua. O site da GRI informa a categoria do setor da economia à qual pertencem e se possuem relatórios “de acordo com” ou com uma “abordagem informal” das Diretrizes da GRI. Das organizações selecionadas, conforme categorização disponível no site da GRI, três pertencem ao ramo energético, duas são mineradoras, duas são instituições financeiras e uma é pertencente à indústria química. Apenas duas relatam possuir relatórios elaborados “de acordo com” as Diretrizes da GRI. Quadro 1: Empresas selecionadas para análise Qde País Organização Setor da Economia Relatório “De acordo com” 1 Bolívia Transredes S.A. Energia Não 2 Chile Corporación Nacional del Cobre de Chile (Codelco) Mineração Sim 3 Chile Empresa Nacional de Electricidad (Endesa Chile) Energia Não 4 Chile Empresa Nacional del Petroleo (ENAP) Químico Não 5 Chile Minera Escondida Limitada Mineração Sim 6 Equador Banco Solidario Financeiro Não 7 México PEMEX Energia Não 8 Nicarágua Findesa Financeiro Não Fonte: Adaptado do GRI (2006). 5.1. Tratamento dos dados A análise dos relatórios consiste na comparação entre a informação solicitada pelo indicador essencial GRI e o que efetivamente foi informado pela organização relatora. Para possibilitar o cálculo do grau de aderência plena aos indicadores essenciais e o grau de evidenciação efetiva para as empresas sob análise, foi desenvolvida um tabela que permite fazer uma classificação do indicador. Primeiramente o indicador requerido foi classificado como “apresentado” ou “não apresentado”. Dentro desta classificação, há uma divisão em categorias; o indicador “apresentado” pode ser categorizado como: com “aderência plena”, com “aderência parcial”, “dúbio”, ou “inconsistente”; e o indicador “não apresentado” pode ser subdividido em: “não disponível”, “não aplicável”, “omitido com justificativa”, ou simplesmente “omitido”. O critério de alocação do indicador nessas classificações foi o mesmo utilizado por Dias (2006, p. 94): Indicadores “apresentados”: • Aderência Plena – quando todos os dados requeridos pelo indicador essencial da GRI sob análise foram devidamente fornecidos pela empresa; • Aderência Parcial – quando apenas parte das informações solicitadas pelo indicador essencial da GRI sob análise foi apresentada pela empresa; • Dúbio – quando não é possível avaliar se a aderência é plena ou parcial, em função de não haver informação suficiente para esta conclusão; Pensar Contábil CRC-RJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Análise da Utilização dos Indicadores Essenciais da Global Reporting Initiative nos Relatórios Sociais de Empresas Latino-Americanas Inconsistente – quando as informações apresentadas pela empresa diferem do solicitado pelo indicador essencial da GRI sob análise. Indicadores “não apresentados”: Não Disponível – quando a informação solicitada pelo indicador sob análise é pertinente às atividades da empresa, mas esta não tem ainda condições de fornecê-la; Não Aplicável – quando a informação requerida pelo indicador sob análise não é pertinente às atividades da empresa ou ao setor em que ela atua; Omitido com Justificativa – quando os dados requeridos pelo indicador sob análise são pertinentes às atividades da empresa, mas estes são omitidos por decisão da organização, que apresenta a justificativa para tal omissão; Omitido – quando o indicador essencial não é apresentado ao usuário, sem o oferecimento de qualquer justificativa. Uma vez classificados os indicadores essenciais informados pela empresa, segue-se com a análise calculando o grau de aderência plena aos indicadores essenciais da GRI, cuja sigla de denominação é GAPIE-GRI. Este cálculo permite que se perceba o percentual de aderência de cada empresa ao que foi solicitado pela GRI, podendo este ser de 0% a 100%. A forma de cálculo segue o que foi utilizado em pesquisa anterior de Dias (2006, p. 95), e se dá pela seguinte fórmula: GAPIE-GRI = Total dos indicadores com APL + Total dos indicadores OJ Total dos indicadores essenciais - Total dos indicadores NA Onde: GAPIE-GRI = Grau de aderência plena aos indicadores essenciais da GRI APL = Aderência Plena OJ = Omitidos com Justificativa NA = Não Aplicáveis Conforme destacado por Dias (2006, p. 96), no numerador, o total dos indicadores omitidos com justificativa é somado ao total de indicadores com aderência plena pelo fato de que a GRI permite a não apresentação de indicadores, desde que seja justificada. Adicionalmente, no denominador, o total de indicadores não aplicáveis é subtraído do total de indicadores essenciais para não prejudicar o resultado do grau de aderência plena da empresa em função da existência de um indicador que não se aplique às suas atividades. Adicionalmente, neste trabalho, foi desenvolvido o cálculo do grau de evidenciação efetiva, com o objetivo de mensurar o percentual da quantidade de informação efetivamente relatada pela organização dentro do potencial total de informação do modelo GRI. O cálculo do GEE compreende o seguinte: GEE = Total dos indicadores com APL Total dos indicadores essenciais - Total dos indicadores NA Onde: GEE = Grau de evidenciação efetiva APL = Aderência Plena NA = Não Aplicáveis Os indicadores “não aplicáveis” foram novamente subtraídos Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 9, n. 38, p. 14 - 22, out./dez. 2007 do total de indicadores essenciais propostos pelo modelo GRI para que o resultado não fosse influenciado por indicadores que não se ajustam às atividades da empresa sob análise. 6. Análise dos Índices GAPIE-GRI e GEE 6.1. Transredes S.A. Após a análise, verificou-se que a Transredes S.A. apresenta um GAPIE-GRI igual ao GEE, de 50%. Dos 50 indicadores essenciais propostos pela GRI, apenas sete não foram apresentados pela empresa — dos quais cinco correspondem à vertente social. Dos indicadores apresentados, três são inconsistentes e apenas um é dúbio. A vertente econômica se destaca por apresentar maior grau de aderência plena e maior grau de evidenciação efetiva, montando a 70%. Nesta vertente, o indicador EC9, por exemplo, é de aderência parcial, pois somente explicou o subsídio, mas não demonstrou seu valor no ano de 2005. A vertente ambiental possui GAPIE-GRI e GEE de 53,33% e concentra a maior quantidade de indicadores inconsistentes — dois em um total de três, sendo eles: EN2 e EN6. A vertente social possui GAPIE-GRI e GEE de 34,78%, o menor entre as demais vertentes. Isso porque, de um total de 24 indicadores propostos, cinco não foram apresentados (LA1, LA2, LA3, LA9 e PR2) e 10 foram considerados como de aderência parcial. 6.2. Corporación Nacional del Cobre de Chile – CODELCO O relatório de sustentabilidade de 2005 da CODELCO está classificado no site da GRI como um relatório elaborado “de acordo com” as Diretrizes. Mas, apesar de sua categorização como “de acordo com”, o grau de aderência plena aos indicadores essenciais da GRI ficou em apenas 54%, e o grau de evidenciação efetiva foi de 52%. Apresentou, também, um total de seis indicadores inconsistentes, e dez com aderência parcial. Dos indicadores econômicos, o EC1 foi considerado dúbio porque não fica claro se o valor apresentado corresponde ao saldo de vendas líquidas (solicitado pela GRI) ou de vendas brutas, já que o texto utiliza apenas a palavra “vendas”. O indicador EC5 possui aderência parcial por não segregar o montante de folha de pagamento e benefícios por região onde atua. E o indicador EC6 é inconsistente por apresentar o saldo de passivo circulante, de longo prazo, patrimônio líquido e participação de minoritários de 2005 e anos anteriores, e não o valor pago em razão de dívida e empréstimos de investidores ou de terceiros no período de 2005. Mesmo assim, o grupo de indicadores econômicos ainda apresentou GAPIE-GRI de 60% e GEE de 50%. Para a CODELCO, a vertente com maior GAPIE-GRI e GEE foi a ambiental, com 81,25% em ambos. Seu resultado só foi impactado pela não apresentação dos indicadores EN4, EN9 e EN15 — considerados não disponíveis. Os indicadores sociais foram os mais prejudicados, e apresentaram GAPIE-GRI e GEE de apenas 33,33%, o que é surpreendentemente baixo para um relatório “de acordo com”. Dos 6 indicadores inconsistentes, quatro são da vertente social. Do mesmo modo, 9 dos 10 indicadores com aderência parcial pertencem a essa vertente. 17 Pensar Contábil Fernanda de Medeiros Carvalho CRC-RJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Jose Ricardo Maia de Siqueira 6.3. Empresa Nacional de Electricidad – ENDESA Chile A ENDESA Chile apresentou um GAPIE-GRI de 57,14% e um GEE de 55,10%. Isso porque, embora ela tenha alcançado 90% de GAPIE-GRI e GEE para os indicadores econômicos, para os indicadores ambientais e principalmente para os indicadores sociais a empresa não apresentou a mesma qualidade no que diz respeito à consistência da informação apresentada com a informação solicitada nas Diretrizes. Esses dois últimos grupos de indicadores apresentaram, respectivamente, GAPIE-GRI de 66,67% e 37,50% e um GEE de 60% e 37,50%. Do total de 50 indicadores essenciais — considerando os três grupos: econômico, social e ambiental — a companhia deixou de apresentar apenas quatro, porém apresentou seis indicadores inconsistentes e um dúbio. O indicador considerado inconsistente no grupo econômico foi o EC6, pois, em vez de informar as distribuições/pagamentos provenientes de qualquer tipo de dívida com investidores, foi relatada a composição do passivo no ano de 2004 e 2005. O grupo ambiental apresentou 12 indicadores, e destes apenas três apresentaram problemas: o EN6, considerado como dúbio; o EN15, considerado como inconsistente, pois foram apresentadas informações requisitadas pelo indicador adicional EN35 (Total de gastos ambientais e especificação por tipo); e o EN11, que teve aderência parcial por não ter informado a quantidade de resíduo por destino, classificando-o apenas por tipo. No grupo de indicadores sociais, registram-se quatro inconsistentes (LA4, HR7, PR1 e PR2), todos por apresentarem informações distintas do solicitado pela GRI. Do total de 13 indicadores avaliados como de aderência parcial, 11 estão neste grupo. 6.4. Empresa Nacional del Petróleo – ENAP O resultado do cálculo do grau de aderência plena aos indicadores essenciais da GRI e do grau de evidenciação efetiva revelou uma grande fragilidade do relatório da ENAP no que tange ao requerido pelas Diretrizes. Essa percepção está retratada no índice de apenas 18,36% obtido para o GAPIE-GRI e de 16,33% para o GEE. Um fator que contribuiu em demasia para este resultado foi a grande quantidade de indicadores não apresentados, que somaram 23; sendo que, destes, 22 foram omitidos sem justificativa, principalmente no grupo de desempenho social. Além disso, dos 27 indicadores apresentados, apenas oito foram considerados com aderência plena. O desempenho econômico apresentou 11,11% nos dois índices, pois apenas um indicador configurou aderência plena e foi descrito como não aplicável. O indicador EC1 foi considerado dúbio porque não esclarece se o valor das vendas se refere às vendas líquidas (como solicitado) ou brutas. Os indicadores EC2, EC6 e EC8 foram considerados como inconsistentes, já o EC3 e o EC5 tiveram aderência parcial. O desempenho ambiental foi o que apresentou maior GAPIE-GRI e GEE, montando a 31,25% para ambos, pois foi o grupo com maior número de indicadores de aderência plena (cinco indicadores). O indicador EN8 é considerado inconsistente, visto que informa a política para redução da emissão de gases causadores do efeito estufa, e não a quan- 18 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 9, n. 38, p. 14 - 22, out./dez. 2007 tidade de gases dessa classificação emitida em 2005. Já os indicadores EN11, EN12 e EN13 foram considerados com aderência parcial e o EN16 como dúbio, já que este deixa dúvidas quanto à existência ou não de incidentes e multas nos demais países onde opera, além do Chile. O desempenho social apresentou o GAPIE-GRI e o GEE mais baixos do relatório da ENAP, chegando a 8,33% para ambos. Isto porque 14 indicadores foram omitidos sem justificativa e apenas dois foram classificados como de aderência plena. O HR5 foi considerado inconsistente e sete outros — LA1, LA5, LA6, LA9, HR3, SO1 e SO2 — obtiveram aderência parcial. 6.5. Minera Escondida Limitada A Minera Escondida obteve 44,90% de grau de aderência plena aos indicadores essenciais da GRI, e 42,86% de grau de evidenciação efetiva. Índices relativamente baixos para uma empresa que afirma publicar um relatório “de acordo com” a GRI. O fato que mais influenciou esse resultado foi a apresentação de 18 indicadores com aderência parcial, sendo que, destes, 12 se concentram no grupo social. No desempenho econômico, apesar de terem sido apresentados todos os indicadores, o GAPIE-GRI e o GEE montam ambos a 50%. Isto se deve à classificação do indicador EC1 como dúbio, do EC2 e EC3 como inconsistentes e do EC9 e EC10 como de aderência parcial. O desempenho ambiental também não deixou de apresentar nenhum indicador, e conseguiu um GAPIE-GRI e um GEE de 62,5% por ter relatado mais indicadores com aderência plena proporcionalmente ao total de indicadores essenciais estipulados para este grupo. O indicador EN2 foi considerado inconsistente, o EN14 como dúbio e quatro outros — EN4, EN11, EN12 e EN13 — como aderência parcial. O desempenho social foi o que apresentou menor GAPIEGRI e GEE, sendo respectivamente 30,43% e 26,09%. Tal fato foi motivado essencialmente porque apenas seis, dos 24 indicadores essenciais deste grupo, puderam ser considerados de aderência plena. Três indicadores não foram apresentados, embora nenhum tenha sido omitido sem justificativa. Outros três indicadores se apresentaram de forma inconsistente: o LA11, o HR2 e o HR5. Doze apresentaram aderência parcial, a saber: LA2, LA3, LA5, LA6, LA7, LA9, LA10, HR1, HR4, HR6, SO1 e SO2. 6.6. Banco Solidário O resultado da análise realizada aponta um grau de aderência plena aos indicadores essenciais da GRI de 28% e um grau de evidenciação efetiva de apenas 8%. No caso do GAPIE-GRI os três grupos de indicadores de desempenho contribuíram com a apresentação de resultados ruins. Para o GEE, os grupos de indicadores de desempenho ambiental e social tiveram um rendimento abaixo de 7%, contribuindo fortemente para o resultado final. Em termos gerais, o que ocorreu foi que o Banco Solidário deixou de apresentar 28 dos 50 indicadores essenciais sugeridos pelas Diretrizes, dos quais apenas 10 com justificativa. Além disso, das 22 informações apresentadas, apenas quatro possuem aderência plena. O grupo de indicadores econômicos foi o que apresentou melhor resultado entre os demais, sendo, contudo, ainda Pensar Contábil CRC-RJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Análise da Utilização dos Indicadores Essenciais da Global Reporting Initiative nos Relatórios Sociais de Empresas Latino-Americanas baixo — com um GAPIE-GRI de 30% e um GEE de 20%. O que prejudicou esse grupo foi a quantidade de informações apresentadas com inconsistências — um total de seis. No grupo de indicadores ambientais, o resultado foi bastante insatisfatório, com 25% de GAPIE-GRI e 6,25% de GEE. Esta posição se deve ao fato de que, dos 16 indicadores desse grupo, 12 não foram apresentados — e apenas três com justificativa. E, dos indicadores apresentados, apenas um possui aderência plena. Os indicadores EN3 e EN14 foram considerados inconsistentes porque a informação apresentada na página indicada no sumário não corresponde ao solicitado pelo indicador, e o EN5 foi considerado com aderência parcial porque a informação foi dada em m3/ empregado e não pelo total. O desempenho social também apresentou baixo GAPIEGRI e GEE, 29,17% e 4,17%, respectivamente. Assim como o desempenho ambiental, este grupo também possui apenas um indicador com aderência plena, e nove indicadores não estão disponíveis. Dos indicadores inconsistentes: o LA9 informou o número de cursos por empregado, e não a média de horas de treinamento por ano, por empregado e por categoria; no LA10, a informação apresentada na página indicada no sumário GRI não corresponde ao solicitado pelo indicador; o SO1 apresentou os impactos positivos na sociedade e não o solicitado pelo indicador. Cinco indicadores foram considerados como obtendo aderência parcial, a saber: LA2, LA7, LA11, HR6 e SO2. 6.7. Petróleo Mexicano S.A. – PEMEX O grau de aderência plena aos indicadores da GRI e o grau de evidenciação efetiva alcançaram 18%. Esse baixo desempenho se deve principalmente ao fato de que 35 dos 50 indicadores essenciais foram omitidos sem justificativa. Adicionalmente, dos 15 indicadores apresentados, apenas nove obtiveram aderência plena ao solicitado pela GRI. O grupo que apresentou menor desempenho foi o de indicadores sociais, com 8,33% de GAPIE-GRI e GEE, seguido do grupo de indicadores ambientais, com 18,75% para ambos, e do grupo de indicadores econômicos que apresentou 40% tanto de GAPIE-GRI quanto de GEE. No grupo econômico, dos dez indicadores sugeridos pela Diretriz, seis foram omitidos sem justificativa e quatro foram considerados com aderência plena. No grupo de indicadores ambientais, oito indicadores foram omitidos sem justificativa, e apenas três tiveram aderência plena. Os indicadores com aderência parcial foram o EN3, o EN8, o EN11 e o EN12. No grupo de desempenho social, dos 24 indicadores propostos, 21 foram omitidos sem justificativa, apenas dois foram considerados de aderência plena (LA5 e SO1), e apenas um foi classificado como de aderência parcial (LA7) — por não ter informado sobre a taxa de absenteísmo. 6.8. Findesa A análise deste relatório revelou um grau de aderência plena aos indicadores essenciais da GRI de 30%, índice igual ao grau de evidenciação efetiva. Tal resultado foi provocado principalmente pelo grupo de indicadores sociais, que apresentaram GAPIE-GRI e GEE de 16,67%, demasiadamente Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 9, n. 38, p. 14 - 22, out./dez. 2007 abaixo dos 42,86% apresentado pelo grupo ambiental e dos 50% obtidos pelo grupo de indicadores econômicos. No grupo econômico, o índice montou a 50%, pois quatro indicadores possuem aderência plena e dois são não aplicáveis. Os indicadores classificados como inconsistentes são: o EC1, o EC2 e o EC6. O indicador EC3 obteve uma classificação de aderência parcial. O grupo de desempenho ambiental apresentou índices de GAPIE-GRI e GEE de 42,86% porque, apesar de apenas três indicadores possuírem aderência plena, nove dos onze não apresentados são “não aplicáveis”, o que reduz a base de cálculo. O indicador EN3 foi classificado como de aderência parcial por não apresentar a informação em joules, conforme solicitado pela Diretriz, e o EN8 obteve também essa classificação porque não segregou a informação por emissão direta e indireta. Os indicadores do desempenho social obtiveram baixo GAPIE-GRI e GEE porque 11 foram apresentados com problemas, e quatro não estão disponíveis para a empresa. Destes, o maior número é de indicadores inconsistentes: LA2, LA9, LA10, LA11, HR4, e PR2 – pois, quando consultada a página indicada no sumário, não foi encontrada a informação requerida pelo indicador na Diretriz. O indicador HR1 foi classificado como de aderência parcial, pois não informou os mecanismos de monitoramento e resultados, e não relacionou as práticas com os padrões internacionais existentes. 