a revista da agropecuária

Transcrição

a revista da agropecuária
A REVISTA DA AGROPECUÁRIA
Ano 4 - Nº 14 - 5,00€
julho | agosto | setembro 2014 (trimestral)
Diretor: Nuno Marques
www.revista-ruminantes.com
aAa®, sistema de análise de vacas
leiteiras QUE VEIO PARA FICAR
Crescimento de Novilhas
Holstein Friesian
Informação fornecida pelo
contraste leiteiro
EDITORIAL
edição nº14
julho | agosto | setembro 2014
DE ENTREGADOR
A FORNECEDOR
Diretor
Nuno Marques
| [email protected]
“Nada na vida tem que ser receado mas sim
compreendido. Agora é a altura de compreender
melhor, para podermos recear menos”. (Marie Curie)
Já falta pouco tempo para que o regime de quotas leiteiras chegue
ao fim. Porém, a poucos meses de enfrentar uma nova realidade, na
generalidade dos casos as novas modalidades de gestão do volume de
leite entre produção e indústria ainda estão por definir. O que na prática
significa que o produtor possa não vir a ter um comprador garantido para
o leite da próxima campanha.
É neste momento que os produtores devem, se ainda não o fizeram,
acautelar a sua situação perante os compradores atuais ou futuros, não
adiando o assunto. Porque, ainda que não fique tudo definido para 2015,
será difícil mudar aquilo que agora se estabelecer. É bom lembrar, uma
vez mais, que faltam menos de 9 meses para o fim das quotas, e que
qualquer alteração programada numa exploração de vacas leiteiras deve
ser feita com um ano de antecedência.
Não é fácil apreender todas as mudanças que poderão acontecer. O
discurso em torno deste tema está por norma envolto numa aura trágica
em que a maior competitividade dos países do norte da Europa e a
quebra do preço do leite são pressupostos sempre presentes. Porém,
ouve-se pouco sobre o que se deve tentar fazer e os cenários que
se colocarão aos produtores em face das novas regras. Gostando ou
não, estaremos em breve num mundo sem gestão administrativa dos
volumes de leite e sem enquadramento interprofissional do preço.
O que muda nas negociações e relações comerciais dos produtores com
as empresas privadas e cooperativas, com o fim das quotas?
As relações com a indústria devem ser abordadas com um novo
estado de espírito. Com as empresas privadas, devem ser construídas
verdadeiras relações comerciais: os produtores passam de entregadores
a fornecedores de leite de um cliente. Isto muda tudo.
Com as cooperativas, os produtores vão ter que se envolver na estratégia.
Os responsáveis das organizações de produtores e as direções das
cooperativas têm uma pesada responsabilidade, precisam de ter todos
os produtores com eles para esta mudança. Na verdade, se tudo correr
normalmente, os produtores não vendem simplesmente o leite à
cooperativa, mas confiam nela para que o possa valorizar o melhor possível.
Os produtores terão cada vez mais que saber colocar-se no papel de
fornecedores de um ou mais clientes, ou até de uma transformação
de leite própria. Terão que negociar com bastante antecedência os
contratos, contemplando o volume máximo e mínimo a fornecer por
dia, a qualidade do leite e os processos e regras de produção de acordo
com um possível caderno de encargos... Um ano será o prazo necessário
para se poderem estabelecer objectivos de produção. É desejável que
os produtores sejam parceiros da indústria e trabalhem em sintonia
com ela. E que percebam que estão num mercado concorrencial, pois a
indústria vai seguramente preferir trabalhar com aqueles que melhor se
adaptarem aos seus requisitos.
Nuno Marques
Colaboraram nesta edição
Alexandre Arriaga e Cunha; A R. Cabrita; Ana Barradas; Ana
Gomes; Ana Paula Peixoto; Ana Ramos; Ana Rita Diniz; Ana
Vieira; António Cannas; António Godinho; António Moitinho;
Carlos Cruz; Carlos Vouzela; Daniel Lopes; Francisco Marques;
George Stilwell; Gonçalo Martins; Hugo Sousa; IACA; Inês
Ajuda; Jan Schilder; João Mateus; João P. Carneiro; Joaquim
Cerqueira; José Araújo; José Caiado; José Santoalha; José
Silvestre; Lopes Jorge; Luís Queirós; Manuel Rovisco; Maria
Luísa Ferrão; Miguel Neves Lima; Nuno Simões; Nuno Sobral;
Paulo Costa e Sousa; Pedro Castelo; Ricardo Bexiga; Rien
Louwes; Rosemay Carvalho; Sofia de Menezes; Teresa Santos;
Tereza Moreira; Walter Liebregts; Zacaya.
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ruminantes julho . agosto . setembro 2014 3
Índice
Alimentação
30 Repiso de tomate na alimentação de
vacas aleitantes
33 Alimentos líquidos
34 Misturas “Unifeed” para vacas leiteiras
40 Efeito do calor em vacas leiteiras
CONHEÇA A LEI
76 Transporte de animais vivos
ENTREVISTA
14 A Alimentação no topo das
prioridades
50 A qualidade do queijo associada à
estabilidade da alimentação
62 A vaca Procross na Holanda
08
aAa®, sistema de análise de vacas
leiteiras QUE VEIO PARA FICAR
Este sistema ajuda os produtores de leite a melhorar a raça dos animais, analisando
como todas as partes do corpo do animal funcionam em conjunto como um todo.
ECONOMIA
44 Observatório de matérias primas
46 Observatório do leite
48 Índice VL
EQUIPAMENTO
74 Conforto e longevidade dos animais
forragens
18 Fenosilagens e feno
22 Protaplus, mais proteína na sua
exploração!
26 O gado merece, a terra agradece!
opinião
12 O homem é o único mamífero que
bebe leite na idade adulta, porquê?
PASTAGEM
36 Como melhorar a disponibilidade e
durabilidade da pastagem
54
58
Crescimento de Novilhas
contraste leiteiro
64 Orientações para avaliação de risco
66 Mas afinal o que é a cetose?
A antecipação da idade à puberdade das
novilhas permite a redução dos custos
de produção.
Uma excelente ferramenta para
monitorizar várias áreas de interesse
numa exploração leiteira.
68 Hidroterapia
71 A castração
SAÚDE E BEM-ESTAR ANIMAL
72 Clamidíase em pequenos ruminantes
boletim de assinatura
1 ano, 4 exemplares
dados pessoais
Portugal: 20,00 €
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Europa: 60,00 €
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NIB: 0032 0111 0020 0552 3997 7
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ruminantes julho . agosto . setembro 2014 5
atualidades
Farm Bill 2014-2018 incentiva
produção de leite
A nova lei agrícola, aprovada
em 2014 e que regulará o
setor agrícola norte-americano
nos próximos cinco anos,
sofreu grandes alterações
que consistiram sobretudo na
abolição integral das ajudas
diretas aos agricultores. Estas
verbas foram canalizadas para
fundos de seguros e seguradoras
que oferecem proteção aos
produtores quando estes
sofrerem prejuízos. A lei agrícola
americana abandona assim o
mecanismo das ajudas diretas,
que vigorou no país durante
dezoito anos, e que consistia
na atribuição de uma ajuda ao
produtor independentemente do
lucro e da produção.
Conscientes das oportunidades
de mercado do setor do leite,
os americanos criaram um
dispositivo de segurança que
assegura uma margem mínima
paga ao produtor no sentido de
incentivar a produção e premiar
o risco que resulta da atividade.
A margem “protecionista” é
calculada mensalmente, pelo
Departamento de Agricultura
dos E.U.A. (USDA) em função
do preço do leite e do custo
dos alimentos dados aos
animais. Mediante esta análise,
os produtores de leite decidem,
mediante os riscos que pensam
que irão correr, se subscrevem
o seguro e escolhem o nível de
cobertura. A margem mínima é
de 4 dólares por 50 kg, ou seja,
62€ por 1000 litros de leite mas
os produtores podem optar por
coberturas que vão até 8 dólares
por 50 kg. Nestes casos, o Estado
financia apenas uma parte.
Ralph Ichter, consultor das
organizações agrícolas francesas
nos E.U.A, acredita que em média
os produtores de leite irão optar
por coberturas na ordem dos
6 a 7 dólares por 50 kg, o que
se traduz quase no dobro da
margem mínima. Assim, com
este novo sistema o produtor
americano é incentivado a
produzir com vista a aumentar
o lucro da sua empresa e, em
cenários menos favoráveis,
que comprometam a atividade
agrícola que desenvolve, tem
uma garantia de proteção que
pode ser acionada.
Nutreco cria Compound
Feed & Meat Iberia
O grupo Nutreco deu por terminadas as negociações que
anunciavam um possível desinvestimento nos negócios
de rações e carne na Península Ibérica. Depois de uma
avaliação dos resultados atingidos em Portugal e Espanha, a
direção decidiu criar uma unidade de negócio independente
denominada Compound Feed & Meat Iberia que inclui algumas
das empresas líderes no mercado espanhol como a Sada, que
comercializa produtos de carne de aves com uma quota de
26%, a Nanta presente em Espanha e em Portugal, com uma
quota de 13% na área dos alimentos compostos, e a Inga Food,
vocacionada para a criação de porcos e para outras actividades
comerciais em Espanha. A nova unidade, liderada por Javier
Rodriguez Ceballos, espera
atingir resultados acima dos
verificados no primeiro semestre
de 2013, que se traduziram em
Para mais informações
13,8 milhões de euros.
www.nutreco.com
6 julho . agosto . setembro 2014 Ruminantes
Acordo entre UE e
Mercosul pode afetar
setor bovino irlandês
A Associação de Produtores Rurais da Irlanda está
preocupada com a proposta levada a cabo pela
Comissão Europeia no que respeita ao acordo comercial
entre a União Europeia e a Mercosul. Qualquer tentativa
de aumentar as quotas de importações de carne bovina
constitui uma ameaça grave para o setor produtivo
e agro-alimentar irlandês. Segundo a euro deputada
irlandesa, Marian Harkin, a produção e exportação
pecuária europeia e, em particular, a irlandesa, sairá
gravemente prejudicada com a proposta de acordo entre
UE e Mercosul, que se prevê ficar fechada até ao final do
mês, após cerca de quinze anos de negociações.
Para mais informações
www.beefpoint.com.br
Provimi Portugal
tem novo comando
A Provimi Portugal,
empresa pertencente ao
Grupo Cargill, tem novo
comando a partir do mês
de julho.
Cidinei Mioto, que até
ao momento exercia
as funções de Diretor
Comercial da Nutron na
unidade da Cargill no Brasil,
passará a desempenhar o
cargo de Diretor Geral da
Provimi Portugal. Cidinei
Miotto é veterinário, possui
um MBA em Gestão de
Empresas, e desde 1995
vem desenvolvendo
uma carreira sólida de
crescimento profissional
até a atual função exercida
nos últimos quatro anos
como líder de toda área
comercial da empresa.
Dirigida desde 2007 por
Jorge Almeida, a operação
portuguesa experimentou
uma trajetória de
crescimento contínuo e
resultados sólidos, através
de uma gestão voltada
para elevados princípios
éticos e uma abordagem
próxima ao cliente. “A
Provimi Portugal tem uma
marca reconhecida como de
alta qualidade e confiança,
uma rede de distribuição
com cobertura nacional e
um ótimo relacionamento
com os clientes. O nosso
desafio será reforçar este
posicionamento e preparar
a empresa para enfrentar
os desafios de um mercado
cada vez mais competitivo.”
diz Cidinei Miotto.
atualidades
Feira Açores
XIII Concurso micaelense
da raça Holstein Frísia
Decorreu em junho
passado, em S. Miguel, o
mais importante evento
pecuário realizado na região
autónoma dos Açores, a
Feira Açores. Entre os dias
20 e 22, a Feira contou
com a visita de cerca de 55
mil pessoas que tiveram
oportunidade de ver o
que de bom existe nas
outras ilhas do arquipélago
representadas com
excelentes exemplares de
raças de carne e leite.
O novo pavilhão multiusos,
recentemente inaugurado,
foi pela primeira vez utilizado
para o concurso micaelense.
Com uma superfície total
de 6 000 m2 dos quais
4.000 são cobertos, é sem
dúvida um lugar aprazível,
construído com excelentes
materiais e bem inserido
na bonita paisagem que o
envolve. A utilização desta
infraestura vem, na opinião
de Jorge Rita, presidente da
associação, “dar uma grande
segurança à organização
e aos participantes, pois
permite-nos saber que o
concurso se realiza sem os
condicionalismos do clima
que antes existiam”.
O concurso contou com a
presença de cerca de 275
animais em representação
de 90 explorações, e
mostrou o que de
melhor existe na região
autónoma. Como já é
habitual decorreu ao
mesmo tempo o concurso
juvenil que contou
com a presença de 45
explorações.
“A ideia para o futuro é
realizar mais um concurso
por ano, em novembro, e
que os concursos contém
com mais explorações
participantes, mas o
mesmo número total de
animais” disse Jorge Rita.
ruminantes julho . agosto . setembro 2014 7
entrevista
aAa®, sistema de análise de vacas leiteiras
QUE VEIO PARA FICAR
Mais popular do que nunca após 64 anos, o sistema aAa® ajuda os produtores
de leite a melhorar a raça dos animais, analisando como todas as partes do
corpo do animal funcionam em conjunto como um todo.
por ruminantes
Em 1950, o americano Bill Weeks
começou o sistema aAa® depois
de estudar como os animais
funcionam na natureza, e agora o
sistema cresceu para ser usado em
22 países no mundo. Ruminantes
entrevistou um dos homens
na frente deste movimento, Jan
Schilder.
Jan Schilder cresceu num ambiente
de produção leiteira e teve trabalhos
que foram desde a produção
de rosas à venda de sémen. No
entanto, após uma ida ao aeroporto
para dar boleia a um dos avaliadores
certificados do aAa®, a sua jornada
neste novo sistema começou,
tornando-se o primeiro analisador
certificado do aAa® na Holanda, há
mais de 25 anos.
8 julho . agosto . setembro 2014 Ruminantes
Ruminantes – O serviço de reprodução
para vacas leiteiras, aAa®, é uma filosofia
única. Pode explicar-nos um pouco melhor
do que se trata?
Jan Schilder - O sistema aAa® é único
porque é o único método que encontra as
causas dos problemas da vaca, analisando
a relação entre as várias zonas corporais
do animal. Por exemplo, quando a zona
pélvica da vaca é estreita, não é possível ter
um úbere largo e com uma inserção mais
traseira, uma vez que não há espaço para
isso na pélvis.
Este sistema foi iniciado por Bill Weeks
em 1950, após este ter reconhecido como
as partes do corpo da vaca se relacionam
umas com as outras. Por exemplo, na
classificação de qualidade aAa® “#1Dairy”,
a vaca apresenta uma cabeça feminina
que normalmente está associada com um
pescoço comprido, costelas longas, ancas
largas, curvilhões refinados e uma inserção
da cauda refinada. Estas características
estão também associadas a animais que
têm uma natural apetência para produzir
leite, dando muito leite para o seu tamanho.
Estes animais têm também uma descida
de leite fácil e rápida.
Nesta linha de pensamento, Bill Weeks
criou 6 categorias diferentes de qualidades
aAa® para vacas e touros, e chamoulhes: “#1 Dairy”, “#2 Tall”, “#3 Open”,
“#4 Strong”, “5# Smooth” e #6 Style”.
As primeiras três categorias representam
animais com uma fisionomia mais
angulosa, enquanto as outras três
categorias são animais mais arredondados
na sua fisionomia. Uma vaca equilibrada
em termos fisionómicos deve ter todas
as categorias aAa® a um nível alto,
entrevista
podendo assim ser uma vaca alta
produtora, fácil de ordenhar, com
facilidade de parto e com uma boa
longevidade. Aquando da análise da
vaca nós escrevemos num papel as
3 qualidades aAa® que a vaca mais
necessita, sendo que são registadas
da esquerda para a direita, e a primeira
é a qualidade de que a vaca tem maior
necessidade. Na da análise do touro,
escrevemos as três qualidades que ele
tem maior probabilidade de transmitir
aquando do cruzamento, escrevendo
da esquerda para a direita, começando
com a qualidade aAa® mais forte.
Um touro só pode adicionar
qualidades à geração seguinte
se cruzado com uma vaca que
não as tem como principais, uma
vez que cada um deles contribui,
respectivamente, em 50% dos genes
da geração seguinte. Por exemplo,
se uma vaca é muito angulosa e tem
como classificação aAa® 564, significa
que esta necessita de um touro 564.
Assim, as qualidades “arredondadas”
do touro vão fazer com que os filhos
(as) se tornem mais funcionais,
devido a um melhor equilíbrio
entre as categorias angulosas e
as arredondadas. Basicamente, o
Bill reconheceu como a Natureza
trabalha. Nós podemos reconhecer
esta relação de partes, não só em
vacas leiteiras, mas em tudo na
Natureza.
Quais são as vantagens deste
sistema?
A vantagem está numa vaca que traz
menos problemas, porque funciona
melhor. A vaca não vai ter só
apetência para produzir leite, como
vai ter a força necessária a produzilo a um alto nível. Tudo isto também
significa menos tratamentos,
logo menos tempo gasto nestes
procedimentos, bem como uma
possível redução na taxa de refugo
(ver destaque ao lado).
Quantas gerações em média são
necessárias para formar um grupo
equilibrado de vacas leiteiras?
Numa geração é possível ver as
diferenças, e em quantas mais
gerações se fizer bons cruzamentos,
melhores resultados serão obtidos.
Os produtores frequentemente
reconhecem que os seus vitelos
estão mais uniformes e há menos
extremos. Estes vitelos são mais
activos e têm mais vitalidade.
“O sistema aAa
é único porque é
o único método
que encontra
as causas dos
problemas
da vaca,
analisando a
relação entre
as várias zonas
corporais do
animal.”
Como é medido o retorno deste
investimento? Em quanto tempo há
retorno do investimento?
Nós não medimos isso. Os
produtores acreditam que melhores
animais trazem mais lucro e mais
prazer em trabalhar com eles.
Normalmente ouvem de outros
produtores que estes têm bons
resultados, ou tiram as suas
conclusões quando visitam outras
explorações que já aplicam o sistema
aAa®.
O que ouvimos dos produtores é que
estes têm melhores vitelos machos,
que têm um valor maior, logo só isso
paga o investimento. Por outro lado,
vacas com partos mais fáceis, uma
taxa de refugo mais baixa, e a própria
condição corporal das vacas na altura
do refugo, aumentam o retorno da
exploração. A única razão pela qual o
sistema aAa® ainda existe, prende-se
com o facto de os produtores verem
resultados nas suas explorações.
Uma vez que a genética não é linear,
a informação (dos touros aAa®) é
complementada com um programa
oficial de provas de descendência?
Recomenda aos produtores a
complementarem a análise aAa®
com este tipo de informação?
Testes de descendência são
importantes para os produtores
seleccionarem os touros que melhor
se adequam aos seus objectivos de
criação. Por exemplo, pode haver
um produtor que está a seleccionar
touros por alta produção leiteira, outro
que esteja a seleccionar touros para
bons aprumos, e outro produtor, um
touro com componentes altos. Os
números do sistema aAa® não vão
dizer se o touro é bom ou não, eles
vão mostrar como é que estes touros
6 categorias para
vacas e touros
Qualidade aAa ”#1 Dairy”
Uma vaca com a qualidade aAa ”#1 Dairy” é descrita
como mais leite por tamanho, logo significa que esta
vaca vai produzir melhor para o seu tamanho corporal.
Qualidade aAa ”#2 Tall”
Uma vaca com a qualidade aAa “#2 Tall” tem os
ossos mais longos, logo o úbere está inserido alto o
suficiente para fazer com que a ordenha seja fácil.
Qualidade aAa ”#3 Open”
Esta qualidade aAa “#3 Open”, faz com que haja
mais espaço na zona pélvica, tornando assim os
partos mais fáceis e também fazendo com que
haja mais espaço para o úbere.
Qualidade aAa ”#4 Strong”
Nesta qualidade aAa “#4 Strong”, os animais têm
mais massa óssea e um peito profundo, criando
mais espaço para os pulmões e coração, tornando
a circulação melhor para manter a vaca mais
saudável (têm que circular 500 litros de sangue
para produzir 1 litro de leite).
Qualidade aAa ”#5 Smooth”
Uma vaca com esta qualidade aAa “#5 Smooth”
tem uma postura mais estável e costelas mais
amplas, podendo assim ingerir mais forragem,
levando a menos problemas com o balanço
energético negativo.
Qualidade aAa ”#6 Style”
Animais com esta qualidade aAa “#6 Style”
têm extremidades posteriores mais longas e
estáveis, fornecendo estabilidade à zona lombar.
Estes animais também possuem unhas mais
arredondadas, necessitando de uma menor
frequência de aparo correctivo.
ruminantes julho . agosto . setembro 2014 9
entrevista
são diferentes e qual deles pode funcionar
melhor. Por isso, o aAa® é utilizado na
reprodução para coordenar a vertente física
das vacas e dos touros.
As análises de descendência dizem-nos
como é que as filhas do touro são em
média após o cruzamento. A análise aAa®
diz-nos qual o tipo de touro a utilizar em
cada vaca individualmente, de modo a obter
filhas acima da média do touro utilizado.
Considerando toda a informação
genética que existe hoje em dia, a
genómica tem guiado as populações
de raças de vacas leiteiras nas suas
avaliações genéticas. Qual é a sua
opinião?
Hoje em dia não podemos mais dar-nos
ao luxo de ter muita paciência. Um touro
com uma fiabilidade alta dá origem a
menos desilusões. Seleccionar touros com
provas dadas ou touros genómicos é um
método de selecção, que dá a possibilidade
ao produtor de decidir qual o mínimo
de fiabilidade que quer no sémen que
compra. Nós ajudamos o produtor a fazer
bons cruzamentos, porque no final estes
continuam a ser entre uma vaca individual
e um touro individual. Quando uma vaca
necessita de qualidades para melhorar
a sua largura, um bom touro genómico
sem essas características pode tornar o
cruzamento desapontante.
