Relatório Parcial – Produto 3 O médio rio Negro

Transcrição

Relatório Parcial – Produto 3 O médio rio Negro
Programa das Nações Unidas para
o Meio Ambiente
Fundo Para o Meio
Ambiente Mundial
PROJETO GESTÃO INTEGRADA E SUSTENTÁVEL DOS
RECURSOS HÍDRICOS TRANSFRONTEIRIÇOS NA BACIA DO
RIO AMAZONAS, CONSIDERANDO A VARIABILIDADE E
MUDANÇA CLIMÁTICA
OTCA/GEF/PNUMA
Subprojeto II.1 Investigação dirigida sobre a compreensão da base de
recursos naturais da bacia do Rio Amazonas
Atividade II.1.1 Melhorar o conhecimento dos ecossistemas aquáticos
amazônicos
Atividade III.1.1 Manejo de ecossistemas aquáticos em hotspots
Foto: Roberto E. Reis
Relatório Parcial – Produto 3
O médio rio Negro
Brasília, Brasil
1
PROJETO GESTÃO INTEGRADA E SUSTENTÁVEL DOS
RECURSOS HÍDRICOS TRANSFRONTEIRIÇOS NA BACIA DO
RIO AMAZONAS, CONSIDERANDO A VARIABILIDADE E A
MUDANÇA CLIMÁTICA
OTCA/GEF/PNUMA
Subprojeto II.1 Investigação dirigida sobre a compreensão da base de
recursos naturais da bacia do Rio Amazonas
Atividade II.1.1 Melhorar o conhecimento dos ecossistemas aquáticos
amazônicos
Atividade III.1.1 Manejo de ecossistemas aquáticos em hotspots
Relatório Parcial – Produto 3
O médio rio Negro
Coordenador dos Componentes
Cleber J. R. Alho
Coordenação da Atividade
Norbert Fenzl
Consultor
Roberto E. Reis
Agosto/2013
2
O MÉDIO RIO NEGRO
RESUMO EXECUTIVO
O rio Negro está inteiramente contido na bacia sedimentar Amazônica, sendo o maior tributário
da margem esquerda do rio Amazonas. A maior parte dessa bacia está sobre um platô de terras
baixas, com 100-250 m a oeste e descendo para cerca de 50 m de elevação próximo a sua foz. O
rio Negro tem um clima de floresta tropical com temperatura média anual em torno de 26ºC. A
precipitação média anual varia entre 1.850 e 3.500 mm, com a maioria das chuvas ocorrendo
entre abril e julho. Os hábitats aquáticos da bacia incluem rios e igarapés de baixo gradiente, que
atravessam solos sedimentares formados principalmente por espodossolos sujeitos à inundação
sazonal. A água do rio Negro é extremamente pobre em conteúdo mineral, com condutividade
tão baixa como 8 mS, e é extremamente ácida, com pH variando de 2,9 a 4,2. Maior rio de água
preta do mundo, o rio Negro se estende por 2.230 km, tem uma bacia de captação de 691.000
km2, e uma vazão média de 28.000 m3/s, o que representa 14% da vazão média anual da bacia
Amazônica. A estimativa atual da riqueza de espécies na bacia do rio Negro ultrapassa 750
espécies descritas. Das 11 ordens já registradas, Characiformes e Siluriformes representam cerca
de 74% das espécies. Dezenas de novas espécies são conhecidas, uma das quais representa uma
nova família para a ciência. A riqueza total de espécies deve estar próxima a 1.000 espécies.
Mais de 90 espécies são consideradas endêmicas da bacia do rio Negro, assim como seis gêneros
monotípicos. O rio Negro é o lar de mais de 100 espécies que são utilizadas no comércio de
peixes ornamentais.
As áreas visitadas nesta expedição encontram-se localizadas na margem esquerda do rio
Negro (igarapé do Zamula, na margem esquerda, em frente a Barcelos e igarapé Daraquá, em
frente à comunidade de Daraquá), no rio Aracá (comunidade de Bacabal e igarapé Murumuru),
bem como na margem direita, no rio Quiuini (comunidade de Ponta da Terra e Igarapé do
Mamulé). A cidade de Barcelos tinha, até cerca de 10 ou 12 anos atrás, cerca de 600 famílias
vivendo da pesca de peixes ornamentais. Esse número está hoje reduzido para menos de dez por
cento desse número, e as principais atividades econômicas passaram a ser a agricultura, comércio
e pesca esportiva – especialmente de tucunarés. A pesca comercial, por outro lado, é incipiente
em Barcelos. Basicamente, todo o pescado resultante da pesca comercial é vendido e consumido
em Barcelos. Não há envio de peixes para Manaus ou outras cidades. A pesca de peixes
ornamentais ocorre junto à margem do igapó, onde a profundidade é pequena. Nesses locais
observamos a pesca de peixes ornamentais, especialmente cardinais. Pescadores utilizam uma
rede de mão chamada rapiché e um remo de canoa. A rede é mantida dentro da água e os peixes
são lenta e cuidadosamente conduzidos para dentro do rapiché com o remo. Alternativamente,
pescadores utilizam uma pequena armadilha chamada cacuri, que é iscada e deixada na margem
do igapó para ser recolhida mais tarde. Usualmente os peixes são mantidos por vários dias em
pequenos currais ou viveiros feitos de rede plástica, antes de serem novamente colocados nas
caçapas para envio à Barcelos. De Barcelos os peixes seguem em recreios para Manaus, para
exportação.
O grau de ameaças ambientais detectadas aos corpos aquáticos e peixes do rio Negro foi
considerado baixo. As mais sérias ameaças identificadas são ameaças à pesca de peixes
ornamentais e a sobrevivência desta atividade econômica. A pesca ornamental já foi a principal
atividade econômica da cidade de Barcelos e de outras comunidades do médio rio Negro, tendo
sido iniciada entre os anos 40 e 50 do século passado. Até o final da década de 90, cerca de 60%
3
da economia da cidade de Barcelos estava baseada na pesca de peixes ornamentais, e
aproximadamente 80% dos seus 20 mil habitantes trabalhava direta ou indiretamente na
atividade. Estima-se que, na época, cerca de 20 milhões de peixes eram exportados todos os anos
a partir de Barcelos, 80% destes sendo da espécie cardinal (Paracheirodon axelrodi). Segundo
uma estimativa desse período, a região do médio rio Negro possuía uma área produtiva de cerca
de 1,5 milhões de ha, em cerca de 300 pesqueiros espalhados por centenas de quilômetros de
rios. Essa área era explorada por 600-700 pescadores, o que representa uma área de mais de
2.000 ha por pescador. Durante os últimos 10-15 anos, no entanto, toda a cadeia produtiva da
pesca ornamental no médio rio Negro entrou em franco declínio. A causa direta e imediata desse
declínio foi a forte diminuição na demanda por peixes ornamentais pelos exportadores, que
ocorreu em função dos altos custos das tarifas aéreas e o despreparo das companhias aéreas e
aeroportos brasileiros para enviar peixes vivos, e a falta sensibilidade e agilidade, por parte do
IBAMA, para revisar a lista de espécies com permissão para exportação e normatizar os
processos da atividade. Outras causas que contribuíram para o colapso da pesca de peixes
ornamentais foram a concorrência dos novos e crescentes mercados de exportação de peixes
ornamentais no Peru, Venezuela e, principalmente, Colômbia, que praticam preços ainda mais
baixos que o Brasil, e o inicio da reprodução em cativeiro das espécies do rio Negro em países
asiáticos, europeus e nos Estados Unidos. O caso específico de Barcelos, entretanto, foi mais
grave, pois cerca de 80% de toda a sua produção de peixes ornamentais era comprada por um
único atravessador e exportada por uma única empresa de Manaus. Essa empresa parou de operar
no início dos anos 2000, culminando com o colapso de uma atividade econômica sustentável,
que preserva o meio ambiente e que gerava recursos para a subsistência de mais de 600 família
na região de Barcelos. A atividade econômica envolvendo a pesca esportiva tornou-se muito
importante na região de Barcelos com o declínio da pesca de peixes ornamentais. Geralmente, a
pesca esportiva é uma atividade de baixo impacto nas comunidades de peixes. Na região de
Barcelos, entretanto, o número de pescadores esportivos durante a estação de pesca (agosto à
fevereiro) é muito grande, e provavelmente o impacto sobre as populações de peixe é
significativo. Por outro lado, a agricultura comercial na região do médio rio Negro é incipiente.
Como a paisagem do médio rio negro é dominada por matas inundáveis, a agricultura é praticada
em pequenas roças nas porções de terra firme, junto às comunidades, e a bacia do rio Negro é
uma área sem vocação para a agricultura extensiva. Finalmente, as mudanças climáticas que
tendem a afetar a bacia amazônica, especialmente intensificando as cheia e as secas, podem ser
especialmente prejudiciais aos peixes, especialmente as secas, pois diminuem a área de igapó,
local de refúgio, alimentação, e reprodução dos peixes.
4
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Canal do rio Negro em frente a cidade de Barcelos, onde destaca-se a Igreja Matriz e o porto. Foto:
Roberto Reis.
Figura 2. Imagem de satélite (Google Earth) mostrando a área visitada no rio Negro e seus afluentes, destacando os
principais pontos referidos no texto. As coordenadas geográficas dos pontos mencionados são: Comunidades:
Bacabal: 0°29’08”S 62°55’21”W; Daraquá: 0°30’27”S 63°12’48”W; Ponta da Terra: 0°46’18”S 63°08’34”W.
