Correio Braziliense - Carreira

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Correio Braziliense - Carreira
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CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, domingo, 18 de maio de 2014 • Trabalho • 3
REINTEGRAÇÃO
DE SERVIDORES
A Comissão de Trabalho, de
Administração e Serviço Público
da Câmara dos Deputados aprovou, na última semana, proposta que permite a reintegração
ao serviço público federal de exservidores que trabalhavam em
órgãos extintos durante o governo de Fernando Collor de
Mello, que fechou 22 autarquias, fundações, empresas públicas e sociedades de economia
mista, por meio da Lei nº 8.029,
de 1990. A matéria será analisada por duas comissões antes de
ir ao plenário. Também foi aprovada proposta que regulamenta
a mediação como o meio alternativo de solução de controvérsias no âmbito da administração pública. O texto será analisado, em caráter conclusivo, pela Comissão de Constituição e
Justiça e de Cidadania.
» SELEÇÃO
INCENTIVO A
STARTUPS
Estão abertas, até 9 de junho, as inscrições para o StartEd Lab, iniciativa da Fundação
Lemann que tem como objetivo
incentivar empreendedores da
área de educação. Serão concedidos R$ 20 mil para as startups
que têm projetos inovadores na
área. Os selecionados receberão
também formação e orientação
focadas nos desafios da educação no Brasil e vão interagir
com profissionais e especialistas do setor. Os interessados podem se inscrever pelo link
goo.gl/qqyT6T.
» PREMIAÇÃO
EDUCAÇÃO
FISCAL
O Prêmio Nacional de Educação Fiscal 2014 recebe inscrições até 30 de maio. O concurso,
que conta com a parceria do
Correio, selecionará os melhores projetos de educação fiscal
que desenvolvam atividades nas
escolas, universidades, prefeituras e organizações. Os cinco
projetos vencedores da edição
receberão premiação de R$ 15
mil e R$ 10 mil para o primeiro e
o segundo lugares, respectivamente, na categoria Instituições,
e R$ 15 mil, R$ 10 mil e R$ 5 mil
na categoria escolas. O regulamento e o formulário eletrônico
estão disponíveis no site
www.premioeducacaofiscal.
0com.br.
» PALESTRA
POLÍTICA
ENERGÉTICA
O Centro Universitário Iesb
promove, amanhã, palestra com
o acadêmico e advogado americano William Fox, da Penn State
University. Fox falará sobre política energética para os séculos
20 e 21. Será às 19h, no câmpus
Edson Machado, na 613 Sul. Na
quarta-feira, a palestra do professor será sobre o tema “Qual o
valor da vida: análise do custo”,
das 19h30 às 21h, no câmpus
Oeste, em Ceilândia — , QNN 31
– Áreas Especiais B/C/D/E. O
evento é aberto ao público e a
entrada é gratuita.
» INSCRIÇÕES ABERTAS
EVENTO
INTERNACIONAL
A empresa de mídia internacional Bertelsmann promoverá,
de 30 de junho a 2 julho, a 7ª
edição do Talent Meets Bertelsmann, em Berlim, evento anual
que tem como objetivo discutir
o desenvolvimento de novos
modelos de negócios digitais e
promover o desenvolvimento
dos alunos por meio de coaching de carreira. Os estudantes
selecionados formarão equipes
e farão apresentações a um júri
composto pelos executivos da
empresa. Aquelas que tiverem
os melhores desempenhos ganharão prêmios, como viagens
a locais onde a organização está
presente. Os custos com viagem
e hospedagem serão pagos pela
empresa. Estudantes de níveis
médio e superior interessados
devem fazer a inscrição até 25
de maio, pelo site www.talent
meetsbertelsmann.com.
CARREIRA
Engenheiros sem futuro
Pouco menos da metade dos graduados em engenharia atua na área. Falta de dinamismo no curso causa
desmotivação e leva os profissionais a procurarem outros ramos, o que compromete a competitividade do país
engenharia está entre as
principais profissões responsáveis por gerar inovação, desenvolvimento tecnológico e competitividade para
empresas. No entanto, seis em cada 10 profissionais que se formam nessa área não atuam como
engenheiros, de acordo com pesquisa da Confederação Nacional
da Indústria (CNI). O estudo, feito
com base em levantamentos do
Ministério da Educação e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostrou que, entre os 680.526 trabalhadores empregados, apenas 286.302 (42%)
estão ligados efetivamente à área
de formação (veja o quadro).
