Resultado preliminar da utilização de uma máquina
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Resultado preliminar da utilização de uma máquina
Resultado preliminar da utilização de uma máquina de podar de discos na poda de pereiras – variedade Rocha Dias, A.B.1, Pereira, N. 3, Patrocínio, S. 2, Pereira, S. 2, Pinheiro, A.1, Peça, J.O. 1 Departamento de Engenharia Rural da Universidade de Évora Núcleo da Mitra, Apartado 94, 7002-554 Évora, Portugal Email: [email protected]; [email protected] ; [email protected] 2 Cooperfrutas CRL Quinta das Freiras, Ponte do Jardim, 2460-617 Alcobaça, Portugal 3 Engenheiro Agrícola (ex-aluno da Universidade de Évora) RESUMO Em Portugal, os produtores de pêra realizam a poda manualmente com equipamentos de poda manual assistida. Na tentativa de encontrar uma solução de poda alternativa, em 2008, estabeleceu-se um ensaio de avaliação da utilização de uma máquina de podar de discos num pomar de pereiras da variedade Rocha. O ensaio foi delineado em blocos casualizados com três repetições, sendo cada talhão constituído por três linhas de 10 árvores. Estabeleceram-se os seguintes tratamentos: T1 - poda manual assistida com tesouras pneumáticas; T2 - poda mecânica; corte horizontal na parte superior da copa e corte vertical em cada uma das faces laterais da copa; T3 - poda mecânica realizada de forma análoga ao tratamento T2, seguida de poda manual de complemento efectuada com tesouras pneumáticas. Avaliou-se o tempo de poda e a massa de lenha de poda, mediu-se a altura e a largura das árvores antes e depois da poda e registou-se a produção obtida. Os resultados mostram que a máquina de podar de discos permite efectuar o controlo da dimensão das árvores com bastante rapidez, o que vem permitir um considerável aumento da capacidade de trabalho dos podadores na execução da intervenção manual de complemento. A utilização da máquina de podar permite também uniformizar a dimensão das árvores, facilitando a movimentação do tractor no pomar. Embora se tratem de resultados de um ano, não se verificaram diferenças consideráveis entre os tratamentos na produção de pêra, pelo que é fundamental dar continuidade a este trabalho. Palavras chave: poda mecânica; pereiras; variedade Rocha ABSTRACT Manual pruning with pneumatic shears is the current practice used by pear farmers in Portugal to control tree development. As an alternative, mechanical pruning performed by a tractor mounted cutting bar provided with 6 circular disc-saws can be used. A trial to evaluate mechanical pruning as an alternative to manual pruning in a pear orchard were established, in the year of 2008, in a commercial orchard of Rocha variety. Three treatments (T1; T2; T3) are being compared leading to 9 plots with 30 trees per plot. The treatments under study are: T1 - manual pruning using pneumatic shears; T2 - mechanical pruning, topping and hedging the two sides of the canopy; T3 - mechanical pruning, as in T2, followed by a manual pruning complement. Mechanical pruning seems to be effective in the dimension tree control leading to a more uniform orchard when compared to manual pruning. During the first year of field trial pear yield obtained was analogous leading to the conclusion that, in terms of production, the effect of the pruning techniques under study seems to be similar. More years of field work are essential to validate the results registered in the first year trial. keywords: mechanical pruning; pear Rocha Variety 1.Introdução Em Portugal, a poda de pomóideas é uma tarefa que necessita de grande utilização de mão-de-obra, representando cerca de 50 a 60% dos custos de produção (Sousa, 2004 cit. in Pereira, 2008)), apesar da utilização de equipamentos de poda manual assistida. No entanto, a mão-de-obra disponível para estas operações é cada vez mais escassa e menos especializada, pelo que é necessário encontrar soluções que reduzam essa dependência. A necessidade de reduzir a dependência da mão-de-obra para a execução da poda de fruteiras levou a que se desenvolvessem máquinas de podar de discos. Hartmann et al. (1960 cit. in Dias, 2006) referem que este tipo de equipamento permitia efectuar a poda do olival com maior rapidez e com menores custos. Loreti (1970) faz referência ao desenvolvimento de máquinas de podar de discos nos Estados Unidos da América e da sua utilização em diversas