CIDADANIA NA VELHICE
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CIDADANIA NA VELHICE
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ RUTH DOS MARTINS COELHO CIDADANIA NA VELHICE: estudo sobre as mulheres do grupo de convivência do CIAPREVI-CE FORTALEZA-CEARÁ 2009 1 RUTH DOS MARTINS COELHO CIDADANIA NA VELHICE: estudo sobre as mulheres do grupo de convivência do CIAPREVI-CE Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado Profissional em Planejamento e Políticas Públicas, do Centro de Estudos Sociais Aplicados da Universidade Estadual do Ceará, como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Planejamento e Políticas Públicas. Orientadora: Profª Drª Maria do Socorro Ferreira Osterne. FORTALEZA-CEARÁ 2009 2 C672c Coelho, Ruth Dos Martins. Cidadania na velhice: estudo sobre as mulheres do grupo de convivência do CIAPREVI-CE - Fortaleza, 2009. 243p; il. Orientadora: Profa. Dra. Maria do Socorro Ferreira Osterne. Dissertação (Mestrado Profissional em Planejamento e Políticas Públicas) – Universidade Estadual do Ceará, Centro de Estudos Sociais Aplicados. 1. Cidadania. 2. Qualidade de Vida. 3.Velhice. 4. Mulheres. 5. CIAPREVI-CE. Universidade Estadual do Ceará, Centro de Estudos Sociais Aplicados. CDD: 301.435 3 RUTH DOS MARTINS COELHO CIDADANIA NA VELHICE: estudo sobre as mulheres do grupo de convivência do CIAPREVI-CE Dissertação submetida ao Curso de Mestrado Profissional em Planejamento e Políticas Públicas, do Centro de Estudos Sociais Aplicados da Universidade Estadual do Ceará, como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre. Aprovada em: ___/___/2009 BANCA EXAMINADORA _________________________________________ Profª. Drª. Maria do Socorro Ferreira Osterne - UECE (Orientadora) _________________________________________ Profª. Drª.Derlange Belizário Diniz - UECE (1ª Examinadora) __________________________________________ Profª. Drª. Maria Marlene Marques Ávila - UECE (2ª Examinadora) 4 DEDICATÓRIA À memória de meu pai, Mário Dos Martins Coelho, autodidata e advogado trabalhista que, em sua época, colocou-se abnegadamente a serviço da classe operária, lutando e defendendo os direitos dos não cidadãos e dos excluídos da cidadania; À memória de minha mãe, Maria Walyria de Alcântara Pinto Coelho que, com simplicidade e espírito tenaz, me ensinou a desenvolver o gosto pela pesquisa; À memória de minhas irmãs, Vânia Dos Martins Coelho, incentivadora a professora que eu e primeira realizasse esse empreendimento na esfera acadêmica, e Martha Dos Martins Coelho Guilherme, educadora e intelectual, que testemunharam, com suas próprias vidas, que devemos lutar por nossos ideais. 5 AGRADECIMENTOS A Deus Pai, Filho e Espírito Santo, que abriu para mim as portas do Mestrado e me permitiu concluí-lo, por meio deste estudo. A uma Maria, em especial, mãe de Jesus, cuja dignificante história se consubstancia na história do cristianismo e cuja força testemunha a força da mulher do povo e das cidadãs anônimas, aqui homenageada sob o título de Mãe do Perpétuo Socorro, pelo auxílio prestado nas horas de aflição e angústia, durante a construção desta dissertação. À minha família, sobretudo meus irmãos e irmãs, sobrinhos e sobrinhas, pela compreensão e apoio, quando me faltou apoio. À Profª Dra. Maria do Socorro Osterne, por ter acolhido o projeto deste estudo e cujos conhecimentos e orientação me ajudaram a realizá-lo. Às Profas. Dras. Maria Zilma Cavalcante e Celina Amália Lima, pelas críticas e sugestões apresentadas, por ocasião da qualificação do projeto deste estudo. Às Profas. Dras. Derlange Belizário Diniz e Maria Marlene Marques Avila, pelas valiosas contribuições apresentadas a este estudo, por ocasião da apresentação da dissertação. Aos meus colegas de trabalho, especialmente, Ana Maria Dourado Moreira, Maria de Fátima Medeiros e Manoel Jean, pelo incentivo e sugestões, nos momentos de desânimo. A Evaldo Cavalcante Monteiro, colega e ex-orientador, no Curso de Especialização em Gerontologia, pela indicação de uma metodologia inestimável a este estudo. Ao Adriano, que colocou os seus conhecimentos em Estatística à disposição deste fazer acadêmico. À Flávia Farias, psicopedagoga e amiga providencial, que contribuiu com sua experiência acadêmica e sugestões pertinentes, tão valiosas a este estudo. Aos funcionários e colegas de trabalho, lotados no Centro Integrado de Atenção e Prevenção à Violência contra a Pessoa Idosa – CIAPREVI-CE, pela acolhida dispensada à minha pessoa, durante a realização da pesquisa de campo. Às idosas entrevistadas, que se dispuseram a relatar as suas experiências cotidianas, e cujas identidades apresento, neste estudo, sob nomes fictícios, expresso a minha gratidão e respeito. A todas as pessoas que, de alguma forma, contribuíram para a realização deste trabalho, agradeço penhoradamente. 6 “Agora, ao final de nossas andanças, nossos olhos são outros, olhos da velhice, de saudade. „Toda saudade é uma espécie de velhice‟, disse o Riobaldo. É por isso que os olhos dos velhos vão se enchendo de ausências. „Memória fraca‟, dizem os jovens. Engano: é que a sua alma sabe o que merece ser lembrado. Esquecem-se do que aconteceu ontem, mas se lembram do que aconteceu há muito tempo, como se fosse hoje”. (Rubem Alves) “Nós podemos sempre muito mais do que imaginamos”. (Madre Agathe Verbulle) 7 RESUMO Cidadania é uma palavra bastante pronunciada nos dias atuais. Neste estudo, o objetivo foi compreender a cidadania vivenciada por mulheres idosas, das camadas populares, engajadas no grupo de convivência do Centro Integrado de Atenção e Prevenção à Violência contra a Pessoa Idosa (CIAPREVI-CE), em Fortaleza-Ceará. Buscou-se conhecer as estratégias desenvolvidas pelos sujeitos para vivenciar a cidadania, a partir dos princípios de um novo paradigma, conforme um conjunto de autores modernos, entre os quais, Osterne (2008); Dagnino (1994) e Sousa (2003). O estudo envolveu as pesquisas qualitativa e quantitativa, conforme Minayo e Sanches (1993), e abrangeu a análise de conteúdo, conforme Triviños (2006) e Bardin (1997). Os instrumentos de campo aplicados foram idealizados especialmente para atender aos objetivos desta pesquisa, a partir dos embasamentos teóricos de um conjunto de autores da gerontologia (PASCHOAL, 2000; NERI, 2001; FERREIRA e SEIDL, 2009). Os resultados colhidos de campo confirmaram a base hipotética formulada, demonstrando que a luta de cidadania dos sujeitos se efetivava por meio de estratégias de inclusão, visibilidade social, enfrentamento e superação das condições adversas da vida, através do engajamento em atividades gratificantes, ligadas principalmente à música, à dança e à espiritualidade. Algumas situações de conflito vividas pelos sujeitos também foram ressaltadas da pesquisa, entre as quais a questão da violência e as dificuldades de convivência intergeracional, no ambiente do lar, além de outras, de natureza estrutural, relacionadas à instância promotora do grupo. Essas descobertas demonstraram a necessidade de o CIAPREVI-CE trabalhar a construção da cidadania dos sujeitos, através da via artística, explorando as áreas de sua preferência, entre as quais a espiritualidade. Palavras-chave: Cidadania. Qualidade de Vida. Velhice. Mulheres. CIAPREVI-CE. 8 ABSTRACT Citizenship is a word very much spoken nowdays. In this study, the goal was to understand the strategy of access to citizenship used by older women, engaged in social group of elderly Center Integrated of Care and Prevention of Violence Against the Elderly (CIAPREVI-CE), Fortaleza, Ceará. This perspective research considered the principles of the new paradigm of citizenship, whole of modern authors, including Osterne (2008); Dagnino (1994) and Sousa (2003).. The study involved the qualitative and quantitative research and covered the method of content analysis, as Triviños (2006) and Bardin (1997). The field instruments used are new and were developed especially to meet the objectives of this research, from the theoretical framework of a methodology developed by a medical professional (PASCHOAL, 2000; NERI, 2001; FERREIRA e SEIDL, 2009).The results collected from the field confirmed the hypothetical basis formulated, noting that the struggle for citizenship of the individuals seeking the inclusion, visibility, social, coping and overcoming the adverse conditions of life, by engaging in rewarding activities, related to music, dance and spirituality. Some situations of conflict experienced by the subjects were also highlighted research, including the issue of violence and the difficulties of living generations in the home environment, and other structural in nature, related to the instance of the promoter group. These findings demonstrated the need for the CIAPREVI-CE work the construction of citizenship of the subjects, via the arts, exploring areas of your choice, including spirituality. Keywords: Citizenship. Citizenship. Quality of Life. Old age. Women. CIAPREVI-CE 9 LISTA DE QUADROS E FIGURAS Quadro 1 Avaliação dos indicadores de integração e satisfação manifestados pelos sujeitos, nos contextos privado (casa) e comunitário (extragrupo do CIAPREVI-CE), investigados paralelamente à aplicação dos instrumentos (1 e 2) da pesquisa. ....... 79 Quadro 2 Demonstrativo da confirmação da subsecção “a” da primeira hipótese formulada . 95 Quadro 3 Demonstrativo da confirmação da subsecção “b” da primeira hipótese formulada. 97 Quadro 4 Demonstrativo da confirmação da subsecção “c” da primeira hipótese formulada . 98 Quadro 5 Demonstrativo da confirmação da segunda hipótese formulada ............................ 100 Quadro 6 Demonstrativo da confirmação da terceira hipótese formulada (Área artística: musical). ................................................................................................................. 101 Quadro 7 Demonstrativo da confirmação da terceira hipótese formulada (Área artística: dança) ..................................................................................................................... 102 Quadro 8 Item 1.1: Importância atribuída pelos sujeitos às atividades que realizam em contexto privado (casa) .......................................................................................... 103 Quadro 9 Item 1.2: Importância atribuída pelos sujeitos às trocas de experiência com outras pessoas, no contexto privado (indicador de integração). ....................................... 105 Quadro 10 Demonstrativo da confirmação da terceira hipótese formulada (Área artística: dança) ..................................................................................................................... 106 Quadro 11 Item 2.2: Importância atribuída pelos sujeitos às conversas informais com amigos, incluindo a discussão de assuntos de interesse coletivo ......................................... 108 Quadro 12 Validação dos interesses de cidadania pelos sujeitos, à luz do Instrumento 2 ..... 121 Quadro 13 Descritivo das situações de conflitos vivenciadas pelos sujeitos ......................... 123 Quadro 14 Espiritualidade e religiosidade: estratégias utilizadas pelos sujeitos salientadas do estudo ..................................................................................................................... 126 Figura 1 Renda mensal familiar .............................................................................................. .88 10 LISTA DE TABELAS Tabela 1 Perfil geral dos sujeitos .............................................................................................. 85 Tabela 2 Associação entre faixa etária e escolaridade das idosas ........................................... 86 Tabela 3 Bairro onde residem ................................................................................................... 86 Tabela 4 Composição familiar ................................................................................................. 87 Tabela 5 Características gerais da moradia. ............................................................................. 87 Tabela 6 Atividades rentáveis ................................................................................................... 88 Tabela 7 Atividades que gosta de fazer. ................................................................................... 89 Tabela 8 Condições de saúde/Problemas vivenciados ............................................................. 89 Tabela 9 Condições de saúde. ................................................................................................... 90 Tabela 10 Qual plano de saúde dispõe ...................................................................................... 91 Tabela 11 Participação em outros grupos de convivência ......................................................... 91 Tabela 12 Quais grupos de convivência .................................................................................... 92 Tabela 13 Relação familiar ....................................................................................................... 92 Tabela 14 Importância atribuída ao grupo de convivência ........................................................ 93 11 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABI - Associação Beneficente dos Idosos BNB - Banco do Nordeste do Brasil BES - Bem-Estar Subjetivo CLAVES - Centro Lantino-Americano de Estudos da Violência e Saúde CEDI-CE - Conselho Estadual dos Direitos do Idoso CIAPREVI-CE - Centro Integrado de Atenção e Prevenção à Violência contra a Pessoa Idosa do Ceará IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística INAN - Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição LBA - Legião Brasileira de Assistência LOAS - Lei Orgânica da Assistência Social ONGs - Organizações não-governamentais ONU - Organização das Nações Unidas PNI - Política Nacional do Idoso SEDH - Secretaria Especial dos Direitos Humanos STDS - Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social do Estado do Ceará SUAS - Sistema Único da Assistência Social SUS - Sistema Único de Saúde 12 SUMÁRIO LISTA DE QUADROS E FIGURAS ............................................................................. 09 LISTA DE TABELAS ..................................................................................................... 10 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS .................................................................... 11 1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 14 2 CIDADANIA NO CONTEXTO SOCIOPOLÍTICO BRASILEIRO ........................ 22 2.1 Uma nova cidadania para velhos sujeitos ......................................................................... 22 2.2 A gênese dos programas sociais voltados para a construção da cidadania dos idosos em grupos de convivência, na capital cearense ....................................................................... 33 3 POR QUE A VELHICE É UMA CONDIÇÃO TÃO DIFÍCIL PARA AS MULHERES? .................................................................................................................. 43 Compreendendo as relações entre as categorias analíticas “cidadania”, “gênero” e “qualidade de vida” na velhice, integradas ao estudo ...................................................... 43 3.2 A gênese das dificuldades enfrentadas pelas cearenses empobrecidas no âmbito da cidadania ........................................................................................................................... 56 3.2.1 As estratégias utilizadas pelas não cidadãs, em diversos períodos sócio-históricos ......... 56 3.1 4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS.................................................................. 68 4.1 Perfil geral das idosas engajadas no grupo de convivência do CIAPREVI-CE ............... 68 4.2 Critérios de Seleção dos Sujeitos ...................................................................................... 69 4.3 Métodos de pesquisa .......................................................................................................... 71 4.3.1 Definições de ordem metodológica: a construção do instrumental da pesquisa ............... 71 4.3.2 Análise dos dados de campo ............................................................................................. 79 5 RESULTADOS ................................................................................................................ 85 5.1 Os dados colhidos na etapa da etapa de pré-análise .......................................................... 85 5.2 Verificação das hipóteses formuladas para a pesquisa ...................................................... 94 5.3 Verificação dos quesitos da entrevista realizada, concomitantemente ao Instrumento 1 aplicado ........................................................................................................................... 102 5.3.1 Em relação ao contexto privado: (Item 1.1: Por que faz essas atividades?) ................... 102 5.3.2 Em relação ao contexto privado: (Item 1.2: Troca experiências com outras pessoas enquanto realiza essas atividades? Com quem?) ............................................................. 104 5.3.3 Em relação ao contexto comunitário extragrupo de Convivência do CIAPREVI-CE: (Item 2.1: Que tempo dispensa ao lazer cultural e social (assistir a noticiários, ler revistas, ouvir música, ir ao cinema, teatro e forrós)? ..................................................... 106 5.3.4 Em relação ao contexto comunitário extragrupo de convivência do CIAPREVI-CE: (Item 2.2: Que tempo reserva para se encontrar com os amigos e para conversar sobre assuntos de interesse coletivo? da rua onde mora, do bairro, da cidade etc.) ................. 108 5.3.5 Apreciação das estratégias de acesso à cidadania desenvolvidas pelos sujeitos, com base no “Instrumento 1” aplicado............................................................................................ 110 5.3.6 Validação das estratégias de acesso à cidadania pelos sujeitos, com base no “Instrumento 2” aplicado................................................................................................. 121 5.4 Unidades temáticas emergentes da pesquisa .................................................................. 123 5.5 Discussão ........................................................................................................................ 128 13 6 CIDADANIA OUTORGADA VERSUS CIDADANIA CONQUISTADA ............. 141 6.1 Ilustrando os paradigmas de cidadania deste estudo com a história de dois sujeitos especiais .......................................................................................................................... 141 6.2 A História de D. Mírian ................................................................................................... 142 6.3 A história de D. Mírian no contexto da história de Fortaleza na Década de 1930: Carnaval e Fome ............................................................................................................. 149 6.4 A História de Salviana ..................................................................................................... 153 6.5 A História de Salviana versus A necessidade da adoção de política gerontológica humanizadora, no CIAPREVI-CE .................................................................................. 158 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 165 REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 169 ANEXO A - FICHA DE CADASTRO ........................................................................ 176 ANEXO B - AUTORIZAÇÃO PARA REALIZAÇÃO DA PESQUISA ................. 176 ANEXO C - MATÉRIA JORNALÍSTICA ................................................................. 176 APÊNDICE A – FOTOS DOS IDOSOS ..................................................................... 180 APÊNDICE B - QUADROS SINTÉTICOS DAS ESTRATÉGIAS DE CIDADANIA ADOTADAS PELOS SUJEITOS ........................................................ 185 APÊNDICE C - QUADRO PERFIL GERAL DAS IDOSAS DO CIAPREVI-CE . 200 APÊNDICE D - QUADRO PERFIL GERAL DAS 15 IDOSAS CONSTANTES DA PESQUISA. .................................................................................................................... 203 APÊNDICE E – INSTRUMENTOS DE COLETA E ANÁLISE DOS DADOS ..... 205 APÊNDICE F – SINTESE DOS INSTRUMENTOS (1 E 2) DE ANÁLISE DOS SUJEITOS ...................................................................................................................... 207 14 1 INTRODUÇÃO Posso dizer que o meu interesse pela temática da cidadania nasceu, desde a juventude, junto com a percepção de que esse termo equivale a um atributo, ao qual se faz jus de dois modos: ou graciosamente, “de mão-beijada”, como herança social patrimonialista, ou se luta para conquistar. Dentro desse último contexto, Da Matta (1997, p.65, apud OSTERNE, 2008, p.84) chamou-me a atenção, recentemente, para a “cidadania relacional”, que depende da forma como os indivíduos acionam “as amizades”, para acessar, com mais facilidade, aos bens coletivos, o que não deixa de ser “uma estratégia” decorrente de seus esforços e habilidades em instrumentalizar a vida prática. Nessa perspectiva, cedo descobri que a primeira situação tem boas chances de produzir um cidadão pouco consciente dos seus deveres e responsabilidades para com o Estado e a coletividade em que vive, porém, pleno de direitos de usufruir os bens coletivos, para cuja produção em nada colaborou. A segunda situação, por sua vez, apesar de mais combativa e, portanto, exaustiva, tem ótimas chances de produzir uma pessoa humana rica em possibilidades de construir e mudar a própria história e de colaborar com a história de muitos, sendo a própria pessoa um patrimônio humano inenarrável, produzido no coletivo e sempre colocado à disposição deste. A minha história pessoal foi, assim, balizada no exemplo de vida e no “modo de ser” dos meus pais, deixando marcas profundas na minha conduta moral, ética e humana até hoje. Toda a existência deles foi projetada para o bem-estar da família e para causas e ideais de justiça e equidade social, e sempre na perspectiva de luta pela promoção humana de pessoas incluídas na categoria dos ditos “não cidadãos”. Nesse sentido, meu pai dedicou-se, a vida inteira, como advogado trabalhista, às causas da classe operária, em prol das quais se empenhou e por elas lutou, até morrer. Essa foi a semente da “cidadania” que, cultivada em mim e em todos os meus irmãos, foi germinando em forma de estratégias de enfrentamento e sobrevivência, ao ficarmos órfãos de pai. Mas, estou falando aqui de „estratégias‟ que se adota, não só para se conseguir sobreviver, materialmente falando, mas também para se conseguir „viver‟ com dignidade. Até hoje, recordo as palavras de minha falecida irmã Martha, ao mencionar: “A dignidade é a única coisa de que nenhum ser humano pode prescindir”. Em suma, fomos condicionados desde bem cedo a empreender lutas, enfrentar desafios, à custa dos próprios méritos. Primeiro, nos estudos, depois, no mercado de trabalho. Como não tínhamos muitas posses, hoje vejo que “estudar” foi uma estratégia que utilizamos 15 para alcançar a realização na vida. Ninguém nunca nos ofereceu nada graciosamente e, o que é pior, muitos até colaboraram para dificultar o percurso, colocando entulhozinhos no caminho. Só mais recentemente descobri, depois de levar muitas “surras da vida”, que a bagagem cultural que uma pessoa carrega, construída com lutas e esforço próprio, mais do que os bens materiais que possa ter amealhado na vida, é a que mais gera ciúmes e atitudes hostis das pessoas com boa situação econômica e condição de prestígio social, arrebanhados sem nenhum esforço. O saldo dessa história pessoal de lutas foi proveitoso, valeu à pena, pelo que eu e meus familiares conseguimos ser e não, pelo que conseguimos ter, que, aliás, não é muito, mas vale muito pela forma como adquirimos. Em face desse histórico de vida, as marcas da “cidadania conquistada” se apegaram à minha identidade ética, junto com o anseio de contribuir, de alguma forma, para que outros, olhando não para as dificuldades surgidas no caminho, ao longo da vida, pudessem se situar dentro da mesma perspectiva de luta, imaginando previamente o sabor dos frutos conquistados, antes mesmo de colhê-los, e seguindo pela vida afora, semeando histórias e fazendo a história acontecer. Nada pode equivaler a tamanha ventura! Mas, sou mulher, e sobre a minha história pesam as mesmas barreiras que outras mulheres desde épocas remotas vêm enfrentando, para conquistar um lugar ao sol. Porém, estou falando aqui não de barreiras, mas da cidadania que se conquista, a partir de lutas. Essa linha conceitual, focada no recorte de gênero, tornou-se a perspectiva de cidadania que busquei explorar, à luz dos princípios teóricos de um paradigma moderno (DAGNINO, 1994; OSTERNE, 2008). Prevaleceu nesse sentido o ponto de vista de que as pessoas não se tornam cidadãs de um momento para o outro; ao contrário, essa formação vai se processando ao longo da vida, dando lugar a sujeitos históricos, que tanto podem se acomodar passivamente às condições socioeconômicas que já encontram prontas, ao nascerem, ou ampliar o campo das oportunidades, com pertinácia e lutas (FERREIRA, 1993). Consoante a supracitada linha conceitual, acredito que não é somente a cidadania civil, expressa na posse de uma certidão de nascimento ou a cidadania política, assinalada por um título de eleitor, que irá determinar a vivência cidadã de cada indivíduo. Esses elementos poderão, apenas, se configurar em uma identidade formal e abstrata de cidadão, mas não, em uma cidadania concreta e real, levando em conta que esta se efetiva dentro de cada pessoa e não, fora dela. 16 Não se pode ignorar, contudo, que, na velhice, a cidadania se torna um desafio ainda mais exigente para os idosos das camadas populares de baixa renda, dispondo de poucas possibilidades de realização social. Essas percepções e vivências fizeram com que eu buscasse compreender a cidadania experienciada por mulheres idosas que, embora economicamente menos favorecidas, denotavam estar procurando usufruir uma velhice proativa e integrada, em grupos de convivência estatais, parecendo não se acomodar diante das dificuldades de ordem socioeconômica. Interessava conhecer e compreender o sentido de suas lutas, em face do aludido paradigma de cidadania que estava sendo utilizado como referência. Cabe ressaltar que, nesse caso, o grupo de convivência passou a ser considerado como uma modalidade referencial de sociabilidade na velhice, passível de investigação, por estar circunscrita ao nível das ações positivas referendadas tanto pelo Estatuto do Idoso, quanto pelos parâmetros gerontológicos (NERI, 2002). Portanto, o meu interesse em estudar a cidadania vivenciada pelo segmento de idosas referido, partiu não só de motivações de ordem pessoal, mas de outras, de cunho profissional e de algumas, provenientes da observação do senso comum. No tocante às motivações de cunho profissional, atribuo o meu interesse a um processo de amadurecimento, que me levou a refletir sobre diversas questões relacionadas à velhice e ao envelhecimento, o que acabou me conduzindo a uma formação acadêmica complementar, na área da Gerontologia. Esta teve início no ano de 2003 e me permitiu vivenciar uma gratificante experiência de trabalho, junto ao Núcleo de Atenção ao Idoso da Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social (STDS), no qual atuei como técnica em assuntos educacionais e especialista em gerontologia. Por meio dessa experiência de trabalho, que se prolongou até esse Núcleo ser extinto, em 2008, acompanhei, junto com a equipe de técnicos desse setor, as ações desenvolvidas pelo Estado, através da STDS, nos grupos de convivência de idosos do PROJETO CONVIVER, a cargo da Coordenadoria de Proteção Social Básica da referida Pasta. No tocante às motivações provenientes do senso comum, a minha curiosidade foi instigada pelos indicadores de pesquisa, apontando as mulheres idosas, economicamente menos favorecidas, como as principais vítimas da violência no Estado do Ceará (matéria jornalística inclusa). Esses dados, aliados à observação de que os grupos de convivência da STDS são quase que em sua totalidade frequentados por idosas, fizeram com que eu passasse a considerar a possibilidade de realizar a pesquisa que deu origem a este estudo, no Centro 17 Integrado de Atenção e Prevenção à Violência contra a Pessoa Idosa (CIAPREVI-CE). Cabe enfatizar que, anteriormente à implantação desse novo equipamento, o público idoso assistido no grupo de convivência que ali funcionava já se mostrava bastante diversificado. Há muito tempo vêm acorrendo ao local idosos provenientes de outros bairros mais afastados de Fortaleza e, não somente, os residentes nas imediações do centro. A aludida circunstância sinalizou a possibilidade de realização de uma pesquisa, envolvendo uma amostra abrangente e heterogênea de sujeitos, oriundos de realidades distintas da capital cearense e não especificamente representativos de uma única área residencial da cidade, no caso, o bairro Meireles, onde fica localizado o Centro Integrado de Atenção e Prevenção à Violência contra a Pessoa Idosa do Ceará (CIAPREVI-CE). Em face desse histórico, elegi o supracitado equipamento como locus de realização da pesquisa pretendida. Os sujeitos que selecionei para compor a amostra geral de campo eram remanescentes do grupo de convivência do Centro Comunitário Dom Lustosa, os quais em inúmeras ocasiões pude observar mais de perto, quando integrava a equipe técnica responsável pelo acompanhamento das ações do PROJETO CONVIVER, coordenado pelo extinto Núcleo de Atenção ao Idoso, da STDS. Era perceptível a satisfação e a integração que os idosos dos grupos demonstravam com a vivência comunal. Desse modo, o senso de observação, aliado aos dados obtidos através de pesquisa bibliográfica e documental, previamente realizadas, permitiu-me eleger como base hipotética para este estudo o pressuposto de que a cidadania dos sujeitos, em termos práticos e, portanto, vivenciais, se desenrolaria em torno de uma luta para melhor qualidade de vida e maior bemestar na velhice. Assim, o interesse precípuo deste estudo versou em buscar fundamentos explicativos para responder aos seguintes questionamentos: 1. Quais seriam as estratégias de ação que os sujeitos estariam desenvolvendo, em casa, no grupo de convivência e na comunidade, para ter acesso à cidadania, compreendida como luta pelo direito de obter melhor qualidade de vida e bem-estar na velhice? 2. Em qual dos supracitados espaços de socialização (casa, grupo de convivência ou comunidade) os sujeitos da pesquisa estariam efetivamente se apoiando para construir a cidadania, baseada na luta por melhor qualidade de vida e bem estar na velhice? 3. Como poderia pensar políticas públicas, voltadas para a construção da cidadania e da qualidade de vida dos sujeitos, a partir dos resultados colhidos nesta pesquisa? 18 A metodologia adotada nesta pesquisa é de natureza qualitativa, considerando que privilegiei o estudo da temática da cidadania feminina, buscando conhecer experiências e situações objetivas da vida das idosas, sem desprezar os aspectos subjetivos inerentes às suas atitudes e comportamentos cotidianos. Subsequentemente, as hipóteses formuladas para este estudo foram as seguintes: 1ª Hipótese: Os sujeitos poderiam estar desenvolvendo, conjuntamente, ou não, várias estratégias de ação para ter acesso à cidadania, sendo destacadas as seguintes: o engajamento em atividades gratificantes, em quaisquer dos três espaços de socialização investigados, como enfrentamento e superação das condições adversas de sua vida passada e/ou presente; o engajamento em grupos de convivência, como espaços de luta e de visibilidade social; e a busca por serviços de saúde, para manutenção dos níveis de qualidade de vida e bem-estar, em geral. 2ª Hipótese: O grupo de convivência do CIAPREVI-CE, entretanto, se configuraria como o principal espaço cotidiano de luta utilizado pelos sujeitos, para ter acesso à cidadania, em virtude das limitadas possibilidades de realização social dos sujeitos; 3ª Hipótese: O CIAPREVI-CE poderia trabalhar de forma mais eficiente os conteúdos referentes aos direitos e deveres de cidadania, junto aos sujeitos, através da via artística e de metodologias lúdicas. Em face do exposto, o presente fazer acadêmico, que está sendo apresentado ao Curso de Mestrado Profissional em Planejamento e Políticas Públicas da Universidade Estadual do Ceará (UECE) convergiu para os seguintes objetivos: 1. Compreender o sentido das lutas cotidianas, empreendidas pelos sujeitos, para ter acesso à cidadania, a partir da investigação das estratégias de ação que desenvolvem, em três espaços de socialização cotidianos, a saber: a casa, o grupo de convivência e outros espaços comunitários; 2. Conhecer em qual (is) espaço(s) cotidiano(s) de socialização, a saber: a casa, o grupo de convivência e outros, na comunidade, os sujeitos da pesquisa estão se apoiando efetivamente para construir uma vivência cidadã; 3. Compreender de que maneira as lutas cotidianas desenvolvidas pelos sujeitos, nos três espaços de socialização investigados, poderão balizar as ações desenvolvidas pelo 19 CIAPREVI-CE, no âmbito da construção da cidadania, da qualidade de vida e do bemestar do referido segmento. Mediante esses objetivos elencados, enfatizo que este estudo não teve como pretensão avaliar se os sujeitos pesquisados “seriam ou não” cidadãos. Ao contrário, buscouse compreender o sentido de suas lutas para acessar à cidadania, “apesar de” serem ou não serem considerados cidadãos de fato. Nesse sentido, a própria pesquisa se encarregou de revelar aspectos objetivos e subjetivos da vivência cidadã dos sujeitos. Entre os primeiros estão as ações cotidianas por eles desenvolvidas, nos três espaços de socialização investigados e, entre os segundos, encontram-se os valores, as crenças, os preconceitos e atributos por eles desenvolvidos, repercutindo na forma como estão exercendo a cidadania. Evidenciaram-se ainda nesse contexto os conflitos e receios que tornavam mais dificultosas as suas lutas por uma velhice saudável. Consoante essa perspectiva, a expressão “vivência cidadã” assume neste estudo um significado equivalente à noção de cidadania que é construída pelas pessoas não meramente em termos de conhecimentos teóricos abstratos, acerca de direitos e deveres na esfera comunitária. Ao invés, refere à cidadania que se constrói a partir de experiências objetivas e subjetivas da vida prática dos sujeitos considerados. O instrumental metodológico adotado foi idealizado especialmente para atender às finalidades da pesquisa e adaptado, a partir da linha metodológica utilizada por Paschoal (2000), conjugada aos princípios teóricos trabalhados por Néri (2001; 2003) e outros estudiosos da gerontologia (ALMEIDA, 2003; DEBERT, 1993; PEIXOTO, 1993). Destaco que os instrumentos aplicados na pesquisa de campo levaram os sujeitos a falar sobre as atividades que realizavam cotidianamente, em três espaços de socialização diferentes (casa, grupo de convivência e comunidade), permitindo que eles próprios, ao final, validassem os seus interesses na área da cidadania. As atividades que compõem o primeiro instrumento de campo aplicado (Instrumento 1) referem às atividades reais, que os sujeitos costumam realizar no dia-a-dia. Portanto, dizem respeito a algumas experiências individuais, vividas por eles na esfera privada e a outras, vividas na esfera comunitária. Por sua vez, o segundo instrumento aplicado (Instrumento 2) apresenta as atividades idealizadas pelos sujeitos, ou seja, descreve a rotina que eles gostariam de ter, se pudessem escolher, a partir da sugestão feita pela pesquisadora, pedindo que informassem o 20 que gostariam de acrescentar ou retirar da rotina diária de cada um. Após essas colocações, passo a expor o esquema proposto para o desenvolvimento do presente trabalho: O primeiro capítulo é composto por duas subseções. Na primeira, apresento uma revisão bibliográfica, com foco na temática principal do estudo. Procuro estabelecer nexos críticos entre o paradigma de cidadania tradicional, herdado do modelo liberal europeu, e o novo paradigma de cidadania, que guarda pertinência com os princípios democráticos da Constituição Brasileira, na qual estão contemplados múltiplos modelos de identidades e padrões culturais, vigentes entre nós na contemporaneidade. Ressalto que, para a construção desse capítulo, foi de decisiva importância o pensamento de estudiosos da Sociologia e da Ciência Política, tais como: Arroyo (1999); Covre (1995); Dagnino (1994); Ferreira (1999); Freire (1974); Osterne (2008) e Sposati (2003). Na segunda subseção desse primeiro capítulo, apresento uma revisão bibliográfica, contemplando a gênese dos programas sociais voltados para a construção da cidadania de idosos, em grupos de convivência, no Ceará. Abordo, nesse contexto, a gênese do PROJETO CONVIVER, cuja filosofia de ação serve de diretriz para as ações desenvolvidas pelo CIAPREVI-CE. No segundo capítulo deste estudo, procuro estabelecer uma arena de discussão, através de duas subseções específicas. Na primeira, o interesse foi apresentar o contexto relacional, envolvendo as categorias analíticas “cidadania”, “gênero” e “qualidade de vida” na velhice, numa perspectiva dialogal entre essas categorias, e consoante uma ordem de análise sócio-histórica. Busco responder por que a velhice é uma condição tão difícil para as mulheres, resgatando as múltiplas percepções culturais atribuídas aos conceitos de velho e velhice, na perspectiva de gênero, em diversos contextos históricos da humanidade. A seguir, relaciono esses conceitos às políticas públicas voltadas para o segmento idoso, a partir dos subsídios teóricos de estudiosos da gerontologia, a exemplo de Almeida (2003); Debert (1993); Neri (2003) e Peixoto (1993). Na segunda subsecção desse segundo capítulo, resgato as estratégias de acesso à cidadania, utilizadas por mulheres empobrecidas de diferentes períodos e contextos sóciohistóricos, detendo-me mais especificamente nas influências culturais exercidas pelo patriarcado e patrimonialismo na vivência cidadã feminina no Brasil. Contemplo, nesse contexto, a cidadania da mulher cearense das camadas populares. Para a construção desse capítulo, busquei o suporte teórico de autores, tais como: Freyre (2000); Osterne (2008) e Muraro (1993), entre outros que trabalham a perspectiva histórica da categoria gênero. 21 No terceiro capítulo, procuro detalhar a linha metodológica adotada neste estudo, dando a conhecer os procedimentos metodológicos relativos às pesquisas bibliográfica, documental e de campo realizadas. Apresento, nesse contexto, o processo de construção do instrumental da pesquisa, mediante a operacionalização da categoria “qualidade de vida”. A idealização desse instrumental foi respaldada nos embasamentos teóricos de diversos autores, entre os quais Paschoal (2000), Neri (2001), Ferreira e Seidl (2009), referendados pela Organização Mundial de Saúde. No quarto capítulo, apresento os resultados e a discussão dos dados colhidos de campo, de conformidade com a análise de conteúdo proposta por Triviños (2006), em diálogo com a de Bardin (1997). Neste tópico faço considerações a respeito de duas unidades temáticas que sobressaíram da pesquisa de campo, a saber, a violência e a espiritualidade. No quinto capítulo, presto uma homenagem a dois sujeitos especiais que contribuíram com a narração de suas experiências de vida para a proposta do presente estudo. Seguindo a trajetória de vida de cada um, ilustro a abordagem teórica considerada neste fazer acadêmico sobre os paradigmas moderno e tradicional de cidadania, aprofundando, ao mesmo tempo, aspectos da trajetória de cidadania das mulheres das classes populares, em nosso Estado. As idosas homenageadas são retratadas com nomes fictícios, assim como as demais que integram a amostra geral da pesquisa de campo. No final do estudo, ofereço sugestões quanto às metodologias que o CIAPREVICE poderá trabalhar junto ao grupo de convivência investigado, esperando contribuir, dessa forma, para as políticas públicas direcionadas aos idosos, que começaram a ser implementadas no referido equipamento, desde fevereiro de 2009. A partir desse esquema apresentado, inicio a apresentação do estudo realizado. 22 2 CIDADANIA NO CONTEXTO SOCIOPOLÍTICO BRASILEIRO 2.1 Uma nova cidadania para velhos sujeitos Trabalhando em uma Secretaria de Estado, voltada, prioritariamente, para a promoção social e humana de pessoas menos favorecidas, vem-se observando, há bastante tempo, que a base de fundamentação teórica da grande maioria dos projetos técnicos elaborados, não só pelo Estado, mas por diversas outras instâncias sociais, incluindo as nãogovernamentais (ONGs), está centrada na alegativa da construção da cidadania. De fato, há que se admitir que essa meta é louvável e representa o próprio anseio da Constituição Brasileira, em vigor, sendo ela própria a expressão máxima da Democracia, não fosse o fato dessa palavra existir quase sempre dentro do contexto teórico dos projetos e não, no contexto social, fora deles. Tem-se observado, ainda, e com muita frequência, inúmeras pessoas confundirem cidadania com direitos humanos, atribuindo o mesmo significado a esses termos. Entende-se que essa associação de ideias se explica pelo fato de que um conceito se apresenta subjacente ao outro. Ou seja, para que a cidadania seja plenamente efetivada, o cidadão precisa usufruir direitos, ter consciência de que é um cidadão de direitos e procurar fazer valer os seus direitos, conhecendo e exercendo os seus deveres. Explorando essa linha de raciocínio, à luz dos significados apresentados pelo Dicionário Michaelis (1998), tem-se como cidadão o indivíduo no gozo dos direitos civis e políticos de um Estado. Por outro lado, essa mesma fonte define a palavra cidadania (cidadão + ia) como uma “qualidade de cidadão”. Em outras palavras, isso pode significar que ser detentor de cidadania é uma condição relevante, a tal ponto, para a vida de qualquer pessoa, que passa a ser considerada como um atributo qualitativo, que promove o ser humano a patamares de dignidade. A dedução lógica que se pode abstrair dessas explicações referenda o pensamento de Arendt (2008), no sentido de que, para que uma pessoa seja, de fato, considerada um cidadão, necessita de liberdade para expressar-se plenamente dentro da sociedade em que vive e de não estar sujeita a qualquer tipo de discriminação por raça, credo político, religião, idade ou gênero a que pertença. Além disso, segundo os próprios preceitos constitucionais, para exercer plenamente a cidadania, a pessoa necessita de fazer jus a uma série de direitos, em condições de igualdade com as demais, participando ativamente da construção da sociedade em que 23 vive. Estabelecendo uma analogia, pode-se comparar a cidadania a uma cédula de identificação abstrata do cidadão que torna a pessoa detentora de direitos. Consensualmente, o principal direito apontado pelos cientistas políticos é o direito fundamental e natural à vida plena. Este, aliás, é um preceito bíblico do cristianismo. Tal nível de entendimento se mostra presente na Declaração Universal dos Direitos Humanos, proclamada pela Organização das Nações Unidas (ONU, 1948), que reconheceu um vasto elenco de direitos humanos, entre os quais os individuais, sociais, civis e políticos. Assim, todos os direitos proclamados pela mencionada Declaração, como o próprio nome sugere, pressupõem uma concepção universalista que coloca, a priori, todas as pessoas em igualdade de condições. No Brasil, esses direitos foram efetivamente incorporados à legislação, a partir da Constituição Federal (BRASIL, 1988), com o término do regime militar e a instituição do Estado Democrático de Direito. Entretanto, apesar dos grandes avanços democráticos alcançados pelo País, muitas desigualdades continuam a existir, até hoje, em detrimento do que reza a Carta Constitucional. Abstrai-se do quadro de preconceitos e rechaços à velhice de pessoas empobrecidas, divulgado pela mídia que, efetivamente, parte do segmento idoso de baixa renda de Fortaleza está tendo os seus direitos sociais, civis e políticos sequestrados, o que indica uma inobservância constitucional a esses direitos. O Jornal Diário do Nordeste (edição de 20 de junho de 2008) publicou matéria apresentando o primeiro levantamento feito pelo Núcleo de Atendimento à Pessoa Idosa Vitimizada (NAPIV), órgão criado, no início daquele ano, pela Prefeitura Municipal de Fortaleza, para prestar atendimento a idosos, vítimas de violência (cópia de matéria jornalística, em anexo). Foram divulgados dados sociológicos muito interessantes: das 99 denúncias recebidas, nos primeiros meses que esse Núcleo começou a funcionar, 57 diziam respeito a casos de violência sofridos por mulheres idosas, provenientes das camadas populares de baixa renda, sendo que, na maioria dos casos, a violência foi cometida por pessoas da família. Estes são dados oficiais que já foram atualizados este ano pelo NAPIV, e divulgados na mídia televisiva, sendo que as estatísticas apresentaram um índice de crescimento bastante significativo. Esse aspecto diz respeito à natureza da temática que será aprofundada, a seguir. A primeira menção a ser feita gira em torno da constatação de que a temática da cidadania ganhou maior expressão em décadas recentes. Conforme Covre (1995, p. 7-8), até 24 os anos entre 1960 e 1970, esse tema não exercia o mesmo apelo que exerce atualmente: Ouvíamos então falar de mudança social, do modelo revolucionário russo ou do chinês. Naquela época, cidadania tinha uma conotação pejorativa, espécie de engodo a „la democracia americana’, que não levaria a nada. Hoje, aqueles modelos revolucionários, tais como foram encaminhados inicialmente, mostram-se falidos. Novas propostas, de certa forma relacionadas ao tema cidadania, passaram sobre eles. Bons exemplos são a perestrioika e a glasnost enquanto forma econômica e abertura política na União Soviética e países congêneres. Assim, a cidadania é atualmente assunto de debate tanto na democracia ocidental quanto no socialismo do Leste, entre as classes abastadas e as menos abastadas, e aparece na pauta de diversos movimentos sociais, que reivindicam saneamento básico, saúde, educação, fim da discriminação sexual e racial. Além do aspecto aludido, a referida estudiosa ressalta que a temática da cidadania é tão abrangente e complexa, que se faz necessário esclarecer, a priori, ao se falar sobre esse assunto, de que cidadania se está falando, ou ainda, quais atores sociais estão sendo considerados. Covre (1995, p.8) considera que a vivência da cidadania não é uma condição igualmente experienciada por todos os sujeitos sociais: alguns deles têm acesso a quase todos os bens e direitos; outros não, em virtude do baixo salário e do não-direito à expressão, à saúde, à educação, etc. Muitas dessas pessoas, portanto, sequer são consideradas cidadãs, dada a falta de oportunidades de realização na vida social do meio em que vivem. Os estudiosos reconhecem que até mesmo o significado de cidadania assume conotações diferentes, dependendo da época e da sociedade onde cada pessoa vive. Além disso, a noção de cidadania está atrelada à concepção formulada por quem a emite, havendo, nesse sentido, uma efetiva interferência do imaginário coletivo sobre o comportamento e o modo de pensar das pessoas e vice-versa. Mediante essas colocações, não parece incorreto afirmar que, ainda nos dias atuais, para a maioria das pessoas, ser cidadão significa o mesmo que exercer a cidadania nas urnas, ou seja, indica que a pessoa exerce o direito de votar. Nesse caso, vincula-se o cidadão à cidadania política. Quase sempre se observa, ainda, que o significado de cidadania se apresenta vinculado, apenas, à esfera dos direitos, nunca a dos deveres. Nesse caso, as pessoas mostram ignorar que elas próprias, também, podem e devem atuar como agentes sociais, ou seja, como sujeitos que podem contribuir para a formulação de leis mais justas, através da participação em movimentos sociais voltados para esse fim. Em todo caso, o conceito de cidadão é tão dignificante que, quando pronunciado, faz com que as pessoas, imediatamente, estabeleçam uma associação entre essa ideia e a que identifica pessoas socialmente bem postas na vida, 25 conhecedoras dos seus direitos e com um bom nível de instrução. Todas as supracitadas manifestações, contudo, são noções que decorrem da forma como são trabalhadas, individualmente, as noções recebidas do imaginário coletivo, de onde provêm também preconceitos, mitos e estereótipos diversos. Entretanto, cabe indagar: para alguém ser considerado cidadão, precisa necessariamente de seguir uma cartilha específica, contendo normas e regras definidoras dessa condição? Em termos lógicos, o questionamento enseja uma resposta negativa, porém, não há como negar que os princípios da cidadania tradicional funcionam mais em termos de padrões abstratos, do que em padrões objetivos da vida dos sujeitos considerados. Ou seja, tais princípios de cidadania se mostram regidos pelos parâmetros jurídico-normativos da cidadania liberal, proveniente de uma realidade social alheia à brasileira e que, por isso mesmo, segundo os estudiosos, não funcionam satisfatoriamente no contexto das desigualdades sociais vigentes no Brasil (OSTERNE, 2008). Essas considerações conduzem ao entendimento de que, na forma da lei e dentro de uma concepção universal, o paradigma clássico de cidadania se encontra bem definido, dentro de um conceito equânime; mas, consoante a vivência cotidiana, principalmente, das classes subalternas a que pertencem os sujeitos investigados nesta pesquisa, esse paradigma de cidadania enseja desigualdades. Covre (1995) argumenta que a gênese do conceito de cidadania provém da forma democrática de vida na Grécia clássica. Ali, o sentido de cidadania assumiu um caráter restritivo, sendo inclusivo para os cidadãos do sexo masculino, considerados livres, e excludente para as mulheres, escravos e crianças, não considerados no exercício dessa condição. Porém, esse conceito, no sentido estrito, ensejava a ideia de igualdade entre as pessoas que participavam dos assuntos de interesse coletivo, ou seja, ligados à esfera pública da vida (do grego pólis), daí porque a cidadania passou a ser associada à ideia do exercício de direitos e deveres na vida partilhada na cidade. Podemos afirmar que ser cidadão significa ter direitos e deveres, ser súdito e ser soberano. Tal situação está descrita na Carta de Direitos da Organização das Nações Unidas (ONU), de 1948, que tem suas primeiras matrizes marcantes nas cartas de Direitos dos Estados Unidos (1776) e da Revolução Francesa (1798). Sua proposta mais funda de cidadania é a de que todos os homens são iguais ainda que perante a lei, sem discriminação de raça, credo ou cor [...] (COVRE, 1995, p.9). A referida autora lembra que a proposta desse conceito se encontra nos fundamentos do surgimento da burguesia, estando presente, portanto, nas matrizes das 26 revoluções burguesas do século XVIII, entre as quais a Americana e a Francesa. Menciona, ainda, que, sob essa tônica, estabelecem-se as Cartas Constitucionais, que se opõem ao processo de normas difusas e indiscriminadas da sociedade feudal e às normas arbitrárias do regime monárquico ditatorial, anunciando o chamado Estado de Direito (COVRE, 1995). De acordo com a supracitada autora, mediante as novas normas sociais vigentes, o conceito de cidadania emergiu, com o propósito de estabelecer direitos iguais a todos os homens. Entretanto, isso só ocorreu na expressão da lei e não, no contexto real, uma vez que não se aplicou igualmente a todos os cidadãos. Tal desigualdade se instalou porque a burguesia, como classe emergente, passou a difundir os valores do capitalismo, ou seja, a concepção ligada à Reforma Luterana, reinante, no século XIV, de valorização do homem pelo trabalho que este produzia: Toda essa revolução começou, de certa forma, com a valorização do trabalho. Na Idade Média, o trabalho era desprestigiado, indigno mesmo de um cavalheiro, de um nobre. Com a ascensão da burguesia, o surgimento das cidades e da vida urbana, despontam os cidadãos que trabalham, fazem comércio, desenvolvem o sistema fabril e administram a coisa pública em termos de direitos e deveres - resultado de um longo processo de oposição ao imobilismo e dogmatismo da Igreja e nobreza da sociedade feudal. [...] (COVRE, 1995, p. 21-22). Essa ideologia resultou na ideia de acumulação de capital como fonte de bênçãos divinas, mas foi, aos poucos, adquirindo conotação diferente, vinculando-se à noção de propriedade. Locke, o famoso filósofo inglês (1632-1704), mediante essa abordagem teórica, veio a formular uma teoria capitalista, edificada na noção de propriedade do corpo: “cada um tem uma propriedade em seu próprio corpo que só a ele diz respeito”. Entretanto, essa ideia vai adquirindo outra conotação. Trabalhando o vínculo de propriedade do corpo e cidadania, Locke o faz de tal forma que passa a indicar quem, segundo ele, tem a propriedade do próprio corpo e, portanto, quem é realmente cidadão. Ele afirma que a propriedade não é exatamente o corpo, mas o fruto que o corpo produz pelo trabalho ao se apropriar da natureza. E argumenta que essa apropriação não precisa do consentimento expresso de todos os homens. (COVRE, 1995, p.26). De acordo com essa concepção, Locke passaria a considerar como cidadãos os indivíduos que, utilizando a própria força de trabalho, e, portanto, os próprios corpos, se mostravam aptos a acumular riquezas e, como não cidadãos, aqueles que não se mostravam mais em condições de produzir força de trabalho. Entre esses se incluíam, ainda, os segmentos sociais que, por diversas razões culturais, não se mostravam aptos a produzir riquezas, dependendo de outros para gerir suas vidas. As mulheres foram, então, incluídas 27 nessa categoria de excluídos da cidadania, junto com outros segmentos sociais, como os idosos e as crianças. “Assenta-se aí, também, uma construção da cidadania que desenha a desigualdade” (COVRE, 1995, p.26). Paradoxalmente, a emergência de novos comportamentos e práticas sociais, inerentes ao contexto das revoluções burguesas, vão dando lugar a outras concepções de cidadania, que levam à luta por melhores condições de vida das classes trabalhadoras exploradas. A dimensão de cidadania considerada por Covre (1995, p.29-30) identifica esse conceito como uma categoria historicamente constituída, a qual passou a ser apropriada, ou pelo menos considerada, em décadas mais ou menos recentes, como estratégia política utilizada pelas classes operárias, em reação às condições injustas e desumanas de trabalho, tônica esta diretamente relacionada à gênese dos movimentos sociais. Acho importante essa dimensão de os homens lutarem por leis justas. Elas são a sedimentação de outras lutas e de certa estruturação da cidadania - que, por sua vez, está sempre em processo. Só as leis não constroem a cidadania, mas é importante que os homens comuns, os trabalhadores, se apropriem também do espaço para a construção de leis favoráveis à extensão da cidadania. […] A bem da verdade, ressalte-se que a cidadania pode ser reedificada pelos trabalhadores mais no seu sentido universal, pois só assim servirá de fato a eles. Isso depende de uma luta contínua e efetiva para fazer valer universalmente os direitos civis, sociais e políticos. […] (COVRE, p. 29-30). Assim, ao que tudo indica, com o passar do tempo, o modelo clássico de cidadania liberal envelheceu no seio de sociedades ocidentais como a brasileira, parecendo necessitar de se ajustar em um mundo notoriamente assinalado por condições desiguais de vida, ou ainda, distintivo de uma sociedade dividida entre pobres e ricos, no qual, portanto, nem todos são doutores, nem abastados, mas, nem por isso, deixam de ser cidadãos. Desse modo, para muitos estudiosos contemporâneos, a condição de cidadania passou a ser levada em consideração, a partir da realidade vivida por pessoas humanas reais, em permanente luta para serem reconhecidas como sujeitos sociais. O significado do conceito de cidadania passou a ser identificado, assim, não somente como equivalente à luta pelo direito a ter direitos, mas, também, pelo direito a ter deveres, nivelando as pessoas comuns àquelas socialmente consideradas respeitáveis. Osterne (2008) aborda, magistralmente, o arcabouço teórico de um novo paradigma de cidadania, no qual atuam elementos distintos dos que se configuram na noção de cidadania clássica. A autora citada apresenta uma síntese acerca da nova cidadania, baseada em seis elementos básicos: 28 O primeiro elemento relaciona-se com a própria noção de direitos. A nova cidadania pressupõe uma redefinição da ideia de direitos, cujo ponto de partida é a concepção de um direito a ter direitos [...]; O segundo elemento é o fato de que a nova cidadania, ao contrário da concepção liberal, não se liga a uma estratégia das classes dominantes e do Estado para a absorção dos setores excluídos. A nova cidadania pretende a constituição de sujeitos sociais ativos, estabelecendo o que eles consideram ser os seus direitos e lutando pelo seu reconhecimento. Assim, ela passa a ser uma estratégia dos nãocidadãos, dos excluídos [...]; Ela se constitui também como uma proposta de sociabilidade na qual se inclui um desenho mais igualitário das relações sociais para além da incorporação ao sistema político em seu sentido estrito. Esse é o terceiro elemento destacado por Dagnino (1994); No quarto elemento, expõe a ideia de que essa ampliação, tomando por base a concepção liberal, pressupõe que a nova cidadania deverá transcender o foco privilegiado da relação com o Estado e o indivíduo e incluir, categoricamente, a relação com a sociedade civil. Isso, na óptica da autora, supõe uma reforma intelectual e moral e parece estar exatamente aí a radicalidade da cidadania como estratégia política. O quinto elemento contém a ideia de que a nova cidadania transcende a questão do pertencimento (sic) do sistema político, referência básica do conceito liberal, para incluir a ideia do direito de participar efetivamente da própria definição desse sistema [...]. O sexto e último ponto reporta-se ao pensamento de que essa nova concepção de cidadania pode edificar [...] um quadro de referência complexo e aberto capaz de dar conta da diversidade de questões emergentes nas sociedades latinoamericanas: da igualdade à diferença, da saúde aos meios de comunicação de massa, do racismo ao aborto, do meio ambiente à moradia (OSTERNE, 2008, p.93). Conforme Osterne (2008, p.94), esse novo paradigma de cidadania é importante de ser levado em conta, sobretudo, considerando que contempla a questão da diferença, ou seja, absorve um significado de cidadania diferenciada e de público heterogêneo, tão significativo para o pensamento feminista. O argumento desenvolvido por Souza (2003, p. 33) consubstancia o pensamento da supracitada autora: Como afirma Antônio Carlos Gomes da Costa, somos, até hoje, um país dividido em cidadãos e subcidadãos. “Subnutrição, subemprego, submoradia, subeducação, subdesenvolvimento, subcultura, enfim, tudo o que começa com sub designa o conjunto de características dos que subsistem do outro lado da linha de giz, que separa os incluídos na cidadania dos excluídos dessa condição. Portanto, quando falamos de cidadania no Brasil, estamos falando de alguma coisa à qual grande parte da nossa população não tem acesso. Quando penso em cidadania, penso no direito de ter direitos, que, por um princípio de reciprocidade, traz consigo o dever de ter deveres”. Todos esses aspectos foram levados em conta, ao se considerar a possibilidade de estudar a cidadania feminina, a partir de pessoas envelhecidas, a maioria sem vínculos com o mundo do trabalho e, por sua vez, provenientes das camadas populacionais economicamente menos favorecidas. 29 Tinha-se presente que essa não seria uma tarefa simples, especialmente em função do enfoque de gênero, que imprimiu um aspecto desafiador e peculiar ao estudo, considerando que cada sociedade atribui valoração diferente a homens e mulheres. Por esse motivo, alguns estudiosos consideram que a categoria gênero varia, espacialmente, de uma cultura a outra; temporalmente, em diferentes tempos históricos inseridos em uma mesma cultura e, longitudinalmente, ou seja, ao longo da vida de um indivíduo (RORIN, 2001, p.1). Assim, todas as particularidades que tornam o contexto brasileiro de cidadania distinto da realidade social de outros países constituíram razões plausíveis para se buscar compreender, no momento político atual, o significado das lutas assumidas pelos sujeitos, a partir do reconhecimento de estudiosos modernos, quanto às múltiplas formas de sociabilidade e à heterogeneidade de públicos existentes no País (DAGNINO, 1994 apud OSTERNE, 2008, p. 94). Em face das questões teóricas assim definidas e levando em conta as afinidades com a temática gerontológica, neste estudo não se desconsiderou a gama de desafios enfrentados por mulheres idosas de classes subalternas, que lutam por sobreviver na cultura hierárquica e relacional brasileira, na condição de cidadãs e não de excluídas da cidadania, o que seria de se esperar, segundo os parâmetros do modelo de cidadania universalista liberal: O liberalismo, como se sabe, apesar de ter gestado esse termo como resposta do Estado aos anseios da sociedade no final do século XVIII, essencializou a noção de cidadania, o que persiste até hoje, desempenhando funções bem diferentes daquelas que identificaram sua origem (OSTERNE, 2008, p.92). Em termos gerais, portanto, a visão clássica e tradicionalista de cidadania não se apresenta suficientemente ampla para abranger toda a complexidade que envolve as questões de gênero e geracionais, na contemporaneidade. Ao contrário, dentro de uma ótica pessoal, acredita-se que permite, apenas, que essas peculiaridades sejam consideradas nos níveis restritivo e abstrato. Osterne (2008) contesta a supracitada linha de compreensão universalista de cidadania, referindo que, por ter sido importada de contextos históricos totalmente alheios à realidade brasileira, não se adequou, até hoje, à vasta gama de desigualdades sociais, políticas e econômicas que impera entre nós, tornando os cidadãos “iguais” na lei e diferentes, no campo real dos direitos e deveres. Por isso, a autora questiona: “assim sendo, como entender a cidadania em contextos onde prevalece a hierarquia, cultiva-se a prática do privilégio e se estabelece o primado relacional? Como a cidadania pode ser compreendida no caso específico da realidade brasileira?” (OSTERNE, 2008, p.87). 30 Sob circunstâncias práticas e subjetivas, os desníveis de gênero se acentuam, demonstrando que, não só em termos de direitos e deveres, mas ao nível de oportunidades de realização social, as diferenças entre homens e mulheres, especialmente na velhice, não se regem somente em função das distinções biológicas. Outra perspectiva é a formulada por autores segundo os quais as lutas das classes empobrecidas só encontram verdadeiro sentido, quando genuinamente emergem, como demanda, dos movimentos populares interessados pela educação, pela cultura, pelo saber e pela instrução e não, como doação das elites governamentais. Entendem, neste caso, que é no cotidiano que cada pessoa se firma como sujeito histórico (NORONHA, 1986; SPOSITO, 1984; CAMPOS, 1984 apud ARROYO, 1999, p.77). Para os adeptos dessa corrente de pensamento, receber a cidadania de “mãobeijada”, do Estado, denota falta de espírito crítico dos cidadãos, uma vez que, nesse caso, são as próprias forças estatais que passam a reconhecer as necessidades das pessoas e a ditar os processos que consideram viáveis para que o povo possa exercer os seus direitos. Essas ditas forças desconhecem, assim, que o reconhecimento das necessidades e a busca por direitos possam ser construídos dentro dos próprios movimentos reivindicatórios, como legítima expressão da cidadania. Na realidade, conforme Arroyo (1999, p.75), “o que está sendo questionada é a „cidadania outorgada‟, ou seja, a „cidadania não-conquistada‟, na qual o povo não é agente de sua constituição como sujeito histórico”. Isso porque a cidadania que assim se expressa não resulta de uma demanda dos próprios grupos interessados, conforme outros autores: Quando um grupo social reconhece suas necessidades, é através de sua participação na esfera política que se viabilizará a transformação das necessidades em direitos. Isso ocorre num processo que se dá historicamente, ou seja, sua dinâmica é própria a cada época (LUIZ, 1997, p. 99 apud BOARETTO; HEIMANN, 2003, p.108). A perspectiva inovadora desses autores permitiu, assim, que a noção de cidadania, considerada neste estudo passasse a ser compreendida como luta pelo direito a ter direitos e o dever de ter deveres. A ênfase recaiu no interesse manifestado pelos sujeitos de, por motivos diversos, procurarem levar uma velhice ativa, engajando-se em grupos de convivência. Desse modo, conforme Abreu (2008), o interesse foi estudar a temática da cidadania, não só como forma superestrutural de reconhecimento jurídico, moral e simbólico de participação do indivíduo na sociedade, por meio de práticas reguladas por direitos e deveres instituídos. Ao contrário, neste estudo, o interesse foi considerar a cidadania como uma construção sócio-histórica e política, que acontece ao mesmo tempo dentro e fora dos 31 grupos de convivência. Em continuidade, procurar-se-á explicitar mais detalhadamente o porquê da busca por estratégias de cidadania: Os significados aplicados ao termo estratégia, segundo o Dicionário Michaelis (1998), são os seguintes: 1. Arte de conceber operações de guerra em planos de conjunto; 2.Ardil, manha, estratagema; 3. Arte de dirigir coisas complexas. Em termos práticos, cada pessoa humana necessita de se colocar na posição de “estrategista” para atingir alguma meta na vida. Essa circunstância, porém, não é exclusivamente pertinente à rotina contemporânea. Ao contrário, desde os tempos primitivos, os homens das cavernas tiveram que usar estratégias de sobrevivência, para superar desafios e, paulatinamente, irem evoluindo dentro do processo civilizatório. O que diverge entre os contextos do passado e do presente diz respeito mais ao modo de instrumentalização da vida prática, uma vez que cada época impõe às pessoas habilidades e conhecimentos considerados mais apropriados. Na atualidade, costuma-se privilegiar o manejo de determinadas tecnologias da informação. As supracitadas competências garantem às pessoas, já a partir da infância, através do ingresso na escola formal, a oportunidade de saber lidar com alguns atributos indispensáveis à sua plena inserção no sistema de organização social. Assim, cada sociedade passou a estabelecer padrões de conhecimento e saberes, para distinguir quem tem ou não competência para viver na cidade [pólis], ou, por outro lado, quem se mostra apto, ou não, a oferecer um retorno à coletividade, o que ocorre, geralmente, em forma de serviços especializados que, em curto, médio ou longo prazo, garantem, ainda mais, o aprimoramento e o enriquecimento socioeconômico dessas mesmas sociedades. Nesse caso, aqueles que não conseguem se enquadrar em determinados parâmetros sociais, certamente, sofrerão rechaço e terão dificuldades para usufruírem as mesmas oportunidades que os socialmente considerados qualificados para partilhar a vida comunitária. Entretanto, é certo que, numa mesma sociedade, convivem pessoas com ciclo de vida, classe social e nível de aperfeiçoamento humano diferentes, o que favorece, ainda mais, a exclusão social, mediante os parâmetros culturais acima referidos. Desse modo, muitas sociedades passaram a eleger normas e regras de conduta diversas, visando criar oportunidades e condições para que, a priori, todos os indivíduos, igualmente, pudessem estar aptos a usufruir a realização social, ou seja, a vida na cidade. Porém, tal preocupação, dificilmente, compõe a agenda de governos e sistemas sociais, que já nasceram desiguais em suas bases, como é o caso da sociedade brasileira. 32 Sousa (2003, p. 38) alude que como parte da ordem social construída pelos seres humanos, a ideia de cidadania e o seu exercício foram-se transformando ao longo da história. Em determinado momento histórico, por exemplo, uma sociedade pode ter delegado poderes a parte de seus membros para decidir o que seria melhor para todos; outra pode ter criado sistemas de participação mais amplos. Da forma de resolver conflitos e divergências, estabelecer consensos, definir objetivos e projetos comuns resulta a identidade coletiva dos grupos sociais, das nações e civilizações, ou seja, sua forma de compreender e viver a cidadania. Entretanto, de modo geral, as pessoas serão tanto mais aceitas socialmente, quanto mais capacitadas estiverem para utilizar o que Heller (1997) refere como “normas-e-regras” vigentes no contexto histórico onde vivem. Dentro dessa mesma ótica, serão tanto menos respeitadas e aceitas, quanto mais dificuldades tiverem no sentido de se ajustarem aos padrões culturais do seu meio. Assim, as práticas e comportamentos adotados pelas sociedades dependem da forma como cada uma assimila a noção desses conceitos e, nesse caso, tanto podem ser favoráveis quanto desfavoráveis aos sujeitos idosos, independentemente do sexo a que estes pertençam. Isso equivale a dizer que a forma de consenso social, estabelecida em cada cultura, pode contribuir para que os idosos usufruam, em maior ou menor nível, do (senso de) bem-estar subjetivo nessa etapa da vida. De acordo com o que está posto na Carta Constitucional Brasileira, todos os indivíduos deveriam estar aptos para atuar socialmente nas mesmas condições de igualdade. Entretanto, isso não acontece de forma homogênea, por envolver seres que vivenciam estágios diferentes de vida, sendo alguns mais jovens, outros mais velhos e, nesse último caso, com um menor desempenho físico, funcional e cognitivo. Em termos de desempenho político, contudo, a capacidade das pessoas não pode ser mensurada pelos níveis de envelhecimento corporal, mas pelo seu potencial de saber lidar com as dificuldades, usando a capacidade de superação, a habilidade de ultrapassar barreiras e obstáculos, sem perder em autonomia e senso prático. Quanto mais amplas forem as possibilidades oferecidas pelo meio em que vive, maiores serão as oportunidades de a pessoa atingir plenamente suas metas na vida. Criar mecanismos de socialização e de educação para a cidadania na velhice constitui uma modalidade importante de intervenção, que está cada vez mais sendo posta em prática pelos governos. Conforme lembra Sales (2003 apud MPAS/SAS, 1998:10), “a própria Política Nacional do Idoso (PNI) contempla uma ótica de assistência social, segundo a qual a melhor 33 proteção é aquela que assegura aos cidadãos a sua inclusão nas oportunidades de integração oferecidas pelas políticas públicas, pelo mundo do trabalho e pelas diversas expressões do convívio familiar, comunitário e societário”. Assim, no tópico seguinte procurou-se apresentar um breve histórico sobre a gênese dos programas sociais voltados para a construção da cidadania de idosos em grupos de convivência, enfocando nesse contexto o trabalho desenvolvido pelo Governo do Estado do Ceará, nessa modalidade de atendimento direto a pessoas idosas, na capital cearense. 2.2 A gênese dos programas sociais voltados para a construção da cidadania dos idosos em grupos de convivência, na capital cearense O CIAPREVI-CE foi implantado, na capital cearense, em fevereiro de 2009. Por se tratar de um equipamento social ainda em fase de estruturação, acredita-se que alguns aspectos metodológicos vigentes necessitarão de ser readequados, tendo em vista acomodarse a natureza e os objetivos do trabalho ali desenvolvido à proposta de ação que rege todos os demais centros, nessa modalidade, existentes no país. Até o momento de realização da pesquisa de campo, a linha metodológica desenvolvida pelo CIAPREVI-CE ainda permanecia respaldada na filosofia de ação do PROJETO CONVIVER. Em face disso, buscou-se aprofundar aspectos referentes à filosofia de ação desse projeto. Para melhor alcançar-se esse propósito, procedeu-se a uma revisão bibliográfica, buscando-se conhecer a gênese do aludido projeto, uma vez que as fontes pesquisadas na STDS não ofereceram os subsídios pretendidos pela pesquisa. Neste tópico, apresentam-se os dados colhidos de pesquisadores técnicos que realizaram estudos de avaliação acerca dos programas sociais direcionados à população idosa de baixa renda no Ceará, na década passada. O propósito desses estudiosos, entre os quais Sales (1996), consistiu basicamente em avaliar a questão da velhice e conhecer os efeitos desses programas frente às problemáticas vivenciadas por esse segmento populacional (Secretaria de Assistência Social/ Escritório de Representação Estadual da Secretaria de Assistência Social (ERSAS)/ Ministério da Previdência e Assistência Social, 1996). Sob esse prisma, os pesquisadores buscaram conhecer ainda a dinâmica interna desses grupos de idosos, bem como apreciar aspectos, tais como: o nível de participação dos idosos, as relações de poder, o processo de tomada de decisões e a própria imagem que os 34 idosos reproduziam da velhice no seu cotidiano. Foi pesquisado um universo de 134 instituições cearenses, tendo sido selecionados 80 programas públicos e privados. Parte das informações que compõem este tópico foram colhidas do documento intitulado “A Velhice sob a Redoma dos Programas Sociais”, publicado pelo Escritório do Ceará da Secretaria de Assistência Social (ERSAS), do Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS), no ano de 1996, e parte dos conteúdos abordados por Sales (2003), na dissertação de Mestrado intitulada “Cidadania do Idoso: retórica ou realidade?”