ISSN 1415-9279 Nº 40 / 2009
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ISSN 1415-9279 Nº 40 / 2009 Publicação da Universidade Tuiuti do Paraná / Coordenadoria de Pesquisa, Iniciação Científica e Editoração Científica ISSN 1415-9279 Nº 40 / 2009 Universidade Tuiuti do Paraná Reitor Luiz Guilherme Rangel Santos Pró-Reitor de Planejamento Afonso Celso Rangel Santos Pró-Reitora Acadêmica Carmen Luiza da Silva Pró-Reitor Administrativo Carlos Eduardo Rangel Santos Pró-Reitora de Promoção Humana Ana Margarida de Leão Taborda Pró-Reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão – PROPPE Pró-Reitor Roberval Eloy Pereira Coordenadoria de Pesquisa, Iniciação Científica e Editoração Científica Coordenadora Iolanda Bueno de Camargo Cortelazzo Curitiba PR / Número Especial / 2009 Comissão Institucional de Editoração da Universidade Tuiuti do Paraná Pró-Reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão – PROPPE Prof. Dr. Roberval Eloy Pereira Coordenação Profª. Drª. Iolanda Bueno de Camargo Cortelazzo Faculdade de Ciências Aeronáuticas - FACAERO Profª. Ms. Rosilda Maria Borges Ferreira Faculdade de Ciências Biológicas e de Saúde - FACBS Profª. Drª. Claudia Giglio de Oliveira Goncalves Faculdade de Ciências Exatas e de Tecnologia - FACET Prof. Dr. José Soares Coutinho Filho Faculdade de Ciências Humanas, Letras e Artes - FACHLA Profª. Drª. Etelvina Maria de Castro Trindade Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas - FACSA Profª. Drª. Marcia Elisa de Campos Graf Consultores Editoriais Externos Profª. Drª. Maura Seiko Esperacini - UNESP Profª. Drª. Sieglinde Kindl da Cunha - UFPR e Faculdades Reunidas de Palmas/PR Coordenadoria de Pesquisa, Iniciação Científica e Editoração Científica Coordenação Iolanda Bueno de Camargo Cortelazzo Responsável Técnico, Produção Gráfica e Editoração Eletrônica Haydée Silva Guibor Produção Gráfica e Editoração Eletrônica Márcia R. Trayczyk Ribeiro Revisão de Língua Portuguesa Maria de Lourdes Martins Rua Sydnei Antônio Rangel Santos, 238 - Santo Inácio CEP 82010-330 - Curitiba - Paraná 41 331-7654 [email protected] Catalogação na publicação Biblioteca “Sydnei Antonio Rangel Santos” da Universidade Tuiuti do Paraná Tuiuti: Ciência e Cultura. – nº 40 / Jan./Jun. 2009. – Curitiba : Universidade Tuiuti do Paraná, 1994 . 539 p. ; 23 x 19 cm Semestral Neste número: artigos e resumos publicados para o XIII Seminário de Pesquisa da Universidade Tuiuti do Paraná. ISSN 1415-9279 1. Ciência - Periódico. 2. Cultura - Periódico. 3. Periódicos. I. Universidade Tuiuti do Paraná. CDD 050 Dinâmica de publicação Semestral SOLICITA-SE PERMUTA Nota do editor: A revista Tuiuti: Ciência e Cultura vem sendo publicada pela Universidade Tuiuti do Paraná desde 1994. A numeração é seqüencial. O ciclo refere-se ao conjunto Tuiuti: Ciência e Cultura, periodicidade semestral. O número refere-se ao Departamento ou à Faculdade a que se destina. Sumário 7 Apresentação 11 Grupos de Pesquisa 31 Resumos de Pesquisa Ciências Biológicas e da Saúde 55 A escrita de narrativas autobiográficas no processo de envelhecimento Regina Celebrone Lourenço | Giselle Massi 59 A importância da educação de enfermagem para o cuidado domiciliar as pacientes mastectomizadas com sistema de drenagem Luciana P. Kalinke | Jane F. Costa | Ana Paula Balbino | Paula Souza | Thais Lima | Geovana C. S. Sylvestre 63 A representação de um grupo terapêutico de cuidadores de pacientes neurológicos para seus integrantes Francisleine Moleta | Ana Paula Santana | Gisele Senhorini 67 A vida concreta da palavra- influência e implicação das ações de linguagem – de mães de crianças surdas (com implante coclear) Roseli Paciornik 72 A violência intrafamiliar contra o idoso na perspectiva de profissionais de uma unidade de saúde Ana Claudia Nunes de Souza Wanderbroocke 75 Ação conjuntada do ruído e trabalho em turno rodiziante e noturno: efeitos extra-auditivos e auditivos Milena Raquel Iantas 77 Ações educativas sobre prevenção auditiva com pescadores de Itajaí Adriana Betes Heupa | Diolen Conceição Barros Lobato | Fernanda Frosi 82 Adubação nitrogenada na formaçãode amendoim forrageiro Ana Luisa Palhano Silva | Luiza Prado dos Santos | Ana Paula Cerdeiro 86 Afasia e letramento: um outro olhar para o processo terapêutico de linguagem escrita Gisele Senhorini | Ana Paula de Oliveira Santana 89 Análise postural em militares instrumentistas de sopro da Banda Musical da Polícia Militar Luciana Lopes Costa | Kelly C. A. Silvério | Jair Mendes Marques 93 Análise postural em policiais militares Luciana Lopes Costa 96 Análise radiológica em 3D (Tomografia Computadorizada Cone Beam) comparativa do espaço articular em pacientes com disfunção têmporo-mandibular para localização de posição de tratamento Eduardo Carrilho 98 Atuação fonoaudiológica na Semana de Promoção Humana da Universidade Tuiuti do Paraná Claudia G. O. Gonçalves | Adriana B. M. Lacerda | Thais C Morata | Adriana B. Heupa | Gisele de L. Costa | Aline C. Moreira 103 Autonomia coletiva – os percalços entre a heterogestão e a autogestão Marilene Zazula Beatriz 107 Avaliação da função motora e do equilibrio em crianças HIV+ Evelin B de Oliveira | Marise B Zonta | Marimar G A Madeira | Tony T Tahan | Ana Paula de Pereira | Icac Bruck | Cristina R da Cruz | Regina M. R. Camargo 111 Avaliação da proposta nutricional do rebanho leiteiro da Fazenda Pé da Serra - verão e inverno 2009 – um estudo de caso Ana Luisa Palhano Silva | Rosemeire Oberle | Ana Paula Cerdeiro 114 Avaliação da qualidade vocal em militares instrumentistas de sopro Ana Paula Silva Ferreira | Kelly Cristina Alves Silvério | Aline Wolf | Jair Mendes Marques 118 Avaliação das propriedades farmacológicas e tóxicas dos extratos fracionados da erva mate (Ilex paraguariensis) tostada e soluvel Luciana Nowacki | Roseli Mello | Arion Zandoná Filho | Wesley Mauricio de Souza 122 Avaliação do padrão de duração em indivíduos submetidos a teste de próteses auditivas Fernanda Scheffer Frosi 127 Avaliação microbiológica e de metais pesados do aquífero freático nos cemitérios municipais Água Verde-Curitiba e Córrego Fundo-São José dos Pinhais PR Elisangela Ferruci Carolino | Michael Moraes | Maria Luisa Fernandes Rodrigues 131 Avaliação vestibular na fribomialgia:relato de dois casos Klagenberg KF | Zeigelboim BS | Liberalesso PBN | Paulin F | Jurkiewicz AL. 135 Avaliação visual e histopatológica de carcaças de frangos condenadas parcial ou totalmente no processo de abate José Maurício França M.M.V. | Anderlise Borsoi, M.M.V. 139 Biologia e conservação de anuros do gênero brachycephalus da Serra do Mar no Estado do Paraná Luiz Fernando Ribeiro 143 Caracterização da deglutição com gelatina em individuos com disfagia neurogênica Silvana T. Duarte | Solange Coletti | Maria L. Correia | Jociane Camargo | Rosane Sampaio | Ana Maria Furkim 147 Caracterização, isolamento e identificação de fungos endofíticos da ricinus communis l. (Mamona) com aplicação biotecnológica Evandra Mello Pereira | Roseli Aparecida de Mello | Maria Luiza Fernandes Rodriguez 151 Comunicação suplementar e/ou alternativa (csa): fatores favoráveis e desfavoráveis ao uso no contexto familiar Simone I. Krüger | Ana Paula Berberian 157 Desenvolvimento de aplicações tecnológicas para grãos de quinoa (Chenopodium quinoa Willd) – Parte II Cláudia Helena Degáspari 161 Educação para a saúde na escola: uma experiência interdisciplinar Daniele do Rocio Ribeiro | Lisa Elvira Hass | Paôla Luma Cruz 165 Estudo das modalidades terapêuticas em pacientes com câncer atendidos no Hospital Veterinário da UTP – neoplasias malignas específicas Mariana Scheraiber | Alvaro Tortato 169 Estudo de três possíveis aplicações para o polissacarídeo de sementes de tamarindo Neila de Paula Pereira 173 Fatores de meio ambiente sobre a produção de leite, gordura, proteína em bovinos leiteiros da região metropolitana de Curitiba Uriel Vinícius Cotarelli de Andrade | Maria Lúcia Masson | Elder Clayton Capeletto | Pablo Gomes Martinez | Giovanna Cestári Ravedutti | Evandro Massulo Richter 177 Fonoaudiologia e os processos de linguagem: domínios de investigação Ana Paula Berberian Vieira da Silva | Ana Cristina Guarinello| Ana Paula Santana de Oliveira | Giselle Massi 181 Influência da hidrocinesioterapia no equilibrio de indivíduos acima de 60 anos Bianca Simone Zeigelboim | Sandra Dias de Souza 185 Isolamento e caracterização de microrganismos de erva–mate (ilex paraguariensis a. St.-Hil.)Com potencial antibacteriano Roseli Aparecida de Mello | Amanda Lopes Lago | Cassiana de Oliveira | Mayara Gonçalves Motta 189 O impacto do ruído na atividade de odontólogos Cláudia Giglio de O. Gonçalves | Adriana Lacerda 193 Percepção discente e docente acerca do ensino superior e das características ideais de docentes e discentes: uma perspectiva interinstitucional Irene C. P. Prestes | Adriana P. Gagno | Adriana de F. Franco | Eugênio P. de P. Junior | Leandro Kruszielski | Mônica D. Luna 197 Preparo de emulsões contendo princípios ativos da própolis de apis mellifera – manipulação farmacológica de uso humano e veterinário Patricia Bumiller Bini Domacoski | Valter Antonio de Baura | Shigehiro Funayama 199 Programa de prevenção de perda auditiva (PPPA): avaliação de sua eficácia em uma indústria petroquímica Suzanne Bettega Almeida 202 Screening de microrganismos produtores de lipases fúngicas para aplicações biotecnológicas Maria Luiza Fernandes Rodrigues | André Guilherme Iess | Anne Caroline Defranceschi Oliveira | Felipe M. F. Watanabe 206 Tentativa de suicidio entre mulheres: estudo retrospectivo das intoxicações exógenas Janete Maria da Silva Batista - Faculdade Evangelica do Paraná 210 Tricologia aplicada ao estudo da dieta de carnívoros Juliana Quadros 213 Voz e ambiente de trabalho do professor da rede pública de ensino Kelly Cristina Alves Silverio Ciências Exatas e de Tecnologia e Faculdade de Ciências Aeronáuticas 219 Análise geopolítica do estado do Paraná por microrregiões Sandro José Briski | Uraci C. Bomfim | Josmael Araújo Bonatto | Juliane Kurta | Celma Tessari de Góes 224 Avaliação dos parâmetros morfométricos como subsídio à compreensão dos processos de assoreamento: estudo de caso da bacia hidrográfica do Rio Barigui Sandro José Briski | Helder de Godoy | Celma Tessari de Góes | Juliane Kurta 229 Buchas de mancais de rolos de galvanização por imersão a quente: um desafio para o desenvolvimento de ligas de engenharia Adriano Scheid | Marco Adolph | Nelson Ortiz 233 Climatologia de vento em baixos níveis para uso na aviação “região de informação de võo de Curitiba-fircw” Cícero Barbosa dos Santos 237 Como se configuram as atividades da prática de ensino e do estágio supervisionado nos cursos de licenciatura em Geografia nas universidades estaduais paranaenses diante das reformulações curriculares? Wanda Terezinha Pacheco dos Santos | Maurício Compiani 240 Da web dinâmica à web construtiva Fausto Neri da Silva Vanin 244 Mineração de dados sobre dados censitários Deborah Ribeiro Carvalho 249 Reresentações dinâmicas aplicadas em problemas métricos - uma contribuição ao processo de ensino e aprendizagem Jorge Bernard 253 Sistema de videoconferência e monitoramento baseado em sistemas abertos: estudo de caso Roberto Amaral | Mauro Sérgio Vosgrau do Valle | Leonardo Marques Teixeira 258 Uma metodologia dea para avaliar variáveis limitadas na agricultura Paulo Cesar Tavares de Souza 263 Utilização de energia térmica residual e solar para refrigeração e climatização Marco Adolph | Adriano Scheid | Nelson Ortiz | Leandro Baran | André M. M. Vaz Ciências Humanas, Latras e Artes 271 A apropriação de imagens como meio de criação e resignificação na fotografia contemporânea Evandro F. Gauna 275 A concepção histórica do projeto história nova dentro do iseb, entre os anos de 1955 a 1964 Diego Souza Dolinski 279 A constituição do eu a partir do outro – compreensão das interações e das práticas educativas na educação infantil Daniele Marques Vieira | Neyre Correia da Silva 283 A gravura de arte em Curitiba na década de 1990: novas possibilidades de produção Renato Torres 287 A inquisição portuguesa e o pecado do confessionário Geraldo Pieroni 290 A interferência dos heterossemânticos na aprendizagem do espanhol por falantes nativos de português Maria Teresita Campos Avella 294 A leitura como forma simbólica:o letramento ideológico Marlei Gomes da Silva Malinoski 298 A pesquisa no curso de pedagogia da Universidade Tuiuti do Paraná Maria Iolanda Fontana | Maria Cristina Borges da Silva | Carlos Alves Rocha | Daniele Marques Vieira 302 A prática do estágio supervisionado obrigatório Denise Cristina Wendt 307 A relação entre a formação de professores e o conhecimento mediada pela tecnologia Carlos Alves Rocha 311 A revista do patrimônio na gestão de dr. Rodrigo: um estudo do conceito de patrimônio pelos textos da revista Maria da Graça Rodrigues Santos 315 A utopia fin-de-siècle de Ed Ward Bellamy José Antonio Vasconcelos 319 Aplicações das linguagens da arte e comunicação em interfaces tecnológicas: a “wop art” de Giselle Beiguelman William Sade Junior 323 As multiplas linguagens na prática pedagógica inclusiva de crianças com necessidades especiais na perspectiva de Wallon Jocian Machado Bueno 326 Bolsas prouni – primeiros resultados de uma atitude para minimizar os efeitos da desigualdade social Sônia Izabel Wawrzyniak 329 Caminhada de uma pesquisa: pratica pedagógica e identidade na educação da criança negra na educação infantil Daniele Cristina Rosa 333 Clítico acusativo de 3ª pessoa e objeto nulo: uma pesquisa diacrônica sobre a mudança linguística no português brasileiro Solange Mendes Oliveira 337 Cultura curitibana: questões de invisibilidade Maria Cristina Mendes 341 Discurso, subjetividades e cuidado de si: personagens públicos “loucos” em Curitiba, Século XX Maria Ignês Mancini de Boni 345 Educação do campo como objeto de estudo no contexto das práticas pedagógicas Maria Antônia de Souza | Carmem S. Machado | Mariangela Hoog Cunha | Patrícia C. de Paula Marcoccia | Valdirene Moraes | Jaquelne Kugler Tibucheski | Daniel Gonçalves Pinto | Márcia Rogelaine Souza 349 Ensino da arte: uma reflexão crítica sobre as práticas pedagógicas nas escolas públicas do município de Curitiba Maria Francisca Vilas Boas Leffer 352 Entre o convento e a casa: educação e gestão feminina no contexto da formação do mundo moderno Wilma de Lara Bueno 356 Entre o corpo e o desenho Elisa Kiyoko Gunzi 361 Escravos, libertos e ingênuos na memória do poder judiciário paranaense: século XIX Márcia Elisa de Campos Graf 364 Formação continuada de professores: prática pedagógica com alunos com deficiência apoiada pelas tecnologias assistivas para além da inclusão Iolanda Bueno de Camago Cortelazzo | Ana Irene Alves de Oliveira | Carlos Alves Rocha | Márcia Silva Di Palma | Jamine Emmanuele Henning | Fernanda C. F. Monteiro | Ingrid Adam 368 Formação e trabalho professores em tempos de hegemonia neoliberal Adriana de Fátima Franco | Adolfo Ignacio Calderón | Maria de Fátima Rodrigues Pereira 372 Formas e (re)formas: a recepção de shakespeare no séc. XIX Cristiane Busato Smith 376 Grupo de estudos sobre políticas educacionais e socioamentais: um relato de experiência Carlos Alves Rocha | Maria Cristina Borges da Silva | Mario Sergio Cunha Alencastro | Marilene Zazula Beatriz 380 Habitação no Brasil: história e planejamento Cleide Meirelles Esteves Piragis 384 Hegemonia católica: de Medellín a Aparecida Vera Irene Jurkevics 388 Inclusão em debate Ademir Valdir dos Santos | Elaine Cristina Gonçalves | Ingrid Adam | Viviane Regiani 390 Intelectuais e poder: a revista anhembi e a faculdade de filosofia, ciencia e letras da universidade do Paraná (1955-1957) Valeria Floriano Machado de Souza 395 Letramentos digitais essenciais para a formação inicial e continuada de professores de língua inglesa Carla Maria Forlin 399 Literatura. História. Ciência: indagações sobre o realismo/naturalismo, a historiografia e a constituição da crítica moderna Erivan Cassiano Karvat 402 Manuel de Moraes: um religioso camaleonico Maria Aparecida de Araújo Barreto Ribas 406 Memórias da cidade: trajetórias em confronto no espaço urbano (Curitiba, 1959) Etelvina Maria de Castro Trindad 410 Mudança lingüística: a ocorrência de empréstimos e estrangeirismos da língua inglesa na língua portuguesa, encontrados nas revistas monet de março de 2007 e julho de 2008 Auricéia Dumke 414 No rastro da violaestudo sobre patrimônio cultural imaterial por meio da música de Belarmino e Gabriela Lilia Maria da Silva 417 O Instituto Brasileiro de Filosofia: uma tentativa de construção de hegemonia conservadora Rodrigo Jurucê Mattos Gonçalves | Pedro Leão da Costa Neto 420 O movimento dos arte-educadores no Brasil na década de 1980 Josélia Schwanka Salomé 425 O serviço nacional de aprendizagem industrial (SENAI): criação e propostas educativas / contribuições à formação social brasileira Filipe Pêgo Camargo 429 O tutor na educação a distância: dimensões e funções que fundamentam sua prática tutorial Everaldo Moreira de Andrade 431 O trabalho com portfólios na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental nas escolas de Curitiba-PR – contribuições e dificuldades Neyre Correia da Silva 434 Olhares franceses sobre a terra brasilis Pedro Henrique Ribas Fortes 437 Orações heréticas na visitação do Santo Ofício ao Estado do Grão-Pará e Maranhão em 1763 Alexandre Ribeiro Martins 442 Os arquivos escolares na pesquisa educacional Iêda Viana 447 Os jesuítas e a coroa portuguesa na construção do Brasil: a colonização salvífica (1549-1580) Luiz Antonio Sabeh 451 Perspectivas de pesquisa em história da educação Ariclê Vechia | Osvaldo Luis Meza Siqueira | Ricardo Westphalen de Queiroz Jucá | Samara Elisana Nicareta 453 Piratas e corsários na Idade Moderna (séculos XVI - XVIII) Nelson Rocha Neto 456 Práticas de ensino de língua inglesa durante e após o curso universitário: diálogos possíveis Denise Akemi Hibarino 460 Práticas pedagógicas em ead e os ambientes colaborativos de aprendizagem Iolanda Bueno de Camago Cortelazzo | Cleide M. E. Piragis | Marcus Kucharski | Carlos Alves Rocha | Márcia Silva Di Palma | Isabel C. V. Marson | Maristela Sobral Cortinhas | Matheus Vieira Santos 464 Pró-letramento: um programada rede nacional de formação continuada Maria Marlene do Carmo Pasqualotto | Adelita Franceschini Maschio | Andrea Nunes Gonçalves Della Bianca | Karine Hoffmann | Marilda Gonçalves Biernaski 468 Rede de proteção e estatuto da criança e do adolescente - eca: possibilidades de enfrentamento em relação à violência contra crianças e adolescentes Elizabeth Hartog 472 Reflexões sobre diálogos e práticas educacionais sustentáveis: a contribuição das agendas 21 nas instituições de ensino Maria Cristina Borges da Silva | Ana Paula Roque 477 Sobre a publicação das obras de karl marx e friedrich engels no brasil Denilton Novais Azevedo | Pedro Leão da Costa Neto 480 Tecnologia, formação de professores e inclusão: a experiência de pesquisa no curso de pedagogia da UTP Carlos Alves Rocha 484 Um estudo da diversidade étnico-racial na escola estadual vespasiano martins entre 2005 e 2006 Simone Tonoli Oliveira Roiz Ciências Sociais Aplicadas 489 A adaptação fílmica de “v de vingança”: textos, contextos e intertextos Denise Azevedo Duarte Guimarães 493 A construção da estética dark no cinema de Tim Burton Adriane Majcza 497 Conhecimento e espírito empreendedor: desafios e perspectivas para a educação e o mundo corporativo Osnir José Jugler 501 Do calótipo ao photoshop: entre fotografia, fotogenia, estesia e anestesia Rubens Cesar Stier Portella 507 Do cinema às minisséries de Luiz Fernando Carvalho: o caso de A pedra do reino Renato Luiz Pucci Jr. 511 Do consumo à moda: o poder da necessidade e a vitrine do desejo. Uma análise do posicionamento da C&A Letícia Salem Herrmann Lima 515 Empreendedorismo sustentável Elizabeth M. Zanetti Rodrigues | Mario Sergio C. Alencastro | Norberto F. Kuchenbecker | Osnir Jose Jugler 519 Fotojornalismo na era da convergência:entre o impresso e o ciberespaço kati Caetano | Zaclis Veiga | Ana Paula Rosa | Alberto Viana 523 Games invadem telas de cinema Denize Correa Araújo 527 Gestão de custos empresariais: um estudo nas empresas da Região Metropolitana de Curitiba Cleonice Bastos Pompermayer | Jocelino Donizetti Teodoro 530 Índices sociais de valor: mass media, linguagem e envelhecimento Denise Regina Stacheski | Giselle Aparecida Athayde Massi 536 Práxis de transdisciplinariedade na Universidade Tuiuti do Paraná por meio de redes sociais na web Denise Regina Stacheski Apresentação do XIII Seminário de Pesquisa A Universidade Tuiuti do Paraná tem como princípio que, sem a pesquisa, uma Instituição de Ensino Superior não cumpre sua missão. Sendo a pesquisa, o locus privilegiado para a produção de conhecimento, ela precisa fazer parte da ação educativa de todos os professores. Desta forma, os Diretores das Faculdades em colaboração com a Pró-Reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão e Coordenadoria de Pesquisa, Iniciação Científica e Editoração Científica são co-organizadores do XIII Seminário de Pesquisa e VIII Seminário de Iniciação Científica. Com apresentação no evento e representados nestes Anais, estão os projetos de 180 pesquisadores registrados em 30 Grupos de Pesquisa cadastrados no Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq, bem como pesquisadores de outras instituições de ensino superior do país. Esta décima terceira edição é fruto do trabalho colaborativo dos diretores de faculdade, coordenadores de curso, líderes de grupo de pesquisa, coordenadores de Linhas de Pesquisa e dos pesquisadores que se organizaram para que seus projetos sejam apresentados e discutidos, criando interlocuções colaborativas para que a pesquisa se estenda para as salas de aula e para os ambientes de aprendizagem. A divulgação dos resultados de pesquisa em publicações ou cursos de extensão chegam até a comunidade de modo que a Universidade cumpra a sua tríplice função de pesquisar, ensinar e compartilhar conhecimento com a comunidade. Prof. Dr. Roberval Ely Pereira Pró-Reitor de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão Profª. Drª. Iolanda Bueno de Camargo Cortelazzo Coordenadora Prof. Dr. Adolfo Ignácio Calderón Prof. Dr. Ari Leon Jurkiewicz Prof. Dr. Arion Zandoná Profª. Drª. Cleide Meirelles Esteves Piragis Prof. Dr. Francisco Pinto Rabelo Filho Prof. Dr. Geraldo Pieroni Profª. Drª. Luciana Puchalski Kalinke Prof. Dr. Luiz Fernando Ribeiro Comissão Institucional de Pesquisa e Iniciação Científica Grupos de Pesquisa Ciências Biológicas e da Saúde Ciências Exatas e de Tecnologias Ciências Humanas, Letras e Artes Ciências Sociais Aplicadas Ciências Jurídicas Grupos de Pesquisa FACBS - FACULDADE DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE Grupo de Pesquisa Ciências Veterinárias Líder(es) do grupo: Neide Mariko Tanaka e Shigehiro Funayama Área predominante: Ciências Agrárias; Medicina Veterinária Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná - UTP Órgão: Pró-Reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão Unidade: FACBS O grupo pretende atuar diretamente no estudo dos mecanismos que levam a manifestação das doenças das espécies animais. Pretende-se elucidar as patologias com o emprego do diagnóstico e terapêutica e as resoluções de prognósticos como subsídios para o bem-estar e da saúde animal e do homem. Além de proporcionar oportunidade de aprendizado e vivência científica, bem como de inserção no ensino e extensão participação da comunidade acadêmica, interagindo-a com a saúde animal. A finalidade é oferecer tecnologias e conceitos que possam traduzir-se em benefícios a coletividade, como implantação de medidas preventivas; avaliar a eficácia da terapia empregada na determinação de prognósticos precisos. A intedisciplinaridade com os laboratórios que contribuem no diagnóstico das moléstias e áreas afins e estabelecer interação e bem-estar animal-homem. O grupo pretende atuar diretamente com a agroindústria na busca de parcerias, estabelecendo uma relação bilateral entre instituição de ensino e pesquisa e indústria, preponderante para que alcance os objetivos propostos. Pretende-se que esse processo seja dinâmico com a participação da comunidade acadêmica, interagindo-a com a indústria, e os sistemas de produção vigentes, o que lhe proporcionará oportunidade de aprendizado e vivência científica, bem como de inserção no mercado de trabalho. A finalidade é produzir e oferecer tecnologias e conceitos que possam traduzir-se em benefícios para os produtores, indústrias e consumidores. A inclusão da UTP no cenário nacional da produção científica pode trazer como benefício diretos, entre outros, a disponibilização de recursos oficiais, recursos da iniciativa privada, maior procura por vagas. Pesquisadores Ana Laura Angeli | Ana Luisa Palhano Silva | Elza Maria Galvão Ciffoni Arns | Jose Maurício França | Maria Aparecida de Alcântara | Neide Mariko Tanaka - líder | Sebastiao Aparecido Borges | Shigehiro Funayama - líder | Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 19-53, Curitiba, 2009. 19 20 Grupos de Pesquisa Silvana Krychak Furtado | Uriel Vinícius Cotarelli de Andrade | Welington Hartmann Técnicos Emerson Leandro Faria - Ensino Médio - Auxiliar de Enfermagem Silmara Cadene - Graduação - Assistente de Pesquisa Linhas de pesquisa · Biotecnologia Animal · Ciências Veterinárias - Morfologia e Biotecnologia Animal Grupo de Pesquisa Ecologia e Diversidade de Fauna e Flora Líder(es) do grupo: Juliana Quadros , Shigehiro Funayama Área predominante: Ciências Biológicas; Ecologia Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná - UTP Órgão: Pró-Reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão Unidade: Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde O grupo “Ecologia e Diversidade de Fauna e Flora” estuda o componente biótico do ambiente, suas relações com o meio físico e com a ocupação humana histórica e atual. Tem como principais temas transversais a tecnologia aplicada e a educação ambiental. Os projetos de pesquisa do grupo produzem conhecimento sobre diversidade de fauna ou flora em diversos graus de abrangência, os mais variados aspectos da ecologia e biologia de populações ou de comunidades de espécies animais e vegetais, temas aplicados ao desenvolvimento sustentável, ao manejo ambiental e a estudos de impacto ambiental. O grupo tem participado de registros de patentes, atividades de consultoria técnica e científica e pareceres técnicos a instituições financiadoras e revistas científicas. Pesquisadores Ana Laura Angeli | Ana Luisa Palhano Silva | Aurea Portes Ferriani | Eduardo Novaes Ramires | Elza Maria Galvão Ciffoni Arns | Helena Goncalves Kawall | Jose Maurício França | Juliana Quadros - líder | Luiz Fernando Ribeiro | Maria Aparecida de Alcântara | Neide Mariko Tanaka | Rita de Cassia Dallago Machado | Sebastião Aparecido Borges | Shigehiro Funayama - líder | Silvana Krychak Furtado | Uriel Vinícius Cotarelli de Andrade | Welington Hartmann Linhas de pesquisa · Ecologia e Diversidade de Fauna e Flora Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 19-53, Curitiba, 2009. Grupos de Pesquisa Grupo de Pesquisa Biotecnologia e Saúde Líder(es) do grupo: Sandro Germano e Roseli Aparecida de Mello Área predominante: Ciências Biológicas; Bioquímica Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná - UTP Órgão: Pró-Reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão Unidade: FACBS O Grupo vem trabalhando na àreas de Processos Biotecnologicos aplicados a Saude Humana, Meio Ambiente e Agroindustria. Os trabalhos desenvolvidos pela equipe têm por finalidade a busca de soluções para problemas regionais e/ou de alternativas economicamente viáveis para a síntese de produtos de interesse na sáude e indústria. Dentro desse contexto, estabelecer parcerias com empresas publicas e privadas, com o objetivo final de transferir a tecnologia gerada para o setor produtivo e estender os conhecimentos à comunidade. Até o momento, mais de 20 alunos de graduação atuaram como estagiários ou bolsistas de Iniciação Científica em projetos do Grupo, A produção científica da equipe totaliza mais de 100 trabalhos, entre, livros, artigos em periódicos e comunicações apresentados em eventos científicos nacionais e internacionais. Pesquisadores Alessandro Afornali | Ana Luisa Palhano Silva | André Bellin Mariano | Arion Zandoná Filho | Camila Nunes de Morais Ribeiro | Claudia Consuelo do Carmo Ota | Cláudia Helena Degáspari | Gerusa Gabriele Seniski | Gisele Eliane Perissutti | Helena Goncalves Kawall | Liliane Pires Gonçalves | Luciana Cristina Nowacki | Maria Luiza Machado Fernandes | Neoli Lucyszyn | Paula Cristina Rodrigues | Priscila Dabaghi Barbosa | Roseli Aparecida de Mello - líder | Sandra Martin Elisangela Ferruci Carolino | Sandro Germano - líder | Sebastiao Aparecido Borges | Shigehiro Funayama | Silvana Krychak Furtado | Wesley Mauricio de Souza Estudantes Rafaela Ceron Técnicos Simone de Almeida Cosmo - Especialização – Biólogo Carlos Barbosa - Especialização – Biólogo Linhas de pesquisa · Processos Biotecnológicos Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 19-53, Curitiba, 2009. 21 22 Grupos de Pesquisa Grupo de Pesquisa Núcleo de Pesquisas Fonoaudiológicas em Linguagem Líder(es) do grupo: Ana Paula Berberian Vieira da Silva Área predominante: Ciências da Saúde; Fonoaudiologia Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná - UTP Órgão: Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde Unidade: Mestrado e Doutorado em Distúrbios da Comunicação Tendo em vista que esse Grupo vêm desenvolvendo pesquisas com domínio de investigação em torno dos processos de apropriação da linguagem oral e escrita e da interface entre essas modalidades de linguagem, as principais repercussões das mesmas referem-se à elaboração de práticas clínicas fonoaudiológicas voltadas à caracterização, avaliação e terapia dos distúrbios da linguagem oral e escrita.Além da sistematização de conhecimentos teórico-práticos, voltados ao contexto clínico fonoaudiológico, as pesquisas do grupo abordam,também, aspectos relativos à intervenção fonoaudiológica institucional nos contextos da Educação e Saúde, enfatizando abordagens grupais que objetivem a promoção da linguagem. Pesquisadores Ana Cristina Guarinello | Ana Paula Berberian Vieira da Silva - líder | Ana Paula de Oliveira Santana | Giselle Aparecida de Athayde Massi | Jair Mendes | Marques Estudantes | Maria Leticia Cautela de Almeida Machado | Simone Schemberg Estudante(s) Denise Regina Stacheski | Gisele Senhorini | Kyrlian Bartira Bortolozzi | Simone Infingardi Krüger Linhas de pesquisa · Fonoaudiologia e os Processos de Linguagem Grupo de Pesquisa Núcleo de Pesquisas Fonoaudiológicas em Audição e Equilíbrio Líder(es) do grupo: Bianca Simone Zeigelboim Área predominante: Ciências da Saúde; Fonoaudiologia Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná - UTP Órgão: FACBS Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 19-53, Curitiba, 2009. Grupos de Pesquisa Unidade: Programa de Mestrado e Doutorado em Distúrbios da Comunicação Esse Grupo vem desenvolvendo pesquisas em torno dos procedimentos de prevenção, identificação, diagnóstico, terapêutica das perdas auditivas congênitas ou adquiridas, e de avaliação e reabilitação dos distúrbios vestibulares. Além da sistematização de conhecimentos teórico-práticos, voltados às práticas clínicas fonoaudiológicas, as pesquisas do grupo abordam também, os aspectos relativos à saúde auditiva da população em geral, explorando as interfaces entre esse campo e o ambiente, as atividades profissionais e de lazer. As principais repercussões deste núcleo referem-se à elaboração e aperfeiçoamento de protocolos clínicos de avaliação e tratamento dos distúrbios da audição e do equilíbrio corporal, bem como às iniciativas na promoção da saúde ambiental e ocupacional, enfocando a medição e controle de ruído, a análise das políticas governamentais frente aos problemas criados pela poluição sonora e a prevenção dos efeitos nocivos de agentes ambientais sobre a saúde auditiva. Ampliando o alcance das ações de pesquisa desenvolvidas por esse grupo, no ano de 2003, foram firmados dois convênios interinstitucionais importantes: com a FUNDACENTRO, entidade vinculada ao Ministério do Trabalho e Emprego - um centro brasileiro de pesquisas em segurança, saúde e meio ambiente no trabalho; e com a Université de Montréal - École d?orthophonie et d?audiologie ? Canada. Em 2004, formalizamos parceria com o Laboratório de Genética da Universidade Federal do Paraná para a investigação das etiologias genéticas das deficiências auditivas relacionadas principalmente, às conexinas. A partir dessa relação, surgiu a implementação de um programa de orientação às famílias dos deficientes auditivos. Formalizamos também, no ano de 2004, parceria com o Instituto de Neurologia de Curitiba para o desenvolvimento de diversas pesquisas envolvendo o sistema do equilíbrio, principalmente na população idosa. Pesquisadores Adriana Bender Moreira de Lacerda | Claudia Giglio de Oliveira Goncalves | Angela Ribas | Jair Mendes Marques | Ari Leon Jurkiewicz | Lilian Cássia Bórnia Jacob-Corteletti | Bianca Simone Zeigelboim - líder | Thais Catalani Morata Estudantes Adriana Betes Heupa | Karlin Fabianne Klagenberg | Aline Carlezzo Moreira | Leslie Palma Gorski | Angela Maria Fontana Zocoli | Luciara Giacobe Steinmetz | Diego Augusto de Brito Malucelli | Marine Raquel Diniz da Rosa | Diolén Conceição Barros Lobato | Milena Raquel Iantas | Fabiane Paulin | Monica Barby Muñoz | Fernanda Scheffer Frosi | Morganna Maria de Aguiar Pontes | Fernanda Zucki | Patricia Schiniski | Flavia Cardoso Oliva | Paulo Breno Noronha Liberalesso | Gisele de Lacerda Costa | Sandra Dias de Souza | Jackeline Martins | Suzanne Bettega Almeida Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 19-53, Curitiba, 2009. 23 24 Grupos de Pesquisa Linhas de pesquisa · Diagnostico e tratamento em audiologia · Saude auditiva - enfoque preventivo Empresas assoiadas ao grupo · Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho - Fundacentro · Neurograff - Eletromedicina LTDA - Neurograff · Petrobras - Petróleo Brasileiro S/A - Petrobras · Universidade Fedral do Paraná - UFPR Grupo de Pesquisa Núcleo de Pesquisas Fonoaudiológicas em Voz, Motricidade Oral e Disfagia Líder(es) do grupo: Kelly Cristina Alves Silverio Área predominante: Ciências da Saúde; Fonoaudiologia Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná - UTP Órgão: Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde Unidade: Programa de Mestrado e Doutorado em Distúrbios da Comunicação Estudos dos aspectos relacionados à prevenção, diagnóstico e tratamento em voz, motricidade orofacial e disfagia. A inter-relação entre essas áreas deve-se ao fato de que muitas estruturas que participam da produção da voz também participam das funções de respiração, sucção, mastigação e deglutição. Quanto à área da voz, nosso objetivo de pesquisa é a compreensão dos mecanismos morfofisiológicos da produção da voz normal, profissional e patológica, estudo da qualidade de vida relacionada à voz e suas alterações, bem como o estudo de intervenções fonoaudiológicas e demais recursos terapêuticos. A motricidade orofacial abrange aspectos relacionados à morfofisiologia das estruturas do aparelho estomatognático em repouso e durante as funções reflexo-vegetativas de sucção, mastigação e deglutição; estão também incluídos neste grupo os casos de disfagia, ou seja, aqueles que apresentam alteração da deglutição associada ao risco e/ou presença de aspiração pulmonar do alimento e ao prejuízo da nutrição e/ou hidratação do indivíduo, podendo comprometer sua qualidade de vida. Pesquisadores Aline Epiphanio Wolf | Kelly Cristina Alves Silverio - líder | Ana Maria Furkim | Rosane Sampaio Santos | Ari Leon Jurkiewicz Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 19-53, Curitiba, 2009. Grupos de Pesquisa Estudantes Aline Palmonari | Linda Mary Nasser Ramos | Carla Lucélia Bessani Paixão | Luciana Lopes Costa | Celso Luiz Gonçalves dos Santos Junior | Maria Cristina de Alencar Nunes | Cinthia Mara Johanns | Marina Rodrigues Bueno Macri | Eliane Cristina Pereira | Rejane Maestri Nobre Albini | Franciele Savaris Sória | Silvana Triló Duarte | Laiza Carine Maia Menoncin Linhas de pesquisa · Prevenção, Diagnóstico e Tratamento em Voz e Motricidade Oral Grupo de Pesquisa Grupo de Estudo e Pesquisa em Cuidar e Educar em Enfermagem Líder(es) do grupo: Maria Cristina Paganini Área predominante: Ciências da Saúde; Enfermagem Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná - UTP Órgão: Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde Unidade: Curso de Enfermagem A produção gerada pelo grupo tem o propósito de subsidiar a comunidade acadêmica e, em especial, as escolas de enfermagem particulares, com propostas e estratégias inovadoras no processo de ensinar/ apreender. Na área do cuidar se propõe a refletir sobre a prática assistencial, a partir de fênomenos vivenciados no cotidiano, em todos os níveis de atenção à saúde e compartilhar os resultados com a comunidade científica e os serviços locais, regionais e nacionais. Pesquisadores Ana Cláudia Araujo dos Santos Giffhorn | Sandra Maria da Silva Leite | Claudia Bowkalowski | Sandra Regina Jacopetti | Kátia Renata Antunes Kochla | Simone Rauchbach Mariotti | Liane Führ Pivatto | Tânia Maria Lourenço | Lilia Bueno de Magalhães | Telma Pelaes de Carvalho | Luciana Puchalski Kalinke | Valdete Alves da Silva de Quadros | Luciane Favero | Vânia Muniz Néquer Soares | Maria Cristina Paganini - líder | Walderes Aparecida Filus | Ozana de Campos Estudantes Celina Angélica Mattos Machado | Lais de Melo Rodrigues Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 19-53, Curitiba, 2009. 25 26 Grupos de Pesquisa Técnicos Fernando Trevisan - Especialização - Enfermeiro Justina C. Maiczak - Especialização – Enfermeiro Silvana Pagani - Especialização - Enfermeiro Linhas de pesquisa · Ensino e Assistência de Enfermagem Grupo de Pesquisa Desenvolvimento Científico e Tecnológico em Fisioterapia Líder(es) do grupo: Renata Rothenbühler Área predominante: Ciências da Saúde; Fisioterapia e Terapia Ocupacional Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná - UTP Órgão: Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde Unidade: Curso de Fisioterapia As atividades do grupo visam alavancar o desenvolvimento da ciência fisioterapêutica em todos seus âmbitos, através da interação com o ensino e as necessidades requisitadas pelo mercado de trabalho. Pesquisadores Ana Carolina Brandt de Macedo | Eunice Tokars | Luis Carlos da Câmara Vicelli | Luís Fernando Requião | Regina Maria Ribeiro Camargo | Renata Rothenbühler | Sandra Dias de Souza | Woldir Wosiacki Filho Estudante(s) Sueli Terezinha Latenek Linhas de pesquisa · Ergonomia e Saúde no Trabalho · Recursos em avaliação e tratamento Fisioterapêuticos Grupo de Pesquisa Disfunções Têmporo-Mandibulares e Dores Oro-Faciais Líder(es) do grupo: Eduardo Carrilho Área predominante: Ciências da Saúde; Odontologia Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 19-53, Curitiba, 2009. Grupos de Pesquisa Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná - UTP órgão: Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde Unidade: Curso de Odontologia O Curso de Odontologia da Universidade Tuiuti do Paraná tem se destacado pelo atendimento ambulatorial, desenvolvimento de projetos de extensão e pesquisa na área das alterações relacionadas a Articulação Têmporo Mandibular e Dores Orofaciais através de seus professores envolvidos com a referida área. Desde 1996, sentiu-se a necessidade da formação de Centro de ensino, pesquisa e extensão relacionadas ao tema para a centralização dos projetos . Em 2000, foi criado o Centro de Diagnóstico e Tratamento da Articulação Têmporo Mandibular e Alterações Dento Faciais Funcionais (CDATM), que possibilitou a que este grupo tivesse acesso a uma ampla base de dados, criada pelo atendimento aos pacientes, bem como o evolvimento interdisciplinar com outras áreas da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde. Pesquisadores Daniella Cristina Gaio |Eduardo Carrilho - líder | Eliete Rodrigues Bradasch | José Stechman Neto | Luis Ricardo Prevedello Pereira | Mariele Pototski Estudantes Alexsandro Paludo | Simone Sayuri Takeshita | Bianca Lopes Cavalcante | Vanessa Vicentini Holtz | Isabela Almeida Shimizu | Vilson Reinert da Silva | Mariana Perotta Linhas de pesquisa · Disfunções Têmporo-Mandibulares e Dores Oro-Faciais · Farmacologia, alteração hormonal e Disfunção de ATM · Fonoaudiologia em pacientes com DTM Grupo de Pesquisa Núcleo de Pesquisa em Psicologia (NUPPSI) Líder(es) do grupo: Maria Cristina Antunes Área predominante: Ciências Humanas; Psicologia Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná – UTP órgão: Reitoria Unidade: Pró-Reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 19-53, Curitiba, 2009. 27 28 Grupos de Pesquisa No ano de 2001, o curso de Psicologia da Universidade Tuiuti do Paraná criou o Núcleo de Pesquisa em Psicologia (NUPPSI). Foram concebidas duas linhas de pesquisa: 1 - Tratamento e prevenção psicológica. 2 Processos perceptuais, cognitivos e do desenvolvimento. Os objetivos do NUPPSI são: . estimular a realização de pesquisas de docentes e discentes . incrementar a produção científica . incentivar a participação de docentes e discentes em conferências nacionais e internacionais . realizar anualmente o Seminário de Pesquisa do Curso de Psicologia da UTP Nos últimos cinco anos tem sido reeditado o Seminário de Pesquisa do Curso de Psicologia, com a apresentação de trabalhos de pesquisadores, professores, profissionais da área e discentes. Em 2003 foram apresentados 236 trabalhos e em 2004, 392, avaliados pela Comissão Científica. Em 2005, os trabalhos foram integrados ao Seminário de pesquisa da Universidade e os resumos foram publicados na homepage da instituição. Um dos principais resultados que obtivemos foi a criação da Revista PsicoUTPonline, que tem profissionais de projeção nacional e internacional em seu corpo editorial. A revista tem sua publicação online, semestralmente. Após a fundação do NUPPSI, os pesquisadores do curso aumentaram significativamente sua produção científica. Os trabalhos têm sido apresentados em conferências nacionais e internacionais e publicados em revistas indexadas. Pesquisadores Maria Cristina Antunes - líder | Ana Claudia Nunes de Souza Wanderbroocke | Denise Cerqueira Leite Heller | Irene Carmen Piconi Prestes | Maria da Graça Saldanha Padilha | Marilene Zazula Beatriz | Plínio Marco De Toni Linhas de Pesquisa - Processos Perceptuais, Cognitivos e do Desenvolvimento - Tratamento e Prevenção Psicológica Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 19-53, Curitiba, 2009. Grupos de Pesquisa FACET - FACULDADE DE CIÊNCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIAS Grupo de Pesquisa Computação Aplicada Líder(es) do grupo: Deborah Ribeiro Carvalho e Fausto Neri da Silva Vanin Área predominante: Ciências Exatas e da Terra; Ciência da Computação Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná - UTP Órgão: FACET Unidade: Ciência da Computação Home page: www.utp.br/computacao Trata-se de uma linha de pesquisa coltada a busca de soluções computacionais para problemas do dia-a-dia voltados a comunicação e potencialização do uso de bases de dados. Os grupos e pesquisas vinculados a esta linha têm por objetivo estudar, propor, implementar, testar e disponibilizar novas alternativas de soluções que facilitem o aprendizado, apoio a decisao, etc. Pesquisadores Deborah Ribeiro Carvalho - líder | Mauro Sergio Vosgrau do Valle | Fausto Neri da Silva Vanin - líder | Paulo Cesar Tavares de Souza | Leonardo Marques Teixeira | Roberto Néia Amaral | Marcelo Soares Farias Estudantes Caio César Ferreira Linhas de pesquisa · Computacao Aplicada de recursos humanos do grupo Grupo de Pesquisa Fontes Alternativas de Energia Líder(es) do grupo: Mauricio Pereira Cantão Área predominante: Engenharias; Engenharia Elétrica Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná - UTP Unidade: Faculdade de Ciências Exatas e Tecnologia Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 19-53, Curitiba, 2009. 29 30 Grupos de Pesquisa Por meio dos projetos de pesquisa, o grupo poderá obter e alocar recursos humanos e materiais de instituições de fomento para aplicação na Universidade Tiuiti do Paraná e na comunidade. Por recursos materiais entende-se a aquisição de equipamentos, material de consumo, obras e instalações, necessários à execução das atividades previstas. Os recursos humanos se traduzirão em bolsas para alunos de iniciação científica e para profissionais colaboradores. Os recursos também serão utilizados para estabelecer cooperação com instituições de pesquisa do Paraná, do Brasil e quando possível, do exterior. Com isto, pretende-se aumentar a inserção da Universidade no contexto acadêmico e de pesquisa. O grupo estabelecerá interação com a comunidade de duas maneiras distintas. Na primeira, os resultados obtidos serão disponibilizados à comunidade, para uso direto ou por meio de empresas interessadas nas tecnologias desenvolvidas. Na segunda forma, o grupo irá transferir conhecimento à população na forma de eventos de divulgação, atividades para alunos das escolas fundamentias, treinamentos de curta duração e cursos de extensão, para transferência de conhecimento e formação de pessoas para atuação nas áreas relacionadas. Pesquisadores Adriano Lucio Dorigo | José Soares Coutinho Filho | Cicero Barbosa dos Santos | Mauricio Pereira Cantão - líder | Cleverson Luiz da Silva Pinto | Renato de Arruda Penteado Neto | Emerson Luís Alberti Linhas de pesquisa · Fontes Híbridas de Energia para Uso em Edificações · Fontes Renováveis de Energia · Uso Energético do Hidrogênio Grupo de Pesquisa Tecnologia Aplicada ao Ensino e Aprendizagem Líder(es) do grupo: Jorge Bernard e Jose Martim Nicoladelli Área predominante: Ciências Exatas e da Terra; Matemática Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná - UTP Órgão: Faculdade de Ciências Exatas e de Tecnologias Unidade: Curso de Licenciatura em Matemática O Grupo de Pesquisa Ensino de Matemática da Universidade Tuiuti do Paraná vem se constituindo desde 2000, quando da implantação do curso de pós-graduação lato sensu, que hoje leva o nome de Especialização em Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 19-53, Curitiba, 2009. Grupos de Pesquisa Ensino de Matemática. Atualmente, o grupo é formado por quatro pesquisadores, dois estudantes de iniciação científica e conta com uma linha de pesquisa: Tecnologia Aplicada ao Ensino de Matemática. A Linha conta atualmente com tres projetos de pesquisa. Seus principais objetivos são: 1) Colaborar na formação continuada do professor de Matemática; 2) Desenvolver trabalhos relacionados à contextualização, interdisciplinaridade e uso de tecnologia educacional, de acôrdo com os parâmetros curriculares nacionais; 3) Desenvolver trabalhos relacionados à utilização da história, da modelagem matemática e da resolução de problemas como estratégias importantes no processo de ensino e aprendizagem da Matemática; 4) Desenvolver ferramentas computacionais para auxílio no processo de ensino e aprendizagem da Matemática. 5) Desenvolver ferramentas computacionais para auxílio no processo de resolução de problemas como estratégias importantes para a sociedade Nestes poucos anos de atuação, o grupo orientou dezenas de monografias e artigos como trabalho de conclusão da Especialização, apresentou vários trabalhos em congressos nacionais e internacionais e publicou alguns trabalhos de pesquisa em veículos de divulgação, tanto nacionais quanto internacionais. A médio prazo, vislumbra-se a possibilidade do grupo alcançar experiência suficiente para a implantação de um curso de pós-graduação strito sensu na Universidade Tuiuti do Paraná. Pesquisadores Daniele Cristina Thoaldo | Jose Martim Nicoladelli - líder | Jorge Bernard - líder | Paulo Cesar Tavares de Souza Estudantes Cícero Celso Lauriano Leme | Janna Santana Batista Linhas de pesquisa · Tecnologia Aplicada ao Ensino da Matemática Grupo de Pesquisa Grupo de estudos Geográficos e Geopolítica Aplicada Líder(es) do grupo: Uraci Castro Bomfim, Sandro José Briski Área predominante: Ciências Humanas; Geografia Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná - UTP Órgão: Faculdade de Ciencias Exatas e Tecnologia Unidade: Curso de Geografia Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 19-53, Curitiba, 2009. 31 32 Grupos de Pesquisa O grupo de pesquisa Estudos Geográficos e Geopolítica Aplicada desenvolve na Universidade Tuiuti do Paraná, no curso de geografia desde 1998, através do Núcleo de Pesquisa em Geografia Aplicada, pesquisas em diversas áreas da geografia, principalmente na área de análise geopolítica regional, objetivando fornecer dados globais de regiões e municípios que facilitem a elaboração de planejamentos para o desenvolvimento das áreas estudadas, dentro da Linha de Pesquisa Análise Geopolítica Aplicada ao Planejamento Regional e Nacional, que deu origem ao curso de pós-gradua em nível Lato Sensu - Especialização em Geopolítica e Relações Internacionais, contando com cinco doutores e quatro mestres no seu quadro docente. Tem características altamente interdisciplinar, pois envolve análise de conhecimentos em geografia física, humana, economica, socila e política regionais, buscando a identificação de vulnerabilidades e oportunidades para contribuir com a elaboração de ações políticas públicas e/ou privadas que proporcionem um desenvolvimento equilibrado e justo nas regiões pesquisadas. Utiliza em seus trabalhos, técnicas de geoprocessamento para facilitar a análise espacial. Palavras-chave: análise geopolítica, desenvolvimento. Pesquisadores Aline Nikosheli Nepomuceno | Helder de Godoy | Josmael Araujo Bonatto | Mônika Christina Portella Garcia | Sandro José Briski - líder | Uraci Castro Bomfim - líder | Valdomiro Lourenço Nachornik | Venina Prates Técnicos Celma Tessari Goes - Aperfeiçoamento - Geógrafo Juliana Kurta - Aperfeiçoamento - Geógrafo Linhas de pesquisa · Análise Geopolítica aplicada ao Planejamento Regional e Nacional Grupo de Pesquisa Otimização em Engenharia Automotiva Líder(es) do grupo: Marco Adolph Área predominante: Engenharias; Engenharia Mecânica Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná - UTP Órgão: Conselho de Ensino Pesquisa e Extensão Unidade: FACET Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 19-53, Curitiba, 2009. Grupos de Pesquisa Pesquisadores Adriano Scheid | Marco Adolph – líder | José Augusto Borgert Júnior | Nelson Ortiz da Silveira Linhas de Pesquisa · Desenvolvimento de Materiais para Revestimentos Duros (hardfacing alloys) · Otimização de Componentes e Sistemas Termoenergéticos e Mecânicos utilizando ferramenta Computacional · Sistemas de cogeração para conforto térmico e refrigeração em veículos Grupo de Pesquisa Meio Ambiente, Energia e Sustentabilidade Líder(es) do grupo: Arion Zandoná Filho Área predominante: Engenharias; Engenharia Civil Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná – UTP órgão: Faculdade de Ciências Exatas e de Tecnologias Unidade: Engenharias O grupo foi instituído para atender a demanda científica e realizar a interdisciplinaridade necessária ao tema Meio Ambiente e Energias. O grupo inicia suas pesquisas visando competência plena. Pesquisadores Arion Zandoná Filho - líder | Adriano Lucio Dorigo | Aline Nikosheli Nepomuceno | Cicero Barbosa dos Santos | Cleverson Luiz da Silva Pinto | Emerson Luís Alberti | Helder de Godoy | Janilce dos Santos Negrão Messias | José Soares Coutinho Filho | Josmael Araujo Bonatto | Julio Cesar Vercesi Russi | Marisa Isabel Weber | Mauricio Pereira Cantão | Renato de Arruda Penteado Neto | Sandro José Briski | Valdomiro Lourenço Nachornik | Venina Prates Linhas de Pesquisa - Fontes Alternativas de Energia - Fontes Renováveis de Energia - Meio Ambiente e Desenvolvimento Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 19-53, Curitiba, 2009. 33 34 Grupos de Pesquisa FACHLA - FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES Grupo de Pesquisa Cultura e Instituições Líder(es) do grupo: Pedro Leão da Costa Neto Área predominante: Ciências Humanas; Sociologia Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná – UTP órgão: Pró-Reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão Unidade: Faculdade de Ciências Humanas, Letras e Artes As sociedades humanas são essencialmente culturais; e se a cultura é, portanto, aquilo que as caracteriza, um entendimento da dinâmica cultural não pode prescindir de pensá-la imersa em um conjunto de relações. Ainda que os fenômenos culturais muitas vezes pautem e expressem escolhas e condutas individuais, eles só podem ser compreendidos em seu caráter histórico e social. Tomando como premissa o entendimento de que a cultura é uma rede de significados constituida pelo homem no tempo e no espaço, por meio de regras, normas, práticas e valores que organizam a vida social; o grupo de pesquisa Cultura e Instituições visa problematizar, de um lado, o lugar das instituições na produção e na reprodução da cultura e, de outro, pensá-las como esforço privilegiado no processo de consolidação e legitimação das criações culturais. As Instituições são pensadas a partir de uma dupla característica, como estruturas estruturantes, ou seja, como instrumentos imprescindíveis na construção de uma realidade capaz de assegurar a ordem e a coesão sociais; e como estruturas estruturadas, enquanto desempenham um papeis como meio de comunicar, reproduzir e legitimar as condutas, valores e normas que instituem o mundo, fornecendo os elementos simbólicos capazes de promover consensos que integram, consolidam e legitimam a sociedade. Partindo das idéias acima desenvolvidas, as pesquisas desenvolvidas pelos integrantes do grupo, procurarão por um lado, desenvolver uma série de análises, visando discutir as diferentes contribuições teóricas entorno da problemática da Cultura e Instituições, como também desenvolver uma série de investigações sobre a eficácia das instituições e seus desdobramentos na vida cotidiana, tanto de um ponto de vista teórico, como prático. O Grupo pretende desta maneira contribuir, a um aprofundamento teórico epistemológico, como ao estudo de Instituições determinadas.É igualmente tarefa do grupo contribuir para a formação teórica e acadêmica dos participantes. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 19-53, Curitiba, 2009. Grupos de Pesquisa Pesquisadores Pedro Leão da Costa Neto - (líder) | Daniele Marques Vieira | Denise Cristina Wendt | Elisa Kiyoko Gunzi | Elizabeth Hartog | Erivan Cassiano Karvat | Geraldo Magela | Pieroni | Ieda Viana | Iolanda Bueno de Camargo Cortelazzo | Jocian Machado Bueno | Joselia Schwanka Salome | Maria da Graca Rodrigues dos Santos | Neyre Correia da Silva | Sônia Izabel Wawrzyniak | Valeria Floriano Machado de Souza | Vera Irene Jurkevics | Wilma de Lara Bueno Linhas de Pesquisa Cultura, Educação e Sociedade Cultura Escolar Intelectuais e Instituições Religião e Religiosidade Grupo de Pesquisa Cultura e Narrativas Líder(es) do grupo: Etelvina Maria de Castro Trindade; Maria Ignës Mancini de Boni Área predominante: Ciências Humanas; História Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná – UTP órgão: Pró-Reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão Unidade: Faculdade de Ciências Humanas, Letras e Artes O Grupo de Pesquisa Cultura e Narrativas tem como objeto de estudo um campo abrangente que envolve várias áreas da Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, incluindo, em seus estudos, suas múltiplas possibilidades de interpretação e análise. Tem como foco questionar as os procedimentos e suportes que orientam as pretensões de cientificidade dos meios acadêmicos e sistematizados, sem descurar o exame das práticas narrativas presentes nos inúmeros aspectos da vida em sociedade, o que desperta as mais varidas possibilidades de um exercício reflexivo. Nos meios acadêmicos, o questionamento da autoridade dos saberes instituídos tem aberto um diálogo profícuo sobre a próprias bases das diversas disdiplinas que constituem o seu quadro, o que possibilita ao Grupo levantar questões e divulgar resultados que poderão ir ao âmago do próprio discurso intelectual que fundamenta suas verdades. No universo mais abrangente da vida social, o exame do sentido dado ao real, que caracteriza Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 19-53, Curitiba, 2009. 35 36 Grupos de Pesquisa os diversos discursos circulantes, possibilitará o questionamento de modalidades e possibilidades narrativas que buscam igualmente consquistar foros de autoridade e, embora com suportes diferenciados dos utilizados pelos meios acadêmicos, têm também a intenção se tornar inteligíveis e aceitos. Apoiado nesses pressupostos, o Grupo tem a intenção de levar a público as interrogações e os resultados de um processo investigativo que terá como escopo as instâncias mais variadas do intelctual e do social. Pesquisadores Etelvina Maria de Castro Trindade - líder | Maria Ignës Mancini de Boni - líder | Alexsandro Eugenio Pereira | Clóvis Mendes Gruner | Eduardo de Oliveira Leite | Rafael Tassi Teixeira | Sidinalva Maria dos Santos Wawzyniak Técnicos Nelson Rocha Neto - Graduação - Auxiliar de Laboratório Linhas de Pesquisa Cultura e Identidade Trajetórias de Vida Grupo de Pesquisa Estado e Políticas Educacionais Líder(es) do grupo: Anita Helena Schlesener; Maria de Fátima Rodrigues Pereira Área predominante: Ciências Humanas; Educação Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná – UTP Órgão: Pró-Reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão Unidade: Mestrado em Educação O Grupo de Pesquisa Estado e Políticas Educacionais visa reunir pesquisadores e alunos da Universidade Tuiuti do Paraná e de outras instituições acadêmicas em torno do estudo e do debate de assuntos ligados a organização do Estado e a proposição de políticas educacionais. Reúne projetos que são desenvolvidos junto aos Programas de Pós-Graduação das instituições participantes, apresentando já um número considerável de produção bibliográfica, resultado da interlocução entre seus membros e da participação em eventos nacionais e internacionais. Pretende-se dar continuidade a esse trabalho, a fim de contribuir no debate e na busca de soluções para os atuais problemas educacionais. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 19-53, Curitiba, 2009. Grupos de Pesquisa Pesquisadores: Anita Helena Schlesener – líder | Maria de Fátima Rodrigues Pereira – líder | Adriana de Fátima Franco | Alessandra Dal Lin Dal Col | Marcos Vinicius Pansardi Estudantes Araci Jost | Catia Alire Rodrigues Arend da Silva | Emerson Adriano Sill | Lorena Barolo Fernandes | Marli Turetti Rabelo Andrade | Nilcelia Aparecida Rodrigues | Pedro Ernani Kosiba | Roberta Ravaglio Gagno Linha de Pesquisa Políticas de Formação de Professores Teorias do Estado e Políticas de Educação Grupo de Pesquisa História, Literatura e Leitura Líder(es) do grupo: Erivan Cassiano Karvat e Clóvis Mendes Gruner Área predominante: Ciências Humanas; História Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná - UTP Órgão: Faculdade de Ciências Humanas Letras e Artes Unidade: Curso de História O grupo que compõe esse diretório vem se dedicando a estudos que abrangem o universo que se situa entre a produção literária? O texto propriamente dito? E o leitor dessa escrita. Esse é um campo de estudos que permite ao historiador apreender o imaginário coletivo que, de alguma maneira, é expresso no texto, principalmente se compreendermos a escrita como uma atividade política enquanto distribuidora de um sensível coletivo, como uma forma de representação desse coletivo e legitimação do poder constituído. Por outro lado, essa escrita somente se efetiva enquanto atividade política, na percepção acima, se essa distribuição se concretizar na leitura. Dois pólos, portanto, cujo intervalo é povoado de atividades tais como a edição do texto, as possibilidades de leitura, as bibliotecas em suas expressões, a censura enquanto interdição dessa distribuição, as instituições que se constituirão no sentido da disciplinarização da escrita, enfim, múltiplas possibilidades para o exercício da arte do historiador. De tudo isso resulta uma produção de saberes que poderão ser constituidores de formas de identidades significativas para a história. Assim sendo, a produção acadêmica que resultará dos estudos acima será discutida em seminários, congressos e encontros nacionais e internacionais, possibilitando um diálogo na Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 19-53, Curitiba, 2009. 37 38 Grupos de Pesquisa comunidade acadêmica. Por outro lado também resultará em uma distribuição do imaginário coletivo que a construiu, na forma artigos, capítulos de livros e livros, ampliando o espaço de sua discussão. Pesquisadores André Luiz Joanilho | Erivan Cassiano Karvat - líder | Cláudio Denipoti | Geraldo Magela Pieroni | Clóvis Mendes Gruner - líder | Helena Isabel Mueller Linhas de pesquisa · História, saberes e identidades Grupo de Pesquisa Linguagens e Representações Líder(es) do grupo: Sebastião Lourenço dos Santos; Cristiane Busato Smith Área predominante: Lingüística, Letras e Artes; Letras Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná – UTP órgão: Pró-Reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão Unidade: Ciências Humanas, Letras e Artes Os integrantes da Linha de Pesquisa Linguagens e Representações, do Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes da UTP, são todos professores pós-graduados, com experiência didática e com tempo dedicado à pesquisa na Instituição. Todos têm publicado os resultados de suas pesquisas e participado de congressos e similares, para divulgação de seus trabalhos. Os resultados de pesquisas publicados em capítulos de livros, livros e artigos de periódicos contribuem para os cursos de licenciatura, para a formação continuada de professores e profissionais. Pesquisadores Cristiane Busato Smith – líder| Sebastião Lourenço dos Santos – líder| Denise Akemi Hibarino | Evandro de Freitas Gauna | Irene Cristina Boschiero | Ivone Ceccato | Maria Cristina Mendes | Maria Lúcia Vieira | Marlei Gomes da Silva Malinoski | Renato Torres | Rubens Cesar Stier Portella | Tânia Lazier Gabardo Linha de Pesquisa - Linguagens e Representações Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 19-53, Curitiba, 2009. Grupos de Pesquisa Grupo de Pesquisa Práticas Pedagógicas: Elementos Articuladores Líder(es) do grupo: Maria Antônia de Souza e Joe de Assis Garcia Área predominante: Ciências Humanas; Educação Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná - UTP Órgão: Faculdade de Ciências Humanas, Letras e Artes Unidade: Programa de Pós-Graduação em Educação - Mestrado em Educação O grupo tem por objetivo problematizar e analisar a prática pedagógica, especialmente na educação escolar. Dedica-se à construção de conhecimentos sobre a história das instituições escolares, a cultura escolar, a indisciplina e a educação do campo. Organiza-se em três grupos temáticos determinados pela singularidade das pesquisas que o compõe. Um grupo dedica-se aos estudos e investigações sobre Educação e História: cultura escolar e prática pedagógica. Outro grupo dedica-se aos estudos sobre a prática pedagógica no contexto da educação do campo. O terceiro grupo tem estudado indisciplina na educação contemporânea. No grupo são expressivos os trabalhos relacionados à história das instituições e da cultura escolar, e questões relacionadas à indisciplina escolar. Destaca-se na referida linha o trabalho inédito na esfera estadual que é a investigação sobre a educação do campo, temática emergente na política educacional brasileira nos últimos 10 anos. A linha conta com pesquisas inéditas na área, bem como com pesquisadores que têm assessorado a organização da política pública da educação do campo no estado do Paraná. Pesquisadores Ademir Valdir dos Santos | Joe de Assis Garcia - líder | Adriano da Costa Valadão | Marciane Maria Mendes | Ariclê Vechia | Maria Antônia de Souza - líder | Clovis da Silva Brito | Maria Cristina Borges da Silva | Eliane Mimesse Prado | Maria Iolanda Fontana | Fernando Henrique Tisque dos Santos | Sandino Hoff | Isabel Cristina Vollet Marson Estudantes Adriana Martins Ferreira | João Filipe de Souza Magnani | Adriano Antônio Faria | Josiane Bernart da Silva Ferla | Ana Paula de Quadros Coquemala | Lucelia Gonçalves dos Santos | Carmem Machado | Marcos Aurélio Pereira | Caroline de Araujo Santos Ferronato | Mariana Ribeiro Franzoloso | Daniel José Gonçalves Pinto | Mariangela Hoog Cunha | Daniele Cristina Rosa | Marisilvia dos Santos | Dinamara Pereira Machado | Mariza Medeiros | Elisabet Ristow Nascimento | Maura Ferreira Probst | Elisângela Moreira | Melissa Rodrigues da Silva | Everaldo Moreira Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 19-53, Curitiba, 2009. 39 40 Grupos de Pesquisa de Andrade | Michelle Souza Julio Knaut | Fabiane Mathias Delattre Mendes | Miguel Fernando Rigoni | Fernanda Quaresma de Araujo | Osvaldo Luís Meza Siqueira | Flori Antonio Tasca | Patricia Correia de Paula Marcoccia | Gilvanes Costa Domingues | Ricardo Westphalen de Queiroz Jucá | Guilherme Stival Gaspari | Roseli Vaz Carvalho | Ingrid Adam | Samara Elisana Nicareta | Irene Domareski | Sávio José Di Giorgi Ferreira de Souza | Ivan Gross | Shani Falchetti | Jaqueline Kugler Tibucheski | Valdirene Manduca de Moraes | Jean Paulo Bernardo Xavier Linhas de pesquisa · Educação e História: cultura escolar e prática pedagógica · Indisciplina na Educação Contemporânea · Prática Educativa e Movimentos Sociais do Campo · Práticas Pedagógicas: elementos articuladores Grupo de Pesquisa Políticas Públicas e Gestão da Educação Líder(es) do grupo: Naura Syria Carapeto Ferreira e Anita Helena Schlesener Área predominante: Ciências Humanas; Educação Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná - UTP Órgão: Faculdade de Ciências Humanas Letras e Artes Unidade: Programa de Pós-Graduação em Educação - Mestrado em Educação As investigações que foram constituíndo este grupo de pesquisa alicerçaram-se nas categorias “estado”; “política”; “gestão”, “formação”, que, como fio condutor tem possibilitado avançar nos conhecimentos acerca do Estado Brasileiro, da realidade educacional, das políticas públicas, da gestão da educação e das políticas de formação. Este constructo vem originando uma produção que tem sido socializada através de livros, capítulos de livros, artigos e textos geradores de outras ‘”investigações de base” que possam “nutrir” os campos do conhecimento e do exercício da gestão da educação e da formação de profissionais da educação. Esta produção tem, também, se constituído em subsídios para as políticas públicas na medida em que revelam necessidades e formas de tratar a realidade educacional que necessitam ser revistas e reformuladas. A produção deste grupo tem sido apresentada em congressos nacionais e internacionais com o objetivo de desenvolvimento de novos conceitos, troca de experiências e de evolução no sentido do conhecimento mais elaborado que vem se construindo. Nesse sentido, este grupo de pesquisa tem desenvolvido investigações nacionais em parceria com a ANPAE - Associação Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 19-53, Curitiba, 2009. Grupos de Pesquisa Nacional de Política e Administração da Educação em pesquisas financiadas pelo INEP e Fundação Ford, como, a exemplo, a pesquisa nacional “O estado da arte da produção científica em Política e Administração da Educação”, “Experiências Inovadoras e/ou Exitosas em Gestão da Educação” que gerou artigos e capítulos de livros e livros publicados por diversas editoras de circulação nacional e internacional como, Vozes, Cortez, DP&A, Papirus, Liber livro Editora e outras. Este grupo de pesquisa objetiva a investigação e aprofundamento do conhecimento sobre políticas públicas, políticas de formação e gestão da educação, tais como: Os Cursos de Pedagogia após a LDB-1996: Políticas e Perspectivas e Formação ético-política do profissional da educação e do gestor da educação. Pesquisadores Anita Helena Schlesener - líder | Naura Syria Carapeto Ferreira - líder | Marcos Vinicius Pansardi | Sidney Reinaldo da Silva Estudantes Ana Paula Barrios de Carvalho | Maria Cristina Elias Esper Stival | Andréa Garcia Furtado | Marise Mendes Silverio | Carmen Luiza da Silva | Maristela Dall’ Asta Fração | Dulce de Oliveira Valerio | Roberta Ravaglio Gagno | Genoveva Ribas Claro | Rosana Zanoni Mascarenhas Ribeiro | Janete Ilibrante | Susana Pitol Guasti | Luigi Chiaro | Teodósia Mika | Luiz Carlos Eckstein Linhas de pesquisa · Políticas Públicas e Gestão da Educação Grupo de Pesquisa Memória e Identidades Líder(es) do grupo: Sidinalva Maria dos Santos Wawzyniak Área predominante: Ciências Humanas; História Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná - UTP Órgão: Faculdade de Ciências Humanas Letras e Artes Unidade: História O grupo, criado em 2002, intitulado Memória e Identidades, foi reformulado em função da criação da Linha de Pesquisa, Cidade, Patrimônio e Memória, propondo-se a realizar estudos sobre cidade e memória tomando como parâmetro a construção de um olhar sobre a cidade, vista como um documento a ser lido, privilegiando Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 19-53, Curitiba, 2009. 41 42 Grupos de Pesquisa os vestígios permanentes de suas transformações através do tempo. Todas as formas de registros sensíveis e materiais que permanecem e compõem o patrimônio cultural dos povos podem, assim, ser estudados, na medida que o espaço urbano é, por excelência, o depositário desses vestígios. Os resultados alcançados por esses trabalhos tem sido e continuarão a ser divulgados em nivel local, nacional e internacional, pela participação em eventos, na articulação com outros grupos cujos estudos contemplem temáticas afins, e em publicações como periódicos científicos, livros, relatórios e outros textos de caráter mais informal. Por outro lado, o grupo proporciona oportunidades de integração entre docentes e discentes, tanto no nível de iniciação científica, quanto nos trabalhos monográficos de conclusão de curso. Pesquisadores Etelvina Maria de Castro Trindade | Maria Francisca Vilas Boas Leffer | Maria Cristina Borges da Silva | Rafael Tassi Teixeira | Maria da Graca Rodrigues dos Santos | Sidinalva Maria dos Santos Wawzyniak - líder Técnicos Vanessa Zoca - Especialização - Oficial de Apoio à Pesquisa Científica Linhas de pesquisa · Cidade, Patrimônio e Memória Grupo de Pesquisa Processos Interativos, Aprendizagem e Cultura Líder(es) do grupo: Iolanda Bueno de Camargo Cortelazzoi Área predominante: Ciências Humanas; Educação Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná – UTP órgão: Reitoria Unidade: Direção de Faculdade O Grupo de Pesquisa composto de pesquisadores de diversas áreas do conhecimento desenvolve investigação em processos interativos tanto comunicacionais quanto educacionais. Promove o debate e a produção de conhecimento que se aplica nas disciplinas dos cursos de Graduação e Pós-Graduação, em projetos de intervenção tanto na área acadêmica - na Educação Básica e Superior - como na comunidade, em ações de Extensão. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 19-53, Curitiba, 2009. Grupos de Pesquisa Pesquisadores Iolanda Bueno de Camargo Cortelazzo - líder | Ana Irene Alves de Oliveira | Carlos Alves Rocha | Cleide Meirelles Esteves Piragis | Flávio Adalberto Poloni Rizzato | Ingrid Adam | Isabel Cristina Vollet Marson | Ivanda Maria Martins Silva | Jamine Emmanuelle Henning Moreira | Jocian Machado Bueno | Juliana Cristina Faggion Bergmann | Marcelo de Paula Mascarenhas Ribeiro | Márcia Silva Di Palma | Marcus Vinicius Santos Kucharski | Maristela Sobral Cortinhas | Matheus Vieira Silva | Rosana Zanoni Mascarenhas Ribeiro | Rosilda Maria Borges Ferreira Linhas de Pesquisa - Processos Inclusivos, Tecnologias Assistivas e Cultura - Processos Interdisciplinares, Tecnologias e Redes Sociais Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 19-53, Curitiba, 2009. 43 44 Grupos de Pesquisa FACSA - FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS Grupo de Pesquisa Cibercultura Líder(es) do grupo: Adriana da Rosa Amaral Área predominante: Ciências Sociais Aplicadas; Comunicação Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná - UTP Órgão: Conselho de Ensino Pesquisa e Extensão Unidade: Mestrado em Comunicação e Linguagens Home page: http://ciberpalavra.blogspot.com O grupo de pesquisa Cibercultura - Práticas de Comunicação, Sociabilidade e Consumo vem desenvolvendo pesquisas e ações desde 2006. Em sua primeira fase de atuação, o grupo elaborou um mapeamento da pesquisa em Cibercultura, com ênfase nas redes sociais, imaginário e subjetividades. Ao localizar os pesquisadores, temáticas e métodos pertinentes à área, o grupo iniciou sua trajetória, um perfil objetivo a partir de distintas premissas teóricas e metodológicas. A partir de meados de 2007 a ênfase das pesquisas do grupo começa a se delinear, com o objetivo de investigar as práticas de comunicação, sociabilidade, circulação e consumo no contexto da cultura contemporânea, em suas reconfigurações, usos e apropriações. Os trabalhos desenvolvidos articulam fluxos comunicacionais nos ambientes online e suas relações com offline, a partir de distintos nichos mercadológicos e estratégias de visibilidade (a publicidade, a moda, o entretenimento, etc) com ênfase nos processos de convergência e digitalização dos grupos e atores sociais e no estudo das metodologias de pesquisa adequadas aos sistemas emergentes, bem como a reflexão acerca das apropriações, linguagens, narrativas, usos e efeitos de sentido dos mesmos. Em 2008, o grupo organiza e ministra o curso de Extensão em Comunicação, Consumo e Entretenimento Digital na UTP, e participa dos debates no Simpósio da ABCiber - Associação Brasileira dos Pesquisadores em Cibercultura, entre outros eventos. O grupo também tem propiciado o intercâmbio com vários pesquisadores entre os programas de pós-graduação do país que investigam a cibercultura, seja em bancas de defesas seus membros, publicações conjuntas, etc. Além disso, o GP presta consultorias de pesquisa ao mercado, bem como seus membros tem participado de diversos eventos e festivais de cultura digital, como Campus Party, Forum das Mídias Sociais, etc. Em 2009, o grupo fechou um acordo de atividades conjuntas com o GP Mídias Digitais (Unisinos). Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 19-53, Curitiba, 2009. Grupos de Pesquisa Pesquisadores Adriana da Rosa Amaral - líder Estudantes Alessandra Torres Bittencourt | Lucina Reitenbach Viana | Andréia Mendes Jacopetti | Lúcio Siqueira Amaral Filho | Andressa Mara Pacheco de Oliveira Moschetta | Marcelo Higinio de Souza | Cibele Bastos da Costa | Neliffer Horny Salvatierra | Gisele Miyoko Onuki | Patrícia Regina Wypych | Hélcio José Prado Fabri | Renata Freire Rocha Duarte | Jack de Castro Holmer | Thyenne Veiga Vilela | Letícia Salem Herrmann Lima Linhas de pesquisa · Estratégias Midiáticas e Práticas Comunicacionais Grupo de Pesquisa Cinetevê - Ficção Contemporânea Líder(es) do grupo: Renato Luiz Pucci Junior e Eduardo Tulio Baggio Área predominante: Ciências Sociais Aplicadas; Comunicação Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná - UTP Órgão: Mestrado em Comunicação e Linguagens Unidade: Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas O grupo reúne pesquisadores da linha de pesquisa Análises de Linguagens Midiáticas, do Mestrado em Comunicação e Linguagens (orientador e orientandos), e alunos de Iniciação Científica e professores dos cursos de graduação em Comunicação Social da Universidade Tuiuti do Paraná. A proposta surgiu da percepção de que, no campo dos estudos do audiovisual, uma questão premente na atualidade consiste na definição das relações de parentesco midiático entre a ficção cinematográfica e a televisual, em vista das constantes hibridações entre os dois meios. A problemática adquire especial relevância no Brasil, onde persistem conflitos entre a tradição teórica e crítica com raízes modernistas e a produção geralmente conservadora de uma rede de televisão de alcance internacional. Integrantes do grupo Cinetevê participam regularmente de encontros de pesquisadores da Socine e da Compós, levando notícias das pesquisas que têm desenvolvido. Em 2008, foi criado na Socine o seminário temático “Cinema e Televisão: Múltiplas Interlocuções Possíveis”, que tem entre os seus coordenadores o líder do grupo Cinetevê, Prof. Renato Pucci. Entendemos que a própria criação desse seminário, que será realizado também no próximo encontro da Socine, em 2009, é em parte resultado das atividades do grupo Cinetevê, Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 19-53, Curitiba, 2009. 45 46 Grupos de Pesquisa devido à constante apresentação de suas pesquisas no âmbito acadêmico, seja em encontros nacionais ou em publicações em periódicos científicos, ressaltando-se portanto a relevância de seu objeto. Atualmente o grupo empreende uma pesquisa de grande alcance, inédita em termos nacionais, envolvendo cerca de 200 longasmetragens nacionais realizados entre 1994 e 2007, no intuito de detectar variações no tratamento narrativo dos filmes em relação à TV. Após a fase da redação de textos decorrentes dessa pesquisa, eles serão coligidos de forma a compor um livro eletrônico que deverá ter repercussão na área. Pesquisadores Ana Flávia Merino Lesnovski | Eumar Francisco da Silva | Eduardo Tulio Baggio - líder | Renato Luiz Pucci Junior - líder Estudantes Carla Lilian Gulka | Michelle Cristina Takashima de Paula Castro Walter | Guilherme Volkmann Haas | Tiago Madalozzo | Leonardo Canalli Tramontin Linhas de pesquisa · Análise de Linguagens Midiáticas Grupo de Pesquisa Imagem, Sentidos e Regimes de Interação Líder(es) do grupo: Kati Eliana Caetano Área predominante: Ciências Sociais Aplicadas; Comunicação Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná – UTP Com o intuito de que as atividades desenvolvidas tenham um alcance maior do que aquele configurado pela instituição em que está sediado ? a Universidade Tuiuti do Paraná -, o grupo tem definido um perfil interinstitucional, pela participação de pesquisadores oriundos de outras IES, como Universidade Positivo, PUCPR, UFPR, Faculdades Curitiba, junto as quais visa a estimular a prática científica conjunta em suas diversas modalidades, contribuindo para o avanço do conhecimento no tocante à temática do grupo em particular e ao fenômeno da comunicação em geral. Pesquisadores Kati Eliana Caetano – líder| Ana Emília Jung | Ana Paula da Rosa | Anuschka Reichmann Lemos | Juliana Pereira Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 19-53, Curitiba, 2009. Grupos de Pesquisa de Sousa | Leomar Jesus Ferreira de Brito | Maria Zaclis Veiga Ferreira | Scheila Fatima Giacomazzi Camargo Estudantes Alberto Melo Viana | Aline Aparecida Vonsovicz | Fernanda Pacheco de Moraes | Guevara Malvestiti | Giovani Francisco dos Santos | Hilton Antonio Marques Castelo | Lais Romero Pancote | Márcio David Macedo da Silva Linha de Pesquisa Passagens e convergências da fotografia Percursos do olhar: entre imagem, imaginário e cultura Grupo de Pesquisa JOR XXI Líder(es) do grupo: Claudia Irene de Quadros e Álvaro Nunes Larangeira Área predominante: Ciências Sociais Aplicadas; Comunicação Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná - UTP Órgão: Conselho de Pesquisa e Extensão Unidade: MDCL O grupo de pesquisa JOR XXI tem o objetivo de estudar as transformações do jornalismo do Século XXI, com ênfase em três vertentes: o que é notícia?, práticas produtivas e convergência dos meios de comunicação (jornais, revistas, rádio, televisão, internet e outros sistemas emergentes) O grupo JOR XXI reúne pesquisadores que atuam no Programa do Mestrado em Comunicação Linguagens e na graduação em Jornalismo da Universidade Tuiuti do Paraná. Por estar vinculado ao único mestrado em Comunicação em Curitiba, o JORXXI também procura agregar investigadores de outras instituições do Estado que mantém a graduação em jornalismo. O grupo desenvolve diversas atividades, como seminários, palestras e artigos para publicações nacionais e internacionais, consultorias e extensões, com o intuito de avançar nos estudos da área e promover o intercâmbio entre os pesquisadores (doutores, mestres, mestrandos e estudantes de graduação). Em 2008, a Capes aprovou o projeto O Ensino do Jornalismo Digital na Era da Convergência Tecnológica por meio do Procad. Alunos vinculados ao JOR XXI farão mestrados sanduíches nas universidades (UFSC, USP e UFBA) que desenvolvem o projeto. Claudia Quadros, uma das líderes do grupo, está na coordenação local do referido projeto. Álvaro Larangeira, outro líder do grupo, recebeu a bolsa produtividade do CNPq e fará no primeiro semestre de 2009 Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 19-53, Curitiba, 2009. 47 48 Grupos de Pesquisa o pós-doutorado na Universidade de Coimbra. Neste primeiro semestre de 2009, o grupo vai contar com a participação de Kati Caetano, uma das fundadoras do Programa de Mestrado em Comunicação e Linguagens. Com pós-doutorado na França, ela tem realizado pesquisas e publicado artigos sobre a imagem jornalística e documental em periódicos nacionais e internacionais. Os trabalhos do grupo de pesquisa são apresentados em diversos congressos dentro e fora do país. Pesquisadores Álvaro Nunes Larangeira - líder | Kati Eliana Caetano | Claudia Irene de Quadros - líder | Maria Lúcia Becker Estudantes Ana Cristina Araujo Bostelmam | Fernanda Carraro Dal-Vitt | Carla Candida Rizzotto | Luiz Witiuk | Cora Catalina Gaete Quinteros | Marielle Sandalovski Santos Linhas de pesquisa · Estratégias midiáticas e práticas comunicacionais Grupo de Pesquisa Comunicação, Imagem e Contemporaneidade Líder(es) do grupo: Denize Correa Araujo Área predominante: Ciências Sociais Aplicadas; Comunicação Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná - UTP Órgão: Faculdade de Ciencias Sociais Aplicadas Unidade: Mestrado Em Comunicação e Linguagens Home page: http://www.utp.br/mcl Registrado no CNPq em 2001, o GP Comunicação, Imagem e Contemporaneidade tem por objetivo estudar as teorias da imagem e sua integração em práticas analíticas de objetos em mídias diversas que privilegiem imagens contemporâneas. Serão enfatizados, entre outros, processos digitais e conceitos de hibridação, simulação e manipulação de imagens. Considerando as interfaces entre as diversas mídias, nosso corpus de pesquisa tenciona provocar reflexão não só sobre técnicas de sedução e subjetividade resultantes das novas tecnologias ou por elas produzidas, mas também sobre imagens da atualidade veiculadas em programas televisivos, em outdoors, em filmes e em mídias alternativas que empreguem recursos estéticos em seu fazer comunicativo. Nossa meta em 2008 é produzir uma publicação conjunta com outros GPs da Compós que estudem a imagem, reunindo Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 19-53, Curitiba, 2009. Grupos de Pesquisa artigos de diferentes IES, tentando convergências que podem proporcionar mais temas, incentivando pesquisas na área. Como metodologia, faremos um encontro mensal com leituras prévias, para discussão dos conceitos teóricos aplicados ao estudo de imagens selecionadas. Um filme por mês será analisado. Buscaremos sugerir temas a serem selecionados para as publicações do segundo semestre. Pesquisadores Cristiane do Rocio Wosniak | Décio Pignatari | Denise Azevedo Duarte Guimarães | Denize Correa Araujo - líder | Fernando Torres Andacht | Huilton Luiz Silva Lisboa - Tom Lisboa | Luciana Martha Silveira | Luiz Antonio Zahdi Salgado | Rubens Cesar Stier Portella | Sandra Fischer Estudantes Alessandra Torres Bittencourt | Fabiana Rodrigues | Jhelson Nunes Holthausen | Fabio Henrique Feltrin | Giovana Santana Carlos | Maria Cristina Mendes | Maria Elisa Sokoloski | Michelle Cristina Takashima de Paula Castro Walter Linhas de pesquisa . Estudo de cinema Grupo de Pesquisa Sustentabilidade Ambiental, Social e Econômica nas Organizações Líder(es) do grupo: Mario Sergio Cunha Alencastro Área predominante: Ciências Sociais Aplicadas; Administração Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná - UTP Órgão: Faculdade de Ciências Socias Aplicadas Unidade: Curso de Bacharelado em Administração O presente grupo de pesquisa é formado por pesquisadores oriundos de diversas áreas do conhecimento, representando o enfoque multidisciplinar almejado nas pesquisas a serem desenvolvidas. Pretende ser um laboratório para que se desenvolvam atividades de pesquisa, ensino e extensão, no sentido de produzir conhecimentos e promover atividades no campo da sustentabilidade organizacional. As ações de pesquisa e outras atividades a serem desenvolvidas pelo grupo estão focadas na compreensão e aplicações da sustentabilidade e seus desdobramentos nas questões econômicas, sociais e ambientais das organizações. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 19-53, Curitiba, 2009. 49 50 Grupos de Pesquisa Pesquisadores Cleide Meirelles Esteves Piragis | Cora Catalina Gaete Quinteros | Janiffer Tammy Gusso Zarpelon | Mario Sergio Cunha Alencastro - líder | Viviane da Costa Freitag | Wilson Mendes do Valle Linhas de pesquisa · Gestão Socioambiental Estratégica Grupo de Pesquisa Empreendedorismo, Gestão e Desenvolvimento de Micro, Pequena e Média Empresas Líder(es) do grupo: Norberto Fernando Kuchenbecker Área predominante: Ciências Sociais Aplicadas; Administração Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná - UTP Órgão: Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas Unidade: Curso de Administração As ações de pesquisa e outras atividades a serem desenvolvidas pelo grupo estão focadas nas seguintes temáticas: planejamento estratégico; a organização interna; redes de empresas; conteúdo e processos estratégicos; formulação, implementação e avaliação de estratégias; estratégia, ambiente e competitividade; relações e impacto da estratégia sobre processos e dimensões da organização, a estrutura de governança em pequenas e médias empresas e seu impacto no crescimento e desenvolvimento das organizações. Também abrange os diversos temas relacionados ao empreendedorismo, ao comportamento empreendedor de pessoas, grupos e organizações. Engloba o papel que o empreendedor desempenha nas organizações privadas e públicas, assim como do terceiro setor e na sociedade como um todo. Pesquisadores Clelia Aparecida de Melo Pesqueira | Marisa Bernadino Albuquerque | Elizabeth Macuco Zanetti Rodrigues | Norberto Fernando Kuchenbecker - líder | Glaison Jose Citadin | Osnir José Jugler | Marco Aurélio de França | Patrícia Bellotti Carvalho | Marilene Zazula Beatriz Linhas de pesquisa · Governança Corporativa de Micro, Pequena e Média Empresas Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 19-53, Curitiba, 2009. Grupos de Pesquisa FACJUR - FACULDADE DE CIÊNCIAS JURÍDICAS Grupo de Pesquisa Constituição, Tributos, Processo e Cidadania Líder(es) do grupo: Francisco Pinto Rabello Filho Área predominante: Ciências Sociais Aplicadas; Direito Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná - UTP Órgão: PROPPE - Pró-Reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão Unidade: Faculdade de Ciências Jurídicas As pesquisas desenvolvidas não somente buscarão despertar nos alunos esse espírito, como buscarão enfatizar a função social do Direito e de seu operador, em ordem a atender às necessidades da vida hodierna. Preocupado com os aspectos centrais teóricos das pesquisas empreendidas, do mesmo passo buscará o Grupo, sempre, a realização prática, no mundo fenomênico, dos estudos realizados, buscando atender aos reclamos da sociedade. Assim é que os resultados poderão ser convertidos em publicações (relatórios, artigos, livros etc.), o que permitirá a difusão do pensamento científico mais atualizado com relação aos temas investigados. A melhoria progressiva da qualidade do corpo discente entregue ao mercado, o constante aprimoramento e atualização do corpo docente, assim com a produção científica enfeixam o leque de objetivos perseguidos pela Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná, com o que o presente Grupo de Pesquisa almeja contribuir Recursos humanos. Pesquisadores Alvaro Augusto Cassetari | André Luiz Bäuml Tesser | André Peixoto de Souza | Danielli Weber Santos | Francisco Pinto Rabello Filho - líder | Luiz Rodrigues Wambier | Nilza Machado de Oliveira Souza | Paulo Roberto de Souza | Pericles Coelho | Sérgio Augusto Fagundes Estudantes Aline Eloisa de Almeida | Fernando Valente Costacurta | Juliana de Lima Villa | Manuella Bastos Cercal | Maria Antônia de Souza | Maria Augusta Zardo Pinto Rabello | Natássia Emely Pereira Procópio | Vania Regina Zardo Pinto Rabello | Wanessa dos Reis Schuenck | Wilson da Luz Raposo Técnicos Dirlene Viensci - Graduação - Oficial de Apoio à Pesquisa Científica Linhas de pesquisa · Tutela dos direitos fundamentais em matéria tributária Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 19-53, Curitiba, 2009. 51 Resumos de Pesquisa Ciências Biológicas e da Saúde Pesquisa A ESCRITA DE NARRATIVA S AUTOBIOGRÁFICA S NO PROCESSO DE ENVELHECIMENTO Regina Celebrone Lourenço Giselle Massi INTRODUÇÃO: A população idosa no Brasil e no mundo vem crescendo exponencialmente nos últimos anos. As estatísticas apontam que já há uma mudança no perfil etário da população brasileira, caracterizada por um aumento de idosos e declínio nos nascimentos. Segundo Kalache (2006), em 2025, a expectativa é de que no Brasil seja de 32 milhões o número de indivíduos com idade igual ou superior a 60 anos e de 1,2 bilhões no mundo, sendo que três quartos deles estarão em países em desenvolvimento. Esse número de idosos corresponderá a 15% da população aproximadamente. Para Papaléo Neto (2007), é possível afirmar que o século XX anunciou uma verdadeira revolução mundial na longevidade, a qual deve tornar-se ainda maior no século XXI. Assim, é possível considerar que o envelhecimento populacional é um fato inevitável, o que aponta para a necessidade de a sociedade ocupar-se com o processo de envelhecimento para tornar-se capaz de criar alternativas de viabilizar saúde, dignidade e autonomia aos idosos. Uma vez constatado o lugar de relevância e projeção social que os idosos assumem em nossa sociedade, urge a transformação dos valores sociais e pessoais em relação à velhice. Nas palavras de Massi (2008), esta sociedade deve envolver-se com a criação de propostas e intervenções que possam tornar o processo de envelhecimento autônomo e criativo. Como iniciativa da sociedade brasileira de assegurar direitos sociais e promover políticas públicas que criem condições de o idoso desenvolver autonomia, integração e participação ativa na sociedade, surgem estatutos e políticas públicas. Nos anos 90, são criados no Brasil o Estatuto do Idoso e a Política Nacional do Idoso (PNI), Lei nº 8842. A implementação de políticas públicas voltadas a esse segmento da sociedade brasileira denota uma preocupação, por parte de agências governamentais, com a implementação de programas vinculados ao lazer, à cultura e à educação, além daqueles relacionados à saúde, ao trabalho e à assistência dessa população. Em termos de políticas públicas que se preocupam com o desenvolvimento de programas direcionados aos idosos relacionados à promoção da saúde, podemos citar as iniciativas das áreas biológicas com a proposta de tratar do orgânico do idoso, do controle das doenças relacionadas ao envelhecimento. A medicina primordialmente se ocupa da Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 55 56 Resumos qualidade do corpo físico que envelhece. Avança cada dia em suas pesquisas no afã de dominar os desgastes do corpo biológico, desenvolvendo medicamentos que controlem e retardem o envelhecimento do corpo. Contudo, tendo em vista o crescimento da longevidade humana, não basta que o número de velhos se eleve. Além do aumento cronológico dos anos, é preciso considerar a qualidade e a autonomia que o idoso terá frente a essa sobrevida que lhe está sendo concedida pela ciência a partir dos avanços tecnológicos da medicina. Interrogamo-nos a respeito do que os idosos farão com os anos a mais de vida, se suas vivências e experiências nesses anos que receberam por acréscimo são significativas e prazerosas. Parecenos que, sem a consideração dos aspectos subjetivos do envelhecimento, esse processo pode trazer sérias dificuldades para a sociedade, para a família e, sobretudo, para o próprio sujeito. Nosso trabalho está direcionado ao enfoque do envelhecimento por uma dimensão da subjetividade humana e não apenas para a cronologia dos anos de vida acrescentados. Tempo lógico, como define Lacan (1998), e não cronológico, ou seja, o que representa para o idoso o tempo e suas experiências vividas através dele. Nessa direção, tomamos como pressupostos teóricos desta pesquisa a perspectiva de linguagem como trabalho social e histórico, constitutiva do sujeito, conforme Mikhail Bakhtin (1992), bem como de teóricos da psicanálise freudiana, por serem perspectivas teóricas que contemplam a subjetividade. Como exemplos de teóricos freudianos, citamos Lacan (1998), Goldfarb (1997), Mucida (2006), Dolto (1991), Jerusalinsky (2001), Roudinesco (2000), Rosa (2004) e Soares (2004). Como exemplos de pesquisadores que tomam a linguagem como atividade constitutiva por uma perspectiva bakhtiniana, citamos Gamburgo (2006), Faraco (2003), Massi (2008), Geraldi (1995), Brait (1996), Tezza (1996), dentre outros. Partindo desses referenciais teóricos, o nosso objetivo, neste trabalho, é analisar o relato de oito idosos com idades entre 60 e 82 anos que participaram durante o ano de 2007 da Oficina da Linguagem. Pretendemos perceber os sentidos que eles atribuem à experiência de escrever parte das histórias da própria vida. Esses oito idosos desenvolveram atividades relacionadas à leitura e à escrita, sendo orientados pela professora Giselle Massi e por uma psicóloga, autora dessa pesquisa. Ao final do trabalho, que ocorreu semanalmente durante nove meses, em encontros de uma hora e meia cada, foi organizado um livro com as narrativas de cada um dos participantes. Esse livro, intitulado “Nossas músicas, nossas vidas”. Esse livro foi editado e publicado no início de 2008. Assim, pretendemos, neste estudo, focar nossa atenção no papel que a escrita de parte da história de vida pode assumir no processo de envelhecimento, como uma alternativa para atender às demandas da população que envelhece, aos aspectos subjetivos que o estatuto do idoso e as políticas públicas buscam contemplar ao apontar para a necessidade do desenvolvimento Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa da autonomia do idoso, uma vez que defendemos o exercício de práticas orais e escritas como forma de atender às demandas da sociedade envelhescente. DESENVOLVIMENTO: Para dar conta do objetivo deste trabalho, que é analisar os sentidos atribuídos pelos idosos à escrita de narrativas autobiográficas, optamos pela pesquisa qualitativa de coleta de dados com entrevistas semiestruturadas, aprovada pelo comitê de ética da Universidade Tuiuti do Paraná sob o número 102/2008. A fim de orientar nosso diálogo com os idosos, organizamos uma entrevista com 20 questões, das quais 6 são fechadas, por se tratarem da caracterização dos sujeitos, e 14 semiabertas, que tiveram por objetivo instigar cada sujeito a narrar os sentidos que assumiram para eles a escrita do livro ”Nossas músicas, nossas vidas”. Os dados que utilizamos foram transcritos das entrevistas gravadas, realizadas com os idosos individualmente na unidade de saúde da Praça Ouvidor Pardinho. As entrevistas, após degravadas, foram revisadas e aprovadas pelos entrevistados. A Oficina da Linguagem acontece na Unidade de Saúde da Praça Ouvidor Pardinho, que é um centro de referência no atendimento ao idoso no Paraná. Essa Oficina está vinculada ao Mestrado e Doutorado em Distúrbios da Comunicação da Universidade Tuiuti do Paraná, mais especificamente ao Núcleo de Estudos “Linguagem e Envelhecimento”. A Oficina foi idealizada e é coordenada pela fonoaudióloga Profª. Drª. Giselle Massi. Com relação aos resultados, deste Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. estudo, convém ressaltar que, no momento em que os idosos chegaram à Oficina da Linguagem, no início de 2007, não apostavam que seriam capazes de escrever narrativas de histórias de vida. Declaravam que não sabiam ler bem e que não sabiam escrever. Afirmavam que tinham baixo índice de escolaridade e que escrever era para quem tinha estudo. A partir desses argumentos, orientamos os trabalhos na Oficina. Praticamente em todo o primeiro semestre de 2007, utilizamos textos para desencadear discussões e diálogos. Os textos utilizados eram de gêneros diversos: letras de músicas, poemas, crônicas, reportagens, que abordavam temas como velhice, ser avô (ó), família, sexualidade, mercado de trabalho, espiritualidade, entre outros. Enfim, os membros do grupo tinham a liberdade de trazer temas que os mobilizassem. A partir da leitura e da discussão dos textos de seus interesses, as narrativas se voltaram para a temática das músicas que marcaram momentos significativos de suas vidas. Essa temática surgiu no grupo, da iniciativa dos próprios idosos. Os participantes escreviam, sujeitavam seus escritos a leituras e releituras das orientadoras e do próprio grupo, o que os possibilitava estabelecer um novo diálogo com seus próprios textos. Assim, foram assistindo à concretização da tessitura de suas histórias escritas. Escreveram e reescreveram diversas vezes. Deparou-se com a natureza heteroglóssica e dialógica da linguagem. Dessa forma, foram dando corpo aos seus textos, constituindo-se como escritores e autores, tornando-se, 57 58 Resumos protagonistas de suas histórias de vida. As experiências dos idosos com a linguagem, que anteriormente à sua participação na Oficina desqualificavam por se renderem aos sentidos produzidos pelo discurso social vigente, passam a ser encarados de outra forma após um trabalho significativo com a linguagem. Pois, a partir de tal trabalho, passam a valorizar suas histórias de vida e suas velhices, desejando, inclusive, imortalizá-las na forma de registro escrito para as gerações vindouras, que servirão de guardiãs dessas histórias. O lugar de escritor lhes confere identidade. CONCLUSÃO: Podemos concluir, mediante a análise dos sentidos que os idosos atribuíram à escrita de narrativas de parte de suas histórias de vida, que a escrita autobiográfica apresenta-se como uma alternativa para atender às demandas da população que envelhece. Esta proposta atende aos aspectos subjetivos que o estatuto do idoso e as políticas públicas visam contemplar ao apontar para a necessidade do desenvolvimento da autonomia do idoso. Confirmamos que a escrita proporciona autoestima, realização pessoal, bem-estar, resgata lembranças, imortaliza relatos. As práticas de linguagem oral, de leitura e de escrita, descritas no transcorrer deste trabalho, e, sobretudo a escrita do livro “Nossas músicas, nossas vidas”, na Oficina da Linguagem da Praça Ouvidor Pardinho na cidade de Curitiba, são, conforme apontado nas entrevistas dos sujeitos desta pesquisa, formas privilegiadas de atender às demandas da sociedade envelhescente, promover a inclusão social, possibilitar a vivência da cidadania e oportunizar um envelhecimento dotado de sentido. Palavras-chave: idoso; velhice; psicanálise; bakhtin; linguagem; escrita. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO DE ENFERMAGEM PARA O CUIDADO DOMICILIAR AS PACIENTES MASTECTOMIZADAS COM SISTEMA DE DRENAGEM Luciana Puchalski Kalinke – UTP Jane Francisco Costa - Hospital São Vicente Ana Paula Balbino – UTP Paula Souza – UTP Thais Lima - Hospital Erasto Gaertner Geovana C. Schlickmann Sylvestre - Hospital Erasto Gaertner INTRODUÇÃO: O carcinoma mamário invasor é a segunda neoplasia mais incidente na população feminina no Brasil, com cerca de 48.930 casos novos diagnosticados a cada ano, ou seja, a cada 100.000 mulheres teremos 52 casos de câncer de mama no Brasil [1]. A grande maioria das pacientes com este diagnóstico submete-se a abordagem cirúrgica com comprometimento da axila com finalidade prognóstica. A formação de seroma pós-mastectomia é a complicação mais comum pós-cirurgia para câncer de mama, podendo trazer complicações para a cicatrização da ferida operatória, disfunção nos movimentos do ombro e antebraço [2]. O processo de remoção da mama torna propício ao acúmulo de líquidos, ocorre uma extensa dissecação e vasos linfáticos, que resulta num espaço morto, nesta área são inseridos os drenos (a vácuo ou de sucção) a sucção constante e suave promove a drenagem desse sangue e líquido seroso que poderá servir de meio de cultura para bactérias [3]. A possibilidade das pacientes mastectomizadas irem de alta hospitalar com a drenagem aspirativa, capacitada para a realização do cuidado, irá ocasionar uma diminuição da formação de seroma e consequentemente a paciente se reabilitará com mais facilidade e em um tempo mais curto. Estudos relacionados sobre as complicações no pós-operatório de mastectomia decorrentes da alta precoce indicaram que esta conduta é segura e benéfica para a maioria das pacientes, e pode ser recomendada quando há suporte domiciliar adequado, boas condições de saúde da paciente e fácil acesso a equipe de saúde. Cabe ressaltar que nesses estudos é enfatizada a necessidade de que orientações pré-operatórias sejam fornecidas às pacientes e seus familiares. Desta forma, podemos entender o quanto é importante a participação do profissional Enfermeiro desde o primeiro momento que o paciente recebe a noticia de que será necessária uma cirurgia, fazendo com que elas se percebam melhor, participem de modo efetivo na sua melhora, otimizem o uso de seu potencial, colaborando assim para a sua recuperação. No Hospital Erasto Gaertner as pacientes Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 59 60 Resumos submetidas à mesma técnica cirúrgica, recebem alta hospitalar, mantendo o sistema de drenagem aspirativa no domicílio. Observa-se que a utilização desta rotina diminui o risco de formação de seroma, uma vez que o sistema de drenagem é retirado somente no primeiro retorno ambulatorial que será entre o quinto e sétimo dia pós-cirúrgico. Diante desta realidade, o presente estudo visa a identificar as principais dificuldades que a paciente apresenta no domicilio ao manusear o sistema de drenagem aspirativa. MATERIAL E MÉTODOS: Trata-se de um estudo descritivo, prospectivo e quantitativo. As pacientes foram selecionadas durante os meses de setembro, outubro e novembro de 2008. Foram incluídas no estudo todas as pacientes que submetidas à cirurgia de mama que necessitaram da utilização do dreno aspirativo. A participação das pacientes ficou condicionada à sua assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Foram excluídas da pesquisa pacientes submetidas à cirurgia de mama que não necessitaram da utilização do dreno aspirativo e pacientes submetidas apenas a biópsia. A coleta de dados para a pesquisa ocorreu por meio de entrevista individual com um instrumento norteador e avaliação clínica do enfermeiro, no primeiro retorno ambulatorial desta paciente. RESULTADOS: Durante o período do estudo foram selecionadas 46 pacientes. No entanto, acompanhou-se 43 pacientes, as outras 3 pacientes foram excluídas do estudo, devido necessidade de internamento antes do primeiro retorno ambulatorial. No que diz respeito ao tipo de cirurgia, foi levantado que 40 pacientes estavam participando pela primeira vez de um processo cirúrgico, 3 pacientes já haviam feito algum tipo de cirurgia na mama, (2 nodulectomia e 1 mastectomia). Todas as pacientes incluídas no estudo, permaneceram somente 2 dias internadas. Em relação aos cuidados domiciliares recebidos antes da cirurgia, 84,4% tinham sido orientadas no pré-operatório, 11,3% não receberam nenhum tipo de orientação e 0,5% não lembravam se havia recebido ou não orientação. Quanto às dificuldades para manusear o dreno, 61% disseram que não tiveram dificuldade para manipular e 39% apresentaram dificuldade para manipular. Entretanto é importante ressaltar que de todas as pacientes que disseram que não tiveram dificuldades para manipular, destas, 42% não manipularam seus drenos e a dificuldade mais apresentada foi para esvaziar. DISCUSSÃO: O câncer é reconhecido como uma doença crônico-degenerativa que atinge milhões de pessoas em todo o mundo, sendo atualmente a segunda causa de morte no Brasil e no mundo. O saber de que se é portador de câncer é, em geral, aterrador, pois, apesar dos avanços terapêuticos permitindo uma melhoria na taxa de sobrevida e qualidade de vida, ainda permanece o estigma de doença incapacitante, mutiladora e mortal. Dessa forma, fica clara a necessidade e a propriedade de intervenções de enfermagem que auxiliem as pessoas no enfrentamento da doença e suas conseqüências, Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa visando à reabilitação e a melhoria da qualidade de vida [4]. Nossos resultados demonstram que 61% das pacientes não tiveram dúvidas em relação ao manuseio do dreno, no entanto destas 42%, não manusearam seu dreno, quem acabou fazendo este cuidado foram os familiares, com grande prevalência para as filhas e esposos. Ressaltamos o quanto é importante incluir a família no planejamento do cuidado do enfermeiro, em algumas situações ela será responsável pela prestação do cuidado ao paciente. Para a prestação de uma assistência mais qualitativa em oncologia, sugerimos que a enfermagem enfatize a família como relevante no cuidado, visto que, no momento de uma doença de caráter maligno como o câncer, esta também fica afetada em sua integridade, podendo interferir na promoção de respostas adaptativas pelo cliente [5]. Em relação às intercorrências apresentadas em no pós-operatório, observamos que somente um paciente apresentou quadro de infecção. Entretanto, 35% apresentaram dificuldades relacionadas ao dreno, com obstrução e escape de ar, dificuldades comuns de serem apresentadas e fáceis de serem solucionadas. Ressaltamos que estas, poderiam ser evitadas se o paciente tivesse mais conhecimento sobre o manuseio do dreno, e isto pode ser suprido no período de internamento da paciente, fazendo com que ela participe do seu auto cuidado. Tanto mulheres quanto seus familiares consideram as orientações dos Enfermeiros como muito úteis e eficientes, pois aliviam a tensão, esclarecem as dúvidas e ajudam o fortalecimento psicológico, permitindo que as mulheres enfrentem mais Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. positivamente as adversidades surgidas com o diagnóstico da doença e seu tratamento [6]. A orientação realizada no momento da alta hospitalar ocorreu em 100% das nossas pacientes. Vale a pena ressaltar que na instituição onde foi realizada a pesquisa, o serviço de ginecologia e mama, conta com uma enfermeira especialista em enfermagem oncológica que faz parte do serviço prestando assistência principalmente no período pós-operatório, o que permite atingir 100% das pacientes. Os enfermeiros são responsáveis pela avaliação dos pacientes durante todo o processo de tratamento, para o entendimento dos cuidados a serem realizados por eles, demonstrando que estes cuidados serão de grande importância para a sua reabilitação [7]. CONSIDERAÇÕES FINAIS: As doenças crônicas degenerativas como o câncer em 2020 serão a primeira causa de morte no mundo. Portanto, devemos estar preparados para atuar nesta realidade. Pacientes portadores de câncer estarão cada vez mais presentes nas famílias e no nosso dia-a-dia, e deverão estar preparados para reabilitar-se e viver com qualidade de vida. Portanto, considera-se que a alta precoce seja uma conduta segura e efetiva, porém, há necessidade de serem implementadas estratégias de ensino e aprendizagem capazes de instrumentalizar essa clientela para a realização das práticas do autocuidado no domicílio. Palavras-chave: cuidados de enfermagem; câncer; mastectomia. 61 62 Resumos REFERÊNCIAS [1] Nacional Instituto Câncer de. Estimativas 2008 - Incidências de Casos de Câncer no Brasil. INCA Instituto Nacional do Câncer. 2009 2007. [2] Panobianco MS, Parra MV, Almeida AM, Prado MAS, Magalhães PAP. Estudo da adesão as estratégias de prevenção e controle de linfedema em mastectomizadas. Esc Anna Nery Rev Enfermagem. 2009 jan-março;13(1):161-8. [3] Hernanz F, Regano S, Redondo-Figuero C, Orallo V, Erasun F, Gomez-Fleitas M. Oncoplastic breast-conserving surgery: analysis of quadrantectomy and immediate reconstruction with latissimus dorsi flap. World journal of surgery. 2007 Oct;31(10):1934-40. [4] Batalha de Menezes Mde F, Camargo TC, dos Santos Guedes MT, Los de Alcantara LF. Cancer, poverty and human development: challenges for nursing care in oncology. Revista latino-americana de enfermagem. 2007 Sep-Oct;15 Spec No:780-5. [5] Melo EM, Silva RM, Fernandes AFC. O Relacionamento familiar após a mastectomia: um enfoque no modo de interdependência de Roy. Revista Brasileira de Cancerologia. 2005 11/07/05;51(3):219-25. [6] Camargo TC, Souza IE. [Care to mastectomized woman: discussing ontic aspects and the ontological dimension in nurses performance at a Cancer Hospital]. Revista latino-americana de enfermagem. 2003 Sep-Oct;11(5):614-21. [7] Pompeo DA, Pinto MH, Cesarino CB, Araujo RRDF, Poletti NAA. Nurses’ performance on hospital discharge: patients’ Point of view. Acta Paulista Enfermagem. 2006 03/04/2007;20(3):345-50. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa A REPRESENTAÇÃO DE UM GRUPO TERAPÊUTICO DE CUIDADORES DE PACIENTES NEUROLÓGICOS PARA SEUS INTEGRANTES Francisleine Moleta Ana Paula Santana Gisele Senhorini INTRODUÇÃO: A experiência Clínica com pacientes neurológicos vem nos mostrando que, além do paciente, o familiar/ cuidador também necessita de atenção e cuidado. A doença, especialmente a doença crônica, é sempre um acontecimento estressor que produz efeitos no doente e na família. A família ao vivenciar a crise provocada pela doença experimenta, inicialmente, um desequilíbrio em sua dinâmica e funcionamento. (FONSECA & PENNA, 2008). O adoecimento de um membro da família promove uma série de mudanças no convívio social, lingüístico, afetivo, financeiro, dentre outros, pois, ao adoecer, é comum que o sujeito deixe de exercer as funções que anteriormente desempenhava, fazendo-se necessário que outro membro da família as assuma. Assim, será preciso que esta família passe por um processo de adaptação, reestruturação e reorganização, momento o qual freqüentemente ocorrem trocas e inversões de papéis. Apesar de a doença afetar a família como um todo, normalmente as responsabilidades pelos cuidados recaem sobre um único familiar, o cuidador. Ele tem que lidar não só com as dificuldades do paciente como a mobilidade, o autocuidado e a dificuldade do sujeito em expressar aquilo que necessita, mas também com outros fatores possíveis, como déficits cognitivos, depressão, oscilação de humor, mudanças bruscas de comportamento, mudança na personalidade, alterações da linguagem. (SANTANA, et. al., 2007) Considerando o exposto, a constituição de grupos terapêuticos, que levem em conta os sentimentos e dificuldades dos cuidadores, vem suprir a demanda destes familiares que, muitas vezes, se encontram fragilizados e desorientados, sem saber a quem recorrer. É no contexto do grupo que o cuidador encontra espaço para expor seus sentimentos. O trabalho coletivo fornece, portanto, condições para que os participantes se desenvolvam, aprendendo mais sobre eles mesmos e isto se dá através do compartilhamento de experiências e das trocas estabelecidas neste processo. O grupo se constitui das particularidades e diversidades de seus participantes, dos diferentes pontos de vistas, expectativas, valores morais, perspectivas, crenças e princípios, oferecendo aos integrantes um rico espaço de reflexão, troca e aprendizagem. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 63 64 Resumos OBJETIVO: A presente pesquisa traz como principal objetivo levantar a representação de um grupo de cuidadores de pacientes neurológicos para seus integrantes. METODOLOGIA: O levantamento dos dados desta pesquisa foi realizado por meio dos discursos produzidos por familiares de pacientes com alteração de linguagem, sendo predominantemente constituído por afásicos, com um de seus integrantes portador de esclerose múltipla (déficit cognitivo leve), num contexto de grupo. Este grupo acontece semanalmente nas dependências da Universidade Tuiuti do Paraná e está ligado ao Curso de Fonoaudiologia e aos Programas de Mestrado e Doutorado em Distúrbios da Comunicação. O grupo é aberto à comunidade e coordenado, hoje, por uma psicóloga e uma fonoaudióloga. Os discursos coletados foram gravados em fita cassete e transcritos na sua íntegra. O material analisado foi retirado das transcrições de dez sessões do grupo. Para esta pesquisa foi realizado um estudo qualitativo, fundamentado no campo teórico da análise do discurso, com contribuições de autores embasados na teoria sócio-histórica e psicanálise. O estudo caracteriza-se como não-linear no sentido em que trabalha com pequenos grupos, não representativos de uma sociedade generalizada, mas que podem ser consideradas exemplares desta comunidade. A análise dos discursos coletados será fundamentada em uma abordagem discursiva da linguagem, elegendo para tanto, a Análise do Discurso Francesa. Segundo Possenti (2004), esta linha de análise leva em conta que um texto não possui uma representação exata, um sentido óbvio e transparente. O sentido se dá nas enunciações, atos que ocorrem no interior das formações discursivas. Para esse trabalho, a título de amostragem, retiramos partes de um episódio do grupo em que os participantes trazem suas representações acerca do trabalho em grupo. A fim de preservar a integridade dos participantes serão utilizados nomes fictícios de Márcia, para a esposa de uma paciente que apresenta diagnóstico de Esclerose Múltipla com Déficit Cognitivo leve, Sueli e Tânia, nesta ordem, filha e esposa de pacientes que sofreram AVC e, como seqüela, tiveram hemiplegia e afasia. Em função de não haver um grupo controle com representatividade estatística, os discursos produzidos por familiares no contexto do grupo terapêutico possibilitaram a realização da análise e a formulação de hipóteses abrangentes sobre o conteúdo dos relatos coletados. RESULTADOS E DISCUSSÃO: Tânia: “É assim, acho que eu já tinha até falado, eu aprendi, a duras penas, tudo por mim. Penei, sofri tudo, e tal, mas eu acho que... éééé... Na necessidade que eu tive, senti que quando se pode ajudar outras pessoas através de um trabalho desse, eu acho que é muito importante. Porque a Júlia (participante do grupo, não presente nesta data), a esposa do seu Carlos (também afásico) , ela veio, ele tinha recém tido o AVC. Eu acho que pra ela foi muito importante esse apoio, ela veio tão desesperada, muito. Assim como a gente se sentiu também, né. Como eu me senti e outras pessoas. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa Eu acho que é muito importante isso, eu dou muito valor”. Sueli: “A gente aprende, ouvindo o caso de um e de outro, o comportamento que cada pessoa teve. Eu acho que tudo o que a gente fizer vai ta aprendendo, um pouquinho com um”... Tânia: “É, um pouquinho com outro”. Sueli: “Não só com um caso, mas com outras pessoas também. Eu acho que tudo que a gente aprende, eu acho que tudo é valido”. Márcia: “No grupo você começa a conhecer os problemas dos outros e aí você vê, até compara um pouco com a tua dor, teu sofrimento, da tua, ééé... Você tá num túnel sem saída, né”... Tânia: “Ah, isso é mesmo”. Márcia: “Você se abre um pouco e apesar das doenças serem diferentes, tem sempre umas experiência que pode te ajudar dentro do teu problema. É diferente do individual. O individual é você”. Tânia: “É pra pessoa só”. Márcia: “É, não só, porque você também leva isso pra casa, pra família, mas aqui você tem essa visão mais geral, você vê o outro, cada caso e de repente a dor é a mesma”. Márcia: “Eu fiz psicoterapia também, há muitos anos atrás, depois o próprio terapeuta achou que seria bom fazer em grupo, para o meu caso na época. É assim uma outra dinâmica, né, e a gente aprende uns com os outros”. Com base nos relatos expostos observa-se que, ao falar da representação do grupo, as participantes se identificam entre si, sendo que em seus discursos uma complementa a fala da outra. Evidencia-se também, que a representação ou imagem associada ao grupo de cuidadores está fortemente enraizada nas trocas de Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. experiências, na possibilidade de identificação com os sentimentos uns dos outros, na aprendizagem pelas situações vivencias, bem como na percepção de que o grupo constitui-se em um ambiente seguro, propício para a exposição de sentimentos, acolhimento e apoio mútuo. A diferenciação entre o acompanhamento individual e o trabalho em grupo, bem como sua importância e valor também são pontuados pelos participantes da pesquisa. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Com base na representação do grupo terapêutico de cuidadores trazida por seus participantes, conclui-se que o trabalho coletivo faz-se de extrema importância, visto o constante sofrimento trazido pelos familiares no momento do adoecimento de um membro da família. Neste sentido, os grupos terapêutico com cuidadores de pacientes, neurologicamente afetados, além de oportunizarem o compartilhamento social também propiciam um lugar de escuta, acolhimento mútuo e aprendizagem ao familiar que se encontra em constante sofrimento. O trabalho coletivo fornece, portanto, um espaço importante para que os cuidadores possam expressar suas dores, dificuldades, angústias, queixas, dúvidas, medos, fantasias e demais sentimentos, oportunizando condições para o compartilhar desses sentimentos, favorecendo as trocas de experiências e a internalização de novas estratégias de enfrentamento. Palavras-chave: grupo terapêutico; família; cuidador de pacientes neurológicos. 65 66 Resumos REFERÊNCIAS FONSECA, N. R.; PENNA, A. F. G. Perfil do cuidador familiar do paciente com seqüela de acidente vascular encefálico. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, n. 13 (4), p. 1175 – 1180, 2008. Disponível em: <http://www. observatorionacionaldoidoso.fiocruz.br>. Acesso em 08 set. 2008. POSSENTI, S. Teoria do Discurso: um caso de múltiplas rupturas. In: MUSSALIM, F.; BENTES, A.C. (org.). Introdução à lingüística: fundamentos epistemológicos, vol.3. São Paulo: Cortez, 2004. p. 353-392. SANTANA, A. P.; DIAS, F.; SERRATTO, M. R. F. O afásico e seu cuidador: discussoes sobre um grupo de familiares. In: SANTANA, A. P.; BERBERIAN, A. P; GUARINELLO, A. C.; MAÍZ, G. Abordagens Grupais em Fonoaudiologia: Contexto e Aplicações. São Paulo: Plexus, 2007. p. 11-38. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa A VIDA CONCRETA DA PALAVRA - INFLUÊNCIA E IMPLICAÇÃO DAS AÇÕES DE LINGUAGEM – DE MÃES DE CRIANÇAS SURDAS (COM IMPLANTE COCLEAR) Roseli Paciornik INTRODUÇÃO/ATIVIDADES GERAIS DESENVOLVIDAS: Ressalta-se a importância que é para uma criança alcançar o seu aprendizado, no qual é essencial a relação com a aquisição da língua materna. Esta é inseparável da constituição do sujeito, pois o uso da própria linguagem, por ela e nela em suas interrelações humanas e em seus discursos é que deverão desabrochar neste novo ser. Nestes termos, são estas informações que chegam através dos sentidos para este novo ser, que fundam a construção da linguagem interna, da visão de mundo e da forma de pensar e agir, podendo auxiliar sobre a compreensão das emoções e de uma visão mais profunda de vida; por isto estando indelevelmente conectadas aos momentos vividos em suas relações familiares e sociais, iniciadas desde a infância. Portanto, para a construção desta auto-identidade do eu como constituição de sujeito da linguagem, o acesso a esta linguagem é fundamental. Neste caso, a ausência da audição, por ser um dos sentidos mais requisitados no mundo dos ouvintes, limita a possibilidade de aquisição de conhecimentos transmitidos, prejudicando o desenvolvimento do raciocínio abstrato, já que haverá dificuldades em formar conceitos simbólicos que não necessitem da exploração concreta dos objetos. Portanto, a descoberta do nascimento de um bebe surdo numa família de ouvintes, pode ser um destes acontecimentos inesperados que põem à prova sistemas consagrados de interação familiar. Uma comunicação que até então tinha sido um dos pilares da linguagem (por privilegiar a audição) os sentidos utilizados como signos já pré-estabelecidos de interação serão de alguma forma ameaçados, pois um uso da linguagem que até então parecia ser satisfatória para uma comunicação das relações provará ser uma fonte de amargura e incomunicabilidade. Ora, uma vez que a família é o primeiro núcleo social a ser intensamente “perturbado” com este acontecimento, será justamente onde surgirão os primeiros conflitos de relação com a criança. É provável que o momento da descoberta desta deficiência, cause um choque que perdurará por dias, meses e até anos. Desta forma, uma reação prolongada ao estresse pode surgir. Embora, nas sociedades primitivas, os agentes estressores que desencadeavam esta avaliação eram de conotação prioritariamente física diante de uma ameaça real à vida, pois colocava o indivíduo em perigo, atualmente o estresse pode ser compreendido como uma reação particular entre a pessoa e o ambiente, no qual a pessoa avalia as demandas como excedendo seus recursos. Embora intangíveis e abstratos, os problemas Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 67 68 Resumos sentidos como “perigos à sobrevivência” podem surgir da percepção subjetiva pela qual esta pessoa antecipa os eventos ou reage ao presente com interpretações agrilhoadas ao passado. (Moreira, 2003). O estresse, portanto, é uma comunicação do corpo com o ato da linguagem que se comunica com as emoções e com o ser-no-mundo. Surge de modo singular e individual, uma vez que está sujeito ao modo único de percepção da vida. Este momento é inalienável da sensibilidade afetiva frente às várias demandas, desde a valorização do passado ou às expectativas sobre o futuro, bem como a ansiedade frente aos discursos sociais, tais como: a competitividade profissional, a sobrevivência econômica, a segurança social. Nas palavras de Bakhtin, trazidas por Ponzio (2008, 23), “nossas palavras são sempre em parte dos demais”. Já estão configuradas com intenções alheias. Por esta razão, todos os discursos interiores, isto é, cada um dos nossos pensamentos, são inevitavelmente dialógicos: validados por nós, uma vez que nos identificamos com ele, em todos os níveis, consagrado-o em nossos próprios enunciados. Cada um de nós dialoga a partir de uma visão subjetiva da vida, cada qual em sua época, lugar ou cultura, na qual somos todos permeados por múltiplas vozes que nos constituem pelo discurso do outro, aquele outro social, que por fazer parte da nossa vida, passará pela linguagem e por ela será constituída e na medida em que nós possamos viver sensações de ameaças, sejam elas reais, imaginárias ou fantasiosas, assim é que será percebida. Desta forma, a linguagem pressupõe enunciados que vêm por meio de palavras, cada uma subentende um percurso interpretativo do ouvinte, que não pressupõe necessariamente a mesma rota intencional do locutor (Faraco, 1996). Pelo seu contínuo deslocamento, pode assumir uma interpretação singular, histórica, aberta, sem acabamento, que lhe confere um significado a cada contexto e para cada sujeito naquele momento. Bakhtin ao primar pela vida da palavra, na sua esfera da relação dialógica, na “vida autêntica da palavra”, escreve que “a palavra não é um objeto, mas um meio constantemente ativo, constantemente mutável de comunicação dialógica. Ela nunca basta a uma consciência, a uma voz” (Bakhtin, 2008, 232). Portanto, a palavra representa a realidade a partir de um contexto situacional dado e determinado por uma posição. Ela incorpora em si um ponto de vista obrigatoriamente valorativo, e por não gerar um único processo interpretativo, e não se presta a uma pura repetição de algo que possua tradução literal ou única, como um código preestabelecido. Portanto, a linguagem aqui compreendida (não somente como uma comunicação), porém como “ação humana”, da ação sobre o mundo, de forma que a linguagem organiza, interpreta, representa, influencia, transforma, configura, etc. Esta relação dialética com os eventos da vida, na interioridade-exterioridade, faz com que a linguagem encontre na significação, sua função precípua, além de signo, ela é ação e trabalho coletivo dos falantes, e não Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa somente um intermediário entre nosso pensamento e o mundo” (Morato, 2004). Nestes termos, a concepção bakhtiniana de mundo, que visa à compreensão da subjetividade e da linguagem, por ser não-dicotômica descortina um enfrentamento consciente sobre o estatuto da linguagem como concepção científica, ao questionar as lingüísticas proferidas. (Bakhtin/ Voloshinov, 1992). Significa ir além de uma visão acabada, imutável e repetível sobre a natureza humana (Faraco, 1996), portanto, impossível considerar a palavra como um estatuto independente do contexto ideológico e vivencial dos interlocutores, visto que ela não se divorcia da atividade “falante – ouvinte”. Esta questão é essencial em Bakhtin, que pontua como ponto fundamental, a inseparabilidade entre “sujeito/ palavra / contexto/ ouvinte”, sob pena de lhe retirarem a dimensão sígnica. (Bakhtin, 2006) Este projeto de pesquisa, ainda em fase de análise, tem pó objetivo observar as histórias de vida de mães que descobrem que seu filho é surdo e compreender as implicações e a influência das ações da linguagem sobre as suas vidas. Neste sentido, o objetivo passa a ser observar e compreender as narrativas destas mães pela linguagem sobre as emoções, valores e crenças pessoais. Para tanto, utilizei-me da metodologia de pesquisa qualitativa que abrange duas concepções. Primeiro, traz um componente discursivo nas narrativas entre as histórias de vida e a vida, oferecendo uma ruptura com o pensamento positivista, o empírico e o estruturalista, Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. uma vez que a essência se delineia numa dinâmica que ultrapassa aquela da tradição de medir o resultado a partir de um indivíduo como ser isolado, mas sim, propõe uma individualidade que considera a situação pela evolução, com o intuito de compreender o Homem (Turato, 2003). Segundo, por seu cunho sócio-histórico, vai ainda mais além, entendendo a atividade do pesquisador como transformadora, uma vez que reconstrói a história e a faz num processo de interação, profundidade e penetração, na qual a ênfase da atividade do pesquisador é ser um dos principais instrumentos da pesquisa, construindo a partir do seu lugar sóciohistórico as relações intersubjetivas que estabelece entre os sujeitos, (Feitas, 2003). Sugiro, portanto, a abordagem da perspectiva discursiva, dialógica e polifônica, na qual a interação verbal constitutiva do sujeito é uma diferente forma de construir um objeto científico (Freitas, 2003). Este, não se dá pela operacionalização de variáveis pré-estabelecidas, mas sim, se orienta para a compreensão dos fenômenos humanos. Portanto, aqui o objeto será compreendido como um enunciado vivo, o qual considera a pessoa investigada um “sujeito da pesquisa”, uma vez que pressupõe a cada pergunta, a riqueza da atitude responsiva, na qual a pessoa investigada transforma-se de ouvinte em locutora, como sujeito da linguagem, que dentro de seu contexto coloca a sua capacidade de construir um conhecimento, o que a torna uma co-participante do processo (Freitas, 2003). A partir dessas considerações foram feitas quatro 69 70 Resumos entrevistas semi-estruturadas com duas mães de crianças surdas, com filhos de seis a sete anos, que optaram pelo implante coclear como alternativa para seus filhos. As perguntas focaram em torno das relações de sentido entre as experiências vividas, privilegiando os episódios referentes ao seu dia-a-dia, o contexto familiar, o momento da descoberta da surdez, o estresse no cotidiano, a escolha da modalidade da língua usada com o filho, a escola e histórias relevantes sobre a sua própria infância que pudessem se relacionar com as suas passagens como mãe. Até o momento, analisando o material coletado, vislumbramos particularidades significativas entre as duas mães investigadas. Escolhas expressivas como a modalidade da língua usada em casa com o filho (oral ou libras), a escola, bem como todo o acompanhamento subseqüente, foram particularmente diferentes e encontrando soluções outras, que fica claro, estarem privilegiando os valores pessoais e a história da família, pois distintas percepções da vida podem significar em interpretações singulares. Assim, percebemos que ao se conectarem essas histórias pessoais, que dão sentido e significado aos episódios da vida, elas resultarão em diferentes matrizes axiológicas que conseqüentemente levarão a diferentes formas de agir sobre a vida. Palavras-chave: surdez; linguagem; sócio-histórico; enunciado; estresse. