A multimodalidade nos estudos discursivos
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A multimodalidade nos estudos discursivos
A multimodalidade nos estudos discursivos CADERNO DE RESUMOS E PROGRAMAÇÃO Universidade de São Paulo Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 28 e 29 de abril de 2016 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO REITOR: Prof. Dr. Marco Antonio Zago VICE-REITOR: Prof. Dr. Vahan Agopyan FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DIRETOR: Prof. Dr. Sérgio França Adorno de Abreu VICE-DIRETOR: Prof. Dr. João Roberto Gomes de Faria DEPARTAMENTO DE LETRAS CLÁSSICAS E VERNÁCULAS CHEFE: Prof.ª Dr.ª Marli Quadros Leite SUPLENTE: Prof. Dr. Paulo Martins PÓS-GRADUAÇÃO EM FILOLOGIA E LÍNGUA PORTUGUESA COORDENADORA: Prof.ª Dr.ª Ieda Maria Alves VICE-COORDENADOR: Prof. Dr. Paulo Roberto Gonçalves Segundo 2 A multimodalidade nos estudos discursivos PROMOÇÃO Programa de Pós-Graduação em Filologia e Língua Portuguesa COMISSÃO ORGANIZADORA Prof. Dr. Paulo Roberto Gonçalves-Segundo PÓS-GRADUANDOS: Artur Daniel Ramos Modolo - Doutorando Douglas Rabelo de Sousa - Mestrando Filipe Mantovani Ferreira - Doutorando Giovanna Ike Coan - Doutoranda Letícia Fernandes de Britto Costa - Mestranda Selmo Ribeiro Figueiredo Júnior - Doutorando Site: http://eped.fflch.usp.br E-mail: [email protected] CADERNO DE RESUMOS 3 Organização e Diagramação Douglas Rabelo de Sousa REVISÃO Douglas Rabelo de Sousa LOGOTIPO DO VIII EPED Fernando Alves de Oliveira APOIO FFLCH – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas LAPEL – Laboratório de Apoio à Pesquisa e Ensino em Letras Carolina Bernardi (Serviço Financeiro do DLCV) OBSERVAÇÕES: Os resumos das comunicações individuais deste Caderno estão organizados em ordem alfabética por autor. Seu conteúdo e redação são de inteira responsabilidade de seus autores. As conferências de abertura e de encerramento, bem como as sessões de comunicação serão realizadas nos prédios do curso de Letras e de Filosofia da FFLCH. 4 SUMÁRIO APRESENTAÇÃO................................................................................................ 06 PROGRAMAÇÃO................................................................................................. 08 RESUMO DAS CONFERÊNCIAS........................................................................ 10 RESUMO DAS MESAS REDONDAS.................................................................. 12 RESUMOS DAS COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS............................................. 17 5 APRESENTAÇÃO Bem-vindos ao VIII EPED! O Encontro de Pós-Graduandos em Estudos Discursivos da USP ― EPED-USP — é um evento acadêmico anual, organizado pelos pós-graduandos da área de Filologia e Língua Portuguesa, que visa promover o diálogo entre as distintas abordagens teóricas e metodológicas sobre o discurso na Universidade de São Paulo. Com edições desde 2009, o evento busca a integração entre os pós-graduandos dos diversos programas da Universidade de São Paulo, incentivando o debate franco e aberto acerca dos diferentes olhares epistemológicos, das distintas metodologias e dos variados objetos de análise que caracterizam a instituição no que concerne ao estudo da produção contextualizada de sentido. Com um acolhimento especial dentre docentes e alunos da USP, bem como de pesquisadores consagrados de universidades do Brasil e do exterior convidados para a realização de mesas e conferências, seu sucesso e sua aceitabilidade no meio acadêmico têm servido de exemplo para uma série de eventos organizados por pós-graduandos dentro e fora da Universidade de São Paulo, na área de Letras e Linguística. O debate referente aos problemas metodológicos e epistemológicos do discurso sempre estiveram, direta ou indiretamente, em pauta nas conferências e comunicações do EPED. Neste ano, a multimodalidade foi escolhida como tema do Encontro, tendo em vista o fato de que o estudo das relações entre diferentes semioses consiste em uma área de grande interesse não apenas para as pesquisas sobre discurso, mas também para estudos nas áreas de ensino e interação. A relação entre as diferentes semioses tem historicamente sido motivo de estudo para diversos pesquisadores interessados em canções, quadrinhos, propagandas entre outros tipos de enunciados sincréticos. A emergência cada vez mais rápida de novas tecnologias fomenta a existência de novas relações multimodais, fato que sublinha a importância das 6 pesquisas nesta área e reforça a necessidade de que elas encontrem espaço de divulgação e discussão. Em sua oitava edição, a realizar-se nos dias 28 e 29 de abril de 2016, o EPED convida pesquisadores vinculados à Universidade de São Paulo – docentes e discentes – a debaterem as relações entre diferentes semioses por meio do tema A multimodalidade nos estudos discursivos. Comissão Organizadora 7 PROGRAMAÇÃO QUINTA-FEIRA, 28/04/2016 8h Início do credenciamento Conferência de abertura 9h15 - 10h30 Prof.ª Dr.ª Emília Mendes (UFMG) – Os desafios da multimodalidade 10h30 - 11h Coffee break 11h - 12h30 Sessões de comunicação individual 01, 02 e 03 12h30 - 14h Almoço Mesa-redonda 1 - Multissemiose, processos sociais e repertório cultural: subsídio para a prática educacional Prof.ª Dr.ª Anna Christina Bentes (UNICAMP) - Texto, contexto e multimodalidade: analisando vídeos que viralizam na mídia digital 14h - 16h Prof.ª Dr.ª Iara Lis Schiavinatto (UNICAMP) - Cultura visual & História: diálogos possíveis Prof. Dr. Sandoval Nonato Gomes-Santos (USP) - A exposição oral nos anos iniciais do Ensino Fundamental e o lugar do multissemiótico na prática escolar 16h - 16h30 Coffee break 16h30 - 18h Sessões de comunicação individual 04, 05, 06 e 07 8 SEXTA-FEIRA, 29/04/2016 9h - 10h30 Sessões de comunicação individual 08, 09 e 10 10h30 - 11h Coffee break Mesa-redonda 2 - Reflexões teórico-metodológicas sobre a multimodalidade: novos olhares sobre a canção, a gestualidade e o cinema Prof. Dr. Álvaro Antônio Caretta (UNIFESP) - Por um estudo dialógicodiscursivo da canção popular brasileira 11h - 13h Prof.ª Dr.ª Fernanda Miranda da Cruz (UNIFESP) - Gestos mínimos: elementos para análise de gestos, corpo, fala, tempo e espaço nas interações Prof.ª Dr.ª Irene Machado (USP) - Exercícios especulativos audiovisuais na cinematografia política 13h - 14h30 Almoço 14h30 - 16h Sessões de comunicação individual 11, 12, 13 e 14 16h - 16h30 Coffee break Conferência de encerramento 16h30 - 18h Prof.ª Dr.ª Viviane Heberle (UFSC) - Análise de práticas sociais na contemporaneidade através de estudos em multimodalidade, análise crítica do discurso e linguística sistêmico-funcional 9 RESUMOS DAS CONFERÊNCIAS CONFERÊNCIA DE ABERTURA Os desafios da multimodalidade Prof.ª Dr.ª Emília Mendes (UFMG) O objetivo de nossa apresentação é expor e propor teorias bem como metodologias que contribuam para a criação de quadros de análise cuja finalidade é o tratamento do verbal, do vocal e do icônico a partir de teorias da análise do discurso. Tal abordagem é necessariamente interdisciplinar e vislumbra a construção de interfaces tanto com outras teorias da linguagem quanto com outros domínios do saber, tais como as artes plásticas, o cinema, a comunicação social, dentre outros. Nossa apresentação se dividirá em três partes: (a) num primeiro momento, faremos um pequeno histórico das várias correntes que propuseram teorias refletindo sobre o que denominamos hoje "multimodalidade"; (b) num segundo momento, teceremos consideração sobre as formas de apropriações e de releituras das supracitadas teorias pelas correntes de análise do discurso contemporâneas, ainda, de acréscimo, listaremos também as contribuições que esta área do saber vem fornecendo para se pensar todas as dimensões linguísticas e extralinguísticas dos gêneros de discurso; (c) por fim, com base em Mendes (2013), faremos uma aplicação para ilustrar a análise multimodal em uma perspectiva retóricoanalítico-discursiva. Com esta breve amostra do estado atual da arte, acreditamos ser possível demonstrar a viabilidade dos estudos multimodais nos mais diversos corpora. Consideramos que não existe uma única metodologia para se analisar a pluralidade de linguagens à qual temos acesso, assim sendo, os quadros teórico-metodológicos estarão sempre em construção quando se trata de analisar a multimodalidade. 10 Conferência de Encerramento Análise de práticas sociais na contemporaneidade através de estudos em multimodalidade, análise crítica do discurso e linguística sistêmico-funcional Prof.ª Dr.ª Viviane M. Heberle (UFSC/CNPq) Multimodalidade, de acordo com Kress, constitui uma abordagem sociossemiótica da comunicação contemporânea. Trata-se de uma teoria de comunicação que analisa os significados em interações sociais e considera os diferentes recursos semióticos usados, o contexto sociocultural da interação e os meios para disseminar os significados. Estudiosos de análise crítica do discurso, por sua vez, preocupam-se em descrever, interpretar e explicar as relações entre textos e seus contextos, examinando aspectos socioculturais e ideológicos. Tanto em estudos em multimodalidade quanto em análise crítica do discurso, a linguística sistêmico-funcional pode oferecer subsídios lexicogramaticais, semânticos e contextuais importantes. Nesta apresentação discuto como essas três vertentes teórico-metodológicas afins podem contribuir para se analisar práticas sociais contemporâneas, em relação a questões de poder, identidades, vulnerabilidade social, gênero e/ou posições ideológicas. 11 RESUMOS DAS MESAS REDONDAS MESA I Multissemiose, processos sociais e repertórios culturais: subsídios para a prática educacional O problema da multimodalidade e da multissemiose está entre as figuras centrais do investimento epistemológico em torno de uma concepção de linguagem como prática social, na pesquisa teórica e aplicada, nos campos da história da arte, dos estudos da linguagem e dos estudos em educação. Entre os elementos desse investimento encontrase o esforço em compreender processos sociais de circulação (recepção, seleção, edição e distribuição) de produtos culturais multissemióticos em práticas sociais situadas cultural e historicamente, entre as quais, a prática escolar. Iara Lis Schiavinatto (Instituto de Artes, Universidade Estadual de Campinas) propõe abordar a “imagem como objeto de estudo num jogo de relações históricas e na constituição do real”, estando nesse jogo seu potencial catalisador da construção de versões da história e do cotidiano. Anna Christina Bentes (Instituto de Estudos da Linguagem, Universidade Estadual de Campinas) discute sobre como determinadas ordens sociais e culturais são percebidas, formuladas e ou invocadas no interior de vídeos de “alto impacto”, ou seja, vídeos que viralizam na internet, o que pode auxiliar a compreensão sobre as relações entre texto e contexto. Sandoval Nonato Gomes-Santos (Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo) trata dos recursos multissemióticos manejados por crianças das séries iniciais do Ensino Fundamental quando da produção de exposições orais no ambiente escolar. A descrição desses recursos é mote para a discussão sobre o lugar da multissemiose como objeto de estudo no currículo e na prática escolar. Texto, contexto e multimodalidade: analisando vídeos que viralizam na mídia digital Prof.ª Dr.ª Anna Christina Bentes (UNICAMP) Essa comunicação tem por objetivo elaborar uma primeira análise sobre como vídeos de “alto impacto”, ou seja, vídeos que viralizam na internet, podem nos auxiliar na compreensão sobre as relações entre texto e contexto. Com base nas postulações de 12 Hanks (2008), procuramos discutir como determinadas ordens sociais e culturais são percebidas, formuladas e ou invocadas no interior de dois vídeos que viralizaram na internet, e como essas percepções/ formulações se atualizam textual e multisemioticamente. Nesse sentido, assumimos que as análises desenvolvidas buscam incorporar explicações mais densas sobre a forma como conhecimentos de várias ordens pressupostos na produção textual se conectam de maneira indissociável aos campos sociais que, por sua vez, configuram e são reconfigurados pela ordem textual instaurada. Cultura Visual & História: diálogos possíveis Prof.ª Dr.ª Iara Lis Schiavinatto (UNICAMP) Trata-se de apresentar uma discussão teórica e metodológica sobre o campo da cultura visual e seus liames com a História notadamente com a consolidação desde campo de estudos a partir da década de 1990. Trata-se de localizar sua emergência, no viés de uma história intelectual, notando no interior de quais discussões do campo da história da arte aflora. Indica-se alguns de seus desafios metodológicos e alguns deslocamentos conceituais fundamentais propostos a respeito da abordagem da imagem como objeto de estudo num jogo de relações históricas e na constituição do real. A exposição oral nos anos iniciais do Ensino Fundamental e o lugar do multissemiótico na prática escolar Prof. Dr. Sandoval Nonato Gomes-Santos (USP) Esta comunicação aborda os recursos multissemióticos manejados por crianças das séries inicias do Ensino Fundamental quando da produção de exposições orais no ambiente escolar. A descrição desses recursos é mote para a discussão sobre o lugar da multissemiose como objeto de estudo no currículo e na prática escolar, bem como sobre como esse lugar pode ser porta de entrada produtiva para rediscutir temas candentes na escola pública brasileira, como são, por exemplo, aqueles do protagonismo dos alunos e do trabalho coletivo nos processos de recepção-produção-edição-distribuição dos produtos culturais na escola, entre escolas e fora delas. 13 MESA II Reflexões teórico-metodológicas sobre a multimodalidade: novos olhares sobre a canção, a gestualidade e o cinema Por um estudo dialógico-discursivo da canção popular brasileira Prof. Dr. Álvaro Antônio Caretta (UNIFESP) Tomando como ponto de partida as teorias do Círculo de Bakhtin para o estudo dos gêneros discursivos, propomos um estudo dialógico-discursivo da canção popular brasileira. Observamos inicialmente as relações dialógicas entre canções, procurando identificar os processos de interdiscursividade e de intertextualidade que constituem esses enunciados e que definiram as características da canção popular brasileira no começo do século XX. Apresentamos, a seguir, um método de análise da canção fundamentado nas relações dialógicas entre os gêneros primários e secundários da comunicação. Partindo do conceito de amplificação de Todorov, compreendemos a produção da canção como a reelaboração artístico-musical de um ato de fala. A fim de estudar a enunciação nas canções, trabalhamos com o conceito de posicionamento enunciativo, proposto por Maingueneau, compreendendo a enunciação como a elaboração de uma cena por parte de um enunciador que assume um ethos, posicionando-se, então, no interdiscurso. Tendo em vista que a canção é um texto sincrético que utiliza o código musical e o linguístico, abordamos também as propostas de Luiz Tatit para o estudo da compatibilização entre a letra e a melodia Gestos mínimos: elementos para análise de gestos, corpo, fala, tempo e espaço nas interações Prof.ª Dr.ª Fernanda Miranda da Cruz (UNIFESP) Gostaria de trazer para discussão alguns elementos teóricos, analíticos e metodológicos presentes na investigação do corpo e dos gestos nas interações sociais e suas relações com a fala. Construímos os espaços interacionais de uma forma multimodal, em que 14 multimodal quer dizer que uma ação (verbal ou não, linguística ou não), é construída e finalizada graças à ecologia de sistema de signos ou sinais, estruturalmente distintos entre si, mas intrinsecamente relacionados. Nesse sentido, não têm sido poucos os autores/analistas do campo da videoanálise que têm se dedicado a descrever e analisar a interação social concebida como uma organização temporal, espacial, corporal e materialmente coletiva. Para mobilizarmos essa discussão, trarei duas coleções de dados audiovisuais de interações das quais participam crianças com autismo, construídos a partir de metodologias e propósitos distintos, mas cujo diálogo nos é altamente produtivo: a primeira coleção é extraída do Corpus Audiovisual CELA (Grupo LICOR-Linguagem, Interação e Corpo- Projeto Gestos Mínimos-UNIFESP/2013-2015) e a segunda coleção é extraída de um corpus audiovisual e cinematográfico muito particular produzido por Fernand Deligny que acompanhou e conviveu durante décadas com crianças autistas. Aqui temos interações que ocorrem com pouco ou nenhum recurso à linguagem verbal. A ausência da fala dá lugar a sequências interacionais organizadas multimodalmente por gestos idiossincráticos; gestos domésticos que fazem parte de um repertório familiar; posturas e movimentos corporais; relações semióticas criativas com o espaço físico imediato e com a construção de referentes, e direcionamentos do olhar que desempenham funções variadas durante a interação. A partir daí, três aspectos centrais nos interessarão: 1) a construção de corpora audiovisual; 2) as possíveis formas de ver e transcrever os movimentos corporais nas interações corriqueiras; 3) a definição de categorias analíticas para o estudo da gestualidade nas interações. Exercícios especulativos audiovisuais na cinematografia política Prof.ª Dr.