State of the art
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State of the art
Configurações socio espaciais dos Muçulmanos e Hindus de Lisboa1 Resumo Ao longo dos anos em Portugal tem-se constatado o aumento e impacto da diversidade religiosa, resultante da imigração de vários grupos como muçulmanos, sikhs e hindus, principalmente na capital, onde os novos locais de culto transformam a paisagem urbana com o símbolo do pluralismo religioso. Este crescimento inserido numa sociedade de homogeneidade religiosa tradicional tem despertado a atenção de investigadores que estudam esta temática, no entanto, ainda são escassos os estudos que documentem os processos de instalação das minorias religiosas, a expressão da diversidade religiosa nos espaços urbanos e as relações entre grupos nestes espaços. O presente estudo centra-se nestas questões que são relevantes não apenas pela promoção das verdadeiras preferências residenciais destes grupos minoritários mas também pela perspectiva das desigualdades sócio espaciais e da contextualização da dimensão religiosa como peça axial na promoção de uma cidade coesa e socialmente equitativa por todos os grupos de pertença. Esta comunicação pretende assim apresentar alguns resultados preliminares, focando características e padrões residenciais das três comunidades religiosas na área Metropolitana de Lisboa, muçulmanos, sikhs e hindus, através da utilização de dados censitários e de uma análise qualitativa baseada em entrevistas com líderes religiosos. Foram explorados os motivos por detrás dessas escolhas residenciais sobre análises relativas aos sentimentos de pertença, os papéis das identidades religiosas, família e factores económicos, considerou-se ainda nesta análise as dinâmicas intergrupais ao nível das áreas de residência e na sociedade em geral. Palavras-chave: minorias religiosas, dinâmicas intergrupais, padrões residenciais Introdução Até há relativamente pouco tempo, Portugal era um país de emigração, tal como outros países da Europa. Após a transição democrática, a modernização e a entrada de Portugal na CEE, no final da década de 80, a maré económica do país começou a mudar 1 Trabalho apresentado na XXVIII Reunião Brasileira de Antropologia, realizada entre os dias 2 e 5 de Julho de 2012, em São Paulo, SP, Brasil. Jennifer McGarrigle (CEG-IGOT-UL- Portugal) Káchia Téchio (CEG-IGOT-UL- Portugal) Andreia Pinto (CEG-IGOT-UL- Portugal) 1 levando ao boom da construção civil no ano de 1990. Como resultado, Portugal tornouse um destino para os migrantes internacionais. Migrantes trabalhadores que chegaram através de redes formais e informais, da Europa Oriental, Ásia e uma nova onda do Brasil, acrescentados aos imigrantes que haviam chegado mais cedo a partir das excolónias portuguesas, dos países africanos. A virada do século não foi apenas caracterizada por um aumento significativo no número de estrangeiros residentes no país (entre 1990 e 2010 a população estrangeira cresceu de 100.000 para 450.000 segundo dados do SEF), mas também pela diversificação das origens nacionais desses migrantes e características socioprofissionais. A Área Metropolitana de Lisboa (AML) concentra a maioria dos migrantes que vivem em Portugal. Com efeito, 51,1 por cento de todos os imigrantes residentes em Portugal vivem na capital. A população estrangeira aumentou cerca de 4,8 por cento, registado no último censo, para 7,9 por cento de acordo com dados do SEF em 2010,isto é, um aumento de 78 por cento. Sobretudo devido a cidadãos provenientes da América (os brasileiros na sua grande maioria), África nomeadamente dos PALOP’S, Europa, especialmente de leste, e a Ásia (índios, bangladeshianos, paquistaneses e chineses). As dez principais nacionalidades presentes na AML, segundo dados do SEF para 2010 são brasileiros, cabo-verdianos, angolanos, Guineenses de Bissau, romenos, ucranianos, nacionais de São Tomé e Príncipe, China, Moldávia e Índia. A imigração para Portugal tem servido para diversificar a população residente por origem, língua, cultura e religião. Este artigo está preocupado particularmente com a religião, especialmente as religiões não cristãs que começaram a transformar a paisagem urbana da capital. A estrutura é a seguinte origem e presença, a partir da literatura existente sobre Muçulmanos e Hindus; análise das variáveis sobre religião e nacionalidade, a partir dos dados censitários; os padrões de residência e mapeamento dos lugares de culto. A religião e alojamento em Portugal As tendências de imigração descritas anteriormente resultaram em mudanças no make-up religioso português. Na tabela 1, pode-se observar que, nos últimos 30 anos a sociedade portuguesa a nível nacional continua a ser predominantemente católica. Apesar das alegações da secularização da sociedade, a nível nacional, o make-up 2 religioso da população está a mudar muito lentamente, com pequenas reduções no número de pessoas que são católicas e pequenos aumentos nos que não professam qualquer fé ou têm outra fé que não cristã. No entanto, a área metropolitana de Lisboa parece ser muito mais diversificada e, na verdade, o carácter laicista das crenças religiosas contrasta com os dados a nível nacional. Não só podemos observar uma redução consistente no número de autoproclamados católicos durante o período em questão, mas um aumento subsequente de cidadãos não cristãos. O peso dos seguidores de outras religiões na Área Metropolitana de Lisboa, embora muito pequena, tem sido consistentemente superior à média nacional. Como tal, o peso dos muçulmanos na população é aproximadamente três vezes maior do que a média nacional e outros nãocristãos (na sua maioria hindus) duas vezes maior. Tabela 1: Os grupos religiosos em Portugal e Área Metropolitana de Lisboa, 19812011. 