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa REFERÊNCIAS BAKHTIN, M. / VOLOSHINOV, V. N. Marxismo e Filosofia da Linguagem. São Paulo, 1992. BAKHTIN, M. Estética da Criação Verbal. São Paulo, 2006. BAKHTIN, M. Problemas da Poética de Dostoiévski. Forense Universitária, 2008. FARACO, C. 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Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 71 72 Resumos A VIOLÊNCIA INTRAFAMILIAR CONTRA O IDOSO NA PERSPECTIVA DE PROFISSIONAIS DE UMA UNIDADE DE SAÚDE Ana Claudia Nunes de Souza Wanderbroocke- UTP A violência sempre esteve presente na história da humanidade. Trata-se de um fenômeno complexo que tem múltiplos significados construídos e sustentados socialmente pelas relações humanas em contextos sóciohistórico-culturais particulares e com múltiplas perspectivas de análise. Considera-se que todo ser humano é potencialmente agressivo e que a manifestação da violência depende de fatores externos suficientes para desencadeá-la, ou seja, o ato violento é indissociável de suas circunstâncias e do contexto em que se manifesta. A OMS (2002) define violência como o uso intencional da força física ou do poder, real ou em ameaça, contra si próprio, contra outra pessoa, contra um grupo ou uma comunidade, que resulte ou tenha a possibilidade de resultar em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação. Entende-se que nenhum fator isolado explica a violência, seja de um indivíduo ou de uma sociedade e é sempre entendida como resultado de uma complexa inter-relação entre fatores individuais, relacionais, sociais, culturais e ambientais, ou seja, a ocorrência em um destes níveis pode ser o fio condutor para que também se manifeste em outros níveis. A violência intrafamiliar, a que ocorre entre os parceiros íntimos e entre os membros da família, chama a atenção por revelar um paradoxo. A família, enquanto unidade social é um espaço que proporciona os primeiros vínculos afetivos e onde se realizam as aprendizagens sociais básicas. Proporciona aos indivíduos a possibilidade de crescimento de capacidades, potenciais e habilidades necessárias para a autonomia, como também é um lugar de sofrimento, arbitrariedade, injustiça, opressão e violência. Ao longo da vida, os laços familiares proporcionam as experiências mais significativas de afeto e sofrimento (Fuster, 2002). Crianças, mulheres e idosos aparecem como vítimas mais freqüentes da violência intrafamiliar. A violência perpetrada contra pessoas idosas só recentemente vem sendo contemplada nas agendas da política e da saúde na maioria dos países. A preocupação crescente com esta questão aumenta paulatinamente em razão do crescente contingente de idosos na população mundial. No Brasil, o assunto ganhou maior visibilidade na década de 1990, a partir da promulgação e regulamentação da Política Nacional do Idoso (1994) e depois com a aprovação do Estatuto do Idoso (2003) e o Plano de Ação de Enfrentamento da Violência contra a Pessoa Idosa (2005). A violência traz conseqüências físicas, psicológicas e sociais, imediatas ou latentes, de acordo com a natureza do ato de violência. Mas tanto na Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa teoria quanto na prática a linha divisória entre os tipos e conseqüências nem sempre é nítida. Para Agudelo (1990), a violência é uma ameaça ou uma negação das condições e possibilidades de realização da vida e toda prática do setor saúde, desde as ações educativas até a atenção médica, está projetada para alcançar e promover condições que façam possível a vida das pessoas e dos grupos sociais. O setor saúde não é o único responsável por esta questão, mas é ali que as vítimas vão em busca de auxílio, seja nas unidades de emergência, nos centros de assistência social, de tratamento especializado e de reabilitação. Desta forma é que a área de saúde como um todo, como área de conhecimento e de práticas específicas, está seriamente implicada no problema da violência. Minayo (2006) ressalta que o setor saúde é encarregado de atividades de promoção, prevenção, dar assistência nas diferentes formas de violência e no caso dos idosos, além destas ações ainda criar normas para hospitais, clínicas especiais e instituições de longa permanência. A magnitude exata deste fenômeno ainda é uma incógnita já que não existe um registro específico de ocorrência de violência. Os dados são deduzidos a partir dos registros de morbidade e mortalidade entre idosos. Segundo dados do Ministério da Saúde, violências e acidentes ocupam o sexto lugar como causa de mortalidade geral dos idosos no Brasil, com o índice de 2,8% no ano 2000. Os fatores que mais têm pesado são os acidentes de transportes e as quedas. Os dois fatores podem ser vistos como uma confluência entre Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. acidente e violência, pois, se por um lado ocorrem pelo aumento da fragilidade física na velhice, por outro são fruto do descaso e negligência de cuidadores, instituições e estado. Quanto à morbidade, no ano de 2004, registrou-se no Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SIH/SUS), que entre as internações de idosos, 55,4% se deveram a quedas; 9,9% a acidentes de trânsito, principalmente atropelamentos; 2,9% a agressões e 0,65% a lesões auto-provocadas. (Minayo, 2007) A notificação por parte dos profissionais da saúde passou a ser obrigatória a partir de 2003 com a aprovação do Estatuto do Idoso, portanto os números existentes hoje ainda refletem o efeito da subnotificação. Outra fonte de dados têm sido delegacias especializadas em proteção ao idoso e serviços de denúncias. Estudos como o de Chaves & Costa (2003) e de Pasinato, Camarano & Machado (2006) realizados nestes órgãos revelam que a maior parte das queixas se deve a maustratos ocorridos nos domicílios, sendo os principais perpetradores os filhos e cônjuges. A grande maioria destes serviços existentes no Brasil ainda não registra seus dados de forma padronizada e não dispõe de estatística para comparações. Mas o fato é que confirmam a existência do problema e o colocam como um problema social. De qualquer maneira, dados numéricos revelam apenas uma pequena parcela do problema. Sabe-se que os abusos ocorridos nas famílias tendem a ser mantidos em segredo. Para os idosos, entre os motivos para o silêncio, estão presentes o receio de 73 74 Resumos perder o cuidador, de perder privacidade frente a possibilidade de exposição pública e intervenção exterior, de perder as relações familiares e ser colocado numa instituição, de ser recriminado pelo alegado abusador, por achar que ninguém vai acreditar no abuso ou ainda ser indicado como responsável pelo comportamento abusivo do outro. (Fuster, 2002; Espíndola & Blay, 2007) De acordo com o Pacto pela Saúde (Brasil, 2006), a porta de entrada da pessoa idosa no sistema público de saúde é a Unidade Básica de Saúde (UBS), via demanda espontânea ou busca ativa, responsável pelo acompanhamento e planejamento terapêutico. O primeiro passo para a organização dos serviços prestados nas UBS é o acolhimento do usuário. Já no documento que aprova a Política Nacional de Saúde do Idoso (Brasil, 1999), faz-se especial menção à consulta geriátrica que deve ser ampla o suficiente para avaliar questões emocionais e sociais envolvidas no bem-estar do paciente idoso, que devem ser incluídas no planejamento terapêutico e contar com a participação da equipe multiprofissional. Orienta que situação de maus-tratos quer por parte da família, quer por parte do cuidador ou mesmo dos profissionais deve ser sempre observada na relação entre o idoso e os profissionais de saúde e também que é importante que o idoso saiba identificar posturas e comportamentos que significam maus-tratos, bem como fatores de risco envolvidos. Políticas públicas definidas são de grande importância para a aproximação do fenômeno, porém nem sempre refletem o preparo dos profissionais para executá-las. Sabe-se que as equipes de saúde tendem a centrar-se muito mais nas queixas orgânicas, mesmo quando estas apresentam claros indícios de problemas de ordem psicossocial. Lidar com relações familiares que envolvem violência pode levantar temores nos profissionais que não se vêem capacitados para o seu manejo. Como também, as distinções do que vem a ser um ato de violência pode ser diferentemente significado e levar a diferentes formas de agir diante do problema. Portanto, a presente pesquisa, que está em andamento, tem por objetivo geral compreender os significados construídos acerca da violência intrafamiliar contra idosos pelos profissionais de uma unidade de saúde na cidade de Curitiba-PR e como objetivos específicos analisar como o profissional se posiciona e age diante da possibilidade de ocorrência da violência intrafamiliar contra os idosos e levantar a participação das políticas públicas referentes a essa temática no trabalho das equipes de saúde. A coleta de dados ocorrerá em dois momentos: observação participante, com registro em diário de campo e entrevistas semi-estruturadas com profissionais que atuam na unidade de saúde. Atualmente a pesquisa encontra-se no primeiro momento, não dispondo ainda de resultados a serem apresentados. Palavras-chave: violência intrafamiliar, idosos, profissionais de saúde. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa AÇÃO CONJUGADA DO RUÍDO E TRABALHO EM TURNO RODIZIANTE E NOTURNO: EFEITOS EXTRA-AUDITIVOS E AUDITIVOS Milena Raquel Iantas – UTP Com o crescente desenvolvimento tecnológico e ampliação de ramos industriais deparamo-nos, no universo das empresas brasileiras, com a necessidade de se estender processo produtivo para 24 horas. Em decorrência desta demanda, o trabalhador precisou se adaptar a este ritmo de trabalho, muitas vezes para garantir seu emprego, mas estando sujeito a sofrer implicações do trabalho em turno: efeitos à saúde, a sua produtividade, à qualidade de vida e efeitos em sua vida social. Além desse fator, outros riscos presentes no ambiente de trabalho são potencializados pelo trabalho em turno, entre eles, o ruído. Diante dos acometimentos ocasionados tanto pelo ruído, como pelo trabalho em turno, esta pesquisa teve como objetivo analisar o impacto do trabalho em turno noturno na saúde auditiva de trabalhadores expostos ao ruído; tendo como pressuposto que o trabalho em turno pode causar, em médio prazo, um impacto maior sobre a audição do trabalhador exposto ao ruído. A hipótese é que tal desgaste fisiológico do trabalho em turno aumentaria a vulnerabilidade à ação do ruído (impacto na audição), deixando o sistema auditivo mais sensível ao ruído. Foi realizado estudo em indústrias do interior do Paraná. Realizou-se audiometria nos funcionários, separados em três grupos: turno administrativo (A), turno rodiziante (R) e noturno fixo (N), com risco de exposição ao ruído acima de 80 dB, com o intuito foi de estabelecer a existência de perda auditiva. Para análise dos dados foram relacionados os achados audiológicos, entrelaçados com levantamento de dados obtidos com um questionário aplicado aos trabalhadores. Resultados: no grupo R foi encontrada maior freqüência relativa das queixas: zumbido (13.6%) dificuldade de entender fala em ambiente ruidoso (25.2%), tontura (12.64%), alteração digestiva (26.4%), cefaléia (20.6%) e cansaço (24.1%). No grupo N as queixas mais com mais freqüência foram tontura (18.75%) e depressão (12.5%). Nestes grupos também foi encontrado maior porcentagem de trabalhadores com traçados audiométricos sugestivos de PAIR: R (19.5%) e N (16.5%). As médias e medianas de todos os sistemas de trabalho estão dentro dos padrões de normalidade. Destacamos que as piores médias e medianas nas freqüências 3kHz, 4kHz, 6kHz e 8kHz, de uma forma geral, são do turno noturno ou rodiziante. Conclusão: O turno rodiziante e noturno apresentou sintomas auditivos e extra-auditivos em porcentagem maior quando comparado com Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 75 76 Resumos o turno administrativo, bem como piores médias e medianas nas freqüências 3kHz, 4kHz e 6kHz. Estes dados indicam a necessidade da implantação de um programa de prevenção de perdas auditivas (PPPA) cujas ações planejadas, contenham um acompanhamento sistemático da saúde auditiva dos trabalhadores em turno rodiziante e noturno. Palavras-chave: efeitos do ruído; perda auditiva provocada pelo ruído; trabalho em turno. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa AÇÕES EDUCATIVAS SOBRE PREVENÇÃO AUDITIVA COM PESCADORES DE ITAJAÍ Adriana Betes Heupa Diolen Conceição Barros Lobato Fernanda Frosi Claudia de Oliveira Giglio Gonçalves Adriana Bender Moreira Lacerda INTRODUÇÃO: O enorme potencial hídrico e a extensão do litoral do Brasil favorecem o desenvolvimento e exploração de atividades de pesca e mergulho profissionais, sejam essas de subsistência, comercial, industrial ou de pesquisa, absorvendo um grande contingente de trabalho do país (FUNDACENTRO, 2005). As condições de trabalho desses pescadores são duras e difíceis e há falta de assistência em vários níveis, tornando esta profissão uma das mais perigosas da atualidade (FUNDACENTRO, 2007). Os índices de acidentes de trabalho e de doenças relacionadas à profissão são elevados, causando morte a muitos trabalhadores e demonstrando a necessidade de adoção de medidas e ações voltadas para a segurança e a saúde dos trabalhadores das águas (FUNDACENTRO, 2005). Os pescadores industriais são profissionais que estão expostos a alto nível de pressão sonora emitido pelos motores das embarcações, e muitas vezes passam semanas em alto mar sem desligar os motores, pela necessidade de ininterrupção da atividade. Essa exposição contínua ao ruído dos motores pode trazer conseqüências à audição e à saúde de forma geral destes pescadores. Conforme afirmam Costa, Morata e Kitamura (2003), o sistema auditivo, durante o trabalho, pode ser atingido por diversos fatores como ruído intenso e alguns produtos químicos em exposição continuada. A Perda auditiva induzida por ruído ocupacional é caracterizada como irreversível, progressiva enquanto há a exposição ao ruído e estabiliza-se quando a exposição ao ruído é eliminada (MORATA, 2001). A PAIR é a doença que mais atinge o sistema auditivo, podendo provocar lesões irreversíveis do ouvido interno, sendo portanto, extremamente importante a sua prevenção. Sem dúvida, a perda auditiva é a conseqüência mais imediata causada pela exposição excessiva ao ruído e este risco da lesão auditiva aumenta com o nível de pressão sonora e com a duração da exposição, mas depende também das características do ruído e da suscetibilidade individual (GABAS 2004; KÓS e KOS, 1997). Qualquer tipo de ruído, quando em excesso, é causador de efeitos na saúde do ser humano, na literatura são descritos diversos Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 77 78 Resumos efeitos auditivos e extra-auditivos. Gerges (1992) afirma que o efeito do ruído em forte intensidade em uma pessoa não depende somente das características físicas como amplitude, frequência e duração, mas também das atitudes da pessoa frente a este ruído. Mas, além do ruído, esta atividade apresenta outros fatores que podem causar alterações à audição, como as vibrações e o monóxido de carbono, tornando esses profissionais mais vulneráveis aos danos auditivos. O ruído é o agente físico nocivo mais comum encontrado no ambiente de trabalho, constitui-se em um importante agravo à saúde dos trabalhadores em todo o mundo. (MIRANDA, 1998 e SELIGMAN, 1997) De acordo com Barbosa (2001), o ruído em excesso tem o poder de lesar uma considerável extensão das vias auditivas, desde a membrana timpânica até regiões do sistema nervoso central. No órgão de Corti ocorrem as principais alterações responsáveis pela perda auditiva induzida pelo ruído, pois suas células ciliadas externas são particularmente sensíveis a altas e prolongadas pressões sonoras, a chamada “exaustão metabólica”, com depleção enzimática e energética, e redução do oxigênio e nutrientes; com a morte celular, o espaço é preenchido por formações cicatriciais, o que resulta em déficit permanente da capacidade auditiva. A perda auditiva induzida por ruído, na grande maioria dos casos, não ocasiona a incapacidade para o trabalho, o que determina dificuldades na notificação desse agravo à saúde do trabalhador no País. Portanto, as estimativas da prevalência dessa doença, nas diferentes classes de trabalhadores brasileiros, são efetuadas, basicamente, por meio de alguns estudos epidemiológicos (MARTINS et al, 2001; MIRANDA et al, 1998 e OLIVEIRA et al, 1997). O ruído afeta o bem estar físico e mental das pessoas, sendo que diariamente milhares de trabalhadores são expostos a ele, entre eles estão os pescadores. E esse prejuízo ao bem estar físico e mental, além da perda de audição, no que se refere aos prejuízos causados pela exposição a altos níveis de pressão sonora, podem ocorrer também os danos extra-auditivos. Russo (1999) coloca as seguintes alterações: ações no aparelho circulatório, digestivo e muscular; no metabolismo, sistema nervoso, interferência no sono, diminui rendimento no trabalho, distúrbios no equilíbrio, problemas psicológicos, dores de cabeça, mudanças de humor e ansiedade. A realização de um Programa de Prevenção de Perdas auditivas nesta população é de grande importância e tem a finalidade de prevenir e evitar os prejuízos que o ruído em elevada intensidade pode causar à saúde. Um programa de prevenção da perda auditiva tem como objetivo a redução, e eventualmente eliminação, da perda auditiva por exposição ao ambiente de trabalho, para tanto, diversas estratégias de prevenção das Perdas Auditivas Induzidas por Ruído são propostas, devido ao risco que o ruído proporciona (NIOSH, 1996). Segundo Gonçalves (2009), as medidas preventivas são necessárias para se garantir a capacidade auditiva Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa do trabalhador exposto a níveis elevados de ruído e/ou outros agentes otoagressivos, evitando-se problemas relacionados às dificuldades de comunicação e de segurança do indivíduo, além de evitar os seus efeitos extra-auditivos relacionados a esses agentes otoagressivos. Dentre essas medidas preventivas, as ações educativas são imprescindíveis, com a finalidade de desenvolverem comportamentos saudáveis nestes profissionais. A atuação com os pescadores industriais contempla o desenvolvimento de programas preventivos voltados a esta população, com ênfase na promoção da saúde, utilizando-se de atividades de intervenção em grupos e sobre o ambiente de trabalho, buscando a efetivação da melhoria das condições de saúde (CARVALHO et al, 2000). O objetivo da ação educativa no ambiente de trabalho é, portanto, conscientizar os pescadores sobre as conseqüências dos agentes agressivos presentes nos locais de trabalho na saúde e as medidas preventivas cabíveis. Espera-se uma mudança de comportamentos através das ações educativas para que estes trabalhadores assumam a sua parcela da responsabilidade pela saúde. OBJETIVO: Conscientizar os trabalhadores da pesca sobre os riscos da exposição ao ruído e disponibilizar orientações sobre os cuidados com a audição. MÉTODO: Foram realizadas palestras abordando o funcionamento da audição; prejuízos que a exposição ao ruído em forte intensidade pode causar à audição e à saúde em geral; cuidados com a audição e entrega Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. de protetores auditivos com treinamento para o uso correto de protetores auditivos. Ao final da palestra foi aplicado um questionário sobre a percepção dos pescadores dos efeitos do ruído na audição e na saúde, sintomas que eles percebem e uso de proteção auditiva. RESULTADOS: Participaram da palestra 66 pescadores, todos do sexo masculino, com idade média de 41,43 anos. Um grande número destes profissionais da pesca são analfabetos ou completaram apenas o ensino fundamental. Sendo este um fator de interferência às respostas de um questionário comum. Com base nesses dados, o questionário foi elaborado com figuras e com linguagem simples, para melhor entendimento por parte destes trabalhadores. No momento de responder o questionário, as pesquisadoras auxiliaram no sentido de ler a pergunta com todos e explicar de que forma deveria ser respondida. Como o número de pescadores era grande foi inviável a realização de entrevistas individuais. Nos resultados deste questionário obtivemos: 78,8% dos pescadores referem que o ruído de sua embarcação é forte; 74,25% referiu saber que o ruído causa zumbido, porém apenas 47% referem ter zumbido; irritação a sons intensos (39,4%); stress (36,4%); dificuldade para ouvir (19,7%); tontura (19,7%); cefaléia (42,4%); alterações no sono (43,9%). Somente 14 pescadores referiram usar algum tipo de protetor auditivo, porém não especificaram como o utilizam e referem que nunca haviam recebido 79 80 Resumos informações a respeito; os demais não utilizam, mesmo conhecendo a importância de seu uso para sua saúde. CONCLUSÃO: Sendo a perda auditiva por exposição a níveis elevados de pressão sonora uma lesão irreversível, é fundamental a investigação e desenvolvimento de medidas que possam mitigar ou controlar os níveis sonoros. Os profissionais da pesca industrial são trabalhadores expostos a riscos graves para a audição e para a saúde. A necessidade de uma intervenção a fim de conscientizá-los sobre estes riscos é de grande importância, além de destacar a importância do uso adequado dos protetores auditivos. A palestra realizada foi apenas um impulso para estes profissionais começarem a pensar um pouco mais na sua própria saúde. A intervenção coletiva e individual, a longo prazo, mostra-se eficaz no sentido de que aos poucos esses pescadores tomam consciência dos prejuízos a audição e a saúde que seu trabalho oferece e aos poucos podem tomar atitudes que possam vir mudar esta realidade. Diante dos efeitos irreversíveis ao sistema auditivo e outros danos à saúde em geral, provenientes da exposição a níveis elevados de pressão sonora, torna-se imprescindível sua redução e controle. Pretendemos manter essas ações de forma periódica a fim de se atingir o maior número de profissionais da pesca, além de gerenciar e acompanhar aqueles que já passaram pelas ações. Mais estudos devem ser feitos com o intuito de melhorar o ambiente de trabalho dessas profissionais, visto que a redução e o controle da exposição ao ruído pode prevenir a ocorrência da perda auditiva neurossensorial e proporcionar uma melhor qualidade de vida aos pescadores. Além do que, ações de conscientização podem também diminuir as ocorrências de perda auditiva. Palavras-chave: educação em saúde; audição; perda auditiva induzida pelo ruído. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa REFERÊNCIAS ALBERTI PW. Deficiência auditiva induzida pelo ruído. In: Lopes Filho O, Campos CAH, organizadores. Tratado de otorrinolaringologia. São Paulo: Roca; 1994. p. 934-49. BARBOSA ASM. Ruído urbano e perda auditiva: o caso da exposição ocupacional em atividades ligadas à coordenação do tráfego de veículos no município de São Paulo [dissertação de mestrado]. São Paulo: Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo; 2001. CARVALHO, G.; ROSEMBURG, C.R.; BURALLI, K.O. Avaliação de ações e serviços de saúde. O Mundo da Saúde, ano 24, 24(1): 72-85, 2000 GERGES, S.N.Y. Ruido: fundamentos e controle. Florianópolis: UFSC, 1992. GONÇALVES, C.G.O. Saúde do trabalhador: da estruturação à avaliação de Programas de Preservação Auditiva. 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Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 81 82 Resumos ADUBAÇÃO NITROGENADA NA FORMAÇÃO DE AMENDOIM FORRAGEIRO Ana Luisa Palhano Silva Luiza Prado dos Santos Ana Paula Cerdeiro Rosemeire Oberle A formação e manutenção de sistemas de pastagens produtivos e sustentáveis têm sido alvo constante de estudo uma vez que podem tornar viáveis economicamente a produção animal, além da agregação de valor dos produtos oriundos de sistemas mais naturais. O crescimento das plantas forrageiras, bem como o da produção animal a pasto são, freqüenttemente, limitados pela deficiência de nitrogênio do solo, e se sabe que a fixação bioloógica do nitrogênio e sua reciclagem (Barcelos e Vilela, 1994) podem constituir-se em uma via biológica e economicamente viável para intensificar esses parâmetros. Além disso, dados têm apontado que os fertilizantes inorgânicos dão mais efeito na produção animal por área, devido ao aumento na disponibilidade da forragem, pouco efeito apresentando sobre a qualidade da mesma (EMBRAPA, 1978). As leguminosas forrageiras têm sido amplamente estudadas por sua possibilidade de inserir nitrogênio em sistemas de pastagens, via fixação biológica, em substituição aos fertilizantes inorgânicos, os quais oneram os sistemas produtivos e, em níveis mais intensivos, podem levar à contaminação ambiental. Porém, para que a simbiose seja instalada satisfatoriamente, é necessário que boas condições de desenvolvimento inicial sejam permitidas às leguminosas, tais como pH e níveis adequados de nutrientes. A presença de leguminosas em sistemas de pastagens pode gerar condições favoráveis à elevação da produtividade das gramíneas associadas, à elevação dos níveis de matéria orgânica dos solos, além de melhorar a qualidade das dietas dos animais em pastejo (PERIN et al., 2006). O nitrogênio (N) é um elemento essencial para as plantas e limitante à produtividade agrícola. O grande reservatório de nitrogênio é representado pelo gás atmosférico (cerca de 80%). Entretanto, as plantas não possuem aparato enzimático para quebrar a tripla ligação da molécula e utilizá-la como fonte de proteína. A fixação biológica do nitrogênio (FBN) é um processo biológico de quebra da tripla ligação do N2 através de um complexo enzimático, denominado nitrogenase. Este processo ocorre no interior de estruturas específicas, denominadas de nódulos, onde bactérias do gênero Rhizobium, Bradyrhizobium e Azorhizobium (geralmente conhecidas por rizóbios) convertem o N2 atmosférico em amônia, que é incorporada em diversas formas de N orgânico para a utilização Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa por plantas da família das leguminosas. A principal vantagem observada nessas condições é do ponto de vista econômico. No caso da soja, a inoculação das sementes com a bactéria específica substitui totalmente a adubação nitrogenada,proporcionando uma economia para o país de três bilhões de dólares. Outra vantagem é o total aproveitamento do nitrogênio fixado, não existindo perdas como podem ocorrer quando se empregam fertilizantes. Portanto, a FBN é um processo que não polui o ambiente, enriquece o solo em nitrogênio e, geralmente, promove um maior crescimento e desenvolvimento das plantas. Em condições de campo, a formação de nódulos poderá ser visualizada a partir da emergência (VE); entretanto, somente nos estádios de desenvolvimento V2 e V3 é que a fixação de nitrogênio torna-se mais ativa. Após isso, o número de nódulos formados e a quantidade de nitrogênio fixada aumentam aproximadamente até o estádio R5.5, quando, então, diminui bruscamente. Para verificação da atividade dos nódulos, estão fixando nitrogênio ativamente para a planta; deve-se observar se internamente os mesmos apresentam coloração rosa ou vermelha, porém, quando se encontram brancos, marrons ou verdes, provavelmente a fixação de nitrogênio não está ocorrendo (POTAFOS, 2006). A aplicação de nitrogênio, concomitantemente com a inoculação, pode diminuir a eficiência da inoculação, pois a planta responde ao estímulo da absorção, limitando o processo simbiótico, o que poderá resultar na diminuição dos benefícios posteriores ao processo. Porém, dados de campo indicam que níveis moderados Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. de nitrogênio na semeadura podem intensificar o crescimento inicial da leguminosa, potencializando a subseqüente fixação biológica de nitrogênio pelas bactérias. Assim, o presente experimento teve como principal objetivo verificar os efeitos da presença de nitrogênio na formação inicial de plantas de amendoim forrageiro (Arachis pintoi), sob os pontos de vista de estrutura aérea e radicular das plantas, além das características gerais dos nódulos das bactérias fixadoras de nitrogênio. O presente experimento foi desenvolvido em casa de vegetação instalada no Campus Schaeffer da Universidade Tuiuti do Paraná, situada no município de Curitiba, PR. O clima da região é classificado como temperado tipo Cfb, com a temperatura do mês mais frio menor que 18°C, mesotérmico. Caracteriza-se por verões amenos, com temperatura média do mês mais quente menor que 22°C, sem estação seca definida, com geadas noturnas freqüentes no inverno, cerca de dez por mês, o que totaliza 200 horas de frio, com temperaturas menores que 7°C de maio a agosto. A precipitação média anual varia de 1400 a 1500 mm, sendo os meses de abril e maio os mais secos, apresentando cerca 75 a 100 mm de chuva. A umidade relativa do ar varia de 80 a 85% e a insolação totaliza, em média, 1800 horas por ano. O experimento foi estabelecido com a espécie forrageira amendoim forrageiro (Arachis pintoi), em vasos de 35X35X50 cm, após calagem e adubação de base com fósforo e potássio, baseadas em análise do solo. Inicialmente, foram semeadas seis sementes por vaso e, posteriormente, foi feito desbaste, deixando as cinco 83 84 Resumos plantas que apresentaram melhor desenvolvimento. A implantação das plantas foi atrasada devido às condições climáticas inadequadas ao plantio do amendoim forrageiro, espécie tropical que exige elevadas temperaturas para seu estabelecimento e desenvolvimento. Quanto à adubação nitrogenada, a mesma foi conduzida apenas na semeadura nos níveis 0, 50 e 100 kg N/ha na forma de uréia, constituindo-se dos tratamentos. Durante o desenvolvimento das plantas foi conduzida irrigação dos vasos, visando manter o solo à capacidade de campo, procedimento que foi influenciado pela temperatura e umidade relativa do ar. Plantas invasoras e eventuais pragas foram combatidas por meio de arranque manual. A fase experimental foi atrasada devido às baixas temperaturas observadas no início da estação de crescimento, iniciando quando as plantas atingiram, em média, 8 cm de altura. As avaliações de altura de plantas foram feitas ainda com as plantas nos vasos e, para avaliação das raízes e nódulos, as mesmas foram lavadas sobre duas peneiras, com o cuidado para que não fossem perdidas partes dos nódulos e das raízes. Para avaliação das dimensões das folhas, as mesmas foram coletadas e medidas em laboratório com uso de uma régua. Para avaliação dos nódulos, estes foram classificados subjetivamente mediante padrões préestabelecidos. O material coletado foi pesado ainda verde e, posteriormente, realizada secagem em estufa de circulação forçada para verificação do teor de matéria seca de cada fração. O delineamento experimental proposto foi o inteiramente ao acaso, com três tratamentos (níveis de N) e sete repetições (vasos). As médias obtidas foram testadas por meio do aplicativo ASSISTAT, pelo teste de Duncan, a 5% de significância. Quando as plantas atingiram a altura proposta inicialmente, iniciou-se o período de avaliações. A nodulação das raízes foi afetada negativamente (P<0,01) pela presença de nitrogênio mineral no solo, uma vez que, como relatado anteriormente, a maior disponibilidade desse elemento induziu as plantas à absorção em detrimento do estabelecimento do processo simbiótico. Porém, a alturas das plantas e as produções de massa aérea e de raízes não foram afetadas pela presença do nitrogênio mineral (P<0,05), devido provavelmente ao fato da fixação biológica presente em condições de menor disponibilidade mineral ter compensado a menor absorção do elemento. O comprimento de raízes permaneceu constante (P<0,05), em diferentes níveis de nitrogênio mineral, acompanhando o comportamento observado para a massa de raízes. CONCLUSÕES: A aplicação de nitrogênio mineral, em níveis reduzidos, não induziu à melhor formação inicial do amendoim forrageiro, uma vez que limitou o processo simbiótico sem implicar em incremento na produção forrageira. Além disso, a aplicação de nitrogênio mineral comparado à fixação de nitrogênio atmosférico pode significar maiores custos financeiros com a formação da cultura. Palavras-chave: adubação mineral; amendoim forrageiro; fixação biológica de nitrogênio. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa REFERÊNCIAS BARCELOS, A.O.; VILELA, L. Leguminosas Forrageiras Tropicais: Estado da Arte e Perspectivas Futuras. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE FORRAGICULTURA, 1994, Maringá, Anais...Maringá, UEM/SBZ, jul, 1994, 1-56. EMBRAPA, Centro de Pesquisa Agropecuária dos Cerrados (Planaltina,DF), Relatório Técnico Anual. 1976-1997, Planaltina, 1978, 74 p. PERIN, A. GUERRA, J.G.M.; TEIXEIRA, M.G. Cobertura de Solo e Acumulação de Nutrientes pelo Amendoim Forrageiro. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.38, p.791-796, 2003. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 85 86 Resumos AFASIA E LETRAMENTO: UM OUTRO OLHAR PARA O PROCESSO TERAPÊUTICO DE LINGUAGEM ESCRITA Gisele Senhorini Ana Paula de Oliveira Santana Francisleine Moleta INTRODUÇÃO: Tradicionalmente os estudos sobre as afasias buscam identificar as dificuldades com a linguagem escrita decorrentes de lesões cerebrais da mesma maneira que se identificam as alterações com a linguagem oral, não levando em consideração as práticas sociais de escrita do sujeito afásico e o seu contexto significativo. Daí nossa proposta nesta pesquisa de analisar as contribuições do letramento para o processo terapêutico de linguagem escrita de um sujeito afásico. Para isso, partirmos de três aspectos fundamentais: (1) a reflexão em torno da relação entre oralidade e letramento; (2) a consideração da importância dos processos de letramento dos sujeitos, e (3) a consideração das condições de interação em que ocorrem. Sabendo que a linguagem escrita está sempre alterada nos casos de afasia, os gêneros textuais produzidos indicam-nos um caminho vantajoso na reabilitação, já que eles estão amplamente marcados pelos aspectos culturais em que o afásico esta envolvido. Neste trabalho, consideramos o grau de letramento dos sujeitos afásicos como determinante na maneira como eles lidam com a escrita e o texto escrito. Acreditamos que este grau de letramento faça diferença na maneira como a linguagem é afetada pelo acometimento neurológico, na maneira como o sujeito “verá o que não estava lá após o episódio neurológico. Letramento é entendido aqui, segundo Signorini (2001), como um “conjunto de práticas de comunicação social relacionadas ao uso de materiais escritos, e que envolvem ações de natureza não só física, mental e lingüístico-discursiva como também social e político – ideológica”. Nesse sentido, letramento deve referir-se a um contexto e a padrões socioculturais determinados e nos importa, então mais o conhecimento e os usos que o sujeito tem e faz sobre a língua, do que o quanto de formalização em torno da aquisição do código esse mesmo sujeito apresenta. Dentro desses aspectos, a concepção de oralidade, bem como a de escrita são entendidas, enquanto continuum, ou seja, consideramos que o continuum possa ser visto durante o processo de elaboração textual em que, no caso de sujeitos afásicos, há uma construção conjunta entre escrevente e interlocutor, há uma co-ocorrência de linguagem oral e escrita e entre gêneros. OBJETIVO: Dentro deste viés, o objetivo desta pesquisa é analisar o processo terapêutico de um sujeito afásico considerando as questões do letramento como norteadoras. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa METODOLOGIA: A pesquisa ocor reu nas dependências da Clínica - escola da Universidade Tuiuti do Paraná - em sessões terapêuticas individuais, com duração de 50 minutos. Em cada sessão, utilizavam-se diferentes tipos de materiais: computador, revistas, jornais, mapas, placas de trânsito, fotos, agenda, entre outros. Todas as sessões foram filmadas e posteriormente transcrição das fitas para a análise dos dados. Inicialmente foi realizado uma entrevista inicial, avaliação e em seguida elaborado o processo terapêutico. A abordagem terapêutica que orientou toda a prática foi a neurolinguistica de cunho discursivo. A terapeuta segundo a abordagem adotada, além de posicionar-se como interlocutora nas situações dialógicas, assumia a posição de mediadora, tentando auxiliar o afásico a (re)assumir seu papel de interlocutor. ANÁLISE DOS DADOS: Neste trabalho, selecionamos dados de “Ma”, senhor de 47 anos, divorciado e pai de duas filhas, com grau de escolaridade em nível de ensino médio. Trabalhava como motorista de caminhão. Em 2006, foi vítima de uma agressão tendo como seqüela uma Traumatismo Crânio Encefálico. Tomografia computadorizada demonstrou fratura temporo-parietal esquerdo com grande afundamento e hemorragia em parênquima subjacente. Apresenta um quadro afásico de predomínio expressivo caracterizado por dificuldades de encontrar palavras – o que torna seu discurso bastante disfluente, parafasia fonológicas e semânticas. Quanto à leitura tem dificuldade em identificar as letras o que torna muito ineficaz e quanto a Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. sua escrita realiza cópias e consegue escrever seu nome, das suas filhas e de sua irmã. Seus enunciados orais como escritos são beneficiados com o prompting que podem ser acompanhados por gestos representativos, recorrendo também à linguagem escrita para orientar a construção do sentido. Em muitos momentos utiliza expressões “eu sabia, agora não sei mais”. Sua expectativa em torno da terapia era voltar a ler e a escrever para renovar a carteira de motorista. “Ma” tem dificuldade em acessar espontaneamente palavras escritas: logo após o TCE ele também apresentou este tipo de dificuldade na fala. Se considerarmos que fala e escrita estão em um continuum, podemos pensar que o desenvolvimento de sua escrita está acompanhando o desenvolvimento de sua fala após-TCE. É necessário que a palavra seja construída, por meio de alfabeto móvel, para depois “Ma” conseguir copiar e dizer esta palavras. A realização motora do ato de escrever é eficiente. Há fluência no gesto. No texto, em si, há presença de perseveração de estruturas, grafemas e/ou palavras. Sua compreensão de fala é boa, bem como de percepção de si no mundo. A percepção em relação à sua escrita é razoável: ele não sabe bem se o que escreve está certo ou errado, mas se é capaz de identificar com segurança um texto bem escrito, uma palavra adequada em comparação a uma inadequada. Os atendimentos foram iniciados no dia 09/04/08. Nesta primeira entrevista, “Ma” relata que atualmente esta melhor, já consegue contar dinheiro, dirige, viaja para outros lugares. Incomoda-se às vezes com estranhos, 87 88 Resumos que devido a sua dificuldade de fala, acha que ele é estrangeiro. Segundo ele, preferiria que eles soubessem do seu problema. Neste primeiro encontro, procurouse entender as queixas principais que “Ma” iria trazer me e também iniciar o processo de compreensão da relação desse sujeito com a sua linguagem. A principal queixa trazida está relacionada à retomada da escrita, pois “Ma” quer renovar a sua carteira de motorista (como demonstrado na transcrição abaixo). L1 Ig: (...) Você acha que depois do acidente a sua leitura e sua escrita ficaram prejudicadas? L2 Ma: É difícil pra eu falar. Antes eu não sabia nada, agora ... ((pegou um papel e começou a L3 escrever 1, 2, 3 ...)) L4 Ig: E para ler como é? L5 Ma: É ruim de falar... L6 Ig: Mas dá pra entender o que você lê? L7 Ma: ((Gesto afirmativo com a cabeça)) Precisa melhorar oh .. 2 ((mostra a carteira de L8 motorista)) L9 Ig: Vai renovar a carteira de motorista? ... Ah! Daqui dois anos, tem tempo ainda (...) Mediante esta queixa, procurou-se abordar estratégias com diferentes gêneros textuais e considerando que a ocorrência de fala e escrita em um continuum é primordial para a analise das condições de linguagem de um sujeito afásico: sua competência lingüística dá-se a ver e tem possibilidade de evoluir diante desta consideração. A interação, entendida como interlocução dialógica, possibilita a construção do texto de tal modo que este possa ser compreendido por outros sujeitos fora desta relação – ou seja, ela caracteriza o texto como tal. CONCLUSÃO: Um gênero textual seja ele qual for, para ser construído por um sujeito afásico demanda a referência a outros gêneros. O continuum se mostra também nesta relação entre gêneros. Enfim, podemos afirmar que nas afasias são produzidos gêneros textuais diferentes, orais e escritos, os quais co-ocorrem sem determinação de supremacia de qualquer tipo. Há, nesse sentido, uma visibilidade do continuum oralidade – escrita. Ao se contextualizar as sessões terapêuticas dentro das práticas sociais da escrita o sujeito coloca-se como autor do seu próprio discurso, no que se refere não só a relação como texto escrito, mas também em relação com o texto oral. Desta forma, o processo terapêutico foi capaz de fornecer condições para que o sujeito consiga lidar com as manifestações afásicas, e que o percurso (singular) neste continuum, o auxiliou a compreender melhor o que estava lendo, utilizar a escrita como prompting no seu discurso oral. Ou seja, foi possível perceber o sujeito modificou a sua escrita, tendo mais independência para escrever, dando significação aos seus enunciados e (re) assumindo o seu papel de interlocutor. Palavras-chave: afasia; letramento; processo terapêutico. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa ANÁLISE POSTURAL EM MILITARES INSTRUMENTISTAS DE SOPRO DA BANDA MUSICAL DA POLÍCIA MILITAR Luciana Lopes Costa - UTP Kelly C. A. Silvério - UTP Jair Mendes Marques - UTP INTRODUÇÃO: Entre as atividades desenvolvidas na Polícia Militar está a Banda Musical constituída de instrumentistas de sopro e de percussão, tendo o compromisso com a música enquanto arte e manutenção das tradições musicais militares. A prática árdua e dedicação intensa sobre a técnica musical demandam um esforço físico e mental imensurável aos musicistas, fazendo com que os mesmos exijam demasiadamente da sua estrutura física e mental. Todo este trabalho, partindo do desempenho de uma excelente técnica e execução, reflete ao corpo do instrumentista, possíveis e visíveis alterações posturais, encurtamentos e algias musculares devido a falta de consciência corporal. Além disso, os ângulos de atuação mecânica, ajustes finos de execução do instrumento e preocupações inconscientes de desempenho e aprimoramento da técnica prejudicam o ajuste ergonômico, por conseqüente ocasionando afecções musculoesqueléticas. Desta forma, fatores ambientais e organizacionais do trabalho têm sido considerados causadores de risco para o desenvolvimento de distúrbios musculoesqueléticos em músicos. Disfunções musculoesqueléticas relacionadas à prática instrumental atingem 70% desta população, tendo como principal fator de dor a postura adotada na profissão do militar. A postura militar é conhecida como um exemplo de boa postura, e se baseava numa disciplina corporal rigorosa, da qual fazia parte o alinhamento dos segmentos corporais. Os soldados eram até o século XVI selecionados pelas suas aptidões físicas, pelo seu porte e postura, mas a partir de do século XVIII passaram a serem desenvolvidas ações posturais corretivas. A postura ereta (em movimento ou parada) é obtida pelo equilíbrio das forças que direcionam o corpo anteriormente para o chão e a força dos músculos posteriores da coluna vertebral e membros inferiores que realizam força no sentido contrário. A ação integrada desses músculos posteriores que trabalham em grupo é de extrema importância e mantém o alinhamento corporal. Por outro lado, a postura adotada pelo militar músico, instrumentista de sopro ou percussão, pode evidenciar os desequilíbrios adquiridos e causar dores musculoesqueléticas: ombros assimétricos, lateralidade da pelve, desenvolvimento dos músculos das mãos e antebraço, desvios da coluna cervical, cabeça rodada para o lado oposto da movimentação do instrumento. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 89 90 Resumos A postura é uma posição adotada pelo nosso corpo, independente de como ela se encontra - em movimento ou estático. Está estabilizada pelo equilíbrio muscular e esquelético, onde uma sobrecarga em diferentes estruturas do corpo é capaz de provocar um desequilíbrio muscular alterando a base de sustentação, o que caracteriza a má postura. Uma boa postura tem sido definida como uma situação em que o centro de gravidade de cada segmento é colocado verticalmente sobre o segmento seguinte. Desta forma, quando o centro de gravidade desvia da linha média aparecem as alterações posturais. Os testes de avaliação postural caracterizam a postura dos indivíduos utilizando um referencial de postura padrão. A referência utilizada internacionalmente como padrão normal de postura é considerada quando na vista lateral, a linha de prumo coincidir com a posição ligeiramente anterior ao maléolo lateral e ao eixo da articulação do joelho e posterior ao eixo do quadril. Esta mesma linha deverá passar pelas vértebras lombares, pela articulação do ombro, corpo das vértebras cervicais, lóbulo da orelha. Na vista posterior a linha de prumo será eqüidistante das faces médias dos calcanhares, membros inferiores e escápulas, coincidindo, portanto, com a linha mediana do tronco e cabeça. Na vista anterior e posterior, o alinhamento do corpo é analisado observando a simetria entre as metades direita e esquerda no plano sagital. A cabeça apresenta uma posição ideal quando esta se encontra equilibrada, não estando inclinada nem rodada. Neste alinhamento, o peso está distribuído, as curvaturas normais e pelve em posição neutra. Uma postura está em equilíbrio quando o eixo vertical traçado a partir de um centro de gravidade cai na base de sustentação eqüidistante aos dois pés. Posteriormente, a linha da gravidade deve acompanhar a linha reta formada pelos processos espinhosos, passar pela linha glútea e chegar a meia distância dos calcanhares. A avaliação da postura quantitativa realizada somente pela observação tem pouca reprodutividade. Assim, um grande número de instrumentos de diagnósticos têm sido utilizados, como a posturografia computadorizada que é uma forma de análise da avaliação postural. Estes instrumentos são vistos atualmente como a forma mais objetiva de avaliar o sujeito. A posturografia dinâmica é um método de avaliação que analisa a postura com ambiente externo. Já a posturografia estática avalia a postura sem perturbação externa. Esta forma de análise fotográfica tem sido muito utilizada, pois permite a comparação de resultados de todas as alterações posturais, possibilitando o conhecimento da expressão corporal do sujeito. OBJETIVO: Avaliar a postura em instrumentistas de sopro da Banda da Polícia Militar do Paraná. METODOLOGIA: Participaram deste estudo 66 sujeitos do sexo masculino, com idades entre 26 e 45 anos (média = 36,4), funcionários da Polícia Militar do Estado do Paraná. Os sujeitos foram subdivididos em 2 grupos: Grupo Experimental (GE) com 36 Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa sujeitos, instrumentistas da banda musical e Grupo Controle (GC) com 30 sujeitos não instrumentistas da banda, policiais da Tropa de Choque da Polícia militar. Após assinarem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (CEP/UTP 00014/2008), todos os sujeitos responderam a um questionário e realizaram avaliação postural. O questionário continha questões abertas e fechadas e foi baseado no Nordic Questionnaire, traduzido e validado para sintomas osteomusculares relacionados ao trabalho para a população brasileira. O questionário tratou de aspectos como dados pessoais e sintomatologia - ocorrência de dores ou desconforto relacionados ao trabalho e sua freqüência em dez regiões corporais. A avaliação postural foi realizada por fotogrametria com utilização do software SAPO. O software SAPO é baseado em um protocolo de avaliação postural do sujeito por quatro vistas fotográficas diferentes: anterior, posterior, lateral direita e lateral esquerda. Para cada uma dessas vistas o software propõe um protocolo de pontos anatômicos específicos a serem avaliados. Optou-se pela análise da vista frontal – posição da cabeça no eixo rotacional e altura entre os acrômios e vista lateral – observação da pelve no eixo axial. Na posição sagital, mensurouse o centro de gravidade (CG) por meio de cálculo matemático pré-estabelecido pelo programa SAPO. Este cálculo utiliza pontos selecionados do protocolo sobre a base de sustentação do sujeito o qual fornece o grau de deslocamento do mesmo sobre o seu Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. eixo de gravidade. Este deslocamento pode estar na direção ântero-esquerda, ântero-direita, póstero-direita, póstero-esquerda ou na linha média. Utilizaram-se bolas de isopor acopladas ao corpo do sujeito com fita crepe sobre os pontos anatômicos para a realização da fotografia, utilizando-se câmera digital Casio 7.2 MP e tripé VIOLA PV 64CG e um fio de prumo que foi colocado na parede para delimitação do espaço a ser fotografado para calibração da imagem. Houve uma distância de 2,40 metros entre a câmera fotográfica e o sujeito. A altura da câmera foi de cerca da metade da estatura do sujeito. Para acompanhar as diferentes vistas posturais do sujeito para o mesmo permanecer sempre na mesma base de sustentação foi solicitado ao sujeito que mantivesse uma postura habitual. As imagens foram armazenadas em computador HP Pavilion Entertainment PC para realizar a análise com uso do software SAPO. As imagens foram inseridas no programa SAPO e foram analisadas com demarcação com mouse nos pontos anatômicos já estabelecidos. Esta marcação permitiu que o programa mensurasse os ângulos das estruturas demarcadas, sendo possível avaliar a postura dos sujeitos nas vistas propostas. Os dados foram compilados e tratados estatisticamente para comparação dos grupos Experimental e Controle quanto aos dados do questionário (Teste de diferença de proporções – nível de significância 0,05) e quanto aos dados da avaliação postural por fotogrametria (teste Qui-quadrado – nível de significância 0,05). 91 92 Resumos RESULTADOS: Não houve diferença entre os grupos estudados quanto a presença de dor musculoesquelética: 75% do GE e 86,6% do GC relataram dor musculoesquelética freqüente. As regiões mais relatadas pelo GE foram: pescoço (52,77%), punho, mãos e dedos (50%), ombros (50%), região dorsal (47,22%), lombar (47,22%) e quadril (44,44%). As regiões de dor mais relatadas pelo GC foram: região lombar (70%), ombros (53,33%), pescoço (40%) e quadril (33,33%). Quanto a avaliação postural, os testes estatísticos também não evidenciaram diferença significativa em todas as vistas analisadas. Entretanto, na vista frontal observou-se que ambos os grupos apresentaram alterações na posição de cabeça no eixo rotacional: 55,55% do GE e 56,66% do GC apresentaram rotação de cabeça à esquerda. Quanto à altura dos acrômios, observou-se que 61,11% do GE e 40% do GC apresentaram o acrômio esquerdo elevado, sendo que apenas 5,55% do GE apresentaram normalidade nesta avaliação. Na vista lateral, observouse que 100% dos sujeitos do GE e do GC apresentaram cabeça posteriorizada e a maioria apresentou quadril anteriorizado (63,88% do GE e 56,66% do GC). Quanto ao centro gravitacional, observou-se que em ambos os grupos, a maioria dos sujeitos apresentou deslocamento anteriormente e para a esquerda (88,88% do GE e 86,66% do GC). CONCLUSÃO: Os resultados permitiram concluir que os instrumentistas de sopro e os policiais militares não instrumentistas possuem dores musculoesqueléticas e alterações posturais decorrentes pela atividade ergonômica que exercem, com grande sintomatologia nas regiões mais utilizadas, decorrentes do uso do instrumento e dos acessórios utilizados pelo policial militar. Palavras-chave: postura; fotogrametria; instrumentistas. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa ANÁLISE POSTURAL EM POLICIAIS MILITARES Luciana Lopes Costa - UTP INTRODUÇÃO: Disfunções musculoesqueléticas relacionadas à prática instrumental são freqüentes entre músicos, atingindo 70% desta população, tendo como principal fator de dor a postura adotada na profissão do militar. A postura é uma posição adotada pelo nosso corpo independente de como ela se encontra - em movimento ou estático. Está estabilizada pelo equilíbrio muscular e esquelético: uma sobrecarga em diferentes estruturas do corpo provoca um desequilíbrio muscular, alterando a base de sustentação, o que caracteriza a má postura.Uma boa postura tem sido definida como uma situação em que o centro de gravidade de cada segmento é colocado verticalmente sobre o segmento seguinte. Quando o centro de gravidade desvia da linha média, aparecem as alterações posturais. A avaliação da postura quantitativa, realizada somente pela observação, tem pouca reprodutividade assim, um grande número de instrumentos de diagnósticos tem sido utilizado, como a posturografia computadorizada. Estes instrumentos são vistos atualmente como a forma mais objetiva de avaliar o paciente. A análise da avaliação postural é chamada de posturografia, a posturografia dinâmica é um método de avaliação que analisa a postura com ambiente externo.Já a posturografia estática avalia sem perturbação externa.A avaliação postural tem como objetivo conhecer a expressão corporal do indivíduo, a análise fotográfica tem sido muito utilizada, pois permite a comparação de resultados de todas as alterações posturais. A postura adotada pelo militar instrumentista pode evidenciar os desequilíbrios adquiridos, ombros assimétricos, lateralidade da pelve, desenvolvimento dos músculos das mãos e antebraço, desvios da coluna cervical desviada, cabeça rodada para o lado oposto da movimentação do instrumento são algumas alterações corporais causadoras da dor musculoesqueléticas. A postura militar é conhecida como um exemplo de boa postura, e se baseava numa disciplina corporal rigorosa, da qual fazia parte o alinhamento dos segmentos corporais. Os soldados eram até o século XVI selecionados pelas suas aptidões físicas, pelo seu porte e postura. Mas, a partir de do século XVIII, ações posturais corretivas passaram a ser desenvolvidas. A postura ereta (em movimento ou parada) é obtida pelo equilíbrio das forças que direcionam o corpo anteriormente para o chão e a força dos músculos posteriores da coluna vertebral e membros inferiores que realizam força no sentido contrário. A ação integrada desses músculos posteriores, que trabalham em grupo (cadeias musculares), é de extrema importância e mantém o alinhamento corporal. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 93 94 Resumos OBJETIVO: Avaliar a postura em instrumentistas de sopro da Banda da Polícia Militar do Paraná e de Policias Militares não instrumentistas. METODOLOGIA: Participaram deste estudo 66 sujeitos do sexo masculino, com idades entre 26 e 45 anos (média = 36,4), funcionários da Policia Militar do Estado do Paraná. Os indivíduos foram subdivididos em 2 grupos: Grupo Experimental (GE) com 36 sujeitos, instrumentistas da banda musical militar e Grupo Controle(GC) com 30 sujeitos da polícia militar. Após assinarem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (CEP/UTP 00014/2008) os sujeitos realizaram avaliação postural e todos os sujeitos responderam a um questionário com questões abertas e fechadas baseando-se no Nordic Questionnaire, traduzido e validado para sintomas osteomusculares relacionados ao trabalho para a população brasileira, O questionário tratou dos seguintes aspectos: dados pessoais: idade; atividades profissionais: tempo na orquestra, tempo de polícia, tipo de instrumento, carga horária de trabalho; sintomatologia: ocorrência de dores ou desconforto relacionados ao trabalho, em 10 regiões corporais. A avaliação postural foi realizada por fotogrametria (software SAPO). O software SAPO é baseado em um protocolo de avaliação postural do sujeito por quatro vistas fotográficas diferentes: anterior, posterior, lateral direita e lateral esquerda. Para cada uma dessas vistas, o software propõe um protocolo de pontos anatômicos específicos a serem avaliados. Optou-se pela análise da vista frontal – posição da cabeça no eixo rotacional, altura entre os acrômios e posição da altura da crista iIíaca; vista lateral – observação da pelve no eixo axial,. Na posição sagital, observou-se o centro de gravidade. A medida do centro de gravidade (CG) foi obtida por meio de cálculo matemático pré-estabelecido pelo programa SAPO. Este cálculo utiliza pontos selecionados do protocolo SAPO sobre a base de sustentação do sujeito o qual fornece o grau de deslocamento do sujeito sobre o seu eixo de gravidade. Este deslocamento pode estar na direção antero-esquerda, antero-direita, posterodireita, postero-esquerda ou na linha média. Utilizou-se bolas de isopor acopladas ao corpo do sujeito com fita crepe sobre os pontos anatômicos para a realização da fotografia, utilizando-se câmera digital Casio 7.2 MP e tripé VIOLA PV 64CG um fio de prumo o qual foi colocado na parede para delimitação do espaço a ser fotografado para calibração da imagem. Houve uma distância de 2,40 metros entre a câmera fotográfica e o sujeito. A altura da câmera foi de cerca da metade da estatura do sujeito. As imagens foram inseridas no programa SAPO e foram analisadas com demarcação com mouse nos pontos anatômicos já estabelecidos. Esta marcação permitiu que o programa mensurasse os ângulos das estruturas demarcadas, sendo possível avaliar a postura dos sujeitos nas vistas propostas. RESULTADOS: Não houve diferença entre os grupos estudados e todos os sujeitos apresentaram alterações Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa posturais. Na vista frontal, observou-se que todos os sujeitos de ambos os grupos apresentaram alterações na posição de cabeça no eixo rotacional: 77% do Grupo I e 88% do Grupo II apresentaram rotação de cabeça à esquerda. Quanto à altura dos acrômios, observou-se: 66% do Grupo I e 55% do Grupo II apresentaram o acrômio direito elevado. Em relação à posição da altura da crista ilíaca, observou-se: 77% do grupo I apresentaram elevação à direita enquanto que 55% do grupo II apresentaram elevação à esquerda. Na vista lateral de ambos os grupos, a pelve estava deslocada anteriormente em 55% dos sujeitos, a cabeça dos sujeitos dos dois grupos se encontra posteriorizada em 100% dos sujeitos. O centro gravitacional de ambos os grupos estava deslocado anteriormente e Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. para a esquerda. Em relação aos sintomas músculos esqueléticos, os dois grupos apresentam 88% de dor com freqüência, 50% das dores estão relacionados nos dois grupos com a região lombar e região de ombros. CONCLUSÃO: Os resultados permitiram concluir que os instrumentistas de sopro e os policiais militares não instrumentistas possuem alterações posturais pela atividade ergonômica que exercem. Estas desenvolvem sintomas músculo esqueléticos com grande sintomatologia nas regiões mais utilizadas como alavanca muscular, sendo elas a região lombar e os ombros, pelo uso do instrumento e pelos acessórios utilizados pelo policial militar. Palavras-chave: postura; fotogrametria; instrumentistas. 95 96 Resumos ANÁLISE RADIOLÓGICA EM 3D (TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA CONE BEAM) COMPARATIVA DO ESPAÇO ARTICULAR EM PACIENTES COM DISFUNÇÃO TÊMPORO-MANDIBULAR PARA LOCALIZAÇÃO DE POSIÇÃO DE TRATAMENTO Eduardo Carrilho - UTP O Centro de Diagnóstico e Tratamento da Articulação Têmporo-mandibular e Alteração Dento Faciais Funcionais (CDATM) da Universidade Tuiuti do Paraná, criado em 2000, vem realizando atendimentos à população em geral, oferecendo tratamentos clínicos e cirúrgicos, e conta com um grupo de professores que desenvolvem pesquisa na área de disfunção e dores orofaciais. No decorrer destes anos, verificou-se que alguns pacientes responderam bem ao tratamento com uso de dispositivos inter-oclusais (DIO), quando os mesmos eram levados a uma posição condilar, até então não usual, porém a eles confortável, tendo uma remissão dos sintomas dolorosos e desaparecimento dos ruídos que os pacientes relatavam ter dentro do ouvido. A descoberta desta possível nova posição de trabalho, vem contribuir para o avanço do tratamento das disfunções têmporomandibulares. PROPOSIÇÃO: O presente experimento teve por objetivo analisar, através de tomografias computadorizadas 3D tipo Cone Beam, o espaço articular normal dos pacientes antes e após a remissão dos sintomas no tratamento. METODOLOGIA: Para o presente experimento foi utilizado dados iniciais de pacientes em tratamento, tais como prontuários e exames radiográficos (tomografias computadorizadas tipo Cone Beam), no Centro de Diagnóstico e Tratamento da Articulação Têmporo-mandibular e Alteração Dento Faciais Funcionais (CDATM). Os pacientes receberam dispositivos inter-oclusais (DIO) em uma posição previamente estudada. Após a remissão dos sintomas, fez-se nova tomografia computadorizada mostrando a nova posição onde o paciente está em total conforto e em função oclusal restabelecida. As tomografias computadorizadas Cone Beam foram pagas pelos pesquisadores sem ônus para o paciente. Ao termino desta etapa, os exames radiográficos foram submetidos à análise estatística, comprovando matematicamente as posições iniciais e finais no tratamento. Como as posições foram analisadas do ponto de vista matemático, os dados foram submetidos a testes estatísticos, para comprovar a sua precisão. Os dados foram coletados pelo próprio pesquisador, em relatórios próprios Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa para coletas de dados matemáticos e armazenados em computador, para análise estatística. Todo o trabalho foi feito sob consentimento dos pacientes, o projeto foi submetido ao comitê de ética, sendo que todas as etapas foram respeitadas para que sua precisão fosse aferida. A identificação e comprovação da efetividade no uso desta posição de trabalho, foi de grande valia, uma vez que na literatura não existe menção a este tipo de trabalho. Após a análise dos dados, encontrou-se uma certa dificuldade em se fixar a posição de trabalho, observou-se que o aparelho para tomografia não faz a fixação espacial da Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. cabeça do paciente, impedindo assim uma padronização dos exames. CONCLUSÃO: Após o término do trabalho, podese concluir que sem a fixação da cabeça torna-se impossível fazer a comparação e comprovação desta efetividade do tratamento, com isso um novo projeto será proposto para o desenvolvimento de um aparato que possa fixar a posição espacial do paciente para esses exames. Palavras-chave: Tomografia Cone-Beam;, disfunção temporomandibular; radiologia. 97 98 Resumos ATUAÇÃO FONOAUDIOLÓGICA NA SEMANA DE PROMOÇÃO HUMANA DA UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Claudia Giglio O. Gonçalves Adriana B. M. Lacerda Thais C Morata Adriana Betes Heupa Gisele de Lacerda Costa Aline Carlezo Moreira INTRODUÇÃO: Vivemos em um mundo sonoro e nos comunicamos a partir dos sons que ouvimos e emitimos. A exposição continua a níveis acima de 80 dB já pode prejudicar as pessoas, a literatura afirma que exposição crônica ao ruído ou sons de intensidades elevadas pode causar efeitos auditivos, como perda auditiva, zumbido e intolerância a sons fortes; e extra-auditivos, como perturbações do sono, irritabilidade, cansaço e dificuldades de compreensão, enjôos, vômitos, mudança de humor, stress, entre outros. No dia-a-dia todos estão expostos a diversos ruídos acima deste nível, como barulho do transito, aparelhos eletrodomésticos, e principalmente música em forte intensidade. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 10% da população mundial sofre de problemas auditivos. E Acredita-se que um dos fatores que podem levar ao comprometimento auditivo é a falta de informação a respeito da importância da audição e dos cuidados que se pode ter com ela. E uma das formas de intervenção é a triagem auditiva que consiste em um processo de aplicar em um número de indivíduos determinadas medidas rápidas e simples que identificarão alta probabilidade de doenças na função testada (LOPES FILHO, 1996). A triagem auditiva tem o objetivo não de diagnosticar a perda auditiva, mas sim examinar um grande número de indivíduos, sem sintomas aparentes, no sentido de identificar aqueles que tenham a perda auditiva, para com isto encaminhá-los a realizar procedimentos mais elaborados, a fim de alcançar diagnósticos precisos e tentar sanar ou minimizar os efeitos que a perda auditiva pode acarretar. A perda auditiva induzida por ruído representa um grande problema de saúde pública, devido ao aumento de sua incidência e por poder acometer qualquer individuo, independente de sua atividade profissional (FIONRINI, 2001). O teste de Emissões Otoacústicas, devido a suas características e propriedades é bastante promissor no sentido de detectar perdas Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa auditivas, além de propiciar uma apurada identificação de mínimas alterações funcionais do sistema auditivo periférico. Este teste contribui muito para ações preventivas e favorece iniciativas de controle de perdas auditivas. As emissões otoacústicas são sinais que podem ser detectados no conduto auditivo externo; são provenientes de vibrações produzidas em vários locais da cóclea, retornando pela cadeia ossicular, membrana timpânica e conduto auditivo externo para serem captadas. A sua presença pode confirmar a integridade da cóclea, determinando se a atividade otoacústica está dentro dos limites de normalidade. E por sua rapidez, seu caráter não invasivo e sua fidedignidade, torna-se um teste com o perfil ideal para programas de triagem auditiva (GATTAZ, 2001). Sabe-se que uma das descobertas mais fascinantes da audiologia nos últimos anos foi a dos mecanismos ativos da cóclea, ou seja, das emissões otoacústicas. DURANTE (2004) coloca que as emissões otoacústicas refletem o funcionamento das células ciliadas externas e a captação das emissões otoacústicas transientes (EOAT) é uma das formas de obter esse mecanismo, o teste de EOAT ocorre quando a orelha é estimulada por estímulo breve de banda larga (clique). É um procedimento não invasivo, rápido, aplicável em locais sem tratamento acústico, objetivo (não depende da resposta do indivíduo), e sensível a perdas de grau leve a profundo, uni ou bilateriais. A presença das EOA indica que o mecanismo receptor coclear pré-neural e também a orelha média é capaz Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. de responder ao som de um modo normal. E devido a estas características, o exame de emissões otoacústicas transientes é o mais indicado para uma triagem auditiva em locais onde não há tratamento acústico. OBJETIVO: Fazer levantamento dos resultados da triagem auditiva realizada, a fim de detectar alterações que possam prejudicar a saúde auditiva. METODOLOGIA: Foram submetidos à triagem auditiva 67 sujeitos que aceitaram participar da Semana de Promoção Humana da Universidade Tuiuti do Paraná, realizada nas dependências de um Shopping Center na cidade de Curitiba. Foram triados 21 homens e 46 mulheres, com idade entre 1 e 61 anos. A triagem auditiva foi constituída pelo exame de Emissões Otoacústicas Transientes. Este teste foi realizado com equipamento de triagem de Emissões Otoacusticas Transientes da marca Audx-plus Biologic, colocandose uma sonda contendo um gerador de estímulos e um microfone na entrada do conduto auditivo, tanto do lado direito como do lado esquerdo. Nas Emissões Otoacústicas Transientes, o estímulo sonoro, com amplo espectro de frequência (click), percorre a orelha média e a cóclea, e estando esta com suas junções preservadas emitirá “eco” em sentido retrógado, o qual será captado pelo microfone no conduto auditivo. As emissões otoacústicas evocadas transientes (EOAT) representam uma subclasse das emissões otoacústicas evocadas e ocorrem em resposta a um estímulo sonoro muito breve, geralmente o clique, que é muito 99 100 Resumos estimulante para a membrana basilar, porém desprovido de seletividade de freqüência. Por se tratar de um sinal de banda larga, provoca excitação das células ciliadas localizadas desde a espira basal até a espira apical da cóclea. Assim, a resposta também é composta por diferentes freqüências. As EOAT são registráveis em cerca de 90 a 100% das orelhas com limiares auditivos normais. E em indivíduos jovens, normo-ouvintes e sem passado otológico, a presença de EOAET é de 98% (SPERI e PATRESI, 2004) As pessoas que passaram na triagem apresentaram emissões otoacústicas transientes presentes e as pessoas que falharam apresentaram ausência de respostas neste teste. Como a triagem tem o objetivo apenas de detectar as pessoas com sintomas ou não de perda auditiva, ela não foi feita em cabine acústica, tendo sido realizada em ambiente aberto do shopping, no local específico das ações da semana de promoção humana. RESULTADOS: Dos 67 sujeitos participantes, 59 (88%) pessoas passaram na triagem e oito pessoas (22%) não passaram. Sendo cinco pessoas do sexo feminino (quatro bilateral e uma somente à direita) e três do sexo masculino (dois bilateral e um somente a direita). Estas pessoas que falharam na triagem foram encaminhadas para exame completo de audição na Universidade Tuiuti do Paraná. Muitos sujeitos participantes relataram não ter conhecimento a respeito dos cuidados com a audição nem de informações a respeito da relação da exposição ao ruído intenso do dia a dia com a perda de audição. CONCLUSÃO: A exposição crônica ao ruído ou a sons de intensidade elevada além da perda de audição pode causar também sintomas extra-auditivos como cansaço, dificuldade de concentração e estresse. RUSSO (1999) coloca ainda as seguintes alterações extra-auditivas causadas pelo ruído: ações no aparelho circulatório, digestivo e muscular, no metabolismo, sistema nervoso, interferência no sono, diminui rendimento no trabalho, distúrbios no equilíbrio, problemas psicológicos, dores de cabeça, mudanças de humor e ansiedade. E isso tem grandes repercussões sobre a vida e o trabalho. O Ministério da Saúde, ao instituir Política Nacional de Atenção à Saúde Auditiva, considera o êxito na intervenção por meio de ações de promoção e prevenção. E uma das formas de intervenção é a triagem auditiva (QUAINO, 2007). Com a triagem auditiva é possível detectar as pessoas com predisposição e desenvolver uma perda auditiva. Sobre esta perspectiva, a triagem auditiva é de fundamental importância, pois seus resultados possibilitam o estabelecimento de condutas adequadas que podem minimizar consequências de uma alteração auditiva no desenvolvimento psicossocial humano, propiciando uma melhor qualidade de vida. Apesar se não muito elevado o número de pessoas que não passou na triagem, os resultados desta triagem indicam que as pessoas expostas ou não ao barulho intenso não tem conhecimento da importância dos cuidados com a audição. A população em geral necessita de mais orientações e respeito dos cuidados com a Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa audição e informações sobre a perda auditiva induzida por ruído. A deficiência auditiva tem sido alvo de vários estudos epidemiológicos com o objetivo de identificar seus fatores de risco e suas implicações, a fim de elaborar ações de saúde e assistência adequadas (TIENSOLLI, 2007). Muitas pessoas ignoram a importância de testes auditivos, pois desconhecem os malefícios que as perdas na audição podem causar. Com isso, a nossa ação no shopping pretendeu divulgar às pessoas que estavam a passeio naquele local, a importância de um teste auditivo, e também a conscientizar as pessoas que um diagnóstico antecipado pode auxiliar nos tratamento de diversos tipos de perdas auditivas. Pois uma vez que se descobre uma alteração, por menor que seja, a pessoa já pode procurar um tratamento e um meio de Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. evitar que esta alteração venha a prejudicar sua vida pessoal, profissional e social. Muitos estudos ainda podem ser feitos na população geral, quanto mais pessoas atingirmos com nossas ações, mais conscientes elas estarão da importância de ter uma audição dentro dos padrões de normalidade. Não somente com a triagem auditiva com os exames de audiometria ou emissões otoacusticas, mas também com questionários e entrevistas, que são muito valiosos numa pesquisa, em especial quando estamos levantando os sintomas auditivos e extra-auditivos de pessoas que a princípio não possuem queixa de perda de audição. Palavras-chave: triagem auditiva; emissões otoacústicas transientes; Shopping Center. 101 102 Resumos REFERÊNCIAS GATTAZ, G. Contribuição do registro das emissões otoacústicas evocadas no diagnostico das perdas auditivas induzidas por ruído. IN: NUDELMANN,A.A. et al. Perda auditiva induzida por ruído. v2. Rio de Janeiro: Revinter, 2001. FIORINI, A.C. O uso de registros de Emissões Otoacústicas como instrumento de vigilância epidemiológica de alterações auditivas em trabalhadores expostos a ruído. Tese de doutorado. USP. São Paulo, 2001. LOPES FILHO, O.; CARLOS, R.; REDONDO, M.C. Produtos de distorção das emissões otoacusticas. Revista Brasileira de Otorrinolaringologia. v3. n.5. set/1996. LOPES FILHO, O. et al. Emissões otoacusticas transitórias e produtos de distorção na avaliação em recém-nascidos com poucas horas de vida. Revista brasileira de Otorrinolaringologia. v.62. n.3. 1996. DURANTE,A.S. et al. A implementação de programa de triagem auditiva neonatal universal em um hospital universitário brasileiro. Rev. Pediatria. v.26. n.2. São Paulo, 2004. Disponivel em: http://www.pediatriasaopaulo.usp.br/upload/pdf/1058. pdf. Acessado em: 26/09/2009. RIBEIRO, F.G. e MITRE, E.I. Avaliacao do conhecimento sobre triagem auditiva neonatal de pacientes no pós-parto imediato. Revista Cefac, v.6. n.3. São Paulo, jul-set/2004. Disponível em: http://www.cefac.br/revista/revista63/Artigo%20 11.pdf. Acessado em: 25/09/2009. QUAINO, V. Triagem auditiva em profissionais que atuam na unidade de Neonatologia/CAISM. São Paulo: Unicamp: PIBIC/CNPq, Faculdade de Ciências Médicas, 2007. Disponível em: http://www.prp.unicamp.br/pibic/congressos/ xvcongresso/cdrom/pdfN/762.pdf Acessado em 25/09/2009. TIENSOLI, L.O. et al Triagem auditiva em hospital público de Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil: deficiência auditiva e seus fatores de risco em neonatos e lactentes. Cad. Saúde Pública, vol.23, n.6. [online]. 2007. Disponivel em: http://www. scielo.com.br Acessado em: 23/09/2009. SPERI, MRB; PATRESI,R. Emissões otoacústicas transientes e espontâneas em recém-nascidos a termo. Distúrbios da Comunicação, São Paulo, 16(1): 9-16, abril, 2004 RUSSO, I.C.P. Acústica e Psicoacustica aplicada à Fonoaudiologia. 2 ed. São Paulo: Lovise, 1999 Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa AUTONOMIA COLETIVA – OS PERCALÇOS ENTRE A HETEROGESTÃO E A AUTOGESTÃO Marilene Zazula Beatriz - UTP A presente pesquisa teve como objetivo compreender o funcionamento de um grupo de trabalho informal constituído por mulheres integrantes do Programa de Ação Social Vivendo e Aprendendo, situado na região metropolitana de Curitiba, Estado do Paraná, para contribuir na construção de conhecimentos sobre este tipo de empreendimento solidário em relação a sua autonomia organizativa. Para tanto, buscou-se referenciar este campo com a perspectiva teórica do construcionismo social e da psicologia social usando como referências: Ibáñez (1993), Iñiguez (2002), Spink (2000); Spink & Frezza (2000); Spink & Medrado (2000) e Spink (2000, 2005). E da Economia Solidária, Singer (2006; 2004; 2002, 2000; 1999, 1998, 1988), Mance, (2006, 2003), Arruda (2006), Tiriba (2006, 2004, 2002), Tiriba & Picanço (2004), Souza (2006), Schiochet (2006), Verardo (2005), Arruda (2006), Spink (2003). Os métodos que caracterizaram esta pesquisa foram o estudo de caso de um grupo de trabalho informal, entrevistas em profundidade; além da observação participante em relação ao seu progresso durante um ano e meio. Sabemos que milhares de trabalhadores e trabalhadoras excluídos do mercado formal de trabalho, tiveram que trabalhar, ou melhor, ganhar a vida, em várias atividades econômicas ditas informais, como: comércio ambulante, coleta e reciclagem de lixo, pequenos serviços domésticos, micronegócios familiares, hortas comunitárias, drogas, prostituição (TIRIBA, 1997), quase chegando a pequenas transgressões e delitos. Tal informalidade não seria suficiente nem para abarcar todas as pessoas desempregadas em idade economicamente ativa e nem para resolver a questão da falta de emprego. Então, constatou-se a existência de movimentos da sociedade em prol da denúncia e da busca de soluções para os seus problemas sociais. Ainda que de maneira “subterrânea”, sem real espaço na mídia dominante, ouvem-se vozes por meio de eventos que se organizam nas mais variadas regiões do país e do mundo como fóruns, encontros, reuniões, clubes de trocas, entre outros. Neste sentido, chegou-se ao que chamaríamos a um “mundo novo” acontecendo por “debaixo” da economia vigente. O mundo dos empreendimentos solidários que varia: desde grupos informais até cooperativas e associações, de pequenos empreendimentos até a idéia de se criar uma rede de empreendimentos solidários seguindo a cadeia produtiva. Este “mundo novo” é onde acontece outra economia baseada em valores/princípios como a solidariedade, a cooperação, a distribuição de renda e a autogestão, sendo que este último princípio será Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 103 104 Resumos o foco desse estudo, pois quando se trata de desenvolver empreendimentos populares solidários uma das características que se diferencia das empresas capitalistas é justamente a autogestão denominada como: “os/as trabalhadores/as são os/as efetivos/as gestores/as do processo produtivo e das relações de trabalho”. O projeto de Ação Social Vivendo e Aprendendo surgiu em 2000, sendo desenvolvido num espaço cedido e administrado por uma instituição cristã-evangélica, localizada em Curitiba, no Estado do Paraná. Para a criação do projeto, foi realizada uma pesquisa com a população do bairro, em relação à saúde, educação e trabalho. Tal projeto contou com parcerias de uma Universidade e de uma Faculdade da região que duraram por 5 anos (2000 a 2005). Enquanto a primeira fornecia cestas básicas mensais, a segunda possibilitou que as mulheres integrantes do projeto procedessem ao preventivo de câncer, além de participar de palestras sobre saúde da mulher. Dentro da área do trabalho, um dos resultados do Projeto Vivendo e Aprendendo, foi a construção de uma cozinha industrial-comunitária que, por meio de doações de vários quilos de frutas por semana, as mulheres começaram a fabricar geléias. Com o objetivo de melhor, qualificar as referidas mulheres, houve a organização de um curso denominado: “Capacitação e Qualificação Profissional para Processamento e Produção de Alimentos”. Na época, as mulheres que atuavam com a cozinha comunitária chegaram a produzir 300 potes de geléias por semana, mas apesar de ser considerada uma fonte geradora de trabalho e renda, depois de alguns meses, as mulheres desistiram de produzir, porque sentiram inúmeras dificuldades para comercializar, principalmente por não ter nota fiscal, o que inviabilizou a entrada do produto no mercado. Durante o processo de produção das geléias, o grupo contava com quarenta e duas mulheres. Quando decidiram interromper a produção das mesmas e a distribuição de cestas básicas, o grupo reduziu-se para quinze. No início de 2006, estava com aproximadamente doze mulheres e em setembro de 2006, o grupo contava com aproximadamente oito mulheres. Em 2006, a partir de uma reunião com o pastor, sua esposa e com a pastora decidiu-se fazer entrevistas com as mulheres para delimitar qual seria o melhor produto e/ou caminho a seguir. Com as entrevistas, podem-se descobrir pontos de interesses para o desenvolvimento de um produto, especialmente a tendência do grupo ao artesanato. Então, a partir de março de 2006, deram-se início as aulas de artesanato com a produção de bolsas de palha de taboa. Em dezembro desse mesmo ano, as mulheres participaram da II Feira Estadual de Economia Solidária, em Londrina (Paraná), expondo a sua produção. Ao observarmos o desenvolvimento do Projeto Vivendo e Aprendendo, composto por 13 mulheres, durante 18 meses pôde-se verificar que não houve por parte das pessoas responsáveis pela sua implantação (a pastora Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa e a esposa do pastor) um delineamento claro do que seria um empreendimento popular solidário em seus princípios básicos. Neste sentido, apesar dos princípios de atitude emancipadora e de transformação da sociedade, existirem como parte do discurso praticado pelos mesmos, a prática demonstrou que houve apenas a manutenção do sistema. Isso porque tanto a pastora quanto a esposa do pastor atuaram como empreendedoras do projeto, centralizando decisões, atuando como líderes do grupo, sem trazer reflexões ou oportunidades para que o próprio grupo pudesse atuar e resolver seus próprios problemas, a partir de discussões e debates, entre outras formas participativas. Neste sentido, apesar de não haver um discurso assistencialista, houve a promoção da dependência do grupo. Observações levantadas quando da participação da pesquisadora no curso de Capacitação e Qualificação Profissional para Processamento e Produção de Alimentos (maio a junho/2005) e das anotações do diário de campo, demonstraram que durante o primeiro módulo denominado de Desenvolvimento Comunitário, a professora trouxe conteúdos que exprimiam mais uma postura individual e empreendedora de encarar o mundo do trabalho do que propriamente de um trabalho coletivo e comunitário, como o nome do módulo poderia sugerir. Outra questão levantada tratase da postura da educadora ou do educador frente ao grupo. Na realidade, a educadora não deveria assumir a frente do grupo, mas sim, estar junto com ele, Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. começando a descobrir formas de se avançar no processo de geração de trabalho e renda. A idéia que se coloca é justamente a formação dos educadores cientes e preparados para não reproduzirem o que o sistema econômico propõe, mas de tratar de uma educação voltada para a real emancipação do ser humano. Portanto, durante o Projeto Vivendo e Aprendendo, não houve por parte dos responsáveis pelo mesmo, o interesse ou a consciência em demonstrar a questão crítica da sociedade em que se vive, nem teve o objetivo de fazer com que as mulheres desenvolvessem atitudes coerentes com a autonomia e desprendimento. Ao contrário, pode-se perceber que todo o trabalho intelectual e de planejamento, organização das vendas, introdução do produto no mercado, elaboração de rótulo, do nome do produto, entre outros, passou por pessoas mais qualificadas como o pastor, a pastora, a esposa do pastor, professores universitários voluntários e estagiários universitários. Não houve a inclusão do grupo nas discussões e nos problemas. Ou seja, as mulheres, ao que parece, não eram estimuladas a pensar, analisar, refletir e tomar decisões que lhes influenciassem diretamente, acarretando inclusive forte pressão e cansaço em quem estava gerenciando todo o trabalho, pois à medida que uma ou duas pessoas acumulavam inúmeras funções e responsabilidades sem compartilhar com o grupo, estava-se reproduzindo o que o sistema capitalista promove: uma hierarquia que centraliza informações e decisões. Na realidade, a intervenção 105 106 Resumos nesse grupo surgiu a partir do interesse de uma comunidade religiosa que estava disposta a realizar trabalhos sociais e não pelo engajamento do próprio grupo de mulheres em relação ao seu desenvolvimento. Para implantar o Projeto de Ação Social houve a busca de apoio por meio de parceiros como, por exemplo, as instituições de ensino. Tal apoio foi caracterizado por um trabalho de esclarecimento de questões ligadas à saúde, ao trabalho e à educação, desacompanhado da questão política e, portanto, de caráter assistencial. Observou-se também que não havia profissionais preparados para lidar com conteúdos referentes à Economia Solidária. Muitos dos profissionais, inclusive, demonstraram total desconhecimento. Faz-se necessário, então, investir na formação dos educadores, pelo menos no Estado do Paraná, para que os princípios do movimento da Economia Solidária não se desvirtuem e se transformem em coadjuvantes do sistema econômico atual, principalmente quando se remete ao conceito e a prática de autogestão, onde se precisa de pessoas politicamente formadas, abertas para a compreensão de que o processo de tomada de decisão é descentralizada, porém integrante de um campo de forças de poder e que o grupo deve encarar o processo de frente e não esperar que alguém resolva os seus problemas. Palavras-chave: psicologia social; economia solidária; empreendimentos solidários; grupo de trabalho informal; sentidos; mundo do trabalho. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO MOTORA E DO EQUILIBRIO EM CRIANÇAS HIV+ Evelin B de Oliveira Marise B Zonta Marimar G A Madeira Tony T Tahan Ana Paula de Pereira Icac Bruck Cristina R da Cruz Regina M R Camargo INTRODUÇÃO: Estima-se que 2,1 milhões de crianças viviam com infecção pelo HIV no mundo em 2007, e 290.000 perderam a vida durante este ano.¹ Mundialmente, 1800 crianças são infectadas diariamente ². No Brasil, em 2005, foram identificados 700 casos de infecção pelo HIV na população de menores de cinco anos. A infecção pelo HIV na infância ocorre em mais de 95% dos casos, por transmissão vertical intra-útero, no momento do parto e pós-parto pelo aleitamento materno. Atualmente, existem medidas eficazes para evitar este risco de transmissão.3 A criança infectada pelo HIV terá, inicialmente, alteração no sistema imune humoral, que se manifesta clinicamente por infecções bacterianas de repetição. Em seguida, ocorre a destruição das células que possuem o receptor CD4, ocasionando as doenças oportunistas e tumorais. 4 A sintomatologia do HIV em crianças pode não se manifestar durante meses ou anos antes de progredir para sintomas graves dependendo do grau de imunossupressão. A conseqüência da infecção por HIV em longo prazo é que os pacientes se tornam severamente imunodeficientes, desenvolvendo a doença fatal conhecida como Síndrome da Imunodeficiência Adquirida. 5 Desde os primeiros relatos da infecção pelo HIV pediátrica, na década de 1980, as anormalidades do neurodesenvolvimento constituem uma complicação freqüente em crianças infectadas, contribuindo para o aumento da morbidade e mortalidade da doença. Hoje, a prevalência exata das complicações neurológicas em crianças infectadas com HIV-1 é desconhecida, variando de 8% a mais de 60%, destacando-se o atraso do neurodesenvolvimento como complicação mais freqüente. Diversamente dos adultos, em que a infecção compromete um cérebro desenvolvido, levando à demência na criança, a infecção acomete um cérebro imaturo Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 107 108 Resumos e manifesta-se como encefalopatia pelo HIV. 3 OBJETIVO: Avaliar a função motora, o equilíbrio e o desempenho em atividades físicas cotidianas em crianças com HIV+ mediante a aplicação de testes e questionário específicos, e relacionar estes dados a clínicos obtidos nos prontuários médicos destes pacientes. MATERIAL E MÉTODO: O estudo foi observacional transversal. Os responsáveis assinaram um termo de consentimento livre esclarecido para autorizar a participação no estudo. A avaliação do equilíbrio foi realizada mediante a aplicação da Escala Pediátrica de Equilíbrio (Pediatric Balance Scale – PBS) e a função motora grossa mediante a aplicação de itens específicos da escala Medida da Função Motora Grossa (Gross Motor Function Measure – GMFM). Em seguida, foi aplicado o questionário sendo o tempo total necessário de aproximadamente 40 minutos para cada criança. A avaliação foi individual; a realização dos tópicos das escalas envolveu comando verbal, ocorrendo em sala apropriada. Os participantes responderam um questionário sobre atividades físicas, cotidianas, elaborado pelas autoras. As dez perguntas caracterizaram a rotina da atividade motora infantil na participação social, condicionamento físico e habilidades motoras. Foram analisados os prontuários dos pacientes, observando os seguintes aspectos: idade de diagnóstico da infecção com o HIV, idade de início do tratamento antiretroviral, nível de CD4 e complicações relacionadas à infecção. Foi considerado atraso na aquisição do controle motor o sentar sem apoio acima de oito meses e andar sem apoio acima de quinze meses, baseado no intervalo proposto no teste de Denver II. 15Os materiais utilizados foram banco com altura ajustável, cadeira com suporte nas costas e descanso para braços, relógio, fita adesiva, banquinhos de varias alturas, apagador de giz, fita métrica, duas linhas retas afastadas em 20 cm e com 6,10m de comprimento no chão, linha reta com 1,90cm de largura e com 6,10 m de comprimento no chão, círculo – 60 cm de diâmetro marcado no chão, um brinquedo, corrimão, bastão, cinco degraus de escada. O estudo foi realizado no Ambulatório de Infectologia Pediátrica do Hospital de Clínicas, da UFPR, e na Associação Paranaense Alegria de Viver (APAV) no Período da manhã durante o meses de abril e maio de 2009. RESULTADOS: Participaram do estudo 20 crianças portadoras de HIV, sendo 10 do gênero feminino; com média da idade de 10,4 anos (± 2,112 DP), variando de 7 a 14, com mediana de 11 anos. Todos os participantes freqüentavam ensino fundamental e recebem acompanhamento terapêutico no Ambulatório de Infectologia Pediátrica do Hospital de Clinicas da UFPR. Na escala PBS, apenas um paciente (5%) não completou todos os itens, tendo um escore de 55 pontos. Na GMFM, dois pacientes (10%) obtiveram escore de 59, e todos os demais de 60 pontos. Foi observado através da análise dos prontuários que Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa dez crianças tiveram atraso no desenvolvimento neuropsicomotor, sendo que em cinco a aquisição do sentar-se independente ocorreu após os oito meses e em sete crianças a marcha independente ocorreu após os quinze meses de idade; uma criança apresentou atraso nas duas aquisições e realizou fisioterapia para suprir este déficit. Informações do prontuário individual demonstraram quanto ao tempo de diagnóstico do HIV, treze crianças há menos de 3 anos, cinco entre 3 e 6anos e 2 não identificados; ao nível recente de CD4, em 15 maior que 500 e em 5 entre 200 e 499; tempo de utilização de terapia antiretroviral, onze há menos de 1 ano, 4 entre 1 e 3 anos, 1 maior que 3 anos e 4 que não usaram medicação. Foram colhidas dos prontuários informações referentes a complicações na saúde geral. Dez crianças apresentaram complicações sendo em maior freqüência tuberculose e déficit auditivo. As três crianças que não atingiram escore total nas escalas também referiram dificuldades em atividades cotidianas. Quartoze crianças relataram alguma inadequação nas respostas do questionário; seis crianças em uma questão, cinco em duas questões, as três restantes apresentaram dificuldade de três a cinco questões. Uma criança referiu cansar com freqüência, apresentar quedas freqüentes e impossibilidade para andar de bicicleta sem rodinhas. Duas crianças referiram dificuldade para participar de esportes com competição, realizar atividades fora de casa, e caminhar dez quadras. Três crianças referiram incapacidade para Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. subir e descer em ônibus. DISCUSSÃO: A média da idade das crianças deste estudo compreendia a esperada para alcançar 100% nas avaliações motoras utilizadas. Nesta amostra, observou-se que a capacidade motora e equilíbrio, avaliados pelas escalas PBS e GMFM, estavam muito próximos ao normal. O escore na GMFM reflete o desempenho de padrões complexos de movimento que incorporam equilíbrio. Os itens selecionados da GMFM foram realizados com mínima inadequação por apenas duas crianças. A escala PBS relacionada ao equilíbrio identificou uma criança, que obteve escore total na GMFM, com um ponto a menos do escore total. O equilíbrio pode ser definido como a noção e distribuição do peso em relação a um espaço; pode também ser estático ou dinâmico.16 Enquanto a PBS avalia o equilíbrio estático os itens considerados da GMFM compreendem também o equilíbrio dinâmico. Deste modo, as duas das crianças que não completaram a GMFM demonstraram falha discreta no movimento e no equilíbrio dinâmico. A análise do questionário permitiu observar que a maioria das crianças não apresentou dificuldades em atividades recreativas e de competição, mas seis crianças referiram cansaço e três quedas freqüentes. Não foi possível relacionar as respostas do questionário ao escore nas escalas, pois apenas três crianças apresentaram discreta dificuldade, mas todas elas referiram inadequações nas atividades físicas cotidianas. Não foi observada 109 110 Resumos relação entre o nível de CD4, tempo de uso de antiretroviral e tempo de diagnóstico do HIV com o equilíbrio e a função motora nas crianças deste estudo. A criança com infecção de pelo HIV, sendo adequadamente conduzida pode, mesmo tendo passado por algumas intercorrências infecciosas, pode apresentar-se clinicamente estável. Isto pode explicar a boa performance observada neste estudo transversal, onde apenas três crianças apresentaram mínima alteração no equilíbrio e função motora As escalas utilizadas no presente estudo avaliam especificamente a função motora grossa. A infecção pelo HIV tende a ser mais insidiosa, com preservação das capacidades mais grossas, e deterioração progressiva e discreta da cognição e motricidade fina. Apenas testes muito específicos são capazes de detectar estas alterações. No estudo de Bruck et al, que avaliou o desenvolvimento neuropsicomotor em crianças com infecção pelo HIV comparando com um grupo controle, notou-se alterações somente por meio de escalas de screening, que enfatizam a área motora fina, linguagem, psicosocial (Denver e Cat/Clams). O exame neurológico convencional não mostrou diferença entre os grupos. Os testes aplicados no estudo demonstraram que crianças infectadas pelo HIV, em acompanhamento clínico adequado e estabilidade da doença, não apresentaram dificuldade na motricidade grossa. Cabe ressaltar que as três crianças que tiveram desempenho pouco abaixo do escore total nas escalas, encontramse ainda dentro de um nível aceitável da função. Estes resultados sugerem que testes que avaliam a motricidade fina sejam utilizados em crianças com infecção pelo HIV com o intuito da detecção precoce de alterações para que medidas específicas possam ser direcionadas. Alguns autores têm investigado diferentes aspectos do desenvolvimento de crianças infectadas com o HIV+. Blanchette et al., avaliaram 25 crianças em idade escolar (6.3-14.2), 14 infectadas (2 assintomáticas, 8 com sintomas leves, 4 com AIDS) e 11 no grupo controle, relatando várias áreas da cognição com desempenho normal e problemas no desempenho motor. 6 WachlerFelder et al., fizeram uma extensa revisão da literatura evidenciando problemas motores, linguagem e atenção nas crianças portadores de infecção pelo HIV.7 Novos estudos com maiores amostras e menor faixa etária são necessários para investigar a relação entre os dados clínicos e estas habilidades motoras em crianças HIV+, confirmando ou refutando estas hipóteses. Palavras-chave: HIV; crianças; equilíbrio; função motora. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa AVALIAÇÃO DA PROPOSTA NUTRICIONAL DO REBANHO LEITEIRO DA FAZENDA PÉ DA SERRA VERÃO E INVERNO 2009 – UM ESTUDO DE CASO Ana Luisa Palhano Silva Rosemeire Oberle Ana Paula Cerdeiro O desempenho de rebanhos leiteiros está intimamente associado com seu manejo nutricional (Santos et al., 2001), à capacidade genética dos animais e ao ambiente. Assim, o adequado fornecimento de energia e nutrientes é um aspecto central a ser garantido quando são planejados sistemas de produção técnica e economicamente viáveis. É incontestável e urgente a necessidade de se reduzirem os custos da produção de leite para garantir a permanência dos produtores na atividade, visto que a rentabilidade do setor vem sendo reduzida ano a ano e não é raro observar que muitos estão produzindo leite com prejuízo, enquanto outros estão abandonando a atividade (Martinichen, 2003). As razões para esse fato advêm, principalmente, dos elevados custos das instalações de sistemas confinados e dos níveis de alimentos concentrados utilizados nas dietas dos animais, considerados requisitos básicos à expressão do potencial genético dos rebanhos. Porém, devido à crescente inviabilidade do setor leiteiro, estratégias nutricionais e de manejo dos animais têm buscado alternativas para contornar esse problema e aumentar a eficiência total desses sistemas. Para isso, é importante que as dietas fornecidas às diferentes categorias do rebanho leiteiro sejam cuidadosamente planejadas e monitoradas. Para que o monitoramento do manejo nutricional tenha algum valor do ponto de vista de tomada de decisões, é imperativo que os dados coletados sejam representativos daquilo que realmente acontece no rebanho, que estes dados tenham alguma importância no que se refere ao desempenho animal e que tenham algum componente relacionado à alimentação do animal (Santos et al., 2001). Ainda, segundo esses autores, eles têm que ser de fácil obtenção, passíveis de serem manipulados e de sofrerem intervenções por meio do manejo nutricional e a utilização de dados médios deve ser evitada, sempre que possível, uma vez que animais medíocres podem ser supervalorizados e animais de bom potencial, subestimados. Para isso, deve-se trabalhar com a utilização de lotes dentro do mesmo rebanho, considerando-se inicialmente a fase da lactação (início, meio ou final) e número da lactação e, dentro dessas divisões, avaliar o desempenho animal, a proporção de sólidos do leite, a contagem de células somáticas e a possível incidência de Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 111 112 Resumos distúrbios metabólicos. Os principais objetivos deste estudo, ainda em andamento, foram avaliar a dieta dos animais do rebanho leiteiro da Fazenda Experimental Pé da Serra, da Universidade Tuiuti do Paraná, visando, se necessário, propor ajustes nutricionais, o que pode tornar mais eficiente esse sistema de produção. Posteriormente, a produtividade dos animais poderá ser avaliada após a implantação dos ajustes. A Fazenda Pé da Serra localiza-se em São José dos Pinhais, PR, em clima classificado como subtropical úmido (Cfb), apresentando temperaturas amenas, adequadas ao conforto dos animais com aptidão leiteira. Porém, a umidade relativa do ar é bastante elevada. Os animais, com padrão genético elevado, foram divididos em lotes segundo o número de parições e a fase da lactação e, dentro dessas divisões, foram agrupados os animais conforme seu desempenho produtivo. Amostragem dos alimentos volumosos e concentrados foi efetuada para sua quantificação e avaliação bromatológica e agrupados em dietas de inverno e verão. Os dados coletados estão sendo tabulados, compondo, assim, as dietas das estações e suas respectivas composições em nutrientes e energia. Paralelamente, baseadas nas exigências nutricionais estabelecidas pelo NRC (2001), serão agrupadas as exigências nutricionais das seguintes categorias: GRUPO 1: animais com produção diária inferior a 15 litros/dia, GRUPO 2: animais com produção diária ente 15 e 25 litros/dia, GRUPO 3: animais com produção diária entre 25 e 35 litros/ dia e GRUPO 4: animais com produção diária acima de 35 litros/dia. Compondo as duas tabelas em uma única, serão comparadas as exigências nutricionais dos grupos acima com a dieta a eles diariamente oferecida e verificados possíveis excessos ou deficiências nutricionais. A partir dessas comparações, possíveis ajustes nutricionais serão propostos e o desempenho futuro dos animais acompanhado. Palavras-chave: avaliação nutricional; eficiência produtiva; vacas holandesas. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa REFERÊNCIAS MARTINICHEN, D. Efeito da Estrutura do Capim Mombaça sobre a Produção de Vacas Leiteiras (Dissertação de Mestrado, Departamento de Fitotecnia, Universidade Federal do Paraná). Curitiba, 2003. NATIONAL RESEARCH COUNCIL. Nutrient requirements of Dairy Cattle. Seventh Editon, 2001. Washington D.C. 381 p. SANTOS, J.E.P.; SANTOS, F.A.P.; JUCKEM, S.O. Monitoramento do Manejo Nutricional em rebanhos leiteiros. In: MATTOS, W.R.S. (Ed.) A PRODUÇÃO ANIMAL NA VISAO DOS BRASILEIROS. Piracicaba, 2001. 927 p. Observação – O presente trabalho encontra-se ainda em andamento. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 113 114 Resumos AVALIAÇÃO DA QUALIDADE VOCAL EM MILITARES INSTRUMENTISTAS DE SOPRO Ana Paula Silva Ferreira - UTP Kelly Cristina Alves Silvério - UTP Aline Wolf, Jair Mendes Marques - UTP INTRODUÇÃO: Entre as atividades desenvolvidas no Exército está a Banda Musical constituída de instrumentistas de sopro e de percussão, tendo o compromisso com a música enquanto arte e manutenção das tradições musicais militares. Diversos danos ocupacionais em músicos são relatados na literatura e podem interferir na carreira profissional. A prática árdua e dedicação intensa sobre a técnica musical demandam um esforço físico e mental imensurável aos musicistas, fazendo com que os mesmos exijam demasiadamente da sua estrutura física e mental. Todo este trabalho, partindo do desempenho de uma excelente técnica e execução, reflete ao corpo do instrumentista possíveis e visíveis alterações posturais, encurtamentos e algias musculares devido à falta de consciência corporal. Além disso, os ângulos de atuação mecânica, ajustes finos de execução do instrumento e preocupações inconscientes de desempenho e aprimoramento da técnica prejudicam o ajuste ergonômico, por conseqüente ocasionando afecções musculoesqueléticas. Desta forma, fatores ambientais e organizacionais do trabalho têm sido considerados causadores de risco para o desenvolvimento de distúrbios vocais, auditivos e músculoesqueléticos em músicos. Neste contexto, a execução de um instrumento musical envolve diferentes abordagens técnicas para se conseguir os resultados desejados. No caso da produção do som, diferentes meios são usados, dependendo do instrumento. Com os instrumentos de sopro, a produção do som dá-se a partir do momento em que uma coluna de ar, dentro de um tubo, é colocada em movimento através da sua emissão por parte do executante. Alguns estudos revelaram a participação ativa da laringe na execução do instrumento de sopro, sendo que o controle do fluxo aéreo e do sopro, aparentemente, estiveram relacionados à alternância entre constrição e abertura glótica. A respiração e suas respectivas pausas servem como elementos estruturais da performance musical, possuindo, inclusive, um conteúdo estético. Desta forma, os instrumentistas de sopro utilizam intensamente o trato vocal em sua profissão, com adaptações específicas a estes instrumentos, o que pode gerar fadiga vocal. Por outro lado, a profissão militar acabar por exigir grande demanda vocal nas atividades físicas, com treino de voz de comando. Na literatura, apesar de vários estudos abordarem Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa problemas musculoesqueléticos em instrumentistas de banda musical e apontarem a participação efetiva da laringe na execução de instrumentos de sopro é escasso o número de estudos que se propuseram a avaliar a qualidade vocal em militares instrumentistas de sopro. OBJETIVO: Avaliar a qualidade vocal dos instrumentistas de sopro, militares integrantes da Banda de Música da Polícia Militar do Paraná. MÉTODOS: Foram avaliados 60 militares do sexo masculino, subdivididos em: grupo experimental (GE) que constou de 30 sujeitos, com idades entre 20 e 45 anos, (média=33,5 anos) instrumentistas de sopro, e grupo controle (GC) que constou de 30 sujeitos militares que não tocavam instrumentos musicais. Após assinarem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (CEP/UTP00014/2008) os sujeitos responderam a um questionário com questões sobre presença ou não de queixa vocal, sintomas vocais e laríngeos, hábitos vocais e autopercepção vocal. A avaliação vocal fonoaudiológica constou de registro da vogal /E/ sustentada, isolada e após inspiração profunda, repetida por três vezes. As vozes foram registradas em computador portátil TOSHIBA 100 MHz, com 512 Mb, headphone unidirecional marca Plantronics DSP com uso do programa GRAM versão 5.1 e propiciou análise perceptivo-auditiva e acústica das vozes. Para a análise perceptivo-auditiva, foram selecionadas uma das três emissões – a de melhor qualidade de gravação -, as vozes foram randomizadas e gravadas em CD-R Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. e duas fonoaudiólogas, especialistas em voz foram convidadas a julgar as vozes com uso da escala visual analógica (EVA). Foram analisados os parâmetros de impressão global da voz, rouquidão, soprosidade, tensão e instabilidade. Para a análise acústica, foram selecionados trechos de voz com duração de até 5 segundos de emissão, sendo as vozes randomizadas e gravadas em CD-R para análise posterior por outra fonoaudióloga, com uso do programa Vox Metria Versão 2.7. Os parâmetros analisados na análise acústica foram: freqüência fundamental, shimmer, jitter e proporção harmônico-ruído. RESULTADOS: Quando indagados sobre presença ou não de queixa vocal, 16,67% do GE e 10% do GC responderam ter queixa vocal, não havendo diferença significativa entre os grupos estudados (p=0,4504). Entretanto, falhas na voz (p=0,007) e voz fraca (p=0,0124) foram significativamente mais relatados pelo GE. Dentre os sintomas vocais e laríngeos, embora sem diferença significativa entre os grupos, 46,7% do GE e 26,67% do GC, relataram pigarro; 33,3% do GE e 13,37% do GC relataram garganta seca, 16,67% do GE e 3,3% do GC relataram cansaço nas bochechas, 30% do GE e 10% do GC referiram estalos ou ruídos ao abrir a boca. Em relação aos hábitos vocais, observou-se que houve uma tendência maior do GE a ingerir bebidas geladas (p=0,0720), tossir freqüentemente (p=0,0759) e falar com esforço (p=0,0808), em relação ao GC. Não houve diferença significativa quanto aos demais hábitos 115 116 Resumos vocais e de saúde, porém observou-se que ingerir bebidas geladas, pigarrear, falar alto, falar em ambientes ruidosos, ficar muito tempo sem ingerir água, falar muito rápido, ingerir pouca água, ficar exposto a mudanças bruscas de temperatura, comer alimentos gordurosos ou condimentados e consumir álcool foram hábitos relatados por aproximadamente 30% dos sujeitos de ambos os grupos. Com relação à análise perceptivo-auditiva, participaram desta etapa, até o presente momento, apenas 15 sujeitos de cada grupo. Esta revelou que não houve diferença estatisticamente significativa entre os grupos GE e GC nos parâmetros de grau geral da qualidade vocal (p=0,2349), rugosidade (p=0,1674), soprosidade (p=0,1674) e instabilidade (p=0,2241). Entretanto, o parâmetro de tensão foi significativamente mais evidente no GE (p=0,0259). A análise acústica revelou que não houve diferença significativa quanto aos valores de jitter (p=0,3738) e proporção harmônico-ruído (p= 0,9253) entre os grupos estudados. Porém, verificou-se que os militares do GE apresentaram valores significativamente maiores nas medidas de freqüência fundamental (p=0,0200) e shimmer (p=0,0031), o que revela maior tensão e maior instabilidade na intensidade vocal. CONCLUSÕES: Os dados deste estudo permitem concluir que os sujeitos militares instrumentistas de sopro possuem maior freqüência de sintomas vocais e laríngeos quando comparados aos militares não instrumentistas de sopro. Os hábitos vocais e de saúde podem ser característicos da profissão militar, independentemente da prática do instrumento de sopro, provocando alguns sintomas vocais e laríngeos nos sujeitos estudados. Os militares instrumentistas de sopro possuem maior grau de tensão vocal quando comparados aos militares não instrumentistas de sopro, assim como maior freqüência fundamental e instabilidade de intensidade revelada pelo parâmetro acústico shimmer, o que pode estar relacionada à tensão vocal. Palavras-chave: avaliação, voz, hábitos, música, militares Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa REFERÊNCIAS 1. Frank A, Mühlen CAV. Queixas musculoesqueléticas em músicos: prevalência e fatores de risco. Rev. Bras. Reumatol. 2007; 47(3). 2. Fishbein M, Middlestadt SE. The prevalence of severe musculoskeletal problems among male and female symphony orchestra string players. Med Probl Perform Art. 1989; 4:41-8. 3. Williams NR. 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Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 117 118 Resumos AVALIAÇÃO DAS PROPRIEDADES FARMACOLÓGICAS E TÓXICAS DOS EXTRATOS FRACIONADOS DA ERVA MATE (Ilex paraguariensis) TOSTADA E SOLUVEL Luciana Nowacki Roseli Mello Arion Zandoná Filho Wesley Mauricio de Souza INTRODUÇÃO: A contribuição do reino vegetal à saúde do homem acompanha e acompanhará sua existência. A mais elementar necessidade humana, a alimentação, está intimamente ligada aos vegetais. E não fica muito longe a questão dos medicamentos. O homem primitivo utilizava esse recurso terapêutico: a flora medicinal. O modo de tratá-la modificou-se com o passar do tempo, mas a fonte continua a mesma – a natureza (Maranho, 1994). Como método terapêutico, a fitoterapia faz parte dos recursos da medicina natural e está presente também na tradição da medicina popular e nos rituais de cura indígenas. Em sua forma mais rigorosa, abrange os princípios e as técnicas da botânica e da farmacologia. Embora muitas pessoas ignorem a importância das plantas medicinais, sabe-se que toda a farmacologia tem como base exatamente os princípios ativos das plantas. Na verdade, a farmacologia moderna não existiria sem a botânica, a toxicologia e a herança de conhecimentos adquiridos através de séculos de prática médica ligada ao emprego dos vegetais. Apesar do avanço da tecnologia, que diariamente cria novos compostos e substâncias sintéticas com poderes medicinais, mais de 40% de toda a matéria-prima dos remédios encontrados hoje nas farmácias continua sendo de origem vegetal. Foi na parte meridional do nosso continente que índios primitivos descobriram a erva mate Ilex paraguariensis, St. Hill, que pertence ao grupo das Aqüifoliácea. A Ilex paraguariensis é uma planta perene arbórea que cresce no Norte da Argentina, Paraguai, e Uruguai e região Centro-Oeste e Sul do Brasil. (Souza et al, 1991) No Brasil, a Ilex paraguariensis é popularmente conhecida como Erva-Mate e é distribuído amplamente na região sul do país; neste país o “mate” é consumido aproximadamente 1,2kg/por pessoa/ano (Fredholm et al, 1999). Esta espécie cresce naturalmente também no nordeste da Argentina no oeste da Paraguai, onde também existe o cultivo extensivo. (Gorzalczany et al, 2001) Popularmente é usado na forma de infusão de suas folhas e talos moídos, denominado “Chimarrão” usado basicamente como bebida estimulante. (Reginatto et al, 1999; Schinella et al, 2000) O hábito de tomar o mate ocorre há séculos no Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. As investigações Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa químicas relativas à erva-mate iniciaram-se em 1836, constatando a presença de diversas substâncias resinosas, matéria corante amarela, ácido tânico, etc. A identificação do principal alcalóide, a cafeína, ocorreu em 1843. Em 1848, foi descoberto o ácido do mate – o ácido café-tânico, já conhecido das sementes do café. A complexidade química e as propriedades fisiológicas do mate são discutidas cientificamente, desde 1954, por Paula D.G. que indica, como constituintes da erva mate os seguintes compostos: água, celulose, gomas, dextrina, mucilagem, glicose, pentose, substancias graxas, resina aromática, legumina, albumina, cafeína, teofilina, cafearina, cafamarina, ácido matetânico, ácido fólico, ácido caféico, ácido virídico, clorofila, colesterina, e óleo essencial. Nas cinzas, encontramse grandes quantidades de potássio, lítio, ácidos fólicos, sulfúrico, carbônico, clorídrico e cítrico, além de magnésio, manganês, ferro, alumínio e traços de arsênico. A cafeína , teofilina e teobromina são três alcalóides, estreitamente relacionados, encontrados na erva mate e são os compostos mais interessantes sob o ponto de vista terapêutico (Souza, 1991). Seus efeitos estimulantes não podem ser atribuídos apenas aos alcalóides da cafeína e da teobromina, mas também das vitaminas, dos sais minerais e outras famílias de substâncias que formam a erva mate (Keys, 1993). Na medicina popular, o uso do mate é indicado para artrite, cefaléia constipação, reumatismo, hemorróidas, obesidade (Brasceco et al, 2003), fadiga, retenção Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. hídrica, hipertensão, baixa digestão e desordens hepáticas, propriedades antiinflamatórias e estimulantes (Cruz, 1982; Mazzafera, 1994; Gorzalczany et al, 2001) Farmacologicamente, estudos científicos demonstram que a erva mate possui efeito estimulante, diurético (Gonzalez et al, 1993), anti-reumático (Gosmann et al, 1989), antimutagênico (Candreva et al, 1993; Ramirez-Mares et al, 2004) Efeitos antioxidantes que podem ser devido a sua ação contra radicais livres (Gugliucci, 1996; Gugliucci e Menini, 2002) ou como demonstrado por Schinella et al, 2000, onde o extrato bruto reduziu os níveis de LDL no plasma humano. O extrato aquoso demonstrou também atividade vasorrelaxante endotélio dependente em mesentério de ratos, sugerindo um efeito dependente do oxido nítrico (NO). (Baisch et al, 1998) Em adição a estes dados Schinella et al, em 2005 demonstrou que o extrato bruto é capaz de atenuar as disfunções cardíacas provocadas por isquemia ou reperfusão em ratos, e que provavelmente este efeito cardioprotetor envolve redução do estresse oxidativo através de mecanismos oxido nítrico dependentes. A ingestão aguda ou crônica de extrato bruto de erva mate é capaz reduzir a hidrólise de nucleotídeos no soro de ratos, bem como desenvolve importante papel hipotensivo. (Gorgen et al, 2005) Em termos fitoquímicos, a infusão de mate contém cafeína, minerais (Fé, P a Ca++), flavonóides, bem como vitamina C e B2. (Graham,1984) Apresenta na sua composição química alcalóides como a teofilina, 119 120 Resumos teobromida e cafeína.(Kraemer et al, 1996; Ito et al, 1997; Mucilo et al, 1998; Athayde et al, 2000). A espécie Ilex paraguariensis é a que possui altas concentrações de cafeína e teobromida quando comparado com outras espécies deste gênero. (Filip et al, 1998) Filip et al, em 2001 demonstrou que a erva mate possui altas concentrações de derivados cafeólicos bem como flavonóides. Os flavonóides são descritos como contendo propriedades biológicas de inibir os sistemas de iniciação e manutenção da inflamação e da resposta imune (Ferriola et al, 1989; Havsteen, 1983). Os flavonóides também são caracterizados como seqüestradores de radicais livres e inibidores da peroxidação lipídica (Baumann et al, 1980) O extrato aquoso também inibiu os produtos finais da glicolação (ação antioxidante inibindo a formação de radicais livres) (Lucenford e Gugliucci, 2005) Existem vários estudos que demonstram a atividade antioxidante do mate, sugerindo que a sua ingestão pode contribuir para o aumento da defesa do organismo, principalmente contra os radicais livres. Os polifenóis presentes nas folhas da erva-mate são os principais responsáveis por essa propriedade antioxidante (Filip et al., 2001; Gorzalczany et al., 2001; Gugliucci, 1996). Por causa do uso extensivo do mate e de seus efeitos sobre o sistema nervoso central estes geralmente são relacionados com as concentrações de cafeína e teobromida (Filip et al, 1983; Alikaridis, 1987) as investigações fitoquímicas (Alikaridis, 1987) demonstraram que esta possui muitos constituintes, tais como: flavonóides (quercitina e rutina) (Roberts, 1956); terpenóides (ácido ursólico) (Nooyen, 1920; Hauschild, 1935; Mendive, 1940); aminoácidos (alanina, arginina, asparagina, ácido aspártico, cisteína, cistina, ácido glutâmico, glicina, histidina, isoleucina, leucina, lisina, metionina, triptofano, tirosina e valina) (Cascon, 1995); ácidos graxos (láurico, palmitoléico, óleo linoléico) (Cattaneo et al, 1952); carboidratos, vitaminas e carotenóides. (Chlamtac et al, 1952; Vilela, 1938) Tem sido de interesse do laboratório de Farmacologia da UTP procurar desenvolver um plano de pesquisa, visando um screening de extratos de plantas brasileiras, a fim de descobrir aquelas que pudessem possuir atividade farmacológica de interesse. De um modo geral, consta de três fases: a) teste geral de atividades do extrato bruto aquoso; b) no caso de atividade presente, fracionamento do extrato bruto, e c) realização de testes subseqüentes mais específicos. Nossos resultados obtidos ao longo destes 4 anos de estudo demonstraram que o mate verde e o tostado solúvel apresentam em extrações aquosas ação antiedematogênica, antiinflamatória e analgésica. Porém, não sabemos ainda qual o componente fitoterápico da planta responsável por estas ações. Necessitando, nesta fase do estudo, um fracionamento dos extratos brutos obtendo frações mais puras a fim de determinar quais compostos químicos são responsáveis por qual ação, dando assim um grande passo rumo a produção de patente. Nosso grupo de pesquisadores Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa optou por iniciar o fracionamento do mate isolando dois compostos. Os Polifenóis – Flavonóides que em geral constituem 20% - 30% da composição da erva-mate, são solúveis em água, incolores e conferem o gosto adstringente ao mate. Sabe-se que a qualidade da erva-mate beneficiada é positivamente correlacionada com a concentração de flavonóides. A alta concentração de materiais polifenólicos confere excelentes características químicas à erva-mate. Os principais flavonóides encontrados na erva-mate são: a rutina, a quercetina-3-glicosídeo e canferol3-rutinosídeo. E os Alcalóides: a cafeína, teofilina e teobromina que são três alcalóides, estreitamente relacionados, encontrados na erva mate e são os compostos mais interessantes sob o ponto de vista terapêutico. A riqueza em alcalóides varia com a idade da planta, diminuindo com aumento desta. OBJETIVOS: - Objetivos geral: Avaliar as frações do extrato bruto de erva mate tostada e solúvel, padrão comercial da Leão Jr/SA. - Objetivo específicos: 1- Elaborar duas frações a partir do mate tostado: (1) fração alcalóide e (2) fração de polifenóis. 2- Realizar um teste geral de atividades em camundongos com as frações para determinar Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. a DL50 e a toxicidade de cada fração. 3- Realizar testes em camundongos para verificar em qual fração encontra-se a atividade analgésica e antiinflamatória, que já determinamos no extrato bruto aquoso. 4Realizar testes de avaliação psicoativa das frações em camundongos tais como teste de sono barbitúrico e movimentação espontânea também no intuito de buscar onde estão os ativos para a psicoestimulação já encontrada no extrato bruto. - Atividades Gerais Desenvolvidas, resultados esperados e alcançados. Ate o presente momento conseguimos realizar fracionamentos com diferentes solventes com níveis de polaridades diferentes na busca dos alcalóides e polifenóis. Trabalhamos também em conjunto com professores de UFPR e LACTEC para caracterização destes compostos através de diferentes técnicas de cromatografia. Os testes biológicos terão início assim que obtivermos frações padronizadas, reproduzíveis e estáveis, bem como determinado os compostos bioativos presentes nas frações. Estes testes estão previstos para início do ano de 2010. Palavras-chave: Ilex paraguariensis; alcalóides; polifenois. 121 122 Resumos AVALIAÇÃO DO PADRÃO DE DURAÇÃO EM INDIVÍDUOS SUBMETIDOS A TESTE DE PRÓTESES AUDITIVAS Fernanda Scheffer Frosi - UTP INTRODUÇÃO: Alguns testes de processamento auditivo podem ser utilizados durante a testagem de aparelhos auditivos na intenção de buscar informações sobre a via auditiva central. No presente estudo, utilizou-se o Duration Pattern Sequence (DPS) (1). Tal consideração poderá favorecer a utilização de aparelhos auditivos, pois é, de conhecimento dos profissionais que muitos indivíduos, ao adquirirem os mesmos, não referem adaptação satisfatória. A deficiência auditiva é a forma mais comum de desordem sensorial no homem, podendo ser causada por fatores ambientais, decorrentes, por exemplo, de traumas, infecções, ou por fatores genéticos (2). Dessa forma, tem sido considerada uma doença incapacitante cujo tratamento mais utilizado é o aparelho auditivo, que capta o som do ambiente, aumenta sua intensidade e o fornece amplificado ao usuário(2). Em alguns casos, a seleção e a adaptação de aparelhos auditivos resulta muitas vezes, na rejeição do uso dos mesmos por não contemplarem as necessidades dos indivíduos. Desse modo, a inclusão de testes de processamento auditivo pode ser um recurso na seleção e adaptação de aparelhos auditivos. A avaliação global do processamento auditivo geralmente engloba tarefas monoaurais de baixa redundância (fala filtrada, fala no ruído, PSI e SSI), tarefas de padrões temporais (DPS e PPS - pitch pattern sequence), tarefas de interação binaural (fusão binaural) e tarefas dicóticas (DD - dicótico de dígitos, SSW - staggered spondaic word). Neste trabalho, serão evidenciados o teste Dicótico de Dígitos e o teste DPS. Os testes de interação binaural são apropriados para avaliar a habilidade do Sistema Nervoso Auditivo em receber informações em ambas as orelhas e unificá-las em um evento perceptual, onde se acredita que esta unificação ocorra no tronco encefálico (3). O teste dicótico de dígitos na tarefa de integração binaural tem como objetivo avaliar a habilidade para agrupar componentes do sinal acústico em figura-fundo e identificá-los. Além disso, a tarefa de separação binaural possibilita avaliar a escuta direcionada para cada orelha separadamente (4). O teste dicótico de dígitos é flexível e de rápida aplicação, oferecendo especificação e sensibilidade para detectar disfunções corticais e subcorticais (5). A interferência binaural é a condição na qual o desempenho binaural é mais prejudicado do que o desempenho monoaural. A adaptação binaural poderia ser acompanhada de forma mais eficaz se as avaliações auditivas centrais fossem incluídas como parte dos procedimentos de seleção e adaptação de aparelhos auditivos (3). O teste DPS consiste na Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa apresentação de três combinações diferentes de tons, onde cada combinação é alternada ou não entre tom curto (C) e tom longo (L). Podendo ser feito com o paciente murmurando esses tons ou nomeando os mesmo por curtos e longos. OBJETIVO: Avaliar o desempenho dos pacientes no teste do padrão de duração durante a testagem de aparelhos auditivos analógicos e digitais. CASUÍSTICA E MÉTODO: O presente estudo constitui-se num estudo de série de casos, contemporâneo, de caráter experimental que investiga o desempenho dos pacientes no teste DPS, durante a testagem de aparelhos auditivos analógicos e digitais. O mesmo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário Metodista - IPA sob o número 1538 em 06/01/2006. Foram avaliados 7 indivíduos adultos, sendo 4 do sexo feminino e 3 do sexo masculino, com idades entre 34 e 71 anos, todos com perda auditiva bilateral, variando do grau leve ao moderado, dos tipos neurossensorial e misto, com indicação médica para adaptação de aparelho auditivo. Dos 18 indivíduos atendidos na clínica com indicação médica para teste de aparelho auditivo, 9 possuíam perda auditiva de grau leve a moderado e 2 não aceitaram participar da pesquisa restando apenas 7 indivíduos. Assim, esta pesquisa constituise num estudo de série de casos na qual se observou a importância de considerar os aspectos temporais no processo de seleção, indicação e adaptação de Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. aparelhos auditivos. Esse estudo foi composto por três momentos, sendo o primeiro encontro destinado à realização da anamnese, das avaliações audiométricas e imitanciométricas. No segundo encontro, os indivíduos foram submetidos à pesquisa do nível de desconforto, audiometria em campo livre, teste de reconhecimento de fala em campo livre com a utilização do teste com palavras foneticamente balanceadas proposto por PEN MANGABEIRA (1973) e teste Dicótico de Dígitos elaborado por MUSIEK em 1983, adaptado para o português por SANTOS e PEREIRA (1996) (6). No último momento, os indivíduos experimentavam então dois modelos de aparelhos auditivos, um de tecnologia analógica e outro de tecnologia digital regulados conforme as perdas auditivas. Após a realização do ganho funcional e teste de reconhecimento de fala com aparelho auditivo analógico e/ou digital, foi realizado o teste de processamento auditivo DPS, em campo, na condição murmurando, com cada uma das tecnologias. Objetivando a simplificação do protocolo, o número de seqüências de trios dos tons, do referido teste foi apresentado sem aparelho, com aparelho analógico e com aparelho digital apenas dez vezes para cada modalidade citada. A partir do protocolo de pesquisa foi montado um banco de dados no programa SPSS versão 10.0, onde foram feitas todas as análises estatísticas. O teste t para amostras emparelhadas foi utilizado para comparar o ganho auditivo com e sem aparelho auditivo. O teste de Friedman foi utilizado 123 124 Resumos para comparar o DPS entre os grupos: sem aparelho, com aparelho analógico e com aparelho digital. O teste de Wilcoxon foi utilizado na comparação do teste com e sem aparelho auditivo. Utilizou-se a tabela de freqüência para a apresentação das variáveis descritivas da amostra. O nível de significância utilizado foi de 5%. RESULTADOS: A comparação do teste DPS sem parelho auditivo e com aparelho auditivo analógico não foi significativa (valor “p” de 0,07 para OD e 0,06 para OE), a mesma comparação entre o teste DPS sem aparelho auditivo e com o aparelho auditivo digital revelou significância de 0,04 para OD e correlação inversa para OE com valor de “p” 0,99. DISCUSSÃO: A comparação entre o desempenho no teste DPS sem aparelho auditivo e com aparelho auditivo digital revelou um valor “p” de 0,04 de significância para orelha direita em discrepância ao valor “p” da orelha esquerda que foi de 0,99, passando longe do valor admitido como significativo, indicando correlação inversa. Do ponto de vista fisiológico esperava-se um melhor desempenho da orelha direita devido à rápida transmissão do estímulo pela via auditiva ipsilateral desta orelha até o hemisfério direito. Supõe-se, então, que a orelha esquerda obteve desempenho pior com o aparelho digital pelo fato dos estímulos do teste serem conduzidos pela via contralateral desta orelha até o hemisfério direito, podendo ser o cruzamento responsável pela menor velocidade de processamento. Em situação dicótica, as vias ipsilaterais, mais fracas, são suprimidas enquanto as vias contralaterais, mais fortes, ou privilegiadas assumem a função (3). Desse modo, pode-se perceber que a tecnologia analógica mostra um processamento mais lento, gerando pouca melhora. Já a tecnologia digital mostra um processamento mais rápido, gerando muita vantagem para a OD, o que poderia causar um desequilíbrio em relação à OE (significância inversa). Esses fatos criam a reflexão de que o paciente poderia utilizar o aparelho analógico para ambas orelhas, com pouca melhora, mas mantendo um equilíbrio entre as orelhas ou utilizar apenas o aparelho digital na OD, obtendo grande vantagem. Para responder tal questionamento, deve-se afastar a hipótese de ocorrência de interferência binaural nos sujeitos pesquisados. Em relação às tecnologias, a ordenação temporal apresentou pouca melhora com o aparelho analógico em ambas as orelhas, sendo questionável o fato de ter apresentado muita melhora para OD e pouca para OE com o aparelho digital. No entanto, cabe avaliar se o teste DPS é o mais adequado para oferecer informações sobre o funcionamento da via auditiva central no paciente usuário de aparelho auditivo. Por meio da análise dos resultados obtidos neste estudo, sugere-se a continuação de pesquisas relacionando o processamento auditivo com a seleção, verificação e adaptação de aparelhos auditivos. CONCLUSÃO: O presente estudo trouxe contribuições na medida em que o teste DPS foi estatisticamente Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa significativo apenas para orelha direita na tecnologia digital, oferecendo informações sobre o processamento temporal na testagem de aparelhos auditivos. Porém, foram estudados apenas 7 indivíduos. Assim, um estudo com uma amostra maior seria de vital importância para confirmar as conclusões do presente trabalho. Também se torna necessária a realização de mais pesquisas Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. sobre testes de processamento temporal que possam ser incluídos no protocolo de verificação de aparelhos auditivos, merecendo então que este estudo tenha continuidade. Palavras-chave: perda auditiva; perda auditiva central; prótese auditiva. 