ª Irene Machado (USP/CNPq) O principal objetivo do trabalho é apresentar estratégias metodológicas de um processo analítico acerca da cinematografia que reúne filmes sobre o período ditatorial brasileiro (1964-1985) que, diante na impossibilidade de narrar os acontecimentos do ponto de vista da memória, aprendeu a construir inferências e hipóteses a partir de traduções audiovisuais e jogos metalinguísticos. Ao indagar sobre os acontecimentos que a história oficial nega, os filmes elaboram hipóteses que constroem inferências com valor, senão de provas, pelo menos de provimento de argumentos. Recorrem, assim, aos produtos e processos da cultura audiovisual que lhe dá corpo e, graças à montagem intelectual associativa de sua linguagem, chega à articulação de contrapontos e comparações de 15 episódios, documentos e de recursos audiovisuais que deixam emergir o não-dito. Criamse, por conseguinte, formas deliberadas de exercícios dialógico-especulativos que mobilizam uma vasta produção cinematográfica. Com isso o discurso audiovisual se revela uma sofisticada arma política cujo exercício depende apenas de uma habilidade inteligente de ver e produzir filmes a partir de uma cinematografia que não hesita em especular, comparar e inferir sobre possibilidades discursivas provenientes de campos sígnicos distintos. 16 RESUMOS DAS COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS OS EFEITOS DE SENTIDO CAUSADOS PELO MECANISMO DE EMBREAGEM TEMPORAL EM VIDAS SECAS, DE GRACILIANO RAMOS Adele Grostein ([email protected]) Orientador: Waldir Beividas Programa de Pós-graduação: Semiótica e Linguística Geral Iniciação Científica Adotando-se a definição de embreagem temporal formulada por Fiorin (1995), este trabalho tem como objetivo analisar os casos de embreagem temporal presentes na obra Vidas secas e pesquisar as razões que motivam a ocorrência das formas verbais embreadas no romance de Graciliano Ramos. Movido pelo interesse gerado por esses usos incomuns dos verbos, esta pesquisa pretende utilizar ferramentas da Semiótica para analisar o emprego dessas formas verbais a fim de se chegar a conclusões sobre os efeitos de sentido causados pelos usos de determinados tempos verbais na narrativa. Iniciou-se o trabalho com o levantamento de todos os casos de embreagem temporal presentes em Vidas secas. Em seguida, selecionaram-se sentenças não embreadas da obra, chamadas de sentenças controle - que apresentam a mesma relação de causalidade que as embreadas - com o intuito de compará-las e verificar as diferenças de efeito de sentido causado entre elas. Na etapa seguinte foi feita uma análise dos níveis fundamental, narrativo e discursivo do Percurso Gerativo de Sentido nos recortes da narrativa em que as sentenças embreadas e controle se manifestam. Essa fase da análise chamou a atenção para a falta de competência dos sujeitos, mais significativa nas sentenças embreadas do que no grupo controle, o que permitiu chegar a conclusões sobre o caráter mais disfórico das sentenças embreadas em relação às sentenças controle e sobre as relações de hierarquia e de opressão entre os sujeitos da narrativa. Por fim, voltou-se a atenção para a análise dos tempos e modos das formas verbais empregadas com base na teoria gramatical sobre os efeitos de sentido causados pelos tempos e modos verbais. Nessa fase da pesquisa, procurou-se aplicar essa teoria ao contexto do romance, buscando compreender de que forma os casos de embreagem temporal contribuem para intensificar o efeito de sentido disfórico que caracteriza a obra. Palavras-chave: embreagem temporal, semiótica, efeito de sentido. 17 O DISCURSO COMO PRÁTICA SOCIAL: ANÁLISE DE COMENTÁRIOS DO SITE SENSACIONALISTA Adriana Moreira Pedro ([email protected]) Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa Aluna Especial Este trabalho consiste na análise de alguns comentários postados no Facebook relacionados à matéria do site Sensacionalista intitulada “Sensacionalista faz uma versão sincera das regras da marcha de 13/03 que circulam pelo Whatsapp”. Trata-se de uma matéria que sugere regras fictícias à marcha a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff. O site Sensacionalista, criado em 2009, que se autodenomina “um jornal isento de verdade”, foi escolhido para este estudo por apresentar um número significativo de acessos, compartilhamentos, curtidas e comentários em suas redes sociais, mostrando o interesse das pessoas em ler e fazer comentários sobre textos que unem notícias atuais a fatos inverídicos. O objetivo deste trabalho é analisar o discurso e a sua prática social em comentários carregados de posicionamentos avaliativos em que o tema central é o cenário político do país. Também observaremos a escolha do léxico e o poder das palavras, junto à ideologia que os textos carregam. A análise se justifica na medida em que observamos uma nova linguagem utilizada hoje com a internet e as redes sociais, e que nos mostra como os indivíduos interagem por meio de textos próximos à oralidade, o que retrata as práticas sociais. Este trabalho será feito com base na Análise Crítica do Discurso (ACD) por meio da teoria social do discurso apresentada por Norman Fairclough (2001, 2003); pautada também pela teoria da Avaliatividade de Martin & White (2005), que faz parte do nível semântico-discursivo da Linguística Sistêmico-Funcional, destacando a categoria Atitude; além das teorias de Bakhtin sobre gênero, dialogismo e estilo (2011, 2014). Palavras-chave: Análise Crítica do Discurso, Mikhail Bakhtin, política, comentários nas redes sociais. 18 INTERAÇÕES DISCURSIVAS NA APRESENTAÇÃO DE LIVRO DIDÁTICO DE LÍNGUA PORTUGUESA PARA O ENSINO MÉDIO: DIÁLOGO ENTRE SUJEITOS E ESFERAS Agildo Santos S. de Oliveira ([email protected]) Orientadora: Maria Inês Batista Campos Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa Doutorado Temos como objetivo nesta comunicação apresentar uma abordagem da pesquisa de doutorado em desenvolvimento no Programa de Filologia e Língua Portuguesa, na linha de pesquisa Linguística Aplicada do Português. No trabalho a ser apresentado, o objetivo é analisar as interações discursivas realizadas no gênero Apresentação entre o autor do Livro Didático de Língua Portuguesa para o Ensino Médio “Português: Língua e Cultura” de autoria de Carlos Alberto Faraco e seus interlocutores. Sabemos que uma das primeiras e principais manifestações das interações discursivas, diálogo, entre eu – outro, ou os autores e seus interlocutores, se dão nos gêneros de introdução, a Apresentação, por exemplo, desse modo, buscaremos em seus enunciados analisar tais interlocuções. Pesquisar as relações discursivas travadas entre o autor e seus interlocutores significa contemplar a dimensão dialógica da constituição do gênero, bem como da própria disciplina de língua portuguesa na contemporaneidade. Assim sendo, o estudo desse diálogo justifica-se por entendermos que é na comunicação dialógica entre sujeitos, esferas e valores presentes no gênero estudado que a disciplina também vem se construindo. O referencial teórico-metodológico é baseado principalmente nos estudos da filosofia de linguagem de Bakhtin e o Círculo, a saber: Bakhtin (2010a, 2010b, 2010c, 2010d, 2011, 2013), Bakhtin/Volochínov (2010), Medviédv (2012), Volochínov (2013a, 2013b, 2013c). Os resultados parciais obtidos nessa abordagem permitem-nos perceber que as interações entre o autor e seus interlocutores são marcadas pelo diálogo entre as esferas de produção, circulação e recepção, bem como pela concepção de linguagem como produto da atividade humana abordada pelo autor, ou seja, pelo seu posicionamento valorativo. Palavras-chave: Interação discursiva. Apresentação. Livro Didático de Língua Portuguesa. Ensino Médio. 19 RESISTIR É VENCER: A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE LESTE-TIMORENSE NO DISCURSO DE RESISTÊNCIA DE XANANA GUSMÃO Alexandre Marques Silva ([email protected]) Orientadora: Zilda Gaspar Oliveira de Aquino Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa Doutorado Neste trabalho, objetiva-se discutir, por meio de uma análise de natureza quantitativo-qualitativa, os elementos constitutivos da Metafunção Ideacional, conforme definidos pela Linguística Sistêmico-Funcional, e sua participação na constituição da identidade leste-timorense no discurso pronunciado por Xanana Gusmão em 13 de outubro de 1982, durante o período de resistência contra os indonésios. As condições específicas de produção desse discurso e o fato de que a Metafunção Ideacional permite reconhecer os modos como o mundo é representado por meio da linguagem coadunam-se ao nosso objetivo nuclear de analisar como Xanana Gusmão (re)significa e (re)dimensiona a realidade em seu discurso. Observa-se que o orador vale-se substancialmente de Processos Materiais e Relacionais, os quais contribuem para a mobilização da audiência e influenciam diretamente seu sistema doxológico. Revela-se, assim, a importância de se considerar o modo como são instanciados os processos e os participantes, com destaque para os materiais e relacionais. A construção de sentido e a eficiência dos argumentos envolvidos na edificação da identidade leste-timorense necessitam da existência, ainda que parcialmente, de valores, crenças e referências comuns entre os participantes do processo discursivo. Desse modo, o emprego recorrente de tais procedimentos enunciativos, que participam da edificação de um discurso dominado pela verbalização de experiências, fomenta a necessidade de combate a um inimigo comum da pátria invadida, justifica a importância da manutenção da resistência armada em solo leste-timorense e participa da construção da identidade dos participantes dos processos circunscritos à Metafunção Ideacional. Como aporte teórico-metodológico para o desenvolvimento da análise do corpus, recorremos fundamentalmente aos trabalhos, Halliday e Matthiessen (2004), Fairclough (2003) Cunha e Souza (2011), Fuzer e Cabral (2010), Bhabha (2007), Hall (2006) e Gunn (2001). Palavras-chave: metafunção ideacional, identidade, discurso de resistência, análise do discurso, Timor-Leste 20 O MOVIMENTO ESTUDANTIL PAULISTA: UM ESTUDO DAS REPRESENTAÇÕES NA MÍDIA IMPRESSA Aline Magna de Aguiar Vieira ([email protected]) Orientador: Paulo Roberto Gonçalves Segundo Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa Mestrado Desde a década de 1960, o Movimento Estudantil (ME) tem sido alvo de destaque na mídia nacional, sobretudo, no que diz respeito à mídia paulista, devido à alta incidência de manifestações e protestos deste grupo no Estado ao longo do tempo. Este trabalho, inserido no âmbito de uma pesquisa de Mestrado, busca ― através de uma perspectiva diacrônica ― expor análises iniciais a respeito das formas de representações feitas pela grande mídia impressa sobre o Movimento Estudantil atuante no Estado de São Paulo. Para tanto, recolhemos um corpus composto por notícias, reportagens e artigos de opinião, extraídos do jornal Estado de São Paulo, produzidos nos anos de 1968, 1977 e 2011. A escolha dessas datas deve-se à ocorrência de ações relevantes realizadas pelo ME, que foram de grande repercussão midiática historicamente. A análise proposta se desenvolve de modo diverso dos recorrentes estudos feitos acerca do Movimento Estudantil. Primeiramente, porque se dá pela ótica dos estudos linguístico-discursivos e não apenas pelo âmbito da História Social, como, geralmente, vem sendo estudado. Em segundo lugar, porque esta pesquisa busca trabalhar sob uma perspectiva regional, e não nacional, como se tem realizado, mesmo nos raros estudos discursivos encontrados sobre essa temática. Dessa forma, utilizaremos como referencial teórico, sobretudo, os preceitos da semiolinguística, com base nos estudos de Charaudeau (2009; 2013; 2014), no que se refere à análise do discurso das mídias e do discurso político que subjaz ao objeto de pesquisa selecionado; além das categorias de análise da Linguística Cognitiva (LC) (TALMY, 2000; GONÇALVES SEGUNDO, 2014, 2015; HART, 2014), visando, assim, o estudo de tópicos estruturais de categorização e esquematização linguística. Palavras-chave: Movimento Estudantil, Mídia Impressa, Discurso Midiático, Semiolinguística, Linguística Cognitiva. 21 (EN)CENA(AÇÃO): O JOGO TEATRAL NO CONTEXTO MULTIMODAL DO ENSINO/APRENDIZAGEM DE LÍNGUA PORTUGUESA Ana Luisa Feiteiro Cavalari Lotti ([email protected]) Orientadora: Zilda Gaspar Oliveira de Aquino Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa Egresso O presente trabalho busca apresentar um recorte da dissertação “Enunciados em jogo: a correlação entre língua e arte nas aulas de Língua Portuguesa”, defendida na Universidade de São Paulo, em 2014, filiada à linha de pesquisa Análise do Discurso, sob orientação da Professora Doutora Zilda Gaspar Oliveira de Aquino. Desta pesquisa-ação, destaca-se a investigação acerca de um procedimento didático, o Jogo Teatral, capaz de mobilizar os alunos do Ensino Fundamental II a operarem sobre a própria linguagem, por meio da produção de enunciados orais e escritos, insertados no contexto multimodal do ensino/aprendizagem de Língua Portuguesa. Pontua-se que o jogo teatral constitui-se um instrumento didático capaz de correlacionar língua e arte, para um profícuo trabalho com a relação fala/escrita e a inserção do corpo/gestos no exercício da produção textual, voltada ao ensino da argumentação em Língua Portuguesa. Ademais, sob esse viés, torna-se fundamental a pesquisadores e professores do ensino de língua o entendimento de que a comunicação face-a-face é interacional e multimodal, bem como de que a linguagem é, ao mesmo tempo, corporeada e social. Nossa fundamentação teórica está ancorada em uma concepção multidisciplinar de linguagem no bojo das teorias da Linguística, Filosofia e Psicologia. Soma-se a esta, o princípio sociointeracionistas da linguagem de Bakhtin (1992 [1929]); os fundamentos da Análise da Conversação, segundo Kerbrat-Orecchioni (1990); as teorias retórico-argumentativas, a partir de Amossy (2007); e os estudos de Goodwin (2003) e da nova ciência da gestualidade, entre outros. As atividades aplicadas permitem observar como resultados a integração entre língua e arte, além de propiciar a interação dos sujeitos com e por meio das linguagens. Palavras-chave: Língua Portuguesa, Argumentação, Jogos Teatrais. 22 UMA ANÁLISE DAS ESTRATÉGIAS DE (DES) CORTESIA COMO MECANISMOS DISCURSIVOS DE PERSUASÃO EM INTERAÇÕES POLÊMICAS: O DEBATE POLÍTICO Ana Paula Albarelli ([email protected]) Orientador: Luiz Antonio da Silva Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa Doutorado O presente estudo tem por objetivo investigar quais mecanismos discursivos empregam-se na gestão da imagem em um tipo de interação cuja finalidade é promover o desacordo, em detrimento das relações de cooperação: o debate político. Consideramos a (des) construção da imagem (face) um dos principais meios pelos quais se busca a adesão do auditório neste tipo de interação em que prevalece a polêmica. Assim, propusemo-nos a analisar o valor argumentativo das estratégias de descortesia e seus desdobramentos no debate político do segundo turno entre Dilma e Aécio Neves, realizado pelo SBT. Para isso, tomamos, como respaldo teórico, a teoria das faces de Goffman (1967), bem como os estudos acerca das diversas formas ou estratégias de descortesia no discurso, segundo os pesquisadores cujo foco do trabalho incide na investigação do papel do contexto na escolha dos recursos mobilizados pelos falantes em interações regidas pela descortesia, como Culpeper (2011), Brenes (2011) e Kaul de Malargeon (2005). Ademais, em razão de considerarmos o ataque como um tipo de estratégia argumentativa, recorremos às contribuições da Teoria da Argumentação e a Nova Retórica de Perelman e Olbrechts-Tyteca (2005), que contemplam questões pertinentes para a análise do corpus, a fim de depreender, a partir das escolhas linguísticas, que tipo de concepções político-ideológicas permeiam o discurso dos candidatos e, por conseguinte, que tipo de ethos discursivo engendra-se na fala de cada interactante. Palavras-chave: face; descortesia; interação; ethos; argumentação. 