Câmaras querem acabar com o perigo

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Câmaras querem acabar com o perigo
esta
N.º 9 . Ano 4 . sexta-Feira, 31 de março de 2006
visita pastoral
www.esta.ipt.pt
D i r e c to r a : H á l i a co s ta s a n to s
J O R N A L
jornal laboratório do curso de comunicação social da escola superior de tecnologia de abrantes
Bispo
D. José Alves
p. 6 e 7
instituto politécnico de tomar
joão lobato
Câmaras querem
acabar com o perigo
- Jorge Santos -
A paixão pelos táxis e futebol
Taxista há 27 anos, o novo director desportivo do
Abrantes Futebol Clube reparte o seu tempo entre o volante
do seu táxi e o estádio municipal. “Sou puro benfiquista
mas se calhar agora tenho uma
queda maior pelo Abrantes”
— afirma.
p. 15
- Abrantes -
Obras vão mudar concelho
Requalificação da Av. Farinha Pereira, edifício do
Centro Tecnológico Alimentar, instalação de empresas
no Parque Industrial, requalificação da rua de acesso ao
cemitério de Sta Catarina, as
obras do campo de Basebol da
Cidade Desportiva e do Açu-
de e, no Tramagal, a inauguração da piscina municipal e
as obras do Parque Industrial,
contrariam, segundo Nelson
de Carvalho, presidente da
Câmara Municipal de Abrantes, o cenário de estagnação
económica que o país atravessa.
p. 10 e 11
Tomar, Abrantes e Entroncamento procuram
soluções para a segurança rodoviária
dos peões. Passadeiras sobrelevadas ou
cromáticas, bandas sonoras e barreiras
físicas são algumas das alternativas. A
dificuldade reside na falta de critérios e de
normas técnicas para regular a localização
das travessias pedonais
p. 4 e 5
- Conto -
O projecto final
A mudança estava finalmente terminada. Tudo estava em
ordem, tudo tinha encontrado o espaço a que estava destinado.
Na estante que se situava ao lado da porta, os livros, meticulosamente ordenados por épocas, revelavam a sua paixão: o cinema.
Nas paredes forradas com um papel florido, já gasto pelo tempo,
tinha colado alguns cartazes que faziam alusão aos grandes clássicos. Fora esta a forma que encontrara para esconder as manchas
acastanhadas das paredes.
p. 19
| ESTA JORNAL • 3 de Abril de 2006
Editorial
Chamar a atenção
para causas, direitos, deveres
e o que mais houver
ESTAJornal errou
Na última edição do ESTAJornal, na secção de Vox Pop, por lapso,
não foi incluída a referência ao curso de Engenharia Mecânica,
que existe na ESTA desde a sua fundação.
Fundado a 13 de Janeiro de 2003
propriedade da escola superior
de tecnologia de abrantes
Morada: Rua 17 de agosto de
1808
2200-370 abrantes
telefone: 241361169
fax: 241361175
E-mail: [email protected]
deu uma lição que entrelaçou a teoria com a
prática, falando da legislação e aplicando-a
a casos concretos. Não foi só a posição do
Governo que esteve em causa. Foi sobretudo
uma visão global de um conjunto de
problemas que estão na ordem do dia.
Nem só de direitos e de deveres dos
jornalistas se fala nesta edição. Também as
mais simples actividades de um comum
consumidor ou de um utente são visadas
nas páginas que se seguem. Reclamar é um
direito, nem sempre possível de concretizar. É
mais um grito de alerta que fica. Onde estão
os Livros de Reclamações?
E o onde estão as coisas boas? A resposta é
demasiado pronta: sobretudo na cultura… E
o destaque vai para um grupo de estudantes
que quiseram mostrar (e bem) que há tempo
para tudo. Palmas para os JIMEHL, banda de
ritmos cabo-verdianos.
Hália Costa Santos
•
O ESTA é um jornal de Escola, de pendor
assumidamente regional, mas que nem por
isso abdica da dimensão de um órgão de grande informação ou da ambição de conquistar
o público para além do meio universitário.
•O ESTA Jornal adopta como lema e norma
critérios de rigor, de absoluta independência
e de pluralismo dos pontos de vista a que dá
expressão.
•O ESTA Jornal aposta, por isso, numa informação plural e diversificada, procurando abordar
os mais diversos campos de actividade numa
atitude de criatividade e de abertura perante
a sociedade e o Mundo.
•O ESTA Jornal considera como parte da sua
missão contribuir para a formação de uma
opinião pública informada, emancipada e
interveniente - condição fundamental da
democracia e de uma sociedade aberta e
tolerante.
•
A democracia participativa e entendida para
além da sua dimensão meramente institucional, o pluralismo, a abertura e a tolerância
são os valores primaciais em que se alicerça
a atitude do ESTA Jornal perante o Mundo.
•O ESTA Jornal considera-se responsável única
e exclusivamente perante a ambição e a exigência dos seus redactores, alunos do Curso
de Comunicação Social da Escola Superior de
Tecnologia de Abrantes e perante o público a
que se dirige.
O ESTA Jornal está por isso plenamente disponível
e empenhado com os leitores, comprometendose a manter canais de comunicação abertos com
quantos connosco queriam partilhar as suas ideias
e inquietações.
um carto on
Ângel a P ereira
Fazer jornalismo é, sobretudo, chamar a
atenção. A primeira página desta edição
– com uma passadeira a toda a largura
– é quase um grito de alerta. A situação
dos atropelamentos – dentro e fora das
passadeiras – continua a ser inexplicável.
O problema não é novo, mas as soluções
tardam.
No caso da segurança rodoviária,
nomeadamente quando se trata de peões,
vale tudo o que puder ser feito. Dar voz ao
Observatório de Segurança das Estradas e
Cidades (OSEC) é contribuir para um certo
jornalismo de causas. A causa da segurança
nas estradas e ruas é tão importante como a
causa das minorias, para falar simplesmente
de uma outra.
Os membros do OSEC trabalham sem
qualquer retorno financeiro. Fazem-no
com um certo sentido de serviço público.
Talvez lhes dê vontade de desistir, de vez em
quando. Talvez sintam que estão a remar
contra a maré. Mas a sua causa é nobre.
“As pessoas não gostam de andar de carro
aos saltos”, diz-se em determinado ponto
do trabalho apresentado nesta edição. Mas
gostarão muito menos se forem vítimas da
ausência de passadeiras, da má sinalização ou
de falta de civismo.
Neste número do ESTAJornal fala-se muito
de causas, de direitos e de deveres. Desde
logo, estão em foco os jornalistas. O próprio
ministro da tutela, Augusto Santos Silva,
veio falar deste assunto aos estudantes de
Comunicação Social. Como professor que é,
E statuto
Editorial
direc tora: Hália Costa Santos
Direc tora-adjunta: Raquel botelho
redacç ão: Ana Catarina brandão, ana neves, ana raquel ferreira, andré canoa, catarina machado,
ana catarina marques, charlene izaque, cláudia costa, cláudio monteiro, cristina santos,
emanuel teixeira, eunice pinto, jefferson gomes, joão lobato, liliana séca santos, maria joão
cardador, maria josé vaz, nelly caetano, nuno carola, pedro nicolau, rafaela santos, sofia
macedo, tânia pissarra, vânia palminha
Colaboradores: Ana Santos, ângela pereira, bruno sousa ribeiro, liliano pucarinho, tiago lopes,
vera agostinho, vera inácio
Revisão : Maria romana, marta azevedo e Sofia mota
Projec to gráfico e paginaç ão: joão pereira
impressão/gráfic a: gráfica almondina, torres novas
tiragem: 1000 exemplares
opinião
31 de Março de 2006 • ESTA JORNAL | Jornalismo: definir
direitos e deveres
“Todos os indivíduos
têm direito a …”
E
U
ntre as alterações previstas ao
Código Penal encontra-se a
inclusão do “crime de perigo”,
ou seja, o jornalista pode ser
acusado deste crime se publicar informação sob segredo de justiça,
quando a sua conduta for considerada como um perigo para a investigação criminal
e para a realização da justiça.
À primeira vista, esta medida pode parecer a forma mais simples e eficaz para pôr
fim às quebras do segredo de justiça.
O pensamento é lógico… Se não é possível culpabilizar as fontes porque os jornalistas têm o direito de não as revelar, então
que se culpabilize os jornalistas.
Como em tantas outras questões, também esta pode ter dois caminhos. Por
um lado, a intenção pode ser a melhor.
Por outro lado, “de boas intenções está o
inferno cheio”.
Se esta alteração à lei conseguir pôr
cobro às notícias e informações que não
servem o interesse público e que apenas
conseguem denegrir a imagem de pessoas
inocentes ou servir o interesse de fontes
duvidosas, então que seja bem-vinda.
Porém, se esta lei vier para servir de
Cláudia Costa
camuflado, escondendo e omitindo informações de real interesse público, então que
fique onde esteve até agora… no fundo de
uma gaveta. E de preferência que seja uma
gaveta bem funda.
Para que o interesse público seja servido,
é importante que os jornalistas definam
os limites dos seus direitos e deveres, mas
não deixa de ser igualmente importante
que os limites entre o que pode e o que não
pode constituir perigo para a realização da
justiça se encontrem bem definidos.
ma série de caricaturas do
profeta Maomé publicadas
por um diário dinamarquês
serviram de mote para reforçar as ténues e hostis relações
do mundo islâmico para com o ocidente.
Liberdade de religião versus liberdade
de expressão. “Toda a pessoa tem direito à
liberdade de pensamento, de consciência e
de religião” e “Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão”,
segundo os artigos 18º e 19º da Declaração
Universal dos Direitos do Homem, elaborada como reconhecimento da dignidade
humana e que se constitui como “fundamento da liberdade, da justiça e da paz no
mundo”. Mas o mundo, na sua pluralidade
de culturas, não consegue evitar o choque
das mesmas. E na defesa dos “nossos” direitos, esquecemos os direitos dos outros.
A “nossa” liberdade acaba quando, de facto,
começa a liberdade do outro!
Neste duelo em que se constrangem uma
ideologia fundamentalista cega e um princípio democrático, ao qual muitas vezes se
esquece de impor limites, mas que é um
valor essencial da civilização, o que passa
a estar em causa não é o que os primeiros
Maria José Vaz
reclamam como «blasfémia», mas sim a
dimensão que este “incidente” poderá assumir no futuro. O que está em causa não é o
desrespeito pela religião, mas a abertura do
caminho para a legitimação do fanatismo
islâmico (qual tabu!) e o sentimento de
intolerância. Ameaças, ataques, boicotes,
pressões diplomáticas, queima de bandeiras
e “morte para os que insultam o Islão” será
aceitável? Deve-se entender como uma
derrota à liberdade de expressão?
A resposta, essa, só virá com o tempo!
Quando as claques
Muda-se o ser,
deixam de fazer claque muda a confiança
O
futebol é considerado o desporto rei! Os 22 jogadores são
os protagonistas (ou deveriam
ser na maioria das vezes), mas
existem outros elementos fundamentais, como os treinadores, os árbitros,
os dirigentes e, sobretudo, os ADEPTOS. Sem
adeptos, o futebol não faria sentido, pois são
eles que fazem do futebol rei, são eles que
vibram com os jogadores e com as jogadas,
são eles que enchem estádios e pressionam
dirigentes a despedir treinadores… Portanto,
o futebol sem adeptos não é mais que um jogo
de matraquilhos sem jogadores a fazer mexer
os bonequinhos.
As claques são um exemplo de adeptos que
têm como característica principal estarem organizadas, deslocarem-se a todos os jogos, terem
cânticos, serem máquinas de marketing e estarem incondicionalmente ligados ao clube.
O facto de Sporting Clube de Portugal e
Futebol Clube do Porto se terem desvinculado
das suas claques (FCP dos Super Dragões e
SCP dos Ultra XXI, Juveleo e Torcida Verde)
é uma grande perda para o futebol.
As claques são as principais animadoras das bancadas, com os seus cânticos e
gritos de guerra, normais na rivalidade
entre emblemas, deixam os outros adeptos
ainda mais entusiasmados e até mesmo os
jogadores. No entanto, quando se fala delas,
M
Ana Raquel
Ferreira
é sempre num sentido negativo: roubos e
desacatos em estações de serviços ou nas
imediações dos estádios, violência entre
claques adversárias… e esquece-se sempre
das coisas boas destes adeptos.
É certo que as claques têm de estar oficialmente ligadas a um clube e que a maioria dos
casos não é este. Porém, o SCP, por exemplo,
tinha um protocolo com as principais claques
afectas ao clube, mas desvinculou-se dela. O
que levanta uma questão: a manutenção destas
claques, por ser dispendiosa para os clubes,
acaba por ser mais fácil descartar responsabilidades, acabando por prejudicar o espectáculo
do futebol vivido num estádio.
udam-se os tempos, mudam-se as vontades, muda-se o ser, muda-se a
confiança; todo o mundo é
composto de mudança…”
9 de Março. Cavaco Silva, actual Presidente da República, eleito em Janeiro,
tomou conta oficialmente do Palácio de
Belém. Jorge Sampaio, o Cessante, abandonou aquela que fora a sua moradia durante dez anos. Exerceu uma presidência
activa. Dotada de uma forte “dedicação e
sentido de Estado”.
Os episódios políticos mais caricatos
talvez sejam a “fuga” de Durão Barroso
para a “Europa”, a dissolução da Assembleia da República e o excêntrico Governo
de Santana Lopes. Que chalaça, mas nem
tudo foi piada…
Na economia tivemos e temos, essencialmente, a recessão económica. Aderimos ao Euro. Uau! Inflação dos preços e
desemprego. Grande novidade! Contudo,
a palavra de ordem foi sempre o “progresso”. Crescimento e produtividade.
Inovação e competitividade.
Sob o signo do Cessante, celebrou-se
primeiro a Expo’98 e, mais recentemente,
o Euro 2004. Portugal fervilhou. Eclode
a bomba Casa Pia. Imprensa de todo o
mundo unida. Projecção de Portugal a
Liliana Séca
Santos
nível internacional…
Muito me aprouve Sampaio. Por detrás do ar discreto, insurgiu um Sampaio
atento. Atento a todos os portugueses. De
tanta atenção, foi o presidente que mais
vetou preceitos legais. Grande Sampaio!
Coube-lhe eficácia. Eficácia ao saber gerir um Portugal decadente e em vias de
extinção.
Porém, é tempo de mudança! Cavaco
Silva parece ser a solução. Assim, continuamente “veremos” novidades, diferentes em tudo da esperança; do mal, ficam
as mágoas na lembrança, e do bem, se
algum houve, as Saudades.
| ESTA JORNAL • 31 de Março de 2006
destaque
joão lobato
Tomar, Abrantes e Entroncamento procuram soluções para a segurança rodoviária
Câmaras querem
a tranquilidade dos peões
Em todas as cidades, um dos problemas que urge resolver é o da segurança rodoviária. Abrantes, Tomar e Entroncamento tentam
inverter um diagnóstico geral, pouco favorável, ao nível da segurança dos peões. Passadeiras sobrelevadas ou cromáticas, bandas
sonoras e barreiras físicas são possíveis soluções para o problema
Emanuel Teixeira
e João Lobato
Em finais de Fevereiro deste ano,
o Observatório de Segurança de Estradas e Cidades (OSEC) divulgou
um relatório em que faz uma análise
do panorama nacional. A principal
denúncia é a falta de critérios e de
normas técnicas para regular a localização das travessias pedonais. No
documento exorta-se o Governo para
que legisle urgentemente sobre os
critérios a adoptar.
Mas qual é então a realidade na zona do médio Tejo, em cidades como
Abrantes, Tomar e Entroncamento?
No que se refere à existência de critérios e normas, os responsáveis por
todas estas cidades são unânimes em
referir que eles realmente existem.
Segundo Fernando Côrvelo, vereador em Tomar na área do Planeamento Físico, “há normas quanto à
colocação de passadeiras nas vias”.
Estas resultam de “legislação como o
Código de Estrada, portarias e outros
diplomas provenientes fundamentalmente do Ministério das Obras
Públicas, através das direcções gerais
de viação e dos transportes terrestres”.
Uma informação também avançada
por quem tutela estas questões em
Abrantes e Entroncamento. “As passadeiras são devidamente estudadas,
quer em termos de segurança para o
peão, quer de visibilidade dos próprios veículos”, explica Pina da Costa,
vereador em Abrantes com a pasta da
Gestão do Trânsito.
A falta de recursos técnicos e financeiros para garantir a manutenção das passadeiras, a iluminação e
correcta sinalização nas suas áreas
envolventes, é uma situação confirmada pelas câmaras de Abrantes e
Entroncamento. Em Abrantes, Pina
da Costa admite mesmo a falta de
“meios técnicos ideais para responder
a essas situações”. O vereador adianta
ainda que, “por uma questão de opção”, pode decidir-se “repintar uma
passadeira, mas será uma situação
pontual”. No caso de essa ser a opção,
são contratadas empresas externas.
Em Tomar a câmara decidiu-se por
passadeiras em empedrado, já que
“as passadeiras pintadas têm o grande inconveniente de desaparecerem
rapidamente, significando um custo
elevadíssimo na reposição da pintura”,
diz Fernando Côrvelo.
Duas soluções para o problema estão a ser levadas em conta nestes concelhos: a criação futura de passadeiras
sobrelevadas e de barreiras físicas para
levar os peões a atravessar em locais
seguros. Segundo Pina da Costa, “os
técnicos gostam muito das passadeiras
sobrelevadas”, dando como exemplo,
em Abrantes, a zona do Parque de S.
Lourenço. “Estamos a aplicar esse tipo
de passadeiras porque são mais eficazes.” No entanto, também refere que
“tem custos mais elevados”, havendo
sobretudo algumas reticências na sua
utilização, dado que prejudicam “a
passagem de ambulâncias e pesados
em determinadas situações”.
No caso de Tomar, a autarquia
avançou pela mesma solução, em-
bora tenha existido “uma reacção
forte” por parte da população, tal como confessa Fernando Côrvelo. “As
pessoas não gostam de andar de carro
aos saltos. Manifestamente a solução
é incómoda para quem circula, mas
é uma solução eficaz.” Argumenta,
ainda, como defesa desta decisão, o
facto de que este tipo de passadeiras
obriga a “reduzir a velocidade e em
consequência os acidentes diminuíram consideravelmente”.