. Pode-se referir que a intenção dos pesquisadores técnicos do ERSAS consistiu também em conhecer a ideologia presente na prática dos referidos programas: A hipótese geral levantada era de que as instituições responsáveis pela implementação desses programas, através de suas práticas, elaboram e reproduzem determinadas concepções de velhice (de acordo com seus valores, conhecimentos, crenças e ideologia) e procuram enquadrar os idosos dentro dessa “imagem” construída. Essa concepção resulta da própria “imagem” construída pela sociedade, onde a velhice é vista apenas biologicamente como idade de declínio mental e corporal, onde os preconceitos, estigmas e limitações fazem parte do “imaginário coletivo”. Algumas conclusões emanadas desse estudo de avaliação (ERSAS) merecem ser aprofundadas neste tópico. Entretanto, ressalva-se que as considerações aqui apresentadas não se revestem de natureza crítica, nem tampouco dizem respeito a avaliar o PROJETO CONVIVER. Ao invés, partiram do propósito acadêmico de considerar, grosso modo, a filosofia das ações que regem essa modalidade de atendimento, tendo em vista, ao final do estudo, dispor-se de elementos para a formulação de sugestões de cunho metodológico. Acredita-se, portanto, que foram valiosas a este estudo as contribuições oferecidas por esses profissionais balizados, alguns dos quais, além de terem pesquisado a prática vigente nos programas de atendimento a idosos em grupos de convivência, participaram do próprio processo de implantação do PROJETO CONVIVER, no Estado do Ceará (Sales, 1996; 2003). Segundo as fontes pesquisadas ERSAS (1996) e Sales (2003), o atendimento a idosos de baixa renda teve início, no final da década de 90, quando inúmeras instituições começaram a desenvolver programas voltados para o atendimento aos idosos assim considerados, no Ceará. Nesse sentido, a extinta Legião Brasileira de Assistência (LBA), fundada em 1942, foi uma instituição pioneira na implantação do PROJETO CONVIVER, ganhando notoriedade nas mídias. Segundo Sales (2003, p.32), com essa proposta de ação, a LBA buscou atingir os seguintes objetivos: 35 a) Promover e ressocializar o idoso, proporcionando-lhe oportunidade de ser útil; b) Responder de forma dinâmica, a todas as necessidades expressas ou não do idoso para que se beneficie ao máximo da vida grupal; c) Desenvolver atividades, as mais variadas possíveis: recreativas, socioculturais, de produção, de auxílio e assistência que respondam às necessidades dos integrantes do grupo, que lhes dêem prazer e que contribuam para sua reintegração na sociedade. (PROJETO CONVIVER - LBA, 1993). A linha programática prevalecente nessa proposta da LBA era de caráter assistencialista, mas serviu de parâmetro para outras instituições, que passaram a desempenhar a mesma linha metodológica, sob motivações diversas. Segundo os dados levantados, constatou-se que 42,60% das instituições optaram por esse trabalho, devido à situação de pobreza e abandono que os idosos “estavam” expostos, sem receberem apoio e/ou atenção por parte da família e da comunidade; 21,0% afirmaram que o interesse central por esse trabalho foi de caráter religioso (caridade para com os velhos pobres); 12,20% por questão humanitária, ou seja, o idoso precisa de ajuda e consideração para agüentar o próprio peso da velhice; 10,40% por solicitação de algumas pessoas da comunidade preocupadas com a situação do idoso pobre; 8,20% das instituições declaram que uma das razões desse trabalho, foi a facilidade de obter recursos da área Federal (convênios, subvenções, doações e outros) e, finalmente 5,60% por motivos diversos, dos quais destaca-se: a própria iniciativa de alguns técnicos e/ou da comunidade sensibilizados pela situação de pobreza dos idosos (LBA, p. 30). O documento do ERSAS (1996) tece críticas ao modelo diretivo desse projeto, o qual, entretanto, serviu de matriz para as ações desenvolvidas por entidades públicas e privadas do Estado, junto a grupos de convivência. O parecer técnico considerou que essa proposta não favorecia a autonomia dos idosos envolvidos (ERSAS, 1996, p. 41). Do mesmo modo, o aludido documento faz restrições à forma de planejamento das ações do PROJETO CONVIVER, questionando aspectos estruturais, relacionados à escassez de recursos, tanto de ordem técnico-administrativo, quanto financeira e de recursos humanos, o que fragiliza consideravelmente esse processo (ERSAS, 1996, p. 41). Os aspectos acima referidos estão presentes, nas seguintes apreciações apresentadas pelos técnicos (ERSAS, 1996, p. 41): Estes dados apresentados sinalizam que o planejamento das atividades se processa dentro de um modelo diretivo, ou seja, os idosos podem até expressar seus interesses, idéias e sugestões, mas não participam das decisões. [...] A programação desenvolvida pelas instituições junto à população idosa apresenta uma certa homogeneidade, diferenciando apenas na sua operacionalização, dando uma nítida impressão de uma padronização de atividades direcionadas para esse segmento populacional. [...] Das 134 instituições pesquisadas 36% desenvolvem atividades de lazer e recreação (jogos, brincadeiras de salão, passeios, festas, danças etc.); 19% dão ênfase às atividades religiosas (novenários, orações, missa, dentre outros); 14,50% realizam reuniões de caráter educativo e informativo (palestra, informações etc.); 10% realizam atividades ocupacionais (bordado, pintura, crochê); 9% atividades culturais 36 (canto, teatro, dança folclórica e outros); 7,70% procuram desenvolver atividades de geração de renda, no sentido de atender o gravíssimo problema da pobreza dos idosos; 3,30% tentam desenvolver atividades esportivas e 0,70% outras atividades. Conforme se depreende, os técnicos chamam a atenção para as inquietações e os anseios emanados das populações alvo desses programas. Sob esse prisma, os documentos apreciados mencionam que “nas classes proletárias, onde as dificuldades fazem parte do cotidiano, esse medo está associado à questão econômica e à saúde, ou seja, às condições precárias de sobrevivência frente à minguada aposentadoria e/ou benefício” (ERSAS/MPAS, 1996, p.14). O aspecto metodológico mais desfavorável, apontado na avaliação empreendida pelos técnicos do ERSAS, diz respeito ao fato de que esses programas foram implantados no Estado sem a participação efetiva da população alvo, o que de certa forma contribuiu para sedimentar a ação verticalizada desse trabalho, onde o eixo central da prática desenvolvida é o atendimento das necessidades (ERSAS/MPAS, 1996, p.31). Concorda-se com os autores quando estes enfatizam que compreender a forma pela qual os sujeitos idosos das classes subalternas estão vivenciando a cidadania é um aspecto relevante de ser abordado, embora não deixe de ser uma tarefa difícil, em função de diversos fatores, entre os quais: a questão da subalternidade com que a questão é tratada pelo poder público; o desconhecimento da realidade de sobrevivência das pessoas idosas; a escassez de ações concretas de governos que reflitam os anseios da população alvo, e, por fim, a insuficiência de estudos, informações e/ou estatísticas oficiais transparecedoras do tipo de cidadania que esse segmento populacional exercita no cotidiano de suas vidas (ERSAS/MPAS, 1996, p.15). Sales (2003), na dissertação referida, aprofunda os estudos feitos na década de 90, como integrante da equipe do ERSAS. A autora detém-se em avaliar a política do idoso, vigente na capital cearense, no início da década atual, bem como procura avaliar quais os tipos de direitos e cidadania a assistência social brasileira estava interessada em efetivar, nesse período, junto à população idosa. Conforme menciona a mesma autora, a proposta do seu trabalho de dissertação não foi elaborar um novo conceito sobre cidadania do idoso, mas compreender de que modo essa questão estava sendo operacionalizada no cotidiano do “PROJETO CONVIVER”, principal alvo das ações desenvolvidas pela Operação Fortaleza (OPEFOR), na década de 2000 (SALES, 2003, p.15). 37 Com este trabalho, com suas lacunas evidentes, não quisemos fechar questão com relação ao valor e/ou importância do Projeto Conviver. Bem ao contrário, nossa preocupação foi com sua prática, ou seja, como é desenvolvido dentro do que propõe. Temos consciência de eu fizemos tão somente uma abordagem inicial, cuja compreensão detalhada apenas se iniciou (SALES, 2003, p.18). Este novo enfoque apresentado pela política do idoso nos instigou para o presente estudo, uma vez que estamos convictos de que a inclusão social (por mínima que seja) exige ações integradas e intersetoriais e definições quanto a padrões de qualidade de serviços prestados, como também exige um novo repensar sobre o que seja a velhice. Foi com esse intuito que nos propusemos a estudar o Projeto Conviver, enquanto instrumento de exercício de cidadania do idoso. Nossa intenção não é discutir a importância ou não deste projeto para a população idosa, mas sim a maneira de ter neste trabalho uma dimensão de cidadania para esse segmento, de acordo com as determinações estabelecidas legalmente pela Política de Assistência Social. (SALES, 2003, p. 63). Nesse novo texto elaborado, a mesma autora confirma a gênese assistencialista implícita na modalidade de intervenção do PROJETO CONVIVER. Ela faz uma reflexão aprofundada sobre as múltiplas significações e formas que a cidadania vem assumindo, em função de diferentes contextos sociais. Para Sales (2003), concordando com Santos (1997), “a cidadania é produto de histórias sociais diferentes”. Sob o supracitado prisma, a autora ressalta a distinção existente entre a cidadania enquanto conceito e a cidadania, enquanto prática. Esta última é a que se está buscando apreciar nas ações cotidianas dos sujeitos deste estudo, podendo nessa perspectiva assumir um significado equivalente à “vivência cidadã”. Sales (2003, p.84) deu voz aos técnicos responsáveis por essa modalidade de ação, em âmbito municipal, ensejando uma apreciação feita por esses profissionais sobre os interesses de cidadania manifestados pelos idosos engajados nos grupos do PROJETO CONVIVER. Acredita-se que o parecer emitido pelos técnicos municipais encontra ressonância na instância estadual, por estar balizado na mesma proposta metodológica. A seguinte apreciação contempla a visão formulada por uma profissional assistente social a esse respeito (SALES, 2003, p.84): O idoso é imediatista e tem interesse direcionado para suas necessidades. Assim eles não gostam de teorias e outro qualquer tipo de informação que não traga resultados para sua vida. Por essa razão, o que interessa para eles na política do idoso, são os benefícios concretos. A mesma autora fornece outros subsídios, dignos de registro: Na verdade essa não é uma atitude comum na maioria dos grupos [...] Esse espaço rico de oportunidades e vivências, não é explorado e/ou trabalhado, já que a preocupação central são as atividades. Sem dúvida essas atividades contribuem para a sociabilidade e mantêm os idosos incluídos no calendário sociocultural da sociedade. Todavia, não observamos uma 38 participação efetiva dos idosos no planejamento dessas comemorações, ou seja: conteúdo programático, responsabilidade, poder de decisão na programação estabelecida, entre outros. Essas festas são organizadas para eles e não por eles, o que evidencia a baixa capacidade de tomada de decisão e a dependência que estão expostos (p. 87) De acordo com a pesquisa bibliográfica realizada, observou-se, em linhas gerais, que as atividades desenvolvidas pelo PROJETO CONVIVER, tanto a nível municipal, quanto estadual, são similares. Sales (2003) coletou as seguintes atividades, desenvolvidas pela esfera municipal: “atividades religiosas; de lazer/recreação; oficinas de trabalho; hidroginástica; cursos diversos; jogos de salão; serviço de atenção à saúde; curso de alfabetização; atividades culturais; festas tradicionais, constantes do calendário comemorativo institucional”. No tocante às ações desenvolvidas pelo PROJETO CONVIVER, a nível estadual, cabe ressaltar que, até janeiro de 2009, a STDS dispunha de onze grupos de convivência de idosos, em funcionamento no espaço físico de cada um dos onze Centros Comunitários (CCs), vinculados à Pasta, a saber: Centro Comunitário das Goiabeiras; Centro Comunitário São Vivente; Centro Comunitário do Farol; Centro Comunitário Dias Macedo; Centro Comunitário Sta. Terezinha; Centro Comunitário João XXIII; Tancredo Neves; Centro Comunitário do Pirambu; Centro Comunitário São Francisco; Unidade de Abrigo e Centro Comunitário Dom Lustosa, atual CIAPREVI-CE. Todos os grupos, excetuando o desse novo equipamento, continuam a fazer parte das ações do “PROJETO CONVIVER”, vinculado à Coordenadoria de Proteção Social Básica da STDS. A programação desenvolvida em todos os grupos seguia, basicamente, a mesma rotina de atividades, a saber: atividades religiosas; de lazer/recreação; oficinas de trabalho;; cursos diversos; curso de alfabetização; curso de informática; atividades culturais; festas do calendário comemorativo institucional. Essa linha de orientação metodológica é incrementada com algumas inovações, resultantes do empenho dos coordenadores de determinados grupos de convivência. Nesse sentido, alguns coordenadores vêm trabalhando, já há algum tempo, junto aos seus respectivos grupos de idosos, atividades consideradas atípicas aos demais. Entre essas atividades, estão as de teatro e de música. Essa linha metodológica diferenciada ensejou a formação de um grupo de teatro (Centro Comunitário das Goiabeiras), de um grupo música no antigo Centro Comunitário Dom Lustosa, atual CIAPREVI-CE e de uma banda de música no Centro Comunitário São Francisco. Esses grupos se apresentam em eventos externos, reunindo os idosos que mostraram aptidão em desenvolver essas habilidades específicas nos grupos. 39 De modo geral, entretanto, uma grande parte dos centros comunitários trabalha na linha do incentivo às atividades produtivas, atraindo o interesse de muitas idosas dos grupos de convivência, em funcionamento nesses centros. Essas, por sua vez, passaram a integrar o Movimento das Mulheres Empreendedoras, composto também de mulheres de faixas etárias mais jovens, participando em conjunto de exposições em feiras públicas, eventos turísticos, e, mensalmente, na própria STDS, onde comercializam os seus produtos, junto aos servidores e ao público visitante. Conforme se pode constatar, as atividades trabalhadas nos centros comunitários seguem uma tendência vigente na própria comunidade onde esses equipamentos funcionam. Alguns grupos de convivência de idosos, portanto, se encontram inseridos no campo das atividades geradoras de renda, bastante próximas dos mecanismos de cidadania que regem as sociedades capitalistas como a nossa. Finalmente, há segmentos de idosos dentro dos grupos que procuram se engajar em atividades de lazer, incluindo as danças e os tradicionais forrós, e outras, de cunho recreativo ou religioso, não se interessando por atividades que envolvam palestras de natureza educativa ou cívica. A linha metodológica de funcionamento do grupo de convivência do CIAPREVICE, conforme foi demonstrado, apesar de algumas metodologias introduzidas, até o final de 2009, ainda permanecia basicamente a mesma que se encontrava sendo executada pelos demais grupos do PROJETO CONVIVER da STDS. Nesse sentido, os dias de funcionamento do grupo de convivência do CIAPREVI-CE também coincidiam com o de funcionamento dos outros grupos, ou seja, as reuniões aconteciam, semanalmente, às terças e quintas-feiras, no turno da manhã. No que tange especificamente à gênese institucional do CIAPREVI-CE, pode-se destacar que esse equipamento foi instituído, a partir do empenho do Conselho Estadual dos Direitos do Idoso do Ceará (CEDI-CE), na qualidade de órgão de controle social, em buscar incluir o Estado do Ceará nas metas de ação previstas no Plano de Ação para o Enfrentamento da Violência contra a Pessoa Idosa (2007-2010). A proposta apresentada pelo CEDI-CE resultou na elaboração de um projeto, visando à implantação de um equipamento social de atenção e prevenção à violência social contra a pessoa idosa, nos moldes como essa iniciativa já vinha sendo realizada em outros Estados da Federação pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos (SEDH). Por sua vez, a STDS, na qualidade de Secretaria de Estado, diretamente envolvida com a Política de Atenção ao Idoso, e em consonância com as diretrizes da Política Nacional 40 de Assistência Social (PNAS), aderiu à referida iniciativa, congregando esforços com o CEDI-CE, visando intervir sobre esse quadro de violência retratado. Destaca-se que os Centros Integrados de Atenção e Prevenção à Violência contra a Pessoa Idosa são equipamentos sociais criados pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, através da Subsecretaria de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos, podendo estar vinculados, tanto a instituições governamentais como a instituições não-governamentais. A supervisão geral desses equipamentos e a avaliação das ações estão a cargo do Centro Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde Jorge Careli (CLAVES/ENSP/FIOCRUZ), em parceria com a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SEDH). As ações desenvolvidas por cada centro são divulgadas no site do Observatório Nacional do Idoso (www.observatorionacionaldoidoso.fiocruz .br/centros), o qual dispõe de informações atualizadas sobre as ações realizadas em cada Estado da Federação. Assim, o CIAPREVI-CE foi implantado, em fevereiro de 2009, tendo como principais objetivos1: a) Fornecer orientação geral sobre Direitos Humanos a qualquer idoso vítima de violência e maus-tratos, informando sobre as garantias legais e procedendo a encaminhamentos para serviços especializados de atendimento a cada caso específico, articulados a uma Rede de Instituições de Atendimento e Defesa dos Direitos dos Idosos, na qual estão incluídos: Defensoria Pública, Ministérios Públicos, Serviços de Saúde, Delegacias, Instituições de longa permanência, instituições de Assistência Social, entre outras; b) Prestar atendimento especializado em Direitos Humanos e Cidadania à população idosa, desenvolvendo ações de atenção, prevenção e promoção de cidadania jurídica, psicológica e social, por meio de uma equipe multidisciplinar, composta por assistentes sociais, psicólogos e advogados, capacitados para oferecer atendimento psicológico, social e jurídico ao idoso, à família e ao agressor; atender idosos em grupo de convivência e prestar atendimento domiciliar a idosos, entre outros atendimentos; c) Oferecer serviços de mediação de conflito, como instrumento capaz de possibilitar a melhoria da qualidade de vida das partes envolvidas no conflito, configurando-se como uma prática social de realização da autonomia e da democracia. A prioridade recai sobre um atendimento humanizado junto à população idosa que procura os centros e que tenha 1 Informação divulgada no site do Observatório Nacional do Idoso da Presidência da República (www.observatorionacionaldoidoso.fiocruz.br/centros). 41 sido desrespeitada em seus direitos. Os centros realizam ações de prevenção à violência, através de palestras e capacitações para idosos, familiares e comunidade, com abordagem sobre direitos humanos, cidadania, violência e maus-tratos. O novo equipamento (CIAPREVI-CE) foi instalado nas dependências físicas do antigo Centro Comunitário Dom Lustosa, unidade pertencente à STDS, em funcionamento no bairro do Meireles, em uma área urbana privilegiada e próxima, tanto do Centro de Fortaleza, quanto de outros bairros desenvolvidos, a exemplo da Praia de Iracema e da Aldeota. Desse modo, o antigo centro comunitário foi extinto, dando lugar ao novo equipamento social. Através de uma nova proposta de ação, que continua sendo aperfeiçoada, o CIAPREVI-CE passou a estabelecer, como público-alvo dos seus atendimentos, os idosos atingidos por atos de violência. Nesse sentido, o grupo de convivência que funcionava no antigo Centro Comunitário Dom Lustosa permaneceu, não propriamente por seus integrantes atenderem ao perfil de violência, uma vez que não havia nenhuma pesquisa sobre esse aspecto, mas por se incluir na linha de trabalho do CIAPREVI-CE o desenvolvimento de ações voltadas para a prevenção à violência. Entretanto, sob esse novo direcionamento técnico, os idosos remanescentes do antigo PROJETO CONVIVER e os recém-admitidos, passaram a constituir um grupo de convivência atípico aos do antigo projeto. Cumpre ressalvar que, anteriormente, o critério de admissão nos grupos de convivência da STDS se baseava nos indicadores de pobreza. Em decorrência, o grupo de convivência do CIAPREVI-CE, que antes se encontrava vinculado à Coordenadoria de Proteção Básica da STDS, passou a se configurar nos moldes de uma ação de assistência social caracterizada como de média complexidade, e, portanto, vinculada à Coordenadoria de Proteção Social Especial da referida Pasta. Até o momento, contudo, os técnicos responsáveis pela coordenação do grupo seguem a metodologia que é aplicada aos demais grupos de convivência da STDS. Essa instância de Proteção Social Especial constitui uma modalidade de atendimento prestado a famílias e indivíduos em situação de risco pessoal e social, em decorrência de abandono, maus-tratos físicos ou psíquicos, abuso sexual, uso de substâncias psicoativas, entre outras situações previstas pelo Sistema Único de Assistência Social. A maior parte dos idosos participantes do grupo de convivência do CIAPREVICE é constituída por mulheres. Conforme foi dito na introdução, elas são as maiores vítimas dos atos de violência cometidos contra o segmento idoso de baixa renda, na capital cearense. 42 No intuito de compreender melhor esse contexto adverso à cidadania das populações subalternas, na perspectiva de gênero, dar-se-á continuidade a este estudo, buscando-se responder ao questionamento, a seguir. 43 3 POR QUE A VELHICE É UMA CONDIÇÃO TÃO DIFÍCIL PARA AS MULHERES? 3.1 Compreendendo as relações entre as categorias analíticas “cidadania”, “gênero” e “qualidade de vida” na velhice, integradas ao estudo Independentemente da modalidade de velhice que se queira investigar, não se pode buscar compreendê-la, de forma dissociada dos seus determinantes históricos. Nesse sentido, o ser mulher que envelhece é também um ser imbricado não só ao contexto social próximo, no qual se desenrola a sua história de vida, mas ao cenário social macro, no qual vem se desenrolando a história da presença do feminino no mundo. Por causa disso, ao se pretender estudar a cidadania feminina, cumpre estabelecerse as devidas conexões com esse cenário multifacetado, que está sujeito ainda às variáveis culturais, inerentes a inúmeras sociedades, onde homens e mulheres partilham um espaço comum, ou, ainda, o espaço de vivências cotidianas, que é o próprio espaço da cidadania. Abstém-se do que foi dito que partilhar com outros a vida comunitária significa para qualquer ser humano estar condicionado a diversos fatores, sobremodo os de ordem sociocultural. Isso implica dizer que circunstâncias ambientais, externas aos indivíduos, contribuem para que a cidadania destes transcorra de forma diferente, dependendo do meio onde vivem. Diversos estudiosos têm se preocupado em discutir e pesquisar aspectos relacionados à cidadania, a partir dos determinantes que levam os sujeitos envolvidos a agir e se comportar de determinadas formas, no seu cotidiano de vida. Assim, considera-se um exercício interessante para este estudo buscar responder ao supracitado questionamento, à luz dos estudiosos da gerontologia, da sociologia e da ciência política. Heller (2004) e Arendt (2008) reconhecem que o ser humano, no contexto social, não é um ser isolado, mas em “comum união” com muitos outros. Ao buscar no grupo um sentido para o seu pensar e para o seu agir organizado no mundo, está assumindo uma práxis humana integradora, que pode favorecer a qualidade da vida na esfera da cidadania. Na verdade, consoante a ordem de análise desses autores, acredita-se que a cidadania só encontra verdadeiro sentido, quando ocorre de forma harmoniosa e saudável na esfera política (do gr. pólis). Daí por que se buscará explorar, neste tópico, os elos de aproximação entre os conceitos de cidadania e de qualidade de vida. 44 Neri (2003) e Paschoal (2000) reconhecem que a qualidade da vida da pessoa idosa pode ser sobremodo favorecida por uma vivência harmoniosa, partilhada socialmente com outros (convivente+ia= sf.convivência). Abstrai-se do ponto de vista formulado por Paschoal (idem) que a qualidade da vida constitui uma dimensão relevante para a cidadania porque a vida constitui um dos maiores bens a serem preservados: é o primeiro direito, o direito à vida e a uma vida digna (PASCHOAL, 2000, p.22). Assim, consoante um prisma analítico, tanto a categoria “cidadania”, quanto a categoria “qualidade de vida”, e ainda as categorias de “idosos” e “gênero”, consideradas neste estudo, são de natureza sócio-histórica. Em comum têm, portanto, o aspecto de não comportarem um significado único, mas multifacetado, dependendo do contexto sociocultural considerado. No tocante à categoria “qualidade de vida”, Paschoal (2000, p.24) oferece uma explicação para a falta de consenso sobre os significados nela implícito, mencionando que [...] qualidade de vida é um conceito que está submetido a múltiplos pontos de vista e que tem variado de época para época, de país para país, de cultura para cultura, de classe social para classe social e, até mesmo, de indivíduo para indivíduo. Mais: tem variado, para um mesmo indivíduo, conforme o decorrer do tempo. O que hoje, para mim, é uma boa qualidade de vida, pode não te sido há algum tempo atrás; poderá não o ser amanhã, ou daqui a algum tempo. Talvez possa variar mesmo, de acordo com o meu estado de espírito ou de humor. Essa multiplicidade de conceitos, colocados de forma tão heterogênea, dificulta comparações. Percebe-se, através do ponto de vista de Paschoal (2000), que o emprego multidisciplinar do conceito de qualidade de vida inviabiliza, nos dias atuais, um significado único para esse termo. Levando em conta, ainda, que a questão da qualidade da vida tem constituído a pauta de interesse principal de diversos segmentos populacionais, não causa estranheza o fato de que o significado desse conceito esteja cada vez mais relacionado à forma como as pessoas estão exercendo a cidadania. Nos dias de hoje, alguns segmentos especiais vêm sendo alvo da exclusão social, sobremodo as mulheres idosas das classes economicamente menos favorecidas. Vivendo em bairros periféricos, com baixos níveis de instrução e em condições de subalternidade, muitas dessas mulheres sofrem rechaço e violência da parte de pessoas do próprio ambiente familiar. Em relação a esse fato, alguns observadores poderão opinar, consoante a visão tradicionalista da cidadania liberal, que isso acontece pela forma inadequada como essas mulheres poderão estar vivenciando a cidadania. Ponderam os que assim ajuízam que a via de 45 acesso à realização social passa necessariamente pela via do saber formal. Nesse caso, aos sujeitos que não tiveram acesso a essa via, por motivos diversos, caberia, simplesmente, se conformar com o estigma da “não cidadania”. Refuta-se essa forma de interpretação com o argumento de que a via da conscientização política, tantas vezes ignorada pelos governos, é também um modelo eficiente de levar pessoas não dotadas de nível de instrução satisfatório a procurar desenvolver práticas compatíveis com o exercício da cidadania. Nesse sentido, as sociedades democráticas têm buscado demonstrar, em alguns contextos, que oferecer aos indivíduos a possibilidade de desenvolver uma consciência crítica acerca da realidade social que os cerca constitui uma prática democrática inclusiva, que pode levar pessoas tidas como iletradas a procurar conhecer e exercer os seus direitos de cidadania, ampliando mais e mais as suas possibilidades de realização social. Essa perspectiva é formulada por um conjunto de autores mencionados no capítulo inicial deste estudo (DAGNINO, 1994; ARROYO, 1999; SOUSA, 2003; OSTERNE, 2008), para os quais a cidadania outorgada pelo Estado inviabiliza que os indivíduos escolham a cidadania que julgam ser a melhor para si próprios. Ilustrando o ponto de vista desse conjunto de estudiosos, inscreve-se, nesse contexto, o aspecto enfatizado por Freyre (1992, p.211), ao se reportar à política educacional promovida pelos jesuítas, na época do colonialismo brasileiro. O autor citado refere que essa política, embora conveniente aos interesses do governo português, não o foi para os interesses dos indígenas, afeitos à vida nômade. O mesmo autor (1992, p.211) apresenta o interessante argumento desenvolvido por Gabriel Soares, para quem teria sido mais proveitoso aos índios tupinambás do Brasil, se tivessem sido submetidos à orientação educacional dos franciscanos, direcionada à vida prática, do que à política educacional dos jesuítas, direcionada ao refinamento das letras. Considera, portanto, que a forma de instrução ministrada pelos jesuítas (ensinar a ler, contar, escrever, soletrar, rezar em latim) era refinada demais e não agradava aos nativos: “Tristeza apenas suavizada pelas lições de canto e música; pela representação de milagres e de autos religiosos; pela aprendizagem de um ou outro ofício manual” (FREYRE, 1992, p.211). A conclusão a que chegou Gabriel Soares, como observador dos costumes indígenas, levou-o a considerar que o indígena do Brasil era avesso à ideologia jesuítica. Nesse caso, a tese por ele defendida foi a de que o missionário adequado para orientar um povo com tendências comunais e rebelde ao ensino intelectual, como o indígena da América, teria sido o religioso franciscano. 46 De que modo as circunstâncias históricas, resgatadas por Gilberto Freyre, poderiam ser úteis ao entendimento da vivência cidadã dos sujeitos desta pesquisa? Um modo de responder a essa questão seria afirmando que os argumentos apresentados por Freyre (op. cit.) corroboram os princípios teóricos do paradigma de cidadania moderno, apresentado no primeiro capítulo deste estudo (OSTERNE, 2008), mediante o qual não se pode deixar de levar em conta heterogêneas demandas, formuladas por uma vasta gama de sujeitos, a maioria dos quais com níveis díspares de escolarização e de vivência cidadã. Volta-se, portanto, ao cerne da questão da “cidadania conquistada”, a partir da reflexão prévia de que sujeitos tão heterogêneos necessitariam de ser contemplados pelas instâncias estatais competentes com a cidadania que buscavam acessar. Nesse caso, caberia aos representantes legais instituídos buscar métodos efetivos para conhecer qual cidadania interessaria a cada segmento em particular alcançar, oferecendo-lhes os meios para tal. A esse contexto do reconhecimento de que os indígenas tupinambás brasileiros se mostravam mais interessados pela arte do que pela retórica, apresenta-se ainda o argumento defendido por Heller (2004), a partir do qual se depreende que não só as letras, mas também a arte se expressa como uma via metodológica importante, que pode levar as pessoas a transcenderem uma dimensão pessoal e particular, na direção de uma dimensão social e abrangente, ligada ao bem coletivo e, portanto, à cidadania. Em face dessas percepções, e, levando em conta que o arcabouço teórico da velhice, como categoria social, é de natureza eminentemente sócio-histórica, pretende-se dar continuidade ao presente capítulo, à luz dos argumentos desenvolvidos por estudiosos da gerontologia, contemplando ideias sobre a situação dos velhos, em diferentes épocas e sociedades. Não se pode, entretanto, olvidar o fato de que o envelhecimento é alvo de preconceitos e rechaços, desde os tempos mais remotos, até os dias de hoje. Além disso, no âmbito do misoginismo, são as mulheres idosas o segmento social mais discriminado e atingido por toda a sorte de violências, desconsideração e desrespeitos, por parte da sociedade e de diversas instâncias sociais. As ideias que ilustram este capítulo, portanto, vêm atender à preocupação anterior da pesquisadora em esclarecer se o rechaço à velhice e, em especial, à velhice feminina, conforme os fatos publicados pelas mídias televisiva e jornalística de hoje, seria uma circunstância específica da época atual. 47 Essa preocupação, conforme se constatará, a seguir, está presente nos estudos de diversos autores, entre os quais Rodrigues (1997). Essa autora, em aula ministrada no Curso de Especialização em Gerontologia Social - PUC, em Curitiba-Paraná, em março de 1997, alude ao argumento defendido por Beauvoir (1997, p. 83), reconhecendo que desvendar aspectos sócio-históricos da velhice não constitui empresa simples para os pesquisadores. Os documentos de que dispomos só raramente fazem alusão a esse assunto: os idosos são incorporados ao conjunto dos adultos. Das mitologias, da literatura e da iconografia destaca-se uma certa imagem da velhice, variável de acordo com os tempos e os lugares. Mas que relação essa imagem sustenta com a realidade? É difícil determinar. A imagem da velhice é incerta, confusa, contraditória. Importa observar que, através dos diversos testemunhos a palavra “velhice” tem dois sentidos diferentes. 1º) É uma certa categoria social, mais ou menos valorizada, segundo as circunstâncias. 2º) É para cada indivíduo, um destino singular - o seu próprio. O primeiro ponto de vista é o dos legisladores, dos moralistas; o segundo, o dos poetas; quase sempre eles se opõem radicalmente um ao outro. Moralistas e poetas pertencem sempre às classes privilegiadas, e esta é uma das razões que tira de suas palavras uma grande parte de seu valor: eles dizem sempre uma verdade incompleta (RODRIGUES, 1997). Segundo o ponto de vista formulado por Beauvoir (1997), a velhice de homens e mulheres está sujeita ao imaginário social vigente em cada época. Assim, os idosos tanto poderão ser considerados quanto desconsiderados pela sociedade onde vivem. Conforme esclarece Rodrigues (1997, p.86), no contexto das sociedades primitivas do mundo antigo, a vida longa era vista como uma bênção, e não como uma carga. Entretanto, essa circunstância dizia respeito especificamente à velhice masculina. O patriarca era o modelo e sua longevidade era tida como sinal de bênção divida. Nessas sociedades primitivas os velhos do sexo masculino passaram a ser vistos como pessoas detentoras de poderes especiais, conhecedores de tradições sagradas. Por causa disso, aos homens envelhecidos coube a nobilitante função de instruir seus descendentes. Embora, segundo a mesma autora, não se possa padronizar o tratamento dispensado aos velhos nessas sociedades, na maioria delas os homens idosos eram aureolados pelo privilégio “sobrenatural” de longevidade, e, como tal, ocupavam um lugar de destaque na sua comunidade (RODRIGUES, 1997, p.85-86). A condição da mulher envelhecida em muitas dessas sociedades primitivas era, por conseguinte, mais complexa e difícil do que a dos próprios homens, uma vez que quase todas essas sociedades eram patriarcais. Os homens de idade avançada detinham poder de vida e morte sobre os filhos, e não só em relação a estes, mas no contexto da sociedade familiar como um todo, incluindo a esposa, que lhes era submissa em tudo, sem dispor de nenhum poder de contestação. 48 Possuíam, inclusive, um poder religioso que lhes assegurava grandes privilégios. Enquanto sacerdote ou oficiante, o velho não tem ambivalência. Seu papel é positivamente da mais alta importância. Graças à sua memória, transmitia aos mais jovens mitos, cerimônias, danças e cantos necessários à celebração do culto. Portanto, na maioria das sociedades primitivas, o velho era aureolado pelo privilégio “sobrenatural” de longevidade e, como tal, ocupava um lugar de destaque na sua comunidade. A longevidade era associada à sabedoria e à experiência. Para essas sociedades profundamente religiosas, a velhice associava-se ao sagrado (RODRIGUES, 1997, 85). Segundo Rodrigues (1997, p.88), “entre todas as sociedades que sobreviveram à custa de uma economia relacionada às chuvas, a dos hebreus, nome primitivo atribuído ao povo judeu, foi aquela em que os homens idosos usufruíram de maior consideração social”. A autora citada refere, ainda, que “entre os hititas, os velhos se ocupavam principalmente da magia, sendo respeitados socialmente por esse atributo, porém, as mulheres adivinhadoras eram chamadas simplesmente de mulheres velhas”. Rodrigues (1997) utiliza um argumento semelhante ao desenvolvido por Muraro (2000), ao enfatizar, também, a condição dignificante da velhice dos homens, em recortes históricos das sociedades evoluídas do mundo ocidental. Assim, a velhice respeitável, assumida pelos velhos no contexto místico-religioso das sociedades primitivas se repetiria no contexto das sociedades mais evoluídas do mundo ocidental. Nas etapas iniciais da história grega, por exemplo, eram concedidos aos velhos amplos espaços de participação social: Em Esparta, o Senado era composto, unicamente, por velhos e Platão considerava esse fato como “a principal causa de prudência do governo e do Estado”. Porém, conforme sugere Rodrigues (1997), na Grécia clássica, “a beleza sempre serviu de inspiração para o ideal perfeito de mulher, enquanto a „feiúra‟ dos velhos serviu de pretexto para que eles fossem relegados a um lugar-social subalterno”. Nessa perspectiva, Rodrigues (1997, p.88-89) refere: Desde a epopéia de Homero, na Ilíada e na Odisséia, a juventude foi enaltecida, embora não houvesse desprezo pelos velhos, aos quais se atribuía a virtude da sabedoria. Em toda a Grécia antiga, sempre vamos encontrar os que repudiavam a velhice, que eram a maioria, e os que a enalteciam. Mas, para todos, a velhice e a morte estavam nos Keres (os males da vida) e eram implacáveis e irreversíveis. Nas tragédias gregas, a velhice era concebida como maldita e patética; nas comédias, como ridícula e repulsiva e, entre os filósofos era contraditória e ambígua. Havia filósofos jovens e filósofos velhos. Sócrates temia prolongar sua vida para não ser obrigado a pagar o que ele chamava o “tributo da velhice” - a cegueira e a surdez. Sófocles, Aristófanes e Eurípedes apresentavam a velhice privada de razão e irracional. Aristóteles resumiu essas concepções em seu livro Tratado sobre retórica, descrevendo os velhos como desconfiados, inconstantes, temerosos, pessimistas, melancólicos e egoístas. Mostrava a juventude e a velhice como pólos opostos, sendo a juventude uma época de excessos e desvarios e a velhice, uma etapa de conservadorismo. Para descrever os velhos, usava o eufemismo “esses de idade 49 avançada”, caracterizando-os como indecisos e incapazes. Por outro lado, uma minoria valorizava a velhice, como Homero, que associava a velhice à sabedoria [...] Na Roma antiga, a mesma autora (1997, p. 89) menciona que “os homens idosos detinham um poder essencial, no que se refere à autonomia e ao poder de deliberação. Este se expressava na figura do pater famílias, previsto no direito romano”. Nesse sentido, o poder de decisão concedido aos homens envelhecidos provocou acirradas disputas entre esses e as gerações mais jovens. Estas, finalmente conseguiram galgar amplo poder social, quando imperadores jovens assumiram o controle do Império Romano. A legislação romana, entretanto, mesmo sob essa nova feição, concedia direitos aos idosos, prescrevendo que aos filhos caberiam os cuidados com a velhice dos pais. “Como não era cumprido, fundaram-se asilos para velhos, os primeiros da história ocidental” (RODRIGUES, 1997, p. 90). Interessante é a constatação feita por Rodrigues (1997), subjacente a essa ordem de análise. A autora salienta que, quando o poder do pater famílias diminuiu, a autoridade que os velhos assumiam no Senado também acompanhou essa tendência, e, concomitantemente, “o poder materno se equiparou ao dos pais nas famílias” (RODRIGUES, 1997, p. 87-88). Porém, os filhos passaram a exercer o controle efetivo do lar. Outra referência feita pela supracitada autora é que houve, na realidade, duas Idades Médias, sendo uma caracterizada pelo feudalismo e pela servidão rígida, e outra, relacionada à ascensão da burguesia e do poder real. Foi a época em que surgiram heresias, revoltas no campo e na cidade; desenvolveram-se novas línguas e iniciou-se o capitalismo moderno. A Idade Média caracterizou-se também pela vigência da lei domais forte física e militarmente. Os mais débeis, entre eles os velhos, estavam submetidos aos mais fortes, sendo parte da população escrava (RODRIGUES, 1997, p.90). Rodrigues (1997) menciona que algumas imagens presentes nos ensinamentos teológicos do início do cristianismo foram pejorativas para as pessoas idosas. Entretanto, em virtude da presença de religiosos idosos, exercendo cargos nobilitantes na Igreja, o cristianismo contribuiu para que esse segmento social fosse mais bem acolhido e respeitado na sociedade. Foram as comunidades cristãs e, em seguida, a Igreja Católica, as instituições que pela primeira vez na história, pensaram nos velhos como seres merecedores de atenções especiais. Conventos e mosteiros acolhiam os velhos pobres e abandonados. Fundaram-se inúmeros asilos e hospitais. Parece que em toda a Idade Média freiras e monges eram longevos, tanto porque estavam mais protegidos dos azares de uma vida difícil como porque não cometiam excessos de comida, de bebida e de atos violentos, comuns entre os leigos. Nessa época, havia uma situação peculiar: as pessoas que exerciam o poder, reis e nobres, com frequência, morriam antes de chegar à velhice, enquanto seus conselheiros e altos funcionários, quase 50 todos religiosos, por serem os únicos com uma cultura livresca, embora jovens, viviam nos conventos em contato com os velhos, independentemente da idade dos papas, que sempre eram velhos porque os conclaves não elegiam pessoas com muitos anos pela frente; a Igreja era uma instituição dirigida pelos velhos (RODRIGUES, 1997, p. 91). Observa-se, portanto, a partir dessas explicações, que a valoração e a desvalorização da velhice vêm ocorrendo de forma descontínua na história da humanidade. O século XVI, por exemplo, segundo esclarece Rodrigues (1997, p.94), caracterizou-se por violento ataque à velhice, devido à adoração e culto à beleza e juventude. Usavam-se todos os meios disponíveis para prolongar a juventude e a vida e retardar ou eliminar a velhice. Novas regras de conduta, iniciadas no supracitado período, foram sendo suplantadas pelo pensamento científico, no século seguinte. Isso fez com que começasse a surgir um interesse pelas descobertas em torno das causas da velhice, mediante um estudo sistemático. A partir daí, entre os séculos XVII e XVIII, aconteceram avanços no campo da fisiologia, da anatomia, da patologia e da química, apesar de ainda prevalecer um pensamento ambivalente em relação à velhice (RODRIGUES, 1997, p.94). A ambiguidade envolvendo o conhecimento mais aprofundado da velhice se devia ao fato de que, na Idade Média, as pessoas viviam muito pouco, devido ao elevado número de enfermidades desconhecidas pela medicina. A autora referida assim resume esse contexto: Até o século XII, não se generalizaram os relógios. Até aí, não havia registros de nascimentos e óbitos. Muita gente não sabia sua verdadeira idade. Mais que em outras épocas, a idade era avaliada pela capacidade de trabalhar ou de guerrear, segundo a condição da pessoa: servo ou senhor. No século VI, viver até os setenta anos era tão excepcional que devia considerar-se um milagre. (RODRIGES, 1997, p.93). Esse cenário começou a mudar, a partir do século XVIII, quando ocorreram menos mortes de crianças e aumentou a expectativa de vida das pessoas. Nesse sentido, as revoluções burguesas propiciaram uma elevação no prestígio dos homens idosos, porém, a própria burguesia, mais tarde, contribuiu para o rebaixamento da condição histórica dos velhos, independente de suas condições econômicas, por se basear na individualização da propriedade. Assim, tanto os velhos pobres quanto os ricos se sentiram prejudicados nas sociedades em que essas revoluções ocorreram. Entretanto, ainda segundo Rodrigues (1997, p, 96), a velhice desvalida foi a mais atingida: 51 Com essas revoluções burguesas, das quais, como já dissemos, a mais importante foi a francesa, os velhos nobres proprietários de imensas gebas de terra, castelos e palácios tiveram seus bens expropriados e, muitas vezes, o campesino velho e pobre, seu servo, conservava sua lealdade ao senhor perseguido ou exilado. Entretanto, a oposição ativa à revolução não foi obra de velhos, mas de jovens aristocratas e, muitas vezes, os velhos das famílias burguesas foram mais diligentes do que os jovens na compra de bens expropriados. As cartas de nobreza da burguesia eram a riqueza e o trabalho. Este como que justificava daquele. Trabalhar era a atividade mais nobre do homem. O trabalho dava sentido à vida. Essa moral tinha um corolário prático: todo homem tinha direito ao trabalho. Lutero, na Reforma, enfatizava isso. Nada de esmolas, somente trabalho. Esse resgate histórico permite que se compreenda por que, no tocante à modernidade, o contexto da velhice nas sociedades que emergiram das revoluções burguesas tenha sido assinalado por uma notória desigualdade entre os idosos provenientes das classes sociais ricas e os das classes sociais proletárias. No que diz respeito à realidade brasileira, Peixoto (1993) menciona que “as mudanças ocorridas com a criação da aposentadoria-velhice, em 1973, pelo Ministério do Trabalho e pelo Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), acentuaram a representação social do aposentado como sinônimo de pessoas não-produtivas e, portanto, velhas. Em consequência, tanto no Brasil como na França e, aliás, em todas as sociedades industriais, a partir da criação da aposentadoria, o ciclo de vida é reestruturado, estabelecendo-se três grandes etapas: a infância e adolescência, como tempo de formação; a idade adulta, como tempo de produção; e a velhice - idade do repouso, como tempo do não-trabalho”. Muraro (2000) reforça a compreensão dessa realidade no tocante à condição feminina, referindo que o rechaço às mulheres empobrecidas sempre foi mais intenso. Desse modo, a repercussão alcançada pelos preconceitos, nos dias atuais, se torna ainda mais evidente, quando esses dizem respeito às mulheres pobres e idosas, sobretudo levando em conta o argumento apresentado por Muraro (2000, p.127), ao enfatizar que os pobres sempre foram considerados seres humanos inferiores. No tocante aos idosos das classes abastadas, novas terminologias continuaram sendo buscadas, ao longo da história, para configurar a velhice bem-sucedida dessa categoria social. A legenda “Terceira Idade”, muito usual nos dias atuais, vem sendo utilizada como eufemismo extensivo a vários segmentos de idosos. Segundo Peixoto (1993), essa denominação foi criada para designar a representação dos jovens aposentados, na França, na década de 1960, buscando imprimir ao envelhecimento um conceito ativo e independente, sob o crivo do dinamismo. Essa modalidade de envelhecimento passou a ser alvo das instituições e agentes especializados no tratamento da velhice, os quais prescreviam, não somente, maior qualidade de vida, através de 52 hábitos de vida saudáveis, mas, também, novas necessidades culturais, sociais e psicológicas. Consoante esse histórico, Peixoto (1993, p.76) enfatiza o pensamento de Lenoir (1977, p.384), ao aludir que [...] a expressão “terceira idade” não é um simples substituto do termo “velhice”. O trabalho de classificação é indissociavelmente um trabalho de eufemização e tem por objetivo tornar nominável, ou seja, público, aquilo que até agora foi rechaçado e não pôde se exprimir, como, por exemplo, tudo o que se relaciona à vida sexual que, em vocabulário jargão, permite dizer a coisa sem pronunciar a palavra. O parecer emitido por Debert (1993) segue a mesma linha de análise de Peixoto (1993, p. 63), deixando evidente que as formas de pressão traduzem-se em formas de expressão. Conforme se pode observar, a partir das referências dos diversos autores apresentados, os idosos, como categoria social, ficam sujeitos aos códigos de valoração das sociedades, vigentes em determinados períodos históricos. Assim, quando a velhice é valorizada, os idosos passam a sê-lo também, porém, quando essas ditas sociedades sedimentam ideias pejorativas sobre a velhice, os idosos, de modo geral, tendem a ser rechaçados. Considera-se que a sociedade atual busca, cada vez mais, se nortear por modelos de envelhecimento saudável, os quais, dessa forma, passaram a compor a agenda dos programas públicos de saúde, que visam incentivar padrões de velhice satisfatória. O exercício da cidadania efetiva passa, assim, pela possibilidade de os indivíduos se enquadrarem no aludido critério. Neri (1993, p. 120), por sua vez, propõe para os dias de hoje um modelo de envelhecimento integrado, baseado em seis pontos, estabelecendo uma relação entre a qualidade de vida e a continuidade no desenvolvimento pessoal na velhice. São eles: “a autoaceitação; as relações positivas com os outros; a autonomia; a intencionalidade e direcionalidade na busca de metas na vida; o senso de domínio e a competência sobre os eventos do ambiente e da própria vida.” A partir da concepção formulada por Neri (1993), considera-se que avaliar as transformações de qualidade de vida na velhice impõe aos estudiosos a adoção de critérios de análise, que devem levar em conta o ajustamento dos indivíduos à natureza biológica, psicológica e sociocultural do envelhecimento. Assim, vários elementos podem ser determinantes ou indicadores de bem-estar na velhice. 53 Para Neri (1993, p. 14-15), o bem-estar na velhice está relacionado: [...] à longevidade; saúde biológica; saúde mental; satisfação; controle cognitivo; competência social; produtividade; atividade; eficácia cognitiva; status social; renda; continuidade de papéis familiares e ocupacionais, e continuidade de relações informais em grupos primários (principalmente rede de amigos). As explicações aqui apresentadas convergem para o entendimento de que a qualidade de vida também pode ser compreendida como forma emergente de adaptação às condições de vida culturalmente reconhecidas, que a sociedade oferece aos seus idosos, através de uma adaptação multidimensional. Assim, quando o idoso detém saúde física satisfatória, suas condições para adaptar-se à nova maneira de viver poderão permitir maior satisfação pessoal. Lopes (2001) tece considerações importantes acerca dos estudos realizados por outros especialistas como Debert (1997) e Goldani (1999 apud LOPES, 2003). Tais estudos ensejaram um novo mapeamento da vida adulta, no qual se sobressai a maior longevidade das mulheres. Demonstra-se, assim, o caráter multidimensional e multideterminado do envelhecimento, que afeta cada gênero de forma diferenciada. Segundo Lopes (2003, p. 135), atentar para as diferenciações de gênero torna-se vital para as atuais sociedades, na medida em que está ocorrendo um fenômeno de feminização da velhice, caracterizado pelo crescimento da proporção de mulheres no total da população idosa em todo o mundo. Esse fenômeno, atrelado a mudanças no curso de vida, coloca em questão dois tipos tradicionais de contratos sociais, discutidos por Goldani (1999): o intergeracional e o de gênero. A citada autora chama a atenção para o fato de que os contratos sociais de gênero, estabelecidos no contexto das sociedades, geralmente, se orientam em valores e normas culturais nem sempre muito claros. No entanto, a mesma autora reconhece que, na contemporaneidade, as profundas mudanças ocorridas no campo do trabalho, bem como na estrutura das famílias e nas relações de gênero, estão ameaçando as condutas tradicionais com que as sociedades vinham lidando com as questões do envelhecimento. Dessa forma, entende-se que é importante para as sociedades modernas fazerem uma revisão sobre as formas como estão trabalhando a velhice e o envelhecimento, na perspectiva de gênero. Nesse sentido, são bastante importantes as diferenciações de gênero em idosos, apontadas, nos estudos de Goldani (1999 apud LOPES, 2003), a partir dos indicadores abstraídos da literatura internacional. 54 Com relação a esse aspecto, Goldani (ibidem), apoiando-se nesses indicadores, chama ainda atenção para o fato de que homens e mulheres não envelhecem da mesma forma, em função das diferenças genéticas, de gênero, raça, classe social e cuidados prévios com a saúde. Ressalta, ainda, que, embora os estigmas contra pessoas idosas e as perdas ocasionadas pelo envelhecimento atinjam igualmente homens e mulheres dessa categoria etária, os recursos de enfrentamento que ambos utilizam são diferentes. Ainda com Goldani (1999, apud Lopes 2003, p.136), apesar de viverem mais, a qualidade de vida das mulheres é ruim. Por isso, elas estão mais sujeitas a doenças e têm mais chances de viver como dependentes das famílias ou em instituições asilares. Acredita-se que o ponto de vista de Lopes não se aplica a todas as sociedades, merecendo ser apreciado sobre essa perspectiva diferenciada. Nesse contexto, enfatiza-se a circunstância assinalada pela autora de que a feminização da velhice está tão acentuada na contemporaneidade que, para Lopes (2003, p.137) “falar dos problemas dos idosos é falar dos problemas das mulheres idosas”. Esses dados de pesquisa são inestimáveis porque se traduzem em subsídios, que poderão ser utilizados pelos governos na formulação de políticas públicas direcionadas a atuar, especificamente, em cada segmento de idosos que as esteja demandando. Essa conduta, por conseguinte, garantirá a essas políticas maior eficiência e efetividade. No tocante à qualidade de vida, segundo Lopes (2003), as pesquisas indicam haver nítidas diferenças entre as idosas de idade mais avançada, ou seja, nascidas no começo do século XX, e as menos idosas, ou seja, nascidas no final do mesmo século. Segundo Goldani (1999 apud LOPES, 2003, p.137) a circunstância anteriormente referida leva em conta que a trajetória de vida das idosas de faixa etária mais elevada se desenrolou de acordo com parâmetros sociológicos afetados por várias restrições legais, econômicas e familiares, repercutindo em seus comportamentos e atitudes, sendo os principais aspectos de interferência apontados os seguintes: Na colônia, o primeiro tipo de união foi o casamento religioso, em 1851, e, só em 1890, o civil. Em ambos, a lei assegurava ao homem o poder de plena decisão sobre a família, sendo a mulher responsável pelo trabalho doméstico; Apenas na Constituição de 1934 se concretizaram os direitos políticos da mulher, com a instituição do voto feminino; Mais da metade das idosas brasileiras, na segunda metade do século XX, passou a vida sem saber ler e escrever e sem uma atividade remunerada; Somente na década de 1960 foi criado o Estatuto da Mulher Casada, até então considerada incapaz, mas ainda há nesse documento a especificação de tarefas, ficando a mulher responsável por zelar pela direção do lar; Apenas na Constituição de 1988 há inovação no conceito de família: “A família, constituída pelo casamento ou por uniões estáveis, baseada na igualdade entre o 55 homem e a mulher, terá a proteção do Estado.” (Art. 362) Além disso, as pesquisas atuais com foco no envelhecimento saudável tendem a reconhecer a necessidade de serem implementadas mudanças nos projetos de vida individuais dos idosos e nos contratos sociais de gênero. Nesse sentido, o aludido aspecto de feminização da velhice é um dado importante, a ser trabalhado pelas políticas públicas (LOPES, 2003, p.139). Portanto, para a maioria dos estudiosos da gerontologia, qualidade de vida, em última análise, significa para a pessoa idosa buscar instrumentalizar a vida cotidiana com entusiasmo, procurando executar tarefas prazerosas e úteis, valorizando a companhia dos outros, o convívio familiar, incluindo o exercício de uma cidadania integrada, em grupos de convivência. Para a maioria dos autores mencionados, a concepção de velhice bem-sucedida está condicionada a um constructo de qualidade de vida, cujo principal referencial pode ser traduzido pelo interesse da pessoa idosa em procurar se engajar de livre e espontânea vontade em programas de sociabilização na velhice, seja para se ocupar, recrear, fazer novas amizades ou desenvolver mecanismos de informação, estabelecendo elos de contato com o mundo exterior. Em função da importância do engajamento dos idosos, nessa linha de configuração da velhice, alguns estudiosos, entre os quais Viguera (2004), vêm buscando conhecer os determinantes que levam sujeitos idosos, de ambos os gêneros, a procurar encontrar um novo sentido para suas vidas na velhice, adotando práticas de envelhecimento saudáveis e procurando conectar-se ao mundo moderno. O interesse do autor comprova que os trabalhos na área da qualidade de vida na velhice buscam mais e mais o conhecimento dos fatores subjetivos e objetivos que determinam o anseio dos idosos por mudanças. Para Neri (1993, p. 9), “a promoção da boa qualidade de vida na idade madura excede os limites da responsabilidade pessoal e deve ser vista como um empreendimento de caráter sociocultural”. Nesse caso, dependendo da forma como os programas nessa área são realizados, essa motivação poderá constituir ou não fator de mudanças na vida dos indivíduos idosos. Os estudos centralizados no supracitado foco de análise merecem atenção, uma vez que poderão oferecer meios de os estudiosos conhecerem os mecanismos que cada segmento de idosos em particular utiliza para construir a sua vida cotidiana, incluindo nesta 56 os seus lazeres e o exercício da vivência cidadã. Observa-se, contudo, que, em cada época, os idosos vêm adotando estratégias criativas de inclusão social, as quais não podem ser desprezadas pelas políticas públicas voltadas para a construção da cidadania desse segmento. 3.2 A gênese das dificuldades enfrentadas pelas cearenses empobrecidas no âmbito da cidadania 3.2.1 As estratégias utilizadas pelas não cidadãs, em diversos períodos sócio-históricos Desde a época do Brasil Colônia, as mulheres brasileiras das camadas menos favorecidas vêm enfrentando contextos históricos adversos e misóginos, tendo que empreender lutas e articular formas de se impor como sujeitos sociais, ou, melhor dizendo, de buscar estratégias de inclusão social, para superar as barreiras socioculturais que lhe são impostas. Cumpre enfatizar que os preconceitos e estereótipos lançados contra as mulheres, de modo geral, advêm dos primórdios da história da humanidade, fazendo com que a cidadania feminina necessite sempre de ser compreendida, a priori, na perspectiva da observação de sujeitos históricos, circunscritos a restritos espaços de mobilidade social. Estes se restringem ainda mais, levando em conta a pobreza, o baixo nível de escolaridade e os diferentes estágios de velhice das mulheres envolvidas. A proposta com o desenvolvimento deste tópico é a de resgatar a gênese das dificuldades encontradas pelas mulheres empobrecidas para acessar a cidadania, através da leitura de circunstâncias inusitadas da historiografia nacional e, mais particularmente, da historiografia cearense, onde estão inseridos os sujeitos da pesquisa. Nesse sentido, embora alguns autores nacionais, ainda que não se preocupando necessariamente em abordar as formas de inserção social buscadas por mulheres idosas, ofereceram inestimável contribuição a este estudo, ao delinearem o cenário sócio-histórico no qual as mulheres empobrecidas vêm atuando, no contexto sociocultural brasileiro. Buscou-se, assim, abstrair dessa visão panorâmica apresentada por diversos autores, as estratégias que mulheres cearenses do passado, vivendo sob as mesmas condições econômicas restritivas das que estão sendo retratadas neste estudo, utilizaram para usufruir de melhor qualidade de vida, garantir o seu sustento e a sua segurança, em seus respectivos contextos históricos. Enfim, conhecer a maneira como procuraram driblar o destino, para 57 exercer a cidadania. Sob o citado prisma, o confronto entre o cenário feminino do passado e o de hoje, que está sendo vivenciado pelas idosas do grupo de convivência do CIAPREVI-CE, poderá resultar na composição de um estudo sociológico interessante para as políticas públicas desenvolvidas pelo referido equipamento. Salienta-se que o gênero está sendo aqui concebido como uma categoria analítica de natureza sócio-histórica, estreitamente imbricada à da cidadania e a dos idosos. Assim, cumpre ressaltar, que o interesse precípuo deste estudo, em investigar a luta de cidadania dos sujeitos, a partir dos princípios de um paradigma moderno de cidadania (DAGNINO, 1994; OSTERNE, 2008), não se opõe ou desmerece a natureza do paradigma clássico de cidadania, uma vez que abrange o direito à vida plena, para o qual convergem todas as outras dimensões dos direitos de cidadania. Tal perspectiva serviu de estímulo para que se procurasse elaborar um estudo bibliográfico preliminar à pesquisa, resgatando-se a ótica de autores nacionais e cearenses que buscaram retratar as dificuldades enfrentadas por mulheres de classes menos favorecidas. Sob o foco dessas considerações, deve-se reconhecer que a cidadania, traduzida como atitudes estratégicas de acesso à cultura dos direitos, aos bens coletivos e à realização pessoal e social dos indivíduos, já dá sinais de sua existência desde contextos sociais remotos da historiografia brasileira. A partir dos relatos dos observadores dos primeiros séculos de colonização no Brasil, trava-se contato com as primeiras estratégias protagonizadas por esse segmento de mulheres oprimidas, personificadas nas indígenas. É sabido que as indígenas brasileiras, desde a época do Brasil colonial, constituíram o primeiro segmento feminino de mulheres excluídas que passaram a desenvolver estratégias de inclusão. Isso ocorreu de duas maneiras: ou como mera forma de adaptação à subjunção imposta pelas elites representativas da Coroa Portuguesa, através da inserção no sistema agrícola implementado em terras brasileiras, ou como estratégia de ascensão da condição de aviltamento social em que se encontravam, unindo-se por laços afetivos aos colonizadores brancos. É importante enfatizar que o senso de adaptação das indígenas às condições impostas pelo colonialismo, permitiu que estas se engajassem mais facilmente que os homens indígenas nas atividades agrícolas implementadas pelos portugueses. Foram elas também que habilmente deflagraram o processo de miscigenação cultural, estabelecendo relações afetivas com os colonizadores brancos. Segundo Freyre (2000), “assim o fizeram, objetivando gerar 58 uma prole assinalada com os genes de uma raça por elas considerada como superior”. No campo do desenvolvimento de ações estratégicas, contudo, tanto os “conquistados” quanto os “conquistadores” usaram de artimanhas diferentes. Nesse sentido, os próprios colonizadores portugueses passaram a desenvolver estratégias de dominação e suborno junto aos indígenas. A historiografia tem mostrado que, quando os portugueses aqui chegaram, no ano de 1500, muitos indígenas que ocupavam as terras brasileiras mostraram-se hostis às suas presenças em seu ambiente natural. Entretanto, logo foram seduzidos pelos conquistadores portugueses, sendo agraciados com pequenos mimos. A supracitada estratégia de dominação, grosso modo, surtiu os efeitos almejados para os conquistadores europeus, uma vez que “a colonização européia vem surpreender nesta parte da América quase que bandos de crianças grandes: uma cultura verde e incipiente; ainda na primeira dentição [...]” (FREYRE, 2000, p.161). A partir de então, não só as vastas extensões de terras brasileiras, mas também os grupos humanos que aqui existiam, passaram a ser tratados, melhor dizendo, “coisificados”, como patrimônio dos conquistadores invasores. Essa tônica, nos séculos posteriores, dará vazão a uma peculiar constituição do Estado brasileiro e à forma de cidadania assinalada pela tônica patrimonialista, resultante de uma formação social híbrida e desigual. Nesse cenário, a figura masculina aparece como a detentora de poder, inclusive no âmbito da vida doméstica. Desse modo, conforme refere um conjunto de autores, entre os quais Costa e Silva (2000), por volta do ano de 1532, quando a sociedade brasileira começou a ser formada, passou a se estabelecer no Brasil uma modalidade de dominação familiar, vigente na sociedade colonial, em que o poder era exercido pelos representantes mais velhos de um clã, sendo essa forma de autoridade reconhecida como “gerontocracia”. Nesse caso, os pais de família atuavam como senhores dos serviçais da casa e das próprias esposas, estendendo a sua autoridade aos filhos. O seu poder era legitimado, portanto, pela própria comunidade doméstica, na forma de pater famílias, prática vigente em sociedades antigas e que se tornou também conhecida como patriarcalismo. Os patriarcas das famílias na sociedade colonial brasileira eram, portanto, senhores e donos tanto de suas famílias, na casa-grande, quanto dos escravos, na senzala. Sob essa tônica tem início o processo de constituição da sociedade brasileira, nascida híbrida em suas bases. Para alguns autores (FREYRE, 2000, p.163), organizou-se entre nós um modelo de sociedade cristã na superestrutura, que teve em seus fundamentos o elemento feminino da cultura nativa, no caso, a “mulher indígena, recém-batizada, por esposa 59 e mãe de família; e servindo-se em sua economia doméstica de muitas das tradições, experiências e utensílios da gente autóctone”. Aspecto sociológico interessante é o que o supracitado autor obtém dos relatos de Zacarias Wagner: este observou que, no século XVII, muitos portugueses, incluindo os mais abastados, iam buscar esposas legítimas entre as filhas das caboclas. Nesse período, essa preferência não se manifestaria, como no primeiro século, por falta de opções dos colonizadores, mas por decidida preferência sexual. A ótica de Capistrano de Abreu, contudo, sugere que a preferência da mulher gentia pelo europeu teria sido por motivo mais social que sexual: da parte das índias a mestiçagem se explica pela ambição de terem filhos pertencentes à raça superior, pois segundo as ideias entre eles correntes só valia o parentesco pelo lado paterno (FREYRE, 2000, p.163). Esses estudiosos reconhecem que, desde os primórdios da organização da sociedade brasileira, os laços de união conjugal já se prefiguram como uma estratégia de ascensão social, utilizada por muitas mulheres nativas. Alheias à sorte de pessoas com quem estabeleciam as uniões conjugais, o certo é que as indígenas de fato se uniram a muitos colonos trazidos pelo governo português para ocupar as terras brasileiras. Na visão de alguns observadores dos primeiros séculos da colonização, nem sempre essa sorte de desbravadores dispunha de uma consciência viva dos valores de raça, mostrando-se mais fragilizada moralmente que os portugueses fidalgos. Assim, na visão moralista dos observadores, as relações amorosas se estabeleciam, a partir de interesses carnais, em clima de “intoxicação sexual”. “[...] As mulheres índias davam-se ao europeu por um pente ou um caco de espelho” (FREYRE, 2000, p.164-165). Vê-se que Freyre não prescinde de afirmar, portanto, que a mulher gentia, embora desprovida de civilidade, constituiu não só a base física da família brasileira, mas também elemento cultural valioso na formação do nosso povo. Da cunhã é que nos veio o melhor da cultura indígena. O asseio pessoal. A higiene do corpo. O milho. O caju. O mingau. O brasileiro de hoje, amante do banho e sempre de pente e espelhinho no bolso, o cabelo brilhante de loção ou de óleo de coco, reflete a influência de tão remotas avós (FREYRE, 2000, p.166). Mediante esse cenário social, a monogamia era inexistente nas populações nativas brasileiras. Esses precedentes não inviabilizaram que a moral europeia e católica acabasse prevalecendo, na formação social da família brasileira: “não nos esqueçamos, entretanto, de atentar no que foi para o indígena, e do ponto de vista de sua cultura, o contato com o europeu. Contato dissolvente” (FREYRE, 2000, p. 179). 60 Outro elemento cultural viria, posteriormente, se integrar nesse processo: o negro, trazido da África, que passou a ser explorado nos trabalhos agrários, como escravo. Daí por que o discurso proposto por Nabuco (1949, p. 162), era de que [...] o regime escravo de trabalho sugava a energia e a iniciativa das forças vivas do país. Limitava dramaticamente as margens de liberdade política e democracia, proibindo qualquer avanço na cidadania. Conseguir a liberdade para o escravo, portanto, seria dar a todos os brasileiros uma dignidade, então inexistente: a de Cidadão Brasileiro. A supracitada tônica se fará presente na colonização portuguesa promovida no Ceará, bem mais tarde, a partir do século XVII. Conforme esclarece o historiador Antonio Luiz (2006), “a colonização no Ceará ocorreu não só pela conversão de almas, pela introjeção de disciplinas, mas pela conquista e povoação do território e pela subjugação dos nativos”. Para esse autor, a conjunção de dois fatores, a saber, a exploração financeira e a guarda espiritual dos colonizados, constituíram os pilares básicos da ação dos conquistadores lusitanos nas terras cearenses. Segundo relata outro estudioso da historiografia cearense (FARIAS, 2002), o território cearense demorou a ser reconhecido pelos colonizadores lusitanos, uma vez que não oferecia atrativos econômicos à Coroa Portuguesa. Por isso, esse reconhecimento só ocorreu, efetivamente, entre os séculos XVII e XVIII. Foi só nesse período que as terras cearenses passariam a ser chamadas “Siará”, sendo, finalmente, conquistadas, séculos depois da chegada dos descobridores portugueses ao Brasil. De início, o território cearense não atraiu o interesse dos lusitanos, por ser uma capitania pobre, sem muitos atrativos para o governo português. O Ceará, portanto, não oferecia à Coroa Portuguesa perspectivas geradoras de capital. Por causa disso, as terras cearenses ficaram praticamente esquecidas no século XVI pelos descobridores portugueses. Em parte, isso ocorreu por causa de dificuldades oriundas de outros fatores, entre os quais as correntes marítimas e a oposição dos índios à presença dos desbravadores estrangeiros. De acordo com Farias (2002, p.22), o principal motivo do desinteresse pelas terras cearenses, contudo, acabou sendo mesmo a falta de grandes atrativos econômicos da terra. O Ceará era desprovido de ouro e prata, não servindo para o plantio, em larga escala, de canade-açúcar. Também por não ter especiarias, deixou de despertar o interesse dos desbravadores. Assim, a ocupação do território cearense ocorreu através da pecuária, tendo essa atividade assinalado o início do processo de concessão de terras (sesmarias), graciosamente concedidas pelo governo português a colonos que ficariam encarregadas de administrá-las. 61 Concedendo sesmarias, o governo português estimulava a ocupação dos sertões, uma vez que assim estaria não só garantindo seu domínio sobre terras não ocupadas, mas também angariando o entesouramento, com a cobrança de impostos sobre o gado, o couro, a carne e tudo mais que pudesse ser gerado com a ocupação produtiva da Região (FARIAS, 2002, p.36). Esse processo de colonização foi prejudicial, sobretudo, aos indígenas locais, que passaram a ser escravizados, expulsos de suas terras ou exterminados impiedosamente, pois o governo português não encontrava nenhuma razão para preservá-los, uma vez que as fazendas pecuaristas absorviam pouca mão-de-obra. Consoante essas circunstâncias, o forte elemento indígena, presente no contexto da formação sociocultural cearense foi sendo suprimido, aos poucos, no decorrer do período da colonização portuguesa, denominado Regência, que vigorou de 1831 até 1840. Os presidentes das províncias eram nomeados pelo Imperador Pedro II, não tendo vínculos estabelecidos com as terras que governariam, e, chegando a desconhecê-las, inclusive, política e economicamente. Em consequência, era comum que essas autoridades se associassem à oligarquia local de seu partido e administrassem com mão-de-ferro, perseguindo os adversários e beneficiando os correligionários (FARIAS, 2002, p.86). A descrição desse contexto se faz importante para que se possa conceber de que forma a sociedade cearense foi sendo constituída dentro do cenário nacional, influenciando costumes e imprimindo feições próprias à estrutura social de nossas gentes, especialmente as menos favorecidas, nas quais está incluído o segmento de idosas investigadas neste estudo. Surgiram, assim, nesse cenário de profundas desigualdades sociais, as feições da política coronelista que se implantou e perdurou por muitas décadas em nosso Estado, sedimentando práticas de subserviência da classe dominada, em relação aos representantes das que se encontravam no poder e que faziam parte das elites rurais. Os estudos de Farias (2000) referem também que, embora acontecessem mudanças socioeconômicas no Ceará, na segunda metade do século XIX, durante o II Reinado, a província permaneceu sob o controle das tradicionais oligarquias rurais, que se acomodavam nos partidos do período, organizados na Regência. Nesse período, a administração pública era dominada por algumas poucas famílias, que, mesmo possuindo influência econômica e política, apresentavam-se no contexto geral frágeis, em virtude da instabilidade econômica da pobre província, que sofria com as secas. Contribuía para agravar mais ainda essa situação a baixa rentabilidade da pecuária e a oscilação dos preços do algodão, café, e outros produtos. 62 Vale acrescentar que a capital cearense, Fortaleza, nascida espontaneamente em torno do Forte holandês de Schoonenborch, fundado, em 1649, por Matias Beck, não apresentava, de início, a hegemonia urbana do Ceará. A cidade de Fortaleza, por décadas, abrigou uma população paupérrima, cumprindo modestamente sua função de ponto estratégico de ligação litoral leste-norte do Brasil e de guarnição militar na defesa dessas áreas contra estrangeiros. Mesmo a elevação à categoria de vila e capital, em 1726, não alterou a melancólica situação daquele povoado perdido na beira do Oceano Atlântico (FARIAS, 2002, p.182). Entretanto, na segunda metade do século XIX, a partir dos anos de 1870, Fortaleza começou a passar por profundas mudanças em sua infra-estrutura e serviços urbanos, colocando-se entre as maiores cidades do País (FARIAS, 2002, p.184). Assim, esse período histórico foi palco de grandes transformações, caracterizadas pela efervescência dos movimentos intelectuais de Fortaleza, pela expansão econômica do Ceará e diversificação dos serviços urbanos na Capital. Fundam-se jornais, grupos literários e instituições educacionais e culturais, iniciativas estas que se ligam diretamente ao advento de uma classe média na capital cearense. Nesse período, teve início o processo de industrialização cearense. Em 1881, foi instalada a primeira fábrica têxtil local. Nas artes, paralelamente, surgiram tipografias, nas quais, a princípio, eram impressos os jornais das facções partidárias e depois obras literárias, panfletos e revistas de intelectuais. Aparecem, nesse contexto, pequenas fábricas de cigarros, chapéus, velas, óleos, bebidas, curtumes e gelo, que possibilitariam o surgimento da classe operária cearense. Entretanto, conforme assinala Farias (2002, p.214), [...] se a capital cearense passava por uma fase de intensa prosperidade na segunda metade do século XIX, o mesmo não ocorria nos sertões. A expansão da cotonicultura e de outras atividades econômicas foi insuficiente para alterar o quadro de penúria do interior. As relações sociais e de produção ali continuavam a serem ditadas pelos senhores coronéis e pelo monopólio da terra. O cenário capitalista de exploração da força de trabalho das populações subalternas é analisado, em termos gerais, por Muraro (2000, p. 118). A supracitada autora resgata o surgimento do novo modo de produção capitalista, já a partir do século XVI, em sociedades que até então eram basicamente agrárias. Recorda que, em meados do século XIX, com o advento das fábricas, essas populações subalternas, compostas de homens e mulheres acostumados aos trabalhos da lavoura, mesmo exploradas pela burguesia patronal, encontraram um meio de não mais morrerem de fome. Daí por que, 63 desse período em diante, essas populações de excluídos passam a se configurar em classe operária (MURARO, 2000, p.118-119). Desde então, começaram a ocorrer mudanças radicais nas relações do ser humano com o trabalho, e, por conseguinte, nos papéis sociais atribuídos às mulheres. Segundo a mesma autora, isso ocorreu porque os trabalhadores agrários e suas famílias, com o advento das indústrias, se deslocaram para os locais onde as primeiras fábricas passaram a ser instaladas, em busca de trabalho. Assim, ao começarem a construir suas moradias em torno destes locais, motivaram o surgimento dos primeiros centros urbanos, apinhados de pessoas provenientes do campo. De acordo com Muraro (2000, p. 120), a nova ordem burguesa vigente no século XIX tinha suas bases assentadas nos princípios éticos do protestantismo, que se propagava pela Europa, onde o mais importante era a fé e não as obras. Considera que essa mensagem chegou distorcida entre nós e, como que acenando para a possibilidade de que quaisquer que fossem os atos que a pessoa cometesse, ela estaria salva, ou melhor, tudo seria válido: qualquer exploração, rapinagem ou roubalheira. Tudo valia, desde que se tivesse fé. E pouco a pouco se estabeleceu o princípio ético de que quanto mais rico fosse o homem, mais virtuoso ele seria. Os pobres, os improdutivos seriam os maiores pecadores, que era exatamente o contrário do que pensava Lutero; este pregava exatamente a saído do mundo material; nem pobreza nem riqueza. E assim se santificou, foi preparada e avalizada a grande transformação capitalista (MURARO, 2000, p.120). Esse cenário religioso alicerçado na idealização da riqueza material como fonte de bênçãos supremas, motivou tanto formas de pensamentos religiosos controversos, quanto modos inéditos de exploração da pessoa humana. Isso porque o árduo regime de trabalho imposto nas fábricas era uma forma de escravidão à qual os trabalhadores eram obrigados a se submeter, por falta de outras opções de sobrevivência nos centros urbanos (MURARO, 2000). Outro estudioso, o historiador e teólogo Eduardo Hoornaert (REVISTA FORTALEZA, 2006), desenvolve um argumento similar ao de Muraro (2000), ao defender a tese de que o catolicismo entrou no Ceará com os portugueses, engajado num processo maior chamado capitalismo. O contexto da exploração capitalista é apenas um dos ângulos de análise da condição desprivilegiada da mulher empobrecida. Muraro (op. cit.), ao abordar o contexto que prepara o advento do capitalismo, menciona, paralelamente, as novas normas de comportamento idealizadas para as mulheres, durante o período da Renascença: 64 Além da nova ética religiosa, outro fator importantíssimo que preparou o advento do capitalismo foram as novas normas de comportamento fabricadas para as mulheres durante a Renascença. É preciso lembrar a este respeito que a caça às bruxas, embora tenha se iniciado na Idade Média, teve o seu apogeu durante a Renascença, pois vai até o século XVIII. E devemos nos recordar também que esta perseguição se dirigiu quase exclusivamente às mulheres pobres, normatizando a sua sexualidade e reprimindo o seu saber. Em fins do século XVIII, estas mulheres já tinham, pois, os seus corpos reprimidos e inorgásticos e podiam, assim, transmitir aos seus filhos e filhas as regras de submissão que viriam a torná-los operários e operárias submissos e de corpos dóceis do século XIX em diante. (MURARO, 2000, p. 121). No século XVII e seguintes, passou a ser definida uma nova imagem para as mulheres das classes superiores, que constitui a base das mulheres e dos homens que somos hoje. Essa ideologia é representativa de um modelo de mulher da era industrial, dotada de características que seriam distintivas da nova feminilidade, vigente, principalmente, nas sociedades protestantes. Essas sociedades podiam ser distinguidas, assim, pelo culto da domesticidade; pela fabricação de um modelo de infância cuja força de trabalho era precocemente utilizada; pela criação da simbologia do amor materno e do pedestal feminino e, finalmente, pela inauguração da ideologia do amor romântico (MURARO, 2000, p. 121122): A assimilação destes itens pelas mulheres tornou-se mais fácil principalmente nos países protestantes, através de uma nova educação oferecida a meninas e adolescentes. Na Idade Média, a educação feminina era dada nos conventos pelas freiras. O protestantismo porém acabou com conventos e mosteiros. Combateu o culto à Virgem Maria, a única mulher que no cristianismo chegava perto da Trindade. Com isso, esta religião se tornou essencialmente a religião do Deus Pai. O feminino foi pouco a pouco sendo erradicado de seus quadros. Se as mulheres num primeiro momento ajudaram de maneira prática e significativa a revolução protestante e a implantação das novas denominações, à medida que a estas iam se solidificando, iam sendo dominadas pelos homens. Como sempre, as mulheres eram usadas em períodos difíceis e perigosos e depois marginalizadas. Conforme a autora, o século XIX constituiu palco de grandes vitórias para a classe operária, em decorrência do movimento lançado por dois jovens alemães, Karl Marx e Friedrich Engels, através do manifesto comunista, escrito em 1848. Entretanto, para Muraro (2000, p.131), as mulheres não foram privilegiadas pela ótica desses teóricos: Marx não consegue ver a especificidade da opressão da mulher, e nas poucas vezes que se refere à maior miséria das operárias (levando-as inclusive à prostituição), culpa-as inconscientemente por seus maus princípios morais; ele não vê como elas têm menos chance de entrar no mercado de trabalho e, uma vez o conseguindo, o fato de ganharem menos do que o homem as obrigava a sofrerem mais vexames por parte dos patrões e dos companheiros do trabalho. Como se pode observar, a história das mulheres se inscreve à margem das possibilidades da cidadania, uma vez que são elas o gênero mais atingido pelas desigualdades 65 sociais, em diversas épocas e culturas, o que repercute na forma como o segmento feminino vem exercendo até hoje a condição cidadã. Farias (2002), aproxima essas questões do contexto capitalista cearense, enfocando as condições desiguais de trabalho, tanto para os trabalhadores que se deslocavam para as cidades, quanto para os que permaneciam no sertão, geralmente ocupando a função de moradores ou agregados dos latifundiários. Para esses, em especial, as condições de vida eram bastante precárias. E, neste caso, conforme o mesmo autor, não só para eles, mas também para suas mulheres e filhos. No tocante às condições de vida desses sertanejos, Farias (2002) salienta que “eles habitavam, „por favor‟, a fazenda dos poderosos latifundiários, levando uma vida difícil e instável, porque podiam, a qualquer momento, ser expulsos, conforme a vontade do patrão. Trabalhavam arduamente, de sol a sol, para enriquecerem os coronéis. Em suma, a sina daquela gente sertaneja parecia ser a de andar a perambular de propriedade em propriedade, atrás de serviços e alimentos, atingindo a condição de penúria”. Farias (2002, p. 214) amplia, ainda mais, esse ângulo de observação do cenário de exploração humana pelas forças capitalistas, ao mencionar que a gente sertaneja só conseguia praticamente alguma ocupação, apenas nas épocas de plantio ou colheita, percebendo uma remuneração ínfima. Assim, quase que um dia inteiro de trabalho era recompensado, quando muito, com uma cuia de farinha seca com rapadura. O homem do campo torna-se escravo também do capital. Falci (2008, p. 242) observa: Ali se gestou uma sociedade fundamentada no patriarcalismo. Altamente estratificada entre homens e mulheres entre ricos e pobres, entre escravos e senhores, entre “brancos” e “caboclos”. Dizer então que o sertão nordestino foi mais democrático em suas relações sociais e que não tirou proveito da escravidão é basear-se em uma historiografia ultrapassada, não mais confirmada pela pesquisa histórica. É basear-se em observações espantadas de governantes portugueses enviados da metrópole, ou viajantes ingleses que, vendo o número os casamentos inter-raciais, notando as inúmeras uniões consensuais de homens amancebados com pardas e caboclas e constatando a grande quantidade de filhos bastardos de cor mulata, pensaram que, talvez, aquela sociedade se pautasse pela existência de maior solidariedade e menor tensão entre as diversas camadas sociais. Isso não corresponde à verdade. A autora acima referida confirma o aspecto da escravidão do homem do campo ao capital, mencionado por Farias (2002, p.250), ao esclarecer que as mulheres pobres não tinham outra escolha a não ser procurar garantir seu sustento. “Eram, pois, costureiras e rendeiras, lavadeiras, fiadeiras ou roceiras - estas últimas na enxada, ao lado de irmãos, pais ou companheiros”. 