23 MAS A VOZ DO AUTOR? - NOTAS SOBRE O GÊNERO DISCURSIVO PLATÔNICO André Luiz Braga da Silva ([email protected]) Orientador: Roberto Bolzani Filho Programa de Pós-graduação: Filosofia Doutorado “Diálogos”, “dramas” e obras de caráter literário em geral sempre foram modalidades discursivas amplamente utilizadas como veiculação de filosofia. De Aristóteles a Santo Agostinho, de Montesquieu a Sartre, vários são os filósofos que apresentaram ideias em comédias, contos, romances, etc. Contudo, o caso de Platão é sui generis, pois, diferentemente desses outros, dele não possuímos algo de outra ordem, como do gênero de um “tratado”. Isto é, dele não possuímos obra expositiva em discurso direto, não dramática, a partir da qual não teríamos dúvidas acerca de quais posições filosóficas foram ou seriam realmente defendidas pelo autor. Dele temos apenas obras do gênero discursivo “diálogo”, de teor dramático, onde várias questões são propostas, algumas respostas são ventiladas, algumas refutadas, algumas ridicularizadas, e algumas são mantidas até o fim da conversa. Mas, em todos estas ocasiões: são questões e respostas propostas, ventiladas, refutadas, ridicularizadas, e mantidas por este ou aquele personagem, em meio ao “calor” da discussão. Não havendo um “tratado” de Platão, nem critério absolutamente confiável e externo a esses diálogos, a pergunta parece pertinente: podemos ter certeza de que a resposta ventilada pelos personagens platônicos X ou Y é mesmo a posição, a “voz”, do autor? A resposta parece óbvia, mas parece também causar espécie à milenar leitura do corpus platonicum: “não”. E, se não pudermos ter certeza disso, i.e, da “teoria do porta-voz (mouthpiece)”, do que podemos? O que teria pretendido Platão, autor, operar dentro de seu leitor, com essa modalidade de discurso que mascara para si mesma uma ausência de “voz autoral”? (GONZALEZ, 1995; PRESS, 2000; NAILS, 2000; BLONDELL, 2003). O presente trabalho defenderá que esta conformidade dos diálogos visa impingir no leitor, mais que recepção de doutrinas, um "fazer filosofia", enquanto ativo movimento crítico de pensamento. Palavras-chave: Platão; Autoria; Discurso; Personagem; Porta-Voz. 24 ANÁLISE DE TÓPICAS JESUÍTICAS NA PERSPECTIVA DA MULTIMODALIDADE Andrea Colsato ([email protected]) Orientador: Marilza de Oliveira Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa Doutorado Partindo da concepção de Kress & Van Leeuwen (2006), ao considerar a relação entre códigos semióticos visuais, escritos, sonoros na produção e compreensão de um texto, procedemos à análise de tópicas em discursos do início do século XX. Os discursos que formam o corpus foram proferidos por clérigos e não-clérigos por ocasião da formatura de alunos de um colégio jesuítico do interior paulista. O orador coloca-se frente ao auditório para teatralizar, pela palavra, o modelo jesuítico de educação em um tempo presente mas que também pode ser omnitemporal, conferido pelo Criador. Por esse viés, o aluno ao qual se dirige, pode ser aquele do século XIX como também aquele do século XVI. É como se o testemunho pudesse ser da vista, da vivência e da memória, numa tentativa de instauração da “mimesis de uma presença”, nas palavras de Zumthor (1993). A repetição parece ser a estratégia mais relevante que desenvolve os aspectos centrais da condução tópica e estabelece conexão interfrástica, mostrando-se como um mecanismo que auxilia na construção dos sentidos por meio da formação de cadeias discursivas. Entendemos assim que a repetição, por reiterar a produção de segmentos textuais, é um sinalizador da construção do imaginário jesuítico. Consideramos, ainda, que os discursos em análise revelam a convergência de fatores; histórico-sociais e culturais, além das perspectivas do produtor do signo sobre o contexto comunicativo, uma vez que, os discursos, como uma modalidade escrita e oral, em que se instancia a voz, tem potencialidades de representação e de comunicação que são organizadas culturalmente na interação entre os produtores e seus ouvintes. Palavras-chave: repetição, jesuítas, discursos, tópicas, multimodalidade. 25 A(S) VIOLÊNCIA(S) DA REPRESENTAÇÃO FILMICA Andréa Antonieta Cotrim Silva ([email protected]) Orientador: Lynn Mario T. M. de Souza Programa de Pós-graduação: Estudos Linguísticos e Literários em Inglês Doutorado O cinema, em sua linguagem multimodal, em que som, imagem e diálogos se constituem - sempre irá representar o que entende por real, por meio de uma determinada estética. Visamos problematizar, dentro do campo dos Estudos Linguísticos e Literários em Inglês, a questão da representação fílmica, ou seja, aquilo que é representado ou deixa de sê-lo, mormente por meio da estética da violência. Pretendemos discutir o método de representação de duas produções hollywoodianas da Era Obama, em que notamos a prevalência da violência. Os filmes Django Livre (2013) e Histórias Cruzadas (2011) – o primeiro do diretor Quentin Tarantino e o segundo de Tate Taylor, ambos norte-americanos, tramam personagens que sofrem algum tipo de exclusão. Pensamos que o estudo do cinema e de sua política de narração, pelo viés do Letramento Crítico Visual, possa ser de extrema utilidade para compreendermos a extensão de questões como o racismo e outras estruturas desiguais de poder, tanto na sociedade estadunidense como na brasileira. Em nosso trabalho, apoiar-nos-emos na teoria de Jacques Rancière (2010), mais especificamente, no conceito de “partilha do sensível” que é o modo pelo qual se determina a relação de saberes partilhados em um conjunto comum. Se, somente a estética da violência, em suas diferentes formas, promulga, segundo o filósofo francês, a (des)construção ideológica do Outro, onde o inimaginável acontece dentro dos cenários propostos, cabe-nos, igualmente, um estudo mais aprofundado sobre a relação “sensível” entre representação, estética e conjunturas sociais, culturais, étnicas e de gênero, a fim de uma crítica que busque a elaboração de identidades menos violentas. Palavras-chave: cinema; violência; Estados Unidos; letramento visual. 26 ORALIDADE NO ENSINO MÉDIO EM DIÁLOGO: DOCUMENTOS OFICIAIS E LIVRO DIDÁTICO DE PORTUGUÊS Andréa Gomes de Alencar ([email protected]) Orientador: Maria Inês Batista Campos Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa Doutorado O estudo da oralidade tem se firmado como necessário em toda a vida escolar, mas é no ensino médio, última etapa da educação básica obrigatória, que ele deveria ser intensificado, seja pelo fato de que o jovem começará a ter contato – se já não o tem – com o mundo do trabalho, seja pelas exigências que posteriormente terá em um curso superior. Considerando a presença do Livro Didático de Português como principal recurso pedagógico utilizado pelos professores, entendemos ser este uma boa fonte para conhecer o que se ensina de oralidade no Ensino Médio. Nosso objetivo, nesse estudo, é, por um lado, evidenciar que atividades são propostas e, de outro, contrastar como essas atividades atendem (ou não) a documentos oficiais, como o Edital do PNLD (Programa Nacional do Livro Didático), os PCN-EM (Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio), as OCEM (Orientações curriculares para o Ensino Médio) e o Guia do Livro Didático – PNLD 2015. Embasará, teoricamente, nossa análise, os conceitos de Gêneros do Discurso, Enunciado, Diálogo, Interação verbal e Entonação, advindos da Teoria Dialógica do Discurso, do Círculo de Bakhtin (BAKHTIN, 1992/2011; MEDVIÉDEV, 2012). Também nos serão úteis os estudos sobre estratégias de construção textual oral, desenvolvidas por diversos pesquisadores (MARCUSCHI; FÁVERO; ANDRADE; AQUINO; HILGERT; JUBRAN; KOCH) e divulgadas na Gramática do Português culto falado no Brasil – v. 1 (JUBRAN; KOCH, 2006). Os resultados preliminares apontam para um distanciamento entre o que propõem os documentos oficiais e o que de fato é apresentado no LDP-EM. Tal constatação evidencia a necessidade de um maior desenvolvimento de estratégias para o ensino da produção de textos orais nos Livros Didáticos de Português deste nível de ensino. Palavras-chave: Livro Didático de Português; Ensino Médio; Documentos oficiais; Oralidade; Gêneros Discursivos. 27 COMPETIÇÃO E DISCURSO: A DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA NO FACEBOOK Artur Daniel Ramos Modolo ([email protected]) Sheila Vieira de Camargo Grillo Programa de pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa Doutorado A presente comunicação visa analisar a maneira pela qual a responsividade se constitui discursivamente em páginas de divulgação científica no Facebook. Empregaremos como material de análise posts publicados pelas revistas Superinteressante, Scientific American Brasil e Pesquisa Fapesp durante a primeira semana de dezembro de 2015 em suas respectivas páginas no Facebook. Quantitativamente analisaremos a quantidade de curtidas e compartilhamentos como um dos índices de interesse do leitor presente no Facebook. Qualitativamente investigaremos como os comentários permitem não apenas a aprovação dos enunciados postados, mas também réplicas, perguntas, sugestões etc. As ideias bakhtinianas referentes à responsividade e às relações dialógicas serão utilizadas como orientação teórico-metodológica dessa comunicação. O contexto sócio-histórico indica uma série de mudanças tecnológicas e culturais que reverberaram no jornalismo e na ciência. As revistas de divulgação científica eram uma das mais relevantes fontes de conteúdo relacionado à ciência no cenário pré-popularização da Internet. Tal protagonismo passou a ser continuamente compartilhado após o crescimento do uso domiciliar da Internet e as centenas de milhares de páginas criadas diariamente. A partir do Facebook, revistas de divulgação científica gradativamente passaram a publicar e disponibilizar conteúdo para os seus leitores em suas páginas, não apenas em seus sites oficiais. Ao mesmo tempo em que o Facebook possibilita a ampliação do público leitor, um novo grau de complexidade se impõe às revistas que disputam a atenção do leitor em meio a outros posts de temática heterogênea. A principal hipótese de nossa análise é que recursos visuais (vídeos, imagens, tabelas) e humor sejam utilizados para captar a atenção e possíveis reações positivas do leitor. Em uma mídia com excesso de informação e escassez de atenção, indícios de competitividade irão ser buscados nos discursos analisados. Palavras-chave: Competição; discurso; redes sociais; divulgação científica; Facebook 28 ANÁLISE DISCURSIVA DO ENSINO MULTIMODAL DE COMPREENSÃO ORAL EM LÍNGUA INGLESA Beatriz Herdy Raminelli Marques ([email protected]) Orientadora: Deusa Maria de Souza Pinheiro Passos Programa de Pós-graduação:Estudos Linguísticos e Literários em Inglês Mestrado Nessa comunicação, pretendemos introduzir sucintamente alguns tópicos mencionados na nossa pesquisa de Mestrado, que está em andamento, a respeito das atividades de compreensão auditiva (listening comprehension) sob uma perspectiva semântico-discursiva, levando-se em consideração as abordagens contemporâneas multimodais nas áreas da comunicação e que influenciam o ensino de idiomas estrangeiros seguindo, assim, a temática do evento. Partiremos de uma discussão no âmbito linguístico a fim de examinarmos, em primeiro lugar, quais os conceitos de comunicação que fundamentam as atividades de compreensão auditivas na sala de aula e sua importância no processo de aquisição/aprendizado de inglês como segunda língua. Desse modo, abordaremos temas como: a natureza complexa da compreensão oral; as dificuldades que os aprendizes enfrentam com os exercícios de compreensão auditiva; além de discutirmos a situação atual do ensino de compreensão oral utilizado no Brasil. Com isso, pretendemos sugerir como, tanto as noções de língua inglesa, quanto as de ensino de língua utilizadas atualmente parecem estar ultrapassadas. Portanto, a necessidade de se pesquisar a compreensão auditiva estaria no fato de que algumas metodologias de ensino apontam para uma falsa impressão de que os problemas relacionados à compreensão auditiva foram “resolvidos”, seja ao utilizarmos as técnicas de “pré-escuta” e “pós-escuta”, seja quando o estudante é preparado para a atividade de compreensão oral em duas etapas: com o intensive listening e o extensive listening, cujo propósito de inferir intenções e atitudes dos falantes, que são menos evidentes de serem percebidas pelo aprendiz, não deixaria de ser uma maneira de o professor dificultar a compreensão do aluno, muitas vezes com o intuito tornar a atividade mais “desafiadora”. Dado o exposto, poderíamos propor que o uso de recursos multimodais talvez seja uma estratégia alternativa para facilitar e melhorar o desempenho dos alunos com as atividades de compreensão oral em sala de aula. Palavras-chave: compreensão oral, discurso, multimodalidade, inglês 29 QUÃO CEDO É O SUFICIENTE? O PERÍODO CRÍTICO DE APRENDIZAGEM EM SITES DE ESCOLAS BILÍNGUES Bianca R. V. Garcia ([email protected]) Orientadora: Deusa Maria de Sousa Pinheiro-Passos Programa de Pós-graduação: Estudos Linguísticos e Literários em Inglês Egresso Na presente comunicação, apresentaremos aspectos de nossa pesquisa de doutorado que se encontra em fase final de desenvolvimento. O recorte epistemológico e metodológico norteador das reflexões e análises desta pesquisa é a Análise de Discurso derivada dos trabalhos desenvolvidos na França por Michel Pêcheux e ampliados no Brasil por autoras como Orlandi (2005), Carmagnani (1996), Grigoletto (2013) e Pinheiro-Passos (2006). Nosso objeto é o discurso produzido na interface entre a neurociência contemporânea e o ensino de inglês para crianças e bebês no âmbito das escolas bilíngues privadas. Pesquisas que realizamos anteriormente apontaram que este ensino se insere em uma formação discursiva cujos sujeitos são valorizados com base em na obtenção de destaque dentro da dinâmica da competitividade, naturalizada pela ideologia do capitalismo de acumulação flexível (GARCIA, 2012). Os resultados obtidos evidenciam que a dinâmica discursiva desse cenário investe em uma projeção precoce das crianças pequenas tanto na lógica do sistema econômico quanto em papéis de competição e seleção imaginários a serem atingidos por elas em futuros hipotéticos; tal inserção foi, em parte significativa dos casos estudados, justificada com base nas características psiconeurológicas, dos aprendizes que, por sua vez, se configurariam como elemento de vantagem desses sobre aprendizes de idades mais avançadas. O objetivo do presente recorte é partilhar nossa análise a respeito de como os discursos produzidos por escolas particulares bilíngues e materializados em seus websites institucionais se ancoram em elementos da neurociência para produzirem justificativas da urgência do ensino de inglês para crianças a partir dos 2 anos de idade. Palavras-chave: Ensino de Inglês para crianças, Neuroascese, Análise de Discurso. 30 DINAMISMO E VELOCIDADE NO DISCURSO DA PINTURA FUTURISTA ITALIANA: EM DIREÇÃO À POÉTICA EXPERIMENTALISTA DE UMBERTO BOCCIONI E GINO SEVERINI Carolina Tomasi ([email protected]) Orientador: Antonio Vicente Pietroforte Programa de Pós-graduação: Linguística Pós-Doutorado Esta comunicação ocupa-se da investigação do discurso futurista de Umberto Boccioni e Gino Severini, utilizando como corpus algumas de suas pinturas experimentalistas. Buscamos ainda investigar o discurso dos manifestos vanguardistas que prenunciaram o experimentalismo italiano do Gruppo 63, confrontando um corpus de algumas amostras pictóricas de Boccioni e Severini, cujos enunciados revelam o discurso do dinamismo e da velocidade, algo que acaba por revelar uma identidade pictórica experimental. No discurso experimental futurista, há uma busca pela forma única que proporcione a continuidade espacial. Para tanto, a forma (as linhas e a foria, como força enunciativa) possui um valor esquemático, ou seja, trata-se da configuração de um discurso pictórico, em que o estado de alma plástico revela uma dinâmica das formas pictórica, cujo movimento e velocidade engendram no enunciado um conjunto de forças/forias, direções, choques (para força-foria, cf. ZILBERBERG, 2006, glossário), marcas enunciativas de explosões e elasticidades, que direcionam as telas para um efeito de sentido de velocidade industrial e científica (SEVERINI, 1917, p. 227). Com base no corpus selecionado, propõe-se, dentro do quadro teórico-metodológico da semiótica tensiva, demonstrar como a pintura futurista, vista por muitos críticos como de ruptura e de vanguarda, é regida segundo uma oscilação que a regula, reconhecendo nela uma dominância de acentuação, de intensificação no eixo da intensidade. Observadas tais propriedades, as telas sob análise apresentam diferenças tensivas que as encaminham para um discurso pictórico que conhece a graduação entre mais dinâmico e menos dinâmico. Assim é que o enunciador, ao privilegiar a vivificação dos efeitos formais pictóricos, promove uma tensão no discurso futurista, algo que se nota, não só nas telas, mas também nos manifestos. Palavras-chave: Semiótica tensiva; estudos discursivos; arte; pintura futurista italiana; poéticas experimentalistas. 31 AS FORMAS NÃO CANÔNICAS DE DISCURSO CITADO: UMA ABORDAGEM DISCURSIVA Cristian Henrique Imbruniz ([email protected]) Orientador: Manoel Luiz Gonçalves Corrêa Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa Iniciação Científica O trabalho tem um objetivo central, que se ramifica em três objetivos específicos. Como objetivo primeiro, os estudos do procedimento do discurso citado não canônico e da(s) heterogeneidade(s) enunciativa(s) do discurso em redações de vestibular permitem: (a) a investigação da distribuição das vozes demarcadas no texto: busca de regularidades a partir da descrição e interpretação da distribuição das vozes do discurso de outrem em textos de pré-universitário; (b) a investigação da relação entre distribuição das vozes e possíveis propostas didáticas: relação dos resultados daquela descrição com possíveis propostas didáticas, buscando, nelas, explicações para a escolha de certos padrões de citação no conjunto de textos analisados; (c) a investigação das possibilidades de contribuição didática: tratamento dos resultados obtidos em função da perspectiva de suas contribuições para o ensino. A partir de Authier-Revuz (1990), o trabalho explora a(s) heterogeneidade(s) enunciativa(s) – heterogeneidade constitutiva e mostrada (marcada e não marcada) – na presença do outro em 18 redações da Fuvest de 2009, cuja característica comum é utilizarem menções ao conflito na Faixa de Gaza – então em destaque no noticiário – como parte da argumentação. No que se refere à apreensão da divisão enunciativa, fundamental para esta investigação, ela baseia-se o paradigma indiciário (GINZBURG, 1989), articulado com as noções de interdiscurso e intradiscurso (COURTINE, 2014). Os resultados da análise mostram que, nos textos analisados, os momentos de divisão enunciativa indicam passagens que anunciam formas não canônicas de discurso citado. Nesse sentido, as redações analisadas somam mais informações sobre sua relação com o discurso de outrem do que, superficialmente, aparentam. Palavras-chave: Discurso citado. Heterogeneidade. Discurso. 