Pontos de pesca de peixes ornamentais: Igarapé do Zamula: 0°50’15”S 62°45’34”W; Igarapé Murumuru: 0°27’34”S
62°56’08”W; Igarapé Daraquá: 0°27’52”S 63°09’15”W; Igarapé do Mamulé: 0°50’19”S 63°13’48”W.
Figura 3. Casa da comunidade de Daraquá em uma ilha inundada do rio Negro. Foto: Roberto Reis.
Figura 4. Imagem de satélite (Google Earth) mostrando trecho do rio Negro em frente a Barcelos, enfatizando a
complexidade de ilhas, canais, furos, paranás e lagos.
Figura 5. Demonstração do uso do rapixé na área rasa do igapó. Foto: Pedro Aquino.
Figura 6. Demonstração do uso do cacuri na área rasa do igapó. A, Cacuri iscado e pronto para instalação. B,
Piabeiro escolhendo a localização para instalação do cacuri. C, Cacuri em posição de pesca no igapó. D, Piabeiro
com caçapa para recolhimento do cacuri. Fotos: Roberto Reis.
Figura 7. Caçapas cheias de neons do rio Branco sendo embarcadas em recreio para envio de Barcelos para um
exportador em Manaus. Foto: Roberto Reis.
Figura 8. Detalhe de caçapa com neons sendo enviados para Manaus. Foto: Roberto Reis.
Figura 9. Espécies de peixe que representam os principais alvos da pesca comercial ou esportiva na região do médio
rio Negro. A) Anuanã; B) Jaraqui; C) Aracu-flamengo (Schizodon); D) Aracu-branco; E) Aracu-flamengo
(Leporinus); F) Matrinxã; G) Pacu-branco; H) Piranha-preta; I) Pacu-listrado; J) Traíra; K) Surubim; L) Piranambu;
M) Anujá. Fotos: Roberto Reis.
Figura 10. Espécies de peixe que representam os principais alvos da pesca comercial ou esportiva na região do
médio rio Negro. N) Pescada; O) Acará-açu; P) Tucunaré-tauá; Q) Tucunaré-açu; R) Tucunaré-paca; S) Tucunarépaca; T) Acará-baré; U) Cágado em casa de pescador; V) Caixa de pescado puxada por motocicleta em Barcelos.
Fotos: Roberto Reis.
Figura 11. Reprodução de folheto das espécies de peixe ornamentais capturados no rio Negro, de acordo com o
Projeto Piaba. Veja lista das espécies com nomes corrigidos e em classificação no Apêndice II.
Figura 12. Reprodução de folheto das espécies de peixe ornamentais capturados no rio Negro, continuação.
5
O presente relatório refere-se ao Produto 3, sobre a terceira viagem ao campo (terceiro hotspot),
confrontando os dados existentes na literatura sobre ameaças aos ecossistemas aquáticos, à
biologia pesqueira, à questões relacionadas à pesca e degradação ambiental. Os hotspots, como
utilizados neste projeto, são as cabeceiras do rio Xingu, o baixo rio Tocantins, nas proximidades
de Tucuruí e o médio rio Negro, nas proximidades de Barcelos. Esses hotspot foram definidos
pelo projeto do Banco Mundial-Global Environment Fund “Manejo Integrado dos Recursos
Aquáticos da Amazônia – Aquabio”.
I. A BACIA DO RIO NEGRO
A bacia hidrográfica
Ao contrário das duas primeiras expedições, que exploraram ambientes aquáticos que drenam o
Escudo Brasileiro, o rio Negro está inteiramente contido na bacia sedimentar Amazônica, sendo
o maior tributário da margem esquerda do rio Amazonas. A bacia do rio Negro inclui as
Ecorregiões Aquáticas 314 (Rio Negro) e parte da Ecorregião 315 (Amazonas Guiana Shield –
que inclui o rio Branco e outros tributários menores), do mapa das ecorregiões de água doce do
mundo de Abell et al. (2008). A ecorregião Rio Negro inclui a bacia de drenagem do rio Negro
Figura 1. Canal do rio Negro em frente a cidade de Barcelos, onde destaca-se a Igreja Matriz e o porto. Foto:
Roberto Reis.
6
desde Manaus, junto a sua foz, até o sopé da cordilheira dos Andes na Colômbia. Ela inclui a
parte baixa das bacias do rio Branco e do rio Jauaperi, sendo limitada ao norte pela divisa
montanhosa com a bacia do rio Orinoco e ao sul pelo divisor de águas entre as cabeceiras dos
seus afluentes da margem direita e os afluentes da margem esquerda do rio Solimões. O rio
Negro drena três áreas principais: os tributários do norte se originam na porção sul do Escudo
das Guianas, as cabeceiras a oeste nascem no sopé dos Andes Colombianos e os afluentes da
margem direita nascem nas terras baixas da Amazônia brasileira. A maior parte dessa bacia está
sobre um platô de terras baixas, com 100-250 m a oeste e descendo para cerca de 50 m de
elevação próximo a sua foz. A porção mais alta da bacia é dominada por afloramentos graníticos
do Escudo das Guianas, como as serras de Tapirapecó e Imeri ao longo da fronteira BrasilVenezuela, com a mais alta elevação no Pico da Neblina a quase 3.000 m sobre o nível do mar.
Esta ecorregião tem um clima de floresta tropical com uma temperatura média anual em torno de
26ºC. A precipitação média anual varia entre 1.850 e 3.500 mm, com a maioria das chuvas
ocorrendo entre abril e julho (Petry & Hales, 2013).
Figura 2. Imagem de satélite (Google Earth) mostrando a área visitada no rio Negro e seus afluentes, destacando os
principais pontos referidos no texto. As coordenadas geográficas dos pontos mencionados são: Comunidades:
Bacabal: 0°29’08”S 62°55’21”W; Daraquá: 0°30’27”S 63°12’48”W; Ponta da Terra: 0°46’18”S 63°08’34”W.
Pontos de pesca de peixes ornamentais: Igarapé do Zamula: 0°50’15”S 62°45’34”W; Igarapé Murumuru: 0°27’34”S
62°56’08”W; Igarapé Daraquá: 0°27’52”S 63°09’15”W; Igarapé do Mamulé: 0°50’19”S 63°13’48”W.
Hábitats aquáticos. Rios e igarapés de baixo gradiente atravessam solos sedimentares formados
principalmente por espodossolos sujeitos à inundação sazonal. A água do rio Negro é
extremamente pobre em conteúdo mineral, com condutividade tão baixa como 8 mS, e é
extremamente ácida, com pH variando de 2,9 a 4,2. Maior rio de água preta do mundo, o rio
Negro se estende por 2.230 km, tem uma bacia de captação de 691.000 km2, e uma vazão média
7
de 28.000 m3/s, o que representa 14% da vazão média anual da bacia Amazônica. Seu principal
afluente, o rio Branco é, por outro lado, um rio de água branca. Embora não seja tão turva como
a do rio Amazonas ou rio Madeira, é barrenta na época das cheias, e os sedimentos são visíveis
até cerca de 200 km à jusante da confluência com o Negro. Na porção superior da bacia a estação
das cheias ocorre entre maio e setembro, com pico em julho. Flutuações do nível da água no
curso inferior são ditadas mais pelo rio Amazonas, e ocorrem um pouco mais cedo. Nessa região,
a estação das chuvas vai de fevereiro a julho, com o pico das águas em junho. A flutuação anual
média do rio varia de 4 a 5 m no curso superior e até cerca de 10 m nas partes mais baixas.
Estima-se que uma área de 30.000 km2 da bacia do Negro seja inundada sazonalmente entre 4 e
8 meses do ano. As maiores planícies de inundação ocorrem ao longo dos afluentes da margem
direita, bem como entre a rede de ilhas ao longo do médio e baixo rio Negro. Existem muitos
ambientes insulares ao longo do curso principal do rio Negro, incluindo mais de 600 ilhas na
parte inferior e média do rio. Ao longo do seu curso principal e dos afluentes estão vastas
planícies cobertas por florestas alagadas e campinas e caatingas inundadas (campinaranas), assim
como muitos lagos de várzea e lagoas marginais ao longo dos canais. Durante a estação seca
enormes praias de areia são encontradas ao longo de toda a extensão dos rios. O fundo dos rios
são rochosos, com grandes rochas ou cascalho na porção superior da bacia, e arenosos na parte
média e inferior. Afloramentos rochosos e cataratas revelam evidências do Escudo das Guianas
em pontos ao longo dos cursos superior e médio do rio Negro (Petry &Hales, 2013).
Figura 3. Casa da comunidade de Daraquá em uma ilha inundada do rio Negro. Foto: Roberto Reis.
8
A fauna de peixes
A estimativa atual da riqueza de espécies na bacia do rio Negro ultrapassa 750 espécies descritas.
