análise da concentração na indústria frigorífica brasileira

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análise da concentração na indústria frigorífica brasileira
VI Simpósio de Pós-Graduação e Pesquisa em Nutrição e Produção Animal – VNP – FMVZ – USP – 2012
ANÁLISE DA CONCENTRAÇÃO NA INDÚSTRIA FRIGORÍFICA BRASILEIRA
Fábio Luiz Martins da Silva1; Augusto Hauber Gameiro2
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Zootecnista, Universidade Federal do Paraná (UFPR): [email protected].
Professor do Departamento de Nutrição e Produção Animal, Faculdade de Medicina
Veterinária e Zootecnia (FMVZ/USP): [email protected].
2
INTRODUÇÃO
O Brasil possui um rebanho bovino de 197 milhões de cabeças, com uma produção
de carne bovina 9.210 mil tonelada equivalente-carcaça (USDA, 2012), o que gera um PIB
pecuário, ou seja, riqueza para o Brasil de R$ 242 bilhões (CEPEA, 2012).
Os números sugerem que o Brasil possui uma indústria frigorifica desenvolvida e
tecnificada capaz de absorver a matéria-prima, produzir carne e gerar riqueza. No entanto,
Batalha & Silva (2000) afirmam que setor de abate e processamento de carnes do Brasil
apresenta uma situação bastante diversificada em relação ao porte e quantidade das
empresas, sua localização geográfica e o nível tecnológico, não existindo um padrão.
Dentre os aspectos citados pelo autor, o que está nas pautas, na mídia do agronegócio de
modo geral refere-se, principalmente, ao número de empresas atuando no mercado da carne
bovina.
O número de empresas pertencentes a um determinado mercado caracteriza-o como
concentrado ou não concentrado (Prezzotto & Lavall, 2010). Acredita-se que o número
reduzido de empresas somado às recentes fusões e aquisições levou o Brasil a um cenário
de concentração no setor, com sua concorrência prejudicada.
As agroindústrias brasileiras estão crescendo, buscando meios para obter ganhos
concorrenciais frente a seus players, fazendo das aquisições, fusões e arrendamentos uma
estratégia para seu crescimento. Exemplos não faltam nos dias hoje, como, por exemplo, a
fusão realizada entre Sadia e Perdigão que gerou a Brasil Foods, a compra do frigorífico
Independência pelo JBS; e menos recentemente houve a fusão entre JBS e Friboi.
De fato, a redução do número de empresas atuando no mercado pode prejudicar ou até
mesmo acabar com a concorrência e concentrar a cadeia produtiva de carne bovina. A fim
de avaliar este cenário atual da cadeia de produção da carne bovina objetivou-se no
presente estudo verificar se a indústria frigorífica brasileira possui um grau de concentração
elevado.
MATERIAL E MÉTODOS
Atualmente, órgãos antitruste do mundo inteiro utilizam métodos para calcular ou
mensurar a concentração mercados, como, por exemplo, o Índice Herfindahl-Hirschman
(HHI) e as Razões de Concentração (C4, C5, C7 etc.). No presente estudo foi utilizado o
Índice Herfindahl-Hirschman para o mercado da carne bovina. Schmidt & Lima (2002)
afirmam que índice HHI é calculado por meio da soma dos quadrados dos market shares
individuais das firmas participantes no mercado relevante, como representado na equação a
seguir:
1
N
HHI   si2
i 1
Sendo, si, as participações de mercado de cada empresa e N o número de empresas
participantes do mercado.
Os valores para Índice Herfindahl-Hirschman variam de 10.000 para o caso do
monopólio e menos de 100, para concorrência pura (Schmidt & Lima, 2002).
Segundo a Federal Trade Commission (USDOJ) existem três linhas de corte que
balizam e classificam o grau de concentração de um mercado baseados nos valores do HHI.
Primeiro são os mercados com HHI menor do que 1000, isto é, mercados competitivos,
com baixa concentração. A segunda linha de corte está 1000 e 1800 para o valor de HHI,
sendo classificados como mercados com concentração moderada. A última linha de corte
está acima de 1800, ou seja, mercados considerados concentrados.
Os dados utilizados para calcular a participação de mercado ou market share das
indústrias frigoríficas do Brasil foram levantados no site do Ministério de Agricultura,
Pecuária e Abastecimento, mais especificamente, no Sistema de Inspeção Federal (SIF).
