Arte Rococó - O Universo da Arte

Transcrição

Arte Rococó - O Universo da Arte
Arte Rococó
A ascensão da burguesia
A revolução burguesa na Inglaterra
A partir do século XVII, a Europa viveu um
período de intensas transformações e conflitos de
interesses. O choque entre as antigas forças feudais e a
crescente influência da burguesia agitava as elites. Na
Inglaterra, a reforma religiosa implantou a Igreja
Anglicana que reforçava a ética religiosa calvinista, mais
adequada aos valores burgueses, estimulando o lucro, a
poupança e a acumulação de bens.
O rei da Inglaterra Carlos I, chefe da Igreja
anglicana, buscando limitar a influência calvinista, decidiu
revalorizar a forma litúrgica católica em vez dos preceitos
calvinistas. Essa atitude do rei provocou a fundação de
Anton Van Dyck, Carlos I da Inglaterra,
novas seitas religiosas, como a dos presbiterianos, que
c.1635, Museu do Louvre em Paris
também eram chamados de puritanos.
Em contrapartida, o parlamento inglês proclamou a Petição de Direitos que impedia o rei
de criar impostos, convocar o exército ou prender qualquer cidadão sem a autorização do
parlamento.
O conflito prosseguiu com a prisão e decapitação do rei Carlos I, dando origem a uma
espécie de república ditatorial sob a liderança de Oliver Cromwell. A Declaração de Direitos
instituída em 1689 pelo parlamento inglês, limitou ainda mais os poderes da monarquia. A partir
dessa época, costuma-se dizer que na Inglaterra “o rei reina, mas não governa”.
A revolução inglesa foi a primeira revolução burguesa da Europa. Ocorreu 150 anos
antes da Revolução Francesa, e, representa a queda da monarquia absolutista e a ascensão
política da burguesia.
O despotismo Esclarecido
É evidente que o absolutismo monárquico, ou seja, o poder divino, absoluto e
incontestável do rei, não foi tão rapidamente derrubado nos outros países da Europa. Na França,
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filósofos como Voltaire defendiam uma monarquia respeitadora dos direitos individuais,
governada por um soberano esclarecido, sensível às necessidades de todos os cidadãos.
No fundo, os déspotas esclarecidos não abandonaram suas intenções políticas
conservadoras, mas as reformas que eles implementaram, inspiradas em ideais do Iluminismo,
prolongaram um pouco mais sua permanência no poder.
Neste momento de poucos conflitos entre os países, impulsionados pelo “Século das
Luzes”, os artistas se libertam da temática religiosa, dedicando-se a arquitetura de palácios civis,
retratos e festas galantes, onde eram representados os costumes e as atitudes de uma sociedade
em busca de felicidade, da alegria e do prazer sensual.
Características da arte do rococó
O rococó é um estilo que se desenvolveu no sul da Alemanha e Áustria e principalmente
na França, a partir de 1715, após a morte de Luís XIV.
Também conhecido como "estilo regência", reflete o
comportamento da elite francesa de Paris e Versailles,
empenhada em traduzir o fausto e a agradabilidade da
vida. O nome vem do francês rocaille (concha), um
dos elementos decorativos mais característicos desse
estilo, não somente da arquitetura, mas também de
toda manifestação ornamental e de adereços. O estilo
conheceu grande desenvolvimento entre 1715 e 1730,
François Boucher, "O enlevamento da Europa"
(1747)Museu do Louvre, Paris.
durante a regência de Filipe de Orléans.
Existe uma certa alegria na decoração carregada, na teatralidade, na refinada
artificialidade dos detalhes, mas sem a dramaticidade pesada nem a religiosidade do barroco.
Tenta-se, pelo exagero, se comemorar a alegria de viver, um espírito que se reflete inclusive nas
obras sacras, em que o amor de Deus pelo homem assume agora a forma de uma infinidade de
anjinhos rechonchudos. Tudo é mais leve, como a despreocupada vida nas grandes cortes.