125 126 Resumos REFERÊNCIAS 1. AUDITEC - Evaluation Manual of Duration Pattern Sequence. Missouri, USA; 1997. 2. FILHO OL. Deficiência Auditiva. Em: Filho OL. Tratado de Fonoaudiologia, São Paulo, Editora Roca, 1997. p.3-24 3. BARAN JA, MUSIEK FE. Avaliação Comportamental do Sistema Nervoso Auditivo Central. Em: Musiek F.A, Rintelmann WF. Perspectivas Atuais em Avaliação Auditiva, São Paulo: Editora Manole; 2001, pp.371-409 4 SANTOS MFC, PEREIRA LD. Escuta com dígitos. Em: Pereira LD, Schochat E. Processamento Auditivo Central. Manual de Avaliação, São Paulo:Editora Lovise; 1997, pp.147-150. 5 MUSIEK FE, CHERMAK GD. Three Commonly Asked Questions About Central Auditory Processing Disorders: Assessment. American Speech-Language-Hearing Association 1994, 3:23-27. 6 SANTOS MFC, PEREIRA LD. Escuta com dígitos. Em: Pereira LD, Schochat, E. Processamento auditivo central: manual de avaliação. São Paulo: Editora Lovisse;1997, pp. 147-149. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa AVALIAÇÃO MICROBIOLÓGICA E DE METAIS PESADOS DO AQUÍFERO FREÁTICO NOS CEMITÉRIOS MUNICIPAIS ÁGUA VERDE-CURITIBA E CÓRREGO FUNDOSÃO JOSÉ DOS PINHAIS PR Elisangela Ferruci Carolino - UTP Michael Moraes – UTP Maria Luisa Fernandes Rodrigues - UTP Vários relatos históricos mostram a contaminação das águas subterrâneas e poços de abastecimentos públicos por necrochorume. Os cemitérios são fontes causadoras de impactos ambientais, muitas vezes com localização irregular, ou seja, situada perto de mananciais. A proliferação dos microrganismos dos corpos em decomposição se dá através do solo, contaminando o lençol freático e posteriormente contaminará o homem. O objetivo geral deste trabalho foi analisar os tipos de impactos ocasionados pelo cemitério Água Verde em Curitiba-PR e pelo cemitério Córrego Fundo em São José dos Pinhais-PR, tendo como objetivos específicos verificar a existência de poços de monitoramento do nível hidrostático, avaliar potenciais de poluição de origem microbiológica e metais pesados no aquífero freático e propor soluções ambientais corretas para os impactos. O Cemitério Municipal Água Verde no município de Curitiba foi fundado em 1888. Possui uma área de 97.827 m2 contando com aproximadamente 92 mil sepultados até a data das coletas 11 e 13 de maio de 2009 pela manhã, onde foram coletadas amostras de água dos 8 poços de monitoramento com profundidade variando entre 4,23-10,22 m. O Cemitério Municipal Córrego Fundo no município de São José dos Pinhais foi fundado em 1940. Possui uma área de 22.620 m2 e aproximadamente 12 mil sepultados, onde foram coletadas amostras de água de 2 poços artesianos no entorno com profundidade variando de 6-13 m, já que no cemitério não há poços de monitoramento. No dia 4 de maio de 2009 pela manhã, o poço mais profundo é utilizado para construção civil no local, sendo que o segundo com profundidade menor é utilizado para consumo por uma família vizinha ao cemitério, ambas no estado do Paraná. As amostras foram coletadas com auxílio de amostradores do tipo bayler, mesmo tipo utilizado pela UFPR (Universidade Federal do Paraná) em análises de monitoramento. As análises foram realizadas utilizando-se a metodologia do Standard Methods for the examination of Water and Wastewater, 21ª Edition, da American Public Health Association- APHA (2005) nos laboratórios da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP) Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 127 128 Resumos onde foram feitas análises microbiológicas. No TECPAR (Instituto de Tecnologia do Paraná) setor de química ambiental, foi feita análise em triplicata para alumínio, antimônio, arsênico, cádmio, cálcio, chumbo, cobre, cromo, estanho, ferro, magnésio, manganês, mercúrio, níquel, selênio e zinco por espectrometria de emissão óptica com plasma indutivamente acoplado com configuração axial. Os parâmetros foram baseados na legislação brasileiras CONAMA 357/05 e também para comparação com a lei vigente no Brasil foram utilizadas as leis italianas e canadenses para a potabilidade da água. De acordo com os resultados, os padrões de qualidade de água, adotados para comparação, são os valores máximos permitidos (VMP) especificados na Resolução CONAMA 357/05, aplicada para classificar águas superficiais, adotando-se os valores para classe 2, destinadas ao consumo humano, após tratamento convencional.Para comparação internacional usou-se os parâmetros da lei italiana DPR 05/88 del Ministerio della Sanità (ITÁLIA, 1988) e da lei canadense Comité FPT sur l’eau potable au Canada, Santé Canada. Os valores de metais pesados foram baseados na resolução CONAMA 357/05. Para o Cemitério Córrego Fundo, os poços foram chamados de PA (ponto alto) e PB (ponto baixo). Para o Cemitério Água Verde foram apenas enumerados os poços de acordo com a localização, e o poço de monitoramento n° 4 foi desativado. No cemitério Água Verde encontrou-se resultados elevados para alumínio, chumbo, ferro e manganês. Fazendo uma média entre os 8 poços para o alumínio obteve-se 2,9 mg/L sendo que a resolução CONAMA 357/05 indica no máximo 0,1 mg/L, o teor elevado desse metal na água acarreta danos ao sistema nervoso central, perda de memória, tremores, dores musculares e surdez e a sua ocorrência nessas águas pode ser atribuído aos adornos nos caixões, às jóias postas em corpos o qual é percolado pela chuva através das rachaduras em túmulos. A presença de ferro e manganês pode ser resultado tanto de processos naturais, isto é, da solubilização de minerais ferro-manesianos, como na solubilização e lixiviação das partes metálicas dos caixões, a concentração máxima permitida para ferro segundo o CONAMA 357/05 é de 0,3 mg/L o qual foi excedido em 60% das amostras no cemitério Água Verde variando entre 0,15 mg/L até 40 mg/L, o excesso de ferro tem como consequência a hemocromatose e o manganês causa grandes efeitos neurotóxicos no homem e problemas respiratórios. O chumbo foi outro metal pesado identificado, o valor recomendado pelo CONAMA 357/05 é de 0,01 mg/L, porém em 3 poços de monitoramento foram encontrados valores superiores, entre 0,005 mg/L a 0,11 mg/L, como o chumbo é um metal bioacumulável ele age diretamente no sistema nervoso, medula óssea e rins. Comparando esses valores com as leis italianas e canadenses verificase a contaminação, mesmo que o parâmetro para chumbo na legislação italiana seja um pouco mais Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa elevado que a brasileira e canadense, quanto ao ferro os valores estipulados para o Canadá e a Itália estão abaixo do permitido no Brasil. No cemitério Córrego Fundo foram detectados metais como alumínio, ferro e manganês nas amostras do PA, no que se refere ao PB, todo as amostras estavam no padrão não apresentando valores superiores ao proposto pela resolução CONAMA 357/05. Por tratar-se de um poço que fica aberto, as contaminações por tais metais podem ter sido antrópicas, pois segundo o morador, esse poço é utilizado para fazer argamassa, com essaS atividades por vezes derrubava-se e esquecia-se materiais de construção dentro do mesmo. Com relação aos teores de Cálcio e Magnésio, na legislação não há um padrão. A ocorrência de Ca2+ é devida provavelmente à lixiviação do cimento aplicado nas sepulturas e em menor quantidade na lixiviação óssea. Já o Magnésio pode estar presente em adornos fúnebres e ele é o principal cátion dos tecidos humanos, estando a sua origem, provavelmente, relacionada à decomposição cadavérica. O excesso de cálcio no organismo pode acarretar doenças como anorexia, depressão, fraqueza muscular, irritabilidade, pedra nos rins, já o excesso de magnésio tem como conseqüência a hipotensão, náuseas, boca seca e sede crônica. Em relação aos resultados microbiológicos, o meio Muller Hinton foi utilizado para verificação de Pseudomonas sp, pois se houver presença desta bactéria, ela torna o meio esverdeado. As placas utilizadas foram EMB, Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. MacConkey, Mueller Hinton, Salmonella Shigella e TCBS respectivamente.Pela análise microbiológica pode-se observar a presença de microrganismos entéricos gram-negativos com exceção da pseudomas sp e aermonas sp que não são entéricos, estes microrganismos estão presentes na flora normal do intestino humano e animal. A presença destes microrganismos indica decomposição cadavérica nas proximidades e/ou fezes. No cemitério Água Verde foi encontrado todos os microrganismos analisados, sendo que a Salmonella sp, Serratia marcescens e Proteus morgani foram encontrados em todos os poços analisados. Esses microrganismos são grandes causadores de doenças como febre tifóide, pneumonia, septcemia. Outro microrganismo com alta taxa de infecção são as Pseudomonas sp pois causam graves infecções hospitalares. No cemitério Córrego fundo, houve uma contaminação maior no PA, mas essa contaminação pode ser advinda de fezes animais, uma vez que este poço permanece aberto ao lado do cemitério, já no PB encontramos microrganismos como Enterobacter aerogenes, Escherichia coli e Serratia marcescens . Esse é um poço de utilização familiar o qual possui uma bomba, a contaminação pode ter advindo na falta de higiene com a bomba, já que eles mesmos fazem a manutenção deste equipamento. Na Conclusão do trabalho, as análises indicaram que há um comprometimento da água no Aquífero Freático do cemitério Água Verde devido à infiltração de 129 130 Resumos líquidos produzidos na decomposição cadavérica. Através do cultivo microbiológico verificou-se que há um grande número de bactérias entéricas poluindo as águas do aqüífero. Quanto ao cemitério Córrego Fundo, as análises indicam que a contaminação pode ser antrópica uma vez que o poço artesiano analisado fica aberto, e o outro é manipulado diariamente por moradores. Para a realização deste trabalho houve diversos empecilhos, sendo que o maior deles foi o burocrático, uma vez que as prefeituras não disponibilizam de forma rápida os laudos de análises laboratoriais feitas nos cemitérios, há uma grande demora para se obter autorizações permitindo coletas de água no local, isso quando o cemitério está regularizado na questão poços de monitoramento, pois se não os houver como em São José dos Pinhais, a prefeitura simplesmente nega o pedido, não dando acesso ao cemitério. A análise em São José dos Pinhais só foi possível pela colaboração da família vizinha ao cemitério que cedeu gentilmente amostras de seus poços artesianos. É importante ressaltar que durante o processo de decomposição dos cadáveres há uma proliferação de microorganismos que podem contaminar solos e os aquíferos. Os cemitérios fazem parte do planejamento ambiental urbano dos municípios, pois representam uma atividade impactante para o ambiente. A melhor for ma de evitar contaminação por necrochorume seria a cremação, porém por questões religiosas e culturais, no Brasil em sua maioria permanecem as práticas do sepultamento. É necessário um trabalho de reparação dos túmulos, pois em sua grande maioria estão rachados e abandonados, com a presença de árvores com enraizamentos profundos ao redor dos cemitérios, danificando os mesmos. A importância da realização periódica de análises dos parâmetros microbiológicos e de metais pesados que contribuem para a contaminação do ambiente, não é uma preocupação somente ambiental mais também de saúde pública. Palavras-chave: cemitério; necrochorume; poluição ambiental. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa AVALIAÇÃO VESTIBULAR NA FRIBOMIALGIA: RELATO DE DOIS CASOS Klagenberg KF - UTP Zeigelboim BS - UTP Liberalesso PBN - UTP Paulin F - UTP Jurkiewicz AL. - UTP INTRODUÇÃO: A fibromialgia (FM) é uma síndrome dolorosa musculoesquelética não inflamatória de caráter crônico, de etiologia desconhecida, caracterizada por dor generalizada, aumento da sensibilidade na palpação e por outros sintomas como insônia, rigidez, cansaço, doença psicológica, intolerância ao frio, cefaléia, enxaqueca, tontura, zumbido e etc. Pesquisas recentes mostram anormalidades bioquímicas, metabólicas e imunoreguladora. O mecanismo mais aceito para o entendimento fisiopatológico da FM seria de uma alteração em algum mecanismo central de controle da dor o qual poderia resultar em uma disfunção neuro-hormonal. Tal disfunção incluiria uma deficiência de neurotransmissores inibitórios em níveis espinhais ou supra-espinhais (serotonina, encefalina, norepinefrina e etc) ou uma hiperatividade de neurotransmissores excitatórios (substância P, glutamato, bradicinina e outros peptídeos) ou ainda ambas as condições poderiam estar presentes. Essas disfunções poderiam ser geneticamente pré-determinadas e, talvez desencadeadas por uma infecção viral, estresse mental ou por um trauma físico. Diversas anormalidades tem sido observadas nos portadores de FM, dentre elas, ressalta-se a liberação da substância P (neuro-hormônio) em níveis elevados no líquor, deficiência de serotonina nas plaquetas, nível baixo de trifosfato de adenosina, metabolismo anormal de carboidratos nas hemáceas, regulação anormal da produção de cortisol e diminuição de fluxo sanguíneo em determinadas estruturas cerebais. Estudos do fluxo sanguíneo cerebral por meio da tomografia computadorizada por emissão de fóton único referem uma diminuição significativa do fluxo sanguíneo nas regiões bilaterais do tálamo e do núcleo caudado cerebral. Estudos apontam a vulnerabilidade no desenvolvimento da FM estar influenciada por fatores genéticos, ambientais e hormonais, causando alterações nos níveis de receptores neuro-hormonais. Pesquisas revelam que diversos sintomas causados pela FM podem ser confundidos com os decorrentes pelas reações hansênicas e que ambas as doenças podem ocorrer concomitantemente. Estudos relatam que portadores de FM podem apresentar um nível elevado de hormônio estimulador da tireóide (TSH) indicando associação com hipotireoidismo. Os Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 131 132 Resumos dados epidemiológicos referentes à prevalência da FM são variáveis, de acordo com diferentes estudos, dependendo da população avaliada e da metodologia aplicada. Com base em pesquisas internacionais, a freqüência da FM é de 1 a 5% na população em geral. Nos serviços de clínica médica, essa freqüência é em torno de 5% e nos pacientes hospitalizados, 7.5%. Na clínica reumatológica, por sua vez, essa síndrome é detectada em 14% dos atendimentos. Nos Estados Unidos, acredita-se que 3% a 6% da população geral incluindo a pediátrica, são portadores de FM. No Brasil, alguns trabalhos falam a favor de uma prevalência em torno de 10% da população em geral. A FM é mais freqüente no sexo feminino e na faixa etária de 30 a 50 anos ocorrendo em menor grau na população pediátrica. Seu diagnóstico é realizado de acordo com critérios estabelecidos internacionalmente pelo Colégio Americano de Reumatologia em 1990, são eles: a) dor difusa com duração no mínimo de três meses nas seguintes regiões: dor no lado esquerdo e direito do corpo, dor acima e abaixo da linha de cintura, dor no esqueleto axial (coluna cervical ou torácica anterior ou coluna dorsal ou coluna lombar). A dor no ombro ou na nádega é considerada como dor para cada lado envolvido. b) dor em pelo menos 11 dos 18 pontos palpados denominados “tender point” com uma força aproximada de 4kg. Para que um “tender point” seja considerado positivo, o paciente deve declarar que a palpação foi dolorosa. A presença dos pontos dolorosos é o achado primordial do exame físico. As opções de tratamento na FM são exercícios de relaxamento, fisioterapia, massagens, irradiação de calor localizada e atividades físicas moderadas em especial exercícios aeróbicos e caminhadas além da medicação necessária para dor e sintomas associados. A dor é um problema grave na comunidade, e a qualidade de vida destes pacientes é ruim, tendo a FM um importante impacto social sobre a qualidade de vida, a capacidade de trabalho e o uso de serviços médicos. Em casos mais avançados podem ocorrer ansiedade, angústia, distúrbios do sono, de humor, de memória, cefaléia, alucinações (causadas por irritação cerebral e não por desordem mental funcional) e a dificuldade na concentração quando presente indica uma redução do fluxo sanguíneo cerebral. Esta redução também pode indicar disfunção na porção vestibular responsável pelo equilíbrio corporal. Distúrbios da função motora dos olhos vêm sendo relatados em pacientes portadores de FM, isso pode ocorrer devido a disfunção dos mecanismos responsáveis pela sua regulação causando um distúrbio da função oculomotora. Os testes otoneurológicos possibiltam a confirmação dos distúrbios auditivos e/ou vestibulares e suas relações com o sistema nervoso central. A vestibulometria é um método de avaliação não invasivo cujos objetivos são: a) ajudar na confirmação do comprometimento vestibular; b) reconhecer o lado lesado; c) localizar a lesão (periférica, central ou mista); d) verificar o tipo da Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa lesão vestibular (irritativa ou deficitária); e) caracterizar a intensidade da lesão (leve, moderada ou severa) e f) monitorar a evolução do paciente vertiginoso. OBJETIVO: Verificar os achados vestibulococleares em dois pacientes com FM. METODOLOGIA: Avaliaram-se dois pacientes do sexo feminino com diagnóstico de FM, idades entre 52 e 61 anos encaminhados ao Setor de Otoneurologia de uma Instituição privada da cidade de Curitiba/Pr. Ambos os pacientes não apresentavam perda auditiva induzida pelo ruído, presbiacusia e alterações de orelha média. Foram submetidos aos seguintes procedimentos: anamnese, avaliações otorrinolaringológica, audiológica, imitanciométria e vestibular. Na anamnese, aplicouse um questionário com ênfase aos sinais e sintomas audiológicos, antecedentes pessoais e familiares. A avaliação otorrinolaringológica foi realizada pelo médico da clínica de fonoaudiologia com o objetivo de excluir qualquer alteração que pudesse interferir no exame. A audiometria tonal limiar convencional foi realizada com um audiômetro de 2 canais, da marca Madsen-GN Otometrics, modelo Itera, com fones TDH-39, com limiares em dB NA. O equipamento encontra-se calibrado de acordo com o padrão ISO 8253. A seguir, pesquisouse a determinação do limiar de reconhecimento de fala (LRF) e do índice percentual de reconhecimento de fala (IPRF), em cabine acusticamente tratada para impedir a interferência de ruídos estranhos ao teste. A avaliação vestibular foi composta por provas com e sem registro. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Sem registro, pesquisou-se o nistagmo e a vertigem de posição/posicionamento. Pesquisaram-se os nistagmos espontâneo e semi-espontâneo com os olhos abertos, no olhar frontal e a 30° de desvio do olhar para a direita, esquerda, para cima e para baixo. Com registro, realizouse a vectoeletronistagmografia (VENG) utilizou-se um aparelho termossensível, com três canais de registro, da marca Berger, modelo VN316. Colocaram-se fixados com pasta eletrolítica, um eletródio ativo no ângulo lateral de cada olho e na linha média frontal, formando um triângulo isósceles que permitiu a identificação dos movimentos oculares horizontais, verticais e oblíquos. Este tipo de VENG possibilitou obter medidas mais precisas da velocidade da componente lenta (correção vestibular) do nistagmo. Utilizou-se uma cadeira rotatória pendular decrescente da marca Ferrante, um estimulador visual marca Neurograff, modelo EV VEC, e um otocalorímetro a ar, da marca Neurograff, modelo NGR 05. Realizaram-se as seguintes provas oculares e labirínticas à VENG: calibração dos movimentos oculares, pesquisa dos nistagmos espontâneo (olhos abertos e fechados) e semi-espontâneo (olhos abertos), pesquisa do rastreio pendular, nistagmo optocinético, pesquisa dos nistagmos pré e pós-rotatórios à prova rotatória pendular decrescente e pesquisa dos nistagmos pré e pós-calóricos. A pesquisa foi realizada após autorização do paciente por meio de assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. RESULTADOS: Sujeito 1 - a) as queixas referidas 133 134 Resumos foram: tontura, zumbido, sensação de movimento de objetos, fadiga, depressão, cefaléia, dificuldade em escutar, dificuldade nos movimentos do pescoço entre outros; b) a audiometria apresentou uma perda auditiva neurossensorial a partir de 2KHz na orelha esquerda e limiares auditivos normais na orelha direita; c) na imitanciometria, curvas timpanométricas do tipo “A” com presença de reflexo acústico presente bilateralmente; d) na VENG, o resultado foi sugestivo de síndrome vestibular periférica deficitária á direita. Sujeito 2 - a) as queixas referidas foram: tontura, zumbido, sensação de movimento de objetos, fadiga, depressão e cefaléia, b) Limiares auditivos normais bilaterais; c) na imitanciometria, curvas timpanométricas do tipo “A” com presença de reflexo acústico presente bilateralmente; d) na VENG, sugestivo de síndrome vestibular periférica irritativa à direita. CONCLUSÃO: Os casos apresentados demonstram a importância da avaliação audiológica e vestibular na contribuição da elaboração de estratégias utilizadas no acompanhamento terapêutico. Palavras-chave: fibromialgia; vertigem; testes da função vestibular; audição. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa AVALIAÇÃO VISUAL E HISTOPATOLÓGICA DE CARCAÇAS DE FRANGOS CONDENADAS PARCIAL OU TOTALMENTE NO PROCESSO DE ABATE José Maurício França M.M.V. - UTP Anderlise Borsoi, M.M.V. - UTP INTRODUÇÃO: A avicultura brasileira vem se desenvolvendo principalmente pela integração — sistema de parceria entre produtores e a agroindústria —, tornando possível que em 2008 o consumo de carne de frango pelos brasileiros ultrapassasse os 39 kg per capita, com a oferta de produto protéico de alta qualidade. A exportação para aproximadamente 160 países alcançou no ano passado mais de 4,0 milhões de toneladas, com valor próximo a US$ 5 bilhões. Brasil e Estados Unidos ocupam hoje 80% do mercado mundial de produtos de frango. O Estado do Paraná é o maior produtor de frango do Brasil e, em 2008, contou com 26% do abate de frangos no país (UBA,2009). Dentre os setores que compõem a cadeia produtiva de aves, os matadourosfrigoríficos constituem forte elo, ocorrendo o abate dos frangos, inspeção sanitária e processamento da carne. As medidas de condenações totais ou parciais de carcaças em matadouros-frigoríficos têm por objetivo principal a inocuidade do alimento que chega à mesa do consumidor. Durante o processo de abate e inspeção são gerados importantes dados sobre a saúde das aves no campo, os quais podem auxiliar o controle de patologias durante a produção. POINTON et al. (1992) e MORÉS et. al. (2000) citaram que a identificação, caracterização e registro de processos patológicos dos animais abatidos em matadouros-frigoríficos, constituiu uma fonte de dados importante para a avaliação da condição sanitária das explorações, uma vez que permitiu identificar a ocorrência de doenças sub-clínicas nos lotes e quantificar a gravidade de lesões que representem manifestações de doenças. Com a intenção de correlacionar a inspeção visual de carcaças ao abate com dados histopatológicos das lesões, buscou-se demonstrar que o papel do matadouro-frigorífico não fique restrito somente às planilhas de Inspeção Federal, mas que sejam repassadas para o campo, a fim de auxiliar no controle das doenças sub-clínicas onde as perdas são difíceis de quantificar pelas empresas. Alguns processos patológicos e algumas lesões das aves se manifestam somente nas vísceras, não refletindo no estado da carcaça. Alguns processos patológicos e algumas lesões que se manifestam nas vísceras e no interior da carcaça de aves, podem passar despercebidos durante a inspeção post- mortem efetuada na linha de abate. Esta situação pode estar relacionada a dois factores principais: a) a elevada velocidade de abate dos modernos matadouros-frigoríficos (WATKINS et al., 2000); b) a possibilidade Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 135 136 Resumos dos processos patológicos serem acompanhados de alterações da conformação corporal, nomeadamente de ascite e de caquexia, sendo estes motivos suficientes para rejeição imediata da ave, mesmo antes da sua evisceração, evitando a visualização das lesões dos órgãos internos. Para um melhor conhecimento das condições patológicas que podem acompanhar os animais abatidos, considerou-se necessário efetuar não só o registro das causas de rejeição post- mortem, mas também submeter à necropsia uma amostra dos animais rejeitados na linha de abate (VIEIRA-PINTO et al., 2003). OBJETIVO: Conhecer as alterações histopatológicas nas vísceras, pele e músculo das carcaças de frangos condenadas parcial e totalmente pelo Departamento Inspeção Federal nos matadouros-frigoríficos, correlacionando lesões avaliadas às causas de condenações. METODOLOGIA: Foram realizadas visitas técnicas a matadouros-frigoríficos, para acompanhamento da inspeção sanitária post-mortem realizada na linha de abate. As causas de rejeição das aves foram registradas, bem como os dados de inspeção visual da carcaça e vísceras à necropsia. Após a coleta de fígado, coração, intestino e pele e músculo, as amostras foram fixadas em formalina 4% (em pote coletor universal) para posterior análise histológica, com técnica standard de coloração Hematoxilina-Eosina (frações de 5μm serão utilizadas para a avaliação). Foi realizada a coleta de material de 80 peças de fígado condenados por alteração macrosocópica de aspecto, por avaliação visual na linha de inspeção. Uma amostra constituiuse de 200.000 aves inspecionadas, total. As causas de condenação foram registradas durante o período de observação da linha de abate. Os dados foram registrados em planilha específica, e as aves coletadas receberam numeração específica; conduzida análise estatística pertinente será realizada através do StatView SAS software (1992-98-SAS Institute Inc. USA). RESULTADOS ESPERADOS: A avaliação das condenações sanitárias durante o abate de aves no estado do Paraná durante o ano de 2008 demonstrou que contaminações são as principais causas de condenações parciais representando 3,14% das 1.217.892.098 aves abatidas no Paraná em 2008. Muitas patologias podem causar problemas para avicultores, pois na avaliação veterinária no momento do abate pode levar à total ou parcial condenação de carcaças ou vísceras (MAPA, 1998). A Portaria N° 210, de 10 de novembro de 1998, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), no anexo IX, definiu o destino e critérios de julgamento de aves, sendo passíveis de condenação as carcaças na inspeção post mortem com: abscessos, aerossaculite, processos inflamatórios, tumores, aspecto repugnante, caquexia, contaminação, contusão, fraturas, dermatoses, escaldagem excessiva, magreza, evisceração retardada, septicemia, síndrome ascítica e doenças especiais. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa Em estudo realizado por GITTO et al. (2008) em matadouros-frigoríficos no sul do Brasil, observaram que o grupo de condenações parciais por aerossacultite, ascite e contaminação foi responsável pelas maiores perdas econômicas no abate, onde obtiveram uma representatividade de 74,37% das perdas em relação ao total das condenações parciais do período. O custo de produção total dos frangos no período de estudo foi R$159.443.670,00, as perdas econômicas recorrentes por condenações totais e parciais foram de aproximadamente R$3.731.522,00, equivalente 2,34% dos custos. Dentre todas as condenações, os maiores problemas foram contaminação e contusão, responsáveis por maior parte das condenações e pelas maiores perdas econômicas, principalmente nas condenações parciais. Isto determinou que o estudo de diferenciação histológica utilizasse a avaliação de Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. fígado, em virtude da busca que associe alterações macroscópicas, alterações histológicas e lotes com alta incidência por contaminação, devido à colangiohepatite (alteração histológica do fígado) estar associada à perda de elasticidade e aumento da fragilidade dos intestinos à ruptura durante a evisceração (LOVLAND, 2001). Alguns processos patológicos e algumas lesões das aves se manifestam somente nas vísceras, não refletindo o estado geral das carcaças. Deste modo, a falta de procedimentos laboratoriais de análise histológica das alterações visuais em vísceras, faz com que seja perdido material de diagnóstico proveniente de aves de lotes abatidos. Nas granjas, com a entrada de novos lotes de aves para criação, estes estarão sujeitos a desafios que poderiam ser melhores conhecidos, desde o primeiro dia, com os exames das vísceras do lote anterior ao abate. 137 138 Resumos REFERÊNCIAS GIOTTO. GIOTTO, D.B.; ZIMERMANN, C. F.; CESCO, M.A.O ; BORGES FORTES, F.B.; PINHEIRO, D.; HILLER,C.C; HERPICH, J.; MEDINA, M. ; RODRIGUES, E.; SALLE, C.T.P. Impacto econômico de condenações post mortem de frangos de corte em um matadouro-frigorífico na região sul do Brasil. Disponível em < www.sovergs.com.br/ conbravet2008/anais/cd/resumos/R0701-2.pdf> Acesso em 25 de novembro de 2008. LOVLAND, A. Department of Pathology, National Veterinary Institute, P.O. Box 8156 DEP, N-0033, Oslo, Norway. Avian Pathology (2001) 30, 73-81. MAPA – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Portaria no 210, de 10 de novembro de 1998. Aprova o regulamento técnico da inspeção tecnológico e higiênico-sanitária de carne de aves. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 1998. MORÉS , N., SOBESTIANSKY, J.; LOPES, A. Avaliação Patológica de Suínos no Abate. Manual Embrapa. 2000. OLIVEIRA, M.C.; CARVALHO, I.D. Rendimento e lesões em carcaça de frangos de corte criados em diferentes camas e densidades populacionais. Ciência Agrotécnica, v.26, n.5,p.1076-1081, 2002. POINTON, A.M., MERCY, A.R., BACKSTROM, L. E DIAL, G.D. Disease Surveillance at Slaughter. In: Diseases of Swine, 7ª edição. Editores: A.D. Leman, B.E. Straw, W.L. Mengeling, S. D’Allaire e D.J. Taylor. Iowa State University Press. Cap. 79, 968-985.1992. SANTOS FILHO, J.I. et al. A avicultura brasileira na virada do milênio. Embrapa suínos e aves. Disponível em: <http:// www.cnpsa.embrapa.br/?/artigos/2000/ artigo-2000-n039.htm;ano=2000>. Acesso em: 20 abril 2007. UBA.Relatório Anual 2008/2009. Disponível em< http://www.uba.org.br> Acesso 15 de agosto de 2009. VIEIRA-PINTO, M., MATEUS, T.,SEIXAS,F., FONTES, M.C., MARTINS,C. O papel da inspeção post mortem em matadouros na detecção de lesões e processos patológicos em aves. Quatro casos de lesões compatíveis coma doença de Mark em carcaças de aves rejeitadas. Revista Portuguesa de Ciências Veterinárias, v.98,n.547,p.145-148. 2003. WATKINS, B., LU, Y.C. E CHEN, Y. R. Economic feasibility analysis for an automated on-line poultry inspection technology. Poultry Science, 79 (2): 265-74. 2000. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa BIOLOGIA E CONSERVAÇÃO DE ANUROS DO GÊNERO Brachycephalus DA SERRA DO MAR NO ESTADO DO PARANÁ Luiz Fernando Ribeiro - UTP A família Brachycephalidae está representada atualmente por 41 espécies, separadas em dois gêneros, Brachycephalus e Ischnocnema. Sua distribuição ocorre a partir do sudeste até o sul do Brasil e nordeste da Argentina. O gênero Brachycephalus é compreendido por 11 espécies sendo este o gênero que originou a família. Até recentemente, constituía-se no único gênero para a família, mas estudos de grande relevância taxonômica reorganizaram vários gêneros de várias famílias outrora separadas. O gênero Brachycephalus é restrito à Floresta Atlântica, distribuindo-se desde o Estado do Espírito Santo até o Estado do Paraná. As espécies deste gênero são notáveis por possuírem algumas características incomuns para anfíbios. Possuem atividade diurna e ocupam regiões da Serra do Mar sobre a porção densa da Floresta Atlântica. Seus habitats são de regiões caracterizadas como floresta alto montana, com elevações que podem variar de 1000 m a 1200 m de altitude. Durante o dia algumas espécies podem ser encontradas deslocando-se sobre a serrapilheira no chão da floresta. Possuem um tamanho diminuto, em média 12,5 mm de comprimento rostro-cloacal. Esse fato se deve ao fenômeno de miniaturização que estas espécies sofreram durante sua evolução. Tendo também relação com a miniaturização do corpo, as espécies de Brachycephalus sofreram redução do número de artelhos e falanges, tanto dos membros anteriores com posteriores. As espécies de Brachycephalus apresentam corpo bufoniforme. O desenvolvimento embrionário é de forma direta, sem necessitarem de corpos d’água para a sobrevivência dos animais durante a fase larval, dependendo exclusivamente da umidade do solo da floresta. Acredita-se que para todas as espécies a desova seja terrestre e com desenvolvimento direto pelo fato de apresentarem ovos grandes e um pequeno número de óvulos nos ovários, como já constatado para B. ephippium. A coloração para a maioria das espécies de Brachycephalus é em geral de um colorido exuberante, exibindo cores como amarelo, laranja e vermelho. Estes anuros possuem coloração aposemática, sugerindo uma associação com um mecanismo de defesa para evitar predadores. Glândulas de veneno na epiderme já foram estudadas e evidenciadas para B. pernix, B. brunneus, B. ferruginus. Através de estudos de caracterização bioquímica foi comprovada a presença de tetrodotoxina e seus derivados para B. ephippium, B. notoderga e B. pernix. Logo, deve existir uma relação entre a coloração aposemática e a presença de glândulas na epiderme, que seriam Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 139 140 Resumos responsáveis por armazenar uma toxina utilizada como mecanismo anti-predação. Entretanto, esta estratégia anti-predação não deve ser a única para as espécies de Brachycephalus, pois B. brunneus não apresenta evidências da presença de toxinas e possui coloração críptica. Além disso, B. izecksohni não possui glândulas epidérmicas granulares armazenadoras de veneno, apesar da coloração aposemática. A comunicação visual é evidente para estes organismos, como descrita em detalhes por José Pombal Júnior do Museu Nacional para B. ephippium e por Eloísa Wistuba da Secretaria Municipal do Meio Ambiente de Curitiba para B. pernix. Animais quando se defrontam uns com os outros, exibem sinais de levantar e abaixar os membros anteriores e de deslocamento. Já foi observado encontros agonísticos no qual um animal empurra o outro para expulsá-lo de seu território. Acredita-se que as demais espécies também apresentem esse tipo de comportamento. Esta é uma adaptação adquirida por apresentarem hábitos diurnos. O reconhecimento acústico é um fator primordial para reprodução dos anfíbios de um modo geral. Além disso, estes anfíbios podem prevenir sonoricamente avanços e disputas de outros indivíduos, como apresentado por B. pernix, função também demonstrada por outros anuros. As vocalizações podem apresentar funções como reconhecimento específico, e defesa de território. Machos de B. ephippium em épocas de chuvas fazem exibições com notificações visuais e por meio de vocalizações para determinarem seus territórios. O anúncio vocal é um som que dura de 2 a 6 minutos, a frequência oscila de 3,4 a 5,3 KHz e cada nota é composta por 5 a 15 pulsos. A vocalização desses machos assume uma postura forte, possivelmente devido ao aumento de seu saco vocal estendido em seu peito. Quando um macho residente desta espécie se defronta com um intruso, este inicia vocalizações de advertência e movimentações de subida e descida com os braços em frente aos olhos. Para B. pernix, o anúncio vocal tem duração curta, constituído por dois a três pulsos com frequência na faixa de 4,4 e 6,7 KHz. Entre estas duas espécies também há diferenças entre a duração dos pulsos de vocalização e a duração dos intervalos entre um pulso e outro. A alimentação em geral destes diminutos anuros, constitui-se de pequenos artrópodes disponíveis no seu habitat. Para B. ephippium foi identificado que sua dieta é constituída na sua maior parte de colembolas, ortópteros e larvas holometábolas, sendo estes grupos encontrados com maior frequências à daquela encontrada no ambiente, indicando seletividade de presas por parte dessa espécie. Brachycephalus pernix possui uma preferência alimentar por ácaros e himenópteros da série parasítica (Chalcidoidea). Entretanto, conforme a época do ano, sua dieta pode variar: no inverno aranhas também são selecionadas com maior frequência do que a encontrada no ambiente. Embora poucos estudos tenham sido realizados para as demais espécies de Brachycephalus, Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa seus hábitos e métodos de caça podem ser bastante variáveis, apontam que B. nodoterga é um predador de espera, permanecendo parado no chão da mata a espera de presas. Por outro lado, B. pernix foi considerado por como um predador ativo, que se desloca na mata enquanto busca suas presas. Esse comportamento é corroborado pela presença de ácaros e de larvas na sua dieta alimentar com uma frequência maior do que encontrado no ambiente. O presente estudo tem como objetivo aprofundar o conhecimento da biologia das espécies de Brachycephalus do Estado do Paraná atualmente descritas, investigando dois aspectos: (1) caracterizar a vocalização de cinco espécies de Brachycephalus apontando suas variações e (2) analisar a dieta alimentar de B. brunneus comparando com a de outras espécies já conhecidas. Entre as várias atividades desenvolvidas no projeto de biologia e conservação de espécies de Brachycephalus, foram realizadas incursões ao campo para gravação da vocalização de cinco espécies. As espécies são desgnadas como: B. pernix, B. brunneus, B. pombali, B. izechsohni e B. ferruginus. As localidades onde são encontrados os animais, nos quais foram realizadas as gravações, são todas da Serra do Mar no Estado do Paraná e são assim chamadas: Pico Paraná e Pico Camapuã em Campina Grande do Sul, Pico Anhangava em Quatro Barras, Morro Sete e Pico Marumbi em Morrtes, Morro do Canal e Pico da Igreja em Piraquara e Torre da Prata em Guaratuba. Os arquivos de som Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. foram gravados com gravador analógico e utilizando microfone semi-direcional. Posteriormente os arquivos são digitalizados e armazenados em computador. Uma análise parcial da vocalização foi realizada com o som gravado de B. brunneus comparando com a vocalização de B. pernix que já foi descrita anteriormente. Esta análise é baseada na comparação e sonogramas, que podem indicar a amplitude, frequência e número de pulsos que o animal emite quando produz uma sonorização. Adicionalmente, foram realizadas coletas de espécimes de B. brunneus no Pico Camapuã com a finalidade de realizar uma análise do conteúdo estomacal de cada animal. Foram coletadas também amostras da serrapilheira do local onde vivem os mesmo anuros. Essas amostras foram triadas a fim de localizar a fauna de animais invertebrados para posteriormente comparar a disponibilidade de possíveis presas no ambeinte com aquelas ingeridas pelos espéciemes de B. brunneus. A análise preliminar do som vocal de B. brunneus revelou que esta espécie possui um padrão vocal diferente quando comparado com B. pernix. O sonograma revela que a frequência da vocalização é mais ampla, pois a frequência mínima observada é abaixo de 4,0 KHz e a frequência máxima é acima de 7,0 KHz. O número de pulsos também é diferente, pois B. brunneus emite vocalizações de um, dois e três pulsos. Em campo, pôde ser percebido que quando os espécimes iniciam uma série vocal, sempre emitem um pulso várias vezes, passam a emitir dois 141 142 Resumos pulsos e posteriormente três pulsos. Uma vez encerrada a série, retornam para o início emitindo um pulso apenas e assim sucessivamente. Entretanto, o repertório vocal de B. brunneus parece ser bastante complexo, pois alguns sonogramas mostraram variações na quantidade de pulsos emitidos pela espécie. Alguns desses pulsos constituiem-se de várias repetições de baixa frequência. Este fato constitui-se em uma ampliude de diferentes sons para diferentes comportamentos. Para citar, uma série vocal com a finalidade de atrair uma fêmea deve ser diferente de uma série para expulsar um concorrente territorial. Apsesar de que as análises estatística não foram realizadas para comparar o conteúdo estomacal dos 16 animais coletados de B. brunneus com a disponibilidade de invertebrados presentes na serrapilheira da mata, é possível observar que esta espécie possui uma preferência alimentar por aracnídeos. Foi encontrado grande quantidade desses invertebrados tanto no estomago de alguns animais quanto na serrapilheira. Isso revela que os espécimes de B. brunneus não buscam ativamente suas presas. Esse comportamento pode estar associado com a coloração aposemática desta espécie. A tendência desses animais é permanecer sob o folhiço da mata, podendo até ser considerados semi-fossoriais. Por se tratar de um grupo de anfíbios bastante peculiar, ainda é necessário investigar as espécies de Brachycephalus de diversas maneiras até que se tenha uma idéia mais completa da sua biologia e evolução. Considerando que são espécies endêmicas do bioma Floresta Atlântica, cuidados extremos de conser vação do ambiente como um todo são imprescindíveis. Palavras-chave: Anura; Brachycephalus; conservação; biologia; Floresta Atlântica. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa CARACTERIZAÇÃO DA DEGLUTIÇÃO COM GELATINA EM INDIVIDUOS COM DISFAGIA NEUROGÊNICA Silvana T. Duarte Solange Coletti Maria Ludia Correia Jociane Camargo Rosane Sampaio Ana Maria Furkim INTRODUÇÃO: A deglutição é um processo fisiológico continuo, o qual transporta o material deglutido da boca até o estômago, efetuado por meio de um mecanismo neuromotor complexo do qual fazem parte estruturas ósseas, cartilaginosas, musculares e neurais. Fisiologicamente, a deglutição pode ser dividida em fase pre-oral e oral, que são consideradas voluntárias, e as fases faríngea e esofágica que são involuntárias. A fase pré-oral inicia desde o momento da preensão do alimento, a mastigação e a manipulação do bolo alimentar e a sua centralização no dorso da língua; na fase oral ocorre a movimentação antero-posterior da língua a qual leva o bolo alimentar e direção à faringe. Esse movimento envolve a base de língua como ejetor do bolo, a partir do contato com a parede posterior da faringe; a fase faríngea inicia-se a partir do reflexo de deglutição. Na fase esofágica ocorre o relaxamento da transição faringo-esofágica que abre a luz do esôfago, permitindo a passagem do alimento até o estômago. Quando ocorre alteração em qualquer fase da dinâmica da deglutição denominase Disfagia, a qual pode ser classificada em mecânicas ou neurogênicas. A disfagia neurogênica compreende as alterações da deglutição, em virtude de uma doença neurológica, com os sintomas e complicações decorrentes do comprometimento sensório-motor dos músculos envolvidos no processo da deglutição. Podendo manifestar-se por meio de diversos sintomas, como alteração da mastigação, dificuldade em iniciar a deglutição, regurgitação nasal, controle da saliva diminuído, tosse e/ou engasgos durante a alimentação A disfagia neurogênica é considerada particularmente debilitante, pois tem como conseqüência a desnutrição, dificuldade na hidratação e infecções pulmonares crônicos, decorrentes da aspiração traqueal de repetição, esta associada com o aumento da mortalidade. Há controvérsia em relação a melhor consistência a ser ofertada ao paciente disfágico. A textura adequada às condições clínicas do paciente é uma forte aliada ao cuidado na disfagia, permitindo conjugar Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 143 144 Resumos necessidades nutricionais com manobras adequadas para uma ingestão alimentar satisfatória, promovendo adequação às recomendações do indivíduo. De acordo com o grau de disfagia, a dieta deverá ser modificada para diminuição dos riscos de complicações pulmonares. Na literatura a oferta de gelatina para pacientes com disfagia neurogênica não é unânime, uma vez que para alguns autores é uma consistência considerada líquida, pois tende a se transformar em líquida dentro da cavidade oral antes de iniciar o disparo do reflexo da deglutição; e para outros autores é considerada como sólida devido a sua aparência firme. A National Dysphagia Diet instituiu as propriedades reológicas dos alimentos, reconhecendo e identificando a viscosidade e consistência dos alimentos de maior significância terapêutica para pacientes com disfagia. Os alimentos típicos foram testados, categorizados e definidos em níveis de alimentos de textura líquida. A viscosidade, definida como a resistência do líquido ao fluxo, grosseiramente falando, equivale à densidade do líquido. É medida em centpoiese (ctps ou cP). Os parâmetros estabelecidos pelo National Dysphagia Diet servem como base para discussões e análises da prescrição dietética. Quando se determina a viscosidade e o volume do alimento para cada paciente disfágico permite-se determinar a quantidade de alimento a ser deglutido de forma segura. Além da avaliação clínica uma avaliação objetiva faz-se necessária para identificar a disfagia e desenvolver estratégias de posicionamento, reabilitação, sensibilização e escolha de consistências de certos alimentos que podem promover a recuperação funcional do paciente. Um método eficaz para avaliar a deglutição o qual visa à complementação da avaliação clínica é a videofluorosocpia a qual destaca-se dentre os métodos complementares, considerado padrão-ouro no diagnóstico da disfagia orofaríngeas, pois possibilita avaliar a dinâmica da deglutição em tempo real e verificar eficácia do uso de manobras terapêuticas. OBJETIVO: Caracterizar a dinâmica da deglutição utilizando gelatina envolvida no bário líquido em indivíduos com queixa de disfagia neurogênica através do exame de videofluoroscopia de deglutição. METODOLOGIA: Participaram desse estudo 12 indivíduos com quadro clínico de disfagia neurogência, no período de Fevereiro a Maio de 2009 e que foram encaminhadas para a avaliação videofluoroscópica da deglutição (VDF) no serviço de radiologia do departamento Per Oral do hospital de Clinicas na cidade de Curitiba. Para realização do exame e gravação das imagens do exame foi utilizado o aparelho de raio X da marca Siemens e modelo Axiom-R 100, monitor Siemens e modelo M44-2, HP Pavilion Tx 2075 – BR notebook, PC cabo sapphire Wonder TV USB. Todos os pacientes foram previamente orientados quanto à natureza e finalidade diagnóstica do exame a ser realizado, bem como sobre a participação neste trabalho científico. Durante o exame, todos os pacientes foram posicionados sentados em um ângulo de 90º, foi Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa realizado o exame na visão lateral considerando os limites de imagem: os lábios anteriormente, o palato duro superiormente, a parede da faringe posteriormente e a bifurcação da via aérea e via digestiva inferiormente (transição entre a região posterior das aritenóides e a entrada do esôfago). Para a realização do exame foi ofertado ao paciente gelatina sabor morango, da marca Royal® preparada previamente a qual foi envolvida em 1 ml bário líquido da marca Guedert®. O alimento foi administrado por uma fonoaudióloga, utilizando uma colher para ofertar o alimento. Foi administrado os volumes crescentes de 5 ml e 10 ml. Os exames foram gravados e posteriormente analisados os achados. Foi utilizado o protocolo padrão de videofluoroscopia da deglutição do serviço da Universidade Tuiuti do Paraná. Durante a avaliação videofluoroscópica foram verificados os aspectos da dinâmica das fases oral e faríngea. Foi considerado permeação das vias aéreas positiva quando se visibilizava a entrada de alimento no vestíbulo laríngeo ou abaixo das pregas vocais, na traquéia, em qualquer momento da deglutição. O exame foi encerrado caso o paciente apresentasse episódio de permeação das vias aéreas (aspiração laríngea). Foram excluídos desta amostra os pacientes que apresentaram instabilidade clinica, como por exemplo, rebaixamento do nível de consciência e com proibição de via oral no momento do exame. Os critérios de inclusão foram a indicação médica para a realização do exame e nível de alerta por mais de 15 minutos.. Este trabalho Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. foi aprovado pelo Comitê de Ética sob o nº CAA00115.0.080.000-09 A análise estatística do presente estudo foi realizada através da descrição parcial dos achados durante o exame de videofluoroscopia da deglutição. Resultados: Como o estudo ainda não foi finalizado, os dados aqui apresentados são parciais. Participaram deste estudo 12 pacientes, sendo 8 (66%) do sexo masculino e 4 (36%) do sexo feminino, a idade dos pacientes variou entre 18 e 60 anos, com uma idade média de 45,75. O diagnóstico dos pacientes foi 4 (32 %) com paralisia cerebral, 3 (25%) com ataxia cerebral, 1 (8,3%) com alzheimer,1 (8,3%) com acidente vascular encefálico, 1(8,3%) com Doença de Parkinson e 2 (16,¨%) em processo de investigação para determinar o diagnóstico. Os principais achados na fase oral durante o exame objetivo da deglutição foram: 5(36%) pacientes apresentaram ejeção oral tardia com os dois (de 5ml e 10 ml) volumes ofertados, 3 (27%) apresentaram resíduo na cavidade oral com os três volumes ofertados após a deglutição. Na fase faríngea da deglutição foi observado que em 7 (64%) pacientes ocorreu resíduo (estase|) em valécula somente com o volume de 10 ml; 2 (18%) apresentaram permeação (penetração laríngea) de vias aéreas com o volume de 10 ml, fazendo o clareamento espontâneo através do reflexo de tosse. Não foi observada a presença de aspiração laríngea durante a realização do exame em todos os pacientes com os volumes oferecidos. Conclusão: Como se trata de um estudo ainda em fase de conclusão, o pequeno 145 146 Resumos número de pacientes que foram avaliados permite-nos concluir que a consistência gelatina não demonstrou ser um alimento que propicie um risco maior para a ocorrência de permeação das vias aéreas (aspiração laríngea), o que vai contra a pouca literatura existente que considera a gelatina como um facilitador para a ocorrência de permeação das vias aéreas em pacientes com disfagia neurogênica, devendo ser evitado na oferta desse alimento na fase de reintrodução da via oral. Palavras-chave: disfagia; deglutição; viscosidade. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa CARACTERIZAÇÃO, ISOLAMENTO E IDENTIFICAÇÃO DE FUNGOS ENDOFÍTICOS DA Ricinus communis L. (MAMONA) COM APLICAÇÃO BIOTECNOLÓGICA Evandra Mello Pereira - UTP Roseli Aparecida de Mello – UTP [email protected] Maria Luiza Fernandes Rodriguez - UTP O gênero Ricinus é pertencente a família Euphorbiaceae, que compreende cerca de 290 gêneros e aproximadamente 7.500 espécies, distribuídas em todo o mundo, mas principalmente nas regiões tropicais (LIMA, 2006). Popularmente chamada de mamona, carrapateira, rícino e palma-de-cristo . A mamona pode apresentar plantas de porte alto, médio ou baixo, com caule ramificado com coloração verde, avermelhada ou verde amarelada. As folhas são simples, alterno-espiraladas, longo-pecioladas, plenas ou sulcadas, com lobos dentados. A cultura da mamona é explorada industrialmente em função do óleo contido em suas sementes, a China, a Índia e o Brasil são os principais produtores mundiais de mamona , (VARGAS, 2006; AZEVEDO, 2001). O Brasil é o terceiro maior produtor mundial de mamona. Atualmente ela vem sendo pesquisada e utilizada como uma fonte alternativa para a substituição dos produtos originários de petróleo, principalmente o Biodiesel (MOREIRA, 2009). O biodiesel consiste num substituto natural do óleo diesel e que pode ser produzido a partir de fontes renováveis, a sua utilização está associada à substituição parcial de combustíveis fósseis (CARNEIRO, 2003). Segundo Vargas (2006), o Programa Nacional de Biodiesel regulamenta e autoriza o uso comercial deste produto em todo o território nacional e estabelece os percentuais de mistura do biodiesel ao diesel de petróleo, a forma de utilização e o regime tributário é regulamentado com diferenças por região de plantio, por oleaginosa e por categoria de produção. Esses instrumentos autorizaram, a partir de 2005, a adição de 2% de biodiesel ao diesel de petróleo, (SAVY FILHO,2005). As interações entre as plantas e microrganismos já são conhecidas há muito tempo. Entretanto, com exceção da associação de plantas com fungos micorrízicos, acreditava-se que estas interações levavam à formação de lesões nos tecidos vegetais. Mais recentemente, vem sendo registrada a presença de microrganismos no interior de tecidos vegetais sadios, abrindo novas perspectivas para o estudo da interação planta/microrganismo estes, São considerados microrganismos endofiticos ou seja, aqueles que habitam o interior das plantas pelo menos durante um período do ciclo de vida da mesma sem lhes causar danos ou Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 147 148 Resumos doença. Apesar de devidamente comprovada a existência da microbiota endofítica, muitas pesquisas ainda deverão ser feitas a respeito de aspectos ecológicos, genéticos e fisiológicos dessa interação. Antes disso, é interessante se conhecer a diversidade desses organismos, sua presença, freqüência e funções. Essa relação endofítica pode ter surgido quando do aparecimento dos vegetais superiores no planeta, ou seja, há centenas de milhões de anos (STROBEL, 2002). Existe uma série de razões para que se aprofundem os estudos com endofíticos. Primeiro, a falta de informações para elucidar a base biológica dessas interações. Segundo, porque os endofíticos são vantajosos, pois muitos benefìcios para a planta têm sido atribuído à presença deles tais como a capacidade de produzir antibióticos e outros metabólicos secundários de interesse farmacológico; podem servir como bioindicadores de vitalidade (Helander & RantioLehtimaki, 1990); têm sido usados como agentes de controle biológico de pragas e doenças; têm sido usados como bioherbicidas; podem ser usados na biorremediação de solos contaminados com poluentes entre outros. A produção de metabolitos primários e secundários pelos microrganismos é conhecida há muito tempo e explorado do ponto de vista biotecnológico. Os exemplos mais conhecidos são os antibióticos. Mas outros metabolitos com as enzimas também são produzidas pelos fungos, Muitos estudos tem demonstrado que as plantas em algum período da vida apresentam estes fungos, entretanto a relação entre os endofíticos e seus hospedeiros ainda não foi bem definida. Desta forma, justifica-se o interesse em elucidar aspectos da biologia destes microrganismos, para compreender melhor a sua relação com a planta hospedeira e seu papel na produção de novos princípios bioativos. MATERIAIS E MÉTODOS: As folhas da mamona foram coletadas no campus Schaffer da Universidade Tuiuti do Paraná. As folhas coletadas aparentavam aspecto sadio e pertenciam a plantas já adultas. O reconhecimento da planta deu-se segundo Joly et. al.(2002). O material botânico coletado foi processado no prazo de 24 horas. Após a coleta as plantas foram lavados abundantemente com água corrente e detergente neutro para retirar o excesso de epifíticos, matéria orgânica e resíduos sólidos. Antes do processo de desinfecção externa os pecíolos foram vedados com parafina, a fim de evitar que os agentes de desinfecção penetrem por essa abertura, alterando o resultado real do isolamento. Em seguida, em câmara asséptica, as folhas lavadas em água destilada esterilizada por duas vezes e posteriormente o material foi imerso em álcool 70% por 1 minuto,em seguida em hipoclorito 3% por 4 minutos e novamente em álcool 70% por 30 segundos, para retirar o excesso de hipoclorito. Então o material foi lavado três vezes em água destilada estéril da qual foi retirado 50 μL para fazer o controle da assepsia (SOUZA et. al., 2004). As folhas cortadas em fragmentos circulares de aproximadamente 6 mm foram transferidos para placas de Petri contendo meio Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa de cultivo batata, dextrose e ágar (BDA), acrescido de tetraciclina (100mg/L) para isolamento de fungos. As placas com os fragmentos foram incubadas a 28ºC e 37 ºC. O crescimento das colônias fúngicas foi acompanhado diariamente. À medida que surgiram, foram transferidas para tubos de ensaio contendo BDA e cultivados a temperatura ambiente (28 ± 2 ºC), e depois armazenadas a 4ºC. As colônias de morfologia similar foram agrupadas, com a finalidade de facilitar o estudo. Em seguida, os grupos foram repicados para tubos de ensaio contendo meio BDA ou TSA , para garantir a presença de apenas um exemplar na amostra a ser posteriormente identificada. Para purificação dos isolados fúngicos, esporos de cada um dos isolados foram homegeneizados em solução de Tween 80 a 0,1 %, e alíquotas de 0,1 mL semeadas em placas de Petri contendo meio BDA com auxílio da alça de Drigalski. As placas incubadas à temperatura ambiente (28 ± 2 ºC), conforme descrito por Pimentel et al. (2006). Após 7 dias obtiveram-se os primeiros crescimentos, foram os grupos A, B, C, D e E. Com 16 dias na estufa surgiu um segundo grupo que foram definidos como F, G, H, I, J, K, L, M e, com 20 dias cresceram o terceiro e último grupo que foram designados em N, O, P, Q, R. As placas que restaram foram observadas até 30 dias, porém não apresentaram crescimento algum. Os grupos obtidos, de A até R, foram subdivididos numericamente conforme a quantidade e diversidade de fungos que cada placa continha, obtendo-se a placa Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. A-1, A2, A3 e assim sucessivamente. RESULTADOS E DISCUSSÃO: Os fungos endolíticos obtidos foram facilmente isolados das folhas dentre os cultivares de mamona analisados, sendo obtidos 53 isolados de colônias fúngicas agrupas conforme similaridade morfológica. Entre os fungos isolados foram identificados os gêneros: Colletotrichum sp, Curvularia sp , Aspergillus sp, Penicillium sp, Scidosporium sp, 2 Clodosporium sp. Alguns fungos endofiticos não apresentaram estruturas reprodutivas, não sendo possível realizar sua identificação até o presente momento. O fungo com maior incidência foi o Aspergillus sp. Segundo Pimentel (2006), Os fungos endofíticos podem agir de maneira antagônica, neutra ou até benéfica para o vegetal hospedeiro, exibindo vários graus de interdependência fisiológica e ecológica. Muitas vezes, os metabólitos produzidos por fungos endofíticos podem ser neutros ou terem ação antagônica para o hospedeiro. Em outros casos, são de grande importância para a farmacologia. Já Silva et al (2006), afirma que Microrganismos endofíticos têm sido associados com a promoção do crescimento de várias culturas de hortaliças, ainda Silva et al (2006) demonstra que há vários mecanismos descritos sobre como endofíticos promovem o crescimento dos vegetais que os abrigam. A fixação do N2 atmosférico é um mecanismo bem estudado e há vários exemplos descritos na literatura de isolamento de endofíticos com capacidade de fixar 149 150 Resumos nitrogênio e disponibilizá-lo às plantas. Existem pesquisas que comprovam a ação antioxidante, de grande importância para a indústria de cosméticos, e antitumorais, que podem parar o desenvolvimento ou até impedir a formação de tumores de alguns fungos somente quando endofíticos. (STROBEL et al., 1997; PIMENTEL, 2006). Vários estudos vêm demonstrando a importância biotecnológica de fungos endofíticos. Lu et al. (2000) constataram atividade de três novos metabólitos produzidos pelo fungo Colletotrichum sp., isolado da planta medicinal. Endofíticos exercendo atividade inibitória in vitro contra fitopatógenos têm sido estudados e relatados. ( silva, 2006). Shimizu et al. (2002) estudaram a produção de substâncias antimicrobianas por um actinomiceto endofítico e sua atividade antifúngica. Os Microrganismos endofíticos constituem uma fonte potencial de produtos naturais poucos explorados, comparados a vegetais. A maioria das pesquisas com endofiticos ocorrem em outros países. Poucos são as pesquisas nas regiões tropicais. As pesquisas com plantas de regiões tropicais tem demonstrado que estas tem um diversidade enorme de microrganismos endofíticos, muitos ainda desconhecidos, calcula-se que muitos destes fungos possam produzir metabolitos de interesse biotecnológico. Strobel e Daisy (2003) afirmam que a seleção de plantas hospedeiras sejam de interesse, biológico, químico; e biotecnológico. A mamona possui estas características, portanto torna-se uma candidata para estudos e isolamentos. Concluindo a mamona apresenta fungos endofíticos. Estudos e novos isolamentos deverão ser realizados para verificar a predominância dos gêneros isolados neste experimento e comparar com os presentes na literatura. Também sugere-se que novos ensaios biológicos sejam realizados para verificar o potencial de propriedades biologicamente ativas produzidas por estes e outros microrganismos isolados. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa COMUNICAÇÃO SUPLEMENTAR E/OU ALTERNATIVA (CSA): FATORES FAVORÁVEIS E DESFAVORÁVEIS AO USO NO CONTEXTO FAMILIAR Simone I. Krüger - UTP Ana Paula Berberian - UTP INTRODUÇÃO: Se considerarmos que é através da linguagem que somos capazes de interagir socialmente, com o outro e com o mundo que nos rodeia, diferentes possibilidades de comunicação emergem. Valiosas formas de linguagem como a linguagem corporal, a linguagem gestual, símbolos ou imagens como os utilizados na Comunicação Suplementar e/ou Alternativa (CSA), que não dependem de língua oral, surgem como recursos lingüísticos facilitadores da comunicação. Justifica-se a escolha da temática da CSA devido a resistências dos pais ao uso da prancha de CSA na interação com seus filhos, seja por falta de conhecimento do recurso ou por relatarem “saber” o que seus filhos desejam apenas pelo olhar e que estabelecem um “jeito” particular de se comunicar. A pesquisa tem por objetivo analisar fatores favoráveis e desfavoráveis ao uso da comunicação Suplementar e/ou Alternativa (CSA) no contexto familiar, enfocando a prancha de CSA, por ser o único recurso utilizado pelos alunos da escola especial, onde foi realizada a coleta de dados. Esse estudo, baseou-se no pressuposto de que o sujeito é sócio-historicamente constituído e a linguagem é responsável por tal constituição e que a participação da família é fundamental no acesso e no uso dos recursos da CSA, pela criança. COMUNICAÇÃO SUPLEMENTAR E OU ALTERNATIVA: A Fonoaudiologia vem utilizando os recursos da CSA para proporcionar maior autonomia a pessoas com limitações significativas da linguagem oral. Segundo Chun (2002), o uso dos recursos da CSA vem lentamente se expandindo no Brasil, mas ainda não constitui prática de amplo conhecimento na área da Fonoaudiologia, sendo ainda pouco explorado e difundido em nosso país. Recorrendo à definição de Panhan (2001): A Comunicação suplementar e alternativa pode ser definida como um conjunto de instrumentos que permitam a “fala” nãooralizada, fala dita no “apontar” dos sinais gráficos. A CSA reúne material gráfico, entre eles conjuntos de sinais gráficos (PCS, BLISS, PIC etc.), desenhos, fotos, palavra escrita, alfabeto e ainda compreende uma série de estratégias na elaboração e acesso aos sinais gráficos dispostos em pranchas de comunicação. O uso da CSA como recurso expressivo na escola facilita o processo de aprendizagem do aluno sem fala articulada. Permite que esse aluno se torne locutor, participador ativo do processo de aprendizagem. Nesse quadro, a Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 151 152 Resumos CSA se coloca como um instrumento significativo para a inclusão escolar e social, pois propicia a sujeitos com graves comprometimentos de fala a tão almejada inclusão escolar. Usando os recursos da CSA na sala de aula, essas pessoas passam de espectadores a “falantes do apontar” no caso de usuários de pranchas de comunicação não computadorizadas e “falantes do mostrar”, no caso de usuários que utilizam displays de diferentes tipos de computadores e/ou vocalizadores. Além de torná-los participantes, os recursos da CSA proporcionam melhoras na interação do aluno não falante com o professor e demais alunos, pois esses passam a expressar suas opiniões e a realizar escolhas em sala de aula. Através do uso dos recursos da CSA, o professor é capaz de elaborar estratégias educativas, pois passa a confeccionar materiais que favorecem o ensino do aluno que não fala. FUNDAMENTOS ACERCA DA LINGUAGEM E A IMPORTÂNCIA DA PARTICIPAÇÃO DA FAMÍLIA NO PROCESSO DE APROPRIAÇÃO DA LINGUAGEM: Adotou-se para este estudo a perspectiva sócio-histórica, partindo-se do pressuposto de que a linguagem é dialógica por natureza e constitutiva das relações sociais, do mundo e dos sujeitos em suas diferentes dimensões, quanto da ênfase atribuída ao outro, nos processos de apropriação da linguagem. “Eu não posso me arranjar sem o outro, eu não posso me tornar eu mesmo sem um outro: eu tenho de me encontrar num outro por encontrar um outro em mim” (BAKHTIN,1961, p.287). A fim de compreender as práticas dialógicas entre os familiares e usuários de CSA, o quadro teórico de Bakhtin (1997) é considerado no presente estudo. Mikhail Bahktin define uma pessoa como resultado de relações sócio-históricas, sendo estas responsáveis pela formação da linguagem, e essas relações dialógicas responsáveis pela constituição da linguagem. Como o desenvolvimento social e cognitivo depende da comunicação e da linguagem e essas são moldadas por episódios sócio-históricos, a família é um dos primeiros grupos sociais responsáveis pela apropriação da linguagem. Os familiares têm uma missão importante na seleção de sistemas de CSA e também na escolha dos símbolos pictóricos mais necessários (Figura 1) para a comunicação, porque na Figura 1: Pranchas de comunicação adotadas na Escola Especial Vivian Marçal em Curitiba Foto: Simone Krüger Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa maioria das vezes é nas interações verbais que ocorrem na família que a língua é apropriada (PERRONI, 1992). Os pais devem ser considerados como as pessoaschave, com quem a criança irá estabelecer os seus primeiros contatos. MATERIAL E MÉTODO: Foi realizada uma pesquisa de campo, cuja amostra intencional se constitui de 20 pais de crianças inseridas em uma escola especial de Curitiba, destinada a indivíduos com deficiências motoras e múltiplas e é a principal instituição educativa em Curitiba e sua Região Metropolitana que aplica a CSA. As famílias escolhidas para o estudo de campo têm seus filhos utilizando CSA na escola. Dois grupos de pais foram definidos: o Grupo G1, composto por 9 sujeitos que utilizam CSA no contexto familiar e o Grupo G2, com 11 sujeitos que não a utilizam. O instrumento de coleta de dados baseou-se no uso de questionários semi-estruturados em torno de questões identificando fatores que interferem no uso e no nãouso da prancha de CSA pelos entrevistados. Quanto à caracterização dos sujeitos, 50% dos pais se encontram na faixa de renda familiar de 1 a 3 salários mínimos, 45% de 3 a 5 salários mínimos e 5% acima de 5 salários mínimos. Quanto ao grau de escolaridade, 5/9 mães do G1 apresentaram o segundo grau completo, enquanto 7/11 mães do G2 apresentaram o primeiro grau incompleto. A situação escolar dos pais apresentou-se mais heterogênea. Para análise dos dados, adotou-se para a análise qualitativa a metodologia denominada Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Discurso do Sujeito Coletivo (LEFEVRE e LEFEVRE, 2005), que consiste em analisar o discurso a partir da seleção das figuras metodológicas que são as expressõeschave e idéias-centrais extraídas de cada discurso. Para análise quantitativa, utilizou-se o programa estatístico Sphinx, que facilitou a organização dos dados coletados em tabelas e gráficos. RESULTADOS E ANÁLISE: Os resultados apontaram para o seguinte: - Quanto à finalidade do uso da prancha de CSA na escola: 5/9 pais do G1 afirmaram que a prancha serve para que seus filhos possam se expressar melhor, facilitando sua compreensão. 3/11 pais do G2 afirmaram que serve para que seus filhos possam se comunicar com pessoas fora do núcleo familiar, bem como 3/11 pais afirmaram que serve para que seus filhos possam conversar na escola. - Quanto às razões da contribuição do uso da prancha: 5/11 pais do G1 afirmaram que a prancha permite que seus filhos se coloquem; 4/8 pais do G2 afirmaram que a prancha permite maior compreensão de seus filhos, sendo que 4/11 pais do G2 não referiram qualquer contribuição. - Ambos os pais dos dois grupos tiveram preparo acerca da CSA, sendo que 8/9 pais do G1 tiveram mais de uma vez e 9/11 pais do G2 apenas uma vez. - Leituras acerca da CSA: de todos, apenas um pai do G2 as realizou. - Motivos do uso da prancha de CSA no contexto 153 154 Resumos familiar: 4/9 pais do G1 relataram que usam para que seus filhos se coloquem melhor e 4/9 relataram que usam para compreender melhor seus filhos. - Situações de uso no contexto familiar: 7/9 pais do G1 relataram que usam para conversar, dialogar com seus filhos. - Motivos do não-uso da prancha de CSA: 5/11 pais do G2 relataram primeiramente que não usam por entenderem bem seus filhos. Em segundo lugar, 4/11 não usam devido à falta de tempo. - Tentativa de uso: 10/11 dos pais do G2 tentaram usar em casa, mas 2/11 desistiram, afirmando que entendem melhor seus filhos sem a prancha. 1/11 desistiram, devido à falta de tempo em usar a prancha; 1/11 devido à falta de funcionalidade da prancha; 1/11 devido à resistência do uso por parte do filho; 1/11 devido à dificuldade motora do filho. 2/11 continuam tentando sem resultados e 2/11 tentam sempre nas férias. - Interesse dos pais do grupo G2 no uso futuro: 5/11 pais do G2 afirmaram ter interesse em usar para que possam compreender melhor seus filhos; 2/11 pais para que os outros possam compreender seus filhos e também 2/11 para melhorar o aprendizado escolar. - Impacto da situação econômica e da escolaridade dos pais no uso da CSA: no cruzamento entre renda versus uso/não-uso da CSA há uma tendência de uso da CSA conforme o aumento da renda familiar. Igualmente, no cruzamento entre escolaridade dos pais versus uso/ não-uso da CSA, há uma tendência de uso da CSA entre os pais com maior grau de escolaridade. Análise qualitativa: Foram identificados os seguintes aspectos favoráveis ao uso da CSA no contexto familiar: • frequência de preparo dos pais para o uso da CSA; • reconhecimento da CSA como recurso lingüístico; • reconhecimento da dificuldade de interpretar e atribuir sentido às manifestações de linguagem; • entendimento de que a CSA favorece o desenvolvimento da oralidade; • uso da CSA para atendimento das necessidades básicas; • uso da CSA para facilitar as interações fora do contexto familiar. Os aspectos desfavoráveis ao uso foram os seguintes: • os pais alegam compreender seus filhos sem necessidade do uso da CSA; • a CSA não atende às expectativas dos pais; • falta auxílio e preparo para o uso da CSA; • os pais e usuários restringem o uso da CSA à função escolar; • os pais apontam para dificuldades e limitações motoras de seus filhos; • há falta de tempo por parte dos pais. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Considera-se com esse estudo a importância de fortalecer o entendimento da CSA como um recurso lingüístico mediador das interações a partir da qual o usuário e seus interlocutores ampliam possibilidades de significar/interpretar a e pela linguagem. Aponta-se para uma perspectiva de Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa trabalhar com famílias que potencialize sua condição de cuidadores de seus filhos, especialmente no que se refere às formas de participação nos processos de apropriação da linguagem. Evidencia-se a importância de um trabalho multidisciplinar que ofereça elementos teórico-práticos que auxiliem o uso efetivo da CSA no contexto familiar. Afirma-se a necessidade de estudos Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. e intervenções que democratizem recursos alternativos de linguagem, viabilizando desta forma modos de participação social com maior autonomia. Palavras-chave: comunicação suplementar e/ou alternativa; inclusão escolar; discurso do sujeito coletivo; linguagem. 155 156 Resumos REFERÊNCIAS BAKHTIN, M. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, 1997. BAKHTIN, M. Para uma releitura do livro sobre Dostoiéviski. In: Problens of Dostoevsky´s poetics. Appendix II, 1961,p.287. LEFÈVRE, F.; LEFÈVRE, C. M. A. Discurso do sujeito coletivo: um novo enfoque em pesquisa qualitativa. Caxias do Sul, RS: Educs, 2005. PANHAN, H. M. S. Fonoaudiologia e Comunicação Suplementar e Alternativa - método clínico em questão. Dissertação (Mestrado em Distúrbios da Comunicação) Pontifícia Universidade Católica, São Paulo, 2001. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa DESENVOLVIMENTO DE APLICAÇÕES TECNOLÓGICAS PARA GRÃOS DE QUINOA (Chenopodium quinoa Willd) – PARTE II Cláudia Helena Degáspari - UTP A alimentação saudável deve fornecer ao organismo todos os nutrientes que supra a necessidade do indivíduo. Portanto, as refeições devem ser diversificadas para que contenham todos os nutrientes: carboidratos, proteínas, lipídios, fibras, vitaminas e sais minerais. Devido à correria do dia-a-dia, fica cada vez mais fica difícil a alimentação adequada e balanceada. Para facilitar a vida de muitas pessoas, diversos produtos são desenvolvidos constantemente de forma a atender às necessidades de praticidade, facilidade de obtenção, bom valor nutricional agregado e preço acessível. As pesquisas na área agropecuária vêm ocorrendo no sentido de se desenvolver espécies geneticamente adaptadas às características de cultivo ou criação do território brasileiro. Uma destas espécies ou culturas é o pseudocereal, que apresenta um maior valor nutricional, denominada de quinoa (Chenopodium quinoa Willd). Da mesma espécie do espinafre e da beterraba, é uma granífera domesticada há milhares de anos pelos povos andinos. A quinoa contém maior quantidade de proteína, mais equilíbrio na distribuição de aminoácidos essenciais que os cereais e assemelha-se à caseína – fração protéica do leite. Esta característica tem contribuído para a popularização da quinoa entre as pessoas que buscam alimentos alternativos com alto valor nutritivo e baixo colesterol, em especial à da caseína, fração protéica do leite. Na região andina, onde o grão é muito difundido, as crianças, depois do desmame, passam a consumi-la na forma de papas ou mingaus, como tradicionalmente são preparados os alimentos infantis em outras regiões do mundo. Por sua vez, os adultos podem preparar vários pratos, nos quais a quinoa contribui para melhorar a qualidade nutricional da dieta e realçar o sabor típico de cereal. Usam-na ainda, como suplemento na dieta de idosos e de convalescentes. Cita-se também seu emprego em regimes especiais para pacientes celíacos (indivíduos que apresentam intolerância ao glúten). A doença celíaca é causada pela intolerância ao glúten, uma proteína encontrada no trigo, aveia, cevada, centeio e seus derivados. Alguns dos sintomas apresentados para a doença são: diarréia com perda de gordura e sangue nas fezes, vômito, perda de peso, inchaço nas pernas entre outros. Neste caso de patologia nutricional, o único tratamento é uma dieta exclusivamente sem glúten, ou seja, totalmente ausente dos cereais que contenham Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 157 158 Resumos esta proteína na sua constituição: trigo, centeio, cevada e aveia. Isto acaba tornando a vida destas pessoas um pouco limitada. Em contrapartida, hoje no mercado, encontram-se diversos alimentos destinados a este público e um exemplo disso é a quinoa (Chenopodium quinoa Willd). No entanto, esta matéria-prima se apresenta comercialmente no varejo na forma in natura ou simplesmente flocada (processo de amassamento do grão sem submetê-lo a qualquer processo tecnológico mais complexo ou com a aplicação em formulações elaboradas através do desenvolvimento de novos produtos). O único desconviniente deste pequeno grão é o teor de saponina (um tipo de glicosídeo triterpenóide denominado de fraxina), dando-lhe um sabor amargo, mas que é eliminada por lavagem e fricção. Antes de consumir a quinoa é necessário desaponificar-la (remover estas substâncias amargas ou saponinas). Isso pode ser feito esfregando os grãos com as mãos em água corrente até não mais formar espuma. Após a lavagem dos grãos, os mesmos não podem ser consumidos de imediato, pois devem ser secos, visto que a quinoa úmida germina rapidamente. No entanto, a EMBRAPA – Divisão Cerrado desenvolveu uma variedade de quinoa diferenciada e adaptada às condições climáticas brasileiras. A cultivar BRS Piabiru é a primeira recomendação de quinoa como cultivo granífero no Brasil. Originou-se da linhagem EC 3, selecionada a partir de uma população procedente de Quito, Equador. Após dois anos de ensaios de competição com linhagens selecionadas anteriormente, foi uniformizada, a partir de 1998, para características agronômicas e ausência de saponina, que limitava a utilização direta do grão. Um contato preliminar foi realizado com o pesquisador da EMBRAPA – Divisão Cerrado, responsável pelo desenvolvimento desta variedade específica Dr. Carlos Roberto Spehar, atualmente Professor Convidado da Universidade de Brasília, que forneceu alguns dados importantes para o início desta linha de pesquisa de desenvolvimento de novos produtos a partir da quinoa, com características mais elaboradas, diferenciadas e com um grau de ineditismo. Desta forma, a busca por produtos alimentícios contendo esta matéria-prima tem sido muito intensa nos últimos dois anos. DEGÁSPARI & MORGAN (UTP, 2008), desenvolveram um trabalho de pesquisa, onde descobriram um processo tecnológico inédito na ciência e tecnologia de alimentos, de forma que os pesquisadores estão tentando viabilizar o pedido de depósito da Patente de Invenção. Desta forma, em vista ao sucesso do trabalho anterior, este presente trabalho teve como objetivo principal dar continuidade ao projeto anterior buscando desenvolver novos produtos alimentícios à base de grãos de quinoa que se apresentem como inovações tecnológicas. Para tanto, utilizou-se grãos de quinoa da variedade BRS Piaburu, desenvolvido pela EMBRAPA Cerrados, que foram obtidos por doação (10 kg enviados por SEDEX em 13/07/09) do produtor e Engenheiro Agrônomo Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa Sebastião Conrado de Andrade, da Fazenda Dom Bosco (Cristalina, GO). Os grãos se encontravam livres da palha, mas não decorticados, ou seja, os mesmos ainda apresentavam o tegumento e o gérmen íntegros. Neste caso, a busca foi por outro produto diferenciado, com grande aceitabilidade pelo público consumidor e ainda não desenvolvido no Brasil e, acreditam os pesquisadores, também internacionalmente, visto que, na busca em bancos de dados, não foi encontrada qualquer pesquisa sobre o referido produto. Os pesquisadores tentaram inicialmente se utilizar dos equipamentos disponíveis nos laboratórios da Universidade Tuiuti do Paraná e propostos inicialmente no Projeto de Pesquisa (que se encontra registrado na Pós-Reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão). Os testes iniciais com tais equipamentos não se mostraram favoráveis de forma a se obter um produto com boas características sensoriais e que pudesse ser reproduzido posteriormente em escala industrial. Com isso, a Pesquisadora DEGÁSPARI, procurou por apoio tecnológico em outra área de processamento de alimentos e conseguiu por gentileza do industrial Sr. Marcos Szychta, a possibilidade de realização dos ensaios numa agroindústria na região metropolitana de Campo Largo – PR, denominada Moinho Dom Pedro. A referida agroindústria produz derivados de milho branco e amarelo na forma de flocos (farinha de milho) e na forma pulverizada (fubá de milho). Como se tratam de matérias-primas distintas à quinoa, Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. a metodologia do novo processo (ainda em fase de testes de processo e refino) teve que ser adaptada e testada algumas vezes até que se obtivesse um produto com perfil sensorial desejado e com aceitabilidade. No caso do processamento de milho na forma de flocos, o processo se desenvolve inicialmente com os grãos sendo submetidos a um intumescimento com água em excesso a temperatura ambiente por aproximadamente 48 horas, para serem preparados para facilitar a próxima etapa de moagem. Os grãos intumescidos passam por um processo de moagem em moinho de disco, com posterior passagem em equipamento tipo despolpador para retirada das fibras em excesso e obtenção de um produto não aglomerado, visto que se apresenta na forma umedecida. Esta etapa é importante, para que se possa passar para a etapa posterior, sendo que a massa deve se apresentar com grumos bem pequenos, quase na forma de uma farinha levemente umedecida. Após esta etapa, a massa é espalhada, com o auxílio de rolos compressores de teflon resistente, em uma grande chapa de ferro circular giratória (chapa rotatória), aquecida através da queima de cepilho (restos de madeira com maior granulometria que a serragem convencional. Neste caso, convém ressaltar que se trata de uma agroindústria, onde os custos devem ser minimizados bem como o sistema tende ser o mais artesanal possível, porém com os mesmos cuidados higiênico-sanitários de uma indústria convencional de alimentos), a uma temperatura superior a 200 ºC. 159 160 Resumos Com isso, a massa, em contato com a chapa aquecida, transforma-se rapidamente em um floco, desidratado, com formato oval ou arredondado e poroso, soltandose facilmente da chapa, ocorrendo, posteriormente, apenas um recolhimento do material final por coleta, sem necessidade de atrito ou raspagem da chapa. Após, o produto é embalado em sacos de polietileno e comercializado, apresentando um prazo de validade oito meses devido à baixa atividade de água. No caso dos grãos de quinoa, que é a matéria-prima alvo deste trabalho, já foram realizados dois ensaios nestes respectivos equipamentos, porém com algumas adaptações no processo de uma forma geral, onde foram obtidos dois produtos finais com características sensoriais distintas, sendo que o último teste foi realizado em 22/10/09. Já o teste anterior foi realizado em 19/09/09. A demora na realização de ambos os testes se deu primeiramente devido à epidemia do vírus H1N1, que colocava em risco a área de produção de alimentos da agroindústria e, posteriormente, devido a uma grande demanda recebida pela agroindústria para a produção de seus produtos de linha. A presente pesquisa se apresenta atualmente em seu estágio final, no qual ambas as amostras obtidas passaram por ma etapa final de refinamento sensorial através de métodos específicos para tanto. Posteriormente, ambos os produtos serão avaliados sensorialmente por um grupo de 80 degustadores não treinados através de uma escala hedônica de 9 pontos, obtendo a nota média de aceitabilidade de cada um deles, o que será um dos indicativos de seu potencial de comercialização com sucesso ou fracasso. Esta etapa de degustação dos protótipos obtidos foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Humanos e Animais da Universidade Tuiuti do Paraná (CEP-UTP nº 000015/2009). Até o presente momento, ambos os produtos gerados mostraramse viáveis em termos de processo. No entanto, não serão elaboradas as planilhas de custo de produção e comercialização uma vez que isto não faz parte dos objetivos deste trabalho, pois devido à sua complexidade, caberia a um novo Projeto de Pesquisa distinto. Palavras-chave: quinoa BRS Piaburu; flocos de cereais; produtos matinais; Chenopodium quinoa Willd. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa EDUCAÇÃO PARA A SAÚDE NA ESCOLA: UMA EXPERIÊNCIA INTERDISCIPLINAR Daniele do Rocio Ribeiro - Faculdade Evangélica do Paraná Lisa Elvira Hass - Faculdade Evangélica do Paraná Paôla Luma Cruz. - Faculdade Evangélica do Paraná INTRODUÇÃO: O processo pedagógico deve possibilitar aos educandos, por meio do processo da abstração, a compreensão da essência dos conteúdos a serem estudados, a fim de que sejam estabelecidas as ligações internas específicas desses conteúdos com a realidade global, com a totalidade da prática social e histórica. Este é o caminho por meio do qual os educandos passam do conhecimento empírico ao conhecimento teórico-científico, desvelando os elementos essenciais da prática imediata do conteúdo situando-o no contexto da totalidade social (VASCONCELOS, 1993). Na perceptiva da educação dialógica, a prática educativa, visa o desenvolvimento da autonomia e da responsabilidade dos indivíduos no cuidado com a saúde. A diferença, com relação ao modelo tradicional, reside no fato de que o estudante participa do processo de compreensão da sua situação de saúde, num processo que visa ser emancipatório. A estratégia adotada é a comunicação dialógica, que busca a construção de um saber sobre o processo saúde-doença-cuidado que capacite os indivíduos a decidirem quais as estratégias mais apropriadas para promover, manter e recuperar sua saúde (ALVES, 2005). Diante da complexidade dos problemas de saúde, a interdisciplinaridade se apresenta, principalmente no campo da saúde pública, como uma necessidade primordial. Da mesma forma a educação em saúde só torno eficaz quando contempla a interdisciplinaridade. Segundo Japiassú (1976) apud Alves; Brasileiro e Brito (2004), a interdisciplinaridade promove a intercomunicação entre as disciplinas, resultando em uma modificação entre elas, por meio do diálogo compreensível. Rosenfield apud Perini et al. (2001) caracteriza a interdisciplinaridade como a possibilidade do trabalho conjunto na busca de soluções, respeitando-se as bases disciplinares específicas. Assim, como afirma Japiassu (1976) apud GOMES e DESLANDES (1994), a interdisciplinaridade pode ser vista como uma necessidade interna da ciência, a fim de resgatar a unidade de seu objeto e os vínculos de significação humana. E coloca-se também como uma necessidade imposta pelos complexos problemas que são colocados para a ciência e que não são respondidos por um enfoque unidisciplinar ou pela justaposição de várias disciplinas. Diante disso, o presente trabalho tem como proposta promover a saúde em meio escolar de forma interdisciplinar. OBJETIVOS: Promover educação para a saúde entre crianças, em um contexto interdisciplinar. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 161 162 Resumos ATIVIDADES GERAIS DESENVOLVIDAS: O projeto foi desenvolvido por residentes de Saúde da Família da Faculdade Evangélica do Paraná junto a uma turma de terceira série de uma escola municipal de ensino fundamental, localizada na área adscrita de uma unidade de saúde no município de Curitiba-PR. O trabalho teve caráter interdisciplinar, envolvendo a fisioterapia, a nutrição e a enfermagem. Foram realizados, durante o segundo semestre de 2008, cinco encontros com aproximadamente duas horas de duração. O método escolhido foi a metodologia histórico-crítica, cuja problematização é um dos eixos fundamentais. As ações educativas tiveram sua temática baseada no processo saúde doença e nas perspectivas de saúde e doença dos sujeitos participantes. Buscouse desenvolver as atividades de forma lúdica e interacionista. Foram realizadas colagens, jogos, construção de cartazes e dinâmicas corporais. RESULTADOS : O primeiro do encontro teve como principais objetivos criar vínculo, perceber as concepções de saúde e doença das crianças e posteriormente avaliar e organizar os pontos importantes a serem trabalhados. Inicialmente, foi dialogado com as crianças sobre o trabalho da enfermagem, fisioterapia e nutrição. Posteriormente, durante a atividade procurou-se conhecer os alunos e suas visões sobre processo-saúde doença, principalmente a aqueles relacionados aos determinantes. Percebeu-se que os escolares relacionaram fortemente a saúde ao bem estar, a alimentação saudável, a medicamentos e a profissionais da saúde. A doença foi relacionada ao sofrimento, a doenças em destaque na mídia - como dengue e estresse - a hospital, a poluição e a vícios. A partir das falas e demais resultados da atividade anterior, procurou-se no segundo encontro traduzir o que os alunos trouxeram como elementos de saúde e elementos de doença buscando elaborar um esquema, que relaciona a saúde aos determinantes ambientais, sociais, biológicos e culturais. Coletivamente, finalizouse a atividade montando um mural que ficou exposto no interior da sala durante o período de realização do trabalho. Como um dos principais temas levantados pelas crianças foi a alimentação, optou-se, dessa forma, por no terceiro encontro abordar essa questão. A atividade consistiu em dois momentos, o primeiro teve por objetivo conhecer o padrão alimentar das crianças, por meio de uma dinâmica em que foi solicitado que os escolares desenhassem uma refeição habitual em um prato de papelão. No segundo momento, por meio de uma dinâmica com recortes de figuras de alimentos abordou-se e discutiram-se os grupos alimentares (construtores, energéticos, reguladores e eventuais) e suas funções. Além disso, foi trabalhada a composição do prato saudável. Pode-se observar a partir da primeira dinâmica que é habitual a ingestão de mais de um alimento fonte de carboidrato nas refeições, normalmente arroz e macarrão. As verduras e legumes apareceram na maioria dos pratos, no entanto numa Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa proporção inferior aos demais alimentos. A composição dos pratos foi, em sua maioria, composta por uma verdura, uma leguminosa, um cereal, uma massa e uma fonte protéica, normalmente ovo ou carne. Houve também a presença de embutido em substituição à fonte protéica. Já na segunda atividade, inicialmente, as crianças tiveram algumas dificuldades, mas no decorrer da dinâmica demonstraram ter compreendido os alimentos que compõe cada grupo pela suas funções. No quarto encontro foi explorada a relação da criança com o corpo, como ela entende seu processo de crescimento e o que é necessário para desenvolver-se saudável. Para tanto foi utilizada a dinâmica “espelho mental”, seguida de aprofundamento. O principal objetivo foi auxiliar a criança a perceber sua imagem e seu próprio corpo, refletindo sobre os cuidados com ele e como ele se desenvolve. A dinâmica constituise em experimentar e observar o próprio corpo em diferentes circunstâncias, como na posição sentada e andando, entre outras. Posteriormente, foi solicitado que cada escolar desenhasse a sua própria imagem atual, como ele imagina que fosse quando era um Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. bebê e como se vê no futuro. Em grupo, discutiramse questões como desenvolvimento do corpo, hábitos saudáveis e autocuidado. Pôde-se perceber por meio dessa dinâmica, a grande influência da mídia e da comunidade na visão dos escolares a respeito do seu próprio corpo, assim como uma visão distorcida do presente, colocando-se com corpos de adolescentes. Seus desenhos sobre o futuro mostraram desejos e ambições, como por exemplo, eles próprios ao lado de carros e animais de estimação. No último encontro foi realizada a avaliação do processo educativo, bem como confraternização. Para a avaliação, optouse pela utilização de jogos com temas trabalhados anteriormente, que permitiu perceber que a metodologia utilizada foi adequada, gerando reflexões construtivas a cerca dos temas abordados. Durante todas as atividades as crianças estiveram participativas e por muitas vezes correlacionaram diversas situações vividas no seu dia-a-dia familiar e comunitário às temáticas. Desta forma, verificou-se que é possível criar condições para uma aprendizagem ativa e construtiva em saúde, contemplando a interdisciplinaridade. 163 164 Resumos REFERÊNCIAS ALVES, V. S. A health education model for the Family Health Program: towards comprehensive health care and model reorientation, Interface - Comunic., Saúde, Educ., v.9, n.16, p.39-52, set.2004/fev.2005. JAPIASSU, H. Interdisciplinaridade e patologia do saber. Rio de Janeiro: Imago. 1976.In GOMES R. E DESLANDES, S. F. Interdisciplinaridade na saúde pública: um campo em construção. Rev. Latino-am. enfermagem – Ribeirão Preto – v. 2 – n. 2 – p. 103-114 – julho 1994. JAPIASSÚ, H.. Interdisciplinaridade e patologia do saber. Rio de Janeiro: Imago, 1976.. In: Alves, R. F.; Brasileiro, M. C. E.; Brito, S. M. O. A interdisciplinaridade: um conceito em construção. Episteme, Porto Alegre, n. 19, p. 139-148, jul./ dez. 2004. ROSENFIELD, P.L. The potential of transdisciplinary research for sustaining and extending linkages between the health and social sciences. Soc. Science Med., v.35, n.11, p.1343-1357, 1992. In:PERINI, E. et al. , El individuo y lo colectivo - algunos desafíos de la Epidemiología y de la Medicina Social. Interface _ Comunic, Saúde, Educ, v.5, n.8, p.101-18, 2001. VASCONCELOS, C. S. Construção do Conhecimento em Sala de Aula. São Paulo: Cadernos Pedagógicos do Libertad, 1993. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa ESTUDO DAS MODALIDADES TERAPÊUTICAS EM PACIENTES COM CÂNCER ATENDIDOS NO HOSPITAL VETERINÁRIO DA UTP – NEOPLASIAS MALIGNAS ESPECÍFICAS Neide Mariko Tanaka Mariana Scheraiber - UTP Alvaro Tortato - UTP Maria Fernanda de Lima e Silva INTRODUÇÃO: O câncer é uma das principais causas de mortalidade em animais domésticos na atualidade (WITHROW, 1989). Com a melhoria dos cuidados higiênico-sanitários e veterinários, os animais domésticos estão vivendo mais e tornando-se mais suscetíveis a doenças de aparecimento tardio como tumores. Alguns animais, por exemplo, o cão, desenvolvem tumores duas vezes mais frequentemente que o homem (GILLETTE, 1982). Modelos animais para estudo de neoplasias usualmente envolvem a indução artificial de tumores por agentes químicos e virais que nem sempre reproduzem das condições de desenvolvimento espontâneo dos tumores. Animais com tumores espontâneos propiciam uma excelente oportunidade para estudar aspectos etiológicos e terapêuticos da doença. Tumores espontâneos de animais domésticos são, consequentemente, modelos comparativos atrativos (RICHARDSON, 1983 e GILLETTE, 1982) porque: 1) animais domésticos compartilham o meio ambiente com os seus proprietários e os mesmos fatores etiológicos podem estar envolvidos na gênese dos tumores em diferentes espécies (por exemplo: radioatividade); 2) os animais podem servir de sentinelas para mudanças nos padrões do desenvolvimento de tumores observados em humanos. Por exemplo: o aumento da contaminação do meio ambiente com o herbicida ácido 2,4- dichlorophenoxiático comumente usados na agricultura provocou um aumento na ocorrência de linfoma não Hodgkins em seres humanos e de linfosarcoma em cães em Massachussets E.U.A. (MOORE, 1996); 3) várias neoplasias compartilham as mesmas características fisiológicas e metabólicas em seres humanos e animais domésticos (VAIL, 1990); 4) alguns tumores desenvolvem-se mais rapidamente em animais do que seres humanos (por exemplo: adenocarcinoma mamário em gato), permitindo um estudo mais completo e a mais curto prazo da afecção. Consequentemente, o comportamento biológico e a reposta à terapia podem ser estudados mais facilmente em animais e os resultados Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 165 166 Resumos serem extrapolados para estudos prospectivos no homem. Tumores espontâneos de animais também são um excelente modelo para o câncer humano em termos de antigenicidade, fatores de crescimento e extensão de diferenciação celular (WITHROW & VAIL, 2007). O estudo epidemiológico da distribuição da doença em populações e os fatores que determinam a distribuição contribuem para esclarecer a etiologia, identificar os grupos de risco e aplicar medidas preventivas apropriadas (O’DONNELL et al, 1992). Os fatores genéticos, exposição a radiações ultravioleta, parasitas como o Spirocerca lupi, carcinógenos químicos como o asbestos, são exemplos de fatores de risco para a manifestação do câncer em uma população (MAcEWEN, 1989). É através dos estudos estatísticos de suas suscetibilidades que poderemos elucidar a manifestação desta doença na população estudada (REEVES et al, 1995). Em um estudo epidemiológico de neoplasias em animais na cidade de Alameda County, Califórnia, E.U.A. com 100.000 cães e gatos, esta patologia ocorreu em 40% dos cães e 16% dos gatos (DORN, 1968). O Hospital Veterinário da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP) atende muitos pacientes diagnosticados com câncer. A caracterização epidemiológica é um fator importante para que medidas preventivas possam ser implementadas e a eficácia da terapia empregada na determinação de prognósticos mais precisos. Este trabalho teve como objetivo realizar um estudo retrospectivo sobre as neoplasias em animais domésticos e as modalidades terapêuticas do Hospital Veterinário da Universidade Tuiuti do Paraná. Modalidades terapêuticas comumente utilizadas no tratamento do câncer: Cirurgia -remoção cirúrgica de tumores é a mais comum e a abordagem mais valiosa em tumores de tecidos ósseos, podendo ser usada em tecidos moles e tecidos ósseos; algumas vezes curativo, se o processo da doença está localizado e detectado precocemente. Quimioterapia: é o uso de certas drogas únicas, ou em combinação para controlar o crescimento tumoral. Todas as drogas atualmente administradas em animais são drogas anti-neoplásicas humanas. Felizmente, muitas das conseqüências negativas do uso destas na medicina humana não são testadas em medicina veterinária. A quimioterapia e/ou cirurgia são duas das mais importantes modalidades terapêuticas na medicina do câncer veterinário. A combinação das terapias pode ser indicada em certos tipos de câncer. Alguns cânceres requerem especificidade, número restrito de tratamentos enquanto outros requerem a manutenção do tratamento para a sua remissão. Radioterapia: consiste no uso de raio radioativo com a finalidade de danificar e/ou matar células malignas de uma lesão localizada, podendo oferecer uma boa qualidade em se tratando de tempo de remissão em muitos tipos de tumor, mas normalmente não curam. Surpreendentemente, animais são tolerantes a terapia por radiação. Além das modalidades tradicionais, o clínico deve ter conhecimento dos tratamentos Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa avançados: Modalidades biotecnológicas – Imunoterapia e Terapia molecular. Modalidades de tratamento de tumors sólidos - Criocirurgia, Hipertermia, Terapia fotodinâmica. Cuidados intensivos e suporte para pacientes oncológicos - Analgesia – controle da dor e Nutricionais. Medicina alternativa ou complementar - Compostos botânicos. Nutracêuticos, Acupuntura, Massoterapia, Homeopatia, Aromaterapia e Oxigenioterapia hiberbárica (WITHROW & VAIL, 2007). MATERIAL E MÉTODOS: Foram examinadas 467 fichas de pacientes do Hospital Veterinário da Universidade Tuiuti do Paraná durante o período de julho de 2008 e primeiro semestre de 2009. Destas, foram retiradas as fichas de pacientes acometidos por alterações oncológicas, totalizando 43 casos. As informações obtidas por meio das fichas clínicas foram catalogadas em uma planilha e relacionadas: sexo, idade, raça, esterilização, uso de contraceptivos, tipo de tumor, tipo de modalidades terapêuticas e outros procedimentos pertinentes. RESULTADOS E DISCUSSÃO: No presente trabalho, observou-se que a ocorrência de neoplasias está presente nos pacientes. Porém, os casos estão em número pequeno em relação com o total de pacientes atendidos diariamente no Hospital Veterinário. Do total de 43 casos estudados, a espécie mais acometida foi a canina 39/43 (92%), seguida da felina 4/43 (8%). A maior incidência de câncer em pacientes da espécie canina, em relação à espécie felina, do total de 43 casos Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. estudados, a espécie mais acometida foi a canina 42/43 (99,8%), seguida da felina 1/43 (0,01%). Em relação ao sexo, as fêmeas foram as mais predispostas 32/43 (74,41%) e os machos 11/43 (25,58%). O aparecimento do câncer não tem preferência por idade nos animais atendidos na UTP, foram encontrados casos em várias idades, mas a maior recidiva foi em animais com 9 anos, totalizando 7 casos, seguido, com 6 casos em pacientes com 12 anos. A idade média das fêmeas foi de 8,75 anos e a dos machos de 7,54 anos. A maioria das alterações neoplásicas encontradas foi câncer mamário das pacientes, totalizando 33% em relação aos demais tipos de tumores, que juntos, somam 67%. Entre todas as raças, pudemos observar que o aparecimento de tumores não está relacionado com o padrão racial das espécies. Podem ser encontrados em variadas raças e espécies, como em gatos da raça Siamês onde surgiram 2 casos. Em relação aos cães, a maior incidência é encontrada em cães da raça Cocker e SRD, ambos com 7 casos cada. A cirurgia é a principal modalidade terapêutica realizada nos pacientes atendidos no Hospital Veterinário da UTP. Porém, em poucos casos foi possível a realização desse procedimento, a maioria dos animais não retornou à consulta, apenas 24% dos animais realizaram a cirurgia. Observa-se um significativo aumento de casos oncológicos a cada ano. A caracterização de raças e fatores pré-disponentes podem contribuir para que os clínicos possam orientar os proprietários aos cuidados preventivos e observar 167 168 Resumos os fatores de risco quando realizarem as orientações clínicas conforme raça, idade, localização tumoral e seu desenvolvimento. CONCLUSÃO: Os resultados deste estudo retrospectivo permitem concluir que: dos animais domésticos portadores de neoplasias, atendidos no Hospital Veterinário da Universidade Tuiuti do Paraná, a incidência em cães é grande e sua distribuição em fêmeas é maior do que em machos. Entre os fatores que determinaram o grupo de risco, os cães da raça Cocker spaniel e Sem raça definida, e idosos, são os mais acometidos. As neoplasias mamárias são as mais freqüentes e as fêmeas não esterilizadas, idosas ou que faziam uso rotineiro de contraceptivos parecem ter maior predisposição ao desenvolvimento neoplásico. A esterilização precoce é uma medida importante para a prevenção. A modalidade terapêutica mais utilizada é a cirúrgica. Estudos serão necessários para desvendar por meio de métodos diagnósticos e identificar os fatores de risco para os clínicos realizarem as orientações clínicas e medidas preventivas apropriadas para conduzir terapias eficazes e os fatores prognósticos. Palavras-chave: neoplasias; estudo retrospectivo; modalidades terapêuticas; animais. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa ESTUDO DE TRÊS POSSÍVEIS APLICAÇÕES PARA O POLISSACARÍDEO DE SEMENTES DE TAMARINDO Neila de Paula Pereira Sandra Martin Os recentes avanços tecnológicos têm estimulado a pesquisa de novos materiais para os mais diversos tipos de aplicações industriais. Após a revolução ocasionada pela obtenção de uma ampla gama de polímeros sintéticos que, apesar de serem muito versáteis, acumulam-se no meio ambiente, levando centenas de anos para serem degradados, as pesquisas têm se voltado para a obtenção de polímeros naturais, cujas fontes podem ser de origem vegetal, animal ou microbiológica. Esses polímeros naturais, ou biopolímeros possuem a vantagem de serem biodegradáveis diminuindo o desgaste causado ao meio ambiente pelo acúmulo dos materiais não biodegradáveis, sendo provenientes na maioria das vezes de fontes renováveis. Os biopolímeros de origem vegetal, podem ser obtidos a partir de sementes de plantas, que muitas vezes são descartadas pelas indústrias, como é o caso das sementes de tamarindo, cuja polpa é bastante utilizada na manufatura de sucos e geléias tendo no entanto as sementes descartadas ou utilizadas como ração para animais. No Japão, a xiloglucana obtida a partir dessas sementes é utilizada nas indústrias de alimentos, farmacêutica e de cosméticos. No Brasil, seu uso industrial não é muito difundido, em grande parte pelo alto custo desse material purificado, que é obtido somente via importação. Entretanto, o tamarindeiro é cultivado principalmente nas regiões nordeste e centrooeste do Brasil, onde a polpa de seus frutos é utilizada na alimentação. A difusão do uso desses materiais pode incrementar a renda de comunidades que vivem do extrativismo vegetal contribuindo para o seu desenvolvimento econômico, social e cultural, gerando divisas para os municípios aos quais pertencem essas comunidades, que podem ser revertidas em benefício da própria população local, como, por exemplo, nas áreas de saúde e educação tão deficitárias em nosso país. Dessa forma, esse trabalho visa pesquisar possíveis aplicações para o polissacarídeo obtido a partir de sementes de tamarindo, que apesar de já ter sido extensivamente estudado, tem ganhado destaque entre os químicos de carboidratos de todo o mundo com um grande aumento no número de publicações explorando as suas propriedades. As vagens de tamarindo foram obtidas no comércio local, sendo descascadas e após isso a sementes separadas da polpa. As sementes foram, então fervidas, tiveram as suas cutículas removidas e foram submetidas à extração aquosa exaustiva seguida de precipitação com dois volumes de etanol, filtração Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 169 170 Resumos e secagem do material obtido. Esse material foi submetido à purificação pela precipitação com sulfato de cobre em meio alcalino, ficando as proteínas que foram extraídas juntamente com o carboidrato em solução, enquanto este forma um complexo insolúvel com os íons cobre. Esse complexo insolúvel, de aspecto gelatinoso, é tratado com ácido clorídrico diluído, a solução originada é tratada com dois volumes de etanol, o precipitado obtido é lavado várias vezes com etanol aquoso, filtrado e seco. O rendimento a partir da semente úmida e sem cutícula foi de cerca de 10% e constituído por 78% de açúcar total, 6% de proteínas e 16% de umidade. Esse material, assim obtido, foi testado para três possíveis aplicações. Um desses estudos consistiu na elaboração de emulsões O/A (bases óleo em água), formuladas na sua fase oleosa com base autoemulsionante não iônica junto a um óleo fixo, e na fase aquosa com o polissacarídeo xiloglucana extraído das sementes do tamarindo. O restante da formulação base escolhida tratou-se de matériasprimas, freqüentemente usadas em dermo-formulações. Foram realizados testes de estabilidade e de envelhecimento acelerado, conforme as recomendações da ANVISA, 2004 (http://bvsms.saude.gov.br/bvs/ publicacoes/cosmeticos.pdf) e por fim verificadas as formulações que obtiveram os melhores resultados a longo prazo. Na seleção da matéria prima, dentre os constituintes da fase oleosa das emulsões cosméticas, foi escolhido o óleo de amêndoas doces que está entre os óleos vegetais oriundos de sementes presentes em abundância na flora brasileira para agregar valor às mesmas. Colaboram ainda, no momento, para o desenvolvimento de estudos sobre a aplicação dos óleos vegetais, o alto custo de produtos petroquímicos e a tendência a o consumo de produtos naturais. As emulsões não iônicas foram as escolhidas, pois sabidamente apresentam compatibilidade com a pele, além de melhor toque sensorial. Emulsões não iônicas formuladas com bases autoemulsionantes possuem tendência a estabilidade. Baseando-se nas emulsões tradicionais não auto-emulsivas foram formuladas 3 composições variando a proporção da matéria-prima graxa sintética selecionada. Todas as formulações foram acrescidas de óleo de amêndoas doces (OAD) e receberam as seguintes denominações: “X–01”: base autoemulsionante não iônica (polawax) contendo o óleo vegetal (OAD) + espessante (xiloglucana); “X-02” variação da concentração do éster graxo; “X-03” variação da concentração do álcool graxo. A fase aquosa foi a mesma para as três formulações e consistiu de glicerina (5,0%); polímero espessante - xiloglucana em solução aquosa 3% (8,0%), nipagim (0,1%) e água destilada (q.s.p. 100 mL). O método de obtenção dessas emulsões foi adaptado da técnica de emulsificação clássica. Para cada emulsão formulada foram realizados exames macroscópicos, microscópicos e testes de estabilidade a longo prazo e acelerada rigorosamente nas mesmas condições. De acordo com os testes da Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa estabilidade física, a longo prazo, a emulsão formulada com proporções 3:1:1 (“X-01”) de autoemulsionante, álcool graxo e éster graxo, foi a composição que mostrou melhores resultados não só pela consistência apresentada, mas também no aspecto microscópico a longo prazo e sob o envelhecimento acelerado. Em um segundo estudo, foram preparadas blendas xiloglucana/ xantana e xiloglucana/guar que tiveram as suas propriedades viscosimétricas analisadas e utilizadas na preparação de filmes. Para o preparo das blendas, inicialmente foi preparada uma solução de xiloglucana em água, na concentração de 10 mg/mL. Parte dessa solução, diluiu-se com água destilada para a concentração de 5 mg/mL e dividida em duas partes. A uma das partes foi adicionada a massa de goma xantana necessária para que a solução ficasse com uma concentração total da mistura de polissacarídeo de 10 mg/mL. A outra parte da solução de xiloglucana a 5 mg/mL foi acrescentada a goma guar, também na quantidade necessária para que a concentração total de polissacarídeo ficasse no valor de 10 mg/mL. Igualmente, preparadas soluções aquosas de goma xantana e goma guar na concentração de 10 mg/mL que foram analisadas comparativamente com as soluções anteriores. As soluções aquosas de xantana e xiloglucana na concentração de 10 mg/mL apresentaram comportamento pseudoplástico. O preparo da blenda (solução xiloglucana 5 mg/mL/xantana 5 mg/mL) também não alterou essa propriedade, que é mais Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. marcante na solução de xantana 10 mg/ml. A solução de xantana apresenta valores de viscosidade absoluta quase 5 vezes maiores que os da solução de xiloglucana, quando analisadas a uma velocidade de 1 rpm, porém em valores de rpm mais elevado essa diferença diminui. Os valores de viscosidade da blenda foram superiores aos da xiloglucana isolada, porém inferiores ao da solução de xantana. Isso pode ocorrer devido ao fato da presença da xiloglucana perturbar as interações que ocorrem entre as cadeias de xantana isoladas, facilitando o seu escoamento e causando uma diminuição em seus valores de viscosidade. Já o perfil de viscosidade da solução aquosa de goma guar a 10 mg/mL apresentase com características mais próximas do comportamento newtoniamo, onde há pouca ou nenhuma variação da viscosidade em relação à velocidade de cizalhamento. Na solução xiloglucana 5 mg/mL/guar 5 mg/mL, pode-se observar que a presença da xiloglucana altera de forma muito acentuada a interação entre as cadeias poliméricas da goma guar, tornando a viscosidade da blenda, similar à da solução de xiloglucana isolada, bem como apresentando comportamento pseudoplástico similar ao da solução de xiloglucana 10 mg/mL. O preparo de blendas, associando polímeros com diferentes propriedades físico-químicas, visa a produção de filmes flexíveis, aos quais um fármaco possa ser incorporado e rapidamente liberado, servindo apenas como um veículo que possa ser utilizado com maior praticidade para a administração de determinados 171 172 Resumos princípios ativos. Para a obtenção desses filmes, a partir das soluções anteriormente analisadas, foram adicionados 50 ml de cada uma delas em placas de petri separadas que a seguir foram colocadas em estufa com a temperatura mantida entre 30 e 40oC por 72 horas, porém os filmes ficaram aderidos as placas de petri utilizadas como suporte, impossibilitando uma análise mais detalhada. Esses resultados demonstram que a mistura de dois polissacarídeos com propriedades físico-químicas diferentes alteram o comportamento viscosimétrico das misturas quando analisadas em comparação com as soluções de cada um isolado, conforme já relatado na literatura. As soluções preparadas apresentaram potencial para o preparo de filmes, embora a metodologia de obtenção desses filmes ainda precise ser aperfeiçoada. No terceiro e último estudo, o objetivo era verificar o potencial de utilização do polissacarídeo de sementes de tamarindo como fibra alimentar uma vez que existem dados na literatura demonstrando que as fibras solúveis possuem diversas propriedades entre as quais se destacam a capacidade de retardar a absorção intestinal de carboidratos contribuindo na prevenção do aparecimento do diabetes melito tipo 2 e manutenção dos valores glicêmicos dos pacientes já diagnosticados como portadores dessa patologia. Segundo alguns autores, a viscosidade, que determinadas fibras solúveis adquirem quando em solução aquosa, está relacionada com a capacidade dessas fibras em retardar a absorção de carboidratos, fato que se reflete na diminuição da glicemia pós-prandial, quando essas fibras são ingeridas concomitantemente com dietas ricas em carboidratos digeríveis. As análises viscosimétricas de uma solução aquosa desse polímero na concentração de 10 mg/mL demostraram valores de viscosidade absoluta elevados sugerindo que esse biopolímero possa ser adequado para utilização como fibra alimentar solúvel, com possibilidade de retardar a absorção intestinal de carboidratos, incluindo a glucose, auxiliando na manutenção do controle glicêmico, conforme descrito anteriormente. Pelos resultados apresentados nesse trabalho conclui-se que o polissacarídeo obtido a partir das sementes de tamarindo possui um grande potencial para as três diferentes aplicações propostas, demonstrando a necessidade da continuidade desses estudos. Palavras-chave: polissacarídeo; tamarindo; aplicações biotecnológicas. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa FATORES DE MEIO AMBIENTE SOBRE A PRODUÇÃO DE LEITE, GORDURA, PROTEÍNA EM BOVINOS LEITEIROS DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA Uriel Vinícius Cotarelli de Andrade - UFPR Maria Lúcia Masson - UFPR Elder Clayton Capeletto - UTP Pablo Gomes Martinez - UTP Giovanna Cestári Ravedutti - UTP Evandro Massulo Richter – Seab-PR INTRODUÇÃO: O leite é a secreção produzida pela glândula mamária das fêmeas dos mamíferos. Por seu elevado valor nutritivo, o leite é alimento básico do crescimento animal, já que contém alimentos plásticos (proteínas) e energéticos (lactose e gorduras), além de cálcio, fósforo e magnésio e vitaminas em qualidade e quantidades ajustadas a cada espécie animal (BACILA, 1980). Devido a sua importância nutricional, o leite é considerado uma das melhores fontes de nutrientes para os seres humanos. A quantidade e a disponibilidade de proteína, cálcio e vitaminas do complexo B, fazem do leite, um componente essencial na dieta de crianças, adolescentes e adultos (MONARDES, 1998). A pecuária leiteira é uma importante atividade econômica e social, uma vez que gera emprego e renda no campo. No estado do Paraná, localizam-se 279 estabelecimentos leiteiros, sendo 70 usinas de beneficiamento, 153 indústrias de laticínios e 56 entrepostos de resfriamento. A bovinocultura leiteira é um dos setores que mais ocupa mão de obra no estado, com 4.551 empregos diretos e 154.734 empregos indiretos. Dos 1,9 bilhões de litros de leite produzidos no Paraná em 1999, aproximadamente 40% ficaram retidos nas propriedades e 60% foram comercializados. Destes, 50% se apresentam sob a forma de leite fluído longa vida e leite pasteurizado dos tipos A, B e C. Os restantes 50% foram industrializados em queijos (28,5%), bebidas lácteas e iogurtes (6,6%), leite em pó (5,8%) e 18,0% transformados em manteiga, creme de leite, requeijão, doce de leite e sobremesas (HARTMANN, 2002). Desse modo, a presente pesquisa teve como objetivo, estudar os fatores de meio ambiente que alteram a qualidade do leite através de analises das variações da produção de leite, CCS (Contagem de Células Somáticas) e dos seus componentes constituintes, como gordura, proteína Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 173 174 Resumos e suas respectivas porcentagens, em amostras de leite provenientes de rebanho oficialmente controlado da região metropolitana de Curitiba, Estado do Paraná. Objetivando assim, de modo específico, constituir resultados importantes que estimule o produtor a melhorar o potencial de seu rebanho, seja no manejo sanitário ou nutricional, uma vez que, parâmetros de qualidade do leite são cada vez mais usados para detectar falha nas práticas de manejo e servir como referência na valorização da matéria - prima. MATERIAL E MÉTODOS: Material de Análise - Amostra de leite - Estão sendo analisadas aproximadamente 500 amostras de leite, das quais 20 amostras mensais, oriundas de 20 vacas da raça Holandesa, durante o período de lactação (10 a 12 meses), observadas nos anos de 2008 a 2009. As coletas das amostras de leite contam com pessoal treinado, orientados pelo Serviço de Operações de Campo do PARLPR. Estas, serão coletadas quinzenalmente na propriedade e acondicionadas em frascos padronizados (40 mL), utilizando o conservante Bronopol ® (2- bromo- 2- nitropropano- 1,3- diol), mantendo-as refrigeradas no transporte, atendendo normas internacionais (HORST, 2001). Métodos de Análise: Os dados do presente estudo são provenientes do banco de dados do Programa de Análise de Rebanhos Leiteiros do Paraná (PARLPR), emitidos mensalmente aos produtores que realizam controle leiteiro oficial. As análises das porcentagens de sólidos totais, gordura, proteína e lactose são realizadas no Laboratório Centralizado de Análise de Leite do PARLPR, no equipamento automatizado Bentley 2000 ®. Para Contagem de Células Somáticas, foi utilizado o Somacount 500®. O ECS será obtido através da transformação logarítmica da CCS, utilizando-se a fórmula: ECS = log2 (CCS/100) + 3. Para as análises estatísticas, utilizou-se o programa computacional SAS (SAS, 1991), através dos procedimentos PROC FREQ, PROC MEANS e PROC GLM, através do Método dos Quadrados Mínimos. O modelo estatístico será composto pelos efeitos de rebanho, região, ano de análise, mês de análise e idade da amostra. Y ijklm = μ + Aj + Ik + Cl + GSn + NO + e ijklmnop sendo: Y ijklm = é a observação referente à concentração de componentes do leite (CCS, gordura, proteína e suas respectivas porcentagens) das amostras coletadas no rebanho m, com escore de células somáticas l, com dias entre amostragem e processamento k, coletadas no mês*ano j; μ = média geral; Aj = efeito de ano e mês de análise, sendo j = 1, 2,...,n; Ik = efeito de idade da amostra, sendo k = 1, 2,...,14; Cl = efeito da contagem de células somáticas, transformada em escore de células somáticas, sendo: l = 0, 1,...,9; GSn = efeito de grupo genético, sendo n = 1, 2, ...n; NO = efeito de número de ordenhas, sendo n = 1, 2 e 3 x. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 175 Pesquisa e ijklmn = erro aleatório associado a cada observação. Os dados utilizados para a realização do presente estudo foram fornecidos pelo Programa de Análise de Rebanhos Leiteiros do Paraná (PARLPR) do Convênio APCBRH/UFPR/McGILL UNIVERSITY, com sede na cidade de Curitiba - PR, e compreendem o período de 2008 a 2011. Os dados para análise são provenientes de um Banco de Dados, com aproximadamente 300.000 amostras de leite analisadas pelo Laboratório Centralizado de Análise de Leite do Programa de Análise de Rebanhos Leiteiros do Paraná (PARLPR), que possui dois analisadores eletrônicos infravermelho Bentley 2000 R® (360 amostras / hora) para análise de gordura , proteína, lactose e sólidos totais e um contador eletrônico de células somáticas Somacount 500 R® (500 amostras / hora) para monitoramento da mastite (RIBAS et al. 1996). RESULTADOS E DISCUSSÃO: MEDIDAS DESCRITIVAS - As médias e os respectivos desviospadrão da produção de leite, gordura e proteína em kg e das porcentagens de gordura e proteína, juntamente com os valores referentes ao período de lactação, estão descritos na Tabela 1. Os valores médios observados da produção de leite, gordura e proteína, encontrados no rebanho estudado, estão próximos aos valores descritos para a raça. Outros estudos em rebanhos da raça Holandesa mostram médias de produção inferiores às encontradas neste estudo: 16,7 L/vaca/dia em Pernambuco (Nunes Jr. et al., 1996) e 17,02 L/vaca/ dia em Minas Gerais (Araújo et al., 2000). Bajaluk et al. (1999), em rebanhos de raça Holandesa no Paraná, encontraram maior produção média (24,77 L/vaca/dia). Os resultados são parciais e o estudo está em andamento com previsão de término para julho de 2011. Palavras-chave: leite; gordura; proteína. Tabela 1 – Número de observações (n), médias estimadas, desvios-padrão (dp) e coeficientes de variação (cv) das características produtivas e reprodutivas Média Erro padrão Desvio padrão Variância da amostra Mínimo Máximo Contagem CV (%) Produção em Kg 21,41 0,93 8,12 65,98 5,01 38,80 76,00 37,95 Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. C.C.S Mês Atual 4,79 0,21 1,70 2,89 0,44 7,89 65,00 35,46 (% de Gordura) 3,07 0,05 0,47 0,22 1,95 4,06 75,00 15,38 (% de Proteína) 3,11 0,04 0,36 0,13 2,45 4,35 76,00 11,42 Dias Lactação 256 17 146 21181 16 662 75 57 176 Resumos REFERÊNCIAS ARAÚJO, C.V.; GONÇALVES, T.M.; AQUINO, L.H. et al. Fatores não genéticos nas produções de leite e de gordura em rebanhos da raça Holandesa no estado de Minas Gerais. Ciência e Agrotecnologia, v.24, p.766-772, 2000. BACILA, M. Bioquímica Veterinária. São Paulo: M. Bacila., 1980. p. 434-453. BAJALUCK, S.A.B. Efeitos de ambiente sobre a produção diária de leite e porcentagens de gordura e proteína em vacas da raça holandesa no Estado do Paraná. Curitiba, 1999. 56 pp. Tese (Mestrado em Ciências Veterinárias) – Curso de Pós – Graduação em Ciências Veterinárias, Setor de Ciências Agrárias, Universidade Federal do Paraná. HARTMANN, W. Sólidos totais em amostras de leite de tanques. Curitiba, PR, 2002. 55 pp. Tese (Mestrado em Ciências Veterinárias) – Curso de Pós – Graduação em Ciências Veterinárias, Setor de Ciências Agrárias, Universidade Federal do Paraná. MONARDES, H.G. Programa de Pagamento de Leite por Qualidade em Quebéc, Canadá. In: I SIMPÓSIO INTERNACIONAL SOBRE QUALIDADE DO LEITE, 1., 1998, Curitiba. Anais. Curitiba: Associação Paranaense de Criadores de Bovinos da Raça holandesa / Universidade Federal do Paraná, 1998. p40 – 43. NUNES JR., R.C.; BARBOSA, S.B.; MANSO, H.C. Avaliação da produção leiteira de vacas Holandesas na região Agreste de Pernambuco. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADEBRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 33., 1996, Fortaleza. Anais... Fortaleza: Sociedade Brasileira de Zootecnia, 1996. p.100-103. RIBAS, N.P. Fatores de meio e genéticos em características produtivas e reprodutivas de rebanhos holandeses da bacia leiteira de Castrolanda, Estado do Paraná. Viçosa, MG, 1981. 141 p. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) - Universidade Federal de Viçosa. RIBAS, N.P.; VEIGA, D.R.; HORST, J.A. Programa de Análise de Rebanhos Leiteiros do Paraná. Rev. Gado Holandês. São Paulo, SP, n. 450, p. 41 -45, 1996. SAS® System for Linear Models. 3 ed. SAS Institute Inc., Cary, NC, Estados Unidos. 1991. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa FONOAUDIOLOGIA E OS PROCESSOS DE LINGUAGEM: DOMÍNIOS DE INVESTIGAÇÃO Ana Paula Berberian - UTP Giselle Massi – UTP Ana Paula Santana - UTP Ana Cristina Guarinello - UTP A linguagem, como objeto de pesquisa, vem sendo do interesse de muitas áreas: lingüística, psicologia, neurociências, medicina, fonoaudiologia. Cada área toma um posto de observação diferenciado. Na fonoaudiologia analisamos, principalmente, as possibilidades de significação nas várias modalidades de linguagem, assim como as dificuldades no seu processos de aquisição e funcionamento. Docentes e discentes vinculados à Linha de Pesquisa Fonoaudiologia e os Processos de Linguagem, do Programa de Pós Graduação em Distúrbios da Comunicação da UTP, vêm desenvolvendo estudos que visam a sistematização de teorias e de práticas fonoaudiológicas voltadas à avaliação e terapia dos distúrbios da linguagem oral e escrita, bem como à promoção de tais modalidades de linguagem em contextos vinculados às Instituições de Saúde e Educação. As pesquisas contemplam interesse interdisciplinar e envolvem, assim, discussões sobre a linguagem e os processos afeitos a ela. Quanto ao aspecto metodológico, grande parte das pesquisas tem caráter qualitativo e/ou qualitativo/ quantitativo. Dentre os pressupostos norteadores de tais estudos ressaltamos a concepção de linguagem como constitutiva dos sujeitos em suas diferentes dimensões, bem como das relações sociais e, portanto, das formas de organização social. Consideramos que o desenvolvimento e uso das linguagens orais e escritas estão atrelados às condições de apropriação das mesmas que são historicamente constituídas, ou seja, estão atreladas às condições de vida materiais e subjetivas. Determinando tais condições, enfatizamos as formas pelas quais as práticas de linguagem escrita e oral são mediadas socialmente, especialmente nos contextos familiares e educacionais. Partimos do pressuposto de que os valores, os usos e as funções atribuídos à oralidade e à escrita, nas práticas cotidianas, por pais, familiares e professores são determinantes das possibilidades e dos limites enfrentados pelos sujeitos em seus processos de apropriação e uso dessas modalidades de linguagem. A partir de tais pressupostos, desenvolvidos em Núcleos de Trabalho que, além de contar com a participação de docentes, discentes e egressos do Mestrado e Doutorado, contam com a contribuição de docentes e discentes da Graduação Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 177 178 Resumos e de pesquisadores da comunidade, os projetos, atualmente, em andamento estão organizados a partir das seguintes temáticas: 1. Família, Subjetividade, Linguagem e Abordagens Grupais: - Estudo com grupo de pais de crianças com comprometimentos significativos de oralidade, usuárias da prancha de comunicação alternativa na escola, com objetivo de apreender aspectos favoráveis e desfavoráveis ao uso de tal recurso no contexto familiar; - Estudo com pais de crianças portadoras de fissura lábial e ou palatina acerca de suas representações quanto ao impacto de tal problemática no desenvolvimento global da criança e, em especial, nos processos de apropriação das linguagens oral e escrita; - Estudo com familiares e ou cuidadores de sujeitos afásicos, buscando analisar a visão de tais sujeitos em relação à abordagem grupal que estão vivenciando. 2. Linguagens Oral e Escrita, Formação de professores, Fonoaudiologia e Educação: - Estudos quanto à visão de grupo de professores acerca de seus conhecimentos em torno do conceito de letramento e das implicações de tais conhecimentos nas práticas pedagógicas; - Estudo acerca da visão de professores quanto às suas condições de letramento; - Análise de uma proposta de inter venção fonoaudiológica no contexto educacional; - Estudo dos processos de avaliação de leitura e de escrita no contexto fonoaudiológico e educacional; - Estudo das condições de letramento dos pais e de sujeitos diagnosticados como limítrofes; - Estudo dos aspectos metodológicos de grupo de afásicos. 