Nos últimos anos, a consanguinidade
na população Holstein é um problema.
O que pensa sobre isto tendo em conta
o equilíbrio e a rentabilidade da vaca
leiteira Holstein?
O “sistema” fez com que nos
concentrássemos nas filhas e filhos dos
touros de topo que têm os melhores
valores estimados. Isto significa que
todos utilizamos a mesma genética
a nível mundial. Para mim, a chave
do problema passa por as pessoas
que são responsáveis pelo futuro da
genética incidirem mais em evitar a
consanguinidade.
Deviam existir mais pessoas na indústria
da reprodução a perguntar-se porque é
que determinado touro ou vaca são bons,
aprendendo a partir dessa informação
para a próxima geração. Eles não olham
para trás a fim de analisar o que os pais
do animal foram. Muitos touros influentes
do passado não têm um pedigree bem
conhecido, ou um passado lógico, pelo
menos não de acordo com as teorias
genéticas convencionais. Por exemplo,
o pai do Elevation era o “arredondado”
Tidy Burke Elevation, um touro que se
mantinha em três patas. Outro exemplo
sucedeu-se quando para a mãe do Ivanhoe
o Bill Weeks tinha outro touro em mente,
diferente do que o produtor havia pensado.
Isto devia-se, não porque sabia que Ivanhoe
ia nascer, mas porque o pai de Ivanhoe
podia adicionar alguma qualidade da qual a
mãe necessitava.
Este sistema (aAa®) é um cruzamento
selectivo. Não estamos a focar-nos
na árvore em vez de nos focarmos na
floresta?
Nós estamos a focar-nos na floresta. O Bill
ensinou-nos que é importante ver todas
as partes da vaca a trabalhar juntas, uma
vez que todas as zonas corporais têm uma
função no animal e influenciam sempre
outras zonas, nunca podendo funcionar
separadas. Mas talvez queira dizer que nos
focamos muito na vaca individualmente em
vez de nos focarmos em toda a população.
A reprodução na natureza nunca muda, é
sempre um cruzamento entre uma vaca e
um touro. Os produtores só trabalham com
indivíduos e não com médias. Por exemplo,
quando pomos um pé em água a ferver
e outro em água gelada, na média, temos
uma temperatura perfeita, mas na realidade
não queremos manter-nos assim por muito
tempo.
Em que países existe a análise aAa®?
A aAa® começou nos Estados Unidos
em 1950 e tem sido utilizada nos Estados
Unidos, Canadá, México, Austrália e Nova
Zelândia desde então. Em 1989, foram pela
primeira vez, analisadas vacas na Holanda.
Da Holanda passou a ser utilizada na
Europa. Hoje em dia na Europa utiliza-se
a marca Weeks, mas é a mesma que a
análise aAa®. Neste momento a análise
é utilizada na Holanda, na Alemanha,
10 julho . agosto . setembro 2014 Ruminantes
Jan Schilder
Primeiro analisador certificado do aAa
na Holanda, há mais de 25 anos.
na Dinamarca, na Suécia, na Polónia, na
República Checa, na Áustria, na Suíça, em
Itália, em Portugal, em França, na Bélgica,
no Reino Unido e na Irlanda. A análise é
também utilizada por produtores noutros
países, para os quais o sémen de touros
analisados é vendido.
Como podemos aceder a este
serviço? Qual é o tamanho mínimo da
exploração, na qual se justifica utilizar o
triplo A?
É possível utilizar o serviço telefonando
ou enviando um email a um analisador
que possa ir à área onde se localiza
a exploração. O custo é de 6 euros
por vaca, uma vez em toda a sua vida
produtiva, sendo que alguns analisadores
podem cobrar despesas de deslocação.
Frequentemente quando os animais
são analisados ainda jovens, na
visita seguinte estes são reavaliados
gratuitamente após terem parido, para
que haja certeza quanto à ordem dos
números atribuídos àquele animal.
Não existe um tamanho mínimo para que
a exploração possa ser analisada.
Com que frequência vem a Portugal?
Eu vou a Portugal uma vez por ano em
maio, e neste momento analiso as vacas de
15 explorações diferentes.
MAIS INFORMAÇÕES
www.aaaweeks.com
e-mail: [email protected]
PUBLI-REPORTAGEM
alimentos
compostos
Matosmix,
Alimentos Compostos para Animais, Lda.
A Matosmix é uma empresa
portuguesa fabricante de
alimentos compostos e
completos para animais, para
todas as espécies, sob a
marca Prestigium e misturas
Matosmix. Especializada no
fabrico de alimentos de alta
qualidade para a alimentação
de aves, bovinos de carne
e leite, coelhos, cavalos,
suínos, ovinos e caprinos,
está focada na rentabilidade
das explorações, mas tendo
sempre presente a natureza e
o bem-estar animal.
A empresa tem como
propósito produzir e
comercializar, para o mercado
nacional e internacional,
rações adequadas às
necessidades dos seus
clientes, desenvolvendo
alimentos personalizados
com vista aos melhores
resultados produtivos,
financeiros e comerciais,
tentando, desta forma,
diferenciar-se dos seus mais
directos concorrentes.
Na Matosmix os alimentos
são produzidos e
formulados recorrendo às
melhores matérias-primas
disponíveis no mercado que,
combinadas com formulação
personalizada e especializada,
sejam capazes de satisfazer o
cliente mais exigente.
A empresa tem, assim, como
objetivo primordial, definir-se
como empresa de referência,
produtora de alimentos
reconhecidos naturalmente
pela sua qualidade e
potenciadora de resultados
técnico-económicos.
Manuel Rodrigues Matos
fundador da empresa,
dedicou-se desde muito novo,
ao comércio de produtos
agrícolas e de alimentos
para a produção animal.
Iniciou a sua actividade
em 1974, em Macieira de
Rates, Barcelos, com um
pequeno estabelecimento
que depressa se tornou uma
referência na zona.
Em Julho de 1998 criou
a sociedade Matosmix,
com os seus filhos Adélio
e Carlos Alberto Matos e
foram já estes que, em 2005,
elaboraram uma estratégia
de modernização e expansão
desta área de negócio e que,
em 2012, criaram e registaram
a marca Prestigium.
A Matosmix tem crescido
de forma sustentável fruto
da realização de inúmeros
investimentos na unidade
fabril, em equipamento, em
recursos humanos e em
logística.
O universo dos alimentos
produzidos e comercializados
tem
vindo a
crescer sendo neste
momento constituído por
alimentos para todas as
espécies, na forma de
alimentos granulados,
farinados e misturas.
O sucesso que a Matosmix
tem tido baseia-se
no recrutamento de
colaboradores competentes
e talentosos, capazes de
garantirem a continuidade e
o crescimento sustentável da
empresa.
As pessoas são, na Matosmix,
a “ matéria-prima” mais
importante, porque são chave
para o desenvolvimento da
empresa e para a satisfação
total dos seus clientes.
Por isso promovemos o bom
desempenho das equipas
e incentivamos a formação
contínua e atitudes e
comportamentos orientados
para os resultados e para a
satisfação do cliente.
Actualmente a Matosmix
é constituída por 30
colaboradores.
São, ainda de referir, como
fator potenciador do sucesso
Prestigium
Fabrico de alimentos de alta
qualidade para a alimentação de
aves, bovinos de carne e leite,
coelhos, cavalos, suínos, ovinos e
caprinos.
da empresa, as parcerias
estabelecidas com os seus
fornecedores, ao nível da
inovação e da tecnologia,
assim como ao nível técnico,
incentivando a colaboração
de nutricionistas com mérito
reconhecido.
MATOSMIX
Avenida Aldeia Nova nº 431,
4755-277 Macieira de Rates
Tel: 252 951 288
Fax: 252 955 422
E-mail: [email protected]
www.matosmix.pt
ruminantes julho . agosto . setembro 2014 11
OPINIÃO
Alexandre Arriaga e Cunha
Produtor de leite com Exploração no Sabugo, Sintra
[email protected]
bebe leite
na idade adulta?
Porque é que o homem é o único
mamífero que o FAz?
Este texto procura expor, de uma forma simples, a inversão que se daria se na
Natureza não fôssemos os únicos animais a beber leite na idade adulta: seria o fim
das espécies de mamíferos!
Ponhamos de lado a
noção de que é preciso ser
inteligente para colher o leite
e armazená-lo no frio para
consumo, e concentremonos na forma como funciona
a Natureza.
Para início de conversa,
convém apenas recordar
que a glândula mamária
não é um armazém de leite,
mas sim uma fábrica, onde a
temperatura ronda os 38oC,
logo, à medida que o leite
é produzido, é conveniente
que vá sendo consumido,
senão deteriora-se, pois é
uma substância que só se
conserva abaixo dos 5oC.
O mamífero, nos primeiros
tempos de vida, depende
da mãe para sobreviver,
não só ao nível alimentar
mas também ao nível da
protecção dos predadores.
Convém, portanto, que
não se afaste muito dela
e não se alimente de
outras substâncias que o
possam saciar, pois o leite,
caso não seja consumido
frequentemente, pode
fermentar no úbere e provocar
um grande desconforto à
progenitora, com a muito
provável e consequente
privação alimentar parcial
da cria, pois uma glândula
mamária cujo leite não é
extraído pára de o produzir.
O próprio estômago, ao
princípio, está especialmente
preparado para consumir
apenas leite, sofrendo
posteriormente as devidas
alterações subjacentes a uma
dieta mais variada.
O recém-nascido precisa,
assim, de beber várias vezes
ao dia, não só por ter um
estômago ainda pequeno,
como também por ser
necessário “esvaziar” o
úbere para que o leite não se
deteriore, e também para dar
espaço para que mais leite
seja produzido.
A relação mãe/filho é,
portanto, simbiótica.
À medida que o novo ser
vai crescendo, vai também
adquirindo uma cada vez
maior autonomia alimentar e,
como vai procurando diversos
12 julho . agosto . setembro 2014 Ruminantes
alimentos no ambiente que
o rodeia, vai-se saciando aos
poucos e, em consequência
disso, vai bebendo cada vez
menos leite, o que transmite
à progenitora a informação
de que o fabrico pode ser
reduzido pois o consumo
decaiu.
Chegada a idade da
puberdade, é de extrema
importância que o jovem
mamífero já esteja autónomo
e sobreviva longe da mãe
pois, se se mantivesse perto
dela (caso ela continuasse a
produzir leite na quantidade
de que um adolescente
precisa, ele teria uma forte
motivação para se manter nas
redondezas) e no caso de ser
do sexo masculino, poderia
cobri-la quando ela entrasse
em cio, e isso é para mim a
principal razão para que, na
Natureza, só seja fornecido
leite a animais nos primeiros
tempos de vida, ou seja, para
evitar a consanguinidade, que
acabaria com as espécies.
O leite é um excelente
alimento para um bom
arranque nesta vida, mas, em
doses excessivas, cria uma
dependência pouco saudável
para qualquer mamífero, pelo
facto de garantir ao novo ser
uma fonte de nutrientes de
tal forma substancial, que
faz perpetuar a sua presença
junto da mãe com todas as
consequências nefastas daí
resultantes.
Na Natureza, está bem à
vista a força do vigor híbrido,
pois é notória a energia
que está subjacente ao
comportamento das diversas
espécies de mamíferos,
especialmente no caso dos
membros do sexo masculino,
que são fortemente
estimulados a afastaremse do grupo de origem
e a procurar refúgio em
manadas, rebanhos ou grupos
diferentes daqueles que os
viram nascer e crescer, devido
à presença dominadora de
um ou mais machos Alfa,
que defendem a sua posição
hierárquica até ao limite das
suas forças, neutralizando
qualquer ameaça de jovens
OPINIÃO
imaturos e inexperientes que
são ainda fáceis de expulsar.
Esta força é um
denominador comum
a muitas espécies de
mamíferos e parece
incontornável.
É nesta fase que esses
jovens começam a
desenvolver a sua
agressividade, que os
acompanhará até ao fim
das suas vidas, e que
estará patente no seu
comportamento habitual
como garante da sua
sobrevivência, geralmente
com um “equipamento”
a condizer, como dentes
compridos e afiados,
portanto, incompatíveis
com a delicadeza de uma
glândula mamária.
Nesta altura, já as mães
destes adolescentes
amamentam uma nova
cria que seguirá percurso
idêntico.
Caso a Natureza estivesse
programada para a
amamentação dos adultos,
isso representaria não só
que cada fêmea só poderia
ter um descendente na vida,
pois era responsável pela
sua alimentação ao longo
de toda a sua existência, o
que exige muito em termos
energéticos, como também
teria que transportar leite
suficiente para saciar um
adulto, muitas vezes cheio
de fome, o que significaria
que teria que ter um úbere
de tal maneira grande que
dificultaria a sua locomoção,
assim como uns têtos
especialmente fortes para
suportarem uma boca cheia
de dentes cortantes.
Por conseguinte, um úbere
preparado para amamentar
um adulto teria que ser
muito diferente de um
equipado para amamentar
um recém-nascido.
Por outro lado, caso um
animal morresse, a sua mãe
ver-se-ia sem escoamento
para o seu leite e poderia
também sofrer uma infecção
grave na glândula mamária,
pois a quantidade de leite
dentro do úbere seria grande,
como é de prever no caso de
se destinar à alimentação de
um adulto.
Caso um adulto chegasse
ao pé da sua mãe para se
amamentar e ela não fosse
capaz de o saciar devido
à fome exagerada deste,
como reagiria ele perante
tamanha insatisfação, já que
é suposto um animal agir de
forma agressiva sempre que é
contrariado na Natureza?
Enfim, obrigar qualquer
mãe a amamentar um filho
durante a vida adulta, não
só mantém o filho sempre
por perto, o que abre portas
à consanguinidade, como
desmotiva o jovem adulto
de procurar novos grupos de
semelhantes para aí deixar a
sua descendência e, assim,
lutar pelo propósito subjacente
ao comportamento de cada
indivíduo, de que são os
melhores e mais fortes genes
que deverão ser transmitidos
à geração seguinte, sendo os
testes à virilidade feitos através
de lutas muitas vezes brutais,
que revelam a força escondida
por detrás de aparências por
vezes pouco abonatórias,
como garante do vigor das
gerações vindouras.
Por último, resta-me dizer que,
sempre que ponho leite no
tacho do meu cão adulto, ele
bebe-o num ápice.
ruminantes julho . agosto . setembro 2014 13
entrevista
A ALIMENTAÇÃO NO
TOPO DAS PRIORIDADES
Entrevista a Carlos Cruz.
por ruminantes
A exploração de Manuel Cruz, hoje
denominada Sociedade Manuel Cruz
& Carlos Cruz, Lda, situada no Lugar
do Sobral – Ovar, no distrito de Aveiro,
iniciou a actividade em 1978 com apenas
4 vacas de leite. Após constantes
evoluções, continua nos dias de hoje
a ser uma empresa familiar, onde
trabalham para além do Manuel e da
Laura, os filhos Carlos e Luísa (aos
fins-de-semana), ambos formados
em Produção Animal. Actualmente,
contam com cerca de 47 ha para
produção de forragens encontrando-se
a vacaria implantada numa folha de 7
ha. As principais forragens utilizadas na
alimentação dos animais são: silagem de
milho, silagem de erva (azevém x aveia
x ervilhaca) e feno de azevém ou palha.
Todas as forragens são produzidas na
exploração à excepção da palha.
14 julho . agosto . setembro 2014 Ruminantes
Ruminantes - Todas as forragens
utilizadas na exploração são de
produção própria?
Carlos Cruz - Com excepção do
concentrado e da palha de trigo,
tudo o resto é produzido por nós. A
silagem de milho é produzida em
sequeiro entre Maio e Setembro, e
a silagem de erva (consociação de
azevém x aveia x ervilhaca) é feita
entre outubro e abril. Ainda em
relação às forragens, reservamos
cerca de 8 ha da área total para
produzir feno de azevém, que
normalmente ocorre durante o mês
de junho. Relativamente à produção
de silagem de milho, conseguimos
ter em média 70 a 80 toneladas/ha
de matéria verde, valor para nós
considerado bom, atendendo a que a
cultura é feita em sequeiro.
Que cuidados tem na elaboração das
suas forragens?
Os cuidados começam logo na
escolha das variedades que melhor se
adaptam às nossas condições, para
que a sementeira ocorra na altura
certa. A sementeira, a colheita e a
conservação são feitas com todos os
cuidados. Utilizamos conservantes
apenas na silagem de erva porque esta
é armazenada sob a forma de rolos,
e o facto de utilizarmos este tipo de
produto melhora significativamente
a sua conservação. No caso da
silagem de milho utilizamos silos
de trincheira com capacidade para
cerca de 700 toneladas cada. Devido
a isso semeamos cerca de 10 ha de
milho no mesmo dia, com a mesma
variedade e ciclo, permitindo-nos
assim na altura da colheita termos
entrevista
uma grande uniformidade em termos
de plantas. O enchimento rápido dos
silos, uma boa compactação, cobertura e
estanquicidade dos mesmos, permitem
obter boas condições anaeróbias para que a
fermentação ocorra de forma normal.
Os ciclos de milho utilizados variam entre
os 400 e 500, dependendo das variedades
aplicadas verificam-se diferenças na
qualidade final das silagens, nomeadamente
nos seus teores em amido e NDF (fibra
neuto detergente). Outro aspecto que
considero de grande importância é o facto
da minha máquina de ensilar (automotriz)
possuir craker (picadora) e isso permitir
fazer a silagem com um grau ligeiramente
mais avançado do estado vegetativo do
grão de milho, sem com isso comprometer
a sua assimilação eficaz.
Como faz a gestão das quantidades diárias
de forragem? Que custo tem?
O objectivo é ter os animais que se
encontram em produção sempre com a
mesma alimentação forrageira ao longo
do ano. Com isto, pretendemos manter
a flora microbiana do rúmen o mais
estabilizada possível. Para atingir este
objectivo temos que dividir a quantidade
produzida de cada forragem pelo efectivo e
número de dias para o qual pretendemos
essa dieta (normalmente 365 dias). Pelas
minhas contas o custo da silagem de milho
nunca fica abaixo de 3,5 cêntimos por
quilograma. É com esta base forrageira que
conseguimos os melhores resultados.
Que análises costuma fazer? Com que
frequência? Quem lhe dá este serviço?
De uma forma geral fazemos análises de
rotina ao longo de todo o ano. No caso
específico da silagem de milho e como os
silos são compridos, fazemos ao longo de
todo o silo. Quando tentamos despistar
alguma variação no consumo de alimento,
diminuição repentina do número de
visitas das vacas ao robô de ordenha, ou
diminuição de produção de leite, analisamos
mais de uma vez por mês. Felizmente que
estas situações não são muito frequentes.
Relativamente às análises feitas aos rolos
de erva, normalmente acompanham a
mesma frequência das análises feitas à
silagem de milho, apenas sendo feitas
análises extra quando suspeitamos que
vamos iniciar o consumo de rolos que à
partida vão ter qualidade diferente dos
que estamos a gastar. Os parâmetros
analisados são os recomendados pelo
técnico responsável pela nutrição da
exploração Eng. António Godinho da Sorgal
(Rações Sojagado) e são analisados os
“Os cuidados
começam logo
na escolha
das variedades
que melhor se
adaptam às nossas
condições, depois
fazemos todo
o possível para
semear na altura
certa.”
dados gerais da
exploração
Tipo familiar com 3 UHT a tempo inteiro e 1
UHT a tempo parcial. Futuramente serão 4
UHT a tempo inteiro.
1.500.000 kg de quota anual.
47 ha para produção de forragens.
Instalação da vacaria num único edifício,
com cobertura constituída por duas águas.
Efectivo actual constituído por 332 animais,
dos quais 116 vacas em produção.
Dois Robôs de ordenha, colocados em dois
parques indiferenciados com capacidade
para 128 animais no total.
Alimentação com utilização do sistema TMR
para vacas em produção, secas e novilhas
confirmadas.
Sistema de aleitamento automático de
vitelas(os).
“Boxes” automáticas de alimentação de
concentrados para novilhas.
seguintes: matéria-seca (MS%), Fibra bruta
(FB%), fibra ácido detergente (ADF%), fibra
neutro detergente (NDF%), cinzas totais
(CT%), amido (%), e proteína bruta (PB%).
Como faz a optimização da alimentação?
Sempre que recebemos os resultados das
análises das forragens, avaliamos a dieta
dos animais com o nutricionista da Sorgal
e caso haja necessidade, efectuamos
uma optimização ao nível do plano
alimentar ou ao nível dos concentrados.
Utilizamos dois tipos de concentrados: um
granulado específico para utilização nos
robôs e uma mistura personalizada de
matérias-primas utilizada na manjedoura,
misturada com as forragens. O alimento
granulado está disponível para todas
as vacas em produção, cifrando-se o
consumo médio nos 4,5 kg/vaca/dia.
A mistura personalizada é utilizada no
unifeed juntamente com as forragens e à
razão de 5,5 kg/vaca/dia. De salientar que
esta mistura contém todos os nutrientes
incluindo os minerais, vitaminas e todos os
aditivos que achamos necessários para a
saúde e bom desempenho dos animais.
Performances
produtivas
Produção média por vaca aos 305 dias:
10.885 kg com TB – 3,76%, TP – 3,32%.
Média de lactações: 2,2
Peso médio vaca: 680 kg
Produção média por vaca/dia em Maio: 34,5
litros com TB – 3,7% e TP – 3,3%. Ureia – 280
mg/l
CCS: 218.000/ml
Nº ordenhas: 3,1 vaca dia
Ruminação Total Média: 480 min/dia/vaca
TECNOLOGIAS UTILIZADAS
Dois robôs de ordenha, duas “boxes” de
alimentação automática, detetor de início
de trabalho de parto, câmaras de video nos
tratores e reboques, câmaras de vídeo ao
longo da vacaria.