32 PRÁTICAS DE ENSINO DE LÍNGUA ORAL E SUA CORRELAÇÃO COM O TEATRO Daniel de Almeida Torres de Brito ([email protected]) Orientadora: Zilda Gaspar de Oliveira Aquino Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa Iniciação Científica Este trabalho busca evidenciar a viabilidade do ensino da língua oral para alunos do ensino médio, através do teatro. Para isso, serão aplicadas e descritas duas experiências realizadas com alunos da escola da rede pública. As experiências descritas ocorreram na Escola Estadual Andronico de Mello, na cidade de São Paulo, no bairro da Vila Sônia. A primeira parte, intitulada – “Aspectos da língua oral” foi realizada no primeiro semestre de 2015, em quatro turmas do segundo ano do ensino médio, e uma turma do terceiro ano. A segunda parte, intitulada “Coesão e coerência”, no segundo semestre do mesmo ano, com alunos que faziam parte do grupo de teatro da escola, com alunos dos três anos do ensino médio, no contraturno, e sem o envolvimento de um professor que coordenasse a atividade. A partir do embasamento de FÁVERO, ANDRADE, AQUINO (2012), e estudos da língua oral propostos por MARCHUSCHI, foram selecionados os seguintes conceitos: simetria, situação discursiva, evento da fala, situação conversacional, assim como turno, marcadores conversacionais e hesitações. Tais conceitos foram trabalhados a partir da condução de jogos teatrais da obra de SPOLIN (1994), ou trabalhadas durante os ensaios dramáticos dos atores. O projeto se encontra no momento de aprofundamento teórico e análise das atividades desenvolvidas. A exposição das experiências de ensino no encontro, busca reforçar a hipótese de que o teatro é um meio eficiente para desenvolver as competências do aluno quanto as características e os usos da língua oral, permite contribuir para suas produções textuais orais, e prepará-los para que tenham autonomia para produzir suas falas no mundo. Palavras-chave: Língua oral; língua falada; teatro; ensino. 33 DISCURSO JURÍDICO E ARGUMENTAÇÃO: ANÁLISE DE SENTENÇA JUDICIAL Daniela da Silveira Miranda ([email protected]) Orientadora: Zilda Gaspar Oliveira de Aquino Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa Doutorado Este trabalho propõe-se a investigar o discurso jurídico, sobretudo no que tange a sentença judicial, observando as estratégias discursivo-argumentativas arroladas, pelo Juiz de Direito, para a construção de sua decisão. Selecionamos, como objeto de análise, uma sentença judicial emitida em 02 de junho de 2014, em Brasília, na Vigésima Vara Cível. Trata-se de um processo contra a Revista Carta Capital ajuizada por uma pessoa física, que se sentiu depreciada por algumas publicações desse veículo de comunicação em 2012. Dado o caráter filosófico do conceito de danos morais, bem como dos limites entre liberdade de imprensa e liberdade da intimidade e honra da pessoa humana, constatamos que, ao redigir essa sentença, o magistrado utiliza determinadas estratégias para a construção de sua argumentação ponderando essa questão ainda muito discutida no âmbito do Direito, uma vez que os limites entre a liberdade de imprensa e os direitos da personalidade são constitucionais e, por vezes, podem se chocar. Assim, para o tratamento do corpus, optamos pela análise qualitativa e interpretativa, em que selecionamos determinadas lexias e locuções lexicais constituídas de sintagmas nominais e verbais, que nos pudessem fornecer, linguisticamente, subsídios para observar as estratégias argumentativas selecionadas pelo juiz para construir sua argumentação. Para os propósitos da pesquisa, foram adotados os construtos teóricos da Retórica (Aristóteles, 2005 [s/d]), da Teoria da Argumentação (Perelman e Olbrechts Tyteca, 2005 [1958], Aquino, 1997, entre outros), da Teoria da Argumentação Jurídica (Atienza, 2000; Alexy, 2001) e das Ciências do Direito (Kelsen, 1993; Ferraz Júnior, 1997; Bobbio, 2005; Godoy, 2008). Palavras-chave: Discurso Jurídico, estratégias argumentativas, sentença 34 EXPATRIAÇÃO LITERÁRIA, RELIGIÃO, TERRORISMO E MÍDIA Daniela Susana Segre Guertzenstein ([email protected]) Orientadora: Eva Alterman Blay Programa de Pós-graduação: PNPD CAPES - DS FFLCH USP Pós-Doutorador Esta apresentação expõe parte dos resultados de uma pesquisa interdisciplinar de sociolingüística e comunicação social sobre expatriação cultural e transnacionalização de comunidades religiosas para a edição do trabalho final de pós-doutoramento em sociologia. O tema principal apresentado nessa oportunidade é sobre processos de expatriação de literaturas religiosas institucionais. Nesse contexto é exposto o fluxo da propagação do universo simbólico oficial de doutrinas religiosas através de redes transnacionais. O objetivo desta apresentação é expor conceitos e padrões que revelam intolerância a diversidade em recortes de literaturas clássicas e em discursos religiosos e políticos. Para tanto são utilizados os indicadores discursivos de tolerância, intolerância e aceitação a diversidade étnica, social e religiosa de Flora Burchianti e Ricard Zapata-Barreiro (2013), que classificam níveis de aceitação ao pluralismo e a diversidade de discursos políticos europeus. O objetivo secundário desta apresentação é explicar a teoria defendida por Hillel Nossek (2008), que demonstra como ataques terroristas tornam-se eventos midiáticos globais. Essa abordagem mostra como a cobertura de ataques terroristas tem as narrativas jornalísticas convencionais substituídas por manifestações de solidariedade para com o atacado, de modo que o discurso jornalístico investigativo é trocado por manifestações carregadas de estereótipos de posturas discriminatórias, partidárias, nacionalistas e patrióticas. A análise dos discursos religiosos, políticos e jornalísticos é importante porque revela padrões de diferença, de contraposição ao outro e ao externo, de estranhamento do estrangeiro como ameaça potencial que aterroriza e o criminaliza. Pode-se concluir que o desenvolvimento desses discursos legitimados religiosamente e politicamente perpetua a situação de confronto como normalidade na qual a sobreposição de conflitos representa a ordem social. Palavras-chave: Literatura; Religião; Terrorismo; Mídia; Globalização 35 AS FORMAS DE (SE) DIZER DE PITTY Danyllo Ferreira Leite Basso ([email protected]) Orientadora: Norma Discini Programa de Pós-graduação: Semiótica e Linguistica Geral Mestrado A presente proposta de comunicação está calcada nos postulados da Semiótica Discursiva, erigida por Greimas, Fontanille e Zilberbeg, bem como nos da Semiótica Visual de Floch, articulada, ainda, com o arcabouço teórico de Bakhtin e seu Círculo, no que toca às noções de gênero discursivo e estilo. O corpus em cena se trata do último álbum de estúdio da cantora e compositora Pitty, SETEVIDAS (2014), em que se busca depreender o estilo de Pitty de (se) compor a vida em arte e arte em vida, em consonância com os estudos de uma estilística discursiva (DISCINI, 2014). Ao se pensar o álbum de canção – uma compilação de canções a partir de determinado tema – reflete-se sobre a relação posta entre a canção-título e as demais, entre cada uma delas, e, ainda, entre elas o encarte. Em outras palavras, busca-se a multimodalidade do dizer da esteta supracitada, a partir da relação, em via de mão dupla, do todo com as partes. Assim, interessa-nos não só o dizer de Pitty, mas como ela diz o que diz. A metodologia privilegia o “percurso gerativo de sentido” calcado na Semiótica, ao se caminhar do mais abstrato e simples ao mais concreto e complexo, ao depreender o nível fundamental, narrativo e discursivo que subjaz as dez canções e a fotografia que compõe o gênero álbum de canção. Os objetivos, portanto, revelam-se na contribuição aos estudos discursivos, no que diz respeitos às reflexões de gêneros discursivos, bem como de uma estilística discursiva, além da relação posta entre a Semiótica e o Círculo de Bakhtin. Palavras-chaves: Álbum de canção; Semiótica; Círculo de Bakhtin. 36 OS USOS DE “VOCÊ” COMO FORMA PARA INDETERMINAÇÃO DO SUJEITO NO DISCURSO ORAL CULTO Denise Durante ([email protected]) Orientadora: Maria Lúcia da Cunha Victório de Oliveira Andrade Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa Pós-Doutorado O objetivo geral da pesquisa é refletir sobre o emprego do pronome “você” em interações orais como estratégia discursiva para indeterminação do sujeito na língua portuguesa. O corpus analisado corresponde a textos orais produzidos por “falantes cultos”, conforme o conceito de Preti (1997), em programas de debates, veiculados entre 2014 e 2016 por canais televisivos brasileiros. Busca-se descrever e analisar o uso de “você” como forma para indeterminação do sujeito à luz dos conceitos de linguagem da imediatez e da distância comunicativas, desenvolvido pelos teóricos alemães Koch e Oesterreicher (1985; 1990). Adotam-se igualmente os pressupostos teóricos da Análise da Conversação, em particular os estudos de Marcuschi (1986; 2000) e Urbano (2006; 2011; 2013), autores cujas pesquisas retomam o referido modelo teórico alemão ao enfocarem a questão do meio e da concepção textual das mensagens orais e escritas. Trata-se de um modelo relevante no contexto de pesquisa linguística europeu, porém ainda pouco explorado em nosso país, o que pode justificar sua aplicação e interpretação em corpora em português. O trabalho pode contribuir, ademais, para a ampliar a compreensão sobre o português falado no Brasil. Utilizam-se, na pesquisa, as normas para transcrições de textos orais conforme convencionado pelo Projeto NURC-SP. Adota-se o método indutivo, bem como as pesquisas bibliográfica e documental. Partimos da hipótese de que o pronome de indeterminação do sujeito você pode ser utilizado pelos falantes para a obtenção de efeitos expressivos específicos da oralidade ou da linguagem da imediatez, entre os quais se inclui o envolvimento emocional e interacional entre os falantes. A partir do corpus até então descrito e analisado, observa-se a confirmação dessa hipótese, bem como se detecta a tendência à maior frequência do uso do pronome você em relação à utilização do pronome se, com a função de elemento para indeterminação do sujeito. Palavras-chave: oralidade; pronomes; falante culto. 37 ACESSO AO SABER: O QUE ESTÁ EM JOGO NA ESCOLHA DE UMA OBRA LITERÁRIA Denísia Moraes dos Santos ([email protected]) Orientadora: Maria Inês Batista Campos Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa Doutorado Este trabalho tem como objetivo apresentar uma breve análise dos critérios de seleção das obras literárias do “Apoio ao Saber”, Programa de leitura da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (SEE), destinado aos alunos das escolas de Ensino Fundamental e Médio da rede pública estadual. Dados desta pesquisa revelaram uma quantidade expressiva de obras selecionadas do cânone da literatura. Partindo desse quadro, fazemos uma reflexão sobre o discurso político educacional que engendra a escolha das obras literárias do programa, além de discutir os argumentos utilizados pela gestão do “Apoio ao Saber” para justificar a escolha dos títulos dos livros. Para analisar o critério de seleção das obras literárias do “Apoio ao Saber”, selecionamos a primeira edição do programa (2009), ancorada na cultura valorizada. Para essa edição, o governo planejou atender 3,3 milhões de estudantes, com investimento de 34 milhões de reais para a compra e distribuição de um total de 10 milhões de livros considerados clássicos da literatura infanto-juvenil nacional. A fundamentação teórica deste trabalho centra-se na perspectiva dialógica da linguagem de Mikhail Bakhtin, principalmente, nos conceitos de “destinatário do discurso” e “cronotopo”, e na perspectiva ideológica dos estudos de letramento. Os resultados parciais da pesquisa mostram que o discurso político educacional tende a investir na construção de uma imagem, nesse caso, a do governo inserido na cultura valorizada. No entanto, a imagem do protagonista do Programa “Apoio ao Saber”, ou, para melhor usar o conceito bakhtiniano, o destinatário do discurso literário se configura no diálogo espaço-temporal com a cultura local. Palavras-chave: Discurso político educacional. Programa de leitura. Destinatário do discurso. Cronotopo 38 O LUGAR DA COGNIÇÃO NOS ESTUDOS CRÍTICO-DISCURSIVOS: NOVAS PERSPECTIVAS Douglas Rabelo de Sousa ([email protected]) Orientador: Paulo Roberto Gonçalves Segundo Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa Mestrado O seguinte trabalho, que compõe o projeto de mestrado “A construção midiática da imigração no Brasil do século XXI: uma perspectiva cognitivo-discursiva”, tem por objetivo mostrar como ocorre a interface entre a corrente interdisciplinar denominada Análise Crítica do Discurso e uma das mais atuais abordagens teóricas sobre a língua, a Linguística Cognitiva, que vem sendo incorporada, aos poucos, nos estudos discursivos. Analisaremos como a ACD, utilizando-se de conceitos da Gramática e da Semântica cognitiva , segundo Evans & Green (2006), torna visíveis deturpações e discriminações em vários discursos veiculados pela mídia, pois veremos como certos dispositivos gramaticais, tais como a nominalização e passivização e escolhas de transitivização, associados à experiência sensório-motora de força, refletem e reforçam pontos de vista ideológicos particulares. Desta forma, contribuiremos para a construção de um método científico-analítico a partir do qual podemos depreender a ideologia vigente no discurso por meio das estruturas gramaticais nele contidas. Assim, propomos um percurso que se inicia em uma esfera microdiscursiva até atingir uma esfera macrodiscursiva, depreendendo as relações existentes entre ambas. Em outras palavras, este trabalho preocupa-se em demonstrar como a LC relaciona as estruturas linguísticas nos textos com as estruturas conceptuais nas mentes dos participantes discursivos, revelando o potencial ideológico presente no discurso produzido, de forma sistêmica, conduzida teoricamente, e passível de comparação. A interface da ACD com a LC também proporciona ênfase maior na análise dos processos interpretativos e da dinâmica de construção de sentido. Como aporte teórico, utilizaremos para as questões da ACD e da LC: Fairclough (2004); Gonçalves Segundo (2014) e Hart (2010, 2011, 2014), observando aspectos gramaticais ligados à esquematização de cenas e ao ajuste de atenção. Ainda discorreremos sobre a concepção de ideologia, seguindo Fairclough (1995), Van Dijk (1998, 2015) e Hodge & Kress (1993). Assim, poderemos depreender como as identidades sociais, as relações sociais e sistemas de conhecimento e crença se materializam no discurso. Palavras-chave: Análise Crítica do Discurso; Linguística Cognitiva; Ideologia 39 A PERCEPÇÃO DE “CORTESIA” EM UM ESTUDO SOCIOPRAGMÁTICO Fábio Barbosa de Lima ([email protected]) Orientadora: María Zulma Moriondo Kulikowski Programa de Pós-graduação: Língua Espanhola e Literaturas Espanhola e Hispano-americana Doutorado Partindo de nosso estudo de mestrado intitulado “Parecer bom x parecer justo – o pedido de desculpas na gestão da imagem nas interações midiáticas” (Lima, 2012), no qual analisamos pedidos de desculpas em situações espontâneas no português do Brasil e no espanhol da Argentina e, ainda, apresentamos considerações sobre a percepção do termo “cortesia” por parte de falantes dos dois países. Para tal, recorremos aos significados presentes em dois dicionários de cada idioma; do português, os dicionários Aurélio e Houaiss, já do espanhol tomamos o Diccionario de la Real Academia Española (DRAE) e o dicionário da lexicógrafa espanhola María Moliner. Podemos verificar que as definições de cortesia nos dicionários de língua portuguesa estão orientadas para valores como amabilidade e delicadeza, já nos dicionários de língua espanhola, a ideia patente é a de “atención”, “consideración” e “respeto”. Tais significados coincidem com os resultados de nossa dissertação, no que diz respeito aos sentidos de autonomia e afiliação postulados por Bravo (1999); representando a valorização do sentido de afiliação, no caso do Brasil e da valorização do sentido de autonomia, do lado argentino. Na atual etapa de nosso doutorado, aplicaremos testes de hábitos sociais para verificar se esses significados coincidem com a percepção de cortesia de falantes de ambos os países. Testes de hábitos sociais (Hernández Flores, 2003), são entrevistas com perguntas relacionadas ao comportamento social em estudo e constituem uma importante ferramenta nos estudos da (des)cortesia. A ideia central é elaborar e aplicar os testes para jovens, residentes em grandes nos dois principais centros urbanos desses países – São Paulo e Buenos Aires – com proporção igualitária de faixa etária, escolaridade e gênero. A importância metodológica de tal enfoque está no fato de que as respostas obtidas nos serão úteis para estabelecer premissas sobre o contexto sociocultural, apoiando, desta forma, as análises que realizaremos. Palavras-chave: Pragmática, (des)cortesia, testes de hábitos sociais. 