66 Um dado importante constatado pela autora, diz respeito ao misoginismo que, de forma geral, fez com que uma parcela de mulheres exploradas do sertão do Ceará e Piauí se congregasse em torno das mesmas estratégias de inclusão social que se observou em relação às mulheres indígenas, na época do colonialismo, conforme se percebe, a partir da seguinte ilustração feita pela autora (FALCI, 2008, p. 243): E as avós, preocupadas com o branqueamento da família - sinal de distinção social, perguntavam às netas, quando sabedoras de um namoro firme, “minha filha, ele é branco?” Primeira condição de importância naquela sociedade altamente miscigenada. De acordo com os relatos de Falci (2008), algumas escravas eram polivalentes, executando trabalhos manuais, como tecelãs, rendeiras, ou exercendo o ofício de carpinteiras, amas-de-leite, pajens, cozinheiras, ou qualquer outro serviço doméstico: “a maioria teve de aprender a fazer um pouco de tudo, devido à escassez de escravos na região e ao fato de os senhores possuírem em média poucos escravos [...]” (FALCI, 2008, p.250). Outro observador da vida social e política nordestina, Andrade (2004), trabalha, não especificamente, os atores nordestinos, no caso, a gente sofrida do sertão, mas os conceitos postos em um clássico da literatura sociológica e política brasileira, denominado “Coronelismo, enxada e voto”. Ao comentar essa obra, de autoria de Victor Nunes Leal (1975), identifica o coronelismo reinante no Nordeste como uma produção cultural resultante de diversos fatores, entre os quais a relação de subserviência estabelecida entre uma realidade social e econômica inadequada à outra mais desenvolvida. Nesse caso, a política local se apresenta amesquinhada e subjugada, em um contexto político mais amplo, em um contexto que, segundo o autor, o homem sertanejo não pode ser considerado livre, mas atrelado “ao cabresto político”, o que o torna dependente e incapaz de reagir às injustiças. Este constitui um tipo de violência que fere moralmente a dignidade humana, ainda que não haja agressões físicas. Estabelecendo um paralelo entre essas disposições teóricas e os diversos tipos de violência a que muitos segmentos segregados continuam a ser submetidos, atualmente, incluindo os idosos, observa-se que pouca coisa mudou. Os representantes dessas categorias sociais continuam quase que totalmente à margem da sociedade, necessitando de políticas públicas que possam minimizar as desigualdades existentes. Assim, também nos dias de atuais, a capital cearense continua a assistir, com bastante frequência, a cenas televisivas feitas pela Imprensa local, dando conta de atos cometidos contra os idosos, sobretudo as mulheres. 67 A quase totalidade de idosos que é atingida atualmente por diversos tipos de preconceitos e atos de violência, seja nas ruas ou nas famílias, residem nos bairros periféricos da Capital, onde perduram os problemas de saneamento básico, incluindo serviços de abastecimento d‟água e esgoto deficientes, entre outros problemas estruturais. Ratifica-se que foi dessa gama variada de pessoas, vivendo sob condições econômicas restritivas, que emergiu o segmento de idosos proativos, engajado no grupo de convivência do CIAPREVI-CE. Não é demais salientar que esse grupo é composto majoritariamente por mulheres materialmente pobres, que buscaram dar um sentido a suas vidas, através dessa forma de socialização na velhice. No tópico seguinte, procurar-se-á explicitar como ocorreu a construção metodológica deste, começando-se por definir o perfil geral dos sujeitos. 68 4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 4.1 Perfil geral das idosas engajadas no grupo de convivência do CIAPREVI-CE No tocante aos procedimentos metodológicos adotados na fase preparatória deste estudo, a primeira providência foi a de conhecer o perfil socioeconômico das mulheres idosas engajadas no grupo de convivência do CIAPREVI-CE, uma vez que a pesquisa estava privilegiando a categoria gênero. Catalogou-se um número de sessenta e cinco idosas participando do referido grupo. Com o consentimento da Coordenadora Geral do CIAPREVI-CE e o da Coordenadora responsável pelo grupo de convivência, empreendeu-se, durante duas semanas, uma pesquisa minuciosa nas fichas de cadastro individual dos aludidos sujeitos (documento, em apêndice). Um dos tópicos constantes da estrutura das aludidas fichas fazia referência às “atividades preferenciais” desenvolvidas pelos sujeitos no CIAPREVI-CE. Nesse tópico, a cidadania estava circunscrita como uma “atividade” oferecida pelo Centro, no contexto de outras, tais como: atividades educativas, laborativas etc. O enunciado desse tópico, que correspondia ao de nº 14, oferecia algumas opções de atividades aos sujeitos, encontrando-se assim formulado: 14-ATIVIDADES QUE VOCÊ GOSTA DE FAZER NO GRUPO DE CONVIVÊNCIA: Saúde ( ); Educação( ); Recreação/Lazer( ); Relação Interpessoal( ); Auto-estima( ); Cultural ( ); Religião( ); Corporal( ); Laborativa ( ); Intercâmbio entre grupos ( ); Cidadania( ). Em resposta ao supracitado tópico, apenas dois sujeitos fizeram referência à cidadania como “atividade preferencial”. Os sujeitos que fizeram a alusão a esse item, explicitaram a escolha, mencionando que “gostavam de palestras”. Observou-se que um desses sujeitos justificou a sua predileção por essa área, utilizando como correspondente para o termo “cidadania” a expressão “gostava de estudar”. Acredita-se que esse foi o modo como o referido sujeito desejou especificar a cidadania que lhe interessava mais alcançar. Ressalta-se que os dados relativos aos sujeitos foram sendo catalogados pela pesquisadora, a partir de uma xerocópia do modelo de ficha cadastral adotado pelo CIAPREVI-CE. Este foi reproduzido, de forma sintética, priorizando-se os dados julgados 69 úteis à pesquisa, anteriormente referidos. O passo seguinte foi tabular as informações relativas a cada sujeito, em computador, através do programa Excel, as quais se encontram compiladas em documento incluso. Ao final, a pesquisadora obteve um documento único, contendo os dados gerais dos sujeitos. Estes foram organizados, em uma sequência progressiva, obedecendo à numeração de 1 a 65. Salienta-se que para esse procedimento metodológico não se fazia oportuno apresentar a identidade dos sujeitos, bastando que fossem contemplados os dados considerados úteis aos propósitos da pesquisa. Essa primeira etapa da investigação oportunizou à pesquisadora conhecer dados inusitados: ficou demonstrado que os sujeitos mostravam preferência em realizar determinadas atividades, entre as quais: atividades musicais (dançar, cantar e tocar instrumentos musicais, no grupo de chorinho do CIAPREVI-CE); atividades artísticas e folclóricas (principalmente o ballet); atividades de convivência (conversar/fazer novas amizades/visitar amigos); atividades de lazer social e cultural (passear, viajar, participar de jogos lúdicos, assistir a programas de televisão, ler); manuais (entre os quais a pintura em tecido, a costura, o bordado em ponto de cruz e crochê, confeccionar tapetes de retalhos de tecido); atividades domésticas (entre as quais, cozinhar, arrumar a casa, lavar e passar roupas) atividades religiosas (ir à missa, frequentar grupos de convivência religiosos, participar de pastorais, fazer leituras devocionais, rezar o terço). Observou-se que as atividades envolvendo a capacidade intelectiva, entre as quais as de cunho educativo, não se encontraram entre as preferenciais apontadas pelos sujeitos. Na etapa seguinte, abordar-se-á sobre o processo de seleção dos sujeitos da pesquisa. 4.2 Critérios de Seleção dos Sujeitos A pesquisa de campo foi desenvolvida junto a quinze sujeitos, entre 60 e 80 anos a mais. Foram selecionadas quinze (15) idosas, com um tempo de permanência no grupo de convivência superior a um ano. Ressalta-se que havia sido prevista a inclusão de sujeitos com cinco anos ou mais de experiência no grupo de convivência do CIAPREVI-CE. Porém, os sujeitos na faixa etária de 60 a 64 anos, que se desejava investigar, eram em número bastante reduzido e com menor 70 tempo de permanência no grupo. Caso se optasse por não incluí-los, a pesquisa poderia deixar de contemplar essa faixa etária de velhice inicial, o que poderia inviabilizar uma análise sociológica heterogênea. Decidiu-se compor a amostra geral da pesquisa, contemplando-se a perspectiva evolutiva da velhice, ou seja, dos 60 a 80 anos a mais, visando conhecer possíveis interferências do fator etário nas estratégias de acesso à cidadania, adotadas pelos sujeitos. Desse modo, buscou-se adotar o critério metodológico utilizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nas pesquisas censitárias, abrangendo os diversos ciclos evolutivos da velhice, a saber: 60 a 64 anos; 65 a 69 anos; 70 a 74 anos; 75 a 79 anos e 80 anos ou mais. Mediante esse parâmetro utilizado nas pesquisas oficiais, foram abstraídos cinco agrupamentos etários, ou quotas, para compor a amostra geral. A intenção era compor-se uma amostra com agrupamentos de sujeitos, com ciclos de velhice progressivos, a saber: de velhice inicial; velhice intermediária e velhice adiantada. A partir dessas decisões, foi feita a opção por uma amostragem por quotas, não probabilística, a qual se justificou em função das limitações do tempo, recursos financeiros, materiais e pessoas. Aqui se esclarece que “a amostra por quotas constitui um tipo especial de amostra intencional em que o pesquisador procura constituir uma amostra similar à população sob algum aspecto” (RUDIO, 2003). Decidiu-se compor cada uma das cinco quotas previstas, com o número de três sujeitos, vivenciando ciclos de vida ou estágios de velhice aproximados, a saber: três (3) sujeitos na faixa etária compreendida entre 60 e 64 anos; três (3) sujeitos na faixa etária compreendida entre 65 e 69 anos; três (3) sujeitos na faixa etária compreendida entre 70 a 74 anos; três (3) sujeitos na faixa etária compreendida entre 75 a 79 anos e três (3) sujeitos na faixa etária de 80 anos ou mais. Cumpre ressaltar que essa conduta metodológica teve por fim savalguardar a composição de uma amostra geral o mais diversificada possível, oferecendo condições para que a pesquisadora pudesse estabelecer generalizações e comparações entre os sujeitos pertencentes a cada um dos diferentes estágios de velhice considerados. De acordo com Sales (2003, p.27) “o envelhecimento apresenta-se como um processo gradativo que varia de indivíduo para indivíduo. Não se pode falar em velhice segundo o critério de homogeneidade”. 71 Portanto, ressalva-se que a intenção não foi adotar um critério meramente estratificado de sistematização e apresentação dos resultados. Ao invés, buscou-se adotar métodos que possibilitassem reflexões sobre a temática do estudo, levando em conta os aspectos observados nos sujeitos de cada faixa etária considerada. Foram utilizados, portanto, critérios objetivos e subjetivos de análise, em complementaridade, conforme sugerem Minayo e Sanches (1993). Apresenta-se, em apêndice, o quadro com dados relativos ao perfil sociodemográfico dos quinze sujeitos selecionados para compor a amostra geral de campo. Esses dados foram sistematizados, a partir da pesquisa documental realizada nas fichas de cadastro individual dos sujeitos e da análise dos dados constantes do primeiro instrumento de pesquisa aplicado (Instrumento 1). 4.3 Métodos de pesquisa 4.3.1 Definições de ordem metodológica: a construção do instrumental da pesquisa Conforme foi mencionado na introdução, o objetivo precípuo deste estudo buscava confirmar um conjunto de hipóteses, centrado no pressuposto de que os interesses de cidadania dos sujeitos versavam em torno de uma luta por qualidade de vida e bem-estar na velhice. Essa perspectiva impôs que se buscasse operacionalizar a categoria “qualidade de vida” subjacente à categoria “cidadania”, através de uma base empírica balizada. Optou-se pelo componente de Bem-Estar Subjetivo (BES), considerado por Paschoal (2000), Ferreira e Seidl (2009). Paschoal (2000), adotando os princípios de uma metodologia consagrada (NEUGARTEN et al., 1961), operacionalizou a categoria “qualidade de vida”, pelo viés metodológico do componente de “Bem-Estar subjetivo” dos sujeitos investigados. Buscou-se, da mesma forma, instrumentalizar esse componente, no contexto de uma linha conceitual sobre qualidade de vida, marcada pela neutralidade científica. Ressalva-se que, caso se optasse por modelos prontos acerca do conceito de qualidade de vida, a pesquisa poderia ficar comprometida, pois, estariam prevalecendo os juízos de valor de terceiros e não dos sujeitos a serem investigados. 72 Foi privilegiada a análise de dois indicadores, entre os muitos implícitos no conceito de qualidade de vida, a saber: satisfação e integração. A partir da pesquisa documental prévia, realizada nas fichas de cadastro individuais dos sujeitos, constatou-se a preferência destes por atividades lúdicas e de integração. Desse modo, os mencionados indicadores não foram selecionados a partir do ponto de vista da pesquisadora, mas das opções preferenciais manifestadas pelos sujeitos, constantes de um do instrumentais técnicos disponibilizados pelo CIAPREVI-CE. Em decorrência dessas percepções, a pesquisadora buscou apoiar-se em teóricos e autores que trabalharam o componente “BES”. O supracitado componente foi instrumentalizado neste estudo como uma subcategoria da categoria “qualidade de vida”. Permitiu à pesquisadora constatar que a boa qualidade da vida pretendida pelos sujeitos, dizia respeito a desenvolver atividades prazerosas cotidianas, nos espaços de cidadania que freqüentavam, não com o propósito de preencher o tempo ocioso, mas como uma demanda por bem-estar e qualidade de vida que se incorporou à suas rotinas de vida. Portanto, através desse viés metodológico, foi possível à pesquisadora “compreender” não só a teleologia das ações cotidianas empreendidas pelos sujeitos, mas também os atributos por eles desenvolvidos, que se mostravam favoráveis ou desfavoráveis aos princípios teóricos desse novo paradigma de cidadania que estava sendo considerado (OSTERNE, 2008). Os procedimentos metodológicos acima referidos possibilitaram ainda que se conhecesse qual dos espaços de socialização investigados (casa, grupo de convivência do CIAPREVI-CE ou outros locais comunitários) estaria sendo mais favorável à construção da cidadania dos sujeitos, enquanto luta por obter melhor qualidade de vida e bem-estar na velhice. Ressalta-se que a metodologia desenvolvida por Paschoal (2000), para avaliar a qualidade de vida de idosos, foi assim considerada pertinente com a perspectiva teórica buscada na presente pesquisa. O referido teórico justifica a sua opção por esse viés de pesquisa, enfatizando que, desde 1995, se sentia incomodado, por não dispor de ferramentas adequadas para avaliar esse aspecto da vida de seus pacientes idosos, principalmente os que se mostravam descontentes com a velhice. Assim, procurou trabalhar a temática da qualidade de vida, começando por traçar um perfil de sua clientela, separando-a em dois grupos, a saber: o dos satisfeitos e o dos insatisfeitos com a velhice, tendo em vista descobrir o porquê da satisfação de uns e da 73 insatisfação de outros (PASCHOAL, 2000, p.5). Entre os instrumentos citados pelos compêndios médicos, até então pouco explorados e analisados pelos profissionais da área, o autor menciona o “Life Satisfaction Index”/Índice de Satisfação de Vida (NEUGARTEN et al., 1961). Este investigava cinco dimensões do envelhecimento, a saber: apatia e entusiasmo; resolução e fortidão; congruência entre os objetivos desejados e alcançados; autoconceito positivo e tônus de humor. Em linhas gerais, o instrumento criado por Paschoal (2000) resultou da adaptação de uma metodologia consagrada na literatura médica (KIRSHNER; GYATT, 1985; GUYATT et al., 1989; JUNIPER et al., 1997). Esta foi igualmente aplicada, com reconhecido sucesso, em outros países, na construção de instrumentos específicos de avaliação de qualidade de vida (GUYATT et al., 1989; JUNIPER et al., 1992; COOK et al., 1993). A confiabilidade do instrumento idealizado pelo referido autor provém do fato de que se fundamenta no (senso de) bem-estar subjetivo dos idosos considerados, metodologia esta validada pelo Grupo de Trabalho da Organização Mundial de Saúde sobre Qualidade de Vida (GRUPO DE LA OMS SOBRE LA CALIDAD DE VIDA, 1996): Este grupo mostrou-se favorável à abordagem do “bem-estar subjetivo”, pois baseou sua descrição de qualidade de vida em elementos subjetivos, afirmando enfaticamente que “qualidade de vida” não deve refletir a opinião dos profissionais de saúde, nem dos familiares, nem tampouco tem a ver com a avaliação objetiva da condição do individuo, ou de suas posses. Cita, como exemplo, que “não se deve levar em consideração o montante absoluto ou relativo dos rendimentos, mas o grau de satisfação que esses rendimentos proporcionam”. De acordo com Neri (2001, p.13), o (senso de) bem-estar subjetivo resulta da avaliação que o indivíduo realiza sobre suas capacidades, as condições ambientais e a sua qualidade de vida, a partir de critérios pessoais, combinados com os valores e as expectativas que vigoram na sociedade. Seu indicador mais conhecido, segundo a mesma autora, é a satisfação com a vida. O bem-estar subjetivo inclui medidas cognitivas e emocionais. Dentre as primeiras a mais conhecida é a satisfação (global com a vida e referenciada a domínios selecionados) e entre as segundas, as medidas de estados emocionais (positivos e negativos) (NERI, 2001, p.13). O conceito de bem-estar subjetivo apresentado por Neri encontra respaldo na concepção formulada por Ferreira e Seidl (2009), segundo os quais o BES constitui um conceito estruturado por Diener, Sollon e Lucas (2003), por meio de um modelo hierárquico de felicidade. 74 Para esses autores, esse conceito reflete uma avaliação geral da vida ou de domínios específicos dela, incluindo duas dimensões psicológicas, a saber: de um lado, a esfera afetiva, que incorpora estados emocionais e sentimentos, tanto positivos, quanto negativos e, de outro, a esfera cognitiva, relacionada às avaliações de satisfação com a vida em geral, e, em particular, com os aspectos da vida produtiva. De acordo com Ferreira e Seidl (2009), [...] para acessar o BES, é necessário que o próprio indivíduo faça sua autoavaliação. Isto é, o BES não pode ser observado ou identificado por indicadores externos e/ou terceiros. É a pessoa quem deve avaliar suas expectativas, valores, experiências ,próprias e emoções. Levando em conta os conceitos formulados por esse conjunto de autores, foram idealizados dois instrumentos para este estudo. O primeiro instrumento idealizado (Instrumento I) foi o Relatório Sintético da Vida Cotidiana Real (ações cotidianas) dos sujeitos da pesquisa. Com esse instrumento buscou-se conhecer, especificamente, as estratégias de ação utilizadas pelos sujeitos para ter acesso à cidadania, compreendida como a luta para obter melhor qualidade de vida e bemestar na velhice. Compõe a estrutura desse instrumento a legenda “Relatório Sintético da Vida Cotidiana Real dos Sujeitos”, disposta na horizontal, seguida de uma sublegenda, contendo a seguinte inscrição: “O que costuma fazer”. A esta segue-se a definição dos três espaços de socialização a serem investigados (1.casa; 2. grupo de convivência do CIAPREVI-CE e 3. outros locais comunitários, os quais relacionam-se, à esquerda, com cada dia da semana, dispostos na vertical. A medida de tempo estabelecida para a investigação, constante do Instrumento 1 aplicado, observa a sequência de uma semana (de segunda a sexta-feira). Destaca-se que essa sequencia foi iniciada pela segunda-feira porque para a maioria das pessoas o primeiro dia útil da semana equivale ao primeiro dia de suas rotinas de vida. O segundo instrumento, denominado Instrumento 2, constitui o Plano Estratégico de Rotina Semanal Idealizado pelos Sujeitos. No aludido instrumento a mesma estrutura do instrumento anterior se repete, estando direcionada, contudo, a avaliar a vida cotidiana que os sujeitos “gostariam de ter”. Este segundo instrumento deveria responder o quanto os sujeitos estavam satisfeitos, ou não, com a sua rotina de vida, a partir das ações cotidianas que realizavam nos três espaços de cidadania investigados. Permitiria que a pesquisadora conhecesse, ainda, a efetividade das ações estratégicas utilizadas pelos sujeitos, visando à 75 superação e enfrentamento às condições adversas da velhice, para obter melhor qualidade de vida nessa etapa existencial. Ressalta-se que esse instrumental aplicado motivou a curiosidade de muitos idosos em conhecer, de imediato, “a qualidade das ações cotidianas” que relataram. Por isso, ensejando um exercício de reflexão, a pesquisadora levou-os a manifestar os seus próprios pontos de vista sobre a qualidade de suas ações cotidianas. Ao término da aplicação do primeiro instrumento de pesquisa (Instrumento 1), foi apresentado a cada um deles o relatório sintético de suas atividades cotidianas, constituindo motivo de contentamento para a pesquisadora o fato de a grande maioria ter se mostrado satisfeita em ter realizado um exercício de reflexão sobre a rotina que estavam levando. Assim, à medida que a pesquisadora apresentava a cada sujeito o relatório sintético de sua rotina semanal, pedia-lhe, em seguida, para idealizar como gostaria que essa rotina transcorresse, justificando o que acrescentaria e o que retiraria de sua rotina diária e por que faria mudanças na mesma. Cumpre ressaltar que os resultados obtidos ratificaram as hipóteses formuladas para o presente estudo. O estudo realizado levou em consideração a noção de vida completa do indivíduo idoso, na dimensão relacionada à totalidade de aspectos de vida, de que trata Nordenfelt (1994 apud PASCHOAL, 2000, p.23). Cumpre esclarecer que o conceito de vida completa do indivíduo idoso envolve duas perspectivas: a primeira, que é a que está sendo considerada neste estudo, representa a soma total de todos os aspectos da existência do indivíduo que se está investigando, num determinado ponto do ciclo de vida, ou seja, durante um determinado contexto de sua história. Portanto, é uma vida completa que se está investigando, porém, na dimensão relacionada à totalidade de aspectos de vida em determinado ciclo da vida. A segunda perspectiva de análise envolve uma dimensão de tempo que não está sendo considerada neste estudo, uma vez que se refere à investigação de uma série contínua de eventos vitais, que dada pessoa vivencia durante sua vida inteira, ou seja, na trajetória longitudinal, do nascimento até à morte. Nordenfelt (1994 apud PASCHOAL, 2000) conclui que “uma vida maximamente completa” é aquela que contempla a soma total de todos os aspectos da existência de uma pessoa, durante sua existência inteira (tempo total da vida). Ressalta, entretanto, que não se consegue estudar todos os aspectos da vida de uma pessoa, tendo-se que fazer alguma seleção. O importante, segundo o autor, é que o pesquisador escolha o melhor critério de seleção possível, norteando-se pelo prisma particular da qualidade de vida de cada sujeito 76 considerado. Entre a totalidade de aspectos constantes de “uma vida máxima”, segundo Nordenfelt (apud PASCHOAL, 2000), mencionam-se os seguintes: a) o aspecto experiencial da vida, isto é, a soma total das sensações, percepções, emoções, humores e atos cognitivos de uma pessoa; b) as atividades realizadas na vida, isto é, a soma total das ações de uma pessoa; c) as realizações na vida, isto é, a soma total dos resultados das ações de uma pessoa; d) os eventos na vida, aqueles de que o indivíduo está ciente, ou que são atribuídos a ele e e) as circunstâncias da vida, aquelas de que o indivíduo está ciente, ou que são atribuídas a ele. O instrumental aplicado contempla o aspecto considerado no item b, entre os acima referidos. Foi nessa perspectiva que se considerou a faixa de tempo de uma semana suficiente para que pudesse ter a noção de como os sujeitos estabelecem a sua rotina completa de vida. Assim, esta pôde ser avaliada pela forma como os sujeitos desenvolviam as suas atividades durante a semana (período de sete dias consecutivos). Portanto, esse recorte foi considerado adequado e suficiente para demonstrar a forma como os sujeitos idosos avaliados estavam utilizando o seu tempo nos espaços de socialização investigados (casa, grupo de convivência, comunidade). Outro ponto a elucidar diz respeito às considerações feitas por Romano (1993 apud PASCHOAL, 2000, p.39-42). Esse autor enfatiza que a qualidade de vida na velhice é um empreendimento de caráter sociocultural, que ultrapassa a responsabilidade pessoal. Nesse caso, o autor quer referir que a qualidade de vida depende não apenas de aspectos do indivíduo, mas de sua interação com os outros, na sociedade. Assim, o aludido indicador de integração social, apontado pelo autor acima referido, foi justamente o que se buscou privilegiar, associado a outro, relacionado à satisfação dos sujeitos com as atividades realizadas. Estes dois indicadores, portanto, diziam respeito a avaliar se os sujeitos realizariam as atividades no contexto privado e comunitário (extragrupo de convivência) por satisfação ou por obrigação, buscando-se apreender do discurso por eles formulado se a satisfação com as atividades desempenhadas estaria associada à sua interação com outros, no momento de realizá-las. Procura-se elucidar, nesse contexto apreciado, dois conceitos, a saber: “nível de vida” e “qualidade de vida”. Romano (1993 apud PASCHOAL, 2000, p. 39) esclarece a diferença entre “nível de vida” e “qualidade de vida”. O primeiro conceito, segundo o autor, agrega um conjunto de 77 variáveis socioeconômicas, inicialmente identificadas no conceito de qualidade de vida: “estado de saúde, padrões de vida, moradia, satisfação e condições de trabalho, educação, condições de saneamento básico, acesso a serviços de saúde, aquisição de bens materiais”. O autor afirma que “nível de vida” é um conceito totalmente diferente do de “qualidade de vida”: “enquanto o primeiro depende primordialmente de definições e perspectivas políticas, portanto, voltado à comunidade como um todo, o segundo é um atributo do indivíduo”. Segundo Paschoal (2000), Romano considera “nível de vida” e “qualidade de vida” conceitos distintos, ainda que complementares. Por isso, ao construir um constructo de qualidade de vida, procurou fazê-lo, a partir da identificação de dois aspectos, a saber, o objetivo e o subjetivo. O primeiro é baseado em indicadores biomédicos e o último derivado de valores e crenças do próprio paciente. A ênfase dada por ambos os estudiosos recai nesse último aspecto, por envolver uma visão ética da existência. Encontrou-se ainda pertinência com o embasamento teórico desta pesquisa a linha conceitual de Paschoal (2000, p 39), para quem qualidade de vida é a habilidade ou a capacidade de um indivíduo, para desempenhar tarefas ou atividades da vida diária, obtendo, assim, satisfação com a vida. Qualidade de vida pode ser entendida em termos das expectativas pessoais do paciente e se essas foram, ou não, atingidas, alcançadas. Dá destaque, assim, a essa dimensão mais subjetiva, apesar de mostrar que há, também, uma dimensão objetiva, calcada em medidas fisiológicas de desempenho, de resultados (mortalidade, piora, cura, efeitos colaterais, relação custo-benefício, etc.) (PASCHOAL, 2000, p 39). Nesse sentido, considerando que os sujeitos investigados tinham livre arbítrio para escolher as atividades que desejavam participar no grupo de convivência do CIAPREVI-CE, esse aspecto foi direcionado especificamente para avaliar o contexto privado (casa), uma vez que não se sabia, efetivamente, se os sujeitos tinham oportunidade de fazer escolhas nesse espaço de cidadania selecionado. Assim, os níveis de satisfação e de insatisfação manifestados pelos sujeitos com as atividades que realizavam cotidianamente, no espaço privado da casa, foram verificados, através do questionamento 1.1, assim formulado: Item 1.1: Por que faz essas atividades? Nesse contexto específico, o interesse era identificar e procurar situar as respostas dos sujeitos em dois níveis de avaliação, sendo um com polaridade positiva (gerador de bemestar e satisfação com a vida) e outro com polaridade negativa (gerador de estresse e 78 insatisfação com a vida). Esse nível de avaliação ocorreu sob um prisma basicamente compreensivo, consoante o método de pesquisa qualitativo adotado neste estudo. Buscou-se facilitar algumas vezes o processo cognitivo dos sujeitos, através de um procedimento de indução, que levava os sujeitos a manifestarem as suas atividades preferenciais. Por exemplo, algumas vezes a pesquisadora lhes apresentava a seguinte proposição: “Entre fazer essa atividade e aquela outra, o que você prefere?” Ressalta-se, sob esse prisma metodológico, que o item seguinte, desse mesmo contexto (Item 1.2), visava aprofundar ainda mais o conhecimento em relação ao nível de satisfação dos sujeitos com as atividades realizadas em casa. Objetivou conhecer se a satisfação com as atividades realizadas era motivada pelo fato de interagirem com outras pessoas no momento de executá-las. Foi perguntado aos sujeitos: Item 1.2: Troca experiências com outras pessoas enquanto realiza essas atividades? Com quem? Por sua vez, o item 2.1 do Instrumento 1 visou conhecer especificamente a importância atribuída pelos sujeitos às diversas modalidades de lazer cultural e social porventura inseridas em suas rotinas de vida. Foi perguntado aos sujeitos: Item 2.1: Que tempo dispensa ao lazer cultural e social? (assistir a noticiários, ler revistas, ouvir música, ir ao cinema, teatro e forrós). Em relação ao Item 2.2, o interesse foi conhecer a importância atribuída pelos sujeitos à interação com outras pessoas no espaço comunitário extragrupo do CIAPREVI-CE e se estavam preocupados com as questões de interesse coletivo. Foi perguntado aos sujeitos: Item 2.2: Que tempo reserva para se encontrar com os amigos e para conversar sobre assuntos de interesse coletivo? (da rua onde mora, do bairro, da cidade etc.) Os dois tópicos acima (Itens 2.1 e 2.2) são considerados importantes tanto do ponto de vista dos estudiosos da gerontologia (NERI, 2001), quanto sob o prisma das questões postas pelos sociólogos e cientistas políticos (ARENDTH, 2008), os quais manifestam em comum o reconhecimento de que o nível de interação social dos indivíduos tem relativa 79 importância para a qualidade da vida e para o desempenho da vivência cidadã. Essa dimensão investigada assumiu o seguinte formato metodológico: CONTEXTO AVALIADO 1. Privado (casa) ITENS FORMULADOS 1.1 Por que realiza essas atividades? 1.2 Troca experiências com outras pessoas enquanto realiza essas atividades? Com quem? 2. Comunitário (extragrupo de convivência do CIAPREVI-CE) 2.1 Que tempo dispensa ao lazer cultural e social (assistir a noticiários, ler revistas, ouvir música, ir ao cinema, teatro e forrós)? 2.2 Que tempo reserva para se encontrar com os amigos e para conversar sobre assuntos de interesse coletivo (da rua onde mora, do bairro, da cidade, etc.) QUADRO 1 - Avaliação dos indicadores de integração e satisfação manifestados pelos sujeitos, nos contextos privado (casa) e comunitário (extragrupo do CIAPREVI-CE), investigados paralelamente à aplicação dos instrumentos (1 e 2) da pesquisa. As entrevistas duraram, em média, de 60 a 80 minutos, dependendo do grau de dificuldade manifestado pelos sujeitos para resgatar todos os passos de sua rotina diária, incluindo o registro dos horários em que costumavam realizar as atividades. Foram realizadas em um período de dois meses (setembro e outubro de 2009), em uma sala específica, disponibilizada pela coordenação do equipamento. À medida que os sujeitos iam se pronunciando, durante as entrevistas, as informações iam sendo compiladas e registradas pela pesquisadora, em um quadro sintético de ações da vida real (Instrumento 1). Ao final do trabalho de campo, a pesquisadora tinha em mãos de 15 quadros sucintos, relatando, cada um, a vida cotidiana dos sujeitos investigados e 15 quadros que apontavam o modelo de vida cotidiana idealizada pelos sujeitos (Instrumento 2), os quais se encontram nos apêndices deste estudo. 4.3.2 Análise dos dados de campo Os dados colhidos do discurso dos sujeitos foram analisados, à luz da perspectiva teórica adotada por um conjunto de autores, entre os quais Minayo e Sanches (1993). Estes autores, através de artigo científico, procuraram resumir um debate metodológico em processo na Escola Nacional de Saúde Pública-Brasil, argumentando, teoricamente, sobre a viabilidade da utilização dos métodos quantitativos e qualitativos, em complementaridade, para a compreensão da realidade social. 80 Segundo esses autores, tais métodos, apesar da natureza diferenciada, podem ser adotados pelos estudiosos da área da saúde, uma vez que nenhuma das duas abordagens – a quantitativa e a qualitativa – pode dar conta completamente da realidade observada. Um bom método será sempre aquele que, permitindo uma construção correta dos dados, ajuda a refletir sobre a dinâmica da teoria. Portanto, além de apropriado ao objeto da investigação e de oferecer elementos teóricos para a análise, o método tem que ser operacionalmente exequível. Levando em conta a orientação dos supracitados autores (MINAYO e SANCHES, 1993), procurou-se construir instrumentos específicos de pesquisa, voltados para a compreensão da realidade que se buscou investigar, seguindo-se, para tanto, os parâmetros dos referenciais teóricos que deram suporte aos estudos de Paschoal (2000). Em face ainda das concepções teóricas formuladas por esses autores, considerouse apropriada a utilização do método da análise de conteúdo, para verificação do conjunto hipotético formulado para este estudo. Triviños (2006, p.158-162) procurou demonstrar a eficiência do supracitado método, mencionando que pode ser aplicado nas duas supracitadas naturezas de pesquisa (qualitativa e quantitativa): Podemos dizer, também de forma geral, que recomendamos o emprego deste método porque, como diz Bardin, ele se presta para o estudo “das motivações, atitudes, valores, crenças, tendências” e, acrescentamos nós, para o desvendar das ideologias que podem existir nos dispositivos legais, princípios, diretrizes, etc., que, à simples vista, não se apresentam com a devida clareza. Por outro lado, o método de análise de conteúdo, em alguns casos, pode servir de auxiliar para instrumento de pesquisa de maior profundidade e complexidade, como o é, por exemplo, o método dialético. Neste caso, a análise de conteúdo forma parte de uma visão mais ampla e funde-se nas características do enfoque dialético. De acordo com a orientação desse autor, seguiu-se, neste estudo, a observação de três etapas de análise específica. A primeira etapa abrangeu a organização de todo o material que serviria de base teórica para a pesquisa (documentos institucionais, bibliografia, informações sobre os sujeitos e sobre a natureza do equipamento institucional investigado, no caso, o CIAPREVI-CE) que foram catalogados pela pesquisadora, antecipadamente, para desenvolver o estudo em que comprovaria ou não as hipóteses previamente formuladas. Ressalta-se que todos os recursos apontados anteriormente constituíram suportes teóricos para a etapa metodológica seguinte, que Triviños (op. cit.) denomina de corpus do estudo. Nesta etapa são compilados e apresentados os resultados colhidos da pesquisa de campo. 81 Essa instância metodológica, conforme Triviños (2006, p.161), constitui a segunda etapa de aplicação desse método, por meio da qual o pesquisador procura fazer uma descrição analítica dos resultados obtidos, que, na verdade, já começa a ser feita na etapa de pré-análise. Entretanto, nessa etapa específica, o pesquisador começa a fazer a análise aprofundada dos dados colhidos na pesquisa de campo. A descrição analítica, a segunda fase do método de análise de conteúdo, começa já na pré-análise, mas nesta etapa, especificamente, o material de documentos que constitui o corpus é submetido a um estudo aprofundado, orientado este, em princípio, pelas hipóteses e referenciais teóricos. Os procedimentos como a codificação, a classificação e a categorização são básicos nesta instância do estudo. De toda esta análise surgem quadros de referências [...] A análise descritiva não ficou nesse plano geral e paralelo de opiniões. Com efeito, ela avançou na busca de sínteses coincidentes e divergentes de ideias, ou na expressão de concepções “neutras”, isto é, que não estejam especificamente unidas a alguma teoria (TRIVIÑOS, 2006, p.161-162). De acordo com o método aqui observado, o esforço culminante do pesquisador consiste em procurar compreender os dados colhidos de campo, por meio de uma interpretação referencial embasada nos materiais de informação, colhidos durante todo o processo da pesquisa. Ressalta-se, conforme Triviños (2006) que esse processo foi iniciado já na etapa da pré-análise, mas alcança maior profundidade no desfecho, quando, apoiando-se no pensamento de estudiosos, o pesquisador propicia maior intensidade à interpretação dos dados. Na interação dos materiais (documentos oficiais ou não e ainda das respostas de outros instrumentos de pesquisa), no tipo de pesquisa que nos interessa, não é possível que o pesquisador detenha sua atenção exclusivamente no conteúdo manifesto dos documentos. Ele deve aprofundar sua análise tratando de desvendar o conteúdo latente que eles possuem. O primeiro pode orientar para conclusões apoiadas em dados quantitativos, numa visão estática e a nível, no melhor dos casos, de simples denúncia de realidades negativas para o indivíduo e a sociedade; o segundo abre perspectivas, sem excluir a informação estatística, muitas vezes, para descobrir ideologias, tendências etc. das características dos fenômenos sociais que se analisam e, ao contrário da análise apenas de conteúdo manifesto, é dinâmico, estrutural e histórico. Consoante a observância desse processo é que se ratifica que, na etapa da préanálise, realizou-se uma pesquisa documental, por meio da qual foram colhidos os subsídios julgados pertinentes à compreensão da temática do estudo. Buscou-se conhecer quais as atividades preferenciais realizadas pelos sujeitos no CIAPREVI-CE, sendo catalogados e sistematizados os dados sociodemográficos julgados importantes para a natureza do estudo. Os dados colhidos dessa pesquisa documental foram úteis na formulação da base hipotética da pesquisa, tendo contribuído nesse sentido a experiência de trabalho desenvolvida 82 pela pesquisadora, enquanto participante da equipe técnica responsável pela coordenação das ações desenvolvidas pela STDS, junto aos grupos de convivência da referida Pasta. Para verificar as hipóteses formuladas, a pesquisadora adotou uma postura reflexiva, examinando o dia-a-dia dos sujeitos nos espaços de cidadania considerados no Instrumento 1 aplicado. A compreensão dos interesses de cidadania manifestados pelos sujeitos teve como suporte metodológico as entrevistas, compostas de quatro perguntas ou itens, sendo dois (1.1; 1.2), inerentes ao seu desempenho no contexto privado, e dois (2.1 e 2.2), relativos ao seu desempenho no contexto comunitário extragrupo de convivência do CIAPREVI-CE, explicitados em parágrafo anterior deste tópico. Entretanto, uma segunda ordem de exploração da temática foi adotada, abrangendo a análise de conteúdo do discurso proferido pelos sujeitos. Adotou-se como suporte os embasamentos teóricos trabalhados por Bardin (1997). Ressalva-se que a análise de conteúdo, conforme Bardin (1997), abrange um conjunto de técnicas que se destinam à apreciação de mensagens verbais, textos e discursos, as quais tanto podem envolver métodos quantitativos, quanto qualitativos. Portanto, trata-se de um recurso metodológico bastante utilizado por profissionais de diversas áreas de conhecimento, sobremodo os das comunicações e da sociologia, pois auxilia na compreensão de atitudes, comportamentos e ideologias, implícitas ou subliminares a textos diversos. A tarefa do pesquisador consiste em abstrair dessas mensagens os pontos de interesse úteis à compreensão do seu objeto de estudo, mas, para tanto, deverá se acercar do necessário rigorismo científico. Ainda de acordo com Bardin (1997), o trabalho do pesquisador deve obedecer a critérios de análise, entre os quais menciona uma etapa inicial de “leitura flutuante” do texto ou da mensagem a ser avaliada. Na etapa seguinte, a mesma autora adverte que o investigador deverá procurar se empenhar em desmembrar do texto (ou do discurso apreciado) as diferentes unidades de registro (ou de sentido das comunicações). Numa fase ulterior, deverá proceder ao reagrupamento dessas unidades em classes ou categorias de análise. Esse processo culmina com uma última etapa, que envolve uma reflexão acerca do conteúdo do discurso que está sendo analisado. Ressalva-se que as aludidas unidades de registro a que se refere Bardin (1997) têm dimensão variada, podendo conter palavras-chave, frases, temas, etc. O importante, nesse caso, é que o pesquisador utilize palavras ou trechos do discurso dos sujeitos, que lhe sirvam de base para a compreensão das mensagens. Em síntese, abstraiu-se do método de Triviños (2006) a observância de uma 83 sequência de passos metodológicos a serem adotados no decorrer do processo de investigação, a saber: a realização de pesquisas documental e bibliográfica preliminares; a pesquisa de campo propriamente dita, incluindo a aplicação do instrumental 1 e 2 de pesquisa e as entrevistas); a sistematização e apresentação dos resultados e, por fim, a discussão aprofundada acerca dos achados da pesquisa. No tocante ao método de Bardin (1997), abstraiu-se a observância de uma sequência de análise do discurso proferido pelos sujeitos, a qual acima se fez referência. Sem olvidar o fato de que o interesse da pesquisadora era conhecer e compreender o que cada sujeito costumava fazer, no dia-a-dia, para exercer a cidadania, buscou-se aplicar os embasamentos teóricos de Bardin (1997) à análise do conteúdo das mensagens proferidas pelos sujeitos, no contexto do Instrumento 1. Os espaços cotidianos utilizados como referência para se compreender a cidadania vivenciada pelos sujeitos foram investigados, levando-se em conta, objetivamente, a rotina de vida real das idosas, e, subjetivamente, os aspectos subjetivos da vida destas. Considerava-se que todos esses aspectos se consubstanciavam em “um modo específico de exercer a cidadania”, ou ainda, em atributos favoráveis ou desfavoráveis à cidadania. Assim, foi composto um quadro descritivo de cada sujeito, no qual foram contempladas as seguintes categorias de análise: a) Descrição sucinta dos sujeitos (informações referentes a aspectos sociodemográficos, colhidos das fichas de cadastro individuais disponibilizadas pelo CIAPREVI-CE e das próprias circunstâncias de vida relatadas pelos sujeitos, ao se pronunciarem em relação ao Instrumento 1 aplicado); b) Estratégias (ações objetivas da vida cotidiana dos sujeitos, desenvolvidas externamente ao grupo de convivência do CIAPREVI-CE); c) Atividades positivas realizadas por cada sujeito, no CIAPREVI-CE; d) Elementos do discurso selecionados para a análise; e) Atributos (aspectos subjetivos da vida dos sujeitos), favoráveis e desfavoráveis à cidadania, colhidos do discurso. Os quadros com as categorias de análise acima elencadas constam das cinco amostras apresentadas (por grupo etário), em apêndice, contendo, cada uma, informações individuais pertinentes a cada sujeito. No capítulo de discussão dos resultados colhidos de campo, colocam-se na arena 84 de reflexão duas unidades temáticas, que emergiram deste estudo, a saber: “violência” e “espiritualidade”, por terem constituído conceitos recorrentes no discurso direto e/ou subliminar à fala dos sujeitos. 85 5 RESULTADOS 5.1 Os dados colhidos na etapa da etapa de pré-análise De acordo com o que demonstra a Tabela 1, a seguir, a faixa etária predominante no grupo corresponde à faixa etária situada entre 70-79 anos. A maioria dos idosos (61,5%) procede do Interior do Estado e o nível de escolaridade prevalecente é de idosos alfabetizados (76,9%). No tocante ao estado civil, a grande maioria é de mulheres viúvas (52,3%). TABELA 1 - Perfil geral dos sujeitos Características n % 1. Faixa etária 60 a 64 anos 65 a 69 anos 70 a 74 anos 75 a 79 anos maior de 79 anos 06 19 21 07 12 9,2 29,2 32,3 10,8 18,5 2. Procedência (naturalidade) Interior Capital Outro estado Não informado 40 18 03 04 61,5 27,7 4,6 6,2 3. Escolaridade Alfabetizado Analfabeto Semianalfabeto Não informado 50 07 03 05 76,9 10,8 4,6 7,7 4. Estado civil Viúvo Solteiro Casado Separado Divorciado 34 11 08 07 05 52,3 16,9 12,3 10,8 7,7 Conforme se depreende da leitura dos dados constantes da Tabela 2, a seguir, o percentual de idosos com maior nível de escolaridade (alfabetizados) se encontra na faixa etária de velhice intermediária, compreendida entre 65-69 anos e 70-74 anos. O menor nível de escolaridade corresponde à faixa etária de idosos, compreendida entre 60-64 anos. 86 TABELA 2 - Associação entre faixa etária e escolaridade das idosas Faixa etária 60 a 64 anos 65 a 69 anos 70 a 74 anos 75 a 79 anos maior de 79 anos Total Analfabeto Alfabetizado n 02 01 03 01 07 n 03 17 17 04 09 50 % 3,3 1,7 5,0 1,7 11,7 % 5,0 28,3 28,3 6,7 15,0 83,3 Semianalfa beto n % 01 1,7 02 3,3 03 5,0 Total Sem informação 01 02 02 05 1,7 3,3 3,3 8,3 n 06 19 21 07 12 65 % 10,0 31,7 35,0 11,7 20,0 100,0 No tocante ao local de residência dos sujeitos, conforme sugerem os dados constantes da Tabela 3, a seguir, o CIAPREVI-CE absorve um segmento de idosos procedente de vários bairros da Capital cearense, sendo que o maior número de sujeitos reside na própria área de localização do equipamento. TABELA 3 - Bairro onde residem Bairro Meireles Praia de Iracema Araturi Quintino Cunha Aerolândia Aldeota Barra do Ceará Centro Conjunto Palmeiras Jardim das Oliveiras Papicu Vicente Pinzon Aagadiço Novo Álvaro Weyne Colônia Conjunto Alvorada Conjunto Nova Metrópole Conjunto Santa Terezinha Cristo Redentor Dionisio Torres Edosn Queiroz Itaperi Jardim Guanabara José Walter Luciano Cavalcante Mondubim Monte Castelo Mucuripe Pacajus Parque São José Parquelândia Pirambu Seis Bocas Serviluz n 11 06 03 03 02 02 02 02 02 02 02 02 01 01 01 01 01 01 01 01 01 01 01 01 01 01 01 01 01 01 01 01 01 01 % 16,9 9,2 4,6 4,6 3,1 3,1 3,1 3,1 3,1 3,1 3,1 3,1 1,5 1,5 1,5 1,5 1,5 1,5 1,5 1,5 1,5 1,5 1,5 1,5 1,5 1,5 1,5 1,5 1,5 1,5 1,5 1,5 1,5 1,5 87 continuação. TABELA 3 - Bairro onde residem Bairro Tancredo Neves Varjota Não informado Total n 01 01 02 65 % 1,5 1,5 3,1 100,0 No tocante à composição familiar, observa-se, por meio da Tabela 4, a seguir, que a maioria dos sujeitos reside com os filhos e netos (23,1%) ou somente com os filhos (21,5%). TABELA 4 - Composição familiar Componentes Filhos e netos Filhos Sozinho Cônjuge Cônjuge e filhos Filhos e noras Sobrinho Neto Irmã, filha, neto, sobrinho Netos e bisnetos Amigas Companheiro Filha, genro e neto Não informado Total n 15 14 06 05 03 03 03 03 03 02 01 01 01 05 65 % 23,1 21,5 9,2 7,7 4,6 4,6 4,6 4,6 4,6 3,1 1,5 1,5 1,5 7,7 100,0 A maioria dos sujeitos reside em unidades domiciliares próprias, de alvenaria (95,4%), vivendo na condição de aposentados, conforme demonstra as Tabela 5, seguinte: TABELA 5 - Características gerais da moradia. Características 1. Moradia Casa Apartamento 2. Tipo Própria Alugada Cedida Invasão 3. Condições Alvenaria 4. Situação econômica Aposentado Pensionista Aposentado e pensionista BPC Não é aposentado Não recebe beneficio n % 62 03 95,4 4,6 53 06 05 01 81,5 9,2 7,7 1,5 65 100,0 37 13 09 04 01 01 56,9 20,0 13,8 6,2 1,5 1,5 88 De acordo com o mesmo levantamento feito nas fichas cadastrais das idosas do grupo de convivência do CIAPREVI-CE, a maioria delas não exerce atividades rentáveis paralelas (70,8%), havendo, contudo, um percentual de mulheres (21,1%) que complementa a sua renda mensal com o aluguel de cômodos, conforme demonstra a Tabela 6, a seguir: TABELA 6 - Atividades rentáveis Atividade Aluguel de cômodos Lava roupa para fora Costureira Venda de cosméticos por revistas Vende refeições Comercializa bordados Engomadeira Faz renda para vender Lavar roupa para fora e venda de cosméticos por revistas Não informado Variado Total n 04 03 02 02 02 01 01 01 % 21,1 15,8 10,5 10,5 10,5 5,3 5,3 5,3 01 5,3 01 01 19 5,3 5,3 100,0 Ficou demonstrado, através da análise desses documentos, que o percentual mais elevado de sujeitos (52,3%) sobrevive da renda familiar correspondente a um salário mínimo/mês, enquanto somente 1,5% de sujeitos sobrevivem de uma renda familiar compreendida entre 1 a 3 salários mínimos, conforme demonstra a Figura 1, a seguir: 60 52,3 44,6 50 40 % 30 20 10 1,5 1,5 0 Zero salário/vive de ajuda 1 salário 1 a 3 salários Mais de 3 salários FIGURA 1 - Renda mensal familiar. Segundo a mesma fonte de informação, a atividade preferencial dos sujeitos é a recreação/lazer (39,6%), seguida da dança (33,3%). As palestras técnicas são as atividades com maior percentual de rejeição, por parte dos sujeitos, (2,1%) mencionaram preferir essa 89 atividade oferecida pelo CIAPREVI-CE, conforme consta da Tabela 7, a seguir: TABELA 7 - Atividades que gosta de fazer. Gosta de fazer Recreação/lazer Dança Costura Crochet Cultural Cozinhar Ginástica Relação interpessoal Orações Intercâmbio entre grupos Palestras n 19 16 10 10 09 05 02 02 01 01 01 % 39,6 33,3 20,8 20,8 18,8 10,4 4,2 4,2 2,1 2,1 2,1 Com relação às condições de saúde, os dados constantes dos cadastros individuais dos sujeitos apontaram para os seguintes resultados: constatou-se um elevado número de sujeitos com hipertensão arterial, o que se torna tanto mais preocupante, levando em conta que o CIAPREVI-CE não dispõe de suporte em medicamentos, profissionais de enfermagem ou instrumental específico (aparelho para mensurar a pressão dos idosos), ficando os idosos expostos a eventuais problemas de saúde e sem contar com os devidos cuidados emergenciais. Conforme se pode observar, a maioria dos sujeitos sofre de pressão arterial elevada (64%) e apenas 4% apresentam problemas de visão e reumatismo (Tabela 8, a seguir): TABELA 8 - Condições de saúde/Problemas vivenciados Condições Hipertensão Diabetes Osteoporose Cardiovascular Problemas de visão Reumatismo Outros n 32 08 06 05 02 02 28 % 64,0 16,0 12,0 10,0 4,0 4,0 43,1 Os demais problemas apresentados pelos sujeitos, segundo os registros constantes dos cadastros individuais das mulheres do grupo de convivência do CIAPREVI-CE, estão relacionados na Tabela 9, item 1. Essa pesquisa documental prévia, realizada junto aos cadastros individuais dos idosos sinalizou ainda a necessidade de serem viabilizadas ações voltadas para a conscientização desse segmento, em relação aos tratamentos e cuidados que poderiam 90 desenvolver para preservar a saúde, o que poderia ser feito através de metodologias acessíveis, que levassem em conta o grau de escolaridade e os níveis de envelhecimento dos sujeitos envolvidos. Essa circunstância se mostra importante, levando em conta, sobretudo, os dados constantes da tabela seguinte. A Tabela 9 item 2, a seguir, demonstra que 66,7% dos idosos fazem uso de medicamentos. Este dado requer ser levado em conta, por revelar a necessidade de ser implementado um acompanhamento médico-assistencial mais efetivo e sistemático, junto aos sujeitos: TABELA 9 – Condições de saúde. Características n 1. Outros problemas Colesterol 04 Artrose reumática 02 Coluna 02 Labirintite 02 Anemia 01 Artrose 01 Audição 01 Colesterol e anemia 01 Colesterol, hérnia de esôfago 01 Coluna e gastrite 01 Coluna e glaucoma 01 Enxaqueca 01 Esclerose 01 Gastrite 01 Gastrite e artrose 01 Glaucoma e vesícula 01 Hérnia de estômago e refluxo 01 Hiper-tireodismo 01 Problemas de esquecimento 01 Sinusite 01 Tireóide 01 Tuberculose 01 14,3 7,1 7,1 7,1 3,6 3,6 3,6 3,6 3,6 3,6 3,6 3,6 3,6 3,6 3,6 3,6 3,6 3,6 3,6 3,6 3,6 3,6 2. Observações relatadas Faz uso de medicamentos Vida saudável/sem ocorrências de doenças Fumante Reflete temperamento ansioso Faz uso de bebidas alcoólicas Mora nos fundos da casa de uma das filhas Não faz exame de prevenção Não mistura a renda com a do filho Problemas de esquecimento Toma 01 cálice de vinho por dia 66,7 10,4 6,3 4,2 2,1 2,1 2,1 2,1 2,1 2,1 32 05 03 02 01 01 01 01 01 01 % 91 Os dados aqui citados demonstram a importância de o CIAPREVI-CE passar a trabalhar políticas públicas na área da saúde, ajudando os sujeitos a adotarem mecanismos voltados para a manutenção da qualidade de vida e do bem-estar, através de hábitos de vida e práticas alimentares saudáveis, considerando ser essa a área de interesse principal demonstrada pelos sujeitos investigados, no âmbito da cidadania. As ações nessa área estão elencadas no Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003, Título II (Dos Direitos Fundamentais), Capítulos I, II, III e IV do referido Estatuto. A tabela 10 demonstra que 58.9% das idosas dispõem de planos de saúde. Os dados relativos aos sujeitos que compuseram a amostra da pesquisa destoaram desses percentuais obtidos, a partir das fichas cadastrais do CIAPREVI-CE, apresentando um percentual menos elevado de idosos que dispõem de planos de saúde. TABELA 10 - Qual plano de saúde dispõe Qual plano Assist. Benf. Idoso (ABI) UNIMED Petrobras IPM CTCAF Caixa Econômica Federal IPEC Jerusalém Não lembra SBC Não informou Total N 05 04 02 02 01 01 01 01 01 01 03 22 % 22,7 18,2 9,1 9,1 4,5 4,5 4,5 4,5 4,5 4,5 13,6 100,0 Observou-se que 47,7% do número total de mulheres do grupo de convivência do CIAPREVI-CE, considerado neste estudo (65 idosas), frequenta outros grupos de convivência. Idêntico percentual participa exclusivamente do grupo de convivência do CIAPREVI-CE, conforme demonstra a Tabela 11, a seguir: TABELA 11 - Participação em outros grupos de convivência Grupos Não Sim Não informado Total n 31 31 03 65 % 47,7 47,7 4,6 100,0 Conforme se encontra ressaltado na Tabela 12, seguinte, o grupo de convivência que funciona no Teatro São José está entre os mais frequentados pelas idosas. Esse grupo lhes 92 oferece basicamente atividades, na área da dança folclórica: TABELA 12 - Quais grupos de convivência Qual grupo Teatro São José Conjunto Santa Terezinha Pirata Paróquia do Cristo Rei Bairro Santa Cecília e João XXIII Casa da Amizade Conjunto Palmeiras de chorinho Ginástica dos bombeiros Grupo do Metrópole Igreja Santa Luzia Igreja Santa Luzia e Pirata Igreja Santa Luzia e Paróquia do Cristo Rei Lar Francisco de Assis mas pretende ficar só no Centro São Francisco, Santa Terezinha e Metrópole Tancredo Neves Não especificado Total n 09 03 03 01 01 01 01 01 01 01 01 01 01 01 01 01 01 02 31 % 30,0 10,0 10,0 3,3 3,3 3,3 3,3 3,3 3,3 3,3 3,3 3,3 3,3 3,3 3,3 3,3 3,3 6,7 100,0 A Tabela 13, a seguir, apresenta o nível de satisfação e insatisfação demonstrado pelas mulheres com a convivência familiar. Segundo os dados obtidos das fichas individuais de cadastro, observa-se que 63,1% do total de mulheres engajadas no grupo de convivência do CIAPREVI-CE referiram que mantêm uma relação satisfatória com a família. Nesse tópico, portanto, está sendo apresentado o perfil geral da cota de 65 sujeitos do gênero feminino, que compõe o grupo de convivência do CIAPREVI-CE, conforme se segue: TABELA 13 - Relação familiar Relação com a família Relação satisfatória com a família, sem ocorrência de drogas e/ou violência Insatisfatória, devido a problemas financeiros e outros Insatisfatória, devido a problemas com drogas Relação satisfatória com a família. A filha é especial e requer cuidados. Relação satisfatória com a família. Cuida do marido cadeirante e de dois filhos especiais. Sem informação Total n % 41 63,1 12 18,5 09 13,8 01 1,5 01 1,5 01 65 1,5 100,0 De acordo com o que demonstra a Tabela 14, a seguir apreciada, a maioria dos sujeitos considera o grupo de convivência como um “locus de socialização” (29,2%). 93 Ressalta-se que está sendo privilegiado pelos sujeitos o indicador de integração, o qual, segundo os estudiosos da gerontologia (NERI, 2001; 2003), é um dos componentes da boa qualidade de vida. Ainda em relação à mesma tabela, registra-se que um percentual igualmente expressivo de sujeitos considera o grupo de convivência como um “locus de bem-estar emocional” (10,8%). No supracitado caso, o indicador apontado envolve a variável cognitiva de satisfação, ratificada pelos sujeitos nos itens subsequentes ao acima apresentado, através do termo “felicidade”, igualmente distintivo de bem-estar emocional. Percebe-se, de modo geral, que todos os outros significados mencionados na Tabela 14, em referência, expressam representações positivas formuladas pelos sujeitos, em relação ao significado de grupo de convivência, sob o prisma dos significados dos supracitados indicadores. Ressalta-se que, desses 65 sujeitos do gênero feminino, participantes do grupo de convivência do CIAPREVI-CE, foram selecionados 15 sujeitos, para compor a amostra geral de campo. TABELA 14 - Importância atribuída ao grupo de convivência Relato pessoal Locus de socialização Locus de bem-estar emocional Locus de felicidade Locus de lazer Agrada em parte Ajuda na auto-estima Ajuda na espiritualidade Locus de socialização/dança Locus de vida e felicidade Saúde física/espiritual Se sente feliz. Gosta de dançar Significação da vida Ajuda na vida emocional e espiritual Ajudou a curar depressão Bem estar espiritual Diversão/lazer Lazer cultural Locus familiar Oferece alimentação e lazer Saúde/diversão/socialização Sem informação Total N 19 07 04 04 02 02 02 02 02 02 02 02 01 01 01 01 01 01 01 01 07 65 % 29,2 10,8 6,2 6,2 3,1 3,1 3,1 3,1 3,1 3,1 3,1 3,1 1,5 1,5 1,5 1,5 1,5 1,5 1,5 1,5 10,8 100,0 94 5.2 Verificação das hipóteses formuladas para a pesquisa Procedeu-se à análise de conteúdo das informações prestadas pelos sujeitos no Instrumento 1 aplicado. A pesquisadora centrou-se na busca de elementos discursivos, que pudessem confirmar ou refutar o contexto da primeira hipótese formulada. Hipótese nº 1: Os sujeitos poderiam estar desenvolvendo, conjuntamente, ou não, várias estratégias de ação para ter acesso à cidadania, sendo destacadas as seguintes: Subseção “a”: o engajamento em atividades gratificantes, como enfrentamento e superação das condições adversas de sua vida passada e/ou presente; Análise de Conteúdo: Esse nível hipotético foi confirmado, sem que se tenha constatado a interferência do fator etário. Entre os quinze sujeitos investigados, onze (11) demonstraram que, cotidianamente, tendem a buscar realizar atividades gratificantes, nos três espaços de socialização investigados. Entretanto, quatro (4) entre os quinze (15) sujeitos investigados não comprovaram esse nível hipotético, uma vez que em sua rotina diária tiveram “necessidade” de incorporar atividades que lhes eram pouco prazerosas, o que significa dizer que realizavam determinadas tarefas domésticas movidos não pelo critério da “satisfação”, conforme supunha a pesquisadora, mas “por necessidade”. O Quadro 2, a seguir, apresenta as atividades cotidianas preferenciais, realizadas pelos sujeitos, nos três espaços de socialização investigados, assinalando-se em negrito as que os sujeitos realizavam “por necessidade” e não por satisfação: 95 Sujeito Maria Aldeide (60 anos) Mª Heloíza (61 anos) Maria Franciete (64 anos) Maria Verônica (66 anos) Maria Francisca (68 anos) Maria Felismina (69 anos) Casa Sente-se feliz em cuidar da casa; lanchar toda tarde c/ a filha, e fazer orações. Gosta de cozinhar, lavar, passar, cuidar da casa e da filha que é especial. Faz todas essas atividades com satisfação. Sente-se feliz em armar sua rede e assistir a programas policiais; Não gosta de algumas tarefas de casa. (Realiza pelo menos uma atividade mais por obrigação do que por satisfação). Gosta de ajudar a filha na cozinha; de assistir a filmes na televisão, de telenovelas e de acompanhar orações pelo rádio. Gosta de fazer serviços domésticos; de rezar; ouvir música e de assistir às telenovelas e aos programas de televisão. Grupo de convivência do CIAPREVI Comunidade (outros locais) Escolhe atividades que lhe são prazerosas, tais como: rezar, ouvir as palestras, participar do forró com os outros idosos. Aprecia conversar com a vizinha da casa em frente e participar de forrós, quando tem companhia. Gosta de realizar trabalhos comunitários para a Igreja, de participar de grupos de oração e de conversar em família, todas as noites na calçada em frente de casa. Gosta de participar das aulas alfabetização, onde ajuda idosos com dificuldades e participar das oficinas bordado. de os de de Verificação da hipótese Confirmada Confirmada Gosta de ouvir palestras informativas; de participar das aulas de computação; de dançar e fazer crochê. Aprecia almoçar ou jantar fora c/ os filhos; ir a grupos de convivência diversos; de frequentar forrós com as amigas. Não Confirmada. (A idosa tem necessidade de realizar tarefas que não lhe dão satisfação, em casa.) Gosta de ouvir palestras, de dançar e de participar das aulas de alfabetização. Gosta de participar de grupos de oração e do grupo de convivência do Pirata. Não Confirmada. (A idosa tem necessidade de realizar tarefas que não lhe dão satisfação). Sente-se feliz em participar do forró com outros idosos e em conversar com as amigas do grupo de convivência. Gosta de fazer a feira; de ir à padaria; de ir à missa todas as tardes e de conversar com as amigas na vizinhança. Confirmada Aprecia cantar e tocar pandeiro no grupo musical de chorinho do CIAPREVI; de participar do forró e das aulas de pintura em tecido. Maria Gertrudes (70 anos) Gosta de fazer serviços domésticos; de cuidar e alimentar sua cachorrinha; de assistir a telenovelas e de fazer orações. Gosta de participar dos ensaios das danças folclóricas; de participar das aulas de computação e de ajudar na cozinha a servir os idosos. Maria Luiziana (73 anos) Faz determinados serviços domésticos mais por obrigação do que por satisfação. Gosta de fazer pinturas em tecido e de participar do grupo musical de chorinho, onde toca e canta. Maria Joseneide (74 anos) Aprecia cozinhar e cuidar da casa; ouvir música; fazer pintura em tecido; fazer crochê e de costurar. Gosta de participar das aulas de pintura em tecido, de fazer crochê, bordado e de participar do forró dos idosos. Maria Albina (75 anos) Gosta de fazer suas orações; preparar refeições leves; lavar suas roupas; assistir às telenovelas e ao telejornal. Aprecia participar dos ensaios do grupo de chorinho do CIAPREVI (tocar ganzá e cantar); dançar forró. Diz gostar de todas as atividades do CIAPREVI. Maria Catarina (76 anos) Gosta de pintar panos de prato e rezar o terço em família. Gosta de pintar panos de prato; de dançar e de participar dos ensaios do grupo musical de chorinho. Maria Odésia (77 anos) Gosta de sentar na cadeira de balanço e descansar as pernas, à noite; de assistir à televisão; Sente-se cansada por ter que fazer todos os trabalhos domésticos sozinha. Sente-se feliz em fazer atividades de alongamento; em participar do forró e das aulas de alfabetização. Sente-se cansada em ter que levar o carrinho com os produtos que comercializa, para satisfazer aos idosos. Aprecia frequentar as reuniões de outros grupos de convivência religiosos e de dançar, e de viajar para a casa de praia da filha todo final de semana. Aprecia fazer caminhadas diárias; participar de grupos de convivência que desenvolvem atividades físicas; de dançar; de ir à missa e a eventos religiosos da Igreja. Gosta de conversar à noite com as amigas e de frequentar outros grupos de convivência. Gosta de frequentar forrós, quando está solteira; de fazer passeios e de ir à missa nos fins-de-semana; Gosta de participar dos ensaios de dança e dos forrós do Teatro São José; de participar do grupo de convivência da ABI e de conversar todas as noites com as amigas da vizinhança. Gosta de sair para dançar aos domingos com o marido e de participar do grupo folclórico do Teatro São José. Participa de orações no grupo de convivência da Igreja e das atividades do grupo de convivência da casa de forró “PIRATA”. Confirmada Confirmada Não confirmada Confirmada Confirmada Confirmada Não confirmada. (A idosa tem necessidade de realizar tarefas que não lhe dão satisfação) 96 Casa Grupo de convivência do CIAPREVI Comunidade (outros locais) Mírian (81 anos) Aprecia fazer pequenos serviços domésticos; cuidar das plantas, varrer a casa e ouvir música. Gosta de atuar como DJ do grupo de convivência; de dançar forró; ajudar na cozinha a preparar as refeições servidas aos idosos nos dias das reuniões do grupo. Sente-se feliz em ir ao show semanal no Mercado das Artes; de assistir à sessão de teatro semanal e de fazer passeios com a filha. Confirmada Maria Alice (82 anos) Gosta de rezar; cozinhar; ler; assistir programas humorísticos; bordar colchas de fuxico. Aprecia ouvir palestras sobre espiritualidade proferidas pela coordenadora do grupo (de outras técnicas não); estudar computação Ir à missa diariamente; participar de pastorais religiosas; prestar serviços comunitários na Igreja Confirmada Maria Amélia (86 anos) Gosta de alimentar os passarinhos; de cuidar de suas coisas; rezar e assistir ao Telejornal. Sente-se feliz em ensaiar números de danças folclóricas; fazer orações, participar do forró com os outros idosos do grupo. Gosta de participar das reuniões do grupo de convivência da ABI e dos ensaios de danças folclóricas, no Teatro S. José. Confirmada Sujeito Verificação da hipótese QUADRO 2 - Demonstrativo da confirmação da subsecção “a” da primeira hipótese formulada. Hipótese nº 1: Os sujeitos poderiam estar desenvolvendo, conjuntamente, ou não, várias estratégias de ação para ter acesso à cidadania, sendo destacadas as seguintes: Subsecção b: O engajamento em grupos de convivência, como espaços de luta e de visibilidade social. Análise de Conteúdo: Esse nível hipotético foi confirmado, conforme se demonstra, a seguir: Os resultados da pesquisa apontaram que onze (11) entre os quinze (15) sujeitos investigados, independentemente do aspecto etário, procuram participar cotidianamente das atividades do CIAPREVI-CE e das atividades de outros grupos de convivência com objetivos específicos e não simplesmente utilizando os grupos como canais de lazer e diversão. Do supracitado total de sujeitos investigados, seis (6) mostraram dar preferência às atividades de ensaios, no grupo de dança do CIAPREVI-CE e no do grupo de dança do Teatro São José, para se apresentarem em eventos públicos, conforme se depreende na leitura dos dados constantes do Quadro 3, seguinte: 97 Sujeito Maria Aldeide (60 anos) Mª Heloíza (61 anos) O CIAPREVI como canal de luta e de visibilidade social O interesse principal da idosa é desestressar da rotina diária. A idosa ingressou no grupo com o propósito de desestressar, enquanto esperava a filha se desocupar na escola. “De primeiro eu não vinha pra cá, mas a minha amiga disse: Vamo lá pro D. Lustosa, que lá tem alfabetização...” Ela hoje sabe ler e escrever satisfatoriamente e diz que vem para ajudar as suas colegas. Maria Franciete (64 anos) Participa da maioria das atividades de socialização oferecidas pelo CIAPREVI. Maria Verônica (66 anos) Participa da maioria das atividades de socialização oferecidas pelo CIAPREVI. Maria Francisca (68 anos) Maria Felismina (69 anos) Participa do CIAPREVI como espaço permanente de lazer. Participa do grupo de dança do CIAPREVI e se apresenta em eventos públicos. O CIAPREVI e outros grupos de idosos como canais de luta e visibilidade social Contenta-se em participar somente do CIAPREVI Contenta-se em participar somente do CIAPREVI, mas ali assumiu a luta de ajudar outras idosas a se alfabetizar. Participa de outros grupos religiosos, onde tem oportunidade de conhecer um diversificado número de pessoas e de dançar. Participa de outros grupos de idosos, onde tem oportunidade de conhecer um diversificado número de pessoas. A idosa participa também do grupo de idosos do PIRATA. Participa do grupo de dança do Teatro São José e se apresenta em eventos. Participa do grupo de dança do Teatro São José e se apresenta em eventos públicos. Participa do grupo de dança e se apresenta em eventos públicos. Maria Gertrudes (70 anos) Participa do grupo de dança do CIAPREVI e se apresenta em eventos públicos. Maria Luiziana (73 anos) Participa do grupo de dança do CIAPREVI e se apresenta em eventos públicos. Mª Joseneide (74 anos) Frequenta atualmente o CIAPREVI como espaço permanente de lazer. Maria Albina (75 anos) Participa do grupo de dança do CIAPREVI e se apresenta em eventos públicos. Maria Catarina (76 anos) Participa do grupo de dança do CIAPREVI e se apresenta em eventos públicos. No momento, a idosa se contenta c/ este grupo porque encontrou um companheiro. Participa do grupo de dança do Teatro São José e se apresenta em eventos públicos, apresentando os seus dotes artísticos musicais. Participa do grupo de dança e se apresenta em eventos públicos Mª Odésia (77 anos) No CIAPREVI ela desestressa e vende os seus produtos. Participa de vários grupos, para se sociabilizar. Mírian (81 anos) A idosa adotou o CIAPREVI como lar-substituto. Participa do CIAPREVI, como espaço de aperfeiçoamento em áreas de interesse principais. Contenta-se em participar somente do CIAPREVI. Participa de um grupo religioso, como canal para exercitar a fé e a caridade. Participa também do grupo de dança do Teatro São José e se apresenta em eventos públicos. Maria Alice (82 anos) Maria Amélia (86 anos) Participa do grupo de dança do CIAPREVI, apresentando-se em eventos públicos. Hipótese Formulada: Os grupos atuam como espaços de luta e de visibilidade social para os sujeitos Não confirmada. Confirmada. Confirmada. A idosa se sente feliz em apresentar seus talentos artísticos, relacionados à dança. Confirmada. A idosa busca sempre participar de outros grupos para dançar e interagir com outros idosos. Não Confirmada Confirmada. A idosa se sente feliz em apresentar seus talentos artísticos. Confirmada. A idosa se sente feliz em apresentar seus talentos artísticos e ensaia semanalmente no CIAPREVI. Confirmada. A idosa se sente feliz em apresentar seus talentos artísticos. Não confirmada. Confirmada. A idosa se sente feliz em apresentar seus talentos artísticos em eventos públicos e de interagir com pessoas de outros grupos. Confirmada. Aprecia se apresentar em eventos públicos. Confirmada. Tem interesses específicos nos grupos. Não confirmada. Confirmada. A idosa exercita nos grupos as suas áreas de interesse principais. Confirmada. A idosa se sente feliz em expor seus talentos artísticos na dança e ensaia semanalmente no CIAPREVI. QUADRO 3 - Demonstrativo da confirmação da subsecção “b” da primeira hipótese formulada. 