culturas. Segundo Dozier et al. (1980, cit in Pereira, 2008), verificou-se, num ensaio realizado durante 5 anos, que foi possível manter a produção de macã Vance Red Delicious sem diferenças significativas entre a poda manual e a combinação de poda mecânica com poda manual em anos alternados. Em Portugal, embora existam máquinas de podar de discos há alguns anos no mercado, não existem conhecimentos sobre o efeito da sua utilização na poda de pereiras. Perante este cenário, em Janeiro de 2008, uma organização de produtores (Cooperfrutas) e a Universidade de Évora, através do Departamento Engenharia Rural, estabeleceram um protocolo de colaboração no sentido de avaliar a utilização de uma máquina de podar de discos em pereiras da variedade Rocha. 2.Material e métodos 2.1.Pomar O pomar onde se estabeleceu o ensaio está localizado na zona da Denominação de Origem Protegida “Pêra Rocha do Oeste”, em Landal - Caldas da Rainha – Portugal (Latitude:39º18’28.50’’N e Longitude:9º01’15.49’’W). O pomar encontra-se instalado numa várzea junto a uma linha de água (Figura 1). Trata-se de um pomar adulto da variedade Rocha, com porta-enxerto franco, instalado a 4 m x 2 m, segundo o quadrante Norte-Sul. O pomar tem mais de 25 anos e, inicialmente, foi conduzido em vaso. Há cerca de 10 anos a condução foi adaptada para eixo central revestido. Figura 1 – Aspecto da parcela onde se situa o ensaio A organização de produtores (Cooperfrutas) disponibiliza aos associados acompanhamento técnico ao longo de todo o ciclo da cultura, nomeadamente nos aspectos relacionados com o controlo sanitário do pomar. Em termos de controlo de infestantes, o produtor faz aplicação de herbicida na linha de árvores e utiliza destroçador para controlar as infestantes na entrelinha, bem como para fragmentar a lenha de poda. O pomar está equipado com sistema de rega gota-a-gota e central de fertilização, permitindo a utilização da fertirrigação. 2.2.Equipamentos A poda mecânica foi efectuada com a máquina de podar de discos R&O, montada no carregador frontal de um tractor Massey Ferguson de 50 kW de potência máxima (Figura 2). A podadora de discos é constituída por um braço de corte, no qual estão montados seis serras circulares de discos accionadas por um motor hidráulico (Dias et al.,2001), (Peça et al.,2002), (Dias ,2006). Figura 2 – Vista frontal da máquina de podar de discos a efectuar corte horizontal Nas intervenções manuais utilizaram-se tesouras pneumáticas ligadas a um compressor, cuja bomba era accionada pela tomada de força de um tractor com cerca de 30 kW de potência máxima (Figura 3). Figura 3 – Podadores em trabalho com equipamento de poda manual assistida 2.3.Metodologia Neste trabalho definiram-se os seguintes tratamentos: - tratamento 1 – poda manual, efectuada por 3 ou 4 podadores, consoante a disponibilidade do proprietário, munidos de tesouras pneumáticas e serrote sempre que necessário; - tratamento 2 – poda mecânica, feita com a máquina de podar de discos R&O. Este tratamento consistiu na realização de 2 cortes verticais, um por cada lado da linha de árvores, e por um corte horizontal na parte superior da copa da árvore; - tratamento 3 – poda mecânica com poda manual de complemento; foi feita uma poda mecânica idêntica à do tratamento 2 e depois os podadores equipados com tesouras pneumáticas efectuaram uma poda manual de complemento. Esta intervenção serviu para eliminar os ramos ladrões existentes na parte interior da copa. O ensaio foi delineado em blocos casualizados com 3 repetições num total de 9 talhões. Cada talhão era constituído por 3 linhas de 10 árvores, em que as duas linhas laterais funcionaram como linhas bordadura e na linha central consideraram-se as 8 árvores centrais para registo de dados. Avaliaram-se os seguintes parâmetros: - tempo de poda – registaram-se os tempos gastos na execução das intervenções de poda manual em cada talhão, bem como o tempo gasto pela máquina para efectuar os diferentes tipos de corte em cada uma das linhas; - dimensão das árvores - procedeu-se à medição da altura das 8 árvores em estudo em cada talhão, antes e após a poda, bem como da sua largura máxima antes e depois da poda; - massa de lenha retirada pela poda - recolheu-se a lenha podada numa entrelinha para cada um dos talhões, no espaço correspondente a 10 árvores e avaliou-se a sua massa. - produção - a produção das 8 árvores de cada talhão foi colocada em palotes devidamente identificados que posteriormente foram enviados para a central fruteira (Cooperfrutas), onde se avaliou a massa existente em cada palote. Os palotes foram descarregados num calibrador que permite saber a massa e número de frutos. Foi feita a análise de variância (ANOVA), utilizando o programa MSAT-C. Sempre que a análise de variância revelou diferenças significativas, foi feito o Teste de Separação Múltipla de Médias de Duncan para um nível de significância de 5%. 