40 “PAI CONTRA MÃE” E “NEGRINHA” NUMA PERSPECTIVA MULTIMODAL DE ENSINO LITERÁRIO NO ENSINO FUNDAMENTAL II Fernando Januário Pimenta ([email protected]) Orientadora: Vima Lia de Rossi Martin Programa de Pós-graduação: Mestrado Profissional em Letras Mestrado Este trabalho apresenta reflexões sobre a aplicação de uma sequência didática de Língua Portuguesa para o 8º ano do Ensino Fundamental, a qual se baseou numa abordagem multimodal da escravidão no Brasil, a partir do estudo dos discursos presentes nos contos “Negrinha”, de Monteiro Lobato, “Pai contra mãe”, de Machado de Assis, e anúncios de venda e aluguel de escravos recolhidos do jornal “O Estado de São Paulo”. Foram utilizadas fotografias e ilustrações contemporâneas à escravidão e demonstrativas dos instrumentos de tortura, das punições e dos efeitos dos castigos, aspectos referidos em ambos os contos. Constatou-se uma ampliação dos sentidos provocados pela leitura, por meio da combinação intencional de modos semióticos variados: as imagens selecionadas (linguagem não-verbal) e os textos literários e jornalístico mencionados (linguagem verbal escrita) (CATTO, 2013). Uma pedagogia de multiletramentos, que vai além do escopo de ensino de letramento tradicional, deve abranger uma amplitude de modos de significado dentre os quais unimos, neste trabalho: 1. a representação visual (imagens e fotografias) e 2. língua escrita (COPE & KALANTZIS, 2000). Consideramos a perspectiva da semiótica discursiva de linha francesa, que afirma que o texto se organiza e produz sentidos, como um objeto de significação, e também se constrói na relação com outros objetos culturais, pois está inserido numa sociedade, em um dado momento histórico e é determinado por formações ideológicas específicas, como um objeto de comunicação (BARROS, 2008). Assim, foi possível associar a agressão física exprimida pelas imagens e pelos contos à agressão verbal explícita em “Negrinha”, como componentes formadores da ideologia escravagista, e constitutivos de um discurso situado historicamente, como exemplificado nos anúncios de jornal trabalhados em sala, nos quais o negro aparece reificado, dividindo espaço com anúncios de oferta e compra dos mais variados itens e produtos, em um veículo de comunicação impresso. Palavras-chave: multimodalidade, ensino de literatura, discurso, escravidão, Ensino Fundamental II 41 O PAPEL DISCURSIVO DAS ANALOGIAS NA NEGOCIAÇÃO DA VERDADE: A IMAGEM DO PARTIDO DOS TRABALHADORES NAS COLUNAS DE LUIZ FELIPE PONDÉ Filipe Mantovani Ferreira ([email protected]) Orientadora: Zilda Gaspar Oliveira de Aquino Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa Doutorado Com base no pressuposto de que a verdade corresponde ao compartilhamento de crenças em uma comunidade, em um dado momento histórico e em uma determinada conjuntura social (MARCUSCHI, 2005; MONDADA, 1995), este trabalho investiga o papel discursivo das analogias utilizadas pelo filósofo e colunista da Folha de S. Paulo Luiz Felipe Pondé para retratar o Partido dos Trabalhadores (PT), seus integrantes, seus apoiadores e seus opositores. Mais especificamente, objetiva-se descrever o conjunto de inferências decorrente do uso das analogias e, assim, explicitar o posicionamento ideológico assumido pelo colunista. Com vistas a atingir tal objetivo, foram selecionadas, para análise, as colunas assinadas “Ponham as barbas e os batons de molho” e “A seita da jararaca”, publicadas respectivamente em 21/03/2016 e 14/03/2016. Do ponto de vista teórico, este trabalho propõe a articulação entre uma teoria das analogias de base sociocognitiva, como a desenvolvida por Gentner e seus colaboradores (GENTNER & SMITH, 2012, 2013; GENTNER & FORBUS, 2011; GENTNER, 1999), e a teoria da argumentação desenvolvida por Perelman e Olbrechts-Tyteca (2005 [1958]) no Tratado da Argumentação. A análise permitiu identificar uma tendência a, por meio do recurso à analogia, retratar o PT como uma organização corrupta e manipuladora constituída por pessoas de caráter questionável e defendida passionalmente por seus partidários; a imagem que se constrói de Lula, ex-presidente da República filiado ao PT, é a de um vilão comprometido com a perpetuação dos crimes de corrupção e de algoz do Brasil; Sérgio Moro, juiz responsável pelas investigações da operação Lava Jato, é, por sua vez, retratado como uma espécie de herói justiceiro determinado a lutar contra o crime. Palavras-chave: analogia, Lula, Partido dos Trabalhadores, discurso, cognição 42 ESCRITAS DA MEMÓRIA: LETRAMENTO E IDENTIDADE CULTURAL Francesco Antonio Capo ([email protected]) Orientador: Norma Seltzer Goldstein Programa de Pós-graduação: Mestrado Profissional em Letras Mestrado O maior problema do professor na Educação de Jovens e Adultos é lidar com a multiplicidade de saberes e de modos de apreensão da realidade: os alunos chegam à escola com níveis variados de letramento e com um saber forjado por outros sistemas de cognição e de compreensão do mundo. Assim, este trabalho de pesquisa pretendeu estudar a relação entre letramento, escritas da memória e identidade cultural. O objetivo principal foi verificar até que ponto a prática pedagógica com escritas da memória contribui para o letramento de adultos oriundos de culturais orais e que tiveram pouco contato com a palavra escrita. Partiu-se da suposição de que o trabalho com as escritas da memória propiciasse o sentimento de pertencimento e levasse o aluno a construir uma imagem de si mesmo como sujeito-autor de sua escrita, compreendendo-a como prática social significativa. A metodologia desta pesquisa dividiu-se em três etapas: a aplicação de sequência didática abordando o gênero textual “autobiografia” e suas especificidades; coleta de dados (textos escritos pelos alunos, fichas de acompanhamento do processo ensinoaprendizagem, questionários de perfil sócio-econômico e cultural); a análise qualitativa dos dados. Fundamentaram esta pesquisa os conceitos de autonomia (FREIRE, 2002), agência (BAZERMAN, 2011; KLEIMAN, 2006), autoria (BAZERMAN, 2011), letramento ideológico (STREET, 2015) e memória coletiva (Halbwachs apud BOSI, 1987). Concluiu-se que, ao fazer da palavra escrita uma forma de reviver sua experiência por meio do discurso da memória, o aluno ressignifica a prática letrada, reconceitualiza-a: a palavra escrita lhe pertence e ele é pertencido por ela. Palavras-chave: memória; letramento; identidade. 43 ANCORAGEM NOMINAL E SISTEMA DE ATENÇÃO HUMANO: O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO REFERENTE EM POSTS DO FACEBOOK Gabriel Isola Lanzoni ([email protected]) Orientador: Paulo Roberto Gonçalves Segundo Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa Iniciação Científica O objetivo dessa pesquisa é analisar o processo de construção do referente em uma modalidade do gênero post da página Spotted FFLCH – o retorno do Facebook, que tem como finalidade básica a busca por uma pessoa-alvo. Para tanto, a pesquisa apoia-se em uma convergência entre a Linguística Cognitiva e a Psicologia Cognitiva, por um lado, e as abordagens sociorretóricas sobre gêneros discursivos, por outro. Nesse sentido, tomar-se-á a teoria da Ancoragem Nominal (Langacker, 2008), que embasará a análise da construção do sintagma nominal, o que auxiliará a compreender o processo de indução do leitor em termos de conceptualizar a referência almejada. Tal processo está intimamente ligado a fatores atencionais (Oakley, 2009; Sternberg & Sternberg, 2012), explorados pela Psicologia Cognitiva, em especial no campo da busca visual (Treisman, 1986; Duncan & Humphreys, 1992). Trata-se de um diálogo relevante, na medida em que o processo de conceptualização do referente, consolidado pelas estratégias dêitica, descritiva e quantificadora, parece configurar-se em uma busca, através do conhecimento multimodal, tanto por parte do autor, no sentido de seleção de características relevantes do referente, quanto por parte do leitor, que faz uso de tais características para realizar uma busca mental e estabelecer o referente desejado. A articulação de tais processos mostra-se produtiva dada a finalidade da modalidade do gênero, uma vez que é utilizada para a busca de uma pessoa-alvo, ramificando-se em dois tipos: a) quando o autor do post já conhece/viu a pessoa-alvo; e b) quando o autor não conhece/viu a pessoal-alvo. A ramificação da modalidade parece mostrar-se sistemática quanto às estruturas ativadas para o estabelecimento do objeto do discurso, revelando uma relação entre a finalidade do post e os recursos utilizados, mostrando impacto tanto na estruturação do gênero quanto na construção do sintagma nominal e nas formas de guiar/orientar ou ativar atenção. Palavras-chave: Ancoragem Nominal; Sintagma Nominal; Psicologia Cognitiva; Atenção; Gênero Discursivo 44 DO ESCRITO À FOTOGRAFIA: REPRESENTAÇÕES DO GINÁSIO DE CAMPINAS NO INÍCIO DO SÉCULO XX Giovanna Ike Coan ([email protected]) Orientadora: Marilza de Oliveira Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa Doutorado Na passagem do século XIX ao XX, a fotografia se consagra como ícone da modernidade. Sua inserção na imprensa periódica, substituindo as ilustrações, representa a evolução dos meios de comunicação e das técnicas de reprodução de imagens, além de ser uma eficiente forma de captar o interesse dos leitores. Na cidade de Campinas, os almanaques impressos em meados de 1900 trazem, ao lado de textos e estatísticas, registros fotográficos de diversos espaços do município, como praças, igrejas, hospitais e escolas – entre elas, o Ginásio de Estado de Campinas, criado em 1896. Objeto da pesquisa de doutorado que desenvolvo no Programa de Filologia e Língua Portuguesa, sob o enfoque da História Social da Língua, o Ginásio de Campinas é estudado enquanto símbolo republicano na área da instrução pública e como espaço social onde concepções ideológicas e padrões linguísticos poderiam ser transmitidos aos alunos. Sendo a multimodalidade o tema deste EPED, o presente trabalho analisa a relação entre escrita e imagem em um texto publicado no almanaque “A cidade de Campinas em 1901” no qual o Ginásio é o referente. De um lado, examinamos os elementos constitutivos da fotografia e atentamos aos mecanismos de seleção, exclusão e (re)significação que atuam nesse “recorte da realidade”; de outro, exploramos a interação entre os códigos semióticos (verbal e visual) na construção do sentido global do texto. Ademais, comparamos esse material com um cartão-postal do período, que também retrata o estabelecimento, com o intuito de entender as motivações sócio-históricas e ideológicas para que diferentes veículos elegessem o Ginásio como uma “coisa visível” da cidade, isto é, que merecia ser contemplada, exibida e reproduzida. O referencial teórico-metodológico baseia-se na proposta discursiva de Kress & van Leeuwen (1996) e nos estudos históricos de Kossoy (1999), Cruz (2000), Ribeiro (2006) e Schapochnik (2008) sobre imprensa e fotografia no Brasil. Palavras-chave: discurso; fotografia; almanaque; Ginásio de Campinas. 45 PESSOAS SÃO COISAS? UMA ANÁLISE DE METÁFORAS EM REVISTAS ADOLESCENTES Helena Capriglione Zelic ([email protected]) Orientador: Paulo Roberto Gonçalves Segundo Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa Iniciação Científica O objetivo deste trabalho, que compõe a pesquisa de Iniciação Científica em andamento “Discurso, mídia e gênero: um estudo sobre os relacionamentos nas revistas Capricho e Atrevida e seu impacto sobre a juventude feminina”, é apresentar uma análise do funcionamento cognitivo e discursivo das metáforas construídas em revistas adolescentes femininas. Neste momento, a pesquisa se aprofunda no diálogo entre as abordagens cognitivistas e discursivas na linguística, com base nas propostas de Van Djik (2008), Fairclough (2003), Kövecses (2010) e Vereza (2007, 2010). Dentre os oito tipos metafóricos categorizados, este trabalho pretende apresentar uma análise da metáfora PESSOAS SÃO COISAS, que conta com ocorrências localizadas em subtipos de domínios-fonte relacionados às esferas dos objetos e da comida e do status social. As ocorrências demarcadas são extraídas do corpus original da pesquisa, formado por três edições das revistas adolescentes Atrevida e Capricho, em recorte relacional de textos de diversos gêneros discursivos que possuem os relacionamentos afetivosexuais como temática central. A compreensão da metáfora como elemento discursivo tangenciará também estudos de gênero sobre os conceitos de mercantilização, objetificação e desigualdade, para os quais são necessárias as reflexões de Faria (1998), Vance (1989), entre outras. Esta etapa da pesquisa se propõe a observar a relevância da metáfora no discurso e, portanto, na construção sociocognitiva da realidade por meio da linguagem. Também pretende explorar, por conseguinte, as perspectivas, limitações e contradições presentes nos discursos das revistas voltadas para o público feminino e adolescente – mídia esta ainda pouco explorada nos estudos acadêmicos –, além de conjeturar hipóteses sociais para determinadas escolhas discursivas, tendo em vista as posições sociais tanto das revistas quanto das leitoras. Palavras-chave: Metáforas; Análise Crítica do Discurso; Mídia feminina 46 A INTERAÇÃO PROFESSOR/ALUNO EM TURMA DE ALFABETIAÇÃO: PADRÕES ESCOLARES ESPECÍFICOS Heloisa Gonçalves Jordão ([email protected]) Orientador: Sandoval Nonato Gomes Santos Programa de Pós-Graduação: Educação/Linguagem e Educação Doutorado Propomos o estudo das estratégias interacionais desenvolvidas na comunicação em turmas de alfabetização de modo a salientar como a convivência de aspectos de natureza didática e institucional em uma complexa situação social como a da sala de aula desvelam padrões discursivos específicos da instituição escolar. Inserido nos estudos ocupados das relações entre Linguagem e Educação, pretendemos apresentar como o discurso do professor, associado a um complexo repositório de gestos, expressões e artefatos didáticos, constrói e gerencia o momento em que todo um grupo deve estar voltado para o processo de aprendizagem de um novo saber. Para compreendermos a natureza das interações face a face convocamos a contribuição teórica de Goffman (2002) e para compreendermos como o discurso de sala de aula guarda características próprias, muitas vezes distintas da relação entre ensino e aprendizagem, abordaremos as reflexões desenvolvidas por Ehlich (1986; 1993). A reflexão acerca do trabalho docente está baseada na investigação de Schneuwly (2009) observando as relações entre objetos de ensino, instrumentos didáticos e gestos profissionais envolvidos neste tipo particular de interação. Os dados analisados constituem-se por transcrições de 26 aulas de Língua Portuguesa ministradas em uma turma de 2º ano de uma escola municipal de Ensino Fundamental. Adotando uma abordagem qualitativa, iniciaremos a análise a partir da transcrição de elementos verbais e não verbais que constituem o início de uma das atividades acompanhadas e registradas em áudio e vídeo provenientes da geração de dados relizada em campo ao longo do ano letivo de 2011. Após destacarmos alguns dos aspectos que se apresentam de forma mais caraterística a esse tipo de interação, apresentaremos a frequência com que esses mecanismos de ação linguística ocorrem em 26 atividades acompanhadas e transcritas que constituem o total de dados gerados em Jordão (2014) com o auxílio do software Antconc®. Palavras-chave: alfabetização, interação, trabalho docente. 47 O CONCEITO DE ARQUITETÔNICA NO CÍRCULO DE BAKHTIN E A FILOSOFIA DA LINGUAGEM Inti Anny Queiroz ([email protected]) Orientador: Sheila Vieira de Camargo Grillo Programa de pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa Doutorado Este estudo busca apresentar a construção do conceito de arquitetônica na Teoria Bakhtiniana por meio de uma abordagem sistemática e filosófica das obras do Círculo. Observaremos a partir dos resultados iniciais da pesquisa de doutorado como o conceito é abordado e como este se compõe na teoria dialógica do discurso à qual nos filiamos como fundamentação teórica principal desta pesquisa. É relevante à nossa reflexão trazer inicialmente o diálogo com as teorias de Aristóteles e Kant, que também utilizaram o conceito de arquitetônica em suas reflexões de filosofia moral, para melhor compreender como este foi pensado em Bakhtin em sua filosofia da linguagem. Veremos a partir disso como o conceito auxiliou Bakhtin na construção e sistematização da teoria bakhtiniana para pensar a filosofia da linguagem e os estudos do discurso e assim propor uma nova disciplina chamada metalinguística. Em Bakhtin (2003; 2010) a arquitetônica aparece de duas formas distintas e interligadas. Primeiro, pode ser visto como um conceito sistematizador superior que engloba todas as categorias filosóficas bakhtinianas de compreensão de mundo, englobando os conceitos-chave. E segundo, como um todo englobante de um enunciado concreto que é realizado num ato responsável, enquanto potência no ser único, num momento histórico único e sempre em relação de interação com o outro, com o contexto e com a esfera ideológica. Nos dois casos, a arquitetônica deve ser pensada em relação ao todo da cultura, com parâmetros éticos e estéticos e que se realizam nas práticas sociais interativas/ discursivas. A arquitetônica organiza o sentido do objeto estético, seja ele um objeto de arte ou qualquer outro gênero discursivo da comunicação humana. Palavras-chave: arquitetônica; Bakhtin; filosofia da linguagem. 