Educação e religiosidade - Faculdade de Educação da UFMG
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Educação e religiosidade - Faculdade de Educação da UFMG
672 EDUCAÇÃO E RELIGIOSIDADE: UMA ANÁLISE HISTÓRICA DO COLÉGIO ADVENTISTA DE BELO HORIZONTE Andréia Martins Universidade Federal de Minas Gerais RESUMO Atualmente muito se tem falado do aumento das religiões evangélicas no Brasil. Segundo informações de pesquisas recentes, mais de 15% dos brasileiros, um rebanho de 26 milhões de pessoas são protestantes. Os evangélicos estão se tornando o grande “filão” de vários setores da sociedade como a mídia, a política, o mercado de livros, revistas, CDs e outros. Segundo o Serviço de Evangelização para a América Latina (Sepal) e o IBGE, o total de evangélicos aumentou cinco vezes nas últimas décadas, sobre o total da população. Em 1940, três por cento de nossa população era evangélica. Em 1970 eram seis por cento, já em 1990 eram nove por cento e em 2000 quinze por cento da nossa população já se diz evangélica. Deste o final do século XIX as igrejas evangélicas vem construindo colégios como um meio de propagação de suas crenças, como os Colégios Batistas, Colégios Metodistas, Colégios Adventistas e outros. Exemplos destas iniciativas protestantes, o Sistema Educacional Adventista está no Brasil a mais de cem anos, o primeiro colégio no Brasil foi construído em 1896 no Rio Grande do Sul, depois foram construídos Colégios em São Paulo, Espírito Santo e demais estados brasileiros, atualmente há Colégios em todos os estados da federação. O sistema Adventista de ensino é uma das maiores redes de ensino no mundo e está presente em mais de cento e vinte e cinco países, com cerca de quinhentos e vinte e três escolas, colégios e universidades. Em 1967 foi construído o primeiro Colégio Adventista de Minas Gerais. Neste trabalho analisarei como se deu a implantação do Colégio em Belo Horizonte, suas normas disciplinares, uniformes, estatutos e o regimento interno. O recorte temporal compreende o período que vai da inauguração em 1967 até 1975 ano em que a primeira turma terminou a oitava série ginasial. O Colégio funcionava com o ensino da primeira a oitava série ginasial até 1993, em 1994 foi implantado o segundo grau. Dessa maneira será possível um melhor acompanhamento dos primeiros anos de funcionamento do colégio. As fontes utilizadas para a realização desse trabalho serão sítios das Escolas Adventistas na Internet onde é possível encontrar estatutos e regimentos das Escolas Adventistas, arquivos de colégios de outros estados inaugurados anteriormente ao de Belo Horizonte onde será possível encontrar maior fonte de dados, revistas publicadas e distribuídas mensalmente pelo Departamento de Educação das Escolas Adventistas, é possível utilizar também livros da Igreja onde são baseados todos os princípios da educação cristã e a biblioteca da Escola onde estão arquivados alguns documentos. Para a realização deste trabalho, utilizarei a metodologia da história oral fazendo entrevistas com ex-professores, alunos e diretores. Análise de documentos institucionais, regimento, estatuto interno e livros especializados em Educação Adventista. Os dados iniciais permitem apontar que o ensino da Escola em questão tem como objetivo a disseminação do ideal religioso, buscando a “formação de um sujeito a imagem de Deus”. As normas disciplinares do Colégio são bastante rigorosas baseadas nos regimentos e estatutos internos, principalmente no que se refere as vestimentas e adornos femininos. As Escolas são regidas por um estatuto único independente da região geográfica, e esses regimentos e estatutos são baseados em uma autora que é o referencial teórico em primeiro lugar da religião e por conseguinte da Educação Adventista. TRABALHO COMPLETO Introdução / Objetivos O objetivo deste trabalho é analisar como se deu implantação do Colégio Adventista de Belo Horizonte inaugurado em 1967. O primeiro nome dado ao Colégio foi, Escola Adventista do Colorado, depois passa a chamar Educandário Adventista Colorado e em meados da década de noventa torna-se o Colégio Adventista de Belo Horizonte. Quando fizemos um levantamento bibliográfico sobre educação protestante no país, não encontramos em nenhum livro ou artigo citação às Escolas Adventistas no país, nem menção a Igreja Adventista. Hoje a Igreja conta com escolas em todos os estados da federação, com mais de sessenta