Revista O Brasil Feito à Mão- no. 09
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Revista O Brasil Feito à Mão- no. 09
Editorial / Editorial 2 Artigo / Article 3 O mapa da arte / The map of art 5 Artesanato: matéria prima / Handicraft: raw material 17 Projetos / Projects 22 Mercado externo / Foreign market 23 Entrevista / Interview 27 Eu faço / I make 32 Feiras e eventos / Fairs and events 38 Onde encontrar / Where to find 40 Edição e projeto editorial / Ediction and editorial project Instituto Centro Cape e Central Mãos de Minas Editor / Editor Daniel Barcelos Colaboradores / Colaborators Gustavo Abreu Reis Jader Rezende Janaína de Oliveira Thiago Bernardo Jamile Hallack Priscila Avelar CENTRO CAPE MINAS GERAIS Rua Grão Mogol, 662 - Sion Fotografia / Photography João Marcos Rosa Marcus Desimoni Div ulgação ICCAPE Divulgação Diomar Dantas / Raimundo Lima Revisão / Revision João José Pinheiro Pinto CEP 30310-010 - Belo Horizonte - MG Tel. 55 31 3282 8313 Fax 55 31 3282 8301 CENTRO CAPE DISTRITO FEDERAL SCN, Quadra 5, Bloco A, sala 212 Ed. Brasília Shopping CEP 70710-500 - Brasília - DF Tradução de textos / Translation Luiz Aug usto Ferreira Araújo / Supernova SCI Diagramação e arte / Diagramming and graphic arts Rubem Filho Gráfica / Printing company Difusora Editora Gráfica Tiragem / Drawing 5.000 exemplares Distribuição gratuita / Costless Distribution Fotos da capa: João Marcos Rosa Tel. 55 61 328 0621 Fax 55 61 328 5802 www.centrocape.com.br [email protected] 55 31 3281 6820 Editorial Uma vez perguntei a um artesão, que fazia enta- I once asked and artisan, a wood carver, about how lhes em madeira, como é que ele conseguia a sua matéria prima. Ele então respondeu: “Só uso árvores mortas, que estão caídas no chão...Tem um fazendeiro que me deixa entrar nos seus campos e pegar estas árvores”. “Ahhh... que bom!”, respondi aliviada. Passado um tempo, conversando com outro artesão, ele me afirmou que aquele primeiro só usava árvore morta, sim, mas que, quando ia buscar uma que estava caída, dava um jeito de “matar” uma árvore que estava sã.Assim, daí a seis meses, quando precisasse novamente de madeira, aquela arvore já estaria no chão. E recomeçava o ciclo... Fiquei muito assustada com a história, pois multipliquei o volume de madeira que aquele artesão usava por outras centenas de artesãos que precisam da madeira e poderiam utilizar o mesmo expediente. Cheguei a números enormes. Começamos, então, a fazer uma campanha para que os artesãos usassem somente madeira certificada ou de reflorestamento. Não conseguimos, ainda, convencer 100% deles. Mas, acredito que já conscientizamos uns 30% a 40%, que já sabem da importância do uso de madeira legalizada. Agora, contamos com a ajuda da SOS Mata Atlântica, do IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e da Prefeitura de Belo Horizonte, que irão ceder madeiras apreendidas e de poda de árvores urbanas para que possamos atingir o dobro de artesãos. Estes passarão a fixar o carbono – que estas árvores aprisionaram durante o seu crescimento – em lindíssimas peças artesanais, evitando que sua queima, como lenha para pizzarias e restaurantes, libere o CO2 na atmosfera e contribua com o aumento do aquecimento global. O reaproveitamento de madeira da construção civil ou demolição de casas também tem sido uma grande fonte do artesão, que a transforma em mesas, armários, cadeiras e bancos. É o artesanato consciente de seu papel enquanto defensor de nosso meio ambiente. he managed to obtain his raw material. He answered:“I only use dead trees, after they’ve fallen to the ground… There’s a farmer who lets me go into his property and gather them.” “Ohhh… good!”, I replied in relief. After a while, while talking to another artisan, he asserted it was a fact that said artisan did only use dead trees, but whenever he set out to gather a dead, fallen tree, he managed to “kill” another healthy tree. So, after about six months, when he needed lumber again, that tree would already have fallen to the ground. And this cycle would continue… I was very frightened by this story, because I couldn’t help to multiply the amount of wood used by that artisan by hundreds of other artisans who also needed lumber and could do the same. The results were staggering. We then started a campaign encouraging artisans to only use certified or reforestation lumber.We still haven’t managed to convince them all. But I believe we’ve raised awareness for about 30% to 40%, who now know about the importance of using legalized lumber. Now we’re also being supported by SOS Mata Atlântica (Brazilian environmental NGO), IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, Brazilian Institute of Environment and Renewable Natural Resources) and the Belo Horizonte City Hall, which will donate apprehended lumber, trimmed and cut down urban trees in order to help us reach twice as many artisans. Thus, said trees’ accumulated carbon will be fixed on beautiful handicraft pieces, avoiding their use in burning processes, such as in restaurant ovens, and the release of CO2 into the atmosphere, which would contribute to global warming. Recycled lumber from construction or demolition sites has also been another important lumber source for artisans, who can transform them into tables, wardrobes, chairs and benches. This is how the handicraft community takes charge of its environmental protection role. TÂNIA MACHADO Presidente do Instituto Centro Cape / President of Instituto Centro Cape Instrumento de CIDADANIA An instrument for citizenship ROBERTO MESSIAS FRANCO Presidente do Ibama / President of Ibama No ano passado, o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) apreendeu 184.743 metros cúbicos de madeira ilegal serrada e em tora, o suficiente para encher 9.238 caminhões. A apreensão em áreas desmatadas, serrarias e estradas é um golpe no bolso do infrator, que perde a principal fonte de capitalização. Mas, não restitui o dano: milhares de árvores tombaram, a grande maioria na Amazônia. O cerco à destruição da floresta é prioridade no Ibama, tanto que a última taxa de desmatamento teve queda recorde em 20 anos de monitoramento e permaneceu em 7.008 km2. Ainda que inadmissível, o índice representou uma redução de 45% em relação ao período anterior. A mão da fiscalização é pesada. Mas, aliado ao processo de combate a ilícitos ambientais, o Ibama tem ajudado a trazer benefícios sociais à população, destinando a madeira apreendida a programas e projetos de órgãos públicos, prefeituras, governos e entidades de parceria. Órgãos públicos conseguem instalações melhores. Hospitais ganham camas novas. Cidades recebem paradas de ônibus e praças públicas, brinquedos. Há casos até de dependentes químicos em tratamento construírem lixeiras públicas. Tudo com a madeira apreendida e destinada de forma clara e transparente. O uso nobre do produto do crime pode se estender a mãos artesãs e servir de instrumento de cidadania. Sou entusiasta da idéia de parcela da madeira apreendida ser transformada em caixinhas, máscaras, brinquedos, utensílios domésticos, artesanato, biojóias e objetos de BRAZIL MADE BY HAND Last year, Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, Brazilian Institute of Environment and Renewable Natural Resources) apprehended 184,743 cubic meters of illegal lumber, combining both logs and sawn wood, enough to fill 9,238 trucks. Apprehensions in deforested areas, lumber mills and roads are a hard blow to the transgressors’ pockets, blocking their main capitalization source. However, the damage is done: thousands of trees have fallen, the majority in the Amazon Rainforest. Stopping the rainforest’s destruction is Ibama’s priority, being that the latest deforestation rate presented the record reduction in 20 years of monitoring, resulting in 7,008 km2. Although still inadmissible, this index represented a 45% reduction compared to the preceding period. Inspections have been conducted with an iron fist. Moreover, in addition to fighting environmental illegalities, Ibama has brought social benefits to the population by supplying apprehended lumber to social projects and programs in public organizations, municipalities, governments and partner entities. This enables public organizations to improve their facilities. Hospitals are supplied with new beds. Cities are equipped with bus stops, public squares and children parks. There are even examples of chemically dependant patients building public trash cans. All made possible through the clear and transparent handling of apprehended lumber. Thus, crime products may serve noble purposes in artigo / article 3 decoração. Fonte de renda e, ao mesmo tempo, um meio de expressão de cultura. E por que não usar essa matéria-prima para fabricação de móveis? Uma aplicação possível é agregar o reaproveitamento de madeira ao programa Minha Casa, Minha Vida, financiador da construção de um milhão de novas casas e apartamentos para população com renda familiar de até dez salários mínimos. Essas pessoas precisarão de móveis para mobiliar a nova moradia. A madeira apreendida também tem sido matériaprima em oficinas de presídios. O criminoso aprende um ofício, fabricando móveis, fazendo artesanato e, em contrapartida, ganha redução da pena. A cada dois dias na oficina, um dia a menos na cadeia. O trabalho eleva a auto-estima e profissionaliza o presidiário, preparando o caminho de volta ao convívio em sociedade. Brasil afora, árvore cortada ilegalmente tem sido aproveitada como matéria-prima de peças utilitárias e objetos de arte. the artisans’ hands, serving as instruments for citizenship. I’m an enthusiast towards the idea of transforming part of the apprehended lumber into boxes, masks, toys, house utensils, handicraft, bio jewelry and decoration objects. They represent income sources and are also a means of cultural expression. And why not use this raw material in furniture manufacturing? One possibility is to include lumber redistribution into the Programa Minha Casa, Minha Vida (My House, My Life Program - federal housing program), which is financing the construction of one million new houses and apartments for families with incomes below ten minimum wages. These families will need furniture for their new houses. Apprehended lumber has also served as raw material in penitentiary workshops. This enables offenders to learn a trade by manufacturing furniture and working with handicraft; in return, their sentences are reduced. Two days in the workshop result in one less day in prison. The work professionalizes the inmates and elevates their selfesteem, paving the way for their return to society. All throughout Brazil, illegally cut trees are being used as raw material for practical products and art objects. 4 artigo / article O Homem das Velhas The artisan of elderly women Escultor de Juazeiro do Norte extrapola os personagens e retrata situações do cotidiano das nordestinas A sculptor from Juazeiro do Norte, Ceará State, Brazil, who extrapolates characters and pictures day-to-day situations in the lives of nordestinas (women from northeastern Brazil) POR / BY Gustavo Abreu FOTOS / PHOTOS Divulgação Beatas, rendeiras, rezadeiras, mulheres Devout women, embroiders, worshipers, com menino nos braços, zangadas, alegres: “Eu procuro representar as velhas nordestinas de todas as maneiras”, conta o escultor Diomar Freitas Dantas, ou Diomar Das Velhas. “Esse apelido, (os clientes) me colocaram por causa das velhas que eu faço de madeira”. Ele é conhecido no Brasil, em alguns países da Europa e nos Estados Unidos pela habilidade de transformar uma arvorezinha difícil e esgalhada – a imburana – em grupos de senhoras nordestinas. E é neste ponto que mora a peculiaridade das esculturas desse artesão de 37 anos de idade e muito bom de prosa. Das Velhas nasceu em Acopiara e se mudou para Juazeiro do Norte, no sul do Ceará, região do Cariri. Quis o destino que ele fosse morar vizinho ao mestre Nino, um homem de poucas palavras que esculpia animais em madeira. “Seu Nino era uma pessoa tranquila e eu pedi pra ele me emprestar as ferramentas, que eu queria fazer esculturas também; mas ele falou que, se eu quisesse fazer, era pra comprar as ferramentas e a madeira. Na realidade, eu comecei fazendo pássaros. Ele dizia para fazer bichos, pois era o que o pessoal gostava: os americanos gostavam de elefante, macaco e passarinho”, começa Diomar. women with children on their arms, angry and happy women: “I try to represent elderly nordestinas in all situations”, says Diomar Freitas Dantas, or Diomar “Das Velhas” (“of Old Ladies”, in a free translation). “They (the customers) gave me this nickname because of the elderly women I carve out of wood.” He is known throughout Brazil, in a few European countries and in the United States for his ability to transform a difficult and lopped off tree, the imburana, into groups of elderly nordestinas. This ability is exactly what makes this 37 year old and very friendly artisan’s sculptures so peculiar. Das Velhas was born in Acopiara and moved to Juazeiro do Norte, southern Ceará State, in the Cariri region. Plain fate caused him to live next door to Mestre Nino, a man of few words who sculpted animals on wood. “Mr. Nino was a peaceful person, one day I asked him to lend me his tools because I also wanted to sculpt, but he said that if I wanted to sculpt I should buy the tools and the wood. I actually started off making birds. He told me to make animals, because that’s what people liked: the Americans liked elephants, monkeys and birds”, says Diomar. Do Cariri para o Mundo Antes de seguir é bom frisar: Juazeiro do Norte é muito conhecida pelo artesanato em madeira faz tempo, principalmente na BRASIL FEITO A MÃO From Cariri to the World Before moving on, it’s important to point out that: Juazeiro do Norte has been very popular for its handicraft for quite a while, mainly in Europe. In the 60’s, Mestre Noza’s exposition of the Via Sacra in xylograph omapa da arte / tthe map of art 5 Europa. Na década de 60, uma exposição da Via Sacra em matrizes de xilogravuras do mestre Noza fez muito sucesso em Paris e chamou atenção para o trabalho feito na região do Cariri cearense. No começo, Noza resolveu esculpir uma imagem de uma das figuras mais conhecidas do nordeste e mostrou o trabalho para o próprio homenageado: Padre Cícero, que achou graça da representação; e mestre Noza passou a atender milhares de encomendas. As obras