CIDADANIA NA VELHICE

Transcrição

CIDADANIA NA VELHICE
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ
RUTH DOS MARTINS COELHO
CIDADANIA NA VELHICE: estudo sobre as mulheres do grupo de
convivência do CIAPREVI-CE
FORTALEZA-CEARÁ
2009
1
RUTH DOS MARTINS COELHO
CIDADANIA NA VELHICE: estudo sobre as mulheres do grupo de
convivência do CIAPREVI-CE
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado
Profissional em Planejamento e Políticas Públicas,
do Centro de Estudos Sociais Aplicados da
Universidade Estadual do Ceará, como requisito
parcial para obtenção do Grau de Mestre em
Planejamento e Políticas Públicas.
Orientadora: Profª Drª Maria do Socorro Ferreira
Osterne.
FORTALEZA-CEARÁ
2009
2
C672c
Coelho, Ruth Dos Martins.
Cidadania na velhice: estudo sobre as mulheres do
grupo de convivência do CIAPREVI-CE - Fortaleza, 2009.
243p; il.
Orientadora: Profa. Dra. Maria do Socorro Ferreira
Osterne.
Dissertação (Mestrado Profissional em Planejamento
e Políticas Públicas) – Universidade Estadual do Ceará,
Centro de Estudos Sociais Aplicados.
1. Cidadania. 2. Qualidade de Vida. 3.Velhice. 4.
Mulheres. 5. CIAPREVI-CE.
Universidade Estadual do Ceará, Centro de Estudos
Sociais Aplicados.
CDD: 301.435
3
RUTH DOS MARTINS COELHO
CIDADANIA NA VELHICE: estudo sobre as mulheres do grupo de
convivência do CIAPREVI-CE
Dissertação submetida ao Curso de Mestrado
Profissional em Planejamento e Políticas
Públicas, do Centro de Estudos Sociais
Aplicados da Universidade Estadual do Ceará,
como requisito parcial para obtenção do Grau
de Mestre.
Aprovada em: ___/___/2009
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________
Profª. Drª. Maria do Socorro Ferreira Osterne - UECE
(Orientadora)
_________________________________________
Profª. Drª.Derlange Belizário Diniz - UECE
(1ª Examinadora)
__________________________________________
Profª. Drª. Maria Marlene Marques Ávila - UECE
(2ª Examinadora)
4
DEDICATÓRIA
À memória de meu pai, Mário Dos Martins
Coelho, autodidata e advogado trabalhista que,
em sua época, colocou-se abnegadamente a
serviço
da
classe
operária,
lutando
e
defendendo os direitos dos não cidadãos e dos
excluídos da cidadania;
À memória de minha mãe, Maria Walyria de
Alcântara Pinto Coelho que, com simplicidade
e espírito tenaz, me ensinou a desenvolver o
gosto pela pesquisa;
À memória de minhas irmãs, Vânia Dos
Martins
Coelho,
incentivadora
a
professora
que
eu
e
primeira
realizasse
esse
empreendimento na esfera acadêmica, e
Martha Dos Martins Coelho Guilherme,
educadora e intelectual, que testemunharam,
com suas próprias vidas, que devemos lutar
por nossos ideais.
5
AGRADECIMENTOS
A Deus Pai, Filho e Espírito Santo, que abriu para mim as portas do Mestrado e me
permitiu concluí-lo, por meio deste estudo.
A uma Maria, em especial, mãe de Jesus, cuja dignificante história se consubstancia na
história do cristianismo e cuja força testemunha a força da mulher do povo e das cidadãs
anônimas, aqui homenageada sob o título de Mãe do Perpétuo Socorro, pelo auxílio
prestado nas horas de aflição e angústia, durante a construção desta dissertação.
À minha família, sobretudo meus irmãos e irmãs, sobrinhos e sobrinhas, pela
compreensão e apoio, quando me faltou apoio.
À Profª Dra. Maria do Socorro Osterne, por ter acolhido o projeto deste estudo e cujos
conhecimentos e orientação me ajudaram a realizá-lo.
Às Profas. Dras. Maria Zilma Cavalcante e Celina Amália Lima, pelas críticas e
sugestões apresentadas, por ocasião da qualificação do projeto deste estudo.
Às Profas. Dras. Derlange Belizário Diniz e Maria Marlene Marques Avila, pelas valiosas
contribuições apresentadas a este estudo, por ocasião da apresentação da dissertação.
Aos meus colegas de trabalho, especialmente, Ana Maria Dourado Moreira, Maria de
Fátima Medeiros e Manoel Jean, pelo incentivo e sugestões, nos momentos de
desânimo.
A Evaldo Cavalcante Monteiro, colega e ex-orientador, no Curso de Especialização em
Gerontologia, pela indicação de uma metodologia inestimável a este estudo.
Ao Adriano, que colocou os seus conhecimentos em Estatística à disposição deste fazer
acadêmico.
À Flávia Farias, psicopedagoga e amiga providencial, que contribuiu com sua
experiência acadêmica e sugestões pertinentes, tão valiosas a este estudo.
Aos funcionários e colegas de trabalho, lotados no Centro Integrado de Atenção e
Prevenção à Violência contra a Pessoa Idosa – CIAPREVI-CE, pela acolhida
dispensada à minha pessoa, durante a realização da pesquisa de campo.
Às idosas entrevistadas, que se dispuseram a relatar as suas experiências cotidianas, e
cujas identidades apresento, neste estudo, sob nomes fictícios, expresso a minha
gratidão e respeito.
A todas as pessoas que, de alguma forma, contribuíram para a realização deste trabalho,
agradeço penhoradamente.
6
“Agora, ao final de nossas andanças, nossos
olhos são outros, olhos da velhice, de saudade.
„Toda saudade é uma espécie de velhice‟, disse
o Riobaldo. É por isso que os olhos dos velhos
vão se enchendo de ausências. „Memória
fraca‟, dizem os jovens. Engano: é que a sua
alma sabe o que merece ser lembrado.
Esquecem-se do que aconteceu ontem, mas se
lembram do que aconteceu há muito tempo,
como se fosse hoje”.
(Rubem Alves)
“Nós podemos sempre muito mais do que
imaginamos”.
(Madre Agathe Verbulle)
7
RESUMO
Cidadania é uma palavra bastante pronunciada nos dias atuais. Neste estudo, o objetivo foi
compreender a cidadania vivenciada por mulheres idosas, das camadas populares, engajadas
no grupo de convivência do Centro Integrado de Atenção e Prevenção à Violência contra a
Pessoa Idosa (CIAPREVI-CE), em Fortaleza-Ceará. Buscou-se conhecer as estratégias
desenvolvidas pelos sujeitos para vivenciar a cidadania, a partir dos princípios de um novo
paradigma, conforme um conjunto de autores modernos, entre os quais, Osterne (2008);
Dagnino (1994) e Sousa (2003). O estudo envolveu as pesquisas qualitativa e quantitativa,
conforme Minayo e Sanches (1993), e abrangeu a análise de conteúdo, conforme Triviños
(2006) e Bardin (1997). Os instrumentos de campo aplicados foram idealizados especialmente
para atender aos objetivos desta pesquisa, a partir dos embasamentos teóricos de um conjunto
de autores da gerontologia (PASCHOAL, 2000; NERI, 2001; FERREIRA e SEIDL, 2009).
Os resultados colhidos de campo confirmaram a base hipotética formulada, demonstrando que
a luta de cidadania dos sujeitos se efetivava por meio de estratégias de inclusão, visibilidade
social, enfrentamento e superação das condições adversas da vida, através do engajamento em
atividades gratificantes, ligadas principalmente à música, à dança e à espiritualidade. Algumas
situações de conflito vividas pelos sujeitos também foram ressaltadas da pesquisa, entre as
quais a questão da violência e as dificuldades de convivência intergeracional, no ambiente do
lar, além de outras, de natureza estrutural, relacionadas à instância promotora do grupo. Essas
descobertas demonstraram a necessidade de o CIAPREVI-CE trabalhar a construção da
cidadania dos sujeitos, através da via artística, explorando as áreas de sua preferência, entre as
quais a espiritualidade.
Palavras-chave: Cidadania. Qualidade de Vida. Velhice. Mulheres. CIAPREVI-CE.
8
ABSTRACT
Citizenship is a word very much spoken nowdays. In this study, the goal was to understand
the strategy of access to citizenship used by older women, engaged in social group of elderly
Center Integrated of Care and Prevention of Violence Against the Elderly (CIAPREVI-CE),
Fortaleza, Ceará. This perspective research considered the principles of the new paradigm of
citizenship, whole of modern authors, including Osterne (2008); Dagnino (1994) and Sousa
(2003).. The study involved the qualitative and quantitative research and covered the method
of content analysis, as Triviños (2006) and Bardin (1997). The field instruments used are new
and were developed especially to meet the objectives of this research, from the theoretical
framework of a methodology developed by a medical professional (PASCHOAL, 2000;
NERI, 2001; FERREIRA e SEIDL, 2009).The results collected from the field confirmed the
hypothetical basis formulated, noting that the struggle for citizenship of the individuals
seeking the inclusion, visibility, social, coping and overcoming the adverse conditions of life,
by engaging in rewarding activities, related to music, dance and spirituality. Some situations
of conflict experienced by the subjects were also highlighted research, including the issue of
violence and the difficulties of living generations in the home environment, and other
structural in nature, related to the instance of the promoter group. These findings
demonstrated the need for the CIAPREVI-CE work the construction of citizenship of the
subjects, via the arts, exploring areas of your choice, including spirituality.
Keywords: Citizenship. Citizenship. Quality of Life. Old age. Women. CIAPREVI-CE
9
LISTA DE QUADROS E FIGURAS
Quadro 1 Avaliação dos indicadores de integração e satisfação manifestados pelos sujeitos,
nos contextos privado (casa) e comunitário (extragrupo do CIAPREVI-CE),
investigados paralelamente à aplicação dos instrumentos (1 e 2) da pesquisa. ....... 79
Quadro 2 Demonstrativo da confirmação da subsecção “a” da primeira hipótese formulada . 95
Quadro 3 Demonstrativo da confirmação da subsecção “b” da primeira hipótese formulada. 97
Quadro 4 Demonstrativo da confirmação da subsecção “c” da primeira hipótese formulada . 98
Quadro 5 Demonstrativo da confirmação da segunda hipótese formulada ............................ 100
Quadro 6 Demonstrativo da confirmação da terceira hipótese formulada (Área artística:
musical). ................................................................................................................. 101
Quadro 7 Demonstrativo da confirmação da terceira hipótese formulada (Área artística:
dança) ..................................................................................................................... 102
Quadro 8 Item 1.1: Importância atribuída pelos sujeitos às atividades que realizam em
contexto privado (casa) .......................................................................................... 103
Quadro 9 Item 1.2: Importância atribuída pelos sujeitos às trocas de experiência com outras
pessoas, no contexto privado (indicador de integração). ....................................... 105
Quadro 10 Demonstrativo da confirmação da terceira hipótese formulada (Área artística:
dança) ..................................................................................................................... 106
Quadro 11 Item 2.2: Importância atribuída pelos sujeitos às conversas informais com amigos,
incluindo a discussão de assuntos de interesse coletivo ......................................... 108
Quadro 12 Validação dos interesses de cidadania pelos sujeitos, à luz do Instrumento 2 ..... 121
Quadro 13 Descritivo das situações de conflitos vivenciadas pelos sujeitos ......................... 123
Quadro 14 Espiritualidade e religiosidade: estratégias utilizadas pelos sujeitos salientadas do
estudo ..................................................................................................................... 126
Figura 1 Renda mensal familiar .............................................................................................. .88
10
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Perfil geral dos sujeitos .............................................................................................. 85
Tabela 2 Associação entre faixa etária e escolaridade das idosas ........................................... 86
Tabela 3 Bairro onde residem ................................................................................................... 86
Tabela 4 Composição familiar ................................................................................................. 87
Tabela 5 Características gerais da moradia. ............................................................................. 87
Tabela 6 Atividades rentáveis ................................................................................................... 88
Tabela 7 Atividades que gosta de fazer. ................................................................................... 89
Tabela 8 Condições de saúde/Problemas vivenciados ............................................................. 89
Tabela 9 Condições de saúde. ................................................................................................... 90
Tabela 10 Qual plano de saúde dispõe ...................................................................................... 91
Tabela 11 Participação em outros grupos de convivência ......................................................... 91
Tabela 12 Quais grupos de convivência .................................................................................... 92
Tabela 13 Relação familiar ....................................................................................................... 92
Tabela 14 Importância atribuída ao grupo de convivência ........................................................ 93
11
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABI - Associação Beneficente dos Idosos
BNB - Banco do Nordeste do Brasil
BES - Bem-Estar Subjetivo
CLAVES - Centro Lantino-Americano de Estudos da Violência e Saúde
CEDI-CE - Conselho Estadual dos Direitos do Idoso
CIAPREVI-CE - Centro Integrado de Atenção e Prevenção à Violência contra a Pessoa Idosa
do Ceará
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
INAN - Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição
LBA - Legião Brasileira de Assistência
LOAS - Lei Orgânica da Assistência Social
ONGs - Organizações não-governamentais
ONU - Organização das Nações Unidas
PNI - Política Nacional do Idoso
SEDH - Secretaria Especial dos Direitos Humanos
STDS - Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social do Estado do Ceará
SUAS - Sistema Único da Assistência Social
SUS - Sistema Único de Saúde
12
SUMÁRIO
LISTA DE QUADROS E FIGURAS ............................................................................. 09
LISTA DE TABELAS ..................................................................................................... 10
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS .................................................................... 11
1
INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 14
2
CIDADANIA NO CONTEXTO SOCIOPOLÍTICO BRASILEIRO ........................ 22
2.1 Uma nova cidadania para velhos sujeitos ......................................................................... 22
2.2 A gênese dos programas sociais voltados para a construção da cidadania dos idosos em
grupos de convivência, na capital cearense ....................................................................... 33
3
POR QUE A VELHICE É UMA CONDIÇÃO TÃO DIFÍCIL PARA AS
MULHERES? .................................................................................................................. 43
Compreendendo as relações entre as categorias analíticas “cidadania”, “gênero” e
“qualidade de vida” na velhice, integradas ao estudo ...................................................... 43
3.2 A gênese das dificuldades enfrentadas pelas cearenses empobrecidas no âmbito da
cidadania ........................................................................................................................... 56
3.2.1 As estratégias utilizadas pelas não cidadãs, em diversos períodos sócio-históricos ......... 56
3.1
4
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS.................................................................. 68
4.1 Perfil geral das idosas engajadas no grupo de convivência do CIAPREVI-CE ............... 68
4.2 Critérios de Seleção dos Sujeitos ...................................................................................... 69
4.3 Métodos de pesquisa .......................................................................................................... 71
4.3.1 Definições de ordem metodológica: a construção do instrumental da pesquisa ............... 71
4.3.2 Análise dos dados de campo ............................................................................................. 79
5
RESULTADOS ................................................................................................................ 85
5.1 Os dados colhidos na etapa da etapa de pré-análise .......................................................... 85
5.2 Verificação das hipóteses formuladas para a pesquisa ...................................................... 94
5.3 Verificação dos quesitos da entrevista realizada, concomitantemente ao Instrumento 1
aplicado ........................................................................................................................... 102
5.3.1 Em relação ao contexto privado: (Item 1.1: Por que faz essas atividades?) ................... 102
5.3.2 Em relação ao contexto privado: (Item 1.2: Troca experiências com outras pessoas
enquanto realiza essas atividades? Com quem?) ............................................................. 104
5.3.3 Em relação ao contexto comunitário extragrupo de Convivência do CIAPREVI-CE:
(Item 2.1: Que tempo dispensa ao lazer cultural e social (assistir a noticiários, ler
revistas, ouvir música, ir ao cinema, teatro e forrós)? ..................................................... 106
5.3.4 Em relação ao contexto comunitário extragrupo de convivência do CIAPREVI-CE:
(Item 2.2: Que tempo reserva para se encontrar com os amigos e para conversar sobre
assuntos de interesse coletivo? da rua onde mora, do bairro, da cidade etc.) ................. 108
5.3.5 Apreciação das estratégias de acesso à cidadania desenvolvidas pelos sujeitos, com base
no “Instrumento 1” aplicado............................................................................................ 110
5.3.6 Validação das estratégias de acesso à cidadania pelos sujeitos, com base no
“Instrumento 2” aplicado................................................................................................. 121
5.4 Unidades temáticas emergentes da pesquisa .................................................................. 123
5.5 Discussão ........................................................................................................................ 128
13
6
CIDADANIA OUTORGADA VERSUS CIDADANIA CONQUISTADA ............. 141
6.1 Ilustrando os paradigmas de cidadania deste estudo com a história de dois sujeitos
especiais .......................................................................................................................... 141
6.2 A História de D. Mírian ................................................................................................... 142
6.3 A história de D. Mírian no contexto da história de Fortaleza na Década de 1930:
Carnaval e Fome ............................................................................................................. 149
6.4 A História de Salviana ..................................................................................................... 153
6.5 A História de Salviana versus A necessidade da adoção de política gerontológica
humanizadora, no CIAPREVI-CE .................................................................................. 158
7
CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 165
REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 169
ANEXO A - FICHA DE CADASTRO ........................................................................ 176
ANEXO B - AUTORIZAÇÃO PARA REALIZAÇÃO DA PESQUISA ................. 176
ANEXO C - MATÉRIA JORNALÍSTICA ................................................................. 176
APÊNDICE A – FOTOS DOS IDOSOS ..................................................................... 180
APÊNDICE B - QUADROS SINTÉTICOS DAS ESTRATÉGIAS DE
CIDADANIA ADOTADAS PELOS SUJEITOS ........................................................ 185
APÊNDICE C - QUADRO PERFIL GERAL DAS IDOSAS DO CIAPREVI-CE . 200
APÊNDICE D - QUADRO PERFIL GERAL DAS 15 IDOSAS CONSTANTES DA
PESQUISA. .................................................................................................................... 203
APÊNDICE E – INSTRUMENTOS DE COLETA E ANÁLISE DOS DADOS ..... 205
APÊNDICE F – SINTESE DOS INSTRUMENTOS (1 E 2) DE ANÁLISE DOS
SUJEITOS ...................................................................................................................... 207
14
1 INTRODUÇÃO
Posso dizer que o meu interesse pela temática da cidadania nasceu, desde a
juventude, junto com a percepção de que esse termo equivale a um atributo, ao qual se faz jus
de dois modos: ou graciosamente, “de mão-beijada”, como herança social patrimonialista, ou
se luta para conquistar. Dentro desse último contexto, Da Matta (1997, p.65, apud
OSTERNE, 2008, p.84) chamou-me a atenção, recentemente, para a “cidadania relacional”,
que depende da forma como os indivíduos acionam “as amizades”, para acessar, com mais
facilidade, aos bens coletivos, o que não deixa de ser “uma estratégia” decorrente de seus
esforços e habilidades em instrumentalizar a vida prática.
Nessa perspectiva, cedo descobri que a primeira situação tem boas chances de
produzir um cidadão pouco consciente dos seus deveres e responsabilidades para com o
Estado e a coletividade em que vive, porém, pleno de direitos de usufruir os bens coletivos,
para cuja produção em nada colaborou.
A segunda situação, por sua vez, apesar de mais combativa e, portanto, exaustiva,
tem ótimas chances de produzir uma pessoa humana rica em possibilidades de construir e
mudar a própria história e de colaborar com a história de muitos, sendo a própria pessoa um
patrimônio humano inenarrável, produzido no coletivo e sempre colocado à disposição deste.
A minha história pessoal foi, assim, balizada no exemplo de vida e no “modo de
ser” dos meus pais, deixando marcas profundas na minha conduta moral, ética e humana até
hoje. Toda a existência deles foi projetada para o bem-estar da família e para causas e ideais
de justiça e equidade social, e sempre na perspectiva de luta pela promoção humana de
pessoas incluídas na categoria dos ditos “não cidadãos”. Nesse sentido, meu pai dedicou-se, a
vida inteira, como advogado trabalhista, às causas da classe operária, em prol das quais se
empenhou e por elas lutou, até morrer.
Essa foi a semente da “cidadania” que, cultivada em mim e em todos os meus
irmãos, foi germinando em forma de estratégias de enfrentamento e sobrevivência, ao
ficarmos órfãos de pai. Mas, estou falando aqui de „estratégias‟ que se adota, não só para se
conseguir sobreviver, materialmente falando, mas também para se conseguir „viver‟ com
dignidade. Até hoje, recordo as palavras de minha falecida irmã Martha, ao mencionar: “A
dignidade é a única coisa de que nenhum ser humano pode prescindir”.
Em suma, fomos condicionados desde bem cedo a empreender lutas, enfrentar
desafios, à custa dos próprios méritos. Primeiro, nos estudos, depois, no mercado de trabalho.
Como não tínhamos muitas posses, hoje vejo que “estudar” foi uma estratégia que utilizamos
15
para alcançar a realização na vida. Ninguém nunca nos ofereceu nada graciosamente e, o que
é pior, muitos até colaboraram para dificultar o percurso, colocando entulhozinhos no
caminho. Só mais recentemente descobri, depois de levar muitas “surras da vida”, que a
bagagem cultural que uma pessoa carrega, construída com lutas e esforço próprio, mais do
que os bens materiais que possa ter amealhado na vida, é a que mais gera ciúmes e atitudes
hostis das pessoas com boa situação econômica e condição de prestígio social, arrebanhados
sem nenhum esforço.
O saldo dessa história pessoal de lutas foi proveitoso, valeu à pena, pelo que eu e
meus familiares conseguimos ser e não, pelo que conseguimos ter, que, aliás, não é muito,
mas vale muito pela forma como adquirimos.
Em face desse histórico de vida, as marcas da “cidadania conquistada” se
apegaram à minha identidade ética, junto com o anseio de contribuir, de alguma forma, para
que outros, olhando não para as dificuldades surgidas no caminho, ao longo da vida,
pudessem se situar dentro da mesma perspectiva de luta, imaginando previamente o sabor dos
frutos conquistados, antes mesmo de colhê-los, e seguindo pela vida afora, semeando histórias
e fazendo a história acontecer. Nada pode equivaler a tamanha ventura!
Mas, sou mulher, e sobre a minha história pesam as mesmas barreiras que outras
mulheres desde épocas remotas vêm enfrentando, para conquistar um lugar ao sol. Porém,
estou falando aqui não de barreiras, mas da cidadania que se conquista, a partir de lutas. Essa
linha conceitual, focada no recorte de gênero, tornou-se a perspectiva de cidadania que
busquei explorar, à luz dos princípios teóricos de um paradigma moderno (DAGNINO, 1994;
OSTERNE, 2008).
Prevaleceu nesse sentido o ponto de vista de que as pessoas não se tornam cidadãs
de um momento para o outro; ao contrário, essa formação vai se processando ao longo da
vida, dando lugar a sujeitos históricos, que tanto podem se acomodar passivamente às
condições socioeconômicas que já encontram prontas, ao nascerem, ou ampliar o campo das
oportunidades, com pertinácia e lutas (FERREIRA, 1993).
Consoante a supracitada linha conceitual, acredito que não é somente a cidadania
civil, expressa na posse de uma certidão de nascimento ou a cidadania política, assinalada por
um título de eleitor, que irá determinar a vivência cidadã de cada indivíduo. Esses elementos
poderão, apenas, se configurar em uma identidade formal e abstrata de cidadão, mas não, em
uma cidadania concreta e real, levando em conta que esta se efetiva dentro de cada pessoa e
não, fora dela.
16
Não se pode ignorar, contudo, que, na velhice, a cidadania se torna um desafio
ainda mais exigente para os idosos das camadas populares de baixa renda, dispondo de poucas
possibilidades de realização social.
Essas percepções e vivências fizeram com que eu buscasse compreender a
cidadania experienciada por mulheres idosas que, embora economicamente menos
favorecidas, denotavam estar procurando usufruir uma velhice proativa e integrada, em
grupos de convivência estatais, parecendo não se acomodar diante das dificuldades de ordem
socioeconômica. Interessava conhecer e compreender o sentido de suas lutas, em face do
aludido paradigma de cidadania que estava sendo utilizado como referência.
Cabe ressaltar que, nesse caso, o grupo de convivência passou a ser considerado
como uma modalidade referencial de sociabilidade na velhice, passível de investigação, por
estar circunscrita ao nível das ações positivas referendadas tanto pelo Estatuto do Idoso,
quanto pelos parâmetros gerontológicos (NERI, 2002).
Portanto, o meu interesse em estudar a cidadania vivenciada pelo segmento de
idosas referido, partiu não só de motivações de ordem pessoal, mas de outras, de cunho
profissional e de algumas, provenientes da observação do senso comum.
No tocante às motivações de cunho profissional, atribuo o meu interesse a um
processo de amadurecimento, que me levou a refletir sobre diversas questões relacionadas à
velhice e ao envelhecimento, o que acabou me conduzindo a uma formação acadêmica
complementar, na área da Gerontologia. Esta teve início no ano de 2003 e me permitiu
vivenciar uma gratificante experiência de trabalho, junto ao Núcleo de Atenção ao Idoso da
Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social (STDS), no qual atuei como técnica em
assuntos educacionais e especialista em gerontologia. Por meio dessa experiência de trabalho,
que se prolongou até esse Núcleo ser extinto, em 2008, acompanhei, junto com a equipe de
técnicos desse setor, as ações desenvolvidas pelo Estado, através da STDS, nos grupos de
convivência de idosos do PROJETO CONVIVER, a cargo da Coordenadoria de Proteção
Social Básica da referida Pasta.
No tocante às motivações provenientes do senso comum, a minha curiosidade foi
instigada pelos indicadores de pesquisa, apontando as mulheres idosas, economicamente
menos favorecidas, como as principais vítimas da violência no Estado do Ceará (matéria
jornalística inclusa).
Esses dados, aliados à observação de que os grupos de convivência da STDS são
quase que em sua totalidade frequentados por idosas, fizeram com que eu passasse a
considerar a possibilidade de realizar a pesquisa que deu origem a este estudo, no Centro
17
Integrado de Atenção e Prevenção à Violência contra a Pessoa Idosa (CIAPREVI-CE).
Cabe enfatizar que, anteriormente à implantação desse novo equipamento, o
público idoso assistido no grupo de convivência que ali funcionava já se mostrava bastante
diversificado. Há muito tempo vêm acorrendo ao local idosos provenientes de outros bairros
mais afastados de Fortaleza e, não somente, os residentes nas imediações do centro.
A aludida circunstância sinalizou a possibilidade de realização de uma pesquisa,
envolvendo uma amostra abrangente e heterogênea de sujeitos, oriundos de realidades
distintas da capital cearense e não especificamente representativos de uma única área
residencial da cidade, no caso, o bairro Meireles, onde fica localizado o Centro Integrado de
Atenção e Prevenção à Violência contra a Pessoa Idosa do Ceará (CIAPREVI-CE).
Em face desse histórico, elegi o supracitado equipamento como locus de
realização da pesquisa pretendida. Os sujeitos que selecionei para compor a amostra geral de
campo eram remanescentes do grupo de convivência do Centro Comunitário Dom Lustosa, os
quais em inúmeras ocasiões pude observar mais de perto, quando integrava a equipe técnica
responsável pelo acompanhamento das ações do PROJETO CONVIVER, coordenado pelo
extinto Núcleo de Atenção ao Idoso, da STDS. Era perceptível a satisfação e a integração que
os idosos dos grupos demonstravam com a vivência comunal.
Desse modo, o senso de observação, aliado aos dados obtidos através de pesquisa
bibliográfica e documental, previamente realizadas, permitiu-me eleger como base hipotética
para este estudo o pressuposto de que a cidadania dos sujeitos, em termos práticos e, portanto,
vivenciais, se desenrolaria em torno de uma luta para melhor qualidade de vida e maior bemestar na velhice.
Assim, o interesse precípuo deste estudo versou em buscar fundamentos
explicativos para responder aos seguintes questionamentos:
1.
Quais seriam as estratégias de ação que os sujeitos estariam desenvolvendo, em casa, no
grupo de convivência e na comunidade, para ter acesso à cidadania, compreendida como
luta pelo direito de obter melhor qualidade de vida e bem-estar na velhice?
2.
Em qual dos supracitados espaços de socialização (casa, grupo de convivência ou
comunidade) os sujeitos da pesquisa estariam efetivamente se apoiando para construir a
cidadania, baseada na luta por melhor qualidade de vida e bem estar na velhice?
3.
Como poderia pensar políticas públicas, voltadas para a construção da cidadania e da
qualidade de vida dos sujeitos, a partir dos resultados colhidos nesta pesquisa?
18
A metodologia adotada nesta pesquisa é de natureza qualitativa, considerando que
privilegiei o estudo da temática da cidadania feminina, buscando conhecer experiências e
situações objetivas da vida das idosas, sem desprezar os aspectos subjetivos inerentes às suas
atitudes e comportamentos cotidianos.
Subsequentemente, as hipóteses formuladas para este estudo foram as seguintes:
1ª Hipótese: Os sujeitos poderiam estar desenvolvendo, conjuntamente, ou não, várias
estratégias de ação para ter acesso à cidadania, sendo destacadas as seguintes: o
engajamento em atividades gratificantes, em quaisquer dos três espaços de
socialização investigados, como enfrentamento e superação das condições
adversas de sua vida passada e/ou presente; o engajamento em grupos de
convivência, como espaços de luta e de visibilidade social; e a busca por
serviços de saúde, para manutenção dos níveis de qualidade de vida e bem-estar,
em geral.
2ª Hipótese: O grupo de convivência do CIAPREVI-CE, entretanto, se configuraria como o
principal espaço cotidiano de luta utilizado pelos sujeitos, para ter acesso à
cidadania, em virtude das limitadas possibilidades de realização social dos
sujeitos;
3ª Hipótese: O CIAPREVI-CE poderia trabalhar de forma mais eficiente os conteúdos
referentes aos direitos e deveres de cidadania, junto aos sujeitos, através da via
artística e de metodologias lúdicas.
Em face do exposto, o presente fazer acadêmico, que está sendo apresentado ao
Curso de Mestrado Profissional em Planejamento e Políticas Públicas da Universidade
Estadual do Ceará (UECE) convergiu para os seguintes objetivos:
1.
Compreender o sentido das lutas cotidianas, empreendidas pelos sujeitos, para ter
acesso à cidadania, a partir da investigação das estratégias de ação que desenvolvem,
em três espaços de socialização cotidianos, a saber: a casa, o grupo de convivência e
outros espaços comunitários;
2.
Conhecer em qual (is) espaço(s) cotidiano(s) de socialização, a saber: a casa, o grupo de
convivência e outros, na comunidade, os sujeitos da pesquisa estão se apoiando
efetivamente para construir uma vivência cidadã;
3.
Compreender de que maneira as lutas cotidianas desenvolvidas pelos sujeitos, nos três
espaços de socialização investigados, poderão balizar as ações desenvolvidas pelo
19
CIAPREVI-CE, no âmbito da construção da cidadania, da qualidade de vida e do bemestar do referido segmento.
Mediante esses objetivos elencados, enfatizo que este estudo não teve como
pretensão avaliar se os sujeitos pesquisados “seriam ou não” cidadãos. Ao contrário, buscouse compreender o sentido de suas lutas para acessar à cidadania, “apesar de” serem ou não
serem considerados cidadãos de fato.
Nesse sentido, a própria pesquisa se encarregou de revelar aspectos objetivos e
subjetivos da vivência cidadã dos sujeitos. Entre os primeiros estão as ações cotidianas por
eles desenvolvidas, nos três espaços de socialização investigados e, entre os segundos,
encontram-se os valores, as crenças, os preconceitos e atributos por eles desenvolvidos,
repercutindo na forma como estão exercendo a cidadania. Evidenciaram-se ainda nesse
contexto os conflitos e receios que tornavam mais dificultosas as suas lutas por uma velhice
saudável.
Consoante essa perspectiva, a expressão “vivência cidadã” assume neste estudo
um significado equivalente à noção de cidadania que é construída pelas pessoas não
meramente em termos de conhecimentos teóricos abstratos, acerca de direitos e deveres na
esfera comunitária. Ao invés, refere à cidadania que se constrói a partir de experiências
objetivas e subjetivas da vida prática dos sujeitos considerados.
O instrumental metodológico adotado foi idealizado especialmente para atender às
finalidades da pesquisa e adaptado, a partir da linha metodológica utilizada por Paschoal
(2000), conjugada aos princípios teóricos trabalhados por Néri (2001; 2003) e outros
estudiosos da gerontologia (ALMEIDA, 2003; DEBERT, 1993; PEIXOTO, 1993).
Destaco que os instrumentos aplicados na pesquisa de campo levaram os sujeitos
a falar sobre as atividades que realizavam cotidianamente, em três espaços de socialização
diferentes (casa, grupo de convivência e comunidade), permitindo que eles próprios, ao final,
validassem os seus interesses na área da cidadania.
As atividades que compõem o primeiro instrumento de campo aplicado
(Instrumento 1) referem às atividades reais, que os sujeitos costumam realizar no dia-a-dia.
Portanto, dizem respeito a algumas experiências individuais, vividas por eles na esfera
privada e a outras, vividas na esfera comunitária.
Por sua vez, o segundo instrumento aplicado (Instrumento 2) apresenta as
atividades idealizadas pelos sujeitos, ou seja, descreve a rotina que eles gostariam de ter, se
pudessem escolher, a partir da sugestão feita pela pesquisadora, pedindo que informassem o
20
que gostariam de acrescentar ou retirar da rotina diária de cada um.
Após essas colocações, passo a expor o esquema proposto para o desenvolvimento
do presente trabalho:
O primeiro capítulo é composto por duas subseções. Na primeira, apresento uma
revisão bibliográfica, com foco na temática principal do estudo. Procuro estabelecer nexos
críticos entre o paradigma de cidadania tradicional, herdado do modelo liberal europeu, e o
novo paradigma de cidadania, que guarda pertinência com os princípios democráticos da
Constituição Brasileira, na qual estão contemplados múltiplos modelos de identidades e
padrões culturais, vigentes entre nós na contemporaneidade. Ressalto que, para a construção
desse capítulo, foi de decisiva importância o pensamento de estudiosos da Sociologia e da
Ciência Política, tais como: Arroyo (1999); Covre (1995); Dagnino (1994); Ferreira (1999);
Freire (1974); Osterne (2008) e Sposati (2003).
Na segunda subseção desse primeiro capítulo, apresento uma revisão
bibliográfica, contemplando a gênese dos programas sociais voltados para a construção da
cidadania de idosos, em grupos de convivência, no Ceará. Abordo, nesse contexto, a gênese
do PROJETO CONVIVER, cuja filosofia de ação serve de diretriz para as ações
desenvolvidas pelo CIAPREVI-CE.
No segundo capítulo deste estudo, procuro estabelecer uma arena de discussão,
através de duas subseções específicas. Na primeira, o interesse foi apresentar o contexto
relacional, envolvendo as categorias analíticas “cidadania”, “gênero” e “qualidade de vida” na
velhice, numa perspectiva dialogal entre essas categorias, e consoante uma ordem de análise
sócio-histórica. Busco responder por que a velhice é uma condição tão difícil para as
mulheres, resgatando as múltiplas percepções culturais atribuídas aos conceitos de velho e
velhice, na perspectiva de gênero, em diversos contextos históricos da humanidade. A seguir,
relaciono esses conceitos às políticas públicas voltadas para o segmento idoso, a partir dos
subsídios teóricos de estudiosos da gerontologia, a exemplo de Almeida (2003); Debert
(1993); Neri (2003) e Peixoto (1993).
Na segunda subsecção desse segundo capítulo, resgato as estratégias de acesso à
cidadania, utilizadas por mulheres empobrecidas de diferentes períodos e contextos sóciohistóricos, detendo-me mais especificamente nas influências culturais exercidas pelo
patriarcado e patrimonialismo na vivência cidadã feminina no Brasil. Contemplo, nesse
contexto, a cidadania da mulher cearense das camadas populares. Para a construção desse
capítulo, busquei o suporte teórico de autores, tais como: Freyre (2000); Osterne (2008) e
Muraro (1993), entre outros que trabalham a perspectiva histórica da categoria gênero.
21
No terceiro capítulo, procuro detalhar a linha metodológica adotada neste estudo,
dando a conhecer os procedimentos metodológicos relativos às pesquisas bibliográfica,
documental e de campo realizadas. Apresento, nesse contexto, o processo de construção do
instrumental da pesquisa, mediante a operacionalização da categoria “qualidade de vida”. A
idealização desse instrumental foi respaldada nos embasamentos teóricos de diversos autores,
entre os quais Paschoal (2000), Neri (2001), Ferreira e Seidl (2009), referendados pela
Organização Mundial de Saúde.
No quarto capítulo, apresento os resultados e a discussão dos dados colhidos de
campo, de conformidade com a análise de conteúdo proposta por Triviños (2006), em diálogo
com a de Bardin (1997). Neste tópico faço considerações a respeito de duas unidades
temáticas que sobressaíram da pesquisa de campo, a saber, a violência e a espiritualidade.
No quinto capítulo, presto uma homenagem a dois sujeitos especiais que
contribuíram com a narração de suas experiências de vida para a proposta do presente estudo.
Seguindo a trajetória de vida de cada um, ilustro a abordagem teórica considerada neste fazer
acadêmico sobre os paradigmas moderno e tradicional de cidadania, aprofundando, ao mesmo
tempo, aspectos da trajetória de cidadania das mulheres das classes populares, em nosso
Estado. As idosas homenageadas são retratadas com nomes fictícios, assim como as demais
que integram a amostra geral da pesquisa de campo.
No final do estudo, ofereço sugestões quanto às metodologias que o CIAPREVICE poderá trabalhar junto ao grupo de convivência investigado, esperando contribuir, dessa
forma, para as políticas públicas direcionadas aos idosos, que começaram a ser
implementadas no referido equipamento, desde fevereiro de 2009.
A partir desse esquema apresentado, inicio a apresentação do estudo realizado.
22
2 CIDADANIA NO CONTEXTO SOCIOPOLÍTICO BRASILEIRO
2.1 Uma nova cidadania para velhos sujeitos
Trabalhando em uma Secretaria de Estado, voltada, prioritariamente, para a
promoção social e humana de pessoas menos favorecidas, vem-se observando, há bastante
tempo, que a base de fundamentação teórica da grande maioria dos projetos técnicos
elaborados, não só pelo Estado, mas por diversas outras instâncias sociais, incluindo as nãogovernamentais (ONGs), está centrada na alegativa da construção da cidadania.
De fato, há que se admitir que essa meta é louvável e representa o próprio anseio
da Constituição Brasileira, em vigor, sendo ela própria a expressão máxima da Democracia,
não fosse o fato dessa palavra existir quase sempre dentro do contexto teórico dos projetos e
não, no contexto social, fora deles.
Tem-se observado, ainda, e com muita frequência, inúmeras pessoas confundirem
cidadania com direitos humanos, atribuindo o mesmo significado a esses termos. Entende-se
que essa associação de ideias se explica pelo fato de que um conceito se apresenta subjacente
ao outro. Ou seja, para que a cidadania seja plenamente efetivada, o cidadão precisa usufruir
direitos, ter consciência de que é um cidadão de direitos e procurar fazer valer os seus
direitos, conhecendo e exercendo os seus deveres.
Explorando essa linha de raciocínio, à luz dos significados apresentados pelo
Dicionário Michaelis (1998), tem-se como cidadão o indivíduo no gozo dos direitos civis e
políticos de um Estado. Por outro lado, essa mesma fonte define a palavra cidadania (cidadão
+ ia) como uma “qualidade de cidadão”. Em outras palavras, isso pode significar que ser
detentor de cidadania é uma condição relevante, a tal ponto, para a vida de qualquer pessoa,
que passa a ser considerada como um atributo qualitativo, que promove o ser humano a
patamares de dignidade.
A dedução lógica que se pode abstrair dessas explicações referenda o pensamento
de Arendt (2008), no sentido de que, para que uma pessoa seja, de fato, considerada um
cidadão, necessita de liberdade para expressar-se plenamente dentro da sociedade em que vive
e de não estar sujeita a qualquer tipo de discriminação por raça, credo político, religião, idade
ou gênero a que pertença.
Além disso, segundo os próprios preceitos constitucionais, para exercer
plenamente a cidadania, a pessoa necessita de fazer jus a uma série de direitos, em condições
de igualdade com as demais, participando ativamente da construção da sociedade em que
23
vive. Estabelecendo uma analogia, pode-se comparar a cidadania a uma cédula de
identificação abstrata do cidadão que torna a pessoa detentora de direitos. Consensualmente, o
principal direito apontado pelos cientistas políticos é o direito fundamental e natural à vida
plena. Este, aliás, é um preceito bíblico do cristianismo.
Tal nível de entendimento se mostra presente na Declaração Universal dos
Direitos Humanos, proclamada pela Organização das Nações Unidas (ONU, 1948), que
reconheceu um vasto elenco de direitos humanos, entre os quais os individuais, sociais, civis e
políticos.
Assim, todos os direitos proclamados pela mencionada Declaração, como o
próprio nome sugere, pressupõem uma concepção universalista que coloca, a priori, todas as
pessoas em igualdade de condições. No Brasil, esses direitos foram efetivamente
incorporados à legislação, a partir da Constituição Federal (BRASIL, 1988), com o término
do regime militar e a instituição do Estado Democrático de Direito. Entretanto, apesar dos
grandes avanços democráticos alcançados pelo País, muitas desigualdades continuam a
existir, até hoje, em detrimento do que reza a Carta Constitucional.
Abstrai-se do quadro de preconceitos e rechaços à velhice de pessoas
empobrecidas, divulgado pela mídia que, efetivamente, parte do segmento idoso de baixa
renda de Fortaleza está tendo os seus direitos sociais, civis e políticos sequestrados, o que
indica uma inobservância constitucional a esses direitos.
O Jornal Diário do Nordeste (edição de 20 de junho de 2008) publicou matéria
apresentando o primeiro levantamento feito pelo Núcleo de Atendimento à Pessoa Idosa
Vitimizada (NAPIV), órgão criado, no início daquele ano, pela Prefeitura Municipal de
Fortaleza, para prestar atendimento a idosos, vítimas de violência (cópia de matéria
jornalística, em anexo).
Foram divulgados dados sociológicos muito interessantes: das 99 denúncias
recebidas, nos primeiros meses que esse Núcleo começou a funcionar, 57 diziam respeito a
casos de violência sofridos por mulheres idosas, provenientes das camadas populares de baixa
renda, sendo que, na maioria dos casos, a violência foi cometida por pessoas da família. Estes
são dados oficiais que já foram atualizados este ano pelo NAPIV, e divulgados na mídia
televisiva, sendo que as estatísticas apresentaram um índice de crescimento bastante
significativo.
Esse aspecto diz respeito à natureza da temática que será aprofundada, a seguir.
A primeira menção a ser feita gira em torno da constatação de que a temática da
cidadania ganhou maior expressão em décadas recentes. Conforme Covre (1995, p. 7-8), até
24
os anos entre 1960 e 1970, esse tema não exercia o mesmo apelo que exerce atualmente:
Ouvíamos então falar de mudança social, do modelo revolucionário russo ou do
chinês. Naquela época, cidadania tinha uma conotação pejorativa, espécie de engodo
a „la democracia americana’, que não levaria a nada. Hoje, aqueles modelos
revolucionários, tais como foram encaminhados inicialmente, mostram-se falidos.
Novas propostas, de certa forma relacionadas ao tema cidadania, passaram sobre
eles. Bons exemplos são a perestrioika e a glasnost enquanto forma econômica e
abertura política na União Soviética e países congêneres. Assim, a cidadania é
atualmente assunto de debate tanto na democracia ocidental quanto no socialismo do
Leste, entre as classes abastadas e as menos abastadas, e aparece na pauta de
diversos movimentos sociais, que reivindicam saneamento básico, saúde, educação,
fim da discriminação sexual e racial.
Além do aspecto aludido, a referida estudiosa ressalta que a temática da cidadania
é tão abrangente e complexa, que se faz necessário esclarecer, a priori, ao se falar sobre esse
assunto, de que cidadania se está falando, ou ainda, quais atores sociais estão sendo
considerados.
Covre (1995, p.8) considera que a vivência da cidadania não é uma condição
igualmente experienciada por todos os sujeitos sociais: alguns deles têm acesso a quase todos
os bens e direitos; outros não, em virtude do baixo salário e do não-direito à expressão, à
saúde, à educação, etc. Muitas dessas pessoas, portanto, sequer são consideradas cidadãs,
dada a falta de oportunidades de realização na vida social do meio em que vivem.
Os estudiosos reconhecem que até mesmo o significado de cidadania assume
conotações diferentes, dependendo da época e da sociedade onde cada pessoa vive. Além
disso, a noção de cidadania está atrelada à concepção formulada por quem a emite, havendo,
nesse sentido, uma efetiva interferência do imaginário coletivo sobre o comportamento e o
modo de pensar das pessoas e vice-versa.
Mediante essas colocações, não parece incorreto afirmar que, ainda nos dias
atuais, para a maioria das pessoas, ser cidadão significa o mesmo que exercer a cidadania nas
urnas, ou seja, indica que a pessoa exerce o direito de votar. Nesse caso, vincula-se o cidadão
à cidadania política.
Quase sempre se observa, ainda, que o significado de cidadania se apresenta
vinculado, apenas, à esfera dos direitos, nunca a dos deveres. Nesse caso, as pessoas mostram
ignorar que elas próprias, também, podem e devem atuar como agentes sociais, ou seja, como
sujeitos que podem contribuir para a formulação de leis mais justas, através da participação
em movimentos sociais voltados para esse fim. Em todo caso, o conceito de cidadão é tão
dignificante que, quando pronunciado, faz com que as pessoas, imediatamente, estabeleçam
uma associação entre essa ideia e a que identifica pessoas socialmente bem postas na vida,
25
conhecedoras dos seus direitos e com um bom nível de instrução.
Todas as supracitadas manifestações, contudo, são noções que decorrem da forma
como são trabalhadas, individualmente, as noções recebidas do imaginário coletivo, de onde
provêm também preconceitos, mitos e estereótipos diversos.
Entretanto, cabe indagar: para alguém ser considerado cidadão, precisa
necessariamente de seguir uma cartilha específica, contendo normas e regras definidoras
dessa condição?
Em termos lógicos, o questionamento enseja uma resposta negativa, porém, não
há como negar que os princípios da cidadania tradicional funcionam mais em termos de
padrões abstratos, do que em padrões objetivos da vida dos sujeitos considerados. Ou seja,
tais princípios de cidadania se mostram regidos pelos parâmetros jurídico-normativos da
cidadania liberal, proveniente de uma realidade social alheia à brasileira e que, por isso
mesmo, segundo os estudiosos, não funcionam satisfatoriamente no contexto das
desigualdades sociais vigentes no Brasil (OSTERNE, 2008).
Essas considerações conduzem ao entendimento de que, na forma da lei e dentro
de uma concepção universal, o paradigma clássico de cidadania se encontra bem definido,
dentro de um conceito equânime; mas, consoante a vivência cotidiana, principalmente, das
classes subalternas a que pertencem os sujeitos investigados nesta pesquisa, esse paradigma
de cidadania enseja desigualdades.
Covre (1995) argumenta que a gênese do conceito de cidadania provém da forma
democrática de vida na Grécia clássica. Ali, o sentido de cidadania assumiu um caráter
restritivo, sendo inclusivo para os cidadãos do sexo masculino, considerados livres, e
excludente para as mulheres, escravos e crianças, não considerados no exercício dessa
condição. Porém, esse conceito, no sentido estrito, ensejava a ideia de igualdade entre as
pessoas que participavam dos assuntos de interesse coletivo, ou seja, ligados à esfera pública
da vida (do grego pólis), daí porque a cidadania passou a ser associada à ideia do exercício de
direitos e deveres na vida partilhada na cidade.
Podemos afirmar que ser cidadão significa ter direitos e deveres, ser súdito e ser
soberano. Tal situação está descrita na Carta de Direitos da Organização das Nações
Unidas (ONU), de 1948, que tem suas primeiras matrizes marcantes nas cartas de
Direitos dos Estados Unidos (1776) e da Revolução Francesa (1798). Sua proposta
mais funda de cidadania é a de que todos os homens são iguais ainda que perante a
lei, sem discriminação de raça, credo ou cor [...] (COVRE, 1995, p.9).
A referida autora lembra que a proposta desse conceito se encontra nos
fundamentos do surgimento da burguesia, estando presente, portanto, nas matrizes das
26
revoluções burguesas do século XVIII, entre as quais a Americana e a Francesa. Menciona,
ainda, que, sob essa tônica, estabelecem-se as Cartas Constitucionais, que se opõem ao
processo de normas difusas e indiscriminadas da sociedade feudal e às normas arbitrárias do
regime monárquico ditatorial, anunciando o chamado Estado de Direito (COVRE, 1995).
De acordo com a supracitada autora, mediante as novas normas sociais vigentes, o
conceito de cidadania emergiu, com o propósito de estabelecer direitos iguais a todos os
homens. Entretanto, isso só ocorreu na expressão da lei e não, no contexto real, uma vez que
não se aplicou igualmente a todos os cidadãos. Tal desigualdade se instalou porque a
burguesia, como classe emergente, passou a difundir os valores do capitalismo, ou seja, a
concepção ligada à Reforma Luterana, reinante, no século XIV, de valorização do homem
pelo trabalho que este produzia:
Toda essa revolução começou, de certa forma, com a valorização do trabalho. Na
Idade Média, o trabalho era desprestigiado, indigno mesmo de um cavalheiro, de um
nobre. Com a ascensão da burguesia, o surgimento das cidades e da vida urbana,
despontam os cidadãos que trabalham, fazem comércio, desenvolvem o sistema
fabril e administram a coisa pública em termos de direitos e deveres - resultado de
um longo processo de oposição ao imobilismo e dogmatismo da Igreja e nobreza da
sociedade feudal. [...] (COVRE, 1995, p. 21-22).
Essa ideologia resultou na ideia de acumulação de capital como fonte de bênçãos
divinas, mas foi, aos poucos, adquirindo conotação diferente, vinculando-se à noção de
propriedade.
Locke, o famoso filósofo inglês (1632-1704), mediante essa abordagem teórica,
veio a formular uma teoria capitalista, edificada na noção de propriedade do corpo: “cada um
tem uma propriedade em seu próprio corpo que só a ele diz respeito”.
Entretanto, essa ideia vai adquirindo outra conotação. Trabalhando o vínculo de
propriedade do corpo e cidadania, Locke o faz de tal forma que passa a indicar
quem, segundo ele, tem a propriedade do próprio corpo e, portanto, quem é
realmente cidadão. Ele afirma que a propriedade não é exatamente o corpo, mas o
fruto que o corpo produz pelo trabalho ao se apropriar da natureza. E argumenta que
essa apropriação não precisa do consentimento expresso de todos os homens.
(COVRE, 1995, p.26).
De acordo com essa concepção, Locke passaria a considerar como cidadãos os
indivíduos que, utilizando a própria força de trabalho, e, portanto, os próprios corpos, se
mostravam aptos a acumular riquezas e, como não cidadãos, aqueles que não se mostravam
mais em condições de produzir força de trabalho. Entre esses se incluíam, ainda, os
segmentos sociais que, por diversas razões culturais, não se mostravam aptos a produzir
riquezas, dependendo de outros para gerir suas vidas. As mulheres foram, então, incluídas
27
nessa categoria de excluídos da cidadania, junto com outros segmentos sociais, como os
idosos e as crianças. “Assenta-se aí, também, uma construção da cidadania que desenha a
desigualdade” (COVRE, 1995, p.26).
Paradoxalmente, a emergência de novos comportamentos e práticas sociais,
inerentes ao contexto das revoluções burguesas, vão dando lugar a outras concepções de
cidadania, que levam à luta por melhores condições de vida das classes trabalhadoras
exploradas.
A dimensão de cidadania considerada por Covre (1995, p.29-30) identifica esse
conceito como uma categoria historicamente constituída, a qual passou a ser apropriada, ou
pelo menos considerada, em décadas mais ou menos recentes, como estratégia política
utilizada pelas classes operárias, em reação às condições injustas e desumanas de trabalho,
tônica esta diretamente relacionada à gênese dos movimentos sociais.
Acho importante essa dimensão de os homens lutarem por leis justas. Elas são a
sedimentação de outras lutas e de certa estruturação da cidadania - que, por sua vez,
está sempre em processo. Só as leis não constroem a cidadania, mas é importante
que os homens comuns, os trabalhadores, se apropriem também do espaço para a
construção de leis favoráveis à extensão da cidadania. […] A bem da verdade,
ressalte-se que a cidadania pode ser reedificada pelos trabalhadores mais no seu
sentido universal, pois só assim servirá de fato a eles. Isso depende de uma luta
contínua e efetiva para fazer valer universalmente os direitos civis, sociais e
políticos. […] (COVRE, p. 29-30).
Assim, ao que tudo indica, com o passar do tempo, o modelo clássico de
cidadania liberal envelheceu no seio de sociedades ocidentais como a brasileira, parecendo
necessitar de se ajustar em um mundo notoriamente assinalado por condições desiguais de
vida, ou ainda, distintivo de uma sociedade dividida entre pobres e ricos, no qual, portanto,
nem todos são doutores, nem abastados, mas, nem por isso, deixam de ser cidadãos.
Desse modo, para muitos estudiosos contemporâneos, a condição de cidadania
passou a ser levada em consideração, a partir da realidade vivida por pessoas humanas reais,
em permanente luta para serem reconhecidas como sujeitos sociais. O significado do conceito
de cidadania passou a ser identificado, assim, não somente como equivalente à luta pelo
direito a ter direitos, mas, também, pelo direito a ter deveres, nivelando as pessoas comuns
àquelas socialmente consideradas respeitáveis.
Osterne (2008) aborda, magistralmente, o arcabouço teórico de um novo
paradigma de cidadania, no qual atuam elementos distintos dos que se configuram na noção
de cidadania clássica. A autora citada apresenta uma síntese acerca da nova cidadania,
baseada em seis elementos básicos:
28
O primeiro elemento relaciona-se com a própria noção de direitos. A nova
cidadania pressupõe uma redefinição da ideia de direitos, cujo ponto de partida é
a concepção de um direito a ter direitos [...];
O segundo elemento é o fato de que a nova cidadania, ao contrário da concepção
liberal, não se liga a uma estratégia das classes dominantes e do Estado para a
absorção dos setores excluídos. A nova cidadania pretende a constituição de
sujeitos sociais ativos, estabelecendo o que eles consideram ser os seus direitos e
lutando pelo seu reconhecimento. Assim, ela passa a ser uma estratégia dos nãocidadãos, dos excluídos [...];
Ela se constitui também como uma proposta de sociabilidade na qual se inclui
um desenho mais igualitário das relações sociais para além da incorporação ao
sistema político em seu sentido estrito. Esse é o terceiro elemento destacado por
Dagnino (1994);
No quarto elemento, expõe a ideia de que essa ampliação, tomando por base a
concepção liberal, pressupõe que a nova cidadania deverá transcender o foco
privilegiado da relação com o Estado e o indivíduo e incluir, categoricamente, a
relação com a sociedade civil. Isso, na óptica da autora, supõe uma reforma
intelectual e moral e parece estar exatamente aí a radicalidade da cidadania
como estratégia política.
O quinto elemento contém a ideia de que a nova cidadania transcende a questão
do pertencimento (sic) do sistema político, referência básica do conceito liberal,
para incluir a ideia do direito de participar efetivamente da própria definição
desse sistema [...].
O sexto e último ponto reporta-se ao pensamento de que essa nova concepção de
cidadania pode edificar [...] um quadro de referência complexo e aberto capaz de
dar conta da diversidade de questões emergentes nas sociedades latinoamericanas: da igualdade à diferença, da saúde aos meios de comunicação de
massa, do racismo ao aborto, do meio ambiente à moradia (OSTERNE, 2008,
p.93).
Conforme Osterne (2008, p.94), esse novo paradigma de cidadania é importante
de ser levado em conta, sobretudo, considerando que contempla a questão da diferença, ou
seja, absorve um significado de cidadania diferenciada e de público heterogêneo, tão
significativo para o pensamento feminista.
O argumento desenvolvido por Souza (2003, p. 33) consubstancia o pensamento
da supracitada autora:
Como afirma Antônio Carlos Gomes da Costa, somos, até hoje, um país dividido em
cidadãos e subcidadãos. “Subnutrição, subemprego, submoradia, subeducação,
subdesenvolvimento, subcultura, enfim, tudo o que começa com sub designa o
conjunto de características dos que subsistem do outro lado da linha de giz, que
separa os incluídos na cidadania dos excluídos dessa condição. Portanto, quando
falamos de cidadania no Brasil, estamos falando de alguma coisa à qual grande parte
da nossa população não tem acesso. Quando penso em cidadania, penso no direito
de ter direitos, que, por um princípio de reciprocidade, traz consigo o dever de ter
deveres”.
Todos esses aspectos foram levados em conta, ao se considerar a possibilidade de
estudar a cidadania feminina, a partir de pessoas envelhecidas, a maioria sem vínculos com o
mundo do trabalho e, por sua vez, provenientes das camadas populacionais economicamente
menos favorecidas.
29
Tinha-se presente que essa não seria uma tarefa simples, especialmente em função
do enfoque de gênero, que imprimiu um aspecto desafiador e peculiar ao estudo,
considerando que cada sociedade atribui valoração diferente a homens e mulheres. Por esse
motivo, alguns estudiosos consideram que a categoria gênero varia, espacialmente, de uma
cultura a outra; temporalmente, em diferentes tempos históricos inseridos em uma mesma
cultura e, longitudinalmente, ou seja, ao longo da vida de um indivíduo (RORIN, 2001, p.1).
Assim, todas as particularidades que tornam o contexto brasileiro de cidadania
distinto da realidade social de outros países constituíram razões plausíveis para se buscar
compreender, no momento político atual, o significado das lutas assumidas pelos sujeitos, a
partir do reconhecimento de estudiosos modernos, quanto às múltiplas formas de
sociabilidade e à heterogeneidade de públicos existentes no País (DAGNINO, 1994 apud
OSTERNE, 2008, p. 94).
Em face das questões teóricas assim definidas e levando em conta as afinidades
com a temática gerontológica, neste estudo não se desconsiderou a gama de desafios
enfrentados por mulheres idosas de classes subalternas, que lutam por sobreviver na cultura
hierárquica e relacional brasileira, na condição de cidadãs e não de excluídas da cidadania, o
que seria de se esperar, segundo os parâmetros do modelo de cidadania universalista liberal:
O liberalismo, como se sabe, apesar de ter gestado esse termo como resposta do
Estado aos anseios da sociedade no final do século XVIII, essencializou a noção de
cidadania, o que persiste até hoje, desempenhando funções bem diferentes daquelas
que identificaram sua origem (OSTERNE, 2008, p.92).
Em termos gerais, portanto, a visão clássica e tradicionalista de cidadania não se
apresenta suficientemente ampla para abranger toda a complexidade que envolve as questões
de gênero e geracionais, na contemporaneidade. Ao contrário, dentro de uma ótica pessoal,
acredita-se que permite, apenas, que essas peculiaridades sejam consideradas nos níveis
restritivo e abstrato.
Osterne (2008) contesta a supracitada linha de compreensão universalista de
cidadania, referindo que, por ter sido importada de contextos históricos totalmente alheios à
realidade brasileira, não se adequou, até hoje, à vasta gama de desigualdades sociais, políticas
e econômicas que impera entre nós, tornando os cidadãos “iguais” na lei e diferentes, no
campo real dos direitos e deveres. Por isso, a autora questiona: “assim sendo, como entender a
cidadania em contextos onde prevalece a hierarquia, cultiva-se a prática do privilégio e se
estabelece o primado relacional? Como a cidadania pode ser compreendida no caso específico
da realidade brasileira?” (OSTERNE, 2008, p.87).
30
Sob circunstâncias práticas e subjetivas, os desníveis de gênero se acentuam,
demonstrando que, não só em termos de direitos e deveres, mas ao nível de oportunidades de
realização social, as diferenças entre homens e mulheres, especialmente na velhice, não se
regem somente em função das distinções biológicas.
Outra perspectiva é a formulada por autores segundo os quais as lutas das classes
empobrecidas só encontram verdadeiro sentido, quando genuinamente emergem, como
demanda, dos movimentos populares interessados pela educação, pela cultura, pelo saber e
pela instrução e não, como doação das elites governamentais. Entendem, neste caso, que é no
cotidiano que cada pessoa se firma como sujeito histórico (NORONHA, 1986; SPOSITO,
1984; CAMPOS, 1984 apud ARROYO, 1999, p.77).
Para os adeptos dessa corrente de pensamento, receber a cidadania de “mãobeijada”, do Estado, denota falta de espírito crítico dos cidadãos, uma vez que, nesse caso, são
as próprias forças estatais que passam a reconhecer as necessidades das pessoas e a ditar os
processos que consideram viáveis para que o povo possa exercer os seus direitos. Essas ditas
forças desconhecem, assim, que o reconhecimento das necessidades e a busca por direitos
possam ser construídos dentro dos próprios movimentos reivindicatórios, como legítima
expressão da cidadania.
Na realidade, conforme Arroyo (1999, p.75), “o que está sendo questionada é a
„cidadania outorgada‟, ou seja, a „cidadania não-conquistada‟, na qual o povo não é agente de
sua constituição como sujeito histórico”. Isso porque a cidadania que assim se expressa não
resulta de uma demanda dos próprios grupos interessados, conforme outros autores:
Quando um grupo social reconhece suas necessidades, é através de sua participação
na esfera política que se viabilizará a transformação das necessidades em direitos.
Isso ocorre num processo que se dá historicamente, ou seja, sua dinâmica é própria a
cada época (LUIZ, 1997, p. 99 apud BOARETTO; HEIMANN, 2003, p.108).
A perspectiva inovadora desses autores permitiu, assim, que a noção de cidadania,
considerada neste estudo passasse a ser compreendida como luta pelo direito a ter direitos e o
dever de ter deveres. A ênfase recaiu no interesse manifestado pelos sujeitos de, por motivos
diversos, procurarem levar uma velhice ativa, engajando-se em grupos de convivência.
Desse modo, conforme Abreu (2008), o interesse foi estudar a temática da
cidadania, não só como forma superestrutural de reconhecimento jurídico, moral e simbólico
de participação do indivíduo na sociedade, por meio de práticas reguladas por direitos e
deveres instituídos. Ao contrário, neste estudo, o interesse foi considerar a cidadania como
uma construção sócio-histórica e política, que acontece ao mesmo tempo dentro e fora dos
31
grupos de convivência.
Em continuidade, procurar-se-á explicitar mais detalhadamente o porquê da busca
por estratégias de cidadania:
Os significados aplicados ao termo estratégia, segundo o Dicionário Michaelis
(1998), são os seguintes: 1. Arte de conceber operações de guerra em planos de conjunto;
2.Ardil, manha, estratagema; 3. Arte de dirigir coisas complexas.
Em termos práticos, cada pessoa humana necessita de se colocar na posição de
“estrategista” para atingir alguma meta na vida. Essa circunstância, porém, não é
exclusivamente pertinente à rotina contemporânea. Ao contrário, desde os tempos primitivos,
os homens das cavernas tiveram que usar estratégias de sobrevivência, para superar desafios
e, paulatinamente, irem evoluindo dentro do processo civilizatório.
O que diverge entre os contextos do passado e do presente diz respeito mais ao
modo de instrumentalização da vida prática, uma vez que cada época impõe às pessoas
habilidades e conhecimentos considerados mais apropriados. Na atualidade, costuma-se
privilegiar o manejo de determinadas tecnologias da informação. As supracitadas
competências garantem às pessoas, já a partir da infância, através do ingresso na escola
formal, a oportunidade de saber lidar com alguns atributos indispensáveis à sua plena inserção
no sistema de organização social.
Assim, cada sociedade passou a estabelecer padrões de conhecimento e saberes,
para distinguir quem tem ou não competência para viver na cidade [pólis], ou, por outro lado,
quem se mostra apto, ou não, a oferecer um retorno à coletividade, o que ocorre, geralmente,
em forma de serviços especializados que, em curto, médio ou longo prazo, garantem, ainda
mais, o aprimoramento e o enriquecimento socioeconômico dessas mesmas sociedades. Nesse
caso, aqueles que não conseguem se enquadrar em determinados parâmetros sociais,
certamente, sofrerão rechaço e terão dificuldades para usufruírem as mesmas oportunidades
que os socialmente considerados qualificados para partilhar a vida comunitária.
Entretanto, é certo que, numa mesma sociedade, convivem pessoas com ciclo de
vida, classe social e nível de aperfeiçoamento humano diferentes, o que favorece, ainda mais,
a exclusão social, mediante os parâmetros culturais acima referidos. Desse modo, muitas
sociedades passaram a eleger normas e regras de conduta diversas, visando criar
oportunidades e condições para que, a priori, todos os indivíduos, igualmente, pudessem estar
aptos a usufruir a realização social, ou seja, a vida na cidade. Porém, tal preocupação,
dificilmente, compõe a agenda de governos e sistemas sociais, que já nasceram desiguais em
suas bases, como é o caso da sociedade brasileira.
32
Sousa (2003, p. 38) alude que
como parte da ordem social construída pelos seres humanos, a ideia de cidadania e o
seu exercício foram-se transformando ao longo da história. Em determinado
momento histórico, por exemplo, uma sociedade pode ter delegado poderes a parte
de seus membros para decidir o que seria melhor para todos; outra pode ter criado
sistemas de participação mais amplos. Da forma de resolver conflitos e divergências,
estabelecer consensos, definir objetivos e projetos comuns resulta a identidade
coletiva dos grupos sociais, das nações e civilizações, ou seja, sua forma de
compreender e viver a cidadania.
Entretanto, de modo geral, as pessoas serão tanto mais aceitas socialmente, quanto
mais capacitadas estiverem para utilizar o que Heller (1997) refere como “normas-e-regras”
vigentes no contexto histórico onde vivem. Dentro dessa mesma ótica, serão tanto menos
respeitadas e aceitas, quanto mais dificuldades tiverem no sentido de se ajustarem aos padrões
culturais do seu meio.
Assim, as práticas e comportamentos adotados pelas sociedades dependem da
forma como cada uma assimila a noção desses conceitos e, nesse caso, tanto podem ser
favoráveis quanto desfavoráveis aos sujeitos idosos, independentemente do sexo a que estes
pertençam. Isso equivale a dizer que a forma de consenso social, estabelecida em cada
cultura, pode contribuir para que os idosos usufruam, em maior ou menor nível, do (senso de)
bem-estar subjetivo nessa etapa da vida.
De acordo com o que está posto na Carta Constitucional Brasileira, todos os
indivíduos deveriam estar aptos para atuar socialmente nas mesmas condições de igualdade.
Entretanto, isso não acontece de forma homogênea, por envolver seres que vivenciam estágios
diferentes de vida, sendo alguns mais jovens, outros mais velhos e, nesse último caso, com
um menor desempenho físico, funcional e cognitivo.
Em termos de desempenho político, contudo, a capacidade das pessoas não pode
ser mensurada pelos níveis de envelhecimento corporal, mas pelo seu potencial de saber lidar
com as dificuldades, usando a capacidade de superação, a habilidade de ultrapassar barreiras e
obstáculos, sem perder em autonomia e senso prático. Quanto mais amplas forem as
possibilidades oferecidas pelo meio em que vive, maiores serão as oportunidades de a pessoa
atingir plenamente suas metas na vida.
Criar mecanismos de socialização e de educação para a cidadania na velhice
constitui uma modalidade importante de intervenção, que está cada vez mais sendo posta em
prática pelos governos.
Conforme lembra Sales (2003 apud MPAS/SAS, 1998:10), “a própria Política
Nacional do Idoso (PNI) contempla uma ótica de assistência social, segundo a qual a melhor
33
proteção é aquela que assegura aos cidadãos a sua inclusão nas oportunidades de integração
oferecidas pelas políticas públicas, pelo mundo do trabalho e pelas diversas expressões do
convívio familiar, comunitário e societário”.
Assim, no tópico seguinte procurou-se apresentar um breve histórico sobre a
gênese dos programas sociais voltados para a construção da cidadania de idosos em grupos de
convivência, enfocando nesse contexto o trabalho desenvolvido pelo Governo do Estado do
Ceará, nessa modalidade de atendimento direto a pessoas idosas, na capital cearense.
2.2 A gênese dos programas sociais voltados para a construção da cidadania dos idosos
em grupos de convivência, na capital cearense
O CIAPREVI-CE foi implantado, na capital cearense, em fevereiro de 2009. Por
se tratar de um equipamento social ainda em fase de estruturação, acredita-se que alguns
aspectos metodológicos vigentes necessitarão de ser readequados, tendo em vista acomodarse a natureza e os objetivos do trabalho ali desenvolvido à proposta de ação que rege todos os
demais centros, nessa modalidade, existentes no país.
Até o momento de realização da pesquisa de campo, a linha metodológica
desenvolvida pelo CIAPREVI-CE ainda permanecia respaldada na filosofia de ação do
PROJETO CONVIVER. Em face disso, buscou-se aprofundar aspectos referentes à filosofia
de ação desse projeto.
Para melhor alcançar-se esse propósito, procedeu-se a uma revisão bibliográfica,
buscando-se conhecer a gênese do aludido projeto, uma vez que as fontes pesquisadas na
STDS não ofereceram os subsídios pretendidos pela pesquisa.
Neste tópico, apresentam-se os dados colhidos de pesquisadores técnicos que
realizaram estudos de avaliação acerca dos programas sociais direcionados à população idosa
de baixa renda no Ceará, na década passada.
O propósito desses estudiosos, entre os quais Sales (1996), consistiu basicamente
em avaliar a questão da velhice e conhecer os efeitos desses programas frente às
problemáticas vivenciadas por esse segmento populacional (Secretaria de Assistência Social/
Escritório de Representação Estadual da Secretaria de Assistência Social (ERSAS)/
Ministério da Previdência e Assistência Social, 1996).
Sob esse prisma, os pesquisadores buscaram conhecer ainda a dinâmica interna
desses grupos de idosos, bem como apreciar aspectos, tais como: o nível de participação dos
idosos, as relações de poder, o processo de tomada de decisões e a própria imagem que os
34
idosos reproduziam da velhice no seu cotidiano. Foi pesquisado um universo de 134
instituições cearenses, tendo sido selecionados 80 programas públicos e privados.
Parte das informações que compõem este tópico foram colhidas do documento
intitulado “A Velhice sob a Redoma dos Programas Sociais”, publicado pelo Escritório do
Ceará da Secretaria de Assistência Social (ERSAS), do Ministério da Previdência e
Assistência Social (MPAS), no ano de 1996, e parte dos conteúdos abordados por Sales
(2003), na dissertação de Mestrado intitulada “Cidadania do Idoso: retórica ou realidade?”.
Pode-se referir que a intenção dos pesquisadores técnicos do ERSAS consistiu
também em conhecer a ideologia presente na prática dos referidos programas:
A hipótese geral levantada era de que as instituições responsáveis pela
implementação desses programas, através de suas práticas, elaboram e reproduzem
determinadas concepções de velhice (de acordo com seus valores, conhecimentos,
crenças e ideologia) e procuram enquadrar os idosos dentro dessa “imagem”
construída. Essa concepção resulta da própria “imagem” construída pela sociedade,
onde a velhice é vista apenas biologicamente como idade de declínio mental e
corporal, onde os preconceitos, estigmas e limitações fazem parte do “imaginário
coletivo”.
Algumas conclusões emanadas desse estudo de avaliação (ERSAS) merecem ser
aprofundadas neste tópico. Entretanto, ressalva-se que as considerações aqui apresentadas não
se revestem de natureza crítica, nem tampouco dizem respeito a avaliar o PROJETO
CONVIVER. Ao invés, partiram do propósito acadêmico de considerar, grosso modo, a
filosofia das ações que regem essa modalidade de atendimento, tendo em vista, ao final do
estudo, dispor-se de elementos para a formulação de sugestões de cunho metodológico.
Acredita-se, portanto, que foram valiosas a este estudo as contribuições oferecidas
por esses profissionais balizados, alguns dos quais, além de terem pesquisado a prática
vigente nos programas de atendimento a idosos em grupos de convivência, participaram do
próprio processo de implantação do PROJETO CONVIVER, no Estado do Ceará (Sales,
1996; 2003).
Segundo as fontes pesquisadas ERSAS (1996) e Sales (2003), o atendimento a
idosos de baixa renda teve início, no final da década de 90, quando inúmeras instituições
começaram a desenvolver programas voltados para o atendimento aos idosos assim
considerados, no Ceará. Nesse sentido, a extinta Legião Brasileira de Assistência (LBA),
fundada em 1942, foi uma instituição pioneira na implantação do PROJETO CONVIVER,
ganhando notoriedade nas mídias.
Segundo Sales (2003, p.32), com essa proposta de ação, a LBA buscou atingir os
seguintes objetivos:
35
a) Promover e ressocializar o idoso, proporcionando-lhe oportunidade de ser útil;
b) Responder de forma dinâmica, a todas as necessidades expressas ou não do idoso
para que se beneficie ao máximo da vida grupal;
c) Desenvolver atividades, as mais variadas possíveis: recreativas, socioculturais,
de produção, de auxílio e assistência que respondam às necessidades dos
integrantes do grupo, que lhes dêem prazer e que contribuam para sua
reintegração na sociedade. (PROJETO CONVIVER - LBA, 1993).
A linha programática prevalecente nessa proposta da LBA era de caráter
assistencialista, mas serviu de parâmetro para outras instituições, que passaram a
desempenhar a mesma linha metodológica, sob motivações diversas.
Segundo os dados levantados, constatou-se que 42,60% das instituições optaram por
esse trabalho, devido à situação de pobreza e abandono que os idosos “estavam”
expostos, sem receberem apoio e/ou atenção por parte da família e da comunidade;
21,0% afirmaram que o interesse central por esse trabalho foi de caráter religioso
(caridade para com os velhos pobres); 12,20% por questão humanitária, ou seja, o
idoso precisa de ajuda e consideração para agüentar o próprio peso da velhice;
10,40% por solicitação de algumas pessoas da comunidade preocupadas com a
situação do idoso pobre; 8,20% das instituições declaram que uma das razões desse
trabalho, foi a facilidade de obter recursos da área Federal (convênios, subvenções,
doações e outros) e, finalmente 5,60% por motivos diversos, dos quais destaca-se: a
própria iniciativa de alguns técnicos e/ou da comunidade sensibilizados pela
situação de pobreza dos idosos (LBA, p. 30).
O documento do ERSAS (1996) tece críticas ao modelo diretivo desse projeto, o
qual, entretanto, serviu de matriz para as ações desenvolvidas por entidades públicas e
privadas do Estado, junto a grupos de convivência. O parecer técnico considerou que essa
proposta não favorecia a autonomia dos idosos envolvidos (ERSAS, 1996, p. 41).
Do mesmo modo, o aludido documento faz restrições à forma de planejamento
das ações do PROJETO CONVIVER, questionando aspectos estruturais, relacionados à
escassez de recursos, tanto de ordem técnico-administrativo, quanto financeira e de recursos
humanos, o que fragiliza consideravelmente esse processo (ERSAS, 1996, p. 41).
Os aspectos acima referidos estão presentes, nas seguintes apreciações
apresentadas pelos técnicos (ERSAS, 1996, p. 41):
Estes dados apresentados sinalizam que o planejamento das atividades se processa
dentro de um modelo diretivo, ou seja, os idosos podem até expressar seus
interesses, idéias e sugestões, mas não participam das decisões. [...] A programação
desenvolvida pelas instituições junto à população idosa apresenta uma certa
homogeneidade, diferenciando apenas na sua operacionalização, dando uma nítida
impressão de uma padronização de atividades direcionadas para esse segmento
populacional. [...]
Das 134 instituições pesquisadas 36% desenvolvem atividades de lazer e recreação
(jogos, brincadeiras de salão, passeios, festas, danças etc.); 19% dão ênfase às
atividades religiosas (novenários, orações, missa, dentre outros); 14,50% realizam
reuniões de caráter educativo e informativo (palestra, informações etc.); 10%
realizam atividades ocupacionais (bordado, pintura, crochê); 9% atividades culturais
36
(canto, teatro, dança folclórica e outros); 7,70% procuram desenvolver atividades de
geração de renda, no sentido de atender o gravíssimo problema da pobreza dos
idosos; 3,30% tentam desenvolver atividades esportivas e 0,70% outras atividades.
Conforme se depreende, os técnicos chamam a atenção para as inquietações e os
anseios emanados das populações alvo desses programas. Sob esse prisma, os documentos
apreciados mencionam que “nas classes proletárias, onde as dificuldades fazem parte do
cotidiano, esse medo está associado à questão econômica e à saúde, ou seja, às condições
precárias de sobrevivência frente à minguada aposentadoria e/ou benefício” (ERSAS/MPAS,
1996, p.14).
O aspecto metodológico mais desfavorável, apontado na avaliação empreendida
pelos técnicos do ERSAS, diz respeito ao fato de que esses programas foram implantados no
Estado sem a participação efetiva da população alvo, o que de certa forma contribuiu para
sedimentar a ação verticalizada desse trabalho, onde o eixo central da prática desenvolvida é o
atendimento das necessidades (ERSAS/MPAS, 1996, p.31).
Concorda-se com os autores quando estes enfatizam que compreender a forma
pela qual os sujeitos idosos das classes subalternas estão vivenciando a cidadania é um
aspecto relevante de ser abordado, embora não deixe de ser uma tarefa difícil, em função de
diversos fatores, entre os quais: a questão da subalternidade com que a questão é tratada pelo
poder público; o desconhecimento da realidade de sobrevivência das pessoas idosas; a
escassez de ações concretas de governos que reflitam os anseios da população alvo, e, por
fim, a insuficiência de estudos, informações e/ou estatísticas oficiais transparecedoras do tipo
de cidadania que esse segmento populacional exercita no cotidiano de suas vidas
(ERSAS/MPAS, 1996, p.15).
Sales (2003), na dissertação referida, aprofunda os estudos feitos na década de 90,
como integrante da equipe do ERSAS. A autora detém-se em avaliar a política do idoso,
vigente na capital cearense, no início da década atual, bem como procura avaliar quais os
tipos de direitos e cidadania a assistência social brasileira estava interessada em efetivar,
nesse período, junto à população idosa.
Conforme menciona a mesma autora, a proposta do seu trabalho de dissertação
não foi elaborar um novo conceito sobre cidadania do idoso, mas compreender de que modo
essa questão estava sendo operacionalizada no cotidiano do “PROJETO CONVIVER”,
principal alvo das ações desenvolvidas pela Operação Fortaleza (OPEFOR), na década de
2000 (SALES, 2003, p.15).
37
Com este trabalho, com suas lacunas evidentes, não quisemos fechar questão com
relação ao valor e/ou importância do Projeto Conviver. Bem ao contrário, nossa
preocupação foi com sua prática, ou seja, como é desenvolvido dentro do que
propõe. Temos consciência de eu fizemos tão somente uma abordagem inicial, cuja
compreensão detalhada apenas se iniciou (SALES, 2003, p.18).
Este novo enfoque apresentado pela política do idoso nos instigou para o presente
estudo, uma vez que estamos convictos de que a inclusão social (por mínima que
seja) exige ações integradas e intersetoriais e definições quanto a padrões de
qualidade de serviços prestados, como também exige um novo repensar sobre o que
seja a velhice. Foi com esse intuito que nos propusemos a estudar o Projeto
Conviver, enquanto instrumento de exercício de cidadania do idoso. Nossa intenção
não é discutir a importância ou não deste projeto para a população idosa, mas sim a
maneira de ter neste trabalho uma dimensão de cidadania para esse segmento, de
acordo com as determinações estabelecidas legalmente pela Política de Assistência
Social. (SALES, 2003, p. 63).
Nesse novo texto elaborado, a mesma autora confirma a gênese assistencialista
implícita na modalidade de intervenção do PROJETO CONVIVER. Ela faz uma reflexão
aprofundada sobre as múltiplas significações e formas que a cidadania vem assumindo, em
função de diferentes contextos sociais. Para Sales (2003), concordando com Santos (1997), “a
cidadania é produto de histórias sociais diferentes”.
Sob o supracitado prisma, a autora ressalta a distinção existente entre a cidadania
enquanto conceito e a cidadania, enquanto prática. Esta última é a que se está buscando
apreciar nas ações cotidianas dos sujeitos deste estudo, podendo nessa perspectiva assumir um
significado equivalente à “vivência cidadã”.
Sales (2003, p.84) deu voz aos técnicos responsáveis por essa modalidade de
ação, em âmbito municipal, ensejando uma apreciação feita por esses profissionais sobre os
interesses de cidadania manifestados pelos idosos engajados nos grupos do PROJETO
CONVIVER. Acredita-se que o parecer emitido pelos técnicos municipais encontra
ressonância na instância estadual, por estar balizado na mesma proposta metodológica.
A seguinte apreciação contempla a visão formulada por uma profissional
assistente social a esse respeito (SALES, 2003, p.84):
O idoso é imediatista e tem interesse direcionado para suas necessidades. Assim eles
não gostam de teorias e outro qualquer tipo de informação que não traga resultados
para sua vida. Por essa razão, o que interessa para eles na política do idoso, são os
benefícios concretos.