Escolas e Colégio, aproximadamente quinze Colégios Internos e seis centros universitários no país. Segundo o Departamento de Educação da Igreja1 1 Entrevista concedida à REVISTA ADVENTISTA, maio de 2002, pelo líder mundial de Educação da Igreja Adventista, Dr Humberto Rasi. 673 já estão sendo construído novos Colégios com o regime de Internato e Externato. Não encontramos nenhuma pesquisa que estudasse esse significativo seguimento da educação brasileira. A Igreja Adventista do Sétimo Dia, surgiu entre as décadas de 1850 e 1860 concomitantemente nos Estados Unidos e Europa. No Brasil a igreja deu entrada através do porto de Itajaí, SC, o primeiro pacote de literatura Adventista continha 10 exemplares do periódico Stimme de Warheit (Voz da Verdade), publicado em Battle Creek, Estados Unidos. Em 1893, chega ao Brasil, desembarcando em São Paulo o primeiro missionário designado pela Associação Geral da Igreja Adventista do Sétimo Dia, o colportor Albert B. Stauffer. Em primeiro de julho de 1896 passou a funcionar em Curitiba, Paraná, o primeiro Educandário Adventista no Brasil, o Colégio Internacional de Curitiba2. Dirigido pelo Professor Vicente Schmidt. Em 1960 o Brasil tem mais de cinquenta e nove mil membros batizados divididos em 279 igrejas. Em 1967 no momento da inauguração do Educandário Adventista Colorado, hoje Colégio Adventista de Belo Horizonte, neste período o Brasil já contava com várias Escolas em diversas regiões e seis grandes Colégios Internos que dentro de dois deles funcionavam seminários de Teologia. No livro Hegemonia Norte-Americana e Educação Protestante no Brasil (um estudo de caso), Peri Mesquita3 (1994) analisa a chegada e o crescimento do Protestantismo no Brasil a partir da prática da igreja Metodista. Neste trabalho ele faz menção a prática educativa de várias Instituições religiosas, mas em nenhum momento é citado a Igreja Adventista. Almeida (2000), em seu artigo “È preciso educar o povo! A influência da ação missionária protestante na educação escolar brasileira (século XIX)4, descreve que, quando os protestantes aportaram no Brasil com a tarefa específica de divulgar o Evangelho, encontraram um país com uma cultura que apresentava elementos favoráveis a sua implantação. A autora neste trabalho faz uma análise do desenvolvimento do protestantismo, a partir da ação da Igreja Presbiteriana e como esta Igreja usava a educação para disseminação de seu ideal de fé. Almeida cita em seu trabalho diversos ramos do protestantismo, mas não fala sobre a religião Adventista. Este trabalho é apenas o início de uma pesquisa que nos propomos a continuar posteriormente. Através do qual faremos discussões sobre os ideais religiosos da Igreja para a educação. Dentro desses ideais, a estrutura dos Colégios Internos Adventista, que tem subdivisões internas muito particulares, e podem se constituir objetos de estudo para educação. Neste artigo estamos analisando como se deu a implantação do Colégio Adventista em Belo Horizonte, normas disciplinares, uniformes, estatutos e regimento interno. A Implantação do Colégio. No início da década de 60 foi comprado um grande terreno no Bairro São Francisco situado na zona norte da cidade de Belo Horizonte pela Igreja Adventista do bairro Concórdia. 2 Na proposta de trabalho enviada, cometemos um equívoco ao escrever que o primeiro Colégio Adventista foi construído em 1896 no Rio Grande do Sul, realmente foi em 1896, porém foi em Curitiba no estado do Paraná. 3 MESQUITA, 1994. p.2546 4 ALMEIDA, 2000. 674 A finalidade desse terreno, segundo o depoimento de “Paulo”5 não era a construção de uma Escola. “primeiro compraram o terreno, não para o Colégio. Não pensavam em construir colégio naquele lugar no bairro São Francisco. Compraram o terreno para fazer uma clínica, um hospital no futuro. Depois não deu certo nem a clínica nem o hospital, aí passaram para o departamento de jovens aquela parte onde é construída a escola, e ali foi usado durante muito tempo pelos jovens..., construíram quadras, piscinas, uma área de laser para a juventude Adventista da capital. Depois as piscinas começaram a trincar aí eles fecharam as piscinas e construíram salas para a escola. Essa área a princípio tinha como objetivo a construção de um complexo para a Sede da Igreja que estava chegando à capital mineira. Esse espaço seria usado pra a construção de um hospital, do prédio da Missão Adventista, e a construção