mais famosas dele são a Via Sacra (uma coleção de 15 gravuras), os Doze Apóstolos (13 pranchas) e A Vida de Lampião (22 pranchas), que renderam fama internacional para o artesanato da região. O mestre sempre foi considerado o grande artista popular do Cariri e foi com o nome dele que batizaram a sede da Associação do Artesão de Padre Cícero: Centro de Cultura Popular Mestre Noza. matrixes was very successful in Paris and brought attention to handicraft works from the Cariri region. Early in his career, Noza decided to sculpt a statue depicting one of the most popular personalities in northeastern Brazil; he then showed his work to the man himself: Padre Cícero (an important and loved priest from northeastern Brazil) enjoyed his depiction and Mestre Noza started to get thousands of orders. His most famous pieces are the Via Sacra (a collection of 15 engravings), the Twelve Apostles (13 slabs) and The life of Lampião (22 slabs), which made the regional handicraft internationally famous. Mestre Noza was always considered a great popular artist in Cariri, and the headquarters of the Associação do Artesão de Padre Cícero (Padre Cícero Artisan Association) were named after him: Centro de Cultura Popular Mestre Noza (Mestre Noza Popular Culture Center). Estilo Das Velhas “Das Velhas” style E Diomar Freitas continua a própria história: “Aí, eu fui fazendo (os pássaros), muitos, mas fui procurar a minha área. Comecei a fazer várias mulherzinhas separadas e o pessoal foi gostando. De repente, pensei: vou fazer elas juntas; vamos ver se eles vão gostar...” Foi tiro certeiro: um ano depois de começar o aprendizado com mestre Nino, Diomar passou a apostar num tema diferente e encontrou o caminho do próprio trabalho. Ele diz que as velhas gostam de andar juntas e passou a esculpi-las em grupos: beatas em roda, rendeiras ou um grupo de reza. “Aí, os clientes foram gostando e começaram a me chamar de o Homem das Velhas”, assina. Seu Nino morreu no final da década de 90 e direcionou Diomar na lida com o serrote, machadinha, formão e goiva: “Ele não dava aula, não; resumia as palavras dele a poucas e respondia com calma”, explica o artista. Diomar Freitas follows up on his own life story: “Then I kept making them (birds), many of them, but I was looking for my own style. I started to make women, and people liked them. Suddenly, I thought: I’m making them together; let’s see if they’ll like it…” His idea hit the bullseye: a year after starting to learn from Mestre Nino, Diomar dedicated himself to a different theme and found his own path. He says that the elderly women like to be together, so he started sculpting them in groups: devout ones in a circle, embroiders or worshipping groups. “That’s when the customers really started to like them and started calling me Das Velhas”, says Diomar. Mestre Nino died in the end of the 90’s, after teaching Diomar how to handle the saw, the hatchet, the chisel and the gouge. “He never taught classes; he always summarized what he had to say into a few words, very calmly”, explains the artist. Cor, tratamento, humor Color, handling, humor A madeira do artesanato na região do Cariri é a imburana (Amburana cearensis), também chamada de amburana ou cerejeira. É típica da vegetação caatinga, de tronco fino, comprido e cheio de ramas; cresce até os 4 metros de altura, mas é difícil encontrar espécimes muito grandes. São os próprios fazendeiros do Cariri que fornecem a madeira para o artesanato em Juazeiro. The wood used in the Cariri regional handicraft is the imbuana (Amburana cearensis), also called amburana or cherry tree. It’s a typical tree in the caatinga vegetation, having a thin, long trunk and many branches; it can reach up to 4 meters in height, but finding large specimens isn’t common. The local farmers themselves supply wood for the artisans in Juazeiro. While preparing their fields, they 6 o mapa da arte / the map of art BRASIL FEITO A MÃO Durante o preparo da roça, eles catam os troncos já secos ou restos de raízes para vender na cidade. “Dá trabalho encontrar uma imburana reta de 2 metros; quando ela tem 70, 80 centímetros, já começa a encher de ramas. E ela só serve para o trabalho depois de morta: a imburana verde não funciona para esculpir. Outro tipo de madeira a gente não trabalha. Se for uma encomenda, trabalho grande, a gente usa o cedro, mas tem de ter certificado e autorização do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente), pois é uma madeira em extinção”, explica Diomar Das Velhas. A princípio, Diomar pintava as esculturas com tinta a óleo, mas o excesso de brilho fez o artesão mudar para a látex. “Eu gosto muito do colorido, mas quando é pra deixar na cor da madeira é só passar uma cera pra dar um pouco de brilho na peça. Não precisa tratamento, a imburana dura muito e dá pra trabalhar em qualquer lugar”, detalha. “Na realidade, eu sou meio maluco, faço escultura em todo canto; se eu estou no Centro de Cultura, estou trabalhando; venho pra casa, trago pra fazer; quando estou aborrecido de fazer em casa também, me sento embaixo de um péde-árvore na praça e começo a fazer também. Os colegas da cidade até brincam: lá vem o Das Velhas, doido, fazer bagunça aí...”, conta o escultor. De uns tempos pra cá, “quando a gente já está com a continha meio gorda, porque dá muito trabalho...”, o Das Velhas começou a fazer peças eróticas: “elas são mais de sacanagem, mesmo”, tripudia Diomar, “às vezes, eu coloco na frente da minha casa; ou quando eu vou pra feira, no meio de muitas pessoas, eu faço só pra sacanear. Faço três, quatro personagens juntos, em posições bem eróticas mesmo; eu gosto de fazer esculturas que eu nunca fiz antes. Dá muito trabalho”, desafia a si mesmo. E pontua com o vigor de quem ainda tem muito a fazer. BRAZIL MADE BY HAND o mapa da arte / the map of art 7 Legado Diomar de Freitas Dantas, o Das Velhas, já lapida quatro aprendizes e dá oficinas de restauração de peças no Ponto de Cultura Mestre Noza. E surpreende quando fala da própria arte para os meninos que “adquire aqui ou ali”: “Já tem um que quer cobrar a escultura mais caro que eu, que fala que não é lixador não, que é artista! Eu falo pra ele que dinheiro acaba, mas a arte não. É assim que eu penso: um elogio, aquele tanto de gente olhando o trabalho da gente... eu engrandeço demais!”, ensina o mestre. Serviço e mais informações: Centro de Cultura Popular Mestre Noza Rua São Luiz, s/nº (Antigo Quartel), Centro Juazeiro do Norte (CE): 55 88 3511 3133 gather dry stems or root remains in order to sell them in town. “It’s hard to find straight, 2 meter imburanas; at 70 to 80 centimeters they start growing several branches. And they can only be worked on after they’re dry: green imburanas are no good for sculpting. And we don’t work with other types of wood. When it’s a large order we even use cedar, but always certified and authorized by Ibama (Brazilian Institute of Environment and Renewable Natural Resources), because it’s an endangered species”, explains Diomar Das Velhas. At first, Diomar painted the sculptures with oil paint, but the excess glow made him change to latex paint. “I like colors, but when I want to keep the wood’s own color, I only need to apply some wax in order to put some glow on the piece. There’s no need to treat the wood, because the imburana lasts very long and can be handled anywhere”, says the artisan. “Actually, I’m a little crazy, I sculpt pretty much anywhere; if I’m at the Culture Center, I’m working; then I come home and bring something with me; when I’m bored of working at home, I just sit under a tree at the town square and start working there. His colleagues are humorous about him: here comes Das Velhas, crazy guy, there’s going to be a mess...”, says the sculptor. Lately, “since our account has been gaining some 8 o mapa da arte / the map of art weight, because we’ve worked so much…”, Das Velhas started making erotic pieces: “they’re really only meant to mess with people”, jokes Diomar, “sometimes I put them in front of my house; or when I’m at a fair, I put them among several people, it’s for the fun of it. I’ve made three, four characters together, in indeed very erotic positions; I like to sculpt things I’ve never sculpted before. It’s a lot of work”, says Diomar, challenging himself and demonstrating the vitality of someone who still has much to accomplish. Legacy Diomar de Freitas Dantas, known as Das Velhas, is already teaching four apprentices, other than ministering restoration workshops at the Ponto de Cultura Mestre Noza (Mestre Noza Cultural Place). He makes a surprising statement when talking about his own art to the boys he says to have “run into here or there”: “One of them wants to charge even more than I do for a sculpture, he says he’s an artist, not a sander! I tell him that money goes away, but not art. That’s how I feel: those compliments, all those people looking at our work… it’s very dignifying!”, says the teacher. Services and more information: Centro de Cultura Popular Mestre Noza (Mestre Noza Popular Culture Center) Rua São Luiz, s/nº (Antigo Quartel), Centro Juazeiro do Norte, Ceará State, Brazil: 55 88 3511 3133 BRASIL FEITO A MÃO Arte, História e Meio Ambiente Art, History and Environment POR / BY Priscila Avelar FOTOS / PHOTOS João Marcos Rosa “Não adianta utilizar madeira não- “There’s no point in using uncertified certificada na produção das peças, pois a questão ambiental é um fator que ganha cada vez mais importância. Os clientes estão levando isso em conta e, se não tiver certificado, eles não compram.” Essa é a principal questão que Márcio Geraldo Luzia da Silva – mais conhecido como Márcio Julião – frisa para se obter êxito no artesanato, principalmente para exportação. Morador da cidade de Prados (MG) e uma das referências na região quando o assunto é artesanato, Márcio Julião tem a madeira como matéria-prima de suas obras wood when making pieces, given that the environmental issue becomes more important each day. The customers are taking this into consideration and won’t buy them without a certificate.” For Márcio Geraldo Luzia da Silva, better know as Márcio Julião, this is the primary issue for being successful in handicraft, mainly when exporting. As a resident of Prados, Minas Gerais State, Brazil, and a regional reference when it comes to handicraft, Márcio Julião uses wood as raw material in his artwork and therefore thinks it deserves special attention. Given Prados Minas Gerais, Brasil BRAZIL MADE BY HAND o mapa da arte / the map of art 9 e por isso dedica atenção especial a ela. Com as questões climática e ambiental cada vez mais em voga, Julião já percebeu que, utilizando madeira legalizada, ele valoriza o seu produto, além de, claro, contribuir para a preservação do planeta. Assim, as madeiras utilizadas pelo artesão são, comprovadamente, de origem legal, vindas do estado de Rondônia, no norte do país. As espécies mais apreciadas por Márcio são o angelim, a garapeira, o cumari e a canela. Sempre atento às “evoluções” do mercado e em busca de agregar qualidade ao seu trabalho, Márcio Julião acrescentou mais um diferencial: ainda pensando na preservação ambiental, ele fez sua primeira compra de madeiras ecologicamente corretas. Essas madeiras têm origem a partir de árvores de reflorestamento, de controle ambiental ou poda, o que significa dizer que, a partir de agora, sua matéria-prima legal será certificada. Orgulhoso de seu ofício, tem no sangue o dom da arte. Isso porque, há cerca de 300 anos, seus antepassados formavam uma das primeiras famílias a habitar a região onde hoje se localiza a cidade de Prados. Segundo ele, foram os primeiros a explorar o artesanato por ali. Fundado no século XVIII, por volta de 1704, o lugarejo pertencia à Vila São José Del Rei, atual município de Tiradentes. Era um ponto de apoio para tropeiros e bandeirantes, que na época partiam das regiões costeiras para o interior do Brasil, em busca do ouro recém descoberto. Julião diz sentir-se parte da história da cidade por descender dos precursores de uma atividade que, atualmente, é forte referência do local. “São mais de 700 famílias espalhadas pela cidade que tiram seu sustento através do artesanato”, orgulha-se. 10 o mapa da arte / the map of art the increasing public attention to climatic and environmental issues, Julião has realized that his product gains value through the use of legalized lumber, besides, off course, contributing to the planet’s preservation. Thus, this artisan’s lumber is legally certified, coming from proven sources in the Rondônia State, northern Brazil. Márcio’s preferred species are angelim, garapeira, cumari and cinnamon. By keeping current with market “evolutions” and seeking to improve his work’s quality, Márcio Julião has achieved a competitive edge to his work: further wishing to contribute in environmental preservation, he has purchased his first batch of ecologically correct lumber. This lumber comes from reforestation, environmental control or trimmed trees, which means that, other than being legal, his raw material is also certified. Julião is proud of his trade and carries an artistic gift in his blood. About 300 years ago, his ancestors were among the first families to settle on the region which is now the city of Prados. According to Julião, they were the first craftsmen in the region. Founded in the 18th century, around 1704, the village was part of Vila São José Del Rei, which became the Tiradentes municipality. The village supported cattlemen and bandeirantes (Portuguese scouts in colonial Brazil), who came from coastal regions towards the center of Brazil searching for gold. Julião feels he is part of the city’s history, given that his ancestors have pioneered an activity which is currently a local reference. He proudly states that “more than 700 families in the city earn their living through handicraft.” Member of a very large family, Márcio had a humble childhood. Now married and father of one, he represents the fifth generation of “Julião” artisans. By watching his father, Márcio began what he calls “playing artisan” at the age of 6. BRASIL FEITO A MÃO Nascido em uma família numerosa, Márcio teve uma infância humilde. Casado e pai de um menino, é representante da quinta geração de “Juliões” artesãos. Espelhando-se no pai, Márcio começou o que chama de “brincar de artesão” aos 6 anos de idade. Em pouco tempo, seu dom foi aflorando e ele, cada vez mais, entregava-se