A mesma autora fornece outros subsídios, dignos de registro:
Na verdade essa não é uma atitude comum na maioria dos grupos [...] Esse espaço
rico de oportunidades e vivências, não é explorado e/ou trabalhado, já que a
preocupação central são as atividades.
Sem dúvida essas atividades contribuem para a sociabilidade e mantêm os idosos
incluídos no calendário sociocultural da sociedade. Todavia, não observamos uma
38
participação efetiva dos idosos no planejamento dessas comemorações, ou seja:
conteúdo programático, responsabilidade, poder de decisão na programação
estabelecida, entre outros. Essas festas são organizadas para eles e não por eles, o
que evidencia a baixa capacidade de tomada de decisão e a dependência que estão
expostos (p. 87)
De acordo com a pesquisa bibliográfica realizada, observou-se, em linhas gerais,
que as atividades desenvolvidas pelo PROJETO CONVIVER, tanto a nível municipal, quanto
estadual, são similares. Sales (2003) coletou as seguintes atividades, desenvolvidas pela esfera
municipal: “atividades religiosas; de lazer/recreação; oficinas de trabalho; hidroginástica;
cursos diversos; jogos de salão; serviço de atenção à saúde; curso de alfabetização; atividades
culturais; festas tradicionais, constantes do calendário comemorativo institucional”.
No tocante às ações desenvolvidas pelo PROJETO CONVIVER, a nível estadual,
cabe ressaltar que, até janeiro de 2009, a STDS dispunha de onze grupos de convivência de
idosos, em funcionamento no espaço físico de cada um dos onze Centros Comunitários (CCs),
vinculados à Pasta, a saber: Centro Comunitário das Goiabeiras; Centro Comunitário São
Vivente; Centro Comunitário do Farol; Centro Comunitário Dias Macedo; Centro
Comunitário Sta. Terezinha; Centro Comunitário João XXIII; Tancredo Neves; Centro
Comunitário do Pirambu; Centro Comunitário São Francisco; Unidade de Abrigo e Centro
Comunitário Dom Lustosa, atual CIAPREVI-CE. Todos os grupos, excetuando o desse novo
equipamento, continuam a fazer parte das ações do “PROJETO CONVIVER”, vinculado à
Coordenadoria de Proteção Social Básica da STDS.
A programação desenvolvida em todos os grupos seguia, basicamente, a mesma
rotina de atividades, a saber: atividades religiosas; de lazer/recreação; oficinas de trabalho;;
cursos diversos; curso de alfabetização; curso de informática; atividades culturais; festas do
calendário comemorativo institucional.
Essa linha de orientação metodológica é incrementada com algumas inovações,
resultantes do empenho dos coordenadores de determinados grupos de convivência. Nesse
sentido, alguns coordenadores vêm trabalhando, já há algum tempo, junto aos seus
respectivos grupos de idosos, atividades consideradas atípicas aos demais. Entre essas
atividades, estão as de teatro e de música. Essa linha metodológica diferenciada ensejou a
formação de um grupo de teatro (Centro Comunitário das Goiabeiras), de um grupo música
no antigo Centro Comunitário Dom Lustosa, atual CIAPREVI-CE e de uma banda de música
no Centro Comunitário São Francisco. Esses grupos se apresentam em eventos externos,
reunindo os idosos que mostraram aptidão em desenvolver essas habilidades específicas nos
grupos.
39
De modo geral, entretanto, uma grande parte dos centros comunitários trabalha na
linha do incentivo às atividades produtivas, atraindo o interesse de muitas idosas dos grupos
de convivência, em funcionamento nesses centros. Essas, por sua vez, passaram a integrar o
Movimento das Mulheres Empreendedoras, composto também de mulheres de faixas etárias
mais jovens, participando em conjunto de exposições em feiras públicas, eventos turísticos, e,
mensalmente, na própria STDS, onde comercializam os seus produtos, junto aos servidores e
ao público visitante.
Conforme se pode constatar, as atividades trabalhadas nos centros comunitários
seguem uma tendência vigente na própria comunidade onde esses equipamentos funcionam.
Alguns grupos de convivência de idosos, portanto, se encontram inseridos no campo das
atividades geradoras de renda, bastante próximas dos mecanismos de cidadania que regem as
sociedades capitalistas como a nossa.
Finalmente, há segmentos de idosos dentro dos grupos que procuram se engajar
em atividades de lazer, incluindo as danças e os tradicionais forrós, e outras, de cunho
recreativo ou religioso, não se interessando por atividades que envolvam palestras de natureza
educativa ou cívica.
A linha metodológica de funcionamento do grupo de convivência do CIAPREVICE, conforme foi demonstrado, apesar de algumas metodologias introduzidas, até o final de
2009, ainda permanecia basicamente a mesma que se encontrava sendo executada pelos
demais grupos do PROJETO CONVIVER da STDS. Nesse sentido, os dias de funcionamento
do grupo de convivência do CIAPREVI-CE também coincidiam com o de funcionamento dos
outros grupos, ou seja, as reuniões aconteciam, semanalmente, às terças e quintas-feiras, no
turno da manhã.
No que tange especificamente à gênese institucional do CIAPREVI-CE, pode-se
destacar que esse equipamento foi instituído, a partir do empenho do Conselho Estadual dos
Direitos do Idoso do Ceará (CEDI-CE), na qualidade de órgão de controle social, em buscar
incluir o Estado do Ceará nas metas de ação previstas no Plano de Ação para o Enfrentamento
da Violência contra a Pessoa Idosa (2007-2010).
A proposta apresentada pelo CEDI-CE resultou na elaboração de um projeto,
visando à implantação de um equipamento social de atenção e prevenção à violência social
contra a pessoa idosa, nos moldes como essa iniciativa já vinha sendo realizada em outros
Estados da Federação pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos (SEDH).
Por sua vez, a STDS, na qualidade de Secretaria de Estado, diretamente envolvida
com a Política de Atenção ao Idoso, e em consonância com as diretrizes da Política Nacional
40
de Assistência Social (PNAS), aderiu à referida iniciativa, congregando esforços com o
CEDI-CE, visando intervir sobre esse quadro de violência retratado.
Destaca-se que os Centros Integrados de Atenção e Prevenção à Violência contra
a Pessoa Idosa são equipamentos sociais criados pela Secretaria de Direitos Humanos da
Presidência da República, através da Subsecretaria de Promoção e Defesa dos Direitos
Humanos, podendo estar vinculados, tanto a instituições governamentais como a instituições
não-governamentais. A supervisão geral desses equipamentos e a avaliação das ações estão a
cargo do Centro Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde Jorge Careli
(CLAVES/ENSP/FIOCRUZ), em parceria com a Secretaria de Direitos Humanos da
Presidência da República (SEDH). As ações desenvolvidas por cada centro são divulgadas no
site do Observatório Nacional do
Idoso (www.observatorionacionaldoidoso.fiocruz
.br/centros), o qual dispõe de informações atualizadas sobre as ações realizadas em cada
Estado da Federação.
Assim, o CIAPREVI-CE foi implantado, em fevereiro de 2009, tendo como
principais objetivos1:
a) Fornecer orientação geral sobre Direitos Humanos a qualquer idoso vítima de violência e
maus-tratos, informando sobre as garantias legais e procedendo a encaminhamentos para
serviços especializados de atendimento a cada caso específico, articulados a uma Rede de
Instituições de Atendimento e Defesa dos Direitos dos Idosos, na qual estão incluídos:
Defensoria Pública, Ministérios Públicos, Serviços de Saúde, Delegacias, Instituições de
longa permanência, instituições de Assistência Social, entre outras;
b) Prestar atendimento especializado em Direitos Humanos e Cidadania à população idosa,
desenvolvendo ações de atenção, prevenção e promoção de cidadania jurídica, psicológica
e social, por meio de uma equipe multidisciplinar, composta por assistentes sociais,
psicólogos e advogados, capacitados para oferecer atendimento psicológico, social e
jurídico ao idoso, à família e ao agressor; atender idosos em grupo de convivência e prestar
atendimento domiciliar a idosos, entre outros atendimentos;
c) Oferecer serviços de mediação de conflito, como instrumento capaz de possibilitar a
melhoria da qualidade de vida das partes envolvidas no conflito, configurando-se como
uma prática social de realização da autonomia e da democracia. A prioridade recai sobre
um atendimento humanizado junto à população idosa que procura os centros e que tenha
1
Informação divulgada no site do Observatório Nacional do Idoso da Presidência da República
(www.observatorionacionaldoidoso.fiocruz.br/centros).
41
sido desrespeitada em seus direitos. Os centros realizam ações de prevenção à violência,
através de palestras e capacitações para idosos, familiares e comunidade, com abordagem
sobre direitos humanos, cidadania, violência e maus-tratos.
O novo equipamento (CIAPREVI-CE) foi instalado nas dependências físicas do
antigo Centro Comunitário Dom Lustosa, unidade pertencente à STDS, em funcionamento no
bairro do Meireles, em uma área urbana privilegiada e próxima, tanto do Centro de Fortaleza,
quanto de outros bairros desenvolvidos, a exemplo da Praia de Iracema e da Aldeota. Desse
modo, o antigo centro comunitário foi extinto, dando lugar ao novo equipamento social.
Através de uma nova proposta de ação, que continua sendo aperfeiçoada, o
CIAPREVI-CE passou a estabelecer, como público-alvo dos seus atendimentos, os idosos
atingidos por atos de violência. Nesse sentido, o grupo de convivência que funcionava no
antigo Centro Comunitário Dom Lustosa permaneceu, não propriamente por seus integrantes
atenderem ao perfil de violência, uma vez que não havia nenhuma pesquisa sobre esse
aspecto, mas por se incluir na linha de trabalho do CIAPREVI-CE o desenvolvimento de
ações voltadas para a prevenção à violência. Entretanto, sob esse novo direcionamento
técnico, os idosos remanescentes do antigo PROJETO CONVIVER e os recém-admitidos,
passaram a constituir um grupo de convivência atípico aos do antigo projeto. Cumpre
ressalvar que, anteriormente, o critério de admissão nos grupos de convivência da STDS se
baseava nos indicadores de pobreza.
Em decorrência, o grupo de convivência do CIAPREVI-CE, que antes se
encontrava vinculado à Coordenadoria de Proteção Básica da STDS, passou a se configurar
nos moldes de uma ação de assistência social caracterizada como de média complexidade, e,
portanto, vinculada à Coordenadoria de Proteção Social Especial da referida Pasta. Até o
momento, contudo, os técnicos responsáveis pela coordenação do grupo seguem a
metodologia que é aplicada aos demais grupos de convivência da STDS.
Essa instância de Proteção Social Especial constitui uma modalidade de
atendimento prestado a famílias e indivíduos em situação de risco pessoal e social, em
decorrência de abandono, maus-tratos físicos ou psíquicos, abuso sexual, uso de substâncias
psicoativas, entre outras situações previstas pelo Sistema Único de Assistência Social.
A maior parte dos idosos participantes do grupo de convivência do CIAPREVICE é constituída por mulheres. Conforme foi dito na introdução, elas são as maiores vítimas
dos atos de violência cometidos contra o segmento idoso de baixa renda, na capital cearense.
42
No intuito de compreender melhor esse contexto adverso à cidadania das
populações subalternas, na perspectiva de gênero, dar-se-á continuidade a este estudo,
buscando-se responder ao questionamento, a seguir.
43
3 POR QUE A VELHICE É UMA CONDIÇÃO TÃO DIFÍCIL PARA AS
MULHERES?
3.1 Compreendendo as relações entre as categorias analíticas “cidadania”, “gênero” e
“qualidade de vida” na velhice, integradas ao estudo
Independentemente da modalidade de velhice que se queira investigar, não se
pode buscar compreendê-la, de forma dissociada dos seus determinantes históricos. Nesse
sentido, o ser mulher que envelhece é também um ser imbricado não só ao contexto social
próximo, no qual se desenrola a sua história de vida, mas ao cenário social macro, no qual
vem se desenrolando a história da presença do feminino no mundo.
Por causa disso, ao se pretender estudar a cidadania feminina, cumpre estabelecerse as devidas conexões com esse cenário multifacetado, que está sujeito ainda às variáveis
culturais, inerentes a inúmeras sociedades, onde homens e mulheres partilham um espaço
comum, ou, ainda, o espaço de vivências cotidianas, que é o próprio espaço da cidadania.
Abstém-se do que foi dito que partilhar com outros a vida comunitária significa
para qualquer ser humano estar condicionado a diversos fatores, sobremodo os de ordem
sociocultural. Isso implica dizer que circunstâncias ambientais, externas aos indivíduos,
contribuem para que a cidadania destes transcorra de forma diferente, dependendo do meio
onde vivem.
Diversos estudiosos têm se preocupado em discutir e pesquisar aspectos
relacionados à cidadania, a partir dos determinantes que levam os sujeitos envolvidos a agir e
se comportar de determinadas formas, no seu cotidiano de vida.
Assim, considera-se um exercício interessante para este estudo buscar responder
ao supracitado questionamento, à luz dos estudiosos da gerontologia, da sociologia e da
ciência política.
Heller (2004) e Arendt (2008) reconhecem que o ser humano, no contexto social,
não é um ser isolado, mas em “comum união” com muitos outros. Ao buscar no grupo um
sentido para o seu pensar e para o seu agir organizado no mundo, está assumindo uma práxis
humana integradora, que pode favorecer a qualidade da vida na esfera da cidadania.
Na verdade, consoante a ordem de análise desses autores, acredita-se que a
cidadania só encontra verdadeiro sentido, quando ocorre de forma harmoniosa e saudável na
esfera política (do gr. pólis). Daí por que se buscará explorar, neste tópico, os elos de
aproximação entre os conceitos de cidadania e de qualidade de vida.
44
Neri (2003) e Paschoal (2000) reconhecem que a qualidade da vida da pessoa
idosa pode ser sobremodo favorecida por uma vivência harmoniosa, partilhada socialmente
com outros (convivente+ia= sf.convivência).
Abstrai-se do ponto de vista formulado por Paschoal (idem) que a qualidade da
vida constitui uma dimensão relevante para a cidadania porque a vida constitui um dos
maiores bens a serem preservados: é o primeiro direito, o direito à vida e a uma vida digna
(PASCHOAL, 2000, p.22).
Assim, consoante um prisma analítico, tanto a categoria “cidadania”, quanto a
categoria “qualidade de vida”, e ainda as categorias de “idosos” e “gênero”, consideradas
neste estudo, são de natureza sócio-histórica. Em comum têm, portanto, o aspecto de não
comportarem um significado único, mas multifacetado, dependendo do contexto sociocultural
considerado.
No tocante à categoria “qualidade de vida”, Paschoal (2000, p.24) oferece uma
explicação para a falta de consenso sobre os significados nela implícito, mencionando que
[...] qualidade de vida é um conceito que está submetido a múltiplos pontos de vista
e que tem variado de época para época, de país para país, de cultura para cultura, de
classe social para classe social e, até mesmo, de indivíduo para indivíduo. Mais: tem
variado, para um mesmo indivíduo, conforme o decorrer do tempo. O que hoje, para
mim, é uma boa qualidade de vida, pode não te sido há algum tempo atrás; poderá
não o ser amanhã, ou daqui a algum tempo. Talvez possa variar mesmo, de acordo
com o meu estado de espírito ou de humor. Essa multiplicidade de conceitos,
colocados de forma tão heterogênea, dificulta comparações.
Percebe-se, através do ponto de vista de Paschoal (2000), que o emprego
multidisciplinar do conceito de qualidade de vida inviabiliza, nos dias atuais, um significado
único para esse termo.
Levando em conta, ainda, que a questão da qualidade da vida tem constituído a
pauta de interesse principal de diversos segmentos populacionais, não causa estranheza o fato
de que o significado desse conceito esteja cada vez mais relacionado à forma como as pessoas
estão exercendo a cidadania.
Nos dias de hoje, alguns segmentos especiais vêm sendo alvo da exclusão social,
sobremodo as mulheres idosas das classes economicamente menos favorecidas. Vivendo em
bairros periféricos, com baixos níveis de instrução e em condições de subalternidade, muitas
dessas mulheres sofrem rechaço e violência da parte de pessoas do próprio ambiente familiar.
Em relação a esse fato, alguns observadores poderão opinar, consoante a visão
tradicionalista da cidadania liberal, que isso acontece pela forma inadequada como essas
mulheres poderão estar vivenciando a cidadania. Ponderam os que assim ajuízam que a via de
45
acesso à realização social passa necessariamente pela via do saber formal. Nesse caso, aos
sujeitos que não tiveram acesso a essa via, por motivos diversos, caberia, simplesmente, se
conformar com o estigma da “não cidadania”.
Refuta-se essa forma de interpretação com o argumento de que a via da
conscientização política, tantas vezes ignorada pelos governos, é também um modelo
eficiente de levar pessoas não dotadas de nível de instrução satisfatório a procurar
desenvolver práticas compatíveis com o exercício da cidadania. Nesse sentido, as sociedades
democráticas têm buscado demonstrar, em alguns contextos, que oferecer aos indivíduos a
possibilidade de desenvolver uma consciência crítica acerca da realidade social que os cerca
constitui uma prática democrática inclusiva, que pode levar pessoas tidas como iletradas a
procurar conhecer e exercer os seus direitos de cidadania, ampliando mais e mais as suas
possibilidades de realização social.
Essa perspectiva é formulada por um conjunto de autores mencionados no
capítulo inicial deste estudo (DAGNINO, 1994; ARROYO, 1999; SOUSA, 2003; OSTERNE,
2008), para os quais a cidadania outorgada pelo Estado inviabiliza que os indivíduos
escolham a cidadania que julgam ser a melhor para si próprios.
Ilustrando o ponto de vista desse conjunto de estudiosos, inscreve-se, nesse
contexto, o aspecto enfatizado por Freyre (1992, p.211), ao se reportar à política educacional
promovida pelos jesuítas, na época do colonialismo brasileiro. O autor citado refere que essa
política, embora conveniente aos interesses do governo português, não o foi para os interesses
dos indígenas, afeitos à vida nômade.
O mesmo autor (1992, p.211) apresenta o interessante argumento desenvolvido
por Gabriel Soares, para quem teria sido mais proveitoso aos índios tupinambás do Brasil, se
tivessem sido submetidos à orientação educacional dos franciscanos, direcionada à vida
prática, do que à política educacional dos jesuítas, direcionada ao refinamento das letras.
Considera, portanto, que a forma de instrução ministrada pelos jesuítas (ensinar a ler, contar,
escrever, soletrar, rezar em latim) era refinada demais e não agradava aos nativos: “Tristeza
apenas suavizada pelas lições de canto e música; pela representação de milagres e de autos
religiosos; pela aprendizagem de um ou outro ofício manual” (FREYRE, 1992, p.211).
A conclusão a que chegou Gabriel Soares, como observador dos costumes
indígenas, levou-o a considerar que o indígena do Brasil era avesso à ideologia jesuítica.
Nesse caso, a tese por ele defendida foi a de que o missionário adequado para orientar um
povo com tendências comunais e rebelde ao ensino intelectual, como o indígena da América,
teria sido o religioso franciscano.
46
De que modo as circunstâncias históricas, resgatadas por Gilberto Freyre,
poderiam ser úteis ao entendimento da vivência cidadã dos sujeitos desta pesquisa?
Um modo de responder a essa questão seria afirmando que os argumentos
apresentados por Freyre (op. cit.) corroboram os princípios teóricos do paradigma de
cidadania moderno, apresentado no primeiro capítulo deste estudo (OSTERNE, 2008),
mediante o qual não se pode deixar de levar em conta heterogêneas demandas, formuladas por
uma vasta gama de sujeitos, a maioria dos quais com níveis díspares de escolarização e de
vivência cidadã.
Volta-se, portanto, ao cerne da questão da “cidadania conquistada”, a partir da
reflexão prévia de que sujeitos tão heterogêneos necessitariam de ser contemplados pelas
instâncias estatais competentes com a cidadania que buscavam acessar. Nesse caso, caberia
aos representantes legais instituídos buscar métodos efetivos para conhecer qual cidadania
interessaria a cada segmento em particular alcançar, oferecendo-lhes os meios para tal.
A esse contexto do reconhecimento de que os indígenas tupinambás brasileiros se
mostravam mais interessados pela arte do que pela retórica, apresenta-se ainda o argumento
defendido por Heller (2004), a partir do qual se depreende que não só as letras, mas também a
arte se expressa como uma via metodológica importante, que pode levar as pessoas a
transcenderem uma dimensão pessoal e particular, na direção de uma dimensão social e
abrangente, ligada ao bem coletivo e, portanto, à cidadania.
Em face dessas percepções, e, levando em conta que o arcabouço teórico da
velhice, como categoria social, é de natureza eminentemente sócio-histórica, pretende-se dar
continuidade ao presente capítulo, à luz dos argumentos desenvolvidos por estudiosos da
gerontologia, contemplando ideias sobre a situação dos velhos, em diferentes épocas e
sociedades.
Não se pode, entretanto, olvidar o fato de que o envelhecimento é alvo de
preconceitos e rechaços, desde os tempos mais remotos, até os dias de hoje. Além disso, no
âmbito do misoginismo, são as mulheres idosas o segmento social mais discriminado e
atingido por toda a sorte de violências, desconsideração e desrespeitos, por parte da sociedade
e de diversas instâncias sociais.
As ideias que ilustram este capítulo, portanto, vêm atender à preocupação anterior
da pesquisadora em esclarecer se o rechaço à velhice e, em especial, à velhice feminina,
conforme os fatos publicados pelas mídias televisiva e jornalística de hoje, seria uma
circunstância específica da época atual.
47
Essa preocupação, conforme se constatará, a seguir, está presente nos estudos de
diversos autores, entre os quais Rodrigues (1997). Essa autora, em aula ministrada no Curso
de Especialização em Gerontologia Social - PUC, em Curitiba-Paraná, em março de 1997,
alude ao argumento defendido por Beauvoir (1997, p. 83), reconhecendo que desvendar
aspectos sócio-históricos da velhice não constitui empresa simples para os pesquisadores.
Os documentos de que dispomos só raramente fazem alusão a esse assunto: os
idosos são incorporados ao conjunto dos adultos. Das mitologias, da literatura e da
iconografia destaca-se uma certa imagem da velhice, variável de acordo com os
tempos e os lugares. Mas que relação essa imagem sustenta com a realidade? É
difícil determinar. A imagem da velhice é incerta, confusa, contraditória. Importa
observar que, através dos diversos testemunhos a palavra “velhice” tem dois
sentidos diferentes. 1º) É uma certa categoria social, mais ou menos valorizada,
segundo as circunstâncias. 2º) É para cada indivíduo, um destino singular - o seu
próprio. O primeiro ponto de vista é o dos legisladores, dos moralistas; o segundo, o
dos poetas; quase sempre eles se opõem radicalmente um ao outro. Moralistas e
poetas pertencem sempre às classes privilegiadas, e esta é uma das razões que tira de
suas palavras uma grande parte de seu valor: eles dizem sempre uma verdade
incompleta (RODRIGUES, 1997).
Segundo o ponto de vista formulado por Beauvoir (1997), a velhice de homens e
mulheres está sujeita ao imaginário social vigente em cada época. Assim, os idosos tanto
poderão ser considerados quanto desconsiderados pela sociedade onde vivem.
Conforme esclarece Rodrigues (1997, p.86), no contexto das sociedades
primitivas do mundo antigo, a vida longa era vista como uma bênção, e não como uma carga.
Entretanto, essa circunstância dizia respeito especificamente à velhice masculina. O patriarca
era o modelo e sua longevidade era tida como sinal de bênção divida.
Nessas sociedades primitivas os velhos do sexo masculino passaram a ser vistos
como pessoas detentoras de poderes especiais, conhecedores de tradições sagradas. Por causa
disso, aos homens envelhecidos coube a nobilitante função de instruir seus descendentes.
Embora, segundo a mesma autora, não se possa padronizar o tratamento
dispensado aos velhos nessas sociedades, na maioria delas os homens idosos eram aureolados
pelo privilégio “sobrenatural” de longevidade, e, como tal, ocupavam um lugar de destaque na
sua comunidade (RODRIGUES, 1997, p.85-86).
A condição da mulher envelhecida em muitas dessas sociedades primitivas era,
por conseguinte, mais complexa e difícil do que a dos próprios homens, uma vez que quase
todas essas sociedades eram patriarcais. Os homens de idade avançada detinham poder de
vida e morte sobre os filhos, e não só em relação a estes, mas no contexto da sociedade
familiar como um todo, incluindo a esposa, que lhes era submissa em tudo, sem dispor de
nenhum poder de contestação.
48
Possuíam, inclusive, um poder religioso que lhes assegurava grandes privilégios.
Enquanto sacerdote ou oficiante, o velho não tem ambivalência. Seu papel é
positivamente da mais alta importância. Graças à sua memória, transmitia aos mais
jovens mitos, cerimônias, danças e cantos necessários à celebração do culto.
Portanto, na maioria das sociedades primitivas, o velho era aureolado pelo privilégio
“sobrenatural” de longevidade e, como tal, ocupava um lugar de destaque na sua
comunidade. A longevidade era associada à sabedoria e à experiência. Para essas
sociedades profundamente religiosas, a velhice associava-se ao sagrado
(RODRIGUES, 1997, 85).
Segundo Rodrigues (1997, p.88), “entre todas as sociedades que sobreviveram à
custa de uma economia relacionada às chuvas, a dos hebreus, nome primitivo atribuído ao
povo judeu, foi aquela em que os homens idosos usufruíram de maior consideração social”. A
autora citada refere, ainda, que “entre os hititas, os velhos se ocupavam principalmente da
magia, sendo respeitados socialmente por esse atributo, porém, as mulheres adivinhadoras
eram chamadas simplesmente de mulheres velhas”.
Rodrigues (1997) utiliza um argumento semelhante ao desenvolvido por Muraro
(2000), ao enfatizar, também, a condição dignificante da velhice dos homens, em recortes
históricos das sociedades evoluídas do mundo ocidental.
Assim, a velhice respeitável, assumida pelos velhos no contexto místico-religioso
das sociedades primitivas se repetiria no contexto das sociedades mais evoluídas do mundo
ocidental. Nas etapas iniciais da história grega, por exemplo, eram concedidos aos velhos
amplos espaços de participação social: Em Esparta, o Senado era composto, unicamente, por
velhos e Platão considerava esse fato como “a principal causa de prudência do governo e do
Estado”. Porém, conforme sugere Rodrigues (1997), na Grécia clássica, “a beleza sempre
serviu de inspiração para o ideal perfeito de mulher, enquanto a „feiúra‟ dos velhos serviu de
pretexto para que eles fossem relegados a um lugar-social subalterno”.
Nessa perspectiva, Rodrigues (1997, p.88-89) refere:
Desde a epopéia de Homero, na Ilíada e na Odisséia, a juventude foi enaltecida,
embora não houvesse desprezo pelos velhos, aos quais se atribuía a virtude da
sabedoria. Em toda a Grécia antiga, sempre vamos encontrar os que repudiavam a
velhice, que eram a maioria, e os que a enalteciam. Mas, para todos, a velhice e a
morte estavam nos Keres (os males da vida) e eram implacáveis e irreversíveis. Nas
tragédias gregas, a velhice era concebida como maldita e patética; nas comédias,
como ridícula e repulsiva e, entre os filósofos era contraditória e ambígua. Havia
filósofos jovens e filósofos velhos. Sócrates temia prolongar sua vida para não ser
obrigado a pagar o que ele chamava o “tributo da velhice” - a cegueira e a surdez.
Sófocles, Aristófanes e Eurípedes apresentavam a velhice privada de razão e
irracional. Aristóteles resumiu essas concepções em seu livro Tratado sobre retórica,
descrevendo os velhos como desconfiados, inconstantes, temerosos, pessimistas,
melancólicos e egoístas. Mostrava a juventude e a velhice como pólos opostos,
sendo a juventude uma época de excessos e desvarios e a velhice, uma etapa de
conservadorismo. Para descrever os velhos, usava o eufemismo “esses de idade
49
avançada”, caracterizando-os como indecisos e incapazes. Por outro lado, uma
minoria valorizava a velhice, como Homero, que associava a velhice à sabedoria [...]
Na Roma antiga, a mesma autora (1997, p. 89) menciona que “os homens idosos
detinham um poder essencial, no que se refere à autonomia e ao poder de deliberação. Este se
expressava na figura do pater famílias, previsto no direito romano”. Nesse sentido, o poder de
decisão concedido aos homens envelhecidos provocou acirradas disputas entre esses e as
gerações mais jovens. Estas, finalmente conseguiram galgar amplo poder social, quando
imperadores jovens assumiram o controle do Império Romano. A legislação romana,
entretanto, mesmo sob essa nova feição, concedia direitos aos idosos, prescrevendo que aos
filhos caberiam os cuidados com a velhice dos pais. “Como não era cumprido, fundaram-se
asilos para velhos, os primeiros da história ocidental” (RODRIGUES, 1997, p. 90).
Interessante é a constatação feita por Rodrigues (1997), subjacente a essa ordem
de análise. A autora salienta que, quando o poder do pater famílias diminuiu, a autoridade que
os velhos assumiam no Senado também acompanhou essa tendência, e, concomitantemente,
“o poder materno se equiparou ao dos pais nas famílias” (RODRIGUES, 1997, p. 87-88).
Porém, os filhos passaram a exercer o controle efetivo do lar.
Outra referência feita pela supracitada autora é que houve, na realidade, duas
Idades Médias, sendo uma caracterizada pelo feudalismo e pela servidão rígida, e outra,
relacionada à ascensão da burguesia e do poder real.
Foi a época em que surgiram heresias, revoltas no campo e na cidade;
desenvolveram-se novas línguas e iniciou-se o capitalismo moderno. A Idade Média
caracterizou-se também pela vigência da lei domais forte física e militarmente. Os
mais débeis, entre eles os velhos, estavam submetidos aos mais fortes, sendo parte
da população escrava (RODRIGUES, 1997, p.90).
Rodrigues (1997) menciona que algumas imagens presentes nos ensinamentos
teológicos do início do cristianismo foram pejorativas para as pessoas idosas. Entretanto, em
virtude da presença de religiosos idosos, exercendo cargos nobilitantes na Igreja, o
cristianismo contribuiu para que esse segmento social fosse mais bem acolhido e respeitado
na sociedade.
Foram as comunidades cristãs e, em seguida, a Igreja Católica, as instituições que
pela primeira vez na história, pensaram nos velhos como seres merecedores de
atenções especiais. Conventos e mosteiros acolhiam os velhos pobres e
abandonados. Fundaram-se inúmeros asilos e hospitais. Parece que em toda a Idade
Média freiras e monges eram longevos, tanto porque estavam mais protegidos dos
azares de uma vida difícil como porque não cometiam excessos de comida, de
bebida e de atos violentos, comuns entre os leigos. Nessa época, havia uma situação
peculiar: as pessoas que exerciam o poder, reis e nobres, com frequência, morriam
antes de chegar à velhice, enquanto seus conselheiros e altos funcionários, quase
50
todos religiosos, por serem os únicos com uma cultura livresca, embora jovens,
viviam nos conventos em contato com os velhos, independentemente da idade dos
papas, que sempre eram velhos porque os conclaves não elegiam pessoas com
muitos anos pela frente; a Igreja era uma instituição dirigida pelos velhos
(RODRIGUES, 1997, p. 91).
Observa-se, portanto, a partir dessas explicações, que a valoração e a
desvalorização da velhice vêm ocorrendo de forma descontínua na história da humanidade. O
século XVI, por exemplo, segundo esclarece Rodrigues (1997, p.94), caracterizou-se por
violento ataque à velhice, devido à adoração e culto à beleza e juventude. Usavam-se todos os
meios disponíveis para prolongar a juventude e a vida e retardar ou eliminar a velhice.
Novas regras de conduta, iniciadas no supracitado período, foram sendo
suplantadas pelo pensamento científico, no século seguinte. Isso fez com que começasse a
surgir um interesse pelas descobertas em torno das causas da velhice, mediante um estudo
sistemático. A partir daí, entre os séculos XVII e XVIII, aconteceram avanços no campo da
fisiologia, da anatomia, da patologia e da química, apesar de ainda prevalecer um pensamento
ambivalente em relação à velhice (RODRIGUES, 1997, p.94).
A ambiguidade envolvendo o conhecimento mais aprofundado da velhice se devia
ao fato de que, na Idade Média, as pessoas viviam muito pouco, devido ao elevado número de
enfermidades desconhecidas pela medicina. A autora referida assim resume esse contexto:
Até o século XII, não se generalizaram os relógios. Até aí, não havia registros de
nascimentos e óbitos. Muita gente não sabia sua verdadeira idade. Mais que em
outras épocas, a idade era avaliada pela capacidade de trabalhar ou de guerrear,
segundo a condição da pessoa: servo ou senhor. No século VI, viver até os setenta
anos era tão excepcional que devia considerar-se um milagre. (RODRIGES, 1997,
p.93).
Esse cenário começou a mudar, a partir do século XVIII, quando ocorreram
menos mortes de crianças e aumentou a expectativa de vida das pessoas. Nesse sentido, as
revoluções burguesas propiciaram uma elevação no prestígio dos homens idosos, porém, a
própria burguesia, mais tarde, contribuiu para o rebaixamento da condição histórica dos
velhos, independente de suas condições econômicas, por se basear na individualização da
propriedade. Assim, tanto os velhos pobres quanto os ricos se sentiram prejudicados nas
sociedades em que essas revoluções ocorreram.
Entretanto, ainda segundo Rodrigues (1997, p, 96), a velhice desvalida foi a mais
atingida:
51
Com essas revoluções burguesas, das quais, como já dissemos, a mais importante foi
a francesa, os velhos nobres proprietários de imensas gebas de terra, castelos e
palácios tiveram seus bens expropriados e, muitas vezes, o campesino velho e pobre,
seu servo, conservava sua lealdade ao senhor perseguido ou exilado. Entretanto, a
oposição ativa à revolução não foi obra de velhos, mas de jovens aristocratas e,
muitas vezes, os velhos das famílias burguesas foram mais diligentes do que os
jovens na compra de bens expropriados. As cartas de nobreza da burguesia eram a
riqueza e o trabalho. Este como que justificava daquele. Trabalhar era a atividade
mais nobre do homem. O trabalho dava sentido à vida. Essa moral tinha um
corolário prático: todo homem tinha direito ao trabalho. Lutero, na Reforma,
enfatizava isso. Nada de esmolas, somente trabalho.
Esse resgate histórico permite que se compreenda por que, no tocante à
modernidade, o contexto da velhice nas sociedades que emergiram das revoluções burguesas
tenha sido assinalado por uma notória desigualdade entre os idosos provenientes das classes
sociais ricas e os das classes sociais proletárias.
No que diz respeito à realidade brasileira, Peixoto (1993) menciona que “as
mudanças ocorridas com a criação da aposentadoria-velhice, em 1973, pelo Ministério do
Trabalho e pelo Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), acentuaram a representação
social do aposentado como sinônimo de pessoas não-produtivas e, portanto, velhas. Em
consequência, tanto no Brasil como na França e, aliás, em todas as sociedades industriais, a
partir da criação da aposentadoria, o ciclo de vida é reestruturado, estabelecendo-se três
grandes etapas: a infância e adolescência, como tempo de formação; a idade adulta, como
tempo de produção; e a velhice - idade do repouso, como tempo do não-trabalho”.
Muraro (2000) reforça a compreensão dessa realidade no tocante à condição
feminina, referindo que o rechaço às mulheres empobrecidas sempre foi mais intenso.
Desse modo, a repercussão alcançada pelos preconceitos, nos dias atuais, se torna
ainda mais evidente, quando esses dizem respeito às mulheres pobres e idosas, sobretudo
levando em conta o argumento apresentado por Muraro (2000, p.127), ao enfatizar que os
pobres sempre foram considerados seres humanos inferiores.
No tocante aos idosos das classes abastadas, novas terminologias continuaram
sendo buscadas, ao longo da história, para configurar a velhice bem-sucedida dessa categoria
social. A legenda “Terceira Idade”, muito usual nos dias atuais, vem sendo utilizada como
eufemismo extensivo a vários segmentos de idosos.
Segundo Peixoto (1993), essa denominação foi criada para designar a
representação dos jovens aposentados, na França, na década de 1960, buscando imprimir ao
envelhecimento um conceito ativo e independente, sob o crivo do dinamismo. Essa
modalidade de envelhecimento passou a ser alvo das instituições e agentes especializados no
tratamento da velhice, os quais prescreviam, não somente, maior qualidade de vida, através de
52
hábitos de vida saudáveis, mas, também, novas necessidades culturais, sociais e psicológicas.
Consoante esse histórico, Peixoto (1993, p.76) enfatiza o pensamento de Lenoir
(1977, p.384), ao aludir que
[...] a expressão “terceira idade” não é um simples substituto do termo “velhice”. O
trabalho de classificação é indissociavelmente um trabalho de eufemização e tem por
objetivo tornar nominável, ou seja, público, aquilo que até agora foi rechaçado e não
pôde se exprimir, como, por exemplo, tudo o que se relaciona à vida sexual que, em
vocabulário jargão, permite dizer a coisa sem pronunciar a palavra.
O parecer emitido por Debert (1993) segue a mesma linha de análise de Peixoto
(1993, p. 63), deixando evidente que as formas de pressão traduzem-se em formas de
expressão.
Conforme se pode observar, a partir das referências dos diversos autores
apresentados, os idosos, como categoria social, ficam sujeitos aos códigos de valoração das
sociedades, vigentes em determinados períodos históricos. Assim, quando a velhice é
valorizada, os idosos passam a sê-lo também, porém, quando essas ditas sociedades
sedimentam ideias pejorativas sobre a velhice, os idosos, de modo geral, tendem a ser
rechaçados.
Considera-se que a sociedade atual busca, cada vez mais, se nortear por modelos
de envelhecimento saudável, os quais, dessa forma, passaram a compor a agenda dos
programas públicos de saúde, que visam incentivar padrões de velhice satisfatória. O
exercício da cidadania efetiva passa, assim, pela possibilidade de os indivíduos se
enquadrarem no aludido critério.
Neri (1993, p. 120), por sua vez, propõe para os dias de hoje um modelo de
envelhecimento integrado, baseado em seis pontos, estabelecendo uma relação entre a
qualidade de vida e a continuidade no desenvolvimento pessoal na velhice. São eles: “a autoaceitação; as relações positivas com os outros; a autonomia; a intencionalidade e
direcionalidade na busca de metas na vida; o senso de domínio e a competência sobre os
eventos do ambiente e da própria vida.”
A partir da concepção formulada por Neri (1993), considera-se que avaliar as
transformações de qualidade de vida na velhice impõe aos estudiosos a adoção de critérios de
análise, que devem levar em conta o ajustamento dos indivíduos à natureza biológica,
psicológica e sociocultural do envelhecimento. Assim, vários elementos podem ser
determinantes ou indicadores de bem-estar na velhice.
53
Para Neri (1993, p. 14-15), o bem-estar na velhice está relacionado:
[...] à longevidade; saúde biológica; saúde mental; satisfação; controle cognitivo;
competência social; produtividade; atividade; eficácia cognitiva; status social; renda;
continuidade de papéis familiares e ocupacionais, e continuidade de relações
informais em grupos primários (principalmente rede de amigos).
As explicações aqui apresentadas convergem para o entendimento de que a
qualidade de vida também pode ser compreendida como forma emergente de adaptação às
condições de vida culturalmente reconhecidas, que a sociedade oferece aos seus idosos,
através de uma adaptação multidimensional. Assim, quando o idoso detém saúde física
satisfatória, suas condições para adaptar-se à nova maneira de viver poderão permitir maior
satisfação pessoal.
Lopes (2001) tece considerações importantes acerca dos estudos realizados por
outros especialistas como Debert (1997) e Goldani (1999 apud LOPES, 2003).
Tais estudos ensejaram um novo mapeamento da vida adulta, no qual se sobressai
a maior longevidade das mulheres. Demonstra-se, assim, o caráter multidimensional e
multideterminado do envelhecimento, que afeta cada gênero de forma diferenciada.
Segundo Lopes (2003, p. 135),
atentar para as diferenciações de gênero torna-se vital para as atuais sociedades, na
medida em que está ocorrendo um fenômeno de feminização da velhice,
caracterizado pelo crescimento da proporção de mulheres no total da população
idosa em todo o mundo. Esse fenômeno, atrelado a mudanças no curso de vida,
coloca em questão dois tipos tradicionais de contratos sociais, discutidos por
Goldani (1999): o intergeracional e o de gênero.
A citada autora chama a atenção para o fato de que os contratos sociais de gênero,
estabelecidos no contexto das sociedades, geralmente, se orientam em valores e normas
culturais nem sempre muito claros. No entanto, a mesma autora reconhece que, na
contemporaneidade, as profundas mudanças ocorridas no campo do trabalho, bem como na
estrutura das famílias e nas relações de gênero, estão ameaçando as condutas tradicionais com
que as sociedades vinham lidando com as questões do envelhecimento.
Dessa forma, entende-se que é importante para as sociedades modernas fazerem
uma revisão sobre as formas como estão trabalhando a velhice e o envelhecimento, na
perspectiva de gênero. Nesse sentido, são bastante importantes as diferenciações de gênero
em idosos, apontadas, nos estudos de Goldani (1999 apud LOPES, 2003), a partir dos
indicadores abstraídos da literatura internacional.
54
Com relação a esse aspecto, Goldani (ibidem), apoiando-se nesses indicadores,
chama ainda atenção para o fato de que homens e mulheres não envelhecem da mesma forma,
em função das diferenças genéticas, de gênero, raça, classe social e cuidados prévios com a
saúde. Ressalta, ainda, que, embora os estigmas contra pessoas idosas e as perdas ocasionadas
pelo envelhecimento atinjam igualmente homens e mulheres dessa categoria etária, os
recursos de enfrentamento que ambos utilizam são diferentes.
Ainda com Goldani (1999, apud Lopes 2003, p.136), apesar de viverem mais, a
qualidade de vida das mulheres é ruim. Por isso, elas estão mais sujeitas a doenças e têm mais
chances de viver como dependentes das famílias ou em instituições asilares. Acredita-se que o
ponto de vista de Lopes não se aplica a todas as sociedades, merecendo ser apreciado sobre
essa perspectiva diferenciada.
Nesse contexto, enfatiza-se a circunstância assinalada pela autora de que a
feminização da velhice está tão acentuada na contemporaneidade que, para Lopes (2003,
p.137) “falar dos problemas dos idosos é falar dos problemas das mulheres idosas”.
Esses dados de pesquisa são inestimáveis porque se traduzem em subsídios, que
poderão ser utilizados pelos governos na formulação de políticas públicas direcionadas a
atuar, especificamente, em cada segmento de idosos que as esteja demandando. Essa conduta,
por conseguinte, garantirá a essas políticas maior eficiência e efetividade.
No tocante à qualidade de vida, segundo Lopes (2003), as pesquisas indicam
haver nítidas diferenças entre as idosas de idade mais avançada, ou seja, nascidas no começo
do século XX, e as menos idosas, ou seja, nascidas no final do mesmo século.
Segundo Goldani (1999 apud LOPES, 2003, p.137) a circunstância anteriormente
referida leva em conta que a trajetória de vida das idosas de faixa etária mais elevada se
desenrolou de acordo com parâmetros sociológicos afetados por várias restrições legais,
econômicas e familiares, repercutindo em seus comportamentos e atitudes, sendo os
principais aspectos de interferência apontados os seguintes:
Na colônia, o primeiro tipo de união foi o casamento religioso, em 1851, e, só
em 1890, o civil. Em ambos, a lei assegurava ao homem o poder de plena
decisão sobre a família, sendo a mulher responsável pelo trabalho doméstico;
Apenas na Constituição de 1934 se concretizaram os direitos políticos da mulher,
com a instituição do voto feminino;
Mais da metade das idosas brasileiras, na segunda metade do século XX, passou
a vida sem saber ler e escrever e sem uma atividade remunerada;
Somente na década de 1960 foi criado o Estatuto da Mulher Casada, até então
considerada incapaz, mas ainda há nesse documento a especificação de tarefas,
ficando a mulher responsável por zelar pela direção do lar;
Apenas na Constituição de 1988 há inovação no conceito de família: “A família,
constituída pelo casamento ou por uniões estáveis, baseada na igualdade entre o
55
homem e a mulher, terá a proteção do Estado.” (Art. 362)
Além disso, as pesquisas atuais com foco no envelhecimento saudável tendem a
reconhecer a necessidade de serem implementadas mudanças nos projetos de vida individuais
dos idosos e nos contratos sociais de gênero. Nesse sentido, o aludido aspecto de feminização
da velhice é um dado importante, a ser trabalhado pelas políticas públicas (LOPES, 2003,
p.139).
Portanto, para a maioria dos estudiosos da gerontologia, qualidade de vida, em
última análise, significa para a pessoa idosa buscar instrumentalizar a vida cotidiana com
entusiasmo, procurando executar tarefas prazerosas e úteis, valorizando a companhia dos
outros, o convívio familiar, incluindo o exercício de uma cidadania integrada, em grupos de
convivência.
Para a maioria dos autores mencionados, a concepção de velhice bem-sucedida
está condicionada a um constructo de qualidade de vida, cujo principal referencial pode ser
traduzido pelo interesse da pessoa idosa em procurar se engajar de livre e espontânea vontade
em programas de sociabilização na velhice, seja para se ocupar, recrear, fazer novas amizades
ou desenvolver mecanismos de informação, estabelecendo elos de contato com o mundo
exterior.
Em função da importância do engajamento dos idosos, nessa linha de
configuração da velhice, alguns estudiosos, entre os quais Viguera (2004), vêm buscando
conhecer os determinantes que levam sujeitos idosos, de ambos os gêneros, a procurar
encontrar um novo sentido para suas vidas na velhice, adotando práticas de envelhecimento
saudáveis e procurando conectar-se ao mundo moderno.
O interesse do autor comprova que os trabalhos na área da qualidade de vida na
velhice buscam mais e mais o conhecimento dos fatores subjetivos e objetivos que
determinam o anseio dos idosos por mudanças.
Para Neri (1993, p. 9), “a promoção da boa qualidade de vida na idade madura
excede os limites da responsabilidade pessoal e deve ser vista como um empreendimento de
caráter sociocultural”.
Nesse caso, dependendo da forma como os programas nessa área são realizados,
essa motivação poderá constituir ou não fator de mudanças na vida dos indivíduos idosos.
Os estudos centralizados no supracitado foco de análise merecem atenção, uma
vez que poderão oferecer meios de os estudiosos conhecerem os mecanismos que cada
segmento de idosos em particular utiliza para construir a sua vida cotidiana, incluindo nesta
56
os seus lazeres e o exercício da vivência cidadã.
Observa-se, contudo, que, em cada época, os idosos vêm adotando estratégias
criativas de inclusão social, as quais não podem ser desprezadas pelas políticas públicas
voltadas para a construção da cidadania desse segmento.
3.2 A gênese das dificuldades enfrentadas pelas cearenses empobrecidas no âmbito da
cidadania
3.2.1 As estratégias utilizadas pelas não cidadãs, em diversos períodos sócio-históricos
Desde a época do Brasil Colônia, as mulheres brasileiras das camadas menos
favorecidas vêm enfrentando contextos históricos adversos e misóginos, tendo que
empreender lutas e articular formas de se impor como sujeitos sociais, ou, melhor dizendo, de
buscar estratégias de inclusão social, para superar as barreiras socioculturais que lhe são
impostas.
Cumpre enfatizar que os preconceitos e estereótipos lançados contra as mulheres,
de modo geral, advêm dos primórdios da história da humanidade, fazendo com que a
cidadania feminina necessite sempre de ser compreendida, a priori, na perspectiva da
observação de sujeitos históricos, circunscritos a restritos espaços de mobilidade social. Estes
se restringem ainda mais, levando em conta a pobreza, o baixo nível de escolaridade e os
diferentes estágios de velhice das mulheres envolvidas.
A proposta com o desenvolvimento deste tópico é a de resgatar a gênese das
dificuldades encontradas pelas mulheres empobrecidas para acessar a cidadania, através da
leitura de circunstâncias inusitadas da historiografia nacional e, mais particularmente, da
historiografia cearense, onde estão inseridos os sujeitos da pesquisa.
Nesse sentido, embora alguns autores nacionais, ainda que não se preocupando
necessariamente em abordar as formas de inserção social buscadas por mulheres idosas,
ofereceram inestimável contribuição a este estudo, ao delinearem o cenário sócio-histórico no
qual as mulheres empobrecidas vêm atuando, no contexto sociocultural brasileiro.
Buscou-se, assim, abstrair dessa visão panorâmica apresentada por diversos
autores, as estratégias que mulheres cearenses do passado, vivendo sob as mesmas condições
econômicas restritivas das que estão sendo retratadas neste estudo, utilizaram para usufruir de
melhor qualidade de vida, garantir o seu sustento e a sua segurança, em seus respectivos
contextos históricos. Enfim, conhecer a maneira como procuraram driblar o destino, para
57
exercer a cidadania.
Sob o citado prisma, o confronto entre o cenário feminino do passado e o de hoje,
que está sendo vivenciado pelas idosas do grupo de convivência do CIAPREVI-CE, poderá
resultar na composição de um estudo sociológico interessante para as políticas públicas
desenvolvidas pelo referido equipamento.
Salienta-se que o gênero está sendo aqui concebido como uma categoria analítica
de natureza sócio-histórica, estreitamente imbricada à da cidadania e a dos idosos.
Assim, cumpre ressaltar, que o interesse precípuo deste estudo, em investigar a
luta de cidadania dos sujeitos, a partir dos princípios de um paradigma moderno de cidadania
(DAGNINO, 1994; OSTERNE, 2008), não se opõe ou desmerece a natureza do paradigma
clássico de cidadania, uma vez que abrange o direito à vida plena, para o qual convergem
todas as outras dimensões dos direitos de cidadania.
Tal perspectiva serviu de estímulo para que se procurasse elaborar um estudo
bibliográfico preliminar à pesquisa, resgatando-se a ótica de autores nacionais e cearenses que
buscaram retratar as dificuldades enfrentadas por mulheres de classes menos favorecidas.
Sob o foco dessas considerações, deve-se reconhecer que a cidadania, traduzida
como atitudes estratégicas de acesso à cultura dos direitos, aos bens coletivos e à realização
pessoal e social dos indivíduos, já dá sinais de sua existência desde contextos sociais remotos
da historiografia brasileira.
A partir dos relatos dos observadores dos primeiros séculos de colonização no
Brasil, trava-se contato com as primeiras estratégias protagonizadas por esse segmento de
mulheres oprimidas, personificadas nas indígenas.
É sabido que as indígenas brasileiras, desde a época do Brasil colonial,
constituíram o primeiro segmento feminino de mulheres excluídas que passaram a
desenvolver estratégias de inclusão. Isso ocorreu de duas maneiras: ou como mera forma de
adaptação à subjunção imposta pelas elites representativas da Coroa Portuguesa, através da
inserção no sistema agrícola implementado em terras brasileiras, ou como estratégia de
ascensão da condição de aviltamento social em que se encontravam, unindo-se por laços
afetivos aos colonizadores brancos.
É importante enfatizar que o senso de adaptação das indígenas às condições
impostas pelo colonialismo, permitiu que estas se engajassem mais facilmente que os homens
indígenas nas atividades agrícolas implementadas pelos portugueses. Foram elas também que
habilmente deflagraram o processo de miscigenação cultural, estabelecendo relações afetivas
com os colonizadores brancos. Segundo Freyre (2000), “assim o fizeram, objetivando gerar
58
uma prole assinalada com os genes de uma raça por elas considerada como superior”.
No campo do desenvolvimento de ações estratégicas, contudo, tanto os
“conquistados” quanto os “conquistadores” usaram de artimanhas diferentes. Nesse sentido,
os próprios colonizadores portugueses passaram a desenvolver estratégias de dominação e
suborno junto aos indígenas.
A historiografia tem mostrado que, quando os portugueses aqui chegaram, no ano
de 1500, muitos indígenas que ocupavam as terras brasileiras mostraram-se hostis às suas
presenças em seu ambiente natural. Entretanto, logo foram seduzidos pelos conquistadores
portugueses, sendo agraciados com pequenos mimos.
A supracitada estratégia de dominação, grosso modo, surtiu os efeitos almejados
para os conquistadores europeus, uma vez que “a colonização européia vem surpreender nesta
parte da América quase que bandos de crianças grandes: uma cultura verde e incipiente; ainda
na primeira dentição [...]” (FREYRE, 2000, p.161).
A partir de então, não só as vastas extensões de terras brasileiras, mas também os
grupos humanos que aqui existiam, passaram a ser tratados, melhor dizendo, “coisificados”,
como patrimônio dos conquistadores invasores. Essa tônica, nos séculos posteriores, dará
vazão a uma peculiar constituição do Estado brasileiro e à forma de cidadania assinalada pela
tônica patrimonialista, resultante de uma formação social híbrida e desigual. Nesse cenário, a
figura masculina aparece como a detentora de poder, inclusive no âmbito da vida doméstica.
Desse modo, conforme refere um conjunto de autores, entre os quais Costa e Silva
(2000), por volta do ano de 1532, quando a sociedade brasileira começou a ser formada,
passou a se estabelecer no Brasil uma modalidade de dominação familiar, vigente na
sociedade colonial, em que o poder era exercido pelos representantes mais velhos de um clã,
sendo essa forma de autoridade reconhecida como “gerontocracia”. Nesse caso, os pais de
família atuavam como senhores dos serviçais da casa e das próprias esposas, estendendo a sua
autoridade aos filhos. O seu poder era legitimado, portanto, pela própria comunidade
doméstica, na forma de pater famílias, prática vigente em sociedades antigas e que se tornou
também conhecida como patriarcalismo. Os patriarcas das famílias na sociedade colonial
brasileira eram, portanto, senhores e donos tanto de suas famílias, na casa-grande, quanto dos
escravos, na senzala.
Sob essa tônica tem início o processo de constituição da sociedade brasileira,
nascida híbrida em suas bases. Para alguns autores (FREYRE, 2000, p.163), organizou-se
entre nós um modelo de sociedade cristã na superestrutura, que teve em seus fundamentos o
elemento feminino da cultura nativa, no caso, a “mulher indígena, recém-batizada, por esposa
59
e mãe de família; e servindo-se em sua economia doméstica de muitas das tradições,
experiências e utensílios da gente autóctone”.
Aspecto sociológico interessante é o que o supracitado autor obtém dos relatos de
Zacarias Wagner: este observou que, no século XVII, muitos portugueses, incluindo os mais
abastados, iam buscar esposas legítimas entre as filhas das caboclas. Nesse período, essa
preferência não se manifestaria, como no primeiro século, por falta de opções dos
colonizadores, mas por decidida preferência sexual. A ótica de Capistrano de Abreu, contudo,
sugere que a preferência da mulher gentia pelo europeu teria sido por motivo mais social que
sexual: da parte das índias a mestiçagem se explica pela ambição de terem filhos pertencentes
à raça superior, pois segundo as ideias entre eles correntes só valia o parentesco pelo lado
paterno (FREYRE, 2000, p.163).
Esses estudiosos reconhecem que, desde os primórdios da organização da
sociedade brasileira, os laços de união conjugal já se prefiguram como uma estratégia de
ascensão social, utilizada por muitas mulheres nativas.
Alheias à sorte de pessoas com quem estabeleciam as uniões conjugais, o certo é
que as indígenas de fato se uniram a muitos colonos trazidos pelo governo português para
ocupar as terras brasileiras. Na visão de alguns observadores dos primeiros séculos da
colonização, nem sempre essa sorte de desbravadores dispunha de uma consciência viva dos
valores de raça, mostrando-se mais fragilizada moralmente que os portugueses fidalgos.
Assim, na visão moralista dos observadores, as relações amorosas se estabeleciam, a partir de
interesses carnais, em clima de “intoxicação sexual”. “[...] As mulheres índias davam-se ao
europeu por um pente ou um caco de espelho” (FREYRE, 2000, p.164-165). Vê-se que Freyre
não prescinde de afirmar, portanto, que a mulher gentia, embora desprovida de civilidade,
constituiu não só a base física da família brasileira, mas também elemento cultural valioso na
formação do nosso povo.
Da cunhã é que nos veio o melhor da cultura indígena. O asseio pessoal. A higiene
do corpo. O milho. O caju. O mingau. O brasileiro de hoje, amante do banho e
sempre de pente e espelhinho no bolso, o cabelo brilhante de loção ou de óleo de
coco, reflete a influência de tão remotas avós (FREYRE, 2000, p.166).
Mediante esse cenário social, a monogamia era inexistente nas populações nativas
brasileiras. Esses precedentes não inviabilizaram que a moral europeia e católica acabasse
prevalecendo, na formação social da família brasileira: “não nos esqueçamos, entretanto, de
atentar no que foi para o indígena, e do ponto de vista de sua cultura, o contato com o
europeu. Contato dissolvente” (FREYRE, 2000, p. 179).
60
Outro elemento cultural viria, posteriormente, se integrar nesse processo: o negro,
trazido da África, que passou a ser explorado nos trabalhos agrários, como escravo. Daí por
que o discurso proposto por Nabuco (1949, p. 162), era de que
[...] o regime escravo de trabalho sugava a energia e a iniciativa das forças vivas do
país. Limitava dramaticamente as margens de liberdade política e democracia,
proibindo qualquer avanço na cidadania. Conseguir a liberdade para o escravo,
portanto, seria dar a todos os brasileiros uma dignidade, então inexistente: a de
Cidadão Brasileiro.
A supracitada tônica se fará presente na colonização portuguesa promovida no
Ceará, bem mais tarde, a partir do século XVII.
Conforme esclarece o historiador Antonio Luiz (2006), “a colonização no Ceará
ocorreu não só pela conversão de almas, pela introjeção de disciplinas, mas pela conquista e
povoação do território e pela subjugação dos nativos”. Para esse autor, a conjunção de dois
fatores, a saber, a exploração financeira e a guarda espiritual dos colonizados, constituíram os
pilares básicos da ação dos conquistadores lusitanos nas terras cearenses.
Segundo relata outro estudioso da historiografia cearense (FARIAS, 2002), o
território cearense demorou a ser reconhecido pelos colonizadores lusitanos, uma vez que não
oferecia atrativos econômicos à Coroa Portuguesa. Por isso, esse reconhecimento só ocorreu,
efetivamente, entre os séculos XVII e XVIII. Foi só nesse período que as terras cearenses
passariam a ser chamadas “Siará”, sendo, finalmente, conquistadas, séculos depois da
chegada dos descobridores portugueses ao Brasil.
De início, o território cearense não atraiu o interesse dos lusitanos, por ser uma
capitania pobre, sem muitos atrativos para o governo português. O Ceará, portanto, não
oferecia à Coroa Portuguesa perspectivas geradoras de capital. Por causa disso, as terras
cearenses ficaram praticamente esquecidas no século XVI pelos descobridores portugueses.
Em parte, isso ocorreu por causa de dificuldades oriundas de outros fatores, entre os quais as
correntes marítimas e a oposição dos índios à presença dos desbravadores estrangeiros.
De acordo com Farias (2002, p.22), o principal motivo do desinteresse pelas terras
cearenses, contudo, acabou sendo mesmo a falta de grandes atrativos econômicos da terra. O
Ceará era desprovido de ouro e prata, não servindo para o plantio, em larga escala, de canade-açúcar. Também por não ter especiarias, deixou de despertar o interesse dos
desbravadores. Assim, a ocupação do território cearense ocorreu através da pecuária, tendo
essa atividade assinalado o início do processo de concessão de terras (sesmarias),
graciosamente concedidas pelo governo português a colonos que ficariam encarregadas de
administrá-las.
61
Concedendo sesmarias, o governo português estimulava a ocupação dos sertões,
uma vez que assim estaria não só garantindo seu domínio sobre terras não ocupadas, mas
também angariando o entesouramento, com a cobrança de impostos sobre o gado, o couro, a
carne e tudo mais que pudesse ser gerado com a ocupação produtiva da Região (FARIAS,
2002, p.36).
Esse processo de colonização foi prejudicial, sobretudo, aos indígenas locais, que
passaram a ser escravizados, expulsos de suas terras ou exterminados impiedosamente, pois o
governo português não encontrava nenhuma razão para preservá-los, uma vez que as fazendas
pecuaristas absorviam pouca mão-de-obra.
Consoante essas circunstâncias, o forte elemento indígena, presente no contexto
da formação sociocultural cearense foi sendo suprimido, aos poucos, no decorrer do período
da colonização portuguesa, denominado Regência, que vigorou de 1831 até 1840.
Os presidentes das províncias eram nomeados pelo Imperador Pedro II, não tendo
vínculos estabelecidos com as terras que governariam, e, chegando a desconhecê-las,
inclusive, política e economicamente. Em consequência, era comum que essas autoridades se
associassem à oligarquia local de seu partido e administrassem com mão-de-ferro,
perseguindo os adversários e beneficiando os correligionários (FARIAS, 2002, p.86).
A descrição desse contexto se faz importante para que se possa conceber de que
forma a sociedade cearense foi sendo constituída dentro do cenário nacional, influenciando
costumes e imprimindo feições próprias à estrutura social de nossas gentes, especialmente as
menos favorecidas, nas quais está incluído o segmento de idosas investigadas neste estudo.
Surgiram, assim, nesse cenário de profundas desigualdades sociais, as feições da
política coronelista que se implantou e perdurou por muitas décadas em nosso Estado,
sedimentando práticas de subserviência da classe dominada, em relação aos representantes
das que se encontravam no poder e que faziam parte das elites rurais.
Os estudos de Farias (2000) referem também que, embora acontecessem
mudanças socioeconômicas no Ceará, na segunda metade do século XIX, durante o II
Reinado, a província permaneceu sob o controle das tradicionais oligarquias rurais, que se
acomodavam nos partidos do período, organizados na Regência.
Nesse período, a administração pública era dominada por algumas poucas
famílias, que, mesmo possuindo influência econômica e política, apresentavam-se no contexto
geral frágeis, em virtude da instabilidade econômica da pobre província, que sofria com as
secas. Contribuía para agravar mais ainda essa situação a baixa rentabilidade da pecuária e a
oscilação dos preços do algodão, café, e outros produtos.
62
Vale acrescentar que a capital cearense, Fortaleza, nascida espontaneamente em
torno do Forte holandês de Schoonenborch, fundado, em 1649, por Matias Beck, não
apresentava, de início, a hegemonia urbana do Ceará.
A cidade de Fortaleza, por décadas, abrigou uma população paupérrima,
cumprindo modestamente sua função de ponto estratégico de ligação litoral leste-norte do
Brasil e de guarnição militar na defesa dessas áreas contra estrangeiros. Mesmo a elevação à
categoria de vila e capital, em 1726, não alterou a melancólica situação daquele povoado
perdido na beira do Oceano Atlântico (FARIAS, 2002, p.182).
Entretanto, na segunda metade do século XIX, a partir dos anos de 1870,
Fortaleza começou a passar por profundas mudanças em sua infra-estrutura e serviços
urbanos, colocando-se entre as maiores cidades do País (FARIAS, 2002, p.184).
Assim, esse período histórico foi palco de grandes transformações, caracterizadas
pela efervescência dos movimentos intelectuais de Fortaleza, pela expansão econômica do
Ceará e diversificação dos serviços urbanos na Capital. Fundam-se jornais, grupos literários e
instituições educacionais e culturais, iniciativas estas que se ligam diretamente ao advento de
uma classe média na capital cearense.
Nesse período, teve início o processo de industrialização cearense. Em 1881, foi
instalada a primeira fábrica têxtil local. Nas artes, paralelamente, surgiram tipografias, nas
quais, a princípio, eram impressos os jornais das facções partidárias e depois obras literárias,
panfletos e revistas de intelectuais. Aparecem, nesse contexto, pequenas fábricas de cigarros,
chapéus, velas, óleos, bebidas, curtumes e gelo, que possibilitariam o surgimento da classe
operária cearense.
Entretanto, conforme assinala Farias (2002, p.214),
[...] se a capital cearense passava por uma fase de intensa prosperidade na segunda
metade do século XIX, o mesmo não ocorria nos sertões. A expansão da
cotonicultura e de outras atividades econômicas foi insuficiente para alterar o quadro
de penúria do interior. As relações sociais e de produção ali continuavam a serem
ditadas pelos senhores coronéis e pelo monopólio da terra.
O cenário capitalista de exploração da força de trabalho das populações
subalternas é analisado, em termos gerais, por Muraro (2000, p. 118).
A supracitada autora resgata o surgimento do novo modo de produção capitalista,
já a partir do século XVI, em sociedades que até então eram basicamente agrárias. Recorda
que, em meados do século XIX, com o advento das fábricas, essas populações subalternas,
compostas de homens e mulheres acostumados aos trabalhos da lavoura, mesmo exploradas
pela burguesia patronal, encontraram um meio de não mais morrerem de fome. Daí por que,
63
desse período em diante, essas populações de excluídos passam a se configurar em classe
operária (MURARO, 2000, p.118-119).
Desde então, começaram a ocorrer mudanças radicais nas relações do ser humano
com o trabalho, e, por conseguinte, nos papéis sociais atribuídos às mulheres.
Segundo a mesma autora, isso ocorreu porque os trabalhadores agrários e suas
famílias, com o advento das indústrias, se deslocaram para os locais onde as primeiras
fábricas passaram a ser instaladas, em busca de trabalho. Assim, ao começarem a construir
suas moradias em torno destes locais, motivaram o surgimento dos primeiros centros urbanos,
apinhados de pessoas provenientes do campo.
De acordo com Muraro (2000, p. 120), a nova ordem burguesa vigente no século
XIX tinha suas bases assentadas nos princípios éticos do protestantismo, que se propagava
pela Europa, onde o mais importante era a fé e não as obras. Considera que essa mensagem
chegou distorcida entre nós e, como que acenando para a possibilidade de que quaisquer que
fossem os atos que a pessoa cometesse, ela estaria salva, ou melhor, tudo seria válido:
qualquer exploração, rapinagem ou roubalheira. Tudo valia, desde que se tivesse fé.
E pouco a pouco se estabeleceu o princípio ético de que quanto mais rico fosse o
homem, mais virtuoso ele seria. Os pobres, os improdutivos seriam os maiores
pecadores, que era exatamente o contrário do que pensava Lutero; este pregava
exatamente a saído do mundo material; nem pobreza nem riqueza. E assim se
santificou, foi preparada e avalizada a grande transformação capitalista (MURARO,
2000, p.120).
Esse cenário religioso alicerçado na idealização da riqueza material como fonte de
bênçãos supremas, motivou tanto formas de pensamentos religiosos controversos, quanto
modos inéditos de exploração da pessoa humana. Isso porque o árduo regime de trabalho
imposto nas fábricas era uma forma de escravidão à qual os trabalhadores eram obrigados a se
submeter, por falta de outras opções de sobrevivência nos centros urbanos (MURARO, 2000).
Outro estudioso, o historiador e teólogo Eduardo Hoornaert (REVISTA
FORTALEZA, 2006), desenvolve um argumento similar ao de Muraro (2000), ao defender a
tese de que o catolicismo entrou no Ceará com os portugueses, engajado num processo maior
chamado capitalismo.
O contexto da exploração capitalista é apenas um dos ângulos de análise da
condição desprivilegiada da mulher empobrecida. Muraro (op. cit.), ao abordar o contexto que
prepara o advento do capitalismo, menciona, paralelamente, as novas normas de
comportamento idealizadas para as mulheres, durante o período da Renascença:
64
Além da nova ética religiosa, outro fator importantíssimo que preparou o advento do
capitalismo foram as novas normas de comportamento fabricadas para as mulheres
durante a Renascença. É preciso lembrar a este respeito que a caça às bruxas,
embora tenha se iniciado na Idade Média, teve o seu apogeu durante a Renascença,
pois vai até o século XVIII. E devemos nos recordar também que esta perseguição se
dirigiu quase exclusivamente às mulheres pobres, normatizando a sua sexualidade e
reprimindo o seu saber. Em fins do século XVIII, estas mulheres já tinham, pois, os
seus corpos reprimidos e inorgásticos e podiam, assim, transmitir aos seus filhos e
filhas as regras de submissão que viriam a torná-los operários e operárias submissos
e de corpos dóceis do século XIX em diante. (MURARO, 2000, p. 121).
No século XVII e seguintes, passou a ser definida uma nova imagem para as
mulheres das classes superiores, que constitui a base das mulheres e dos homens que somos
hoje. Essa ideologia é representativa de um modelo de mulher da era industrial, dotada de
características que seriam distintivas da nova feminilidade, vigente, principalmente, nas
sociedades protestantes. Essas sociedades podiam ser distinguidas, assim, pelo culto da
domesticidade; pela fabricação de um modelo de infância cuja força de trabalho era
precocemente utilizada; pela criação da simbologia do amor materno e do pedestal feminino
e, finalmente, pela inauguração da ideologia do amor romântico (MURARO, 2000, p. 121122):
A assimilação destes itens pelas mulheres tornou-se mais fácil principalmente nos
países protestantes, através de uma nova educação oferecida a meninas e
adolescentes. Na Idade Média, a educação feminina era dada nos conventos pelas
freiras. O protestantismo porém acabou com conventos e mosteiros. Combateu o
culto à Virgem Maria, a única mulher que no cristianismo chegava perto da
Trindade. Com isso, esta religião se tornou essencialmente a religião do Deus Pai. O
feminino foi pouco a pouco sendo erradicado de seus quadros. Se as mulheres num
primeiro momento ajudaram de maneira prática e significativa a revolução
protestante e a implantação das novas denominações, à medida que a estas iam se
solidificando, iam sendo dominadas pelos homens. Como sempre, as mulheres eram
usadas em períodos difíceis e perigosos e depois marginalizadas.
Conforme a autora, o século XIX constituiu palco de grandes vitórias para a classe
operária, em decorrência do movimento lançado por dois jovens alemães, Karl Marx e
Friedrich Engels, através do manifesto comunista, escrito em 1848. Entretanto, para Muraro
(2000, p.131), as mulheres não foram privilegiadas pela ótica desses teóricos:
Marx não consegue ver a especificidade da opressão da mulher, e nas poucas vezes
que se refere à maior miséria das operárias (levando-as inclusive à prostituição),
culpa-as inconscientemente por seus maus princípios morais; ele não vê como elas
têm menos chance de entrar no mercado de trabalho e, uma vez o conseguindo, o
fato de ganharem menos do que o homem as obrigava a sofrerem mais vexames por
parte dos patrões e dos companheiros do trabalho.
Como se pode observar, a história das mulheres se inscreve à margem das
possibilidades da cidadania, uma vez que são elas o gênero mais atingido pelas desigualdades
65
sociais, em diversas épocas e culturas, o que repercute na forma como o segmento feminino
vem exercendo até hoje a condição cidadã.
Farias (2002), aproxima essas questões do contexto capitalista cearense,
enfocando as condições desiguais de trabalho, tanto para os trabalhadores que se deslocavam
para as cidades, quanto para os que permaneciam no sertão, geralmente ocupando a função de
moradores ou agregados dos latifundiários. Para esses, em especial, as condições de vida eram
bastante precárias. E, neste caso, conforme o mesmo autor, não só para eles, mas também para
suas mulheres e filhos.
No tocante às condições de vida desses sertanejos, Farias (2002) salienta que “eles
habitavam, „por favor‟, a fazenda dos poderosos latifundiários, levando uma vida difícil e
instável, porque podiam, a qualquer momento, ser expulsos, conforme a vontade do patrão.
Trabalhavam arduamente, de sol a sol, para enriquecerem os coronéis. Em suma, a sina
daquela gente sertaneja parecia ser a de andar a perambular de propriedade em propriedade,
atrás de serviços e alimentos, atingindo a condição de penúria”.
Farias (2002, p. 214) amplia, ainda mais, esse ângulo de observação do cenário de
exploração humana pelas forças capitalistas, ao mencionar que a gente sertaneja só conseguia
praticamente alguma ocupação, apenas nas épocas de plantio ou colheita, percebendo uma
remuneração ínfima. Assim, quase que um dia inteiro de trabalho era recompensado, quando
muito, com uma cuia de farinha seca com rapadura. O homem do campo torna-se escravo
também do capital.
Falci (2008, p. 242) observa:
Ali se gestou uma sociedade fundamentada no patriarcalismo. Altamente
estratificada entre homens e mulheres entre ricos e pobres, entre escravos e
senhores, entre “brancos” e “caboclos”. Dizer então que o sertão nordestino foi mais
democrático em suas relações sociais e que não tirou proveito da escravidão é
basear-se em uma historiografia ultrapassada, não mais confirmada pela pesquisa
histórica. É basear-se em observações espantadas de governantes portugueses
enviados da metrópole, ou viajantes ingleses que, vendo o número os casamentos
inter-raciais, notando as inúmeras uniões consensuais de homens amancebados com
pardas e caboclas e constatando a grande quantidade de filhos bastardos de cor
mulata, pensaram que, talvez, aquela sociedade se pautasse pela existência de maior
solidariedade e menor tensão entre as diversas camadas sociais. Isso não
corresponde à verdade.
A autora acima referida confirma o aspecto da escravidão do homem do campo ao
capital, mencionado por Farias (2002, p.250), ao esclarecer que as mulheres pobres não
tinham outra escolha a não ser procurar garantir seu sustento. “Eram, pois, costureiras e
rendeiras, lavadeiras, fiadeiras ou roceiras - estas últimas na enxada, ao lado de irmãos, pais
ou companheiros”.
66
Um dado importante constatado pela autora, diz respeito ao misoginismo que, de
forma geral, fez com que uma parcela de mulheres exploradas do sertão do Ceará e Piauí se
congregasse em torno das mesmas estratégias de inclusão social que se observou em relação
às mulheres indígenas, na época do colonialismo, conforme se percebe, a partir da seguinte
ilustração feita pela autora (FALCI, 2008, p. 243):
E as avós, preocupadas com o branqueamento da família - sinal de distinção social,
perguntavam às netas, quando sabedoras de um namoro firme, “minha filha, ele é
branco?” Primeira condição de importância naquela sociedade altamente
miscigenada.
De acordo com os relatos de Falci (2008), algumas escravas eram polivalentes,
executando trabalhos manuais, como tecelãs, rendeiras, ou exercendo o ofício de carpinteiras,
amas-de-leite, pajens, cozinheiras, ou qualquer outro serviço doméstico: “a maioria teve de
aprender a fazer um pouco de tudo, devido à escassez de escravos na região e ao fato de os
senhores possuírem em média poucos escravos [...]” (FALCI, 2008, p.250).
Outro observador da vida social e política nordestina, Andrade (2004), trabalha,
não especificamente, os atores nordestinos, no caso, a gente sofrida do sertão, mas os
conceitos postos em um clássico da literatura sociológica e política brasileira, denominado
“Coronelismo, enxada e voto”.
Ao comentar essa obra, de autoria de Victor Nunes Leal (1975), identifica o
coronelismo reinante no Nordeste como uma produção cultural resultante de diversos fatores,
entre os quais a relação de subserviência estabelecida entre uma realidade social e econômica
inadequada à outra mais desenvolvida. Nesse caso, a política local se apresenta amesquinhada
e subjugada, em um contexto político mais amplo, em um contexto que, segundo o autor, o
homem sertanejo não pode ser considerado livre, mas atrelado “ao cabresto político”, o que o
torna dependente e incapaz de reagir às injustiças. Este constitui um tipo de violência que fere
moralmente a dignidade humana, ainda que não haja agressões físicas.
Estabelecendo um paralelo entre essas disposições teóricas e os diversos tipos de
violência a que muitos segmentos segregados continuam a ser submetidos, atualmente,
incluindo os idosos, observa-se que pouca coisa mudou. Os representantes dessas categorias
sociais continuam quase que totalmente à margem da sociedade, necessitando de políticas
públicas que possam minimizar as desigualdades existentes.
Assim, também nos dias de atuais, a capital cearense continua a assistir, com
bastante frequência, a cenas televisivas feitas pela Imprensa local, dando conta de atos
cometidos contra os idosos, sobretudo as mulheres.
67
A quase totalidade de idosos que é atingida atualmente por diversos tipos de
preconceitos e atos de violência, seja nas ruas ou nas famílias, residem nos bairros periféricos
da Capital, onde perduram os problemas de saneamento básico, incluindo serviços de
abastecimento d‟água e esgoto deficientes, entre outros problemas estruturais.
Ratifica-se que foi dessa gama variada de pessoas, vivendo sob condições
econômicas restritivas, que emergiu o segmento de idosos proativos, engajado no grupo de
convivência do CIAPREVI-CE. Não é demais salientar que esse grupo é composto
majoritariamente por mulheres materialmente pobres, que buscaram dar um sentido a suas
vidas, através dessa forma de socialização na velhice. No tópico seguinte, procurar-se-á
explicitar como ocorreu a construção metodológica deste, começando-se por definir o perfil
geral dos sujeitos.
68
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
4.1 Perfil geral das idosas engajadas no grupo de convivência do CIAPREVI-CE
No tocante aos procedimentos metodológicos adotados na fase preparatória deste
estudo, a primeira providência foi a de conhecer o perfil socioeconômico das mulheres idosas
engajadas no grupo de convivência do CIAPREVI-CE, uma vez que a pesquisa estava
privilegiando a categoria gênero. Catalogou-se um número de sessenta e cinco idosas
participando do referido grupo.
Com o consentimento da Coordenadora Geral do CIAPREVI-CE e o da
Coordenadora responsável pelo grupo de convivência, empreendeu-se, durante duas semanas,
uma pesquisa minuciosa nas fichas de cadastro individual dos aludidos sujeitos (documento,
em apêndice).
Um dos tópicos constantes da estrutura das aludidas fichas fazia referência às
“atividades preferenciais” desenvolvidas pelos sujeitos no CIAPREVI-CE. Nesse tópico, a
cidadania estava circunscrita como uma “atividade” oferecida pelo Centro, no contexto de
outras, tais como: atividades educativas, laborativas etc.
O enunciado desse tópico, que correspondia ao de nº 14, oferecia algumas opções
de atividades aos sujeitos, encontrando-se assim formulado:
14-ATIVIDADES QUE VOCÊ GOSTA DE FAZER NO GRUPO DE CONVIVÊNCIA:
Saúde ( ); Educação( ); Recreação/Lazer( ); Relação Interpessoal( ); Auto-estima( );
Cultural ( ); Religião( ); Corporal( ); Laborativa ( ); Intercâmbio entre grupos ( );
Cidadania( ).
Em resposta ao supracitado tópico, apenas dois sujeitos fizeram referência à
cidadania como “atividade preferencial”. Os sujeitos que fizeram a alusão a esse item,
explicitaram a escolha, mencionando que “gostavam de palestras”. Observou-se que um
desses sujeitos justificou a sua predileção por essa área, utilizando como correspondente para
o termo “cidadania” a expressão “gostava de estudar”. Acredita-se que esse foi o modo como
o referido sujeito desejou especificar a cidadania que lhe interessava mais alcançar.
Ressalta-se que os dados relativos aos sujeitos foram sendo catalogados pela
pesquisadora, a partir de uma xerocópia do modelo de ficha cadastral adotado pelo
CIAPREVI-CE. Este foi reproduzido, de forma sintética, priorizando-se os dados julgados
69
úteis à pesquisa, anteriormente referidos.
O passo seguinte foi tabular as informações relativas a cada sujeito, em
computador, através do programa Excel, as quais se encontram compiladas em documento
incluso.
Ao final, a pesquisadora obteve um documento único, contendo os dados gerais
dos sujeitos. Estes foram organizados, em uma sequência progressiva, obedecendo à
numeração de 1 a 65. Salienta-se que para esse procedimento metodológico não se fazia
oportuno apresentar a identidade dos sujeitos, bastando que fossem contemplados os dados
considerados úteis aos propósitos da pesquisa.
Essa primeira etapa da investigação oportunizou à pesquisadora conhecer dados
inusitados: ficou demonstrado que os sujeitos mostravam preferência em realizar
determinadas atividades, entre as quais: atividades musicais (dançar, cantar e tocar
instrumentos musicais, no grupo de chorinho do CIAPREVI-CE); atividades artísticas e
folclóricas (principalmente o ballet); atividades de convivência (conversar/fazer novas
amizades/visitar amigos); atividades de lazer social e cultural (passear, viajar, participar de
jogos lúdicos, assistir a programas de televisão, ler); manuais (entre os quais a pintura em
tecido, a costura, o bordado em ponto de cruz e crochê, confeccionar tapetes de retalhos de
tecido); atividades domésticas (entre as quais, cozinhar, arrumar a casa, lavar e passar roupas)
atividades religiosas (ir à missa, frequentar grupos de convivência religiosos, participar de
pastorais, fazer leituras devocionais, rezar o terço).
Observou-se que as atividades envolvendo a capacidade intelectiva, entre as quais
as de cunho educativo, não se encontraram entre as preferenciais apontadas pelos sujeitos.
Na etapa seguinte, abordar-se-á sobre o processo de seleção dos sujeitos da
pesquisa.