A resolução dos problemas de
mobilidade dos peões na cidade do
Entroncamento tem passado igualmente pela utilização das passadeiras
sobrelevadas, mas não só. Tal como
refere Monteiro Figueira – técnico
da CEIT, empresa de consultoria
para a resolução de problemas da
circulação e segurança rodoviária
(e que tem como cliente a Câmara
Municipal do Entroncamento) – a
cidade “tem actualmente em curso
uma candidatura para as questões da
mobilidade”. Outros aspectos, como
a criação de passadeiras cromáticas,
bandas sonoras e barreiras físicas
estão também incluídos. O mesmo
aponta ainda para a prática da autarquia, que “tem sido, até hoje, de
assegurar a tranquilidade para todos
os utentes da via pública, incluindo os
que têm mobilidade reduzida”. Como
exemplo apresenta “o rebaixamento
de passeios e rampas de acesso”.
Apesar de todas as medidas e intenções por parte destes municípios,
muito falta ainda fazer. Fora dos centros urbanos ou apenas nos próprios
centros históricos, não é raro o comum
cidadão queixar-se do estado de conservação ou localização das passadeiras e, por vezes, até da sua falta.
Casos em que, na mesma rua, num
cruzamento ou rotunda coexistem
travessias para peões em más condições com outras em boas ou excelentes
condições também se sucedem. Para
agravamento da situação, em Portugal,
tal como afirma Pina da Costa, “não
há muita cultura cívica em termos de
trânsito, quer por parte dos peões, quer
por parte dos condutores”.
destaque
31 de Março de 2006 • ESTA JORNAL | Observatório de Segurança de Estradas e Cidades denuncia erros na construção e manutenção das estradas
O panorama da sinistralidade
urbana “é devastador”
Portugal é um país que vive
sobre o estigma da insegurança nas estradas, juntando-se
a este problema os acidentes
de viação e o mau estado das
vias e estradas, bem como a
sinistralidade urbana. Com
a intenção de denunciar os
erros cometidos na construção
e manutenção de estradas e a
consequente responsabilidade nos acidentes rodoviários,
surgiu, em 2004, o Observatório de Segurança de Estradas
e Cidades (OSEC).
Nuno Salpico, juiz do Tribunal da Moita e presidente
do OSEC, explica que esta
é uma organização não governamental, “facto que lhe
atribui uma certa independência”. Composta por juízes
conselheiros, embargadores
de direito, procuradores adjuntos do Ministério Público,
engenheiros, alguns docentes
universitários de engenharia,
bem como o Comandante da
Brigada de Trânsito da GNR,
“apenas tem como orientação
o serviço público”.
Afastado de qualquer
orientação partidária – o seu
estatuto de independência
assim o exige – o observatório vive alheado do orçamento de Estado e os seus membros não recebem qualquer
tipo de remuneração. “Nem
queremos ter” – frisa Nuno
Salpico, salientando ainda
que “muitas vezes as despesas são suportadas pelo bolso
dos próprios membros”. Sendo uma instituição que não
se encontra sob a alçada do
Governo, o OSEC, nas suas
intenções de garantir a segurança da comunidade, chega
a ser confrontado com os interesses do executivo, sendo a
sua actuação, por vezes, mal
entendida. O resultado pode
traduzir-se em algumas renitências por parte de quem
governa relativamente a “um
trabalho que pretende o bem”,
lamenta Nuno Salpico. O juiz
refere ainda que o principal
problema que se coloca prende-se com aspectos de responsabilidade criminal.
Este é um problema nacional, uma lacuna social no que
à segurança diz respeito, uma
falta de bom senso que, nas
palavras do juiz, “só nasce a
partir da responsabilidade”,
uma responsabilidade forjada nos termos da lei, pois a
sociedade não pretende que
seja feito de outra forma. O
espectro da responsabilidade
é cada vez mais uma realidade e, sendo esse o caso, “temos que suscitar a tutela da
responsabilidade criminal”,
remata Nuno Salpico.
Mas a conversa do ESTAJornal com o juiz não
fica construída apenas por
críticas ao modo como a
sociedade abraça a causa da
segurança nas estradas. Não
é essa a sua função, nem o
principal objectivo do OSEC.
A real intenção do observatório é alertar para que se
corrijam os defeitos da via
provocadores de acidentes.
Feito esse alerta, se a entidade que tem a seu cargo a
manutenção e construção
da via “continuar a mantê-la
perigosa”, aumentando assim
o risco de acidente, o OSEC
“O caso de
Tomar é um
caso notável”
terá a seu cargo o papel de
atribuição de participação
criminal. Acerca do elevado
grau de sinistralidade urbana
existente no país, Nuno Salpico diz que “o panorama é devastador”, realçando que esta
situação se deve “ às violações
das normas técnicas”.
Mas nem tudo é negativo. Segundo o juiz, vem-se
notando uma melhoria na
travessia pedonal (entendase passadeiras). Apesar de
insuficiente, é uma melhoria. O presidente refere que,
por vezes, os municípios não
possuem os meios técnicos
para garantir a segurança das
vias, situação esta que não
augura nada de positivo. Prenúncio negativo que toma
esta forma quando Nuno
Salpico acautela que “o Observatório é a única entidade
que faz esta abordagem”. Por
isso, alerta para os perigos e
para as violações existentes
nos meios urbanos, sendo
esta uma abordagem constituída por um conjunto de
saberes jurídicos e técnicos
que permitem um melhor
entendimento da gravidade
deste problema.
Um exemplo a ter em conta
A sinistralidade urbana
não é só um problema dos
grandes centros nacionais.
Esta situação afecta outros
municípios e as posições a
serem tomadas por parte
das câmaras municipais,
para inverter esta prática de
costumes, têm que ser uma
realidade.
O trabalho exercido pela
Câmara Municipal de Tomar
chegou ao conhecimento de
Nuno Salpico através da imprensa regional. Ao entrar em
contacto com este exemplo
de planificação urbana, no
que à segurança pedonal diz
respeito, foi do interesse do
observatório entrar em contacto com Tomar. O resultado
foi a marcação de uma reunião com os representantes
da Câmara Municipal.
Tal como confirma Fernando Côrvelo, vereador na área
do Planeamento Físico de Tomar, “no fundo, aquilo que
nos transmitiram foi apenas
o desejo de informação sobre
o procedimento na cidade”.
O presidente do Observatório considera que “o caso
de Tomar é um caso notável,
na medida em que avançámos para uma solução que é
politicamente complicada”,
referindo-se, nomeadamente,
à contestação dos condutores
em relação à introdução de
passadeiras sobrelevadas.
Para Nuno Salpico, o encontro não podia ter sido melhor, ficando satisfeito com
algumas medidas que estão a
ser incrementadas na cidade.
Discorda apenas da colocação
das passadeiras sobrelevadas,
pois não as considera a melhor solução. Explica que “foi
a posição deles”. E acrescenta:
“É uma extensão do passeio,
é território do peão e reduz a
sinistralidade”.
È preciso remar contra a
maré pois, como considera
Nuno Salpico, “num estado
de direito democrático esta
situação é totalmente inaceitável”.
Duas histórias reais de atropelamentos em Abrantes
“Os bons também apanham”
É difícil imaginar como alguns passos
dados em frente podem mudar
radicalmente toda a vida de uma pessoa,
incluindo daquelas que a rodeiam. Os casos
de vidas desfeitas ou de mazelas que ficam
no corpo para toda a vida são reais.
A nível nacional, os atropelamentos são
frequentes. Tanto em passadeiras como
por falta delas. Ora por distracção do
peão, ora por distracção do condutor,
estes incidentes continuam a suceder
diariamente, levantando uma terrível
sombra sobre a segurança pedonal.
Ensombrada e sem alegria, foi assim que
ficou a vida de Alsínia e Albano Ribeiro
depois de verem a sua filha de 12 anos ser
vítima de um atropelamento, há 20 anos
atrás.
Fátima, saía da Escola Solano de Abreu,
em Abrantes, e como muitas outras
crianças preparava-se para atravessar
a estrada junto ao portão de saída. Na
época não havia passadeiras junto ao
estabelecimento de ensino, pelo que o
perigo de atropelamento existia realmente.
Bastaram alguns passos em frente, para
que Fátima fosse atropelada por um
autocarro de passageiros, dando início a
um pesadelo que só iria finalizar cinco anos
mais tarde, com a sua morte.
Como nos relata amarguradamente Alsínia
Ribeiro, “Fátima esteve em coma durante
três semanas no Hospital de S. José, em
Lisboa”. Confessa que após este acidente a
sua filha nunca mais foi a mesma. Sem ter
qualquer tipo de ajuda financeira, a vida
desta família, que incluía mais dois filhos,
teve que se adaptar às circunstâncias.
“Apenas nos pagaram as despesas
hospitalares, mais nada”.
Fátima tornou-se numa criança agressiva
e triste. As mazelas psicológicas estavam
lá e ninguém as podia sarar. O insucesso
escolar e a forte medicação a que estava
sujeita retiraram-lhe a alegria própria da
sua juventude. À medida que o tempo
passava, Alsínia e Albano desesperavam
com o estado da filha, mas o pior aconteceu
quando em 1990 lhe diagnosticaram
leucemia. Fátima acabou por falecer no
mesmo ano.
Ao fim de tanto tempo a dor ainda persiste
no seio deste casal. “Nos primeiros 15 anos
fui todos os dias à campa dela, agora sou
vou uma vez por semana” – confessa Alsínia
enquanto mostra fotografias da filha. Por
Deolinda Gil
fim, desabafa: “Os bons também apanham”.
Deolinda Gil, 53 anos, também foi vítima
de um atropelamento, mas neste caso
numa passadeira. O incidente ocorreu
nos primeiros dias de 2002, junto da
Biblioteca Municipal de Abrantes. “Era
já noite e não havia luz. Estava a chover
muito”, conta esta ex-aluna da ESTA.
“Atravessei a passadeira e já no fim dela
vem um carro em sentido contrário que
me apanhou e tombei. Bati com a cabeça
no sinal de passagem para peões e fiquei
ali um bocado sem respirar”.
Deolinda Gil confessa que tanto ela como
o condutor estavam distraídos, mas que a
luminosidade era muito pouca tendo em
conta que estava junto de uma passadeira.
“Fiz um traumatismo craniano e várias
rupturas na coluna que me deixaram
mazelas”. Como resultado esteve três
meses de baixa.
Este incidente alterou a sua vida, já que
na altura encontrava-se a estudar e
viu-se forçada a “estar bastante tempo
em repouso absoluto”. Mas a vontade
de contrariar este revés era muita. “Fui
levantar a baixa porque já estava farta”
– desabafa. As dores eram insuportáveis,
mas Deolinda acrescenta que sempre que
podia ia às aulas.
Quatro anos após o acidente as mazelas
físicas não a deixam esquecer, mas a
vontade de seguir em frente é maior do
que a lembrança.
| ESTA JORNAL • 31 de Março de 2006
sociedade
ENTREVISTA | D. José Alves, Bispo de Portalegre-Castelo Branco
a FORMAÇÃO
“Há uma certa onda
de laicismo na sociedade”
Atendendo aos novos desafios que se
apresentam à Igreja, a Diocese de Portalegre-Castelo Branco está a promover
um Curso de Aprofundamento da Fé em
três patamares distintos. “Surpreendeume o facto de quase duzentas pessoas
terem aderido à frequência deste curso” - afirma D. José Alves, referindo-se
ao mais elevado patamar deste curso,
próximo do nível académico. O segundo nível do curso, destinado a grupos
paroquiais, compreende mais de 3.500
participantes, o que, para o prelado,
representa “que as pessoas estão desejosas de uma fé mais esclarecida”. O nível
básico do curso é ministrado a par da
catequese, junto das crianças e jovens.
Este Curso de Aprofundamento da Fé
pretende preparar a Diocese para a Nova Evangelização, tão propalada pelo
Papa João Paulo II. “Hoje pretendemos
que os cristãos não só tenham devoção e sejam frequentadores de actos
religiosos, mas que saibam, como diz
S. Pedro, dar razões para a sua vivência
cristã”, conclui D. José.
D. José Alves está a fazer a sua primeira Visita Pastoral ao Arciprestado de Abrantes. Objectivo? “Dar
alento às pessoas, fortalecer a fé, esclarecer e ajudar as comunidades a renovarem-se interiormente”.
O Bispo fala da Diocese, da Devoção Mariana e da Nova Evangelização. “A Igreja tem que fazer um
esforço notório e completo para ir de encontro à mentalidade das pessoas do nosso tempo”
nuno carola
Nuno Carola
Como é que um Bispo habituado
à vivência religiosa da Grande Lisboa se sente à frente dos destinos
de uma Diocese do interior e com
uma vivência religiosa completamente diferente?
Sinto-me bem. Sinto-me à vontade
porque eu tenho experiência de vida
num ambiente mais interior e rural.
Eu vivi a maior parte da minha vida
no Alentejo e, nesse sentido, a transição para a Diocese de Portalegre
não me trouxe grandes surpresas.
O ambiente alentejano e o ambiente
da Beira e do Ribatejo, de alguma
forma, eram-me familiares. Nesse
sentido, estou-me a adaptar muito
bem, embora não conheça a realidade… Isso é o que estou a fazer
agora!.. A conhecer as realidades.
Mas não tenho encontrado grandes
surpresas.
Como analisa, em termos religiosos, a dispersão geográfica e
populacional da Diocese?
Penso que há alguma diferença
de uma região para outra, mas não
são diferenças muito substanciais.
Há aspectos que se diferenciam,
por exemplo, no que diz respeito
à prática de vida cristã. É certo, e
toda a gente reconhece isto, que no
Alentejo a prática dominical é menor que na Beira Baixa. No aspecto
de crença, de fé, de religiosidade,
não é tão grande, porque, mesmo
as pessoas que vivem no Alentejo,
são pessoas muito crentes, têm uma
religiosidade muito arreigada no seu
interior e até na própria sociedade,
mas a maneira de exprimir essa religiosidade é diferente. Enquanto no
ambiente da Beira a religiosidade se
exprime por uma frequência habitual da Igreja, no Alentejo a frequência
da Igreja é menor. No entanto, as
pessoas não deixam de ter manifestações de fé que se traduzem, por
exemplo, na participação nos funerais, na participação nas procissões
e certos actos religiosos, e também
a presença de imagens religiosas nas
suas próprias casas. Porventura os
alentejanos terão mais imagens em
casa do que os espanhóis, embora eu
nunca fosse medir!... Mas noto que
há uma presença de objectos e de
imagens religiosas nas casas, e isso
significa que a fé está presente.
Qual é o objectivo desta Visita pastoral ao Arciprestado de Abrantes?
Os objectivos de uma Visita Pastoral são vários. No meu caso concreto,
o primeiro objectivo é tomar contacto directo com a realidade, uma
a COMUNICAÇÃO SOCIAL
Media. “Serão as causas assumidas pela Comunicação Social que mais facilmente poderão avançar”
Perfil
Natural da Diocese de Guarda.
D. José Francisco Sanches Alves
nasceu a 20 de Abril de 1941, na
freguesia de Lageosa (Sabugal).
Estudou Filosofia e Teologia nos
seminários da Diocese da Guarda. Em 1966, foi ordenado presbítero na Catedral de Évora. Em
Roma fez o Curso de Ciências da
Educação, na Pontifícia Universidade Salesiana, onde obteve o
doutoramento em Psicologia.
De 1988 a 1998 foi Vigário Geral
da Diocese de Évora.
A 7 de Março de 1998 foi nomeado Bispo auxiliar de Lisboa, com
o título de Gerpiniana. A ordenação episcopal celebrou-se em
Évora, a 31 de Maio de 1998. Desde 11 de Abril de 2002 preside
à Comissão Episcopal de Acção
Social e Caritativa.
A 30 de Maio de 2004, Domingo
de Pentecostes, tomou posse
como XXIX Bispo de PortalegreCastelo Branco, na Sé Catedral
de Portalegre, sucedendo a D.
Augusto César Alves Ferreira da
Silva.
vez que eu estou há pouco tempo na
Diocese, pouco mais que um ano e
meio. Conhecia a zona genericamente, de passar por aqui. Agora
estou a conhecê-la em pormenor,
no contacto com as pessoas, com as
situações concretas, com as instituições e colectividades. Isso tem-me
trazido uma grande satisfação, no
contacto com as pessoas. Ao mesmo
tempo, um conhecimento pormenorizado. Por outro lado, a visita
do Bispo às comunidades dirige-se,
em primeiro lugar, às comunidades
cristãs e àquele grupo de pessoas que
formam a comunidade cristã em
cada uma das localidades. O Bispo
vem, na sua missão de pastor, em
nome de Jesus Cristo, para dar alento
às pessoas, fortalecer a fé, para esclarecer e para ajudar as comunidades a
renovarem-se interiormente.
Qual a razão de se fazer acompanhar pela Imagem Peregrina de
Nossa Senhora de Fátima?
O Povo Português tem uma grande devoção a Nossa Senhora. Portugal é mesmo um País Mariano.
Desde a nacionalidade que Portugal está ligado à devoção a Nossa
Senhora, de modo particular com
a invocação de Nossa Senhora da
As pessoas que
vivem no Alentejo
são muito
crentes, têm uma
religiosidade muito
arreigada no seu
interior e até na
própria sociedade
Conceição, que tem o seu solar em
Vila Viçosa. Desde D. João IV, com
a Restauração da Nacionalidade, em
1640, os nossos Reis proclamaram
Nossa Senhora como Rainha e Padroeira de Portugal e, simbolicamente, deixaram de usar a coroa, porque
consideravam que Nossa Senhora
era Rainha. Daqui, está presente esta
devoção do Povo Português.
No nosso tempo, temos as aparições de Nossa Senhora em Fátima,
que se tornou o pólo dinamizador
Com uma experiência de seis anos como
Bispo Auxiliar do Cardeal Patriarca de
Lisboa, D. José Alves é um Prelado aberto à modernidade e às circunstâncias
que o rodeiam, atribuindo primordial
importância ao papel da Comunicação
Social na sociedade civil: “Habituámo-nos a viver de tal maneira, que já não
conseguimos viver sem a Comunicação
Social”. O Bispo de Portalegre-Castelo
Branco reconhece que os media exercem uma influência determinante na
opinião e na construção da própria
sociedade, porque, sublinha, “serão as
causas assumidas pela Comunicação
Social que mais facilmente poderão
avançar”.
Ainda segundo D. José Alves, será possível construir uma sociedade mais justa
e mais equilibrada, onde haja mais paz.