6.9. Comparação entre os resultados – GAPIE-GRI Após a analise individual das empresas selecionadas, estas foram agrupadas em um ranking, organizado de forma decrescente, do total do grau de aderência plena aos indicadores essenciais da GRI. Esta ação possibilita a melhor visualização do desempenho de cada empresa. Quadro 2: Ranking do Resultado do GAPIE-GRI Organização Grau de Aderência Plena aos Indicadores Essenciais da GRI Indicadores Econômicos Indicadores Ambientais Indicadores Sociais Total 1º Endesa Chile 90,00% 66,67% 37,50% 57,14% 2º Codelco 60,00% 81,25% 33,33% 54,00% 3º Transredes S.A. 70,00% 60,00% 34,78% 50,00% 4º Minera Escondida Limitada 50,00% 62,50% 30,43% 44,90% 5º Findesa 50,00% 42,86% 16,67% 30,30% 6º Banco Solidario 30,00% 25,00% 29,17% 28,00% 7º PEMEX 40,00% 18,75% 8,33% 18,00% 8º ENAP 11,11% 31,25% 8,33% 16,33% Fonte: Os autores. O GAPIE-GRI revela o quanto as empresas que utilizam as Diretrizes para elaborar seus relatórios de sustentabilidade atendem exatamente ao solicitado pela GRI. 19 Pensar Contábil CRC-RJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Fernanda de Medeiros Carvalho Jose Ricardo Maia de Siqueira Ao analisar os resultados do GAPIE-GRI de cada empresa comparativamente, percebemos — no quadro anterior — que nenhuma das empresas da amostra analisada apresentou o alto grau de aderência plena aos indicadores essenciais da GRI apresentado por algumas empresas do estudo de Dias (2006, p. 135). A organização que apresentou maior GAPIE-GRI foi a ENDESA Chile com 57,14%. Contudo ela não se encontra muito à frente da segunda e terceira colocadas no ranking, com 54% e 50%. Apesar de não poderem ser considerados como índices de aderência elevados, são muito superiores aos apresentados pela PEMEX e ENAP, as duas últimas do ranking — com 18% e 16,33%, respectivamente. Percebe-se aqui que a declaração “de acordo com” deve ser vista com certa ressalva pelos usuários dos relatórios sociais, pois não necessariamente significam uma informação de qualidade superior. É o que pode ser observado nos casos da CODELCO e da Minera Escondida, que obtiveram GAPIE-GRI abaixo de 55%, ficando atrás de empresas que afirmaram ter aderência apenas parcial à GRI. 6.10. Comparação entre os resultados – GEE O GEE tem a finalidade de medir o quanto a empresa efetivamente apresenta de informações frente ao potencial total de informações que podem ser relatadas segundo as Diretrizes. Portanto, quanto maior for o GEE, maior será a quantidade de informações oferecidas aos usuários. O principal diferencial deste cálculo para o GAPIE-GRI é que neste os indicadores “omitidos com justificativa” não são considerados como informações válidas, pois, apesar de a GRI permitir esse ato, a omissão de uma informação pode vir a prejudicar a percepção do leitor quanto ao desempenho socioambiental da empresa relatora. Assim como foi feito para o GAPIE-GRI, elaborou-se um ranking do resultado do cálculo do GEE para analisar também de forma mais clara o desempenho das empresas estudadas quanto ao grau de evidenciação efetiva. Quadro 3: Ranking do Resultado do GEE Grau de Evidenciação Efetiva Organização Indicadores Econômicos Indicadores Ambientais Indicadores Sociais Total 1º Endesa Chile 90,00% 60,00% 37,50% 55,10% 2º Codelco 50,00% 81,25% 33,33% 52,00% 3º Transredes S.A. 70,00% 60,00% 34,78% 50,00% 4º Minera Escondida Limitada 50,00% 62,50% 26,09% 42,86% 5º Findesa 50,00% 42,86% 16,67% 30,30% 6º PEMEX 40,00% 18,75% 8,33% 18,00% 7º ENAP 11,11% 31,25% 8,33% 16,33% 8º Banco Solidario 20,00% 6,25% 4,17% 8,00% Fonte: Os autores. 20 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 9, n. 38, p. 14 - 22, out./dez. 2007 Pelo demonstrado no quadro anterior, pode-se perceber que também para o GEE há grande distância entre o resultado do primeiro e último colocados. A ENDESA, CODELCO, Transredes, Minera Escondida e FINDESA mantiveram para o GEE as colocações apresentadas para o GAPIE-GRI, sofrendo apenas pequenas alterações nos resultados obtidos no cálculo dos índices. Da mesma forma que o índice analisado anteriormente, nenhuma empresa apresentou alto GEE – sendo todos inferiores a 56%. A PEMEX e a ENAP subiram uma colocação no ranking, mas não por terem melhorado seu desempenho, e sim porque o Banco Solidário apresentou um resultado demasiadamente abaixo do apresentado no GAPIE-GRI, o que o fez estar na última colocação, com um GEE de menos de 10%. O resultado do Banco Solidário se justifica pelo fato de que seu relatório de 2005 possui muitos indicadores “omitidos com justificativa”. Desta forma, fica então comprovado o quanto a consideração da validade de indicadores “omitidos com justificativa” pode alterar o entendimento relativo à qualidade do relatório de sustentabilidade publicado pelas empresas. Ambos os quadros anteriores evidenciam que o grupo de indicadores sociais é, na maioria das empresas analisadas, o mais prejudicado em termos de quantidade de informação apresentada e aderência dessas à Diretriz da GRI. O segundo grupo de indicadores com menor resultado é o ambiental, que também apresenta índices baixos de GEE. O grupo menos prejudicado é o de indicadores econômicos. 7. Conclusões O presente estudo teve como objetivo geral a análise do grau de aderência plena aos indicadores essenciais da GRI (GAPIE-GRI) e do grau de evidenciação efetiva (GEE) dos relatórios de sustentabilidade de 2005 divulgados pelas empresas latino-americanas — excetuando-se as empresas brasileiras — através da Internet. A empresa que apresentou maior GAPIE-GRI foi a Endesa Chile, com 57,14%, seguida em ordem decrescente da: CODELCO – 54%; Transredes S.A. – 50%; Minera Escondida Ltda – 44,90%; Findesa – 30,30%; Banco Solidário – 28%; PEMEX – 18%; e por último a ENAP – 16,33%. O maior grau de evidenciação efetiva foi obtido também pela Endesa Chile, com 55,10%, seguida em ordem decrescente pela: CODELCO – com 52%; Transredes S.A. – 50% de GEE; Minera Escondida – 42,86%; Findesa – 30,30%; PEMEX – 18%; ENAP – 16,33%; e Banco Solidário – 8%. Nenhuma das empresas da América Latina analisadas apresentou alto GAPIE-GRI ou, por extensão, GEE; nem mesmo as empresas que afirmaram emitir um relatório “de acordo com” as Diretrizes GRI, que é o caso da CODELCO e da Minera Escondida Ltda. Resultado diferente foi verificado pelo trabalho de Dias (2006, p. 139), que, das oito empresas analisadas, identificou cinco com percentuais de GAPIE-GRI superiores a 60% – Natura, com 95,83%; CPFL Energia, com 93,62%; PETROBRAS, com 81,63%; Samarco, com 75%; e Usiminas, com 64%. Em função da disparidade entre os resultados encontrados neste trabalho, principalmente quando se comparam as três pri- CRC-RJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Pensar Contábil Análise da Utilização dos Indicadores Essenciais da Global Reporting Initiative nos Relatórios Sociais de Empresas Latino-Americanas meiras empresas com maior GAPIE-GRI e GEE com as duas últimas, percebe-se que as organizações analisadas se encontram em diferentes estágios de aderência às Diretrizes GRI. A pequena diferença entre os resultados de GAPIE-GRI e de GEE por empresa analisada denota que a quantidade de indicadores essenciais “omitidos com justificativa” não é significativa, com exceção do Banco Solidário, que omitiu “com justificativa” dez dos 50 indicadores essenciais existentes na Diretriz da GRI. As demais empresas o fizeram com, no máximo, um indicador. Desta forma, fica então comprovado que, quando a omissão de indicadores com justificativa é relevante, pode ser alterado o entendimento quanto à qualidade do relatório de sustentabilidade publicado pelas empresas; haja vista que pelo cálculo do GAPIE-GRI o Banco Solidário estaria à frente da PEMEX e da ENAP, e, quando se extrai o fator de “indicadores omitidos com justificativa” (cálculo do GEE), observa-se que na verdade o relatório do Banco Solidário possui qualidade inferior às empresas mencionadas no que tange à efetiva evidenciação de informações ao usuário. Outro fato relevante que merece destaque foi o resultado, tanto de GAPIE-GRI quanto de GEE, obtido pelas empresas CODELCO e Minera Escondida Ltda. Essas empresas classificam seus relatórios de sustentabilidade de 2005, no site oficial da GRI, como elaborados “de acordo com” as Diretrizes. Contudo, obtiveram resultados inferiores aos da Endesa Chile (com relação à CODELCO) e da Transredes S.A. (com relação à Minera Escondida), que optaram por uma adesão gradual ao modelo da GRI e ainda não consideram possuir um relatório “de acordo com”. Isso confirma que apenas a afirmativa por parte da organização não é suficiente para que o usuário considere tal relatório como mais completo ou confiável do que os relatórios das empresas que afirmam possuir uma adesão parcial às Diretrizes da GRI. Os menores índices tanto de GAPIE-GRI quanto de GEE estão concentrados no grupo de indicadores sociais — com uma média de 28% para GAPIE-GRI e de 25% para GEE. O grupo que acumula a segunda menor média é o ambiental, com média de 51% para GAPIE-GRI e de 47% para GEE. Apesar de não tão distante do grupo de desempenho ambiental, o grupo de indicadores econômicos é o que apresenta maior média, com 56% e 53%, respectivamente para GAPIE-GRI e GEE. O melhor resultado obtido pelo grupo de indicadores de desempenho econômico pode ser justificado pelo fato de que a divulgação de informações desse cunho é exigida há mais tempo do que a divulgação de dados socioambientais, além de sofrerem constantes auditorias de terceiros. Desta forma, como são informações mais consolidadas nos processos internos das empresas, existe uma maior facilidade em sua divulgação. Os baixos resultados do grupo de indicadores sociais podem ocorrer devido ao fato de que neste grupo é requerida uma quantidade maior de informações por indicador GRI. E como a análise foi feita por indicador, se a empresa deixa de atender a algum dos requisitos solicitados, tal indicador já passa para a classificação de “apresentado com aderência parcial”; o que afeta o cálculo do GAPIE-GRI e do GEE. Com base nas considerações relatadas, pode-se perceber que, apesar dos esforços da Global Reporting Initiative em desenvolver um guia de qualidade para a elaboração de relatórios de sustentabilidade, as empresas da América Latina que adotam esse modelo ainda precisam evoluir no atendimento às Diretrizes da GRI e na disponibilização de mais informações, para que assim as partes interessadas possam usufruir de um relatório mais abrangente, padronizado, transparente e menos enviesado. Bibliografia ARRIGONI, Fernando José. Disclosure das aplicações sociais da sociedade cooperativa e sua contribuição à elaboração do balanço social. Dissertação (Mestrado em Ciências Contábeis) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2000. CUNHA, Jacqueline Venerosos Alves da e RIBEIRO, Maisa de Souza. Evolução e diagnóstico atual do balanço social. In: Anais do 4º Congresso USP de Controladoria e Contabilidade. São Paulo: 2004. CD-ROM. DAVID, Afonso Rodrigo de e OTT, Ernani. 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Para atingir esse objetivo, foram enviados questionários para as pequenas indústrias dos municípios selecionados e realizada uma pesquisa em profundidade em uma empresa baseada em entrevista, observação e análise documental. As informações coletadas na pesquisa em profundidade foram comparadas com as dos questionários obtidos, e ambas com o referencial teórico contábil-financeiro. Os resultados apontaram que, entre outros aspectos relevantes, as empresas estudadas mencionaram utilizar o custo dos empréstimos captados como a taxa de desconto dos fluxos de caixa de seus projetos de investimento e que, com freqüência, o órgão responsável pela análise se encontra em alta posição na escala hierárquica da organização. Palavras-chave: orçamento de capital, técnicas de análise de investimento, custo de capital. Abstract The present study intends to examine the capital investment process of small-sized company, located in the region that includes the municipalities of Duque de Caxias and Nova Iguaçu. The choice of these two municipalities was mainly made due to the scarcity of studies involving the use of capital budgetary techniques at companies in the mentioned region, the economic importance of the two cities – both with respect to the Baixada Fluminense and the State of Rio de Janeiro – and the significant number of their inhabitants. The technique Marcio de Araújo Resende Rio de Janeiro-RJ Mestre em Ciências Contabeis – FACC/UFRJ1 [email protected] Jose Ricardo Maia de Siqueira Rio de Janeiro-RJ Professor do Mestrado em Ciências Contábeis –FACC/UFRJ1 Doutor em Engenharia de produção – COPPE/UFRJ [email protected] was chosen for obtaining the data required for carrying out this study was the mailing of questionnaires to small companies within the two cities and making an in-depth research into a company that was performed based on interview, observation and analyses of documents. The information obtained from the in-depth research was compared to that of the questionnaires, and then both were compared to the accounting theory. After the analysis, and among other relevant aspects, it was noticed that the companies mentioned are utilizing the cost of loans as the discount rate for the cash flow of their investment projects and that the responsibility for analyzing capital investments is placed, often, on the top of organizations. Keywords: capital budget, investment analysis techniques, cost of capital. 1. Introdução O ambiente dinâmico em que as empresas estão inseridas faz com que seja imprescindível tomar decisões a todo o momento e de forma rápida, a fim de que não se percam oportunidades de investimento. O orçamento de capital é fundamental para todas as companhias, pois a continuidade delas depende do sucesso dos investimentos de longo prazo realizados. Tais investimentos visam proporcionar entradas de caixa operacionais relevantes, que gerem maximização de riqueza, fator este fundamental para qualquer organização. Como os recursos financeiros são limitados, as empre- FACC-UFRJ – Faculdade de Administração e Ciências Contábeis da Universidade Federal do Rio de Janeiro – CEP 21.941-590 – Rio de Janeiro – RJ. 1 Artigo recebido em 28/09/2007 e aceito em 05/11/2007. Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 9, n. 38, p. 23 - 30, out./dez. 2007 23 Pensar Contábil Marcio de Araújo Resende CRC-RJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Jose Ricardo Maia de Siqueira sas precisam selecionar os projetos de investimento que lhes proporcionem o maior retorno financeiro possível considerando o risco assumido. Os investimentos de longo prazo devem ser analisados com mais cuidado, por apresentarem riscos mais elevados do que os de curto prazo. Cabe ressaltar que a realização de investimentos de capital equivocados geralmente acarreta sérios prejuízos financeiros, podendo até levar a empresa a uma situação de insolvência. Tal fato aumenta ainda mais a significância deste estudo, ao focar sua atenção em um segmento de organizações — as de pequeno porte — onde, apesar de sua relevância econômica, existe uma carência crônica de trabalhos. 2. O Uso das Técnicas de Análise de Investimento pelas Organizações As técnicas de análise de investimento podem ser divididas em dois grandes grupos: limitadas e não-limitadas. As limitadas trazem intrinsecamente uma precariedade conceitual representada pela não adoção de uma ou mais características inerentes às técnicas não-limitadas, a saber: não efetuar cortes arbitrários no horizonte de tempo da análise, trabalhar com fluxos de caixa e considerar o valor do dinheiro no tempo. Compõem o grupo das técnicas limitadas: o payback, o payback descontado e a taxa média de retorno (TMR) — também conhecida como taxa de retorno contábil (TRC). Já as técnicas não-limitadas são compostas por: índice de lucratividade (IL), valor presente líquido (VPL) e taxa interna de retorno (TIR) — além de variantes. Segundo Burns e Walker (1997), os métodos que utilizam fluxo de caixa descontado estão, em sua maioria, sendo mais utilizados, com exceção do índice de lucratividade, cujo uso não aumentou nem diminuiu. Já os métodos do payback, payback descontado e a taxa de retorno contábil vêm sendo cada vez menos utilizados. O crescimento no uso de técnicas com fluxo de caixa descontado é corroborado por Kester e Chong (1998, p. 10), que mencionam que as técnicas do valor presente líquido e da taxa interna de retorno tiveram um grande crescimento em sua utilização de acordo com os resultados de várias pesquisas. Contudo, isto não quer dizer que o uso de algumas técnicas limitadas não seja significativo. Graham e Harvey (2001, p. 197) realizaram pesquisa com 392 diretores financeiros de empresas que constavam na lista da revista Fortune. Constataram que a taxa interna de retorno é a principal técnica de orçamento de capital para a avaliação de investimentos, usada freqüentemente por 75,7% dos respondentes. Logo depois, o valor presente líquido é o critério utilizado com mais freqüência (74,9%), ao passo que 56,7% — uma percentagem significativa — utilizam o payback. Ryan e Ryan (2002, p. 357) apontam, em uma comparação de resultados de várias pesquisas realizadas sobre o uso das técnicas de orçamento de capital, que a TIR é a ferramenta de orçamento de capital mais utilizada pelas empresas, mas o outro método bastante utilizado é o payback. Sandahl e Sjögren (2003) pesquisaram 528 empresas, selecionadas das 500 maiores corporações e algumas outras da lista de empresas denominada “O-list”, a fim de saber a respeito da utilização das técnicas de orçamento de capital na Suécia, e chegaram à conclusão de que o payback é o 24 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 9, n. 38, p. 23 - 30, out./dez. 2007 método mais utilizado. Cabe ressaltar, contudo, que, considerando o total do capital investido pelas empresas, a TIR é a técnica mais utilizada, seguida de perto pelo VPL. O que estas pesquisas parecem sinalizar é que as técnicas mais utilizadas são o VPL, a TIR e o payback, as duas primeiras enfocando a construção do valor para as corporações e a última denotando preocupação com a liquidez. Característica esta que é fundamental para as pequenas empresas, cujo processo de análise de investimento conta com diversas particularidades. 