98 Hipótese nº 1: Os sujeitos poderiam estar desenvolvendo, conjuntamente, ou não, várias estratégias de ação para ter acesso à cidadania, sendo destacadas as seguintes: Subsecção c: a busca por serviços de saúde, para manutenção dos níveis de qualidade de vida e bem-estar, em geral. Análise de Conteúdo: Esse nível hipotético foi igualmente confirmado, conforme dados, a seguir: Dez (10) entre quinze (15) sujeitos investigados demonstraram incluir em suas atividades rotineiras atividades voltadas para a manutenção da saúde, conforme se pode observar, por meio da análise dos dados constantes do Quadro 4, a seguir: Sujeito Luta dos sujeitos pela manutenção da saúde, em geral. Maria Luiziana (73 anos) Cuida especialmente da manutenção da saúde, procurando usufruir de uma boa alimentação. Recorre aos serviços públicos de saúde ao menor sinal de qualquer problema de saúde. É proativa, participa do grupo de convivência do CIAPREVI e de várias pastorais da Igreja, mas não fez referências específicas à busca por serviços médicos. Segundo consta de sua ficha de cadastro, tem diabetes e colesterol. Recorre eventualmente a serviços médicos. É usuária de cigarro, e fez cirurgia para corrigir problema oftalmológico de catarata, segundo consta da sua ficha de cadastro. Este último dado não foi mencionado pela idosa durante a entrevista. Não relatou ter problemas ou procurar serviços de saúde (Dados confirmados em sua ficha de cadastro). Procura sistematicamente serviços públicos e profissionais médicos especializados. Mantém os níveis de saúde, através da busca sistemática por assistência médica, utilizando o suporte de uma rede de amigos com influência em instituições públicas dessa área, uma vez que não dispõe de plano de saúde. Adota alimentação e hábitos de vida saudáveis, incluindo caminhadas diárias. Recorre a serviços públicos gratuitos de saúde e mantém uma programação sistemática de ginástica, musculação e fisioterapia. Contribui mensalmente com um plano de saúde (ABI), o qual lhe dá direito a serviços médicos. Mª Joseneide (74 anos) Acompanha os níveis de saúde, através de visitas periódicas ao médico. Mantém planos de saúde para esse fim. Maria Albina (75 anos) Mantém os níveis de saúde, através da busca sistemática por assistência médica, utilizando os planos de saúde de que dispõe. Mantém os níveis de saúde, buscando serviços de saúde gratuitos municipais. Procura obter sistematicamente acompanhamento médico para o seu problema de saúde (hipertensão arterial). É autonegligente com a saúde. Tem problemas de escoliose e não busca acompanhamento médico sistemático. Mantém os níveis de bem-estar e de qualidade de vida, realizando visitas constantes ao médico, para acompanhar os problemas de saúde, principalmente o de glaucoma; Dispõe de plano de saúde como funcionária pública aposentada. Adota hábitos de vida saudáveis, incluindo refeições leves em seu cardápio de alimentação. Mantém um plano de saúde, embora não recorra a esses serviços com assiduidade. Mostrou ser autonegligente com a saúde. Segundo consta de sua ficha cadastral, não faz prevenção de saúde da mulher e não refere que toma Maria Aldeide (60 anos) Mª Heloíza (61 anos) Maria Franciete (64 anos) Mª Verônica (66 anos) Maria Francisca (68 anos) Maria Felismina (69 anos) Maria Gertrudes (70 anos) Maria Catarina (76 anos) Mª Odésia (77anos) Mírian (81 anos) Maria Alice (82 anos) Maria Amélia (86 anos) Verificação da hipótese Confirmada Não confirmada Não Confirmada Não confirmada Confirmada Confirmada Confirmada Confirmada Confirmada Confirmada Confirmada Não Confirmada Confirmada Confirmada Não Confirmada 99 Sujeito Luta dos sujeitos pela manutenção da saúde, em geral. Verificação da hipótese medicamentos. Na entrevista disse que não precisa ir ao médico porque tem boa saúde. QUADRO 4 - Demonstrativo da confirmação da subsecção “c” da primeira hipótese formulada A seguir, passa-se a demonstrar a confirmação da 2ª hipótese geral, formulada para a pesquisa. Hipótese nº 2: O grupo de convivência do CIAPREVI-CE, entretanto, se configuraria como o principal espaço cotidiano de luta utilizado pelos sujeitos, para ter acesso à cidadania, em virtude das limitadas possibilidades de realização social dos sujeitos. Análise de Conteúdo: A citada hipótese foi comprovada, conforme dados, a seguir: Ficou demonstrando que o CIAPREVI-CE constitui o espaço principal de construção da cidadania de treze (13) entre os quinze (15) sujeitos investigados e exclusivo de 5 entre os quinze (15) sujeitos participantes da amostra da pesquisa. Os dois sujeitos que não confirmaram esse nível hipotético dispõem de renda mensal superior a dos demais sujeitos do grupo de convivência (1 salário mínimo), bem como de razoável nível de escolaridade (1º grau completo e 5ª série do curso primário), tendo realizado inúmeras conquistas de cidadania em sua trajetória de vida. O discurso dos sujeitos esclareceu que os demais grupos de convivência em que se encontram engajados atuam segundo a natureza das instituições que os promovem e, não, especificamente, segundo a natureza dos grupos de convivência, prevista em lei. Observou-se que o grupo de convivência do CIAPREVI-CE oferece aos sujeitos um leque de atividades mais diversificado que os outros grupos que frequentam, possibilitando a alguns sujeitos a oportunidade de dar vazão às suas habilidades artísticas (tocar instrumentos musicais e engajar-se nas danças folclóricas) e de se aperfeiçoar em determinadas áreas (aulas de computação e de alfabetização), conforme dados constantes do Quadro 5, a seguir: 100 Sujeito Maria Aldeíde (60 anos) Maria Heloíza (61 anos) Maria Franciete (64 anos) Mª Verônica (66 anos) Maria Francisca (68 anos) Maria Felismina (69 anos) Maria Gertrudes (70 anos) Maria Luiziana (73 anos) Mª Joseneide (74 anos) Maria Albina (75 anos) Maria Catarina (76 anos) Mª Odésia (77 anos) Mírian (81 anos) Maria Alice (82 anos) Maria Amélia (86 anos) O grupo de convivência do CIAPREVI-CE como principal espaço de construção da vivência cidadã dos sujeitos Verificação da hipótese Participa exclusivamente do grupo de convivência do CIAPREVI. Este é o seu principal espaço de luta utilizado pelos sujeitos para ter acesso à cidadania. Confirmada Participa exclusivamente do grupo de convivência do CIAPREVI. Na Igreja, participa de pastoral religiosa que não se caracteriza como grupo de convivência. Confirmada Participa das atividades de vários grupos de convivência diferentes, durante a semana (CIAPREVI, Grupo de convivência espírita; Grupo de convivência do Mucuripe; Grupo de convivência do Curió). Tais grupos de convivência atuam consoante a modalidade prevista em lei, mas é no CIAPREVI onde ela está realizando o sonho de aprender computação. Participa do grupo de convivência do CIAPREVI e do PIRATA, à noite. Na Igreja, participa de pastoral religiosa que não se caracteriza como grupo de convivência. No CIAPREVI ela tem oportunidade de participar das aulas de alfabetização. A idosa participa das atividades do CIAPREVI há bastante tempo, mas denotou buscar no grupo mais um espaço de lazer e não especificamente de construção da cidadania. Dispõe de estabilidade financeira e participa de excursões periódicas. A idosa participa de vários grupos de convivência (CIAPREVI, PIRATA, Igreja de Santa Luzia e Igreja do Cristo Rei). Entretanto, é no CIAPREVI que ela tem oportunidade de participar da bandinha, dando vazão à sua luta por ser socialmente vista. “Doutora, nós quer ser visto... A senhora já ouviu falar de outra banda de idosos que toca e dança como nós?”. Participa de três grupos de convivência durante a semana, sendo que em dois deles realizam especificamente atividades de dança e de ginástica (Teatro São José e Bombeiros, no bairro XXIII). É no CIAPREVI que ela participa das aulas de computação. Participa de outros grupos de convivência durante a semana, sendo que um deles, da ABI, atua como grupo de convivência. Entretanto, é no CIAPREVI_ que ela dá vazão à sua habilidade de participar da bandinha, de tocar um instrumento musical e de cantar, participando de eventos públicos. Atualmente a idosa participa exclusivamente do grupo de convivência do CIAPREVI, mas considera o centro o seu espaço principal de “lazer” e não de construção da cidadania. Depois de várias conquistas nessa área (aprendeu a ler e escrever já idosa), e de exercer diversificadas atividades polivalentes, o seu interesse principal atualmente se volta para a estabilidade afetiva, através do novo casamento que contraiu. Participa de vários grupos de convivência durante a semana, há vários anos, sendo que um desses grupos, o da ABI, atua na modalidade de grupo de convivência. Entretanto, é no CIAPREVI que ela dá vazão à sua habilidade artística de tocar e dançar, apresentando-se em eventos públicos) Participa de dois grupos de convivência durante a semana, sendo que em um deles realiza especificamente atividades de dança (Teatro São José). Participa de três grupos de convivência durante a semana, sendo que dois deles (PIRATA e CIAPREVI) atuam como grupos de convivência e o da Igreja de Santa Luzia, como grupo eminentemente religioso. No CIAPREVI ela tem aulas de alfabetização, que para ela é uma meta de cidadania. Participa exclusivamente do grupo de convivência do CIAPREVI. Adotou o CIAPREVI como lar-substituto, onde passa o dia (manhã e parte da tarde), interagindo com funcionários e visitantes. Participa exclusivamente do grupo de convivência do CIAPREVI. Na Igreja, participa de pastorais religiosas que não se caracterizam como grupos de convivência. Participa de vários grupos de convivência, durante a semana, sendo que em dois deles realiza especificamente atividades de dança (Teatro São José e no bairro XXIII, que frequenta, aos domingos). O CIAPREVI é onde passa a maior parte do cotidiano. QUADRO 5 - Demonstrativo da confirmação da segunda hipótese formulada. Confirmada Confirmada Não Confirmada Confirmada Confirmada Confirmada Não Confirmada Confirmada Confirmada Confirmada Confirmada Confirmada Confirmada 101 Demonstra-se, a seguir, a confirmação da 3ª hipótese formulada para esta pesquisa: Hipótese nº 3: O CIAPREVI-CE poderia trabalhar de forma mais eficiente os conteúdos referentes aos direitos e deveres de cidadania, junto aos sujeitos, através da via artística e de metodologias lúdicas. Análise de Conteúdo: Os sujeitos confirmaram que tanto as atividades musicais, quanto as atividades de dança se encontram entre as estratégias preferenciais por eles utilizadas, visando ao enfrentamento e superação das condições adversas da vida. 1) Em relação às atividades na área da música: Os resultados evidenciaram que nove (9) entre os quinze (15) sujeitos investigados têm predileção por atividades musicais genuínas; quatro (4) entre os quinze (15) sujeitos têm predileção pelo binômio música/dança de forró e dois (2) sujeitos não manifestaram predileção pelas atividades musicais, conforme consta do Quadro 6, a seguir: Sujeito Maria Aldeíde (60 anos) Mª Heloíza (61 anos) Maria Franciete (64 anos) Mª Verônica (66 anos) Maria Francisca (68 anos) Maria Felismina (69 anos) Maria Gertrudes (70 anos) Maria Luiziana (73 anos) Mª Joseneide (74 anos) Maria Albina (75 anos) Maria Catarina (76 anos) Mª Odésia (77 anos) Mírian (81 anos) Maria Alice (82 anos) Maria Amélia (86 anos) As Atividades musicais entre as estratégias preferenciais utilizadas pelos sujeitos para enfrentamento e superação das condições adversas da vida. Desestressa, ouvindo músicas no rádio, ou em CD diariamente, em casa. Não mencionou predileção especial por essa área. Aprecia o binômio música/dança de forró. Adota de mecanismos de desestresse, ouvindo música e programas de rádio, enquanto realiza as atividades domésticas, diariamente. Aprecia o binômio música/dança de forró. Canta no grupo de convivência. Adota mecanismos de desestresse, ouvindo música, quando está em casa. Participa do grupo musical de chorinho do CIAPREVI. Desenvolveu um gosto acentuado por atividades musicais (canta e toca na bandinha do CIPREVI). Desestressa logo cedo, ao acordar, permanecendo por uma hora na cama, ouvindo músicas no rádio ou CD. Aprecia participar de forrós. Envolve o canto em todas as atividades domésticas. “Trabalha, cantando, em casa.” Aprecia o binômio música/dança de forró. Aprecia o binômio música/dança de forró. Desestressa, ouvindo constantemente músicas em casa e atuando como DJ no grupo de convivência do CIAPREVI. Não mencionou predileção especial por essa área. Desestressa, ouvindo o canto dos passarinhos em casa. QUADRO 6 - Demonstrativo da confirmação da terceira hipótese formulada (Área artística: musical) 102 2) Em relação às atividades na área da dança: Os resultados apontaram que treze (13) entre os quinze (15) sujeitos investigados têm predileção por essa modalidade artística, conforme dados constantes do Quadro 7, a seguir: As Atividades de dança entre as estratégias preferenciais utilizadas pelos sujeitos para enfrentamento e superação das condições adversas da vida. Sujeito Maria Aldeíde (60 anos) Mª Heloíza (61anos) Maria Franciete (64 anos) Mª Verônica (66 anos) Maria Francisca (68 anos) Maria Felismina (69 anos) Maria Gertrudes (70 anos) Maria Luiziana (73 anos) Mª Joseneide (74 anos) Maria Albina (75 anos) Maria Catarina (76 anos) Mª Odésia (77 anos) Mírian (81 anos) Maria Alice (82 anos) Maria Amélia (86 anos) Sempre que convidada, participa de eventos festivos de forrós. Não fez referência à dança entre suas atividades preferenciais. Participa de forrós nos fins de semana e a dança é uma de suas atividades preferidas no CIAPREVI. Aprecia os forrós dos grupos de convivência de que participa, mas evita participar, no momento, por causa do falecimento recente do marido. Desestressa, participando das atividades de dança, no CIAPREVI. Participa das atividades artísticas (canto e dança, no grupo de chorinho do CIAPREVI e do Teatro São José). Participa do grupo folclórico do CIAPREVI e do de dança do Teatro São José. Engajou-se permanente nas atividades do grupo musical de chorinho do CIAPREVI. Participa dos forrós do CIAPREVI e de casas de forrós. No momento, deixou de frequentar casas de forrós porque casou. Engajou-se em um grupo musical de chorinho no CIAPREVI, onde toca, canta e dança, apresentando-se, com os outros idosos engajados, em eventos públicos. Adota mecanismos de desestresse, semanal, com o companheiro, frequentando um forró no bairro onde mora. Aprecia a dança, nos grupos de convivência de que participa, mesmo a contragosto do marido. Mantém rede permanente de amigos que reencontra, semanalmente, numa casa de shows, às sextasfeiras. Participa dos forrós e é a DJ oficial do grupo de convivência do CIAPREVI. A dança não foi mencionada entre suas atividades preferenciais. Participa do grupo de dança do CIAPREVI e do Teatro São José. QUADRO 7 - Demonstrativo da confirmação da terceira hipótese formulada (Área artística: dança) 5.3 Verificação dos quesitos da entrevista realizada, concomitantemente ao Instrumento 1 aplicado 5.3.1 Em relação ao contexto privado: (Item 1.1: Por que faz essas atividades?) Análise de Conteúdo (principais aspectos salientados): A maioria dos sujeitos mencionou que sentia satisfação em realizar as atividades domésticas, mesmo as que realizavam “por necessidade”, no ambiente do lar. Entretanto, as quatro (4) idosas que não se mostraram satisfeitas com as atividades 103 realizadas, em casa, comprovaram que esse aspecto interferia desfavoravelmente nos seus níveis de bem-estar, uma vez que demonstraram sentir desgosto com o fato de terem que desperdiçar o tempo vivido em casa com a realização de trabalho doméstico obrigatório e não com as atividades de lazer. Ressalta-se que os quatro (4) supracitados sujeitos são os mesmos que, no Quadro 2, anteriormente apresentado, referiram realizar algumas atividades em casa “por necessidade, ou seja, por obrigação” e não “por satisfação”. Desse modo, as respostas dadas pelos sujeitos (1ª Hipótese; subseção a - Quadro 2) poderão ser confrontadas com as respostas dadas pelos sujeitos no item 1.1, constante do Quadro 8, a seguir: Sujeito Maria Aldeíde (60 anos) Mª Heloíza (61 anos) Maria Franciete (64 anos) 1.1 Por que faz essas atividades? (por necessidade ou por satisfação?) Faço porque gosto, porque eu gosto de fazer minhas coisas toda a vida... Desde que comecei a tomar conta de casa, as minhas coisas sou eu mesmo que faço. Além de eu gostar, eu faço porque eu tenho que fazer, não tem quem faça... Só tem uma coisa que eu não gosto: é passar roupa... Mas lavar, eu gosto... Eu faço porque gosto, mas, se eu não fizer, não tem quem faça, eu tenho que fazer. Porque o meu filho só faz se eu não tiver em casa, senão, minha filha, é comigo... Por obrigação, porque não posso deixar de fazer... Eu tenho vontade que meu filho volte porque ele me ajudava o dia todo fazendo as coisas dentro de casa... Se ele voltasse, eu ia voltar a fazer o meu crochê... Mª Verônica (66 anos) Eu faço porque gosto de fazer, mas os gatinhos estão dando muito trabalho... Maria Francisca (68 anos) Porque me dão satisfação e a filha me ajuda em tudo. “Ave, Maria, minha família é bacana demais...” Maria Felismina (69 anos) Gosta de fazer todas as atividades que compõem a sua rotina de vida diária. Sintetiza com esta frase: “Ah! Porque gosto... Porque eu gosto, é por prazer, porque a gente faz tudo isso e ainda sente uma dor na perna, ainda sente uma dor no joelho, e imagina se ficasse sem fazer nada dentro de casa... Faço todas as atividades em casa e no grupo por satisfação e não por obrigação, mas também porque, se não quisesse fazer os trabalhos de casa, as pessoas ficariam simplesmente sem almoçar ou jantar. Porque gosto, e não por obrigação. E ressalta: “Eu amo a cozinha”. Menciona que tem uma enteada que está morando com ela e a ajuda muito. Porque gosto, se não gostasse eu não fazia não, pagava uma pessoa... Eu só não gosto de passar . Tem uma pessoa que engoma pra mim. Maria Gertrudes (70 anos) Maria Luiziana (73 anos) Mª Joseneide (74 anos) Maria Albina (75 anos) Maria Catarina (76 anos) Faço por satisfação e não por obrigação. Mª Odésia (77 anos) Afirma que a atividade que mais a sobrecarrega (vender chilitos) ela faz por necessidade, “porque tenho que juntar um dinheirinho extra para comprar coisinhas para os meu netim e ajudar a minha filha”. Estado emocional gerado: (Bem-estar e satisfação versus estresse e insatisfação com determinadas atividades). (Bem-Estar) Sente-se satisfeita em realizar as atividades mencionadas. (Bem-Estar) Sente-se satisfeita em realizar as atividades mencionadas. (Estresse) Sente insatisfação em realizar essas atividades. Faz por necessidade. (Estresse) Mostra insatisfação em realizar determinadas atividades. Faz por necessidade. (Bem-Estar) Sente satisfação em realizara as atividades mencionadas. (Bem-Estar) Sente-se satisfeita com as atividades realizadas. (Bem-Estar) Sente-se satisfeita em realizar as atividades mencionadas. (Estresse) Mostra insatisfação em realizar determinadas atividades. Faz por necessidade. Satisfação (Bem-Estar) Sentese satisfeita em realizar as atividades mencionadas. (Bem-Estar) Sente-se satisfeita em realizar as atividades mencionadas. (Bem-Estar) Sente-se satisfeita em realizar as atividades mencionadas. (Estresse) Mostra insatisfação em realizar determinadas atividades. Faz por necessidade. 104 1.1 Por que faz essas atividades? (por necessidade ou por satisfação?) Sujeito Mírian (81 anos) Faço todas as atividades, tanto em casa quanto no CIAPREVI, por satisfação e não por obrigação. Maria Alice (82 anos) Diz que gosta de todas as coisas que faz. “Faço porque gosto, mesmo as tarefas domésticas”. Maria Amélia (86 anos) Porque gosto e não porque sou obrigada, e também porque não quero dar trabalho a ninguém. Estado emocional gerado: (Bem-estar e satisfação versus estresse e insatisfação com determinadas atividades). (Bem-Estar) Sente-se satisfeita em realizar as atividades mencionadas. (Bem-Estar) Sente-se satisfeita com as atividades realizadas. (Bem-Estar) Sente satisfação em realizar as atividades mencionadas. QUADRO 8 - Item 1.1: Importância atribuída pelos sujeitos às atividades que realizam em contexto privado (casa) 5.3.2 Em relação ao contexto privado: (Item 1.2: Troca experiências com outras pessoas enquanto realiza essas atividades? Com quem?) Análise de Conteúdo (Principais aspectos salientados): Seis (6) entre os 15 (quinze) sujeitos investigados passam a maior parte do tempo em que estão em casa, sem usufruírem da companhia de outras pessoas. Quatro (4) entre esses seis (6) sujeitos referiram vivenciar problemas nas relações intrafamiliares. Os dois (2) sujeitos desse grupo que não referiram ter problemas nas relações com familiares, mostraram-se satisfeitos com a vida e procuraram contornar a situação com sabedoria, usando estratégias para vencer o isolamento; Dos quinze (15) sujeitos investigados quatorze (14) manifestaram direta ou indiretamente dar importância à presença de outras pessoas em casa. Apenas uma idosa afirmou categoricamente que não queria ter ninguém por perto, enquanto fazia as tarefas domésticas, mas, nesse mesmo contexto do discurso, salientou que a filha e a vizinha da frente eram presenças constantes em sua rotina diária. Alguns sujeitos desenvolveram estratégias para enfrentar o isolamento em casa. Mencionaram, por exemplo, que gostavam de ouvir músicas no rádio enquanto trabalhavam, ou que buscavam conectar-se a programas de televisão, durante a realização dessas atividades. Outro recurso mencionado pelos sujeitos foi o de procurarem se dedicar à criação de animais de estimação em casa, conforme se observa através das informações constantes do Quadro 9, a seguir: 105 Sujeito Maria Aldeide (60 anos) Mª Heloíza (61 anos) Maria Franciete (64 anos) Troca experiências com outras pessoas enquanto realiza essas atividades? Com quem? Olha, minha filha, eu não quero ninguém pra mim atrapalhar. Quando eu to em casa eu quero fazer minhas coisas sozinha. . Agora, que eu já to acostumada, já há muitos anos que eu vivo só, eu prefiro fazer minhas coisas só... Nada, eu não tenho solidão, eu não tenho nada... Eu só penso em Deus e na minha obrigação, eu não tenho tristeza, não, não, nada disso... Negócio de tristeza não é comigo não... “Sempre tem gente conversando por perto... A minha nora vem sempre, aí a vizinha vem, pega uma coisa, e é aquela animação...” Não, eu gosto de ficar só em casa... Eu só não gosto de ficar só em casa, à noite... Mª Verônica (66 anos) “Eu coloco a televisão e o rádio e fico escutando. A minha filha não gosta muito de conversar comigo não, ela chega da Faculdade e fica lá no quarto dela, só conversa quando tem assim um aniversário...” Maria Francisca (68 anos) Minha filha está sempre em casa. Não trabalha fora. Maria Felismina (69 anos) “Não, porque estão lá tudo dormindo (ela, meu filho, o neném... E eu fico lá sozinha, fazendo minhas coisas... Agora eu converso, porque minha irmã de Santa Catarina veio aqui ficar comigo... Ela ta aí fazendo aula (de pintura em tecido)..”. Maria Gertrudes (70 anos) “ Não, tem os passarinhos e a cachorrinha... Ela entende tudo, minha filha... Quando ela quer tomar banho, ela pega a cabeça dela e esfrega assim no pano...” Maria Luiziana (73 anos) “Na aula de pintura, como é muita gente, conversa uma, conversa outra, às vezes até é uma troca de experiência... é na convivência com as outras idosas que a gente troca experiência com as outras pessoas...” Mª Joseneide (74 anos) Maria Albina (75 anos) Maria Catarina (76 anos) Mª Odésia (77 anos) “Gosto de fazer minhas coisas sozinha”.. Entretanto, durante a entrevista referiu que começou a participar do grupo do CIAPREVI-CE porque começou a se sentir sozinha em casa e teve depressão. Não, eu não tenho com quem conversar, sou só eu e Deus. “Fico sozinha e Deus”. Não sinto solidão, porque eu sou muito divertida, gosto muito de cantar... (Diz que realiza todas as atividades domésticas cantando...) “Meu marido e minha irmã que mora comigo estão sempre em casa”. O marido está sempre atarefado em casa. Ela instalou uma secretária eletrônica em seu telefone e, assim que chega em casa, fica ouvindo os recados dos amigos dos grupos de convivência que telefonam para ela. Mas reclamou: “Eu tô pagando de graça esse serviço, porque ele não dá os recados...” Mírian (81 anos) “Não exponho a minha vida a ninguém”. Diz que é muito reservada e não fala de assuntos particulares porque as pessoas costumam comentar e não são discretas. Maria Alice (82 anos) “Minha filha está sempre por perto, ajudando nos trabalhos de casa.” Maria Amélia (86 anos) “Eles são a minha alegria” Nível de interação mantido pelos sujeitos com outras pessoas no espaço doméstico Conversa, entre os intervalos do serviço doméstico com a vizinha da casa em frente. À tarde, a filha casada vem para conversar com ela e lancharem juntas. Refere que tem sempre pessoas da família ou amigas ao seu redor, enquanto está em casa. Geralmente fica sozinha fazendo os serviços domésticos. Fica sozinha em casa, fazendo os serviços domésticos. Procurou contornar o isolamento, criando gatos e ouvindo música para se distrair. A filha e os netos estão sempre por perto. Diz que não se sente sozinha. Acorda bem cedo e faz sozinha os serviços domésticos, antes de sair. Demonstrou que ficou feliz com a companhia da irmã que mora fora. Menciona gosta da própria companhia, e que tem a constante companhia de uma cachorrinha e dos passarinhos de estimação. Disse que não conversa com ninguém enquanto faz suas atividades domésticas. Ressaltou que gosta de trocar experiências com outras pessoas, no CIAPREVI. Usufrui da companhia da enteada, que a ajuda nas tarefas domésticas. Fica sozinha em casa, pois o filho que mora com ela trabalha fora. Canta para espantar a tristeza. Tem a companhia da irmã e do marido. Mencionou sentir-se sozinha, por não contar com o marido para partilhar os afazeres domésticos. Ele cuida dos próprios afazeres e quase não interage com ela. Passa o dia todo no CIAPREVI e só volta para casa no final da tarde, quando a filha vem buscála. Usufrui da companhia constante da filha, em casa. Não conversa com ninguém, em especial, mas interage com os passarinhos que cria. QUADRO 9 – Item 1.2: Importância atribuída pelos sujeitos às trocas de experiência com outras pessoas, no contexto privado (indicador de integração) 106 5.3.3 Em relação ao contexto comunitário extragrupo de Convivência do CIAPREVI-CE: (Item 2.1: Que tempo dispensa ao lazer cultural e social (assistir a noticiários, ler revistas, ouvir música, ir ao cinema, teatro e forrós)? Análise de Conteúdo (Principais aspectos salientados): A maioria dos sujeitos demonstrou que a principal modalidade de lazer cultural por eles adotada era desenvolvida no próprio espaço doméstico. As atividades de lazer mais recorrentes foram os telejornais e os programas televisivos de entretenimento, entre os quais as novelas. Poucos sujeitos demonstraram ter desenvolvido o hábito da leitura ou de frequentar cinemas e teatros. Apenas dois sujeitos vivenciando estágios de velhice intermediária (75 anos) e de velhice avançada (82 anos), com bom nível de escolaridade (sabem ler e escrever satisfatoriamente), desenvolveram o hábito da leitura, considerando esta uma atividade prazerosa. Uma idosa de idade avançada (81 anos), que sabe ler e escrever, tem por hábito ir, semanalmente, assistir a peças de teatro, aos sábados. Não costuma ler porque está sofrendo de glaucoma, mas ouve música diariamente. A maioria dos sujeitos que referiu buscar uma vida social mais ativa, demonstrou fazêlo, preferencialmente, através da participação em os eventos públicos de forrós. A participação em eventos de forrós demonstrou constituir a principal modalidade de lazer social, desenvolvida pelos sujeitos, conforme demonstram as informações constantes do Quadro 10, a seguir: Sujeito Que tempo dispensa ao lazer cultural (assistir a noticiários, ler revistas, ouvir música), e social (ir ao cinema, teatro e forrós)? A importância atribuída pelos sujeitos ao lazer cultural e social. Maria Aldeide (60 anos) Eu saía muito com uma amiga minha... Mas agora ela ta com um rapaz, né? E eu agora não saio mais não. Ah, nós vivia saindo direto, ta com um ano só, né, que nós paremo... Sente falta da companheira de forró, que se casou recentemente (prioriza o lazer social). Mª Heloíza (61 anos) Maria Franciete (64 anos) Aos sábados fica o dia todo dentro de casa, inclusive lavando roupas para fora. É ela quem faz o almoço aos sábados. Às vezes, aos domingos, participa de piqueniques com familiares. “Vão para o Aquiraz, vão para a Prainha, para o Pecém...” Estes piqueniques são organizados pela nora. O último programa que fizeram foi perto de Aquiraz. Retornam quase sempre, às 16:00h. Lá eles tomam banho de mar, brincam e almoçam nas barracas. De noite, eu gosto muito de ler...Ah, eu gosto de ler revista, romanço... As meninas levam muita revista, lá pra D. Tatá... Ah, é muito bom... Menciona gostar de ir a forrós: “Todo domingo eu saio... Só volto à noite, lá pras nove horas... Às vezes eu volto correndo do ponto de ônibus de noite, sozinha....” Vai todas as noites conversar com familiares e amigos na calçada de casa. (prioriza o lazer social). Gosta de assistir à televisão trancada no seu quarto (prioriza o lazer sociocultural) . 107 Que tempo dispensa ao lazer cultural (assistir a noticiários, ler revistas, ouvir música), e social (ir ao cinema, teatro e forrós)? A importância atribuída pelos sujeitos ao lazer cultural e social. Mª Verônica (66 anos) “Nos dias de quinta-feiras eu escuto até as 7 horas a Samantha...É o forró 93... Sexta-feira não tem nada... (refere-se ao grupo do CIAPREVI). Sextafeira só tem a reza comum mesmo, em casa, de noite. Ao cinema eu vou, ali perto do Cristo Redentor”. (no Centro Cultural Dragão do Mar. E eu acho que a gente paga só a metade... Outro dia eu fui, começou às 8 horas e terminou às 9h...Foi até sobre o Juazeiro, Padre Cícero... No Pirata eu vou, mas eu não danço porque o meu marido morreu faz só um ano e sete meses e eu não tou dançando... Dia de sábado, às vezes minha filha casada liga para eu ir pra casa dela, em Beberibe. Quando ela não liga, eu não posso ir... Dia de sábado, quando eu não vou pra Beberibe eu fico em casa, meu filho é que vai para o mercantil. Ah, lá em Beberibe eu vou pra praia, jogo de bola com meus netos, brinco de quebra-cabeças...Sábado à tarde a gente vai passar às tardes lá na cidade e fica até as 9h da noite... Dia de domingo eu vou assistir missa lá perto da praia...Aonde eu estiver eu vou pra missa... A missa termina às 8h, ou oito e meia (da manhã) e de lá a gente vai pra praia ou pras Falésias... Quando eu não vou eu, fico só em casa... Mas às vezes, dia de sábado ou domingo, eu vou pra praia do Futuro com a minha filha...” Gostaria de sair mais, porém depende do convite da filha que mora fora e da disposição da filha que mora com ela (prioriza o lazer social). Maria Francisca (68 anos) Passa quase o dia todo assistindo a noticiários de rádio e televisão, assistindo aos programas e filmes que gosta na televisão e indo visitar as amigas que moram próximo de sua casa... Sujeito Maria Felismina (69 anos) Maria Gertrudes (70 anos) Maria Luiziana (73 anos) Mª Joseneide (74 anos) Maria Albina (75 anos) Maria Catarina (76 anos) “Vou pro forró no Banco do Nordeste do Brasil (BNB), às vezes, eu saio lá da minha menina e vou direto pra lá... Ou então vou aqui para o Mercado dos Peões, dia de sexta-feira... Ah! Eu gosto de dançar...” Em casa, assiste a todos os programas de televisão de que gosta. “Não to gostando mais de ir a isso não (forró)... Mas de teatro eu gosto... Eu tenho uma amiga que a gente sai junto, mas agora ela está doente, a gente vai pra procissão... Fui pra procissão de Nossa Senhora Aparecida, lá no bairro tem a Igrejinha dela...” (demonstra uma identificação racial com a Santa Padroeira do Brasil). “Assisto às novelas e o jornal”, em casa. “Hoje em dia, ói, eu participo da bandinha, eu toco no tamborim e canto, quando precisa. Eu acho bom porque a gente sempre tem convite para tocar fora...” “Eu não sei nem o que é teatro ou cinema... Só uma vez na vida fui convidada junto com outras pessoas a assistir a um filme... mas era filme de propaganda, para divulgar um produto de sabão em pó. E se admira: “Olha aí, o filme que eu fui assistir...” “Aqui ficou o meu lazer... é o meu lazer até hoje...” “Ah, é muito difícil, é muito difícil mesmo... Eu não gosto muito não... Até que eu gosto assim de domingo da Eliane é [de assistir ao programa televisivo dessa apresentadora de televisão]... Eu não, não gosto muito de teatro não, às vezes me convidam, mas eu não gosto não...” O seu principal lazer no final de semana é o forró na “Casa Cheia” E enfatiza: “Durante o dia a gente já vem pra cá e de noite a gente não pode sair. A gente sai só durante o dia, à noite ninguém vai pra canto nenhum”. Semana passada, eu fui pro cinema, lá perto do São Luiz, que passou um filme para os idosos.... Nós assistimos... foi agora há pouco, lá na Praça do Ferreira...” Mª Odésia (77 anos) A partir dos relatos da idosa e das atividades que integram a sua rotina diária, percebe-se que os grupos de convivência são a sua principal fonte de interação social. “Eu queria mais antes visitar minha filha... E meus netim tudim tão lá... Eu iria passear... Mas o meu genro agora ta sem carro, o bichim... Mas quando ele ta com carro a gente vai passear na serra de Maranguape... Ele é doido por essas coisas... pescar...” Mírian (81 anos) Afirma que não perde os shows artísticos do Mercado das Artes, todas as sextas-feiras, à noite. Quando está em casa, costuma ouvir música, mas não lê mais porque está com um sério problema de glaucoma. Aprecia os programas de televisão, incluindo os filmes. (Prioriza o lazer sociocultural). Mantém os níveis de bemestar, frequentando forrós em diversos lugares (prioriza o lazer social). Sente-se satisfeita com a rotina diária. Assiste à televisão em casa (prioriza o lazer cultural). Só realiza atividades de lazer em casa, quando lhe sobra tempo. O grupo preenche a maior parte de suas necessidades de lazer social. O grupo de convivência do CIAPREVI-CE é o seu principal lazer. Assiste à televisão; Faz leituras religiosas (prioriza o lazer cultural). Não sai mais vezes porque tem medo de sair de casa (prioriza o espaço doméstico porque sente insegurança em sair). Costuma visitar a filha e realizar programas com a família dela, quando a convidam, mas esses passeios parecem ser raros (sente falta do lazer social). Ouve música, quando está em casa e tem uma rotina social prazerosa 108 Que tempo dispensa ao lazer cultural (assistir a noticiários, ler revistas, ouvir música), e social (ir ao cinema, teatro e forrós)? Sujeito Maria Alice (82 anos) Ressalta que gosta mais de ler, assistir ao programa do Ratinho, e que não gosta de Teatro. Lê romances em casa. Diz que só na juventude participava de pastoris. “Mas essa época já passou...” Maria Amélia (86 anos) Assiste ao Jornal Nacional todas as noites. Uma vez por mês participa de uma sessão de cinema no Cine São Luiz, onde chega de manhã, às 08 horas, para tomar café primeiro e depois assistir ao filme. A importância atribuída pelos sujeitos ao lazer cultural e social. Mantém os níveis de bemestar, participando de atividades religiosas na Igreja (prioriza o lazer cultural e as atividades na Igreja) . Dorme cedo, mas diz assistir a programas de televisão (prioriza o lazer cultural). QUADRO 10 - Item 2.1: Importância atribuída pelos sujeitos às atividades de lazer cultural e social 5.3.4 Em relação ao contexto comunitário extragrupo de convivência do CIAPREVI-CE: (Item 2.2: Que tempo reserva para se encontrar com os amigos e para conversar sobre assuntos de interesse coletivo? da rua onde mora, do bairro, da cidade etc.) Análise de Conteúdo (Principais aspectos salientados): A maioria dos sujeitos referiu que mantém uma rede de amigos, como atividade de socialização preferencial. Entretanto, alguns não demonstraram abertura para discutir assuntos particulares. As conversas giram em torno de assuntos triviais do dia-a-dia, conforme demonstra o Quadro 11, a seguir. Observou-se, de modo geral, que a participação em atividades gratificantes e de socialização, em contextos extragrupo do CIAPREVI-CE, tem decisiva importância para a qualidade de vida dos sujeitos. Entretanto, nenhum dos sujeitos mencionou ter por hábito incluir a discussão de assuntos de interesse coletivo nas conversas informais entre amigos, nos locais onde moram, demonstrando não exercitar a consciência crítica, em relação aos problemas que afligem a coletividade, em geral. Sujeito Que tempo reserva para se encontrar com os amigos e para conversar sobre assuntos de interesse coletivo (da rua onde mora, do bairro, da cidade, etc.) Maria Aldeíde (60 anos) “Eu tive de ir ali no Cristo Redentor, ali na Praia de Iracema... Mas depois aqui no grupo não houve mais nada... Às vezes eu digo: Meu Deus, tomara que chegue logo a terça pra eu ir para o grupo...” Mª Heloíza (61 anos) “Todas as noites a gente vai conversar em frente de casa, mas a gente só discute sempre sobre futebol... (E dá muitas gargalhadas com as derrotas do time adversário...) Enfatiza, contudo: “Mas não tem briga não, é só por animação, não tem confusão não....” A importância atribuída pelos sujeitos às conversas informais e aos assuntos de interesse coletivo Mostra insegurança em relação ao bairro onde mora. O CIAPREVI é a principal instância de socialização da idosa. Participa de uma roda de amigos todas as noites, em frente à sua casa. 109 Sujeito Que tempo reserva para se encontrar com os amigos e para conversar sobre assuntos de interesse coletivo (da rua onde mora, do bairro, da cidade, etc.) Maria Franciete (64 anos) “Todo domingo eu saio... Só volto à noite, lá pras nove horas... Às vezes eu volto correndo do ponto de ônibus de noite, sozinha....” Mª Verônica (66 anos) “Às vezes eu converso, e às vezes não. Porque meus vizinhos são crentes e eles passam a noite toda tocando violão, cantando e os da frente gostam de fofoca e eu não gosto não..”. Maria Francisca (68 anos) Maria Felismina (69 anos) Maria Gertrudes (70 anos) Maria Luiziana (73 anos) Mª Joseneide (74 anos) Maria Albina (75 anos) Maria Catarina (76 anos) Mª Odésia (77 anos) “Todas as noites, diariamente, converso com a minha irmã que mora vizinho à minha casa e todos os fins-de-semana, vou para os forrós, com minhas amigas.” Afirma: ”Eu tenho medo de sair... Eu moro na Aerolândia, perto do Lagamar... Doutora, a minha casa é constantemente fechada, não pode abrir não, por causa do perigo dos assaltos. A senhora abra a televisão hoje que vai sair só Aerolândia...” “Eu tenho uma amiga que a gente sai um pouco e a gente conversa.” Tem muitos amigos no CIAPREVI-CE, mas no bairro não tem amigas porque os vizinhos são de outra religião. Diz que conversa todas as noites com suas amigas da vizinhança, cujas idades variam de 60 a 65 anos, “Eu não converso com elas sobre seus problemas particulares”. Diz que, quando está em casa, às vezes fica o dia todo assistindo aos programas de televisão que gosta ou pintando peças de tecido. Não está frequentando mais forrós porque está com um novo companheiro. “Agora eu to mais caseira”... Conversa todas as noites com um grupo de amigas que moram perto de casa, mas não conversam sobre assunto de política... “É a mesma patotinha que fica conversando toda a noite...” Ressaltou que só encontra os amigos nos grupos de convivência, porque em seu bairro as portas da casa têm que ficar constantemente fechadas, por causa da violência. “As portas de casa são sempre trancadas”... Ela diz que não tem nem tempo para conversar com ninguém da rua, passa e apenas cumprimenta, porque vive correndo daqui para acolá e, à noite, quando chega em casa, procura logo ir se acomodar em uma cadeira de balanço, levantando os pés inchados de tanto andar e trabalhar. “Eu vou logo pra cadeira de balanço e fico de pés pra cima, exausta!...” “Vou sempre almoçar e jantar fora com a minha filha solteira e os amigos dela, aos sábados e domingos e, às vezes vou passar os fins-de-semana, em uma casa de praia.” Vai aos grupos de oração na Igreja e viaja, às vezes, para visitar os familiares, com a filha. “Às vezes a gente vai visitar os familiares no Parajuru...” A importância atribuída pelos sujeitos às conversas informais e aos assuntos de interesse coletivo Mantém uma programação de eventos de forró frequente. Não tem bom relacionamento com os vizinhos porque são de outra religião. Tem uma rede permanente de amigas. Não gosta de sair com mais frequência por ter medo da violência. Tem permanentes. amizades Mantém uma rede de amigas na rua onde mora, porém não troca confidências com elas. No momento diz que está mais caseira porque se casou de novo. Mantém uma rede permanente de amigas na rua onde mora. Frequenta forró, aos domingos, durante o dia. Não tem amizades com outras idosas do seu bairro. Mantém um relacionamento distante com elas. Reúne-se com familiares e amigos, nos fins- desemana. Visita periodicamente Maria Alice familiares na cidade onde (82 anos) nasceu, com a filha. Não tem amizades na “É de mim mesmo, todo mundo me conhece, todo muito gosta rua. Diz que sempre foi Maria Amélia (86 anos) de mim, mas é eles na sua casa e eu na minha...” assim, e não gosta disso de jeito nenhum. QUADRO 11 - Item 2.2: Importância atribuída pelos sujeitos às conversas informais com amigos, incluindo a discussão de assuntos de interesse coletivo. Mírian (81 anos) 110 5.3.5 Apreciação das estratégias de acesso à cidadania desenvolvidas pelos sujeitos, com base no “Instrumento 1” aplicado 1) Grupo Etário entre 60-64 anos: A análise do discurso proferido por cada um dos três sujeitos permitiu as seguintes constatações: Em relação ao primeiro grupo etário (60-64 anos) considerado, correspondente ao estágio de velhice inicial, havia uma idosa não alfabetizada e duas alfabetizadas (sabem ler e escrever). Observou-se que as estratégias de acesso à cidadania, desenvolvidas pela idosa não alfabetizada (aqui identificada como Sujeito1) restringiram-se em buscar ampliar espaços de lazer social, embora a busca pela manutenção da saúde a levasse a procurar se informar sobre a adoção de uma alimentação saudável e a buscar cuidados médicos de saúde, sistematicamente. Entretanto, a frustração que a idosa manifestou por ser analfabeta (circunstância que para ela constituía impedimento ao exercício efetivo da cidadania), pareceu não constituir estímulo suficiente para fazê-la buscar vencer e superar o analfabetismo, como um desafio a ser superado nesta etapa da vida. Nesse sentido, foi notório o cansaço que essa idosa deixou transparecer, em função dos muitos anos de trabalho exaustivo, em uma atividade comercial. Paralelamente a esse nível de insatisfação demonstrado, evidenciou-se a insatisfação pela falta de realização no casamento. Percebeu-se, em sua fala, que o maior sonho dessa idosa é encontrar um novo companheiro que a respeite e a acompanhe a eventos de lazer social. Da mesma forma, constatou-se da parte de uma das idosas alfabetizadas desse mesmo grupo etário, que também relatou ter vivido experiências traumáticas de vida (aqui identificada como sujeito 2), o mesmo interesse em procurar frequentar grupos de convivência de várias naturezas, durante a semana, e, inclusive, aos domingos. Assim como o Sujeito 1, essa idosa desenvolveu estratégias de acesso à cidadania, direcionadas para a busca sistemática por diversificados espaços de socialização. Contudo, essa idosa alfabetizada (Sujeito 2) demonstrou alimentar um projeto de cidadania mais elaborado que a idosa não alfabetizada e que consiste em buscar se incluir na tecnologia da informação e participar de uma rede de amigos pela Internet. Percebeu-se que os conflitos intrafamiliares constituem obstáculo para o bem-estar dessa segunda idosa mencionada e que o seu estado emocional fragilizado necessitava de ser trabalhado pela 111 equipe de psicólogos do CIAPREVI-CE. A segunda idosa escolarizada desse grupo etário (aqui designada como Sujeito 3), por sua vez, demonstrou possuir uma espiritualidade trabalhada em constantes exercícios de meditação e através da participação ativa no trabalho social de sua Igreja. Essa postura demonstrada pareceu transcender a esfera de individualismo e o mero prisma de interesses particulares, projetando-se para o coletivo e para o bem-estar de outras pessoas, tanto do grupo do CIAPREVI-CE, quanto de outras instâncias comunitárias que frequenta. Esse “modo de ser” da idosa em questão (Sujeito 3), pertinente a uma vivência proativa, é distintivo de uma vivência cidadã participativa. A idosa interessa-se pelo aperfeiçoamento pessoal, mas também pelo aperfeiçoamento intelectual de outras idosas do grupo, as quais, assim como ela, participam das aulas do curso de alfabetização ministrado no CIAPREVI-CE. A idosa acima referida (Sujeito 3), apesar de viver um problema familiar estressante, pelo fato de ter uma filha especial, demonstrou estado de equilíbrio emocional, irradiando satisfação com a vida. 2) Grupo Etário entre 65-69 anos Entre os sujeitos pertencentes a esse grupo etário (estágio de velhice intermediária), havia uma idosa semi-analfabeta (aqui identificada como Sujeito 1) e duas alfabetizadas (aqui identificadas como Sujeito 2 e Sujeito 3, respectivamente). A primeira idosa (Sujeito 1) é viúva, recebe pensão do marido e vive na companhia de uma filha universitária e de um filho, que trabalha e estuda, encarregando-se de fazer as compras da casa. Relatou vivenciar problemas familiares no relacionamento com a filha, e dificuldade em instrumentalizar certos aspectos da vida cotidiana, sobretudo a solidão. A análise do discurso da supracitada idosa permitiu a constatação dos seguintes atributos favoráveis e desfavoráveis à cidadania: Um atributo favorável à cidadania diz respeito ao fato dessa idosa (Sujeito 1) mostrar ser persistente em relação à busca por alfabetizar-se, o que a faz participar semanalmente das aulas de alfabetização ministradas no CIAPREVI-CE; Outro atributo favorável constatado em relação à cidadania vivenciada por essa idosa diz respeito ao fato de que ela mantém o projeto particular de reconstruir a vida sentimental, desfeita pelo falecimento do esposo. 112 Um atributo desfavorável à cidadania, constatado em relação ao mesmo sujeito (Sujeito 1), foi o que diz respeito ao fato de essa idosa demonstrar pouca abertura em dialogar com pessoas de sua vizinhança que professam outros credos religiosos, o que a distancia de uma vivência cidadã mais enriquecedora, no plano da integração com outras pessoas do bairro. A idosa identificada como Sujeito 2 desse grupo etário é alfabetizada e relatou ter vivenciado experiências traumáticas de vida, entre as quais o fato de ter sido rejeitada pela mãe, ao nascer. Foi adotada por um casal abastado, cujos filhos legítimos a rejeitaram, sendo que, inclusive, um deles tentou estuprá-la, quando jovem. A idosa viveu um casamento infeliz, sofrendo violência física da parte do marido. Teve um dos filhos assassinados. A análise do discurso emitido pelo referido sujeito (Sujeito 2) permitiu a constatação dos seguintes aspectos favoráveis e desfavoráveis à cidadania: Entre os aspectos favoráveis, percebeu-se que a supracitada idosa (Sujeito 2) vive uma velhice bem-sucedida e economicamente estável, na companhia da filha e de dois netos. Essa idosa procura viajar sistematicamente, em excursões, e exercita continuamente a espiritualidade, através da participação em atividades religiosas, tanto do espaço doméstico quanto no de sua Igreja. No tocante à espiritualidade, demonstrou preocupar-se em ser solidária e adotar práticas voltadas para o bem-estar pessoal, mas também para o bem-estar das pessoas, em geral. Demonstrou saber instrumentalizar com sabedoria e discernimento assuntos inerentes à cidadania prática, inclusive através da cidadania relacional. Privilegia tanto as atividades culturais, quanto as atividades de socialização, e procura interagir sistematicamente com uma rede de amigas; Salienta-se como aspecto desfavorável à cidadania da idosa (Sujeito 2) o fato de que esta demonstra buscar no grupo de convivência um espaço eminentemente de lazer, não o considerando propriamente como espaço de cidadania, onde poderá desenvolver novas áreas de conhecimento. Nesse sentido, não demonstrou alimentar novas expectativas em relação à cidadania, porém busca manter o padrão de qualidade de vida que já conseguiu conquistar. A terceira idosa pertencente a esse grupo etário (Sujeito 3) é alfabetizada, mas dispõe de menor poder aquisitivo que a idosa identificada como Sujeito 2, pois não recebe 113 pensão do marido. Viveu experiências de vida igualmente traumáticas: Perdeu parentes de 1º grau por morte violenta e sofre com filhos alcoólatras, que bebem todo fim-de-semana. Essa idosa (Sujeito 3) busca instrumentalizar a vida prática utilizando a “cidadania relacional”, por meio da qual consegue obter serviços de saúde particulares, por não dispor de plano de saúde. Administra o estresse, viajando todos os finais de semana para a casa de praia de uma filha casada, mas demonstra sofrer com a situação provocada pelo alcoolismo dos filhos. Extravasa, participando de eventos de forrós e por meio do canto e da música. Estabelecendo-se uma análise comparativa entre os dados colhidos do discurso de cada um dos três sujeitos, salientam-se os seguintes aspectos: A primeira idosa (Sujeito 1) demonstra vivenciar a “religiosidade”, a qual atua como importante estratégia para enfrentar os conflitos que vivencia na família. Entretanto, necessita de ser trabalhada para exercitar essa área, de modo a que possa conviver melhor com a diversidade, ampliando ao mesmo tempo a consciência crítica em relação às questões de cidadania da atualidade. Nesse sentido, ao contrário da segunda idosa mencionada (Sujeito 3), ela não demonstrou não ter conseguido extrapolar o plano da individualidade, mostrando estar circunscrita à esfera do próprio bem-estar pessoal e familiar. Percebeu-se que as estratégias de acesso à cidadania, adotadas pela idosa com maior poder aquisitivo e com espiritualidade desenvolvida (Sujeito 2) levam-na a superar com maior facilidade as dificuldades ocasionadas pelos traumas existenciais. Entretanto, estabelecendo-se termos comparativos entre o desempenho cotidiano dessa idosa (Sujeito 2) e o de outra idosa (Sujeito 3), com o mesmo nível de instrução, mas de menor poder aquisitivo, alcançou-se o entendimento de que ambas, igualmente, conseguem instrumentalizar a vida prática, ou seja, atuar nos vários espaços de cidadania investigados, com senso de sabedoria e de satisfação com a vida. 3) Grupo Etário entre 70-74 anos: A primeira idosa desse grupo etário (Sujeito 1), é solteira, independente, e não teve filhos. Sobrevive de um salário mínimo e leva uma vida saudável, totalmente voltada para a adoção de práticas esportivas e para o exercício da espiritualidade. Não sabe ler, mas procurou engajar-se nas aulas de computação e afirmou que, a partir daí, “até que está entendendo mais uma coisinha” (referiu-se à habilidade de leitura e escrita). A segunda idosa (Sujeito 2) desse grupo etário é viúva e bastante ativa. Teve filhos de 114 diferentes casamentos, dois dos quais moram na sua casa. Para acompanhar de perto os passos de um dos filhos “que dava trabalho para estudar”, ela passou a frequentar o curso de alfabetização de adultos na mesma escola que ele frequentava, à noite, e com isso chegou a concluir o 1º grau. Essa idosa (Sujeito 2) sobrevive da pensão do marido, mas exerce atividades produtivas informais, que complementam a sua renda mensal. Vive atualmente com um novo companheiro, que a sustenta financeiramente, pagando inclusive o seu plano de saúde. Tem por hobby ouvir uma hora de música, todos os dias, ao acordar, dedicando-se também às aulas de ginástica quinzenais, em uma academia. Transferiu-se atualmente para a casa do companheiro, deixando uma filha adotiva em casa, supervisionando os seus filhos solteiros e administrando as atividades domésticas. A terceira idosa desse grupo etário (Sujeito 3) luta com muita dificuldade para sobreviver. Percebeu-se que ela frequenta alguns grupos, entre os quais um religioso, pertencente à Igreja Católica, para obter alguma ajuda material, que semanalmente é distribuída para os idosos que frequentam esses grupos. Essa idosa (Sujeito 3) tem uma história de vida bastante sofrida, estudou até a 4ª série e menciona que sabe ler e escrever. Trabalhou como empregada doméstica em casas de família, desde a juventude. Casou-se aos 17 anos, em Mossoró, no Rio Grande do Norte. Veio para Fortaleza, teve três filhos e ficou viúva. É pensionista do marido, e sobrevive de um salário mínimo. Em sua casa vivem com ela, atualmente, os filhos casados que estão separados, os netos e os bisnetos. O grande problema da vida dessa idosa são os conflitos familiares que ela enfrenta. Um dos netos adolescentes não quer estudar e passa as noites na rua, sem que ela saiba por onde anda. Ela não dorme direito, esperando o neto chegar. A mãe do rapaz não a deixa se interferir no problema. Constatou-se que as estratégias de acesso à cidadania adotadas pelos “Sujeitos 1 e 2” desse grupo etário versaram em torno de ideais voltados para a obtenção da qualidade de vida na velhice, através de hábitos e comportamentos de vida saudáveis. Essas idosas (Sujeitos 1 e 2), com níveis de escolaridade bastante diferentes, mostraram igual habilidade na instrumentalização da vida prática, obtendo êxito em suas lutas de cidadania. A primeira idosa (Sujeito 1) cultiva a religiosidade como meio de aprimoramento espiritual e faz atividades físicas, como forma de obtenção de saúde e bem-estar. A segunda (Sujeito 2) adotou os exercícios de relaxamento como prática espiritual e os exercícios físicos como prática para obter a saúde física. 115 Ressalta-se que ambas as idosas (Sujeitos 1 e 2) apresentam-se fisicamente bastante joviais para a sua faixa de idade cronológica. De modo contrário, a idosa (Sujeito 3) que passa por conflitos familiares demonstra insegurança no relacionamento com outras pessoas do grupo, tendo o cuidado de “não expor sua vida particular a ninguém”. Essa idosa tem um nível de escolaridade elementar, mas procura exercitar no CIAPREVI-CE atividades voltadas para a pintura em tecido. Participa da bandinha do centro, onde toca um instrumento, manifestando contrariedade por ter sido levada a não participar mais das aulas de teclado, por terem sido suspensas pelo centro. Constatou-se que essa idosa (Sujeito 3) coloca em prática estratégias de acesso à cidadania arraigadas em princípios individualistas, buscando, sobretudo, a sobrevivência material. Fisicamente denota um comportamento arredio, embora se perceba que sente bastante satisfação em interagir com as outras idosas que participam das oficinas de pintura. 4) Grupo Etário entre 75-79 anos: Esse grupo etário é composto por três idosas de 75 anos; 76 anos e 77 anos, respectivamente. A primeira idosa (Sujeito 1) é funcionária pública municipal aposentada. Depois que se separou do marido, foi levada por uma amiga a participar do grupo de convivência do Teatro São José. Anos mais tarde, já aposentada, conheceu o grupo de convivência que funcionava no Centro Comunitário Dom Lustosa e foi participar também desse grupo. Sabe ler satisfatoriamente e mantém uma atitude proativa e alegre em relação à vida. A análise do discurso proferido por essa idosa revelou os seguintes aspectos favoráveis e desfavoráveis à sua cidadania: Entre os aspectos favoráveis observados em relação à cidadania, está o fato de essa idosa demonstrar autonomia, lucidez e independência. A idosa leva uma rotina de vida prazerosa, procurando manter uma rede de amigos e se relaciona satisfatoriamente tanto com o filho solteiro, que mora com ela, quanto com os casados. Busca continuamente manter a saúde, através dos órgãos públicos onde está conveniada e ampliar os espaços de cidadania, através da participação em novos grupos de convivência. Entre os aspectos desfavoráveis à cidadania está o fato de que essa idosa (Sujeito 1) 116 desenvolveu trauma de violência sofrida do marido, durante o casamento. Percebeu-se, igualmente, que ela despende tempo e esforço para participar de dois grupos de convivência que funcionam em dias e horários concomitantes. O segundo sujeito investigado (Sujeito 2) tem 76 anos. Casou-se aos 16 anos. È divorciada e teve 10 filhos, que hoje estão casados. Menciona que “sempre viveu de criar filho e trabalhar”. Depois que se divorciou se sentiu muito só e começou a participar do grupo de convivência do Teatro São José. Hoje tem um novo companheiro, que a respeita e a acompanha em todos os lugares. Percebeu-se que essa idosa (Sujeito 2) tem grande preocupação com a saúde, estando necessitando de tratamentos médicos especializados, pois, conforme referiu, está sofrendo de síndrome do pânico e tendo dificuldades de encontrar um local especializado para tratar-se. A análise do discurso proferido pela idosa (Sujeito 2), permitiu constatar-se que entre os fatores desfavoráveis à sua cidadania encontra-se a questão da violência urbana. Esta parece ser um dos fatores desencadeantes do problema de saúde (síndrome do pânico) que está enfrentando. Referiu que, quando o marido era vivo, chegou a sofrer violência da parte dele, o que a traumatizou. Outro fator estressor constatado foi o fato de que essa idosa está empreendendo um verdadeiro malabarismo para dar conta dos ensaios dos grupos de dança de que participa (CIAPREVI-CE e Teatro José de Alencar), uma vez que os dias dos ensaios dos dois grupos são em horários concomitantes. Percebeu-se que o CIAPREVI-CE necessitará de promover condições para que os sujeitos participem com tranquilidade dos dois grupos de dança em que estão envolvidos, porque têm importância direta na qualidade de vida dos sujeitos envolvidos; O terceiro sujeito desse grupo (Sujeito 3) tem 77 anos, conforme consta de sua carteira de identidade, mas referiu que essa não é a sua idade real. Segundo menciona, essa idade foi antecipada um pouco para mais, quando ainda era jovem, para que ela pudesse antecipar a participação em pleitos eleitorais e, assim, votar em um político amigo de seus patrões. Essa idosa alfabetizou-se até a 3ª série, mas ainda busca estudar nas “aulas de letras” ministradas no CIAPREVI. É viúva, mas vive há muitos anos com outro companheiro. Aposentou-se, como funcionária da Escola Santa Luzia, onde hoje ainda vende lanches para 117 os alunos, informalmente. Menciona que durante muito tempo trabalhou na referida escola, sem ter a carteira assinada, e que lutou muito para conseguir a sua aposentadoria. Exerce essa atividade rentável, inclusive durante o tempo em que participa das reuniões do grupo de convivência do CIAPREVI, às terças e quintas-feiras. Ali vende também os refrigerantes que os idosos compram, na hora do almoço. Entre os atributos positivos constatados em relação à cidadania, mencionam-se os seguintes: A idosa (Sujeito 3) demonstra ser ativa, lúcida e independente. É alegre e bem humorada, irradiando simpatia e sinceridade, ao exprimir-se; A religiosidade atua como um importante recurso pessoal utilizado por essa idosa para superar sentimentos negativos e encontrar um sentido para a vida. Nesse sentido, concorda-se com Francl (1999, apud NERI, 2002, p.127), segundo o qual encontrar significado para tudo o que se faz é primordial para uma vida plena, e que a fé pode interferir positivamente na busca desse sentido. Entre os atributos desfavoráveis desenvolvidos pelo sujeito em relação à cidadania, mencionam-se os seguintes: Essa idosa (Sujeito 3) demonstra ser autonegligente com a própria saúde, que diz ser boa. Entretanto, conforme salientou, há dois anos, não faz exames de prevenção e que está necessitando, inclusive, fazer uma operação cirúrgica para tratamento de períneo. O marido desse idosa (Sujeito 3), segundo afirma, é aposentado como ela, mas ainda trabalha para uma empresa particular, inclusive aos sábados, pela manhã, e o tempo que ele passa em casa fica fazendo atividades inerentes ao trabalho que exerce fora. Ela assume todas as tarefas de casa sozinha, mostrando-se bastante estressada com a sua rotina de vida. A idosa referida demonstrou ser dotada de uma consciência ingênua, o que a fez ser politicamente manipulada na juventude, inclusive, tendo consentido em que a sua idade fosse “aumentada” em alguns anos, para que pudesse votar em favor de um político amigo de seus antigos patrões; Sente-se na obrigação de ajudar financeiramente a filha casada, para a qual, inclusive, estava pagando um empréstimo mensal, de valor bastante significativo para a remuneração de um salário mínimo a que a idosa faz jus como aposentada. Por causa do 118 comércio de bombons, chega sempre atrasada ao e quase nunca assiste às palestras; Não mantém uma rede de amigos permanente na rua onde mora, só nos grupos. Dispõe de uma secretária eletrônica para receber os recados telefônicos, mas este serviço não está funcionando a contento. 5) Grupo Etário (80 anos a mais) Esse grupo etário foi composto por três idosas, de 81, 82 e 86 anos, respectivamente. A primeira idosa (Sujeito 1) é viúva, teve 6 filhos, e mora com uma filha solteira, com a qual se relaciona harmoniosamente. A idosa é uma das participantes mais antigas do grupo de convivência do CIAPREVI-CE. Está ali desde a fundação do equipamento, quando este ainda era denominado Centro Comunitário Dom Lustosa. Participou das primeiras atividades organizacionais tanto do equipamento, quanto do grupo de convivência propriamente dito. Depois de aposentada, passou a ir ao local diariamente, provavelmente para não romper definitivamente os vínculos com o serviço público. Então engajou-se no grupo. A história dessa idosa encontra-se relatada no Capítulo 5 deste estudo (História de D. Mírian). Entre os atributos favoráveis à cidadania, percebidos em relação à idosa, está o fato de que ela mostra ser dotada de um espírito empreendedor, o que lhe possibilitou alcançar várias conquistas na esfera da cidadania. Entre estas, menciona o fato de ter conseguido concluir o 1º grau, condição que facilitou o seu ingresso no serviço público. Além desses atributos favoráveis, a idosa denotou usufruir de senso de lucidez, mas de relativa independência, porque vivencia sérios problemas de glaucoma. Contudo, mostra-se disposta e alegre, relacionando-se bem com todas as pessoas. É dotada de um espírito solidário e aberto a acolher o drama de outros idosos. Vivencia uma velhice reconhecida pelos estudiosos como bem-sucedida. Tem uma personalidade comunicativa e alegre, relacionando-se bem com todas as pessoas com as quais interage no dia-a-dia. Participa semanalmente de eventos socioculturais, entre os quais assiste a peças de teatro e frequenta uma casa de shows artísticos da cidade. Ali reencontra os amigos e se diverte, apreciando uma boa música. Constatou-se que os atributos pertinentes à cidadania relacional, apontado pelos estudiosos deste estudo (OSTERNE, 2008), foi evidenciado na fala da idosa mencionada (Sujeito 1). Esta, imbuída dos melhores propósitos de sobrevivência, teve que abrir mão de 119 uma consciência crítica, que favorecesse uma reflexão mais aprofundada acerca da realidade social, e a ajudasse a expandir as suas ações para o coletivo. Optou por salvaguardar a vida prática, apoiando-se e tendo como referência a boa vontade e o espírito prático de pessoas que a ajudaram a conquistar um espaço de cidadania no serviço público, e, assim, conseguiu o sustento e a educação para os filhos. Esse aspecto em nada empana os méritos da idosa, mas não podem deixar de ser referidos neste estudo, por ilustrar um aspecto do paradigma tradicional, vigente na realidade brasileira. A segunda idosa desse grupo tem 82 anos. Casou-se aos 24 anos, fugindo da casa da madrasta. Mora com uma das filhas e o neto. Afirma ser uma pessoa que sempre gostou de ajudar os outros a resolverem os seus problemas. Quando era mais jovem, trabalhou como líder comunitária, em prol do bem-estar das pessoas que residiam no bairro Meireles. Está no grupo de convivência há 20 anos. Aprendeu a ler, escrever e a fazer contas sozinha, assim como todos os seus irmãos (é autodidata). A idosa em referência (Sujeito 2) conhece os seus direitos de cidadania e inclusive procurou as autoridades para denunciar a sobrinha, que mantinha o pai aposentado, em cativeiro doméstico. Participa de reuniões e atua como “ministra da Eucaristia” da Igreja Católica (uma função missionária para leigos), por meio da qual visita semanalmente pessoas enfermas que não podem frequentar às missas regularmente. Entre os atributos favoráveis à cidadania, constatados em relação à idosa, está o fato de que usufrui de autonomia e independência na instrumentalização da vida cotidiana. Denota ser bastante atuante na Igreja e participa das atividades que lhe são prazerosas no CIAPREVI-CE. Exercita o hábito da leitura e procura aperfeiçoar os mecanismos cognitivos, também através de aulas de computação. Deseja ampliar os espaços de socialização, trocando e-mails com outras pessoas, através da Internet. Alimenta sonhos e é proativa. É aberta e solidária aos problemas da coletividade e utiliza o senso da espiritualidade para contornar os problemas pessoais. Entre os atributos negativos observados em relação à idosa (Sujeito 2) está o fato de que demonstra atitudes sedimentadas em juízos de valor pessoais, o que parece impedi-la de ser mais flexível em relação a determinadas posturas, entre as quais a aceitação dos defeitos alheios. Demonstra viver sofrimentos íntimos que não partilha com outras pessoas do grupo e também dificuldade de se adaptar aos mesmos interesses dos outros idosos (a dança), por se interessar por atividades intelectuais. A terceira idosa deste grupo (Sujeito 3) tem 86 anos. É alfabetizada e está no grupo do CIAPREVI-CE há quatro anos. Começou a participar de grupos de convivência 120 depois que o marido faleceu, pois, segundo ela, caso estivesse vivo não concordaria em que participasse desse tipo de atividade. Tem uma história de vida muito sofrida: Perdeu a mãe muito cedo e durante a infância e juventude sofreu muito da madrasta. Recentemente sofreu perdas familiares, em situação trágica, envolvendo a questão da violência. Passou fome e criou os filhos da madrasta, que não era boa para ela. Depois de casada, o marido tolheu-a a vida inteira. Somente quando começou ele veio falecer (faleceu), ela começou a participar de grupos de convivência de idosos e aprender a dançar. A dança representa muito para ela. Diz que dançando se sente livre, porque nunca pôde fazer isso quando era jovem. Entre os atributos favoráveis à cidadania observados em relação à idosa está o fato de que denotou ser autônoma, lúcida e independente, apesar de vivenciar uma velhice adiantada (86 anos). Esforça-se para manter uma postura proativa e alegre, evitando sentimentos tristes. Tem uma preocupação em manter a saúde e adota mecanismos de desestresse, sendo o principal a dança. Está a procura de ampliar os espaços de cidadania, através da participação em novos grupos de convivência. Essa idosa referiu já ter participado de um projeto da Prefeitura Municipal de Fortaleza. Entre os atributos desfavoráveis à cidadania menciona-se o fato de que a idosa procura levar uma rotina prazerosa e manter uma boa convivência familiar e social, mas se mostra fechada em um mundo particular, quando não está nos grupos de convivência. Não interage com a vizinhança, não procura fazer consultas médicas e demonstra atitudes sedimentadas em conceitos próprios. Evidencia traumas em função dos dramas familiares, denotando necessitar de maior acompanhamento psicoterápico. Em relação às dificuldades de cidadania enfrentadas pela idosa (Sujeito 3), percebeu-se que ela está empreendendo um verdadeiro malabarismo para dar conta dos ensaios dos grupos de dança de que participa (CIAPREVI-CE e Teatro José de Alencar), uma vez que os dias dos ensaios são em horários concomitantes. Conclui-se este tópico com as reflexões feitas por Ruth e Coleman (1996, apud NERI, 2002, p.127), que desenvolveram pesquisas sobre as estratégias de enfrentamento às circunstâncias adversas da velhice, desenvolvidas por sujeitos idosos. Os resultados obtidos neste tópico guardam pertinência com as conclusões obtidas por Ruth e Coleman (1996 apud NERI, 2002, p.127), que desenvolveram pesquisas sobre as estratégias de enfrentamento às circunstâncias adversas da velhice, desenvolvidas por sujeitos idosos. Com os aludidos estudiosos, foi possível esclarecer-se que as estratégias de acesso à cidadania, adotadas pelos sujeitos, mostraram estar relacionadas não especificamente com o 121 fator etário, porém com o nível educacional, capacidade cognitiva, experiência de vida, conhecimentos, habilidades sociais, apoio social, motivação, saúde, gênero, recursos econômicos, condições de vida e também com fatores de personalidade, atitudes, autoconceito e com auto-estima dos sujeitos investigados. 5.3.6 Validação das estratégias de acesso à cidadania pelos sujeitos, com base no “Instrumento 2” aplicado Conforme demonstram os dados constantes do Quadro 12, a seguir, a maioria dos sujeitos validou no segundo instrumento de pesquisa aplicado (Instrumento 2) os interesses de cidadania na área da qualidade de vida, ratificando, direta ou subliminarmente, a interferência negativa das situações de conflito no seu bem-estar e em sua qualidade de vida. Acrescentou novas atividades à sua rotina real, abrangendo novos direitos de cidadania Sujeito Manteve os interesses de cidadania manifestados no Instrumento 1 Suprimiu atividades de sua rotina, manifestadas no Instrumento 1 Maria Aldeíde (60 anos) Manteve a rotina de atividades diárias nos três espaços de socialização investigados. Não. O sujeito validou os interesses de cidadania, conforme Instrumento 1. Maria Heloíza (61 anos) Manteve a rotina de atividades diárias nos três espaços de socialização investigados. Não. O sujeito validou os interesses de cidadania conforme Instrumento 1. Maria Franciete (64 anos) Não manteve a rotina de casa. Manteve a rotina no CIAPREVI. Manteve a programação de viagens intermunicipais (lazer social). Maria Verônica (66 anos) Manteve os interesses na área da qualidade de vida, excetuando as atividades relativas à manutenção dos gatos que cria em casa. Maria Francisca (68 anos) Manteve os interesses na área da qualidade de vida, mas diminuiria a rotina de trabalhos domésticos; Manteve a rotina no CIAPREVI e as atividades no espaço comunitário. Sim. Diminuiria a rotina de trabalhos domésticos. Incluiria mais lazer, fazendo viagens interestaduais (Capítulo V do Estatuto do Idoso) Maria Felismina (69 anos) Manteve os interesses na área da qualidade de vida, mas incluiria mudanças na rotina de casa e do CIAPREVI-CE. Não. O sujeito manteve os interesses de cidadania, conforme Instrumento 1, mas incluiu mudanças na rotina diária de casa e do grupo do CIAPREVI-CE. Incluiria mais atividades de lazer em casa e de saúde no CIAPREVI (Capítulo IV e V do Estatuto do Idoso). Manteve a rotina em todos os espaços de socialização. Não. A idosa manteria a rotina diária. Incluiria mais sessões de teatro e cinema na sua rotina semanal (Capítulo V do Estatuto do Idoso). Maria Gertrudes (70 anos) Sim. Retiraria a rotina de trabalhos domésticos e se dedicaria prioritariamente às atividades de computação em casa e no CIAPREVI-CE. Sim. O sujeito validou os interesses de cidadania, conforme Instrumento 1, mas excluiu atividades desgastantes em casa. Incluiria mais passeios (área dos direitos ao lazer (Cap.V do Estatuto do Idoso). Incluiria mais viagens de lazer (área dos direitos ao lazer (Capítulo V do Estatuto do Idoso). Incluiria mais atividades na área da Educação e Cultura (Capítulo V do Estatuto do Idoso). Incluiria programação de mais esportes e lazer (Capítulo V do Estatuto do Idoso) no espaço de socialização do CIAPREVI-CE e comunitário. 122 Sujeito Manteve os interesses de cidadania manifestados no Instrumento 1 Suprimiu atividades de sua rotina, manifestadas no Instrumento 1 Acrescentou novas atividades à sua rotina real, abrangendo novos direitos de cidadania Maria Luiziana (73 anos) Manteve os interesses na área da qualidade de vida, mas diminuiria a rotina de trabalhos domésticos; Manteria a rotina grupo. Sim. Diminuiria a rotina de trabalhos domésticos. Incluiria mais passeios ao centro da cidade (Capítulo V do Estatuto do Idoso). Maria Joseneide (74 anos) Manteve os interesses na área da qualidade de vida. Não retiraria nem acrescentaria nada ao seu dia-a-dia. Maria Albina (75 anos) Manteve a rotina em todos os espaços de socialização. Não. O sujeito manteve os interesses de cidadania, conforme Instrumento 1, mas incluiu mudanças na rotina diária de casa e do grupo do CIAPREVI-CE. Não. O sujeito manteve os interesses de cidadania, conforme Instrumento 1, mas incluiu mudanças na rotina diária de casa e do grupo do CIAPREVI-CE. Maria Catarina (76 anos) Manteve a rotina em todos os espaços de socialização. Não. O sujeito manteve os interesses de cidadania, conforme Instrumento 1, mas incluiu mudanças na rotina diária do grupo do CIAPREVICE. Maria Odésia (77 anos) Manteve os interesses na área da qualidade de vida. Manteve a rotina no CIAPREVI-CE. Não manteve a rotina de casa Sim. Diminuiria a rotina de trabalhos domésticos. Mírian (81 anos) Manteve a rotina em todos os espaços de socialização. Maria Alice (82 anos) Manteve a rotina em todos os espaços de socialização. Gostaria unicamente de se reconciliar com uma das filhas. Maria Amélia (86 anos) Manteve a rotina em todos os espaços de socialização. Não. O sujeito manteve os interesses de cidadania, conforme Instrumento 1. Não. O sujeito manteve os interesses de cidadania, conforme Instrumento 1. Não. O sujeito manteve os interesses de cidadania, conforme Instrumento 1. Não incluiu mudanças na sua rotina diária. Incluiria mais apresentações artísticas do seu grupo musical em público (Capítulo V do Estatuto do Idoso). Incluiria práticas de saúde no CIAPREVI (Cap. IV e V do Estatuto do Idoso), a partir das situações de conflito identificadas no contexto do primeiro instrumento de pesquisa aplicado (Quadro1) Incluiria mais atividades de lazer em casa e passeios (Capítulo V do Estatuto do Idoso). Não incluiu mudanças em sua rotina diária. Não incluiu mudanças em sua rotina diária. Incluiria a participação em mais grupos de convivência em sua rotina diária (Capítulo IV, Art. 10, da PNI). QUADRO 12 - Validação dos interesses de cidadania pelos sujeitos, à luz do Instrumento 2 Os dados constantes do Instrumento 2 (em apêndice), explicitados no supracitado quadro (Quadro 12), demonstram que dez (10) entre os quinze (15) sujeitos manteriam a rotina nos espaços de socialização cotidianos, e cinco (5) não se mostraram plenamente satisfeitos com a rotina de trabalhos domésticos, o que mostra que essa circunstância estava interferindo parcial ou integralmente, de forma negativa, no seu bem-estar e qualidade de vida; Observou-se que quatro (4) entre os cinco (05) sujeitos que não se mostraram plenamente satisfeitos com suas rotinas de vida eram os mesmos que demonstraram insatisfação com as atividades realizadas no espaço doméstico (Quadro 2) e denotaram estresse com a repercussão desse fato (Quadro 8); 123 Um dado importante de ser ressaltado é que doze (12) entre os quinze (15) sujeitos investigados manifestaram o interesse em incluir atividades culturais e de lazer em sua rotina diária. Esse dado aponta para a consideração dos direitos de cidadania previstos no Capítulo V do Estatuto do Idoso, relativos às garantias de educação, cultura, esporte e lazer; Esse aspecto, evidenciado pela pesquisa, demonstra a necessidade de o CIAPREVI-CE passar a incluir na sua programação mais atividades nessa área, bem como de trabalhar metodologicamente os meios mais apropriados de os idosos serem informados acerca de como poderão buscar os seus direitos de cidadania nessa área. 5.4 Unidades temáticas emergentes da pesquisa Apresenta-se, a seguir, o Quadro 13, demonstrativo dos principais conflitos inseridos no cotidiano de vida real dos entrevistados, observados a partir do primeiro instrumento de pesquisa aplicado (Instrumento 1, em apêndice): Sujeito Situações de conflito verificadas, a partir do instrumento 1 aplicado Maria Aldeíde (60 anos) Tem desgosto por não ter aprendido a ler; sente insegurança em relação ao local de moradia; intencionalmente rejeita os telejornais para não ver notícias sobre violência. “Eu não quero ver essas coisas... Deus me defenda de ver essas coisas... Deus me defenda...Essas coisas de sangue, morte...É só facada, tiro.... A gente já tem um dia- a- dia já tão... né?... Pelo amor de Deus...Aí, pra nossa idade, né...? E esse negócio de “Barra Pesada” (programa televisivo), Deus me livre! Eu não quero nada pra mim prejudicar, pra mim ficar pensando, pra mim ficar, não... Eu não quero não... Mª Heloíza (61 anos) A idosa dispensa grande parte de sua rotina diária aos cuidados com a filha especial. Manifesta-se com certo saudosismo dos tempos em que no seu bairro não havia a questão da violência. Maria Franciete (64 anos) A idosa sofreu violência da madrasta quando era criança. Vive um sério problema familiar com o filho que é portador de HIV e está mendigando nas ruas. Os outros filhos da idosa, apesar de morarem com ela em casa, ocasionam problemas à sua qualidade de vida e provocam transtornos no ambiente familiar. A idosa só dorme com a porta do quarto fechada e procura viajar muitas vezes durante o ano, engajandose em excursões. A idosa tem uma espiritualidade indefinida e frequenta grupos de convivência de várias religiões. Mostrou ser negligente com a própria saúde. Mantém conexão permanente com os noticiários policiais, acompanhando diariamente a programação televisiva nessa modalidade. Mª Verônica (66 anos) A idosa começou a criar gatos e quando se deu conta estava com 20 animais em casa. Ela limpa a sujeira diária desses animais, que cria no quintal de sua casa. Repete essa atividade mais de uma vez ao dia, por causa da sujeira dos animais; A idosa não tem uma rede de amigos no bairro onde mora, por divergência de religião; A idosa não tem muito diálogo com a filha em casa e sofre a perda do falecimento recente do marido. Não fez referência específica à questão da violência. Maria Francisca (68 anos) Foi abandonada na infância pela mãe; perdeu um ente querido por violência; sente insegurança em relação ao local de moradia. 