Essa situação gera uma grande
dificuldade em contratar profissionais experientes e especialistas em certas áreas, o que se reflete no nível de competitividade da
indústria brasileira, segundo o
gerente de políticas para inovação da CNI, Luís Gustavo Delmont. “Os engenheiros são peças
centrais para a inovação e, consequentemente, para o aumento da
produção”, afirma.
Especialistas e graduados afirmam que um dos principais fatores pelo desinteresse em seguir
carreira no ramo é a falta de ensinamentos mais focados na prática ainda na graduação. “Durante
a faculdade, há uma alta taxa de
evasão de estudantes, pois os currículos são muito teóricos”, observa Delmont. Para ele, a mudança
tem que ser profunda. “É preciso
que aconteça uma reforma estrutural na educação, dando mais
ênfase a ciências exatas desde os
ensinos básico e médio”, diz.
O gerente da CNI sugere ainda
algumas soluções, como a parceria de empresas com instituições
de ensino. “A solução de problemas reais e o desenvolvimento de
projetos em parceria com empresasdomercadopoderiamdarmais
dinamismo aos cursos, reduziriam
a evasão, e os recém-formados estariam mais bem preparados”, sugere. Ele cita o exemplo da Embraer: a empresa precisava de especialistas na engenharia aeronáutica e, em parceria com o Instituto Tecnológico de Aeronáutica
(ITA), criou um curso de pós-graduação para atender a demanda
do mercado. “O aluno que participava estava praticamente contratado”, ressalta Delmont.
A
Paula Rafiza/Esp. CB/D.A Press
O outro lado
Escassez contestada
Pesquisas do Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostram que não
há risco de apagão generalizado de engenheiros no Brasil. Estudo apresentado em
2013 durante debate sobre a
falta de engenheiros indica
que a demanda por esses profissionais será suprida de maneira satisfatória, uma vez
Pouco incentivo
Como saem da universidade
com pouca experiência prática, os
engenheiros acabam desmotivados por não estarem prontos para
atuar na indústria e buscam outros setores. Foi o caso de Christian
Limp, 26 anos. Ele se formou há
mais de um ano em engenharia civil, mas segue carreira na área de
tecnologia da informação. “Gosto
muito do serviço que desempenho hoje e não penso em ir para as
obras de novo”, afirma. Christian
diz que a formação superior, especificamente na Universidade de
Brasília (UnB), possui um viés teórico muito forte. “O curso não oferece base para se tornar um profissional na área, mas para iniciar a
carreira como pesquisador. O aluno só vai ter alguma experiência
em estágios ou então no primeiro
emprego”, conta. Ainda assim, ele
aproveita a experiência que trouxe
da gradução. “A forma de estudar,
de encarar um problema, a metodologia e até alguns conhecimentos de informática que utilizo no
meu dia a dia foram adquiridos
nesse período.”
Além do abadono da profissão,
a evasão nos cursos de engenharia
em instituições públicas e privadas é preocupante. De acordo
com a pesquisa da CNI, que usou
dados no Ministério da Educação,
mais da metade dos estudantes de
engenharia abandona o curso antes da formatura. A evasão é menor nas escolas de elite da engenharia, como o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e o Instituto Militar de Engenharia (IME),
e nas instituições públicas em geral. Entre as principais causas está
a deficiência na formação básica
dos estudantes em matemática e
que, segundo os pesquisadores, os cursos da área voltaram a atrair alunos. Para eles,
a percepção de que faltam
trabalhadores graduados na
área se deve à má qualidade
na formação de alguns deles,
à dificuldade de se contratar
pessoas com mais experiência
e ao deficit de competências
específicas.
O engenheiro civil Christian trocou os canteiros por emprego na área de TI
ciências e, como apontado por especialistas, a desmotivação provocada pela falta de experiências
práticas durante o curso.