à arte. Por escolha própria, estudou apenas até a quarta série, dedicando todo seu tempo a pesquisas que trouxessem o aprimoramento de seu ofício. Desde então, não largou mais o engenho de esculpir e seguiu lutando para ter seu trabalho reconhecido. Atualmente, tem um ateliê no qual trabalham três pessoas. Especializado em madeira, o processo de produção artesanal passa por quatro etapas: na primeira, usa uma motosserra para o corte da tora; daí vem a modelagem, com o emprego de lixas grossas para desgastar e dar forma à madeira; o terceiro passo é garantir a conservação da peça (para isso, costuma usar formol) e, por último, é feito o acabamento com lixas finas, que dão brilho às peças. BRAZIL MADE BY HAND His gift quickly sprung and his commitment to art grew each day. By his own choice, he left school after finishing the fourth grade and became fully dedicated to the improvement of his trade. He’s been focused on the sculpting trade ever since, working hard in order to gain recog-nition. Today, Julião has his own studio and employs three people. Given his expertise and focus on wood, his handicraft production process has four stages: The first stage consists on using a chainsaw for log cutting; the modeling stage comprises the use of thick sandpaper in order to abrade and shape the wood; the third stage guarantees the piece’s conservation (usually using formalin) and, lastly, the finishing stage consists on using thin sandpaper, shining the piece’s surface. As a passionate artisan, Julião comments that he’s never had nor wanted another profession, for being an artisan brings many rewards. “It’s very gratifying to see my work being recognized”, says Julião. As a hobby, Julião has a small cattle herd and demonstrates his passion for o mapa da arte / the map of art 11 Apaixonado por seu trabalho, comenta que nunca teve nem quis outra profissão, pois ser artesão traz muitas recompensas. “Ver meu trabalho reconhecido é muito gratificante”, ressalta. Apenas como distração, Márcio cria algumas cabeças de gado e exalta a sua paixão pelos animais. “Também tenho umas duas vaquinhas no quintal de casa para tirar leite. É sempre bom estar perto dos bichos”. Muito conhecido pela sua arte, atribui a fama que conquistou à diversidade das peças que produz. São esculturas humanas, arte sacra, bichos e até figuras da mitologia grega. “Meu diferencial são as novas formas que procuro esculpir. Hoje em dia os clientes tanto brasileiros quanto estrangeiros querem coisas diferentes, e é isso que eu procuro fazer”. Márcio trabalha com a ideia de seus clientes, dando um ar de exclusividade a cada peça, esculpindo de acordo com o pedido de cada um. A maior procura atualmente é pelas esculturas de leões, leoas e panteras, que medem algo em torno de 2m e custam aproximadamente R$5,5 mil. No geral, os preços de suas peças podem variar de R$600 a R$45 mil, e os tamanhos, de 80 cm a 4 m. Mas ele garante que outros tamanhos e preços podem ser negociados. Entre suas criações mais recentes, duas têm roubado a cena e chamado a atenção de clientes e turistas: um centauro com quase 3 metros de altura, e uma família de leões, de 5 metros (leão, leoa e dois filhotes). animals. “I also have a couple of milking cows in my backyard. It’s always nice to be around wildlife.” Very well known for his art, Julião attributes his fame to the diversity of his pieces. There are human sculptures, sacred art, animals and even Greek mythology sculptures. “My differentiating factor is that I always try to sculpt new shapes. Nowadays, the customers, either Brazilian or foreign, are always looking for new things, and that’s what I try to offer them”, clarifies the artisan. Márcio works based on this idea and provides unique features to each piece, sculpting them according to each customer’s request. Currently, the highest demands are for lion, lioness and panther sculptures, which measure up to 2 m and cost approximately R$5,500 (~US$3,000). Generally, his pieces may vary from R$600 to R$45,000 (~US$350 to US$25,000) in price and from 80 cm to 4 m in size. Although he guarantees that other sizes and prices can always be negotiated. Amid his latest creations, two have been the most popular amongst customers and tourists: a centaur measuring almost 3 meters high and a family of lions measuring 5 meters (a lion, a lioness and two cubs). A preocupação com a origem das matérias primas vem ganhando destaque entre os artesãos de Prados. Um exemplo é o ateliê “Artesanato 5 Irmãos”. Como o próprio nome diz, a oficina é formada pelos cinco irmãos Andrade: Juca, Gilberto, Joaquim, Benedito e Sebastião. Segundo Juca, toda a madeira utilizada na fabricação das peças é certificada e vem do Acre ou do Amazonas. Hoje, a família emprega aproximadamente 30 pessoas, e cada um é responsável pelas próprias peças.“Trabalhamos em uma espécie de ateliê onde também vendemos as peças, pois dessa forma os turistas podem acompanhar o processo de fabricação”. The concern towards raw material sources has increased among the artisans of Prados. The “Artesanato 5 Irmãos” studio is an example. As the name states (“5 Brothers Handicraft”, in a free translation), the studio was founded by five “Andrade” brothers: Juca, Gilberto, Joaquim, Benedito and Sebastião. According to Juca, all raw material used in piece manufacturing is certified, coming from the Acre or Amazonas States. The family currently employs approximately 30 people, and each person is responsible for his own work.“We both work and sell the pieces in the studio so the tourists can see the manufacturing process.” 12 o mapa da arte / the map of art BRASIL FEITO A MÃO Um Divino Ofício A Holy Craft Jamile Hallack João Marcos Rosa POR / BY FOTOS / PHOTOS Capricho e beleza são características marcantes do trabalho do artesão Josias Cardoso. Especializado na produção de Divinos, ele transforma madeira em peças de diferentes tamanhos e cores. A pomba branca que, de acordo com a Bíblia é símbolo do Espírito Santo, já conquistou as prateleiras da loja de decoração Tok & Stok, 16 estados brasileiros e também Portugal e Estados Unidos. A história do artesão Josias Cardoso dos Santos começou em 1985 quando, morando em Governador Valadares (MG), fazia artigos de arte popular. Os primeiros trabalhos foram feitos em lápis de escrever, aproveitando a madeira e o grafite. Posteriormente, sem nenhuma formação acadêmica ou cursos técnicos, ele passou a produzir pequenas peças em madeira que lhe renderam prêmios: o troféu Destaque do Ano, referente à Cultura, homenagem oferecida pela FUNSEC (Fundação Serviço de Educação e Cultura, de Governador Valadares) e o segundo lugar no Primeiro Festival Cenibra de Artes Plásticas. Attention to detail and beauty are sig- nature characteristics in Josias Cardoso’s handicraft. Specialized in making Divine Holy Spirit sculptures, he transforms the wood into pieces of different sizes and colors. The white dove, which symbolizes the Holy Spirit according to the Bible, has already reached the shelves of theTok & Stok decoration store, besides 16 Brazilian States, Portugal and the United States. Josias Cardoso dos Santos began his work as an artisan in 1985, making folk art pieces, when living in Governador Valadares, Minas Gerais State, Brazil. His first works were made with pencils, using their wood and graphite. He later began to make small wooden pieces, without ever having received an academic education nor technical training, and won the following awards: the cultural Destaque do Ano (the Year’s Most Outstanding Artisan) trophy, awarded by FUNSEC (Fundação Serviço BRAZIL MADE BY HAND o mapa da arte / the map of art 13 Ao se mudar para Belo Horizonte (MG), em 1992, seu envolvimento com a arte se deu quando foi contratado para restaurar peças antigas e danificadas pelo tempo na loja Antiquário. “Este trabalho me deu aperfeiçoamento. Aprendi muitas técnicas restaurando santos”, lembra Josias. Em 1995 mudou-se para Lagoa Dourada (MG), onde fundou a empresa familiar Artesanato Irmãos Cardoso, produzindo artigos, também em madeira, com a qualidade e a tradição do artesanato mineiro. Porém, por diferenças de ideais e vontades, os irmãos se separaram, obrigando Josias a seguir com seus sonhos sozinho. Montado um ateliê em casa, ele passou a produzir vinte peças por mês e vendê-las aos clientes que apareciam em sua porta. “Foi difícil no começo. Quando o cliente queria galinha d`angola, eu tinha Divinos, quando queria Divinos, eu tinha galinha d`angola. Eu não tinha muita organização na época”, explica o artesão. de Educação e Cultura, Educational and Cultural Services Foundation from Governador Valadares) and the second place in the Primeiro Festival Cenibra de Artes Plásticas (First Cenibra Plastic Arts Festival). After moving to Belo Horizonte, Minas Gerais State, Brazil, in 1992, his involvement in the artistic industry was reestablished when he was hired as an antique and damaged piece restorer at the Antiquário store. “This job gave me the opportunity to improve my skills. I learned many restoration techniques”, says Josias. In 1995, he moved to Lagoa Dourada, Minas Gerais State, Brazil, where he founded his family company Artesanato Irmãos Cardoso, which made wooden pieces respecting the tradition and quality of the Minas Gerais handicraft. However, due to their differences in ideals and visions, the brothers decided to work separately and Josias was forced to chase his dreams on his own. No ano de 2003 surgiu a inspiração para produzir apenas Divinos Espíritos Santos feitos em cedro. O envolvimento com arte sacra, do período em que trabalhou com restauração de imagens e quadros religiosos e as demandas de mercado aumentaram o interesse de Josias em produzir apenas os Divinos. Nesse mesmo ano, levado pelo Sebrae, ele participou da sua primeira Feira Nacional de Artesanato, onde suas peças ganharam visibilidade e começaram a conquistar mais clientes. E não foi só o mercado que Josias conquistou, não. Em uma das feiras de que participou, ele conquistou o coração da artesã Marilene da Silva, que também expunha seu trabalho. After assembling a studio in his house, he started making twenty pieces a month and selling them to customers who came to him. “It was hard at first. When the customer wanted galeenies, I had Divines, when he wanted Divines, I had galeenies. I wasn’t very organized at the time”, explains the artisan. In 2003, he became exclusively involved in making Divine Holy Spirits on cedar. His involvement with sacred art, from when he restored religious sculptures and paintings, and the market’s demands contributed to his decision of working exclusively with Divines. In the same year, sponsored by Sebrae, he participated in his first Feira 14 o mapa da arte / the map of art BRASIL FEITO A MÃO A partir daí ele não parou mais! Participou de todas as feiras seguintes. E não só da Feira Nacional, mas também de eventos em Brasília e Rio de Janeiro. “As feiras são sempre um cartão-de-visita para a gente. É uma oportunidade de fazer contatos com várias pessoas e empresas, além da realização de vendas imediatas”, ressalta Josias. Com o crescimento dos pedidos, em 2003 ele criou a Divino Ofhício, uma oficina montada no município de Lagoa Dourada. Especializada em Divinos, utiliza apenas madeiras (cedro) de origem comprovadamente legal, compradas de serrarias da cidade e de São João Del Rey (MG). Em 2005, a oficina foi registrada como empresa e a união de Josias e Marilene, oficializada. Além de marido e mulher, eles se tornavam sócios. Hoje a Divino Ofhício conta com sete funcionários, treinados por Josias. Os produtos conquistaram, em 2008, o Selo IQS de qualidade, que levou organização para a empresa e aumentou a qualificação da produção e das peças. A madeira não utilizada é totalmente reaproveitada: tudo o que não serve para Josias é enviado para outro artesão – Geraldo – que vive na vizinha cidade de Prados, outro pólo mineiro de produção artesanal. Este transforma os pequenos pedaços em miniaturas de frutas ou em chaveiros, que o próprio Josias comercializa. BRAZIL MADE BY HAND Nacional de Artesanato (National Handicraft Fair), where his pieces gained visibility and started to attract more customers. And Josias didn’t only conquer his share of the market. In one of the fairs, he also conquered the heart of Marilene da Silva, an artisan who was also exposing her work. From that point on, he just kept going! He participated in all subsequent fairs. Not only in the National Fair, but also in other events in Brasília and Rio de Janeiro. “The fairs are always good display opportunities for us. One has the chance to make contacts with several people and companies, besides making immediate sales”, says Josias. Once his requests increased, he created the Divino Ofhício studio, in 2003, in the Lagoa Dourada municipality. The studio specializes in Divines and only uses wood (cedar) from legally proven sources, bought from lumber mills in São João Del Rey, Minas Gerais State, Brazil. In 2005, the studio was registered as a company and Josias and Marilene were officially married. Other than husband and wife, they became partners as well. Today, Divino Ofhício has seven employees who have been trained by Josias. Their products earned the IQS quality label in 2008. The label organized the company, also improving their production and quality. All rejected lumber is reused: all spared materials from Josias’ studio are sent to another artisan, Geraldo, who lives in the neighboring city of Prados – another handicraft production center in the Minas Gerais State. Geraldo turns these small scrap pieces into miniature fruits or key chains, also commercialized by Josias. o mapa da arte / the map of art 15 Secretário de Cultura Secretary of Culture Deixando todos os seus funcionários bem instruídos, Josias não participa mais da produção dos Divinos. Após realizar alguns cursos, agora ele apenas administra sua empresa, que tem crescido a cada dia. Seu desafio agora é maior: além de administrar a Santo Ofhício, ele agora tem que cuidar da cultura de Lagoa Dourada. Josias passou de artesão a Secretário de Cultura do município. Desde janeiro de 2009, quando assumiu o cargo, Josias vem tentando levar o perfil de sua empresa para a administração pública e converter a notoriedade do artesanato local em fomento ao turismo em sua comunidade. “No lado político, preciso me aperfeiçoar mais. Não sou tão político assim”, brinca Josias ao explicar que está procurando adequar sua vida pessoal à política. Due to his well instructed employees, Josias has stopped working on the production of Divines. Having taken a few courses, he currently manages the company, which has grown more each day. He now faces a greater challenge: besides managing Santo Ofhício, he must also take care of the cultural scene in Lagoa Dourada. Josias has gone from artisan to municipal Secretary of Culture. Since January 2009, when he took office, Josias has tried to apply his company’s profile into public administration and use the prominent local handicraft scenario to encourage tourism in the community. “From a political point of view, I need to improve myself. I’m not that political”, says Josias, smiling, while explaining his attempt to adapt his personal life to his political life. Madeira e Bordados Além de felicidade, Marilene trouxe crescimento para a empresa de Josias. Artesã há vinte anos, Marilene Alair da Silva começou a bordar por necessidade. Com uma filha recém-nascida nos braços, ela usou suas habilidades como alternativa de renda e começou a vender as peças bordadas. Assim, ela conseguiu pagar as consultas médicas, o enxoval do bebê e garantir o sustento das duas. A união com Josias tornou-a sócia da Divino Ofhício, e a empresa passou a produzir também toalhas de mesa e banho, panos de prato e muitas outras peças bordadas por Marilene e mais cinco funcionários ensinados pela artesã.