4.2 Critérios de Seleção dos Sujeitos
A pesquisa de campo foi desenvolvida junto a quinze sujeitos, entre 60 e 80 anos
a mais. Foram selecionadas quinze (15) idosas, com um tempo de permanência no grupo de
convivência superior a um ano.
Ressalta-se que havia sido prevista a inclusão de sujeitos com cinco anos ou mais
de experiência no grupo de convivência do CIAPREVI-CE. Porém, os sujeitos na faixa etária
de 60 a 64 anos, que se desejava investigar, eram em número bastante reduzido e com menor
70
tempo de permanência no grupo. Caso se optasse por não incluí-los, a pesquisa poderia deixar
de contemplar essa faixa etária de velhice inicial, o que poderia inviabilizar uma análise
sociológica heterogênea.
Decidiu-se compor a amostra geral da pesquisa, contemplando-se a perspectiva
evolutiva da velhice, ou seja, dos 60 a 80 anos a mais, visando conhecer possíveis
interferências do fator etário nas estratégias de acesso à cidadania, adotadas pelos sujeitos.
Desse modo, buscou-se adotar o critério metodológico utilizado pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nas pesquisas censitárias, abrangendo os diversos
ciclos evolutivos da velhice, a saber: 60 a 64 anos; 65 a 69 anos; 70 a 74 anos; 75 a 79 anos e
80 anos ou mais.
Mediante esse parâmetro utilizado nas pesquisas oficiais, foram abstraídos cinco
agrupamentos etários, ou quotas, para compor a amostra geral. A intenção era compor-se uma
amostra com agrupamentos de sujeitos, com ciclos de velhice progressivos, a saber: de
velhice inicial; velhice intermediária e velhice adiantada.
A partir dessas decisões, foi feita a opção por uma amostragem por quotas, não
probabilística, a qual se justificou em função das limitações do tempo, recursos financeiros,
materiais e pessoas.
Aqui se esclarece que “a amostra por quotas constitui um tipo especial de amostra
intencional em que o pesquisador procura constituir uma amostra similar à população sob
algum aspecto” (RUDIO, 2003).
Decidiu-se compor cada uma das cinco quotas previstas, com o número de três
sujeitos, vivenciando ciclos de vida ou estágios de velhice aproximados, a saber: três (3)
sujeitos na faixa etária compreendida entre 60 e 64 anos; três (3) sujeitos na faixa etária
compreendida entre 65 e 69 anos; três (3) sujeitos na faixa etária compreendida entre 70 a 74
anos; três (3) sujeitos na faixa etária compreendida entre 75 a 79 anos e três (3) sujeitos na
faixa etária de 80 anos ou mais.
Cumpre ressaltar que essa conduta metodológica teve por fim savalguardar a
composição de uma amostra geral o mais diversificada possível, oferecendo condições para
que a pesquisadora pudesse estabelecer generalizações e comparações entre os sujeitos
pertencentes a cada um dos diferentes estágios de velhice considerados.
De acordo com Sales (2003, p.27) “o envelhecimento apresenta-se como um
processo gradativo que varia de indivíduo para indivíduo. Não se pode falar em velhice
segundo o critério de homogeneidade”.
71
Portanto, ressalva-se que a intenção não foi adotar um critério meramente
estratificado de sistematização e apresentação dos resultados. Ao invés, buscou-se adotar
métodos que possibilitassem reflexões sobre a temática do estudo, levando em conta os
aspectos observados nos sujeitos de cada faixa etária considerada. Foram utilizados, portanto,
critérios objetivos e subjetivos de análise, em complementaridade, conforme sugerem Minayo
e Sanches (1993).
Apresenta-se, em apêndice, o quadro com dados relativos ao perfil
sociodemográfico dos quinze sujeitos selecionados para compor a amostra geral de campo.
Esses dados foram sistematizados, a partir da pesquisa documental realizada nas fichas de
cadastro individual dos sujeitos e da análise dos dados constantes do primeiro instrumento de
pesquisa aplicado (Instrumento 1).
4.3 Métodos de pesquisa
4.3.1 Definições de ordem metodológica: a construção do instrumental da pesquisa
Conforme foi mencionado na introdução, o objetivo precípuo deste estudo
buscava confirmar um conjunto de hipóteses, centrado no pressuposto de que os interesses de
cidadania dos sujeitos versavam em torno de uma luta por qualidade de vida e bem-estar na
velhice.
Essa perspectiva impôs que se buscasse operacionalizar a categoria “qualidade de
vida” subjacente à categoria “cidadania”, através de uma base empírica balizada. Optou-se
pelo componente de Bem-Estar Subjetivo (BES), considerado por Paschoal (2000), Ferreira e
Seidl (2009).
Paschoal (2000), adotando os princípios de uma metodologia consagrada
(NEUGARTEN et al., 1961), operacionalizou a categoria “qualidade de vida”, pelo viés
metodológico do componente de “Bem-Estar subjetivo” dos sujeitos investigados. Buscou-se,
da mesma forma, instrumentalizar esse componente, no contexto de uma linha conceitual
sobre qualidade de vida, marcada pela neutralidade científica.
Ressalva-se que, caso se optasse por modelos prontos acerca do conceito de
qualidade de vida, a pesquisa poderia ficar comprometida, pois, estariam prevalecendo os
juízos de valor de terceiros e não dos sujeitos a serem investigados.
72
Foi privilegiada a análise de dois indicadores, entre os muitos implícitos no
conceito de qualidade de vida, a saber: satisfação e integração.
A partir da pesquisa documental prévia, realizada nas fichas de cadastro
individuais dos sujeitos, constatou-se a preferência destes por atividades lúdicas e de
integração. Desse modo, os mencionados indicadores não foram selecionados a partir do
ponto de vista da pesquisadora, mas das opções preferenciais manifestadas pelos sujeitos,
constantes de um do instrumentais técnicos disponibilizados pelo CIAPREVI-CE.
Em decorrência dessas percepções, a pesquisadora buscou apoiar-se em teóricos e
autores que trabalharam o componente “BES”.
O supracitado componente foi instrumentalizado neste estudo como uma
subcategoria da categoria “qualidade de vida”. Permitiu à pesquisadora constatar que a boa
qualidade da vida pretendida pelos sujeitos, dizia respeito a desenvolver atividades prazerosas
cotidianas, nos espaços de cidadania que freqüentavam, não com o propósito de preencher o
tempo ocioso, mas como uma demanda por bem-estar e qualidade de vida que se incorporou à
suas rotinas de vida.
Portanto, através desse viés metodológico, foi possível à pesquisadora
“compreender” não só a teleologia das ações cotidianas empreendidas pelos sujeitos, mas
também os atributos por eles desenvolvidos, que se mostravam favoráveis ou desfavoráveis
aos princípios teóricos desse novo paradigma de cidadania que estava sendo considerado
(OSTERNE, 2008).
Os procedimentos metodológicos acima referidos possibilitaram ainda que se
conhecesse qual dos espaços de socialização investigados (casa, grupo de convivência do
CIAPREVI-CE ou outros locais comunitários) estaria sendo mais favorável à construção da
cidadania dos sujeitos, enquanto luta por obter melhor qualidade de vida e bem-estar na
velhice.
Ressalta-se que a metodologia desenvolvida por Paschoal (2000), para avaliar a
qualidade de vida de idosos, foi assim considerada pertinente com a perspectiva teórica
buscada na presente pesquisa.
O referido teórico justifica a sua opção por esse viés de pesquisa, enfatizando que,
desde 1995, se sentia incomodado, por não dispor de ferramentas adequadas para avaliar esse
aspecto da vida de seus pacientes idosos, principalmente os que se mostravam descontentes
com a velhice. Assim, procurou trabalhar a temática da qualidade de vida, começando por
traçar um perfil de sua clientela, separando-a em dois grupos, a saber: o dos satisfeitos e o dos
insatisfeitos com a velhice, tendo em vista descobrir o porquê da satisfação de uns e da
73
insatisfação de outros (PASCHOAL, 2000, p.5).
Entre os instrumentos citados pelos compêndios médicos, até então pouco
explorados e analisados pelos profissionais da área, o autor menciona o “Life Satisfaction
Index”/Índice de Satisfação de Vida (NEUGARTEN et al., 1961). Este investigava cinco
dimensões do envelhecimento, a saber: apatia e entusiasmo; resolução e fortidão; congruência
entre os objetivos desejados e alcançados; autoconceito positivo e tônus de humor.
Em linhas gerais, o instrumento criado por Paschoal (2000) resultou da adaptação
de uma metodologia consagrada na literatura médica (KIRSHNER; GYATT, 1985; GUYATT
et al., 1989; JUNIPER et al., 1997). Esta foi igualmente aplicada, com reconhecido sucesso,
em outros países, na construção de instrumentos específicos de avaliação de qualidade de vida
(GUYATT et al., 1989; JUNIPER et al., 1992; COOK et al., 1993).
A confiabilidade do instrumento idealizado pelo referido autor provém do fato de
que se fundamenta no (senso de) bem-estar subjetivo dos idosos considerados, metodologia
esta validada pelo Grupo de Trabalho da Organização Mundial de Saúde sobre Qualidade de
Vida (GRUPO DE LA OMS SOBRE LA CALIDAD DE VIDA, 1996):
Este grupo mostrou-se favorável à abordagem do “bem-estar subjetivo”, pois baseou
sua descrição de qualidade de vida em elementos subjetivos, afirmando
enfaticamente que “qualidade de vida” não deve refletir a opinião dos profissionais
de saúde, nem dos familiares, nem tampouco tem a ver com a avaliação objetiva da
condição do individuo, ou de suas posses. Cita, como exemplo, que “não se deve
levar em consideração o montante absoluto ou relativo dos rendimentos, mas o grau
de satisfação que esses rendimentos proporcionam”.
De acordo com Neri (2001, p.13), o (senso de) bem-estar subjetivo resulta da
avaliação que o indivíduo realiza sobre suas capacidades, as condições ambientais e a sua
qualidade de vida, a partir de critérios pessoais, combinados com os valores e as expectativas
que vigoram na sociedade. Seu indicador mais conhecido, segundo a mesma autora, é a
satisfação com a vida.
O bem-estar subjetivo inclui medidas cognitivas e emocionais. Dentre as
primeiras a mais conhecida é a satisfação (global com a vida e referenciada a domínios
selecionados) e entre as segundas, as medidas de estados emocionais (positivos e negativos)
(NERI, 2001, p.13).
O conceito de bem-estar subjetivo apresentado por Neri encontra respaldo na
concepção formulada por Ferreira e Seidl (2009), segundo os quais o BES constitui um
conceito estruturado por Diener, Sollon e Lucas (2003), por meio de um modelo hierárquico
de felicidade.
74
Para esses autores, esse conceito reflete uma avaliação geral da vida ou de
domínios específicos dela, incluindo duas dimensões psicológicas, a saber: de um lado, a
esfera afetiva, que incorpora estados emocionais e sentimentos, tanto positivos, quanto
negativos e, de outro, a esfera cognitiva, relacionada às avaliações de satisfação com a vida
em geral, e, em particular, com os aspectos da vida produtiva.
De acordo com Ferreira e Seidl (2009),
[...] para acessar o BES, é necessário que o próprio indivíduo faça sua autoavaliação. Isto é, o BES não pode ser observado ou identificado por indicadores
externos e/ou terceiros. É a pessoa quem deve avaliar suas expectativas, valores,
experiências ,próprias e emoções.
Levando em conta os conceitos formulados por esse conjunto de autores, foram
idealizados dois instrumentos para este estudo.
O primeiro instrumento idealizado (Instrumento I) foi o Relatório Sintético da
Vida Cotidiana Real (ações cotidianas) dos sujeitos da pesquisa. Com esse instrumento
buscou-se conhecer, especificamente, as estratégias de ação utilizadas pelos sujeitos para ter
acesso à cidadania, compreendida como a luta para obter melhor qualidade de vida e bemestar na velhice.
Compõe a estrutura desse instrumento a legenda “Relatório Sintético da Vida
Cotidiana Real dos Sujeitos”, disposta na horizontal, seguida de uma sublegenda, contendo a
seguinte inscrição: “O que costuma fazer”. A esta segue-se a definição dos três espaços de
socialização a serem investigados (1.casa; 2. grupo de convivência do CIAPREVI-CE e 3.
outros locais comunitários, os quais relacionam-se, à esquerda, com cada dia da semana,
dispostos na vertical.
A medida de tempo estabelecida para a investigação, constante do Instrumento 1
aplicado, observa a sequência de uma semana (de segunda a sexta-feira). Destaca-se que essa
sequencia foi iniciada pela segunda-feira porque para a maioria das pessoas o primeiro dia útil
da semana equivale ao primeiro dia de suas rotinas de vida.
O segundo instrumento, denominado Instrumento 2, constitui o Plano Estratégico
de Rotina Semanal Idealizado pelos Sujeitos. No aludido instrumento a mesma estrutura do
instrumento anterior se repete, estando direcionada, contudo, a avaliar a vida cotidiana que os
sujeitos “gostariam de ter”. Este segundo instrumento deveria responder o quanto os sujeitos
estavam satisfeitos, ou não, com a sua rotina de vida, a partir das ações cotidianas que
realizavam nos três espaços de cidadania investigados. Permitiria que a pesquisadora
conhecesse, ainda, a efetividade das ações estratégicas utilizadas pelos sujeitos, visando à
75
superação e enfrentamento às condições adversas da velhice, para obter melhor qualidade de
vida nessa etapa existencial.
Ressalta-se que esse instrumental aplicado motivou a curiosidade de muitos
idosos em conhecer, de imediato, “a qualidade das ações cotidianas” que relataram. Por isso,
ensejando um exercício de reflexão, a pesquisadora levou-os a manifestar os seus próprios
pontos de vista sobre a qualidade de suas ações cotidianas. Ao término da aplicação do
primeiro instrumento de pesquisa (Instrumento 1), foi apresentado a cada um deles o relatório
sintético de suas atividades cotidianas, constituindo motivo de contentamento para a
pesquisadora o fato de a grande maioria ter se mostrado satisfeita em ter realizado um
exercício de reflexão sobre a rotina que estavam levando.
Assim, à medida que a pesquisadora apresentava a cada sujeito o relatório
sintético de sua rotina semanal, pedia-lhe, em seguida, para idealizar como gostaria que essa
rotina transcorresse, justificando o que acrescentaria e o que retiraria de sua rotina diária e por
que faria mudanças na mesma. Cumpre ressaltar que os resultados obtidos ratificaram as
hipóteses formuladas para o presente estudo.
O estudo realizado levou em consideração a noção de vida completa do indivíduo
idoso, na dimensão relacionada à totalidade de aspectos de vida, de que trata Nordenfelt (1994
apud PASCHOAL, 2000, p.23).
Cumpre esclarecer que o conceito de vida completa do indivíduo idoso envolve
duas perspectivas: a primeira, que é a que está sendo considerada neste estudo, representa a
soma total de todos os aspectos da existência do indivíduo que se está investigando, num
determinado ponto do ciclo de vida, ou seja, durante um determinado contexto de sua história.
Portanto, é uma vida completa que se está investigando, porém, na dimensão relacionada à
totalidade de aspectos de vida em determinado ciclo da vida.
A segunda perspectiva de análise envolve uma dimensão de tempo que não está
sendo considerada neste estudo, uma vez que se refere à investigação de uma série contínua
de eventos vitais, que dada pessoa vivencia durante sua vida inteira, ou seja, na trajetória
longitudinal, do nascimento até à morte.
Nordenfelt (1994 apud PASCHOAL, 2000) conclui que “uma vida maximamente
completa” é aquela que contempla a soma total de todos os aspectos da existência de uma
pessoa, durante sua existência inteira (tempo total da vida). Ressalta, entretanto, que não se
consegue estudar todos os aspectos da vida de uma pessoa, tendo-se que fazer alguma seleção.
O importante, segundo o autor, é que o pesquisador escolha o melhor critério de seleção
possível, norteando-se pelo prisma particular da qualidade de vida de cada sujeito
76
considerado.
Entre a totalidade de aspectos constantes de “uma vida máxima”, segundo
Nordenfelt (apud PASCHOAL, 2000), mencionam-se os seguintes:
a)
o aspecto experiencial da vida, isto é, a soma total das sensações, percepções,
emoções, humores e atos cognitivos de uma pessoa;
b) as atividades realizadas na vida, isto é, a soma total das ações de uma pessoa;
c) as realizações na vida, isto é, a soma total dos resultados das ações de uma
pessoa;
d) os eventos na vida, aqueles de que o indivíduo está ciente, ou que são atribuídos
a ele e
e) as circunstâncias da vida, aquelas de que o indivíduo está ciente, ou que são
atribuídas a ele.
O instrumental aplicado contempla o aspecto considerado no item b, entre os
acima referidos. Foi nessa perspectiva que se considerou a faixa de tempo de uma semana
suficiente para que pudesse ter a noção de como os sujeitos estabelecem a sua rotina completa
de vida. Assim, esta pôde ser avaliada pela forma como os sujeitos desenvolviam as suas
atividades durante a semana (período de sete dias consecutivos). Portanto, esse recorte foi
considerado adequado e suficiente para demonstrar a forma como os sujeitos idosos avaliados
estavam utilizando o seu tempo nos espaços de socialização investigados (casa, grupo de
convivência, comunidade).
Outro ponto a elucidar diz respeito às considerações feitas por Romano (1993
apud PASCHOAL, 2000, p.39-42). Esse autor enfatiza que a qualidade de vida na velhice é
um empreendimento de caráter sociocultural, que ultrapassa a responsabilidade pessoal. Nesse
caso, o autor quer referir que a qualidade de vida depende não apenas de aspectos do
indivíduo, mas de sua interação com os outros, na sociedade.
Assim, o aludido indicador de integração social, apontado pelo autor acima
referido, foi justamente o que se buscou privilegiar, associado a outro, relacionado à
satisfação dos sujeitos com as atividades realizadas. Estes dois indicadores, portanto, diziam
respeito a avaliar se os sujeitos realizariam as atividades no contexto privado e comunitário
(extragrupo de convivência) por satisfação ou por obrigação, buscando-se apreender do
discurso por eles formulado se a satisfação com as atividades desempenhadas estaria
associada à sua interação com outros, no momento de realizá-las.
Procura-se elucidar, nesse contexto apreciado, dois conceitos, a saber: “nível de
vida” e “qualidade de vida”.
Romano (1993 apud PASCHOAL, 2000, p. 39) esclarece a diferença entre “nível
de vida” e “qualidade de vida”. O primeiro conceito, segundo o autor, agrega um conjunto de
77
variáveis socioeconômicas, inicialmente identificadas no conceito de qualidade de vida:
“estado de saúde, padrões de vida, moradia, satisfação e condições de trabalho, educação,
condições de saneamento básico, acesso a serviços de saúde, aquisição de bens materiais”. O
autor afirma que “nível de vida” é um conceito totalmente diferente do de “qualidade de
vida”: “enquanto o primeiro depende primordialmente de definições e perspectivas políticas,
portanto, voltado à comunidade como um todo, o segundo é um atributo do indivíduo”.
Segundo Paschoal (2000), Romano considera “nível de vida” e “qualidade de
vida” conceitos distintos, ainda que complementares. Por isso, ao construir um constructo de
qualidade de vida, procurou fazê-lo, a partir da identificação de dois aspectos, a saber, o
objetivo e o subjetivo. O primeiro é baseado em indicadores biomédicos e o último derivado
de valores e crenças do próprio paciente. A ênfase dada por ambos os estudiosos recai nesse
último aspecto, por envolver uma visão ética da existência.
Encontrou-se ainda pertinência com o embasamento teórico desta pesquisa a linha
conceitual de Paschoal (2000, p 39), para quem qualidade de vida é a habilidade ou a
capacidade de um indivíduo, para desempenhar tarefas ou atividades da vida diária, obtendo,
assim, satisfação com a vida.
Qualidade de vida pode ser entendida em termos das expectativas pessoais do
paciente e se essas foram, ou não, atingidas, alcançadas. Dá destaque, assim, a essa
dimensão mais subjetiva, apesar de mostrar que há, também, uma dimensão objetiva,
calcada em medidas fisiológicas de desempenho, de resultados (mortalidade, piora,
cura, efeitos colaterais, relação custo-benefício, etc.) (PASCHOAL, 2000, p 39).
Nesse sentido, considerando que os sujeitos investigados tinham livre arbítrio para
escolher as atividades que desejavam participar no grupo de convivência do CIAPREVI-CE,
esse aspecto foi direcionado especificamente para avaliar o contexto privado (casa), uma vez
que não se sabia, efetivamente, se os sujeitos tinham oportunidade de fazer escolhas nesse
espaço de cidadania selecionado.
Assim, os níveis de satisfação e de insatisfação manifestados pelos sujeitos com
as atividades que realizavam cotidianamente, no espaço privado da casa, foram verificados,
através do questionamento 1.1, assim formulado:
Item 1.1: Por que faz essas atividades?
Nesse contexto específico, o interesse era identificar e procurar situar as respostas
dos sujeitos em dois níveis de avaliação, sendo um com polaridade positiva (gerador de bemestar e satisfação com a vida) e outro com polaridade negativa (gerador de estresse e
78
insatisfação com a vida). Esse nível de avaliação ocorreu sob um prisma basicamente
compreensivo, consoante o método de pesquisa qualitativo adotado neste estudo.
Buscou-se facilitar algumas vezes o processo cognitivo dos sujeitos, através de
um procedimento de indução, que levava os sujeitos a manifestarem as suas atividades
preferenciais. Por exemplo, algumas vezes a pesquisadora lhes apresentava a seguinte
proposição: “Entre fazer essa atividade e aquela outra, o que você prefere?”
Ressalta-se, sob esse prisma metodológico, que o item seguinte, desse mesmo
contexto (Item 1.2), visava aprofundar ainda mais o conhecimento em relação ao nível de
satisfação dos sujeitos com as atividades realizadas em casa. Objetivou conhecer se a
satisfação com as atividades realizadas era motivada pelo fato de interagirem com outras
pessoas no momento de executá-las.
Foi perguntado aos sujeitos:
Item 1.2: Troca experiências com outras pessoas enquanto realiza essas atividades? Com
quem?
Por sua vez, o item 2.1 do Instrumento 1 visou conhecer especificamente a
importância atribuída pelos sujeitos às diversas modalidades de lazer cultural e social
porventura inseridas em suas rotinas de vida.
Foi perguntado aos sujeitos:
Item 2.1: Que tempo dispensa ao lazer cultural e social? (assistir a noticiários, ler revistas,
ouvir música, ir ao cinema, teatro e forrós).
Em relação ao Item 2.2, o interesse foi conhecer a importância atribuída pelos
sujeitos à interação com outras pessoas no espaço comunitário extragrupo do CIAPREVI-CE
e se estavam preocupados com as questões de interesse coletivo.
Foi perguntado aos sujeitos:
Item 2.2: Que tempo reserva para se encontrar com os amigos e para conversar sobre assuntos
de interesse coletivo? (da rua onde mora, do bairro, da cidade etc.)
Os dois tópicos acima (Itens 2.1 e 2.2) são considerados importantes tanto do
ponto de vista dos estudiosos da gerontologia (NERI, 2001), quanto sob o prisma das questões
postas pelos sociólogos e cientistas políticos (ARENDTH, 2008), os quais manifestam em
comum o reconhecimento de que o nível de interação social dos indivíduos tem relativa
79
importância para a qualidade da vida e para o desempenho da vivência cidadã.
Essa dimensão investigada assumiu o seguinte formato metodológico:
CONTEXTO AVALIADO
1. Privado (casa)
ITENS FORMULADOS
1.1 Por que realiza essas atividades?
1.2 Troca experiências com outras pessoas enquanto
realiza essas atividades? Com quem?
2. Comunitário (extragrupo de convivência do
CIAPREVI-CE)
2.1 Que tempo dispensa ao lazer cultural e social
(assistir a noticiários, ler revistas, ouvir música, ir ao
cinema, teatro e forrós)?
2.2 Que tempo reserva para se encontrar com os
amigos e para conversar sobre assuntos de interesse
coletivo (da rua onde mora, do bairro, da cidade, etc.)
QUADRO 1 - Avaliação dos indicadores de integração e satisfação manifestados pelos sujeitos, nos contextos
privado (casa) e comunitário (extragrupo do CIAPREVI-CE), investigados paralelamente à aplicação dos
instrumentos (1 e 2) da pesquisa.
As entrevistas duraram, em média, de 60 a 80 minutos, dependendo do grau de
dificuldade manifestado pelos sujeitos para resgatar todos os passos de sua rotina diária,
incluindo o registro dos horários em que costumavam realizar as atividades. Foram realizadas
em um período de dois meses (setembro e outubro de 2009), em uma sala específica,
disponibilizada pela coordenação do equipamento.
À medida que os sujeitos iam se pronunciando, durante as entrevistas, as
informações iam sendo compiladas e registradas pela pesquisadora, em um quadro sintético
de ações da vida real (Instrumento 1). Ao final do trabalho de campo, a pesquisadora tinha em
mãos de 15 quadros sucintos, relatando, cada um, a vida cotidiana dos sujeitos investigados e
15 quadros que apontavam o modelo de vida cotidiana idealizada pelos sujeitos (Instrumento
2), os quais se encontram nos apêndices deste estudo.
4.3.2 Análise dos dados de campo
Os dados colhidos do discurso dos sujeitos foram analisados, à luz da perspectiva
teórica adotada por um conjunto de autores, entre os quais Minayo e Sanches (1993). Estes
autores, através de artigo científico, procuraram resumir um debate metodológico em
processo na Escola Nacional de Saúde Pública-Brasil, argumentando, teoricamente, sobre a
viabilidade da utilização dos métodos quantitativos e qualitativos, em complementaridade,
para a compreensão da realidade social.
80
Segundo esses autores, tais métodos, apesar da natureza diferenciada, podem ser
adotados pelos estudiosos da área da saúde, uma vez que nenhuma das duas abordagens – a
quantitativa e a qualitativa – pode dar conta completamente da realidade observada.
Um bom método será sempre aquele que, permitindo uma construção correta dos
dados, ajuda a refletir sobre a dinâmica da teoria. Portanto, além de apropriado ao
objeto da investigação e de oferecer elementos teóricos para a análise, o método tem
que ser operacionalmente exequível.
Levando em conta a orientação dos supracitados autores (MINAYO e SANCHES,
1993), procurou-se construir instrumentos específicos de pesquisa, voltados para a
compreensão da realidade que se buscou investigar, seguindo-se, para tanto, os parâmetros
dos referenciais teóricos que deram suporte aos estudos de Paschoal (2000).
Em face ainda das concepções teóricas formuladas por esses autores, considerouse apropriada a utilização do método da análise de conteúdo, para verificação do conjunto
hipotético formulado para este estudo.
Triviños (2006, p.158-162) procurou demonstrar a eficiência do supracitado
método, mencionando que pode ser aplicado nas duas supracitadas naturezas de pesquisa
(qualitativa e quantitativa):
Podemos dizer, também de forma geral, que recomendamos o emprego deste método
porque, como diz Bardin, ele se presta para o estudo “das motivações, atitudes,
valores, crenças, tendências” e, acrescentamos nós, para o desvendar das ideologias
que podem existir nos dispositivos legais, princípios, diretrizes, etc., que, à simples
vista, não se apresentam com a devida clareza. Por outro lado, o método de análise
de conteúdo, em alguns casos, pode servir de auxiliar para instrumento de pesquisa
de maior profundidade e complexidade, como o é, por exemplo, o método dialético.
Neste caso, a análise de conteúdo forma parte de uma visão mais ampla e funde-se
nas características do enfoque dialético.
De acordo com a orientação desse autor, seguiu-se, neste estudo, a observação de
três etapas de análise específica. A primeira etapa abrangeu a organização de todo o material
que serviria de base teórica para a pesquisa (documentos institucionais, bibliografia,
informações sobre os sujeitos e sobre a natureza do equipamento institucional investigado, no
caso, o CIAPREVI-CE) que foram catalogados pela pesquisadora, antecipadamente, para
desenvolver o estudo em que comprovaria ou não as hipóteses previamente formuladas.
Ressalta-se que todos os recursos apontados anteriormente constituíram suportes
teóricos para a etapa metodológica seguinte, que Triviños (op. cit.) denomina de corpus do
estudo. Nesta etapa são compilados e apresentados os resultados colhidos da pesquisa de
campo.
81
Essa instância metodológica, conforme Triviños (2006, p.161), constitui a
segunda etapa de aplicação desse método, por meio da qual o pesquisador procura fazer uma
descrição analítica dos resultados obtidos, que, na verdade, já começa a ser feita na etapa de
pré-análise. Entretanto, nessa etapa específica, o pesquisador começa a fazer a análise
aprofundada dos dados colhidos na pesquisa de campo.
A descrição analítica, a segunda fase do método de análise de conteúdo, começa já
na pré-análise, mas nesta etapa, especificamente, o material de documentos que
constitui o corpus é submetido a um estudo aprofundado, orientado este, em
princípio, pelas hipóteses e referenciais teóricos. Os procedimentos como a
codificação, a classificação e a categorização são básicos nesta instância do estudo.
De toda esta análise surgem quadros de referências [...] A análise descritiva não
ficou nesse plano geral e paralelo de opiniões. Com efeito, ela avançou na busca de
sínteses coincidentes e divergentes de ideias, ou na expressão de concepções
“neutras”, isto é, que não estejam especificamente unidas a alguma teoria
(TRIVIÑOS, 2006, p.161-162).
De acordo com o método aqui observado, o esforço culminante do pesquisador
consiste em procurar compreender os dados colhidos de campo, por meio de uma
interpretação referencial embasada nos materiais de informação, colhidos durante todo o
processo da pesquisa. Ressalta-se, conforme Triviños (2006) que esse processo foi iniciado já
na etapa da pré-análise, mas alcança maior profundidade no desfecho, quando, apoiando-se no
pensamento de estudiosos, o pesquisador propicia maior intensidade à interpretação dos
dados.
Na interação dos materiais (documentos oficiais ou não e ainda das respostas de
outros instrumentos de pesquisa), no tipo de pesquisa que nos interessa, não é
possível que o pesquisador detenha sua atenção exclusivamente no conteúdo
manifesto dos documentos. Ele deve aprofundar sua análise tratando de desvendar o
conteúdo latente que eles possuem. O primeiro pode orientar para conclusões
apoiadas em dados quantitativos, numa visão estática e a nível, no melhor dos casos,
de simples denúncia de realidades negativas para o indivíduo e a sociedade; o
segundo abre perspectivas, sem excluir a informação estatística, muitas vezes, para
descobrir ideologias, tendências etc. das características dos fenômenos sociais que se
analisam e, ao contrário da análise apenas de conteúdo manifesto, é dinâmico,
estrutural e histórico.
Consoante a observância desse processo é que se ratifica que, na etapa da préanálise, realizou-se uma pesquisa documental, por meio da qual foram colhidos os subsídios
julgados pertinentes à compreensão da temática do estudo. Buscou-se conhecer quais as
atividades preferenciais realizadas pelos sujeitos no CIAPREVI-CE, sendo catalogados e
sistematizados os dados sociodemográficos julgados importantes para a natureza do estudo.
Os dados colhidos dessa pesquisa documental foram úteis na formulação da base
hipotética da pesquisa, tendo contribuído nesse sentido a experiência de trabalho desenvolvida
82
pela pesquisadora, enquanto participante da equipe técnica responsável pela coordenação das
ações desenvolvidas pela STDS, junto aos grupos de convivência da referida Pasta.
Para verificar as hipóteses formuladas, a pesquisadora adotou uma postura
reflexiva, examinando o dia-a-dia dos sujeitos nos espaços de cidadania considerados no
Instrumento 1 aplicado. A compreensão dos interesses de cidadania manifestados pelos
sujeitos teve como suporte metodológico as entrevistas, compostas de quatro perguntas ou
itens, sendo dois (1.1; 1.2), inerentes ao seu desempenho no contexto privado, e dois (2.1 e
2.2), relativos ao seu desempenho no contexto comunitário extragrupo de convivência do
CIAPREVI-CE, explicitados em parágrafo anterior deste tópico.
Entretanto, uma segunda ordem de exploração da temática foi adotada,
abrangendo a análise de conteúdo do discurso proferido pelos sujeitos. Adotou-se como
suporte os embasamentos teóricos trabalhados por Bardin (1997).
Ressalva-se que a análise de conteúdo, conforme Bardin (1997), abrange um
conjunto de técnicas que se destinam à apreciação de mensagens verbais, textos e discursos,
as quais tanto podem envolver métodos quantitativos, quanto qualitativos. Portanto, trata-se
de um recurso metodológico bastante utilizado por profissionais de diversas áreas de
conhecimento, sobremodo os das comunicações e da sociologia, pois auxilia na compreensão
de atitudes, comportamentos e ideologias, implícitas ou subliminares a textos diversos. A
tarefa do pesquisador consiste em abstrair dessas mensagens os pontos de interesse úteis à
compreensão do seu objeto de estudo, mas, para tanto, deverá se acercar do necessário
rigorismo científico.
Ainda de acordo com Bardin (1997), o trabalho do pesquisador deve obedecer a
critérios de análise, entre os quais menciona uma etapa inicial de “leitura flutuante” do texto
ou da mensagem a ser avaliada. Na etapa seguinte, a mesma autora adverte que o investigador
deverá procurar se empenhar em desmembrar do texto (ou do discurso apreciado) as
diferentes unidades de registro (ou de sentido das comunicações). Numa fase ulterior, deverá
proceder ao reagrupamento dessas unidades em classes ou categorias de análise. Esse
processo culmina com uma última etapa, que envolve uma reflexão acerca do conteúdo do
discurso que está sendo analisado.
Ressalva-se que as aludidas unidades de registro a que se refere Bardin (1997)
têm dimensão variada, podendo conter palavras-chave, frases, temas, etc. O importante, nesse
caso, é que o pesquisador utilize palavras ou trechos do discurso dos sujeitos, que lhe sirvam
de base para a compreensão das mensagens.
Em síntese, abstraiu-se do método de Triviños (2006) a observância de uma
83
sequência de passos metodológicos a serem adotados no decorrer do processo de
investigação, a saber: a realização de pesquisas documental e bibliográfica preliminares; a
pesquisa de campo propriamente dita, incluindo a aplicação do instrumental 1 e 2 de pesquisa
e as entrevistas); a sistematização e apresentação dos resultados e, por fim, a discussão
aprofundada acerca dos achados da pesquisa. No tocante ao método de Bardin (1997),
abstraiu-se a observância de uma sequência de análise do discurso proferido pelos sujeitos, a
qual acima se fez referência.
Sem olvidar o fato de que o interesse da pesquisadora era conhecer e compreender
o que cada sujeito costumava fazer, no dia-a-dia, para exercer a cidadania, buscou-se aplicar
os embasamentos teóricos de Bardin (1997) à análise do conteúdo das mensagens proferidas
pelos sujeitos, no contexto do Instrumento 1.
Os espaços cotidianos utilizados como referência para se compreender a cidadania
vivenciada pelos sujeitos foram investigados, levando-se em conta, objetivamente, a rotina de
vida real das idosas, e, subjetivamente, os aspectos subjetivos da vida destas. Considerava-se
que todos esses aspectos se consubstanciavam em “um modo específico de exercer a
cidadania”, ou ainda, em atributos favoráveis ou desfavoráveis à cidadania.
Assim, foi composto um quadro descritivo de cada sujeito, no qual foram
contempladas as seguintes categorias de análise:
a) Descrição sucinta dos sujeitos (informações referentes a aspectos sociodemográficos,
colhidos das fichas de cadastro individuais disponibilizadas pelo CIAPREVI-CE e das
próprias circunstâncias de vida relatadas pelos sujeitos, ao se pronunciarem em relação ao
Instrumento 1 aplicado);
b) Estratégias (ações objetivas da vida cotidiana dos sujeitos, desenvolvidas externamente ao
grupo de convivência do CIAPREVI-CE);
c) Atividades positivas realizadas por cada sujeito, no CIAPREVI-CE;
d) Elementos do discurso selecionados para a análise;
e) Atributos (aspectos subjetivos da vida dos sujeitos), favoráveis e desfavoráveis à cidadania,
colhidos do discurso.
Os quadros com as categorias de análise acima elencadas constam das cinco
amostras apresentadas (por grupo etário), em apêndice, contendo, cada uma, informações
individuais pertinentes a cada sujeito.
No capítulo de discussão dos resultados colhidos de campo, colocam-se na arena
84
de reflexão duas unidades temáticas, que emergiram deste estudo, a saber: “violência” e
“espiritualidade”, por terem constituído conceitos recorrentes no discurso direto e/ou
subliminar à fala dos sujeitos.
85
5 RESULTADOS
5.1 Os dados colhidos na etapa da etapa de pré-análise
De acordo com o que demonstra a Tabela 1, a seguir, a faixa etária predominante
no grupo corresponde à faixa etária situada entre 70-79 anos. A maioria dos idosos (61,5%)
procede do Interior do Estado e o nível de escolaridade prevalecente é de idosos alfabetizados
(76,9%). No tocante ao estado civil, a grande maioria é de mulheres viúvas (52,3%).
TABELA 1 - Perfil geral dos sujeitos
Características
n
%
1. Faixa etária
60 a 64 anos
65 a 69 anos
70 a 74 anos
75 a 79 anos
maior de 79 anos
06
19
21
07
12
9,2
29,2
32,3
10,8
18,5
2. Procedência (naturalidade)
Interior
Capital
Outro estado
Não informado
40
18
03
04
61,5
27,7
4,6
6,2
3. Escolaridade
Alfabetizado
Analfabeto
Semianalfabeto
Não informado
50
07
03
05
76,9
10,8
4,6
7,7
4. Estado civil
Viúvo
Solteiro
Casado
Separado
Divorciado
34
11
08
07
05
52,3
16,9
12,3
10,8
7,7
Conforme se depreende da leitura dos dados constantes da Tabela 2, a seguir, o
percentual de idosos com maior nível de escolaridade (alfabetizados) se encontra na faixa
etária de velhice intermediária, compreendida entre 65-69 anos e 70-74 anos. O menor nível
de escolaridade corresponde à faixa etária de idosos, compreendida entre 60-64 anos.
86
TABELA 2 - Associação entre faixa etária e escolaridade das idosas
Faixa etária
60 a 64 anos
65 a 69 anos
70 a 74 anos
75 a 79 anos
maior de 79 anos
Total
Analfabeto
Alfabetizado
n
02
01
03
01
07
n
03
17
17
04
09
50
%
3,3
1,7
5,0
1,7
11,7
%
5,0
28,3
28,3
6,7
15,0
83,3
Semianalfa
beto
n
%
01
1,7
02
3,3
03
5,0
Total
Sem
informação
01
02
02
05
1,7
3,3
3,3
8,3
n
06
19
21
07
12
65
%
10,0
31,7
35,0
11,7
20,0
100,0
No tocante ao local de residência dos sujeitos, conforme sugerem os dados
constantes da Tabela 3, a seguir, o CIAPREVI-CE absorve um segmento de idosos
procedente de vários bairros da Capital cearense, sendo que o maior número de sujeitos reside
na própria área de localização do equipamento.
TABELA 3 - Bairro onde residem
Bairro
Meireles
Praia de Iracema
Araturi
Quintino Cunha
Aerolândia
Aldeota
Barra do Ceará
Centro
Conjunto Palmeiras
Jardim das Oliveiras
Papicu
Vicente Pinzon
Aagadiço Novo
Álvaro Weyne
Colônia
Conjunto Alvorada
Conjunto Nova Metrópole
Conjunto Santa Terezinha
Cristo Redentor
Dionisio Torres
Edosn Queiroz
Itaperi
Jardim Guanabara
José Walter
Luciano Cavalcante
Mondubim
Monte Castelo
Mucuripe
Pacajus
Parque São José
Parquelândia
Pirambu
Seis Bocas
Serviluz
n
11
06
03
03
02
02
02
02
02
02
02
02
01
01
01
01
01
01
01
01
01
01
01
01
01
01
01
01
01
01
01
01
01
01
%
16,9
9,2
4,6
4,6
3,1
3,1
3,1
3,1
3,1
3,1
3,1
3,1
1,5
1,5
1,5
1,5
1,5
1,5
1,5
1,5
1,5
1,5
1,5
1,5
1,5
1,5
1,5
1,5
1,5
1,5
1,5
1,5
1,5
1,5
87
continuação.
TABELA 3 - Bairro onde residem
Bairro
Tancredo Neves
Varjota
Não informado
Total
n
01
01
02
65
%
1,5
1,5
3,1
100,0
No tocante à composição familiar, observa-se, por meio da Tabela 4, a seguir, que
a maioria dos sujeitos reside com os filhos e netos (23,1%) ou somente com os filhos (21,5%).
TABELA 4 - Composição familiar
Componentes
Filhos e netos
Filhos
Sozinho
Cônjuge
Cônjuge e filhos
Filhos e noras
Sobrinho
Neto
Irmã, filha, neto, sobrinho
Netos e bisnetos
Amigas
Companheiro
Filha, genro e neto
Não informado
Total
n
15
14
06
05
03
03
03
03
03
02
01
01
01
05
65
%
23,1
21,5
9,2
7,7
4,6
4,6
4,6
4,6
4,6
3,1
1,5
1,5
1,5
7,7
100,0
A maioria dos sujeitos reside em unidades domiciliares próprias, de alvenaria
(95,4%), vivendo na condição de aposentados, conforme demonstra as Tabela 5, seguinte:
TABELA 5 - Características gerais da moradia.
Características
1. Moradia
Casa
Apartamento
2. Tipo
Própria
Alugada
Cedida
Invasão
3. Condições
Alvenaria
4. Situação econômica
Aposentado
Pensionista
Aposentado e pensionista
BPC
Não é aposentado
Não recebe beneficio
n
%
62
03
95,4
4,6
53
06
05
01
81,5
9,2
7,7
1,5
65
100,0
37
13
09
04
01
01
56,9
20,0
13,8
6,2
1,5
1,5
88
De acordo com o mesmo levantamento feito nas fichas cadastrais das idosas do
grupo de convivência do CIAPREVI-CE, a maioria delas não exerce atividades rentáveis
paralelas (70,8%), havendo, contudo, um percentual de mulheres (21,1%) que complementa a
sua renda mensal com o aluguel de cômodos, conforme demonstra a Tabela 6, a seguir:
TABELA 6 - Atividades rentáveis
Atividade
Aluguel de cômodos
Lava roupa para fora
Costureira
Venda de cosméticos por revistas
Vende refeições
Comercializa bordados
Engomadeira
Faz renda para vender
Lavar roupa para fora e venda de
cosméticos por revistas
Não informado
Variado
Total
n
04
03
02
02
02
01
01
01
%
21,1
15,8
10,5
10,5
10,5
5,3
5,3
5,3
01
5,3
01
01
19
5,3
5,3
100,0
Ficou demonstrado, através da análise desses documentos, que o percentual mais
elevado de sujeitos (52,3%) sobrevive da renda familiar correspondente a um salário
mínimo/mês, enquanto somente 1,5% de sujeitos sobrevivem de uma renda familiar
compreendida entre 1 a 3 salários mínimos, conforme demonstra a Figura 1, a seguir:
60
52,3
44,6
50
40
% 30
20
10
1,5
1,5
0
Zero salário/vive
de ajuda
1 salário
1 a 3 salários
Mais de 3 salários
FIGURA 1 - Renda mensal familiar.
Segundo a mesma fonte de informação, a atividade preferencial dos sujeitos é a
recreação/lazer (39,6%), seguida da dança (33,3%). As palestras técnicas são as atividades
com maior percentual de rejeição, por parte dos sujeitos, (2,1%) mencionaram preferir essa
89
atividade oferecida pelo CIAPREVI-CE, conforme consta da Tabela 7, a seguir:
TABELA 7 - Atividades que gosta de fazer.
Gosta de fazer
Recreação/lazer
Dança
Costura
Crochet
Cultural
Cozinhar
Ginástica
Relação interpessoal
Orações
Intercâmbio entre grupos
Palestras
n
19
16
10
10
09
05
02
02
01
01
01
%
39,6
33,3
20,8
20,8
18,8
10,4
4,2
4,2
2,1
2,1
2,1
Com relação às condições de saúde, os dados constantes dos cadastros individuais
dos sujeitos apontaram para os seguintes resultados: constatou-se um elevado número de
sujeitos com hipertensão arterial, o que se torna tanto mais preocupante, levando em conta
que o CIAPREVI-CE não dispõe de suporte em medicamentos, profissionais de enfermagem
ou instrumental específico (aparelho para mensurar a pressão dos idosos), ficando os idosos
expostos a eventuais problemas de saúde e sem contar com os devidos cuidados emergenciais.
Conforme se pode observar, a maioria dos sujeitos sofre de pressão arterial
elevada (64%) e apenas 4% apresentam problemas de visão e reumatismo (Tabela 8, a
seguir):
TABELA 8 - Condições de saúde/Problemas vivenciados
Condições
Hipertensão
Diabetes
Osteoporose
Cardiovascular
Problemas de visão
Reumatismo
Outros
n
32
08
06
05
02
02
28
%
64,0
16,0
12,0
10,0
4,0
4,0
43,1
Os demais problemas apresentados pelos sujeitos, segundo os registros constantes
dos cadastros individuais das mulheres do grupo de convivência do CIAPREVI-CE, estão
relacionados na Tabela 9, item 1.
Essa pesquisa documental prévia, realizada junto aos cadastros individuais dos
idosos sinalizou ainda a necessidade de serem viabilizadas ações voltadas para a
conscientização desse segmento, em relação aos tratamentos e cuidados que poderiam
90
desenvolver para preservar a saúde, o que poderia ser feito através de metodologias
acessíveis, que levassem em conta o grau de escolaridade e os níveis de envelhecimento dos
sujeitos envolvidos. Essa circunstância se mostra importante, levando em conta, sobretudo, os
dados constantes da tabela seguinte.
A Tabela 9 item 2, a seguir, demonstra que 66,7% dos idosos fazem uso de
medicamentos. Este dado requer ser levado em conta, por revelar a necessidade de ser
implementado um acompanhamento médico-assistencial mais efetivo e sistemático, junto aos
sujeitos:
TABELA 9 – Condições de saúde.
Características
n
1. Outros problemas
Colesterol
04
Artrose reumática
02
Coluna
02
Labirintite
02
Anemia
01
Artrose
01
Audição
01
Colesterol e anemia
01
Colesterol, hérnia de esôfago
01
Coluna e gastrite
01
Coluna e glaucoma
01
Enxaqueca
01
Esclerose
01
Gastrite
01
Gastrite e artrose
01
Glaucoma e vesícula
01
Hérnia de estômago e refluxo
01
Hiper-tireodismo
01
Problemas de esquecimento
01
Sinusite
01
Tireóide
01
Tuberculose
01
14,3
7,1
7,1
7,1
3,6
3,6
3,6
3,6
3,6
3,6
3,6
3,6
3,6
3,6
3,6
3,6
3,6
3,6
3,6
3,6
3,6
3,6
2. Observações relatadas
Faz uso de medicamentos
Vida saudável/sem ocorrências de doenças
Fumante
Reflete temperamento ansioso
Faz uso de bebidas alcoólicas
Mora nos fundos da casa de uma das filhas
Não faz exame de prevenção
Não mistura a renda com a do filho
Problemas de esquecimento
Toma 01 cálice de vinho por dia
66,7
10,4
6,3
4,2
2,1
2,1
2,1
2,1
2,1
2,1
32
05
03
02
01
01
01
01
01
01
%
91
Os dados aqui citados demonstram a importância de o CIAPREVI-CE passar a
trabalhar políticas públicas na área da saúde, ajudando os sujeitos a adotarem mecanismos
voltados para a manutenção da qualidade de vida e do bem-estar, através de hábitos de vida e
práticas alimentares saudáveis, considerando ser essa a área de interesse principal
demonstrada pelos sujeitos investigados, no âmbito da cidadania. As ações nessa área estão
elencadas no Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003, Título II (Dos
Direitos Fundamentais), Capítulos I, II, III e IV do referido Estatuto.
A tabela 10 demonstra que 58.9% das idosas dispõem de planos de saúde. Os
dados relativos aos sujeitos que compuseram a amostra da pesquisa destoaram desses
percentuais obtidos, a partir das fichas cadastrais do CIAPREVI-CE, apresentando um
percentual menos elevado de idosos que dispõem de planos de saúde.
TABELA 10 - Qual plano de saúde dispõe
Qual plano
Assist. Benf. Idoso (ABI)
UNIMED
Petrobras
IPM
CTCAF
Caixa Econômica Federal
IPEC
Jerusalém
Não lembra
SBC
Não informou
Total
N
05
04
02
02
01
01
01
01
01
01
03
22
%
22,7
18,2
9,1
9,1
4,5
4,5
4,5
4,5
4,5
4,5
13,6
100,0
Observou-se que 47,7% do número total de mulheres do grupo de convivência do
CIAPREVI-CE, considerado neste estudo (65 idosas), frequenta outros grupos de
convivência. Idêntico percentual participa exclusivamente do grupo de convivência do
CIAPREVI-CE, conforme demonstra a Tabela 11, a seguir:
TABELA 11 - Participação em outros grupos de convivência
Grupos
Não
Sim
Não informado
Total
n
31
31
03
65
%
47,7
47,7
4,6
100,0
Conforme se encontra ressaltado na Tabela 12, seguinte, o grupo de convivência
que funciona no Teatro São José está entre os mais frequentados pelas idosas. Esse grupo lhes
92
oferece basicamente atividades, na área da dança folclórica:
TABELA 12 - Quais grupos de convivência
Qual grupo
Teatro São José
Conjunto Santa Terezinha
Pirata
Paróquia do Cristo Rei
Bairro Santa Cecília e João XXIII
Casa da Amizade
Conjunto Palmeiras
de chorinho
Ginástica dos bombeiros
Grupo do Metrópole
Igreja Santa Luzia
Igreja Santa Luzia e Pirata
Igreja Santa Luzia e Paróquia do Cristo Rei
Lar Francisco de Assis
mas pretende ficar só no Centro
São Francisco, Santa Terezinha e Metrópole
Tancredo Neves
Não especificado
Total
n
09
03
03
01
01
01
01
01
01
01
01
01
01
01
01
01
01
02
31
%
30,0
10,0
10,0
3,3
3,3
3,3
3,3
3,3
3,3
3,3
3,3
3,3
3,3
3,3
3,3
3,3
3,3
6,7
100,0
A Tabela 13, a seguir, apresenta o nível de satisfação e insatisfação demonstrado
pelas mulheres com a convivência familiar. Segundo os dados obtidos das fichas individuais
de cadastro, observa-se que 63,1% do total de mulheres engajadas no grupo de convivência do
CIAPREVI-CE referiram que mantêm uma relação satisfatória com a família.
Nesse tópico, portanto, está sendo apresentado o perfil geral da cota de 65 sujeitos
do gênero feminino, que compõe o grupo de convivência do CIAPREVI-CE, conforme se
segue:
TABELA 13 - Relação familiar
Relação com a família
Relação satisfatória com a família, sem
ocorrência de drogas e/ou violência
Insatisfatória, devido a problemas financeiros e
outros
Insatisfatória, devido a problemas com drogas
Relação satisfatória com a família. A filha é
especial e requer cuidados.
Relação satisfatória com a família. Cuida do
marido cadeirante e de dois filhos especiais.
Sem informação
Total
n
%
41
63,1
12
18,5
09
13,8
01
1,5
01
1,5
01
65
1,5
100,0
De acordo com o que demonstra a Tabela 14, a seguir apreciada, a maioria dos
sujeitos considera o grupo de convivência como um “locus de socialização” (29,2%).
93
Ressalta-se que está sendo privilegiado pelos sujeitos o indicador de integração, o
qual, segundo os estudiosos da gerontologia (NERI, 2001; 2003), é um dos componentes da
boa qualidade de vida.
Ainda em relação à mesma tabela, registra-se que um percentual igualmente
expressivo de sujeitos considera o grupo de convivência como um “locus de bem-estar
emocional” (10,8%).
No supracitado caso, o indicador apontado envolve a variável cognitiva de
satisfação, ratificada pelos sujeitos nos itens subsequentes ao acima apresentado, através do
termo “felicidade”, igualmente distintivo de bem-estar emocional.
Percebe-se, de modo geral, que todos os outros significados mencionados na
Tabela 14, em referência, expressam representações positivas formuladas pelos sujeitos, em
relação ao significado de grupo de convivência, sob o prisma dos significados dos
supracitados indicadores.
Ressalta-se que, desses 65 sujeitos do gênero feminino, participantes do grupo de
convivência do CIAPREVI-CE, foram selecionados 15 sujeitos, para compor a amostra geral
de campo.
TABELA 14 - Importância atribuída ao grupo de convivência
Relato pessoal
Locus de socialização
Locus de bem-estar emocional
Locus de felicidade
Locus de lazer
Agrada em parte
Ajuda na auto-estima
Ajuda na espiritualidade
Locus de socialização/dança
Locus de vida e felicidade
Saúde física/espiritual
Se sente feliz. Gosta de dançar
Significação da vida
Ajuda na vida emocional e espiritual
Ajudou a curar depressão
Bem estar espiritual
Diversão/lazer
Lazer cultural
Locus familiar
Oferece alimentação e lazer
Saúde/diversão/socialização
Sem informação
Total
N
19
07
04
04
02
02
02
02
02
02
02
02
01
01
01
01
01
01
01
01
07
65
%
29,2
10,8
6,2
6,2
3,1
3,1
3,1
3,1
3,1
3,1
3,1
3,1
1,5
1,5
1,5
1,5
1,5
1,5
1,5
1,5
10,8
100,0
94
5.2 Verificação das hipóteses formuladas para a pesquisa
Procedeu-se à análise de conteúdo das informações prestadas pelos sujeitos no
Instrumento 1 aplicado. A pesquisadora centrou-se na busca de elementos discursivos, que
pudessem confirmar ou refutar o contexto da primeira hipótese formulada.
Hipótese nº 1: Os sujeitos poderiam estar desenvolvendo, conjuntamente, ou não, várias
estratégias de ação para ter acesso à cidadania, sendo destacadas as
seguintes:
Subseção “a”: o engajamento em atividades gratificantes, como enfrentamento e superação
das condições adversas de sua vida passada e/ou presente;
Análise de Conteúdo: Esse nível hipotético foi confirmado, sem que se tenha constatado a
interferência do fator etário.
Entre os quinze sujeitos investigados, onze (11) demonstraram que, cotidianamente,
tendem a buscar realizar atividades gratificantes, nos três espaços de socialização
investigados.
Entretanto, quatro (4) entre os quinze (15) sujeitos investigados não comprovaram esse
nível hipotético, uma vez que em sua rotina diária tiveram “necessidade” de incorporar
atividades que lhes eram pouco prazerosas, o que significa dizer que realizavam
determinadas tarefas domésticas movidos não pelo critério da “satisfação”, conforme
supunha a pesquisadora, mas “por necessidade”.
O Quadro 2, a seguir, apresenta as atividades cotidianas preferenciais, realizadas
pelos sujeitos, nos três espaços de socialização investigados, assinalando-se em negrito as que
os sujeitos realizavam “por necessidade” e não por satisfação:
95
Sujeito
Maria
Aldeide
(60 anos)
Mª Heloíza
(61 anos)
Maria
Franciete
(64 anos)
Maria
Verônica
(66 anos)
Maria
Francisca
(68 anos)
Maria
Felismina
(69 anos)
Casa
Sente-se feliz em cuidar
da casa; lanchar toda
tarde c/ a filha, e fazer
orações.
Gosta de cozinhar, lavar,
passar, cuidar da casa e
da filha que é especial.
Faz
todas
essas
atividades
com
satisfação.
Sente-se feliz em armar
sua rede e assistir a
programas
policiais;
Não gosta de algumas
tarefas de casa.
(Realiza pelo menos
uma atividade mais
por obrigação do que
por satisfação).
Gosta de ajudar a filha
na cozinha; de assistir a
filmes na televisão, de
telenovelas
e
de
acompanhar
orações
pelo rádio.
Gosta de fazer serviços
domésticos; de rezar;
ouvir música e de
assistir às telenovelas e
aos
programas
de
televisão.
Grupo de convivência do
CIAPREVI
Comunidade
(outros locais)
Escolhe atividades que lhe são
prazerosas, tais como: rezar,
ouvir as palestras, participar do
forró com os outros idosos.
Aprecia conversar com a
vizinha da casa em frente e
participar
de
forrós,
quando tem companhia.
Gosta de realizar trabalhos
comunitários para a Igreja,
de participar de grupos de
oração e de conversar em
família, todas as noites na
calçada em frente de casa.
Gosta de participar das aulas
alfabetização, onde ajuda
idosos com dificuldades e
participar das oficinas
bordado.
de
os
de
de
Verificação da
hipótese
Confirmada
Confirmada
Gosta
de
ouvir
palestras
informativas; de participar das
aulas de computação; de dançar e
fazer crochê.
Aprecia almoçar ou jantar
fora c/ os filhos; ir a
grupos de convivência
diversos; de frequentar
forrós com as amigas.
Não Confirmada. (A
idosa tem necessidade
de realizar tarefas que
não lhe dão satisfação,
em casa.)
Gosta de ouvir palestras, de
dançar e de participar das aulas
de alfabetização.
Gosta de participar de
grupos de oração e do
grupo de convivência do
Pirata.
Não Confirmada. (A
idosa tem necessidade
de realizar tarefas que
não lhe dão satisfação).
Sente-se feliz em participar do
forró com outros idosos e em
conversar com as amigas do
grupo de convivência.
Gosta de fazer a feira; de ir
à padaria; de ir à missa
todas as tardes e de
conversar com as amigas
na vizinhança.
Confirmada
Aprecia cantar e tocar pandeiro
no grupo musical de chorinho do
CIAPREVI; de participar do forró
e das aulas de pintura em tecido.
Maria
Gertrudes
(70 anos)
Gosta de fazer serviços
domésticos; de cuidar e
alimentar
sua
cachorrinha; de assistir a
telenovelas e de fazer
orações.
Gosta de participar dos ensaios
das danças folclóricas; de
participar
das
aulas
de
computação e de ajudar na
cozinha a servir os idosos.
Maria
Luiziana
(73 anos)
Faz
determinados
serviços
domésticos
mais por obrigação do
que por satisfação.
Gosta de fazer pinturas em tecido
e de participar do grupo musical
de chorinho, onde toca e canta.
Maria
Joseneide
(74 anos)
Aprecia
cozinhar
e
cuidar da casa; ouvir
música; fazer pintura em
tecido; fazer crochê e de
costurar.
Gosta de participar das aulas de
pintura em tecido, de fazer
crochê, bordado e de participar do
forró dos idosos.
Maria
Albina
(75 anos)
Gosta de fazer suas
orações;
preparar
refeições leves; lavar
suas roupas; assistir às
telenovelas
e
ao
telejornal.
Aprecia participar dos ensaios do
grupo de chorinho do CIAPREVI
(tocar ganzá e cantar); dançar
forró. Diz gostar de todas as
atividades do CIAPREVI.
Maria
Catarina
(76 anos)
Gosta de pintar panos de
prato e rezar o terço em
família.
Gosta de pintar panos de prato; de
dançar e de participar dos ensaios
do grupo musical de chorinho.
Maria
Odésia
(77 anos)
Gosta de sentar na
cadeira de balanço e
descansar as pernas, à
noite; de assistir à
televisão;
Sente-se
cansada por ter que
fazer
todos
os
trabalhos domésticos
sozinha.
Sente-se feliz em fazer atividades
de alongamento; em participar do
forró e das aulas de alfabetização.
Sente-se cansada em ter que
levar o carrinho com os
produtos que comercializa,
para satisfazer aos idosos.
Aprecia frequentar as
reuniões de outros grupos
de convivência religiosos e
de dançar, e de viajar para
a casa de praia da filha
todo final de semana.
Aprecia fazer caminhadas
diárias;
participar
de
grupos de convivência que
desenvolvem
atividades
físicas; de dançar; de ir à
missa
e
a
eventos
religiosos da Igreja.
Gosta de conversar à noite
com as amigas e de
frequentar outros grupos de
convivência.
Gosta de frequentar forrós,
quando está solteira; de
fazer passeios e de ir à
missa nos fins-de-semana;
Gosta de participar dos
ensaios de dança e dos
forrós do Teatro São José;
de participar do grupo de
convivência da ABI e de
conversar todas as noites
com
as
amigas
da
vizinhança.
Gosta de sair para dançar
aos domingos com o
marido e de participar do
grupo folclórico do Teatro
São José.
Participa de orações no
grupo de convivência da
Igreja e das atividades do
grupo de convivência da
casa de forró “PIRATA”.
Confirmada
Confirmada
Não confirmada
Confirmada
Confirmada
Confirmada
Não confirmada. (A
idosa tem necessidade
de realizar tarefas que
não lhe dão satisfação)
96
Casa
Grupo de convivência do
CIAPREVI
Comunidade
(outros locais)
Mírian
(81 anos)
Aprecia fazer pequenos
serviços
domésticos;
cuidar das plantas, varrer
a casa e ouvir música.
Gosta de atuar como DJ do grupo
de convivência; de dançar forró;
ajudar na cozinha a preparar as
refeições servidas aos idosos nos
dias das reuniões do grupo.
Sente-se feliz em ir ao
show semanal no Mercado
das Artes; de assistir à
sessão de teatro semanal e
de fazer passeios com a
filha.
Confirmada
Maria
Alice
(82 anos)
Gosta de rezar; cozinhar;
ler; assistir programas
humorísticos;
bordar
colchas de fuxico.
Aprecia ouvir palestras sobre
espiritualidade proferidas pela
coordenadora do grupo (de outras
técnicas
não);
estudar
computação
Ir à missa diariamente;
participar de pastorais
religiosas; prestar serviços
comunitários na Igreja
Confirmada
Maria
Amélia
(86 anos)
Gosta de alimentar os
passarinhos; de cuidar
de suas coisas; rezar e
assistir ao Telejornal.
Sente-se feliz em ensaiar números
de danças folclóricas; fazer
orações, participar do forró com
os outros idosos do grupo.
Gosta de participar das
reuniões do grupo de
convivência da ABI e dos
ensaios
de
danças
folclóricas, no Teatro S.
José.
Confirmada
Sujeito
Verificação da
hipótese
QUADRO 2 - Demonstrativo da confirmação da subsecção “a” da primeira hipótese formulada.
Hipótese nº 1: Os sujeitos poderiam estar desenvolvendo, conjuntamente, ou não, várias
estratégias de ação para ter acesso à cidadania, sendo destacadas as
seguintes:
Subsecção b: O engajamento em grupos de convivência, como espaços de luta e de
visibilidade social.
Análise de Conteúdo: Esse nível hipotético foi confirmado, conforme se demonstra, a seguir:
Os resultados da pesquisa apontaram que onze (11) entre os quinze (15) sujeitos
investigados, independentemente do aspecto etário, procuram participar cotidianamente
das atividades do CIAPREVI-CE e das atividades de outros grupos de convivência com
objetivos específicos e não simplesmente utilizando os grupos como canais de lazer e
diversão.
Do supracitado total de sujeitos investigados, seis (6) mostraram dar preferência às
atividades de ensaios, no grupo de dança do CIAPREVI-CE e no do grupo de dança do
Teatro São José, para se apresentarem em eventos públicos, conforme se depreende na
leitura dos dados constantes do Quadro 3, seguinte:
97
Sujeito
Maria Aldeide
(60 anos)
Mª Heloíza
(61 anos)
O CIAPREVI como canal de
luta e de visibilidade social
O interesse principal da idosa é
desestressar da rotina diária.
A idosa ingressou no grupo com
o propósito de desestressar,
enquanto esperava a filha se
desocupar na escola. “De
primeiro eu não vinha pra cá,
mas a minha amiga disse: Vamo
lá pro D. Lustosa, que lá tem
alfabetização...” Ela hoje sabe
ler e escrever satisfatoriamente
e diz que vem para ajudar as
suas colegas.
Maria Franciete
(64 anos)
Participa da maioria das
atividades
de
socialização
oferecidas pelo CIAPREVI.
Maria Verônica
(66 anos)
Participa da maioria das
atividades
de
socialização
oferecidas pelo CIAPREVI.
Maria Francisca
(68 anos)
Maria Felismina
(69 anos)
Participa do CIAPREVI como
espaço permanente de lazer.
Participa do grupo de dança do
CIAPREVI e se apresenta em
eventos públicos.
O CIAPREVI e outros
grupos de idosos como
canais de luta e visibilidade
social
Contenta-se em participar
somente do CIAPREVI
Contenta-se em participar
somente do CIAPREVI, mas
ali assumiu a luta de ajudar
outras idosas a se alfabetizar.
Participa de outros grupos
religiosos,
onde
tem
oportunidade de conhecer um
diversificado número de
pessoas e de dançar.
Participa de outros grupos de
idosos,
onde
tem
oportunidade de conhecer um
diversificado número de
pessoas.
A idosa participa também do
grupo de idosos do PIRATA.
Participa do grupo de dança
do Teatro São José e se
apresenta em eventos.
Participa do grupo de dança
do Teatro São José e se
apresenta
em
eventos
públicos.
Participa do grupo de dança e
se apresenta em eventos
públicos.
Maria Gertrudes
(70 anos)
Participa do grupo de dança do
CIAPREVI e se apresenta em
eventos públicos.
Maria Luiziana
(73 anos)
Participa do grupo de dança do
CIAPREVI e se apresenta em
eventos públicos.
Mª Joseneide
(74 anos)
Frequenta
atualmente
o
CIAPREVI
como
espaço
permanente de lazer.
Maria Albina
(75 anos)
Participa do grupo de dança do
CIAPREVI e se apresenta em
eventos públicos.
Maria Catarina
(76 anos)
Participa do grupo de dança do
CIAPREVI e se apresenta em
eventos públicos.
No momento, a idosa se
contenta c/ este grupo porque
encontrou um companheiro.
Participa do grupo de dança
do Teatro São José e se
apresenta
em
eventos
públicos, apresentando os
seus dotes artísticos musicais.
Participa do grupo de dança e
se apresenta em eventos
públicos
Mª Odésia
(77 anos)
No CIAPREVI ela desestressa e
vende os seus produtos.
Participa de vários grupos,
para se sociabilizar.
Mírian
(81 anos)
A idosa adotou o CIAPREVI
como lar-substituto.
Participa do CIAPREVI, como
espaço de aperfeiçoamento em
áreas de interesse principais.
Contenta-se em participar
somente do CIAPREVI.
Participa de um grupo
religioso, como canal para
exercitar a fé e a caridade.
Participa também do grupo de
dança do Teatro São José e se
apresenta
em
eventos
públicos.
Maria Alice
(82 anos)
Maria Amélia
(86 anos)
Participa do grupo de dança do
CIAPREVI,
apresentando-se
em eventos públicos.
Hipótese Formulada: Os
grupos atuam como espaços
de luta e de visibilidade
social para os sujeitos
Não confirmada.
Confirmada.
Confirmada. A idosa se sente
feliz em apresentar seus
talentos
artísticos,
relacionados à dança.
Confirmada. A idosa busca
sempre participar de outros
grupos para dançar e interagir
com outros idosos.
Não Confirmada
Confirmada. A idosa se sente
feliz em apresentar seus
talentos artísticos.
Confirmada. A idosa se sente
feliz em apresentar seus
talentos artísticos e ensaia
semanalmente no CIAPREVI.
Confirmada. A idosa se sente
feliz em apresentar seus
talentos artísticos.
Não confirmada.
Confirmada. A idosa se sente
feliz em apresentar seus
talentos artísticos em eventos
públicos e de interagir com
pessoas de outros grupos.
Confirmada.
Aprecia
se
apresentar
em
eventos
públicos.
Confirmada. Tem interesses
específicos nos grupos.
Não confirmada.
Confirmada. A idosa exercita
nos grupos as suas áreas de
interesse principais.
Confirmada. A idosa se sente
feliz em expor seus talentos
artísticos na dança e ensaia
semanalmente no CIAPREVI.
QUADRO 3 - Demonstrativo da confirmação da subsecção “b” da primeira hipótese formulada.
98
Hipótese nº 1: Os sujeitos poderiam estar desenvolvendo, conjuntamente, ou não, várias
estratégias de ação para ter acesso à cidadania, sendo destacadas as
seguintes:
Subsecção c: a busca por serviços de saúde, para manutenção dos níveis de qualidade de vida
e bem-estar, em geral.
Análise de Conteúdo: Esse nível hipotético foi igualmente confirmado, conforme dados, a
seguir:
Dez (10) entre quinze (15) sujeitos investigados demonstraram incluir em suas
atividades rotineiras atividades voltadas para a manutenção da saúde, conforme se pode
observar, por meio da análise dos dados constantes do Quadro 4, a seguir:
Sujeito
Luta dos sujeitos pela manutenção da saúde, em geral.
Maria Luiziana
(73 anos)
Cuida especialmente da manutenção da saúde, procurando usufruir de uma boa
alimentação. Recorre aos serviços públicos de saúde ao menor sinal de
qualquer problema de saúde.
É proativa, participa do grupo de convivência do CIAPREVI e de várias
pastorais da Igreja, mas não fez referências específicas à busca por serviços
médicos. Segundo consta de sua ficha de cadastro, tem diabetes e colesterol.
Recorre eventualmente a serviços médicos. É usuária de cigarro, e fez cirurgia
para corrigir problema oftalmológico de catarata, segundo consta da sua ficha
de cadastro. Este último dado não foi mencionado pela idosa durante a
entrevista.
Não relatou ter problemas ou procurar serviços de saúde (Dados confirmados
em sua ficha de cadastro).
Procura sistematicamente serviços públicos e profissionais médicos
especializados.
Mantém os níveis de saúde, através da busca sistemática por assistência
médica, utilizando o suporte de uma rede de amigos com influência em
instituições públicas dessa área, uma vez que não dispõe de plano de saúde.
Adota alimentação e hábitos de vida saudáveis, incluindo caminhadas diárias.
Recorre a serviços públicos gratuitos de saúde e mantém uma programação
sistemática de ginástica, musculação e fisioterapia.
Contribui mensalmente com um plano de saúde (ABI), o qual lhe dá direito a
serviços médicos.
Mª Joseneide
(74 anos)
Acompanha os níveis de saúde, através de visitas periódicas ao médico.
Mantém planos de saúde para esse fim.
Maria Albina
(75 anos)
Mantém os níveis de saúde, através da busca sistemática por assistência
médica, utilizando os planos de saúde de que dispõe.
Mantém os níveis de saúde, buscando serviços de saúde gratuitos municipais.
Procura obter sistematicamente acompanhamento médico para o seu problema
de saúde (hipertensão arterial).
É autonegligente com a saúde. Tem problemas de escoliose e não busca
acompanhamento médico sistemático.
Mantém os níveis de bem-estar e de qualidade de vida, realizando visitas
constantes ao médico, para acompanhar os problemas de saúde, principalmente
o de glaucoma; Dispõe de plano de saúde como funcionária pública
aposentada.
Adota hábitos de vida saudáveis, incluindo refeições leves em seu cardápio de
alimentação. Mantém um plano de saúde, embora não recorra a esses serviços
com assiduidade.
Mostrou ser autonegligente com a saúde. Segundo consta de sua ficha
cadastral, não faz prevenção de saúde da mulher e não refere que toma
Maria Aldeide
(60 anos)
Mª Heloíza
(61 anos)
Maria Franciete
(64 anos)
Mª Verônica
(66 anos)
Maria Francisca
(68 anos)
Maria Felismina
(69 anos)
Maria Gertrudes
(70 anos)
Maria Catarina
(76 anos)
Mª Odésia
(77anos)
Mírian
(81 anos)
Maria Alice
(82 anos)
Maria Amélia
(86 anos)
Verificação da
hipótese
Confirmada
Não confirmada
Não Confirmada
Não confirmada
Confirmada
Confirmada
Confirmada
Confirmada
Confirmada
Confirmada
Confirmada
Não Confirmada
Confirmada
Confirmada
Não Confirmada
99
Sujeito
Luta dos sujeitos pela manutenção da saúde, em geral.
Verificação da
hipótese
medicamentos. Na entrevista disse que não precisa ir ao médico porque tem
boa saúde.
QUADRO 4 - Demonstrativo da confirmação da subsecção “c” da primeira hipótese formulada
A seguir, passa-se a demonstrar a confirmação da 2ª hipótese geral, formulada
para a pesquisa.
Hipótese nº 2: O grupo de convivência do CIAPREVI-CE, entretanto, se configuraria como o
principal espaço cotidiano de luta utilizado pelos sujeitos, para ter acesso à
cidadania, em virtude das limitadas possibilidades de realização social dos
sujeitos.
Análise de Conteúdo: A citada hipótese foi comprovada, conforme dados, a seguir:
Ficou demonstrando que o CIAPREVI-CE constitui o espaço principal de construção da
cidadania de treze (13) entre os quinze (15) sujeitos investigados e exclusivo de 5 entre
os quinze (15) sujeitos participantes da amostra da pesquisa.
Os dois sujeitos que não confirmaram esse nível hipotético dispõem de renda mensal
superior a dos demais sujeitos do grupo de convivência (1 salário mínimo), bem como
de razoável nível de escolaridade (1º grau completo e 5ª série do curso primário), tendo
realizado inúmeras conquistas de cidadania em sua trajetória de vida.
O discurso dos sujeitos esclareceu que os demais grupos de convivência em que se
encontram engajados atuam segundo a natureza das instituições que os promovem e,
não, especificamente, segundo a natureza dos grupos de convivência, prevista em lei.
Observou-se que o grupo de convivência do CIAPREVI-CE oferece aos sujeitos um
leque de atividades mais diversificado que os outros grupos que frequentam,
possibilitando a alguns sujeitos a oportunidade de dar vazão às suas habilidades
artísticas (tocar instrumentos musicais e engajar-se nas danças folclóricas) e de se
aperfeiçoar em determinadas áreas (aulas de computação e de alfabetização), conforme
dados constantes do Quadro 5, a seguir:
100
Sujeito
Maria
Aldeíde
(60 anos)
Maria
Heloíza
(61 anos)
Maria
Franciete
(64 anos)
Mª Verônica
(66 anos)
Maria
Francisca
(68 anos)
Maria
Felismina
(69 anos)
Maria
Gertrudes
(70 anos)
Maria
Luiziana
(73 anos)
Mª Joseneide
(74 anos)
Maria
Albina
(75 anos)
Maria
Catarina
(76 anos)
Mª Odésia
(77 anos)
Mírian
(81 anos)
Maria Alice
(82 anos)
Maria
Amélia
(86 anos)
O grupo de convivência do CIAPREVI-CE como principal espaço de
construção da vivência cidadã dos sujeitos
Verificação da
hipótese
Participa exclusivamente do grupo de convivência do CIAPREVI. Este é o seu
principal espaço de luta utilizado pelos sujeitos para ter acesso à cidadania.
Confirmada
Participa exclusivamente do grupo de convivência do CIAPREVI. Na Igreja,
participa de pastoral religiosa que não se caracteriza como grupo de convivência.
Confirmada
Participa das atividades de vários grupos de convivência diferentes, durante a semana
(CIAPREVI, Grupo de convivência espírita; Grupo de convivência do Mucuripe;
Grupo de convivência do Curió). Tais grupos de convivência atuam consoante a
modalidade prevista em lei, mas é no CIAPREVI onde ela está realizando o sonho de
aprender computação.
Participa do grupo de convivência do CIAPREVI e do PIRATA, à noite. Na Igreja,
participa de pastoral religiosa que não se caracteriza como grupo de convivência. No
CIAPREVI ela tem oportunidade de participar das aulas de alfabetização.
A idosa participa das atividades do CIAPREVI há bastante tempo, mas denotou
buscar no grupo mais um espaço de lazer e não especificamente de construção da
cidadania. Dispõe de estabilidade financeira e participa de excursões periódicas.
A idosa participa de vários grupos de convivência (CIAPREVI, PIRATA, Igreja de
Santa Luzia e Igreja do Cristo Rei). Entretanto, é no CIAPREVI que ela tem
oportunidade de participar da bandinha, dando vazão à sua luta por ser socialmente
vista. “Doutora, nós quer ser visto... A senhora já ouviu falar de outra banda de
idosos que toca e dança como nós?”.
Participa de três grupos de convivência durante a semana, sendo que em dois deles
realizam especificamente atividades de dança e de ginástica (Teatro São José e
Bombeiros, no bairro XXIII). É no CIAPREVI que ela participa das aulas de
computação.
Participa de outros grupos de convivência durante a semana, sendo que um deles, da
ABI, atua como grupo de convivência. Entretanto, é no CIAPREVI_ que ela dá
vazão à sua habilidade de participar da bandinha, de tocar um instrumento musical e
de cantar, participando de eventos públicos.
Atualmente a idosa participa exclusivamente do grupo de convivência do
CIAPREVI, mas considera o centro o seu espaço principal de “lazer” e não de
construção da cidadania. Depois de várias conquistas nessa área (aprendeu a ler e
escrever já idosa), e de exercer diversificadas atividades polivalentes, o seu interesse
principal atualmente se volta para a estabilidade afetiva, através do novo casamento
que contraiu.
Participa de vários grupos de convivência durante a semana, há vários anos, sendo
que um desses grupos, o da ABI, atua na modalidade de grupo de convivência.
Entretanto, é no CIAPREVI que ela dá vazão à sua habilidade artística de tocar e
dançar, apresentando-se em eventos públicos)
Participa de dois grupos de convivência durante a semana, sendo que em um deles
realiza especificamente atividades de dança (Teatro São José).
Participa de três grupos de convivência durante a semana, sendo que dois deles
(PIRATA e CIAPREVI) atuam como grupos de convivência e o da Igreja de Santa
Luzia, como grupo eminentemente religioso. No CIAPREVI ela tem aulas de
alfabetização, que para ela é uma meta de cidadania.
Participa exclusivamente do grupo de convivência do CIAPREVI. Adotou o
CIAPREVI como lar-substituto, onde passa o dia (manhã e parte da tarde),
interagindo com funcionários e visitantes.
Participa exclusivamente do grupo de convivência do CIAPREVI. Na Igreja,
participa de pastorais religiosas que não se caracterizam como grupos de
convivência.
Participa de vários grupos de convivência, durante a semana, sendo que em dois
deles realiza especificamente atividades de dança (Teatro São José e no bairro XXIII,
que frequenta, aos domingos). O CIAPREVI é onde passa a maior parte do cotidiano.
QUADRO 5 - Demonstrativo da confirmação da segunda hipótese formulada.
Confirmada
Confirmada
Não Confirmada
Confirmada
Confirmada
Confirmada
Não Confirmada
Confirmada
Confirmada
Confirmada
Confirmada
Confirmada
Confirmada
101
Demonstra-se, a seguir, a confirmação da 3ª hipótese formulada para esta
pesquisa:
Hipótese nº 3: O CIAPREVI-CE poderia trabalhar de forma mais eficiente os conteúdos
referentes aos direitos e deveres de cidadania, junto aos sujeitos, através da
via artística e de metodologias lúdicas.
Análise de Conteúdo: Os sujeitos confirmaram que tanto as atividades musicais, quanto as
atividades de dança se encontram entre as estratégias preferenciais por eles utilizadas, visando
ao enfrentamento e superação das condições adversas da vida.
1) Em relação às atividades na área da música:
Os resultados evidenciaram que nove (9) entre os quinze (15) sujeitos investigados têm
predileção por atividades musicais genuínas; quatro (4) entre os quinze (15) sujeitos têm
predileção pelo binômio música/dança de forró e dois (2) sujeitos não manifestaram
predileção pelas atividades musicais, conforme consta do Quadro 6, a seguir:
Sujeito
Maria Aldeíde
(60 anos)
Mª Heloíza
(61 anos)
Maria Franciete
(64 anos)
Mª Verônica
(66 anos)
Maria Francisca
(68 anos)
Maria Felismina
(69 anos)
Maria Gertrudes
(70 anos)
Maria Luiziana
(73 anos)
Mª Joseneide
(74 anos)
Maria Albina
(75 anos)
Maria Catarina
(76 anos)
Mª Odésia
(77 anos)
Mírian
(81 anos)
Maria Alice
(82 anos)
Maria Amélia
(86 anos)
As Atividades musicais entre as estratégias preferenciais utilizadas pelos sujeitos
para enfrentamento e superação das condições adversas da vida.
Desestressa, ouvindo músicas no rádio, ou em CD diariamente, em casa.
Não mencionou predileção especial por essa área.
Aprecia o binômio música/dança de forró.
Adota de mecanismos de desestresse, ouvindo música e programas de rádio, enquanto realiza as
atividades domésticas, diariamente.
Aprecia o binômio música/dança de forró.
Canta no grupo de convivência. Adota mecanismos de desestresse, ouvindo música, quando está em
casa.
Participa do grupo musical de chorinho do CIAPREVI.
Desenvolveu um gosto acentuado por atividades musicais (canta e toca na bandinha do CIPREVI).
Desestressa logo cedo, ao acordar, permanecendo por uma hora na cama, ouvindo músicas no rádio
ou CD. Aprecia participar de forrós.