48 VELHAS E NOVAS MÍDIAS NAS JORNADAS DE JUNHO DE 2013: PROTAGONISMO DAS REDES SOCIAIS? José Adjailson Uchôa-Fermandes ([email protected]) Orientadora: Deusa Maria de Souza Pinheiro-Passos Programa de Pós-graduação: Estudos Linguísticos e Literários em Inglês Doutorado A presente comunicação visa apresentar, de modo preliminar, algumas considerações desenvolvidas no âmbito de nossa pesquisa de doutorado, a qual tem como objeto de estudo os discursos sobre/das chamadas “Jornadas de Junho” produzidos nas redes sociais Twitter e Facebook durante o mês de junho de 2013. A partir da sustentação teórica fornecida pelos estudos semântico-discursivos da linguagem, do ciberespaço, e teorias sobre movimentos sociais, propomos a análise de enunciados coletados em fanpages e “grupos” da rede Facebook, bem como postagens de usuários do Twitter, produzidas naquele momento histórico, e que se inscrevam sob as hashtags “#vemprarua” e “#ChangeBrazil”, amplamente utilizadas pelos internautas na época. Objetivamos, a partir do dispositivo analítico, tecer considerações sobre as possíveis particularidades do funcionamento discursivo de cada uma destas redes, bem como, refletir acerca das concepções de Estado, Nação, Nacionalismo, Política, Movimentos Sociais e (web)Ativismo e (web)Cidadania que permeiam o imaginário dos sujeitos que enunciam nessas redes. A partir do procedimento analítico, buscaremos refletir a respeito das ideologias e formações discursivas que se manifestam nos discursos das/sobre as manifestações de Junho de 2013 nas postagens analisadas. Para tanto, consideraremos a multiplicidade de vozes, que constituiu uma das principais características desse acontecimento. Nossas considerações, ainda em caráter preliminar, apontam para relações entre os dizeres produzidos nestas redes e elementos oriundos do discurso do mercado, seja para reafirmá-los ou contestá-los. Os frequentes enunciados em língua inglesa nos dão indícios de uma busca pela construção de diálogos com outras nações, sugerindo relevante papel conferido à alteridade por elas representada. Podemos ainda observar relações entre essa modalidade de comunicação relativamente nova com outras já estabelecidas (Televisão, mídia impressa, portais de notícia) que parecem ainda ocupar um caráter importante na seleção dos acontecimentos e sua distribuição enquanto notícias, replicadas e/ou ressignificadas por meio dessas redes. Palavras-chave: discurso, mídia, redes sociais, jornadas de junho, movimentos sociais 49 A CONSTRUÇÃO LINGUÍSTICO-DISCURSIVA DA AUTORIDADE NA INTERAÇÃO ADULTOCRIANÇA Karoline Santiago de Macedo ([email protected]) Orientador: Paulo Roberto Gonçalves Segundo Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa Iniciação Científica O presente estudo tem como objetivo examinar a interação entre adultos e crianças de maneira a depreender especificidades relativas ao domínio da metafunção interpessoal, o que envolve, por exemplo, o estabelecimento de relações sociais. Assim, deseja-se analisar a construção linguístico-discursiva da autoridade por parte do adulto e como esta é recebida pela criança, usando como referência os estudos de polidez filiados à teoria desenvolvida por Brown & Levinson (1987), em especial as noções de face positiva e negativa descritas pelos autores; a Teoria da Avaliatividade proposta por Martin & White (2005), no âmbito da Linguística SistêmicoFuncional (Halliday & Matthiessen, 2004), assim como noções de autoridade e modalidade (Leo Hoye, 1997). O corpus utilizado para o desenvolvimento desta pesquisa é composto por gravações de crianças entre seis e nove anos de idade interagindo com adultos (tanto familiares quanto documentadores), transcritas segundo as normas do Projeto NURC/SP (Preti, 2002). Buscar-se-á verificar como os falantes constroem a interação a partir dos recursos de polidez empregados, das negociações de poder e solidariedade, o posicionamento intersubjetivo e a representação da realidade por parte dos interactantes. A partir disso, deseja-se compreender o modo como a autoridade é construída por parte do adulto e validada/aceita pela criança, bem como examinar as formas em que tal construção da autoridade é explicitada na co-produção da interação. Dessa maneira, mostra-se relevante desenvolver esta pesquisa baseada em teorias pragmático-conversacionais, funcionalistas e estudos da conversação para dar conta dessa variável sócio-discursiva, no caso, a autoridade e os aspectos interpessoais que envolvem o contexto em que esta é empregada. Palavras-chave: interação adulto-criança; polidez; avaliatividade; aspectos interpessoais 50 A PSEUDOCORTESIA NA REDE SOCIAL FACEBOOK Katiuscia Cristina Santana ([email protected]) Orientador: Luiz Antonio da Silva Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa Doutorado O presente trabalho propõe um estudo das estratégias linguísticas que expressam a pseudocortesia na rede social Facebook, em especial o uso da ironia na interação virtual. Assim como em uma interação face a face, é possível encontrar no mundo virtual desentendimentos entre os interactantes.Um dos meios para se evitar um possível conflito na interação é o emprego da cortesia, entendida como a adequação social a um contexto determinado que preserva o caráter harmonioso de uma relação interpessoal. A noção de cortesia se desenvolveu com base no conceito de face introduzido por Goffman (1967) e aprofundado mais tarde por Brown e Levinson (1987). Salienta-se que o ritual de cortesia é um aspecto fundamental no processo de interação, visto que os interactantes procuram evitar qualquer tipo de agressão em relação ao outro. A respeito disso, Brown e Levinson desenvolveram a ideia de face, entendida como a imagem que se constrói na vida social e que necessita ser defendida pelos interactantes. Nos últimos anos, o estudo da cortesia tem se destacado nas pesquisas acadêmicas, tal como ocorre com a descortesia. Nesta pesquisa destacamos, sobretudo, o uso recorrente da pseudocortesia no mundo virtual. Entendemos por pseudocortesia a aparente cortesia inserida em um contexto interacional descortês. Levando em consideração as pesquisas já desenvolvidas a respeito da teoria da preservação das faces e a respeito da cortesia, a pesquisa busca embasamento teórico na Análise da Conversação, na Pragmática e na Sociolinguística Interacional para a análise do corpus escolhido para o estudo. Para tanto, serão analisados excertos de conversa de um grupo da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo na rede social Facebook. Palavras-chave: análise conversacional; pseudocortesia; ironia. 51 A REPRESENTAÇÃO DO HERÓI NA PROPAGANDA NAZISTA – UM ESTUDO ARGUMENTATIVO Letícia Fernandes de Britto Costa ([email protected]) Orientadora: Zilda Gaspar Oliveira de Aquino Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa Mestrado A representação do herói é usada frequentemente como modelo a ser seguido em tempos de guerra ou de crise. No regime nazista, tal recurso foi amplamente utilizado no intuito de suscitar, na população civil, o desejo de agir em coletivo com seus compatriotas, a partir do enaltecimento de grandes feitos realizados por alemães que viveram mesmo antes do surgimento do Partido Nacional Socialista. Dado isso, o presente trabalho propõe-se a investigar o modo de construção da imagem do herói em um periódico de leitura obrigatória nas escolas alemãs durante o regime nazista - O jornal "Hilf mit!", em português, "Colabore!". Busca-se observar como a estrutura argumentativa do texto e outras formulações linguísticas, sobretudo a seleção lexical, participam ativamente da construção identitária de tais figuras. O corpus de análise se constitui do texto "3 Männer eroben Ost-Afrika" ("3 homens conquistam a África oriental"), publicado em outubro de 1934 no periódico mencionado. O trabalho se baseia, sobretudo, nos preceitos da socióloga Jungwirth (2007) a respeito dos estudos de Identidade no Discurso, bem como na Teoria da Argumentação, de Olbrechts-Tyteca ([1958] 1996) e seus seguidores, além de contar com o suporte de Klein (1980), teórico alemão, no que se refere aos conceitos de valores e validades na Argumentação. O texto foi analisado com base nas teorias selecionadas e os resultados observados apontam para aspectos de valores argumentativos presentes na construção da figura do herói nacional, bem como a importância de se enaltecer determinados padrões de comportamento num suporte midiático que se propunha como propaganda do governo então vigente, voltada para crianças. Palavras-chave: Identidade no discurso; argumentação; propaganda nazista 52 A ELABORAÇÃO DE METÁFORAS E METONÍMIAS SOBRE RELACIONAMENTO NA CANÇÃO SERTANEJA: UMA ANÁLISE COGNITIVO-DISCURSIVA Líliam Sayuri Vitorio Komori ([email protected]) Orientador: Paulo Roberto Gonçalves Segundo Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa Iniciação Científica A canção é um gênero discursivo que refrata e difunde valores sociais e ideológicos no nosso meio social, especialmente ao se considerar a penetração da indústria cultural vigente. Um dos seus principais temas consiste no domínio do amor e dos relacionamentos, vivência cotidiana que se materializa recorrentemente nas produções musicais contemporâneas (Rocha & Fernandes, 2009), carregadas de concepções acerca do que é certo ou errado, desejável ou indesejável nesse campo. Nesse trabalho, procurou-se estudar as formas de representação do amor – tipicamente heterossexual – e, assim, das relações esperadas entre homens e mulheres nessas canções, a fim de desvelar aspectos ideológicos subjacentes. Para tanto, recolhemos o corpus das músicas sertanejas mais tocadas de 2001 a 2015, através de consulta de sites e rádios, que tem tais listas prontas, como no blog Universo Sertanejo, da UOL Entretenimentos. Como categorias de análise, foram selecionadas as construções metafóricas e metonímicas, conceituadas a partir dos estudos em Linguística Cognitiva. A Linguística Cognitiva considera as metáforas e metonímias como algo além de apenas recursos estilísticos, como são considerados atualmente pela Gramática. Nesse novo paradigma proposto primeiramente por Lakoff & Johnson (1980), esses tipos de processos cognitivos estariam presentes na nossa vida, não só na linguagem, mas no modo de agir e no pensamento. Para tanto, será usado como referencial teórico, os paradigmas propostos por Lakoff & Johnson (1980), Ferrari (2014), Kövecses (2010), Vereza (2010; 2013) e Santos (2002). Serão debatidos os casos de metáforas e metonímias nas músicas de 2002, e alguns casos, nas canções encontradas em 2001. Nessas análises realizadas, metáforas como SENTIMENTOS SÃO OBJETOS, e O AMOR É UMA JORNADA são recorrentes. As metonímias mais encontradas são as de PARTES DO CORPO POR PESSOAS. Serão debatidas a estruturação da projeção inter e intra-domínios e suas implicações em termos discursivo-textuais. Palavras-chave: Música sertaneja, discurso, linguística cognitiva, metáfora, metonímia. 53 MEME: CONSTRUÇÃO DE SENTIDOS E EXPRESSÃO CULTURAL Lilian Mara Dal Cin dos Santos ([email protected]) Orientadora: Ana Rosa Ferreira Dias Programa de Pós-graduação: Língua Portuguesa - PUC-SP Doutorado Este trabalho tem por objetivo apresentar pesquisa de Doutorado que se encontra em desenvolvimento. Nosso estudo pretende analisar como se dá a construção de sentidos em memes, baseando-se nas asserções de Koch (2010), Kress & van Leeuwe (2001), Kress (2010) e Shifman (2014). Nosso corpus é formado por memes coletados durante o ano de 2015, especialmente os compostos de imagem e texto ou o que Shifman (2014) chama de “Fotos Meméticas”. Para a autora, memes são expressões criativas multiparticipantes através das quais identidades políticas e culturais são comunicadas e negociadas; blocos que ajudam a construir a cultura contemporânea. Kress (2010) explica que modos são elementos produzidos socialmente e que se tornam recursos culturais para gerar significados. Parece-nos, portanto, que analisar memes do ponto de vista da multimodalidade seja o caminho ideal, já que são textos compostos por diferentes modos, isto é, multimodais por excelência, e cada modo que os compõe pode representar uma expressão cultural capaz de gerar significado. No entanto, sem nos esquecermos de que nosso trabalho situa-se no âmbito da Linguística Textual, identificaremos, no corpus, as estratégias cognitivas, interacionais e textuais acionadas para se construir sentido, de acordo com Koch (2010). No Brasil, os memes ainda são pouco estudados - embora sua produção seja cada vez mais crescente - de forma que é difícil encontrar até mesmo uma definição clara sobre eles. Por essa razão, decidimos nos focar no processo de construção de sentidos desses textos multimodais. Nossa primeira impressão, ao olhar para esses textos, é que, de fato, eles carregam mais significados do que aparentam e a sua produção está completamente atrelada ao seu contexto de criação e consumo. As pessoas os criam, em cada país, de acordo com situações vivenciadas e expressões que se consolidaram. Por isso, podemos dizer que são “unidades de cultura”. Palavras-chave: linguística textual, construção de sentidos, multimodalidade, meme 54 ANÁLISE DA FALA EM INTERAÇÃO NA SALA DE AULA Luana Clementino Chalegre ([email protected]) Orientador: Valdir Heitor Barzotto Programa de Pós-graduação: Educação Iniciação Científica O objetivo deste trabalho é analisar o processo da fala por meio de interação na sala de aula, observar as negociações de identidades, compreender os papéis dos agentes e analisar o processo de ensino-aprendizagem da língua portuguesa na seara da oralidade. O estudo toma por base as observações realizadas ao longo do estágio supervisionado de aulas ministradas da disciplina de Português para turmas de ensino fundamental II, distribuídas entre 6º, 7º, 8º e 9º anos, em duas escolas públicas municipais da periferia do município de São Paulo. Foi possível explorar, com surpreendente sucesso, essas interações, as quais nem sempre decorreram bem. Apesar de duas escolas terem sido observadas, com públicos aparentemente díspares e de mesma faixa etária, os resultados das interações são semelhantes. Este trabalho relata como se constitui o contexto linguístico na sala de aula, como se manifesta a atuação dos alunos nesse mesmo ambiente e de que modo os alunos e professores negociam as suas identidades sociais na escola. As análises são fundamentadas nas contribuições da Análise da Conversa Etnometodológica, por meio de estudos de Jung (2009) e Loder (2008), que buscam compreender a interação entre participantes, os quais não somente comunicam palavras, mas também negociam construções sociais de identidade. Desta forma, por meio da compreensão de como se processa a organização dos atos conversacionais, procuraremos analisar o comportamento verbal e social dos interlocutores durante as interações. Assim, o texto, que subsidia o registro das observações, é concebido como um evento comunicativo resultante da atuação das múltiplas formas da linguagem, tais como verbal e não verbal. PALAVRAS-CHAVE: Interação, relação e negociação professor-aluno, aluno-professor e alunoaluno, análise da fala, sala de aula. 55 A CONSTRUÇÃO DO ETHOS NAS PROPAGANDAS EM REVISTAS DO PERÍODO ENTRE GUERRAS NO BRASIL Lucimar Regina Santana Rodrigues ([email protected]) Orientadora: Maria Lúcia da C.V.O.Andrade Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa Doutorado O presente trabalho é um recorte de um projeto mais amplo sobre a construção do ethos nas propagandas em revistas do século XIX e XX. O objetivo deste estudo é examinar as especificidades discursivas utilizadas na construcão do ethos de atores sociais que circularam nas propagandas veiculadas na revista Seleções Digest, no Brasil, no período entre guerras, mais especificamente, nos anos 1943 e 1944. O corpus compreende 4 propagandas impressas. A análise será realizada a partir das marcas textuais presentes no discurso da mídia que revelam legitimação do poder, relação de dominação, ideologia, persuasão e que remetem a estratégias discursivas utilizadas na construção do ethos de empresas de diferentes produtos e ramos de atividades em um contexto tumultuado como é o “entre guerras”. O discurso da mídia pode veicular enunciados que tecem ideologias e levam os indivíduos a identificarem-se com posições e representações dominantes. As análises revelam que as empresas estavam com suas produções paralisadas, em função da Guerra, mas que não podiam perder de vista seus consumidores e até mesmo cair no esquecimento e comprometer perspectivas futuras. Em função disso, elas investiam em publicidade e nestas, muitas vezes, posicionavam-se com relação à Guerra e ao momento político que o país vivia, trazendo em seus discursos, escolhas lexicogramaticais na representação de um ethos dominador, ideológico e altamente persuasivo. Considerando o papel crucial do contexto, a relação entre linguagem e poder e respectivas marcas ideológicas, a fundamentação teórica está centrada, principalmente, nos postulados da análise crítica do discurso proposta por Fairclough (1992, 1999, 2001) e Pedro (1997). Outras teorias como a construção do ethos, o discurso e contexto, a linguagem da propaganda e o discurso das mídias serão abordadas a partir dos pressupostos de Maingueneau (2015), Van Dijk (2012), Sandmann (2012), Charaudeau (2010) entre outros. Palavras-chave: discurso da mídia; estratégias discursivas; propaganda; construção do ethos. 