“Quando as pessoas viam que a Divino Ofhício também produzia peças bordadas, elas achavam estranho e ficavam assustadas de ver madeira e bordado juntos. Aqui na empresa estes são setores interligados”, explica Josias. Dentro desta sociedade, incentivada pela filha, Marilene criou o projeto Bordando História. No intuito de aumentar as vendas, ela passou a bordar toalhas com temas infantis. “Isso traz pureza ao meu trabalho”, ressalta a esposa de Josias. Wood and embroidery Other than happiness, Marilene has brought growth to Josias’ company. Having been an artisan for 20 years, Marilene Alair da Silva started to work with embroidery for financial needs. Having a newborn to take care of, she used her skills to earn a second income and started selling her embroidered pieces.Through these efforts, she managed to pay all medical bills, buy the baby’s layette and provide for both of them. Her marriage with Josias made her a partner in Divino Ofhício and the company started making table and bath towels, kitchen towels and many other embroidered pieces, all made by Marilene and five other artisans under her council. “When people realized that Divino Ofhício also made embroideries, they though it was weird and were stunned to see wood and embroidery in the same place. In our company, these sectors are interconnected”, explains Josias. Marilene also created the Bordando História (Embroidering History) project, inspired by her daughter. Aiming to increase sales, she started to embroider towels with child themes. “They convey a certain purity to my work”, says Josias’ wife. 16 o mapa da arte / the map of art BRASIL FEITO A MÃO NaturezaViva Stirring Life Aproveitamento de madeira de podas garante boa destinação ao material. Para além do ornamental, um artesanato ecológico Well employed trimmed wood. Beyond the ornamental into ecological handicraft. POR / BY Thiago FOTOS / PHOTOS Bernardo Marcus Desimoni Ao chegar à oficina do artesão Eduardo Eleutério, na região do bairro de Santa Teresa em Belo Horizonte (MG), a primeira coisa que se percebe é o perfume de madeira, a matéria prima com a qual trabalha. Um amontoado de pedaços de galhos, troncos retorcidos, toras de tamanhos diversos, muitos ainda com cascas, outros em que já se pode perceber alguma intervenção do artesão. Máquinas. Várias máquinas e ferramentas diversas, serras e lixas de todos os tipos. E apenas um homem trabalhando. “Já tive algumas pessoas trabalhando no processo de lixamento das peças, mas é muito difícil ensinar este processo”, conta.Vendo as peças em diferentes estágios de produção é que se tem noção do trabalho e da arte que envolve seu artesanato. Eduardo veio de Fortaleza (CE), no início da década de 80. Naquela época vendia o artesanato vindo do Ceará em uma loja – a Canoa Quebrada – na região da Savassi. “Depois de um tempo, comecei a perceber que as peças não tinham um acabamento refinado. Foi quando resolvi eu mesmo produzir meu artesanato”. E passou a fazer seus pássaros de madeira. Certa vez, participou de uma feira na Itália e lá se interessou por um objeto, chamado “caixa segredo”, por se tratar de uma peça que “esconde” pequenas gavetas em seu interior. “Um Italiano me mostrou como fazer e resolvi produzir”. Assim nascia o artesanato que hoje é sucesso no Brasil, Estados Unidos e Europa. BRAZIL MADE BY HAND When arriving at Eduardo Eleutério’s han- dicraft studio, in the Santa Teresa neighborhood, Belo Horizonte, Minas Gerais State, Brazil, the overall first impression comes from the wood’s scent. One sees a heap of branch segments, twisted stems, logs in all sizes, some still unpeeled, others already being worked on by the artisan. One sees machines. Several machines and tools, saws and sandpapers of all kinds. All this and only one man at work. “I’ve had a few people work for me in the sanding process, but it’s very hard to teach the process”, says the artisan. By seeing the pieces in their different production stages, one can notice the dedicated work and the art involved in this handicraft. Eduardo came from Fortaleza, Ceará State, Brazil, in the beginning of the 80’s. At that time, he used to sell handicraft from Ceará in a store – Canoa Quebrada – in the Savassi region. “After a while, I began to notice that the finishing on those pieces wasn’t refined. That’s when I decided to make my own handicraft.” He began making wooden birds. At a certain point, when in Italy for a fair, he became interested in an object called “the secret box”, artesanato: matéria prima / handicraft: raw material 17 Suas peças são feitas tanto com o formato original do tronco ou galho, como também em formas desenvolvidas pelo próprio artesão. “Essas, são peças com design”, explica. “As caixas segredo são cerca de 80% de minha produção”. Mas, Eduardo produz também gamelas, árvores ornamentais, cachepôs, porta velas, e algumas mesas de centro, que na maioria das vezes são pedidos de amigos ou arquitetos que, conhecedores do trabalho dele, encomendam peças exclusivas ao artesão. “Não gosto muito de fazer peças exclusivas. Muitas vezes criamos algo bacana, o comprador acaba virando ‘dono’ da peça e não posso fazer o mesmo trabalho para outras pessoas”. Matéria-prima reutilizada Toda a matéria prima utilizada no trabalho de Eduardo Eleutério vem da poda e corte de árvores das ruas da região metropolitana de Belo Horizonte. “Eu não corto nenhuma árvore e acho isso um crime. A maior parte do que eu pego seria transformada em carvão, despejando for it “hides” small drawers in its interior. “An Italian taught me how they were made and I started production.” This was the beginning of a work which is currently recognized in Brazil, the United States and Europe. His pieces are made both by taking advantage of the wood’s original shape or by carving his own invented shapes. “These pieces are designed”, explains Eduardo. “The secret boxes represent about 80% of my production.” However, Eduardo also makes troughs, ornamental trees, cachepots, candle holders and center tables, which are mostly ordered by friends or architects who know his work and request exclusive pieces. “I don’t enjoy making exclusive pieces that much. We often create very nice pieces, but the buyer sort of “owns” the design and I can’t make them again for other people.” Reused raw material All raw material used in Eduardo Eleutério’s work comes from trimmed and cut down trees within Belo Horizonte’s metropolitan area. “I don’t cut down trees; I 18 artesanato: matéria prima / handicraft: raw BRASIL FEITO A MÃO carbono na atmosfera. Meu trabalho acaba sendo um fixador de carbono”, afirma, demonstrando sintonia com as questões ecológicas da atualidade. Segundo ele, cerca de setenta árvores são podadas ou cortadas diariamente. “E podem ser em maior número durante o período de chuvas”, completa. As madeiras utilizadas são de espécies variadas. Mangueiras correspondem à maior parte de sua matéria prima. Jabuticabeiras, além de suas preferidas, são as “que mais vendem e exportam”. Até mesmo os eucaliptos que, após recolhidos, passam até cinco anos secando. “É preciso secar a madeira para retirar dela toda a resina”, explica. Segundo o artesão, é a resina que provoca imperfeições de encaixe nas peças, empena as mesas e deforma os trabalhos. “Essas peças que você vê no mercado com rachaduras grandes são frutos de trabalhos feitos em madeira ainda molhada”. Em alguns casos, as peças de Eleutério também acabam rachando, mesmo com bastante tempo de secagem. Nesses casos, quando é possível, o artesão usa técnicas de marchetaria para solucionar o problema. Produção, exportação e muita criatividade Production, exportation and lots of creativity Eduardo Eleutério chega a produzir em torno de 300 peças por mês, podendo chegar a 400, dependendo da demanda. Trabalhando somente com vendas por atacado, Eleutério antigamente exportava 90% de sua produção. “Hoje essa proporção se inverteu. Vendo quase 90% aqui no Brasil, para lojas e atacadistas revendedores”. O artesão conta que a crise financeira internacional o atingiu em cheio. “Agora estou retomando as exportações. E isso é bom, pois as vendas entre os meses de janeiro e março BRAZIL MADE BY HAND think it’s a crime. Most of what I gather would be turned into coal, releasing carbon into the atmosphere. My work turns out to be a carbon credit”, states Eduardo, demonstrating to be in sync with current ecological issues. According to him, about seventy trees are trimmed or cut down each day. “And that can even increase during the rainy season”, adds the artisan. He uses several species of wood. Mango trees represent the majority of his raw material. Jaboticaba trees, besides being his favorites, also “sell and export more”. He even uses eucalyptus trees, which take up to five years to dry after being cut down. “The wood must be dry so you can take all the resin out of it”, explains Eduardo. According to the artisan, the resin is responsible for imperfections in the pieces’ fitting, besides bending and deforming them. “Those cracked pieces you sometimes see for sale are the result of working on wet wood.” In some cases, even Eleutério’s pieces crack, despite their long drying period. In such cases, when possible, the artisan applies marquetry techniques in order to solve the problem. Eduardo Eleutério makes around 300 pieces a month, being able to make up to 400, depending on the demand. By only working with wholesale, Eleutério used to export 90% of his production. “Today, this proportion’s been inverted. I’m selling almost 90% here in Brazil, to stores and wholesale resellers.” The artisan says that the international financial crisis hit him hard. “I’m just resuming my exportations. And that’s good, because almost artesanato: matéria prima / handicraft: raw material 19 são quase todas para o exterior”, explica Eduardo, que tem um custo fixo diário de R$ 190,00. “O custo das máquinas e principalmente das serras e lixas é bastante elevado”. Eduardo é também uma espécie de “Professor Pardal”. Muitas de suas máquinas foram adaptadas ou desenvolvidas por ele. “Vou a muitas feiras, não só de artesanato, mas também de maquinário. Outro dia fui até Porto Alegre (RS) só para ver as novas máquinas no mercado”. Não raro, o artesão tem uma idéia de um corte ou de uma peça diferente e tem que, literalmente, criar as ferramentas para viabilizar a produção. Além de trabalhar com cortes arredondados e precisos, Eduardo Eleutério diz que seu artesanato é uma “lapidação da madeira”. “Algumas peças são lixadas com seis lixas diferentes”, explica sobre o que diz ser o momento mais difícil no processo de produção. Em suas peças não é aplicado nenhum tipo de verniz. Mesmo assim, o brilho dos objetos chega a impressionar. “O segredo é saber o momento de passar de uma lixa para outra”. Como quase todo artesanato, o valor de suas peças é calculado pelo trabalho que cada objeto exige. Até um detector de metais é utilizado por ele. “Muitos pedaços de madeira têm pregos antigos, já engolidos pelo tronco. Se uma serra destas encontra um prego estraga a peça, a máquina e pode até ocorrer um acidente” diz o artesão, que chega a trabalhar das seis da manhã à meia noite. “E mesmo assim não dou conta dos pedidos”. Com peças que custam de R$24,00 a R$390,00 (fora as encomendas, que podem chegar a R$4.000,00), Eduardo Eleutério vai construindo seu nome no mercado – o que para ele é o mais importante no trabalho do artesão. Objetos de beleza única, como cada toco ou tora de madeira que deixa de virar carvão para embelezar residências, escritórios, e até museus. A única Tora que Eduardo não corta, não lixa nem lapida é sua rottweiler, fiel companheira e guardiã de sua oficina. all sales between January and March are usually exports”, explains Eduardo, who has a daily overhead of R$190.00 (~US$110.00). “My expenses with machinery, saws and sandpapers are quite high.” Eduardo is also a “Gyro Gearloose” of sorts. He has adapted or developed several machines himself. “I attend several fairs, both handicraft and machinery fairs. I went to Porto Alegre, Rio Grande do Sul State, Brazil, the other day just to check new machines coming into the market.” The artisan often has ideas for different cuts or pieces and literally creates the necessary tools in order to make production viable. Besides working with rounded and accurate cuts, Eduardo Eleutério says his handicraft can be called “fine wood cutting.” “Some pieces are sanded with six different sandpapers”, explains Eduardo, saying this is the most challenging moment in his production process. His pieces do not receive any kind of varnish. Still, their glow is very impressive. “The secret is in knowing when to go from one sandpaper to another.” As in most handicraft works, his prices are calculated based on the work put into each object. He even uses a metal detector in his process. “The wood is often incrusted with old nails, enveloped by the trunk. If you run into one of these nails with a saw, it can ruin the piece, the machine and it may even cause an accident” says the artisan, who sometimes works from 6 AM to midnight. “Even so, sometimes I can’t attend to all requests.” Having pieces which vary from R$24.00 to R$390.00 (~US$14.00 to US$220.00, besides custom ordered pieces, which may cost up to R$4,000.00 (~US$2,300.00)), Eduardo Eleutério has been carving his name on the market – which, according to him, is what’s most important for an artisan’s work. Objects of unique beauty, stumps and logs that were supposed to be turned into coal become beautiful ornaments in houses, offices and even museums. The only Tora (“log”, in Portuguese) Eduardo won’t cut, sand or carve is his pet rottweiler, a faithful companion and guardian of the studio. 