3. Linguagem e Envelhecimento: - Análise das condições de letramento no contexto da gerontologia; - Estudo do papel de práticas de leitura e de escrita no processo de envelhecimento; - Análise da influência de práticas orais nesse processo; - Análise da relevância do trabalho em grupo junto a pessoas que estão envelhecendo; Análise dos sentidos atribuídos ao envelhecimento pela mídia escrita. 4. Linguagem, Surdez e Educação: Análise dos discursos de pais de crianças surdas; Estudo do papel do grupo de familiares de surdos e os discursos produzidos nesse grupo; - Análise da surdez no contexto educacional: formação de professores. Como resultado das nossas pesquisas podemos levantar alguns aspectos gerais: a) a importância de discussões e do implemento de estudos envolvendo os familiares dos sujeitos com alterações de linguagem. Isso se dá a partir do momento em que as pesquisa apontam que o modo com a família concebe o sujeito, a linguagem e os sintomas de linguagem tem implicações na forma como o sujeito se coloca como autor de seus discursos, bem como, com os processos de apropriação da linguagem. Parte-se, assim, do pressuposto de que a subjetividade é construída socialmente, a partir das interações sociais e dos discursos produzidos nessas interações. Dado que a família proporciona a primeira situação interativa que a criança participa, assim como consiste num espaço primordial de construção de discursos, compreender as práticas de oralidade e Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa escrita vivenciadas no contexto familiar e a visão da família sobre os usos de linguagem por parte de seus diferentes membros é fundamental para a elaboração de práticas clínicas e/ou institucionais. Dito de outra forma, entender, analisar e ressignificar discursos produzidos no contexto familiar podem trazer modificações tanto para o familiar, quanto para o sujeito e sua relação com seu sintoma. b) Sobre os atendimentos grupais no contexo das práticas fonoaudiológicas nossos estudos apontam que o grupo é um espaço social no qual os sujeitos podem colocarse discursivamente. O grupo, além de potencializar situações interpessoais que ampliam as possibilidades de troca e de práticas de linguagem significativas, é também o promotor das interações sociais que têm implicações diretas na (re)construção da subjetividade. Desta forma, a intervenção grupal favorece situações e práticas discursivas próximas às práticas sociais cotidianas, o que propicia a formação de esquemas interativos que ultrapassam a díade paciente-terapeuta, promovendo um diferencial nas possibilidades de práticas com a linguagem, na constituição do sujeito e nos processos de inserção social. c) Os estudos na área de envelhecimento evidenciam que o trabalho com e pela linguagem escrita possibilita a promoção de um envelhecimento ativo, digno e bem-sucedido. Contudo, a nossa pesquisa indica que é necessário tanto ressignificar a história de relação dos sujeitos idosos com a leitura e a escrita, quanto possibilidades de Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. práticas de letramento, pois um grupo significativos de idosos não se perceberem nem se colocam como leitores e escritores de diversos gêneros discursivos que compõem a sociedade vigente. d) as pesquisas que abordam a formação de professores evidenciam a necessidade de discussões em torno das práticas de oralidade e de letramento. Nessa direção, os resultados dos estudos em andamento evidenciam que embora os professores sejam leitores e escritores, suas condições de letramento, muitas vezes, não permitem uma posição de autoria protagonista na relação que estabelecem com textos acadêmicos, literários, enfim, com gêneros discursivos secundários. Decorrente desse fato, podemos apreender: - que os professores tem conhecimento restrito sobre os processos de apropriação das linguagens oral e escrita, bem como, em relação aos determinantes sociais,culturais,ideológicos e lingüísticos envolvidos em tais processos; - que as práticas de leitura e escrita, predominante, vivenciadas por professores dizem respeito a textos produzidos e veiculados em esferas privadas e, portanto, fazem parte dos denominados gêneros primários. Além disso, a relação com textos acadêmicos, em geral, ocorre para cumprimento de atividades obrigatórias em seus contextos de trabalho; - que embora a instituição escolar seja agência privilegiada de letramento, as mediações vivenciadas pelos alunos em relação aos discursos orais e escritos não tem permitido que os mesmos façam uso significativo de tais modalidades 179 180 Resumos de linguagem; - as intervenções fonoaudiológicas desenvolvidas no contexto escolar devem contribuir para que a escola cumpra seu papel social,ou seja, a democratização dos conhecimentos acadêmicos historicamente constituídos. Portanto, tais intervenções devem promover a apreensão de conhecimentos teórico-práticos que permita aos professores o desenvolvimento de práticas de oralidade, leitura e escrita que resultem na promoção da linguagem, ou seja, na apreensão por parte dos alunos das diferentes funções, usos, e valores sociais envolvidos com as diferentes práticas de linguagem. Além disso, tais intervenções devem promover a apropriação por parte dos alunos dos aspectos estruturais e semânticos envolvidos com a oralidade e escrita de forma que os mesmos possam se constituir como sujeitos/autores capazes de produzir sentidos ao interpretarem e elaborarem discursos. Para finalizar, concluímos que os avanços teórico-práticos obtidos a partir dos estudos desenvolvidos em nossa Linha de Pesquisa, tornaram- se possíveis porque tendo em vista os pressupostos teóricos que norteiam esses projetos, ou seja, a concepção sócio-histórica de linguagem, uma vez que permite abordá-la como dialogia, como trabalho cultural, como construção conjunta de sentidos e que se manifesta por meio dos vários mecanismos de significação (oralidade, escrita, gestos, desenhos). Só a partir dessas premissas é que podemos avançar na elaboração de inter venções terapêuticas e/ou institucionais que devem dar conta das multifacetas da linguagem: o biológico, o interativo, o subjetivo e o social. Em suma, as pesquisas com a linguagem devem ultrapassar sua análise formal, strictu sensu e considerar lugares sociais, a relação linguagem/sujeito/sintoma, as práticas discursivas, as histórias pessoais. Só a partir desse olhar é que podemos, de fato, avançar no entendimento dos processos de linguagem. Palavras-chaves: linguagem oral; linguagem escrita; fonoaudiologia. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa INFLUÊNCIA DA HIDROCINESIOTERAPIA NO EQUILÍBRIO DE INDIVÍDUOS ACIMA DE 60 ANOS Bianca Simone Zeigelboim - UTP Sandra Dias de Souza - UTP Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a faixa etária de 60 anos ou mais, é a que mais cresce em termos proporcionais. O aumento da expectativa de vida no país, (que atualmente é de 68,6 anos em média, e que no ano 2025 será de 71,6 anos - IBGE), aliado ao declínio das taxas de crescimento da população, determinou modificações na pirâmide etária, com aumento do número de idosos.Tornando assim, esta faixa etária uma das grandes preocupações de saúde pública, pois o processo de envelhecimento é definido como um processo dinâmico e progressivo, ocasionando maior incidência de processos patológicos, mas que não são a única preocupação, existindo outros fatores como quedas que muitas vezes pode tornar esse idoso inativo e dependente para executar simples funções do dia-dia. Com o passar da idade, as dificuldades na agilidade de movimento apresentam-se exacerbadas, perder o equilíbrio e cair durante a postura bípede e/ou durante a locomoção se torna cada vez mais freqüente, evidenciando uma ameaça à segurança e saúde dos idosos, especialmente aqueles com idade avançada. Entre um terço e metade da população com mais de 65 anos, ou uma em cada três pessoas mais idosas, cairá pelo menos uma vez por ano (CUMMING, 2002). Assim, aumentando a incidência de hospitalização, principalmente por fraturas após queda. Também a incidência ao óbito, apresentando relação causal com 12% de todos os óbitos da população geriátrica e 70% das mortes acidentais em pessoas com 75 anos ou mais. Vários fatores operam tanto no estimulo que causa a queda como na capacidade reativa da pessoa idosa para evitar a queda. Onde a estabilidade do corpo depende das informações adequadas de componentes sensoriais, cognitivos, integrativos centrais (principalmente cerebelo) e musculoesquelético de forma integrada. Devido a este fator surge, portanto, a necessidade de aprimorar as condições de recepção de informações do sistema vestibular, visual e somatossensorial a fim de ativar os músculos antigravitacionais e estimular o equilíbrio para prevenir as quedas. O processo de envelhecimento definido como um processo dinâmico e progressivo que determina a perda da capacidade de adaptação do indivíduo ao meio ambiente e modificações nas dimensões funcionais, bioquímica e psicológicas, ocasionando uma maior incidência de processos patológicos, podendo muitas vezes tornar esse idoso inativo e dependente de funções simples do dia-dia. A maior suscetibilidade dos Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 181 182 Resumos idosos a sofrerem lesões decorrentes de uma queda se deve a alta prevalência de comorbidades presentes nesta população, associado ao declínio funcional decorrente do processo de envelhecimento, como o aumento do tempo reação e diminuição da eficácia das estratégias motoras do equilíbrio corporal, fazendo de uma queda leve um evento potencialmente perigoso. Sendo também uma das principais causas de dependência funcional decorrente de quedas ocorridas até mesmo no próprio domicílio, pois o risco de cair aumenta significativamente com o avançar da idade, o que coloca esta síndrome geriátrica como um dos grandes problemas de saúde pública devido ao aumento expressivo do número de idosos na população e à sua maior longevidade, competindo por recursos já escassos e aumentando a demanda por cuidados de longa duração. Diversos fatores de risco e múltiplas causas interagem como agentes determinantes e predisponentes, tanto para quedas acidentais quanto para quedas recorrentes, impondo aos profissionais de saúde, o grande desafio de identificar os possíveis fatores de risco modificáveis e tratar os fatores etiológicos e morbidades presentes. Onde um dos meios para prevenção citados em literatura, é a prática da atividade física. A Atividade física pode promover bem estar, melhora na qualidade de vida, aumentando força muscular, flexibilidade e conseqüentemente diminuindo o risco a quedas. Desde os tempos remotos, a hidroterapia tem sido utilizada como recurso para tratar diversas doenças, recentemente tornando-se alvo dos estudos científicos. Onde o Fisioterapeuta utiliza as propriedades físicas deste ambiente junto à atividade física e exercícios como facilitador aos objetivos terapêuticos. De uma forma geral, os exercícios podem ser correlacionados com diferentes modalidades assim como com o ambiente aquático, onde a água é um meio diferenciado e bastante apropriado para tal prática, quando bem direcionada com as propriedades físicas da água, como flutuação, pressão hidrostática, empuxo e refração. A hidrocinesioterapia ou Fisioterapia Aquática constitui um conjunto de técnicas terapêuticas fundamentadas no movimento humano. Associada ou não aos manuseios, manipulações, configurada em programas de tratamento específicos para cada paciente. A multiciplicidade de sintomas como dor, fraqueza, déficit de equilíbrio, obesidade, doenças articulares, desordens na marcha, dentre outras dificultam os tratamentos e a realização de exercícios em solo por idosos, ao contrário dos exercícios realizados no meio aquático, onde há diminuição da sobrecarga articular, menor risco de quedas e de lesões. Além disso, as propriedades físicas possibilitam muitas vezes a realização de movimentos e exercícios que não seriam possíveis em solo. Sendo assim, a pesquisa tem como objetivo verificar a influência do programa de tratamento na hidrocinesioterapia no equilíbrio postural de indivíduos acima de 60 anos, devido à relevância do tema e da necessidade de tratamentos específicos. A Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa pesquisa será do tipo de estudo ensaio clínico, sendo solicitado parecer e autorização do Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Tuiuti do Paraná. A mesma será realizada no setor de Hidroterapia da Universidade Tuiuti do Paraná em uma Unidade de da Região de Curitiba-Pr. Para o desenvolvimento do estudo, serão selecionados 100 idosos, recrutados por meio de cartazes na própria unidade, assim como solicitação de encaminhamentos aos profissionais de outras unidades de saúde da região selecionados segundo os critérios de inclusão e exclusão. Critérios de Inclusão: Idade acima de 60 anos, marcha independente, ausência de contra indicações para o ambiente aquático, atestado médico dermatológico, cadastro nas unidades de saúde, assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido, independente dos relatos de tontura ou zumbido. Critérios de Exclusão: Incontinência fecal ou urinária, feridas abertas, ou demais contra indicações para a imersão em ambiente aquático, patologias neurológicas ou afecções motoras que impeçam a marcha voluntária ou posição ortostática. Primeiramente, solicitaremos termo de consentimento, identificando e esclarecendo os métodos e objetivos da pesquisa, onde os idosos serão selecionados pela idade, e método de exclusão. Utilizaremos uma sala ou ambiente da própria unidade para avaliação, apresentando comprimento superior 7 metros e largura maior que 3 metros; na realização da marcha livre e independente, utilização dos seguintes equipamentos: 2 cadeiras Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. simples com 45 cm de altura, fita métrica, 2 cronômetros, balança digital para verificação do peso, fichas com questionário e avaliação. Quanto à execução do tratamento, uso de uma piscina com formato circular, com profundidade de 1,5m e temperatura média de 30ºC. Inicialmente, os idosos reponderão informalmente ao questionário contendo perguntas simples como: história de quedas ou fraturas, relato de doenças, déficits visuais, auditivos, labirínticos, patologias associadas, uso de medicamentos, etc. Posteriormente, realizaremos a coleta dos dados antropométricos, sendo o peso e altura verificados com o sapato de utilização diária. Após a entrevista os idosos serão submetidos à avaliação do equilíbrio.Utilizando como mecanismos de avaliação testes funcionais de avaliação do equilíbrio, Alcance Funcional (Functional Reach), índice da Marcha Dinâmica (Dynamic Gait Index), Levantar e Caminhar Cronometrado (Timed Up and Go) (PODSIADLO, 1991), o qual faz uma monitoração rápida para detectar os problemas de equilíbrio que afetam as AVD’s, mensurado em segundos, onde se verifica o deslocamento em uma distância de 3 m a 6 m além do levantar e sentar da cadeira. Apoio Unipodal (Unipedal Stance), Escalada de Equilíbrio de Berg (Berg Balance Scale) (SHUMWAY-COOK, 1997) e Avaliação da Mobilidade relacionada ao desempenho (Performance Oriented Mobility Assessment). Visando identificar os fatores de risco de quedas, sua relação junto ao envelhecimento fisiológico e aspectos importantes para 183 184 Resumos sua prevenção. Sendo o teste de Alcance Funcional (para a direção ântero-posterior) desenvolvido por DUNCAN et al (1990) e o teste de Alcance Funcional Lateral por BRAUER et al (1999) determinar o quanto o idoso é capaz de se deslocar dentro dos limites de estabilidade anteriormente e lateralmente, tempo de retorno, mudança de direção e parada brusca, levantar e caminhar cronometrado, e questões similares. Aplicando também Vectoeletronistagmografia (VENG) que após a limpeza da pele das regiões periorbitárias com álcool, colocaramse, fixados com pasta eletrolítica, um eletródio ativo no ângulo lateral de cada olho e na linha média frontal, formando um triângulo isóscele, que permitiu a identificação dos movimentos oculares horizontais, verticais e oblíquos. Este tipo de VENG possibilitou obter medidas mais precisas da velocidade da componente lenta (correção vestibular) do nistagmo. Utilizando uma cadeira rotatória pendular decrescente e de um otocalorímetro a ar, com ar nas temperaturas de 42ºC, 18ºC e 10ºC, para as provas calóricas. Que serão realizadas pela Fonaudiologia na Universidade Tuiuti do Paraná. As escalas serão aplicadas pré-tratamento, posteriormente serão submetidas a sessões de hidrocinesioterapia, consistindo em exercícios formulados em um protocolo, realizando no ambiente aquático caminhada com e sem apoio para adaptação, exercícios de fortalecimento para membros inferiores, exercícos estáticos e dinâmicos, rotações de tronco, mudanças de decúbito, apoio unipodal, rotações verticais, rotações horizontais, visando imersão e submersão voluntária, os mesmos serão realizados com a supervisão e orientação do pesquisador, baseados em vários estudos.(CAMPION, 2000). Conta com tempo de duração de 30 minutos, duas vezes por semana em dias alternados, perfazendo o total de 20 sessões, reavaliadas pelas mesmas escalas. As comparações e análises serão realizadas por meio de confronto dos resultados obtidos de cada pontuação ou tempo individual aos aspectos e habilidades para o desempenho de tarefas de controle do equilíbrio corporal, após o tratamento e comparado a avaliação anterior. Os dados serão apresentados como diferença média e desvio padrão da diferença. Palavras-chave: equilíbrio; fisioterapia aquática; idoso. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa ISOLAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DE MICRORGANISMOS DE ERVA–MATE (Ilex paraguariensis A. St.-Hil.) COM POTENCIAL ANTIBACTERIANO Roseli Aparecida de Mello Amanda Lopes Lago Cassiana de Oliveira Mayara Gonçalves Motta O presente projeto visa o isolamento de microrganismos endofíticos de folhas sadias da planta erva mate com possível propriedades farmacológicas, entre elas podemos destacar as atividades antimicrobianas contra patógenos humanos. O objetivo principal e Isolar microrganismos endofíticos de folhas de erva–mate (Ilex paraguariensis A. St.-Hil.) com potencial antibacteriano; verificar a ocorrência de antagonismo entre os microrganismos isolados e patógenos humanos. As coletas das amostras de erva mate serão realizadas em diferentes períodos do ano; as condições de isolamento serão de acordo com a metodologia descrita no projeto e irão variar de acordo com os microrganismos isolados. Espera-se encontrar microrganismos com atividade antibacteriana, estes serão isolados e classificados de acordo com metodologias clássicas e moleculares. OBJETIVOS: a) Isolar microrganismos endofíticos de folhas de erva–mate (Ilex paraguariensis A. St.-Hil.) com potencial antibacteriano. b) Verificar a ocorrência de antagonismo entre os microrganismos isolados e patógenos humanos. JUSTIFICATIVA: A planta erva mate possui no seu interior uma série de microrganismos endofíticos com propriedades farmacológicas, entre elas podemos destacar as atividades antimicrobianas contra patógenos humanos. Esta pesquisa, faz-se necessária para determinar quais microrganismos (fungos e bactérias) possuem atividade antimicrobiana e contra quais microrganismos patogênicos estas propriedades farmacológicas agem causado um efeito inibidor. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA: As plantas medicinais e seus derivados consistiram durante muito tempo à base da medicina popular e, atualmente, cerca de 30% dos fármacos utilizados são de origem vegetal. Isto se deve, em parte, à grande variedade de espécies de plantas com propriedades biológicas. Acredita-se que cerca de 80% da população mundial use as plantas como primeiro recurso terapêutico (SILVA; FILHO, 2002).A Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 185 186 Resumos erva mate (Ilex paraguariensis A. St.-Hil.) é uma planta nativa da America do sul, pertencente à família Aquifoliaceae. É um importante produto natural no contexto socioeconômico e cultural na América do Sul e, principalmente, no Brasil. A região sul do País e a maior produtora de erva mate (ESMELINDRO et al., 2002) e sua importância concentra-se principalmente na área de bebidas por infusão, como chás, chimarrão, tererê e sucos (CARVALHO, 1994). As características biológicas da erva mate são decorrentes de vários fatores como, por exemplo, os fatores climáticos, características do solo, variações genéticas (COELHO et al., 2002), ou ainda pela presença ou ausência de microrganismos endofíticos (MELO; AZEVEDO, 1998). MICRORGANISMOS ENDOFÍTICOS: Segundo Petrini (1991), microrganismos endofíticos são aqueles que habitam o interior das plantas pelo menos durante um período do ciclo de vida da mesma sem lhes causar danos ou doença. Essa interação microrganismo-planta é tão íntima que tem sido sugerido como um processo co-evolutivo entre plantas e patógenos. Muitas espécies destes microrganismos apresentam a capacidade de sintetizar compostos que inibem ou são antagônicos a insetos e a microrganismos patogênicos (MACCHERONI et al., 2004). A produção de metabolitos primários e secundários pelos microrganismos é conhecida há muito tempo e explorado do ponto de vista biotecnológico. Os exemplos mais conhecidos são os antibióticos. Do ponto de vista biológico, a produção deste principio ativo pode estar associada com a interação entre os microrganismos e seu habitat (MACCHERONI et al., 2004). Na literatura, encontram-se algumas referências de estudos envolvendo microrganismos endofíticos isolados de plantas medicinais, mas poucas utilizando erva mate, a qual apresenta alto potencial farmacológico. Segundo Pimentel et al. (2006), os fungos endofíticos encontrados em plantas de erva mate podem agir de maneira antagônica, neutra ou até benéfica para o vegetal hospedeiro, exibindo vários graus de interdependência fisiológica e ecológica. Desta forma, justifica-se o interesse em elucidar aspectos da biologia destes microrganismos, para compreender melhor a sua relação com a planta hospedeira e seu papel na produção de novos fármacos. IDENTIFICAÇÃO DE MICRORGANISMOS: A Identificação de um dado microrganismo baseia-se no preenchimento das características atribuídas aquele microrganismo. O processo de identificação dos microrganismos é efetuado através da determinação de um número mínimo de propriedades. Os microrganismos endolíticos podem ser detectados por vários métodos no interior de tecidos vegetais, são eles: Microscopia ótica ou eletrônica onde podem ser vistos ocupando espaços intercelulares; métodos de coloração e métodos sorológicos. MÉTODOS CLÁSSICOS: Métodos fenotípicos Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa clássicos como: morfologia, testes bioquímicos e sorológicos utilizados para identificação dos mais diversos microrganismos e são importantes, porém apresentam limitações que os tornam insuficientes, muitas vezes, para a identificação e discriminação mais precisa dos microrganismos. Contudo, quando associados às técnicas de biologia molecular, os métodos taxonômicos clássicos tornam-se, em conjunto, poderosas ferramentas para a caracterização e a identificação dos mais diversos microrganismos. (BRUIJN et al. 1996; CARBONE E KOHN, 1993; GUIMARÃES; MOREIRA, 1999; WHITE, et al., 1990). A detecção de organismos específicos em extratos de plantas ou solo pode ser determinada por diversas técnicas moleculares entre as mais utilizadas podemos citar a reação em cadeias da polimerase PCR (REIS JUNIOR, et. al. 2002). Entre os componentes moleculares de um organismo, os ácidos ribonucléicos ribossomais (rRNA) são considerados os biopolimeros mais adequados para estudos de diversidade microbiana, seus genes, os rDNAs, são distribuídos universalmente entre os diferentes grupos de seres vivos, sendo a molécula com maior grau de conservação o existente. (LANE et al.; 1985). O 16S rRNA gera grande quantidade de informações úteis para inferências filogenéticas, por ser uma molécula menor e possibilitar uma maior facilidade de seqüenciamento , tornou-se uma molécula de referência. (WOESE, 1987; REIS JUNIOR, et. al. 2002). A técnica Analise de restrição Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. do DNA ribossomal amplificado (ARDRA) é baseada no grau de conservação dos sítios de restrição do rDNA que reflete padrões filogenéticos, ela é bastante útil para uma rápida analise da diversidade de uma ambiente (GRIFONU et al., 1995). Para a analise de diversidade intra especifica entre grupos isolados com afinidade filogenética, recomendação a ampliação do espaço intergênico 16S-23S rDNA, esta região apresenta uma maior variabilidade de bases (REIS JUNIOR, et. al. 2002). MATERIAL E MÉTODOS: As coletas das amostras de erva-mate realizadas no Centro Nacional de Pesquisa de Florestas (CNPF) da EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), no município de Colombo, PR, entre março de 2009 a março de 2010. Para a coleta do material, será realizada uma seleção aleatória das plantas adultas, sendo escolhidas as folhas de aspecto jovem e sadio. As plantas devidamente marcadas para posteriormente serem realizadas novas coletas. ISOLAMENTO DOS MICRORGANISMOS ENDOFÍTICOS: Os isolamentos serão realizados no Laboratório de Microbiologia da Faculdade de Ciências Biológicas e de Saúde da Universidade Tuiuti do Paraná. O material botânico coletado será processado no prazo de 24 horas. Após a coleta, será lavado abundantemente com água corrente e detergente neutro para retirar o excesso de epifíticos, matéria orgânica e resíduos sólidos. Antes do processo de desinfecção externa os 187 188 Resumos pecíolos vedados com parafina, a fim de evitar que os agentes de desinfecção penetrem por essa abertura, alterando o resultado real do isolamento. Em seguida, em câmara asséptica, as folhas lavadas em água destilada esterilizada por duas vezes e posteriormente o material será imerso em álcool 70% por 1 minuto. Na sequência, em hipoclorito 3% por 4 minutos e novamente em álcool 70% por 30 segundos, para retirar o excesso de hipoclorito. Então, o material será lavado três vezes em água destilada estéril da qual será retirado 50 μL para fazer o controle da assepsia (SOUZA et. al., 2004). As folhas cortadas em fragmentos circulares de aproximadamente 6 mm. Estes fragmentos transferidos para placas de Petri contendo meio de cultivo batata, dextrose e ágar (BDA), acrescido de tetraciclina (100mg/L) para isolamento de fungos e meio Tryptona Soy Agar (TSA) acrescido de benlate (1μg/mL), para isolamento das bactérias. As placas com os fragmentos incubadas a 28ºC e 37 ºC.O crescimento das colônias fúngicas e bacterianas será acompanhado diariamente. Para purificação dos isolados fúngicos, esporos de cada um dos isolados homegeneizados em solução de Tween 80 a 0,1 %, e alíquotas de 0,1 mL semeadas em placas de Petri contendo meio BDA com auxílio da alça de Drigalski. As placas incubadas à temperatura ambiente (28 ± 2 ºC), conforme descrito por Pimentel et al. (2006). ATIVIDADE ANTIBACTERIANA: Para se observar a atividade antibacteriana das amostras de microrganismos endofíticos, empregadas duas metodologias descritas por Mariano (1993). As linhagens referências, provenientes da ATCC (American Type Culture Collection), escolhidas aleatoriamente linhagens de fungos. Depois, cultivados por oito dias em placas de Petri com meio BDA ou TSA retirados fragmentos do meio com 6 x 6 mm para fermentação em 10 mL de BD (acrescido de 0,2% de extrato de levedura) a 25 oC, a 120 r.p.m., após oito dias. Decorrido este tempo o micélio será separado do meio metabólico por filtração em papel. O líquido será novamente filtrado em membrana millipore (0,22 μm ou 0,45 μm) e armazenado a 4 oC para realização dos ensaios antimicrobianos. Serão realizados testes semiquantitativos, em triplicata, in vitro, para avaliar a antibiose dos metabólitos extracelulares presentes nos meios fermentados contra as linhagens-teste. Palavras-chave: fungos endofiticos; propiedades biológicas; atividade antimicrobiana. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa O IMPACTO DO RUÍDO NA ATIVIDADE DE ODONTÓLOGOS Cláudia Giglio de O. Gonçalves - UTP Adriana Lacerda – UTP Entre os riscos ocupacionais à saúde, o ruído é o agente físico mais comum nos ambientes de trabalho e as clínicas, os consultórios e os laboratórios odontológicos também apresentam elevados Níveis de Pressão Sonora (NPS) que podem comprometer a saúde dos profissionais expostos. Nos consultórios odontológicos, as fontes ruidosas dos são: micromotores, compressores de ar, sugadores, turbinas de alta rotação, etc. Desde 1959, há preocupação com os elevados níveis de pressão sonora produzida pelos equipamentos odontológicos, ano em que o Conselho de Saúde Dental (EUA) sugeriu a investigação auditiva pela exposição ao ruído na prática dentária. Em 1974, estudos de Peyton, (apud BERRO e NEMR, 2004), analisou turbinas de alta-rotação, encontrando intensidades que variavam de 75 dB a 100 dB à freqüência de 9.000Hz. Lehto, (1990), que encontrou na alta rotação, 65 a 78,6 dB (NA), no amalgador, 65,8 a 68 dB (NA), no sugador de alta potência, 68,8 a 72 dB (NA), no ultra-som para limpeza dos dentes 75,8 a 88 dB (NA) e motor de baixa rotação 69,8 a 72 dB (NA). Souza (1998) avaliou o NPS da turbina de alta rotação e encontrou valores de 74,4 a 95,7 dB(A) em duas diferentes marcas. Lacerda, Melo, Mezzadri e Zonta (2002) avaliaram o ruído das peças de mão - micromotor de baixa rotação e encontraram 78 dB(A) para da marca Kavo e 73 dB(A) para a marca Dabi. Outros equipamentos também são enquadrados no grupo de risco à audição: sugador normal, sugador bomba a vácuo, seringa tríplice e jato de bicarbonato. A exposição ao ruído intenso é preocupante, pois pode acarretar alterações auditivas, dependendo da intensidade sonora e do tempo de exposição (MELNICK, 1985). Entre os sintomas auditivos relacionados à exposição ao ruído ocupacional, há referências às sensações como algiacusia, sensação de plenitude aural e dificuldade em localização da fonte sonora, assim como as dificuldades de compreensão de fala e do zumbido (JERGER e JERGER, 1989). Costa (1989) observaram diminuição da concentração e da produtividade em 60% dos dentistas expostos aos ruídos estudados. Mota (2005) analisou a audição de 85 dentistas de Cascavel – PR e encontrou 43,5% deles com alterações auditivas por ruído associadas ao tempo de trabalho. OBJETIVO: Analisar os efeitos da exposição ao ruído intenso na atividade de odontólogos. MÉTODO: Elaborou-se um questionário que vem sendo aplicado com odontólogos associados da Associação Brasileira de Odontologia – seção Curitiba e um questionário aplicado a estudantes de odontologia. Através Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 189 190 Resumos dos questionários, podem ser identificadas as possíveis conseqüências da exposição ao ruído e o conhecimento dos odontólogos e estudantes sobre como prevenilas. Avaliaram-se os NPS, por avaliação instantânea e por dosimetria, tanto em relação ao ambiente como aos equipamentos específicos de clínicas particulares. Realizou-se audiometria tonal e emissões otoacústicas produto de distorção. Os limiares auditivos são expressos como média de cada freqüência e respectivo desvio padrão e comparados com uma população não exposta a ruído. A audição dos dentistas é avaliada por audiometria tonal e, recentemente, também através de emissões otoacústicas produto de distorção. A audiometria tonal possibilita a identificação dos limiares tonais de 250 a 8000Hz, identificando possíveis alterações auditivas (limiares auditivos superiores a 25 dBNA). Assim, é possível a classificação dos audiogramas, de acordo com o Anexo 1 da NR 7, como limiares dentro dos padrões aceitáveis (audiograma com limiares auditivos até 25 dBNA), sugestivo de Perda Auditiva Induzida por Ruído ( limiares auditivos tanto por via aérea como por via óssea maiores que 25 dBNA, com características neurossensoriais, nas freqüências 3000, 4000 e/ou 6000Hz) e perda auditiva não ocupacional (outras configurações audiométricas que não sugestivas de PAIR) (Gorga et al, 1993). RESULTADOS: Analisou-se uma população de 198 odontólogos do Paraná, encontraram-se 26,76% (53 sujeitos) com perdas auditivas neurossensorias com configuração de entalhe acústico, sugestivas de induzidas por ruído e 17,67% (35) com alterações auditivas com outras configurações, provavelmente por causas que não ocupacionais. A idade dos odontólogos variou de 19 a 77 anos, com tempo de atuação como odontólogo variando de 1 a 53 anos. Predominou o sexo feminino com 53,44% dos participantes. Observou-se que a maioria dos odontólogos (64,14%) conhecia os efeitos nocivos do ruído na saúde e 52,52% conhecia maneiras de se proteger desses efeitos, porém apenas 2,53% utilizavam proteção contra o ruído no trabalho e 68,68% não se preocupavam em verificar o nível de pressão sonora gerado pelos equipamentos que compra. A metade dos odontólogos (49,5%) sabia que o ruído ocupacional poderia causar perdas auditivas e, em menor proporção, conhecia outros efeitos adversos para a saúde. A principal queixa relatada foi a irritabilidade (43,93%) seguida da cefaléia (31,31%). Foram analisados, por leitura instantânea, os níveis de pressão sonora de alguns equipamentos em três consultórios odontológicos, encontrando-se níveis entre 71 e 86 dB (A). Segundo a legislação trabalhista (norma Regulamentadora n. 15) o tempo máximo permitido para exposição a ruído para 8 horas de trabalho é de 85 dBA. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Apesar dos odontólogos e estudantes perceberem o seu ambiente de trabalho como de risco devido ao ruído, há pouca ação com relação à prevenção e proteção da perda auditiva, Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa indicando a necessidade de uma melhor conscientização sobre tais questões, no sentido de orientar sobre as medidas preventivas possíveis, como a utilização de protetores auriculares, a manutenção dos equipamentos e aquisição daqueles com níveis de ruído reduzidos. Recomenda-se a implementação de Programas de Preservação Auditiva nesta categoria profissional, bem como a incorporação de informações sobre os efeitos Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. do ruído e de como se proteger deles nas disciplinas da grade curricular, durante a formação acadêmica dos mesmos. O monitoramento auditivo periódico para estes profissionais é fortemente recomendado por trabalharem expostos aos níveis de pressão sonora elevados. Palavras-chave: saúde do trabalhador; audição; efeitos do ruído. 191 192 Resumos REFERÊNCIAS BARBOSA, W. Aspectos do Ruído comunitário de Curitiba. Dissertação. Programa de pósgraduação do Departamento de Engenharia Mecânica da UFPR. Curitiba: UFPR, 1992. BERRO, R.J.; NEMR, K. Avaliação dos ruídos em alta frequência dos aparelhos odontológicos. Revista CEFAC, v.6, n.3, 300-05, 2004. COSTA, E.G.C. Ergonomia: prevenção dos riscos ocupacionais em odontologia. Jornal do Dentista v.48, n.3, 48-51, 1989. GIDDENS, A . Modernidade e identidade. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 2002. GONÇALVES, C.G.O. Saúde do trabalhador da estruturação à avaliação de programas de preservação auditiva. São Paulo: Ed Roca, 2009. GORGA, M.P.; NEELY, S.T.; Bergman, B.; Beauchaine, K.L.; Kaminski, J.R. et al. 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Compreendida a partir dos processamentos psicológicos ou sistemas funcionais complexos que ocorrem por meio da participação de grupos de estruturas cerebrais, sendo que cada qual oferece uma contribuição própria ao sistema cerebral. Desta maneira, considera-se que interferem nos processos de aprendizagem do aluno, uma vez que este se dá, inicialmente, no cérebro e isso ocorre de forma sincronizada com outros sistemas. A Psicologia da Gestalt, ao estudar a percepção argumenta que a percepção sensorial é única e depende da organização e do relacionamento particular existente entre as partes (figura-fundo) denominadas gestalts. Sendo assim, figura-fundo constitue a unidade básica da percepção e formam a unidade de significado. O que, quer dizer, que o organismo humano constrói uma unidade sentir– pensar–agir. Dessa maneira, a percepção sensorial não decorre apenas de um processo de recepção de estímulos ou da impressão sensitiva do meio sobre o organismo, ela resulta essencialmente de uma relação indubitavelmente singular da unidade meio–organismo. O campo de percepção é dinâmico e é compreendido como um constante aparecimento e desmoronamento de gestalts. Assim, o comportamento humano se define por meio dessa particular organização das gestalts. Então, aprender significa perceber uma situação global de forma a reagir adequadamente em face dela. Aprende-se discernindo, compreendendo. Neste estudo, serão levantadas dificuldades encontradas no processo educativo e as principais características distintivas da educação superior, Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 193 194 Resumos segundo docentes e discentes. Quanto à natureza psicológica do processo educativo entende-se que remete a um campo complexo de forças, quer dizer, constitui um processo dinâmico, ativo e dialético, que envolve o aluno, o professor e o meio existente (Vigotski, 2003). A partir dos dados levantados como os docentes e discentes será avaliada a distribuição quantitativa dessas percepções buscando relações significativas entre os dois temas ou entre outras variáveis levantadas para análise e discussão das relações encontradas à luz dos dados teóricos previamente revisados. Trata-se de um estudo interinstitucional que reúne cursos de Psicologia de quatro instituições particulares de ensino superior, sendo duas universidades e duas faculdades da cidade de Curitiba. Tem por referência a Pesquisa intitulada “Percepção discente e docente acerca do ensino superior e das características ideais de docentes e discentes”, realizada no período de 2007 a 2008, em uma das instituições participantes do presente estudo. O público pesquisado contou com 692 acadêmicos e 99 professores. A referida pesquisa conclui que é possível observar as diferenças nas percepções docentes e discentes a respeito das finalidades do ensino superior, das competências de cada segmento na dinâmica acadêmica e dos entraves do processo ensinoaprendizagem. Uma vez que tais segmentos atribuem responsabilidades desiguais à determinação do sucesso acadêmico, pode-se supor que o cotidiano acadêmico esteja sendo regulado por forças que agem em diferentes sentidos ou direções. A tomada de consciência dessas distâncias pode promover o debate e a formulação de novos contratos didáticos, explícitos, deliberados e coletivamente acordados a fim de corrigir o curso das forças que buscam atingir o propósito efetivo da educação superior. A universidade é um espaço marcado por inúmeras experiências e uma diversidade de alternativas teóricas, nesse sentido para Severino (2002) quando o acadêmico dá início à vida universitária, ele se dá conta de que existem exigências específicas para dar continuidade à educação superior. Consoante a esse pensamento ele alerta para a importância de se adquirir novas posturas, diante de novas tarefas que logo serão solicitadas ao estudante. É necessário assumir prontamente essa nova situação e de tomar medidas apropriadas para enfrentá-la. É preciso que o estudante se conscientize de que o resultado do processo depende fundamentalmente dele mesmo. Seja pelo seu próprio desenvolvimento psíquico e intelectual ou pela própria natureza do processo educacional desse nível, as condições de aprendizagem transformam-se no sentido de exigir do estudante maior autonomia de sua efetivação, maior independência em relação aos subsídios da estrutura do ensino e dos recursos institucionais que ainda continuam sendo oferecidos. O aprofundamento da vida científica passa a exigir do estudante uma postura de auto-atividade didática (Severino, 2002). Tendo essa Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa referência considera-se que a reflexão sobre o tema não se esgotou na pesquisa anterior e se justifica pelas dificuldades identificadas na atualidade com o ensino e a transmissão do conhecimento, com efeitos no aproveitamento, nos relacionamentos, nas condições emocionais, enfim no comportamento do acadêmico. Destarte, outro desafio se apresenta que é investigar interinstitucionalmente a percepção acadêmica do curso de psicologia acerca da educação superior e das características ideais de docentes e discentes. Parece ser fundamental avaliar uma possível distância entre as finalidades e atribuições da educação superior e as percepções que os estudantes formulam sobre essa etapa de sua formação e sobre os papéis dos atores envolvidos. Uma vez que se supõe que o que se oferece na estrutura do ensino e dos recursos institucionais não pode ir além de fornecer instrumentos que possibilitem uma atitude criativa do estudante. Parece urgente buscar-se suporte no contexto e nas práticas educacionais para que se possa efetivar verdadeiramente o ensino da psicologia e a formação de psicólogo adequada às expectativas do trabalho. Entende-se que no espaço acadêmico existem exigências específicas as quais o universitário deverá dar-se conta para a continuidade da sua formação profissional. Deste modo, é no ambiente escolar que os alicerces e os desafios se apresentam e é neste contexto que se encontram elementos que auxiliam a oferecer uma educação de qualidade para todos e alternativas que Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. viabilizam a diversidade na aprendizagem. Outro elemento a considerar é a motivação em relação ao curso superior, considerada um dos alicerces à satisfação do acadêmico. Muitos são os estudos acerca da definição e compreensão da motivação, entre eles destaca-se SAWREY & TELFORD (1976) que a definem como uma condição interna pela qual o homem é, consciente ou inconscientemente, provocado a agir com intencionalidade na busca do prazer e da satisfação. A motivação aplicada aos diversos contextos educacionais vem se expandindo pelo fato de que para que qualquer aprendiz seja bem sucedido é preciso que saiba utilizar de forma auto-regulada, auto-dirigida e ativa estratégias para gerenciar tanto a motivação como o comportamento e a aprendizagem, ou seja, que seja capaz de aprender a aprender (RUIZ, 2003). Nesta perspectiva, segundo BZUNECK (2005) não se deve limitar o estudo da motivação apenas como um recurso próprio do aluno, estável e trans-situacional, deve-se sim estudá-la como produto de uma interação entre características intra e interpessoais, bem como, a motivação deve estar contextualizada. Ainda, os motivos de determinada situação constituem o aspecto dinâmico do processo ensino-aprendizagem. Assim, é necessário reconhecer que tanto o conteúdo como as estratégias de aprendizagem devem considerar os motivos individuais e os da comunidade social onde vive o aluno. Um aluno motivado a aprender apresenta tendência a considerar as atividades escolares 195 196 Resumos significativas e de valor e a tentar extrair delas os benefícios escolares esperados. Deste modo, a motivação também guarda relação com a percepção que o acadêmico tem acerca das experiências no ambiente escolar. Nesse espaço relacional, professor e aluno confrontam-se e constroem imagens recíprocas. Se estas imagens forem compreendidas poderão revelar as diferenças entre percepções docentes, discentes e institucionais e permitir intervenções que aproximem os atores do cenário acadêmico. É importante destacar que os indivíduos quando transformados num grupo adquirem uma espécie de mente coletiva que os faz sentir, agir e pensar de maneira muito diferente do que individualmente, em estado isolado. Esta investigação tem a intenção de ser exploratória. Como procedimento inicial de coleta de dados serão realizados grupos focais, entendidos como técnica qualitativa, não-diretiva, cujo resultado visa o controle da discussão de um grupo de pessoas. Neste caso, os sujeitos serão os docentes e discentes de cada instituição separadamente para identificar categorias que venham a constituir, num segundo momento, um instrumento fechado para aplicação posterior em maior número de sujeitos, gerando um tratamento quantitativo a ser discutido para alinhavar conclusões. Palavras-chave: educação superior; percepção discente; percepção docente. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa PREPARO DE EMULSÕES CONTENDO PRINCÍPIOS ATIVOS DA PRÓPOLIS DE APIS MELLIFERA – MANIPULAÇÃO FARMACOLÓGICA DE USO HUMANO E VETERINÁRIO Patricia Bumiller Bini Domacoski Valter Antonio de Baura Shigehiro Funayama A procura de novas formulações farmacêuticas que permitam a administração de fármacos de maneira segura, que tenham eficiente biodisponibilidade e que apresentem riscos mínimos de efeitos colaterais tem sido um dos principais objetivos permanentes das indústrias farmacêuticas. Na tentativa de atingir esse objetivo, muitos pesquisadores têm dando grande a atenção às emulsões e microemulsões, uma vez que elas favorecem o aumento da eficácia terapêutica dos fármacos possibilitando assim, a redução da dose a ser administrada e, portanto, diminuindo as possibilidades de manifestação dos efeitos colaterais. Estas preparações são capazes de compartimentalizar os fármacos nas microgotas da fase interna, as quais possuem propriedades fisicoquímicas diferentes do meio dispersante, alterando o comportamento biológico dos fármacos incorporados. As emulsões são sistemas termodinamicamente estáveis nos quais há mistura de dois líquidos imiscíveis, usualmente água e óleo, estabilizados por compostos tensoativos que se localizam na interface água-óleo. As emulsões podem se apresentam como líquidos opacos ou emulsões géis opacas que exibem viscosidade elevada, enquanto que as microemulsões se caracterizam por apresentarem aspectos translúcidos ou mesmos transparentes. As emulsões e micro emulsões do tipo O/A água engloba a partículas de óleo, sendo de água a fase externa elas não atuam como engordurantes e possuem efeito evanescente. Além disso, apresentam algumas vantagens como sistema liberadores de fármacos lipofílicos podendo ser utilizadas parenteralmente. As emulsões do tipo A/O a fase oleosa engloba a aquosa, são de uso externo e apresentam efeito engordurante deixando o ponto de aplicação brilhante. Neste trabalho foi obtida uma solução aquosa de compostos orgânicos extraídos da própolis de Apis mellifera que possui características físico-químicas de microemulsão e biológicas capazes de inibir a proliferação de bactérias gram negativas e gram positivas. O processo de extração está fundamentado naquele proposto por Funayama e colaboradores em 2006 com algumas modificações que se fizeram necessárias. As amostras de própolis verde e mista foram obtidas comercialmente da Cooperativa de apicultores de Ibaití-Apicampe da região norte do Estado do Paraná. As cepas de bactérias gram positivas Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 197 198 Resumos Streptococcus mutans (ATCC 35668), Staphylococcus aureus (ATCC 6538) e Streptococcus pyogenes (ATCC 19615), e de gram negativas Enterobacter aerogenes (ATCC13048), Salmonela typhimurium (ATCC14028) e Pseudomonas aeruginosa (ATCC35032) foram adquiridas da Difco. A resina fresca e macia de própolis foi fragmentada manualmente em pequenos pedaços e macerada em dois litros de etanol a 75% por uma semana com agitação ocasional. Após esse período o macerado foi filtrado em papel de filtro e o etanol do filtrado resultante foi eliminado por evaporação. Nesta etapa do processo foram obtidas duas frações uma aquosa e outra resinosa. A fração resinosa foi submetida à hidrólise alcalina e os compostos liberados por este processo foram incorporados a fração aquosa. A fração aquosa assim obtida é estável a temperatura ambiente e possui acentuada atividade antibacteriana, podendo ser utilizada no preparo de formulações farmacológicas de uso humano e veterinário. Palavras-chave: extrato aquoso de própolis; emulsões; microemulsões; atividade antibacteriana. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa PROGRAMA DE PREVENÇÃO DE PERDA AUDITIVA (PPPA): AVALIAÇÃO DE SUA EFICÁCIA EM UMA INDÚSTRIA PETROQUÍMICA Suzanne Bettega Almeida - UTP INTRODUÇÃO: O Ruído está presente em quase todas as atividades humanas, tanto no lazer como no trabalho. Mas é principalmente no ambiente industrial onde se concentra uma diversidade de condições e operações que favorecem a existência desse agente agressor acarretando, muitas vezes, dano à saúde dos trabalhadores. A indústria petroquímica, sobretudo, além de ser pioneira em processos de trabalho automatizados, trouxe novos riscos à saúde dos trabalhadores. O PPPA envolve um conjunto de ações e políticas cujo objetivo é preservar e promover a saúde auditiva dos trabalhadores expostos aos elevados níveis de pressão sonora. Toda essa preocupação com a saúde auditiva deve-se ao fato de que a perda auditiva no trabalho denominada como perda auditiva induzida por ruído (PAIR), é uma doença ocupacional de grande prevalência não só no Brasil, mas nos países industrializados de todo o mundo (Almeida e col, 2000). Além dos diversos estudos, existem documentos na legislação vigente, tais como o Boletim nº 6 lançado pelo Comitê de Ruído e Conservação Auditiva (1999), a O.S. nº 608 (1998) e o Anexo I da NR-7 (1998), que trazem diretrizes e recomendações para a elaboração de um PPPA. Dentre estas etapas, destaca-se o item referente à avaliação, pelo fato de ser uma forma de assegurar que o programa implementado está sendo eficiente e que possui boas práticas de saúde e segurança. Sendo assim, o PPPA não consiste apenas na realização de exames audiométricos e disponibilização de equipamentos de proteção auditiva, mas sim, em um conjunto de medidas que devem ser implementadas, cumpridas e avaliadas. Embora a perda auditiva ocupacional seja passível de prevenção, sua incidência no meio industrial é elevada. Portanto, uma vez que existe a exposição ao risco no trabalhado, e diretrizes para serem seguidas, é fundamental que, além da implantação e desenvolvimento de um Programa, seja realizada sua avaliação para verificação da efetividade de suas ações (NIOSH, 1996; USHIMURA, 2002; GONÇALVES e IGUTI, 2006). OBJETIVO: Avaliar a eficácia, de um PPPA implementado em uma indústria petroquímica Brasileira. MATERIAL E MÉTODO: Utilizou-se como instrumento de avaliação um questionário com 26 perguntas, aplicado em 136 trabalhadores do sexo masculino, com idade média de 33 anos que atuam na área da produção industrial petroquímica, cuja exposição ao NPSE varia entre 78,5dB (A) e 85,3dB (A). O questionário foi elaborado a partir de um levantamento bibliográfico, baseando-se nos seguintes modelos propostos: Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 199 200 Resumos • Program Evaluation Checklist – Appendix B (NIOSH, 1996) • Hearing Handicap Inventory for the Elderly – HHIE (WIESELBERG, 1997). • Protocolo de avaliação de um PPPA (GONÇALVES, 2003). • Amsterdam Checklist for Hearing and Work (KRAMER et. al., 2006) Destes instrumentos, foram selecionadas as perguntas mais pertinentes ao assunto e outras elaboradas para avaliar a eficácia do PPPA de acordo com a perspectiva da autora. A análise dos questionários foi realizada a partir da categorização das perguntas em quatro subgrupos relacionados à mesma área temática, caracterizados como: 1 Exame Audiométrico; 2) Ações do Programa de Prevenção de Perdas Auditivas - PPPA; 3) Hábitos e Comportamento dos Trabalhadores; 4) Equipamento de Proteção Individual – EPI. Os questionários foram estruturados de maneira que as respostas fechadas possibilitassem seis opções de acordo com a escala Likert, sendo que cada resposta foi atribuída valores de 0 a 5, com as seguintes opções : 0- “não sei responder”, 1- “discordo totalmente”, 2- “discordo”, 3- “não concordo nem discordo”, 4 “concordo” e 5 “concordo plenamente”. A pontuação total de cada categoria foi calculada em porcentagem onde, os valores atribuídos aos resultados das perguntas vão aumentando conforme o grau de conhecimento do entrevistado em relação ao tema avaliado. Para análise das áreas temáticas entre si, adotou-se um peso de diferente valor para cada uma delas a fim de equivaler a avaliação final entre as mesmas. RESULTADOS: Os resultados referem-se à avaliação dos 136 trabalhadores das unidades de produção e manutenção, compostos por 25 questões sobre suas percepções referente às ações desenvolvidas no PPPA. Verificou-se nas quatro categorias avaliadas uma prevalência da resposta “concordo plenamente”, cujas áreas de Hábitos e Comportamento (56%) e EPI (55%) apresentaram pontuações muito próximas. Em seguida observou-se a resposta “concordo” com valor mais representativo na área de EPI (33%), após Ações do PPPA (31%), Hábitos e Comportamentos (29%) e Exame Audiométrico (19%). A resposta “não concordo nem discordo” segue com maior pontuação na área de Ações do PPPA (11%) em relação aos Hábitos e Comportamentos (8%), EPI (6%) e Exame audiométrico (1%). Nas respostas “discordo totalmente” e “discordo” não houve pontuação na categoria de perguntas referentes à Exame Audiométrico (0%), sendo a categoria de Ações do PPPA melhor avaliada nestas respostas, com (3%) e (5%) respectivamente. No que se refere à resposta “não sei responder”, a maior pontuação foi na categoria Ações do PPPA (8%), seguida de Hábitos e Comportamentos (4%), obtendose nas categorias Hábitos e Comportamentos e EPI a mesma pontuação (3%). CONCLUSÃO: Concluiu-se a partir dos resultados, Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa uma percepção positiva dos empregados em relação às categorias avaliadas do PPPA, principalmente no que se refere ao Exame audiométrico. A elaboração do instrumento foi fundamental para verificar a efetividade das ações desenvolvidas, de modo a corrigir possíveis Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. falhas e evitar que erros se acumulem. Logo, o PPPA mostrou-se eficaz nas ações implementadas. Palavras-chave: Programa de Prevenção de Perda Auditiva (PPPA); avaliação; indústria petroquímica. 201 202 Resumos SCREENING DE MICRORGANISMOS PRODUTORES DE LIPASES FÚNGICAS PARA APLICAÇÕES BIOTECNOLÓGICAS Maria Luiza Fernandes Rodrigues André Guilherme Iess Anne Caroline Defranceschi Oliveira Felipe Miguel Farion Watanabe A bioconversão de resíduos agroindustriais tornou-se, atualmente, um objetivo de várias indústrias. Pensa-se em como diminuir os resíduos gerados pelas fábricas, como uma simples tentativa de compensar a poluição já existente no meio ambiente. Analisando o contexto da poluição já existente, temos o dever de conter ou mesmo tentar amenizar os resíduos gerados a partir do momento de instalação de qualquer tipo de indústria. Exemplificando a situação podemos citar as indústrias de alimentos que diariamente produzem toneladas de lixo orgânico e inorgânico. A reutilização– bioconversão– pode ser feita sim. Técnicas de manejo são empregadas efetivamente para que tais resíduos tenham destinação correta. Resíduos maus tratados, e com destinação incorreta podem gerar graves problemas de saúde e ambientais. Quando jogados erroneamente, eles são desperdícios de fonte de energia e muitas vezes de matéria-prima para outra atividade. Pode-se trabalhar com a compostagem de matéria orgânica na produção de adubos e também na utilização de fonte de energia. Os resíduos contêm muitas substâncias de alto valor. Aplicar uma tecnologia correta e inteligente é o básico para o bom reaproveitamento desse resíduo (Germano, 2000). Com relação à produção de lipases como biocatalisadores nas reações químicas, a Fermentação em Estado Sólido (FES), aparece como uma tecnologia promissora, pois além de usar substratos de baixo custo como resíduos agroindustriais, o biocatalisador pode ser produzido em sua forma mais concentrada, o que pode facilitar a sua recuperação do meio de fermentação, quando for o caso. Em sistemas de FES o microrganismo cresce em partículas de um substrato orgânico sólido, com um mínimo de água livre nos espaços entre as partículas de substrato. Assim, o substrato fermentado pode atuar como suporte para a enzima, sem a necessidade de uma etapa de extração prévia e imobilização do biocatalisador. Se, juntamente com o processo de FES desenvolverem-se aplicações que possam gerar produtos de alto valor agregado, e que dispensem a extração da enzima do sólido fermentado, então as possibilidades de redução de custos podem aumentar, viabilizando a aplicação do processo em escala industrial (Fernandes, 2006). Dentro deste contexto, este trabalho pretende contribuir para o conhecimento dos processos fermentativos usando materiais sólidos, estudando Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa a produção de lipases por fungos endofíticos em FES, utilizando substratos baratos e resíduos agroindustriais, e sua aplicação em reações de hidrólise ou síntese com possíveis aplicações industriais. Desta maneira, pretende-se aliar a produção de enzimas com características desejáveis (estabilidade em solventes e termoestabilidade), a partir de substratos de baixo custo, à sua utilização em biocatálise (reações de hidrólise e síntese). O aspecto conjunto de produção de enzimas por FES com aproveitamento de resíduos e a geração de produtos de alto valor agregado, justificam plenamente este trabalho, considerando o aumento dos volumes de resíduos agroindustriais gerados nas indústrias, associado à crescente preocupação com os impactos ambientais destes e uma legislação ambiental cada vez mais rígida. As lipases (triacilglicerol éster hidrolase, E.C. 3.1.1.3) são enzimas hidrolíticas que “in vivo” catalisam a hidrólise de triacilgliceróis de cadeia longa (acima de 10 átomos de carbono), sendo a trioleína o seu substrato padrão, aos ácidos graxos correspondentes e glicerol, constituíndo uma classe especial de carboxil éster hidrolases (Diaz et al., 2006). “In vitro”, as lipases também atuam como catalisadores em diversas reações, com alta especificidade, estabilidade e condições reacionais brandas, incluindo as reações de esterificação, transesterificação, lactonização, acilação regioseletiva e aminólise, quando a quantidade de água do sistema em que estão presentes é suficientemente baixa a ponto de deslocar o equilíbrio termodinâmico no sentido da síntese (Fernandes, 2006). Com relação às aplicações Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. industriais, as lipases têm sido freqüentemente utilizadas na resolução de misturas racêmicas, na formulação de detergentes e síntese de biosurfactantes; no tratamento de efluentes, na indústria oleoquímica (bioconversão de óleos e gorduras) para a produção de biodiesel; na indústria agroquímica; na manufatura do couro e papel; na nutrição; na produção de aromas; na formulação de perfumes, fragrâncias e cosméticos; na fabricação de plásticos e fibras sintéticas; na síntese de sedativos e outros fármacos; dentre outras (Fernandes, 2006). As lipases podem ser obtidas através de bactérias, leveduras e fungos. Os fungos são especialmente valorizados porque as enzimas por eles produzidas normalmente são extracelulares, o que facilita a sua recuperação do meio de fermentação e também porque a maioria dos fungos não é nociva à saúde humana, sendo reconhecidos como GRAS (Generally Regarded as Save) (Jaeger et al., 1994). Com relação à produção de enzimas, existem dois tipos básicos de fermentação para produção de lipases e outros metabólitos: fermentação submersa (FS) e fermentação em estado sólido (FES). Na FES, o microrganismo cresce em substratos sólidos umedecidos ou suportes inertes, na ausência (ou quase) de água livre, e na FS, os substratos são dissolvidos em meio líquido. Neste caso, o microrganismo pode crescer entre os fragmentos do substrato (dentro da matriz do substrato) ou sobre a superfície do substrato, consumindo o substrato e secretando metabólitos, dentre os quais as enzimas (Mitchell et al., 2006). O material sólido é insolúvel e 203 204 Resumos age como suporte físico e como fonte de nutrientes. O material sólido poderá ser um substrato sólido natural, como resíduos da agricultura, ou um suporte inerte, como poliuretano ou resinas poliméricas (Pandey, 2003). A parte experimental do presente trabalho será desenvolvida no laboratório de Microbiologia da Faculdade de Ciências Biológicas e de Saúde da Universidade Tuiuti do Paraná. Neste trabalho serão estudados trinta cepas de fungos endofíticos isolados das folhas da mamona (Ricinus communis L.). As folhas da mamona (Ricinus communis L.) serão coletadas em três localidades distintas para garantir diversidade e confiabilidade da pesquisa. O primeiro local será no campus Shafer da Universidade Tuiuti do Paraná. A segunda coleta será realizada em duas casas ao redor do campus Shaffer da Universidade Tuiuti do Paraná. A identificação da planta será realizada segundo JOLY et. al. (2002). Os ramos serão levados para o laboratório de microbiologia da Universidade Tuiuti do Paraná, Campus Barigui, processados imediatamente, evitando assim contaminação e perda do material. Os fungos endofíticos presentes nas folhas da mamona (Ricinus communis L.) serão inicialmente inoculados em meio Ágar Rose e serão incubadas a 28°C durante 7-15 dias. Após esse período, serão selecionadas, através de cultivo em meio BDA (contendo rodamina B, óleo de oliva e sais minerais) as cepas produtoras de lipase. Estas cepas serão caracterizadas no laboratório de microbiologia da Universidade Federal do Paraná. Todas as cepas produtoras de lipases serão mantidas em meio sólido de Ágar Rose. Após o isolamento, a próxima etapa do trabalho será a produção de lipases fúngicas por Fermentação no Estado Sólido (FES), utilizando como substratos resíduos agroindustriais como farelo de milho, erva mate (Ilex paraguariensis), sementes com alto valor lipídico como o gergelim (Sesamum indicum), a linhaça (Linum usitatissium L.) e o girassol (Helianthus annus), e também a polpa do coco (Cocos nucifera). Para a fermentação no estado Sólido (FES), será utilizado o meio Sabouraud contendo clorofenicol em erlenmeyer. Após crescimento fúngico em tal meio, será preparada a solução de esporos através do rompimento da membrana do fungo por ação do detergente Tween 80, que será diretamente aplicada sobre os substratos citados acima. A FES será avaliada através de um delineamento fatorial 24-1. Serão testados os efeitos dos parâmetros experimentais tipo de substrato, umidade, concentração de inóculo e adição ou ausência do indutor (óleo de oliva) na produção de lipases. O material fermentado contendo as enzimas será liofilizado para a remoção de água e conservação do fermentado a longo prazo. A determinação da atividade enzimática será feita através de testes analíticos (método titulométrico e método espectrofotométrico) e uma vez comprovada a eficiência das enzimas, estas serão aplicadas biotecnologicamente em reações de hidrólise de triacilgliceróis e síntese de ésteres. Palavras-chave: fungos endofíticos; lipases; FES. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa REFERÊNCIAS DIAZ, J.C.M.; RODRÍGUEZ, S.; ROUSSOS, J.; CORDOVA, A.; ABOUSALHAM.; CARRIÉRE, F.; BARATTI, J. Lipases from the thermotolerant fungus Rhizopus homothallicus is more thermostable when produced using solid state fermentation than liquid fermentation procedures. Enzyme Microbial Technol., v. 39, p. 1042-1050, 2006. FERNANDES, M.L.M. Produção de lipases por Fermentação no Estado Sólido e sua Utilização em Biocatálise. Curitiba, 2006. 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Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 205 206 Resumos TENTATIVA DE SUICIDIO ENTRE MULHERES: ESTUDO RETROSPECTIVO DAS INTOXICAÇÕES EXÓGENAS Janete Maria da Silva Batista - Faculdade Evangelica do Paraná O ato, através do qual o indivíduo tenta contra a própria vida, com o objetivo de finitude da mesma é denominado de tentativa de suicídio, representando desta forma um sinal de alarme ou a agudez do sofrimento. Entretanto, esta ação integra uma seqüência de comportamento suicida a partir de pensamentos de autodestruição, seguidas por ameaças, gestos, a tentativa de suicídio e finalmente o suicídio (WERLANG e BOTEGA, 2004). Para Botega, et al (2004), a tentativa de suicídio esta intimamente relacionada a transtornos de personalidade, condições de vida problemas interpessoais. Ao contextualizar o suicídio de forma global, observamos um fenômeno crescente. Em 2003, foram registradas 900 mil mortes por suicídio no mundo inteiro. Na população jovem está entre as três maiores causas de morte, estima-se que o número de tentativas de suicídio supere o número de suicídios em pelo menos dez vezes (BRASIL, 2006). Estudos revelam que 30% a 60% dos suicídios exitosos ocorrem após uma série de tentativas (CORRÊA e BARRERO, 2006). A cada 40 segundos uma pessoa comete suicídio no mundo, o que o coloca entre as três maiores causas de morte nas pessoas com idade entre 15 e 35 anos causando sérios impactos do ponto de vista psicológico, social e financeiro tanto para a família quanto para a comunidade (O.M.S. 2000). Portanto, os dados expressam a pertinência do tema e a necessidade de compreensão da complexidade e da magnitude deste fenômeno. E contextualizando a temática para o campo da saúde pública, é de extrema importância conhecer a magnitude do problema, a fim de planejar políticas públicas e a ação política pode significar a execução de ações preventivas para as pessoas com potencial suicida. Este estudo surge, a partir da vivência na vigilância epidemiológica, mais especificamente, a vigilância das notificações por intoxicação exógena, principalmente àquelas indicando como motivo da ingestão de produtos, a tentativa de suicídio, e a freqüência com que se repetia entre mulheres é considerável ou suficiente para chamar a atenção. Fator instigador e motivador para realizar um estudo epidemiológico no sentido de estimar a prevalência das tentativas de suicídio entre mulheres, por intoxicação exógena, bem como conhecer as variáveis relacionadas. Os aspectos observados envolvem questões de gênero: mulheres, isto é, a freqüência com que aparece a tentativa de suicídio é superior em relação aos homens. Possibilidades de prevenção: tentativas de suicídio. Por se tratar de uma das fases do comportamento suicida e possível de intervenção de maneira a prevenir o suicido destas mulheres e a magnitude Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa como fator de representação do fenômeno, se expressa na freqüência de repetição do mesmo, demonstrando a necessidade de compreender melhor o fenômeno. A prevenção do suicídio deve priorizar ações que possam evitar amenizar ou interromper os fatores de riscos, considerando a singularidade, a especificidade e a subjetividade da pessoa com risco para o suicídio (WERLANG E BOTEGA, 2004). Trata-se de um estudo descritivo de cunho epidemiológico, por meio de coleta de dados secundários, com base em uma série histórica das notificações exógenas. Os estudos descritivos permitem descrever epidemiologicamente a freqüência e a distribuição de um evento, demonstrando as variações com que os agravos se encontram na população e epidemiológico, porque o objetivo é conhecer a distribuição de em evento em termos quantitativos, estimando a prevalência. (PEREIRA, 2004, p.4 e p. 271). No presente estudo será realizada a análise de dados registrados no Sistema Nacional de Notificações (SINAN), da base de dados do Centro Epidemiológico de Curitiba, das tentativas de suicídio entre mulheres, por intoxicação exógena, ocorridas em Curitiba - Paraná, no período de 2004 a 2007. Quanto aos preceitos éticos, esta pesquisa segue as normas estabelecidas na Resolução 196/96 Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisas Envolvendo Seres Humanos. Por se tratar de um estudo epidemiológico, tendo como informações o banco de dados do SINAN, da Secretaria Municipal Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. de Saúde (SMS) de Curitiba, não envolvendo pesquisa diretamente com seres humanos e na busca dos dados não serão identificados nomes nem endereços dos usuários, todavia, o estudo necessita da autorização do Centro de Epidemiologia do Município do SMS de Curitiba e da avaliação do Comitê de Ética da Faculdade Evangélica do Paraná. Este estudo epidemiológico está baseado nos pressupostos de Rouquayrol (2003), que aborda a epidemiologia como um eixo da saúde pública capaz de fornecer bases para avaliar as medidas de profilaxia, fornece pistas para diagnose de doenças transmissíveis e não transmissíveis e estimula a verificação da consistência de hipóteses e causalidades. Estuda a distribuição da morbidade e da mortalidade a fim de traçar o perfil de saúde-doença nas coletividades humanas. Para complementar, será utilizado os estudos de Pereira (2004), o qual afirma que Epidemiologia é um ramo das ciências da saúde que estuda, na população, a ocorrência, a distribuição e os fatores dos eventos relacionados com a saúde. É entendido em sentido amplo, como o estudo do comportamento coletivo da saúde e da doença. As considerações de Botega e Werland (2004), Corrêa e Barrero (2006), servirão como base às questões da tentativa e do suicídio, bem como serão consideradas outras visões expostas em artigos, por autores que abordam o tema. O presente estudo teve início em julho de 2009 e encontra-se na fase de análise dos dados, entretanto são dados parciais sem uma análise mais conclusiva acerca dos achados 207 208 Resumos encontrados, porém dados preliminares mostram que as tentativas de suicídio representam 51% das notificações exógenas notificadas em Curitiba no período de 2004 a 2007 e que em média 71% são entre mulheres, sendo o medicamento o meio mais utilizado seguido dos pesticidas domésticos. Observa-se um aumento de tentativa de suicídio entre as faixas etárias de 25 a 44 anos, com maior concentração entre 15 a 39 anos, 74,61%. Até o momento os dados obtidos convergem para os achados disponíveis na literatura, segundo Correa e Barrero (2006) afirmam que as tentativas de suicídios são em média três vezes mais freqüente entre as mulheres ao passo que o suicídio se apresenta em torno de três a quatro vezes mais entre o sexo masculino. Na série histórica apresentada no Boletim Epidemiológico da Secretaria Municipal de Saúde Curitiba, entre 1996 e 2006, observou-se que 50% das ocorrências toxicológicas notificadas no município têm relação com tentativa de suicídio e com tendência de crescimento, sendo que a maior concentração das pessoas que recorrem à auto-intoxicação nas tentativas de suicídios está entre o sexo feminino, mais de 70%. Nesta série histórica, os medicamentos também se apresentam de maneira convergente com os dados parciais até agora encontrados, respondem por cerca de 70% das substancias utilizadas na auto-intoxicação, seguidos dos pesticidas domésticos que representam 20% dos casos. Mesmos que os dados sejam parciais, já incitam a necessidade de explorar a temática de maneira mais minuciosa, a fim de contribuir na implementação de políticas que visem trabalhar a prevenção do suicídio. Para Correa e Barrero (2006), algumas respostas fundamentais às questões que envolvem esta temática podem ser dadas por meio da epidemiologia, como subsídios para planejamento de políticas públicas. Palavras-chave: estudo descritivo; tentativa de suicídio; envenenamento. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa REFÊRENCIAS BOTEGA, N. J.; WERLANG, B. G. Comportamento Suicida. Porto Alegre: Artmed, 2004. CORRÊA, H.; BARRERO, S. P. Suicídio: uma morte evitável. São Paulo: Atheneu, 2006. DESCRITORES EM CIENCIA DA SAÚDE. Disponível em: http://www.bireme.br/php/index.php. Acesso em 15/08/2008, ás 21:00 hrs. BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Área Técnica de Saúde Mental. Estratégia Nacional de Prevenção do Suicídio: Manual dirigido a profissionais das equipes de saúde mental, 2006. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Prevenção do Suicídio: Um Manual para Profissionais da Saúde e Atenção Primária. GENEBRA, 2000. PEREIRA, M. G. Epidemiologia e Prática. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004. ROUQUAYROL, M. Z.; FILHO, N. A. Epidemiologia & Saúde. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 209 210 Resumos TRICOLOGIA APLICADA AO ESTUDO DA DIETA DE CARNÍVOROS Juliana Quadros - UTP O estudo da dieta de mamíferos, pós-ingestão, pode ser realizado com base na análise de conteúdos gastrintestinais e na análise de amostras fecais. A primeira apresenta a vantagem de ser individual, ou seja, permite o conhecimento da dieta de cada indivíduo e a comparação da dieta entre classes etárias e sexos diferentes. Além disso, usualmente os itens alimentares apresentam-se menos digeridos, facilitando a sua identificação e a estimativa de massa ingerida. Por outro lado, as suas desvantagens referem-se principalmente ao fato de ser um método, que no caso dos mamíferos, requer a retirada de indivíduos da população estudada e é limitado a um número menor de unidades analisadas. Já, o estudo da dieta ou ecologia alimentar com base em amostras fecais traz as vantagens de não requerer a retirada de indivíduos da população, fornecer um número maior de unidades para a análise e ser o método com a melhor relação custo-benefício, considerando os custos de um projeto. Entretanto, nas amostras fecais os itens alimentares já sofreram todo o processo digestivo e geralmente restam apenas as partes não digeríveis ou menos digeríveis, tornando a identificação dos itens mais difícil ou até mesmo impossível, como no caso dos animais de corpo mole (p. ex., anelídeos, moluscos) ou sem anexos epidérmicos queratinizados (anfíbios). Considerando o método de análise de amostras fecais para determinação da dieta de carnívoros, duas questões vêm à tona: a necessidade de identificação da autoria das fezes em nível específico, ou seja, conhecer quem são os carnívoros que defecaram e a necessidade de identificação de itens alimentares, usualmente bem digeridos e fragmentados. Na tentativa de responder à primeira questão, vários métodos de campo e laboratório têm sido empregados de maneira complementar ou isoladamente. Em campo, a detecção do odor e local de deposição das fezes, assim como de rastros associados às amostras, pode guiar o pesquisador na identificação das espécies que defecaram, embora haja certo grau de subjetividade na caracterização do odor, sobreposições de locais de defecação e sobreposições de tamanho e forma das pegadas entre as espécies. Nesse útlimo caso, os pequenos felinos neotropicais simpátricos e sintópicos em áreas de Floresta Atlântica como Leopardus wiedii, Leopardus tigrinus e Puma yagouaroundi são um bom exemplo. Em laboratório, a morfologia das fezes, o volume fecal, o maior e o menor diâmetro e o comprimento das amostras, além da observação de seu conteúdo (itens alimentares), também podem fornecer pistas sobre a espécie que defecou. Métodos mais sofisticados de análise laboratorial como a extração, identificação e quantificação de ácidos biliares e extração e identificação de DNA das células da mucosa intestinal presentes no muco que reveste as fezes, têm Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa sido aplicados a um número restrito de espécies e áreas, ou por terem problemas metodológicos não resolvidos, ou por serem economicamente inviáveis. Contudo, a identificação das espécies que defecaram também pode ser realizada através da identificação dos pêlos dos próprios carnívoros presentes em suas fezes. Estes mamíferos arrancam seus pêlos com a língua ou com os dentes incisivos e acabam ingerindo-os devido ao comportamento de autolimpeza e manutenção da pelagem, os quais podem ser eliminados nas próprias fezes deixando uma assinatura da espécie que defecou. Na identificação dos itens alimentares consumidos é usual a comparação dos fragmentos não digeridos com coleções de referência e auxílio de especialistas. No caso dos vertebrados, restam nas fezes as escamas, dentes, ossos e otólitos dos peixes; as escamas, ossos e dentes dos répteis; as penas, ossos, unhas e bicos das aves; e os pêlos, ossos, unhas, cascos e dentes dos mamíferos. No caso de invertebrados terrestres, restam fragmentos do exoesqueleto quitinoso e nos aquáticos, fragmentos do exoesqueleto calcário. Dos frutos, usualmente restam partes mais lignificadas, como sementes, fibras e cascas. Considerando os mamíferos consumidos por carnívoros, sua identificação é feita tradicionalmente através dos dentes encontrados nas amostras e mais recentemente o método de identificação de pêlos-guarda tem se mostrado uma ferramenta complementar bastante útil. O presente estudo dedica-se a aplicar o método de determinação dos predadores e presas, através da identificação de seus Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. pêlos-guarda presentes nas amostras fecais. Para tal, amostras de fezes de carnívoros terrestres foram coletadas nas trilhas e estradas da Reserva Volta Velha, Município de Itapoá, Santa Catarina, em 70 expedições mensais entre 1995 e 2001, com duração de dois a quatro dias e totalizando cerca de 15 km percorridos a pé em cada expedição. Todas as amostras coletadas tiveram o volume total aferido através do deslocamento do equivalente em água em uma proveta graduada contendo um volume de água conhecido. Em seguida, as amostras foram secas e triadas, separando os fragmentos de itens alimentares em grandes grupos. Para os mamíferos consumidos, foram separados os fragmentos de ossos, dentes, pêlos e eventualmente unhas e cascos. Para a identificação da espécie de carnívoro que defecou foram utilizados os rastros associados às amostras no campo, aliados ao volume da amostra e à presença de pêlos da própria espécie, como detalhado a seguir. Durante o processo de triagem, especial atenção foi dada à procura macroscópica por pêlos dos predadores. São pêlos evidentes nas amostras e que se destacam dos demais por serem escassos e diferentes do maior volume de pêlos das presas. Todos os pêlos dos carnívoros e uma sub amostra de até 20 pêlos-guarda das presas foram preparados conforme o protocolo de preparação de lâminas para identificação em microscopia óptica: lâminas para a visualização da medula dos pêlos foram preparadas através da diafanização dos mesmos em água oxigenada comercial 30 volumes por 80 minutos e lâminas para visualização da cutícula 211 212 Resumos dos pêlos, confeccionadas imprimindo a superfície dos pêlos sobre uma fina camada de esmalte para unhas incolor previamente seca por 15 a 20 minutos. Para a garantia na identificação dos pêlos das presas, o protocolo foi repetido três vezes para cada amostra. A identificação de amostras fecais dos carnívoros de pequeno e médio porte através de pegadas associadas mostrou-se inviável no presente estudo porque nenhuma das fezes coletadas foi observada em campo com pegadas associadas. Esse fato está possivelmente relacionado ao substrato de deposição das fezes que muitas vezes não é favorável ao registro das pegadas devido à presença da serapilheira, às chuvas freqüentes na região de estudo e à periodicidade e duração das visitas a campo que dificultou a coleta de amostras recentes (apenas 9,6%). Vinte e um por cento das amostras de fezes de carnívoros coletadas apresentaram pêlos de predadores. As espécies de carnívoros identificadas foram a irara (Eira barbara), o furão (Galictis cuja), o gato mourisco (Puma yagouaroundi), o gato-domato- pequeno (Leopardus tigrinus), o gato maracajá (Leopardus wiedii), o quati (Nasua nasua), e o mão pelada (Procyon cancrivorus). A mensuração dos volumes fecais médios (vm) não foi útil às identificações pois mostrou semelhanças interespecíficas: Eira barbara (n=1), v = 9 ml; Galictis cuja (n=7), vm = 8,6 ml; Puma yagouaroundi (n=12), vm = 12,5 ml; Leopardus tigrinus (n=20), vm = 12,9 ml; L. wiedii (n=1), v = 22 ml; Nasua nasua (n=1), v = 6 ml e Procyon cancrivorus (n=1), v = 9 ml. Ainda nesse sentido, Puma yagouaroundi e L. tigrinus mostraram grande amplitude de volume fecal, 3 ml a 37 ml e 5 ml a 23 ml, respectivamente. Foram constatadas 12 espécies de mamíferos consumidas, listadas a seguir: os roedores Akodon cursor, Necromys lasiurus, Delomys dorsalis, Holochilus brasiliensis, Nectomys squamipes, Oecomys trinitatis, Oligoryzomys nigripes, Oryzomys sp. e Juliomys pictipes; e os marsupiais Lutreolina crassicaudata, Monodelphis iheringi e Philander frenatus. A identificação do mamífero consumido não foi possível em 25 amostras devido à escassez de pêlos-guarda ou porque a microestrutura da medula estava danificada a ponto de impedir a caracterização do padrão medular. É importante ressaltar que com a triplicata do protocolo de preparação e análise de lâminas com pêlos de presas para cada amostra, os resultados foram freqüentemente diferentes e complementares entre as réplicas, mostrando a importância das mesmas na melhora qualitativa e quantitativa das identificações. No presente estudo, a identificação microscópica dos pêlos dos carnívoros forneceu um diagnóstico seguro das espécies que defecaram, o qual só poderia ser obtido de outra forma com técnicas com mais alto custo; também permitiu a separação de espécies distintas de mamíferos c o n s u m i d o s, e m b o r a s e u s p ê l o s f o s s e m macroscopicamente semelhantes, evidenciando a importância da análise microscópica. Palavras-chave: dieta de carnívoros; escatologia; identificação de pêlos; tricologia. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa VOZ E AMBIENTE DE TRABALHO DO PROFESSOR DA REDE PÚBLICA DE ENSINO Kelly Cristina Alves Silverio A voz caracteriza o sujeito e é considerada o principal elo de comunicação interpessoal, pois é através dela que expressamos nossas intenções e sentimentos, causando impactos nos ouvintes. Qualquer alteração na voz, que impeça a produção natural da mesma, limitando o indivíduo na sua comunicação é chamada de disfonia (SILVERIO, 2003). As alterações vocais podem ser causadas por diversos fatores relacionados à saúde, trabalho, condições de uso da voz e qualidade de vida do sujeito (PENTEADO, 1999 e 2003). O professor é um dos profissionais que utiliza a voz como principal instrumento de trabalho e sofre as conseqüências do mau uso vocal, como as alterações na voz que o levam a licenças médicas de readaptação de função (DRAGONE, 1996; PINTO, FURCK, 1998). É preciso considerar que o trabalho docente implica numa jornada geralmente extensa que envolve vínculos diretos com alunos, famílias e direção da escola, e estas situações podem exercer impactos positivos e/ou negativos sobre a saúde do professor. Quando essas relações se dão de maneira negativa contribuem para o estresse docente, comprometendo o ensino. Por outro lado, quando de maneira positiva, ajuda a atribuir sentidos ao trabalho compensando, por exemplo, problemas como as condições salariais desfavoráveis, a falta de recursos materiais e o despreparo para adaptar-se às inovações e mudanças no trabalho. O auto-conhecimento do professor sobre sua voz e saúde vocal é importante para uma atuação docente mais eficaz, levando o profissional a utilizar os recursos vocais de que dispõe conforme intenções, contextos interativos e situações de comunicação, contribuindo para a efetividade do ensino e preservando sua saúde vocal (BEHLAU, DRAGONE, NAGANO, 2004). A voz é o principal instrumento de trabalho dos professores, e quanto mais satisfatórias forem as relações em sala de aula que o professor estabelece, melhor será a sua atuação na comunidade e no ensino (SERVILHA, 2000; PENTEADO, 2003). Além desses aspectos sociais e daqueles relacionados ao uso da voz, o trabalho docente expõe o professor a outros agentes agressores em seu ambiente de trabalho que podem influenciar a sua saúde vocal e geral, provocando a competição sonora e exigindo maior esforço e demanda vocal do professor. Barulhos externos e internos, salas com acústica ruim, muitos alunos em sala de aula, poeira, pó de giz, são alguns dos agentes agressores que podem influenciar negativamente na saúde vocal do professor (OLIVEIRA et al, 1998; SILVERIO et al, 2008). O Conselho Federal de Fonoaudiologia, Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 213 214 Resumos no XI Seminário sobre voz da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC – SP), abordou a disfonia como doença de trabalho, discutindo as condições clínicas e/ou enfermidades que predispõem à disfonia; conceitos e evidências científicas reconhecidas e os riscos ambientais e condições em postos de trabalho. Na ocasião sugeriu-se a adoção de questionário para levantamento sobre saúde vocal, identificando também a implicação nociva de determinados hábitos pessoais e condições extra-ocupacionais. Propôs-se, ainda, a continuidade das pesquisas que vêm sendo desenvolvidas neste campo, visando a busca de mais dados sobre a qualidade de vida e o impacto da disfonia no dia-a-dia de diferentes profissionais (FERREIRA, 2002). Vários autores têm apontado a urgência de se intensificar pesquisas e ações voltadas ao professor, na escola, de caráter preventivo e de promoção de saúde vocal, que se voltam para a melhoria das condições de trabalho e do ambiente onde ocorre a docência (OLIVEIRA, 1995; SERVILHA, 2000; FERREIRA, 2002; PENTEADO, 2003). Desta forma, o objetivo desta pesquisa é conhecer o perfil vocal dos professores da rede pública de ensino e suas condições de trabalho, buscando compreender as relações entre eles e os impactos na saúde e no trabalho docente. METODOLOGIA: Fizeram parte deste estudo 42 professores de uma escola de Ensino Fundamental da rede pública, que se localiza em um bairro de classe média da cidade de Curitiba (PR). Todos os professores da escola foram convidados a participar da pesquisa a partir da entrega de folhetos explicativos e de palestras realizadas na escola sobre a pesquisa. Os sujeitos que participaram o fizeram de livre e espontânea vontade; foram informados sobre os objetivos desta pesquisa e assinaram, previamente o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Para conhecer o perfil vocal dos professores foram realizadas: entrevista e registro vocal que permitiu a análise perceptivo-auditiva da voz. As entrevistas abordaram: queixa vocal e/ou auditiva; sintomas laríngeos - cansaço ao falar, garganta seca/ raspando, tosse, pigarro, entre outros; hábitos – fazer competição sonora, ingestão de água, fumo, álcool, alimentação, entre outros; saúde geral - condição dos sistemas respiratório, ósteo-muscular, circulatório, psicoemocional. O registro da voz foi realizado em ambiente silencioso. Para registro das vozes utilizou-se o programa MultiDimensional Voice Program MDVPModel 5105 do software MultiSpeech Model 3700 Kay Elemetrics, instalado no computador notebook HP Pavilion dv2000 e microfone, Plantronics áudio DSP 400 Ultimate Headset unidirecional que foi acoplado ao computador. Após a colocação do microfone, que foi posicionado a 4 cm da boca e em ângulo de 45°, o indivíduo permaneceu sentado em uma cadeira de frente para a avaliadora e foi orientado a emitir as situações de fala: emissão da vogal /ε/ de forma sustentada, isolada e após inspiração profunda, em pitch e loudness habituais; fala espontânea, em velocidade, articulação, pitch e loudness habituais, Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa respondendo às perguntas: “O que você acha da sua voz” e “Conte-me sobre o seu trabalho”. A avaliação perceptivo-auditiva consistiu da análise do tipo de voz, com base na escala GRBASI - proposta por HIRANO (1981). Além do tipo de voz, foram analisados os parâmetros de ressonância – equilibrada, laríngea, hiponasal ou hipernasal. RESULTADOS: Quanto à caracterização da amostra, 39 (93%) eram do sexo feminino e 3 (7%) do sexo masculino. Todos lecionavam no ensino fundamental (ciclo I – 1ª e 2ª séries; ciclo II – 3ª e 4ª séries; e 5ª a 8ª séries), sendo que, 18 (43%) lecionavam no período matutino, 19 (45%) no período vespertino e 5 (12%) nos dois períodos. Dos 42 professores que fizeram parte da pesquisa, 39 passaram por entrevista. Em relação à queixa vocal e/ou auditiva, 29 (74,4%) apresentaram queixas vocais e 10 (25,7%) professores não as apresentaram. Dentre as queixas apresentadas, encontraram-se: rouquidão, “voz fraca” (intensidade vocal diminuída), “voz estridente” (intensidade vocal elevada e pitch agudo), “perda da voz”, cansaço vocal (fadiga muscular), dor na garganta, ”falha na voz”, entre outras. Nota-se que, dentre aqueles que não apresentaram queixas vocais, 7 professores relataram sintomas laríngeos. Dentre os 39 professores, um total de 14 apresentou queixa de sensação de perda auditiva. Os sintomas laríngeos mais freqüentemente relatados foram cansaço ao falar, ardor ou irritação na garganta, sensação de garganta seca/raspando e falta de ar para Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. falar. Dos 39 (100%) professores entrevistados, 34 (87%) apresentaram associação de sintomas laríngeos. Vale lembrar, ainda, que 18 professores apresentaram pigarro, o que pode ser um sintoma laríngeo, decorrente de quadros de alteração vocal, como também um hábito vocal. Em relação aos hábitos dos professores, obteve-se que 26 deles têm o hábito de ingerir água, apesar da maioria não ter consciência da importância da mesma para a saúde vocal. 23 relataram ingerir café diariamente nos intervalos de aulas e na vida privada; 5 relataram ingerirem álcool freqüentemente; 3 relataram o hábito de fumo; 3 relataram a ingestão de alimentos gordurosos freqüentemente. Dentre os 39 professores, 17 relataram hábitos associados, como a ingestão de café e alimentos gordurosos, por exemplo. Quanto aos dados de saúde geral, obteve-se que os professores sofrem de problemas diversos, relacionados aos sistemas respiratório – desvio de septo, rinite, faringite, laringite, asma, bronquite e/ou sinusite (41 professores); osteomuscular – tensão nos ombros e/ou cervical (26 professores) e dor/estalos na articulação temporomandibular (11 professores); gastrointestinal – gastrite, úlcera e refluxo gastroesofágico (12 professores); circulatório – hipertensão (4 professores); problemas psico-emocionais – insônia (12 professores), depressão (2 professores); problemas hormonais (11 professores). É importante colocar que todos os professores apresentaram mais de uma alteraçãoreferente à saúde geral. Em 215 216 Resumos relação ao tipo de voz, dos 42 professores avaliados, 39 (90%) apresentaram alteração do tipo de voz na produção da vogal /ε/ , onde 24 (57%) apresentaram rouquidão nos graus leve e moderado, 33 (79%) professores apresentaram soprosidade na voz, 22 (52%) apresentaram tensão na voz e a instabilidade foi observada em 40 (95%) professores. O grau de astenia – voz fraca – não foi observado na qualidade de voz dos professores. Na fala espontânea, 36 (86%) professores apresentaram vozes alteradas, sendo que a rouquidão apareceu em 34 (81%) professores, a soprosidade ficou presente em 23 (55%), 28 (67%) professores apresentaram tensão na voz. A instabilidade e a astenia não foram observadas em nenhum professor durante a fala espontânea.Quanto à ressonância, 35 (83%) professores apresentaram alteração. CONCLUSÃO: O número de alterações vocais nos professores é grande, e estão correlacionadas às condições de trabalho dos mesmos (intenso ruído interferindo na docência). Acredita-se que tais alterações podem ser decorrentes do abuso e mau uso vocal praticados pelos professores em sala de aula, e resultantes do uso demandado e freqüente da voz, característica desta classe de trabalhadores – usuários de voz profissional. Os hábitos de gritar, falar com intensidade aumentada, pigarrear, falar com competição sonora sem preparo vocal - o que leva a um aumento da intensidade e da freqüência de voz, e esforço da mesma – são os principais responsáveis das alterações vocais encontradas. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Resumos de Pesquisa Ciências Exatas e de Tecnologia Ciências Aeronáuticas Pesquisa ANÁLISE GEOPOLÍTICA DO ESTADO DO PARANÁ POR MICRORREGIÕES Sandro José Briski – UTP Uraci Castro Bomfim – UTP Josmael Araújo Bonatto – UTP Juliane Kurta - Geógrafa – UTP Celma Tessari de Góes – UTP Atualmente é inegável a importância estratégica do conhecimento, como fonte de informações sistematizadas para a organização planejada do espaço geográfico. O conjunto de informações contemplando as características do meio biofísico (sistema ambiental) e do meio social (sistema social) tem por finalidade auxiliar no desenvolvimento harmonioso entre ambos e possibilitar a identificação da existência de possíveis antagonismos (conflitos) para adotar medidas mitigadoras. Desta forma o objetivo deste trabalho é coletar, organizar e espacializar dados e informações utilizando técnicas e métodos relacionados ao geoprocessamento e sensoriamento remoto sobre aspectos sócio-ambientais tomando como recorte espacial os limites estabelecidos para a delimitação das microrregiões do estado do Paraná. Justifica-se esta organização espacial de elementos e fenômenos distribuídos por regiões separadas por fronteiras, como composição de um arcabouço de informações geográficas físicas e geopolíticas passíveis de auxiliar na compreensão das relações que se estabelecem nas regiões e suas delimitações. Este trabalho apresenta como resultados parciais a elaboração sistematizada de informações cartografadas e descritivas sobre aspectos físicos, sócio-ambientais e geopolíticos de algumas microrregiões do Estado do Paraná as quais totalizam um número de trinta e nove. Assim ressalta-se a eficácia de análises geopolíticas e geoambientais baseadas na organização espacial de informações estratégicas através da cartografia geotecnológica como subsídio para o planejamento e desenvolvimento regional do estado do Paraná, bem como fonte de informações didáticas. INTRODUÇÃO: Os avanços sociais e políticos têm como conseqüências, profundas transformações nos sistemas ambientais e territorializações regionais, gerando diferentes organizações espaciais. Tais organizações sustentam-se nas relações que se estabelecem como fenômenos transformadores e geradores dos espaços geográficos, onde o princípio básico para sustentabilidade do desenvolvimento local consiste na Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 219 220 Resumos disponibilidade e modelos de utilização de recursos naturais e sociais. Para atingir níveis cada vez mais elevados da eficiência na utilização de tais recursos, é fundamental o conhecimento e espacialização dos aspectos formadores do meio ambiente, considerando os aspectos do ambiente físico, biogeográfico e social (em suas diversas extensões). Concretizamse os espaços territoriais específicos através da delimitação dos recortes espaciais por limites físicos geográficos ou artificiais impostos arbitrariamente ou de maneira consensual por articulações políticas e ou econômicas. Entender como se estabelecem tais regionalizações, é fundamental na organização e otimização de estratégias e técnicas adequadas para melhor aproveitamento de recursos e minimização de ações que possam desencadear relações conflitantes entre a sociedade e as relações que se estabelecem política, econômica e ambientalmente intra-territoriais. Considerando a dinâmica da produção e alterações que ocorrem no espaço geográfico, o objetivo geral deste trabalho consiste na geração de um conjunto de informações e dados ambientais (aspectos físicos e geobotânicos), infra-estrutura e socioeconômico através de coleta e espacialização sistematizada concentrada, para auxiliar no entendimento da organização espacial das microrregiões do Estado do Paraná. Para tanto é necessário à realização da compilação e análise de informações e dados obtidos através de pesquisa documental direta em meios analógicos e informatizados de caráter oficial conferindo a confiabilidade das mesmas. Pretende-se com este trabalho gerar um material que possibilite a análise de informações integradas de maneira dinâmica, com possibilidades para consulta de técnicos, administradores e estudante de diversos níveis de ensino. Torna-se evidente que o espaço uma vez habitado, sofre profundas transformações que são continuamente reativadas na cronologia temporal e espacial, fazendo com que possam ocorrer divergências conflitantes que invariavelmente causam prejuízos diretos e/ou indiretos em diferentes níveis de escala espacial e relacional. Para SANTOS (1994), o espaço habitado pode ser abordado sob a perspectiva biológica, através da adaptabilidade do homem, como indivíduo, às mais diversas condições ambientais até mesmo às extremas. Outra abordagem vê o ser humano não como indivíduo isolado, porém como um ser social por excelência. Pode-se assim acompanhar a forma como a raça humana vem se expandindo, e se distribuindo, ocasionando sucessivas mudanças demográficas e sociais em cada continente, país, em cada região e em cada lugar. Conota-se assim o dinamismo fenomenológico humano, onde a revelação desse processo está exatamente, na transformação qualitativa e quantitativa do espaço habitado. MATERIAL E MÉTODO: Para a elaboração do produto, resultado do trabalho os procedimentos metodológicos consistem em pesquisas diretas documentais de atributos passíveis de mensuração e Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa espacialização, através da organização e elaboração de material cartográfico utilizando geotecnologias através das técnicas do geoprocessamento e sensoriamento remoto. Desta forma os procedimentos metodológicos consistem na utilização de materiais analógicos e computacionais cartografados e descritivos, além dos materiais compostos por hardwares e softwares de processamento, interconexão e espacialização de informações geográficas. Em relação ao método descritivo da pesquisa esta parte de uma chave de organização e construção das informações esquematizada da seguinte forma: - Elaboração cartográfica dos aspectos físicos e geobotãnicos (geologia, relevo, clima, solos, hidrografia e cobertura vegetal). Estabelecimento da delimitação das microrregiões através dos municípios integrantes de cada uma das trinta e nove estabelecidas no Estado do Paraná considerando seus limites administrativos, com a distribuição dos elementos e fenômenos associados às atividades humanas (infra-estruturas, e atividades socioeconômicas predominantes por área de ocorrência). - Descrição dos aspectos físicos e geobotânicos, tomando como referência sua ocorrência e distribuição espacial. - Descrição dos aspectos socioeconômicos, considerando os setores primário, secundário e terciário, além das correlações considerando a infra-estrutura. Tais informações são organizadas e descritas utilizando informações disponíveis em documentos oficiais em instituições Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. públicas e privadas, deste que atestada seu grau de confiabilidade. - Através da compilação e análise das informações organiza-se o produto proposto pelo trabalho a partir do desenvolvimento do layout do painel informativo. RESULTADOS E DISCUSSÕES: Tais informações encontram-se elaboradas e disponibilizadas em forma de painéis contento o mapa da microrregião com seus respectivos município formadores e dados estruturais estratégicos, além da sua localização dentro do estado. A parte textual apresenta informações e dados generalizados, porém estratégicos sobre as características ambientais, de infra-estrutura e socioeconômico (Figura 01). O desenvolvimento da FIGURA 01 – Microrregião de Curitiba (Painel) Fonte: Núcleo de Pesquisa em Geografia – UTP, 2008. 221 222 Resumos pesquisa encontra-se em fase de elaboração, através da qual foram trabalhadas cinco das trinta e nove microrregiões que compõem o Estado do Paraná composto pelos 399 municípios. CONCLUSÕES: Ressalta-se que este trabalho não tem a pretensão em detalhar nem um tipo de informação específica e nem servir como instrumento único para a tomada de decisões. Busca-se com esta pesquisa gerar informações e dados espacializados da panorâmica dos aspectos geográficos do Estado do Paraná, organizados sob a delimitação das microrregiões e seus respectivos municípios formadores. Porém entende-se que tais informações podem ser esclarecedoras para usos múltiplos em uma análise inicial. Por tanto, evidenciase que sua utilização pode servir para a administração pública, o setor produtivo (primário, secundário e terciário) e para o setor educacional, contribuindo num primeiro momento para uma compreensão inicial acerca da organização espacial de tais fenômenos e elementos constituintes do espaço geográfico. Neste trabalho é apresentado como exemplo apenas uma das 39 microrregiões que estão em fase de elaboração, compondo desta forma uma coletânea de informações sobre todo território do Estado do Paraná. Procura-se apresentar estas informações de forma sistematizada, para facilitar a compreensão das informações e dados textuais, espacializados e distribuídos em tabela dos principais aspectos geográficos, concretizando um instrumento de pesquisa norteador para o aprofundamento do conhecimento mais detalhado sobre o Estado. Palavras-chave: análise geoambiental; geopolítica; geotecnologia cartográfica; planejamento e gestão territorial. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa REFERÊNCIAS COORDENAÇÃO DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA – COMEC. PDI – 2001: Plano de Desenvolvimento Integrado da Região Metropolitana de Curitiba. Documento para Discussão. – Curitiba: COMEC, 2001. MACK, R. Geografia física do Estado do Paraná. 3a ed. – Curitiba: Imprensa Oficial, 2002. SANTOS, M. Metamorfose do Espaço Habitado: fundamentos teóricos e metodológicos da geografia. 3º ed. - São Paulo: Hucitec., 1994 Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 223 224 Resumos AVALIAÇÃO DOS PARÂMETROS MORFOMÉTRICOS COMO SUBSÍDIO À COMPREENSÃO DOS PROCESSOS DE ASSOREAMENTO: ESTUDO DE CASO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO BARIGUI Sandro José Briski - UTP Helder de Godoy - UTP Celma Tessari de Góes - UTP Juliane Kurta - UTP Entre os recursos naturais indispensáveis ao desenvolvimento humano, a água ocupa uma posição de destaque, por sua importância no equilíbrio da vida no planeta, suas relações com as cadeias produtivas nos diversos setores da economia e com a dinâmica do espaço geográfico. O crescimento demográfico, a urbanização e a expansão industrial têm originado significativas modificações e aumento na demanda de recursos hídricos disponíveis. O resultado desse impacto é o comprometimento da qualidade e quantidade dos recursos hídricos, considerando escalas locais, regionais e globais. Em função da dinâmica sistêmica relacionada às porções territoriais estabelecidas pelas bacias hidrográficas, com possibilidades de abordagens sobre as avaliações de suas condições ambientais e demanda de recursos naturais, preferencialmente os hídricos ou a eles associado diretamente, ressalta-se o grau de importância das que ocorrem em escalas locais e, principalmente, com predomínio de uso do solo urbano. Condições estas que estão relacionadas com as características que predominam na bacia hidrográfica utilizada como objeto de estudo neste trabalho. Observam-se inúmeros problemas relacionados a estas condições de uso do solo que estão alterando a qualidade e quantidade dos recursos hídricos e ambientais locais. Entre os principais, destacam-se as ocupações irregulares, usos inadequados dos cursos de água superficiais para fins industriais, despejos descontrolados de efluentes domésticos e industriais e, essencialmente, a potencialização dos processos de assoreamento dos cursos d’água superficiais, com agravamento de inundações ou indisponibilidade do uso de reservatórios para usos específicos. As atividades que norteiam estudos relacionados às análises geoambientais tomam relevância diante das possibilidades da experimentação de técnicas e procedimentos metodológicos, justificando-se assim a realização de estudos neste contexto. Desta forma, trabalhou-se especificamente com os aspectos quantitativos da bacia através dos seus parâmetros morfométricos, seguidos dos aspectos qualitativos através do diagnóstico fisiográfico e geobotânico (uso e Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa cobertura do solo), subsidiados pela elaboração de produtos cartográficos gerados e manipulados com a utilização de geotecnologias. Através da compilação gerada a partir das informações obtidas, é possível iniciar-se nas interpretações e projeções relacionadas ao assoreamento e suas consequências. A bacia hidrográfica do rio Barigüi está localizada no primeiro planalto Paranaense, na Região Metropolitana de Curitiba no Estado do Paraná, atravessando três municípios: Almirante Tamandaré, Curitiba e Araucária, sendo que cada um destes apresenta características fisiográficas e geobotânicas diferenciadas. As nascentes do rio Barigüi, principal curso d’água superficial da bacia hidrográfica, estão situadas ao norte do município de Almirante Tamandaré e suas águas correm em direção ao sul, cruzando a cidade de Curitiba no sentido longitudinal até a região Sudeste do município de Araucária, onde se localiza a foz do rio Barigüi, desembocando no rio Iguaçu. No trecho em que atravessa o município de Curitiba, encontram-se 80% dos seus afluentes de maior relevância, entre eles os rios Campo de Santana, Arroio do Pulo, Arroio da Ordem, Arroio do Andrade, Arroio do Pulgador, Rio Vila Formosa, Ribeirão Campo Comprido, Córrego Vista Alegre, Rio do Wolf, Ribeirão Antônio Rosa, além de seus sub-afluentes, dos quais se destacam também: Ribeirão do Passo do França, Córrego Capão Raso, Rio Mossunguê, Rio Uvu e Córrego Vila Isabel, porém em sua maioria já retificados e desviados de seus cursos Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. originais. A bacia hidrográfica do rio Barigui conectada com outras sub-bacias representam o sistema hidrográfico da bacia do Alto Iguaçu, que tem como principal vocação atender a demanda de água para abastecimento urbano domiciliar e industrial através de suas bacias hidrográficas de mananciais. Apesar de a bacia hidrográfica do rio Barigui não fornecer diretamente água para os sistemas de captação e tratamento, sua importância consiste em atender as demandas de água para outros fins menos nobres, porém importantes no conjunto hidrográfico, como a capacidade de escoamento superficial, atividades rurais e industriais indiretas, receptor e depurador de dejetos, entre outros. Considerando estas particularidades, ressalta-se a importância em se desenvolver estudos dos aspectos qualitativos e quantitativos em bacias hidrográficas com estas características como subsídios à análise através de diagnósticos e prognósticos, fornecendo o conhecimento necessário aos programas de gestão e planejamento para ordenação de uso e ocupação do solo e compreensão e monitoramento dos processos de assoreamento. Este trabalho tem por objetivo geral a aplicação de métodos e técnicas para obtenção de informações qualiquantitativas sobre aspectos relativos à bacia hidrográfica do rio Barigüi, como subsídio ao diagnóstico da situação atual dos recursos hídricos (cursos de água e reservatórios) da referida bacia em relação ao agravamento dos processos de assoreamento. Os objetivos específicos consistem 225 226 Resumos em elaborar cartografia temática das características físicas e geobotânicas da bacia hidrográfica utilizando o geoprocessamento e sensoriamento remoto. Como segundo objetivo específico, tem-se aplicar parâmetros morfométricos lineares, areais e hipsométricos. E por último, avaliar os resultados obtidos para possíveis correlações com a potencialização dos processos de assoreamento. Dentre as atividades gerais desenvolvidas constam a escolha de uma bacia hidrográfica e separação do estudo em três fases. A Bacia do Rio Barigui foi escolhida por sua conotação geográfica em relação ao município de Curitiba ocupando aproximadamente 35% do total de área relacionada às bacias deste município, ocorrendo em zonas urbanas residenciais, comerciais e industriais. Deve-se ressaltar que ao longo da bacia do Rio Barigui vivem cerca de 30% da população curitibana o que representa uma intensa densidade demográfica nesta área. Para o desenvolvimento deste trabalho, estabeleceu-se uma sistematização de fases para estabelecer as prioridades, visando obter informações que subsidiassem o embasamento teórico metodológico através de pesquisas utilizando diversas fontes de informações. A etapa de escritório foi considerada a primeira fase, onde, além do estudo do estado da arte, ainda foram realizadas as análise das informações obtidas em trabalhos de campo e laboratórios. Como, por exemplo: os parâmetros morfométricos, o diagnóstico do sistema fisiográfico e geobotânico, bem como as características de ordenamento de uso do solo. Na secunda fase, foram realizadas as atividades de campo relacionadas ao reconhecimento da área de estudo, aquisição de acervo fotográfico e constatação das informações contidas nos produtos da cartografia temática. Na terceira fase, a de l a b o r a t ó r i o s d e S e n s o r i a m e n t o Re m o t o e Geoprocessamento, foram elaborados os produtos da caracterização da representação espacial e de fenômenos da bacia. Assim, a delimitação e distribuição da hidrografia da bacia e hierarquização dos rios foram elaboradas e vetorizadas através do programa Autocad 2005 utilizando as bases cartográficas do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Os mapas temáticos como geologia, tipo de solo, uso e ocupação do solo, localização e representação em imagem de satélite Landsat 2002, gradientes altimétricos e hipsometria foram elaborados pelo programa ArcGis 9.2. Ressalta-se que, apesar de atribuídas fases distintas na sistematização do trabalho não houve hierarquização das atividades, sendo as mesmas desenvolvidas de maneira integrada e simultânea. Quanto aos resultados esperados e alcançados, mostra-se que nos parâmetros morfométricos, a bacia hidrográfica do Rio Barigui apresenta em relação a hierarquização dos canais 1174 rios de 1ª ordem, 589 de 2ª ordem; 273 de 3ª ordem; 120 de 4ª ordem ; 70 de 5ª ordem e 70 rios de 6ª ordem. Possui uma área de 264,84 km²; com perímetro de 147.789,89 m; com o eixo da bacia apresentando aproximadamente 45.100 m. O comprimento do rio principal é de 65.053,58 m e o Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa comprimento total dos rios é de 640,67 km com densidade de drenagem 2,41 e densidade dos rios 4,43. A relação de relevo é de 0,00750 e o coeficiente de manutenção apresenta o valor de 414,94. A forma da bacia (índice de forma) apresentou o valor de 1,30, com forma representada por um retângulo. A amplitude altimétrica é de 346 m, variando entre a altitude máxima de 1210 m, e a altitude mínima 864m. A bacia hidrográfica do Rio Barigui localiza-se na região extremo leste do Estado do Paraná estando sobre a influência de condições de climas úmidos sem deficiência hídrica. Em relação às suas bacias adjacentes, encontra-se delimitada a oeste pela bacia hidrográfica de manancial do Passaúna, a leste pelas bacias hidrográficas dos rios Belém e Padilha e no seu extremo sudeste encontra-se com a bacia hidrográfica do rio Iguaçu, da qual é importante tributária. Através dos resultados, observa-se que a mesma apresenta densidade de drenagem e de rios estabelecendo uma relação de 6ª ordem concentrando esta densidade principalmente nos terços superior e médio. Tomando como indicador os parâmetros propostos por BELTRAME (1994)1, relacionados à quantidade de drenagem, a mesma é classificada como alta, indicando que sua dinâmica hídrica está sobre áreas com baixos índices de permeabilidade, estando estes fatos relacionados preferencialmente com as características geológicas e de ocorrência de tipos específicos de solos. Fator este de ordenamento e distribuição da rede hídrica considerada elevada para o Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. recorte espacial definido pela área da bacia, indicando intensa relação entre as áreas alteradas e os canais de escoamento superficial, influenciando nos índices das características hidrológicas de superfície. Na zona em que se distribui a Formação Guabirotuba o padrão de drenagem é semelhante ao cristalino, porém com densidade menor. Os interflúvios na região dos migmatitos são estreitos e dissecados. A relação de relevo pode ser considerada alta no terço superior, onde estão localizadas as nascentes, e baixa nos terços médio e inferior, devido à baixa variação de altitude. A amplitude altimétrica da bacia é de 346 m, apresentando forma alongada. Tais características atribuem à drenagem uma vazão de energia moderada na dinâmica hídrica superficial, porém sua forma alongada no sentido do escoamento e estreita no eixo menor confere-lhe significativa potencialização para os eventos de inundação, principalmente considerando as transformações espaciais no terço intermediário da bacia. Apresenta um índice de coeficiente de manutenção de 444,94 m² por canal de escoamento superficial, índice elevado considerando a área total da bacia, o que indica a importância do controle sobre as atividades a serem desenvolvidas na bacia. Considerando a cobertura e o uso do solo atuais, observa-se o contra senso no que diz respeito a este coeficiente. Sobre o controle estrutural, a drenagem superficial da sub-bacia apresenta padrões geométricos predominantes do tipo dendríticos nos terços superior, médio e inferior, caracterizando 227 228 Resumos ambientes de rochas geologicamente homogênea. Espera-se, através destes resultados preliminares, realizar as análises integrando o diagnóstico e prognóstico acerca das possibilidades de agravamento dos processos de assoreamento. Palavras-chave: bacia hidrográfica; morfometria; assoreamento. 1 BELTRAME, A. V. Diagnóstico do meio físico de bacias hidrográficas: modelo e aplicação. – Florianópolis: Ed. da UFSC, 1994. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa BUCHAS DE MANCAIS DE ROLOS DE GALVANIZAÇÃO POR IMERSÃO A QUENTE: UM DESAFIO PARA O DESENVOLVIMENTO DE LIGAS DE ENGENHARIA Adriano Scheid - UTP Marco Adolph - UTP Nelson Ortiz - UTP O revestimento de chapas de aço por imersão a quente, no processo chamado galvanização contínua, cresceu significativamente na última década, impulsionado pelas necessidades da indústria automotiva, de construção civil e linha branca. Estes segmentos utilizam os aços galvanizados por imersão a quente para a fabricação de carrocerias, longarinas, barras de reforço lateral e de teto, refrigeradores, “freezers”, fogões, máquinas de lavar, microondas, telhas, engradamento metálico, calhas e fechamentos laterais de galpões. Existem rigorosos requisitos de qualidade para estes produtos, particularmente de qualidade superficial. Abrasões, rugosidade não uniforme e partículas aderidas ao revestimento resultam, normalmente, na rejeição de produtos e, consequentemente em grandes prejuízos para a siderurgia nacional, o que é refletido em redução da competitividade no mercado globalizado. As Linhas de Galvanização de aço por imersão a quente são constituídas, entre outros equipamentos, por um pote. O pote é o equipamento da linha que mantém o Zn ou ligas no estado líquido, por onde a tira é imersa e o revestimento é aplicado (1,2). A galvanização pode ser convencional, quando trata da produção de aços revestidos com Zinco puro ou galvanização com liga Al-Zn, quando são aplicadas ligas de revestimento. Dentre as ligas de Zinco/Alumínio, a mais conhecida é o Galvalume® com 55% de Alumínio e 1,5% de Silício e o restante de Zinco. Esta liga é comercializada com diversos outros nomes, como: Zincalume, Alugalve, Aluzink, Zincalite e Zalulite, tendo sido desenvolvida pela Bethlehem Steel Corporation a partir de 1960. Sua produção em escala comercial iniciou-se em 1972, sendo que a concessão de licença para produção em outros países foi iniciada em 1976. Mais de sete milhões de toneladas foram produzidos comercialmente em 30 anos. Galvalume® são chapas produzidas pelo processo de imersão a quente em liga 55% Al-Zn após terem sido recozidas em atmosfera não-oxidante. Dentro do pote, existe um rolo que guia a chapa na passagem pelo Zinco ou ligas fundidas - chamado “sink roll”, sustentado lateralmente por mancais dotados de buchas. Estas buchas metálicas são, em geral, fabricadas a partir da fundição de superligas à base de Cobalto, denominadas comercialmente de Triballoy T800, Triballoy T400 e Stellite #6. As duas primeiras são ligas reforçadas por fases de Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 229 230 Resumos Laves (intermetálicos Molibdênio – Silício), enquanto a Stellite #6 é uma liga reforçada por Carbonetos. Esforço extensivo tem sido empregado no sentido de entender as questões fundamentais que envolvem o processo de revestimento por galvanização, especialmente na questão do gerenciamento do banho e de seus componentes. O desenvolvimento rápido da tecnologia tem auxiliado na busca de melhor qualidade do revestimento em produtos galvanizados e aumento da produtividade das linhas contínuas de galvanização por imersão a quente. Entretanto, a curta vida dos componentes submersos no banho (pote) como: rolos, buchas, braços, entre outros, ainda é um desafio à indústria (3, 4, 5). A experiência dos materiais usados no pote mostra desgaste abrasivo severo que ocorre sob condições limitadas de lubrificação e, além disso, os materiais sofrem severa corrosão em metal líquido pela reação com o banho de galvanização. Diversas ligas complexas como a liga de cobalto Stellite #6, a liga MSA2012 (Metaullic Super Alloys) são com carbonetos, CF-3M, que é uma variação do aço inoxidável fundido 316L adicionado de Molibdênio e a liga ORNL-4 que é a liga do Oak Ridge National Laboratory 4 composta por 20%Fe, 6,5%Cr, 0,5%Al, 0,5% Ti e pequenas adições de solício, manganês, carbono e Ytrio vem sendo avaliadas quanto à resistência à corrosão por metal líquido (4). O processo de desgaste das buchas é fortemente agravado quando a reação das ligas das buchas (superligas de Cobalto) com o banho de galvanização (Zinco ou Al-Zn líquidos) forma compostos intermetálicos complexos que atuam em detrimento à vida útil como agente abrasivo no processo de desgaste. De maneira geral, em adição ao mecanismo apresentado acima, as buchas ainda sofrem a ação da temperatura do banho líquido de galvanização, que pode variar entre 450 e 600ºC dependendo da sua composição. A temperatura induz a modificação na microestrutura das ligas de Cobalto, reduzindo a resistência à abrasão das mesmas. Por último, ocorre a abrasão por partículas compostas, chamadas de “dross“ (“dross” são partículas intermetálicas em suspensão no banho de galvanização 55%Al-Zn, à base de Silício, Ferro, Zinco, Alumínio). O “dross” forma-se pela reação de partículas de ferro originadas nas etapas anteriores de fabricação e que durante a imersão se desprendem da tira de aço originando a formação deste agente abrasivo mencionado. Variações na temperatura dos banhos de galvanização também induzem e aceleram esta formação de “dross”. Dentre os componentes submersos no banho, particularmente luvas e buchas apresentam destacado e anormal desgaste em períodos curtos de operação. Como conseqüência da degradação dos componentes do pote devido à corrosão e desgaste, ocorre excessiva vibração da tira no processo de revestimento que contribui para a baixa qualidade do produto galvanizado. À medida que o desgaste das buchas avança, a degradação das mesmas pode levar ao travamento do rolo guia e Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa conseqüente dano (arranhamento) da tira. A indústria de galvanização é obrigada então a parar as linhas contínuas periodicamente a fim de substituir os componentes do pote, resultando em significantes prejuízos devido as paradas não planejadas, sendo este considerado o mais sério problema. Este trabalho busca o desenvolvimento de ligas reforçadas por compostos intermetálicos à base de Alumínio na forma de revestimentos soldados, obtidos pelo processo de Plasma com Arco Transferido, com o intuito de atender solicitações especificas de desgaste como, por exemplo, o desgaste abrasivo agravado por processos de corrosão em metal líquido. Neste sentido, surge a possibilidade de produzir componentes revestidos pelo processo de PTA – Plasma com Arco Transferido, que apresenta a facilidade de controle microestrutural das ligas depositadas (comparativamente aos processos de fundição que usualmente são usados na produção das buchas), controle do refinamento das estruturas formadas e reduzida diluição (em relação a outros processos de soldagem). Os revestimentos podem ser produzidos pela mistura de pós-elementares a serem posteriormente depositados, ou pela adição de elementos específicos, como Alumínio, a ligas comerciais. Em ambos os casos, a deposição é feita pelo processo Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. de Soldagem por Plasma com Arco Transferido e o desenvolvimento dos intermetálicos de elevada dureza e resistência ao desgaste ocorre “in-situ”, ou seja, durante a deposição. A presente pesquisa busca a avaliação das condições de deposição de ligas de Cobalto modificadas, pela adição de Alumínio (elemento formador de intermetálicos), bem como a investigação e identificação dos compostos intermetálicos formados e o reflexo sobre as propriedades mecânicas dos revestimentos. A formação de compostos intermetálicos representa um atrativo ao reforço de ligas metálicas, especialmente pela estabilidade destas fases em elevada temperatura, além da elevada dureza das mesmas. Ao final, espera-se obter revestimentos com propriedades otimizadas para a aplicação direta em buchas revestidas para componentes usados na produção de chapas galvanizadas por imersão a quente que atendem os setores Automobilístico, de Linha Branca e de Construção Civil. Desta forma, a indústria nacional de galvanização busca a redução dos custos de processo e manutenção, com conseqüente aumento na competitividade frente aos aços revestidos importados especialmente dos Estados Unidos da América, Austrália, Coréia do Sul, China e Índia. Palavras-chave: galvanização; revestimentos; desgaste 231 232 Resumos REFERÊNCIAS BIEC International, Research and Technology Manual, Aluminum-Zinc Coated Sheet Steel, 1994. BIEC International, Operating Technology Manual, Aluminum-Zinc Coated Sheet Steel, 1994. K. Zhang and L. Battiston, Friction and wear characterization of some cobalt- and iron-based superalloys in zinc alloy baths, WEAR 252, 2002, pp 332 – 344. 4- Frank E. Goodwin, A New Hardware Materials Research Program, International Lead Zinc Research Organization Inc, InterZAC Conference, Seoul, Korea, 2002. 5- Jin-Hwa, Song and Hyung-jun kim, Sliding wear performance of Cobalt-Based Alloys in molten Al-Added zinc bath, WEAR, 210, 1997, pp 291-298. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa CLIMATOLOGIA DE VENTO EM BAIXOS NÍVEIS PARA USO NA AVIAÇÃO “REGIÃO DE INFORMAÇÃO DE VÕO DE CURITIBA-FIRCW” Cícero Barbosa dos Santos - UTP INTRODUÇÃO: Alguns fenômenos dentro da camada limite (CLP) em altitude como vento e turbulência são importantes nos planejamentos de vôos. O conhecimento da direção e intensidade dos ventos na camada limite e em ar inferior ajuda aos aeronavegantes definir a pista a ser utilizada no momento do pouso ou decolagem. Ventos fortes retardam ou aceleraram os vôos aumentando e diminuindo o consumo de combustível; assim como podem alterar o rumo de uma aeronave afetando o tempo de vôo. A turbulência é a trepidação sofrida pelas aeronaves devido à agitação irregular no ar. Ela pode provocar desconforto, danos estruturais e, em casos severos até mesmo acidente. As turbulências térmicas são correntes convectivas alternadas que fazem com que a aeronave suba e desça, podendo ser facilmente observada através da formação de nuvens cumuliformes No inverno, ela é geralmente mais suave e no verão mais severa (na parte da tarde); as chamadas CAT (Clear Air Turbulence, ou turbulência de ar claro) que é proveniente de um gradiente de vento provocada pela corrente de jato (Jetstream) não pode ser identificada por nenhum tipo de nuvem. Ela se apresenta mais forte sobre os continentes e se forma abaixo do eixo da corrente do lado polar. A Corrente de Jato ou Jetstream (JTST) é um fluxo de vento intenso, pertencente à circulação superior. Porém, existe turbulência em baixos níveis principalmente aquelas detectadas por aeronaves de baixa performance e que são perigosas em virtude dos poucos recursos técnicos destas. Um estudo estatístico da posição destas turbulências associadas a jatos de baixos níveis pode auxiliar as aeronaves no rumo e em sua rota; e também ajudará aos aeronavegantes na tomada de decisões importantes, quanto ao planejamento e otimização de custos de vôos regulares e especiais realizados pela aviação civil e militar. MATERIAL E MÉTODO: Os dados de ar superior para esta pesquisa estão sendo obtidos do Código TEMP confeccionados pelas EMA, basicamente dos dez minutos iniciais da transmissão dos dados da radiosondagem. As Estações Meteorológicas de Altitude (EMA) destinam-se a coletar e tratar os dados meteorológicos, especialmente de temperatura, de umidade e de pressão, desde a superfície até o nível em que o balão meteorológico se rompe na atmosfera. Os valores de direção e de velocidade do vento, nos diversos níveis, são calculados a partir do posicionamento do balão em função do tempo e das coordenadas verticais e horizontais. O processo de coleta Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 233 234 Resumos e de tratamento dos dados, realizados por uma Estação Meteorológica de Altitude, chama-se Radiosondagem. A radiosondagem, realizada por meio do lançamento de balões, é a principal fonte de obtenção de dados do ar superior para o emprego em pesquisa, base de dados para a previsão numérica do tempo e em serviços operacionais, tais como a previsão de vento e de temperatura nos níveis de vôo, turbulência, formação de gelo em aeronaves, cálculo da probabilidade de trovoadas, formação de nuvens, trilhas de condensação e, mais recentemente, nas avaliações do movimento e da dispersão de nuvens de cinzas vulcânicas e de nuvens radioativas. Os balões meteorológicos são empregados para transportar as sondas que contêm os sensores e o transmissor; para as observações de rotina em altitude, são usualmente do tipo extensível e de forma esférica. Deve ser de tamanho e qualidade tal que assegurem o transporte do peso necessário (habitualmente de 1 a 2kg) até altitudes da ordem de 30km, com razão de ascensão suficientemente rápida para garantir uma razoável ventilação dos elementos de medição. A matéria-prima adequada para a fabricação dos balões meteorológicos é a borracha natural ou borracha sintética e, uma vez prontos, devem estar isentos de qualquer substância estranha ou outros defeitos, devendo ser homogêneos e de espessura uniforme. Precisam estar providos de uma gola de 1 a 5cm de diâmetro e comprimento de 10 a 20cm, conforme a dimensão do balão. No caso dos balões para a radiosondagem, a gola deve ser capaz de suportar peso de 18kg, sem danificar a borracha. Os diversos tamanhos são melhores identificados pelos seus pesos nominais em gramas. Os pesos reais de cada balão não devem diferir em mais de 20% do peso nominal especificado. Além disso, os balões devem ser capazes de se expandirem em, pelo menos, 4 vezes o seu diâmetro inicial e de manter essa exposição no mínimo por 1 (uma) hora. Um bom balão pode ser capaz de se expandir até atingir 6 vezes o seu diâmetro inicial. Uma vez cheio, ele deve apresentar uma forma esférica ou, pelo menos, circular, quando em corte horizontal A quantidade de gás hidrogênio ou hélio contida em um balão, inflado para lançamento, é fator de grande importância na realização de uma boa radiosondagem. A radiosondagem é realizada duas vezes por dia, normalmente, às 09h00 e 21h00. Isto permite prever o comportamento sinótico das varáveis PTU (pressão, temperatura e umidade). Um código chamado TEMP (perfil termodinâmico) é confeccionado contendo dados de vento, temperatura e ponto de orvalho através de um escala de níveis padrões de altitude. A divulgação internacional do Código TEMP é de responsabilidade do Centro Regional de Telecomunicações de Brasília, subordinado ao Instituto Nacional de Meteorologia (INMET). Utilizaram-se inicialmente os dados do TEMP de Curitiba, Florianópolis e Porto Alegre nos primeiro dez minutos de sondagem, pois nesse tempo o balão atinge aproximadamente 4500 metros, altitude Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa suficiente para traçar o perfil de vento em baixos níveis, ou seja, dentro da camada limite planetária. ANÁLISE E DISCUSSÕES PARCIAIS: Analisando os dados, após ser colocado na forma tabular e gráficos, pode ser que para períodos noturnos de comportamento de vento há um aumento de intensidade em níveis crescente de vôo, ou seja, do FL065 ao FL115. Este comportamento já era esperado em virtude da diminuição da camada turbulenta. Os ventos de maior intensidade estão na transição ou nas estações inverno-primavera e normalmente estão associados aos jatos de baixos níveis que transporta umidade, sendo responsáveis pelas instabilidades dinâmicas da Camada Limite Planetária. Praticamente, os números de Jatos nas outras estações são bastante reduzidos, neste caso há de supor que a instabilidade seja causada pelo aspecto térmico ou de forma mecânica, isto é, pelo aspecto da convecção. Observou-se também que os picos de ventos são predominantes nestas estações, ou seja, inverno-primavera. Há períodos de alternância entre estas estações e é crescente em relação aos níveis de vôo analisados (FL065 ao FL115). Quanto ao aspecto direcional do vento, sua predominância é para o quadrante Sul - Oeste com raras mudanças para as estações de maior intensidade de vento. Para as estações de menor intensidade, outras estações, a direção do vento se mantém neste quadrante. Os picos também mantêm a ordem crescente dos níveis de vôo, sendo o Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. FL115 possuidor de picos acima de 70 nós. Analisando os períodos diurnos, observa-se que o vento tem um perfil semelhante ao comportamento noturno, porém com algumas variações para um grupo de níveis de vôo. O FL065 apresenta ventos médios superiores aos níveis 075, 085, 095 e 105. Provavelmente isto acontece devido ao efeito da circulação marítima-terrestre para os períodos diurno e noturno. Quanto ao aspecto direcional é semelhante ao comportamento noturno para as estações de maior intensidade. Os picos têm alternância para a primavera e inverno; neste caso os picos diferem da média onde a predominância seria acima do FL085. CONCLUSÕES PARCIAIS: Sazonalmente, o inverno e a primavera são as estações de maior representatividade quanto ao aspecto comportamental do vento. Os aeronavegantes devem observar a climatologia da direção e velocidade do vento nestas estações para otimizar o tempo de vôo, consumo de combustível e a presença de jatos que podem causar turbulência provocando problemas de segurança de vôo. As missões militares devem observar estas estações para definir o desempenho das aeronaves em vôo e melhores períodos para realização das mesmas. Os resultados ainda não são conclusivos, pois estão sendo finalizada a localidade de Campo Grande, para os anos de 2005 a 2009, e os dados do primeiro semestre de 2009, para as localidades de Curitiba, Florianópolis e Porto Alegre. 