3.Resultados e discussão 3.1.Capacidade de Trabalho Na tabela 1 mostra-se a capacidade de trabalho obtida em cada um dos tipos de poda. Conforme seria de esperar a máquina de podar de discos (poda mecânica) permite realizar a poda a um ritmo muito superior aos dos podadores manuais. Tabela 1 – Capacidade de trabalho na operação de poda Tipo de poda Capacidade de trabalho (Árvores/homem/hora) Poda manual 6.2 Poda mecânica 333.3 Poda manual de complemento 11.3 No entanto parece-nos ser possível melhorar a capacidade de trabalho na execução da poda com a máquina de podar de discos. A pouca experiência do tractorista com este tipo de equipamento condicionou o ritmo de trabalho, visto que o tractor se deslocou com uma velocidade de avanço inferior à que normalmente se utiliza na poda do olival. Os resultados da tabela 1 mostram também que o ritmo de execução do tratamento 3 (poda mecânica + poda manual de complemento) é definido pelo ritmo dos podadores na execução da poda manual de complemento. Na tabela 1 é ainda possível verificar que a poda manual de complemento permite aumentar o número de árvores podadas em cerca de 82%, comparativamente com a poda estritamente manual. Tal deve-se ao facto da poda manual de complemento se efectuar em árvores previamente podadas com a máquina de podar de discos, evidenciando uma das vantagens da utilização da máquina de podar de discos. 3.2.Dimensão das árvores Em relação à altura das árvores após a poda, verificaram-se diferenças significativas (P<0,05) entre os tratamentos. Na figura 4 mostram-se os valores médios da altura das árvores para cada um dos tratamentos. 4 a b b 3,5 3 metros 2,5 2 1,5 1 0,5 0 T1 T2 Tratam ento T3 Colunas acompanhados de letras diferentes diferem significativamente entre si, segundo o teste de separação de médias de Duncan (P≤0,05) Figura 4 – Altura das árvores após a poda As árvores podadas manualmente (tratamento 1) apresentavam uma altura significativamente superior (P<0,05) à dos outros tratamentos, os quais não diferiam significativamente entre si. Tal deve-se ao facto de na poda manual os podadores se terem limitado a realizar a poda como sempre fizeram, não existindo a preocupação de controlar a altura das árvores. 2,5 a 2 b ab Metros 1,5 1 0,5 0 T1 T2 T3 Tratam entos Colunas acompanhados de letras diferentes diferem significativamente entre si, segundo o teste de separação de médias de Duncan (P≤0,05) Figura 5 – Largura da copa das árvores após a poda Em relação à largura da copa das árvores após a poda verificaram-se diferenças significativas (P<0,05) entre os tratamentos. Na figura 5 apresentam-se os valores médios da largura da copa das árvores em cada tratamento. As árvores submetidas a poda manual (tratamento 1) ficaram com uma largura de copa significativamente superior (P<0,05) à das podadas mecanicamente (tratamento 2), embora não se tenham verificado diferenças significativas entre o tratamento 1 e o tratamento 3. A realização de cortes verticais com a máquina de podar de discos em cada uma das faces tende a uniformizar a largura máxima da copa entre as árvores. No entanto é difícil garantir que ao longo de cada linha de árvores se consiga fixar a largura da copa, visto que as irregularidades da superfície do solo provocam oscilações no posicionamento da barra de corte e naturalmente na largura da copa após o corte. De forma análoga a que se verificou para a altura das árvores, na poda manual não houve nenhuma preocupação em condicionar o trabalho dos podadores, pelo que estes efectuaram o seu trabalho como sempre fizeram, sem a preocupação de reduzir e de uniformizar a largura da copa das árvores. Assim os resultados obtidos mostram, conforme seria de esperar, que a utilização da máquina de podar permite uniformizar o tamanho das árvores, o que facilita todas as intervenções em que haja necessidade de circularem equipamentos no interior do pomar. A manutenção do ensaio durante vários anos permitirá avaliar o efeito das intervenções de poda na dimensão das árvores ao longo do período de realização do ensaio. 