Envolve o canto em todas as atividades domésticas. “Trabalha, cantando, em casa.”
Aprecia o binômio música/dança de forró.
Aprecia o binômio música/dança de forró.
Desestressa, ouvindo constantemente músicas em casa e atuando como DJ no grupo de convivência
do CIAPREVI.
Não mencionou predileção especial por essa área.
Desestressa, ouvindo o canto dos passarinhos em casa.
QUADRO 6 - Demonstrativo da confirmação da terceira hipótese formulada (Área artística: musical)
102
2) Em relação às atividades na área da dança:
Os resultados apontaram que treze (13) entre os quinze (15) sujeitos investigados têm
predileção por essa modalidade artística, conforme dados constantes do Quadro 7, a
seguir:
As Atividades de dança entre as estratégias preferenciais utilizadas pelos sujeitos
para enfrentamento e superação das condições adversas da vida.
Sujeito
Maria Aldeíde
(60 anos)
Mª Heloíza
(61anos)
Maria Franciete
(64 anos)
Mª Verônica
(66 anos)
Maria Francisca
(68 anos)
Maria Felismina
(69 anos)
Maria Gertrudes
(70 anos)
Maria Luiziana
(73 anos)
Mª Joseneide
(74 anos)
Maria Albina
(75 anos)
Maria Catarina
(76 anos)
Mª Odésia
(77 anos)
Mírian
(81 anos)
Maria Alice
(82 anos)
Maria Amélia
(86 anos)
Sempre que convidada, participa de eventos festivos de forrós.
Não fez referência à dança entre suas atividades preferenciais.
Participa de forrós nos fins de semana e a dança é uma de suas atividades preferidas no CIAPREVI.
Aprecia os forrós dos grupos de convivência de que participa, mas evita participar, no momento,
por causa do falecimento recente do marido.
Desestressa, participando das atividades de dança, no CIAPREVI.
Participa das atividades artísticas (canto e dança, no grupo de chorinho do CIAPREVI e do Teatro
São José).
Participa do grupo folclórico do CIAPREVI e do de dança do Teatro São José.
Engajou-se permanente nas atividades do grupo musical de chorinho do CIAPREVI.
Participa dos forrós do CIAPREVI e de casas de forrós. No momento, deixou de frequentar casas de
forrós porque casou.
Engajou-se em um grupo musical de chorinho no CIAPREVI, onde toca, canta e dança,
apresentando-se, com os outros idosos engajados, em eventos públicos.
Adota mecanismos de desestresse, semanal, com o companheiro, frequentando um forró no bairro
onde mora.
Aprecia a dança, nos grupos de convivência de que participa, mesmo a contragosto do marido.
Mantém rede permanente de amigos que reencontra, semanalmente, numa casa de shows, às sextasfeiras. Participa dos forrós e é a DJ oficial do grupo de convivência do CIAPREVI.
A dança não foi mencionada entre suas atividades preferenciais.
Participa do grupo de dança do CIAPREVI e do Teatro São José.
QUADRO 7 - Demonstrativo da confirmação da terceira hipótese formulada (Área artística: dança)
5.3 Verificação dos quesitos da entrevista realizada, concomitantemente ao Instrumento
1 aplicado
5.3.1 Em relação ao contexto privado: (Item 1.1: Por que faz essas atividades?)
Análise de Conteúdo (principais aspectos salientados):
A maioria dos sujeitos mencionou que sentia satisfação em realizar as atividades
domésticas, mesmo as que realizavam “por necessidade”, no ambiente do lar.
Entretanto, as quatro (4) idosas que não se mostraram satisfeitas com as atividades
103
realizadas, em casa, comprovaram que esse aspecto interferia desfavoravelmente nos
seus níveis de bem-estar, uma vez que demonstraram sentir desgosto com o fato de
terem que desperdiçar o tempo vivido em casa com a realização de trabalho doméstico
obrigatório e não com as atividades de lazer.
Ressalta-se que os quatro (4) supracitados sujeitos são os mesmos que, no Quadro 2,
anteriormente apresentado, referiram realizar algumas atividades em casa “por
necessidade, ou seja, por obrigação” e não “por satisfação”. Desse modo, as respostas
dadas pelos sujeitos (1ª Hipótese; subseção a - Quadro 2) poderão ser confrontadas com
as respostas dadas pelos sujeitos no item 1.1, constante do Quadro 8, a seguir:
Sujeito
Maria Aldeíde
(60 anos)
Mª Heloíza
(61 anos)
Maria Franciete
(64 anos)
1.1 Por que faz essas atividades? (por necessidade ou
por satisfação?)
Faço porque gosto, porque eu gosto de fazer minhas coisas toda
a vida... Desde que comecei a tomar conta de casa, as minhas
coisas sou eu mesmo que faço. Além de eu gostar, eu faço
porque eu tenho que fazer, não tem quem faça... Só tem uma
coisa que eu não gosto: é passar roupa... Mas lavar, eu gosto...
Eu faço porque gosto, mas, se eu não fizer, não tem quem faça,
eu tenho que fazer. Porque o meu filho só faz se eu não tiver em
casa, senão, minha filha, é comigo...
Por obrigação, porque não posso deixar de fazer... Eu tenho
vontade que meu filho volte porque ele me ajudava o dia todo
fazendo as coisas dentro de casa... Se ele voltasse, eu ia voltar a
fazer o meu crochê...
Mª Verônica
(66 anos)
Eu faço porque gosto de fazer, mas os gatinhos estão dando
muito trabalho...
Maria Francisca
(68 anos)
Porque me dão satisfação e a filha me ajuda em tudo. “Ave,
Maria, minha família é bacana demais...”
Maria Felismina
(69 anos)
Gosta de fazer todas as atividades que compõem a sua rotina de
vida diária. Sintetiza com esta frase: “Ah! Porque gosto...
Porque eu gosto, é por prazer, porque a gente faz tudo isso e
ainda sente uma dor na perna, ainda sente uma dor no joelho, e
imagina se ficasse sem fazer nada dentro de casa...
Faço todas as atividades em casa e no grupo por satisfação e
não por obrigação, mas também porque, se não quisesse fazer
os trabalhos de casa, as pessoas ficariam simplesmente sem
almoçar ou jantar.
Porque gosto, e não por obrigação. E ressalta: “Eu amo a
cozinha”. Menciona que tem uma enteada que está morando
com ela e a ajuda muito.
Porque gosto, se não gostasse eu não fazia não, pagava uma
pessoa... Eu só não gosto de passar . Tem uma pessoa que
engoma pra mim.
Maria Gertrudes
(70 anos)
Maria Luiziana
(73 anos)
Mª Joseneide
(74 anos)
Maria Albina
(75 anos)
Maria Catarina
(76 anos)
Faço por satisfação e não por obrigação.
Mª Odésia
(77 anos)
Afirma que a atividade que mais a sobrecarrega (vender
chilitos) ela faz por necessidade, “porque tenho que juntar um
dinheirinho extra para comprar coisinhas para os meu netim e
ajudar a minha filha”.
Estado emocional gerado:
(Bem-estar e satisfação
versus estresse e
insatisfação com
determinadas atividades).
(Bem-Estar)
Sente-se satisfeita em realizar as
atividades mencionadas.
(Bem-Estar) Sente-se satisfeita
em realizar as atividades
mencionadas.
(Estresse) Sente insatisfação em
realizar essas atividades. Faz por
necessidade.
(Estresse) Mostra insatisfação
em
realizar
determinadas
atividades. Faz por necessidade.
(Bem-Estar) Sente satisfação
em realizara as atividades
mencionadas.
(Bem-Estar) Sente-se satisfeita
com as atividades realizadas.
(Bem-Estar) Sente-se satisfeita
em realizar as atividades
mencionadas.
(Estresse) Mostra insatisfação
em
realizar
determinadas
atividades. Faz por necessidade.
Satisfação (Bem-Estar) Sentese satisfeita em realizar as
atividades mencionadas.
(Bem-Estar) Sente-se satisfeita
em realizar as atividades
mencionadas.
(Bem-Estar) Sente-se satisfeita
em realizar as atividades
mencionadas.
(Estresse) Mostra insatisfação
em
realizar
determinadas
atividades. Faz por necessidade.
104
1.1 Por que faz essas atividades? (por necessidade ou
por satisfação?)
Sujeito
Mírian
(81 anos)
Faço todas as atividades, tanto em casa quanto no CIAPREVI,
por satisfação e não por obrigação.
Maria Alice
(82 anos)
Diz que gosta de todas as coisas que faz. “Faço porque gosto,
mesmo as tarefas domésticas”.
Maria Amélia
(86 anos)
Porque gosto e não porque sou obrigada, e também porque não
quero dar trabalho a ninguém.
Estado emocional gerado:
(Bem-estar e satisfação
versus estresse e
insatisfação com
determinadas atividades).
(Bem-Estar) Sente-se satisfeita
em realizar as atividades
mencionadas.
(Bem-Estar) Sente-se satisfeita
com as atividades realizadas.
(Bem-Estar) Sente satisfação
em realizar as atividades
mencionadas.
QUADRO 8 - Item 1.1: Importância atribuída pelos sujeitos às atividades que realizam em contexto privado
(casa)
5.3.2 Em relação ao contexto privado: (Item 1.2: Troca experiências com outras pessoas
enquanto realiza essas atividades? Com quem?)
Análise de Conteúdo (Principais aspectos salientados):
Seis (6) entre os 15 (quinze) sujeitos investigados passam a maior parte do tempo em
que estão em casa, sem usufruírem da companhia de outras pessoas. Quatro (4) entre
esses seis (6) sujeitos referiram vivenciar problemas nas relações intrafamiliares. Os
dois (2) sujeitos desse grupo que não referiram ter problemas nas relações com
familiares, mostraram-se satisfeitos com a vida e procuraram contornar a situação com
sabedoria, usando estratégias para vencer o isolamento;
Dos quinze (15) sujeitos investigados quatorze (14) manifestaram direta ou
indiretamente dar importância à presença de outras pessoas em casa. Apenas uma idosa
afirmou categoricamente que não queria ter ninguém por perto, enquanto fazia as tarefas
domésticas, mas, nesse mesmo contexto do discurso, salientou que a filha e a vizinha da
frente eram presenças constantes em sua rotina diária.
Alguns sujeitos desenvolveram estratégias para enfrentar o isolamento em casa.
Mencionaram, por exemplo, que gostavam de ouvir músicas no rádio enquanto
trabalhavam, ou que buscavam conectar-se a programas de televisão, durante a
realização dessas atividades. Outro recurso mencionado pelos sujeitos foi o de
procurarem se dedicar à criação de animais de estimação em casa, conforme se observa
através das informações constantes do Quadro 9, a seguir:
105
Sujeito
Maria Aldeide
(60 anos)
Mª Heloíza
(61 anos)
Maria Franciete
(64 anos)
Troca experiências com outras pessoas enquanto realiza
essas atividades? Com quem?
Olha, minha filha, eu não quero ninguém pra mim atrapalhar.
Quando eu to em casa eu quero fazer minhas coisas sozinha. .
Agora, que eu já to acostumada, já há muitos anos que eu vivo
só, eu prefiro fazer minhas coisas só... Nada, eu não tenho
solidão, eu não tenho nada... Eu só penso em Deus e na
minha obrigação, eu não tenho tristeza, não, não, nada
disso... Negócio de tristeza não é comigo não...
“Sempre tem gente conversando por perto... A minha nora
vem sempre, aí a vizinha vem, pega uma coisa, e é aquela
animação...”
Não, eu gosto de ficar só em casa... Eu só não gosto de ficar
só em casa, à noite...
Mª Verônica
(66 anos)
“Eu coloco a televisão e o rádio e fico escutando. A minha
filha não gosta muito de conversar comigo não, ela chega da
Faculdade e fica lá no quarto dela, só conversa quando tem
assim um aniversário...”
Maria Francisca
(68 anos)
Minha filha está sempre em casa. Não trabalha fora.
Maria Felismina
(69 anos)
“Não, porque estão lá tudo dormindo (ela, meu filho, o
neném... E eu fico lá sozinha, fazendo minhas coisas... Agora
eu converso, porque minha irmã de Santa Catarina veio aqui
ficar comigo... Ela ta aí fazendo aula (de pintura em tecido)..”.
Maria Gertrudes
(70 anos)
“ Não, tem os passarinhos e a cachorrinha... Ela entende tudo,
minha filha... Quando ela quer tomar banho, ela pega a cabeça
dela e esfrega assim no pano...”
Maria Luiziana
(73 anos)
“Na aula de pintura, como é muita gente, conversa uma,
conversa outra, às vezes até é uma troca de experiência... é na
convivência com as outras idosas que a gente troca
experiência com as outras pessoas...”
Mª Joseneide
(74 anos)
Maria Albina
(75 anos)
Maria Catarina
(76 anos)
Mª Odésia
(77 anos)
“Gosto de fazer minhas coisas sozinha”.. Entretanto, durante a
entrevista referiu que começou a participar do grupo do
CIAPREVI-CE porque começou a se sentir sozinha em casa e
teve depressão.
Não, eu não tenho com quem conversar, sou só eu e Deus.
“Fico sozinha e Deus”. Não sinto solidão, porque eu sou
muito divertida, gosto muito de cantar... (Diz que realiza todas
as atividades domésticas cantando...)
“Meu marido e minha irmã que mora comigo estão sempre
em casa”.
O marido está sempre atarefado em casa. Ela instalou uma
secretária eletrônica em seu telefone e, assim que chega em
casa, fica ouvindo os recados dos amigos dos grupos de
convivência que telefonam para ela. Mas reclamou: “Eu tô
pagando de graça esse serviço, porque ele não dá os
recados...”
Mírian
(81 anos)
“Não exponho a minha vida a ninguém”. Diz que é muito
reservada e não fala de assuntos particulares porque as
pessoas costumam comentar e não são discretas.
Maria Alice
(82 anos)
“Minha filha está sempre por perto, ajudando nos trabalhos de
casa.”
Maria Amélia
(86 anos)
“Eles são a minha alegria”
Nível de interação mantido pelos
sujeitos com outras pessoas no
espaço doméstico
Conversa, entre os intervalos do
serviço doméstico com a vizinha da
casa em frente. À tarde, a filha
casada vem para conversar com ela e
lancharem juntas.
Refere que tem sempre pessoas da
família ou amigas ao seu redor,
enquanto está em casa.
Geralmente fica sozinha fazendo os
serviços domésticos.
Fica sozinha em casa, fazendo os
serviços domésticos. Procurou
contornar o isolamento, criando
gatos e ouvindo música para se
distrair.
A filha e os netos estão sempre por
perto. Diz que não se sente sozinha.
Acorda bem cedo e faz sozinha os
serviços domésticos, antes de sair.
Demonstrou que ficou feliz com a
companhia da irmã que mora
fora.
Menciona
gosta
da
própria
companhia, e que tem a constante
companhia de uma cachorrinha e
dos passarinhos de estimação.
Disse que não conversa com
ninguém
enquanto
faz
suas
atividades domésticas. Ressaltou que
gosta de trocar experiências com
outras pessoas, no CIAPREVI.
Usufrui da companhia da enteada,
que a ajuda nas tarefas domésticas.
Fica sozinha em casa, pois o filho
que mora com ela trabalha fora.
Canta para espantar a tristeza.
Tem a companhia da irmã e do
marido.
Mencionou sentir-se sozinha, por
não contar com o marido para
partilhar os afazeres domésticos. Ele
cuida dos próprios afazeres e quase
não interage com ela.
Passa o dia todo no CIAPREVI e
só volta para casa no final da
tarde, quando a filha vem buscála.
Usufrui da companhia constante
da filha, em casa.
Não conversa com ninguém, em
especial, mas interage com os
passarinhos que cria.
QUADRO 9 – Item 1.2: Importância atribuída pelos sujeitos às trocas de experiência com outras pessoas, no
contexto privado (indicador de integração)
106
5.3.3 Em relação ao contexto comunitário extragrupo de Convivência do CIAPREVI-CE:
(Item 2.1: Que tempo dispensa ao lazer cultural e social (assistir a noticiários, ler revistas,
ouvir música, ir ao cinema, teatro e forrós)?
Análise de Conteúdo (Principais aspectos salientados):
A maioria dos sujeitos demonstrou que a principal modalidade de lazer cultural por eles
adotada era desenvolvida no próprio espaço doméstico. As atividades de lazer mais
recorrentes foram os telejornais e os programas televisivos de entretenimento, entre os
quais as novelas.
Poucos sujeitos demonstraram ter desenvolvido o hábito da leitura ou de frequentar
cinemas e teatros. Apenas dois sujeitos vivenciando estágios de velhice intermediária
(75 anos) e de velhice avançada (82 anos), com bom nível de escolaridade (sabem ler e
escrever satisfatoriamente), desenvolveram o hábito da leitura, considerando esta uma
atividade prazerosa. Uma idosa de idade avançada (81 anos), que sabe ler e escrever,
tem por hábito ir, semanalmente, assistir a peças de teatro, aos sábados. Não costuma ler
porque está sofrendo de glaucoma, mas ouve música diariamente.
A maioria dos sujeitos que referiu buscar uma vida social mais ativa, demonstrou fazêlo, preferencialmente, através da participação em os eventos públicos de forrós.
A participação em eventos de forrós demonstrou constituir a principal modalidade de
lazer social, desenvolvida pelos sujeitos, conforme demonstram as informações
constantes do Quadro 10, a seguir:
Sujeito
Que tempo dispensa ao lazer cultural (assistir a noticiários, ler
revistas, ouvir música), e social (ir ao cinema, teatro e forrós)?
A importância
atribuída pelos
sujeitos ao lazer
cultural e social.
Maria Aldeide
(60 anos)
Eu saía muito com uma amiga minha... Mas agora ela ta com um rapaz, né?
E eu agora não saio mais não. Ah, nós vivia saindo direto, ta com um ano
só, né, que nós paremo...
Sente
falta
da
companheira de forró,
que
se
casou
recentemente (prioriza o
lazer social).
Mª Heloíza
(61 anos)
Maria
Franciete
(64 anos)
Aos sábados fica o dia todo dentro de casa, inclusive lavando roupas para
fora. É ela quem faz o almoço aos sábados. Às vezes, aos domingos,
participa de piqueniques com familiares. “Vão para o Aquiraz, vão para a
Prainha, para o Pecém...” Estes piqueniques são organizados pela nora. O
último programa que fizeram foi perto de Aquiraz. Retornam quase
sempre, às 16:00h. Lá eles tomam banho de mar, brincam e almoçam nas
barracas.
De noite, eu gosto muito de ler...Ah, eu gosto de ler revista, romanço... As
meninas levam muita revista, lá pra D. Tatá... Ah, é muito bom...
Menciona gostar de ir a forrós: “Todo domingo eu saio... Só volto à noite,
lá pras nove horas... Às vezes eu volto correndo do ponto de ônibus de
noite, sozinha....”
Vai todas as noites
conversar com familiares
e amigos na calçada de
casa. (prioriza o lazer
social).
Gosta de assistir à
televisão trancada no seu
quarto (prioriza o lazer
sociocultural) .
107
Que tempo dispensa ao lazer cultural (assistir a noticiários, ler
revistas, ouvir música), e social (ir ao cinema, teatro e forrós)?
A importância
atribuída pelos
sujeitos ao lazer
cultural e social.
Mª Verônica
(66 anos)
“Nos dias de quinta-feiras eu escuto até as 7 horas a Samantha...É o forró
93... Sexta-feira não tem nada... (refere-se ao grupo do CIAPREVI). Sextafeira só tem a reza comum mesmo, em casa, de noite. Ao cinema eu vou,
ali perto do Cristo Redentor”. (no Centro Cultural Dragão do Mar. E eu
acho que a gente paga só a metade... Outro dia eu fui, começou às 8 horas e
terminou às 9h...Foi até sobre o Juazeiro, Padre Cícero... No Pirata eu vou,
mas eu não danço porque o meu marido morreu faz só um ano e sete meses
e eu não tou dançando... Dia de sábado, às vezes minha filha casada liga
para eu ir pra casa dela, em Beberibe. Quando ela não liga, eu não posso
ir... Dia de sábado, quando eu não vou pra Beberibe eu fico em casa, meu
filho é que vai para o mercantil. Ah, lá em Beberibe eu vou pra praia, jogo
de bola com meus netos, brinco de quebra-cabeças...Sábado à tarde a gente
vai passar às tardes lá na cidade e fica até as 9h da noite... Dia de domingo
eu vou assistir missa lá perto da praia...Aonde eu estiver eu vou pra missa...
A missa termina às 8h, ou oito e meia (da manhã) e de lá a gente vai pra
praia ou pras Falésias... Quando eu não vou eu, fico só em casa... Mas às
vezes, dia de sábado ou domingo, eu vou pra praia do Futuro com a minha
filha...”
Gostaria de sair mais,
porém depende do convite
da filha que mora fora e
da disposição da filha que
mora com ela (prioriza o
lazer social).
Maria
Francisca
(68 anos)
Passa quase o dia todo assistindo a noticiários de rádio e televisão,
assistindo aos programas e filmes que gosta na televisão e indo visitar as
amigas que moram próximo de sua casa...
Sujeito
Maria
Felismina
(69 anos)
Maria
Gertrudes
(70 anos)
Maria
Luiziana
(73 anos)
Mª Joseneide
(74 anos)
Maria Albina
(75 anos)
Maria
Catarina
(76 anos)
“Vou pro forró no Banco do Nordeste do Brasil (BNB), às vezes, eu saio lá
da minha menina e vou direto pra lá... Ou então vou aqui para o Mercado
dos Peões, dia de sexta-feira... Ah! Eu gosto de dançar...” Em casa, assiste
a todos os programas de televisão de que gosta.
“Não to gostando mais de ir a isso não (forró)... Mas de teatro eu gosto...
Eu tenho uma amiga que a gente sai junto, mas agora ela está doente, a
gente vai pra procissão... Fui pra procissão de Nossa Senhora Aparecida, lá
no bairro tem a Igrejinha dela...” (demonstra uma identificação racial com
a Santa Padroeira do Brasil).
“Assisto às novelas e o jornal”, em casa.
“Hoje em dia, ói, eu participo da bandinha, eu toco no tamborim e canto,
quando precisa. Eu acho bom porque a gente sempre tem convite para tocar
fora...”
“Eu não sei nem o que é teatro ou cinema... Só uma vez na vida fui
convidada junto com outras pessoas a assistir a um filme... mas era filme
de propaganda, para divulgar um produto de sabão em pó. E se admira:
“Olha aí, o filme que eu fui assistir...”
“Aqui ficou o meu lazer... é o meu lazer até hoje...”
“Ah, é muito difícil, é muito difícil mesmo... Eu não gosto muito não... Até
que eu gosto assim de domingo da Eliane é [de assistir ao programa
televisivo dessa apresentadora de televisão]... Eu não, não gosto muito de
teatro não, às vezes me convidam, mas eu não gosto não...”
O seu principal lazer no final de semana é o forró na “Casa Cheia” E
enfatiza: “Durante o dia a gente já vem pra cá e de noite a gente não pode
sair. A gente sai só durante o dia, à noite ninguém vai pra canto nenhum”.
Semana passada, eu fui pro cinema, lá perto do São Luiz, que passou um
filme para os idosos.... Nós assistimos... foi agora há pouco, lá na Praça do
Ferreira...”
Mª Odésia
(77 anos)
A partir dos relatos da idosa e das atividades que integram a sua rotina
diária, percebe-se que os grupos de convivência são a sua principal fonte de
interação social. “Eu queria mais antes visitar minha filha... E meus netim
tudim tão lá... Eu iria passear... Mas o meu genro agora ta sem carro, o
bichim... Mas quando ele ta com carro a gente vai passear na serra de
Maranguape... Ele é doido por essas coisas... pescar...”
Mírian
(81 anos)
Afirma que não perde os shows artísticos do Mercado das Artes, todas as
sextas-feiras, à noite. Quando está em casa, costuma ouvir música, mas não
lê mais porque está com um sério problema de glaucoma.
Aprecia os programas de
televisão, incluindo os
filmes. (Prioriza o lazer
sociocultural).
Mantém os níveis de bemestar, frequentando forrós
em
diversos
lugares
(prioriza o lazer social).
Sente-se satisfeita com a
rotina diária. Assiste à
televisão
em
casa
(prioriza
o
lazer
cultural).
Só realiza atividades de
lazer em casa, quando lhe
sobra tempo.
O grupo preenche a
maior parte de suas
necessidades de lazer
social.
O grupo de convivência
do CIAPREVI-CE é o seu
principal lazer.
Assiste à televisão; Faz
leituras
religiosas
(prioriza
o
lazer
cultural).
Não sai mais vezes
porque tem medo de sair
de casa (prioriza o espaço
doméstico porque sente
insegurança em sair).
Costuma visitar a filha e
realizar programas com a
família dela, quando a
convidam, mas esses
passeios parecem ser
raros (sente falta do lazer
social).
Ouve música, quando está
em casa e tem uma rotina
social prazerosa
108
Que tempo dispensa ao lazer cultural (assistir a noticiários, ler
revistas, ouvir música), e social (ir ao cinema, teatro e forrós)?
Sujeito
Maria Alice
(82 anos)
Ressalta que gosta mais de ler, assistir ao programa do Ratinho, e que não
gosta de Teatro. Lê romances em casa. Diz que só na juventude participava
de pastoris. “Mas essa época já passou...”
Maria Amélia
(86 anos)
Assiste ao Jornal Nacional todas as noites. Uma vez por mês participa de
uma sessão de cinema no Cine São Luiz, onde chega de manhã, às 08
horas, para tomar café primeiro e depois assistir ao filme.
A importância
atribuída pelos
sujeitos ao lazer
cultural e social.
Mantém os níveis de bemestar, participando de
atividades religiosas na
Igreja (prioriza o lazer
cultural e as atividades
na Igreja) .
Dorme cedo, mas diz
assistir a programas de
televisão (prioriza o
lazer cultural).
QUADRO 10 - Item 2.1: Importância atribuída pelos sujeitos às atividades de lazer cultural e social
5.3.4 Em relação ao contexto comunitário extragrupo de convivência do CIAPREVI-CE:
(Item 2.2: Que tempo reserva para se encontrar com os amigos e para conversar sobre
assuntos de interesse coletivo? da rua onde mora, do bairro, da cidade etc.)
Análise de Conteúdo (Principais aspectos salientados):
A maioria dos sujeitos referiu que mantém uma rede de amigos, como atividade de
socialização preferencial. Entretanto, alguns não demonstraram abertura para discutir
assuntos particulares. As conversas giram em torno de assuntos triviais do dia-a-dia,
conforme demonstra o Quadro 11, a seguir.
Observou-se, de modo geral, que a participação em atividades gratificantes e de
socialização, em contextos extragrupo do CIAPREVI-CE, tem decisiva importância
para a qualidade de vida dos sujeitos. Entretanto, nenhum dos sujeitos mencionou ter
por hábito incluir a discussão de assuntos de interesse coletivo nas conversas informais
entre amigos, nos locais onde moram, demonstrando não exercitar a consciência crítica,
em relação aos problemas que afligem a coletividade, em geral.
Sujeito
Que tempo reserva para se encontrar com os amigos e para
conversar sobre assuntos de interesse coletivo (da rua onde
mora, do bairro, da cidade, etc.)
Maria Aldeíde
(60 anos)
“Eu tive de ir ali no Cristo Redentor, ali na Praia de Iracema...
Mas depois aqui no grupo não houve mais nada... Às vezes eu
digo: Meu Deus, tomara que chegue logo a terça pra eu ir para o
grupo...”
Mª Heloíza
(61 anos)
“Todas as noites a gente vai conversar em frente de casa, mas a
gente só discute sempre sobre futebol... (E dá muitas
gargalhadas com as derrotas do time adversário...) Enfatiza,
contudo: “Mas não tem briga não, é só por animação, não tem
confusão não....”
A importância
atribuída pelos sujeitos
às conversas informais
e aos assuntos de
interesse coletivo
Mostra insegurança em
relação ao bairro onde
mora. O CIAPREVI é a
principal instância de
socialização da idosa.
Participa de uma roda de
amigos todas as noites,
em frente à sua casa.
109
Sujeito
Que tempo reserva para se encontrar com os amigos e para
conversar sobre assuntos de interesse coletivo (da rua onde
mora, do bairro, da cidade, etc.)
Maria
Franciete
(64 anos)
“Todo domingo eu saio... Só volto à noite, lá pras nove horas...
Às vezes eu volto correndo do ponto de ônibus de noite,
sozinha....”
Mª Verônica
(66 anos)
“Às vezes eu converso, e às vezes não. Porque meus vizinhos
são crentes e eles passam a noite toda tocando violão, cantando e
os da frente gostam de fofoca e eu não gosto não..”.
Maria
Francisca
(68 anos)
Maria
Felismina
(69 anos)
Maria
Gertrudes
(70 anos)
Maria Luiziana
(73 anos)
Mª Joseneide
(74 anos)
Maria Albina
(75 anos)
Maria Catarina
(76 anos)
Mª Odésia
(77 anos)
“Todas as noites, diariamente, converso com a minha irmã que
mora vizinho à minha casa e todos os fins-de-semana, vou para
os forrós, com minhas amigas.”
Afirma: ”Eu tenho medo de sair... Eu moro na Aerolândia, perto
do Lagamar... Doutora, a minha casa é constantemente fechada,
não pode abrir não, por causa do perigo dos assaltos. A senhora
abra a televisão hoje que vai sair só Aerolândia...”
“Eu tenho uma amiga que a gente sai um pouco e a gente
conversa.” Tem muitos amigos no CIAPREVI-CE, mas no
bairro não tem amigas porque os vizinhos são de outra religião.
Diz que conversa todas as noites com suas amigas da
vizinhança, cujas idades variam de 60 a 65 anos, “Eu não
converso com elas sobre seus problemas particulares”.
Diz que, quando está em casa, às vezes fica o dia todo assistindo
aos programas de televisão que gosta ou pintando peças de
tecido. Não está frequentando mais forrós porque está com um
novo companheiro. “Agora eu to mais caseira”...
Conversa todas as noites com um grupo de amigas que moram
perto de casa, mas não conversam sobre assunto de política...
“É a mesma patotinha que fica conversando toda a noite...”
Ressaltou que só encontra os amigos nos grupos de
convivência, porque em seu bairro as portas da casa têm que
ficar constantemente fechadas, por causa da violência. “As
portas de casa são sempre trancadas”...
Ela diz que não tem nem tempo para conversar com ninguém da
rua, passa e apenas cumprimenta, porque vive correndo daqui
para acolá e, à noite, quando chega em casa, procura logo ir se
acomodar em uma cadeira de balanço, levantando os pés
inchados de tanto andar e trabalhar. “Eu vou logo pra cadeira de
balanço e fico de pés pra cima, exausta!...”
“Vou sempre almoçar e jantar fora com a minha filha solteira e
os amigos dela, aos sábados e domingos e, às vezes vou passar
os fins-de-semana, em uma casa de praia.”
Vai aos grupos de oração na Igreja e viaja, às vezes, para visitar
os familiares, com a filha. “Às vezes a gente vai visitar os
familiares no Parajuru...”
A importância
atribuída pelos sujeitos
às conversas informais
e aos assuntos de
interesse coletivo
Mantém
uma
programação de eventos
de forró frequente.
Não
tem
bom
relacionamento com os
vizinhos porque são de
outra religião.
Tem
uma
rede
permanente de amigas.
Não gosta de sair com
mais frequência por ter
medo da violência.
Tem
permanentes.
amizades
Mantém uma rede de
amigas na rua onde
mora, porém não troca
confidências com elas.
No momento diz que está
mais caseira porque se
casou de novo.
Mantém
uma
rede
permanente de amigas na
rua onde mora.
Frequenta forró, aos
domingos, durante o dia.
Não tem amizades com
outras idosas do seu
bairro.
Mantém um
relacionamento distante
com elas.
Reúne-se com familiares
e amigos, nos fins- desemana.
Visita
periodicamente
Maria Alice
familiares na cidade onde
(82 anos)
nasceu, com a filha.
Não tem amizades na
“É de mim mesmo, todo mundo me conhece, todo muito gosta rua. Diz que sempre foi
Maria Amélia
(86 anos)
de mim, mas é eles na sua casa e eu na minha...”
assim, e não gosta disso
de jeito nenhum.
QUADRO 11 - Item 2.2: Importância atribuída pelos sujeitos às conversas informais com amigos, incluindo a
discussão de assuntos de interesse coletivo.
Mírian
(81 anos)
110
5.3.5 Apreciação das estratégias de acesso à cidadania desenvolvidas pelos sujeitos, com base
no “Instrumento 1” aplicado
1) Grupo Etário entre 60-64 anos:
A análise do discurso proferido por cada um dos três sujeitos permitiu as
seguintes constatações:
Em relação ao primeiro grupo etário (60-64 anos) considerado, correspondente ao
estágio de velhice inicial, havia uma idosa não alfabetizada e duas alfabetizadas (sabem ler e
escrever).
Observou-se que as estratégias de acesso à cidadania, desenvolvidas pela idosa
não alfabetizada (aqui identificada como Sujeito1) restringiram-se em buscar ampliar espaços
de lazer social, embora a busca pela manutenção da saúde a levasse a procurar se informar
sobre a adoção de uma alimentação saudável e a buscar cuidados médicos de saúde,
sistematicamente.
Entretanto, a frustração que a idosa manifestou por ser analfabeta (circunstância
que para ela constituía impedimento ao exercício efetivo da cidadania), pareceu não constituir
estímulo suficiente para fazê-la buscar vencer e superar o analfabetismo, como um desafio a
ser superado nesta etapa da vida. Nesse sentido, foi notório o cansaço que essa idosa deixou
transparecer, em função dos muitos anos de trabalho exaustivo, em uma atividade comercial.
Paralelamente a esse nível de insatisfação demonstrado, evidenciou-se a insatisfação pela falta
de realização no casamento. Percebeu-se, em sua fala, que o maior sonho dessa idosa é
encontrar um novo companheiro que a respeite e a acompanhe a eventos de lazer social.
Da mesma forma, constatou-se da parte de uma das idosas alfabetizadas desse
mesmo grupo etário, que também relatou ter vivido experiências traumáticas de vida (aqui
identificada como sujeito 2), o mesmo interesse em procurar frequentar grupos de
convivência de várias naturezas, durante a semana, e, inclusive, aos domingos. Assim como o
Sujeito 1, essa idosa desenvolveu estratégias de acesso à cidadania, direcionadas para a busca
sistemática por diversificados espaços de socialização.
Contudo, essa idosa alfabetizada (Sujeito 2) demonstrou alimentar um projeto de
cidadania mais elaborado que a idosa não alfabetizada e que consiste em buscar se incluir na
tecnologia da informação e participar de uma rede de amigos pela Internet. Percebeu-se que
os conflitos intrafamiliares constituem obstáculo para o bem-estar dessa segunda idosa
mencionada e que o seu estado emocional fragilizado necessitava de ser trabalhado pela
111
equipe de psicólogos do CIAPREVI-CE.
A segunda idosa escolarizada desse grupo etário (aqui designada como Sujeito 3),
por sua vez, demonstrou possuir uma espiritualidade trabalhada em constantes exercícios de
meditação e através da participação ativa no trabalho social de sua Igreja. Essa postura
demonstrada pareceu transcender a esfera de individualismo e o mero prisma de interesses
particulares, projetando-se para o coletivo e para o bem-estar de outras pessoas, tanto do
grupo do CIAPREVI-CE, quanto de outras instâncias comunitárias que frequenta.
Esse “modo de ser” da idosa em questão (Sujeito 3), pertinente a uma vivência
proativa, é distintivo de uma vivência cidadã participativa. A idosa interessa-se pelo
aperfeiçoamento pessoal, mas também pelo aperfeiçoamento intelectual de outras idosas do
grupo, as quais, assim como ela, participam das aulas do curso de alfabetização ministrado no
CIAPREVI-CE.
A idosa acima referida (Sujeito 3), apesar de viver um problema familiar
estressante, pelo fato de ter uma filha especial, demonstrou estado de equilíbrio emocional,
irradiando satisfação com a vida.
2) Grupo Etário entre 65-69 anos
Entre os sujeitos pertencentes a esse grupo etário (estágio de velhice
intermediária), havia uma idosa semi-analfabeta (aqui identificada como Sujeito 1) e duas
alfabetizadas (aqui identificadas como Sujeito 2 e Sujeito 3, respectivamente).
A primeira idosa (Sujeito 1) é viúva, recebe pensão do marido e vive na
companhia de uma filha universitária e de um filho, que trabalha e estuda, encarregando-se de
fazer as compras da casa. Relatou vivenciar problemas familiares no relacionamento com a
filha, e dificuldade em instrumentalizar certos aspectos da vida cotidiana, sobretudo a solidão.
A análise do discurso da supracitada idosa permitiu a constatação dos seguintes
atributos favoráveis e desfavoráveis à cidadania:
Um atributo favorável à cidadania diz respeito ao fato dessa idosa (Sujeito 1) mostrar
ser persistente em relação à busca por alfabetizar-se, o que a faz participar
semanalmente das aulas de alfabetização ministradas no CIAPREVI-CE;
Outro atributo favorável constatado em relação à cidadania vivenciada por essa idosa
diz respeito ao fato de que ela mantém o projeto particular de reconstruir a vida
sentimental, desfeita pelo falecimento do esposo.
112
Um atributo desfavorável à cidadania, constatado em relação ao mesmo sujeito (Sujeito
1), foi o que diz respeito ao fato de essa idosa demonstrar pouca abertura em dialogar
com pessoas de sua vizinhança que professam outros credos religiosos, o que a distancia
de uma vivência cidadã mais enriquecedora, no plano da integração com outras pessoas
do bairro.
A idosa identificada como Sujeito 2 desse grupo etário é alfabetizada e relatou ter
vivenciado experiências traumáticas de vida, entre as quais o fato de ter sido rejeitada pela
mãe, ao nascer. Foi adotada por um casal abastado, cujos filhos legítimos a rejeitaram, sendo
que, inclusive, um deles tentou estuprá-la, quando jovem. A idosa viveu um casamento
infeliz, sofrendo violência física da parte do marido. Teve um dos filhos assassinados.
A análise do discurso emitido pelo referido sujeito (Sujeito 2) permitiu a
constatação dos seguintes aspectos favoráveis e desfavoráveis à cidadania:
Entre os aspectos favoráveis, percebeu-se que a supracitada idosa (Sujeito 2) vive uma
velhice bem-sucedida e economicamente estável, na companhia da filha e de dois netos.
Essa idosa procura viajar sistematicamente, em excursões, e exercita continuamente a
espiritualidade, através da participação em atividades religiosas, tanto do espaço
doméstico quanto no de sua Igreja.
No tocante à espiritualidade, demonstrou preocupar-se em ser solidária e adotar práticas
voltadas para o bem-estar pessoal, mas também para o bem-estar das pessoas, em geral.
Demonstrou saber instrumentalizar com sabedoria e discernimento assuntos inerentes à
cidadania prática, inclusive através da cidadania relacional. Privilegia tanto as
atividades culturais, quanto as atividades de socialização, e procura interagir
sistematicamente com uma rede de amigas;
Salienta-se como aspecto desfavorável à cidadania da idosa (Sujeito 2) o fato de que
esta demonstra buscar no grupo de convivência um espaço eminentemente de lazer, não
o considerando propriamente como espaço de cidadania, onde poderá desenvolver
novas áreas de conhecimento. Nesse sentido, não demonstrou alimentar novas
expectativas em relação à cidadania, porém busca manter o padrão de qualidade de vida
que já conseguiu conquistar.
A terceira idosa pertencente a esse grupo etário (Sujeito 3) é alfabetizada, mas
dispõe de menor poder aquisitivo que a idosa identificada como Sujeito 2, pois não recebe
113
pensão do marido. Viveu experiências de vida igualmente traumáticas: Perdeu parentes de 1º
grau por morte violenta e sofre com filhos alcoólatras, que bebem todo fim-de-semana.
Essa idosa (Sujeito 3) busca instrumentalizar a vida prática utilizando a
“cidadania relacional”, por meio da qual consegue obter serviços de saúde particulares, por
não dispor de plano de saúde. Administra o estresse, viajando todos os finais de semana para a
casa de praia de uma filha casada, mas demonstra sofrer com a situação provocada pelo
alcoolismo dos filhos. Extravasa, participando de eventos de forrós e por meio do canto e da
música.
Estabelecendo-se uma análise comparativa entre os dados colhidos do discurso de
cada um dos três sujeitos, salientam-se os seguintes aspectos:
A primeira idosa (Sujeito 1) demonstra vivenciar a “religiosidade”, a qual atua
como importante estratégia para enfrentar os conflitos que vivencia na família. Entretanto,
necessita de ser trabalhada para exercitar essa área, de modo a que possa conviver melhor
com a diversidade, ampliando ao mesmo tempo a consciência crítica em relação às questões
de cidadania da atualidade. Nesse sentido, ao contrário da segunda idosa mencionada (Sujeito
3), ela não demonstrou não ter conseguido extrapolar o plano da individualidade, mostrando
estar circunscrita à esfera do próprio bem-estar pessoal e familiar.
Percebeu-se que as estratégias de acesso à cidadania, adotadas pela idosa com
maior poder aquisitivo e com espiritualidade desenvolvida (Sujeito 2) levam-na a superar com
maior facilidade as dificuldades ocasionadas pelos traumas existenciais.
Entretanto, estabelecendo-se termos comparativos entre o desempenho cotidiano
dessa idosa (Sujeito 2) e o de outra idosa (Sujeito 3), com o mesmo nível de instrução, mas de
menor poder aquisitivo, alcançou-se o entendimento de que ambas, igualmente, conseguem
instrumentalizar a vida prática, ou seja, atuar nos vários espaços de cidadania investigados,
com senso de sabedoria e de satisfação com a vida.
3) Grupo Etário entre 70-74 anos:
A primeira idosa desse grupo etário (Sujeito 1), é solteira, independente, e não teve
filhos. Sobrevive de um salário mínimo e leva uma vida saudável, totalmente voltada
para a adoção de práticas esportivas e para o exercício da espiritualidade. Não sabe ler,
mas procurou engajar-se nas aulas de computação e afirmou que, a partir daí, “até que
está entendendo mais uma coisinha” (referiu-se à habilidade de leitura e escrita).
A segunda idosa (Sujeito 2) desse grupo etário é viúva e bastante ativa. Teve filhos de
114
diferentes casamentos, dois dos quais moram na sua casa. Para acompanhar de perto os
passos de um dos filhos “que dava trabalho para estudar”, ela passou a frequentar o
curso de alfabetização de adultos na mesma escola que ele frequentava, à noite, e com
isso chegou a concluir o 1º grau.
Essa idosa (Sujeito 2) sobrevive da pensão do marido, mas exerce atividades produtivas
informais, que complementam a sua renda mensal. Vive atualmente com um novo
companheiro, que a sustenta financeiramente, pagando inclusive o seu plano de saúde.
Tem por hobby ouvir uma hora de música, todos os dias, ao acordar, dedicando-se
também às aulas de ginástica quinzenais, em uma academia. Transferiu-se atualmente
para a casa do companheiro, deixando uma filha adotiva em casa, supervisionando os
seus filhos solteiros e administrando as atividades domésticas.
A terceira idosa desse grupo etário (Sujeito 3) luta com muita dificuldade para
sobreviver. Percebeu-se que ela frequenta alguns grupos, entre os quais um religioso,
pertencente à Igreja Católica, para obter alguma ajuda material, que semanalmente é
distribuída para os idosos que frequentam esses grupos.
Essa idosa (Sujeito 3) tem uma história de vida bastante sofrida, estudou até a 4ª série e
menciona que sabe ler e escrever. Trabalhou como empregada doméstica em casas de
família, desde a juventude. Casou-se aos 17 anos, em Mossoró, no Rio Grande do
Norte. Veio para Fortaleza, teve três filhos e ficou viúva. É pensionista do marido, e
sobrevive de um salário mínimo. Em sua casa vivem com ela, atualmente, os filhos
casados que estão separados, os netos e os bisnetos. O grande problema da vida dessa
idosa são os conflitos familiares que ela enfrenta. Um dos netos adolescentes não quer
estudar e passa as noites na rua, sem que ela saiba por onde anda. Ela não dorme direito,
esperando o neto chegar. A mãe do rapaz não a deixa se interferir no problema.
Constatou-se que as estratégias de acesso à cidadania adotadas pelos “Sujeitos 1 e 2”
desse grupo etário versaram em torno de ideais voltados para a obtenção da qualidade
de vida na velhice, através de hábitos e comportamentos de vida saudáveis.
Essas idosas (Sujeitos 1 e 2), com níveis de escolaridade bastante diferentes, mostraram
igual habilidade na instrumentalização da vida prática, obtendo êxito em suas lutas de
cidadania. A primeira idosa (Sujeito 1) cultiva a religiosidade como meio de
aprimoramento espiritual e faz atividades físicas, como forma de obtenção de saúde e
bem-estar. A segunda (Sujeito 2) adotou os exercícios de relaxamento como prática
espiritual e os exercícios físicos como prática para obter a saúde física.
115
Ressalta-se que ambas as idosas (Sujeitos 1 e 2) apresentam-se fisicamente bastante
joviais para a sua faixa de idade cronológica.
De modo contrário, a idosa (Sujeito 3) que passa por conflitos familiares demonstra
insegurança no relacionamento com outras pessoas do grupo, tendo o cuidado de “não
expor sua vida particular a ninguém”. Essa idosa tem um nível de escolaridade
elementar, mas procura exercitar no CIAPREVI-CE atividades voltadas para a pintura
em tecido. Participa da bandinha do centro, onde toca um instrumento, manifestando
contrariedade por ter sido levada a não participar mais das aulas de teclado, por terem
sido suspensas pelo centro.
Constatou-se que essa idosa (Sujeito 3) coloca em prática estratégias de acesso à
cidadania
arraigadas
em
princípios
individualistas,
buscando,
sobretudo,
a
sobrevivência material. Fisicamente denota um comportamento arredio, embora se
perceba que sente bastante satisfação em interagir com as outras idosas que participam
das oficinas de pintura.
4) Grupo Etário entre 75-79 anos:
Esse grupo etário é composto por três idosas de 75 anos; 76 anos e 77 anos,
respectivamente.
A primeira idosa (Sujeito 1) é funcionária pública municipal aposentada. Depois
que se separou do marido, foi levada por uma amiga a participar do grupo de convivência do
Teatro São José. Anos mais tarde, já aposentada, conheceu o grupo de convivência que
funcionava no Centro Comunitário Dom Lustosa e foi participar também desse grupo. Sabe
ler satisfatoriamente e mantém uma atitude proativa e alegre em relação à vida.
A análise do discurso proferido por essa idosa revelou os seguintes aspectos
favoráveis e desfavoráveis à sua cidadania:
Entre os aspectos favoráveis observados em relação à cidadania, está o fato de essa
idosa demonstrar autonomia, lucidez e independência. A idosa leva uma rotina de vida
prazerosa, procurando manter uma rede de amigos e se relaciona satisfatoriamente tanto
com o filho solteiro, que mora com ela, quanto com os casados. Busca continuamente
manter a saúde, através dos órgãos públicos onde está conveniada e ampliar os espaços
de cidadania, através da participação em novos grupos de convivência.
Entre os aspectos desfavoráveis à cidadania está o fato de que essa idosa (Sujeito 1)
116
desenvolveu trauma de violência sofrida do marido, durante o casamento.
Percebeu-se, igualmente, que ela despende tempo e esforço para participar de dois
grupos de convivência que funcionam em dias e horários concomitantes.
O segundo sujeito investigado (Sujeito 2) tem 76 anos. Casou-se aos 16 anos. È
divorciada e teve 10 filhos, que hoje estão casados. Menciona que “sempre viveu de criar
filho e trabalhar”. Depois que se divorciou se sentiu muito só e começou a participar do grupo
de convivência do Teatro São José. Hoje tem um novo companheiro, que a respeita e a
acompanha em todos os lugares.
Percebeu-se que essa idosa (Sujeito 2) tem grande preocupação com a saúde,
estando necessitando de tratamentos médicos especializados, pois, conforme referiu, está
sofrendo de síndrome do pânico e tendo dificuldades de encontrar um local especializado para
tratar-se.
A análise do discurso proferido pela idosa (Sujeito 2), permitiu constatar-se que entre os
fatores desfavoráveis à sua cidadania encontra-se a questão da violência urbana. Esta
parece ser um dos fatores desencadeantes do problema de saúde (síndrome do pânico)
que está enfrentando. Referiu que, quando o marido era vivo, chegou a sofrer violência
da parte dele, o que a traumatizou.
Outro fator estressor constatado foi o fato de que essa idosa está empreendendo um
verdadeiro malabarismo para dar conta dos ensaios dos grupos de dança de que
participa (CIAPREVI-CE e Teatro José de Alencar), uma vez que os dias dos ensaios
dos dois grupos são em horários concomitantes.
Percebeu-se que o CIAPREVI-CE necessitará de promover condições para que os
sujeitos participem com tranquilidade dos dois grupos de dança em que estão
envolvidos, porque têm importância direta na qualidade de vida dos sujeitos envolvidos;
O terceiro sujeito desse grupo (Sujeito 3) tem 77 anos, conforme consta de sua
carteira de identidade, mas referiu que essa não é a sua idade real. Segundo menciona, essa
idade foi antecipada um pouco para mais, quando ainda era jovem, para que ela pudesse
antecipar a participação em pleitos eleitorais e, assim, votar em um político amigo de seus
patrões.
Essa idosa alfabetizou-se até a 3ª série, mas ainda busca estudar nas “aulas de
letras” ministradas no CIAPREVI. É viúva, mas vive há muitos anos com outro companheiro.
Aposentou-se, como funcionária da Escola Santa Luzia, onde hoje ainda vende lanches para
117
os alunos, informalmente. Menciona que durante muito tempo trabalhou na referida escola,
sem ter a carteira assinada, e que lutou muito para conseguir a sua aposentadoria. Exerce essa
atividade rentável, inclusive durante o tempo em que participa das reuniões do grupo de
convivência do CIAPREVI, às terças e quintas-feiras. Ali vende também os refrigerantes que
os idosos compram, na hora do almoço.
Entre os atributos positivos constatados em relação à cidadania, mencionam-se os
seguintes:
A idosa (Sujeito 3) demonstra ser ativa, lúcida e independente. É alegre e bem
humorada, irradiando simpatia e sinceridade, ao exprimir-se;
A religiosidade atua como um importante recurso pessoal utilizado por essa idosa para
superar sentimentos negativos e encontrar um sentido para a vida. Nesse sentido,
concorda-se com Francl (1999, apud NERI, 2002, p.127), segundo o qual encontrar
significado para tudo o que se faz é primordial para uma vida plena, e que a fé pode
interferir positivamente na busca desse sentido.
Entre os atributos desfavoráveis desenvolvidos pelo sujeito em relação à
cidadania, mencionam-se os seguintes:
Essa idosa (Sujeito 3) demonstra ser autonegligente com a própria saúde, que diz ser
boa. Entretanto, conforme salientou, há dois anos, não faz exames de prevenção e que
está necessitando, inclusive, fazer uma operação cirúrgica para tratamento de períneo.
O marido desse idosa (Sujeito 3), segundo afirma, é aposentado como ela, mas ainda
trabalha para uma empresa particular, inclusive aos sábados, pela manhã, e o tempo que
ele passa em casa fica fazendo atividades inerentes ao trabalho que exerce fora. Ela
assume todas as tarefas de casa sozinha, mostrando-se bastante estressada com a sua
rotina de vida.
A idosa referida demonstrou ser dotada de uma consciência ingênua, o que a fez ser
politicamente manipulada na juventude, inclusive, tendo consentido em que a sua idade
fosse “aumentada” em alguns anos, para que pudesse votar em favor de um político
amigo de seus antigos patrões;
Sente-se na obrigação de ajudar financeiramente a filha casada, para a qual, inclusive,
estava pagando um empréstimo mensal, de valor bastante significativo para a
remuneração de um salário mínimo a que a idosa faz jus como aposentada. Por causa do
118
comércio de bombons, chega sempre atrasada ao e quase nunca assiste às palestras;
Não mantém uma rede de amigos permanente na rua onde mora, só nos grupos. Dispõe
de uma secretária eletrônica para receber os recados telefônicos, mas este serviço não
está funcionando a contento.
5) Grupo Etário (80 anos a mais)
Esse grupo etário foi composto por três idosas, de 81, 82 e 86 anos,
respectivamente.
A primeira idosa (Sujeito 1) é viúva, teve 6 filhos, e mora com uma filha solteira,
com a qual se relaciona harmoniosamente. A idosa é uma das participantes mais antigas do
grupo de convivência do CIAPREVI-CE. Está ali desde a fundação do equipamento, quando
este ainda era denominado Centro Comunitário Dom Lustosa. Participou das primeiras
atividades organizacionais tanto do equipamento, quanto do grupo de convivência
propriamente dito. Depois de aposentada, passou a ir ao local diariamente, provavelmente
para não romper definitivamente os vínculos com o serviço público. Então engajou-se no
grupo. A história dessa idosa encontra-se relatada no Capítulo 5 deste estudo (História de D.
Mírian).
Entre os atributos favoráveis à cidadania, percebidos em relação à idosa, está o
fato de que ela mostra ser dotada de um espírito empreendedor, o que lhe possibilitou alcançar
várias conquistas na esfera da cidadania. Entre estas, menciona o fato de ter conseguido
concluir o 1º grau, condição que facilitou o seu ingresso no serviço público.
Além desses atributos favoráveis, a idosa denotou usufruir de senso de lucidez,
mas de relativa independência, porque vivencia sérios problemas de glaucoma. Contudo,
mostra-se disposta e alegre, relacionando-se bem com todas as pessoas. É dotada de um
espírito solidário e aberto a acolher o drama de outros idosos. Vivencia uma velhice
reconhecida pelos estudiosos como bem-sucedida. Tem uma personalidade comunicativa e
alegre, relacionando-se bem com todas as pessoas com as quais interage no dia-a-dia.
Participa semanalmente de eventos socioculturais, entre os quais assiste a peças de teatro e
frequenta uma casa de shows artísticos da cidade. Ali reencontra os amigos e se diverte,
apreciando uma boa música.
Constatou-se que os atributos pertinentes à cidadania relacional, apontado pelos
estudiosos deste estudo (OSTERNE, 2008), foi evidenciado na fala da idosa mencionada
(Sujeito 1). Esta, imbuída dos melhores propósitos de sobrevivência, teve que abrir mão de
119
uma consciência crítica, que favorecesse uma reflexão mais aprofundada acerca da realidade
social, e a ajudasse a expandir as suas ações para o coletivo. Optou por salvaguardar a vida
prática, apoiando-se e tendo como referência a boa vontade e o espírito prático de pessoas que
a ajudaram a conquistar um espaço de cidadania no serviço público, e, assim, conseguiu o
sustento e a educação para os filhos. Esse aspecto em nada empana os méritos da idosa, mas
não podem deixar de ser referidos neste estudo, por ilustrar um aspecto do paradigma
tradicional, vigente na realidade brasileira.
A segunda idosa desse grupo tem 82 anos. Casou-se aos 24 anos, fugindo da casa
da madrasta. Mora com uma das filhas e o neto. Afirma ser uma pessoa que sempre gostou de
ajudar os outros a resolverem os seus problemas. Quando era mais jovem, trabalhou como
líder comunitária, em prol do bem-estar das pessoas que residiam no bairro Meireles. Está no
grupo de convivência há 20 anos. Aprendeu a ler, escrever e a fazer contas sozinha, assim
como todos os seus irmãos (é autodidata).
A idosa em referência (Sujeito 2) conhece os seus direitos de cidadania e inclusive
procurou as autoridades para denunciar a sobrinha, que mantinha o pai aposentado, em
cativeiro doméstico. Participa de reuniões e atua como “ministra da Eucaristia” da Igreja
Católica (uma função missionária para leigos), por meio da qual visita semanalmente pessoas
enfermas que não podem frequentar às missas regularmente.
Entre os atributos favoráveis à cidadania, constatados em relação à idosa, está o
fato de que usufrui de autonomia e independência na instrumentalização da vida cotidiana.
Denota ser bastante atuante na Igreja e participa das atividades que lhe são prazerosas no
CIAPREVI-CE. Exercita o hábito da leitura e procura aperfeiçoar os mecanismos cognitivos,
também através de aulas de computação. Deseja ampliar os espaços de socialização, trocando
e-mails com outras pessoas, através da Internet. Alimenta sonhos e é proativa. É aberta e
solidária aos problemas da coletividade e utiliza o senso da espiritualidade para contornar os
problemas pessoais.
Entre os atributos negativos observados em relação à idosa (Sujeito 2) está o fato
de que demonstra atitudes sedimentadas em juízos de valor pessoais, o que parece impedi-la
de ser mais flexível em relação a determinadas posturas, entre as quais a aceitação dos
defeitos alheios. Demonstra viver sofrimentos íntimos que não partilha com outras pessoas do
grupo e também dificuldade de se adaptar aos mesmos interesses dos outros idosos (a dança),
por se interessar por atividades intelectuais.
A terceira idosa deste grupo (Sujeito 3) tem 86 anos. É alfabetizada e está no
grupo do CIAPREVI-CE há quatro anos. Começou a participar de grupos de convivência
120
depois que o marido faleceu, pois, segundo ela, caso estivesse vivo não concordaria em que
participasse desse tipo de atividade.
Tem uma história de vida muito sofrida: Perdeu a mãe muito cedo e durante a
infância e juventude sofreu muito da madrasta. Recentemente sofreu perdas familiares, em
situação trágica, envolvendo a questão da violência. Passou fome e criou os filhos da
madrasta, que não era boa para ela. Depois de casada, o marido tolheu-a a vida inteira.
Somente quando começou ele veio falecer (faleceu), ela começou a participar de grupos de
convivência de idosos e aprender a dançar. A dança representa muito para ela. Diz que
dançando se sente livre, porque nunca pôde fazer isso quando era jovem.
Entre os atributos favoráveis à cidadania observados em relação à idosa está o fato
de que denotou ser autônoma, lúcida e independente, apesar de vivenciar uma velhice
adiantada (86 anos). Esforça-se para manter uma postura proativa e alegre, evitando
sentimentos tristes. Tem uma preocupação em manter a saúde e adota mecanismos de
desestresse, sendo o principal a dança. Está a procura de ampliar os espaços de cidadania,
através da participação em novos grupos de convivência. Essa idosa referiu já ter participado
de um projeto da Prefeitura Municipal de Fortaleza.
Entre os atributos desfavoráveis à cidadania menciona-se o fato de que a idosa
procura levar uma rotina prazerosa e manter uma boa convivência familiar e social, mas se
mostra fechada em um mundo particular, quando não está nos grupos de convivência. Não
interage com a vizinhança, não procura fazer consultas médicas e demonstra atitudes
sedimentadas em conceitos próprios. Evidencia traumas em função dos dramas familiares,
denotando necessitar de maior acompanhamento psicoterápico.
Em relação às dificuldades de cidadania enfrentadas pela idosa (Sujeito 3),
percebeu-se que ela está empreendendo um verdadeiro malabarismo para dar conta dos
ensaios dos grupos de dança de que participa (CIAPREVI-CE e Teatro José de Alencar), uma
vez que os dias dos ensaios são em horários concomitantes.
Conclui-se este tópico com as reflexões feitas por Ruth e Coleman (1996, apud
NERI, 2002, p.127), que desenvolveram pesquisas sobre as estratégias de enfrentamento às
circunstâncias adversas da velhice, desenvolvidas por sujeitos idosos.
Os resultados obtidos neste tópico guardam pertinência com as conclusões obtidas
por Ruth e Coleman (1996 apud NERI, 2002, p.127), que desenvolveram pesquisas sobre as
estratégias de enfrentamento às circunstâncias adversas da velhice, desenvolvidas por sujeitos
idosos. Com os aludidos estudiosos, foi possível esclarecer-se que as estratégias de acesso à
cidadania, adotadas pelos sujeitos, mostraram estar relacionadas não especificamente com o
121
fator etário, porém com o nível educacional, capacidade cognitiva, experiência de vida,
conhecimentos, habilidades sociais, apoio social, motivação, saúde, gênero, recursos
econômicos, condições de vida e também com fatores de personalidade, atitudes, autoconceito
e com auto-estima dos sujeitos investigados.
5.3.6 Validação das estratégias de acesso à cidadania pelos sujeitos, com base no
“Instrumento 2” aplicado
Conforme demonstram os dados constantes do Quadro 12, a seguir, a maioria dos
sujeitos validou no segundo instrumento de pesquisa aplicado (Instrumento 2) os interesses de
cidadania na área da qualidade de vida, ratificando, direta ou subliminarmente, a interferência
negativa das situações de conflito no seu bem-estar e em sua qualidade de vida.
Acrescentou novas
atividades à sua rotina real,
abrangendo novos direitos
de cidadania
Sujeito
Manteve os interesses de
cidadania manifestados no
Instrumento 1
Suprimiu atividades de
sua rotina, manifestadas
no Instrumento 1
Maria
Aldeíde
(60 anos)
Manteve a rotina de atividades diárias
nos três espaços de socialização
investigados.
Não. O sujeito validou os
interesses
de
cidadania,
conforme Instrumento 1.
Maria
Heloíza
(61 anos)
Manteve a rotina de atividades diárias
nos três espaços de socialização
investigados.
Não. O sujeito validou os
interesses
de
cidadania
conforme Instrumento 1.
Maria
Franciete
(64 anos)
Não manteve a rotina de casa.
Manteve a rotina no CIAPREVI.
Manteve a programação de viagens
intermunicipais (lazer social).
Maria
Verônica
(66 anos)
Manteve os interesses na área da
qualidade de vida, excetuando as
atividades relativas à manutenção dos
gatos que cria em casa.
Maria
Francisca
(68 anos)
Manteve os interesses na área da
qualidade de vida, mas diminuiria a
rotina de trabalhos domésticos;
Manteve a rotina no CIAPREVI e as
atividades no espaço comunitário.
Sim. Diminuiria a rotina de
trabalhos domésticos.
Incluiria mais lazer, fazendo
viagens interestaduais (Capítulo
V do Estatuto do Idoso)
Maria
Felismina
(69 anos)
Manteve os interesses na área da
qualidade de vida, mas incluiria
mudanças na rotina de casa e do
CIAPREVI-CE.
Não. O sujeito manteve os
interesses
de
cidadania,
conforme Instrumento 1, mas
incluiu mudanças na rotina
diária de casa e do grupo do
CIAPREVI-CE.
Incluiria mais atividades de lazer
em casa e de saúde no
CIAPREVI (Capítulo IV e V do
Estatuto do Idoso).
Manteve a rotina em todos os espaços
de socialização.
Não. A idosa manteria a rotina
diária.
Incluiria mais sessões de teatro e
cinema na sua rotina semanal
(Capítulo V do Estatuto do
Idoso).
Maria
Gertrudes
(70 anos)
Sim. Retiraria a rotina de
trabalhos domésticos e se
dedicaria prioritariamente às
atividades de computação em
casa e no CIAPREVI-CE.
Sim. O sujeito validou os
interesses
de
cidadania,
conforme Instrumento 1, mas
excluiu
atividades
desgastantes em casa.
Incluiria mais passeios (área dos
direitos ao lazer (Cap.V do
Estatuto do Idoso).
Incluiria mais viagens de lazer
(área dos direitos ao lazer
(Capítulo V do Estatuto do
Idoso).
Incluiria mais atividades na área
da Educação e Cultura (Capítulo
V do Estatuto do Idoso).
Incluiria programação de mais
esportes e lazer (Capítulo V do
Estatuto do Idoso) no espaço de
socialização do CIAPREVI-CE e
comunitário.
122
Sujeito
Manteve os interesses de
cidadania manifestados no
Instrumento 1
Suprimiu atividades de
sua rotina, manifestadas
no Instrumento 1
Acrescentou novas
atividades à sua rotina real,
abrangendo novos direitos
de cidadania
Maria
Luiziana
(73 anos)
Manteve os interesses na área da
qualidade de vida, mas diminuiria a
rotina de trabalhos domésticos;
Manteria a rotina grupo.
Sim. Diminuiria a rotina de
trabalhos domésticos.
Incluiria mais passeios ao centro
da cidade (Capítulo V do
Estatuto do Idoso).
Maria
Joseneide
(74 anos)
Manteve os interesses na área da
qualidade de vida. Não retiraria nem
acrescentaria nada ao seu dia-a-dia.
Maria
Albina
(75 anos)
Manteve a rotina em todos os espaços
de socialização.
Não. O sujeito manteve os
interesses
de
cidadania,
conforme Instrumento 1, mas
incluiu mudanças na rotina
diária de casa e do grupo do
CIAPREVI-CE.
Não. O sujeito manteve os
interesses
de
cidadania,
conforme Instrumento 1, mas
incluiu mudanças na rotina
diária de casa e do grupo do
CIAPREVI-CE.
Maria
Catarina
(76 anos)
Manteve a rotina em todos os espaços
de socialização.
Não. O sujeito manteve os
interesses
de
cidadania,
conforme Instrumento 1, mas
incluiu mudanças na rotina
diária do grupo do CIAPREVICE.
Maria
Odésia
(77 anos)
Manteve os interesses na área da
qualidade de vida. Manteve a rotina
no CIAPREVI-CE. Não manteve a
rotina de casa
Sim. Diminuiria a rotina de
trabalhos domésticos.
Mírian
(81 anos)
Manteve a rotina em todos os espaços
de socialização.
Maria
Alice
(82 anos)
Manteve a rotina em todos os espaços
de socialização. Gostaria unicamente
de se reconciliar com uma das filhas.
Maria
Amélia
(86 anos)
Manteve a rotina em todos os espaços
de socialização.
Não. O sujeito manteve os
interesses
de
cidadania,
conforme Instrumento 1.
Não. O sujeito manteve os
interesses
de
cidadania,
conforme Instrumento 1.
Não. O sujeito manteve os
interesses
de
cidadania,
conforme Instrumento 1.
Não incluiu mudanças na sua
rotina diária.
Incluiria mais apresentações
artísticas do seu grupo musical
em público (Capítulo V do
Estatuto do Idoso).
Incluiria práticas de saúde no
CIAPREVI (Cap. IV e V do
Estatuto do Idoso), a partir das
situações
de
conflito
identificadas no contexto do
primeiro instrumento de pesquisa
aplicado (Quadro1)
Incluiria mais atividades de lazer
em casa e passeios (Capítulo V
do Estatuto do Idoso).
Não incluiu mudanças em sua
rotina diária.
Não incluiu mudanças em sua
rotina diária.
Incluiria a participação em mais
grupos de convivência em sua
rotina diária (Capítulo IV, Art.
10, da PNI).
QUADRO 12 - Validação dos interesses de cidadania pelos sujeitos, à luz do Instrumento 2
Os dados constantes do Instrumento 2 (em apêndice), explicitados no supracitado
quadro (Quadro 12), demonstram que dez (10) entre os quinze (15) sujeitos manteriam a
rotina nos espaços de socialização cotidianos, e cinco (5) não se mostraram plenamente
satisfeitos com a rotina de trabalhos domésticos, o que mostra que essa circunstância
estava interferindo parcial ou integralmente, de forma negativa, no seu bem-estar e
qualidade de vida;
Observou-se que quatro (4) entre os cinco (05) sujeitos que não se mostraram
plenamente satisfeitos com suas rotinas de vida eram os mesmos que demonstraram
insatisfação com as atividades realizadas no espaço doméstico (Quadro 2) e denotaram
estresse com a repercussão desse fato (Quadro 8);
123
Um dado importante de ser ressaltado é que doze (12) entre os quinze (15) sujeitos
investigados manifestaram o interesse em incluir atividades culturais e de lazer em sua
rotina diária. Esse dado aponta para a consideração dos direitos de cidadania previstos
no Capítulo V do Estatuto do Idoso, relativos às garantias de educação, cultura, esporte
e lazer;
Esse aspecto, evidenciado pela pesquisa, demonstra a necessidade de o CIAPREVI-CE
passar a incluir na sua programação mais atividades nessa área, bem como de trabalhar
metodologicamente os meios mais apropriados de os idosos serem informados acerca de
como poderão buscar os seus direitos de cidadania nessa área.
5.4 Unidades temáticas emergentes da pesquisa
Apresenta-se, a seguir, o Quadro 13, demonstrativo dos principais conflitos
inseridos no cotidiano de vida real dos entrevistados, observados a partir do primeiro
instrumento de pesquisa aplicado (Instrumento 1, em apêndice):
Sujeito
Situações de conflito verificadas, a partir do instrumento 1 aplicado
Maria
Aldeíde
(60 anos)
Tem desgosto por não ter aprendido a ler; sente insegurança em relação ao local de moradia;
intencionalmente rejeita os telejornais para não ver notícias sobre violência. “Eu não quero ver essas
coisas... Deus me defenda de ver essas coisas... Deus me defenda...Essas coisas de sangue, morte...É só
facada, tiro.... A gente já tem um dia- a- dia já tão... né?... Pelo amor de Deus...Aí, pra nossa idade, né...? E
esse negócio de “Barra Pesada” (programa televisivo), Deus me livre! Eu não quero nada pra mim
prejudicar, pra mim ficar pensando, pra mim ficar, não... Eu não quero não...
Mª Heloíza
(61 anos)
A idosa dispensa grande parte de sua rotina diária aos cuidados com a filha especial. Manifesta-se com
certo saudosismo dos tempos em que no seu bairro não havia a questão da violência.
Maria
Franciete
(64 anos)
A idosa sofreu violência da madrasta quando era criança. Vive um sério problema familiar com o filho
que é portador de HIV e está mendigando nas ruas. Os outros filhos da idosa, apesar de morarem com ela
em casa, ocasionam problemas à sua qualidade de vida e provocam transtornos no ambiente familiar. A
idosa só dorme com a porta do quarto fechada e procura viajar muitas vezes durante o ano, engajandose em excursões. A idosa tem uma espiritualidade indefinida e frequenta grupos de convivência de várias
religiões. Mostrou ser negligente com a própria saúde. Mantém conexão permanente com os noticiários
policiais, acompanhando diariamente a programação televisiva nessa modalidade.
Mª Verônica
(66 anos)
A idosa começou a criar gatos e quando se deu conta estava com 20 animais em casa. Ela limpa a sujeira
diária desses animais, que cria no quintal de sua casa. Repete essa atividade mais de uma vez ao dia, por
causa da sujeira dos animais; A idosa não tem uma rede de amigos no bairro onde mora, por
divergência de religião; A idosa não tem muito diálogo com a filha em casa e sofre a perda do
falecimento recente do marido. Não fez referência específica à questão da violência.
Maria
Francisca
(68 anos)
Foi abandonada na infância pela mãe; perdeu um ente querido por violência; sente insegurança em
relação ao local de moradia.
124
Sujeito
Maria
Felismina
(69 anos)
Maria
Gertrudes
(70 anos)
Maria
Luiziana
(73 anos)
Mª Joseneide
(74 anos)
Maria Albina
(75 anos)
Maria
Catarina
(76 anos)
Mª Odésia
(77 anos)
Situações de conflito verificadas, a partir do instrumento 1 aplicado
A idosa tem traumas por causa de atos de violência cometidos contra familiares próximos,
acarretando tragédias que a marcaram muito. Os filhos têm problema de alcoolismo. A idosa ficou
muito preocupada com o falecimento súbito de um idoso, quando este se apresentava, junto com outros
grupos artísticos de idosos, incluindo o dela, no Centro Cultural Dragão do Mar. Ela sente necessidade de
se afastar do ambiente de casa, todos os finais de semana, para não presenciar a bebedeira dos filhos
em casa e diz que se pudesse ficar em casa, ficaria fazendo atividades que lhe são prazerosas. Diz que seu
bairro é muito violento (Aerolândia) e que por isso não pode abrir as portas de casa. A idosa está
empreendendo um verdadeiro malabarismo para dar conta dos ensaios do grupo de dança de que
participa, em dois grupos de convivência que funcionam em dias e horários concomitantes
(CIAPREVI-CE e Teatro São José), em detrimento de sua qualidade de vida.
A idosa está com a irmã e a melhor amiga vivenciando problemas de saúde; A idosa não mantém uma
rede de amigos na vizinhança, por incompatibilidade religiosa. Não mencionou em seu discurso
referências à questão da violência. A idosa está empreendendo um verdadeiro malabarismo para dar
conta dos ensaios do grupo de dança de que participa, em dois grupos de convivência que funcionam
em dias e horários concomitantes (CIAPREVI-CE e Teatro São José), em detrimento de sua qualidade de
vida.
Não consegue dormir à noite, esperando o neto adolescente que fica na rua e retorna geralmente pela
manhã, não sabendo onde o jovem passa a noite. O neto deixou de estudar e dorme o dia todo, não a
escutando, quando pede para que mude de vida. Não costuma trocar confidências nem com as amigas da
rua onde mora, nem com as idosas do grupo de convivência do CIAPREVI. Tem grande afetividade pelos
netos e bisnetos, mas não se percebeu reciprocidade destes, a partir do depoimento da idosa. Deixa de
assistir às palestras sobre cidadania ou participar do forró no CIAPREVI para ter mais tempo de se integrar
nas atividades de pintura e do grupo musical de chorinho de que participa no CIAPREVI.
Os filhos brigam muito entre si e são desempregados. Ela precisa muitas vezes intervir, para que
suspendam as brigas.
Referiu que quando o marido era vivo, chegou a sofrer violência da parte dele. A idosa está
empreendendo um verdadeiro malabarismo para dar conta dos ensaios do grupo de dança de que
participa, em dois grupos de convivência que funcionam em dias e horários concomitantes
(CIAPREVI-CE e Teatro São José), em detrimento de sua qualidade de vida.
A idosa está sofrendo de síndrome de pânico e está em busca de uma instituição pública que possa
lhe oferecer um tratamento especializado. Diz que o CIAPREVI não dispõe desse tipo de atendimento.
Mostra-se bastante preocupada com a questão da insegurança no seu bairro. Diz que ela e o marido
vivem trancados dentro de casa e não podem sair para conversar com os amigos; Mencionou que
presenciou recentemente o falecimento de um idoso, enquanto ela e os outros idosos estavam dançando em
um evento realizado no Centro Cultural Dragão do Mar. Desde então, acha que o CIAPREVI deveria se
preocupar em dispor de pelo menos um aparelho para tirar pressão dos idosos e de uma farmácia com
medicamentos de urgência. “Mas não era certo isso, não é? Outra coisa era ter uma farmacinha pequena,
com algodão, álcool... Mas uma coisa importante era um aparelho de pressão...” A idosa está
empreendendo um verdadeiro malabarismo para dar conta dos ensaios do grupo de dança de que
participa, em dois grupos de convivência que funcionam em dias e horários concomitantes
(CIAPREVI-CE e Teatro São José), em detrimento de sua qualidade de vida.
A idosa se sente na obrigação de ajudar financeiramente a filha casada, para a qual, inclusive, está pagando
um empréstimo mensal de valor bastante significativo para a remuneração de um salário mínimo a que a
idosa faz jus como aposentada. Realiza sozinha as atividades domésticas, não tendo tempo de usufruir a
necessária tranquilidade, na velhice. Sente-se na obrigação de vender bombons, diariamente, de
segunda a sexta-feira. Só vai para o grupo, às terças e quinta-feiras, depois que vende os seus bombons na
Escola de Santa Luzia e quase nunca assiste às palestras. “Daqui que eu chegue lá puxando esse
carrim...” É autonegligente com a saúde. Há mais de dois anos não vai a médico; Não mantém rede de
amigos permanente na rua onde mora, só nos grupos. Dispõe de uma secretária eletrônica para receber os
recados telefônicos, mas este serviço não está funcionando a contento.
Mírian
(81 anos)
A idosa viveu um casamento que não correspondeu plenamente às suas expectativas, uma vez que teve de
enfrentar situações muito difíceis para sustentar a família e enfrentar as infidelidades do marido. Criou os
filhos com muita dedicação e hoje usufrui de uma família muito bem estruturada e ligada a ela. Como
todos os filhos estão casados e vive com uma filha solteira que trabalha durante o dia, busca no
CIAPREVI-CE o principal canal de socialização.
Maria Alice
(82 anos)
A idosa demonstra viver um drama existencial muito grande, em virtude de estar afastada de uma
filha (mãe do neto que mora com ela e a outra filha solteira), que a ignora e parece não ter afetividade por
ela. Relatou um caso de cárcere privado ocorrido com o seu cunhado idoso, tendo este ficado refém
da filha. A idosa tem dificuldade de se adaptar aos mesmos interesses dos outros idosos (a dança).
Identifica-se mais com atividades voltadas para o aprimoramento do potencial intelectivo e das habilidades
manuais (gosta de fazer colchas de fuxico, um tipo de bordado). É muito meticulosa em termos de
alimentação. Diz que se alimenta muito pouco e que segue um rigoroso regime alimentar. Por isso, não
almoça no CIAPREVI-CE.
125
Sujeito
Situações de conflito verificadas, a partir do instrumento 1 aplicado
Maria Amélia
(86 anos)
Acorda às 3h da manhã, todos os dias, alegando que é para preparar o café da manhã para a família e
alimentar os passarinhos. Às vezes, ainda vai à padaria para comprar o pão; É autonegligente com a saúde.
Tem traumas advindos de morte por violência em sua família, mas faz questão de dizer que não
gosta de tristeza de jeito nenhum. Faz um verdadeiro malabarismo para ter o gosto de participar dos
ensaios de dança tanto no CIAPREVI-CE, quanto no Teatro São José. Observou-se que os dois
grupos estão funcionando em dias e horários concomitantes, em prejuízo do bem-estar e da qualidade
de vida dos idosos integrantes do grupo de dança, que é o mesmo nos dois equipamentos. Às terças e
quintas-feiras ela tem que se revezar pela manhã para participar dos ensaios nos dois grupos de
convivência.
QUADRO 13 - Descritivo das situações de conflitos vivenciadas pelos sujeitos
Através da análise do conteúdo do discurso dos sujeitos, foram obtidos os
seguintes resultados, por tipo de conflito evidenciado:
1) Conflitos evidenciados no espaço familiar:
a)
Quatro (4) sujeitos relataram passar por problemas atuais, em decorrência de problemas
intrafamiliares (vida desregrada do neto; alcoolismo de um filho; afastamento afetivo de
uma filha; brigas de filhos);
b)
Quatro (4) sujeitos foram vítimas de atos de violência da parte de pessoas da família,
quando crianças, sendo as madrastas a referência principal.
2) Conflitos evidenciados no CIAPREVI-CE:
a)
Cinco (5) sujeitos mencionaram fazer um verdadeiro malabarismo para dar conta de
participar das atividades do CIAPREVI-CE e de outro grupo de convivência, onde
também ensaiam números de dança folclórica para se apresentarem em público;
b)
Dois (2) sujeitos mostraram-se preocupados com o fato de não terem acompanhamento
ambulatorial no CIAPREVI-CE, por sofrerem de problemas de hipertensão arterial, que
afetam, igualmente, outros idosos do grupo.
3) Conflitos evidenciados no espaço comunitário:
a)
Dois (2) sujeitos mencionaram não ter amigas no local de residência, por
incompatibilidade religiosa;
b)
Cinco (5) sujeitos mostraram ter medo da violência existente no local onde moram;
c)
Quatro (4) sujeitos tiveram parentes próximos assassinados;
d)
Os resultados da pesquisa apontaram que onze (11) entre os quinze (15) sujeitos
investigados foram afetados, direta ou indiretamente, pela violência em sua vida;
e)
Ressalta-se que os conflitos verificados mostraram repercutir diretamente na forma
126
como os sujeitos estão vivenciando a cidadania e no (senso de) bem-estar subjetivo
desses sujeitos;
f)
Os sujeitos que mencionaram ter sofrido violência física referiram-se especialmente a
eventos ocorridos no passado. A violência nas relações de gênero envolveu aspectos da
vida conjugal dos sujeitos, durante o período de casamento, em fase anterior à velhice.
Portanto, constatou-se que, em relação ao momento presente, as referências feitas pelos
sujeitos dizem respeito principalmente à natureza estrutural desse conceito. Nesse
sentido, foram salientados determinados tipos de violência, entre as quais a física e a
simbólica;
g)
O principal tipo de violência constatado em relação à história de vida presente dos
sujeitos diz respeito à violência simbólica. Uma idosa especialmente referiu que se sente
na obrigação de trabalhar como vendedora ambulante (comercializa doces diversos e
refrigerantes), para ajudar financeiramente à filha casada, que luta com dificuldades.
Levando em conta esses dados empíricos de campo, considerou-se importante
incluir essa unidade temática da violência à arena de discussão deste estudo, por se ter
constatado que interfere diretamente no modo como os sujeitos da pesquisa estão exercitando
a cidadania.
Julgou-se interessante estabelecer um confronto entre esse contexto de conflito
desfavorável, salientado de campo, e o que emergiu, no sentido oposto, evidenciando uma
estratégia recorrente utilizada pela maioria dos sujeitos, voltada para a superação e o
enfrentamento das circunstâncias adversas e dos traumas existenciais, envolvendo a área da
espiritualidade.