56 HISTORICIDADE E POLIFONIA: UM ESTUDO DO ATOR MANIFESTANTE Marcos Rogério Martins Costa ([email protected]) Orientadora: Norma Discini de Campos Programa de Pós-graduação: Linguística Doutorado Em junho de 2013, depois do aumento das tarifas de transporte público nas grandes cidades, as ruas foram tomadas por multidões que gritavam, esbravejavam e queriam grandes reformas econômicas, políticas e sociais. Esse acontecimento foi nomeado de Jornadas de Junho. Os corpos dos atores das Jornadas de Junho estão em confronto, pois respondem um ao outro de maneira mais polêmica do que contratual, conforme depreendemos a partir de uma estilística discursiva (DISCINI, 2009). O objetivo desta pesquisa é investigar, no cotejo entre o inteligível e o sensível, a historicidade nos discursos a partir da análise do ator do enunciado manifestante no fenômeno discursivo das Jornadas de Junho. Como corpora dessas jornadas, selecionamos, durante o mês de junho de 2013 na cidade de São Paulo-SP – o epicentro das manifestações –, duas mídias distintas, entendidas como duas totalidades discursivas diferentes que relataram os fatos desse fenômeno: as charges e os editoriais dos jornais O Estado de São Paulo e Folha de São Paulo, publicados no dia 13 e 14 de junho de 2013. Nossa pesquisa é de caráter descritivo, como supõe a tradição semiótica – descrevemos o fenômeno que temos à mão, as manifestações populares, respeitada a semiose que ele implica. Para tanto, partimos de uma análise interdisciplinar que acolhe os pressupostos da semiótica tensiva (ZILBERBERG, 2011; FONTANILLE, 2008), da estilística discursiva (DISCINI, 2009; 2013) e da filosofia bakhtiniana (BAKHTIN, 2010; VOLOCHINOV, 1976). Como resultados parciais da pesquisa em andamento, constatamos no cotejo das totalidades selecionadas que a historicidade dos corpos em confronto na situação de desestabilização social apontam para a relevância da polifonia bakhtiniana nos discursos da vida. Com isso, alargar-se epistemologicamente o conceito bakhtiniano a partir de um visada semiótica de suas aplicações nas construções sociais dos atores do enunciado a partir de determinadas estratégias da enunciação. Palavras-chave: Historicidade; Polifonia; Ator; Manifestante; Semiótica 57 DISCURSO CIENTÍFICO POLÍTICO-EMPRESARIAL NO BRASIL: ESTUDO DE UM CASO – SÃO PAULO DIVERSO Maria Glushkova ([email protected]) Orientadora: Sheila Vieira de Camargo Grillo Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa Pós-Doutorado Neste artigo desenvolve-se a ideia que a expansão do discurso científico é um aspecto de divulgação científica, sobre o que já foi publicado um outro artigo em anais do congresso EPED 2015. A pesquisa apoia-se nas ideias bakhtinianas sobre o diálogo - uma relação axiológicosemântica entre a esfera científica e outras esferas da atividade humana. O discurso científico na vida moderna é representado não somente como o discurso científico puro ou tradicional que podemos observar nas universidades com a participação dos cientistas, discutindo os temas científicos, mas também em diálogo com outras esferas da vida: a vida cotidiana, televisão, rádio, esfera dos estudos, política, negócios etc. As relações entre a esfera científica e a esfera política, observando as questões econômicas da realidade, formam um discurso especial e relativamente jovem - o discurso científico político-empresarial. Um exemplo desse tipo de discurso no Brasil analisado neste artigo é o Fórum de Desenvolvimento Econômico Inclusivo - São Paulo Diverso (novembro 2015). O evento tem uma tarefa de promover diálogo entre os três setores: o produtivo, o acadêmico e o público, a esfera acadêmica neste tipo de discurso é influente. São observados os temas e questões abordados durante o evento, a forma de organização de debates, os participantes e palestrantes do fórum. Neste artigo, o material das gravações (aproximadamente 2 horas de vídeo, em português) foi transcrito e analisado do ponto de vista de expansão do discurso científico e sua influência fora dos instituções científicos no nível da estilística e composição de discurso. A influência da esfera acadêmica no discurso científico políticoempresarial é demonstrada. Palavras-chave: estudos discursivos; análise discursiva; discurso científico, divulgação científica. 58 VOCABULÁRIO DO SAMBA DE BUMBO: RESULTADOS Mario Santin Frugiuele ([email protected]) Orientador: Manoel Mourivaldo Santiago Almeida Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa Egresso Este trabalho tem como objetivo geral estudar o vocabulário de uma modalidade de samba conhecida como samba de bumbo, ou, seguindo clássico ensaio de Mário de Andrade (1937), samba rural paulista. O corpus objeto de trabalho é fundamentalmente constituído por dois tipos de entrevistas (livres e controladas), produções lítero-musicais e bibliografia encontrada sobre o tema. Com base nesse corpus, definimos o vocabulário para a elaboração do questionário, aplicado com praticantes e não praticantes do samba, e para o desenvolvimento do estudo semântico-lexical. Esse estudo subdivide-se em duas análises: (i) análise diacrônica das unidades lexicais coletadas junto aos praticantes do samba, comparando suas acepções, dentro do universo da manifestação, às encontradas em dicionários dos séculos XX e XXI; e (ii) análise discursiva pontual de alguns vocábulos/textos. O objetivo específico deste estudo é, portanto, registrar as unidades lexicais de uso popular da referida expressão cultural, suscitando uma discussão sobre a tendência à manutenção e tendência ao desuso em curso dos elementos que compõem seu vocabulário, de modo a averiguar se a população das localidades onde o samba de bumbo continua sendo praticado já não mais reconhece e utiliza, frequentemente, os vocábulos relacionados à manifestação. Para realizar esta tarefa, apoiamo-nos na sociolinguística, na dialetologia, na lexicologia e na análise do discurso de linha francesa (AD). Os resultados alcançados demonstram que o samba de bumbo passa por um processo de apagamento refletido no léxico das localidades investigadas, principalmente em meio aos não praticantes, mas também indicam o recente movimento de restruturação dos grupos, que resistem e se articulam em busca de fortalecer a manifestação. De outra parte, ao evidenciarem os processos opacos que contribuíram para o enfraquecimento do samba, tais resultados ainda permitem demarcar o local de enfrentamento das práticas de resistência hoje promovidas pelos grupos tradicionais e não tradicionais de samba de bumbo. Palavras-chave: Léxico; Samba de bumbo; Análise do Discurso; Sociogeolinguística. 59 ALGUNS VALORES SOCIAIS EM CRÔNICAS DE MACHADO DE ASSIS: UMA ANÁLISE BAKHTINIANA Mayra Pinto ([email protected]) Orientadora: Maria Inês Batista Campos Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa Pós-Doutorado Esta comunicação fará a análise axiológica de uma crônica de Machado de Assis. O trabalho é parte do projeto de pós-doutorado Uma abordagem teórico-metodológica bakhtiniana do acervo literário do programa nacional biblioteca da escola (pnbe)/2013 para o ensino médio, que procura demonstrar a pertinência de alguns conceitos do Círculo de Bakhtin para o ensino de literatura. No trabalho com literatura em sala de aula, se quisermos enfrentar os males da sua escolarização inadequada (SOARES, 2011), é importante compreender conceitos como dialogismo, que contribui para abordar as diferentes camadas estilísticas e axiológicas próprias dos discursos artísticos em geral, não só do literário. Sob a perspectiva de uma análise axiológica, cerne da teoria bakhtiniana do discurso, entende-se que a comunicação verbal se dá por uma enunciação que compreende duas partes: a parte percebida ou realizada em palavras e a parte subentendida – o horizonte espacial e semântico compartilhado pelos falantes, que engloba as avaliações sociais básicas dos distintos grupos sociais. (VOLOSHINOV, 2013). Esse conceito pode contribuir para entender como as relações valorativas constituem a linguagem e arquitetam discursos pertencentes às mais diferentes vozes sociais. Com base nele, o professor pode perceber a questão da ideologia no texto literário sob o ponto de vista bakhtiniano – tudo o que envolve a visão de mundo e sua escala de valor. Com um bom domínio sobre a questão ideológica, como parte intrínseca de qualquer discurso, o professor poderá contribuir para criar um olhar crítico de seu aluno, o que, em tempos de uma cultura de massa avassaladora e tão presente no cotidiano das classes populares, é fundamental. Palavras-chave: Discurso literário; Análise axiológica; Vozes sociais. 60 ESCOLAS COMO FÁBRICAS: ANÁLISE DE REPRESENTAÇÕES SOBRE EDUCAÇÃO Milan Puh ([email protected]) Programa de Pós-graduação: Educação Orientador: Valdir Heitor Barzotto Doutorado Adriana Santos Batista ([email protected]) Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa Orientador: Valdir Heitor Barzotto Egresso Este texto propõe a análise de uma propaganda veiculada em 2014 pela Prefeitura do Rio de Janeiro em que se associam elementos ligados a escolas e a fábricas, tendo como foco a multimodalidade da materialidade visual-escrita apresentada na publicação para discutir as metáforas utilizadas na representação da escola pública brasileira. Tomam-se como base teórica as concepções sobre multimodalidade advindas de Kress e van Leeuwen (1996; 2001; 2006), especificamente, os acontecimentos do mundo extralinguístico, além das relações sociais entre os indivíduos envolvidos numa interação definida por diversos discursos, o que nos leva ao conceito de interdiscursividade em Fairclough (2003), que a entende como uma questão de constituição de um discurso por meio de uma combinação de elementos de ordens do discurso. Através da análise multimodal da vertente sociossemiótica (KRESS, 2009, VAN LEEUWEN, 2005), foi possível estudar o modo de interação entre aqueles que produzem e aqueles que observam as imagens, procurando entender de que forma determinado conteúdo foi representado. Partindo das reações causadas pelo material (evidenciadas em blogs, notícias, comentários etc.), este trabalho tem como objetivo a analisar os significados gerados pela relação entre os atores sociais envolvidos e entre as modalidades acionadas, conteúdo escrito e imagético. Assim, definimos dois objetivos específicos que são: discutir os meios pelos quais significados não previstos durante a elaboração da propaganda são construídos, bem como de que modo se constroem as metáforas sobre a educação. Concluímos que as imagens dos alunos e da escola, materializadas na propaganda, não repercutiram positivamente em favor da prefeitura, pois a cena representada encontra-se muito mais próxima da concepção de fábricas do que da de escola, além de remeter em grande parte a outras imagens fortemente presentes no imaginário daqueles que leram e pensaram a respeito do tema, como, por exemplo, a referência ao vídeo da banda Pink Floyd. Palavras-chave: Multimodalidade. Análise do Discurso. Publicidade. 61 A COMPOSIÇÃO DO DISCURSO ECOMIÁSTICO NO CENÁRIO CORTESÃO PORTUGUÊS DO SÉCULO XVII Monica Messias Silva ([email protected]) Orientador: Luiz Armando Bagolin Programa de Pós-Graduação: Multidisciplinar em Culturas e Identidades Brasileiras Mestrado O trabalho de edição semidiplomática e análises dos elementos retóricos do livro manuscrito Antiguidade da Arte da Pintura pretende expor como seu ator Felix da Costa retomou procedimentos da retórica antiga a fim de compor um discurso encomiástico que enaltecesse a pintura no cenário cortesão português do século XVII. À vista disso, iniciamos nossa análise pelo título que dá nome ao tratado composto por Felix da Costa, título esse que retoma o primeiro tratado escrito em português sobre pintura, o Da Pintura Antiga, de Francisco de Holanda, escrito um século antes. A semelhança entre os nomes de ambos os tratados denota um procedimento de imitação em que Felix da Costa se utiliza de uma tópica já empregada outrora por Holanda. Por conseguinte, o uso dos termos antiga e antiguidade faz uma analogia ao passado da pintura, que é de onde vêm os tópoi que servirão como argumentos para demonstrar a virtude da pintura, muitos desses tópoi oriundos de Plínio, o Velho, de sua obra enciclopédica História Natural. É, pois, da antiguidade greco-romana que serão obtidos exemplos para tecer elogios à pintura, exemplos esses que justificarão, igualmente, a nobreza dessa arte, procurando elevá-la ao patamar das artes liberais. Por isso, nossa leitura do Antiguidade da Arte da Pintura é feita à luz da retórica antiga, respaldando-se em autoridades como Plínio, o Velho, Aristóteles e Cícero. Felix da Costa segue, desse modo, os mesmos procedimentos discursivos de outros tratadistas à sua época, imitando-os ou até mesmo copiando-os. Propomos, destarte, uma análise inicial do Antiguidade da Arte da Pintura em que Felix da Costa, por meio do elemento retórico da similitude compara personas contemporâneas de si a autoridades do passado a fim de justificar a nobreza da pintura e reivindicar patrocínio para as artes em Portugal. Palavras-chave: Retórica antiga; Discurso encomiástico; Artes; Felix da Costa; Filologia. 62 IMAGEM E PODER: (DES)CONSTRUÇÃO DE FIGURAS IDENTITÁRIAS NA TELEVISÃO LEGISLATIVA Nathalia Akemi Sato Mitsunari ([email protected]) Orientadora: Marli Quadros Leite Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa Iniciação Científica Enquanto cena de teatro, a TV Senado tem seus atores principais, coadjuvantes e figurantes, senadores titulares e suplentes de partidos maiores e menores que representam, para aqueles que estão fora de cena, os eleitores. O trabalho a ser apresentado tem por finalidade estudar as propriedades de discursos parlamentares envolvidas na (des)cortesia. Centrar-nos-emos na análise de como a descortesia atua na (des)construção da imagem dos interactantes e como a participação de um indivíduo, nesse gênero do discurso, relaciona-se com a ação política (CHARAUDEAU, 2013), domínio da prática social em que se enfrentam forças simbólicas para a conquista e a gestão do poder, jogo de legitimidade, credibilidade e cooptação. Para a presente ocasião, selecionamos uma gravação, dentre as cinco de nosso corpus de pesquisa: do dia 22 de abril de 2014, nela, Aécio Neves (PSDB - MG) e Lindbergh Farias (PT - RJ) trocam acusações durante a votação do requerimento que permitiu a aprovação do projeto de Marco Civil da Internet. O tratamento que lhe foi dado fundamentou-se em estudos organizados por Preti (1993 e 2008). À luz de Preti e Leite (2013), Blas Arroyo (2001) e Charaudeau (2013), visaremos a identificar e interpretar algumas ocorrências de descortesia, para demonstrar que a agressividade verbal nos debates políticos não pode ser entendida, simplesmente, como um desinteresse dos interlocutores na negociação que caracteriza o diálogo. Verificamos que, antes, representam a preocupação em se construir uma imagem positiva de si para o público, tanto quanto a cortesia verbal, em função das relações de poder existentes entre os interlocutores, no domínio da prática social. Palavras-chave: Análise da Conversação; TV Senado; Imagem e poder. 