20 artesanato: matéria prima / handicraft: raw BRASIL FEITO A MÃO WHY US? O Instituto Centro Cape, a Central Mãos Instituto Centro Cape, Central Mãos de de Minas e o Banco BMG firmaram parceria para lançar um site, nos Estados Unidos, que irá vender no varejo os produtos artesanais de 15 comunidades mineiras de baixa renda. Previsto para ser inaugurado até o mês de maio, o sistema irá funcionar dentro dos parâmetros do Comércio Justo – modalidade internacional de negócios que privilegia cadeias produtivas socialmente justas e ambientalmente equilibradas. O Banco BMG, que patrocina a iniciativa, está presente em todos os Estados brasileiros e tem se destacado por contribuir com o desenvolvimento social do país ao se voltar para o financiamento do consumo. O nome escolhido para o site brinca um pouco com a tradição mineira. “Why Us?”, além do significado em inglês (por que nós?), contém um fonema que remete à mais mineira das expressões: “uai”. E o Us (nós) faz alusão à sigla internacional US (de United States). A distribuição dos produtos será feita a partir de Nova Jérsei, através da Worldwide – uma empresa que já atua na exportação de artesanato brasileiro desde 2007. As comunidades contempladas estão sendo escolhidas por critérios que levam em conta a correta destinação dos os recursos (diretamente para os artesãos, sem a existência de intermediários), a qualidade dos produtos e seus impactos ambientais. A idéia é elevar a renda mensal desses artesãos, de 50 reais por mês para, pelo menos, um salário mínimo (R$ 510,00). Essas 15 comunidades também passarão por um treinamento de preparação para o mercado, principalmente sobre o valor de seu trabalho para além da mera sobrevivência. Estão previstas melhorias tecnológicas, de design e até de embalagem, para que consigam atingir o mercado com o mínimo de interferência de terceiros. Dependendo dos resultados nos seis primeiros meses, já está previsto um aumento no número de comunidades participantes. Minas and the BMG bank have signed a partnership in order to develop a website, hosted in the United States, focused on selling handicraft products from 15 low income communities from the Minas Gerais State, Brazil. Scheduled to be inaugurated in May, the system will follow Fair Trade parameters – an international business approach which benefits socially correct and environmentally balanced commodity chains. The BMG Bank, our sponsor in this initiative, operates in all Brazilian States and has stood out due to its contributions to the country’s development through consumption financing. The website’s name was conceived with the Minas Gerais tradition in mind. “Why Us”, besides its direct meaning, carries the word “Why”, which issues the exact same phoneme as the popular local expression: “uai”. And the word “Us” also refers to the international US acronym, meaning United States. The products will be distributed from New Jersey, through Worldwide – a company that has exported Brazilian handicraft since 2007. The participant communities are being chosen through select criteria, which include proper resource allocation (directly allocated to the artisans, without middlemen), product quality and environmental impact. The idea is to elevate these artisans’ incomes from R$50.00 (~US$28.00) a month to, at least, the Brazilian minimum wage (R$510.00, ~US$290.00). These 15 communities will also receive training in order to be prepared for the market, mainly focusing on valuing their work so it may yield more than mere survival. Technological, design and packaging improvements have been planned in order to help them reach the market through minimal third party interventions. More communities will be included in the project depending on the first semester’s results. 22 projetos / projects BRASIL FEITO A MÃO Madeira reciclada, vida renovada Recycled wood, renewed life De ajudante de pedreiro a exportador, artesão do interior de Minas mudou o rumo de sua vida com reaproveitamento de material. Respeito ao meio ambiente ajuda na conquista de mercado From bricklayer assistant to exporter, this artisan from the Minas Gerais State countryside has changed his life through recycling. Environmental responsibility yielding market recognition POR / BY Janaína Oliveira Nascido e criado num lugarejo conhecido como Bichinho, distrito de uma cidadezinha chamada Prados (quase um quintal da histórica Tiradentes, em Minas Gerais), o artesão Almir Antônio de Paula, 43 anos, jamais imaginou que sua arte atravessaria o Oceano Atlântico, passaria pelo Mar Mediterrâneo e chegaria a Israel. Pois, pelo menos uma vez a cada dois meses, ele despacha peças de mobiliários e adornos, em geral feitas de madeira reciclada com detalhes de ferro, tudo desenhado e construído em sua oficina, direto para o país dos judeus. “Nunca pensei que um dia estaria tão bem quanto estou hoje. Quando acho que realizei um sonho, acontece uma nova realização”, conta, orgulhoso, acrescentando que suas peças já foram até tema de reportagem de uma emissora de televisão daquele país. BRAZIL MADE BY HAND FOTOS / PHOTOS João Marcos Rosa Born and raised in a small village known as Bichinho, within the district of another small town called Prados – practically in the backyard of historical Tiradentes, Minas Gerais State, Brazil – Almir Antônio de Paula, 43 years old, had never imagined that his art would cross the Atlantic Ocean and the Mediterranean Sea, all the way into Israel. At least once every couple of months he ships furniture and decoration pieces, generally made out of recycled wood and iron detailing, designed and built in his studio, straight to the Jewish country. “I never thought I’d ever be as well off as I am today. When I think a dream just came true, something else happens”, proudly says the artisan, adding that his pieces have even inspired a television newscast in an Israeli television network. mercado externo / foreign market 23 Bichinho, Minas Gerais, Brasil A história, revela, começou com a visita de um brasileiro casado com uma israelense que, em uma curta passagem por Bichinho, durante as férias, conheceu seu trabalho e se encantou. Na primeira leva, o freguês comprou o equivalente a R$ 300. “Ele foi embora com o mostruário e pouco tempo depois ligou contando do sucesso. Fez novas encomendas e não parou mais”. Hoje, entre 40% e 50% de toda sua produção tem como destino os contêineres dos navios. Mais de 50% de seu faturamento também vem de lá, justo uma terra cuja gente, no Brasil, tem fama de “segura”. “Eles podem até ter fama de pãoduro, mas esse é o meu melhor cliente”, brinca. A preferência da clientela estrangeira é por molduras de espelho, armários com portinha de bonecos e galinhas de chapinha. Para dar conta da demanda, Almir contratou mais gente e chamou para trabalhar em seu negócio boa parte da família. A esposa Marilene e as filhas Marluce, de 15 anos, e Milena, de 12, ajudam na pintura e na pátina, assim como o sobrinho Paulo Ricardo. Outros dois sobrinhos – Rafael e Diego – também cumprem expediente. Até Felipe, o namorado da filha mais velha, aprendeu According to Almir, it all started when he was visited by a Brazilian who was married to an Israeli woman. During their brief passage through Bichinho, she saw his work and became fascinated. The first time around, the customer bought the equivalent to R$300 (~US$170). “She took the entire collection and called a few days later telling me about its success. She kept making more requests and never stopped”, says Almir. Today, 40% to 50% of his production goes straight to the ships’ containers. More than 50% of his billing also comes from said country, which, in Brazil is known for being “financially skeptical”. “People may even say they’re known to be cheap, but they’re my best costumers”, says Almir, playfully. Foreign customers prefer mirrored frames, wardrobes with doll doors and plate chickens. In order to handle this demand, Almir hired more people and asked most of his family to work in his business. His wife, Marilene, and his daughters, Marluce, 15 years old, and Milena, 12 years old, help with painting and patina, as does his nephew Paulo Ricardo. He also has two other nephews working for him. Even Felipe, his older daughter’s boyfriend, has learned the trade helps around. 24 mercado externo / foreign market BRASIL FEITO A MÃO o ofício e já colabora. O artesão ainda conta com a ajuda do soldador César e do marceneiro Vilmar, muito inteligentes, segundo ele. “A vida inteira fui empregado. Agora sou patrão. E isso é bom demais”, vibra. Apesar de ensinar a arte e dar emprego para tanta gente, Almir confessa: “Nunca tive curso. Aprendi sozinho. Fazendo”. E se engana quem pensa que a inspiração veio de grandes mestres. ”Na verdade, minha influência é de um cunhado que era caminhoneiro e virou artesão”, revela ele, que cria e desenha as peças que comercializa. He also counts on César, a welder, and Vilmar, a carpenter, who are very intelligent, as he points out. “I’ve been an employee my entire life. Now I’m the boss. And this is amazing”, says Almir. Although teaching his art and employing so many people, Almir confesses: “I’ve never had a formal education. I learned everything by myself. In practice.” Those who might think his inspiration came from the great masters are mistaken. “Actually, I was influenced by a brother in law who was a truck driver and became an Almir Antônio tinha outro ganha-pão. Filho mais velho de nove irmãos, aos 12 anos começou a trabalhar como pedreiro, seguindo os passos do pai. “Minha mãe era doméstica e eu tinha que ajudar os dois no sustento da família”, lembra. Nos canteiros de obra passou a maior parte da sua vida até que, em 2001, um problema no ligamento do joelho o atingiu, impedindo-o de trabalhar por 11 meses. “Tenho meus filhos e não podia ficar parado. Então tive a ideia de começar a mexer com papel machê e modelagem. Comecei por acaso, pegando umas peças artisan”, reveals Almir, who creates and designs his own pieces. Almir Antônio used to do something else for a living. The eldest of nine brothers, he started working at age 12 as a bricklayer, following his father’s footsteps. “My mother was a maid and I had to help them provide for the family”. He spent most of his life in construction sites, until, in 2001, a knee ligament injury kept him from working for 11 months. “I had to provide for my children, so I couldn’t stand still. Then, I had this idea of working with paper BRAZIL MADE BY HAND mercado externo / foreign market 25 em Prados para melhorar, e, quando vi, já estava produzindo molduras, quadros, bonecas e galinhas”. Com o primeiro dinheiro que entrou, comprou ferramentas melhores e abriu uma oficina na garagem da casa da sogra. Mais grana no caixa e, novamente, investimentos em instrumentos de trabalho e máquinas. Hoje, já tem sede própria, onde fabrica molduras para espelho (a grande, com 22 bonecos, custa R$ 220), cabeceiras de cama, galinhas de chapinha (entre R$ 25 e R$ 30), paneleiros, porta-xícaras, aparadores, tamboretes e armários (com portinha de bonecos, sua marca registrada, são vendidos entre R$ 700 e R$ 800) – tudo feito de madeira reaproveitada, prática que faz questão de seguir. “A gente não tem muito estudo, mas não quer contribuir para o desmatamento ou para a destruição do meio ambiente”, diz. A matéria-prima vem de longe, do Paraná e até do Pará, mas, segundo ele, a espera compensa. “Além de ser mais ecológica, a madeira reciclada não empena e sai até mais barata”. Explica como recicladas as madeiras oriundas de demolições, que ele reutiliza em suas obras. Tal origem acaba sendo, também, uma espécie de diferencial perante o público: garante uma aparência específica e ainda soma um apelo ecológico muito valorizado em nossos dias. Seu único pesar é não poder compartilhar o sucesso com os pais, já falecidos. “Tenho certeza de que ficariam muito felizes”, lamenta o artesão, que já exportou seu talento para o Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e São Paulo, além de Israel. Perguntado se tem vontade de conhecer o país onde vive seu melhor freguês, ele não hesita: “Esse negócio de cidade grande ou exterior não é comigo, não. Gosto mesmo é daqui, de ficar na roça, criando”. mâché and modeling. I started at random, getting some pieces in Prados and improving them; suddenly I was already making frames, canvasses, dolls and chickens”, says the artisan. He bought better tools with his first income and organized a small studio in this mother in law’s garage. Once more money came in, he made new investments on tools and machinery. Today, he has his own shop, where he manufactures mirror frames (the large size, with 22 dolls, costs R$220 (~US$125)), bed headers, plate chickens (from R$25 to R$30 (US$15 to US$20)), pot cabinets, cup holders, cupboards, stools and wardrobes (with doll doors, his trademark, sold for R$700 to R$800 (US$400 to US$450)) – all made from recycled wood, which he insists on. “We haven’t studied much, but we don’t want to contribute to deforestation or to the destruction of the environment”, says Almir. The raw materials come from far places, such as the Paraná and the Pará States, but, according to him, they’re worth the waiting. “Besides being more ecological, recycled wood doesn’t bend and is cheaper”, explaining that any lumber gathered from demolitions, which he reuses in his work, is referred to as recycled. Said source is also a differentiating factor for the public: it provides a specific look and adds an ecological appeal, which is very valued nowadays. His only regret is not being able to share his success with his parents, who have passed away. “I’m sure they would be very happy”, mourns the artisan, who has exported his work to the Rio Grande do Sul, the Rio de Janeiro and the São Paulo States, besides Israel. When asked if he’s interested in seeing the country where his best costumer lives, he doesn’t even hesitate: “This big city or foreign country thing isn’t my turf. This is what I really like, to stay in the countryside and work on my creations”. 