Produção Sustentável e Alternativas para o Mercado
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Produção Sustentável e Alternativas para o Mercado
Palestras do VIII Congreso Latinoamericano de Especialistas en Pequeños Rumiantes y Camélidos Sudamericanos – Bernhard (p.8-16) PRODUÇÃO SUSTENTÁVEL E ALTERNATIVAS PARA O MERCADO DE LÃ Eduardo Amato Bernhard1 RESUMO Considerada a rainha entre as fibras naturais, por suas propriedades únicas, a lã vive um dilema no mercado mundial, caracterizado por oscilações constantes de preço, determinadas basicamente pela demanda de países como a China e Índia. Dentro de um universo vasto de fibras, onde se destacam os sintéticos e o algodão, a lã se tornou um nicho de mercado, contribuindo com apenas 2% do mercado mundial de fibras têxteis. Num histórico recente, onde a lã atingia altos valores de mercado e de forte consumo, esta pouco tempo depois começou a perder espaço para as fibras derivadas do petróleo, que surgiram como uma alternativa mais barata e versátil, que contribui fortemente com a queda dos preços e a uma drástica redução do rebanho em todo o planeta. Passados mais de 20 anos, este mercado recomeça a mostrar sinais de estabilidade, retomando a valorização do produto, porém com características diferenciadas, mais exigente em relação à qualidade, mais restrito em relação às finuras e preocupado com questões como sustentabilidade e bem-estar animal. Desta forma a indústria da lã começa a busca por novas alternativas, novos nichos, baseado nas demandas mundiais, se especializando cada vez mais, como as lãs superfinas e explorando áreas antes ignoradas como as lãs naturalmente coloridas, além de produtos ecologicamente corretos, que atendem a um consumidor mais exigente e com maior poder aquisitivo. Palavras-chave: mercado da lã, lã superfina, lã naturalmente colorida, lã orgânica, qualidades da lã ABSTRACT Considered the queen of natural fibers for her unique properties, the wool is experiencing a dilemma in the global market, characterized by constant price fluctuations, determined primarily by demand from countries like China and India. Within a vast universe of fibers, with the focus on synthetic and cotton, wool has become a niche market, contributing only 2% of the world market for textile fibers. In recent history, where the wool reached high values and strong consumer market, a few later it began to lose ground to the fibers derived from petroleum, which have emerged as a cheaper and versatile alternative which contributed to the fall in prices and a drastic reducing the herd across the planet. Past more than 20 years, this market begins to show signs of stability, returning to the appreciation of the product, but with different characteristics, more demanding of quality, more restrict about fineness and concerned about issues like sustainability and animal welfare. Thus the wool industry begins to search for new alternatives, new niches, based on worldwide demand, is increasingly specialized, such as superfine wool and exploring areas previously ignored as naturally colored wool, and environmentally friendly products, that meet a more demanding consumer and greater purchasing power. Keywords: wool market, superfine wool, natural colored wool, organic wool, wool qualities Introdução A lã pode ser considerada a mais versátil entre todas as fibras naturais presentes em nosso planeta. Possui qualidades que lhe permitem inúmeros usos e finalidades. O seu uso de forma artesanal descende de milhares de anos, inicialmente para proteção contra condições climáticas adversas, através da confecção de tecidos para vestimentas, cobertores, tapetes ou tendas. Na antiguidade a expressão artística da lã aparece como matéria prima de peças de tapeçaria e outros ornamentos, e na moda, como roupas e chapéus. Com a revolução industrial deu-se início ao processamento da lã e a produção de tecidos em maior escala, o que estimulou sobremaneira o mercado. A lã se tornou largamente utilizada e se tornou um importante produto de exportação para vários países. 