Deste modo, foi coletado, em sua totalidade, o número de matadouros e matadouros
frigoríficos de bovinos das empresas com registro no SIF, totalizando 281 plantas.
Partindo-se da premissa que as 281 plantas sob inspeção federal possuem uma taxa
de ociosidade semelhante, o segundo passo para o cálculo do HHI foi identificar a qual
empresa pertenciam cada uma das plantas frigoríficas. Posteriormente foi calculado o
market share em porcentagem, estes elevados ao quadrado e somados, chegando-se ao
HHI.
Quando se trata da bovinocultura de corte brasileira, devem-se explorar dados mais
regionalistas, mais específicos as regiões produtoras de carne, pois, como se sabe, a cadeia
da carne bovina é heterogênea e pulverizada pelo país. Assim, com os mesmo dados
levantados no SIF foi calculado o HHI para os estados brasileiros, seguindo o mesmo
procedimento explicado anteriormente.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O Índice Herfindahl-Hirschman calculado para o Brasil no presente estudo foi de
459, isto é, a indústria de abate e processamento de bovinos não se apresenta concentrada.
O resultado encontrado no estudo é o oposto ao senso comum instalado sobre a indústria
frigorífica do país, visto que nos últimos anos as operações de fusões, aquisições e
arrendamentos aumentaram, levando os atores da cadeia produtiva e os analistas desse
mercado a acreditar que o setor estava concentrado.
O estudo revelou que a concentração das indústrias frigorífica é distinta entre os
estados brasileiros. Dentre os 19 estados que possuem plantas frigoríficas com inspeção
federal, 53% apresentaram o HHI acima de 1800, ou seja, um mercado considerado
concentrado.
É importante citar que os oito estados que apresentaram HHI para mercado
concentrado, tinham cinco plantas ou menos, em quatro oportunidades apenas uma, fato em
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que se pode classifica-los como mercados sem concorrência, ou seja, monopsônio. Sendo
assim considerados pouco representativos.
Por outro lado, Mato Grosso com HHI 2579 e o Pará com 1875, estados com boa
representatividade de plantas frigoríficas com SIF, 37 e 16 respectivamente, podem ser
considerados mercados com concorrência prejudicada.
Os demais estados que possuíam plantas frigoríficas com registro no SIF, 26%
apresentaram HHI moderadamente concentrado e 21% apresentaram HHI de mercados
competitivos.
Rosa et. al (2009) cita que padrão adotado pela indústria frigorífica brasileira de
manter-se próximo a matéria-prima e não ao consumidor é o mesmo da norte-americana.
Nesse ponto, é interessante analisar que os mercados concentrados e moderadamente
concentrados estão no Centro-Oeste e Norte do Brasil, pressupondo que a migração, através
de aquisições, fusões e/ou arrendamentos, das indústrias frigoríficas antes estabelecidas nas
regiões Sudeste e Sul possa ter contribuído para a concentração do setor nessas regiões.
CONCLUSÃO
A partir dos resultados do estudo conclui-se que, tratando-se de capacidade
instalada, a cadeia produtiva de carne bovina ainda não é concentrada, apresentando-se,
portanto, como um mercado competitivo.
Conclui-se também que as regiões de fronteiras agrícolas e pecuárias estão mais
susceptíveis e são mais concentradas que regiões tradicionais de bovinocultura de corte.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BATALHA, M. O.; SILVA, C. A.; Estudo sobre a eficiência econômica e competitividade da cadeia agroindustrial da
pecuária de corte no Brasil. IEL: CNA. Brasília, 2000.
CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM ECONOMIA APLICADA; Disponível em: http://cepea.esalq.usp.br/
FEDERAL TRADE COMMISSION; Disponível em: http://www.justice.gov/atr/public/guidelines/hhi.html
MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO – Sistema de Inspeção Federal. Disponível em:
http://www.agricultura.gov.br/
PREZZOTTO, K; LAVALL, V. L.; Ambev - análise da fusão e os efeitos sobre o mercado. 2010.
ROSA, F. R. T.; Fatores críticos da competitividade da cadeia produtiva da carne bovina do estado de São Paulo.
Dissertação de mestrado em Gestão de Sistemas Agroindustriais - Universidade Federal de São Carlos, 2009.
UNITED
STATES
DEPARTMENT
http://www.fas.usda.gov/commodities.asp
OF
AGRICULTURE;
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Acessado
em
12/09/2012.