2.1. Análise de investimentos em pequenas empresas Brigham (1992) (apud Block, 1997, p. 289) acredita que o orçamento de capital é mais importante para as empresas de pequeno porte do que para as grandes corporações, tendo em vista a falta de acesso aos financiamentos nos mercados financeiros, assim como o risco inerente à falta de diversificação, comum em uma pequena empresa. Em sua pesquisa com 232 pequenas empresas, Block (1997) mostrou que a técnica de orçamento de capital preferida é o payback, utilizado por aproximadamente 43% das referidas empresas. Tal predomínio pode ser atribuído à sua simplicidade, ênfase na liquidez e resposta às pressões externas. Os dois primeiros aspectos são auto-explicativos. No tocante ao terceiro, as instituições financeiras podem exercer pressões, de forma indireta, quanto ao método usado para análise de investimentos pelas empresas de pequeno porte. Drury e Tayles (1996, p. 378) realizaram pesquisa, enviando questionário para 866 grandes e pequenas unidades de negócio, e receberam 303 respostas tabuláveis. Verificou-se que o emprego das técnicas que utilizam o fluxo de caixa descontado ocorre com mais freqüência nas grandes corporações do que nas pequenas empresas. As grandes companhias utilizam a TIR em 85% das vezes e o VPL em 80% das vezes. Já as empresas de pequeno porte lançam mão da TIR em apenas 30% das vezes e do VPL em apenas 23% das vezes. Já o uso do payback e do payback descontado ocorre, respectivamente, em 56% e 30% das pequenas empresas. Drury e Tayles (1996, p. 379) apontam ainda uma diferença significativa entre as grandes corporações e as pequenas empresas. Enquanto as primeiras empregam, de forma geral, vários contadores especializados em orçamento de capital, as últimas empregam muito poucos contadores qualificados, que acumulam várias atividades na empresa. Deste modo, tem-se que os contadores das empresas de pequeno porte, geralmente, não possuem a mesma experiência que seus colegas de profissão das grandes corporações para fazer uso das técnicas não limitadas de orçamento de capital. Arnold e Hatzopoulos (2000), em pesquisa realizada no Reino Unido com pequenas, médias e grandes empresas, concluíram que as empresas de pequeno porte utilizam menos as técnicas de fluxo de caixa descontado (91%) do que as médias empresas (96%) e do que as grandes corporações (100%). No tocante à TIR e ao VPL, quando usados separadamente, as pequenas empresas também os utilizam menos do que as médias e grandes empresas. A TRC é mais usada pelas pequenas empresas, em comparação com as médias e grandes companhias. Já o payback é mais utilizado, em ordem decrescente, pelas médias empresas (75%), Pensar Contábil CRC-RJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ As Indústrias de Pequeno Porte e o Orçamento de Capital: um Estudo sobre Análise de Investimentos na Baixada Fluminense pela empresas de pequeno porte (71%) e, por último, pelas grandes corporações (66%). Lazaridis (2004), em pesquisa envolvendo empresas cipriotas de pequeno e médio porte, descobriu que o método de orçamento de capital mais utilizado pelas empresas da amostra é o payback (36,7%). Chama a atenção o fato de que aproximadamente 19,0% das empresas não utilizam técnica alguma em suas análises de investimento. Outro dado fornecido por esta pesquisa é que apenas 30,2% das companhias lançam mão das técnicas de orçamento de capital para todas as suas decisões de investimento. Uma parcela significativa das organizações — 50,9% — utiliza métodos de avaliação somente para alguns tipos de investimento acima de determinado nível de custo. Para Brounen, Jong e Koedijk (2004, p. 71), que realizaram pesquisa com 313 diretores financeiros de empresas do Reino Unido, Holanda, Alemanha e França, ficou constatado que, enquanto as grandes corporações utilizam freqüentemente técnicas de valor presente, as empresas de pequeno porte continuam a confiar no critério do payback. Já Grablowsky e Burns (1980, p. 53) concluem que, haja vista que o emprego do VPL e da TIR requer o uso de custo de capital ou de uma taxa mínima de atratividade, há evidências de que parte das empresas de pequeno porte não utiliza as referidas técnicas de orçamento de capital, porque não as entendem. Constataram ainda que as empresas de pequeno porte distribuem as obrigações relativas à gerência financeira como mais uma tarefa, entre muitas outras, que uma única pessoa irá realizar, e que esta pessoa normalmente é alguém do nível mais alto da gerência, ou mesmo o presidente, se não o dono da empresa. Tal fato contribui ainda mais para a não realização formal de uma análise financeira de projetos, dado que os donos de empresas de pequeno porte estão demasiadamente preocupados com as operações do dia-a-dia, e reservam muito pouco tempo para realizar um planejamento para o futuro (Grablowsky e Burns, 1980, pp. 51-52). 3. Objetivo do Trabalho Dadas as especificidades da análise de investimentos em ambientes de pequenas empresas e o baixo volume de pesquisas realizadas focando este ambiente, este trabalho tem como objetivo geral analisar o processo de investimento de capital em empresa industrial de pequeno porte localizada na área delimitada. 4. Metodologia 4.1. Coleta de dados O critério escolhido para a seleção das empresas que comporiam a amostra foi o de número de funcionários segundo o Sebrae-RJ (2006), que considera indústria de pequeno porte aquela que tem de 20 a 99 funcionários. Uma vez selecionado o critério a ser utilizado, lançou-se mão do Cadastro Industrial da FIRJAN 2004/2005, para estabelecer contato telefônico com as pequenas indústrias dos municípios de Duque de Caxias e de Nova Iguaçu. O total de indústrias que atendem ao critério é de 110 em Duque de Caxias e de 47 em Nova Iguaçu, totalizando 157 indústrias de pequeno porte. Deste total, 130 empresas foram contatadas — 93 em Duque de Caxias e 37 em Nova Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 9, n. 38, p. 23 - 30, out./dez. 2007 Iguaçu. Os questionários em formato final foram enviados, mas, mesmo com um intenso acompanhamento, houve um baixo índice de respostas — só 11 empresas responderam. Contataram-se novamente as empresas, buscando uma ou mais que aceitassem a realização de um estudo em profundidade que pudesse complementar a pesquisa. Somente a XYZ — nome fictício, dado que não houve autorização para divulgação do nome real — aceitou participar. A XYZ é uma pequena indústria de tintas localizada no município de Duque de Caxias. Os instrumentos de coleta utilizados foram: a análise documental, a observação assistemática e a entrevista semi-estruturada — considerada por Beuren (2003, p. 32) como o instrumento que “permite maior interação e conhecimento das realidades dos informantes”. 4.2. Tratamento dos dados Os resultados dos questionários foram tabulados, analisados e confrontados com a bibliografia. Os resultados da entrevista semi-estruturada foram transcritos, analisados e confrontados com a bibliografia, bem como com as respostas dos questionários recebidos. Tais resultados ainda foram complementados pelas técnicas da observação e da análise documental. A análise da aquisição de um caminhão foi relatada, ilustrando, na prática, como se dá a análise de projetos da XYZ. Tais resultados encontram-se expostos a seguir. 5. Análise de Investimento na Baixada Fluminense Neste tópico serão analisados os resultados obtidos através dos questionários enviados, bem como através da entrevista, observação e análise documental realizadas em uma indústria de tintas na cidade de Duque de Caxias. 5.1. Análise dos dados obtidos dos respondentes Nesta pesquisa foram contatadas 130 empresas (tabela 1), sendo 93 em Duque de Caxias e 37 em Nova Iguaçu. Das 93 empresas contatadas em Duque de Caxias, sete responderam que utilizam alguma técnica e 21 afirmaram não analisar formalmente seus projetos. Já em Nova Iguaçu estes números foram quatro e cinco, respectivamente. Tabela 1: Quantidade de respostas ao questionário Respostas Duque de Nova Caxias Iguaçu Total Utilizam técnicas de análise financeira de projetos 7 4 11 Não utilizam tais técnicas 21 5 26 Não responderam 65 28 93 Total 93 37 130 Fonte: Elaborada pelos autores. Surpreende aqui a percentagem relativamente alta de empresas que revelaram não realizar qualquer tipo de análise em seus projetos de investimentos. Em Nova Iguaçu este número representa 13,5% das empresas abordadas, enquanto em Duque de Caxias chega a atingir quase 23% — ver tabela 2. 25 Pensar Contábil Marcio de Araújo Resende CRC-RJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Jose Ricardo Maia de Siqueira Tabela 2: Percentual de respostas ao questionário Respostas Duque Nova de Caxias Iguaçu Total Utilizam técnicas de análise financeira de projetos 7,5% 10,8% 8,5% Não utilizam tais técnicas 22,6% 13,5% 20,0% Não responderam 69,9% 75,7% 71,5% Total 100,0% 100,0% 100,0% Fonte: Elaborada pelos autores. Passando-se, então, a analisar os 11 questionários respondidos, o que corresponde a 8,5% do total, perguntou-se primeiramente que técnicas de análise financeira de projetos são utilizadas nas empresas. A tabela abaixo mostra as técnicas de análise de projetos mais utilizadas pelas indústrias de pequeno porte dos municípios de Duque de Caxias e Nova Iguaçu. Tabela 3: Técnicas de análise financeira mais utilizadas Técnicas Nº de empresas Percentual que utilizam Valor Presente Líquido 7 63,6% Índice de Lucratividade 6 54,5% Taxa Interna de Retorno 5 45,5% Taxa Média de Retorno 4 36,4% Valor Presente Líquido Anualizado 3 27,3% Payback Descontado 2 18,2% Payback 1 9,1% Nota: A soma do percentual ultrapassa 100,0%, devido a várias empresas utilizarem mais de uma técnica de análise de projetos. Fonte: Elaborada pelos autores. Analisando as respostas, foi possível verificar que o VPL (63,6%) é o método de análise de investimentos mais utilizado pelas empresas, enquanto o menos usado é o payback (9,1%). Pode-se verificar que a técnica mais utilizada pelas empresas de pequeno porte dos municípios de Duque de Caxias e Nova Iguaçu — o valor presente líquido (VPL) — é aquela considerada conceitualmente mais sólida pelos acadêmicos. Tais resultados não deixam de ser surpreendentes, já que diversas pesquisas, como as de Oblak e Helm Jr. (1980), Galesne, Fensterseifer e Lamb (1999) e Arnold e Hatzopoulos (2000), apontam a TIR como a técnica mais utilizada, e aqui ela aparece em terceiro lugar. Dois outros fatos surpreendem. Em primeiro lugar, a boa posição ocupada pelo índice de lucratividade, enquanto Ryan e Ryan (2002, p. 357) mencionam uma série de pesquisas que apresentam o IL como o método menos utilizado pelas empresas. Além disso, nas empresas aqui analisadas, o payback — bem como o payback descontado — é pouco utilizado, ao contrário do apontado em diversas pesquisas — como as de Schall, Sundem e Geijsbeek Jr. (1978), Drury e Tayles (1996), Block (1997), Kester e Chong (1998), Galesne, Fensterseifer e Lamb (1999), Arnold e Hatzopoulos (2000), Graham e Harvey 26 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 9, n. 38, p. 23 - 30, out./dez. 2007 (2001), Lazaridis (2004) e de Brounen, Jong e Koedijk (2004). No tocante a uma análise preliminar dos projetos, apenas quatro das 11 empresas — ou seja, 36,4% delas — a realizam. Neste caso, a técnica mais utilizada é a TIR, que é usada por todas as quatro empresas. O VPL, o payback e o IL têm apenas uma citação. Quando indagadas se consideram algumas das técnicas como principais na análise de projetos, ou seja, se o resultado apontado por elas influi decisivamente na aceitação ou não dos projetos, oito empresas mencionaram que consideram alguma(s) técnica(s) como principal(is), enquanto três expuseram não fazer tal consideração. A tabela seguinte mostra que técnicas são consideradas, por cada uma das oito empresas, como principal. Tabela 4: Técnicas de análise financeira consideradas principais Técnicas Nº de empresas Percentual que utilizam Taxa Interna de Retorno 5 62,5% Valor Presente Líquido 4 50,0% Payback e Payback Descontado 3 37,5% Índice de Lucratividade 1 12,5% Taxa Média de Retorno 1 12,5% Valor Presente Líquido Anualizado 1 12,5% Nota: A soma do percentual ultrapassa os 100%, devido a algumas empresas utilizarem mais de uma técnica de análise de investimento como principal. Fonte: Elaborada pelos autores. Cabe notar que a TIR é listada cinco vezes, ao passo que o VPL é apontado quatro vezes, como a principal técnica utilizada pelas empresas em questão. O payback e o payback descontado, juntos, são mencionados três vezes, enquanto os outros métodos são citados, cada um, por apenas uma empresa. A Tabela 5 mostra em que tipos de projetos as empresas mais utilizam as técnicas de análise financeira. As técnicas de análise de projetos são utilizadas por aproximadamente 91% das empresas antes da compra de máquinas e equipamentos. Já em torno de 64% das companhias utilizam-nas para realizar a reestruturação de suas áreas. Aproximadamente 55% das organizações as usam para o lançamento de novos produtos e/ou serviços, e em torno de 27% das empresas utilizam as referidas técnicas para a compra de imóveis ou para a aquisição de empresas. Tabela 5: Tipos de projetos em que são usadas técnicas de orçamento de capital Tipos de projetos de investimento Nº de empresas Percentual que utilizam Compra de máquinas e equipamentos 10 90,9% Reestruturação de áreas de empresas 7 63,6% Lançamento de produtos e/ou serviços 6 54,5% Compra de imóveis 3 27,3% Aquisição de empresas 3 27,3% Nota: A soma do percentual ultrapassa os 100,0%, dado várias empresas utilizarem as técnicas de orçamento de capital para avaliar mais de um tipo de investimento. Fonte: Elaborada pelos autores. Pensar Contábil CRC-RJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ As Indústrias de Pequeno Porte e o Orçamento de Capital: um Estudo sobre Análise de Investimentos na Baixada Fluminense A maioria das empresas (72,7%) não define um patamar mínimo de investimento, para que seja utilizada uma técnica de análise financeira de projetos. Das três empresas — que representam 27,3% do total — que definem um patamar mínimo, para a execução de tal análise, uma procede à referida análise quando o investimento tem valor superior a R$ 10.000,00 (mais precisamente US$ 20,000.00), outra quando o valor se encontra entre R$ 6.000,00 e 8.000,00, e outra quando o valor se situa no intervalo de R$ 8.000,00 a R$ 10.000,00. No que diz respeito à taxa de desconto, o mais comum é a utilização, pelas companhias de pequeno porte analisadas, do custo dos empréstimos para a empresa. Aproximadamente 64% destas organizações usam o referido custo como taxa de desconto. A tabela a seguir expõe quais são as taxas de desconto mais utilizadas pelas empresas analisadas dos municípios de Duque de Caxias e Nova Iguaçu. Tabela 6: Taxas de desconto utilizadas Taxas de desconto Nº de empresas Percentual que utilizam Custo dos empréstimos para a empresa 7 63,6% Custo de capital da empresa 4 36,4% Taxa Selic 2 18,2% Nota: A soma do percentual ultrapassa os 100,0%, porque há empresas que utilizam taxas de desconto distintas, dependendo dos diferentes tipos de projetos analisados. Fonte: Elaborada pelos autores. Este resultado coincide com o de Block (1997, pp. 296297), que também apurou que a maioria das empresas abordadas em sua pesquisa usa o custo dos empréstimos como o ponto de corte (cut-off point) para a aceitação de projetos de investimento. Segundo Kudla (1980, p. 34), tal fato ocorre porque as empresas de pequeno porte geralmente têm acesso limitado ao mercado de capitais. Tal postura é considerada adequada por Bodie e Merton (2002, p. 186). Cabe mencionar que nenhuma das empresas respondentes usa taxa de risco ajustada ao projeto ou custo de capital ajustado ao projeto. Quando estão trabalhando com técnicas de análise financeira de projetos, as empresas utilizam como horizonte de tempo, predominantemente, a vida econômica do projeto. A Tabela 7 mostra o período de tempo que as companhias mais empregam. Durante a análise financeira, seis das 11 empresas, o equivalente a 54,5% das empresas respondentes, utilizam cenários, enquanto as cinco companhias restantes (45,5%) não se valem deste instrumento. Tabela 7: Período de tempo utilizado para a análise financeira de projetos Período de tempo Nº de empresas Percentual que utilizam Vida econômica do projeto 6 54,5% Vida útil do projeto 4 36,4% Período de tempo arbitrado 4 36,4% Nota: A soma do percentual ultrapassa os 100%, porque há empresas que Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 9, n. 38, p. 23 - 30, out./dez. 2007 utilizam mais que um período de tempo, dependendo do projeto analisado. Fonte: Elaborada pelos autores. A tabela a seguir mostra quais as variáveis mais usadas pelas seis empresas que utilizam os referidos cenários. Tabela 8: Variáveis envolvidas na utilização de cenários Variáveis Nº de empresas Percentual que utilizam Valor do investimento inicial 5 83,3% Valor das entradas de caixa líquidas operacionais 4 66,7% Taxa de desconto do fluxo de caixa 4 66,7% Valor do fluxo de caixa residual 2 33,3% Nota: A soma do percentual ultrapassa os 100%, pois as empresas geralmente utilizam mais de uma variável. Fonte: Elaborada pelos autores. Pode-se notar que as principais variáveis utilizadas pelas empresas são: o valor do investimento inicial (83,3%), o valor das entradas líquidas de caixa operacionais (66,7%) e a taxa de desconto do fluxo de caixa (66,7%). Quando se perguntou se as empresas usam algum instrumento eletrônico na análise financeira de projetos, todas responderam que utilizam tais instrumentos. Tabela 9: Instrumentos eletrônicos usados na análise de projetos Instrumento eletrônico Nº de empresas que utilizam Percentual Microcomputador 10 90,9% Calculadora financeira 5 45,5% Calculadora científica 1 9,1% Nota: Algumas empresas usam mais de um instrumento. Fonte: Elaborada pelos autores. Conforme se observa na tabela acima, os profissionais das empresas respondentes preferem utilizar, principalmente, o microcomputador — quase 91% — e a calculadora financeira, preferida por cerca de 46% dos respondentes. No tocante aos responsáveis pela análise financeira de projetos nas empresas, o setor identificado com maior freqüência foi a Diretoria, com cinco menções. 