O papel do professor-facilitador na aprendizagem das

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O papel do professor-facilitador na aprendizagem das
“FÓRUM NACIONAL DE PROFESSORES DE JORNALISMO (FNJP)
10º. ENCONTRO NACIONAL DE PROFESSORES DE JORNALISMO
MODALIDADE DO TRABALHO: Resumo Expandido
GRUPO DE TRABALHO: Produção Laboratorial: Eletrônicos
O papel do professor-facilitador na aprendizagem das técnicas
audiovisuais
Letícia Passos Affini1
Palavras-chave: ensino-aprendizagem; produção audiovisual; interdisciplinaridade.
Introdução
Este trabalho visa propor alguns questionamentos na relação ensino-aprendizagem das
técnicas audiovisuais produzidas em meios digitais. Procuramos enfatizar o papel do
professor como um agente mediador e facilitador no ensino das práticas laboratoriais
proporcionadas pelos novos dispositivos digitais que ampliam, diversificam e, sobretudo,
exigem uma mudança paradigmática na relação ensino-aprendizagem da Comunicação
Social. Partimos da consideração de que as novas tecnologias da comunicação e da
informação abriram novos horizontes de experimentação e de compreensão da linguagem
audiovisual na contemporaneidade. Este fato deve refletir, principalmente, numa nova
postura didático-pedagógica que valorize a construção de espaços lúdicos e criativos na
produção de conhecimento agenciados pelo sistema da Educação. Selecionamos para tal
reflexão, algumas experiências ministradas nas disciplinas relacionadas às Práticas
Laboratoriais em Mídias Eletrônicas e Digitais que têm sido desenvolvidas, há quatro anos,
de maneira interdisciplinar, no curso de Comunicação Social, habilitação em Radialismo da
Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação (FAAC), da UNESP/BAURU. A
experiênica pode ser aplicada à habilitação de Jornalismo, nas disciplinas que envolvam
produção audiovisual.
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Doutora em “Comunicação e Cultura” pela UFRJ e professora da disciplina de “Técnicas
de Produção, Direção e Edição em Televisão” no curso de Radialismo, da Faculdade de
Arquitetura Artes e Comunicação da UNESP/BAURU.
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Mídias massivas e Pós-massivas
A virada do século XX coincide com a passagem da comunicação centralizada, vertical,
unidirecional para atingir a comunicação das redes, interativas e cooperativas.
Impulsionadas pela microeletrônica, pela computação e pela informática, as novas
tecnologias da comunicação e da informação vão introduzir novos modos de representação
e de vinculação intersubjetiva, na contemporaneidade. Essa multiplicação e disseminação
das tecnologias na vida social refletem um processo de complexificação das mediações
culturais que exigem uma reformulação dos conceitos de mídia, comunicação, linguagem,
tecnologia, política e educação.
Conseqüentemente, é particularmente visível a urgência de uma outra postura interpretativa
para o campo dos estudos da comunicação. Ao mesmo tempo, toda mudança de caráter
epistemológico deve associar tanto componentes teóricos quanto práticos, que fazem com
que o ensino e a aprendizagem da comunicação acabem por incorporar novas formas de
perceber, pensar e utilizar as ferramentas ou dispositivos informacionais, próprios de cada
agenciamento histórico e científico.
Este têm sido, sem dúvida, o grande desafio dos cursos de Comunicação Social, na medida,
que a disponibilidade e a acessibilidade proporcionadas pelas novas tecnologias digitais
representam tanto uma mudança didático-pedagógica por parte do professor-mediador
quanto um novo espaço para questionamentos de ordem ontológica do próprio conceito de
comunicação.
Mídias Digitais: novos desafios e possibilidades no universo audiovisual.
O desenvolvimento das tecnologias de produção audiovisual digital, ocorrido no final do
século XX, mais precisamente nos anos 90, foi responsável por gerar uma pluralidade de
meios de captação e de programas de edição de imagens e sons. Hoje, já é possível, com
um pequeno orçamento, produzir programas semi- profissionais com a utilização de uma
câmera digital, um computador e alguns softwares de edição de som e imagem. Além do
baixo custo, estes equipamentos ainda permitem uma alta fidelidade de audiovisual, bem
próxima à profissional.
Este cenário das novas mídias tem redefinido o papel tanto das grandes emissoras de
brodcasting, que realizam a comunicação massiva, centralizada, vertical e unidirecional
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quanto o papel político e social desempenhado pelas chamadas “mídias alternativas” que
desempenham uma função de descentralização e democratização da comunicação, na
“sociedade da informação”. Ao mesmo tempo, a confluência da comunicação, com as
telecomunicações e a informática geram o aparecimento de dispositivos móveis, interativos
e cooperativos que solicitam, sobretudo, dos meios técnico-científicos o desenvolvimento
de conteúdos que sejam produzidos exclusivamente para a veiculação em celulares,
Internet, iPoods.
Recentemente, o jornal O Estado de S. Paulo2 trouxe matéria comentando o lançamento do
iPhone, pela Apple, numa Feira de Tecnologia em San Francisco que reuniu as maiores
empresas do ramo, em Las Vegas, na qual, Steve Jobs, presidente da empresa comenta a
dificuldade no descompasso entre a criação de hardwares e de softwares no mundo
tecnológico. Ele diz: “(...) a cada dois anos, o poder dos chips dobra. Isso empurra o avanço
numa curva crescente incrível que temos testemunhado nos últimos trinta anos. As
máquinas que temos em nossas mesas são incrivelmente mais poderosas do que aquelas que
tínhamos há uma geração. O hardware ficou mais barato e mais rápido. Mas para tudo dar
certo, precisamos de softwares. Porém, nossa capacidade de crescimento não consegue
seguir mais rapidamente dadas as dificuldades de desenvolver softwares únicos e
específicos”.