124 Sujeito Maria Felismina (69 anos) Maria Gertrudes (70 anos) Maria Luiziana (73 anos) Mª Joseneide (74 anos) Maria Albina (75 anos) Maria Catarina (76 anos) Mª Odésia (77 anos) Situações de conflito verificadas, a partir do instrumento 1 aplicado A idosa tem traumas por causa de atos de violência cometidos contra familiares próximos, acarretando tragédias que a marcaram muito. Os filhos têm problema de alcoolismo. A idosa ficou muito preocupada com o falecimento súbito de um idoso, quando este se apresentava, junto com outros grupos artísticos de idosos, incluindo o dela, no Centro Cultural Dragão do Mar. Ela sente necessidade de se afastar do ambiente de casa, todos os finais de semana, para não presenciar a bebedeira dos filhos em casa e diz que se pudesse ficar em casa, ficaria fazendo atividades que lhe são prazerosas. Diz que seu bairro é muito violento (Aerolândia) e que por isso não pode abrir as portas de casa. A idosa está empreendendo um verdadeiro malabarismo para dar conta dos ensaios do grupo de dança de que participa, em dois grupos de convivência que funcionam em dias e horários concomitantes (CIAPREVI-CE e Teatro São José), em detrimento de sua qualidade de vida. A idosa está com a irmã e a melhor amiga vivenciando problemas de saúde; A idosa não mantém uma rede de amigos na vizinhança, por incompatibilidade religiosa. Não mencionou em seu discurso referências à questão da violência. A idosa está empreendendo um verdadeiro malabarismo para dar conta dos ensaios do grupo de dança de que participa, em dois grupos de convivência que funcionam em dias e horários concomitantes (CIAPREVI-CE e Teatro São José), em detrimento de sua qualidade de vida. Não consegue dormir à noite, esperando o neto adolescente que fica na rua e retorna geralmente pela manhã, não sabendo onde o jovem passa a noite. O neto deixou de estudar e dorme o dia todo, não a escutando, quando pede para que mude de vida. Não costuma trocar confidências nem com as amigas da rua onde mora, nem com as idosas do grupo de convivência do CIAPREVI. Tem grande afetividade pelos netos e bisnetos, mas não se percebeu reciprocidade destes, a partir do depoimento da idosa. Deixa de assistir às palestras sobre cidadania ou participar do forró no CIAPREVI para ter mais tempo de se integrar nas atividades de pintura e do grupo musical de chorinho de que participa no CIAPREVI. Os filhos brigam muito entre si e são desempregados. Ela precisa muitas vezes intervir, para que suspendam as brigas. Referiu que quando o marido era vivo, chegou a sofrer violência da parte dele. A idosa está empreendendo um verdadeiro malabarismo para dar conta dos ensaios do grupo de dança de que participa, em dois grupos de convivência que funcionam em dias e horários concomitantes (CIAPREVI-CE e Teatro São José), em detrimento de sua qualidade de vida. A idosa está sofrendo de síndrome de pânico e está em busca de uma instituição pública que possa lhe oferecer um tratamento especializado. Diz que o CIAPREVI não dispõe desse tipo de atendimento. Mostra-se bastante preocupada com a questão da insegurança no seu bairro. Diz que ela e o marido vivem trancados dentro de casa e não podem sair para conversar com os amigos; Mencionou que presenciou recentemente o falecimento de um idoso, enquanto ela e os outros idosos estavam dançando em um evento realizado no Centro Cultural Dragão do Mar. Desde então, acha que o CIAPREVI deveria se preocupar em dispor de pelo menos um aparelho para tirar pressão dos idosos e de uma farmácia com medicamentos de urgência. “Mas não era certo isso, não é? Outra coisa era ter uma farmacinha pequena, com algodão, álcool... Mas uma coisa importante era um aparelho de pressão...” A idosa está empreendendo um verdadeiro malabarismo para dar conta dos ensaios do grupo de dança de que participa, em dois grupos de convivência que funcionam em dias e horários concomitantes (CIAPREVI-CE e Teatro São José), em detrimento de sua qualidade de vida. A idosa se sente na obrigação de ajudar financeiramente a filha casada, para a qual, inclusive, está pagando um empréstimo mensal de valor bastante significativo para a remuneração de um salário mínimo a que a idosa faz jus como aposentada. Realiza sozinha as atividades domésticas, não tendo tempo de usufruir a necessária tranquilidade, na velhice. Sente-se na obrigação de vender bombons, diariamente, de segunda a sexta-feira. Só vai para o grupo, às terças e quinta-feiras, depois que vende os seus bombons na Escola de Santa Luzia e quase nunca assiste às palestras. “Daqui que eu chegue lá puxando esse carrim...” É autonegligente com a saúde. Há mais de dois anos não vai a médico; Não mantém rede de amigos permanente na rua onde mora, só nos grupos. Dispõe de uma secretária eletrônica para receber os recados telefônicos, mas este serviço não está funcionando a contento. Mírian (81 anos) A idosa viveu um casamento que não correspondeu plenamente às suas expectativas, uma vez que teve de enfrentar situações muito difíceis para sustentar a família e enfrentar as infidelidades do marido. Criou os filhos com muita dedicação e hoje usufrui de uma família muito bem estruturada e ligada a ela. Como todos os filhos estão casados e vive com uma filha solteira que trabalha durante o dia, busca no CIAPREVI-CE o principal canal de socialização. Maria Alice (82 anos) A idosa demonstra viver um drama existencial muito grande, em virtude de estar afastada de uma filha (mãe do neto que mora com ela e a outra filha solteira), que a ignora e parece não ter afetividade por ela. Relatou um caso de cárcere privado ocorrido com o seu cunhado idoso, tendo este ficado refém da filha. A idosa tem dificuldade de se adaptar aos mesmos interesses dos outros idosos (a dança). Identifica-se mais com atividades voltadas para o aprimoramento do potencial intelectivo e das habilidades manuais (gosta de fazer colchas de fuxico, um tipo de bordado). É muito meticulosa em termos de alimentação. Diz que se alimenta muito pouco e que segue um rigoroso regime alimentar. Por isso, não almoça no CIAPREVI-CE. 125 Sujeito Situações de conflito verificadas, a partir do instrumento 1 aplicado Maria Amélia (86 anos) Acorda às 3h da manhã, todos os dias, alegando que é para preparar o café da manhã para a família e alimentar os passarinhos. Às vezes, ainda vai à padaria para comprar o pão; É autonegligente com a saúde. Tem traumas advindos de morte por violência em sua família, mas faz questão de dizer que não gosta de tristeza de jeito nenhum. Faz um verdadeiro malabarismo para ter o gosto de participar dos ensaios de dança tanto no CIAPREVI-CE, quanto no Teatro São José. Observou-se que os dois grupos estão funcionando em dias e horários concomitantes, em prejuízo do bem-estar e da qualidade de vida dos idosos integrantes do grupo de dança, que é o mesmo nos dois equipamentos. Às terças e quintas-feiras ela tem que se revezar pela manhã para participar dos ensaios nos dois grupos de convivência. QUADRO 13 - Descritivo das situações de conflitos vivenciadas pelos sujeitos Através da análise do conteúdo do discurso dos sujeitos, foram obtidos os seguintes resultados, por tipo de conflito evidenciado: 1) Conflitos evidenciados no espaço familiar: a) Quatro (4) sujeitos relataram passar por problemas atuais, em decorrência de problemas intrafamiliares (vida desregrada do neto; alcoolismo de um filho; afastamento afetivo de uma filha; brigas de filhos); b) Quatro (4) sujeitos foram vítimas de atos de violência da parte de pessoas da família, quando crianças, sendo as madrastas a referência principal. 2) Conflitos evidenciados no CIAPREVI-CE: a) Cinco (5) sujeitos mencionaram fazer um verdadeiro malabarismo para dar conta de participar das atividades do CIAPREVI-CE e de outro grupo de convivência, onde também ensaiam números de dança folclórica para se apresentarem em público; b) Dois (2) sujeitos mostraram-se preocupados com o fato de não terem acompanhamento ambulatorial no CIAPREVI-CE, por sofrerem de problemas de hipertensão arterial, que afetam, igualmente, outros idosos do grupo. 3) Conflitos evidenciados no espaço comunitário: a) Dois (2) sujeitos mencionaram não ter amigas no local de residência, por incompatibilidade religiosa; b) Cinco (5) sujeitos mostraram ter medo da violência existente no local onde moram; c) Quatro (4) sujeitos tiveram parentes próximos assassinados; d) Os resultados da pesquisa apontaram que onze (11) entre os quinze (15) sujeitos investigados foram afetados, direta ou indiretamente, pela violência em sua vida; e) Ressalta-se que os conflitos verificados mostraram repercutir diretamente na forma 126 como os sujeitos estão vivenciando a cidadania e no (senso de) bem-estar subjetivo desses sujeitos; f) Os sujeitos que mencionaram ter sofrido violência física referiram-se especialmente a eventos ocorridos no passado. A violência nas relações de gênero envolveu aspectos da vida conjugal dos sujeitos, durante o período de casamento, em fase anterior à velhice. Portanto, constatou-se que, em relação ao momento presente, as referências feitas pelos sujeitos dizem respeito principalmente à natureza estrutural desse conceito. Nesse sentido, foram salientados determinados tipos de violência, entre as quais a física e a simbólica; g) O principal tipo de violência constatado em relação à história de vida presente dos sujeitos diz respeito à violência simbólica. Uma idosa especialmente referiu que se sente na obrigação de trabalhar como vendedora ambulante (comercializa doces diversos e refrigerantes), para ajudar financeiramente à filha casada, que luta com dificuldades. Levando em conta esses dados empíricos de campo, considerou-se importante incluir essa unidade temática da violência à arena de discussão deste estudo, por se ter constatado que interfere diretamente no modo como os sujeitos da pesquisa estão exercitando a cidadania. Julgou-se interessante estabelecer um confronto entre esse contexto de conflito desfavorável, salientado de campo, e o que emergiu, no sentido oposto, evidenciando uma estratégia recorrente utilizada pela maioria dos sujeitos, voltada para a superação e o enfrentamento das circunstâncias adversas e dos traumas existenciais, envolvendo a área da espiritualidade. Ressalta-se que a aludida estratégia (pertinente ao domínio da espiritualidade) emergiu no contexto da verificação da terceira hipótese da pesquisa, conforme demonstram os dados constantes do Quadro 14, a seguir: Sujeito A espiritualidade e a religiosidade como estratégias preferenciais utilizadas pelos sujeitos para enfrentamento e superação das condições adversas da vida (O que costuma fazer - Instrumento 1 aplicado) Maria Aldeíde Aperfeiçoa a espiritualidade, por meio de orações em casa e no grupo de convivência. Não referiu participar de pastorais religiosas. Mª Heloíza (61 anos) Desenvolveu um elevado senso de espiritualidade, através de oração contemplativa, participando de pastorais da Igreja e assistindo à missa regularmente. Maria Franciete (64 anos) Procura reforço espiritual, lendo o Evangelho e fazendo orações em casa. Participa da Igreja Católica e de um grupo de convivência espírita. 127 Sujeito Mª Verônica (66 anos) Maria Francisca (68 anos) Maria Felismina (69 anos) Maria Gertrudes (70 anos) Maria Luiziana (73 anos) Mª Joseneide (74 anos) Maria Albina (75 anos) Maria Catarina (76 anos) Maria Odésia (77 anos) A espiritualidade e a religiosidade como estratégias preferenciais utilizadas pelos sujeitos para enfrentamento e superação das condições adversas da vida (O que costuma fazer - Instrumento 1 aplicado) Participa das atividades religiosas do grupo de convivência de sua Paróquia. Reza o terço diariamente, antes de dormir, e frequenta a missa semanalmente. Desenvolveu um elevado senso de religiosidade assiste à missa todos os dias da semana, excetuando aos domingos. Adota um senso de reajustamento psíquico, emocional e de espiritualidade, que a ajudam a superar os traumas de violência familiar inseridos em sua história de vida. Mantém uma rotina de atividades prazerosas e voltadas para a manutenção da qualidade de vida e do bem-estar, através da integração corpo/espírito, em todos os espaços de socialização investigados. Evita, ao máximo, as situações causadoras de estresse e contorna as dificuldades, através do desenvolvimento da espiritualidade e de atividades religiosas. Afirma não ter uma espiritualidade definida. Desenvolveu o senso de espiritualidade, através de oração e participação em missas semanais. Aperfeiçoa a espiritualidade, através de leituras devocionais. Desenvolve a espiritualidade, participando de atividades religiosas (missas semanais na sua Paróquia, orações no grupo de convivência do CIAPREVI e da reza do terço em família diariamente, à noite, em casa, com o companheiro e uma irmã. Aperfeiçoa o senso de espiritualidade, através da participação sistemática nas atividades religiosas do grupo de convivência da sua Paróquia. Além disso, estabeleceu uma rotina orações e de missas semanais. Mírian (81 anos) Mencionou professar a fé católica, mas que não frequenta a Igreja pelas dificuldades inerentes aos problemas de visão, acentuados pela idade. Maria Alice (82 anos) Desenvolveu um elevado senso de aperfeiçoamento da espiritualidade. Acorda diariamente bem cedo para rezar e participa ativamente de atividades religiosas em sua Paróquia. Maria Amélia (86 anos) Procura reforço espiritual, mantendo a religiosidade e uma rotina de orações em casa. QUADRO 14 – Espiritualidade e religiosidade: estratégias utilizadas pelos sujeitos salientadas do estudo Os principais aspectos evidenciados pela análise de conteúdo, em relação a esse domínio específico da espiritualidade foram os seguintes: Os resultados de campo apontaram que 13 entre 15 sujeitos manifestaram interesse por questões de espiritualidade e religiosidade, conforme o Quadro 13, acima apresentado; Observou-se, que essa estratégia adotada pelas idosas constitui uma dimensão antropológica que poderá ser trabalhada, no contexto da construção da cidadania dos sujeitos e não só como meio de enfrentamento e superação das adversidades da vida; A área da espiritualidade demonstrou ter, de fato, decisiva importância para a manutenção dos níveis de qualidade de vida e bem-estar dos sujeitos. Tal unidade temática, evidenciada de campo, confirma e amplia as possibilidades metodológicas previstas na hipótese (de nº 3) apresentada na introdução deste estudo. 128 5.5 Discussão As situações-problema ou situações de conflito referidas pelos sujeitos foram evidenciadas no discurso emitido por eles, à medida que estes iam expondo as ações realizadas no dia-a-dia, nos três espaços de socialização investigados (a casa, o grupo de convivência e o espaço comunitário). Assim, foram eles mesmos os analistas dos seus próprios desempenhos cotidianos e não a pesquisadora. Esta atuou como observadora, intervindo, quando necessário, para compreender melhor o que os sujeitos tentavam explicar. Neri (2002, p.103) salienta em um de seus estudos, que “os eventos em si não podem ser antecipadamente caracterizados como negativos por um observador externo, sem levar em conta a percepção que os envolvidos têm sobre eles, baseada em sua experiência pessoal”. Nesse estudo, observou-se que as situações de conflito vivenciadas pelos sujeitos no contexto privado (casa) repercutiam diretamente no (senso de) bem-estar desses mesmos sujeitos. Silva (1995 apud NERI, 2002, p. 126), ao analisar as relações de poder entre mulheres cuidadoras de idosos, aproveitou para discutir o papel social da mulher e a forma como o papel de mãe e de cuidadora foi construído socialmente. Menciona que o cuidado é uma tarefa desenvolvida no âmbito familiar, da casa, e, por isso, é fácil entender por que é delegado às mulheres. Neste estudo, buscou-se compreender as estratégias desenvolvidas pelos sujeitos para atuar nos espaços de socialização privado e comunitário, de forma a alcançar a meta de cidadania que estavam almejando, no caso, obter melhor qualidade de vida e maior bem-estar na velhice. Assim, foi possível compreender por que uma das estratégias consensuais utilizadas pelos sujeitos versou em colocar “um ingrediente de satisfação na rotina de afazeres cotidianos”, tornando-a mais prazerosa, e, por conseguinte, menos estressora. Examinando e transcrevendo as gravações da fala dos sujeitos, foram observadas circunstâncias interessantes: Algumas idosas mostraram fazer uso de determinadas estratégias de enfrentamento e superação das situações estressoras, adotando os seguintes mecanismos de compensação, durante ou após os afazeres domésticos: Descanso um pouco, coloco o som e ouço música. “Eu gosto mais é da Samantha, dou o maior valor, porque sai música, né? [...] Quando eu não boto ela, eu boto CD, ou vou lá fora conversar com minha amiga, que eu me dou muito bem com ela (MARIA ALDEIDE, 60 anos); Gosto de fazer minhas coisas “ouvindo os passarinhos cantarem. Eu converso com eles [...] Minha alegria é eles (MARIA 129 AMÉLIA, 86 anos).; Só trabalho cantando (MARIA ALBINA, 75 anos).; Ouço música e programas de rádio, enquanto faço os trabalhos de casa todos os dias [...] (MARIA VERÔNICA, 66 anos) Muitos pronunciamentos revelaram o quanto alguns sujeitos se consideram sobrecarregados por exaustivas tarefas domésticas. Segundo Silva (1995 apud NERI, 2002, p. 126) isso acontece por uma questão cultural, uma vez que os papéis sociais costumam ser assim distribuídos: ao homem cabe o sustento da casa e a autoridade moral e à mulher tudo o que é relacionado à casa. Por isso, as mulheres têm que assumir a responsabilidade do cuidado com os filhos, com os idosos e com os doentes. Entretanto, as situações de estresse e cansaço demonstradas por alguns sujeitos tinham relação direta com os muitos anos de trabalho árduo e de exploração de sua força de trabalho, em atividades comerciais informais, que lhe garantiam a sobrevivência. Nesse sentido, os companheiros mostraram-se “dependentes da força de trabalho feminina”, ao invés de contribuir com ela. Uma idosa até hoje se sujeita a comercializar produtos, inclusive nas reuniões do grupo do CIAPREVI-CE, só para ajudar financeiramente a filha casada que luta com dificuldades. O esposo nada faz para aliviar a sua rotina de trabalho em casa e não a auxilia nos afazeres domésticos. Por causa disso, conforme suas palavras textuais, ela se sente literalmente “exausta”, todas as noites. Entre as situações de conflito mencionadas pelos sujeitos, foi recorrente a menção à palavra “violência”. Os aspectos acima ressaltados encontram ressonância nos estudos de Osterne (2008, p.169), para quem o problema da violência apresenta muitas faces: [...] O fenômeno da violência contra as mulheres é produto de muitas determinações. Se, por um lado, reflete uma ordem normativa que hierarquiza papéis e padrões de comportamento para os sexos, também expressa ambigüidades, tensões e padrões distintos de ações e reações instituídos para homens e mulheres, que se atualizam nas relações interindividuais singulares[...] Minayo e Souza (1999), no artigo intitulado “É possível prevenir a violência? Reflexões a partir do campo da saúde pública”, instauram um debate sobre a natureza histórica da violência. As autoras defendem um ponto de vista similar ao de Osterne (2008), tecendo valiosas considerações sobre esse conceito: É muito difícil conceituar a violência, principalmente por ser ela, por vezes, uma forma própria de relação pessoal, política, social e cultural; por vezes uma resultante de interações sociais, por vezes, ainda, um componente cultural neutralizado. […] Em seus escritos, Domenach (1981) sublinha o fato de que a violência está inscrita e arraigada nas relações sociais, não podendo, portanto, ser considerada apenas como uma força exterior se impondo aos indivíduos e às coletividades, havendo, dessa 130 forma, uma dialética entre a vítima e algoz, o que deve ser objeto de reflexão dos estudiosos para compreensão dessa complexa relação. Observou-se que os sujeitos da pesquisa ainda se mostram significativamente afetados pela questão da violência ocorrida em fases anteriores de suas vidas. Esse dado, evidenciado a partir do quadro de violência urbana atual, relatado pelos sujeitos, constitui um aspecto desfavorável que restringe os espaços de socialização das idosas, fazendo com que a cidadania destas se restrinja cada vez mais a espaços de integração específicos, tais como o CIAPREVI-CE e outros grupos de convivência, entre os quais os das pastorais religiosas e os eventos de forrós que frequentam. A convivência com outros idosos nos bairros fica cada vez mais cerceada pelo medo. Tais circunstâncias fazem com que algumas idosas procurem manter-se afastadas das notícias da mídia televisiva, para não serem afetadas em termos de bem-estar e qualidade de vida: Eu não quero ver essas coisas [...] Deus me defenda de ver essas coisas... Deus me defenda...Essas coisas de sangue, morte[...] É só facada, tiro [...] A gente já tem um dia- a- dia já tão... né? [...] Pelo amor de Deus...Aí, pra nossa idade, né...? E esse negócio de Barra Pesada, Deus me livre! Eu não quero nada pra mim prejudicar, pra mim ficar pensando, pra mim ficar, não [...] Eu não quero não... Porque não sai uma coisa que preste, uma coisa assim pra gente se alegrar, pra ter uma vida melhor... mais não, minha irmã: É só matança, essas coisa.. não, eu não quero não[...] (D. Aldeíde, 60 anos) De modo inverso, constatou-se que outra idosa, com um histórico pessoal de violência, referiu que mantém conexão permanente com os noticiários policiais, acompanhando diariamente a programação televisiva nessa modalidade. Mencionou que, quando estava em casa, mantinha a televisão o tempo todo ligada, assistindo a programas de televisão, sobretudo programas policiais “Com essa violência toda em minha vida, eu ainda gosto, acredita?” (Maria Franciete, 64 anos). Neri (2002, p.127), apresenta dados interessantes de pesquisa, através dos quais faz menção à espiritualidade e à religiosidade, como estratégias de enfrentamento adotadas por cuidadores de idosos. A autora (ibidem) constatou que essas duas áreas desempenhavam um papel importante para o equilíbrio, a aceitação e ressignificação da tarefa de cuidar e da própria existência, para os sujeitos investigados: Esses dados confirmam outros encontrados na literatura internacional. Wong (1998) comentou a importância de superar sentimentos negativos e ter um sentido para a vida. Zaleski (1996) afirmou que a essência da existência humana está na transcendência de si mesmo, e na busca de sentido para a vida. Lazarus (1999) 131 discorreu sobre a importância da esperança diante de eventos negativos, seu papel na superação das perdas e sua importância para dar significado à vida. Chang, Noonan e Tennstedt (1998) mostraram que cuidadores que usaram a crença religiosa ou espiritual para enfrentar a situação de cuidado tiveram melhor relação com o idoso e baixo nível de depressão. Picot et AL. (1997), num estudo sobre a relação entre raça e percepção de benefícios, encontraram aspectos da religiosidade, como oração, crença religiosa, conforto espiritual e assistência interferindo positivamente na relação de cuidado e na percepção de benefícios. Ainda segundo os autores a religiosidade pode atuar como um importante recurso pessoal. Francl (1999), teórico do sentido da vida, afirmava que encontrar significado para tudo o que se faz é primordial para uma vida plena, e que a fé pode interferir positivamente na busca desse sentido. Constatou-se, neste estudo, que os sujeitos buscaram desenvolver estratégias de enfrentamento e superação de traumas inseridos em suas histórias de vida passada e presente, através do engajamento em atividades de dança, música ou voltadas para o aperfeiçoamento espiritual e para as atividades de bordado, pintura e crochê. Esses dados obtidos da pesquisa se coadunam com os obtidos por Neri (2002, p. 127). A autora encontrou argumentos explicativos sobre essa circunstância, através do ponto de vista de especialistas no assunto: Para Ruth e Coleman (1996), as estratégias de enfrentamento estão relacionadas com nível educacional, capacidade cognitiva, experiência de vida, conhecimentos, habilidades sociais, apoio social, motivação, saúde, gênero, recursos econômicos, condições de vida e também com fatores de personalidade, atitudes, autoconceito e com auto-estima. Os autores afirmam que a atitude de aceitação pode funcionar como um mecanismo de adaptação e não de submissão, e assim é uma competência adaptativa. A presença de recursos financeiros ajuda a adaptação se e quando os indivíduos usam a lógica e a flexibilidade e confiam pouco em atitudes improvisadas e irracionais. Ter ajuda de familiares, de amigos e de profissionais também influencia positivamente as decisões diante das situações estressantes. Observou-se, ainda, que um dos sujeitos, com maior poder aquisitivo, demonstrou fazer uso de estratégias mais elaboradas, tais como: 1. Arregimentação de um suporte familiar permanente para cuidar da rotina doméstica, deixando-os livres para usufruir a vivência cidadã com independência, mas sem perder autonomia: Foi assim: A médica disse assim: olha, se a senhora quiser passar mais um janeirozim, não se esforce muito [...] Aí eu disse: Rosa, não trabalhe não, fica comigo, que não falta nada pra ti, nem pra teu filho. Eu ganho pensão, mas a minha casa era grande, tinha um alpendre e uma sala bem grande. Eu disse assim: Rosa, vamo partir esse alpendre e um pedaço da sala, vamo alugar isso aqui, pra quando eu morrer vocês ter tudo na mão e não precisar de ninguém, só de Deus [...] (MARIA FRANCISCA, 68 anos). Mês que entra eu vou pra cinco lugar: Vou pra Canindé, de lá para um banho de cachoeira na Varjota, de lá vou para Arará, de lá vou pra Santa Quitéria, de lá vou para Ipú... e de Ipu vão para Ubajara. ...Vai três ônibus. O dono da excursão é um grande amigo meu [...] (MARIA FRANCIETE, 64 anos). 132 2. Manutenção de uma rede permanente de amigas, com os quais conversa, geralmente, à noite, na calçada de casa, ou em programações, nos finais de semana: “A gente conversa, a gente canta. A gente fica conversando, achando graça [...] (MARIA ALBINA, 75 anos); Quase sempre vou lá fora conversar com minha amiga, que eu me dou muito bem com ela” (MARIA ALDEÍDE, 60 anos). Neri (2001, p.112-113) faz uma revisão da literatura sobre suporte social e sobre rede de relações sociais na velhice, mostrando que os relacionamentos entre amigos idosos são particularmente benéficos porque são de livre escolha e assim mais funcionais ao atendimento das necessidades afetivas dos envolvidos porque eles compartilham experiências de vida, necessidades valores e significados. Fala-se em comboio social com referência a pessoas da mesma coorte que trocam apoios principalmente de natureza afetiva. De acordo com a referida autora, familiares, vizinhos, amigos e conhecidos compõem a rede de relações e apoio informais. Essas são imprescindíveis para que os idosos exercitem a alteridade, procurando compreender melhor as dificuldades enfrentadas pelos semelhantes. Ressalta-se, em relação a este estudo que, entre os sujeitos investigados, havia uma idosa solteira, vivendo sozinha, mas que, entretanto, se encontrava engajada em uma rotina de vida que lhe era prazerosa, mostrando repercutir tanto no senso de bem-estar físico, quanto no de bem-estar emocional e psicológico referidos. Essa idosa mostrou ter desenvolvido um elevado senso de espiritualidade, que a fazia encontrar tempo para realizar as atividades do seu dia-a-dia e ainda oferecer suporte assistencial e emocional a uma irmã enferma, residente em outro bairro. Nesse sentido, cumpre destacar que os demais idosos que se mostraram atuantes em suas congregações religiosas demonstraram exercitar a cidadania participativa, incumbindo-se de cuidar não só dos próprios interesses, mas dos de outras pessoas dos seus locais de residência e do próprio grupo de convivência do CIAPREVI-CE: Na Igreja, eu até que arranjaria tempo pra arrumar a casa do Senhor [...] (MARIA GERTRUDES, 70 anos); É por isso a dificuldade de nós tudim..., porque uns sabem uma coisa e outros não sabe [...] Lá eles não sabiam nem o que era noves fora... quando a professora saiu pra merendar, eu fui ensinar... Depois eu disso, agora vocês se entendam, eu não vou mais ensinar, não, eu vou é estudar [...] (MARIA ODÉSIA, 77 anos); A gente nessa vida tem que ajudar os outros para ter um lugarzinho no céu [...] (MARIA FRANCISCA, 68 anos). Nesse sentido, há que se ressaltar a atitude de uma idosa que mencionou que até ajuda nas aulas de alfabetização as outras alunas que não obtiveram ainda o mesmo progresso 133 que ela. Essa idosa afirmou que já estava alfabetizada, mas que vinha para as aulas de alfabetização para ajudar as suas colegas. Durante a entrevista, ela mostrou desempenhar uma expressiva atuação na Igreja de sua paróquia, na qual participa de visitas às casas de pessoas idosas, enfermas ou de familiares, para ler a Bíblia ou fazer orações. As idosas com senso de espiritualidade elevado mostraram não se ressentir com o aspecto da solidão, embora, por demonstrarem estar dispostos a ter melhor qualidade de vida, tenham comprovado buscar a convivência social. Neri (2001) menciona que o número de brasileiros e brasileiras que vivem sozinhos vem aumentando por vários motivos (GOLDMAN, 1998 apud NERI, 2001, p.120), entre os quais: as mudanças nos valores concernentes à vida familiar e ao casamento; mudanças nos padrões de solidariedade dos mais novos para com os mais velhos: o crescimento da renda desfrutada pelos idosos, principalmente mulheres, permitindo-lhes maior autonomia e privacidade e extensão da longevidade. A referida autora faz uma importante distinção entre os conceitos de solidão e isolamento, explicitando que nem sempre viver só significa perda de senso de bem-estar subjetivo. Neri (2001, p. 122) menciona que [...] solidão é, portanto, uma experiência emocional aversiva e estressante se relacionada à inexistência, ao isolamento ou à perda de relações afetivas significativas. Não tem uma relação necessária com isolamento social. A solidão pode ser mais ou menos estressante, dependendo da desejabilidade dos contatos disponíveis e das oportunidades que a pessoa tem para alterar a situação que lhe parece insatisfatória. Declínio na saúde pode contribuir para um senso de que á restrição na possibilidade de envolvimento social. A auto-estima e fatores de personalidade têm relação com solidão. A pesquisa revelou, ainda, que os idosos que detinham uma espiritualidade indefinida, voltada para práticas de várias religiões, mostraram vivenciar uma cidadania individualizada e também demonstraram pouco êxito na instrumentalização da vida prática, parecendo não saber como lidar com as situações conflituosas do seu cotidiano. Entre esses problemas estavam os conflitos intergeracionais, as relações parentais fragilizadas e a falta de diálogo nas famílias. Esses conflitos se encontram explicitados no decorrer deste capítulo. Levando em conta esses aspectos, ao se estabelecer uma analogia entre o modo de vida manifestado pela aludida idosa solteira e o manifestado por outra idosa, viúva, vivendo com filhos, netos e bisnetos, na mesma casa, observou-se que a primeira manifestava um senso de bem-estar subjetivo aparentemente mais satisfatório que o demonstrado pela segunda, uma vez que essa última, apesar de viver com familiares, experienciava uma solidão 134 emocional que a tornava uma pessoa preocupada e pouco afeita a partilhar seus conflitos com as amigas mais próximas. Descrevendo os resultados de pesquisa empreendida nessa área, Capitanini e Neri (2001, p. 123) referiram que satisfação com a vida foi estatisticamente relacionada com a disponibilidade de amigos. As mais satisfeitas descreveram viver só como contingência normativa do ciclo vital; as mais insatisfeitas como esquiva de conflitos familiares e pessoais. Associaram bem-estar com espiritualidade, autonomia, funcionalidade, autoaceitação, altruísmo, relações positivas e afetos positivos. Durante a pesquisa, ouviu-se, da parte de algumas idosas, que elas não comentavam sua vida particular com outras pessoas, mesmo as mais amigas, porque estas costumavam ser indiscretas. Nesse caso, percebeu-se, subliminarmente, que a demanda por animais de estimação manifestada por alguns sujeitos poderia ser explicada pelo fato de que esses animais “se afeiçoam aos seus donos” a tal ponto, que demonstram ouvir e compreender o que eles lhes confidenciam, com a vantagem de que não podem comentar o que deles ouvem com ninguém. Uma idosa ressaltou que a sua cadelinha Susie entendia tudo o que ela lhe dizia. Essa idosa demonstrou que, provavelmente, encontrou nesse animalzinho de estimação a companheira “de conversas”, a amiga que não achou entre as pessoas da vizinhança, as quais eram de outra religião, aspecto que, na opinião da idosa entrevistada, inviabilizava um diálogo recíproco. Nesse sentido, há que se ressaltar que é difícil reconhecer que as questões envolvendo dimensões humanas tão importantes, como é a comunal, ao invés de motivarem uma aproximação, promovam um afastamento entre as pessoas, a ponto de elas procurarem interlocutores nos seres irracionais. Assim, conjectura-se: como podem sujeitos idosos, em grupo de convivência, buscar conviver (do latim convivere = viver com outrem), sem partilhar sofrimentos, dores e lutas privadas? Que convivência é essa que buscam construir e o que pretendem mesmo obter do espaço coletivo que partilham por tantas horas, tantas vezes na semana? Observou-se que os sujeitos da pesquisa têm urgência por políticas públicas humanizadoras, que os façam buscar e dar um sentido aos seus projetos de vida. Ou melhor, que os levem a procurar construir projetos de vida próprios e comunitários, de interesse coletivo, mas não necessariamente pelas mãos do Estado. Caso contrário, se tornarão simplesmente tarefeiros de inúmeras experiências comunais, vivenciadas em vários locais diferentes, mas sem encontrar em nenhum deles o objetivo que na verdade buscam: qualidade 135 de vida. Essa percepção leva ao reconhecimento, conforme alguns autores, de que a cidadania individualizada, ainda que partilhada em um mesmo espaço público, talvez seja uma das ressonâncias negativas da sociedade capitalista contemporânea. Osterne (2008, p.83) explica a distinção entre individualismo e individualidade, tomando emprestado o pensamento trabalhado por Pelissari (1995), segundo o qual, enquanto o primeiro conceito se refere a um juízo baseado em um valor moral positivo, que resulta na produção de um indivíduo isolado, o segundo oferece um processo inverso, ou seja, [...] onde o homem subverte a sua submissão às leis de economia burguesa, tenta superar sua reificação, desaliena-se e supera o mundo individual, enquanto mundo isolado, preso aos valores das particularidades, para perceber-se como totalidade. (PELISSARI, 1995 apud OSTERNE, 2008, p.83). Abstrai-se, dessa reflexão, que os ideais e os valores da ética cidadã se aproximam do conceito de individualidade e não de individualismo, uma vez que oportunizam o valor da pessoa humana no contexto de sua interação com as demais e tendo em vista sempre o bem comum. O conceito de grupo de convivência, portanto, necessita de ser trabalhado pelas políticas públicas no âmbito da construção de uma noção de cidadania, que permita aos sujeitos envolvidos romper com as práticas e as atitudes meramente formalistas. Essas se mostram mais condizentes com os princípios que integram o conceito de cidadania clássico, o qual, ainda que concebido dentro de um paradigma equânime de justiça e igualdade social, e, portanto, perfeito dentro de um sentido estrito e abstrato, em nada se aproxima da realidade brasileira, sobretudo a vivida pelas populações de excluídos das possibilidades de realização social. Acredita-se que só assim esses sujeitos estarão abertos para vivenciar experiências coletivas inovadoras. Segundo alguns autores (DA MATTA, 1997, apud OSTERNE, 2008, p.19), a cidadania, enquanto fenômeno complexo e historicamente definido, contempla em si mesma um papel social, que se expressa de forma diferente, no contexto cultural de cada sociedade humana. Assim, para que se possa compreender o significado desse conceito, no contexto específico da realidade brasileira, composta de classes sociais bastante heterogêneas, não se pode deixar de considerar a “cidadania relacional”, que foge aos parâmetros ideais, normativos e universais, teoricamente aceitos e prescritos pelo termo, onde o cidadão constitui a unidade por excelência a ser privilegiada, tanto do ponto de vista moral quanto 136 social e político. Essa linha de pensamento explica por que, no caso brasileiro, a cidadania passa a se expressar de forma a privilegiar não a esses mesmos indivíduos, mas ao seu poder de estabelecer relações com os iguais, na comunidade onde vivem, e com os sistemas institucionais que regem a vida pública. Desse modo, pelo menos na prática, a cidadania passa então a funcionar como uma estratégia de inserção social regulada pelas mediações tradicionais de amizade, prestígio e poder, em proporção às quais cada indivíduo se tornará mais ou menos capaz de se integrar socialmente, conquistando direitos e galgando espaços de realização na vida pessoal, cívica e política. Algumas idosas fizeram menção a esse aspecto relacional da cidadania, conforme menciona Da Matta (1997). Ressalta-se que, da parte de três sujeitos, em especial, essa tônica emergiu: Aí eu tenho um amigo, que é advogado, e ele me aconselhou: Chica, você faça disso: alugue e faça um contrato passado em Cartório, e você desconta do aluguel o que a pessoa (Sr. Alex) tiver gastado na reforma da casa. E assim eu fiz. (MARIA FRANCISCA, 68 anos); Eu não tenho plano de saúde, mas os amigos vão me empurrando devargazinho, Jesus me abençoa e eu consigo [...] (MARIA FELISMINA, 69 anos); Madrinha, eu vou levar essa foto e botar no açucareiro lá de casa [...] (O termo madrinha aqui empregado pelo sujeito significa uma modalidade de apadrinhamento social vigente, sobretudo, na Região Nordeste do Brasil) (D. MIRIAN, 81 anos). Destaca-se, também, que na pesquisa realizada, a maioria dos sujeitos investigados referiu adotar práticas de integração, em sua rotina diária. Ficou demonstrado que o apoio de um suporte de amigos é de grande importância para a maioria dos sujeitos que integraram a amostra da pesquisa. Salienta-se, portanto, que um dos significados da nova cidadania pretende a constituição de sujeitos sociais ativos, estabelecendo o que eles consideram ser os seus direitos, lutando pelo reconhecimento desses direitos e participando ativamente da construção social. Tal noção política é compatível, não só com os princípios democráticos constitucionais, mas, também, com os novos conceitos gerontológicos voltados para a formação de sujeitos saudáveis, pró-ativos, usufruindo de qualidade de vida e bem-estar na velhice. Observa-se que a qualidade de vida constitui uma noção que foi trabalhada neste estudo, priorizando a opinião dos sujeitos investigados e não procurando enquadrá-los em constructos específicos, visando, meramente, averiguar se os sujeitos se enquadrariam, ou 137 não, nos conceitos e regras previstos pelos especialistas do assunto. Sob certas condições específicas, obviamente, os indivíduos tendem a desenvolver boa saúde física, psicológica e emocional. Entretanto, educar para a cidadania consiste em procurar ajudar os sujeitos a reconhecer, através de uma postura crítica satisfatória, se a rotina de vida que estão levando, os ajuda ou não a viver melhor e com maior bem-estar. Dentro desse modelo de cidadão, não cabe a adoção de uma proposta metodológica de educação para a cidadania, na qual o Estado é quem oferece uma receita de como ser cidadão, decidindo o que os sujeitos de sua ação devem saber e como devem agir para conquistar a condição de cidadão. Não se pode, entretanto, esquecer que liberdade, igualdade e respeito às diferenças são importantes premissas, em torno das quais versam os princípios do novo paradigma de cidadania considerado neste estudo (DAGNINO, 1994 apud OSTERNE, 2008, p.93). Considera-se que, sem as condições aqui apontadas, as relações sociais estarão sempre propensas a se desenrolarem desproporcionalmente, ou seja, privilegiando o bemestar, a qualidade de vida e a promoção de determinados segmentos, em detrimento de outros. Ferreira (1993, p.5) tece comentários valiosos a respeito da temática da cidadania, sob a ótica educacional, mencionando que o homem concreto, produto/produtor das múltiplas relações sociais, se efetiva em interações nem sempre harmoniosas com a natureza e os outros homens. Também não parece ter sentido basear as discussões em uma suposta natureza humana imutável. Ao transformar o mundo social e natural, o homem transforma a si mesmo, e o objetivo último dessa transformação é a supressão de suas carências, quaisquer que sejam. O educador não pode deixar de envolver-se nessa questão. Sua atividade profissional envolve aspectos políticos, econômicos e sociais e, mais do que isso, tem uma dimensão ética, cuja legitimidade está ligada a esses fins. A prática educativa sempre traz em si uma filosofia política, tenha o educador consciência disso ou não. Deduz-se das palavras da autora que a consciência crítica, quando bem trabalhada pelos educadores, leva ao compromisso e à transformação. Nesse sentido, considera-se que a vinculação a uma mesma rotina de convivência humana, orientada para a perspectiva da transformação pessoal dos sujeitos, pode dar um sentido à vida destes, possibilitando-lhes a superação de estados emocionais negativos, como a solidão, e a construção de novos conhecimentos coletivos, em um espaço de encontro, descobertas, aprendizagem e lazer, sempre na perspectiva de um aperfeiçoamento pessoal. Importante se faz registrar que Ferreira (1993, p.6) conduz essa lógica para a perspectiva trabalhada por Reboul (1973 apud FERREIRA, 1993, p. 6), que admite: 138 O ponto nevrálgico das teorias pedagógicas são exatamente os seus fins. Ele identifica dois grupos de teorias, a saber: aquelas que assumem o enfoque culturalista, nas quais os fins da educação estão fora do homem e as que privilegiam a abordagem individualista, para as quais os fins estão nos indivíduos, considerados isoladamente. Reboul conclui afirmando que ambos os casos, que focalizam os fins da educação na sociedade ou no indivíduo, são formas caricaturais de educação. Para superar esse impasse sugere que a educação tenha como princípio e fim a questão da liberdade. Detalhando melhor o próprio ponto de vista, Ferreira (1993, p.8) reporta à linha pedagógica trabalhada por Paulo Freire, para quem a liberdade de que trata Reboul (1973 apud FERREIRA, 1993) se configura na práxis, na medida em que se funda no saber/fazer. Para Freire (1974, apud FERREIRA, 1993, p.8), “escolher, deliberar, exercer a liberdade de e para decorrem de condições concretas de inserção do homem no mundo. A liberdade se define nas ações do indivíduo”. O pensamento de Freire (op. cit.) coaduna com a linha metodológica trabalhada neste estudo, ao considerar que os aspectos públicos e privados da vida se entrelaçam, conferindo dimensão humana à vida biológica. Nesse sentido, Ferreira (1993, p.8) parece estar buscando demonstrar que é ingênuo recorrer a metodologias pedagógicas padronizadas, para trabalhar a temática da cidadania, sem se levar em conta as condições objetivas e subjetivas de vida dos sujeitos envolvidos. Sob essa perspectiva, conforme demonstra essa autora, ao resgatar o pensamento de Freire, a vontade humana, ainda que firmemente direcionada a propósitos específicos, está sempre restrita à realidade objetiva da vida das pessoas. O voluntarismo não leva em conta as condições objetivas imprescindíveis ao exercício da liberdade. Admitindo que querer é poder, ignora que os homens não escolhem as condições em que nascem. A vontade dos indivíduos, que se materializa por meio de suas opções, se forma sempre sob determinadas condições, vinculadas à realidade objetiva de suas vidas. É ingênuo pensar que exista um elenco infinito de escolhas. Como materializações de subjetividades anteriores, as oportunidades são finitas. No espaço das possibilidades objetivas é que o homem pode tentar realizar seus objetivos: é neste espaço que ele é livre. A sua liberdade, porém, está ligada ao conhecimento de suas necessidades e às condições de satisfazê-las. Da dialética liberdade/necessidade emergem valores que nortearão a conduta humana: valores constituintes do ser social, conceito que engloba, tanto no nível material quanto no espiritual, o cotidiano da vida do homem na sociedade (FERREIRA, 1983, p.8) Entretanto, Ferreira (1993, p.9) expõe o pensamento de Wilhelm Reich (1972), que alerta para dois pólos distintos, implícitos no conceito de liberdade, a saber, o positivo e o negativo. Segundo Reich (1972, apud FERREIRA, 1993, p.9), a liberdade humana tanto pode contemplar o aspecto perverso da renúncia em lutar, negando o agir transformador, 139 quanto reagir às condições que lhe causam sofrimento, voltando-se para a perspectiva oposta, ou seja, procurando não sucumbir diante das dificuldades, mas enfrentá-las e superá-las. Foi nessa perspectiva que se buscou conhecer, neste estudo, “as estratégias de acesso à cidadania”, desenvolvidas pelos sujeitos investigados. Ferreira (1993, p.12), mesmo sem assim pretender, de certa forma estabelece um contraponto com Saviani (1987), que defende a tese de que as pessoas precisam do conhecimento sistemático para chegar a ser “cidadãos”. Ferreira (op. cit.) contesta esse ponto de vista, ressaltando que a posse desse conhecimento não garante a “conversão” para a cidadania. Muitos letrados vivem na condição de não-cidadãos, ou marginais. Além disso, a escola não transmite só conteúdos, mas cria hábitos e desenvolve atitudes, temas sempre polêmicos. Pretendendo contribuir para uma educação transformadora, Saviani difunde a disciplina e a organização como elementos básicos para uma educação politizadora. Mais uma vez, incorre no erro de não elucidar a contradição entre essas duas premissas. Disciplina e organização não são ideias abstratas, mas conceitos históricos, e tanto podem servir para transformar como para conformar. Disciplinar e organizar quem, a partir de quê e para quê? Que tipo de sociedade queremos instituir, uma sociedade de massas ou de homens? Saviani não aprofunda essas questões e incorre na visão idealista de uma escola demiúrgica que, partindo da organização dos “saberes”, criará o reino da liberdade (FERREIRA, op. cit., p.12) Em continuidade, Ferreira faz uma revisão da teoria crítica hermenêutica de Henry Giroux (1968 apud FERREIRA, 1993, p.12), ao afirmar que “a cidadania vai além da aquisição do conhecimento de conteúdos sistematizados”, demonstrando os princípios que regem diferentes teorias educacionais. Não pretendendo esmiuçar os diversos conceitos trabalhados por Giroux (1968 apud FERREIRA, 1993, p.12), busca-se, aqui, mencionar a ênfase dada à teoria da racionalidade emancipatória, cujo interesse básico é a libertação do homem. Essa diverge radicalmente da teoria da racionalidade técnica, ideia que se procurou refutar neste estudo. Ferreira (1993, p.16) detalha o ponto de vista de Giroux, ao mencionar: Na perspectiva culturalista, a cidadania se inscreve na racionalidade técnica. Na medida em que os fins da educação estão na sociedade, deve-se instrumentalizar o indivíduo para que ele tenha o desempenho necessário à sua melhor integração. Nos direitos do cidadão não aparece a cidadania política, que pode ameaçar a ordem necessária ao progresso. Tudo se restringe aos direitos sociais, nos quais a educação e a proteção à família e ao trabalhador são garantidos a priori pelo Estado; não resultam de lutas, nem são conquistas. O Estado assume, assim, feição paternalista, como organismo capaz de atender aos interesses e às necessidades dos indivíduos. Que cidadania seria essa, senão a cidadania inativa, conformista na qual a sociedade dita o comportamento necessário ao ajustamento do indivíduo? Assim, a harmonia social não procede das disputas entre classes ou grupos, mas da elaboração técnicoburocrática de programas capazes de atender às demandas sociais. Não deixa de ser, portanto uma racionalidade que visa à dominação. 140 A proposta da autora converge para a consideração da temática da cidadania, mediante uma metodologia pedagógica voltada para capacitar os indivíduos a buscarem a alteridade, procurando nos outros os seus interlocutores (FERREIRA, 1993, p.17). Observa-se, portanto, que é pelo diálogo que os homens, na condição de indivíduos-cidadãos, constroem a inteligibilidade das relações sociais. Trata-se, pois, de eliminar tudo aquilo que possa prejudicar a comunicação entre as pessoas, pois só através dela se pode chegar a um mínimo de consenso. 141 6 CIDADANIA OUTORGADA VERSUS CIDADANIA CONQUISTADA 6.1 Ilustrando os paradigmas de cidadania deste estudo com a história de dois sujeitos especiais Justifica-se essa homenagem, que se considera das mais justas: ao se procurar iniciar o trabalho de campo, o interesse era o de realizar entrevistas com idosas proativas, lúcidas e com tempo de permanência satisfatório no grupo de convivência, permitindo que se investigasse a importância dessa modalidade de socialização em suas vidas. Por experiência profissional, já se sabia que os idosos, de modo geral, sentem-se imensamente felizes em compartilhar com outras pessoas suas histórias de vida o que, para eles, representa uma experiência altamente positiva. Assim, não se pretendeu interromper suas falas, durante as entrevistas, quando quisessem se estender em suas narrativas. Desejava-se, em suma, dar-lhes voz e vez, levando em conta que, de modo geral, são tão pouco vistos e tão pouco ouvidos. Assim, não se pretendia, simplesmente, travar contato com esses sujeitos, como se estivessem sendo cobaias de uma experiência de laboratório. Desde o início, a proposta com o desenvolvimento da investigação era a de conhecer mais amiúde os sujeitos que seriam selecionados para compor a pesquisa. Reconhecia-se que eram pessoas especiais e que iriam contribuir com o melhor entendimento da realidade que vivenciavam, em vários espaços de socialização. Afinal de contas, esses sujeitos experienciavam uma velhice que interessava à pesquisa e se tratavam de mulheres dignas de serem ouvidas, expondo, se quisessem, as próprias vidas. Quando se chegou ao CIAPREVI-CE, ao final de 2008, esse equipamento ainda era o Centro Comunitário Dom Lustosa. Após a apresentação formal às coordenadoras (do Centro e do Grupo de Convivência local), declarou-se a intenção de realizar uma pesquisa nesse equipamento da STDS. Foi mencionado que se desejava entrevistar idosas com as características definidas para esta pesquisa e, quase que simultaneamente, a coordenadora do grupo se manifestou: “Então você precisa entrevistar a D. Mírian e a D. Salviana”. Chega, nesse instante, D. Mírian, saída da cozinha do CIAPREVI-CE e, convidada pela técnica coordenadora, senta-se ao lado da pesquisadora, que se identificou e se surpreendeu com o fato de estar sendo recebida pela idosa com tanta naturalidade, como se esta a estivesse recebendo em sua própria casa. A idosa causou boa impressão desde o início, 142 ao informar, com reconhecido senso de dignidade, o seu nome, dizendo: “Eu me chamo Mìrian Honorato ... Honorato com H [...]” Cumpre ressaltar a empatia e o interesse despertado com essa forma peculiar de apresentação, porque se percebeu, de imediato, que se tratava de alguém que se autovalorizava e se reconhecia importante. Ligou-se o gravador e foi-se perguntando mais e ela foi respondendo a tudo e contando sua história, sob o olhar maroto e satisfeito da coordenadora, que se havia antecipado às circunstâncias. O fato é que, tanto a história de D. Mírian, quanto a história de Salviana, dão vida às histórias anônimas de tantas mulheres da periferia de Fortaleza, as quais ninguém conhece, e que, mais tarde, vieram compor, efetivamente, a pesquisa empreendida. D. Mírian foi incluída na amostra, mas Salviana, em meados do ano de 2009, ficou cega, em virtude do seu problema de glaucoma ter se agravado. Soube-se que ela adoeceu e que ficou muito triste por não estar mais podendo vir ao CIAPREVI-CE para participar das reuniões do grupo de convivência. Falta ainda mencionar que, nessa época em que se manteve contato inicial com essas idosas, os conceitos sobre “cidadania outorgada” e “cidadania conquistada” estavam fervilhando na cabeça da pesquisadora. Pois não é que a história dessas mulheres veio ilustrar dois paradigmas de cidadania antagônicos, que se estava, justamente, procurando considerar, para compor o referencial teórico da pesquisa? Acredita-se que não se pode deixar passar a oportunidade de ilustrar este estudo com a história dessas duas mulheres, em especial. Por isso, pede-se licença para relatar as suas histórias, na certeza de que prestaram uma contribuição incomensurável a este estudo. 6.2 A História de D. Mírian D. Mírian tem 82 anos (nasceu em 09 de outubro de 1927), é natural de Pindoretama- município de Cascavel- Ceará. É a última de uma prole de sete filhos, que teve o casal Josbertino e Josbertina, seus pais, os quais, assim como a protagonista desta história, aqui estão sendo identificados com nomes fictícios. Salienta-se, porém, que a coincidência dos nomes dos genitores de D. Mírian é real e se deve à linha de parentesco existente entre eles: eram primos que se uniram em matrimônio. D. Mirian teve, portanto, seis irmãos, sendo dois homens e quatro mulheres, dos quais só uma está viva atualmente. Ela ressalta, inclusive, que também uma das irmãs de sua 143 mãe casou-se com um dos irmãos de seu pai, gerando primos carnais. A família veio residir em Fortaleza-Ceará, quando ela estava com dois anos. Foram morar na Av. Monsenhor Tabosa, localizada nas imediações da Praia de Iracema. O pai de D. Mírian instalou um comércio no Mercado Central. Era proprietário de um armazém que ficava próximo ao local em que passaram a residir em Fortaleza. Ela se recorda que o armazém de seu pai ficava em frente a uma padaria, que ainda hoje existe na Av. Monsenhor Tabosa, mas cujo nome ela não se lembra. Recorda, ainda, que, também nas proximidades do ponto comercial de seu pai, funcionava a mercearia de um casal, o “Seu Paiva e a D. Stela”. D. Mírian estudou no Colégio da Imaculada Conceição, uma das instituições de ensino mais antigas e tradicionais de Fortaleza, dirigida por religiosas da Ordem de São Vicente de Paula, as quais, durante muitos anos, dedicaram-se exclusivamente à formação de moças da sociedade local. A instituição admitia, entretanto, em seu quadro de alunas, crianças e jovens provenientes de famílias com poucos recursos, como forma de exercitar o carisma caritativo da ordem religiosa a que pertenciam. Ao relatar essas lembranças, D. Mírian destaca que seu ingresso naquela instituição educacional se deveu à intervenção de uma prima, Gertrudes, que era freira e também “sua madrinha de apresentar” (circunstância inerente aos ritos do batismo católico). Ela recorda que essa prima foi embora em 1939, quando ela estava com doze anos. Mesmo assim, ela continuou frequentando o colégio, em regime de semi-internato. Ia para o colégio de manhã, e, voltava “de tardezinha”, trazida por um irmão. Com certa nostalgia, ela faz menção aos nomes de algumas religiosas que faziam parte da instituição em seu tempo: “A Irmã Celiza, a Irmã Mazé, a Irmã Otília... a irmã Otília era bem baixinha [...]” D. Mírian prossegue sua narrativa, mencionando que gostava muito de drama, de representar. Por isso, era muito solicitada para se apresentar em festividades. Ressalta, assim, que sempre foi muito divertida e desinibida. Lembra até dos papéis que representou na juventude: o de pastor, o de anjo da anunciação e principalmente o último, o de florista. Este ela encenou por dois anos consecutivos, por isso tem um carinho especial pelo personagem que representou. As lembranças de D. Mírian prosseguem e chegam até uma casa, próxima da sua, onde havia um “pastoril”. Este termo é designativo de um folguedo popular dramático, que é apresentado em um tablado ao ar livre, e no qual há uma personagem masculina, o Velho, que conta anedotas, faz pilhérias com os espectadores, vende prendas de leilão, tudo entremeado com cantos e danças de uma meia dúzia de personagens femininas chamadas pastoras (MICHAELIS, 1998). 144 Depois disso, a família se mudou. Foi morar na Rua Senador Pompeu, perto do bairro Benfica, endereço que ela detalha mais ainda, ao referir que ficava perto do Estádio Presidente Vargas, em Fortaleza. Próximo ao local, residia “um padrinho seu”, que era oficial de justiça. Ele morava na Rua Assunção e promovia festas familiares, que eram frequentadas só por pessoas amigas, com as quais interagiam a filha dele e a própria D. Mírian, na qualidade de afilhada. Foi a partir daí que, “um belo dia” (expressão literal utilizada por ela), apareceu “um cara” (idem), que começou a persegui-la, com a intenção de namoro. Ela não se pronunciou logo. Disse apenas: “Depois eu dou a resposta”. D. Mírian abre um aparte em sua narrativa, mencionando que “só teve dois amores na vida: o primeiro era da Escola de Aprendizes Marinheiro, mas que segundo ela foi apenas “um paquera”, que nem chegou a frequentar a sua casa. O segundo foi aquele com quem veio a se casar e que por dois anos a ficou perseguindo. Segundo D. Mírian, ele dizia para sua amiga próxima: “Mazé, essa loura é muito banqueira, mas eu derrubo a banca dela [...]” Quando, finalmente, D. Mírian se dispôs a receber a fotografia do pretendente, ela a mostrou à sua “madrinha”, dizendo: “Madrinha, eu vou levar essa foto e botar no açucareiro lá de casa [...]” (Perguntada pela pesquisadora quanto à finalidade desse propósito, ela responde às gargalhadas: “Pras moscas tomar de conta (porque ele era muito feio [...])” D. Mírian ressalta que, nessa época, tinha quatorze para quinze anos e só queria se divertir. O pretendente, que era ourives (anos depois, já casado, passou a ser empreiteiro), tinha dezenove anos. Ela destaca: “Ele era noivo, em Maranguape, com uma moça de nome Maria da Paz. Eu sempre achei bonito esse nome [...]” Com vívida nostalgia, ela relembra as circunstâncias do primeiro encontro do seu então pretendente a namorado e os seus pais: Então ele me propôs: Eu quero ir na sua casa. Eu disse: - Eu nunca levei ninguém na minha casa... (Meu pai era cabra ruim). Mas ele disse: - Eu vou enfrentar. Aí ele foi inventar de me pedir a casamento... Meu pai se levantou e disse: - Não tenho resposta pra você. E chegou lá na cozinha e disse pra minha mãe: - Vá falar para aquele moço, que está lá fora, que eu não tive palavras pra ele, não. Vá, faça aí do seu modo. Aí minha mãe foi conversar com ele e ele disse: - Não, eu pretendo me casar com a sua filha, quero me casar com ela. Nesse ponto da narrativa, D. Mírian demonstra aceitação da proposta de casamento, ao mencionar a sua decisão: “Olhe, eu lhe dou um sim, mas se você acabar o seu noivado”. 145 Depois disso, D. Mírian foi passar as festas de São Sebastião em Maranguape, na companhia de uma prima. Ficou acertado que ela se encontraria com o pretendente na pracinha da cidade. Na data aprazada, lá estavam a mãe dele e a então noiva do seu namorado, a Maria da Paz, sentadas em um banco da avenida (segundo D. Mírian, eram muito amigas). Aqui, novamente as lembranças são relatadas com vívido saudosismo: “Eu disse a ele: Me mostre (a mãe e a noiva).” E o desafiou a passar com ela em frente ao banco no qual as duas estavam sentadas. A intenção era fazê-lo acabar ali mesmo o noivado, o que de fato aconteceu: Ele disse: Maria da Paz, a partir de hoje eu não sou mais seu noivo... D. Mírian argumenta: Eu era muito banqueira mesmo... A coisa que eu tinha mais medo na vida era perder minha honra. Minha mãe me fazia muito medo. Eu era muito brincalhona, mas ia com as minhas irmãs para as festas. Quando finalmente casaram, o pai foi embora de casa com desgosto. “Arranjou” uma mulher em Maranguape e foi morar lá, deixando a mulher e filhos. Ela lembra: “Meu pai era cheio de preconceitos. Meu marido era moreno. Ele dizia mesmo: “Eu não gosto daquele nêgo [...]” Aqui ela faz uma ressalva: “Ele não era nêgo, não, era da cor dessa menina que está aqui, entende?” (E aponta para uma funcionária do Centro que passava próximo ao local da entrevista). E continua: “Mas o pai dele (Seu Nonato,) era nêgo, nêgo, do cabelo de pimenta-do-reino.” Só depois de casarem e de terem tido o primeiro filho, D. Mírian foi aceita pela sogra. Mas ela recorda que, antes mesmo disso, ela começou a sofrer com o casamento. O marido “arrumou” uma mulher, que lhe deu filhos, mesmo antes de ela ter o primeiro, o que só aconteceu depois de cinco anos de casamento. Ressalta que procurou aguentar a situação sem se queixar para os pais e para os irmãos, principalmente, por ter se casado à revelia: ele (o marido) lhe dizia, então, para desestimulá-la a continuar o casamento: Não lhe prometo nada de bom. Aí fui me segurando, segurando [...] Aí apareceu meu primeiro filho, o Gilson [...] Aí ele ficou feliz. A mulher que ele tinha era casada e separada do marido. Vivia com a mãe dela. Teve quatro filhos. Fui pedindo força a Deus para levar a minha vida. Mas ele não batia em mim, era bom pai bom dono de casa... Mas isso não basta, né?[...] Nesse momento da vida de casada, D. Mírian resolveu se mudar para a Rua Carlos Vasconcelos. Costumava ir frequentemente com o marido ao cinema e ao teatro. Também jantava fora com o marido. Ela abre um parêntese para ressaltar: “Aliás, ainda hoje eu vou ao teatro (Dragão do Mar, José de Alencar) [...]” Ela atribui essas oportunidades ao círculo de amizades de uma filha sua, que trabalha profissionalmente, exercendo funções técnicas no 146 meio teatral de Fortaleza. Entretanto, faz questão de mencionar que o gosto que nutre pelo teatro começou desde quando ainda era criança. Além do teatro, D. Mirian demonstra preferência por fitas cinematográficas do gênero “de ação”. Diz que também sempre gostou de ler, mas que agora “está meio ruim por causa da vista”. Arremata esse conjunto de preferências com um esclarecimento: “O meu aniversário (do ano passado) comemorei no teatro [...]” D. Mírian, por sua vez, exerceu atividades profissionais diversificadas. Fez curso de auxiliar de enfermagem e, a partir daí, começou a exercer essa atividade, aplicando injeções. Lembra de algumas amizades influentes que conheceu na área da saúde: “O Dr. Ernesto (nome fictício de um ilustre médico cearense) foi meu padrinho [...]” Ele disse: “Mirian, vou te levar para trabalhar na Assistência Municipal”. E nesse momento, ela ressalta: “Eu fui, porque o meu marido não me deixou trabalhar no comércio (por preconceito) [...]”. Assim, o círculo de amizades influentes de D. Mírian foi se ampliando e não custou muito para que, a partir dessa atividade, começasse a galgar novos espaços de trabalho mais vantajosos. A nova oportunidade surgiu para ela de forma inesperada: por ter, nessa época, uma filha estudando no Colégio da Paróquia de Santa Luzia, em certa ocasião, ao participar de uma palestra proferida por Dona “N. C.”, aceitou de imediato o convite que esta dirigiu às mães presentes, para se engajarem em um trabalho voluntário que iria começar a desenvolver no então Centro Comunitário D. Lustosa. O trabalho dizia respeito às ações de um programa governamental de distribuição de leite para pessoas carentes, desenvolvido pelo então Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição (INAN), sigla de um antigo programa de nutrição social. A partir de então, D. Mirian se engajou na nova atividade de voluntariado, que lhe tomava apenas parte do expediente diário, não a impedindo de cuidar de casa e da família. Nessa mesma época, segundo relata, começou a ser organizado o trabalho da então Fundação dos Serviços Sociais do Estado do Ceará (FUNSESCE), tendo à frente a então Primeira Dama do Estado, a Sra. Luíza Távora, esposa do Governador Virgílio Távora. Nessa época, D. Mirian ajudava também nos serviços de cozinha do aludido centro. Ela relembra: “Foi com D. Luíza... Ela era outra madrinha [...]” Recorda, nesse contexto, a simplicidade e o espírito descontraído da Primeira-Dama Cearense, Luíza Távora, que se notabilizou no Estado por um carisma pessoal no trato com as pessoas simples. D. Mirian recorda: “Ela entrava aqui cantando „Bandeira Branca‟, com os pés descalços, e quando chegava na cozinha ia logo destampando as panelas e elogiando o aroma saboroso da comida [...]” 147 Pouco depois, uma vez estruturada a nova Fundação, D.Mírian foi estimulada por sua benfeitora, Dona N. C., a fazer uma prova de seleção para se engajar no quadro de funcionários da FUNSESCE. Relembra que a pontuação mínima exigida para os candidatos a ingressar na categoria de auxiliar de serviços administrativos, que ela postulava, era de 30 pontos, tendo ela sido aprovada com 32 pontos. A partir daí, foi contratada como servidora do Estado. No exercício da nova função, D. Mirian passou a trabalhar os dois turnos. Lembra, nesse contexto, a relação de confiança que se estabeleceu entre ela e Dona N.C.: Era ela, D. Mirian, a pessoa encarregada de abrir e fechar as portas do centro. Ressalta que, um dia, Dona N.C. teve que sair apressadamente para o banco, esquecendo de levar a bolsa, que ficou exposta. Ela, entretanto, teve o cuidado de guardá-la à chave, em um armário e, mais tarde, levá-la pessoalmente à residência da chefe e benfeitora. Naquela época, junto com as atividades inerentes ao trabalho de distribuição de leite, começou a funcionar no centro um grupo de convivência de idosas, contando, inicialmente, com um número reduzido de vinte mulheres. Essa nova modalidade assistencial foi implantada a partir do trabalho voluntário que reuniu algumas senhoras da sociedade, vinculadas à Casa da Amizade, clube de serviço feminino do qual Dona N. C fazia parte. Essa rede de amigos começou, então, a realizar, uma vez por semana, as atividades com o grupo de idosas. Estas, por sua vez, nos dias em que não ocorria a reunião do grupo, se dedicavam às atividades de bordado em labirinto e ponto de cruz. As peças de tecido eram compradas por Dona N. C., e, depois de cortadas, distribuídas entre as bordadeiras. As peças iam sendo trabalhadas pelas idosas em casa e no próprio centro, mas em dias não coincidentes ao da reunião do grupo de convivência. As peças eram vendidas em feirinhas, e a renda revertia para as obras sociais do Estado. Nesse ponto da narrativa, D. Mirian enfatiza que a sua benfeitora, Dona N.C. era de família bem relacionada e próxima da família de D. Antonio de Almeida Lustosa. Refere que este, inclusive, chegou a ir ao centro algumas vezes, para visitar a mãe que ali prestava serviços voluntários com as outras senhoras da caridade: “Ele era uma pessoa muito boa. A mãe dele andava muito aqui. Ele vinha, conversava com a mãe dele, que morava aqui perto.” Neste ponto da narrativa, D. Mirian desvela, inclusive, outra rede de solidariedade que se instalara anteriormente, no próprio círculo de amizades da sua benfeitora, e que acabou motivando o surgimento do trabalho social que esta passaria a desenvolver depois, no centro D. Lustosa, ao recordar: “O Castelo Branco (Presidente brasileiro, natural do Ceará) era padrinho do C., filho dela... Aí, ela estava fazendo Serviço Social: „Comadre, falta muito para você terminar o Serviço Social? Pois termine, que eu vou construir um centro para você tomar 148 de conta‟ [...]” Depois de algum tempo, Dona N. C. teve finalmente que deixar o trabalho no centro, quando o expediente de trabalho no Estado passou a funcionar em dois turnos. Foi substituída por uma pessoa que, segundo ela, teve que sair pouco tempo depois, “a custa de baixo assinado”. O trabalho teve continuidade com outros servidores, pertencentes ao quadro de recursos humanos da FUNSESCE. Ela ressalta, principalmente, a atuação da assistente social coordenadora, M.P. Nessa época, D. Mirian continuava trabalhando na cozinha do centro, ainda não era idosa (tinha 47 anos), mas a generosidade da nova chefe estendia até ela os benefícios propiciados às idosas dos grupos: “Tinha lembrancinhas que ela queria dar à gente também [...]” Com bastante saudosismo, D. Mirian relembra um fato ocorrido logo no início da administração da nova chefe do centro: Um dia Dona N.C. veio aqui me buscar para passar um tempo lá com ela (no novo trabalho que assumiu em outra instância da administração estadual). Ela disse pra minha chefe que eu tinha que ir com ela para ajudá-la a organizar o seu trabalho, pois lá não tinha quem soubesse fazer isso como eu. Eu fui, mas passei pouco tempo, porque não me adaptei lá [...] Nessa época, eu fumava duas carteiras de cigarro por dia. Até que um dia disse: Meu Deus, me dê uma orientação... Eu disse: Tenho fé em São Francisco de Canindé que a partir de hoje não coloco mais um cigarro na boca. E deixei o vício. A narrativa de D. Mirian está impregnada de um sentimento de gratidão ao próprio grupo de convivência. Ela ressalta que foi no grupo que aprendeu a viver. No grupo, ela diz que aprendeu a ter mais paciência e mais tolerância. A mudança em sua vida foi notória, inclusive na parte da própria higiene. Ela aprendeu a cuidar do seu corpo, a desenvolver hábitos de higiene e de saúde, fazendo questão de dizer que até o seu comportamento mudou. Até hoje, ela se mostra plenamente satisfeita com o conjunto de atividades que realiza no grupo. Para ela, todas são igualmente boas, mas ressalta: “Sempre gostei de dançar. Sempre fui dançadeira [...]” Talvez por isso, ela se alegre tanto com uma incumbência que passou a desempenhar nas reuniões semanais do grupo: é ela quem assume orgulhosamente a função de DJ, encarregando-se de trazer CDs de casa para os idosos dançarem. Ela considera que os seus CDs são melhores que os que outros idosos poderiam trazer de casa, por isso, procura ignorar quando alguns reclamam que ela procura impor o seu estilo musical. Ela esclarece, porém, que não se trata disso, as músicas que ela escolhe se dá em função da boa qualidade e não do seu gosto pessoal. Mas, nesse sentido, ressalta que tem preferência pelo “bolero”. 149 D. Mirian demonstra não ter preferência por “assuntos de política”. Os assuntos que os idosos geralmente vêm desabafar com ela são assuntos de família. Para ela, só na época de eleição esses assuntos são ventilados: “Os velhos são namoradores. Não conversam sobre assunto de política. Conversam sobre a violência contra os idosos. Só se ligam em amenidades.” Segundo ela, as palestras sobre os direitos dos idosos são importantes, mas não se lembra sobre os direitos que foram mencionados, em certa ocasião, por uma autoridade que veio ao grupo proferir palestra para os idosos. Segundo ela, já chegou um pouco atrasada, e não compreendeu muito bem. Entretanto, tem muita gente que cuida disso para ela: “Tenho um sobrinho que trabalha na Empresa Santa Cecília”. Ele disse: “Tia, a senhora me telefone se acontecer alguma coisa com os seus idosos [...]” D. Mirian deixou há três anos de votar. Fez uma cirurgia para colocação de pontes de safena e passou a ter dificuldades para se locomover. Entretanto, faz questão de ressaltar que “sempre foi de Direita e não de Esquerda”: Na época de D. Luíza eu votava no (candidato) dela. Minha filha ano passado trabalhou pelo candidato X, dono do Teatro Y, mas ele começou na política muito tarde. Ele disse: Mãezinha (forma como a trata usualmente) vou mandar um ônibus para a senhora, vou fazer aqui um pastoril... Eu trouxe ele para fazer uma peça de teatro aí [...] D. Mirian termina o seu relato, externando um sentimento de gratidão à Dona N.C.: Devo a ela o meu emprego. Porque, se fosse pelo meu marido, eu tinha abandonado na semana que ele morreu, ele pediu para eu ficar com ele mais um pouco. Se eu tivesse feito isso eu teria passado fome, porque eu só fiquei com uma pequena aposentadoria dele. O marido de Dona Mirian lhe deixou uma pensão que, junto com os seus vencimentos de um salário mínimo, a que faz jus como funcionária aposentada do Estado, lhe garante uma sobrevivência modesta, porém digna. “Graças a Deus, agora tenho um calhambeque[...]” 6.3 A história de D. Mírian no contexto da história de Fortaleza na Década de 1930: Carnaval e Fome D. Mirian teve o privilégio de atravessar várias décadas, testemunhando, sem o perceber, a história do surgimento do próprio serviço social no Estado do Ceará. Sua história, em determinados momentos, se confunde com a história do próprio centro comunitário (hoje 150 CIAPREVI-CE), que ela viu nascer e no qual convive, atualmente, com outros idosos, não mais como funcionária estadual, mas como integrante da categoria dos idosos participantes do grupo de convivência que funciona no local. Ela, certamente, não tem noção do quanto contribuiu para a elaboração do presente estudo, que busca, justamente, compreender as estratégias de cidadania ocultas em sua história de vida e na história de tantas mulheres com as quais convive, semanalmente, no grupo de convivência. O que se está procurando fazer, entretanto, é juntar as peças de um peculiar quebra-cabeça, visando conhecer cada trama de um tecido sociológico arduamente elaborado por muitas mãos envelhecidas, procurando-se enxergar a vivência cidadã por trás de tantos rostos enrugados e disfarçados de não cidadãs; rostos enrugados, mas ainda repletos de expectativas. Este, portanto, não constitui um trabalho individual, porque não se pode obscurecer a importância da participação direta e indireta de todas as idosas dos grupos de convivência do CIAPREVI-CE, na presente construção acadêmica. Logo elas, mulheres iletradas e anônimas, que, ao soltarem a voz, ganharam a vez de serem ouvidas e, assim, ajudar a se colocar no papel o seu parecer sobre as políticas públicas estatais. Seguindo a cronologia apontada por D. Mirian, procurou-se configurar a sua história, no contexto da história de Fortaleza. Assim, começa-se a seguir a sua trajetória: D. Mírian saiu do município de Pindoretama, interior do Ceará, e chegou à cidade com sua família, no ano de 1929, aos dois anos de idade. Nessa época, o sertão cearense já dava sinais de um novo período de seca. Esse ocorreu, de fato, em 1932, trazendo, em trens lotados, levas de pessoas famintas, que fugiam para a Capital cearense. Isso ocorria porque era difícil para as pessoas que viviam no interior do Estado enfrentar a estiagem nos próprios locais de origem, uma vez que a fome e a miséria acabavam ceifando muitas vidas. Nesse caso, a alternativa era a migração para cidades litorâneas mais adiantadas, a exemplo de Fortaleza. Uma matéria publicada pelo Jornal O POVO, no dia 13 de abril de 1932, dizia literalmente: “Tangidos pelo desespero da fome, no interior, os flagelados têm invadido vários trens horário da Rede de Viação Cearense para se transportarem a esta Capital”. Assim, em virtude de alternados períodos de secas no Estado, passaram a conviver, no contexto urbano da Capital, duas modalidades populacionais díspares e contraditórias: uma composta pela leva de famintos, que chegava a Fortaleza, fugindo da estiagem no sertão, e a composta por pessoas da elite, residentes na Capital que, por desconhecerem o que representa o drama das secas para as pessoas do interior, naquele ano de 1932, estavam menos preocupadas com elas do que com a feiúra causada pelos aglomerados 151 humanos, sujos e maltrapilhos, no aspecto paisagístico da cidade: as levas de retirantes, sem lugar para se instalar, aglomeravam-se nas estações de trem, desconfortavelmente, e sem condições de higiene, causando um problema de saúde pública. A seca colocou frente a frente duas realidades paradoxais, em fevereiro de 1932: a que se preocupava em participar dos festejos mominos e a que só tinha razões para se lastimar: foliões e retirantes eram alvo das notícias dos jornais. Paradoxalmente, a crônica “Ecos do Carnaval” (O POVO, de 11/02/1932) informava, em determinada seção, sobre a animação reinante no período carnavalesco, apontando o Ideal Clube como a instância carnavalesca mais animada, enquanto que, na página seguinte, a Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas (IFOCS), divulgava um edital de fornecimento de materiais para os flagelados. Na década de 30, os carnavais saíram das ruas, a elite começou a se isolar, se encontrava nos clubes. Ao mesmo tempo, usava-se o argumento de fazer a festa, para enviar dinheiro aos que estavam morrendo de fome. Era uma forma de viver o carnaval com luxo e sem culpa, fazendo a caridade em 1932. [...] Mas o carnaval também era criticado nos jornais pelos católicos [...] alguns artigos publicados no jornal O Nordeste falavam que, enquanto o sertão estava faminto, muitos cidadãos entregavam-se às tentações do carnaval. Havia divergência entre os grupos liberais (burguesia liberal e profissionais liberais ligados ao PSD) e conservadores católicos, publicadas nos jornais, mas eles não diferiam quando o tema era isolamento dos flagelados. Porém, enquanto os ricos comerciantes brincavam o carnaval com luxo e requinte, os católicos conservadores estavam rezando por suas almas e pela salvação da moral cristã (RIOS, 2006). A protagonista desta história, D. Mirian, nessa época, era ainda muito pequena, mas, tendo passado a residir com a família numa faixa urbana próxima ao centro da cidade, perto da Praia de Iracema, onde até hoje se encontram instalados vários equipamentos culturais, mais tarde pôde dar vazão à sua índole festeira. Aprimorou o gosto pelos bailes carnavalescos, pelos dramas e pastoris junto a esse meio altamente favorável ao desenvolvimento cultural (ali fica o Teatro São José, o Estoril, pertencentes ao patrimônio histórico de Fortaleza). Essa preferência ficaria evidenciada na personalidade de D. Mirian. É ela quem menciona a opinião da prima, a seu respeito: “Essa menina, essa menina, em tudo ela se mete. .. O que é que ela tem? Se alguém diz: vou fazer uma festa, vou fazer um drama [...] chama a Mirianzinha [...]” Na década de 1930, em decorrência de tantas desigualdades sociais, proliferam em Fortaleza as greves promovidas pelas classes operárias, insatisfeitas com as longas jornadas de trabalho, baixos salários e desemprego. Os trabalhadores clamavam por mais espaço de participação política, motivo pelo qual começavam a se reunir em torno dos sindicatos de classe. Havia uma forte tensão entre essa classe operária e as oligarquias 152 tradicionais, compostas pelas elites do poder, e por estas foram reprimidas. A seca de 1958 trouxe novos migrantes para Fortaleza, os quais chegaram e se alojaram em uma área de morro, com poucas condições de habitação. Nascia outra área periférica em Fortaleza que, mais tarde, se transformaria no populoso bairro do Pirambu, localizado na zona oeste de Fortaleza, em uma faixa litorânea ocupada por pescadores. No primeiro dia do ano de 1962, milhares de pessoas saíram das áreas periféricas e invadiram as ruas do Centro de Fortaleza. Esse movimento se notabilizou como um marco para os movimentos sociais em Fortaleza, constituindo uma estratégia política das classes empobrecidas, que se expressavam por essa via, para obter maior justiça social. Essa luta se efetivou com o apoio de uma ala progressista da Igreja Católica, segundo a análise feita pelo professor José Borzacchiello da Silva, da Universidade Federal do Ceará-UFC. Para Silva (2006), este constituiu o marco divisor de águas em busca de novas conquistas, em Fortaleza: o ato foi organizado durante dois anos antes, com uma preparação em cada quarteirão, e pregações durante as missas do vigário do bairro, padre Hélio Campos: “Vem vê, ó Fortaleza/o Pirambu passar/somos pessoas humanas/temos direito que ninguém pode tirar” (Trecho do Hino do Pirambu, composto por padre Gerardo Campos, irmão do padre Hélio Campos). Outras estratégias de visibilidade social seriam impressas em matizes religiosas diferentes, que se incorporariam, contudo, no modo de ser de D. Mirian: a religiosidade mística. A fé regada a superstições não era, porém, um traço marcante e exclusivo da personalidade de pessoas simples como D. Mirian, porquanto presente no imaginário coletivo de pessoas letradas do Estado. O jornal O Nordeste, em edição do dia 23/3/1933, deu conta dos rituais religiosos praticados pelos retirantes das secas, provindo esses rituais do saber popular impresso na cultura das gentes do Interior do Estado. A fé, nesse caso, para alguns estudiosos, representaria uma estratégia utilizada pelos sertanejos, para enfrentar e dar sentido ao drama da seca. Fazer promessas e roubar a imagem do santo da igreja e só devolvê-la com as chuvas eram estratégias de combate à seca adotadas, segundo Kênia Rios, no livro Campos de Concentração no Ceará. Os jornais de Fortaleza divulgavam querelas entre o saber médico e o popular. No jornal O Nordeste (23/3/1933, segundo descreve Kênia, o médico José Jacome usava a imprensa para reclamar de “D. Raimunda de Tal”. Ele pedia o afastamento da curandeira. Jacome contava que a influência da curandeira era tanta que funcionários da Inspetoria Federal de Obras contra as Secas faziam uso do serviço. Para os flagelados, a curandeira seria uma santa que havia morrido e depois de 24 horas voltado à Terra por ordem de Deus com poderes de cura. (REVISTA FORTALEZA, 2006). 