1981 Non-response 1991 2001 2011 Portugal AML Portugal AML Portugal AML 14.2 19.7 17.6 24.1 9.04 13.8 Dados indisponíveis % respostas válidas Católicos 94.5 87.4 94.6 88.1 92.9 85.6 Ortodoxos 0.04 0.06 0.16 0.16 0.22 0.32 Protestantes 0.58 1.17 0.54 1.04 0.61 1.16 Outros Cristãos 0.89 1.69 1.15 2.18 1.55 2.55 Judeus 0.08 0.13 0.05 0.08 0.02 0.04 Muçulmanos 0.06 0.21 0.13 0.33 0.15 0.49 Outros Não Cristãos 0.06 0.14 0.14 0.31 0.18 0.41 Não tem Religião 3.78 9.19 3.27 7.86 4.33 9.48 Fonte: INE Censos, cálculo dos próprios autores. Muçulmanos, hindus e sikhs na Área Metropolitana de Lisboa: A leitura dos dados dos Censos, por religião e nacionalidade Como resultado do processo de descolonização após a transição para a democracia em meados dos anos 1970, chegaram muitos imigrantes vindos das excolónias portuguesas (países africanos) incluiu os Muçulmanos e Hindus. Essas comunidades religiosas, acrescentando a comunidade dos Sikhs, vindos da Índia/Punjab, aumentaram a diversidade intra-grupo e as suas dinâmicas. Esta seção com base em informações secundárias da literatura portuguesa visa documentar a origem dessas comunidades em Portugal com base numa cronologia da sua chegada, 3 reflectindo ainda nos diferentes aspectos da sua presença em Portugal a partir de seus padrões residenciais e dos lugares de culto. Muçulmanos: Origem e presença Acompanhando os recentes e contínuos fluxos migratórios a presença dos muçulmanos em Portugal origina-se numa grande variedade de países e culturas2 e vem constituindo um fenómeno dinâmico e crescente já apontado por vários autores (Tiesler, 2005,2007). Os primeiros muçulmanos sunitas de origem indiana que vieram directamente de Moçambique eram estudantes e chegaram em 1950. Tiesler (2005) desenvolveu o conceito de ‘inteligência migratória’ para referir esses estudantes muçulmanos que migraram de Moçambique nos anos 50, constituindo a primeira geração em Portugal, ‘esta elite de primeiros imigrantes possuía as capacidades intelectuais e sociais, bem como as relações diplomáticas, necessárias a construção de uma infra-estrutura religiosa e cultural’ (Tiesler, 2005:p.832). Depois da revolução, em 1974, mais muçulmanos (Sunitas e ismaelitas) começaram a chegar a partir das excolónias, nomeadamente Moçambique e Guiné Bissau. Apesar dos estudos registarem uma presença de maioria sunita em Portugal, é preciso salientar a presença dos ismaelitas com suas próprias instituições e com poucas ligações aos sunitas (Mapril, 2005). Em 1979 regista-se a chegada dos primeiros Tablighis em Portugal. A partir de 1987 registou-se oficialmente a presença da Ahmadia3, representada pela associação Ahmadia do Islão em Portugal criada em Novembro de 1987, Nova Oeiras e da Comunidade Bahá i de Portugal, ambas originaram-se a partir do corpo do Islão, a fé Bahá i, de contexto xiita no Irão, para uma nova religião universal com Baha’ ullah, autonomizando-se, da família espiritual do Islão. (Vakil, 2004). Na década de 1990, a comunidade começou a diversificar-se ainda mais com migrantes vindos da Ásia, sunitas começaram a chegar do Bangladesh e do Paquistão, embora actualmente o primeiro grupo seja maior e mais consolidado. 2 ‘Ao contrário dos muçulmanos lusófonos que, em geral, vieram directamente de Moçambique ou da Guiné Bissau, encontramos outros padrões de migração, por exemplo, migrantes transitórios que percorreram trajectos de migração duplos ou triplos: imigrantes do Senegal ou do Magrebe que vieram de França ou por Espanha, muitas vezes por ocasião das campanhas de legalização, bem como bangladeshianos que vieram da Arábia Saudita para Portugal. (Tiesler, 2005:p.835) 3 ‘Surgiu no contexto em resposta ao impacto da colonização inglesa na India, pela reinterpretação da ortodoxia islâmica de que Maomé é o selo dos profetas, atribuindo profetismo a Gulam Ahmad como seu continuador, é denunciada como herética pelos muçulmanos sunitas e xiitas, mas autodefine-se como o verdadeiro Islão’ (Vakil,2004:p.295) 4 A complexidade e diversidade da formulação do significado e reconhecimento sobre ser muçulmano em Portugal, segundo Vakil (2004) passa também pela identificação de ‘ser islâmico’ com grupos étnicos específicos, de islamização com dinâmicas de promoção social e sincretismo, do islão como religião doutrinária, da conotação política dos muçulmanos com redes de influência e mesmo de subordinação ao estrangeiro, ‘o reconhecimento do muçulmano português teve portanto como condição de possibilidade um processo que passava por uma dupla aceitação: primeiro, do Islão, e particularmente do Islão na Africa