Quantos tipos de alimentação tem na
exploração?
São vários. Vacas em produção, vacas
secas e novilhas confirmadas gestantes,
novilhas em recria e vitelas(os) na fase
de cria. Temos ainda um parque de
pré-parto no qual utilizamos a mesma
alimentação das vacas em produção só
que em menor quantidade. A razão da
existência destes lotes com diferentes
planos alimentares (ver tabelas dos planos
alimentares) prende-se com as diferentes
necessidades dos animais ao longo da
sua vida. As necessidades de um animal
em crescimento são diferentes das de um
animal em produção. A título de exemplo, as
necessidades de crescimento das novilhas
obedecem a alguns cuidados especiais na
ruminantes julho . agosto . setembro 2014 15
entrevista
sua alimentação, nomeadamente durante
a fase de desenvolvimento do úbere. Outro
exemplo é o da alimentação de uma vaca
seca em que pretendemos recuperar o
animal, principalmente ao nível da glândula
mamária e ao nível do seu rúmen, tentando
recuperar e regenerar as suas vilosidades
(pregas), bem como prevenir doenças
metabólicas no pós-parto.
Qual o seu custo alimentar por litro de leite?
Sei que muitos produtores se preocupam
em comprar barato todos os produtos
que adquirem fora da exploração, mas
não imaginam quanto lhes custa produzir
um litro/leite. Nem mesmo em termos
alimentares que representam cerca de 60%
do custo total do litro de leite. Atualmente e
com o agravamento dos custos dos fatores
de produção, o custo alimentar por vaca e
por dia andará na ordem dos 5,5 €, o que
TABELAS
Planos alimentares.
Vacas em produção:
Quantidade
(kg/animal)
Alimento
Sil. Milho (MS-34%)
43,0
Sil. Erva (MS-27%)
5,0
Palha Trigo
1,0
Mix Matérias-Primas
5,5
Granulado Robot
Min. 2,0 - Máx. 9,0
Vacas secas e novilhas gestantes:
Quantidade
(kg/animal)
Alimento
Sil. Erva (MS-27%)
À discrição
Palha Trigo
3,0
Sil. Milho (MS-34%)
4,0
Concentrado
1,0
Pré-parto:
Quantidade
(kg/animal)
Alimento
TMR Vacas em produção
1/2 da quantidade
Vitelas(os) até 77 dias (Desmame):
Alimento
Leite (Máq. aleitamento)
Feno
Quantidade
(kg/animal)
Variável
À discrição
Vitelas(os) Pós desmame:
Alimento
Quantidade
(kg/animal)
Feno
À discrição
Starter
À discrição
representa cerca de 0,157€/litro de leite.
Tem consumos médios diários de matéria
seca superiores a 25,5 kg/vaca em
produção. Tem algum maneio especial para
o conseguir?
Não temos nenhum maneio especial, temos
boa genética, boas instalações e cuidamos
muito bem dos nossos animais desde
que nascem até serem vacas. Tentamos
ter muito cuidado com a alimentação, tem
que ser boa e apetente para que tenham
vontade de comer, na realidade as vacas
não são diferentes de nós, que quando
gostamos da comida repetimos o prato.
Depois faço o unifeed duas vezes por dia
para que o alimento vá “fresco” e estimule
o consumo. Se reparar nos minutos de
ruminação que têm estes animais (480
mn), percebe-se que comem bem e são
saudáveis.
Traça objectivos de produção de leite e
custos com o seu nutricionista?
Temos reuniões periódicas e o objetivo
é sempre o mesmo, manter ou melhorar
os resultados em relação ao período
anterior, mas numa óptica de optimizar os
resultados de acordo com o seu retorno e
não a sua maximização. Tenho a perfeita
noção que poderia produzir mais leite, mas
a que custo? Com que retorno? Estamos
muito focados na prevenção, no equilíbrio.
Queremos produções de leite altas, mas
também queremos vacas gestantes,
animais saudáveis e com o mínimo
de problemas. Em colaboração com o
nutricionista, fazemos também experiências
e análises com produtos que vão surgindo
no mercado e que possam ser interessantes
sob o ponto de vista económico.
O bagaço de soja tem estado muito caro,
como tem contornado esta situação?
Apesar de caro continua a fazer parte das
16 julho . agosto . setembro 2014 Ruminantes
Na FOTo
Laura, Luísa, Manuel e Carlos.
fórmulas, se bem que, cada vez em menor
quantidade. Isso traduz que a sua relação
custo-benefício continua ainda positiva.
Como substituto parcial do bagaço de soja
têm sido utilizados, em parte, bagaço de
colza, corn glúten feed, DDGS (Distillers
Dried Grains with Solubles) entre outros,
bem como a utilização de compostos
azotados não proteicos. Tentamos também
maximizar a qualidade e quantidade de
incorporação da silagem de erva.
Quais são as primeiras tarefas que executa
quando chega à exploração?
Em primeiro lugar ver os mapas fornecidos
pelo sistema informático, nomeadamente,
as vacas que estão por ordenhar. Depois
observar os animais a fim de detectar
eventuais anomalias. A seguir, varrer as
manjedouras, elaborar as diferentes dietas
e distribuí-las pelos diferentes lotes de
animais.
Que indicadores de produção/
rentabilidade utiliza para ver se o negócio
está a correr bem?
Utilizo diariamente a produção de leite total
e o nível de saúde dos úberes, através dos
mapas fornecidos pelo sistema informático
do robot. Anualmente utilizo como
indicadores, a taxa de concepção, que foi
de 61,4% com sémen sexado e também o
IOFC (Income Over Feed Cost), que foi de
4,72 € por vaca dia (dados referentes a
2013).
Quais os objetivos para o futuro?
Poder continuar activo neste setor após as
grandes alterações ao nível da Europa que
se aguardam para breve.
FORRAGENS
LUÍS QUEIRÓS
orage Additives Technical Support Manager
Lallemand Animal Nutrition
[email protected]
Fenosilagens
E feno
No contexto actual da produção de leite nacional e mesmo internacional,
cada vez mais se torna essencial a produção de forragens de elevada
qualidade, por forma a diminuir os custos de alimentação, principalmente no
que respeita à aquisição de concentrados.
Processos
principais da
preservação
DE forragens
De uma maneira geral, poderíamos dizer,
optimisticamente, que conseguimos
já controlar os processos principais da
silagem de milho, como sejam a seleção
das variedades ajustadas à região, a
escolha da melhor época de colheita e
o processo inerente ao corte da silagem,
seja na dimensão da partícula, seja no
processamento do grão e posterior
fermentação. Se, no entanto, ainda na
silagem de milho temos pontos fulcrais
a melhorar, as silagens, fenosilagens
e mesmo fenos Outono-Inverno, pela
sua complexidade, exigem, da parte
Gráfico 1
Fermentação Ideal, Fases de Estabilidade e Utilização.
Fase de Fermentação Fase de Estabilidade e Utilização
Sem Ar
>45ºC
39ºC
Açucares
Sem Ar
Estável, elevada qualidade
Dias de fermentação
Ácido Acético
Ácido Láctico
pH
18 julho . agosto . setembro 2014 Ruminantes
do agricultor, um maneio bastante
mais apurado e exigente. Aqui sim,
podemos e devemos melhorar
muito, ainda para mais quando
geralmente produzimos este tipo de
forragens para obtermos quantidade
e qualidade de proteína, ou em menor
caso, fibra de boa qualidade, que sirva
como estrutura física da dieta de uma
vaca de leite.
É um facto que na produção de
silagens, fenosilagens, ou fenos,
existem alguns factores que o
agricultor não controla, principalmente
as condições atmosféricas. Estas
podem impedir a colheita na altura
ideal para obtenção de proteína ou
fibra de elevada qualidade, e em
última instância, prejudicar mesmo o
processo de pré-fenação, assim como
todo o processo de fermentação. O
primeiro quer-se o mais curto possível
(ver gráfico 1), pois enquanto a planta
estiver no campo em presença de
oxigénio, o consumo de nutrientes
e a diminuição de qualidade serão
bastante mais elevados. Por esse
facto, aconselhamos sempre o
agricultor a proceder à pré-fenação
com tempo seco e com sorte ventoso,
e a utilizar cordões largos, para que
a desidratação da planta seja mais
rápida e homogénea. Na prática,
deveríamos ocupar cerca de 80% da
área cortada com a erva espalhada
em cordão largo.
Dependendo do tipo de forragem
que produzimos (tanto gramíneas,
como azevém, festuca, triticale, ou
leguminosas, como luzerna, ervilhaca,
trevos, ou então consociações entre
as duas), algumas características
Gráfico 2
Fermentação por bactérias do género Clostridium.
Fase de Fermentação Fase de Estabilidade e Utilização
Forragem muito
húmida, Poucos
açúcares
>45ºC
39ºC
Açúcares
pH
Clostridial
Baixa qualidade de forragem
Elevado NH3 e Ácido Butírico
Dias de Fermentação
Ácido Acético
Ácido Butírico
Ácido Láctico
podem influenciar dramaticamente o
processo de ensilagem e qualidade final
da forragem. São principalmente três as
que mais influenciam:
• Teor de Proteína Bruta;
• Teor de Açúcares Solúveis;
• Teor de Matéria Seca.
A Proteína Bruta exerce uma capacidade
tampão elevada na forragem,
dificultando a sua acidificação. Por
este motivo, torna-se extremamente
importante garantir que o processo inicial
de fermentação acidifique rapidamente
a forragem, utilizando para tal bactérias
homofermentativas, produtoras de
ácido láctico, que rapidamente baixam
o pH. Inibimos assim a proliferação de
bactérias nocivas, como as do género
Clostridium, provenientes do solo, e que
degradam a proteína em compostos não
utilizados pelos animais (ver gráfico 2).
TODOS OS ANOS, MILHÕES DE TONELADES DE
SILAGEM NUNCA CHEGAM AO SEU PRATO
Forneça silagem de qualidade
todo o ano
O oxigénio é o inimigo da silagem, causando
perdas significativas de matéria seca e
refugo, ano após ano. Só a barreira de
oxigénio SILOSTOP é testada cientificamente
e comprovada pela satisfação de agricultores
experientes.
SILOSTOP retém mais matéria seca
e nutrientes, bem como aumenta a
estabilidade aeróbia.
[email protected] | 914 937 848 | silostop.com
FORRAGENS
O processo mecânico de produção
de silagens de erva ou fenosilagens
leva muitas vezes a um teor elevado
de cinzas, fruto da quantidade de
solo que entra nos silos ou fardos
juntamente com a forragem. Este
factor influencia de forma significativa
a quantidade de esporos butíricos
existentes neste tipo de silagem. É
por isso que aconselhamos sempre
que possível um corte mais elevado
do solo. A diferença de corte entre 2
cm do solo e 10 cm é a suficiente para
diminuirmos em mais de 20 vezes o
teor destes esporos.
A existência de Clostridia nas
silagens, juntamente com condições
ideais ao seu desenvolvimento,
como teores de humidade elevados,
leva à degradação da proteína,
denominada proteólise (ver figura 1),
em principalmente dois compostos:
• Aminas biogénicas;
• Azoto amoniacal.
As aminas biogénicas, como a
histamina e putrescina, diminuem a
percentagem de proteína utilizável
pelos animais, além de diminuírem em
muito a ingestão de forragem.
Já a existência de azoto amoniacal
aumenta o teor de proteína solúvel.
Este excesso acarreta gastos
energéticos, pois o organismo do
animal tem que excretar o azoto
amoniacal, de forma a evitar distúrbios
metabólicos, como a alcalose,
caracterizada por um aumento
acima dos 7,2, do pH ruminal. Em
casos agudos, a excreção pode não
ser suficiente, levando a toxicidade
elevada e muito provavelmente à
morte do animal.
O teor em açúcares solúveis é
outro dos aspectos a ter em conta
quando falamos da preservação de
forragens de elevado valor proteico.
Tipicamente estas forragens não
contêm açúcares solúveis suficientes
para efectuar uma fermentação
completa e eficaz, pelo que existem
alguns pontos que deverão ser
considerados. A pré-fenação tem a
vantagem de concentrar os açúcares
solúveis, pelo que ocorrendo antes
do período de fermentação, poderá
auxiliar em muito toda a acidificação
da forragem, preservando os seus
nutrientes. Veja-se o caso da luzerna,
que apenas quando atingimos os 35%
de Matéria Seca da planta, e com a
utilização de enzimas, conseguimos
Péptidos
AMONÍACO
Acidificação
lenta
Aminoácidos
livres
Aminoácidos
livres
Alta atividade
Alta atividade
Proteases da planta
Microorganismos proteoliticos
Baixa atividade
Baixa atividade
Proteinas
Forragem
Aminoácidos
Péptidos
Acidificação
rápida
Péptidos
AMONÍACO
FIGURA 1
Proteólise durante a fase de Ensilagem.
obter um teor suficiente de açúcares
(ver quadro 1). A altura do dia em que se
efectua o corte influencia enormemente
o teor de açúcares solúveis circulantes
na planta. Como a produção destes
está dependente de todo o processo
fotossintético, um corte ao início da
tarde poderá ter 4-6% mais açúcares
solúveis do que a mesma forragem
cortada de manhã, logo após o
amanhecer. Apenas este facto pode
diferenciar uma boa fermentação
de uma fermentação indesejável. Já
referimos acima, mas a utilização de
enzimas nos inoculantes, em situações
de carência de açúcares solúveis, pode
ajudar bastante o processo fermentativo
ao quebrar algumas ligações de fibras
mais complexas em compostos mais
simples e solúveis, como os açúcares
fundamentais.
Para finalizar
Para finalizar, o teor de matéria
seca da planta influencia
muito a estabilidade aeróbica
da forragem. matérias secas
mais elevadas dificultam a
compactação, pelo que quando
ultrapassamos os 30% de
matéria seca, deveremos utilizar
um inoculante que contenha
bactérias heterofermentativas,
como é o caso do Lactobacillus
buchneri, que produz compostos
antifúngicos, como o ácido acético
e propiónico, que impedem a
proliferação de fungos e leveduras,
responsáveis pelo aquecimento da
silagem e consequente diminuição
de densidade nutritiva e perdas de
Matéria Seca.
Quadro 1
Conselhos básicos para ensilar luzerna.
20 julho . agosto . setembro 2014 Ruminantes
%
Matéria seca
ph
conservação
teor HC S em luzerna g/kgMS
(com inoculante em enzimas*)
Teor inicial de HC S necessário
para conservar a luzerna g/kgMS
20
4,0
40 - 170 (insuf.)
340
30
4,4
40 - 170 (insuf.)
170
35
4,6
40 - 170
140
40
4,8
40 - 170
100
45
5,0
40 - 170
70
50
5,2
40 - 170
60
A Solução para a estabilidade
Cientistas norte-americanos
transformam estrume
em água
abeberamento de vacas.
Steve Safferman, professor
de engenharia agrícola e
de biossistemas, envolvido
na investigação, afirma
que mil vacas produzem
cerca de quarenta milhões
de litros de estrume por
ano. Cerca de 90% desta
quantidade é composta
por água e os outros 10%
por nutrientes, carbono e
agentes patogénicos que
têm um impacto negativo
no ambiente se não forem
tratados de forma adequada.
A utilização desta tecnologia
permite ainda capturar
uma percentagem elevada
de amoníaco, composto
químico nocivo, que se perde
na atmosfera impactando
negativamente a qualidade
do ar. Actualmente é possível
produzir 200 litros de água
a partir de 400 litros de
estrume, sendo o objectivo
do projecto de investigação
aumentar a produção de água
para 260 litros mantendo a
quantidade de estrume acima
citada.
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Já pensou que o estrume
produzido numa exploração
agrícola pode ser
transformado em água limpa
e que os nutrientes extraídos
desta água ainda podem ser
utilizados como fertilizantes?
A tecnologia que permite
esta transformação foi
desenvolvida na Universidade
do Michigan e espera-se que
chegue ao mercado já no
final deste ano. Conhecido
como McLanahan Nutrient
Separation System, ou
Sistema de Separação
de Nutrientes, o processo
começa com um digestor
anaeróbio, equipamento
usado para o processamento
de matéria orgânica, neste
caso o estrume, numa
atmosfera onde não existe
oxigénio. Daqui resulta
o metano, gás natural,
também utilizado como
combustível na produção de
energia eléctrica. Além do
digestor, o processo inclui a
ultrafiltração, a extracção de
ar e um sistema de osmose
inversa. O resultado final não
é só energia, mas também,
fertilizantes e água limpa que
não serve para os humanos
beberem mas que pode
perfeitamente servir para
aeróbica da sua silagem
LALSIL FRESH, Lactobacillus buchneri NCIMB 40788
• Reduz as perdas provocadas por leveduras e fungos,
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• Optimiza a preservação da silagem para obtenção de maior valor nutritivo.
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um
aç
ic
No passado dia 17 de maio, durante as XVI Jornadas da
Associação Portuguesa de Buiatria, foi apresentado à classe
veterinária a obra “Plantas Tóxicas para Ruminantes” tendo
como autores, Hélder Quintas (Médico Veterinário), Ângela
Cordeiro (Bióloga e Enfermeira Veterinária) e Carlos Aguiar
(Eng. Agrónomo) da Escola Superior Agrária do Instituto
Politécnico de Bragança. A obra, editada pela Ciência e
Vida, foi patrocinada integralmente pela Bayer Portugal que
assim demonstra, uma vez mais, o seu compromisso com a
divulgação do conhecimento científico da realidade de Portugal
e dos autores nacionais.
A pl
Livro “Plantas Tóxicas
para Ruminantes”
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ruminantes julho . agosto . setembro 2014 21
Forragem
PROTAPLUS
Mais proteína na sua exploração!
POR Rien Louwes, International Product Manager Forage / Barenbrug Holland BV
Introdução
Atualmente, os preços
dos concentrados estão
elevadíssimos. Os preços
dos cereais e dos bagaços
de soja aumentaram mais
de 150% nos últimos anos e
não é provável que venham
a diminuir. Especialmente
para as explorações que
utilizam a silagem de milho
na alimentação animal, a
aquisição de uma fonte de
proteína adicional representa
um importante custo. A
silagem de azevém de
elevada qualidade é uma
parte da solução, mas é
possível ir mais longe.
Este cenário levou a
Barenbrug, reconhecido
produtor de azevéns a
nível mundial, a procurar
soluções que permitam ao
agricultor obter mais fontes
de proteína na sua própria
exploração. As leguminosas
poderão assumir um papel
importante uma vez que são
uma fonte natural de azoto,
em particular o trevo anual
de crescimento rápido em
explorações com culturas
forrageiras de Inverno.
Estas espécies conseguem
fornecer azoto às culturas e
acima de tudo serem uma
fonte de proteína para a
alimentação animal.
No entanto, importa salientar
que para obter o máximo
benefício da introdução
dos trevos numa mistura
é necessário alcançar a
combinação e proporções
ótimas para cada espécie.
Assim, a equipa de
investigação da Barenbrug
testou inúmeras
combinações e misturas de
gramíneas e leguminosas
em diferentes regiões, obtendo um novo conceito de
produto: o PROTAPLUS.
Conceito
O ProtaPlus é uma mistura de elevada qualidade,
que contém variedades superiores de azevém anual
combinadas com trevos anuais como o Trevo da Pérsia,
o Trevo Encarnado e o Trevo Bersim. O ProtaPlus foi
concebido pela equipa de investigação da Barenbrug
após ensaios internos e testado em condições reais em
muitas regiões e condições edafo-climáticas diferentes.
Espécies
Benefícios
Azevém Westerwold
Estabelecimento muito rápido, rendimento elevado no
1.º corte, alto valor nutricional. Tetraplóides para silagem,
diplóides também adequados para feno.
(Lolium multiflorum Var.
Westerwoldicum)
Azevém italiano
(Lolium multiflorum)
Trevo Encarnado
(Trifolium incarnatum)
Trevo Bersim
(Trifolium alexandrinum)
Trevo da Pérsia
(Trifolium resupinatum)
22 julho . agosto . setembro 2014 Ruminantes
Composição
PROTAPLUS
45%
Azevém Westerwold
25%
Azevém italiano
30% Mistura de trevos anuais
Elevado rendimento, crescimento rápido após corte,
perfeito para cortes múltiplos, elevado valor nutricional e
palatabilidade da ração.
Rápido estabelecimento, rendimento elevado no 1.º corte,
tolerante à seca, excelente qualidade proteica, adequado
em solos ácidos.
Floração tardia, rápido estabelecimento, perfeito para
cortes múltiplos, excelente em solos húmidos.
Elevado rendimento, hábito de crescimento mais
prostrado, excelente qualidade proteica.
Imagem
Um valor superior
por hectare
Baspectra II e Bartigra
provaram proporcionar um valor económico superior
por hectare, podendo igualmente conduzir a uma redução
de custos com a alimentação.
Resumindo: o investimento numa genética superior de
Azevéns é um primeiro passo para uma boa rentabilidade
das explorações do Futuro!
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LUSOSEM - produtos para agricultura, S.A.
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Forragem
aplicação
O ProtaPlus é um produto
para a produção de forragem
de curto prazo (6 a 12 meses).
Pode ser utilizado como
uma cultura intercalar. Deve
ser semeado no período do
outono, preferencialmente de
setembro a outubro, desde
que a temperatura do solo
seja suficientemente elevada
(> 12 °C).
Considerando a pequena
dimensão das sementes
de trevo deverá realizarse uma sementeira pouco
profunda (0,5 a 1,0 cm de
profundidade).
O ProtaPlus permite
múltiplos cortes podendo
ser utilizado como silagem,
feno ou ser directamente
fornecido aos animais. O
pastoreio também é possível,
sendo recomendado a
utilização do pastoreio
rotativo ou por faixas. Para
um rápido crescimento após
o corte, deve ser deixado um
restolho com 7 a 8 cm de
altura. Para obter o máximo
teor proteico, recomenda-se
uma viragem suave durante o
processo de ensilagem uma
vez que as folhas de trevo
podem cair das plantas no
processo.