Isto “se também a Comunicação Social,
como eu espero, se empenhar na defesa
da justiça e da verdade, para que a sociedade assim seja”.
a A VIDA NASCE
O projecto “A VIDA NASCE” consiste numa instituição de acolhimento e apoio
a adolescentes que se vêem a braços
com a maternidade.“Tem um significado
particular na zona onde está implantado,
porque em todo o distrito de Portalegre
não existe nenhuma instituição que dê
resposta ao problema das adolescentes
grávidas e das mães solteiras”, explica D.
José Alves. Para o BIspo, o projecto constitui um instrumento que permite“ter um
gesto significativo para ir ao encontro
destes problemas”. Numa altura em que,
refere o prelado,“estamos a viver um crise
em torno da vida, o facto da Diocese se
posicionar a favor da vida, e da vida que
está em condições mais difíceis, significa
que a Igreja é, fundamentalmente, a favor
da vida, e não apenas por princípios teóricos.”Iniciado pelo antecessor de D. José
Alves na cátedra da Diocese, D. Augusto
César, o Projecto “A VIDA NASCE” encontra-se em fase de construção, tendo
beneficiado de apoios governamentais,
comunitários, e, mais recentemente, de
uma campanha promovida pela Rádio
Renascença, que conseguiu angariar
mais de cem mil euros.
sociedade
da devoção mariana, não só de Portugal, mas também do mundo. Por
isso já alguém chamou a Fátima o
Altar do Mundo.
Ao pensar na Visita Pastoral, eu
quis dar também um significado
mariano a esta Visita, e a outras que
vou fazer, e ter um gesto que signifique a devoção do Bispo a Nossa
Senhora, que corresponde à devoção
do Povo Português.
Tem-se verificado exactamente
aquilo que eu pensava: com a presença da imagem de Nossa Senhora
nas paróquias há uma afluência extraordinária de pessoas e, no dizer de
alguns párocos, essa afluência tem
duas características: primeiro, vem
muita gente, há uma afluência muito
numerosa de pessoas; segundo, o
tipo de pessoas que vem, são pessoas que habitualmente não frequentam a Igreja, ou que frequentaram
e deixaram de frequentar, e agora
recomeçaram. Dizia um pároco:
«Admirei-me que houvesse tanta
gente, e aquela gente, que não costuma vir.» Por outro lado, não vieram
só como observadores, mas vieram
também como participantes. Eles
próprios se incluíram no número
dos que participaram nas procissões, e inclusivé que participaram
nos actos religiosos. Portanto, Nossa
Senhora tem para com os cristãos,
uma grande força atractiva, e é essa a
razão também porque Nossa Senhora me acompanha na Visita pastoral,
e penso que com muito proveito
espiritual para as populações.
Temos cada vez mais lugares vazios nas igrejas…
Eu penso que o facto de haver
Portalegre - Castelo Branco
A 21 de Agosto de 1549, o Papa Paulo III, pela Bula Pro Excellenti Apostolicae
Sedis, criou a diocese de Portalegre, cujo território era desmembrado da diocese
da Guarda (Egitânia), integrando as povoações a Sul do Tejo, com excepção de
Arronches. Pelo mesmo documento lhe foi dado o seu primeiro bispo, D. Julião
d’Alva. A dita Bula teria a sua execução prática em 2 de Abril do ano seguinte.
Criada a diocese, D. João III eleva a cidade, então vila de Portalegre, por carta régia
de 23 de Maio de 1550.
Estes acontecimentos foram agora celebrados, ao longo de um ano, no seu 450.º
aniversário, pela acção conjunta da Diocese e da Câmara Municipal de Portalegre.
A sua Catedral foi erguida no espaço que rodeava então a igreja de Santa Maria
do Castelo: a primeira pedra foi lançada no dia 14 de Maio de 1556. É seu actual
bispo, D. José Francisco Sanches Alves (29.º, desde a sua criação).
A criação da diocese de Castelo Branco data de sete de Junho de 1771, sob o
pontificado de Cle­mente XIV, que, pelo mes­mo documento, indicou para Catedral
a igreja de S. Miguei Arcanjo, eximindo-a à jurisdição da Ordem de Cristo. Dada a
vastidão do território da diocese da Guarda, a diocese de Castelo Bran­co é criada
com o parecer de D. Bernardo António de Melo Osório, último bispo da Guarda
com jurisdição em Castelo Branco. A nova diocese integrava os arcediagados de
Castelo Branco, Monsanto e Abrantes.
Por sua vez, o rei D. José elevou a notável vila a cidade, por alvará de 20 de Março
e Carta Régia de 15 de Abril do mesmo ano. Foi seu primeiro bispo, D. Frei José
de Jesus Maria Caetano (1772-1782). Sucedeu-lhe D. Frei Vicente Ferrer da Rocha,
também dominicano (1783-1814). O terceiro e último bispo de Castelo Branco foi
D. Joaquim José de Miranda Coutinho (1820-1831). De 1814 a 1820 e a partir de
1831 até à sua extinção, foi governada apenas por Vigários Gerais.
A sua extinção foi determinada por carta apostólica de 30 de Setembro de 1881, sob
o pontificado de Leão XIII, e pelo decreto régio de 14 de Setembro de 1882, sob o
pretexto de dificuldades económicas. Consumada a extinção, pela carta apostólica
Gravissimum Christi, o seu território foi incorporado na diocese de Portalegre.
D. Agostinho Joaquim Lopes de Moura 27.º bispo de Portalegre, atendendo à
satisfatória prosperidade alcançada na cidade de Castelo Branco e “para promover
mais eficazmente o bem das almas, pediu à Sé Apostólica seja elevado à dignidade
de Catedral o templo que existe na referida cidade, a Deus dedicado, em honra
de S. Miguel Arcanjo”, o que foi consentido por decreto da Sagrada Congregação
Consistorial, datado de 18 de Julho de 1956. E acrescenta o dito decreto: “Por isso,
o Santo Padre impõe ao bispo de Portalegre o ónus, sobretudo quando for construído Paço Episcopal condigno, de residir algum tempo, em cada ano, na cidade
de Castelo Branco. O Santo Padre a graça da Diocese de Portalegre e o seu Bispo
“pro tempore” poderem e deverem, de futuro, acrescentada a denominação de
Castelo Branco, chamar-se de Portalegre e Castelo Branco”.
31 de Março de 2006 • ESTA JORNAL | menos gente a frequentar as Igrejas
pode explicar-se de muitas maneiras. Uma delas é porque a população também tem dimuído, de forma
drástica e, curiosamente, até nas
zonas talvez mais praticantes, como são as zonas do interior. Hoje
a população está muito reduzida,
não só em número, mas também
em qualidade, ou seja, os habitantes actuais, aquela população mais
envelhecida e com menos possibilidades de participação.
Há zonas onde até a frequência
tem aumentado, mas porque também aumentou a população. Estive
na área de Lisboa seis anos como
Bispo Auxiliar, e aí não encontramos Igrejas vazias, aí encontramos
as igrejas cheias, e algumas super
cheias de gente, mas não quer dizer
que toda a gente vá lá. Mas como
lá há muita gente, as igrejas até se
tornam pequenas.
Não podemos também escamotear uma outra situação: é que há
uma certa onda de laicismo que
tem alastrado na nossa sociedade,
e que continua a alastrar, e nalguns
ambientes essa cultura do laicismo
tem influenciado a frequência. Isso
tem contribuído para diminuir.
Quanto ao facto de a Igreja ser
ou não ser responsável por essa
menor frequência, provavelmente
alguma responsabilidade terá. Pelo
menos a Igreja tem que fazer um
esforço notório e completo para
se actualizar nos seus métodos de
trabalho, e para ir de encontro à
mentalidade das pessoas do nosso
tempo, porque se não der resposta às interrogações das pessoas,
naturalmente que as pessoas se
afastarão. Mas a preocupação da
Igreja, sobretudo depois do Concílio Vaticano II que quis renovar
e actualizar, continua nesta atitude
de actualização e de renovação
para dar resposta aos problemas
da nossa sociedade. Eu penso que
isso será possível. Pelo menos há
sintomas em certos aspectos de
que a actualização da Igreja tem
sido notória.
E qual é o papel dos leigos neste
processo?
Haver um papel dos leigos, já é
significativamente melhor do que
era há uns anos atrás, mas precisa
ainda de ser muito mais implementado. Ouve-se muito falar na
falta de clero, e isso é um facto,
uma verdade. Também se ouvia
falar numa Igreja Clericalizada e
isso terá uma razão de ser, mas não
pode ser só clericalizada, nem só
laical. Segundo uma expressão de
um documento da Igreja, «nem
os leigos devem ser clericalizados,
nem os clérigos devem ser laicizados», cada um terá de tomar a sua
posição e desempenhar o seu papel.
E penso que o papel dos leigos na
Igreja é fundamental, até porque os
leigos são a grande força da Igreja
e são, numericamente, a quase totalidade com que se constituem as
comunidades cristãs. Se os leigos
assumirem a sua responsabilidade de baptizados, mesmo havendo
menos sacerdotes, as comunidades
podem crescer, podem melhorar
a sua actuação e penso que as comunidades se poderão renovar, até
pastoralmente.
sociedade
| ESTA JORNAL • 31 de Março de 2006
Clientes e utentes têm o direito de se queixar, num livro novo, próprio e obrigatório
Livro de reclamações em
Abrantes é “só para alguns”
Uma ronda pela cidade de Abrantes mostra que nem todas as instituições com a porta aberta ao público têm o novo livro de
reclamações. A falta pode dar origem a coimas. Não havendo o verdadeiro livro, os clientes e utentes podem sempre reclamar
online, directamente para o Ministério da Economia
Nelly caetano
Maria João Cardador
e Nelly Caetano
“O
s consumidores têm direito à
qualidade dos bens e serviços
consumidos”. Excerto do Artigo 60.º
da Constituição da República Portuguesa. Cada vez mais se discute a
questão da “publicidade enganosa”,
do direito do consumidor e da possibilidade que este tem de reclamar
por algo que é seu por direito: pagar
por um serviço de qualidade.
Qual a forma de o fazer? No Livro de Reclamações, que, segundo
a lei (ver caixa), estará disponível
em qualquer local onde é efectuado o atendimento ao público. A sua
existência deve ser divulgada aos
utentes através de um documento
identificativo e num local perceptível
de imediato.
Mas nem sempre o Livro de
Reclamações está disponível. Em
alguns casos, quando existe, está
pouco visível. É o que acontece, por
exemplo, na estação dos Correios de
Abrantes. Numa primeira tentativa,
é impossível saber se este estabelecimento possui o denominado “livro
amarelo” (agora vermelho para este
género de estabelecimentos, mas
cujo objectivo é o mesmo, sendo
tudo uma questão cromática). Só
com a devida chamada de atenção
feita por uma funcionária é que é
possível constatar que ele está lá.
Um pouco “escondido”, mas está.
Aparentemente, segundo a mesma
funcionária, “o livro não é muito
solicitado”, sendo que grande parte
dos utentes dos CTT optam por
fazer sugestões e/ou queixas num
local próprio para o efeito. Uma
pequena caixa, estrategicamente
colocada perto de um dos balcões,
é o depósito de tudo o que apraz aos
clientes dizer.
No entanto, a questão da visibilidade do documento que informa
que “Este estabelecimento dispõe de
livro de reclamações” é algo que não
parece estar muito esclarecida em
inúmeros postos comerciais. Nem o
documento, nem a própria existência
do livro. O facto do dístico de identificação não ser visível pode ser, por
si só, facto de reclamação, podendo
ainda ser objecto de coima.
Segundo a funcionária da reprografia da Escola Superior de
Tecnologia de Abrantes, neste estabelecimento não existe o livro de
reclamações oficial e obrigatório. À
Obrigatório. As queixas devem ser registadas nos livros oficiais e ter a resposta “mais correcta e coerente possível”
disposição dos clientes está apenas
um mero caderno de argolas, igual
a muitos outros que se encontram
na mochila de um qualquer estudante. É aí que as queixas podem
ser escritas. Assim sendo, a única
pessoa a receber a informação será
o proprietário do estabelecimento,
não existindo a certeza do envio de
qualquer reclamação a uma entidade
competente.
No que se refere à autarquia abrantina, Marisa Fábrica, do Gabinete de
Apoio ao Consumidor, explica como
se processa a existência do livro de
reclamações na Câmara Municipal
de Abrantes. Esta autarquia tem um
livro comum a todos os gabinetes,
mas ainda o livro antigo. Isto porque
o novo livro de reclamações (o “livro
vermelho”) apenas é obrigatório “para tudo o que seja negócio, venda de
algo”, enquanto que “para os serviços
públicos permanece o livro amarelo”.
Quanto à sua utilização, a funcionária reconhece que é frequente.
E acrescenta que a grande maioria
das queixas está relacionada com “a
documentação que é solicitada e que
é entregue para junção a processos
relativos a obras ou ainda quanto ao
tempo de demora que normalmente
acontece com os despachos finais
desses mesmos projectos”.
Ao realizar a queixa, explica Marisa Fábrica, a pessoa leva uma “cópia
da reclamação que efectuou e o resto
fica anexado ao livro”. A autarquia
tem posteriormente cinco dias para
enviar a reclamação para a instância
competente da tutela, que é a administração, e é dado conhecimento
ao reclamante do resultado da sua
queixa. “As respostas”, reconhece
a funcionária da Câmara, “têm de
ser dadas de forma mais correcta e
coerente possível”.
Enquanto que, na Câmara Municipal, Marisa Fábrica ajudava a
compreender a realidade do livro de
reclamações, os clientes continua-
Cinco dias para enviar a queixa
Foi recentemente alterada a legislação relativa à
obrigatoriedade de disponibilização de Livro de
Reclamações. A legislação em vigor (desde 1 de
Janeiro de 2006) – Decreto-Lei nº 156/2005, de 15
de Setembro, e Portaria nº 1288/2005, de 15 de
Dezembro – alarga o âmbito dos fornecedores de
bens e prestadores de serviços que passam a estar
obrigados a deter Livro de Reclamações, aprovando,
simultaneamente, um novo modelo. A legislação
actualmente em vigor determina que os fornecedores
de bens e prestadores de serviços têm a obrigação de
destacar do Livro de Reclamações o original, após o
seu preenchimento pelo reclamante, e remetê-lo, no
prazo de cinco dias úteis à entidade reguladora do
sector.
Os Livros de Reclamações passaram a ser exclusivos
da Casa da Moeda, sendo editados, conjuntamente,
por esta entidade e pelo Instituto do Consumidor. O
preço unitário do livro de reclamações é, actualmente,
de 18 euros.
vam a sair e a entrar do café Chave
D’Ouro, o ponto de encontro de
muitos abrantinos e um dos locais
mais característicos da cidade de
Abrantes. Também este estabelecimento tem livro de reclamações,
mas, tal como afirma o seu proprietário, Filipe Gomes, “o livro
não é nada solicitado”. É o próprio
que reconhece que “logo ao início,
quando o livro saiu e era novidade”,
foi por uma ou duas vezes solicitado, mas as reclamações não tinham
“importância”, sendo apenas uma
questão das pessoas “experimentarem a novidade”.
Noutro ponto da cidade, no Hospital de Abrantes, a azáfama também é constante e são inúmeras as
pessoas que procuram os serviços
desta unidade hospitalar. Assim sendo, também este local é obrigado a
ter livro de reclamações, sendo que
existe um por cada serviço, como
explica Margarida Pita, do Gabinete do Utente deste hospital. Grande
parte das queixas concentram-se no
serviço de urgências. Segundo o relatório de 2005, “a maior incidência”
de reclamações “diz respeito aos médicos, à parte relacional e ao tempo
de espera”.
O Gabinete tenta responder de
imediato a qualquer reclamação que
possa surgir, evitando assim a utilização do livro, que resulta muitas vezes
num “longo processo burocrático”.
Quando tal não acontece, “as pessoas
são incentivadas e estimuladas a
reclamar”, reclamação essa que é
discutida posteriormente por uma
equipa que se reúne uma vez por
semana. Aqui é feito a análise e “o
encaminhamento das exposições”,
que são enviadas para “o director do
serviço sobre o qual incidem as mesmas”. É “ele que faz uma averiguação
sobre o que se passou e responde ao
Gabinete do Utente”, que por sua vez
responde ao reclamante (no prazo de
30 dias), mas sempre com assinatura
da direcção.
Parece que o direito de reclamar
de qualquer prestação ou de qualquer serviço já foi bem assimilado
pelo comum cidadão. Quem o solicita não pode ver esse seu pedido
negado, mas existe uma alternativa
para quem não consegue aceder ao
livro de reclamações num estabelecimento. Tal alternativa encontra-se
em http://www.min-economia.pt e
é o livro de reclamações on-line do
Ministério da Economia.
O Livro de Reclamações está aí.
E para durar.
sociedade
Por uma ética
da comunicação
eunice pinto
Eunice Pinto
Tal como num jogo onde existem
jogadores e peças, actualmente, na
esfera da comunicação social, existem grupos empresariais, jornalistas
e públicos que estabelecem relações
de oferta e de procura. Muitas vezes
esquecem-se sobre quem falam e para
quem se dirigem. Estereótipos sociais,
personagens moldadas, modelos civilizacionais fechados, minorias raciais.
Estas são as cartas de um jogo que
cada vez mais se distancia da realidade.
Os jogadores em desespero procuram soluções impetuosas, as peças
parecem estar conformadas. É um
jogo sem regras onde o que interessa
é ganhar a qualquer custo. Não existe
o socialmente correcto, as partes são
esquecidas.
O 5º Congresso Cais, realizado nos
dias 20, 21 e 22 de Março na Fundação Luso-Americana, teve como tema
principal “Por uma ética da Comunicação Jornalismo Social”. O alargamento da prática jornalística, tendo
em conta novos públicos e dando
especial atenção as causas sociais, foi
um dos assuntos mais questionados.
Comunicação, atitude, consciência
ética e responsabilidade social foram
alguns das questões debatidas ao longo
dos três dias de Congresso. Entre os
presentes estavam estudantes, curiosos, fotógrafos, professores e poucos
jornalistas.
Na sessão de Abertura, Augusto
Santos Silva, ministro dos Assuntos
Parlamentares, apelou ao bom senso
dos jornalistas. O titular da pasta da Comunicação Social referiu que a não existência de liberdade de expressão pode
dar lugar à censura e que neste sentido
os meios de comunicação assumem um
Causas. Dar uma atenção especial a assuntos e públicos especiais
papel central. “Cada indivíduo deve ter
direito à cidadania”, disse o ministro. Ao
longo do seu discurso, Augusto Santos
Silva mostrou-se preocupado e apelou
à existência de uma atitude crítica na
comunicação social.