153 Esse cenário impregnado de crenças e superstições populares, que se encontra no esteio da trajetória de vida de D. Mirian, se incorporou à cultura popular cearense, independentemente da classe social. Foi trazido, contudo, pelas populações de retirantes que vieram se abrigar na cidade grande, fugindo das secas. Aqui, eles contribuíram também para a mudança no aspecto sociodemográfico da cidade e para a formação de uma Fortaleza plural, ou seja, composta pelas áreas de favelização, onde procuraram se abrigar, na década de 1930, e por uma área abastada, que residia em áreas nobres e que, ignorando a situação de penúria das gentes pobres, continuava a se modernizar: É a Fortaleza dos miseráveis e da Beira-Mar. Os retirantes que vêm das secas começam a formação das periferias, posteriormente das favelas, como temos hoje as favelas do Trilho, do Pirambu. Eles vêm de trem e vão se situando às margens dos trilhos, formando residências onde chegam. A favela do Trilho é um exemplo, virou uma das maiores favelas. (RIOS, 2006). Segundo a mesma fonte de referência, as secas estiveram presentes no processo de formação de quase todas as áreas periféricas de Fortaleza, sendo que esse processo, nem sempre, ocorreu de forma pacífica. Assim, o próprio fato de o retirante se instalar e fixar moradia é uma forma de resistência e enfrentamento. [...] Ocupar o trilho não é acomodação, é uma forma de lutar por um lugar no espaço urbano. Ocupar lugares no litoral, como Pirambu, Serviluz, também é forma de enfrentamento, eles não abrem mão de estar lá. Não é fácil continuar lá, então eles têm a sua força, a sua potência (ibidem). A partir daqui, oferece-se vez e voz a outra ilustre anônima, que emprestou a sua vista cansada, a esta pesquisadora, fazendo-a enxergar tantas coisas. 6.4 A História de Salviana Salviana Maria2, nome fictício da protagonista da história que se passa a relatar, tinha acabado de completar 80 anos, quando conversou com a pesquisadora. Isto aconteceu, na época em que o CIAPREVI-CE ainda era o Centro Comunitário Dom Lustosa. Nesse 2 Hoje, Salviana não está mais frequentando o grupo de convivência do CIAPREVI. O seu problema de glaucoma fez com que ficasse cega. Segundo se pode perceber pela leitura de sua história, o grupo musical de chorinho era a sua alegria. Perguntei por Salviana a várias idosas, a várias pessoas. Não souberam dizer bem, pois mora longe. Segundo dizem, saiu do seu quartinho, que era o seu espaço, o seu cantinho, e está na casa do filho, que a trata bem junto com a esposa, mas que não é mais a sua casa, o seu cantinho. Ela perdeu a vista, o cantinho, o grupo de convivência. Terá perdido a alegria de viver? Penso muitas vezes em Salviana e no sentido da cidadania que busquei estudar. Como estará Salviana? 154 momento, ela narrou a sua história. Foi ouvida, quando ainda não se havia definido, ao certo, que metodologia deveria ser adotada nesta pesquisa. Assim, foi ela quem primeiro ensinou à pesquisadora a ter uma noção dos sujeitos com os quais iria trabalhar. Aqui se encontra sintetizada a sua história: Salviana nasceu em 27 de dezembro de 1927, no Município de Baixa Verde que, segundo ela, em seu tempo, se chamava Cachoeirinha. Teve três irmãos que não estão mais vivos. Seus pais se chamavam Josiberto e Maria Ângela. Desde criança, sua vida foi assim: quando o tempo “estava ruim”, a família toda migrava para o Piauí, em busca de melhores condições de passadio. Quando as coisas melhoravam, de novo retornavam para o seu rincão, em terras cearenses. Isso se repetiu por várias vezes, até que não deu mais para continuar nesse vai-e-vem e eles acabaram se fixando de vez naquele Estado. Salviana diz que não teve infância, nem estudou. Foi a própria mãe que, no dizer dela, lhe ensinou o b-a-bá. Era uma criança isolada, não tinha amigos e não ia para a casa de ninguém. Começou muito cedo a trabalhar no roçado, ajudando a família. Salviana lembra que a última vez que ela teve que se retirar com a família para o Piauí, estava com oito anos de idade. Voltou para o Ceará, já adulta. Casou com vinte e um anos e, em 1951, teve o primeiro filho. Ela e o marido eram vendedores ambulantes, segundo ela “camelôs”. Vendiam de tudo e viajavam bastante para comercializar as mercadorias. O marido, conforme suas lembranças, foi quem continuou a ensinar-lhe a ler e a escrever. Mas ela não progrediu nessa área porque, ao ter o segundo filho, foi acometida de um derrame nos olhos e teve que se operar da vista. Conforme ela mesma diz, a operação “não valeu”, pois passou 8 meses internada. A doença a que Salviana se refere é glaucoma, que hoje a deixou cega. Em 1963, quando seu último filho estava com cinco anos, ela perdeu o marido e teve que criar os filhos sozinha. Teve que continuar vendendo coisas para sobreviver. Mesmo com a vista deficiente, Salviana passou a desenvolver outra estratégia de sobrevivência: foi fotógrafa profissional. “Batia fotos de casamentos, batizados” e, em uma dessas ocasiões, lá pelo ano de 1988, durante uma comemoração na casa de uma pessoa que recorreu aos seus serviços de fotógrafa, conheceu uma senhora que, segundo ela, chegou com uma saia rodada e toda enfeitada, falando-lhe que estava vindo de um evento no grupo de convivência de idosos do Teatro São José (localizado na Praia de Iracema). Salviana se interessou e pediu, imediatamente, para essa conhecida apresentá-la ao grupo. Foi assim que, naquele mesmo ano, aos 61 anos de idade, ela ingressou nas 155 atividades desse grupo de convivência. Ali deu vazão à sua vocação para o folclore. Salviana ia todas as quartas, quintas e sextas-feiras, pela manhã, participar dessas atividades no Teatro, continuando, até pouco tempo, paralelamente ao grupo de convivência do CIAPREVI-CE. Ela mesma foi quem, à época da entrevista com a pesquisadora, referiu: “Ainda sou de lá”. Explicou, assim, como começou a participar de danças folclóricas naquele grupo, mas, segundo ela, ainda poderia ter feito mais: gostaria que tivessem aproveitado melhor o seu talento para a “contação de histórias”. Lembra que, como integrante do grupo de dança do Teatro São José, participou de eventos em vários lugares, com bastante êxito. Mais recentemente, de uns cinco anos para cá, através de pessoas conhecidas, ingressou no Centro Comunitário Dom Lustosa e nas atividades do Grupo Musical do Chorinho. Afirma, com orgulho, que toca três instrumentos musicais, entre os quais o surdo e o pocheti, sendo este um instrumento musical originário dos índios tupinambás brasileiros, provenientes da região entre o Araguaia e o Tocantins. Numa atitude graciosa, imita o som desse último instrumento: “Aquele que faz: tssi ... tssi [...]”. Ressalta-se que esse grupo musical do atual CIAPREVI-CE costuma se apresentar, com muito sucesso, em várias solenidades de lugares diferentes do Ceará. Através da sua inserção nessa modalidade artística, Salviana até pouco tempo viajava para algumas cidades do Interior, para se apresentar com o grupo. No ano passado, ela viajou com o grupo para Aracati-Ceará. Faz questão de enfatizar que achou o lugar lindo. E exclama: “Ah, eu me sinto feliz, feliz [...]” Salviana não se restringiu a esses dois grupos. Quando as atividades do Projeto Conviver/STDS aconteciam em dias diferentes da semana, nos diversos centros comunitários da referida Pasta (ao todo, são 10 centros comunitários localizados em bairros periféricos da capital cearense), Salviana frequentava, além do grupo de convivência do Centro Comunitário Dom Lustosa, o grupo de idosos do bairro Mucuripe, onde se engajou na banda de música composta por idosos do grupo de convivência do local. Diz que chegou até a ser eleita “Rainha do São João” daquele grupo. Mas não é só isso: Salviana mencionou ter se engajado, também, até recentemente, no grupo de convivência que funcionava no bairro João XXIII, ressaltando: “Eu tenho carta branca para frequentar todos os grupos.” Lamenta, apenas, que, por causa da vista, ainda não conseguiu alçar maiores vôos, em termos artísticos: “Ah, se eu tivesse vista boa... Eu seria outra [...]” Quando perguntada sobre se conhecia os direitos dos idosos, ela respondeu: “Aqui vêm sempre pessoas dar palestras. Mas como eu participo, principalmente, das atividades do grupo de Chorinho aqui do centro, quando eu chego, já está quase terminando, e não dá para 156 entender muito bem...” Entretanto, enfatiza, ainda, que acha que o grupo é muito bom, oferece muitas atividades e não tem nada do que reclamar. Conclui: “Acho que aqui não tem problema algum. Está tudo bem por aqui, não falta nada pra gente”. Salviana costuma pedir a um dos filhos para ler para ela o Estatuto do Idoso: “Ganhei a cartilha e peço a ele para ler e fico escutando [...]” Demonstrando interesse pela cidadania política, Salviana diz que sempre fez questão de votar. Ela vota desde os dezoito anos de idade. Ela e o marido sempre votavam, “eram ativos” e ressalta que acha essencial votar. Só mais recentemente deixou de fazê-lo, quando soube que a Lei lhe dava esse direito e, também, porque a vista ficou pior. E enfatiza que não votou no ano passado porque, além de não “enxergar mais uma linha”, votava no Colégio Salomé, onde havia muitas brigas e, por isso, não se sentia bem indo votar. “Ainda hoje eu tenho meu título [...]”, faz questão de frisar. Salviana acha importante para a pessoa votar: “A pessoa tem que se valorizar em tudo e eu sempre tive muito gosto de votar. Só quando ficou difícil, deixei de votar. Soube que não era obrigada...” Afirma também que não acompanhou a campanha eleitoral pela televisão nas últimas eleições, ocorridas em outubro de 2008, para a Prefeitura de Fortaleza, mas sabe quem foi eleita: “E não foi a Luizianne?... Aliás, eu não vi os debates. Nós viajamos (o grupo de Chorinho, composto por nove integrantes do grupo de idosos do CIAPREVICE)”. E diz que não acompanhava os programas eleitorais, porque chegava em casa muito cansada. Ela demonstrou aplicar toda a sua energia física, participando rotineiramente dos grupos de convivência, constituindo estes a sua ocupação principal: “Aí eu chego em casa cansada e agarro no sono [...]” Por causa de seu engajamento no Grupo de Chorinho, Salviana aderiu à associação desse grupo. Ela se diz satisfeita por estar associada a esse Grupo, junto com os outros idosos integrantes dessa modalidade musical, vigente no CIAPREVI-CE, desde que ali funcionava o Centro Comunitário Dom Lustosa. Atualmente, os filhos de Salviana já estão casados. Ela tem o seu cantinho construído no terreno em que se encontra a casa de um dos filhos. Ali se sente à vontade para fazer o que quiser. No local, tem espaço até para uma pequena cozinha e banheiro. O espaço todo não é propriamente uma casa, mas é onde ela passa as horas em que não está fazendo rodízio nos grupos de convivência da STDS/CE. Fica muito pouco tempo em casa, porque não gosta de ficar só, mas não reclama da vida. Ela é católica, porém, a nora que é casada com o filho, em cuja propriedade mora, é de outra religião. Por causa disso, menciona que não tem muito diálogo com a nora, com quem já morou, na casa do filho, mas não se adaptou. 157 Mas faz questão de ressaltar que não tem nada contra a crença de ninguém e que respeita a religiosidade dos outros, não impondo, de forma alguma, a sua opinião. Como a casa do filho (que também é fotógrafo como ela foi) é muito frequentada por familiares da nora e por clientes, acha muito bom ficar reservada. Ela mesma prepara sua comida, mas quando passa o dia em casa se sente muito só. Salviana procura se manter sozinha, com a aposentadoria do marido, que conseguiu à custa de muita luta, porém, não sem dificuldades financeiras. Segundo ela, o que sobra depois do mercantil e das prestações de eletrodomésticos que ainda está pagando, só sobra para a merenda. Quando lhe sobra tempo dessa rotina movimentada, Salviana assiste à televisão (inclusive participa da celebração da missa em casa, assistindo pela televisão, porque já não frequenta a igreja, na sua comunidade). Diz que se relaciona bem com a vizinhança, apesar de não ter maior aproximação com os outros moradores do bairro: “Não tenho conversa com vizinhos.” E ressalta que não tem vizinhos idosos. Ela diz que eles costumam lhe perguntar: “Pra onde a senhora vai?” Ela responde, dizendo que vai para o grupo de convivência e, depois, tudo o que acontece no grupo ela conta para eles, mas ressalta que só conversa com pessoas da família e do grupo. Salviana, até o começo de 2009, ainda estava participando ativamente das oficinas de arte promovidas pelo recém-instituído CIAPREVI-CE. Ali, suas histórias sempre foram muito apreciadas e solicitadas nas apresentações que os idosos fazem em datas especiais. Ela irradia felicidade, quando lhe peço para me demonstrar essa sua habilidade: “Posso contar a história do D. Ratinho?”, diz ela, dando vazão a uma interessante e peculiar forma de dialogar com a arte. Ao mesmo tempo, trata logo de pedir desculpas pela sua memória, que já está, segundo ela, começando a falhar. Mesmo assim, as histórias folclóricas que ela conta são repletas de minuciosos detalhes que ela não esquece de ir tecendo, um a um, para enriquecer as narrativas. Outra habilidade de Salviana é o balé, no qual se iniciou no grupo de convivência de idosos do Teatro São José, o primeiro local onde começou a participar dessa modalidade de sociabilidade na velhice. Diz ela: “Se não fosse o problema da vista, ia fazer tudo. Entrava no folclore de novo. Meu Deus do céu, como eu faria... Tenho um álbum de fotografias do tempo em que eu entrei no Teatro (São José) [...]” Antes de concluir, Salviana se autodefine: “Eu sou uma sobrevivente do sofrimento: quando eu tinha seis anos, eu estava no seringal e aí meu pai era caçador. A gente acompanhava ele e era as onças tudo querendo pegar a gente... Aí, tudo o que é da natureza eu conheço [...]”. Salviana cita muitos remédios naturais: “Faço chá de pepaconha, cidreira... 158 Você não conhece [...]” Diz que agora passou a ir ao médico. Paga R$ 10,00 (dez reais) de mensalidade de um Instituto Previdenciário. A nora a levou para se consultar. Os exames acusaram que estava com anemia, mas segundo ela, não acusaram que estava com diabetes, nem com colesterol. Só a pressão arterial é alta e o problema do glaucoma continua. O medicamento que toma lhe provoca dor no estômago. E enfatiza: “Mês que vem tem o retorno [...]” Ao final do seu depoimento, Salviana agradece, dizendo: “Foi a primeira vez que a minha história saiu. Eu tenho muita vontade de cantar e dançar. Eu gosto muito de música que o pessoal não gosta.” E exemplifica a sua preferência musical: “...Luar do Sertão... No Chorinho (o grupo musical a que pertence) a gente canta e dança [...]” 6.5 A História de Salviana versus A necessidade da adoção de política gerontológica humanizadora, no CIAPREVI-CE “Se Salviana não pode ir até à cidadania, que a cidadania vá até Salviana [...]”. Procurou-se demonstrar, neste estudo, a partir de autores modernos, que a “cidadania outorgada” leva os indivíduos a receberem, “de mão-beijada”, o que o Estado considera bom para eles, no contexto de uma sociedade que tende a padronizar normas e regras de conduta cidadãs e a excluir quem não se enquadra nelas. A “cidadania conquistada”, por sua vez, leva os indivíduos a buscarem, por si próprios, o que consideram bom para eles e, por conseguinte, a fazer escolhas mais acertadas na vida. Essa vivência cidadã, contudo, resulta de um processo de amadurecimento pessoal que leva o indivíduo a descobrir o que realmente precisa para se sentir feliz, no meio em que vive, passando a usufruir, de fato, um senso de bem-estar, mediante uma lógica determinada subjetivamente por cada pessoa. O aludido senso de bem-estar, conforme demonstram as histórias de Salviana e de D. Mírian, segundo o parecer formulado por estudiosos da gerontologia (PASCHOAL, 2000), independe do nível de vida da pessoa, ou seja, de suas condições econômicas e de sua classe social, o que é tanto mais importante, levando em conta que todos precisamos viver em meio a uma mesma sociedade que continuará privilegiando os que considera mais capazes de exercer a cidadania. O que muda, nesse caso, em relação à vivência cidadã? Uma forma de responder a esse questionamento é dizendo que quaisquer 159 mudanças a serem buscadas deverão partir de uma nova compreensão acerca do cidadão sem cidadania. Diversos autores entendem que cidadania é um conceito que varia, tanto em relação à época quanto à sociedade da qual se está falando (DAGNINO, 1994). Outros a compreendem como um conjunto de direitos civis, sociais e políticos utilizados pelos cidadãos, de fato e de direito. Há inúmeras respostas possíveis para o conceito de cidadania, em termos teóricos. Mas, e em termos práticos? Nesse caso, o que dizer a respeito dos cidadãos sem cidadania? O paradigma clássico da cidadania liberal dispõe que os cidadãos são detentores de direitos e deveres, sendo que, no plano real, o cidadão comum arca mais com deveres do que se beneficia com os direitos. As populações subalternas do Nordeste brasileiro são um exemplo contundente do segmento de excluídos que empreende incessante busca por melhorias na qualidade de vida, em diversos aspectos, e quase nunca logra êxito. Salviana é um exemplo disso. Foi e voltou várias vezes de outro Estado, em busca de melhores condições de cidadania, até que ficou, definitivamente, em sua terra cearense e enfrentou como pôde as dificuldades, até os dias atuais. No Ceará, os períodos de secas e as adversidades climáticas contribuíram, historicamente, para sedimentar a pobreza, tanto na zona rural, quanto nas áreas periféricas da capital cearense. Porém, no que tange à realidade local, entre as décadas de 1960 e 1970, surgiram na capital cearense os movimentos sociais. As populações menos favorecidas se congregavam em torno desses movimentos, como estratégia política para reivindicar direitos e se fazerem ouvir pelas autoridades estatais. Por essa via, buscavam ampliar o seu espaço de participação democrática na esfera pública e, por conseguinte, de cidadania. Segundo Diógenes, Lima e Fernandes (1991, p. 39), [...] os movimentos sociais urbanos em Fortaleza, a partir dos anos 60, sobretudo no final da década de 70, têm constituído um marco no processo de formação de novos sujeitos com características diversas daqueles que sempre estiveram à frente do processo político econômico cearense. As autoras aqui referidas resgatam a gênese desse cenário de mudanças, mencionando que, já a partir da década de 1930, vinha-se verificando com maior intensidade um declínio do coronelismo em todo o Nordeste. Conforme explicam, essas mudanças no cenário sociopolítico foram favorecidas pela concomitante aceleração do processo de crescimento da urbanização e do desenvolvimento das atividades econômicas, que abriu as fronteiras do Estado, pelo rompimento das barreiras que, antes, separavam estados e 160 municípios. Esses fenômenos deram lugar a um rearranjo estrutural do cenário nordestino e, por extensão, da realidade cearense. Segundo Diógenes, Lima e Fernandes (1991, p.47), Fortaleza foi se desenvolvendo sob essa tônica, porém, enquanto o crescimento do comércio de exportação e da indústria imobiliária fazia com que a cidade fosse crescendo, em termos econômicos, “essa modernização não contribuiu para assegurar a autonomia da região, no que concerne à matéria-prima e à absorção da mão-de-obra local.” Os pobres, por sua vez, continuavam a demandar melhores condições de trabalho e moradia. Foi, portanto, a partir das aludidas décadas de 1960 e 1970 que as entidades organizativas foram se estruturando e ganhando espaço. No decorrer desse processo, assinalado pelo regime político autoritário, surgiram interlocutores que ajudaram a conduzir as populações excluídas nessa marcha em busca da cidadania. Nesse sentido, Diógenes, Lima e Fernandes (1991) se referem aos representantes eclesiais do Estado, que conseguiram estabelecer canais satisfatórios de diálogo com as classes pauperizadas, colocando-se ao lado das lutas dessas populações excluídas, que se inseriam em bairros diversos. Nesse contexto, os movimentos sociais apresentavam ao Estado, já nos anos que sucederam a 1950, uma pauta de reivindicações, entre as quais a luta por melhorias no custo de vida, e pelo direito à moradia, como era o caso das populações dos bairros Pirambu, Lagamar e Verdes Mares. É importante ressaltar o papel da Igreja nos interregnos repressivos às lutas populares. A Igreja penetrou nos bairros no momento de “fechamento” político com um discurso aparentemente não politizado, ou pelo menos não ligado diretamente a tendências político-partidárias, o que lhe conferia certa legitimidade diante do aparelho do Estado. A atuação da Igreja nos bairros, nesse momento, fazia-se em torno de interesses imediatos do povo: água encanada, luz, melhor transporte, custo de vida, loteamentos clandestinos, segurança no trabalho. São exatamente essas “lutas imediatas” conduzidas pela Igreja que caracterizam os movimentos de bairros nos períodos de maior repressão política (BARREIRA, 1985 apud DIÓGENES, LIMA; FERNANDES, 1991, p.61). Ainda, a partir de 1980, a Igreja cearense, pondo em prática os compromissos assumidos na Conferência de Puebla, colocava-se ao lado dos movimentos sociais, manifestando a sua “opção preferencial pelos pobres”. As entidades eclesiais, tais como as CEBs e a Cáritas foram, assim, de grande importância para o movimento de bairros de Fortaleza, atuando como instrumentos de conscientização popular (DIÓGENES; LIMA; FERNANDES, 1991, p. 70). O processo de democratização nacional que foi implementado, desde então, no Brasil, oportunizou que diversos movimentos sociais, emanados da própria sociedade civil, se 161 fizessem expressar na Carta Constitucional brasileira, aprovada em 1988. Esta, portanto, através da criação do Estado Democrático de Direito, se encarregou de alavancar o processo de democratização do País. Assim, as levas de excluídos sociais, antes considerados, apenas, como subcidadãos ou cidadãos parciais, segundo os parâmetros do modelo clássico de cidadania liberal, começaram a se impor mais efetivamente como sujeitos de direitos. Entende-se, portanto, que esta não tem sido uma tarefa simples, porque essa leva de pessoas que demanda políticas sociais de trabalho, moradia e assistência social, parece não ter aprendido a falar a mesma linguagem dos representantes estatais, os quais, muitas vezes, até para proteger essas populações, lhe oferecem mecanismos de tutela e não, emancipatórios, que poderiam capacitá-las para reconhecer o que elas próprias necessitam. Deduz-se, dessas considerações, que as sociedades democráticas como a brasileira poderiam ser incomensuravelmente engrandecidas, se os princípios constitucionais fossem colocados em prática pelos governos, através de projetos político-pedagógicos condizentes com essa nova noção de cidadania, que tão bem expressa as lutas das populações marginalizadas no campo dos direitos e exploradas, no campo dos deveres. Durante a pesquisa de campo, observou-se que os sujeitos ainda se encontravam pouco capacitados a externar as suas reais demandas de cidadania. Surpreendentemente, uma das idosas com quem se conversou, confidenciou à pesquisadora que consultava, em casa, a Bíblia, para obter respostas para questionamentos existenciais, quando se sentia incomodada com os fatos e as noticias preocupantes, divulgadas pela mídia. Essa circunstância leva a conjecturar-se que o Estado, como instância responsável pelo desenvolvimento de ações voltadas para a educação cidadã dos sujeitos, não pode deixar de se preocupar em criar condições para que esse segmento de pessoas seja beneficiado com metodologias voltadas para o desenvolvimento de uma consciência crítica, necessária à participação na vida social. Concorda-se com Heller (2004) no sentido de que a arte é um canal propiciador de mudanças, porque favorece a compreensão da realidade, de forma abrangente. Mais especificamente, em relação aos sujeitos deste estudo, considera-se que as técnicas teatrais, musicais e das artes cênicas, em geral, constituem vias de assimilação e memorização mais efetivas que as oferecidas pelos métodos tradicionais expositivos, porque criam condições para que os sujeitos se confrontem com a vida real, e contracenem com a realidade que os machuca, fere e faz calar. Afinal, não é essa a técnica que os autores de novelas brasileiros vêm pondo em prática, com tanto êxito, há várias décadas? 162 Não se pode esquecer que as perdas cognitivas advindas do envelhecimento e os parcos níveis de escolaridade dos sujeitos são fatores que, por si só, já contribuem para dificultar o processo de compreensão dos conteúdos expositivos. Acredita-se que só a partir de novos métodos de abordagem, em sintonia com a busca por qualidade de vida e bem-estar demonstrada pelos sujeitos, é que será possível aos técnicos estatais conhecerem efetivamente o contexto amplo das lutas de cidadania desses sujeitos. Nos moldes como o grupo funciona, observou-se que os sujeitos seguem uma rotina metodológica que, embora transcorra de forma prazerosa para eles, não consegue inseri-los na perspectiva da construção de uma cidadania emancipatória. Constatou-se que urge a adoção de métodos psicoterapêuticos para curar os traumas da vida passada e cotidiana desses sujeitos e, que, nesse contexto, a abordagem da questão da violência sob o prisma conceitual tradicional não parece a linha metodológica mais indicada. Nesse sentido, deve-se ressaltar que a questão da violência se encontra no esteio dos medos, da insegurança e talvez, da “síndrome de pânico”, manifestada por parte de um sujeito em especial. Acredita-se que essa temática deva estar na base, portanto, das metodologias a serem trabalhadas pelo CIAPREVI-CE. Conforme demonstrou a pesquisa, a luta básica de cidadania manifestada pelos sujeitos, se expressa na busca por melhor qualidade de vida e bem-estar na velhice. Embora, como foi explicitado, a qualidade de vida se expresse de forma diferente de indivíduo para indivíduo, trata-se aqui de oferecer a esses sujeitos o direito à vida e à vida plena. O ser idoso que aqui se expressou é um ser integral e não sedimentado ou compartimentalizado, em termos de cidadania civil, social e política. É um ser com idade avançada, mas que, mesmo assim, deseja usufruir, com satisfação, o que a vida tem ainda a lhe oferecer, mas que demonstrou não saber expressar a contento essa reivindicação principal. Assim, considerando que o CIAPREVI-CE constitui uma instância estatal voltada para a implementação do envelhecimento saudável, não poderá prescindir de mecanismos destinados a salvaguardar a integridade física, emocional e psicológica dos idosos assistidos, inclusive atuando junto a suas famílias, visando mediar as situações de conflito, como as que emergiram desta pesquisa, e favorecer a qualidade de vida e o bem-estar dos sujeitos de sua ação. Acredita-se que essa instância estatal necessitará de aperfeiçoar o seu quadro de recursos humanos, habilitando-o a realizar procedimentos de primeiros socorros e anamneses sistemáticas junto aos idosos (abordagens exploratórias acerca das condições de saúde geral 163 dos idosos engajados nos grupos, entre as quais se incluem as entrevistas), objetivando detectar possíveis quadros de enfermidade, e evitar episódios súbitos na saúde dos sujeitos. Ilustrando o que foi dito, refere-se que várias idosas entrevistadas mencionaram o trauma que lhes causou o fato de terem presenciado a morte súbita de um idoso, no momento em que este participava de uma apresentação artística de dança, no Centro Cultural Dragão do Mar. Desde então, essas idosas se ressentem em relação à falta de um profissional de enfermagem para ficar à disposição do grupo de convivência do CIAPREVI-CE, nos dias de reuniões. Outra idosa aludiu que, apesar de se esforçar, não conseguia se alfabetizar. Essas demandas, externadas individualmente pelos idosos, demonstram a necessidade do aspecto da conscientização reflexiva ser melhor trabalhado no grupo, em âmbito coletivo. Nesse caso, percebe-se que a linha metodológica utilizada pelos técnicos representantes do Estado, apesar de bem intencionada, necessita de ser revista, consoante os princípios do paradigma de cidadania moderno que está sendo considerado neste estudo, o qual se mostra compatível com o contexto da própria contemporaneidade. Nesse mister, não se pode deixar de levar em conta uma concepção ideal de cidadania, emanada do paradigma legal consubstanciado pela Constituição Federal, pela Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), pelo Sistema Único da Assistência Social (SUAS) e pelo próprio Estatuto do Idoso, segundo a qual o Estado assume o dever de oferecer políticas sociais públicas de qualidade, que possam, efetivamente, contemplar os direitos aos quais os idosos fazem jus, como público-alvo direto da Assistência Social. Entende-se, porém, com os especialistas que respaldaram este estudo, que a noção desses direitos deve ser amadurecida pelos idosos, a partir de um canal de conscientização oferecido pelo Estado. É sob esse prisma que se percebe que as necessidades do cidadão, nem sempre, correspondem às formuladas pelo Estado. Na verdade, está havendo a falta de uma sintonia entre “a música que o Estado está orquestrando e a que os sujeitos estão buscando dançar”. Ainda ecoam bem nítidas as palavras ouvidas de uma das entrevistadas que sintetizou o que se estava procurando explicar, ao mencionar: “Doutora, eu tenho vontade de chamar uma doutora dessas e dizer assim: venha cá, minha filha, diga, diga pra mim tudo o que você quer dizer, fale, fale, porque eles não estão entendendo nada [...]” Na realidade, conforme Arroyo (1999), o que está sendo questionada é “a cidadania outorgada e não-conquistada”. Isso porque essa modalidade de cidadania não resulta de uma demanda dos próprios grupos interessados, conforme outros autores: 164 Quando um grupo social reconhece suas necessidades, é através de sua participação na esfera política que se viabilizará a transformação das necessidades em direitos. Isso ocorre num processo que se dá historicamente, ou seja, sua dinâmica é própria a cada época (BOARETTO; HEIMANN, 2003, p. 108). Sob a supracitada ótica, a cidadania pode ser construída como uma estratégia legítima de conscientização popular que, se bem conduzida pelo Estado, pode surtir efeitos positivos. Para Borges (2003), a PNI, regulamentada pela Lei 8.842/94, surgiu para assegurar os direitos sociais dos idosos, criando condições para promover sua autonomia, integração e participação efetiva na sociedade (art.1º). Segundo esse autor, essa meta ainda não se firmou em termos de direitos sociais, por ter sido alvo de destinação de recursos irrisórios, salvo em algumas iniciativas esporádicas. Esse é um aspecto que abrange a cidadania sob o ponto de vista das relações com o sistema capitalista, vigente no Brasil. Na verdade, percebe-se que faltam recursos, mas faltam, também, políticas gerontológicas humanizadoras, voltadas para esse segmento específico de idosos. Ao encerrar este estudo, o pesquisador se permite revelar um sonho: nele, imagina um coletivo repleto de idosos, caracterizados com os seus trajes típicos, chegando à casa de Salviana e, ali, tirando-a da solidão em que se encontra e, em uma atitude de genuína confraternização coletiva, todos juntos protagonizam uma apresentação artística musical do “Grupo de Chorinho Recordar é Viver”, em meio à via pública, para quem quisesse assistir. Imagina-se, em seguida, que essa ideia poderia ser regulamentada e colocada em prática, através de uma programação sistemática, que poderia ser levada a idosos dependentes de vários bairros da capital cearense. Acredita-se que, também por meio dessa linha de atuação metodológica, a luta pela cidadania, manifestada pelos sujeitos, encontraria um sentido prático para a luta por visibilidade social, que tanto buscam. O slogan desse programa estatal seria: “se o cidadão não pode ir até a cidadania, a cidadania vai até o cidadão [...]”. 165 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS Optar pela integração, rejeitando o isolamento social, mostrou ser o principal indicador da luta dos sujeitos por melhor qualidade de vida na velhice. Esta constatação, a princípio hipotética, se confirmou, ao término da pesquisa. Entretanto, a integração real, demonstrada pelos sujeitos, se refletiu, principalmente, no nível da integração desses, com os seus pares, no grupo de convivência e não com a sociedade, em geral. Nesse sentido, a cidadania mostrou estar cerceada, basicamente, ao espaço do CIAPREVI-CE e, mesmo assim, requerendo ser aprimorada, para ser melhor vivenciada pelos sujeitos. Estes revelaram o inegável bem-estar que experimentam nesse locus de convivência comunal e o quanto se mostram agradecidos ao Estado por terem a oportunidade de vivenciar essa experiência, esquecendo que são cidadãos de fato e de direito. Desse modo, seja de forma subliminar ou literalmente, os sujeitos demonstraram que esse conceito de integração necessita ser vivenciado no contexto social amplo, para, só então, dar cumprimento efetivo ao paradigma da nova cidadania, que prevê sujeitos ativos, participativos e integrados ao contexto social macro, lutando efetivamente pelo que consideram ser os seus direitos. Essa postura, evidentemente, urge ser trabalhada em termos de consciência crítica pelo CIAPREVI-CE, conduzindo, paulatinamente, os sujeitos à compreensão do seu valor social, enfatizando a importância de protagonizarem as lutas do seu interesse. Acredita-se que, nesse aspecto, reside a principal diferença entre a cidadania outorgada e a cidadania conquistada, que se efetiva a partir de lutas e não do comodismo. Lastimavelmente, alguns sujeitos entrevistados, na faixa etária entre 60 e 61 anos, consideraram-se sem chances de aprender a ler e mostraram-se resignados em vivenciar uma cidadania, assinalada pelo contínuo anseio por programas de lazer e diversão. Essa demanda é justa e aceitável, desde que não exclua outras possibilidades de realização dos sujeitos na sociedade, tornando mais amplo o raio de abrangência da cidadania que vivenciam. Em relação a esse mesmo contexto, faz-se alusão a outro sujeito, vivenciando uma velhice mais avançada e que, mesmo na condição de analfabeto, demonstrou estar buscando se integrar à tecnologia da informação, através da aprendizagem dos mecanismos de acesso à Internet. Esses exemplos apresentados demonstram que o mito da velhice limitada e com poucas possibilidades de realização social exerce uma repercussão desfavorável junto a alguns sujeitos desta pesquisa, necessitando, portanto, ser desmistificado, no contexto das 166 metodologias voltadas para a melhor qualidade de vida e bem-estar dos idosos participantes do grupo de convivência do CIAPREVI-CE. Cumpre enfatizar que, de modo geral, a pesquisa ensejou a constatação de que a maioria dos sujeitos se mostra afetada desfavoravelmente pelos estímulos sociais negativos, os quais, por sua vez, se regem em valores e padrões relacionados à juventude e à beleza do corpo, refutando as pessoas idosas. Questionando esse aspecto, enfatiza-se que a gerontologia moderna não ignora que os mitos e o rechaço à velhice provêm, principalmente, de atitudes e comportamentos que se regem pelo imaginário social. Nesse sentido, pode-se compreender por que os sujeitos idosos da pesquisa, que apresentaram uma limitada visão de suas possibilidades de realização social, tendem a utilizar mecanismos de compensação psicológicos, para se defenderem das condições adversas, resultantes, tanto de suas histórias de vida quanto do meio social em que vivem. Dentro da lógica que está sendo trabalhada, torna-se possível compreender também, em parte, por que os sujeitos desta pesquisa elegeram a luta por melhor qualidade de vida e bem-estar como a principal luta no contexto da cidadania. Em decorrência dos aspectos citados, violência e conflito foram duas palavras que não quiseram calar neste estudo e que por isso emergiram da fala dos sujeitos. E por que se afirma isso? Porque não deixou de ser constrangedor o fato de constatar-se que alguns sujeitos considerados neste estudo simplesmente querem “esquecer” os traumas da vida passada, ignorando as notícias da mídia e refugiando-se em atividades prazerosas em casa, no grupo de convivência do CIAPREVI-CE e em outros espaços comunitários. Lamentavelmente, constatou-se que não conseguirão fazê-lo, a partir de metodologias convencionais, através das quais poderão passar a conhecer quais são os tipos mais comuns de violência cometidos contra as pessoas idosas, ao invés de, como sujeitos feridos pela vida, serem humanitariamente tratados e acolhidos com psicoterapias adequadas. Acredita-se que continuará tendo maior utilidade prática, para sujeitos que se mostram ressentidos com as circunstâncias adversas da vida, a busca por ouvir o canto dos passarinhos e as músicas tocadas nos programas de rádio, ou, ainda, a busca por ensinamentos bíblicos, para melhor compreenderem o sentido dos seus dramas, do que permanecerem memorizando os tipos de infortúnios que a vida lhes impôs e que, para muitos, continua lhes impondo, através das diversas formas de violência com as quais convivem diariamente. Salienta-se que idosos configurados no perfil dos sujeitos aqui considerados necessitam, não especificamente, de adquirirem conhecimentos técnicos, mas de transmitirem 167 às gerações mais novas as suas experiências, que os muitos anos de vida e os próprios sofrimentos os fizeram assimilar, na prática. Sendo-lhes oferecida essa oportunidade, ser-lhesá propiciada, concomitantemente, a oportunidade de se sentirem parte da sociedade, parte de suas famílias e pessoas com possibilidades de exercer um papel social. Então, mediante esses dados salientados da pesquisa, por que não lhes oferecer metodologias compatíveis com a aquisição ou o aprimoramento dos hábitos e práticas saudáveis de vida que desejam alcançar, ensinando-lhes, por exemplo, a buscar controlar a hipertensão arterial, e a cuidar melhor da saúde? Por que não procurar oferecer a esses sujeitos os direitos de cidadania que eles estão reclamando, na área da saúde? Ratifica-se que eles mencionaram que receiam ser subitamente acometidos por problemas graves de saúde, como o que presenciaram em um evento público recente, quando um idoso veio a falecer, enquanto se apresentava em um número de dança com outros idosos. Considerando-se, ainda, que a visibilidade social é uma meta reclamada pelos sujeitos, ressalta-se a necessidade de serem buscadas mais parcerias entre o CIAPREVI-CE e outras entidades culturais, possibilitando que os talentos artísticos dos sujeitos sejam levados a um maior número de pessoas. É importante que esse segmento de idosos seja favorecido com políticas públicas, que proporcionem aos sujeitos a aprendizagem de novas técnicas instrumentais e favoreçam a sua participação em atividades culturais e sociais, atendendo ao que preconiza o Capítulo V do Estatuto dos Idosos. Acredita-se que o bem-estar dos sujeitos está, também, diretamente relacionado à qualidade das relações intrafamiliares. Nesse caso, o CIAPREVI-CE necessitará buscar a contínua capacitação da sua equipe de técnicos, visando intermediar os conflitos familiares que estão contribuindo para a má qualidade de vida dos sujeitos, procurando envolver as famílias na programação desenvolvida pelo próprio centro e desenvolvendo técnicas de abordagem de grupo. Obviamente, não se desconsidera que o Estado necessitará desembolsar maior aporte de recursos para o atendimento desse conjunto de medidas. Nesse caso, deve-se esclarecer que não se obteve acesso à programação financeira do CIAPREVI-CE, o que, certamente, oportunizaria reflexões mais balizadas. Acredita-se que as contribuições mais efetivas deste estudo giram em torno do reconhecimento de que tanto as relações intergeracionais quanto as intrageracionais constituem uma condição imprescindível à cidadania e à vida democrática, em sociedades dinâmicas, nas quais os indivíduos necessitam buscar, continuamente, mecanismos individuais de ajuste e reajuste, para se manterem socialmente ativos. 168 Por outro lado, a disparidade entre legislação voltada para os sujeitos idosos e a forma real como estes sujeitos vivenciam a cidadania impõe ao Estado a inclusão de novos mecanismos de valorização da pessoa idosa, procurando compensar as falhas estruturais de um sistema social que privilegia basicamente o trabalho humano. Nesse sentido, faz-se necessária a adoção de políticas gerontológicas que unam normas e leis a uma ação estatal efetiva e eficiente, partindo do pré-requisito da valorização e da participação da pessoa idosa na formulação dessas políticas. Só assim, o conceito de cidadania outorgada perderá o sentido, dando lugar à cidadania conquistada, dentro de um processo legitimamente elaborado e aceito pela categoria de idosos, em geral. 169 REFERÊNCIAS ABREU, Haroldo. Para além dos direitos. Cidadania e hegemonia no mundo moderno. Rio de Janeiro: UFRJ, 2008. ALMEIDA, Vera Lúcia Valsecchi de. Modernidade e velhice. In: BARROS, Myriam Moraes Lins de. Serviço Social e Sociedade: Velhice e envelhecimento. n. 75 – Ano XXIV. [S.l.]: Cortez, 2003. ALVES, Rubem. Se eu pudesse viver minha vida novamente: textos selecionados [org. Castro, Raissa Olivera]. 2.ed. Campinas, SP: Verus Editora, 2006. ANDRADE, Luis A. Gama. O município na política brasileira: revisitando Coronelismo, enxada e voto. In: Lúcia Avelar; Antônio Octávio Cintra. (Org.). Sistema Político Brasileiro: uma introdução. 1. ed. São Paulo: UNESP, 2004, v. 1, p. 205-222. ARAÚJO. Lyrysse Porto de. Pontos Turísticos de Fortaleza (avenidas oficiais e suas praças. 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Coleção A Obra Prima de Cada Autor. 2007. 176 ANEXO A - FICHA DE CADASTRO GOVERNO DO ESTADO DO CEARÁ Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social – STDS Centro Integrado de Atenção e Prevenção à Violência Contra a Pessoa Idosa Coordenadoria de Proteção Social Especial Rua Ildefonso Albano, 725 – Aldeota PROJETO CONVIVER Nome: _________________________________________________________________________________ Apelido: _______________________________ Naturalidade: _____________________________________ Fone/Fax: (85) 3101.2728 Cep.: 60.115-000 Fortaleza - CE Data de Nascimento: ____/____/___ Idade: ______________________________________ Sexo: ( ) M ( ) F Escolaridade: ________________________________ Carteira de Identidade: ____________________________ CPF ____________________________ Endereço: _______________________________________________________________________________ Ponto de Referência: ______________________________________________________________________ Bairro: _____________________________________ Cidade: _____________________ UF: ____________ Fone: ____________________________________ Estado Civil:___________________________________ Em caso de emergência avisar a: ___________________________-_________________________________ Endereço: __________________________________________________Telefone: ____________________ Tem plano de saúde? ( ) sim ____________________________________________________ ( ) não Composição Familiar: ___________________________________Número de filhos: ___________________ Nome Parentesco Idade Profissão Como é a relação com sua família? __________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ Sistema de moradia: ( ) própria ( ) alugada ( ) cedida ( ) ____________________________ Características da habitação: ( ) casa ( ) apartamento ( ) barraco ( ) ______________________ Tipo de moradia: ( ) alvenaria ( ) taipa ( ) madeira ( ) ________________________________ Número de cômodos: ________________ Sistema de abastecimento de água: ( ) rede pública ( ) poço ( ) chafariz ( ) _______________ Bebe água: ( ) filtrada ( ) fervida ( ) mineral ( ) sem tratamento ( ) ___________________ Aposentado (a): ( )sim , valor recebido R$_____________________________________ ( ) não Recebe algum tipo de benefício? ( ) sim, valor recebido R$________________________ ( ) não Exerce algum tipo de atividade rentável? ( ) sim, valor mensal _____________________ ( ) não Quem administra seu dinheiro? ________________________________________________________ 177 Renda Familiar : ( ) 0 a 1 salário mínimo ( ) 1 à 3 salários mínimos ( ) Mais de 3 salários mínimos Responsável financeiro pela família_________________ N°. de contribuintes: __________________ Possui algum problema de saúde: ( ) sim ________________________________________ ( ) não Toma alguma medicação diária:( ) sim _________________________________________ ( ) não Uso de Bebidas Alcóolicas / Drogas: ( ) sim _____________________________________ ( ) não Coisas que gosta de fazer ___________________________________________________________ Participa de algum outro grupo de idosos ( ) sim __________________________________ ( ) não O que representa para você fazer parte deste grupo? ____________________________________ __________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ Obs.: __________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ 178 ANEXO B - AUTORIZAÇÃO PARA REALIZAÇÃO DA PESQUISA AUTORIZAÇÃO Pelo presente, autorizo RUTH DOS MARTINS COELHO a realizar sua pesquisa de Mestrado junto às idosas do grupo de convivência deste Centro Integrado de Atenção e Prevenção à Violência contra a Pessoa Idosa CIAPREVI-CE. Fortaleza-Ceará, Julho de 2009. Maria Aldacir Simões Coordenadora do CIAPREVI-CE 179 ANEXO C - MATÉRIA JORNALÍSTICA 180 APÊNDICE A – FOTOS DOS IDOSOS 181 182 183 184 185 APÊNDICE B - QUADROS SINTÉTICOS DAS ESTRATÉGIAS DE CIDADANIA ADOTADAS PELOS SUJEITOS (1ª Amostra): Sujeitos entre 60-64 anos Sujeito 1 - O que faz para exercer a cidadania? Descrição Sucinta do Sujeito Maria Aldeíde Idade: 60 anos. É divorciada. Teve oito filhos, dos quais sete estão vivos. Começou a participar do grupo de convivência, há quatro anos, por indicação de uma amiga. O marido a reprimia em casa e ela teve que trabalhar em atividades comerciais para sobreviver com a família. Teve boas condições socio-econômicas, quando criança, mas o pai perdeu tudo no jogo. Estratégias extragrupo CIAPREVI adotadas pelo sujeito 1. Busca meios alternativos para preservar a saúde física e psicológica, desenvolvendo autocuidados; 2. Mantém uma permanente rede de amigos; 3. Realiza programas de lazer periódicos com amigos, quando tem oportunidade; 4. Desenvolveu a espiritualidade, para lidar com o medo da violência; 5. Desenvolveu mecanismos de desestresse, ouvindo música; 6. Assiste aos noticiários, mas tem uma intencional rejeição à mídia televisiva, por causa das notícias sobre violência. Atividades Positivas realizadas no CIAPREVI 1. Participa de atividades que considera gratificantes no CIAPREVI, tais como forró e dança. Elementos do Discurso que propiciaram a análise “O único desgosto que eu tenho na vida é o de não ter aprendido a ler. Se eu tivesse estudado, minha vida seria diferente. Agora eu não aprendo mais nada não, minha filha....” “Antes o meu bairro era tranquilo, a gente podia ficar na rua descansada... Hoje, quando dá o primeiro tiro eu já entro....” “Porque eu já trabalhei muito. Trabalhei na bodega dez anos... Na padaria quatro anos... Eu não quero trabalhar mais com isso porque é trabalho demais, é luta demais... Eu vivia prisioneira...” Atributos favoráveis (positivos) ou desfavoráveis (negativos) ao exercício da cidadania, manifestados pelo sujeito 1. Atributos Positivos: É autônoma e independente. Busca cuidar da saúde pessoal e familiar. 2. Atributos Negativos: Não alimenta expectativas quanto a conseguir aprender a ler na fase atual da vida, apesar de estar vivenciando o início da velhice; É acomodada e não se mostra disposta a interferir nos problemas da coletividade; Não procura criar ou ampliar espaços de participação social, mas de lazer; Cuida dos próprios problemas e não dos coletivos; Desistiu do aperfeiçoamento pessoal e não se mostra interessada em enfrentar novos desafios. Demonstra buscar compensar a intensa vida laborativa que viveu precocemente com atividades de lazer frequentes. Vive uma intensa situação de conflito em relação à questão da violência em seu bairro, o que a impede de ampliar suas relações sociais no bairro onde mora. 186 (1ª Amostra): Sujeitos entre 60-64 anos Sujeito 2 - O que faz para exercer a cidadania? Descrição Sucinta do Sujeito Maria Heloíza Idade: 61 anos. É viúva e tem uma filha de 41 anos, que é especial. Recebe pensão do marido e exerce a profissão de lavadeira. Já foi empregada doméstica. Hoje sabe ler e escrever satisfatoriamente, após ter começado a participar, há oito anos, do grupo de convivência. Estratégias extragrupo CIAPREVI adotadas pelo sujeito 1. Participa de um movimento religioso, através da qual, semanalmente, visita e presta assistência espiritual a doentes e idosos; 2. Busca meios alternativos de reajustamento psíquico e emocional, fazendo exercícios de meditação, para saber lidar com as situações estressoras; 3. Mantém permanente rede de amigos; 4. Realiza programas de lazer periódicos com familiares e amigos; 5. Mantém-se conectada com os assuntos da mídia; 6. Assiste frequentemente aos telejornais; 7. Participa de palestras religiosas na Igreja e de reuniões, nas quais reflete sobre a realidade, à luz dos princípios bíblicos. Atividades Positivas realizadas no CIAPREVI 1. Participa e ajuda outros idosos, nas aulas de alfabetização; 2. Participa de oficinas de bordado, como lazer preferencial; 3. Participa e demonstra compreender os assuntos tratados nas palestras técnicas sobre cidadania. Elementos do Discurso que propiciaram a análise “Eu quero melhorar mais. É por isso que eu faço essas aulas...” “Hoje ela falou sobre os tipos de violência...É assim: tem a negligência, a autonegligência...” “Domingo agora nós fomos para um piquenique lá no Aquiraz... Bom que só!” “Eu que ajeito tudo para ela (a filha excepcional)” “Todas as noites a gente vai conversar em frente de casa, mas a gente só discute sempre sobre futebol... (E dá muitas gargalhadas com as derrotas do time adversário...) Enfatiza, contudo: “Mas não tem briga não, é só por animação, não tem confusão não....” Atributos favoráveis (positivos) ou desfavoráveis (negativos) ao exercício da cidadania, manifestados pelo sujeito 1. Atributos Positivos: É proativa; participativa; autônoma; independente; solidária e aberta aos problemas de pessoas da comunidade. Busca o aperfeiçoamento pessoal e colabora com o aperfeiçoamento de outros. Percebeu-se que o modelo comportamental da idosa se adéqua aos princípios do novo paradigma de cidadania. 2. Atributos Negativos: Necessita de ser trabalhada em relação ao enfrentamento da questão da violência em seu bairro; Demonstra recear situações de conflito com outros moradores do bairro, buscando conversar sobre amenidades, nas rodas de conversa que mantém todas as noites na calçada, em frente à sua casa. 187 (1ª Amostra): Sujeitos entre 60-64 anos Sujeito 3 - O que faz para exercer a cidadania? Descrição Sucinta do Sujeito Maria Franciete. Idade: 64 anos. É pensionista do marido. Ficou viúva há 27 anos, quando tinha 38 anos. Sabe ler e escrever, satis-fatoriamente. O marido foi assassinado. Tem três filhos homens, sendo que dois moram em casa e um, que é portador de HIV, mora na rua. Ficou órfã de mãe muito cedo, tendo sofrido violência da madrasta. Fugiu de casa e casou adolescente. Estratégias extragrupo CIAPREVI adotadas pelo sujeito 1. Participa das atividades de vários grupos de convivência da Capital, inclusive aos domingos; 2. Busca programas de lazer, participando frequentemente em excursões; 3. Mantém rede de amigos permanente; 4. Busca mecanismos de desestresse da rotina doméstica, frequentando restaurantes com os filhos, semanalmen-te; 5. Busca programas de lazer, nos finas de semana; 6. Procura cuidar da espiritualidade, para lidar com o medo da violência, fazendo orações; Atividades Positivas realizadas no CIAPREVI 1. Participa das aulas do curso de informática; 2. Gosta de ouvir as palestras sobre cidadania, em todos os grupos que frequenta, mas demonstrou não entender bem as questões tratadas pelos técnicos, que considera “pessoas sensacionais”. 3. Gosta de dançar e de fazer crochê. Elementos do Discurso que propiciaram a análise “Às vezes eu saio assim pra cá, é para esquecer os problemas...” Ela se benze e diz: “Eu tenho o maior medo de caroço, acredita?”; Atributos favoráveis (positivos) ou desfavoráveis (negativos) ao exercício da cidadania, manifestados pelo sujeito 1. Atributos Positivos: É autônoma, independente; lúcida, ativa e Conseguiu aprender a ler e a escrever satisfatoriamente; “Com essa violência toda em minha vida, eu ainda gosto, acredita?” (Sobre noticiários policiais) Busca o aperfeiçoamento intelectual e tem interesse em desestressar, através da participação em vários grupos de convivência. “Eu tenho vontade que meu filho volte porque ele me ajudava o dia todo fazendo as coisas dentro de casa... Se ele voltasse, eu ia voltar a fazer o meu crochê...” 2. Atributos Negativos: “Quer saber de uma coisa? Eu queria mesmo passar o dia todo no computador, só escre-vendo, só mandando e-mail, recebendo e-mail. Pronto, quer saber? É isso!” Teme ficar doente, mas demonstra autonegligência com a saúde, porque demora a procurar os médicos; Procura aprender a lidar com os problemas pessoais, mas não desenvolveu abertura para lidar com os problemas da coletividade; A principal situação de conflito vivenciada pela idosa é desfavorável ao exercício da cidadania, uma vez que, além de sofrer com a separação do filho, que é portador de HIV positivo, demonstra insegurança com a questão da insegurança no próprio espaço da moradia. Isso acontece porque os outros filhos que moram com ela costumam trazer pessoas desconhecidas para casa, entre as quais mulheres com as quais se relacionam afetivamente. 188 (2ª Amostra): Sujeitos entre 65-69 anos Sujeito 1 - O que faz para exercer a cidadania? Descrição Sucinta do Sujeito Maria Verônica Idade: 66 anos É viúva, mora com um casal de filhos solteiros. Seu maior interesse é reorganizar a vida sentimental. No grupo ela encontrou um amigo habitual na dança. Sente-se solitária em casa e começou a criar gatos descontroladamente, não sabendo como lidar com esse problema. É semi-analfabeta e participa das aulas de alfabetização ministradas no CIAPREVI-CE. Estratégias extragrupo CIAPREVI adotadas pelo sujeito 1. Participa de vários grupos de convivência, buscando sobretudo lazer; 2. Administra a rotina doméstica, desenvolvendo mecanismos de desestresse ouvindo música, enquanto realiza as atividades de casa; 3. Participa de pastorais religiosas para exercitar a espiritualidade; 4. Desenvolve uma programação de lazer semanal, mas ainda não se mostra satisfeita. Atividades Positivas realizadas no CIAPREVI 1. Participa das atividades lúdicas, entre as quais música e forró; 2. Engajou-se nas aulas do Curso de Alfabetização. Elementos do Discurso que propiciaram a análise “Os gatinhos em casa estão dando muito trabalho...Uma coisa que eu queria era que uma pessoa recolhesse os animais que eu gosto. Outro dia eu vi na televisão uma casa que recolhe os animais...” “Eu coloco a televisão e o rádio e fico escutando...” “A minha filha não gosta muito de conversar comigo não... Ela chega da Faculdade e fica lá no quarto dela, só conversa quando tem assim um aniversário...” “Sexta-feira não tem nada (no CIAPREVI) só tem a reza comum mesmo, em casa, de noite...” “No Pirata eu vou, mas eu não danço porque o meu marido morreu faz só um ano e sete meses e eu não to dançando...” “Ah, lá em Beberibe eu vou pra praia, jogo de bola com meus netos, brinco de quebra-cabeças... Sábado à tarde a gente vai passar as tardes lá na praia...” “Às vezes eu converso e às vezes não, porque meus vizinhos são crentes e eles passam a noite toda tocando violão, cantando e os da frente gostam de fofoca e eu não gosto não...” “Assim, nos dias que não tivesse aonde a gente ir, tivesse um esporte, uma coisa assim pra gente fazer, outra coisa pra gente sair... passeio, mais pessoas pra conversar...” Atributos favoráveis (positivos) ou desfavoráveis (negativos) ao exercício da cidadania, manifestados pelo sujeito 1. Atributos Positivos: É ativa, e independente; Busca desestressar e superar a solidão, participando de vários grupos de convivência. Tem nível de escolarização insatisfatório, mas busca alfabetizar-se. 2. Atributos Negativos: Ressente-se com a solidão familiar. Não sabe como lidar com os problemas da vida pessoal (falta de diálogo com a filha solteira que mora com ela) e não demonstra ainda aptidão para se projetar ao coletivo. Não mantém vizinhança; diálogo com a Demonstra buscar compensar a solidão com a ampliação da programação de lazer semanal em outros espaços comunitários. 189 (2ª Amostra): Sujeitos entre 65-69 anos Sujeito 2 - O que faz para exercer a cidadania? Descrição Sucinta do Sujeito Maria Francisca Idade: 68 anos É viúva. Administra todas as despesas de sua casa, mas a filha é quem se encarrega da maioria dos serviços domésticos. Reside com uma filha e dois netos. Teve um filho que foi assassinado. Estudou até a 5ª série. Recebe aposentadoria do marido e complementa os seus vencimentos com o aluguel de uma parte de sua casa, no valor de R$ 1.000,00 (mil reais). Ao nascer, foi adotada por um casal abastado. Quando o seu pai adotivo faleceu, deixou-lhe um imóvel bastante valorizado, mas os herdeiros legítimos contestaram na Justiça. Ela ganhou a questão, por ter sido devidamente esclarecida por advogados amigos. Quando na juventude, sofreu tentativa de estupro, por parte de um dos irmãos de criação. Hoje partici-pa de excursões siste-máticas e realiza pas-seios com um grupo de amigas permanentes. Estratégias extragrupo CIAPREVI adotadas pelo sujeito 1. Administra a sua casa e as despesas familiares; 2. Adotou mecanismos de reajustamento, para instrumentalizar a vida cotidiana, trazendo a filha e os netos para morarem com ela; 3. Participa diariamente das celebrações religiosas de sua Igreja; 4. Mantém uma rede permanente de amigas no bairro; 5. Participa periodicamente de turismo de lazer, e deixa a filha tomando conta da casa; 6. Mantém uma rede de amigos no serviço público, que a orientam em diversas áreas; 7. Engajou-se em atividades gratificantes em vários grupos de convivência. Atividades Positivas realizadas no CIAPREVI 1. Desestressa, participando de atividades de dança no CIAPREVICE; 2. Mantém uma rede de amigas no CIAPREVI-CE; 3. Participa das palestras proferidas pelos técnicos. Elogia a equipe de profissionais, mas não soube dizer ao certo os assuntos tra-tados nessas ocasiões. Elementos do Discurso que propiciaram a análise “Foi assim: A médica disse assim: Olha, se a senhora quiser passar mais um janeirozim, não se esforce muito...” “Aí eu disse: Rosa, não trabalhe não, fica comigo, que não falta nada pra ti, nem pra teu filho...” “Quando eu viajo, eu já deixo o dinheiro que eles vão precisar...” “Eu disse: Rosa, vamo partir esse alpendre e um pedaço da sala, vamo alugar isso aqui, pra quando eu morrer vocês ter tudo na mão e não precisar de ninguém, só de Deus...” “Aí eu tenho um amigo, que é advogado, ele me aconselhou assim...” “Eu sou a pessoa mais feliz do mundo, acredita? Mais feliz do mundo!...” “Eu sempre tive fé em Deus que eu dizia: Eu ainda vou sair dessa, eu ainda vou me levantar ... Eu vou mostrar como eu vou vencer, eu vou vencer...” “Eu gosto de dançar porque a gente fica tão leve, mulher, os problemas a gente esquece... “Eu passei por muito problema e agora eu quero esquecer, eu não quero nem lembrança de problema...” Atributos favoráveis (positivos) e desfavoráveis (negativos) ao exercício da cidadania, manifestados pelo sujeito 1. Atributos Positivos: É autônoma, independente; proativa, e Alimenta sonhos e mantém uma rede permanente de amigas; Tem uma espiritualidade bastante desenvolvida, que a faz contornar os problemas decorrentes dos traumas passados; Busca desestressar no grupo de convivência e fazendo programas de lazer nos fins-de-semana com as amigas; É solidária e aberta para ajudar os outros. 2. Atributos Negativos: Ressente-se com o problema da violência, o que restringe os seus espaços de cidadania; Os traumas da vida passada e a rejeição materna, ao nascer a fazem buscar atividades prazerosas nos três espaços de socialização investigados. 190 (2ª Amostra): Sujeitos entre 65-69 anos Sujeito 3 - O que faz para exercer a cidadania? Descrição Sucinta do Sujeito Maria Felismina Idade: 69 anos; É viúva e tem uma história de vida assinalada por tragédias familiares, pois teve familiares assassinados. Mora com filhos casados, que têm problemas com alcoolismo, e bebem nos fins de semana. Ela se refugia na casa de praia da filha e só volta durante a semana. Tem dotes para o canto e a música. É alfabetizada. Estratégias extragrupo CIAPREVI adotadas pelo sujeito 1. Participa das atividades de vários grupos de convivência durante a semana; 2. Mantém uma rotina de lazer diária, para manter o bem-estar; 3. Adota mecanismos de desestresse, ouvindo música, em casa; 4. Evita situações conflituosas, viajando nos fins de semana; 5. Aciona as amizades para conseguir serviços de saúde, uma vez que não tem plano de saúde; 6. Adota mecanismos de reajustamento psíquico, emocional e espiritual, para superar os traumas existenciais; 7. Adota hábitos de vida saudáveis; 8. Busca apresentarse em eventos da 3ª Idade, para mostrar seus talentos artísticos. Atividades Positivas realizadas no CIAPREVI 1. Engajou-se em um grupo musical, onde toca, canta e se apresenta em eventos públicos; 2. Aprecia participar das palestras técnicas; 3. Participa das oficinas de pintura; 4. Canta nos eventos comemorativos do grupo. Atributos favoráveis (positivos) e desfavoráveis (negativos) ao exercício da cidadania, manifestados pelo sujeito Elementos do Discurso que propiciaram a análise “Porque não tem ninguém nem que tenha respeito por nós...” “Porque eu vou dizer uma coisa pra senhora, doutora, só existe este grupo aqui da Terceira Idade que toca... A senhora já ouviu falar de outro grupo que toca?... Mas nós não somos vistos, nem lembrados ... Nós queremos ser lembrados...” “Eu tenho medo de sair...Eu moro na Aerolândia...a minha casa é constantemente fechada, não pode abrir não, por causa do perigo dos assaltos”... “Ah, eu dançar!...” gosto de “Ah, era muito bom se nós tivéssemos aqui no grupo médico, ao menos um aparelho de pressão, medicamentos... Tem medicamentos, mas é tão pouco...” “Pra melhor dizer, eu gosto de cantar e tocar no pandeiro, porque dançar eu danço em todo canto que eu chegar...” “Os idosos aqui esquecem logo as palestras dos técnicos...” 1. Atributos Positivos: É ativa, e independente, embora já mostre sinais de lapsos de memória; Busca desestressar e superar traumas existenciais, realizando atividades de lazer, canto e música; Sabe ler e, por não dispor de plano de saúde, desenvolveu senso de ajustamento, o que a leva a acionar as amizades para conseguir os serviços médicos de que necessita; Luta em causa própria e coletiva por questões de saúde. 2. Atributos Negativos: Teme morrer subitamente e por isso preocupa-se em obter maior acompanhamento de saúde no Centro; Desenvolveu traumas e sente medo, em relação à questão da violência, o que restringe os seus espaços de cidadania. 191 (3ª Amostra): Sujeitos entre 70-74 anos Sujeito 1 - O que faz para exercer a cidadania? Descrição Sucinta do Sujeito Maria Gertrudes Idade: 70 anos É solteira. É cearense, mas morou em BrasiliaDF e se aposentou como empregada doméstica. Não teve filhos e hoje reside sozinha, mas presta assistência constante a uma irmã, que é cadeirante e dependente de cuidados. Cria e cuida de uma cachorrinha, que é a sua companhia constante. Não tem amizades na rua onde mora, porque os vizinhos são de outra religião. Todos os dias a idosa faz caminhadas e se desloca para bairros distantes, a fim de participar de programas de ginástica públicos, buscando constantemente os serviços de saúde. Não aprendeu a ler, mas participa das aulas do curso de computação no CIAPREVI. É alegre e bastante jovial para sua idade. Tem uma espiritualidade bastante desenvolvida. Estratégias extragrupo CIAPREVI adotadas pelo sujeito 1. Administra a sua casa e a sua vida com bastante lucidez; 2. Participa de vários programas públicos para a Terceira Idade; 3. Participa sistematicamente das celebrações religiosas de sua Igreja; 4. Engajou-se em atividades gratificantes em vários grupos de convivência da Capital; 5. Faz caminhadas diárias, e mantém uma programação sistemática de ginástica e fisioterapia; 6. Exercita os seus direitos de cidadania, recorrendo à assistência médica pública gratuita (SUS); 7. Desenvolveu uma rede de amigos em instituições públicas de saúde, que a ajudam a ampliar os seus espaços de participação em programas de saúde; 8. Utiliza os seus dotes culinários, adotando uma alimentação saudável; 9. Cria animais domesticos, que são a sua companhia, em casa. Atividades Positivas realizadas no CIAPREVI 1. Desestressa, participando de atividades de dança no CIAPREVI-CE; 2. Engajou-se no grupo de chorinho do CIAPREVI-CE, participando de ensaios semanais para se apresentar em datas comemorativas; 3. Participa das aulas de computação, interessando-se pela tecnologia da informação. Elementos do Discurso que propiciaram a análise Atributos favoráveis (positivos) e desfavoráveis (negativos) ao exercício da cidadania, manifestados pelo sujeito “Não to gostando mais de ir a isso não (forró)... Mas de teatro eu gosto... Eu tenho uma amiga que a gente sai junto, mas agora ela está doente... A gente vai pra procissão...” 1. Atributos Positivos: “Eu não tenho aproximação com as pessoas do bairro, porque são crentes de outra religião...” Adota um programa de manutenção permanente da saúde; “Eu não paro não, minha filha, pode botar aí, que é todo dia a mesma coisa....” “Tenho os passarinhos e a cachorrinha... Ela entende tudo, minha filha... Quando ela quer tomar banho, ela pega a cabeça dela e esfrega assim no pano...” “Toda a vida eu fiz minhas caminhadas e ainda estudava à noite... lavava, passava, cuidava de menino... e ainda cuidava da Igreja, limpava o altar...” “Agora até que eu to entendendo mais alguma coisa (ler) com as aulas de computação...” É autônoma, proativa, lúcida e independente; Busca o aprimoramento intelectual, participando de aulas de computação, embora não saiba ler; Desenvolveu a espiritualidade e é solidária com todos; Mostra-se aberta aos problemas de outras pessoas. 2. Atributos Negativos: A idosa não mantém uma rede de amigos na vizinhança, por problemas de incompatibilidade religiosa. A idosa é negra, mas em nenhum momento deixou evidenciar ter sofrido preconceitos étnicos. 192 (3ª Amostra): Sujeitos entre 70-74 anos Sujeito 2 - O que faz para exercer a cidadania? Descrição Sucinta do Sujeito Maria Joseneide Idade: 74 anos É viúva. Recebe pensão do marido falecido. Já passou por três casamentos. Atualmente está casada com um motorista de ônibus aposentado, que a sustenta e paga o seu plano de saúde. Veio para o grupo porque se sentia muito sozinha em casa, depois que ficou viúva. Concluiu o 1º grau, no curso de alfabetização de adultos, no qual ingressou, para acompanhar melhor os passos de um dos filhos, que estudava na mesma escola, à noite. Faz trabalhos manuais de pintura e bordado em tecido. Já trabalhou como costureira em uma Escola de Samba no Rio de Janeiro e como cozinheira, em um restaurante da sobrinha. É dinâmica e expansiva. Fez muitas amizades no grupo. Estratégias extragrupo CIAPREVI adotadas pelo sujeito 1. Administra a sua casa e a sua vida com bastante lucidez; 2. Atualizou os níveis de escolarização, depois de enviuvar, ingressando em um curso de alfabetização de adultos, concluindo o 1º grau; 3. Desenvolveu o senso de empreendedorismo e de potencial natural para exercer ofícios pólivalentes, tanto no mercado formal quanto informal de trabalho (costureira, cozinheira e bordadeira); 4. Adotou um senso de reajustamento psíquico e emocional, que a faz exercitar a espiritualidade e o gosto pela musica, como formas permanentes de desestresse; 5. Participa de aulas de ginásticas quinzenais, em uma Academia do bairro; 6. Acompanha os níveis satisfatórios de saúde, através de visitas periódicas ao médico, mantendo planos de saúde para esse fim; 7. Adota hábitos de vida saudáveis, incluindo passeios semanais na casa de praia da sobrinha; 8. Participava até recentemente de vários grupos de convivência e forrós, mas deixou de frequentar esses grupos porque casou-se novamente. Atividades Positivas realizadas no CIAPREVI Elementos do Discurso que propiciaram a análise 1. Engajou-se permanentemente nas atividades do grupo de convivência do CIAPREVI-CE, onde diz ter se curado de uma depressão; 2. Participa das oficinas de pintura em tecido e das danças de forró. “Aqui ficou o meu lazer... é o meu lazer até hoje...”; “Eu era só cuidando da casa e dos filhos... Eu era deprimida, sozinha ... Aí tava me dando depressão, então vim pra cá...” Atributos favoráveis (positivos) e desfavoráveis (negativos) ao exercício da cidadania, manifestados pelo sujeito 1. Atributos Positivos: É autônoma, proativa, lúcida e independente; Buscou o aprimoramento intelectual e concluiu o 1º grau; Adota um programa de manutenção permanente da saúde; “Eu não tinha amizade com ninguém, não participava de nada... Nós íamos só para a missa aos domingos... Ele era mais novo do que eu 16 anos...”; É alegre e expansiva, mostrando-se integrada no grupo de convivência; “Eu aprendi a ler e a escrever, depois de viúva. Fui pra o colégio, me matriculei... Eu trabalhava num restaurante e ia pro colégio...Francisco do Amaral...Eu peguei até o meu certificado na Assembléia Legislativa... O curso era Tempo Avançar...” A idosa demonstra senso de reajustamento às situações da vida pessoal e conseguiu superar um processo de depressão. “Depois que eu fiquei viúva, eu disse: agora eu vou estudar...” “Eu gosto de ler a Bíblia... Eu não tenho uma roupa de velho, só roupa de jovem...” Procura exercitar os direitos de cidadania, procurando recorrer às instâncias sociais competentes, quando necessário; 2. Atributos Negativos: Queixa-se com as brigas constantes dos filhos que moram com ela, e são de casamentos diferentes. Ela precisa muitas vezes intervir, para suspender as brigas (violência doméstica). 193 (3ª Amostra): Sujeitos entre 70-74 anos Sujeito 3 - O que faz para exercer a cidadania? Descrição Sucinta do Sujeito Maria Maria Luiziana Idade: 73 anos A idosa tem uma história de vida bastante sofrida. Estudou até a 4ª série e menciona que sabe ler e escrever. Trabalhou como doméstica em casas de família, desde a juventude. Casou-se aos 17 anos em Mossoró, no Rio Grande do Norte. Veio para Fortaleza por-que os familiares do ma-rido moravam aqui e ela o acompanhou. Ele trabalhava numa empresa de transportes. Teve três filhos, que atualmente moram com ela. O filho se separou e voltou para casa. As duas outras filhas também estão em casa; uma delas “tem problemas de saúde e toma remédio controlado”. Já tem bisnetos, que residem no anexo superior da casa, onde ela diz que tem apenas um dormitório. É pensionista do marido, mas afirma que só recebe o salário mínimo. Estratégias extragrupo CIAPREVI adotadas pelo sujeito 1. Administra a sua casa e a sua vida com bastante lucidez; 2. Adota mecanismos de desestresse, mantendo conversas amistosas com um grupo permanente de amigas do bairro, todas as noites; 3. Participa semanalmente das atividades de vários grupos de convivência, a maioria de cunho religioso, tanto da Igreja Católica, quanto do grupo espírita; 4. Realiza passeios eventuais ao centro da cidade, “para olhar as vitrines”, como exercício de desestresse; 5. Contribui mensalmente com um plano de saúde (ABI), o qual lhe dá direito a serviços médicos de consultas. Atividades Positivas realizadas no CIAPREVI 1. Engajou-se no curso de computação do CIAPREVI-CE, para aprender a se comunicar por e-mail com a neta que reside em outro Estado; 2. Participa de oficinas de pintura em tecido e da bandinha do CIAPREVI-CE, dando vazão às suas habilidades artísticas; 3. Aprendeu a tocar tamborim no CIAPREVI-CE e estava aprendendo a tocar teclado, mas a atividade foi abolida do centro. Elementos do Discurso que propiciaram a análise “Antes eu era só trabalhando, canseira... trabalhava a semana inteira, todo dia ia passar e lavar, de segunda a sexta-feira. Chegava em casa cansada. Quando não ia lavar e passar roupa, eu ia pra casa de uma senhora, pra fazer o acabamento da roupa dela...”; “Depois que eu entrei no grupo [...]eu me senti liberta, era prisioneira do trabalho, escrava, e depois não, eu já não ia tanto trabalhar, eu já tinha liberdade de vir pra cá, ficar com as colegas, dançar, eu dançava aí que era uma beleza...” “Agora é que eu não to dançando mais... Hoje em dia, eu participo da bandinha, eu toco no tamborim e conto, quando precisa. Eu acho bom porque a gente tem sempre convite para tocar fora...” “Se eu não fizesse o trabalho de casa, eles iam ficar sem almoçar ou jantar...” “Não sei nem o que é teatro ou cinema...”; “É ótima, apesar de eu não assistir toda (as palestras técnicas) porque eu estou ensaiando...” “Se eu pudesse eu passaria muitas horas do dia no centro da cidade, olhando e vendo as coisas bonitas das vitrines. Faria umas comprinhas, se o dinheiro sobrasse...” “Eu não durmo à noite esperando o meu neto, que, às vezes, só chega de manhã...” Atributos favoráveis (positivos) e desfavoráveis (negativos) ao exercício da cidadania, manifestados pelo sujeito 1. Atributos Positivos: É ativa e lúcida; Tem um objetivo imediato de cidadania que, no seu caso, é o de aprender a “passar e-mail”, para se comunicar com a neta que mora fora; Adota estratégias simples de acesso à cidadania, proporcionalmente ao seu nível de instrução; Busca acessar mecanismos de acesso à saúde, mantendo um plano permanente de saúde. 