Em busca do tempo perdido: educação versus tecnologia
No campo dos estudos da comunicação, porém, a mera reiteração do surgimento de uma
“outra cultura” vertebrada pelas tecnologias da informação não se faz acompanhar de uma
outra atitude epistemológica, metodológica e interpretativa das novas mediações
(info)comunicacionais. Os cursos de Comunicação Social ainda têm como paradigma a
comunicação de massa, que se faz a partir de uma abordagem funcionalista e
descontextualizada das necessidades epistemológicas e das atuais exigências do mercado.
Este descompasso entre o mundo empírico e a academia não é recente. Neste sentido, o
curso de Comunicação Social, habilitação em Radialismo está passando por uma série de
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Matéria: O incrível celular sem teclado: especialista comenta o futuro impacto da
tecnologia em nossas vidas. (O Estado de S. Paulo, Caderno. Aliás, J3, 14 jan/2007)
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transformações à medida que lida com as questões de digitalização dos equipamentos de
produção audiovisual e dos novos meios de veiculação.
Em decorrência destas alterações, algumas faculdades têm mudado a grade curricular e o
nome dos cursos3. O Departamento de Comunicação Social da FAAC/UNESP elaborou em
2003, uma nova grande curricular, contemplando, novas disciplinas a fim de atualizar-se às
novas exigências mercadológicas. Na nova grade, o aluno inicia as disciplinas práticas já a
partir do primeiro semestre do início do curso. Isso acarretou mudanças estruturais e
pedagógicas importantes no ensino das diversas técnicas da comunicação.
Ao mesmo tempo, que, obtemos resultados satisfatórios em relação à maior acessibilidade e
disponibilidade das tecnologias de produção audiovisual (aumento na qualidade das
produções versus diminuição na quantidade de equipamentos necessários) para as práticas
de ensino. Por outro lado, temos que enfrentar mudanças nas posturas dos alunos frente ao
papel desempenhado pelo professor-mediador como agente de fomento de novas
experiências lúdicas e criativas, em sala de aula.
Nova abordagem das práticas laboratorais: a interdisciplinaridade em questão
Junto à nova grade curricular implementada no curso de Radialismo, também foi iniciado
um trabalho prático interdisciplinar que congrega as mais diversas disciplinas que o aluno
tende a cursar até a sua formação, do primeiro ao oitavo semestre letivo. Esta nova prática
que pede o envolvimento e, sobretudo, uma atitude continuada de (re)visão do projeto
pedagógico do curso, tem sido um desafio, principalmente, naquilo que concerne à
mudança de “consciência” e papel do professor-facilitador. Temos encontrado alguns
entraves que prejudicam o desenvolvimento de um “espaço crítico-criativo e dialógico” que
deve representar o ensino, já que, nem todos os docentes se sentem integrados e
comprometidos com essa prática.
Antes da implantação do trabalho interdisciplinar cada professor solicitava a produção de
uma peça audiovisual de acordo com as especificidades e o desenvolvimento de
competências implicados na sua disciplina. Isso acarretava um aumento na demanda do uso
dos laboratórios, principalmente, nos dois últimos anos do curso onde havia uma maior
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A Escola de Comunicação da USP não oferece mais os cursos de Cinema e Radialismo;
mas, optaram por substituí-los pelo Curso Superior de Audiovisual.
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carga horária de trabalhos práticos. Conseqüentemente, o resultado era insatisfatório tanto
para os alunos, professores e funcionários; além de um maior desgaste nos equipamentos
técnicos.
Por outro lado, a figura do professor-facilitador deve respeitar as características
“idiossincrásicas” de cada turma. A definição do tema e a divisão em grupos de trabalho,
não devem restringir a liberdade e criatividades dos alunos. Os melhores resultados obtidos,
durantes esses anos, ocorreram quando os próprios alunos optaram e organizaram suas
produções. Ao mesmo tempo, algumas regras quanto à escolha de gêneros e formatos
devem ser obedecidos pelos discentes. Ou seja, é no plano da “negociação” crítica e criativa
que, professores e alunos estabelecem um diálogo eficaz.
Considerações Finais:
Buscamos com a realização do trabalho interdisciplinar criar espaços compartilhados de
reflexão em torno da experiência da produção audiovisual. Planejar situações de
aprendizagem que conduzam a habilidades de planejamento da produção audiovisual que
levem em conta a necessidade do desenvolvimento de conteúdos específicos para cada
mídia. Também não devemos deixar de ressaltar que a acessibilidade proporcionado pelos
novos equipamentos midiáticos, tem proporcionado uma experiência mais integral aos
alunos, na medida, em que a possibilidade de veiculação dos conteúdos produzidos faz-se
em tempo real; como no caso, de transmissões ao vivo da programação das Rádio e
Televisão (WebTV) virtuais, experimentos que tem demonstrado o vigor e as novas
possibilidades de uma educação integral e integrada com as novas tecnologias.
Referências Bibliográficas:
PARENTE, André (org.). Imagem Máquina. São Paulo: Editora 34, 1993
RIBEIRO, Igor. Baixo custoestimula cinema digital.
<www.estadao.com.br/divirtase/nboticias/2000/set/17/a0.htm> (setembro 2000)
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ROSA JR. Hamilton. Entre o celulóide e a imagem eletrônica. In: Revista Tela Viva. São
Paulo. Editora Glasberg, ed. 94, p. 38-42, setembro de 2000.
SODRÉ, Muniz. Antropológtica do Espelho: uma teoria da comunicação linear em
rede. Petrópolis: Vozes, 2006
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