63 AS METÁFORAS ATREVIDAS DA TROVA HUMORÍSTICA Pedro da Silva de Melo ([email protected]) Orientadora: Elis de Almeida Cardoso Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa Doutorado Desde a Antiguidade a Metáfora tem sido objeto privilegiado de estudos linguísticos e literários. Analisada por diversos prismas, mais do que um “adorno” ou um “ornamento” verbal, é compreendida como um procedimento discursivo de constituição de sentido (Fiorin, 2011). Teorias recentes como a Metáfora Conceptual e a Metáfora Sistemática (Sardinha, 2007) propiciam uma visão mais abrangente papel da metáfora no texto e no discurso além do estatuto de “figura” ou “tropo”. Indissociável da própria cognição, a metáfora faz parte do ato enunciativo e se torna particularmente expressiva no humor. Ao mesmo tempo em que o humor é um discurso (falamos adequadamente em discurso humorístico), seu alcance é transversal a outros discursos, de forma que está presente, por exemplo, no discurso literário, jornalístico, publicitário e, em maior ou menor grau, em outros campos da atividade humana. Este trabalho, parte de uma tese de doutorado em andamento, tem por objetivo analisar o papel da metáfora e seus efeitos de sentido humorístico, em particular no seu uso com semas de sexualidade. Tema predominante do humor, a sexualidade não raro é tematizada por meio de criações neológicas formais e de metáforas concretas que ressignificam unidades lexicais originalmente desprovidas de sema sexual. Como corpus escolhemos um conjunto de trovas (também chamadas de quadras ou quadrinhas), um gênero poético de raízes populares muito antigo no Português. Nessas trovas, recolhidas de livros e de sites, podemos observar a veiculação de um discurso que visa ao riso, procederemos a um recorte, em que analisaremos as escolhas lexicais constituídas de metáforas, de forma que o efeito de sentido humorístico é alcançado pelo tema e pelas unidades empregadas. Nosso referencial teórico abarca estudos da Metáfora, da Lexicologia e da Estilística. Preliminarmente, a análise do corpus nos aponta que a metáfora é tão produtiva quanto a criação de neologismos formais. Palavras-chave: Metáfora; Humor; Expressividade; Escolha lexical 64 GÊNERO MEME: O DISCURSO POLITICAMENTE (IN)CORRETO EM SUAS CADEIAS RESPONSIVAS Sergio Mikio Kobayashi ([email protected]) Orientador: Paulo Roberto Gonçalves Segundo Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa Mestrado Um gênero discursivo que emerge da dinâmica de comunicação da Internet e das Redes Sociais é o gênero meme, que consiste na imitação de um acontecimento da vida sob outra perspectiva, por meio de uma imagem ou imagem com texto escrito, produzido por qualquer internauta e que guarda traços de longevidade, fidelidade e fecundidade. (Souza Júnior, 2013). O objetivo principal deste trabalho, resultante de uma pesquisa de Mestrado em andamento, é traçar as características ideológicas que sustentam cadeias discursivas formadas na internet, tomando como centro o gênero Meme e os textos que, por um lado, emergem de sua instanciação e, por outro, lhe servem de mote, de modo a compreender suas relações com o discurso “Politicamente Correto” e “Politicamente Incorreto” da linguagem. Para dar conta deste objetivo, este trabalho ancora-se na Análise Crítica do Discurso, sobretudo no trabalho de Fairclough (2003), tomando como abordagens complementares as proposições de Shifman (2013) sobre a constituição de Memes na Cultura Digital e os postulados de Recuero (2006) acerca das redes digitais. Além disso, realiza um debate com as reflexões de Possenti (1995) no que tange ao uso Politicamente Correto da Língua para discuti-las à luz dos estudos crítico-discursivos, considerando as práticas discursivas realizadas em meio virtual. Por se tratar de uma pesquisa recém-iniciada, trataremos da definição e problemática do gênero Meme, bem como suas cadeias responsivas, propondo uma análise discursiva experimental, levando em conta os aspectos do gênero e das discussões sobre o discurso Politicamente Correto e Politicamente Incorreto da linguagem. Palavras-chave: Análise Crítica do Discurso, Cadeias Responsivas, Internet, Meme, Politicamente Correto 65 A OBRA INFANTIL LOBATEANA SOB O OLHAR DA ANÁLISE DO DISCURSO Simone Strelciunas Goh ([email protected]) Orientador: Hudnilson Urbano Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa Doutorado Tratar a literatura infantil como gênero discursivo é um desafio, pois cada gênero presume um contrato específico definido por seu ritual, a literatura infantil volta-se para esse público, desenvolvendo-se a partir de situações sociais ou até mesmo reapresentando e criando novas realidades (BAKHTIN, 2003). A partir de um dos referenciais teóricos da Análise do Discurso (MAINGUENEAU, 1997), analisaremos na obra lobateana, especificamente, Histórias de Tia Nastácia (LOBATO, 1962) e Reinações de Narizinho (LOBATO, 1998), qual efeito que a enunciação produz em seu destinatário a partir da ideia de ethos, representação do enunciado apresentado pelo seu dizer, somando a essa a ideia de corporalidade, quais as vozes presentes, uma vez que seus narradores se materializam diferentemente em cada obra e suas intenções também são díspares. O que nos leva à hipótese de que ao criar uma narradora-personagem: Tia Nastácia, Lobato não levou em consideração as respectivas variedades diastráticas da personagem, importou-se sim em legitimá-la por meio de um discurso culto, semelhante a seus outros narradores-personagens. Fato é que o discurso mostra diferenças entre a superfície e seu interior, assim, ao assumirmos a presença das múltiplas vozes do enunciado, trataremos da polifonia a fim de observarmos os “eus” construídos por Lobato. Tal aspecto remete à preocupação do escritor taubateano para com a construção de um texto complexo e rico, não preterindo seus leitores. Para Lobato (ABRAMOVICH, 1983), o sucesso da linguagem reside na liberdade, na ausência de coleiras, de maneira que as estratégias discursivas criadas pelo escritor diferem seus textos infantis do excesso de puerilidade empregado por outros escritores. Se no plano da linguagem a literatura infantil possibilita um enriquecimento progressivo dos meios de expressão na língua escrita, Lobato oferece um texto plural aos leitores infantis. Palavras-chave: Análise do discurso; Monteiro Lobato; ethos; polifonia 66 A MULTIMODALIDADE INTERTEXTUAL NO FILME AS HORAS, DE STEPHEN DALDRY Taís de Oliveira ([email protected]) Orientadora: Elizabeth Harkot-de-La-Taille Programa de Pós-Graduação: Estudos Linguísticos e Literários em Inglês Egresso O filme As Horas (The Hours, 2002), dirigido por Stephen Daldry, é constituído por diversos intertextos, colocando em questão as formulações do próprio conceito de intertextualidade. Ele interpela seu espectador e o faz se questionar sobre o imbricamento das três histórias mostradas no filme. Elas acontecem em três momentos e locais distintos (a primeira é a história de Virginia Woolf, personagem baseada na biografia da famosa escritora, que se passa na cidade de Richmond, na Inglaterra, no ano de 1923; a segunda é a história de Laura Brown, que acontece em Los Angeles, EUA, em 1951; e a terceira, é a de Clarissa Vaughan, em Nova Iorque, EUA, no ano de 2001) e estão ligadas, entre outras coisas, pela relação das três personagens centrais com o romance Mrs. Dalloway (WOOLF, 1925). A partir dos postulados da Teoria Semiótica do Discurso (GREIMAS; COURTÉS, 1979) e de seus desenvolvimentos atuais relativos à análise de textos visuais (DONDERO, 2014; BRACCHI, 2009), procuramos identificar os intertextos presentes em As Horas, que se manifestam tanto na linguagem verbal quanto na linguagem visual, isto é, em seu caráter multimodal, e descrever como eles colaboram para os sentidos que se depreendem do texto analisado. Para tanto, baseamos nosso trabalho na tipologia de intertextos em textos verbais estabelecida por Fiorin (1994) e naquela de Dondero (2009) para textos visuais, buscando adequar os conceitos até então desenvolvidos no seio da Teoria Semiótica para textos verbais ou visuais separadamente para a análise intertextual de um texto multimodal, trabalho este que ainda não havia sido realizado. Encontramos, nesta empreitada, diversos tipos de intertextos presentes no filme. Destacam-se as relações com a obra e a vida de Virginia Woolf e com o gênero pictural Natureza Morta. Palavras-chave: multimodalidade; intertextualidade; As Horas; The Hours; Natureza Morta 67 A ESCRITA ENGAJADA NO JORNALISMO LUSÓFONO: UMA ANÁLISE DE PERFIS DISCURSIVOS DE ESCRITORES AFRICANOS NO PERÍODO COLONIAL (SÉCULOS XIX E XX) Tércio de Abreu Paparoto ([email protected]) Orientadora: Maria Lucia da Cunha Victório de Oliveira Andrade Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa Pós-Doutorado O presente tema para pesquisa intenta, como objetivo central, propor um estudo que visa à investigação, à descrição e à análise de determinadas estruturas linguísticas presentes em artigos, editoriais, informes e panfletos publicados em jornais africanos lusófonos – especificamente os de Angola e os de Moçambique-, durante o correr dos séculos XIX e XX, textos estes de autoria de escritores, poetas e intelectuais da África sob o período de colonização. A partir dessas fontes, este trabalho busca uma observação minuciosa das referidas estruturas (como as estruturas narrativas e discursivas, as formulações/organizações discursivas, as enunciações e relações intertextuais etc.), baseando-as em estudos insertos no contexto da Análise Crítica do Discurso (ACD – apoiando-se nos postulados teóricos de Teun Van Dijk, Wodak entre outros) e nas inter-relações próprias da diacronia, possibilitando estabelecer paralelos entre perfis reconhecidamente ideológicos, bem como o de propiciar a apresentação de modelos de análise de Retórica que certifiquem o caráter do que se entende por discurso “engajado”. Periódicos como O Progresso, O Africano, O Brado Africano e O Itinerário, de Moçambique; de Angola, A Aurora, A Civilização da África Portuguesa, Jornal de Luanda, O Futuro de Angola ou O Pharol do Povo, Echo de Angola, A Província de Angola, Jornal de Angola, Voz d’Angola, entre outros, são as fontes de onde parte o exame científico aqui desejado. Dessa forma, poder-se-á edificar um material que vise a contribuir com a diminuição de possíveis lacunas existentes na direção pretendida por esta pesquisa que tem como fulcro a conjugação do pensamento literáriojornalístico sob a África colonizada de língua portuguesa com os estudos linguísticos que pensam a complexa natureza dos fenômenos discursivos. Palavras-chave: Linguística; Análise do Discurso; Jornalismo; Angola 68 AS VOZES VERBAIS NOS LIVROS ESCOLARES: UMA ANÁLISE CONTRASTIVA ENTRE AS PESQUISAS DE ENSINO SUPERIOR E A REALIDADE DO ENSINO BÁSICO Thabata Dias Haynal ([email protected]) Orientador: Paulo Roberto Gonçalves Segundo Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa Iniciação Científica As vozes verbais são fenômenos sintático-semânticos, embasados cognitivamente, e são responsáveis pela construção de esquemas de causalidade externa e interna na estruturação de eventos. Elas têm importantes impactos na construção discursiva, o que inclui a questão tópica e ideológica. Ao comparar as visões de Lemmens (1995, 1998, 1999) e Taylor & Yoshimura (2006) com relação à gramática inglesa, Arús, Lavid & Zamorano-Mansilla (2010) e García (2013) e suas perspectivas sobre o espanhol, em conjunto com as análises de Hawad (2004), Cunha (2012), Camacho (2003) e Almeida (2003) das vozes na língua portuguesa, foram analisados materiais didáticos do Ensino Básico disponíveis no mercado. A contraposição da produção no Ensino Superior e livros de português escolares tornou perceptível uma significativa diferença de foco em relação às vozes verbais. Este conteúdo auxilia no refinamento da produção e da interpretação de textos, uma vez que está envolvido na construção de relações de causa e da responsabilização pelas ações; contudo, ocupam cada vez menos espaço nos livros, com exercícios de fixação mecânicos e classificatórios que não possibilitam depreender sua relevância discursiva. Isso ocorre, pois o fenômeno é considerado, pela Gramática Tradicional, de um ponto de vista meramente morfossintático, centrado no verbo. Em busca de uma transposição didática eficiente que possa diminuir o abismo histórico entre as pesquisas acadêmicas e o Ensino Básico, o panorama fornecido pelos materiais escolares permite uma análise contrastiva que busca a reflexão do que precisa ser mudado. Esta reflexão faz parte de um projeto de iniciação científica que tem como objetivo final a produção de um material didático que aborde as vozes verbais visando às competências acima assinaladas. Neste encontro, serão apresentados os dados iniciais da pesquisa coletados em livros didáticos e analisados de acordo com a união das correntes linguísticas cognitiva e funcional. Palavras-chave: vozes verbais, ensino, material didático, Linguística cognitivo-funcional 69 A MANIPULAÇÃO DAS PALAVRAS COMO ARMA NAS TENSÕES DO HARÉM DE MONTESQUIEU Thaïs Chauvel ([email protected]) Verónica Galíndez Jorge Programa de Pós-graduação: Estudos linguísticos, literários e tradutológicos em francês Mestrado A comunicação pretende abordar a intriga do serralho desenvolvida pelo filósofo francês Montesquieu em seu romance epistolar intitulado as Cartas persas. Esta obra elabora-se através das palavras entrecortadas dos diversos epistolários integrantes do harém: as mulheres, os eunucos e o mestre, que se comunicam por intermédio de cartas. Sendo assim, a proposta visa analisar as diferentes perspectivas enunciadas por essas três categorias de personagens, observando os procedimentos linguísticos e o léxico empregados por cada membro do serralho. O intuito é compreender em que medida a palavra torna-se uma arma de manipulação, e de que maneira o embate no discurso evidencia as tensões e os jogos de poder que operam no seio do harém de Montesquieu, que constitui um verdadeiro “laboratório ficcional”, na expressão de Jean Starobinski, criado pelo filósofo iluminista com o fim de criticar o despotismo. A fim de verificar se esta hipótese se sustenta, a comunicação pretende ainda convocar o conceito de heterotopologia desenvolvido por Michel Foucault em seu artigo “Des espaces autres” (1984), que concebe o discurso e a razão (logos) de um espaço (topos) outro (hetero) como meio de contestação dos espaços familiares. Sendo assim, o espaço do serralho que Montesquieu representa a partir das tensionadas vozes do harém, constituiria um contra-espaço – ficcional – ao ocidente, onde a infertilidade do sistema despótico e as violentas consequências da tirania se manifestam. Dentro dessa perspectiva, a intriga do serralho desenvolvida ao longo do romance não é mais compreendida como um mero elemento de exotismo oriental, mas como o ambiente do despotismo doméstico, o que permite estabelecer um vínculo entre a intriga do harém e as reflexões político-filosóficas tecidas ao longo da obra. Palavras-chave: Discurso; polifonia; despotismo; iluminismo 70 CIÊNCIA, ARTE E VIDA SOB A ÉGIDE DA RESPONSABILIDADE: UMA ANÁLISE DESSES CAMPOS DA CULTURA HUMANA NO DISCURSO DE DIVULGAÇAO CIENTÍFICA NO BRASIL OITOCENTISTA Urbano Cavalcante Filho ([email protected]) Orientadora: Sheila Vieira de Camargo Grillo Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa Doutorado Em 1919, Mikhail Bakhtin publicou um brevíssimo, mas denso artigo de duas páginas chamado Arte e responsabilidade (publicado em 13 de setembro no almanaque diário O dia da arte, de Nevel) e nesse “miniensaio”, como chamou Boris Schnaiderman, o jovem teórico lança na arena de sua reflexão dois aspectos importantes de sua teoria. O primeiro diz respeito à oposição entre uma ligação mecânica e uma articulação arquitetônica entre os elementos que compõem um todo. O segundo refere-se à noção de totalidade, ao integrar ciência, arte e vida sob a égide da responsabilidade. Sobre esse segundo aspecto central do miniensaio é que dispensarei minha atenção nessa comunicação, com o objetivo central de discutir a importância dessa proposta bakhtiniana ao pensar a relação intrínseca entre o geral e o particular, entre elementos constituintes e totalidade, ou seja, a relação entre a arte e a vida na existência humana, tomando o eu como integrante e dotado de responsabilidade (responsabilidade por e responsividade a), como aquilo que garante a unidade interior dos elementos constituintes do homem, tanto numa perspectiva ética quando estética. Em seguida, o objetivo é, a partir dessa reflexão teórica, observar como esses três “campos da cultura humana” (a ciência, a arte e a vida) são refletidos e refratados no projeto discursivo de uma das atividades de divulgação científica mais importantes do Brasil no século XIX, as Conferências Populares da Glória, mobilizando, nessa discussão, conceitos centrais da teoria bakhtiniana, como esferas ideológicas, dialogismo, responsabilidade, respondibilidade, gêneros do discurso. Palavras-chave: teoria bakhtiniana; responsabilidade; respondibilidade; divulgação científica. 71 PROXIMIZAÇÃO E DISCURSO DE EXCLUSÃO EM CASOS DE FAMÍLIA Winola Weiss Pires Cunha ([email protected]) Orientador: Paulo Roberto Gonçalves Segundo Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa Iniciação Científica A teoria da proximização (CAP, 2013; HART, 2014) parte da abordagem cognitivista dos estudos da linguagem e da tradição crítica dos estudos de discurso para analisar o fenômeno linguísticocognitivo que constitui a estratégia retórico-pragmática voltada à legitimação de intervenções sociais calcada na distância conceptual – afastamento x proximidade de eventos e de entidades. Essa tentativa de legitimação apresenta um ator, situação ou evento, supostamente hostil ao Self, que adentra, através das dimensões espaciais, temporais e axiológicas, o ground do conceptualizador, gerando, portanto, consequências pessoais. É concebida primariamente como uma característica do discurso intervencionista e discursos de exclusão, como a “cura gay”. Essa proposta apresenta três eixos de análise: socioespacial, temporal e avaliativo. O presente trabalho se valerá do último. O eixo avaliativo apresenta uma conceptualização dêitica de “certo” x “errado” em seus dois sentidos (epistêmico e axiológico), tendo cada um deles referências antonímicas, com várias posições intermediárias. O axiológico diz respeito à avaliação moral. Já o epistêmico se refere ao fechamento ou abertura do espaço dialógico e às modalidades realis x irrealis. Os resultados apresentados são fruto de uma pesquisa de Iniciação Científica já concluída, que se propôs a analisar um corpus composto por episódios do programa de televisão aberta Casos de Família, transmitido pelo SBT. Para essa ocasião serão abordadas as instâncias de proximização avaliativa nos episódios “Mesmo vendendo o meu corpo, eu faço parte dessa família” e “Ninguém merece uma família tão preconceituosa”. O programa, que apresenta temáticas “marginalizadas”, como a homofobia e a prostituição, pautadas por pessoas comuns (VOLPE, 2013) numa esfera pública alternativa (SILVA, 2013), configura- se num espaço privilegiado para análises discursivas. Palavras-chave: Proximização, Análise Crítica do Discurso, Linguística Cognitiva, Linguística Sistêmico-Funcional. 72
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