2. Atributos Negativos: É retraída e não se autorevela. Não costuma trocar confidências nem com as amigas da rua onde mora, nem com as idosas do grupo de convivência do CIAPREVI-CE. Afirma que não quer compartilhar problemas de sua vida pessoal; Não se empenha em participar das palestras sobre cidadania, preferindo distrair-se com atividades de lazer; Tem uma espiritualidade mesclada com princípios de distintas religiões; Sofre com problemas intrafamiliares. Afirma que, apesar de acordar cedo, não consegue dormir à noite, esperando o neto adolescente que fica na rua e retorna geralmente pela manhã, não sabendo onde o jovem passa a noite. qualidade de vida da idosa está afeta pela falta de diálogo familiar. 194 (4ª Amostra): Sujeitos entre 75-79 anos Sujeito 1 - O que faz para exercer a cidadania? Descrição Sucinta do Sujeito Maria Albina Idade: 75 anos D. Maria Albina Coelho tem 75 anos e mora só com um filho; os demais são casados. Ela é funcionária pública municipal aposentada. Começou a frequentar grupo de convivência por influência de uma colega sua, que era secretária do colégio onde trabalhava. Demonstra ser uma pessoa muito alegre e feliz. Segundo relatou, tem uma relação muito harmoniosa com os filhos. Não tem problemas de saúde, mas tem direito ao plano de saúde IPM e, além desse, faz jus a outro (Associação Beneficente do Idoso), para o qual contribui mensalmente. Estratégias extragrupo CIAPREVI adotadas pelo sujeito 1. Administra a sua casa e a sua vida com bastante lucidez; 2. Participa das atividades de vários grupos de convivência, semanalmente; 3. Mantém uma rede permanente de amigas, com as quais conversa e interage diariamente, na calçada de casa; 4. Realiza atividades prazerosas de costura, leituras devocionais, em casa; 5. Adota mecanismos de desestresse, introduzindo o canto em todas as atividades que realiza em sua rotina doméstica; 6. Adota mecanismos de reajuste emocional, mantendo uma postura proativa e alegre, distintiva de satisfação com a vida e bem-estar; 7. Está em busca de ampliar ainda mais os seus espaços de cidadania, procurando ocupar o tempo livre semanal; 8. Mantém os níveis de saúde, buscando sistematicamente serviços de saúde e adotando uma alimentação saudável. Atividades Positivas realizadas no CIAPREVI 1. Participa dos ensaios de dança no CIAPREVI-CE. Ela canta e toca o pandeiro; 2. Aprecia os forrós do grupo de convivência e dança sempre. 3. De modo geral, diz que gosta de tudo o que faz nos grupos de convivência que frequenta. Elementos do Discurso que propiciaram a análise Atributos favoráveis (positivos) e desfavoráveis (negativos) ao exercício da cidadania, manifestados pelo sujeito “Eu era separada do meu esposo, só vivia para meus filhos e para o trabalho, porque eu sou da Educação.” (Secretaria de Estado onde trabalhou); 1. Atributos Positivos: “Aí eu gostei e fui ficando lá...Tinha aquela palestra que davam pra gente [...], tinha peças de teatro pra gente fazer...” Sabe ler satisfatoriamente e mantém uma atitude proativa e alegre. “Lá faziam balé, faziam tudo com a gente... Tinha peça de anjo, tinha Nossa Senhora, tinha os apóstolos. Era uma coisa linda, linda, linda[...] Aí eu fui pra lá, dancei, menina, e adorei!” (Sobre a metodologia adotada nos tempos áureos do grupo de convivência do Teatro S. José); “Ele foi embora porque quis, aí eu tirei minha pensão, que ele era um bichão que trabalhava no DNOCS...” “Ele foi muito ruim pra mim... Eu dormia trancada, porque ele puxava até faca pra mim...” “Agora pra mim é tudo, até o fim da minha vida... É mesmo que estar no céu... Se pudesse, eu arranjaria outro grupo para frequentar...” (Sobre o grupo de convivência do CIAPREVI-CE) “Não sinto solidão porque eu sou muito divertida, gosto muito de cantar... [...] Só trabalho cantando...” “A gente conversa, a gente canta. A gente fica achando graça na calçada”... (sobre as amigas de bairro). “Gosto muito de todos os grupos que eu vou...” É autônoma, lúcida e independente; Busca ampliar continuamente os espaços de cidadania, sem que esse fato lhe cause estresse; A idosa leva uma rotina prazerosa, procura manter uma rede de amigos e se relaciona satisfatoriamente tanto com o filho que mora com ela, quanto com os casados; Busca continuamente manter a saúde, através dos órgãos públicos onde está conveniada. 2. Atributos Negativos: Tem trauma de violência. Despende tempo e esforço para participar de dois grupos de convivência que funcionam em dias e horários concomitantes. A idosa está empreendendo um verdadeiro malabarismo para dar conta dos ensaios dos grupos de dança de que participa (CIAPREVICE e Teatro José de Alencar), uma vez que os dias dos ensaios são em horários concomitantes. Percebeu-se que o CIAPREVI-CE necessitará de promover condições para que os sujeitos participem com tranquilidade dos dois grupos de dança em que estão envolvidos, porque têm importância direta na qualidade de vida dos sujeitos envolvidos; Referiu que, quando o marido era vivo, chegou a sofrer violência da parte dele, o que a traumatizou. 195 (4ª Amostra): Sujeitos entre 75-79 anos Sujeito 2 - O que faz para exercer a cidadania? Descrição Sucinta do Sujeito Estratégias extragrupo CIAPREVI adotadas pelo sujeito Maria Catarina 1. Administra a sua casa e a sua vida com bastante lucidez e independência; 2. Participa das atividades de dois grupos de convivência, semanalmente; 3. Realiza atividades prazerosas de pintura em tecido e atividades devocionais, em casa (reza o terço diariamente em família; 4. Adota mecanismos de desestresse, integrando o grupo folclórico dos dois grupos de convivência que frequenta e participando com o marido de eventos sociais de forró, aos domingos; 5. Adota mecanismos de reajuste emocional, mantendo uma postura alegre, distintiva de satisfação com a vida e bem-estar; 6. Mantém uma convivência harmoniosa com os filhos, que a visitam semanalmente; 7. Participa de programas e projetos da 3ª Idade, sempre que toma conhecimento destes (cinema, teatro, música etc) Idade: 76 anos Casou-se aos 16 anos. È divorciada e teve 10 filhos, que hoje estão casados. Menciona que sempre viveu de criar filho e trabalhar. Depois que se divorciou se sentiu muito só e começou a participar do grupo de convivência do Teatro São José. Hoje tem um novo companheiro que a respeita e a acompanha em todos os lugares. Percebe-se que a idosa tem grande preocupação com a saúde, estando necessitando de tratamentos médicos especializados. Atividades Positivas realizadas no CIAPREVI 1. Participa dos ensaios de dança no CIAPREVICE; 2. Aprecia os forrós do grupo de convivência e dança sempre com o marido; 3. Participa da oficina de pintura em tecido, exercitando os seus dotes artísticos nessa área. Elementos do Discurso que propiciaram a análise “Aí eu pude viver, porque eu não vivia, eu não tinha amizade com ninguém, porque ele não deixava eu ter amizade com ninguém... (Sobre seu ingresso no primeiro grupo de convivência); “Eu saio segunda, terça, quarta, quinta, só fico em casa sexta, aí eu vou cuidar das minhas coisas...” “Porque eu adoro dançar, que eu nunca tinha dançado... Pra mim é muito importante, você nem sabe... Se eu tiver estressada, assim deprimida com qualquer coisa, aí eu venho pra cá e esqueço tudo... A dança faz bem à cabeça, ao corpo todo, você sabe, né?...” “Ai, eu sou muito feliz!...” “Porque hoje em dia todo mundo tem pressão alta...Se tivesse um aparelho para tirar pressão nesses locais, a pessoa poderia tomar um remédio e evitar, né? Pra onde eu vou eu carrego os meus remédios...” “Durante o dia a gente vem para cá e de noite a gente não pode sair...” “Semana passada, eu fui pro cinema, lá perto do São Luiz, que passou um filme para os idosos...Nós assistimos...foi agora há pouco, lá na Praça do Ferreira...” “O que a gente faz já é o suficiente para ter uma vida gratificante e não tem tempo de fazer novas atividades. Já é suficiente, né...Não dá mais tempo de fazer mais nada.. .” Atributos favoráveis (positivos) e desfavoráveis (negativos) ao exercício da cidadania, manifestados pelo sujeito 1. Atributos Positivos: É autônoma, lúcida e independente; Sabe ler e escrever satisfatoriamente e mantém uma atitude proativa e alegre; Busca continuamente manter a saúde, mas reclama por mais serviços nessa área da parte dos grupos que participa. 2. Atributos Negativos: A idosa procura levar uma rotina prazerosa e manter uma boa convivência familiar e social, mas se mostra acomodada com as atividades que realiza e não busca ampliar os espaços de cidadania, por causa das limitações da idade; Sofre de síndrome do pânico e teme a questão da violência. Despende tempo e esforço para participar de dois grupos de convivência que funcionam em dias e horários concomitantes. A idosa está empreendendo um verdadeiro malabarismo para dar conta dos ensaios dos grupos de dança de que participa (CIAPREVI-CE e Teatro José de Alencar), uma vez que os dias dos ensaios são em horários concomitantes. 196 (4ª Amostra): Sujeitos entre 75-79 anos Sujeito 3 - O que faz para exercer a cidadania? Descrição Sucinta do Sujeito Maria Odésia Idade: 77 anos Alfabetizou-se até a 3ª série, mas ainda busca estudar nas aulas de alfabetização ministradas no CIAPREVI. É viúva, mas vive há alguns anos com o companheiro. É aposentada, como funcionária da Escola Santa Luzia, onde hoje ainda vende lanches para os alunos, informalmente. Ela diz que durante muito tempo trabalhou nessa escola, sem ter a carteira assinada, e que lutou muito para conseguir a sua aposentadoria. Exerce essa atividade rentável, enquanto participa das reuniões no salão do grupo de convivência do CIAPREVI, às terças e quintas-feiras. Ali vende também os refrigerantes que os idosos compram, na hora do almoço. Demonstra ser autonegligente com a própria saúde, que diz ser boa. Entretanto, conforme salientou, há anos, não faz exames de prevenção e que está necessitando, inclusive, fazer uma operação cirúrgica para tratamento de períneo. O marido, segundo afirma, é aposentado como ela, mas ainda trabalha para uma empresa particular, inclusive aos sábados, pela manhã, e o tempo que ele passa em casa fica fazendo atividades inerentes ao trabalho que exerce fora. Ela assume todas as tarefas de casa sozinha, mostrando-se bastante estressada com a sua rotina de vida. Estratégias extragrupo CIAPREVI adotadas pelo sujeito Atividades Positivas realizadas no CIAPREVI 1. Participa das atividades de vários grupos de convivência diferentes, durante a semana; 2. Realiza as atividades que lhe são prazerosas, nos espaços dos grupos de convivência que frequenta semanalmente. Em casa, a sua rotina é estressante; 3. Desenvolveu o senso de espiritualidade, através da participação nas atividades religiosas do grupo de convivência da sua Paróquia, 4. Mantém uma convivência harmoniosa com a filha e os netos. 1. Engajou-se sistematicamente nas aulas do curso de alfabetização do CIAPREVI, através das quais deseja ler melhor; 2. Aprecia participar das atividades de dança (sem que o companheiro saiba, porque não consentiria). Elementos do Discurso que propiciaram a análise “Daqui que eu chegue lá puxando esse carrim... Ela reflete sobre isso e diz: “É... Eu tenho meus filhos pra dar, os meus netos... Eu sempre to ajudando ela...” “E não é tão bom, eu vou perder?...Não...Eu to pagando o empréstimo da minha filha...” “É aula de letras... Eu fui criada com os meu pessoal, mas nunca me botaram pra estudar não... “Eu estudei até a 2ª série, mas eu tive que sair do colégio. Agora eu já aprendi muita coisa, assim, uma vírgula... É só pra eu aprender a não gaguejar tanto... “Eu quero ler, e aponta para o papel que está sobre a mesa Isso aqui eu leio, mas essa letrinha aqui eu não sei ler...” “A pressão a gente tira na comunidade... Eu deixo de merendar pra tirar a pressão... Agora tem uma doutora aí na comunidade que quer que a gente faça todos os exames dos seios... D. Odésia, é pra fazer, D. Odésia... Aí eu fico num beco sem saída...” Atributos favoráveis (positivos) e desfavoráveis (negativos) ao exercício da cidadania, manifestados pelo sujeito 1. Atributos Positivos: É ativa, lúcida e instrumentaliza a vida cotidiana com independência. Desenvolveu excelente senso de humor, que a torna uma pessoa simpática e agradável. 2. Atributos Negativos: É dotada de uma consciência ingênua, o que a fez ser politicamente manipulada na juventude, inclusive, tendo consentido em que a sua idade fosse “aumentada” em alguns anos, para que pudesse votar em favor de um político amigo de seus antigos patrões; Sente-se na obrigação de ajudar financeiramente a filha casada, para a qual, inclusive, está pagando um empréstimo mensal. de valor bastante significativo para a remuneração de um salário mínimo a que a idosa faz jus, como aposentada; Realiza sozinha as atividades domésticas, não tendo tempo para usufruir da necessária tranquilidade, na velhice; Sente-se na obrigação de vender bombons, diariamente, de segunda a sexta-feira, para não ser criticada pelos idosos do grupo. Por causa do comércio de bombons, chega sempre atrasada ao e quase nunca assiste às palestras; É autonegligente com a saúde. Há mais de dois anos não vai a médico; Não mantém uma rede de amigos permanente na rua onde mora, só nos grupos. Dispõe de uma secretária eletrônica para receber os recados telefônicos, mas este serviço não está funcionando a contento. 197 (5ª Amostra): Sujeitos + 80 anos Sujeito 1 - O que faz para exercer a cidadania? Descrição Sucinta do Sujeito Mirian Idade: 81 anos É viúva, teve 6 filhos e mora com uma filha solteira, com a qual se relaciona harmôniosamente. A idosa é uma das participantes mais antigas do grupo de convivência do CIAPREVICE. Está ali desde a fundação do equipamento, quando este ainda era denominado Centro Comunitário Dom Lustosa. Participou das primeiras atividades organizacionais tanto do equipamento, quanto do grupo de convivência propriamente dito. Depois de aposentada, passou a ir ao local diariamente, provavelmente para não romper definitivamente os vínculos com o serviço público. Então engajouse no grupo. Estratégias extragrupo CIAPREVI adotadas pelo sujeito Atividades Positivas realizadas no CIAPREVI 1. Administra a própria vida com relativa autonomia; 2. Desestressa, ouvindo constantemente músicas, em casa; 3. Mantém os níveis de bem-estar e de qualidade de vida, realizando visitas constantes ao médico, para acompanhar os problemas de saúde, principalmente o de glaucoma; 4. Mantém convivência harmoniosa com todos os filhos, especialmente a filha solteira que mora com ela; 5. Mantém uma rede permanente de amigos, os quais reencontra semanalmente, numa casa de shows, às sextas-feiras; 6. Aprecia e frequenta, semanalmente, aos sábados, sessões de teatro, acompanhando a filha que trabalha nessa área: 7. Realiza passeios de lazer sistemáticos, ao litoral cearense, e eventualmente viaja para outros estados, reunindo-se com familiares e amigos; 8. Realiza pequenos trabalhos domésticos de manutenção das plantas e de limpeza, em casa. 1. Adotou o CIAPREVI-CE como lar-substituto, onde passa o dia (manhã e parte da tarde), interagindo com funcionários e visitantes; 2. Dança forró e atua como DJ do grupo de convivência, selecionando as música que os idosos dançam; 3. Ajuda os funcionários do centro nas tarefas da cozinha, colaborando no preparo das refeições dos idosos, nos tempos livres do grupo. Elementos do Discurso que propiciaram a análise “Eu sou a conselheira de algumas idosas, mas não exponho a minha vida a ninguém...”; “Eu não incluiria mais atividades na minha rotina diária, minha vida já é muito boa...”; “Aliás, ainda hoje eu vou ao teatro (Dragão do Mar, José de Alencar)...”; “Eu sempre gostei de ler, mas agora está meio ruim por causa da vista”; “Um dia D. N.C. veio aqui me buscar para passar um tempo lá com ela (em outro local de trabalho)... Nessa época, eu fumava duas carteiras de cigarro por dia. Até que um dia eu disse:_Meu Deus, me dê uma orientação... Eu disse: _Tenho fé em São Francisco de Canindé que, a partir de hoje, não coloco mais um cigarro na boca. E deixei o vício”; “Sempre gostei de dançar. Sempre fui muito dançadeira...”; “Os velhos são namoradores. Nâo conversam sobre assunto de política. Conversam sobre a violência contra idosos.” “Eu não me lembro bem quais foram os direitos que falaram porque eu já cheguei atrasada na palestra...” Atributos favoráveis (positivos) e desfavoráveis (negativos) ao exercício da cidadania, manifestados pelo sujeito 1. Atributos Positivos: Concluiu o 1º grau, condição que facilitou o seu ingresso no serviço público; A idosa usufrui de relativa autonomia, ainda é ativa e lúcida, dotada de um espírito solidário e aberto a acolher o drama de outros idosos; Vivencia uma velhice reconhecida pelos estudiosos como bem-sucedida. Tem uma personalidade comunicativa e alegre, relacionando-se bem com todas as pessoas com as quais interage no dia-a-dia. 2. Atributos Negativos: Mencionou que nunca se interessou por problemas políticos e não desenvolveu uma consciência crítica, que favorecesse uma reflexão mais aprofundada acerca da realidade social. Esse constitui o principal fator que afasta a sua postura, em relação à cidadania, dos princípios do novo paradigma considerado neste estudo. 198 (5ª Amostra): Sujeitos + 80 anos Sujeito 2 - O que faz para exercer a cidadania? Descrição Sucinta do Sujeito Maria Alice Idade: 82 anos Casou-se aos 24 anos, fugindo da casa da madrasta. Mora com uma das filhas e o neto. É lúcida e ativa, atuando com independência em todos os espaços de socialização investigados. Afirma ser uma pessoa que sempre gostou de ajudar os outros a resolverem os seus problemas. Quando era mais jovem, trabalhou como líder comunitária, em prol do bem-estar das pessoas que residiam no bairro Meireles. Está no grupo de convivência há 20 anos. Aprendeu a ler, escrever e a fazer contas sozinha, assim como todos os seus irmãos (é autodidata). Conhece os seus direitos de cidadania e, inclusive, procurou as autoridades para denunciar a sobrinha, que mantinha o pai aposentado, em cativeiro doméstico. Participa de reuniões e atua como “ministra da Eucaristia” da Igreja Católica, visitando os doentes, na semana. Estratégias extragrupo CIAPREVI adotadas pelo sujeito Atividades Positivas realizadas no CIAPREVI 1. Administra a própria vida com independência e autonomia; 2. Engajou-se sistemáticamente nas atividades religiosas de sua paróquia, visitando pessoas que não podem ir à Igreja; 3. Desenvolveu um elevado senso de partilha, solidariedade e espiritualidade. Acorda bem cedo para fazer orações; 4. Mantém convivência harmoniosa com a filha e o neto que moram com ela; 5. Aperfeiçoa os mecanismos cognitivos, através do hábito da leitura de romances e livros devocionais; 6. Mantém uma rotina de atividades prazerosas e voltadas para a manutenção da qualidade de vida e do bem-estar; 7. Procura manter-se informada com os assuntos da mídia televisiva, assistindo a programas humorísticos; 8. Participa de passeios breves, visitando famíliares na sua cidade natal; 9. Mantém um estilo de vida saudável e um plano de saúde, para obter serviços médicos; 10. Procura lutar pelas causas de outras pessoas, para ajudá-las a se promover. 1. Engajou-se nas aulas de computação, por meio das quais deseja aprender a se comunicar na Internet com outras pessoas; 2. Participa das palestras sobre assuntos de cidadãnia, interessandose também pelas de cunho religioso, que são ministradas pela coordenadora do grupo de convivência. 3. Colabora com os funcionários do Centro, no serviço de atendimento aos idosos, na hora das refeições. Elementos do Discurso que propiciaram a análise “A gente nessa vida tem que ajudar os outros para ter um lugarzinho no céu...”; “Minha filha, eu acho tão importante... Eu quero ver se eu falo com alguém na Internet!... Eu comecei a aprender em setembro, mas já sei fazer muita coisa... Eu estou aprendendo... (Sobre o curso de computação ministrado no CIAPREVI-CE); “Eu gosto de todas as coisas que faço, até mesmo as tarefas domésticas...”; “Eu gosto mais de ler, assistir ao programa do Ratinho, não gosto de Teatro, só na juventude participei de pastoris. Mas essa época já passou...” “A única coisa que eu tinha mais vontade na minha vida era que a minha filha viesse na minha casa, pra eu dizer assim: _Deus te abençoe.” Atributos favoráveis (positivos) e desfavoráveis (negativos) ao exercício da cidadania, manifestados pelo sujeito 1. Atributos Positivos: A idosa usufrui de autonomia e independência na instrumentalização da vida cotidiana; Denota ser bastante atuante na Igreja e participa das atividades que lhe são prazerosas no CIAPREVI-CE; Exercita o hábito da leitura e procura aperfeiçoar os mecanismos cognitivos, também através de aulas de computação. Deseja ampliar os espaços de socialização, trocando e-mails com outras pessoas, através da Internet; Alimenta sonhos e é proativa. É aberta e solidária aos problemas da coletividade e utiliza o senso da espiritualidade para contornar os problemas pessoais. 2. Atributos Negativos: “Eu levo a Eucaristia a uma senhora de Idade do bairro todos os dias”. Demonstra atitudes sedimentadas em juízos de valor pessoais, o que parece impedila de ser mais flexível em relação a determinadas posturas, entre as quais a aceitação dos defeitos alheios; Demonstra viver sofrimentos íntimos que não partilha com outras pessoas do grupo. Demonstra ter dificuldade de se adaptar aos mesmos interesses dos outros idosos (a dança), por se interessar por atividades intelectuais. 199 (5ª Amostra): Sujeitos + 80 anos Sujeito 3 - O que faz para exercer a cidadania? Descrição Sucinta do Sujeito Maria Amélia Idade: 86 anos É alfabetizada e está no grupo do CIAPREVI-CE, há 4 anos. Tem uma história de vida muito sofrida. Perdeu a mãe muito cedo e durante a infância e juventude sofreu muito da madrasta. Recentemente sofreu perdas famíliares, em situação trágica, envolvendo a questão da violência. Passou fome e criou os filhos da madrasta, que não era boa para ela. Depois de casada, o marido tolheu-a a vida inteira. Somente quando ele faleceu, ela começou a participar de grupos de convivência de idosos e aprender a dançar. A dança representa muito para ela. Diz que dançando se sente livre, porque nunca pôde fazer isso quando era jovem. Estratégias extragrupo CIAPREVI adotadas pelo sujeito Atividades Positivas realizadas no CIAPREVI 1. Engajou-se em atividades gratificantes em vários grupos de convivência da Capital; 2. Desenvolveu experiência de cidadania promovida por uma instância da Prefeitura Municipal, através da qual atuou em um programa já extinto de fiscalização de praças públicas; 3. Adota mecanismos de desestresse, integrando o grupo folclórico dos dois grupos de convivência que frequenta e participando de um grupo de convivência que funciona, aos domingos; 4. Adota mecanismos de reajuste emocional, mantendo uma postura alegre, distintiva de satisfação com a vida e bem-estar; 5. Mantém uma convivência harmoniosa com os filhos casados, que moram com ela; 6. Participa de programas e projetos da 3ª Idade, sempre que toma conhecimento destes (cinema, teatro, música etc); 7. Dedica-se à criação de passarinhos no espaço domestico, como estratégia para obter maior bemestar; 8. Procura reforço espiritual, mantendo a religiosidade e uma rotina de orações, em casa. 1. Participa dos ensaios de dança no CIAPREVICE.; 2. Aprecia os forrós do grupo de convivência e dança sempre com um parceiro frequente; 3. Aprecia todas as atividades oferecidas pelo CIAPREVI-CE, mas tem preferência pela dança folclórica e de salão; 4. Mencionou que gostaria de se dedicar ainda às aulas do curso de alfabetização, mas isso impediria de participar dos ensaios de dança, que é a sua área preferencial. Elementos do Discurso que propiciaram a análise “O mais importante pra mim é dançar, ensaiar e a saúde...Mais nada...” “O meu marido era „pé duro‟ e não dançava de jeito nenhum... E explica: Pé duro, porque ele não gostava de nada, era só pra ele. Se ele estivesse vivo, não teria deixado que eu frequentasse esses grupos de jeito nenhum... E enfatiza: não, não,não, não, não...não deixava de jeito nenhum...” “É de mim mesmo, todo mundo me conhece, todo mundo gosta de mim, mas é eles na sua casa e eu na minha...”; “Se eu pudesse, arranjaria outro grupo de convivência para frequentar, nos horários livres...”; “Não, comigo não tem essa coisa de tristeza...”; “Eu gosto também de ler e escrever, mas pra ler e escrever teria que deixar isso aqui (refere-se aos ensaios de dança) Eu não quis continuar porque eu tinha me metido nesse negócio de dança... Isso aqui eu quero mais do que ler e escrever... Du to já...” “Ah, os passarinhos são a minha alegria...” Atributos favoráveis (positivos) e desfavoráveis (negativos) ao exercício da cidadania, manifestados pelo sujeito 1. Atributos Positivos: É autônoma, lúcida e independente, apesar de vivenciar uma velhice adiantada (86 anos); Esforça-se para manter uma postura proativa e alegre, evitando sentimentos tristes; Tem uma preocupação em manter a saúde e adota mecanismos de desestresse, sendo o principal a dança; Está a procura de ampliar os espaços de cidadania, através da participação em novos grupos de convivência; 2. Atributos Negativos: A idosa procura levar uma rotina prazerosa e manter uma boa convivência familiar e social, mas se mostra fechada em um mundo particular, quando não está nos grupos de convivência; Não interage com a vizinhança, não procura fazer consultas médicas e demonstra atitudes sedimentadas em conceitos próprios; Evidencia traumas em função dos dramas familiares, necessitando de maior acompanhamento psicoterápico. A idosa está empreendendo um verdadeiro malabarismo para dar conta dos ensaios dos grupos de dança de que participa (CIAPREVI-CE e Teatro José de Alencar), uma vez que os dias dos ensaios são em horários concomitantes. 200 APÊNDICE C - QUADRO PERFIL GERAL DAS IDOSAS DO CIAPREVI-CE Outra atividade financeira Aluguel de cômodos Nº de ordem Idade Naturalidade Escolaridade Bairro Estado civil Nº de filhos Composição familiar Moradia Tipo de moradia Condições Situação econômica 1 60 Capital Analfabeto Serviluz Divorciado 7 Sozinho Casa Própria Alvenaria Aposentado 2 61 Interior Analfabeto Não informado Separado 4 Filhos Casa Alugada Alvenaria Não é aposentado 3 61 Capital Alfabetizado Varjota Viúvo 5 Filhos e netos Casa Própria Alvenaria Pensionista 4 62 Interior Alfabetizado Conjunto Palmeiras Solteiro 3 Filhos e netos Casa Própria Alvenaria Pensionista 5 64 Interior Alfabetizado Viúvo 3 Casa Própria Alvenaria Pensionista 6 65 Interior Alfabetizado Mucuripe Álvaro Weyne Lava roupa para fora Lava roupa para fora e vende produtos Avon Não Viúvo 7 Casa Própria Alvenaria Pensionista Não 7 66 Não informado Não informado José Walter Viúvo 6 Casa Própria Alvenaria Aposentado Não 1 salário 8 66 Interior Alfabetizado Praia de Iracema Viúvo 4 Filhos e noras Casa Própria Alvenaria Aposentado Vende produtos Avon 1a3 salários 9 66 Interior Alfabetizado Pacajus Casado 8 Cônjuge e filhos Casa Própria Alvenaria BPC Não 1a3 salários 67 Capital Alfabetizado Jardim das Oliveiras Divorciado 3 Filhos Casa Própria Alvenaria Aposentado Aluguel de cômodos 1 salário 11 68 Interior Alfabetizado Mondubim Viúvo 6 Casa Própria Alvenaria Pensionista Não 12 68 Capital Alfabetizado Praia de Iracema Viúvo 5 Casa Própria Alvenaria Aposentado Aluguel de cômodos 1a3 salários 1a3 salários 13 68 Interior Alfabetizado Quintino Cunha Solteiro não tem Sobrinho Casa Própria Alvenaria Aposentado e pensionista Não 1 salário 14 68 Capital Alfabetizado Praia de Iracema Casado 2 Filhos Casa Própria Alvenaria Aposentado Não 1a3 salários 15 69 Capital Alfabetizado Centro Solteiro não tem Sobrinho Casa Própria Alvenaria Aposentado e pensionista Não 1a3 salários 10 Filhos Filhos e netos Filhos e netos Filhos e noras Filhos e netos Lava roupa para fora Renda mensal 1a3 salários Zero salário/vive de ajuda 1a3 salários 1 salário 1 salário 1a3 salários 295 201 Nº de ordem Idade Naturalidade Escolaridade Bairro Estado civil Nº de filhos 16 69 Interior Alfabetizado Aerolândia Viúvo 6 17 69 Interior Alfabetizado Aerolândia Divorciado 8 18 69 Capital Alfabetizado Aldeota Viúvo 2 19 74 Outro estado Alfabetizado Meireles Viúvo 3 20 74 Interior Alfabetizado Divorciado 5 21 75 Interior Alfabetizado Viúvo 6 22 76 Interior Alfabetizado Solteiro 1 23 76 Interior Analfabeto 24 78 Interior Analfabeto 25 70 Interior Alfabetizado Parque São José Dionísio Torres Meireles Aldeota Edosn Queiroz Conjunto Palmeiras Casado 6 Viúvo 5 Viúvo Composição familiar Filhos e netos Netos e bisnetos Filhos e netos Irmã, filha, neto, sobrinho Companheiro Filhos e netos Cônjuge e filhos Filhos e netos Moradia Tipo de moradia Condições Situação econômica Outra atividade financeira Casa Própria Alvenaria Aposentado Não Casa Própria Alvenaria Aposentado Não 1 salário Casa Própria Alvenaria Pensionista Não 1a3 salários Casa Própria Alvenaria Aposentado Comercializa bordados 1a3 salários Casa Alugada Alvenaria Aposentado Não Casa Própria Alvenaria Pensionista Casa Invasão Alvenaria Aposentado Alvenaria Renda mensal 1 salário Não informado Vende refeições 1a3 salários 1a3 salários 1a3 salários Não recebe benefício Não 1 salário Casa Própria Neto Casa Própria Alvenaria Aposentado Engomadeira 1 salário 4 Sozinho Casa Própria Alvenaria Aposentado Não 1 salário Casa Própria Alvenaria Aposentado e pensionista Não 1a3 salários 296 26 70 Capital Alfabetizado Araturi Viúvo 3 Filhos e netos 27 71 Capital Alfabetizado Praia de Iracema Viúvo 7 Filhos e noras Casa Própria Alvenaria Aposentado Não 1a3 salários 28 71 Outro estado Alfabetizado Meireles Viúvo 3 Filhos Apartamento Própria Alvenaria Aposentado e pensionista Não 1a3 salários 29 71 Interior Alfabetizado Monte Castelo Separado 6 Filhos Casa Própria Alvenaria Aposentado 30 72 Interior Alfabetizado Luciano Cavalcante Casado 2 Cônjuge e filhos Casa Própria Alvenaria Aposentado 31 72 Capital Alfabetizado Papicu Separado 2 Netos e bisnetos Casa Própria Alvenaria Aposentado Não 1 salário 73 Capital Alfabetizado Conj.Nova Metrópole Viúvo 6 Filhos Casa Própria Alvenaria Aposentado Não 1 salário 32 Lava roupa para fora Vende produtos Avon e Natura 1 salário 1a3 salários 202 Nº de ordem Idade Naturalidade Escolaridade Bairro 33 70 Interior Alfabetizado 34 70 Capital Alfabetizado 35 70 Interior Alfabetizado 36 74 Interior Alfabetizado Araturi Jardim Guanabara Araturi Cristo Redentor 37 80 Interior Alfabetizado 38 81 Interior 39 89 40 Pensionista Outra atividade financeira Não 1 salário Alvenaria Aposentado Costureira 1 salário Própria Alvenaria BPC Não 1 salário Casa Própria Alvenaria Aposentado Não 1 salário Filhos Casa Alugada Alvenaria Aposentado Não 1a3 salários Cônjuge Casa Alugada Alvenaria Aposentado Não 1 salário Casa Própria Alvenaria Não 1a3 salários Casa Própria Alvenaria Não 1 salário Casa Cedida Alvenaria BPC Não 1 salário Neto Casa Própria Alvenaria Pensionista Não 1 salário Filha, genro e neto Casa Cedida Alvenaria Aposentado Não 1 salário Amigas Casa Cedida Alvenaria Aposentado Não 1 salário Sozinho Casa Própria Alvenaria Aposentado Aluguel de cômodos 1a3 salários Sobrinho Casa Própria Alvenaria Aposentado Não 1 salário 6 Não informado Casa Alugada Alvenaria Aposentado e pensionista Não 1a3 salários Solteiro não tem Sozinho Casa Própria Alvenaria Aposentado Não 1 salário Viúvo 3 Filhos e netos Casa Própria Alvenaria Aposentado Não 1 salário Divorciado 9 Cônjuge Casa Própria Alvenaria Aposentado Não 1 salário Viúvo 6 Filhos Casa Própria Alvenaria Aposentado e Não 1a3 salários Estado civil Nº de filhos Composição familiar Moradia Tipo de moradia Condições Situação econômica Viúvo Viúvo 7 não tem 7 Sozinho Não informado Neto Filhos e netos Apartamento Própria Alvenaria Casa Alugada Casa Viúvo 4 Meireles Viúvo 3 Alfabetizado Conjunto Alvorada Viúvo 13 Capital Alfabetizado Meireles Viúvo 6 81 Interior Analfabeto Aagadiço Novo Solteiro 6 41 81 Interior Alfabetizado Meireles Casado 3 42 82 Interior Semianalfabeto Barra do Ceará Viúvo 6 43 83 Interior Alfabetizado Seis Bocas Separado 81 Interior Semianalfabeto Meireles Solteiro 45 67 Interior Alfabetizado Meireles Solteiro 46 69 Interior Alfabetizado Quintino Cunha Solteiro não tem não tem não tem não tem 47 75 Interior Alfabetizado Itaperi Separado 48 70 Capital Alfabetizado 48 82 Interior Alfabetizado 50 76 Capital Alfabetizado 51 81 Interior Alfabetizado 44 Jardim das Oliveiras Praia de Iracema Quintino Cunha Meireles Solteiro Irmã, filha, neto, sobrinho Irmã, filha, neto, sobrinho Filhos e netos Aposentado e pensionista Aposentado e pensionista Renda mensal 298 203 Nº de ordem Idade Naturalidade Escolaridade Bairro Estado civil Nº de filhos Composição familiar Moradia Tipo de moradia Condições Situação econômica Outra atividade financeira Renda mensal 1 salário pensionista 52 69 Capital Alfabetizado 53 66 Interior 54 81 Interior Não informado Alfabetizado 55 66 Interior Alfabetizado 56 57 76 72 58 72 Analfabeto Alfabetizado Semianalfabeto 59 72 60 71 61 71 Capital Outro estado Não informado Não informado Capital Não informado 62 62 Interior Não informado 63 66 Interior Alfabetizado 64 74 Interior Não informado 65 85 Interior Alfabetizado Alfabetizado Analfabeto Não informado Não informado Vicente Pinzon Colônia Barra do Ceará Papicu Centro Separado 3 Filhos Casa Própria Alvenaria BPC Não Casado 3 Cônjuge Casa Própria Alvenaria Aposentado Não Viúvo 2 Filhos Casa Cedida Alvenaria Pensionista Não 1a3 salários 1 salário Viúvo 1 Filhos Casa Própria Alvenaria Aposentado Não 1 salário Solteiro Viúvo 4 2 Casa Apartamento Própria Cedida Alvenaria Alvenaria Aposentado Pensionista Não Não Viúvo 4 Casa Própria Alvenaria Aposentado Não Viúvo 2 Casa Própria Alvenaria Aposentado 1 Casa Própria Alvenaria Aposentado Vende lanches Variado 1 salário 1 salário 1a3 salários 1 salário Separado Viúvo 6 Filhos Filhos Não informado Não informado Sozinho Não informado Casa Própria Alvenaria Aposentado Não Casado 3 Cônjuge Casa Própria Alvenaria Aposentado Faz renda para vender Casado 4 Cônjuge Casa Própria Alvenaria Pensionista Costureira Meireles Viúvo 3 Filhos e netos Casa Própria Alvenaria Pensionista Não Parquelândia Viúvo 14 Filhos e netos Casa Própria Alvenaria Aposentado e pensionista Não Pirambu Praia de Iracema Meireles Tancredo Neves Conjunto Santa Terezinha Vicente Pinzon 1 salário 1a3 salários 1a3 299 salários 1a3 salários 1a3 salários Mais de 3 salários 203 APÊNDICE D - QUADRO PERFIL GERAL DAS 15 IDOSAS CONSTANTES DA PESQUISA Idade (anos) Estado Civil Maria Aldeíde 60 Divorcia da Analfabeta Aposentada Maria Heloíza 61 Viúva. Alfabetizada até a 5ª série Pensionista do marido Maria Franciete 64 Viúva. Alfabetizada Pensionista do marido Maria Verônica 66 Viúva Alfabetizada Pensionista do marido Nome Maria Francisca Maria Felismina Maria Gertrudes 68 69 70 Viúva Viúva Solteira Nível de Escolaridade Alfabetizada Alfabetizada Alfabetizada Situação Econômica Pensionista do marido Aposentada Aposentada O que o grupo de convivência representa em sua vida Afirma que se dá muito bem no grupo. Atividades que aprecia Plano de saúde Atividades domésticas e dançar no grupo. Não Hipertensão arterial Alfabetização e orações. Não Diabetes e colesterol alto Distração e lazer. No bairro Não Dançar, computação e atividades espirituais. Sim SPC Hipertensão arterial Dançar e fazer amizades. Informou que o marido foi assassinado. Vende produtos de revistas. Alfabetização, dançar e fazer orações. Não Afirma não ter nenhum. Círculo de amigos; “uma família”. Não relatado. Outra atividade rentável Aluguel de cômodo: R$ 160,00. Lava roupa para fora. Aluguel de casa: R$ 1.000,00. Dançar, ir à missa todos os dias e acompanhar orações em programas de rádio. Não Cantar, dançar, fazer pinturas em tecido e participar de grupos de convivência religiosos. Não Dançar, participar do grupo folclórico , fazer ginástica e participar de atividades religiosas. Problema de saúde Hipertensão arterial Afirma que é uma maravilha e tem muitas amizades. Não Hipertensão arterial Afirma que é a sua vida e se não fosse por ele já teria enlouquecido ou até morrido. Não Colesterol alto e anemia Afirma que é muito bom, a gente sente muita falta quando não tem. Não Histórico de violência familiar No bairro O seu filho, pai do neto que cria, morreu assinado e ela, na juventude, sofreu tentativa de estupro por parte de um dos irmãos de criação. Menciona que seu bairro é violento O filho foi assassinado. Menciona que o seu bairro é muito violento Não relatado Histórico de conflito familiar Dificuldades de sobrevivência A filha é especial. Um dos filhos é HIV e usuário de drogas. Está vivendo nas ruas e já a agrediu verbalmente e fisicamente. A filha que mora com ela não tem muito diálogo com a mãe. Cria gatos p/ ter companhia. Foi adotada por uma família abastada e não conheceu a mãe. Os irmãos de criação a rejeitaram e a levaram à Justiça . Dois dos filhos que moram com ela têm problemas com a bebida. A irmã é enferma e dependente de cuidados. 204 Nome Maria Joseneide Maria Luiziana Idade (anos) 73 74 Estado Civil Viúva Viúva Nível de Escolaridade 1º grau completo Situação Econômica Aposentada Outra atividade rentável Atividades que aprecia Plano de saúde Problema de saúde Sim HAPI VIDA Diabetes, osteoporose e reumatismo Hipertensão arterial, diabetes, colesterol alto e artrose reumática Afirma que é tudo. É a sua diversão. Não tem Representa muito, pois se diverte, dança e brinca. Vende panos de prato pintados e bordados. Dançar, fazer pinturas em tecido, costurar e fazer crochê. Sim ABI Alfabetizada Pensionista do marido Não Participar do grupo de chorinho e fazer pintura em tecidos. Não Dançar; participar do grupo de chorinho; crochê e costurar; fazer orações. Sim. IPM e ABI O que o grupo de convivência representa em sua vida Afirma que é uma maravilha. Tratou de uma depressão no grupo do CIAPREVI-CE. Histórico de violência familiar Histórico de conflito familiar Os filhos brigam muito entre si Ficou viúva e sofreu de depressão, tendo se curado no grupo de convivência. Tem uma relação Mostra-se estressante com o neto e a filha. Maria Albina 75 Viúva Alfabetizada Funcionária pública munic. aposentada e pensionista Maria Catarina 76 Divorcia da Alfabetizada Aposentada Não Dançar, participar do grupo folclórico, rezar o terço em família. Não Hipertensão arterial Representa muito, pois se diverte, dança e brinca. Boa convivência com os filhos casados Maria Odésia 77 Viúva, mas tem um companh eiro Alfabetizada Aposentada Vende lanches e bombons Participar de aulas de alfabetização e de atividades religiosas na Igreja. Sim. Func. pública Escoliose e varizes Afirma que é muito bom. Vende bombons para ajudar financeiramente a filha casada. Mírian 81 Viúva Alfabetizada Funcionária pública estadual aposentada Não Dançar, fazer crochê, ouvir música e assistir a peças teatrais. Sim. IPEC Glaucoma e problemas cardíacos Considera muito bom, afirma estar revivendo. Boa convivência com os filhos. Não Fazer viagens curas, participar das aulas de computação, fazer colchas de fuxico, rezar e ir à Igreja. Maria Alice Maria Amélia 82 86 Viúva Viúva Alfabetizada (autodidata) Alfabetizada Aposentada Pensionista do marido Não Dançar e participar do grupo folclórico. Sim. ABI Sim. ABI Hipertensão arterial e audição Oportunidade de se socializar com pessoas de sua idade. Não tem É a sua vida, alegria, harmonia, paz, pessoas boas, compreensivas. Sofreu ameaças físicas do marido O cunhado foi vítima de violência por parte da filha que o manteve cativo em casa por muito tempo Um familiar próximo foi assassinado. É auto-negligente com a saúde e não procura assistência médica Boa convivência com os filhos casados e com o que mora c/ ela. Uma das filhas não se dá com ela e vive distante. Mantém boa convivência em família, mas procura participar de vários grupos de convivência. 205 APÊNDICE E – INSTRUMENTOS DE COLETA E ANÁLISE DOS DADOS. INSTRUMENTO 1: Nome do sujeito: Ações da vida cotidiana (*) 1. Em casa O QUE COSTUMA FAZER 2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE 3. Na sua comunidade e/ou em outro local segunda-feira terça-feira quarta-feira quinta-feira sexta-feira sábado domingo Contextos verificados: 1. Privado (casa) 1.1 Por que realiza essas atividades? 1.2 Troca experiências com outras pessoas enquanto realiza essas atividades? Com quem? 2. Comunitário (extragrupo de convivência do CIAPREVI-CE) 2.1 Que tempo dispensa ao lazer cultural e social (assistir a noticiários, ler revistas, ouvir música, ir ao cinema, teatro e forrós)? 2.2 Que tempo reserva para se encontrar com os amigos e para conversar sobre assuntos de interesse coletivo (da rua onde mora, do bairro, da cidade, etc.) 206 INSTRUMENTO 2: Nome do sujeito: Ações da vida cotidiana (*) segunda-feira terça-feira quarta-feira quinta-feira sexta-feira sábado domingo PLANO ESTRATÉTICO DE ROTINA SEMANAL IDEALIZADO PELOS SUJEITOS (O que retiraria e o que acrescentaria à sua vida real) 3. Na sua comunidade e/ou em 1. Em casa 2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE outro local 207 APÊNDICE F – SINTESE DOS INSTRUMENTOS (1 E 2) DE ANÁLISE DOS SUJEITOS INSTRUMENTO 1: Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de Maria Heloíza Ações da vida cotidiana (*) segunda-feira terça-feira O QUE COSTUMA FAZER 1. Em casa 2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE 5h: Acorda. Prepara o café para ela e toda a família, incluindo os familiares que moram na casa conjugada à sua (filho e nora). Depois de fazer o asseio pessoal da filha e o seu próprio, toma o seu café com a filha de 41 anos, que é especial e com o neto de 12 anos que vai de manhã para o colégio (Ela cria o neto); Depois lava a louça, e se arruma para trazer a filha para a Associação Pestalozzi, próxima ao CIAPREVI, onde ela estuda; 7h20: Sai de casa com a filha (há 8 anos repete essa rotina. Antes, porém, só ia para o Pestalozzi); 11h20: Chega em casa com a filha. Quando um dos filhos que é porteiro de 8h: Entra na oficina de bordado. Fica na oficina do um prédio está em casa de folga, ela não precisa preparar o almoço porque ele prepara por bordado até 11h e vai apanhar a filha na Associação ela... Ela às vezes só complementa o que falta (o arroz, o feijão...); 12h30min: Almoça Pestalozzi. com o filho e os três netos, inclusive os que moram ao lado porque a nora sai às 16h e trabalha até às 2h da madrugada em um restaurante e pela manhã ainda trabalha em casa de família; 12h30 – 14h30: Dorme um pouco e levanta para “ajeitar as coisas, né, a merenda para os meninos...Aí a gente fica por ali fazendo as coisas dentro de casa... ”; 14h3-19h: Faz trabalhos caseiros, assiste ao telejornal e espera o filho chegar da ginástica; 20h: Janta com a família e vai para a calçada. 22h: Recolhe-se para dormir e prepara a filha antes para dormir. 5h: Acorda. Prepara o café para ela e toda a família, incluindo os familiares que moram na casa conjugada à sua. Depois de fazer o asseio pessoal da filha , de 41 anos, que é especial e o seu próprio, toma café com a filha e com o neto de 12 anos, que vai de manhã para o colégio; Depois lava a roupa de dois rapazes, e se arruma para trazer a filha para a Associação Pestalozzi, onde ela estuda. (“porque tem sempre que acompanhar a filha.”.); 07h20: Sai de casa em companhia da filha. Antes, porém, só ia para o Pestalozzi. 11h20: Chegam em casa;12h30: Prepara ou termina o almoço e almoça com a família;14h: Lava a louça e Descansa um pouco; 15h. Sai de casa para participar das atividades no grupo religioso, na Igreja. 19h: Ajeita alguma coisa na cozinha e janta com a família; 19h3020h: Assiste ao telejornal e vai para a calçada participar da conversa costumeira com a vizinhança; 22h: Recolhe-se para dormir e prepara a filha antes para dormir. 3. Na sua comunidade e/ou em outro local 7h40: Deixa a filha no colégio especial e vai para o CIAPREVI; 11h: Busca a filha na Associação Pestalozzi e volta com ela para casa; 20h: Vai para a calçada, onde fica quase a noite toda conversando com familiares e vizinhos. O cunhado tem uma banca de churrasquinho que é muito animada. A família toda fica conversando sobre assuntos diversos, principalmente sobre futebol... 07h40: Deixa a filha no colégio especial e vai para o CIAPREVI; 11h: Vai apanhar a filha e vão para casa; 15h30: Começa a reunião do grupo (tem um terço; tem uma leitura que a coordenadora lê num manual, depois tem a leitura bíblica; tem os trabalhos que a gente faz na semana e 8h: Entra na reunião do grupo. Faz as orações, que a gente apresenta... a gente visita participa do alongamento e da palestra proferida pessoas na comunidade e na reunião a pelo técnico; 10h: Termina a palestra; começa o gente diz tudo o que a gente fez durante lanche e depois o forró dançante. a semana: Se visitou um idoso, um doente, se leu um salmo...) 15h: Vai participar de um grupo de oração da Igreja: Grupo Legião de Maria; 17h: Faz adoração ao Santíssimo (na Igreja); 17h30:Termina a oração ao Santíssimo na Igreja e começa a missa; 18h30: Termina a missa e volta para casa para jantar. 208 Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de Maria Heloíza Ações da vida cotidiana (*) quarta-feira quinta-feira O QUE COSTUMA FAZER 1. Em casa 05h30: Acorda um pouco mais tarde. Vai comprar o pão; Prepara o café para ela e toda a família, Depois de fazer o asseio pessoal da filha e o seu próprio, toma o seu café com a filha e com o neto Depois lava a louça, e se arruma para trazer a filha para a Associação Pestalozzi; 07h20min: Sai de casa com a filha; 11h20: Chega em casa com a filha.. Ela aproveita para lavar a roupa da família; “Às vezes eu fico por ali e se tiver algum bordado pra mim fazer, eu faço. Depois lava a louça.. É,u lavo, se eu não fizer não tem quem faça não...”; 12h30: Almoça com o filho e os três netos, inclusive os que moram ao lado; 12h30 – 14h30: Dorme um pouco e levanta para “ajeitar as coisas, né, a merenda para os meninos...Aí a gente fica por ali fazendo as coisas dentro de casa... ”; 14h30 - 19h: Faz trabalhos caseiros, assiste ao telejornal e espera o filho chegar da ginástica; 20h: Janta com a família e vai para a calçada, onde fica quase a noite toda conversando com familiares e vizinhos. 22h: Recolhe-se para dormir e prepara a filha antes para dormir. 5h: Acorda e repete a mesma rotina de todos os dias; 07h40: Deixa a filha no colégio especial e vai para o CIAPREVI; 11h20: Chegam em casa; 12h:30: Prepara ou termina o almoço e almoça com a família; 14h: Lava a louça e descansa um pouco; 15h - 19h: Passa o dia todo “fazendo as coisas dentro de casa”; Fica conversando com o mesmo grupo de amigos de todas as noites, entra depois em casa; 19h:30 - 20h: “Ajeita as coisas dentro de casa”; assiste ao telejornal e vai para a calçada participar da conversa costumeira com a vizinhança; 22h: Recolhe-se para dormir e prepara a filha antes para dormir. sexta-feira 5h: Acorda e repete a mesma rotina de todos os dias; 07h20min: Sai de casa com a; 11h:20min: Chega em casa com a filha.; 12h:30min: Prepara ou termina o almoço e almoça com a família; 14h: Lava a louça e descansa um pouco; 17h: Vai dar banho e arrumar a filha; Dá merenda para ela e segue a mesma rotina; 19h:30 - 20h: “Ajeita as coisas dentro de casa”; assiste ao telejornal e vai para a calçada participar da conversa costumeira com a vizinhança;22h: Recolhe-se para dormir e prepara a filha antes para dormir. sábado 5h: Acorda e repete a mesma rotina de todos os dias; Lava a louça, a roupa de casa e cuida do almoço. 10h - 12h: Faz os serviços domésticos; 12h: Almoça. Os familiares e vizinhos sempre aparecem nesse dia; 12h30: Prepara ou termina o almoço e almoça com a família; 14h: Lava a louça e descansa um pouco; Lava sua própria roupa de casa; 15h - 19h: Levanta do descanso e faz serviços dentro de casa; Depois do almoço gosta de dormir; 20h: Janta e “ajeita as coisas dentro de casa”; assiste ao telejornal e vai para a calçada participar da conversa costumeira com a vizinhança; 22h: Recolhe-se para dormir e prepara a filha antes para dormir. 3. Na sua comunidade e/ou em outro local 07h40: Deixa a filha no colégio especial e vai para o CIAPREVI; 11h: Vai para casa com a filha; 18h: Vai para a Igreja (Participa do 08h30: Entra no Curso de Alfabetização no terço das mulheres). Tem a leitura do CIAPREVI; 10h: Sai do Curso da alfabetização e Evangelho, e depois tem palestras entra na oficina de bordado; religiosas; 20h30: Volta para casa; 20h: 10h - 11h: Fica na oficina do bordado; 11h: Vai Janta com a família e vai para a calçada, apanhar a filha na Associação Pestalozzi. onde fica quase a noite toda conversando com familiares e vizinhos. 2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE 8h: Entra na reunião do grupo. Faz as orações, participa do alongamento e da palestra proferida pelo técnico. (Ela diz que a coordenação do grupo reclama porque a maioria dos idosos está chegando muito tarde e não participam de todos os momentos da reunião do grupo); 10h: Termina a palestra; começa o lanche e depois o forró dançante. 11h: Vai apanhar a filha e vão para casa; 20h: Janta com a família e vai para a calçada, onde fica quase a noite toda conversando com familiares e vizinhos. 07h40: Deixa a filha no colégio especial e vai para o CIAPREVI; 11h: Vai para casa com a filha; 15h: Sai com 08h30: Entra no Curso de Alfabetização no a coordenadora do Grupo de Oração da CIAPREVI; 10h: Sai do Curso da alfabetização e Igreja e vão fazer visitas a pessoas da entra na oficina de bordado; 11h: vai buscar a filha e família; retornam juntas para casa. 17h: Retorna para casa; 20h: Janta com a família e vai para a calçada, onde fica quase a noite toda conversando com familiares e vizinhos. 20h: Janta com a família e vai para a calçada, onde fica quase a noite toda conversando com familiares e vizinhos. “E agora o que nós tamo mais é falando dos ladrão que tão roubando as casas... Entraram de noite na casa do vinho e de dia entraram e roubaram a bolsa... Nunca tinha acontecido isso...” 209 Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de Maria Heloíza O QUE COSTUMA FAZER Ações da vida cotidiana (*) domingo 1. Em casa 2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE 5h: Acorda e repete a mesma rotina de todos os dias; 7h: Vai para a missa de manhã; 10h - 12h: Faz o almoço e outros serviços domésticos; 12h: Almoça. Os familiares e vizinhos sempre aparecem nesse dia; 18h: quando vai passar o domingo fora, só retorna nesse horário; Chegam em casa, às vezes já para dormir; 20h: Janta 22h: Prepara-se e arruma a filha para dormir. Recolhem-se para dormir. “Domingo agora nós fomo pra um piquenique lá na Lagoa do Aquiraz... A gente pagou R$ 10,00 (Dez reais). A gente saiu 08h30min e chegou às 16h... Bom que só!” 3. Na sua comunidade e/ou em outro local 08h30: Volta da missa e só quando chega toma café com a filha, que até esse horário fica em casa dormindo; Às vezes, aos domingos, participa de piquenique com familiares. Vão para o Aquiraz, vão para a Prainha, para o Pecém. Estes são organizados pela nora. O último programa que fizeram foi perto de Aquiraz. Retornam às 16h. Lá eles tomam banho de mar, brincam e almoçam nas barracas; INSTRUMENTO 2 Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de Maria Heloíza PLANO ESTRATÉTICO DE ROTINA SEMANAL IDEALIZADO PELOS SUJEITOS (O que retiraria e o que acrescentaria à sua vida real) Ações da vida cotidiana (*) 3. Na sua comunidade e/ou em 1. Em casa 2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE outro local “Ah, eu gostava de viajar, assim pra fora... Pra praia eu não gostaria de ir não, porque eu já moro na beira de praia. Assim dia de domingo... Nos outros dias eu Manteria a rotina Manteria a rotina segunda-feira gostaria de fazer essas coisas mesmo... Eu sempre ia querer fazer essas coisas mesmos... pra gente não ficar parada....” terça-feira Manteria a rotina Manteria a rotina Manteria a rotina quarta-feira Manteria a rotina Manteria a rotina Manteria a rotina quinta-feira Manteria a rotina Manteria a rotina Manteria a rotina sexta-feira Manteria a rotina Manteria a rotina Manteria a rotina sábado Incluiria mais viagens de lazer domingo Incluiria mais viagens de lazer INSTRUMENTO 1: Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de Maria Aldeíde Ações da O QUE COSTUMA FAZER vida cotidiana 1. Em casa 2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE (*) 5h: Acorda. Prepara o café (leite, tapioca, cuscuz e pão). “Meu filho vai trabalhar, às 5:30h., o despertador chama, né, e eu acordo para fazer as coisas. Depois que ele sai, eu fecho as portas e vou fazer minhas coisas. Eu só tomo o meu café depois que faço as minhas coisas.Eu sou assim. Eu varro o quintal, lavo a roupa, lavo o banheiro e depois eu me asseio e vou tomar o meu café”; 8h: Varre a casa, vai fazer o almoço; 9h - 10h: Termina de preparar o almoço; 10h: Descansa um pouco (coloca o som e ouve música. “Eu gosto mais é da Samantha, dou o maior valor, porque sai música, né?...Quando eu não boto ela, eu boto CD, ou vou lá fora conversar com minha amiga, que eu me dou muito bem com ela. Ela é segundaminha confidente, nós conta os segredos uma da outra, nós ri, acha graça...” 12h: As amigas feira vão cada uma para sua casa e ela vai almoçar. 13h: Depois de lavar a louça se deita um pouco; 14h: Acorda para assistir a novela da “Serena”... 15h: Termina de assistir à novela e vai preparar sua merenda e fazer o café, para tomar com minha filha. “Toda tarde ela vai lá pra casa...” 19h: Janta sozinha, o filho janta depois. 20h - 22h: Assiste às novelas, não costuma assistir telejornal. “Esse negócio de Barra Pesada, Deus me livre. É muita morte, muita coisa... O Serviluz é barra pesada... Minha filha, meu bairro era tão bom. É muito tiro... Ai meu Deus... eu fecho minhas portas e vou me deitar”. 22h: Recolhe-se para dormir... 08h30-9h: Chega ao CIAPREVI. Faz a oração e o alongamento. Lancha e participa do forró... “Eu danço é toda a vida... Só se não tiver com quem... Aliás, eu gosto de tudo aqui... Primeiramente eu gosto daqui é da a reza, né?. 5h: Acorda. Prepara o café (leite, tapioca, cuscuz e pão).7h30- 8h: Prepara-se para vir ao Pelo menos em casa, eu não me deito nem me levanto se CIAPREVI. não fizer minha oração... Quando eu venho pra cá...eu já 13h - 15h: Chega do centro, troca de roupa e vai assistir à novela. Não se deita mais, ainda tenho feito a minha obrigação e ainda peço a ele, eu digo: terça-feira se estiver cansada, porque prefere assistir à novela... 14h: Vai assistir à novela da “Serena”... Senhor me acompanha, me livra de todos os perigos, me 15h: Termina de assistir à novela e vai preparar sua merenda e fazer o café, para tomar com leva e me traz em paz, me livra de todos os perigos, em a filha. “Toda tarde ela vai lá pra casa...” 19h: Janta sozinha, o filho janta depois. 20h - 22h: nome de Jesus...” 9h - 10h: Participa de palestras. 10h Assiste às novelas, não costuma assistir ao telejornal. 12h: Participa do forró dos idosos; 12h: Almoça com os outros idosos. 13h: Demora um pedaço, depois vai lavar as mãos de fazer higiene bucal, vai embora para casa ou vai para o centro fazer pagamentos, se precisar. 5h. Acorda. Prepara o café. Meu filho vai trabalhar, às 05h30. 8h: Varre a casa, vai fazer o almoço; 9h - 10h: Termina de preparar o almoço; 10h: Descansa um pouco (coloca o som e ouve música.. Coloca um“ CD, ou vai lá fora conversar com minha amiga. Antes das 12h: As amigas vão cada uma para sua casa e ela vai almoçar; 13h. Depois de lavar a louça se deita um pouco; 14h: Acorda para assistir a novela da “Serena”... 15h: Termina de assistir à quarta-feira novela e vai preparar sua merenda e fazer o café, para tomar com minha filha. “Toda tarde ela vai lá pra casa...” 19h: Janta sozinha, o filho janta depois. Terminou minha tarefa.... Aí e eu vou só assistir novela.... 20h - 22h: Chego, tomo banho, troco de roupa, enxáguo minha roupa, aí não posso me deitar mais, porque é a novela.Assiste às novelas, não costuma assistir telejornal. 22h: Recolhe-se para dormir... 3. Na sua comunidade e/ou em outro local 10h: “Quase sempre vou lá fora conversar com minha amiga, que eu me dou muito bem com ela.” 16h: Vai com a filha para a calçada, conversar com a amiga costumeira. 18h: A filha vai embora e ela retorna para os afazeres domésticos. 13h: Vai ao centro da cidade para fazer pagamentos, se precisar... (Vai, inclusive, fazer os pagamentos da filha) 13h: Vai ao centro da cidade para fazer pagamentos, se precisar... Todos os meses, no começo do mês, ela tem necessidade de sair para receber o dinheiro de sua aposentadoria ou para fazer seus pagamentos ou fazer alguma compra que tiver necessidade. É ela quem vai, inclusive, fazer os pagamentos da filha. 211 Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de Maria Aldeíde Ações da vida cotidiana 1. Em casa (*) quinta-feira O QUE COSTUMA FAZER 5h. Acorda. Prepara o café (leite, tapioca, cuscuz e pão). Meu filho vai trabalhar, às 5h30., “o despertador chama”, né, e eu acordo para fazer as coisas. 07h30 - 8h: Prepara-se para ir ao CIAPREVI, aonde chega às 8h30-9horas; 13h - 15h: Chega do centro, troca de roupa e vai assistir à novela. Não se deita mais, ainda se estiver cansada, porque prefere assistir à novela...; 14h: Vai assistir à novela da “Serena”...; 15h: Termina de assistir à novela e vai preparar sua merenda e fazer o café, para tomar com minha filha. “Toda tarde ela vai lá pra casa...”; 19h: Janta sozinha, o filho janta depois. Terminou minha tarefa.... Aí eu vou só assistir novela.... ; 20h - 22h: Assiste às novelas, não costuma assistir telejornal. sexta-feira 5h. Acorda. Prepara o café, né, e eu acordo para fazer as coisas. 8h: Varre a casa, vai fazer o almoço; Entre 9h - 10h: Termina de preparar o almoço; Todas as sextas-feiras, ela faz a faxina na casa. “Eu limpo tudo... “... 14h: Vai assistir à novela da “Serena”... 15h: Termina de assistir à novela e vai preparar sua merenda e fazer o café, para tomar com minha filha. “Toda tarde ela vai lá pra casa...” 19h: Janta sozinha, o filho janta depois. Terminou minha tarefa... Aí eu vou só assistir novela... 20h - 22h: Assiste às novelas, não costuma assistir telejornal. sábado 5h - 6h. Acorda só um pouco mais tarde. Prepara o café (leite, tapioca, cuscuz e pão). Meu filho não vai trabalhar e eu acordo para fazer as coisas. Não faz faxina, porque já tem feito na sexta-feira. Passa o dia em casa. Repete a mesma rotina da semana. Se for para a missa, só vai à tarde. 22h: Recolhe-se para dormir domingo 5h.- 6h: Acorda só um pouco mais tarde.. Prepara o café (leite, tapioca, cuscuz e pão). Meu filho vai trabalhar, às 05h30min., “o despertador chama”, né, e eu acordo para fazer as coisas. Depois que ele sai, eu fecho as portas e vou fazer minhas coisas. Eu só tomo o meu café depois que faço as minhas coisas. Eu sou assim. Eu varro o quintal, lavo a roupa, lavo o banheiro e depois eu me asseio e vou tomar o meu café. 8h: Varre a casa, vai fazer o almoço; 9h - 10h: Termina de preparar o almoço; 10h: Descansa um pouco (coloca o som e ouve música. Repete a mesma rotina da semana. 22h: Recolhe-se para dormir. 2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE 3. Na sua comunidade e/ou em outro local Não participa das atividades do curso de alfabetização. Ela se justifica porque não faz essa atividade, apesar de gostar de tudo no CIAPREVI: “Se eu soubesse ler... Minha filha, eu já estudei tanto e nunca aprendi nada... Jà depois de 50 e tantos anos, eu tive no colégio e não entra, não entra... Não sei por que... .Eu já pedi até perdão a Deus, se for pecado, que ele me perdoasse... É de estar numa parada de ônibus, sem precisar pedir... De pegar uma carta, um jornal e ler.. Se eu soubesse ler, eu podia arranjar um trabalho, trabalhar, de eu ir pros cantos, sem ficar preocupada de estar na parada do ônibus sem precisar pedir: Ei, minha filha, quando vier o ônibus me diga aí pra eu pegar... É a única coisa que eu tenho inveja na vida, outra coisa eu não tenho... Aí quer dizer, se eu soubesse, tudo isso era bom pra mim...Quando eu era criança, muito criança, quando eu comecei a estudar, mas eu nunca me interessei.... Eu apanhava, levava bolo nas mãos e não aprendia...” E fala sobre os outros irmãos: “Quase tudo não sabia ler... mas esse negócio de conta eles sabia, tudim... Agora tinha uns que sabia ler e escrever, mas eles já morreram...” 10h: Quase sempre vou lá fora conversar com minha amiga, que eu me dou muito bem com ela. 16h: Vai com a filha para a calçada, conversar com a amiga costumeira. 18h: A filha vai embora e ela retorna para os afazeres domésticos 10h: Quase sempre vou lá fora conversar com minha amiga, que eu me dou muito bem com ela. 16h: Vai com a filha para a calçada, conversar com a amiga costumeira. 18h: A filha vai embora e ela retorna para os afazeres domésticos 10h: Quase sempre vou lá fora conversar com minha amiga, que eu me dou muito bem com ela. 16h: Vai com a filha para a calçada, conversar com a amiga costumeira. 18h: A filha vai embora e ela retorna para os afazeres domésticos 10h: Quase sempre vou lá fora conversar com minha amiga, que eu me dou muito bem com ela. 16h: Vai com a filha para a calçada, conversar com a amiga costumeira. 18h: A filha vai embora e ela retorna para os afazeres domésticos. 212 INSTRUMENTO 2: Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de Maria Aldeíde PLANO ESTRATÉTICO DE ROTINA SEMANAL IDEALIZADO PELOS SUJEITOS (O que retiraria e o que acrescentaria à sua vida real) Ações da vida cotidiana (*) 1. Em casa 2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE 3. Na sua comunidade e/ou em outro local segunda-feira Manteria a rotina Manteria a rotina Manteria a rotina terça-feira Manteria a rotina Manteria a rotina Manteria a rotina quarta-feira Manteria a rotina Manteria a rotina Manteria a rotina quinta-feira Manteria a rotina Manteria a rotina Manteria a rotina sexta-feira Manteria a rotina Manteria a rotina Manteria a rotina sábado Incluiria mais passeios Incluiria mais passeios Incluiria mais passeios domingo Incluiria mais passeios Incluiria mais passeios Incluiria mais passeios INSTRUMENTO 1: Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de Maria Franciete Ações da vida cotidiana (*) 1. Em casa Acorda entre 540h - 6h. Diz que tem “uma penitência de quatro coisas” que faz todos os dias, ao se levantar: Reza, agradece a Deus pela noite, recolhe o “urinol” que leva p/o quarto toda noite, bebe água “para lavar o estômago”; desliga o ventilador e arruma a cama. Faz seu asseio pessoal, e vai se vestir; 7h20 – 7h30: Prepara o café, mas antes de fazer a refeição matinal vai colocar a roupa no tanque. Prepara a mesa e toma o café; 10h30 - 11h: Termina de lavar a roupa e vai lavar a louça do café, lava a roupa, limpa o fogão (faz isso várias vezes por dia, porque diz que gosta muito de limpeza, e que sua casa é sempre limpinha). 12h segunda-feira – 12h30: almoça com os filhos; 13h: Repousa depois do almoço, e vai assistir ao programa “Barra Pesada”, deitada na rede; 16h: gosta de tomar um café. Depois vai assistir a programas sobre notícias policiais. “Com essa violência toda em minha vida, eu ainda gosto, acredita?” 16h: levanta, mas continua a assistir à programação da televisão, até às19h, quando sai para jantar fora com os filhos; 21h: Voltam para casa e ela vai para a calçada; 22h – 22h30: Volta para casa. Fica acordada até às 24h ou 24h30, fazendo crochê. Recolhe-se muito tarde para dormir. terça-feira Acorda entre 5h40 - 6h. Repete a rotina e vai se vestir; 7h20h – 7h30: Prepara o café; 8:00h: Sai para o CIAPREVI; 13h30: Chega em casa, toma banho e vai descansar e o resto do dia repete a programação do dia anterior. 22h-22h30. Volta para casa. Fica até às 24h – 24h30 acordada, fazendo crochê. (Diz que sofre de insônia). quarta-feira Acorda entre 5h40 - 6h. Repete a rotina e vai se vestir; 7h20 – 7h30: Prepara e toma o café; 9h: Vai com as amigas (coroas) para o grupo de convivência do Mucuripe (D. Tatá). Ficam lá até às 10h30: Retorna para casa, toma banho e vai arrumar a cozinha. Faz o almoço; 11h: Termina de lavar a louça do café, lava a roupa, limpa o fogão (faz isso várias vezes por dia, porque diz que gosta muito de limpeza, e que sua casa é sempre limpinha); 12h - 12:30h: almoça com os filhos.13h: Repousa depois do almoço, e repete a rotina de todos os dias . 22h22h30: Volta para casa.até dormir; 24h – 24h30: Fica acordada, fazendo crochê. quinta-feira 5h40 - 6h: Acorda. E repete a rotina de todos os dias; 7h20-7h30: Prepara o café, e faz a refeição; 14h – 14h30: Chega em casa, toma banho e vai descansar e o resto do dia repete a programação do dia anterior. Quando fica até às 12:h – 12h30: acordada, fazendo crochê, como forma de vencer a insônia). O QUE COSTUMA FAZER 2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE - 3. Na sua comunidade e/ou em outro local 19h – 19h30: costuma jantar fora com os filhos (comer uma pizza); 21h: Vai para a calçada todas as noites conversar com a irmã, que mora na casa vizinha à dela. OBS¹: Diz que gosta muito de viajar. Durante o ano, faz umas três viagens ou mais. Já está com uma excursão agendada com um grupo de pessoas (mais ou menos 150 pessoas) para vários lugares do Interior. “Mês que entra eu vou pra cinco lugar: Vou pra Canindé, de lá para um banho de cachoeira na Varjota, de lá vou para Arará, de lá vou pra Santa Quitéria, de lá vou para Ipú... e de Ipu vão para Ubajara. ...Vai três ônibus”. O dono da excursão é um grande amigo meu...Diz que é uma pessoa muito conhecida no mundo e que há uns onze anos vende passeios de excursão... 8:30h - 9h: Chega ao CIAPREVI. Participa da oração, do exercício de alongamento e entra na aula da computação; 21h: Vai para a calçada todas as noites conversar com a irmã, que 10h: Vai assistir ao forró e gosta de dançar. Fica mora na casa vizinha à dela. dançando, até 12h, quando começa o almoço; 13h - 13:30h: Retorna para casa. 21h: Vai para a calçada todas as noites conversar com a irmã. OBS² : Quando perguntada sobre do que tratam as palestras que são proferidas no grupo de idosos de D. Tatá, diz que é sobre aniversários... É para os filhos não baterem nas mães. “Olha, eu ouvi falar, não sei não...mas esse rapaz que tá ai bate na mãe....essas coisas. É a D. fulana de tal, e a outra, d. cicrana. Sabe o que é uma pessoa sensacional? Elas dão umas cópias...Perguntam se a gente já tinha a carteirinha do SESI, pra quando quiser se alimentar lá, só paga a metade...” Elas dizem tanta da coisa, mas não tem condições da gente gravar tudo isso porque é muita coisa que ela diz.... Quando perguntada sobre o que os palestrantes falavam nessas palestras acerca dos direitos dos idosos não soube responder ao certo quais eram os direitos dos idosos; 8h30 - 9h: Chega ao CIAPREVI. Participa da 21h: Vai para a calçada todas as noites conversar com a irmã. oração, do exercício de alongamento e entra na OBS³: Diz que não tem rotina de almoço fixa, dentro de casa, porque aula da computação, até às 10h. o filho parece mulher de antojo... tem dia que ele tem desejo de 10h: Vai assistir ao forró e gosta de dançar. Fica almoçar fora. Ele diz: Mãe, sabe o que eu estou com vontade de dançando, até às 12h, quando começa o almoço; comer hoje? É carne de sol.... Ou então diz: É tal coisa, E eles vão 13h – 13h30: Retorna para casa. almoçar fora... 214 Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de Maria Franciete Ações da vida cotidiana (*) 1. Em casa Acorda entre 5h40 - 6h. Diz que tem “uma penitência de quatro coisas” que faz todos os dias, ao se levantar: Reza, agradece a Deus pela noite, recolhe o “urinol” que leva p/o quarto toda noite, bebe água “para lavar o estômago”; desliga o ventilador e arruma a cama. Faz seu asseio pessoal, e vai se vestir; 7h20 – 7h30: Prepara o café, mas antes de fazer a refeição matinal vai colocar a roupa no tanque; 9h: Vai para um curso de pintura no Cipó. “Tá com nove anos”, que eu vou pra lá. Tem café pra nós, leite com Nescau, e lá pra 12h30 tem outro lancho e aí a gente vai embora.” 13h30: Retorna para casa e vai fazer as coisas em casa. Limpa o fogão (faz isso várias vezes por dia, porque diz que gosta muito sexta-feira de limpeza, e que sua casa é sempre limpinha); 12h – 12h30: almoça com os filhos. 13h: Repousa depois que chega em casa, e vai assistir ao programa “Barra Pesada”, deitada na rede; 16h: gosta de tomar um café:. E justifica porque gosta de programas sobre violência: “Ave Maria, Ave Maria, né, menina? Eu tenho esse filho assim”; 16h: levanta, mas continua a assistir à programação da televisão (cita vários programas), até às19h, quando sai para jantar fora com os filhos; 21h: Voltam para casa; 22h – 22h30: fica acordada.. Ela tem uma devoção há 32 anos de ler o Evangelho todas as sextas-feiras... Acorda entre 5h40 - 6h. Ao se levantar: Reza, agradece a Deus pela noite, recolhe o “urinol”, bebe água e arruma a cama. Faz seu asseio pessoal, e vai se vestir; 7h20 – 7h30: Prepara o café, mas antes de fazer a refeição matinal vai colocar a roupa no tanque. Lá em frente ao Hospital Geral tem uma reunião de mesa, brinca todo o sábado... E lá tem uma reunião muito bonita, vai explicar como é o espírito, ela vai explicar o Evangelho... 10h: Retorna para casa: Aí dá aquela preguiça, aí sábado passa o resto do dia deitada na rede lá no quintal... Depois levanta, faz as minhas unhas (minha manicure vem fazer as unhas em casa. Depois faz o cabelo... Volta do cabeleireiro, às vezes às 23h só para dormir... “Ih... vixe, eu demoro porque eu vou escovar o cabelo, vou arrumar... Meu velho mandava eu ir para o cabeleireiro. Dizia: Ih, minha velha tá hoje com o cabelo caju.... Tá bom, tá ótimo... E me dava dinheiro...” Acorda entre 5h40 - 6h. Ao se levantar: Reza, agradece a Deus pela noite, recolhe o “urinol”, bebe água e arruma a cama. Faz seu asseio pessoal, e vai se vestir; 7h20 – 7h30: Prepara o café. Depois vai para a domingo casa das amigas “Eu vou pro Quintino Cunha, eu vou para o Santo Amaro, eu vou pro Canindezinho. Domingo é pouco! Eu não faço nada na casa delas, é só conversando”; Chega em casa só às 20h. O QUE COSTUMA FAZER 2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE 3. Na sua comunidade e/ou em outro local 21h: Vai para a calçada todas as noites conversar com a irmã. “Eu já tenho um bom começo já. Hoje ele (o professor) deu como se fosse uma carta. Aí ele disse: „A tarefa de hoje é essa aqui... Era assim tipo uma oração, assim ... Jesus ...‟” E ressalta que quis aprender computação por uma intuição ... aquela intuição besta dentro de mim, porque eu já sei ler ... “É assim, quando a gente já sabe de uma coisa quer aprender outra ... Já está com mais de mês. É para eu saber as coisas, saber como é que mexe... Talvez eu, sabe lá, se mais na frente eu não compre um computador ... Assim, para conversar pelo computador, com um irmão, pra conhecer mais pessoas, passar e-mails ... É isso, com certeza, eu quero conhecer mais pessoas, do sexo masculino e feminino...” 19h: Vai para o cabeleireiro fazer o cabelo, e só volta às 23h. 21h: Vai para a calçada todas as noites conversar com a irmã. “Eu não gosto de ficar só em casa não .. mas é à noite....” - 215 INSTRUMENTO 2: Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de Maria Franciete PLANO ESTRATÉTICO DE ROTINA SEMANAL IDEALIZADO PELOS SUJEITOS (O que retiraria e o que acrescentaria à sua vida real) Ações da vida cotidiana (*) 1. Em casa 2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE 3. Na sua comunidade e/ou em outro local É tanta coisa que a pessoa faz sem gostar... Pelo menos passar ferro em roupa, lavar banheiro, fazer café da segunda-feira Manteria a rotina nos outros grupos de convivência manhã... ir pra padaria... eu vou porque é o jeito....tem muita coisa que eu não gosto... terça-feira quarta-feira Retiraria a rotina de trabalhos domésticos Eu tenho vontade que meu filho volte porque ele me Quer saber de uma coisa? Eu queria mesmo passar o ajudava o dia todo fazendo as coisas dentro de casa... Se dia todo no computador, só escrevendo, só mandando eele voltasse, eu ia voltar a fazer o meu crochê... mail, recebendo e-mail. Pronto, quer saber? É isso! quinta-feira Retiraria a rotina de trabalhos domésticos sexta-feira Retiraria a rotina de trabalhos domésticos sábado Manteria a programação de passeios e lazer semanais domingo Manteria a rotina no CIAPREVI Manteria a rotina no CIAPREVI Manteria a programação de viagens intermunicipais 216 INSTRUMENTO 1: Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de Maria Felismina Ações da vida cotidiana (*) segunda-feira terça-feira quarta-feira quinta-feira sexta-feira sábado domingo O QUE COSTUMA FAZER 1. Em casa 2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE 8h: Chega para o ensaio no CIAPREVI; 5h: Acorda, faz o seu asseio pessoal, prepara e toma o seu café e sai para 11h: Termina o ensaio; participar do ensaio do grupo de dança no CIAPREVI; 12h: almoça; 18h: Chega em casa, faz seu asseio pessoal e janta; 13h: Entra na aula de pintura em tecido, que é ministrada no 19h - 21h: Assiste a novelas, ouve música CIAPREVI; 21h: Faz suas orações (Reza o Pai-Nosso) e recolhe-se para dormir. 16h: Encerra-se a aula e ela vai para casa. 5h: Acorda, faz o seu asseio pessoal, prepara e toma o seu café e sai para 11h: Participa da dança no CIAPREVI . Ela canta, dança e toca participar do ensaio do grupo de dança no Teatro S. José; pandeiro no grupo de chorinho Recordar é viver; 19h: Chega em casa para jantar; 12h: Almoça com os outros idosos do grupo; 19h - 21h: Assiste novelas, ouve música; 13h - 16h: Participa da aula de pintura em tecido. 21h: Faz suas orações (Reza o Pai-Nosso) e recolhe-se para dormir. 5h: Acorda, faz o seu asseio pessoal, prepara e toma o seu café e faz serviços domésticos, até a hora do almoço, tais como: lavar suas roupas, costurar, etc. Também lancha e ouve músicas; 12h: Faz seu asseio pessoal e almoça 13h: Assiste à novela da tarde na televisão e assiste à sessão da tarde, se gostar da programação; 18h: Janta; 19h - 21h: Assiste novelas, ouve música; 21h: Faz suas orações (Reza o Pai-Nosso) e recolhe-separa dormir. “O meu maior sonho é reunir toda a família e rezar um terço com eles, mas nunca dá certo...” 5h: Acorda, faz o seu asseio pessoal, prepara e toma o seu café e sai para participar do ensaio do grupo de dança no Teatro S. José; 18h: Chega em casa, faz seu asseio pessoal e janta; 19h- 21h: Assiste a novelas, ouve música; 21h: Faz suas orações (Reza o Pai-Nosso) e recolhe-separa dormir. 8h30- 11h: Participa da dança no CIAPREVI; 12h: Almoça com os outros idosos do grupo; 13h - 16h: Participa da aula de pintura em tecido; 16h: Encerra-se a aula e ela vai para casa. 3. Na sua comunidade e/ou em outro local Antes de ir para casa, frequentemente ela passa antes na Casa comercial de sua filha, no centro da cidade. 8h: Chega para o ensaio no Teatro São José para participar do ensaio do grupo folclórico; 11h: Termina o ensaio e ela se dirige ao CIAPREVI; 16h – 17h30: Participa da reunião da Pastoral do Idoso na Paróquia de Santa Luzia, próxima ao CIAPREVI. Quando apresenta problemas de saúde, procura os serviços faz uso dos serviços de instituições comunitárias para obter consultas e realizar exames médicos, utilizando, para tanto o apoio de uma rede de amigos. 8h: Chega para o ensaio no Teatro São José para participar do ensaio do grupo folclórico; 11h: Termina o ensaio e ela se dirige ao CIAPREVI; Ao sair do CIAPREVI; (Passa antes na Casa comercial de sua filha, no centro da cidade) 8h: Chega para o ensaio no CIAPREVI; 11h: Termina o ensaio e ela almoça em casa; 5h: Acorda, faz o seu asseio pessoal, prepara e toma o seu café e sai para 13h: Viaja todos os fins- de - semana para a casa de sua filha na Viaja para passar o fim de semana com a filha no Iguapeparticipar do ensaio do grupo de dança no CIAPREVI. Praia do Iguape_Ceará. Ela diz que, às vezes, já sai do Ceará CIAPREVI para o local do Centro da Cidade onde o ônibus parte. Lazer na casa da filha, em Iguape-Ce. “Lá nós janta fora, Não fica em casa. vai pra praia...” Não fica em casa. Assiste à missa de manhã, pela televisão... Depois 8h: Vai Lazer na casa da filha, em Iguape-Ce. assiste ao programa do Ceará Caboclo e o da Viola minha viola. 