1 Médico Veterinário Esp. - OVITEC - Consultoria e Assessoria Veterinária especializada em ovinos. Email: [email protected] 8 Palestras do VIII Congreso Latinoamericano de Especialistas en Pequeños Rumiantes y Camélidos Sudamericanos – Bernhard (p.8-16) Porém, na década de 1980, com o surgimento das fibras sintéticas, derivadas do petróleo, e suas variadas cores e padrões, o uso das fibras naturais teve um longo período de desvalorização. Com altos estoques mundiais, que levaram a uma queda drástica dos preços internacionais, a lã tornou-se a grande responsável pelo declínio dos rebanhos mundiais de ovinos. Como commodity, a lã sempre sofreu influência dos preços internacionais, condicionados pela lei da oferta e da procura, razão pela qual esta queda afetou a todos os países produtores, incluindo os países e regiões do Sul da América do Sul, onde era um produto importante na balança comercial, como a Argentina, Uruguai e o sul do Brasil. Com a elevação do preço do petróleo e seus derivados, associado com estoques equilibrados e consumo em leve alta, a lã apresenta uma perspectiva de bons preços pelos próximos anos. Neste universo temos como grandes protagonistas, do lado da produção, países como Austrália, Nova Zelândia, Alemanha, África do Sul e Reino Unido, e a Argentina e o Uruguai, na América do Sul dentre outros. O Brasil contribui com menos de 1% do total mundial. No lado do consumo, aparecem os gigantes China e Índia, seguidos da Itália, Reino Unido, Alemanha e outros países Europeus. Atualmente a pauta mundial de exportação é de 602,8 mil ton (US$ 1.892.502,96 mil), enquanto a de importação é de 518,33 mil ton (US$ 1.961.435,44 mil) (FAOSTAT 2011). As Tabelas 1 e 2 e Figuras 1 e 2, apresentadas a seguir, ilustram melhor as informações acima citadas: Tabela 2: Produção dos países da América Latina em toneladas de lã bruta. Tabela 1: Principais países produtores em toneladas de lã bruta. Posição 7º 15º 32º 37º 40º 44º 48º 51º 65º 72º País T Argentina 54.000 Uruguai 34.700 Brasil 11.804 Peru 8.700 Chile 7.808 Bolívia 6.641 México 4.696 Colômbia 4.000 Equador 1.400 Paraguai 1.000 Total 134.749 Fonte: FAO STAT - Nações Unidas (2011) País T China 393.072 Austrália 361.806 Nova Zelândia 165.800 Reino Unido 67.000 Irã 60.000 Marrocos 55.300 Argentina 54.000 Federação Russa 52.575 Índia 43.000 África do Sul 41.197 Total mundial 1.985.797 Fonte: FAO STAT - Nações Unidas (2011) Desta forma percebe-se que a grande parte da produção mundial está situada no hemisfério sul de nosso planeta, enquanto que a industrialização e o consumo encontram-se, principalmente, no hemisfério norte, notadamente na Ásia e Europa. A China desponta como maior produtor e maior importador de lã mundial, enquanto a Austrália é o principal exportador de lã suja e a Nova Zelândia o maior exportador de lã processada. Atualmente a lã representa somente 2% do total das fibras têxteis utilizadas no mundo. Na indústria, o universo de fibras utilizadas é vasto e as sintéticas e o algodão são os principais em volume de utilização. Desta forma, podemos dizer que a lã é uma fibra tipicamente de nicho de mercado, e as pessoas que consomem lã estão dispostas a pagar um pouco mais, por justamente se tratar de um produto diferenciado. 