de uma área de lazer para os jovens Adventistas da capital. Esse terreno era situado na Rua Aveiros, começando no quarteirão na Rua Padre Leopoldo Mertes até a Rua Estoril, antiga Rua São Vicente, o outro quarteirão começava na esquina da Rua Estoril, Antiga Rua São Vicente, até a rua Caldas da Rainha na região norte da cidade de Belo Horizonte. Após a compra do terreno, tem início a construção. Foi chamado um casal do interior de Minas Gerais para cuidar dessa construção. Eles seriam zeladores dessa área de lazer e das construções que estavam sendo feitas. Em 1966 a filha desse zelador que era formada em magistério e já dava aulas no interior, monta uma turma de jardim e pré com crianças moradoras do bairro, filhos de pastores e funcionários que estava chegando para trabalhar na administração da Missão Adventista. Como dissemos anteriormente, a fundação do Colégio não foi algo planejado. O Colégio começa por haver uma necessidade de escolas para os filhos dos obreiros6. Nesse período havia poucas Igrejas Adventista em Belo Horizonte, dessa maneira o Colégio seria o local para abrigar uma demanda em crescimento como falamos anteriormente. A escola surge oficialmente em 1967 como Escola Adventista do Colorado. Segundo um documento encontrado no arquivo da escola, escrito por um ex-diretor, professor Evaldo de Oliveira Silva, intitulado “Memórias do Educandário Adventista Colorado. Belo Horizonte- Minas Gerais.”, o motivo desse nome tem duas versões. A primeira diz que o nome se deu porque: “na década de sessenta o terceiro mundo, inclusive o Brasil, viviam a euforia do movimento americano de alimentação para a humanidade chamado Aliança para o Progresso. Uma quantidade enorme de alimentos veio parar nas mãos da Igreja Adventista, que seria uma espécie de intermediária entre a Aliança para o progresso e as massas necessitadas. Como a maior parte destes alimentos e roupas, vinham do estado do Colorado dos Estados Unidos da América, num gesto de gratidão a sede da distribuição que seria o Clube da Juventude adventista passou a ser chamado de Colorado. Mais tarde como se estabeleceu uma Escola, ela recebeu o nome de Escola Adventista do Colorado.” A Segunda versão, como conta o Professor Evaldo de Oliveira Silva em seu caderno de memória é que 5 Para a realização desse trabalho realizamos entrevistas com 3ex professores, um ex diretor e uma pessoa que fez parte da compra e construção do terreno que seria posteriormente usado pra a construção do Colégio. Para preservar a identidade dos entrevistados daremos a eles nomes fictícios bíblicos, todos os nomes que estiverem entre aspas são fictícios. 6 Obreiros são pessoas que trabalham para o crescimento e expansão da religião. São pastores, vendedores de livros e revistas da Igreja, entre outras funções. 675 “na época da compra do terreno da atual Escola, veio uma oferta em dinheirodólar, para a aquisição do terreno, doada por irmãos Adventistas do estado do Colorado, USA e para que o fato fosse sempre lembrado o local recebeu nome de Colorado.” Em 1967, foram abertas turmas para as quatro séries iniciais do atual ensino fundamental e o exame de admissão7. Havia apenas duas professoras, elas davam aulas pela manhã e pela tarde e as turmas eram mistas. Pela manhã uma professora dava aula para o exame de admissão e a tarde a mesma professora dava aula para a terceira e quarta série juntas, com a outra professora era da mesma maneira, pela manhã lecionava para a segunda e terceira série, as duas turmas na mesma sala de aula e a tarde para o jardim e o pré. Como diz em seu depoimento a professora “Sara” “eram as quatro séries e a admissão, tinha uma série de cada eram uns cinquenta alunos no total para as quatro séries...era assim eu dava dois horários, dois períodos eu dava de manhã a admissão e a tarde terceira e quarta juntas, e tinha a Lúcia que dava junto pré com jardim a tarde e segunda e terceira pela manhã. Em sessenta e sete eram só nos duas, depois no outro ano que entraram outras... Nos próximos anos já foram contratando outros professores e a escola começou a crescer. Em 1971 a administração da igreja Adventista em Belo Horizonte em uma reunião vota a instalação do primeiro grau completo. Ainda neste ano foram adaptadas as salas do segundo pavimento do prédio da Missão, onde a Escola teve início, para começar as aulas da quinta série. O prédio era na rua São Vicente 2999, hoje essa rua chama