Joaquim Vieira, presidente do Observatório de Imprensa, afirmou que
a concentração dos media traduz-se,
cada vez mais, numa tendência para
conquistar novos públicos. Segundo
O’Meeting 2006
em Abrantes
Cláudia Costa
Abrantes recebeu, entre os dias 25 e
28 de Fevereiro, o Portugal O’Metting
2006, que juntou nesta cidade cerca de
1.300 participantes nacionais e estrangeiros, oriundos de mais de 20 países.
Este evento, que consta de um conjunto
de provas de orientação, é um dos mais
importantes a nível nacional, uma vez
que os seus resultados contam tanto
para o ranking da Taça de Portugal
como para o mundial de elite.
A prova, que teve a duração de
quatro dias e que se dividiu em três
percursos rurais e um urbano, trouxe
à cidade de Abrantes atletas da modalidade de renome internacional,
como foi o caso do francês Thierry
Gueourgiou, campeão do mundo.
A organização desta edição do
Portugal O’Meeting esteve a cargo
do Clube de Orientação e Aventura
(COA), de Rio Maior, e contou com
a parceria da Câmara Municipal de
Abrantes. A realização desta prova
na cidade de Abrantes é o resultado
de uma candidatura apresentada em
2002 por ambas as entidades.
Além dos percursos, que integraram a prova, os atletas tiveram ainda
a possibilidade de participar em actividades culturais, algumas integradas
na Feira de São Matias, e de fazerem
uma visita guiada à Central Termoeléctrica do Pego.
Além dos possíveis reflexos na
economia e no turismo, a cidade de
Abrantes passa também a dispor dos
mapas utilizados neste evento, cuja
produção esteve a cargo da TAGUS,
e que poderão ser usados noutras
iniciativas do género.
o presidente, compete aos jornalistas
estabelecer a diferença entre o interesse
público e o interesse do público. Na opinião de Emídio Rangel, a existência do
sindicato dos jornalistas e a inexistência
de uma ordem competente são uma das
lacunas do jornalismo português.
Olh’á revista Cais!
Nos autocarros…no metro, nas esquinas da baixa Lisboeta. Eles estão
31 de Março de 2006 • ESTA JORNAL | por todo lado. São homens e mulheres
que vivem à margem, numa sociedade
feita de modelos civis fechados. É pelos
becos de Lisboa onde se perdem e onde
se acham diariamente, que vendem
aquele que é, um produto feito por si
e para si…a revista Cais, a mesma que
organizou mais um Congresso para
discutir questões do jornalismo.
A associação de solidariedade Social
Cais, sem fins lucrativos, existe há 12
anos e desde o seu início tem levado a
cabo a resolução de problemas sociais.
Actualmente, a
Cais tem como principais objectivos
dar apoio aos que mais necessitam e
reinserir socialmente a população sem
abrigo.
A criação da revista veio permitir
e reforçar as relações interpessoais
e ajudar a introduzir homens e mulheres no mercado de trabalho. A
Cais é vendida exclusivamente pelos
sem abrigo e de momento assume
um papel de moralizador social. A
Associação Cais procura através da
publicação, não só apelar a consciências, como também informar e
sensibilizar os agentes políticos e o
público em geral.
Com a finalidade de intensificar as
relações de cooperação, a rede Cais tem
tentado aumentar o apoio à população
marginalizada e criar centros de distribuição qualificados.
Em parceria com outras instituições, tais como a fundação Ami a
Caritas Diocesana e os vários Albergues nocturnos espalhados por todo
o país, a Cais tem ao longo dos anos
promovido e fomentado o estudo e
consequente discussão de questões
sociais e políticas que afectam Portugal.
Algumas das instituições colaboradoras seleccionam cuidadosamente
os vendedores da revista e prestam
especial atenção ao sector editorial
da publicação. Apoio social, sistemas
de aquisição, financiamento de ajudas
técnicas para emprego e formação e
assistência médica são algumas das
ajudas facilitadas por estas instituições.
Todos os anos são várias as actividades desenvolvidas pela associação
social Cais para Grupos excluídos e
para todos os interessados.
Os Três Mosqueteiros
no mundo do Desporto
Catarina Véstia
O Centro Nacional de Exposições
(CNEMA), em Santarém, voltou a
acolher a maior festa da criança – a
Expocriança – que decorreu entre
os dias 15 e 19 de Março. Cerca de
2.500 crianças, a maior parte através
dos infantários e escolas, visitou o
certame, subordinado ao tema “Os
Três Mosqueteiros no mundo do
desporto”. Para além de um espaço
de divertimento, esta feira contou
ainda com vários Workshops e Ciclos de Conferências, aliados a uma
Feira Professional de equipamentos
e produtos para a Criança.
No primeiro dia da Expocriança
realizou-se um seminário intitulado
“Europa através da Educação: impulsos, mudanças e perspectivas”.
“Através do movimento cresço e
aprendo” foi o tema de uma outra
conferência, onde se abordou o desenvolvimento através das artes e
desporto. A encerrar a Expocriança,
teve lugar um painel dedicado a
“Pensar a Primeira Infância”, onde
os novos projectos e as novas políticas foram o objectivo a alcançar.
Quanto a workshops, foram três as
temáticas abordadas: “Educação e
Formação Parental”, “Musicoterapia” e “Knowing the Child Build a
Relationship”.
A feira contou ainda com vários espectáculos e actividades permanentes
como Ludotecas, Jogos, Insufláveis,
Desportos Radicais. De realçar a cidade “Lego” que esteve em exposição nesta feira, que reuniu o maior
número de construções alguma vez
realizado no nosso país.
Brincopolis,
uma aposta
na tecnologia
Sofia Macedo
O Brincopolis é um espaço nacional
dedicado aos brinquedos. A funcionar
há três anos, o projecto pretende chegar aos mais novos, mas também aos
menos novos. Um dos pontos fortes
deste espaço é o Laboratório Pedagógico Didáctico, situado no Tecnopolo
de Abrantes.
Nascido no Centro de Incubação
de Empresas Tecnológicas do Tagus
Valley, o Brincopolis é um projecto
pluridisciplinar orientado para a interactividade com os utilizadores dos
jogos e dos brinquedos por si produzidos, que resultou de uma culminação criativa de Luís Lacerda, gerente
da Brincopolis – jogos e brinquedos.
Segundo este, o projecto contou com
um investimento inicial de 70 a 80
mil euros e com a preciosa ajuda da
PME Investimento, que completou a
verba necessária para que se pudesse
avançar.
O brinquedo Brincopolis surge com
a máxima de imaginar, inovar e construir. Assim sendo, em primeiro lugar,
há que ter uma noção precisa do que
se pretende fazer e só depois se poderá
imaginar recorrendo a softwares de
desenho assistidos por computador.
Para a realização destes brinquedos,
a Brincopolis dispõe de um Laboratório Pedagógico-Didáctico, onde as
crianças e adultos são convidados
a testar e dar a sua opinião sobre os
produtos.
Actualmente, o Brincopolis conta
com a colaboração de dois funcionários. No entanto, prevê-se que dentro
de poucos meses a equipa aumente
para três, e que, com o andamento do
projecto, se recorra à contratação de
especialistas em design. Foi já a pensar
numa futura colaboração de designers,
que no passado dia 8, a turma do 1º
ano do Curso de Design e Desenvolvimento de Produtos da Esta visitou
as instalações da Brincopolis.
A aquisição dos brinquedos, nesta
fase inicial, pode ser feita na própria
Brincopolis ou em lojas especializadas de brinquedos situadas na grande
Lisboa e Grande Porto e rondarão os
20 euros.
A primeira colecção, comercializada
desde Dezembro de 2005, é indicada
para crianças entre os cinco e os dez
anos, tendo em conta as suas características pedagógico-didácticas e por
apresentarem como tema as histórias
do Porto Velho. Nesta colecção, as figuras utilizadas são animais, e cada
brinquedo não apresenta mais do que
dez peças, o que facilita a sua montagem e incentiva as crianças a montar as
peças de acordo com o seu gosto.
Ao fim dos primeiros três anos de
fabricação de jogos e brinquedos, o
objectivo do projecto Brincopolis é
possuir utilizadores seus em Portugal,
França, Alemanha, Espanha e Reino
Unido.
Para os apreciadores do projecto,
fica a indicação de que novas colecções
estão já em perspectiva. Basta apenas
aguardar e deixar que se possa imaginar, inovar e construir.
centrais
10 | ESTA JORNAL • 31 de Março de 2006
Presidente da Câmara mostra as obras que vão mudar o concelho
Abrantes tem roteiro
de desenvolvimento
São oito as obras que estão a mudar Abrantes. Reabilitam-se estradas. Investe-se
na Tecnologia Alimentar e em melhores condições para a indústria. Aposta-se
no desporto, no lazer e no bem-estar da população e dos visitantes. O Plano de
Água, um dos maiores do país, promete mudar os dias de bom tempo
Jefferson S. Gomes
A
conteceu no dia 26 de Janeiro
último. A Câmara Municipal
de Abrantes (CMA) convidou jornalistas de órgãos de comunicação
social locais para uma visita guiada
às zonas onde decorrem as obras
de relevo para este ano. Trata-se
de uma iniciativa que acontece
todos os anos e que visa, através
dos media, pôr os munícipes a par
das actividades camarárias. A visita conduzida pelo edil abrantino,
Nelson de Carvalho, contou com
o acompanhamento de um elenco
que incluía o vereador do pelouro de Ordenamento do Território,
Planeamento e Gestão Urbanística,
Albano Santos.
São vários os milhões de euros
a serem empregues nas oito obras
apresentadas e que fazem parte do
programa de desenvolvimento da
cidade, do concelho e da região.
Algumas são comparticipadas e
outras, na sua grande maioria, são
financiadas pelo próprio município.
O roteiro começa na Avenida Farinha Pereira, alvo de uma reabilitação. A primeira fase contempla o
troço que liga as rotundas do Olival
e dos Plátanos e tem como fim melhorar a “articulação de Alferrarede
ao resto da cidade”, relata Nelson de
Carvalho. Mas, reforça, a intenção é
“construir uma avenida com todas
as infra-estruturas urbanas”, numa
zona bastante movimentada e condicionada pelo trânsito.
A segunda etapa situa-se também
em Alferrarede, onde decorrem as
obras de adaptação do edifício que
vai albergar o Centro Tecnológico
Alimentar. Trata-se de um projecto
previsto na estratégia do Tecnopolo
e que, para o autarca, representa
“um esforço para a modernização
do agro-alimentar”. A relevância
do Vale do Tejo na matéria impõe
que se potencie “novos produtos
alimentares, com melhores condições no que respeita à segurança
alimentar e ao cumprimento de
todas as normas comunitárias e
nacionais”, conclui o presidente da
Câmara Municipal.
A adopção, por parte do concelho, da capacidade de acolhimento
de projectos empresariais tem trazido muitas empresas nacionais e
ALFERRAREDE
1
4
5
7
estrangeiras a Abrantes. Prova disso
é o Parque Industrial, terceira etapa
do itinerário. Para já, são seis as
empresas em fase de instalação ou
de expansão, todas contribuindo
com a média de 50 novos postos de
trabalho cada. Um cenário inverso
ao momento de estagnação económica que o país atravessa. Nelson de
Carvalho afirma que “há claramente
uma valorização de Abrantes e do
seu Parque Industrial como área
de investimento”, crendo que “isso
corresponde a uma tendência” de
igual forma devida à valorização do
Médio Tejo na linha da A23.
A requalificação da rua de acesso
ao Cemitério de Santa Catarina, já
concluída, foi mais uma das etapas.
Mais uma fase do roteiro das obras
que o edil, em tom de brincadeira,
disse não ter pressa em inaugurar.
Do cemitério, o grupo de jornalistas e o elenco camarário foram
espreitar o andamento das obras
do Campo de Basebol na Cidade
Desportiva, já em fase de conclusão. “Com alguma dificuldade de
8
3
ABRANTES
6
TRAMAGAL
2
PEGO
compreender as tácticas que aquela
coisa toda tem”, citando o presidente, os jornalistas assimilaram os
objectivos que a Câmara tem para
com o espaço que se afigura como o
primeiro campo de basebol do país,
a destacar: funcionar como espaço
desportivo alternativo; acolher a
Federação Portuguesa de Basebol
e um conjunto de acontecimentos
nacionais; posicionar-se no contexto europeu como um centro de
estágio, isto é, promover o turismo
desportivo em Abrantes.
De todas as obras visitadas a que
se destaca é a do açude. A obra que
dará origem ao Plano de Água, um
dos maiores do país, é a mais complexa “pelo volume, pelas exigências financeiras e humanas, mas
também pela sua concepção”, realça
o responsável máximo da CMA.
Em Portugal, este será o pioneiro
a contemplar uma tecnologia de
insufláveis japoneses. Para o autarca, o açude significa ainda um
investimento de maior impacto pelo
“reordenamento, pela imagem e
1
Requalificação da Av. Farinha Pereira
2
Centro Tecnológico Alimentar
3
Parque Industrial
4
Requalificação da Rua de acesso
ao Cemitério de Sta Catarina
5
Cidade Desportiva - Campo de Basebol
6
Açude
7
Piscina Municipal do Tramagal
8
Parque Industrial do Tramagal
pelo conjunto de oportunidades
que proporcionará” aos abrantinos
e à região na vertente económica. O
que a Câmara Municipal pretende
é, explica Nelson de Carvalho, “centrar no Plano de Água uma importante parte da vida de recreio, do
lazer, do turismo” nas estações da
Primavera e do Verão.
Do lado sul do concelho, o realce
do roteiro recai sobre a piscina e o
Parque Industrial do Tramagal. A
primeira foi inaugurada em Janeiro
e evidencia-se pelo inovador sistema ultravioletas que permite obter
melhores resultados no tratamento
da qualidade da água, quanto ao
cloro, o que, por exemplo, possibilita a realização de sessões de natação
com bebés. A segunda, com todos
os lotes de terreno já entregues a
empresas, quase todas do Tramagal,
foi a solução encontrada para “se
reorganizarem, se modernizarem e
para responderem às exigências do
mercado”, dado que, de acordo com
o presidente da Câmara Municipal,
se encontravam mal organizadas e
com dificuldades em se desenvolver. Acrescenta-se ainda às iniciativas camarárias a requalificação do
pavimento de toda a cintura urbana
da Estrada Nacional 118 na mesma
localidade.
Nelson de Carvalho defende que
“as obras não funcionam por mandato”, mas por “um plano de actividades estratégico”, umas e outras em
fases diferentes de andamento, mas
no horizonte deste ano.
centrais
a AÇUDE
Localiza-se a cerca de um quilómetro a jusante da ponte
rodoviária de Abrantes. Será constituído por quatro comportas insufláveis. O comprimento de margem a margem é de
aproximadamente 200 metros, com mais de 18 metros de
largura. Integra uma passagem de peixe localizada na margem
esquerda sobre a plataforma rochosa aí existente, permitindo
a circulação de diversas espécies piscícolas. Na margem direita
integra-se a torre de manobras, no topo do qual se instala a
casa de comando e controlo.
Valor da adjudicação: 9.450.290,28 euros
Adjudicatório: Consórcio MSF Moniz da Maia, Serra & Fortunato Empreiteiros, S.A./Construtora do Lena SA/SETH Sociedade
de Empreitadas e Trabalhos Hidráulicos, SA.
Total da candidatura: 10.404.060,82 euros
Total comparticipação FEDER aprovada: 4.681.827,37 euros
Total comparticipação PIDACC aprovada: 2.601.015,21 euros
Prazo de execução: 670 dias
Ponto de situação: em execução
Conclusão prevista: Janeiro de 2007
Tendo em conta o cumprimento das normas técnicas oficiais,
é construído um muro em betão que envolve todo o recinto
suportando a vedação de protecção para todo o campo. Serão
construídos passeios na parte exterior e 17 lugares para estacionamento.
Valor da adjudicação: 545.000 euros + IVA
Adjudicatório: Lena Engenharia e Construções, SA
Prazo de execução: 180 dias
Ponto de situação: em fase de conclusão
31 de Março de 2006 • ESTA JORNAL | 11
(previsão para o arranque da empresa)
Ponto de Situação: fase final de instalação
OKE Tillner Perfis, Lda.
Ramo: produção e comercialização de perfis de plástico para a
indústria automóvel.
Expansão com a construção de um pavilhão para armazenamento e produção que permitirá duplicar a capacidade de
produção.
Ponto de Situação: fase final de instalação (3 fases)
Funcionários: 50 actualmente + 60 novos postos de trabalho
em regime de turnos rotativos, faseado.
Indaver NV Portugal
Instalação de uma unidade industrial de transferência de resíduos industriais.
Ponto de Situação: em construção
Manuel Oliveira Marques 2, Construções Metálicas, SA
Instalação de uma unidade de fabrico de produtos forjados,
estruturas metálicas, estampilhagem e laminados.
Ponto de Situação: em construção
CTT – Correios de Portugal
Instalação do novo Centro de Distribuição Postal. Tem como
objectivo desanuviar, em matéria de circulação e especialmente na componente do estacionamento, uma vez que a empresa
passará a fazer o parqueamento das suas viaturas de distribuição postal.
Ponto de situação: em projecto
a REQUALIFICAÇÃO DA AVENIDA FARINHA
PEREIRA – 1ª fase (entre as rotundas do
Olival e dos Plátanos)
a CENTRO TECNOLÓGICO ALIMENTAR
(CTA) – TECNOPOLO
Adaptação do pavilhão dez do Tecnopolo. O pavilhão será
utilizado como nave oficial, onde ficarão localizados os equipamentos piloto. No geral, serão criados gabinetes de trabalho,
laboratório para pesquisa, áreas de armazenagem, áreas técnicas e nave de equipamentos piloto.
O CTA tem como essenciais objectivos:
- Funcionar como o principal pólo de suporte de desenvolvimento na Indústria Agro-Alimentar de Portugal, focando as
que utilizem métodos produtivos e matérias-primas específicas do país;
- Ser guardião dos sabores regionais tradicionais;
- Realizar acções de formação de quadros e operadores;
Promotores: Município de Abrantes; Nersant; ESTA – Escola
Superior de Tecnologia de Abrantes; A. Logos; empresa STI e
empresas do sector.
Valor: 796.123,26 euros + IVA
Adjudicatório: Tecnorém Construções Civis e Obras Públicas,
Lda.