5.2. Análise da empresa XYZ A XYZ iniciou suas atividades em 2002, tendo como sócios um cidadão norte-americano e sua esposa, mas somente o primeiro exerce a gerência e a administração da companhia. Este sócio atuou na área financeira, mais especificamente como sócio de uma empresa de factoring, antes de fundar a XYZ, segundo informação do gerente geral da organização. Esta sociedade por quotas de responsabilidade limitada tem como objetivo principal a fabricação e comercialização de tintas. A sede da empresa situa-se em Duque de Caxias, no Estado do Rio de Janeiro. Há na empresa um total de 51 funcionários, sendo 35 contratados e 16 terceirizados. 5.2.1. Análise do processo de aquisição do caminhão A principal matéria-prima usada pela empresa XYZ é o componente denominado slurry. Tal insumo tem como principal fornecedor um fabricante em São Paulo. 27 Pensar Contábil Marcio de Araújo Resende CRC-RJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Jose Ricardo Maia de Siqueira Para fazer com que o produto chegue até à sua fabrica, em Duque de Caxias, a XYZ tem duas alternativas: a primeira é receber a referida matéria-prima diretamente na sua fábrica, no Rio de Janeiro, acrescida do custo do frete. A segunda opção é realizar a compra de um caminhão-tanque, para buscar o slurry em São Paulo. Segundo Damodaran (2004, p. 203), pode-se definir projeto, em sentido amplo, como qualquer decisão que irá resultar na utilização dos recursos financeiros escassos de uma organização. Conseqüentemente, a decisão a ser tomada pela XYZ encaixa-se, obviamente, no conceito de projeto. O enfoque da XYZ foi usar uma análise incremental, onde se quantifica a variação nas entradas e saídas de caixa com a realização do investimento de capital. A retirada do produto citado ocorre três vezes por semana, em São Paulo. O gerente geral da empresa XYZ informou que são entregues, em cada uma das vezes, 28 toneladas de slurry. O preço que a XYZ tem de pagar pelo transporte é de R$ 86,24 por tonelada. Assim sendo, assumindo que a companhia XYZ precisa que o produto seja entregue três vezes por semana, e um mês tem quatro semanas, o desembolso mensal para receber o produto diretamente na fábrica é o seguinte: 28 toneladas x R$ 86,24/ton. x 3 vezes p/ semana x 4 semanas = R$ 28.976,64 / mês. Como segunda opção, a empresa pode investir no projeto de compra de um caminhão-tanque, a fim de que possa buscar o referido produto em São Paulo. Com base em informação documental prestada pelo gerente geral da XYZ, seguemse os gastos estimados do projeto de investimento em tela. Para a aquisição do caminhão-tanque, há um investimento inicial de R$ 40.000,00, que corresponde à entrada, além de um arrendamento em 36 prestações mensais e sucessivas de R$ 2.529,65. Adicionalmente, computaram-se os gastos por viagem, tais como: o óleo diesel — estimado em 300 litros por viagem, o que representa um valor de R$ 563,74 — e o pedágio e o almoço do motorista, que montam em R$ 330,00. Somem-se a isto os desembolsos mensais referentes ao salário do motorista (R$ 1.200,00), à manutenção do caminhão-tanque (R$ 500) e ao seguro do referido caminhão (R$ 1.094,75). O Quadro 1 mostra os gastos mensais do projeto em questão. Depreende-se do que foi relatado que o gasto mensal para receber o slurry diretamente na fábrica da XYZ é de R$ 28.976,64; enquanto o desembolso mensal para adquirir um caminhão-tanque, a fim de realizar tal transporte, monta em R$ 16.049,28. Isto significa que a aceitação do projeto mencionado gera uma economia monetária mensal de R$ 12.927,36. Estes são os fluxos de caixa positivos do projeto. Conforme informações do gerente geral da XYZ, a vida econômica do caminhão-tanque é de 36 meses. O valor de mercado de um caminhão usado com três anos de uso, em 26/06/2006 (preço de mercado), é de R$ 130.000,00; este valor foi utilizado como estimativa para o cálculo do fluxo de caixa residual do projeto. 28 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 9, n. 38, p. 23 - 30, out./dez. 2007 Quadro 1: Gastos com o uso de um caminhão-tanque próprio para buscar slurry Natureza dos gastos Valor por viagem Vezes Semanas Desembolso por no mês Mensal semana Óleo diesel (300 litros) = R$ 563,74 3 4 R$ 6.764,88 Pedágio e almoço = R$ 330,00 3 4 R$ 3.960,00 R$ 10.724,88 Salário do motorista = R$ 1.200,00 Manutenção = R$ 500,00 Seguro = R$ 1.094,75 Arrendamento = Mercantil R$ 2.529,65 Fluxo de Gasto = Mensal R$ 16.049,28 Fonte: Empresa XYZ. A taxa de desconto utilizada foi o custo dos empréstimos para a empresa, que é de 18% ao ano. Trabalhando em base mensal, tem-se uma taxa de 1,39% ao mês. De acordo com os dados apresentados, o fluxo de caixa do projeto é o seguinte: Quadro 2: Fluxos de Caixa Relevantes Investimento Inicial Entradas de Caixa Mensais Fluxo de Caixa Residual 40.000,00 12.927,36 142.927,36 Fonte: Elaborado pelos autores. A taxa interna de retorno do projeto é de 32,32%, e o VPL é de R$ 403.305,42. Tal resultado mostrou que o aludido projeto é viável financeiramente, o que resultou na aquisição do caminhão-tanque. 5.2.2. Análise do caso Conforme se pode observar na análise de aquisição do caminhão, as técnicas de orçamento de capital utilizadas pela empresa XYZ para selecionar projetos de investimento são o valor presente líquido (VPL) e a taxa interna de retorno (TIR). Quanto ao emprego do VPL e da TIR, a empresa vai ao encontro de pesquisas como as de Freeman e Hobbes (1991) e de Arnold e Hatzopoulos (2000), que apontam estes métodos como os mais utilizados pelas empresas, e de Burns e Walker (1997), que mencionam que as empresas estão cada vez mais enfatizando os critérios da taxa interna de retorno e do valor presente líquido. Além disso, a utilização do VPL e da TIR pela companhia XYZ ratifica o que mencionam Kester e Chong (1998) e Galesne, Fensterseifer e Lamb (1999) sobre o crescimento do uso das técnicas que utilizam fluxos de caixa descontados. Já algumas pesquisas, como as de Block (1997), de Graham e Harvey (2001) e de Brounen, Jong e Koedijk (2004), mostram que as empresas de pequeno porte preferem utilizar o critério do payback. Isto não se confirma, no caso da empresa XYZ. Pensar Contábil CRC-RJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ As Indústrias de Pequeno Porte e o Orçamento de Capital: um Estudo sobre Análise de Investimentos na Baixada Fluminense O gerente geral da companhia XYZ informou que os projetos de investimento da companhia são analisados em uma única etapa. Ou seja, não se realiza uma análise preliminar, seguida de outra análise complementar dos referidos projetos. Oblak e Helm. Jr. (1980, p. 38) e Galesne, Fensterseifer e Lamb (1999, p. 268) apontam, no entanto, que é importante o uso das técnicas de análise financeira de projetos em uma fase preliminar, onde apenas os projetos aprovados nesta fase passem por uma análise final mais aprofundada. A XYZ utiliza as técnicas do valor presente líquido e da taxa interna de retorno, principalmente quando há necessidade de comprar máquinas e equipamentos e quando se precisa expandir a fábrica. O gerente geral da empresa XYZ informou que existe um patamar mínimo, em torno de R$ 10.000,00 (dez mil reais), para que se proceda à análise financeira de investimentos. Notou-se, contudo, certa informalidade, porque se constatou que o feeling é usado para a tomada de decisões quando o montante do investimento é menor que o patamar mencionado de R$ 10.000,00. Além disso, o fato de o gerente geral ter relatado que os critérios de análise financeira são utilizados quando os projetos de investimento possuem valores superiores a mais ou menos R$ 10.000,00 chama a atenção para a falta de rigidez na definição de tal valor. De acordo com Chadwell-Hatfield et al (1996/1997, p. 96), a teoria de finanças recomenda que todos os projetos de investimento sejam analisados formalmente. Porém, na prática, há várias companhias que não realizam tal análise em projetos de pequeno porte. Segundo Chadwell-Hatfield et al (1996/1997, p. 96), o fato de não se analisarem projetos de investimento de pequena monta pode acarretar um impacto significativo no valor da empresa. Isto porque, se somados, os vários pequenos projetos de investimento consomem uma porção significativa do orçamento de capital da organização. De acordo com Ryan e Ryan (2002), as técnicas do VPL e da TIR são muito usadas pelas 1.000 empresas listadas na revista Fortune, mesmo quando o montante do investimento não é muito elevado. Todavia, o Princípio da Materialidade oferece embasamento à decisão de não efetuar análise dos projetos cujos benefícios da informação obtida sejam inferiores aos custos inerentes à referida análise. Quanto à taxa de desconto utilizada, a XYZ faz uso do custo dos empréstimos para a empresa, conforme afirmou seu gerente geral. A XYZ não faz uso de uma taxa de desconto ajustada ao risco, apesar da importância, destacada por Gitman (2001, p. 320), já que a utilização de taxas de desconto ajustadas ao risco do projeto vai ao encontro do objetivo de maximizar o retorno do proprietário da empresa em cada projeto de investimento realizado. Contudo, o procedimento adotado pela XYZ vai ao encontro do resultado apurado pela pesquisa realizada por Block (1997), que apontou que a maior parte das pequenas empresas pesquisadas utiliza o custo de captação de empréstimos como o ponto de corte para a aceitação de projetos de investimento. Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 9, n. 38, p. 23 - 30, out./dez. 2007 O custo médio ponderado de capital não é considerado a taxa de desconto apropriada pelas empresas de pequeno porte, porque estas empresas têm dificuldade de estimar o custo de capital próprio da organização (Block, 1997, p. 296). Quanto às entradas de caixa operacionais, é interessante destacar a ocorrência de uma pequena subavaliação na análise do processo de aquisição do caminhão-tanque por parte da Cia. XYZ, já que a empresa trabalhou com um mês de quatro semanas, o que corresponde a um total de 28 dias. Contudo, esta diferença não foi considerada como significativa pela companhia. Durante a análise financeira de projetos, a XYZ faz uso de cenários, que envolvem as seguintes variáveis: o valor do investimento inicial e a taxa de desconto do fluxo de caixa. O período de tempo utilizado pela XYZ, ao se trabalhar com os critérios de análise de investimentos, é a vida econômica do projeto. Estabelecendo uma comparação entre a XYZ e as 11 empresas que responderam ao questionário, verifica-se que na maioria destas organizações a análise de projetos é realizada pela diretoria (45,5% das respostas). Este resultado coincide com o que acontece na Cia. XYZ, onde a referida análise fica a critério da cúpula da organização. O caso da Cia. XYZ ilustra que mesmo as empresas de pequeno porte já estão utilizando técnicas de orçamento de capital para a análise de seus projetos de investimento de longo prazo. Este fato é favorecido pelo acesso, mesmo que limitado, aos instrumentos eletrônicos necessários para tal análise, como, por exemplo, o microcomputador e a calculadora financeira. 6. Considerações Finais Com base nas respostas oriundas da entrevista, da análise documental e dos onze questionários, foi possível traçar um paralelo entre alguns dos principais pontos levantados por esta pesquisa sobre a realidade vivenciada pelas pequenas indústrias e o referencial teórico existente. Como se pode observar, no tocante às técnicas de orçamento de capital mais utilizadas pela Cia. XYZ e pelas empresas que responderam ao questionário, o valor presente líquido (VPL) e a taxa interna de retorno (TIR) se destacaram. Apesar de muitas pesquisas — entre elas as de Grablowsky e Burns (1980), Wacht (1989) e Ryan e Ryan (2002) — apontarem o critério do VPL como o conceitualmente mais sólido, há aqui certa surpresa, já que outros estudos — como os de Galesne, Fensterseifer e Lamb (1999) e de Graham e Harvey (2001) — apresentam a TIR como o método mais utilizado pelas empresas, enquanto nas empresas respondentes dos questionários tal técnica só apareceu em terceiro lugar. Identificou-se, neste trabalho, que a empresa XYZ não realiza uma análise preliminar, para, posteriormente, executar uma análise complementar de seus projetos de investimento. O mesmo acontece com 63,6% dos respondentes. Tal resultado vai de encontro ao apontado nos trabalhos de Oblak e Helm (1980) e Galesne, Fensterseifer e Lamb (1999), que destacam o uso de uma fase preliminar na análise de projetos. Verificou-se que a XYZ e algumas das empresas (27,3%) estabeleceram um patamar mínimo para utilização das técnicas de análise. Trata-se de um ponto controverso na bibliogra- 29 Pensar Contábil Marcio de Araújo Resende CRC-RJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Jose Ricardo Maia de Siqueira fia. Enquanto Chadwell-Hatfield et al (1996/1997) apontam a necessidade de que haja um processo de análise financeira para todos os projetos de investimento das empresas, Klammer e Walker (1984) indicam que muitas companhias não procedem a tal análise quando o valor financeiro do investimento inicial não ultrapassa determinado montante. Cabe ressaltar que o processo de analisar projetos gera um custo para a organização. Assim, a própria convenção da materialidade oferece respaldo para a determinação de um patamar mínimo para análise, ao lembrar ao contador a necessidade de ponderar benefícios e custos na elaboração de procedimentos com usos gerenciais. No tocante à taxa de desconto mais utilizada pela XYZ e pelas empresas analisadas, verificou-se que elas preferem usar o custo dos empréstimos. Apesar do uso de taxas de desconto ajustadas ao risco maximizarem o retorno do proprietário da empresa em cada um de seus projetos de investimentos (Gitman, 2001), verificou-se que tanto a Cia. XYZ quanto as empresas respondentes não fazem uso de taxa de risco ajustada ao projeto ou custo de capital ajustado ao projeto. Bodie e Merton (2002) corroboram a visão de Gitman (2001) ao apontar que o risco dos fluxos de caixa, em vez do risco dos instrumentos de financiamento, é aquele que é significativo no processo de orçamento de capital. Block (1997), no entanto, oferece um caminho para explicar tal fato, ao identificar a dificuldade das empresas de pequeno porte em definir seu custo de capital próprio. Se para estas organizações já é difícil definir um custo que reflita o próprio risco da empresa, mais complexo ainda é a determinação do custo relativo ao risco de uma fração desta mesma empresa. No que diz respeito ao setor responsável pela análise de projetos, tanto a XYZ quanto a maioria das companhias respondentes apontaram a diretoria. Da mesma forma, Grablowsky e Burns (1980) constataram que, em pequenas empresas, a questão financeira é normalmente assumida por uma pessoa pertencente à cúpula da organização. Há várias pesquisas que investigam o processo de análise de investimentos em grandes empresas, enquanto existe uma menor quantidade de pesquisas enfocando empresas de pequeno porte, o que reforça a relevância deste estudo. Assim sendo, o que se espera é proporcionar uma contribuição significativa para a expansão do conhecimento na área contábil em um segmento — das empresas de pequeno porte — onde, apesar de sua importância econômica, notadamente como gerador de postos de trabalho, se encontram as mais altas taxas de mortalidade organizacional. Bibliografia ARNOLD, Glen C., HATZOPOULOS Panos D. 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Embora já haja muitas pesquisas sobre esse assunto, cada uma delas tenta privilegiar outro aspecto no tocante à forma de divulgação destes elementos. O objetivo desse trabalho é analisar como as empresas brasileiras estão evidenciando seus ativos intangíveis, comparando-o com as normas brasileiras e internacionais de contabilidade. Palavras-chave: Ativos Intangíveis, Marcas, Capital Intelectual, P & D, Direitos Autorais, Ágio. Abstract Economic Globalization has rendered knowledge and technology to be important elements in portraying business assets. Currently, it is commonplace for stock value to obtain a higher appraisal than the one registered by their accounting statements. This difference has been attributed to intangible assets that in most cases are not recorded by normal accounting practices. On the other hand, accounting theory has yet to reach a consensus on the best way to measure and consider these intangible assets. Although many studies deal with this topic, each one tends to privilege some other aspect in showing these elements. The objective of this study is to analyze how Brazilian firms are taking into account their intangibles and compare them to Brazilian and international accounting norms. Keywords: Intangible assets, Marks, Intellectual Capital, Research and Development, Copyrights, Goodwill. Bárbara de Souza Galvão Rio de Janeiro – RJ Contadora da Globo Comunicação e Participações S/A [email protected] José Paulo Cosenza Rio de Janeiro – RJ Doutor em Contabilidade – Universidad de Zaragoza1 Mestre em Ciências Contábeis – UERJ2 Professor Assistente – FAF/UERJ Contador do BNDES [email protected] Introdução O novo contexto econômico, em que as empresas apresentam valor de mercado superior ao valor contábil, aliado ao advento da Deliberação CVM nº 488/05, que inclui o grupamento de intangíveis no Balanço Patrimonial, impulsionou os estudos sobre o tema ativos intangíveis no Brasil. No entanto, para discussão desse tema, o seguinte problema deve ser formulado: a forma como as empresas brasileiras estão evidenciando seus ativos intangíveis permite que elas ultrapassem obstáculos visando adaptar-se aos preceitos das normas internacionais emanadas do IASB, e com isso alcançar uma convergência das práticas contábeis brasileiras com os procedimentos contábeis internacionais? Tomando como diretriz esta consideração, este trabalho pretende estudar como são evidenciados os ativos intangíveis no Brasil, analisando sua natureza, classificação e principalmente as semelhanças e diferenças de tratamento contábil sob as perspectivas das várias normas vigentes e particularmente a IAS 38 Intangible Assets do IASB (International Accounting Standards Board). Com isso, espera-se alcançar uma melhor compreensão das dificuldades que a teoria contábil tem encontrado para reconhecer e mensurar Universidade de Zaragoza – Pedro Cerbuna 12, 50009 – Zaragoza – Espanha. UERJ – Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Cep 22.290-240 – Rio de Janeiro – RJ. 1 2 Artigo recebido em 28/09/2007 e aceito em 05/11/2007. Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 9, n. 38, p. 31 - 40, out./dez. 2007 31 Pensar Contábil Bárbara de Souza Galvão CRC-RJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ José Paulo Cosenza estes tipos de ativos, demonstrando os principais tratamentos contábeis adotados tanto nas normas brasileiras e como nas internacionais. Para corroborar o estudo, é testada, por meio de pesquisa empírica, a forma de evidenciação dos ativos intangíveis pelas empresas brasileiras tomando como base um estudo de caso da empresa Perdigão. O estudo permitirá concluir que essa empresa reconhece a importância de seus ativos intangíveis na geração de benefícios econômicos futuros, mas demonstra esses ativos em relatórios complementares às demonstrações contábeis, já que as normas brasileiras e internacionais de contabilidade não definem ainda claramente como reconhecer, mensurar e registrar os ativos intangíveis no balanço patrimonial, principalmente os ativos intangíveis gerados internamente. 1. Conceitos e Características dos Ativos Intangíveis Para compreender as definições de ativo intangível, tornase necessário primeiramente a construção de um referencial teórico acerca do que contabilmente se entende como ativo. Ao longo do tempo, vários conceitos foram atribuídos aos ativos por diversos autores, cada um privilegiando um ou outro aspecto ao conceituá-lo. Os principais atributos que caracterizam um ativo, observando-se os principais estudos dos autores da teoria da contabilidade, são: i) geração de uma expectativa de benefício econômico futuro resultado de uma transação ou evento passado; ii) existência de um direito específico ao benefício futuro ou potenciais serviços que devem favorecer exclusivamente uma empresa específica; iii) a receita do benefício futuro deverá ser provável. Ou seja, como um ativo se entende o recurso que está sob controle da entidade, como resultado de eventos passados, e cujos benefícios econômicos futuros representam expectativas de caixa para essa mesma entidade. Todavia, para o reconhecimento contábil dos ativos, há mais algumas condições que também precisam ser atendidas: i) o item deve corresponder à definição de ativo; ii) precisa ser relevante, ou seja, a informação deve ser capaz de fazer a diferença na tomada de decisão; iii) ser mensurável; iv) ter valor preciso. Hendricksen e Van Breda (1999, p. 286) reúnem essas características num único conceito, afirmando que os ativos são “potenciais fluxos de serviço ou direitos a benefícios futuros sob o controle de uma organização”. Essa definição é a mesma adotada pelo FASB (Financial Accounting Standards Board). Para Hendricksen e Van Breda (1999, p. 388), a definição e mensuração dos ativos considerados intangíveis é um dos pontos mais complexos na contabilidade, dadas as incertezas quanto à sua mensuração e à estimativa de suas vidas úteis. Neste trabalho, define-se ativo intangível como um ativo não monetário, identificável, sem substância física, mantido para uso na produção, ou suprimento de bens ou serviços, para ser arrendado a terceiros ou para fins administrativos. Para que um item seja identificado como um ativo intangível pelas normas internacionais, o IASB, em seu pronunciamento IAS 38, determina que, além da definição, é exigi- 32 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 9, n. 38, p. 31 - 40, out./dez. 2007 do que sejam prováveis os benefícios econômicos futuros gerados por esse ativo para a entidade, que o valor do ativo possa ser mensurado com certo grau de confiabilidade e que se tenha controle sobre ele. De acordo com Costa (2007), haverá controle de um ativo intangível quando a entidade detiver o poder de obter os futuros benefícios econômicos deste recurso e puder restringir o acesso de outro(s) a tais benefícios. Dessa forma, um aspecto a ser considerado é a existência de proteção legal, permitindo que os direitos de propriedade possam ser estabelecidos, gerando benefícios aos seus proprietários ou detentores de seus direitos. No entanto, Costa (2007) ressalta que, apesar de tal poder de posse advir geralmente de proteção legal com enforcement das cortes, a proteção legal não é uma condição necessária para a determinação do controle contábil. Um atributo importante do ativo intangível é que, diferentemente dos ativos tangíveis, eles são singulares. Conforme Kayo (2002, p. 1), esta singularidade é um importante elemento de diferenciação. O autor exemplifica demonstrando que a marca Coca-Cola é propriedade de apenas uma empresa, enquanto as máquinas que fabricam esse refrigerante podem ser compradas por qualquer outra. Uma característica estratégica dos ativos intangíveis é a não-rivalidade, que permite o consumo desse ativo por um agente, sem que a quantidade disponível para outros agentes seja afetada. Perez e Fama (2002, p. 4) destacam a importância desta característica no que concerne ao custo de oportunidade, já que os ativos físicos são sempre rivais, sendo necessária a escolha da alocação do ativo, em detrimento das demais opções. Santos et al (2007, p. 265) apontam como o conhecimento pode tornar-se uma fonte potencial de rendimentos crescentes pela característica da não-rivalidade, exemplificando o compartilhamento de conhecimentos individuais, que gera novos conhecimentos. Outra característica dos ativos intangíveis é a capacidade de escala. Tal característica, de acordo com Perez e Fama (2002, p. 4), aparece, principalmente, quando uma empresa decide aumentar seu volume de produção. Estes autores citam, como exemplo, uma indústria que já esteja operando com pleno emprego. No que concerne aos ativos tangíveis, será necessário o aumento de máquinas, equipamentos e, eventualmente, seu parque fabril. Porém seus ativos intangíveis poderão ser explorados indefinidamente. 2. Natureza e Exemplos de Ativos Intangíveis 2.1. Natureza Segundo Monsteiro e Coelho (2001, p. 7), a ciência contábil admite dois tipos de ativos intangíveis: os identificáveis e os não identificáveis. Os ativos tornam-se identificáveis quando estão associados a uma descrição clara e objetiva de sua natureza, classificação e critérios de mensuração. Neste tópico, relacionam-se os principais ativos intangíveis identificáveis e, também, um dos principais ativos intangíveis não identificável, o goodwill. 2.2. Marcas De acordo como o comitê de definições da American Marketing Association, a marca pode ser definida como “um Pensar Contábil CRC-RJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Considerações sobre a Evidenciação de Ativos Intangíveis no Contexto Brasileiro: Estudo de Caso da Perdigão S/A nome, termo, sinal símbolo ou desenho, ou uma combinação dos mesmos, que pretende identificar os bens e serviços de um vendedor ou grupo de vendedores e diferenciá-los daqueles dos concorrentes” (PINHO, 1996). Kotler (1992, p. 233) apresenta as três principais vantagens de estabelecer uma marca para um produto: i) identificação do produto, que facilita sua procura; ii) o registro e a patente da marca protegem as características peculiares do produto, não permitindo a imitação; iii) inserir uma conotação, como, por exemplo, de qualidade ou de reputação no mercado, para justificar a diferenciação do preço. Tais características permitem ao usuário do produto identificar suas características e qualidades. Hendricksen e Van Breda (1999, p. 399) reconhecem que a questão da avaliação das marcas ainda é controvertida. A prática é que os ativos intangíveis associados à marca só sejam reconhecidos se forem comprados de terceiros, não sendo aceitável a contabilização de marcas desenvolvidas internamente. Ou seja, pelos critérios contábeis vigentes, uma marca própria desenvolvida ou estruturada por uma empresa somente será reconhecida contabilmente no patrimônio no momento de sua venda para outra empresa. 2.3. Investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) Os investimentos em P&D são gastos realizados para gerar novos produtos, podendo até abranger as pesquisas de mercado que antecedem ao início da produção comercial. Esses custos costumam, no caso brasileiro, ser contabilizados no grupo Ativo Permanente, dentro do subgrupo Diferido. Já os custos para aperfeiçoar ou modificar produtos existentes com o objetivo de benefícios futuros devem ser lançados diretamente na Demonstração de Resultado do Exercício no grupo de despesas operacionais. Para ser classificado como ativo, o produto deve ainda, pelas normas brasileiras de contabilidade, apresentar viabilidade técnica, mercadológica e financeira. Caso contrário, deverá ser lançado diretamente na Demonstração de Resultado do Exercício, como uma despesa operacional. Segundo Niyama (2006, p. 58), esses gastos vêm comumente sendo tratados como despesa devido à dificuldade de uma vinculação objetiva com cada período futuro e à incerteza da viabilidade técnica e do retorno financeiro deles. Já a norma internacional (IAS 38), embora admita o reconhecimento de ativos intangíveis gerados internamente em função de P&D, faz, por sua vez, uma distinção entre a pesquisa e o desenvolvimento, dando tratamento diferenciado a cada um desses elementos. A pesquisa é definida como um processo anterior ao desenvolvimento. Os gastos com pesquisa devem ser tratados como despesa e reconhecidos contabilmente no período em que incorrerem, ou seja, nenhum ativo intangível resultante da fase de pesquisa poderá ser reconhecido na contabilidade. Já o ativo intangível resultante da fase de desenvolvimento poderá ser reconhecido na contabilidade como ativo se, e somente se, uma entidade puder atender a alguns critérios específicos. Niyama (2006, p. 56) comenta que para que os gastos com desenvolvimento possam ser capitalizados devem ser atendidas as seguintes condições: i) definição clara do produto Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 9, n. 38, p. 31 - 40, out./dez. 2007 ou processo; ii) os custos atribuíveis podem ser identificados separadamente e mensurados em bases confiáveis; iii) a característica técnica do produto ou processo pode ser demonstrada (ou identificada); iv) a empresa tem intenção de produzi-lo e disponibilizá-lo no mercado ou de utilizá-lo internamente; v) o produto ou processo tem mercado próprio ou se for utilizado apenas internamente, se a empresa tem condições de comprovar essa utilidade ou benefício; vi) existência de recursos para completar (terminar) o projeto (produto-processo). Quando a entidade não conseguir fazer uma distinção clara e objetiva entre a fase de pesquisa e a fase de desenvolvimento, os referidos gastos devem ser contabilizados como pesquisa, sofrendo um tratamento contábil mais conservador. 2.4. Direitos autorais A proteção ao direito autoral está prevista na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, em seu artigo 5º, incisos XXVII e XXVIII, alíneas “a” e “b”. Por ela, confere-se aos autores o direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodução de suas obras e assegura-se proteção às participações individuais em obras coletivas e à reprodução da imagem e voz humanas. Pelas normas norte-americanas, um direito autoral é garantido por toda a existência de seu criador, mais 50 anos contados a partir do falecimento do autor, dando ao seu possuidor, ou seus herdeiros, o direito exclusivo de reproduzir e vender uma arte ou trabalho publicado. As normas brasileiras de contabilidade tratam os custos incorridos na produção que resultam no surgimento dos direitos autorais no Ativo Circulante, no subgrupo de Estoques de Direitos, mas eles recebem um tratamento contábil diferente dos estoques de itens tangíveis, já que, quando esses direitos são comercializados, não têm sua baixa reconhecida integralmente, podendo ainda dar-se a possibilidade de novas comercializações, sendo reconhecida somente uma amortização parcial de seu custo. Por essa razão, Iudícibus, Martins e Gelbcke (2003, p. 135) propõem uma nova forma de classificação para esses ativos, com a criação de um grupo específico para distingui-los dos Estoques, que os autores chamaram de Ativos Especiais. Há casos em que os ativos especiais geram receitas pela venda e pelo uso, identificando-se ora com o imobilizado, ora com o diferido. Os filmes são citados como um exemplo clássico de ativo especial. A receita pode ser obtida mediante cessão de direito de exibição, sendo a propriedade mantida pela empresa que o produziu e podendo ser geradas, a qualquer momento, novas receitas. Se a integralidade dos direitos for vendida a terceiros, será chamada de venda final, similar à venda de qualquer outro estoque. Analisando as normas internacionais de contabilidade, verifica-se que não há um tratamento específico para os direitos autorais, apenas a abordagem do estoque de ativos intangíveis. O item 03 da IAS 38 prevê que, se um intangível é mantido para venda no curso normal dos negócios, ou seja, é um estoque, deve ser tratado de acordo com o IAS 2 e não conforme o IAS 38. O problema é que no IAS 2 não se contemplam de forma direta os estoques intangíveis, enquanto o IAS 38 continua a citar no item 09 os filmes cine- 33 Pensar Contábil Bárbara de Souza Galvão CRC-RJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ José Paulo Cosenza matográficos, que podem ser considerados um exemplo de estoque intangível. 2.5. Capital intelectual Segundo Antunes e Eliseu (2002, p. 41), a era atual, caracterizada pelo rápido avanço das tecnologias de produção, da informática e de telecomunicação, bem como por outras transformações que sugerem novas formas de percepção e interpretação da sociedade como um todo, produz benefícios intangíveis que agregam valor às empresas. Esse conjunto de benefícios intangíveis se denominou Capital Intelectual. O valor do capital intelectual fica mais bem evidenciado na aquisição de empresas quando o valor de mercado supera seu valor contábil. A mensuração do capital intelectual vem sendo apresentada pelas empresas em forma de Relatório de Capital Intelectual. A composição do capital intelectual levou Edvinsson e Malone (1998, p. 39) à conclusão de que o capital intelectual é um passivo e não um ativo, como comumente é considerado, já que é formado, normalmente, pelo conhecimento dos empregados. Dessa forma, o capital intelectual poderia ser considerado como um empréstimo que esses empregados estão fazendo à empresa. Para fazer uma analogia com a proposta de Edvinsson e Malone, é citado o caso dos jogadores de futebol. Seguindo a proposição de Edvinsson e Malone, os jogadores dos clubes de futebol seriam os empregados e o clube representaria a empresa, e, dessa forma, o talento do jogador seria um empréstimo feito à empresa pelos empregados, gerando a contabilização de um passivo. Contrariando a sugestão dos autores, Iudícibus, Martins e Gelbcke (2007, p. 231), afirmam que os direitos federativos, ou, coloquialmente, “passes dos jogadores”, representam o principal ativo de um clube de futebol. A classificação dos direitos federativos, que representam o vínculo desportivo do atleta com o clube, como ativo é ratificada pelo Conselho Federal de Contabilidade – CFC – através de sua Resolução nº 1.005/04, que determina que os custos com os atletas sejam registrados em conta específica do Ativo Imobilizado, para amortização do resultado do exercício pelo prazo contratual firmado. Portanto, pelas normas brasileiras de contabilidade, o capital intelectual é um ativo. 2.6. Goodwill Niyama (2006, p. 65) afirma que “o goodwill é a diferença entre o valor contábil das ações e o valor de mercado dos ativos líquidos adquiridos, ou ainda, o direito sobre lucros futuros esperados da companhia”. Porém, para a norma internacional (IFRS 3 – que trata do goodwill adquirido em uma business combination), nem toda a diferença pode ser considerada como goodwill. Deverá ser feita uma análise a fim de verificar se parte dessa diferença pode ser atribuída a um ativo identificável. O restante será designado como goodwill. Portanto, o valor do goodwill está vinculado a outros ativos intangíveis não identificáveis, o que o faz ser considerado como “o mais intangível de todos os intangíveis”. De acordo com Santos et al (2007, p. 205), há vários 34 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 9, n. 38, p. 31 - 40, out./dez. 2007 tratamentos contábeis adotados para o goodwill, mas a maioria dos países costuma contabilizá-lo como um ativo sujeito à amortização ou baixar seu valor diretamente contra o patrimônio líquido. No Brasil, o goodwill é capitalizado e amortizado conforme o período esperado de geração de benefícios futuros. Os autores afirmam que nos Estados Unidos, porém, a prática adotada é a da capitalização sem a posterior amortização, mas, anualmente, deve ser realizado um teste de impairment para verificar o grau de recuperação do valor do goodwill. Tanto a norma norte-americana como a norma internacional entendem que tais ativos não deveriam ser amortizados e que a empresa deveria aplicar a IAS 36 (Impairment of Assets) para avaliar se houve ou não perda por redução no valor recuperável do ativo. Esse teste de impairment deverá ser realizado anualmente ou toda vez que houver um indicador de que o ativo tenha sofrido impairment. Essa prática é sustentada pela teoria de que, sem suficiente evidência de que uma redução no seu valor está ocorrendo, a baixa do goodwill é arbitrária, já que o goodwill não tem uma existência individualizada e mensurável. 