Resultados de
Ensaios Barenbrug
Os resultados de diversos
ensaios da Barenbrug
revelaram que o ProtaPlus
consegue produzir até 20%
mais de matéria seca por
hectare quando comparado
com o azevém puro. Este
facto, pode ser observado no
gráfico ao lado apresentado.
A ótima combinação de
gramíneas e leguminosas
presente na mistura
Protaplus, permite um
aumento substancial do
valor nutricional da ração e,
em particular, da proteína
digerível.
+ 30 a 50% de proteína
digerível.
A partir de 1 hectare, esta
quantidade adicional de
proteína equivale a 700800 kg de bagaço de
soja. Com os atuais preços
das rações, isto significa
um valor adicional de
aproximadamente 300€
/ha como resultado da
utilização de ProtaPlus.
GRÁFICO
Produção de Matéria Seca.
…Com PROTAPLUS,
o agricultor
obterá uma
fonte de proteína
produzida na
sua própria
exploração,
reduzindo a
dependência da
volatibilidade
dos preços dos
cereais e das
rações...
120
115
Produção de matéria seca (rel)
PROTAPLUS
A silagem do
ProtaPlus comparada
com o azevém puro:
110
105
100
95
90
85
ProtaPlus
Azevém italiano
80
+ 5 a 15% de Energia (MJ ME).
1.º corte
2.º corte
BARENBRUG e Lusosem,
relacionamento estratégico
A representação do grupo
holandês BARENBRUG pela
LUSOSEM iniciou-se em 2013.
Em 2014 esta colaboração
foi reforçada pela distribuição
da gama de sementes da
Barenbrug pela LUSOSEM
como Distribuidor Nacional
para o mercado Português.
A BARENBRUG, um dos
principais operadores
Mundiais no mercado de
sementes de pastagens e
forragens, é reconhecida
24 julho . agosto . setembro 2014 Ruminantes
desde há vários anos no
mercado nacional, como
marca de referência em
termos de qualidade e
Inovação, particularmente
através do seu catálogo de
azevéns anuais.
O catálogo a desenvolver e
comercializar pela LUSOSEM,
a partir desta campanha, será
constituído, entre outros,
por reconhecidas marcas de
azevém anual - BASPECTRA
II e BARTIGRA - , assim
como variedades de luzerna
e uma gama de misturas
forrageiras de elevado
potencial produtivo como o
PROTAPLUS.
Para a LUSOSEM, o
relacionamento agora
reforçado com a BARENBRUG
é estratégico, fortalecendo de
forma importante a oferta de
sementes da LUSOSEM ao
mercado nacional através de
um catálogo mais completo e
em contínua evolução.
ruminantes julho . agosto . setembro 2014 25
FORRAGEM
O gado merece,
a terra agradece!
imagem 1
Avaliação em
bancadas, 1ª etapa.
É esta a máxima da Fertiprado. Desde 1990 a apostar na genética vegetal.
por Maria Luísa Ferrão
Melhorar pastagens e forragens com o
grande objetivo de conseguir sistemas
agropecuários mais sustentáveis levou
a família Crespo a fundar a empresa
Fertiprado na Herdade dos Esquerdos
em Vaiamonte, no Alentejo. Depois
de alguns anos a atuar em Portugal,
principalmente no sul e centro do país,
a empresa expandiu a sua atividade
a outros países do sul da Europa,
principalmente Espanha e Itália.
A obtenção de novas variedades de
espécies forrageiras constitui um objetivo
central na Fertiprado, cujo esforço tem
sido marcado nos últimos cinco anos.
A empresa tem uma estrutura técnica
dedicada ao setor de I&D, particularmente
na obtenção de novas variedades,
atuando também na avaliação de todas
as variedades que leva ao mercado. Esta
é a forma de garantir a melhor qualidade
dos seus produtos e assim manter a
liderança na inovação de variedades e
misturas adequadas a cada nicho de
utilização.
Segundo Ana Barradas, a responsável
pelo setor de I&D, o grande objetivo
desta área é o desenvolvimento de
novas soluções em articulação com o
departamento técnico-comercial. “Os
técnicos que andam no campo fazem o
diagnóstico das necessidades de cada
exploração agrícola e transmitem-nos por
forma a que nós possamos desenvolver
“produtos” que mais tarde serão
comercializados”, afirma a responsável.
Manuel Rovisco, diretor comercial,
acrescenta. “O nosso objetivo é conseguir
comercializar estes novos produtos tanto
no mercado nacional como no mercado
26 julho . agosto . setembro 2014 Ruminantes
Ana Barradas
Responsável pelo setor de I&D.
FORRAGEM
imagem 2
Seleção em vasos,
2ª etapa.
internacional. Então, é muito importante
encontrar as variedades adaptadas a
vários solos, a diferentes climas, que
se mostrem mais produtivas e com
qualidade superior ao que existe no
mercado”.
O processo de obtenção de variedades,
composto por várias etapas, é
complexo e moroso visando sempre
um resultado com garantia de
qualidade. “No mínimo, para fazermos
uma variedade, demoramos entre 4
a 6 anos, no processo de seleção e
melhoramento”, diz Ana Barradas.
Na 1ª etapa do melhoramento
avalia-se de forma sistemática o
comportamento do material préselecionado em bancadas ao ar livre.
Anualmente existem cerca de 500
linhas ou ecótipos em estudo entre
plantas anuais e perenes. O vigor, o
porte, a susceptibilidade a pragas e
doenças, as datas de floração e de
maturação das plantas, assim como os
rebrotes e as produções relativas entre
espécies, são variáveis que irão ser
avaliadas na altura em que o material
for selecionado para passar à 2ª etapa
do processo de melhoramento. Aqui
as sementes são colocadas em vasos,
agrupadas segundo características
específicas, sendo o objetivo desta
etapa escolher as plantas com maior
potencial produtivo.
Nos últimos anos, a Fertiprado
inscreveu novas cultivares de espécies
imagem 3
Seleção e agrupamento em vasos
segundo características específicas.
“Os técnicos
que andam no
campo fazem o
diagnóstico das
necessidades de
cada exploração
agrícola e
transmitem-nos
por forma a que
nós possamos
desenvolver
“produtos” que
mais tarde serão
comercializados”
forrageiras no Catálogo Nacional de
Variedades e tem em curso a inscrição
de novas obtenções, que estarão
disponíveis nos próximos anos. Ana
Barradas esclarece. “A inscrição de uma
variedade no catálogo é um processo
que leva vários anos. Para além de todo
o processo de seleção e avaliação das
linhas, que demora em média quatro
anos, são feitos estudos oficiais que no
caso das variedades anuais tardam dois
anos e nas perenes levam três anos”.
Em 2010 a empresa apostou no estudo
de um trevo que até aqui ninguém tinha
investigado e que não estava inscrito
no Catálogo de Variedades da OCDE.
“Este trevo (Trifolium isthmocarpum)
apresenta características importantes e
será um elemento inovador nas misturas
pratenses e forrageiras. É a primeira
variedade “domesticada” desta espécie,
continuando a Fertiprado a trabalhar na
seleção de novas linhas desta espécie,
bem como de muitas outras de interesse
agronómico relevante”.
Esta aposta da empresa na investigação
e certificação de novas variedades
visa uma maior auto-suficiência dos
materiais no médio prazo, ou seja,
conseguir produções de sementes
próprias que permitam uma maior
incorporação de variedades nacionais
nas suas misturas. Paralelamente, a
empresa pretende aumentar a presença
em outros mercados, contribuindo
para a exportação e para a redução da
importação de sementes forrageiras. A
exportação constitui hoje cerca de 30%
do volume de negócios da Fertiprado
que pretende vir a aumentar este
indicador.
A responsável pelo setor de I&D
acrescenta. “Desenvolvemos variedades
adaptadas a diferentes nichos de
mercado. Mesmo olhando só para o
território nacional, existe uma grande
diversidade de situações de solo, de clima
e de sistemas de produção que devemos
atender”. Para que isso aconteça
com sucesso são feitos estudos de
ruminantes julho . agosto . setembro 2014 27
FORRAGEM
“Um dos fatores
diferenciadores
das nossas
misturas é o alto
teor em proteína.
Nós garantimos
ao agricultor
a produção
dessa proteína
em casa, na sua
própria forragem,
permitindo
reduzir a fatura
de suplementos
proteicos”
imagem 4
Ensaios de variedades anuais.
adaptabilidade das espécies nos
locais onde a empresa está presente,
por forma a garantir o sucesso do
investimento por parte dos agricultores.
Falamos de campos de experimentação
não só em Portugal, mas também em
Espanha, França, Itália e Uruguai. As
variedades são testadas em estreme,
ou seja, sozinhas, e em misturas de
gramíneas e leguminosas.
O trabalho do Melhorador de Plantas
é árduo e persistente. Há que estar
todos os dias no campo, observar
as plantas e interpretar os sinais
que elas vão emitindo. O olho do
melhorador é fundamental em todo o
processo. O registo de dados, a sua
avaliação estatística e a observação
do comportamento das plantas requer
uma grande dedicação. No entanto,
o seu papel está condicionado
pelos diferentes anos climáticos
que vão acontecendo, uma vez que
a sementeira só acontece uma vez
por ano e as correções e melhorias
não podem ser feitas em ambiente
controlado, o que significa que só na
próxima campanha se pode voltar a
actuar. “Em suma, trabalhamos em
plena natureza, tentando conhecer e
interpretar as características de cada
linha”, afirma a responsável.
Partindo do princípio que os prados
permanentes devem durar muitos
anos, sobretudo por razões de ordem
económica, Ana Barradas esclarece. “A
proteína e a digestibilidade são sempre
analisadas, assim como, recentemente
os taninos condensados, importantes na
nutrição dos animais.”
Um dos principais problemas da
produção de ruminantes é o elevado
custo da proteína que, nas rações,
provém quase sempre da soja. “Por
isso, uma das nossas linhas de trabalho
consiste na obtenção de pastagens e
forragens mais produtivas e ricas em
proteína, de forma a beneficiar o produtor
pecuário pela redução de custos de
produção.” afirma Manuel Rovisco. O
diretor comercial acrescenta que este é
um ponto-chave para a empresa. “Um
dos fatores diferenciadores das nossas
misturas é o alto teor em proteína. Nós
“A proteína e a
digestibilidade
são sempre
analisadas,
assim como,
recentemente
os taninos
condensados,
importantes na
nutrição dos
animais”
28 julho . agosto . setembro 2014 Ruminantes
garantimos ao agricultor a produção
dessa proteína em casa, na sua própria
forragem, permitindo reduzir a fatura de
suplementos proteicos.”
A Fertiprado tem em curso dois projetos
nacionais em parceria com o Instituto
Nacional de Investigação Agrária e
Veterinária (INIAV). Estes visam a
conservação e seleção de ecótipos
de leguminosas e de gramíneas
pratenses e forrageiras. Os objetivos
dos projetos são a colheita e avaliação
do germoplasma, a seleção das
melhores linhas, o testar em diferentes
climas e utilizações o comportamento
das culturas, a multiplicação de
manutenção e a proposta de registo
das variedades. Desde Março de 2011,
que a Fertiprado é um dos vinte e
cinco parceiros do projecto europeu
Animal Change que tem como
promotor o Institut Nacional de la
Recherche Agronomique (INRA) em
França. Este visa introduzir pastagens
biodiversas capazes de sequestrar
o carbono e estudar a adaptação de
novas variedades resistentes à secura
e ao encharcamento. Ana Barradas
destaca as vantagens destas parcerias.
“Há estudos conjuntos e cruzamento
de experiências que enriquecem e
credibilizam os parceiros”.
Ana Barradas conclui acreditando
no contributo que a Fertiprado pode
acrescentar às explorações agrícolas
dentro e fora de Portugal. “Perante a
nova PAC e as novas regras de Greening
acreditamos no valor do nosso trabalho
e nos benefícios que poderá trazer aos
agricultores”.
Alimentação
pedro castelo
Engº agrónomo, reagro sa.
[email protected]
repiso de tomATE
NA ALIMENTAÇÃO DE VACAS ALEITANTES
Os materiais provenientes do processamento das matérias-primas nas agroindústrias são
usualmente considerados como não perigosos, baratos e potencialmente valorizáveis.
O objetivo deste artigo é descrever o interesse de um destes subprodutos, Repiso de
Tomate, na alimentação de vacas aleitantes.
No que diz respeito à utilização
deste subproduto, do ponto
de vista zootécnico, apresenta
grande interesse em bovinos
(leite e carne) e ovinos. Em
caprinos de leite é utilizável
mas com mais precauções.
Este é um produto com
alguma variabilidade, mas de
uma forma geral é apetente.
Devido ao seu valor alimentar,
o repiso de tomate pode
causar acidoses subclínicas
e por vezes acidoses clínicas,
por isso a sua utilização deve
ser acompanhada por um
técnico especializado de forma
a minimizar os riscos e assim
retirar os benefícios da sua
utilização.
Composição Química
do Repiso de Tomate
A composição química do repiso
de tomate (ver tabela 1) pode
variar duma fábrica para outra e,
ainda, na mesma fábrica. Estas
variações ocorrem devido às
diferentes variedades utilizadas,
ao tipo de máquina que fez
a recolha e, ainda, ao tipo de
tecnologia utilizada na fábrica.
O teor de matéria azotada
tabela 1
Composição quimica do repiso de tomate.
(Resultado obtdo a partir da análise de 15 amostras (INRA 1988).
Matéria Seca (%)
Valor Médio
Valores Min - Máx.
27
20 - 35
Matéria Mineral (% MS)
5
3,5 - 6
Matéria Azotada Total (% MS)
22
18 - 26
Fibra Bruta (% MS)
34
27 - 41
Matéria Gorda Bruta (% MS)
15
12 - 19
Cálcio (g/Kg MS)
3
1,8 - 4,2
Fósforo (g/Kg MS)
3
3,1 - 4
Potássio (g/Kg MS)
-
7 - 10
Magnésio (g/Kg MS)
-
2,1 - 2,2
Manganês (g/Kg MS)
-
Baixo a muito baixo
Cobre (mg/Kg MS)
-
15 - 20
Zinco (mg/Kg MS)
-
Baixo a muito baixo
Enxofre (mg/Kg MS)
-
30 julho . agosto . setembro 2014 Ruminantes
1,7 - 1,9
tabela 2
Valor Alimentar do repiso de tomate. (INRA 1988)
UFL/Kg MS
UFV/Kg MS
PDIN g/Kg MS
PDIE g/Kg MS
PDIA g/Kg MS
0,62
0,49
140
120
85
médio é de 22% da matéria
seca (MS), o que indica
ser um alimento proteico
potencialmente interessante
para os ruminantes. As
análises dos compostos
parietais mostram um
elevado teor em fibra bruta
(34%), sendo 56,31% da MS de
NDF (Neutral Detergent Fibre),
46,13% da MS de ADF (Acid
Detergent Fibre) e 24,65% da
MS de ADL (Acid Detergent
Lignin). Em relação ao teor
de matéria gorda, o repiso
de tomate apresenta valores
elevados, na ordem dos
12,5% da MS. Apenas há que
ter em conta o elevado teor
em cobre devido aos vários
tratamentos com fungicidas.
Valor Alimentar do
Repiso de Tomate
Em relação ao valor
alimentar (ver Tabela 2), a
digestibilidade da MS é da
ordem dos 60 % enquanto
a proteína solúvel se
aproxima dos 34 % (sendo
esta variável, entre 20 e
45%). Apesar do seu valor
de matéria gorda elevado,
o valor energético do repiso
de tomate é mediano devido
ao seu elevado teor em fibra
bruta.
Utilização do Repiso
de Tomate em
ruminantes
O objetivo deste artigo é
mostrar alguns casos práticos
realizados em Portugal ao
longo de alguns anos (ver
tabela 3). Iremos comparar
dois arraçoamentos
adequados para vacas
aleitantes em fase de
gestação/lactação. Os
arraçoamentos apresentados
têm sido utilizados em lotes
constituídos por vacas na
tabela 3
Nivel de distribuição recomendado,
em Kg de repiso de tomate por dia.
Vacas Leiteiras
15 - 20
Novilhas (os)
7-8
Touros
10 - 15
Cabras Leite
Borregos
2-3
2 - 3,5
Alimentação
tabela 4
Dois arraçoamentos com as mesmas características nutricionais.
A
Custo por Animal/Dia= 1,26 €
(41,51 €/ton MB)
(120 €/ton MS)
Quantidade Distribuida
Preço
(€/ton)
Matéria-Prima
Silagem de Milho PB7 AMD31
Kg
45
MB
MS
16,45
5,1
Caracteristicas Nutricionais (/Kg MS)
MS
UFL
31,00
0,91
PDIN
PDIE
PDIA
Ca
g
g
g
g
P
g
42,00
67,00
15,00
2,00
1,80
Feno Azevém PB 9
90
1,85
1,65
89,00
0,61
54,00
71,00
26,00
3,90
3,10
Repiso Tomate 30MS
20
11,85
3,56
30,00
0,60
103,43
106,52
75,00
4,01
5,42
Núcleo Vacas Aleitantes
580
0,2
0,2
99,33
0,00
0,00
0,00
0,00
269,36
16,00
-
30,35
10,5
34,60
0,74
73,04
79,75
36,76
8.04
3,50
P
Total
b
Custo por Animal/Dia= 1,39 €
(77,49 €/ton MB)
(120 €/ton MS)
Quantidade Distribuida
Preço
(€/ton)
Matéria-Prima
Kg
MB
MS
Caracteristicas Nutricionais (/Kg MS)
MS
UFL
PDIN
PDIE
PDIA
Ca
g
g
g
g
g
Silagem de Milho PB7 AMD31
45
4,00
1,24
31,00
0,91
42,00
67,00
15,00
2,00
1,80
Feno Azevém PB 9
90
5,69
5,06
89,00
0,61
54,00
71,00
26,00
3,90
3,10
Fenosilagem 50MS 12PB
70
8,00
4,00
50,00
0,90
99,00
76,00
27,00
4,50
2,80
Núcleo Vacas Aleitantes
670
0,20
0,20
99,09
0,00
157,11
0,00
0,00
210,99
38,48
-
17,89
10,50
58,70
0,74
71,67
71,09
24,59
7,81
3,50
Total
fase de lactação e gestação
porque, apesar das
necessidades alimentares
dos animais diferirem,
por vezes não é possível
ter lotes constituídos por
vacas na mesma fase de
reprodução
Em relação aos preços das
forragens e/ou matériasprimas consideraram-se
preços atuais de mercado
(ver tabela 4). De acordo
com o nosso caderno de
encargos para o objetivo
Balanço Azotado
pretendido fizeram-se
dois arraçoamentos (ver
tabela 4). Nestes exemplos,
a alimentação das vacas
aleitantes é feita através de
foragens (silagem de milho
e de erva), um subproduto
(repiso de tomate) e um
Núcleo adequado para
satisfazer as necessidades
vitamínico-minerais dos
animais. Numa primeira
fase, pode-se afirmar que é
possível obter, pelo menos,
o mesmo nível nutricional
Arraçoamento
Unidade
A
B
% MS
13,50
10,50
PDIN
g/Kg MS
73,04
71,67
PDIE
g/Kg MS
79,75
71,09
PDIA
g/Kg MS
36,76
24,59
g/dia
766,92
752,55
Proteína Bruta
Total PDIN/animal/dia
Total PDIE/animal/dia
g/dia
837,33
746,47
Necessidades PDI
g PDI
724,90
724,90
%
51,99
80,06
DT (proteína degradável
no rúmen)
tabela 5
Balanço Azotado
dos arraçoamentos.
32 julho . agosto . setembro 2014 Ruminantes
a um menor custo com o
repiso de tomate (1,26 €/
vaca/dia) do que sem este
(1,39 €/vaca/dia).
Proteína
Relativamente à
proteína (ver tabela 5), o
arraçoamento com repiso
de tomate tem um nível
mais elevado uma vez
que este é uma fonte de
proteína barata. No entanto,
em ambos os casos estão
cobertas as necessidades
proteicas.
Energia
No que concerne à energia,
ambos os arraçoamentos
têm o mesmo nível
energético. No entanto, o
arraçoamento com repiso de
tomate, além de ter menor
custo, apresenta valores
mais adequados no que diz
respeito ao amido + açúcar
e glúcidos rápidos (energia
rapidamente fermentescível
no rúmen, necessária à
população microbiana).
Fibra
Em relação aos teores de fibra,
ambos os arraçoamentos
contêm níveis adequados que
possibilitam uma boa valorização
alimentar por parte do animal.
Conclusão
Como conclusão, numa
exploração com forragens
disponíveis, repiso de
tomate, Núcleo (vitaminas,
minerais, adsorvente de
micotoxinas) adaptado e
equipamento apropriado
(unifeed e trator com
carregador frontal) é
possível fazer uma
alimentação de vacas
aleitantes mais barata.
Considerando preços de
mercado, a diferença de
custo alimentar é de 0,13
€/animal/dia, ou seja, um
benefício de 390 € mensais
por cada lote de 100 vacas.
alimentação
Alimentos
Líquidos
POR Hugo Sousa, ED&F Man Portugal
[email protected]
Estando conscientes de que é essencial
para o agricultor contar com uma gama
de alimentos com preços estáveis e não
sujeitos a flutuações típicas do mercado de
matérias-primas para alimentação animal,
bem como assegurar a sua disponibilidade
de forma contínua garantindo características
qualitativas constantes, conduziu ao
desenvolvimento da linha de Alimentos
Líquidos SUGAR PLUS.
10 RAZÕES PARA UTILIZAR
ALIMENTOS LÍQUIDOS “SUGAR
PLUS” EM RUMINANTES
1 - O alimento líquido SUGAR PLUS é
um modo fácil e económico de adicionar
açúcares á dieta?