A produção artística desse período tem como principais características:
Utilização de cores claras
Uso de tons pastéis e douramento
Representação da vida da aristocracia
Representação de alegorias
Estilo fortemente decorativo
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Arquitetura
A arquitetura rococó é marcada pela
sensibilidade, percebida na distribuição dos
ambientes interiores, destinados a valorizar um
modo de vida individual e caprichoso. Essa
manifestação
adquiriu
importância
principalmente no sul da Alemanha e na França.
Suas
principais
características
são
uma
exagerada tendência para a decoração carregada,
tanto nas fachadas quanto nos interiores. As
Palácio de Schönbrunn em Viena
cúpulas das igrejas, menores que as das barrocas,
multiplicam-se. As paredes ficam mais claras, com tons pastel e o branco. Guarnições douradas
de ramos e flores, povoadas de anjinhos, contornam janelas ovais, colocadas para que possam,
com sua ação estética, quebrar a rigidez das paredes.
O mesmo acontecia com a arquitetura
palaciana. A expressão máxima dessa tendência
são os pequenos pavilhões e abrigos de caça dos
jardins. Construídas para o lazer dos membros
da corte, essas edificações, decoradas com
molduras em forma de argolas e folhas
transmitiam uma atmosfera de mundo ideal. Para
completar essa imagem dissimulada, surgiam no
teto, imitando o céu, cenas bucólicas em tons
Pavilhões e abrigos de caça dos jardins do Palácio de
pastel.
Schönbrunn em Viena
Na
metade
do
século,
o
"estilo
Pompadour" já constituiu uma variante do
rococó: curvas e contra curvas animam as paredes e os ritmos
decorativos, afirma-se a assimetria, a trama linear invade tudo. As Vilas
construídas para a favorita de Luís XV sugerem a evolução de um gosto
que se desenvolve com pequenas oscilações.
Os
móveis,
importantíssimo
complemento
da
construção
arquitetônica, assumem uma transcendência particular. De um lado isto
decorre da exigência, de determinados arranjos. De outro lado a variedade
Cadeira da época do Rei Luis XV
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cromática, devido ao emprego de madeiras raras marchetadas, ornadas de frisos dourados, é
acompanhada pelo requinte de suas linhas. Acompanha tudo isso o gosto pelos bibelôs.
Escultura
Devido ao grande desenvolvimento decorativo, a escultura ganha
importância. Os escultores do rococó abandonam totalmente as linhas
do barroco. Suas esculturas são de tamanho menor. Embora usem o
mármore, preferem o gesso e a madeira, que aceitam cores suaves. Os
motivos são escolhidos em função da decoração. Até artistas famosos,
principalmente aqueles ligados a manufatura de Sèvres se apressam a
preparar para ela, desenhos e modelos. Em função de lembrança, do
souvenir, os pequemos grupos representam cenas de gênero e narram,
Vasos de Sèvres,"O estudo"
França, 1829
com linguagem espontânea e cores luminosas, episódios galantes,
brincadeiras e jogos infantis.
Nas igrejas da Baviera surge o teatro sacro. Altares com
iluminação a partir do fundo, decorados com cenários carregados de
anjos, folhas e flores, são a referência ideal para cenas religiosas de uma
inegável atmosfera de ópera.
Vasos de Sèvres, França, 1829
Devemos destacar também, que é nessa época que
surge com um vigor inusitado, a indústria da escultura de
porcelana na Europa, material trazido do extremo Oriente, na
esteira do exotismo tão em voga nessa época. Esse delicado
material era ideal para a época, e imediatamente surgiram
oficinas magistrais nessa técnica, em cidades da Itália,
França, Dinamarca e Alemanha.