9 Palestras do VIII Congreso Latinoamericano de Especialistas en Pequeños Rumiantes y Camélidos Sudamericanos – Bernhard (p.8-16) 400000 350000 300000 250000 200000 150000 100000 50000 0 351001 127774 70268 60242 54287 35068 25585 24757 24018 Toneladas de lã Figura 1: Principais países exportadores de lã suja ou processada. Fonte: FAO (Ano Base -2010) 329395 350000 300000 250000 200000 150000 100000 50000 0 76473 53823 46724 40836 25602 23507 18754 9815 9804 9758 Toneladas Figura 2: Principais países importadores de lã suja ou processada. Fonte: FAO (Ano Base -2010) As diferentes características das lãs das muitas raças criadas ao redor do mundo também oferecem uma enorme gama de possibilidades e usos, seja industrial ou artesanalmente, podendo ser um fator de valorização e agregação de renda se realizado um trabalho bem dirigido. Alguns mercados já estão se especializando na produção destas lãs com maior valorização, como o mercado das lãs superfinas na Austrália e África do Sul, ou lãs grossas, chamadas "carpet wools". Observa-se ainda que o uso artesanal da lã começou a retomar seu espaço, motivado por uma necessidade das pessoas em uma busca pelo passado, com técnicas das culturas regionais que estavam esquecidas e também de uma maior consciência na utilização de produtos naturais nas peças artesanais. Muitos programas em vários países têm estimulado este processo, aliando um novo pensamento de mercado, que vem permitindo o resgate de técnicas comuns no passado, o aprimoramento dos produtos e o uso da criatividade na produção de peças únicas e exclusivas, com alto valor de mercado. Qualidades da lã 10 Palestras do VIII Congreso Latinoamericano de Especialistas en Pequeños Rumiantes y Camélidos Sudamericanos – Bernhard (p.8-16) As lãs finas e superfinas produzem a chamada lã fria, usada em tecidos finos para vestuários de alto valor agregado e roupas esportivas, que podem ser utilizados no verão ou no inverno. Lãs grossas, acima de 30 micras, normalmente são menos suaves e mais utilizadas em tapeçarias e para decoração. Algumas raças, não especializadas para a produção de lã, podem produzir lãs mais finas, mas com presença de pelos, que são os responsáveis pela sensação de "pinicar", em alguns produtos. A lã possui muitas propriedades podem ser utilizados como diferenciais de mercado, criando nichos que podem ser explorados localmente ou de forma mais ampla, agregando valor e aumentando a rentabilidade dos produtos. A lã regula e isola Vantagem única de lã é a sua respirabilidade. Essa é a habilidade de absorver e liberar a umidade do ar circundante, sem comprometer sua eficiência térmica. Quando as fibras de lã absorvem a umidade, geram pequenas quantidades de calor. Esta propriedade cria um efeito tampão natural, estabilizando as alterações de calor que ocorrem com umidade relativa do ar. A ondulação natural da lã cria espaços de ar entre as fibras, permitindo que a pele respire naturalmente e a regulação da temperatura corporal. Este isolamento térmico faz da lã aconchegante e quente no inverno e agradável e fresca no verão. Sob o calor, mantém a temperatura do corpo em média 5 a 8 graus mais baixa em comparação com tecidos sintéticos expostos ao sol. Além disso, a lã protege apele contra os raios UV. A lã é absorvente A lã pode absorver até 35% de seu peso em umidade, sem sentir frio. Também libera umidade de forma eficaz, o que proporciona um ambiente seco e fresco. Isso garante maior conforto ao dormir e é importante na prevenção e alívio muscular e queixas articulares. Essa habilidade de absorver e liberar a umidade do ar circundante, não compromete sua eficiência térmica. Quando as fibras de lã absorvem a umidade, geram pequenas quantidades de calor. A lã é durável A lã é resistente, resiliente, forte, flexível, elástica, e de fácil cuidado, o que lhe confere grande durabilidade, não amassa e não perde a forma. Bem cuidada, este produto natural ímpar permanecerá em boas condições durante dez anos ou mais. A lã é naturalmente resistente à chama e a estática, não propagando fogo nem eletricidade. A lã é eco-friendly Diferente de outros produtos a lã é obtida a partir de uma fonte sustentável, sem prejuízo ou dano ao animal. Para estes animais, a retirada da lã traz um grande alívio e cada vez mais preocupa-se com o bem estar dos animais e a utilização de técnicas que não machuquem ou estressem