Das 11 ordens já registradas, Characiformes e Siluriformes representam cerca de 74% das
espécies. Dezenas de novas espécies são conhecidas, uma das quais representa uma nova família
para a ciência. A riqueza total de espécies deve estar próxima a 1.000 espécies. Mais de 90
espécies são consideradas endêmicas da bacia do rio Negro, assim como seis gêneros
monotípicos - Tucanoichthys, Ptychocharax, Atopomesus, Leptobrycon, Niobichthys e
Stauroglanis - atualmente encontrados somente nesta bacia. O rio Negro é o lar de mais de 100
espécies que são utilizadas no comércio de peixes ornamentais. A iridescência de algumas
espécies como o cardinal (Paracheirodon axelrodi), pode ser uma característica adaptativa à
água preta do rio Negro. Fenômenos ecológicos interessantes incluem grandes migrações dos
bagres doradideos, dos characídeos como Brycon e dos prochilodontideos do gênero
Semaprochilodus. O jaraqui (Semaprochilodus insignis), por exemplo, migra das águas pretas do
rio Negro para os rios de água branca para desovar. Há também assembleias únicas de espécies
em depósitos de folhas, e muitas formas miniaturizadas. Espécies relictuais nessa região incluem
o pirarucu (Arapaima gigas, Arapaimidae), um dos maiores peixes de água doce no mundo com
mais de dois metros de comprimento, o aruanã (Osteoglossum bicirrhosum, Osteoglossidae) e o
endêmico aruanã preto (O. ferreirai) (Petry &Hales, 2013).
II. O HOTSPOT DO MÉDIO RIO NEGRO
Durante a viagem a campo para o médio rio Negro priorizou-se a estratégia de inspeção
ambiental direta, através de deslocamento por barco e entrevistas com membros das
comunidades. A equipe ficou hospedada no Hotel da Cidade, no município de Barcelos, na
margem direita do rio Negro, Amazonas (Fig. 1). A partir dessa cidade diversas excursões em
barco rápido (voadeira) foram empreendidas a áreas de pesca de peixes ornamentais em igarapés
e igapós, comunidades ribeirinhas, e os diferentes ambientes aquáticos do entorno. As áreas
visitadas encontram-se localizadas no rio Negro (igarapé do Zamula [0°50’15”S 62°45’34”W],
na margem esquerda, em frente a Barcelos e igarapé Daraquá [0°27’52”S 63°09’15”W], em
frente à comunidade de Daraquá [0°30’27”S 63°12’48”W]), no rio Aracá (comunidade de
Bacabal [0°29’08”S 62°55’21”W] e igarapé Murumuru [0°27’34”S 62°56’08”W]), bem como na
margem direita, no rio Quiuini (comunidade de Ponta da Terra [0°46’18”S 63°08’34”W] e
Igarapé do Mamulé [0°50’19”S 63°13’48”W]) (Fig. 2). Todo o trabalho foi registrado
fotograficamente e as áreas visitadas nos rios foram georeferenciadas através de GPS.
A floresta do médio rio Negro. A bacia do rio Negro é formada primariamente por grandes
áreas de floresta de igapó, devido ao elevado número de igarapés e rios de água preta. Este tipo
de floresta ocorre em terras que são inundadas todos os anos e tem solos arenosos, oligotróficos,
e pobres em nutrientes. Espécies de árvores abundantes incluem a ucuúba (Virola elongata), as
matamatás (Eschweilera longipes e E. pachysepala) e a fava amarela (Pithecellobium
amplissimum). Há também áreas de floresta de várzea, que ocorrem nas várzeas dos rios de água
branca como o rio Branco, rio Padauari e rio Demini, que tendem a conter material em suspensão
e nutrientes elevados. As florestas de terra firme, um terceiro tipo florestal, nunca sofrem
inundações e tem uma composição florística semelhante à floresta de várzea. Espalhadas por
estas florestas estão grandes áreas de campinarana (campina inundável) que formam um mosaico
de tipos de vegetação desde savanas herbáceas até florestas de dossel fechado. Estes ocorrem
9
principalmente em torno de depressões pantanosas circulares de espodossolos arenosos e pobres
em nutrientes.
A área visitada nesta expedição situa-se no médio rio Negro, onde grandes áreas de mata
de igapó e pequenos trechos de terra firme se sucedem. A inspeção de imagens de satélite mostra
que as florestas do médio rio Negro estão muito bem preservadas e apenas recentemente, com o
declínio acentuado da pesca de peixes ornamentais, começam a abrir-se áreas para agricultura de
subsistência (Fig. 2).
Figura 4. Imagem de satélite (Google Earth) mostrando trecho do rio Negro em frente a Barcelos, enfatizando a
complexidade de ilhas, canais, furos, paranás e lagos.
Comunidades ribeirinhas visitadas. Além da cidade de Barcelos, três outras comunidades
foram visitadas durante as excursões de barco no rio Negro, e alguns de seus moradores foram
entrevistados. Comunidade de Daraquá (Fig. 3): localizada em uma ilha inundada do próprio rio
Negro, até cerca de 10 anos atrás possuía mais de 20 famílias, todas vivendo exclusivamente da
pesca de peixes ornamentais. Com o declínio da pesca de ornamentais as famílias foram pouco a
pouco abandonando a comunidade e mudando-se para áreas de terra firme, onde outras
atividades econômicas são possíveis. Atualmente apenas uma família, pai e filho, continuam em
Daraquá, vivendo da pesca de ornamentais e produção de artesanato. Comunidade de Bacabal:
localizada no curso inferior do rio Aracá, essa comunidade é formada primariamente por
indígenas. As suas atividades econômicas são principalmente a agricultura (mandioca) e
produção de farinha de mandioca. A criação de animais (porcos) e a pesca de peixes
ornamentais, complementam a renda familiar. Comunidade de Ponta da Terra: localizada
próximo à foz do rio Quiuini, é a maior das três comunidades. Possui uma escola de ensino
básico recentemente construída e bem aparelhada e durante a visita testemunhamos a ocorrência
10
de atividade letiva, merenda escolar e zeladoria da escola. Da mesma forma que nas anteriores,
até cerca de 10 anos atrás todas as famílias nessa comunidade viviam da pesca de peixes
ornamentais. Hoje ninguém mais na comunidade pratica a pesca de peixes ornamentais e a
principal atividade econômica é a agricultura. Para tanto, uma área considerável de floresta de
terra firme foi removida para acomodar as plantações de mandioca, milho, e outras.
Figura 5. Demonstração do uso do rapixé na área rasa do igapó. Foto: Pedro Aquino.
A cidade de Barcelos tinha, até cerca de 10 ou 12 anos atrás, cerca de 600 famílias
vivendo da pesca de peixes ornamentais. Esse número está hoje reduzido para menos de dez por
cento desse número, e as principais atividades econômicas passaram a ser a agricultura, comércio
e pesca esportiva – especialmente de tucunarés. A estação de pesca esportiva, que ocorre entre
agosto e fevereiro movimenta a cidade, tanto social como economicamente. Existem diversos
hotéis, barcos-hotéis e pousadas na cidade e no entorno, que somente funcionam neste período.
A companhia aérea que serve a cidade (Azul) aumenta os voos para Barcelos de dois voos
semanais para voos diários na estação da pesca esportiva. Várias pousadas na floresta possuem
hidroaviões para levar os seus hóspedes, alguns vindo diretamente de Manaus. A pesca de
tucunarés tem gerado alguns conflitos com a pesca comercial, uma vez que competem
diretamente tanto pelos peixes como pelos locais de pesca. Assim, existem zonas de pesca
esportiva delimitadas para diferentes operadoras de pesca. Estas muitas vezes não são respeitadas
assim como as áreas de pesca de comunidades locais e comunidades indígenas.
11
A pesca comercial, por outro lado, é incipiente em Barcelos. Basicamente, todo o
pescado resultante da pesca comercial é vendido e consumido em Barcelos. Não há envio de
peixes para Manaus ou outras cidades. Curiosamente, não há em Barcelos um mercado de peixes
ou um mercado geral onde sejam vendidos peixes. Existem, ao contrário, vários vendedores
ambulantes que percorrem a cidade de bicicleta ou motocicleta com um reboque com gelo, e
vendem os peixes de porta em porta. Um exame e registro fotográfico de alguns desses
vendedores, e a visita à casa de um vendedor que possuía freezer com peixes para venda,
permitiu o levantamento de 29 espécies de peixes comercializados na época da visita. Pescadores
ainda relataram outras espécies comuns, mas não encontrados nessas visitas. A lista das espécies
e fotografias de algumas encontram-se ao final deste relatório (Figs. 9 e 10).
Figura 6. Demonstração do uso do cacuri na área rasa do igapó. A, Cacuri iscado e pronto para instalação. B,
Piabeiro escolhendo a localização para instalação do cacuri. C, Cacuri em posição de pesca no igapó. D, Piabeiro
com caçapa para recolhimento do cacuri. Fotos: Roberto Reis.
Ambientes aquáticos visitados. A expedição ao médio rio Negro foi conduzida durante o final
da estação de cheia, quando o rio está ainda vários metros acima do nível normal. Os ambientes
visitados de barco foram rio de grande porte (Negro), rios de médio porte (Aracá, Demini,
Quiuini), igarapés (Zamula, Daraquá, Murumuru, Mamulé) e áreas de igapó, ou mata inundada.
Todos esses ambientes são de água preta, exceto o rio Demini que apresenta água branca. As
dimensões na Amazônia central são gigantescas, e o rio Negro é o maior rio de água preta do
mundo. Na região de Barcelos a sua largura está entre quatro e oito km, mas se a área contígua
12
de floresta inundada for considerada, a largura do corpo de água passa para 30 a 40 km. O rio
Negro possui muitas centenas de ilhas, canais, furos, paranás e lagos, formando um intrincado
emaranhado de ambientes aquáticos (Fig. 4). Os rios de médio porte são bastante convolutos e
com muitos meandros, canais e lagos, e também possuem uma extensa área de floresta inundável
em suas margens.