rua Estoril n.1658, independente da mudança de endereço o prédio é o mesmo, mas hoje não pertencer mais a Igreja Adventista. Em fevereiro de 1972 saiu a autorização para o funcionamento do primeiro grau completo. Nesse ano a sexta série do atual ensino fundamental começa a funcionar, nos outros anos seria abertos as turmas de sétima e oitava série. A autorização saiu publicada no Minas gerais, em 24 de maio de 1972, nº 57/72. Essa autorização valia por dois anos. Para que a Escola recebesse a autorização definitiva, ela teria que construir um espaço próprio, uma biblioteca, salas para a administração, e outras exigências feitas pela secretaria. Em 1974 teve início o processo de reconhecimento definitivo da escola, depois de cumprida as exigências feitas pela secretaria de educação e do Conselho Estadual de educação. A Escola conseguiu o reconhecimento definitivo, a partir de autorização publicada no Minas Gerais do dia 09 de dezembro de 1975, nº 1600/75. A partir da implantação do primeiro grau completo a escola muda de endereço indo para a rua Aveiros 367 – Bairro São Francisco, Belo Horizonte. O prédio que a Escola passa a ocupar é o local onde era uma área de laser, uma espécie de clube recreativo para os jovens Adventistas da capital. Em 1974 a escola completou as oito séries do ensino ginasial. A escola já possuía duas turmas de 5º série, duas turmas de 6º série, uma de 7º série, e uma de 8ºsérie. A primeira turma de formando esta registrada em uma revista que encontramos no arquivo da escola onde consta fotos dos alunos, fotografias do corpo docente e administrativo da escola e fotografias do prédio. Em dezembro de 1974 formaram quatorze alunos, cinco moças e nove rapazes. O corpo docente era composto por doze professores sendo quatro homens, oito mulheres. 7 Exame de admissão era uma prova que os alunos que terminavam a antiga quarta série ginasial tinham que fazer para poderem ingressar na quinta série ginasial. 676 Em 1975, a turma de formando é bem maior, contando com 35 alunos, sendo dezoito mulheres e dezessete rapases e já contava com um corpo docente bem mais estruturado. Estatuto, Regimento Interno e uniformes A escola sofreu uma enchente na década de oitenta, e a parte onde encontravam-se os arquivos da escola contendo o Regimento Interno, Estatuto da Escola e outros documentos da época da inauguração que poderiam nos auxiliar na pesquisa foram perdidos com a enchente. Por esse motivo nossa análise contará com informações obtidas em entrevistas com ex professores e um ex secretario que posteriormente foi diretor da Escola por um longo período. Trabalhares também com informações obtidas em sítios da Internet onde encontramos vários documentos das Escolas Adventistas. Assim pudemos contrapor regimentos, princípios básicos da Educação Adventista, cronograma do desenvolvimento da Igreja. Podemos também percebemos que as escolas eram construídas logo após a implantação de um Igreja em um determinado local. Sendo uma base para a manutenção dos conversos e agremiação de novos conversos. As normas das Escolas Adventistas são as mesmas para todos os país. Isto porque os princípios da escola estão embasados na religião Adventista. Esses princípios tanto da religião quanto da educação tem como base uma autora que é o referencial teórica da igreja e por conseguinte da educação. Essa autora é norte americana e foi uma das fundadoras da Igreja Adventista, o seu nome é Ellen G. White. Ela é considerada uma profetiza moderna e que foi inspirada por Deus. Em seus livros estão todos os princípios da doutrina adventista. Nos livros “Conselhos para Professores, Pais e Estudantes”, traduzido no Brasil em 1975, e “Educação”, que foi traduzido para o português em 1968 que servem como embasamento teórico sobre educação adventista, e de onde são tirados os objetivos da educação, WHITE (1968)8, fala que; “a verdadeira educação significa mais do que a prossecução de um certo curso de estudos. Significa mais do que a preparação para a vida presente. Visa o ser todo, e todo o período da existência do homem. É o desenvolvimento harmônico das faculdades físicas, intelectuais e espirituais. Prepara o estudante para o gozo no serviço neste mundo, e para aquela alegria mais elevada por um mais dilatado serviço no mundo vindouro”. Essa preparação para o mundo vindouro, que é para os Adventista a vinda de Cristo por isso esse nome, Adventistas, “pessoas que