estes demasiadamente. Ainda as lãs utilizadas de forma artesanal normalmente não levam nenhum produto químico ou tingimento danoso ao meio-ambiente. A lã é antialérgica Ao contrário do que se pensa, a lã, bem lavada e bem conservada, não produz reações alérgicas. Por absorver bastante umidade, cria um ambiente mais seco e menos propenso a ácaros e outros alérgenos. A lã é terapêutica A lã possui elevado teor de lanolina, um óleo natural com qualidades benéficas que têm sido reconhecidas há séculos no tratamento de dores musculares e articulares, entorses, contusões, lesões e problemas de sono. Além disso, a lanolina pode ser utilizada como hidratante da pele e do cabelo, com excelentes resultados. Foi ainda clinicamente comprovado que a lã pode melhorar o sono, porque suas fibras naturalmente frisadas formam um suporte elástico acolchoado que embala o seu corpo para aliviar pontos de pressão. Nada acalma o corpo e reduz a fadiga como a lã. Você dorme melhor em lã porque você rapidamente cai em um profundo sono reparador. Sinta-se descansado e recarregado para o dia seguinte! A lã tem diversos usos e utilidades A lã pode ser usada na sua forma bruta, lavada, cardada, fiada, feltrada, etc. Pode ser tingida ou utilizada nas suas cores naturais, mesclada com outras fibras e produtos. Para a confecção de 11 Palestras do VIII Congreso Latinoamericano de Especialistas en Pequeños Rumiantes y Camélidos Sudamericanos – Bernhard (p.8-16) peças de vestuário masculinas, femininas e infantis, peças de decoração e tudo mais que a nossa criatividade permitir. Pode ser utilizada para isolamento térmico e acústico em construções de todos os tipos. A resiliência das fibras da lã permite uma maior eficiência no isolamento acústico, pois mantém sua espessura reduzindo em 15% a energia necessária em comparação à lã de vidro. Por não ser comburente em alguns países é obrigatório o uso da lã na confecção de cortinas, carpetes e forros de móveis para casas, escritórios, automóveis e aviões. Como segura a umidade, esta resiste ao fogo, que é extinto quando a fonte de chama é removida. A lã ainda pode absorver e decompor poluentes do ar como o formaldeído, dióxido de nitrogênio e dióxido de enxofre. A lã é um recurso renovável e sustentável, que tem zero potencial de destruição do ozônio e que ao final de sua vida útil pode ser recondicionado ou biodegradado. Lãs super fina e ultra-fina As lãs finas, entre 20 e 24 micras, produzidas pelas raças Merino e Ideal são atualmente o principal mercado para a lã no mundo. As chamadas lãs frias mantêm seu valor internacional e possuem mercado e preço o ano todo. Tendo como seus principais produtores a Austrália, a África do Sul, a Nova Zelândia e a Argentina, permitem a produção de tecidos para a confecção de roupas versáteis, para as estações quentes, além de roupas esportivas, Seguindo esta tendência, estes países começaram a se especializar na produção de lãs superfinas e ultrafinas, abaixo de 20 micras e 14 micras respectivamente, obtendo-se finuras em torno de 9 micras. Este nicho possui alta valorização por conta da sua comercialização destinada a produtos diferenciados, de alto padrão, principalmente grifes renomadas, tendo como seus principais consumidores a China, a Itália e outros países europeus. Lotes de lã com média abaixo de 12 micras são vendidos a valores acima de US$ 1.000,00 o quilograma. Este mercado baseia-se num sistema produtivo onde o processo de seleção genética é bastante rigoroso, aliado a um manejo diferenciado no caso das ultrafinas. Na Austrália, por exemplo, existem as chamadas Wool Factories, onde os animais ficam confinados 24h por dia, sem contato com a luz solar e com um programa nutricional específico. Isto, entretanto, já vem sendo bastante condenado por organizações de proteção aos animais. Além disso, estas fibras, pelo seu alto valor, têm sua demanda restrita e a sua produção deve ser controlada a fim de manter os preços atuais. Figura 3. Lã 13 micras Produção sustentável A sustentabilidade é a palavra do momento e apesar de seu grande apelo social e comercial, tem um sentido muito mais amplo do que a grande maioria da população sequer imagina. 