Os ambientes de igapó são muito interessantes e fundem-se com os igarapés em uma
extensa área de floresta inundada com até cerca de 10 metros de profundidade de água sobre o
solo da floresta. Peixes e outros organismos aquáticos deixam o leito do rio para se abrigar e
alimentar na mata inundada. Nessa mesma época ocorre a frutificação de algumas árvores da
mata inundável, fornecendo valioso recurso alimentar para os peixes. Também, uma grande
quantidade de invertebrados, especialmente insetos, ocupam as florestas inundadas e são
consumidos pelos peixes. Finalmente, muitas espécies de peixe utilizam o igapó para
reprodução, que ocorre durante a enchente quando os juvenis ficam protegidos pelo ambiente
inundado.
Áreas de pesca visitadas. Durante a inspeção da área, visitamos quatro locais de pesca de peixes
ornamentais. Dois na margem esquerda do rio Negro (igarapé do Zamula e igarapé Daraquá), um
no rio Aracá (igarapé Murumuru), e um no rio Quiuini (igarapé do Mamulé) (Fig. 2). A pesca de
peixes ornamentais ocorre junto à margem do igapó, onde a profundidade é de no máximo 50
cm. Assim, sempre guiados por um morador local e pescador de peixes ornamentais, seguimos o
procedimento usual de pesca de ornamentais, e entramos com o barco – às vezes apenas uma
canoa de madeira a remo por causa das passagens estreitas entre as árvores – por igarapés, até
encontrar a margem do igapó. Nesses locais observamos e praticamos a pesca de peixes
ornamentais, especialmente cardinais. Basicamente os pescadores utilizam uma rede de mão
chamada rapiché (Fig. 5) e um remo de canoa. A rede é mantida imóvel dentro da água e os
peixes são lenta e cuidadosamente conduzidos com o remo para dentro do rapiché. Quando o
cardume se encontra dentro da rede está é suavemente erguida e os peixes são apanhados com
uma pequena bacia, ou cuia, e colocados dentro de caixas plásticas, ou caçapas.
Alternativamente, pescadores utilizam uma pequena armadilha chamada cacuri (Fig. 6), que é
iscada e deixada na margem do igapó e recolhida mais tarde. Usualmente os peixes são mantidos
por vários dias em pequenos currais ou viveiros feitos de rede plástica, antes de serem
novamente colocados nas caçapas para envio à Barcelos. Em Barcelos acompanhamos o
carregamento de um grande barco (recreio) com caixas plásticas de neons (Paracheirodon
simulans) que foram trazidos do rio Branco em um pequeno barco de pescadores, e seguiam para
Manaus, para exportação (Figs. 7 e 8).
Principais entrevistas. Diversas pessoas, atores das várias atividades da cadeia produtiva da
pesca comercial, esportiva e ornamental de Barcelos foram entrevistadas. Três dessas pessoas
merecem especial destaque pela sua importância, qualidade das informações prestadas, e
profunda experiência com a pesca.
Sr. Robertto L. Souza (Betão): Secretário do Meio Ambiente de Barcelos e ex-Presidente
da Colônia de Pescadores de Barcelos.
Sr. Raimundo Ribeiro: Principal comprador/atravessador de peixes ornamentais de
Barcelos até o colapso da atividade no início da década de 2000. Ex-pescador de peixes
ornamentais e profundo conhecedor de toda a cadeia produtiva da pesca de ornamentais.
13
Sr. Nivalso Maia. Proprietário do barco que utilizamos para os deslocamentos pelo rio
Negro. Ex-pescador e profundo conhecedor da região, das comunidades, das pessoas e seus
costumes.
Figura 7. Caçapas cheias de neons do rio Branco sendo embarcadas em recreio para envio de Barcelos para um
exportador em Manaus. Foto: Roberto Reis.
Figura 8. Detalhe de caçapa com neons sando enviados para Manaus. Foto: Roberto Reis.
14
As ameaças aos peixes e ambientes aquáticos. Contrariamente ao observado nas duas
primeiras expedições, o grau de ameaças ambientais detectadas aos corpos aquáticos e peixes do
rio Negro foi considerado baixo. As mais sérias ameaças identificadas são ameaças à pesca de
peixes ornamentais e a sobrevivência desta atividade econômica, que já foi de alta importância
para a região.
 Ameaças à pesca ornamental. A pesca ornamental já foi a principal atividade econômica
da cidade de Barcelos e de outras comunidades do médio rio Negro, tendo sido iniciada
entre os anos 40 e 50 do século passado. Até o final da década de 90, aproximadamente
60% da economia da cidade de Barcelos estava baseada na pesca de peixes ornamentais,
e cerca de 80% dos seus 20 mil habitantes trabalhava direta ou indiretamente na
atividade. Estima-se que, na época, cerca de 20 milhões de peixes eram exportados todos
os anos a partir de Barcelos, 80% destes sendo da espécie cardinal (Paracheirodon
axelrodi). Segundo uma estimativa desse período, a região do médio rio Negro possuía
uma área produtiva de cerca de 1,5 milhões de ha, em cerca de 300 pesqueiros espalhados
por centenas de quilômetros de rios. Essa área era explorada por 600-700 pescadores, o
que representa uma área de mais de 2.000 ha por pescador (Paulo Petry, TNC, Comun.
Pessoal). Para acompanhar essa atividade e garantir a sua sustentabilidade, foi criado em
1989 o Projeto Piaba, liderado pelo ictiólogo da UFAM, Dr. Labbish Chao, cujo objetivo
fundamental era determinar que sistemas sócio-culturais e ecológicos seriam capazes de
garantir a preservação dos peixes ornamentais e da sua pesca sustentável. As premissas
do Projeto Piaba se baseavam na ideia de que, ao contrário de garimpo, extração de
madeira ou agricultura, a extração de peixes ornamentais não é uma atividade destrutiva.
Muito pelo contrário, pois segundo os responsáveis pelo Projeto Piaba, os piabeiros
(como são conhecidos os pescadores de piabas ou peixes ornamentais) sabem que se
preservarem a floresta também estarão assegurando as suas fontes de rendimento. Essa
percepção está muito claramente expressa no slogan do Projeto Piaba: “Compre um peixe
e salve uma árvore”. Um folheto do Projeto Piaba com as espécies ornamentais mais
importantes da região do médio rio Negro é reproduzido nas Figs. 11 e 12.
Durante os últimos 10-15 anos, no entanto, toda a cadeia produtiva da pesca
ornamental no médio rio Negro entrou em franco declínio. A causa direta e imediata
desse declínio é clara: a forte diminuição na demanda por peixes ornamentais pelos
exportadores. As causas indiretas, subjacentes à diminuição da demanda, entretanto, são
menos claras e tem múltiplas origens. Aparentemente a concorrência dos novos e
crescentes mercados de exportação de peixes ornamentais no Peru, Venezuela e,
principalmente, Colômbia, que praticam preços ainda mais baixos que o Brasil, aumentou
as dificuldades na colocação dos peixes brasileiros pelos exportadores. Em 2003 o preço
pago aos piabeiros em Barcelos era entre 10 e 14 reais por milheiro de cardinais – esse
valor encontra-se hoje entre 12 e 15 reais por milheiro. Além disso, várias das espécies
ornamentais comumente exportadas a partir do rio Negro passaram a ser reproduzidas em
cativeiro a custos reduzidos por países asiáticos, como Malásia e Singapura. Também, a
principal espécie das exportações do rio Negro, o cardinal, passou a ser reproduzido em
cativeiro nos Estados Unidos e na República Tcheca, ainda que em pequena escala.
No entanto, as principais causas que minaram o interesse dos exportadores de
Manaus (em sua maioria brasileiros, mas alguns estrangeiros), foram o custo da
exportação e, principalmente, os seguidos problemas enfrentados com o IBAMA. O alto
15
custo das tarifas aéreas e o despreparo das companhias aéreas e aeroportos brasileiros
para enviar peixes vivos – por vezes atrasos inesperados acarretavam a morte de milhares
de peixes embalados para exportação – acresciam muito no preço final do produto.
Também, uma reclamação recorrente dos exportadores é o pequeno número de espécies
ornamentais com permissão para exportação pelo IBAMA. Na época, a exploração de
peixes ornamentais continentais era regulada pelas Portarias 062-N/92 e 080-N/94, que
listavam 174 espécies e três gêneros passiveis de exportação de todo o Brasil (menos de
100 da região do rio Negro). Muitas das espécies que poderiam ser exportadas e garantir
a viabilidade econômica da exportação de peixes ornamentais não o eram, pois não
estavam listadas nas portarias do IBAMA. Arraias e aruanãs, por exemplo, eram espécies
muito procuradas e de alto valor comercial, mas de exportação proibida. Aparentemente,
apesar da pressão ocorrida na época, o IBAMA não teve a sensibilidade e agilidade
necessárias para revisar a lista de espécies com permissão para exportação e normatizar
os processos da atividade, o que acabou contribuindo para o colapso da atividade no
médio rio Negro. A falta de normatização deixava uma lacuna que era explorada tanto
pelos exportadores, que tentavam fazer passar espécies proibidas na suas exportações,
como por agentes do IBAMA, que aceitavam subornos para liberar guias de exportação.