Financiamento: Apresentada candidatura ao Valtejo.
Prazo de execução: 240 dias
Ponto de situação: em execução
Conclusão prevista: Julho de 2006
Alargamento da Avenida e algumas rectificações do troço, trabalhos de pavimentação, construção de passeios, melhoria de
iluminação pública, colocação de sinalização horizontal e vertical, melhoramento das redes de abastecimento de água, águas
residuais e pluviais. A empreitada contempla ainda a plantação
de árvores e a construção de mais um abrigo de passageiros.
Valor da adjudicação: 462.531 euros + IVA
Adjudicatório: Cerviter Vias e Terraplagens, SA
Prazo de execução: 180 dias
Ponto de situação: em execução
Conclusão prevista: Abril de 2006
a PISCINA DO TRAMAGAL
Equipamento composto por uma piscina aquecida e coberta,
com tanque de aprendizagem. Dispõe de instalações sanitárias
individualizadas para os dois sexos, ambas equipadas para
deficientes motores e um pequeno espaço destinado a bar
com sala de estar e vista para a piscina.
Classes: natação para bebés (até à sua inauguração inexistente
em Abrantes); natação para crianças e adultos; hidroginástica
e hidroterapia.
Valor da adjudicação: 890.000 euros
Adjudicatório: Sociedade Socoliro Construções SA
Total da candidatura: 1.047.423,68 euros
Total comparticipação FEDER Aprovada: 680.818,89 euros
Ponto de situação: concluída
a REQUALIFICAÇÃO DA RUA DE ACESSO AO
CEMITÉRIO DE SANTA CATARINA
A intervenção começou na rua de São Jerónimo e desenvolveu-se até ao Cemitério. A estrada foi asfaltada, tendo sido colocado um conjunto de árvores que possam sugerir um “túnel”
para conduzir os cortejos fúnebres até ao local. O arruamento
é dotado de rede de esgotos pluviais e foi colocada sinalização
vertical e horizontal.
Valor: 102.105 euros + IVA
Adjudicatório: João Salvador, Lda.
Ponto de Situação: concluída.
a PARQUE INDUSTRIAL – NOVAS EMPRESAS
EM FASE DE INSTALAÇÃO OU EXPANSÃO
a CIDADE DESPORTIVA – CAMPO DE
BASEBOL
Espaço polivalente que, para além do basebol, estará apto
para receber outras modalidades desportivas quer para treino,
quer para competição, a nível do futebol, râguebi e atletismo.
SD – Sociedade de Decoração de Jardins, SA
Instalação de uma unidade de fabrico de artigos em arame
para decoração de varandas e terraços. Nº de trabalhadores: 50
(previsão para o arranque da empresa)
Ponto de Situação: fase final de instalação
Vieira & Alves Metalomecânica Lda.
Instalação de uma unidade de serralharia civil com o objectivo
de produzir torres para aerogeradores. Nº de trabalhadores: 50
a PARQUE INDUSTRIAL DO TRAMAGAL
Instalação da empresa Irmãos Lemos Lda. Com sede em Tramagal, é uma Sociedade de Transportes Rodoviários de Mercadorias por conta de outrem e por conta própria. A empresa
dedica-se à prestação de serviços de serralharia mecânica com
representações industriais, montagens e manutenção industrial.
Fonte: Câmara Municipal de Abrantes
Fotos: Serviço de Divulgação e Informação/CMA
12 | ESTA JORNAL • 31 de Março de 2006
esta
ESTA organiza ’05
Encontro de Comunicação
liliano pucarinho
“O IPT está em festa”. Foi assim que
o director do Instituto Politécnico de
Tomar (IPT), António Pires da Silva,
caracterizou o espírito vivido durante o ’05 Encontro de Comunicação
da Escola Superior de Tecnologia de
Abrantes, integrado na Festa da Ciência, Cultura e Tecnologia.
O responsável pela instituição aproveitou a oportunidade para realçar as
alterações que se têm verificado na
Imprensa Regional, algumas delas como consequência da participação dos
alunos da ESTA. Nelson de Carvalho,
presidente da Câmara de Abrantes,
lembrou que considera a ESTA como
a sua escola. Deixou também, como
mensagem política, a necessidade de
cooperação entre as instituições de
ensino superior e as empresas. Tudo
em nome do desenvolvimento da região. Concordando com o autarca, o
director da ESTA, Miguel Pinto dos
Santos, disponibilizou a escola para essas parcerias. Por seu turno, a directora
do departamento de Comunicação
Social, Maria Romana, optou por um
discurso informal, descrevendo os
bastidores deste encontro. A palestra
de abertura foi proferida por Eduardo Prado Coelho, que se centrou na
evolução dos meios de comunicação,
salientando a importância de cada
um deles.
uns e de outros jornais. No entanto,
Landerset Cardoso argumenta que
na imprensa gratuita não há análise,
não há reflexão, não há investigação
profunda, não há contextualização.
No último painel do 05’Encontro,
dedicado ao tema “Responsabilidade
Social: Comunicação ou Intervenção?”,
discutiu-se a crescente valorização e a
construção do valor de uma empresa.
“A comunicação ao serviço da gestão”
é, para Ricardo António, da agência
“Companhia do Texto”, o principal
papel das agências de comunicação.
“É necessário criar pontes entre as
empresas e os seus públicos”, afirmou
ainda, referindo-se à importância das
empresas em gerir riscos. Sabe-se que
não há responsabilidade social se também não houver ganhos entre as empresas e o público-alvo. “O sucesso do
desenvolvimento sustentável, está dependente da sensibilidade dos grande
públicos”, afirmou Maria Vasconcelos,
Debates. “Os jornalistas são viciados em novidade, sem memória política e deslumbrados pelo poder”
da agência “Sair da Casca”.
Os oradores concluíram que não há
com o jornalismo”, e o apoio prestado estratégia política direccionado para o director do jornal Metro, sublinhou responsabilidade social sem comunitem vindo a ser essencial ao desenvol- combate e não exclusivamente para a que o objectivo dos jornais gratuitos cação e sem transparência. Cabe aos
vimento deste projecto. “Se não fosse vitória”. O bloquista considera que “os não é concorrer com a imprensa paga, media educar, informar, dar destaque
o apoio da imprensa não seríamos o jornalistas são viciados em novidade, como o Público, mas sim captar outros a determinados conteúdos no sentido
que somos hoje”, defendeu o presi- sem memória política e deslumbrados leitores: “O Metro não quer ser igual de uma mudança, para padrões de
dente. Opinião diferente expressou pelo poder”. José Diogo, director-geral ao Público, o Metro quer ser igual ao produção e consumo mais sustentáJorge da Costa Rosa, presidente da da agência Agenda-Setting, alertou Metro”. João Manuel Rocha, jornalista veis. Essa comunicação, que terá de
Real Associação do Ribatejo. Na sua para a necessidade de se praticar mais do Público, acrescentou que os jornais ser permanente, ajuda a criar uma
opinião, existe uma “ditadura jorna- Marketing Político e menos Marketing gratuitos incentivam as pessoas a ler, reputação. Embora se saiba, segundo
Quatro painéis,
lística” condiciona o tratamento da Eleitoral. “Os políticos têm a obrigação aumentando desta forma hábitos de os intervenientes, que existem emquatro temas actuais
causa monárquica em Portugal. Jorge de explicar às pessoas o que estão a leitura. Na sua opinião, o surgimento presas que o fazem para “um lavar de
No primeiro painel do encontro, da Costa Rosa deixou ainda a certeza fazer ao longo do seu mandato e não deste novo meio não implica o fim fachadas”, facilmente “desmontáveis”
Henrique Botequilha, assumidamente de que os meios de comunicação de apenas quando se querem reeleger”.
dos jornais tradicionais. “Obriga o pois “tudo se descobre”. “Ainda são
um “jornalista de causas”, deixou o seu pendor regional são mais aptos a faA “Imprensa Gratuita” foi o tema do último a evoluir, a repensar a sua po- poucos os exemplos de acção abrantestemunho como enviado especial da cilitar a divulgação de informação, do terceito painel do encontro organizado lítica editorial, podendo haver até uma gente integrada no plano estratégico
Visão a Timor, no seu percurso de in- que os de pendor nacional.
pelo Departamento de Comunicação complementaridade”, explicou João das empresas”, concluiu Maria Vasdependência, entre 1999 e 2002. A sua
O segundo painel do 05’ Encon- da ESTA. Enquadrando a discussão, Manuel Rocha.
concelos.
experiência leva-o a nomear a causa tro de Comunicação foi dedicado ao Paulo Ferreira, subdirector do Público
A palestra contou ainda com a
O ’05Encontro de Comunicação da
Timor como “invulgar” e confessa a “Marketing Político”. O dirigente do e docente da ESTA, defendeu que “se a presença de Luís Landerset Cardo- ESTA foi ainda marcado por outras
influência que o factor “emoção” tem Bloco de Esquerda, Daniel Oliveira, imprensa gratuita começar a marcar a so, do Obercom, que explicou que a componentes, incluindo a presença do
sobre os jornalistas. “Apesar dos limites considera que é um erro pensar que agenda política do dia, então os jornais imprensa gratuita tem características professor Eduardo Prado Coelho e a
éticos, é importante que o jornalista o Marketing Político é que ganha pagos deverão começar a preocupar- semelhantes às da imprensa tradicio- realização de quatro workshops: Técnão deixe que estes lhe silenciem o eleições. “Esta é apenas uma parte da se”. Por sua vez, Nuno Henrique Luz, nal. Exemplo disso são as secções de nicas de Pivot, certificado pelo Centro
direito que qualquer cidadão
de Formação de Jornalistas
tem: o de se indignar e de(CENJOR); Estudos de Mernunciar”. Porém, evidenciou
cado, certificado pela emprea importância de não sobresa Metris GfK; Técnicas de
por emoções pessoais ao deApresentação, certificado pela
sempenho profissional: “O
“A liberdade de imprensa tem como condição
de liberdades, direitos e garantias”, reforDynargie, empresa suíça de
jornalista pode usar os meios
essencial uma regulação independente”. Este
çando a ideia de que a ERC – que tomou
consultoria e formação; Clipfoi o mote da palestra de encerramento do ’05
que tem para forçar agendas
posse no dia 17 de Fevereiro na Assembleia
ping: Monitorização, Gestão e
em nome de uma causa que
Encontro de Comunicação da Escola Superior de
da República, numa cerimónia envolta em
Análise de Informação Noticonsidere justa, mas não
Tecnologia de Abrantes (ESTA), dado pelo minispolémica devido à ausência do Sindicato
ciosa, certificado pela agência
tem o direito de omitir nem
tro dos Assuntos Parlamentares, Augusto Santos
de Jornalistas (SJ) – deve ser eficaz para
de comunicação Manchete.
manipular a realidade com
Silva. O responsável pela tutela da comunicação
“não ficarmos diminuídos na liberdade de
Na sessão de encerramenvista ao seu próprio fim”. Pasocial dirigiu-se a uma plateia de estudantes da
expressão”. O ministro explicou, ainda, que
to, Miguel Pinto dos Santos,
ra Henrique Botequilha, o
área, chamando a atenção para os artigos da
a regulação é a outra face da liberdade de
director da ESTA, deixou o
jornalismo de causas é uma
Constituição da República que consagram os
expressão. A isenção e independência do
desafio para o próximo ano:
realidade subjectiva, mas há
deveres, direitos e liberdades dos jornalistas.
jornalista mereceram também a atenção de
“Voltaremos a encontrar-nos
que não ignorar a objectiviCom uma palestra que abordou questões da
Santos Silva, para quem o sigilo profissional
para o ‘06 Encontro de Codade dos factos no exercício
actualidade – como a liberdade de imprensa, o sigilo profissioé um dever deontológico, “só quebrável nos casos previstos no
municação, ainda melhor”. A
da profissão.
nal dos jornalistas e a recém-criada Entidade Reguladora de
Processo Penal”.
última intervenção coube ao
Neste painel, a causa da soComunicação (ERC) –, o ministro dos Assuntos Parlamentares
O ministro apresentou três “antídotos” para combater “o vírus da
presidente do IPT, que consilidariedade social foi repreencerrou um encontro que, ao longo de três dias, proporcionou
parcialidade e da dependência jornalísticas”: separação do facto
derou a presença do ministro
aos 200 participantes (incluindo 40 exteriores à ESTA) um consentada por Jorge Oliveira,
enquanto objecto de notícia e enquanto consequência políticocomo apoio e incentivo, e ao
Presidente do Espaço T, uma
junto de quatro painéis, quatro workshops, uma sessão de cinesocial; separação entre informação e entretenimento; separação
mesmo tempo responsabiliorganização que se dedica à
ma seguida de debate, a apresentação de comunicações livres e
da informação e espectáculo. Para um exercício salutar da futura
zação para esta instituição de
integração social. Segundo o
uma exposição de fotojornalismo.
profissão, Santos Silva recomendou aos estudantes uma leitura
ensino, num momento conorador, esta associação “tem
Doutorado em Sociologia da Cultura e da Comunicação, Santos
imparcial e um cumprimento isento do Código Deontológico
siderado difícil para o ensino
uma relação muito pacífica
Silva considera que a informação “deve respeitar os conjuntos
dos Jornalistas.
superior.
Ministro reforça direitos dos jornalistas
esta
31 de Março de 2006 • ESTA JORNAL | 13
Marcelo entrevistado por alunos
liliano pucarinho
presente situação do canal,
considerando que o mérito
da estação pública se deve ao
saneamento da situação financeira e à valorização do serviço
público. No entanto, alertou
para a necessidade daquele
serviço ser acompanhado de
audiência. O polémico caso
Envelope 9 do jornal “24 horas”, o serviço público e a influência da televisão na nossa
sociedade foram outros dos
temas falados. Ainda acerca
dos media, o entrevistado defendeu que “a televisão é um
instrumento muito poderoso”
e que os governos, “sempre que
pode, intervêm”. Por outro lado, “os governos são hipersensíveis” e “quanto mais fracos,
mais sensíveis são”. Mas nem
tudo é, aparentemente, mau:
“Há um lado pedagógico da
televisão. Deve dar às pessoas
o que gostam, mas também
levá-las a conhecer novos conteúdos”.
E porque o cenário foi montado numa escola superior, a
educação não foi descorada.
No que toca ao ensino em geral,
o ex-deputado opinou sobre a
“medida impopular por parte
do Estado quanto ao encerramento de escolas”. Contudo,
foi no Tratado de Bolonha
que Marcelo Rebelo de Sousa
mais insistiu, considerando os
politécnicos mais flexíveis ao
novo sistema de ensino. Como aspectos “complicados”, o
professor apontou as condensações das formaturas, onde as
licenciaturas podem vir a ter a
duração de três ou quatro anos.
“Um sinal dos tempos é a convergência entre politécnicos e
universidades”, rematou.
André Canoa
Em vez de uma tradicional
conferência, Marcelo Rebelo
de Sousa protagonizou, na ESTA, a 22 de Fevereiro, um novo
formato de debate de ideias. Os
alunos Vera Agostinho e Bruno Ribeiro, ambos estudantes
do 5ºano do curso de Comunicação Social da instituição,
foram os jornalistas/moderadores que conduziram a entrevista, com público, ao exlíder social-democrata. Tudo
isto foi realizado num cenário
simulado de estúdio televisivo. Os estudantes iniciaram o
programa descrevendo o perfil do entrevistado. Só depois
partiram para a entrevista,
que teve como base assuntos
relacionados com os media,
educação, choque de culturas
e eleições presidenciais.
O jurista abriu a sua intervenção reportando-se à TV
Digital e à crescente importância da televisão por cabo no
panorama audiovisual. O aproveitamento político através
deste meio de comunicação foi
outro motivo de abordagem. O
professor deu como exemplo o
caso italiano, delineando fronteiras entre Romano Prodi e
Sílvio Berlusconi. “Berlusconi
tem a favor o facto de ser um
magnata da televisão, utiliza o
meio televisivo de forma agressiva” – frisou o convidado. Por
oposição, “Prodi é um racional,
um anti-show, um tecnocrata”.
Segundo o professor, esta situação coloca novos problemas
à democracia.
O actual comentador da
RTP pronunciou-se sobre a
O testemunho de Vera Agostinho
“Entrevistar o Marcelo Rebelo
de Sousa? Eu?”
A falta de confiança não me
impediu de dizer logo que
sim.
O objectivo era simular um
programa de televisão do género “As Escolhas de Marcelo”,
a que eu, confesso, nunca tinha assistido.
Faltava uma semana e era
preciso preparar a entrevista.
Escolher os temas que seriam
mais importantes, mais interessantes. E logo numa altura
em que tudo parecia estar a
acontecer.
Saber que ia trabalhar com o
Bruno deixou-me mais segura.
Se há alguém que não gosta
O testemunho de Bruno Ribeiro
À conversa com o professor
Um sonho tornado realidade?
de falhar é ele. Estudávamos
de noite. Líamos todos os jornais e revistas. Pesquisávamos
na Internet. Foi um trabalho
fácil porque quando duas pessoas se entendem as coisas
tendem a correr bem.
E o dia chegou. Estávamos,
mais do que nervosos, ansiosos. Almoçámos juntos para
descontrair e acho, sinceramente, que foi o melhor que
podíamos ter feito.
O programa começou. A sala
estava cheia mas, como não
tínhamos que olhar de frente
para a assistência, isso era o
menos intimidante. O pior era
concentrar-me nas respostas
do professor, estar atenta e
O telemóvel, personalizado
com uma melodia de Chopin,
tocou baixinho… “Não está interessado entrevistar Marcelo
Rebelo de Sousa, na próxima
semana?”. Subitamente, um arrepio tomou conta de mim…
não pelo facto de me estar a
ser dada a oportunidade de
entrevistar uma alta personalidade da vida política nacional,
mas antes fazer uma das coisas
que mais gosto: televisão. A
minha cabeça foi invadida por
ideias, deu voltas e mais voltas.
A minha primeira preocupação
foi ver “As escolhas de Marcelo”. Os objectivos primordiais
foram saber algo mais acerca
dele, perceber a sua persona-
perceber o seu raciocínio acelerado. Às vezes a minha vista
parecia começar a desfocar de
olhar tanto para ele. Outras
parecia que eu nem estava
ali, estava a assistir a tudo de
cima. Mas ele facilitou-nos o
trabalho. Foi simpático, acessível. E quando entrámos no
ritmo foi tudo mais fácil.