26 mercado externo / foreign market BRASIL FEITO A MÃO Entrevista / Interview Mario Cezar Mantovani Diretor da Fundação SOS Mata Atlântica Director of SOS Atlantic Forest Foundation Um dos principais temas da agenda inter- nacional nos dias de hoje, a ecologia nunca esteve tão em voga. Expressões como ‘aquecimento global’ e ‘desenvolvimento sustentável’ são ditas e ouvidas com a mesma naturalidade em todas as classes sociais, em todos os continentes, independentes de regimes de governo e sistemas financeiros. Cada vez mais evidentes, os impactos da ação humana no planeta retornam às populações mundiais sob forma de desertificações e inundações, escassez e desperdício, sem respeitarem fronteiras nem hemisférios. E o tema concerne a todas as atividades econômicas, inclusive o artesanato. Nesta edição dedicada ao artesanato em madeira, a revista ‘O Brasil Feito a Mão’ procura retratar casos de respeito ao meio ambiente e traz para a conversa uma das mais respeitadas instituições brasileiras no âmbito da preservação da natureza: a Fundação SOS Mata Atlântica. Criada em 1986, a organização é uma entidade apartidária e sem fins lucrativos que, nas palavras do próprio site da instituição, visa “promover a conservação dos ricos patrimônios natural, histórico e cultural existentes nos remanescentes de Mata Atlântica, assim como valorizar as comunidades que os habitam”. Na entrevista a seguir, Mario Cezar Mantovani, diretor da SOS Mata Atlântica, fala sobre artesanato, sustentabilidade e legislação ambiental. Confira. Among the main subjects on today’s international agenda, ecology has never been so popular. Expressions such as “global warming” and “sustainable development” are naturally said and heard throughout all social levels and all continents, independently of their governments or financial systems. The human impact on the planet is becoming more evident each day, affecting BRAZIL MADE BY HAND the populations through desertification processes, floods, shortages and waste, neither respecting borders nor hemispheres. Said theme concerns all economic activities, including handicraft. In this issue, which is dedicated to wood handicraft, the “O Brasil Feito a Mão” (“Handmade Brazil”) magazine seeks to present cases of environmental respect and to include one of the most respected Brazilian environmental preservation institutions in this discussion: the Fundação SOS Mata Atlântica (SOS Atlantic Forest Foundation, in a free translation). Created in 1986, this organization is a politically impartial and non-profit entity which, according to the institution’s website itself, aims to “promote the conservation of our great natural, historical and cultural resources within the remaining Atlantic Forest, as well as valuing their local communities.” In the following interview, Mario Cezar Mantovani, the director of SOS Mata Atlântica, discusses handicraft, sustainability and environmental legislations. You’re welcome to read it. entrevista / interview 27 Quando se fala em artesanato, é comum imaginar pequenas produções, muitas vezes familiares, e de caráter secundário ou complementar no que diz respeito à renda dessas famílias. Entretanto, eventos como a Feira Nacional de Artesanato, que reúnem milhares de artesãos, e a própria existência de publicações como esta revista “O Brasil Feito a Mão”, são indicadores de que essa é uma atividade econômica grande, que gera muitos recursos financeiros e, por outro lado, consome também muitos recursos naturais. Como você vê o artesanato do ponto de vista de uma economia ambientalmente sustentável? When it comes to handicraft, we generally think of small productions, often within families, having a secondary or complementary role concerning the family’s income. However, events such as the Feira Nacional de Artesanato (National Handicraft Fair), which gathers thousands of artisans, and publications such as the “O Brasil Feito a Mão” (“Handmade Brazil”) magazine indicate its importance as an economic activity which generates significant financial resources and, on the other hand, consumes a great volume of natural resources. How do you perceive handicraft from the environmentally sustainable economy point of view? Mantovani - Nosso entendimento é de que não existe nenhuma atividade mais próxima do meio ambiente que o artesanato. Ele representa o ponto de mutação onde a intervenção humana e a natureza com seus recursos interagem para transformar em vida. O Artesanato tem a dimensão humana, capaz de transformar os recursos, nos reciclar reciclando, construir economias solidarias, promover culturas, entender o ciclos da natureza, perpetuar e aperfeiçoar para futuras gerações, revelar historias e mais um milhão de outras características que, somadas, sintetizam o sentido de sustentabilidade. Escolhemos esse caminho do artesanato para entender o meio ambiente e, com isso, contribuir com a construção de uma nova sociedade em que o meio ambiente não dissocia as realidades. Mantovani - Our understanding is that no activities are as closely knit to the environment as handicraft. It represents a turning point in which human intervention and natural resources interact, bringing pieces to life. Handicraft contains a human aspect which enables us to transform resources, to recycle by recycling ourselves, build solidary economies, promote culture, understand the nature’s cycles, perpetuate and perfect processes for future generations, tell our stories and a million other characteristics that, combined, synthesize the meaning of sustainability. We’ve chosen to approach handicraft in order to understand the environment and, thereby, contribute to the formation of a new society in which the environment shall not dissociate realities. Você acredita no artesanato como uma atividade que pode ajudar a dar melhor destinação aos resíduos sólidos produzidos nos grandes centros? Ele pode chegar a absorver uma boa parte do nosso lixo? Do you believe handicraft can help, as an activity, to better allocate solid residues generated by large urban areas? Could it absorb a significant portion of our waste? Mantovani - A Política Nacional de Resíduos Sólidos, aprovada recentemente, incorpora esse conceito e avança no entendimento das responsabilidades compartilhadas quando se trata do nosso lixo. Todos temos nossa parte na sua gestão. Mas um fato ligado à realidade tirou da invisibilidade os catadores, que na busca da sobrevivência diária mostravam a importância de se reciclar. O artesanato ‘gritava’ com seus ‘fazimentos’, entre outras vozes, e isso quebrou um círculo vicioso das empreiteiras, da corrupção, do descarte na natureza, de contaminação das águas e muito mais, que estava se perpetuando por mais de dezoito anos. E agora o lixo se consagra como nobre matéria prima. Mantovani - The recently approved Política Nacional de Resíduos Sólidos (National Policy for Solid Residues) incorporates this concept and provides a better knowledge of shared responsibilities concerning our waste. We all have our parts to play in its management. This scenario, combined with our social reality, brought our “garbage pickers” into the spotlight, who demonstrated the importance of recycling while striving for their keep. Handicraft had been “screaming out” though its “undertakings”, among other voices, breaking the vicious circle that included contractors, corruption, environmental waste, water contamination and so forth, which had lasted for more than eighteen years. Now, waste is being considered a noble raw material. 28 entrevista / interview BRASIL FEITO A MÃO Você visitou a XX Feira Nacional de Artesanato, em Belo Horizonte, no ano passado. Qual foi a sua impressão, enquanto ambientalista, sobre o evento e os artesãos? Last year, you attended the 20th National Handicraft Fair in Belo Horizonte, Minas Gerais State, Brazil. As an environmentalist, what was your impression of the event and the artisans? Mantovani - Minha escolha de vida como ambientalista tem origem no artesanato. Não naquele produto encontrado numa banca, mas na visão de convivência com a natureza, cosmopolita quando se pensa em ter o que se precisa sem agredi-la, mas convivendo com ela. Conceito ampliado no mais forte dos temas relacionados ao meio ambiente: o consumismo. O artesanato é um antídoto para a arma mais poderosa contra a natureza, na humanidade que hoje consome o equivalente a dois planetas e meio em recursos naturais. A feira é um alento, a prova de que a criatividade supera muitas dificuldades. Acompanho há algum tempo e me renovo a cada edição nas minha crenças, e que somadas a sua organização, beleza, participação, interação, cultura, musica, comidas, cores, formam um turbilhão de fragmentos materializados em coisas que dão sentido ao gostar. Os artesãos são a concretude de tudo que está exposto e a cada edição conheço um pouco mais de cada um e sua criação. Uma lição de vida que se encerra em cada objeto. Quero sempre me tornar um aprendiz e tenho muito o que fazer. Mantovani - My choice of being an environmentalist is rooted in handicraft. Not on the product itself, but on the vision towards our coexistence with nature, which is entirely cosmopolite and focuses on preventing damages and collaborating with nature in order to obtain our needs. This concept can be magnified when it comes to one of the main causes of environmental issues: consumerism. Handicraft is an antidote to the most powerful weapon against nature, the humanity’s current natural resource consumption, equivalent to two and a half planets. The fair is a breath of fresh air, proving that creativity can overcome many obstacles. I’ve been following the fair for some time now, and my beliefs are renewed each year; the combination between its organization, beauty, participants, interaction, culture, music, food and colors forms a vortex of fragments, materialized on pieces which justify our appreciation. The artisans are the ones who make everything possible, and I learn more about each of them and their creations each year. There’s a life lesson hidden in each piece. I’ll never stop learning from them and there will always be work to be done. De que maneira o artesanato em madeira pode contribuir para o meio ambiente? E em que casos ele pode ser prejudicial? Mantovani - A madeira é um dos aspectos mais evidentes da interação da natureza com o artesanato. Parece um encanto na matéria prima e nas sensações. Seu aproveitamento, sendo resultado de outras transformações, não prejudica. E se tiver a origem controlada pode ainda ser um indutor no uso e na proteção das florestas. Exigir garantias de extração sustentável, reaproveitamentos e plantios para manutenção da atividade passa a ser o melhor caminho, e a sociedade está escolhendo esta opção. O atual Código Florestal brasileiro foi elaborado em 1965. Quais são as grandes defasagens dele em relação à atual realidade do planeta? Mantovani - O Código ainda é atual, mas pode e deve ser alinhavado e somado às legislações posteriores, tais como a Lei das Águas, Lei da Agricultura Familiar, Código BRAZIL MADE BY HAND How can wood handicraft contribute to the environment? And how can it also be harmful? Mantovani - The wood is one of the most evident aspects of the interaction between nature and handicraft. It’s a charming raw material and delights the senses. When well employed and benefited through transformations, it does no harm. In addition, forests can be better protected and employed through controlled wood sources. The best solution towards maintaining this activity is in establishing and demanding certificates for sustainable extraction, reemployment and planting; and society is making that choice. The current Código Florestal brasileiro (Brazilian Forest Code) was elaborated in 1965.What are its greatest discrepancies concerning the planet’s current situation? Mantovani - The Code is still current, but it can and entrevista / interview 29 Agrícola, Lei dos Crimes Ambientais, Lei da Biodiversidade, Política Nacional de Clima, entre outras. Essas mudanças são aceitas pelos ambientalistas e ainda são aquelas previstas no Projeto de Lei 6424/2005 do deputado Jorge Khoury (que trata da recomposição de reservas legais). Quais são os principais alvos de polêmica nas discussões sobre o novo código? Mantovani - As principais polêmicas não são relativas ao Código Florestal, como já disse, mas aquelas resultantes de um golpe preparado por parte da Bancada Ruralista. Eles perderam em quase todas as legislações citadas e, por não se adequar à legislação atual, querem dar um ‘passa moleque’ na sociedade, que ao longo dos anos conquistou um marco legal e socioambiental fantástico, que coloca o Brasil na Vanguarda e na modernidade. Nós, que sempre fomos a reboque dos movimentos globais, agora temos a oportunidade de ser referência e não podemos ser destruídos por interesses de grupos que não aceitam as regras. Então, o que essa parte dos ruralistas quer é acabar com a legislação ambiental. Não está mais em discussão o código florestal... Todas as demandas são no sentido de desmonte do nosso marco legal e, pior, arrastaram setores da must be adjusted and combined to posterior legislations, such as the Water Law, the Family Agriculture Law, the Agricultural Code, the Environmental Crimes Law, the Biodiversity Law, the National Climate Policy, among others. These changes are accepted by envi-ronmentalists, as well as those provisioned in the Law Project 6424/ 2005 by Congressman Jorge Khoury (about the rearrangement of legal reserves). What are the most controversial issues concerning the new code? Mantovani - The main controversies don’t concern the Forest Code, as I’ve mentioned, they concern a deceitful action by the Bancada Ruralista (congressmen involved in defending specific rural interests). They’ve lost in practically all mentioned legislations and, due to their dissatisfaction with the current legislation, want to “fool” this society which has, throughout the years, conquered a fantastic legal and socio-environmental