portuguesa, como religião, e, segundo, do muçulmano como culturalmente português’ (Vakil, 2004). Assim, ‘o que esta actualmente presente na Europa são formas divergentes do quotidiano muçulmano e processos de desenvolvimento em curso da religiosidade e de culturas islâmicas em ambientes novos e diferentes’ (Tiesler, 2005:p.832), a autora também regista que ‘os novos movimentos e agrupamentos muçulmanos não podem ser entendidos como uma mera continuação de uma tradição ou cultura de origem’(ibid, 2005). No caso português destaca-se a composição da comunidade sunita de Lisboa que ‘além de a maioria dos membros activos ter um background lusófono, a Comunidade Islâmica de Lisboa parece hoje quase um microcosmos do chamado ‘mundo islâmico’’ (Tiesler, 2005:p.832) levando a que a comunidade muçulmana e sua representação pública apareça reflectida através do desempenho de uma classe média instruída, maioritariamente de ascendência indiana e nascida em Moçambique (ibid, 2005). Quando objectivamos analisar os padrões residenciais e as dinâmicas de bairro precisamos considerar as escolhas referentes aos dos lugares de culto pois ‘tal é a relação, teológica e identitária, entre o ser muçulmano e o cumprimento da oração em comunidade, que o estabelecimento de um local ou sala de culto é invariavelmente a primeira e mais elementar expressão da identidade religiosa das minorias islâmicas, ou, pelo menos, da sua afirmação enquanto tal.’ (Vakil, 2004:p. 287)4. Em 1968 regista-se a fundação da Comunidade Islâmica de Lisboa, embora o primeiro registo oficial de um local de culto em Portugal é feito por Vakil (2004) e refere-se ao mês de Dezembro do ano de 1975 quando o Embaixador do Egipto disponibiliza a cave de sua residência, no Restelo, para realizar a oração de sexta feira. 4 O primeiro registo oficial de um local de culto em Portugal é feito por Vakil (2004) e refere-se ao mês de Dezembro do ano de 1975 quando o Embaixador do Egipto disponibiliza a cave de sua residência, no Restelo, para realizar a oração de sexta-feira 5 Em 1982 a Mesquita do Laranjeiro entra em funcionamento e em 1983 inaugura-se uma sala de culto em Odivelas, posteriormente transformada em Mesquita em 1991. Em 1985 regista-se através das informações dos próprios locutores a existência de 15000 muçulmanos e inaugura-se oficialmente a Mesquita Central de Lisboa (Vakil,2004). No final dos anos 90 cerca de 1000 indivíduos provenientes do Bangladesh alugam um apartamento no Martim Moniz para realizar a ‘namaz’ (Mapril,2005). Em 2004 a sala de culto do Martim Moniz, iniciada no final dos anos 90, autonomiza-se e torna-se a Mesquita Baitul Mukarram (Mapril, 2005). Ainda em 2004 Vakil refere a existência de vários outros lugares de culto na LMA como Portela, Póvoa de Santo Adrião, Forte da Casa, Colina do Sol, Vialonga, Carnaxide, Laranjeiro, Fetais, Quinta do Mocho, Barreira, bem como na rua do Bem Formoso e no Martim Moniz (Vakil, 2004). Esses locais de culto coincidem com a distribuição espacial da população muçulmana de acordo com dados dos censos5. Em 1991, a comunidade muçulmana já mantinha uma importante base em Lisboa onde começou por estabelecer-se, porém seu maior crescimento passou a registar-se na cidade de Loures, onde surgiu outra importante comunidade (Fonseca & Esteves, 2002). Ainda, pequenos grupos começaram a aparecer nos municípios de Seixal, Cascais, Almada, Sintra e Amadora (figura 3). Através desses dados e das entrevistas realizadas não se pode negar a correlação entre estes padrões de povoamento e expansão urbana e o seu desenvolvimento na área metropolitana. Nesse panorama, observa-se a importância das estratégias de rede adoptadas pelos imigrantes em suas estratégias residenciais apontada por Fonseca e Esteves (2002). Relativamente ao ano de 2001, foram denotadas mudanças interessantes (figura 4). Em termos gerais e de acordo com dados oficiais, o número de seguidores muçulmanos aumentou de 4.000 pessoas durante o período de recenseamento para 9.600, representando assim cerca de 0,5 por cento da população que respondeu no censo. Isto é muito inferior à estimativa que nos foi informada pela comunidade islâmica (40.000 mil seguidores em 2005 até 60,000 em 2010) a nível nacional. Em termos absolutos, os maiores números de seguidores muçulmanos podem ser observados em Lisboa, Sintra, Odivelas e Amadora, áreas que também experimentaram as maiores taxas de crescimento entre 1991 e 2001 (72 por cento, 278,5 por cento e 195,5 por cento, respectivamente). Existem números pequenos mas 5 Consideramos os dados dos censos apenas como indicativos, após observar as figuras 3 e 4 as diferenças territoriais dos vários grupos minoritários tornaram-se mais claras. 