Eu e o Bruno arranjámos maneira de comunicar através de
bilhetes discretos. Depois já
bastava olhar um para o outro
para nos entendermos. Acho
que no fim correu tudo bem.
Há sempre coisas que falham,
é natural que assim seja. A
primeira vez é sempre a mais
difícil, já se sabe.
lidade. Depois, era necessário
estar preparado no domínio da
actualidade. A partir daí – confesso – da minha cabeça não
mais saiu o Professor Marcelo,
nem o dia que me iria colocar
frente a ele. As noites, até à entrevista, foram mal dormidas.
Em qualquer hora da noite, estando mergulhado num sono
profundo ou não, lá saía uma
ideia para o papel. Já no dia,
um stress completo. Quando
a hora da “esgrima” chegou,
perante uma audiência bem
composta, as câmaras ligaramse, os micros afinaram-se. Tudo
de olhos postos, também, em
dois amadores. Duas pessoas
que pouco viveram na prática o
universo televisivo (deixo aqui
um elogio pela forma fácil como foi trabalhar com a Vera).
Eis que começa o “gladiar”!!! O
carismático entrevistado está à
vontade. Trata-se, pelo menos
naqueles instantes iniciais, de
uma pressão, uma tensão sem
tréguas… mas bom de sentir.
Seria adrenalina? Não sei. Muita coisa falhou… muita coisa
faltou… muito teremos que
aprender com certeza. Quem
não o tem? Será que tivemos a
nossa oportunidade ou outras
irão surgir ainda? Trabalho todos os dias de forma a alcançar
os objectivos que me propus
atingir. Eu estou aqui… mal
posso esperar.
14 | ESTA JORNAL • 31 de Março de 2006
emprego
UNIVA
um projecto de emprego
Ana Raquel ferreira
Elaborar currículos, redigir cartas de
apresentação, saber responder a um
anúncio de oferta de emprego, saber
comportar-se numa entrevista. Estas são
algumas das ajudas prestadas pela UNIVA
Ana Brandão
e Ana Raquel Ferreira
A
UNIVA (Unidade de Inserção na Vida Activa) é
um projecto que nasceu de
uma parceria entre a Câmara Municipal de Abrantes
e o Instituto de Emprego e
Formação Profissional (IEFP), da mesma cidade. Este
projecto tem como objectivos “ajudar a população,
essencialmente os jovens,
em termos de procura de
emprego, formação e orientação vocacional. Ou seja,
tudo o que tenha a ver com
o apoio à inserção escolar e
profissional”, esclarece Renata Almeida, animadora deste
projecto.
Apesar de ser um serviço
ainda recente em Abrantes
passou, já, “por um processo
de divulgação nos órgãos de
comunicação social”. Este
é o veículo utilizado para
fazer chegar a UNIVA junto da população em geral.
Para além disso, é feito um
contacto mais directo nas
escolas e instituições através
de cartões e folhetos, cartas
e e-mails enviados às empresas.
Jovens à procura de pri-
meiro emprego, desempregados ou em risco de desemprego, após tomarem
conhecimento deste projecto, dirigem-se à UNIVA onde será feita uma entrevista
de forma a conhecer melhor
o candidato relativamente às suas expectativas, às
suas qualificações e ao “local do país onde gostaria
de trabalhar”. Porque, hoje
em dia, encontrar emprego
não é uma tarefa fácil, “não
basta fazer um currículo; é
preciso saber estar numa
entrevista de emprego e
conhecer as empresas que
estão interessadas no seu
perfil profissional”. De acordo com as ofertas que têm,
os candidatos serão encaminhados para as devidas
empresas.
As UNIVA’s são financiadas pelos IEFP’s, uma vez
que “são eles que aprovam
e apoiam tecnicamente os
projectos”. Para além disso,
asseguram e comparticipam
a remuneração de animadores e de equipamentos. Uma
vez recebidos os fundos, estes serão investidos, maioritariamente, em pessoas com
menor nível de formação ou
sem qualquer qualificação.
“Como estamos num período de crise, há que distribuir
Formação. A região de Lisboa absorve a maior parte dos apoios comunitários, mas a UNIVA de Abrantes prevê negociações
esses mesmos fundos”.
Existe uma questão importante relativamente a
esta região que diz respeito
ao presente quadro comunitário de distribuição dos
fundos para a formação
profissional. Renata Almeida explica que Abrantes se
insere na “região de Lisboa e
Vale do Tejo e, como tal, os
fundos para esta região são
deficitários porque Lisboa
absorve mais fundos”. Para
fazer face a esta situação, serão efectuadas negociações
dos fundos para ter um tratamento diferente daquele
que existe neste momento.
A população não tem tido
os mesmos mecanismos de
apoio em termos comunitários. “Não havendo formação financiada, diminui
a oferta”, salienta a animadora.
A UNIVA tem uma parceria com um outro projecto
“Crescer Cidadão”, que disponibiliza um portal, www.
portalemprego.pt, onde
Renata Almeida coloca algumas ofertas. A área das
vendas é a que mais oferece a
possibilidade de emprego.
“Uma boa iniciativa”
Ana Margarida Marques,
29 anos, com o 12º ano de
escolaridade na área de
Contabilidade e desempregada até há pouco tempo,
procurou a UNIVA. “Fiquei
bastante contente com o
apoio que obtive”. Realça
o trabalho desempenhado
pela animadora que dispo-
nibilizou muita informação, mantendo um contacto
constante. Recentemente foi
colocada na Câmara Municipal de Abrantes na área de
Arquivo.
Firminio Simplício, 45
anos, Engenheiro Químico, era responsável de uma
secção numa empresa agroindustrial. Neste momento
está desempregado e também procurou a UNIVA.
Tem boas expectativas de
encontrar emprego: “Espero
que até ao final do mês a
minha situação esteja resolvida”. Considera “uma boa
iniciativa” por parte da Câmara Municipal de Abrantes
e aconselha o projecto.
UNIVA
 Edifício Pirâmide – Alto de Santo António
2200 Abrantes
 241366464 / 241363165
 [email protected]
 Horário de funcionamento
2ª, 3ª, 5ª e 6ª feiras - 10h00 – 12h30 / 14h30 – 17h30
4ª feira – 14h30 – 17h30
 Animadora: Renata Almeida
desporto
31 de Março de 2006 • ESTA JORNAL | 15
O novo director desportivo do AFC é Jorge Santos, 45 anos, taxista
Entre o táxi e o balneário
Uma vida inteira dedicada à sua profissão que, garante, ensina “a ver a vida com outros olhos!” Sempre alegre e bem-disposto, abre
a porta do seu táxi como quem abre as portas de sua casa. Recentemente convidado para assumir o cargo de director desportivo
do Abrantes Futebol Clube (AFC), apenas deixa um pedido a todos os que o conhecem: “Acreditem em mim!”
liliana séca santos
Maria José Vaz
Q
uem se dirige à praça de táxi dificilmente se deixa enganar. Ar
jovial, leve e descontraído. Um tom
de voz afável, amistoso e genuíno. As
linhas do rosto marcadas por vivências e saberes que não foram mais do
que lições de vida. Ao abrir as portas
do seu táxi, “Jó” (como é carinhosamente tratado) é mais do que um
simples taxista. É um ouvinte. Um
conselheiro. Um amigo!
Ser taxista não se tratou de uma
opção. O seu bisavô tinha charretes
com cavalos para transportar pessoas.
O avô tinha táxis. O pai herdou-os.
Mais tarde o empregado adoeceu e
reformou-se. Quando o pai lhe pediu
ajuda, Jorge Santos não recusou. Como o próprio afiança: “Fui ficando.”
Até hoje!
“Quando comecei, adorava esta
profissão” – diz Jorge Santos. Como
taxista, considera ter tido uma vivência fabulosa. E explica que os taxistas são um pouco de tudo: “Somos
médicos, padres, advogados”. Tudo
isto em resultado das relações que
estabelecem com os clientes e para
os quais é preciso ter uma palavra de
conforto, pois muitos levam para o
táxi as frustrações e desilusões do diaa-dia. E, na sua opinião, é importante
fazer ver às pessoas que nem sempre
as coisas são como elas pensam. “Esta
é uma das profissões que mais nos
ensina o que é a vida!” – defende. Por
experiência própria sabe que “neste
meio” se lida constantemente “com
todo o tipo de pessoas”. Os problemas
pessoais deixam de ter relevância face
aos dramas dos que transporta no
táxi e que nele encontram um ombro amigo.”Lidamos com criminosos,
traficantes, prostitutas, gente com as
maiores formações, juízes, médicos,
engenheiros, estudantes”. Mas, apesar
de tudo ressalva,“ é uma experiência
gratificante!”
Situações caricatas? Esboça um
sorriso e parece não ter dúvidas: “É
uma profissão de risco, sabe? Uma vez
fui assaltado em Proença-a-Nova por
três indivíduos evadidos da prisão de
Leiria.” Na altura foi um valente susto.
“Tinha cerca de 22 anos e julgava
que não tinha medo de nada e que
ninguém me podia fazer mal.”
Para este taxista, o dia começa por
levar os filhos à escola e dirigir-se à
praça de táxis, onde, de resto, permanece o dia todo, atendendo aos telefonemas de clientes, do presidente ou de
outros elementos da direcção do AFC
com os quais está permanentemente
em contacto. No final do horário de
trabalho, dá “um pulinho até ao estádio”, para ver e falar com o presidente,
equipa técnica e jogadores.
“Sou puro benfiquista, mas se calhar agora tenho uma queda maior
Orgulho. Jorge Santos, desde sempre envolvido com o AFC, está feliz com o voto de confiança que lhe foi dado
pelo Abrantes!” – diz, convicto de
que o facto de ter assistido ao nascimento do clube, a proximidade e
amizade que sempre manteve com
os seus fundadores faz com que viva
a sua realidade mais intensamente.
Apesar de “saber
que anda aí gente a
tentar minar e a
fazer pressão” em
sentido contrário,
Jorge Santos
acredita na direcção
“Em sete anos se faltei a quatro jogos
foi muito!” – conta.
Quando o anterior director desportivo, Nuno Pedro, se demitiu do clube,
o actual presidente, Alberto Lopes,
recorreu a Jorge Santos. “Quando
me pediu que o ajudasse, eu disse
que sim, mas nunca pensei que fosse
para substituir quem quer que fosse”
– explica. Na verdade, só teve conhecimento do cargo que ia ocupar
quando foi oficialmente apresentado
à comunicação social como director
desportivo.
Feliz pelo voto de confiança que
lhe foi dado, Jorge Santos acredita que
“com esta direcção e com o empenho
que tem tido podemos levar isto a
bom porto.” Isto, apesar de “saber que
anda aí gente a tentar minar e a fazer
pressão contra a mesma” – remata.
Sempre frontal, Jorge Santos acredita em valores como a honestidade
e a dignidade e mostra-se profundamente magoado e revoltado com as
pessoas que desde a primeira hora
abraçaram o projecto “AFC e que disseram que amavam este clube e que
só actuariam em prol dele, mas que
agora tudo fazem para o prejudicar”.
A equipa de futebol do Abrantes é, na
sua opinião, “composta por homens
muito sérios e profissionais”. E acrescenta: “É uma equipa da qual temos
orgulho!” Admite que actualmente o
clube atravessa um período de dificuldades económicas, mas entrega-se
de corpo e alma à sua nova tarefa, que
exerce sem que dela aufira qualquer
remuneração. Acredita que parte da
experiência que teve enquanto jogador de futebol, a maneira como lida
com o balneário, os jogadores e com
toda a orgânica que envolve o próprio
futebol são mais valias que põe ao
serviço do clube.
Nos seus tempos livres, adora
xadrez e tudo o que envolva jogos
de cartas. Adora jantar e sair com
os amigos. “São aqueles amigos que
vêm desde os cinco anos e que nos
encontramos ao fim da tarde para
jantar e beber uns copos até às cinco
da manhã. Para nos abrirmos uns
com os outros, para recordarmos, para nos ajudarmos e para mantermos
o espírito jovem!” E o espírito jovem
só se mantém se as pessoas acreditarem todas umas nas outras. “Tenho
muitos amigos que me conhecem e
sabem que sou sincero e honesto no
dia-a-dia, nas relações, nunca quis o
mal de ninguém” – assegura.
A viagem de táxi não pode terminar sem uma última pergunta. Como
acha que as pessoas lidarão consigo
agora que também é director desportivo? A resposta não poderia ser
mais objectiva: “É tudo uma questão
de esforço, dedicação, empenho e disciplina. De resto, continuo o mesmo
de sempre!”
Perfil
Jorge Santos nasceu em Abrantes há
45 anos. É taxista desde os 18 e diz
que não trocava esta vida por nada.
Amante confesso do desporto-rei,
guarda ainda na memória o Mundial
de ’66 e a figura de Eusébio. São
momentos que acredita terem sido
fulcrais no seu amor pelo futebol.
Tinha então quatro anos. Enquanto
jogador de futebol, alinhou em todos os escalões e passou por clubes
de Abrantes, Tomar, Tramagal, Ponte
de Sôr. Deixou de jogar aos 30.
Ainda frequentou o antigo liceu,
mas porque se sentia “preso” na escola e na altura já ganhava dinheiro
com o futebol, decidiu abandonar
os estudos. Hoje acredita que poderia ter optado por estudar e por
tirar um curso relacionado com
desporto.
O que conseguiu foi conciliar a vida
de jogador de futebol com a profissão de taxista, que considerava
fazerem parte do seu bem-estar e
equilíbrio.
Desde sempre se envolveu no projecto do Abrantes Futebol Clube e
foi com orgulho que aceitou o convite para ser director desportivo.
cultura
16 | ESTA JORNAL • 31 de Março de 2006
Ano de homenagem
Compositor Lopes Graça
recordado em Tomar
Nasceu em Tomar e este ano é homenageado pela cidade. Lopes Graça, um compositor que marcou o país, terá uma Casa Memória
na sua cidade natal. Precisamente o edifício onde nasceu. As comemorações passam também, naturalmente, por concertos
rafaela santos
Rafaela Santos
Já se ouvem os acordes. É mais um
concerto de homenagem a Fernando
Lopes Graça. Este tomarense de gema
é homenageado durante este ano pelos seus concidadãos. António Paiva,
presidente da Câmara Municipal de
Tomar, em declarações ao Boletim
Informativo de Tomar (edição de
Janeiro), explica que “este ano deverá ser mais do que um tributo, uma
oportunidade de dar a conhecer aos
seus conterrâneos a vida exemplar
deste homem”. Sintonizamos 90.5,
Rádio Cidade de Tomar, ouvimos
uma voz feminina que conta “Breves
sobre Lopes Graça”.
Percorrendo a rua Dr. Joaquim
Jacinto, entre a Sinagoga e a Casa
das Ratas, fica situado o edifício que
viu nascer um dos mais importantes
homens da música do século XX.
Na lápide afixada pelos seus conterrâneos a 5 de Março de 1977 leêm-se os seguintes dizeres: “Aos 17 de
Dezembro de 1906 nasceu nesta casa
Fernando Lopes Graça. Musicólogo e
compositor de projecção e prestígio
internacional.” A casa que agora parece abandonada e deixada no rasgo do
tempo vai ganhar nova vida. Pouco a
pouco, irá tornar-se Casa Memória
Lopes-Graça.
Que ruas, avenidas e estátuas homenageiam Fernando Lopes Graça?
Em Tomar não se conhecem ruas e
avenidas que imortalizem o homem
e o músico. “Não conheço nenhuma
rua com esse nome” – diz Patrícia Ferreira, 22 anos, com um ar de espanto e
admiração perante a questão colocada.
“Não conheço nenhuma rua ou travessa com o nome de Lopes Graça” – afirma surpreendida Josefina Rodrigues,
60 anos, continuando a caminhar pela
Corredora. “Sou de Tomar, nascido e
criado, mas não conheço nada com
esse nome! Só se nessas novas ruas da
cidade, alguma tenha o nome de Lopes
Graça” – explica Ricardo Gomes, 65
anos, com um olhar de quem fica com
a “pulga atrás da orelha”.
Nasceu a 17 de Dezembro de 1906 em Tomar.
Quis o acaso que o menino Fernando tivesse na
sua meninice a oportunidade de brincar com as
teclas de um velho piano, que existia no hotel
que o seu pai comprou. Entre brincadeiras, descobriu o gosto pela música e o talento que já se
adivinhava. Começou a ter lições de piano com
Imaculada Conceição Guimarães.
Com apenas 14 anos, era já pianista no CineTeatro de Tomar. O jovem Fernando tocava as
composições musicais de grandes autores russos contemporâneos. Aos 17 anos, ingressou
no Conservatório Nacional de Lisboa. Em 1927,
apareceu pela primeira vez como compositor interpretando as Variações sobre um tema popular
português para piano solo. Entretanto, criou em
Tomar o semanário republicano «A Acção». Em
Música. Na Biblioteca Municipal está o piano de Lopes Graça
A vida e a obra de Lopes Graça
1929, com Pedro Prado, publicou no Conservatório de Lisboa a revista «Música».
Com apenas 25 anos terminou o Curso Superior
de Composição. Entretanto, foi preso e desterrado
para Alpiarça. Em 1934, foi-lhe atribuída uma
bolsa de estudo em França, que lhe foi negada
por razões políticas. Lopes Graça, nessa altura,
afirmou: “Revolução e Liberdade são sinónimos,
são equivalentes. São leis imutáveis gravadas na
face do Cosmo, eternas e divinas como ele.”
Em 1937, foi para a cidade da luz. A 2ªguerra
mundial estava quase a irromper. Passados dois
anos, o músico alistou-se no corpo de voluntários
dos “Amis de la République Française”. Em Outu-
bro de 1939, foi obrigado a regressar a Portugal,
mas estabeleceu-se em Lisboa. A partir de 1940,
vários serão os prémios atribuídos ao compositor
nabantino. Ganhou o prémio de Composição do
Círculo de Cultura Musical (CCM) com o 1º Concerto para Piano e Orquestra. Em 1942, obteve
o prémio do Círculo de Cultura Musical com a
«História Trágico-Marítima». Dois anos depois,
ganhou pela terceira vez o Prémio de Composição do CCM com a «Sinfonia».
Em 1954, por razões políticas, foi-lhe retirado o
diploma do Ensino Artístico Particular. Ficou sem
meios para sobreviver. Passados sete anos conheceu o francês Michel Giacometti, com quem
Teatro de sensibilidades
Charlene Izaque
O IV Festival Nacional de
Teatro Especial realizado em
Abrantes, no Cine-Teatro S.