landmark, taking Brazil to this issue’s forefront and into modernity. We, who have always only followed global actions, now have the opportunity to be a worldwide reference and can’t be destroyed by the interests of specific groups who won’t abide by the rules.What the “ruralists” want is to extinguish “Não existe nenhuma atividade mais próxima do meio ambiente que o artesanato” “No activities are as closely knit to the environment as handicraft” 30 entrevista / interview BRASIL FEITO A MÃO economia com alegações de que o meio ambiente atrapalha o desenvolvimento. E sabemos que não é a lei (que atrapalha o desenvolvimento), mas a falta de governabilidade, de recursos e de vontade política por parte do Executivo em todos os níveis de governo. Infelizmente, uma prática nacional que precisa ser revertida com a participação e as cobranças por parte da sociedade. Qual é a sua opinião sobre elas? Mantovani - A nossa opinião é que esse grupo de deputados ruralistas entrou numa luta suicida e quer arrastar mais setores para legitimar sua insanidade, com um agravante: por serem perdedores, buscaram se esconder na incompetência dos executivos e agredir a legislação ambiental, para garantirem que suas derrotas sejam acobertadas e que possam continuar com esse discurso para conseguirem votos em suas bases. Um oportunismo doentio e desespero de causa. Com a promulgação da Lei da Mata Atlântica (Lei No 11.428/ 06) em 2006, e o posterior advento do Decreto da Mata Atlântica (Decreto No 6660/08) em 2008, abriu-se um debate entre ruralistas e ambientalistas. Novamente a discussão vem à tona com a questão do novo Código Florestal. É possível chegar a um consenso que agrade aos dois lados? Foi possível no caso da Mata Atlântica? Mantovani - O Caso da Lei da Mata Atlântica é exemplar. Uma lei construída pela sociedade, que reconheceu na destruição desse bioma as fragilidades da nossa sociedade em administrar os bens culturais, sociais, econômicos e ambientais, e reagiu conquistando a proteção na Constituição, na Lei, e a regulamentação dos estágios sucessionais da floresta nos 17 Estados, em seus Conselhos Estaduais e no Conselho Nacional de Meio Ambiente, na mais fiel tradução das conquistas sociais. Mobilização... mobilização, conhecimento – com o Atlas da Mata Atlântica –, perseverança, luta. Não se pode misturar essa conquista da Lei da Mata Atlântica com a picaretagem desse grupo de ruralistas, que querem usar o código para destruírem esses avanços também. Vai além, é a legislação que estão tentando ferir de morte. BRAZIL MADE BY HAND the environmental legislation. The Forest Code isn’t being discussed anymore… All demands seek to dismantle our legal landmark; what’s even worse is that they drag a few sectors of the economy by claiming that the environment is a barrier to development. And we know that it’s not the law (that is a barrier to development), but the lack of governance, resources and political will by the Executive power in all governmental levels. Unfortunately, this is a common national practice that needs to be changed through society’s participation and control. What’s your opinion about them? Mantovani - Our opinion is that this group of “ruralist” congressmen have entered in a suicidal struggle and want to drag other sectors with them in order to legitimate their insanity, having an aggravating circumstance: for being losers in their cause, they’ve sought refuge in the executives’ incompetence, attacking the environmental legislation in order to cover up their defeats and sustain their position so they can get more votes from their political bases. This demonstrates their sickly opportunism and desperation. The promulgation of the Atlantic Forest Law Ner 11.428/06 in 2006 and the subsequent Atlantic Forest Decree Ner 6660/08 in 2008 started an intense debate between “ruralists” and environmentalists.This discussion is coming up once again due to the new Forest Code. Is it possible to reach a consensus which pleases both sides? Was this possible in the Atlantic Forest discussion? Mantovani - The Atlantic Forest case is exemplary. Through this law, which acknowledged this biome’s destruction, our society recognized its weaknesses concerning the management of cultural, social, economic and environmental assets, and reacted by guaranteeing their Constitutional protection, through laws, and regulating the forest’s successional stages in all 27 states, their State Councils and in the National Environmental Council, representing an enormous social achievement. Mobilization… mobilization, knowledge – through the Atlantic Forest Atlas -, perseverance, struggle. One can’t mix the Atlantic Forest Law achievement with the deceptions perpetrated by this “ruralist” group, who want to use the code to destroy these achievements as well. Even worse, they’re trying to deliver a deadly blow to the legislation. entrevista / interview 31 The Saint Carver from Piauí POR / BY O Santeiro do Jader Rezende Divulgação FOTOS / PHOTOS Piauí 32 eu faço / I make BRASIL FEITO A MÃO Ao contrário do maior nome do barroco As opposed to the most notorious latinoamericano – Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1730-1814) – que iniciou sua vida artística ainda menino, observando o trabalho do pai, também entalhador, um dos mais importantes santeiros do Piauí – Raimundo Ferreira Lima, o Mestre Dim – não teve a mesma compreensão e carinho quando criança. Sua mania de esculpir santos em pedaços de madeira debaixo de uma árvore no fundo do quintal de casa, era severamente punida pelo pai com surras de rédea de cavalo. Como se não bastasse, as pequenas peças eram queimadas na fogueira, para que ficasse bem claro que aquilo “era coisa de gente do mato, que não tinha o que fazer”. Descendente de negros e índios, segundo entre sete irmãos, o pequeno Dim passou a infância ajudando o pai, um carroceiro que recolhia o que pudesse aproveitar de lixo jogado nas ruas de Teresina (PI). Naquela mesma carroça, também transportavam mudanças. A mãe fazia a sua parte, trabalhando como empregada doméstica. Na escola, Dim ficava encantado com imagens das obras de Aleijadinho publicadas em livros de história. O pai pretendia que ele se formasse em medicina ou engenharia. “Coisas que eu nem sabia o que era”, lembra. Mas o que ele queria mesmo era ser artista. Hoje, aos 45 anos, Mestre Dim é reconhecido internacionalmente por sua arte. Iniciou sua carreira em 1981, sob a tutela do célebre Mestre Dezinho, outro importante santeiro conterrâneo. Dois anos depois, foi premiado no IX Salão de Artes Plásticas do Piauí. Já mostrou suas obras nos mais importantes salões de artesanato do país e também do exterior, como na Espanha, Portugal, Itália e Estados Unidos, onde fez uma exposição individual em 2004. Atualmente, trabalha com crianças e adolescentes no Projeto Cravo, da Secretaria de Assistência Social e Cidadania do Governo do Piauí. Casado há 18 anos com a auxiliar de laboratório Janiery Sousa, Mestre Dim planeja um futuro melhor para sua família. “Não quero que meu filho passe pelas dificuldades que eu passei. Acho que ele não vai seguir meus passos”. Mestre Dim confessa um grande desejo: conhecer as igrejas barrocas de Minas Gerais e ver name in the Latin American baroque scenario, Antônio Francisco Lisboa, better know as Aleijadinho (1730-1814) – who began his artistic life as a boy, watching his father’s carving work – one of the most notorious saint carvers in the Piauí State, Brazil, Raimundo Ferreira Lima, known as Mestre Dim, did not experience the same comprehension and care as a child. His insistence in sculpting saints on wooden pieces under a tree in his backyard was severely punished by his father, who beat with horse reins. As if that was not enough, the small pieces were burned on the ground so it would be clear that “those were things for savages, who didn’t have anything else to do.” Having descended from African-Americans and Native-Americans, and being the second among seven bothers, little Dim spent his childhood helping his father, who conducted a cart gathering any reusable garbage from the streets of Teresina, the capital of Piauí. He also used the same cart to transport furniture. His mother did her part, working as a maid. At school, Dim was fascinated by pictures of Aleijadinho’s works in his history books. His father wanted him to become a doctor or an engineer. “I didn’t even know what those things were”, remembers Mestre Dim. What he really wanted was to become an artist. Today, at age 45, Mestre Dim’s art has international projection. He began his career in 1981, tutored by the famous Mestre Dezinho, another important saint carver in the region. Two years later, his work was awarded in the IX Salão de Artes Plásticas do Piauí (4th Plastic Arts Exposition of Piauí). He has displayed his pieces in the country’s most important handicraft expositions, as well as in Spain, Portugal, Italy and the United States, where he held an individual exposition in 2004. He currently works with children and teenagers in the Projeto Cravo (Carnation Project), sponsored by the Secretaria de Assistência Social e Cidadania do Governo do Piauí (Secretariat of Social Assistance and Citizenship of the Piauí State Government). Having been married for 18 years with Janiery Sousa, a laboratory assistant, Mestre Dim plans a better future for his family. “I don’t want my son to go through what I’ve been through. BRAZIL MADE BY HAND eu faço / I make 33 de perto as obras de quem o inspirou. “Já arrumei a mala várias vezes para ir a Minas, mas sempre acontecia um imprevisto, alguma atividade aqui no meu Estado que me impedia de realizar esse sonho. Na primeira vez fui escolhido pela Secretaria de Ação Social para abrir os cursos destinados a menores carentes. Depois, ia para uma feira da Mãos de Minas; fui sorteado com a passagem, mas um turista comprou minhas peças e eu não podia viajar sem elas. Mas eu não desisto, um dia vou ver de perto toda essa riqueza que Aleijadinho nos deixou de herança”, confia. Outro grande anseio de Mestre Dim é ver sacramentado um processo que se arrasta há pelo menos dois anos: a inclusão da arte santeira do Piauí no Livro de Registros e Saberes do Ministério da Cultura. Dessa forma, acredita, o artesanato piauiense ganharia maior visibilidade, além de gerar propostas de políticas públicas para fomentar o desenvolvimento dessa arte tão peculiar de seu Estado. “Seria a realização de um sonho daquele menino que 34 eu faço / I make I don’t think he’ll follow my footsteps”, says Mestre Dim. He confesses one wish: going to Minas Gerais’ baroque churches and seeing the art that inspired him up close. “I’ve packed my bags for the trip to Minas several times, but something always came up, such as activities in my State which prevented me to indulge that dream. The first time around, I was chosen by the Secretaria de Ação Social (Secretariat of Social Action) to minister workshops for poor children. Then, I was going to a Mãos de Minas fair; I had been awarded with plane tickets, but a tourist bought my pieces and I couldn’t go without them. But I won’t give up, one day I’ll see this magnificent heritage Aleijadinho has left us”, says Dim, confident. Mestre Dim also has another great wish, the formalization of a process which has been taking place for at least two years: the inclusion of the Piauí saint carving arts in the Livro de Registros e Saberes do Ministério da Cultura (Registry and Knowledge Ledger of the Ministry of Culture). He believes that the Piauí handicraft would gain more visibility through this process and that it would enable public proposals for the development this State’s peculiar art. “It would be that boy’s dream coming true, a boy who learned his trade under a guava tree, next to a toilet, with bugs biting on his ankles and getting beat by his father, a boy who had no perspective or encouragement besides that from God and all saints, from all angels and all souls”, says Mestre Dim. “It would be a victorious coronation, for I never thought I could get this far. We, the Piauí artisans, are optimistic that this will work out.” Tell us about your childhood. I was born at home, in Teresina, on June 15th, 1965. It all happened so fast that there was no time to go to a hospital. My grandparents played the baião (popular Brazilian dance and rhythm) and other concertina rhythms in local parties. My mother was raised as a maid in several houses, she had lost her parents when she was 4 years old and spent her entire life being humiliated by everyone. Her dream was to have her own home. One day she moved to Teresina and got a job at the Army’s Engineering and Construction Battalion. My father has never wanted her to work, but she’s always been a fighter, as an AfricanAmerican nordestina (person from northeastern Brazil), she’s faced all challenges with her head held high. BRASIL FEITO A MÃO aprendeu debaixo de um pé de goiaba, perto de uma privada, apanhando de ‘rei’ e com as muriçocas mordendo as canelas, sem nenhuma perspectiva, sem nenhum incentivo de ninguém, só de Deus e de todos os santos, de todos os anjos e de todas as almas”, diz. “Seria a coroação de uma glória, pois nunca acreditei que pudesse chegar tão longe. Nós, artesãos do Piauí, preferimos acreditar que isso venha a dar certo”. Fale um pouco de suas origens. Nasci em casa, em Teresina, no dia 15 de junho de 1965. Tudo aconteceu tão rápido que nem deu tempo de me levarem para a maternidade. Meus avós eram tocadores de baião e outras festas de sanfona. Minha mãe foi criada nas casas como doméstica, sendo humilhada por tudo e por todos, pois ela não tinha mãe nem pai desde os 4 anos de idade. O sonho dela era ter uma casa. Até que um dia ela veio morar em Teresina e conseguiu um emprego no Batalhão de Engenharia e Construção do Exército. Meu pai não queria que ela trabalhasse, mas como ela é uma guerreira, nordestina e negra, enfrentou tudo de cabeça erguida. How was your relationship to your mother? When I was a small boy, I told her I was going to be “big”. I climbed on the tables, on the stove, and said: Mommy, I’m going to be “big”, I’m going to be important. My mother’s job at the army was to wash clothes for women who had given birth. I used to help her on Saturdays and Sundays, and always stared at the scalpels amid all the blood. Sometimes I snuck a few and took them home to make sculptures in the backyard. My father hit