Ressalta-se que a aludida estratégia (pertinente ao domínio da espiritualidade)
emergiu no contexto da verificação da terceira hipótese da pesquisa, conforme demonstram os
dados constantes do Quadro 14, a seguir:
Sujeito
A espiritualidade e a religiosidade como estratégias preferenciais utilizadas pelos
sujeitos para enfrentamento e superação das condições adversas da vida (O que
costuma fazer - Instrumento 1 aplicado)
Maria Aldeíde
Aperfeiçoa a espiritualidade, por meio de orações em casa e no grupo de convivência. Não
referiu participar de pastorais religiosas.
Mª Heloíza
(61 anos)
Desenvolveu um elevado senso de espiritualidade, através de oração contemplativa, participando
de pastorais da Igreja e assistindo à missa regularmente.
Maria Franciete
(64 anos)
Procura reforço espiritual, lendo o Evangelho e fazendo orações em casa. Participa da Igreja
Católica e de um grupo de convivência espírita.
127
Sujeito
Mª Verônica
(66 anos)
Maria Francisca
(68 anos)
Maria Felismina
(69 anos)
Maria Gertrudes
(70 anos)
Maria Luiziana
(73 anos)
Mª Joseneide
(74 anos)
Maria Albina
(75 anos)
Maria Catarina
(76 anos)
Maria Odésia
(77 anos)
A espiritualidade e a religiosidade como estratégias preferenciais utilizadas pelos
sujeitos para enfrentamento e superação das condições adversas da vida (O que
costuma fazer - Instrumento 1 aplicado)
Participa das atividades religiosas do grupo de convivência de sua Paróquia. Reza o terço
diariamente, antes de dormir, e frequenta a missa semanalmente.
Desenvolveu um elevado senso de religiosidade assiste à missa todos os dias da semana,
excetuando aos domingos.
Adota um senso de reajustamento psíquico, emocional e de espiritualidade, que a ajudam a
superar os traumas de violência familiar inseridos em sua história de vida.
Mantém uma rotina de atividades prazerosas e voltadas para a manutenção da qualidade de vida e
do bem-estar, através da integração corpo/espírito, em todos os espaços de socialização
investigados. Evita, ao máximo, as situações causadoras de estresse e contorna as dificuldades,
através do desenvolvimento da espiritualidade e de atividades religiosas.
Afirma não ter uma espiritualidade definida.
Desenvolveu o senso de espiritualidade, através de oração e participação em missas semanais.
Aperfeiçoa a espiritualidade, através de leituras devocionais.
Desenvolve a espiritualidade, participando de atividades religiosas (missas semanais na sua
Paróquia, orações no grupo de convivência do CIAPREVI e da reza do terço em família
diariamente, à noite, em casa, com o companheiro e uma irmã.
Aperfeiçoa o senso de espiritualidade, através da participação sistemática nas atividades
religiosas do grupo de convivência da sua Paróquia. Além disso, estabeleceu uma rotina orações
e de missas semanais.
Mírian
(81 anos)
Mencionou professar a fé católica, mas que não frequenta a Igreja pelas dificuldades
inerentes aos problemas de visão, acentuados pela idade.
Maria Alice
(82 anos)
Desenvolveu um elevado senso de aperfeiçoamento da espiritualidade. Acorda diariamente bem
cedo para rezar e participa ativamente de atividades religiosas em sua Paróquia.
Maria Amélia
(86 anos)
Procura reforço espiritual, mantendo a religiosidade e uma rotina de orações em casa.
QUADRO 14 – Espiritualidade e religiosidade: estratégias utilizadas pelos sujeitos salientadas do estudo
Os principais aspectos evidenciados pela análise de conteúdo, em relação a esse
domínio específico da espiritualidade foram os seguintes:
Os resultados de campo apontaram que 13 entre 15 sujeitos manifestaram interesse por
questões de espiritualidade e religiosidade, conforme o Quadro 13, acima apresentado;
Observou-se, que essa estratégia adotada pelas idosas constitui uma dimensão
antropológica que poderá ser trabalhada, no contexto da construção da cidadania dos
sujeitos e não só como meio de enfrentamento e superação das adversidades da vida;
A área da espiritualidade demonstrou ter, de fato, decisiva importância para a
manutenção dos níveis de qualidade de vida e bem-estar dos sujeitos. Tal unidade
temática, evidenciada de campo, confirma e amplia as possibilidades metodológicas
previstas na hipótese (de nº 3) apresentada na introdução deste estudo.
128
5.5 Discussão
As situações-problema ou situações de conflito referidas pelos sujeitos foram
evidenciadas no discurso emitido por eles, à medida que estes iam expondo as ações
realizadas no dia-a-dia, nos três espaços de socialização investigados (a casa, o grupo de
convivência e o espaço comunitário).
Assim, foram eles mesmos os analistas dos seus próprios desempenhos cotidianos
e não a pesquisadora. Esta atuou como observadora, intervindo, quando necessário, para
compreender melhor o que os sujeitos tentavam explicar.
Neri (2002, p.103) salienta em um de seus estudos, que “os eventos em si não
podem ser antecipadamente caracterizados como negativos por um observador externo, sem
levar em conta a percepção que os envolvidos têm sobre eles, baseada em sua experiência
pessoal”. Nesse estudo, observou-se que as situações de conflito vivenciadas pelos sujeitos no
contexto privado (casa) repercutiam diretamente no (senso de) bem-estar desses mesmos
sujeitos.
Silva (1995 apud NERI, 2002, p. 126), ao analisar as relações de poder entre
mulheres cuidadoras de idosos, aproveitou para discutir o papel social da mulher e a forma
como o papel de mãe e de cuidadora foi construído socialmente. Menciona que o cuidado é
uma tarefa desenvolvida no âmbito familiar, da casa, e, por isso, é fácil entender por que é
delegado às mulheres.
Neste estudo, buscou-se compreender as estratégias desenvolvidas pelos sujeitos
para atuar nos espaços de socialização privado e comunitário, de forma a alcançar a meta de
cidadania que estavam almejando, no caso, obter melhor qualidade de vida e maior bem-estar
na velhice. Assim, foi possível compreender por que uma das estratégias consensuais
utilizadas pelos sujeitos versou em colocar “um ingrediente de satisfação na rotina de afazeres
cotidianos”, tornando-a mais prazerosa, e, por conseguinte, menos estressora.
Examinando e transcrevendo as gravações da fala dos sujeitos, foram observadas
circunstâncias interessantes: Algumas idosas mostraram fazer uso de determinadas estratégias
de enfrentamento e superação das situações estressoras, adotando os seguintes mecanismos de
compensação, durante ou após os afazeres domésticos:
Descanso um pouco, coloco o som e ouço música. “Eu gosto mais é da Samantha,
dou o maior valor, porque sai música, né? [...] Quando eu não boto ela, eu boto CD,
ou vou lá fora conversar com minha amiga, que eu me dou muito bem com ela
(MARIA ALDEIDE, 60 anos); Gosto de fazer minhas coisas “ouvindo os
passarinhos cantarem. Eu converso com eles [...] Minha alegria é eles (MARIA
129
AMÉLIA, 86 anos).; Só trabalho cantando (MARIA ALBINA, 75 anos).; Ouço
música e programas de rádio, enquanto faço os trabalhos de casa todos os dias [...]
(MARIA VERÔNICA, 66 anos)
Muitos pronunciamentos revelaram o quanto alguns sujeitos se consideram
sobrecarregados por exaustivas tarefas domésticas. Segundo Silva (1995 apud NERI, 2002, p.
126) isso acontece por uma questão cultural, uma vez que os papéis sociais costumam ser
assim distribuídos: ao homem cabe o sustento da casa e a autoridade moral e à mulher tudo o
que é relacionado à casa. Por isso, as mulheres têm que assumir a responsabilidade do
cuidado com os filhos, com os idosos e com os doentes.
Entretanto, as situações de estresse e cansaço demonstradas por alguns sujeitos
tinham relação direta com os muitos anos de trabalho árduo e de exploração de sua força de
trabalho, em atividades comerciais informais, que lhe garantiam a sobrevivência. Nesse
sentido, os companheiros mostraram-se “dependentes da força de trabalho feminina”, ao invés
de contribuir com ela. Uma idosa até hoje se sujeita a comercializar produtos, inclusive nas
reuniões do grupo do CIAPREVI-CE, só para ajudar financeiramente a filha casada que luta
com dificuldades. O esposo nada faz para aliviar a sua rotina de trabalho em casa e não a
auxilia nos afazeres domésticos. Por causa disso, conforme suas palavras textuais, ela se sente
literalmente “exausta”, todas as noites.
Entre as situações de conflito mencionadas pelos sujeitos, foi recorrente a menção
à palavra “violência”.
Os aspectos acima ressaltados encontram ressonância nos estudos de Osterne
(2008, p.169), para quem o problema da violência apresenta muitas faces:
[...] O fenômeno da violência contra as mulheres é produto de muitas determinações.
Se, por um lado, reflete uma ordem normativa que hierarquiza papéis e padrões de
comportamento para os sexos, também expressa ambigüidades, tensões e padrões
distintos de ações e reações instituídos para homens e mulheres, que se atualizam
nas relações interindividuais singulares[...]
Minayo e Souza (1999), no artigo intitulado “É possível prevenir a violência?
Reflexões a partir do campo da saúde pública”, instauram um debate sobre a natureza
histórica da violência. As autoras defendem um ponto de vista similar ao de Osterne (2008),
tecendo valiosas considerações sobre esse conceito:
É muito difícil conceituar a violência, principalmente por ser ela, por vezes, uma
forma própria de relação pessoal, política, social e cultural; por vezes uma resultante
de interações sociais, por vezes, ainda, um componente cultural neutralizado. […]
Em seus escritos, Domenach (1981) sublinha o fato de que a violência está inscrita e
arraigada nas relações sociais, não podendo, portanto, ser considerada apenas como
uma força exterior se impondo aos indivíduos e às coletividades, havendo, dessa
130
forma, uma dialética entre a vítima e algoz, o que deve ser objeto de reflexão dos
estudiosos para compreensão dessa complexa relação.
Observou-se que os sujeitos da pesquisa ainda se mostram significativamente
afetados pela questão da violência ocorrida em fases anteriores de suas vidas. Esse dado,
evidenciado a partir do quadro de violência urbana atual, relatado pelos sujeitos, constitui um
aspecto desfavorável que restringe os espaços de socialização das idosas, fazendo com que a
cidadania destas se restrinja cada vez mais a espaços de integração específicos, tais como o
CIAPREVI-CE e outros grupos de convivência, entre os quais os das pastorais religiosas e os
eventos de forrós que frequentam. A convivência com outros idosos nos bairros fica cada vez
mais cerceada pelo medo.
Tais circunstâncias fazem com que algumas idosas procurem manter-se afastadas
das notícias da mídia televisiva, para não serem afetadas em termos de bem-estar e qualidade
de vida:
Eu não quero ver essas coisas [...] Deus me defenda de ver essas coisas... Deus me
defenda...Essas coisas de sangue, morte[...] É só facada, tiro [...] A gente já tem um
dia- a- dia já tão... né? [...] Pelo amor de Deus...Aí, pra nossa idade, né...? E esse
negócio de Barra Pesada, Deus me livre! Eu não quero nada pra mim prejudicar, pra
mim ficar pensando, pra mim ficar, não [...] Eu não quero não... Porque não sai uma
coisa que preste, uma coisa assim pra gente se alegrar, pra ter uma vida melhor...
mais não, minha irmã: É só matança, essas coisa.. não, eu não quero não[...] (D.
Aldeíde, 60 anos)
De modo inverso, constatou-se que outra idosa, com um histórico pessoal de
violência, referiu que mantém conexão permanente com os noticiários policiais,
acompanhando diariamente a programação televisiva nessa modalidade. Mencionou que,
quando estava em casa, mantinha a televisão o tempo todo ligada, assistindo a programas de
televisão, sobretudo programas policiais “Com essa violência toda em minha vida, eu ainda
gosto, acredita?” (Maria Franciete, 64 anos).
Neri (2002, p.127), apresenta dados interessantes de pesquisa, através dos quais
faz menção à espiritualidade e à religiosidade, como estratégias de enfrentamento adotadas
por cuidadores de idosos.
A autora (ibidem) constatou que essas duas áreas desempenhavam um papel
importante para o equilíbrio, a aceitação e ressignificação da tarefa de cuidar e da própria
existência, para os sujeitos investigados:
Esses dados confirmam outros encontrados na literatura internacional. Wong (1998)
comentou a importância de superar sentimentos negativos e ter um sentido para a
vida. Zaleski (1996) afirmou que a essência da existência humana está na
transcendência de si mesmo, e na busca de sentido para a vida. Lazarus (1999)
131
discorreu sobre a importância da esperança diante de eventos negativos, seu papel na
superação das perdas e sua importância para dar significado à vida. Chang, Noonan
e Tennstedt (1998) mostraram que cuidadores que usaram a crença religiosa ou
espiritual para enfrentar a situação de cuidado tiveram melhor relação com o idoso e
baixo nível de depressão. Picot et AL. (1997), num estudo sobre a relação entre raça
e percepção de benefícios, encontraram aspectos da religiosidade, como oração,
crença religiosa, conforto espiritual e assistência interferindo positivamente na
relação de cuidado e na percepção de benefícios. Ainda segundo os autores a
religiosidade pode atuar como um importante recurso pessoal. Francl (1999), teórico
do sentido da vida, afirmava que encontrar significado para tudo o que se faz é
primordial para uma vida plena, e que a fé pode interferir positivamente na busca
desse sentido.
Constatou-se, neste estudo, que os sujeitos buscaram desenvolver estratégias de
enfrentamento e superação de traumas inseridos em suas histórias de vida passada e presente,
através do engajamento em atividades de dança, música ou voltadas para o aperfeiçoamento
espiritual e para as atividades de bordado, pintura e crochê.
Esses dados obtidos da pesquisa se coadunam com os obtidos por Neri (2002, p.
127). A autora encontrou argumentos explicativos sobre essa circunstância, através do ponto
de vista de especialistas no assunto:
Para Ruth e Coleman (1996), as estratégias de enfrentamento estão relacionadas com
nível educacional, capacidade cognitiva, experiência de vida, conhecimentos,
habilidades sociais, apoio social, motivação, saúde, gênero, recursos econômicos,
condições de vida e também com fatores de personalidade, atitudes, autoconceito e
com auto-estima. Os autores afirmam que a atitude de aceitação pode funcionar
como um mecanismo de adaptação e não de submissão, e assim é uma competência
adaptativa. A presença de recursos financeiros ajuda a adaptação se e quando os
indivíduos usam a lógica e a flexibilidade e confiam pouco em atitudes improvisadas
e irracionais. Ter ajuda de familiares, de amigos e de profissionais também
influencia positivamente as decisões diante das situações estressantes.
Observou-se, ainda, que um dos sujeitos, com maior poder aquisitivo, demonstrou
fazer uso de estratégias mais elaboradas, tais como:
1. Arregimentação de um suporte familiar permanente para cuidar da rotina
doméstica, deixando-os livres para usufruir a vivência cidadã com independência, mas sem
perder autonomia:
Foi assim: A médica disse assim: olha, se a senhora quiser passar mais um
janeirozim, não se esforce muito [...] Aí eu disse: Rosa, não trabalhe não, fica
comigo, que não falta nada pra ti, nem pra teu filho. Eu ganho pensão, mas a minha
casa era grande, tinha um alpendre e uma sala bem grande. Eu disse assim: Rosa,
vamo partir esse alpendre e um pedaço da sala, vamo alugar isso aqui, pra quando eu
morrer vocês ter tudo na mão e não precisar de ninguém, só de Deus [...] (MARIA
FRANCISCA, 68 anos).
Mês que entra eu vou pra cinco lugar: Vou pra Canindé, de lá para um banho de
cachoeira na Varjota, de lá vou para Arará, de lá vou pra Santa Quitéria, de lá vou
para Ipú... e de Ipu vão para Ubajara. ...Vai três ônibus. O dono da excursão é um
grande amigo meu [...] (MARIA FRANCIETE, 64 anos).
132
2. Manutenção de uma rede permanente de amigas, com os quais conversa,
geralmente, à noite, na calçada de casa, ou em programações, nos finais de semana:
“A gente conversa, a gente canta. A gente fica conversando, achando graça [...]
(MARIA ALBINA, 75 anos); Quase sempre vou lá fora conversar com minha amiga, que eu
me dou muito bem com ela” (MARIA ALDEÍDE, 60 anos).
Neri (2001, p.112-113) faz uma revisão da literatura sobre suporte social e sobre
rede de relações sociais na velhice, mostrando que
os relacionamentos entre amigos idosos são particularmente benéficos porque são de
livre escolha e assim mais funcionais ao atendimento das necessidades afetivas dos
envolvidos porque eles compartilham experiências de vida, necessidades valores e
significados. Fala-se em comboio social com referência a pessoas da mesma coorte
que trocam apoios principalmente de natureza afetiva.
De acordo com a referida autora, familiares, vizinhos, amigos e conhecidos
compõem a rede de relações e apoio informais. Essas são imprescindíveis para que os idosos
exercitem a alteridade, procurando compreender melhor as dificuldades enfrentadas pelos
semelhantes.
Ressalta-se, em relação a este estudo que, entre os sujeitos investigados, havia
uma idosa solteira, vivendo sozinha, mas que, entretanto, se encontrava engajada em uma
rotina de vida que lhe era prazerosa, mostrando repercutir tanto no senso de bem-estar físico,
quanto no de bem-estar emocional e psicológico referidos. Essa idosa mostrou ter
desenvolvido um elevado senso de espiritualidade, que a fazia encontrar tempo para realizar
as atividades do seu dia-a-dia e ainda oferecer suporte assistencial e emocional a uma irmã
enferma, residente em outro bairro. Nesse sentido, cumpre destacar que os demais idosos que
se mostraram atuantes em suas congregações religiosas demonstraram exercitar a cidadania
participativa, incumbindo-se de cuidar não só dos próprios interesses, mas dos de outras
pessoas dos seus locais de residência e do próprio grupo de convivência do CIAPREVI-CE:
Na Igreja, eu até que arranjaria tempo pra arrumar a casa do Senhor [...] (MARIA
GERTRUDES, 70 anos);
É por isso a dificuldade de nós tudim..., porque uns sabem uma coisa e outros não
sabe [...] Lá eles não sabiam nem o que era noves fora... quando a professora saiu
pra merendar, eu fui ensinar... Depois eu disso, agora vocês se entendam, eu não vou
mais ensinar, não, eu vou é estudar [...] (MARIA ODÉSIA, 77 anos);
A gente nessa vida tem que ajudar os outros para ter um lugarzinho no céu [...]
(MARIA FRANCISCA, 68 anos).
Nesse sentido, há que se ressaltar a atitude de uma idosa que mencionou que até
ajuda nas aulas de alfabetização as outras alunas que não obtiveram ainda o mesmo progresso
133
que ela. Essa idosa afirmou que já estava alfabetizada, mas que vinha para as aulas de
alfabetização para ajudar as suas colegas. Durante a entrevista, ela mostrou desempenhar uma
expressiva atuação na Igreja de sua paróquia, na qual participa de visitas às casas de pessoas
idosas, enfermas ou de familiares, para ler a Bíblia ou fazer orações.
As idosas com senso de espiritualidade elevado mostraram não se ressentir com o
aspecto da solidão, embora, por demonstrarem estar dispostos a ter melhor qualidade de vida,
tenham comprovado buscar a convivência social.
Neri (2001) menciona que o número de brasileiros e brasileiras que vivem
sozinhos vem aumentando por vários motivos (GOLDMAN, 1998 apud NERI, 2001, p.120),
entre os quais: as mudanças nos valores concernentes à vida familiar e ao casamento;
mudanças nos padrões de solidariedade dos mais novos para com os mais velhos: o
crescimento da renda desfrutada pelos idosos, principalmente mulheres, permitindo-lhes
maior autonomia e privacidade e extensão da longevidade.
A referida autora faz uma importante distinção entre os conceitos de solidão e
isolamento, explicitando que nem sempre viver só significa perda de senso de bem-estar
subjetivo.
Neri (2001, p. 122) menciona que
[...] solidão é, portanto, uma experiência emocional aversiva e estressante se
relacionada à inexistência, ao isolamento ou à perda de relações afetivas
significativas. Não tem uma relação necessária com isolamento social. A solidão
pode ser mais ou menos estressante, dependendo da desejabilidade dos contatos
disponíveis e das oportunidades que a pessoa tem para alterar a situação que lhe
parece insatisfatória. Declínio na saúde pode contribuir para um senso de que á
restrição na possibilidade de envolvimento social. A auto-estima e fatores de
personalidade têm relação com solidão.
A pesquisa revelou, ainda, que os idosos que detinham uma espiritualidade
indefinida, voltada para práticas de várias religiões, mostraram vivenciar uma cidadania
individualizada e também demonstraram pouco êxito na instrumentalização da vida prática,
parecendo não saber como lidar com as situações conflituosas do seu cotidiano. Entre esses
problemas estavam os conflitos intergeracionais, as relações parentais fragilizadas e a falta de
diálogo nas famílias. Esses conflitos se encontram explicitados no decorrer deste capítulo.
Levando em conta esses aspectos, ao se estabelecer uma analogia entre o modo de
vida manifestado pela aludida idosa solteira e o manifestado por outra idosa, viúva, vivendo
com filhos, netos e bisnetos, na mesma casa, observou-se que a primeira manifestava um
senso de bem-estar subjetivo aparentemente mais satisfatório que o demonstrado pela
segunda, uma vez que essa última, apesar de viver com familiares, experienciava uma solidão
134
emocional que a tornava uma pessoa preocupada e pouco afeita a partilhar seus conflitos com
as amigas mais próximas.
Descrevendo os resultados de pesquisa empreendida nessa área, Capitanini e Neri
(2001, p. 123) referiram que
satisfação com a vida foi estatisticamente relacionada com a disponibilidade de
amigos. As mais satisfeitas descreveram viver só como contingência normativa do
ciclo vital; as mais insatisfeitas como esquiva de conflitos familiares e pessoais.
Associaram bem-estar com espiritualidade, autonomia, funcionalidade, autoaceitação, altruísmo, relações positivas e afetos positivos.
Durante a pesquisa, ouviu-se, da parte de algumas idosas, que elas não
comentavam sua vida particular com outras pessoas, mesmo as mais amigas, porque estas
costumavam ser indiscretas. Nesse caso, percebeu-se, subliminarmente, que a demanda por
animais de estimação manifestada por alguns sujeitos poderia ser explicada pelo fato de que
esses animais “se afeiçoam aos seus donos” a tal ponto, que demonstram ouvir e compreender
o que eles lhes confidenciam, com a vantagem de que não podem comentar o que deles
ouvem com ninguém.
Uma idosa ressaltou que a sua cadelinha Susie entendia tudo o que ela lhe dizia.
Essa idosa demonstrou que, provavelmente, encontrou nesse animalzinho de estimação a
companheira “de conversas”, a amiga que não achou entre as pessoas da vizinhança, as quais
eram de outra religião, aspecto que, na opinião da idosa entrevistada, inviabilizava um diálogo
recíproco.
Nesse sentido, há que se ressaltar que é difícil reconhecer que as questões
envolvendo dimensões humanas tão importantes, como é a comunal, ao invés de motivarem
uma aproximação, promovam um afastamento entre as pessoas, a ponto de elas procurarem
interlocutores nos seres irracionais.
Assim, conjectura-se: como podem sujeitos idosos, em grupo de convivência,
buscar conviver (do latim convivere = viver com outrem), sem partilhar sofrimentos, dores e
lutas privadas? Que convivência é essa que buscam construir e o que pretendem mesmo obter
do espaço coletivo que partilham por tantas horas, tantas vezes na semana?
Observou-se que os sujeitos da pesquisa têm urgência por políticas públicas
humanizadoras, que os façam buscar e dar um sentido aos seus projetos de vida. Ou melhor,
que os levem a procurar construir projetos de vida próprios e comunitários, de interesse
coletivo, mas não necessariamente pelas mãos do Estado. Caso contrário, se tornarão
simplesmente tarefeiros de inúmeras experiências comunais, vivenciadas em vários locais
diferentes, mas sem encontrar em nenhum deles o objetivo que na verdade buscam: qualidade
135
de vida.
Essa percepção leva ao reconhecimento, conforme alguns autores, de que a
cidadania individualizada, ainda que partilhada em um mesmo espaço público, talvez seja
uma das ressonâncias negativas da sociedade capitalista contemporânea.
Osterne (2008, p.83) explica a distinção entre individualismo e individualidade,
tomando emprestado o pensamento trabalhado por Pelissari (1995), segundo o qual, enquanto
o primeiro conceito se refere a um juízo baseado em um valor moral positivo, que resulta na
produção de um indivíduo isolado, o segundo oferece um processo inverso, ou seja,
[...] onde o homem subverte a sua submissão às leis de economia burguesa, tenta
superar sua reificação, desaliena-se e supera o mundo individual, enquanto mundo
isolado, preso aos valores das particularidades, para perceber-se como totalidade.
(PELISSARI, 1995 apud OSTERNE, 2008, p.83).
Abstrai-se, dessa reflexão, que os ideais e os valores da ética cidadã se aproximam
do conceito de individualidade e não de individualismo, uma vez que oportunizam o valor da
pessoa humana no contexto de sua interação com as demais e tendo em vista sempre o bem
comum.
O conceito de grupo de convivência, portanto, necessita de ser trabalhado pelas
políticas públicas no âmbito da construção de uma noção de cidadania, que permita aos
sujeitos envolvidos romper com as práticas e as atitudes meramente formalistas. Essas se
mostram mais condizentes com os princípios que integram o conceito de cidadania clássico, o
qual, ainda que concebido dentro de um paradigma equânime de justiça e igualdade social, e,
portanto, perfeito dentro de um sentido estrito e abstrato, em nada se aproxima da realidade
brasileira, sobretudo a vivida pelas populações de excluídos das possibilidades de realização
social. Acredita-se que só assim esses sujeitos estarão abertos para vivenciar experiências
coletivas inovadoras.
Segundo alguns autores (DA MATTA, 1997, apud OSTERNE, 2008, p.19), a
cidadania, enquanto fenômeno complexo e historicamente definido, contempla em si mesma
um papel social, que se expressa de forma diferente, no contexto cultural de cada sociedade
humana.
Assim, para que se possa compreender o significado desse conceito, no contexto
específico da realidade brasileira, composta de classes sociais bastante heterogêneas, não se
pode deixar de considerar a “cidadania relacional”, que foge aos parâmetros ideais,
normativos e universais, teoricamente aceitos e prescritos pelo termo, onde o cidadão
constitui a unidade por excelência a ser privilegiada, tanto do ponto de vista moral quanto
136
social e político.
Essa linha de pensamento explica por que, no caso brasileiro, a cidadania passa a
se expressar de forma a privilegiar não a esses mesmos indivíduos, mas ao seu poder de
estabelecer relações com os iguais, na comunidade onde vivem, e com os sistemas
institucionais que regem a vida pública.
Desse modo, pelo menos na prática, a cidadania passa então a funcionar como
uma estratégia de inserção social regulada pelas mediações tradicionais de amizade, prestígio
e poder, em proporção às quais cada indivíduo se tornará mais ou menos capaz de se integrar
socialmente, conquistando direitos e galgando espaços de realização na vida pessoal, cívica e
política.
Algumas idosas fizeram menção a esse aspecto relacional da cidadania, conforme
menciona Da Matta (1997). Ressalta-se que, da parte de três sujeitos, em especial, essa tônica
emergiu:
Aí eu tenho um amigo, que é advogado, e ele me aconselhou: Chica, você faça
disso: alugue e faça um contrato passado em Cartório, e você desconta do aluguel o
que a pessoa (Sr. Alex) tiver gastado na reforma da casa. E assim eu fiz. (MARIA
FRANCISCA, 68 anos);
Eu não tenho plano de saúde, mas os amigos vão me empurrando devargazinho,
Jesus me abençoa e eu consigo [...] (MARIA FELISMINA, 69 anos);
Madrinha, eu vou levar essa foto e botar no açucareiro lá de casa [...] (O termo
madrinha aqui empregado pelo sujeito significa uma modalidade de apadrinhamento
social vigente, sobretudo, na Região Nordeste do Brasil) (D. MIRIAN, 81 anos).
Destaca-se, também, que na pesquisa realizada, a maioria dos sujeitos
investigados referiu adotar práticas de integração, em sua rotina diária. Ficou demonstrado
que o apoio de um suporte de amigos é de grande importância para a maioria dos sujeitos que
integraram a amostra da pesquisa.
Salienta-se, portanto, que um dos significados da nova cidadania pretende a
constituição de sujeitos sociais ativos, estabelecendo o que eles consideram ser os seus
direitos, lutando pelo reconhecimento desses direitos e participando ativamente da construção
social. Tal noção política é compatível, não só com os princípios democráticos
constitucionais, mas, também, com os novos conceitos gerontológicos voltados para a
formação de sujeitos saudáveis, pró-ativos, usufruindo de qualidade de vida e bem-estar na
velhice.
Observa-se que a qualidade de vida constitui uma noção que foi trabalhada neste
estudo, priorizando a opinião dos sujeitos investigados e não procurando enquadrá-los em
constructos específicos, visando, meramente, averiguar se os sujeitos se enquadrariam, ou
137
não, nos conceitos e regras previstos pelos especialistas do assunto.
Sob certas condições específicas, obviamente, os indivíduos tendem a desenvolver
boa saúde física, psicológica e emocional. Entretanto, educar para a cidadania consiste em
procurar ajudar os sujeitos a reconhecer, através de uma postura crítica satisfatória, se a rotina
de vida que estão levando, os ajuda ou não a viver melhor e com maior bem-estar. Dentro
desse modelo de cidadão, não cabe a adoção de uma proposta metodológica de educação para
a cidadania, na qual o Estado é quem oferece uma receita de como ser cidadão, decidindo o
que os sujeitos de sua ação devem saber e como devem agir para conquistar a condição de
cidadão.
Não se pode, entretanto, esquecer que liberdade, igualdade e respeito às diferenças
são importantes premissas, em torno das quais versam os princípios do novo paradigma de
cidadania considerado neste estudo (DAGNINO, 1994 apud OSTERNE, 2008, p.93).
Considera-se que, sem as condições aqui apontadas, as relações sociais estarão
sempre propensas a se desenrolarem desproporcionalmente, ou seja, privilegiando o bemestar, a qualidade de vida e a promoção de determinados segmentos, em detrimento de outros.
Ferreira (1993, p.5) tece comentários valiosos a respeito da temática da cidadania,
sob a ótica educacional, mencionando que
o homem concreto, produto/produtor das múltiplas relações sociais, se efetiva em
interações nem sempre harmoniosas com a natureza e os outros homens. Também
não parece ter sentido basear as discussões em uma suposta natureza humana
imutável. Ao transformar o mundo social e natural, o homem transforma a si
mesmo, e o objetivo último dessa transformação é a supressão de suas carências,
quaisquer que sejam. O educador não pode deixar de envolver-se nessa questão. Sua
atividade profissional envolve aspectos políticos, econômicos e sociais e, mais do
que isso, tem uma dimensão ética, cuja legitimidade está ligada a esses fins. A
prática educativa sempre traz em si uma filosofia política, tenha o educador
consciência disso ou não.
Deduz-se das palavras da autora que a consciência crítica, quando bem trabalhada
pelos educadores, leva ao compromisso e à transformação. Nesse sentido, considera-se que a
vinculação a uma mesma rotina de convivência humana, orientada para a perspectiva da
transformação pessoal dos sujeitos, pode dar um sentido à vida destes, possibilitando-lhes a
superação de estados emocionais negativos, como a solidão, e a construção de novos
conhecimentos coletivos, em um espaço de encontro, descobertas, aprendizagem e lazer,
sempre na perspectiva de um aperfeiçoamento pessoal.
Importante se faz registrar que Ferreira (1993, p.6) conduz essa lógica para a
perspectiva trabalhada por Reboul (1973 apud FERREIRA, 1993, p. 6), que admite:
138
O ponto nevrálgico das teorias pedagógicas são exatamente os seus fins. Ele
identifica dois grupos de teorias, a saber: aquelas que assumem o enfoque
culturalista, nas quais os fins da educação estão fora do homem e as que privilegiam
a abordagem individualista, para as quais os fins estão nos indivíduos, considerados
isoladamente. Reboul conclui afirmando que ambos os casos, que focalizam os fins
da educação na sociedade ou no indivíduo, são formas caricaturais de educação.
Para superar esse impasse sugere que a educação tenha como princípio e fim a
questão da liberdade.
Detalhando melhor o próprio ponto de vista, Ferreira (1993, p.8) reporta à linha
pedagógica trabalhada por Paulo Freire, para quem a liberdade de que trata Reboul (1973
apud FERREIRA, 1993) se configura na práxis, na medida em que se funda no saber/fazer.
Para Freire (1974, apud FERREIRA, 1993, p.8), “escolher, deliberar, exercer a
liberdade de e para decorrem de condições concretas de inserção do homem no mundo. A
liberdade se define nas ações do indivíduo”.
O pensamento de Freire (op. cit.) coaduna com a linha metodológica trabalhada
neste estudo, ao considerar que os aspectos públicos e privados da vida se entrelaçam,
conferindo dimensão humana à vida biológica. Nesse sentido, Ferreira (1993, p.8) parece
estar buscando demonstrar que é ingênuo recorrer a metodologias pedagógicas padronizadas,
para trabalhar a temática da cidadania, sem se levar em conta as condições objetivas e
subjetivas de vida dos sujeitos envolvidos. Sob essa perspectiva, conforme demonstra essa
autora, ao resgatar o pensamento de Freire, a vontade humana, ainda que firmemente
direcionada a propósitos específicos, está sempre restrita à realidade objetiva da vida das
pessoas.
O voluntarismo não leva em conta as condições objetivas imprescindíveis ao
exercício da liberdade. Admitindo que querer é poder, ignora que os homens não
escolhem as condições em que nascem. A vontade dos indivíduos, que se materializa
por meio de suas opções, se forma sempre sob determinadas condições, vinculadas à
realidade objetiva de suas vidas. É ingênuo pensar que exista um elenco infinito de
escolhas. Como materializações de subjetividades anteriores, as oportunidades são
finitas. No espaço das possibilidades objetivas é que o homem pode tentar realizar
seus objetivos: é neste espaço que ele é livre. A sua liberdade, porém, está ligada ao
conhecimento de suas necessidades e às condições de satisfazê-las. Da dialética
liberdade/necessidade emergem valores que nortearão a conduta humana: valores
constituintes do ser social, conceito que engloba, tanto no nível material quanto no
espiritual, o cotidiano da vida do homem na sociedade (FERREIRA, 1983, p.8)
Entretanto, Ferreira (1993, p.9) expõe o pensamento de Wilhelm Reich (1972),
que alerta para dois pólos distintos, implícitos no conceito de liberdade, a saber, o positivo e o
negativo.
Segundo Reich (1972, apud FERREIRA, 1993, p.9), a liberdade humana tanto
pode contemplar o aspecto perverso da renúncia em lutar, negando o agir transformador,
139
quanto reagir às condições que lhe causam sofrimento, voltando-se para a perspectiva oposta,
ou seja, procurando não sucumbir diante das dificuldades, mas enfrentá-las e superá-las. Foi
nessa perspectiva que se buscou conhecer, neste estudo, “as estratégias de acesso à
cidadania”, desenvolvidas pelos sujeitos investigados.
Ferreira (1993, p.12), mesmo sem assim pretender, de certa forma estabelece um
contraponto com Saviani (1987), que defende a tese de que as pessoas precisam do
conhecimento sistemático para chegar a ser “cidadãos”. Ferreira (op. cit.) contesta esse ponto
de vista, ressaltando que a posse desse conhecimento não garante a “conversão” para a
cidadania.
Muitos letrados vivem na condição de não-cidadãos, ou marginais. Além disso, a
escola não transmite só conteúdos, mas cria hábitos e desenvolve atitudes, temas
sempre polêmicos. Pretendendo contribuir para uma educação transformadora,
Saviani difunde a disciplina e a organização como elementos básicos para uma
educação politizadora. Mais uma vez, incorre no erro de não elucidar a contradição
entre essas duas premissas. Disciplina e organização não são ideias abstratas, mas
conceitos históricos, e tanto podem servir para transformar como para conformar.
Disciplinar e organizar quem, a partir de quê e para quê? Que tipo de sociedade
queremos instituir, uma sociedade de massas ou de homens? Saviani não aprofunda
essas questões e incorre na visão idealista de uma escola demiúrgica que, partindo
da organização dos “saberes”, criará o reino da liberdade (FERREIRA, op. cit., p.12)
Em continuidade, Ferreira faz uma revisão da teoria crítica hermenêutica de
Henry Giroux (1968 apud FERREIRA, 1993, p.12), ao afirmar que “a cidadania vai além da
aquisição do conhecimento de conteúdos sistematizados”, demonstrando os princípios que
regem diferentes teorias educacionais.
Não pretendendo esmiuçar os diversos conceitos trabalhados por Giroux (1968
apud FERREIRA, 1993, p.12), busca-se, aqui, mencionar a ênfase dada à teoria da
racionalidade emancipatória, cujo interesse básico é a libertação do homem. Essa diverge
radicalmente da teoria da racionalidade técnica, ideia que se procurou refutar neste estudo.
Ferreira (1993, p.16) detalha o ponto de vista de Giroux, ao mencionar:
Na perspectiva culturalista, a cidadania se inscreve na racionalidade técnica. Na
medida em que os fins da educação estão na sociedade, deve-se instrumentalizar o
indivíduo para que ele tenha o desempenho necessário à sua melhor integração. Nos
direitos do cidadão não aparece a cidadania política, que pode ameaçar a ordem
necessária ao progresso. Tudo se restringe aos direitos sociais, nos quais a educação
e a proteção à família e ao trabalhador são garantidos a priori pelo Estado; não
resultam de lutas, nem são conquistas. O Estado assume, assim, feição paternalista,
como organismo capaz de atender aos interesses e às necessidades dos indivíduos.
Que cidadania seria essa, senão a cidadania inativa, conformista na qual a sociedade
dita o comportamento necessário ao ajustamento do indivíduo? Assim, a harmonia
social não procede das disputas entre classes ou grupos, mas da elaboração técnicoburocrática de programas capazes de atender às demandas sociais. Não deixa de ser,
portanto uma racionalidade que visa à dominação.
140
A proposta da autora converge para a consideração da temática da cidadania,
mediante uma metodologia pedagógica voltada para capacitar os indivíduos a buscarem a
alteridade, procurando nos outros os seus interlocutores (FERREIRA, 1993, p.17).
Observa-se, portanto, que é pelo diálogo que os homens, na condição de
indivíduos-cidadãos, constroem a inteligibilidade das relações sociais. Trata-se, pois, de
eliminar tudo aquilo que possa prejudicar a comunicação entre as pessoas, pois só através dela
se pode chegar a um mínimo de consenso.
141
6 CIDADANIA OUTORGADA VERSUS CIDADANIA CONQUISTADA
6.1 Ilustrando os paradigmas de cidadania deste estudo com a história de dois sujeitos
especiais
Justifica-se essa homenagem, que se considera das mais justas: ao se procurar
iniciar o trabalho de campo, o interesse era o de realizar entrevistas com idosas proativas,
lúcidas e com tempo de permanência satisfatório no grupo de convivência, permitindo que se
investigasse a importância dessa modalidade de socialização em suas vidas.
Por experiência profissional, já se sabia que os idosos, de modo geral, sentem-se
imensamente felizes em compartilhar com outras pessoas suas histórias de vida o que, para
eles, representa uma experiência altamente positiva. Assim, não se pretendeu interromper suas
falas, durante as entrevistas, quando quisessem se estender em suas narrativas. Desejava-se,
em suma, dar-lhes voz e vez, levando em conta que, de modo geral, são tão pouco vistos e tão
pouco ouvidos.
Assim, não se pretendia, simplesmente, travar contato com esses sujeitos, como se
estivessem sendo cobaias de uma experiência de laboratório. Desde o início, a proposta com o
desenvolvimento da investigação era a de conhecer mais amiúde os sujeitos que seriam
selecionados para compor a pesquisa. Reconhecia-se que eram pessoas especiais e que iriam
contribuir com o melhor entendimento da realidade que vivenciavam, em vários espaços de
socialização. Afinal de contas, esses sujeitos experienciavam uma velhice que interessava à
pesquisa e se tratavam de mulheres dignas de serem ouvidas, expondo, se quisessem, as
próprias vidas.
Quando se chegou ao CIAPREVI-CE, ao final de 2008, esse equipamento ainda
era o Centro Comunitário Dom Lustosa. Após a apresentação formal às coordenadoras (do
Centro e do Grupo de Convivência local), declarou-se a intenção de realizar uma pesquisa
nesse equipamento da STDS.
Foi mencionado que se desejava entrevistar idosas com as características definidas
para esta pesquisa e, quase que simultaneamente, a coordenadora do grupo se manifestou:
“Então você precisa entrevistar a D. Mírian e a D. Salviana”.
Chega, nesse instante, D. Mírian, saída da cozinha do CIAPREVI-CE e,
convidada pela técnica coordenadora, senta-se ao lado da pesquisadora, que se identificou e se
surpreendeu com o fato de estar sendo recebida pela idosa com tanta naturalidade, como se
esta a estivesse recebendo em sua própria casa. A idosa causou boa impressão desde o início,
142
ao informar, com reconhecido senso de dignidade, o seu nome, dizendo: “Eu me chamo
Mìrian Honorato ... Honorato com H [...]”
Cumpre ressaltar a empatia e o interesse despertado com essa forma peculiar de
apresentação, porque se percebeu, de imediato, que se tratava de alguém que se
autovalorizava e se reconhecia importante. Ligou-se o gravador e foi-se perguntando mais e
ela foi respondendo a tudo e contando sua história, sob o olhar maroto e satisfeito da
coordenadora, que se havia antecipado às circunstâncias.
O fato é que, tanto a história de D. Mírian, quanto a história de Salviana, dão vida
às histórias anônimas de tantas mulheres da periferia de Fortaleza, as quais ninguém conhece,
e que, mais tarde, vieram compor, efetivamente, a pesquisa empreendida. D. Mírian foi
incluída na amostra, mas Salviana, em meados do ano de 2009, ficou cega, em virtude do seu
problema de glaucoma ter se agravado. Soube-se que ela adoeceu e que ficou muito triste por
não estar mais podendo vir ao CIAPREVI-CE para participar das reuniões do grupo de
convivência.
Falta ainda mencionar que, nessa época em que se manteve contato inicial com
essas idosas, os conceitos sobre “cidadania outorgada” e “cidadania conquistada” estavam
fervilhando na cabeça da pesquisadora. Pois não é que a história dessas mulheres veio ilustrar
dois paradigmas de cidadania antagônicos, que se estava, justamente, procurando considerar,
para compor o referencial teórico da pesquisa?
Acredita-se que não se pode deixar passar a oportunidade de ilustrar este estudo
com a história dessas duas mulheres, em especial. Por isso, pede-se licença para relatar as
suas histórias, na certeza de que prestaram uma contribuição incomensurável a este estudo.
6.2 A História de D. Mírian
D. Mírian tem 82 anos (nasceu em 09 de outubro de 1927), é natural de
Pindoretama- município de Cascavel- Ceará. É a última de uma prole de sete filhos, que teve
o casal Josbertino e Josbertina, seus pais, os quais, assim como a protagonista desta história,
aqui estão sendo identificados com nomes fictícios. Salienta-se, porém, que a coincidência
dos nomes dos genitores de D. Mírian é real e se deve à linha de parentesco existente entre
eles: eram primos que se uniram em matrimônio.
D. Mirian teve, portanto, seis irmãos, sendo dois homens e quatro mulheres, dos
quais só uma está viva atualmente. Ela ressalta, inclusive, que também uma das irmãs de sua
143
mãe casou-se com um dos irmãos de seu pai, gerando primos carnais.
A família veio residir em Fortaleza-Ceará, quando ela estava com dois anos.
Foram morar na Av. Monsenhor Tabosa, localizada nas imediações da Praia de Iracema.
O pai de D. Mírian instalou um comércio no Mercado Central. Era proprietário de
um armazém que ficava próximo ao local em que passaram a residir em Fortaleza. Ela se
recorda que o armazém de seu pai ficava em frente a uma padaria, que ainda hoje existe na
Av. Monsenhor Tabosa, mas cujo nome ela não se lembra. Recorda, ainda, que, também nas
proximidades do ponto comercial de seu pai, funcionava a mercearia de um casal, o “Seu
Paiva e a D. Stela”.
D. Mírian estudou no Colégio da Imaculada Conceição, uma das instituições de
ensino mais antigas e tradicionais de Fortaleza, dirigida por religiosas da Ordem de São
Vicente de Paula, as quais, durante muitos anos, dedicaram-se exclusivamente à formação de
moças da sociedade local. A instituição admitia, entretanto, em seu quadro de alunas, crianças
e jovens provenientes de famílias com poucos recursos, como forma de exercitar o carisma
caritativo da ordem religiosa a que pertenciam.
Ao relatar essas lembranças, D. Mírian destaca que seu ingresso naquela
instituição educacional se deveu à intervenção de uma prima, Gertrudes, que era freira e
também “sua madrinha de apresentar” (circunstância inerente aos ritos do batismo católico).
Ela recorda que essa prima foi embora em 1939, quando ela estava com doze anos. Mesmo
assim, ela continuou frequentando o colégio, em regime de semi-internato. Ia para o colégio
de manhã, e, voltava “de tardezinha”, trazida por um irmão. Com certa nostalgia, ela faz
menção aos nomes de algumas religiosas que faziam parte da instituição em seu tempo: “A
Irmã Celiza, a Irmã Mazé, a Irmã Otília... a irmã Otília era bem baixinha [...]”
D. Mírian prossegue sua narrativa, mencionando que gostava muito de drama, de
representar. Por isso, era muito solicitada para se apresentar em festividades. Ressalta, assim,
que sempre foi muito divertida e desinibida. Lembra até dos papéis que representou na
juventude: o de pastor, o de anjo da anunciação e principalmente o último, o de florista. Este
ela encenou por dois anos consecutivos, por isso tem um carinho especial pelo personagem
que representou. As lembranças de D. Mírian prosseguem e chegam até uma casa, próxima da
sua, onde havia um “pastoril”. Este termo é designativo de um
folguedo popular dramático, que é apresentado em um tablado ao ar livre, e no qual
há uma personagem masculina, o Velho, que conta anedotas, faz pilhérias com os
espectadores, vende prendas de leilão, tudo entremeado com cantos e danças de uma
meia dúzia de personagens femininas chamadas pastoras (MICHAELIS, 1998).
144
Depois disso, a família se mudou. Foi morar na Rua Senador Pompeu, perto do
bairro Benfica, endereço que ela detalha mais ainda, ao referir que ficava perto do Estádio
Presidente Vargas, em Fortaleza. Próximo ao local, residia “um padrinho seu”, que era oficial
de justiça. Ele morava na Rua Assunção e promovia festas familiares, que eram frequentadas
só por pessoas amigas, com as quais interagiam a filha dele e a própria D. Mírian, na
qualidade de afilhada. Foi a partir daí que, “um belo dia” (expressão literal utilizada por ela),
apareceu “um cara” (idem), que começou a persegui-la, com a intenção de namoro. Ela não se
pronunciou logo. Disse apenas: “Depois eu dou a resposta”.
D. Mírian abre um aparte em sua narrativa, mencionando que “só teve dois
amores na vida: o primeiro era da Escola de Aprendizes Marinheiro, mas que segundo ela foi
apenas “um paquera”, que nem chegou a frequentar a sua casa. O segundo foi aquele com
quem veio a se casar e que por dois anos a ficou perseguindo. Segundo D. Mírian, ele dizia
para sua amiga próxima: “Mazé, essa loura é muito banqueira, mas eu derrubo a banca dela
[...]”
Quando, finalmente, D. Mírian se dispôs a receber a fotografia do pretendente, ela
a mostrou à sua “madrinha”, dizendo: “Madrinha, eu vou levar essa foto e botar no açucareiro
lá de casa [...]” (Perguntada pela pesquisadora quanto à finalidade desse propósito, ela
responde às gargalhadas: “Pras moscas tomar de conta (porque ele era muito feio [...])” D.
Mírian ressalta que, nessa época, tinha quatorze para quinze anos e só queria se divertir. O
pretendente, que era ourives (anos depois, já casado, passou a ser empreiteiro), tinha
dezenove anos. Ela destaca: “Ele era noivo, em Maranguape, com uma moça de nome Maria
da Paz. Eu sempre achei bonito esse nome [...]”
Com vívida nostalgia, ela relembra as circunstâncias do primeiro encontro do seu
então pretendente a namorado e os seus pais:
Então ele me propôs: Eu quero ir na sua casa. Eu disse: - Eu nunca levei ninguém na
minha casa... (Meu pai era cabra ruim). Mas ele disse: - Eu vou enfrentar. Aí ele foi
inventar de me pedir a casamento... Meu pai se levantou e disse: - Não tenho
resposta pra você. E chegou lá na cozinha e disse pra minha mãe: - Vá falar para
aquele moço, que está lá fora, que eu não tive palavras pra ele, não. Vá, faça aí do
seu modo. Aí minha mãe foi conversar com ele e ele disse: - Não, eu pretendo me
casar com a sua filha, quero me casar com ela.
Nesse ponto da narrativa, D. Mírian demonstra aceitação da proposta de
casamento, ao mencionar a sua decisão: “Olhe, eu lhe dou um sim, mas se você acabar o seu
noivado”.
145
Depois disso, D. Mírian foi passar as festas de São Sebastião em Maranguape, na
companhia de uma prima. Ficou acertado que ela se encontraria com o pretendente na
pracinha da cidade. Na data aprazada, lá estavam a mãe dele e a então noiva do seu namorado,
a Maria da Paz, sentadas em um banco da avenida (segundo D. Mírian, eram muito amigas).
Aqui, novamente as lembranças são relatadas com vívido saudosismo: “Eu disse a ele: Me
mostre (a mãe e a noiva).” E o desafiou a passar com ela em frente ao banco no qual as duas
estavam sentadas. A intenção era fazê-lo acabar ali mesmo o noivado, o que de fato
aconteceu: Ele disse:
Maria da Paz, a partir de hoje eu não sou mais seu noivo... D. Mírian argumenta: Eu
era muito banqueira mesmo... A coisa que eu tinha mais medo na vida era perder
minha honra. Minha mãe me fazia muito medo. Eu era muito brincalhona, mas ia
com as minhas irmãs para as festas.
Quando finalmente casaram, o pai foi embora de casa com desgosto. “Arranjou”
uma mulher em Maranguape e foi morar lá, deixando a mulher e filhos. Ela lembra: “Meu pai
era cheio de preconceitos. Meu marido era moreno. Ele dizia mesmo: “Eu não gosto daquele
nêgo [...]” Aqui ela faz uma ressalva: “Ele não era nêgo, não, era da cor dessa menina que
está aqui, entende?” (E aponta para uma funcionária do Centro que passava próximo ao local
da entrevista). E continua: “Mas o pai dele (Seu Nonato,) era nêgo, nêgo, do cabelo de
pimenta-do-reino.”
Só depois de casarem e de terem tido o primeiro filho, D. Mírian foi aceita pela
sogra. Mas ela recorda que, antes mesmo disso, ela começou a sofrer com o casamento. O
marido “arrumou” uma mulher, que lhe deu filhos, mesmo antes de ela ter o primeiro, o que
só aconteceu depois de cinco anos de casamento. Ressalta que procurou aguentar a situação
sem se queixar para os pais e para os irmãos, principalmente, por ter se casado à revelia: ele
(o marido) lhe dizia, então, para desestimulá-la a continuar o casamento:
Não lhe prometo nada de bom. Aí fui me segurando, segurando [...] Aí apareceu
meu primeiro filho, o Gilson [...] Aí ele ficou feliz. A mulher que ele tinha era
casada e separada do marido. Vivia com a mãe dela. Teve quatro filhos. Fui pedindo
força a Deus para levar a minha vida. Mas ele não batia em mim, era bom pai bom
dono de casa... Mas isso não basta, né?[...]
Nesse momento da vida de casada, D. Mírian resolveu se mudar para a Rua Carlos
Vasconcelos. Costumava ir frequentemente com o marido ao cinema e ao teatro. Também
jantava fora com o marido. Ela abre um parêntese para ressaltar: “Aliás, ainda hoje eu vou ao
teatro (Dragão do Mar, José de Alencar) [...]” Ela atribui essas oportunidades ao círculo de
amizades de uma filha sua, que trabalha profissionalmente, exercendo funções técnicas no
146
meio teatral de Fortaleza. Entretanto, faz questão de mencionar que o gosto que nutre pelo
teatro começou desde quando ainda era criança. Além do teatro, D. Mirian demonstra
preferência por fitas cinematográficas do gênero “de ação”. Diz que também sempre gostou
de ler, mas que agora “está meio ruim por causa da vista”. Arremata esse conjunto de
preferências com um esclarecimento: “O meu aniversário (do ano passado) comemorei no
teatro [...]”
D. Mírian, por sua vez, exerceu atividades profissionais diversificadas. Fez curso
de auxiliar de enfermagem e, a partir daí, começou a exercer essa atividade, aplicando
injeções. Lembra de algumas amizades influentes que conheceu na área da saúde: “O Dr.
Ernesto (nome fictício de um ilustre médico cearense) foi meu padrinho [...]” Ele disse:
“Mirian, vou te levar para trabalhar na Assistência Municipal”. E nesse momento, ela ressalta:
“Eu fui, porque o meu marido não me deixou trabalhar no comércio (por preconceito) [...]”.
Assim, o círculo de amizades influentes de D. Mírian foi se ampliando e não
custou muito para que, a partir dessa atividade, começasse a galgar novos espaços de trabalho
mais vantajosos. A nova oportunidade surgiu para ela de forma inesperada: por ter, nessa
época, uma filha estudando no Colégio da Paróquia de Santa Luzia, em certa ocasião, ao
participar de uma palestra proferida por Dona “N. C.”, aceitou de imediato o convite que esta
dirigiu às mães presentes, para se engajarem em um trabalho voluntário que iria começar a
desenvolver no então Centro Comunitário D. Lustosa. O trabalho dizia respeito às ações de
um programa governamental de distribuição de leite para pessoas carentes, desenvolvido pelo
então Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição (INAN), sigla de um antigo programa de
nutrição social.
A partir de então, D. Mirian se engajou na nova atividade de voluntariado, que lhe
tomava apenas parte do expediente diário, não a impedindo de cuidar de casa e da família.
Nessa mesma época, segundo relata, começou a ser organizado o trabalho da então Fundação
dos Serviços Sociais do Estado do Ceará (FUNSESCE), tendo à frente a então Primeira Dama
do Estado, a Sra. Luíza Távora, esposa do Governador Virgílio Távora.
Nessa época, D. Mirian ajudava também nos serviços de cozinha do aludido
centro. Ela relembra: “Foi com D. Luíza... Ela era outra madrinha [...]” Recorda, nesse
contexto, a simplicidade e o espírito descontraído da Primeira-Dama Cearense, Luíza Távora,
que se notabilizou no Estado por um carisma pessoal no trato com as pessoas simples. D.
Mirian recorda: “Ela entrava aqui cantando „Bandeira Branca‟, com os pés descalços, e
quando chegava na cozinha ia logo destampando as panelas e elogiando o aroma saboroso da
comida [...]”
147
Pouco depois, uma vez estruturada a nova Fundação, D.Mírian foi estimulada por
sua benfeitora, Dona N. C., a fazer uma prova de seleção para se engajar no quadro de
funcionários da FUNSESCE. Relembra que a pontuação mínima exigida para os candidatos a
ingressar na categoria de auxiliar de serviços administrativos, que ela postulava, era de 30
pontos, tendo ela sido aprovada com 32 pontos. A partir daí, foi contratada como servidora do
Estado. No exercício da nova função, D. Mirian passou a trabalhar os dois turnos. Lembra,
nesse contexto, a relação de confiança que se estabeleceu entre ela e Dona N.C.: Era ela, D.
Mirian, a pessoa encarregada de abrir e fechar as portas do centro. Ressalta que, um dia, Dona
N.C. teve que sair apressadamente para o banco, esquecendo de levar a bolsa, que ficou
exposta. Ela, entretanto, teve o cuidado de guardá-la à chave, em um armário e, mais tarde,
levá-la pessoalmente à residência da chefe e benfeitora.
Naquela época, junto com as atividades inerentes ao trabalho de distribuição de
leite, começou a funcionar no centro um grupo de convivência de idosas, contando,
inicialmente, com um número reduzido de vinte mulheres. Essa nova modalidade assistencial
foi implantada a partir do trabalho voluntário que reuniu algumas senhoras da sociedade,
vinculadas à Casa da Amizade, clube de serviço feminino do qual Dona N. C fazia parte. Essa
rede de amigos começou, então, a realizar, uma vez por semana, as atividades com o grupo de
idosas. Estas, por sua vez, nos dias em que não ocorria a reunião do grupo, se dedicavam às
atividades de bordado em labirinto e ponto de cruz. As peças de tecido eram compradas por
Dona N. C., e, depois de cortadas, distribuídas entre as bordadeiras. As peças iam sendo
trabalhadas pelas idosas em casa e no próprio centro, mas em dias não coincidentes ao da
reunião do grupo de convivência. As peças eram vendidas em feirinhas, e a renda revertia
para as obras sociais do Estado.
Nesse ponto da narrativa, D. Mirian enfatiza que a sua benfeitora, Dona N.C. era
de família bem relacionada e próxima da família de D. Antonio de Almeida Lustosa. Refere
que este, inclusive, chegou a ir ao centro algumas vezes, para visitar a mãe que ali prestava
serviços voluntários com as outras senhoras da caridade: “Ele era uma pessoa muito boa. A
mãe dele andava muito aqui. Ele vinha, conversava com a mãe dele, que morava aqui perto.”
Neste ponto da narrativa, D. Mirian desvela, inclusive, outra rede de solidariedade
que se instalara anteriormente, no próprio círculo de amizades da sua benfeitora, e que acabou
motivando o surgimento do trabalho social que esta passaria a desenvolver depois, no centro
D. Lustosa, ao recordar: “O Castelo Branco (Presidente brasileiro, natural do Ceará) era
padrinho do C., filho dela... Aí, ela estava fazendo Serviço Social: „Comadre, falta muito para
você terminar o Serviço Social? Pois termine, que eu vou construir um centro para você tomar
148
de conta‟ [...]”
Depois de algum tempo, Dona N. C. teve finalmente que deixar o trabalho no
centro, quando o expediente de trabalho no Estado passou a funcionar em dois turnos. Foi
substituída por uma pessoa que, segundo ela, teve que sair pouco tempo depois, “a custa de
baixo assinado”. O trabalho teve continuidade com outros servidores, pertencentes ao quadro
de recursos humanos da FUNSESCE. Ela ressalta, principalmente, a atuação da assistente
social coordenadora, M.P. Nessa época, D. Mirian continuava trabalhando na cozinha do
centro, ainda não era idosa (tinha 47 anos), mas a generosidade da nova chefe estendia até ela
os benefícios propiciados às idosas dos grupos: “Tinha lembrancinhas que ela queria dar à
gente também [...]”
Com bastante saudosismo, D. Mirian relembra um fato ocorrido logo no início da
administração da nova chefe do centro:
Um dia Dona N.C. veio aqui me buscar para passar um tempo lá com ela (no novo
trabalho que assumiu em outra instância da administração estadual). Ela disse pra
minha chefe que eu tinha que ir com ela para ajudá-la a organizar o seu trabalho,
pois lá não tinha quem soubesse fazer isso como eu. Eu fui, mas passei pouco
tempo, porque não me adaptei lá [...] Nessa época, eu fumava duas carteiras de
cigarro por dia. Até que um dia disse: Meu Deus, me dê uma orientação... Eu disse:
Tenho fé em São Francisco de Canindé que a partir de hoje não coloco mais um
cigarro na boca. E deixei o vício.
A narrativa de D. Mirian está impregnada de um sentimento de gratidão ao
próprio grupo de convivência. Ela ressalta que foi no grupo que aprendeu a viver. No grupo,
ela diz que aprendeu a ter mais paciência e mais tolerância. A mudança em sua vida foi
notória, inclusive na parte da própria higiene. Ela aprendeu a cuidar do seu corpo, a
desenvolver hábitos de higiene e de saúde, fazendo questão de dizer que até o seu
comportamento mudou. Até hoje, ela se mostra plenamente satisfeita com o conjunto de
atividades que realiza no grupo. Para ela, todas são igualmente boas, mas ressalta: “Sempre
gostei de dançar. Sempre fui dançadeira [...]” Talvez por isso, ela se alegre tanto com uma
incumbência que passou a desempenhar nas reuniões semanais do grupo: é ela quem assume
orgulhosamente a função de DJ, encarregando-se de trazer CDs de casa para os idosos
dançarem. Ela considera que os seus CDs são melhores que os que outros idosos poderiam
trazer de casa, por isso, procura ignorar quando alguns reclamam que ela procura impor o seu
estilo musical. Ela esclarece, porém, que não se trata disso, as músicas que ela escolhe se dá
em função da boa qualidade e não do seu gosto pessoal. Mas, nesse sentido, ressalta que tem
preferência pelo “bolero”.
149
D. Mirian demonstra não ter preferência por “assuntos de política”. Os assuntos
que os idosos geralmente vêm desabafar com ela são assuntos de família. Para ela, só na
época de eleição esses assuntos são ventilados: “Os velhos são namoradores. Não conversam
sobre assunto de política. Conversam sobre a violência contra os idosos. Só se ligam em
amenidades.” Segundo ela, as palestras sobre os direitos dos idosos são importantes, mas não
se lembra sobre os direitos que foram mencionados, em certa ocasião, por uma autoridade que
veio ao grupo proferir palestra para os idosos. Segundo ela, já chegou um pouco atrasada, e
não compreendeu muito bem. Entretanto, tem muita gente que cuida disso para ela: “Tenho
um sobrinho que trabalha na Empresa Santa Cecília”. Ele disse: “Tia, a senhora me telefone
se acontecer alguma coisa com os seus idosos [...]”
D. Mirian deixou há três anos de votar. Fez uma cirurgia para colocação de pontes
de safena e passou a ter dificuldades para se locomover. Entretanto, faz questão de ressaltar
que “sempre foi de Direita e não de Esquerda”:
Na época de D. Luíza eu votava no (candidato) dela. Minha filha ano passado
trabalhou pelo candidato X, dono do Teatro Y, mas ele começou na política muito
tarde. Ele disse: Mãezinha (forma como a trata usualmente) vou mandar um ônibus
para a senhora, vou fazer aqui um pastoril... Eu trouxe ele para fazer uma peça de
teatro aí [...]
D. Mirian termina o seu relato, externando um sentimento de gratidão à Dona
N.C.:
Devo a ela o meu emprego. Porque, se fosse pelo meu marido, eu tinha abandonado
na semana que ele morreu, ele pediu para eu ficar com ele mais um pouco. Se eu
tivesse feito isso eu teria passado fome, porque eu só fiquei com uma pequena
aposentadoria dele.
O marido de Dona Mirian lhe deixou uma pensão que, junto com os seus
vencimentos de um salário mínimo, a que faz jus como funcionária aposentada do Estado, lhe
garante uma sobrevivência modesta, porém digna. “Graças a Deus, agora tenho um
calhambeque[...]”
6.3 A história de D. Mírian no contexto da história de Fortaleza na Década de 1930:
Carnaval e Fome
D. Mirian teve o privilégio de atravessar várias décadas, testemunhando, sem o
perceber, a história do surgimento do próprio serviço social no Estado do Ceará. Sua história,
em determinados momentos, se confunde com a história do próprio centro comunitário (hoje
150
CIAPREVI-CE), que ela viu nascer e no qual convive, atualmente, com outros idosos, não
mais como funcionária estadual, mas como integrante da categoria dos idosos participantes do
grupo de convivência que funciona no local. Ela, certamente, não tem noção do quanto
contribuiu para a elaboração do presente estudo, que busca, justamente, compreender as
estratégias de cidadania ocultas em sua história de vida e na história de tantas mulheres com
as quais convive, semanalmente, no grupo de convivência.
O que se está procurando fazer, entretanto, é juntar as peças de um peculiar
quebra-cabeça, visando conhecer cada trama de um tecido sociológico arduamente elaborado
por muitas mãos envelhecidas, procurando-se enxergar a vivência cidadã por trás de tantos
rostos enrugados e disfarçados de não cidadãs; rostos enrugados, mas ainda repletos de
expectativas.
Este, portanto, não constitui um trabalho individual, porque não se pode
obscurecer a importância da participação direta e indireta de todas as idosas dos grupos de
convivência do CIAPREVI-CE, na presente construção acadêmica. Logo elas, mulheres
iletradas e anônimas, que, ao soltarem a voz, ganharam a vez de serem ouvidas e, assim,
ajudar a se colocar no papel o seu parecer sobre as políticas públicas estatais.
Seguindo a cronologia apontada por D. Mirian, procurou-se configurar a sua
história, no contexto da história de Fortaleza. Assim, começa-se a seguir a sua trajetória: D.
Mírian saiu do município de Pindoretama, interior do Ceará, e chegou à cidade com sua
família, no ano de 1929, aos dois anos de idade. Nessa época, o sertão cearense já dava sinais
de um novo período de seca. Esse ocorreu, de fato, em 1932, trazendo, em trens lotados, levas
de pessoas famintas, que fugiam para a Capital cearense. Isso ocorria porque era difícil para
as pessoas que viviam no interior do Estado enfrentar a estiagem nos próprios locais de
origem, uma vez que a fome e a miséria acabavam ceifando muitas vidas. Nesse caso, a
alternativa era a migração para cidades litorâneas mais adiantadas, a exemplo de Fortaleza.
Uma matéria publicada pelo Jornal O POVO, no dia 13 de abril de 1932, dizia
literalmente: “Tangidos pelo desespero da fome, no interior, os flagelados têm invadido vários
trens horário da Rede de Viação Cearense para se transportarem a esta Capital”.
Assim, em virtude de alternados períodos de secas no Estado, passaram a
conviver, no contexto urbano da Capital, duas modalidades populacionais díspares e
contraditórias: uma composta pela leva de famintos, que chegava a Fortaleza, fugindo da
estiagem no sertão, e a composta por pessoas da elite, residentes na Capital que, por
desconhecerem o que representa o drama das secas para as pessoas do interior, naquele ano de
1932, estavam menos preocupadas com elas do que com a feiúra causada pelos aglomerados
151
humanos, sujos e maltrapilhos, no aspecto paisagístico da cidade: as levas de retirantes, sem
lugar para se instalar, aglomeravam-se nas estações de trem, desconfortavelmente, e sem
condições de higiene, causando um problema de saúde pública.
A seca colocou frente a frente duas realidades paradoxais, em fevereiro de 1932: a
que se preocupava em participar dos festejos mominos e a que só tinha razões para se
lastimar: foliões e retirantes eram alvo das notícias dos jornais. Paradoxalmente, a crônica
“Ecos do Carnaval” (O POVO, de 11/02/1932) informava, em determinada seção, sobre a
animação reinante no período carnavalesco, apontando o Ideal Clube como a instância
carnavalesca mais animada, enquanto que, na página seguinte, a Inspetoria Federal de Obras
Contra as Secas (IFOCS), divulgava um edital de fornecimento de materiais para os
flagelados.
Na década de 30, os carnavais saíram das ruas, a elite começou a se isolar, se
encontrava nos clubes. Ao mesmo tempo, usava-se o argumento de fazer a festa,
para enviar dinheiro aos que estavam morrendo de fome. Era uma forma de viver o
carnaval com luxo e sem culpa, fazendo a caridade em 1932. [...] Mas o carnaval
também era criticado nos jornais pelos católicos [...] alguns artigos publicados no
jornal O Nordeste falavam que, enquanto o sertão estava faminto, muitos cidadãos
entregavam-se às tentações do carnaval. Havia divergência entre os grupos liberais
(burguesia liberal e profissionais liberais ligados ao PSD) e conservadores católicos,
publicadas nos jornais, mas eles não diferiam quando o tema era isolamento dos
flagelados. Porém, enquanto os ricos comerciantes brincavam o carnaval com luxo e
requinte, os católicos conservadores estavam rezando por suas almas e pela salvação
da moral cristã (RIOS, 2006).
A protagonista desta história, D. Mirian, nessa época, era ainda muito pequena,
mas, tendo passado a residir com a família numa faixa urbana próxima ao centro da cidade,
perto da Praia de Iracema, onde até hoje se encontram instalados vários equipamentos
culturais, mais tarde pôde dar vazão à sua índole festeira. Aprimorou o gosto pelos bailes
carnavalescos, pelos dramas e pastoris junto a esse meio altamente favorável ao
desenvolvimento cultural (ali fica o Teatro São José, o Estoril, pertencentes ao patrimônio
histórico de Fortaleza). Essa preferência ficaria evidenciada na personalidade de D. Mirian. É
ela quem menciona a opinião da prima, a seu respeito: “Essa menina, essa menina, em tudo
ela se mete. .. O que é que ela tem? Se alguém diz: vou fazer uma festa, vou fazer um drama
[...] chama a Mirianzinha [...]”
Na década de 1930, em decorrência de tantas desigualdades sociais, proliferam
em Fortaleza as greves promovidas pelas classes operárias, insatisfeitas com as longas
jornadas de trabalho, baixos salários e desemprego. Os trabalhadores clamavam por mais
espaço de participação política, motivo pelo qual começavam a se reunir em torno dos
sindicatos de classe. Havia uma forte tensão entre essa classe operária e as oligarquias
152
tradicionais, compostas pelas elites do poder, e por estas foram reprimidas.
A seca de 1958 trouxe novos migrantes para Fortaleza, os quais chegaram e se
alojaram em uma área de morro, com poucas condições de habitação. Nascia outra área
periférica em Fortaleza que, mais tarde, se transformaria no populoso bairro do Pirambu,
localizado na zona oeste de Fortaleza, em uma faixa litorânea ocupada por pescadores.
No primeiro dia do ano de 1962, milhares de pessoas saíram das áreas periféricas
e invadiram as ruas do Centro de Fortaleza. Esse movimento se notabilizou como um marco
para os movimentos sociais em Fortaleza, constituindo uma estratégia política das classes
empobrecidas, que se expressavam por essa via, para obter maior justiça social. Essa luta se
efetivou com o apoio de uma ala progressista da Igreja Católica, segundo a análise feita pelo
professor José Borzacchiello da Silva, da Universidade Federal do Ceará-UFC.
Para Silva (2006), este constituiu o marco divisor de águas em busca de novas
conquistas, em Fortaleza: o ato foi organizado durante dois anos antes, com uma preparação
em cada quarteirão, e pregações durante as missas do vigário do bairro, padre Hélio Campos:
“Vem vê, ó Fortaleza/o Pirambu passar/somos pessoas humanas/temos direito que ninguém
pode tirar” (Trecho do Hino do Pirambu, composto por padre Gerardo Campos, irmão do
padre Hélio Campos).
Outras estratégias de visibilidade social seriam impressas em matizes religiosas
diferentes, que se incorporariam, contudo, no modo de ser de D. Mirian: a religiosidade
mística. A fé regada a superstições não era, porém, um traço marcante e exclusivo da
personalidade de pessoas simples como D. Mirian, porquanto presente no imaginário coletivo
de pessoas letradas do Estado.
O jornal O Nordeste, em edição do dia 23/3/1933, deu conta dos rituais religiosos
praticados pelos retirantes das secas, provindo esses rituais do saber popular impresso na
cultura das gentes do Interior do Estado. A fé, nesse caso, para alguns estudiosos,
representaria uma estratégia utilizada pelos sertanejos, para enfrentar e dar sentido ao drama
da seca.
Fazer promessas e roubar a imagem do santo da igreja e só devolvê-la com as
chuvas eram estratégias de combate à seca adotadas, segundo Kênia Rios, no livro
Campos de Concentração no Ceará. Os jornais de Fortaleza divulgavam querelas
entre o saber médico e o popular. No jornal O Nordeste (23/3/1933, segundo
descreve Kênia, o médico José Jacome usava a imprensa para reclamar de “D.
Raimunda de Tal”. Ele pedia o afastamento da curandeira. Jacome contava que a
influência da curandeira era tanta que funcionários da Inspetoria Federal de Obras
contra as Secas faziam uso do serviço. Para os flagelados, a curandeira seria uma
santa que havia morrido e depois de 24 horas voltado à Terra por ordem de Deus
com poderes de cura. (REVISTA FORTALEZA, 2006).
153
Esse cenário impregnado de crenças e superstições populares, que se encontra no
esteio da trajetória de vida de D. Mirian, se incorporou à cultura popular cearense,
independentemente da classe social. Foi trazido, contudo, pelas populações de retirantes que
vieram se abrigar na cidade grande, fugindo das secas. Aqui, eles contribuíram também para a
mudança no aspecto sociodemográfico da cidade e para a formação de uma Fortaleza plural,
ou seja, composta pelas áreas de favelização, onde procuraram se abrigar, na década de 1930,
e por uma área abastada, que residia em áreas nobres e que, ignorando a situação de penúria
das gentes pobres, continuava a se modernizar:
É a Fortaleza dos miseráveis e da Beira-Mar. Os retirantes que vêm das secas
começam a formação das periferias, posteriormente das favelas, como temos hoje as
favelas do Trilho, do Pirambu. Eles vêm de trem e vão se situando às margens dos
trilhos, formando residências onde chegam. A favela do Trilho é um exemplo, virou
uma das maiores favelas. (RIOS, 2006).
Segundo a mesma fonte de referência, as secas estiveram presentes no processo de
formação de quase todas as áreas periféricas de Fortaleza, sendo que esse processo, nem
sempre, ocorreu de forma pacífica. Assim,
o próprio fato de o retirante se instalar e fixar moradia é uma forma de resistência e
enfrentamento. [...] Ocupar o trilho não é acomodação, é uma forma de lutar por um
lugar no espaço urbano. Ocupar lugares no litoral, como Pirambu, Serviluz, também
é forma de enfrentamento, eles não abrem mão de estar lá. Não é fácil continuar lá,
então eles têm a sua força, a sua potência (ibidem).
A partir daqui, oferece-se vez e voz a outra ilustre anônima, que emprestou a sua
vista cansada, a esta pesquisadora, fazendo-a enxergar tantas coisas.
6.4 A História de Salviana
Salviana Maria2, nome fictício da protagonista da história que se passa a relatar,
tinha acabado de completar 80 anos, quando conversou com a pesquisadora. Isto aconteceu,
na época em que o CIAPREVI-CE ainda era o Centro Comunitário Dom Lustosa. Nesse
2
Hoje, Salviana não está mais frequentando o grupo de convivência do CIAPREVI. O seu problema de
glaucoma fez com que ficasse cega. Segundo se pode perceber pela leitura de sua história, o grupo musical de
chorinho era a sua alegria. Perguntei por Salviana a várias idosas, a várias pessoas. Não souberam dizer bem,
pois mora longe. Segundo dizem, saiu do seu quartinho, que era o seu espaço, o seu cantinho, e está na casa do
filho, que a trata bem junto com a esposa, mas que não é mais a sua casa, o seu cantinho. Ela perdeu a vista, o
cantinho, o grupo de convivência. Terá perdido a alegria de viver? Penso muitas vezes em Salviana e no
sentido da cidadania que busquei estudar. Como estará Salviana?
154
momento, ela narrou a sua história. Foi ouvida, quando ainda não se havia definido, ao certo,
que metodologia deveria ser adotada nesta pesquisa. Assim, foi ela quem primeiro ensinou à
pesquisadora a ter uma noção dos sujeitos com os quais iria trabalhar. Aqui se encontra
sintetizada a sua história:
Salviana nasceu em 27 de dezembro de 1927, no Município de Baixa Verde que,
segundo ela, em seu tempo, se chamava Cachoeirinha. Teve três irmãos que não estão mais
vivos. Seus pais se chamavam Josiberto e Maria Ângela.
Desde criança, sua vida foi assim: quando o tempo “estava ruim”, a família toda
migrava para o Piauí, em busca de melhores condições de passadio. Quando as coisas
melhoravam, de novo retornavam para o seu rincão, em terras cearenses. Isso se repetiu por
várias vezes, até que não deu mais para continuar nesse vai-e-vem e eles acabaram se fixando
de vez naquele Estado.
Salviana diz que não teve infância, nem estudou. Foi a própria mãe que, no dizer
dela, lhe ensinou o b-a-bá. Era uma criança isolada, não tinha amigos e não ia para a casa de
ninguém. Começou muito cedo a trabalhar no roçado, ajudando a família.
Salviana lembra que a última vez que ela teve que se retirar com a família para o
Piauí, estava com oito anos de idade. Voltou para o Ceará, já adulta. Casou com vinte e um
anos e, em 1951, teve o primeiro filho. Ela e o marido eram vendedores ambulantes, segundo
ela “camelôs”. Vendiam de tudo e viajavam bastante para comercializar as mercadorias.
O marido, conforme suas lembranças, foi quem continuou a ensinar-lhe a ler e a
escrever. Mas ela não progrediu nessa área porque, ao ter o segundo filho, foi acometida de
um derrame nos olhos e teve que se operar da vista. Conforme ela mesma diz, a operação
“não valeu”, pois passou 8 meses internada. A doença a que Salviana se refere é glaucoma,
que hoje a deixou cega.
Em 1963, quando seu último filho estava com cinco anos, ela perdeu o marido e
teve que criar os filhos sozinha. Teve que continuar vendendo coisas para sobreviver. Mesmo
com a vista deficiente, Salviana passou a desenvolver outra estratégia de sobrevivência: foi
fotógrafa profissional. “Batia fotos de casamentos, batizados” e, em uma dessas ocasiões, lá
pelo ano de 1988, durante uma comemoração na casa de uma pessoa que recorreu aos seus
serviços de fotógrafa, conheceu uma senhora que, segundo ela, chegou com uma saia rodada e
toda enfeitada, falando-lhe que estava vindo de um evento no grupo de convivência de idosos
do Teatro São José (localizado na Praia de Iracema). Salviana se interessou e pediu,
imediatamente, para essa conhecida apresentá-la ao grupo.
Foi assim que, naquele mesmo ano, aos 61 anos de idade, ela ingressou nas
155
atividades desse grupo de convivência. Ali deu vazão à sua vocação para o folclore. Salviana
ia todas as quartas, quintas e sextas-feiras, pela manhã, participar dessas atividades no Teatro,
continuando, até pouco tempo, paralelamente ao grupo de convivência do CIAPREVI-CE. Ela
mesma foi quem, à época da entrevista com a pesquisadora, referiu: “Ainda sou de lá”.
Explicou, assim, como começou a participar de danças folclóricas naquele grupo, mas,
segundo ela, ainda poderia ter feito mais: gostaria que tivessem aproveitado melhor o seu
talento para a “contação de histórias”.
Lembra que, como integrante do grupo de dança do Teatro São José, participou de
eventos em vários lugares, com bastante êxito. Mais recentemente, de uns cinco anos para cá,
através de pessoas conhecidas, ingressou no Centro Comunitário Dom Lustosa e nas
atividades do Grupo Musical do Chorinho. Afirma, com orgulho, que toca três instrumentos
musicais, entre os quais o surdo e o pocheti, sendo este um instrumento musical originário dos
índios tupinambás brasileiros, provenientes da região entre o Araguaia e o Tocantins. Numa
atitude graciosa, imita o som desse último instrumento: “Aquele que faz: tssi ... tssi [...]”.
Ressalta-se que esse grupo musical do atual CIAPREVI-CE costuma se
apresentar, com muito sucesso, em várias solenidades de lugares diferentes do Ceará. Através
da sua inserção nessa modalidade artística, Salviana até pouco tempo viajava para algumas
cidades do Interior, para se apresentar com o grupo. No ano passado, ela viajou com o grupo
para Aracati-Ceará. Faz questão de enfatizar que achou o lugar lindo. E exclama: “Ah, eu me
sinto feliz, feliz [...]”
Salviana não se restringiu a esses dois grupos. Quando as atividades do Projeto
Conviver/STDS aconteciam em dias diferentes da semana, nos diversos centros comunitários
da referida Pasta (ao todo, são 10 centros comunitários localizados em bairros periféricos da
capital cearense), Salviana frequentava, além do grupo de convivência do Centro Comunitário
Dom Lustosa, o grupo de idosos do bairro Mucuripe, onde se engajou na banda de música
composta por idosos do grupo de convivência do local. Diz que chegou até a ser eleita
“Rainha do São João” daquele grupo. Mas não é só isso: Salviana mencionou ter se engajado,
também, até recentemente, no grupo de convivência que funcionava no bairro João XXIII,
ressaltando: “Eu tenho carta branca para frequentar todos os grupos.” Lamenta, apenas, que,
por causa da vista, ainda não conseguiu alçar maiores vôos, em termos artísticos: “Ah, se eu
tivesse vista boa... Eu seria outra [...]”