12 Palestras do VIII Congreso Latinoamericano de Especialistas en Pequeños Rumiantes y Camélidos Sudamericanos – Bernhard (p.8-16) A produção sustentável está baseada no respeito ao todo que envolve o processo produtivo: a mão de obra, o bem-estar animal, o meio-ambiente, o uso de práticas saudáveis e dos recursos locais. Esse processo já vem sendo bastante explorado comercialmente na ovinocultura de lã e carne em diversos países, incluindo o Brasil e outros países do Mercosul. No Rio Grande do Sul, grande parte dos rebanhos comerciais encontra-se em áreas de proteção ambiental, fato que, por si só, já favorece ao processo sustentável, devido à maior fiscalização e restrições de uso da terra e da água. Além do que, o ovino se adapta muito bem nessas áreas e produz menos danos ao meio-ambiente. Quando aliamos a isso algumas práticas de manejo voltadas ao bem-estar dos animais e valorizamos a mão de obra adequadamente, utilizando-nos dos recursos naturais de forma correta, automaticamente tornamos sustentável o nosso sistema de produção. Isto nos permite levar ao mercado um produto com valor agregado, trazendo mais renda ao produtor. Figura 4. Site Ecolã - Produção de Lã sustentável - http://cabanhaecolan.webs.com/ Lã orgânica A produção orgânica é outro importante diferencial e de alto valor agregado. Em muitos casos, a produção sustentável também está intimamente associada ao processo orgânico, como no exemplo apresentado anteriormente, as Áreas de Proteção Ambiental ou APA, podem ser facilmente certificadas como orgânicas, com poucas alterações no sistema produtivo. Figura 5. Site Koshkil - Produção de Lã Orgânica na Argentina- http://koshkil.com.ar/ 13 Palestras do VIII Congreso Latinoamericano de Especialistas en Pequeños Rumiantes y Camélidos Sudamericanos – Bernhard (p.8-16) Alguns países já exploram de forma consistente esse nicho. Na Argentina, por exemplo, a Patagônia, devido ao clima, relevo e latitude, áreas bastante extensas de produção, com pastagem nativa, sem a utilização de agrotóxicos, possui condições que favorecem a produção orgânica, que reduzem problemas sanitários e consequentemente a necessidade de uso de medicamentos para os animais. Por outro lado a certificação orgânica pode ser cara e demorada, exigindo a contratação de uma empresa certificadora, que orienta, avalia e certifica todo o processo. Vale também aqui citar a produção biodinâmica, outro processo de certificação semelhante, que possui um público cativo em diversos países europeus. A produção biodinâmica vai além da orgânica, com um sistema produtivo peculiar que se utiliza de conceitos abstratos de produção e manejo dos animais e do ambiente. No Brasil e na Argentina já existem criações de ovinos que produzem carne e lã certificadas pelo sistema biodinâmico. Lãs naturalmente coloridas Encontrados ocasionalmente na maioria das raças, são considerados naturalmente coloridos quaisquer ovinos que não sejam brancos. Estes podem ser totalmente ou parcialmente pigmentados, em cores variando do marrom escuro ao creme, e do preto a cinza prateado. A lã destes ovinos sempre teve um uso alternativo em diversas culturas tradicionais. Por não ter valor comercial, estas por muitas vezes eram doadas e/ou processadas artesanalmente para uso pessoal ou como fonte adicional de renda, na forma de cobertores, roupas e outros acessórios rústicos e de subsistência. Nos países latinos, asiáticos e africanos sempre foram utilizadas na produção de tapeçarias e outras peças utilitárias que ainda hoje fazem parte da cultura e tornaram-se uma forma de agregação de renda destes povos. Acompanhando a