me when he caught me, but that didn’t work. He said that I had to focus on studying. What about school? I studied until finishing Middle School. I paid for my studies myself, but I’m also lucky, so I got several scholarships, from FAE and MEC (Brazilian educational institutions), which was good because then I could save some money. My brothers also finished Middle School. Como era a relação com sua mãe? Quando eu era menino eu dizia para ela que iria ser grande. Eu subia em cima das mesas, do fogareiro e dizia: Mamãe eu vou ser grande, vou ser importante. O emprego da minha mãe no quartel era de lavar roupa daquelas mulheres operadas de parto. Eu costumava ajudar minha mãe aos sábados e domingos, e ficava olhando para aqueles bisturis no meio do sangue. Pegava alguns escondido e levava para casa para fazer esculturas no fundo do quintal. Papai, quando via, me batia, mas não adiantava. Dizia que eu deveria mesmo era estudar. E a escola? Estudei até o Ensino Médio. Eu mesmo pagava meu colégio, mas como tenho sorte ganhei várias bolsas, da FAE e do MEC, e assim foi melhor para mim porque poupava dinheiro. Meus irmãos também completaram o Ensino Médio. BRAZIL MADE BY HAND eu faço / I make 35 Você começou a trabalhar cedo, ainda menino? Did you start working early, as a young boy? Era lavador de carro no centro da cidade. Acordava às 4 horas para vender jornal com amigos. Naquela época só havia dois jornais no Piauí. Acordávamos cedo para sermos os primeiros a receber os jornais. Vendia também dindin, que é a mesma coisa que picolé. Catava osso velho e vidro velho para vender. Trabalhava ainda de ajudante de pedreiro, até que um dia vi o Mestre Dezinho na televisão. Até os 17 anos foi assim. I used to wash cars downtown. I woke up at 4 AM to sell newspapers with some friends. There were only 2 newspapers in Piauí at that time. We woke up early so we’d be the fist ones to get the newspapers. I also sold “din-din”, which are the same as popsicles. I picked old bones and glass from the street so I could sell them too. I also worked as a bricklayer assistant, until I say Mestre Dezinho on television one day. That was my life until the age of 17. Quem é Mestre Dezinho? Who is Mestre Dezinho? Um artesão do Piauí. Depois de ver a entrevista dele na TV, fiz uma peça em casa e levei para ele ver. Ele disse que não dava para eu trabalhar, pois já tinha muita gente ajudando. Mas eu não desisti. Três meses depois eu voltei. Só que dessa vez fiz um anjo quase parecido com o dele, que tem lá na Igreja da Vermelha. Quando ele viu, mandou eu entrar. Depois de um ano fui premiado como um dos melhores artesãos do Piauí. O que mudou em sua vida depois do reconhecimento de seu trabalho? Me senti como gente. Minha mãe, Ave Maria, ficou muito alegre! Meu pai, que me batia, também ficou muito alegre. Comecei a sair em jornais, televisão. As pessoas do meu bairro me viam com outros olhos. Antes me viam como um marginal. Depois, todo mundo queria aprender comigo. He’s an artisan from Piauí. After seeing his interview on TV, I carved a piece at home and brought it to him. He said I couldn’t work for him, because he already had too many assistants. But I didn’t give up. I went back three months later. But this time around, I’d carved an angel that looked like one of his, the one displayed at the Igreja daVermelha (Vermelha Church).When he saw that, he took me in. After a year, I was awarded as one of the best artisans in the Piauí State. What changed in your life after your work gained recognition? I felt like a real person. My mother was extremely happy! My father, who used to beat me, was also very happy. I appeared on newspapers and on television. The people in my neighborhood looked at me differently. They used to look at me like I was a criminal. After that, everyone wanted to learn from me. Do you usually work a lot? I work from 6 AM to 11:20 AM, when I take a break to get some rest. I start again at 1:30 PM and work until the end of the 36 eu faço / I make BRASIL FEITO A MÃO Costuma trabalhar muito? Trabalho das 6 horas da manhã até às 11h20, quando paro pra descansar. Volto às 13h30, continuo trabalhando até o final da tarde e dou aulas como voluntário. Até em presídio de menores infratores eu dei aula. Ainda dou, se me chamarem. Como comercializa suas obras? Vendo de todo jeito: para o exterior e até para pessoas humildes, que pagam em até quatro vezes. Só não posso dar de graça. Pergunto para onde vai cada uma delas.Tenho um caderno onde anoto tudo. Por quanto vende? De R$ 25 até R$ 20 mil. As de 15 centímetros custam R$ 25, por exemplo. As maiores, dependendo dos temas, custam mais caro. Que matéria prima utiliza? Cedro, pedra, buriti, raízes e couro. As madeiras são restos que eu encontro na beira dos rios. Acho que as mãos foram feitas pra construir e não para destruir. Quando eu vejo alguma raiz que parece um pássaro ou algum animal, procuro resgatar para fazer meu trabalho. Uso também madeira de reflorestamento, com etiqueta do Ibama, pois não quero contribuir com o desmatamento. afternoon, and I also teach classes as a volunteer. I’ve even taught in penitentiaries for young transgressors. I’ll still do it if called upon. How do you sell you pieces? I sell them in all possible ways, sending them to foreign countries or selling them to humble people, who can pay in four installments. The one thing I can’t do is give them away. I always ask where each one is going. I write everything down in my notebook. What are the prices? From R$25 to R$20,000 (~US$15 to US$12,000). The ones measuring 15 centimeters cost R$25 (~US$15), for example. The bigger ones are more expensive, depending on their theme. What do you use for raw material? Cedar, stone, moriche palm, roots and leather. All the wood comes from remains found on river banks. I believe our hands were made to build and not to destroy. When I spot interesting roots, having bird or animal shapes, I try to collect them so they can be used in a piece. I also work with reforestation lumber, certified by Ibama, because I don’t want to be an enabler of deforestation. When did you start your own school? Quando sua escola começou a funcionar? Em 1989, no fundo do quintal da minha casa. Em 1992 consegui um espaço em um complexo escolar do Monte Castelo e, em 2006, no dia 18 de maio, registramos em cartório como Conselho de Jovens Artesãos do Piauí. Já passaram por lá cerca de 400 alunos. Atualmente atendo 25 crianças e adolescentes. In 1989, in my backyard. Then, in 1992, I was able to use a room in the Monte Castelo school complex and, on May 18th, 2006, we got registered at the notary’s office as “Conselho de Jovens Artesãos do Piauí” (“Young Artisan Council of Piauí”). We’ve already taught about 400 students. I’m currently teaching 25 children and teenagers. What’s your next goal? Qual a sua próxima meta? Estou lutando para conseguir patrocínio de uma exposição individual fora do Piauí. Como você já viu, eu não desisto facilmente e vou conseguir. BRAZIL MADE BY HAND I’m trying to find a sponsor for an individual exposition outside Piauí. As you’ve noticed, I don’t give up easily and I know I’ll get it. eu faço / I make 37 Feiras e Eventos XIV EXPOSIÇÃO DE ARTESANATO E ENCONTRO INTERNACIONAL DE NEGÓCIOS DO NORDESTE 28 a 30 de abril de 2010 Alimentos e bebidas, confecções, artesanato, móveis, floricultura, cosméticos e saneantes. Com cerca de 250 expositores, será aberta ao público das 8 às 18 horas. Promoção:SEBRAE/CE - Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas Local: Centro de Negócios SEBRAE – Fortaleza – CE Site do evento: www.ce.sebrae.com.br E-mail do evento: [email protected] 3º SALÃO INTERNACIONAL DO ARTESANATO 5 a 9 de maio de 2010 Artesanato em geral. Com cerca de 500 expositores, será aberto ao público das 14 às 22 horas nos dias úteis e das 10 às 22 horas no sábado e domingo. Promoção: Rome Feiras e Promoções Ltda. Local: Pavilhão de Exposições Expobrasília – Brasília – DF Site do evento: www.salaodoartesanato.com.br E-mail do evento: [email protected] FEIARTE Edição Paraná 24ª Feira Internacional de Artesanato 14 a 23 de maio de 2010 Produtos de origem artesanal, decoração, vestuário, utilidades domésticas, tapetes, acessórios e complementos de moda, comidas típicas, brinquedos, calçados, bebidas, etc. Com cerca de 250 expositores, será aberta a empresários das 15 às 22 horas nos dias úteis, das 14 às 22 horas nos domingos. Promoção: Diretriz Empreendimentos S/A. Local: Centro de Exposições de Curitiba - Parque Barigui - Curitiba - PR Site do Evento: www.feiartepr.com.br E-mail do evento: [email protected] MÃOS E ARTE Edição Maringá 2ª Feira Nacional e Internacional de Artesanato 4 a 13 de junho de 2010 Decoração artesanal, moda, jóias e semi-jóias, acessórios, móveis,gastronomia, artesanato em geral. Com cerca de 150 expositores, 38 feiras e eventos / fairs and events será aberta ao público das 15 às 22 horas. Promoção: Red Comunicações e Eventos Ltda. Local: Sociedade Rural de Maringá – Maringá – PR Site do evento: www.redproducoes.com.br E-mail do evento: [email protected] 3ª FEIRA JUNINA DE ARTESANATO DE MS 4 a 30 de junho de 2010 Artesanato tradicional, trabalhos manuais, peças utilitárias e decorativas. Com cerca de 70 expositores, será aberta ao público das 10 às 17 horas nos dias úteis e das 13 às 17 horas no sábado. Promoção: Fundação de Cultura do Mato Grosso do Sul Local: Mezzanino do Memorial da Cutura e Cidadania (FCMS) – Campo Grande - MS Site do evento: www.fundacaodecultura.ms.gov.br E-mail do evento: [email protected] FEIARTE Edição Rio Grande do Sul 23ª Feira Internacional de Artesanato 11 a 20 de junho de 2010 Produtos de origem artesanal, decoração,vestuário, utilidades domésticas, tapetes, acessórios e complementos de moda,comidas típicas, brinquedos, calçados, bebidas, etc. Com cerca de 240 expositores, será aberta a empresários das 13 às 21 horas. Promoção: Diretriz Empreendimentos S/A. Local: Centro de Exposições FIERGS – Porto Alegre – RS Site do evento: www.feiarters.com.br E-mail do evento: [email protected] MEGA ARTESANAL 2010 10ª Feira do Setor de Artes e Aretsanato no Brasil 30 de junho a 4 de julho de 2010 Artesanato, lançamentos e variedades de marcas e produtos para artesanato, cursos, demonstrações, etc. Com cerca de 340 expositores, será aberta a empresários das 11 às 19 horas. Promoção: Mazzotti Feiras e Congressos Ltda. Local: Centro de Exposições Imigrantes – São Paulo – SP Site do evento: www.megaartesanal.com.br E-mail do evento: [email protected] BRASIL FEITO A MÃO Fairs and Events XIV EXPOSIÇÃO DE ARTESANATO E ENCONTRO INTERNACIONAL DE NEGÓCIOS DO NORDESTE 28 to 30 April, 2010 Food and drinks, clothing, handicrafts, furniture, floriculture, sanitizing and cosmetics.With approximately 250 exhibitors, open from 8 to 18 hours. Promotion: SEBRAE / CE Venue: Centro de Negócios SEBRAE - Fortaleza - CE Event website: www.ce.sebrae.com.br E-mail: [email protected] 3º SALÃO INTERNACIONAL DO ARTESANATO 5 to 9 May, 2010 Handicrafts.With about 500 exhibitors, will be open to the public from 14 to 22 hours on weekdays and from 10 to 22 hours on Saturday and Sunday. Promotion: Rome Feiras e Promoções Ltda. Venue: Pavilhão de Exposições Expobrasília - Brasília - DF Event website: www.salaodoartesanato.com.br E-mail: [email protected] FEIARTE Edição Paraná 24th International Crafts Fair 14 to 23 May, 2010 Handicrafts, decorations, clothing, housewares, rugs, fashion accessories, typical food, toys, footwear, beverages, etc..With about 250 exhibitors will be open to entrepreneurs from 15 to 22 hours on weekdays, from 14 to 22 hours on Sundays. Promotion: Diretriz Empreendimentos S / A. Venue: Centro de Exposições de Curitiba – Parque Barigui - Curitiba - PR Event Site: www.feiartepr.com.br E-mail: [email protected] MÃOS E ARTE Edição Maringá 2nd National and International Handicrafts Fair 4 to 13 june 2010 Handcrafted decor, fashion, jewelry and semi-jewels, accessories, furniture, food, handicrafts.With about 150 exhibitors, opens to the public from 15 to 22 hours. BRAZIL MADE BY HAND Promotion: Red Comunicações e Eventos Ltda. Venue:Sociedade Rural de Maringá - Maringá - PR Event website: www.redproducoes.com.br E-mail: [email protected] 3rd JUNE HANDICRAFTS FAIR OF MS 4 to 30 June, 2010 Traditional crafts, handicrafts, decorative and utilitarian pieces. With about 70 exhibitors, will be open to the public from 10 to 17 hours on weekdays and from 13 to 17 hours on Saturday. Promotion: Fundação de Cultura do Mato Grosso do Sul Location: Mezzanine of the Memorial da Cultura e Cidadania (FCMS) - Campo Grande - MS Event website: www.fundacaodecultura.ms.gov.br E-mail: artesanato.fcms @ hotmail.com FEIARTE Edição Rio Grande do Sul 23rd International Handicrafts Fair 11 to 20 June, 2010 Products of handicraft, decoration, clothing, housewares, rugs, fashion accessories, typical food, toys, footwear, beverages, etc.. With about 240 exhibitors, will be open to entrepreneurs from 13 to 21 hours. Promotion: Diretriz Empreendimentos S / A. Venue: Centro de Exposições FIERGS - Porto Alegre - RS Event website: www.feiarters.com.br E-mail: [email protected] MEGA ARTESANAL 2010 10th Fair of the Arts and Handicrafts Sector in Brazil 30 June to 4 July, 2010 Handicraft, launches and variety of brands and products for handicrafts, workshops, demos, etc.. With about 340 exhibitors, will be open to entrepreneurs from 11 to 19 hours. Promotion: Mazzotti Feiras e Congressos Ltda. Venue: Centro de Exposições Imigrantes - Sao Paulo - SP Event website: www.megaartesanal.com.br E-mail: [email protected] feiras e eventos / fairs and events 39 Onde Encontrar Where to find Diomar Freitas Dantas (Página 5 / Page 5) Juazeiro do Norte (CE) Tel. 55 88 3511 3133 / 55 88 9987 9898 Márcio Julião (Página 9 / Page 9) Prados (MG) Tel. 55 31 3353 6867 Josias Cardoso dos Santos e Marilene Alair da Silva (Página 13 / Page 13) Lagoa Dourada (MG) Tel. 55 32 3363 1650 / 55 32 3371 9500 / 55 32 9936 8208 Eduardo Eleutério de Albuquerque (Página 17 / Page 17) Belo Horizonte (MG) Tel. 55 31 3075 0906 / 55 31 9959 8997 Almir Antônio de Paula (Página 23 / Page 23) Prados – Distrito de Bichinho (MG) Tel. 55 32 3353 7090 / 55 32 9918 7012 Raimundo Ferreira Lima (Mestre Dim) (Página 32 / Page 32) Teresina (PI) Tel. 55 86 3222 9639 / 55 86 9975 6114 / 55 86 3274 9472 / 55 86 8858 9309 [email protected]
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