3.2.Lenha de poda Em termos de quantidade de lenha removida das árvores pela poda, verificaram-se diferenças significativas entre os tratamentos (P<0,05). 4,5 a Massa lenha podada (Kg Matéria Seca/árvore) 4 3,5 b 3 2,5 2 c 1,5 1 0,5 0 T1 T2 T3 Colunas acompanhados de letras diferentes diferem significativamente entre si, segundo o teste de separação de médias de Duncan (P≤0,05) Figura 6 – Quantidade de lenha podada por árvore Na figura 6 mostram-se os valores médios da quantidade de lenha retirada pela poda em cada tratamento, tendo a poda mecânica (tratamento 2) retirado uma quantidade de lenha por árvore significativamente (P<0,05) inferior à dos outros tratamentos. Embora os podadores, quer na poda estritamente manual, quer na poda manual de complemento, tenham eliminado o mesmo tipo de ramos, verificaram-se diferenças significativas (P<0,05) entre o tratamento 1 e o tratamento 3, na massa de lenha removida das árvores. Tal deve-se ao facto de no tratamento 3, a intervenção com a máquina de podar de discos, eliminar ramos grossos que se situam perpendicularmente à linha de árvores, e de no tratamento 1 esse tipo de ramos não ser cortado pelos podadores. 3.3. Produção de Pera Relativamente à produção de pêra, não se verificaram diferenças significativas entre os tratamentos (P>0.05). Na figura 7 mostra-se a massa de pêra produzida em média por árvore para cada tratamento. Estes resultados são preliminares pelo que é prematuro retirar grandes conclusões. De referir no entanto que a influência da poda na produção deste ano se terá limitado à maior ou menor quantidade de ramos com potencial de frutificação que ficaram nas árvores, tendo o desenvolvimento deste tipo de ramos sido condicionado, quer pelas intervenções de poda efectuadas nos anos anteriores, quer pelas produções obtidas. 120 100 a Kg pera/árvore a 80 a 60 40 20 0 T1 T2 T3 Tratamentos Colunas acompanhados de letras diferentes diferem significativamente entre si, segundo o teste de separação de médias de Duncan (P≤0,05) Figura 7 – Quantidade de pêra produzida por árvore Tal deve-se ao facto deste tipo de árvores manter órgãos de frutificação activos durante vários anos, pelo que para se avaliar o efeito da poda na produção de pêra seja necessário manter este tipo de ensaio durante o maior período de tempo possível. 4. Conclusões Os resultados obtidos mostram que a máquina de podar de discos permite efectuar o controlo da dimensão das árvores com bastante rapidez, uniformizando a dimensão das copas das árvores. Deste modo aumenta-se o espaço disponível para a circulação de tractores e outros equipamentos no interior do pomar. A utilização da máquina de poda permite reduzir o tempo de poda, visto que a capacidade de trabalho dos podadores na execução da poda manual de complemento aumenta consideravelmente em relação à poda estritamente manual. Embora se tratem de resultados de um ano, não se verificaram diferenças consideráveis entre os tratamentos na produção de pêra, pelo que é fundamental dar continuidade a este trabalho. Referências bibliográficas Dias, A.B., Santos, L., Peça, J.O., Pinheiro, A., Reynolds de Souza, D., Morais, N., Pereira, A.G., (2001), A poda mecânica na olivicultura alentejana-dois anos de ensaio, Edição Especial da Revista de Ciências Agrárias - II Simpósio Nacional de Olivicultura, vol. XXIV números 1-2, p. 74-80, Jan – Jun; Dias, A.B. (2006), A mecanização da poda do olival. Contribuição da máquina de podar de discos. Tese de Doutoramento. Universidade de Évora; Loreti, F., (1970), Orientamenti per una meccanizzazione integrale degli alberi da frutto, Istituto di Coltivazioni Arboree della Università di Pisa, Frutticoltura, nº7, luglio; Peça, J.O., Dias, A.B.; Pinheiro, A., Santos, L., Morais, N., Pereira, A.G., Reynolds de Souza, D. (2002), Mechanical pruning of olive trees as an alternative to manual pruning, Acta Horticulturae Number 586, p.295-299; Pereira, N.A.P.V. (2008), Contribuição para o estudo da aplicação da poda mecânica com máquina de podar de discos em pomóideas, Trabalho de Fim de Curso de Licenciatura em Engenhria Agrícola Universidade de Évora.
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