235 236 Resumos REFERÊNCIAS ARYA, S. P., Introduction to micrometeorology, Academic Press.Inc, 1988. BRASIL. Comando da Aeronáutica. Departamento de Controle do Espaço Aéreo. Classificação dos Órgãos Operacionais de Meteorologia Aeronáutica, de 01 abr 2003. Rio de Janeiro. (ICA 105-2). BRASIL. Comando da Aeronáutica. Departamento de Controle do Espaço Aéreo. Manual de Centros Meteorológicos, de 01 nov.2001. Rio de Janeiro. (MCA 105-12). BRASIL. Comando da Aeronáutica. Departamento de Controle do Espaço Aéreo. Informações Meteorológicas de Aeronaves, de 01 mar 1990. Rio de Janeiro. (IMA 105-5). BRASIL. Comando da Aeronáutica. Departamento de Controle do Espaço Aéreo. Regras do ar e Serviços de Trafego Aéreo, de 01 mar 1990. Rio de Janeiro. BRASIL. Comando da Aeronáutica. Meteorologia para pilotos (capítulo V). Rio de Janeiro, D. A. C. 1950. DEFANT, F., 1951.Local Winds In: Compendium of Meteorology. Boston. American - Meteorological Society, 655672. GODOWITCH, J. M.; J. K. S. Ching e J. F. Clarke (1985). Evolution of the nocturnal inversion layer at an urban and no urban location. Journal of Climate and Applied Meteorology, 24, 791-804. HOLTON, R. H., Dynamic Meteorology, Thiird Edition, Academic Press.Inc, 1992. M. A F. SILVA DIAS and MACHADO, A. J, 1996: The Role of Local Circulations in Summertime Convective Development and Nocturnal Fog in São Paulo, Brazil. Boundary-Layer Meteorology, 82, pp. 135-157. MACHADO, A. J. e M. A F. SILVA DIAS, 1990: Circulações Locais Durante o Experimento Meteorológico III do Projeto Radar de SP II. VI Congresso Brasileiro de Meteorologia, 1, 310-314. OLIVEIRA, A. P. & SILVA DIAS,L., 1982: Aspectos observacionais da Brisa Marítima em São Paulo, Anais II Congr. Bras. Meteor., 2, 18-22 Outubro, Pelotas, pp. 129-161. WALLACE, J.M., Atmospheric Science : An Introductory Survey Academic Press.Inc, 1977. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa COMO SE CONFIGURAM AS ATIVIDADES DA PRÁTICA DE ENSINO E DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO NOS CURSOS DE LICENCIATURA EM GEOGRAFIA NAS UNIVERSIDADES ESTADUAIS PARANAENSES DIANTE DAS REFORMULAÇÕES CURRICULARES? Wanda Terezinha Pacheco dos Santos - Universidade Estadual do Centro-Oeste Maurício Compiani - Universidade Estadual de Campinas Este trabalho faz parte das atividades desenvolvidas no âmbito do Projeto de Pesquisa “Operacionalização da Prática de Ensino e do Estágio Supervisionado nos cursos de licenciatura em Geografia nas universidades estaduais paranaenses e paulistas diante das reformulações curriculares”, desenvolvido junto à Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP em 2008 e 2009. Tem como objetivo averiguar como os cursos de licenciatura em Geografia das Universidades Públicas do Estado do Paraná, bem como das Universidades Públicas do Estado de São Paulo – USP, UNESP e UNICAMP estão desenvolvendo (na prática) as atividades da Prática de Ensino e do Estágio Supervisionado, considerando as exigências do CNE que delibera sobre a carga horária de 800 horas para as referidas disciplinas, ou seja, a Resolução CNE/CP 2, DE 19 de fevereiro de 2002. Nesse trabalho, em particular, estudamos as configurações da Prática de Ensino – prática como componente curricular - e o Estágio Supervisionado dos cursos de licenciatura em Geografia das cinco universidades estaduais do Paraná, a saber: Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG, Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, Universidade Estadual de Maringá – UEM, Universidade Estadual de Londrina – UEL e Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO. Considerando que a ampliação significativa da carga horária destinada à prática e ao estágio supervisionado decorrente da proposta das Diretrizes Curriculares para a Formação de Professores da Educação Básica e para os Cursos de Geografia propuseram novas bases para organização curricular e a exigência de se distribuir a formação de conteúdo pedagógico ao longo de todo o curso, vem de encontro às necessidades que sempre se apontou nas discussões nos seminários, congressos e encontros da área; interessava-nos sobremaneira averiguar como os cursos de licenciatura em Geografia dessas universidades organizaram suas configurações da Prática de Ensino e do Estágio Supervisionado, a partir das suas interpretações sobre a legislação atual para a formação de professores. Para tanto, desenvolvemos um estudo de natureza qualitativa em que os dados foram extraídos de anotações em diário de campo, entrevistas Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 237 238 Resumos semi-estruturadas e questionário de perguntas abertas aos professores que trabalham com a Prática de Ensino e Estágio Supervisionado. Buscamos complementação através de alguns documentos como a legislação referente à formação de professores, bem como os projetos político-pedagógicos e as grades curriculares dos cursos que nos foram enviados pelos coordenadores e/ou professores ou através do acesso aos sítios das IES. Os dados coletados nos permitiram analisar a operacionalização dessas atividades nas cinco universidades estaduais paranaenses. Pudemos observar que duas delas (UNIOESTE e UEL) apresentam a carga horária referente à prática como parte das disciplinas de conteúdos específicos de sua grade curricular. Duas (UEPG e UEM) buscaram distribuir a carga horária da prática em disciplinas de conteúdos específicos e conteúdos pedagógicos, além de criar espaços disciplinares de prática de ensino e apenas uma (UNICENTRO) apresenta a prática de ensino como disciplinas ao longo do curso. Um ponto importante da pesquisa a ser destacado é o entendimento da dimensão prática na formação dos futuros professores em decorrência das normativas legais, especialmente as Resoluções CNE/ CP 01/2002 e a CNE/CP 02/2002. Vale ressaltar que apesar do aumento da carga horária de 800 horas conforme a Res. CNE/CP 2, de 19 de fevereiro de 2002 trazer, em nosso entendimento, avanços no sentido de dar uma identidade aos cursos de licenciatura, há dificuldade de entendimento por parte dos professores com o conceito de prática como componente curricular. Constatamos que a idéia de prática foi interpretada pelas universidades pesquisadas mais para atender as necessidades de adequação de grade curricular do que à formação dos futuros professores que atuarão na escola básica. Entendemos que a prática de ensino não pode ser uma prática qualquer nem pode ser confundida com uma aula de campo de uma disciplina específica e desvinculada da dimensão formativa da prática. Ou seja, não aquela prática que se confunde com o estágio, mas que vai além, que está presente em diferentes momentos e com estratégias de contato com o dia-a-dia das escolas de ensino básico. Não podemos perder de vista que por estarmos tratando de um profissional específico, o professor, as dimensões práticas trabalhadas em sua formação devem ser aquelas próprias para sua atuação no campo do ensino, no nosso caso, ensino de geografia. E se essa inserção da prática não trouxer resultados de uma análise crítica dos problemas enfrentados pelos professores e alunos no cotidiano escolar, muito pouco irá contribuir para a formação docente numa perspectiva crítica. Quanto ao Estágio Supervisionado, de modo geral, tem se constituído de forma burocrática e valorizando as atividades de observação, participação e regência sem a preocupação investigativa. Mesmo no contexto atual e que tanto se discute sobre a pesquisa no ensino, ela se apresenta ainda distante dos cursos de licenciatura. No entanto, identificamos em alguns cursos que a pesquisa é componente essencial do estágio, Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa mesmo que as iniciativas sejam muito tímidas. Importante ressaltar que a pesquisa seja na área da educação e no “ensino de”, pois podem ser momentos privilegiados de articulação teoria/prática e de problematização da prática pedagógica e em razão disso, lugar de produção do conhecimento. Também encontramos como atividade do estágio, especificamente na UNICENTRO, o desenvolvimento de projetos de intervenção na escola, apesar de alguma resistência por parte dos professores do ensino básico. Considerando nossa experiência com estágio supervisionado, temos observado que muitos dos professores do ensino básico – principalmente das séries/anos finais do ensino fundamental e médio são mais resistentes em trabalhar com projetos, pois dizem que precisam “evitar que os pais reclamem” e tem de “vencer os conteúdos do livro didático ou apostila”. A nosso ver, esses projetos ao aproximar os estagiários com os professores mais experientes podem representar um papel formativo importante. Dessa forma, urgente se faz repensar o espaço do estágio na estrutura dos cursos de formação docente, que atualmente privilegia a teoria em detrimento da prática. O ideal seria que nas disciplinas (inclusive as de conteúdo específico) o licenciando já tivesse contato com a escola, sempre supervisionado pelos professores das disciplinas, pois pensamos que, além da importância de vivenciar diferentes atividades práticas durante sua formação Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. inicial, esse contato poderia auxiliar na mudança de concepções de formadores de professores, com relação à profissão docente. Percebemos que existe um significativo esforço de alguns cursos no sentido de buscar a melhoria da qualidade na licenciatura, entretanto, continua “sendo um grande desafio incorporar aos currículos o significativo aumento da carga horária de Prática de Ensino e Estágio Supervisionado de 300 para 800 horas”. Apesar de as mudanças curriculares terem sido relevantes, os dados analisados fornecem indícios de que as transformações aconteceram mais no interior das disciplinas e que existe uma lacuna entre o que a legislação prescreve e o que realmente ocorre na prática. Assim, é cada vez mais necessário fortalecer a idéia de um projeto de formação no âmbito dos cursos, através de uma ampla discussão envolvendo todos os professores da licenciatura sobre o papel da prática de ensino e do estágio supervisionado, principalmente para que haja clareza de sua concepção, a partir das normativas legais, buscando esclarecer que os desafios para melhoria dos cursos são muito maiores que uma simples reforma curricular, mudanças nas ementas, nos nomes e nas cargas horárias das disciplinas. Resta dizer o que fica: as propostas estão estabelecidas, mas não estão sendo concretizadas. Palavras-chave: licenciatura; prática de ensino; estágio supervisionado. 239 240 Resumos DA WEB DINÂMICA À WEB CONSTRUTIVA Fausto Neri da Silva Vanin - UTP As organizações atualmente vivem um processo de análise da utilização dos ambientes de Internet como meio de interação com seu público-alvo. Em muitos casos, as organizações simplesmente detêm conteúdo informativo descritivo em seus domínios e o fornecimento de outras maneiras de contato. Outras organizações já provêm formas diretas de interação que vão desde simples formulários de contato a jogos online para divulgação de suas marcas. Alguns ambientes corporativos promovem este modelo de interação provendo formas de avaliar as experiências obtidas por seu usuário durante o seu acesso ao ambiente, o que permite a criação de estratégias direcionadas ou a adaptação automática do conteúdo exibido. Estes ambientes são chamados ambientes de hipermídia adaptativa e possuem nos ambientes educacionais grande parte do seu desenvolvimento. A utilização deste tipo de ambiente permite a promoção das interações entre os usuários e a formação de uma massa crítica que, no caso educacional, serve para avaliar o desempenho dos estudantes. Em um plano mais amplo, estes dados servirão de material estratégico para estas corporações. Algumas destas corporações utilizam como mecanismo para obtenção de dados desta natureza a pesquisa de opinião. Esta pesquisa geralmente é por um profissional que interage com o respondente de forma síncrona (entrevista, telefonema) ou assíncrona (questionário, teste). Alguns ambientes implementam esta pesquisa de forma digital, mas de forma desconectada da mecânica principal do sítio. A manifestação conhecida como Web 2.0 promoveu mudanças tecnológicas e culturais aos aplicativos de internet, onde o software tem deixado de ser um produto e se transformado em um serviço, que proporcioname transformar a Internet em plataforma. Esta mudança estrutural acompanha mudanças comportamentais nas corporações onde o conhecimento como patrimônio têm sido muito valorizado. Implementar práticas empresariais sobre esta plataforma permite às corporações agilidade em atividades como: • Comunicação interna; • Fluxo de trabalho; • Gestão de documentos; • Gestão de projetos; • Gestão de conhecimento. Mudanças estruturais estas que também irão se refletir nos indivíduos envolvidos no processo. O contato freqüente com a informação compartilhada, voltado aos empresariais ou não, promove a participação deste indivíduo como agente de geração, modificação e disseminação do conhecimento. A Hipermídia Adaptativa (HA) consiste no desenvolvimento de sistemas capazes de promover a adaptação de conteúdos e recursos hipermídia, vindos de qualquer fonte (bancos de dados, Internet, serviços, etc.) e apresentados em qualquer Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa formato (texto, áudio, vídeo, etc.) ao perfil ou modelo de seus usuários. Encontra aplicação em diversas áreas, como educação, sistemas de informação, comércio eletrônico, marketing, entre outros. Esta adaptação compreende oferecer uma interface adaptada a cada usuário, de acordo com a interpretação de dados referentes a este. Divide-se basicamente a adaptação em duas classes: - Apresentação Adaptativa: determinar o que o usuário irá ver de forma criteriosa; - Navegação Adaptativa: auxiliar o usuário a encontrar seus caminhos no sistema hipermídia; - A arquitetura de um sistema de HA é composta pelos seguintes elementos: - Base de Modelos de Usuários (BMU): contém todos os modelos de usuários pertinentes ao ambiente. Interface Adaptiva: apresenta o conteúdo de forma seletiva e coleta dados do usuário para futuras adaptações. - Fonte de Hipermídia: plataforma que irá conter os recursos de hipermídia, como por exemplo a Internet. O modelo de usuário (MU) em HA irá conter os padrões descritivos de um elemento ou grupo de elementos em um sistema de HA. Este modelo é definido por uma série de estruturas de informação composta pelos seguintes elementos: - Representação dos objetivos, planos, preferências, tarefas e/ou habilidades sobre um ou mais tipos de usuário; Representação de características comuns e relevantes sobre usuários pertencentes a subgrupos ou estereótipos específicos; - A classificação de um usuário em um ou mais destes subgrupos ou estereótipos; - Gravação do Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. comportamento do usuário; - A formação de considerações sobre o usuário baseado em seu histórico de interação; e/ou - A generalização do histórico de interação de um ou mais usuários em grupos. A criação automática de MUs, em geral, é feita pela aplicação de técnicas de aprendizagem de máquina, tanto as supervisionadas quanto às não supervisionadas. Entre as principais técnicas estão os algoritmos de k-médias, SOM (Self-organizing Maps), agrupamentos difusos e regras de associação entre as não supervisionadas. Entre as supervisionadas foram as técnicas de árvores de decisão, k-NN, redes neurais e SVM (Support Vector Machines). Para decidir qual técnica utilizar para modelar o conhecimento, faz-se necessário analisar algumas situações: 1) Ter ou não dados rotulados; 2) o tipo de avitidade a ser realizada (classificação ou recomendação); 3) a necessidade ou não de representar o conhecimento de uma forma que seja amigável ao ser humano. A criação de padrões de dados que visem robustez e interoperabilidade permite que dados provenientes de aplicações distintas possam ser tratados em diferentes contextos. Vários destes padrões são baseados no formato de marcação XML (eXtensible Markup Language) pela organização de dados e pela ampla existência de aplicações para acesso à conteúdo neste formato. O XAHM (XML-based Adaptive Hypermedia Model). Este modelo permite descrever: a) a estrutura lógica e conteúdos de um ambiente de hipermídia adaptativa, definindo que partes deste 241 242 Resumos ambiente devem ser adaptadas (o quê); e b) a lógica do processo de adaptação, distinguindo a adaptação feita por restrições tecnológica ou por características do usuário (o quem). O ambiente é visto como um grafo ponderado (dígrafo) em que os nós representam o conteúdo e os links as arestas e os pesos das arestas representam uma medida de correlação entre os nós. O domínio da aplicação é modelado como um espaço ortogonal composto por três dimensões: Comportamento do usuário, ambiente externo (localização, peculiaridades culturais, etc.) e tecnologia (tipo de rede, velocidade de conexão, etc.). O SuML (Survey Markup Language) que é uma aplicação XML para representar questionários digitais. A linguagem compõe uma suíte de desenvolvimento que também incorpora uma biblioteca de programação para a linguagem Perl e um conjunto de transformações XSL (XML Stylesheet Language) para os questionários. A linguagem suporta apenas questões de múltipla escolha e prevê estruturas para armazenamento das perguntas e também das respostas, sendo que a visualização dos resultados deve ser feita pela utilização de XPath (linguagem para inspeção de dados em arquivos XML) para acessar os elementos contidos nos arquivos de resposta. A linguagem também incorpora suporte para a inclusão de elementos gráficos às questões. A linguagem PMML (Predictive Model Markup Language) já se tornou um padrão de mercado e tem sido suportada por diversos aplicativos de Aprendizagem de Máquina. Ela permite definir, além dos cabeçalhos específicos de cada contexto, os dicionários de dados, transformações de dados e a modelagem de conhecimento que será utilizada, suportando diversas formas de representação como Árvores de Decisão, Algorimtos de Agrupamento, Redes Neurais, por exemplo. Esta abrangência torna a linguagem muito útil a uma série de contextos. Este trabalho descreve a criação de uma plataforma para ambientes online que concentra os diferentes conteúdos na forma de plug-ins, sendo que a dinâmica de funcionamento do mecanismo de adaptação é baseado em um modelo digital de pesquisa de opinião. Este modelo utiliza o XML como base e visa a integração com o ambiente de hipermídia adaptativa e a conformidade com o padrão de dados PMML (Predictive Model Markup Language) para a aplicação de algoritmos de aprendizagem de máquina para a identificação dos diferentes perfis dos usuários. Esta plataforma foi desenvolvida visando coordenar três frentes distintas: 1) módulos descritivos; 2) módulos interativos; e 3) Sistemas Inteligentes. Os módulos intrativos contêm estruturas estáticas de conteúdo, geralmente no formato HTML. Os módulos interativos consistem nas funcionalidades disponíveis no sítio e que estarão disponíveis aos usuários. Os Sistemas Inteligentes são parte integrante do mecanismo de adaptação do ambiente e devem oferecer conformidade de padrões com o PMML. O núcleo da infra-estrutura centraliza as requisições de usuário operando de duas formas Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa diferentes: síncrona e assíncrona. No formato síncrono cada requisição consiste no envio de um arquivo completo novo gerado pelo servidor. Já o formato assíncrono permite atualizar seções diferentes de uma página em momentos distintos, o que dá a percepção de maior velocidade de desempenho ao usuário e aplica a tecnologia AJAX (Asynchronous Javascript and XML). Outro produto deste trabalho é um padrão para representação de pesquisa de opinião que opera em três camadas: pergunta, questionário e metadados. Esta estrutura organizacional permite trabalhar os diferentes níveis de representação da pesquisa agregando dados de contexto mais abrangentes (metadados) e mais específicos (pergunta). Este formato é lido para a infraestrutura criada por um plug-in específico. Esta forma Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. de representação está em fase de conclusão e os resultados até o momento mostram que a criação de funcionalidades como serviços em uma estrutura bem organizada permitem a criação de ambientes on-line em que os modelos de interação funcionem de forma transparente a outras funcionalidades existentes, aumentando a produtividade e sinalizando positivamente para a tendência de surgimento de redes de relacionamento corporativas. Como trabalho futuro, resta avaliar a representação dos dados coletados no ambiente como base para aprendizagem e, futuramente, adaptação do próprio ambiente. Palavras-chave: sistemas inteligentes; desenvolvimento web; hipermídia adaptativa. 243 244 Resumos MINERAÇÃO DE DADOS SOBRE DADOS CENSITÁRIOS Deborah Ribeiro Carvalho INTRODUÇÃO: A primeira contagem da população do Brasil foi realizada em 1872, ainda durante o Império, mas foi a partir de 1890, já sob a República, que o Censo Demográfico se tornou decenal. A coleta do Censo Demográfico 2000 mobilizou mais de 200 mil pessoas, em pesquisa a 54 265 618 domicílios nos 5 507 municípios existentes [3]. Esta pesquisa abrange a aplicação de processo de Descobrimento de Conhecimento em Bases de Dados (Knowledge Discovery In Database - KDD) sobre a base censitária referente ao Estado do Paraná (2000), mais especificamente considerando os municípios Doutor Ulysses, Paranaguá, Curitiba, Quatro Barras. O critério de seleção destes se baseou em questões referentes à quantidade populacional e nível de desenvolvimento. A justificativa para a realização deste experimento se deve ao fato do conjunto de dados coletados, a partir do censo ser da ordem de centenas de variáveis, dificultando-lhe um melhor aproveitamento. O processo KDD é composto de três etapas: Pré-processamento (preparação, limpeza, transformação dos dados), Mineração dos Dados (descobrimento de padrões) e Pós-processamento (avaliação dos resultados obtidos). Uma das dificuldades inerentes ao processo e Mineração de Dados pode ser a grande quantidade de padrões descobertos. Como forma de minimizar este fato, são pesquisadas formas de identificar aqueles padrões com maior potencial de serem interessantes. METODOLOGIA: A forma de representação dos padrões descobertos por algoritmos de Mineração de Dados pode ser bem distinta e dependendo do problema que se apresenta uma pode ser mais adequada que outra. No caso da exploração dos dados censitários inicialmente se optou pelas Regras de Associação, a qual caracteriza o quanto à presença de um conjunto de itens nos registros implica na presença de algum outro conjunto distinto de itens nos mesmos registros [2]. De maneira simplificada, uma Regra de Associação pode ser compreendida como uma regra do tipo <se> <então>, como por exemplo: <se> ainda pagando domicílio próprio <então> não é domicílio carente (18.1%, 99.3%). O que significa dizer que para o município de Curitiba (2000), 18.1% dos curitibanos ainda pagam domicílio próprio, dos quais 99.3% estão em domicílios não carentes. Para cada regra gerada, são atribuídos dois percentuais: Suporte e Confiança, sendo o Suporte corresponde à probabilidade do antecedente ocorrer <se> e a Confiança representa a probabilidade condicional do conseqüente <então> ocorrer dado que o antecedente ocorreu. Para a descoberta das regras de associação, foi utilizado o algoritmo Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa Apriori como em [1]. Devido a Regra de Associação possibilitar a associação entre conjuntos de itens em uma base de dados, a quantidade de regras geradas pode ser muito grande, o que dificulta a avaliação dos padrões gerados, ou seja, piora a compreensibilidade das regras. A partir dos padrões descobertos, estes foram avaliados sob os seguintes critérios: compreensibilidade, precisão e grau de interesse na avaliação desses resultados. Para mensurar o grau de interesse foram utilizadas cinco medidas objetivas: Coefficient, Cosine, Jaccard, Pitetsky - Shapiro’s e Interest. Além de extrair informações e descobrir regras de associação, atribuir grau de interesse foram identificadas também regras de exceção. É importante observar que uma regra de exceção é uma especialização de uma regra de senso comum (geral) e nega o conseqüente previsto por esta regra. Esse método assume que regras de senso comum representam padrões conhecidos pelo usuário, tendo em vista que elas têm uma grande cobertura (suporte), ao contrário das regras de exceção, que em geral são desconhecidas, uma vez que são de baixa cobertura. Assim, as regras de exceção tendem a ser mais surpreendentes. Por exemplo, a regra “se X, então Y” corresponde à regra geral, tendo como exceção a regra “se (X e B), então (não) Y”. Y ← X regra de senso comum (alta cobertura e alta precisão). ¬ Y ← X, B regra de exceção (baixa cobertura, alta precisão). Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. RESULTADOS: A partir da base censitária foram selecionadas as seguintes varáveis: Situação do Setor, Tipo do Setor, Espécie, Tipo do Domicílio, Condição do Domicílio, Condição do Terreno, Forma de Abastecimento de Água, Tipo de Canalização, Existência de Sanitário, Tipo de Escoadouro, Iluminação Elétrica, Carência do Domicílio. A partir das bases preparadas, foram descobertas regras de associação, as quais pósprocessadas, obtiveram-se os seguintes resultados: Uma regra de associação é apresentada no seguinte formato <então> ← <se> (suporte, confiança). Este é o formato de saída do algoritmo Apriori, a leitura de trás para frente, o qual decorre do fato deste algoritmo apresentar regras com os antecedentes (<se>) compostos por um ou mais itens de dados, enquanto os conseqüentes (<então>) só apresentam um item de dado. Os dois percentuais que se encontram entre parênteses ao lado da regra representam o suporte e a confiança. Para os moradores de Curitiba recenseados, foi possível perceber que o padrão de destino do lixo se altera dos serviços de coleta de lixo tradicionais para o uso de caçambas para os moradores que têm valas como forma de escoadouro sanitário ou outras formas de abastecimento de água que não as usuais. Regra Geral 1: Destino do lixo (serviço de limpeza) ← Condição do domicílio (Outra) (1.6%, 78.3%) Regras de Exceção em relação à Regra Geral 1: Destino do lixo (caçambas) ← Área (urbanizada) Setor (Comum) Escoadouro (Vala) Condição do domicilio 245 246 Resumos (Outra) (0.1%, 60.3%) Destino do lixo (caçambas) ← Forma de abastecimento (Outra) Condição do domicílio (Outra) (0.1%, 62.9%) Na busca por padrões referentes a domicílios não carentes e carentes, para os quatro municípios investigados, foram identificadas exceções apenas para os municípios de Quatro Barras e Doutor Ulysses. Para Curitiba e Paranaguá, nas mesmas condições de filtro para suporte e confiança, não foram descobertos grupos de regras (geral versus sua respectiva exceção). Considerando Quatro Barras, em geral os indivíduos que residem em domicílios particulares permanentes não vivem em domicílios ditos carentes (Regra Geral 2). As exceções surgem quando na mesma espécie de domicílio combinada com setor rural ou queima de lixo, etc., esta situação esta associada agora a domicílio carente (Regra de Exceção em relação à Regra Geral 2). Regra Geral 2: domicilio_carente_não ← Espécie (Particular Permanente) (99.1%, 84.5%) Regra de Exceção em relação à Regra Geral 2: domicilio_carente_sim ← Espécie (Particular Permanente) Condição domicilio (Outra) Situação setor (Rural) (2.6%, 83.3%) domicilio_carente_ sim ← Espécie (Particular Permanente) Lixo (Queimado) Condição domicilio (Outra) (2.2%, 100.0%) domicilio_carente_ sim ← Espécie (Particular Permanente) Água (Poço) Condição domicilio (Outra) (2.2%, 100.0%) domicilio_carente_ sim ← Espécie (Particular Permanente) Terreno (Cedido) (2.2%, 80.0%) Considerando Doutor Ulysses em geral os indivíduos que residem em domicílios em terrenos cedidos e usando escoadouro em fossa rudimentar não vivem em domicílios ditos carentes (Regra Geral 3). As exceções surgem quando na mesma combinação de fatores combinada com lixo, sendo eliminado a partir de terreno baldio, esta situação está associada agora a domicílio carente (Regra de Exceção em relação à Regra Geral 3). Re g r a G e r a l 3 : d o m i c i l i o _ c a r e n t e _ n ã o ← Terreno(Cedido) Escoadouro (Fossa rudimentar) (8.1%, 80.8%) Regra de Exceção em relação à Regra Geral 3: domicilio_carente_ sim ← Ter reno(Cedido) Escoadouro (Fossa rudimentar) Lixo (Terreno Baldio) (1.6%, 80.0%) Para os moradores de Doutor Ulysses a regra considerada mais interessante (dentre as 12.000 regras descobertas) conforme as medidas de interesse adotadas são apresentadas a seguir. Coefficient: Espécie (Particular Permanente) ← Iluminação (sim) (67.5%, 98.6%) – (4240.68) Cosine: Setor (Comum) ← Espécie (Particular Permanente) (97.2%, 100.0%) – (0.99) Jaccard: Tipo (Casa) ← Especie (Particular Permamente) (97.2%, 98.1%) – (0.98) Pitetsky - Shapiro’s: Situação (Urbana) ← Lixo (serviço de limpeza) domicilio_carente (sim) Espécie (Particular Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa Permamente) (1.3%, 100.0%) – (-3.55) Interest: Situação (Urbana) ← Lixo (serviço de limpeza) domicilio_carente (sim) Espécie (Particular Permanente) (1.6%, 100.0%) – (0.02) Percebe-se que apenas as medidas Pitetsky - Shapiro’s e Interest ranquearam como sendo as regras mais interessantes aquelas que envolvem relações considerando o status do domicilio (carente ou não). É senso comum que não existe uma ou mais medidas que sempre ranqueiam em primeiro lugar as regras com maior potencial de serem Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. de fato interessantes ao gestor-usuário. CONCLUSÃO: Várias são as potencialidades de uma base de dados no apoio ao processo decisório, basta que o profissional de Tecnologia de Informação tenha a sensibilidade de perceber a sua indicação, bem como os respectivos riscos e benefícios existentes a partir da sua adoção. Palavras-chave: mineração de dados; pós-processamento; regras de associação. 247 248 Resumos REFERÊNCIAS [1] Borgelt, C. Working Group Neural Networks and Fuzzy Systems, Departament of knowledge Processing and Language Engineering. Otto-von-Guericke-University of Magdeburg, Alemanha. Disponível em: http://www-ics.cs.uni-magdeburg. de/iws.html Acesso em: 05 jun. 2004 [2] Agrawal, R., Srikant, R. Fast algorithms for mining association rules. In Jorge B. Bocca, Matthias Jarke, and Carlo Zaniolo, editors, Proceedings of Twentieth International Conference on Very Large Data Bases, VLDB, pages 487–499, 1994. [3] IBGE. Censo Demográfico 2000 – Documentação dos microdados da Amostra. 150p. 2000. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa REPRESENTAÇÕES DINÂMICAS APLICADAS EM PROBLEMAS MÉTRICOS - UMA CONTRIBUIÇÃO AO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM Jorge Bernard - UTP INTRODUÇÃO: A Geometria é a área da Matemática que mais tem se beneficiado com o uso do computador. Para aprender, é importante que o aluno descubra fazendo as operações necessárias para solucionar os problemas propostos. O presente trabalho apresenta diversos cenários utilizando o software de geometria dinâmica Cabri-Géomètre como ferramenta para o ensino e a aprendizagem da Matemática nos Cursos de Engenharia da Universidade Tuiuti do Paraná. Observamos que o mesmo vem ao encontro dos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino, que propõem enfaticamente a contextualização, a interdisciplinaridade e o uso de recursos tecnológicos. As situações aqui abordadas quando representadas estaticamente são de difícil visualização e interpretação. Qualquer atividade nesse ambiente computacional deve ser complementada por uma discussão na qual buscamos significados para as construções geométricas. Observou-se que a utilização de representações dinâmicas no ensino de engenharia permite: modelar fenômenos, testar e refutar conjecturas, estimular a aprendizagem contextualizada e interdisciplinar, auxiliar na validação de teoremas e sem dúvida atuar como agente de motivação e desenvolvimento do raciocínio lógico. OBJETIVOS: a. Participar de forma fundamentada com uma contribuição ao processo de ensino e aprendizagem da Matemática e de sua integração nas conexões entre o sistema escolar e social na área da Matemática; b. Construir cenários, incorporando instrumentos tecnológicos ao ensino da Geometria, o que servirá como forma de perturbação dos alunos e proporcionará um enfoque construtivista ao processo de ensino e aprendizagem; c. Conduzir o aluno a resolver problemas geométricos por um enfoque que lhe permita conjecturar, provar, justificar, modelar, experimentar, exemplificar, generalizar e verificar; d. Utilizar a geometria intuitiva e a dedutiva que devem juntas contribuir para o aprimoramento do processo de aprendizagem em Matemática, não meramente pela ilustração geométrica, mas, sobretudo, pela validação da construção numa dada Teoria Geométrica; e. Possibilitar as soluções gráficas e analíticas simultâneas em tempo real. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS: Nesta pesquisa, mostramos a possibilidade da obtenção de áreas e volumes de poliedros irregulares no espaço em tempo real. Os poliedros podem ser definidos como um conjunto de polígonos (faces) tais que cada lado de uma face pertence sempre a duas faces. Aresta de um poliedro é o lado Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 249 250 Resumos comum a dois polígonos das faces. Vértice de um poliedro é o ponto comum às arestas do poliedro. Os poliedros podem ser classificados em regulares, semi-regulares, multiformes e irregulares. O poliedro irregular é todo poliedro que não admite uma lei de geração. O volume de um poliedro é a quantidade de espaço que ele ocupa. Conhecendo a posição dos vértices de qualquer poliedro podemos obter seu volume por cálculo vetorial. Para isto, dividimos o poliedro em tetraedros irregulares e efetuamos o somatório dos volumes parciais. O procedimento é o mesmo utilizado no cálculo de áreas de figuras planas onde dividimos um polígono de n lados em (n - 2) triângulos. Pelo cálculo analítico o volume de um tetraedro é dado por uma sexta parte do módulo do produto misto dos vetores representados por três arestas concorrentes deste sólido ou ainda por diferença de pontos V= 1/6 (B-A) X(C-A). (D-A)|, onde A, B, C, D são vértices do tetraedro. Podemos representar os vetores por triplas e neste caso teremos: cálculo on-line, acrescentamos um novo sistema de coordenadas para permitir uma representação em três dimensões. Arbitramos um eixo x bissetriz dos eixos y e z, com um coeficiente de redução de 0,5 conforme recomendam as Normas Técnicas. A obtenção das triplas é feita pela translação da origem do sistema de coordenadas segundo os vetores das arestas. RESULTADOS ESPERADOS E ALCANÇADOS: Área de polígonos no plano de referência em tempo real. Na caixa de ferramentas do Cabri-Géomètre II se obtém a área de polígonos e de algumas superfícies planas. A área de um triângulo no espaço pode ser calculada pela interpretação geométrica do módulo do produto externo de dois vetores. Para o cálculo da área de um triângulo no plano de referência, podemos utilizar o volume de um paralelepípedo de altura unitária com base no triângulo transladado para a origem do sistema de coordenadas. Neste caso, teremos os vetores e a área do triângulo será igual a metade do módulo do produto misto. Exemplo: Extrapolando do plano para o espaço, o número de tetraedros T será igual ao número de vértices V do poliedro mais o número de vetores diagonais internas D menos três ou (T = V + D - 3). As resoluções apresentadas neste artigo foram elaboradas utilizando o software Cabri-Géomètre. Para efetuarmos o O procedimento a seguir tem por objetivo a determinação da área do polígono no Cabri por cálculo vetorial, o que poderá ser extrapolado para figuras do espaço: 1º) Construa um sistema de coordenadas ortogonais. 2º) Crie, a seguir, um polígono qualquer Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa de vértices 01234... Ao mover estes pontos a área do polígono se altera. A figura abaixo criada como exemplo é um pentágono. 3º) Por um vértice 0 do polígono construa vetores unindo aos seus outros vértices: (1-0), (2-0), (3-0) e (4-0)... 4º) Transporte por meio de uma translação os vetores para a origem das coordenadas. As coordenadas das extremidades dos vetores obtidos definem os mesmos: (X1, Y1), (X2, Y2), (X3, Y3), (X4, Y4)... 5º) Abra a ferramenta calculadora e obtenha a área S utilizando a fórmula da Geometria Analítica: S=1/2[|(X1. Y2-X2. Y1)|+|(X2. Y3-X3. Y2)|+ |(X3. Y4-X4. Y3)|]. 1. Área de um triângulo no espaço em tempo real: Dado o triângulo ABC, podemos calcular sua área por Pitágoras (S²=S’²+S”²+S”’²), Projeções de Monge (métodos geométricos de rebatimento, rotação e mudança de planos), Lados ( Vetores, e outros métodos gráficos ou analíticos. Por Vetores teremos: SABC= onde vem que SABC=1/2 Para a obtenção da área em tempo real efetuamos uma Macro Construção. 2. Volume de poliedros em tempo real utilizando cálculo vetorial Podemos interpretar de forma geométrica que três vetores não coplanares representam arestas de um paralelepípedo. Sabe-se da geometria espacial que o produto misto destes vetores representa o volume deste paralelepípedo. O Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. volume de um tetraedro é uma sexta parte do volume de um paralelepípedo. Quatro vértices não coplanares podem representar um tetraedro. Cada vértice a mais poderá representar mais um tetraedro. No caso de um prisma de base triangular, teremos três tetraedros (T=V+D-3 onde T=6+0-3=3). O somatório dos volumes dos tetraedros dará o volume do poliedro. Um dos procedimentos para a obtenção do volume do poliedro é a seguinte: 1º) Construa um sistema de coordenadas ortogonais x0-y0. Encontre a interseção da bissetriz de x0-y0 com a circunferência de centro na origem das coordenadas e raio unitário. Encontre o ponto médio entre este ponto e a origem. Com a ferramenta, novos eixos, crie os novos eixos x1-y1. Teremos em perspectiva cavaleira modificada um triedro tri-retângulo ortogonal xyz onde x=x1, y=y1 e z=y0. No espaço, a representação de figuras é definida no mínimo por duas projeções. 2º) Crie, a seguir, um poliedro qualquer de vértices (VABCD). Ao mover estes pontos o volume do poliedro se altera. A figura abaixo criada como exemplo é um poliedro com V= 5 (vértices), F= 6 (faces) e A= 9 (arestas) que confirma a fórmula de Euler. Temos que V+F=A+2 ou 5+6=9+2. Podemos observar que não se trata de uma pirâmide, pois os pontos ABCD são arbitrários e não coplanares. 3º) Como temos cinco vértices, teremos dois tetraedros T=V+D-3=5+0-3=2. Escolhemos um vértice V do poliedro e unimos aos demais por vetores obtendo os tetraedros (VABC) e (VCDA). Este procedimento 251 252 Resumos deve ser feito nas duas projeções. 4º) Transporte por meio de uma translação os vetores para a origem das coordenadas. As coordenadas das extremidades dos vetores obtidos definem os mesmos: O volume total será dado pela soma dos volumes dos tetraedros V=V1+V2. 3. Área de polígonos no espaço pela generalização do teorema de Pitágoras. Podemos obter a área de figuras planas do espaço pela aplicação do teorema de Pitágoras cujo enunciado diz que: “O quadrado da área de um triângulo ou de uma figura plana qualquer é igual à soma dos quadrados das áreas dos triângulos projetados ortogonalmente sobre um triedro tri-retângulo ortogonal”. Temos que S2=S’2+S”2+S”’2. Neste estudo, vamos apresentar o cálculo das áreas de diversas superfícies comparando o rebatimento com Pitágoras e observando que chegamos aos mesmos resultados. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Neste trabalho, constatou-se que a geometria dinâmica pode promover a ligação entre a álgebra e a geometria e contribuir significativamente para a aprendizagem em matemática. Os resultados obtidos on-line permitiram concluir que o enfoque computacional, proporcionado pela geometria dinâmica, configura-se como uma alternativa didática para o processo de ensino-aprendizagem da matemática e sem dúvida atua como agente de motivação e desenvolvimento do raciocínio lógico-espacial. Palavras-chave: ensino; aprendizagem; tecnologia educacional; matemática. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa SISTEMA DE VIDEOCONFERÊNCIA E MONITORAMENTO BASEADO EM SISTEMAS ABERTOS: ESTUDO DE CASO Roberto Amaral Mauro Sérgio Vosgrau do Valle Leonardo Marques Teixeira O uso da internet como meio de comunicação entre pessoas e sistemas é bastante comum nos dias de hoje. Seu uso facilita e diversifica as formas de disseminação do conhecimento entre seus usuários. O projeto, ora apresentado, visa demonstrar as etapas envolvidas na criação de um ambiente para videoconferência capaz de dar suporte a futuros desenvolvimentos em áreas afins - vídeoaula, monitoramento, entre outras. INTRODUÇÃO: Uma grande revolução vem lentamente modificando o homem e sua maneira de interagir com seu meio ambiente. Os avanços obtidos pelo uso do computador e suas redes permitem que novos paradigmas sejam propostos, desenvolvidos e implementados dentro de uma nova filosofia. O uso de técnicas inovadoras facilita a vida do ser humano que acaba pagando o preço de uma dependência crescente destas inovações. A Internet vem sendo utilizada, cada vez mais, como forma de integração entre pessoas e sistemas, permitindo a comunicação de forma bastante inovadora e eficiente. Esforços vêm sendo aplicados no sentido de aproveitar e diversificar o uso da infraestrutura disponível na Internet, pela significativa redução de custos de implantação e operação de novos serviços, pois este é um campo fértil para a proposição de novos paradigmas. A popularidade da tecnologia VoIP, por exemplo, é um resultado típico desta busca. Esta técnica permite que uma ligação telefônica seja estabelecida através da Internet com custos reduzidos se comparados com formas tradicionais para o mesmo tipo de serviço. A grande rede facilita e diversifica as formas de comunicação entre seus usuários. Entretanto, alguns serviços poderiam ser melhor explorados, diversificando ainda mais as formas de disseminação do conhecimento pela rede. O uso dos serviços eletrônicos de videoconferência, vídeoaula ou o monitoramento de um ambiente poderiam ser melhor aproveitados se soluções técnicas de baixo custo estivessem disponíveis. O serviço de vídeo aula, por exemplo, beneficiaria professores e alunos, disponibilizando conteúdos para consulta a qualquer momento. OBJETIVOS: A busca por uma solução de baixo custo deve seguir duas linhas bem definidas. A determinação das especificidades dos elementos de hardware (câmeras, microcomputadores, etc.) menos onerosos e, principalmente, Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 253 254 Resumos na pesquisa por aplicações (softwares), para o processamento de imagem e som, monitoramento e controle, baseadas nas soluções disponíveis em software livre e de código aberto. Com base nestas premissas, vislumbrou-se a proposição do estudo de uma ferramenta capaz de auxiliar as relações de ensino e aprendizagem com o uso das soluções em rede. Para que esse estudo possa ser realizado um ambiente de testes para videoconferência foi idealizado e implementado parcialmente. Por se tratar de uma área do conhecimento pouco explorada futuras implementações deverão ser realizadas de acordo com novas funcionalidades que serão acrescidas. O laboratório de testes possibilita futuros desenvolvimentos nas áreas de videoconferência, vídeoaula, entre outras. MATERIAL E MÉTODOS: Software livre, segundo a definição criada pela Free Software Foundation (http://www.fsf.org/) é qualquer programa de computador que pode ser usado, copiado, estudado e redistribuído com algumas restrições. A liberdade de tais diretrizes é central ao conceito, o qual se opõe ao conceito de software proprietário, mas não ao software que é vendido almejando lucro (software comercial). A maneira usual de distribuição de software livre é anexar a este uma licença de software livre, e tornar o código fonte do programa disponível para consulta [7]. Videoconferência [3] é uma discussão que permite o contato visual e sonoro entre pessoas que estão em lugares diferentes, dando a sensação de que os interlocutores encontram-se no mesmo local. Permite não só a comunicação entre um grupo, mas também a comunicação pessoa-a-pessoa. Essa comunicação é feita em tempo real e existem vários sistemas interpessoais de videoconferência que possibilitam isso. Além da transmissão simultânea de áudio e vídeo, esses sistemas oferecem ainda recursos de cooperação entre os usuários, compartilhando informações e materiais de trabalho [3]. Um ambiente comum de videoconferência é composto de uma sala dotada de uma câmera especial e alguma facilidade tecnológica para a apresentação de documentos. Atualmente, com o avanço dos processadores (cada vez mais rápidos) e a compressão de dados, surgiu um novo tipo de videoconferência, a conferência desktop. Nela não são necessárias salas especiais ou equipamentos ultramodernos: a interação é feita por uma webcam e um microfone simples. O processamento das imagens e sons é efetuado por software que deve estar instalado em uma máquina padrão [8]. Os softwares atuais para videoconferência e monitoramento de ambiente são, na maioria das vezes, aplicativos protegidos por contratos de licença de custo elevado e dificilmente de código aberto. Adaptar as soluções existentes para aplicações específicas pode ser trabalhoso, caro e, quase sempre, com resultados insatisfatórios. Portanto, o estudo e a implementação de um ambiente de estudos e desenvolvimentos nesta área permite encontrar soluções mais criativas, desafiadoras Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa e proprietárias. Diversas são as aplicações em software livre de código aberto que podem ser trabalhadas e adequadas para situações específicas. Com base nestes princípios, reuniu-se uma infraestrutura básica, utilizando componentes de baixo custo e baseado em software livre, capaz de servir como laboratório para adaptação e ajuste em aplicações finais. Um ambiente para monitoramento e videoconferência deve ser capaz de coletar dados de som e imagem em um determinado ponto e disponibilizá-los em rede. Figura. 1) Esquema do sistema de coleta e distribuição de dados. A infraestrutura concebida é composta por câmeras, capazes de captar informações, conectadas a um computador que gerencia os dados coletados transmitindo-os em rede. A figura 1 apresenta, de forma genérica, os itens que compõe o sistema de coleta e distribuição de dados. O sistema criado Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. é composto por câmeras conectadas, via rádio ou USB, com microcomputadores ligados em rede. Os microcomputadores têm como missão o gerenciamento do fluxo de dados (imagens, sons e controle) para a rede e permitir que parâmetros da câmera, como foco e posição, possam ser manipulados. Entretanto, para melhor aproveitamento desta infraestrutura e consequente aumento da eficiência na interação entre as partes envolvidas (cliente/servidor), o uso de câmeras estáticas foi desconsiderado. Buscou-se uma solução que pudesse permitir um grau maior de liberdade quanto ao seu posicionamento. Um operador, local ou remoto, deveria ser capaz de manipular o posicionamento da câmera e o foco de interesse. Foram elaborados estudos no sentido de integrar as câmeras com dispositivos robotizados que permitissem esta manipulação (figura 2). A primeira implementação, um braço robótico, permite que uma pequena webcam seja movimentada e controlada por uma conexão de rede remota. Usuários podem operar seu posicionamento em qualquer lugar do mundo, se conectados na internet. A segunda implementação é composta por um veículo com controle remoto disposto sobre trilhos de alumínio podendo percorrer toda a extensão do laboratório. Sobre este equipamento fica disposta uma câmera que transmite em tempo real, para o servidor de câmera, através de uma comunicação por rádio. Esta segunda solução também deve ser controlada remotamente pela rede. 255 256 Resumos Figura. 2) Sistemas robóticos implementados. Com o apoio da infraestrutura implantada no laboratório de redes (GERDS - Grupo Interdisciplinar de Redes de Computadores e Sistemas Distribuídos - http://gerds. utp.br/) a integração entre o hardware (robôs, câmeras, etc.) e a rede foi concluída. Algumas funcionalidades já apresentam resultados e podem ser testadas na página do GERDS no link “Câmera III (IP)” (figura 3). A Figura. 3) Página inicial do portal GERDS (http://gerds.utp.br). página do GERDS permite a visualização, em tempo real, do ambiente do laboratório por duas webcam ‘s distintas. Esta infraestrutura está sendo utilizada na pesquisa do controle de qualidade para o fluxo de dados pela rede. Em um ambiente interno ao laboratório, servidores de EAD permitem estudos para a integração das imagens captadas em vídeo aulas e, futuramente, os dispositivos robóticos (figura 2) poderão ser controlados pelo site do GERDS. CONCLUSÃO E TRABALHOS FUTUROS: As soluções de baixo custo encontradas na implementação desta primeira etapa mostraram que é possível criar um ambiente capaz de disseminar imagens e sons pela rede. Entretanto, a próxima fase, composta pela pesquisa e implantação por soluções em software livre ([4] e [5]) capazes de dar suporte as aplicações de interesse, deverá concluir o esforço em atingir os objetivos propostos com a integração do hardware com as aplicações de videoconferência e monitoramento. Ao longo destes estudos novos benefícios estão sendo atingidos motivando alunos a explorar e desenvolver habilidades ligadas à robótica e trazendo conhecimentos nas áreas de controle de dispositivos, além da oferta de vaga para iniciação científica gerando temas para projetos de graduação. Palavras-Chave: videoconferência, monitoramento, software livre, Linux. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa REFERÊNCIAS [1] BISHOP, O. (2007). “The Robot Builder’s Cookbook”. Elsevier Ltd. [2] ANGELES J. (2007). “Fundamentals of Robotic Mechanical Systems Theory, Methods, and Algorithms”. Third Edition. Springer [3] Videoconferência (online). Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Videoconferência (17 ago. 2009) [4] Openmeetings Open-Source Web-Conferencing (online). Disponível em: http://code.google.com/p/openmeetings/ (17 ago. 2009) [5] Red5 : Open Source Flash Server (online). Disponível em: http://osflash.org/red5 (17 ago. 2009) [6] Videoconferencing (online). Disponível em: http://en.wikipedia.org/wiki/Videoconferencing (17 ago. 2009) [7] Software Livre (online) Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Software_livre (20 out. 2009) [8] Mára Lúcia Fernandes Carneiro. “VIDEOCONFERÊNCIA Ambiente para educação á distância” (online) Disponível em: http://penta.ufrgs.br/pgie/workshop/mara.htm (20 out. 2009) Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 257 258 Resumos UMA METODOLOGIA DEA PARA AVALIAR VARIÁVEIS LIMITADA S NA AGRICULTURA Paulo Cesar Tavares de Souza - UTP INTRODUÇÃO: Nos últimos tempos, tem se observado uma profissionalização cada vez maior no setor agropecuário. Novas tecnologias são criadas e aplicadas no campo. Porém a influência do clima e dos índices de precipitação pluviométrica são fatores fundamentais para o desenvolvimento da agropecuária, possibilitando um melhor desempenho tanto da agricultura quanto da pecuária. O problema é que estas variáveis não podem ser controladas pelo produtor, bem como tem um fator limitante, inferior e superior, para um melhor desempenho da unidade de produção agrícola. A publicação do modelo CCR por Abraham Charnes, William Cooper e Edward Rhodes (CHARNES et al., 1978) é reconhecida como o nascimento dos modelos de Análise de Envoltória de Dados (Data Envelopment Analysis –DEA), que permite determinar a eficiência de uma unidade produtiva comparativamente às demais, considerando-se os múltiplos insumos utilizados e os múltiplos produtos gerados. Neste trabalho, irá se procurar uma metodologia DEA que permita avaliar o desempenho produtivo, bem como comparar com técnicas utilizadas atualmente na avaliação da agricultura, considerando variáveis que não podem ser controladas bem como variáveis que possuam fatores limitantes. OBJETIVOS: Este projeto de pesquisa tem por objetivo determinar uma metodologia, baseada em DEA - Data Envelopment Analysis, que possibilite a avaliação da eficiência técnica de produtores rurais considerando variáveis limitadas e incontroláveis, tais como o clima e os índices de precipitação pluviométrica. Além deste fato, também iremos comparar esta metodologia com métodos utilizados pelos institutos de pesquisa agropecuária. ATIVIDADES GERAIS DESENVOLVIDAS: No desenvolvimento desta pesquisa foi realizada uma revisão bibliográfica dos Modelos DEA, que permitem a avaliação da Eficiência Técnica relativa de um conjunto de produtores, além de observar os Modelos Agrometeorológicos, com destaque aos modelos que avaliam a produtividade do agronegócio, considerando variáveis como o clima e os índices de precipitação pluviométrica, variáveis estas que são limitadas e incontroláveis. Segundo a pesquisadora da EMBRAPA, Eliane Gonçalves Gomes (2008), a modelagem por DEA tornou-se popular na avaliação de eficiência, tanto no desenvolvimento de modelos teóricos quanto nas aplicações a casos reais. A rápida evolução da modelagem DEA, tanto em seus aspectos teóricos quanto em sua aplicação a casos de estudo reais, pode ser comprovada pela grande quantidade Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa de artigos publicados. Uma das aplicações de destaque é na agricultura e na pecuária. Assim, neste momento, do desenvolvimento da pesquisa, priorizamos a revisão bibliográfica, com o intuito de ilustrar alguns dos conceitos utilizados no setor rural na avaliação da produtividade e da eficiência técnica relativa de um conjunto de produtores. Iniciamos com uma Revisão Bibliográfica dos primeiros Modelos DEA, os modelos CCR (com Retornos Constantes de Escala) e BCC (com Retornos Variáveis de Escala), além de suas aplicações e variações, alem de pesquisar sobre os Modelos Agrometeorológicos, buscando subsidios iniciais para a nossa Pesquisa. Deste modo, pode-se dizer que, nossa pesquisa se iniciou em duas frentes de trabalho: o estudo dos modelos DEA e o estudo dos Modelos Agrometeorológicos. Além dos Modelos DEA clássicos (CCR e BCC), aprofundamos nossa análise outras variações do Modelo DEA, tais como os Modelos DEA difusos (FUZZY DEA), com o objetivo de resolver os problemas de variáveis limitadas. Esta fronteira é necessária em situações nas quais algumas variáveis apresentam um certo grau de incerteza na medição, sem que se assuma que os valores obedecem a alguma distribuição de probabilidade. As Medidas DEA completas somente apareceram na literatura científica nesta última década. Duas delas destacamse pela originalidade de sua concepção e facilidade de operacionalização: a Medida Baseada em Folgas (SBM) e a Medida Ajustada por Amplitude (RAM). Com Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. relação aos modelos agrometeorológicos, que buscam a interpretação de dados climáticos relacionados com o crescimento, desenvolvimento e produtividade das culturas fornecendo informações para o gerenciamento do Agronegócio, cabe destaque as análises de alguns artigos que buscavam a interpretação os dados climáticos bem como a influência do clima e dos níveis de água necessários para o desenvolvimento das colheitas em cada fase do seu desenvolvimento. Os níveis de temperatura e precipitação pluviométrica são dois dos principais fatores que influenciam no desenvolvimento da agropecuária. Por volta de 1735, Reaumur, na França, foram realizados os primeiros estudos que relacionavam a temperatura do ar e o desenvolvimento vegetal, quando foi observado que o somatório da temperatura era praticamente constante durante o ciclo de desenvolvimento de várias espécies em diferentes anos (Pereira et al., 2002). Deste modo, foi desenvolvido o conceito de Graus-dia, que se baseia no fato de que existem duas temperaturas base, uma mínima e outra máxima, entre as quais a planta tem pleno desenvolvimento. Fora desse intervalo, ou a planta não se desenvolve ou o faz em taxas muito reduzidas (Pereira et al., 2002). Assim, a temperatura pode ser considerada como um importante fator de controle no desenvolvimento vegetal e com grande influência na sua distribuição geográfica. Calve et al, 2005, descreve que a teoria dos graus-dia pode ser utilizada, na estimativa dos ciclos das culturas, previsão de data de colheita 259 260 Resumos e, principalmente, no zoneamento agrícola, fazendo com que este último deixe de ser estático e passe a ser dinâmico. Tem se observado constantemente, nos meios de comunicação, as conseqüências de situações meteorológicas adversas, que levam constantemente a graves impactos ambientais e sociais, acarretando prejuízos econômicos significativos que podem ser difíceis de serem quantificados. As variações climáticas afetam quaisquer regiões e mesmo nos países mais desenvolvidos, com uma maior disponibilidade de recursos tecnológicos, sendo capaz de produzir enormes danos econômicos e sociais. O estudo das relações entre o clima e a produção agrícola é um os principais campos da climatologia e tem por finalidade explicar as influências dos efeitos climáticos em nosso meio, fornecendo subsídios ao planejamento rural (Calve et al, 2005). Quando o objetivo do estudo é de conhecer a influência dos fatores climáticos no rendimento dos cultivos, mais especificamente, no sentido de desenvolver metodologias, estratégias e técnicas que permitam aos sistemas de produção agrícola atenuar as influências de adversidades climáticas sobre o rendimento de cultivos, caracteriza-se uma linha de pesquisa específica da climatologia, a agrometeorologia. Os modelos Agrometeorológicos e a interpretação de dados climáticos relacionados com o crescimento, desenvolvimento e produtividade das culturas fornecem informações que permitem ao setor agrícola tomar importantes decisões, tais como: melhor planejamento do uso do solo, adaptação de culturas, monitoramento e previsão de safras, controle de pragas e doenças estratégias de pesquisa e planejamento (Lazinski, 1993). Se os processos de organização agrícola afetam negativamente o quadro ecológico, qualquer evento climático fora dos padrões habituais é capaz de deflagrar uma reação em cadeia que não afeta somente a produção agrícola, como danifica o ambiente. Ao mesmo tempo, o descompasso entre os benefícios econômicos e seu retorno social, ao impacto de qualquer risco eventual, expõe a fragilidade da organização social (Monteiro, 1981). Estudos desenvolvidos, baseados nas indicações do IPCC (2001), indicam que significativas perdas na agricultura ocorrerão caso as perspectivas de mudanças climáticas venham a se configurar. Mudanças estas que compreendem desde as variações consideradas naturais do regime climático até as aceleradas alterações antrópicas. No Brasil, grande produtor de soja, deve ter a sua produção comprometida, caso a hipótese de mudanças climáticas se configure o que deve provocar a migração das áreas de plantio e uma reorganização das atividades agrícolas. A variabilidade climática sempre foi um dos principais fatores na determinação dos riscos às atividades agrícolas, o que ressalta a importância do aperfeiçoamento e desenvolvimento de projetos desta natureza (Assad, 2005). RESULTADOS ESPERADOS E ALCANÇADOS: Na fase atual do nosso projeto, ainda não chegamos a resultados concretos, uma vez que ainda estamos na Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa fase de revisão bibliográfica e levantamento de dados. Ainda, estamos mantendo contato com o SIMEPAR (Sistema Meteorológico do Paraná), com o DERAL (Departamento de Economia Rural da Secretaria de Estado da Agricultura), bem como com o IAPAR (Instituto Agronômico do Paraná) e Universidades, com o intuito de obter dados e conhecer modelos atualmente usados na agricultura paranaense. Avançamos na preparação dos cenários em estudo em função dos debates surgidos na apresentação desta Pesquisa no XII Seminário de Pesquisa UTP (Nov. 2008), no I Workshop de Pesquisa da FaCET - UTP (Fev. 2009) Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. e no II Workshop de Pesquisa da FACET - UTP (Jun. 2009). CONSIDERAÇÕES FINAIS: Neste contexto, buscamos desenvolver, neste projeto de pesquisa, uma metodologia de gerenciamento da produção, baseado em DEA, que incorpore variáveis incontroláveis e limitadas, tais como o clima e os índices de precipitação pluviométrica, no processo de avaliação da Eficiência Técnica de Produtores Rurais. Palavras-chave: eficiência técnica; agrometeorologia; DEA. 261 262 Resumos REFERÊNCIAS Assad, E. D., Pinto, H. S., Zullo Jr, J., Fonseca, M. (2005) Impacto das Mudanças Climáticas no Zoneamento de Riscos Climáticos para a Cultura da Soja no Brasil Brito, S. G. (2003): Medidas DEA completas. Dissertação de Mestrado, UFSC - SC Calve, L.; Alfonsi, R. R.; Assad, E. D. Planilhas de cálculo para estimativas do ciclo de culturas a partir de graus-dia. Charnes, A. Cooper, W. W., Rhodes, E. (1978): Measuring the efficiency of decision making units. European Journal of Operational Research, vol. 2, p. 429-444. Gomes, E. G. (2008) Uso de modelos DEA em agricultura: revisão da literatura, ENGEVISTA v. 10, n. 1, p. 27-51, UFF, RJ IPCC. Intergovernmental Panel on Climate Change (2001): Impacts, Adaptation and Vulnerability. Working Group II. TAR: Summary for Policymakers. http://www.meto.gov.uk/sec5/CR_div/ipcc/wg1/WG1- SPM.pdf. (acessado em 05/09/2008) Lazinski, L. R. (1993) Variabilidade da utilização do modelo Soygro para a região de Londrina, PR. Dissertação de Mestrado, Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, SP. Lins, M.P.E., Meza, L.A. (2000): Análise envoltória de dados e perspectivas de integração no ambiente do Apoio à Decisão. UFRJ - RJ. Monteiro, C.A. de F. – Fatores climáticos na organização da agricultura nos países tropicais em desenvolvimento – conjecturas sobre o caso brasileiro – IGEOG-USP – Climatologia nº. 10, São Paulo, 1981. Pereira, A.R.; Angelocci, Luiz R.; Sentelhas, P. C. Agrometeorologia: Fundamentos e Aplicações Práticas. Guaíba, RS: Agropecuária, 2002. 478p Souza, P. C. T. (2002): Uma metodologia baseada em DEA para avaliação da eficiência técnica de produtores de leite Dissertação de Mestrado em Métodos Numéricos em Engenharia, UFPR - PR Wilhelm, V. E. (2000): Análise da Eficiência Técnica em Ambiente Difuso, Tese de doutorado em Engenharia de Produção, UFSC - SC. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa UTILIZAÇÃO DE ENERGIA TÉRMICA RESIDUAL E SOLAR PARA REFRIGERAÇÃO E CLIMATIZAÇÃO Marco Adolph Adriano Scheid Nelson Ortiz Leandro Baran André M. M. Vaz O ritmo de crescimento do consumo de energia não poderá ser mantido de maneira sustentável, a longo prazo, considerando apenas as tecnologias e base energética atual. O momento apresentado pelo cenário mundial impõe ao ser humano uma busca e comprometimento com soluções sustentáveis, onde o meio ambiente deve ser preservado, o aprimoramento sócio-cultural deve estar presente, a economia e comunidade devem ser beneficiadas e finalmente a solução deve ser obrigatoriamente economicamente viável. Serão necessárias mudanças no padrão de consumo e uma busca pela aplicação economicamente viável das energias ditas alternativas, para que a sustentabilidade seja mantida. Dentre os diversos sistemas que consomem energia, pode-se citar a refrigeração industrial e residencial e climatização de ambientes (ar condicionado). O primeiro é fundamental para a sobrevivência de uma sociedade que necessita do armazenamento e transporte de alimentos e medicamentos desde as fontes produtoras até o ponto de comercialização e consumo final. A climatização de ambientes, apesar de ainda ser no Brasil um luxo das elites, é considerada, em países mais desenvolvidos, como um item vital para o bom desempenho das atividades humanas (BRILL,1984 e ZALESNY e FARACE ,1987). Tanto a concentração como a disposição para o desempenho de atividades são influenciadas pelo conforto térmico (FANGER, 1970). A otimização do uso da energia em sistemas complexos é uma das alternativas com maior potencial para obter o equilíbrio entre refrigeração e consumo de energia. Dentre os ciclos térmicos podem ser aplicadas às máquinas de refrigeração por absorção. Este tipo de equipamento difere de unidades convencionais de refrigeração pela ausência de compressores. O funcionamento das máquinas de absorção é baseado no princípio físico químico de que certos líquidos e soluções líquidas têm a capacidade de absorver vapores ou gases (AKERMAN). A quantidade de gás ou vapor que pode ser absorvida depende principalmente Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 263 264 Resumos da temperatura da solução, sendo que as baixas temperaturas são possíveis altas concentrações. Um solvente é utilizado para absorver o vapor do da unidade do evaporador formando uma solução de concentração relativamente alta. Esta solução deve ser aquecida, e o gás ou vapor dissolvido é liberado e finalmente condensado para formar o liquido refrigerante. Usualmente, máquinas de refrigeração por absorção são compostas por: absorvedores, geradores, analisadores, retificadores, condensadores, válvulas de expansão, evaporadores, trocadores de calor. Em sistemas simplificados, poder-se-ia dispensar o uso de qualquer componente mecânico móvel, mas, nas máquinas viáveis é utilizada uma bomba de baixa capacidade para circular os fluidos da máquina de absorção. A energia necessária para acionar a bomba hidráulica de uma máquina de absorção é menor que a de uma máquina de refrigeração equivalente com compressor (HENNING, 2007). Os sistemas mais difundidos são as máquinas de água-amônia e as com soluções de LiBr. Uma das principais dificuldades no desenvolvimento destes equipamentos são os materiais que devem ser empregados, sabe-se que a amônia é incompatível com o cobre, assim sendo é necessário obter materiais que permitam uma boa relação custo benefício. O uso destes sistemas para refrigeração veicular, tanto para conforto térmico quanto para sistemas de refrigeração foi estudado e proposto anteriormente, infelizmente não foi possível, até o momento o desenvolvimento de um sistema comercialmente viável. O ciclo de refrigeração por amônia pode ser explicado de maneira simplificada: o vapor de amônia a baixa pressão, que deixa o evaporador, é absorvido pela água (solução fraca de amônia) no absorvedor, neste processo ocorre à liberação de calor para o ambiente, a solução forte de amônia é então bombeada por uma bomba convencional (que pode ser acionada por energia de painéis fotovoltaicos ou ainda através de um sistema de polia acoplado ao motor do veículo) para um trocador de calor na qual se mantém altas pressão e temperatura obtida de uma fonte externa de energia, potencialmente energia solar. Neste trocador de calor, ocorre a separação da amônia na forma de vapor que será conduzido para um condensador. A amônia é condensada como em um sistema de refrigeração por compressão de vapor, e em seguida é direcionada para a válvula de expansão e para a unidade de evaporação (que retira calor do ambiente), neste ponto ocorre uma queda da pressão e tem-se a solução fraca de amônia que retorna ao absorvedor. As unidades de refrigeração baseadas neste princípio possuem um pequeno consumo de trabalho, pois apenas líquidos são bombeados. Entretanto, é necessária uma fonte térmica, com temperaturas relativamente altas, de 100 a 200°C (VAN WYLEN et al, 1994). Este é também um dos aspectos mais interessantes das máquinas de absorção, para seu funcionamento é necessária uma Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa fonte de calor no gerador (ASHRAE 2006 Chapter 41). Nos equipamentos de absorção mais comuns, a fonte de calor são gases quentes de usinas termoelétricas, siderúrgicas, queimadores ou resistências elétricas. Uma opção de fonte quente é a energia solar térmica, uma energia gratuita, disponível nos momentos de maior demanda por refrigeração e condicionamento de ar. As temperaturas necessárias para o funcionamento de um sistema de absorção são facilmente obtidas em chaminés de gases de exaustão de praticamente todos os processos industriais. Felamingo (2009) apresentou um estudo e execução de um projeto de sistema de refrigeração, na qual é produzida água gelada a partir do calor de uma chaminé utilizando uma máquina de absorção com LiBr. Os ganhos em capacidade de refrigeração através da água gelada foram de 240 TR (Toneladas de refrigeração), o que por si só já representa um ganho considerável, um outro ponto interessante é que os gases que antes eram liberados na atmosfera a 360°C tiveram uma redução para aproximadamente 120°C, reduzindo os impactos ao meio ambiente. A aplicação desta tecnologia para emprego em indústrias já é relativamente bem difundida. Estudos para o uso de máquinas de refrigeração por absorção, acopladas a grupos de geradores diesel, foram realizados por Sudjirim (Sudjirim, 2000); a análise técnica e econômica demonstraram a viabilidade desta aplicação. Mostafavi (MOSTAFAVI e AGNEW, 1997), realizou uma análise teórica combinando o sistema de refrigeração por Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. absorção com os gases de motor para resfriar o ar direcionado para as câmaras de combustão. Os estudos mostraram que utilizando esta técnica, pode ser obtido um ganho significativo no desempenho dos motores diesel turbinados. Estudos para uso em unidades de menor porte, exemplos: escolas e pequenas propriedades r urais, têm sido realizados nos últimos anos (HENNING, 2007), empregando energia solar térmica. O uso em veículos tem sido discutido largamente no âmbito da SAE (Sociedade de Engenharia da Mobilidade). Akerman apresentou um estudo para três diferentes pares de fluidos e gás para ciclos de absorção, utilizando energia rejeitada pelos motores veiculares, e também água-LiBr, água amônia e uma combinação de R22 e dimetil éter de tetraetileno glicol como solvente; como fonte de calor foi adotado um motor de 390 polegadas cúbicas. O ciclo com LiBr, após as simulações iniciais, não foi considerado adequado para uso em automóveis. Simulações mais detalhadas, considerando parâmetros reais, mostraram que comparado a um sistema de refrigeração convencional com ciclo de compressão a vapor, seriam necessários trocadores de calor 10 vezes maiores e a capacidade de refrigeração não foi considerada adequada para uso em automóveis, devido às dimensões prévias que obteve para os equipamentos em seu estudo. Venkatesan (VENKATESAN et al, 2005) realizaram estudos para melhorar a performance de motores utilizando ciclo de absorção de vapor para o condicionamento de ar, 265 266 Resumos os estudos apresentados mostraram que é viável utilizar o sistema de refrigeração por absorção utilizando os gases quentes do escape do motor para o sistema de condicionamento de ar veicular. O uso de energia residual e solar térmica como fonte quente em máquinas de refrigeração por absorção é viável, porém ainda são necessárias otimizações para uso em veículos. No grupo de pesquisa de otimização em engenharia automotiva, estão sendo realizados estudos para a viabilização de uma máquina de refrigeração para uso em baús frigoríficos. Os estudos ainda estão em fase de avaliação teórica para a combinação do uso dos gases de escape, com o calor eliminado no radiador e a energia térmica solar incidente sobre o baú frigorífico e para que haja viabilidade econômica está sendo realizada uma análise de relação custo beneficio entre carga térmica, carga transportada, consumo de energia e custos de implantação. Iniciaram-se os primeiros estudos para climatização de pequenas escolas rurais, utilizando energia solar térmica como fonte quente para máquinas de refrigeração por absorção de amônia instaladas em unidades compactadas de tratamento de ar. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa REFERÊNCIAS 1- Akerman, R. J., Autmotive Air Conditioning Systems with Absorption Systems. SAE 710037. 2- ASHRAE 2006 – Refrigeration Chapter 41 – Absorption Cooling, Heating, and Refrigeration Equipment 3- Brill, M. Using Office Design to increase productivity. Workplace Design and Productivity Inc. 1984. 4- Fanger, P. O. Thermal comfort – analysis and applications in environmental engineering. United States: McGraw-Hill Book Company, 1970. 244 p. 5- Felamingo, J. C. Água Gelada Produzida Através de Calor de Chaminé. Anais Conbrava 2009. Setembro de 2009, São Paulo. 6- Henning, H. M. “Solar-assisted Air-conditioning in Buildings – A Handbook for Planners”. 2a. edição revisada, 2007. Springer Verlag. 7- Mostafavi, M, Agnew, B. Thermodynamic Analysis of Charge Air Cooling of Diesel Engine by an Exaust Gases Operated Absorption Refrigeration Unit – Turbocharged Engine With Combined Pre und Inter Cooling. SAE, 1997. 8- Van Vylen, G.; Sonntag, R.; Borgnakke, C. “Fundamentos da Termodinâmica Clássica”. Editora Edgard Blücher, 1994. 9- Venlatesan, J.; Praveen, V. M.; Bhargav, V. K.; Bharat, B. M. Performance Improvement in Automotive Engines Using Vapour Absorption Refrigeration System for Air Conditioning. Anais Future Trasportation Techology Conference, Illinois Institute of Technology, Chicago, Illinois, Setembro de 2005. 10- Sudjirim. Study on Direct Utilization of Exaust Gas in Diesel Generator as Energy Source of Absorption Refrigerator. Anais do Seoul 2000 FISITA World Automotive Congress, Seul, Córeia, junho de 2000. 11- Zalensy, M. D Farace, Richard V. Traditional Versus Open Offices: A Comparison of Sociotechnical, Social Relations, and Symbolic Meaning Perspectives. Academy of Management Journal, 1987. v. 30, n. 2, p. 240 – 259. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 267 Resumos de Pesquisa Ciências Humanas, Letras e Artes Pesquisa A APROPRIAÇÃO DE IMAGENS COMO MEIO DE CRIAÇÃO E RESIGNIFICAÇÃO NA FOTOGRAFIA CONTEMPORÂNEA Evandro F. Gauna - UTP A pesquisa parte do interesse nas formas de produção e construção das imagens fotográficas na contemporaneidade. Há diversas possibilidades de construção destas imagens, sendo que o foco desta pesquisa é a idéia de apropriação de imagens como meio de criação e resignificação. Partimos do levantamento de alguns artistas que utilizam a idéia de apropriação, e buscamos um diálogo com os teóricos de arte e da fotografia na compreensão da produção dessas imagens. Ao pensarmos a função histórica da fotografia, a do registro, vemos que com o passar do tempo, há um esgarçamento da obsessão pela representação, e neste aspecto o modernismo, e depois os artistas e fotógrafos contemporâneos, colaboraram para que este meio desenvolvesse suas potencialidades criativas. Pensar a fotografia contemporânea hoje é tentar entender a aproximação com vários suportes e entendê-las como linguagem autônoma...Interessante pensar sobre a fotografia na contemporaneidade como força do simulacro, criando um duplo como imagem de imagens...deveríamos pensar – e nisso a produção contemporânea tem nos ajudado – em enxergar a imagem como um mero ponto de vista sobre determinado assunto, uma opinião própria, portanto passível de ser construída....A imagem fotográfica, polissêmica por natureza, nos dá esse privilégio de uma leitura múltipla. E parece que é nessa direção que tem se voltado nossa produção fotográfica. (PERSICHETTI, pp. 86 a 89) Defrontamos-nos com o que diz Persichetti (2002), quando resume algumas das características fundamentais da produção fotográfica contemporânea, o simulacro como criando o duplo em diálogo com vários suportes e o desenvolvimento de uma linguagem autônoma e polissêmica, possibilitando inúmeras formas de leitura e produção. Para compreender as diferentes facetas da produção fotográfica, é necessário comprender seus modos de produção, sendo que muitas das imagens fotográficas atuais fogem do espetacular ou sensacional, muitas vezes simples, mas, no entanto, cheias de significados além de transgressoras. Na produção contemporânea, busca-se a construção de um novo olhar, assim como sua posterior desconstrução. E segundo Fernandes Junior (2006) “a produção contemporânea mais arrojada, livre das amarras da fotografia convencional,”…“tem ênfase no fazer, nos processos e procedimentos de trabalho cuja finalidade é a produção de imagens que sejam essencialmente perturbadoras”. (FERNANDES JR, 2006, p. 11). Muitos dessas imagens apresentam processos e procedimentos que poderíamos dizer cíclicos, que se alternam e se modificam ao longo do tempo, e é necessário buscar uma aproximação desses modos de produção e dos projetos poéticos dos artistas. Dentre os diversos procedimentos de produção artística, um que destacamos é o de apropriação Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 271 272 Resumos de imagens. O fato de utilizarem apropriação de imagens não é por si só um procedimento novo na produção ou criação artística. Em muitos momentos da história da arte e da produção de imagens, este é um procedimento recorrente. O que se percebe são modificações nas formas como essas apropriações se dão nos mais diferentes trabalhos realizados ao longo de seus processos. Não podemos nos esquecer que esse tipo de procedimento está intimamente ligado à questão de subjetividade, sentido negado durante muito tempo à fotografia; a possibilidade de criar significados a partir de imagens fotográficas era quase que somente associada a idéia de objetividade, prova de verdade e ao que era real, todas essas idéias já a muito superadas, pois se sabe que a imagem fotografia desde sempre pôde ser manipulada, e ter seu sentido construído ou até mesmo atribuído a prióre. Apropriação de Imagens ou Resignificação: O termo apropriação é este ato ou efeito de tomar para si, apoderando-se integralmente ou de partes de uma obra, para construir uma outra. A apropriação não é um fato novo na História da Arte, mas o uso do termo surge na contemporâneidade, buscando a possibilidade de transitar entre o passado e o presente, funcionando como uma atualização das imagens de nossa memória histórico-cultural, e sua prática atribui às obras da história da arte uma maior complexidade aos discursos na arte contemporânea. Mas não é só com as imagens da história da arte, do passado que funciona a idéia da apropriação; muitos artistas se apropriam também de imagens de outros artistas, imagens da publicidade, imagens do cotidiano, bem como da linguagem do cinema e ou da própria fotografia, na busca por reintegrar ou atribuir novo significado ou até mesmo colocar novamente em circulação aquelas imagens esquecidas ou abandonadas. Tipos de Apropriação: Na busca de compreensão dos processos criativos na fotografia contemporânea, há a necessidade de compreender a idéia de apropriação ou de seus modos de constituição. Para isso, procuramos construir ou apresentar algumas categorias dos diferentes tipos de apropriação que encontramos nos trabalhos de diferentes fotógrafos que atuam na contemporaneidade. Mesmo criando tais categorias, os trabalhos dos artistas que apresentaremos abaixo, em alguns momentos se misturam, e que tais categorias não são puras, mas que por uma questão metodológica, foram agrupadas ao redor de uma questão mais geral. Apropriação da memória: Dentro deste tipo de apropriação, encontramos as imagens que foram tanto pilhadas da História da Arte quanto da mídia de forma geral ou de diferentes tipos de arquivos: familiares, arquivos públicos, etc. . Apropriação de imagens da mídia: A apropriação de imagens pela mídia ou da mídia impressa, está presente em trabalhos de diferentes artistas, que buscam nestas imagens que atuam no senso comum. Atribuiemlhes novo significado nesse processo de apropriação, colagem, montagem, em sua utilização fora do contexto para a qual foram criadas, se é que foram criadas para esse fim, ou se estas já não eram apropriadas. - Apropriação do cinema – imagem ficcional: É comum encontrar na arte contemporânea, obras que hibridizando-se com Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa outras linguagens, ampliando seu campo de significação. Mesmo outras linguagens, como o cinema, servem como referência para a discussão sobre o poder de referência das imagens. - Apropriação da linguagem fotográfica: Destacar esta forma de apropriação é na verdade dizer que alguns artistas buscam no próprio material da fotografia, seu material de construção de imagens. Muitas delas utilizando fragmentos como que dizendo que a fotografia tem esse poder de conter a imagem, mesmo que em um fragmento. Já outros, buscam em imagens que seriam imagens já sem sentido, pois perderam seu referente, e, portanto, não tem sentido pois não são reconhecíveis, novamente virem à tona discutindo por exemplo questão de identidade, ou da falta dela, pelo fato de que estas não mais a possuírem. - Apropriação pictórica: As imagens fotográficas com essa conotação – pictórica – necessitam da contribuição do espectador, pois criam uma atmosfera romântica e sublime. Tais imagens, com objetividade técnica, buscam um olhar pictórico, este um olhar subjetivo e que busca uma relação de proximidade do espectador com o objeto representado, este um olhar tátil. - Apropriação de imagens da realidade: A transformação das realidades em imagens não objetivas e até mesmo irracionais lhe atribuem novas funções como linguagem independente. A nova produção imagética, deixa de ter relações com a realidade imediata, não pertence mais a ordem das aparências, mas aponta para diferentes possibilidades de suscitar o estranhamento em nossos sentidos. (ARAÚJO in: A fotografia nos processos Artísticos Contemporâneos, 2004, p. 80) Uma Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. outra situação encontrada em propostas de trabalho com a linguagem fotográfica e apropriação é a de artistas que buscam na realidade ou no cotidiano, detalhes que em geral passam desapercebidos pelo olhar comum. CONSIDERAÇÕES FINAIS: A matéria-prima da fotografia – o mundo “real” visível - parece estar em permanente perigo de extinsão. A partir do advento das tecnologias de suporte e veiculação de imagens, constata-se que a mediação interativa tem ocupado o lugar da “realidade”, de forma tão persuasiva que já não se questiona mais a imagem, pois estamos familiarizados com a representação da representação da representação. (FERNANDES JUNIOR in: Eustáquio Neves, 2005) Percebe-se uma produção contemporânea que os artistas ao questionarem a representação, criam ou recriam estratégias na tentativa de construir e simular uma realidade visível. Neste sentido, a fotografia tem espaço garantido. Ela, a fotografia, adquiri linguagem independente (Persichetti), não pertencendo mais à ordem das aparências. Pode-se até dizer que cria aparências e que busca no mundo visível fragmentos de realidade. Buscamos na compreensão do procedimento de apropriação, como ao resgatar, pilhar, assimilar, copiar ou reproduzir imagens da história da cultura, da arte e da memória, enfim, quaisquer tipos de imagens, criar com elas uma compreensão deste mundo: o das imagens. Palavras-chave: apropriação de imagem; processo de criação; fotografia contemporânea. 273 274 Resumos REFERÊNCIAS EXPÓSITO, Alberto Martín. O tempo suspenso: fotografia e relato.Studium, Campinas n. 16. Disponível em: www. studium.iar.unicamp.br/16/5.html. Acesso: 03 mar. 2006. EUSTÁQUIO Neves. Fotoportátil 5. São Paulo: Cosac & Naify, 2005. HEARTNEY, Eleanor. Pós-Modernismo. São Paulo: Cosac & Naify, 2002. MACHADO, Arlindo. O Quarto Iconoclasmo. Rio de Janeiro: Marca d’Água, 2001. PERSICHETTI, Simonetta. Novas Legendas. In: Bravo, São Paulo, Nº. 75, dezembro, 2003, pp. 85 - 89. FERNANDES JUNIOR, Rubens. A Fotografia expandida. Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Comunicação e Semiótica da PUC-SP, 2002. SANTOS, Alexandre e SANTOS, Maria Ivone dos (org.). A Fotografia nos processos artísticos contemporâneos. Porto Alegre: UFRGS, 2004. TASSINARI, Alberto. O espaço moderno. São Paulo: Cosac & Naify, 2001 Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa A CONCEPÇÃO HISTÓRICA DO PROJETO HISTÓRIA NOVA DENTRO DO ISEB, ENTRE OS ANOS DE 1955 A 1964 Pedro Leão Diego Souza Dolinski - UTP O propósito desta pesquisa é perceber a concepção historiográfica, a partir das obras do historiador Nelson Werneck Sodré, durante o período de 1955 a 1964, quando foi membro do ISEB (Instituto Superior de Estudos Brasileiros). Para tanto, tenho como objetivo: - Compreender as diferentes concepções históricas dos isebianos. - Analisar o posicionamento histórico de N.W. Sodré, dentro do ISEB. - Perceber a nova concepção histórica presente nos volumes da História Nova, produzidos pelos integrantes do ISEB. No momento, juntamente com meu orientador venho desenvolvendo reflexões sobre o período político de João Goulard, e como isso refletiu no ISEB, e a força do pensamento de esquerda nesta conjuntura. Além de estar analisando os que os próprios ex-isebianos dizem sobre o período e como procederam durante o período de 55 a 64. Assim sendo, até o presente momento consegui desenvolver o seguinte parecer histórico sobre o meu objeto de pesquisa, levando em consideração outras pesquisas já desenvolvidas sobre o ISEB e Nelson Werneck Sodré, de forma a problematizar a produção já existente, como demonstrarei no seguinte resumo: No dia 14 de julho de 1955, foi autorizado pelo então presidente João Café Filho, o Decreto nº 57 608, que dera origem ao ISEB (Instituto Superior de Estudos Brasileiros), órgão subordinado diretamente ao MEC (Ministério Da Educação), mas provido de plena liberdade administrativa, de pesquisa, de opinião e de cátedra, para efetuar as suas ações. O ISEB foi criado como um curso permanente de altos estudos políticos e sociais, de nível pósuniversitário, que começando a funcionar inicialmente no ano de 1956, no auditório do MEC, no Rio de Janeiro, enquanto o seu prédio sede situado na Rua das Palmeiras nº55, em Botafogo, passava por reformas para se adequar as necessidades estruturais dos isebianos, que só se instalaram lá no ano de 1957. Institucionalmente, o ISEBE, foi criado devido o Estado necessitar de agências que racionalizassem o surto de desenvolvimento do país, como: criando elementos teóricos adequados para explicar e promover o desenvolvimento nacional; usando como modelo institucional, para difundir suas atividades a Escola Superior de Guerra (ESG). Assim, o ISEB se tornou o principal centro para a elaboração da ideologia nacional desenvolvimentista, que marcou todo processo político brasileiro dos anos Vargas, até o golpe civil-militar de 64. Para conseguir a adesão da Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 275 276 Resumos sociedade a sua ideologia desenvolvimentista, o ISEB vez uso de cursos regulares pós-universitários de economia, sociologia, política, filosofia e história, com a duração media de um ano, além de ter ministrado conferencias, abertas ao público em geral, e cursos extraordinários, de curta duração. Fizeram também, uma série de publicações sobre as suas pesquisas da sociedade brasileira, e de traduções de livros que pudessem contribuir para uma melhor noção sobre o nosso país. Nos seus primeiros anos, o ISEB, conseguiu uma grande adesão no Rio de Janeiro, entre militares nacionalistas, estudantes universitários e profissionais liberais. Além de ter ganhado espaço para a divulgação de suas idéias, na grande imprensa de orientação nacionalista, dos jornais Última Hora, O Nacional, e o Correio da Manhã. Entretanto, entre os grupos mais representativos das ciências sociais, tanto da Universidade do Rio de Janeiro, como da Universidade de São Paulo, não tiveram reconhecimento em suas análises e soluções para o Brasil. Isto, devido aos intelectuais do ISEB serem vistos como despojados de formação acadêmica, nas ciências sociais, e deste modo, percebidos como intelectuais de formação jurídica e bacharelesca diletante. Não obstante, também eram mal vistos, porque alguns isebianos, foram adeptos da Ação Integralista Brasileira, e por usarem na sua orientação teórica elementos marxistas, sem, no entanto se identificarem com este pensamento em toda a sua totalidade. A criação do ISEB consentiu a continuidade dos estudos que vinham sendo desenvolvidos pelo IBESP (o Instituto de Economia, Sociologia e Política) nos anos de 1953-4, cor respondentes às diretrizes políticas de desenvolvimento de Vargas. Contudo, tais estudos ganharam força e atingiram amplos setores da sociedade, durante o período JK, que implantou o famoso Plano de Metas. Na verdade, tratava-se do primeiro passo da ideologia desenvolvimentista isebiana, ou seja, o aprofundamento do processo de industrialização nacional, que ocorreu através de dois passos: 1º estimulando por um lado os investimentos privados de capital nacional e estrangeiro, por meio da ampliação do parque industrial; e 2º, arremetendo os pontos de estrangulamento da economia, os quais vêem a ser os problemas estruturais, que impediam o desenvolvimento industrial, que pode ser sanado por meio de grandes investimentos estatais na infraestrutura nacional. Porém, o modelo de desenvolvimento adotado por JK – o Plano de Metas, que não abarcou todas as medidas desenvolvimentistas propostas pelo ISEB – previa o uso do capital estrangeiro no Brasil, que teve que aumentar a emissão do papel moeda, e incentivado a instalação de multinacionais para que o Plano fosse empreendido, mesmo que para isso, ocorresse o aumento inflacionário no país, tal como ocorreu. Os isebianos viam o emprego de capital estrangeiro em países subdesenvolvidos, como algo negativo, já tais incentivos eram empregados em setores Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa extrativos da economia, que não favoreciam para o desenvolvimento industrial brasileiro. Como defende Cândido Mendes de Almeida – um famoso membro do ISEB – dizendo que estes investimentos são associados com a exploração de tipo colonial, não colaborando para a diferenciação do aparelho produtivo dos países subdesenvolvidos. Pois como aponta Caio Navarro, o ISEB crê que para os países desenvolvidos, as nações subdesenvolvidas apenas se incorporam aos mesmos na condição de objeto, não de sujeito da história. Já que, sendo a estrutura subdesenvolvida, dependente da desenvolvida, a primeira ocupará uma posição marginal (periférica), mesmo a sua existência sendo solicitada para o funcionamento e expansão do sistema global de dominação, do qual faz parte. Diante desta consideração e de outras como as de Vieira Pinto, o sociólogo Caio Navarro de Toledo, no sub-capitulo A “reabilitação” e promoção das ideologias, de seu livro ISEB Fábrica de Ideologias, percebeu que tais isebianos acreditavam que na fase histórica brasileira, das décadas de 50 e 60, era o momento de formação de ideologias, que poderiam se formar a partir do momento que fossem instaladas alterações nas estruturas materiais do país, que romperiam o complexo colonial (que impedia o nosso desenvolvimento, e beneficiava a nossa exploração pelas nações desenvolvidas) e permitiriam o desenvolvimento de uma ideologia, em prol da autonomia nacional. Idéia oposta ao que pensava o historiador Nelson Werneck Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Sodré, único membro do ISEB, contra o uso de sistemas de idéias, pois segundo ele, tais pressupostos só serviam para a manipulação das massas. Ademais Vieira Pinto ainda acreditava que a tarefa do ISEB era promover uma ideologia surgida da intercessão de um grupo de cientistas sociais, que realçassem o pensar filosófico, por vias da realidade do processo histórico e das mudanças, nas estruturas do país. Consideravam ainda os isebianos, que o principal obstáculo para a efetivação da ideologia do desenvolvimento, seria o capital internacional ou sistema imperialista e, internamente a oposição latifundiária e da burguesia local, coligada aos interesses do capital estrangeiro. Contudo, mesmo existindo diferentes opiniões dentro do ISEB, a respeito da realidade brasileira, e sobre as melhores medidas a serem tomadas para se alterar está realidade, no governo JK, houve certo consenso sobre o que os isebianos e o Estado, pretendiam com o nacional desenvolvimento, pelo menos efetivado em sua fase preliminar, a da ascensão econômica, no governo de Juscelino. No entanto, como aponta Caio Navarro, ao analisar os limites e os impasses do nacionalismo-desenvolvimentista, ainda em seu livro ISEB Fábrica de Ideologias, esboça que o ISEB ao se pronunciar os resultados concretos da políticodesenvolvimentista do período Kubitschek, não viram como objetiva a política econômica deste presidente, que não respeitado os princípios nacionalistas de desenvolvimento, contudo segundo Caio Navarro, os 277 278 Resumos isebianos não perceberam que a expansão do desenvolvimento, na vigência do capitalismo, só podia se realizar através de um crescente fortalecimento das relações de dependência econômica. Ou seja, o entreguismo de Kubitschek, não foi percebido como de caráter estrutural. Posteriormente na década 60, o ISEB, tomou uma nova direção ideológica, sobretudo depois do balaço que fizeram da década de 50, que segundo os mesmos, havia usado o desenvolvimento apenas para tornar mais rico as classes dirigentes – aqui entendidas como burguesia latifundiária – e ainda mais pobre as classes oprimidas (proletariado). Além disso, na década de 60, os isebianos perceberam que o próprio governo almeja executar reformas de base, que a partir deste momento, passaram a examinar o que devem ser estas reformas de base, e sugerir a forma pela qual se poderia atingi-las. Este momento corresponde ao governo de João Goulart, que irá assumir a presidência após os militares depõem Jânio Quadros. Político que não apoiou nem condenou as atividades do ISEB, mas que foi importante para a classe média, que nele via se espelhar os seus ressentimentos, e a sua ânsia de poder. Contudo, para os setores conservadores da população, Quadros representava pretensões golpistas por intercessão das massas. Acaba então sendo substituído por seu vice João Goulart, o qual era suspeito da classe latifundiária, desde o Manifesto Dos Coronéis, e temido pela cúpula dos ministérios brasileiros. No período Goulart, o ISEB, assumiu outra postura reflexiva, onde aumentou os cursos com temas sobre reformas base, no intuito da instituição participar ativamente dos problemas políticos do Brasil. Demonstrado com isso o seu novo caráter intelectual, o qual neste momento adotou uma postura mais militante com a introdução de membros da União Nacional dos Estudantes (UNE), e agora sob uma orientação teórica, mais ligada ao materialismo histórico. Contudo, com a deposição de João Goulart, em 31 de março de 1964, o ISEB vê seu fim também, em virtude de sua identificação com o governo destituído. Tanto que um dos primeiros atos dos militares no poder, foi o decreto nº 53.884, de 13 de abril de 164, que extinguiu o ISEB, e permitiu que os militares fechassem a sua sede por meio de um ato de vandalismo acolhido. Além disso, instaurou-se um inquérito militar, entre os membros do ISEB, abrangendo mais de cinqüenta pessoas, sob a acusação de disseminarem o ideal marxista no Brasil. Palavras-chave: ISEB; historiografia; N.W. Sodré; história nova. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa A CONSTITUIÇÃO DO EU A PARTIR DO OUTRO - COMPREENSÃO DAS INTERAÇÕES E DAS PRÁTICAS EDUCATIVAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL Daniele Marques Vieira -UTP Neyre Correia da Silva - UTP Este trabalho originou-se a partir de discussões e reflexões inaguradas nos encontros do Grupo de Estudos de Wallon (GE-Wallon), do Curso de Pedagogia da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP). Seu tema “A constituição do eu a partir do outro – compreensão das interações e das práticas educativas na Educação Infantil” parte da ênfase à relação da criança com o outro, principalmente com o adulto, mediante toques; expressões faciais, corporais, verbais; manifestações de afeto ou, contraditoriamente, de desafeto, como necessária, e constituidora do “eu infantil”. A criança, desde os primeiros instantes de vida começa a apropriar-se de uma série de elementos que lhe servirão de base para se “amalgamar”, constituindo-se como sujeito individual e singular, dotado de uma personalidade única, semelhante, mas ao mesmo tempo, incomparável aos demais. Tal tema justifica-se pela necessidade de produzir conhecimento acerca das práticas educativas que são desenvolvidas em educação infantil, que se mostrem especialmente importantes para a constituição do “eu infantil”. Embora, observe-se um crescente número de pesquisas nesta área, consideramos relevantes discutir aspectos pertinentes à interação da criança com o meio, principalmente com os adultos, de modo a elaborar critérios que possam subsidiar a organização e a realização do trabalho educativo na educação infantil, como por exemplo: número de crianças em sala de aula, número de adultos por número de crianças, disposição e conformação de mobiliário e materiais na sala, a estimulação viso-motora e o registro-referência exposto para a exploração etc. Nesse sentido, vale ressaltar que o entendimento de que a interação é “ingrediente” fundamental para a constituição do “eu infantil” tem maior relevância no trabalho educativo com crianças pequenas, de 0 a 6 anos. Além desses motivos apontados, este trabalho também se justifica pela possibilidade de contribuir para a instrumentalização de alunos do curso de Pedagogia da UTP na implementação de práticas de observação e práticas supervisionadas de docência, durante os estágios realizados ao longo de sua formação, que inclui a habilitação à docência em educação infantil. E por fim, esta pesquisa deve propiciar o redimensionamento de compreensões reducionistas e fragmentárias da criança e de seu desenvolvimento, partidárias, principalmente, de concepções etapistas e maturacionistas do desenvolvimento infantil, que consideram o desenvolvimento como determinado por processos hereditários e Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 279 280 Resumos maturacionais, que impulsionam o organismo na passagem por “estágios” ou “etapas”, biologicamente definidas, sem sofrer grande impacto dos fatores ambientais (sociais e físicos). Frente a isso, indaga-se: Quais aspectos podem ser observados no cotidiano das relações entre adulto/criança e criança/criança, nas creches municipais, que possam contribuir para a compreensão de processos da constituição do eu infantil, a partir da interação com o outro e das intervenções nestes processos? Que práticas educativas favorecem o desenvolvimento da oralidade infantil de modo a propiciar, por parte da criança, a apropriação de conceitos fundamentais à sua constituição como sujeito? Deste modo tal pesquisa tem como objetivo geral compreender a constituição do eu a partir do outro mediante a análise das práticas educativas e das interações adulto/criança e criança/criança na Educação Infantil sob a perspectiva teórica de Vygotsky, Wallon e da “ciência do desenvolvimento”. Pretende observar e identificar práticas educativas em Centros Municipais de Educação Infantil de Curitiba, com foco no desenvolvimento da oralidade da criança; conhecer aspectos presentes na relação cotidiana entre adulto e criança que se revelem fundamentais nos processos de constituição do eu infantil; caracterizar práticas de intervenção que favoreçam o desenvolvimento da oralidade da criança, como meio de apropriação intrapsíquica de elementos que constituem a sua subjetividade; e observar a utilização da oralidade nas interações entre as crianças. A concepção de homem e de sua constituição psicológica, cognitiva e afetiva, esboçada neste trabalho, está presente em autores da psicologia do desenvolvimento, como Vygotsky e Wallon, mas também se apresenta em uma compreensão sistêmica do desenvolvimento humano, a “ciência do desenvolvimento”, que requer a integração de diferentes campos de saberes e caracteriza-se “por um conjunto de estudos interdisciplinares que se dedicam a entender o s fen ô m en o s co m p l exo s r el a ci o n a d o s a o desenvolvimento humano no curso de vida”, conforme as autoras Sifuentes, Dessen e Oliveira (2007). Na primeira etapa do desenvolvimento infantil – de 0 a 3 anos – a criança vive, sobretudo, a experiência de conhecer o mundo por meio dos sentidos. Explora a si própria e o outro – as pessoas, objetos e ambiente – estabelecendo as primeiras referências acerca de suas descobertas, constituindo assim o repertório que irá acionar, posterior mente, nos momentos de aprimoramento e aprofundamento do processo de construção do conhecimento. No processo de constituição do eu, a vivência com o outro, especialmente com o adulto, é o que possibilita à criança construir as bases para uma ação comunicativa. À medida que experimenta em seu cotidiano o diálogo como práticas sociais e de transmissão de conhecimentos, sua ação irá pautar-se inicialmente pela imitação do outro para, aos poucos, constituir-se em uma ação consciente e significativa. É nesse contexto que se desenvolve a Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa oralidade como habilidade socialmente construída que se realiza a partir da interação. A conquista da oralidade – linguagem –, como modo de representação do pensamento, possibilita à criança ampliar e aprimorar sua inserção no mundo, bem como seus conhecimentos, principalmente acerca de si mesmo, como sujeito separado, mas também integrante, do mundo. O desenvolvimento do pensamento, da atividade consciente e reflexiva, na criança, depende do seu domínio dos meios sociais do pensamento, ou seja, da linguagem. A linguagem não constitui nenhuma exceção da regra geral a que está subordinado o desenvolvimento das operações psicológicas que tem como base o emprego de signos. A atividade externa, marcada pelos meios artificiais (instrumentos físicos e simbólicos – os signos), é resultado e, ao mesmo tempo, é motivada, pela mediação interpsicológica, ou seja, a ação externa dar-se mediante/no contexto das relações do homem com os outros seres humanos. Dentre as práticas mais comuns em que há trocas efetivas, por meio da oralidade, do conhecimento acerca da cultura infantil estão as brincadeiras populares, tais como parlendas, o que é o que é, adivinhas, jogos infantis e cantigas de rodas. São muitas as estratégias que possibilitam o desenvolvimento da oralidade no espaço escolar. Dentre elas podemos ressaltar o diálogo cotidiano; a literatura – rodas de histórias; a organização do espaço/tempo por meio da escrita – livro da vida, quadro de rotinas/nomes/frutas; a construção de livros Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. – a partir das vivências compartilhadas. Assim, a cultura da instituição de educação infantil torna-se relevante para a configuração de possibilidades e oportunidades em que a criança possa ampliar seu repertório de conhecimentos. Disso decorre a importância do educador/professor da educação infantil incorporar práticas sociais de uso da língua em sua ação cotidiana, a fim de oferecer oportunidades para a criança construir referências acerca da linguagem como modo de constituir-se sujeito no seu meio. Tais práticas podem fornecer dados significativos relacionados ao objeto dessa pesquisa, sendo priorizadas também como situações de observação e registro. A abordagem metodológica que se propõe, portanto, é a pesquisa qualitativa, de acordo com Lüdke e André (2006), e apóia-se na articulação entre as disciplinas do curso de Pedagogia da UTP, principalmente por meio dos estágios supervisionados. A partir dessa coordenação entre as disciplinas, consubstanciada pelo envolvimento das pesquisadoras em pauta, foi elaborado um roteiro para o registro de observações, com a finalidade de torna-se um “roteiro orientador” do olhar sobre o cotidiano na sala de aula para atender os objetivos desta pesquisa: observar e identificar as práticas educativas que são desenvolvidas pelos educadores e professores em Centros Municipais de Educação Infantil da cidade de Curitiba, que favorecem o desenvolvimento da oralidade da criança. Tal instrumento denominado “Roteiro de Observação e Registro da Prática Educativa 281 282 Resumos na Educação Infantil”, foi constituído na disciplina “Pesquisa e Prática Pedagógica: Estágio Supervisionado em Educação Infantil I”, de forma a permitir a observação, a descrição e o registro de elementos contidos em cinco grandes categorias: 1) descrição dos aspectos físicos da sala; 2) organização do trabalho pedagógico; 3) relação adulto/criança; 4) relação crianças/criança; 5) desenvolvimento e aprendizagem; 6) situações de desempenho para registro descritivo; 7) registro das emoções desencadeadas no período de observação; e 8) momentos ou situações não previstas no roteiro, mas que são significativas para caracterizar a realidade em questão. Na continuidade da pesquisa serão ainda investigadas, por meio de filmagens, as práticas educativas em destaque no Laboratório de Aprendizagem e Recreação (LAR) da UTP, em que se pese a organização do espaço pedagógico, as práticas que favorecem o desenvolvimento da oralidade pela criança, e situações que revelem indicadores da constituição do eu infantil a partir de sua interação com o outro. O referido laboratório servirá de parâmetro de análise comparativa para o estabelecimento de referências acerca das práticas educativas, pois atende crianças dentro da faixa etária em foco e apresenta proposta pedagógica centralizada em objetivos que são compatíveis com o desenvolvimento da autonomia e independência; elementos fundamentais para a constituição de um “sujeito infantil” distinto, criativo, crítico, e reflexivo. E ainda, em decorrência dos estudos que vem sendo efetivados ao longo desta pesquisa, estão sendo realizados dois projetos de iniciação científica envolvendo alunas do Curso de Pedagogia: “A constituição do eu e o espaço pedagógico na educação infantil” e “A constituição do eu e a relação adulto/criança na educação infantil”. Palavras-chave: educação infantil; desenvolvimento; interação; linguagem; práticas educativas. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa A GRAVURA DE ARTE EM CURITIBA NA DÉCADA DE 1990: NOVAS POSSIBILIDADES DE PRODUÇÃO Renato Torres - UTP A presente pesquisa tem por objetivo investigar como os artistas absorveram a mudança de paradigma na produção da gravura de Arte em Curitiba, durante a década de 90. Como objetivo específico pretende-se discutir os reflexos das ampliações das categorias de arte, na produção contemporânea de gravura em Curitiba, bem como os conceitos que fundamentam tais mudanças na produção de gravura de arte. Pretende-se também verificar quais foram os artistas gravadores que absorveram a idéia de gravura enquanto conceito, e quais as características dessa produção. A gravura de Arte, na década de 90 no Brasil, incorpora aspectos da Arte Contemporânea ampliando seu campo de atuação, e deixando de pertencer a categorias técnicas específicas como xilogravura, calcogravura e litogravura. O conceito de múltiplo passa a aparecer na produção de gravura. Em Curitiba, por sediar importantes Mostras e Seminários de Gravuras, encontra-se parte dessa produção que obtém reconhecimento nacional e internacional. Diante de tais transformações na produção da gravura de Arte, faz-se necessário averiguar o quanto essas mudanças influenciaram a produção artística local. A falta de investigações sistematizadas sobre a produção de gravura de arte em Curitiba, durante a década de 1990, justifica a necessidade dessa pesquisa. Na cidade de Curitiba, a IX Mostra de Gravura constitui-se um marco divisor na produção artística de gravura, pois é o momento em que críticos e curadores apontam um novo olhar para o conceito de gravura. A Mostra de Gravura Cidade de Curitiba foi criada em 1978, com a finalidade de apresentar a produção nacional de gravura de arte, bem como estabelecer reflexões sobre suas técnicas e seus fundamentos. Quanto às técnicas, a gravura tradicional está dividida em: xilogravura, litogravura e gravura em metal, entretanto, em certo momento a gravura de arte passa a se configurar como campo expandido, alterando seu conceito de forma a abarcar obras que se relacionam como universo da Arte Contemporânea, mas que tradicionalmente não seriam denominadas gravuras. Tais produções, em alguns momentos mais se aproximam de esculturas, fotografias ou desenhos, que da própria gravura tradicional. Para abordar essas questões, dividimos essa reflexão em três momentos: o primeiro dedicado a examinar a gravura a partir da arte moderna, relacionando-a ao conceito de “aura” apontado por Walter Benjamim. Em seguida optou-se por contextualizar a gravura de acordo com avanços conquistados pela Arte Contemporânea, e dessa forma apontar algumas obras e artistas que Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 283 284 Resumos contribuíram para o pensamento da gravura de arte em um novo formato. Nesse contexto, tornou-se necessário enfocar as produções a partir do conceito de múltiplo. Por fim, foram relacionadas às discussões sobre gravura no mundo e o novo conceito apresentado na IX Mostra de Gravura Cidade de Curitiba. Conforme Benjamim, com o avanço das técnicas de reprodução a autenticidade da obra de arte é posta em questão. No cinema, por exemplo, não há necessidade de existir uma obra única, como é o caso da pintura. Todas as cópias dos filmes são consideradas originais. De maneira semelhante, a fotografia, a gravura e outras obras reprodutíveis, contribuem nesse processo de questionamento do valor dado a autenticidade da obra de Arte. Nesse processo, a obra de Arte perde sua aura, uma vez que a aura se encontra somente em obras únicas, que necessitam ser admiradas em sua presença, e em alguns casos, em um local específico. Alguns movimentos artísticos como: a pop art, o minimalismo, a arte conceitual e outros ocorridos, em meados da década de 1960, contribuíram para reforçar o distanciamento do conceito de “aura” das produções contemporâneas. Nesse momento, os modos de produção em artes plásticas no mundo, deixam de atender às categorias tradicionais, como desenho, pintura, escultura e gravura, e passam a explorar novas formas de produzir arte. Em se tratando do universo da gravura, a partir dos anos 60, muitos artistas optaram por explorar a qualidade de múltiplo em determinados tipos de obra de Arte, devido à tentativa de uma redefinição radical e desejada na concepção de Arte. Nessa busca, por uma nova direção na produção artística, vários grupos passaram a trabalhar o múltiplo, dentre eles, destacam-se o MAT e o Fluxus. O MAT (Multiplicação de Arte Transformável) foi a primeira manifestação artística a explorar o conceito de múltiplo, sendo uma organização criada em 1959 pelo artista Daniel Spoerri, cuja finalidade era produzir versões de trabalhos que desafiassem o isolamento social e econômico. De acordo com Tallman (1996), os trabalhos que iriam compor o MAT deveriam seguir os seguintes critérios: Não depender da escrita pessoal do artista, não ser fabricado por meio dos métodos de reprodução artística comuns - como a impressão, a fundição ou a tapeçaria, e por último possuir algum elemento variável ou cinético. Por meio desse conceito, o múltiplo iria além da capacidade de produzir cópias contidas nas técnicas tradicionais de gravura. Entre os trabalhos apresentados na primeira coleção MAT estavam: o Rotoreliefs (1935) de Marcel Duchamp, e serigrafias que mudavam de aparência à medida que o espectador se movia, de Jesus Rafael Soto. O MAT pautava-se em duas tensões presentes nas discussões sobre Arte, a primeira seguindo questões postas pelo Dadaísmo, como o desmantelamento dos valores estéticos e dos padrões institucionais, e a segunda partindo dos fundamentos da Bauhaus, que buscavam principalmente uma prática democrática e universal de fabricação Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa artística. Apesar do artista Daniel Spoerri ter distanciado a gravura dos ideais do MAT, os artistas não deixaram de produzí-la, pois ainda a consideravam uma maneira a mais de reproduzir imagens. As idéias difundidas pela Bauhaus influenciaram o MAT e também vários artistas mais jovens, como Victor Vasaléry e Richard Motensem. Na produção de Vasaléry, o múltiplo se concentra na valorização da construção de protótipos. Para Vasaléry a Arte deveria ser mecanicamente produzida, e sua produção sugeria uma reforma social. Outra vertente na exploração do múltiplo em produções artísticas se deve aos trabalhos realizados pelo grupo Fluxus. O Fluxus era uma espécie de Coletivo formado por músicos, poetas e artistas plásticos Americanos, Europeus e Asiáticos. George Maciunas foi a figura central do grupo, devido a sua atuação como administrador, arquivista, editor e responsável por manter a ideologia do Fluxus. O que unia os componentes do Fluxus era a crítica ao mercado de arte, e o conceito de múltiplo contribuía para esse pensamento. Como múltiplo, foram produzidas a baixos custos as caixas-Fluxus e os kit-Fluxus, que continham: matérias impressas, objetos achados, jogos, e registros de performances de diversos artistas. Nessa tentativa de reestruturar a produção, distribuição e consumo de arte, foi iniciada uma série de gravuras alternativas como: os livros de artistas, a arte Xerox, a arte postal, entre outras. Seguindo essas tendências, a partir dos anos 60 uma série de artistas brasileiros passa Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. a experimentar novas formas de produção. Entretanto, é nos anos 90 que a gravura de arte brasileira passa a incorporar inovações conceituais. Nesse contexto, a Mostra de Gravura Cidade de Curitiba de 1990, que tinha como objetivo divulgar e discutir os meios tradicionais de gravura, passa no ano de 1990 a incorporar novas possibilidades de produção, como a monotipia, que não era considerada gravura por não apresentar a capacidade de reprodução, e os processos fotomecânicos de produção de gravura de arte. Conforme Resende (2000), o múltiplo refere-se a uma forma híbrida de produzir uma obra e situa-se em um espaço entre a gravura e a escultura. Para o autor, essa produção estabelece referência aos redymades de Marcel Duchamp e às caixas de madeira criadas pelo alemão Joseph Beuys. O autor ainda pontua que o múltiplo teve seu ápice na produção de artistas que pertenceram a movimentos como a pop art, o minimalismo, o grupo Fluxus e a arte conceitual. Nos anos 80 houve uma baixa na produção do múltiplo, entretanto, nos anos 90 ele é retomado, tendo seus reflexos aqui no Brasil, como é o caso das mudanças ocorridas no Clube de Colecionadores de Gravura do Museu de Arte Moderna de São Paulo. De maneira próxima às discussões iniciadas em São Paulo, ocorreram transformações nas produções de gravura em Curitiba no mesmo momento, o que contribuiu para a mudança ocorrida na IX Mostra de Gravura Cidade de Curitiba. Com essa abertura passa-se a 285 286 Resumos discutir novos meios de produção. Nesse sentido, não se trata apenas de mostrar uma produção feita anteriormente, mas de iniciar uma discussão sobre os rumos da produção de gravura na contemporaneidade, e de certa forma influenciar a produção local. Dessa forma, a produção nacional apresentada na IX Mostra de Gravura Cidade de Curitiba, em especial na sala intitulada Processos Fotomecânicos na Gravura de Arte, aproxima-se da característica da perda da “aura” apontada por Walter Benjamin, principalmente por abrigar trabalhos que se enquadram no conceito de múltiplo, por meio de processos como: o Xerox, a serigrafia, o off-set, a heliografia, o fax e a fotogravura. A produção apresentada participa das discussões sobre a produção de Arte Contemporânea e contribui para refletir sobre a Gravura no campo expandido. Palavras-chave: gravura; arte; arte contemporânea. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa A INQUISIÇÃO PORTUGUESA E O PECADO DO CONFESSIONÁRIO Geraldo Pieroni - UTP Em 1536, o funcionamento da Inquisição em Portugal foi autorizado com o intuito de manter a ordem religiosa e social por meio da correção de delinqüentes e pecadores. Nesse Reino, a Inquisição passou a ser um novo braço da Justiça e, uma vez oficialmente instalada, desenvolveu-se a ponto de se tornar uma verdadeira burocracia, uma das mais importantes de Portugal. O Santo Ofício foi, inegavelmente, um “Estado dentro do Estado”. É por essa razão que seus Regimentos estão de acordo com as Ordenações reais. A Igreja e a Monarquia estavam unidas na mesma luta contra os desvios sociais, políticos e religiosos. Essa conveniente associação entre a Monarquia e a Igreja mantinha a exclusividade católica na península, e o principal alvo dos inquisidores, em Castela como em Portugal, foram os cristãos novos. A vigilância contra os pecadores recorrendo-se ao castigo e à catequização, caracterizou a atuação da Inquisição como uma instituição responsável por reintegrar à sociedade católica os seus dissidentes. Em Portugal, o motivo essencial que justificava a punição daqueles que infringia a lei divina era a salvação de suas almas, ainda que para isso fosse necessário excluí-los do corpo social. No reino lusitano, afora do controle dos cristãos novos, os principais crimes de fé combatidos pela Inquisição foram a bigamia, a sodomia, a feitiçaria e, também o menos conhecido crime relacionado à profanação do confessionário: Sollicitatio ad turpiam. Delito grave que ocorria quando, no momento da confissão, um padre solicitava ao confessando que praticasse com ele atos obscenos. Denunciado ao Santo Ofício, o sacerdote poderia ser punido com o banimento para os domínios lusos de além-mar, e entre eles figurava o Brasil. O ato confessional, cujo poder de culpabilização da consciência e dos comportamentos individuais, foi desvelado por Jean Delumeau, em seu clássico “A confissão e o perdão”. Na obra, o historiador demonstra que os ensinamentos advindos da penitência rompiam os muros das igrejas e atingiam o comportamento humano em todas as suas dimensões e nuanças. Isso nos leva a entender que, embora o delito revele que o ardil do confessionário seja histórico, estabelecer qualquer relação da questão com os problemas contemporâneos da confissão exige, antes de tudo, a busca de sua historicidade: compreender as razões pelas quais a Sollicitatio ad turpiam, na época Moderna, suscitou a manifestação da Santa Sé. O caso do padre Manuel Botelho de Coimbra, é um dos muitos exemplos que encontramos nos arquivos da Inquisição. Ele, no final do século XVII, se deleitou no confessionário com algumas de suas filhas espirituais. Padre Botelho era um clérigo do hábito de São Pedro e vigário da vila de Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 287 288 Resumos Tavares, no arcebispado de Viseu. Foi preso e levado para os cárceres secretos da Inquisição. Imediatamente, foi-lhe feito um interrogatório, onde seus erros foram detectados. Botelho afirmou que durante o ato da confissão ele havia solicitado várias de suas confidentes para “atos torpes” e, com muitas delas, havia tido “toques desonestos e palavras lascivas”. O padre havia sido denunciado por Isabel Rodrigues, que declarou tudo aos inquisidores. Em 14 de agosto de 1696, padre Botelho foi suspenso de seu sacerdócio por 8 anos. O direito de exercer o sacramento da confissão foi-lhe retirado para sempre, tendo sido condenado a 5 anos de degredo no Brasil. Para Isabel, a denunciadora e, para muitas outras mulheres solicitadas no confessionário, era muito difícil registrar queixas contra os confessores que as assediavam. Isabel Rodrigues, por exemplo, acusou o padre Botelho onze anos depois de ter sido solicitada por ele. Talvez Isabel tenha escondido este fato para preservar sua honra ou para evitar represálias familiares. Mas, uma vez denunciado o crime no confessionário e verificada a má conduta do confessor impudico pelos inquisidores, a pena de degredo para domínios de além-mar, para alguns solicitantes, era quase inevitável constituindo desvio sacrílego. A classificação ímpia do crime sollicitatio ad turpiam, vinculado à profanação do confessionário - delito tão grave como à própria blasfêmia - revela que para a cristandade, o problema da confissão sacramental é também histórico e, portanto, passa pelo crivo do movimento pendular do discurso. A confissão pessoal e auricular podia transformar-se numa “sutil máquina” que virava ao avesso o objetivo do sacramento. O confessionário, este receptáculo destinado ao perdão divino podia, às vezes, ser transformado num “quiosque do amor”, como o chamou, com delicadeza, a historiadora francesa Michele Escamilla-Colin. Na realidade, conforme as informações registradas nos processos dos réus, o confessionário (na época, construído na forma diminuta de uma igreja) parecia mais a capelinha de Satã. Local com todos os aspectos sagrados que, no entanto, eram profanados. Alguns padres como vimos, deixavam de lado o objetivo da confissão para entrar em assuntos mais íntimos e luxuriosos convidando as suas penitentes, a cometerem, ali mesmo, atos obscenos. Com isso, se o confessor não estivesse muito atento e determinado, ele podia não ser, no confessionário, o mensageiro da clemência divina; o pai espiritual que perdoa e aconselha aos penitentes o bom caminho para a salvação de suas almas, mas sim, o contrário: um instrumento de solicitação ao pecado, como freqüentemente relatam as listas dos autos-da-fé. Este espaço venerado enquanto oferecimento de salvação para os católicos, em diferentes momentos da história, se deparou com questões polêmicas que exigiram da Santa Sé atitudes em defesa do sacramento da confissão. Essas questões, e as conseqüentes reações da Igreja, entretanto, devem ser lidas no tempo e no espaço onde ocorreu, o que exige a avaliação dos fatores Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa que circunscreveram essas práticas. Na época Moderna, como visto, a falta cometida pelo clero no confessionário foi motivo de reação do Santo Ofício, mecanismo utilizado também pelas Coroas ibéricas para reconduzir o rebanho cristão à ortodoxia da fé católica, em vias de reforma. As punições, seguida de uma apressada constatação de uma conduta desviante do seu clero, criaram no senso comum a idéia de que, no processo de cristianização da América portuguesa, a religião católica se deparou com um local onde a sensualidade dos nativos oferecia, aos não-vigilantes, o ensejo de irem à desforra com seus apetites sexuais. Este cenário da vida dos homens de fé nos trópicos certamente foi um fator de contribuição para a ocorrência de novos casos de solicitação no confessionário. Na ocasião da segunda visitação do Santo Ofício no Brasil, em 1618, na Bahia, o padre Baltasar Marinho foi denunciado por Madalena de Góis. A mulher declarou aos inquisidores visitantes que, durante a confissão, o padre havia lhe proposto de “dormir carnalmente” com ela, mas, indignada, ela não quis mais se confessar com ele. Ainda nas terras do Brasil, entre os padres que solicitaram seus penitentes durante, antes ou depois da confissão, identificamos alguns que foram degredados para outras províncias do próprio Brasil ou que, da Colônia, foram enviados para outros territórios ultramarinos do império português. O padre Bernardo Borges, por exemplo, era vigário do Rio de Janeiro e foi condenado ao degredo para Angola por 10 anos. Outros padres, pelo mesmo crime, foram Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. expulsos de suas paróquias e proibidos, por toda a vida, de voltarem a elas. Eram eles: Pedro Homem da Costa, de 51 anos, residente na Paraíba; Antônio Esteves, de Pernambuco, 45 anos; Antônio Alvares Puga, 46 anos; e um certo Francisco do Rio de Janeiro, de 52 anos. Dessa sentença, a única exceção foi o padre solicitante Manuel Pinheiro Oliveira, de 53 anos e vigário de Congonhas nas Minas Gerais. Em vez da interdição perpétua, recebeu como pena o confinamento por 8 anos. Outros também foram banidos para conventos distantes do local de seus pecados, como foi o caso dos freis pernambucanos José de Jesus Maria, 62 anos; e Manuel de Jesus, 50 anos. No entanto, essa idéia não foi uma especificidade do catolicismo brasileiro: ocorreu em outros espaços e momentos da história. Mais do que entender que o Brasil foi terra de pecado por excelência, é preciso considerar que a América portuguesa foi sim terra de desterro para os clérigos desviantes da doutrina e da moral católica. Tudo isso nos leva a entender que, tanto no Brasil quanto em Portugal, o confessionário aflorou, em muitos casos, os sentimentos mais humanos de homens devotos. E na relação do homem com Deus intermediado pela confissão, constata-se que, invariavelmente, os fiéis foram intermediados por simples mortais, homens sujeitos à tentação, a qual, no entanto, estavam investidos pela “graça” divina a partir do momento de sua consagração ao sacerdócio. Palavras-chave: inquisição; confessionário; degredo. 