Pedro, conheceu a sua sessão
de abertura no dia 24 de Março
encerrando dois dias depois. A
ideia de promover o encontro
surgiu no 25º aniversário do
Centro de Recuperação Infantil
de Abrantes (CRIA). O objectivo
foi o de promover e motivar a
autonomia de crianças e jovens
portadores de deficiência na
família, sociedade e emprego.
O teatro funcionou como ferramenta pedagógica e terapia
não formal. O evento resultou
da interacção do CRIA com
quatro instituições na área do
apoio à deficiência (APPACDM
de Santarém, APPC do Porto,
APPACDM de Setúbal, grupo
de apoio ao ensino especial da
Madeira) e com a associação
Palha de Abrantes.
O primeiro dia do encontro contou com a presença de
Humberto Lopes, presidente da
direcção do CRIA, Manuel Valamatos, vereador do Desporto
Apelo. “Estas são pessoas com valor profissional”
vânia palminha
Ao percorrermos a cidade encontramos, na Biblioteca Municipal de
Tomar, um piano. Dizem tratar-se
do piano onde Lopes Graça tocava.
Por instantes, interiorizamos a figura
do músico e conseguimos escutar
ainda ecos da sua música. Os seus
conterrâneos recordam-no como um
homem de Tomar e vivendo muito à
frente do seu tempo.
“Ainda me lembro de ver Lopes
Graça aqui em Tomar” – conta Júlio
da Conceição dos Santos, 75 anos,
com um brilho de saudade de quem
recorda o homem que vinha a Tomar
para tocar.
A Câmara Municipal de Tomar,
desde Janeiro que dá relevância ao
tomarense e ao cidadão do mundo.
Através do Boletim Informativo/
Agenda Cultural, dá a conhecer o
homem que marcou o panorama
musical português. Até ao dia 17 de
Dezembro, vamos continuar a ouvir
falar de Lopes Graça em Tomar. Até
porque no termo do ano será realizado o concerto de encerramento.
publicou o 1º volume da “Antologia de Música
Regional Portuguesa”. Mais tarde, sobre ele dirá
Michel: “Para ele, a música é uma coisa tão necessária como respirar, comer, amar, pensar”.
Em 1974, assumiu a presidência da Comissão para
a Reforma do Ensino Musical criada pelo Governo
Provisório da Revolução de Abril. No ano seguinte
foi condecorado com a Ordem da Amizade dos
Povos pelo Soviete Supremo da URSS.
Passados cinco anos, compôs o «Requiem pelas
vítimas do fascismo em Portugal».
Em 1980,
foi-lhe atribuído o grau de Grande Oficial da
Ordem Militar de Santiago de Espada.
Faleceu 14 anos depois, próximo de Cascais.
A Câmara de Cascais editou, juntamente com
o Museu da Música Portuguesa, o Catálogo do
Espólio Musical de Lopes-Graça.
da Câmara de Abrantes, e Luísa Portugal, secretária nacional
da reintegração e integração da
pessoa com deficiência. O grupo
“Teatro Fantasia”, da APPACDM
de Santarém, foi quem abriu o
festival, com a peça “Chapéus
há muitos”, de Carlos Manuel
Rodrigues. Segundo Joaquim
Montez, encenador, a dramatização é uma forma de despertar
mentalidades: “Este é um trabalho que tem servido para sensibilizar a comunidade quanto à
problemática da deficiência”.
O presidente do CRIA de
Abrantes evidencia a importância e valor que estas pessoas
têm na sociedade, deixando um
apelo aos empresários portugueses: ”Estas são pessoas com valor
profissional e há que aproveitar
as suas capacidades”. Para Luísa
Portugal, as crianças, jovens e
adultos portadoras de deficiência têm a capacidade de nos fazerem sorrir, divertir e emocionar.
“O paternalismo não chega, é
preciso uma atitude séria de
igualdade de oportunidades,
para uma sociedade melhor e
mais justa”. A secretária nacional de reintegração e integração
admitiu ainda que, apesar da
ajuda à pessoa deficiente estar
na agenda política do Estado,
os resultados não se avizinham
imediatos, mas a longo prazo.
cultura
31 de Março de 2006 • ESTA JORNAL | 17
Banda de música cabo-verdiana lança os primeiros acordes em Abrantes
“Estou com
vontade de cantar!”
Ouvem-se os tambores…. O som deixa adivinhar o sabor a África. O ritmo envolve-nos
e o calor que se faz sentir no frio da estação vem da voz da alma… “Yô, yô, somos os
Jimehl, estamos aqui a cantar só para ti”! Afinam-se guitarras, soltam-se gargalhadas.
No ensaio, a energia do palco já se faz sentir
Ana Neves
e Tânia Pissarra
O desejo de formar uma
banda não era novidade para
José Pinto e Herlander Santos: “Começámos a tocar lá
em casa”. E quando a vontade
de ir para a rua falou mais alto,
foram-se apercebendo de que
“era necessária uma voz e mais
instrumentos”. O que começou
por ser um projecto a dois, é
hoje o sonho de sete jovens.
Juntos há sensivelmente um
ano, entre o corrupio das aulas
e outras actividades, José, Ivandry, Maurício, Eunice, Herlander, Luís e Lévi, abraçam o
pouco tempo de que dispõem
e as suas iniciais dão nome aos
JIMEHL. Seis dos elementos
são alunos da ESTA.
Eunice, a “menina” do grupo,
não pára. Numa energia que a
caracteriza, diz: “Vamos cantar,
estou com vontade de cantar”
A sala deixa-se preencher pelos
elementos da banda, na casa de
amigos cabo-verdianos, à qual
o grupo carinhosamente chama
de “Senzala”. É lá que se dá corpo
à vontade de cantar. “A formação
musical não é muito importante. O que interessa é gostar de
música e isso não falta no nosso
grupo” – afirma Herlander.
“Tens de seguir o tom do
baixo ou o da guitarra, Eunice!”. Os olhos fecham-se…a
voz está lançada. Onde a morna e o “reggae” imperam, o eco
já se faz sentir nos cantos do
espaço e entre sorrisos a música pára: “Não estás no tom!”.
“Padoce de céu azul”, de Tito
Paris, ganha uma nova vida e
envolve o olhar à procura das
notas que deixam na pele o
arrepio de quem sente o que
ouve. Toca a tumba e os pés
mexem como se a terra os
movesse. Cabo Verde está ali!
Zé, apesar de ser o único sem
ascendência africana, partilha
dessa paixão: “A música africana faz parte do meu gosto
pessoal. Não é só uma questão
de origens”.
Com apenas um espectáculo no curriculum, a banda
deixou ao rubro um palco de
Tomar, no Encontro de Estudantes Cabo Verdianos. E é
com satisfação que recordam
os momentos da actuação: “O
público até cambalhotas deu
no palco”. Entra um dos residentes na sala, com um “look”
descontraído, como se estivesse em pleno Verão. O sangue
africano não deixa mentir
quando o corpo reage ao som
com a satisfação e energia que
só eles têm.
Treina-se mais uma música.
Ivandry e Eunice cantam num
jogo de palavras que transmite sensualidade e vontade de
dançar… Num ambiente caracterizado por unanimidade, os elogios vão-se soltando.
“Muito bom”! E descobrem-se as diferenças que os unem.
“O Levi está sempre a rir”, diz
a Eunice que, sendo a única
rapariga da banda, lança o
discurso com a descontracção
de quem nasceu para viver no
palco: “ Sou a mais faladora do
grupo, eles aturam-me imenso… são como irmãos, mas
é o Herlander que consegue
impor respeito”.
Maurício, o percussionista,
nem sempre pode marcar presença na sala de ensaios. Mas
a distância geográfica que o
separa dos restantes não afecta a cumplicidade que o une
aos instrumentos. Fazendo
também parte dos C4 (um
grupo cabo-verdiano), juntamente com Luís Carlos, é
considerado um bom músico pelos restantes elementos:
“Ele ouve a música uma vez
e tem bastante facilidade em
apreendê-la! Nos espectáculos
está sempre connosco!”
Trocam-se posições… De
tranças e olhos brilhante, Luís
Carlos, outrora sentado com a
viola na mão, pula num rasgo
de energia. Num cruzamento
de vozes com a vocalista, o
ritmo é contagiante.
Brilha mais uma música do
reportório, desta vez um tema
original da banda que fala de
Cabo Verde e da saudade: “A
primêra vez”. Batem-se palmas ao som do batuque, e o
espaço vazio que os rodeia
transforma-se por instantes
numa multidão. Todos vibram naquela sala onde se
improvisa um estúdio e onde
os sonhos e o divertimento
de dar voz às palavras se concretiza.
A agenda vai sendo preenchida. Entre convites para espectáculos, nomeadamente de
Viseu e da Guarda, a Câmara
Municipal de Abrantes parece
apoiar também a iniciativa
destes jovens estudantes. Herlander, “o mais equilibrado”
segundo os elementos dos JIMEHL, afirma com ponderação: “Em princípio estamos
cá para estudar. É complicado
conciliar o tempo”. Na estrada da fama, não pretendem
deixar os estudos para trás.
O destino, esse, vai sendo
marcado sem pressas: “O objectivo da banda hoje é estar
aqui a tocar, amanhã Deus é
quem sabe…”
JIMEHL
Eunice Pinto
Vocalista
20 anos (6 de Maio de 1985)
Natural de Lisboa
Estudante de Comunicação social na
Escola Superior de Tecnologia de Abrantes (ESTA)
Interesses: dança, cultura africana, rádio,
trabalhar em África como jornalista
Música: Dulce Pontes, Sara Tavares, Whitney Houston, Michael Bublé, Missy Eliot,
U2 e Lura
José Pinto
Baixo e voz
20 anos (27 de Julho de 1985)
Natural de Lamego
Estudante de Comunicação Social na
ESTA
Interesses: documentários, música, desporto e jornalismo
Música: U2, Café del Mar, Jazz, Bem
Harper, Madredeus, Pedro Abrunhosa,
Cesária Évora
Lévi Soares
Tumba
20 anos (8 de Maio de 1985)
Natural da Ilha do Sal (Cabo Verde)
Estudante de Engenharia e Gestão Industrial na ESTA
Interesses: cinema, desporto e música
Música: todo o tipo de música
Ivandry
Voz
21 anos (1 de Fevereiro de 1984)
Natural da Ilha do Sal (Cabo Verde)
Estudante de Engenharia e Gestão Industrial na ESTA
Interesses: dança, música e desporto
Música: R n´B
Luís Carlos Évora
Viola
19 anos (5 de Agosto de 1986)
Natural da Ilha do Sal (Cabo verde)
Estudante de Engenharia Mecânica na
ESTA
Interesses: música e desporto
Música: reggae, música tradicional Cabo
Verdiana e Hip Hop
ana neves
Maurício Ramos
Percussão
19 anos (28 de Maio de 1986)
Natural da Ilha do Sal (Cabo Verde)
Estudante de Turismo em Viana do
Castelo
Interesses: música e desporto
Música: Rock, Hip Hop, Linkin Park
Herlander Santos
Guitarra
26 anos (10 de Junho de 1979)
Natural da Ilha do Sal (Cabo Verde)
Estudante de Comunicação Social na
ESTA
Interesses: música
Música: todo o tipo de música
Ensaio. “A formação musical não é muito importante. O que interessa é gostar de música e isso não falta no nosso grupo”
conto
18 | ESTA JORNAL • 31 de Março de 2006
A
mudança estava
finalmente terminada. Tudo estava
em ordem, tudo
tinha encontrado
o espaço a que estava destinado.
Na estante que se situava ao lado
da porta, os livros, meticulosamente
ordenados por épocas, revelavam a
sua paixão: o cinema. Nas paredes
forradas com um papel florido, já
gasto pelo tempo, tinha colado alguns
cartazes que faziam alusão aos grandes clássicos. Fora esta a forma que
encontrara para esconder as manchas
acastanhadas das paredes.
Filipe encontrava-se exausto! Sentou-se na poltrona, junto à janela, e lá
permaneceu durante algum tempo,
vendo o movimento da cidade.
Passados quatro anos as fachadas
do centro ainda o fascinavam. Sentia
ainda aquela paixão que o levara a
candidatar-se à Faculdade de Letras
do Porto.
O Porto era um lugar mágico: acarretava consigo todo um misticismo,
uma bagagem histórica e cultural
inegável, com costumes e modos de
ser muito característicos.
Acreditava que a sua estada no
Porto tinha sido uma oportunidade
única para conhecer a cidade que o
encantava.
Enquanto o seu olhar percorria a
zona ribeirinha, o seu pensamento
continuava na antiga casa.
Estava triste por ter abandonado
a República do Dick, mas sabia que
tinha tomado a melhor opção. Nunca
iria conseguir concentrar-se naquela
casa. A confusão característica de oito
rapazes nunca o deixaria terminar o
seu projecto de final de curso. Tinha
pela frente um árduo ano de trabalho
e não podia deixar-se levar pelos copos e noitadas.
Estava Filipe absorto nos seus pensamentos quando os seus olhos se
fixaram num pequeno armário que se
encontrava junto à poltrona. Pensou
que seria um bom sítio para guardar
alguns projectos inacabados.
Tentou abrir a gaveta, mas esta ofereceu alguma resistência. Reparou
que tinha uma fechadura. Forçou um
pouco, mas não obteve qualquer resultado. Decidiu que no dia seguinte
iria falar com a senhoria e pedir-lhe
a chave.
Depois de ter comido uma lasanha
que a mãe lhe tinha preparado voltou
para o quarto para descansar. Fez
ainda uma última tentativa para abrir
a gaveta, mas em vão. Começava a
sentir uma certa curiosidade. “Será
que aquela fechadura esconde algo?
Ou seria apenas um esquecimento
da D. Rosa?”
O dia amanheceu cinzento. Na Faculdade de Letras do Porto os novos
caloiros obedeciam às ordens dos
veteranos, que os levavam a fazer figuras ridículas.
Filipe juntou-se aos seus amigos.
Já não os via desde Agosto e havia
muitos assuntos para pôr em dia. Sentados na esplanada do bar, a aproveitar os raios de sol que passavam por
entre as nuvens, os rapazes falavam
das aventuras do Verão.
Ficou combinado que Filipe passaria aquela noite na república para
festejar o recomeço das aulas.
Havia uma certa nostalgia quando se falava na República do Dick,
os rapazes não percebiam a decisão
tomada por Filipe e tentavam, a todo
Nunca o anfiteatro da escola se enchera daquela forma para o visionamento de uma película
baseada no argumento de um aluno de cinema e televisão. Todos queriam conhecer a estória da
“Menina Sorridente”. Uma história que misturava ficção e a realidade, na procura de uma morada
desconhecida. Ninguém queria perder!
O projecto
final
por Ana Santos
1ª parte
o custo, fazer com que voltasse. Convicto que tomara a opção certa, Filipe
argumentava, dizendo que apenas iria
mudar de casa e que iriam continuar a
passar bons momentos juntos.
O primeiro dia de aulas estava a
chegar ao fim. Antes de abrir a porta
do prédio, Filipe entrou na lojinha da
D. Rosa e falou-lhe do armário.
Ela explicou-lhe que tinha comprado aquele apartamento ao banco,
com todo o recheio incluído e que faltavam algumas chaves que os antigos
proprietários deveriam ter esquecido
de entregar.
- A arrecadação do apartamento
que era deles também está trancada.
Ao chegar a casa, Filipe dirigiu-se
apressadamente para a despensa. Tirou
de lá algumas ferramentas e levou-as
consigo até ao quarto. Deteve-se alguns instantes a olhar para a gaveta.
Depois de algumas tentativas conseguiu abri-la com uma chave de
fendas.
Dentro da gaveta encontravamse várias fotos. Eram fotos a preto
e branco de uma menina de cabelo
claro, com um sorriso terno e doce.
Pareciam tiradas há vários anos, numa aldeia do interior.
No fundo da gaveta um diário.
Era rosa, provavelmente pertencia
à menina das fotos. Filipe começou
a folheá-lo. A menina era já uma
mulher!
Fechou-o rapidamente. Recordando-se das discussões que tinha com a
irmã mais velha quando, em miúdo,
lhe lia o diário às escondidas.
Esvaziou a gaveta. Colocou as fotos
e o diário numa caixa e desceu as
escadas. Voltou a entrar na loja de
flores da D. Rosa. Pensou que talvez
ela, através do banco, pudesse devolver aquelas recordações à menina
sorridente.
A senhoria ao ver o que se encontrava na caixa, olhou para Filipe e
sorriu.
- Ó filho, não tenho tempo para
isso. Já foi há muitos anos, provavelmente o banco já nem tem essa informação. A tua intenção é boa, mas
o melhor é deitares isso fora. Se fosse
importante eles teriam levado.
Filipe voltou a subir as escadas com
um ar desanimado. Pôs a caixa em
cima da poltrona e saiu para se encontrar novamente com os rapazes,
como ficara combinado.
Na república todos o acharam um
pouco ausente. Não bebia, não participava nas brincadeiras… os repúblicos sentiam falta da sua gargalhada
sonora que enchia toda a casa.
- O que tens miúdo? A comida
caiu-te mal?
Não, a comida não lhe tinha caído
mal, mas Filipe não conseguia deixar
de pensar naquele sorriso. Teria de
fazer qualquer coisa. Teria de descobrir onde estaria aquela mulher e
entregar-lhe o que lhe pertencia.
Tentou explicar-lhes o que tinha
acontecido, na esperança que algum
deles lhe desse uma ideia. Mas, ao
invés, chamaram-lhe louco.
- Deita mas é essa tralha fora.
Agora estás a preocupar-te com isso
porquê?
Também ele não sabia porquê, mas
algo dentro dele dizia que a tinha de
encontrar. “Mas como?”
No dia seguinte, depois das aulas,
passou pelo banco, que a D. Rosa lhe
indicara, para pedir informações A
resposta, como a senhoria previra,
foi negativa. Alegavam que já tinham
decorrido os anos obrigatórios para o
processo estar em arquivo e como na
altura ainda não procediam à informatização dos dados, era impossível
encontrar essa informação.
Já em casa, sentado à secretária,
Filipe começava a esboçar o seu projecto, no entanto o sorriso daquela
menina de cabelos claros preenchia-lhe o pensamento.
Tinham passado já duas horas e
a folha à sua frente permanecia em
branco. As ideias não fluíam e a caneta impaciente começava a rabiscar
uns desenhos nas margens.
“Desta forma o meu filme acabará
por ser uma tela negra”, pensava.