Quando perguntada sobre se conhecia os direitos dos idosos, ela respondeu: “Aqui
vêm sempre pessoas dar palestras. Mas como eu participo, principalmente, das atividades do
grupo de Chorinho aqui do centro, quando eu chego, já está quase terminando, e não dá para
156
entender muito bem...” Entretanto, enfatiza, ainda, que acha que o grupo é muito bom, oferece
muitas atividades e não tem nada do que reclamar. Conclui: “Acho que aqui não tem
problema algum. Está tudo bem por aqui, não falta nada pra gente”.
Salviana costuma pedir a um dos filhos para ler para ela o Estatuto do Idoso:
“Ganhei a cartilha e peço a ele para ler e fico escutando [...]”
Demonstrando interesse pela cidadania política, Salviana diz que sempre fez
questão de votar. Ela vota desde os dezoito anos de idade. Ela e o marido sempre votavam,
“eram ativos” e ressalta que acha essencial votar. Só mais recentemente deixou de fazê-lo,
quando soube que a Lei lhe dava esse direito e, também, porque a vista ficou pior. E enfatiza
que não votou no ano passado porque, além de não “enxergar mais uma linha”, votava no
Colégio Salomé, onde havia muitas brigas e, por isso, não se sentia bem indo votar. “Ainda
hoje eu tenho meu título [...]”, faz questão de frisar.
Salviana acha importante para a pessoa votar: “A pessoa tem que se valorizar em
tudo e eu sempre tive muito gosto de votar. Só quando ficou difícil, deixei de votar. Soube
que não era obrigada...” Afirma também que não acompanhou a campanha eleitoral pela
televisão nas últimas eleições, ocorridas em outubro de 2008, para a Prefeitura de Fortaleza,
mas sabe quem foi eleita: “E não foi a Luizianne?... Aliás, eu não vi os debates. Nós viajamos
(o grupo de Chorinho, composto por nove integrantes do grupo de idosos do CIAPREVICE)”. E diz que não acompanhava os programas eleitorais, porque chegava em casa muito
cansada. Ela demonstrou aplicar toda a sua energia física, participando rotineiramente dos
grupos de convivência, constituindo estes a sua ocupação principal: “Aí eu chego em casa
cansada e agarro no sono [...]”
Por causa de seu engajamento no Grupo de Chorinho, Salviana aderiu à
associação desse grupo. Ela se diz satisfeita por estar associada a esse Grupo, junto com os
outros idosos integrantes dessa modalidade musical, vigente no CIAPREVI-CE, desde que ali
funcionava o Centro Comunitário Dom Lustosa.
Atualmente, os filhos de Salviana já estão casados. Ela tem o seu cantinho
construído no terreno em que se encontra a casa de um dos filhos. Ali se sente à vontade para
fazer o que quiser. No local, tem espaço até para uma pequena cozinha e banheiro. O espaço
todo não é propriamente uma casa, mas é onde ela passa as horas em que não está fazendo
rodízio nos grupos de convivência da STDS/CE. Fica muito pouco tempo em casa, porque
não gosta de ficar só, mas não reclama da vida. Ela é católica, porém, a nora que é casada
com o filho, em cuja propriedade mora, é de outra religião. Por causa disso, menciona que não
tem muito diálogo com a nora, com quem já morou, na casa do filho, mas não se adaptou.
157
Mas faz questão de ressaltar que não tem nada contra a crença de ninguém e que respeita a
religiosidade dos outros, não impondo, de forma alguma, a sua opinião. Como a casa do filho
(que também é fotógrafo como ela foi) é muito frequentada por familiares da nora e por
clientes, acha muito bom ficar reservada. Ela mesma prepara sua comida, mas quando passa o
dia em casa se sente muito só.
Salviana procura se manter sozinha, com a aposentadoria do marido, que
conseguiu à custa de muita luta, porém, não sem dificuldades financeiras. Segundo ela, o que
sobra depois do mercantil e das prestações de eletrodomésticos que ainda está pagando, só
sobra para a merenda.
Quando lhe sobra tempo dessa rotina movimentada, Salviana assiste à televisão
(inclusive participa da celebração da missa em casa, assistindo pela televisão, porque já não
frequenta a igreja, na sua comunidade). Diz que se relaciona bem com a vizinhança, apesar de
não ter maior aproximação com os outros moradores do bairro: “Não tenho conversa com
vizinhos.” E ressalta que não tem vizinhos idosos. Ela diz que eles costumam lhe perguntar:
“Pra onde a senhora vai?” Ela responde, dizendo que vai para o grupo de convivência e,
depois, tudo o que acontece no grupo ela conta para eles, mas ressalta que só conversa com
pessoas da família e do grupo.
Salviana, até o começo de 2009, ainda estava participando ativamente das oficinas
de arte promovidas pelo recém-instituído CIAPREVI-CE. Ali, suas histórias sempre foram
muito apreciadas e solicitadas nas apresentações que os idosos fazem em datas especiais.
Ela irradia felicidade, quando lhe peço para me demonstrar essa sua habilidade:
“Posso contar a história do D. Ratinho?”, diz ela, dando vazão a uma interessante e peculiar
forma de dialogar com a arte. Ao mesmo tempo, trata logo de pedir desculpas pela sua
memória, que já está, segundo ela, começando a falhar. Mesmo assim, as histórias folclóricas
que ela conta são repletas de minuciosos detalhes que ela não esquece de ir tecendo, um a um,
para enriquecer as narrativas. Outra habilidade de Salviana é o balé, no qual se iniciou no
grupo de convivência de idosos do Teatro São José, o primeiro local onde começou a
participar dessa modalidade de sociabilidade na velhice. Diz ela: “Se não fosse o problema da
vista, ia fazer tudo. Entrava no folclore de novo. Meu Deus do céu, como eu faria... Tenho um
álbum de fotografias do tempo em que eu entrei no Teatro (São José) [...]”
Antes de concluir, Salviana se autodefine: “Eu sou uma sobrevivente do
sofrimento: quando eu tinha seis anos, eu estava no seringal e aí meu pai era caçador. A gente
acompanhava ele e era as onças tudo querendo pegar a gente... Aí, tudo o que é da natureza eu
conheço [...]”. Salviana cita muitos remédios naturais: “Faço chá de pepaconha, cidreira...
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Você não conhece [...]”
Diz que agora passou a ir ao médico. Paga R$ 10,00 (dez reais) de mensalidade de
um Instituto Previdenciário. A nora a levou para se consultar. Os exames acusaram que estava
com anemia, mas segundo ela, não acusaram que estava com diabetes, nem com colesterol. Só
a pressão arterial é alta e o problema do glaucoma continua. O medicamento que toma lhe
provoca dor no estômago. E enfatiza: “Mês que vem tem o retorno [...]”
Ao final do seu depoimento, Salviana agradece, dizendo: “Foi a primeira vez que
a minha história saiu. Eu tenho muita vontade de cantar e dançar. Eu gosto muito de música
que o pessoal não gosta.” E exemplifica a sua preferência musical: “...Luar do Sertão... No
Chorinho (o grupo musical a que pertence) a gente canta e dança [...]”
6.5 A História de Salviana versus A necessidade da adoção de política gerontológica
humanizadora, no CIAPREVI-CE
“Se Salviana não pode ir até à cidadania, que a cidadania vá até Salviana [...]”.
Procurou-se demonstrar, neste estudo, a partir de autores modernos, que a
“cidadania outorgada” leva os indivíduos a receberem, “de mão-beijada”, o que o Estado
considera bom para eles, no contexto de uma sociedade que tende a padronizar normas e
regras de conduta cidadãs e a excluir quem não se enquadra nelas.
A “cidadania conquistada”, por sua vez, leva os indivíduos a buscarem, por si
próprios, o que consideram bom para eles e, por conseguinte, a fazer escolhas mais acertadas
na vida. Essa vivência cidadã, contudo, resulta de um processo de amadurecimento pessoal
que leva o indivíduo a descobrir o que realmente precisa para se sentir feliz, no meio em que
vive, passando a usufruir, de fato, um senso de bem-estar, mediante uma lógica determinada
subjetivamente por cada pessoa.
O aludido senso de bem-estar, conforme demonstram as histórias de Salviana e de
D. Mírian, segundo o parecer formulado por estudiosos da gerontologia (PASCHOAL, 2000),
independe do nível de vida da pessoa, ou seja, de suas condições econômicas e de sua classe
social, o que é tanto mais importante, levando em conta que todos precisamos viver em meio
a uma mesma sociedade que continuará privilegiando os que considera mais capazes de
exercer a cidadania.
O que muda, nesse caso, em relação à vivência cidadã?
Uma forma de responder a esse questionamento é dizendo que quaisquer
159
mudanças a serem buscadas deverão partir de uma nova compreensão acerca do cidadão sem
cidadania. Diversos autores entendem que cidadania é um conceito que varia, tanto em
relação à época quanto à sociedade da qual se está falando (DAGNINO, 1994). Outros a
compreendem como um conjunto de direitos civis, sociais e políticos utilizados pelos
cidadãos, de fato e de direito.
Há inúmeras respostas possíveis para o conceito de cidadania, em termos teóricos.
Mas, e em termos práticos? Nesse caso, o que dizer a respeito dos cidadãos sem cidadania?
O paradigma clássico da cidadania liberal dispõe que os cidadãos são detentores
de direitos e deveres, sendo que, no plano real, o cidadão comum arca mais com deveres do
que se beneficia com os direitos.
As populações subalternas do Nordeste brasileiro são um exemplo contundente do
segmento de excluídos que empreende incessante busca por melhorias na qualidade de vida,
em diversos aspectos, e quase nunca logra êxito.
Salviana é um exemplo disso. Foi e voltou várias vezes de outro Estado, em busca
de melhores condições de cidadania, até que ficou, definitivamente, em sua terra cearense e
enfrentou como pôde as dificuldades, até os dias atuais. No Ceará, os períodos de secas e as
adversidades climáticas contribuíram, historicamente, para sedimentar a pobreza, tanto na
zona rural, quanto nas áreas periféricas da capital cearense.
Porém, no que tange à realidade local, entre as décadas de 1960 e 1970, surgiram
na capital cearense os movimentos sociais. As populações menos favorecidas se congregavam
em torno desses movimentos, como estratégia política para reivindicar direitos e se fazerem
ouvir pelas autoridades estatais. Por essa via, buscavam ampliar o seu espaço de participação
democrática na esfera pública e, por conseguinte, de cidadania.
Segundo Diógenes, Lima e Fernandes (1991, p. 39),
[...] os movimentos sociais urbanos em Fortaleza, a partir dos anos 60, sobretudo no
final da década de 70, têm constituído um marco no processo de formação de novos
sujeitos com características diversas daqueles que sempre estiveram à frente do
processo político econômico cearense.
As autoras aqui referidas resgatam a gênese desse cenário de mudanças,
mencionando que, já a partir da década de 1930, vinha-se verificando com maior intensidade
um declínio do coronelismo em todo o Nordeste. Conforme explicam, essas mudanças no
cenário sociopolítico foram favorecidas pela concomitante aceleração do processo de
crescimento da urbanização e do desenvolvimento das atividades econômicas, que abriu as
fronteiras do Estado, pelo rompimento das barreiras que, antes, separavam estados e
160
municípios. Esses fenômenos deram lugar a um rearranjo estrutural do cenário nordestino e,
por extensão, da realidade cearense.
Segundo Diógenes, Lima e Fernandes (1991, p.47), Fortaleza foi se
desenvolvendo sob essa tônica, porém, enquanto o crescimento do comércio de exportação e
da indústria imobiliária fazia com que a cidade fosse crescendo, em termos econômicos, “essa
modernização não contribuiu para assegurar a autonomia da região, no que concerne à
matéria-prima e à absorção da mão-de-obra local.” Os pobres, por sua vez, continuavam a
demandar melhores condições de trabalho e moradia.
Foi, portanto, a partir das aludidas décadas de 1960 e 1970 que as entidades
organizativas foram se estruturando e ganhando espaço. No decorrer desse processo,
assinalado pelo regime político autoritário, surgiram interlocutores que ajudaram a conduzir
as populações excluídas nessa marcha em busca da cidadania. Nesse sentido, Diógenes, Lima
e Fernandes (1991) se referem aos representantes eclesiais do Estado, que conseguiram
estabelecer canais satisfatórios de diálogo com as classes pauperizadas, colocando-se ao lado
das lutas dessas populações excluídas, que se inseriam em bairros diversos.
Nesse contexto, os movimentos sociais apresentavam ao Estado, já nos anos que
sucederam a 1950, uma pauta de reivindicações, entre as quais a luta por melhorias no custo
de vida, e pelo direito à moradia, como era o caso das populações dos bairros Pirambu,
Lagamar e Verdes Mares.
É importante ressaltar o papel da Igreja nos interregnos repressivos às lutas
populares. A Igreja penetrou nos bairros no momento de “fechamento” político com
um discurso aparentemente não politizado, ou pelo menos não ligado diretamente a
tendências político-partidárias, o que lhe conferia certa legitimidade diante do
aparelho do Estado. A atuação da Igreja nos bairros, nesse momento, fazia-se em
torno de interesses imediatos do povo: água encanada, luz, melhor transporte, custo
de vida, loteamentos clandestinos, segurança no trabalho. São exatamente essas
“lutas imediatas” conduzidas pela Igreja que caracterizam os movimentos de bairros
nos períodos de maior repressão política (BARREIRA, 1985 apud DIÓGENES,
LIMA; FERNANDES, 1991, p.61).
Ainda, a partir de 1980, a Igreja cearense, pondo em prática os compromissos
assumidos na Conferência de Puebla, colocava-se ao lado dos movimentos sociais,
manifestando a sua “opção preferencial pelos pobres”. As entidades eclesiais, tais como as
CEBs e a Cáritas foram, assim, de grande importância para o movimento de bairros de
Fortaleza, atuando como instrumentos de conscientização popular (DIÓGENES; LIMA;
FERNANDES, 1991, p. 70).
O processo de democratização nacional que foi implementado, desde então, no
Brasil, oportunizou que diversos movimentos sociais, emanados da própria sociedade civil, se
161
fizessem expressar na Carta Constitucional brasileira, aprovada em 1988. Esta, portanto,
através da criação do Estado Democrático de Direito, se encarregou de alavancar o processo
de democratização do País.
Assim, as levas de excluídos sociais, antes considerados, apenas, como
subcidadãos ou cidadãos parciais, segundo os parâmetros do modelo clássico de cidadania
liberal, começaram a se impor mais efetivamente como sujeitos de direitos. Entende-se,
portanto, que esta não tem sido uma tarefa simples, porque essa leva de pessoas que demanda
políticas sociais de trabalho, moradia e assistência social, parece não ter aprendido a falar a
mesma linguagem dos representantes estatais, os quais, muitas vezes, até para proteger essas
populações, lhe oferecem mecanismos de tutela e não, emancipatórios, que poderiam
capacitá-las para reconhecer o que elas próprias necessitam.
Deduz-se, dessas considerações, que as sociedades democráticas como a brasileira
poderiam ser incomensuravelmente engrandecidas, se os princípios constitucionais fossem
colocados em prática pelos governos, através de projetos político-pedagógicos condizentes
com essa nova noção de cidadania, que tão bem expressa as lutas das populações
marginalizadas no campo dos direitos e exploradas, no campo dos deveres.
Durante a pesquisa de campo, observou-se que os sujeitos ainda se encontravam
pouco capacitados a externar as suas reais demandas de cidadania. Surpreendentemente, uma
das idosas com quem se conversou, confidenciou à pesquisadora que consultava, em casa, a
Bíblia, para obter respostas para questionamentos existenciais, quando se sentia incomodada
com os fatos e as noticias preocupantes, divulgadas pela mídia.
Essa circunstância leva a conjecturar-se que o Estado, como instância responsável
pelo desenvolvimento de ações voltadas para a educação cidadã dos sujeitos, não pode deixar
de se preocupar em criar condições para que esse segmento de pessoas seja beneficiado com
metodologias voltadas para o desenvolvimento de uma consciência crítica, necessária à
participação na vida social.
Concorda-se com Heller (2004) no sentido de que a arte é um canal propiciador de
mudanças, porque favorece a compreensão da realidade, de forma abrangente. Mais
especificamente, em relação aos sujeitos deste estudo, considera-se que as técnicas teatrais,
musicais e das artes cênicas, em geral, constituem vias de assimilação e memorização mais
efetivas que as oferecidas pelos métodos tradicionais expositivos, porque criam condições
para que os sujeitos se confrontem com a vida real, e contracenem com a realidade que os
machuca, fere e faz calar. Afinal, não é essa a técnica que os autores de novelas brasileiros
vêm pondo em prática, com tanto êxito, há várias décadas?
162
Não se pode esquecer que as perdas cognitivas advindas do envelhecimento e os
parcos níveis de escolaridade dos sujeitos são fatores que, por si só, já contribuem para
dificultar o processo de compreensão dos conteúdos expositivos.
Acredita-se que só a partir de novos métodos de abordagem, em sintonia com a
busca por qualidade de vida e bem-estar demonstrada pelos sujeitos, é que será possível aos
técnicos estatais conhecerem efetivamente o contexto amplo das lutas de cidadania desses
sujeitos.
Nos moldes como o grupo funciona, observou-se que os sujeitos seguem uma
rotina metodológica que, embora transcorra de forma prazerosa para eles, não consegue
inseri-los na perspectiva da construção de uma cidadania emancipatória. Constatou-se que
urge a adoção de métodos psicoterapêuticos para curar os traumas da vida passada e cotidiana
desses sujeitos e, que, nesse contexto, a abordagem da questão da violência sob o prisma
conceitual tradicional não parece a linha metodológica mais indicada.
Nesse sentido, deve-se ressaltar que a questão da violência se encontra no esteio
dos medos, da insegurança e talvez, da “síndrome de pânico”, manifestada por parte de um
sujeito em especial. Acredita-se que essa temática deva estar na base, portanto, das
metodologias a serem trabalhadas pelo CIAPREVI-CE.
Conforme demonstrou a pesquisa, a luta básica de cidadania manifestada pelos
sujeitos, se expressa na busca por melhor qualidade de vida e bem-estar na velhice. Embora,
como foi explicitado, a qualidade de vida se expresse de forma diferente de indivíduo para
indivíduo, trata-se aqui de oferecer a esses sujeitos o direito à vida e à vida plena.
O ser idoso que aqui se expressou é um ser integral e não sedimentado ou
compartimentalizado, em termos de cidadania civil, social e política. É um ser com idade
avançada, mas que, mesmo assim, deseja usufruir, com satisfação, o que a vida tem ainda a
lhe oferecer, mas que demonstrou não saber expressar a contento essa reivindicação principal.
Assim, considerando que o CIAPREVI-CE constitui uma instância estatal voltada
para a implementação do envelhecimento saudável, não poderá prescindir de mecanismos
destinados a salvaguardar a integridade física, emocional e psicológica dos idosos assistidos,
inclusive atuando junto a suas famílias, visando mediar as situações de conflito, como as que
emergiram desta pesquisa, e favorecer a qualidade de vida e o bem-estar dos sujeitos de sua
ação.
Acredita-se que essa instância estatal necessitará de aperfeiçoar o seu quadro de
recursos humanos, habilitando-o a realizar procedimentos de primeiros socorros e anamneses
sistemáticas junto aos idosos (abordagens exploratórias acerca das condições de saúde geral
163
dos idosos engajados nos grupos, entre as quais se incluem as entrevistas), objetivando
detectar possíveis quadros de enfermidade, e evitar episódios súbitos na saúde dos sujeitos.
Ilustrando o que foi dito, refere-se que várias idosas entrevistadas mencionaram o
trauma que lhes causou o fato de terem presenciado a morte súbita de um idoso, no momento
em que este participava de uma apresentação artística de dança, no Centro Cultural Dragão do
Mar. Desde então, essas idosas se ressentem em relação à falta de um profissional de
enfermagem para ficar à disposição do grupo de convivência do CIAPREVI-CE, nos dias de
reuniões. Outra idosa aludiu que, apesar de se esforçar, não conseguia se alfabetizar.
Essas demandas, externadas individualmente pelos idosos, demonstram a
necessidade do aspecto da conscientização reflexiva ser melhor trabalhado no grupo, em
âmbito coletivo. Nesse caso, percebe-se que a linha metodológica utilizada pelos técnicos
representantes do Estado, apesar de bem intencionada, necessita de ser revista, consoante os
princípios do paradigma de cidadania moderno que está sendo considerado neste estudo, o
qual se mostra compatível com o contexto da própria contemporaneidade.
Nesse mister, não se pode deixar de levar em conta uma concepção ideal de
cidadania, emanada do paradigma legal consubstanciado pela Constituição Federal, pela Lei
Orgânica da Assistência Social (LOAS), pelo Sistema Único da Assistência Social (SUAS) e
pelo próprio Estatuto do Idoso, segundo a qual o Estado assume o dever de oferecer políticas
sociais públicas de qualidade, que possam, efetivamente, contemplar os direitos aos quais os
idosos fazem jus, como público-alvo direto da Assistência Social. Entende-se, porém, com os
especialistas que respaldaram este estudo, que a noção desses direitos deve ser amadurecida
pelos idosos, a partir de um canal de conscientização oferecido pelo Estado. É sob esse prisma
que se percebe que as necessidades do cidadão, nem sempre, correspondem às formuladas
pelo Estado. Na verdade, está havendo a falta de uma sintonia entre “a música que o Estado
está orquestrando e a que os sujeitos estão buscando dançar”.
Ainda ecoam bem nítidas as palavras ouvidas de uma das entrevistadas que
sintetizou o que se estava procurando explicar, ao mencionar: “Doutora, eu tenho vontade de
chamar uma doutora dessas e dizer assim: venha cá, minha filha, diga, diga pra mim tudo o
que você quer dizer, fale, fale, porque eles não estão entendendo nada [...]”
Na realidade, conforme Arroyo (1999), o que está sendo questionada é “a
cidadania outorgada e não-conquistada”. Isso porque essa modalidade de cidadania não
resulta de uma demanda dos próprios grupos interessados, conforme outros autores:
164
Quando um grupo social reconhece suas necessidades, é através de sua participação
na esfera política que se viabilizará a transformação das necessidades em direitos.
Isso ocorre num processo que se dá historicamente, ou seja, sua dinâmica é própria a
cada época (BOARETTO; HEIMANN, 2003, p. 108).
Sob a supracitada ótica, a cidadania pode ser construída como uma estratégia
legítima de conscientização popular que, se bem conduzida pelo Estado, pode surtir efeitos
positivos.
Para Borges (2003), a PNI, regulamentada pela Lei 8.842/94, surgiu para
assegurar os direitos sociais dos idosos, criando condições para promover sua autonomia,
integração e participação efetiva na sociedade (art.1º). Segundo esse autor, essa meta ainda
não se firmou em termos de direitos sociais, por ter sido alvo de destinação de recursos
irrisórios, salvo em algumas iniciativas esporádicas. Esse é um aspecto que abrange a
cidadania sob o ponto de vista das relações com o sistema capitalista, vigente no Brasil.
Na verdade, percebe-se que faltam recursos, mas faltam, também, políticas
gerontológicas humanizadoras, voltadas para esse segmento específico de idosos.
Ao encerrar este estudo, o pesquisador se permite revelar um sonho: nele, imagina
um coletivo repleto de idosos, caracterizados com os seus trajes típicos, chegando à casa de
Salviana e, ali, tirando-a da solidão em que se encontra e, em uma atitude de genuína
confraternização coletiva, todos juntos protagonizam uma apresentação artística musical do
“Grupo de Chorinho Recordar é Viver”, em meio à via pública, para quem quisesse assistir.
Imagina-se, em seguida, que essa ideia poderia ser regulamentada e colocada em
prática, através de uma programação sistemática, que poderia ser levada a idosos dependentes
de vários bairros da capital cearense. Acredita-se que, também por meio dessa linha de
atuação metodológica, a luta pela cidadania, manifestada pelos sujeitos, encontraria um
sentido prático para a luta por visibilidade social, que tanto buscam. O slogan desse programa
estatal seria: “se o cidadão não pode ir até a cidadania, a cidadania vai até o cidadão [...]”.
165
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Optar pela integração, rejeitando o isolamento social, mostrou ser o principal
indicador da luta dos sujeitos por melhor qualidade de vida na velhice. Esta constatação, a
princípio hipotética, se confirmou, ao término da pesquisa.
Entretanto, a integração real, demonstrada pelos sujeitos, se refletiu,
principalmente, no nível da integração desses, com os seus pares, no grupo de convivência e
não com a sociedade, em geral. Nesse sentido, a cidadania mostrou estar cerceada,
basicamente, ao espaço do CIAPREVI-CE e, mesmo assim, requerendo ser aprimorada, para
ser melhor vivenciada pelos sujeitos. Estes revelaram o inegável bem-estar que experimentam
nesse locus de convivência comunal e o quanto se mostram agradecidos ao Estado por terem a
oportunidade de vivenciar essa experiência, esquecendo que são cidadãos de fato e de direito.
Desse modo, seja de forma subliminar ou literalmente, os sujeitos demonstraram
que esse conceito de integração necessita ser vivenciado no contexto social amplo, para, só
então, dar cumprimento efetivo ao paradigma da nova cidadania, que prevê sujeitos ativos,
participativos e integrados ao contexto social macro, lutando efetivamente pelo que
consideram ser os seus direitos.
Essa postura, evidentemente, urge ser trabalhada em termos de consciência crítica
pelo CIAPREVI-CE, conduzindo, paulatinamente, os sujeitos à compreensão do seu valor
social, enfatizando a importância de protagonizarem as lutas do seu interesse. Acredita-se
que, nesse aspecto, reside a principal diferença entre a cidadania outorgada e a cidadania
conquistada, que se efetiva a partir de lutas e não do comodismo.
Lastimavelmente, alguns sujeitos entrevistados, na faixa etária entre 60 e 61 anos,
consideraram-se sem chances de aprender a ler e mostraram-se resignados em vivenciar uma
cidadania, assinalada pelo contínuo anseio por programas de lazer e diversão. Essa demanda é
justa e aceitável, desde que não exclua outras possibilidades de realização dos sujeitos na
sociedade, tornando mais amplo o raio de abrangência da cidadania que vivenciam.
Em relação a esse mesmo contexto, faz-se alusão a outro sujeito, vivenciando uma
velhice mais avançada e que, mesmo na condição de analfabeto, demonstrou estar buscando
se integrar à tecnologia da informação, através da aprendizagem dos mecanismos de acesso à
Internet.
Esses exemplos apresentados demonstram que o mito da velhice limitada e com
poucas possibilidades de realização social exerce uma repercussão desfavorável junto a
alguns sujeitos desta pesquisa, necessitando, portanto, ser desmistificado, no contexto das
166
metodologias voltadas para a melhor qualidade de vida e bem-estar dos idosos participantes
do grupo de convivência do CIAPREVI-CE.
Cumpre enfatizar que, de modo geral, a pesquisa ensejou a constatação de que a
maioria dos sujeitos se mostra afetada desfavoravelmente pelos estímulos sociais negativos,
os quais, por sua vez, se regem em valores e padrões relacionados à juventude e à beleza do
corpo, refutando as pessoas idosas.
Questionando esse aspecto, enfatiza-se que a gerontologia moderna não ignora
que os mitos e o rechaço à velhice provêm, principalmente, de atitudes e comportamentos que
se regem pelo imaginário social. Nesse sentido, pode-se compreender por que os sujeitos
idosos da pesquisa, que apresentaram uma limitada visão de suas possibilidades de realização
social, tendem a utilizar mecanismos de compensação psicológicos, para se defenderem das
condições adversas, resultantes, tanto de suas histórias de vida quanto do meio social em que
vivem.
Dentro da lógica que está sendo trabalhada, torna-se possível compreender
também, em parte, por que os sujeitos desta pesquisa elegeram a luta por melhor qualidade de
vida e bem-estar como a principal luta no contexto da cidadania. Em decorrência dos aspectos
citados, violência e conflito foram duas palavras que não quiseram calar neste estudo e que
por isso emergiram da fala dos sujeitos.
E por que se afirma isso? Porque não deixou de ser constrangedor o fato de
constatar-se que alguns sujeitos considerados neste estudo simplesmente querem “esquecer”
os traumas da vida passada, ignorando as notícias da mídia e refugiando-se em atividades
prazerosas em casa, no grupo de convivência do CIAPREVI-CE e em outros espaços
comunitários. Lamentavelmente, constatou-se que não conseguirão fazê-lo, a partir de
metodologias convencionais, através das quais poderão passar a conhecer quais são os tipos
mais comuns de violência cometidos contra as pessoas idosas, ao invés de, como sujeitos
feridos pela vida, serem humanitariamente tratados e acolhidos com psicoterapias adequadas.
Acredita-se que continuará tendo maior utilidade prática, para sujeitos que se
mostram ressentidos com as circunstâncias adversas da vida, a busca por ouvir o canto dos
passarinhos e as músicas tocadas nos programas de rádio, ou, ainda, a busca por ensinamentos
bíblicos, para melhor compreenderem o sentido dos seus dramas, do que permanecerem
memorizando os tipos de infortúnios que a vida lhes impôs e que, para muitos, continua lhes
impondo, através das diversas formas de violência com as quais convivem diariamente.
Salienta-se que idosos configurados no perfil dos sujeitos aqui considerados
necessitam, não especificamente, de adquirirem conhecimentos técnicos, mas de transmitirem
167
às gerações mais novas as suas experiências, que os muitos anos de vida e os próprios
sofrimentos os fizeram assimilar, na prática. Sendo-lhes oferecida essa oportunidade, ser-lhesá propiciada, concomitantemente, a oportunidade de se sentirem parte da sociedade, parte de
suas famílias e pessoas com possibilidades de exercer um papel social.
Então, mediante esses dados salientados da pesquisa, por que não lhes oferecer
metodologias compatíveis com a aquisição ou o aprimoramento dos hábitos e práticas
saudáveis de vida que desejam alcançar, ensinando-lhes, por exemplo, a buscar controlar a
hipertensão arterial, e a cuidar melhor da saúde? Por que não procurar oferecer a esses
sujeitos os direitos de cidadania que eles estão reclamando, na área da saúde? Ratifica-se que
eles mencionaram que receiam ser subitamente acometidos por problemas graves de saúde,
como o que presenciaram em um evento público recente, quando um idoso veio a falecer,
enquanto se apresentava em um número de dança com outros idosos.
Considerando-se, ainda, que a visibilidade social é uma meta reclamada pelos
sujeitos, ressalta-se a necessidade de serem buscadas mais parcerias entre o CIAPREVI-CE e
outras entidades culturais, possibilitando que os talentos artísticos dos sujeitos sejam levados
a um maior número de pessoas. É importante que esse segmento de idosos seja favorecido
com políticas públicas, que proporcionem aos sujeitos a aprendizagem de novas técnicas
instrumentais e favoreçam a sua participação em atividades culturais e sociais, atendendo ao
que preconiza o Capítulo V do Estatuto dos Idosos.
Acredita-se que o bem-estar dos sujeitos está, também, diretamente relacionado à
qualidade das relações intrafamiliares. Nesse caso, o CIAPREVI-CE necessitará buscar a
contínua capacitação da sua equipe de técnicos, visando intermediar os conflitos familiares
que estão contribuindo para a má qualidade de vida dos sujeitos, procurando envolver as
famílias na programação desenvolvida pelo próprio centro e desenvolvendo técnicas de
abordagem de grupo.
Obviamente, não se desconsidera que o Estado necessitará desembolsar maior
aporte de recursos para o atendimento desse conjunto de medidas. Nesse caso, deve-se
esclarecer que não se obteve acesso à programação financeira do CIAPREVI-CE, o que,
certamente, oportunizaria reflexões mais balizadas.
Acredita-se que as contribuições mais efetivas deste estudo giram em torno do
reconhecimento de que tanto as relações intergeracionais quanto as intrageracionais
constituem uma condição imprescindível à cidadania e à vida democrática, em sociedades
dinâmicas, nas quais os indivíduos necessitam buscar, continuamente, mecanismos
individuais de ajuste e reajuste, para se manterem socialmente ativos.
168
Por outro lado, a disparidade entre legislação voltada para os sujeitos idosos e a
forma real como estes sujeitos vivenciam a cidadania impõe ao Estado a inclusão de novos
mecanismos de valorização da pessoa idosa, procurando compensar as falhas estruturais de
um sistema social que privilegia basicamente o trabalho humano. Nesse sentido, faz-se
necessária a adoção de políticas gerontológicas que unam normas e leis a uma ação estatal
efetiva e eficiente, partindo do pré-requisito da valorização e da participação da pessoa idosa
na formulação dessas políticas. Só assim, o conceito de cidadania outorgada perderá o
sentido, dando lugar à cidadania conquistada, dentro de um processo legitimamente elaborado
e aceito pela categoria de idosos, em geral.
169
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Coleção A Obra Prima de Cada Autor. 2007.
176
ANEXO A - FICHA DE CADASTRO
GOVERNO DO ESTADO DO CEARÁ
Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social – STDS
Centro Integrado de Atenção e Prevenção à Violência Contra a Pessoa Idosa
Coordenadoria de Proteção Social Especial
Rua Ildefonso Albano, 725 – Aldeota
PROJETO CONVIVER
Nome: _________________________________________________________________________________
Apelido: _______________________________
Naturalidade: _____________________________________
Fone/Fax: (85) 3101.2728 Cep.: 60.115-000 Fortaleza - CE
Data de Nascimento: ____/____/___
Idade: ______________________________________
Sexo: ( ) M ( ) F
Escolaridade: ________________________________
Carteira de Identidade: ____________________________ CPF ____________________________
Endereço: _______________________________________________________________________________
Ponto de Referência: ______________________________________________________________________
Bairro: _____________________________________ Cidade: _____________________ UF: ____________
Fone: ____________________________________ Estado Civil:___________________________________
Em caso de emergência avisar a: ___________________________-_________________________________
Endereço: __________________________________________________Telefone: ____________________
Tem plano de saúde? ( ) sim ____________________________________________________ ( ) não
Composição Familiar: ___________________________________Número de filhos: ___________________
Nome
Parentesco
Idade
Profissão
Como é a relação com sua família?
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
Sistema de moradia: ( ) própria ( ) alugada ( ) cedida ( ) ____________________________
Características da habitação: ( ) casa ( ) apartamento ( ) barraco ( ) ______________________
Tipo de moradia: ( ) alvenaria ( ) taipa ( ) madeira ( ) ________________________________
Número de cômodos: ________________
Sistema de abastecimento de água: ( ) rede pública ( ) poço ( ) chafariz ( ) _______________
Bebe água: ( ) filtrada ( ) fervida ( ) mineral ( ) sem tratamento ( ) ___________________
Aposentado (a): ( )sim , valor recebido R$_____________________________________ ( ) não
Recebe algum tipo de benefício? ( ) sim, valor recebido R$________________________ ( ) não
Exerce algum tipo de atividade rentável? ( ) sim, valor mensal _____________________ ( ) não
Quem administra seu dinheiro? ________________________________________________________
177
Renda Familiar : ( ) 0 a 1 salário mínimo
( ) 1 à 3 salários mínimos
( ) Mais de 3 salários
mínimos
Responsável financeiro pela família_________________ N°. de contribuintes: __________________
Possui algum problema de saúde: ( ) sim ________________________________________ ( ) não
Toma alguma medicação diária:( ) sim _________________________________________ ( ) não
Uso de Bebidas Alcóolicas / Drogas: ( ) sim _____________________________________ ( ) não
Coisas que gosta de fazer ___________________________________________________________
Participa de algum outro grupo de idosos ( ) sim __________________________________ ( ) não
O que representa para você fazer parte deste grupo? ____________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
Obs.:
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
178
ANEXO B - AUTORIZAÇÃO PARA REALIZAÇÃO DA PESQUISA
AUTORIZAÇÃO
Pelo presente, autorizo RUTH DOS MARTINS COELHO a realizar sua pesquisa
de Mestrado junto às idosas do grupo de convivência deste Centro Integrado de Atenção e
Prevenção à Violência contra a Pessoa Idosa CIAPREVI-CE.
Fortaleza-Ceará, Julho de 2009.
Maria Aldacir Simões
Coordenadora do CIAPREVI-CE
179
ANEXO C - MATÉRIA JORNALÍSTICA
180
APÊNDICE A – FOTOS DOS IDOSOS
181
182
183
184
185
APÊNDICE B - QUADROS SINTÉTICOS DAS ESTRATÉGIAS DE CIDADANIA
ADOTADAS PELOS SUJEITOS
(1ª Amostra): Sujeitos entre 60-64 anos
Sujeito 1 - O que faz para exercer a cidadania?
Descrição Sucinta do
Sujeito
Maria Aldeíde
Idade: 60 anos.
É divorciada. Teve oito
filhos, dos quais sete estão vivos. Começou a
participar do grupo de
convivência, há quatro
anos, por indicação de
uma amiga. O marido a
reprimia em casa e ela
teve que trabalhar em atividades comerciais para
sobreviver com a família.
Teve boas condições socio-econômicas, quando
criança, mas o pai perdeu
tudo no jogo.
Estratégias
extragrupo
CIAPREVI
adotadas pelo
sujeito
1. Busca meios alternativos para preservar
a saúde física e psicológica, desenvolvendo
autocuidados;
2. Mantém uma permanente rede de
amigos;
3. Realiza programas
de lazer periódicos
com amigos, quando
tem oportunidade;
4. Desenvolveu a espiritualidade,
para
lidar com o medo da
violência;
5. Desenvolveu mecanismos de desestresse, ouvindo música;
6. Assiste aos noticiários, mas tem uma
intencional rejeição à
mídia televisiva, por
causa das notícias sobre violência.
Atividades
Positivas realizadas
no CIAPREVI
1. Participa de atividades que considera gratificantes no CIAPREVI,
tais como forró e dança.
Elementos do
Discurso que
propiciaram a
análise
“O único desgosto que
eu tenho na vida é o de
não ter aprendido a ler.
Se eu tivesse estudado,
minha vida seria diferente. Agora eu não
aprendo mais nada não,
minha filha....”
“Antes o meu bairro
era tranquilo, a gente
podia ficar na rua descansada... Hoje, quando dá o primeiro tiro eu
já entro....”
“Porque eu já trabalhei
muito. Trabalhei na bodega dez anos... Na padaria quatro anos... Eu
não quero trabalhar
mais com isso porque é
trabalho demais, é luta
demais...
Eu
vivia
prisioneira...”
Atributos favoráveis
(positivos) ou desfavoráveis
(negativos) ao exercício da
cidadania, manifestados pelo
sujeito
1. Atributos Positivos:
É autônoma e independente. Busca
cuidar da saúde pessoal e familiar.
2. Atributos Negativos:
Não alimenta expectativas quanto a
conseguir aprender a ler na fase atual
da vida, apesar de estar vivenciando
o início da velhice;
É acomodada e não se mostra
disposta a interferir nos problemas
da coletividade;
Não procura criar ou ampliar espaços
de participação social, mas de lazer;
Cuida dos próprios problemas e não
dos coletivos;
Desistiu do aperfeiçoamento pessoal
e não se mostra interessada em
enfrentar novos desafios.
Demonstra buscar compensar a
intensa vida laborativa que viveu
precocemente com atividades de lazer frequentes.
Vive uma intensa situação de
conflito em relação à questão da
violência em seu bairro, o que a
impede de ampliar suas relações
sociais no bairro onde mora.
186
(1ª Amostra): Sujeitos entre 60-64 anos
Sujeito 2 - O que faz para exercer a cidadania?
Descrição Sucinta do
Sujeito
Maria Heloíza
Idade: 61 anos.
É viúva e tem uma filha
de 41 anos, que é especial. Recebe pensão do
marido e exerce a profissão de lavadeira. Já foi
empregada doméstica.
Hoje sabe ler e escrever
satisfatoriamente, após
ter começado a participar, há oito anos, do
grupo de convivência.
Estratégias
extragrupo
CIAPREVI
adotadas pelo
sujeito
1. Participa de um
movimento religioso,
através da qual, semanalmente, visita e presta assistência espiritual
a doentes e idosos;
2. Busca meios alternativos de reajustamento psíquico e
emocional, fazendo
exercícios de meditação, para saber lidar
com as situações estressoras;
3. Mantém permanente rede de amigos;
4. Realiza programas
de lazer periódicos
com familiares e amigos;
5. Mantém-se conectada com os assuntos
da mídia;
6. Assiste frequentemente aos telejornais;
7. Participa de palestras religiosas na
Igreja e de reuniões,
nas quais reflete sobre
a realidade, à luz dos
princípios bíblicos.
Atividades
Positivas realizadas
no CIAPREVI
1. Participa e ajuda
outros idosos, nas
aulas de alfabetização;
2. Participa de oficinas
de bordado, como lazer
preferencial;
3. Participa e demonstra compreender os
assuntos tratados nas
palestras
técnicas
sobre cidadania.
Elementos do
Discurso que
propiciaram a
análise
“Eu quero melhorar
mais. É por isso que eu
faço essas aulas...”
“Hoje ela falou sobre os
tipos de violência...É assim: tem a negligência, a
autonegligência...”
“Domingo agora nós
fomos para um piquenique lá no Aquiraz... Bom
que só!”
“Eu que ajeito tudo para
ela (a filha excepcional)”
“Todas as noites a gente
vai conversar em frente
de casa, mas a gente só
discute sempre sobre
futebol... (E dá muitas
gargalhadas com as derrotas do time adversário...) Enfatiza, contudo:
“Mas não tem briga não,
é só por animação, não
tem confusão não....”
Atributos favoráveis
(positivos) ou desfavoráveis
(negativos) ao exercício da
cidadania, manifestados pelo
sujeito
1. Atributos Positivos:
É proativa; participativa; autônoma;
independente; solidária e aberta aos
problemas
de
pessoas
da
comunidade. Busca o aperfeiçoamento pessoal e colabora com o
aperfeiçoamento de outros.
Percebeu-se
que
o
modelo
comportamental da idosa se adéqua
aos princípios do novo paradigma de
cidadania.
2. Atributos Negativos:
Necessita de ser trabalhada em
relação ao enfrentamento da questão
da violência em seu bairro;
Demonstra recear situações de
conflito com outros moradores do
bairro, buscando conversar sobre
amenidades, nas rodas de conversa
que mantém todas as noites na
calçada, em frente à sua casa.
187
(1ª Amostra): Sujeitos entre 60-64 anos
Sujeito 3 - O que faz para exercer a cidadania?
Descrição Sucinta
do Sujeito
Maria Franciete.
Idade: 64 anos.
É
pensionista
do
marido.
Ficou viúva há 27 anos,
quando tinha 38 anos.
Sabe ler e escrever,
satis-fatoriamente.
O
marido foi assassinado.
Tem três filhos homens,
sendo que dois moram
em casa e um, que é
portador de HIV, mora
na rua. Ficou órfã de
mãe muito cedo, tendo
sofrido violência da
madrasta. Fugiu de casa
e casou adolescente.
Estratégias
extragrupo
CIAPREVI
adotadas pelo
sujeito
1. Participa das atividades de vários
grupos de convivência da Capital, inclusive aos domingos;
2. Busca programas de
lazer, participando frequentemente em excursões;
3. Mantém rede de
amigos permanente;
4. Busca mecanismos
de desestresse da rotina doméstica, frequentando restaurantes com
os
filhos,
semanalmen-te;
5. Busca programas
de lazer, nos finas de
semana;
6. Procura cuidar da
espiritualidade, para
lidar com o medo da
violência,
fazendo
orações;
Atividades
Positivas realizadas
no CIAPREVI
1. Participa das aulas
do curso de informática;
2. Gosta de ouvir as
palestras sobre cidadania, em todos os
grupos que frequenta,
mas demonstrou não
entender bem as
questões
tratadas
pelos técnicos, que
considera
“pessoas
sensacionais”.
3. Gosta de dançar e
de fazer crochê.
Elementos do
Discurso que
propiciaram a
análise
“Às vezes eu saio assim
pra cá, é para esquecer
os problemas...”
Ela se benze e diz: “Eu
tenho o maior medo de
caroço, acredita?”;
Atributos favoráveis
(positivos) ou desfavoráveis
(negativos) ao exercício da
cidadania, manifestados pelo
sujeito
1. Atributos Positivos:
É autônoma,
independente;
lúcida,
ativa
e
Conseguiu aprender a ler e a
escrever satisfatoriamente;
“Com essa violência toda em minha vida, eu
ainda gosto, acredita?”
(Sobre
noticiários
policiais)
Busca o aperfeiçoamento intelectual
e tem interesse em desestressar,
através da participação em vários
grupos de convivência.
“Eu tenho vontade que
meu filho volte porque
ele me ajudava o dia todo fazendo as coisas
dentro de casa... Se ele
voltasse, eu ia voltar a
fazer o meu crochê...”
2. Atributos Negativos:
“Quer saber de uma
coisa? Eu queria mesmo passar o dia todo
no computador, só
escre-vendo,
só
mandando
e-mail,
recebendo
e-mail.
Pronto, quer saber? É
isso!”
Teme ficar doente, mas demonstra
autonegligência com a saúde, porque
demora a procurar os médicos;
Procura aprender a lidar com os
problemas pessoais, mas não
desenvolveu abertura para lidar com
os problemas da coletividade;
A principal situação de conflito
vivenciada pela idosa é desfavorável
ao exercício da cidadania, uma vez
que, além de sofrer com a separação
do filho, que é portador de HIV
positivo, demonstra insegurança com
a questão da insegurança no próprio
espaço da moradia. Isso acontece
porque os outros filhos que moram
com ela costumam trazer pessoas
desconhecidas para casa, entre as
quais mulheres com as quais se
relacionam afetivamente.
188
(2ª Amostra): Sujeitos entre 65-69 anos
Sujeito 1 - O que faz para exercer a cidadania?
Descrição Sucinta do
Sujeito
Maria Verônica
Idade: 66 anos
É viúva, mora com um
casal de filhos solteiros.
Seu maior interesse é
reorganizar a vida sentimental. No grupo ela encontrou um amigo habitual na dança. Sente-se
solitária em casa e começou a criar gatos descontroladamente, não sabendo como lidar com esse
problema.
É semi-analfabeta e participa das aulas de alfabetização ministradas no
CIAPREVI-CE.
Estratégias
extragrupo
CIAPREVI
adotadas pelo
sujeito
1. Participa de vários
grupos de convivência, buscando sobretudo lazer;
2. Administra a rotina doméstica, desenvolvendo mecanismos
de desestresse ouvindo música, enquanto
realiza as atividades de
casa;
3. Participa de pastorais religiosas para
exercitar a espiritualidade;
4. Desenvolve uma
programação de lazer
semanal, mas ainda
não se mostra satisfeita.
Atividades
Positivas realizadas
no CIAPREVI
1. Participa das atividades lúdicas, entre as
quais música e forró;
2. Engajou-se nas aulas
do Curso de Alfabetização.
Elementos do
Discurso que
propiciaram a
análise
“Os gatinhos em casa
estão dando muito trabalho...Uma coisa que
eu queria era que uma
pessoa recolhesse os
animais que eu gosto.
Outro dia eu vi na televisão uma casa que recolhe os animais...”
“Eu coloco a televisão e
o rádio e fico escutando...”
“A minha filha não
gosta muito de conversar comigo não... Ela
chega da Faculdade e
fica lá no quarto dela,
só conversa quando
tem assim um aniversário...”
“Sexta-feira não tem
nada (no CIAPREVI)
só tem a reza comum
mesmo, em casa, de
noite...”
“No Pirata eu vou, mas
eu não danço porque o
meu marido morreu faz
só um ano e sete meses
e eu não to dançando...”
“Ah, lá em Beberibe eu
vou pra praia, jogo de
bola com meus netos,
brinco de quebra-cabeças... Sábado à tarde a
gente vai passar as
tardes lá na praia...”
“Às vezes eu converso e
às vezes não, porque
meus vizinhos são crentes e eles passam a noite
toda tocando violão,
cantando e os da frente
gostam de fofoca e eu
não gosto não...”
“Assim, nos dias que não
tivesse aonde a gente ir,
tivesse um esporte, uma
coisa assim pra gente
fazer, outra coisa pra
gente sair... passeio, mais
pessoas pra conversar...”
Atributos favoráveis
(positivos) ou desfavoráveis
(negativos) ao exercício da
cidadania, manifestados pelo
sujeito
1. Atributos Positivos:
É ativa, e independente;
Busca desestressar e superar a
solidão, participando de vários
grupos de convivência. Tem nível de
escolarização insatisfatório, mas
busca alfabetizar-se.
2. Atributos Negativos:
Ressente-se com a solidão familiar.
Não sabe como lidar com os
problemas da vida pessoal (falta de
diálogo com a filha solteira que
mora com ela) e não demonstra
ainda aptidão para se projetar ao
coletivo.
Não mantém
vizinhança;
diálogo
com
a
Demonstra buscar compensar a
solidão com a ampliação da
programação de lazer semanal em
outros espaços comunitários.
189
(2ª Amostra): Sujeitos entre 65-69 anos
Sujeito 2 - O que faz para exercer a cidadania?
Descrição Sucinta do
Sujeito
Maria Francisca
Idade: 68 anos
É viúva. Administra todas as despesas de sua
casa, mas a filha é quem
se encarrega da maioria
dos serviços domésticos.
Reside com uma filha e
dois netos. Teve um filho
que foi assassinado.
Estudou até a 5ª série.
Recebe aposentadoria do
marido e complementa
os seus vencimentos com
o aluguel de uma parte
de sua casa, no valor de
R$ 1.000,00 (mil reais).
Ao nascer, foi adotada
por um casal abastado.
Quando o seu pai adotivo faleceu, deixou-lhe
um imóvel bastante valorizado, mas os herdeiros
legítimos contestaram na
Justiça. Ela ganhou a
questão, por ter sido devidamente
esclarecida
por advogados amigos.
Quando na juventude,
sofreu
tentativa
de
estupro, por parte de um
dos irmãos de criação.
Hoje
partici-pa
de
excursões siste-máticas e
realiza pas-seios com um
grupo
de
amigas
permanentes.
Estratégias
extragrupo
CIAPREVI
adotadas pelo
sujeito
1. Administra a sua
casa e as despesas
familiares;
2. Adotou mecanismos
de reajustamento, para
instrumentalizar a vida
cotidiana, trazendo a
filha e os netos para
morarem com ela;
3. Participa diariamente das celebrações religiosas de sua Igreja;
4. Mantém uma rede
permanente de amigas
no bairro;
5. Participa periodicamente de turismo de
lazer, e deixa a filha
tomando conta da casa;
6. Mantém uma rede
de amigos no serviço
público, que a orientam em diversas áreas;
7. Engajou-se em atividades gratificantes em
vários grupos de convivência.
Atividades
Positivas realizadas
no CIAPREVI
1. Desestressa, participando de atividades de
dança no CIAPREVICE;
2. Mantém uma rede
de amigas no CIAPREVI-CE;
3. Participa das palestras
proferidas
pelos técnicos. Elogia
a equipe de profissionais, mas não
soube dizer ao certo
os assuntos tra-tados
nessas ocasiões.
Elementos do
Discurso que
propiciaram a
análise
“Foi assim: A médica
disse assim: Olha, se a
senhora quiser passar
mais um janeirozim,
não se esforce muito...”
“Aí eu disse: Rosa, não
trabalhe não, fica comigo, que não falta nada
pra ti, nem pra teu
filho...”
“Quando eu viajo, eu já
deixo o dinheiro que
eles vão precisar...”
“Eu disse: Rosa, vamo
partir esse alpendre e um
pedaço da sala, vamo alugar isso aqui, pra quando eu morrer vocês ter
tudo na mão e não precisar de ninguém, só de
Deus...”
“Aí eu tenho um amigo,
que é advogado, ele me
aconselhou assim...”
“Eu sou a pessoa mais
feliz do mundo, acredita?
Mais feliz do mundo!...”
“Eu sempre tive fé em
Deus que eu dizia: Eu
ainda vou sair dessa, eu
ainda vou me levantar
... Eu vou mostrar como eu vou vencer, eu
vou vencer...”
“Eu gosto de dançar porque a gente fica tão leve,
mulher, os problemas a
gente esquece...
“Eu passei por muito
problema e agora eu
quero esquecer, eu não
quero nem lembrança
de problema...”
Atributos favoráveis
(positivos) e desfavoráveis
(negativos) ao exercício da
cidadania, manifestados pelo
sujeito
1. Atributos Positivos:
É
autônoma,
independente;
proativa,
e
Alimenta sonhos e mantém uma rede
permanente de amigas;
Tem uma espiritualidade bastante
desenvolvida, que a faz contornar os
problemas decorrentes dos traumas
passados;
Busca desestressar no grupo de
convivência e fazendo programas de
lazer nos fins-de-semana com as
amigas;
É solidária e aberta para ajudar os
outros.
2. Atributos Negativos:
Ressente-se com o problema da
violência, o que restringe os seus
espaços de cidadania;
Os traumas da vida passada e a
rejeição materna, ao nascer a fazem
buscar atividades prazerosas nos três
espaços
de
socialização
investigados.
190
(2ª Amostra): Sujeitos entre 65-69 anos
Sujeito 3 - O que faz para exercer a cidadania?
Descrição Sucinta do
Sujeito
Maria Felismina
Idade: 69 anos;
É viúva e tem uma história de vida assinalada por
tragédias familiares, pois
teve familiares assassinados. Mora com filhos
casados, que têm problemas com alcoolismo, e
bebem nos fins de semana. Ela se refugia na casa
de praia da filha e só volta durante a semana. Tem
dotes para o canto e a
música.
É alfabetizada.
Estratégias
extragrupo
CIAPREVI
adotadas pelo
sujeito
1.
Participa
das
atividades de vários
grupos de convivência durante a semana;
2. Mantém uma rotina de lazer diária, para manter o bem-estar;
3. Adota mecanismos
de desestresse, ouvindo música, em casa;
4. Evita situações
conflituosas, viajando
nos fins de semana;
5. Aciona as amizades
para conseguir serviços de saúde, uma vez
que não tem plano de
saúde;
6. Adota mecanismos
de reajustamento psíquico, emocional e
espiritual, para superar
os
traumas
existenciais;
7. Adota hábitos de
vida saudáveis;
8. Busca apresentarse em eventos da 3ª
Idade, para mostrar
seus talentos artísticos.
Atividades
Positivas realizadas
no CIAPREVI
1. Engajou-se em um
grupo musical, onde
toca, canta e se apresenta em eventos públicos;
2. Aprecia participar
das palestras técnicas;
3. Participa das oficinas de pintura;
4. Canta nos eventos
comemorativos
do
grupo.
Atributos favoráveis
(positivos) e desfavoráveis
(negativos) ao exercício da
cidadania, manifestados pelo
sujeito
Elementos do
Discurso que
propiciaram a
análise
“Porque não tem ninguém nem que tenha
respeito por nós...”
“Porque eu vou dizer
uma coisa pra senhora,
doutora, só existe este
grupo aqui da Terceira
Idade que toca... A
senhora já ouviu falar de
outro grupo que toca?...
Mas nós não somos
vistos, nem lembrados
... Nós queremos ser
lembrados...”
“Eu tenho medo de
sair...Eu moro na Aerolândia...a minha casa é
constantemente fechada,
não pode abrir não, por
causa do perigo dos
assaltos”...
“Ah, eu
dançar!...”
gosto
de
“Ah, era muito bom se
nós tivéssemos aqui no
grupo médico, ao menos um aparelho de
pressão, medicamentos... Tem medicamentos, mas é tão pouco...”
“Pra melhor dizer, eu
gosto de cantar e tocar
no pandeiro, porque dançar eu danço em todo
canto que eu chegar...”
“Os idosos aqui esquecem logo as palestras
dos técnicos...”
1. Atributos Positivos:
É ativa, e independente, embora já
mostre sinais de lapsos de memória;
Busca desestressar e superar traumas
existenciais, realizando atividades de
lazer, canto e música;
Sabe ler e, por não dispor de plano
de saúde, desenvolveu senso de
ajustamento, o que a leva a acionar
as amizades para conseguir os
serviços médicos de que necessita;
Luta em causa própria e coletiva por
questões de saúde.
2. Atributos Negativos:
Teme morrer subitamente e por isso
preocupa-se em obter maior
acompanhamento de saúde no
Centro;
Desenvolveu traumas e sente medo,
em relação à questão da violência, o
que restringe os seus espaços de
cidadania.
191
(3ª Amostra): Sujeitos entre 70-74 anos
Sujeito 1 - O que faz para exercer a cidadania?
Descrição Sucinta do
Sujeito
Maria Gertrudes
Idade: 70 anos
É solteira. É cearense,
mas morou em BrasiliaDF e se aposentou como
empregada doméstica.
Não teve filhos e hoje
reside sozinha, mas
presta assistência constante a uma irmã, que é
cadeirante e dependente
de cuidados. Cria e cuida
de uma cachorrinha, que
é a sua companhia constante. Não tem amizades
na rua onde mora, porque
os vizinhos são de outra
religião.
Todos os dias a idosa faz
caminhadas e se desloca
para bairros distantes, a
fim de participar de programas de ginástica públicos, buscando constantemente os serviços de
saúde.
Não aprendeu a ler, mas
participa das aulas do
curso de computação no
CIAPREVI. É alegre e
bastante jovial para sua
idade. Tem uma espiritualidade bastante desenvolvida.
Estratégias
extragrupo
CIAPREVI
adotadas pelo
sujeito
1. Administra a sua
casa e a sua vida com
bastante lucidez;
2. Participa de vários
programas
públicos
para a Terceira Idade;
3. Participa sistematicamente das celebrações religiosas de sua
Igreja;
4. Engajou-se em atividades gratificantes
em vários grupos de
convivência da Capital;
5. Faz caminhadas
diárias, e mantém
uma
programação
sistemática de ginástica e fisioterapia;
6. Exercita os seus
direitos de cidadania,
recorrendo à assistência médica pública
gratuita (SUS);
7. Desenvolveu uma
rede de amigos em
instituições públicas
de saúde, que a ajudam a ampliar os
seus espaços de participação
em
programas de saúde;
8. Utiliza os seus dotes culinários, adotando uma alimentação saudável;
9. Cria animais domesticos, que são a
sua companhia, em
casa.
Atividades
Positivas realizadas
no CIAPREVI
1. Desestressa, participando de atividades
de dança no CIAPREVI-CE;
2. Engajou-se no grupo
de chorinho do CIAPREVI-CE,
participando de ensaios semanais para se apresentar em datas comemorativas;
3. Participa das aulas
de computação, interessando-se pela tecnologia da informação.
Elementos do
Discurso que
propiciaram a
análise
Atributos favoráveis
(positivos) e desfavoráveis
(negativos) ao exercício da
cidadania, manifestados pelo
sujeito
“Não to gostando mais
de ir a isso não (forró)...
Mas de teatro eu gosto...
Eu tenho uma amiga que
a gente sai junto, mas
agora ela está doente... A
gente vai pra procissão...”
1. Atributos Positivos:
“Eu não tenho aproximação com as pessoas do
bairro, porque são crentes de outra religião...”
Adota um programa de manutenção
permanente da saúde;
“Eu não paro não, minha
filha, pode botar aí, que é
todo dia a mesma
coisa....”
“Tenho os passarinhos e
a cachorrinha... Ela entende tudo, minha filha...
Quando ela quer tomar
banho, ela pega a cabeça
dela e esfrega assim no
pano...”
“Toda a vida eu fiz
minhas caminhadas e
ainda estudava à noite...
lavava, passava, cuidava
de menino... e ainda
cuidava
da
Igreja,
limpava o altar...”
“Agora até que eu to entendendo mais alguma
coisa (ler) com as aulas
de computação...”
É autônoma, proativa, lúcida e
independente;
Busca o aprimoramento intelectual,
participando de aulas de computação, embora não saiba ler;
Desenvolveu a espiritualidade e é
solidária com todos;
Mostra-se aberta aos problemas de
outras pessoas.
2. Atributos Negativos:
A idosa não mantém uma rede de
amigos
na
vizinhança,
por
problemas de incompatibilidade
religiosa.
A idosa é negra, mas em nenhum
momento deixou evidenciar ter
sofrido preconceitos étnicos.
192
(3ª Amostra): Sujeitos entre 70-74 anos
Sujeito 2 - O que faz para exercer a cidadania?
Descrição Sucinta do
Sujeito
Maria Joseneide
Idade: 74 anos
É viúva. Recebe pensão
do marido falecido. Já
passou por três casamentos. Atualmente está
casada com um motorista de ônibus aposentado,
que a sustenta e paga o
seu plano de saúde.
Veio para o grupo porque se sentia muito sozinha em casa, depois
que ficou viúva.
Concluiu o 1º grau, no
curso de alfabetização de
adultos, no qual ingressou, para acompanhar
melhor os passos de um
dos filhos, que estudava
na mesma escola, à
noite.
Faz trabalhos manuais de
pintura e bordado em tecido. Já trabalhou como
costureira em uma Escola de Samba no Rio de
Janeiro e como cozinheira, em um restaurante da
sobrinha. É dinâmica e
expansiva. Fez muitas
amizades no grupo.
Estratégias
extragrupo
CIAPREVI
adotadas pelo
sujeito
1. Administra a sua
casa e a sua vida com
bastante lucidez;
2. Atualizou os níveis
de escolarização, depois de enviuvar, ingressando em um
curso de alfabetização
de adultos, concluindo o 1º grau;
3. Desenvolveu o senso
de empreendedorismo
e de potencial natural
para exercer ofícios
pólivalentes, tanto no
mercado formal quanto
informal de trabalho
(costureira, cozinheira
e bordadeira);
4. Adotou um senso de
reajustamento psíquico
e emocional, que a faz
exercitar a espiritualidade e o gosto pela
musica, como formas
permanentes de desestresse;
5. Participa de aulas de
ginásticas quinzenais,
em uma Academia do
bairro;
6. Acompanha os níveis satisfatórios de
saúde, através de visitas periódicas ao médico, mantendo planos de
saúde para esse fim;
7. Adota hábitos de vida saudáveis, incluindo
passeios semanais na
casa de praia da sobrinha;
8. Participava até recentemente de vários
grupos de convivência
e forrós, mas deixou de
frequentar esses grupos
porque casou-se novamente.
Atividades
Positivas
realizadas no
CIAPREVI
Elementos do
Discurso que
propiciaram a
análise
1. Engajou-se permanentemente nas atividades do grupo de
convivência do CIAPREVI-CE, onde diz
ter se curado de uma
depressão;
2. Participa das oficinas de pintura em
tecido e das danças
de forró.
“Aqui ficou o meu
lazer... é o meu lazer até
hoje...”;
“Eu era só cuidando da
casa e dos filhos... Eu
era deprimida, sozinha
... Aí tava me dando
depressão, então vim
pra cá...”
Atributos favoráveis
(positivos) e desfavoráveis
(negativos) ao exercício da
cidadania, manifestados pelo
sujeito
1. Atributos Positivos:
É autônoma, proativa, lúcida e
independente;
Buscou o aprimoramento intelectual
e concluiu o 1º grau;
Adota um programa de manutenção
permanente da saúde;
“Eu não tinha amizade
com ninguém,
não
participava de nada...
Nós íamos só para a
missa aos domingos...
Ele era mais novo do
que eu 16 anos...”;
É alegre e expansiva, mostrando-se
integrada no grupo de convivência;
“Eu aprendi a ler e a
escrever, depois de
viúva. Fui pra o colégio,
me matriculei... Eu
trabalhava
num
restaurante e ia pro
colégio...Francisco do
Amaral...Eu peguei até
o meu certificado na
Assembléia
Legislativa... O curso
era Tempo Avançar...”
A idosa demonstra senso de
reajustamento às situações da vida
pessoal e conseguiu superar um
processo de depressão.
“Depois que eu fiquei
viúva, eu disse: agora
eu vou estudar...”
“Eu gosto de ler a
Bíblia... Eu não tenho
uma roupa de velho, só
roupa de jovem...”
Procura exercitar os direitos de
cidadania, procurando recorrer às
instâncias sociais competentes,
quando necessário;
2. Atributos Negativos:
Queixa-se com as brigas constantes
dos filhos que moram com ela, e são
de casamentos diferentes. Ela
precisa muitas vezes intervir, para
suspender as brigas (violência
doméstica).
193
(3ª Amostra): Sujeitos entre 70-74 anos
Sujeito 3 - O que faz para exercer a cidadania?
Descrição Sucinta do
Sujeito
Maria Maria Luiziana
Idade: 73 anos
A idosa tem uma história
de vida bastante sofrida.
Estudou até a 4ª série e
menciona que sabe ler e
escrever. Trabalhou como doméstica em casas
de família, desde a juventude. Casou-se aos 17
anos em Mossoró, no Rio
Grande do Norte. Veio
para Fortaleza por-que os
familiares do ma-rido
moravam aqui e ela o
acompanhou. Ele trabalhava numa empresa de
transportes. Teve três
filhos, que atualmente
moram com ela. O filho
se separou e voltou para
casa. As duas outras
filhas também estão em
casa; uma delas “tem
problemas de saúde e
toma remédio controlado”. Já tem bisnetos,
que residem no anexo superior da casa, onde ela
diz que tem apenas um
dormitório. É pensionista
do marido, mas afirma
que só recebe o salário
mínimo.
Estratégias
extragrupo
CIAPREVI
adotadas pelo
sujeito
1. Administra a sua
casa e a sua vida com
bastante lucidez;
2. Adota mecanismos
de desestresse, mantendo conversas amistosas com um grupo
permanente de amigas do bairro, todas as
noites;
3. Participa semanalmente das atividades
de vários grupos de
convivência, a maioria de cunho religioso, tanto da Igreja
Católica, quanto do
grupo espírita;
4. Realiza passeios
eventuais ao centro
da cidade, “para
olhar as vitrines”,
como exercício de
desestresse;
5. Contribui mensalmente com um plano
de saúde (ABI), o
qual lhe dá direito a
serviços médicos de
consultas.
Atividades Positivas
realizadas no
CIAPREVI
1. Engajou-se no curso
de computação do
CIAPREVI-CE, para
aprender a se comunicar por e-mail com a
neta que reside em
outro Estado;
2. Participa de oficinas
de pintura em tecido e
da
bandinha
do
CIAPREVI-CE, dando
vazão às suas habilidades artísticas;
3. Aprendeu a tocar
tamborim no CIAPREVI-CE e estava aprendendo a tocar teclado,
mas a atividade foi
abolida do centro.
Elementos do
Discurso que
propiciaram a
análise
“Antes
eu
era
só
trabalhando, canseira...
trabalhava a semana
inteira, todo dia ia passar
e lavar, de segunda a
sexta-feira. Chegava em
casa cansada. Quando
não ia lavar e passar
roupa, eu ia pra casa de
uma senhora, pra fazer o
acabamento da roupa
dela...”;
“Depois que eu entrei
no grupo [...]eu me senti
liberta, era prisioneira
do trabalho, escrava, e
depois não, eu já não ia
tanto trabalhar, eu já
tinha liberdade de vir
pra cá, ficar com as
colegas, dançar, eu
dançava aí que era uma
beleza...”
“Agora é que eu não to
dançando mais... Hoje
em dia, eu participo da
bandinha, eu toco no
tamborim
e
conto,
quando precisa. Eu acho
bom porque a gente tem
sempre convite para tocar
fora...”
“Se eu não fizesse o
trabalho de casa, eles
iam ficar sem almoçar
ou jantar...”
“Não sei nem o que é
teatro ou cinema...”;
“É ótima, apesar de eu
não assistir toda (as
palestras
técnicas)
porque
eu
estou
ensaiando...”
“Se eu pudesse eu
passaria muitas horas
do dia no centro da
cidade, olhando e vendo
as coisas bonitas das
vitrines. Faria umas
comprinhas,
se
o
dinheiro sobrasse...”
“Eu não durmo à noite
esperando o meu neto,
que, às vezes, só chega
de manhã...”
Atributos favoráveis
(positivos) e desfavoráveis
(negativos) ao exercício da
cidadania, manifestados pelo
sujeito
1. Atributos Positivos:
É ativa e lúcida;
Tem um objetivo imediato de
cidadania que, no seu caso, é o de
aprender a “passar e-mail”, para se
comunicar com a neta que mora
fora;
Adota estratégias simples de acesso
à cidadania, proporcionalmente ao
seu nível de instrução;
Busca acessar mecanismos de acesso
à saúde, mantendo um plano
permanente de saúde.
2. Atributos Negativos:
É retraída e não se autorevela. Não
costuma trocar confidências nem
com as amigas da rua onde mora,
nem com as idosas do grupo de
convivência do CIAPREVI-CE.
Afirma que não quer compartilhar
problemas de sua vida pessoal;
Não se empenha em participar das
palestras sobre cidadania, preferindo
distrair-se com atividades de lazer;
Tem uma espiritualidade mesclada
com princípios de distintas religiões;
Sofre com problemas intrafamiliares. Afirma que, apesar de acordar
cedo, não consegue dormir à noite,
esperando o neto adolescente que
fica na rua e retorna geralmente pela
manhã, não sabendo onde o jovem
passa a noite. qualidade de vida da
idosa está afeta pela falta de diálogo
familiar.
194
(4ª Amostra): Sujeitos entre 75-79 anos
Sujeito 1 - O que faz para exercer a cidadania?
Descrição Sucinta do
Sujeito
Maria Albina
Idade: 75 anos
D. Maria Albina Coelho
tem 75 anos e mora só
com um filho; os demais
são casados. Ela é funcionária pública municipal
aposentada. Começou a
frequentar grupo de convivência por influência
de uma colega sua, que
era secretária do colégio
onde trabalhava. Demonstra ser uma pessoa
muito alegre e feliz.
Segundo relatou, tem
uma relação muito harmoniosa com os filhos.
Não tem problemas de
saúde, mas tem direito ao
plano de saúde IPM e,
além desse, faz jus a outro (Associação Beneficente do Idoso), para o
qual contribui mensalmente.
Estratégias
extragrupo
CIAPREVI
adotadas pelo
sujeito
1. Administra a sua
casa e a sua vida com
bastante lucidez;
2. Participa das atividades de vários grupos de convivência,
semanalmente;
3. Mantém uma rede
permanente de amigas, com as quais
conversa e interage
diariamente, na calçada de casa;
4. Realiza atividades
prazerosas de costura,
leituras devocionais,
em casa;
5. Adota mecanismos
de desestresse, introduzindo o canto em
todas as atividades
que realiza em sua rotina doméstica;
6. Adota mecanismos
de reajuste emocional,
mantendo uma postura proativa e alegre,
distintiva de satisfação com a vida e
bem-estar;
7. Está em busca de
ampliar ainda mais os
seus espaços de cidadania, procurando ocupar o tempo livre
semanal;
8. Mantém os níveis
de saúde, buscando
sistematicamente serviços de saúde e adotando uma alimentação saudável.
Atividades Positivas
realizadas no
CIAPREVI
1. Participa dos ensaios
de dança no CIAPREVI-CE. Ela canta e toca
o pandeiro;
2. Aprecia os forrós
do grupo de convivência e dança sempre.
3. De modo geral, diz
que gosta de tudo o
que faz nos grupos de
convivência que frequenta.
Elementos do
Discurso que
propiciaram a
análise
Atributos favoráveis
(positivos) e desfavoráveis
(negativos) ao exercício da
cidadania, manifestados pelo
sujeito
“Eu era separada do meu
esposo, só vivia para
meus filhos e para o
trabalho, porque eu sou
da Educação.” (Secretaria
de
Estado
onde
trabalhou);
1. Atributos Positivos:
“Aí eu gostei e fui
ficando
lá...Tinha
aquela palestra que
davam pra gente [...],
tinha peças de teatro
pra gente fazer...”
Sabe ler satisfatoriamente e mantém
uma atitude proativa e alegre.
“Lá faziam balé, faziam
tudo com a gente... Tinha
peça de anjo, tinha Nossa
Senhora,
tinha
os
apóstolos. Era uma coisa
linda, linda, linda[...] Aí
eu fui pra lá, dancei,
menina, e adorei!”
(Sobre a metodologia
adotada nos tempos
áureos do grupo de
convivência do Teatro S.
José);
“Ele foi embora porque
quis, aí eu tirei minha
pensão, que ele era um
bichão que trabalhava
no DNOCS...”
“Ele foi muito ruim pra
mim...
Eu
dormia
trancada, porque ele
puxava até faca pra
mim...”
“Agora pra mim é tudo,
até o fim da minha
vida... É mesmo que
estar no céu... Se pudesse, eu arranjaria outro
grupo para frequentar...” (Sobre o grupo
de
convivência
do
CIAPREVI-CE)
“Não
sinto
solidão
porque eu sou muito
divertida, gosto muito de
cantar... [...] Só trabalho
cantando...”
“A gente conversa, a
gente canta. A gente
fica achando graça na
calçada”... (sobre as
amigas de bairro).
“Gosto muito de todos os
grupos que eu vou...”
É autônoma, lúcida e independente;
Busca ampliar continuamente os
espaços de cidadania, sem que esse
fato lhe cause estresse;
A idosa leva uma rotina prazerosa,
procura manter uma rede de amigos
e se relaciona satisfatoriamente tanto
com o filho que mora com ela,
quanto com os casados;
Busca continuamente manter a
saúde, através dos órgãos públicos
onde está conveniada.
2. Atributos Negativos:
Tem trauma de violência. Despende
tempo e esforço para participar de
dois grupos de convivência que
funcionam em dias e horários
concomitantes.
A idosa está empreendendo um
verdadeiro malabarismo para dar
conta dos ensaios dos grupos de
dança de que participa (CIAPREVICE e Teatro José de Alencar), uma
vez que os dias dos ensaios são em
horários concomitantes.
Percebeu-se que o CIAPREVI-CE
necessitará de promover condições
para que os sujeitos participem com
tranquilidade dos dois grupos de
dança em que estão envolvidos,
porque têm importância direta na
qualidade de vida dos sujeitos
envolvidos;
Referiu que, quando o marido era
vivo, chegou a sofrer violência da
parte dele, o que a traumatizou.
195
(4ª Amostra): Sujeitos entre 75-79 anos
Sujeito 2 - O que faz para exercer a cidadania?
Descrição
Sucinta do
Sujeito
Estratégias extragrupo
CIAPREVI adotadas
pelo sujeito
Maria Catarina
1. Administra a sua casa e
a sua vida com bastante
lucidez e independência;
2. Participa das atividades
de dois grupos de convivência, semanalmente;
3. Realiza atividades prazerosas de pintura em tecido e atividades devocionais, em casa (reza o terço
diariamente em família;
4. Adota mecanismos de
desestresse, integrando o
grupo folclórico dos dois
grupos de convivência que
frequenta e participando
com o marido de eventos
sociais de forró, aos domingos;
5. Adota mecanismos de
reajuste emocional, mantendo uma postura alegre,
distintiva de satisfação
com a vida e bem-estar;
6. Mantém uma convivência harmoniosa com os
filhos, que a visitam semanalmente;
7. Participa de programas e
projetos da 3ª Idade, sempre que toma conhecimento destes (cinema, teatro,
música etc)
Idade: 76 anos
Casou-se aos 16
anos. È divorciada e
teve 10 filhos, que
hoje estão casados.
Menciona que sempre viveu de criar
filho e trabalhar.
Depois
que
se
divorciou se sentiu
muito só e começou
a participar do grupo de convivência
do Teatro São José.
Hoje tem um novo
companheiro que a
respeita e a acompanha em todos os
lugares.
Percebe-se que a
idosa tem grande
preocupação com a
saúde, estando necessitando de tratamentos
médicos
especializados.
Atividades
Positivas
realizadas no
CIAPREVI
1. Participa dos
ensaios de dança
no
CIAPREVICE;
2. Aprecia os forrós do grupo de
convivência
e
dança
sempre
com o marido;
3. Participa da
oficina de pintura em tecido,
exercitando
os
seus dotes artísticos nessa área.
Elementos do Discurso
que propiciaram a análise
“Aí eu pude viver, porque eu
não vivia, eu não tinha
amizade
com
ninguém,
porque ele não deixava eu ter
amizade com ninguém... (Sobre
seu ingresso no primeiro grupo
de convivência);
“Eu saio segunda, terça, quarta,
quinta, só fico em casa sexta, aí
eu vou cuidar das minhas
coisas...”
“Porque eu adoro dançar, que
eu nunca tinha dançado... Pra
mim é muito importante, você
nem sabe... Se eu tiver
estressada, assim deprimida
com qualquer coisa, aí eu
venho pra cá e esqueço tudo...
A dança faz bem à cabeça, ao
corpo todo, você sabe, né?...”
“Ai, eu sou muito feliz!...”
“Porque hoje em dia todo
mundo tem pressão alta...Se
tivesse um aparelho para tirar
pressão nesses locais, a pessoa
poderia tomar um remédio e
evitar, né? Pra onde eu vou eu
carrego os meus remédios...”
“Durante o dia a gente vem
para cá e de noite a gente não
pode sair...”
“Semana passada, eu fui pro
cinema, lá perto do São Luiz,
que passou um filme para os
idosos...Nós
assistimos...foi
agora há pouco, lá na Praça do
Ferreira...”
“O que a gente faz já é o
suficiente para ter uma vida
gratificante e não tem tempo de
fazer novas atividades. Já é
suficiente, né...Não dá mais
tempo de fazer mais nada..
.”
Atributos favoráveis
(positivos) e
desfavoráveis (negativos)
ao exercício da cidadania,
manifestados pelo sujeito
1. Atributos Positivos:
É autônoma, lúcida e independente;
Sabe ler e escrever satisfatoriamente e mantém uma atitude proativa e alegre;
Busca continuamente manter a
saúde, mas reclama por mais
serviços nessa área da parte
dos grupos que participa.
2. Atributos Negativos:
A idosa procura levar uma
rotina prazerosa e manter uma
boa convivência familiar e
social,
mas
se
mostra
acomodada com as atividades
que realiza e não busca ampliar os espaços de cidadania,
por causa das limitações da
idade;
Sofre de síndrome do pânico e
teme a questão da violência.
Despende tempo e esforço
para participar de dois grupos
de convivência que funcionam
em dias e horários concomitantes.
A idosa está empreendendo
um verdadeiro malabarismo
para dar conta dos ensaios dos
grupos de dança de que
participa (CIAPREVI-CE e
Teatro José de Alencar), uma
vez que os dias dos ensaios
são em horários concomitantes.
196
(4ª Amostra): Sujeitos entre 75-79 anos
Sujeito 3 - O que faz para exercer a cidadania?
Descrição Sucinta
do Sujeito
Maria Odésia
Idade: 77 anos
Alfabetizou-se até a 3ª
série, mas ainda busca
estudar nas aulas de
alfabetização ministradas no CIAPREVI. É
viúva, mas vive há
alguns anos com o
companheiro.
É aposentada, como
funcionária da Escola
Santa Luzia, onde hoje ainda vende lanches
para os alunos, informalmente.
Ela diz que durante
muito tempo trabalhou
nessa escola, sem ter a
carteira assinada, e
que lutou muito para
conseguir a sua aposentadoria.
Exerce essa atividade
rentável,
enquanto
participa das reuniões
no salão do grupo de
convivência do CIAPREVI, às terças e
quintas-feiras.
Ali
vende também os
refrigerantes que os
idosos compram, na
hora do almoço.
Demonstra ser autonegligente com a
própria saúde, que diz
ser boa. Entretanto,
conforme salientou, há
anos, não faz exames
de prevenção e que
está necessitando, inclusive, fazer uma
operação cirúrgica para tratamento de períneo.
O marido, segundo
afirma, é aposentado
como ela, mas ainda
trabalha para uma empresa particular, inclusive aos sábados, pela
manhã, e o tempo que
ele passa em casa fica
fazendo
atividades
inerentes ao trabalho
que exerce fora. Ela
assume
todas
as
tarefas de casa sozinha, mostrando-se
bastante
estressada
com a sua rotina de
vida.
Estratégias
extragrupo
CIAPREVI
adotadas pelo sujeito
Atividades
Positivas
realizadas no
CIAPREVI
1. Participa das atividades de vários grupos de
convivência diferentes,
durante a semana;
2. Realiza as atividades
que lhe são prazerosas,
nos espaços dos grupos
de convivência que frequenta semanalmente.
Em casa, a sua rotina é
estressante;
3. Desenvolveu o senso
de espiritualidade, através da participação nas
atividades religiosas do
grupo de convivência da
sua Paróquia,
4. Mantém uma convivência harmoniosa com
a filha e os netos.
1. Engajou-se sistematicamente nas
aulas do curso de
alfabetização do
CIAPREVI, através das quais deseja ler melhor;
2. Aprecia participar das atividades de dança (sem
que o companheiro saiba, porque
não consentiria).
Elementos do Discurso
que propiciaram a análise
“Daqui que eu chegue lá
puxando esse carrim... Ela
reflete sobre isso e diz: “É...
Eu tenho meus filhos pra dar,
os meus netos... Eu sempre to
ajudando ela...” “E não é tão
bom, eu vou perder?...Não...Eu
to pagando o empréstimo da
minha filha...”
“É aula de letras... Eu fui
criada com os meu pessoal,
mas nunca me botaram pra
estudar não...
“Eu estudei até a 2ª série, mas
eu tive que sair do colégio.
Agora eu já aprendi muita
coisa, assim, uma vírgula... É
só pra eu aprender a não
gaguejar tanto...