Sim, sabendo-se que o teor de açúcares na
dieta de, por exemplo, vacas de leite, deveria
ser no mínimo 6% da matéria seca. Por
norma, forragens e outras matérias primas
fornecem apenas 2 a 3% de açucares.
2 - Os açúcares disponíveis nos alimentos
líquidos SUGAR PLUS contribuem para o
aumento da eficiência ruminal?
Sim.Os açúcares são responsáveis por
iniciar a fermentação ruminal.Sendo
solúveis no rúmen estão à disposição
imediata das bactérias. Os alimentos
líquidos SUGAR PLUS fornecem açúcares
com 6 atómos de carbono (sacarose,
glucose, frutose) os quais são mais rápidos
e melhor utilizados pela microflora ruminal,
quando comparados com os açúcares
com 5 átomos de carbono contidos em
forragens e outras matérias primas.O
rúmen torna-se mais eficiente devido
à maior digestibilidade da fibra e do
aproveitamento da matéria seca em geral
que acaba por se traduzir na produção de
leite maior e de melhor qualidade.
3 - Os alimentos líquidos SUGAR PLUS
são capazes de fornecer açúcares mesmo
quando o rúmen já não tem espaço?
Sim, os alimentos líquidos SUGAR PLUS
preenchem o espaço no rúmen que sobra
disponível após a ingestão de alimentos
sólidos. Portanto, o SUGAR PLUS goza
da vantagem, enquanto alimento líquido,
de aumentar a ingestão de matéria seca
quando o rúmen de outra forma estaria
completamente “ocupado” com alimentos
sólidos.
O líquido SUGAR PLUS quando entra em
contacto com os vários componentes da
dieta no misturador, promove a agregação
dos vários componentes da dieta,
reduzindo desse modo a possibilidade de
escolha de ingredientes de maior apetência
em detrimento de outros menos apetentes
por parte dos animais.
A alimentação com líquido SUGAR
PLUS melhora o aroma, a palatabilidade
e a textura da dieta, reduz as poeiras
e contribui efectivamente para a
uniformidade da alimentação composta no
misturador.
As vantagens obtidas são: aumento
da ingestão de matéria seca; reduz a
possibilidade de animais seleccionarem
os alimentos de maior apetência em
detrimento de outros (“sorting”); maior
uniformidade da dieta; menos partículas
não digeridas nas fezes.
6 - É verdade que ocorre uma menor
incidência de acidose no rúmen?
Sim, várias pesquisas demonstraram que a
adição de açúcares a uma dieta homogénea
e uma adequada inclusão de fibra, tem lugar
uma maior produção de ácidos butirato
+valerato e uma menor presença de ácido
láctico. Tal resulta num pH do rumen mais
elevado e mais estável
7 - Há vantagem em alimentar as Vacas
Secas com Açúcares?
A inclusão de 500 gr de Alimento Líquido
na dieta de Vacas Secas aumenta a
digestibilidade da fibra a mantém elevada a
condição do animal para a lactação seguinte.
Uma produção mais elevada de butirato a
partir da fermentação ruminal dos açúcares
é um factor chave para o crescimento
optimizado das papilas ruminais.
8 - Posso utilizar açúcares durante o período
de transição?
Sim, uma vez que as células epiteliais da
mucosa ruminal - dos quais o butirato é a
fonte de energia preferencial - serão mais
eficientes na absorção de nutrientes na
próxima lactação.
O Butirato também promove a síntese de
4 - Os açúcares dos alimentos líquidos
glucose hepática, importante para reduzir
SUGAR PLUS melhoram a digestão da fibra?
o Balanço Energético Negativo e o seu
Sim, uma maior quantidade de açúcares
contributo negativo nas doenças metabólicas
permite uma maior quantidade de
no pós-parto
forragem na dieta, para uma função
ruminal mais saudável e eficiente. O
9 - O SUGAR PLUS contribuí para a ingestão
primeiro resultado é um aumento da
de Matéria Seca no Verão?
gordura do leite. Além disso, a melhoria
Sim, mesmo no cenário menos favorável, o
da digestibilidade da fibra permite reduzir
decréscimo de matéria seca ingerida pela
o teor de amido nas dietas , contribuindo
vaca no Verão diminui com a adição do
assim para uma melhor saúde da vaca
SUGAR PLUS.. Este efeito é particularmente
leiteira.
relevante num clima como o nosso, cujos
5 - Os alimentos líquidos SUGAR PLUS
são um veículo para fornecer outros
nutrientes importantes da dieta a custo
competitivo?
Sim, SUGAR PLUS é um veículo perfeito
para fornecer outros nutrientes de elevado
valor acrescentado às dietas a custo
competitivo, com perdas reduzidas e de fácil
aceitação pelos animais.
verões são muito quentes e secos.
10 - É fácil o manuseamento e
armazenagem dos alimentos líquidos
SUGAR PLUS?
Sim, os alimentos líquidos SUGAR
PLUS são armazenados em tanque na
exploração pecuária, sendo rápida e
facilmente distribuídos directamente para
o misturador.
ruminantes julho . agosto . setembro 2014 33
Alimentação
FIBRA EFECTIVA, UNIFORMIDADE E
ESCOLHA NAS MISTURAS “UNIFEED”
PARA VACAS LEITEIRAS
O conceito dos três arraçoamentos (formulado, distribuído, consumido) também se
aplica à componente física da dieta e não só a composição de nutrientes, sendo algo
que preocupa todos os profissionais que estão ligados a este sector, e também uma
das principais razões para flutuações na produção geral e individual dos animais.
por José Silvestre – DIN, SA
O conceito dos três arraçoamentos (formulado,
distribuído, consumido) não se aplica apenas à
composição nutricional da dieta mas também à
componente física, constituindo esta última um dos
principais factores de flutuação na produção geral
e individual dos animais. Esta ideia foi reforçada por
Leahy (2014) que salienta o facto da produção de leite
e os seus componentes serem determinantes no seu
pagamento, logo, melhorar a ingestão de matéria seca
(IMS), especialmente no início, e uma alta produção são
objetivos a alcançar. De acordo com este autor, uma
vez que os custos totais de alimentação têm vindo
a aumentar nos últimos anos, reveste-se de especial
importância a necessidade de gerir a recusa alimentar
(“sobras”) de forma a reduzir as perdas económicas.
Uniformidade
Olberg (2011), ilustrou os factores que podem levar
a falhas de uniformidade numa mistura TMR no
seguinte gráfico.
Gráfico 1
FACTORES DE VARIAÇÃO numa mistura TMR
Combinação de problemas
5,4%
Sobre enchimento
6,2%
Processamento
10%
Sem problemas
29,9%
Tempo de
mistura do último
ingrediente
13,5%
Ordem de adição
2,4%
Sub-enchimento
5,1%
Liquidos adicionados
4,3%
Manutenção
23,2%
Segundo Olberg (2011), o melhor misturador “unifeed” é
o que possui um plano de manutenção adequado e que
é carregado e operado devidamente. Nestas condições,
a mistura obtida é consistente, proporcionando a
manutenção de um rúmen saudável, constituindo este
facto uma das chaves para o sucesso financeiro.
34 julho . agosto . setembro 2014 Ruminantes
Fibra efectiva
ou peNDF
É do conhecimento dos produtores de
leite, veterinários e nutricionistas que
as vacas leiteiras exigem fibra e que
uma parte da sua dieta deve ter um
comprimento físico adequado para
promover a óptima função do rúmen. A
fibra longa é frequentemente chamada
de “fibra efectiva” ou fibra fisicamente
efectiva (peNDF), sendo essencial para
fornecer preenchimento ruminal, por
formar um “bolo” espesso no rúmen
que retarda a passagem de partículas
mais finas e de alimentos fibrosos,
aumentando assim a sua digestão.
Porque a maioria das fibras estruturais
são degradadas a um ritmo mais
lento do que amidos, açúcares e fibras
solúveis, aumentar o tempo desta
passagem é uma importante forma
que os ruminantes possuem para
digerir essas fontes mais recalcitrantes
de hidrato de carbono. A peNDF
melhora a ruminação e a salivação,
proporcionando assim uma melhor
fonte de tampão para o rúmen, sendo
por isso importante para vacas com
Ingestão de Matéria Seca (IMS) muito
elevadas, muita da qual rapidamente
é fermentada em ácidos orgânicos
no rúmen. Por fim, peNDF está
relacionada também com o limite de
ingestão alimentar (Armentano, 2010).
Segundo Jordan (2001) os efeitos
de insuficiente peNDF em rações
leiteiras incluem:
• Acidose (subaguda ou aguda)
• Ingestão de matéria seca
insuficiente
• Depressão de gordura no leite
• Problemas de saúde (cetose,
laminite, deslocação de abomaso)
A medição de peNDF tem sido
amplamente utilizada na investigação
e na nutrição de ruminantes, logo,
usar o peNDF no equilíbrio do
arraçoamento e solução de problemas,
adicionado valor de Fibra Detergente
Neutra (FDN) total, pode vir a ser uma
ferramenta útil. O procedimento de
peNDF, de Mertens, usa 1,18 mm como
a dimensão crítica na qual as partículas
de alimentos são consideradas
fisicamente eficazes para vacas
leiteiras. Esta dimensão foi revista
recentemente, situando-se mais
próximo de 4 mm, valor este presente
nos novos crivos de separação de
partículas (PSPS) desenvolvidos pelo
Penn State College (Heinrichs, 2013).
tabela 1
Recomendações das percentagens de tamanho de partículas no PSPS, para diferentes
alimentos (Heinrichs, 2013).
Crivo
Superior
Tamanho de
partícula (mm)
Silagem de
milho
Silagem de erva
TMR
> 19
3 a 8%
10 a 20%
2 a 8%
Intermédio
8 a 19
45 a 65%
45 a 75%
30 a 50%
Inferior
4a8
20 a 30%
30 a 40%
30 a 40%
<4
< 10%
< 10%
10 a 20%
-
9.0
11.5
7.12
Tabuleiro
Média (mm)
Alimentação
Escolha/Selecção
Conclusão
Os TMR’s são uma ferramenta que proporciona um equilíbrio
consistente de nutrientes. Se a elaboração e entrega da
mistura às vacas for controlada, verificamos que o que cada
vaca consome não é sempre o mesmo que foi entregue.
As vacas mostram preferência por partículas menores
do arraçoamento em detrimento de forragem mais longa
da mistura total. Esta escolha pode resultar numa dieta
consumida mais rica em carbohidratos rapidamente
fermentáveis do que a prevista, e baixa em fibra efectiva,
elevando assim o risco de acidose ruminal subaguda.
A monitorização das misturas
obtidas pelos misturadores
móveis e do comportamento
alimentar dos animais é
essencial. A análise diária
das misturas deve prever a
avaliação do tamanho da
forragem, a verificação de
homogeneidade ao longo
da manjedoura (presença/
ausência de aglomerados
de fibra de maior dimensão)
e, principalmente, o
comportamento das
partículas mais finas do
arraçoamento (principalmente
o concentrado) relativamente
ao total da mistura.
No âmbito do
comportamento alimentar,
devemos avaliar se os
animais comem toda a
mistura ou apenas parte
da mesma, pois não é
Bucholtz (2003) sugere as seguintes estratégias de gestão
para ajudar a reduzir a selecção:
1. Uso de ingredientes de alta qualidade (Alimentos
contaminados e de baixa palatibilidade podem aumentar
a escolha);
2.Controlar a humidade da mistura do “unifeed” (Misturas
mais secas potenciam uma maior escolha);
3.Manter o tamanho de partícula ideal das forragens na
mistura (seguir recomendação do Penn State de 2-8% de
partículas no crivo superior), (Tabela 1);
4.Distribuir os alimentos frequentemente;
5.Adicionar água ou outros ingredientes líquidos (melaço)
ao TMR para ajudar a ligar os ingredientes secos.
nutricionalmente correcto
que uns animais comam a
maior parte do concentrado
e partículas mais finas da
dieta e os restantes comam a
maioria da fracção fibrosa.
A análise de todos os pontos
confere-nos a capacidade de
escolher a solução adequada
a cada exploração, e permitenos decidir pelo uso em
maior ou menor quantidade
de substâncias tampão,
ou sobre a necessidade
de recorrer a substâncias
alcalinizantes.
Notas
Artigo de revisão escrito, excluindo as
normas do novo acordo ortográfico.
Referências bibliográficas disponíveis
após solicitação.
ruminantes julho . agosto . setembro 2014 35
pastagem
Como melhorar
a disponibilidade e durabilidade
da pastagem - Escolha das espécies
Nuno Simões
Engº Zootécnico EMP/INIAV
[email protected]
João P. Carneiro
Engº Agrónomo EMP/INIAV
[email protected]
PARTE 2
A escolha das espécies deve
ser sempre realizada tendo em
consideração a sua utilização.
No caso de pastagens de
sequeiro, a escolha das espécies
e variedades terá de ser feita
em função de dois principais
fatores: a natureza do solo e
a pluviosidade. Nem todas as
plantas se adaptam a todas as
texturas nem a grande variedade
de solução do solo (pH) pelo
que devem ser criteriosamente
escolhidas. No que se refere à
pluviosidade, nas variedades a
escolher deverá ter-se sempre
em atenção que quanto menor
for a pluviosidade anual e a
capacidade do solo disponibilizar
água às plantas, mais curto
deverá ser o ciclo fenológico da
variedade, dito de outro modo,
maior é a necessidade de ter
variedades precoces.
De um modo geral as
espécies perenes, devido ao
facto de, a partir do segundo
ano, serem mais rápidas no
estabelecimento após as
primeiras chuvas deverão ser
preferencialmente escolhidas
sempre que as condições o
permitam (elevada pluviosidade
ou regadio), principalmente no
caso das leguminosas. No caso
das gramíneas perenes existem
algumas espécies e variedades
bem adaptadas às condições de
sequeiro.
De seguida apresenta-se uma
breve descrição das espécies
com maior interesse no
estabelecimento de pastagens
em situações de sequeiro ou de
regadio e zonas frescas.
Sequeiro (leguminosas)
Serradelas (Ornithopus)
Biserrula
(Biserrula pelecinus)
São espécies bem adaptadas a solos de textura
ligeira de solução ácida. Possuem um sistema radical
profundo. O crescimento invernal é lento, compensando
na primavera com um crescimento elevado. Existem,
principalmente, duas espécies de serradela com elevado
interesse pratense: a serradela brava (O. compressus) e a
serradela cultivada (O. sativus). A serradela brava possui
um porte mais prostrado e uma elevada proporção de
sementes duras, que pode atingir os 90%. Por outro
lado a serradela cultivada é de porte mais ereto e com
uma mais baixa percentagem de sementes duras
(30%), pelo que é menos persistente nas pastagens.
É frequente serem semeadas juntas, uma vez que a
menor germinação da serradela brava (pelas elevada
quantidade de sementes duras) no primeiro ano é
compensada pela serradela cultivada. As sementes
duras são as que não germinam a curto prazo, mesmo
que as condições ambientais sejam favoráveis. A dureza
constitui um processo natural de garantir a persistência.
36 julho . agosto . setembro 2014 Ruminantes
É uma planta com grande resistência à
seca. Esta resistência deve-se em grande
medida ao facto de possuir um sistema
radical muito profundo, mais ainda do que
as serradelas, o que faz com que, de um
modo geral se mantenha verde durante
mais tempo no campo. Adapta-se bem a grande diversidade de solos entre
eles solos de granito, ácidos e arenosos. A sua maior adaptação a solos
ácidos, quando comparada com outras leguminosas, deve-se ao fato do
seu rizóbio específico ter maior resistência a pH baixo. Produz uma grande
quantidade de semente, sendo que quase 90% mantem-se dura depois de
dois anos na superfície do solo, o que é um garante de persistência e de
grande interesse em pastagens permanentes de sequeiro.
Luzernas anuais
(Medicago)
Existem variadas espécies de luzerna com
interesse pratense: M. polymorpha, M. arabica,
M. truncatula, M. doliata . São espécies que se
adaptam melhor a solos neutros a alcalinos,
embora existam algumas espécies que toleram
a acidez (M. polymorpha e M. murex). A sua
maior dificuldade na adaptação a solos ácidos
tem mais a ver com o rizóbio (R. meliloti), com
que faz simbiose, do que com a planta em si.
Certas espécies suportam ou sobrevivem com
precipitações de 250 mm anuais. Adaptam-se
a grande variedade de texturas de solo (desde
arenosas até argilosas).
pastagem
Trevo glomerato
(Trifolium glomeratum)
Trevo subterrâneo
(Trifolium subterraneum)
Principal planta utilizada na composição
de pastagens de sequeiro. Existem
três subespécies com características
diferentes, tendo duas delas particular
interesse. O trevo subterrâneo
subespécie subterraneum caracterizase por se adaptar a solos de pH ácido
a neutro, de textura ligeira, onde enterra
mais facilmente as suas sementes. É
mais exigente em vernalização do que a
subespécie brachycalycinum, sendo por
isso espontânea principalmente no norte
de Portugal. Não tolera encharcamento.
A subespécie brachycalycinum, embora
prefira solos de solução moderadamente
ácida, tolera melhor solos alcalinos
podendo ir relativamente bem em solos
de pH = 8. Prefere solos de textura mais
pesada e com melhor capacidade de
armazenamento de água, sendo por
este facto (para a mesma quantidade
de precipitação) de ciclo mais tardio que
a subespécie subterraneum. Existem
variedades com diferentes durações
do ciclo o que permite selecionar para
valores de precipitação anual que
tenham como mínimo 350 mm.
Trevo rosa
(Trifolium hirtum)
Adapta-se a uma grande variedade
de solos, desde ácidos a ligeiramente
alcalinos e de textura ligeira a pesada. É
menos exigente em nutrientes do que o
trevo subterrâneo, podendo ser utilizado
como pioneiro em zonas mais pobres.
Sendo de porte ereto ou semi-ereto
tem maior tendência a desaparecer da
pastagem ao fim de uns anos.
É uma espécie autóctone muito
frequente em Portugal em terrenos
que não são mobilizados há alguns
anos. As suas características
biológicas permitem que cresça em
áreas marginais, em solos de baixa
capacidade de retenção de água,
aparecendo também em áreas mais
férteis. Apresenta uma elevada dureza
seminal, e está muito bem adaptado ao pastoreio. Pode ser utilizada como percursora de
outras leguminosas pratenses de maior potencial devido à sua rusticidade.
Trevo entaçado
(Trifolium cherleri)
Planta de grande rusticidade, pode ser
utilizada tal como o trevo glomerato
como percursora de outras espécies
leguminosas pratenses. Adapta-se
a pluviosidades a partir dos 300
mm. Possui a habilidade de produzir
rapidamente sementes em condições
de seca primaveril o que aumenta a sua
persistência. Adapta-se a varias texturas
e solução de pH.
Trevo balansa
(Trifolium michelianum)
O trevo balansa suporta grande variabilidade
edafo-climática. Podendo encontrar-se
variedades adaptadas a pluviosidades a partir
de 350 mm. Adapta-se a quase todas as
texturas, tendo no entanto maior dificuldade
em persistir em solos de baixa fertilidade de
textura grosseira. Possui alguma tolerância a
solos mal drenados. Produz grande quantidade
de semente (pequena e de elevada dureza).
O principal problema consiste no seu porte
semi-ereto o que torna as inflorescências mais
suscetíveis a serem comidas pelos animais, o
que poderá levar a uma drástica diminuição
da sua presença na pastagem. É uma espécie
que não sendo da Flora portuguesa tem-se
difundido muito a partir de introduções feitas
em pastagens semeadas.
Trevo da pérsia
(Trifolium resupinatum)
Existem dois tipos de trevo da pérsia, o
Trifolium resupinatum ssp. resupinatum
e Trifolium resupinatum ssp.majus
(alguns autores consideram, cada um
deles, ao nível da espécie tomando
o segundo o nome de Trifolium
suaveolens). O primeiro é utilizado
em pastagens, sendo uma planta de
porte mais prostrado, enquanto que o
segundo, maior e de porte mais ereto
é utilizado na produção de forragem.
Adapta-se a solos de variadas texturas
e de pH. É tolerante à salinidade e ao
encharcamento, desde que não seja por
períodos prolongados.
ruminantes julho . agosto . setembro 2014 37
pastagem
Regadio/zonas frescas
(leguminosas)
A situação de regadio está ligada a plantas vivas
durante todo o ano, com crescimentos mais baixos na
época fria ou nas semanas com temperaturas elevadas,
superiores a 32oC. O número de espécies com interesse
e adaptabilidade é menor do que no sequeiro.
Trevo branco
(Trifolium repens)
Espécie perene e de caules
rasteiros que enraízam nos
entrenós. Esta característica de
formar estolhos (perde a raiz
primária assim que forma as
raízes nos entrenós) permite-lhe
ser uma das espécies mais bem
adaptadas a climas temperados
e/ou de regadio.
É uma planta muito exigente em
luz e não tolera a seca, devido em parte ao facto de o seu sistema
radical ser superficial. Não gosta de solos pobres, arenosos e ácidos
É geralmente utilizada em mistura com gramíneas às quais fornece
grandes quantidades de azoto (é uma das leguminosas pratenses
com maior capacidade de fixação simbiótica de azoto atmosférico).
Gramíneas
Panasco
(Dactylis glomerata)
Trevo violeta
Planta perene, ereta, de
estabelecimento inicial mais lento
que o azevém perene, mas mais
rápido do que a festuca e a alpista
tuberosa. Prefere solos férteis, de
textura franca a argilosa É utilizada
em misturas em sistemas de regadio,
onde se utilizam variedades do
tipo continental como é o caso da
variedade Porto. De um modo geral
é sensível à seca, embora existam
variedades mais adaptadas a clima
mediterrâneo, dormentes no verão,
que são mais tolerantes a solos
com pouca água e que podem ser
utilizadas em sistemas de sequeiro.