3. Reconhecimento, Mensuração e Tratamento Contábil As Normas Brasileiras de Contabilidade não admitem a mensuração e registro de itens como fundo de comércio, capital humano, goodwill, entre outros, quando não são adquiridos de terceiros independentes. Em se tratando de marcas, patentes e direitos autorais, ainda que desenvolvidos pela empresa, são registrados ao custo incorrido para o desenvolvimento, sob a condição de gerarem benefícios incrementais no futuro. No entanto, o pronunciamento IAS 38, do IASB, permite o reconhecimento dos ativos gerados internamente, desde que sejam prováveis os benefícios econômicos a ser gerados pelo ativo e que seu custo possa ser mensurado confiavelmente. Porém não define como a contabilização deve ser feita e admite a existência de dificuldades para identificar que intangíveis geram benefícios econômicos futuros esperados e para determinar fielmente o custo do ativo. Em palavras de Costa (2007), o reconhecimento dos ativos intangíveis gerados internamente é difícil, por causa da avaliação de seu potencial de geração de benefícios econômicos futuros e da mensuração de seu custo. No caso de uma empresa que adquire um ativo intangível de forma individualizada, o registro contábil é facilitado, já que o custo deste ativo intangível pode ser mensurado de forma razoável e confiável, principalmente quando a aquisição for realizada com dinheiro, ou através da entrega de outro bem. No Brasil, um ativo intangível adquirido separadamente de um negócio segue o mesmo tratamento adotado pelas normas internacionais, devendo ser contabilizado pelo valor do custo incorrido na operação. A Lei das Sociedades por Ações (6.404/76) dispõe que tais ativos deverão, de acordo com a sua natureza, devem ser classificados no Ativo Imobilizado ou Diferido (art. 179). De acordo com a IAS 38, o preço pago por um ativo intangível em separado representa a expectativa dos benefícios CRC-RJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Pensar Contábil Considerações sobre a Evidenciação de Ativos Intangíveis no Contexto Brasileiro: Estudo de Caso da Perdigão S/A econômicos futuros, satisfazendo o critério de reconhecimento; isto é, o custo do ativo intangível adquirido separadamente deve compreender o preço de aquisição, incluindo os impostos não recuperáveis, após dedução dos descontos comerciais e abatimentos. Compreende ainda quaisquer outros valores atribuídos diretamente ao custo de preparação do ativo para colocá-lo em funcionamento, incluindo serviços profissionais e legais. Quanto aos ativos intangíveis adquiridos como parte de uma combinação de negócios, de acordo com Iudícibus, Martins, Gelbcke (2007, p. 228), devem ser contabilizados separadamente do goodwill se sua mensuração puder ser feita de modo confiável no momento inicial de seu registro. Pelas normas brasileiras, a diferença entre o valor de mercado e o valor contábil de uma empresa numa combinação de negócios é denominada ágio ou deságio e, de acordo com a Instrução da CVM nº. 247/96, deve ser contabilizada conforme sua fundamentação econômica, ou seja: nas contas representativas que lhe deram origem, quando a fundamentação econômica do ágio for a diferença entre o valor de mercado e o contábil dos bens; em conta específica do ativo imobilizado (ágio), se decorrente de aquisição do direito de exploração, concessão ou permissão delegadas pelo Poder Público; em conta específica do ativo diferido (ágio) ou em conta específica de resultado de exercício futuro (deságio), quando corresponder à expectativa de resultado futuro. Para a IAS 38, se um ativo intangível for adquirido em uma business combination, o custo deste ativo intangível consiste em seu fair value na data de aquisição. De acordo com Costa (2007), o fair value deve refletir as expectativas do mercado sobre a probabilidade de que benefícios econômicos futuros subjacentes ao ativo fluirão para a entidade. Com isso, observa-se que o IASB também determina que os ativos intangíveis que possam ser mensurados confiavelmente sejam reconhecidos separadamente do goodwill, dando-se a mensuração desses ativos por meio de cotações de preço no mercado. Porém Costa (2007) chama a atenção para a necessidade de avaliar se o ativo intangível pode ou não ser separado. No caso em que não se possa separá-lo, a entidade dever avaliar se ele está relacionado a outro ativo intangível ou tangível. Neste caso, o adquirente reconhece o grupo de ativos como um único ativo separadamente do goodwill. O autor dá como exemplo o caso do título de uma revista e sua base de assinantes. Costa (2007) ressalta, ainda, que há duas situações em que o fair value não pode ser mensurado confiavelmente: i) quando o ativo não é separável; ou ii) quando é separável, mas não há histórico ou evidências sobre transações para itens similares, levando à conclusão de que a estimativa do fair value dependeria de variáveis que não são mensuráveis. Logo, fará parte do goodwill. Com muita probabilidade, o guidance do novo draft sobre fair value deverá ser seguido: a) cotação de mercado; b) preços recentes de transações similares; c) utilização de múltiplos; e d) fluxos de caixa descontados. A regra é: caso tais preços não estejam disponíveis, o valor justo dos ativos pode ser determinado pela transação semelhante mais recente, desde que não tenha havido uma alteração significativa na Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 9, n. 38, p. 31 - 40, out./dez. 2007 conjuntura econômica. Todavia, não existindo mercado, o valor será a quantia que a entidade teria de pagar na data da aquisição em uma transação sem favorecimentos, entre partes conhecedoras do assunto. Para isso, deve-se utilizar a melhor informação disponível e o resultado de transações mais recentes com ativos similares. O resíduo não identificável será contabilizado como goodwill. Segundo Schimidt & Santos (2002, p. 46), há diversos tratamentos para contabilização do goodwill, sendo que os mais adotados são: a classificação como ativo sujeito à amortização, conforme a vida útil do ativo, e a baixa diretamente contra o Patrimônio Líquido. Nos Estados Unidos, é permitida a capitalização sem a posterior amortização, porém anualmente deverá ser realizado o teste de recuperabilidade, conforme já comentado anteriormente. Diante da complexidade de avaliação dos ativos intangíveis, inúmeros modelos de avaliação foram propostos ao longo dos anos, enfatizando um ou outro aspecto. A forma mais simples de avaliar os ativos intangíveis, de forma geral, é pela diferença entre o valor de mercado de suas ações e o valor de seus ativos fixos registrados no balanço patrimonial. Analisando esse modelo, surgem algumas críticas: essa diferença pode ser atribuída a algum ativo fixo subavaliado; o mercado de ações é volátil, ou seja, o valor da empresa pode variar de um dia para o outro conforme outras variáveis que independem da gerência da empresa. Outro modelo de avaliação é o “Q” de Tobin. Esse modelo avalia se o custo de reposição do ativo intangível é maior do que o valor do ativo, caso em que a manutenção desse ativo é vantajosa para a empresa. Porém, se o custo de reposição for menor do que o valor do ativo, é provável que a empresa adquira novos ativos no mercado. Esse modelo é sugerido como avaliação do capital intelectual. Em relação ao goodwill, sua mensuração é tratada na literatura contábil como um item à parte dos demais ativos intangíveis, dada a sua natureza controvertida. De acordo com Cavalcante et al (2006, p. 23), os principais modelos propõem a mensuração do goodwill por meio de uma conta geral de avaliação. Conforme essa abordagem, o goodwill vai, ao longo do tempo, sendo substituído por ativos tangíveis e intangíveis identificáveis, até o momento em que ele perderá totalmente seu valor. Existem inúmeros métodos para avaliação de ativos intangíveis, cabendo citar: método de Lawrence R. Dicksee, método de New York, método de Hatfield, método do valor atual dos superlucros, método de custo de reposição ou custo corrente, método do valor econômico, método do valor de realização, método do excesso de valor econômico sobre o valor corrente, e método residual para avaliação de ativos intangíveis. Cabe ressaltar que os modelos mais recentes buscam uma avaliação dos ativos intangíveis de forma residual, ou seja, subtraindo-se do valor econômico da empresa os ativos intangíveis identificáveis. Esses métodos de avaliação apresentam diversas limitações, como a utilização do lucro líquido como base de mensuração em vez do fluxo de caixa e a falta de definição de critérios para determinação de taxas de avaliações dos ativos intangíveis identificáveis e dos custos de oportunidade. O modelo residual para avaliação de ativos intangíveis foi 35 Pensar Contábil Bárbara de Souza Galvão CRC-RJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ José Paulo Cosenza uma tentativa de reduzir essas limitações, na medida em que utiliza o fluxo de caixa como base de avaliação. 4. Vantagens Competitivas Atribuídas aos Ativos Intangíveis O cenário econômico atual tem evidenciado que os ativos intangíveis passaram a assumir grande importância na geração de riqueza para as empresas. Os fatores tradicionais de produção, como capital, terra e trabalho, já não representam uma fonte tão forte de vantagem competitiva para as empresas, como tradicionalmente acontecia. Os estudos sobre o tema apresentam os ativos intangíveis subdivididos em cinco grupos principais: ativos intangíveis relacionados a marketing, a clientes, à arte, ativos estruturais e ativos humanos. No grupo de ativos intangíveis relacionados a marketing, estão os principais ativos relacionados à imagem do produto, que pode ser a marca, a embalagem ou o site. Em geral, são elementos que distinguem um produto de outro. Esse grupo de ativos intangíveis é o que mais tem se destacado atualmente, sendo uma poderosa fonte de vantagem competitiva. Como exemplo, cita-se a aquisição da Kibon pela Unilever. Essa negociação mostra como a marca pode ser um fator diferencial na determinação do valor de uma empresa. A Unilever adquiriu a Kibon por US$ 930 milhões, sendo que os ativos da Kibon estavam contabilizados a 30% desse valor. Como a Kibon já é uma marca consagrada no mercado de sorvetes, a Unilever, apesar de ter capacidade para produzir e distribuir sorvetes com o mesmo padrão da Kibon, preferiu não correr o risco de não ser aceita em um mercado que já fora conquistado por outra empresa. Tornam-se evidentes, neste caso, os benefícios econômicos futuros que essa diferença entre o valor das ações e o valor contábil da Kibon irá gerar para a Unilever. Outro exemplo da importância do valor da marca foi a compra das marcas de margarina Claybon, Doriana e Delicata da Unilever pela Perdigão. A intenção da Perdigão é alcançar novos segmentos de mercado, mas para isso precisa de marcas fortes. O montante pago pela Perdigão cobriu o valor das marcas mais as máquinas para a produção das margarinas. O acordo entre a Perdigão e a Unilever prevê também a criação de uma joint venture entre as duas empresas para gerir as margarinas Becel e Becel ProActive. A Unilever licenciará o uso das marcas, que poderão ser usadas em outras linhas de produtos, e a Perdigão entrará com a estrutura de produção, vendas e distribuição. O objetivo da Unilever é obter um ganho expressivo de escala no segmento de margarinas, já que a malha logística da Perdigão cobre 98% do território brasileiro, uma área muito maior do que a atendida pela Unilever. Com essa cobertura, a empresa pretende elevar a penetração das margarinas Becel e Becel ProActive no mercado nacional. O grupo de ativos relacionados aos clientes não só contemplam as relações estabelecidas com os clientes, mas incluem as relações estabelecidas com investidores e fornecedores. Neste trabalho serão tratadas apenas as relações com os clientes propriamente ditos. De acordo com 36 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 9, n. 38, p. 31 - 40, out./dez. 2007 Cosenza e Kroetz (2006, p. 10), o relacionamento com os clientes deve incluir, ainda, o conceito de responsabilidade social corporativa, que pressupõe a participação da empresa na comunidade com ações de desenvolvimento social, preservação do meio ambiente e criação de condições de trabalho mais favoráveis. Esse conjunto de atitudes deve ter como objetivo o desenvolvimento sustentável tanto da empresa como da sociedade. Essa classe de ativos intangíveis pode ser considerada como complementar à classe de ativos relacionados a marketing, já que a carteira de clientes é construída a partir da consagração de uma marca. O referencial de uma marca pode ser construído com base no próprio tratamento dispensado aos clientes e em relação ao significado que o cliente atribui àquela marca. Dessa forma, as ações de desenvolvimento sustentável praticadas pela empresa exercem influências positivas sobre a imagem da empresa como um todo. O cliente se torna fiel a esse conjunto de atitudes atribuídas à empresa e não somente ao produto vendido ou serviço prestado. Essa é mais uma forma de explicar a aquisição da Kibon pela Unilever por um valor bem superior ao valor de seus ativos físicos. A fidelidade dos clientes à marca Kibon é notória, o que dificultaria a entrada triunfal de outra empresa no mercado de sorvetes, mesmo que essa nova marca apresentasse atributos implícitos positivos. Santos et al (2007, p. 275) conceituam os ativos relacionados à arte como “decorrentes da criação artística que origina os direitos autorais”, como peças teatrais, cinematográficas, livros, periódicos, composições, filmes, novelas e programas de televisão. Iudícibus, Martins e Gelbcke (2003, p. 135) tratam esses ativos com exclusividade como Ativos Especiais. A diferença entre esse grupo e os demais ativos é que a baixa do custo desses ativos, quando se dá a venda, não é integral, pois pode ainda existir a possibilidade de novas comercializações. É reconhecida apenas uma amortização parcial de seu custo. Como exemplo da geração de múltiplas receitas, cabe citar o desenho Shreck III. As aventuras do simpático ogro verde foram responsáveis pela arrecadação de US$ 122,9 milhões em bilheteria no seu primeiro final de semana de exibição nas salas de cinema norte-americanas. Esse ativo intangível é capaz de gerar receitas não só pela arrecadação nas bilheterias de cinema, mas também pelo licenciamento da marca. Os personagens do desenho foram reproduzidos em forma de bonecos que estão sendo vendidos em diversas lojas do mundo inteiro. O Mc Donald’s lançou uma linha de sanduíches, sobremesas e molhos com o nome do filme. Houve ainda a campanha do McLanche feliz: “Viva as Aventuras do Shreck III no Mc Donalds”, em que na compra de um McLanche feliz o cliente levava como brinde um dos personagens do filme. Essa campanha alavancou as vendas do McLanche feliz e foi um sucesso absoluto, superando todas as expectativas. Em razão da grande demanda, os estoques de bonecos se esgotaram antes do prazo previsto para o término da campanha, o que levou o Mc Donald’s a cadastrar os clientes interessados em obter os personagens do filme, para a produção Pensar Contábil CRC-RJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Considerações sobre a Evidenciação de Ativos Intangíveis no Contexto Brasileiro: Estudo de Caso da Perdigão S/A de um saldo extra de brinquedos. Haverá ainda a receita híbrida, como conseqüência da reprodução do filme em DVD e VHS, na qual a produtora recebe um valor fixo pelo licenciamento e um percentual pelas vendas. O grupo de ativos estruturais é definido por Cavalcanti et al (2001, p. 63) como a infra-estrutura que é necessária para que uma empresa funcione. Essa infra-estrutura inclui os sistemas administrativos, os conceitos, as rotinas, as marcas, as patentes e os programas de computador. São os ativos intangíveis de mensuração mais confiável, porque os benefícios econômicos futuros gerados por esses ativos estão, normalmente, protegidos por direitos legais ou contratuais. Segundo Antunes e Martins (2002, p. 45), a necessidade de patentear o desenvolvimento de novas tecnologias advém da própria mensuração do valor da empresa. O custo do desenvolvimento de uma nova tecnologia deve incluir o conhecimento da mão-de-obra empregada, o treinamento, o sistema de informações que viabilizou o trabalho em organizações globalizadas e o conseqüente investimento realizado em softwares. Todos esses valores intangíveis agregam valor à empresa. Atualmente, o valor da empresa está muito mais atrelado à administração de seus recursos intelectuais do que à coordenação física dos empregados que trabalham na produção. Os ativos humanos ou capitais humanos podem ser definidos como o capital intelectual, ou seja, um ativo intangível pertencente a um indivíduo, mas que é usado pela empresa para aumentar seus lucros. As características dos indivíduos comumente definidas como capitais intelectuais são: a capacidade de inovação, o conhecimento, a habilidade para resolver problemas e o julgamento de valor. Atualmente, as empresas estão implantando programas para identificar e gerenciar tais características em seus empregados. Quando um desses atributos é identificado, há treinamentos para potencializá-los, e, dessa forma, o empregado irá prosperar dentro da empresa. Quando ocorre o contrário, ou seja, se for diagnosticado que determinado empregado não possui as características necessárias para o desempenho da função, são oferecidos treinamentos específicos ou uma função compatível com suas habilidades. Outra questão a ser considerada é a determinação do valor da empresa para a concessão de financiamentos pelos bancos. De acordo com Fingerl e Garcez (2002, p. 2), os antigos sistemas de informação ainda em vigor penalizam as empresas que utilizam intensivamente seus ativos intangíveis. O custo de capital para estas empresas é muito caro, já que os sistemas de informação não consideram o valor dos ativos intangíveis. Diante desse novo cenário, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES – em parceria com o Centro de Referência em Inteligência Empresarial – CRIE – da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ – está reformulando a metodologia de avaliação de empresas do banco. O novo projeto prevê a incorporação dos ativos intangí- Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 9, n. 38, p. 31 - 40, out./dez. 2007 veis, como: governança, pesquisa tecnológica e de inovação, marketing, design, capital humano, capital de relacionamento e capital estratégico, na composição do valor real das empresas. De acordo com as informações disponíveis no portal do CRIE, a metodologia de avaliação do capital intangível amplia o modelo do rating financeiro, tradicionalmente utilizado para avaliação de projetos de financiamento, incorporando indicadores que levam em consideração: o setor, o segmento de atuação da empresa, o estágio de desenvolvimento de cada um deles e os capitais do conhecimento adequados a cada estágio do mercado. O relatório dos capitais intangíveis (CI) é um documento que deverá ser incorporado aos relatórios e demonstrativos anuais das empresas para melhorar a informação entre as empresas e seus investidores, financiadores e stakeholders. A criação da Área de Gestão do Conhecimento no BNDES também demonstrou a percepção da crescente relevância dos ativos intangíveis como fontes geradoras de recursos para as empresas. Essa área, de acordo com Fingerl e Garcez (2002, p. 3), tem como atribuição: i) elaborar um conjunto de iniciativas voltadas para a produção, classificação, utilização e compartilhamento do conhecimento; ii) coordenar, juntamente com a Área de Tecnologia da Informação, a implantação de um moderno sistema de gestão de clientes; iii) elaborar, em conjunto com as demais áreas do BNDES, novas métricas para avaliação de operações e de empresas que incluam ativos intangíveis, e formular novos instrumentos para o apoio às atividades baseadas nesses ativos. O BNDES, como principal fonte de recursos de longo prazo do Brasil, através desses projetos, reconhece que o valor contábil das empresas e a ênfase em bens reais como garantias para empréstimos estão cada vez mais obsoletos, perdendo espaço, e busca novas métricas que sejam capazes de avaliar os ativos intangíveis, que, atualmente, são preponderantes na determinação do valor e do risco observados por investidores e credores que atuam nos mercados financeiras e de capitais. 