aguardam o advento de Cristo”. É o que norteia o ideal de educação. A professora “Raquel”, que foi professora de história da Escola de 1971 até o final da década de noventa deu o seguinte depoimento sobre as aulas de religião e o papel evangelizador da escola. “o colégio tinha cinco aulas de religião semanais, além das cinco aulas de religião, tinha uma capela semanal e ainda tinha duas semanas de oração por ano, uma no primeiro semestre e outra no segundo....o professor de religião, obreiro sabe, eles visitavam os pais e era uma meta deles. Eles davam aula de religião na escola e visitavam os pais de alunos. Os professores de religião visitavam os alunos por causa dessa preocupação de evangelizar mesmo.” Essas semanas de oração são oferecidas aos alunos e suas famílias, é aberto também aos vizinhos da escola, com a idéia de promover uma aproximação das famílias, escola e comunidade. Sendo seu principal objetivo a evangelização da família e da comunidade. 8 (White, 1968 p13 677 White descreve o seguinte objetivo para a educação: “Deve antes ser nosso objetivo adquirir conhecimento e sabedoria para que possamos tornar-nos melhores cristãos, e estar preparados para maior utilidade, prestando serviço mais fiel a nosso Criador, e levando os outros também a glorificar a Deus pelo nosso exemplo e influência”9 Para o desenvolvimento desse ideal de educação os responsáveis pela expansão da educação Adventista no país, desenvolveram cursos e reuniões para o aperfeiçoamento dos professores. Esses cursos de preparação dos professores era promovido pela União Este Brasileira que compreendia os estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais. Segundo o depoimento da professora Raquel, “esses encontros eram para estabelecer metas, ver como estava a escola hoje e como seria para a frente. Os professores eram avaliados também, era uma espécie de curso assim, uma reciclagem com os professores por parte da União.” Nesses cursos os pastores responsáveis pelas escolas, que são chamados de departamentais de educação instruíam os professores como deveriam ser suas aulas, como relata a professora “Raquel”. ”O objetivo da Escola adventista em primeiro lugar é a formação do caráter do aluno. A educação visa isso em primeiro lugar. Os conteúdos são importantes? São. É necessário? É, mas em primeiro lugar a formação do caráter. E sempre foi cobrado dos professores incentivar os alunos nisso. O objetivo da Escola é construir um aluno a imagem e semelhança de Deus. Um professor adventista não entra na sala de aula só para dar uma aula. Se ele entra na sala só para dar uma aula ele esta fugindo daquilo que ele foi treinado.” Essa preocupação com o desenvolvimento espiritual dos alunos é refletido também no que se refere nas vestimentas dos alunos. Ao mesmo tempo que as vestimentas dos alunos é um fator de disciplina, reflete também normas de vestimentas da religião. Aos rapazes era aconselhado manter os cabelos sempre aparados, não era permitido estudar na escola meninos que usassem cabelo grande. O uniforme para os meninos era calça comprida e blusa, o tênis era uma cor padrão para os meninos e para as meninas, a blusa também. A vestimenta das meninas era saia, que deveria ser quatro dedos abaixo dos joelhos, blusa que era a mesma dos meninos, o tênis também era padrão. O que mais se exigia era em relação aos adereços femininos. Era totalmente proibido qualquer espécie de pintura e o uso de jóias. O período que estamos analisando que vai desde a fundação do Colégio até o ano de 1975, o uniforme dos alunos não era padronizado nacionalmente. Nesse período a Escola tem vários uniformes, por isso que não podemos descrever aqui sobre um uniforme específico. Os uniformes dos estudantes da Escolas Adventistas no Brasil são padronizados no final da década de setenta. Na década de noventa é criado um uniforme que dá opção de calça ou saia para as meninas. Segundo a direção das escolas, passa a ser mais decente o uso de calça para as meninas porque as “saias foram ficando muito curtas” com o tempo. Mesmo com a liberação do uso de calça comprida, na escola continua proibido o uso de pintura e jóias para as alunas, segundo o Regimento Interno. E para as que fazem opção pelo uso da saia as normas continuam as mesmas. Os uniformes no período estudado, as calças e saias eram marrons, e as blusas em tom bege. Não era permitido ao aluno entrar no Colégio sem o uniforme. 