Decidiu deitar-se. A mãe costumava dizer que a almofada era uma
boa ajuda nessas alturas. Quem sabe
se o seu sonho não daria um bom
argumento?
Deu voltas e voltas na cama, mas
não conseguiu pregar olho. Levantou-se, vestiu uma swetshirt e sentou-se na poltrona a olhar através
da janela.
Não conseguiu conter-se mais.
Abriu a caixa e retirou de lá o diário.
Abriu numa página ao acaso e começou a ler.
“São já duas da manhã… Não consigo dormir!
Acendo um cigarro e sento-me
no meu velho cadeirão, enrolada no
cobertor azul. O cadeirão parece moldar-se ao meu corpo.
É um sítio só meu, onde me sinto
protegida.
Lá fora as luzes, os sons de uma
cidade que já não reconheço, uma
cidade que não é a minha.
Sinto-me como uma estranha nesta cidade. Uma estranha, na minha
própria casa. Nada disto é meu, nada
disto me pertence. Nada disto corresponde ao que sonhei.
Através do vidro vejo jovens aos
pares, que embriagados pelo desejo,
ou pelo álcool, procuram um recanto
escuro e reservado.
Será que eles também têm sonhos?
Espero que não façam como eu. Espero que não escolham o pesadelo!”
Filipe sabia que não era correcto o
que estava a fazer, mas não conseguia
parar de ler. Cada palavra fazia-o crer
que tinha mesmo de encontrar aquela
mulher.
Começou a pensar que o que o tinha levado a abrir a gaveta era mais
que mera curiosidade. Algo o determinava a procurá-la. “Estará escrito
nalgum sítio? O destino existe mesmo? O que quererá ele de mim?”
Acabou por adormecer na poltrona, com o diário na mão e várias
dúvidas na cabeça.
Quando acordou eram já onze horas. Tinha perdido as primeiras horas
da manhã. Estava dorido e cansado.
Acabou por petiscar qualquer coisa
na cozinha e saiu apressado.
Ao ver aquela agitação, a senhoria começou a ficar preocupada. Já
o conhecia do tempo em que estava
apaixonado por Beatriz e lhe oferecia
uma rosa todos os dias. Muito antes
de se mudar para o apartamento por
cima do dela.
Era um rapaz organizado, responsável, calmo e muito observador. No
entanto, agora andava sempre agitado, com a cabeça nas nuvens e quase
nunca sorria.
À tardinha, quando regressava a
casa, a D. Rosa chamou-o. Convidouo para ir jantar a sua casa.
Aquele jantar não estava nos seus
planos. Tinha vindo directamente da
escola, para tentar descobrir alguma
coisa no diário, mas não podia recusar tal convite.
A D. Rosa tinha feito bacalhau com
natas, um dos seus pratos preferidos.
Filipe deliciou-se com o banquete.
Andara a semana inteira a comer
sandes e massa com atum. Aquela
refeição recordava-lhe a comida que
a sua mãe fazia quando ia passar o
fim-de-semana a casa.
Quando estavam a tomar café na
salinha, a D. Rosa perguntou-lhe porque é que ele andava tão distraído.
- Tens algum problema, filho? Já
sabes que, se precisares de alguma
coisa, podes falar comigo. Não nos
conhecemos de agora. O teu namorico com a Beatriz não correu pelo
melhor, mas pelo menos ficou a nossa
amizade…
Filipe acabou por contar que andava intrigado com aquele diário.
Que só pensava em resolver aquele
mistério.
- No início apenas queria devolver-lhe as fotos e o diário, mas agora
acho que estou a ficar um pouco paranóico com esta história. Imagino o
que lhe terá acontecido, onde poderá
estar…
Nisto, a mãe da D. Rosa, uma velhinha de cabelo branco e mãos trémulas, que se encontrava sentada junto
à lareira, interrompeu-o.
- A esta hora deve estar morta. O
marido era um cão! Batia-lhe a toda a hora. Era uma gritaria todas as
noites!
A D. Rosa tentou minimizar a sua
intervenção, dizendo que sofria de
Alzheimer.
- Já não diz coisa com coisa, coitadinha! Devem ter simplesmente
mudado de casa.
Já em casa, Filipe não conseguia
esquecer aquelas palavras. Ecoavam
no seu ouvido. Deitou-se na cama e
abriu o diário.
“Depois de tantos anos juntos, de
tantos anos a partilhar a minha vida
contigo, não consigo entender.
Olho-te, deitado na minha cama,
e não sinto nada. Não sou capaz de
sentir nada! Apenas o vazio que me
percorre a alma.”
Continua na próxima edição
humor
31 de Março de 2006 • ESTA JORNAL | 19
Bjéca puxa bjéca, aquilo
sobe-lhe ao cérve e puxa
da mão e toca de dar um
“miminho” à patroa…
C
om tantos dias por ano tornouse evidente que seria necessário
festejá-los sempre de maneira diferente… mas também não é preciso
exagerar… Festejar no dia 14 de
Março o Dia Nacional da Incontinência Urinária é demais! Agora
fica a questão no ar: como será
festejado este dia? A Tena Lady vai
fazer uma festa onde é obrigatório
usar fralda? E onde a entrada só é
permitida mediante a apresentação
de cuequinha ensopada?
Diz que há pr’ái muito bom tuga
que não gosta de fazer nenhum, e
aquele que faz, passa o tempo a
queixar-se, ou é porque faz “muito”
ou é porque não há pontezinha pó
patrão. Quando as têm, o que fazem? Nada mais típico. Vá de juntar a família toda e toca de encher o
bucho! Sim, porque tuga que é tuga
arranja sempre uma boa desculpa
pra dar ao dente e regar o fígado.
Ah! Malandro… Viva a chouriçada
no pão e o belo do tintol.
Outra coisa típica deste país à
beira mar plantado é o facto de
que cada vez mais se verem pr’ái
tipos sem jeito nenhum a escrever
livros. Desculpem o equívoco! A
vomitar livros! Hoje em dia qualquer “borra-botas” rabisca folhas.
Ou é porque entrou num programa
qualquer e tem pinta (e o livro é tão
bom que até vai preso). Ou é porque é magra(o) e diz ter dicas milagrosas. E depois existem outros,
tipo o conde princezinha, que não
sabe bem o que diz e o que é. Mas
o povo gosta. É isto que alimenta
a alma. Bora lá encher os bolsos
àqueles que não fazem peva, se não
fazer figuras de urso.
Pelo andar da carruagem qualquer dia temos analfabetos a escreverem livros. Vá de comemorar
mais um feriado: Dia Nacional dos
Livros Feitos por Analfabetos. E o
que acontece? Mesa e ceia. Mais
uma vez se vai encher o bandulho
até cair pó lado. Sim! Porque a balança a menos dos 130 kg não pode
estar. O português gosta muito de
ser roliço e torneado. Tã jolie que
até arrepia os pêlos do sovaco!
Falando em macacadas… É sabido por todos que os media dos
Texto de
Ana Neves, Ana Catarina Marques,
Catarina Machado, Charlene Izaque e Vânia Palminha
Ilustração de Vera Inácio
nossos dias são uma indústria, um
comércio para esquizofrénicos, que
só sabem amarrotar o sofá da sala,
cultivar hemorróidas e coçar a bela
da micose. E, como tal, têm em
conta os sedentos espectadores,
loucos por saber da vida alheia.
Oh pá! É giro saber o número de
pérolas que o conde esconde na
sua “mina”… É mina não é?! Agora
até vão para o circo. É bom estar
em casa! Quem não gosta? São
eles próprios que vão chafurdar
no campo, tratar de animais e até
são eles que, por iniciativa própria,
fazem figuras de palhaços. É só
voluntariado na televisão!
Citando o meu amigo conde
princezinha ou namoradinha da
tvi, na primeiríssima e entusiástica
noite do “circo das bestas”: “A Anita
vai à quinta; A Anita vai à tropa; e
a Anita vai ao circo”. Óh colega! Se
a Anita for como tu é parva comó
caraças! Voltemos ao tempo do
Big Show Sic. Já tenho xaudades
do recorde em cambalhotas que o
rapazola dava em directo. Momentos raros em televisão.
O México também nos aquece o
corazón! Aaaaaiii! As telenovelas
mexicanas. A fantástica dicção, a
cútis impecavelmente limpa logo
pela manhã e um timing dos melhores: a porta fecha e 30 segundos
depois é que se ouve bater. Provouse que a gravidade no México é
diferente. Diz que tá lá no alto!
Eu que não sou nada dada a religiões aprendi muito com o puritano programa Fiel ou Infiel… Estas
novas religiões até prá bunda têm
reza! “Táca ái sauvadô!” E quem está lá para nos salvar? O Rambinho,
claro! Pena é não haver nada que
nos salve destes programas!
Passando para um assunto mais
sério, Portugal parece aquele da
auto-estrada: 83 anos, em contra mão, multado e atabalhoado.
Mas atabalhoado não é só este.
Sei de fonte segura e quem mo
disse não é de mentiri, que o Toino
dos Azeites ganhou uma viagem
a jogar à malha. Fim-de-semana
completo, tudo pago, na pensão
“Cátequero” em Carcavelos. Mal
se adivinhava o trágico finali. Vai
daí, pega na marmita, taparuere,
geleira, meia coxa de frango pa
cada, cocretes, a fresca da bjéca,
Grudulina Marlene (esposa), Zé
Angusto, Michel, Fitipali, Rute
Carla e Andreia Priscila (filhos).
Tudo às costas! Foi a rambóiada
total! Bjéca puxa bjéca, aquilo
sobe-lhe ao cérve e puxa da mão
e toca de dar um “miminho” à
patroa… Com os miolos a ferver
de raiva, vai de agarrar no carro
e zumba pa casa. Diz que o destino tem coisas que nem ao diabo
alembra. E olha que eu sou uma
pessoa muito ádvertida. Mas que
isto não tem piada, não tem… Não
é que o magano à entrada na curva
da bicha me atropela a sogra?!
Vendo-se com eles encarquilhados de medo, desata em fuga pela
A8 a dentro não reparando que vai
em contra mão. Ele bem viu que as
placas estavam ao contrário, mas
pensou que Portugal tivesse aderido àquelas modernices europeias.
Atão começa a ouvir uma serene.
E alembrou-se: “Aquele não é o
Zé Multão, o bófia que morava ao
pé da Maria Coxa, viúva do João
das Nêsperas e prima afastada do
coveiro?!” E foi então que o Zé
Multão, também em contra mão e
arreliado, toca de pôr o megafone
nos beiços e grita: “Pare faxavor.
Terá de xe aprejentar à autoridade
mediante a beira da estrada, xem
xaire do traxejado”. História contada em pranto pelo Toino abala
Zé Multão de tal jeito que ele só
conseguiu grunhir: “Oh hóme! A
vida xão dois dias e mais um do
Carnabal. Bêbado e em contra
mão não faz mal. Xiga o xeu coração! Vá ter com a xua dona!”.
Continuando a sua rota, já no
sentido certo, volta a Carcavelos,
dirige-se pá sua Marlene e lá se
redime: “Gruma (Grudulina +
Marlene), ê nã te queria bateri,
mulheri. Mas é que tú tinhas uma
ábêspera nas fuças e como tú és
alérgica ê nã queria que ela te
picasse. És a flor do mê jardim”.
Gruma comovida responde-lhe
em tom romântico, como só há
ela: “Oh home! Desculpa-me tu.
Eu nã tinha nada que te dizeri
à 40ª cervêja pa parares de emborcari.” Pazes feitas, estoingamo vazio, vai de afiar o dente na
sardinha.
Moral da história: Somos um país de gente feliz, instruída, altruísta
e a caminhar de mãos dadas com
o progresso. É este o nosso país. É
este o nosso Portugal. Vá fazer um
chichizinho e não perca o próximo
Esta Jornal. Haverá mais progresso
que este?
ÚLTIMA
Sexta-Feira, 31 de Março de 2006
Liliana séca santos
Zodíaco Egípcio
Previsões por Tiago Lopes
Rá (Deus do Sol)
16 de Julho a 15 de Agosto
Carta: Força
Período favorável a vencer obstáculos. Não conte com a sorte, conte
apenas consigo. Seja mais romântico/a. Mostre determinação no seu
grupo de amigos.
Neit (Deusa da Caça)
16 de Agosto a 15 de Setembro
Carta: Herança
A sua vontade é festejar, mas este é um período fértil em trabalho.
Sacrifique algum do seu tempo livre! Irão surgir proventos, de
negócios anteriores.
Maat (Deusa da Verdade)
16 de Setembro a 15 de Outubro
Carta: Arrependimento
As escolhas de…
Continua a não cultivar a sua auto-estima? É hora de mudar! Distraiase com os seus amigos. Descubra o lado positivo da sua profissão…
Ou mude de profissão. Arrisque!
Fátima Lopes
Osíris (Deus da Renovação)
16 de Outubro a 15 de Novembro
Carta: Compenetração
Irreverente e simpática. Uma das mulheres
mais glamourosas e carismáticas da televisão
nacional. Fátima Lopes. Actualmente, uma
referência para a mulher portuguesa. A
apresentadora e embaixadora revela em
cada palavra um traço da sua personalidade e
levanta diariamente o véu para uma aventura
na estação de Carnaxide. Em conversa com
o EstaJornal, a apresentadora do programa
“Fátima” confessa algumas das suas maiores
paixões da vida.
missão humanitária. Exactamente por esse carácter humanitário, a
maneira como as crianças me receberam e a relação que criaram
comigo, foi muito especial.
Música – Adoro Rodrigo Leal. É uma sonoridade muito especial. Ele
faz uma combinação de vários estilos, cuja sonoridade apela um
bocadinho ao lado espiritual. Transmite-me muita tranquilidade.
A pessoa que mais a marcou – A minha mãe.
Defeitos – Ser, às vezes, muito impulsiva e, por vezes, um tanto
inflexível.
Virtudes – Ser uma boa amiga e boa ouvinte para com as pessoas
que me procuram.
por Cláudio Monteiro
Filme – “Na terra do Nunca”. Um filme que vi há pouco tempo. Um
filme muito especial, tocante. Cruza os universos dos mais pequenos
com o nosso universo e mexe com as afectividades que existem entre
pais e filhos. Foi o filme que mais me tocou até hoje.
Comida Favorita – Gosto de tudo que é comida tradicional
portuguesa. Mas um bom cozido à portuguesa e uma boa feijoada,
coisas leves, são os meus pratos favoritos. (risos)
Bebida Favorita – Tudo o que seja light.
Viagem – Já fiz viagens muito boas, que me deixaram boas
recordações. Mas a que mais me marcou foi a visita ao Senegal, numa
VOX POP ?
Livro – “Aprender a Ser” de Christiane Águas.
por Pedro Nicolau e Cláudio Monteiro
1. E m que ediç ão vai o E ncontro de
2. Q uem foi
3. Q uem é o novo
C omunic aç ão da ESTA?
D uar te F erreira ?
direc tor despor t i vo d o A b r a n tes F u te b o l C l u b e ?
Vânia Vieira, 23 anos, Empregada de Mesa
1. Não sei.
2. Não sei.
3. Jorge Santos.
João Casaca, 18 anos, Estudante
1. Não sei.
2. Não sei.
3. Não sei.
Marília Loreiro, 29 anos, Montadora de Peças
1. Não sei.
2. Não sei.
3. Não sei.
Isabel Santos, 30 anos, Conservadora e Restauradora
1. Não sei.
2. Fundador da Fundição Duarte Ferreira no Tramagal.
3. Não sei.
Fernando Pereira, 51 anos, Mediador Imobiliário
1. Não sei.
2. Foi o Comendador que fundou a Metalúrgica Duarte
Ferreira no Tramagal.
3. É o Alberto, não é?
José Lourenço, 60 anos, Reformado
1. Não sei.
2. Foi o fundador da empresa Duarte Ferreira no Tramagal.
3. Não sei.
Nem tudo o que luz é ouro. Será que vive uma paixão intensa? Ou
uma amizade confusa? Pondere! Reveja os seus objectivos de 2006.
Invista algumas horas com os familiares.
Hator (Deusa da Adivinhação)
16 de Novembro a 15 de Dezembro
Carta: Tristeza
Um acontecimento imprevisto não deve deitá-lo abaixo. Reaja de
forma positiva. Recordar é bom, mas não sofra com o que não fez. Viva
o seu presente. Ouça música ligeira.
Anúbis (Guardião dos Mortos)
16 de Dezembro a 15 de Janeiro
Carta: Desespero
Tanto para fazer e tão pouco tempo? Se planear mais e desesperar
menos tudo se resolverá. Pense sempre a longo prazo. Não exija de
mais aos seus amigos. Leia para descontrair!
Bastet (Deusa Gato)
16 de Janeiro a 15 de Fevereiro
Carta: Dispensador
Será recompensado pelo trabalho árduo. Não se deixe iludir pela
fama. Escolha bem as suas amizades, pois irá precisar delas! Explore
as paixões com cautela.
Tauret (Deusa da Fertilidade)
15 de Fevereiro a 15 de Março
Carta: Ajuda
As promessas surgem em catadupa, mas nada mais do que isso?
Começa a ficar farto/a de esperar? Hora de investir a solo nas suas
ambições. Este é o momento de lutar!
Sekhmet (Deusa da Guerra)
16 de Março a 15 de Abril
Carta: Estudo
Os nativo de Sekhmet entram no segundo trimestre do ano de forma
positiva. Finalmente irá fazer uso das suas emoções, nas tomadas de
decisão. Declare o seu amor…
Ptah (Criador Universal)
16 de Abril a 15 de Maio
Carta: Aopstolado
Época áurea para mudar a sua economia doméstica. Invista, com
inteligência, usando os seus palpites. Faça pequenos sacrifícios, que
poderão dar grandes reusltados!
Tot (Deus da Escrita)
16 de Maio a 15 de Junho
Carta: Trabalho
Boa carta, sobretudo para os nativos de Tot, que adoram desafios.
Desenvolva as suas competências intelectuais. Se quer ser muito
bom, comece por ser mais sagaz!
Ísis (Deusa da Magia)
16 de Junho a 15 de Julho
Carta: Infidelidade
Não se envolva em escândalos, que poderá não conseguir controlar.
Deixe de lado as birras com os seus amigos! Está na hora de ouvir os
avisos… Tenha atenção!!!
Respostas: 1. Quinta Edição; 2. Comendador Duarte Ferreira, Fundador da Metalúrgica Duarte Ferreira; 3. Jorge Santos

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