5. Estudo de Caso da Empresa Perdigão S/A 5.1. Introdução Este tópico tem como objetivo avaliar como o referencial teórico explorado nos tópicos anteriores é corroborado pela prática das empresas brasileiras. Neste sentido, para o entendimento do objetivo proposto para o estudo, examinou-se o caso concreto de uma empresa do setor de agroindústria, que se estendeu às informações corporativas disponibilizadas por ela na Bolsa de Valores de São Paulo – BOVESPA. Por se tratar de uma pesquisa descritiva, optou-se por conduzi-la sob um enfoque tanto quantitativo como qualitativo, tendo como base a metodologia de estudo de caso, a partir dos dados coletados do conjunto de demonstrações contábeis e relatórios da administração publicados pela Perdigão nos exercícios de 2003, 2004, 2005 e 2006. Cabe comentar que, dadas as limitações da amostra, não se permite que sejam derivadas hipóteses que possam generalizar os efeitos das variáveis pesquisadas. Conseqüentemente, o estudo de caso possibilitará a obtenção de 37 Pensar Contábil Bárbara de Souza Galvão CRC-RJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ José Paulo Cosenza algumas evidências e proporções que permitem gerar resultados sobre o tema apenas no âmbito da empresa objeto do estudo de caso. Fundada, em 1934, por imigrantes italianos, em Videira (SC), ao longo desses 72 anos a Perdigão ampliou consideravelmente a abrangência dos seus negócios, superando o status de companhia dedicada exclusivamente à produção de aves e suínos para se lançar em novas oportunidades de negócios, como os mercados de bovinos e de margarinas. Em 2006, seguindo sua estratégia de pulverização das atividades de produção, com a aquisição do controle acionário da Batávia S.A., dona da marca Batavo, ingressou na atividade de lácteos, ampliando ainda mais seu campo de atuação. Recentemente, a Perdigão comprou da Unilever por R$ 77 milhões o direito de uso das marcas das margarinas Doriana, Claybom e Delicata. Há ainda a previsão da criação de uma joint venture entre as duas empresas para gerir as margarinas Becel e Becel ProActive. A empresa registrou, em 2006, um faturamento de R$ 6,1 bilhões. Após o anúncio do acordo com a Unilever, as ações da Perdigão fecharam com alta de 1,42%, correspondendo à quinta maior variação do Ibovespa. A Perdigão mantém suas ações negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), na qual integra o Novo Mercado de Governança Corporativa e o Índice Bovespa (Ibovespa), e tem também suas ações negociadas na Bolsa de Nova York, nos Estados Unidos da América. 5.2. Análise dos resultados A Perdigão possui muitos ativos que podem ser classificados segundo os atributos que definem os ativos intangíveis. No entanto, devido à impossibilidade de evidenciar todos esses ativos no seu Balanço Patrimonial, a empresa opta por apresentá-los em seu Relatório Anual. Inicialmente, a Perdigão classifica como ativos intangíveis o capital não-mensurável que garante à empresa uma base de confiabilidade necessária que lhe permite crescer e expandir suas operações no Brasil e no exterior com vigor e sustentabilidade. Posteriormente, a empresa evidencia cada ativo intangível separadamente, comentando sua importância e avaliando os benefícios econômicos gerados por cada um desses ativos: marca, capital humano, ferramentas de gestão, conhecimento tecnológico, centros de serviço ao consumidor, política ambiental e reconhecimento por meio de títulos e premiações. A empresa considera a marca Perdigão como uma das mais valiosas do país, nomeando e qualificando mais de 2.500 itens, presentes em todo o território nacional e no exterior, que estão diretamente associados à referida marca. No relatório anual de 2003, consta que a Perdigão foi considerada uma das marcas mais valiosas do Brasil, avaliada em US$ 100 milhões, segundo estudo realizado pela Interbrand. Apesar da enorme capacidade da marca Perdigão para contribuir para a geração de benefícios econômicos futuros, observa-se que o valor econômico deste ativo intangível nem sequer é contabilizado como ativo diferido. Isso ocorre porque, no caso da Perdigão, nenhuma das marcas foi adquirida de terceiros e, por conseguinte, não podem ser 38 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 9, n. 38, p. 31 - 40, out./dez. 2007 registradas no seu Balanço Patrimonial, por imposição das normas brasileiras de contabilidade. O capital humano só começou a ser divulgado no relatório anual da Perdigão a partir do exercício social de 2005. A empresa define como capital humano a dedicação de seus mais de 39 mil funcionários, alinhados à visão, missão e princípios da empresa, por meio de ações intensivas de treinamento e de incentivos que geram oportunidades para o desenvolvimento individual e coletivo. A troca de experiências entre os funcionários é capaz de gerar benefícios econômicos para a empresa na medida em que esses funcionários utilizam essas experiências na realização de suas tarefas. Uma alternativa para mensurar essa troca de experiências seria atribuir o valor de um mercado de um curso relacionado à área de atuação desses funcionários. O desenvolvimento profissional desses empregados adquiridos pelo compartilhamento de experiências poderia ser comparado a uma palestra ou seminário e, dessa forma, ser mensurado. A política de gestão caracteriza-se pela busca incessante de melhoria contínua nos seus processos administrativos, estruturais e produtivos. As ferramentas de gestão são classificadas no grupo de ativos estruturais e representam uma das maiores vantagens competitivas de uma empresa. O desenvolvimento dessas ferramentas está sendo contabilizado no Ativo Diferido da Perdigão como gasto pré-operacional. O conhecimento tecnológico também compõe o grupo de ativos estruturais. Com o objetivo de manter a empresa atualizada, a Perdigão mantém Centros de Tecnologia de Produtos, onde são produzidos e testados seus processos e produtos e feitas as análises de contaminação microbiológicas. O compartilhamento de know-how é feito mediante parcerias com instituições nacionais e internacionais. Foi concluído, com sucesso, o programa de nivelamento da capacitação técnica de 35 funcionários do setor de desenvolvimento de produtos, resultado de uma parceria com o Ital (Instituto Tecnológico de Alimentos de Campinas), da Unicamp. A análise das Demonstrações Contábeis da Perdigão não permitiu nenhuma conclusão sobre o patenteamento dessas tecnologias, nem sobre a adoção de algum critério contábil de registro e mensuração desses gastos. Quanto ao relacionamento com os clientes, a Perdigão mantém canais de contato permanentes com os consumidores, o que permite uma ampliação significativa da divulgação dos seus produtos para o seu público-alvo. Uma cozinha experimental é mantida pela empresa para oferecer treinamentos constantes às equipes do SAC (Serviço de Atendimento ao Consumidor), e o Centro de Culinária oferece cursos para crianças e adultos. O bom relacionamento com os clientes também representa uma grande vantagem competitiva para as empresas. O SAC da Perdigão permite que a empresa identifique as principais dúvidas, reclamações e sugestões de seus clientes, contribuindo para a melhoria contínua de seus produtos, mas o registro desse ativo intangível não foi identificado no Balanço Patrimonial da Perdigão. A empresa acredita que tem um papel importante na disseminação de uma cultura ambiental não-predatória, capaz de garantir não só a sustentabilidade dos seus negócios, mas também a qualidade de vida no planeta. Consideran- CRC-RJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Pensar Contábil Considerações sobre a Evidenciação de Ativos Intangíveis no Contexto Brasileiro: Estudo de Caso da Perdigão S/A do que, atualmente, a questão ambiental vem sendo um tema muito discutido mundialmente, a preocupação com os impactos ambientais que as atividades das grandes corporações estão causando ao planeta é crescente. Com isso, a imagem das empresas está cada vez mais atrelada ao seu relacionamento com o meio ambiente e a sociedade onde está localizada. Dessa forma, as políticas ambientais divulgadas e, principalmente, praticadas pelas empresas influenciam na forma como os clientes e os investidores avaliam essas empresas. A Perdigão também apresenta um conjunto de prêmios e destaques conquistados em decorrência de sua forma de atuação no mercado. Entre os principais prêmios recebidos pela Perdigão, o de Melhor Relatório Anual pode ser considerado um importante ativo intangível da empresa, simbolizando a transparência dessa demonstração, o que pode configurar um marketing gratuito para seus investidores. Outro importante destaque é o de Excelência pelo Relacionamento com os Clientes, que retrata de forma positiva como a empresa se relaciona com seus clientes. A Perdigão também detém prêmios importantes na área de meio ambiente e de responsabilidade social, que contribuem para a imagem positiva da empresa perante seus clientes, investidores e a sociedade em geral. Quanto ao saldo do Diferido das demonstrações de 2003 a 2006, sua composição registra gastos com implantação de sistemas de gestão integrada, ágio na aquisição do Frigorífico Batávia, gastos pré-operacionais na unidade de Rio Verde – GO, projetos de melhorias nos processos administrativos, pré-operacionais decorrentes da implantação do Centro de Serviços Compartilhado (CSP) e desenvolvimento do sistema de Atendimento Total Perdigão (ATP). Os resultados da operação da Batávia foram incluídos nas demonstrações contábeis da empresa desde junho de 2006. O ágio na aquisição da Batávia está registrado em 2006 no grupo diferido, como expectativa de rentabilidade futura, bem como os gastos pré-operacionais, os com desenvolvimento de sistemas e métodos e os com reorganização. A Perdigão registra em seu Ativo Diferido exatamente o que é permitido pelas normas brasileiras de contabilidade. Quanto a algumas despesas em que é facultada à empresa capitalizá-las ou lançar diretamente como despesa na Demonstração de Resultado do Exercício, como o desenvolvimento de algumas ferramentas de gestão e de adequação de processos produtivos, a análise do Balanço Patrimonial da Perdigão permite que se conclua que esses gastos estão sendo lançados como despesa na Demonstração de Resultado do Exercício, talvez pela impossibilidade de vincular tais gastos com o período de geração de benefício econômico, ou ainda pela incerteza de geração desses benefícios. Conclusão O novo cenário econômico, em que a tecnologia e o conhecimento são os elementos mais importantes de uma organização, apresenta para a ciência contábil novos desafios. O principal deles é mensurar esses elementos, que não possuem existência física, mas são responsáveis pela diferença entre o valor de mercado e o valor contábil das empresas: os ativos intangíveis. Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 9, n. 38, p. 31 - 40, out./dez. 2007 Os ativos intangíveis apresentam as características inerentes a todo o ativo, mas possuem outros atributos que lhes são peculiares, como a singularidade, a não-rivalidade e a capacidade de escala. Essas características atribuídas aos ativos intangíveis fornecem às empresas que os detêm inúmeras vantagens competitivas, como o reconhecimento da marca, a difusão do conhecimento, a fidelidade dos clientes e a múltipla geração de receitas dos ativos relacionados à arte e à tecnologia. Os benefícios econômicos gerados pelos ativos intangíveis já são reconhecidos até na concessão de financiamento pelo BNDES. O banco se associou ao CRIE da UFRJ para desenvolver um projeto que objetiva criar formas de avaliar os ativos intangíveis das empresas, para que estes possam representar garantias para a obtenção de empréstimos, entendendo que o valor das empresas não pode ser atribuído somente aos seus ativos fixos. A potencialidade de geração de benefício econômico dos ativos intangíveis já está consagrada, mas o reconhecimento, a mensuração e a contabilização desses elementos ainda é objeto de estudo da ciência contábil, especialmente no Brasil. Tanto as normas brasileiras de contabilidade quanto as internacionais permitem o reconhecimento e a contabilização dos ativos intangíveis quando são adquiridos de terceiros independentes, mas não definem os casos em que esses ativos são produzidos pela própria empresa. Diante desse impasse, as empresas estão demonstrando seus bens intangíveis em relatórios complementares às demonstrações contábeis tradicionais. A empresa Perdigão, objeto de estudo desse trabalho, é um exemplo. Com uma marca consagrada no mercado de congelados de modo geral, a Perdigão não apresenta, em seu balanço patrimonial, o valor de sua marca, avaliada em U$ 100 milhões, de acordo com pesquisa da empresa Interbrand. Isso se deve ao fato de as normas brasileiras e internacionais de contabilidade só permitirem a contabilização das marcas quando adquiridas de terceiros independentes. Em 2007, a Perdigão adquiriu da Unilever o direito de uso das marcas de margarinas Claybon, Doriana e Delicata. No Balanço Patrimonial da Perdigão referente ao exercício social de 2007, é razoável que o valor de aquisição dessas marcas esteja registrado como um ativo intangível. Há também outros ativos intangíveis da Perdigão que não estão registrados em suas demonstrações contábeis, sendo apresentados no Relatório Anual da empresa. Entre eles, estão: o capital intelectual, as ferramentas de gestão, o conhecimento tecnológico, o relacionamento com os clientes, a política ambiental e os prêmios pela atuação no mercado. Concluiu-se que, diante da falta de normas contábeis que regulamentem a inclusão dos principais ativos intangíveis gerados internamente pelas empresas no Balanço Patrimonial, as empresas encontraram, como forma alternativa, apresentá-los no relatório anual, sem atribuir-lhes valores reais. Como uma proposta para a apresentação dos ativos intangíveis nas demonstrações contábeis, sugere-se mensurá-los por meio de uma relação entre os benefícios eco- 39 Pensar Contábil Bárbara de Souza Galvão CRC-RJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ José Paulo Cosenza nômicos esperados e o período de vida útil desses ativos intangíveis, realizando-se anualmente o impairment test. Para a contabilização, propõe-se um lançamento a débito de ativos intangíveis, de acordo com cada subgrupo, enquanto para o crédito seria criado um grupo denominado Patrimônio Intangível. Dessa forma, objetivando o desenvolvimento de outros trabalhos na mesma linha de pesquisa, recomenda-se que sejam efetuados estudos sobre empresas brasileiras visando buscar formas de reconhecimento, mensuração e contabilização dos ativos intangíveis, segundo os preceitos gerais emanados da norma IAS 38. Bibliografia ANTUNES, Maria Thereza Pompa; MARTINS, Eliseu. Capital Intelectual: verdades e mitos. Revista Contabilidade e Finanças da USP, n. 29, pp. 41-54, mai/ago 2002. CAVALCANTE, Paulo Roberto Nóbrega; NETO, Cícero Caldas; ANDRADE, Geraldo Magela de. Capital intelectual e goodwill: ativos intangíveis de difícil mensuração. Revista Pensar, v. 8, n. 33, pp. 20-25, julho-setembro 2006. CARDOSO, Ricardo Lopes; SZUSTER, Natan. Uma contribuição ao aprimoramento da informação contábil no tocante à mensuração do resultado contábil da produtora cinematográfica. Revista Contabilidade e Finanças da USP, n. 32, pp.111-120, maio-agosto 2003. CFC/IBRACON. 