289 290 Resumos A INTERFERÊNCIA DOS HETEROSSEMÂNTICOS NA APRENDIZAGEM DO ESPANHOL POR FALANTES NATIVOS DE PORTUGUÊS Maria Teresita campos Avella - UTP Ao longo do trabalho docente com aprendizes de Espanhol como Língua Estrangeira observou-se que estes nem sempre percebem determinadas diferenças entre a língua alvo e a língua materna em situações normais de comunicações. Talvez isso se deva ao fato de o espanhol e o português serem línguas muito próximas, ou seja, muito parecidas, o que leva ao aluno a formar uma interlíngua com traços fonológicos/ morfossintáticos da língua materna conduzindo o processo de aquisição a uma fossilização dos erros produzidos. Em primer lugar enmarcamos todo el proceso del análisis lingüístico en cinco niveles: fonémico, morfémico, lexémico, sintáctico y textual. ¿Por qué todos estos niveles? La lengua es interpretación primaria y originaria de su referente, de lo extralingüístico: las palabras «no nombran (de una manera inmediata) ‘cosas’, sino intuiciones, intuitivamente concebidas. Esas intuiciones humanas de las cosas quedan representadas en la lengua. En la lengua se constata lo que el hombre piensa de las cosas, cómo las concibe. Y como representar es categorizar, se puede afirmar que la lengua es, en su conjunto, la macrocategoría, la categoría matriz. Decir que la lengua representa el mundo equivale a decir que lo figura, que lo categoriza. La lengua, pues, representa, categoriza el mundo; esta categorización global de lo extralingüístico se fracciona en cinco tipos de categorías. Esos cinco tipos de categorías de la lengua fundamentan la existencia, en la Lingüística, de otros tantos niveles y tipos de categorías gramaticales. Dai a importância em estudar a língua espanhola em função da língua materna, de que falamos, neste caso o português. Nossa pesquisa: um estudo desde ponto de vista comparativo com relação à língua portuguesa e espanhola. Neste nível, acrescentam-se os elementos de reflexão, investigação, estudo e prática avançada das diferentes estruturas da língua espanhola num contexto comparativo e enfocando especialmente as mais problemáticas para os falantes do português brasileiro. Aplicaram-se, aqui, os mesmos conceitos comunicativos que regem todas as classes de língua estrangeira. Partimos da premissa que uma das poucas ocasiões na qual o ensino de gramática pode resultar na aquisição da língua-alvo (e na proficiência ou competência comunicativa nesta) é quando os alunos estão interessados e ativamente engajados no tópico da discussão e a língua-alvo é usada como meio de instrução. Isso ocorre quando tanto o professor como os alunos acreditam que o estudo de gramática é importante para a aquisição da segunda língua e o professor é capaz de apresentar explicações Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa na língua-alvo que os alunos podem compreender sem problemas. Almejaremos, portanto, propiciar na sala de aula de língua espanhola um ambiente pedagógico que venha a atender e realizar essas expectativas. Embora tenham um conteúdo formal definido de acordo com linhas tradicionais, as aulas desta disciplina nos diferentes semestres farão uso, sempre que possível, de um arcabouço, dinâmica e estratégias comunicativas, tais como aquelas definidas pela área de espanhol. O nosso objetivo é fomentar, num ambiente comunicativo, uma interação entre professor e alunos que seja propícia para a aquisição da línguaalvo. Quando isso acontece, os alunos se beneficiam duplamente de uma situação ao mesmo tempo auspiciosa e profícua: primeiro, eles têm a oportunidade de usar a língua estrangeira em um contexto comunicativo bastante real, no qual as pessoas envolvidas se comunicam de maneira significativa sobre um tópico de relevância para todos, usando a línguaalvo; e segundo, eles têm a oportunidade de adquirir conhecimento importante sobre a estrutura formal da língua objeto de estudo, já que a sua atenção consciente está voltada para a temática da discussão. Para tanto, busca-se, por meio da Análise Contrastiva fazer ênfases nos erros mais freqüentes em nossos alunos: os heteros - semânticos presentes no português e no espanhol. Primeiro se fez uma seleção deles e depois de selecionados, se classificou os heteros-semânticos mais recorrentes nas amostras investigadas, por ordem de Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. grau de interferência. Ademais desse objetivo, têm-se duas questões que orientam esta investigação: em que medida os heteros-semânticos suscitam erros semânticos que impedem ou emudecem a aprendizagem do espanhol como LE por falantes nativos de português brasileiro? Para alcançar esse objetivo e buscar respostas às questões norteadoras desta pesquisa, foi realizada uma revisão da literatura pertinente acercada proximidade lingüística entre o português e o espanhol, bem como sobre a Análise Contrastiva (AC) e a Análise de Erros (AE), ressaltando a importância que esses modelos trouxeram para o estudo de uma LE. Os instrumentos de investigação empregados na coleta de dados foram: 1) questionário preliminar; 2) versão de texto; 3) tradução de texto; 4)tradução de frases; 5) tradução de palavras; 6) entrevista; 7) apontamentos da pesquisadora. A partir dos resultados obtidos, verifica-se que o uso incorreto dos heteros-semânticos demonstra uma tendência, por parte do aluno, ao de emudecimento no processo de aprendizagem do espanhol como LE. Tais resultados apontam para a necessidade de reforçar a conscientização e a aplicação de metodologias específicas e adequadas, a fim de trabalhar com os alunos a questão das semelhanças e diferenças entre as duas línguas.Outro aspecto analisado foram os vocábulos heterotónicos. Estes vocábulos acostumam compartir nas duas línguas a forma gráfica e/o fônica (igual ou semelhante) e o significado. O ponto de divergência dos vocábulos heterotónicos, se 291 292 Resumos refere à tonicidade, já que apresentam distinta localização do acento tônico. Por exemplo, a palavra anemia em português é um vocábulo polissílabo onde a tonicidade recai sobre a penúltima sílaba. Não entanto, em espanhol dita palavra mesmo sendo idêntica na sua forma gráfica e apresenta uma correspondência semântica entre as duas línguas em questão, diverge enquanto à posição da sílava tónica: anemia. Para melhor compreensão, se apresentaram vocábulos heterotónicos destacando neles a sílaba tônica nas duas línguas. Também se estudou sobre os Vocablos heterogenéricos. As palavras heterogenéricas também são idênticas ou semelhantes enquanto à forma gráfica e o significado, mas divergem enquanto ao gênero, ou seja, ao mudar de uma língua para outra, sofrem também uma variação na equivalência de gênero. Por exemplo, a palavra sal se pronuncia de forma algo similar, se escreve igual, tem o mesmo valor semântico, mas apresenta distintos gêneros das duas línguas; em espanhol é uma palavra de gênero feminino enquanto que em português é de gênero masculino. Acostumam ser heterogenéricas las letras do alfabeto; algumas das palavras terminadas em -umbre, en -aje, en -or em espanhol. Entre as estudadas estão aquelas de maior dificuldades entre elas: o legume (português) la legumbre ou las verduras (em espanhol). Outro aspecto são aqueles com formas semelhantes no significado diferentes no uso atual, ou seja, palavras que tem um origem comum e que tem chegado a compartir o mesmo significado em fases anteriores das duas línguas. Por exemplo, a palavra latir originada do latim que significava “pulsar, latir” (o coração) e também “ladrar” (o cachorro). Atualmente, em português só manteve o sentido de “ladrar” enquanto que no espanhol só se manteve com o significado de “latir, pulsar”.São muitos os falsos cognatos existentes quando se confrontam as duas línguas, já sejam totais o parcialmente falsos amigos. Devido à complexidade do tema, apresentamos algumas palavras consideradas como falsos amigos, em espanhol, mas sem apresentar a correspondência em português. No aspecto NIVEL MORFOSSINTÁCTICO também são expressivas as semelhanças existentes entre as duas línguas. As semelhanças se nutram sobre tudo na linguagem formal escrito. A continuação se resume algumas das principais dificuldades dos brasileiros com respeito a algumas categorias gramaticais. As formas consideradas incorreta estão sinaladas com um asterisco O artigo. De forma geral, os principais problemas dos alunos brasileiros com respeito ao emprego do artigo estão relacionados com o Uso do artigo neutro. Os estudantes brasileiros têm muita dificuldade para compreender a função do artigo neutro em espanhol “lo” e para utilizar ele corretamente já que em português não existe a forma neutra. Os erros mais freqüentes são a utilização do artigo definido masculino em lugar do neutro. Exemplo: *El principal de la vida es amar. Utilização da forma neutra pelo artigo definido el. Ejemplo. *Lo Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa chico y la chica son hermanos. Intento de evitar usar o neutro fazendo construções nas que consigam prescindir do, artigo neutro lo o que não constitui um erro, senão uma estratégia. Seria ssim: La cosa principal de la vida es amar. Outro elemento importante que acontece é elisão de sujeitos e objetos em espanhol e em português do Brasil. Quatro são os aspetos que se analisou: a) como ocorrem os sujeitos e objetos pronominais nas línguas em questão; b) analisar a influência dos Processos na ocorrência ou elisão de sujeitos; c) analisar a influência do Tema na ocorrência ou elisão de sujeitos e; d) investigar em que se diferencia a Referência nos dois idiomas quanto à elipse ou ocorrência de pronomes pessoais. Dentre as várias possibilidades de análise dos dados, a escolha do estudo de Processos, de Tema e de Referência ocorreu pelo fato de existirem poucos estudos sobre esses sistemas, tanto em espanhol como em português, propiciando Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. um amplo campo para estudo e análise.Também se apresentará o grupo de exercícios criados para trabalhar àquelas interferências lingüísticas propriamente ditas, e analisadas na pesquisa: fonológicas, morfológicas, sintáticas léxicas. Através da análise, desenho e produção de material didático original, este projeto pretende desenvolver a capacidade de investigação e de formação de docentes. Enfocará, portanto, aqueles materiais didáticos que remetam direta e especificamente às necessidades acadêmicas do aluno brasileiro de ELE. Terá, também, como objetivo acadêmico-social, fomentar nos alunos-professor brasileiros um sentido de autodeterminação e proporcionar a possibilidade de eles participarem ativamente no próprio processo de ensino-aprendizagem. Palavras-chave: ensino de língua espanhola; interferências; metodologia. 293 294 Resumos A LEITURA COMO FORMA SIMBÓLICA: O LETRAMENTO IDEOLÓGICO Marlei Gomes da Silva Malinoski - UTP O objeto de investigação da pesquisa “A Leitura como Forma Simbólica: o Letramento Ideológico” é a leitura e sua representação como forma estruturada de cultura nas práticas escolares. A abordagem está em compreender como o objeto é apresentado nas práticas cotidianas escolares e como essas se refletem nas condutas sociais dos sujeitos envoltos no processo de ensino e aprendizagem e na relação existente entre o autor, texto e o leitor da mensagem. Não compreender a leitura como símbolo cultural e veículo de ideologias, propicia um direcionamento de abstração dos significados reais de um texto, possibilitando o que Bourdieu enuncia como “violência simbólica”. Uma forma de dominação consentida pela aceitação de regras não significadas e, desta forma, não expostas à crítica. Isto tornará cada vez mais favorável as relações de dominação por ideologias o que reitera uma relação desigual de poder. A presente pesquisa intenciona iniciar questionamentos sobre até que ponto o ensino de leitura nas escolas privilegia a leitura parafrásica: aquela que repisa o dito pelo autor e que foi registrado como código na forma de texto; ou polissêmica em que se percebem as múltiplas vozes ditas e as fronteiras possíveis do discurso lido. As fronteiras da leitura escolar e a compreensão sobre o lido padrão vincular-se aos projetos de letramento adotados como práticas de reflexão. Entende-se, aqui, a luz de Ângela Kleiman, letramento como as práticas sociais de leitura e de escrita adquiridas por uma coletividade, ou seja, o letramento será diretamente proporcional aos eventos de letramento de uma sociedade, compreendendo eventos de letramento como situações variadas de leitura, que promovam, ou não, relações de sentido e culturais. Desta forma, a leitura não é compreendida como ato isolado do indivíduo, mera ação cognitiva de decifrar um código registrado sobre um texto. Isto demonstra uma ação sobre o lido equivocada, pois não há como interpretar uma informação ignorando a forma como essa se processa no indivíduo e ecoa nas suas percepções culturais. Ao se questionar o tipo de leitura ora parafrásica ou polissêmica, almeja-se compreender como a leitura é apresentada nas práticas cotidianas da escola, que modelo de letramento configura e como essas refletem nos índices de avaliação institucional, que indicam um fracasso escolar nas práticas de leitura e o surgimento crescente de analfabetos funcionais. Desse modo, a pesquisa aborda uma análise sobre o ensino de leitura apresentado na escola e avaliado pelos sistemas educacionais é uma forma de se perceber a existência de “um conflito de valorização simbólica” estabelecida por não se compreender a leitura como símbolo cultural e veículo de ideologias, o que propicia Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa um direcionamento de abstração dos sentidos de um texto, possibilitando o que já citado foi enunciado por Bourdieu como “violência simbólica”, ou seja, uma forma de dominação consentida pela aceitação de regras não significadas e desta forma não expostas à crítica. Os discursos “oficiais” escolares reforçam a idéia de que ler é uma questão de hábito ou gosto que se adquire por vontade individual, independentemente dos vínculos sociais estabelecidos pelo sujeito. Se pensarmos na leitura como um fenômeno social, que por sua vez é representado de forma cultural, compreenderemos que o hábito de leitura não existe, mas sim, a apropriação cultural do lido pelo leitor, que não é uma característica inata do indivíduo, e sim, uma determinação de trocas significativas de cultura entre pares sociais, que naturalmente determinarão a percepção, aceitação ou refutação do lido. Importante ressaltar, que sendo a leitura um processo de apropriação do conhecimento, obedece às mesmas leis de outras práticas culturais. Isto porque não há como interpretar uma informação ignorando a forma como essa se processa no indivíduo e nas suas relações individuais. A perspectiva que se vislumbra é a de uma compreensão sobre o lido uma ação de apropriação cultural, que sugeri um repensar sobre a leitura, mais ainda, um repensar sobre a cultura veiculada no ato de ler e se o dito fracasso escolar, diagnosticado pela PROVA BRASIL, SAEB, e PISA, não estaria justamente nas formas de representação e apropriação de sentido da leitura, dado pelas práticas Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. tradicionais da escola, que não veiculam textos capaz de promover apropriações culturais para os alunos, que buscam no didatismo respostas alheias a interação social e cultural e dessa forma impedem a ação de se criar redes que expandam essa cultura em novas leituras e descobertas. Pois, ao se considerar que a idéia principal, o resumo, a síntese se constroem no processo da leitura e são produto da interação entre: os propósitos que a causam; o conhecimento prévio do leitor e a informação aportada pelo texto. Consideraremos que a leitura se realiza, então, na convergência do texto com o leitor, visto que o discurso escrito tem, forçosamente, um caráter virtual e cultural, não pode ser reduzido nem à realidade do texto, nem às disposições caracterizadoras do leitor. O ato de ler só se efetiva quando houver um encontro entre leitor e texto e nesse encontro as ideologias veiculadas e apropriadas pela síntese, que os perpassam na busca do significado, que se edifica nas formas simbólicas estruturadas pelas sociedades em tempos e contextos delineados. Assim, as implicações do ato de ler, para uma sociedade, estão relacionadas às implicações políticas e à forma de compreensão crítica da leitura, que não se esgota na decodificação pura da palavra escrita ou da linguagem escrita, mas que se antecipa e se alonga na inteligência do mundo. As palavras desempenham um papel central não só no desenvolvimento do pensamento, mas também na evolução histórica da consciência cultural da sociedade. No momento, a 295 296 Resumos pesquisa está centrada na conceituação e investigação bibliográfica. Uma das ações é a conceituação do que vem a ser ler, que será compreendida como o processo pelo qual se compreende a língua escrita, pois envolverá a decodificação, quanto mais significativa e familiarizada, melhor; a inferência sobre o lido, determinada pela proximidade conceitual entre o texto e o leitor e as suposições promovidas por ambas a respeito do texto, que vão além da memorização de um código ou estruturas equivalentes, ler passa a ser o que dá forma ou conforma o mundo, que extrapola ao condicionamento da decifração do código, que envolve o recorte antropocultural de mundo e a inserção do sujeito nele. Importante, também, nesse processo, é a compreensão sobre a palavra, que se tornará o código comum, que assegura a recepção de uma determinada mensagem, no caso o texto, mas o código só constitui o texto quando ao receber se estabelece, em potencial cognitivo o sentido da obra. Então, o ato de ler se relaciona com a consciência sobre o lido e a consciência estabelecida ao se escrever. É o encontro de duas necessidades, a de conhecer e a de se registrar. O que amplia a pesquisa para uma terceira definição a do fator ideológico envolto nas práticas de leitura. O encontro ideológico estabelece a inferência de uma palavra dentro de uma mensagem como dependente da caracterização da mensagem no contexto a qual pertence, em que inferir significa: concluir um significado pertinente a um conceito cultural e contextual. Até o momento a pesquisa aponta que o ensino da leitura e da compreensão deve buscar desenvolver a autonomia do sujeito, para que ele seja capaz de construir conceitos pertinentes ao texto lido e, assim, tornar-se capaz de elaborar a crítica. Isto dentro de uma possibilidade abrangente do diálogo, capaz de inferir à mensagem conhecimento, habilidades valores e atitudes frente à mensagem decodificada e ao contexto da linguagem. A pesquisa encontra-se em fase de escrita e conceituação com base no levantamento bibliográfico e revisão da literatura, bem como a investigação da análise de conteúdo como encaminhamento de análise metodológica. Palavras-chave: leitura; cultura; ensino. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa REFERÊNCIAS BAKHTIN, Mikhail (Volochinov). Marxismo e Filosofia da Linguagem. São Paulo: HUCITEC, 2002. BRITTO, Luiz Percival Leme. A Sombra do Caos: Ensino de Língua X Tradição Gramatical. Campinas. Mercado das Letras. Associação de Leitura do Brasil. Coleção Leituras no Brasil. 2004 FREIRE, Paulo. A Importância do Ato de Ler: em três artigos que se completam. São Paulo. Cortez, 2003 a. GERALDI, João Wanderley (org.). O Texto na Sala de Aula. São Paulo: Ática, 2002. GERALDI, João Wanderley. Portos de Passagem. São Paulo: Martins Fontes, 2000. INEP – Instituto Nacional de Estudo e Pesquisa Anísio Teixeira. MEC: Relatório SAEB Língua Portuguesa – 2001 http:// www.inep.gov.br/download/saeb/2001/relatorioSAEB_portugues.pdf KLEIMAN, Ângela B. (org.). Os Significados do Letramento. São Paulo: Mercado das Letras, 2001. KOCH, Ingedore V. A Inter-ação pela linguagem. S.P., Cortez, 1995. MAGNANI, Maria do Rosário M. Leitura. Literatura e Escola. São Paulo: Martins Fontes, 1989. MESERANI, S. O intertexto Escolar: sobre leitura, aula e redação. São Paulo: Cortez, 1998. SOARES, Magda. Linguagem e Escola: perspectiva social. São Paulo. São Paulo: Ática, 2002. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 297 298 Resumos A PESQUISA NO CURSO DE PEDAGOGIA DA UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Maria Iolanda Fontana – UTP Maria Cristina Borges da Silva – UTP Carlos Alves Rocha – UTP Daniele Marques Vieira – UTP O presente trabalho apresenta as reflexões sobre a prática da pesquisa no Curso de Pedagogia da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP), e nesse contexto, o papel do Núcleo de Estudos e Pesquisas Educacionais (NEPE) e das atividades de pesquisa realizadas pelos professores- pesquisadores, para a consecução do Projeto Pedagógico do curso. A importância da pesquisa na formação docente tem sido amplamente divulgada e defendida pela literatura internacional e brasileira, principalmente a partir da década de 1990. Dentre os pesquisadores, destacamse as contribuições de André e Lüdke que introduziram no Brasil essa discussão. Argumenta-se que a pesquisa no currículo da formação inicial tem a finalidade de superar a racionalidade técnica e avançar para uma racionalidade de práxis, comprometida com práticas pedagógicas transformadoras. Nesta perspectiva, o professor produz conhecimento, decorrente da reflexão crítica sobre os problemas vividos na prática pedagógica. André (1996) explica que os cursos de formação precisam incluir nos seus currículos atividades investigativas sobre a prática pedagógica e oferecer ao acadêmico o contato com a produção de pesquisas atuais na área educacional. Afirma que a pesquisa no currículo tem um papel didático, pois ao oportunizar o conhecimento de resultados de investigações favorece a atualização de conhecimentos e a aprendizagem da metodologia de pesquisa. Lüdke (2002) ressalta o papel essencial da reflexão crítica nas atividades de pesquisa e na prática docente e sobre a necessidade de preparar o professor com uma base sólida de conhecimentos teórico-práticos para fundamentar a prática pedagógica. As entidades representativas dos educadores (ANFOPE, ANPAE, ANPED, CEDES e FORUMDIR), no contexto da constituinte e da elaboração da LDBN, reivindicam que as diretrizes para formação de professores devem incluir entre seus princípios a pesquisa como eixo formativo e epistemológico e argumentam que essa deva ocorrer em instituições universitárias. O movimento em favor da pesquisa é considerado pelos legisladores do MEC/SESU, que a indicam como um princípio de formação, tanto nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação do Professor da Educação Básica, como nas Diretrizes Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa Curriculares para o curso de Pedagogia. A Resolução 1/2006 define em seu art. 3º, inciso II, como central na formação do pedagogo “a pesquisa, a análise e a aplicação dos resultados de investigações de interesse na área educacional”. A estrutura do curso deve prever investigações sobre processos da docência e da gestão, em diferentes situações institucionais, como também, a participação dos alunos em projetos de iniciação científica, monitoria e extensão. As diretrizes do curso explicitam que a oferta de disciplinas como Introdução à Pesquisa ou Metodologia do Trabalho Científico não configura por si só atividade de pesquisa, orientando que esta atividade pode ser desenvolvida no interior de componentes curriculares, em seminários e em outras práticas educativa. Para materialização desse princípio, o Projeto Pedagógico do curso de Pedagogia da UTP, inclui a pesquisa como um dos eixos estruturadores da organização curricular, articulado aos eixos da docência e da gestão. A pesquisa como princípio educativo e epistemológico é entendida como meio para produção de conhecimento pelo exercício da reflexão e relação teoria-prática. A prática da pesquisa deve compor todo o percurso da formação do pedagogo, materializada em atividades que devem acontecer no interior das disciplinas, tais como: divulgação da atual produção científica do campo educacional, iniciação científica, projetos de extensão, seminários, monitorias, estágios curriculares e não curriculares, participação em eventos científicos e em atividades de caráter científico, político, Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. cultural e artístico. O curso prevê entre suas atividades acadêmicas, a realização de pesquisas das quais os estudantes possam participar desde o início da formação, seja por meio da iniciação científica ou das disciplinas de estudos interdisciplinares e metodologia da pesquisa, favorecendo a identificação com as linhas de pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Educação - Mestrado em Educação (Políticas Públicas e Gestão da Educação; e Práticas Pedagógicas: Elementos Articuladores), e da FACHLA (Cultura, Educação e Sociedade; Cidade, Patrimônio e Memória), nas quais os professores do curso têm seus projetos de pesquisa registrados. Nessa perspectiva o Núcleo de Estudos e Pesquisas Educacionais (NEPE) tem desempenhado um papel importante na articulação e no debate em relação aos eixos formativos do curso, propondo e incentivando pesquisas e grupos de estudos na área educacional. Desde o ano de 2001, o NEPE vem realizando várias atividades de estudos e pesquisas educacionais. A equipe de professores ligados ao NEPE pode ser considerada como um grupo emergente de pesquisa interdisciplinar, uma vez que a construção do trabalho do se dá pelo engajamento pessoal da equipe, empenhada em implantar na UTP as novas dinâmicas de trabalho associadas à interdisciplinaridade como método e ao desenvolvimento e promoção humana como objeto de ensino, pesquisa e extensão.Destaca-se entre os objetivos do NEPE: divulgar e orientar projetos de pesquisa e temas para os futuros trabalhos 299 300 Resumos de conclusão de curso; incentivar, apoiar e divulgar os projetos relacionados ao Laboratório de Ensino, Pesquisa e Práticas Educacionais – LEPPE; divulgar a produção intelectual dos professores do curso, apresentando os resultados dos projetos de pesquisa, extensão e demais produções, por meio de publicações, palestras, conferências, seminários, cursos e outros; apoiar e incentivar a participação dos discentes em projetos e eventos acadêmicos científicos; manter parcerias com os cursos da UTP e outras instituições que viabilizem promover e divulgar a produção intelectual dos professores do curso de Pedagogia. A cada ano o NEPE tem participado do planejamento e da organização de diversas atividades institucionais e do curso para que estas sejam divulgadas e realizadas pelos docentes e discentes como atividades de pesquisa e extensão. Como exemplo de pesquisa interdisciplinar, no ano de 2008, o NEPE constituiu um grupo de estudos, denominado GEPESA - Grupo de Estudos em Políticas e Educação Socioambiental, que reúne acadêmicos e professores dos Cursos de Pedagogia, Geografia e Administração. O grupo tem o objetivo de aprofundar as reflexões sobre a “Educação para Sustentabilidade”, na formação profissional em cursos de graduação, assim como compreender de que maneira esta discussão está chegando na educação básica, investigando como os vários conceitos permeiam as diferentes formações e atuações profissionais. O resultado dos estudos culminou em várias publicações envolvendo docentes e os acadêmicos, a realização de oficinas e coordenação de mesas em eventos externos ligados a temática. Dessa forma, o Curso de Pedagogia da Universidade Tuiuti do Paraná vem, nos últimos anos construindo a formação do pedagogo-pesquisador, pela introdução da investigação científica em um conjunto de disciplinas que compõem a matriz curricular e por meio de ações integradas desencadeadas pelo NEPE e laboratórios do curso (LEPPE, NAMPE e LAR). Essa perspectiva tem se efetivado, principalmente pela atuação dos docentes que desenvolvem projetos de pesquisa em aderência com a sua formação e disciplinas ministradas. A pesquisa, no currículo é assumida como um princípio educativo, ou formativo, quando está presente nas práticas dos professores e em todas as disciplinas com a finalidade de promover aprendizagens pela e para a pesquisa. Assim como explica Demo (2003) educar pela pesquisa tem como condição essencial primeira que o profissional da educação maneje a pesquisa como princípio científico e educativo e a tenha como atitude cotidiana. A pesquisa na formação inicial, concebida como um princípio educativo, ou formativo, integra-se às demais disciplinas, fortalecendo seus objetivos. Entende-se que para esta dimensão se efetivar é preciso que a instituição viabilize planejamentos coletivos, interdisciplinares objetivando a leitura dos fenômenos educacionais, a sua problematização e o desenvolvimento de habilidades e atitudes investigativas. Nessa direção, Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa destaca-se a contribuição do professor-pesquisador do curso de Pedagogia para aproximar os acadêmicos da realidade educacional e para iniciá-lo na aprendizagem dos métodos e instrumentos de coleta de dados, desenvolvendo no aluno a atitude investigativa e propiciando uma metodologia de análise e reflexão sobre a prática pedagógica. A ação dos professorespesquisadores no curso favorece a relação ensinopesquisa e o desenvolvimento desta atividade com os alunos, pelo trabalho que realizam com o conhecimento como objeto de investigação, problematizando, trazendo para estudo resultados de pesquisas atuais e construindo conhecimentos. São exemplos, dois projetos de pesquisa desenvolvidos por professores do curso: “Formação de professores com o uso das tecnologias no ensino presencial e a distância, visando a inclusão social” – “Alfabetização e suas metodologias”. Ambos os projetos são desenvolvidos por professores que ministram disciplinas aderentes a esses, favorecendo a atualização do conhecimento teórico-prático. Os projetos de pesquisa repercutem também nas metodologias de ensino adotadas por esses professores que introduzem problematizações, busca de coleta de Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. dados em contextos educativos, acesso a dados resultantes de pesquisas atualizadas, propiciando discussões e a construção de conhecimento. Nessa perspectiva Zeichner (1993) salienta a necessidade de tornar os futuros docentes, no processo de formação inicial, em consumidores críticos de pesquisas produzidas no campo educacional, bem como, participantes de projetos de pesquisa.Desta forma, a prática da pesquisa desenvolvida pelos professorespesquisadores promove o contato com a realidade e o estabelecimento da relação entre a teoria e a prática, envolvendo o aluno em pesquisas educacionais que permitem: articular conhecimentos e experiências; a reflexão, análise e interpretação de dados, fatos e situações-problema da realidade educacional; o diálogo com as diferentes teorias e autores estudados para melhor compreender e transformar a prática educativa. Com essa proposta, entendemos que é possível iniciar o futuro pedagogo na pesquisa e prepará-lo para ser um pesquisador e um leitor crítico da própria prática. Palavras-chave: pesquisa; curso de Pedagogia; professorpesquisador; formação do pedagogo. 301 302 Resumos A PRÁTICA DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO OBRIGATÓRIO Denise Cristina Wendt– UTP Compreender as dificuldades da prática do estágio supervisionado obrigatório na disciplina de arte nas escolas de ensino fundamental e médio necessitou de uma investigação participante nos espaços educacionais estaduais onde foram realizados para a verificação da realidade. A pesquisa é um estudo de caso realizado através de uma pesquisa de campo – uma investigação qualitativa com informações que partem de uma observação participante nos locais de trabalho dos professores nas escolas e conversas com os alunos estagiários do curso de Artes Visuais, utilizando também uma entrevista aberta com o objetivo de compreender o que os diretores, professores e estagiários percebem sobre a questão pesquisada como objeto de estudo. A pesquisa entra no âmbito de investigação avaliativa e decisória; pedagógica e ação: primeiro porque pretende levantar as informações para o desenvolvimento de um projeto; em segundo lugar, a investigação pedagógica tem o objetivo de otimizar o estágio supervisionado na instituição do curso de licenciatura, junto aos professores, supervisores e estagiários para uma mudança; em terceiro lugar a pesquisa se propõe a uma investigação qualitativa aplicada em educação do tipo ação onde a causa social tem o objetivo de promover a mudança social na educação com a forma de apresentação de relatório de pesquisa e um projeto para a promoção desta mudança. Para a compreensão das dificuldades encontradas, serão apresentados alguns problemas levantados em relação às escolas que são parte fundamental para a realização do estágio curricular obrigatório, que faz parte da formação profissional do professor de Artes Visuais, envolve a formação acadêmica com a prática profissional de educador e consiste na vivência do contexto escolar, ampliando o conhecimento das particularidades nas diversas escolas e séries do ensino fundamental e médio. É parte da formação do licenciando e um campo de conhecimento para a preparação do aluno para o ingresso no mercado de trabalho, consiste em uma caracterização da escola, estudo do Projeto Político Pedagógico, observação das aulas do professor da disciplina de Arte e regência com a presença do professor regente da disciplina na escola e sob a responsabilidade de um professor supervisor do curso de licenciatura. Se os estágios forem discutidos e otimizados dentro de uma política que possibilite aos estagiários dos cursos de licenciatura superarem as dificuldades da concretização dos estágios junto às escolas, diretores e professores, perceberão que é um momento de integração entre curso de licenciatura e escola, da teoria com a prática. Trata-se de um momento em que a escola não deve ficar alienada ao que acontece nos Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa cursos de licenciatura, onde o estagiário desenvolve o seu relatório como uma pesquisa de campo, permitindo inseri-lo no universo histórico, sócio, temporal da realidade educacional. Visa, também, em sua prática pedagógica, mudanças da ação docente, articulando os conhecimentos adquiridos no decorrer do curso para a articulação no contexto escolar diante das mudanças da sociedade e a realidade escolar, interagindo com a escola propiciando uma interação entre o curso e a escola. A pesquisa é o Estágio Supervisionado Obrigatório do Curso de Artes Visuais – licenciatura com ênfase em computação da Universidade Tuiuti do Paraná. Tem como objetivo a aproximação da Escola Pública e a Universidade, valorizando a profissionalização no campo de ensino e a compreensão das dificuldades da prática do estágio num curso de formação de professores, prestigiando o estágio na formação profissional do curso de licenciatura. A obrigatoriedade do estágio curricular e a participação da escola neste processo apresentam muitas lacunas que exigem uma reflexão dos profissionais da educação das escolas e dos formadores de professores. Primeiramente, observou-se desinteresse e dificuldade no convencimento dos professores das escolas de ensino fundamental e médio dos espaços educacionais estaduais da importância da realização do estágio para o licenciando na participação do processo como parte integrante da formação. O estágio passou a ser uma negociação do lugar do estagiário na escola, pois alguns professores Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. não compreendem a importância da participação do estagiário na ação profissional do professor na escola, deixando lacunas entre a obrigatoriedade do estágio, a participação da escola neste processo e a aceitação do estagiário em sala. As diretrizes dos cursos de Artes Visuais em âmbito nacional exigem uma carga horária mínima de 400h de estágios super visionados obrigatórios, que para serem cumpridas deveriam ter a interferência de instâncias superiores quanto à obrigação das escolas públicas receberem os alunos estagiários, porque somente acontecerão mudanças e transformações com o estímulo de um licenciado crítico e criativo nas observações e práticas. Uma hipótese é o distanciamento do currículo dos professores que estão em sala com o currículo dos cursos de licenciatura quanto ao posicionamento em não receber estagiários para a obser vação da metodologia, dos recursos e avaliação das aulas. O isolamento destes professores, sem discussão com demais profissionais, por muitas vezes serem os únicos no ensino da arte na escola, apresentam dificuldades no planejamento e nas metodologias contemporâneas para elaborar as aulas, sem capacitação, desatualizados, com uma grande jornada de horas semanais, com uma defasagem do que estudaram, mais a falta de domínio de conteúdo e destes relacionados com os objetivos e finalidades do ensino da arte, mais a realidade das escolas sem salas especiais e recursos materiais, resultam na ineficiência, somada a isto, um aluno que traz 303 304 Resumos diversos problemas de casa, que não tem nenhum recurso para adquirir algum material, salas lotadas sem espaço para o professor circular entre as carteiras, para flexibilizar sua aula, levam o professor ao isolamento e a recusa de mais alguém que observará tudo isto e registrará em um relatório, este configurado na figura do estagiário no cumprimento do seu estágio curricular obrigatório. Outro problema observado, é que alguns destes professores muitas vezes não sabem nem a função da arte na educação, que arte também é conhecimento, ensinar arte é refletir sobre a arte, que poderá ser um fator de humanização dentro de sala para a formação humana da sociedade. Também não valorizam o conteúdo, nem conseguem avaliar a influência e o alcance das atividades propostas aos alunos, que o objetivo da disciplina não é o de formar artistas, mas pessoas que poderão entender o que é uma obra de arte, que poderá estimular a capacidade artística do aluno e ou também de futuros arte educadores, que alfabetizará esteticamente seus alunos. Mostram pouca afinidade com o magistério, se voltam para o magistério não tendo um perfil de licenciado, não compreendem a relação e importância do professor-artista, que é um pesquisador com uma reflexão artística que tem uma formação consistente e reflexiva para a atuação na arte e em sala de aula. No desenvolvimento da pesquisa foi realizada uma pesquisa de campo com a observação, conversas com os estagiários, entrevistas respondidas pelos professores, projetos em parceria, com oficinas nas escolas e na universidade. Quanto aos resultados das entrevistas, tivemos algumas seguintes respostas: professores que não percebem a importância da parceria e como podem desenvolver propostas a partir dos estágios; professores que solicitam troca de informações; que concordam da necessidade da prática para o estagiário; alguns não sabem o que esperar da parceria; alguns solicitam projetos de parceria; outros solicitam aulas práticas e diferenciadas; em algumas escolas os professores aceitam os estagiários, mas há uma grande resistência quanto aos pedagogos e diretores; em uma das escolas a informação obtida da pedagoga é a que a escola sempre aceita os estagiários e alterna os períodos, sendo um trimestre com estagiário outro não; a escola em que desenvolvemos diversos projetos com vários alunos estagiários no espaço da escola e na universidade, respondeu que os cursos que é precisam deles e autorizam quando acharem conveniente. Um dos últimos projetos após o estágio, a direção solicitou uma parceria para uma atividade, a qual foi realizada na universidade, e já temos novos estagiários nesta escola, com o objetivo da parceria atingido. Com os resultados desta pesquisa, constatamos que para o desenvolvimento da prática educativa dos nossos alunos estagiários temos que aproximar a universidade da escola pensando na construção da profissionalização do professor de Artes Visuais e na atual identidade do profissional. Nesta discussão sobre a realização do estágio Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa supervisionado obrigatório, verificamos as muitas dificuldades da concretização do estágio no curso superior de Artes Visuais - licenciatura com ênfase em computação da Universidade. Percebemos que muitos professores aceitaram a parceria compreendendo como fazer deste estágio um grande projeto. Outros, não perceberam ou não querem perceber, outros, o empecilho é colocado pelos pedagogos e diretores porque os professores aceitariam os estagiários em sala. O importante é que todos percebam a importância da participação do estagiário na ação profissional do professor, na investigação no espaço do estágio, Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. discutindo as insuficiências e colocando em prática projetos de parcerias que auxiliem nos problemas e projetos da escola, pois os estágios são um instrumento de intercambio de realidades e necessidades. Como resultado das propostas de parceria, percebesse que temos obtido maioria de respostas positivas quanto à proposta e ao objetivo em mostrar que a universidade é o espaço de formação dos docentes e do exercício da pesquisa. Palavras-chave: arte-educação; formação de professores; estágio curricular obrigatório; ensino de arte. 305 306 Resumos REFERÊNCIAS _____. (org) História da Arte-Educação. A Experiência de Brasília. I Simpósio Internacional de História da Arte-Educação – ECA – USP. São Paulo: Ed. Max Limonad Ltda. 1986. _____. Profissão professor. Porto: Ed. Porto, 1995. BARBOSA, Ana Mae Tavares Bastos. A imagem no ensino da arte: anos oitenta e novos tempos / Ana Mae Barbosa. São Paulo: Perspectiva; Porto Alegre: Fundação IOCHPE, 1991. BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. A duração e a carga horária dos cursos de licenciatura, de graduação plena, de formação de professores da Educação Básica em nível superior. Resolução CNE/CP 2/2002. Brasília, 2002. BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena. Resolução CNE/CP 1/2002. Brasília, 2002. CORTEZ, A Arte na escola: repensando a formação do professor de artes. São Paulo: Anais, 1998. P.348. In:SEVERINO, A. J. Dermeval Saviani e a educação brasileira ; o simpósio de Marília. São Paulo : Cortez, 1994. Martins, Miram. Didática do Ensino da Arte. São Paulo: FTD, 2000. P.12. NISKIER, A LDB: a nova lei da educação . Rio de Janeiro: Consultor, 1996. Artigo 26. OLIVEIRA, Marilda de Oliveira; HERNÁNDEZ, Fernando (orgs). A formação do professor e o ensino das artes visuais. Santa Maria, ed. UFMS, 2005. Parâmetros Currículares Nacionais : Arte / SEF. Rio de Janeiro : DP&A, 2000. PICONEZ, STELA C. BERTHOLO. A prática de ensino e o estágio supervisionado. São Paulo: Papirus Editora, 1999 4ª.ed. PIMENTA, Selma Garrido Pimenta. Estágio e docência / Maria Socorro Lucena Lima; revisão técnica José Cerchi Fusari, - 3. Ed. – São Paulo: Cortez, 2008. – (Coleção docência em formação. Série saberes pedagógicos) REVISTA DA FUNDARTE. Montenegro: Fundação Municipal de Artes de Montenegro, 2002 – Semestral – v.2, n.4 (jul./ dez. 2002) ROSA, Maria Cristina da. A formação de professores de arte: diversidade e complexidade pedagógica / Maria Cristina da Rosa – Florianópolis : Insular, 200.5 Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa A RELAÇÃO ENTRE A FORMAÇÃO DE PROFESSORES E O CONHECIMENTO MEDIADA PELA TECNOLOGIA Carlos Alves Rocha - UTP O presente trabalho é resultado de estudos e pesquisas feitos durante a realização do projeto de pesquisa “Formação de Professores com o Uso das Tecnologias no Ensino Presencial e a Distância Visando a Inclusão Social”. Os objetivos que direcionaram a pesquisa citada foram: I - Mapear o sistema de relações da formação de professor em estudo, tendo na compreensão do papel da tecnologia e do mundo do trabalho o instrumento para identificar o padrão organizacional do curso de Pedagogia, bem como os focos de atuação dos envolvidos, seus problemas e interferências. II - Estabelecer os elementos que definem o paradigma oriundo da relação tecnologia e mundo do trabalho que interferem nas ações de formação, compreendendo as dinâmicas que os move, de forma que possa contribuir para a otimização da gestão da atividade em todos os sentidos, principalmente nos aspectos diretamente ligados ao processo ensino-aprendizagem, estabelecendo a sua identidade e funcionalidade sistêmicas. Partindo da observação empírica de que havia uma diversidade de ações no curso de pedagogia, demonstrando a complexidade das relações envolvidas na formação, o problema que fundamentou foi baseado nas seguintes questões: Como se dá a articulação da formação de profissionais da educação que permite a esse complexo de relações ter uma unidade visando um mesmo objetivo? Qual o seu padrão de organização no qual se pode interferir nos momentos de correções de percurso e retroalimentar as ações do processo ensino-aprendizagem? O paradigma que fundamenta essa formação sofre interferências das transformações tecnológicas ocorridas na sociedade e no mundo do trabalho? Que interferências são essas e quais as conseqüências? A partir desse questionamento, foi estabelecida a seguinte hipótese: Há um elemento articulador (paradigma) capaz de estabelecer o padrão de organização da ação, que sofre interferência da tecnologia e do mundo do trabalho, no qual é possível interferir para as correções de percurso e retroalimentação do sistema e que é o responsável pela unidade da formação. Nesse sentido, a pesquisa acima, partiu do pressuposto de que a escola, locus primordial da ação educativa, é um espaço que tem sofrido as mais variadas interferências ao longo do tempo, com a ocorrência de múltiplas influências em sua história. As grandes mudanças no mundo do trabalho e as aceleradas transformações por que passa a tecnologia, trazendo novas técnicas, novas profissões e interesses, têm exigido uma constante adaptação e acomodação das forças produtivas aos novos tempos, Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 307 308 Resumos fazendo com que a educação seja afetada no seu mister. A grande produção material no regime de acumulação capitalista em que está inserida a sociedade circundante, oriundo da mundialização da economia, requer uma reestruturação produtiva e serve de argumento para a intervenção nas práticas escolares. Essa intervenção, advinda do mundo do trabalho e do desenvolvimento científico e tecnológico, não é de hoje e nem ocorre por acaso. Alguns estudos nos levam a perceber que, no passado, os educadores ofertavam vagas nas escolas e estas entravam em conflito com as necessidades demandadas pelos empresários. Estes buscavam uma mão-de-obra com pouca qualificação, o que fazia da escola única com qualidade igual para todos não ser necessária. Isto se viu principalmente na primeira etapa do processo de industrialização, pois países em desenvolvimento, como o nosso, estabeleceram um parque industrial razoável contando com uma mão-deobra de baixa qualificação. Nesse período, percebia-se verificar a existência de um contingente enorme de trabalhadores com pouca educação e, assim, mal preparados para enfrentar a complexidade da vida. Com o desenvolvimento tecnológico, o que se vê hoje é outra realidade: as altas tecnologias de produção e informação predominam e a grande maioria dos países não se arrisca a entrar nos competitivos mercados internacionais sem antes estabelecer um sistema educacional sólido e que, de preferência, atinja a totalidade da população, e não só a força de trabalho, com oito, dez ou mais anos de ensino de boa qualidade (SILVA FILHO, 2001, p. 87). Tomando-se essas ideias como pressuposto para o estudo, estruturou-se o trabalho, que foi precedido de uma pesquisa bibliográfica intensa, que ia se renovando ao longo de sua realização. Para esse fim, houve a participação dos alunos das disciplinas “Tecnologia da Infor mação e da Comunicação” e “Estudos Interdisciplinares”, que diretamente foram envolvidos, através de atividades de ensino e pesquisa ligadas a temática em perspectiva. Esta pesquisa durou de julho de 2007 a julho de 2009, não obtendo todos os resultados esperados, uma vez que o tempo foi insuficiente para se auferir mais conhecimentos, demandando também o envolvimento de outras pessoas ao processo. Também foi fonte de estudos e pesquisas, a realização do projeto de extensão que ocorre sob os auspícios da Pró-Reitoria de Promoção Humana, da Universidade Tuiuti do Paraná – UTP, cuja iniciativa foi do curso de Pedagogia, a partir de proposta do autor desta pesquisa, e que tem a colaboração do curso de Análise e Desenvolvimento de Sistemas da mesma universidade. Participam alunos e professores dos cursos citados, e tem o seguinte título: “Inclusão Digital e Social”. Trata-se de um projeto que visou inicialmente atender a jovens em busca do primeiro emprego e pessoas de terceira idade da redondeza do campus “Sidney Lima Santos” (Barigui). Hoje, além do público inicial visado, se estende também a funcionários interessados da UTP de todos os câmpus Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa e qualquer pessoa da comunidade. Com o intuito de introduzir no mundo da informática essas pessoas, são transmitidos a elas conhecimentos básicos de software e hardware, e também algum aprofundamento em áreas do interesse das pessoas que buscam o projeto, bem como troca de informações que possam levar a uma melhoria das condições de cidadania e participação na sociedade de todos os envolvidos. Nesse projeto de extensão, há a oportunidade de se conhecer o alcance da relação do desenvolvimento tecnológico na vida das pessoas e a influência do mesmo em suas vidas particulares. Além de textos apresentados em eventos, destaca-se três produtos oriundos da pesquisa em foco: o livro em co-autoria, com o título de “Preparação dos Docentes no Uso das Tecnologias Assistivas para a Inclusão de Alunos com Necessidades Especiais”, deste autor junto com as professoras Iolanda Bueno de Camargo Cortelazzo e Márcia Silva Di Palma, editado pela UTP em 2008; o livro “Mediações Tecnológicas na Educação Superior”, deste autor, editado em 2009 pela Editora IBPEX; e o capítulo intitulado “A Formação de Professores, a Tecnologia e o Conhecimento: relações e interferências”, que faz parte do livro “Educação Matemática, Tecnologia e Formação do Professor: algumas reflexões”, organizado pelos professores Nielce Meneguelo Lobo da Costa e Willian Beline, que está no prelo e será editado pela Editora FECILCAM, da Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão. São produções Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. em que aparecem alguns conhecimentos adquiridos durante a pesquisa, destacando-se o seguinte: 1) A formação de professores deve também se ocupar com as transformações científicas e tecnológicas do último século, que têm exigido adaptações e modificações em várias atividades e setores produtivos, trazendo aos profissionais que lidam com a formação de outros um olhar diferente ao que vinha sendo feito em relação a isso. Isto se dá, principalmente, pelo advento de novas técnicas, novas profissões e interesses que devem ser considerados no ato formativo. Esta preocupação deve ocorrer na perspectiva de tentar entender as interferências que tudo isso causa na educação e na vida das pessoas, com condições de provocar discussões que permitam o trabalho do professor de acordo com mos novos tempos. 2) Esta observação anterior leva a perceber que as ações de formação de professores são ditadas por uma demanda do contexto, que interfere na ação educacional. O que não pode ocorrer é que essa interferência aconteça em detrimento da integridade do ser humano em seus aspectos ambientais, sociais, mentais e políticos. Porque se isto acontecer poderá trazer prejuízos às pessoas, apresentando elementos motivadores e fortalecedores da exclusão social de muitos. 3) Deve também ser preocupação da formação de professores, o fato de em muitas das preocupações nas empresas hoje serem feitas em nome de uma responsabilidade social, apregoada como uma das finalidades essenciais de uma empresa, principalmente 309 se ela quiser obter algumas benesses do mercado e dos órgãos financeiros, governamentais e outros. Muitas pessoas e instituições estão criando e incentivando atividades de inclusão, com leis, projetos e programas que se preocupam com aqueles que são excluídos, principalmente por causa de sua deficiência ou falta de escolaridade. Essas ações ocorrem não porque querem fazer o bem, mas para lhes garantir uma visibilidade que lhes dê vida ativa no mercado, garantindo-lhes o lucro. Há exceções a isso, mas não têm o destaque necessário. 4) O desenvolvimento científico e tecnológico tem trazido discussões e alterações de conceitos que envolvem o conhecimento, principalmente com a possibilidade dele ser elaborado e disseminado em rede, o que traz algumas mudanças paradigmáticas. Esses são alguns dos resultados da pesquisa, que poderão ser aprofundados para se atingir os objetivos esperados, o que só será permitido na continuação prevista desse trabalho. Palavras-chave: conhecimento; educação; formação de professores; tecnologia. Pesquisa A REVISTA DO PATRIMÔNIO NA GESTÃO DE DR. RODRIGO: UM ESTUDO DO CONCEITO DE PATRIMÔNIO PELOS TEXTOS DA REVISTA Maria da Graça Rodrigues Santos - UTP O Decreto-Lei n°25 (IPHAN, 2006), assinado por Getúlio Vargas em 1937, definiu as diretrizes para a preservação do patrimônio histórico no Brasil e regulamentou o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, hoje IPHAN, que foi criado em 13 de janeiro do mesmo ano, subordinado ao Ministério da Educação e Saúde, dirigido por Gustavo Capanema. Os anos 1937-1945 foram marcados pela revitalização da estrutura governamental do Estado Novo, da qual os intelectuais tiveram grande participação, frente à possibilidade de aumentar sua atuação, mediante à proposta varguista de criar e proteger as esferas sociais da saúde, da educação, das artes, da administração e do trabalho. Voltava-se, também, à busca da unidade nacional, e à criação da nova sociedade brasileira. Nesse contexto, o SPHAN, como outros institutos criados, objetivava o aprofundamento de idéias nacionalistas e a divulgação da cultura brasileira. De acordo com Miguel e Correia (2009), através dos intelectuais a identidade nacional foi lapidada de modo a abrandar diferenças. A gestão do Órgão, a cargo de Rodrigo Melo Franco de Andrade, marcou a fase heróica do SPHAN, que contou com o apoio dos principais intelectuais do período, que procuravam “construir” o patrimônio nacional, com base no conceito de patrimônio adotado e claramente evidenciado no texto do Decreto-Lei n°25. Este estudo mostra como através da Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, nos quinze primeiros números que correspondem à gestão de Rodrigo Melo Franco de Andrade, o Dr. Rodrigo - quer seja pela seleção de artigos, quer pelas idéias contidas em alguns deles - esse conceito de patrimônio foi sendo trabalhado de modo a privilegiar as obras edificadas do período colonial, ainda que os planos de Mário de Andrade, no seu projeto encomendado por Rodrigo Mello Franco de Andrade e que serviu de base para o Decreto-Lei, previssem maior abrangência nos critérios de escolha daquilo que deveria estar sob a guarda estatal. Andrade havia arrolado um conjunto de artefatos na sua lista de bens dignos de salvaguarda no pretendido patrimônio, que incluía música e danças populares, além de outras expressões do campo da etnologia. Naquele momento, como explica Lemos (2009), “ainda não eram correntes as noções de “cultura material” ou de “patrimônio cultural”, idéias até então vagas e destinadas a complicar o equacionamento de um decreto estadonovista estreante em assunto entre nós mal estudado”. A relação dos artigos de cada revista e dos seus autores dão também a medida da participação dos intelectuais no Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 311 312 Resumos projeto cultural do Estado Novo. O uso do termo patrimônio, adotado para caracterizar este período, baseia-se na definição de Choay (2001), para quem este conceito (de patrimônio), diferente de monumento, foi utilizado inicialmente para referir-se ao conjunto de obras, de caráter institucional, que representavam a nação. O número um da Revista está estruturado em quatro partes: a primeira com textos de natureza mais abrangente apresenta artigos de Alfredo E.Taunay, Heloisa Alberto Torres, Lucio Costa e do Rodrigo Melo Franco de Andrade; a segunda parte é dedicada ao mobiliário nacional; a terceira a monumentos da arquitetura religiosa, e a quarta parte, de notas, pequenos textos sobre temas específicos, a exemplo do texto descritivo sobre o Museu Coronel David Carneiro, em Curityba. No início desse número, Rodrigo Melo Franco de Andrade, em texto denominado Programa, justifica a ênfase nos monumentos arquitetônicos apenas como uma primeira etapa das pesquisas que, segundo afirma, deverão abranger além dos imóveis, o conjunto de bens móveis e outros de valor arqueológico, etnográfico, bibliográfico, artístico, natural e paisagístico, especificados no Decreto. Do número dois em diante, o sumário não apresenta estruturação mais elaborada e os quatorze textos estão listados sem critério aparente. Intercalam-se temas voltados a resultados de pesquisas históricas, artísticas e arquitetônicas, a exceção de um texto resultado de pesquisa etnográfica sobre a pesca brasileira, no Maranhão, de Raimundo Lopes. No número três da Revista, dos quinze textos apresentados, temos: cinco deles são dedicados ao tema das pinturas religiosas, principalmente; três voltados ao mobiliário; dois ao Aleijadinho e o restante sobre casas e capelas coloniais. No número quatro, ao lado dos estudos sobre monumentos arquitetônicos, mobilário e desenhos de arquitetura, são apresentadas duas biografias, um texto sobre os ofícios mecânicos em Vila Rica no século XVIII, além de dois estudos sobre aglomerados urbanos e um texto mais teórico sobre o valor artístico e o valor histórico na história da arte, ampliando o leque de interesses sobre preservação, que caracterizou os números anteriores. No número cinco, continuam os estudos do patrimônio material, sobressaindo alguns estudos sobre pintura, alfaias, um estudo teórico sobre barroco, dois estudos sobre textos históricos e um estudo sobre a “decoração das malocas indígenas”, que aponta para o interesse em expressões da cultura não erudita, um pouco na linha de Mário de Andrade, que apresentou, no período, um estudo sobre a diversidade cultural do Brasil. No número seis da Revista, os textos sobre o patrimônio material continuam predominantes, há um texto sobre mobiliário, um sobre a prataria seiscentista do Mosteiro de São Bento, uma biografia e “Um litígio entre Marceneiros e Entalhadores no Rio de Janeiro”. No número sete, mais uma publicação com mobiliário, patrimônio material, com ênfase em casas, um texto sobre as pinturas de Franz Post e Albert Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa Ekhout e outro sobre “Os Azulejos do Convento de São Francisco da Bahia”. No número oito, os artigos concentram-se mais uma vez no estudo do patrimônio material e dois textos tratam de arte: um sobre os modelos europeus na pintura colonial e outro sobre temas pastoris na arte tradicional brasileira. No número nove, dá-se seguimento ao tema principal e acrescentamse uma biografia e dois estudos de textos históricos. O número dez é composto de apenas quatro artigos. Três são estudos aprofundados de bens de natureza material (fontes e chafarizes do Rio de Janeiro, Palácio das Torres e o Palácio Velho de Belém) e um sobre a contribuição de Marc Ferrez à fotografia no Brasil. No número onze, último da gestão de Rodrigo Melo Franco de Andrade, são mais uma vez publicados quatro artigos, todos de grande densidade. O primeiro é um estudo completo sobre as casas de câmara e cadeia, que se tornou um clássico no ensino da arquitetura brasileira e foi publicado posteriormente na Revista de n°26, assim como o texto Arquitetura dos Jesuítas no Brasil, de Lucio Costa, publicado originalmente no número quatro da revista. O segundo texto é sobre a procedência da arte de pintura na província da Bahia, com base em manuscritos da Biblioteca Nacional. O terceiro é um estudo sobre vestígios de Fortim Colonial no Engenho Novo e o último apresenta um guia histórico dos municípios do Pará. Os últimos quatro números da Revista, publicados nos anos 1955, 1956, 1959 e 1961, fecham o ciclo das publicações da chamada fase heróica Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. (FONSECA, 2005) do Serviço do Patrimônio, que esteve sob a direção de Rodrigo Melo Franco de Andrade. Os temas tratados nesses últimos números dão continuidade à política iniciada na publicação do primeiro número. Concluindo, observa-se que, à parte, o privilégio dado aos bens de natureza material, os artigos da revista têm caráter de fundamentação. Neles estão ou eles próprios são a base da construção do patrimônio cultural brasileiro. Os temas tratados são preciosos por evidenciar a riqueza do patrimônio brasileiro, todos tão importantes, naquele momento político do Estado Novo, como explica Melo Franco de Andrade. “trata-se, por conseguinte, de um vasto domínio, cujo estudo reclamará longos anos de trabalho, assim como a preparação cuidadosa numerosos especialistas para empreendê-lo. Esta revista registrará semestralmente uma pequena parte do que se houver tentado ou conseguido com esse objetivo. Ela conta com a contribuição dos doutos nas matérias relacionadas com a sua finalidade e bem assim com o apoio e a simpatia de todos os brasileiros interessados pelo patrimônio histórico artístico nacional” (Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, 1937, p. 2). Sob outra perspectiva, a análise desses artigos evidencia a participação dos intelectuais no projeto getulista. São contribuições de pesquisadores e historiadores que tiveram grande importância na definição e organização do patrimônio nacional, incluindo o próprio Rodrigo Melo Franco de Andrade. 313 314 Resumos REFERÊNCIAS CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. São Paulo: UNESP, 2001. IPHAN. Coletânea de Leis sobre preservação do Patrimônio. Rio de Janeiro: IPHAN, 2006. FONSECA, Maria Cecília Londres. O patrimônio em processo: trajetória da política federal de preservação no Brasil. Rio de Janeiro: UFRJ; MinC – Iphan, 2005. MIGUEL, Nádya Maria D., CORREIA, Maria Rosa dos Santos. Os intelectuais no Iphan e no Ibge na era Vargas. Anais doV Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura. Salvador: Faculdade de Comunicação/ UFBA. 27 A 29 de maio de 2009. REVISTA DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL. Rio de Janeiro: SPHAN, 1937 – 1961. n°115. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa A UTOPIA FIN-DE-SIÈCLE DE EDWARD BELLAMY José Antonio Vasconcelos - USP IDENTIFICAÇÃO DO OBJETO E DA PROBLEMÁTICA: Com a expansão industrial ocorrida principalmente a partir da segunda metade do século XIX nos Estados Unidos proliferam-se as grandes metrópoles, que já não eram incomuns na Europa nessa época, a exemplo de Londres, Manchester, Paris e outras. Tais quais as cidades européias, os grandes centros urbanos nos Estados Unidos encontravam problemas como a miséria, a criminalidade e o conflito de classes, ao lado da exuberância de seus edifícios e das comodidades trazidas pela evolução tecnológica. Neste contexto, situa-se Edward Bellamy, cuja obra principal, Daqui a cem anos (Looking Bakward), tornou-se um dos romances mais populares na virada do século. O conteúdo de Daqui a cem anos pode ser enquadrado nos moldes daquilo que já se havia convencionado chamar de “socialismo utópico”, uma corrente de pensamento difusa que tem como premissa comum a transformação pacífica da sociedade industrial e capitalista num modelo igualitário, no qual as classes sociais teriam sido abolidas. Mas por que no tipo de organização social da cidade proposto por Bellamy interessou a intelectualidade de sua época? O que era exatamente a cidade no final do século XIX, seus pontos positivos, negativos; e como a sociedade socialista descrita por bellamy superava as contradições existentes na cidade administrada pela burocracia privada? Uma hipótese que explica o sucesso de Daqui a cem anos reside no fato de que o homem do século XIX não estava atrás de um modelo de sociedade radicalmente diferente daquele encontrado nas grandes concentrações urbanas. O objetivo último não era fugir da cidade, mas expurgar seus pontos negativos, mantendo o modelo existente. A América do Norte, em especial, tornou-se palco de uma série de experiências realizadas por socialistas utópicos, que viam ali um território ainda não completamente dominado pelo espírito industrial e capitalista, e que por isso mesmo contaria com mais chances de sucesso. Com o desenvolvimento industrial surgia uma grande necessidade de que contingentes populacionais cada vez maiores se concentrassem em espaços cada vez mais delimitados, pois a organização do tempo é fundamental nesse tipo de sociedade e as distâncias representavam a perda de um valioso tempo útil a ser aplicado no processo de produção. A partir dessa organização diferenciada do espaço, novas relações sociais tomavam lugar, criando problemas que exigiam novas soluções. Questões como a educação, a literatura, a arquitetura, a recreação e o relacionamento entre patrões e empregados revestiam-se de novos matizes. Talvez possamos objetar que a obra de Bellamy, desenvolvendo-se no âmbito Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 315 316 Resumos do pensamento utópico, propõe um modelo de cidade inexistente e inválido, portanto, como fonte para uma pesquisa histórica. Devemos considerar, entretanto, que o pensamento utópico não é mais que uma resposta eloqüente, que vem ao encontro de problemas reais e, portanto, históricos. Além disso, a literatura utópica não desempenha um papel puramente passivo, enquanto reflexo dos padrões de comportamento vigentes, mas participa ativamente da História enquanto formadora de novas opiniões. EDWARD BELLAMY E SUA UTOPIA: Ao longo da segunda metade do século XIX surgia um novo tipo de literatura, pois os autores românticos, que exploravam temas como o pecado e a culpa, e desenvolvidos em cenários pouco familiares aos leitores, cediam lugar a uma literatura que tinha na cidade e no cotidiano do cidadão urbano seu principal foco de atenção. No meio dessa tendência literária situa-se Daqui a cem anos, de Edward Bellamy, contrastando a injusta sociedade urbana e industrial de seu tempo com uma imaginária América socialista, na qual um governo fortemente centralizado permitia uma vida digna a todos os cidadãos. Daqui a cem anos foi impresso em vários milhões de exemplares traduzido para mais de vinte línguas, tendo sido um dos maiores Best-sellers na virada do século. No romance o Sr. Julian West, um jovem membro da classe mais abastada de Boston, é transportado para o ano 2000 após uma suposta noite de sono. Na Boston do século XX, o Sr. West tem por anfitrião um médico chamado Dr. Leete, que tenta explicar ao protagonista a delicada situação em que este se encontra. A sociedade do século XX, tal como descrita por Bellamy, não difere muito em termos de tecnologia daquela existente no século XIX. O que muda é a racionalidade do sistema econômico. Por meio de uma administração pública centralizada a produção aumenta e a jornada de trabalho diminui, pois o que é gasto em armamentos, propaganda e complexa distribuição de mercadorias é então canalizado para atividades mais proveitosas, uma vez que nesta sociedade não há mais guerras nem competição de mercado. Diminui também o desperdício ocasionado por empreendimentos equivocados, crises periódicas e ociosidade de capital e trabalho. Todos trabalham, todos possuem a mesma renda e ninguém se abstém de uma vida farta e digna. Na sociedade capitalista do século XIX, uma distribuição igualitária nacional ainda não seria suficiente para acabar com a pobreza. No ano 2000, pelo contrário, à padronização da renda individual, soma-se o aumento da produção e o fim do desperdício, que em conjunto oferecem o bem estar material de toda população. Seria errôneo afirmar que Bellamy não tenha concebido qualquer evolução tecnológica em sua visão de futuro. Tratamse, porém, de profecias não cumpridas, ingênuas em sua maioria, como a combustão sem fumaça ou marquises retráteis para a proteção dos pedestres em dias de chuva. Ainda que não desprovidas de um certo Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa charme, tais profecias encontram-se muito aquém das visões futuristas produzidas por autores como Júlio Verne ou H. G. Wells. ÉW no aspecto econômico e social que Bellamy se impõe, justificando assim, com sua originalidade e sedução, a profunda influência exercida em personalidades como John Dewey, Eugene V. Debbs, William Allen White, e no meio intelectual norte-americano de maneira geral. Muitos dos intelectuais do século XIX acreditavam que a superação das perdas que sentiam se daria por meio de um movimento de resgate da antiga sensibilidade rural. Nesse sentido, situa-se, por exemplo, William Morris, um poeta e romancista britânico que elaborou uma utopia de caráter bucólico, ou mesmo Karl Marx e Friedrich Engels, que insinuam na Ideologia Alemã a futura existência de um intelectual em harmonia com a natureza. Num outro extremo, situam-se os intelectuais que vêem no ulterior desenvolvimento da sociedade capitalista a superação mesma das perdas trazidas pela Revolução Industrial. É neste sentido que se dirige a crítica de Edward Bellamy: a volta ao campo não representa uma resposta possível ao impasse criado pela urbanização. O home das grandes cidades não é feliz, vive cercado pela miséria, mas ainda assim não abandona o meio urbano diante da possibilidade de escolha. Para ele a cidade não é intrinsecamente má: as relações sociais e de produção, passíveis de modificação, Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. é que imprimiam essa marca eminentemente negativa das grandes cidades, e não a vida urbana enquanto tal. Interrogado pelo seu anfitrião acerca do que mais lhe havia chamado a atenção ao vislumbrar a cidade de Boston de uma sacada, o Sr. West, protagonista do romance, responde que foi a ausência de chaminés e de fumaça. Em outras palavras, a indústria, geradora de empregos e produtora de mercadorias que elevam o padrão de vida do ser humano, não desapareceu na utopia futurista de Bellamy. Sai de cena apenas a chaminé, representação paradigmática da poluição e insalubridade sempre presentes na sociedade industrial. Expulso o elemento negativo, a cidade revela-se o lugar ideal de trabalho e residência. A obra de Bellamy torna-se, assim, uma riquíssima fonte de dados para uma pesquisa historiográfica que se desenvolve no âmbito da experiência urbana tal como esta é sentida por um intelectual norte-americano do final do século XIX. Daqui a cem anos, longe de simplesmente apresentar uma representação vazia de significado, por se constituir em torno de uma cidade inexistente, oferece ao leitor atento uma crítica muito bem elaborada da sociedade urbana da época em que o referido romance foi escrito. Explicitar a relação entre a proposta utópica de cidade criada por Bellamy e as condições sociais que a inspiraram é o objetivo maior dessa pesquisa. 317 318 Resumos REFERÊNCIAS BELLAMY, E. Daqui a cem anos: revendo o futuro. 2. Ed. São Paulo : Record, s.d. BLAKE, N. M. A history of American life and thought. New York : McGraw Hill, 1963. MADISON, C. A. “Edward Bellamy, social dreamer”. The New England Quarterly. Vol. 15, No. 3 (Sep., 1942), pp. 444-466. PETITFILS, J-C. Os socialismos utópicos. São Paulo : Círculo do Livro, s.d. THUMBER, C. “Edward Bellamy, the Erosion of Public Life, and the Gnostic Revival”. American Literary History, Vol. 11, No. 4 (Winter, 1999), pp. 610-641. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa APLICAÇÕES DAS LINGUAGENS DA ARTE E COMUNICAÇÃO EM INTERFACES TECNOLÓGICAS: A “WOP ART” DE GISELLE BEIGUELMAN William Sade Junior - UTP INTRODUÇÃO: A partir de um contato casual com um “cartão virtual digital”, inserido no portal do UOL [http://www.uol.com.br] que, dentre vários muito repetitivos e inexpressivos, chamou a minha atenção, pois trazia uma linguagem diferenciada dos demais, primeiro pela sua característica verbo-visual, que trazia intrínseca no seu conteúdo, uma linguagem própria do meio digital, conceito que eu buscava em minha pesquisa. Simples na forma, e objetivo no seu conteúdo, mostrava na tela a mensagem “txt_me”, com caracteres brancos em fundo preto. Ao acessar o cartão através do clicar do mouse, uma breve animação surge, apresentando caracteres e imagens que lembram os primeiros games de console, em movimentos de revolução que formam uma espécie de tubo, que se dissolve e torna-se novamente o “txt_me” do início. Ao fundo, um clipe de música eletrônica interage com o movimento formado pela animação. Sendo professor das disciplinas de Hipermídia e Poéticas Tecnológicas no Curso de Artes Visuais da UTP e tendo em vista a necessidade prática da pesquisa para o desenvolvimento em laboratório de projetos que representem esta linguagem tecnológica em poéticas ou interfaces hipermídia, web-arte, etc., encontrei naquele “singelo” trabalho a síntese do que eu procurava nas minhas pesquisas. A autora, Giselle Beiguelman, artista premiada nacional e internacionalmente, pesquisadora, doutora, professora da Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica da PUC-SP, com uma vasta e significativa obra em arte e novas tecnologias, é encontrada na sessão cartões de arte, junto com outros dois trabalhos seus, igualmente interessantes, pela forma e linguagem empregadas. Devido à necessidade de sistematizar a pesquisa sobre a obra da artista com o objetivo de investigar e ordenar os vários conceitos e linguagens que envolvem o seu trabalho, e na tentativa de organizar uma fundamentação teórica que auxilie nos projetos práticos desenvolvidos em laboratório de informática, os paradigmas que envolvem tais conceitos, o hibridismo, as intermídias, a interseção da arte e da comunicação, a convergência digital nas novas mídias, continuei pesquisando a obra da referida artista em busca de novos argumentos que pudessem auxiliar no desenvolvimento do estudo das linguagens dentro do laboratório. Entre os seus trabalhos existe um que se tornou a base deste estudo, a “Wop art”, hibridização da tecnologia wap - wireless application protocol com o conceito de op-art ou optical-art, para gerar, segunda Beiguelman, “sistemas sígnicos que podem ser enviados via tecnologia móvel sob a forma de arte digital.” A Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 319 320 Resumos análise dessa obra surge da possibilidade de visualizar o encontro da tecnologia digital com uma forma de arte “tradicional”, oportunamente pela proximidade de linguagens. A arte contemporânea, supostamente em crise, procura novos significados, recursos de linguagem e espaços alternativos, e desta forma, o encontro com as novas tecnologias informáticas e de comunicação, pode ser uma dessas possibilidades de resgate do significado de uma arte expressiva. Essa expressão, passa pelo conhecimento dos recursos de linguagem próprios do meio, no caso o digital, embora não seja necessariamente fundamental para uma realização artística significativa, é necessária para o reconhecimento crítico dessa forma de arte bem como para a formação acadêmica de pesquisa em arte. Para Lúcia Santaella, as pesquisas em arte e comunicação têm “negligenciado o fator semiótico das mensagens produzidas pelas mídias”, pois segundo ela, ”(...) São mensagens que se organizam no entrecruzamento e na inter-relação bastante densa de diferentes códigos e de processos sígnicos diversos, compondo estruturas de natureza altamente híbrida.” (Santaella, 2000, p. 24). O híbrido, que a rigor é a mistura de espécies diferentes que formam uma nova espécie, foi trazido para os meios de comunicação por Marshall Mcluhan como sendo “(...) o encontro de dois meios (...) do qual nasce a forma nova”, e mais, “O momento do encontro dos meios é um momento de liberdade e libertação do entorpecimento e do transe que eles impõem aos nossos sentidos.” (Mcluhan, 1964, p. 75). Esta característica não é exclusiva das mídias eletrônicas, pois para Santaella “(...) todas as mídias, desde o jornal até as mídias mais recentes, são formas híbridas de linguagem, isto é, nascem na conjugação simultânea de diversas linguagens. Suas mensagens são compostas na mistura de códigos e processos sígnicos com estatutos semióticos diferenciais”. (Santaella, 2000, p. 24). Quando utilizamos as tecnologias de uma forma geral, seja na produção ou no consumo, ela se efetua por vias de equipamentos, máquinas ou aparelhos. Estes dispositivos incorporam tecnologias de todo o tipo, mecânicas ou eletrônicas; são equipamentos fotográficos, de vídeo, máquinas de lavar, de escrever, de costurar, aparelhos de som, rádio, televisão, pagers, telefones celulares, notebooks, entre outros. Toda essa tecnologia, depois de absorvida é incorporada ao cotidiano e passa a se tornar automatizada, por isso, não nos damos conta de como se dá o seu processo de utilização, quem a inventou, como foi realizada, de que forma foi construída. Enfim, ela passa a ser um objeto cultural. Algumas técnicas, modos e termos são adaptados de culturas anteriores e continuam sendo utilizados de forma automática. A utilização da interface gráfica hipermídia como mediação entre o meio digital (emissor) e o usuário formador (destinatário), mostra a necessidade de desenvolvimento de projetos de comunicação que estabeleçam uma relação adequada entre a forma de expressão e o conteúdo da mensagem. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa Uma interface pode ser definida como um conjunto de dispositivos que proporcionam a comunicação entre dois ou mais sistemas distintos. Para Pierre Lévy “a interface efetua essencialmente operações de transcodificação e de administração dos fluxos de informação”, (LÉVY, 2000, p. 176), ou seja, ela interpreta os códigos numéricos e os converte em informação “legível”. Em computação, cabe ao sistema operacional e aos programas, interpretar e decodificar a linguagem da máquina e convertê-las em informação. O propósito da interface é estabelecer a relação de comunicação entre o homem e a máquina através de comandos de interatividade. Com a atual tendência à convergência dos meios de comunicação, informáticos e multimídia a partir do avanço tecnológico e científico proporcionados pelo desenvolvimento da linguagem digital, a preocupação com a adequação do meio para essa nova linguagem é freqüente. Segundo o IBCD (Instituto Brasileiro para Convergência Digital) “O tema convergência vem sendo discutido desde os anos 80, quando se reconheceu a importância da comunicação por computadores. As barreiras convencionais entre as indústrias mais envolvidas, são fortes. Apesar dos avanços tecnológicos propiciarem as condições necessárias para a convergência, o caminho Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. apenas começou.” (CONVERGÊNCIA DIGITAL, 2006) Um dos caminhos diretos para o approach entre o novo usuário interagente e o conteúdo de comunicação são as interfaces, sejam elas gráficas através das telas ou suportes visuais; físicas através de aparatos periféricos e sensores ou simbólicas através da codificação e decodificação das linguagens naturais do meio. Conhecer esse novo “leitor” dos signos digitais é fundamental para decifrar os códigos culturais envolvidos no processo. OBJETIVOS: OBJETIVO GERAL - Analisar a obra da Artista Giselle Beiguelman em busca de elementos sígnicos que comprovem o seu diferencial simbólico diante da massa de informação disponível nas novas mídias. OBJETIVOS ESPECÍFICOS: Organizar conceitos teóricos que fundamentem os projetos práticos em laboratório de informática. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS: Como corpus deste trabalho, iremos utilizar parte do conteúdo do Website “http://www.desvirtual.com”, da artista Giselle Beiguelmann, especificamente a obra “Wop Art” disponível na rede e alguns elementos simbólicos indispensáveis para a conclusão desse trabalho. Palavras-chave: arte; comunicação; tecnologia digital. 321 322 Resumos REFERÊNCIAS _____. Navegar no Ciberespaço: o perfil cognitivo do leitor imersivo. São Paulo: Paulus, 2005. ARANTES, Priscila. Arte em tempo de estética digital. BARROS, Diana L. P. de. Comunicação, manipulação, interação: estratégias do discurso. Associação Brasileira de Lingüística – 54ª Reunião Anual da SBPC: Conferência 4, 2001. Disponível na Internet : http://www.letras.ufrj.br/abralin/Sbpc/ conf4.htm. (ago. 2003). BEIGUELMAN, Giselle. O livro depois do livro. Giselle Beiguelman. São Paulo : Peirópolis, 2003. DE MASI, Domenico. A sociedade pós-industrial. São Paulo: Ed. SENAC, 2000. DOMINGUES, Diana (org.). A Arte no Século XXI: a humanização das tecnologias. São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1997. FLUSSER, Vilém. A filosofia da caixa preta: ensaios para uma futura filosofia da fotografia. São Paulo: Hucitec, 1985. LÉVY, Pierre. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informática. São Paulo: Editora 34, 2000. _____. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999. _____. O que é virtual? São Paulo: 34, 1996. MACHADO, Arlindo. Máquina e imaginário: o desafio das poéticas tecnológicas. São Paulo; EDUSP, 1993. _____. Repensando Flusser e as imagens técnicas. Ensaio apresentado no evento Arte en la Era Electrónica-Perspectivas de una nueva estética, realizado em Barcelona, no Centre de Cultura Contemporania de Barcelona, de 29.01 a 01.02.1997. Disponível em www.fotoplus.com/fpg/gbf002.htm. Acessado em (jul. 2008). MCLUHAN, Marshall. Os meios de comunicação como extensões do homem. São Paulo: Ed. Cultrix, 2001. MELLO, Christine. Arte e novas mídias: práticas e contextos no Brasil a partir dos 1990. Documenta 12 Magazines. Disponível em http://www.canalcontemporaneo.art.br/documenta12magazines/archives/000882.php. Acessado em (jul. 2008) REVISTA CONVERGÊNCIA DIGITAL, Convergência digital, 2006. Disponível na Internet http://www.ibcd.com.br/ conv_digital.htm. Acessado em (mar. 2006). SANTAELLA, Lúcia. Cultura das mídias. 2.ed. São Paulo: Experimento, 2000. WEBSITES http://www.artemov.net http://www.desvirtual.com http://www.itaucultural.org.br http://www.rhizome.org http://p.php.uol.com.br/tropico/html/index.shl Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa AS MÚLTIPLAS LINGUAGENS NA PRÁTICA PEDAGÓGICA INCLUSIVA DE CRIANÇAS COM NECESSIDADES ESPECIAIS NA PERSPECTIVA DE WALLON BUENO, Jocian Machado - UTP/FACHLA/Pedagogia/NUPPEI O presente estudo faz parte do corpo teórico desenvolvido para a fundamentação da pesquisa de campo futura, sobre as múltiplas linguagens na prática pedagógica inclusiva. Traz-se a reflexão de como se constitui as múltiplas linguagens no processo evolutivo da criança a favor da construção do conhecimento, a partir das teorias de Wallon e a importância de se compreender tais fundamentos na prática pedagógica inclusiva. Partindo dos estudos de Wallon e de autores que discutem a prática pedagógica e a inclusão, organiza-se uma construção teórica visando articular tais temáticas. Sabe-se, segundo Lima (2001) que é na interação com pessoas e com o meio que a criança vai construindo sua subjetividade, sua imagem corporal, percebendo características próprias e desenvolvendo sua autonomia. E nessa interação vai elaborando e constituindo diversas linguagens. A criança com necessidades educacionais especiais, a aprendizagem e o desenvolvimento estão associados à apresentação do maior número de estímulos para que ela se aproprie do meio e vá constituindo seus referenciais próprios na interação com o outro e os objetos. Para isso, necessita que essa apropriação se dê de forma integral. Wallon (2000) comenta que estudar o desenvolvimento da pessoa completa subentende basear este estudo numa perspectiva dialética, fazendo com que a relação entre a pessoa com necessidades especiais e as demais, o meio e os objetos sejam articulados e desarticulados, revelando elementos favorecedores e também dificultadores de sua assimilação direta dos estímulos do meio. Essa visão contraditória, abrangente e dinâmica traz em seu cerne os conflitos e as múltiplas manifestações da criança, que com suas potencialidades pessoais, vai se movendo, agindo, falando e manifestando-se. Desta forma, vai utilizando suas múltiplas linguagens, dentre elas a corporal, a oral, a plástica e a gráfica. Também é através destas múltiplas linguagens que o professor percebe seu aluno, e media as possibilidades de aprendizagem, oferecendo subsídios para a reflexão pedagógica deste. Referindo-se aos estudos de Wallon e tratando de temas como emoção, linguagem, pensamento e tantos outros, o referido autor fornece valioso material para a adequação da prática pedagógica ao desenvolvimento da criança. Como sua teoria tem um aspecto biológico e outro social, além do olhar dialético sobre o desenvolvimento infantil, Wallon ainda traz a questão da totalidade e da descontinuidade no desenvolvimento, ou seja, estabelece que esse desenvolvimento ocorre através de rupturas, conflitos e crises. Nesse sentido, ao compreender que o Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 323 324 Resumos desenvolvimento infantil está relacionado ao processo de maturação do caráter integrado (afetivo/cognitivo/ motor), mas que se revela através das contradições e rupturas acima citadas, Wallon apresenta a questão da totalidade como uma possibilidade de compreender a criança com necessidades educacionais especiais, já que a mesma, historicamente, vem sendo estudada a partir da fragmentação em seu desenvolvimento, na tentativa de desvelar cada parte de sua dificuldade. Tal perspectiva inclusiva inatista / determinista foi preponderante, com os atendimentos educacionais especializados imperando sobre a escola, atribuindo ao indivíduo com deficiência a origem de suas dificuldades e limitações, as quais dificilmente poderiam ser modificadas por uma ação exterior, mas apenas atenuadas (PARANÁ, 2006). Contraditoriamente a essa concepção, a perspectiva histórico-cultural apresentada na teoria do desenvolvimento preconizada por Wallon estabelece que o desenvolvimento da criança é marcado pelas alternâncias entre cognição e afeto e entre razão e emoção, na qual a mediação do adulto encontra-se presente e é determinante para a relação entre o sujeito e o meio. Na teoria de Wallon, a emoção se integra de maneira indissociável da inteligência, e ambas se expressam através do movimento, o qual, por sua vez, afetará as emoções e a inteligência. Wallon (1975) ainda diz que é a partir da sua própria experiência, das repetições, das diferenças que se apresentam, que a criança se torna capaz de distinguir e reconhecer o que está de acordo ou não com as suas expectativas e necessidades, o que a leva ao aprendizado. Nessas idas e vindas, relaciona-se com outras crianças, movimentase, agarra e manipula objetos, escuta palavras dos adultos, repete ou fala espontaneamente, imita o que observa, e vai construindo estados de representação, de pensamento e de emoção. Wallon ainda comenta que o movimento contém a representação, antes mesmo que ela possa traduzir-se em imagem ou explicitar os traços que deveriam compô-lo. E é a partir dessa primeira forma de linguagem, a corporal, que a criança vai se organizando em seu crescimento biológico e maturacional, e pelas diferentes experiências e vivências vai constituindo as linguagens oral, plástica e gráfica. Independentemente de possuir necessidades educacionais especiais ou não, toda criança estará envolvida na interação com o meio e objetos, e terá uma relação individual, e, portanto, uma aprendizagem única e pessoal. Ao se referir sobre a educação inclusiva atual, ainda nos deparamos com uma realidade educacional excludente. As estruturas escolares, na sua maior parte, priorizam os aspectos conteudistas e apresentam currículos fragmentados, com atividades voltadas a todos de forma igualitária e sem contemplar a diversidade, que é inerente a qualquer sujeito aprendiz. Corroboramos com a afirmação apresentada nas Diretrizes Curriculares da Educação Especial do Estado do Paraná (PARANÄ, 2006, p. 48) a qual aponta que “ainda que haja uma nova compreensão Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa dos saberes e práticas da Educação Especial sendo produzida, o enfoque da Educação Especial baseado no déficit e na idéia de práticas de normalização dos sujeitos, para sua migração a contextos sociais ditos comuns, sobrevivem às novas perspectivas emergentes”. Nesse sentido, as práticas pedagógicas ainda se revelam voltadas a atender a dinamicidade preconizada pelo professor, subentendendo que a apropriação do conhecimento esteja subordinada a tempos didáticos específicos, a tarefas escolares préestabelecidas segundo a análise exclusiva do professor, dentre outras questões. E concordando com Amaro e Macedo (2002), para que se construa uma escola e uma prática pedagógica inclusiva, temos que resgatar o desejo de aprender e ensinar, inovando e fazendo das queixas de produtividade e das dificuldades do aluno, e dos costumes pedagógicos parciais dos professores um motivo de superação, construindo novas práticas Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. pedagógicas, correlatas à complexidade e à diversidade do sujeito alunado. Para tal, há necessidade de entender como a criança apreende os conteúdos em seu processo de desenvolvimento, como aprende e como age sobre a realidade material, apropriando-se desse conhecimento, dentro da escola e fora dela. Com tal afirmativa, encontra-se nos estudos de Wallon apontamentos e exemplos práticos de como a criança age e constrói sua personalidade e caráter, com fundamentos que permitem delimitar que a relação entre a razão e a emoção deve se fazer presente para que as múltiplas linguagens se revelem na totalidade do sujeito, tanto para a criança com necessidades educacionais especiais quanto para aquela que segue em seu desenvolvimento, em um percurso único e pessoal. Palavras-chave: múltiplas linguagens; prática pedagógica; inclusão; Wallon. 325 326 Resumos BOLSAS PROUNI – PRIMEIROS RESULTADOS DE UMA ATITUDE PARA MINIMIZAR OS EFEITOS DA DESIGUALDADE SOCIAL Sônia Izabel Wawrzyniak - UTP Esta pesquisa tem como objetivo identificar o processo de inclusão/exclusão dos estudantes que receberam bolsas ao ensino superior, no período de 2005 a 2009, na Universidade Tuiuti do Paraná. O governo federal por meio da Medida Provisória n. 213/2004 instituiu o Programa Universidade para Todos – PROUNI – quando passa a ofertar bolsas de estudos para os cursos de graduação, em universidades particulares, podendo ser integral para quem comprovar renda familiar per capita inferior 1,5 salário mínimo, ou parcial a quem tem renda familiar per capita que não exceda a três salários mínimos. Uma comparação entre as bolsas encerradas integrais e parciais, nos anos de 2005 e 2009 permite constatar que o percentual de bolsas parciais encerradas são maiores do que as bolsas integrais. Podemos constatar a interferência da distribuição de renda, que não permite aos bolsistas parciais de 50% consigam honrar com os seus compromissos. Os alunos iniciam os seus estudos de nível superior sem ter a certeza de até quando poderão dar continuidade. Segundo Hasenbalg (2003) o ingresso no mercado de trabalho é uma realidade para a grande maioria dos nossos jovens, muitos desses alunos bolsistas exercem algum tipo de atividade remunerada. Podemos perceber que a questão econômica, realmente, é um determinante na evasão do aluno na Universidade, que o índice de encerramento de bolsas parciais supera o de bolsas integrais. Uma reflexão sobre a realidade e as concepções de exclusão/inclusão dos alunos favorecidos com as bolsas de estudos, que beneficia ex-alunos de escolas públicas e baixa renda. O que norteia esta discussão é uma questão macrossocial que tem como categoria de análise a desigualdade social, a partir da o IDH – Índice de Desenvolvimento Humano – de 2006 que apresenta como possível solução de muitos problemas brasileiros a melhor distribuição econômica. Com a intensificação da globalização vivenciada nas últimas décadas, o aumento das inovações tecnológicas, o sistema produtivo e financeiro conectados internacionalmente, vem à tona a contradição da desigualdade social. Segundo Pedro Hespanha, a exclusão social, a marginalização e “as desigualdades não foram inventadas pela globalização. No entanto, a globalização pode ser responsabilizada por amplificar as desigualdades geradas pelo próprio sistema capitalista em vez de promover a sua redução” (2002, p.168). O governo federal na tentativa de romper com essa elitização proporciona a entrada de alunos de baixa renda para a sua qualificação em curso de graduação em instituições de ensino superior particulares, por meio de bolsas de estudo patrocinadas pelo governo. Conforme Schwartzman (2004), a desigualdade de renda e pobreza podem ser combatidos com investimentos significativos na educação pública ou qualquer tipo de iniciativa Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa ou combate à pobreza, por meio da educação. O ProUni vem de encontro ao que Zago (2005) se refere à reduzida representatividade no ensino superior por parte da população de baixa renda. Não se referindo às “minorias”, mas a uma grande parcela excluída do ensino superior brasileiro, sobretudo considerando que a faixa etária de 18 a 24 anos apenas 9% freqüenta o ensino superior, um dos percentuais mais baixos do mundo. Segundo um estudo recente do Observatório Universitário da Universidade Candido Mendes revela que 25% dos potenciais alunos são tão carentes que não têm condições de entrar no ensino superior, mesmo se ele for gratuito. O que reafirma a condição de desigualdade social a que está submetida à sociedade brasileira. A desigualdade social aqui apontada como o maior problema para o crescimento econômico, atinge uma parcela da população que está excluída do conhecimento acadêmico e sem uma perspectiva de ascensão social. Com o ProUni esta população passa a ter um maior acesso ao ensino superior. Utilizando o Relatório Geral dos bolsistas – MEC, fornecido pela instituição de ensino, pode-se constatar que o número de alunos bolsistas que deixam de freqüentar os cursos escolhidos estão em seu maior índice entre os bolsistas parciais, o que indica que mesmo com as bolsas de 50% e 25% os alunos que tem como origem as classes populares sentem dificuldade em arcar com os custos do ensino superior e mais os gastos pessoais e familiares, já os que se encontram com bolsas integrais os índices de desistências são quase insignificantes. Pode-se presumir que a dificuldade para esses alunos é a questão econômica, Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. pois os resultados dos ENADEs – Exame Nacional de Desempenho de Estudantes apresentam que os alunos que entraram na universidade pelo programa tiveram médias superiores aos demais estudantes na prova de conhecimento geral. No primeiro semestre de 2009 ocorreram as colações dos 58 alunos que ingressaram nas primeiras turmas que possuíam estudantes com bolsas ProUni, nos cursos de Administração, Ciências Contábeis, Comunicação Social – Publicidade e Propaganda, Curso Superior de Tecnologia em Bioprocessos e Biotecnologia, Curso Superior de Tecnologia em Estética e Imagem Pessoal, Curso Superior de Tecnologia em Manutenção de Aeronaves, Design Bacharelado em Moda, Educação Física, Enfermagem, Geografia, História, Letras, Pedagogia, Psicologia, Relações Internacionais. Entre os quais, os cursos com maior número de bolsista foram o curso de Pedagogia com 8 formandos, de Psicologia, Geográfica, Curso Superior de Tecnologia em Bioprocessos e Biotecnologias com 7 formandos. Os cursos de Licenciaturas (Geografia, História, Letras, Educação Física e Pedagogia) perfazem um total de 31 formandos, neste período, o que pode ser justificado em decorrência do acesso através das bolsas que prevêem que professores da rede pública de ensino básico em efetivo exercício do magistério, integrando o quadro permanente da instituição e concorrendo as vagas em cursos de licenciatura, normal superior ou pedagogia. Neste caso, a renda não é considerada. Palavras-chave: desigualdade social; exclusão; inclusão. 327 328 Resumos REFERENCIAS HASENBALG, Carlos. A transição da escola ao mercado de trabalho. In: HASENBALG, Carlos; SILVA, Nelson (org.) Origens e destinos: desigualdades sociais ao longo da vida. Rio de Janeiro: Topbooks, 2003. p. 147-172. HESPANHA, Pedro. Mal-estar e risco social num mundo globalizado: novos problemas e novos desafios para a teoria social. In. SANTOS, Boaventura de Sousa (org.). A globalização e as ciências sociais. São Paulo: Cortez, 2002. SCHWARTZMAN, Simon. Pobreza, exclusão social e modernidade: uma introdução ao mundo contemporâneo.São Paulo: Augurium, 2004. ZAGO, Nadir. Do acesso à permanência no ensino superior: percursos de estudantes universitários de camadas populares. Revista Brasileira de Educação, Ago 2006, vol.11, no.32, p.226-237. ISSN 1413-2478 Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa CAMINHADA DE UMA PESQUISA: PRATICA PEDAGÓGICA E IDENTIDADE NA EDUCAÇÃO DA CRIANÇA NEGRA NA EDUCAÇÃO INFANTIL Daniele Cristina Rosa INTRODUÇÃO: Meu projeto de Mestrado intitulado “Prática Pedagógica e Identidade da Criança Negra na Educação Infantil: o que sou, aprendo através do seu olhar” nasceu das inquietações e observações realizadas durante os últimos quatro anos (2004 a 2008) nos Centros Municipais de Educação Infantil de Curitiba – Núcleo de Santa Felicidade, quando na condição de Coordenadora de Projeto, nos momentos de visita as salas de crianças de zero a três anos acompanhei e participei do trabalho das educadoras da infância. Verifiquei que absorvidas pelos rituais do cotidiano e pelas necessidades manifestas das crianças, expressam em seus diálogos falas sutis, como: “ olha que lindo este bebe, ele é negro, é o nosso chocolate, é negro... é bonzinho, não bate em ninguém.” Ao analisar estas falas questiono: Quais as relações entre as práticas pedagógicas da Educação Infantil e a Identidade da criança? Como estas educadoras vêm contribuindo, em seus fazeres, olhares e falas na formação das crianças? Pensando que a identidade não é algo inato Abramovicz (2006) aponta que na escola, trabalha-se como se não houvesse diferenças, prega-se uma igualdade entre as crianças apesar de existirem efetivamente praticas de diferenciação de caráter racial e estético. Há um desprestigio as demais culturas, entre elas a cultura africana e uma falsa cultura da inexistência do racismo na escola. Este desprestígio se configura desde o material didático a formação dos professores. Se a escola é espaço de educação, é espaço coletivo de formação, o resgate da história e da memória do povo africano é uma oportunidade formativa. É com este olhar que a Lei 10.639/2003 aprova o parecer CNE/ CP3/2004 instituindo as Diretrizes Curriculares para a Educação das Relações Étnico-Raciais e o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africanas. É importante compreender que o trabalho com as orientações Étnico-raciais, na escola, não visa exclusivamente a valorização do negro e elevação da auto-estima das crianças afro-descendentes. Tratar de elementos da Cultura e da História do povo africano e das relações é um componente que vislumbra a formação de todas as crianças na perspectiva anti-racista demonstrando que diferentes raças contribuíram para a formação do povo brasileiro, tal como ele é. Quando tratamos da construção da identidade de crianças pequenas, buscamos em Abramovicz o entendimento que: ela é a consciência que cada um de nós tem de si próprio, ao ter da sua comunidade, da sua classe social, do seu grupo de raça, de gênero, do pais onde vivemos. Consciência essa que se elabora na vida do Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 329 330 Resumos dia-a-dia, dando significado as relações que se dão na família, na comunidade, na escola, no um do trabalho. (2000,p.75) Esta consciência de si, no universo das crianças muito pequenas é constituída em espaços coletivos (Centros Municipais de Educação Infantil) pelos múltiplos olhares dos educadores e outros pares. Dessa forma, as relações estabelecidas com outras pessoas são fundamentais na construção da identidade de cada um. Quando tratamos sobre a identidade das crianças negras, vislumbramos que a Educação Infantil, como espaço formativo, deve trabalhar com vistas a desenvolver a identidade cultural e racial das crianças que dela participam. Falamos na constituição desta identidade, de praticas pedagógicas que contribuam para a constituição da mesma. Neste sentido, esta constituição esta atrelada a dimensão histórica e por vezes certa naturalização. Logo, ao abordar identidade positiva, compreendemos que esta seja a capacidade de ver-se, reconhecer seu valor e sua beleza (sua imagem) e aceitar-se diante de si e do grupo a que pertence. É a construção da sua auto-imagem. Segundo Algarve (2004), a identidade é elaborada e aperfeiçoada no decorrer da vida nos grupos a que pertencemos e para tanto a não é fixa, vive num processo em constante construção e recebendo percurso da vida influencias positivas e negativas de outros grupos e pessoas. A escola pode ser um fator de interferência na construção da identidade negra, podendo, de acordo com a forma com que se olha o negro e sua cultura, valorizar as diferentes identidades, ou, discriminá-las. Para a Educação Infantil, a especificidade da faixa etária exige um tratamento com as questões étnicas raciais que perpassam a formação plena da criança, conforme cita as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil “a criança como um ser total, integral e indivisível”. A abordagem étnico-racial na educação infantil se referencia inicialmente no cuidar e educar, no acolhimento da criança tal como ela é, “respeita a cultura, corporeidade, estética e presença no mundo” (SECAD, 2006). O entendimento de respeito traz a baila a dimensão família e religiosidade, na qual é importante perceber as diferentes nuances existentes e considerar a convivência e compreensão da diversidade. E por fim, a formação da identidade, como um elemento presente no respeito a cultura e a corporeidade, e que exigem no trato com a criança pequena olhar sensibilizado do educador. A postura, as atitudes, as intenções, as falas contribuem significativamente na formação destas crianças. Reconhecê-las em suas diferenças e singularidades; respeitá-las como seres diversos e inseridos em uma cultura é papel de profissionais que atuam com crianças pequenas. As Orientações e Ações para as Relações Étnico-Raciais aponta: a importância das interações positivas entre educadoras e crianças. Relações pautadas em tratamentos desiguais podem gerar danos irreparáveis a constituição da identidade das crianças, bem como comprometer a trajetória educacional das mesmas. (2006, p.38) SECAD (2006) Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa dependendo da forma como é entendida e tratada a questão da diversidade étnico-racial, as instituições podem auxiliar as crianças a valorizar sua cultura, seu corpo, seu jeito de ser ou pelo contrario, favorecer a discriminação quando silenciam diante da diversidade e da necessidade de realizar abordagens de forma positiva, ou quando silenciam diante da realidade social que desvaloriza as características físicas das crianças negras. OBJETIVOS: Conhecer as práticas pedagógicas na Educação Infantil e suas relações com a constituição da identidade da criança pequena de zero a três anos; - Discutir os impactos das praticas pedagógicas com crianças de zero a três anos sobre a formação da identidade na infância; - Listar práticas pedagógicas no atendimento da criança negra sob perspectiva antirracista e não discriminatória contribuitivas na formação de sua identidade. ATIVIDADES GERAIS DESENVOLVIDAS: Para realização da pesquisa várias atividades estão sendo realizadas, como: - Identificação de bairros de maior concentração de população negra em Curitiba para realização da pesquisa no Centro Municipal de Educação Infantil desta região. - Pesquisa do Centro Municipal de Educação Infantil que há maior concentração de crianças afro-descendentes e bem como educadoras negras e residentes no bairro. Realização de observação participativa, perfazendo Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. um total de trinta horas nas turmas que compõe a faixa etária de creche – zero a três anos. - Anotações de notas de campo para composição junto às observações do trabalho. - Uso de filmagens para a realização das observações como instrumento de técnica observacional. - Realização de oficina temática para os participantes da pesquisa visando a discussão e proposição de encaminhamentos quanto a prática pedagógica e a formação da identidade da criança negra. RESULTADOS ESPERADOS: O desejo é que esta pesquisa venha contribuir com os estudos dentro da temática relações etnicorraciais e educação infantil, unindo duas áreas até então distantes e sem estudos que coadunem elemento de suma importância como a identidade negra. Outra intenção é conhecer as sutilezas deste universo relacional que é a prática pedagógica de zero a três anos. Um espaço, que ainda pede muitas pesquisas, convida estudiosos a adentrar e reconhecer educadores e crianças atuando num cenário que ainda muito se desconhece como é este fazer e como se dá esta pratica. Seriam as crianças totalmente manipuladas pelos adultos? Conseguem no meio das rotinas criar seus contextos, vidas e universos isolados dos desejos adultos? Quais as práticas pedagógicas que marcam esta identidade negra, que contribuem positivamente? Elas existem como se dão? É um universo a conhecer verdadeiramente. 331 332 Resumos REFERÊNCIAS ABRAMOWICZ, A. Educação: pesquisas e prática. Campinas, Papirus, 2000 ABRAMOWICZ, Anete. Trabalhando a Diferença na Educação Infantil: propostas de atividade. São Paulo: Moderna, 2006. ALGARVE, Valeria Aparecida. Cultura Negra na Sala de Aula: pode um cantinho de africanidades elevar a auto-estima de crianças negras e brancas? 2004. 271. Dissertação (Mestrado em Educação) Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2005. CAVALLEIRO, Eliane. Do silêncio do lar ao silêncio escolar: racismo, preconceito e discriminação na educação infantil. São Paulo: Ed. Contexto, 2000. FARIA, Vitoria Libia Barreto de. Currículo na Educação Infantil: dialogo com os demais elementos da proposta pedagógica. São Paulo: Scipione, 2007. GATTI. Bernardete Angelina. A construção da pesquisa em educação no Brasil. Brasilia: Liber Livro Editora, 2007. JOAQUIM, Maria Salete. O papel da liderança religiosa feminina na construção da identidade negra. Rio de Janeiro: Pallas; São Paulo: Educ, 2001. KREUTZ, Lucio. Identidade étnica e processo escolar. Cadernos de pesquisa, n 107, p. 79-96, julho/1999. MOREIRA, Herivelto. Metodologia da pesquisa para o professor pesquisador. Rio de Janeiro: DP&A, 2006. MUNANGA, Kabengele. Superando o Racismo na Escola. 2. Ed. Ministerio da Educação, Secretaria da Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2005. Orientações e Ações para a Educação das Relações Étnico-Raciais. Brasília: SECAD, 2006. SARMENTO, Manuel Jacinto. As crianças: contextos e identidades Universidade do Minho, 1997. TRISTÃO, Fernanda Carolina Dias. Ser professora de bebes: um estudo de caso em uma creche conveniada. 2004. 213. Dissertação (Mestrado em Educação), Universidade Federal de Santa Catarina,Florianópolis, 2004 VIANA, Heraldo Marelin. Pesquisa em Educação. A observação Brasília: Plano Editora, 2003. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, MEC, 1999. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa CLÍTICO ACUSATIVO DE 3ª PESSOA E OBJETO NULO: UMA PESQUISA DIACRÔNICA SOBRE A MUDANÇA LINGUÍSTICA NO PORTUGUÊS BRASILEIRO Solange Mendes Oliveira - UTP Neste estudo, investigam-se as mudanças sintáticas diacrônicas ocorridas na sintaxe brasileira quanto à posição de objeto direto, como o progressivo abandono do clítico acusativo de 3ª pessoa (pronomes oblíquos o/a) e o consequente aumento no uso do objeto nulo (omissão do objeto direto), com o objetivo de verificar se essas mudanças realmente se deram na segunda metade do século XIX, época em que, presumivelmente, ocorreram as transformações lingüísticas no português do Brasil. Para isso, além da pesquisa teórica, analisam-se os dados que compõem o corpus: textos escritos em jornais do Paraná na segunda metade do século XIX. Trabalha-se com a hipótese de que o uso do clítico acusativo está condicionado ao traço [+animado, +específico/referencial] de seu antecedente, enquanto o do objeto nulo, ao traço [-animado, +específico/referencial] de seu referente. A pesquisa está assim organizada: A seção 1 aborda os estudos de Mattos e Silva (2003, 2004), Houaiss (1992), Ilari (2006) e Naro e Scherre (2007) sobre a formação histórica do português brasileiro (PB). Segundo os autores, na ocasião do descobrimento do Brasil, viviam no país cerca de 6 milhões de indígenas que falavam cerca de 340 línguas. Esse multilingüismo seria enriquecido mais tarde pela presença do elemento africano, trazido à força a partir de 1.549. Para Mattos e Silva (2004), até 1850, a população branca nunca ultrapassou 30% dos habitantes – isto indica que os 70% de negros e seus descendentes adquiriram a língua do colonizador numa situação de transmissão irregular ou de aquisição imperfeita, já que tinham a língua portuguesa como segunda língua. O modelo da língua-alvo era, ainda, defectivo, pois o PB culto só começa a definir-se da segunda metade do século XVIII para cá, quando o Marquês de Pombal, em 1757, define o português como a língua oficial da colônia e implementa o ensino leigo no Brasil, incentivando o ensino da língua, antes preterido pelos jesuítas em função da catequese, em favor da língua geral de base tupinambá, e do latim. Desde o século XVI, a política seguida no Brasil para com os negros foi matadora de suas línguas, pois aqui chegados, eram separados, de modo que não ficassem juntos nem por línguas, nem por etnias. Esse processo fez com que o Brasil, já no início do século XIX, provindo de centenas de línguas, apresentasse a sua atual fisionomia linguística: uma língua falada comum com diversificações dialetais horizontais e verticais (Houaiss, 1992). O Brasil Colônia teve poucas escolas e poucos letrados; na verdade, não havia escolarização no Brasil até o século XVIII. Passado um século Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 333 334 Resumos da implantação da política pombalina, já nos finais do Brasil imperial, a situação da instrução regular no Brasil apresentava os seguintes dados do primeiro recenseamento geral do Brasil de 1872: em 1872, entre os escravos, o índice de analfabetos atingia 99,9% e entre a população livre, aproximadamente 80%, subindo para mais de 86% quando consideradas as mulheres. A população estimada era de 4.600.000 milhões. Havia apenas 12 mil alunos matriculados em colégios secundários e calcula-se que chegavam a 8 mil o número de pessoas com educação superior. Um abismo separava, pois, a elite letrada da grande massa de analfabetos e gente com educação rudimentar. Esta situação da escolarização ainda persistia um século depois: nos anos 1990, apenas 10% da população brasileira alcançavam o nível superior (Houaiss 1992). A l í n g u a p o r t u g u e s a n o B r a s i l , p o r t a n t o, predominantemente nas suas variantes populares e vernáculas, deve as suas características, em geral simplificadoras em relação ao português europeu, tanto no plano sintático como fônico, à forma como foi aprendida pela massa populacional predominante ao longo do período colonial: como segunda língua, com modelos defectivos da língua-alvo, na oralidade, sem o controle normativo da escolarização. Isto ocasionou a reestruturação do português europeu, que começou a chegar aqui em 1500. O português brasileiro, profundamente marcado pelas influências indígenas e africanas seguiu, ao longo do tempo, uma deriva própria; ao mesmo tempo, outra variedade do português, usado em contextos oficiais e falado por uma pequena parcela da população, continuou alimentando-se de influências européias. No início do século XX, a estrutura sintática do português do Brasil apresentava as seguintes mudanças estruturais em relação ao português europeu: a) uso de ele acusativo: eu vi ele; b) uso do objeto nulo, isto é, omissão do objeto direto quando ele consistisse num pronome oblíquo átono: eu vi Ø (eu a vi); c) uso de mim em lugar de eu na função de sujeito: para mim fazer; d) uso do pronome se como reflexivo universal: eu se lembro; e) uso de ter existencial: tem uma pessoa lá fora; f) ampliação das perífrases verbais: vou falar em lugar de falarei; g) falta de concordância de número entre constituintes do sintagma nominal: as pessoa magra; h) falta de concordância de número entre o verbo e o sujeito: tava lá as pessoa (Naro e Scherre 2007). A seção 2 aborda as pesquisas de Cyrino (1996, 1997), Nunes (1996) e Galves (2001) sobre as variantes do objeto direto anafórico. Essas pesquisas mostram que a mudança no uso dos clíticos abrange ainda outro aspecto: sua posição mudou - a próclise passou a ser a tendência geral. Cyrino (1997) observa que o clítico neutro, usado para substituir uma oração (“O caso he este; dir-vo-lo-hei”), foi o primeiro a desaparecer do PB. O segundo a desaparecer foi o clítico o quando retoma um antecedente [+masculino/-animado] e substituído por uma categoria vazia (“Eu vi Ø”). Por Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa último, é o clítico acusativo de 3ª pessoa com antecedente [+animado] que cai em desuso e é substituído pelo pronome tônico ele/ela (“Eu vi ele”). Para Nunes (1996), uma mudança na direção da cliticização fonológica – da esquerda para a direita, que não permite o licenciamento do onset do clítico acusativo – começou a se processar em meados do século XIX, ocasionando a queda progressiva do clítico de 3ª pessoa. A direção da cliticização fonológica do PB atual permite que outros clíticos, exceto o de 3ª pessoa, possam ocorrer em início de sentença, generalizando, assim, o uso da próclise (“Me acorde às 7:00 horas”; “*O acordo às 7:00 horas”). Esse sistema inovador, por sua vez, abriu caminho para duas novas construções que substituíram a antiga construção com clíticos acusativos de 3ª pessoa: construções com objeto nulo e construções com pronome tônico na posição de objeto direto (“Eu devolvi [Ø] para o João”; “Eu devolvi ele para o João”). Já Galves (2001) atribui o desaparecimento do clítico acusativo de 3ª pessoa e o surgimento do objeto nulo ao enfraquecimento da flexão verbal no PB atual, pois com uma concordância fraca, o clítico acusativo, por ser o que mais apresenta traços de concordância, deixa de ser legitimado. O enfraquecimento da concordância no PB e as mudanças na posição dos clíticos causaram então uma reorganização lexical no sistema de pronomes: os pronomes eu/ele/você começam a aparecer em qualquer posição, inclusive na posição objeto. ExplicaTuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. se, assim, como é legitimado o pronome tônico ele/ ela em posição objeto. Em suma, com a mudança no posicionamento dos clíticos, formas alternativas como o objeto nulo e o pronome tônico passaram a substituir o clítico de 3ª pessoa, provocando, assim, uma diminuição constante no uso deste pronome. A seção 3 apresenta os objetivos da pesquisa, a metodologia, os critérios para a seleção dos dados, o levantamento quantitativo quanto ao preenchimento das variáveis do objeto direto anafórico de 3ª pessoa e os condicionamentos lingüísticos que atuaram na realização dessas variáveis. Entre os grupos de fatores que podem condicionar a variáveis, foram considerados: (i) grupos lingüísticos de natureza semântica, como animacidade do antecedente, especificidade e referencialidade do referente; (ii) grupos lingüísticos de natureza morfológica, como o uso de tempos verbais simples ou compostos: [Aux + inf], [Aux + part] ou [Aux + ger]; (iii) grupos lingüísticos de natureza sintática, como a posição do clítico (próclise ou ênclise). Para a análise dos dados, seguiu-se a proposta de Kato e Tarallo (1988), que une a Sociolingüística de Labov (1972) – para a ordenação, quantificação e análise dos dados - à Teoria Gerativa de Chomsky (1981) – como suporte teórico para a formulação de hipóteses e escolha de fatores linguísticos condicionadores resultando na Variação Paramétrica ou Sociolingüística Paramétrica. O levantamento ainda parcial dos resultados estatísticos quanto ao preenchimento das 335 336 Resumos variáveis do objeto direto permite tecer as seguintes considerações: nos jornais escritos no Paraná durante a segunda metade do século XIX, o clítico acusativo foi a estratégia preferida para a retomada de um objeto direto anteriormente citado em 74,5% das ocorrências. Quanto à natureza semântica do antecedente, o traço [+animado] – 87,5% das ocorrências – e o traço [+específico/referencial] – 90% das ocorrências – mostraram-se relevantes para o condicionamento do clítico acusativo. A natureza morfológica do verbo também se mostrou um fator condicionador do clítico acusativo, já que do total de ocorrências, 81,3% estão marcadas pelo tempo composto [Aux + inf]. Já o traço [-específico] do antecedente mostrou-se relevante para a ocorrência do objeto direto nulo em 53% das ocorrências. Este resultado comprova a nossa hipótese inicial quanto à opção pelo clítico acusativo para retomar um antecedente [+animado, +específico/ referencial] e pelo objeto nulo para um antecedente [-animado]. Os resultados, ainda que parciais, sugerem que as ocorrências da variante objeto nulo são resultado de uma mudança gramatical em processo, e não apenas de uma simples variação na língua, pois nota-se um aumento significativo no uso dessa variante no decorrer da segunda metade para o final do século XIX. Palavras-chave: clítico acusativo de 3ª pessoa; objeto direto nulo; mudança lingüística. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 337 Pesquisa CULTURA CURITIBANA: QUESTÕES DE INVISIBILIDADE Maria Cristina Mendes - UTP pelos caminhos que ando um dia vai ser só não sei quando Paulo Leminski Quando se analisa a relação entre a incompletude da pintura e sua relação com o meio cultural no qual ela se insere, percebe-se que, algumas questões, mesmo que transversais à pesquisa, se destacam e se mostram relevantes. O silêncio que permeia a produção artística local costuma invadir as salas de aula no momento de se estabelecer referências teóricas e imagéticas. Investigar esta invisibilidade curitibana, compreender suas raízes e analisar possíveis estratégias de reversão deste processo, é o que se propõe neste artigo. Curitiba, a capital do Estado do Paraná, se destaca internacionalmente pela atenção dedicada aos eventos ligados à cultura: temos um público esclarecido e espaços culturais mais do que adequados. Os curitibanos são reconhecidos por sua capacidade de discernimento e critério em relação aos valores dos produtos culturais. Dentre as características marcantes de sua identidade cultural, entretanto, está o mito da autofagia. Os curitibanos tendem a menosprezar o trabalho de seus concidadãos. Os produtores culturais locais são cercados pela invisibilidade pública, o que dificulta seu destaque na cena nacional. Atribui-se a origem deste fato à composição étnica de sua população, formada por imigrantes, em sua maior parte, italianos, poloneses e alemães.Eles partiram da Europa no início do século XIX e aqui se mantiveram arraigados às suas tradições, impossibilitando uma integração cultural mais produtiva. Até meados do século XX, eles não formavam um grupo coeso e as duas Guerras Mundiais que ecoavam no território nacional contribuíram para a desunião doa cidadãos. Para minorar algumas das divergências, priorizouse o ensino da língua portuguesa nas escolas, mas foram mantidos os clubes sociais onde as danças folclóricas desempenhavam o papel de mantenedoras dos costumes dos descendentes dos imigrantes. A política enfatizava a idéia de cultura nacional, enquanto alguns movimentos artísticos, como o Paranismo dos anos 1930, procuravam desvendar a personalidade nacional. De acordo com alguns depoimentos de personalidades ligadas à cultura curitibana, como o poeta Paulo Leminski e o escritor Cristovão Tezza, esta característica é uma especificidade que tornou a cidade cada vez mais receptiva apenas para as produções culturais vindas de outras localidades, Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 338 Resumos especialmente as do eixo Rio-São Paulo. Os cineastas Valêncio Xavier e Sylvio Back têm opiniões antagônicas: o primeiro nega a existência do processo autofágico e o segundo afirma que Curitiba é uma cidade madrasta. Jamil Snege escreveu um livro cujo título é: Como se tornar invisível em Curitiba, onde trata, com certo humor, do problema da visibilidade enfrentado pelas pessoas que se destacam na cidade. Os anos 1970 foram anos de arejamento e de efetiva concretização da nossa modernidade artística. A Fundação Cultural de Curitiba, criada na gestão do prefeito Jayme Lerner foi inaugurada em 1973, e deu início a uma série de espaços destinados à produção de cultura. A revitalização do setor histórico no Largo da Ordem contribuiu, também, para a retomada do afeto pela história da cidade. ... os artistas plásticos que denotam a marca dos 70 tiveram um forte convívio com os companheiros de criação, entre cinema e cartunistas, arquitetura e poetas, compositores e urbanismo, escritores e publicidade, ingredientes adequados para fazer ferver o caldeirão da criatividade, cujo fogo apresentava dosadas parcelas de política da administração e dos veículos de comunicação, tendo como limitação um Estado autoritário. Naquele ambiente a criatividade, quando não a atividade mais necessária, era também a sobrevivência. (FONTOURA, 1986, pp.138 e 139) Os encontros de Arte Moderna, criados por alunos da Escola de Música e Belas Artes do Paraná, promoveram o convívio entre distintos segmentos da cultura e possibilitaram um profícuo diálogo com os profissionais de renome nacional. Na sua quinta edição, no ano de 1973, “Paulo Leminski faz a apologia da semiótica e do dadaísmo”. (ARAÚJO, 2006, p. 131). Neste Happening, categoria inovadora do procedimento artístico para a época, a junção entre texto e movimento, ao definir o caráter plástico do espaço e do tempo, indica a hibridação de linguagens que caracteriza os caminhos do pensamento sobre a cultura na pósmodernidade. Algumas pessoas argumentam que o “hibridismo” e o sincretismo - a fusão entre diferentes tradições culturais – são uma poderosa fonte criativa, produzindo novas formas de cultura, mais apropriadas à modernidade tardia que às velhas e contestadas identidades do passado. Outras, entretanto, argumentam que o hibridismo, com a indeterminação, a “dupla consciência” e o relativismo que implica, também tem seus custos e perigos. (HALL, 2006, p. 91) No mundo atual, onde a instantaneidade das comunicações rege a informação, questiona-se a possibilidade de superação deste mito. De acordo com Stuart Hall, as identidades se tornam cada vez mais hibridizadas, e as transformações culturais geradas pelos novos meios de comunicação estão em constante transformação. Se os processos de globalização são temidos pela possibilidade de homogeneização das distinções culturais, os curitibanos anseiam por ver o fim de sua invisibilidade, ou ainda, desejam que sua cidade seja reconhecida não apenas por sua qualidade urbanística, mas também por sua Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa produção artística. Transformar Curitiba em um pólo turístico cultural é um procedimento eficaz, especialmente num período em que a cultura se confunde com o entretenimento e a espetacularização da vida assume amplas proporções. O caráter receptivo da cultura curitibana, quando aliado à ausência de uma produção interna marcante, faz com que os caminhos culturais se transformem muna via de mão única. Importamos a cultura nacional e internacional sem deixarmos nelas nossa marca. Será que realmente não possuímos ou uma produção de qualidade ou não sabemos como lançar mão de meios que permitam a veiculação da produção local? Há também quem afirme que a qualidade de nossa produção é tão potente que nos destruímos internamente, antes mesmo de termos a chance de mostrar o trabalho para o restante do país. Se este fato for verdadeiro e já que, reconhecidamente nossa produção consegue perceber o grau de excelência das obras culturais, deveríamos ter produzido, pelo menos, uma crítica cultural que tivesse repercussão nacional. Isto também, até agora, não aconteceu. O reconhecimento dos talentos locais e o resgate dos produtores culturais que até hoje não tiveram uma visibilidade de acordo com a qualidade de sua obra, entretanto, são metas que precisam de estratégias políticas eficazes para a superação deste entrave. Buscase, com este artigo, propiciar um espaço adequado para este tipo de discussão, a fim de se compreender o Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. reduzido número de artistas curitibanos que tem seu reconhecimento público consagrado. Sabemos que diversos músicos curitibanos têm uma carreira bastante relevante no exterior enquanto permanecem no anonimato em sua própria cidade. No que se refere, mais especificamente ao campo das Artes Visuais, temos pouca representatividade na Bienal Internacional de São Paulo e muito menos no exterior. E isso acontece ao mesmo tempo em que somos a sede do terceiro maior museu de arte da América Latina, o Museu Oscar Niemeyer. Os artistas consagrados nacionalmente dividem-se em pequenos grupos os quais se ancoram na tradição autofágica dando continuidade aos processos de invisibilidade, agora numa escala muito mais abrangente. O silêncio que ronda a produção dos artistas é mais significativo, nesta análise, do que o alarde passageiro por busca de novidades que, num segundo olhar, costumam se mostrar desgastadas. Em Curitiba, aprendemos a compreender o silêncio, não apenas como o silêncio do outro, mas como nosso próprio silêncio interior, num apaziguamento dos sentidos, que, ao mesmo tempo em que propicia os processos solitários da criação, inibe a crença na potência deste mesmo trabalho diante da cena cultural em que ele deve se inserir. Palavras-chave: identidade cultural; autofagia; arte. 339 340 Resumos REFERÊNCIAS ARAÚJO, A. Dicionário das Artes Plásticas no Paraná. Curitiba: Ed. do autor, 2006. Ed. Monte Santo, 1986. FONTOURA, Ivens. Explosão criativa durante os anos setenta in: Tradição/Contradição. GÓES, F. e MARINS, A. (sel.). Melhores poemas de Paulo Leminski. SP: Global, 2001. HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2006. http://www.cristovaotezza.com.br/entrevistas/ acesso em 04/04/2009 JUSTINO, Maria José. Modernidade no Paraná: do Andersen impressionista aos anos 60 in: Tradição/ Contradição. Ed. Monte Santo, 1986. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa DISCURSO, SUBJETIVIDADES E CUIDADO DE SI: PERSONAGENS PÚBLICOS “LOUCOS” EM CURITIBA, SÉCULO XX Maria Ignês Mancini de Boni - UTP Curitiba no século XX passou por uma série de transformações que alteraram sua vida pacata e ordeira como era definida por estudiosos. Desde o início do século sofreu problemas como adensamento populacional, falta de moradias, insalubridade e outros que eram contornados mais em nível de discurso do que de forma prática e efetiva. O espaço foi remodelado em diversas ocasiões no decorrer do período, seguindo ou não planos urbanísticos, visando transformá-la em uma cidade moderna e “civilizada”. Foi assim, em 1913, com Candido de Abreu; na década de 1920, com Moreira Garcez, posteriormente, com o Plano Agache, e com a criação do IPPUC, em 1965, estabeleceram-se as bases para a maior reforma realizada pelos seguidos mandatos de Jayme Lerner à frente da Prefeitura (1972/1989). Com isso, a “Cidade Sorriso” passa por transformações físicas que modificam suas feições. As alterações propostas visavam a construção de uma urbe que transformasse a velha Curitiba provinciana em uma cidade moderna, voltada para o século XXI.Neste espaço urbano, para além da “civilização”, viveram personagens populares que por ousarem transgredir as regras e normas urbanas e éticas foram taxados de excêntricos, loucos, folclóricos. Eram o Simão Bialê, a Maria Ballão, a Negra Luiza, a Maria do Cavaquinho e também e Rubens Rilque ou “Gilda”, dentre outros. Percorrer as biografias destes personagens em sua relação com a cidade é o propósito desta pesquisa, sob perspectiva teórico-metodológica de Michel Foucault, abordando conceitos como discurso, subjetividades, o cuidado de si e estética da existência. O trabalho tem como objetivos, analisar as relações entre a história de Curitiba no século XX a partir das subjetividades pessoais de “out siders”, ou pessoas fora das normas, com as normas vigentes e a ética do momento estudado, discutir o referencial teórico metodológico foucaultiano acerca de discurso, subjetividade, cuidado de si e estética da existência, compreender o universo político, normativo e ético da cidade de Curitiba no século XX e estudar as trajetórias de vida de personagens especiais no contexto normativo e ético de Curitiba no período estudado. A proposta metodológica inside na aplicação de formulações como discurso, subjetividade, cuidado de si, tecnologias do eu ética e estética da existência, realizadas pelo filósofo Michel Foucault em seus estudos sobre a cultura ocidental. Dessa forma, discurso é tomado como um conjunto de enunciados que provêm de um mesmo sistema de formação, como discurso clínico, discurso pedagógico, discurso econômico, constituído por Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 341 342 Resumos um número limitado de proposições para as quais se pode definir um conjunto de condições de existência. A partir do conjunto de discursos, Foucault procurava entender a maneira como nos subjetivamos, ou seja, como praticamos as formas de atividades sobre nós mesmos e nos tornamos sujeitos de desejo. No entendimento da subjetivação que resultou no sujeito moderno, Foucault analisou um conjunto de tecnologias, cada uma delas representando uma matriz prática, a saber: as tecnologias de produção; as tecnologias de sistemas de signos; as tecnologias de poder e as tecnologias do eu. Para este estudo, interessam mais de perto as tecnologias do poder: “...que determinam a conduta dos indivíduos, submetem-nos a certos tipos de fins ou de dominação, e consistem numa objetivação do sujeito”, e as tecnologias do eu que “permitem aos indivíduos efetuarem, por conta própria ou com a ajuda realizarem modificações sobre seu corpo e sua alma, pensamentos, conduta ou qualquer forma de ser, obtendo, assim, uma transformação de si mesmo, com o fim de alcançar certo estado de felicidade, pureza, sabedoria e imortalidade.” Na continuação de seus estudos, Foucault dirigiu-se à ética, reelaborando esse conceito assim como o de moral e criou o de estética da existência. Em suas palavras, ética deixa de ser o estudo dos juízos morais referentes à conduta humana, para ser o modo como o indivíduo se constitui a si mesmo como sujeito moral de suas próprias ações. O termo ética, refere-se a todo o domínio da constituição de si mesmo como sujeito moral; faz referência à relação consigo mesmo; é uma prática, um ethos um modo de ser. Estética da existência deve ser entendida como práticas refletidas e voluntárias através das quais os homens não somente fixam regras de conduta, como também procuram transformar-se, modificar-se em seu ser singular e fazer de sua vida uma obra que seja portadora de certos valores estéticos e responda a certos critérios de estilo. Mas, segundo o autor, para trabalhar com estas práticas, é preciso ter em mente uma ressignificação do conceito de moral que ele entende de dois modos: o primeiro como um conjunto de valores e regras que são propostos aos indivíduos e aos grupos, de maneira mais ou menos explicita, por diferentes aparatos prescritivos (a família, as instituições educativas, as igrejas, etc); o segundo como os comportamentos morais dos indivíduos na medida em que se adequam ou não as regras que lhe são impostas,ou seja, um código moral é uma moralidade de comportamentos. A posse desse referencial teórico permite que se lance um novo olhar sobre trajetórias de vidas singulares relacionadas à historiografia e à história de Curitiba, estas últimas com base em estudos como os da própria autora da pesquisa, de Erivan Karvat, Antonio César Santos, Denison de Oliveira, entre outros. Essa busca, inicia-se pelo estudo de Curitiba, no período de 1970 e 1983, quando a cidade foi palco de diversas refor mulações urbanas, transformando-se, vertiginosamente, mas não a Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa sociedade.Neste cenário contraditório, aparece a figura de Rubens Aparecido Rinque ou “Gilda” sempre visto como um ser excêntrico, folclórico e louco. Seu jeito de tratar as pessoas de forma direta e franca, mesmo correndo riscos como o de ser maltratado não apenas verbalmente como também fisicamente (inclusive pela policia), permite mostrar como esse personagem recriou sua trajetória que pode ser percebida como técnica de subjetivação, num processo de invenção de um novo modo de existir.De temperamento forte, vestia-se de mulher e sua sobrevivência nas ruas se dava às custas de pequenas chantagens, as quais praticava com muita irreverência. “Uma moeda ou um beijo” era seu mote de aproximação, constrangendo o cidadão abordado, diante dos transeuntes que paravam para aguardar o desfecho. Também usava o subterfúgio de, a mando de alguém, amigo ou inimigo do cidadão desatento, aplicar-lhe um sonoro beijo; o que lhe resultou em inúmeras corridas para fugir da sanha de suas vítimas, como também várias reclamações à policia por parte dos desafetos que pediam ações contra aquele indivíduo abusado. Esse personagem grangeou muitos detratores a começar pelos senhores participantes da “Boca Maldita”, espaço imaginário criado na Avenida Luis Xavier, que juntamente com a Rua XV de Novembro, representava os espaços de maior vibração da cidade. Esse espaço, ocupado por aposentados, políticos ou desocupados, denominou-se tribuna Independente de Curitiba, mas acabou institucionalizado Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. pelo poder moral e lá Gilda era persona non grata, pelos constrangimentos que causava a algum freqüentador ilibado. Ao mesmo tempo, possuía muitos admiradores representados por estudantes, jornalistas, intelectuais, que a consideravam a “rainha da XV”, onde reinou por vários anos, e era todo alegria quando travestido de mulher dançava em frente as lojas de discos ou defronte os cinemas e teatro; “rainha do carnaval” que adorava e foi porta-bandeira de um bloco que a homenageava. Travestia-se, mas em uma entrevista a um jornal afirmou “não sou de transar com gente do mesmo sexo. Tenho vontade de me travestir, travisto-me e curto o lance na maior.Pena que não me compreendam”. Assim, “Gilda” é um personagem interessante de ser estudado se aliada à sua biografia, e independente de sua sexualidade, estudar-se a moral da cidade que a acolheu, as relações de poder e por que não sua ética, sua subjetividade e sua arte de viver. Embora vivendo numa cidade preconceituosa, provinciana, enfrentou o poder estatizado, a polícia, o institucionalizado “Boca Maldita”, e as suas próprias condições econômicas adversas para “curtir” seu gosto em travestir-se e divertir-se. Não se vinculou às regras dos cidadãos ilibados, comendadores da Boca, mas às suas próprias, naquilo que Foucault entende por estética da existência, ou uma maneira de viver na qual o valor moral não provém da conformidade com um código de comportamentos nem de um trabalho de purificação, mas de certos princípios formais e gerais no uso dos prazeres, na distribuição que se faz deles, nos 343 344 Resumos limites que se observa na hierarquia que se respeita. Morreu em março de 1983 e recebeu diversas homenagens, nos anos subseqüentes, de grupos teatrais e cronistas da cidade. Rubens Rinque fez de sua vida um reflexo de liberdade que percebia como jogo de poder. Ele apenas gostava de afrontar a sociedade curitibana que se queria moderna e perfeita e por isso foi alvo de vigilância e perseguição. Desmascarou a hipocrisia com sua “arte da existência”. Moldou sua vida a partir de critérios próprios que demonstravam seu compromisso ético com o presente que vivia. Palavras-chave: discurso; subjetividade; estética da existência; Curitiba. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa EDUCAÇÃO DO CAMPO COMO OBJETO DE ESTUDO NO CONTEXTO DAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS Maria Antônia de Souza Carmem Silvia Machado Mariangela Hoog Cunha Patrícia Correia de Paula Marcoccia Valdirene Moraes Jaquelne Kugler Tibucheski Daniel Gonçalves Pinto Márcia Rogelaine Souza Nosso objetivo com este texto é caracterizar a educação do campo como objeto de estudo no contexto das práticas pedagógicas. A discussão é fundamentada na experiência em desenvolvimento no Grupo de Estudos Prática Educativa e Movimentos Sociais do Campo, no contexto da Linha de Pesquisa Práticas Pedagógicas: Elementos Articuladores, do Programa de Pós-Graduação, Mestrado em Educação, Universidade Tuiuti do Paraná (UTP). As primeiras pesquisas discutiram a prática do professor em escola do campo (LOPES, 2005), sendo uma delas caracterizada como Escola Itinerante (IURCZAK, 2007). Ambas as pesquisas analisaram os desafios postos à prática pedagógica, e que se referem ao estabelecimento de relações entre os conteúdos escolares e as experiências de vida dos trabalhadores rurais. Focalizaram a atualidade do pensamento de Paulo Freire no que tange à construção de uma concepção dialógica de educação, cuja intencionalidade política voltase para a transformação sociocultural. Um trabalho de conclusão de curso defendido em 2007 (CAPOBIANCO, 2007) analisou as principais demandas dos movimentos sociais do campo no estado do Paraná, e as ações governamentais efetivadas desde 2003, quando da criação da Coordenação da Educação do Campo, na Secretaria Estadual de Educação. A pesquisa revela que há iniciativa governamental voltada à educação do campo, a exemplo da elaboração das Diretrizes Curriculares da Educação do Campo, realização de Seminários estaduais para debate das políticas públicas e desenvolvimento de cursos de capacitação para os professores que trabalham em escolas do campo. As pesquisas desenvolvidas na referida Linha de Pesquisa têm como objeto de estudo a prática pedagógica com as seguintes especificidades: Uma delas buscou compreender a expressividade do corpo na prática pedagógica (MACHADO, 2009); a outra analisa a prática pedagógica em classe multisseriada, numa das Ilhas do litoral paranaense (CUNHA, 2008). Uma terceira pesquisa analisa o ensino da Geografia nas escolas Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 345 346 Resumos do campo, no município de Araucária/ PR (PINTO, 2008). Existem quatro pesquisas em desenvolvimento inicial no grupo. A primeira descreve a realidade da inclusão escolar dos alunos com necessidades educativas especiais nas escolas do campo. A segunda analisa a prática educativa dos egressos de um curso de Pedagogia do Campo. A terceira estuda a história da prática escolar rural no município de Araucária. A quarta descreve as ações governamentais no período de 2007 a 2009 no estado do Paraná. Deste modo, a educação do campo aos poucos marca lugar no curso de Pedagogia da UTP e no Mestrado em Educação. Como produto dessas pesquisas e como demanda do curso de Pedagogia, no segundo semestre de 2008 teve início a disciplina Educação do Campo, com aproximadamente 40 alunos matriculados. É uma iniciativa que visa discutir aspectos da realidade rural do Brasil e caracterizar a educação do campo do ponto de vista das experiências em desenvolvimento no Brasil e dos documentos existentes nacional e localmente. Tomando distanciamento da experiência local, é possível mencionar o crescimento dos Grupos de Pesquisa que se dedicam ao estudo da educação e dos movimentos sociais do campo. Estudo de Schaedler (2008), em sua pesquisa de Iniciação Científica sob nossa orientação, constatou a existência de 40 Grupos de Pesquisa que têm como palavras-chave educação do campo e educação e movimentos sociais do campo. Conforme registramos em Souza (2008): Inúmeras universidades têm grupos de pesquisa voltados ao debate da educação do campo e dos movimentos sociais. Em sua maioria são grupos que se intitulam por Educação e Trabalho ou por Educação e Movimentos Sociais. Como linhas de pesquisa há registro de formação de professores, prática educativa, educação de jovens e adultos, educação do campo etc. Constatamos que um levantamento de dados, com resultados apresentados em <http://www. encontroobservatorio.unb.br/metodologia.html>, cujo acesso foi realizado em 29/07/2008, revela que: 1) 117 teses e 615 dissertações indicam entre suas palavraschaves a educação rural, desde o ano de 1987. 2) 147 Grupos de Pesquisa estão cadastrados no Diretório de Grupos do CNPq. Eles incluem entre as suas palavraschaves a educação do campo, educação indígena, educação quilombola, educação ribeirinha e educação rural. 3) São grupos cuja localização ocorre, em ordem de predominância, na Região Norte; Região Nordeste, Região Sudeste, Região Centro-Oeste e Região Sul. São grupos que integram 1.088 pesquisadores e 1.039 estudantes. No ano de 2005 foi realizado o I Encontro Nacional de Pesquisadores em Educação do Campo, na cidade de Brasília, que reuniu cerca de 70 pesquisadores. A segunda edição do Encontro ocorreu em agosto de 2008, na Faculdade de Educação da UnB. No ano de 2007 foi criado o Observatório da Educação do Campo, na condição de projeto aprovado pelo Programa do Observatório da Educação, CAPES e FINEP. Conforme exposto em <http://www. encontroobservatorio.unb.br/metodologia.html>, cujo Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa acesso foi realizado em 29/07/2008, os objetivos do Observatório da Educação do Campo são: “realizar pesquisas sobre as políticas de Educação Superior desenvolvidas pelas universidades direcionadas aos grupos sociais rurais, produzindo subsídios para a formulação de políticas públicas voltadas para a promoção do desenvolvimento sustentável do campo”. Foi um projeto proposto originalmente por três universidades federais: Brasília, Sergipe e Rio Grande do Norte. No ano de 2008, o número de universidades foi ampliado para sete universidades, com a integração do Ceará, Paraíba, Pará e Minas Gerais. Nota-se que a Região Nordeste tem expressividade quanto ao número de Grupos de Pesquisa. Diante do exposto, cabe concluir que a educação do campo tem marcado as pesquisas em educação, tanto nos Grupos de Pesquisa, quanto nos eventos científicos. Deve-se mencionar que os pesquisadores despertam o interesse para a dinâmica societária, cujos sujeitos centrais vêm sendo movimentos sociais, universidades e o Estado. Encontra-se em constr ução conhecimentos educacionais que revelam a necessidade de uma política pública que contemple os sujeitos trabalhadores. São conhecimentos que anunciam as potencialidades dos movimentos sociais e das instituições universitárias na proposição e efetivação da educação do campo. Estas potencialidades são reveladas pela presença de pesquisadores que conhecem “de perto” a realidade das escolas do campo e dos movimentos sociais, que Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. estão envolvidos em projetos de extensão em educação do campo. Pela crescente produção acadêmica e também a produção pedagógica dos movimentos sociais, materializadas em cadernos de orientação didática e de conteúdos. Ainda, as pesquisas denunciam a longa trajetória de marginalização da educação rural, bem como as fragilidades infra-estruturais, a exemplo do transporte escolar, da precariedade das escolas, da distância entre escola e residência dos alunos. As pesquisas revelam uma prática educativa construída com o esforço pessoal de muitas professoras que ousam permanecer na escola do campo, quando não são moradoras no lugar. Assim como os alunos, essas professoras viajam muitos quilômetros, para chegar à escola. Para finalizar, é pertinente lembrar o depoimento de uma aluna da graduação, ao afirmar que a escola em que trabalha é urbana, mas recebe muitos alunos do campo. Em nenhum momento a equipe pedagógica pensou em discutir o fato – origem dos alunos e realidade rural - no contexto do Projeto Político Pedagógico. Seria esta uma escola do campo, dado o grande número de crianças que nela estuda? É uma questão que merece debate na formação de professores, pois estará diretamente ligada à prática pedagógica. A educação do campo, como objeto de estudo, coloca na pauta do debate acadêmico o acesso e permanência na escola pública; a qualidade e a finalidade política dos conteúdos escolares e o processo de formação de professores, com a sua marca urbana e com as suas potencialidades para superá-las. 347 348 Resumos REFERÊNCIAS CABOBIANCO, Melody Rotta. Educação do campo: demandas dos movimentos sociais e ações governamentais no Paraná. Trabalho de Conclusão de Curso. (Graduação em Pedagogia) - Universidade Tuiuti do Paraná. Curitiba, 2007. CUNHA, Mariangela Hoog. O ensino em classes multisseriadas numa comunidade de Ilhéus, Guaraqueçaba, Estado do Paraná. Projeto de Pesquisa (Mestrado em Educação) - Universidade Tuiuti do Paraná. Curitiba, 2008. IURCZAK, Adelmo. Escola Itinerante: Uma experiência de educação do campo no MST. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Tuiuti do Paraná. Curitiba, 2007. LOPES, Liliane Moreira. A prática do professor da escola rural. Trabalho de Conclusão de Curso. (Graduação em Pedagogia) - Universidade Tuiuti do Paraná. Curitiba, 2005. MACHADO, Carmem Silva. Educação do Campo: a expressividade dos corpos na prática educativa. Projeto de Pesquisa. (Mestrado em Educação) - Universidade Tuiuti do Paraná, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Curitiba, 2008. OBSERVATÓRIO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO. Disponível em <http://www.encontroobservatorio.unb.br/ metodologia.html>. Acesso em 29/07/2008 PINTO, Daniel José Gonçalves. Ensino de Geografia nas escolas do campo. Projeto de Pesquisa (Mestrado em Educação) - Universidade Tuiuti do Paraná. Curitiba, 2008. SOUZA, Maria Antônia de. Educação do campo: demandas dos movimentos sociais, ações governamentais e impactos na realidade escolar. Projeto de Pesquisa. Universidade Tuiuti do Paraná, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Curitiba, 2008. SCHAEDLER, Lilian Cristiane Santos Leandro. Educação e movimentos sociais do campo: mapeando a trajetória dos sujeitos pesquisadores. Iniciação científica (Graduando em Pedagogia) - Universidade Tuiuti do Paraná. Curitiba, 2008. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa ENSINO DA ARTE: UMA REFLEXÃO CRÍTICA SOBRE AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NAS ESCOLAS PÚBLICAS DO MUNICÍPIO DE CURITIBA Maria Francisca Vilas Boas Leffer - UTP Este projeto parte da necessidade de refletir sobre as práticas pedagógicas do ensino da arte nas escolas públicas do município de Curitiba. Isto se procede tendo em vista a reflexão feita sobre resultados de pesquisas de campo desenvolvidas pelos alunos do Curso de Pedagogia na disciplina: “Ensino da Arte: Conteúdo e Metodologia I e II”, que teve como objetivo observar a prática do ensino da Arte em escolas públicas e/ou particulares do 1º ao 4º ano do Ensino Fundamental, tornando-se possível a análise e reflexão sobre as tendências pedagógicas predominantes que permeiam a prática pedagógica do ensino da arte. Considerou-se nessas pesquisas as seguintes questões: a relação do professor com o ensino da arte em sala de aula; a relação das crianças com a arte; a relação professor/aluno no encaminhamento do processo de ensino e aprendizagem dos conteúdos de arte, e a postura do professor em relação às questões metodológicas. Dos resultados obteve-se os seguintes registros feitos pelos alunos graduandos do Curso de Pedagogia: “Pelo que se pode observar durante a aula todas as crianças estavam envolvidas na realização das atividades propostas pela professora. Elas diziam que gostavam dessa aula porque podiam se sujar e também brincar”. “A professora de artes é bem dinâmica, interage com todos os alunos”. “A professora apenas passou uma figura pronta de um palhaço para as crianças pintarem e em seguida colarem bolinhas de papel crepom colorida, mas não explicou porque estavam pintando”. “Acredito que pelo fato do ensino da arte não ter significado para a professora, as crianças estavam fazendo o mesmo. A arte naquela turma não tinha nenhum significado, a não ser passar a aula pintando e contornando desenhos prontos e iguais”. “Todos os alunos estavam em fileiras e em silêncio, de preferência sem sujar o chão, e depois que terminaram os desenhos a professora simplesmente guardou-os em uma pasta com os devidos nomes e disse que no final do ano entregaria aos pais”. “Apesar da decepção que senti ao presenciar essa aula, foi muito importante essa observação para não repetir os mesmos erros com os meus alunos”. “Acredito que a professora é de uma postura mais conservadora, onde a questão do ensino e da aprendizagem da arte restringe-se à cópia e à repetição de modelos propostos pelo professor”. “As atividades foram feitas na mesma sala em que elas estudam, e a professora não me deu liberdade para perguntar, mas parecia que não tinha formação exata naquilo que estava trabalhando. Não passou segurança naquilo que estava exercendo”.“Ela apresentou às crianças um Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 349 350 Resumos papel com uma bailarina desenhada para as meninas e um super homem aos meninos, um desenho igualmente a todos, sem contextualizar a história, apenas impondo o desenho que eles deveriam usar”. Em vista dos dados levantados, e das propostas contemporâneas do ensino da arte, se faz necessário refletir sobre as práticas pedagógicas que permeiam o ensino da arte nos anos iniciais do ensino fundamental em escolas do município de Curitiba. Tendo como questionamento: Que fatores podem estar interferindo nas práticas pedagógicas do ensino da arte nas escolas públicas municipais de Curitiba? Assim, o trabalho tem como metodologia, a pesquisa bibliográfica e a pesquisa de campo em 15 escolas do município de Curitiba do Bairro de Santa Felicidade. Tendo como objetivos específicos: refletir sobre as práticas pedagógicas do ensino da arte nas escolas públicas do município de Curitiba. Este Projeto fundamenta-se nas teorias de BARBOSA, Ana Mae. Arte/Educação contemporânea. LOPES, Alice Casimiro. Currículo: debates contemporâneos; MASON, Raquel. Por uma arte-educação multicultural; MEIRA, Marly Ribeiro. Educação estética, arte e cultura do cotidiano; RICHTER, Ivone Mendes. Interculturalidade e estética do cotidiano no ensino das artes visuais; ZABALA. Antoni. A prática educativa: como ensinar; Ivone Richter na estética do cotidiano; Rachel Mason na arte-educação multicultural; dentre outros autores que possam dar sustentação às questões teóricas necessárias ao desenvolvimento da pesquisa. Será realizado levantamento de dados na Secretaria de Educação do Município de Curitiba para conhecimento dos programas de ensino da arte. A pesquisa de campo será realizada por meio de observações, entrevistas e questionários. Alunos de várias áreas do conhecimento poderão estar envolvidos no projeto por meio do TCC- Trabalho de Conclusão de Curso, Cursos de Extensão e Cursos de Especialização. Esta pesquisa se justifica tendo em vista a importância da cultura como objeto de estudo no ensino da arte, uma vez que a Arte-Educação Pós-Moderna, sustenta que o ensino da arte não pode estar alienado do que é produzido culturalmente. A criança expressa por meio de sua produção, o que sente, como também, faz conhecer o que assimila do seu contexto social e de suas vivências. Para tanto, a cultura deve ser o eixo norteador do ensino da arte na contemporaneidade. Percebe-se que na proposta dos PCNs/Arte há um maior compromisso com a cultura e com a história. Nesse sentido, o ensino da arte busca a formação de um cidadão não só fazedor de objetos estéticos como também de um conhecedor de culturas artísticas, requisitos básicos para cidadania cultural, entendimento como direito ao acesso à produção cultural. Os Parâmetros Curriculares Nacionais também propõem o Pluralismo Cultural como um dos Temas Transversais a serem trabalhados nos currículos escolares da Educação Básica. Porém, não só as questões culturais tem sido analisadas e discutidas dentro do contexto do ensino Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa da arte. Ivone Richter (2007 p. 85) vem discutindo além da multiculturalidade, a interdisciplinaridade afirmando que: “Trabalhar com artes de uma forma interdisciplinar tem se mostrado muito importante, especialmente para projetos em ecologia e meio ambiente. Não se trata de tomar as outras disciplinas e integrá-las às artes, nem colocar a Arte a serviço das outras disciplinas”. Reconhece-se que o ensino da arte numa atitude interdisciplinar perpassa as várias áreas do conhecimento. Um dos Temas Transversais proposto pelos PCNs é o da Pluralidade Cultural, sendo utilizado para indicar as múltiplas culturas presentes hoje nas sociedades complexas. Desta forma, o ensino da arte numa visão contemprâneas traz valores multiculturais e interdisciplinares, que deverão ser estudados a partir do universo cultural do aluno. Este projeto tem como direção dois pontos fundamentais: A pesquisa bibliográfica, e a pesquisa de campo. A Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. pesquisa bibliográfica será realizada por meio de autores que possam dar sustentação às questões teóricas necessárias ao desenvolvimento do trabalho, A pesquisa de campo será realizada por uma fase exploratória de observação, envolvendo professores e alunos de 15 escolas públicas do Município de Curitiba. O segundo passo da pesquisa será a aplicação de um questionário, e entrevistas envolvendo professores, gestores e alunos. As instituições escolares estarão envolvidas em cursos de extensão na formação continuada dos professores. Em vista de todos os argumentos, e das propostas contemporâneas do ensino da arte se faz necessário refletir sobre as práticas pedagógicas que permeiam o ensino da arte nos anos iniciais do ensino fundamental nas escolas públicas no município de Curitiba. Palavras-chave: ensino da arte; práticas pedagógicas; reflexão crítica; multicultural. 351 352 Resumos ENTRE O CONVENTO E A CASA: EDUCAÇÃO E GESTÃO FEMININA NO CONTEXTO DA FORMAÇÃO DO MUNDO MODERNO Wilma de Lara Bueno - UTP Os estudos teóricos de Joan Scott1 sinalizam pensar as diferenças mesmo em se tratando dos estudos das mulheres, sugerindo evidentes distinções para as que pertenciam às camadas aristocráticas e as que integravam as camadas populares. As mulheres que faziam parte da aristocracia – como rainhas ou nobres – usufruíam de um padrão de conforto diferenciado, sem a preocupação com o trabalho forçado; já as mulheres das camadas populares, portanto, as que trabalhavam na agricultura, na criação de animais, nas oficinas artesanais no campo ou na cidade tinham um modo de viver distinto, uma vez que a luta pela sobrevivência dava uma tonalidade particular ao seu cotidiano. Mas no universo das relações simbólicas, em suas manifestações com o sagrado, como isto ocorria? O trabalho constante e a luta pela sobrevivência impediam às mulheres pobres de terem acesso à vida religiosa? O formalismo dos gestos da vida de corte seria enfadonho para as mulheres aristocráticas e as impelia em busca de outras razões para o sentido da vida mais plena? A vida virtuosa exerceria uma atração distinta para as mulheres em uma determinada época? A problematização das relações de gênero trazidas por Joan Scott sugere pensar a mulher em várias épocas e suas diferenças em relação à classe, etnia, religião, entre outras categorias. Aos estudos de Scott, somaram-se os desdobramentos da Nova História – novos objetos, novas abordagens e novos problemas – bem como as contribuições da História Cultural e suas aproximações com a Literatura, Antropologia e História das Religiões, motivando historiadores e historiadoras a se empenharem na escrita da “história a contrapelo” ou em aderir ao aceno do anjo de Paul Klee, em “libertar os oprimidos dos escombros” para dar voz aos excluídos, em que se evidenciam as mulheres também em suas relações com o sagrado.2 Assim, recuperar a história das mulheres religiosas, como monjas ou freiras confinadas nos conventos, em diferentes períodos da história do Ocidente, significa recuperar trajetórias remotas e mergulhar em documentos oficiais – uma vez que as fontes da história feminina são mais limitadas que as masculinas. Também no universo religioso, os homens foram e são os que escrevem e fazem a história. As mulheres, que se dedicavam à escrita, eram as rainhas, princesas ou membros das famílias aristocráticas, porém, em proporção desigual, se comparada aos homens. Além disso, seus testemunhos nem sempre eram reconhecidos como verdadeiros pela Igreja, pois dar autoridade às mulheres significava também reconhecer suas potencialidades, gerando possibilidades Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa perigosas para o campo das relações de poder que sempre estiveram presentes no mundo religioso oficial. A leitura dos textos – em suas entrelinhas, nos cochilos de seus autores e em suas omissões – revelou que, desde o tempo dos Pais do Deserto – Antão, Pacômio e Basílio –, as mulheres compartilharam das experiências religiosas masculinas, seguindo uma regra, recitando salmos ou fazendo jejum, portanto, praticando um conjunto de rituais que dava significado ao cotidiano e as enlevava em busca do sagrado. Até que ponto elas tiveram iniciativas próprias ou seguiram plenamente as orientações masculinas, ainda é um campo a ser investigado uma vez que somente os discursos masculinos eram reconhecidos como verdadeiros e legítimos. Mas as mulheres também tentaram fazer experiências de isolamento no deserto, como faziam os eremitas,3 mas foram combatidas, pois não podiam expor seus corpos como a pobreza das vestimentas, nem se mostrarem desprotegidas na solidão das cavernas onde bandos de aventureiros estavam sempre presentes confundindo as intenções. Se elas pressionavam ou demonstravam iniciativas por experiências semelhantes as dos homens, os textos apontam que por volta do século V, na Europa Ocidental, houve uma intensidade na criação de conventos femininos para abrigar as mulheres, na condição de mães, irmãs, tias, cunhadas dos fundadores monásticos. Jovens, idosas ou viúvas, as mulheres eram acolhidas em espaços para se encaminhar para uma Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. vida virtuosa, longe das maldades provocadas pela traição, incesto, nascimentos de filhos bastardos que incomodavam as famílias nobres, cuja linhagem necessitava de preservação: Nas moradias aristocráticas, a mulher do senhor acolhia os hóspedes. Tal como rainha [...] cuidava das reservas da casa, do tesouro. Incumbiam-lhe armazenar todas as prestações, todas as oferendas e prever a respectiva redistribuição. Dirigindo um esquadrão de servidores masculinos, ela mantinha contactos cotidianos com o chefe deste serviço, o camareiro. Que tipo de relações podia ela ter com tal homem no retiro secreto, obscuro, onde se achotavam as provisões, as jóias, os instrumentos e os atributos do poder?[...] O pior era que se ela fosse fecundada por um outro que não o marido, que filhos de outro sangue que não o do pai, o do senhor, viessem um dia a usar o nome dos antepassados dele e a recolher a sua herança. 4 O movimento de edificação dos conventos e mosteiro foi lento até o século X, quando se acentuaram as iniciativas, generalizando-se o ingresso das mulheres nesses espaços, incluindo-se então, as que tinham vocação e as que não demonstravam nenhum perfil para a vida reclusa. Neste sentido, os mosteiros e conventos tornaram-se espaços conflituosos e tensionados pela rebeldia de mulheres que não aceitavam as condições a elas impostas. A essa rebeldia a Igreja respondeu com a intensificação do rigor do confinamento. Mulheres enclausuradas tinham acesso aos familiares ou aos cultos por corredores infinitos 353 354 Resumos – verdadeiros labirintos – isoladas do mundo e do convívio como amigos ou familiares. Esta recuperação histórica é necessária, uma vez que se construiu um pensamento generalizado sobre os lugares femininos e as condutas das freiras e das monjas como sendo espaço piedoso de mulheres resignadas, infelizes, desapontadas nas iniciativas mundanas ou sem êxito nas relações amorosas. Seria possível que uma mulher bela e bem-sucedida nas relações amorosas buscasse a renúncia destes prazeres para viver a solidão da clausura ou o silêncio da cela? Os estudos revelam que no percurso do castelo ao mosteiro ocor reram oportunidades de a mulher da nobreza demonstrar sua capacidade de gerenciar uma unidade religiosa também no seu potencial administrativo, o que conferia às mulheres, com tal iniciativa, o título de abadessa. Além de demonstrar o sucesso de um negócio como unidade econômica, ocasião em que poderiam estabelecer acordos com os homens, cunhar moedas, participar das feiras, elas também experimentavam a autonomia o que não encontravam em nenhum outro espaço. Por isso também entendia da leitura e da escrita. No interior das abadias e das celas, as mulheres buscaram a transcendência da condição feminina a elas imposta pelo clero masculino. No silêncio da clausura, elas podiam estudar, ler, escrever, pesquisar e criar, como afirmava Virginia Wolf, ter “um teto todo seu”. Ao mesmo tempo elas reproduziam as relações de dominação existente na sociedade em geral. Monjas afortunadas eram coroadas como rainhas no interior dos conventos, traziam suas servas para realizar os serviços pesados. Mulheres pobres, que desejavam ascender à vida monástica, costumavam participar do coro nas últimas fileiras, pois não tendo acesso à leitura e à escrita não tinham com ler as antífonas e salmodiar. Tais questões percorrem as intenções deste trabalho de pesquisa, dialog ando com as produções historiográficas do tema, com as publicações de biografias hagiográficas e com as possibilidades de levantamento de perfis de mulheres, cujas atuações salpicam em documentos e textos diversos, por vezes econômicos em dados, mas que merecem um exercício de perseguição por parte dos historiadores. Antenada na diversidade – mulheres aristocráticas ou mulheres comuns – a pesquisa centra suas preocupações nas tentativas femininas de criar uma regra, fundar um mosteiro, construir uma comunidade, sair pelo mundo afora para pregar o evangelho, criando um roteiro de vida de oração, reconhecidas, controladas ou ignoradas pelo público masculino. Régine Pernoud dialoga com as fontes para esta recuperação e sugere ampliar o olhar sobre a tipologia das fontes: Seria indispensável pesquisar não somente as coleções sobre os costumes ou os estatutos das cidades, mas também, os cartulários, os documentos judiciários ou, ainda, os inquéritos [...] colhidos na vida cotidiana, mil pequenos pormenores colhidos por acaso e sem ordem preconcebida, que nos mostram homens e mulheres Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa através dos menores atos de sua existência: aqui a queixa de uma cabeleireira, ali a de uma salineira [...] de uma moleira, da viúva de um agricultor, de uma castelã, da mulher de um cruzado, etc. É por documento deste gênero que se pode, peça por peça, reconstituir, como em um mosaico, a história real. Ela nos parece aí, é inútil dizer, muito diferente das canções de gesta, dos romances da cavalaria ou das fontes literárias que tão freqüentemente tomamos como históricas!5 Na construção desta história, há que se estabelecer um constante diálogo com as fontes oficiais e com a diversidade de materiais que se colocam à medida que novas perguntas se formulam a partir da retomada das relações que se estabelecem Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. entre homens e mulheres em suas manifestações com o fenômeno religioso e as práticas instituídas por estes atores distintos, seus confrontos, parcerias, alteridades e reconhecimentos mútuos. Palavras-chave: história; religiosidade; gênero. 1 SCOTT, Joan. História das mulheres. In: BURKE, Peter. A escrita da história: novas perspectivas. São Paulo: UNESP, 1992. 2 BENJAMIM, Walter. Magia e Técnica, Arte e Política. São Paulo: Brasiliense, 1985. 3 BERLIOZ, Jacques. Monges e religiosas na Idade Média. Lisboa: Terramar, 1994. 4 DUBY, Georges. O cavaleiro, a mulher e o padre. Lisboa: Dom Quixote, 1988, p. 37. 5 PERNOUD, Régine. O que não nos contaram sobre a Idade Média. Rio de Janeiro: Agir, 1994, p. 114-115. 355 356 Resumos ENTRE O CORPO E O DESENHO Elisa Kiyoko Gunzi - UTP INTRODUÇÃO: A presente pesquisa intitulada Entre o Corpo e o Desenho encontra-se em andamento; traz uma abordagem teórico-prática na linha de pesquisa em Poéticas Visuais, e está relacionada às práticas artísticas dos ateliers no curso de Artes Visuais. Esta reflexão concentra-se na prática artística por meio da linguagem do desenho, mais especificamente na relação entre a intenção (idéias) e o gesto do artista. O resultado deste processo acontece pelas linhas e manchas inscritas sobre o suporte, revelando a materialidade do desenho. O corpo do desenho acontece por meio do gesto do artista, e só se manifesta por meio de seu corpo: mãos e braços como extensão de suas idéias; o corpo do artista viabiliza a existência dos desenhos no mundo real e objetivo. A relação física entre o corpo do artista e o corpo do desenho acontece desde a concepção da obra. Seu processo criativo manifesta-se durante o fazer e pode ser verificado nos esboços que antecedem a obra final. E são justamente nos esboços que encontramos uma ligação direta com o fazer e pensar do artista: ambos acontecem simultaneamente - o artista pensa, enquanto faz; por meio de vários rabiscos, muitas vezes descompromissados, o desenho vai adquirindo corpo. Deste modo, esta pesquisa encontra-se atualmente focada nesta análise estabelecida na relação entre o corpo do desenho e o corpo do artista, mais especificamente, nos esboços que revelam as relações intrínsecas existente entre eles. OBJETIVOS: Analisar a relação existente entre a intenção e a ação do artista dentro do processo criativo no desenho; verificar como a ação motora do artista sobre o suporte materializa suas idéias e intenções, revelados por meio de esboços e do objeto artístico final. METODOLOGIA: O método de abordagem utilizado na pesquisa é o indutivo, partindo de questões abrangentes sobre o ato de desenhar dentro do aspecto fenomenológico e também da investigação do corpo do desenho, resultado desta ação do artista sobre o suporte. São utilizados dois métodos de procedimentos: a) histórico: levantamento bibliográfico para fundamentação teórica; b) comparativo: relação entre a produção artística dos alunos do atelier de desenho e de outros artistas. Relação comparativa dos esboços e do objeto artístico final. ATIVIDADES GERAIS DESENVOLVIDAS: As principais atividades desenvolvidas nesta pesquisa até o presente momento foram: - Pesquisar bibliografia e artistas que atuam na área do desenho para aprofundar fundamentação teórica; - Realizar observação no atelier de desenho durante o processo de criação dos alunos; Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa - Analisar o material encontrado e observado. RESULTADOS ESPERADOS: Os resultados esperados desta presente pesquisa são: - Constatar que a ação efetiva do artista no suporte materializa suas idéias e intenções; a relação entre o corpo do desenho e o corpo do artista. Ou seja, como a ação motora é imprescindível para a materialização de suas vontades e desejos no processo de criação; - Disponibilizar este material pesquisado para o curso de Artes Visuais, mais especificamente para a disciplina de Atelier de Desenho, para servir de apoio no desenvolvimento do processo criativo dos alunos em sala de aula. RESULTADOS ALCANÇADOS: Até o presente momento, a pesquisa concentrou-se no levantamento bibliográfico do material acerca do assunto pesquisado e também na observação dos alunos trabalhando no atelier de desenho. A pesquisa bibliográfica envolveu busca de materiais pela internet, catálogos de museus e livros sobre o assunto. Atualmente, sou aluna especial do Programa de PósGraduação do Instituto de Artes da Unicamp, na qual faço a disciplina Criatividade e Cognição, onde tenho encontrado subsídios relacionados à prática e teoria. Por meio da leitura dos textos e análise de casos, constato a relação direta entre a intenção do artista com os esboços, e que fazer e pensar estão intimamente conectados. Deste modo, a materialização de suas idéias dentro do processo criativo, acontece Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. desde a concepção no mundo das idéias, até a ação motora propriamente dita; o corpo das idéias que dá corpo aos esboços e que dá corpo ao trabalho - tudo isto manifestado por meio do gesto do artista, ou seja, o corpo do artista. No final deste resumo, coloquei as bibliografias consultadas que ainda estão em processo de leitura, mas que estão contribuindo para o aprofundamento desta pesquisa. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA: A presente pesquisa ainda encontra-se em andamento. Ela apresenta dois pontos para análise e reflexão prática e teórica; são os elementos motivadores que impulsionam esta produção e que aqui serão brevemente discutidos. São eles: o ato de desenhar e o de investigar o corpo. É importante enfatizar que o interesse desta pesquisa não está focado na representação do corpo humano por meio do desenho, mas o corpo torna-se significativo quando é analisada ação do artista ao desenhar. Desta forma, a questão, além do ato de desenhar, envolve também a de investigar o corpo em duas diferentes relações - o corpo manifestando-se no trabalho do artista pelos vestígios da sua presença física, da sua ação sobre o suporte e também o corpo do trabalho. Falar do corpo é também dar um testemunho sobre a ação do artista no desenho, testar seus limites físicos, já que, depois de horas desenhando sem interrupção, o cansaço se manifesta. Mas o desejo de atingir determinada meta é o elemento motivador que supera todas as limitações existentes. Percebe-se que todo o 357 358 Resumos esforço despendido espera a recompensa do trabalho acabado. O artista avança, recua, debruça-se, franze os olhos, comporta-se com todo o corpo como um acessório de seu olho, torna-se por inteiro órgão de mira, de pontaria, de regulagem, de focalização. (VALÉRY, 2003, p. 71) Flávio Gonçalves em seu texto Um percurso para o olhar relata que, segundo Walter Benjamin, o ser humano constrói as estruturas nas quais ele orienta a sua existência, partindo de um ato similar àquele da inscrição: traçar, cavar, fundar, etc. (GONÇALVES, 2002, p. 2) Deste modo, Gonçalves subsidiou os aspectos fenomenológicos do desenho segundo o ponto de vista de Benjamin, reforçando a dialética entre a linha e a relação intrínseca com a experiência, com o fazer propriamente dito. Em Linha de costura, Edith Derdyk compara a ação de desenhar ao ato de costurar, semelhança com o processo do artista ao construir os desenhos. Costurar é construir ou reconstruir por meio de linhas, assim como o desenho do artista adquire corpo através de milhares de linhas que se entrelaçam, formando tramas que se sobrepõem com as mais variadas linhas e sombras, assemelhando-se com um tecido. Tudo isso para dizer que sempre é uma experiência absolutamente singular. Através da presença física da linha construída costurada embutida no particípio do passado, esta presença carrega certamente a memória do ato. (DERDYK, 1997) Percebemos nos escritos de Derdyk, que toda a intenção do artista só se concretiza por meio da ação motora. A mão torna-se um prolongamento para realizar sua intenção. É necessário mobilizar o corpo para que as idéias adquiram um corpo. Portanto, Serge Tisseron enfatiza que o traço gráfico é o testemunho preciso do gesto, ou seja, movimento muscular e intenção ao mesmo tempo. ...o traço gráfico é o testemunho preciso do gesto, ou seja, movimento muscular e intenção ao mesmo tempo. Logo, se o traço foi objeto de inúmeros estudos (tanto do ponto de vista de seu valor testemunhal na evolução psicomotora como do ponto de vista de seu sentido simbólico), o gesto pelo qual ele é produzido parece ignorado freqüentemente ou reduzido unicamente aos significados do traço, que é seu resultado visível. No entanto, não é absolutamente certo que as visões decifráveis do objeto produzido, ou seja, a economia visível da obra, sejam idênticas às que presidiram cada momento de sua produção, inclusive a escolha de privilegiar um meio de expressão sobre todos os outros. Ainda, no caso do desenho, onde o gesto é considerado como o essencial, pode-se perguntar se a verdade desse meio de expressão não deve ser buscada no instante espacial da sua realização. (TISSERON, 1984, p. 91) No ato de desenhar, existe uma interdependência entre a intenção e o gesto (da mão e/ou braço) que executa o traço. O que o artista quer não pode se concretizar sem o seu corpo: é ele que dá vazão ao desejo e, nesse sentido, existe a relação do corpo no fazer, o seu próprio corpo envolvido na ação de desenhar. As linhas que Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa constituem o corpo do desenho carregam a vitalidade do gesto, voluntário e involuntário. Ao mesmo tempo, nelas estão contidas as idéias, vontades e preguiças. E diante desta reflexão acerca do desenho e do corpo, venho encontrando subsídio teórico de autores que abordam tais relações, seja do aspecto fenomenológico, psicanalítico, entre outras questões pertinentes ao assunto. Já o procedimento metodológico desta pesquisa está acontecendo por meio da observação do processo de criação no atelier de desenho, onde os alunos desenvolvem suas atividades com o desenho. Esta observação acontece durante as aulas, onde os Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. alunos falam sobre suas idéias sobre o que pretendem fazer mediante uma proposta lançada em sala, realizam esboços destas idéias, e executam o trabalho final. Toda esta observação está contribuindo para compreender como acontece o processo de criação no desenho. E, juntamente com o alicerce da fundamentação teórica reforçam o aprofundamento de dois pontos que venho desenvolvendo nesta pesquisa, que concentram-se em duas principais vertentes de análise: o corpo do artista e o corpo do desenho. Palavras-chaves: desenho; ação; corpo. 359 360 Resumos REFERÊNCIAS DERDYK, E. Formas de pensar o desenho: desenvolvimento do grafismo infantil. Série: Pensamento e ação no magistério. São Paulo: Scipione, 1994. _____. Linha de costura. São Paulo: Iluminuras, 1997. GONÇALVES, F. Um percurso para o olhar. Artigo inédito, 2002. VALÉRY, P. Paul Valéry: Degas dança desenho. São Paulo: Cosac & Naify, 2003. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA GOEL, Vinod. Sketches of thought. Cambridge: MIT, 1995 MASSIRONI, Manfredo. Ver pelo desenho: aspectos técnicos cognitivos. São Paulo, Martins Fontes, 1982. VAN DER LUGT, Remko. Functions of sketching in design idea generation meetings. ACM, Nova Iorque, Estados Unidos, 2002. VAN SOMMERS, Meter. Drawing and Cognition, Cambridge University Press, 1984. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa ESCRAVOS, LIBERTOS E INGÊNUOS NA MEMÓRIA DO PODER JUDICIÁRIO PARANAENSE: SÉCULO XIX Márcia Elisa de Campos Graf Este trabalho, que é parte de um projeto maior, está direcionado para a História Social e propõe a continuidade do estudo da sociedade escravista paranaense, abordando as políticas e as práticas de domínio em relação aos africanos e/ou afrodescendentes, fossem eles escravos, libertos ou ingênuos, e a questão do entrelaçamento entre cidadania e exclusão que daí resulta, na lei e na prática. Nosso intuito é, portanto, o de aprofundar a análise da contradição, da dualidade e da incoerência que, a partir da instituição da escravidão, marcaram a existência de indivíduos que eram diferentes pelo estatuto legal, que os distanciava entre si e em relação aos livres, mas que permitiu a eles estabelecer uma rede de convivência que possibilitou o exercício da cidadania, consideradas as devidas proporções, apesar do estigma da cor e da origem social que provocavam a exclusão, perdurando para além da Abolição. Este estudo deve aprofundar análises comparativas entre as categorias jurídicas que reuniam escravos, libertos e ingênuos, considerando os diferentes períodos e conjunturas, desde o final do século XVIII até a Abolição da escravatura. Como fontes fundamentais foram privilegiados os processos-crime e os processos cíveis. Nestes últimos, sobretudo os testamentos, com cláusulas referentes à destinação dos escravos, concessões de alforrias ou de bens, e os inventários e partilhas de sucessão, nos quais constavam escravos, arrolados como bens semoventes, mas, muitas vezes, também, como beneficiários. O levantamento dos documentos foi realizado principalmente no Departamento do Arquivo Público do Estado do Paraná: primeiro, com base no Catálogo Seletivo de Documentos Referentes aos Africanos e Afrodescendentes Livres e Escravos (Coleção Pontos de Acesso 02) da Coleção Correspondências do Governo, referente ao período provincial, 1853 a 1889, do acervo daquela Instituição; segundo, a partir dos maços de documentos relativos ao poder judiciário, que reúne mais de 20.000 processos, no Arquivo Público do Estado, dos quais foram, até o momento, classificados, fichados e descritos 1.250 processos, referentes aos séculos XVIII e XIX (período do qual estão ali reunidos perto de 9.000 processos), dentre os quais estamos selecionando aqueles que envolvem escravos, libertos e ingênuos, para a análise específica a que nos propomos, sem, no entanto perder de vista as conjunturas analisadas e o que representam os processos envolvendo esses indivíduos, especificamente, no todo desses processos, o que implica a leitura da totalidade dos processos arrolados. Para o arrolamento desses processos contamos com Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 361 362 Resumos uma equipe permanente, constituída por alunos dos cursos de bacharelado e de licenciatura em História da Universidade Tuiuti do Paraná (dentro de atividades complementares e disciplinas de Prática Profissional, além de atividades extensionistas direcionadas para a pesquisa), com o apoio de pessoal técnico do Arquivo Público do Estado do Paraná, que oferece também o respaldo material. Possibilitando, dessa forma, não só o treinamento dos alunos na prática da pesquisa, sobretudo em originais manuscritos, mas também a descrição desses documentos para a elaboração de novos catálogos que serão publicados, numa contrapartida com a Instituição. Dentre os processos já fichados e descritos, foi feito um recorte correspondendo à década de 1850, por se constituir um momento importante, um verdadeiro divisor de águas, no que concerne à história do período escravista no Brasil: a abolição oficial do tráfico de escravos (1850); a promulgação da Lei de Terras (1850); início da entrada em massa de imigrantes europeus. Desta década há um total de 475 processos, crime e cíveis, dos quais 163 incluem escravos, libertos ou ingênuos, pouco mais de um terço dos processos, portanto. Nesse contexto, nossa preocupação principal no desenvolvimento desse estudo e na análise dessa série documental, além das outras séries que continham informações sobre africanos e afrodescendentes analisadas em outros momentos e que alimentaram outros trabalhos por nós já publicados, é a seguinte: Os estudos mais freqüentes sobre a sociedade brasileira dizem respeito aos cidadãos ou aos não-cidadãos, ou seja, os excluídos, numa abordagem dicotômica. De um lado, aqueles cujos direitos eram plenamente reconhecidos e, de outro lado, os escravos, aqueles aos quais era negado pela lei, pelas normas que regiam a sociedade, qualquer direito, formalmente, até quase o final do século XIX. Ao lado dos escravos, havia ainda aqueles outros cujos direitos eram restritos, pelas mesmas leis e normas, os libertos (ou ex-escravos, cuja alforria poderia ser revogada a qualquer momento), representando uma categoria jurídica específica, e os ingênuos (filhos de mulher escrava, libertos ao nascer) que, por sua vez, representavam ainda uma outra categoria jurídica, também com limites de direitos. Tanto para uns quanto para outros, continuaria sempre pesando o estigma da escravidão, jamais alcançariam o status de livres, com todos os direitos decorrentes disso. Mas, e aqueles que, de uma forma ou de outra, apesar do estatuto legal, transitavam entre estas categorias extremas? Outro aspecto que quero ressaltar é o fato da produção historiográfica, com raríssimas exceções, não se ter debruçado sobre a análise desses atores sociais, que têm sido ignorados ou enquadrados, sobretudo ainda a partir das normas, como elementos estanques, com categorias rigidamente estabelecidas. Entretanto, basta ir aos arquivos e consultar as diferentes séries documentais que nos trazem informações sobre escravos, libertos e ingênuos, para verificar através dessa “memória” a Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa presença e a prática desse “trânsito” entre escravidão, semi-escravidão (representada pelos libertos e pelos ingênuos) e cidadania. Uma vez que nos é dado constatar como eles eram responsabilizados por crimes pelos quais deviam pagar com o cumprimento de pena de reclusão ou a morte; ou, eram vítimas, que viam seus agressores serem punidos, mesmo que fossem seus senhores, ou simplesmente elementos livres; tinham suas demandas atendidas, por meio de processos encaminhados ao poder judiciário ou às autoridades administrativas; recebiam bens que lhes eram legados em testamento e partilhas de sucessão; mas, também tinham a permissão de recolher os benefícios adquiridos com trabalhos extras, permitidos por seus proprietários; podiam acumular pecúlio, com o qual compravam sua própria alforria ou a de familiares, e conseguiam até possuir Caderneta de Poupança na Caixa Econômica, como qualquer cidadão e não como semovente, equiparado ao gado, na condição de escravo. Para a constatação dessas situações, a memória do poder judiciário é extremamente Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. rica e fecunda, tanto no domínio dos processos-crime quanto dos processos cíveis, nos quais a interação entre os escravos e semi-escravos entre si e com o restante da sociedade apresenta-se muito nuançada. Basta ter a paciência e o tempo necessários, além da paixão pela pesquisa, para ler esses processos de muitas páginas manuscritas. Processos estes que nos permitem constatar que o “trânsito” entre escravidão, semi-escravidão e cidadania não teve início com a Abolição da escravatura, começou bem antes. Mas, esta antiguidade ainda não garantiu em nossa sociedade o exercício pleno da cidadania ao afrodescendente, daí a temática geral do nosso projeto maior, concernente ao controle sobre os indivíduos, à exclusão social e ao direito, tomando-se como referência as disputas pelo poder e pelo domínio dos espaços urbanos, que perduraram além do período escravista. Palavras-chave: trabalho forçado; escravidão; cidadania. 363 364 Resumos FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES: PRÁTICA PEDAGÓGICA COM ALUNOS COM DEFICIÊNCIA APOIADA PELAS TECNOLOGIAS ASSISTIVAS PARA ALÉM DA INCLUSÃO Iolanda Bueno de Camago Cortelazzo - UTP Ana Irene Alves de Oliveira - UEPA Carlos Alves Rocha - UTP Márcia Silva Di Palma - UTP Jamine Emmanuele Henning - APAE/SC Fernanda C. F. Monteiro - PUC PR Ingrid Adam - UTP O presente projeto de Pesquisa tem como objeto a formação de professores, e como foco a formação para uma prática pedagógica com alunos com deficiência apoiada pelas tecnologias assistivas. No período de agosto a dezembro de 2008, fez-se um acompanhamento do processo de inclusão de dois alunos americanos que participaram do Intercâmbio de alunos da UTP com os Estados Unidos, de professores que tinham alunos com deficiência em suas salas de aula, e da pesquisa do Trabalho de Conclusão de Curso de uma aluna do Curso de Pedagogia sobre a empregabilidade das pessoas com deficiência. Em paralelo, as alunas egressas dos cursos de Graduação e do Programa de Pós-Graduação Mestrado em Educação, participantes do Núcleo de Pesquisa em Processos Educacionais Interativos realizaram um levantamento em teses e dissertações sobre as questões básicas do projeto: prática pedagógica, escola inclusiva, deficiências e educação. Este relato se detém na investigação sobre os alunos estrangeiros em sala de aula da UTP. Os dados foram coletados por meio de entrevistas abertas com os professores e com os alunos americanos e por meio dos trabalhos finais desses alunos que deveriam relatar sua experiência em uma instituição em um contexto cultural diverso do seu e dos seus estágios em escolas do Ensino Fundamental com crianças com necessidades especiais. Os alunos visitantes participaram de várias disciplinas nos cursos de Licenciaturas de História, Pedagogia e Letras. Em “Práticas Alfabetizadoras e de Letramento” sentiram as dificuldades da língua e de uma cultura diferente e serviram de referência para as práticas alfabetizadoras inclusivas com base nas discussões sobre “concepções, metodologias Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa e avaliação dos processos de aquisição da linguagem escrita”, orientando para a construção do conhecimento a partir de pesquisas, materiais didáticos e paradidáticos da área; na disciplina “Português para Estrangeiro”, os dois alunos tiveram acompanhamento em níveis diferentes na apresentação da “Norma culta do Português Brasileiro e seu ensino como L2”, a professora focalizou “a competência comunicativa: seus componentes; ensino de língua e cultura”. Ao mesmo tempo como futuros professores e alunos com deficiência lingüística, foram orientados na escolha de metodologia, na escolha e na elaboração de material didático, e participaram da discussão sobre a avaliação; percebendo as especificidades do ensino da língua portuguesa a anglo-falantes e hispano-falantes. A disciplina de estágio supervisionado “Pesquisa e Prática Pedagógica Anos Iniciais – Estágio Supervisionado II que é uma disciplina de formação profissional, com carga horária de 108 horas, trabalhou a pesquisa da prática pedagógica nos anos iniciais do Ensino Fundamental, da Educação de Jovens e Adultos, como elemento articulador teoria-prática. Os alunos praticam a docência nos anos iniciais do Ensino Fundamental, da Educação de Jovens e Adultos e na educação não escolar; e aprenderam a partir da investigação sobre essa prática elaborar seu projeto de docência. A partir das entrevistas com os alunos e das observações da professoras das três disciplinas (uma optativa, uma prática e a de Estágio) constatou-se que os alunos Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. visitantes e os professores e alunos brasileiros vivenciaram uma experiência real de inclusão. As duas primeiras disciplinas colocavam-nos mais em contato com a língua estrangeira no caso deles, a língua portuguesa. Destaca-se que os dois alunos se matricularam no 2 semestre do estágio, pois o primeiro não era oferecido no segundo semestre de 2008, e eles não tinham o conhecimento que os outros já haviam construído no primeiro semestre, mas houve uma disponibilidade de professores e alunos para orientá-los a superarem as dificuldades. Nas três disciplinas, as professoras prepararam um plano de ensino para cada disciplina, levando em conta as especificidades da situação dos dois alunos, sem facilitar demais para eles, que contaram, ainda, com a colaboração de boa parte dos alunos. Verificou-se, porém que nas disciplinas mais teóricas que exigiram maior dedicação, os alunos não contaram com a colaboração dos colegas. Em “Dificuldades de Aprendizagem e Intervenção Pedagógica”, que trabalha a “aprendizagem e o sujeito aprendente”, os alunos participaram e vivenciaram a avaliação diagnóstica da aprendizagem e a elaboração de uma intervenção didático-pedagógica nas dificuldades de aprendizagem. Essa disciplina enfocou as “dificuldades e transtornos de aprendizagem, as formas de detectar e trabalhar com dificuldades de aprendizagem de leitura, escrita. Em “Sociologia Brasileira” que estuda a “produção sociológica brasileira, analisando os trajetos da primeira geração formada nas Instituições 365 366 Resumos de Ensino Superior no Brasil, tendo como ponto de partida a sociologia frente à construção da identidade nacional”, os alunos sentiram a diferença da cultura e a dificuldade da leitura em língua portuguesa de textos mais densos e mais reflexivos. Em “Fundamentos da Educação Especial e Inclusiva 2” participaram das discussões sobre “a importância do papel do professor diante da perspectiva inclusiva nos dias atuais”. As professoras procuraram fazer com que os alunos participassem mas não desenvolveram nenhum trabalho específico de acompanhamento para os dois alunos. Como a metodologia incluía aulas expositivas, leitura e discussão de textos teóricos; análise de vídeos e depoimentos de alunos inclusivos deficientes com posterior discussão; e grupos de discussão seguidos de seminários temáticos, o processo de aprendizagem dependeu mais da autonomia dos alunos e de suas interações com os colegas. A aluna Alisa escreveu que era necessário “se ter uma mentalidade da inclusão e que as pessoas precisam aceitar as pessoas com as quais se relacionam, sem se importar com as suas diferenças”. No final do semestre a aluna escreveu que, “vir a um país novo e não falar a língua local foi muito difícil. Ela pontuou que “era extremamente difícil relacionar-me com as pessoas quando a barreira estava na língua de alguma forma. Em minhas classes, eu não falava com os outros alunos, e eu não estava em um grupo com os outros estudantes”. Indicava nesse relato a não inclusão dos colegas de sala. “Eu tive uma espécie de deficiência verbal em minhas classes e eu precisava de mais atenção do que os outros alunos para aprender o material. Foi interessante a consciência que a aluna tinha de sua deficiência e da sua superação. “Fiz exame do esforço em minha parte e na parte de meus pares fazer o inclusão possível, mas para o fim do semestre onde eu sentia incluída mais em minhas classes porque eu poderia compreender mais da língua”. O aluno James escreveu: “Nas salas de aula da Tuiuti, nós observamos que os professores da área de educação especial incluíam e reconheciam as habilidades e necessidades de todos os alunos muito mais frequência do que os professores de outras áreas”. O aluno também teve a percepção da diferença de tratamento dos professores apontando formas diferentes de agir: “Houve uma aula em que a professora replanejou para nos incluir. Houve também casos de aulas, em que as professoras reorganizaram os grupos para nos incluir a cada aula”. Reitera na escrita o que já havia indicado em sua fala, no acompanhamento que se fazia com os alunos: “Houve aulas em que os professores falavam muito rapidamente e nós não entendíamos nada e ficamos sem entender”. Indicaram, também, a aproximação dos colegas de classe: “Alguns alunos perguntavam se havíamos entendido e se dispunham a nos explicar. Se nós tivéssemos perdido material, houve alunos que nos ajudaram. No geral, sentimos que os alunos e professores da Tuiuti nos ajudaram muito e nos sentimos incluídos na maioria de nossas Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa aulas”. Os depoimentos dos alunos que são muito mais extensos do que essas citações demonstraram a fragilidade do processo, mas que ele está em construção. Entre os resultados já encontrados podem se destacar do ponto de vista metodológico o aprofundamento sobre a pesquisa colaborativa. Ao se considerar que a comunidade é o contexto para a aprendizagem, quando se discute educação; a comunidade é vista como um grupo de pessoas cujos valores são comuns com as pessoas trabalhando juntas para criarem um ambiente de respeito, de fortalecimento, e de pertença. Há uma sinergia que torna o grupo mais produtivo e os membros podem estar em diferentes níveis de desenvolvimento sem serem julgados ou rejeitados. Constatou-se a fragilidade do conhecimento dos docentes em relação à deficiência, ao que se referem as necessidades especiais, a o desconhecimento do que são e para que servem as tecnologias Assistivas demonstrando, por tanto a necessidade de aprofundamento sobre a inclusão e as tecnologias assistivas em cursos de licenciatura, em especial na Pedagogia;. Constatou-se, ainda, que é necessário promover a interação entre professores e realizar a interdisciplinaridade na educação de alunos com necessidades especiais; planejar e acompanhar as atividades desenvolvidas nos estágios e nas práticas Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. educacionais; preparar o professor e a equipe multidisciplinar para a prática pedagógica inclusiva; e reforçou-se a consciência de que embora a UTP tenha uma Comissão Inclusiva, ainda não possui de fato um programa consolidado de educação inclusiva.Como resultante das discussões decorrentes desta pesquisa e das anteriores correlatas, as pesquisadoras Ingrid Adam (pedagoga e designer gráfico) e Fernanda Cândido Figueiredo Monteiro (terapeuta ocupacional com especialização em ergonomia) elaboraram um projeto de pesquisa para dar continuidade à pesquisa: “A Interface entre a Pedagogia e a Terapia Ocupacional nas Tecnologias Assistivas”. Esse projeto apóia-se nas descobertas conjuntas sobre as dificuldades que os professores têm em lidar com as dificuldades de aprendizagens dos alunos, e que para o professor exercer uma prática pedagógica inclusiva não basta ter um curso preparatório; é necessário se articular com outros profissionais, para trabalhar outras dimensões das deficiência, apoiados nas tecnologias dependentes e independentes de eletricidade utilizadas por outros profissionais, e que na prática pedagógica se tornam tecnologias assistivas. Palavras-chave: deficiência; formação de professores; inclusão. 367 368 Resumos FORMAÇÃO E TRABALHO PROFESSORES EM TEMPOS DE HEGEMONIA NEOLIBERAL Adriana de Fátima Franco - UTP Adolfo Ignacio Calderón - UTP Maria de Fátima Rodrigues Pereira - UTP Esta mesa redonda tem o pressuposto da indissociabilidade entre a formação e o trabalho docente. Traz elementos para compreendermos as políticas de formação de professores e o trabalho docente no contexto da hegemonia das políticas neoliberais e do decorrente processo de mercantilização da educação. Nas últimas três décadas, a formação e o trabalho de professores tem sido objeto de debates, pesquisas, políticas, regulamentações. O tema, hoje, sem dúvida, adquiriu centralidade para a educação formal. Vem sendo tratado no conjunto das reformas curriculares, das políticas de avaliação e das de financiamento produzidas no contexto histórico da reorganização produtiva do capital monopolista. Sobre ele, muito tem sido escrito no Brasil e em outros países. Insiste-se no estudo deste tema a que muitos já se dedicaram. Entende-se que, se a pretensão é conhecer para além de uma visão idealista e fenomenológica, a formação e o trabalho dos professores, é preciso desvelar as relações reais. Ou seja: a formação (educação) e o trabalho de professores explicam-se no conjunto das múltiplas determinações históricas- uma rica totalidade- de uma dada formação social. Trabalho e educação são relações sociais que expressam a produção da existência humana. Em todos os modos de produção da existência há trabalho humano e educação. Estas duas atividades são especificamente humanas, têm caráter de centralidade e andam imbricadas. O modo de produção capitalista, sistema produtivo alienado coercitivamente e/ou por consentimento aos interesses da burguesia, entre outros empreendimentos criou os sistemas escolares, tem definido a formação especifica dos professores para atuarem nas escolas. Criou instituições, programas de estudos, estágios, certificações, normatizações que vêm regulamentando e avaliando o trabalho educativo formal. Na ordem burguesa, educação e trabalho dizem respeito a interesses antagônicos: aos do capital e aos do trabalho, pois, tanto podem concorrer pra manterem a ordem social como para superá-la. A natureza do trabalho do professor caracteriza –se pela não-separação entre saber (o saber enquanto meio de produção é-lhe indispensável seja em menor ou maior grau) e trabalho, teoria e prática, mesmo quando se proclama a sua Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa separação. Assim, a formação de professores é estratégica em toda e qualquer formação social, e por isso é preciso dizer como ela é feita e com que intenções ou finalidades. Nas sociedades, sob o modo de produção capitalista, em que o trabalho é subsumido pela burguesia, o trabalho do professor, em virtude da necessidade da posse de meios de produção mesmo em sistemas e estruturas com interesses burgueses, pode ser uma mediação na superação das relações sociais de produção conduzidas, ou nas quais a burguesia tem a hegemonia. Ciência e técnica são fundamentais ao trabalho do professor e, portanto, à sua formação. Nas últimas décadas, um conjunto de leis, decretos, resoluções e pareceres foram definindo, disciplinando, controlando e desonerando o Estado da formação de professores segundo as grandes decisões feitas nas conferências mundiais. Assim, um número nunca antes produzido de regulamentações foi formatando, cercando, disciplinando, controlando a formação de professores e os sentidos foram: a) acentuação da fragilização da formação dos professores agora entregue, em sua maioria, à iniciativa do empresariado e conformada, portanto, à obtenção do lucro; b) conseqüente desapropriação dos professores dos seus instrumentos como as teorias, os conteúdos, os métodos (instrumentos de trabalho); c) interferência da lógica da produtividade através dos financiamentos e processos de avaliação; d) barateamento em tempo e recursos da formação e dos espaços de trabalho dos Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. professores, as escolas estão pobres de espaços, livros, laboratórios e quando os há os professores não sabem usá-los e não têm suportes pedagógicos para tal; e) desconfiança da ciência e da filosofia como conhecimentos necessários à escola; f) defesa da razão instrumental e das respostas imediatistas-princípios da organização do mercado. Ou seja, se durante as décadas de 1960 e 1970 a formação de professores ainda assentava em princípios da ciência – agora se inverte o eixo estruturante da formação. Não são as disciplinas, os conhecimentos, mas a flexibilidade de lidar com situações que vêm do mundo da produção e do consumo. Fecha-se o cerco. A formação é formatada na razão instrumental. Ela torna-se rígida nos eixos estruturantes das demandas e flexível nas respostas dentro dessas demandas. Por isso, também o ataque à formação nas universidades que, em princípio, pelo seu ethos, se reporta à ciência e a conhecimentos universais, ciosas do seu status de independência à submissão das organizações do mercado. Nesse cenário, convenientes seriam evidenciar os estudos existentes sobre a precarização do trabalho docente, nos quais se destacam três vertentes claramente definidas: a) estudos sobre a flexibilização dos contratos de trabalho, que tem em seu cerne discussões em torno da chamada acumulação flexível e o surgimento de estratégias para a flexibilização trabalhista, contratos temporários, parciais, terceirizados muitas vezes sem o amparo da legislação trabalhista; b) estudos sobre os processos pedagógicos e o saber 369 370 Resumos fazer, focando as políticas educacionais e os impactos diretos ou indiretos no exercício da função docente, na gestão escolar, nas estruturas administrativas, nas jornadas de trabalho e no cotidiano do exercício da docência e c) estudos sobre a saúde do docente trabalhador e sobre as formas de regulação do exercício da docência e sua relação direta com a qualidade de vida dos professores, a saúde física e mental. Especificamente, sobre a primeira vertente, chama atenção a realidade do magistério público, marcado pela insegurança e instabilidade do trabalho temporário, e na maioria das vezes, sem nenhum direito trabalhista, como licença médica, férias, décimo terceiro salário. Os professores temporários ora estão empregados, ora desempregados. Inclusive, embora os contratos sejam anuais, em muitas situações, nada garante a vigência total do contrato, caso um professor efetivo reassuma suas aulas, fato que gera a fragmentação do trabalho pedagógico pela rotatividade dos professores e o desestimulo quanto às ações pedagógicas contra o fracasso escolar. Ressalte-se que o fato de ser professor efetivo, não significa que não realize um trabalho precarizado, uma vez que a dupla ou tripla jornada, resultante dos baixos salários, é uma realidade presente no trabalho docente. A precariedade do trabalho do magistério do setor privado é também fato de preocupação diante das estratégias de empresários da educação, pautadas pela maximização dos recursos e redução de custos, alicerçadas em esquemas contratuais que visam explorar ao máximo o trabalho docente, com claros reflexos para a qualidade de vida dos professores. O tema formação e trabalho de professores precisa ser entendido à luz de concepções a respeito de homem, de escola, de educação e de mundo de trabalho. O pensamento liberal traz como concepção a idéia de que o homem é um ser naturalmente humano, dotado de potencialidade e dons. A formação de professores olhada deste ângulo pressupõe que neste profissional esteja presente a semente do “bom professor”, o bom professor nasce marcado (com dons). Contrapondo-se a essas idéias, entende-se o homem enquanto ser sóciohistórico, isto é, o homem enquanto ser concreto, social, histórico, e cultural, que constrói sua humanidade na interação com outros homens, onde os processos psicológicos não são dados e, sim, construídos nesta rede. A esse respeito temos, ainda, que considerar um fato importante que diz respeito a relação dialética entre indivíduo e sociedade, síntese de um sistema ao mesmo tempo em que é produzido. Nesta perspectiva crítica, parte-se da compreensão de que aos professores cabe, na divisão social do trabalho, no atual modo de existência transmitir conhecimentos que foram sistematizados ao longo da história, pelos homens. Se a escola é a instância socializadora do conhecimento historicamente acumulado e se a finalidade da ação docente se concretiza na tarefa de ensinar e ensinar bem, temos que o trabalho docente revela relações sociais, valores e ideologia. Neste sentido, as relações, Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa de produção de conhecimento existentes numa instituição escolar são únicas, resultado de múltiplos fatores, em uma realidade específica que adquirem forma própria, pela singularidade e historicidade dos indivíduos que a compõe. Assim, entender o professor enquanto totalidade, enquanto par dialético (professoraluno), sendo necessário que, na reflexão sobre a prática da atividade docente, o professor não se exclua, antes considere para a relação professor-aluno, como algo que jamais poderá ser compreendido isolando cada um dos seus elementos (professor-aluno). É necessário que o professor se perceba como elemento constitutivo Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. das práticas, percepções e sentimentos dos alunos. Portanto, pensar a intervenção junto a professores significa, também, pensar a totalidade institucional e, de forma mais ampla pensar a própria sociedade. Diante disso, é fundamental a construção de espaços para reflexão sobre os significados de suas ações, sobre a sala de aula enquanto um espaço de formação social da mente, sobre o papel do outro na constituição do sujeito, sobre a formação e o trabalho para tal na totalidade do tempo histórico sob a hegemonia de políticas neoliberais que fragilizam a formação e o trabalho dos professores. 371 372 Resumos FORMAS E (RE)FORMAS: A RECEPÇÃO DE SHAKESPEARE NO SÉC. XIX Cristiane Busato Smith - UTP A presente pesquisa partiu de alguns pressupostos importantes que passo a delinear. A recepção da obra shakespeariana é um estudo estimulante e mais do que revelar aspectos intrínsicos à obra do autor, nos permite antever as diferentes maneiras pela qual o autor foi lido e interpretado em determinado período. Sob esta ótica, os estudos shakespearianos revelam aspectos instigantes da cultura pela qual ele foi apropriado, fazendo valer as palavras do crítico shakespeariano Terence Hawkes (1986), “Shakespeare does not mean; we mean Shakespeare” [Shakespeare não significa; nós significamos Shakespeare, minha tradução]. Por outro lado, a recepção de Shakespeare ao longo dos séculos ilustra que ele nem sempre foi considerado um autor consagrado. Seu desprestígio, no período conhecido por “Restauração” (1660-1682), advinha da premissa que sua obra violava os rígidos princípios néo-clássicos franceses. No entanto, o século XVIII recupera a imagem do Bardo e aceita as suas ‘idiossincrasias’ como sinal inequívoco de sua genialidade. Porém, é apenas na Inglaterra Vitoriana que Shakespeare toma um vulto de proporções gigantescas e se torna um escritor totalmente canonizado. Pode-se dizer que a “invenção” contemporânea (XX e XXI) de Shakespeare deve muito ao fenômeno da popularidade que o escritor atingiu na era vitoriana. Dentre os aspectos que comprovam a popularidade do autor na época estão: a proliferação dos estudos críticos; a incorporação compulsória de algumas de suas obras na grade curricular; a preconização da leitura dos ‘textos familiares’ de Shakespeare no âmbito do lar (principalmente para mulheres, jovens e crianças); a popularidade das produções teatrais de algumas de suas peças (nos teatros mais ‘sofisticados’e também nos teatros populares); a presença de imagens de seus personagens que figuram amplamente em museus, exposições, catálogos e livros ilustrados; o prestígio que a literatura (principalmente em romances e poemas) dá ao autor em forma de paródia. Em suma: Shakespeare se torna um culto. Cabe também ressaltar que a época vitoriana (séc. XIX) testemunhou grandes mudanças na política social, nas relações econômicas, na ciência, na filosofia, nas comunicações e nos transportes. Um período de paradoxos sócioculturais muito intensos, não apenas o modo de vida parecia mudar rapidamente, mas também as condições materiais para aqueles que viviam naquele período. Além dos contrastes entre o urbano e o real, o rico e o pobre, o masculino e o feminino, existiam imensas disparidades na renda, na educação, nas expectativas, nas oportunidades e nos estilos de vida para os vitorianos. Há vários estudos que recuperam o período vitoriano Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa como a emergência da “consciência cultural” pós revolução industrial (Reynolds e Humble, 1993), e enfatizam a necessidade da classe burguesa em ‘construir’ valores essenciais calcados numa moralidade excessiva. Uma das maneiras de alicerçar os valores morais adequados para a época foi a leitura pedagógica da obra shakespeariana. Shakespeare é então apropriado por e para um projeto com claras tendências moralizadoras. Neste processo, verifica-se um fenômeno curioso: as obras de Shakespeare, por conterem elementos dissonantes do que se professava (i.e., moralidade a toda prova), foram alteradas sem escrúpulos. Esse processo se dá, grosso modo, da seguinte forma: palavras, falas e cenas são modificadas ou inteiramenete cortadas, traços considerados “imorais” ou perigosos de seus personagens são cortados ou grandemente abrandados, os finais são alterados, dentre outras manobras textuais. A família burguesa, pode-se afirmar com segurança, lia um Shakespeare reformado, ou, mais propriamente dito, “deformado”. Com base nos delineamentos acima, esta pesquisa se justifica na medida em que os estudos shakespearianos fazem parte evidente das ementas de Literatura Inglesa dos Cursos de Letras no Brasil (e desta instituição), além de serem contemplados pelas provas do Enade tanto para alunos de Letras Inglês como para os alunos que tenham optado por outra(s) línguas e literaturas correspondentes. O Enade, não custa ressaltar, reflete a necessidade de se ler Shakespeare Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. como uma manifestação que permeia a cultura como um todo, sem pensar em fronteiras. Shakespeare, sob esta ótica, não deve ser visto apenas como um escritor inglês, dado a sua permeabilidade na cultura ocidental. No que tange a cultura brasileira especificamente, a sua presença encontra-se revererenciada de maneiras diferentes por escritores, tradutores, adaptadores, dramaturgos e em eventos literários e teatrais que se já se firmaram nacionalmente. A vantagem de se estudar Shakespeare da perspectiva dos estudos culturais é que, para citar apenas uma possibilidade, podemos ensejar cotejos com a literatura brasileira. Basta lembrar das intertextualidades na obra de escritores brasileiros tão diversos como Machado de Assis, Dalton Trevisan, João Cabral de Melo, Clarice Lispector, Ariano Suassuna, para citar apenas alguns. Todavia, nossos encontros com Shakespeare não se limitam à literatura, eles se estendem até a televisão em novelas e séries como Otelo de Oliveira, que recria, de maneira criativa a tragédia Otelo, o Mouro de Veneza. Outra manifestação que evidencia como Shakespeare encontra-se inserido na nossa tessitura cultural é o Festival de Teatro de Curitiba, que, desde seu início, tem em Shakespeare seu autor mais encenado. Percebe-se que, ao abordar Shakespeare, desta perspectiva, estamos automaticamente contemplando a literatura brasileira, a história do nosso teatro em adaptações, re-escrituras e performances, e, não menos importante, refletindo sobre os significados que esta presença traz para o mundo contemporâneo. 373 374 Resumos Em suma, fica evidente que um estudo que nos auxilie a entender a construção sócio-cultural de Shakespeare, propiciada por fatores diversos no século XIX, contribui para o entendimento de como nossa época re-ativa e re-trabalha o autor. Um dos objetivos específicos deste estudo é o de verificar como dois dos maiores fenômenos editoriais da obra shakespeariana do século XIX, The Family Shakespeare (1809), de Henrietta e Thomas Bowdler, e Tales from Shakespeare (1809), de Charles e Mary Lamb, modificaram Hamlet (1601), influenciando desta forma, a recepção da obra pela cultura da época. Partindo do pressuposto que nenhuma dessas alterações foram feitas no vácuo, ou seja, as chamadas ‘expurgações textuais’ constituem um construto social de uma ideologia dominante que se nutre da reputação do “maior escritor da nação inglesa” para disseminar conceitos e noções importantes para a cultura da época (PAVIS, 2001), esta análise se beneficiará, principalmente, em dois âmbitos. Pretendese contribuir para que ocorra o que Raymond Williams (2001) denomina de recuperação do “registro documental de uma cultura”, i.e., resgatar uma obra (The Family Shakespeare) rara que somente se encontra em bibliotecas especializadas na Inglaterra e é desconhecida no meio acadêmico brasileiro. O segundo aspecto é o de iluminar facetas da cultura vitoriana, um período determinante na história da literatura inglesa. É, por exemplo, neste momento que a crítica literária, tal qual hoje a concebemos, se firma na academia. É, também, neste período fecundo para a literatura, que o romance emerge na sua plenitude. Um dos argumentos que este trabalho pretende defender é o de que, sem entendermos esse momento crucial na recepção da obra shakespeariana, não conseguimos obter a real dimensão do que Shakespeare se tornou na contemporaneidade, i.e., o que muitos críticos denominam de a “indústria shakespeariana”. Em outras palavras, a crítica shakespearina dos séculos XX e XXI estabelece um diálogo com os grandes críticos shakespearianos do século XIX, seja para criticar e desconstruir os pressupostos de seus antepassados, seja para desenvolver suas idéias, seja para afirmá-las e consolidá-las. Cabe ressaltar que é a partir do fenômeno da assimilação do autor pela cultura e pela crítica vitoriana que Shakespeare se tornou, na atualidade, uma espécie de “selo de garantia”, um “produto cultural”, como afirmam Terence Hawkes (1986) e Gary Taylor (1989), apropriado igüalmente pela indústria da alta cultura (na crítica literária; em festivais de teatro consagrados, em filmes dirigidos para os estudiosos, nos cursos acadêmicos) e pela cultura popular (em adaptações cinematográficas hollywoodianas feitas para o grande público; nos festivais de teatro fringe; nas novelas televisivas; na “réplica idêntica” do Teatro “The Globe” (o teatro de Shakespeare), em Londres; em palestras para executivos; e, até mesmo, em camisetas, canecos, etc.,), ou seja, o mero rótulo “Shakespeare” se tornou garantia de uma Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa ‘boa venda’. No que diz respeito a resultados, esta pesquisa já rendeu vários frutos, dentre eles a participação e apresentação de comunicações em quatro eventos no ano de 2008 e a publicação do artigo completo “Teatro e Pintura em Diálogo: Ellen Terry e a Ofélia de Shakespeare” nos anais do V Congresso Brasileiro de Pesquisa e Pós Graduação em Artes Cênicas. No ano de 2009, tive a satisfação de publicar o capítulo “A esteticização da morte da Ofélia de Shakespeare: um passeio intermidiático entre a literatura e a pintura” no livro Shakespeare sob múltiplos olhares (orgs. Anna Stegh Camati e Célia Arns de Miranda) e tive a honra de ter o artigo “Ophelia and the perils of the sacred feminine” aceito pelo prestigiado periódico europeu Multicultural Shakespeare, que será publicado em 2010. Fiel à idéia de um Shakespeare cultural e verdadeiramente multidisciplinar, publiquei o artigo “Shakespeare e a Astronomia: a visão de sua época” na Revista Eletras Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. da UTP, tema inédito na academia brasileira. A revista Letras da UFPR aceitou o artigo no qual exponho minhas primeiras reflexões sobre a edição The Family Shakespeare, intitulado: “Nem anjo, nem demônio: uma análise cultural da apropriação da Ofélia de Shakespeare em The Family Shakespeare” que deve ser publicado neste ano. Ainda em 2009, participarei de três eventos, incluindo o Congresso da Abrace na USP, aonde apresentarei a comunicação intitulada “A dialética texto e cena no monólogo de Gertrudes de Hamlet”, cujo artigo também já foi aceito. Em outubro de 2009, ministrarei a palestra “Shakespeare entre artes” convidada pelo Mestrado em Estudos Literários da UFPR. Espero, com os resultados da presente pesquisa contribuir para um debate salutar nos Estudos Shakespearianos no Brasil e ensejar novas pesquisas. Palavras-chave: estudos shakespearianos; estudos multiculturais; estudos intererartes. 375 376 Resumos GRUPO DE ESTUDOS SOBRE POLÍTICAS EDUCACIONAIS E SOCIOAMENTAIS: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA Carlos Alves Rocha – UTP Maria Cristina Borges da Silva – UTP Mario Sergio Cunha Alencastro – UTP Marilene Zazula Beatriz - UTP Este trabalho tem por objetivo relatar e compartilhar as experiências de um de um grupo de estudos em seu processo de construção e amadurecimento. É fruto da evolução das reflexões desenvolvidas no Grupo de Estudo sobre Políticas Educacionais e Socioambientais (GEPESA), que reúne alunos e professores dos Cursos de Pedagogia, Geografia, Administração e Psicologia da Universidade Tuiuti do Paraná, da Faculdade de Ciências Humanas Letras e Artes, do curso de Pedagogia e de outros profissionais de outras instituições. O grupo está inserido no NEPE, Núcleo de Pesquisas Educacionais, do curso de Pedagogia. O objetivo do GEPESA é aprofundar as reflexões acerca da formação profissional no âmbito dos cursos de graduação sobre a Educação para Sustentabilidade, investigando como os vários conceitos permeiam as diferentes formações. Para tanto, vários documentos têm sido analisados e amplamente discutidos, entre eles pode-se citar os resultados de conferências e relatórios mundiais, leis, decretos, pactos que discutem um novo modelo civilizatório para gestão e planejamento. Estes documentos incluem todos os segmentos da sociedade, já que nenhum setor pode absterse desta discussão. Na educação, anunciam a necessidade de inseri-los deste a Educação Infantil até a PósGraduação. Assim, há necessidade de implantar na formação profissional de todas as áreas de conhecimento discussões sobre sustentabilidade. Ao longo das últimas três décadas discute-se a temática ambiental na formação. Durante este período ocorreram muitas evoluções nos conceitos, e percebe-se que muita coisa mudou. Hoje são vários setores da sociedade que já incorporaram a dimensão ambiental em seus discursos. Mas será que este fato é realmente positivo? Transcorrido mais de trinta anos, que evoluções efetivas aconteceram? Qual tem sido o papel das Universidades no que diz respeito à formação profissional para a sustentabilidade? Está-se formando para o mundo do trabalho ou apenas para o mercado de trabalho? Busca-se a responsabilidade socioambiental ou ambientalismo de resultados a serviço de uma disfarçada racionalidade instrumental? Deseja-se criar uma massa crítica que seja capaz de reagir e propor novas mudanças? Ou ainda estamos adestrando sem ter clareza Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa para onde o futuro nos conduz? Brugger (1994), analisando propostas oficiais no documento “Estratégia Internacional de Ação em Matéria de Educação e Formação Ambientais para o decênio de 1990”, do PNUMA/UNESCO apontou seu predomínio técnico e naturalizante em detrimento dos aspectos éticos e políticos da questão ambiental. Segundo a autora o conteúdo do documento mostra uma tendência a uma educação adestradora que define como “uma instrução de caráter, essencialmente técnico, fruto de uma visão de mundo cientificista e unidimensional”. BRUGGER (1994, p.14). Desta forma, é necessário compreender se o projeto sustentabilidade que está em construção, se apóia na estratégia participativa e democrática de ampla discussão com a sociedade, ou se ainda hoje “é possível, mais do que nunca, ocultar sob a fachada de um saber “técnico” uma decisão na verdade política. Da mesma forma, o universo da locução técnica serve para reproduzir e legitimar o status quo e repelir outras alternativas, que porventura se coloquem contra ele”. BRUGGER, (1994, p.8). Instigados por estas e outras questões, tiveram início as atividades do GEPESA, que pretende ensejar com os seus participantes conceitos advindos da transdiciplinaridade, pois como aborda Nicolescu, (2001, p.9) os pesquisadores que entendem este processo “aparecem como resgatadores de Esperanças”, pois, constroem um novo momento de idéias e um projeto para o Futuro, e o conceito de sustentabilidade se encaixa nesta perspectiva. Neste Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. contexto e após longas horas de estudos e discussões entre os participantes o GEPESA decidiu contribuir com o debate de forma mais efetiva, organizando e ofertando um curso de Pós-Graduação em Educação, Ambiente e Formação Humana para a Sustentabilidade, ofertada pela Universidade Tuiuti do Paraná, ligado a Faculdade de Ciências Humanas Letras e Artes e ao Curso de Pedagogia. A decisão de ofertar o curso de Pós-Graduação voltado à Formação Humana é atender às diretrizes do Ministério da Educação - MEC e do Ministério do Meio Ambiente MMA, e também da UNESCO que determina a implementação da Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável (2005-2014), e que reforça mundialmente o papel da sustentabilidade a partir da Educação e que se propõe a potencializar as políticas, os programas e as ações educacionais já existentes nessa área, bem como multiplicar oportunidades inovadoras.1 Desta forma, as atividades acadêmicas que estão sendo desenvolvidas no curso contribuem para fomentar um maior número de pesquisas em educação, ambiente e sustentabilidade para que seja possível criar bases para o desenvolvimento sustentável, visando mudanças no pensar e no agir cotidiano. A instrumentalização da dimensão ambiental enquanto objetivo de inserção educacional é exercida neste curso, que se destina à profissionais de formação diversificada, propiciando uma visão holística e transdisciplinar desta instigante temática. O principal objetivo do curso é produzir, ampliar e difundir 377 378 Resumos conhecimentos sobre gestão, educação e inovações tecnológicas, voltadas à sustentabilidade socioambiental. Pretende-se desenvolver investigações nas áreas da educação social, gestão de organizações públicas, privadas e não governamentais, fomento de incubadoras, projetos baseados em tecnologias limpas, proteção e conservação ambiental, levando ainda em consideração os aspectos, dos direitos humanos, cidadania, desenvolvimento de comunidades, movimentos sociais, medidas socioeducativas, economia solidária e responsabilidade socioambiental empresarial. A construção deste curso de Pós-Graduação se dá pelo engajamento dos professores que atuarão no curso, empenhados em fomentar na UTP novas dinâmicas de trabalho associadas aos princípios da sustentabilidade, como recomendados pelo Capítulo 36 da Agenda 212, que é um plano de ação para ser adotado global, nacional e localmente, por organizações do sistema das Nações Unidas, governos e pela sociedade civil. Além do documento em si, a Agenda 21 é um processo de planejamento participativo que resulta na análise da situação atual de um país, estado, município, região, setor e planeja o futuro de forma socioambientalmente sustentável. O curso, por estar ligado às diferentes faculdades da UTP (FACHLA, FACET, FCSA e FCBS), tem caráter transdisciplinar. Os produtos derivados deste curso abrem espaço para intercâmbios nacionais e internacionais tais como o International Council for Local Environmental Initiatives (ICLEI) e a vários programas de pesquisa mantidos pelo PNUMA. Importante salientar que o grupo de professores que participam do curso atuam de forma autogestionada no sentido de buscar uma gestão democrática. Há reuniões semanais onde cada decisão é debatida de forma exaustiva, deliberando-se em nome de todos. As informações circulam livremente e não há hierarquia. As decisões tomadas nas reuniões devem ser seguidas por todos. Ou seja, todos são coresponsáveis por tudo o que acontecer com o ou no curso de pós-graduação. Neste sentido, pode haver desgastes nas relações, pois os conflitos existem e devem ser administrados por todos. Para determinados tipos de decisões-chave, pode ser necessária uma busca de unanimidade, mas para as mais importantes o consenso é suficiente, desde que seja realmente um consenso. O importante é que o próprio grupo perceba seu movimento e possa crescer tanto tecnicamente quanto emocionalmente para o bem comum. A referida Pós-Graduação, já produziu a realização de dois Seminários convidando a comunidade em geral para participar do debate, tais como: profissionais de formação diversificada, gestores de empresas públicas e privadas, professores de todos os níveis e modalidades de ensino e interessados nos temas supramencionados. Além de participar do debate, o objetivo dos Seminários é: debater e contribuir com o maior número de pessoas possíveis em face da temática e também convidá-los a integrar o curso de pós-graduação. O primeiro Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa Seminário foi denominado de “Formação Humana e Desenvolvimento: os Desafios da Sustentabilidade”, e abordou temas ligados aos desafios da sustentabilidade em uma visão transdisciplinar envolvendo todos os professores do curso que se disponibilizaram a proferir palestras que versavam sobre diferentes abordagens sobre a sustentabilidade. Foi um seminário que permitiu ao grupo avaliar o interesse dos participantes sobre a temática, e, sobretudo tudo interagir com os participantes. O segundo Seminário intitulado: “II s e m i n á r i o s o b r e Fo r m a ç ã o H u m a n a p a r a Sustentabilidade: Políticas Ambientais e Educacionais” teve como abordagem as políticas educacionais e ambientais e os desafios da sustentabilidade, relacionadas com o desenvolvimento e a formação humana. Este segundo seminário foi fruto de reflexões relativas ao primeiro módulo do curso com o desenvolvimento de palestras e debates sobre: As políticas educacionais e seus reflexos na construção da sociedade brasileira – População e Saúde nas Políticas - As discussões ambientais e as Políticas Ambientais: Os vários discursos sobre o Aquecimento Global - As discussões sobre a escassez da água e as políticas públicas para os recursos Hídricos, - Alguns instrumentos que dispomos para construção de Políticas Públicas: A Agenda 21 como exemplo. As palestras deste seminário foram proferidas pelos próprios alunos da pós-graduação, entre eles profissionais das áreas de: Pedagogia, Psicologia, Bacharel e licenciado em Educação Física, Administrador de Empresas e Gestor ambiental. Os textos das palestras foram produzidos com orientação de dois dos professores do curso, a saber: o professor responsável pelo módulo e o professor de metodologia, que participa ativamente de toda a construção da pesquisa dos alunos desde o primeiro até o último módulo do curso. Após a rica experiência vivida pelo grupo de professores e alunos, esperamos continuar contribuindo com a sociedade para a Formação Humana, divulgando e debatendo por intermédio de outros seminários dos próximos módulos. Palavras-chave: formação; sustentabilidade; políticas. 1 Ver MEC – Cadernos SECAD 1. Disponível em: < http://portal.mec. gov.br/secad/arquivos/pdf/educacaoambiental.pdf> 2 A Agenda 21, documento também concebido e aprovado pelos governos durante a Rio 92. REFERÊNCIAS BRÜGGER, Paula. Educação ou adestramento ambiental? Santa Catarina: Letras Contemporâneas, 1994, 142 p. NICOLESCU, B. O manifesto da transdiciplinaridade. São Paulo: Trion, 1999. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 379 380 Resumos HABITAÇÃO NO BRASIL: HISTÓRIA E PLANEJAMENTO Cleide Meirelles Esteves Piragis - UTP A questão da habitação no Brasil é intrínseca ao próprio planejamento da política econômica. O aspecto mais relevante acentua-se no modelo da pobreza urbana, provocando impactos nos programas do governo face às condições de bem-estar da cidade. Nesse sentido, cabe ressaltar duas contribuições principais: avaliação desses programas, durante e após a implantação, com o objetivo de verificar o desempenho re-distributivo e não somente dar acompanhamento financeiro, mas controlar a incidência dos benefícios gerados pelos projetos de modo a mantê-los permanentemente, favorecendo as moradias de baixas rendas; e a segunda contribuição torna-se praticamente extensão da primeira, possibilitando a redução dos índices de pobreza urbana. Desde os anos 30, quando a indústria começou a liderança na economia do Brasil, as desigualdades nas diversas escalas geográficas, sejam entre macrorregiões, sejam em nível de microrregiões, como entre componentes de mesma área metropolitana, vêm se acentuando quanto aos níveis de desenvolvimento, provocando uma forte pressão no sentido de ocupação dos espaços urbanizados e inúmeras mudanças na questão da composição da estrutura social. Deve-se considerar também que a imigração estrangeira teve papel significativo no desenvolvimento do Sul. No caso de São Paulo, a imigração se relaciona à expansão cafeeira sobre terras de mata e á colonização urbana com europeus. Considerando a metodologia para a execução desta pesquisa, além das fontes com base em documentação primária, tais como: relatórios confidenciais, atas, e outros, observaram-se informações estatísticas governamentais, documentos esses, que possibilitou identificar que houve um declínio das taxas de imigração das regiões Nordeste em favor aos aumentos das taxas da região do Sul do país. Mais recentemente são significativos os movimentos migratórios, principalmente de gaúchos que vieram ao Paraná, e se dirigiram depois, com outras levas de migrantes, para as regiões de Mato-Grosso, Goiás e Amazonas. Em conseqüência das migrações ocorridas durante as décadas de 1940, 1950 e 1960, o crescimento da população do Paraná foi mais significativo que de qualquer outro Estado brasileiro. Segundo pesquisa desenvolvida por equipe de professores da Universidade Federal do Paraná o crescimento demográfico do Paraná foi acompanhado pelo desenvolvimento urbano, ou seja, pelo aumento do número de cidades e pela concentração populacional em núcleos urbanos. Contudo, embora elevado o número de núcleos urbanos que surgiram, a maioria da população Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa atual do Paraná continua predominantemente rural1 nesse período. Em todo o Estado do Paraná, o processo de ocupação foi sucedido de inúmeros conflitos, isto porque a negociação de terras, desenvolvidas entre 1947 e 1950, com a cumplicidade de autoridades estaduais, resultou em violência e desapropriação. Já em 1930, os abusos por parte do Governo de Mário Monteiro TOURINHO, “decorrentes de concessões, a título gratuito ou por preço reduzido de terras devolutas às empresas de construções de estradas e de colonização, bem como as legitimações de grandes áreas que se foram processando, deram em resultado, a formação dos latifúndios prejudiciais aos supremos interesses da Nação.” 2 Em 1951, o Governo do Estado declarara de utilidade pública as terras litigiosas de várias localidades, cujos títulos haviam sido irregularmente expedidos pela administração anterior, fundamentando-se no preceito constitucional do interesse social, ocorrendo, portanto, a primeira desapropriação no Brasil com base no interesse social. Sobre este contexto, é importante que se faça a avaliação do papel que as políticas de desenvolvimento regional desempenham no processo de planejamento nacional e que não podem ser realizadas apenas a partir das intenções que são explicitadas nos documentos do governo ou nas diretrizes e objetivos das instituições públicas, mas, principalmente, a partir da análise do processo decisório que ocorre na dinâmica das organizações políticas. A partir da década de 1940, Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. várias foram as tentativas de coordenar, controlar e planejar a economia do país. Contudo, até 1956, elas consistiram em propostas, como é o caso do relatório SIMONSEN, entre 1944 e 1945; mais em diagnósticos, quando se trata da Missão Kooke (1942-1943), Missão Abbink (1948), da Comissão Mista Brasil – EUA (19511953), no governo Vargas. Para acentuar a evidente preocupação, com a questão de investimentos direcionados de forma direta ou indiretamente, para construção de casas e apartamentos, ou até aquisição de terras Octávio G. de BULHÕES relata em sua obra à margem de um relatório, o seguinte: “O investimento ... em bens imóveis tem causado uma pressão intensa e contínua sobre o sistema bancário, proveniente de todos os outros setores da economia, e destinado a obter os fundos necessários à manutenção e ampliação das atividades existentes. As taxas de juros têm sido impelidas para mais alto do que deveriam ser normalmente. Há, por conseguinte, uma tentação contínua no sentido de financiar as despesas do capital por medidas inflacionistas.”3 Por volta de 1947, o capitalismo industrial esteve apenas começando no Brasil, seu desenvolvimento foi dificultado pela mentalidade de alto lucro unitário e pela escassez de especialistas e técnicos no domínio administrativo dessa área. Em função disso, havia uma forte atração da propriedade imobiliária como campo de investimentos dos lucros da indústria, comércio e exportação agrícola. Durante o pós-guerra, a concentração do potencial de 381 382 Resumos investimento brasileiro direciona-se para a construção de edifícios comercias e de apartamentos para os grupos relativamente pequenos de pessoas ricas. A Comissão Abbink considerava que a tentativa rigorosa do governo no sentido de dar nova direção ao fluxo das economias da nação, seria a única base sólida sobre a qual poderiam ser efetuados os planos financeiros de desenvolvimentos. A execução dessa política contendo as forças inflacionárias tenderá a limitar as oportunidades de obtenção de altos lucros na especulação de imóveis e mercadorias e aumentar as vantagens relativas de investimentos mais construtivos. O governo pode desestimular, porém, um investimento excessivo em bens imóveis urbanos, tributando mais pesadamente os lucros do capital obtidos nesta espécie de investimento.4 A política destinava-se a restringir o investimento das instituições de economias coletivas em bens móveis e desaconselhar o emprego indevido dos recursos dos bancos particulares para financiamento de projetos especulativos. Ainda armazenando esforços no sentido de racionalizar o processo orçamentário, surge o Plano Salte, na mensagem n° 196, de 10 de maio de 1948, no Governo Dutra. Este foi elaborado com deficiências graves em sua previsão financeira e não relacionou o orçamento com sua aplicação, dando origem a problemas de ordem técnica, enfrentadas com relativo êxito no plano que antecedeu – Plano de Obras. O Plano Salte, propondo medidas puramente setoriais, como é o caso do petróleo ou do café, não se concretizou como uma experiência propriamente na área de habitação. A questão habitacional e urbana coloca-se no país a partir dos anos 50, ligada diretamente ao processo de incremento do setor industrial, especialmente por empresas estrangeiras, e aos fluxos migratórios internos oriundos do campo para centros urbanos megalopolizados. A princípio, os imigrantes se ajustavam junto às plantas industriais, criando-se as vilas operárias em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e, em menor escala, Belo Horizonte e Curitiba. O avanço do crescimento da política habitacional voltada para a garantia da presença próxima de trabalhadores ao local de trabalho cria o inevitável reflexo da especulação imobiliária urbana. Em alguns casos, a própria empresa assegurava ao trabalhador a moradia, e perder o emprego representava perder a casa.5 Desde o período Vargas até 1964, o setor público criou e desenvolveu mecanismos próprios de intervenção no setor habitacional, com o objetivo de atender necessidades existentes e avolumadas pela incidência do capital de risco. Nessa época surgiram a Fundação da Casa Popular e as Carteiras Hipotecárias, vinculadas aos Institutos de Previdência e às Caixas Econômicas Federais e Estaduais. Os mecanismos eram políticos, marcados pelo clientelismo no atendimento, pela inoperância de seus agentes, pela escassez de recursos, pela corrupção, pelo paternalismo e favoritismo; obviamente com resultados bastante insignificantes, isto porque todos esses órgãos produziram juntos Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa apenas 120 mil unidades até 1964, protegendo praticamente o seguimento da população de altas rendas. Para se ter uma idéia mais precisa a Fundação da Casa Popular, em seus dezoito anos de funcionamento e com a finalidade de intensificar a produção de habitação para famílias de baixa renda, financiou apenas 17 mil moradias. Acumulando experiência, várias foram às tentativas brasileiras para implantar a técnica do planejamento nas atividades do setor público, porém, nenhum dos planos brasileiros chegou, sequer, a atingir o seu objetivo final, exceto o chamado Programa de Metas, que, curiosamente, não pretendeu ser um plano, no sentido técnico da palavra. Somente em 1964, junto às contingências históricas, o setor habitacional e urbano passaria por rearticulações profundas, inserindo-se no quadro de transformação e mudanças do direcionamento da política econômica institucional do país, no mandato Castelo Branco. Em síntese, é possível perceber que a iniciativa de se instituir o BNH teve a sua concepção na política, e não na causa social Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. propriamente dita, uma vez que o descompasso entre o país real e suas instituições caracterizava-se por vários fenômenos, em especial, pela mobilização social e ecológica das massas rurais e a vacância política que essas migrações acarretariam, sendo inevitavelmente um agravamento das condições de vida urbana. Assim, essa nova camada social, sem preparo para a vida urbana, e por isso mesmo marginalizada, desassistida, socialmente ressentida e desprovida de liderança autêntica, acabaria por provocar um desequilíbrio eleitoral. Palavras-chave: habitação; planejamento; urbanismo; políticas públicas; investimento. 1 BALHANA, A. Pilatti; MACHADO, B. Pinheiro; WESTPHALEN, Cecília. História do Paraná. Curitiba: Grafipar, 1969, p. 245. 2 WESTPHALEN, Cecília et al., p. 211. 3 BULHÕES, Octávio Gouvêa. A margem de um relatório. Rio de Janeiro: Edições Financeiras, 1950, p. 343. 4 BULHÕES, O. Gouvêa. P. 264. 5 RIBEIRO, L. C. de Queiroz & PECHMAN, Robert M. p. 24. 383 384 Resumos HEGEMONIA CATÓLICA: DE MEDELLÍN A APARECIDA Vera Irene Jurkevics - UTP Esta comunicação é resultado de uma parte do projeto de pesquisa em andamento, A Concepção de Religiosidade Popular para o Conselho Episcopal da América Latina (CELAM), que visa analisar as profundas transformações operadas, a partir de meados do século passado, no interior da Igreja latino-americana e identificar qual a leitura que esta instituição faz das manifestações de piedade e fé popular. Nas últimas décadas, um número expressivo de pesquisas acerca de história religiosa e história das religiões vem sendo desenvolvido e, aspectos tidos até então como objetos da sociologia, da antropologia e da teologia, passaram a objetos de estudo e reflexão da história. Por outro lado, se antes os historiadores se detinham na história das relações institucionais da Igreja, priorizando as relações entre Estado e Igreja, mais recentemente tem se multiplicado as investigações que enfatizam os comportamentos e atitudes dos diferentes grupos religiosos, em suas múltiplas expressões de religiosidade. Nesse sentido, nosso projeto visa estabelecer uma relação dialógica entre o institucional/oficial e o desclericalizado/oficioso, buscando ainda, detectar onde, em que momento e com que intensidade se pode estabelecer uma intercessão entre eles. Para tanto, essa pesquisa se desdobra em dois momentos. O primeiro, se refere à análise dos documentos oficiais produzidos pelos órgãos oficiais da Igreja, e está, em princípio concluído, uma vez que, em um projeto em andamento é sempre prematuro afirmar que um segmento já está finalizado, na medida que novos elementos, até então desconsiderados podem exigir uma pesquisa complementar. Essas fontes, os documentos oficiais produzidos pelo CELAM, sinalizam as transformações ocorridas na esfera institucional acerca das diretrizes estabelecidas a partir do episcopado latino-americano ao longo de suas cinco conferências, quatro delas alinhadas com o Concílio Vaticano II (1962-1965), uma vez que a primeira o antecedeu. Num segundo momento, esta pesquisa se debruçará na identificação das manifestações de religiosidade popular dos povos latino-americanos para detectar a ação da Igreja no que se refere à religiosidade popular e sua reação em torno das práticas declericalizadas. Para tanto, o ponto de partida é contextualizar a Igreja a partir da Segunda Guerra Mundial. O contexto europeu, pós 45, com a derrota do nazi-fascismo, a emergência da Guerra Fria, a vigência de diferentes sistemas econômicos, exigiu um redirecionamento da estrutura eclesiástica, idealizada, fundamentalmente, em torno de uma convivência pacífica e harmoniosa, que buscou o diálogo ecumênico com outras povos e expressões religiosas. Vale ressaltar, no entanto, que antes mesmo da realização do Vaticano II, Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa em 1955, o então papa Pio XII, havia aprovado um encontro do bispado latino-americano por ocasião do Congresso Eucarístico Internacional, no Rio de Janeiro, quando um grupo expressivo de sacerdotes latinoamericanos, defendeu que a reunião deveria se centrar em questões emergenciais da religiosidade dos diferentes povos da América Latina, com ênfase na conquista apostólica, visto que há muito a escassez apostólica delineava a debilidade da Igreja em nosso continente. Outros temas também estiverem presentes nesses debates, por estarem imbricados com a realidade social e política vigente, sobretudo a exploração campesina e a segregação social, inclusive no interior da própria Igreja, uma vez que vários membros da instituição que estava sendo criada apontavam que negros e índios, mesmo tendo assimilado a fé e o culto cristão, nunca haviam sido contemplados com uma pastoral direcionada a eles. Assim, esse encontro que criou o Conselho Episcopal Latino-Americano, materializou-se na I Conferência Latino-Americana, que discutiu temas considerados emergenciais: a educação, os meios de comunicação e a influência da Igreja na cultura, além de outros, velhos conhecidos, como o laicato, a maçonaria, o protestantismo, o comunismo e, em especial, no Brasil, o espiritismo. Após o Concílio Vaticano II, boa parte do episcopado latino-americano procurou traduzir em ações as disposições conciliares e, de acordo, com os problemas mais expressivos do subcontinente, promoveu, pouco Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. depois, em 1968, a II Conferência Episcopal LatinoAmericana, efetivada em Medellín, na Colômbia, sob a temática Opção pelos Pobres, a partir de um atento estudo da realidade sócio-econômica, política e eclesial, em que a prioridade era ação, muito mais que as palavras, o que resultou, pouco depois, na difusão das Comunidades Eclesiais de Base (as CEBs), sustentadas teoricamente na Teologia da Libertação. Esta disposição considerada muito avançada pelos setores mais conservadores da Igreja, no encontro de Puebla, no México, em 1979, sofreu um arredondamento, e a anterior opção pelos pobres se transformou em Opção preferencial pelos pobres. As propostas das CEBs e a polêmica em torno da Teologia da Libertação provocaram um realinhamento da Santa Sé. Entre Medellín e Puebla, praticamente dez anos depois, percebe-se uma retomada gradual, mas evidente, do controle exercido pelo episcopado mais conservador, já que, circunstancialmente, a Igreja se voltaria para os pobres, mas não exclusivamente, esvaziando, em boa parte, a proposta anterior. Nossa análise aponta que, esse redirecionamento visava enfraquecer a discussão em torno da Teologia da Libertação e, traduziu-se, na prática num retrocesso da ação dos leigos, dentro e fora dos locais consagrados. Dessa forma, enquanto o pobre, em Medellín, foi contemplado com um olhar mais fraterno, inclusive no que se refere às suas manifestações de fé, em Puebla ele foi diluído, uma vez que o bispado demonstrou especial preocupação com 385 386 Resumos os jovens, uma vez que via neles, uma força transformadora da sociedade, capaz de renovar a cultura e de dinamizar toda a sociedade. Ao optar pelos jovens, a Igreja evangelizadora convidava-os a encontrarem nela o lugar de comunhão com Deus e com os homens, na construção de uma sociedade mais fraterna e mais justa, num claro esvaziamento do comprometimento dos representantes da Igreja com o aspecto político e social, apesar da promessa de continuidade do caminho de renovação da Igreja, desde a realização do Vaticano II. Puebla, por exemplo, lembrou os indígenas e afro-americanos somente quando os comparou com as feições sofredoras do Cristo, considerando-os os mais pobres entre os pobres, sem sinalizar, no entanto, as marcas específicas de sua pobreza: a marginalização e a discriminação, em função de sua alteridade cultural. Assim, pregava Comunhão e Participação e a integração dos jovens seria canalizada através de diferentes pastorais, a fim de que jovens operários e camponeses, estudantes secundaristas e universitários fossem assistidos de acordo com sua situação concreta. Essa tendência, de certa forma, foi reforçada, em 1992, na IV Conferência, em Santo Domingo, na República Dominicana, por ocasião das comemorações dos 500 anos da conquista da América Latina e que se identificou com a temática A Unidade e a Pluralidade das Culturas LatinoAmericanas - A Evangelização no Presente e no Futuro, e centrou as discussões em torno da diversificação cultural e histórica dos povos da América Latina e do Caribe, uma vez que o Caribe não se considera incluído na realidade latino-americana e que a expressão “latino” não consegue recobrir sua diversidade étnica, cultural e religiosa enfatizando as fronteiras entre os povos latinos, de substrato católico e os caribenhos, de substrato protestante, seja ele luterano, calvinista ou anglicano. Esse mosaico étnico-religioso foi ainda reforçado, ao longo do século XIX, por migrantes vindos das colônias européias da Ásia, como chineses, hindus, indonésios, japoneses, turcos e árabes. Diante desse quadro, os bispos delegados de Santo Domingo se depararam com algumas problemáticas fundamentais, tais como, o direito constitucional da existência de outras igrejas cristãs e não-cristãs, como as dos indígenas e as afro-americanas, e sua liberdade de culto; a existência, muitas vezes, de uma dupla pertença e de uma dupla prática, a do catolicismo e a das religiões tradicionais, bastante difusas por todo o continente além do direito dos povos indígenas e das populações afro-americanas, já batizadas, viverem seu cristianismo, segundo suas raízes culturais e seus costumes. Com era de se esperar, diante dessas questões polêmicas, muitas foram as vozes de resistência, pois enquanto alguns defendiam que a inculturação é um processo de cada comunidade ou povo, devendo por isso ser articulado à tarefa de evangelização, a perspectiva aprovada colocava, no centro da questão a própria Igreja, fazendo dos povos e das culturas objetos próprios de sua ação. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa Este ponto parece ser fundamental para responder tanto às inquietações acerca dos pobres em Medellín e Puebla, quanto à multiplicidade de perfis culturais, em Santo Domingo. A Igreja, ao que tudo indica, não se dispõe a ir ao encontro do povo, do pobre, do negro, do índio, ou quem quer que seja o outro. Antes, espera que venham a ela, se ajustando, se adaptando às suas diretrizes, que, em linhas gerais, foi a postura adotado por ocasião do Concílio Ecumênico Vaticano II, quando sinalizou com o retorno dos irmãos separados. Os três problemas-chaves priorizados em Santo Domingo, Nova Evangelização, Promoção Humana e Cultura Cristã exigiram a reflexão de um outro modelo de Igreja, uma vez que resolvê-los com o modelo tradicional, piramidal centralizado e não-participativo, era impraticável. Em linhas gerais, essa seria uma forma de encarar as exigências pastorais daquele momento, sem preterir Medellín ou Puebla. Ou seja, seria assumir um compromisso com uma nova evangelização dos povos latino-americanos, com uma promoção humana integral e através de uma evangelização inculturada. A justificativa dessa continuidade, também esteve Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. presente no último encontro do bispado latinoamericano realizado em Aparecida, em maio de 2007, cujo maior desafio era dar um novo impulso e revigorar a missão católica na América Latina e no Caribe, que enfatizou o caráter missionário de toda a Igreja, envolvendo, além de toda a classe sacerdotal, cada um dos discípulos. A preocupação com os desafios sinalizados para o século XXI apontou para a necessidade de que toda comunidade se empenhe em propagar a “verdadeira” fé católica, uma vez que o número de novas igrejas e grupos religiosos tem indicado, cada vez mais, um esvaziamento nas fileiras católicas, ainda que de longe a Igreja Católica se mantenha hegemônica, segundo os números oficiais. Por outro lado, vale lembrar que, apesar de todos os esforços, as manifestações de fé tem se multiplicado, o que justifica, na visão da Igreja, um empenho redobrado para que a sua unidade e a sua universalidade seja mantida. Palavras-chaves: Igreja; América Latina; Religiosidade Popular. 387 388 Resumos INCLUSÃO EM DEBATE Ademir Valdir dos Santos - UTP Elaine Cristina Gonçalves - UTP Ingrid Adam - UTP Viviane Regiani - UTP A proposta desta mesa redonda é a discussão crítica e aberta da natureza do atendimento dos alunos da Educação Especial, na rede regular de ensino, segundo a proposta de Educação Inclusiva vista pelas pesquisadoras, a partir da temática Prática Pedagógica. Esta discussão tem por objetivo expor as reflexões alcançadas no processo de pesquisa, com o intuito de ampliar o fórum de discussão sobre o que seriam as práticas inclusivas e como se estabelece essa prática com a interferência da dicotomia clínico-pedagógica. Inicialmente, o debate inicia-se com o relato das considerações de práticas vivenciadas e esperadas em uma sala de aula do ensino regular e suas nuances observadas a partir da pesquisa participante. Assim, diante do quadro evolutivo da diversidade que permeiam as escolas e das múltiplas variáveis que configuram este decurso complexo, coloca-se a necessidade de pensar a Educação no processo de ensino-aprendizagem. Porém, sabemos que pensar o trabalho com alunos deficientes demanda esforços para desenvolver o que se planeja. Repensar a prática - até então implementada com os alunos deficientes que, por algum motivo, estão limitados em suas expectativas ou capacidades de se integrarem socialmente, de se incluírem na escola e de serem produtivos economicamente - demandam especificidades que necessitam de uma gama de conhecimentos do educador, não sendo tarefa fácil, posto que a formação inicial e continuada desse profissional precisa estar em contínuo ir e vir de construções e reconstruções do seu saber, que possam subsidiar a sua atuação em sala de aula. Esse saber se configura em todo um processo, que abrange desde mudanças de paradigmas que o professor possa querer, como também mudanças em relação às ações que possam viabilizar políticas de formação inicial e continuada para o atendimento desse aluno com deficiência. Diante deste contexto, a necessidade de observar situações de atendimento docente ao aluno com deficiência, em sala de aula, no ensino regular, o que implica em diferentes desafios à prática docente, nos remete a perguntar: Quais são as práticas docentes em classes regulares nos Anos Iniciais com alunos que apresentam deficiência física? A educação do deficiente na escola, mais precisamente no ensino regular, alerta Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa para a promoção de um ensino que corresponda não somente às necessidades específicas deste aluno, mas que corresponda aos interesses e necessidades de todos os alunos da classe. Com isso, o aluno incluído necessita de apoios e complementos pedagógicos, de metodologias e tecnologias de ensino diversificadas, bem como a organização pelas escolas especiais de propostas curriculares articuladas ao sistema regular de ensino. É preciso insistir também no fato de que esta, por certo, não é tarefa simples ou de fácil condução. Sem dúvida, saber a respeito das variáveis sobre a questão do conhecimento que o aluno precisa e propor desafios de que necessita para aprimorar seus saberes, depende e muito da intervenção que o professor estará fazendo ou adequando na sua prática para permitir Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. dar uma resposta adequada às necessidades pessoais de todos, não perdendo a especificidade de cada um dos alunos envolvidos no processo de aprendizagem. Partindo da ideia do professor como agente formador, contribui com a inclusão de alunos com Necessidades Educacionais Especiais em suas turmas de ensino regular as contribuições obtidas por meio de sua formação inicial e continuada, se são relevantes ou não para a sua prática educativa. E, finalmente, com estas reflexões postas, tratar-se-á da contextualização da dicotomia clínico-pedagógica vista nas práticas ainda iniciantes de uma educação inclusiva. Palavras-chave: educação inclusiva; prática pedagógica; dicotomia clínico-pedagógica. 