“Eu quero ler, e aponta para o
papel que está sobre a mesa
Isso aqui eu leio, mas essa
letrinha aqui eu não sei ler...”
“A pressão a gente tira na
comunidade... Eu deixo de
merendar pra tirar a pressão...
Agora tem uma doutora aí na
comunidade que quer que a
gente faça todos os exames dos
seios... D. Odésia, é pra fazer,
D. Odésia... Aí eu fico num
beco sem saída...”
Atributos favoráveis
(positivos) e
desfavoráveis (negativos)
ao exercício da cidadania,
manifestados pelo sujeito
1. Atributos Positivos:
É ativa, lúcida e instrumentaliza a vida cotidiana com
independência.
Desenvolveu excelente senso
de humor, que a torna uma
pessoa simpática e agradável.
2. Atributos Negativos:
É dotada de uma consciência
ingênua, o que a fez ser
politicamente manipulada na
juventude, inclusive, tendo
consentido em que a sua idade
fosse “aumentada” em alguns
anos, para que pudesse votar
em favor de um político amigo
de seus antigos patrões;
Sente-se na obrigação de
ajudar financeiramente a filha
casada, para a qual, inclusive,
está pagando um empréstimo
mensal. de valor bastante
significativo para a remuneração de um salário mínimo a
que a idosa faz jus, como
aposentada;
Realiza sozinha as atividades
domésticas, não tendo tempo
para usufruir da necessária
tranquilidade, na velhice;
Sente-se na obrigação de
vender bombons, diariamente,
de segunda a sexta-feira, para
não ser criticada pelos idosos
do grupo. Por causa do comércio de bombons, chega sempre
atrasada ao e quase nunca
assiste às palestras;
É autonegligente com a saúde.
Há mais de dois anos não vai a
médico;
Não mantém uma rede de
amigos permanente na rua
onde mora, só nos grupos.
Dispõe de uma secretária eletrônica para receber os recados
telefônicos, mas este serviço
não está funcionando a contento.
197
(5ª Amostra): Sujeitos + 80 anos
Sujeito 1 - O que faz para exercer a cidadania?
Descrição
Sucinta do
Sujeito
Mirian
Idade: 81 anos
É viúva, teve 6
filhos e mora com
uma filha solteira,
com a qual se
relaciona harmôniosamente. A idosa é
uma das participantes mais antigas do
grupo de convivência do CIAPREVICE. Está ali desde a
fundação do equipamento, quando este
ainda era denominado Centro Comunitário Dom Lustosa.
Participou das primeiras
atividades
organizacionais
tanto do equipamento, quanto do grupo
de convivência propriamente
dito.
Depois de aposentada, passou a ir ao
local diariamente,
provavelmente para
não romper definitivamente os vínculos
com o serviço público. Então engajouse no grupo.
Estratégias
extragrupo
CIAPREVI adotadas
pelo sujeito
Atividades
Positivas
realizadas no
CIAPREVI
1. Administra a própria
vida com relativa autonomia;
2. Desestressa, ouvindo
constantemente músicas,
em casa;
3. Mantém os níveis de
bem-estar e de qualidade
de vida, realizando visitas
constantes ao médico, para
acompanhar os problemas
de saúde, principalmente o
de glaucoma;
4. Mantém convivência
harmoniosa com todos os
filhos, especialmente a
filha solteira que mora
com ela;
5. Mantém uma rede
permanente de amigos, os
quais reencontra semanalmente, numa casa de
shows, às sextas-feiras;
6. Aprecia e frequenta,
semanalmente, aos sábados, sessões de teatro,
acompanhando a filha que
trabalha nessa área:
7. Realiza passeios de lazer
sistemáticos, ao litoral
cearense, e eventualmente
viaja para outros estados,
reunindo-se com familiares
e amigos;
8. Realiza pequenos trabalhos domésticos de manutenção das plantas e de
limpeza, em casa.
1.
Adotou
o
CIAPREVI-CE
como lar-substituto, onde passa o
dia (manhã e parte
da tarde), interagindo com funcionários e visitantes;
2. Dança forró e
atua como DJ do
grupo de convivência,
selecionando as música
que os idosos dançam;
3. Ajuda os funcionários do centro nas tarefas da
cozinha, colaborando no preparo
das refeições dos
idosos, nos tempos livres do grupo.
Elementos do Discurso
que propiciaram a análise
“Eu sou a conselheira de
algumas idosas, mas não
exponho a minha vida a
ninguém...”;
“Eu não incluiria mais
atividades na minha rotina
diária, minha vida já é muito
boa...”;
“Aliás, ainda hoje eu vou ao
teatro (Dragão do Mar, José de
Alencar)...”;
“Eu sempre gostei de ler, mas
agora está meio ruim por causa
da vista”;
“Um dia D. N.C. veio aqui me
buscar para passar um tempo lá
com ela (em outro local de
trabalho)... Nessa época, eu
fumava duas carteiras de
cigarro por dia. Até que um
dia eu disse:_Meu Deus, me
dê uma orientação... Eu
disse: _Tenho fé em São
Francisco de Canindé que, a
partir de hoje, não coloco
mais um cigarro na boca. E
deixei o vício”;
“Sempre gostei de dançar.
Sempre
fui
muito
dançadeira...”;
“Os velhos são namoradores.
Nâo conversam sobre assunto
de política. Conversam sobre
a violência contra idosos.”
“Eu não me lembro bem
quais foram os direitos que
falaram porque eu já cheguei
atrasada na palestra...”
Atributos favoráveis
(positivos) e
desfavoráveis (negativos)
ao exercício da cidadania,
manifestados pelo sujeito
1. Atributos Positivos:
Concluiu o 1º grau, condição
que facilitou o seu ingresso no
serviço público;
A idosa usufrui de relativa
autonomia, ainda é ativa e
lúcida, dotada de um espírito
solidário e aberto a acolher o
drama de outros idosos;
Vivencia
uma
velhice
reconhecida pelos estudiosos
como bem-sucedida. Tem uma
personalidade comunicativa e
alegre, relacionando-se bem
com todas as pessoas com as
quais interage no dia-a-dia.
2. Atributos Negativos:
Mencionou que nunca se
interessou por problemas
políticos e não desenvolveu
uma consciência crítica, que
favorecesse uma reflexão mais
aprofundada
acerca
da
realidade social. Esse constitui
o principal fator que afasta a
sua postura, em relação à
cidadania, dos princípios do
novo paradigma considerado
neste estudo.
198
(5ª Amostra): Sujeitos + 80 anos
Sujeito 2 - O que faz para exercer a cidadania?
Descrição
Sucinta do
Sujeito
Maria Alice
Idade: 82 anos
Casou-se aos 24
anos, fugindo da
casa da madrasta.
Mora com uma das
filhas e o neto.
É lúcida e ativa,
atuando com independência em todos
os
espaços
de
socialização investigados.
Afirma ser uma
pessoa que sempre
gostou de ajudar os
outros a resolverem
os seus problemas.
Quando era mais
jovem,
trabalhou
como líder comunitária, em prol do
bem-estar das pessoas que residiam
no bairro Meireles.
Está no grupo de
convivência há 20
anos. Aprendeu a
ler, escrever e a
fazer contas sozinha, assim como
todos os seus irmãos
(é autodidata).
Conhece os seus
direitos de cidadania
e, inclusive, procurou as autoridades
para denunciar a
sobrinha, que mantinha o pai aposentado, em cativeiro
doméstico. Participa
de reuniões e atua
como “ministra da
Eucaristia” da Igreja
Católica, visitando
os doentes, na semana.
Estratégias
extragrupo
CIAPREVI adotadas
pelo sujeito
Atividades
Positivas
realizadas no
CIAPREVI
1. Administra a própria
vida com independência e
autonomia;
2. Engajou-se sistemáticamente nas atividades religiosas de sua paróquia,
visitando pessoas que não
podem ir à Igreja;
3. Desenvolveu um elevado senso de partilha, solidariedade e espiritualidade.
Acorda bem cedo para
fazer orações;
4. Mantém convivência
harmoniosa com a filha e o
neto que moram com ela;
5. Aperfeiçoa os mecanismos cognitivos, através do
hábito da leitura de
romances e livros devocionais;
6. Mantém uma rotina de
atividades prazerosas e
voltadas para a manutenção da qualidade de vida e
do bem-estar;
7. Procura manter-se informada com os assuntos da
mídia televisiva, assistindo
a programas humorísticos;
8. Participa de passeios
breves, visitando famíliares na sua cidade natal;
9. Mantém um estilo de
vida saudável e um plano
de saúde, para obter
serviços médicos;
10. Procura lutar pelas
causas de outras pessoas,
para ajudá-las a se promover.
1. Engajou-se nas
aulas de computação, por meio das
quais deseja aprender a se comunicar na Internet com outras
pessoas;
2. Participa das
palestras sobre assuntos de cidadãnia, interessandose também pelas
de cunho religioso, que são ministradas pela coordenadora
do
grupo de convivência.
3. Colabora com
os funcionários do
Centro, no serviço
de
atendimento
aos idosos, na
hora das refeições.
Elementos do Discurso
que propiciaram a análise
“A gente nessa vida tem que
ajudar os outros para ter um
lugarzinho no céu...”;
“Minha filha, eu acho tão
importante... Eu quero ver se
eu falo com alguém na
Internet!... Eu comecei a
aprender em setembro, mas já
sei fazer muita coisa... Eu estou
aprendendo... (Sobre o curso de
computação ministrado no
CIAPREVI-CE);
“Eu gosto de todas as coisas
que faço, até mesmo as
tarefas domésticas...”;
“Eu gosto mais de ler, assistir
ao programa do Ratinho, não
gosto de Teatro, só na juventude participei de pastoris.
Mas essa época já passou...”
“A única coisa que eu tinha
mais vontade na minha vida
era que a minha filha viesse
na minha casa, pra eu dizer
assim: _Deus te abençoe.”
Atributos favoráveis
(positivos) e
desfavoráveis (negativos)
ao exercício da cidadania,
manifestados pelo sujeito
1. Atributos Positivos:
A idosa usufrui de autonomia
e independência na instrumentalização da vida cotidiana;
Denota ser bastante atuante na
Igreja e participa das atividades que lhe são prazerosas
no CIAPREVI-CE;
Exercita o hábito da leitura e
procura aperfeiçoar os mecanismos cognitivos, também
através de aulas de computação. Deseja ampliar os espaços de socialização, trocando
e-mails com outras pessoas,
através da Internet;
Alimenta sonhos e é proativa.
É aberta e solidária aos
problemas da coletividade e
utiliza o senso da espiritualidade para contornar os
problemas pessoais.
2. Atributos Negativos:
“Eu levo a Eucaristia a uma
senhora de Idade do bairro
todos os dias”.
Demonstra atitudes sedimentadas em juízos de valor
pessoais, o que parece impedila de ser mais flexível em
relação a determinadas posturas, entre as quais a aceitação
dos defeitos alheios;
Demonstra viver sofrimentos
íntimos que não partilha com
outras pessoas do grupo.
Demonstra ter dificuldade de
se adaptar aos mesmos
interesses dos outros idosos (a
dança), por se interessar por
atividades intelectuais.
199
(5ª Amostra): Sujeitos + 80 anos
Sujeito 3 - O que faz para exercer a cidadania?
Descrição
Sucinta do
Sujeito
Maria Amélia
Idade: 86 anos
É alfabetizada e está
no grupo do CIAPREVI-CE, há 4
anos.
Tem uma história de
vida muito sofrida.
Perdeu a mãe muito
cedo e durante a
infância e juventude
sofreu muito da
madrasta.
Recentemente
sofreu perdas famíliares, em situação
trágica, envolvendo
a questão da violência. Passou fome e
criou os filhos da
madrasta, que não
era boa para ela.
Depois de casada, o
marido tolheu-a a
vida inteira.
Somente quando ele
faleceu, ela começou a participar de
grupos de convivência de idosos e
aprender a dançar.
A dança representa
muito para ela. Diz
que dançando se
sente livre, porque
nunca pôde fazer
isso quando era
jovem.
Estratégias
extragrupo
CIAPREVI adotadas
pelo sujeito
Atividades
Positivas
realizadas no
CIAPREVI
1. Engajou-se em atividades gratificantes em vários
grupos de convivência da
Capital;
2. Desenvolveu experiência de cidadania promovida por uma instância da
Prefeitura Municipal, através da qual atuou em um
programa já extinto de
fiscalização de praças públicas;
3. Adota mecanismos de
desestresse, integrando o
grupo folclórico dos dois
grupos de convivência que
frequenta e participando de
um grupo de convivência
que funciona, aos domingos;
4. Adota mecanismos de
reajuste emocional, mantendo uma postura alegre,
distintiva de satisfação
com a vida e bem-estar;
5. Mantém uma convivência harmoniosa com os
filhos casados, que moram
com ela;
6. Participa de programas e
projetos da 3ª Idade,
sempre que toma conhecimento destes (cinema, teatro, música etc);
7. Dedica-se à criação de
passarinhos no espaço
domestico, como estratégia
para obter maior bemestar;
8. Procura reforço espiritual, mantendo a religiosidade e uma rotina de
orações, em casa.
1. Participa dos
ensaios de dança
no
CIAPREVICE.;
2. Aprecia os forrós do grupo de
convivência
e
dança
sempre
com um parceiro
frequente;
3. Aprecia todas
as atividades oferecidas pelo CIAPREVI-CE, mas
tem preferência
pela dança folclórica e de salão;
4. Mencionou que
gostaria de se dedicar ainda às
aulas do curso de
alfabetização,
mas isso impediria de participar
dos ensaios de
dança, que é a
sua área preferencial.
Elementos do Discurso
que propiciaram a análise
“O mais importante pra mim é
dançar, ensaiar e a saúde...Mais
nada...”
“O meu marido era „pé duro‟ e
não dançava de jeito nenhum...
E explica: Pé duro, porque ele
não gostava de nada, era só pra
ele. Se ele estivesse vivo, não
teria
deixado
que
eu
frequentasse esses grupos de
jeito nenhum... E enfatiza: não,
não,não, não, não...não deixava
de jeito nenhum...”
“É de mim mesmo, todo
mundo me conhece, todo
mundo gosta de mim, mas é
eles na sua casa e eu na
minha...”;
“Se eu pudesse, arranjaria
outro grupo de convivência
para frequentar, nos horários
livres...”;
“Não, comigo não tem essa
coisa de tristeza...”;
“Eu gosto também de ler e
escrever, mas pra ler e escrever
teria que deixar isso aqui
(refere-se aos ensaios de dança)
Eu não quis continuar porque
eu tinha me metido nesse
negócio de dança... Isso aqui eu
quero mais do que ler e
escrever... Du to já...”
“Ah, os passarinhos são a
minha alegria...”
Atributos favoráveis
(positivos) e
desfavoráveis (negativos)
ao exercício da cidadania,
manifestados pelo sujeito
1. Atributos Positivos:
É autônoma, lúcida e independente, apesar de vivenciar
uma velhice adiantada (86
anos);
Esforça-se para manter uma
postura proativa e alegre, evitando sentimentos tristes;
Tem uma preocupação em
manter a saúde e adota mecanismos de desestresse, sendo o
principal a dança;
Está a procura de ampliar os
espaços de cidadania, através
da participação em novos
grupos de convivência;
2. Atributos Negativos:
A idosa procura levar uma
rotina prazerosa e manter uma
boa convivência familiar e
social, mas se mostra fechada
em um mundo particular,
quando não está nos grupos de
convivência;
Não interage com a vizinhança, não procura fazer
consultas médicas e demonstra
atitudes sedimentadas em
conceitos próprios;
Evidencia traumas em função
dos dramas familiares, necessitando de maior acompanhamento psicoterápico.
A idosa está empreendendo
um verdadeiro malabarismo
para dar conta dos ensaios dos
grupos de dança de que
participa (CIAPREVI-CE e
Teatro José de Alencar), uma
vez que os dias dos ensaios
são em horários concomitantes.
200
APÊNDICE C - QUADRO PERFIL GERAL DAS IDOSAS DO CIAPREVI-CE
Outra
atividade
financeira
Aluguel de
cômodos
Nº de
ordem
Idade
Naturalidade
Escolaridade
Bairro
Estado
civil
Nº de
filhos
Composição
familiar
Moradia
Tipo de
moradia
Condições
Situação
econômica
1
60
Capital
Analfabeto
Serviluz
Divorciado
7
Sozinho
Casa
Própria
Alvenaria
Aposentado
2
61
Interior
Analfabeto
Não
informado
Separado
4
Filhos
Casa
Alugada
Alvenaria
Não é
aposentado
3
61
Capital
Alfabetizado
Varjota
Viúvo
5
Filhos e
netos
Casa
Própria
Alvenaria
Pensionista
4
62
Interior
Alfabetizado
Conjunto
Palmeiras
Solteiro
3
Filhos e
netos
Casa
Própria
Alvenaria
Pensionista
5
64
Interior
Alfabetizado
Viúvo
3
Casa
Própria
Alvenaria
Pensionista
6
65
Interior
Alfabetizado
Mucuripe
Álvaro
Weyne
Lava roupa
para fora
Lava roupa
para fora e
vende
produtos
Avon
Não
Viúvo
7
Casa
Própria
Alvenaria
Pensionista
Não
7
66
Não
informado
Não
informado
José Walter
Viúvo
6
Casa
Própria
Alvenaria
Aposentado
Não
1 salário
8
66
Interior
Alfabetizado
Praia de
Iracema
Viúvo
4
Filhos e
noras
Casa
Própria
Alvenaria
Aposentado
Vende
produtos
Avon
1a3
salários
9
66
Interior
Alfabetizado
Pacajus
Casado
8
Cônjuge e
filhos
Casa
Própria
Alvenaria
BPC
Não
1a3
salários
67
Capital
Alfabetizado
Jardim das
Oliveiras
Divorciado
3
Filhos
Casa
Própria
Alvenaria
Aposentado
Aluguel de
cômodos
1 salário
11
68
Interior
Alfabetizado
Mondubim
Viúvo
6
Casa
Própria
Alvenaria
Pensionista
Não
12
68
Capital
Alfabetizado
Praia de
Iracema
Viúvo
5
Casa
Própria
Alvenaria
Aposentado
Aluguel de
cômodos
1a3
salários
1a3
salários
13
68
Interior
Alfabetizado
Quintino
Cunha
Solteiro
não
tem
Sobrinho
Casa
Própria
Alvenaria
Aposentado
e
pensionista
Não
1 salário
14
68
Capital
Alfabetizado
Praia de
Iracema
Casado
2
Filhos
Casa
Própria
Alvenaria
Aposentado
Não
1a3
salários
15
69
Capital
Alfabetizado
Centro
Solteiro
não
tem
Sobrinho
Casa
Própria
Alvenaria
Aposentado
e
pensionista
Não
1a3
salários
10
Filhos
Filhos e
netos
Filhos e
netos
Filhos e
noras
Filhos e
netos
Lava roupa
para fora
Renda
mensal
1a3
salários
Zero
salário/vive
de ajuda
1a3
salários
1 salário
1 salário
1a3
salários
295
201
Nº de
ordem
Idade
Naturalidade
Escolaridade
Bairro
Estado
civil
Nº de
filhos
16
69
Interior
Alfabetizado
Aerolândia
Viúvo
6
17
69
Interior
Alfabetizado
Aerolândia
Divorciado
8
18
69
Capital
Alfabetizado
Aldeota
Viúvo
2
19
74
Outro estado
Alfabetizado
Meireles
Viúvo
3
20
74
Interior
Alfabetizado
Divorciado
5
21
75
Interior
Alfabetizado
Viúvo
6
22
76
Interior
Alfabetizado
Solteiro
1
23
76
Interior
Analfabeto
24
78
Interior
Analfabeto
25
70
Interior
Alfabetizado
Parque São
José
Dionísio
Torres
Meireles
Aldeota
Edosn
Queiroz
Conjunto
Palmeiras
Casado
6
Viúvo
5
Viúvo
Composição
familiar
Filhos e
netos
Netos e
bisnetos
Filhos e
netos
Irmã, filha,
neto,
sobrinho
Companheiro
Filhos e
netos
Cônjuge e
filhos
Filhos e
netos
Moradia
Tipo de
moradia
Condições
Situação
econômica
Outra
atividade
financeira
Casa
Própria
Alvenaria
Aposentado
Não
Casa
Própria
Alvenaria
Aposentado
Não
1 salário
Casa
Própria
Alvenaria
Pensionista
Não
1a3
salários
Casa
Própria
Alvenaria
Aposentado
Comercializa
bordados
1a3
salários
Casa
Alugada
Alvenaria
Aposentado
Não
Casa
Própria
Alvenaria
Pensionista
Casa
Invasão
Alvenaria
Aposentado
Alvenaria
Renda
mensal
1 salário
Não
informado
Vende
refeições
1a3
salários
1a3
salários
1a3
salários
Não recebe
benefício
Não
1 salário
Casa
Própria
Neto
Casa
Própria
Alvenaria
Aposentado
Engomadeira
1 salário
4
Sozinho
Casa
Própria
Alvenaria
Aposentado
Não
1 salário
Casa
Própria
Alvenaria
Aposentado
e
pensionista
Não
1a3
salários
296
26
70
Capital
Alfabetizado
Araturi
Viúvo
3
Filhos e
netos
27
71
Capital
Alfabetizado
Praia de
Iracema
Viúvo
7
Filhos e
noras
Casa
Própria
Alvenaria
Aposentado
Não
1a3
salários
28
71
Outro estado
Alfabetizado
Meireles
Viúvo
3
Filhos
Apartamento
Própria
Alvenaria
Aposentado
e
pensionista
Não
1a3
salários
29
71
Interior
Alfabetizado
Monte
Castelo
Separado
6
Filhos
Casa
Própria
Alvenaria
Aposentado
30
72
Interior
Alfabetizado
Luciano
Cavalcante
Casado
2
Cônjuge e
filhos
Casa
Própria
Alvenaria
Aposentado
31
72
Capital
Alfabetizado
Papicu
Separado
2
Netos e
bisnetos
Casa
Própria
Alvenaria
Aposentado
Não
1 salário
73
Capital
Alfabetizado
Conj.Nova
Metrópole
Viúvo
6
Filhos
Casa
Própria
Alvenaria
Aposentado
Não
1 salário
32
Lava roupa
para fora
Vende
produtos
Avon e
Natura
1 salário
1a3
salários
202
Nº de
ordem
Idade
Naturalidade
Escolaridade
Bairro
33
70
Interior
Alfabetizado
34
70
Capital
Alfabetizado
35
70
Interior
Alfabetizado
36
74
Interior
Alfabetizado
Araturi
Jardim
Guanabara
Araturi
Cristo
Redentor
37
80
Interior
Alfabetizado
38
81
Interior
39
89
40
Pensionista
Outra
atividade
financeira
Não
1 salário
Alvenaria
Aposentado
Costureira
1 salário
Própria
Alvenaria
BPC
Não
1 salário
Casa
Própria
Alvenaria
Aposentado
Não
1 salário
Filhos
Casa
Alugada
Alvenaria
Aposentado
Não
1a3
salários
Cônjuge
Casa
Alugada
Alvenaria
Aposentado
Não
1 salário
Casa
Própria
Alvenaria
Não
1a3
salários
Casa
Própria
Alvenaria
Não
1 salário
Casa
Cedida
Alvenaria
BPC
Não
1 salário
Neto
Casa
Própria
Alvenaria
Pensionista
Não
1 salário
Filha, genro
e neto
Casa
Cedida
Alvenaria
Aposentado
Não
1 salário
Amigas
Casa
Cedida
Alvenaria
Aposentado
Não
1 salário
Sozinho
Casa
Própria
Alvenaria
Aposentado
Aluguel de
cômodos
1a3
salários
Sobrinho
Casa
Própria
Alvenaria
Aposentado
Não
1 salário
6
Não
informado
Casa
Alugada
Alvenaria
Aposentado
e
pensionista
Não
1a3
salários
Solteiro
não
tem
Sozinho
Casa
Própria
Alvenaria
Aposentado
Não
1 salário
Viúvo
3
Filhos e
netos
Casa
Própria
Alvenaria
Aposentado
Não
1 salário
Divorciado
9
Cônjuge
Casa
Própria
Alvenaria
Aposentado
Não
1 salário
Viúvo
6
Filhos
Casa
Própria
Alvenaria
Aposentado
e
Não
1a3
salários
Estado
civil
Nº de
filhos
Composição
familiar
Moradia
Tipo de
moradia
Condições
Situação
econômica
Viúvo
Viúvo
7
não
tem
7
Sozinho
Não
informado
Neto
Filhos e
netos
Apartamento
Própria
Alvenaria
Casa
Alugada
Casa
Viúvo
4
Meireles
Viúvo
3
Alfabetizado
Conjunto
Alvorada
Viúvo
13
Capital
Alfabetizado
Meireles
Viúvo
6
81
Interior
Analfabeto
Aagadiço
Novo
Solteiro
6
41
81
Interior
Alfabetizado
Meireles
Casado
3
42
82
Interior
Semianalfabeto
Barra do
Ceará
Viúvo
6
43
83
Interior
Alfabetizado
Seis Bocas
Separado
81
Interior
Semianalfabeto
Meireles
Solteiro
45
67
Interior
Alfabetizado
Meireles
Solteiro
46
69
Interior
Alfabetizado
Quintino
Cunha
Solteiro
não
tem
não
tem
não
tem
não
tem
47
75
Interior
Alfabetizado
Itaperi
Separado
48
70
Capital
Alfabetizado
48
82
Interior
Alfabetizado
50
76
Capital
Alfabetizado
51
81
Interior
Alfabetizado
44
Jardim das
Oliveiras
Praia de
Iracema
Quintino
Cunha
Meireles
Solteiro
Irmã, filha,
neto,
sobrinho
Irmã, filha,
neto,
sobrinho
Filhos e
netos
Aposentado
e
pensionista
Aposentado
e
pensionista
Renda
mensal
298
203
Nº de
ordem
Idade
Naturalidade
Escolaridade
Bairro
Estado
civil
Nº de
filhos
Composição
familiar
Moradia
Tipo de
moradia
Condições
Situação
econômica
Outra
atividade
financeira
Renda
mensal
1 salário
pensionista
52
69
Capital
Alfabetizado
53
66
Interior
54
81
Interior
Não
informado
Alfabetizado
55
66
Interior
Alfabetizado
56
57
76
72
58
72
Analfabeto
Alfabetizado
Semianalfabeto
59
72
60
71
61
71
Capital
Outro estado
Não
informado
Não
informado
Capital
Não
informado
62
62
Interior
Não
informado
63
66
Interior
Alfabetizado
64
74
Interior
Não
informado
65
85
Interior
Alfabetizado
Alfabetizado
Analfabeto
Não
informado
Não
informado
Vicente
Pinzon
Colônia
Barra do
Ceará
Papicu
Centro
Separado
3
Filhos
Casa
Própria
Alvenaria
BPC
Não
Casado
3
Cônjuge
Casa
Própria
Alvenaria
Aposentado
Não
Viúvo
2
Filhos
Casa
Cedida
Alvenaria
Pensionista
Não
1a3
salários
1 salário
Viúvo
1
Filhos
Casa
Própria
Alvenaria
Aposentado
Não
1 salário
Solteiro
Viúvo
4
2
Casa
Apartamento
Própria
Cedida
Alvenaria
Alvenaria
Aposentado
Pensionista
Não
Não
Viúvo
4
Casa
Própria
Alvenaria
Aposentado
Não
Viúvo
2
Casa
Própria
Alvenaria
Aposentado
1
Casa
Própria
Alvenaria
Aposentado
Vende
lanches
Variado
1 salário
1 salário
1a3
salários
1 salário
Separado
Viúvo
6
Filhos
Filhos
Não
informado
Não
informado
Sozinho
Não
informado
Casa
Própria
Alvenaria
Aposentado
Não
Casado
3
Cônjuge
Casa
Própria
Alvenaria
Aposentado
Faz renda
para vender
Casado
4
Cônjuge
Casa
Própria
Alvenaria
Pensionista
Costureira
Meireles
Viúvo
3
Filhos e
netos
Casa
Própria
Alvenaria
Pensionista
Não
Parquelândia
Viúvo
14
Filhos e
netos
Casa
Própria
Alvenaria
Aposentado
e
pensionista
Não
Pirambu
Praia de
Iracema
Meireles
Tancredo
Neves
Conjunto
Santa
Terezinha
Vicente
Pinzon
1 salário
1a3
salários
1a3
299
salários
1a3
salários
1a3
salários
Mais de 3
salários
203
APÊNDICE D - QUADRO PERFIL GERAL DAS 15 IDOSAS CONSTANTES DA PESQUISA
Idade
(anos)
Estado
Civil
Maria
Aldeíde
60
Divorcia
da
Analfabeta
Aposentada
Maria
Heloíza
61
Viúva.
Alfabetizada até
a 5ª série
Pensionista
do marido
Maria
Franciete
64
Viúva.
Alfabetizada
Pensionista
do marido
Maria
Verônica
66
Viúva
Alfabetizada
Pensionista
do marido
Nome
Maria
Francisca
Maria
Felismina
Maria
Gertrudes
68
69
70
Viúva
Viúva
Solteira
Nível de
Escolaridade
Alfabetizada
Alfabetizada
Alfabetizada
Situação
Econômica
Pensionista
do marido
Aposentada
Aposentada
O que o grupo de
convivência
representa em sua
vida
Afirma que se dá muito
bem no grupo.
Atividades que
aprecia
Plano
de
saúde
Atividades domésticas
e dançar no grupo.
Não
Hipertensão
arterial
Alfabetização e
orações.
Não
Diabetes e
colesterol alto
Distração e lazer.
No bairro
Não
Dançar, computação e
atividades espirituais.
Sim
SPC
Hipertensão
arterial
Dançar e fazer
amizades.
Informou que o
marido foi
assassinado.
Vende produtos
de revistas.
Alfabetização, dançar e
fazer orações.
Não
Afirma não
ter nenhum.
Círculo de amigos;
“uma família”.
Não relatado.
Outra atividade
rentável
Aluguel de
cômodo: R$
160,00.
Lava roupa para
fora.
Aluguel de casa:
R$ 1.000,00.
Dançar, ir à missa
todos os dias e
acompanhar orações
em programas de rádio.
Não
Cantar, dançar, fazer
pinturas em tecido e
participar de grupos de
convivência religiosos.
Não
Dançar, participar do
grupo folclórico , fazer
ginástica e participar de
atividades religiosas.
Problema de
saúde
Hipertensão
arterial
Afirma que é uma
maravilha e tem muitas
amizades.
Não
Hipertensão
arterial
Afirma que é a sua vida
e se não fosse por ele já
teria enlouquecido ou
até morrido.
Não
Colesterol
alto e anemia
Afirma que é muito
bom, a gente sente
muita falta quando não
tem.
Não
Histórico de
violência
familiar
No bairro
O seu filho, pai
do neto que cria,
morreu assinado e
ela, na juventude,
sofreu tentativa
de estupro por
parte de um dos
irmãos de
criação.
Menciona que seu
bairro é violento
O filho foi
assassinado.
Menciona que o
seu bairro é muito
violento
Não relatado
Histórico de
conflito familiar
Dificuldades de
sobrevivência
A filha é
especial.
Um dos filhos é
HIV e usuário de
drogas. Está
vivendo nas ruas
e já a agrediu
verbalmente e
fisicamente.
A filha que mora
com ela não tem
muito diálogo
com a mãe. Cria
gatos p/ ter
companhia.
Foi adotada por
uma família
abastada e não
conheceu a mãe.
Os irmãos de
criação a
rejeitaram e a
levaram à Justiça
.
Dois dos filhos
que moram com
ela têm
problemas com a
bebida.
A irmã é enferma
e dependente de
cuidados.
204
Nome
Maria
Joseneide
Maria
Luiziana
Idade
(anos)
73
74
Estado
Civil
Viúva
Viúva
Nível de
Escolaridade
1º grau
completo
Situação
Econômica
Aposentada
Outra atividade
rentável
Atividades que
aprecia
Plano
de
saúde
Problema de
saúde
Sim
HAPI
VIDA
Diabetes,
osteoporose e
reumatismo
Hipertensão
arterial,
diabetes,
colesterol alto
e artrose
reumática
Afirma que é tudo. É a
sua diversão.
Não tem
Representa muito, pois
se diverte, dança e
brinca.
Vende panos de
prato pintados e
bordados.
Dançar, fazer pinturas
em tecido, costurar e
fazer crochê.
Sim
ABI
Alfabetizada
Pensionista
do marido
Não
Participar do grupo de
chorinho e fazer
pintura em tecidos.
Não
Dançar; participar do
grupo de chorinho;
crochê e costurar; fazer
orações.
Sim.
IPM e
ABI
O que o grupo de
convivência
representa em sua
vida
Afirma que é uma
maravilha. Tratou de
uma depressão no grupo
do CIAPREVI-CE.
Histórico de
violência
familiar
Histórico de
conflito familiar
Os filhos brigam
muito entre si
Ficou viúva e
sofreu de
depressão, tendo
se curado no
grupo de
convivência.
Tem uma relação
Mostra-se
estressante com o
neto e a filha.
Maria
Albina
75
Viúva
Alfabetizada
Funcionária
pública
munic.
aposentada e
pensionista
Maria
Catarina
76
Divorcia
da
Alfabetizada
Aposentada
Não
Dançar, participar do
grupo folclórico, rezar
o terço em família.
Não
Hipertensão
arterial
Representa muito, pois
se diverte, dança e
brinca.
Boa convivência
com os filhos
casados
Maria
Odésia
77
Viúva,
mas tem
um
companh
eiro
Alfabetizada
Aposentada
Vende lanches e
bombons
Participar de aulas de
alfabetização e de
atividades religiosas na
Igreja.
Sim.
Func.
pública
Escoliose e
varizes
Afirma que é muito
bom.
Vende bombons
para ajudar
financeiramente a
filha casada.
Mírian
81
Viúva
Alfabetizada
Funcionária
pública
estadual
aposentada
Não
Dançar, fazer crochê,
ouvir música e assistir
a peças teatrais.
Sim.
IPEC
Glaucoma e
problemas
cardíacos
Considera muito bom,
afirma estar revivendo.
Boa convivência
com os filhos.
Não
Fazer viagens curas,
participar das aulas de
computação, fazer
colchas de fuxico, rezar
e ir à Igreja.
Maria
Alice
Maria
Amélia
82
86
Viúva
Viúva
Alfabetizada
(autodidata)
Alfabetizada
Aposentada
Pensionista
do marido
Não
Dançar e participar do
grupo folclórico.
Sim.
ABI
Sim.
ABI
Hipertensão
arterial e
audição
Oportunidade de se
socializar com pessoas
de sua idade.
Não tem
É a sua vida, alegria,
harmonia, paz, pessoas
boas, compreensivas.
Sofreu ameaças
físicas do marido
O cunhado foi
vítima de
violência por
parte da filha que
o manteve cativo
em casa por
muito tempo
Um familiar
próximo foi
assassinado. É
auto-negligente
com a saúde e
não procura
assistência
médica
Boa convivência
com os filhos
casados e com o
que mora c/ ela.
Uma das filhas
não se dá com ela
e vive distante.
Mantém boa
convivência em
família, mas
procura participar
de vários grupos
de convivência.
205
APÊNDICE E – INSTRUMENTOS DE COLETA E ANÁLISE DOS DADOS.
INSTRUMENTO 1:
Nome do sujeito:
Ações da vida cotidiana (*)
1. Em casa
O QUE COSTUMA FAZER
2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE
3. Na sua comunidade e/ou em outro local
segunda-feira
terça-feira
quarta-feira
quinta-feira
sexta-feira
sábado
domingo
Contextos verificados:
1. Privado (casa)
1.1 Por que realiza essas atividades?
1.2 Troca experiências com outras pessoas enquanto realiza essas atividades? Com quem?
2. Comunitário (extragrupo de convivência do CIAPREVI-CE)
2.1 Que tempo dispensa ao lazer cultural e social (assistir a noticiários, ler revistas, ouvir música, ir ao cinema, teatro e forrós)?
2.2 Que tempo reserva para se encontrar com os amigos e para conversar sobre assuntos de interesse coletivo (da rua onde mora, do bairro,
da cidade, etc.)
206
INSTRUMENTO 2:
Nome do sujeito:
Ações da vida cotidiana (*)
segunda-feira
terça-feira
quarta-feira
quinta-feira
sexta-feira
sábado
domingo
PLANO ESTRATÉTICO DE ROTINA SEMANAL IDEALIZADO PELOS SUJEITOS (O que retiraria e o que acrescentaria à sua vida real)
3. Na sua comunidade e/ou em
1. Em casa
2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE
outro local
207
APÊNDICE F – SINTESE DOS INSTRUMENTOS (1 E 2) DE ANÁLISE DOS SUJEITOS
INSTRUMENTO 1:
Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de Maria Heloíza
Ações da vida cotidiana
(*)
segunda-feira
terça-feira
O QUE COSTUMA FAZER
1. Em casa
2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE
5h: Acorda. Prepara o café para ela e toda a família, incluindo os familiares que moram na
casa conjugada à sua (filho e nora). Depois de fazer o asseio pessoal da filha e o seu
próprio, toma o seu café com a filha de 41 anos, que é especial e com o neto de 12 anos
que vai de manhã para o colégio (Ela cria o neto); Depois lava a louça, e se arruma para
trazer a filha para a Associação Pestalozzi, próxima ao CIAPREVI, onde ela estuda;
7h20: Sai de casa com a filha (há 8 anos repete essa rotina. Antes, porém, só ia para o
Pestalozzi); 11h20: Chega em casa com a filha. Quando um dos filhos que é porteiro de
8h: Entra na oficina de bordado. Fica na oficina do
um prédio está em casa de folga, ela não precisa preparar o almoço porque ele prepara por
bordado até 11h e vai apanhar a filha na Associação
ela... Ela às vezes só complementa o que falta (o arroz, o feijão...); 12h30min: Almoça
Pestalozzi.
com o filho e os três netos, inclusive os que moram ao lado porque a nora sai às 16h e
trabalha até às 2h da madrugada em um restaurante e pela manhã ainda trabalha em casa
de família; 12h30 – 14h30: Dorme um pouco e levanta para “ajeitar as coisas, né, a
merenda para os meninos...Aí a gente fica por ali fazendo as coisas dentro de casa... ”;
14h3-19h: Faz trabalhos caseiros, assiste ao telejornal e espera o filho chegar da ginástica;
20h: Janta com a família e vai para a calçada. 22h: Recolhe-se para dormir e prepara a
filha antes para dormir.
5h: Acorda. Prepara o café para ela e toda a família, incluindo os familiares que moram na
casa conjugada à sua. Depois de fazer o asseio pessoal da filha , de 41 anos, que é especial
e o seu próprio, toma café com a filha e com o neto de 12 anos, que vai de manhã para o
colégio; Depois lava a roupa de dois rapazes, e se arruma para trazer a filha para a
Associação Pestalozzi, onde ela estuda. (“porque tem sempre que acompanhar a filha.”.);
07h20: Sai de casa em companhia da filha. Antes, porém, só ia para o Pestalozzi. 11h20:
Chegam em casa;12h30: Prepara ou termina o almoço e almoça com a família;14h: Lava
a louça e Descansa um pouco; 15h. Sai de casa para participar das atividades no grupo
religioso, na Igreja. 19h: Ajeita alguma coisa na cozinha e janta com a família; 19h3020h: Assiste ao telejornal e vai para a calçada participar da conversa costumeira com a
vizinhança; 22h: Recolhe-se para dormir e prepara a filha antes para dormir.
3. Na sua comunidade e/ou em outro
local
7h40: Deixa a filha no colégio especial
e vai para o CIAPREVI; 11h: Busca a
filha na Associação Pestalozzi e volta
com ela para casa;
20h: Vai para a calçada, onde fica
quase a noite toda conversando com
familiares e vizinhos. O cunhado tem
uma banca de churrasquinho que é
muito animada. A família toda fica
conversando sobre assuntos diversos,
principalmente sobre futebol...
07h40: Deixa a filha no colégio
especial e vai para o CIAPREVI;
11h: Vai apanhar a filha e vão para
casa; 15h30: Começa a reunião do
grupo (tem um terço; tem uma leitura
que a coordenadora lê num manual,
depois tem a leitura bíblica; tem os
trabalhos que a gente faz na semana e
8h: Entra na reunião do grupo. Faz as orações, que a gente apresenta... a gente visita
participa do alongamento e da palestra proferida pessoas na comunidade e na reunião a
pelo técnico; 10h: Termina a palestra; começa o gente diz tudo o que a gente fez durante
lanche e depois o forró dançante.
a semana: Se visitou um idoso, um
doente, se leu um salmo...) 15h: Vai
participar de um grupo de oração da
Igreja: Grupo Legião de Maria;
17h: Faz adoração ao Santíssimo (na
Igreja);
17h30:Termina a oração ao Santíssimo
na Igreja e começa a missa;
18h30: Termina a missa e volta para
casa para jantar.
208
Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de Maria Heloíza
Ações da vida cotidiana
(*)
quarta-feira
quinta-feira
O QUE COSTUMA FAZER
1. Em casa
05h30: Acorda um pouco mais tarde. Vai comprar o pão; Prepara o café para ela e toda a
família, Depois de fazer o asseio pessoal da filha e o seu próprio, toma o seu café com a
filha e com o neto Depois lava a louça, e se arruma para trazer a filha para a Associação
Pestalozzi; 07h20min: Sai de casa com a filha; 11h20: Chega em casa com a filha.. Ela
aproveita para lavar a roupa da família; “Às vezes eu fico por ali e se tiver algum bordado
pra mim fazer, eu faço. Depois lava a louça.. É,u lavo, se eu não fizer não tem quem faça
não...”; 12h30: Almoça com o filho e os três netos, inclusive os que moram ao lado;
12h30 – 14h30: Dorme um pouco e levanta para “ajeitar as coisas, né, a merenda para os
meninos...Aí a gente fica por ali fazendo as coisas dentro de casa... ”;
14h30 - 19h: Faz trabalhos caseiros, assiste ao telejornal e espera o filho chegar da
ginástica; 20h: Janta com a família e vai para a calçada, onde fica quase a noite toda
conversando com familiares e vizinhos. 22h: Recolhe-se para dormir e prepara a filha
antes para dormir.
5h: Acorda e repete a mesma rotina de todos os dias;
07h40: Deixa a filha no colégio especial e vai para o CIAPREVI; 11h20: Chegam em
casa; 12h:30: Prepara ou termina o almoço e almoça com a família; 14h: Lava a louça e
descansa um pouco; 15h - 19h: Passa o dia todo “fazendo as coisas dentro de casa”; Fica
conversando com o mesmo grupo de amigos de todas as noites, entra depois em casa;
19h:30 - 20h: “Ajeita as coisas dentro de casa”; assiste ao telejornal e vai para a calçada
participar da conversa costumeira com a vizinhança; 22h: Recolhe-se para dormir e
prepara a filha antes para dormir.
sexta-feira
5h: Acorda e repete a mesma rotina de todos os dias; 07h20min: Sai de casa com a;
11h:20min: Chega em casa com a filha.; 12h:30min: Prepara ou termina o almoço e
almoça com a família; 14h: Lava a louça e descansa um pouco; 17h: Vai dar banho e
arrumar a filha; Dá merenda para ela e segue a mesma rotina; 19h:30 - 20h: “Ajeita as
coisas dentro de casa”; assiste ao telejornal e vai para a calçada participar da conversa
costumeira com a vizinhança;22h: Recolhe-se para dormir e prepara a filha antes para
dormir.
sábado
5h: Acorda e repete a mesma rotina de todos os dias; Lava a louça, a roupa de casa e cuida
do almoço.
10h - 12h: Faz os serviços domésticos; 12h: Almoça. Os familiares e vizinhos sempre
aparecem nesse dia;
12h30: Prepara ou termina o almoço e almoça com a família; 14h: Lava a louça e
descansa um pouco; Lava sua própria roupa de casa; 15h - 19h: Levanta do descanso e faz
serviços dentro de casa; Depois do almoço gosta de dormir;
20h: Janta e “ajeita as coisas dentro de casa”; assiste ao telejornal e vai para a calçada
participar da conversa costumeira com a vizinhança; 22h: Recolhe-se para dormir e
prepara a filha antes para dormir.
3. Na sua comunidade e/ou em outro
local
07h40: Deixa a filha no colégio
especial e vai para o CIAPREVI;
11h: Vai para casa com a filha;
18h: Vai para a Igreja (Participa do
08h30: Entra no Curso de Alfabetização no terço das mulheres). Tem a leitura do
CIAPREVI; 10h: Sai do Curso da alfabetização e Evangelho, e depois tem palestras
entra na oficina de bordado;
religiosas; 20h30: Volta para casa; 20h:
10h - 11h: Fica na oficina do bordado; 11h: Vai Janta com a família e vai para a calçada,
apanhar a filha na Associação Pestalozzi.
onde fica quase a noite toda
conversando com familiares e vizinhos.
2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE
8h: Entra na reunião do grupo. Faz as orações,
participa do alongamento e da palestra proferida
pelo técnico. (Ela diz que a coordenação do grupo
reclama porque a maioria dos idosos está chegando
muito tarde e não participam de todos os momentos
da reunião do grupo);
10h: Termina a palestra; começa o lanche e depois o
forró dançante.
11h: Vai apanhar a filha e vão para
casa;
20h: Janta com a família e vai para a
calçada, onde fica quase a noite toda
conversando com familiares e vizinhos.
07h40: Deixa a filha no colégio
especial e vai para o CIAPREVI; 11h:
Vai para casa com a filha; 15h: Sai com
08h30: Entra no Curso de Alfabetização no a coordenadora do Grupo de Oração da
CIAPREVI; 10h: Sai do Curso da alfabetização e Igreja e vão fazer visitas a pessoas da
entra na oficina de bordado; 11h: vai buscar a filha e família;
retornam juntas para casa.
17h: Retorna para casa; 20h: Janta com
a família e vai para a calçada, onde fica
quase a noite toda conversando com
familiares e vizinhos.
20h: Janta com a família e vai para a
calçada, onde fica quase a noite toda
conversando com familiares e vizinhos.
“E agora o que nós tamo mais é falando
dos ladrão que tão roubando as casas...
Entraram de noite na casa do vinho e de
dia entraram e roubaram a bolsa...
Nunca tinha acontecido isso...”
209
Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de Maria Heloíza
O QUE COSTUMA FAZER
Ações da vida cotidiana
(*)
domingo
1. Em casa
2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE
5h: Acorda e repete a mesma rotina de todos os dias;
7h: Vai para a missa de manhã; 10h - 12h: Faz o almoço e outros serviços domésticos;
12h: Almoça. Os familiares e vizinhos sempre aparecem nesse dia; 18h: quando vai
passar o domingo fora, só retorna nesse horário; Chegam em casa, às vezes já para dormir;
20h: Janta 22h: Prepara-se e arruma a filha para dormir. Recolhem-se para dormir.
“Domingo agora nós fomo pra um piquenique lá na Lagoa do Aquiraz... A gente pagou R$
10,00 (Dez reais). A gente saiu 08h30min e chegou às 16h... Bom que só!”
3. Na sua comunidade e/ou em outro
local
08h30: Volta da missa e só quando
chega toma café com a filha, que até
esse horário fica em casa dormindo; Às
vezes, aos domingos, participa de
piquenique com familiares. Vão para o
Aquiraz, vão para a Prainha, para o
Pecém. Estes são organizados pela nora.
O último programa que fizeram foi
perto de Aquiraz. Retornam às 16h. Lá
eles tomam banho de mar, brincam e
almoçam nas barracas;
INSTRUMENTO 2
Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de Maria Heloíza
PLANO ESTRATÉTICO DE ROTINA SEMANAL IDEALIZADO PELOS SUJEITOS (O que retiraria e o que acrescentaria à sua vida real)
Ações da vida cotidiana (*)
3. Na sua comunidade e/ou em
1. Em casa
2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE
outro local
“Ah, eu gostava de viajar, assim pra fora... Pra praia eu não gostaria de ir não,
porque eu já moro na beira de praia. Assim dia de domingo... Nos outros dias eu
Manteria a rotina
Manteria a rotina
segunda-feira
gostaria de fazer essas coisas mesmo... Eu sempre ia querer fazer essas coisas
mesmos... pra gente não ficar parada....”
terça-feira
Manteria a rotina
Manteria a rotina
Manteria a rotina
quarta-feira
Manteria a rotina
Manteria a rotina
Manteria a rotina
quinta-feira
Manteria a rotina
Manteria a rotina
Manteria a rotina
sexta-feira
Manteria a rotina
Manteria a rotina
Manteria a rotina
sábado
Incluiria mais viagens de lazer
domingo
Incluiria mais viagens de lazer
INSTRUMENTO 1:
Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de Maria Aldeíde
Ações da
O QUE COSTUMA FAZER
vida
cotidiana
1. Em casa
2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE
(*)
5h: Acorda. Prepara o café (leite, tapioca, cuscuz e pão). “Meu filho vai trabalhar, às 5:30h.,
o despertador chama, né, e eu acordo para fazer as coisas. Depois que ele sai, eu fecho as
portas e vou fazer minhas coisas. Eu só tomo o meu café depois que faço as minhas
coisas.Eu sou assim. Eu varro o quintal, lavo a roupa, lavo o banheiro e depois eu me asseio
e vou tomar o meu café”; 8h: Varre a casa, vai fazer o almoço; 9h - 10h: Termina de
preparar o almoço; 10h: Descansa um pouco (coloca o som e ouve música. “Eu gosto mais é
da Samantha, dou o maior valor, porque sai música, né?...Quando eu não boto ela, eu boto
CD, ou vou lá fora conversar com minha amiga, que eu me dou muito bem com ela. Ela é
segundaminha confidente, nós conta os segredos uma da outra, nós ri, acha graça...” 12h: As amigas
feira
vão cada uma para sua casa e ela vai almoçar. 13h: Depois de lavar a louça se deita um
pouco; 14h: Acorda para assistir a novela da “Serena”... 15h: Termina de assistir à novela e
vai preparar sua merenda e fazer o café, para tomar com minha filha. “Toda tarde ela vai lá
pra casa...” 19h: Janta sozinha, o filho janta depois. 20h - 22h: Assiste às novelas, não
costuma assistir telejornal. “Esse negócio de Barra Pesada, Deus me livre. É muita morte,
muita coisa... O Serviluz é barra pesada... Minha filha, meu bairro era tão bom. É muito
tiro... Ai meu Deus... eu fecho minhas portas e vou me deitar”. 22h: Recolhe-se para
dormir...
08h30-9h: Chega ao CIAPREVI. Faz a oração e o
alongamento. Lancha e participa do forró... “Eu danço é
toda a vida... Só se não tiver com quem... Aliás, eu gosto de
tudo aqui... Primeiramente eu gosto daqui é da a reza, né?.
5h: Acorda. Prepara o café (leite, tapioca, cuscuz e pão).7h30- 8h: Prepara-se para vir ao
Pelo menos em casa, eu não me deito nem me levanto se
CIAPREVI.
não fizer minha oração... Quando eu venho pra cá...eu já
13h - 15h: Chega do centro, troca de roupa e vai assistir à novela. Não se deita mais, ainda
tenho feito a minha obrigação e ainda peço a ele, eu digo:
terça-feira se estiver cansada, porque prefere assistir à novela... 14h: Vai assistir à novela da “Serena”...
Senhor me acompanha, me livra de todos os perigos, me
15h: Termina de assistir à novela e vai preparar sua merenda e fazer o café, para tomar com
leva e me traz em paz, me livra de todos os perigos, em
a filha. “Toda tarde ela vai lá pra casa...” 19h: Janta sozinha, o filho janta depois. 20h - 22h:
nome de Jesus...” 9h - 10h: Participa de palestras. 10h Assiste às novelas, não costuma assistir ao telejornal.
12h: Participa do forró dos idosos; 12h: Almoça com os
outros idosos. 13h: Demora um pedaço, depois vai lavar as
mãos de fazer higiene bucal, vai embora para casa ou vai
para o centro fazer pagamentos, se precisar.
5h. Acorda. Prepara o café. Meu filho vai trabalhar, às 05h30. 8h: Varre a casa, vai fazer o
almoço; 9h - 10h: Termina de preparar o almoço; 10h: Descansa um pouco (coloca o som e
ouve música.. Coloca um“ CD, ou vai lá fora conversar com minha amiga. Antes das 12h:
As amigas vão cada uma para sua casa e ela vai almoçar; 13h. Depois de lavar a louça se
deita um pouco; 14h: Acorda para assistir a novela da “Serena”... 15h: Termina de assistir à
quarta-feira
novela e vai preparar sua merenda e fazer o café, para tomar com minha filha. “Toda tarde
ela vai lá pra casa...” 19h: Janta sozinha, o filho janta depois. Terminou minha tarefa.... Aí e
eu vou só assistir novela.... 20h - 22h: Chego, tomo banho, troco de roupa, enxáguo minha
roupa, aí não posso me deitar mais, porque é a novela.Assiste às novelas, não costuma
assistir telejornal. 22h: Recolhe-se para dormir...
3. Na sua comunidade e/ou em outro local
10h: “Quase sempre vou lá fora conversar
com minha amiga, que eu me dou muito
bem com ela.”
16h: Vai com a filha para a calçada,
conversar com a amiga costumeira.
18h: A filha vai embora e ela retorna para os
afazeres domésticos.
13h: Vai ao centro da cidade para fazer
pagamentos, se precisar... (Vai, inclusive,
fazer os pagamentos da filha)
13h: Vai ao centro da cidade para fazer
pagamentos, se precisar... Todos os meses,
no começo do mês, ela tem necessidade de
sair para receber o dinheiro de sua
aposentadoria ou para fazer seus
pagamentos ou fazer alguma compra que
tiver necessidade. É ela quem vai, inclusive,
fazer os pagamentos da filha.
211
Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de Maria Aldeíde
Ações da
vida
cotidiana
1. Em casa
(*)
quinta-feira
O QUE COSTUMA FAZER
5h. Acorda. Prepara o café (leite, tapioca, cuscuz e pão). Meu filho vai trabalhar, às 5h30.,
“o despertador chama”, né, e eu acordo para fazer as coisas. 07h30 - 8h: Prepara-se para ir
ao CIAPREVI, aonde chega às 8h30-9horas;
13h - 15h: Chega do centro, troca de roupa e vai assistir à novela. Não se deita mais, ainda
se estiver cansada, porque prefere assistir à novela...; 14h: Vai assistir à novela da
“Serena”...; 15h: Termina de assistir à novela e vai preparar sua merenda e fazer o café, para
tomar com minha filha. “Toda tarde ela vai lá pra casa...”; 19h: Janta sozinha, o filho janta
depois. Terminou minha tarefa.... Aí eu vou só assistir novela.... ; 20h - 22h: Assiste às
novelas, não costuma assistir telejornal.
sexta-feira
5h. Acorda. Prepara o café, né, e eu acordo para fazer as coisas. 8h: Varre a casa, vai fazer o
almoço; Entre 9h - 10h: Termina de preparar o almoço; Todas as sextas-feiras, ela faz a
faxina na casa. “Eu limpo tudo... “... 14h: Vai assistir à novela da “Serena”... 15h: Termina
de assistir à novela e vai preparar sua merenda e fazer o café, para tomar com minha filha.
“Toda tarde ela vai lá pra casa...” 19h: Janta sozinha, o filho janta depois. Terminou minha
tarefa... Aí eu vou só assistir novela... 20h - 22h: Assiste às novelas, não costuma assistir
telejornal.
sábado
5h - 6h. Acorda só um pouco mais tarde. Prepara o café (leite, tapioca, cuscuz e pão). Meu
filho não vai trabalhar e eu acordo para fazer as coisas. Não faz faxina, porque já tem feito
na sexta-feira.
Passa o dia em casa. Repete a mesma rotina da semana. Se for para a missa, só vai à tarde.
22h: Recolhe-se para dormir
domingo
5h.- 6h: Acorda só um pouco mais tarde.. Prepara o café (leite, tapioca, cuscuz e pão). Meu
filho vai trabalhar, às 05h30min., “o despertador chama”, né, e eu acordo para fazer as
coisas. Depois que ele sai, eu fecho as portas e vou fazer minhas coisas. Eu só tomo o meu
café depois que faço as minhas coisas. Eu sou assim. Eu varro o quintal, lavo a roupa, lavo o
banheiro e depois eu me asseio e vou tomar o meu café. 8h: Varre a casa, vai fazer o
almoço; 9h - 10h: Termina de preparar o almoço; 10h: Descansa um pouco (coloca o som e
ouve música. Repete a mesma rotina da semana. 22h: Recolhe-se para dormir.
2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE
3. Na sua comunidade e/ou em outro local
Não participa das atividades do curso de alfabetização. Ela
se justifica porque não faz essa atividade, apesar de gostar
de tudo no CIAPREVI: “Se eu soubesse ler... Minha filha,
eu já estudei tanto e nunca aprendi nada... Jà depois de 50 e
tantos anos, eu tive no colégio e não entra, não entra... Não
sei por que... .Eu já pedi até perdão a Deus, se for pecado,
que ele me perdoasse... É de estar numa parada de ônibus,
sem precisar pedir... De pegar uma carta, um jornal e ler..
Se eu soubesse ler, eu podia arranjar um trabalho,
trabalhar, de eu ir pros cantos, sem ficar preocupada de
estar na parada do ônibus sem precisar pedir: Ei, minha
filha, quando vier o ônibus me diga aí pra eu pegar... É a
única coisa que eu tenho inveja na vida, outra coisa eu não
tenho... Aí quer dizer, se eu soubesse, tudo isso era bom
pra mim...Quando eu era criança, muito criança, quando eu
comecei a estudar, mas eu nunca me interessei.... Eu
apanhava, levava bolo nas mãos e não aprendia...” E
fala sobre os outros irmãos: “Quase tudo não sabia ler...
mas esse negócio de conta eles sabia, tudim... Agora tinha
uns que sabia ler e escrever, mas eles já morreram...”
10h: Quase sempre vou lá fora conversar
com minha amiga, que eu me dou muito
bem com ela.
16h: Vai com a filha para a calçada,
conversar com a amiga costumeira.
18h: A filha vai embora e ela retorna para os
afazeres domésticos
10h: Quase sempre vou lá fora conversar
com minha amiga, que eu me dou muito
bem com ela.
16h: Vai com a filha para a calçada,
conversar com a amiga costumeira. 18h: A
filha vai embora e ela retorna para os
afazeres domésticos
10h: Quase sempre vou lá fora conversar
com minha amiga, que eu me dou muito
bem com ela.
16h: Vai com a filha para a calçada,
conversar com a amiga costumeira. 18h: A
filha vai embora e ela retorna para os
afazeres domésticos
10h: Quase sempre vou lá fora conversar
com minha amiga, que eu me dou muito
bem com ela.
16h: Vai com a filha para a calçada,
conversar com a amiga costumeira. 18h: A
filha vai embora e ela retorna para os
afazeres domésticos.
212
INSTRUMENTO 2:
Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de Maria Aldeíde
PLANO ESTRATÉTICO DE ROTINA SEMANAL IDEALIZADO PELOS SUJEITOS (O que retiraria e o que acrescentaria à sua vida real)
Ações da vida
cotidiana (*)
1. Em casa
2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE
3. Na sua comunidade e/ou em outro local
segunda-feira
Manteria a rotina
Manteria a rotina
Manteria a rotina
terça-feira
Manteria a rotina
Manteria a rotina
Manteria a rotina
quarta-feira
Manteria a rotina
Manteria a rotina
Manteria a rotina
quinta-feira
Manteria a rotina
Manteria a rotina
Manteria a rotina
sexta-feira
Manteria a rotina
Manteria a rotina
Manteria a rotina
sábado
Incluiria mais passeios
Incluiria mais passeios
Incluiria mais passeios
domingo
Incluiria mais passeios
Incluiria mais passeios
Incluiria mais passeios
INSTRUMENTO 1:
Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de Maria Franciete
Ações da vida
cotidiana (*)
1. Em casa
Acorda entre 540h - 6h. Diz que tem “uma penitência de quatro coisas”
que faz todos os dias, ao se levantar: Reza, agradece a Deus pela noite,
recolhe o “urinol” que leva p/o quarto toda noite, bebe água “para lavar
o estômago”; desliga o ventilador e arruma a cama. Faz seu asseio
pessoal, e vai se vestir; 7h20 – 7h30: Prepara o café, mas antes de fazer
a refeição matinal vai colocar a roupa no tanque. Prepara a mesa e toma
o café; 10h30 - 11h: Termina de lavar a roupa e vai lavar a louça do
café, lava a roupa, limpa o fogão (faz isso várias vezes por dia, porque
diz que gosta muito de limpeza, e que sua casa é sempre limpinha). 12h
segunda-feira
– 12h30: almoça com os filhos; 13h: Repousa depois do almoço, e vai
assistir ao programa “Barra Pesada”, deitada na rede; 16h: gosta de
tomar um café. Depois vai assistir a programas sobre notícias
policiais. “Com essa violência toda em minha vida, eu ainda gosto,
acredita?” 16h: levanta, mas continua a assistir à programação da
televisão, até às19h, quando sai para jantar fora com os filhos; 21h:
Voltam para casa e ela vai para a calçada; 22h – 22h30: Volta para casa.
Fica acordada até às 24h ou 24h30, fazendo crochê. Recolhe-se muito
tarde para dormir.
terça-feira
Acorda entre 5h40 - 6h. Repete a rotina e vai se vestir; 7h20h – 7h30:
Prepara o café; 8:00h: Sai para o CIAPREVI; 13h30: Chega em casa,
toma banho e vai descansar e o resto do dia repete a programação do dia
anterior. 22h-22h30. Volta para casa. Fica até às 24h – 24h30 acordada,
fazendo crochê. (Diz que sofre de insônia).
quarta-feira
Acorda entre 5h40 - 6h. Repete a rotina e vai se vestir; 7h20 – 7h30:
Prepara e toma o café; 9h: Vai com as amigas (coroas) para o grupo
de convivência do Mucuripe (D. Tatá). Ficam lá até às 10h30: Retorna
para casa, toma banho e vai arrumar a cozinha. Faz o almoço; 11h:
Termina de lavar a louça do café, lava a roupa, limpa o fogão (faz isso
várias vezes por dia, porque diz que gosta muito de limpeza, e que sua
casa é sempre limpinha); 12h - 12:30h: almoça com os filhos.13h:
Repousa depois do almoço, e repete a rotina de todos os dias . 22h22h30: Volta para casa.até dormir; 24h – 24h30: Fica acordada, fazendo
crochê.
quinta-feira
5h40 - 6h: Acorda. E repete a rotina de todos os dias; 7h20-7h30:
Prepara o café, e faz a refeição; 14h – 14h30: Chega em casa, toma
banho e vai descansar e o resto do dia repete a programação do dia
anterior. Quando fica até às 12:h – 12h30: acordada, fazendo crochê,
como forma de vencer a insônia).
O QUE COSTUMA FAZER
2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE
-
3. Na sua comunidade e/ou em outro local
19h – 19h30: costuma jantar fora com os filhos (comer uma pizza);
21h: Vai para a calçada todas as noites conversar com a irmã, que
mora na casa vizinha à dela.
OBS¹: Diz que gosta muito de viajar. Durante o ano, faz umas três
viagens ou mais. Já está com uma excursão agendada com um grupo
de pessoas (mais ou menos 150 pessoas) para vários lugares do
Interior. “Mês que entra eu vou pra cinco lugar: Vou pra Canindé, de
lá para um banho de cachoeira na Varjota, de lá vou para Arará, de lá
vou pra Santa Quitéria, de lá vou para Ipú... e de Ipu vão para
Ubajara. ...Vai três ônibus”. O dono da excursão é um grande amigo
meu...Diz que é uma pessoa muito conhecida no mundo e que há uns
onze anos vende passeios de excursão...
8:30h - 9h: Chega ao CIAPREVI. Participa da
oração, do exercício de alongamento e entra na
aula da computação;
21h: Vai para a calçada todas as noites conversar com a irmã, que
10h: Vai assistir ao forró e gosta de dançar. Fica mora na casa vizinha à dela.
dançando, até 12h, quando começa o almoço;
13h - 13:30h: Retorna para casa.
21h: Vai para a calçada todas as noites conversar com a irmã.
OBS² : Quando perguntada sobre do que tratam as palestras que
são proferidas no grupo de idosos de D. Tatá, diz que é sobre
aniversários... É para os filhos não baterem nas mães. “Olha, eu
ouvi falar, não sei não...mas esse rapaz que tá ai bate na mãe....essas
coisas. É a D. fulana de tal, e a outra, d. cicrana. Sabe o que é uma
pessoa sensacional? Elas dão umas cópias...Perguntam se a gente já
tinha a carteirinha do SESI, pra quando quiser se alimentar lá, só
paga a metade...” Elas dizem tanta da coisa, mas não tem condições
da gente gravar tudo isso porque é muita coisa que ela diz.... Quando
perguntada sobre o que os palestrantes falavam nessas palestras
acerca dos direitos dos idosos não soube responder ao certo quais
eram os direitos dos idosos;
8h30 - 9h: Chega ao CIAPREVI. Participa da 21h: Vai para a calçada todas as noites conversar com a irmã.
oração, do exercício de alongamento e entra na OBS³: Diz que não tem rotina de almoço fixa, dentro de casa, porque
aula da computação, até às 10h.
o filho parece mulher de antojo... tem dia que ele tem desejo de
10h: Vai assistir ao forró e gosta de dançar. Fica almoçar fora. Ele diz: Mãe, sabe o que eu estou com vontade de
dançando, até às 12h, quando começa o almoço; comer hoje? É carne de sol.... Ou então diz: É tal coisa, E eles vão
13h – 13h30: Retorna para casa.
almoçar fora...
214
Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de Maria Franciete
Ações da vida
cotidiana (*)
1. Em casa
Acorda entre 5h40 - 6h. Diz que tem “uma penitência de quatro coisas”
que faz todos os dias, ao se levantar: Reza, agradece a Deus pela noite,
recolhe o “urinol” que leva p/o quarto toda noite, bebe água “para lavar
o estômago”; desliga o ventilador e arruma a cama. Faz seu asseio
pessoal, e vai se vestir; 7h20 – 7h30: Prepara o café, mas antes de fazer
a refeição matinal vai colocar a roupa no tanque; 9h: Vai para um curso
de pintura no Cipó. “Tá com nove anos”, que eu vou pra lá. Tem café
pra nós, leite com Nescau, e lá pra 12h30 tem outro lancho e aí a gente
vai embora.” 13h30: Retorna para casa e vai fazer as coisas em casa.
Limpa o fogão (faz isso várias vezes por dia, porque diz que gosta muito
sexta-feira
de limpeza, e que sua casa é sempre limpinha); 12h – 12h30: almoça
com os filhos. 13h: Repousa depois que chega em casa, e vai assistir ao
programa “Barra Pesada”, deitada na rede; 16h: gosta de tomar um
café:. E justifica porque gosta de programas sobre violência: “Ave
Maria, Ave Maria, né, menina? Eu tenho esse filho assim”; 16h: levanta,
mas continua a assistir à programação da televisão (cita vários
programas), até às19h, quando sai para jantar fora com os filhos; 21h:
Voltam para casa; 22h – 22h30: fica acordada.. Ela tem uma devoção
há 32 anos de ler o Evangelho todas as sextas-feiras...
Acorda entre 5h40 - 6h. Ao se levantar: Reza, agradece a Deus pela
noite, recolhe o “urinol”, bebe água e arruma a cama. Faz seu asseio
pessoal, e vai se vestir; 7h20 – 7h30: Prepara o café, mas antes de fazer
a refeição matinal vai colocar a roupa no tanque. Lá em frente ao
Hospital Geral tem uma reunião de mesa, brinca todo o sábado... E lá
tem uma reunião muito bonita, vai explicar como é o espírito, ela vai
explicar o Evangelho... 10h: Retorna para casa: Aí dá aquela preguiça, aí
sábado
passa o resto do dia deitada na rede lá no quintal... Depois levanta, faz as
minhas unhas (minha manicure vem fazer as unhas em casa. Depois faz
o cabelo... Volta do cabeleireiro, às vezes às 23h só para dormir... “Ih...
vixe, eu demoro porque eu vou escovar o cabelo, vou arrumar... Meu
velho mandava eu ir para o cabeleireiro. Dizia: Ih, minha velha tá hoje
com o cabelo caju.... Tá bom, tá ótimo... E me dava dinheiro...”
Acorda entre 5h40 - 6h. Ao se levantar: Reza, agradece a Deus pela
noite, recolhe o “urinol”, bebe água e arruma a cama. Faz seu asseio
pessoal, e vai se vestir; 7h20 – 7h30: Prepara o café. Depois vai para a
domingo
casa das amigas “Eu vou pro Quintino Cunha, eu vou para o Santo
Amaro, eu vou pro Canindezinho. Domingo é pouco! Eu não faço nada
na casa delas, é só conversando”; Chega em casa só às 20h.
O QUE COSTUMA FAZER
2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE
3. Na sua comunidade e/ou em outro local
21h: Vai para a calçada todas as noites conversar com a irmã.
“Eu já tenho um bom começo já. Hoje ele (o
professor) deu como se fosse uma carta. Aí ele
disse: „A tarefa de hoje é essa aqui... Era assim
tipo uma oração, assim ... Jesus ...‟” E ressalta
que quis aprender computação por uma
intuição ... aquela intuição besta dentro de
mim, porque eu já sei ler ... “É assim, quando a
gente já sabe de uma coisa quer aprender outra
... Já está com mais de mês. É para eu saber as
coisas, saber como é que mexe... Talvez eu, sabe
lá, se mais na frente eu não compre um
computador ... Assim, para conversar pelo
computador, com um irmão, pra conhecer mais
pessoas, passar e-mails ... É isso, com certeza, eu
quero conhecer mais pessoas, do sexo masculino e
feminino...”
19h: Vai para o cabeleireiro fazer o cabelo, e só volta às 23h.
21h: Vai para a calçada todas as noites conversar com a irmã. “Eu
não gosto de ficar só em casa não .. mas é à noite....”
-
215
INSTRUMENTO 2:
Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de Maria Franciete
PLANO ESTRATÉTICO DE ROTINA SEMANAL IDEALIZADO PELOS SUJEITOS (O que retiraria e o que acrescentaria à sua vida real)
Ações da vida
cotidiana (*)
1. Em casa
2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE
3. Na sua comunidade e/ou em outro local
É tanta coisa que a pessoa faz sem gostar... Pelo menos
passar ferro em roupa, lavar banheiro, fazer café da
segunda-feira
Manteria a rotina nos outros grupos de convivência
manhã... ir pra padaria... eu vou porque é o jeito....tem
muita coisa que eu não gosto...
terça-feira
quarta-feira
Retiraria a rotina de trabalhos domésticos
Eu tenho vontade que meu filho volte porque ele me Quer saber de uma coisa? Eu queria mesmo passar o
ajudava o dia todo fazendo as coisas dentro de casa... Se dia todo no computador, só escrevendo, só mandando eele voltasse, eu ia voltar a fazer o meu crochê...
mail, recebendo e-mail. Pronto, quer saber? É isso!
quinta-feira
Retiraria a rotina de trabalhos domésticos
sexta-feira
Retiraria a rotina de trabalhos domésticos
sábado
Manteria a programação de passeios e lazer semanais
domingo
Manteria a rotina no CIAPREVI
Manteria a rotina no CIAPREVI
Manteria a programação de viagens intermunicipais
216
INSTRUMENTO 1:
Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de Maria Felismina
Ações da vida
cotidiana (*)
segunda-feira
terça-feira
quarta-feira
quinta-feira
sexta-feira
sábado
domingo
O QUE COSTUMA FAZER
1. Em casa
2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE
8h: Chega para o ensaio no CIAPREVI;
5h: Acorda, faz o seu asseio pessoal, prepara e toma o seu café e sai para
11h: Termina o ensaio;
participar do ensaio do grupo de dança no CIAPREVI;
12h: almoça;
18h: Chega em casa, faz seu asseio pessoal e janta;
13h: Entra na aula de pintura em tecido, que é ministrada no
19h - 21h: Assiste a novelas, ouve música
CIAPREVI;
21h: Faz suas orações (Reza o Pai-Nosso) e recolhe-se para dormir.
16h: Encerra-se a aula e ela vai para casa.
5h: Acorda, faz o seu asseio pessoal, prepara e toma o seu café e sai para
11h: Participa da dança no CIAPREVI . Ela canta, dança e toca
participar do ensaio do grupo de dança no Teatro S. José;
pandeiro no grupo de chorinho Recordar é viver;
19h: Chega em casa para jantar;
12h: Almoça com os outros idosos do grupo;
19h - 21h: Assiste novelas, ouve música;
13h - 16h: Participa da aula de pintura em tecido.
21h: Faz suas orações (Reza o Pai-Nosso) e recolhe-se para dormir.
5h: Acorda, faz o seu asseio pessoal, prepara e toma o seu café e faz
serviços domésticos, até a hora do almoço, tais como: lavar suas roupas,
costurar, etc. Também lancha e ouve músicas;
12h: Faz seu asseio pessoal e almoça
13h: Assiste à novela da tarde na televisão e assiste à sessão da tarde, se
gostar da programação;
18h: Janta;
19h - 21h: Assiste novelas, ouve música;
21h: Faz suas orações (Reza o Pai-Nosso) e recolhe-separa dormir.
“O meu maior sonho é reunir toda a família e rezar um terço com eles,
mas nunca dá certo...”
5h: Acorda, faz o seu asseio pessoal, prepara e toma o seu café e sai para
participar do ensaio do grupo de dança no Teatro S. José;
18h: Chega em casa, faz seu asseio pessoal e janta;
19h- 21h: Assiste a novelas, ouve música;
21h: Faz suas orações (Reza o Pai-Nosso) e recolhe-separa dormir.
8h30- 11h: Participa da dança no CIAPREVI;
12h: Almoça com os outros idosos do grupo;
13h - 16h: Participa da aula de pintura em tecido;
16h: Encerra-se a aula e ela vai para casa.
3. Na sua comunidade e/ou em outro local
Antes de ir para casa, frequentemente ela passa antes na
Casa comercial de sua filha, no centro da cidade.
8h: Chega para o ensaio no Teatro São José para participar
do ensaio do grupo folclórico;
11h: Termina o ensaio e ela se dirige ao CIAPREVI;
16h – 17h30: Participa da reunião da Pastoral do Idoso na
Paróquia de Santa Luzia, próxima ao CIAPREVI.
Quando apresenta problemas de saúde, procura os serviços
faz uso dos serviços de instituições comunitárias para obter
consultas e realizar exames médicos, utilizando, para tanto
o apoio de uma rede de amigos.
8h: Chega para o ensaio no Teatro São José para participar
do ensaio do grupo folclórico;
11h: Termina o ensaio e ela se dirige ao CIAPREVI; Ao
sair do CIAPREVI;
(Passa antes na Casa comercial de sua filha, no centro da
cidade)
8h: Chega para o ensaio no CIAPREVI;
11h: Termina o ensaio e ela almoça em casa;
5h: Acorda, faz o seu asseio pessoal, prepara e toma o seu café e sai para 13h: Viaja todos os fins- de - semana para a casa de sua filha na Viaja para passar o fim de semana com a filha no Iguapeparticipar do ensaio do grupo de dança no CIAPREVI.
Praia do Iguape_Ceará. Ela diz que, às vezes, já sai do Ceará
CIAPREVI para o local do Centro da Cidade onde o ônibus
parte.
Lazer na casa da filha, em Iguape-Ce. “Lá nós janta fora,
Não fica em casa.
vai pra praia...”
Não fica em casa. Assiste à missa de manhã, pela televisão... Depois
8h: Vai Lazer na casa da filha, em Iguape-Ce.
assiste ao programa do Ceará Caboclo e o da Viola minha viola.
217
INSTRUMENTO 2:
Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de Maria Felismina
Ações da vida cotidiana
(*)
PLANO ESTRATÉTICO DE ROTINA SEMANAL IDEALIZADO PELOS SUJEITOS (O que retiraria e o que acrescentaria à sua vida real)
1. Em casa
2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE
3. Na sua comunidade e/ou em outro local
Sugeriu mudanças no funcionamento do grupo CIAPREVI
Manteria a participação em outras atividades
comunitárias
segunda-feira
Incluiria mais atividades de lazer em casa, tais como: escutar
música, e trabalhar peças em ponto de cruz, ou faria renda de
bilros.
terça-feira
Idem
“Ah! era muito bom se nós tivéssemos aqui no grupo médico, ao menos um
aparelho de pressão, medicamentos...Tem medicamentos, mas é tão pouco...
Idem
quarta-feira
Idem
Sugeria mudanças no funcionamento do CIAPREVI
Idem
quinta-feira
Idem
Idem
Idem
sexta-feira
Idem
Idem
Idem
sábado
Idem
Idem
domingo
A idosa viaja todos os finais de semana para a casa de praia
da filha, em Beberibe, para não ter que presenciar a bebedeira
dos filhos. Ela preferiria ficar mais tempo em casa, se
pudesse, fazendo as coisas que gosta
Idem
INSTRUMENTO 1:
Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de Maria Verônica
Ações da vida
cotidiana (*)
segunda-feira
terça-feira
quarta-feira
quinta-feira
sexta-feira
sábado
O QUE COSTUMA FAZER
1. Em casa
2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE
3. Na sua comunidade e/ou em outro
local
6h: Acorda, faz seu asseio pessoal. Prepara o café, chá e tapioca, prepara a mesa e faz a
refeição matinal; 7h – 7h30: Lava louças na cozinha; 8h30 - 12h: Prepara o almoço da
família; 12h: Almoça em casa; 12h30: Descansa ½ hora; 13h30: Levanta e varre a casa,
limpa a sujeira diária de 20 gatos que cria no quintal de sua casa. Repete essa atividade
Não sai para conversar na calçada
Mais de uma vez ao dia, por causa da sujeira dos bichanos; 17h: Banha os gatos. 13h30: Dirige-se ao CIAPREVI para a aula de
porque os vizinhos são crentes e os de
Escuta músicas no rádio diariamente, enquanto realiza suas atividades em casa. 18h alfabetização; 16h30: Termina a aula e retorna para casa.
frente gostam de fofoca.
Prepara o jantar e faz a refeição em seguida; 18h30: Janta com a filha. Lava louças; 20h
- 21h: Assiste ao Jornal Nacional na televisão (Não conversa com vizinhos porque estes
são “crentes”. Diz que fazem muito barulho. durante os cultos à noite e ela não gosta);
21h - 22h: Reza o terço e recolhe-se para dormir.
15h: Dirige-se para a reunião da
Pastoral do Idoso na Paróquia do bairro;
6h: Acorda, prepara e toma o café; 7h – 7h30: Lava louças na cozinha e vai para o
8h30: Chega ao CIAPREVI para participar do grupo de 17h: Termina a reunião e retorna para
CIAPREVI; 13:30h: Retorna para casa; Repte a mesma rotina das tardes; 19h: Faz seu
convivência.; Faz as orações de acolhimento, atividades casa; 19h: dirige-se para o grupo de
asseio pessoal e se dirige para o grupo de convivência do Pirata; 20h30: Retorna para
de alongamento e assiste à palestra sobre cidadania; 11h: convivência do Pirata (ali faz atividades
casa; 20h-21h: Assiste ao Jornal Nacional na televisão; 21h-22h: Reza o terço e
Forró; 12h: Almoça e às 13h30 retorna para casa.
físicas com profissionais bombeiros,
recolhe-se para dormir.
participa de brincadeiras, lancha e
dança).
6h: Acorda e repete a rotina; 7h – 7h30: Lava louças na cozinha; 8h30 - 12h: Prepara o
almoço da família; 12h: Almoça em casa; 12h30: Descansa ½ hora; 13h30: Levanta e
varre a casa, limpa a sujeira diária de 20 gatos. Repete essa atividade mais de uma vez
ao dia, por causa da sujeira; 15h: Vai para a aula de alfabetização no CIAPREVI; 17h:
Dirige-se ao CIAPREVI para a aula de alfabetização;
Banha os gatos; 16h30. Retorna da aula de alfabetização. Escuta músicas no rádio
16h30: termina a aula.
diariamente, enquanto realiza suas atividades em casa; 18h: Prepara o jantar e faz a
refeição em seguida; 18h30: Janta com a filha. Lava louças; 20h - 21h: Assiste ao
Jornal Nacional, escuta músicas no rádio; 21h30 - 22h: Reza o terço e recolhe-se para
dormir.
6h: Acorda, repete a rotina; Prepara o café; 7h – 7h30: Lava louças na cozinha; 18h: 8h30: Chega ao CIAPREVI; Faz as orações de 9h - 15h: Dirige-se para a reunião da
Prepara o jantar e faz a refeição em seguida; 18h30: Janta com a filha. Lava louças; acolhimento, atividades de alongamento e assiste à Pastoral do Idoso na Paróquia do bairro;
20h-21h: Assiste ao Jornal Nacional e ao Programa da Samantha Marques; 21h30 - palestra sobre cidadania; 11h: Forró; 12h: Almoça e às 17h: Termina a reunião e retorna para
22h: Reza o terço e recolhe-se para dormir.
13h30 retorna para casa.
casa.