(Trifolium pratense)
Planta pratense, e que pode persistir, em ótimas
condições, até 7 anos na pastagem. É muito produtiva, no
entanto exigente em humidade, pelo que nas condições
mediterrâneas deve ser utilizada em regadio. Adapta-se
melhor a solos de solução ácida do que o trevo branco.
Pode também ser utilizada como substituta de alfalfa
(Medicago sativa) neste tipo de solos, devido ao facto de
poder ser utilizada tanto como pratense como forrageira.
Trevo
morango
(Trifolium
fragiferum)
Leguminosa pratense
perene de hábito
rasteiro e com um
comportamento
bastante semelhante
ao do trevo branco
ao formar raízes nos
entrenós. No entanto
conserva a sua raiz
primária pelo que é um pouco mais tolerante à seca que
este. É a leguminosa de pastoreio que melhor aguenta
os solos encharcados por largos períodos, podendo
aguentar submersas 3 meses se a água for corrente ou
7 a 8 semanas se for estagnada. Adapta-se a um grande
espectro de pH, desde 5,5 até 9, preferindo no entanto
solos alcalinos de elevado valor de carbonatos, sendo
bastante tolerante à salinidade.
38 julho . agosto . setembro 2014 Ruminantes
Festuca alta
(Festuca
arundinacea)
Encontra-se em solos
profundos, férteis e frescos,
tolerando solos de ácidos
a muito alcalinos. Tem um
estabelecimento muito lento,
embora uma vez instalada
tenha um recrescimento
bastante rápido e uniforme.
Possui um sistema radical
mais profundo do que o panasco, podendo algumas variedades
serem utilizadas em sequeiro a partir dos 600 mm, desde
que o solo apresente alguma profundidade e capacidade de
armazenamento de água.
pastagem
Notas
Azevém perene
(Lolium perenne - ray-grass inglês)
Alpista tuberosa
(Phalaris tuberosa)
Planta de fácil estabelecimento, com a semente
a germinar rapidamente e apresentar plântulas
vigorosas. ‘As suas raízes são mais abundantes que
no caso de outras gramíneas, explorando melhor o
solo. Esta facilidade de crescimento pode ser perigosa
ao tornar a planta muito competitiva pelo que a dose
de semente em misturas não deve ser muito grande.
Cresce melhor em solos férteis, especialmente se
ricos em azoto. Adapta-se a variadas texturas e
soluções do solo desde que possuam azoto e água
em abundância, no entanto prefere textura mediana a
forte, de pH ligeiramente ácido.
Gramínea perene, adaptada ás
condições de clima mediterrâneo.
Pode ser utilizada em zonas de
sequeiro a partir dos 400 mm
de pluviosidade. Adapta-se a
uma grande variedade de solos,
embora prefira os profundos,
férteis e fortes. Possui um sistema
radical profundo o que lhe permite
tolerar melhor situações de seca.
Azevém italiano
(Lolium multiflorum - ray grass italiano)
Planta parecida com o azevém perene embora com
folhas mais largas e cor mais clara. Possui raízes
muito superficiais pelo que se torna muito sensível à
falta de água. Comporta-se como bianual, no entanto
em certas condições ótimas pode permanecer mais
anos na pastagem. Possui também uma forma anual
denominada westerworld, a qual é estritamente
anual. Devido ao seu crescimento extremamente competitivo, não deverá ser utilizada em
pastagens permanentes, uma vez que poderá fazer desaparecer as restantes espécies
presentes, o que leva, quando termina o seu ciclo (anual ou bianual) ao surgimento de
clareiras na pastagem. Em pastagens temporárias o seu rápido desenvolvimento pode
permitir o aproveitamento da erva ao fim de 6 semanas.
As pastagens semeadas devem
ter uma composição mista, de
gramíneas e leguminosas. Têm
frequentemente quatro ou cinco
espécies ou até mais e várias
variedades de cada. Nas condições
de sequeiro escolhem-se as
variedades mais precoces quando
a disponibilidade de água para
as plantas é escassa. Segundo
resultados do projeto 87 do
programa de divulgação AGRO
obtiveram-se valores anuais de
produção de pastagem semeada,
expressa em matéria seca,
superiores a 8000 kg por hectare.
A instalação de pastagem deve
fazer-se cedo, com a terra quente,
mobilizada numa espessura de
0,10 m, esmiuçada na superfície
mas firme. Tendo-se o cuidado de
não semear a uma profundidade
superior a 1 cm, devido à reduzida
dimensão das sementes. Quem
instala pastagens fará a preparação
com as alfaias que possa dispor
e que queira usar; no entanto,
um rolo de elementos separados
e perfil dentado é equipamento
absolutamente necessário; poderá
ser necessário passar antes de
semear para garantir a fineza e o
esmiuçamento da terra. Após a
sementeira a sua passagem, para
aconchegar a terra às sementes é
imprescindível.
Semear pastagens é uma operação
que, para ter sucesso, tem de ser
feita com conhecimento, bom
critério e cuidado.
ruminantes julho . agosto . setembro 2014 39
alimentação
Gonçalo Martins
Gestor de Produto, Especialidades Zootécnica
[email protected]
Os efeitos do calor
em vacas leiteiras
O stress térmico tem um enorme impacto económico nas explorações leiteiras.
Reação dos Bovinos ao
stress térmico
Os bovinos têm dois
mecanismos principais para
regularem a temperatura
corporal quando sujeitos a
condições extremas:
Favorecendo a dispersão do
calor, em particular através
da evaporação, aumentando
a vasodilatação periférica,
a respiração ofegante,
etc. Estes mecanismos
de regulação térmica
aumentam as necessidades
energéticas em 20% (no
caso de uma temperatura
ambiente de 35ºC). No
caso das vacas leiteiras
isto quer dizer que parte da
energia para a produção de
leite é redirecionada para a
regulação térmica.
Limitando a produção de
calor, reduzindo toda a sua
actividade e alterando o seu
comportamento alimentar.
Na realidade, a produção
de calor na vaca de leite
deve-se principalmente às
fermentações ruminais. A
ingestão de matéria seca
(IMS) pode diminuir 10 a
30%. Para além disso, o
processo de ruminação que
também produz calor, diminui
drasticamente. Os animais
tendem a comer menos
durante o dia (mais vezes e
menos quantidade) e mais
durante a noite, quando a
temperatura baixa. No entanto
o seu comportamento
alimentar nas horas de menor
temperatura leva a problemas
digestivos, pois comem
mais depressa e escolhem
os componentes da dieta
que produzem menos calor
durante a digestão (preferem
o concentrado à forragem).
Assim, em períodos de stress
térmico, o risco de acidose é
maior, sendo os factores que
contribuem para a acidose
ruminal os seguintes:
Comportamento alimentar:
os animais preferem comer
em grandes quantidades ao
amanhecer e ao entardecer.
Diminuição da IMS com
menor proporção de
forragem e elevados níveis de
concentrado.
Diminuição das substâncias
tampão naturais que os
animais possuem devido a:
• Diminuição da ruminação,
• Menor quantidade de saliva
a chegar ao rúmen, porque
os animais “babam-se”
(saliva = importante fonte
de bicarbonato),
• Respiração ofegante, o que
faz com que mais CO2 seja
expelido, fazendo com que
o poder tampão da saliva
diminua.
Para além disso, a diminuição
do pH ruminal diminui a
eficiência na degradação da
fibra, porque as bactérias
celulolíticas são as mais
afectadas quando o pH
ruminal diminui para valores
inferiores a 6.
FIGURA 1
Variações sazonais da taxa de fertilidade.
Média da Temp.
máximas (0ºC)
a zona de conforto térmico
depende do estado fisiológico
e nível de produção da vaca,
sendo que animais de alta
produção são mais sensíveis
ao stress térmico. O stress
térmico é definido como
sendo o estado a partir do
qual os animais não são
capazes de dissipar o calor
corporal excessivo de forma
a manter a temperatura
corporal em valores normais.
Ocorre quando os animais
são expostos a condições
ambientais de elevada
temperatura/humidade.
Taxa de Fertilidade (%)
Os prejuízos derivados do
efeito das altas temperaturas
estão relacionados com a
diminuição da produção de
leite, que pode chegar a uma
quebra de 35%. A diminuição
dos índices reprodutivos
e a diminuição do estado
imunitário dos animais
também têm impacto sobre os
custos de produção de leite.
A zona de conforto térmico
da vaca é entre 5-20ºC. No
entanto, a temperatura externa
não é o único parâmetro
a considerar, a humidade
relativa é também bastante
importante para definir a
zona de conforto da vaca.
Para sermos mais precisos,
35
30
25
20
35
30
25
20
15
10
5
0
J M M J S N J M M J S N J M M
40 julho . agosto . setembro 2014 Ruminantes
alimentação
Impacto na
produtividade
e saúde
O stress térmico tem
bastante impacto tanto na
produtividade como na saúde
da vaca leiteira (ver figura 1). A
curto prazo a consequência
mais notada do stress térmico
é a redução da produção
de leite. Como descrito
anteriormente, o stress
térmico leva a uma diminuição
da IMS e a um aumento das
necessidades energéticas
para regular a temperatura
corporal do animal. A redução
da produção de leite resulta
de uma combinação de
factores que têm como base
a falta de energia disponível
para a produção de leite.
Estudos demonstram que a
produção de leite nos meses
de verão pode diminuir até
35%
A longo prazo o stress
térmico tem um impacto
negativo nos sistemas
imunitário e reprodutivo:
• Aumenta a frequência de
mamites e a contagem de
células somáticas (CCS).
• Diminui a fertilidade,
aumenta a mortalidade
embrionária, aumentam
os casos de retenção
placentária e partos
prematuros, com
consequências no peso
vivo do vitelo, viabilidade e
saúde.
NÍvel de Stress
Frequência Respiratória
(RPM: respirações por minuto)
Temperatura
rectal
Perca de produção
Limiar de stress
THI=[68-71]
> 60 RPM
> 38.5ºC
-0.283 kg/h
Stress moderado
THI=[72-79]
> 75 RPM
> 39.0ºC
-0.303 kg/h
Stress severo
THI=[80-89]
> 85 RPM
> 40.0ºC
-0.322 kg/h
Stress extremo
THI=[90-99]
> 120 RPM
> 41.0ºC
Não medido.
Animal em falência
TABELA 1
Sinais fisiológicos de stress
térmico e a sua associação
com a perca de produção.
Diagnosticar o stress térmico
Existe uma variedade de
índices utilizados para estimar
o grau de stress térmico a que
o animal está sujeito, sendo
que a termorregulação em
bovinos é influenciada tanto
pela temperatura ambiente
como pela humidade relativa
(Armstrong, 1994).
O Index Temperatura-Humidade
(THI) (ver figura 2) que
incorpora estas duas variáveis,
é amplamente utilizado para
verificar o impacto do stress
térmico em vacas de leite.
A recolha do THI diário
constitui uma boa ferramenta
para calcular o efeito do stress
térmico em bovinos de leite
(García-Ispierto et al., 2007).
Um THI de 68 unidades
é considerado o limite da
zona de conforto em vacas
Limiar do stress térmico
Stress térmico moderado
Stress térmico severo
Stress térmico extremo
FIGURA 2
Tabela THI (Revista pela
Universidade do Arizona,
2011).
42 julho . agosto . setembro 2014 Ruminantes
leiteiras e o início do stress
térmico, no entanto a taxa
de concepção apenas
é afectada com valores
superiores a 72 (Burgos
Zimbelman e Collier, 2011).
Na prática, uma vaca
sujeita a um stress térmico
moderado apresenta sinais
visíveis, tais como:
• Respiração rápida e
superficial (vacas a
“bater”);
• Diminuição da actividade;
• Diminuição de 10% da
produção de leite;
• Diminuição da ingestão
de alimento.
Em situações mais graves
poderemos observar:
• Boca aberta com a língua
de fora;
• Respiração ofegante;
• Diminuição de 30% na
produção de leite.
A tabela 1 resume alguns
sinais, a que nível de stress
térmico dizem respeito e
as consequências sobre a
produção leiteira.
As soluções
Vitas Portugal
De forma a minimizar os
efeitos do stress térmico,
os investigadores do Grupo
Roullier desenvolveram
VITACALOR, um alimento
mineral da gama
VITACOMPLEX.
O VITACALOR tem como
objectivo combater a
diminuição da ingestão de
matéria seca e fomentar a
eficiência ruminal, para que
não haja diminuição dos níveis
produtivos e reprodutivos e
também para que o sistema
imunitário seja estimulado.
Assim o VITACALOR tem na
sua composição:
• Complexo rúmen;
• Minerais específicos;
• Anti-oxidantes;
• Protector hepático;
• EOMix Calor.
A Vitas Portugal continua
a defender uma busca
permanente de novas e
mais adequadas soluções
para os nossos clientes.
Para mais informações e
esclarecimentos, não hesite
em contactar o técnico Vitas
mais próximo de si.
economia
ABUNDÂNCIA OU APERTO?
observatório
O mercado de cereais prepara-se para a safra que se avizinha. De momento, os
motores vão aquecendo para a colheita de trigo, que acontecerá em poucas semanas.
por paulo costa e sousa
Por agora, o balanço desta cultura não
aparenta uma folga maior que a do ano
passado, quer os stocks iniciais quer
os finais apontam para os mesmos
números, o que em termos gerais quer
dizer que não foram reconstituídas as
reservas mundiais.
Acompanhando estes últimos meses
não parece haver alguma razão para
que as produções saiam muito do
esperado, pelo que o preço do trigo não
se alterou nos últimos tempos e, a não
ser que aconteça alguma catástrofe
meteorológica, a proporção trigo
forrageiro/trigo moagem parece vir a
ser a esperada. Há no entanto um fator,
no que toca ao nosso mercado, que
poderá vir a influenciar o preço do trigo:
a Inglaterra, habitual fornecedor de trigo
forrageiro até há uns anos atrás, tem
este ano uma produção que aponta
para um excedente exportável de 3
milhões de toneladas; além disso, a
Ucrânia tem uma quota livre de direitos
para exportar trigo para a UE de cerca
de 1 milhão de toneladas. Estes dois
fatores poderão pesar de uma forma
positiva (baixa do preço) ao longo do
ano.
No milho aproxima-se a altura crítica
do seu ciclo, a floração e polinização,
que determinará em grande parte o
sucesso ou insucesso da colheita.
Por agora, quer nos EUA quer no Mar
Negro, a colheita apresenta-se sem
grandes factores de agravamento,
tendo mesmo no caso da Ucrânia a
área semeada sido muito semelhante
à do ano passado, não obstante as
questões político/económicas. Assim
sendo, o milho está num ponto crucial
em que poderá perder um pouco mais
de preço no caso de uma polinização
sem problemas, ou poderá inverter
a queda no caso de alguma questão
meteorológica durante este período.
No caso das proteínas, tudo indica que
iremos ter mais uma boa produção de
grão de soja nos EUA, que determinará
um aumento de cerca de 12 milhões
de toneladas de produção em relação
ao ano passado. O que, a juntar
44 julho . agosto . setembro 2014 Ruminantes
aos excedentes sul-americanos já
confirmados, resultam num aumento
de cerca de 20 milhões de toneladas
em relação ao ano anterior que parece
ser um indício fortemente baixista.
No entanto, as habituais questões
logísticas na América do Sul estão,
como habitualmente, a travar essa
descida que apesar de tudo se tem
verificado e que se vislumbra com
mais efeito à medida que se confirme
este excedente nos EUA. Quanto às
proteaginosas, a UE e o Mar Negro não
indiciam qualquer situação alarmante,
e o girassol apresenta uma situação
aparentemente favorável.
Assim sendo, teremos que estar
atentos aos fenómenos meteorológicos
dos próximos dias que poderão
determinar abundância ou o voltar a
uma situação de maior aperto.
economia
Evolução do preço de matérias primas (em Euros/tonelada)
Preços semanais de 14 de março de 2011 a 13 de junho de 2014
milho
cevada
€/ton
€/ton
310
300
290
280
270
260
250
240
230
220
210
200
190
180
170
160
*valor da semana de 9 a 13 de junho
*valor da semana de 9 a 13 de junho
trigo
bagaço de soja
€/ton
€/ton
600
310
550
290
500
270
250
450
230
400
210
350
190
300
170
250
*valor da semana de 9 a 13 de junho
*valor da semana de 9 a 13 de junho
bagaço de colza
bagaço de girassol
€/ton
€/ton
360
440
400
330
360
270
320
240
280
210
240
180
200
150
160
120
*valor da semana de 9 a 13 de junho
*valor da semana de 9 a 13 de junho
Fonte: www.revista-ruminantes.com
Evolução do preço médio de alimentos compostos
para animais (em Euros/tonelada)
vacas leiteiras em produção
novilhos de engorda
2010
2011
2012
2013
€/ton
€/ton
2014
500
550
450
500
400
450
350
300
400
250
350
200
300
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
meses
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
meses
Fonte: IACA
ruminantes julho . agosto . setembro 2014 45
economia
USDA, LTO, INE,
observatório
Fontes: USDA, EDA, www.agrimoney.com
União Europeia (UE)
Mercado de laticínios em alta
impede declínio dos rebanhos
A dinâmica do mercado de laticínios e
o anunciado fim do sistema de quotas
à produção estão a contribuir para
encorajar a produção de leite, o que
se traduz numa consequente pressão
sobre o aumento dos preços.
Os rebanhos de vacas leiteiras
cresceram 0,6% no ano passado e este
ano prevê-se que cresçam 1,3%. Esta
é a primeira vez, nos últimos 30 anos,
que o bloco dos 28 países europeus
assiste a dois anos consecutivos
de crescimento dos rebanhos,
contrariando a tendência de contração
acentuada verificada nas três décadas
anteriores.
Segundo o relatório disponibilizado
pelo U.S. Department of Agriculture
(USDA), a tendência para o declínio do
número de rebanhos de vacas leiteiras
na União Europeia está fora de causa
no longo prazo. Este facto é atribuído
ao aumento do preço do leite pago ao
produtor e ao fim do sistema de quotas
que, como se sabe, impunha limites à
produção de leite com o objetivo de
regular os preços.
Produção a aumentar
Em 2013 e 2014 a União Europeia
assistiu a um aumento de 1% das
quotas de leite. Esta medida incentiva o
investimento na indústria dos laticínios,
sobretudo em países onde é possível
produzir a custos baixos, como é o
caso da Irlanda, onde o clima húmido
e a existência de boas pastagens
favorecem o produtor.
Nos últimos três meses a subida
dos preços do leite encorajou a
produção. Segundo a previsão
avançada pelo USDA, a UE produzirá
este ano 1,5 milhões de toneladas.
Condições climatéricas favoráveis
e, consequentemente, maior
disponibilidade de alimentos associado
ao contínuo esforço de melhoria
genética dos rebanhos, estão na
base do aumento médio estimado da
produção de leite na UE.
46 julho . agosto . setembro 2014 Ruminantes
Crescimento das exportações
Parte do excedente da produção de
leite será absorvido pelo forte consumo
de produtos láteos, especialmente
queijo, resultado de uma recuperação
económica sentida na UE que
aumentou o poder de compra das
pessoas face a 2013.
O relatório destacou o crescimento
significativo da produção de leite em
pó desnatado, devido ao excedente de
leite existente no mercado e também
a forte capacidade tecnológica de
processamento do leite existente na
indústria agro-alimentar alemã. Prevêse que as exportações cresçam 16,4%, o
que se traduz em 475,000 toneladas.
Note que, nos primeiros dois meses
de 2014, as exportações de leite em
pó desnatado foram 50% superiores
ao valor verificado no mesmo período
em 2013. Isso deveu-se a uma forte
procura deste produto pelo mercado
chinês que se traduziu em 162
toneladas, valor que aumentou sete
vezes face ao período homólogo do
ano anterior.
As exportações de manteiga também
economia
aumentaram, na ordem de 16%, nos primeiros dois meses
do ano, facto que se deveu a uma quebra nos preços na UE,
tornando o produto mais competitivo no mercado mundial.
No entanto, este aumento deveu-se parcialmente ao
crescimento das importações por parte da Rússia,
registadas na ordem de 50%. Este é um mercado que se
espera pouco estável no futuro devido à deterioração das
relações diplomáticas entre o Ocidente e Moscovo e ao
enfraquecimento do rublo.
China
EUA
Na Nova Zelândia a produção de leite aumentou na ordem
dos 20% a 30% face à campanha anterior, severamente
impactada pela seca. Estima-se que a produção de leite tenha
sofrido um aumento na ordem dos 7% na campanha de maio
de 2013 a maio de 2014.
Também na Austrália se prevê um crescimento da produção
de leite na ordem dos 5,3%.
Em 2013, condições climatéricas favoráveis e um aumento no
preço do leite contribuíram para um crescimento na produção,
ainda que marginal. Já em 2014, prevê-se uma recuperação
dos níveis de produção que resultam de um clima favorável
e de um aumento do preço pago ao produtor. Espera-se,
ainda, que exista algum excedente de produção que será
canalizado para as exportações.
Estima-se estabilidade na produção de leite para o próximo
trimestre. As importações da gordura do leite continuarão
baixas, enquanto as de sólidos desnatados subirão. As
exportações sobem devido à procura de nata e queijo. O
preço da manteiga e do soro de leite aumentam enquanto o
preço do queijo se mantém.
preço do leite
standardizado (1)
países
companhia
preço do leite
(€/100kg)
ABRIL 2014
média dos
ultimos 12
meses (4)
Milcobel
40,03
40,63
Alois Müller
38,40
39,35
bélgica
alemanha
França
Nordmilch
39,05
38,97
40,99
40,83
Hameenlinnan
Osuusmeijeri
42,46
45,99
leite à produção
Bongrain CLE
(Basse Normandie)
35,52
38,38
Preços médios mensais em 2014
Danone
40,01
38,31
Lactalis (Pays de la
Loire)
34,87
37,33
Sodiaal
36,79
37,07
abril
Dairy Crest
(Davidstow)
37,17
38,02
First Milk
38,78
35,86
Glanbia
38,94
38,53
Inglaterra
Irlanda
Itália
Holanda
Kerry
38,77
38,21
Granarolo (North)
45,81
43,18
DOC Kaas
37,73
41,35
Friesland Campina
40,13
43,73
39,09
39,73
Preço médio leite (2)
SuÍça
Nova Zelândia e Austrália
Arla Foods
Dinamarca
Finlândia
Existem algumas preocupações centradas no mercado
chinês. Sabe-se que no ano passado a forte procura
de leite na China fez com que os preços subissem. No
entanto, este ano parece que o país está a importar
menos leite, devido à produção interna estar a revelar-se
acima do esperado.