Com o objetivo de diminuir a
evasão, a CNI, o MEC, o ITA e o
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq) iniciaram uma força-tarefa em 2013, por meio do Fórum
de Engenharia. O grupo está repensando a formação de engenheiros no Brasil e um dos maiores desafios é melhorar a qualidade dos cursos.
De acordo com Mário Salerno,
professor e coordenador do Observatório de Inovação e Competividade da Universidade de São
Paulo (USP), a base de estudos da
engenharia é eclética, mas tem
forte foco em matemática e física,
duas ciências que desenvolvem
características muito valorizadas
pelo mercado de trabalho. “Com
o cálculo, o raciocínio lógico é
exercitado de maneira intensa e,
na física, o aluno aprende a raciocinar sobre eventos. Na engenharia, cada uma dessas ciências depende da outra. Profissionais que
contam com essa capacidade
analítica são requeridos em diversos campos de atuação, como
em economia e gestão, de forma
geral”, explica.
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» ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Desenvolvimento
Para o presidente do Conselho
Federal de Engenharia (Confea),
José Tadeu da Silva, a engenharia
é a alavanca do desenvolvimento
e do progresso de qualquer país.
“Tudo o que se faz para garantir
melhor qualidade de vida para as
pessoas passa por transformação
das riquezas naturais, com sustentabilidade ambiental. E tudo
isso — habitação, transporte, infraestrutura, mobilidade urbana
e até a água, pois necessita de saneamento — passa pela área tecnológica”, exalta.
Em relação ao processo acadêmico, Silva diz que a engenharia não é mais um curso de cinco
anos. Para ele, são necessários
cinco anos para se formar e, depois, mais 35 de atuação, além de
uma constante atualização para
atender a demanda do mercado.
“Nas universidades, é necessário
contar com estrutura, e a área do
conhecimento precisa ser incentivada com recursos e com investimentos”, defende. “Ao ingressar
no mercado de trabalho, os profissionais da engenharia precisam de incentivos para que não
mudem de área, como para a administrativa e a financeira. Dois
a três anos fora do mercado de
tecnologia já os deixam defasados. Assim, em função do aquecimento do mercado, é fundamental o aperfeiçoamento e aprimoramento técnico-cultural e a
manutenção desses profissionais”, completa.
Mário Salerno, da USP, explica
que o fato de o Brasil não ter um
papel importante no campo da
inovação e desenvolvimento tecnológico se deve a uma questão
histórica, mas que o cenário já
está começando a se modificar.
“A internacionalização das indústrias que atuam no país começou
há muito tempo, principalmente
no governo de Juscelino Kubitschek, em que muitas empresas
estrangeiras abriram filiais por
aqui. O desenvolvimento da tecnologia era feito lá fora e ficávamos responsáveis apenas pela
produção”, explica. O professor
destaca que, hoje, a iniciativa pública já começa a entender a importância da criação de novos
produtos e investe na lei da inovação e em linhas de financiamento voltadas para essa área.
“Empresas que nasceram no Brasil também já contam com capacidade para produzir a própria
tecnologia, e isso atrai os novos
engenheiros e mão de obra especializada”, completa.
Mudanças
O país já começou a reagir. Em
2000,eram7,29engenheirospor10
mil habitantes, e, em 2012, esse número foi para 13,48, segundo dados do Departamento de População e Indicadores Sociais do IBGE.
É por isso que, agora, é importante
ter o foco em manter os profissionais formados atuando na área. Na
engenharia civil, por exemplo, no
fim da década de 1980, houve uma
grande escassez de mão de obra de
engenheiros, pois a economia teve
péssimos resultados — e não é à
toa que o período ficou conhecido
como“década perdida”.
Entretanto, nos anos 1990 e
2000, o mercado voltou a ficar
aquecido e, a partir daí, as insituições precisaram se esforçar para
atrair e formar mão de obra. Segundo o professor de engenharia
civil do Centro Universitário de
Brasília (UniCeub) Jocinez Lima,
apenas a UnB tinha vagas para o
curso e, com a demanda de grandes obras pelo país e novos bairros
na cidade, outras instituições passaram a suprir essa carência.“Bairros como Águas Claras e Sudoeste
e, mais recentemente, o Noroeste
e a expansão do Entorno, e até
mesmo as obras para a Copa do
Mundo precisaram de pessoal.”