6h: Acorda, repete a mesma rotina de segunda-feira; 7h – 7h30: Lava louças na
cozinha; 8h30 - 12h: Prepara o almoço da família; 12h: Almoça em casa. 12h30:
Descansa ½ hora; 13h30 -17h: Levanta e varre a casa, limpa a sujeira diária do gatos.
Repete essa atividade mais de uma vez ao dia; 17h: Banha os gatos. Escuta músicas no
rádio diariamente, enquanto realiza suas atividades em casa; 18h: Prepara o jantar e faz
a refeição em seguida; 18h30: Janta com a filha. Lava louças; 20h - 21h: Assiste ao
Jornal Nacional; 21h - 22h: Reza o terço e recolhe-se para dormir.
8h-21h: Vai geralmente passar os fins6h: Acorda, faz seu asseio pessoal. Prepara o café, chá e tapioca, prepara a mesa e faz a
de-semana, na casa de praia da filha
refeição matinal; 7h – 7h30: Lava louças na cozinha; 21h - 22h: Reza o terço e recolhecasada, em Beberibe. Se ficar em
se para dormir.
Fortaleza, vai passar o dia fora na praia
com os netos. Retorna no final do dia.
219
Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de Maria Verônica
O QUE COSTUMA FAZER
Ações da vida
cotidiana (*)
domingo
1. Em casa
8h: Acorda e repete a rotina dos outros dias. Costuma passar os fins-de-semana, na casa
da filha, em Beberibe, quando é convidada; 21h - 22h: Volta dos passeios, quando sai e
reza o terço e recolhe-se para dormir.
2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE
-
3. Na sua comunidade e/ou em outro
local
8h: Vai passar os fins de semana em
Beberibe, na casa de praia da filha
casada, ou, se ficar na cidade, vai passar
o dia fora na praia com os netos.
Retorna no final do dia; 19h - 20h:
Assiste, onde estiver, à missa. Depois
retorna para casa.
INSTRUMENTO 2:
Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de Maria Verônica
PLANO ESTRATÉTICO DE ROTINA SEMANAL IDEALIZADO PELOS SUJEITOS (O que retiraria e o que acrescentaria à sua vida real)
Ações da vida cotidiana (*)
3. Na sua comunidade e/ou em outro
1. Em casa
2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE
local
segunda-feira
Manteria, excetuando as atividades relativas à manutenção dos gatos
Incluiria programação de mais esportes e lazer
Incluiria programação de mais esportes
e lazer
terça-feira
Idem
Idem
Idem
quarta-feira
Idem
Idem
Idem
quinta-feira
Idem
Idem
Idem
sexta-feira
Idem
Idem
Idem
sábado
Idem
Idem
Idem
domingo
Idem
Idem
Idem
INSTRUMENTO 1:
Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de Maria Francisca
O QUE COSTUMA FAZER
Ações da vida
cotidiana (*)
1. Em casa
2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE
7h: Acorda. Vai comprar o leite e o pão na padaria. Volta para casa para passar o
café. Ela só toma chá ou vitamina pela manhã, porque tem pressão alta. Começa a
preparar o almoço “bota o feijão no fogo”. De três em três dias, vai de manhã,
comprar “carne moída”, porque a filha não sabe escolher muito bem a carne. Volta
para casa, toma banho, se arruma e toma o seu remédio para pressão; 8h30- 9h: A
filha se acorda junto com o neto e ela prepara a merenda do neto, antes de ele sair
para a escola; 9h: Enquanto a filha faz o almoço, ela faz suas colchas de retalhos e
assiste à televisão. “Assisto o canal 8, 10, 14, 17, 22... Tudo!...”. 10h: Quando está
em casa, acompanha pelo rádio a oração do Pe. Reginaldo, religiosamente, todos os
dias 10h30: Volta a sair para fazer as compras (verdura ,etc), se necessário; 12h30segunda-feira
13h30: Almoça, só quando o neto volta da escola. 14h – 16h30: Assiste novamente a
telejornais e novelas; 16:30h: Sai para assistir à missa na Igreja próxima de casa; 19h:
O jantar não tem horário certo, mas ela fica “beliscando”, até a hora de jantar. O
último remédio que toma é às 21h30; 19h - 22h: Fica indo e voltando de casa para a
casa de uma amiga que mora próximo. Esse percurso ela estende ainda à casa de mais
duas outras amigas, com quem costuma conversar; 22h: Retorna para casa, “passa a
chave no portão”, vai para sua rede, faz um chá, assiste à televisão e fica assistindo
filmes até de madrugada, antes de dormir: “Se for filme bom eu assisto o filme
deitada na minha rede, indo até bom-dia”
terça-feira
quarta-feira
7h: Acorda. Vai comprar o leite e o pão na padaria. Volta para casa para passar o
café. 8h - 9h: A filha se acorda junto com o neto e ela prepara a merenda do neto,
antes de ele sair para a escola; 8h – 8h30: Ajuda a filha em alguns serviços
domésticos e se prepara para ir ao CIAPREVI; 14h – 16h30: Assiste novamente a
telejornais e novelas; 16h30: Sai para assistir à missa na Igreja próxima de casa; 20h:
Volta para casa e volta a assistira programas de televisão; 22h: Retorna para casa,
“passa a chave no portão”, vai para sua rede, faz um chá, assiste televisão e fica
assistindo a filmes, até de madrugada.
7h: Acorda. Vai comprar o leite e o pão na padaria. Volta para casa para passar o
café. 8h30 - 09h: A filha se acorda junto com o neto e ela prepara a merenda do neto,
antes de ele sair para a escola. 8h – 8h30: Ajuda a filha em casa, ou fica fazendo
colchas de retalho; 10h: Quando está em casa, acompanha pelo rádio a oração do Pe.
Reginaldo, religiosamente, todos os dias...12h30 – 13h30: Almoça, só quando o neto
volta da escola; 14h – 16h30: Assiste novamente a telejornais e novelas; 16h30: Sai
para assistir à missa na Igreja próxima de casa; 19h: O jantar não tem horário certo,
mas ela fica beliscando, até a hora de jantar. O último remédio que toma é às 21h30;
19h - 22h: Fica indo e voltando de casa para a casa de uma amiga que mora próximo.
Esse percurso ela estende ainda à casa de mais duas outras amigas, com quem
costuma conversar.; 22h: Retorna para casa e fica assistindo a filmes até de
madrugada.
3. Na sua comunidade e/ou em outro local
16h30: Sai para assistir à missa no Igreja
próxima de casa;
17h: Assiste à missa;
18h: Volta para casa e volta a assistir à
televisão.
17h: Assiste à missa; 20h – 20h30: Vai
participar do grupo de convivência do Pirata,
9h: Participa da reunião do grupo de convivência. 10h: onde faz ginástica, dança, ouve palestra,
Participa da palestra no CIAPREVI;
merenda e participa de atividades de lazer até
10h - 12h: Participa do forró, no CIAPREVI; 12h: às 21h. Pelo menos trimestralmente participa
Almoça com os outros idosos no CIAPREVI;
com os outros idosos do grupo de uma
13h – 13h30: Retorna para casa.
programação de lazer em locais diversos
(passeios); 21h: Volta para casa com as
amigas que a acompanham ao grupo de Pirata;
-
10h30: Volta a sair para fazer as compras
(verdura ,etc. se necessário);
17h: Assiste à missa;
18h: Volta para casa e volta a assistir à
televisão.
Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de Maria Francisca
O QUE COSTUMA FAZER
Ações da vida
cotidiana (*)
1. Em casa
2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE
7h: Acorda. Vai comprar o leite e o pão na padaria. Volta para casa para passar o
café. 8h30 - 9h: A filha se acorda junto com o neto e ela prepara a merenda do neto,
antes de ele sair para a escola; 8h – 8h30: Ajuda a filha em alguns serviços
9h: Participa da reunião do grupo de convivência (Só sai
domésticos e se prepara para ir ao CIAPREVI; 13h – 13h30: Retorna para casa: “Aí
de casa depois que toma o remédio);
eu volto pra casa e tomo um belo banho...”; 14h – 16h30: Assiste novamente a
10h: Participa da palestra no CIAPREVI;
quinta-feira
telejornais e novelas;
10h - 12h: Participa do forró, no CIAPREVI;
16h30: Sai para assistir à missa na Igreja próxima de casa; 19h: O jantar não tem
12h: Almoça com os outros idosos no CIAPREVI.
horário certo. O último remédio que toma é às 21h30; 19h-22h: Fica indo e voltando
de casa para a casa de uma amiga que mora próximo. Esse percurso ela estende ainda
à casa de mais duas outras amigas, com quem costuma conversar. 22h: Retorna para
casa Acorda.
e vai dormir.
7h:
Vai comprar o leite e o pão na padaria. Volta para casa para passar o
café. 8h30- 9h: A filha se acorda junto com o neto e ela prepara a merenda do neto,
antes de ele sair para a escola;
8h – 8h30: Ajuda a filha em casa, ou fica fazendo colchas de retalho. Recebe
telefonemas de amigas e conversa com elas; 10h: Quando está em casa, acompanha
pelo rádio a oração do Pe. Reginaldo, religiosamente, todos os dias...
10h30: Costura, assiste à televisão, ou ajuda a filha, estendendo, no varal, as peças de
roupa que ela lava; 12h30- 13h30: Almoça, só quando o neto volta da escola;
sexta-feira
14h – 16h30: Assiste novamente a telejornais e novelas; 16h30: Sai para assistir à
missa na Igreja próxima de casa; 19h: O jantar não tem horário certo, mas ela fica
beliscando, até a hora de jantar. O último remédio que toma é às 21h30; 19h - 22h:
Fica indo e voltando de casa para a casa de uma amiga permanente. Alterna também
idas e vindas às casas de duas outras, que moram próximo, com as quais costuma
conversar; 22h: Retorna para casa, “passa a chave no portão”, vai para sua rede, faz
um chá, assiste televisão e fica assistindo filmes até de madrugada, antes de dormir.
sábado
domingo
8h30 - 9h: A filha se acorda junto com o neto e ela prepara a merenda do neto; 8h –
8h30: Ajuda a filha em casa, ou fica fazendo colchas de retalho. Recebe telefonemas
de amigas e conversa com elas;
10h: Quando está em casa, acompanha pelo rádio a oração do Pe. Reginaldo,
religiosamente, todos os dias; 12h30 – 13h30: Almoça, mas não tem um horário
muito irregular. Não tem hora certa para almoçar; 14h – 16h30: Assiste novamente a
programas de televisão ou faz atividades de que gosta; 16h30: Sai para assistir à
missa na Igreja próxima de casa; 21h- 22h: Repete a rotina diária: A amiga vem lhe
deixar em casa, ela passa a chave no portão, vai para sua rede, faz um chá, assiste à
televisão e fica assistindo filmes até de madrugada, antes de dormir.
7h: Acorda. Repete a rotina dos demais dias;
9h30: A filha e o neto saem para passar o dia fora, na praia. Ela faz a sua
programação com as amigas costumeiras. Ela e as amigas contratam, na véspera, um
motorista para levá-las a passeios diversos. Saem de casa de manhã e só retornam ao
final do dia;
19h: Ela chega do passeio, passa em casa ligeiramente e volta para a casa das amigas,
onde fica conversando até o resto da noite de domingo;
22h: A amiga vem trazê-la em casa e ela segue a mesma rotina diária, antes de dormir
(assiste à televisão até de madrugada, se gostar do filme).
3. Na sua comunidade e/ou em outro local
17h: Assiste à missa. Só perde a missa,
quando está com pressão alta;
18h: Volta para casa e volta a assistir à
televisão.
17h: Assiste à missa;
18h: Volta para casa e volta a assistir à
televisão.
-
10h30: Volta a sair para fazer as compras
(verdura , etc. se necessário); 17h: Assiste à
missa;
18h: Retorna para casa e vai, em seguida,
visitar a amigas que moram mais distantes,
porém, no mesmo bairro (Vai para a casa da
Ivone, de 70 anos, que mora só com o marido
e uma filha. A amiga lhe oferece mingau, que
prepara. Às vezes, sai com as amigas às 13h.
para o Clube “Girassol” e voltam mais ou
menos às 19h. Nesse horário volta para casa e,
em seguida, retorna para a casa da amiga).
-
-
222
INSTRUMENTO 2:
Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de Maria Francisca
PLANO ESTRATÉTICO DE ROTINA SEMANAL IDEALIZADO PELOS SUJEITOS (O que retiraria e o que acrescentaria à sua vida real)
Ações da vida cotidiana (*)
1. Em casa
2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE
3. Na sua comunidade e/ou em outro local
segunda-feira
Diminuiria a rotina de trabalho doméstico
Diz que não deixaria de cuidar da casa.
terça-feira
Diminuiria a rotina de trabalhos domésticos
quarta-feira
Idem
quinta-feira
Idem
sexta-feira
Idem
sábado
Gostaria de viajar ainda mais para outros estados.
domingo
Gostaria de viajar ainda mais para outros estados.
Manteria atividades no espaço comunitário
Manteria atividades no CIAPREVI
Idem
Idem
Manteria atividades no CIAPREVI
Idem
Idem
INSTRUMENTO 1:
Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de Maria Gertrudes
Ações da vida
cotidiana (*)
1. Em casa
4h30: Acorda e se prepara para fazer caminhada (Cooper);
4h45: Sai Após fazer o seu asseio pessoal, prepara e toma
o próprio café; rega suas plantas e alimenta os passarinhos;
12h: Almoça. 12h – 14h30: Cuida de seus afazeres
domésticos; 17h30: Chega em casa e prepara o jantar;
segunda-feira
18h: janta e dá a comida de sua cachorrinha;
19h-10h: Assiste aos programas televisivos de sua
preferência (Jornal da Record); 10h: Recolhe-se para
dormir.
terça-feira
quarta-feira
quinta-feira
sexta-feira
4h30: Repete o mesmo ritual ao acordar;
14h.: Fica em casa, quando não vai visitar a irmã
19h: Janta e faz seus afazeres domésticos habituais;
20h - 22h: Assiste às novelas e ao Jornal da Record;
22h: Recolhe-se para dormir.
4h30: Acorda e segue o mesmo ritual diário;
8h: Vai ao CIAPREVI ensaiar a apresentação de dança
folclórica de final de ano;
9h - 11h: Faz seu ensaio no grupo de folclore do
CIAPREVI, ajuda na cozinha do Centro e retorna para
casa;
18h: Janta e vai assistir à missa na sua paróquia;
19hh: Chega em casa, de volta da missa;
20h30: Assiste aos seus programas preferidos na televisão;
22h: Faz seu asseio pessoal e recolhe-se para dormir.
4h30: Repete o mesmo ritual de todas as manhãs;
18h30-19h: Chega de volta em casa;
19h: Janta; 20h - 22h: Assiste às novelas e ao Jornal da
Record;
22h: Faz seu asseio pessoal e recolhe-se para dormir.
4h30: Repete o mesmo ritual de todas as manhãs;
12h: Almoça;
19h: Janta;
20h - 22h: Assiste às novelas e ao Jornal da Record;
22h: Faz seu asseio pessoal e recolhe-se para dormir.
O QUE COSTUMA FAZER
2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE
3. Na sua comunidade e/ou em outro local
5h45: Faz 60 min de caminhada (Cooper);
6h50 Depois de fazer a caminhada, retorna para casa;
8h: Chega ao CIAPREVI para participar do ensaio do Grupo de 7h - 8h: Faz o percurso de casa para o CIAPREVI;
Chorinho;
15h15 -15h30: Faz o percurso de ônibus para a ginástica do
11h: Termina o ensaio da dança e retorna para casa;
Projeto dos profissionais bombeiros
15h30: Começa suas atividades de ginástica no Projeto dos
profissionais bombeiros, no bairro Luciano Cavalcante,
próximo à sua residência; 17h15 Retorna para casa.
8h: Chega ao CIAPREVI;
8h - 9h_ Fica um pouco na cozinha do centro, ajudando a preparar o
almoço dos idosos;
11h: Retorna ao CIAPREVI e fica ajudando na cozinha;
12h: Almoça com os outros idosos do grupo de convivência do
CIAPREVI;
13h: Participa do curso de computação durante uma hora.
-
9h: Sai para o Teatro S. José, que fica próximo ao Centro, e
vai participar dos exercícios de alongamento e ballet do
Teatro;
14h: Encerrada a aula, retorna para casa. Eventualmente vai
visitar a irmã, que tem um problema de saúde (AVC).
Quando fica em casa, lava roupa e faz outros afazeres.
Assiste às novelas ; 14h-15h30: Faz o percurso do Centro
para casa, ou do centro para a casa de uma irmã, que tem
problemas de saúde; 18h: Retorna para casa.
Aproveita a tarde das quartas-feiras para resolver assuntos
no Centro da cidade (pagamentos, consertos de utensílios
domésticos e/ou compra de objetos);
15h - 17h: Nesse horário, remarca consultas médicas, se
necessário, e volta para casa; Outras vezes faz fisioterapia
nesse horário. Vai fazer fisioterapia no SUS, para tratar-se
de problema na articulação do ombro;
17h - 18h: Faz o percurso de volta para casa, de ônibus;
19h: Assiste semanalmente à missa da Paróquia onde mora,
nesse horário, após a qual volta para casa;
8h: Vai do CIAPREVI para o Teatro S. José, onde ensaia no grupo
7h: Antes de chegar ao CIAPREVI, assiste a uma missa no
folclórico; 10h: Retorna ao CIAPREVI e, às vezes, participa do
centro da cidade; 14h: Costumar ir visitar a irmã;
forró; 10h - 12h: Ajuda a preparar o almoço dos idosos.
18h: Retorna para casa.
13h: Participa do curso de computação durante uma hora.
9h: Chega ao CIAPREVI para ensaiar no grupo de dança folclórica.
8h: Vai ao centro da cidade para resolver pendências
pessoais e se dirige ao CIAPREVI para participar do ensaio
do folclore;
11h: Retorna para casa;
16h: Vai para a ginástica do Corpo de Bombeiros;
17h30: Retorna para casa. (Obs.: De 15 em 15 dias,
participa de atividades de musculação no Hospital do Bairro
Edson Queiroz).
224
Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de Maria Gertrudes
O QUE COSTUMA FAZER
Ações da vida
cotidiana (*)
1. Em casa
2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE
6h - 7h: Repete o mesmo ritual de todas as manhãs, mas no
fim- de- semana não faz a caminhada habitual;
sábado
12h: Almoça; 13h: Descansa; Assiste a programas de
televisão.
domingo
Faz outras atividades de lazer.
-
3. Na sua comunidade e/ou em outro local
Aproveita os fins de semana para ir à manicure e ao
supermercado
Faz passeios eventuais, de acordo com a programação dos
grupos de convivência de que participa. Esses passeios são
pouco frequentes;
17h: Vai à missa.
INSTRUMENTO 2:
Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de Maria Gertrudes
PLANO ESTRATÉTICO DE ROTINA SEMANAL IDEALIZADO PELOS SUJEITOS (O que retiraria e o que acrescentaria à sua vida real)
Ações da vida cotidiana (*)
1. Em casa
2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE
3. Na sua comunidade e/ou em outro local
Eu nem acrescentava, nem tiraria... Ressalta que
Aqui eu tenho tempo não, mas em Brasília... eu ainda Eu nem acrescentava, nem tiraria...
tinha tempo de ir pra Igreja fazer essas coisas....
Eu nem acrescentava, nem tiraria...
terça-feira
Eu nem acrescentava, nem tiraria...
Eu nem acrescentava, nem tiraria...
Eu nem acrescentava, nem tiraria...
quarta-feira
Eu nem acrescentava, nem tiraria...
Eu nem acrescentava, nem tiraria...
Eu nem acrescentava, nem tiraria...
quinta-feira
Eu nem acrescentava, nem tiraria...
Eu nem acrescentava, nem tiraria...
Eu nem acrescentava, nem tiraria...
sexta-feira
Eu nem acrescentava, nem tiraria...
Eu nem acrescentava, nem tiraria...
Eu nem acrescentava, nem tiraria...
segunda-feira
sábado
Acrescentaria sessões de teatro e cinema na sua rotina Acrescentaria sessões de teatro e cinema na sua Acrescentaria sessões de teatro e cinema na sua rotina
semanal.
rotina semanal.
semanal.
domingo
Na Igreja, eu até que arranjaria tempo pra arrumar a Na Igreja, eu até que arranjaria tempo pra Na Igreja, eu até que arranjaria tempo pra arrumar a
casa do Senhor...
arrumar a casa do Senhor...
casa do Senhor...
225
INSTRUMENTO 1:
Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de D. Maria Luiziana
Ações da vida
cotidiana (*)
1. Em casa
segunda-feira
terça-feira
O QUE COSTUMA FAZER
2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE
3. Na sua comunidade e/ou em outro local
6h: Acorda e segue um ritual específico: faz alongamento, reza ; faz o asseio
pessoal e prepara o café da família;
7h: Toma o café matinal, deixa o café pronto para a família e sai para o
CIAPREVI;
12h: Após preparar o almoço da família, almoça e retorna para o
CIAPREVI; 17h30: Prepara o jantar da família;
18h - 20h: janta com a família; 20h: Assiste à novela, vê o Jornal Nacional.
8h30: Chega ao CIAPREVI para participar do ensaio do Grupo
de Chorinho, no qual toca tamborim e canta quando preciso
junto com o coral do grupo;
11h: Retorna para casa;
13h – 16h30: Participa da aula de pintura em tecido que é
realizada no CIAPREVI;
16h30: Retorna para casa.
21h – 23h: Fica na calçada com as vizinhas da rua
(sempre c/ o mesmo grupo de amigas). Ressalta que
não conversa sobre os problemas familiares com
as amigas, para se resguardar.
6h: Repete o mesmo ritual ao acordar;
18h: Faz asseio pessoal e prepara o jantar da família;
18h – 20h: Janta, assiste à televisão (novela e Jornal);
23h: Recolhe-se para dormir.
8h30: Dá prioridade à atividade de pintura em tecido e não às
atividades do grupo de convivência, mas menciona que também
participa das palestras que são ministradas; 10h: Participa do
Curso de Computação;
10h30: Retorna para a aula de pintura em tecido (Não participa
do forró que começa nesse horário. Diz que atualmente não se
interessa mais por dançar);
12h: Almoça com os demais integrantes do grupo de
convivência;
13h – 15:30h: Participa do grupo de pintura em tecido.
15h30: Vai para o grupo da Pastoral da Paróquia da
Paz (Assiste às orações e recebe o pão ofertado pela
Igreja, mas denota ser uma pessoa de espiritualidade
eclética);
17h: Retorna para casa;
21h – 23h: Vai para a calçada conversar com as
amigas.
-
9h: No dia em que não vai ao CIAPREVI obedece à
seguinte rotina: Sai eventualmente para o Centro
da Cidade, para ver as vitrines e fazer “algumas
comprinhas”, quando tem dinheiro. Em outras
ocasiões fica em casa, lavando a própria roupa e
arrumando a casa. Só pinta peças em tecido, quando
sobra tempo, pois a filha que mora com ela trabalha
fora ;
11h30: Retorna do centro da cidade para casa;
15h – 17h: Vai para o grupo de idosas da Casa do
Caminho (grupo Espírita)- Lancha no local e
recebe no 2º sábado de cada mês uma cesta básica;
17h: Retorna para casa e segue a mesma rotina dos
outros dias da semana; 21h: Vai para a calçada
conversar com as amigas.
quarta-feira
6h – 7h: Repete o mesmo ritual de todas as manhãs;
9h: Quando fica em casa, lava a própria roupa e arruma a casa;
12h: Prepara o almoço da família e almoça;
18h: Retorna do grupo de convivência Espírita.
18h: Faz asseio pessoal e prepara o jantar da família;
18h – 20h: Janta e assiste à televisão (novela e Jornal);
23h: Recolhe-se para dormir.
quinta-feira
6h: Repete o mesmo ritual, ao acordar;
7h30: Sai de casa para o CIAPREVI
17h30: Chega de volta em casa;
18h: Faz asseio pessoal e prepara o jantar da família;
18h – 20h: Janta, assiste à televisão (novela e Jornal);
23h: Recolhe-se para dormir.
8h30: Chega ao CIAPREVI; Participa do grupo de pintura em
tecido e não das atividades do grupo de convivência; 10h:
Participa do Curso de Computação, que é ministrado no
CIAPREVI; 10h30: Retorna para a aula de pintura em tecido 21h: Vai para a calçada conversar com as amigas.
(Não participa do forró, que é realizado nesse horário); 12h:
Almoça com os demais integrantes do grupo de convivência;
13h – 16h30: Participa do grupo de pintura em tecido.
226
Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de D. Maria Luiziana
Ações da vida
cotidiana (*)
1. Em casa
sexta-feira
sábado
domingo
O QUE COSTUMA FAZER
2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE
6h – 7h: Repete o mesmo ritual de todas as manhãs;
9h – 12h: Fica em casa fazendo todos os afazeres domésticos (lava, passa,
cozinha e arruma a casa); Tarde:Faz tarefas domésticas.
6h-7h: Repete o mesmo ritual de todas as manhãs;
9h – 12h: Fica em casa o dia todo fazendo todos os afazeres domésticos
(lava, passa, cozinha e arruma a casa. Pratica pintura em tecido quando tem
tempo).
Acorda e repete o mesmo ritual de todos os dias. Às vezes, vai com uma
amiga passar o dia na casa de uma ex-vizinha. Retorna às 17h.
-
3. Na sua comunidade e/ou em outro local
Trimestralmente, vai ao Posto de Saúde do SUS para
receber os medicamentos de controle de pressão
arterial e diabetes.
21h: Vai para a calçada conversar com as amigas.
-
21h: Vai para a calçada conversar com as amigas
-
21h: Vai para a calçada conversar com as amigas
INSTRUMENTO 2:
Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de D. Maria Luiziana
Ações da vida cotidiana
(*)
segunda-feira
PLANO ESTRATÉTICO DE ROTINA SEMANAL IDEALIZADO PELOS SUJEITOS (O que retiraria e o que acrescentaria à sua vida real)
1. Em casa
2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE
3. Na sua comunidade e/ou em outro local
Iria para o centro da cidade mais vezes para passear e olhar
as vitrines.
Manteria a rotina grupo
Manteria a rotina em outros grupos
Manteria a rotina grupo
Manteria as conversas com as vizinhas
Iria para o centro da cidade mais vezes para passear e olhar as vitrines.
Iria para o centro da cidade mais vezes para
passear e olhar as vitrines.
terça-feira
quarta-feira
Iria para o centro da cidade mais vezes para passear e olhar
as vitrines.
Manteria a rotina grupo.
quinta-feira
sexta-feira
Idem
sábado
Iria mais vezes passear nas casas das amigas e da amiga
costureira.
Iria mais vezes passear nas casas das amigas e da amiga costureira.
Iria mais vezes passear nas casas das amigas e
da amiga costureira.
domingo
Idem
Idem
Idem
INSTRUMENTO 1:
Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de Maria Joseneide
Ações da vida
cotidiana (*)
segunda-feira
terça-feira
quarta-feira
quinta-feira
O QUE COSTUMA FAZER
1. Em casa
4h30: Acorda e fica ouvindo música na cama até às 5h30. 5h30: Levanta,
faz sua oração. Faz seu asseio pessoal e vai para a padaria comprar pão.
Prepara o café da manhã para ela e os dois filhos; merenda; varre o quintal e
outras áreas da casa; rega as plantas lava o banheiro e a louça; dá a comida do
cachorro; 8h30: Termina de fazer a limpeza da casa e vai fazer pintura em
tecido; 10h: Termina de pintar e vai preparar o almoço; 12h: Almoça com os
dois filhos (toma o seu medicamento controlado); 12h30: Termina de almoçar
e faz a sesta; 14h: Levanta e vai lavar a louça do almoço. Volta a arrumar a
casa e a fazer serviços domésticos; 15h: Volta a fazer pintura em tecidos ou
crochê ou costura; 17h: Termina de fazer essas atividades; 17h - 19h: Faz seu
asseio pessoal, assiste à televisão ou ouve música; 19h: Janta com a família e
volta a assistir a programas de televisão (Jornal, novelas e a programação que
lhe agradar);
22h Faz suas orações e recolhe-se para dormir (toma o seu medicamento
controlado).
4h30: Acorda e fica ouvindo música até às 5h30; 5h30: Repete a rotina
anterior desse horário; 7h30: Sai de casa e vai para o CIAPREVI; 18h3019:00h: Chega em casa; Faz novo asseio pessoal 19h-20h: Janta com a família
e volta a assistir a programas de televisão (Jornal, novelas e a programação que
lhe agradar); 22h Faz suas orações e recolhe-se para dormir (toma o seu
medicamento controlado).
4h30: Acorda e fica ouvindo música até às 5:30h; 5:30h: Repete a rotina
diária desse horário; 8:30h: Termina de fazer a limpeza da casa e vai fazer
pintura em tecido;
10h: Termina de pintar e vai preparar o almoço; 12h: Almoça com os dois
filhos(toma o seu medicamento controlado); 12:30h: Termina de almoçar e faz
a sesta; 14h: Levanta e vai lavar a louça do almoço; Volta a arrumar a casa e a
fazer serviços domésticos; 15h: Volta a fazer pintura em tecidos ou crochê ou
costura; 17h: Termina de fazer essas atividades; 17h - 19h: Faz seu asseio
pessoal, fica assistindo a programas de televisão ou ouvindo música; 19h-20h:
Janta com a família e volta a assistir a programas de televisão (Jornal, novelas
e a programação que lhe agradar;22h Faz suas orações e recolhe-se para
dormir.
4h30: Acorda e fica ouvindo música até às 5h30; 5h30: Repete a rotina
anterior desse horário; 7h30: Sai de casa e vai para o CIAPREVI; 18h:
Retorna para casa;
19h: Faz seu asseio pessoal, assiste a programas de televisão ou ouve música;
Janta com a família e volta a assistir à televisão (Jornal, novelas e a
programação que lhe agradar); 22h: Faz suas orações e recolhe-se para dormir
(Só dorme depois que toma o seu remédio controlado para pressão);
2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE
3. Na sua comunidade e/ou em outro
local
-
-
8h30: Chega ao CIAPREVI e recebe a senha para o almoço; Entra na
oficina de pintura em tecido (não assiste à palestra sobre cidadania);
11: Termina a oficina de pintura e vai para o salão dançar;
18h: Volta para casa.
12h: almoça com os outros idosos do grupo de convivência; (toma o
seu medicamento controlado).
-
-
8h30: Chega ao CIAPREVI e recebe a senha para o almoço;
8h30: Vai para o salão assistir à palestra sobre cidadania;
10h: Termina a palestra; 10h – 11h: dança com os outros idosos no
salão; 12h: Almoça no CIAPREVI com os outros idosos (toma o seu
medicamento controlado);
13h: Entra na oficina de pintura em tecido;
16h: Termina a oficina de pintura e vai para casa.
16h - 18h: Frequenta quinzenalmente
uma academia de ginástica, nesse dia,
pagando a taxa de R$20,00 por mês.
18h: Retorna para casa
Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de Maria Joseneide
Ações da vida
cotidiana (*)
sexta-feira
sábado
domingo
O QUE COSTUMA FAZER
1. Em casa
4h30: Acorda e fica ouvindo música na cama até às 5h30; 5h30: Repete a
rotina anterior desse horário; 8h30: Termina de fazer a limpeza da casa e vai
fazer pintura em tecido;
10h: Termina de pintar e vai preparar o almoço; 12h: Almoça com os dois
filhos (toma o seu medicamento controlado); 12h30: Termina de almoçar e faz
a sesta; 14h: Levanta e vai lavar a louça do almoço; Volta a arrumar a casa e a
fazer serviços domésticos; 15h: Volta a fazer pintura em tecidos ou crochê ou
costura; 17h: Termina de fazer essas atividades; 17h - 19h: Faz seu asseio
pessoal, assiste à televisão ou ouve música; 19h: Janta com a família e volta a
assistir a programas de televisão (Jornal, novelas e a programação que lhe
agradar); 22h Faz suas orações e recolhe-se para dormir.
4h30: Acorda e fica ouvindo “Roberto Carlos na parada” até às 5h30; 5h30:
Repete a rotina anterior desse horário;
8h30: Termina de fazer a limpeza da casa e vai fazer pintura em tecido; 10h:
Termina de pintar e vai preparar o almoço; 12h: Almoça com os dois filhos
(toma o seu medicamento controlado);
12h30: Termina de almoçar e faz a sesta;
14h: Levanta e vai lavar a louça do almoço; Volta a arrumar a casa e a fazer
serviços domésticos; 15h: Volta a fazer pintura em tecidos ou crochê ou
costura; 17h: Termina de fazer essas atividades; 17h - 19h: Faz seu asseio
pessoal, assiste aos programas de televisão que aprecia ou ouve música; 19h:
Janta com a família e volta a assistir à televisão (Jornal, novelas e a
programação que lhe agradar);
22h Faz suas orações e recolhe-se para dormir.
4h30: Acorda e fica ouvindo música até às 5h30. 5h30: Levanta, faz sua
oração. Faz seu asseio pessoal e vai para a padaria comprar pão. Prepara o café
da manhã para ela e os dois filhos; merenda; varre o quintal e outras áreas da
casa; rega as plantas lava o banheiro e a louça; dá a comida do cachorro; 7h:
Vai assistir à missa; 8h: Retorna para casa; 8h30: Vai fazer pintura em tecido
ou outras tarefas dentro de casa;
10h: Termina de pintar e vai preparar o almoço; 12h: Almoça com os dois
filhos (toma o seu medicamento controlado); 12h30: Termina de almoçar e faz
a sesta;
14h: Levanta e vai lavar a louça do almoço; Volta a arrumar a casa e a fazer
serviços domésticos;
15h: Volta a fazer pintura em tecidos ou crochê ou costura; 17h: Termina de
fazer essas atividades;
17h - 19h: Faz seu asseio pessoal, assiste à televisão ou ouve música;
19h: Janta com a família e volta a assistir televisão (Jornal, novelas e a
programação que lhe agradar)
22h Faz suas orações e recolhe-se para dormir.
2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE
3. Na sua comunidade e/ou em outro
local
Não costuma ficar conversando com a
vizinhança na calçada, diz que tem
amizade com todo mundo, mas não
gosta de ficar conversando com os
vizinhos, prefere ficar em casa.
-
-
-
-
7h: vai para a missa;
8h: Termina a missa e volta para casa.
Às vezes, vai passar o domingo na casa
de um irmão, e só retorna para casa, às
18h. Ela diz que nessas ocasiões leva as
peças de tecido que pinta, borda e
costura para comercializar. Também
costuma passar os domingos na casa de
praia de uma sobrinha, onde fica o dia
todo tomando banho de piscina.
229
INSTRUMENTO 2:
Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de Maria Joseneide
PLANO ESTRATÉTICO DE ROTINA SEMANAL IDEALIZADO PELOS SUJEITOS (O que retiraria e o que acrescentaria à sua vida real)
Ações da vida cotidiana (*)
3. Na sua comunidade e/ou em outro
1. Em casa
2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE
local
Não retiraria, nem acrescentaria nada ao
Não retiraria, nem acrescentaria nada ao seu dia-a-dia
Não retiraria, nem acrescentaria nada ao seu dia-a-dia
segunda-feira
seu dia-a-dia
terça-feira
Não retiraria, nem acrescentaria nada ao seu dia-a-dia
Não retiraria, nem acrescentaria nada ao seu dia-a-dia
quarta-feira
Não retiraria, nem acrescentaria nada ao seu dia-a-dia
quinta-feira
Não retiraria, nem acrescentaria nada ao seu dia-a-dia
sexta-feira
Não retiraria, nem acrescentaria nada ao seu dia-a-dia
Não retiraria, nem acrescentaria nada ao seu dia-a-dia
sábado
Não retiraria, nem acrescentaria nada ao seu dia-a-dia
Não retiraria, nem acrescentaria nada ao seu dia-a-dia
domingo
Não retiraria, nem acrescentaria nada ao seu dia-a-dia
Não retiraria, nem acrescentaria nada ao seu dia-a-dia
Não retiraria, nem acrescentaria nada ao seu dia-a-dia
Não retiraria, nem acrescentaria nada ao seu dia-a-dia
Não retiraria, nem acrescentaria nada ao
seu dia-a-dia
Não retiraria, nem acrescentaria nada ao
seu dia-a-dia
Não retiraria, nem acrescentaria nada ao
seu dia-a-dia
Não retiraria, nem acrescentaria nada ao
seu dia-a-dia
Não retiraria, nem acrescentaria nada ao
seu dia-a-dia
Não retiraria, nem acrescentaria nada ao
seu dia-a-dia
INSTRUMENTO 1:
Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de D. Maria Odésia
Ações da vida
cotidiana (*)
segunda-feira
terça-feira
quarta-feira
quinta-feira
sexta-feira
O QUE COSTUMA FAZER
1. Em casa
2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE
5h: Acorda, reza o terço, faz seu asseio pessoal. Prepara o seu café (com
leite e pão) e o do marido e vai para a Escola Estadual Santa Luzia onde
fica até às 9h30, vendendo bombons aos alunos; 10h – 10h15: Sai da
Escola Santa Luzia e retorna para casa;
12h: chega em casa (por causa dos ônibus) e termina de preparar o
almoço para ela e o marido. Após almoçar, vai lavar suas roupas e a do
marido e vai fazer outras coisas dentro de casa; 15h: Vai para o Centro
da Cidade; 21h chega em casa e vai jantar com o marido;
22h - 23h: Assiste a programas de televisão e depois vai dormir com o
marido.
5h: Acorda, reza o terço, faz seu asseio pessoal. Prepara o seu café (com
leite e pão) e o do marido e vai para a Escola Estadual Santa Luzia onde
fica até às 9h30, vendendo bombons aos alunos;
22h - 23h: Assiste às novelas na televisão, enquanto o marido fica
fazendo contas e os serviços do trabalho dele;
23h: Recolhe-se para dormir.
5h: Acorda, reza o terço, faz seu asseio pessoal. Prepara o seu café (com
leite e pão) e o do marido e vai para a Escola Estadual Santa Luzia, onde
fica até às 9h30, vendendo bombons aos alunos; 10h – 10h15: Retorna
para casa, faz o almoço e arruma as coisas dentro de casa; 13h: Vai para
a aula de alfabetização no CIAPREVI; 17h: Volta para casa, lavar
roupas e preparar o jantar; 19h - 20h: Janta com o marido mais cedo;
21h: Assiste ao Jornal e vê novelas; 23h: Recolhe-se com o marido para
dormir.
5h. Acorda, reza o terço, faz seu asseio pessoal. Prepara o seu café (com
leite e pão) e o do marido e vai para a Escola Estadual Santa Luzia, onde
fica até às 9h30, vendendo bombons aos alunos; 17h: Retorna do Centro
e fica fazendo as coisas dentro de casa.19h - 20h: Janta com o marido
mais cedo; 21h: Assiste ao Jornal e vê novelas; 23h: Recolhe-se com o
marido para dormir.
5h: Acorda, reza o terço, faz seu asseio pessoal. Prepara o seu café (com
leite e pão) e o do marido e vai para a Escola Estadual Santa Luzia, onde
fica até às 9h30, vendendo bombons aos alunos; 10h: Retorna para casa,
fica lavando roupas, fazendo as coisas dentro de casa; 12h: almoça e vai
para o CIAPREVI; 17h: Retorna do Centro e fica fazendo as coisas
dentro de casa; 19h - 20h: Janta com o marido mais cedo; 21h: Assiste
ao Jornal e vê novelas; 23h: Recolhe-se com o marido para dormir.
3. Na sua comunidade e/ou em outro local
15h: Vai ao Centro da cidade para comprar
mercadoria para vender “os seus chilitos”;
17h: Retorna para casa;
19h: Vai rezar o terço em um grupo de oração
no Mercado dos Peões;
21h: Retorna do grupo de oração para casa.
10h: Vai para o CIAPREVI para participar do grupo de convivência
de idosos. Só dá tempo de fazer os exercícios de alongamento, mas
não as palestras. Geralmente, ela só chega para participar da dança;
12h: Fica até esse horário no grupo com os outros idosos;
13h: O marido vem apanhá-la no grupo e retorna com ela para
almoçarem em casa; 14h: Logo após, vai lavar louça e outros
serviços domésticos.
15h: Vai participar do grupo de convivência da
Paróquia de Santa Luzia, no bairro onde mora;
17h: retorna para casa e volta a fazer atividades
Domésticas. “Faz com gosto essas atividades”;
19h: Vai participar de um grupo de convivência
no Pirata. Ali ela faz exercícios de alongamento,
participa De bingos 21h: Retorna para casa e
janta com o marido: “Ele só janta quando eu
chego”.
13h30: Chega ao CIAPREVI para participar das atividades do
Curso de Alfabetização;
15h: Termina a aula da alfabetização.
-
9h30 - 10h: Vai para o CIAPREVI para participar do grupo de
convivência de idosos. Só dá tempo de fazer os exercícios de
15h: Vai para o centro da cidade, para comprar
alongamento, mas não as palestras. Geralmente, ela só chega para
chilitos (bombons);
participar da dança; 12h: Fica até esse horário no grupo com os
17h: Retorna do Centro.
outros idosos. “Fica sentada, vendendo suas coisas”; 13h: O marido
vem apanhá-la no grupo e retorna com ela para almoçarem em casa.
13h30 - 15h: Assiste à aula de alfabetização no CIAPREVI.
15h: Vai para o Centro para fazer o Mercantil;
17h: Retorna para casa.
Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de D. Maria Odésia
Ações da vida
cotidiana (*)
sábado
domingo
O QUE COSTUMA FAZER
1. Em casa
2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE
5h.-12 h: Acorda, reza o terço, faz seu asseio pessoal. Prepara o seu café
(com leite e pão) e o do marido. Vai lavar roupa e começar a preparar o
almoço;
12h: Chega do mercantil e prepara o almoço para ela e o marido; 15h 18h: Deita-se para descansar;
18h: Levanta e vai preparar o jantar; 19h-20h: Janta com o marido; 21h23h: Assiste à televisão e descansa na cadeira de balanço; 23h: Recolhese para dormir.
5h: Acorda, reza o terço, faz seu asseio pessoal. Prepara o seu café (com
leite e pão) e o do marido; 12h: Almoça e ajeita as coisas dentro de casa;
15h - 18h: Deita-se para descansar; 19h: Janta com o marido; 20h-23h:
Vai para a cadeira de balanço e assiste à televisão; 23h: Recolhe-se com
o marido para dormir.
3. Na sua comunidade e/ou em outro local
10h: 10h: Vai para o mercantil mais cedo, para
trazer o restante das compras que não conseguiu
trazer sozinha no dia anterior. Depois de fazer as
compras, retorna para casa.
8h: Vai assistir à missa na Igreja de Santa Luzia;
9h – 9h30: Retorna para casa para fazer o
almoço. Às vezes, vai com os idosos do grupo de
convivência do Pirata passar o domingo fora.
(Vai às 8h e retorna às 16h.).
INSTRUMENTO 2:
Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de D. Maria Odésia
Ações da vida cotidiana
(*)
segunda-feira
PLANO ESTRATÉTICO DE ROTINA SEMANAL IDEALIZADO PELOS SUJEITOS (O que retiraria e o que acrescentaria à sua vida real)
1. Em casa
2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE
3. Na sua comunidade e/ou em outro local
Buscaria tempo para organizar a sua casinha e para fazer os
seus trabalhos de costura: colchas de retalhos; bolsas em
tecido,etc.
Mais atividades de lazer
Manteria a rotina em outros grupos
terça-feira
Mais atividades de lazer
Manteria a rotina no CIAPREVI-CE
Manteria a rotina em outros grupos
quarta-feira
Mais atividades de lazer
Manteria a rotina no CIAPREVI-CE
Manteria a rotina em outros grupos
quinta-feira
Mais atividades de lazer
Manteria a rotina no CIAPREVI-CE
Manteria a rotina em outros grupos
sexta-feira
Mais atividades de lazer
Manteria a rotina no CIAPREVI-CE
Manteria a rotina em outros grupos
sábado
Visitaria mais a filha
Visitaria mais a filha
Visitaria mais a filha
domingo
Visitaria mais a filha
Visitaria mais a filha
Visitaria mais a filha
INSTRUMENTO 1:
Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de D. Maria Albina
Ações da vida
cotidiana (*)
O QUE COSTUMA FAZER
1. Em casa
2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE
segunda-feira
6h-7h: Acorda e segue um ritual específico: prepara o café
(geralmente cuscuz, café, leite, chá de capim santo ou erva-doce);
7h: Faz seu asseio pessoal, toma café e se dirige ao CIAPREVI;
12h: Faz novo asseio pessoal e almoça, mas compra o almoço já
pronto, perto de casa; 16h15: Chega em casa; 16h30: Faz novo asseio
pessoal, organiza suas roupas(lava e costura as peças do seu vestuário;
17h30: Lancha geralmente um suco, antes de jantar; 19h3-20h:
Assiste aos programas de televisão que gosta (Jornal Nacional e
novelas); 23h – 23h30: Recolhe-se para dormir.
8h30: Chega ao CIAPREVI para participar do ensaio do Grupo de
Chorinho, no qual toca o ganzá e canta, quando preciso, junto com o
coral do grupo;
11h: Termina o ensaio do grupo e ela retorna para casa. (D.
Albertina canta e toca o ganzá no Grupo de Chorinho Recordar é
Viver, do CIAPREVI. Essa habilidade ela aprendeu a desenvolver
no grupo foi reconhecida até por integrantes de um grupo musical
que tocava em evento onde ela se encontrava certa vez).
terça-feira
6h-7h: Repete o mesmo ritual, ao acordar;
16h -17h: Chega em casa, assiste aos programas de televisão de sua
preferência e faz atividades domésticas que lhe dão satisfação; Prepara
um jantar ligeiro;
18h: Faz asseio pessoal e janta; 18h - 20h: Janta, assiste televisão
(novelas e Telejornal); 23h – 23h30: Recolhe-se para dormir.
8h30: Chega ao CIAPREVI; Participa do ritual de acolhimento; faz
orações; alongamento e ouve palestra;
10h: Lancha;
10h30: Participa da dança do forró até 12h;
12h: Almoça com os demais integrantes do grupo de convivência.
quarta-feira
6h-7h: Repete o mesmo ritual de todas as manhãs; 15h -17h: Fica em
casa costurando, ou assistindo a novelas na televisão; 17h30: Prepara
um jantar ligeiro; 18h: Faz asseio pessoal e prepara o jantar da Tarde Livre. Não tem grupo de convivência em nenhum local.
família; 18h - 19h: Janta, assiste à televisão (novela e Telejornal);
23h: Recolhe-se para dormir.
quinta-feira
6h - 7h: Repete o mesmo ritual ao acordar;
17h15: Chega em casa, pois mora muito perto do Teatro S. José. Traz
pronta a sopa para jantar, que compra em um self service próximo à
sua casa; 18h: Faz asseio pessoal e janta;
23h – 23h30: Recolhe-se para dormir.
sexta-feira
sábado
8h30: Chega ao CIAPREVI; Participa do ritual de acolhimento; faz
alongamento; orações e ouve palestra;
10h: lancha com os outros idosos do grupo de convivência;
10h30-12h: participa da dança do forró;
12h: Almoça com os demais integrantes do grupo de convivência;
13h: Participa do forró dançante no CIAPREVI.
6h -7h: Repete o mesmo ritual de todas as manhãs;
9h -17h: Fica em casa fazendo todos os afazeres domésticos (lava,
Tarde Livre. Não tem grupo de convivência em nenhum local.
passa, cozinha e arruma a casa). Às vezes deita e “tira um cochilo”;
18h: Faz asseio pessoal e janta; 23h -23h30: Recolhe-se para dormir.
6h -7h: Repete o mesmo ritual de todas as manhãs;
Fica em casa o dia todo. Geralmente, recebe a visita dos filhos casados
que vão almoçar e passar o dia com ela. Isso acontece mais ou menos
duas vezes por mês; 18h: Faz asseio pessoal e janta; 23h – 23h30:
Recolhe-se para dormir.
3. Na sua comunidade e/ou em outro local
14h: Vai para a ABI. Esta entidade desenvolve uma
programação junto a idosos associados e oferece
alguns serviços médicos, entre os quais controle de
pressão arterial; 14h-15h: Faz fisioterapia com
profissionais bombeiros, nessa Instituição; 15h 16h: Participa de um bingo;
16h: Retorna para casa (Leva uma sopa pronta para
casa, às vezes, para jantar); 20h – 21h30:Vai para a
calçada da sua casa, para conversar com um grupo
fixo de amigas.
13h: Vai para casa;
Obs: Nesse dia, tem a tarde livre: Se escolher ficar
em casa, faz leituras devocionais, costura e lava as
próprias roupas; Às vezes, passa a tarde na casa da
filha casada, depois que sai do CIAPREVI, até às
16h; 16h: Retorna para casa; 20h – 21h30: Fica na
calçada da sua casa conversando com o grupo fixo de
amigas.
11h – 14h30: Vai para o Centro da cidade fazer
pagamentos, se precisar, e depois vai visitar a filha
casada, ficando em sua casa até às 14:00h;
20h – 21h30: Vai para a calçada conversar com as
amigas.
9h - 14h: Vai para o Grupo de Convivência do
Teatro São José, levando o seu aparelho de som, no
qual serão colocados os CD‟s para o grupo dançar.
Quando não vai para o forró, um vizinho leva o seu
aparelho de som e lhe devolve depois;
17h: Dança até este horário e volta para casa;
19h - 21h: Vai para a calçada conversar com as
amigas.
19h - 21h: Vai para a calçada conversar com as
amigas.
19h - 21h: Vai para a calçada conversar com as
amigas.
233
Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de D. Maria Albina
Ações da vida
cotidiana (*)
domingo
O QUE COSTUMA FAZER
1. Em casa
2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE
6h: Repete o mesmo ritual de todas as manhãs;
7h: Vai para a missa; 14h: Retorna do grupo de convivência do Bairro
João XXIII, do qual participa, aos domingos. Às vezes, recebe a visita
dos filhos casados;
18h: Faz asseio pessoal e janta.
23h – 23h30: Recolhe-se para dormir.
3. Na sua comunidade e/ou em outro local
8h: Assiste à missa; 9h: Termina a missa e se dirige
ao Grupo de Convivência do Bairro João XXIII;
12h - 14h: Lancha, almoça e dança junto aos outros
idosos do grupo;
14h: Retorna para casa.
INSTRUMENTO 2:
Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de D. Maria Albina
Ações da vida cotidiana
(*)
PLANO ESTRATÉTICO DE ROTINA SEMANAL IDEALIZADO PELOS SUJEITOS (O que retiraria e o que acrescentaria à sua vida real)
1. Em casa
2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE
3. Na sua comunidade e/ou em outro local
Manteria a mesma rotina
(rede de amigos).
Manteria a mesma rotina
(rede de amigos).
segunda-feira
Manteria a mesma rotina.
Manteria a mesma rotina.
terça-feira
Manteria a mesma rotina.
Manteria a mesma rotina.
quarta-feira
Manteria a mesma rotina.
Manteria a mesma rotina.
quinta-feira
Manteria a mesma rotina.
Manteria a mesma rotina.
sexta-feira
Manteria a mesma rotina.
Manteria a mesma rotina.
sábado
Se tivesse recitais (Por exemplo: que tivesse canto ou música
para tocar fora), ela iria. De teatro não gosta muito não.
-
-
domingo
O tempo que ela passa em casa é para aproveitar. Não
mudaria nada não...
-
-
Se tivesse outro grupo dia de quarta-feira ela iria
Manteria a mesma rotina
(rede de amigos).
Manteria a mesma rotina
(rede de amigos).
INSTRUMENTO 1:
Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de Maria Catarina
Ações da vida
cotidiana (*)
1. Em casa
5h – 5h30: Acorda, reza suas orações,/merenda, faz o seu asseio pessoal
e vem para o CIAPREVI com o marido; 13h: Faz novo asseio pessoal e
almoça, com o marido em casa; 14h - 18h: Fica em casa costurando,
fazendo pintura em tecidos; 18h30 - 19h: Reza o terço em família; 19h:
segunda-feira
Faz refeições leves (jantar) em Família;
20h: Assiste ao Jornal e à novela da Record; 22h - 23h: Recolhe-se para
dormir.
5h30: Acorda; repete a rotina desse horário e vai para o Teatro São José
com o marido, ensaiar no grupo de dança; 14h - 15h: Chega em casa;
15h - 17h: Realiza atividades de costura e outros serviços domésticos;
terça-feira
18h30 - 19h: Reza o terço em família; 19h: Faz refeições leves de
jantar; 20h: Assiste ao Jornal e à novela da Record; 22h - 23h: Recolhese para dormir.
5h30: Acorda; repete a rotina desse horário e vai para o CIAPREVI com
o marido; 12h: Almoça em casa com o marido; 12h30: Descansa ½
hora; 13h - 18h: Realiza atividades de costura e outros serviços
quarta-feira
domésticos; 18h30 - 19h: Reza o terço em família; 19h: Faz refeições
leves de jantar; 20h: Assiste ao Jornal e à novela da Record; 22h – 23h:
Recolhe-se para dormir.
quinta-feira
sexta-feira
O QUE COSTUMA FAZER
2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE
3. Na sua comunidade e/ou em outro local
8h – 8h30: Chega ao CIAPREVI com o marido para ensaiar com o
11h: Retorna para casa com o marido, após o
grupo de dança;
ensaio do grupo de chorinho no CIAPREVI.
11h: Termina o ensaio da dança
11h: Após o ensaio dirige-se ao CIAPREVI, onde só consegue
alcançar o horário da dança de forró. (Não dá tempo de ouvir a
8h – 8h30: Chega ao Teatro São José com o
palestra de cidadania; Almoça no CIAPREVI com os demais idosos
marido.
do grupo e o marido; 12h: Almoça; 13h: Dirige-se com o marido
para casa.
8h – 8h30: Chega ao CIAPREVI com o marido para ensaiar com o
grupo de dança;
11h: Retorna para casa com o marido.
-
8h_8h30: Chega ao Teatro S. José para
ensaiar;
11h: Termina o ensaio e se dirige com o
marido para o CIAPREVI;
13h30: Dirige-se ao Teatro S. José com o
marido para participar do forró. Descansam
5h30: Acorda; repete a rotina desse horário e vai para o Teatro S. José 8h30 - 11h: Chega com o marido ao CIAPREVI, para participar da
um pouco antes de começarem essa atividade;
com o marido para ensaiar a dança;
reunião do grupo de convivência. Não dá tempo de assistir à
14h - 17h: Participam do forró.
18h – 18h30: Chegam de volta em Casa; 18h30: Faz o seu asseio palestra sobre cidadania;
Ao mencionar a sua participação em um
pessoal e vai rezar o terço em família;
11h - 12h: Participa do forró;
evento no Centro Dragão do Mar, diz que
19h - 20h: Janta com a família; 20h: Assiste à televisão;
12h: Almoça com o marido e os outros idosos no CIAPREVI;
presenciou um idoso falecer enquanto
23h: Recolhe-se para dormir.
13h: Volta a participar do forró.
dançava. Desde então acha que no CIAPREVI
deveria ter uma enfermeira para tirar pressão...
“Porque hoje em dia todo mundo tem pressão
alta... Se tivesse um aparelho para tirar pressão
nesses locais, a pessoa poderia tomar um
remédio e evitar, né?
5h30: Acorda; repete a rotina desse horário Prepara o almoço e faz todas
as Atividades domésticas o dia todo;
12h. Almoça; 14h - 18h: Faz tarefas domésticas; 18h30: terço em
família; 19h-20h: Janta com a família; 20h - 22h: Assiste à televisão;
23h: Recolhe-se para dormir.
235
Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de Maria Catarina
O QUE COSTUMA FAZER
Ações da vida
cotidiana (*)
1. Em casa
2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE
5h30: Acorda; repete a rotina desse horário Prepara o almoço e faz todas
as Atividades domésticas o dia todo; 12h: Almoça; 14h - 18h: Faz
tarefas domésticas; 18h30: terço em família; 19h - 20h: Janta com a
sábado
família; 20h - 22h: Assiste à televisão; 23h: Recolhe-se para dormir.
(Segue a mesma rotina do dia anterior)
5h30:; Acorda; repete a rotina desse horário;
7h – 8h: Sai de casa com o marido para a missa; 9h - 12h: Faz o almoço
e outros serviços domésticos; Recebe os filhos em casa; 15h: Vai para o
domingo
Forró “Casa Cheia”, com o marido;
18h30: terço em família; 19h - 20h: Janta com a família;
20h - 22h: Assiste à televisão; 23h: Recolhe-se para dormir.
3. Na sua comunidade e/ou em outro local
-
8h30: Assiste à missa com o marido;
15h - 18h: Vai para uma Casa de Lazer do
Bairro “Casa Cheia”, para dançar forró com o
marido;
18h: Retornam para casa com o marido.
INSTRUMENTO 2:
Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de Maria Catarina
PLANO ESTRATÉTICO DE ROTINA SEMANAL IDEALIZADO PELOS SUJEITOS (O que retiraria e o que acrescentaria à sua vida real)
Ações da vida cotidiana (*)
1. Em casa
2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE
3. Na sua comunidade e/ou em outro local
segunda-feira
Manteria a rotina: “Na idade da gente não dá pra fazer muita Sugere inclusão de atividades de saúde no CIAPREVI-CE, mas
Manteria a rotina
manteria a rotina no grupo de convivência de idosos desse centro
coisa não, né?”
terça-feira
Manteria a rotina
Manteria a rotina
Manteria a rotina
quarta-feira
Manteria a rotina
Manteria a rotina
Manteria a rotina
quinta-feira
Manteria a rotina
Manteria a rotina
Manteria a rotina
sexta-feira
Manteria a rotina
Manteria a rotina
Manteria a rotina
sábado
Manteria a rotina
Manteria a rotina
Manteria a rotina
domingo
Manteria a rotina
Manteria a rotina
Manteria a rotina
INSTRUMENTO 1:
Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de D. Maria Amélia
Ações da vida cotidiana (*)
segunda-feira
terça-feira
quarta-feira
quinta-feira
1. Em casa
O QUE COSTUMA FAZER
2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE
3. Na sua comunidade e/ou em outro local
07h – 8h30: Percurso de casa para o CIAPREVI;
12h - 13h: Percurso para o outro grupo de
convivência;
3h-7h: Acorda e prepara o café da manhã/alimenta os
13h: Chega à ABI. Esta entidade disponibiliza
8h30 - 11h: Chega ao CIAPREVI e participa do ensaio do
passarinhos (22 passarinhos), Faz seu asseio
serviços médicos de controle de pressão arterial e de
grupo de folclore;
pessoal/toma um café reforçado;
um
profissional
que
ministra
palestras
11h: Termina o ensaio e se dirige para almoçar em um
19h-20h: Janta em casa;
socioeducativas,
preparando
eventos
de
restaurante do centro porque tem outro grupo de convivência
20h-21h: Assiste o jornal na televisão;
confraternização o ano todo;
à tarde p/ participar;
21h: Recolhe-se para dormir. Reza o terço antes de
14h - 15h: Faz fisioterapia com profissionais
12h: Almoça.
dormir.
bombeiros;
15h: Participa de um bingo. 16h - 17h: Retorna para
casa (Leva uma sopa pronta para casa, às vezes);
17h – 18h30 - 19h: Percurso do grupo para casa.
3h-7h: Repete o mesmo ritual ao acordar; Passa o resto
da tarde em casa, cuidando de suas atividades pessoais
(o seu quarto é o seu refúgio principal). Lava e passa 8h30: Chega ao CIAPREVI; Participa apenas das atividades
9h: Chega ao grupo de convivência do Teatro São
ainda suas roupas, mas não tem obrigação com o iniciais do grupo (acolhimento; orações; alongamento;
Jose;
preparo das refeições da família, que ficam por comunica a Frequência e segue para outro grupo de
11h: ensaia os números folclóricos e volta para o
conta da filha que mora com ela; 7h: Vai para o convivência no Teatro São José; 12h: Almoça com os demais
CIAPREVI;
CIAPREVI; 14h30-15h: Chega em casa do integrantes do grupo de convivência. 13h30: Deixa o
13h30 - 15h: Percurso para casa
CIAPREVI; 18h - 21h: Janta, assiste Jornal, faz CIAPREVI e vai para casa.
afazeres de interesse pessoal ; 21h: Recolhe-se para
dormir. Reza o terço antes de dormir.
3h - 7h: Repete o mesmo ritual de todas as manhãs;
13h: Chega em casa do CIAPREVI e almoça. Arruma
“suas coisas”: O seu quarto é o cofre da casa, ninguém 8h30: Chega ao CIAPREVI para ensaiar danças folclóricas. 11h: Vai para casa;
viola, porque tem cadeado na porta; 18h - 21h: Janta, Permanece no local até às 11h.
11h - 13h: Percurso do CIAPREVI para casa.
assiste à televisão (novela e Jornal); 21h: Recolhe-se
para dormir. Reza o terço antes de dormir.
3h-7h: Repete o mesmo ritual ao acordar; 7h: Vai para
9h: Desloca-se para o ensaio do grupo de folclore do
8h30: Chega ao CIAPREVI; Participa das atividades de
Teatro São José, onde permanece até às 11h; 11h:
o grupo de convivência237
do CIAPREVI; 19:00h: Chega
acolhimento; orações, faz alongamento;
em casa de volta dos grupos de convivência;
Retorna ao CIAPREVI; 13h: Desloca-se para o
12h: Almoça no CIAPREVI.
19h-21h: Janta, assiste ao Jornal na televisão;
Teatro São José; 13h30 - 17h: Participa do forró
13h: Vai para dançar no grupo de convivência do Teatro São
21h: Recolhe-se para dormir. Reza o terço antes de
dançante no Teatro São José; 17h - 17:30h: Sai do
José
dormir.
Teatro para casa;
18h30 - 19h: Percurso do Teatro para casa.
237
Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de D. Maria Amélia
Ações da vida cotidiana (*)
sexta-feira
sábado
domingo
1. Em casa
3h-7h: Acorda e segue a mesma rotina dos outros dias;
7h: Vai para o CIAPREVI ensaiar as danças folclóricas;
13h - 14h: Chega em casa para o almoço; Passa a tarde
cuidando dos seus afazeres pessoais;
18h - 21h: Janta, assiste ao Jornal na televisão;
21h: Recolhe-se para dormir. Reza o terço antes de
dormir.
3h-7h: Repete o mesmo ritual de todas as manhãs; Fica
em casa o dia todo. Arruma suas coisas (lava suas
roupas e passa suas roupas);
18h - 21h: Janta, assiste ao Jornal na televisão. Reza o
terço antes de dormir;
21h: Recolhe-se para dormir. Reza o terço antes de
dormir.
3h-7h: Repete o mesmo ritual de todas as manhãs; À
tarde vai para um grupo de convivência no Bairro João
XXIII; 14h: Chega em casa;
19h-21h: Janta, assiste ao Jornal na televisão. Reza o
terço antes de dormir;
21: Recolhe-se para dormir.
O QUE COSTUMA FAZER
2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE
3. Na sua comunidade e/ou em outro local
Não faz nenhuma atividade comunitária no bairro ou
em outro local. Demonstrou levar uma vida
totalmente apartada da dos vizinhos que moram
próximo à sua casa, referindo que todo mundo me
8h30: Chega ao CIAPREVI para o ensaio do grupo conhece e todo mundo gosta de mim, mas que era ela
folclórico;
na casa dele e eles nas deles . “Não,não,não,não,não,
toda vida eu fui assim...”
11h: Termina o ensaio e dirige-se para casa.
As atitudes arredias de D. Alzira podem ser atribuídas
ao fato de ter vivenciado traumas de violências
cometidas contra seus familiares próximos,
acarretando tragédias
-
Não faz nenhuma atividade no bairro ou em outro
local
-
8h: Vai para a missa; 9h: Termina a missa e se dirige
ao Grupo de Convivência do Bairro João XXIII;
12h - 14h: Lancha, almoça e dança junto aos outros
idosos do grupo; 14h: Retorna para casa.
238
INSTRUMENTO 2:
Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de D. Maria Amélia
Ações da vida cotidiana (*)
PLANO ESTRATÉTICO DE ROTINA SEMANAL IDEALIZADO PELOS SUJEITOS (O que retiraria e o que acrescentaria à sua vida real)
1. Em casa
2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE
3. Na sua comunidade e/ou em outro local
Manteria a rotina e ainda acrescentaria a
participação em novos grupos. Não pensa em
interagir com a vizinhança. Diz que sempre foi
retraída e não gosta de conversa com ninguém da
rua. “São eles na casa deles e ela na dela”.
Não teria nada a acrescentar em suas atividades semanais em
casa. Gostaria de ter a saúde e seus filhos junto de si... (Mas
ressalta: Eu tenho saúde!... Mas é só isso que eu queria...
-
terça-feira
Manteria a rotina
Repetiria a rotina de danças e ballet no CIAPREVI.
Obs: Salienta que tem muita vontade de se engajar nas
atividades de alfabetização no CIAPREVI (para ler e
escrever). Contudo, como teria que deixar de dançar para se
engajar nessas atividades, prefere continuar fazendo
atividades de dança que são as que mais gosta de fazer entre
todas.
Manteria a rotina
quarta-feira
Manteria a rotina
Manteria rotina
Manteria a rotina
quinta-feira
Manteria a rotina
Manteria a rotina
Manteria a rotina
sexta-feira
Manteria a rotina
Manteria a rotina
Manteria a rotina
sábado
Manteria a rotina
Obs.: Sente muita falta do grupo de convivência do
CIAPREVI nos fins de semana, mas ressalta que não sente
tristeza e enfatiza: “Não, comigo não tem essas coisas de
tristeza não...”
-
domingo
Manteria a rotina
-
-
segunda-feira
INSTRUMENTO 1:
Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de D. Mírian
Ações da vida
cotidiana (*)
O QUE COSTUMA FAZER
1. Em casa
segunda-feira
6h: Acorda e toma metodicamente o remédio
prescrito pelo médico; Faz um lanche matinal (suco
ou vitamina feitos pela filha c/bolachas);
6h30: Vai regar suas plantas; 6h-7h: Faz seu asseio
pessoal; 7h: Vai para o CIAPREVI;
17h: Chega em casa e faz pequenos serviços, como
lavar a louça que estiver na pia; 17h30: varre a área
da casa;
18h: janta refeições leves (sopa ou mingau de
aveia);
18h30 - 20h: Vê televisão e assiste aos noticiários;
20h: Vai dormir.
terça-feira
6h - 7h: Repete a mesma rotina em casa e sai para o
CIAPREVI;
16h: Chega em casa de volta do CIAPREVI
18h: janta refeições leves (sopa ou mingau de
aveia);
18h30 - 20h: Vê televisão e assiste aos noticiários;
20h: Vai dormir.
quarta-feira
quinta-feira
2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE
7h30: Chega CIAPREVI fazendo o percurso a pé, pois sua casa é bastante próxima ao centro;
7h30 – 11h30: Ajuda nos serviços da cozinha do centro (corta verduras, cata feijão e serve café
nas salas dos servidores;
12h: Almoça no CIAPREVI; 13h: Serve café nas salas dos servidores;
13h30 - 14h – 16h30: continua a fazer pequenos serviços na cozinha do CIAPREVI e inclusive
iniciando os preparativos do almoço que será servido aos idosos no dia subsequente, terça-feira;
16h30: A filha vem apanhá-la e a leva para casa.
7h30: Chega ao CIAPREVI; 8h: Começa suas atividades no salão do grupo de idosos “como
DJ” (coloca as músicas do forró); 8h30 – 9h30: Participa da Acolhida, Orações, atividade de
alongamento e assiste à palestra proferida por profissionais do CIAPREVI;
10h: Lancha com os outros idosos do grupo; 10h30 - 12h: Controla a seleção musical e se
encarrega de colocar as músicas para o forró dançante; 12h: Almoça com os demais idosos do
grupo de convivência; 13h - 14h: Controla o forró dançante; 14h – 14h30: Encerram-se as
atividades do grupo. Ela permanece ajudando no Centro. Tarde: Repete a mesma rotina de 2ª
Feira, à tarde, no CIAPREVI.
6h: Acorda Repete a mesma rotina em casa; 7h: Vai 7h30: Chega ao CIAPREVI; 7h30 – 11h30: Ajuda nos serviços da cozinha do centro (corta
para o CIAPREVI; 16h: Retorna para casa;
verduras, cata feijão e serve café nas salas dos servidores; 12h: Almoça;13h- Serve café nas
18h: Janta refeições leves (sopa ou mingau de salas dos servidores; 13h30 – 16h30: continua a fazer pequenos serviços na cozinha do
aveia);
CIAPREVI e inclusive iniciando os preparativos do almoço que é servido aos idosos no dia de
18h30 - 20h: Vê televisão e assiste aos noticiários; funcionamento dos grupos (às terças e quintas-feiras);
20h: Vai dormir.
16h30: A filha vem apanhá-la e a leva para casa.
6h - 7h: Repete a mesma rotina em casa e sai para o
CIAPREVI;
8h30 – 7h30: Chega ao CIAPREVI; 8h: Começa suas atividades no salão do grupo de idosos
160h: Chega em casa de volta do CIAPREVI
como DJ (coloca as músicas do forró); 8h30 – 9h30: Participa da Acolhida, Orações, das
18h: janta refeições leves (sopa ou mingau de atividades de alongamento e assiste à palestra proferida por profissionais do grupo; 10h: lanche
aveia);
dos idosos; 10h30 - 12h: Forró dançante; 12h: Almoço com os demais idosos do grupo de
18h30 - 20h: Vê televisão e assiste noticiários;
convivência; 13h - 14h- Forró dançante; Tarde: Repete a mesma rotina dos outros dias.
20h: Vai dormir.
3. Na sua comunidade e/ou em
outro local
-
-
-
-
240
Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de D. Mírian
Ações da vida
cotidiana (*)
sexta-feira
O QUE COSTUMA FAZER
1. Em casa
6h: Repete a mesma rotina em casa e sai para o
CIAPREVI;
16h: Chega em casa de volta do CIAPREVI;
18h: Serve-se de uma refeição leve, como de
costume;
20h: Vai para o seu habitual lazer cultural, no
“Mercado das Artes”, onde se encontra
semanalmente com amigos, às sextas-feiras; (Assiste
à tradicional show de chorinho, e à apresentação de
cantores da terra); 23h – 23h30: Volta para casa e se
recolhe para dormir.
3. Na sua comunidade e/ou em
outro local
Participa, numa roda de amigos, do
tradicional show de chorinho,, onde
7h30: Chega ao CIAPREVI; 7h30 – 11h30: Ajuda nos serviços da cozinha do centro (corta
se apresentam cantores da terra
verduras, cata feijão e serve café nas salas dos servidores;
profissionais e amadores;
12h: Almoça no CIAPREVI; 13h: Serve café nas salas dos servidores;
11h – 11h30: Volta para casa e se
13h30 – 16h30: continua a fazer pequenos serviços na cozinha do CIAPREVI e inclusive
recolhe para dormir.
iniciando os preparativos do almoço que será servido aos idosos na semana seguinte, durante o
funcionamento dos grupos (às terças e quintas-feiras);
16h30: A filha vem apanhá-la e a leva para casa.
2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE
sábado
6h: Acorda no mesmo horário e repete os mesmos
afazeres domésticos;
Tarde: Lazer cultural e cuidados pessoais;
Assiste aos programas de televisão de que gosta;
Ouve música;
22h: Volta para casa e se recolhe para dormir.
-
domingo
6h: Acorda no mesmo horário e repete os mesmos
afazeres domésticos.
-
Vai fazer as unhas na manicure;
Noite: Almoça fora com a filha e
amigos;
18h: Janta. 19h: Vai assistir a
peças de teatro com a filha e
amigos.
(Repete
a
mesma
programação
ininterruptamente,
porque aprecia teatro e a filha
trabalha no teatro).
12h: Almoça fora com a filha e
amigos.
(Eventualmente passa os fins de
semana na praia)
241
INSTRUMENTO 2:
Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de D. Mírian
PLANO ESTRATÉTICO DE ROTINA SEMANAL IDEALIZADO PELOS SUJEITOS (O que retiraria e o que acrescentaria à sua vida real)
Ações da vida
3. Na sua comunidade e/ou em
cotidiana (*)
1. Em casa
2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE
outro local
Não retiraria nenhuma atividade de sua vida cotidiana.
Manteria a rotina
Manteria a rotina
terça-feira
Manteria a rotina
Ressalta que também não acrescentaria novas atividades à sua rotina diária,
dizendo que sua vida já é muito boa.
Manteria a rotina
quarta-feira
Manteria a rotina
Manteria a rotina
Manteria a rotina
quinta-feira
Manteria a rotina
Manteria a rotina
Manteria a rotina
sexta-feira
Manteria a rotina
Manteria a rotina
Manteria a rotina
Afirma que, eventualmente, viaja para passear na praia ou visitar
familiares em outros estados e não tem necessidade de acrescentar Manteria a rotina
novos lazeres em sua rotina.
Manteria a rotina
Manteria a rotina
Manteria a rotina
segunda-feira
sábado
domingo
Manteria a rotina
242
INSTRUMENTO 1:
Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de D. Maria Alice
O QUE COSTUMA FAZER
Ações da vida cotidiana (*)
segunda-feira
terça-feira
quarta-feira
quinta-feira
sexta-feira
1. Em casa
4h30 - 5h: Acorda e começa a rezar o terço. Em seguida, reza orações
devocionais; 6h: Termina de rezar, faz seu asseio pessoal prepara o café da
manhã seu e da filha; 7h: Termina de tomar o café matinal e começa a preparar
o almoço sozinha. Depois a filha vem ajudá-la. Diz que gosta muito de fazer
essas atividades domésticas. 7h - 12h: Cozinha e faz “colcha de fuxico”, com a
qual irá presentear a filha. 12h: Almoça com a filha; 16h30: Fica em casa até
esse horário; 18h: Janta refeições leves. 19h30: Assiste a programas de
televisão ou, geralmente, lê um livro (Relata, satisfeita, que tanto ela quanto os
irmãos aprenderam a ler sozinhos, porque moravam em uma cidade praiana do
Interior que não tinha escolas. É, portanto, autoditada); 21h30-22h: Recolhe-se
para dormir.
4h30 - 5h: Acorda e repete a rotina inicial do dia; 7h: Termina de tomar o café
matinal e começa a preparar para participar do grupo de convivência do
CIAPREVI; 12h: Almoça com a filha. 13h - 15h: Fica em casa, fazendo
serviços domésticos; 18h: Janta com a filha e/o neto, às vezes; 19h30: Assiste
aos programas de televisão de sua preferência ou, geralmente, lê um livro.
21h30 - 22h: Recolhe-se para dormir.
4h30 - 5h: Acorda e repete a rotina da segunda-feira. 7h: Termina de tomar o
café matinal e começa a preparar o almoço. 7h - 12h: Prepara o almoço e borda
a “colcha de fuxico”. 12h: Almoça com a filha; 16h30: Vai ministrar a
Eucaristia em paroquianos idosos que não podem mais ir à Igreja; 19h30:
Volta para casa para jantar; Assiste a programas de televisão ou, geralmente, lê
um livro; 21h30 - 22h: Recolhe-se para dormir.
4h30 - 5h: Acorda e segue a rotina de todos os dias; 6h: Termina de rezar, faz
seu asseio pessoal e Começa a preparar o café da manhã seu e da filha. 7h:
Termina de tomar o café matinal e começa a preparar ir participar do grupo de
convivência no CIAPREVI; 12h: Almoça com a filha. 13h - 15h: Fica em
casa, fazendo serviços domésticos; 16h30 - 17h: Faz suas colchas de fuxico;
19h30: Assiste aos programas de televisão de sua preferência ou, geralmente,
lê um livro; 21h30 - 22h: Recolhe-se para dormir.
4h30 - 5h: Acorda e repete a rotina dos outros dias da semana. 7h: Termina de
tomar o café matinal e começa a preparar o almoço. A filha costuma ajudá-la
na cozinha; 7h - 12h: Cozinha e faz “colcha de fuxico”, com a qual irá
presentear a filha. 12h: Almoça com a filha; 13h - 150h: Fica em casa, fazendo
serviços domésticos; 19h30: Assiste aos programas de televisão do seu agrado
ou, geralmente, lê um livro;
21h30 - 22h: Recolhe-se para dormir.
2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE
3. Na sua comunidade e/ou em
outro local
-
17h: Assiste à missa na Igreja de sua
Paróquia;
18h: Retorna para casa. Obs.: Uma
vez por mês faz reuniões de catequese
com os pedintes do bairro, prestandolhes orientação religiosa;
8h - 10h: Chega ao CAPREVI e ajuda nas tarefas da
cozinha do Centro; 10h: Participa da aula de computação
no CIAPREVI; 11h: Termina a aula de computação.
Retorna para casa, para adiantar o almoço seu e da filha.
15h - 16h: Participa da Pastoral do
Idoso em sua paróquia;
17h: Participa da missa na sua
paróquia.
-
16h30h: Vai prestar serviços
religiosos em sua paróquia. 17h:
Participa da missa; 18h: Prossegue
a rotina religiosa, indo participar da
reza do terço em casas do
bairro.19h30: Retorna para casa
8h - 10h: Chega ao CIAPREVI e ajuda nas tarefas da
cozinha do Centro. 10h: Participa da aula de computação
no CIAPREVI; 11h: Termina a aula de computação.
Retorna para casa para adiantar o almoço seu e da filha.
17h: Assiste à missa na Paróquia do
bairro;
17h30 – 19h30: Participa de uma
reunião religiosa semanal das servas
paroquianas; 19h30: Volta para casa
para jantar.
-
15h - 16h: Assiste à reunião da
Pastoral do Carente Na paróquia do
bairro. Nessas reuniões são feitos
estudos bíblicos com pessoas simples
do bairro. 17h: Assiste à missa na
paróquia do bairro; 18h: Retorna para
casa para jantar com a filha e/o neto.
243
Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de D. Maria Alice
O QUE COSTUMA FAZER
Ações da vida cotidiana (*)
1. Em casa
2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE
sábado
4h30 - 5h: Acorda e cumpre sua rotina diária do começo do dia 7h: Termina
de tomar o café matinal e começa a preparar o almoço; 7h - 12h: Cozinha e
borda a “colcha de fuxico”; 12h: Almoça com a filha. 13h – 16h30: Fica em
casa, fazendo serviços domésticos; 19h30: Assiste a programas de televisão de
que gosta ou, geralmente, lê um livro ; 21h30 - 22h: Recolhe-se para dormir.
domingo
4h30 - 5h: Acorda e repete a rotina. 7h: Termina de tomar o café matinal e se
prepara para ir à missa dominical; 13h - 18h: Volta das atividades religiosas,
almoça com a família e realiza atividades domésticas e de lazer; 18h: Janta
com a filha e/o neto, às vezes; 19h30: Assiste aos programas de televisão que
aprecia ou, geralmente, lê um livro; 21h30 - 22h: Recolhe-se para dormir.
-
-
3. Na sua comunidade e/ou em
outro local
17h: Assiste à missa na paróquia do
bairro;
18h: Retorna para casa para jantar
com a filha e/o neto, às vezes.
8h - 9h: Assiste à missa;
Obs.: No 1º, 3º e 5º domingo de
cada mês, participa de uma reunião
religiosa em sua paróquia.
10h: Ministra a Eucaristia a uma
senhora de Idade do bairro; 12h:
Retorna para almoçar em casa.
INSTRUMENTO 2:
Nome do sujeito: Quadro Sintético Relatório de D. Maria Alice
PLANO ESTRATÉTICO DE ROTINA SEMANAL IDEALIZADO PELOS SUJEITOS (O que retiraria e o que acrescentaria à sua vida real)
Ações da vida
cotidiana (*)
1. Em casa
2. No grupo de convivência do CIAPREVI-CE
3. Na sua comunidade e/ou em outro local
Diz que não mudaria a rotina.
“A única coisa que eu tinha mais vontade na minha
vida, era que a minha filha viesse na minha casa, pra eu Não mudaria nada da sua rotina “Quando eu era jovem,
dizer assim: Deus te abençoe.” Com lágrimas nos olhos, e gostava muito de pastoril... Mas enfatiza: Mas esse tempo
Não mudaria nada da sua rotina
segunda-feira
visivelmente emocionada, disse que gostaria de se já passou”.
reaproximar da filha, que é mãe do neto que mora em casa
com ela e a outra filha (solteira, mas a quem o rapaz
considera mãe).
terça-feira
Não mudaria nada da sua rotina
Não mudaria nada da sua rotina
quarta-feira
Não mudaria nada da sua rotina
quinta-feira
Não mudaria nada da sua rotina
Não mudaria nada da sua rotina
Não mudaria nada da sua rotina
sexta-feira
Não mudaria nada da sua rotina
Não mudaria nada da sua rotina
Não mudaria nada da sua rotina
sábado
Não mudaria nada da sua rotina
Não mudaria nada da sua rotina
Não mudaria nada da sua rotina
domingo
Não mudaria nada da sua rotina
Não mudaria nada da sua rotina
Não mudaria nada da sua rotina
Não mudaria nada da sua rotina
Não mudaria nada da sua rotina
Não mudaria nada da sua rotina