6 significativos em Loures e Seixal. A divisão administrativa do concelho de Loures para a criação de Odivelas, no período entre 1991 e 2001 é igualmente relevante. O município de Loures perdeu seguidores muçulmanos, que estão claramente concentradas no novo município de Odivelas, onde representam cerca de 1,3 por cento da população total (o mais alto da AML). Dentro deste município existe uma maior concentração em Odivelas (Lumiar e Carnide) que representa cerca de 2,1 por cento da população, sendo a concentração mais relevante. Após a freguesia de Odivelas, o segundo maior grupo, embora com menos da metade dos seguidores muçulmanos é em Agualva-Cacém, em Sintra, seguido da freguesia de Algueirão-Mem Martins (Tapada de Mercês), e por fim Queluz, Rio de Mouro e Massamá todos na linha de Sintra onde dá-se a expansão suburbana da cidade. Em Loures, há pequenas concentrações nomeadamente em Santo António dos Cavaleiros, Sacavém e Apelação e ainda em Forte da Casa em Vila Franca de Xira, uma linha suburbana a nordeste da cidade. Figura 3 Distribuição da população muçulmana (≥ 12 anos de idade), por município nas AML (por lote de mil respostas válidas), 1991 Figura 4 Distribuição da população muçulmana (≥ 15 anos de idade), por município nas AML (por lote de mil respostas válidas), 2001 Fonte: INE, Censos 1991, Censos 2001 (mapa realizado pelas autoras) Hindus: Origem e presença Relativamente ao fluxo de hindus para Portugal, este é determinado sobretudo pela tríade Índia, Moçambique e Portugal tornando-se claro a ‘abertura de uma rede espacial de ligações múltiplas que envolve Lisboa, Moçambique (sobretudo Maputo, 7 mas também Inhambane e a Beira) e Diu, bem como algumas cidades do Gujarate’ (Malheiros, 2008:147). Na década de oitenta foi atingido o expoente máximo de migração de pessoas de origem indiana, fruto não só da revolução como da independência das colónicas portuguesas (Monteiro, 2005), estando directamente correlacionada com o ‘fluxo migratório oriundo dos PALOP, em consequência das profundas alterações estruturais verificadas nas ex-colónias portuguesas (como Moçambique), após o 25 de Abril de 1974’ (Ávila e Alves, 1993:115). Segundo Bastos (1999, cit. por Lourenço, 2010) pressupõe-se que as primeiras famílias hindus que começaram a se estabelecer em Portugal, foi a partir dos anos de 1970. Tal escolha prendeu-se ‘não só devido à instabilidade política, social e económica que se sentia nesse país como também à esperança e ao desejo de construção de uma vida melhor’ (Monteiro, 2007:87). Monteiro (2007) acrescenta ainda que a ‘proximidade linguística entre Moçambique e Portugal, a facilidade em manter a nacionalidade e integração, as redes de solidariedade entre família e amigos foram factores importantes no fluxo de migração da comunidade hindu para o território português’ (p.87). Posto isto, Ávila e Alves (1993) definem o processo migratório da população indiana em ‘dois tempos geracionais’, o primeiro tempo que é passado entre a Índia e Moçambique, com os pais/avós e um segundo tempo entre Moçambique e Portugal, realizado pelos filhos (p.117). ‘A segunda fase de migração da comunidade hindu que se dirige a Portugal na década de 1975 e 1985 é primordialmente oriunda da Índia Portuguesa (Goa, Damão e Diu) e da região de Gujarate, derivado a processos de reunificação familiar’ (Sant’Ana, 2008:1). De acordo com Lourenço (2009), apesar da grande maioria ter origem no mesmo estado, eles derivam sobretudo das zonas de Diu (‘ilha que se estende longitudinalmente da costa Sul do Gujarate’) e de Surat (‘cidade localizada no extremo sul’) (p.84). Face a estas duas fases de migração da comunidade hindu para Portugal, ‘não parecem existir diferenças entre os migrantes hindus provenientes das ex-colónias africanas e os que migraram da Índia para Portugal’ (Mandel, 1989 cit. por Sant’Ana, 2008:43). Malheiros (2008) acrescenta que no período 1974-76, o número de hindus entrados em Portugal nesta altura é inferior ao que se verificou nos anos subsequentes, com destaque para o ciclo 1982-1984. A população hindu (de ambas as fases de migração) fixou-se então maioritariamente na Área Metropolitana de Lisboa, especificamente no concelho de Loures (como Santo António dos Cavaleiros, Chelas, 8 Portela de Sacavém, Quinta da Vitória) e somente um pequeno número na região do Porto. ‘A integração da comunidade hindu em Portugal e das suas famílias constata-se que a sua fixação estabelece-se em bairros residenciais com características variadas, desde os mais desfavorecidos até aos bairros mais ricos’ (Monteiro, 2005:89). Cachado (2008) acrescenta que a população mais desfavorecida vinda de Moçambique (segunda fase de migração) instalou-se em dois bairros degradados: a Quinta da Vitória e a Quinta da Holandesa (Vale do Areeiro, Lisboa, actualmente realojados sobretudo na Freguesia da Marvila) e uma grande parte da restante população hindu da Área Metropolitana de Lisboa adquiriu apartamentos na freguesia de Santo António dos Cavaleiros (p.4). Além disso, Malheiros (1996, cit. por Carneiro, 2007:220) menciona que a imigração da população indiana, que se firmou no bairro da Quinta da Vitória, iniciou-se com os homens em que alguns tinham como fim regressar à Índia, após a acumulação de poupanças e outros pretendiam fixar as suas famílias e constituir vida. Relativamente a Santo António dos Cavaleiro é sobretudo uma freguesia onde se concentra um conjunto substancial de hindus com diversas origens geográficas, experiências e ainda diversidade social (Lourenço, 2010). De acordo com Lourenço (2010) em Santo António dos Cavaleiros e Portela integram famílias hindus provenientes