O conjunto desses problemas culminou com o encerramento das atividades de exportação
de muitas empresas de Manaus, que enviavam para a Europa, Ásia e América do Norte os
peixes do rio Negro. O caso específico de Barcelos, entretanto, foi mais grave, pois cerca
de 80% de toda a sua produção de peixes ornamentais era comprada por um único
atravessador, o Sr. Raimundo Ribeiro, que provia emprego e renda para quase 500
famílias, com as quais cultivou relações pessoais por mais de 30 anos. Esse comprador
enviava os peixes para o Sr. Asher Benzaken, da Turkys Aquarium, exportador israelense
radicado em Manaus desde os anos 70, que encerrou as suas atividades no inicio da
década de 2000 em grande parte por causa de dificuldades sistemáticas como o IBAMA,
por não aceitar o modo de operação daquela agência. A Turkys Aquarium era a empresa
com maior volume de exportação porque era muito bem conceituada no mercado exterior
por produzir peixes de alta qualidade, com baixas taxas de mortalidade, possuindo,
inclusive, certificação ISO 14000. Essa cadeia de problemas e a falta de entendimento ou
interesse por parte de autoridades brasileiras de diversas esferas, culminaram com o
colapso de uma atividade econômica sustentável, que preserva o meio ambiente e que
gerava recursos para a subsistência de mais de 600 família na região de Barcelos.

Pesca esportiva. A atividade econômica envolvendo a pesca esportiva tornou-se muito
importante na região de Barcelos com o declínio da pesca de peixes ornamentais.
Geralmente a pesca esportiva é uma atividade de baixo impacto nas comunidades de
peixes. Na região de Barcelos, entretanto, o número de pescadores esportivos durante a
estação de pesca (agosto à fevereiro) é muito grande. Relatos de guias e piloteiros de
barcos de pesca sugerem a visita de milhares de pescadores esportivos a cada ano,
especialmente estrangeiros. Essas informações são corroboradas pelo grande número de
barcos-hotéis, pousadas e operadoras de pesca existentes na região. Como descrito acima,
os ambientes aquáticos do médio rio Negro são muito grandes, mas a retirada contínua de
peixes pela pesca esportiva pode ser um impacto considerável para as populações de
peixes, especialmente de tucunarés, sobre os quais é dirigida a maior parte do esforço de
pesca esportiva. Apesar da alegação de baixas taxas de mortalidade pela pesca esportiva,
não existem dados concretos que corroborem esta situação. Existe uma grande
16
disparidade nas técnicas de manejo dos peixes por parte dos guias e principalmente por
parte dos pescadores, que contribuem significativamente para a mortalidade dos
exemplares que são soltos após a captura.

Agricultura. A agricultura comercial na região do médio rio Negro é incipiente. No
entanto, com o declínio da pesca de peixes ornamentais ao longo da última década, um
grande número de famílias ribeirinhas está mudando a sua atividade comercial da pesca
de peixes ornamentais para a agricultura e para a pesca esportiva. Como a paisagem do
médio rio negro é dominada por matas inundáveis, a agricultura é praticada em pequenas
roças nas porções de terra firme, junto às comunidades. A dinâmica de inundação sazonal
dominante na região, além da baixa qualidade dos solos e a ausência de culturas
adaptadas à condição climática da região, no entanto, fazem da bacia do rio Negro uma
área sem vocação para a agricultura extensiva, e esta ameaça é considerada de pequena
importância.
 Mudanças climáticas. Dados levantados por diferentes estudos e sintetizados por
(Merengo et al. 2010) indicam que a situação pode ser preocupante na Amazônia em
geral e no rio Negro. Em 2005, uma forte estiagem – a maior dos últimos 103 anos,
somente comparável com a estiagem de 1962-1963 – atingiu o oeste e o sudoeste da
Amazônia. Alguns grandes rios da bacia Amazônica chegaram a baixar 6 cm por dia.
Milhões de peixes morreram e apodreceram nos leitos de afluentes do rio Amazonas, os
quais serviam de fonte de água, alimento e meio de transporte para comunidades
ribeirinhas. As possibilidades de ocorrerem períodos de intensa seca na região da
Amazônia podem aumentar dos atuais 5% (uma forte estiagem a cada 20 anos) para 50%
em 2030 e até 90% em 2100. No lado oposto dos extremos climáticos, em 2009 a
Amazônia enfrentou uma enchente de dimensões históricas, superior aos máximos
históricos registrados no porto de Manaus nos últimos 100 anos, maiores que os níveis
recordes registrados em 1953. Segundo o Serviço Geológico do Brasil, o ano de 1953
marcou a história de Manaus como o período da pior enchente da cidade. Na ocasião, o
nível do rio Negro atingiu a marca de 29,68 m, valor que foi ultrapassado em 2009,
atingindo 29,78 m (Merengo et al. 2010). No caso específico do rio Negro, secas muito
intensas são mais prejudiciais aos peixes, pois diminuem consideravelmente a área de
igapó, local de refúgio, alimentação, e reprodução dos peixes.
A fauna de peixes importante para a pesca comercial e esportiva.
As espécies listadas abaixo foram levantadas como parte das principais espécies alvo da pesca
comercial e esportiva (marcadas com [esp]) na região do médio rio Negro, e a sua ocorrência foi
confirmada através de identificação taxonômica positiva em visitas a vendedores de pescado
durante o trabalho de campo. No total, 29 espécies de importância para pesca comercial e 12 para
a pesca esportiva no médio rio Negro são apresentadas abaixo, listadas em uma classificação
seguindo Reis et al. (2003). Os dados apresentados sobre as famílias dessas espécies são
amplamente adaptado de Reis et al. (2003) e de referências nesse livro, e os autores dos capítulos
individuais são citados ao final do texto de cada família. As espécies são ilustradas com imagens
obtidas durante a visita a vendedores de peixe, nas Figs. 9 e 10.
17
Actinopterygii
OSTEOGLOSSIFORMES
Osteoglossidae
Osteoglossus bicirrhosum – Aruanã
Osteoglossus ferreirai – Aruanã-preto
[Osteoglossidae consiste em cinco espécies de peixes de água doce tropicais. Duas dessas
espécies ocorrem na região Neotropical, uma nas águas doces do sudeste da Ásia, e as duas
restantes na Austrália e Nova Guiné. Osteoglossídeos são semelhantes em aparência aos
Arapaimídeos e foram, até recentemente, consideradas como fazendo parte de uma família.
Espécies de ambas as famílias são alongados, tem corpos delgados e com grandes escamas, mas
diferem por várias outras características. Na América do Sul a distribuição das duas espécies é
bastante diferente. Uma espécie, Osteoglossum ferreirai, parece estar restrita ao sistema do rio
Negro da bacia do Amazonas. A segunda espécie, O. bicirrhosum, ao contrário, ocorre
amplamente através das águas da planície da bacia amazônica, bem como os rios da Guiana, e no
rio Oiapoque. Ambas espécies são importantes como pescado, bem como para o mercado de
peixes ornamentais (Ferraris, 2003). O aruanã, apesar de atingir até 90 centímetros de
comprimento, não é uma espécie muito apreciada pelos pescadores.]
CLUPEIFORMES
Pristigasteridae
Pellona flavipinnis – Apapá-branco
Pellona castelneana – Apapá-amarelo, peixe-ouro
[Espécies de Pristigasteridae são sardinhas superficialmente semelhantes aos Clupeidae, as
sardinhas verdadeiras. Pristigasteridae inclui sardinhas marinhas costeiras, distribuídas em todos
os oceanos tropicais e nas águas doces da América do Sul e do Sudeste Asiático.
Pristigasterídeos podem ser distinguidos externamente das sardinhas verdadeiras, por sua
nadadeira anal longa, com pelo menos 30 raios. Além disso, em quase todos os Pristigasterídeos,
a pequena nadadeira pélvica é marcadamente deslocada anteriormente, de modo que a ponta da
nadadeira peitoral atinge ou ultrapassa a vertical que passa pela base da nadadeira pélvica (de
Pinna & Di Dário, 2003). As duas espécies mais comuns e apreciadas pela pesca comercial dessa
família são o apapá-branco (Pellona flavipinnis), mais comum e abundante e que foi registrado
na região de Tucuruí, e o apapá-amarelo (Pellona castelneana), menos frequente.]
CHARACIFORMES
Prochilodontidae
Semaprochilodus taeniurus – Jaraqui
[Os membros da família Prochilodontidae são de tamanho moderado a grande (até 74 cm de
comprimento total) e podem ser distinguidos de outros peixes pelos seus lábios carnosos
equipados com duas séries de numerosos dentes pequenos, falciformes ou espatulados,
frouxamente inseridos nos lábios. Os lábios, quando protraídos, formam um disco oral
arredondado e circundado por dentes, que os peixes utilizam para explorar detritos e perifíton em
superfícies subaquáticas. A prevalência desses recursos em águas doces permanentes e na
18
floresta periodicamente inundada (Goulding et al, 1988) é provavelmente responsável pela
abundância de Prochilodontidae na região Neotropical. Como consequência do hábito de se
alimentar de detritos e de suas grandes populações, os Prochilodontidae possuem um importante
papel no fluxo de energia nos sistemas aquáticos que habitam (Winemiller, 1996) sendo
funcionalmente dominantes e alguns ecossistemas aquáticos. Espécies de Prochilodontidae
fazem migrações massivas associadas com alimentação e reprodução, com alguns indivíduos
viajando pelo menos 1.500 km entre locais de marcação e recaptura. Prochilodontidae são
famosos pela sua habilidade de ultrapassar obstáculos encontrados durante a migração com
natação vigorosa e saltos dramáticos de vários metros (Castro & Vari, 2003).
Membros de Prochilodontidae são muito importantes na pesca comercial e de
subsistência em toda a área de ocorrência da família. No baixo rio Negro, mais de 90% da pesca
comercial consiste de duas espécies de Semaprochilodus (Goulding, 1988) e os Prochilodontidae
estão se tornando progressivamente mais importantes na pesca comercial na porção central da
bacia Amazônica (Ribeiro & Petrere, 1990).]