Igreja da Peregrinação de Wies - Séc. XVIII
– Steigaden
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Pintura
A pintura rococó deixa de lado os afrescos a fim
de dar lugar aos arrases que pendem macios das paredes
e tornam íntimos e discretos os ambientes; aproveita os
recursos do barroco, liberando-os de sua pesada
dramaticidade por meio da leveza do traço e da
suavidade da cor. Agora o quadro tem pequenas
dimensões, passando a ser colocado nas entreportas, ou
ao lado das janelas, onde antes eram colocados os
espelhos. Por vezes, os quadros têm um lugar reservado:
são os gabinetes de pintura, onde se reúnem os
“entendedores” para apreciar as obras.
O homem do rococó é um cortesão, amante da
Jean-Marc Nattier, Madame Vitória (1748)
boa vida e da natureza. Vive na pompa dos palácios, passa o dia em seus jardins e se faz retratar,
tanto nos salões de espelhos e mármores, luxuosamente trajado, quanto, em meio a primorosas
paisagens bucólicas, vestido de pastorzinho.
As cores preferidas são claras. Desaparecem os intensos vermelhos e turquesa do barroco,
e a tela se enche de azuis, amarelos pálidos, verdes e rosa. As pinceladas são rápidas e suaves,
movediças. A elegância se sobrepõe ao realismo. As texturas se aperfeiçoam, bem como os
brilhos.
Existe uma obsessão muito particular pelas sedas e
rendas que envolvem as figuras. Os retratos de Nattier e as
cenas galantes de Fragonard são as obras mais
representativas desse estilo.
Nessa estética do prazer a sensualidade tinha
especial apelo, mas não como componente narrativo de
erotismo puro; antes, fornecia um pretexto para os artistas
explorarem os limites da representação, almejando uma
tangibilidade que suscitasse uma resposta sensorial global
mais imediata e intensa, o que era um dos parâmetros para
a qualificação de uma obra de arte naquele tempo, e se
Jean Honoré Fragonard, “O Balanço” (1767)
inscrevendo numa concepção de vida mais ampla onde o
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despreocupado prazer de viver era a tônica. Mais sugerindo que explicitando, mais convidando à
fantasia complementar do público do que apresentando-o por inteiro, o que seria considerado
ofensivo, o erotismo na pintura rococó é mais penetrante e eficiente do que em composições
onde o significado fica exaurido desde o início pela obviedade das referências diretas.
O material preferido para obter o efeito aveludado das sedas e dos brocados, a
transparência das gazes e o esfumado das perucas brancas são os tons pastel. Esses pigmentos de
cores diferentes, prensados na forma de pequenos bastões, ao serem aplicados sobre uma
superfície rugosa vão se desfazendo e é preciso fixá-los com um líquido especial. Sem sombra de
dúvida, é nesse período que a técnica do pastel atinge seu ponto máximo de excelência.
Artistas da arquitetura rococó
e.
Johann Balthasar Neumann (1687-1753)
arquiteto e engenheiro alemão (Cheb, Boêmia,
1687 - Würzburg, 1753). Mestre do ilusionismo
barroco. Entre suas obras principais estão o
palácio de residência de Würzburg e a Igreja dos
Vierzehnheiligen (14 santos), na Baviera.
Residência de Wurtzburgo, projetado pelo arquiteto Balthazar
Neumann, encomenda do Príncipe-bispo de Wurtzburgo e
construída entre 1720 e 1744
Gabriel-Germain
Boffrand
(1667-1754)
extremamente popular na Paris do século XVIII, construía
casas para a aristocracia francesa, preocupando-se sempre
com a harmonização entre a construção e a decoração de
seu interior ao estilo rococó.
Um dos exemplos mais conhecidos de seu trabalho
é o Salon de la Princesse no Hôtel de Soubise.
Trata-se de uma rica sala de recepção numa casa
particular, em que elementos como janelas e espelhos são
usados para dar a sensação de amplitude e fragmentar a luz.
Hôtel Soubisse em Paris (1735-9), obra de
Gabriel-Germain Boffrand
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É importante ressaltar a integração entre as formas arquitetônicas, a decoração e as
pinturas presentes na moradia.