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A evidenciação da informação contábil com relação à tributação no comércio eletrônico: um estudo de caso IX-36 29 A implantação de um Sistema de Gestão de Crédito (SGC) em uma empresa do setor agroindustrial IX-36 20 A importância da capacitação do contabilista para o uso de novas tecnologias de informação IX-35 11 IX-36 14 IX-35 5 IX-38 14 Análise de geração de valor através da gestão por atividades: um estudo de caso IX-38 5 Análise de restrições produtivas por meio do custeio baseado em atividades e da programação dinâmica IX-37 28 IX-38 23 Atuação do profissional da contabilidade na auditoria ambiental IX-37 12 Capital intelectual e tomada de decisão: uma estreita relação IX-37 19 Considerações sobre a evidenciação de ativos intangíveis no contexto brasileiro: estudo de caso da Perdigão S/A IX-38 31 IX-36 42 Informação meio ambiental para os stakeholders diante da concepção do Balanced Scorecard IX-35 35 Medidas de avaliação de desempenho para planejamento e controle IX-35 20 O processo de privatização dos bancos estaduais e o proes IX-37 36 Regulamentação das seguradoras brasileiras — a proteção dos beneficiários IX-35 40 Solução dual para a determinação dos preços de transferência: um estudo para o mercado automobilístico IX-37 5 IX-36 35 Uma contribuição para a evidenciação do ativo intangível — atletas — dos clubes de futebol IX-36 5 Utilização do modelo ISAR/UNCTAD: uma análise comparativa IX-35 27 A importância do capital intelectual nas organizações e os desafios da contabilidade para demonstrar a criação de valor de natureza intangível A qualidade da informação de custo considerando-se diferentes necessidades e diferentes métodos de custeio Análise da utilização dos indicadores essenciais da Global Reporting Initiative nos relatórios sociais de empresas latino-americanas As indústrias de pequeno porte e o orçamento de capital: um estudo sobre análise de investimentos na Baixada Fluminense Gestão da diversidade: uma gestão necessária para estimular a inovação e aumentar a competitividade das empresas de contabilidade e auditoria Treinamento em organizações contábeis: um elemento estratégico para valorização profissional e melhoria dos serviços Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 9, n. 38, p. 41 - 48, out./dez. 2007 41 Pensar Contábil CRC-RJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ ÍNDICE DE AUTORES vol./nº pág. IX-37 12 IX-36 14 IX-36 5 IX-36 20 IX-37 5 IX-36 29 IX-37 12 IX-37 12 IX-38 14 A importância da capacitação de contabilistas para o uso de novas tecnologias de informação IX-35 11 Considerações sobre a evidenciação de ativos intangíveis no contexto brasileiro: estudo de caso da Perdigão S/A IX-38 31 IX-36 42 IX-36 42 IX-36 20 Amaral, Sergio Pinto Atuação do profissional da contabilidade na auditoria ambiental Barros, Luana Paula de Souza A importância do capital intelectual nas organizações e os desafios da contabilidade para demonstrar a criação de valor de natureza intangível Bastos, Paulo Sérgio Siqueira Uma contribuição para a evidenciação do ativo intangível — atletas — dos clubes de futebol Bellório, Michelle Zacharias A implantação de um sistema de gestão de crédito (SGC) em uma empresa do setor agroindustrial Bufoni, André Luiz Solução dual para a determinação dos preços de transferência: um estudo para o mercado automobilístico Campagnac, Luiz Antonio A evidenciação da informação contábil com relação à tributação no comércio eletrônico: um estudo de caso Cardoso, João Antonio da Silva Atuação do profissional da contabilidade na auditoria ambiental Cardoso, Munique Maria da Silva Atuação do profissional da contabilidade na auditoria ambiental Carvalho, Feranda de Medeiros Análise da utilização dos indicadores essenciais da Global Reporting Initiative nos relatórios sociais de empresas latino-americanas Cosenza, José Paulo Deiro, Ricardo M. Gestão da diversidade: uma gestão necessária para estimular a inovação e aumentar a competitividade das empresas de contabilidade e auditoria Farias Filho, José Rodrigues de Gestão da diversidade: uma gestão necessária para estimular a inovação e aumentar a competitividade das empresas de contabilidade e auditoria Favato, Verônica A implantação de um Sistema de Gestão de Crédito (SGC) em uma empresa do setor agroindustrial 42 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 9, n. 38, p. 41 - 48, out./dez. 2007 CRC-RJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Pensar Contábil Ferreira, Aracéli Cristina de Sousa Utilização de modelo ISAR/UNCTAD: uma análise comparativa Fonseca, Ana Carolina P. D. Capital intelectual e tomada de decisão: uma estreita relação Freire, Roseane Patrícia de Araújo Silva Informação meio ambiental para os stakeholders diante da concepção do Balanced Scorecard IX-35 27 IX-37 19 IX-35 35 IX-38 31 IX-35 5 IX-36 35 IX-36 29 IX-35 11 IX-35 27 IX-36 42 IX-36 5 IX-37 28 IX-38 23 IX-35 40 IX-36 20 Galvão, Bárbara de Souza Considerações sobre a evidenciação de ativos intangíveis no contexto brasileiro: estudo de caso da Perdigão S/A Gonçalves, Rosana Carmen de Meiroz Grillo A qualidade da informação de custo considerando-se diferentes necessidades e diferentes métodos de custeio Jesus, Manoel Severino de. Treinamento em organizações contábeis: um elemento estratégico para valorização profissional e melhoria dos serviços Juvenal, Denise Silva Ferreira A evidenciação da informação contábil com relação à tributação no comércio eletrônico: um estudo de caso Laurencel, Luiz da Costa A importância da capacitação de contabilistas para o uso de novas tecnologias de informação Muniz, Natiara Penalva Utilização de modelo ISAR/UNCTAD: uma análise comparativa Oliveira, Ualison R. Gestão da diversidade: uma gestão necessária para estimular a inovação e aumentar a competitividade das empresas de contabilidade e auditoria Pereira, Roberto Miguel Uma contribuição para a evidenciação do ativo intangível — atletas — dos clubes de futebol Raupp, Fabiano Maury Análise de restrições produtivas por meio do custeio baseado em atividades e da programação dinâmica Resende, Marcio de Araújo As indústrias de pequeno porte e o orçamento de capital: um estudo sobre análise de investimentos na Baixada Fluminense Revoredo, Márcia Maria Oliveira Regulamentação das seguradoras brasileiras — a proteção dos beneficiários Ribeiro, Kárem Cristina de Souza A implantação de um sistema de gestão de crédito (SGC) em uma empresa do setor agroindustrial Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v.8, n. 31, p. 5 - 11, fev./mar. 2006 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 9, n. 38, p. 41 - 48, out./dez. 2007 43 Pensar Contábil CRC-RJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Rogers, Pablo IX-36 20 IX-35 20 IX-35 5 IX-37 19 IX-35 35 IX-38 5 IX-38 14 IX-38 23 IX-35 40 Uma contribuição para a evidenciação do ativo intangível — atletas — dos clubes de futebol IX-36 5 Utilização de modelo ISAR/UNCTAD: uma análise comparativa IX-35 27 IX-37 36 IX-38 5 A implantação de um sistema de gestão de crédito (SGC) em uma empresa do setor agroindustrial Silva Janaína Senra Medidas de avaliação de desempenho para planejamento e controle Silva, Adriana Cristina da A qualidade da informação de custo considerando-se diferentes necessidades e diferentes métodos de custeio Silva, Anderson Soares Capital intelectual e tomada de decisão: uma estreita relação Silva, Fabiana de Cássia de Araújo Informação meio ambiental para os stakeholders diante da concepção do Balanced Scorecard Silva, Raiumundo Nonato Sousa da Análise de geração de valor através da gestão por atividades: um estudo de caso Siqueira, Jose Ricardo Maia de Análise da utilização dos indicadores essenciais da Global Reporting Initiative nos relatórios sociais de empresas latino-americanas As indústrias de pequeno porte e o orçamento de capital: um estudo sobre análise de investimentos na Baixada Fluminense Tostes, Fernando Pereira Regulamentação das seguradoras brasileiras — a proteção dos beneficiários Vieira, Sergio Arnor O processo de privatização dos bancos estaduais e o Proes Vieira, Tiago de Amorim Bueno Análise de geração de valor através da gestão por atividades: um estudo de caso ÍNDICE DE ASSUNTO vol./nº pág. IX-38 31 IX-36 20 ÁGIO Considerações sobre a evidenciação de ativos intangíveis no contexto brasileiro: estudo de caso da Perdigão S/A AGROINDÚSTRIAS A implantação de um Sistema de Gestão de Crédito (SGC) em uma empresa do setor agroindustrial 44 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 9, n. 38, p. 41 - 48, out./dez. 2007 CRC-RJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Pensar Contábil ANÁLISE DE INVESTIMENTO As indústrias de pequeno porte e o orçamento de capital: um estudo IX-38 23 IX-37 28 IX-36 5 IX-36 14 IX-38 31 IX-37 12 IX-37 12 IX-35 20 IX-35 35 IX-35 11 IX-36 14 IX-37 19 IX-38 31 IX-36 14 IX-35 27 IX-37 5 sobre análise de investimentos na Baixada Fluminense ANÁLISE DE RESTRIÇÕES Análise de restrições produtivas por meio do custeio baseado em atividades e da programação dinâmica ATIVIDADES DESPORTIVAS Uma contribuição para a evidenciação do ativo intangível — atletas — dos clubes de futebol ATIVOS INTANGÍVEIS A importância do capital intelectual nas organizações e os desafios da contabilidade para demonstrar a criação de valor de natureza intangível Considerações sobre a evidenciação de ativos intangíveis no contexto brasileiro: estudo de caso da Perdigão S/A Atuação do profissional da contabilidade na auditoria ambiental AUDITORIA AMBIENTAL Atuação do profissional da contabilidade na auditoria ambiental AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO Medidas de avaliação de desempenho para planejamento e controle BALANCED SCORECARD Informação meio ambiental para os stakeholders diante da concepção do Balanced Scorecard CAPACITAÇÃO PROFISSIONAL A importância da capacitação do contabilista para o uso de novas tecnologias de informação CAPITAL INTELECTUAL A importância do capital intelectual nas organizações e os desafios da contabilidade para demonstrar a criação de valor de natureza intangível Capital intelectual e tomada de decisão: uma estreita relação Considerações sobre a evidenciação de ativos intangíveis no contexto brasileiro: estudo de caso da Perdigão S/A CONTABILIDADE A importância do capital intelectual nas organizações e os desafios da contabilidade para demonstrar a criação de valor de natureza intangível CONTABILIDADE AMBIENTAL Utilização do modelo ISAR/ UNCTAD: uma análise comparativa CONTROLE GERENCIAL Solução dual para a determinação dos preços de transferência: um estudo para o mercado automobilístico Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 9, n. 38, p. 41 - 48, out./dez. 2007 45 Pensar Contábil CRC-RJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ CUSTEIO BASEADO EM ATIVIDADES Análise de restrições produtivas por meio do custeio baseado em atividades e da programação dinâmica IX-37 28 Análise de geração de valor através da gestão por atividades: um estudo de caso IX-38 5 IX-38 23 IX-36 5 IX-38 31 IX-38 14 IX-36 5 IX-36 29 IX-36 20 IX-36 42 IX-36 35 IX-38 14 A evidenciação da informação contábil com relação á tributação no comércio eletrônico: um estudo de caso IX-36 29 Informação meio ambiental para os stakeholders diante da concepção do Balanced Scorecard IX-35 35 IX-37 36 IX-35 27 CUSTO DE CAPITAL As indústrias de pequeno porte e o orçamento de capital: um estudo sobre análise de investimentos na Baixada Fluminense DEMOSTRAÇÕES CONTÁBEIS Uma contribuição para a evidenciação do ativo intangível — atletas — dos clubes de futebol DIREITOS AUTORAIS Considerações sobre a evidenciação de ativos intangíveis no contexto brasileiro: estudo de caso da Perdigão S/A EMPRESAS LATINO-AMERICANAS Análise da utilização dos indicadores essenciais da Global Reporting IniTiative nos relatórios sociais de empresas latino-americanas ENTIDADES DESPORTIVAS Uma contribuição para a evidenciação do ativo intangível — atletas — dos clubes de futebol EVIDENCIAÇÃO A evidenciação da informação contábil com relação à tributação no comércio eletrônico: um estudo de caso GESTÃO DE CRÉDITO A implantação de um Sistema de Gestão de Crédito (SGC) em uma empresa do setor agroindustrial GESTÃO DE DIVERSIDADE Gestão da diversidade: uma gestão necessária para estimular a inovação e aumentar a competitividade das empresas de contabilidade e auditoria GESTÃO DE PESSOAS Treinamento em organizações contábeis: um elemento estratégico para valorização profissional e melhoria dos serviços GLOBAL REPORTING INITIATIVE Análise da utilização dos indicadores essenciais da Global Reporting Iniciative nos relatórios sociais de empresas latino-americanas INFORMAÇÃO CONTÁBIL INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS O processo de privatização dos bancos estaduais e o Proes INVESTIMENTO AMBIENTAL Utilização do modelo ISAR/ UNCTAD: uma análise comparativa 46 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 9, n. 38, p. 41 - 48, out./dez. 2007 CRC-RJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Pensar Contábil MARCAS Considerações sobre a evidenciação de ativos intangíveis no contexto brasileiro: estudo de caso da Perdigão S/A Medidas de avaliação de desempenho para planejamento e controle IX-38 31 IX-35 20 IX-37 12 IX-36 14 IX-35 5 IX-38 23 IX-36 35 IX-35 27 IX-37 5 IX-37 36 IX-37 36 IX-37 28 IX-38 14 IX-37 12 IX-35 40 MEIO AMBIENTE Atuação do profissional da contabilidade na auditoria ambiental MENSURAÇÃO A importância do capital intelectual nas organizações e os desafios da contabilidade para demonstrar a criação de valor de natureza intangível MÉTODO DE CUSTEIO A qualidade da informação de custo considerando-se diferentes necessidades e diferentes métodos de custeio ORÇAMENTO DE CAPITAL As indústrias de pequeno porte e o orçamento de capital: um estudo sobre análise de investimentos na baixada fluminense ORGANIZAÇÕES CONTÁBEIS Treinamento em organizações contábeis: um elemento estratégico para valorização profissional e melhoria dos serviços PASSIVO AMBIENTAL Utilização do modelo ISAR/ UNCTAD: uma análise comparativa PREÇOS DE TRASFERÊNCIA Solução dual para a determinação dos preços de transferência: um estudo para o mercado automobilístico PRIVATIZAÇÃO O processo de privatização dos bancos estaduais e o Proes PROES O processo de privatização dos bancos estaduais e o Proes PROGRAMAÇÃO DINÂMICA Análise de restrições produtivas por meio do custeio baseado em atividades e da programação dinâmica RELATORIOS SOCIAIS Análise da utilização dos indicadores essenciais da Global Reporting Initiative nos relatórios sociais de empresas latino-americanas RESPONSABILIDADE AMBIENTAL Atuação do profissional da contabilidade na auditoria ambiental SEGURADO Regulamentação das seguradoras brasileiras — a proteção dos beneficiários Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 9, n. 38, p. 41 - 48, out./dez. 2007 47 Pensar Contábil CRC-RJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ SEGURADORA Regulamentação das seguradoras brasileiras — a proteção dos beneficiários IX-35 40 IX-35 40 IX-36 35 IX-38 5 IX-35 5 IX-35 11 IX-35 20 IX-37 5 IX-35 11 Capital intelectual e tomada de decisão: uma estreita relação IX-37 19 Uma contribuição para a evidenciação do ativo intangível — atletas — dos clubes de futebol IX-36 5 IX-38 5 SEGURO Regulamentação das seguradoras brasileiras — a proteção dos beneficiários SERVIÇOS PROFISSIONAIS Treinamento em organizações contábeis: um elemento estratégico para valorização profissional e melhoria dos serviços SISTEMA DE CUSTEIO Análise de geração de valor através da gestão por atividades: um estudo de caso SISTEMA DE CUSTO A qualidade da informação de custo considerando-se diferentes necessidades e diferentes métodos de custeio SISTEMAS DE INFORMAÇÃO CONTÁBIL A importância da capacitação do contabilista para o uso de novas tecnologias de informação SOCIEDADE DO CONHECIMENTO Medidas de avaliação de desempenho para planejamento e controle SOLUÇÃO DUAL Solução dual para a determinação dos preços de transferência: um estudo para o mercado automobilístico TECNOLOGIA DE INFORMAÇÃO A importância da capacitação do contabilista para o uso de novas tenologias de informação TOMADA DE DECISÃO VALOR ECONÔMICO AGREGADO Análise de geração de valor através da gestão por atividades: um estudo de caso 48 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 9, n. 38, p. 41 - 48, out./dez. 2007 PENSAR CONTÁBIL Assinatura anual (04 edições) - Condição: 1 - ASSINATURA 2 - PEDIDO DE RENOVAÇÃO 3 - ALTERAÇÃO DE DADOS Preço da assinatura R$ 16,00 DESEJO RECEBER A PARTIR DA PRÓXIMA EDIÇÃO COMPLEMENTO DO NOME NOME COMPLETO PESSOA FÍSICA SEXO ESTADOCIVIL DATA DE NASCIMENTO NATURALIDADE NACIONALIDADE CATEGORIA TÉC. CONTABILIDADE CONTADOR REGISTRO NO CRC Nº ESTUDANTE IDENTIDADE Nº ÓRGÃO EMISSOR OUTROS UF CPF RAZÃO SOCIAL PESSOA JURÍDICA CONTATO CATEGORIA INSTIT. DE ENSINO ESCRIT. CONTÁBIL CNPJ EMPRESA INSCRIÇÃO MUNICIPAL OUTROS INSCRIÇÃO ESTADUAL ENDEREÇO PARA A REMESSA BAIRRO CAIXA POSTAL TELEFONE FAX CEP UF CIDADE RESID COM E-MAIL Forma de pagamento DEPÓSITO BANCÁRIO Em nome do CRC-RJ - Banco do Brasil - Agência 1769-8 (Candelária) - Conta Corrente nº 347.729-0 - CNPJ 33.287.806/0001-61 Enviar a ficha e o comprovante de depósito pelo FAX (21) 2216-9607 ou via correio para o CRC-RJ CONSELHO REGIONAL DE CONTABILIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento Profissional Rua Primeiro de Março, 33 – Centro – CEP 20010-000 – Rio de Janeiro – RJ – Tel.: (21 ) 2216-9544 e 2216-9545 e-mail: [email protected] - home-page: www.crc.org.br On-Line Acesse o site da revista www.crc.org.br/revista/menu.asp [email protected] Lançamentos Esta página se destina à divulgação de livros da área de contabilidade. Os autores interessados deverão encaminhar um exemplar do livro ao Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento Profissional do CRC-RJ, que, após tomar conhecimento, o disponibilizará em sua biblioteca para consulta. Contabilidade Pública Autor: José Antônio Felgueiras Este livro foi elaborado com o objetivo de atender às necessidades dos usuários da contabilidade pública, especialmente os alunos de graduação e profissionais que buscam o conhecimento da disciplina para a aprovação em concursos públicos. Dividido em 14 capítulos, o livro apresenta um texto de fácil leitura e compreensão, com análise da legislação pertinente à contabilidade pública e, no fim de cada capítulo, exercícios de fixação de diversos concursos públicos, para o leitor avaliar o aprendizado. O texto abrange temas como: orçamento, receitas e despesas públicas, licitação, sistemas de contas, demonstrações financeiras e finaliza com um capítulo específico sobre a Lei de Responsabilidade Fiscal. Editora: Freitas Bastos A Lei 4.320 comentada e a Lei de Responsabilidade Fiscal Autor: J. Teixeira Machado Jr. e Heraldo da Costa Reis O IBAM tem a satisfação de levar ao público a 32ª edição do livro “A Lei 4.320 comentada”, de José Teixeira Machado Júnior e Heraldo da Costa Reis, sendo este último reponsável pelas atualizações que vem recebendo nas últimas edições. Trata-se de publicação que, ao longo de mais de 30 anos, vem sendo reeditada em face da grande procura que encontra. De fato, não são muitos os livros técnicos que alcançam a tiragem que essa obra alcançou. São mais de 90 mil exemplares postos à disposição de autoridades, especialistas, estudiosos, agentes públicos, professores universitários, que correspondem adquirindo seu volume, às vezes em mais de uma edição, já que todas receberam atualizações pertinentes, como, por exemplo, para incorporar comentários relativos à Lei de responsabilidade Fiscal (Lei Complentar nº 101/2000), cujo teor possui clara proximidade com a Lei nº 4.320/64. Editora: IBAM História do Pensamento Contábil Com ênfase na história da contabilidade brasileira Autores: Antonio Carlos Ribeiro da Silva e Wilson Thomé Sardinha Martins Ao observarmos que a contabilidade brasileira necessitava de um maior acervo que resgatasse a nossa história, resolvemos lançar este livro, em parceria com um historiador da área contábil bastante conceituado no Estado da Bahia, Prof. Wilson Thomé Sardinha Martins, e contando com o prefácio do Prof. Antonio Lopes de Sá, um cientista incansável que muito tem orgulhado a classe contábil brasileira, com trabalhos reconhecidos em Portugal e na Espanha. Por essas e outras razões, escrevemos uma obra sobre a história do pensamento contábil, com ênfase na história da contabilidade brasileira. A presente obra editada pela editora Juruá é composta por 10 capítulos, onde fazemos um relato histórico desde a contabilidade primitiva, passando pelas suas teorias e escolas, os grandes vultos da contabilidade mundial, até chegar à contabilidade brasileira, à qual dedicamos alguns capítulos. Não poderíamos deixar também de relatar algumas curiosidades e controvérsias da contabilidade. Uma das novidades foi o balanço que descobrimos em Portugal, da quantia recebida por Silvério dos Reis, o traidor de Tiradentes. O nosso desejo é que esta obra seja útil para os estudantes de contabilidade tanto de graduação como de pós-graduação e leitura recomendada para a disciplina de Teoria da Contabilidade e História do Pensamento Contábil. Editora: Juruá