Anostomidae
Leporinus agassizi – Aracu-branco
Leporinus fasciatus – Aracu-flamengo
Schizodon fasciatus – Aracu-flamengo
[Os Anostomidae se distinguem de todos os demais Characiformes pela presença de uma única
série de três ou quatro dentes em cada premaxila ou dentário, dispostos em escada. A maxila é
pequena e excluída da borda da boca. Espécies desta família são amplamente distribuídos do sul
da América Central até as regiões sub-tropicais da América do Sul. Os Anostomidae são todos
fusiformes e incluem espécies que variam de 10 a 80 cm de comprimento. Muitas espécies são
conhecidas pelo seu hábito de se alimentar em posição inclinada e constituem uma porção
significativa da biomassa de peixes em diversos hábitas aquáticos. Graças a posição variável da
sua boca e longos intestinos, os Anostomidae são eficientes em utilizar esponjas, detritos, insetos
e itens vegetais como sementes, folhas e algas filamentosas. Algumas espécies de grande
tamanho dos gêneros Leporinus e Schizodon são conhecidos por fazer migrações reprodutivas na
bacia Amazônica. Por causa dessas migrações anuais, essas espécies são exploradas pela pesca
comercial e de subsistência como um importante item na América do Sul (Garavello & Britski
2003).]
Characidae
Brycon falcatus – Matrinxã [esp]
Myleus sp. – Pacu-branco
Myleus sp. – Pacu-listrado
Pygocentrus nattereri – Piranha-vermelha, piranha-caju [esp]
Serrasalmus rhombeus – Piranha-preta [esp]
[Por causa do tamanho extremamente grande da família Characidae e a sua natureza
extremamente heterogênea, as suas espécies são agrupadas em subfamílias. A subfamília
Serrasalminae tem corpo alto, comprimido lateralmente e com uma série de espinhos abdominais
na linha média e, exceto os gêneros Colossoma, Piaractu e Mylossoma, um espinho dirigido
anteriormente na frente da nadadeira dorsal. Algumas espécies possuem uma única fileira de
dentes em cada maxila – as piranhas. Esses dentes muito afiados e pontiagudos, tricúspides em
19
Pygocentrus, Pristobrycon e Serrasalmus, e pentacúspides em Pygopristys. Em Acnodon,
Colossoma, Piaractus, Metynnis, Myleus, Mylossoma e Utiaritichthys – os pacus e tambaquis, os
dentes são molariformes e fortemente implantados nas maxilas, e principalmente usados para
quebrar frutos e sementes. Em Mylesinus, Ossubtus and Tometes – pacus de cachoeiras, os
dentes são incisiviformes e tricúspides, fracamente implantados e principalmente utilizados para
cortar folhas. As maiores espécies desse grupo chegam a 70 ou 80 cm de comprimento, e
pertencem aos gêneros Colossoma e Piaractus, e juntamente com Mylossoma, são considerados
como peixes de alta qualidade da América do Sul. Estas espécies são as mais importantes da
subfamília na pesca comercial e na piscicultura (Jégu, 2003).
As espécies da subfamília Bryconinae são peixes de tamanho médio a grande, com
espécies entre 15 e 70 cm de comprimento. Os Bryconinae não podem ser diagnosticados por um
conjunto único de caracteres, mas a combinação de três fileiras de dentes na premaxila, a
presença de dentes maiores na fileira interna, e a presença de um dente sinfiseal atrás da fileira
principal de dentes são incomuns entre os demais Characidae. As espécies de Brycon são
importantes na pesca por toda a América do Sul e Central. Algumas espécies são importantes em
pescarias comerciais em muitas bacias hidrográficas e são também cultivados em vários países
da América do Sul. As espécies de Brycon são omnívoras, utilizando principalmente itens
alóctones como frutas, sementes e insetos. Estas espécies são conhecidas por fazer migrações
reprodutivas, algumas delas em grandes distâncias (Lima, 2003). Como outras espécies de
Brycon, a piabanha é um peixe altamente móvel e utiliza uma grande variedade de hábitats
incluindo o canal de grandes rios, floresta inundada, planícies de inundação e pequenos
tributários (Flávio Lima, Comunicação Pessoal).] A espécie não é abundante no médio rio
Negro, mas é apreciada pelos pescadores comerciais e esportivos.
Erythrinidae
Hoplias malabaricus – Traíra [esp]
[Os peixes da família Erythrinidae são caracterizados por possuir o corpo cilíndrico, nadadeira
caudal arredondada, nadadeira dorsal com 8 a 15 raios, nadadeira anal curta, com 10 ou 11 raios,
nadadeira adiposa ausente, e numerosos dentes no palato. As espécies de Hoplias são de
tamanho médio a grande, variando de 30 a 100 cm de comprimento. Eles são encontrados em
uma grande variedade de hábitats como lagos, lagoas, e pequenos e grandes rios, e são
relativamente importantes como alimento em muitas regiões da América do Sul (Oyakawa,
2003). São espécies residentes (não migradoras) que depositam seus ovos em ninhos de
vegetação em locais rasos e os cuidam até a eclosão.]
SILURIFORMES
Loricariidae
Pterygoplichthys gibbiceps – Acari-bodó
[Os Loricariidae, ou cascudos e acaris, como são popularmente conhecidos, constituem a maior
família de bagres na região Neotropical e, de fato, no mundo. Atualmente, mais de 800 espécies
são reconhecidas e várias novas espécies são descritas a cada ano. Loricariídeos são distribuídos
ao longo da região neotropical, desde a Costa Rica ao norte de Argentina. A grande maioria das
espécies é encontrada no lado oriental dos Andes, e habitam praticamente todos os tipos de
ambientes aquáticos do continente. Os loricariídeos são principalmente herbívoros, raspadores de
20
perifíton, com espécies de hábitos diurnos e outras de hábito noturno. Os loricariídeos são
ovíparos e, com raras exceções, colocam poucos ovos adesivos e apresentam cuidados parentais,
cuidando dos ovos e dos estágios iniciais da prole.] Loricariídeos apresentam diversos tipos de
interesses econômicos, uma vez que várias espécies são suficientemente grandes para serem
importantes para a alimentação, como o acarí-bodó do rio Negro, enquanto que outras são
importantes no comércio de peixes ornamentais, como as espécies de Otocinclus, Peckoltia,
entre outros do médio Negro.
Pimelodidae
Brachyplatystoma filamentosum – Piraíba, filhote [esp]
Brachyplatystoma rousseauxii – Dourada [esp]
Brachyplatystoma vaillantii – Piramutaba
Phractocephalus hemiolioterus – Pirarara [esp]
Pinirampus pirinampu – Piranambu, barbado, barba-chata
Pseudoplatystoma punctifer – Surubim [esp]
Zungaro zungaro – Jaú
[Ainda que os Pimelodidae não possuam uma única característica visível externamente, seus
membros podem ser identificados dentre outros Siluriformes Sul Americanos por uma
combinação de características: pele nua (poucas espécies possuem ossículos da linha lateral
levemente aumentados), canais laterosensoriais cutâneos ramificados, teto do crânio nunca
coberto por musculatura epaxial e sua pele usualmente fina, e ossos do teto do crânio
ornamentados com quilhas estriadas, pequenos tubérculos, ranhuras e nunca lisos. Os adultos de
muitos Pimelodidae situam-se na faixa de tamanho entre 20 e 80 cm de comprimento, mas
existem tamanhos extremos na família como por exemplo a piraíba, ou filhote
(Brachyplatystoma filamentosum), que atinge mais de 2 m de comprimento. A maioria dos
Pimelodidae são carnívoros ou omnívoros que consomem grandes números de pequenos peixes
ou invertebrados. Algumas espécies, como as do gênero Brachyplatystoma (piraíba, dourada,
piramutaba), são predadores de natação ativa, enquanto que outros como os Pseudoplatystoma
parecem ser mais sedentários, usando uma estratégia de ficar parados e esperar pelas presas.
Algumas espécies de Brachyplatystoma fazem longas migrações reprodutivas rio acima na bacia
Amazônica, as vezes de milhares de quilômetros. As larvas e juvenis dessas espécies flutuam rio
abaixo na estação de cheia até as áreas de planícies de inundação onde crescerão. Os
Pimelodidae habitam uma grande variedade de hábitats desde pequenos rios até grandes rios de
água branca, preta ou clara, como também lagos, onde eles estão entre os peixes mais
abundantes. Muitas espécies grandes de Pimelodidae, como Brachyplatystoma spp. e
Pseudoplatystoma spp., são recursos alimentarem muito importantes na maior parte da América
do Sul tropical, estando já sobreexplotadas em alguns lugares. Varias espécies de Sorubim e
Pimelodus são populares na indústria de peixes ornamentais enquanto outros como
Phractocephalus hemiolioterus e Brachyplatystoma tigrinus alcançam altos preços no mercado
de espécies ornamentais (Lundberg & Littmann 2003).]
Várias espécies desta família estão presentes na pesca da região do médio rio Negro, com
destaque para a piraíba e a pirarara, entre os grande bagres.