das ‘castas vanja, suthar e kharva de Diu’, ‘bem como lohanas e vania do Gujarate’ (Bastos, 2001:42). Já no ‘bairro da Quinta da Vitória integra sobretudo famílias das castas de koli, khania e fudamiá’. É Importante ressalvar que a ‘viagem dos residentes hindus em Santo António dos Cavaleiros da índia ou da África traz consigo uma enorme importância simbólica, geográfica, cultural e religiosa’ (Lourenço, 2010). Em 1985 foi formalmente criada a Comunidade Hindu de Portugal, tendo sido construído o Templo de Radha-Krishna, na cidade de Lisboa, inaugurado em 1995, considerado assim o mais alto nível lugar Hindu de culto em Portugal. Cachado (2008, cit. por Lourenço, 2010) refere que neste templo encontram-se não só a estátua da deusa de Ambe como objectos de templos anteriores em Moçambique foram transferidos para o templo referido. Para além do Templo de Radha- Krishna, foi construído o Templo de Shiva, em Santo António dos Cavaleiros, em 2001. Este templo é o elemento aglutinador da população hindu, sendo o presidente da Associação de Solidariedade Social do Templo de Shiva um importante participante das actividades culturais e religiosas (Lourenço, 2010). Esta associação, criada em 1991 em Santo António dos Cavaleiros é ainda uma entidade que adopta a liderança do templo com o intuito não só de reunir a população 9 hindu do bairro como promover o desenvolvimento de actividades religiosas, sociais e culturais (Lourenço, 2010). Durante o tempo em que o Templo de Shiva ainda não tinha sido construído, a comunidade Hindu desta zona, reunia-se em espaços alugados como a Associação de Moradores de Santo António dos Cavaleiros ou até em lugares abandonados de uma escola secundária (Lourenço,2009:80). Apesar da sua actividade diária, o Templo de Shiva6 segundo Lourenço (2010) reúne os ‘membros da comunidade hindu em momentos festivos do calendário hindu sendo o símbolo mais visível da identidade do grupo hindu que representa a presença de um número de práticas e crenças religiosas no distrito’. Em relação ‘ao horário de funcionamento, o templo de Shiva está aberto todos os dias e o calendário religioso quotidiano inclui o puja (o culto) de segunda-feira e acolhe nos dias de grandes festividades, o conjunto de hindus daquela região e de outras que se deslocam para aquela zona’ (Lourenço, 2009:81). Ainda deve-se ressalvar o facto de o templo é “o centro de acções que contribuem para a dinamização do grupo e para a reprodução da sua identidade que se desdobra nas vertentes de ensino, dança, tendo sempre uma base religiosa” (Lourenço, 2010). Além disso, a direcção do próprio templo fomenta não só programas culturais como casamentos e grandes cerimónias religiosas, sendo assim o templo um espaço para reuniões de grupo, grupo de jovens, escola de gujarati e inglês, ensaios de dança e para o núcleo da direcção e feminino (Lourenço, 2009:81). Outra questão que foi igualmente estudada remete para as deslocações da comunidade hindu da Quinta da Vitória, para os templos. Segundo Cachado (2008) ‘quando há festas religiosas nocturnas fora do bairro, as mulheres dependem dos maridos e respectivos carros para se deslocarem aos templos de Santo António dos Cavaleiros (Templo de Shivavi), do Lumiar (Templo de Radha-Krsnavii), ou, durante largos anos, ao Areeiro, onde residia uma comunidade hindu que foi realojada em meados dos anos 1990, sobretudo para a Freguesia de Marvila’ (p.6). ‘No caso do navratri (“nove noites”), que engloba nove noites onde as danças colectivas ganham um papel preponderante na devoção às divindades femininas shivaítas, e que também é a festividade mais frequentada pelos hindus, muitas mulheres gostariam de se deslocar a estes locais diariamente ao longo dos nove dias em que a festividade se realiza, mas vêem-se impedidas de o fazer por falta de boleia’ (Cachado, 2008:6). 6 ‘O sacerdote, originário de Diu e residente em Chelas, que desempenhava tarefas rituais em Santo António dos Cavaleiros e no Templo de Shiva, perdeu o domínio que adquiriu desde a chegada a Portugal face à concorrência, que atraia mais devotos através de técnicas rituais mais elaboradas’ (Lourenço, 2009:105) 10 A localização da comunidade apresentada na literatura e confirmada pelos dados do censo sobre aos outros não-cristãos (excluindo os muçulmanos e judeus). Durante o período de recenseamento de 1991 e 2001, houve um aumento global de cerca de 3.000 seguidores na região metropolitana, representando assim cerca de 0,4 por cento das respostas válidas. A distribuição a nível municipal é semelhante à de 1991 (figure 5) em que os maiores grupos podem ser observados em Lisboa (cerca de 2.500 pessoas) e Loures (cerca de 1.800 pessoas), seguido de Sintra (cerca de 700 pessoas) (figure 6). Figura 5 Distribuição da população outra não Crista (excluindo Muçulmanos e Judeus) (≥ 12 anos de idade), por município nas AML (por lote de mil respostas válidas), 1991 Figura 6 Distribuição da população outra não Crista (excluindo Muçulmanos e Judeus) (≥ 15 anos de idade), por município nas AML (por lote de mil respostas válidas), 2001 Fonte: INE, Fonte: INE, Censos 1991, Censos 2001 (mapa realizado pelas autoras) Embora o maior número