Emmi A.G.
49,40
51,57
Nova
Zelândia
Fonterra
40,24
40,02
EUA
EUA (3)
43,14
35,31
Fonte: LTO
(1) Preços sem IVA, pagos ao produtor; Preço do leite de diferentes empresas
leiteiras para 4,2% de MG e 3,4 de teor proteico • (2) Média aritmética
(3) Ajustado para 4,2% gordura, 3,4% proteina e contagem de células
somáticas 249,999/ml • (4) Inclui o pagamento suplementar mais recente
meses
2013
2014
eur/kg
teor médio
de matéria
gorda (%)
teor proteico
(%)
Contin.
Açores
Contin.
Açores
Contin.
Açores
0,337
0,312
3,75
3,73
3,27
3,21
Maio
0,319
0,309
3,72
3,64
3,26
3,20
Junho
0,330
0,313
3,69
3,70
3,22
3,15
Julho
0,325
0,326
3,60
3,76
3,16
3,11
Agosto
0,327
0,327
3,64
3,79
3,19
3,10
Setembro
0,358
0,342
3,71
3,87
3,25
3,14
outubro
0,360
0,343
3,78
3,92
3,28
3,24
NOVEMBRO
0,375
0,340
3,92
3,83
3,29
3,17
DEZEMBRO
0,377
0,354
3,98
3,82
3,36
3,19
JANEIRO
0,372
0,349
3,89
3,75
3,31
3,28
FEVEREIRO
0,372
0,350
3,85
3,74
3,31
3,19
MARÇO
0,372
0,349
3,78
3,62
3,33
3,24
ABRIL
0,391
0,349
3,79
3,64
3,29
3,26
Fonte: SIMA
Gabinete de Planeamento e Políticas
ruminantes julho . agosto . setembro 2014 47
economia
ÍNDICE VL
MOMENTO FAVORÁVEL
PARA OS PRODUTORES
POR António Moitinho Rodrigues, docente/investigador, Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Castelo Branco
Carlos Vouzela, docente/investigador, Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores
Nuno Marques, revista Ruminantes
No número 11 da revista Ruminantes, editado em
outubro de 2013 (Ruminantes, Ano 3 – N.º 11),
foi publicado um artigo com o título “Índice VL,
uma ferramenta útil para a bovinicultura leiteira”.
Pela primeira vez foi apresentado em Portugal o
Índice VL, indicador que reflete a rentabilidade
da produção de leite que está muito dependente
dos custos com a alimentação da vaca leiteira.
O Índice VL resulta do quociente entre a receita
obtida com a venda do leite produzido por vaca da
exploração e os custos associados à alimentação
da mesma vaca (Rodrigues et al., 2013).
Analisamos neste número da Ruminantes o
período de fevereiro a abril de 2014, período
em que a evolução dos preços do leite e
dos alimentos continuou a ser favorável ao
produtor. Os custos com a alimentação da
vaca mantiveram-se relativamente estáveis
e o preço do leite apresentou uma tendência
ligeiramente crescente, tendo sido em abril de
0,391 €/kg (SIMA, 2014). Isto reflete-se no Índice
VL que em abril de 2014 era de 1,912 quando, no
mesmo mês do ano anterior, tinha sido de 1,700.
Se considerarmos que o valor 1,5 é um valor
moderado representando um negócio saudável
e 2 é um valor elevado muito favorável para o
sucesso económico da exploração (Schröer-
Merker et al., 2012), concluímos que os produtores
de leite vivem um momento favorável. Em alguns
casos, os produtores estão a aproveitar este bom
momento para sanear financeiramente as contas
das explorações preparando-se para ter custos
fixos mais baixos quando terminar o regime de
quotas leiteiras. Recorde-se que 2012 foi um
ano dificílimo para a produção tendo o Índice
VL atingido 1,283 em julho de 2012, valor muito
baixo, absolutamente insustentável para manter
a rentabilidade da exploração. Noutros casos,
o bom momento que a produção de leite vive
está a ser aproveitado para melhorar a eficiência
produtiva da exploração fazendo investimentos
na modernização dos equipamentos para
produzir mais e melhores forragens, no aumento
dos efetivos e na melhoria das instalações e do
conforto animal.
Se o principal objetivo dos produtores de
leite for o LUCRO, a produção de leite terá
que depender cada vez menos da utilização
de alimentos compostos, cujos preços muito
voláteis o criador não controla. Isto só será
possível se na própria exploração forem
produzidas forragens em quantidade e de boa
qualidade nutricional (Ex. silagem de milho, feno
silagem de gramíneas/leguminosas,…).
notas:
O preço do leite pago ao produtor do
continente manteve-se estável nos
primeiros três meses do ano 2014,
aumentando ligeiramente em abril
(0,391€/kg);
O preço médio das 3 principais
matérias-primas que entram na
formulação do alimento composto
teve uma tendência ligeiramente
crescente nos primeiros três meses
do ano, baixando em abril;
Desde setembro/outubro de 2013
que os preços da silagem de milho
e da palha de cevada estão mais
baixos do que na mesma altura do
ano 2012;
Os 3 aspetos anteriores refletemse no Índice VL que em abril de
2014 foi de 1,912. De acordo com
Schröer-Merker et al. (2012), o Índice
VL próximo de 2 é elevado sendo
indicador de condições favoráveis
para o sucesso económico da
exploração de leite.
Referências Bibliográfia:
Não foram incluídas por uma questão
de espaço editorial, mas os autores
disponíbilizam bastando enviar um email
para [email protected].
Evolução do Índice VL
abril
2013
2014
Índice VL
1,700
Maio
1,585
Junho
1,643
Julho
1,651
Agosto
1,603
Setembro
1,853
outubro
1,833
novembro
1,905
dezembro
1,904
janeiro
1,923
Fevereiro
1,879
março
1,826
abril
1,912
DE JULHO DE 2012 a ABRIL de 2014
O valor é influenciado pela variação mensal do preço do leite pago ao
produtor português e pelas variações mensais dos preços dos alimentos
que constituem o regime alimentar da vaca leiteira tipo (concentrado 9,5
kg/ dia; silagem de milho 33 kg/dia; palha de cevada 2 kg/dia).
2,0
Valores do Índice VL
últimos 13 Meses
Valor do Índice VL
48 julho . agosto . setembro 2014 Ruminantes
1,5
1,0
julho 2012
Limiar de rentabilidade
abril 2014
Negócio saudável
Forte ameaça para a rentabilidade da exploração
entrevista
A QUALIDADE DO QUEIJO
ASSOCIADA À ESTABILIDADE DA ALIMENTAÇÃO
Entrevista com Daniel Sousa Lopes, responsável pela Queijaria Cabeço do Carvão.
por ruminantes
A Casa Agrícola Cabeço Carvão tem como
sócios gerentes os irmãos José Sanches
e António Rodrigues. Estes irmãos deram
continuidade ao negócio iniciado pela avó
Teresa, na altura com 60 ovelhas Merino
da Beira Baixa e 40 hectares. Hoje em
dia contam com cerca de 900 hectares
de pastagens naturais, 25 ha de prados
permanentes de regadio e um efectivo de
1800 animais (cerca de 1000 em ordenha),
com genética maioritariamente Lacaune.
Daniel Sousa Lopes, filho de José Sanches,
é formado em Engenharia Biológica
Alimentar, pela ESACB, e conta com uma
pós-graduação em Inovação e Qualidade
Alimentar. Depois de muitos dias de férias
e tempos livres a trabalhar na queijaria e
na exploração de ovelhas de leite com a
avô Tereza e com o pai, está agora como
responsável da Queijaria Cabeço do
Carvão, um negócio da família que conta
com 8 empregados.
A Ruminantes foi saber que importância
tem o controlo da alimentação na qualidade
e regularidade dos queijos.
Ruminantes - Produz leite todo ano? Qual
o destino final do leite produzido?
Daniel Lopes - Sim, produzimos leite todo
ano. A produção anual ronda os 250.000
litros, que são recolhidos através de duas
salas de ordenha, de 24 e 12 pontos, nos
dois montes. A maior produção está entre
janeiro e maio de cada ano. Temos agora
também uma parição de junho para ter
mais leite de verão e outra para outubro
para o queijo do Natal. Todo o leite que
produzimos é transformado em queijo e
vendido com a marca da casa “Queijaria
Cabeço do Carvão”.
Que importância dão à qualidade do leite?
Damos muita importância, porque vai
influenciar a qualidade do queijo. Isso é uma
das razões porque não compramos leite a
outros produtores.
50 julho . agosto . setembro 2014 Ruminantes
Que variações tem ao longo do ano no
perfil nutricional do leite?
Atualmente temos muito pouca variação,
porque o sistema alimentar que utilizamos é
ajustado periodicamente e isso permite-nos
ter uma regularidade muito grande no perfil
do leite.
Qual o sistema alimentar que utiliza?
Utilizamos rações adaptadas às nossas
forragens e aos prados (de trevos) regados
no verão. Depois utilizamos os pastos
naturais e fenos de ervas espontâneas de
sequeiro. Os fenos são dados juntamente
com milho moído e ração no unifeed. Os
serviços técnicos da Nanta, através do
Eng. João Mateus, fazem uma avaliação
do perfil nutricional das forragens e do
leite ao longo do ano, e em função dos
resultados, definem o perfil nutricional
para o concentrado, que é adaptado às
necessidades dos animais e dos objectivos
propostos.
Que parâmetros tem o leite
na primavera e no verão?
Que problemas trazem estas
variações?
Por norma o perfil é diferente
na primavera e no verão,
embora no nosso caso este
fator esteja minimizado porque
sabemos que se entrar leite
muito diferente na queijaria, não
vai sair sempre o mesmo tipo
de queijo. É por ser impossível
minimizar o impacto dessa
diferença no produto final que
temos muito cuidado com a
alimentação e com o maneio,
temos que fazer tudo o que
nos seja possível para que o
leite seja muito semelhante ao
longo do ano. Atualmente a
gordura está entre os 6,5 - 7% e
a proteína entre os 5,2 – 5,3%.
Porque usa a raça Lacaune?
Porque são animais mais
adaptados às ordenhas
mecânicas e com boas
produções.
Alimentação é uma parte
importante dos custos de
produção do leite. Costuma
“desafiar” o maneio alimentar?
Sim, por exemplo agora
estamos a introduzir um novo
produto, o Ovikomplet. A
disponibilidade de forragens e
pastagens é menor e este é um
alimento rico em fibra, que nos
permitirá ter uma alimentação
forrageira muito mais estável
ao longo do verão e com isso
aumentar inclusive a produção
de leite. Neste período (fim da
primavera até ao final do verão),
o sistema alimentar é composto
por este produto (Ovikomplet),
feno e pelos trevos regados.
O que diferencia o seu queijo
dos outros?
Essencialmente a experiência,
a confiança e o processo de
fabrico, que conta com uma
cura muito natural e com 60
dias de maturação. Estamos
neste negócio há muito
tempo. Os clientes já nos
conhecem, e acreditam muito
em nós porque temos a fileira
completa, da produção de leite
à transformação em queijo, ou
seja, as ovelhas, a alimentação,
o leite, a transformação, é tudo
manuseado e controlado por
nós. Não compramos leites de
diversas origens, e isso faz a
diferença.
Que produtos comercializa?
Neste momento apenas queijo,
mas estamos a trabalhar para
ter manteiga e iogurte de leite de
ovelha.
Contactos:
E-mail: [email protected]
Telm: 967 167 173
Daniel Sousa Lopes
Responsável pela
Queijaria Cabeço do
Carvão
ruminantes julho . agosto . setembro 2014 51
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o crescimento e a produção dos
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52 julho . agosto . setembro 2014 Ruminantes
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dos animais melhorando o
seu conforto e respectivas
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aumento de 1 a 2 litros de
leite/vaca/dia e 1 a 3 g/litro
de TB em vacas leiteiras e
melhorias entre 100 a 200g
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de Conversão em bovinos de
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PRODUÇÃO
Crescimento
de Novilhas
Holstein Friesian
Santos, T.M.V.
na região do Entre-Douro e Minho (Vila do Conde)
Faculdade de Ciências,
Universidade do Porto
(FC-UP).
Cabrita, A.R.J.,
Instituto de Ciências Biomédicas
Abel Salazar, Universidade do
Porto (ICBAS-UP).
Gomes, A.
Sub-secção de Nutrição Animal
da Cooperativa Agrícola de Vila
do Conde, CRL.
ENQUADRAMENTO
Crescimento de novilhas
Holstein Friesian
A produção de leite, tal como qualquer outra
actividade agrícola, está dependente da
eficiência económica das explorações e dos
métodos adotados pelos seus produtores
no alcance dos objetivos de produção
pretendidos. A antecipação da idade à
puberdade das novilhas e, consequentemente,
da idade ao primeiro parto, permite a redução
dos custos de produção uma vez que reduz a
fase improdutiva dos animais.
Efeito da alimentação na
idade à puberdade
FIGURA 1
Curvas de crescimento
originadas através do
ajustamento dos dados
de altura da totalidade dos
animais das 16 explorações
estudadas aos modelos de
Gompertz, Logístico, Brody e
Von Bertanlanffy.
O aparecimento da puberdade nas
novilhas Holstein Friesian encontra-se mais
relacionado com a idade fisiológica do que
com a idade cronológica. Elevadas taxas de
crescimento proporcionadas por elevados
níveis nutricionais permitem diminuir a idade
à puberdade, e não levam necessariamente
a pesos vivos mais baixos. Assim, uma
estratégia passível de antecipação da
puberdade passa então pela imposição de
maiores taxas de crescimento através da
alimentação.
Total Explorações
1000
Peso Vivo (kg)
800
600
Gompertz
Logistico
Brody
Von Bertanlanffy
400
200
0
-200
1000
2000
3000
Idade (dias)
54 julho . agosto . setembro 2014 Ruminantes
4000
5000
6000
Consequências da antecipação
da idade à puberdade
Além de diminuir o período não lucrativo dos animais,
como anteriormente mencionado, a antecipação da
idade à puberdade permite também uma mais rápida
avaliação dos progenitores e um aumento da vida
reprodutiva dos animais, uma vez que estes começam
a reproduzir-se mais cedo. Por outro lado, a indução
de altas taxas de crescimento, além de acarretar um
aumento no custo com a alimentação devido às dietas
de alto valor energético aplicadas aos animais, também
pode afetar negativamente o desenvolvimento da
glândula mamária e, naturalmente, a futura produção
de leite, sobretudo na primeira lactação. A antecipação
da puberdade pode ainda trazer outras desvantagens
como baixas taxas de conceção e o aumento de partos
distócitos.
Desenvolvimento da
Glândula Mamária
Os relatos de menor produção de leite na primeira
lactação provocados pela antecipação da puberdade,
são normalmente explicados pelo efeito negativo que
pode ocorrer no desenvolvimento da glândula mamária.
Este desenvolvimento está dividido em duas fases
distintas: a fase pré-púbere e a fase pós-púbere. Na
fase pré-púbere ou pré-puberdade, a glândula mamária
desenvolve-se segundo um ritmo alométrico, ou seja,
o úbere cresce a uma taxa mais elevada do que o
resto do corpo. Pelo contrário, na fase pós-púbere ou
pós-puberdade, a glândula já se desenvolve segundo
um ritmo de crescimento isométrico, isto é, à mesma
taxa que o resto do corpo. Sendo assim, o período em
que os níveis de ingestão podem afetar negativamente
o desenvolvimento da glândula mamária, a que
podemos chamar de período crítico, é apontado como
coincidente com a fase pré-púbere, ou seja, com a fase
de crescimento alométrico.
TRABALHO EXPERIMENTAL
Objetivos
Este trabalho teve como objetivos primordiais avaliar o
crescimento de novilhas Holstein Friesian na região do
Entre-Douro e Minho (mais concretamente no concelho
de Vila do Conde), estimar a idade à puberdade e
PRODUÇÃO
avaliar o efeito da idade ao primeiro parto
na produção de leite aos 305 dias nas
três primeiras lactações. Esta informação
permitiu traçar a realidade desta região
e perceber a necessidade ou não de
alterações nas estratégias, nomeadamente
de maneio, para alcançar os parâmetros
considerados ideais.
Total Explorações
Altura (cm)
160
Material e Métodos
Neste trabalho participaram 16 explorações
comerciais de bovinos de leite, todas elas
abrangidas pela certificação Global GAP
e pertencentes ao concelho de Vila do
Conde. Cada exploração foi alvo de apenas
uma visita, onde o efetivo animal avaliado
foram apenas as fêmeas pertencentes à
raça Holstein Friesian. As medições foram
realizadas no período de 8 de Janeiro a
22 de Maio de 2013. Foram avaliados um
total de 910 animais, pertencentes a vários
grupos etários: dos 0 aos 3 meses, dos 3
aos 6 meses, dos 6 aos 12 meses, dos 12
aos 18 meses, dos 18 meses ao 1º parto e
por fim vacas adultas. No primeiro grupo
(0-3 meses) foram medidos todos os
animais existentes e nos restantes grupos
apenas 15% do efetivo de cada um, sendo
que o número mínimo de animais a medir
em cada grupo foi, sempre que possível,
10. Os animais a medir foram escolhidos
aleatoriamente, não tendo sido utilizado
nenhum tipo de critério pré-definido.
A altura foi medida com uma régua em
forma de L invertido, ao garrote, com
o animal em estação, confortável e de
cabeça erguida, sempre que possível, e
numa superfície limpa e nivelada. O peso
vivo foi estimado a partir da medição, com
uma fita, do perímetro torácico, com o
animal de pé e com a cabeça levantada.
Foi realizada apenas uma única medição,
tanto de altura como de peso vivo, por
animal.
Os dados referentes ao peso vivo (kg) e
à altura (cm) foram ajustados ao modelo
polinomial de grau 2 (y=ax2+bx+c) e aos
modelos matemáticos não lineares
de Gompertz, Logístico, Brody e Von
Bertanlanffy. A idade à puberdade das
novilhas estudadas foi estimada segundo
as curvas de crescimento (altura e peso
vivo) geradas pelos vários modelos
utilizados.
O efeito da idade ao primeiro parto na
produção de leite aos 305 dias nas três
primeiras lactações foi avaliado, em todas
as explorações, utilizando os animais que
possuíam toda esta informação. Duas
explorações não foram incluídas neste
estudo por falta de acesso à informação
necessária. A análise foi realizada
segundo um modelo misto (Proc Mixed do
120
Gompertz
Logistico
Brody
Von Bertanlanffy
80
40
0
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
Idade (dias)
FIGURA 2
Curvas de crescimento originadas através do ajustamento dos dados de altura da totalidade dos animais das
16 explorações estudadas aos modelos de Gompertz, Logístico, Brody e Von Bertanlanffy.
programa SAS, versão 9.1, SAS Institute,
Inc., Cary, NC, USA) incluindo a idade ao
primeiro parto como efeito fixo (classe 1: <
24 meses de idade; classe 2: 24-25 meses
de idade; classe 3: 25-26 meses de idade;
e classe 4: > 26 meses de idade ao 1º
parto), a exploração como efeito aleatório e
o erro residual aleatório.
Resultados e Discussão
Curvas de crescimento
Como se pode verificar nas Figuras 1 e 2,
todos os modelos matemáticos utilizados
geraram curvas de crescimento muito
semelhantes, quer utilizando o peso
vivo, quer a altura como parâmetros de
crescimento. Contudo, apesar de todos
os modelos terem fornecido estimativas
de peso vivo à maturidade muito
semelhantes, estas foram superiores aos
680 kg de referência para a raça Holstein
Friesian (Quadro 1). Já no que concerne à
altura à maturidade, todos os modelos
estimaram valores muito próximos ou
mesmo iguais aos 144 cm de referência
para a raça (Quadro 2).
Estimativa da idade à puberdade
A estimativa da idade à puberdade, para
o modelo de Gompertz, Logístico e Von
Bertanlanffy, foi feita com base no ponto
de inflexão das respetivas curvas. Nos
restantes modelos a idade à puberdade
foi estimada através dos valores de
referência para a puberdade referidos
na literatura, segundo a qual as fêmeas
Holstein alcançam a puberdade aos 390
a 450 dias, com 340 a 360 kg de peso
vivo e 122 a 127 cm de altura. Como se
pode observar no Quadro 3, as fêmeas
avaliadas atingem o peso indicativo da
puberdade mais cedo do que a altura.
No entanto, comparando com trabalhos
realizados na mesma região em 1997
Quadro 1
Número de iterações, r2 ajustado e parâmetros de crescimento estimados pelo ajustamento dos dados de
peso vivo da totalidade dos animais das 16 explorações estudadas aos modelos matemáticos não lineares
de Gompertz, Logístico, Brody e Von Bertanlanffy.