Auchenipteridae
Trachycorystes trachycorystes – Anujá
21
[Membros desta família podem ser facilmente reconhecidos por possuir a região pré-dorsal do
corpo coberta por placas ósseas suturadas entre si e visíveis através de uma fina pele, barbilhão
nasal ausente, nadadeira adiposa pequena, mas raramente ausente, olho coberto por tecido
adiposo e sem uma margem orbital distinta. Os Auchenipteridae são únicos entre os bagres em
ao menos um aspecto da sua biologia reprodutiva – todas as espécies apresentam fertilização
interna e as fêmeas não necessariamente expelem os seus ovos imediatamente após a fertilização.
Em vez disso, carregam óvulos maduros, porém não fecundados, e pacotes de esperma dentro do
seu trato reprodutivo, por certo período de tempo, antes de iniciar a fecundação e liberação dos
ovos. Este comportamento presumivelmente permite que a fêmea tenha tempo de procurar um
local adequado para desovar após a fertilização. Os Auchenipteridae são tipicamente noturnos,
apesar de que espécies de Auchenipterus, Ageneiosus e alguns Centromochlus parecem
alimentar-se ativamente durante o dia. A maioria das espécies que tiveram seus hábitos
alimentares estudados se alimenta de insetos, especialmente aqueles que caem na superfície da
água. Algumas espécies da família, como por exemplo as do gênero Auchenipterus são
planctívoros, enquanto que espécies de Ageneiosus são primariamente piscívoros. Os maiores
Auchenipteridae são do gênero Ageneiosus, cujas maiores espécies chegam a cerca de meio
metro de comprimento. Umas poucas espécies desta família são exportadas como peixes
ornamentais (Ferraris, 2003).] Apesar de ser muito apreciado para o consumo, nenhuma espécie
mandubé (Ageneiosus) foi registrado no médio rio Negro. O anujá, por outro lado, é
relativamente comum e, apesar do tamanho médio a pequeno, é muito apreciado pelos moradores
de Barcelos.
PERCIFORMES
Sciaenidae
Plagioscion squamosissimus – Pescada [esp]
[A família Sciaenidae inclui cerca de 78 gêneros e 300 espécies que habitam primariamente o
ambiente marinho. Seis gêneros, entretanto, são restrito a ambientes de água doce, podendo
também ocorrer em estuários. Entre estes, o gênero Plagioscion é endêmico dos rios da América
do Sul e suas espécies são conhecidas localmente como corvinas ou pescadas. As espécies de
Plagioscion são piscívoras e são encontradas principalmente em grandes rios, onde suportam
importantes pescarias comerciais e esportivas (Casatti, 2003).]
Cichlidae
Astronotus ocelatus – Acará-pirarucu, acará-açu
Cichla orinocensis – Tucunaré-açu [esp]
Cichla nigromaculata – Tucunaré-tauá [esp]
Cichla temensis – Tucunaré-paca [esp]
Uaru amphiacanthoides – Acará-baré
[Os Cichlidae representam a maior família de peixes de água doce não-Ostariophysii em
ambientes de água doce de todo o mundo e uma das maiores famílias de vertebrados com pelo
menos 1.300 espécies e estimativas se aproximando de 2.000 espécies. Na América do Sul
existem cerca de 480 espécies. Os Cichlidae são reconhecidos por vários caracteres
evolutivamente derivados, especialmente da sua anatomia óssea, mas podem ser facilmente
reconhecidos por possuir a linha lateral dividida em dois segmentos. A maioria das espécies
22
dessa família varia entre 5 e 20 cm de comprimento, mas alguns tucunarés podem alcançar até 1
m de comprimento. A maioria dos Cichlidae neotropicais ocupa hábitats lênticos em rios e
riachos, e se alimenta de uma variedade de invertebrados e matérias vegetais. Espécies de alguns
gêneros como Cichla, Crenicichla, Petenia e Astronotus, entre outros, se alimentam de peixes e
grandes invertebrados. A maioria dos Cichlidae neotropicais são moderadamente a fortemente
dimórficos sexualmente, e se reproduzem em pares. Ovos são tipicamente depositados no
substrato e ambos os pais guardam os juvenis por várias semanas. Por causa da diversidade de
comportamento e coloração usualmente atrativa, os Cichlidae são comumente exportados como
peixes ornamentais. A pesca esportiva é concentrada nos tucunarés, para os quais existe um forte
mercado incluindo safáris e concursos de pesca, predominantemente no norte do Brasil. Todas as
espécies de grande porte são utilizadas como alimento, com uma tradicional pesca artesanal e de
subsistência. Praticamente todos os mercados na Amazônia brasileira corriqueiramente oferecem
espécies de Cichla, Astronotus e outras espécies maiores de 10-15 cm que sejam disponíveis.
Espécies de Astronotus e, ainda de forma incipiente, Cichla, são utilizadas para aquacultura no
Brasil (Kullander, 2003).] Das três espécies de tucunarés ocorrentes no médio rio Negro, o
tucunaré-açu e o tucunaré-tauá são bastante abundantes, e o tucunaré-paca é medianamente
abundante. Essas três espécies estão sujeita a uma grande pressão de pesca, comercial ao longo
do ano e, especialmente, esportiva, entre os meses de agosto e fevereiro.
23
Figura 9. Espécies de peixe que representam os principais alvos da pesca comercial ou esportiva na região do médio
rio Negro. A) Anuanã; B) Jaraqui; C) Aracu-flamengo (Schizodon); D) Aracu-branco; E) Aracu-flamengo
(Leporinus); F) Matrinxã; G) Pacu-branco; H) Piranha-preta; I) Pacu-listrado; J) Traíra; K) Surubim; L) Piranambu;
M) Anujá. Fotos: Roberto Reis.
24
Figura 10. Espécies de peixe que representam os principais alvos da pesca comercial ou esportiva na região do
médio rio Negro. N) Pescada; O) Acará-açu; P) Tucunaré-tauá; Q) Tucunaré-açu; R) Tucunaré-paca; S) Tucunarépaca; T) Acará-baré; U) Jaboti em casa de pescador; V) Caixa de pescado puxada por motocicleta em Barcelos.
Fotos: Roberto Reis.
25
Figura 11. Reprodução de folheto das espécies de peixe ornamentais capturados no rio Negro, de acordo com o
Projeto Piaba. Veja lista das espécies com nomes corrigidos e em classificação no Apêndice II.
26
Figura 12. Reprodução de folheto das espécies de peixe ornamentais capturados no rio Negro, continuação.
27
IV. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Abell, R., R. E. Reis, P. Petry & 25 autores. 2008. Freshwater ecoregions of the world: A new
map of biogeographic units for freshwater biodiversity conservation. Bioscience, 58: 403414.
Casatti, L. 2003. Family Sciaenidae. Pp. 602-606 In.: Reis, R. E, S. O. Kullander & C. J. Ferraris
(eds). Check List of the Freshwater Fishes of South and Central America. Edipucrs, Porto
Alegre. 730p.
Castro, R. M. C. & R. P. Vari. 2003. Family Prochilodontidae. Pp. 66-71. In.: Reis, R. E, S. O.
Kullander & C. J. Ferraris (eds). Check List of the Freshwater Fishes of South and Central
America. Edipucrs, Porto Alegre. 730p.
Ferraris, C. J. 2003. Family Auchenipteridae. Pp. 473-486 In.: Reis, R. E, S. O. Kullander & C.
J. Ferraris (eds). Check List of the Freshwater Fishes of South and Central America.
Edipucrs, Porto Alegre. 730p.
Garavello, J. C. & H. A. Britski. 2003. Family Anostomidae. Pp. 72-85 In.: Reis, R. E, S. O.
Kullander & C. J. Ferraris (eds). Check List of the Freshwater Fishes of South and Central
America. Edipucrs, Porto Alegre. 730p.
Goulding, M., M. L. Carvalho & E.J. G. Ferreira. 1988. Rio Negro: Rich life in poor waters. SPB
Academic Publishing, The Hague.
Jégu, M. 2003. Subfamily Serrasalminae. Pp. 185-199. In.: Reis, R. E, S. O. Kullander & C. J.
Ferraris (eds). Check List of the Freshwater Fishes of South and Central America. Edipucrs,
Porto Alegre. 730p.
Kullander, S. O. 2003. Family Cichlidae. Pp. 609-659. In.: Reis, R. E, S. O. Kullander & C. J.
Ferraris (eds). Check List of the Freshwater Fishes of South and Central America. Edipucrs,
Porto Alegre. 730p.
Lima, F. C. T. 2003. Subfamily Bryconinae. Pp. 177-184. In.: Reis, R. E, S. O. Kullander & C. J.
Ferraris (eds). Check List of the Freshwater Fishes of South and Central America. Edipucrs,
Porto Alegre. 730p.
Lundberg, J. G. & M. W. Littmann. 2003. Family Pimelodidae. In.: Reis, R. E, S. O. Kullander
& C. J. Ferraris (eds). Check List of the Freshwater Fishes of South and Central America.
Edipucrs, Porto Alegre. 730p.
Merengo, J. A., J. Tomasella & C. A. Nobre. 2010. Mudanças climáticas e recursos hídricos. Pp.
199-215. In. Bicudo, C. E. M., J. G. Tundisi & M. C. B. Scheuensthl (eds). Águas do Brasil –
Análises estratégicas. Instituto de Botânica, São Paulo. 224p.
Oyakawa, O. T. 2003. Family Erythrinidae. Pp. 241-244. In.: Reis, R. E, S. O. Kullander & C. J.
Ferraris (eds). Check List of the Freshwater Fishes of South and Central America. Edipucrs,
Porto Alegre. 730p.
Petry, P. & J. Hales. 2013. Freshwater Ecoregions of the world; Ecoregion 314: rio Negro.