seja observado em Lisboa as maiores concentrações a nível de freguesia estão em Loures. Na Portela, onde a Quinta da Vitória, uma área de concentração para os hindus, está situado, a população não-cristã representam pouco mais de sete por cento (mais de 800 pessoas) e em Santo António dos Cavaleiros, onde o segundo maior templo hindu está localizado, quase quatro por cento (quase 600 pessoas). Estas freguesias são seguidas pelas freguesias vizinhas de Marvila, uma área de habitação social onde localiza-se o Bairro do Armador, e em Chelas, relatado na 11 literatura como outra área central de hindus na cidade (1,4 por cento) e Alto do Pina (3,2 por cento), no município de Lisboa Ligações entre a geografia religiosa e étnica Fonseca e Esteves (2002: 268) destacam a "estreita correlação entre a distribuição geográfica dos cidadãos estrangeiros de origem asiática e africana (especialmente aqueles que vieram da Guiné e Moçambique) e dos muçulmanos e seguidores de outras religiões não-cristãs". Além disso, de acordo com a literatura revisada anteriormente, bem como entrevistas com líderes religiosos, sabemos que os principais países de origem dos nossos grupos de estudo são as antigas colonias de língua Portuguesa da Guiné-Bissau e Moçambique, bem como os mais recentes com origem na Índia, Paquistão e do Bangladesh. Sintra é a área com o maior número de cidadãos da Guiné-Bissau, seguida por Loures, Odivelas e Amadora e finalmente Lisboa (cada uma dessas áreas tem uma população de Guineenses superior a 1000 pessoas). Sintra, além de ter a maior população absoluta (3654) também apresentava a maior variação na sua população entre 1991 e 2001, com uma taxa de crescimento de 1517 por cento (Figura 7). Pode-se ver que este aumento está claramente relacionado com a expansão suburbana da cidade e o contexto do crescimento da população em geral no município. Vemos outros núcleos na margem sul do Tejo, na cidade de Lisboa e ao longo da costa de Cascais. As freguesias com maior concentração de Guineenses em sua população total são Prior Velho (7,6 por cento), Apelação (4,5 por cento) e Sacavém (2,3 por cento) em Loures e Vale de Amoreira (83,8 por cento) no sul da Moita do rio. No entanto, se lermos a data em termos absolutos, os maiores grupos (mais de 500 pessoas) pode ser encontrado em Sintra nomeadamente nas freguesias de Agualva-Cacém (995 pessoas), Algueirão-Mem Martins (616 pessoas) e Rio de Mouro (513) e na freguesia de Odivelas, no município de mesmo nome (763 pessoas). Tal como mencionado anteriormente, o grupo moçambicano ficou reduzido durante o período de recenseamento. Sintra, Loures e Lisboa são as três cidades onde existe o maior número de moçambicanos, aproximadamente mais de 400 indivíduos cada uma. Destes três municípios, o maior aumento pode ser observado em Sintra. Como pode ser visto a partir da figura 8 a maior representação deste grupo é em Santo António dos Cavaleiros, que também tem o maior número absoluto (apenas 127 pessoas). As demais áreas onde este grupo representa mais de 3,5 ‰ são Póvoa de 12 Santo Adrião, em Odivelas, Laranjeiro em Almada e Portela, em Loures. Todas as áreas têm locais de culto islâmicos e na Portela, também encontramos um templo hindu. Figura 7 Cidadãos da Guiné Bissau por 1000 habitantes, por freguesia na Área Metropolitana de Lisboa, 2001 Figura 8 Cidadãos da Moçambique por 1000 habitantes, por freguesia na Área Metropolitana de Lisboa, 2001 Fonte: Censos 2001 (mapas realizados pelas autoras) Segundo dados do SEF o número de cidadãos da Guiné Bissau residente na área metropolitana continuou a aumentar bastante depois de 2001. Apesar de uma queda na população após o início da crise financeira (entre 2007 e 2008) na AML no ano de 2010 havia cerca de 4.000 guineenses a mais do que em 2000, atingindo um total de mais de 16.000 (figura 6). Atualmente este grupo continua a concentrar-se em Sintra onde reside 29 por cento deste grupo presente na AML. Por outro lado, o grupo dos moçambicanos, atingiu um pico de mais de 5500 em 2007, caindo rapidamente para 2000, em 2010. Figura 9: Evolução dos Guineenses e Moçambicanos na Área Metropolitana de Lisboa, 2000-2010 13 Fonte: SEF: diversos anos (cálculos realizados pelas autoras) Nota: O distrito de Lisboa e Setúbal têm sido utilizados como uma aproximação da AML. Em 2001, enquanto Indianos e Paquistaneses eram em maior número, em Lisboa (cerca de 40 por cento de cada grupo residente em toda a área metropolitana), os indianos estavam representados em maior medida no município de Loures (um quarto de todos os indianos na AML), seguido de Odivelas (7,5 por cento), o inverso ocorre com os paquistaneses. Mais de 31 por cento de todos os paquistaneses viviam no município de Odivelas, quase 8 por cento em Loures e entre 5 e 6 por cento na Amadora e em Sintra. Estes dados reflectem a distribuição de muçulmanos e hindus na região metropolitana. Ao nível da freguesia, em 2001, o maior número absoluto de indianos estava em Santo António dos Cavaleiros representando cerca de 10 por cento do número total de indianos registado na região metropolitana, seguida de Portela (104 pessoas), Pena (Lisboa), com 1,5 por cento da população