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A QUESTÃO CATÓLICA
De tempos a tempos, na minha parca convivência com os meus
semelhantes, é-me dirigido um epíteto, senão mesmo uma acusação, que
surge espontaneamente no meio das saudáveis discussões que procuro
manter e inclusive provocar, por forma a refrescar a lucidez intelectual, o
rigor lógico-argumentativo e a formalidade retórica: como é que é possível
que eu, um jovem maduro e “evoluído”, possuidor de alguns estudos e de
quase outros tantos conhecimentos, em pleno século XXI, seja católico?!
Essas estranhas mentes minhas adversárias, que curiosamente aceitam sem
o mais pequeno escândalo, as superficialidades e banalidades de astrólogos,
reikianos, espiritistas, tarólogos e quejandos da New Age, rasgam as vestes
quando a Igreja ou a Tradição Católicas (ou for that matter, outra
centenária Igreja Cristã) são invocadas. E isto em nome da Razão e da
Ciência – da Verdade. Parecem desconhecer, na sua cultura
abundantemente desmesurada e desmesuradamente abundante, que Max
Planck, Edmund Taylor Whittaker, Georges Lemaître, Andrew Pinsent,
Robert J. Wicks, Michael Heller, são nomes de cientistas católicos
contemporâneos.
Permanecendo ainda hoje uma das confissões religiosas com mais fiéis no
planeta, ainda mais me surpreende semelhante invetiva. Como se não
houvesse sobre a Terra lucidez suficiente para albergar um só católico
sagaz que fosse – um que realmente fosse culto e que lesse livros e que se
mantivesse capaz num qualquer processo argumentativo e racional. Atrevome a dizê-lo: como se o catolicismo fosse coisa reservada a tolos
ignorantes ou (a minha preferida) a abjetos obscurantistas.
Não me vou referir aos séculos passados, lá tão atrás na memória desses
jacobinos de última geração - se bem que tão à frente na sua ignorância.
Não vale a pena lembrar nomes como Santo Agostinho, Santo Anselmo,
São Boaventura ou São Tomás de Aquino - ou nem mesmo nomes como
Descartes, Malebranche ou Thomas More.
Nada disso. Vou permanecer na contemporaneidade, neste lapso de tempo
tenazmente secularizado e secamente laico. Irei somente mencionar alguns
nomes de homens e mulheres católicos de “letras”, ou seja, filósofos e
pensadores, poetas e escritores. A razão é simples: sendo a sua arte e ofício
o universo das palavras e dos conceitos – a linguagem - parecem-me ser by
far os mais indicados para servirem de exemplo (senão mesmo de
exemplares). Afinal, que instrumento melhor indicado para expressar a
força e as nuances do pensamento? São Homens da Palavra – do Verbo.
Assim, começo pelo grupo dos filósofos e pensadores. Em estilo dominó,
deixo cair os nomes: Michael Oakeshott, Max Muller, Miguel de
Unamuno, Gabriel Marcel, John Haldane, Emmanuel Mounier, Jacques
Maritain, Charles Taylor, Elizabeth Anscombe, Michael Novak, Étienne
Gilson.
Num simples movimento, empurro o nome dos escritores e poetas: Graham
Greene, G. K. Chesterton, J. R. R. Tolkien, T. S. Eliot, François Mauriac,
Flannery O’Connor, William Peter Blatty, F. Scott Fitzgerald, Ernest
Hemingway, Jack Kerouac, Paul Claudel, Max Jacob, Alfred Döblin,
Heinrich Böll.
Surpreendidos? Boquiabertos? (Espero que não o admitam - nem que seja
por descargo de consciência). Espero sinceramente ser desculpado por
todas as mentes séria e levianamente ocupadas, nesta época em que os
sinos parecem querer dobrar por quem pensa, analisa e reflete - puxados
por cordas politicamente corretas de “homens de esquerda”.
Refira-se que escolhi apenas alguns exemplos. Refira-se também que
excluí os autores de outras religiões cristãs. (Acredito que se eu professasse
a fé protestante, ortodoxa ou anglicana, o mesmo tipo de reprimenda por
parte dos coevos iluministas me teria sido apontada – e claro, teria eu
outros tantos nomes para apresentar).
Longe de mim tentar passar a mensagem de que não existem muitos
autores agnósticos e ateus. Pelo contrário. Estão aliás na moda (e como eles
se exibem!). Parece-me no entanto que é chegada a altura de fazer um
balanço sério e sem preconceitos de qualquer espécie. Ao fim de um século
que ficou marcado indelevelmente pela secularização, em que pela primeira
vez na História da Europa, as Instituições Políticas, a Cultura (para não
dizer a Contracultura), o Ensino e a Educação, os Costumes, a Sociedade e
a Família, foram empurrados a passar e a viver sem Deus, chegou o
momento de perguntar o que se ganhou e o que se perdeu, o que melhorou
e o que piorou, se a sociedade se tornou mais saudável e mais viável, ou até
mais feliz. Se as pessoas ficaram mais livres, se se tornaram melhores
cidadãs, mais compreensivas, mais ativas, mais tolerantes ou mais
completas.
São questões que nos devem fazer refletir a todos: sejamos religiosamente
embaraçados ou escondidos, agnosticamente desprendidos ou mal
disfarçados, orgulhosamente ou supostamente ateus, ou como eu,
simplesmente crentes.
Paulo Pinto
Militante do CDS-PP de Gondomar