Artistas Pintores
Na pintura, temos grandes nomes como Giovanni Battista Tiepolo (1696-1770), JeanAntoine Watteau (1684 - 1721) e William Hogarth (1697-1764) e Jean-Honoré Fragonard
(1732-1806), discípulo de Chardin e de Boucher,
TIEPOLO (Giambattista), pintor e gravador italiano
(Veneza, 1696 - Madri, 1770). Sua inventiva é brilhante, e o
colorido, claro e alegre.
O veneziano Tiepolo é considerado um dos maiores
artistas do Século XVIII. Foi o autor das pinturas realizadas na
construção de Neumann "Residenz", celebrizando-se pelas
obras. Trabalhou, além da Itália, na corte espanhola de Charles
III.
Tiepolo iniciou na pintura vários assistentes, inclusive
os próprios filhos. O mais velho deles, Giovanni Domenico
Tiepolo, é conhecido, ao lado do pai, por suas estampas. Seu
genro Francesco Guardi também é considerado excelente
anjo a Sara (1726-1728)
paisagista do período.
WATTEAU
Giovanni Battista Tiepolo, Aparição do
(Antoine),
pintor
francês
(Valenciennes, 1684 - Nogent-sur-Marne, 1721). Preferiu
os temas campestres, as cenas bucólicas, as "festas
galantes".O pintor flamengo estabelecido em Paris,
Antoine Watteau (1684-1721), mestre em cenas
campestres, é outro importante pintor do período, tendo
recebido influências de Rubens e da Escola Veneziana.
Os personagens da Comédia dell’arte e os da Comédia
Francesa aparecem freqüentemente em sua obra, com
Jean-Antoine Watteau, Nogent-sur-Marne
(1721)
belíssimos resultados.
7
HOGARTH (William), pintor e
gravador inglês (Londres, 1697 – id., 1764).
Praticou uma arte moralizante e fixou os
costumes da época. Foi também célebre
pelos retratos.
William Hogarth é tido como o
fundador da famosa escola inglesa de
pintura (até então a Inglaterra não tinha
demonstrado realmente grandes nomes
William Hogarth, Marriage à la Mode 2: O Tête a Tête (1745)
nessa
expressão
artística
pela
qual
notabilizar-se-ia posteriormente). Suas preferências caíam nas pinturas de cunho moralizante
tiradas de sátiras, como a extremamente bem humorada série "Marriage à la Mode".
Jean-Honoré Fragonard (1732-1806), discípulo de
Chardin e de Boucher, marcou o ápice do rococó na pintura
francesa. Notabilizou-se, primeiro, como grande paisagista,
para em seguida enveredar pelo retrato familiar em interiores
e pelo erotismo. Sua obra mais conhecida é O Balanço,
possivelmente de 1767.
Mesmo com a aura que predominava na pintura de
mais de sugestão e insinuação, exemplos de erotismo mais cru
são também encontrados, em especial na obra de François
Boucher, um dos grandes mestres do Rococó, que segundo
Arnold Hauser fez fama e fortuna "pintando seios e nádegas"
e assim se aproximava de um universo mais popular, embora
fosse igualmente capaz de se manter em outros momentos
dentro dos limites do pudor público e criar peças de grande
dignidade e encanto delicado.
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FRAGONARD, Jean-Honoré - Cypresses in
the Garden Avenue of the Villa.c. 1760
Drawing- Musée des Beaux-Arts et
d'Archéologie, Besançon
Artistas escultores
Na escultura temos Egid Quirin Asam (1692-1750), exemplificado pela obra "Assunção
da Virgem", na Abadia de Rohr, Alemanha, e Claude Michel, ou Clodion, um dos últimos
expoentes do rococó francês, com sua obra "A Ninfa e o Sátiro se divertem".
Merecem destaque as esculturas realizadas em larga escala, especialmente na Alemanha e
na Áustria.
Terracota de Claude Michel Clodion, Ninfa e Sátiro
Assunção da Virgem, Egid Quirin Asam (1723),
se divertem (1781/1790) New York, The
Museu do Mosteiro de Rohr
Metropolitan Museum of Art
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