e a maior variação no período (tabela 3), a freguesia de Odivelas, Campolide e Unhos (figura 10). Em 2001, a população paquistanesa, apesar de muito pequena em número, mostrava padrões territoriais interessantes. Na verdade, mais de 22 por cento de todos os paquistaneses residentes na Área Metropolitana de Lisboa residiam na freguesia de Odivelas. Além dessa área, existia um conjunto de freguesias no centro histórico da cidade, nomeadamente na freguesia de Pena, Socorro e São José e Pontinha (figura 11). Figura 10: Indianos por 1000 habitantes, por . freguesia na Área Metropolitana de Lisboa, 2001 Figura 11:Paquistaneses por 1000 habitantes, por freguesia na Área Metropolitana de Lisboa, 2001 Fonte: INE, Censos 2001 (mapas realizados pelas autoras) 14 Comparando o crescimento dos grupos asiáticos desde 2001, incluindo Bangladesh, pode-se ver que o grupo de cidadãos indianos continua a aumentar. De acordo com dados do SEF tem existido um aumento, apesar do decréscimo a partir de 2009 (figura 10). A distribuição desse grupo mudou um pouco a nível municipal, com 45 por cento residente na cidade de Lisboa e 14 por cento em Loures e Odivelas, o que representa um crescimento considerável em Odivelas durante o período. Embora o grupo paquistanês cresceu menos houve alguns ajustes na sua distribuição territorial desde 2001, o seu peso relativo caiu na cidade de Lisboa em 35 por cento do total metropolitano, e caiu para 28 por cento no concelho de Odivelas. Por outro lado, cresceu para 11,6 por cento na Amadora e manteve-se praticamente o mesmo (8,7 por cento) em Loures (tabela 5). Bangladeshianos continuam a ter um número pequeno (aproximadamente 600) no entanto, as entrevistas com os líderes comunitários forneceram uma estimativa muito maior, incluindo aqueles que adquiriram nacionalidade. De acordo com dados do SEF, o que corrobora os dados qualitativos recolhidos, este grupo é altamente centralizado, com mais de 85 por cento residente na cidade de Lisboa em 2010 (tabela 5). Figure 10 Evolução dos Indianos, Paquistaneses e Bangladeshianos na Área Metropolitana de Lisboa, 2000-2010 Fonte: SEF, vários anos, cálculos realizados pelas autoras. Nota: O distrito de Lisboa e Setúbal têm sido utilizados como uma aproximação da AML. Mudanças na paisagem urbana: Lugares de culto na Área Metropolitana de Lisboa A análise relativamente aos lugares de culto islâmico e Hindu na área metropolitana de Lisboa é apresentada nesta secção. Esta parte centra-se na distribuição espacial desses estabelecimentos, comparando 2000 com 2012. Apesar da Comunidade Islâmica de Lisboa (CIL) ter sido fundada em 1968, apenas no início da década de 1980 15 é que os locais de culto começaram a marcar a paisagem urbana. No início da década de 1980, além da sala de oração da Portela, as mesquitas do Laranjeiro, Odivelas e a Mesquita Central foram igualmente estabelecidas. Ao longo da década de 1990 vários lugares de culto e salas de oração foram criadas para servir as populações de muçulmanos em bairros locais, normalmente em apartamentos em prédios de realojamentos (moradias sociais). Em 2000, como pode ser observado na figura 11, além das três mesquitas, havia dez salas de oração para muçulmanos sunitas em Lisboa. Estas salas de Culto estavam localizadas na Póvoa de Santo Adrião, em Odivelas, Portela, Quinta do Mocho, Santo António dos Cavaleiros e Feitas em Loures, Colina do Sol, na Amadora, Forte da Casa e Vialonga em Vila Franca de Xira, Carnaxide em Oeiras e Martim Moniz, no centro histórico de Lisboa. Além dos lugares de culto sunitas na Grande Lisboa, existem vários locais de culto ismaelitas. O mais simbólico é o Centro Ismaili também conhecido como Fundação Aga Khan, inaugurado em 1998 pelo Príncipe Karim Aga Khan, sendo um edifício majestoso nas Laranjeiras, margem noroeste da cidade de Lisboa. Outros locais de culto menores foram criados em bairros onde os membros da comunidade são residentes, ou seja, Oeiras, Seixal e Corroios em Setúbal (figura 12). Figura 12 Lugares de culto e associações Islâmicos, AML, 2000 Figura 13 Lugares de culto e associações Islâmicos, AML, 2012 Fonte: Recolha de dados e mapeamento realizado pelas autoras 16 Da mesma forma foram criadas as escolas islâmicas para atender os filhos de imigrantes da primeira e segunda geração. Estas escolas estão localizadas em Odivelas (Darul'Ulum Kadria-Ashrafia), Laranjeiro (Ahle ensolarado Jamat Madressa) e Palmela (Darul'Ulum AL Islamiyat). Esta última, criada em 1998, recebeu muita atenção em 2009, quando foi classificada como a escola com melhor desempenho em Portugal (figura 12). Durante o período entre 2000 e 2012, houve uma visível proliferação dos lugares de culto, de acordo com as mudanças na distribuição dos muçulmanos (Figura 13). O principal crescimento da comunidade muçulmana deriva essencialmente de migrantes da Guiné Bissau. No mapa de 2000, havia apenas um lugar de culto na Amadora, na Colina do Sol, perto da fronteira municipal com Odivelas e nenhum no município de Sintra. No entanto, entre 2001 e 2012, quatro novas salas de orações foram criadas, na Amadora, Damaia / Reboleira, Buraca e Cacém ao longo da Linha de Sintra. Além disso, uma