9 (White, 1975 p44,). 678 A Escola prega a igualdade dos alunos, sem qualquer restrição a sua pessoas por diferença de posição social, cor, crença religiosa, política, ou situação econômica. O aluno deve ser respeitado como pessoas humana. Para a escola também é direito do aluno participar das atividades escolares, sociais, civis, religiosas e recreativas. Segundo o estatuto da escola essas atividades são para a formação dos alunos. Esse pensamento “liberal” de educação que permeia a educação, onde meninos e meninas estudam na mesma sala, respeito a crença religiosa, situação econômica, é trazido para o Brasil no século XIX juntamente com o pensamento protestante e da ideologia liberal Norte Americana. Almeida, diz que os “primeiros missionários que vieram para o Brasil descreviam o país como um terreno fértil para a implantação do protestantismo”(Almeida, 2000). O protestantismo quando chega no Brasil encontra um contexto histórico favorável para sua entrada e a vinculação, representando uma renovação ideológica no campo religioso após mais de trezentos anos de predomínio absoluto do catolicismo como afirma ALMEIDA, (Almeida, 2000). Almeida conta que durante o século XIX diversos grupos missionários começam a chegar no Brasil, como os metodistas, os presbiterianos, os congrecionais, os batistas e os episcopais. A religião oficial que era a Católica rezava as missas em latim, não dava acesso ao povo da leitura da bíblia e tornava a religião algo muito penoso, fazendo com que a relação homem e Deus passasse pela igreja. Em meados do século XIX com a chegada do missionários protestantes no Brasil, eles começaram a se infiltrar no sertão, pregando o evangelho e ensinando hinos para serem cantados em reuniões familiares, esses missionários faziam amigos entre os moradores das províncias e assim iam preparando o terreno para a nova religião, (Almeida 2000). Para que houvesse a disseminação do protestantismo era preciso educar o povo, pois as pessoas precisavam no mínimo aprender a ler e escrever para que pudessem ler a bíblia. Nesse momento entra a necessidade de criar escolas para as comunidades! A criação de Escolas Protestantes no Brasil acontece pela necessidade que os missionários tinham de evangelizar o povo. Se o povo não souber ler e escrever como eles poderão ler a bíblia e evangelizar outras pessoas, como poderiam aumentar seus rebanhos e firmar o protestantismo no país? Dessa maneira a escola para os protestantes é usada como base principal da disseminação de seus dogmas religiosos. Algumas Considerações Neste trabalho nos propomos a analisar a implantação do Colégio Adventista em Belo Horizonte. Podemos aqui ver como o Colégio surgiu, e a disseminação do seu principal ideal de educação que é a evangelização. Uma análise mais profunda não foi possível realizar, ainda estamos iniciando a pesquisa e a bibliografia sobre o assunto é escassa. O que podemos concluir nesse momento é que há muito o que estudar sobre a influência das ações protestantes na educação escolar brasileira. Em particular o ramo da educação protestante que nós propomos a analisar. A Educação Adventista. Referencias Bibliográficas: ALMEIDA, Jane Soares. É preciso Educar o povo! A influência da ação missionária protestante na Educação Escolar Brasileira (século XIX). In. Reunião Anual Da Associação 679 Nacional De Pós-Graduação e Pesquisa Em Educação (Anped), 15, 2000, Caxambu. Anais Anped. Caxambu, 2000. MESQUITA, Peri. Hegemonia norte-americana e educação protestante no Brasil: um estudo de caso. Juiz de Fora: EDUFJF/ São Bernardo do Campo: Editeo, 1994. 256p. REVISTA ADVENTISTA, nº 05, maio, Tatuí: Editora dos Adventistas do Sétimo Dia,1998. WHITE, Ellen G. Conselhos aos Professores, Pais e Estudantes, 3º ed., Santo André: Casa Publicadora Brasileira, 1975. ______________. Educação., 4º ed., Santo André: Casa Publicadora Brasileira, 1968. Fontes: Memórias do Educandário Adventista Colorado, Belo Horizonte – Minas Gerais. Escrito pelo professor Evaldo de Oliveira Silva. Este documento encontra-se na secretaria do Colégio Adventista de Belo Horizonte. Revista O COLORADO. D Educandário Adventista Colorado. Ano 1, Número especial de formatura. Este documento encontra-se na secretaria do Colégio Adventista de Belo Horizonte. Sites da Internet. www.escolasadventistas.com.br www.educacaoadventista.org.br www.sisac.org.br
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