demanda mundial crescente criada pela conscientização das questões de ecologia, de sustentabilidade, valorização dos produtos naturais e das técnicas tradicionais de produção, estas lãs têm se tornado um excelente nicho de mercado seja para uso artesanal ou comercial, ou pelegos. Em detrimento disto, em diversos países, criadores começaram a se organizar em associações, com o objetivo de preservação, divulgação e melhoramento das diferentes raças de ovinos naturalmente coloridos. Como exemplos temos a Nova Zelândia, a Austrália, os Estados Unidos, a Inglaterra e outros países europeus, em que a lã colorida já é selecionada e classificada utilizando-se os mesmos parâmetros de qualidade da lã branca e também pelos diferentes tons que podem ser produzidos. Na América Latina o principal impulso a esta matéria prima se deu nos últimos anos, com os "pelegos pretos”, que no Brasil, Uruguai e Argentina são comercializados por valores superiores ao valor do animal vivo. Na região também há décadas são criados ovinos de lã grossa, naturalmente colorida, da raça crioula ou "churra", além da karakul, importada no início do século 19. Cruzadas com animais brancos, estas raças auxiliaram na manutenção dos genes da cor nesses rebanhos. No Brasil, foi iniciado um trabalho com o propósito de explorar este novo nicho, do ponto de vista artesanal ou industrial, a exemplo do que já ocorre hoje com o algodão colorido, produzido no nordeste brasileiro ou do mercado andino para as lãs dos camelídeos. Universidades, centros de pesquisa, associações e outras entidades têm trabalhado junto aos produtores e artesãos para a qualificação da matéria prima e das técnicas respectivamente, para a produção e uso de lãs selecionadas conforme o objetivo final da peça. Diversas novas raças de ovinos coloridos já estão sob o controle oficial para posterior registro, e a comercialização de animais melhoradores também se tornou um mercado interessante. No noroeste da Argentina e no Uruguai também aparecem algumas iniciativas tímidas de produção artesanal e industrial com lãs naturalmente coloridas. 14 Palestras do VIII Congreso Latinoamericano de Especialistas en Pequeños Rumiantes y Camélidos Sudamericanos – Bernhard (p.8-16) Figura 4: Montagem de fotos de ovinos e lã naturalmente coloridos: No sentido anti-horário, a partir do topo - Ovinos da raça merino coloridos (Austrália); - Lã naturalmente colorida cardada (Nova Zelândia); - Novelos de lã (Nova Zelândia); - Fios em diversas tonalidades (Brasil); Produtos artesanais (Brasil); - Produtos industriais (Brasil). Referências Bibliográficas 1. Estados Unidos. American Sheep Industry Association Wool Journal. Agosto/2012. Disponível em: http://www.sheepusa.org/user_files/file_1080.pdf 2. International Wool Textile Organisation. Disponível em: http://www.iwto.org/ 3. Australian Wool Innovation. Disponível em: http://www.wool.com 4. Wool Roadmap International. Wool Textile Organisation. Disponível em: http://www.iwto.org/uploaded/projects/roadmap/iwto_rm_spanish.pdf 5. Roma. FAO - Organização das Nações Unidas. FAOSTAT. Disponível em: http://faostat3.fao.org/home/index.html#DOWNLOAD 6. Londres. Campanha Internacional da Lã. Disponível em: http://www.campaignforwool.org/ 7. Gamboa VHP et al. La comercialización de productos de pequeños rumiantes y camélidos sudamericanos. CYTED. Red Iberoamericana para el Mejoramento Productivo de Pequeños Rumiantes y Camélidos Sudamericanos. México. 2004. 15 Palestras do VIII Congreso Latinoamericano de Especialistas en Pequeños Rumiantes y Camélidos Sudamericanos – Bernhard (p.8-16) 8. Nova Zelândia. Wool fibre properties. Biotechnology Learning Hub. Disponível em: http://www.biotechlearn.org.nz/focus_stories/wool_innovations/wool_fibre_properties 9. Bofill FJ. A Reestruturação da Ovinocultura Gaúcha. Porto Alegre: Agropecuária. 1996. 16
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