389 390 Resumos INTELECTUAIS E PODER: A REVISTA ANHEMBI E A FACULDADE DE FILOSOFIA, CIÊNCIA E LETRAS DA UNIVERSIDADE DOPARANÁ (1955-1957) Valeria Floriano Machado de Souza - UTP Objetivamos, neste trabalho, apresentar um conflito ocorrido na Faculdade de Filosofia da Universidade do Paraná - portanto, aparentemente local, mas que alcançou grande divulgação através de jornais diários e revistas de cultura - tornando-se apêndice de uma ampla discussão nacional em torno da configuração e do controle do campo intelectual na área da educação a partir da segunda metade da década de 1950. Neste sentido, a presente pesquisa, buscou analisar os dados da pesquisa iniciada em março de 2006, onde apontamos a importância dos grupos de intelectuais, que contribuíram - para a divulgação, de determinados conhecimentos, influenciando efetivamente na formação de um campo intelectual em Curitiba. Durante o perído da pesquisa, além do arrolamento e análise da atas da congregação da Universidade, no qual iniciamos uma reflexão acerca do papel da revista Anhembi, em conjunto com alguns professores, que tornaram pública as constanteS intervenções e concursos públicos na Universidade do Paraná. A construção do objeto de pesquisa, e sua problematização, se conformaram a partir de determinadas opções teóricas. Neste sentido, utilizamos o conflito como ponto de partida para analisar a configuração do campo intelectual. A noção de campo se constitui num recurso que permite certa operacionalidade, no sentido de analisar os produtos culturais revistas, livros, artigos), bem como os seus produtores (os agentes que se manifestaram no conflito). Sendo o campo o território estruturado a partir de uma gama específica de interesses, faz-se necessário, para determinados campos existirem, segundo Bourdieu, idéias e instituições que lhes dêem apoio efetivo e assegurem sua existência. A compreensão do campo intelectual, assim como no campo científico, necessita do estudo das instituições que o legitimem. A presente pesquisa busca apresentar um conflito ocorrido na Faculdade de Filosofia da Universidade do Paraná - portanto, aparentemente local, mas que alcançou grande divulgação através de jornais diários e revistas de cultura - tornando-se apêndice de uma ampla discussão nacional em torno da configuração e do controle do campo intelectual na área da educação a partir da segunda metade da década de 1950. Fundamentalmente, o início dos embates, e seu acirramento teve como estopim um concurso público, ocorrido na Faculdade de Filosofia da Universidade do Paraná, para professor, realizado em 1955, e as reclamações decorrentes de seu resultado, dadas supostas irregularidades no encaminhamento do processo. As críticas apontavam para a necessidade de se moralizar as universidades, através da instauração de um ethos acadêmico, Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa que se notabilizaria, no deslindar das discussões, compatível com um projeto educacional que se pretendia construir. Assim, buscamos reconstituir o embate a partir da sua publicidade, identificar os atores envolvidos - e suas impressões - e os seus desdobramentos. A publicidade dos conflitos, que revelou, desde 1955, acontecimentos ocorridos no interior da Universidade do Paraná, passou a ser discutido juntamente com outras questões referentes às Universidades brasileiras, principalmente no que se referia a seu próprio papel. A divulgação das polêmicas locais se deu, primeiramente, a partir de notas na Revista Anhembi contra a figura do Diretor da Faculdade de Filosofia, professor Homero Batista de Barros. O Paraná vivia, então, um momento em que um projeto de modernização e um ideal de modernidade ocupavam a agenda local. A Comemoração do primeiro Centenário da Emancipação Política, em 1953, teve em Curitiba o palco apropriado para anunciar a modernização que se vislumbrava. A implantação de algumas obras definidas pelo Plano Agache incrementou o uso racional do espaço, que se pretendia planejado, racional e moderno e que começava a modificar a paisagem de sua capital. A construção do Centro Cívico, do Teatro Guaíra, do Prédio da Biblioteca Pública e do Colégio Estadual do Paraná eram obras marcadas por formas modernas e grandiosas e que pareciam atestar a renovação da capital do Estado. Um novo Paraná se assentava sob a égide de uma capital de grande envergadura. Este contexto pode ser notado a partir, Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. também, da produção intelectual do período. Em 1953, por exemplo, Temístocles Linhares enfatizava as transformações da última década como um marco sem precedentes na experiência econômica e social, destacando as especificidades regionais em relação a outras regiões brasileiras. De maneira similar, Wilson Martins, em “Nota para a segunda edição” de “Um Brasil Diferente: ensaio sobre o fenômeno de aculturação no Paraná”, sugeria, em 1989, que a obra deveria ser lida no contexto de sua produção. Temístocles Linhares e Wilson Martins, da mesma forma que nos dão pistas para uma possível caracterização do período em estudo, foram também protagonistas dos eventos que afetaram a tranqüilidade da Faculdade de Filosofia, de que falávamos acima. Ambos se posicionaram tanto frente ao embate local, bem como em relação às questões debatidas na configuração nacional. Professores vinculados à Universidade do Paraná, ambos pensaram o Estado e se inseriram nos debates nacionais em torno da Educação. Suas posições podem ser avaliadas a partir de suas respostas a um Inquérito, promovido pela Revista Anhembi sobre a situação da Educação no Brasil. Enquanto Martins destacaria a importância de uma política educacional para a superação do atraso, caracterizando a educação como uma instituição que não cumpria as suas finalidades, Linhares ressaltava o sucesso do ensino primário no Paraná, definindo como degradante a situação do ensino secundário. Assim como Wilson Martins, Temístocles Linhares assinala a falta de 391 392 Resumos uma legislação ou de uma política de educação que orientasse e definisse a atuação dos professores. A participação de ambos num debate que, ainda que nacional, até então se mostrava ausente da participação paranaense, parece sugerir que o envolvimento, de Linhares e Martins, através da inserção promovida pelas posições tomadas frente aos problemas atrelados ao campo educacional, mirava o seu ingresso e seu conseqüente reconhecimento no campo intelectual. Por fim, Temístocles Linhares e Wilson Martins – “intelectuais que viveram um novo surto de desenvolvimento, muitas vezes ligados aos poderes públicos, e que ao perceberem as aparências evidentes ou ocultas, as avaliaram e registraram” (BURMESTER, PAZ e MAGALHÂES, 1986:146) – marcavam suas posições no momento em que o “espetáculo da prosperidade” se assentava no discurso da “modernidade no/do Paraná”. Foram, portanto, espectadores e intérpretes deste processo, se posicionando frente às questões nacionais, num mesmo contexto que outros atores que participavam na configuração do campo intelectual entravam em disputa pela legitimidade em torno do projeto educacional. Após a Segunda Guerra Mundial - diante da crise social em escala mundial que exigia a reconstrução de todas as esferas da vida social, bem como o conhecimento efetivo sobre a realidade nacional - viveu-se um contexto propício para a reorganização do sistema de ensino no Brasil. Assim, da mesma forma que a década de 1950 marcou rumos do ensino superior no Brasil - pois com a federalização muitas instituições de ensino, particulares ou mantidas pelos estados, passaram a ser financiadas e/ou subordinadas ao Ministério da Educação do governo federal - definiu também uma nova configuração nos espaços universitários, dado que transformações significativas nas carreiras docentes se efetivaram, uma vez que professores catedráticos tornaram-se funcionários públicos federais. Assim, do catedrático ao professorpesquisador, viu-se surgir, naquele período, um campo intelectual com atores participantes, críticos, colaboradores e/opositores das/nas decisões das políticas educacionais. A Faculdade de Filosofia do Paraná, neste sentido, e da mesma forma, deve ser analisada a partir das determinações ocorridas com a federalização das universidades e também, ou principalmente, identificando a configuração do campo intelectual após os conflitos narrados durante este trabalho. A construção do objeto de pesquisa, e sua problematização, se conformaram a partir de determinadas opções teóricas. Neste sentido, utilizamos o conflito como ponto de partida para analisar a configuração do campo intelectual. A noção de campo se constitui num recurso que per mite certa operacionalidade, no sentido de analisar os produtos culturais (revistas, livros, artigos), bem como os seus produtores (os agentes que se manifestaram no conflito). Sendo o campo o território estruturado a partir de uma gama específica de interesses, faz-se necessário, para determinados campos existirem, segundo Bourdieu, Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa idéias e instituições que lhes dêem apoio efetivo e assegurem sua existência. A compreensão do campo intelectual, assim como no campo científico, necessita do estudo das instituições que o legitimem. (ORTIZ, 2003). Ainda que possamos definir, portanto, o campo intelectual como uma configuração que se estabelece a partir das relações objetivas - entre atores e suas posições - em diferentes espaços intelectuais, parece-nos útil acrescentar que estas mesmas posições se definem nas determinações que o campo impõe aos atores que nele participam. O campo é um espaço de luta de agentes e de instituições pelo monopólio da violência simbólica legítima no seu interior e pela posse do capital próprio desse campo. É nesse sentido que se pode falar do campo religioso, do campo político, do campo artístico, do campo educacional. As relações de força simbólicas que demarcam os limites de cada campo estão baseadas nas relações de força material entre grupos e/ou classes sociais, dominantes e dominados, mas de uma maneira tal que as dissimulam e as reforçam. (Bourdieu, 1996) A partir desta noção, como dissemos anteriormente, é possível examinar a inserção dos atores envolvidos nos embates em diferentes espaços de sociabilidade, nos quais os acadêmicos tiveram participação efetiva. O sentido simbólico revelado nestes espaços seria resultado de relações afetivas, podendo ser hostis ou não, em relação às posições de poder que estes atores ocupavam. A participação em associações, em grupos de estudos, em revistas literárias ou em espaços de circulação de Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. idéias, indicam as relações que os atores estabeleceram no campo intelectual local e nacional, uma vez que, se pode dizer, as publicações de artigos em revistas de circulação nacional, apontam para concepções teóricas e políticas que se constituíram em elementos de diferenciação entre os grupos de professores da própria universidade do Paraná. Assim, nesta pesquisa, busca-se reconstituir através da leitura das atas do Conselho Universitário e dos artigos da Revista Anhembi, como também dos jornais locais e nacionais, a cronologia do embate travado entre a Faculdade de Filosofia da Universidade do Paraná e Anhembi. Em linhas gerais, ao tornar público o conflito, e ainda ao utilizar as revistas e jornais como instrumento de divulgação, o que se revela é a luta entre os possuidores de capitais diferentes que visavam a transformação ou manutenção do campo intelectual. As lutas que ocorrem no campo intelectual revelam a oposição entre, de um lado os defensores de um modelo educacional fundado no pensamento católico e, de outro, os defensores da proposta do Estado, que definia a obrigatoriedade da educação pública. Assim, se o que estava em jogo na rivalidade entre os participantes era o domínio do campo intelectual, ou o controle da legitimidade intelectual, o objetivo último – em todos os casos – parece ter sido a imposição de uma definição acerca do próprio papel do intelectual militante. Palavras-chave: intelectuais; educação; campo intelectual. 393 394 Resumos REFERENCIAS _____ (org.) A sociologia de Pierre Bourdieu. São Paulo: Olho d’água, 2003. _____ Ciências Sociais e trabalho intelectual. São Paulo: Olho d’água, 2002. _____ Cultura e modernidade. São Paulo: Brasiliense, 1991. _____ Intelectuais à brasileira. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. _____ As regras da arte. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. _____ A Economia das trocas simbólicas. São Paulo: Perspectiva, 2003. 5° Reimpressão. AZEVEDO, Fernando de.(org.) As Ciências Sociais no Brasil. 2 vol. 2.ed. : Rio de Janeiro, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1994. BEGA, Maria Tarcisa. 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Como resultado parcial desta primeira etapa, apresentarei a concepção de letramento que norteará o trabalho, uma conceitualização de letramentos digitais e quais seriam os letramentos digitais essenciais aos professores de Língua Inglesa. INTRODUÇÃO: Sou professora de língua inglesa do curso de Letras. No início do semestre 2/2009, ao fazer uma breve pesquisa entre os alunos que incluía sua freqüência de acesso a email e a agregadores de feeds, notei que apenas um entre todos os alunos sabia o que era um agregador de feed. Esta foi a minha motivação para esta pesquisa. Tratarei nesta comunicação da primeira etapa desta pesquisa, isto é, da revisão da literatura, que estará organizada da seguinte maneira: (1) o conceito de letramentos; (2) A formação dos professores de línguas estrangeiras; (3) os letramentos digitais essenciais. 1. Objetivos: Espera-se que os futuros professores, uma vez expostos ao uso de ferramentas disponíveis via computador e Internet, possam se apropriar com mais autonomia e competência das diversas ferramentas em seu processo contínuo de formação profissional. 2. Atividades gerais desenvolvidas: Como etapa inicial essencial a toda pesquisa, estou fazendo uma revisão da literatura nos temas: letramentos, formação de professores de língua inglesa e letramentos digitais essenciais. 2.1. Letramentos: Segundo SOARES 2002, “letramento são as práticas sociais de leitura e escrita e os eventos em que essas práticas são postas em ação, bem como as conseqüências delas sobre a sociedade”. Nessa concepção, o letramento digital é colocar em ação o letramento na mídia digital. 2.2. Formação de professores de língua inglesa: Discutir problemas existentes nos cursos de formação de professores de línguas estrangeiras (LE) vem sendo interesse de vários profissionais ao longo das últimas décadas (EGITO 2008, MATTOS 2003, CELANI 2002-a, b). Descrever, compreender e discutir o processo de formação de professores de LE tem sido alvo de preocupação de inúmeros desses estudos e daqueles que se dedicam à pesquisa em ensino-aprendizagem de línguas (SARMENTO 2004, DELGADO 2004, NORTON 2001). Profissionais brasileiros de diferentes estabelecimentos de ensino têm apresentado publicações a respeito do assunto (MIZUKAMI 2006, MATTOS 2003, CELANI 2002, LEFFA 2001) Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 395 396 Resumos com o intuito de nos alertar para as lacunas e dificuldades encontradas na formação (inicial e continuada) do professor de LE. Para CELANI (2002), o interesse pelo desenvolvimento da área de formação continuada1 de professores de LE tem crescido nas últimas décadas devido à 1 Celani utiliza o termo “formação contínua”. Para este estudo, os termos contínua, continuada e permanente são equivalentes. situação de abandono na qual grande parte dos profissionais se encontra, pois mesmo depois da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996) ter inserido a obrigatoriedade de oferta de uma LE na educação fundamental, a situação de ensino nas escolas não parece ter melhorado. Embora haja um estado de carência geral em todos os tipos de escola, a escola pública parece ter a situação mais preocupante, onde o ensino de LE, particularmente da LI, ainda segundo CELANI, encontra-se totalmente à deriva, com professores, pais e alunos muitas vezes perguntando a mesma coisa: O que estamos fazendo aqui? Para que servirá esta tentativa frustrada de se ensinar/aprender outra língua? Encarando este quadro um tanto trágico e sem esperanças, profissionais da área têm construído em suas pesquisas espaços para que possam refletir conjuntamente sobre insatisfações e, assim, nas trocas de experiências, solucionar momentaneamente dificuldades. Segundo CELANI (2002) alguns dos assuntos abordados nestas pesquisas são, por exemplo, a identidade e a autoimagem do docente; o currículo dos cursos de Letras e em especial a prática de ensino nos cursos de licenciatura com uma abordagem tecnicista; a ausência de diálogo entre a universidade e as escolas de ensino regular; a ênfase no ensino da LE e não na formação profissional do professor durante o curso de licenciatura (CELANI, 2002). CELANI (2002, p. 22) enfatiza a importância de se perceber a educação continuada como um processo, e não como um produto (algo que sirva apenas para emitir um certificado, por exemplo). A educação contínua não pode ser vista em termos apenas de produtos – resultados de cursos, por exemplo -, mas sim deve ser entendida em termos de um processo que possibilita ao professor educar-se a si mesmo, à medida que caminha em sua tarefa de educador. É uma forma de educação que não tendo data fixa para terminar, permeia todo o trabalho do indivíduo, eliminando consequentemente a ideia de um produto acabado – por exemplo, dominar uma certa técnica -, em um momento ou período determinados. A educação continuada deve ser pensada como um caminho que permeia toda a vida profissional do professor. Segundo CELANI, cursos esporádicos, seminários e demais encontros profissionais ocasionais são eventos nos quais os avanços das pesquisas e novos materiais são mostrados e discutidos, porém, pela falta de comunicação, pela falta de integração com o trabalho cotidiano ou pela falta de continuidade estes conteúdos (que não são calcados nas necessidades do professor) se mostram insuficientes. Logo, continua ela, é motivo de frustração entre os educadores e um desperdício do ponto de vista econômico a não transformação da prática quando os Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa professores retornam às suas salas de aula. Segundo ela, a falta de acompanhamento em forma de apoio continuado, de avaliação e a falta de uma base conceitual clara são as causas da situação deprimente do ensino de língua inglesa no Brasil. Para CELANI, haveria várias maneiras de se desenhar um programa de formação continua de professores de inglês. Ela enfatiza: ... a necessidade de um processo longo e continuado, conjugado estreitamente com a prática de sala de aula, no qual a transmissão de conhecimento ocupa posição de menor destaque, privilegiando-se o desenvolvimento de um processo reflexivo que fatalmente exigirá mudanças em representações, crenças e práticas. (CELANI 2002, p. 23) Esta visão de processo continuado implica em disposição pessoal, e de tempo para que o processo se concretize. Um dos problemas enfrentados então, pelos professores, é ter tempo disponível (muitos trabalham até três turnos). Outra complicação, segundo CELANI, seria dispor de pessoal suficiente para acompanhar os professores em suas escolas. Outro viés a ser desenvolvido na educação continuada, além dos aspectos teóricos do processo de ensino/aprendizagem e de novas ferramentas didáticas (livros didáticos, para-didáticos e novas tecnologias em geral), é a questão da capacitação linguística. Entendendo a língua como discurso, a proposta de Celani para a educação continuada de professores entende que o Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. ensino e a aprendizagem são inseparáveis, pois aprender pressupõe uma mudança no comportamento do aprendiz (como resultado de interações sociais) e, por que não, no comportamento do professor. Uma tentativa de solucionar este problema seria o desenvolvimento dos multiletramentos digitais, entre eles, o PLN (Professional Learning Network) desde a formação inicial. 2.3. Letramentos digitais essenciais: De acordo com discussão acontecida online, na comunidade virtual WebHeads in Action, foi abordado que os letramentos digitais essenciais para os professores de língua inglesa são: a. PowerPoint ou ferramentas de apresentação b. Fazer buscas e pesquisas na internet (uso de sites de busca, bem como conhecimento de strings para pesquisa) c. Utilizar agregadores de feeds (netvibes e Google read por exemplo) d. Compartilhar e escrever textos colaborativamente (blogs e wikis) e. Participar de PLNs (Professional Learning Networks – em português: redes de aprendizagem profissionais). Exemplo: Ning e twitter f. Comunicação virtual síncrona. Exemplo: programas de mensagens instantânea tais como Microsoft Messenger e Skype g. Comunicação virtual assíncrona. Exemplo: uso de fóruns em salas virtuais. h. Produção de objetos de aprendizagem tais como vídeos e podcasts. Exemplo: uso dos programas grátis Free Recorder, Flipz, Audacity e CamStudio. Palavras chave: letramentos digitais; formação de professores; novas tecnologias. 397 398 Resumos REFERÊNCIAS CELANI, M. A. A. Um programa de formação contínua. In: CELANI. M.A.A. Professores e formadores em mudança: relato de um processo de reflexão e transformação da prática docente. Mercado de Letras: Campinas, 2002- b. P. 19 –35 DELGADO, Heloísa Orsi Kock. O ensino da cultura como propulsor da abertura de possibilidades na aprendizagem de língua estrangeira. In: Sarmento, Simone; MULLER, Vera (orgs). O ensino do inglês como língua estrangeira: estudos e reflexões. P. 229 – 239. Porto Alegre: APIRS, 2004. EGITO, N. B. A formação continuada de professores de inglês da rede municipal de Maceió: trajetória e resultados. Maceió, 2008. Dissertação (Mestrado em Educação Brasileira), Programa de pós-graduação em Educação do Centro de Educação da Universidade Federal de Alagoas. LEFFA, V. J. Aspectos políticos da formação do professor de línguas estrangeiras. In: LEFFA, V. J. O professor de línguas estrangeiras. Pelotas, 2001. 333-355 MATTOS, A. M. de A. Virtual classrooms in Brazil: teachers’ difficulties and anxieties towards technology in language learning. Revista Brasileira de Linguística Aplicada, Belo Horizonte, v. 3, n. 2, 2003. p. 115 – 132. MIZUKAMI, M. G. N. “Aprendizagem na docência: professores formadores. “Revista e-Curriculum. dezembro 2005. http://www.pucsp.br/ecurriculum (accessed maio 07, 2008). SARMENTO, S. Aspectos culturais presentes no ensino da língua inglesa. In: Sarmento, S.; MULLER, V.(orgs). O ensino do inglês como língua estrangeira: estudos e reflexões. P. 241 – 266. Porto Alegre: APIRS, 2004. SOARES, M. Novas práticas de leitura e escrita: Letramento na cibercultura Educ. 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CIÊNCIA: INDAGAÇÕES SOBRE O REALISMO/ NATURALISMO, A HISTORIOGRAFIA E A CONSTITUIÇÃO DA CRÍTICA MODERNA Erivan Cassiano Karvat - UTP Este ensaio é parte integrante da pesquisa NARRATIVAS DE MODERNIDADE: reflexões sobre a crítica literária, a criminologia e a literatura em fins do século XIX – um exercício de história da leitura, que busca levantar questões acerca da relação entre os discursos da literatura, da crítica literária e da história – num trabalho de investigação que tem se voltado à constituição das idéias sobre a literatura na Modernidade de fins do século XIX, focando as diferentes vertentes literárias do período – e, principalmente, as tendências realistas-naturalistas – e mais especificamente as relações entre o estabelecimento desta crítica a par da constituição dos princípios de cientificidade do período, notadamente as ciências experimentais. As relações entre ciência e literatura podem, neste sentido, ser lidas por dois diferentes aspectos, ainda que complementares: primeiro, pela própria construção de uma crítica literária, que buscando superar as premissas românticas, embasa-se nos modelos e premissas dados pelas ciências do período e, segundo, pela influência destas ciências na constituição de diferentes estéticas: realista, naturalista e/ou impressionista. Assim, as ciências forneceriam fundamentos para a problematização da literatura, que se torna alvo das falas autorizadas dos críticos, bem como das falas competentes dos cientistas, além de servir de fonte para a elaboração do próprio texto literário. Curiosamente, os mesmos princípios que norteiam o objetivismo científico – na biologia, na medicina ou na psiquiatria – parecem fornecer elementos para o experimentalismo do texto literário. Neste sentido, a pesquisa, em âmbito geral, se propõe a indagar a respeito das diferentes posturas críticas, e suas leituras, realizadas ao longo dos séculos XIX e XX, recuperando as diferentes modalidades e mecanismos de leitura praticados ao longo do tempo, a partir da constituição das chamadas “comunidades de leitores”, investidas de “leituras autorizadas” – através do recurso aos “mesmos estilos de leitura e as mesmas estratégias de interpretação” - estabelecendo determinadas propostas de sentido e significação para estes textos. Assim, é interessante que se perceba as diferentes recepções e /ou leituras, e que resultando de estratégias próprias de interpretação e embasando-se na autoridade concedida principalmente pelo emprego de diferentes preceitos, avalia, recomenda ou nega determinados textos e/ou autores. Daí a necessidade de inscrever estas interpretações numa história da leitura, cabendo ao historiador a recuperação das diferentes modalidades e mecanismos de leitura praticados ao longo do tempo. Ainda para quem parte da Teoria da História, como é nosso Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 399 400 Resumos caso, um problema interessantemente se levanta: a par das exigências dos métodos experimentais, as formulações realistas/naturalistas, em certa medida, informarão os textos de história do período. Contudo, estes mesmos textos serão negados pela escrita da história, dado o caráter ficcional daquelas. Voltando à história intelectual, cabe-nos perguntar acerca dessa relação (história x Romance, ou Literatura) e do papel desempenhado pela trama narrativa romanesca na escrita da história. LITERATURA. HISTÓRIA. CIÊNCIA: indagações sobre o realismo/naturalismo, a historiografia e a constituição da crítica moderna – parte da premissa de que a compreensão acerca da segunda metade do século XIX, no Ocidente, exige atenção sobre as implicações das técnicas e do cientificismos que circulavam no período – e que, em certo sentido, inclusive lhe produziram sentido – uma vez que afetaram todas as dimensões da vida social daquele contexto. A ciência - quase que sacralizada, tornada como que uma religião (como denunciaria Nietzsche) – passou a orientar, ditando “visões de mundo”, estabelecendo inclusive referências para o universo estético e filosófico. Neste sentido, é que se faz possível entendermos os chamados realismos (realismonaturalismo), comuns àquele tempo, uma vez que tal tendência tinha, entre outros, sua sustentação baseada nas referências dos evolucionismos, social e biológico, no predomínio das técnicas e da razão, bem como nas explicações de fundo sociológico, marcadamente aquelas de viés deterministas. Opondo-se às tendências estético- literárias anteriores, e fundamentalmente ao Romantismo, mas ainda assim carregando, subliminarmente, elementos deste, o realismo supunha uma descrição fiel da realidade, realidade esta regida por leis orgânicas e, logo, objetiváveis pelo uso da razão e da ciência. Estética tornada hegemônica, o(s) realismo(s) passou/passaram a ditar as regras do universo estético literário, determinando seus conceitos e definindo o que era literatura, ou que deveria ser – sua função – o papel do autor, etc. A par disto, fomentou uma redefinição da noção de crítica literária, e de crítico, contribuindo para a fundamentação de uma nova crítica, da mesma forma pautada pelos elementos dados pelos cientificismos. Fundamentação problematizada inclusive à própria época pelos textos de Gustave Lanson, talvez o crítico mais influente do período – passagem do século XIX para o XX – e principalmente no seu artigo La Littérature et la Science, de 1895. Além de Lanson, mais dedicado à constituição da história literária, cabe citar também Hippolyte Taine, que se pautando pela ênfase no papel determinante da raça, meio e momento, acabou por ser considerado o considerado o fundador da sociologia na arte. Neste sentido, este texto, levanta questões acerca da relação entre os discursos da literatura, da crítica literária e da história partindo dois documentos seminais: O Romance Experimental, de Emile Zola – considerado um dos nomes mais proeminentes dessa corrente – publicado em 1880 e de O Naturalismo em Literatura, do polemista Sílvio Romero, editado em 1882. A partir de ambos, busca-se promover um exercício de Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa história da leitura: por um lado, Zola dialoga e se apropria da Introdução à Medicina Experimental, do fisiologista Claude Bernard, texto de 1865, que definiu os princípios de toda pesquisa científica, e através do qual o literato pretendeu apontar o caminho da cientificidade para a elaboração da literatura e, por outro, observa a recepção de Romero às idéias de Zola, apontando seus supostos equívocos. Para Zola, cabia simplesmente a realização de um trabalho de adaptação (“pois”, segundo ele, “o método experimental foi estabelecido com uma força e uma clareza maravilhosas por Claude Bernard”) da medicina experimental à literatura. Seria assim a literatura deteminada e orientada pela ciência, regida por princípios. A literatura realista, ou ainda melhor, a literatura de verve naturalista, pautada pelos princípios das ciências promoveu, principalmente, a observação minuciosa das mudanças sociais, do surgimento de novos valores e dos conflitos. Da mesma forma, focava a existência dos tipos patológicos, tornados personagens das suas tramas. Romero, por seu turno - pautado pela premisa de que “a lei que rege a literatura é a mesma que dirige a história em geral” - envereda para a crítica do próprio entendimento que Zola demonstrava da literatura. Recorrendo a Taine e a Henry Thomas Buckle, duas leituras que sustentariam a sua concepção de “crítica histórica”, o crítico brasileiro discordava das apreciações estéticoliterárias de Zola. Ainda que curiosamente ambos estejam num mesmo cenário e partindo de leituras e orientações, por vezes, muito próximas. Recepção e apropropriação, acima, apontados, nos remetem às problemáticas da hoje Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. denominada História da Leitura e que apresenta diferentes possibilidades metodológicas e de abordagem. Desta forma, as expressões tornadas conceitos (ou ferramentas) permitem a aproximação ao complexo universo que toca a leitura e as interpretações. Fundamentalmente, ambos exigem que tratemos de uma leitura, e, portanto, de um leitor, contextualizado e informado historicamente. Neste sentido, entendemos com Roger Chartier que “o historiador deve buscar um meio de determinar os paradigmas de leitura predominantes em uma comunidade de leitores, num dado período e lugar”, pois, com isso, querse acreditar, nos aproximam-nos das chamadas estratégias de leitura, apontadas acima, reveladoras das formas de apropriação e manipulação dos próprios textos. A recepção, ou a “a relação entre literatura e leitor”, como que define Hans Robert Jauss, um de seus principais teóricos, possuiu, além de uma dimensão estética, outra, histórica e que se manifesta na “possibilidade de, numa cadeia de recepções, a compreensão dos primeiros leitores ter continuidade e enriquecer-se de geração em geração, decidindo, assim, o próprio significado histórico de uma obra”. Em outras palavras, nenhum texto sai incólume à leitura. O que, em grande medida, provoca a interação entre história e crítica, numa aproximação mútua e na qual – e da qual – ambas se informam. Cabe, assim, ao historiador voltar-se sobre estes textos e suas “leituras”. Esta é nossa intenção neste trabalho. Palavras-chave: realismo; historiografia; crítica literária. 401 402 Resumos MANUEL DE MORAES: UM RELIGIOSO CAMALEONICO Maria Aparecida de Araújo Barreto Ribas - UTP Objetivo: Historicizar, a partir da análise da trajetória individual, a problemática conversão ao protestantismo por parte de católicos na América Portuguesa. No caso aqui, especificamente a conversão de um padre mameluco, a religião Reformada. Através dos fragmentos que nos restaram da trajetória de Manuel de Moraes, o padre mameluco, várias questões podem ser colocadas e desenvolvidas: as motivações que os impulsionaram em direção ao calvinismo; as implicações, repercussões e desfechos de seu trânsito religioso no contexto mais envolvente da dinâmica dos conflitos coloniais. Manuel de Moraes era um padre mameluco que por ocasião da tomada de Pernambuco pelos neerlandeses, era, segundo informação do índio Antônio Felipe Camarão, superior dos índios na aldeia Meritiba, onde lhes ensinava doutrina. Ainda, de acordo com Camarão, o padre Moraes havia sido seu companheiro de armas durante dois anos na guerra de resistência.1 De fato, pelo cotejo desse depoimento com as informações contidas nas Memórias diárias da guerra do Brasil, parece certo que o padre Manuel de Moraes e o índio Antônio Felipe Camarão lutaram juntos na guerra de resistência desde os primeiros dias de 1630 até o fim do ano de 1632. Narra o cronista que, no princípio de março de 1630, “os índios de Antônio Felipe Camarão (...), com o padre Manuel de Moraes, a quem obedeciam”, estavam juntos na defesa da vila de Santo Amaro.2 Em junho de 1631, temos notícia de que Manuel de Moraes ainda se encontrava em Santo Amaro. “O posto de Santo Amaro (...) não deixou de ser assistido pelos capitães que guardavam os caminhos da vila, e pelos índios comandados por Antônio Felipe Camarão, e seguidos pelo padre Manuel de Moraes”.3 Em 29 de outubro de 1633, Manuel de Moraes chegou à região da Paraíba já sem o companheiro de guerra Antônio Felipe Camarão. Também no começo do ano de 1634, quando Duarte Coelho faz referência, em seu diário, aos índios comandados por Camarão, já não cita a Manuel de Moraes.4 Seja qual tenha sido o motivo pelo qual o militar índio e o padre mameluco já não lutarem juntos, o fato é que ambos continuaram empenhados na guerra de resistência. No caso do padre, ao menos por mais um tempo. Segundo o historiador Charles Boxer, Manuel de Moraes esteve envolvido na guerra de resistência por mais ou menos quatro anos, durante os quais “instigara os fiéis contra os invasores hereges, distinguindo-se ele próprio em muitas guerrilhas e escaramuças”.5 Nos primeiros dias de dezembro de 1634, os flamengos cercaram o forte de Cabedelo, na Paraíba. Em socorro aos sitiados, Martim Soares Moreno — que se encontrava no quartel de Cunhaú, no Rio Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa Grande — enviou à frente o capitão Leonardo de Albuquerque com a sua companhia, seguindo logo depois ele próprio com a companhia do capitão João da Silva e Azevedo, alguns moradores do Cunhaú, e mais os índios das aldeias do Rio Grande. Esses índios eram liderados pelo belicoso padre Manuel de Moraes. Mas, em 1634, o padre mameluco surpreende os seus, rendendo-se ao inimigo: os odiosos holandeses calvinistas. Até esse ato extremo, Manuel de Moraes constituía, certamente, um orgulho para a Companhia de Jesus. Menino mameluco nascido por volta de 1595 na vila de São Paulo, da capitania de São Vicente, Manuel, por imposição de um pai que demonstrava grande fervor religioso6, ou então por desejo próprio, inclinou-se à religião. Ainda bem jovem Manoel de Moraes partiu para a capitania da Bahia, onde, no Colégio dos Jesuítas, dedicou-se aos estudos. Tornouse religioso da Companhia de Jesus, onde prestou os votos ordinários.7 No recrutamento de “soldados de Cristo” entre os rebentos desses cruzamentos étnicos talvez residisse o orgulho, talvez a perspicácia, dos padres jesuítas. Manuel de Moraes poderia representar o início de uma nova “safra” de religiosos do novo mundo: os mamelucos, filhos dos portugueses com os naturais da terra. Desde a tenra idade, os jesuítas investiram muito na formação de Manuel de Moraes, e especialmente o provincial Domingos Coelho, que havia apostado muito em sua disciplina.8 Afinal, a formação de um religioso mameluco para atuar nas Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. terras coloniais, certamente seria de grande valia. Para além de ser o resultado do encontro entre duas culturas, a cristã e a tupinambá, o mameluco se caracterizava, sobretudo, por viver entre elas. E este viver entre as duas culturas “não se dava apenas quando o mameluco deixava o território colonizado e se imiscuía sertão adentro. (...). Mas dentro da própria casa os mamelucos viviam a tensão de estar entre duas culturas (...)”.9 Situação de hibridismo ou mestiçagem certamente vivenciada pelo ex-padre. Manuel era filho de pai mameluco com mãe portuguesa, mas ainda assim viveu esta situação de fronteira cultural, sobretudo em São Paulo. Justamente aí talvez residisse a importância do padre mameluco enquanto um “protótipo” no projeto evangelizador jesuíta pensado a longo prazo. O certo é que a ambivalência mameluca, gestada pelo nascer e pelo viver entre dois mundos, tornava Manuel um religioso especial ou fundamental no trato com o gentio; assim, não é de admirar que tenha ele atuado como instrutor religioso, “língua e intérprete”,10 e, por ocasião da guerra de resistência, também como capitão dos gentios, que lhes eram obedientes. Com efeito, a utilidade dos mamelucos era estratégica, seja na guerra terreal, seja na espiritual. Manuel contou ao inquisidor que servira na guerra de Pernambuco, “com licença e ordem de seus superiores da Companhia [de Jesus]”, que o enviara ao front por ter ele “grande notícia do gentio, e este obedecer facilmente a suas ordens (...)”.11 Duarte Coelho também registrou a obediência dos 403 404 Resumos índios a Manuel de Moraes: “Os índios de Antônio Felipe Camarão fizeram o mesmo, com o padre Manuel de Moraes a quem obedeciam”.12 Evidentemente, no contexto de uma guerra encarniçada, essa “obediência do gentio” a um líder religioso-militar mameluco pesou bastante na avaliação do trânsito do padre entre uma potência colonial e outra, entre uma fé cristã e outra. Para além do constrangimento ou consternação que os jesuítas sentiram diante da adesão de um de seus mais destacados membros à religião de Calvino — afinal, outros fiéis, contaminados pela mesma heresia, poderiam seguir-lhe o exemplo —, a traição de Manuel de Moraes envolvia ainda outra questão de extrema importância: a mudança de partido dos índios obedientes ao padre. De um e de outro lado, era clara a necessidade dos aliados indígenas na guerra que se instaurara em 1630 pela posse de parte do Brasil colonial; e também neste aspecto o apoio do padre mameluco era estratégico. Mas, numa guerra, há estratégias e estratégias. Se, para os luso-brasileiros, Manuel de Moraes era estratégico por conta de sua estreita relação com o gentio da terra, seu poder de liderança e coragem à frente das batalhas, para os neerlandeses a importância atribuída ao padre mameluco parece decorrente de outras questões. Como dito, os índios eram, para os neerlandeses, os aliados fundamentais da conquista. Nesta busca de alianças com os autóctones, ou nos esforços para sua manutenção, acredito que os neerlandeses viram em Manuel bem mais que um perito nas táticas de guerrilha ou um líder dotado de especial carisma [“uma pessoa a quem todos os índios obedeciam”]. O padre poderia ser estratégico, é certo, mas não à frente das batalhas ou na política de arregimentação dos índios para o lado da WIC; mas sim — e com o perdão do anacronismo no for necimento de preciosas infor mações “etnográficas” sobre os indígenas, necessárias à implantação de uma política de alianças mais sólida e continuada, e que incluía uma política missionária numa ocupação que se desejava definitiva. Mestiço, grande conhecedor da cultura e da língua do gentio13, das estratégias de aldeamento elaboradas pelos jesuítas — ele mesmo, como vimos, fora superior de aldeia —, formado em teologia pelos jesuítas, Manuel reunia em si características e saberes híbridos importantes para auxiliar os flamengos na elaboração de um projeto com vistas a estabelecer alianças e reforçar as já existentes com os índios nas capitanias conquistadas. Afinal, era tido pelas fontes neerlandesas como “a maior autoridade sobre todos os selvagens daquela região”.14 Essa sua importância como fonte de saberes explica inclusive seu rápido translado para a Europa: tendo-se bandeado para os flamengos nos últimos dias de 1634, já no início de 1635 foi enviado às Províncias Unidas. Manuel de Moraes desembarcou nas Províncias Unidas no primeiro semestre de 1635; em junho daquele mesmo ano, já fora consultado pelos Dezenove Senhores quanto à forma de melhor governar o Brasil Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa holandês. Por certo, a consulta era bastante específica e dizia respeito à melhor maneira de governar os índios das capitanias conquistadas, pois os Dezenove Senhores, entre os quais Joannes de Laet, tinham Manuel de Moraes como “homem muito experiente” nos assuntos de “governo dos índios tupis”.15 Com efeito, numa carta16 enviada pelos Dezenove Senhores ao Conselho Político do Recife, datada de 1º de agosto de 1635, constata-se que, de fato, Manuel fora consultado a respeito da administração dos brasilianos, e que fornecera um plano de governo para os indígenas. Com efeito, no plano que esboçou para a WIC, Manuel propunha o reconhecimento das lideranças indígenas leais e o reforço da missionação calvinista nas capitanias conquistadas. Ipso facto, a direção da WIC recomendou à direção do Brasil holandês a premente necessidade de conversão dos índios ditos brasilianos ao calvinismo, informando-os que, para este intento, contavam com um plano elaborado por Manuel de Moraes. Palavras-chave: Brasil holandês; Brasil colônia; religião. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 1 ibid. s/p. 2 COELHO, op. cit., p.64. 3 ibid., p. 87. 4 ibid., p. 180. 5 BOXER, Os holandeses no Brasil, op. cit., p. 82. 6 Devoto de São Sebastião, que a seu pedido, quando de sua morte, foi enterrado mosteiro dos jesuítas, em São Paulo. Informação cedida por Ronaldo Vainfas. 7 ibid., p. 61. 8ARCHIVUM ROMANUM SOCIETATIS IESU (ARSI), Códice Brasile. Fotogramas 477-477v, 485-486. Agradeço a Ronaldo Vainfas por me ceder fonte de sua pesquisa. 9 RIBAS, Maria A. A. Barreto. O Pão do outro: alimentação e alteridade noBrasil Colonial. (1500-1627). Niterói. Universidade Federal Fluminense: Dissertação de Mestrado, 2002, p. 82. 10 Processo de Manuel de Moraes, op. cit., passim. 11 Processo de Manuel de Moraes, op. cit., p. 56. 12 COELHO, op. cit., p. 64. 13 Manuel de Moraes era grande conhecedor da língua dos indígenas tendo elaborado um Dicionário da Língua Tupi e a obra História da América, cujos originais receberam mais tarde elogios do filólogo Hugo de Groot. No registro da Câmara de Amsterdã encontra-se uma nótula que diz haver ele pedido à Companhia pelo seu Dicionário Brasílico e História do Brasil, para fazer frente às despesas do seu casamento, a soma de 1500 florins de uma vez e 800 florins anuais de pensão. A Câmara mandou dar-lhe 300 florins e declarou que não achava estranho o seu pedido e o apresentaria à assembléia para resolver. 14 SILVA, op. cit., p.89. 15 Carta dos Herren XIX para o Conselho Político do Recife em 1 de agosto de 1635, op. cit. 16 ibid. 405 406 Resumos MEMÓRIAS DA CIDADE: TRAJETÓRIAS EM CONFRONTO NO ESPAÇO URBANO (CURITIBA, 1959) Etelvina Maria de Castro Trindade - UTP Em 8 de dezembro de 1959 foi deflagrada, em Curitiba, a chamada “Guerra do Pente”, um conflito em que estiveram envolvidos os habitantes locais em oposição aos comerciantes árabes, judeus e italianos, estabelecidos na cidade. Ao entardecer daquele dia, um subtenente da Polícia Militar havia adentrado uma pequena loja situada à Praça Tiradentes onde adquiriu um pente de pouco valor e solicitou uma nota fiscal, que lhe daria direito a prêmios, em função do estabelecido pela nova legislação tributária promovida pelo então governo Moisés Lupion. O proprietário do estabelecimento, um comerciante sírio de poucas letras ou pouco conhecimento da língua nacional, solicitou a uma funcionária o preenchimento da nota, na qual a compra foi registrada sob a rubrica “despesas” – o que não foi aceito pelo comprador. O desentendimento daí decorrente resultou em uma violenta discussão seguida de embate físico em que o militar teve a sua tíbia direita fraturada pelo comerciante e seus auxiliares. Ao presenciarem o incidente, populares iniciaram um extenso “quebra-quebra” que, iniciado no estabelecimento em questão, acabou por assolar todo o perímetro central da cidade, envolvendo a população, as polícias civil e militar, o corpo de bombeiros e grande parte das autoridades políticas e administrativas, tendo sido depredadas inúmeras lojas, carrinhos de vendedores de frutas, bancas de revistas e até edifícios públicos. Durante vários dias, a imprensa local noticiou os fatos posicionando-se de acordo com a orientação de cada periódico. (Gazeta do Povo, Diário do Paraná, Tribuna do Paraná, 8-9-10 dez. 1959). As explicações mais freqüentes discorriam preconceituosamente sobre a condição sócio-econômica dos manifestantes e as representações atribuídas a eles, como “desordeiros”, “vadios” ou “desocupados”. Algumas publicações buscaram também explicar o sucedido mediante tímidas observações sobre a atuação dos governos nacional e local. Assinalava-se ainda a inflação galopante, a carestia de vida ou a ineficiência das autoridades policiais como responsáveis pelas desordens e pela insatisfação popular. Sobre racismo ou xenofobia quase ou nada se falou. Durante o conflito que envolveu estabelecimentos comerciais pertencentes a proprietários de origens diversas, um imigrante de origem síria, que chamaremos de Munir Hassan1, reagiu à ação dos manifestantes, com uma ação e uma fala que reafirmavam seus direitos como homem laborioso e como cidadão brasileiro, conforme se pode depreender do depoimento seu filho, em entrevista concedida cinqüenta anos depois: Pois é. Então naquela Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa época, nós estávamos junto com ele ali na loja, quando veio a turba que estava destruindo tudo. Ele pegou o metro de madeira e enfrentou a turba na porta da loja dele e ele dizia para as pessoas: “Eu sou muito mais brasileiro do que vocês são brasileiros! Porque eu dou comida e dou trabalho para vocês e vocês estão só quebrando, só fazendo bagunça! Então vocês não me chamem de turco, de árabe, de sem vergonha ou qualquer coisa assim, porque eu sou muito mais brasileiro do que vocês!”. (HMJ, 2008: 5).2 Ser muito mais brasileiro que os próprios brasileiros, como disse Hassan, em defesa própria, é uma frase que abre caminho para um rol de reflexões sobre dois elementos primordiais quando se trata de questões ligadas à identidade e à inserção social: cidadania e trabalho. No que concerne à reivindicação de seus direitos civis, muito ligada às questões de identidade, contrariamente à posição do outro sírio que deflagrou o conflito, a fala de Munir Hassan, durante o incidente de que participou, aponta para uma elaboração bem mais complexa. Partindo-se da afirmação de um indivíduo de origem árabe que diz “sou muito mais brasileiro que vocês”, chega-se à evidência do que, durante algum tempo, foi denominado como um fenômeno de “dupla identidade”, pela qual os indivíduos adotam lealdades simultâneas em determinados aspectos da vida, podendo inclusive acontecer, em certas circunstâncias, que uma dessas lealdades prevaleça sobre as outras. Trata-se de um fenômeno que ocorre frequentemente em momentos Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. de crise quando imigrantes tendem a declarar uma dupla filiação de cidadania – caso, por exemplo, dos alemães radicados no Brasil no desenrolar da Primeira Guerra Mundial, quando tentavam ser, ao mesmo tempo, brasileiros e imigrantes, afirmando: “Queremos ser e permanecer: homens alemães, honestos e bons cidadãos brasileiros”. (WILLEMS apud TRINDADE, 2004: 59). Já Munir, mesmo reconhecendo sua identidade árabe, chega a colocar sua “brasilidade” em confronto com a dos próprios brasileiros. Essa atitude aparentemente paradoxal põe em xeque a concepção que vê a identidade como um atributo original e permanente, eliminando a idéia de uma suposta essência que a definiria. (CUCHE, 1999: 183). A partir daí, é possível compreender a construção da identidade a partir da análise das divisões e dos antagonismos sociais que produzem “posições em que diferentes elementos e identidades podem ser articulados”. (LACLAU, 1996). Em vista disso, na posição dos imigrantes, a construção da auto-imagem não pode estar isenta das estratégias geradas em função do confronto com os demais e que são estruturadas conforme “critérios de aceitabilidade, de admissibilidade, de credibilidade que se fazem por meio da negociação direta com outros”. (POLLAK, 1992: 205). Sabendo-se, entretanto, que a concepção analítica de “dupla identidade” tem uma acepção negativa e ideológica, pela qual se buscam desclassificar e cooptar grupos resistentes que compõem populações vindas da 407 408 Resumos imigração, pode-se chegar à constatação de que não existe uma identidade “unidimensional”, nem também uma “dupla identidade”, mas um caráter de identidade que se presta a diversas interpretações ou manipulações. Na ocorrência em estudo, a idéia de “identidade dupla” deve, por conseqüência, ser substituída pela de “identidade mista”, no sentido de uma pertença do indivíduo a várias culturas das quais faz uma síntese própria e original, embora se trate de uma fabricação feita “somente em função de um contexto de relação específico a uma situação particular”. (CUCHE, 1999: 193). Por isso mesmo, a frase de Hassan, se examinada à luz de tais constatações, torna-se exemplar. Ao declarar-se muito mais brasileiro do que os próprios brasileiros, ele reafirma uma identificação, enquanto toma posse de outra, numa estratégia implícita de negociação. Munir Hassan não está rejeitando a sua origem árabe: pelo contrário, é justamente no fato de ser também árabe que reside sua superioridade. Nessa mesma direção, outros os elementos podem ser utilizados para compor essa “fabricação” identitária; dentre eles, a dignificação pelo trabalho, implícita na segunda parte da fala do comerciante sírio: “(...) dou comida e dou trabalho para vocês e vocês estão só quebrando e fazendo bagunça (...)” (HMJ., 2008: 5). Esse segundo elemento na declaração de Hassan, a valorização pelo trabalho, refere-se igualmente a uma questão muito presente na identificação do indivíduo imigrante, a preocupação de introduzir em seu discurso um critério carregado de significado simbólico: a crença no pertencimento a uma comunidade superior por sua capacidade inata para o trabalho e para o progresso. Essa tese, presente na maioria das manifestações de imigrantes – sobretudo de alemães – em Curitiba, contribuiu para a idéia de “superioridade racial” de todos os imigrantes, o que estimulava um ufanismo nacionalista afirmado em oposição aos demais. Fica bem clara, na colocação do comerciante, a ideologia que exalta a contribuição econômica e cultural da sua comunidade de origem e sua pertinência étnica. Pode-se ver aí uma reafirmação do papel civilizador do estrangeiro, seu pioneirismo e a capacidade de construir uma sociedade organizada e laboriosa. Em contrapartida, mercê dos estereótipos que se desenvolvem contra os elementos locais, está implícita a imagem de um brasileiro avesso ao trabalho e indolente: “vocês estão só quebrando e fazendo bagunça!” Não se trata aqui somente de ser um indivíduo laborioso, mas também de ser aquele que fornece as condições de subsistência aos elementos locais: “dou comida e dou trabalho para vocês”. (HMJ, 2008: 5). Colocada em conjunto com a primeira parte da fala em que é reivindicada a brasilidade, a que se refere ao trabalho referenda aquela, na medida em que o exercício do labor consciente e responsável dá ao imigrante direitos simbólicos de cidadania, sobretudo por garantir o sustento daqueles que o discriminam e perseguem. Hassan cai então na armadilha de, ao tentar constituir uma identidade própria, estabelecer critérios Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa de exclusão semelhantes aos construídos pelos componentes do grupo dominante – o que leva a uma conclusão que evidencia a falência dos pressupostos norteadores de seu discurso. Por todas essas injunções, e mesmo que o relato do incidente não corresponda linearmente ao ocorrido, certos valores ganham espaço na lembrança do filho: traços de atitudes que marcaram, e ainda marcam, estratégias de construção de identidades em populações emigradas, ou em seus descendentes. O que leva a considerar a memória como “elemento constituinte do sentimento de identidade, tanto individual como coletiva, na medida em que ela é também um fator extremamente importante do sentimento de continuidade e de coerência de uma pessoa ou de um grupo, em sua reconstrução de si”. (POLLAK, 1992: 205). Validade que permanece, mesmo Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. quando se levam, em conta, as considerações dos estudiosos sobre as dificuldades relativas ao uso da memória em trabalhos de cunho sociológico ou histórico. Isso porque, o papel de Hassan no conflito urbano de que foi um dos protagonistas, pode servir de “referendum” às análises que, usando o instrumento da memória, tentam reconstruir a complexa urdidura onde as representações individuais e as demandas coletivas compõem a trama do tecido social de determinadas épocas e locais. Palavras-chave: conflito urbano; preconceito; cidadania. 1 Pseudônimo destinado a preservar o anonimato do personagem e de sua família. 2 Entrevista concedida por MHF, em 18 de out. de 2008. 409 410 Resumos MUDANÇA LINGÜÍSTICA: A OCORRÊNCIA DE EMPRÉSTIMOS E ESTRANGEIRISMOS DA LÍNGUA INGLESA NA LÍNGUA PORTUGUESA, ENCONTRADOS NAS REVISTAS MONET DE MARÇO DE 2007 E JULHO DE 2008 Auricéia Dumke Qualquer língua viva do mundo muda constantemente. Novas palavras, pronúncias e formas gramaticais entram em uso ao mesmo tempo em que outras tantas caem em desuso. Quando duas ou mais línguas entram em contato, uma ou ambas podem se modificar. Segundo a lingüista britânica Jean Aitchison, “As causas dessa mudança se apresentam numa camada dupla. Na camada superior, Estão os “gatilhos sociais” – a moda, a influência estrangeira, as necessidades sociais etc. – que, disparam ou aceleram causas mais profundas, tendências escondidas que podem estar adormecidas, latentes, dentro da língua” (Bagno 2003: 112) A razão mais comum para que um falante queira empregar uma palavra estrangeira é que a palavra denomina algo novo. Outra razão é o prestígio: algumas palavras entram para o vocabulário de outra nação devido ao prestígio que o domínio de tal idioma confere ao seu usuário. Assim, pode-se fazer a distinção entre empréstimo lingüístico e estrangeirismo. Os empréstimos lingüísticos são recursos que utilizamos de outra língua para nomear algo que não temos em nossa língua materna. Os estrangeirismos são recursos utilizados de outra língua quando temos o equivalente na nossa língua materna. Segundo Carvalho (1989), os empréstimos / estrangeirismos originam-se no momento em que objetos, conceitos e situações nomeados em língua estrangeira transferem-se para outra cultura. O falante adapta ou acomoda a seu sistema, um elemento de um sistema diverso. Na era da globalização, a língua mais freqüentemente citada neste aspecto é o inglês. Mas como uma língua chega a atingir um status global? De acordo com Crystal (2003), uma língua atinge um status global quando desenvolve um papel especial que é reconhecido em cada país. Conforme Pedro M. Garcez e Ana Maria Zilles (2001), “Não há dúvida de que há uma avalanche de anglicismos. Por um lado, há os termos da tecnologia e da pesquisa avançada, desenvolvida e registrada quase hegemonicamente nessa língua. De outro lado, há o universo do consumo e dos negócios. O apelo da máquina capitalista globalizante é forte demais para que a mídia da informação, do entretenimento e, principalmente, da publicidade possa ou queira deixar de explorar as associa- coes semióticas entre a língua inglesa e o enorme repositório de recursos simbólicos, econômicos e sociais por ela mediados” (Faraco 2001: 22-23). A variedade tecnológica começou a ficar mais disponível ao grande público por volta do ano 2000, pois Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa os preços dos computadores ficaram mais acessíveis. Crystal (2005) afirma que a internet gera uma troca de experiências entre idiomas sem precedentes na história da humanidade. Muitas línguas ostentaram momentos revolucionários, mas eles ocorreram em épocas e por razões distintas. A Revolução Francesa teve implicações importantes tanto para o francês quanto para as línguas minoritárias da França, mas desempenhou pouca influência lingüística em outros lugares. É raríssimo ver mudanças tão globais capazes de afetarem todas as línguas. Porém, desde que as comunidades possuam um computador, a internet é capaz. Esta pesquisa pretendeu buscar evidências que comprovem a incidência, bem como classificar os tipos de itens em inglês encontrados na língua portuguesa, através do levantamento de dados realizado nas revistas Monet de março de 2007 e julho de 2008, para verificar se o emprego dos mesmos vem aumentando, contribuindo para a mudança lingüística, se é um emprego necessário (empréstimos), ou se existem os equivalentes em português (estrangeirismos). Trabalhase com a hipótese de que a maioria dos itens em inglês encontrada não é necessária, devido à existência dos seus equivalentes em nossa língua materna. Pretendeuse também, aprofundar as questões teóricas da mudança lingüística a fim de buscar as causas para a adoção de estrangeirismos. A pesquisa buscou embasamento teórico principalmente nos estudos realizados pelos seguintes autores: Bagno (2003), Carvalho (1989), Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Crystal (2000, 2003, 2005), Faraco (2001), Haugen (1972), Hockett (1965), Jenkins (2007), e Weinreich (1964) Segundo Carvalho (1989), as línguas se refazem continuamente, porém se fundamentando em modelos anteriores. A adoção de um termo estrangeiro pode ser um ato de cultura e gosto, mas é sempre gerada por uma necessidade prática. As mudanças começam a se desenvolver como deslocamento de uma norma. A percepção das mudanças ocorridas será comprovada se estas forem aplicadas por vários falantes, salvo em raros casos. Desta forma torna-se praticamente impossível descobrir quem ou quando começou uma inovação lingüística. A inovação lingüística ocorre através dos empréstimos ou dos estrangeirismos. Os empréstimos lingüísticos são recursos que utilizamos de outra língua para nomear algo que não temos em nossa língua materna. Os estrangeirismos são recursos utilizados de outra língua quando temos o equivalente na nossa língua materna, podendo ser considerados desnecessários. A reação das pessoas varia muito em relação a esses influxos, algumas os acolhem bem, considerando-os fontes de riqueza léxica, outras os condenam, entendendo-os como um ataque aos valores tradicionais da língua. O número e o tipo de palavras emprestadas de outra nação nos mostra em que atividades uma foi superior à outra. De acordo com Crystal (2005), cerca de 80% de todos os filmes lançados em cinema são falados em inglês. A influência deles sobre o público que os assiste é incerta, mas muitos 411 412 Resumos observadores concordam com a opinião do diretor Wim Wenders: “As pessoas acreditam cada vez mais no que vêem e compram aquilo em que acreditam... Elas usam, dirigem, vestem, comem e compram o que vêem nos filmes.” As pessoas imitam aqueles que admiram e que geralmente são considerados superiores. Podemos ligar o fenômeno da moda com a idéia de prestígio, uma vez que, algo que está na moda é imitado / seguido por outras pessoas que, por sua vez imitam por razões de prestígio. Quando um elemento estrangeiro é introduzido em uma língua, ele passa por muitas mudanças, normalmente visando à simplificação. Podem ocorrer mudanças na pronúncia devido à inexistência de sons na língua materna, na ortografia consoantes ou vogais podem ser eliminadas ou inseridas, de acordo com a palavra emprestada. Hockett (1965), diz que “Quem toma emprestado nem sempre importa completamente as palavras usadas pelo Doador”, e ele continua, afirmando que “três coisas distintas podem acontecer, dando origem respectivamente a loanwords, loanshifts, e loanblends, que é a terminologia seguida por Haugen (1972), incluindo loan translations e semantic loans. Weinreich (1964), acrescenta loan translation à esta lista, que ele subdividiu em: loan translations propriamente dito, loan renditions e loan creations. Loanword – (Empréstimo de palavra): É a nova forma no idioma do falante, quando ele adota a palavra do doador juntamente com o objeto ou prática. Loanshifts – (Mudança no empréstimo): O falante pode adaptar o material disponível em sua própria língua para evitar usar as palavras do doador, junto com o novo item cultural, que pode ser um objeto ou prática. Semantic loans – (Empréstimos Semânticos): O novo significado é a única evidência do empréstimo. Loan translations – (Tradução de empréstimos): O modelo é reproduzido exatamente, palavra por palavra. Loan renditions – (“Rendições” de empréstimos): O modelo apenas dá uma idéia geral para a reprodução (ex. wolkenkratzer = cloud scraper = sky scraper = arranhacéu). Loan creations – (Criação de empréstimos): Criação de novas palavras, estimulada não por inovações culturais, mas pela necessidade de equiparar itens/ nomenclaturas utilizadas em uma língua em contato. Loanblends – (Mistura nos empréstimos): Parte do modelo é importado, e parte dele é substituída por termo já existente na língua do que faz o empréstimo. O resultado pode ser um tipo de palavra híbrida. O primeiro passo foi a escolha de duas revistas Monet, de março de 2007 e de julho de 2008. As revistas escolhidas divulgam mensalmente a programação da rede de televisão a cabo Net, o que direciona os possíveis tipos de itens em inglês para a área de filmes, cinema, televisão, etc. As duas revistas foram analisadas página por página, com exceção das programações dia-a-dia, pois as mesmas mantêm muitos nomes de filmes em língua estrangeira. Os dados foram coletados através de anotações de todos os itens encontrados nas seções selecionadas. Após o levantamento, foi Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa feita a comparação da incidência para calcular o percentual da diferença de ocorrência entre as duas revistas. O próximo passo foi classificar os tipos de empréstimos obtidos. Com o levantamento dos dados coletados nas revistas selecionadas, foi possível obter a diferença da proporção de ocorrência de itens em inglês através do cálculo de porcentagem. Na revista Monet de março 2007, foram encontrados 167 itens; e na revista Monet de julho de 2008, foram encontrados 155 itens. Percebe-se uma redução de 7,2% na freqüência do uso de itens de língua inglesa, comparando a incidência nas duas revistas. Com este resultado, podemos concluir que a hipótese de que a ocorrência de itens de língua inglesa está aumentando nas revistas Monet, não recebeu confirmação, uma vez que há mais itens na revista de março de 2007 (167), do que na revista de julho de 2008 (155). De acordo com a definição de tipos de empréstimos, podemos observar que as ocorrências encontradas foram de Loanwords, Loanblends e Loan Creations; formados por substantivos e/ou adjetivos. Exemplos de Loanwords mais freqüentes nas duas revistas: mixer, site, reality shows, rock, Pay-per-view, games, hits, quiz, pop, serial killer, shows, show business, happy hour, rock’n’roll. Exemplos de Loanblends: “um setzinho de oito músicas”, videoclipes, geração multimidiática, holliwoodianas, clique (ao alcance de um clique), camarins glamourosos. Exemplos de Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Loan Creations: Games interativos, mundo fashion, Projeto Constellation. Aqui não haveria a necessidade da utilização dos itens em inglês, por termos os equivalentes em português. O Brasil esteve e continua em contato com nações falantes de língua inglesa, o que aumenta cada vez mais com a internet. Considerando a área de filmes, transmissões de TV, a maioria dos itens utilizados pode ser considerada desnecessária, já que seus equivalentes existem em língua portuguesa, tratando-se então de estrangeirismos. A razão para a utilização destes estrangeirismos poderia ser classificada como “atração” – pelo conhecimento da arte de fazer filmes dos falantes de língua inglesa – as pessoas da área acham que serão entendidas por quem lida/ gosta de filmes, TV; já que, de acordo com Crystal (2005), cerca de 80% de todos os filmes lançados em cinema são falados em inglês. A chance para que muitos destes itens entrem para o vocabulário dos brasileiros é muito remota, por serem termos usados apenas por pessoas de um determinado ramo, e não pela população inteira. Outros, já fazem parte do nosso dia-a-dia, como por exemplo, site, rock, games, happy hour. Com relação à hipótese de que a utilização de itens em inglês estaria aumentando, esta não se confirma, pois o levantamento dos dados comprovou um decréscimo de 7,2%. Palavras-chave: empréstimo lingüístico; estrangeirismo; prestígio. 413 414 Resumos NO RASTRO DA VIOLA ESTUDO SOBRE PATRIMÔNIO CULTURAL IMATERIAL POR MEIO DA MÚSICA DE BELARMINO E GABRIELA Lilia Maria da Silva - UTP A busca do homem por algo que o identifique e que o torne comum aos seus é fator primordial para a manutenção das sociedades humanas. Sendo naturalmente um ser social, o sentimento de pertencimento aliado à identificação com o grupo, os hábitos, usos, costumes, saberes e fazeres faz com que as comunidades se reconheçam e se mantenham vivas ao longo dos tempos. Partindo deste pressuposto, podemos afirmar que a memória da comunidade e de suas manifestações culturais é que a torna singular? A transmissão de seus valores através das gerações contribui para sua permanência e consolidação? A preservação da memória está intimamente ligada às representações simbólicas que o indivíduo tem sobre si mesmo (memória individual) e o meio em que vive (memórias coletivas). Esse aspecto da memória está relacionado com o conceito de identidade, ou seja, com a noção de pertencimento de um indivíduo em seu grupo. O reconhecimento de si próprio nos outros. Esse conceito norteador de valorização das vivências e das memórias coletivas é o que permeia a idéia de patrimônio cultural e nos faz refletir sobre o passado das sociedades e a relevância para seu presente. São os “lugares de memória”, como definiu o historiador Pierre Nora, ou seja, os “locais materiais ou imateriais nos quais se cristalizam as memórias familiares, de uma nação ou de um grupo.”1 Nesse sentido, um aroma, um sabor, uma música ou até mesmo um símbolo da pátria podem reavivar o sentimento de pertencimento em um indivíduo ou do grupo como um todo. Assim sendo, trabalhar com conceito de patrimônio cultural é acima de tudo, a busca pelo conhecimento de uma comunidade. Seus valores, seus bens tangíveis (móveis e imóveis) e intangíveis (saberes e fazeres) e tudo aquilo que a torna singular. As análises de suas referências culturais podem elucidar questões de preservação, de hábitos e tradições assim como seu modo de vida, seus rituais, religiões, usos e costumes. Para explorar melhor os âmbitos afetivo e social que identificam o sentimento de identidade dos indivíduos em suas comunidades, utilizaremos como ferramenta de apoio à construção e resgate de um patrimônio, a memória que como diz Jacques Le Goff tem a capacidade de “presentificar o Passado.” 2 Dessa forma, conceitos como referências, identidade, patrimônio e pertencimento também são importantes e bastante recorrentes quando o assunto é preservação do patrimônio cultural material e imaterial de uma sociedade. O presente trabalho, objetiva fazer uma análise da evolução do conceito de patrimônio cultural. Iniciaremos os estudos partindo da construção do conceito, surgido no período de 1789. Se, no início, a preservação do patrimônio havia sido pensada somente como Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa um meio de salvaguardar da depredação e da pilhagem as obras de artes e os edifícios monumentais da França pós Revolução, posteriormente foi adquirindo um aspecto mais denso relacionado com a proteção do patrimônio cultural das sociedades. Ao longo dessa trajetória, o patrimônio cultural sofreu muitos revezes. Algumas perdas, irreparáveis, como a derrubada de grandes conjuntos arquitetônicos monumentais em nome da modernização e higienização dos espaços urbanos, defendidas por algumas correntes de pensamento e outras que, pregavam a totalidade da preservação do bem, sem que se pudessem alterar os espaços do entorno dos monumentos e edifícios históricos dificultando assim a utilização do bem preservado. Ao longo de sua trajetória, o patrimônio cultural incorporou sob sua responsabilidade a identificação, conservação e a proteção das tradições e das manifestações da cultura popular por meio de registros, inventários e suporte econômico para tais saberes, assim como a transmissão desses conhecimentos por meio da educação formal e informal. Finalmente, a junção dessas duas concepções fez nascer uma nova corrente de pensamento. A utilização consciente dos edifícios históricos e seu bom uso fizeram com que também a comunidade se sentisse responsável pelos bens preservados. Ganharam o patrimônio histórico, as cidades, as futuras gerações. Ganhamos todos nós. Mas recentemente, alguns países preocupados com sua cultura tradicional reivindicaram também a preservação, não só de seus monumentos arquitetônicos, mas também de suas Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. manifestações culturais mais autênticas. A partir desse momento, o conceito de patrimônio cultural ganhou mais uma vez, incorporou sob sua responsabilidade a preservação da cultura dos povos, garantindo a continuidade através do registro, da documentação e do suporte da transmissão dos saberes às novas gerações. Dessa forma, propiciou a manutenção das tradições e valorizou as mais variadas manifestações culturais garantindo assim a dinâmica das sociedades e a diversidade cultural. Para que faça sentido a preservação de bens tangíveis e intangíveis em uma sociedade, é necessário que eles sejam relevantes para as comunidades, no sentido de despertar na memória das pessoas, sentimentos de pertencimento e de identidade com o passado comum. A preservação dos monumentos e de monumentos históricos está intimamente ligada à memória coletiva. Sendo assim, são esses os valores que respaldam a preservação dos bens patrimoniais. Ao nos deparar com esses conceitos, buscamos a melhor forma possível para alcançar meus objetivos. Pensando sobre a análise do tema proposto e o conceito de patrimônio imaterial, o referencial teórico utilizado para o desenvolvimento desse estudo foi imprescindível para a condução das análises de patrimônio cultural. A autora Françoise Choay3 contribuiu para os estudos referentes ao desenvolvimento do conceito de patrimônio desde sua origem até as discussões mais atualizadas sobre preservação das manifestações culturais. Num segundo momento, a utilização do texto de Eric Hobsbawm4 tornou possível a análise da música popular brasileira rural. Sua apropriação 415 416 Resumos pela indústria fonográfica e a disseminação no espaço urbano. Finalmente, buscamos responder a questão: A música sertaneja pode ser vista como patrimônio cultural imaterial de uma sociedade? E a construção desse gênero musical, que aos poucos foi incorporado ao ambiente urbano, pode ser tratada como resgate de tradições e elemento identitário da cultura brasileira? Utilizando como referencial as décadas de 1940 a 1960, ou seja, o apogeu do rádio, procuramos responder e interpretar essas questões. Além disso, buscamos rever a trajetória da carreira e da produção artística dos músicos Belarmino e Gabriela e a relevância de sua obra para a formação da identidade musical paranaense, que se apropriaram de tradições rurais para valorizar o homem sertanejo no ambiente urbano. Durante sua longa carreira, com músicas de versos simples e humor inocente, a dupla consolidou a imagem do sertanejo, do caipira sulista, mostrando as diferentes faces do Paraná rural. A expressão de sua arte consistia na valorização do homem do campo, de seu jeito simples e trabalhador, de sua responsabilidade diante da vida e do meio ambiente. Ao iniciarmos essa pesquisa, o foco principal estava direcionado na produção artística da dupla Belarmino e Gabriela. O objetivo proposto inicialmente respaldar e entender a produção artística dos músicos como um patrimônio cultural imaterial. No transcorrer desse estudo percebemos que, da forma como havíamos proposto o trabalho inicialmente, seria errôneo permanecermos nessa linha de estudo, pois o conceito de patrimônio imaterial se fundamenta primordialmente na conjunção de um saber de domínio público. Algo que tenha relevância para a comunidade, que a identifique, mas que também esteja disponível ao usufruto de todos. Como então, trabalhar com a carreira dos músicos, que tinham uma autoria definida, que marcaram gerações com o fortalecimento de uma identidade forjada no espírito do homem rural paranaense? Partimos então para a exploração da música sertaneja como patrimônio imaterial. O universo simbólico que permeia esse estilo musical vem de encontro com a definição de patrimônio imaterial. Ser de domínio público, relevante para um meio social e servir como elemento identificador. Ao concentrar a pesquisa nesse enfoque, encontramos um solo fértil para o desenvolvimento de nossos estudos, visto que a música sertaneja e a preservação do patrimônio cultural imaterial despertam muitas questões que, poderão ser aprofundadas em novos estudos. Além da música, o conceito de patrimônio cultural, por se tratar de um tema relativamente recente, sugere temas para os variados campos de pesquisa. Palavras-chave: patrimônio; patrimônio cultural; música sertaneja. 1 HORTA, Maria de Lourdes Parreiras. A memória pública. Disponível em: www.miniweb.com.br/ lugares_memória.html. Acesso em: 25 mai. 2009. 2 Jacques Le Goff. História e memória. São Paulo: Editora da Unicamp, 1994, p. 419. 3 CHOAY, Françoise. Alegoria do Patrimônio. São Paulo: Unesp, 2001. 4 HOBSBAWM, Eric; RANGER, Terence. A invenção das tradições. São Paulo: Paz e Terra, 1997. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa O INSTITUTO BRASILEIRO DE FILOSOFIA: UMA TENTATIVA DE CONSTRUÇÃO DE HEGEMONIA CONSERVADORA Rodrigo Jurucê Mattos Gonçalves - Escola Mosaico Pedro Leão da Costa Neto - UTP O objetivo do presente trabalho é analisar a tentativa de elaboração de um projeto hegemônico conservador realizada pelo Instituto Brasileiro de Filosofia. O IBF foi criado na cidade de São Paulo, em 1949 e entre seus fundadores podem-se destacar, Miguel Reale, Vicente Ferreira da Silva, Luiz Washington Vita, e segundo os seus Estatutos tinha, entre seus objetivos, o de: “promover o desenvolvimento da cultura filosófica em nosso país mediante cursos, conferências, seminários (...)” . A identificação do IBF, como Instituição representativa do pensamento conservador no Brasil, já foi destacada por diferentes autores. Paulo Eduardo Arantes, em seu ensaio dedicado a João Cruz Costa , identifica nos anos 50-60, três diferentes posições filosóficas, que corresponderiam a diferentes posições ideológicas: 1) a “esquerda transcendental”, que se constituiu em torno do departamento de filosofia da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (FFCLUSP), e que pressupunha que suas técnicas filosóficas mais rigorosas corresponderiam a posições políticas mais avançadas. Arantes, seguindo as observações de Antônio Cândido que caracterizou a obra Raízes do Brasil de Sérgio Buarque de Holanda como representante de um radicalismo potencial das classes médias, atribuirá esta mesma caracterização ao próprio Antônio Cândido e outros professores da FFCL – USP; 2) o “nacionalismo existencialista” que se constituiu em torno do Instituto Superior de Estudos Brasileiros – ISEB, e que visava elaborar, a partir de conceitos originários principalmente da filosofia existencialista, um fundamento filosófico para um projeto nacional-desenvolvimentista; e 3) a “direita” do Instituto Brasileiro de Filosofia (IBF), diferentemente das duas concepções anteriores, que elaboraram diferentes visões críticas em relação à formação histórica e intelectual brasileira que, propunha, ao contrário, uma análise positiva do nosso passado histórico. No mesmo sentido, Leandro Konder em sua análise dos intelectuais brasileiros nos anos 50-60 apresentou uma tipologia, aonde ressaltava a importância das opções filosóficas e das posições teórico-políticas para a formação das diferentes tendências existentes entre os intelectuais, em um sentido amplo, e os historiadores, de maneira específica: 1) a “perspectiva conservadora” citando, por exemplo, Djacir Menezes (próximo ao IBF) que ressaltava a dimensão da continuidade no processo histórico brasileiro, de maneira a repelir o reconhecimento Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 417 418 Resumos da importância da ruptura Menezes afirmando, assim, o seu estreito compromisso com a ordem. Konder identifica, nessa concepção, uma desenvolta apologia das forças que têm comandado nossa história; 2) a “tendência nacional-desenvolvimentista”, agrupada primeiro em torno do IBESP, e que depois dará origem ao ISEB, que pretendia entender a nossa história à luz de um projeto comprometido com a promoção de um desenvolvimento nacional autônomo; 3) a “perspectiva marxista”, sobre a qual Konder faz uma distinção, separando o marxismo ortodoxo doutrinário por um lado, e, por outro, a corrente representada por dois intelectuais socialistas independentes: Antônio Cândido e Florestan Fernandes. O autor sublinha igualmente a importância do grupo de jovens professores da USP que se reuniram em um Seminário para elaborar uma leitura de O Capital. Na cidade de São Paulo, a oposição entre os projetos representados pela da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da Universidade de São Paulo da USP e pelo IBF assumiu contornos particularmente antagônicos. Criada em 1934, a FFCL foi concebida como o centro da futura Universidade - e também como forma de superar a estrutura das escolas profissionais isoladas representadas pela Faculdade de Medicina, pela Politécnica e pela Faculdade de Direito. Para a sua efetivação, a nova faculdade contou com a ajuda de uma “missão cultural francesa” que representou uma forte descontinuidade com a tradição cultural e de ensino da cidade. Até esta data, o ensino da Filosofia, na cidade de São Paulo estava representado: por um lado, pela Faculdade Livre de Filosofia e Letras de São Paulo criada em 1908 pelos beneditinos de São Paulo, e que funcionou até 1937 - com uma interrupção entre 1918 e 1921 - quando foi reconhecido pelo governo federal e integrada a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo em 1946-1947, e por outro lado, pela Faculdade de Direito de São Paulo criada em 1827 ; no interior da qual tinham se formado a grande parte dos membros do IBF. O novo estilo de ensino da filosofia, representado pelo ensino dos professores franceses vai rapidamente entrar em choque com a tradição de ensino da filosofia representada pela Faculdade de Direito. Referindo-se ao destaque dado pelo IBF, ao pensamento filosófico no Brasil, Tânia Gonçalves sublinha o seu caráter ideológico: “Para dar legitimidade ao Instituto diante do método francês de estudos filosóficos, Miguel Reale elege um assunto próprio para o grupo do IBF – a tradição filosófica brasileira esta que sempre esteve ligada à tradição das faculdades de direito do Brasil, especialmente São Paulo e Recife. Podemos afirmar que o programa de recuperação da história do pensamento filosófico no Brasil correspondia a uma nova leitura conservadora da História do Brasil, que assumirá contornos cada vez mais claros com a aproximação de Antonio Paim e Paulo Mercadante a Miguel Reale, ao IBF e a escola culturalista. Uma vez reconstruída, em linhas gerais, o projeto hegemônico conservador do IBF, no interior das principais tendências existentes Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa nas décadas de 50 e 60, tentaremos analisá-lo a partir das observações efetuadas por Antonio Gramsci, elaborada nos Cadernos do Cárcere, sobre a “concepção positiva da revolução passiva”, no qual são criticadas as concepções históricas de Croce apresentadas em seus livros Storia dell’Europa nel secolo XIX e Storia d’ Italia dal 1871 al 1915, onde todos os momentos de ruptura e luta de classes se dissolvem – são escamoteados, no que Gramsci caracterizou como “história fetichista”. Este programa de pesquisa correspondia à uma prática intelectual orgânica . Neste sentido, o IBF possuía uma (1) política de formação filosófica, que passou a ser realizada a partir de 1952, quando, através do financiamento da Secretaria de Cultura da Municipalidade de São Paulo, foram organizados cursos de extensão cultural. O então governador do Estado de São Paulo, Lucas Nogueira Garcez e o prefeito da cidade de São Paulo, Armando Arruda Pereira, consideraram, na época, que o IBF era uma “entidade de utilidade pública” . Esses cursos ocorreram continuamente de 1952 a 1965. (2) Uma política editorial, com financiamento obtido junto ao Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. empresariado, à Editora da USP (da qual Reale fora Reitor por duas vezes), ao Governo do Estado de S. Paulo, à Prefeitura da Capital, ao Instituto Nacional do Livro (INL). A categoria do aparelho de hegemonia filosófico (a.h.f.), desenvolvida por Christine BuciGlucksmann , é de particular importância para a análise do IBF, pois nos dá indicações precisas para uma problematização rigorosa. Segundo a autora, o a.h.f. tem por objetivo “a difusão de uma filosofia, de uma concepção geral da vida”, de uma estrutura ideológica que compreende “uma organização material que visa a manter, defender, desenvolver a ‘frente teórica e ideológica’. O a.h.f. portanto faz parte ‘do formidável complexo de trincheiras e fortificações da classe dominante’.” Assim, o IBF é, verdadeiramente, um a.h.f., onde confluem o trabalho intelectual em sentido estrito (das pesquisas, dos estudos, etc.), e o trabalho intelectual em sentido lato, no sentido da organização – conforme definido por Antonio Gramsci. Palavras-chave: Instituto Brasileiro de Filosofia; revolução passiva; aparelho de hegemonia filosófico (a.h.f.). 419 420 Resumos O MOVIMENTO DOS ARTE-EDUCADORES NO BRASIL NA DÉCADA DE 1980 Josélia Schwanka Salomé - UTP As metodologias para o ensino da arte vêm historicamente, se distanciado das questões que envolvem o conhecimento do sensível e centram-se nas questões que envolvem o conhecimento dos códigos desta linguagem, o que tem provocando uma real perda da expressão individual dos alunos. Nesta perspectiva de discussão, o presente trabalho busca atentar para a necessidade da valorização do potencial criador dos alunos nas aulas de arte do ensino fundamental. Essa discussão se dá a partir do resgatar, na história da educação brasielira, o movimento de arte-educadores da década de 1980. A pertinencia deste projeto se dá na necessidade de entender este momento histórico e de se revitalizar a discussão sobre o papel da arte na educação escolar, levantando os dados referentes principalmente ao Manifesto Diamantina e as propostas consolidadas nos encontros da FAEB (Federação de Arte Educadores do Brasil) na década de 1980. Para que se alcancem os objetivos propostos, partir-se-á de um levantamento bibliográficas da área em questão e posteriormente para a pesquisa de campo buscando os documentos acima citados, nas bibliotecas das universidades que participaram destas ações: UFPR, UNICAMP, PUC/SP, USP e UDESC. Alguns autores como Ana Mae Barbosa e João Francisco Duarte Junior possuem pesquisas e trabalhos publicados no sentido desta investigação, além dos informes editados pelas associações dos arte-educadores, publicados na época dos movimentos e que servirão de mote para um maior aprofundamento nos documentos do período. Assim, esta pesquisa procura, em seu conteúdo, analisar este movimento da história, buscando elucidar fatos e gerar indagações. As últimas décadas do século XX no Brasil, no que concerne à arte-educação, foram marcadas por diversas tentativas de se buscar uma melhor compreensão acerca do ensinar e aprender arte na escola. Estas discussões vêm de encontro a uma série de políticas públicas adotadas pós-período de 1964, pois neste momento histórico, a tendência pedagógica tecnicista oficializa-se no Brasil visando à reordenação do sistema educacional, pregando a neutralidade científica e inspirada nos princípios de racionalidade, eficiência e produtividade, o que elimina a possibilidade de trabalho com a expressão criadora. A perda da sensibilidade na educação escolar foi reforçada pela tendência pedagógica tecnicista, cujo auge deu-se em 1970, no Brasil, com sua implementação durante o regime militar que vigorava no país. A partir da valorização dos processos de industrialização e do desenvolvimento econômico, viu-se a necessidade de formação de mão-de-obra Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa para atender a este novo modelo econômico. Como prática artística na escola, nesse momento histórico, os manuais didáticos e receitas prontas para as aulas de arte, são as metodologias e recursos utilizados, o que leva a um esvaziamento da capacidade de expressão individual. Esta metodologia de ensino da arte ainda é bastante presente na Educação Básica, mesclada às tentativas de trabalho com as leituras de imagem e com os livros didáticos que voltam ao cenário educacional. A partir destas premissas, o presente trabalho busca discutir estas metodologias para o ensino da arte, presentes na década de 1990, reflexos da história da educação em arte que tivemos até então. Sob determinados aspectos, a metodologia do ensino da arte desenvolvida durante o tecnicismo na educação, dá continuidade à pedagogia da Escola Nova quando propõe o aprofundamento às questões da ênfase no método e nos processos, mas se contrapõe na medida em que automatiza estes processos nos sujeitos. Nesta tendência, nem o aluno, nem o professor têm o papel de destaque, mas sim a organização pedagógica operacional e técnica, transpondo para a escola o sistema de produção fabril, onde o que importa é o processo, o aprender a fazer e onde o Marginalizado será o incompetente (no sentido técnico da palavra), isto é, o ineficiente e improdutivo. A educação estará contribuindo para superar o problema da marginalidade na medida em que formar indivíduos Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. eficientes, isto é, aptos a dar a sua parcela de contribuição para o aumento da produtividade da sociedade. (SAVIANI, 2002., p.13) Diante desse quadro, os rumos que o ensino da arte toma após a implementação dos cursos de formação dos professores têm, nas associações dos Arte–Educadores os movimentos para tentar mudar os rumos da arte na escola. Alguns desses movimentos tiveram importância fundamental nas discussões sobre a polivalência e os conteúdos para a área, como o encontro de arteeducadores realizado na Universidade de São Paulo em 1983 e que contou com mais de dois mil professores de arte do país e que discutiu os aspectos políticos que tentavam imobilizar o ensino da arte nesse momento histórico. E assim, diversos outros encontros que culminaram em documentos e resoluções propondo alterações significativas nos currículos das escolas. (BARBOSA,1999) Esses movimentos, entretanto, foram diluídos pelo sistema político dominante neste período (1970-1980), que procurava veicular sentidos que nada tinham a ver com a realidade que se apresentava, buscando moldar um padrão para que os pensamentos e sentimentos deixassem de ser críticos e se tornassem consumistas. A televisão entrou como um veículo de difusão e de homogeneização cultural, impondo a forma de pensar e de sentir, levando o ensino da arte a um processo de tecnicização. Esta visão de educação, apesar de pretender, não conseguiu 421 422 Resumos a superação da marginalidade, pois o próprio processo gerou este resultado. Sem ter a mediação crítica que perceba esta conseqüência, temos nesta teoria apresentada, a reprodução da sociedade na qual ela está inserida, sem a preocupação com as classes menos favorecidas. Na relação com a educação as discussões sobre a necessidade de privilegiamento da expressão individual se deparam com a visão de arte predominante nas escolas, permeada ora por um tecnicismo exacerbado onde o que importa é um saber fazer sem o compromisso com uma fundamentação teórica, ora por uma idéia equivocada de dom e de talento, onde se exclui qualquer possibilidade de desenvolvimento da capacidade de criação artística. Há ainda a ausência de uma metodologia que direcione o trabalho educativo pautado na proposta de que arte não deve ser ensinada, mas expressada através de propostas voltadas à livre-expressão. Contudo, alguns movimentos já se fazem sentir em algumas discussões na área, voltadas a ampliar o acesso à compreensão da arte enquanto produção humana visando permitir que o homem compreenda o mundo em que vive e dele participe ativamente. (DUARTE JR, 2000) Apesar de o quadro parecer desanimador, muitos educadores vêm lutando para alterar essa (des) ordem, discutindo a educação e o papel da escola na sociedade contemporânea, salientando que o trabalho com a aprendizagem dos sentidos, que envolve o trabalho com o sensível, vai implicar numa tomada de consciência por parte dos professores, alunos e todos os integrantes do processo educacional, quanto a necessidade de se trabalhar a arte numa práxis superadora que busque novas percepções e novos olhares sobre o mundo e a vida. Na realidade atual, diante da sua complexidade, podemos encontrar professores que possuem uma formação tradicional, exercem uma prática escolanovista e, em sua atuação se limitam a executar ordens e planos vindos de cima, impostos pelas leis ou por seus pares. Por outro lado, observa-se um grupo de professores que vêm tentando resistir, voltando-se para uma organização em classe que vai à busca de alternativas para esses impasses na educação. O que importa é a construção de uma proposta pedagógica que esteja diretamente articulada com a pluralidade das determinações sociais, buscando superar a fragmentação e os reducionismos presentes na educação e que seja comprometida com a socialização dos conhecimentos. Relacionando esta teorização com o ensino da arte, estas questões endossam a necessidade dessa área do conhecimento ser vista na perspectiva da representação artística como o reflexo de uma realidade historicamente construída na relação homem e mundo, homem e humanidade. Como afirma Lukács (1978, p.287) A continuidade do desenvolvimento da humanidade tem a seu favor uma sólida base material [...] Contudo, para a arte, ela serve apenas como mediação para a realização Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa de sua tarefa, a de representar o homem, o seu destino, os seus modos de manifestação. As discussões advindas dos movimentos dos arteeducadores reforçam as questões trazidas neste trabalho especialmente no que diz respeito à necessidade de se buscar definir uma identidade para a área de arte na educação escolar. Os diferentes documentos coletados no período desta pesquisa, como o Manifesto Diamantina, a Carta de Protesto de Brasília, a Carta Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. de São João Del- Rei dentre outros, ainda estão em fase de análise por parte do pesquisador e de antemão podemos afirmar que estes documentos apontam para a necessidade da compreensão acerca da abrangência da área de Arte na educação escolar e de um maior compromisso por parte das políticas públicas para a educação. Palavras-chave: arte-educação; artes visuais; políticas públicas. 423 424 Resumos REFERÊNCIAS BARBOSA, Ana Mae. A imagem no ensino da arte. São Paulo: Perspectiva, 1999. DUARTE JR., João-Francisco. O sentido dos sentidos : a educação (do) sensível. Curitiba : Criar, 2000. LUKÁCS, G. Introdução a uma estética marxista: sobre a categoria da particularidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978. SAVIANI, Dermeval. Escola e democracia : teorias da educação, curvatura da vara, onze teses sobre a educação política.35. ed. revista – Campinas, SP: Autores Associados, 2002. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa O SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM INDUSTRIAL (SENAI): CRIAÇÃO E PROPOSTA S EDUCATIVA S / CONTRIBUIÇÕES À FORMAÇÃO SOCIAL BRASILEIRA Filipe Pêgo Camargo - UTP Este texto refere-se ao estudo que fazemos, como bolsista de iniciação científica da Universidade Tuiuti do Paraná, do Projeto de Pesquisa intitulado: O Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai): Criação e Propostas Educativas/ Contribuições à Formação Social Brasileira. Procura 1. compreender, e explicar o papel que o SENAI vem tendo, historicamente, suas estruturas, políticas de ensino e resultados na formação social brasileira; 2. analisar e explicar as forças sociais que criaram o SENAI; 3. oportunizar o entendimento do papel social do Senai; 4. possibilitar a compreensão da atuação do Senai na educação, qualificação e requalificação do trabalhador brasileiro. Nesta etapa procedemos à revisão bibliográfica, iniciamos a coleta de documentos, as visitas ao Senai de Curitiba, as consultas na sua biblioteca e elaboramos a primeira síntese intitulada: A conjuntura histórica da Era Vargas (1930-1945): bases para a criação do SENAI. O estudo do processo histórico brasileiro mostra-nos um Estado dominado majoritariamente por suas elites. Este fato evidencia-se nas transições políticas que a nação teve em seu percurso histórico. Sendo estes respectivamente: Colônia, Império e República, este último vigente. Enquanto colônia de Portugal participou como fornecedor de matérias primas, produtos que interessavam aos comerciantes portugueses e seus aliados, nomeadamente os ingleses. No período de transição da Colônia para o Império, manteve-se a mesma estrutura econômica. Apropriadamente, Florestan Fernandes salienta que a Independência do Brasil foi uma “revolução política” tão somente, devido à estabilidade das estruturas sócio-econômicas, que estavam e se mantiveram ainda por longo período. Porém no último quarto do século XIX, paulatinamente, o trabalho escravo foi sendo substituído pelo trabalho livre, feita a proclamação da República. O país começava a crescer demograficamente e economicamente, com isso a chegada dos imigrantes e investimentos feitos no plantio de café, iniciam-se novos rumos sócio-econômicos, pautados pela concentração de renda o maior poder da aristocracia agrária, uma economia dependente das exportações. No período inicial republicano o café foi o elemento primeiro desta economia. Sustentado pelas exportações, o Brasil até à Revolução de 1930, não conseguiu formar um mercado interno consistente. A burguesia brasileira formou-se associada e dependente da burguesia internacional. Somente a partir de 1930 podemos falar de um processo de industrialização. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 425 426 Resumos Na Primeira República o poder político concentrou-se nos Estados de São Paulo e Minas Gerais, foi a política conhecida por “café-com-leite”, quando os cafeicultores paulistas e os produtores de gado bovino/leiteiro de Minas Gerais, alternavam os presidentes republicanos, visando assim à manutenção da política econômica vigente. A ascensão de Getúlio Vargas à presidência com a Revolução de 1930 marca o início de uma conjuntura de expansão industrial. O final da política “café-com-leite” explica-se na conjuntura internacional da crise de 1929, quando ocorreu a queda da Bolsa de Nova York. Este período (1929-1930) coincide com a maior produção de café da história do Brasil, assim, devido à crise o produto ficou sem um amplo mercado consumidor, deixando seus produtores em conseqüente crise. É importante observar que a crise cafeeira resultou na queda de valorização do produto (café) e na desestabilização política da aristocracia agrária, contudo, não significou que estes “aristocratas” perdessem seu poder tanto econômico quanto político. Pelo contrário, os núcleos industriais existentes no Brasil antes da década de 1930 e posterior a esta, foram implantados em sua maior parte, pelas inversões feitas dos lucros excedentes da produção cafeeira. Por isso, apesar da relevante mudança sócio-econômica ocorrida no Governo Provisório, não se pode ocultar que Vargas contou com o apoio de parte dos cafeicultores. Estes que no referente contexto não estavam satisfeitos com a política “passiva” do então presidente Washington Luís, que não agiu diretamente a favor dos produtores de café durante a crise. O contínuo declínio das exportações de café poderia significar uma catástrofe para Getúlio Vargas. Por isso, o Governo Provisório agiu como financiador dos cafeicultores, inclusive perdoando parcelas das dívidas que possuíam. Contudo, apesar dos problemas resultantes da crise cafeeira, em tempos de lucratividade do café, parte deste lucro foi dinamizada para as cidades, e aplicada inclusive na instalação de indústrias. Estas foram a base para a ascensão econômica do país no conjunto dos países industrializados. Neste contexto histórico brasileiro, duas propostas estavam claras: A primeira é que a economia precisava crescer, e a segunda é que o investimento no mercado interno deveria ser a solução para a primeira proposta, em virtude da fragilidade com que se deparava o setor exportador. No que tange à aceleração econômica brasileira, uma das primeiras medidas tomadas pelo Governo Provisório foi à criação do Ministério do Trabalho, da Indústria e do Comércio entre 1930/31. Nesta conjuntura, houve um crescimento demográfico nas cidades, formando-se assim um proletariado urbano. Além da criação de um ministério destinado ao trabalho, Vargas reformulou as políticas de atendimento às reivindicações trabalhistas e sociais. Dentre as medidas do Governo Provisório, destacamse no campo trabalhista: a jornada de trabalho de 8 horas diárias, um dia de descanso remunerado por semana, e a criação do salário mínimo no período do Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa Estado Novo. No campo social foi feita a regulamentação do voto feminino, o voto secreto e a diminuição da idade eleitoral de 21 anos para 18. As associações sindicais foram fomentadas e controladas. A Constituição de 1934 assegurou a representação de “quarenta deputados dos diversos setores profissionais, tanto patronais como de empregados” (PEDRO, p.413) no governo Vargas. Aprofundando a questão industrial, para a análise do desenvolvimento industrial (indústria de base) que ocorreu no Brasil, a partir de 1930, este texto destaca ações que contribuíram para a aceleração industrial do país como a política protecionista que Vargas adotou para estimular a expansão do mercado interno, aumentando as tarifas dos produtos importados. Um elemento importante desta conjuntura foi o aproveitamento da capacidade ociosa das indústrias instaladas no Brasil no período da República Velha, quando parcela dos lucros dos cafeicultores foi empregada em indústrias de produtos não duráveis, como alimentícios e principalmente têxteis. Neste aspecto, (FURTADO, 1971, p. 198) escreve: “Entretanto, o fator mais importante na primeira fase da expansão da produção deve ter sido o aproveitamento mais intenso da capacidade já instalada no país. Bastaria citar como exemplo a indústria têxtil, cuja produção aumentou substancialmente nos anos que se seguiram à crise sem que sua capacidade produtiva tenha sido expandida”. O mesmo autor informa que: “A produção industrial cresceu em cerca de 50 por cento entre 1929 Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. e 1937 e a produção primária para o mercado interno cresceu em mais de 40 por cento no mesmo período. Dessa forma, não obstante a depressão imposta de fora, a renda nacional aumentou em 20 por cento entre aqueles dois anos (1929-1931).” (IDEM, p.200). No período do Estado Novo (1937) a economia brasileira continuava a crescer, bem verdade convivendo com dívida externa provocada por empréstimos destinados ao setor industrial. Na tentativa de aumentar a rentabilidade econômica o governo brasileiro suspendeu o pagamento da dívida, fomentando ainda mais o mercado interno. Esta a conjuntura histórica brasileira entre 1930-1945 explica a criação do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – SENAI-, instituição que proporcionou uma base estrutural para dar força ao novo grupo emergente, o grupo dos empresários ligados à industria. Este texto procurou apresentar através de uma análise da conjuntura histórica, que o processo de expansão da indústria ocor rido principalmente a partir da década de 1930 mudou significativamente a sociedade brasileira, trazendo consigo metamorfoses econômicas, sociais e culturais, deslocando grande parcela do proletariado rural para o mundo urbano, intensificando a modernização das cidades e criando também todo um estilo urbano de vida, diante de tais acontecimentos. Enfim, o SENAI veio colocando-se na capacitação e educação da classe trabalhadora brasileira, divulgando a ideologia de corporativismo entre as classes para o crescimento 427 428 Resumos econômico do Brasil. Recorremos para a elaboração deste texto às contribuições dos seguintes autores e respectivas obras: FERNANDES. Florestan. A Revolução Burguesa no Brasil: ensaio de interpretação sociológica. Rio de Janeiro: ZAHAR. 1975; FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. Rio de Janeiro: Nacional, 1971; FAUSTO Boris. O Brasil Republicano -Economia e Cultura (1930-1964). In_ Capítulo I: O Brasil e a economia mundial (1929-1945), Capítulo IV: Interpretação do Brasil: Uma experiência histórica de desenvolvimento. São Paulo. DIFEL. 1984; PEDRO, Antônio. História da civilização ocidental: ensino médio: volume único/ Antônio Pedro, Lizânias de Souza Lima. São Paulo: FTD, 2004 – (Coleção Delta). ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofando: introdução à filosofia / Maria Lúcia de Arruda Aranha, Maria Helena Pires Martins. – São Paulo: Moderna, 1986. Palavras-chave: Senai; conjuntura; história; industrialização. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa O TUTOR NA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: DIMENSÕES E FUNÇÕES QUE FUNDAMENTAM SUA PRÁTICA TUTORIAL Everaldo Moreira de Andrade - UTP/UP Desde o final do século XX, e nesse início de século XXI, tem se delineando uma grande transformação nos procedimentos de ensino-aprendizagem associados aos processos de disseminação de informação e ao uso de novas tecnologias. Uma parte significativa desta transformação está relacionada ao uso da Educação a Distância como forma de atingir novos públicos e desenvolver novas metodologias de ensino. A educação a distância utiliza-se de desenvolvimentos tecnológicos para disseminar informação para estudantes através de outros canais que não os tradicionais. Será destacada, aqui, a importância da ação do tutor na Educação a Distância abordando, em especial, as competências que lhe são necessárias. Também discorre sobre suas funções e as dimensões da tutoria nos cursos a distância. Sinaliza que o tutor tem uma atuação de enorme importância na articulação do diálogo, comunicação, orientação e informação na construção de conhecimentos. A Educação a Distância (EAD) é uma modalidade educativa que caminha para a democratização do saber e amplia oportunidades de acesso ao conhecimento. O processo educacional brasileiro está passando por grandes transformações: levar conhecimento de qualidade a todos é o grande objetivo da educação. Para que seja uma realidade atual, foi necessário incorporar novas metodologias que viessem contribuir nessa trajetória, nesse bojo está a educação a distancia, que pegou o suporte das novas tecnologias educacionais, indo ao encontro de conhecimento nunca antes observado, lembrando sempre da complexidade tanto educacional como do próprio território brasileiro, com grande extensão territorial e a diversidade da região Norte do país, regiões que nunca tiveram acesso à educação de qualidade. Atualmente, já há interesses públicos e privados para a organização de uma rede de EAD, que pretende levar o ensino a todos que estão excluídos desse processo. Ao falar-se em educação a distância, surge neste cenário uma figura determinante: o tutor, que no desenvolvimento da prática pedagógica deve ser observador, deve saber interpretar as observações feitas, além de tomar decisões para intervir nas situações de ensino, sendo tão ativo quanto o aluno num processo significativo de aprendizagem. Tornamse fundamentais suas competências científica e pedagógica e suas atitudes em relação ao processo de transformação e assimilação de conhecimentos, que estão inseridos na aprendizagem dos alunos. Assim, o professor tem como funções primordiais ensinar e avaliar. Sabe-se que a tutoria na educação a distância é um parâmetro novo em educação. Assim, surge um novo modelo de educação e uma nova função em educação, pois o tutor é um educador à distância, Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 429 430 Resumos superando o conceito reducionista de uma proposta educacional técnica. Entende-se que a educação a distância é uma prática que permeia as necessidades e habilidades de cada aluno e do grupo de alunos em si, ocorrendo de modo presencial e virtual. O tutor é um professor que atua nas situações programadas de ensino e aprendizagem e de orientação assistida nos processos de educação à distância. Ele desenvolve uma relação direta com os alunos, ajudando-os na compreensão e na aproximação dos conhecimentos, empregando diversos meios para o ensino dos conteúdos. Tais meios envolvem materiais impressos, vídeo, telefone/fax e outros suportes de tecnologia da informação e comunicação. Na EAD, o ensino se baseia no uso da tecnologia para superar barreiras de tempo e espaço e a mediação é exercida por um tutor, a (re) construção do conhecimento se dá num ambiente on-line, com seus objetos de aprendizado e biblioteca virtual. Assim, os cursos à distância primam pela intermediação entre o aluno e os objetos de aprendizagem disponíveis com a participação do tutor. Assim, o tutor deve ser capaz de estimular a (re) construção do conhecimento, de modo a incentivar a adoção de uma postura investigativa e crítica frente às disciplinas; articular teoria e prática, de modo a estimular a discussão da experiência dos alunos; direcionar as discussões, de modo a aprofundar o conteúdo disponibilizado nas disciplinas; avaliar os trabalhos dos alunos, de modo a valorizar o conhecimento por eles demonstrado; sintetizar o conteúdo e as atividades realizadas, de modo a minimizar a defasagem na aprendizagem. O trabalho do tutor em um curso na modalidade de Educação a Distância – EaD deve estar voltado para a satisfação das necessidades emergenciais e em longo prazo dos alunos, pois estes encontram uma possibilidade de construir conhecimento dentro da sua limitação de tempo. Neste contexto, a liderança do tutor torna-se essencial para conseguir manter o grupo de alunos unidos e com objetivos bem traçados para conseguir realizar os estudos com segurança e determinação. Na modalidade de ensino a distância, o tutor tem papel fundamental para o desenvolvimento do aluno durante o curso. Seja na forma de transmissão de conhecimentos, ou ainda incentivando o estudante na sua caminhada diária. Historicamente, novas tecnologias foram surgindo e o papel do tutor teve que ser readaptado na modalidade de EaD, trazendo novas exigências para o cargo, bem como novas necessidades de habilidades específicas deste profissional. Mas, atualmente, quais serão as funções do tutor no EaD? E as qualificações necessárias para que uma pessoa possa exercer a função de tutor? Neste trabalho, pretendemos abordar as diversas funções do tutor, suas interligações, os requisitos necessários para a sua contratação, bem como um pouco da história da tutoria e do Ead no Brasil e no mundo. Não pretende de forma alguma, esgotar os temas sobre este assunto tão novo e tão importante, mas sim, levantar novos debates e estudos, sobre este assunto. Palavras-chave: educação a distância; tutor; tecnologias. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa O TRABALHO COM PORTFÓLIOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL NAS ESCOLAS DE CURITIBA-PR – CONTRIBUIÇÕES E DIFICULDADES Neyre Correia da Silva - UTP O presente trabalho tem por finalidade apresentar resultados de uma pesquisa iniciada em março de 2006, intitulada, na época, “Práticas de avaliação em alfabetização: crenças e dilemas dos docentes”, tendo como principal objetivo, naquele momento: identificar práticas de avaliação em alfabetização que vinham sendo desenvolvidas por professores que atuavam no início do Ensino Fundamental (EF), nas escolas da Rede Municipal de Ensino (RME) de CuritibaPR. A pesquisadora, desde 2001, vinha trabalhando com as disciplinas Avaliação Educacional I e II, que faziam parte da grade curricular do curso de pedagogia da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP). Gradativamente foi aprofundando seus questionamentos a respeito das práticas avaliativas escolares, e começou a dedicar especial atenção e a empreender estudos sobre o trabalho com portfólios como forma de proceder a avaliação da aprendizagem. O trabalho com portfólios estava sendo recomendado pela Secretaria Municipal de Educação (SME) como meio para avaliar o processo de aprendizagem em todas as áreas do conhecimento, não apenas em alfabetização, nos anos iniciais do EF. Mas, segundo depoimentos dos professores, pedagogos, diretores etc., informalmente coletados durante sua participação da oficina “A Construção de Portfólios no Processo de Avaliação da Aprendizagem”, na Semana de Estudos Pedagógicos / (maio) 2007 da RME de Curitiba, algumas dificuldades estavam surgindo ao trabalhar com portfólios: grande diversidade de práticas, muitas vezes incongruentes; a falta de clareza sobre as concepções teóricas que subsidiam este trabalho; a compreensão do portfólio como um processo de arquivamento de produções do aluno, organizado única e exclusivamente pelo professor; dificuldades em interpretar a coletânea de materiais inseridos nos portfólios; e a identificação dos portfólios com dossiês para assegurar, documental e formalmente, a retenção de alunos em determinadas etapas de ensino. No segundo semestre do ano de 2007, a pesquisadora trabalhava como docente da disciplina Avaliação Educacional II, com duas turmas do curso de pedagogia da UTP que, simultaneamente, estavam concluindo o referido curso em diferentes habilitações: Educação Infantil e Gestão Escolar, e Anos Iniciais e Gestão Escolar. Durante as discussões especificamente propostas pelos conteúdos da disciplina em foco, surgiram importantes questionamentos sobre a prática com portfólios tanto em Educação Infantil (EI) como nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Assim, Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 431 432 Resumos parte da pesquisa orientou-se para analisar crítica e reflexivamente as práticas de avaliação no que se referiam ao trabalho com portfólios pelos professores / educadores e equipe pedagógica que atuavam em escolas públicas e particulares de EI no município de CuritibaPR. E, concomitantemente, procurou analisar as práticas de avaliação em alfabetização no que se referiam ao trabalho com portfólios, nos anos iniciais do EF nas escolas da RME de Curitiba-PR. Para cumprir com tais objetivos foram realizadas duas etapas de coleta de dados: 1ª) Durante o mês de outubro de 2007 realizaramse 34 entrevistas, a partir de roteiro semiestruturado de questões, sendo que dezenove entrevistas procediam de docentes e profissionais que foram pesquisados na condição de atuantes em Educação Infantil. Doze entrevistadas atuavam em turmas de anos iniciais do EF, nas escolas municipais de Curitiba-PR, e três estavam em outras categorias, diferentes das citadas acima (escolas de municípios adjacentes à Curitiba, escolas privadas e de anos finais do EF. Estas entrevistas foram efetivadas por acadêmicas que na época cursavam o sexto período do curso de pedagogoia da UTP; 2º) nos dias 29 e 30 de julho de 2008, durante o desenvolvimento da oficina “Práticas de avaliação em alfabetização, trabalhando com o portfólio”, por ocasião da Semana de Estudos Pedagógicos – 2008 / Seminário de Língua Portuguesa e Literatura da RME de Curitiba, organizada e realizada pela SME desta cidade, noventa e dois professores e profissionais (pedagogos, diretores etc.), responderam às questões apresentadas, em forma de questionário, a respeito do trabalho com portfólios. A pesquisa sobre a utilização dos portfólios na educação infantil justificou-se em função da presença de poucos trabalhos relativos à problemática, e em face de questionamentos inaugurados por ocasião dos debates com as alunas do curso de pedagogia da UTP, na disciplina citada acima, durante o segundo semestre de 2007. E a pesquisa a respeito do trabalho com portfólios nos anos iniciais do EF, em escolas municipais curitibanas, principalmente, quando se abordaram as noventa e duas professoras e profissionais da educação justificou-se pela necessidade de empreender pesquisa mais sistematizada com número representativo de pessoas acerca da temática proposta. Realizou-se o levantamento bibliográfico acerca da temática proposta, priorizando trabalhos que tinham como objeto de estudo a avaliação por meio de portfólios em Educação Infantil e em Ensino Fundamental: Shores e Grace (2001), Parente (2004), Lusardo (2006), Frison (2008) e Villas Boas (2006; 2007). O portfólio é definido como uma coleção de itens que revela, conforme o tempo passa, os diferentes aspectos do crescimento e do desenvolvimento de cada criança. A estratégia comum do trabalho por meio dos portfólios é basicamente colecionar amostras de trabalhos realizados durante a atividade pedagógica, educativa. De acordo com Villas Boas (2007), em educação o portfólio apresenta várias possibilidades e, entre elas, configura-se como uma Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa construção do aluno, caracterizando-se como uma coleção de produções, as que representam evidências de sua aprendizagem. Os portfólios devem ser organizados pelos próprios alunos de forma que eles e os professores, conjuntamente, possam, acompanhar a sua evolução. (VILLAS BOAS, 2006). Os dados obtidos nas duas etapas da pesquisa foram sistematizados pela aluna do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC), da UTP, Cinthia de Souza Barros, sob orientação da pesquisadora e autora deste trabalho. Concomitante à exposição quantitativa e descritiva dos dados, mediante a composição de quadros e gráficos, também organizada pela aluna acima referida, foram realizadas análises a partir de uma abordagem crítica e reflexiva, na medida em que se buscam correlações entre dados produzidos e circunscritos pela pesquisa, e a introdução de elementos que revelassem a dialeticidade dos fenômenos em foco. Observou-se que a maior parte das entrevistadas afirmava já possuir conhecimentos e trabalhar com portfólios há algum tempo, tendo tido contato com essa prática por meio da equipe pedagógicoadministrativa das escolas. Nas respostas, evidenciou-se que são as professoras que organizavam os portfólios, com pouca participação dos alunos na elaboração dos mesmos. Verificaram-se dados que sugerem a necessidade de novas investigações: entre os depoimentos formais e informais das profissionais encontrou-se o relato de que não se sabia precisar exatamente quando, como e por quem o trabalho com portfólios passou a ser Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. recomendado na RME. Pensa-se que esses dados são muito importantes para dimensionar as concepções e práticas de avaliação da aprendizagem por meio de portfólios no contexto local, auxiliando na compreensão dos motivos que geraram determinadas práticas, como a de usá-los como meio documental obrigatório, como dossiês, para atestar a necessidade de alguns alunos serem retidos ao fim das etapas de cada Ciclo de Aprendizagem. Com relação às práticas com portfólios na EI, foram entrevistadas dezenove profissionais atuantes nesta modalidade de ensino, sendo que dezoito trabalhavam diretamente com crianças de dois a seis anos de idade, e uma foi pesquisada na condição de coordenadora pedagógica. Em EI, chamou a atenção também a limitada participação das crianças no processo de composição e de manuseio, ou mesmo de apresentação às famílias, a respeito dos portfólios, sendo que as profissionais afirmavam que era o professor que, na maioria das vezes, compunha esse procedimento de avaliação. Os resultados indicavam a importância de trabalhar aspectos relativos à formação de professores, educadores e pedagogos, não apenas no sentido de aprenderem a utilizar o portfólio como meio de avaliação em EI, mas também de compreenderem as concepções de criança, de desenvolvimento, de educação e de avaliação que lhe são subjacentes. Palavras-chave: educação infantil; ensino fundamental; avaliação; portfólios. 433 434 Resumos OLHARES FRANCESES SOBRE A TERRA BRASILIS Pedro Henrique Ribas Fortes - UTP A realização deste estudo se projetou a partir de reflexões sobre as representações reproduzidas nas obras do franciscano André Thevet e do calvinista Jean de Léry, que se remeteram a empreitada conhecida como França Antártica na atual Baía da Guanabara entre 1555 e 1558. A intenção foi perceber sobre qual ótica esses dois franceses, um católico e o outro calvinista respectivamente, construíram suas representações sobre o Brasil do século XVI. A partir de então, surgiu a oportunidade de transformar esse interesse de pesquisa em uma monografia, como requisito para a graduação no curso de história da Universidade Tuiuti do Paraná. Nesta pesquisa foram utilizadas como fontes primárias as obras do frei André Thevet - Singularidades da França Antártica (1557); e do reformado Jean de Léry – Viagem a Terra do Brasil (1578). Os autores, por vezes maravilhados com a terra, descrevem a natureza geográfica, a fauna e flora da Baía da Guanabara no século XVI, além dos hábitos e costumes dos nativos que ali viviam. O método adotado para a pesquisa, consiste em verificar a partir da leitura de Thevet e Léry, de que maneira se forjaram as representações que estes franceses tiveram da Terra Brasilis e de que forma a produção desses relatos foi modelada a partir de resquícios do pensamento medieval, existente na mentalidade do homem do século XVI. Resta ainda entender, de que forma essas permanências influenciaram os discursos sobre o indígena, caracterizado na figura do outro. Para tal reflexão foi necessária uma pesquisa sobre as obras historiográficas, artigos, teses e publicações acadêmicas que tratam dos temas relacionados às indagações que o presente trabalho se propõe. UM NOVO MUNDO ALÉM MAR: O expansionismo marítimo português, a partir de 1500, abriu os olhos do mundo para a existência das terras que futuramente se constituiria em uma grande parte do Brasil. Inicialmente, o reino português não articulou um projeto colonizador que pudesse abarcar, com propriedade, a extensa e grandiosa porção de terras reivindicadas pelos lusitanos e legitimadas, segundo estes, pela assinatura do tratado de Tordesilhas entre Portugal e Espanha. Isso abriu margem para uma série de investidas e atividades exploratórias por parte de outras nações européias na costa brasileira, como Espanha, Alemanha e França. Traficando as riquezas naturais da terra para o Velho Mundo, como o pau brasil e algumas espécies de animais, se aproximaram dos naturais da Terra Brasilis através de alianças baseadas no escambo. Os franceses estiveram presentes, nesse contexto, desde os primeiros anos das descobertas do litoral brasileiro, abastecendo suas feiras com produtos oriundos da inexplorada terra. Através de uma política de alianças com os indígenas, principalmente com o povo Tupinambá, já na primeira Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa metade do século XVI, o Brasil se encontrava repleto de marinheiros, exploradores e alguns religiosos franceses, que atuavam como pontes comerciais e culturais entre a França e as terras dos nativos aliados. Até então o capital privado financiava essas expedições. O reino francês só iria participar ativamente dessa exploração a partir de 1555 com a tentativa da fundação de uma colônia livre para os calvinistas que eram perseguidos na França, durante a reforma protestante. A empresa que ficou conhecida como França Antártica atraiu a atenção de diversas personalidades da sociedade francesa. Entre estas figuras marcantes, o frei André Thevet e o huguenote Jean de Léry, os principais responsáveis pela divulgação da França Antártica, relatando em suas obras o que viram e perceberam, neste Brasilis. Thevet e Léry descreveram, além da expedição, a natureza da nova terra e a população que ali vivia. Seus ricos relatos demonstraram-se como uma das mais preciosas fontes sobre o estudo do povo Tupinambá e da natureza da cidade do Rio de Janeiro no século XVI. Estes autores embevecidos pelas descobertas e cautelosos nesta terra estranha demonstraram em seus relatos características e resquícios de uma mentalidade mitológica oriunda do rico universo do imaginário medieval. Em meio as suas descrições percebe-se que apesar de se situarem temporalmente no que a historiografia tradicional convencionou denominar de Renascimento do século XVI, os autores demonstraram fortemente que o maravilhoso e o fantástico – o mundo das mirabilis – norteavam suas descobertas. Freqüentemente, Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Thevet e Léry descreveram o outro, o diferente de si, no caso o indígena, a partir de representações que tinham uma origem antiga e mítica nas sociedades européias. Dessa forma, as novas projeções que foram direcionadas ao nativo brasileiro e a sua forma de convivência com a terra foram norteadas por condicionamentos pré-existentes na mentalidade desses franceses através de uma tradução do desconhecido para seu universo mental. As representações que foram constituídas, por estes franceses do século XVI, a respeito dos rituais Tupinambá como as cerimônias de antropofagia, cauinagem e mesmo a nudez foram orientadas, sobre este enfoque, por certos arquétipos que permeavam a mentalidade desses visitantes do Velho Mundo. Orientavam-se pela capacidade que tinham de ler o mundo a sua volta. As formulações teóricas desenvolvidas por Florestan Fernandes na densa obra intitulada “A função social da guerra na sociedade tupinambá”, foram utilizadas para demonstrar pontualmente a importância que detinha essa sociedade em torno das guerras e dos rituais que seguiam a captura de um inimigo. Como o pensamento da “guerra por vingança”, reguladora social, segundo o autor no plano de uma perspectiva mágicoreligiosa.1 Cabe ainda demonstrar o ponto de vista de Roberto Gambini em seu livro “O espelho índio: os jesuítas e a destruição da alma indígena” sobre a questão da antropofagia e a visão que tinham os autores do século XVI desse ritual. Segundo o autor, é preciso relativizar e comparar esses discursos com a questão da Eucaristia na sociedade cristã.2 Além da suspeita com as características 435 436 Resumos maléficas de alguns hábitos e costumes dos indígenas, os autores demonstraram em certos momentos um certo tom de deslumbramento, para com as novas terras. Em algumas vezes, é possível fazer uma aproximação entre a utopia medieval conhecida como o fabliau da Cocanha, escrito no século XIII, e os relatos produzidos por estes viajantes. Entre as publicações que analisados sobre as permanências do imaginário medieval no século XVI, saliento o brilhante trabalho da historiadora Carmen Licia Palazzo, “Entre mitos e utopias e razão: Os olhares franceses sobre o Brasil (Séculos XVI – XVIII)”. Nesta publicação, a pesquisadora faz uso do enfoque teórico da longa duração, para perceber de que forma as permanências do imaginário medieval transportam-se para o Brasil.3 Para o europeu do século XVI que visitava o litoral brasileiro, o indígena representava a figura do outro por excelência. Este homem guardava em seu bojo uma série de compreensões do distante geográfico, principalmente em relação ao oriente e a Índia, terras onde estavam depositadas os sonhos e devaneios da cristandade ocidental. Como argumenta Laura de Melo e Souza, o Brasil vai receber um imaginário bem estabelecido e concreto em relação ao distante e o fantástico. Foram projetados nas praias brasileiras os medos e sonhos que estavam enraizados na mentalidade dos homens europeus.4 As óticas católica e reformada divergem em alguns pontos e convergem em outros ao tratar da Terra Brasilis. Crentes na palavra de Deus, bem como em suas interpretações particulares sobre o cristianismo, transferiram para além-mar suas projeções que na perspectiva desse trabalho transbordava o pensamento do medievo, decifrando o outro para suas concepções e deixando ecoar por entre suas produções literárias a imagem de um passado de imagens fabulosas. Percebe-se uma nova forma de observar o estudo dos primórdios do Brasil no século XVI. Uma forma que se originou devida as pacientes observações destes viajantes e a capacidade que tinham suas férteis mentes de atrelar o desconhecido com o horizonte mitológico, que não dificilmente, confundia a estranha realidade da Terra Brasilis, com ficções familiares. Thevet e Léry apresentaram para a Europa do século XVI, uma terra onde seus medos se encontravam com os seus mais divinos desejos. Um lugar onde o sentimento de diferença e repulsa com relação ao outro podia se reencontrar com o conforto de seus antigos sonhos e pesadelos. Palavras-chave: Brasil colônia; imaginário medieval; representações permanências, o ”outro”. 1 FERNANDES, Florestan. A função social da guerra na sociedade Tupinambá. São Paulo: Globo, 2006. 2 GAMBINI, Roberto. O espelho índio: os jesuítas e a destruição da alma indígena. Rio de Janeiro: Espaço e Tempo, 1988 ; ver também: W. Arens. The man-eating myth: anthropology & antropophagy. Eua: Oxford University Press, 1980. 3 PALAZZO, Carmen Lícia. Entre mitos, utopias e razão: os olhares franceses sobre o Brasil (séculos XVI a XVIII). Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002. 4 SOUZA, Laura de Mello. O diabo e a Terra de Santa Cruz.: feitiçaria e religiosidade no Brasil Colonial. São Paulo: Companhia das letras, 1986. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa ORAÇÕES HERÉTICAS NA VISITAÇÃO DO SANTO OFÍCIO AO ESTADO DO GRÃO-PARÁ E MARANHÃO EM 1763 Alexandre Ribeiro Martins – PUC No período setecentista, a metrópole lusitana estendeu, com muito zelo, a sua vigilância inquisitorial às terras ultramarinas. Efetivamente a prática pastoral do Santo Ofício a terra Brasilis se deu por meio das chamadas visitações, que, segundo Novinsky, foram em número maior do que se supunha1. Dentre elas, as quatro principais visitações do Santo Ofício da Santa Inquisição:2 a primeira entre 1591-1595; a segunda entre 1618-1621; a terceira em 1627, pouco conhecida, realizada no Rio de Janeiro “para dar continuidade à ação do tribunal do Santo Ofício da Inquisição de Lisboa”3; e a quarta entre 1763-1769. A Visitação ao Estado do Grão-Pará e Maranhão em 1763, pelo visitador oficial Giraldo Joze de Abranches, outrora Inquisidor Apostólico da Inquisição de Évora, enviado pela diocese de Lisboa, que, ao assinar a ata de comissão da visitação ao trópico, expõe a seriedade com que seria promulgado o Ofício Divino: No delicto, E crime de herezia,E apoztazia, no de peccado nefando, ou Em Outro qualquer, que pertença Ao Santo Officio da Inquizicão, tomar aprezentacoens E quais quer denunciacoens e informacoens Testemunhadas Contras ellas E aSim Oz fautores, receptores, a defensores das mesmas E pera que possa fazer, e faca Contra Oz culpados acada hum delles processos imforma descida de Direyto, Sendo necessário Segundo a forma d aBulla da Inquizição e Breves Concedidos ao Santo officio,E pera que possa prender Aos dittos Culpados, e Sentencialos Em final Conforme o regimento, e fazer todas as mais couzas, que ao dito cargo de Inquizidor, e Vizitador do Santo Officio pertençen; E pera todo o Sobre ditto e Suas dependências lhe cometemos, Nossas vezes, a damos inteyro poder4. Uma vez oficializada a visitação ao Estado do Grão-Pará e Maranhão, várias foram as denúncias e confissões de heréticos acusados ou arrependidos, contabilizando um total de 46 casos registrados em ata. Dentre eles, um tornar-se-á objeto de análise e pesquisa para elaboração deste trabalho, perpassando as várias práticas heréticas, para lançarmos um olhar atento a recitação de uma oração, cuja invocação referia-se a um santo católico, contudo, ressignificado pela crendice popular, na Oração de Sam Marcos de Veneza. Esta oração encontra-se presente em três casos de confissão registrado em ata: a , próprios dos autóctones, negros africanos, mulatos brasileiros e brancos portugueses. Provavelmente, a questão central esteja focada na crendice popular colonial que não se pautava tanto na história real do santo, mas em um imaginário que foi criado, perante a força de sua palavra, para então, interceder para o Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. 437 438 Resumos sucesso amoroso do pedinte. Foi assim que aconteceu com Manoel Pacheco de Madureyra, aos quatro dias do mês de novembro de 1765, que, ao apresentar-se à mesa inquisitorial, confessou que um índio forasteiro havia lhe ensinado a oração de Sam Marcus, da seguinte forma: de Manoel Pacheco5, de Manoel Nunes da Silva6 e de Lourenco Rodrigues7. Do ponto de vista teológico, a oração “(...) é a elevação da alma a Deus ou o pedido a Deus dos bens convenientes”8. É a forma que a criatura estabelece relação com o Criador. Contudo, esta oração não deveria acontecer deliberadamente, pois, “não sabemos o que seja conveniente pedir”9. É por isto que a Igreja, justificada pela inspiração do Espírito Santo, tinha em suas fórmulas litúrgicas a maneira correta de orar, conforme já dizia Santo Agostinho, conscientizando que “o homem é o mendigo de Deus”10. Em desdobramento a esta realidade, qualquer manifestação de oração que não brotasse do seio da Igreja, era vista com desconfiança pelos olhares atentos dos cristãos responsáveis pela manutenção da fé em detrimento as possíveis práticas de heresia. Invocado como Sam Marcos de Veneza, o 34º papa católico, Marcos, do ano de 336, é um santo italiano canonizado do qual temos muito pouco acesso a sua história oficial, já que pertencia ao cristianismo antigo carente de fontes. Sua história foi certamente reinterpretada, sendo subentendido nas orações como alguém que acalmou leões com a palavra divina, provavelmente porque foi confundido com um mártir ou ao menos, com alguém que tivesse enfrentando um risco real de martírio. Contudo, a sua história oficial em nada menciona tais acontecimentos, mas sim, o de ser o primeiro papa a documentalmente arquivar e divulgar os nomes dos cristãos que morreram mártires, por meio do Depositio martyrum11. A oração herética era recitada sempre com um objetivo em comum: abrandar o coração de uma mulher, fazendo-a apaixonar-se pelo suplicante. Mas qual era a relação entre a invocação do santo casto e o abrandamento do coração de uma mulher? Segundo Roger Chartier, devemos nos atentar “às estratégias simbólicas que determinam posições e relações e que constroem, para cada classe, grupo ou meio, um ‘ser percebido’ constitutivo de sua identidade”12, efetivando representações. Conjecturar, portanto, a indagação acerca do porquê desta assimilação dicotômica, faz-nos compreender um signo de pensamento teórico representativo, que estabelece possibilidades de entendimento das modalidades variáveis que discriminam categorias de significados13 São Marcus de Veneza te marque: JEsu Christo teabrande a hostia consagrada te confirme: Santo, Teror, Querer, Total: Marcus com osTouros bravos encontrastes, com a vossa Santa palavra os abrandastes, assim vos peço que abrandeis ocoração de fulana=14 Entretanto, Manoel Pacheco ao perceber que a oração não surtira efeito algum, buscou compatibilizar-se novamente a ortodoxia da fé católica por meio da confissão. Da mesma forma aconteceu aos três dias do Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009. Pesquisa mês de abril de 1766, na confissão de Manoel Nunes da Silva, que cometeu o mesmo pecado, tangenciando uma blasfêmia, já que pronunciara heresias. Instigado, o confessor afirmou que após aprender a oração, não hesitou em recitá-la: =Fulana Sam Marcos deVeneza te Marque, a Hostia Consagrada EoEspirito Santo meconfirma natua uontade, paraquetodos tepareçam terra, E Eu So Fulano te pareça Perolas, eDiamantes. Oh Gloriozo Sam Marcos, que aosaltos montes Subistes aosTouros brauos encontrastes Comoofa