mesquita foi criada, em 2007, na Tapada das Mercês, devido à expansão dos subúrbios na cidade de Sintra. Ainda, uma importante associação local também foi fundada dando apoio social a toda a comunidade - Associação da Comunidade Islâmica da Tapada de Mercês e Mem Martins. De acordo com as entrevistas a líderes religiosos da comunidade na área, eles estão em negociações com o Município de Sintra para obter a permissão de planeamento para uma mesquita moderna e considerável na área. Apesar do aumento nos lugares de culto, os dados qualitativos apontam para uma falta de instituições islâmicas na área, por exemplo os talhos que vendem carne halal. O centro histórico da cidade continua a ser uma área dinâmica da nova recepção dos muçulmanos de diversos países, evidenciada pela abertura das salas de oração informais de Anjos, Martim Moniz e Rossio. Por outro lado, em contraste com as várias formas de mobilidade, quer à escala internacional ou local encontrado no centro da cidade, a comunidade do Bangladesh, estabeleceu-se na área do Martim Moniz. Prova disso é o elevado volume de negócios local e a transformação do seu local de culto numa mesquita formal com autonomia, mas com fortes ligações, a Mesquita Central. Entrevistas com o líder da comunidade confirmou em termos de residência que a maioria da comunidade em Lisboa vive ao longo do eixo entre Santa Apolónia e Arroios, onde pode-se encontrar cerca de 250 empresas de propriedade de Bangladeshianos. Relativamente à comunidade hindu, tem havido pouca mudança ao longo do período em questão. O Templo Radha Krishna, o templo principal, foi criado em 17 Telheiras, em 1998. Está localizado fora do centro da cidade e tem pouco impacto simbólico sobre a paisagem urbana devido à sua localização muito secreta, em contraste com a visibilidade da Mesquita Central, próxima à cidade. Além disso, existem algumas áreas principais de concentração residencial hindu, como Santo António dos Cavaleiros, onde a Associação de Solidariedade Social do Templo de Shiva existe desde 1984 (figura 14) e o Templo de Shiva que foi inaugurado em 2004 (figura 15). E ainda, a segunda maior concentração na Quinta da Vitória, na Portela, onde existe um pequeno templo. Em relação à comunidade sikh, há apenas um Sikh Gurdwara em todo o país, o Gurdwara Sikh Sangat Lisboa, que foi criada em Serra da Luz, na Pontinha, em 1998. Desde então, mudou de lugar e em 2012 para Odivelas, perto da estação de metro numa antiga fábrica/armazém (figura 15). Figura 14 Lugares de culto e associações Hindu e Sikhs, AML, 2000 Figura 15 Lugares de culto e associações Hindu e Sikhs, AML, 2012 Fonte: Recolha de dados e mapeamento realizado pelas autoras Breves Considerações Visto esses serem resultados iniciais de nosso projecto as conclusões ainda estão em desenvolvimento e dependente da publicação dos dados do censo de 2011, a partir 18 das análises dos dados censitários e das entrevistas com líderes religiosos e observações realizadas nos lugares de culto podemos apontar alguns aspectos relevantes como: A existência de diferentes padrões de residência de acordo com a cultura muçulmana ou outras de fundo não-cristãs; a consolidação de uma maior presença muçulmana em Odivelas; a rápida expansão em Amadora/Sintra durante a década de 1990 da comunidade muçulmana relacionados com o tempo de migração (crescimento de Guineenses) e a expansão urbana; e consequentemente o rápido surgimento de novos lugares de culto a partir de 2001, em Amadora/Sintra; o surgimento de novos núcleos no Barreiro; as estratégias e dinâmicas do centro da cidade flexibilizando e apoiando os recém chegados, mobilidade diária local da comunidade muçulmana em Lisboa pautando o estabelecimento da comunidade de bangladeshianos; os diferentes padrões de escolhas residênciais de africanos (subúrbios) e asiáticos (centro da cidade); o crescimento de uma diferenciação dos padrões intergrupos exponenciando nos asiáticos em contraste com indianos (Loures), paquistaneses (Odivelas) e Bangladesh (Martim Moniz) e ainda, as correlações entre geografia, geografia étnica das minorias religiosas e os lugares de culto. A partir do aprofundamento dessas observações e a procura de novos padrões, esse projecto continuará até 2013. Referências Ávila, P. & Alves, M. (1993) Da ìndia a Portugal: trajectórias e estratégias colectivas dos comerciantes indianos, Sociologia, Problemas e Praticas, nº 13, pp-115-133. Cachado, R.D. (2008) Hindus da Quinta da Vitória em Processo de Realojamento: uma etnografia na cidade alargada, dissertação de mestrado, Lisboa: ISCTE-IUL. Carneiro, H. (2007) Mulheres hindus da Quinta da Vitória: práticas e vivências, Campus Social (3/4), 219-230. Fonseca, L. and Esteves, A. (2002) “Migration and New Religion Townscapes” in Lisbon in Fonseca et al (Eds) Immigration and Place in Mediterranean Metropolises, Luso-American Foundation, Lisbon, 255-291. Fonseca, L., Malheiros, J., Esteves, A. and Caldeira, M. J. (2002) Immigrants in Lisbon: Routes of Integration. CEG: Estudos para Planeamento Regional e Urbano No. 56. 67. Fonseca, L., McGarrigle, J., Esteves, A. & Malheiros, J. 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