Webpage http://www.feow.org/ecoregions/details/314. Acessada em 21/08/2013.
de Pinna & Di Dário. 2003. Family Pistigasteridae. Pp. 45-47. In.: Reis, R. E, S. O. Kullander &
C. J. Ferraris (eds). Check List of the Freshwater Fishes of South and Central America.
Edipucrs, Porto Alegre. 730p.
Reis, R. E, S. O. Kullander & C. J. Ferraris (eds). 2003. Check List of the Freshwater Fishes of
South and Central America. Edipucrs, Porto Alegre. 730p.
28
Ribeiro, M. C. L. B. & M. Petrere, Jr. 1990. Fisheries ecology and management of the Jaraqui
(Semaprochilodus taeniurus, S. insignis) in central Amazonia. Regulated Rivers: Research
Management, 5: 195-215.
Winemiller, K. O. 1996. Factors driving spatial and temporal variation in aquatic floodplain food
webs. Pp. 298-312. In.: Polis, F. A. and K. O. Winemiller (eds). Food webs: Integration of
patterns and dynamics. Chapman and Hall, New York.
29
APÊNDICE I. Lista das espécies de importância na pesca comercial, identificadas nos pontos de
venda de pescado em Barcelos. Peixes com importância na pesca esportiva são marcados
com [esp]. Os peixes estão classificados de acordo com Reis et al. (2003).
Actinopterygii
OSTEOGLOSSIFORMES
Osteoglossidae
Osteoglossus bicirrhosum – Aruanã
Osteoglossus ferreirai – Aruanã-preto
CLUPEIFORMES
Pristigasteridae
Pellona flavipinnis – Apapá-branco
Pellona castelneana – Apapá-amarelo, peixe-ouro
CHARACIFORMES
Prochilodontidae
Semaprochilodus taeniurus – Jaraqui
Anostomidae
Leporinus agassizi – Aracu-branco
Leporinus fasciatus – Aracu-flamengo
Schizodon fasciatus – Aracu-flamengo
Characidae
Brycon falcatus – Matrinxã [esp]
Myleus sp. – Pacu-branco
Myleus sp. – Pacu-listrado
Pygocentrus nattereri – Piranha-vermelha, piranha-caju [esp]
Serrasalmus rhombeus – Piranha-preta [esp]
Erythrinidae
Hoplias malabaricus – Traíra [esp]
SILURIFORMES
Loricariidae
Pterygoplichthys gibbiceps – Acari-bodó
Pimelodidae
Brachyplatystoma filamentosum – Piraíba, filhote [esp]
Brachyplatystoma rousseauxii – Dourada [esp]
Brachyplatystoma vaillantii – Piramutaba
Phractocephalus hemiolioterus – Pirarara [esp]
Pinirampus pirinampu – Piranambu, barbado, barba-chata
Pseudoplatystoma punctifer – Surubim [esp]
Zungaro zungaro – Jaú
Auchenipteridae
Trachycorystes trachycorystes – Anujá
PERCIFORMES
30
Sciaenidae
Plagioscion squamosissimus – Pescada [esp]
Cichlidae
Astronotus ocelatus – Acará-pirarucu, acará-açu
Cichla orinocensis – Tucunaré-açu [esp]
Cichla nigromaculata – Tucunaré-tauá [esp]
Cichla temensis – Tucunaré-paca [esp]
Uaru amphiacanthoides – Acará-baré
31
APÊNDICE II. Lista das espécies de importância na pesca de peixes ornamentais do rio Negro,
de acordo com o Projeto Piaba. Os peixes estão classificados de acordo com Reis et al.
(2003).
Chondrichthyes
MYLIOBATIFORMES
Potamotrygonidae
Paratrygon aireba – Arraia
Potamotrygon schroederi – Arraia
Potamotrygon motoro – Arraia
Actinopterygii
OSTEOGLOSSIFORMES
Osteoglossidae
Osteoglossus bicirrhosum – Aruanã
Osteoglossus ferreirai – Aruanã-preto
CHARACIFORMES
Anostomidae
Pseudanos trimaculatus – Anóstomos
Leporinus fasciatus – Aracuzinho
Chilodontidae
Chilodus gracilis – Xilodo
Crenuchidae
Crenuchus spilurus – Cabocão
Characidium sp. – Canivete
Hemiodontidae
Hemiodus gracilis – Cruzeiro
Gasteropelecidae
Carnegiella marthae – Borboleta branca
Carnegialle strigata – Borboleta rajada
Characidae
Bryconops caudomaculatus – Bricon
Bryconops sp. – Bricon negro
Brittanichthys axelrodi – Britanictis
Catoprion mento – Catalina
Chalceus macrolepidotus – Ararí
Exodon paradoxus – Miguelzinho
Hemigrammus bleheri – Rodóstomo
Hemigrammus vorderwinkleri – Piaba olho vermelho
Hemigrammus sp. – Piaba dourada
Hemigrammus sp. – Piaba linha dourada
Hemigrammus sp. – Piaba brava
Hemigrammus sp. – Rabo de fogo
Hemigrammus sp. – Meio rabo de fogo
Hyphessobrycon bentosi – Rosáceus pingo amarelo
32
Hyphessobrycon copelandi – Rosáceus brava
Hyphessobrycon erythrostigma – Rosáceus pingo de sangue
Hyphessobrycon socolofi – Rosáceus
Metynnis sp. – Pacu
Moenkhausia cotinho – Piaba brava
Moenkhausia sp. – Piaba vermelha
Paracheirodon axelrodi – Cardinal
Paracheirodon simulans – Neon, neon verde
Poecilocharax weitzmani – Tetra ouro
Pristobrycon sp. – Piranha xidawa
Serrasalmus rhombeus – Piranha-preta
Tucanoichthys tucano – Tucano
Erythrinidae
Hoplerythrinus unitaeniatus – Jeju
Lebiasinidae
Copeina guttata – Copeina
Copella nattereri – Copela
Nannostomus unifasciatus – Lápis
Nannostomus bifasciatus – Lápis
Nannostomus trifasciatus – Lápis
Nannostomus marginatus – Lápis
Nannostomus eques – Lápis
Pyrrhulina semifasciata – Pirrulina
SILURIFORMES
Cetopsidae
Cetopsis sp. – Candirú açu
Helogenes marmoratus – Orelinha
Aspredinidae
Bunocephalus sp. – Bodó banjo
Trichomycteridae
Vandellia cirrhosa – Candiru
Callichthyidae
Corydoras adolphi – Coridora adolfi
Corydoras burguessi – Coridora burgesa
Corydoras davidsansi – Corudora david
Corydoras melini – Coridora melini
Corydoras nijsseni – Coridora nijsseni
Corydoras parallelus – Coridora paralelos
Corydoras robineae – Coridora robine
Corydoras schwartzi – Coridora schwartz
Corydoras sp. – Coridora ascher
Loricariidae
Ancistrus sp. – Bodó luminol
Farlowella sp. – Farlowela
Hypostomus sp. – Bodó
Otocinclus sp. – Limpa vidro
33
Peckoltia vittata – Bodó zebra amarelo
Peckoltia sp. – Bodó mapa
Pseudoacanthicus sp. – Bodó espinho
Pseudoacanthicus sp. – Bodó jauari
Pterygoplichthys gibbiceps – Bodó onça
Rineloricaria sp. – Bodó cachimbo
Sturisoma rostratum – Bodó cachimbo
Pimelodidae
Pimelodus blochii – Mandi dourado
Doradidae
Amblydoras sp. – Reco reco
Acanthodoras spinosissimus – Vaca leiteira
Auchenipteridae
Centromochlus existimatus – Mandi peruano
Liosomadoras oncinus – Anujá onça
Tatia intermedia – Tatia
GYMNOTIFORMES
Rhamphychthyidae
Eigenmannia virescens – Sarapó transparente
Apteronotidae
Apteronotus albifrons – Ituí cavalo
CYPRINODONTIFORMES
Poeciliidae
Fluviphylax zonatus – Olho-de-vidro
PERCIFORMES
Polycentridae
Monocirrhus polyacanthus – Peixe folha
Cichlidae
Acarichthys heckelii – Acará branco
Aequidens tetramerus – Aequidens
Apistogramma agassizii – Apistograma agassiz
Apistogramma diplotaenia – Apistograma diplotaini
Apistogramma elizabethae – Apistograma Elizabete
Apistogramma gephyra – Apistograma gefira
Apistogramma gibbiceps – Apistograma gibicep
Apistogramma hypolitae – Apistograma hipolita
Apistogramma mendezi – Apistograma mendez
Apistogramma paucisquammis – Apistograma paucisquamis
Apistogramma pertence – Apistograma pertence
Astronotus ocelatus – Acará-pirarucu, Acará-açu
Biotodoma cupido – Acarazinho
Crenicichla notophthalmus – Jacundá
Discrossus filamentosus – Xadrez
Dicrossus sp. – Xadrez gigante
34
Geophagus sp. – Geophagos
Heros severus – Acará peneira
Hypselecara coryphaenoides – Acará papagaio
Ivanacara adoketa – Nanacara
Laetacaar sp. – Letacara
Mesonauta insignis – Acará bauari
Pterophyllum altum – Acará bandeira
Symphysodon discus – Acará disco
Satanoperca lilith – Papaterra
Uaru amphiacanthoides – Acará-baré, bararuá
PLEURONECTIFORMES
Achiridae
Hypoclinemus mentalis – Soia
TETRAODONTIFORMES
Tetraodontidae
Colomesus asellus – Baiacu
35

Documentos relacionados