217 INSTRUMENTO 2: Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de Maria Felismina Ações da vida cotidiana (*) PLANO ESTRATÉTICO DE ROTINA SEMANAL IDEALIZADO PELOS SUJEITOS (O que retiraria e o que acrescentaria à sua vida real) 1. Em casa 2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE 3. Na sua comunidade e/ou em outro local Sugeriu mudanças no funcionamento do grupo CIAPREVI Manteria a participação em outras atividades comunitárias segunda-feira Incluiria mais atividades de lazer em casa, tais como: escutar música, e trabalhar peças em ponto de cruz, ou faria renda de bilros. terça-feira Idem “Ah! era muito bom se nós tivéssemos aqui no grupo médico, ao menos um aparelho de pressão, medicamentos...Tem medicamentos, mas é tão pouco... Idem quarta-feira Idem Sugeria mudanças no funcionamento do CIAPREVI Idem quinta-feira Idem Idem Idem sexta-feira Idem Idem Idem sábado Idem Idem domingo A idosa viaja todos os finais de semana para a casa de praia da filha, em Beberibe, para não ter que presenciar a bebedeira dos filhos. Ela preferiria ficar mais tempo em casa, se pudesse, fazendo as coisas que gosta Idem INSTRUMENTO 1: Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de Maria Verônica Ações da vida cotidiana (*) segunda-feira terça-feira quarta-feira quinta-feira sexta-feira sábado O QUE COSTUMA FAZER 1. Em casa 2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE 3. Na sua comunidade e/ou em outro local 6h: Acorda, faz seu asseio pessoal. Prepara o café, chá e tapioca, prepara a mesa e faz a refeição matinal; 7h – 7h30: Lava louças na cozinha; 8h30 - 12h: Prepara o almoço da família; 12h: Almoça em casa; 12h30: Descansa ½ hora; 13h30: Levanta e varre a casa, limpa a sujeira diária de 20 gatos que cria no quintal de sua casa. Repete essa atividade Não sai para conversar na calçada Mais de uma vez ao dia, por causa da sujeira dos bichanos; 17h: Banha os gatos. 13h30: Dirige-se ao CIAPREVI para a aula de porque os vizinhos são crentes e os de Escuta músicas no rádio diariamente, enquanto realiza suas atividades em casa. 18h alfabetização; 16h30: Termina a aula e retorna para casa. frente gostam de fofoca. Prepara o jantar e faz a refeição em seguida; 18h30: Janta com a filha. Lava louças; 20h - 21h: Assiste ao Jornal Nacional na televisão (Não conversa com vizinhos porque estes são “crentes”. Diz que fazem muito barulho. durante os cultos à noite e ela não gosta); 21h - 22h: Reza o terço e recolhe-se para dormir. 15h: Dirige-se para a reunião da Pastoral do Idoso na Paróquia do bairro; 6h: Acorda, prepara e toma o café; 7h – 7h30: Lava louças na cozinha e vai para o 8h30: Chega ao CIAPREVI para participar do grupo de 17h: Termina a reunião e retorna para CIAPREVI; 13:30h: Retorna para casa; Repte a mesma rotina das tardes; 19h: Faz seu convivência.; Faz as orações de acolhimento, atividades casa; 19h: dirige-se para o grupo de asseio pessoal e se dirige para o grupo de convivência do Pirata; 20h30: Retorna para de alongamento e assiste à palestra sobre cidadania; 11h: convivência do Pirata (ali faz atividades casa; 20h-21h: Assiste ao Jornal Nacional na televisão; 21h-22h: Reza o terço e Forró; 12h: Almoça e às 13h30 retorna para casa. físicas com profissionais bombeiros, recolhe-se para dormir. participa de brincadeiras, lancha e dança). 6h: Acorda e repete a rotina; 7h – 7h30: Lava louças na cozinha; 8h30 - 12h: Prepara o almoço da família; 12h: Almoça em casa; 12h30: Descansa ½ hora; 13h30: Levanta e varre a casa, limpa a sujeira diária de 20 gatos. Repete essa atividade mais de uma vez ao dia, por causa da sujeira; 15h: Vai para a aula de alfabetização no CIAPREVI; 17h: Dirige-se ao CIAPREVI para a aula de alfabetização; Banha os gatos; 16h30. Retorna da aula de alfabetização. Escuta músicas no rádio 16h30: termina a aula. diariamente, enquanto realiza suas atividades em casa; 18h: Prepara o jantar e faz a refeição em seguida; 18h30: Janta com a filha. Lava louças; 20h - 21h: Assiste ao Jornal Nacional, escuta músicas no rádio; 21h30 - 22h: Reza o terço e recolhe-se para dormir. 6h: Acorda, repete a rotina; Prepara o café; 7h – 7h30: Lava louças na cozinha; 18h: 8h30: Chega ao CIAPREVI; Faz as orações de 9h - 15h: Dirige-se para a reunião da Prepara o jantar e faz a refeição em seguida; 18h30: Janta com a filha. Lava louças; acolhimento, atividades de alongamento e assiste à Pastoral do Idoso na Paróquia do bairro; 20h-21h: Assiste ao Jornal Nacional e ao Programa da Samantha Marques; 21h30 - palestra sobre cidadania; 11h: Forró; 12h: Almoça e às 17h: Termina a reunião e retorna para 22h: Reza o terço e recolhe-se para dormir. 13h30 retorna para casa. casa. 6h: Acorda, repete a mesma rotina de segunda-feira; 7h – 7h30: Lava louças na cozinha; 8h30 - 12h: Prepara o almoço da família; 12h: Almoça em casa. 12h30: Descansa ½ hora; 13h30 -17h: Levanta e varre a casa, limpa a sujeira diária do gatos. Repete essa atividade mais de uma vez ao dia; 17h: Banha os gatos. Escuta músicas no rádio diariamente, enquanto realiza suas atividades em casa; 18h: Prepara o jantar e faz a refeição em seguida; 18h30: Janta com a filha. Lava louças; 20h - 21h: Assiste ao Jornal Nacional; 21h - 22h: Reza o terço e recolhe-se para dormir. 8h-21h: Vai geralmente passar os fins6h: Acorda, faz seu asseio pessoal. Prepara o café, chá e tapioca, prepara a mesa e faz a de-semana, na casa de praia da filha refeição matinal; 7h – 7h30: Lava louças na cozinha; 21h - 22h: Reza o terço e recolhecasada, em Beberibe. Se ficar em se para dormir. Fortaleza, vai passar o dia fora na praia com os netos. Retorna no final do dia. 219 Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de Maria Verônica O QUE COSTUMA FAZER Ações da vida cotidiana (*) domingo 1. Em casa 8h: Acorda e repete a rotina dos outros dias. Costuma passar os fins-de-semana, na casa da filha, em Beberibe, quando é convidada; 21h - 22h: Volta dos passeios, quando sai e reza o terço e recolhe-se para dormir. 2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE - 3. Na sua comunidade e/ou em outro local 8h: Vai passar os fins de semana em Beberibe, na casa de praia da filha casada, ou, se ficar na cidade, vai passar o dia fora na praia com os netos. Retorna no final do dia; 19h - 20h: Assiste, onde estiver, à missa. Depois retorna para casa. INSTRUMENTO 2: Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de Maria Verônica PLANO ESTRATÉTICO DE ROTINA SEMANAL IDEALIZADO PELOS SUJEITOS (O que retiraria e o que acrescentaria à sua vida real) Ações da vida cotidiana (*) 3. Na sua comunidade e/ou em outro 1. Em casa 2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE local segunda-feira Manteria, excetuando as atividades relativas à manutenção dos gatos Incluiria programação de mais esportes e lazer Incluiria programação de mais esportes e lazer terça-feira Idem Idem Idem quarta-feira Idem Idem Idem quinta-feira Idem Idem Idem sexta-feira Idem Idem Idem sábado Idem Idem Idem domingo Idem Idem Idem INSTRUMENTO 1: Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de Maria Francisca O QUE COSTUMA FAZER Ações da vida cotidiana (*) 1. Em casa 2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE 7h: Acorda. Vai comprar o leite e o pão na padaria. Volta para casa para passar o café. Ela só toma chá ou vitamina pela manhã, porque tem pressão alta. Começa a preparar o almoço “bota o feijão no fogo”. De três em três dias, vai de manhã, comprar “carne moída”, porque a filha não sabe escolher muito bem a carne. Volta para casa, toma banho, se arruma e toma o seu remédio para pressão; 8h30- 9h: A filha se acorda junto com o neto e ela prepara a merenda do neto, antes de ele sair para a escola; 9h: Enquanto a filha faz o almoço, ela faz suas colchas de retalhos e assiste à televisão. “Assisto o canal 8, 10, 14, 17, 22... Tudo!...”. 10h: Quando está em casa, acompanha pelo rádio a oração do Pe. Reginaldo, religiosamente, todos os dias 10h30: Volta a sair para fazer as compras (verdura ,etc), se necessário; 12h30segunda-feira 13h30: Almoça, só quando o neto volta da escola. 14h – 16h30: Assiste novamente a telejornais e novelas; 16:30h: Sai para assistir à missa na Igreja próxima de casa; 19h: O jantar não tem horário certo, mas ela fica “beliscando”, até a hora de jantar. O último remédio que toma é às 21h30; 19h - 22h: Fica indo e voltando de casa para a casa de uma amiga que mora próximo. Esse percurso ela estende ainda à casa de mais duas outras amigas, com quem costuma conversar; 22h: Retorna para casa, “passa a chave no portão”, vai para sua rede, faz um chá, assiste à televisão e fica assistindo filmes até de madrugada, antes de dormir: “Se for filme bom eu assisto o filme deitada na minha rede, indo até bom-dia” terça-feira quarta-feira 7h: Acorda. Vai comprar o leite e o pão na padaria. Volta para casa para passar o café. 8h - 9h: A filha se acorda junto com o neto e ela prepara a merenda do neto, antes de ele sair para a escola; 8h – 8h30: Ajuda a filha em alguns serviços domésticos e se prepara para ir ao CIAPREVI; 14h – 16h30: Assiste novamente a telejornais e novelas; 16h30: Sai para assistir à missa na Igreja próxima de casa; 20h: Volta para casa e volta a assistira programas de televisão; 22h: Retorna para casa, “passa a chave no portão”, vai para sua rede, faz um chá, assiste televisão e fica assistindo a filmes, até de madrugada. 7h: Acorda. Vai comprar o leite e o pão na padaria. Volta para casa para passar o café. 8h30 - 09h: A filha se acorda junto com o neto e ela prepara a merenda do neto, antes de ele sair para a escola. 8h – 8h30: Ajuda a filha em casa, ou fica fazendo colchas de retalho; 10h: Quando está em casa, acompanha pelo rádio a oração do Pe. Reginaldo, religiosamente, todos os dias...12h30 – 13h30: Almoça, só quando o neto volta da escola; 14h – 16h30: Assiste novamente a telejornais e novelas; 16h30: Sai para assistir à missa na Igreja próxima de casa; 19h: O jantar não tem horário certo, mas ela fica beliscando, até a hora de jantar. O último remédio que toma é às 21h30; 19h - 22h: Fica indo e voltando de casa para a casa de uma amiga que mora próximo. Esse percurso ela estende ainda à casa de mais duas outras amigas, com quem costuma conversar.; 22h: Retorna para casa e fica assistindo a filmes até de madrugada. 3. Na sua comunidade e/ou em outro local 16h30: Sai para assistir à missa no Igreja próxima de casa; 17h: Assiste à missa; 18h: Volta para casa e volta a assistir à televisão. 17h: Assiste à missa; 20h – 20h30: Vai participar do grupo de convivência do Pirata, 9h: Participa da reunião do grupo de convivência. 10h: onde faz ginástica, dança, ouve palestra, Participa da palestra no CIAPREVI; merenda e participa de atividades de lazer até 10h - 12h: Participa do forró, no CIAPREVI; 12h: às 21h. Pelo menos trimestralmente participa Almoça com os outros idosos no CIAPREVI; com os outros idosos do grupo de uma 13h – 13h30: Retorna para casa. programação de lazer em locais diversos (passeios); 21h: Volta para casa com as amigas que a acompanham ao grupo de Pirata; - 10h30: Volta a sair para fazer as compras (verdura ,etc. se necessário); 17h: Assiste à missa; 18h: Volta para casa e volta a assistir à televisão. Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de Maria Francisca O QUE COSTUMA FAZER Ações da vida cotidiana (*) 1. Em casa 2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE 7h: Acorda. Vai comprar o leite e o pão na padaria. Volta para casa para passar o café. 8h30 - 9h: A filha se acorda junto com o neto e ela prepara a merenda do neto, antes de ele sair para a escola; 8h – 8h30: Ajuda a filha em alguns serviços 9h: Participa da reunião do grupo de convivência (Só sai domésticos e se prepara para ir ao CIAPREVI; 13h – 13h30: Retorna para casa: “Aí de casa depois que toma o remédio); eu volto pra casa e tomo um belo banho...”; 14h – 16h30: Assiste novamente a 10h: Participa da palestra no CIAPREVI; quinta-feira telejornais e novelas; 10h - 12h: Participa do forró, no CIAPREVI; 16h30: Sai para assistir à missa na Igreja próxima de casa; 19h: O jantar não tem 12h: Almoça com os outros idosos no CIAPREVI. horário certo. O último remédio que toma é às 21h30; 19h-22h: Fica indo e voltando de casa para a casa de uma amiga que mora próximo. Esse percurso ela estende ainda à casa de mais duas outras amigas, com quem costuma conversar. 22h: Retorna para casa Acorda. e vai dormir. 7h: Vai comprar o leite e o pão na padaria. Volta para casa para passar o café. 8h30- 9h: A filha se acorda junto com o neto e ela prepara a merenda do neto, antes de ele sair para a escola; 8h – 8h30: Ajuda a filha em casa, ou fica fazendo colchas de retalho. Recebe telefonemas de amigas e conversa com elas; 10h: Quando está em casa, acompanha pelo rádio a oração do Pe. Reginaldo, religiosamente, todos os dias... 10h30: Costura, assiste à televisão, ou ajuda a filha, estendendo, no varal, as peças de roupa que ela lava; 12h30- 13h30: Almoça, só quando o neto volta da escola; sexta-feira 14h – 16h30: Assiste novamente a telejornais e novelas; 16h30: Sai para assistir à missa na Igreja próxima de casa; 19h: O jantar não tem horário certo, mas ela fica beliscando, até a hora de jantar. O último remédio que toma é às 21h30; 19h - 22h: Fica indo e voltando de casa para a casa de uma amiga permanente. Alterna também idas e vindas às casas de duas outras, que moram próximo, com as quais costuma conversar; 22h: Retorna para casa, “passa a chave no portão”, vai para sua rede, faz um chá, assiste televisão e fica assistindo filmes até de madrugada, antes de dormir. sábado domingo 8h30 - 9h: A filha se acorda junto com o neto e ela prepara a merenda do neto; 8h – 8h30: Ajuda a filha em casa, ou fica fazendo colchas de retalho. Recebe telefonemas de amigas e conversa com elas; 10h: Quando está em casa, acompanha pelo rádio a oração do Pe. Reginaldo, religiosamente, todos os dias; 12h30 – 13h30: Almoça, mas não tem um horário muito irregular. Não tem hora certa para almoçar; 14h – 16h30: Assiste novamente a programas de televisão ou faz atividades de que gosta; 16h30: Sai para assistir à missa na Igreja próxima de casa; 21h- 22h: Repete a rotina diária: A amiga vem lhe deixar em casa, ela passa a chave no portão, vai para sua rede, faz um chá, assiste à televisão e fica assistindo filmes até de madrugada, antes de dormir. 7h: Acorda. Repete a rotina dos demais dias; 9h30: A filha e o neto saem para passar o dia fora, na praia. Ela faz a sua programação com as amigas costumeiras. Ela e as amigas contratam, na véspera, um motorista para levá-las a passeios diversos. Saem de casa de manhã e só retornam ao final do dia; 19h: Ela chega do passeio, passa em casa ligeiramente e volta para a casa das amigas, onde fica conversando até o resto da noite de domingo; 22h: A amiga vem trazê-la em casa e ela segue a mesma rotina diária, antes de dormir (assiste à televisão até de madrugada, se gostar do filme). 3. Na sua comunidade e/ou em outro local 17h: Assiste à missa. Só perde a missa, quando está com pressão alta; 18h: Volta para casa e volta a assistir à televisão. 17h: Assiste à missa; 18h: Volta para casa e volta a assistir à televisão. - 10h30: Volta a sair para fazer as compras (verdura , etc. se necessário); 17h: Assiste à missa; 18h: Retorna para casa e vai, em seguida, visitar a amigas que moram mais distantes, porém, no mesmo bairro (Vai para a casa da Ivone, de 70 anos, que mora só com o marido e uma filha. A amiga lhe oferece mingau, que prepara. Às vezes, sai com as amigas às 13h. para o Clube “Girassol” e voltam mais ou menos às 19h. Nesse horário volta para casa e, em seguida, retorna para a casa da amiga). - - 222 INSTRUMENTO 2: Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de Maria Francisca PLANO ESTRATÉTICO DE ROTINA SEMANAL IDEALIZADO PELOS SUJEITOS (O que retiraria e o que acrescentaria à sua vida real) Ações da vida cotidiana (*) 1. Em casa 2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE 3. Na sua comunidade e/ou em outro local segunda-feira Diminuiria a rotina de trabalho doméstico Diz que não deixaria de cuidar da casa. terça-feira Diminuiria a rotina de trabalhos domésticos quarta-feira Idem quinta-feira Idem sexta-feira Idem sábado Gostaria de viajar ainda mais para outros estados. domingo Gostaria de viajar ainda mais para outros estados. Manteria atividades no espaço comunitário Manteria atividades no CIAPREVI Idem Idem Manteria atividades no CIAPREVI Idem Idem INSTRUMENTO 1: Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de Maria Gertrudes Ações da vida cotidiana (*) 1. Em casa 4h30: Acorda e se prepara para fazer caminhada (Cooper); 4h45: Sai Após fazer o seu asseio pessoal, prepara e toma o próprio café; rega suas plantas e alimenta os passarinhos; 12h: Almoça. 12h – 14h30: Cuida de seus afazeres domésticos; 17h30: Chega em casa e prepara o jantar; segunda-feira 18h: janta e dá a comida de sua cachorrinha; 19h-10h: Assiste aos programas televisivos de sua preferência (Jornal da Record); 10h: Recolhe-se para dormir. terça-feira quarta-feira quinta-feira sexta-feira 4h30: Repete o mesmo ritual ao acordar; 14h.: Fica em casa, quando não vai visitar a irmã 19h: Janta e faz seus afazeres domésticos habituais; 20h - 22h: Assiste às novelas e ao Jornal da Record; 22h: Recolhe-se para dormir. 4h30: Acorda e segue o mesmo ritual diário; 8h: Vai ao CIAPREVI ensaiar a apresentação de dança folclórica de final de ano; 9h - 11h: Faz seu ensaio no grupo de folclore do CIAPREVI, ajuda na cozinha do Centro e retorna para casa; 18h: Janta e vai assistir à missa na sua paróquia; 19hh: Chega em casa, de volta da missa; 20h30: Assiste aos seus programas preferidos na televisão; 22h: Faz seu asseio pessoal e recolhe-se para dormir. 4h30: Repete o mesmo ritual de todas as manhãs; 18h30-19h: Chega de volta em casa; 19h: Janta; 20h - 22h: Assiste às novelas e ao Jornal da Record; 22h: Faz seu asseio pessoal e recolhe-se para dormir. 4h30: Repete o mesmo ritual de todas as manhãs; 12h: Almoça; 19h: Janta; 20h - 22h: Assiste às novelas e ao Jornal da Record; 22h: Faz seu asseio pessoal e recolhe-se para dormir. O QUE COSTUMA FAZER 2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE 3. Na sua comunidade e/ou em outro local 5h45: Faz 60 min de caminhada (Cooper); 6h50 Depois de fazer a caminhada, retorna para casa; 8h: Chega ao CIAPREVI para participar do ensaio do Grupo de 7h - 8h: Faz o percurso de casa para o CIAPREVI; Chorinho; 15h15 -15h30: Faz o percurso de ônibus para a ginástica do 11h: Termina o ensaio da dança e retorna para casa; Projeto dos profissionais bombeiros 15h30: Começa suas atividades de ginástica no Projeto dos profissionais bombeiros, no bairro Luciano Cavalcante, próximo à sua residência; 17h15 Retorna para casa. 8h: Chega ao CIAPREVI; 8h - 9h_ Fica um pouco na cozinha do centro, ajudando a preparar o almoço dos idosos; 11h: Retorna ao CIAPREVI e fica ajudando na cozinha; 12h: Almoça com os outros idosos do grupo de convivência do CIAPREVI; 13h: Participa do curso de computação durante uma hora. - 9h: Sai para o Teatro S. José, que fica próximo ao Centro, e vai participar dos exercícios de alongamento e ballet do Teatro; 14h: Encerrada a aula, retorna para casa. Eventualmente vai visitar a irmã, que tem um problema de saúde (AVC). Quando fica em casa, lava roupa e faz outros afazeres. Assiste às novelas ; 14h-15h30: Faz o percurso do Centro para casa, ou do centro para a casa de uma irmã, que tem problemas de saúde; 18h: Retorna para casa. Aproveita a tarde das quartas-feiras para resolver assuntos no Centro da cidade (pagamentos, consertos de utensílios domésticos e/ou compra de objetos); 15h - 17h: Nesse horário, remarca consultas médicas, se necessário, e volta para casa; Outras vezes faz fisioterapia nesse horário. Vai fazer fisioterapia no SUS, para tratar-se de problema na articulação do ombro; 17h - 18h: Faz o percurso de volta para casa, de ônibus; 19h: Assiste semanalmente à missa da Paróquia onde mora, nesse horário, após a qual volta para casa; 8h: Vai do CIAPREVI para o Teatro S. José, onde ensaia no grupo 7h: Antes de chegar ao CIAPREVI, assiste a uma missa no folclórico; 10h: Retorna ao CIAPREVI e, às vezes, participa do centro da cidade; 14h: Costumar ir visitar a irmã; forró; 10h - 12h: Ajuda a preparar o almoço dos idosos. 18h: Retorna para casa. 13h: Participa do curso de computação durante uma hora. 9h: Chega ao CIAPREVI para ensaiar no grupo de dança folclórica. 8h: Vai ao centro da cidade para resolver pendências pessoais e se dirige ao CIAPREVI para participar do ensaio do folclore; 11h: Retorna para casa; 16h: Vai para a ginástica do Corpo de Bombeiros; 17h30: Retorna para casa. (Obs.: De 15 em 15 dias, participa de atividades de musculação no Hospital do Bairro Edson Queiroz). 224 Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de Maria Gertrudes O QUE COSTUMA FAZER Ações da vida cotidiana (*) 1. Em casa 2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE 6h - 7h: Repete o mesmo ritual de todas as manhãs, mas no fim- de- semana não faz a caminhada habitual; sábado 12h: Almoça; 13h: Descansa; Assiste a programas de televisão. domingo Faz outras atividades de lazer. - 3. Na sua comunidade e/ou em outro local Aproveita os fins de semana para ir à manicure e ao supermercado Faz passeios eventuais, de acordo com a programação dos grupos de convivência de que participa. Esses passeios são pouco frequentes; 17h: Vai à missa. INSTRUMENTO 2: Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de Maria Gertrudes PLANO ESTRATÉTICO DE ROTINA SEMANAL IDEALIZADO PELOS SUJEITOS (O que retiraria e o que acrescentaria à sua vida real) Ações da vida cotidiana (*) 1. Em casa 2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE 3. Na sua comunidade e/ou em outro local Eu nem acrescentava, nem tiraria... Ressalta que Aqui eu tenho tempo não, mas em Brasília... eu ainda Eu nem acrescentava, nem tiraria... tinha tempo de ir pra Igreja fazer essas coisas.... Eu nem acrescentava, nem tiraria... terça-feira Eu nem acrescentava, nem tiraria... Eu nem acrescentava, nem tiraria... Eu nem acrescentava, nem tiraria... quarta-feira Eu nem acrescentava, nem tiraria... Eu nem acrescentava, nem tiraria... Eu nem acrescentava, nem tiraria... quinta-feira Eu nem acrescentava, nem tiraria... Eu nem acrescentava, nem tiraria... Eu nem acrescentava, nem tiraria... sexta-feira Eu nem acrescentava, nem tiraria... Eu nem acrescentava, nem tiraria... Eu nem acrescentava, nem tiraria... segunda-feira sábado Acrescentaria sessões de teatro e cinema na sua rotina Acrescentaria sessões de teatro e cinema na sua Acrescentaria sessões de teatro e cinema na sua rotina semanal. rotina semanal. semanal. domingo Na Igreja, eu até que arranjaria tempo pra arrumar a Na Igreja, eu até que arranjaria tempo pra Na Igreja, eu até que arranjaria tempo pra arrumar a casa do Senhor... arrumar a casa do Senhor... casa do Senhor... 225 INSTRUMENTO 1: Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de D. Maria Luiziana Ações da vida cotidiana (*) 1. Em casa segunda-feira terça-feira O QUE COSTUMA FAZER 2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE 3. Na sua comunidade e/ou em outro local 6h: Acorda e segue um ritual específico: faz alongamento, reza ; faz o asseio pessoal e prepara o café da família; 7h: Toma o café matinal, deixa o café pronto para a família e sai para o CIAPREVI; 12h: Após preparar o almoço da família, almoça e retorna para o CIAPREVI; 17h30: Prepara o jantar da família; 18h - 20h: janta com a família; 20h: Assiste à novela, vê o Jornal Nacional. 8h30: Chega ao CIAPREVI para participar do ensaio do Grupo de Chorinho, no qual toca tamborim e canta quando preciso junto com o coral do grupo; 11h: Retorna para casa; 13h – 16h30: Participa da aula de pintura em tecido que é realizada no CIAPREVI; 16h30: Retorna para casa. 21h – 23h: Fica na calçada com as vizinhas da rua (sempre c/ o mesmo grupo de amigas). Ressalta que não conversa sobre os problemas familiares com as amigas, para se resguardar. 6h: Repete o mesmo ritual ao acordar; 18h: Faz asseio pessoal e prepara o jantar da família; 18h – 20h: Janta, assiste à televisão (novela e Jornal); 23h: Recolhe-se para dormir. 8h30: Dá prioridade à atividade de pintura em tecido e não às atividades do grupo de convivência, mas menciona que também participa das palestras que são ministradas; 10h: Participa do Curso de Computação; 10h30: Retorna para a aula de pintura em tecido (Não participa do forró que começa nesse horário. Diz que atualmente não se interessa mais por dançar); 12h: Almoça com os demais integrantes do grupo de convivência; 13h – 15:30h: Participa do grupo de pintura em tecido. 15h30: Vai para o grupo da Pastoral da Paróquia da Paz (Assiste às orações e recebe o pão ofertado pela Igreja, mas denota ser uma pessoa de espiritualidade eclética); 17h: Retorna para casa; 21h – 23h: Vai para a calçada conversar com as amigas. - 9h: No dia em que não vai ao CIAPREVI obedece à seguinte rotina: Sai eventualmente para o Centro da Cidade, para ver as vitrines e fazer “algumas comprinhas”, quando tem dinheiro. Em outras ocasiões fica em casa, lavando a própria roupa e arrumando a casa. Só pinta peças em tecido, quando sobra tempo, pois a filha que mora com ela trabalha fora ; 11h30: Retorna do centro da cidade para casa; 15h – 17h: Vai para o grupo de idosas da Casa do Caminho (grupo Espírita)- Lancha no local e recebe no 2º sábado de cada mês uma cesta básica; 17h: Retorna para casa e segue a mesma rotina dos outros dias da semana; 21h: Vai para a calçada conversar com as amigas. quarta-feira 6h – 7h: Repete o mesmo ritual de todas as manhãs; 9h: Quando fica em casa, lava a própria roupa e arruma a casa; 12h: Prepara o almoço da família e almoça; 18h: Retorna do grupo de convivência Espírita. 18h: Faz asseio pessoal e prepara o jantar da família; 18h – 20h: Janta e assiste à televisão (novela e Jornal); 23h: Recolhe-se para dormir. quinta-feira 6h: Repete o mesmo ritual, ao acordar; 7h30: Sai de casa para o CIAPREVI 17h30: Chega de volta em casa; 18h: Faz asseio pessoal e prepara o jantar da família; 18h – 20h: Janta, assiste à televisão (novela e Jornal); 23h: Recolhe-se para dormir. 8h30: Chega ao CIAPREVI; Participa do grupo de pintura em tecido e não das atividades do grupo de convivência; 10h: Participa do Curso de Computação, que é ministrado no CIAPREVI; 10h30: Retorna para a aula de pintura em tecido 21h: Vai para a calçada conversar com as amigas. (Não participa do forró, que é realizado nesse horário); 12h: Almoça com os demais integrantes do grupo de convivência; 13h – 16h30: Participa do grupo de pintura em tecido. 226 Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de D. Maria Luiziana Ações da vida cotidiana (*) 1. Em casa sexta-feira sábado domingo O QUE COSTUMA FAZER 2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE 6h – 7h: Repete o mesmo ritual de todas as manhãs; 9h – 12h: Fica em casa fazendo todos os afazeres domésticos (lava, passa, cozinha e arruma a casa); Tarde:Faz tarefas domésticas. 6h-7h: Repete o mesmo ritual de todas as manhãs; 9h – 12h: Fica em casa o dia todo fazendo todos os afazeres domésticos (lava, passa, cozinha e arruma a casa. Pratica pintura em tecido quando tem tempo). Acorda e repete o mesmo ritual de todos os dias. Às vezes, vai com uma amiga passar o dia na casa de uma ex-vizinha. Retorna às 17h. - 3. Na sua comunidade e/ou em outro local Trimestralmente, vai ao Posto de Saúde do SUS para receber os medicamentos de controle de pressão arterial e diabetes. 21h: Vai para a calçada conversar com as amigas. - 21h: Vai para a calçada conversar com as amigas - 21h: Vai para a calçada conversar com as amigas INSTRUMENTO 2: Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de D. Maria Luiziana Ações da vida cotidiana (*) segunda-feira PLANO ESTRATÉTICO DE ROTINA SEMANAL IDEALIZADO PELOS SUJEITOS (O que retiraria e o que acrescentaria à sua vida real) 1. Em casa 2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE 3. Na sua comunidade e/ou em outro local Iria para o centro da cidade mais vezes para passear e olhar as vitrines. Manteria a rotina grupo Manteria a rotina em outros grupos Manteria a rotina grupo Manteria as conversas com as vizinhas Iria para o centro da cidade mais vezes para passear e olhar as vitrines. Iria para o centro da cidade mais vezes para passear e olhar as vitrines. terça-feira quarta-feira Iria para o centro da cidade mais vezes para passear e olhar as vitrines. Manteria a rotina grupo. quinta-feira sexta-feira Idem sábado Iria mais vezes passear nas casas das amigas e da amiga costureira. Iria mais vezes passear nas casas das amigas e da amiga costureira. Iria mais vezes passear nas casas das amigas e da amiga costureira. domingo Idem Idem Idem INSTRUMENTO 1: Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de Maria Joseneide Ações da vida cotidiana (*) segunda-feira terça-feira quarta-feira quinta-feira O QUE COSTUMA FAZER 1. Em casa 4h30: Acorda e fica ouvindo música na cama até às 5h30. 5h30: Levanta, faz sua oração. Faz seu asseio pessoal e vai para a padaria comprar pão. Prepara o café da manhã para ela e os dois filhos; merenda; varre o quintal e outras áreas da casa; rega as plantas lava o banheiro e a louça; dá a comida do cachorro; 8h30: Termina de fazer a limpeza da casa e vai fazer pintura em tecido; 10h: Termina de pintar e vai preparar o almoço; 12h: Almoça com os dois filhos (toma o seu medicamento controlado); 12h30: Termina de almoçar e faz a sesta; 14h: Levanta e vai lavar a louça do almoço. Volta a arrumar a casa e a fazer serviços domésticos; 15h: Volta a fazer pintura em tecidos ou crochê ou costura; 17h: Termina de fazer essas atividades; 17h - 19h: Faz seu asseio pessoal, assiste à televisão ou ouve música; 19h: Janta com a família e volta a assistir a programas de televisão (Jornal, novelas e a programação que lhe agradar); 22h Faz suas orações e recolhe-se para dormir (toma o seu medicamento controlado). 4h30: Acorda e fica ouvindo música até às 5h30; 5h30: Repete a rotina anterior desse horário; 7h30: Sai de casa e vai para o CIAPREVI; 18h3019:00h: Chega em casa; Faz novo asseio pessoal 19h-20h: Janta com a família e volta a assistir a programas de televisão (Jornal, novelas e a programação que lhe agradar); 22h Faz suas orações e recolhe-se para dormir (toma o seu medicamento controlado). 4h30: Acorda e fica ouvindo música até às 5:30h; 5:30h: Repete a rotina diária desse horário; 8:30h: Termina de fazer a limpeza da casa e vai fazer pintura em tecido; 10h: Termina de pintar e vai preparar o almoço; 12h: Almoça com os dois filhos(toma o seu medicamento controlado); 12:30h: Termina de almoçar e faz a sesta; 14h: Levanta e vai lavar a louça do almoço; Volta a arrumar a casa e a fazer serviços domésticos; 15h: Volta a fazer pintura em tecidos ou crochê ou costura; 17h: Termina de fazer essas atividades; 17h - 19h: Faz seu asseio pessoal, fica assistindo a programas de televisão ou ouvindo música; 19h-20h: Janta com a família e volta a assistir a programas de televisão (Jornal, novelas e a programação que lhe agradar;22h Faz suas orações e recolhe-se para dormir. 4h30: Acorda e fica ouvindo música até às 5h30; 5h30: Repete a rotina anterior desse horário; 7h30: Sai de casa e vai para o CIAPREVI; 18h: Retorna para casa; 19h: Faz seu asseio pessoal, assiste a programas de televisão ou ouve música; Janta com a família e volta a assistir à televisão (Jornal, novelas e a programação que lhe agradar); 22h: Faz suas orações e recolhe-se para dormir (Só dorme depois que toma o seu remédio controlado para pressão); 2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE 3. Na sua comunidade e/ou em outro local - - 8h30: Chega ao CIAPREVI e recebe a senha para o almoço; Entra na oficina de pintura em tecido (não assiste à palestra sobre cidadania); 11: Termina a oficina de pintura e vai para o salão dançar; 18h: Volta para casa. 12h: almoça com os outros idosos do grupo de convivência; (toma o seu medicamento controlado). - - 8h30: Chega ao CIAPREVI e recebe a senha para o almoço; 8h30: Vai para o salão assistir à palestra sobre cidadania; 10h: Termina a palestra; 10h – 11h: dança com os outros idosos no salão; 12h: Almoça no CIAPREVI com os outros idosos (toma o seu medicamento controlado); 13h: Entra na oficina de pintura em tecido; 16h: Termina a oficina de pintura e vai para casa. 16h - 18h: Frequenta quinzenalmente uma academia de ginástica, nesse dia, pagando a taxa de R$20,00 por mês. 18h: Retorna para casa Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de Maria Joseneide Ações da vida cotidiana (*) sexta-feira sábado domingo O QUE COSTUMA FAZER 1. Em casa 4h30: Acorda e fica ouvindo música na cama até às 5h30; 5h30: Repete a rotina anterior desse horário; 8h30: Termina de fazer a limpeza da casa e vai fazer pintura em tecido; 10h: Termina de pintar e vai preparar o almoço; 12h: Almoça com os dois filhos (toma o seu medicamento controlado); 12h30: Termina de almoçar e faz a sesta; 14h: Levanta e vai lavar a louça do almoço; Volta a arrumar a casa e a fazer serviços domésticos; 15h: Volta a fazer pintura em tecidos ou crochê ou costura; 17h: Termina de fazer essas atividades; 17h - 19h: Faz seu asseio pessoal, assiste à televisão ou ouve música; 19h: Janta com a família e volta a assistir a programas de televisão (Jornal, novelas e a programação que lhe agradar); 22h Faz suas orações e recolhe-se para dormir. 4h30: Acorda e fica ouvindo “Roberto Carlos na parada” até às 5h30; 5h30: Repete a rotina anterior desse horário; 8h30: Termina de fazer a limpeza da casa e vai fazer pintura em tecido; 10h: Termina de pintar e vai preparar o almoço; 12h: Almoça com os dois filhos (toma o seu medicamento controlado); 12h30: Termina de almoçar e faz a sesta; 14h: Levanta e vai lavar a louça do almoço; Volta a arrumar a casa e a fazer serviços domésticos; 15h: Volta a fazer pintura em tecidos ou crochê ou costura; 17h: Termina de fazer essas atividades; 17h - 19h: Faz seu asseio pessoal, assiste aos programas de televisão que aprecia ou ouve música; 19h: Janta com a família e volta a assistir à televisão (Jornal, novelas e a programação que lhe agradar); 22h Faz suas orações e recolhe-se para dormir. 4h30: Acorda e fica ouvindo música até às 5h30. 5h30: Levanta, faz sua oração. Faz seu asseio pessoal e vai para a padaria comprar pão. Prepara o café da manhã para ela e os dois filhos; merenda; varre o quintal e outras áreas da casa; rega as plantas lava o banheiro e a louça; dá a comida do cachorro; 7h: Vai assistir à missa; 8h: Retorna para casa; 8h30: Vai fazer pintura em tecido ou outras tarefas dentro de casa; 10h: Termina de pintar e vai preparar o almoço; 12h: Almoça com os dois filhos (toma o seu medicamento controlado); 12h30: Termina de almoçar e faz a sesta; 14h: Levanta e vai lavar a louça do almoço; Volta a arrumar a casa e a fazer serviços domésticos; 15h: Volta a fazer pintura em tecidos ou crochê ou costura; 17h: Termina de fazer essas atividades; 17h - 19h: Faz seu asseio pessoal, assiste à televisão ou ouve música; 19h: Janta com a família e volta a assistir televisão (Jornal, novelas e a programação que lhe agradar) 22h Faz suas orações e recolhe-se para dormir. 2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE 3. Na sua comunidade e/ou em outro local Não costuma ficar conversando com a vizinhança na calçada, diz que tem amizade com todo mundo, mas não gosta de ficar conversando com os vizinhos, prefere ficar em casa. - - - - 7h: vai para a missa; 8h: Termina a missa e volta para casa. Às vezes, vai passar o domingo na casa de um irmão, e só retorna para casa, às 18h. Ela diz que nessas ocasiões leva as peças de tecido que pinta, borda e costura para comercializar. Também costuma passar os domingos na casa de praia de uma sobrinha, onde fica o dia todo tomando banho de piscina. 229 INSTRUMENTO 2: Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de Maria Joseneide PLANO ESTRATÉTICO DE ROTINA SEMANAL IDEALIZADO PELOS SUJEITOS (O que retiraria e o que acrescentaria à sua vida real) Ações da vida cotidiana (*) 3. Na sua comunidade e/ou em outro 1. Em casa 2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE local Não retiraria, nem acrescentaria nada ao Não retiraria, nem acrescentaria nada ao seu dia-a-dia Não retiraria, nem acrescentaria nada ao seu dia-a-dia segunda-feira seu dia-a-dia terça-feira Não retiraria, nem acrescentaria nada ao seu dia-a-dia Não retiraria, nem acrescentaria nada ao seu dia-a-dia quarta-feira Não retiraria, nem acrescentaria nada ao seu dia-a-dia quinta-feira Não retiraria, nem acrescentaria nada ao seu dia-a-dia sexta-feira Não retiraria, nem acrescentaria nada ao seu dia-a-dia Não retiraria, nem acrescentaria nada ao seu dia-a-dia sábado Não retiraria, nem acrescentaria nada ao seu dia-a-dia Não retiraria, nem acrescentaria nada ao seu dia-a-dia domingo Não retiraria, nem acrescentaria nada ao seu dia-a-dia Não retiraria, nem acrescentaria nada ao seu dia-a-dia Não retiraria, nem acrescentaria nada ao seu dia-a-dia Não retiraria, nem acrescentaria nada ao seu dia-a-dia Não retiraria, nem acrescentaria nada ao seu dia-a-dia Não retiraria, nem acrescentaria nada ao seu dia-a-dia Não retiraria, nem acrescentaria nada ao seu dia-a-dia Não retiraria, nem acrescentaria nada ao seu dia-a-dia Não retiraria, nem acrescentaria nada ao seu dia-a-dia Não retiraria, nem acrescentaria nada ao seu dia-a-dia INSTRUMENTO 1: Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de D. Maria Odésia Ações da vida cotidiana (*) segunda-feira terça-feira quarta-feira quinta-feira sexta-feira O QUE COSTUMA FAZER 1. Em casa 2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE 5h: Acorda, reza o terço, faz seu asseio pessoal. Prepara o seu café (com leite e pão) e o do marido e vai para a Escola Estadual Santa Luzia onde fica até às 9h30, vendendo bombons aos alunos; 10h – 10h15: Sai da Escola Santa Luzia e retorna para casa; 12h: chega em casa (por causa dos ônibus) e termina de preparar o almoço para ela e o marido. Após almoçar, vai lavar suas roupas e a do marido e vai fazer outras coisas dentro de casa; 15h: Vai para o Centro da Cidade; 21h chega em casa e vai jantar com o marido; 22h - 23h: Assiste a programas de televisão e depois vai dormir com o marido. 5h: Acorda, reza o terço, faz seu asseio pessoal. Prepara o seu café (com leite e pão) e o do marido e vai para a Escola Estadual Santa Luzia onde fica até às 9h30, vendendo bombons aos alunos; 22h - 23h: Assiste às novelas na televisão, enquanto o marido fica fazendo contas e os serviços do trabalho dele; 23h: Recolhe-se para dormir. 5h: Acorda, reza o terço, faz seu asseio pessoal. Prepara o seu café (com leite e pão) e o do marido e vai para a Escola Estadual Santa Luzia, onde fica até às 9h30, vendendo bombons aos alunos; 10h – 10h15: Retorna para casa, faz o almoço e arruma as coisas dentro de casa; 13h: Vai para a aula de alfabetização no CIAPREVI; 17h: Volta para casa, lavar roupas e preparar o jantar; 19h - 20h: Janta com o marido mais cedo; 21h: Assiste ao Jornal e vê novelas; 23h: Recolhe-se com o marido para dormir. 5h. Acorda, reza o terço, faz seu asseio pessoal. Prepara o seu café (com leite e pão) e o do marido e vai para a Escola Estadual Santa Luzia, onde fica até às 9h30, vendendo bombons aos alunos; 17h: Retorna do Centro e fica fazendo as coisas dentro de casa.19h - 20h: Janta com o marido mais cedo; 21h: Assiste ao Jornal e vê novelas; 23h: Recolhe-se com o marido para dormir. 5h: Acorda, reza o terço, faz seu asseio pessoal. Prepara o seu café (com leite e pão) e o do marido e vai para a Escola Estadual Santa Luzia, onde fica até às 9h30, vendendo bombons aos alunos; 10h: Retorna para casa, fica lavando roupas, fazendo as coisas dentro de casa; 12h: almoça e vai para o CIAPREVI; 17h: Retorna do Centro e fica fazendo as coisas dentro de casa; 19h - 20h: Janta com o marido mais cedo; 21h: Assiste ao Jornal e vê novelas; 23h: Recolhe-se com o marido para dormir. 3. Na sua comunidade e/ou em outro local 15h: Vai ao Centro da cidade para comprar mercadoria para vender “os seus chilitos”; 17h: Retorna para casa; 19h: Vai rezar o terço em um grupo de oração no Mercado dos Peões; 21h: Retorna do grupo de oração para casa. 10h: Vai para o CIAPREVI para participar do grupo de convivência de idosos. Só dá tempo de fazer os exercícios de alongamento, mas não as palestras. Geralmente, ela só chega para participar da dança; 12h: Fica até esse horário no grupo com os outros idosos; 13h: O marido vem apanhá-la no grupo e retorna com ela para almoçarem em casa; 14h: Logo após, vai lavar louça e outros serviços domésticos. 15h: Vai participar do grupo de convivência da Paróquia de Santa Luzia, no bairro onde mora; 17h: retorna para casa e volta a fazer atividades Domésticas. “Faz com gosto essas atividades”; 19h: Vai participar de um grupo de convivência no Pirata. Ali ela faz exercícios de alongamento, participa De bingos 21h: Retorna para casa e janta com o marido: “Ele só janta quando eu chego”. 13h30: Chega ao CIAPREVI para participar das atividades do Curso de Alfabetização; 15h: Termina a aula da alfabetização. - 9h30 - 10h: Vai para o CIAPREVI para participar do grupo de convivência de idosos. Só dá tempo de fazer os exercícios de 15h: Vai para o centro da cidade, para comprar alongamento, mas não as palestras. Geralmente, ela só chega para chilitos (bombons); participar da dança; 12h: Fica até esse horário no grupo com os 17h: Retorna do Centro. outros idosos. “Fica sentada, vendendo suas coisas”; 13h: O marido vem apanhá-la no grupo e retorna com ela para almoçarem em casa. 13h30 - 15h: Assiste à aula de alfabetização no CIAPREVI. 15h: Vai para o Centro para fazer o Mercantil; 17h: Retorna para casa. Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de D. Maria Odésia Ações da vida cotidiana (*) sábado domingo O QUE COSTUMA FAZER 1. Em casa 2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE 5h.-12 h: Acorda, reza o terço, faz seu asseio pessoal. Prepara o seu café (com leite e pão) e o do marido. Vai lavar roupa e começar a preparar o almoço; 12h: Chega do mercantil e prepara o almoço para ela e o marido; 15h 18h: Deita-se para descansar; 18h: Levanta e vai preparar o jantar; 19h-20h: Janta com o marido; 21h23h: Assiste à televisão e descansa na cadeira de balanço; 23h: Recolhese para dormir. 5h: Acorda, reza o terço, faz seu asseio pessoal. Prepara o seu café (com leite e pão) e o do marido; 12h: Almoça e ajeita as coisas dentro de casa; 15h - 18h: Deita-se para descansar; 19h: Janta com o marido; 20h-23h: Vai para a cadeira de balanço e assiste à televisão; 23h: Recolhe-se com o marido para dormir. 3. Na sua comunidade e/ou em outro local 10h: 10h: Vai para o mercantil mais cedo, para trazer o restante das compras que não conseguiu trazer sozinha no dia anterior. Depois de fazer as compras, retorna para casa. 8h: Vai assistir à missa na Igreja de Santa Luzia; 9h – 9h30: Retorna para casa para fazer o almoço. Às vezes, vai com os idosos do grupo de convivência do Pirata passar o domingo fora. (Vai às 8h e retorna às 16h.). INSTRUMENTO 2: Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de D. Maria Odésia Ações da vida cotidiana (*) segunda-feira PLANO ESTRATÉTICO DE ROTINA SEMANAL IDEALIZADO PELOS SUJEITOS (O que retiraria e o que acrescentaria à sua vida real) 1. Em casa 2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE 3. Na sua comunidade e/ou em outro local Buscaria tempo para organizar a sua casinha e para fazer os seus trabalhos de costura: colchas de retalhos; bolsas em tecido,etc. Mais atividades de lazer Manteria a rotina em outros grupos terça-feira Mais atividades de lazer Manteria a rotina no CIAPREVI-CE Manteria a rotina em outros grupos quarta-feira Mais atividades de lazer Manteria a rotina no CIAPREVI-CE Manteria a rotina em outros grupos quinta-feira Mais atividades de lazer Manteria a rotina no CIAPREVI-CE Manteria a rotina em outros grupos sexta-feira Mais atividades de lazer Manteria a rotina no CIAPREVI-CE Manteria a rotina em outros grupos sábado Visitaria mais a filha Visitaria mais a filha Visitaria mais a filha domingo Visitaria mais a filha Visitaria mais a filha Visitaria mais a filha INSTRUMENTO 1: Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de D. Maria Albina Ações da vida cotidiana (*) O QUE COSTUMA FAZER 1. Em casa 2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE segunda-feira 6h-7h: Acorda e segue um ritual específico: prepara o café (geralmente cuscuz, café, leite, chá de capim santo ou erva-doce); 7h: Faz seu asseio pessoal, toma café e se dirige ao CIAPREVI; 12h: Faz novo asseio pessoal e almoça, mas compra o almoço já pronto, perto de casa; 16h15: Chega em casa; 16h30: Faz novo asseio pessoal, organiza suas roupas(lava e costura as peças do seu vestuário; 17h30: Lancha geralmente um suco, antes de jantar; 19h3-20h: Assiste aos programas de televisão que gosta (Jornal Nacional e novelas); 23h – 23h30: Recolhe-se para dormir. 8h30: Chega ao CIAPREVI para participar do ensaio do Grupo de Chorinho, no qual toca o ganzá e canta, quando preciso, junto com o coral do grupo; 11h: Termina o ensaio do grupo e ela retorna para casa. (D. Albertina canta e toca o ganzá no Grupo de Chorinho Recordar é Viver, do CIAPREVI. Essa habilidade ela aprendeu a desenvolver no grupo foi reconhecida até por integrantes de um grupo musical que tocava em evento onde ela se encontrava certa vez). terça-feira 6h-7h: Repete o mesmo ritual, ao acordar; 16h -17h: Chega em casa, assiste aos programas de televisão de sua preferência e faz atividades domésticas que lhe dão satisfação; Prepara um jantar ligeiro; 18h: Faz asseio pessoal e janta; 18h - 20h: Janta, assiste televisão (novelas e Telejornal); 23h – 23h30: Recolhe-se para dormir. 8h30: Chega ao CIAPREVI; Participa do ritual de acolhimento; faz orações; alongamento e ouve palestra; 10h: Lancha; 10h30: Participa da dança do forró até 12h; 12h: Almoça com os demais integrantes do grupo de convivência. quarta-feira 6h-7h: Repete o mesmo ritual de todas as manhãs; 15h -17h: Fica em casa costurando, ou assistindo a novelas na televisão; 17h30: Prepara um jantar ligeiro; 18h: Faz asseio pessoal e prepara o jantar da Tarde Livre. Não tem grupo de convivência em nenhum local. família; 18h - 19h: Janta, assiste à televisão (novela e Telejornal); 23h: Recolhe-se para dormir. quinta-feira 6h - 7h: Repete o mesmo ritual ao acordar; 17h15: Chega em casa, pois mora muito perto do Teatro S. José. Traz pronta a sopa para jantar, que compra em um self service próximo à sua casa; 18h: Faz asseio pessoal e janta; 23h – 23h30: Recolhe-se para dormir. sexta-feira sábado 8h30: Chega ao CIAPREVI; Participa do ritual de acolhimento; faz alongamento; orações e ouve palestra; 10h: lancha com os outros idosos do grupo de convivência; 10h30-12h: participa da dança do forró; 12h: Almoça com os demais integrantes do grupo de convivência; 13h: Participa do forró dançante no CIAPREVI. 6h -7h: Repete o mesmo ritual de todas as manhãs; 9h -17h: Fica em casa fazendo todos os afazeres domésticos (lava, Tarde Livre. Não tem grupo de convivência em nenhum local. passa, cozinha e arruma a casa). Às vezes deita e “tira um cochilo”; 18h: Faz asseio pessoal e janta; 23h -23h30: Recolhe-se para dormir. 6h -7h: Repete o mesmo ritual de todas as manhãs; Fica em casa o dia todo. Geralmente, recebe a visita dos filhos casados que vão almoçar e passar o dia com ela. Isso acontece mais ou menos duas vezes por mês; 18h: Faz asseio pessoal e janta; 23h – 23h30: Recolhe-se para dormir. 3. Na sua comunidade e/ou em outro local 14h: Vai para a ABI. Esta entidade desenvolve uma programação junto a idosos associados e oferece alguns serviços médicos, entre os quais controle de pressão arterial; 14h-15h: Faz fisioterapia com profissionais bombeiros, nessa Instituição; 15h 16h: Participa de um bingo; 16h: Retorna para casa (Leva uma sopa pronta para casa, às vezes, para jantar); 20h – 21h30:Vai para a calçada da sua casa, para conversar com um grupo fixo de amigas. 13h: Vai para casa; Obs: Nesse dia, tem a tarde livre: Se escolher ficar em casa, faz leituras devocionais, costura e lava as próprias roupas; Às vezes, passa a tarde na casa da filha casada, depois que sai do CIAPREVI, até às 16h; 16h: Retorna para casa; 20h – 21h30: Fica na calçada da sua casa conversando com o grupo fixo de amigas. 11h – 14h30: Vai para o Centro da cidade fazer pagamentos, se precisar, e depois vai visitar a filha casada, ficando em sua casa até às 14:00h; 20h – 21h30: Vai para a calçada conversar com as amigas. 9h - 14h: Vai para o Grupo de Convivência do Teatro São José, levando o seu aparelho de som, no qual serão colocados os CD‟s para o grupo dançar. Quando não vai para o forró, um vizinho leva o seu aparelho de som e lhe devolve depois; 17h: Dança até este horário e volta para casa; 19h - 21h: Vai para a calçada conversar com as amigas. 19h - 21h: Vai para a calçada conversar com as amigas. 19h - 21h: Vai para a calçada conversar com as amigas. 233 Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de D. Maria Albina Ações da vida cotidiana (*) domingo O QUE COSTUMA FAZER 1. Em casa 2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE 6h: Repete o mesmo ritual de todas as manhãs; 7h: Vai para a missa; 14h: Retorna do grupo de convivência do Bairro João XXIII, do qual participa, aos domingos. Às vezes, recebe a visita dos filhos casados; 18h: Faz asseio pessoal e janta. 23h – 23h30: Recolhe-se para dormir. 3. Na sua comunidade e/ou em outro local 8h: Assiste à missa; 9h: Termina a missa e se dirige ao Grupo de Convivência do Bairro João XXIII; 12h - 14h: Lancha, almoça e dança junto aos outros idosos do grupo; 14h: Retorna para casa. INSTRUMENTO 2: Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de D. Maria Albina Ações da vida cotidiana (*) PLANO ESTRATÉTICO DE ROTINA SEMANAL IDEALIZADO PELOS SUJEITOS (O que retiraria e o que acrescentaria à sua vida real) 1. Em casa 2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE 3. Na sua comunidade e/ou em outro local Manteria a mesma rotina (rede de amigos). Manteria a mesma rotina (rede de amigos). segunda-feira Manteria a mesma rotina. Manteria a mesma rotina. terça-feira Manteria a mesma rotina. Manteria a mesma rotina. quarta-feira Manteria a mesma rotina. Manteria a mesma rotina. quinta-feira Manteria a mesma rotina. Manteria a mesma rotina. sexta-feira Manteria a mesma rotina. Manteria a mesma rotina. sábado Se tivesse recitais (Por exemplo: que tivesse canto ou música para tocar fora), ela iria. De teatro não gosta muito não. - - domingo O tempo que ela passa em casa é para aproveitar. Não mudaria nada não... - - Se tivesse outro grupo dia de quarta-feira ela iria Manteria a mesma rotina (rede de amigos). Manteria a mesma rotina (rede de amigos). INSTRUMENTO 1: Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de Maria Catarina Ações da vida cotidiana (*) 1. Em casa 5h – 5h30: Acorda, reza suas orações,/merenda, faz o seu asseio pessoal e vem para o CIAPREVI com o marido; 13h: Faz novo asseio pessoal e almoça, com o marido em casa; 14h - 18h: Fica em casa costurando, fazendo pintura em tecidos; 18h30 - 19h: Reza o terço em família; 19h: segunda-feira Faz refeições leves (jantar) em Família; 20h: Assiste ao Jornal e à novela da Record; 22h - 23h: Recolhe-se para dormir. 5h30: Acorda; repete a rotina desse horário e vai para o Teatro São José com o marido, ensaiar no grupo de dança; 14h - 15h: Chega em casa; 15h - 17h: Realiza atividades de costura e outros serviços domésticos; terça-feira 18h30 - 19h: Reza o terço em família; 19h: Faz refeições leves de jantar; 20h: Assiste ao Jornal e à novela da Record; 22h - 23h: Recolhese para dormir. 5h30: Acorda; repete a rotina desse horário e vai para o CIAPREVI com o marido; 12h: Almoça em casa com o marido; 12h30: Descansa ½ hora; 13h - 18h: Realiza atividades de costura e outros serviços quarta-feira domésticos; 18h30 - 19h: Reza o terço em família; 19h: Faz refeições leves de jantar; 20h: Assiste ao Jornal e à novela da Record; 22h – 23h: Recolhe-se para dormir. quinta-feira sexta-feira O QUE COSTUMA FAZER 2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE 3. Na sua comunidade e/ou em outro local 8h – 8h30: Chega ao CIAPREVI com o marido para ensaiar com o 11h: Retorna para casa com o marido, após o grupo de dança; ensaio do grupo de chorinho no CIAPREVI. 11h: Termina o ensaio da dança 11h: Após o ensaio dirige-se ao CIAPREVI, onde só consegue alcançar o horário da dança de forró. (Não dá tempo de ouvir a 8h – 8h30: Chega ao Teatro São José com o palestra de cidadania; Almoça no CIAPREVI com os demais idosos marido. do grupo e o marido; 12h: Almoça; 13h: Dirige-se com o marido para casa. 8h – 8h30: Chega ao CIAPREVI com o marido para ensaiar com o grupo de dança; 11h: Retorna para casa com o marido. - 8h_8h30: Chega ao Teatro S. José para ensaiar; 11h: Termina o ensaio e se dirige com o marido para o CIAPREVI; 13h30: Dirige-se ao Teatro S. José com o marido para participar do forró. Descansam 5h30: Acorda; repete a rotina desse horário e vai para o Teatro S. José 8h30 - 11h: Chega com o marido ao CIAPREVI, para participar da um pouco antes de começarem essa atividade; com o marido para ensaiar a dança; reunião do grupo de convivência. Não dá tempo de assistir à 14h - 17h: Participam do forró. 18h – 18h30: Chegam de volta em Casa; 18h30: Faz o seu asseio palestra sobre cidadania; Ao mencionar a sua participação em um pessoal e vai rezar o terço em família; 11h - 12h: Participa do forró; evento no Centro Dragão do Mar, diz que 19h - 20h: Janta com a família; 20h: Assiste à televisão; 12h: Almoça com o marido e os outros idosos no CIAPREVI; presenciou um idoso falecer enquanto 23h: Recolhe-se para dormir. 13h: Volta a participar do forró. dançava. Desde então acha que no CIAPREVI deveria ter uma enfermeira para tirar pressão... “Porque hoje em dia todo mundo tem pressão alta... Se tivesse um aparelho para tirar pressão nesses locais, a pessoa poderia tomar um remédio e evitar, né? 5h30: Acorda; repete a rotina desse horário Prepara o almoço e faz todas as Atividades domésticas o dia todo; 12h. Almoça; 14h - 18h: Faz tarefas domésticas; 18h30: terço em família; 19h-20h: Janta com a família; 20h - 22h: Assiste à televisão; 23h: Recolhe-se para dormir. 235 Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de Maria Catarina O QUE COSTUMA FAZER Ações da vida cotidiana (*) 1. Em casa 2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE 5h30: Acorda; repete a rotina desse horário Prepara o almoço e faz todas as Atividades domésticas o dia todo; 12h: Almoça; 14h - 18h: Faz tarefas domésticas; 18h30: terço em família; 19h - 20h: Janta com a sábado família; 20h - 22h: Assiste à televisão; 23h: Recolhe-se para dormir. (Segue a mesma rotina do dia anterior) 5h30:; Acorda; repete a rotina desse horário; 7h – 8h: Sai de casa com o marido para a missa; 9h - 12h: Faz o almoço e outros serviços domésticos; Recebe os filhos em casa; 15h: Vai para o domingo Forró “Casa Cheia”, com o marido; 18h30: terço em família; 19h - 20h: Janta com a família; 20h - 22h: Assiste à televisão; 23h: Recolhe-se para dormir. 3. Na sua comunidade e/ou em outro local - 8h30: Assiste à missa com o marido; 15h - 18h: Vai para uma Casa de Lazer do Bairro “Casa Cheia”, para dançar forró com o marido; 18h: Retornam para casa com o marido. INSTRUMENTO 2: Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de Maria Catarina PLANO ESTRATÉTICO DE ROTINA SEMANAL IDEALIZADO PELOS SUJEITOS (O que retiraria e o que acrescentaria à sua vida real) Ações da vida cotidiana (*) 1. Em casa 2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE 3. Na sua comunidade e/ou em outro local segunda-feira Manteria a rotina: “Na idade da gente não dá pra fazer muita Sugere inclusão de atividades de saúde no CIAPREVI-CE, mas Manteria a rotina manteria a rotina no grupo de convivência de idosos desse centro coisa não, né?” terça-feira Manteria a rotina Manteria a rotina Manteria a rotina quarta-feira Manteria a rotina Manteria a rotina Manteria a rotina quinta-feira Manteria a rotina Manteria a rotina Manteria a rotina sexta-feira Manteria a rotina Manteria a rotina Manteria a rotina sábado Manteria a rotina Manteria a rotina Manteria a rotina domingo Manteria a rotina Manteria a rotina Manteria a rotina INSTRUMENTO 1: Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de D. Maria Amélia Ações da vida cotidiana (*) segunda-feira terça-feira quarta-feira quinta-feira 1. Em casa O QUE COSTUMA FAZER 2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE 3. Na sua comunidade e/ou em outro local 07h – 8h30: Percurso de casa para o CIAPREVI; 12h - 13h: Percurso para o outro grupo de convivência; 3h-7h: Acorda e prepara o café da manhã/alimenta os 13h: Chega à ABI. Esta entidade disponibiliza 8h30 - 11h: Chega ao CIAPREVI e participa do ensaio do passarinhos (22 passarinhos), Faz seu asseio serviços médicos de controle de pressão arterial e de grupo de folclore; pessoal/toma um café reforçado; um profissional que ministra palestras 11h: Termina o ensaio e se dirige para almoçar em um 19h-20h: Janta em casa; socioeducativas, preparando eventos de restaurante do centro porque tem outro grupo de convivência 20h-21h: Assiste o jornal na televisão; confraternização o ano todo; à tarde p/ participar; 21h: Recolhe-se para dormir. Reza o terço antes de 14h - 15h: Faz fisioterapia com profissionais 12h: Almoça. dormir. bombeiros; 15h: Participa de um bingo. 16h - 17h: Retorna para casa (Leva uma sopa pronta para casa, às vezes); 17h – 18h30 - 19h: Percurso do grupo para casa. 3h-7h: Repete o mesmo ritual ao acordar; Passa o resto da tarde em casa, cuidando de suas atividades pessoais (o seu quarto é o seu refúgio principal). Lava e passa 8h30: Chega ao CIAPREVI; Participa apenas das atividades 9h: Chega ao grupo de convivência do Teatro São ainda suas roupas, mas não tem obrigação com o iniciais do grupo (acolhimento; orações; alongamento; Jose; preparo das refeições da família, que ficam por comunica a Frequência e segue para outro grupo de 11h: ensaia os números folclóricos e volta para o conta da filha que mora com ela; 7h: Vai para o convivência no Teatro São José; 12h: Almoça com os demais CIAPREVI; CIAPREVI; 14h30-15h: Chega em casa do integrantes do grupo de convivência. 13h30: Deixa o 13h30 - 15h: Percurso para casa CIAPREVI; 18h - 21h: Janta, assiste Jornal, faz CIAPREVI e vai para casa. afazeres de interesse pessoal ; 21h: Recolhe-se para dormir. Reza o terço antes de dormir. 3h - 7h: Repete o mesmo ritual de todas as manhãs; 13h: Chega em casa do CIAPREVI e almoça. Arruma “suas coisas”: O seu quarto é o cofre da casa, ninguém 8h30: Chega ao CIAPREVI para ensaiar danças folclóricas. 11h: Vai para casa; viola, porque tem cadeado na porta; 18h - 21h: Janta, Permanece no local até às 11h. 11h - 13h: Percurso do CIAPREVI para casa. assiste à televisão (novela e Jornal); 21h: Recolhe-se para dormir. Reza o terço antes de dormir. 3h-7h: Repete o mesmo ritual ao acordar; 7h: Vai para 9h: Desloca-se para o ensaio do grupo de folclore do 8h30: Chega ao CIAPREVI; Participa das atividades de Teatro São José, onde permanece até às 11h; 11h: o grupo de convivência237 do CIAPREVI; 19:00h: Chega acolhimento; orações, faz alongamento; em casa de volta dos grupos de convivência; Retorna ao CIAPREVI; 13h: Desloca-se para o 12h: Almoça no CIAPREVI. 19h-21h: Janta, assiste ao Jornal na televisão; Teatro São José; 13h30 - 17h: Participa do forró 13h: Vai para dançar no grupo de convivência do Teatro São 21h: Recolhe-se para dormir. Reza o terço antes de dançante no Teatro São José; 17h - 17:30h: Sai do José dormir. Teatro para casa; 18h30 - 19h: Percurso do Teatro para casa. 237 Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de D. Maria Amélia Ações da vida cotidiana (*) sexta-feira sábado domingo 1. Em casa 3h-7h: Acorda e segue a mesma rotina dos outros dias; 7h: Vai para o CIAPREVI ensaiar as danças folclóricas; 13h - 14h: Chega em casa para o almoço; Passa a tarde cuidando dos seus afazeres pessoais; 18h - 21h: Janta, assiste ao Jornal na televisão; 21h: Recolhe-se para dormir. Reza o terço antes de dormir. 3h-7h: Repete o mesmo ritual de todas as manhãs; Fica em casa o dia todo. Arruma suas coisas (lava suas roupas e passa suas roupas); 18h - 21h: Janta, assiste ao Jornal na televisão. Reza o terço antes de dormir; 21h: Recolhe-se para dormir. Reza o terço antes de dormir. 3h-7h: Repete o mesmo ritual de todas as manhãs; À tarde vai para um grupo de convivência no Bairro João XXIII; 14h: Chega em casa; 19h-21h: Janta, assiste ao Jornal na televisão. Reza o terço antes de dormir; 21: Recolhe-se para dormir. O QUE COSTUMA FAZER 2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE 3. Na sua comunidade e/ou em outro local Não faz nenhuma atividade comunitária no bairro ou em outro local. Demonstrou levar uma vida totalmente apartada da dos vizinhos que moram próximo à sua casa, referindo que todo mundo me 8h30: Chega ao CIAPREVI para o ensaio do grupo conhece e todo mundo gosta de mim, mas que era ela folclórico; na casa dele e eles nas deles . “Não,não,não,não,não, toda vida eu fui assim...” 11h: Termina o ensaio e dirige-se para casa. As atitudes arredias de D. Alzira podem ser atribuídas ao fato de ter vivenciado traumas de violências cometidas contra seus familiares próximos, acarretando tragédias - Não faz nenhuma atividade no bairro ou em outro local - 8h: Vai para a missa; 9h: Termina a missa e se dirige ao Grupo de Convivência do Bairro João XXIII; 12h - 14h: Lancha, almoça e dança junto aos outros idosos do grupo; 14h: Retorna para casa. 238 INSTRUMENTO 2: Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de D. Maria Amélia Ações da vida cotidiana (*) PLANO ESTRATÉTICO DE ROTINA SEMANAL IDEALIZADO PELOS SUJEITOS (O que retiraria e o que acrescentaria à sua vida real) 1. Em casa 2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE 3. Na sua comunidade e/ou em outro local Manteria a rotina e ainda acrescentaria a participação em novos grupos. Não pensa em interagir com a vizinhança. Diz que sempre foi retraída e não gosta de conversa com ninguém da rua. “São eles na casa deles e ela na dela”. Não teria nada a acrescentar em suas atividades semanais em casa. Gostaria de ter a saúde e seus filhos junto de si... (Mas ressalta: Eu tenho saúde!... Mas é só isso que eu queria... - terça-feira Manteria a rotina Repetiria a rotina de danças e ballet no CIAPREVI. Obs: Salienta que tem muita vontade de se engajar nas atividades de alfabetização no CIAPREVI (para ler e escrever). Contudo, como teria que deixar de dançar para se engajar nessas atividades, prefere continuar fazendo atividades de dança que são as que mais gosta de fazer entre todas. Manteria a rotina quarta-feira Manteria a rotina Manteria rotina Manteria a rotina quinta-feira Manteria a rotina Manteria a rotina Manteria a rotina sexta-feira Manteria a rotina Manteria a rotina Manteria a rotina sábado Manteria a rotina Obs.: Sente muita falta do grupo de convivência do CIAPREVI nos fins de semana, mas ressalta que não sente tristeza e enfatiza: “Não, comigo não tem essas coisas de tristeza não...” - domingo Manteria a rotina - - segunda-feira INSTRUMENTO 1: Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de D. Mírian Ações da vida cotidiana (*) O QUE COSTUMA FAZER 1. Em casa segunda-feira 6h: Acorda e toma metodicamente o remédio prescrito pelo médico; Faz um lanche matinal (suco ou vitamina feitos pela filha c/bolachas); 6h30: Vai regar suas plantas; 6h-7h: Faz seu asseio pessoal; 7h: Vai para o CIAPREVI; 17h: Chega em casa e faz pequenos serviços, como lavar a louça que estiver na pia; 17h30: varre a área da casa; 18h: janta refeições leves (sopa ou mingau de aveia); 18h30 - 20h: Vê televisão e assiste aos noticiários; 20h: Vai dormir. terça-feira 6h - 7h: Repete a mesma rotina em casa e sai para o CIAPREVI; 16h: Chega em casa de volta do CIAPREVI 18h: janta refeições leves (sopa ou mingau de aveia); 18h30 - 20h: Vê televisão e assiste aos noticiários; 20h: Vai dormir. quarta-feira quinta-feira 2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE 7h30: Chega CIAPREVI fazendo o percurso a pé, pois sua casa é bastante próxima ao centro; 7h30 – 11h30: Ajuda nos serviços da cozinha do centro (corta verduras, cata feijão e serve café nas salas dos servidores; 12h: Almoça no CIAPREVI; 13h: Serve café nas salas dos servidores; 13h30 - 14h – 16h30: continua a fazer pequenos serviços na cozinha do CIAPREVI e inclusive iniciando os preparativos do almoço que será servido aos idosos no dia subsequente, terça-feira; 16h30: A filha vem apanhá-la e a leva para casa. 7h30: Chega ao CIAPREVI; 8h: Começa suas atividades no salão do grupo de idosos “como DJ” (coloca as músicas do forró); 8h30 – 9h30: Participa da Acolhida, Orações, atividade de alongamento e assiste à palestra proferida por profissionais do CIAPREVI; 10h: Lancha com os outros idosos do grupo; 10h30 - 12h: Controla a seleção musical e se encarrega de colocar as músicas para o forró dançante; 12h: Almoça com os demais idosos do grupo de convivência; 13h - 14h: Controla o forró dançante; 14h – 14h30: Encerram-se as atividades do grupo. Ela permanece ajudando no Centro. Tarde: Repete a mesma rotina de 2ª Feira, à tarde, no CIAPREVI. 6h: Acorda Repete a mesma rotina em casa; 7h: Vai 7h30: Chega ao CIAPREVI; 7h30 – 11h30: Ajuda nos serviços da cozinha do centro (corta para o CIAPREVI; 16h: Retorna para casa; verduras, cata feijão e serve café nas salas dos servidores; 12h: Almoça;13h- Serve café nas 18h: Janta refeições leves (sopa ou mingau de salas dos servidores; 13h30 – 16h30: continua a fazer pequenos serviços na cozinha do aveia); CIAPREVI e inclusive iniciando os preparativos do almoço que é servido aos idosos no dia de 18h30 - 20h: Vê televisão e assiste aos noticiários; funcionamento dos grupos (às terças e quintas-feiras); 20h: Vai dormir. 16h30: A filha vem apanhá-la e a leva para casa. 6h - 7h: Repete a mesma rotina em casa e sai para o CIAPREVI; 8h30 – 7h30: Chega ao CIAPREVI; 8h: Começa suas atividades no salão do grupo de idosos 160h: Chega em casa de volta do CIAPREVI como DJ (coloca as músicas do forró); 8h30 – 9h30: Participa da Acolhida, Orações, das 18h: janta refeições leves (sopa ou mingau de atividades de alongamento e assiste à palestra proferida por profissionais do grupo; 10h: lanche aveia); dos idosos; 10h30 - 12h: Forró dançante; 12h: Almoço com os demais idosos do grupo de 18h30 - 20h: Vê televisão e assiste noticiários; convivência; 13h - 14h- Forró dançante; Tarde: Repete a mesma rotina dos outros dias. 20h: Vai dormir. 3. Na sua comunidade e/ou em outro local - - - - 240 Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de D. Mírian Ações da vida cotidiana (*) sexta-feira O QUE COSTUMA FAZER 1. Em casa 6h: Repete a mesma rotina em casa e sai para o CIAPREVI; 16h: Chega em casa de volta do CIAPREVI; 18h: Serve-se de uma refeição leve, como de costume; 20h: Vai para o seu habitual lazer cultural, no “Mercado das Artes”, onde se encontra semanalmente com amigos, às sextas-feiras; (Assiste à tradicional show de chorinho, e à apresentação de cantores da terra); 23h – 23h30: Volta para casa e se recolhe para dormir. 3. Na sua comunidade e/ou em outro local Participa, numa roda de amigos, do tradicional show de chorinho,, onde 7h30: Chega ao CIAPREVI; 7h30 – 11h30: Ajuda nos serviços da cozinha do centro (corta se apresentam cantores da terra verduras, cata feijão e serve café nas salas dos servidores; profissionais e amadores; 12h: Almoça no CIAPREVI; 13h: Serve café nas salas dos servidores; 11h – 11h30: Volta para casa e se 13h30 – 16h30: continua a fazer pequenos serviços na cozinha do CIAPREVI e inclusive recolhe para dormir. iniciando os preparativos do almoço que será servido aos idosos na semana seguinte, durante o funcionamento dos grupos (às terças e quintas-feiras); 16h30: A filha vem apanhá-la e a leva para casa. 2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE sábado 6h: Acorda no mesmo horário e repete os mesmos afazeres domésticos; Tarde: Lazer cultural e cuidados pessoais; Assiste aos programas de televisão de que gosta; Ouve música; 22h: Volta para casa e se recolhe para dormir. - domingo 6h: Acorda no mesmo horário e repete os mesmos afazeres domésticos. - Vai fazer as unhas na manicure; Noite: Almoça fora com a filha e amigos; 18h: Janta. 19h: Vai assistir a peças de teatro com a filha e amigos. (Repete a mesma programação ininterruptamente, porque aprecia teatro e a filha trabalha no teatro). 12h: Almoça fora com a filha e amigos. (Eventualmente passa os fins de semana na praia) 241 INSTRUMENTO 2: Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de D. Mírian PLANO ESTRATÉTICO DE ROTINA SEMANAL IDEALIZADO PELOS SUJEITOS (O que retiraria e o que acrescentaria à sua vida real) Ações da vida 3. Na sua comunidade e/ou em cotidiana (*) 1. Em casa 2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE outro local Não retiraria nenhuma atividade de sua vida cotidiana. Manteria a rotina Manteria a rotina terça-feira Manteria a rotina Ressalta que também não acrescentaria novas atividades à sua rotina diária, dizendo que sua vida já é muito boa. Manteria a rotina quarta-feira Manteria a rotina Manteria a rotina Manteria a rotina quinta-feira Manteria a rotina Manteria a rotina Manteria a rotina sexta-feira Manteria a rotina Manteria a rotina Manteria a rotina Afirma que, eventualmente, viaja para passear na praia ou visitar familiares em outros estados e não tem necessidade de acrescentar Manteria a rotina novos lazeres em sua rotina. Manteria a rotina Manteria a rotina Manteria a rotina segunda-feira sábado domingo Manteria a rotina 242 INSTRUMENTO 1: Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de D. Maria Alice O QUE COSTUMA FAZER Ações da vida cotidiana (*) segunda-feira terça-feira quarta-feira quinta-feira sexta-feira 1. Em casa 4h30 - 5h: Acorda e começa a rezar o terço. Em seguida, reza orações devocionais; 6h: Termina de rezar, faz seu asseio pessoal prepara o café da manhã seu e da filha; 7h: Termina de tomar o café matinal e começa a preparar o almoço sozinha. Depois a filha vem ajudá-la. Diz que gosta muito de fazer essas atividades domésticas. 7h - 12h: Cozinha e faz “colcha de fuxico”, com a qual irá presentear a filha. 12h: Almoça com a filha; 16h30: Fica em casa até esse horário; 18h: Janta refeições leves. 19h30: Assiste a programas de televisão ou, geralmente, lê um livro (Relata, satisfeita, que tanto ela quanto os irmãos aprenderam a ler sozinhos, porque moravam em uma cidade praiana do Interior que não tinha escolas. É, portanto, autoditada); 21h30-22h: Recolhe-se para dormir. 4h30 - 5h: Acorda e repete a rotina inicial do dia; 7h: Termina de tomar o café matinal e começa a preparar para participar do grupo de convivência do CIAPREVI; 12h: Almoça com a filha. 13h - 15h: Fica em casa, fazendo serviços domésticos; 18h: Janta com a filha e/o neto, às vezes; 19h30: Assiste aos programas de televisão de sua preferência ou, geralmente, lê um livro. 21h30 - 22h: Recolhe-se para dormir. 4h30 - 5h: Acorda e repete a rotina da segunda-feira. 7h: Termina de tomar o café matinal e começa a preparar o almoço. 7h - 12h: Prepara o almoço e borda a “colcha de fuxico”. 12h: Almoça com a filha; 16h30: Vai ministrar a Eucaristia em paroquianos idosos que não podem mais ir à Igreja; 19h30: Volta para casa para jantar; Assiste a programas de televisão ou, geralmente, lê um livro; 21h30 - 22h: Recolhe-se para dormir. 4h30 - 5h: Acorda e segue a rotina de todos os dias; 6h: Termina de rezar, faz seu asseio pessoal e Começa a preparar o café da manhã seu e da filha. 7h: Termina de tomar o café matinal e começa a preparar ir participar do grupo de convivência no CIAPREVI; 12h: Almoça com a filha. 13h - 15h: Fica em casa, fazendo serviços domésticos; 16h30 - 17h: Faz suas colchas de fuxico; 19h30: Assiste aos programas de televisão de sua preferência ou, geralmente, lê um livro; 21h30 - 22h: Recolhe-se para dormir. 4h30 - 5h: Acorda e repete a rotina dos outros dias da semana. 7h: Termina de tomar o café matinal e começa a preparar o almoço. A filha costuma ajudá-la na cozinha; 7h - 12h: Cozinha e faz “colcha de fuxico”, com a qual irá presentear a filha. 12h: Almoça com a filha; 13h - 150h: Fica em casa, fazendo serviços domésticos; 19h30: Assiste aos programas de televisão do seu agrado ou, geralmente, lê um livro; 21h30 - 22h: Recolhe-se para dormir. 2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE 3. Na sua comunidade e/ou em outro local - 17h: Assiste à missa na Igreja de sua Paróquia; 18h: Retorna para casa. Obs.: Uma vez por mês faz reuniões de catequese com os pedintes do bairro, prestandolhes orientação religiosa; 8h - 10h: Chega ao CAPREVI e ajuda nas tarefas da cozinha do Centro; 10h: Participa da aula de computação no CIAPREVI; 11h: Termina a aula de computação. Retorna para casa, para adiantar o almoço seu e da filha. 15h - 16h: Participa da Pastoral do Idoso em sua paróquia; 17h: Participa da missa na sua paróquia. - 16h30h: Vai prestar serviços religiosos em sua paróquia. 17h: Participa da missa; 18h: Prossegue a rotina religiosa, indo participar da reza do terço em casas do bairro.19h30: Retorna para casa 8h - 10h: Chega ao CIAPREVI e ajuda nas tarefas da cozinha do Centro. 10h: Participa da aula de computação no CIAPREVI; 11h: Termina a aula de computação. Retorna para casa para adiantar o almoço seu e da filha. 17h: Assiste à missa na Paróquia do bairro; 17h30 – 19h30: Participa de uma reunião religiosa semanal das servas paroquianas; 19h30: Volta para casa para jantar. - 15h - 16h: Assiste à reunião da Pastoral do Carente Na paróquia do bairro. Nessas reuniões são feitos estudos bíblicos com pessoas simples do bairro. 17h: Assiste à missa na paróquia do bairro; 18h: Retorna para casa para jantar com a filha e/o neto. 243 Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de D. Maria Alice O QUE COSTUMA FAZER Ações da vida cotidiana (*) 1. Em casa 2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE sábado 4h30 - 5h: Acorda e cumpre sua rotina diária do começo do dia 7h: Termina de tomar o café matinal e começa a preparar o almoço; 7h - 12h: Cozinha e borda a “colcha de fuxico”; 12h: Almoça com a filha. 13h – 16h30: Fica em casa, fazendo serviços domésticos; 19h30: Assiste a programas de televisão de que gosta ou, geralmente, lê um livro ; 21h30 - 22h: Recolhe-se para dormir. domingo 4h30 - 5h: Acorda e repete a rotina. 7h: Termina de tomar o café matinal e se prepara para ir à missa dominical; 13h - 18h: Volta das atividades religiosas, almoça com a família e realiza atividades domésticas e de lazer; 18h: Janta com a filha e/o neto, às vezes; 19h30: Assiste aos programas de televisão que aprecia ou, geralmente, lê um livro; 21h30 - 22h: Recolhe-se para dormir. - - 3. Na sua comunidade e/ou em outro local 17h: Assiste à missa na paróquia do bairro; 18h: Retorna para casa para jantar com a filha e/o neto, às vezes. 8h - 9h: Assiste à missa; Obs.: No 1º, 3º e 5º domingo de cada mês, participa de uma reunião religiosa em sua paróquia. 10h: Ministra a Eucaristia a uma senhora de Idade do bairro; 12h: Retorna para almoçar em casa. INSTRUMENTO 2: Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de D. Maria Alice PLANO ESTRATÉTICO DE ROTINA SEMANAL IDEALIZADO PELOS SUJEITOS (O que retiraria e o que acrescentaria à sua vida real) Ações da vida cotidiana (*) 1. Em casa 2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE 3. Na sua comunidade e/ou em outro local Diz que não mudaria a rotina. “A única coisa que eu tinha mais vontade na minha vida, era que a minha filha viesse na minha casa, pra eu Não mudaria nada da sua rotina “Quando eu era jovem, dizer assim: Deus te abençoe.” Com lágrimas nos olhos, e gostava muito de pastoril... Mas enfatiza: Mas esse tempo Não mudaria nada da sua rotina segunda-feira visivelmente emocionada, disse que gostaria de se já passou”. reaproximar da filha, que é mãe do neto que mora em casa com ela e a outra filha (solteira, mas a quem o rapaz considera mãe). terça-feira Não mudaria nada da sua rotina Não mudaria nada da sua rotina quarta-feira Não mudaria nada da sua rotina quinta-feira Não mudaria nada da sua rotina Não mudaria nada da sua rotina Não mudaria nada da sua rotina sexta-feira Não mudaria nada da sua rotina Não mudaria nada da sua rotina Não mudaria nada da sua rotina sábado Não mudaria nada da sua rotina Não mudaria nada da sua rotina Não mudaria nada da sua rotina domingo Não mudaria nada da sua rotina Não mudaria nada da sua rotina Não mudaria nada da sua rotina Não mudaria nada da sua rotina Não mudaria nada da sua rotina Não mudaria nada da sua rotina