A
±A.S.E
B
±A.S.E
K
±A.S.E
M
±A.S.E
0,947
744
19,9
2,8
0,2
0,004
0,000
-
7
0,948
739
18,6
-
0,004
0,000
3,8
0,4
Brody
10
0,933
792
31,2
1,0
0,03
0,002
0,000
-
Von Bertanlanffy
9
0,946
755
21,0
0,7
0,04
0,003
0,000
-
Modelo
Nº Iterações
r2 Ajustado
Gompertz
9
Logístico
A - Peso vivo à maturidade • B - Constante de integração • k - Índice de maturidade • M - Determina o ponto de inflexão.
ruminantes julho . agosto . setembro 2014 55
PRODUÇÃO
A
±A.S.E
B
±A.S.E
K
±A.S.E
M
±A.S.E
0,961
144
1,3
0,6
0,02
0,004
0,000
-
30
0,959
144
1,3
-
0,004
0,000
0,9
0,03
Brody
73
0,960
144
1,4
0,5
0,01
0,003
0,000
-
Von Bertanlanffy
42
0,960
145
1,3
0,2
0,006
0,003
0,000
-
Modelo
Quadro 2
Número de iterações, r2 ajustado e parâmetros
de crescimento associados ao ajustamento dos
dados de altura da totalidade dos animais das 16
explorações estudadas aos modelos matemáticos
não lineares de Gompertz, Logístico, Brody e Von
Bertanlanffy.
A - Altura à maturidade • B - Constante de integração •
k - Índice de maturidade • M - Determina o ponto de inflexão.
(Cabrita, 1997) e em 2007 (Maia, 2007), a
idade à puberdade tem vindo a diminuir,
aproximando-se cada vez mais dos
valores de referência. Os resultados
obtidos nos referidos estudos anteriores
apontavam para idades à puberdade
muito superiores a 450 dias e neste
momento esses valores encontram-se a
rondar os 378 dias para o peso vivo e os
459 dias para a altura.
Efeito da idade ao 1º parto na
produção de leite
Na maioria dos animais avaliados, a
idade ao 1º parto é superior a 26 meses,
ou seja superior à idade ideal referida na
literatura para a raça Holstein Friesian, que
se encontra entre os 22 e os 24 meses
(Quadro 4). Este facto pode ser explicado
pelo alcance mais tardio da puberdade
destes animais, bem como pela opção
de alguns produtores em adiarem a
primeira inseminação. Também é possível
constatar que animais com idades ao
primeiro parto inferiores a 24 meses
produziram menos leite na primeira
lactação não existindo, no entanto,
diferenças significativas nas lactações
seguintes.
CONCLUSão
No presente estudo verificou-se que
as fêmeas Holstein Friesian de 16
explorações comerciais, do concelho de
Vila do Conde, atingem a puberdade mais
tarde do que os valores de referência,
no entanto esta idade tem vindo a
diminuir. Esta situação encontra-se,
muito provavelmente, relacionada com
Idade à Puberdade (dias)
Modelo
Peso Vivo
Altura
Gompertz *
383
408
Logístico *
384
439
Brody
341
442
Von Bertanlanffy *
370
429
Polinomial de Grau 2
410
577
Nº Iterações
r2 Ajustado
Gompertz
31
Logístico
Quadro 4
Efeito da idade ao 1º parto na produção de leite aos 305 dias nas primeiras 3 lactações no total das
explorações estudadas.
Modelo
Lactação
Idade ao 1º Parto (meses)
≤ 24
24-25
25-26
26
EPM
P
-
-
n
15
17
19
65
-
-
1
8468a
9336b
9309b
9532b
254,5
0,007
2
9981
10720
10178
10796
392,3
0,077
3
10380
10635
10473
11121
412,8
0,102
TOTAL
28786
30583
29917
31427
930,8
0,013
a
a,c
a
b,c
n - nº de observações para cada classe de idades ao 1º parto • EPM – Erro padrão da média • Na mesma linha, valores com
notações diferentes (a, b, c), são significativamente diferentes (P<0,05).
melhorias verificadas nos últimos anos,
no maneio alimentar dos animais de
reposição e no seu potencial genético.
Observou-se também, que os animais
atingem o peso indicativo da puberdade
mais cedo do que a altura, sugerindo
a necessidade de correções a nível do
regime alimentar, principalmente no
equilíbrio energia/proteína.
Na população amostrada, a produção de
leite na primeira lactação é menor quando
a idade ao primeiro parto é inferior a 24
meses, não se verificando diferenças nas
lactações seguintes. Para melhor analisar
o impacto desta situação nas explorações
da região seria necessária uma análise
económica que confronte a vantagem
de encurtar a fase improdutiva dos
animais (e.g., custos de recria, longevidade
produtiva) com a eventual perda de
produção na primeira lactação.
Por fim, saliente-se que este estudo foi
realizado apenas em 16 explorações, tendo
sido os animais medidos apenas uma vez.
De modo a ser possível a extrapolação
dos resultados para a realidade de toda a
região, será importante alargar a base de
Quadro 3
Estimativa da idade à puberdade com base
nos dados de peso vivo e altura recolhidos nas
explorações estudadas.
56 julho . agosto . setembro 2014 Ruminantes
dados, bem como a obtenção de dados
longitudinais. Todavia, a facilidade e rapidez
do estudo e dos métodos utilizados,
permitiram traçar um panorama muito
próximo da realidade desta região num
curto espaço de tempo, dando a conhecer
um pouco melhor aos produtores que
alterações podem implementar no sentido
de melhorarem o rendimento das suas
explorações.
Agradecimentos
À Cooperativa Agrícola de Vila do Conde (CAVC)
que colaborou e tornou possível a realização da parte
experimental deste trabalho; À Engenheira Isabel
Ramos (Sub-secção de Nutrição Animal da CAVC) e
Engenheiro André Lopes (Sub-secção de Nutrição
Animal da CAVC) pelo empenho e auxílio na realização
deste estudo e nas medições dos animais; Às
explorações de leite em estudo e respetivos produtores
pela sua simpatia e disponibilidade, tendo um papel
fundamental na concretização deste trabalho.
Referências Bibliográficas
Cabrita, A.R.J., 1997. Factores que influenciam o
surgimento da puberdade em fêmeas da raça Holstein
frísia. Relatório Final de Estágio. Universidade de Trásos-Montes e Alto Douro, Vila Real, 159 pp.
Maia, M. A. M. A. 2007. Crescimento de fêmeas
Holstein Friesian na região de Entre-Douro e Minho.
Relatório do trabalho final de curso. Engenharia
Agronómica. Faculdade de Ciências da Universidade
do Porto, 70 pp.
Santos, T.M.V., 2013. Crescimento de Novilhas Holstein
Friesian na região do Entre-Douro e Minho. Dissertação
de Mestrado em Engenharia Agronómica, Faculdade
de Ciências da Universidade do Porto, Porto, 77 pp.
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ambientais e, por conseguinte, reduz o
número de casos de mastite ambiental,
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Reduz eficazmente as emissões de
amoniaco da cama (que provoca tosse,
problemas respiratórios e lesões
pulmonares) de vitelos.
American Dairy Science Association
World Association for Buiatrics
Produção
Informação fornecida pelo
contraste leiteiro
O contraste leiteiro pode ser uma excelente ferramenta para monitorizar várias áreas
de interesse numa exploração leiteira, para além de contribuir com informação útil
para o melhoramento animal.
Dos dados que são fornecidos mensalmente fazem parte várias folhas que
podem ajudar a compreender o que está a ocorrer na exploração.
Uma das folhas que mais importância tem, é a folha de Resumo Mensal da
Exploração. Nesta folha são apresentadas algumas médias com interesse.
Resumo Mensal da Exploração
Ricardo Bexiga
Faculdade de Medicina Veterinária,
Universidade de Lisboa
[email protected]
Número de animais
na 1ª lactação
Esta coluna apresenta a distribuição
do número de animais por lactação,
caracterizando a estrutura da população.
No caso de estarem a ser adquiridos
animais, para um aumento voluntário do
efectivo, é frequente que a proporção de
vacas na 1ª lactação seja elevado. Caso
58 julho . agosto . setembro 2014 Ruminantes
não estejam a ser adquiridos animais,
uma proporção elevada de novilhas
corresponde geralmente a um refugo
demasiado intenso, com baixa longevidade
dos animais. As causas desta baixa
longevidade devem ser investigadas e
deve ser estabelecido um plano de acção.
Em explorações com bom maneio, as
primíparas correspondem a cerca de 33%
Produção
do total de animais em lactação.
Deve também ser avaliada a
proporção de animais com 5 ou
mais lactações: em explorações
em que os animais têm grande
longevidade, este grupo pode
corresponder a 10% do efectivo
em lactação.
Número médio de
dias em lactação
Este parâmetro pode dar-nos
uma ideia de como está o
efectivo no plano reprodutivo.
Se a distribuição de partos
fosse uniforme ao longo do
ano, esperaríamos que este
valor fosse aproximadamente
metade da duração média
das lactações, ou seja, no
caso de lactações com 305
dias, teríamos cerca de 153
dias. Na prática, a distribuição
dos partos não é uniforme ao
longo do ano, com picos de
partos a ocorrer geralmente
9 meses após o Outono,
devido às baixas taxas de
concepção durante o Verão.
Assim, os valores mais baixos
costumam ocorrer nos meses
de Dezembro e Janeiro.
Em explorações em que o
intervalo médio entre partos
não é muito longo, este valor
ronda em média ao longo do
ano os 175 dias.
Diferença entre média
de dias em lactação
para a totalidade do
efectivo e para as
novilhas
É frequente as primíparas
terem um intervalo entre o
parto e a concepção mais
longo que o resto dos
animais, eventualmente
devido a um balanço
energético negativo mais
prolongado por ainda terem
necessidades energéticas de
crescimento. No entanto, é
desejável que a média de dias
em lactação das primíparas
não se afaste demasiado da
média do resto da exploração.
Se isso acontece, podemos
considerar a hipótese de
existirem problemas na recria
ou no acesso das primíparas
a espaço de manjedoura. Esta
diferença não deve exceder
em média os 15 dias.
Teor butiroso
Este valor é variável de
acordo com os objectivos
das explorações e com o
maneio nutricional que é
realizado. Existe também um
elevado grau de variação em
função do processamento
da amostra, uma vez que a
gordura sendo menos densa
acaba por ficar na superfície
dos recipientes. É um dos
parâmetros em que com mais
frequência existe disparidade
entre os valores do contraste
e os valores fornecidos pela
fábrica que recolhe o leite.
Em termos de monitorização,
valores médios abaixo de
3.3% no contraste, devem
levar a uma investigação mais
profunda sobre a ocorrência
de acidose nos animais. Esta
investigação pode passar por
exemplo pela verificação da
uniformidade das fezes e pela
avaliação da proporção dos
animais deitados que está a
ruminar.
Teor proteíco
Este parâmetro pode darnos alguma indicação sobre
a ocorrência de balanço
energético negativo nos
animais. Teores proteicos
relativamente baixos em
animais individuais, abaixo
de 2.9% (Mulligan et al,
2006) estão correlacionados
com balanço energético
negativo. Isso significa
que valores no contraste
abaixo de 3.2% devem levar
a uma investigação mais
pormenorizada da nutrição.
É importante salientar que
muitas vezes a formulação
da dieta pode estar correcta,
mas a disponibilidade de
alimento pode ser irregular
ao longo do dia, com os
animais a passarem horas
com a manjedoura vazia.
Ureia
O teor médio de ureia no
leite depende também da
nutrição. Se há excesso de
ureia no leite, esta provém
do azoto que não está a ser
completamente aproveitado
pelos microorganismos do
rúmen, sendo o excesso
excretado pelo leite. Esse
excesso de azoto pode
ser absoluto, no caso do
nível de proteína da dieta
das vacas ser excessivo,
todavia, dados os preços das
fontes de proteínas na dieta
das vacas leiteiras serem
elevados, este excesso
absoluto de azoto hoje
em dia será relativamente
raro. O excesso de azoto
pode também ser relativo
a uma escassez de energia
no rúmen, para que os
microorganismos possam
utilizar o azoto na síntese
proteica, o que será a
situação mais frequente.
Os valores de referência
encontrados na literatura
internacional são por norma
mais baixos dos que são
encontrados frequentemente
nos contrastes de
explorações nacionais. É
possível que isso se deva a
calibrações diferentes dos
equipamentos. De qualquer
forma, nos contrastes
nacionais, valores acima
de 300 devem levar a
uma verificação da dieta
dos animais, em termos
de balanço entre energia e
proteína.
Contagem de células
somáticas
Estes será um dos valores
para os quais mais
frequentemente se olha, e é
relativamente imediato. Um
dos pontos mais importantes
das contagens de células
somáticas é a divisão por
fases da lactação. Deve ser
dada especial atenção ao
período até aos 60 dias de
lactação, em comparação
com as outras fases. No
início da lactação, os animais
deviam ter as contagens
mais baixas de todos os
animais em lactação, uma
vez que acabaram de passar
por um período seco em
que foram submetidos a
antibioterapia, para tratar
infecções existentes e
prevenir novas infecções.
Com frequência no entanto,
até aos 60 dias surgem as
contagens médias mais
elevadas. Isto prende-se
normalmente com condições
de higiene deficientes
na maternidade, no local
onde estão as vacas recém
paridas e com balanço
energético negativo antes e
depois do parto, que reduz
o estado imunitário dos
animais.
Relatório Mensal de Gestão
das Células Somáticas
Outra das folhas que
compõem as listagens
do contraste leiteiro é o
Relatório Mensal de Gestão
das Células Somáticas, que
contém a listagem de vacas
problema. Nesta listagem
surge alguma informação
relevante para monitorizar a
situação do efectivo.
Os primeiros quadros
permitem-nos saber qual
a proporção de vacas em
lactação sem mastites,
correspondendo à
percentagem de animais
abaixo das 200.000
células/ml de leite.
Esta folha apresenta também
o valor de perda diária de leite,
em função das contagens
de células somáticas médias
do contraste e da produção
actual. Esta perda é variável de
acordo com o nível de células
somáticas. A um aumento das
200.000 para as 500.000
células/ml de leite, corresponde
uma perda diária de produção
de cerca de 6% (NMC).
ruminantes julho . agosto . setembro 2014 59
Produção
TABELA 1
Lactações em Curso
Produções Médias Diárias
Lactações
Produção (kg)
Nº de
Animais
dias
lact.
leite
M. G
M. P.
1a Lactação
84
178
31,5
0,83
0,99
2,68
2 Lactação
68
147
35,8
1,09
1,15
3a Lactação
27
107
44,6
1,37
1,36
a
T. B. (%)
T. P. (%)
CCS
Ureia
(mg/kg)
x 1.000
L. S.
3,17
308
128
3,4
3,00
3,22
329
111
3,1
3,07
3,06
301
51
2,0
4a Lactação
21
159
45,0
1,41
1,39
3,13
3,09
319
139
3,5
5a Lactação e seguintes
16
204
36,9
1,23
1,16
3,32
3,15
304
82
2,7
Média do Efectivo
216
159
36,2
1,07
1,14
2,95
3,15
315
108
3,1
Lactações até 60
60
34
39,7
1,20
1,23
3,00
3,09
289
104
3,1
Lactações de 61 a 120
40
90
42,5
1,18
1,26
2,78
2,96
317
66
2,4
Lactações de 121 a 180
36
146
37,4
1,07
1,19
2,85
3,18
338
128
3,4
Lactações acima de 180
80
294
29,9
0,92
1,00
3,09
3,34
322
131
3,4
A lista de vacas problema
inclui vários parâmetros úteis
para monitorizar a saúde
do úbere no efectivo. Estes
parâmetros incluem para
além da contagem de células
somáticas:
• LS. As iniciais de linear
score, uma conversão
logarítmica da contagem
de células somáticas.
No fundo trata-se
apenas de apresentar o
resultado de outra forma,
correspondendo um valor de
4.0 a contagens de células
somáticas de 200.000
células/ml.
• Número de vezes com
LS>4. Esta coluna mostra o
número de vezes que um
animal teve uma contagem
de células somáticas
superior a 200.000 células/
ml durante a presente
lactação. Dá-nos uma ideia
se a mastite subclínica que
o animal apresenta, que
se traduz por aumento
da contagem de células
somáticas, aconteceu pela
primeira vez nesta lactação,
ou se já é uma situação
crónica.
• Média de LS. Esta coluna
permite ter uma noção
da gravidade da mastite
subclínica, pela média
de células somáticas
na presente lactação,
convertida mais uma vez em
linear score. Quanto maior
for esta média, maior será a
gravidade da mastite.
Para além destas colunas,
é bastante útil a informação
acerca do número de dias
em leite e do número de
lactações, quando se tomam
decisões quanto ao futuro
dos animais na exploração.
Número de animais na primeira lactação
Número médio de dias em lactação para as primíparas
Número médio de dias em leite
Contagem de células somáticas até aos 60 dias de lactação
conclusão
O contraste leiteiro
é uma excelente
ferramenta para
monitorizarmos o que
está a acontecer no
nosso efectivo. Deve no
entanto ser olhado como
um todo, já que todos os
parâmetros estão interrelacionados de alguma
forma. Consideremos por
exemplo uma situação
em que a ureia no leite
é relativamente elevada.
Simultaneamente, o
teor de proteína do leite
pode ser relativamente
baixo, indicando risco
de balanço energético
negativo para alguns
animais. O balanço
energético negativo pode
levar a má performance
reprodutiva, com aumento
do número médio de
dias em leite. Para
além disso, o balanço
energético negativo
pode conduzir também a
quebras imunitárias, com
consequente aumento
nas células somáticas.
O contraste leiteiro
permite no fundo
monitorizar o efectivo
quanto a vários
parâmetros, alertando-nos
para possíveis cenários na
vacaria. Devemos lembrarnos no entanto que o
contraste leiteiro não
substitui um olhar atento
aos animais!
Bibliografia:
Mulligan, F. J., O’Grady, L., Rice, D. A.,
Doherty, M. L. (2006). A herd health
approach to dairy cow nutrition and
production diseases of the transition
cow. Animal Reproduction Sience,
96:331-353.
FIGURA 2
O número de vacas
em cada lactação pode
esclarecer sobre o nível de
refugo na exploração.
60 julho . agosto . setembro 2014 Ruminantes
National Mastitis Council. The
value and use of dairy herd
improvement somatic cell count
(http://nmconline.org/dhiscc.htm).
Acesso em Março de 2014.
TestemuNhos de PRODUTORES E técnicos nacionais com experiência de vacas Procross
Adelino Oliveira
Produtor, Paço de Sousa
“O nosso ensaio com o Procross tem demonstrado melhor fertilidade e
robustez. A produção é equivalente ás da raça Holstein frísia, tendo como
contrapartida o aumento dos sólidos do leite (TP 3,7 e TB 3,9), sendo
um bónus extra que o nosso comprador valoriza. Salientando que o
encurtecimento do IPP e o aumento da longevidade, projeta uma menor
taxa de refugo e maior número de partos na vida produtiva. Em suma, num
menor curto prazo, atingiremos o nosso objectivo (crescimento do efectivo).”
Miguel Vieira e Manuel Vieira
Sócios gerentes da Agro-Pecuária Irmãos Vieira, Lda., Ovar
“Iniciámos em Novembro de 2010, a utilização do Programa Genético
de Valorização do Vigor Híbrido “PROCROSS”. Até Outubro de 2013
fomos analizando os poucos dados que foram aparecendo na nossa
Exploração, junto com as diversas informações técnicas e dados de
outros colegas Produtores de Leite Nacionais que já estavam mais
avançados no “PROCROSS”. Em Outubro de 2013 e após visita a vários
Estábulos Nacionais “PROCROSS”, decidimos alterar a nossa estratégia
Genética para a utilização do Programa Rotacional “PROCROSS” a
100% conforme as recomendações Técnicas. Até ao momento estamos
satisfeitos, pois todos os indicadores Técnicos estão dentro do previsto.”
Manuel Paulo
César Silva
Medico Veterinario, Vila do Conde
Sócio Gerente da Quinta do Muroz, S.A.,
Bebedouro - Arazede
“Tenho assistido através do programa
PROCROSS a uma maior valorização
dos vitelos e uma menor necessidade
de intervenção veterinária dos animais
em geral. Reprodutivamente são mais
eficientes, reduzindo o IPP alcançam
taxas de reposição muito interessantes.
O objetivo de alcançar a máxima
rentabilidade através da longevidade e
saúde dos animais sem comprometer a
produção, parece-me possível, através
do uso dos melhores touros de cada
raça que se conseguir alcançar.”
“Após visita a vários estábulos nacionais
“PROCROSS”, de ter verificado e
confirmado com os meus colegas, que
a utilização da mais valia económica
do vigor híbrido do programa rotacional
“PROCROSS” é da maior importância para o
aumento da rentabilidade do nosso negócio,
decidimos, assim alterar a nossa estratégia
Genética com a introdução do Programa
“PROCROSS” na nossa Exploração de
produção de Leite que começou a ser
utilizado em 05-01-2012.”
Andreia Santos
Médica Veterinária Responsavel da Cooperativa Agricola de Famalicão
“A desvalorização do valor de mercado dos animais de aptidão cárnica, há cerca de 6-7 anos atrás, redirecionou a
procura de possíveis cruzamentos da raça Holstein com raças de aptidão mista. Vem desse tempo a nossa experiência
com cruzas Holstein – Montbéliarde, Holsteins – Parda Suíça ou Holstein – Sueca Vermelha. Com as mais variadas
características, todos encontraram um lugar nas explorações de leite e, de uma forma geral, são apreciadas pelos
produtores, pelo carácter resistente e funcional. A resistência, sabe-se, tem origem no vigor híbrido que se obtém no
cruzamento de duas raças diferentes. A introdução de uma terceira raça potencia essa característica. O comportamento
de produção leiteira destes animais faz com que sejam menos susceptíveis a doenças metabólicas, as quais estão na
origem dos grandes desequilíbrios no pós-parto. Enquanto assistente de explorações, encaro o crossbreeding através
de programas de cruzamentos testados e comprovados como uma ferramenta de trabalho, que deve ser usada com
critério, em resposta aos problemas que caracterizamos em cada exploração, com uma preocupação: cruzar os animais
Holstein não é sinónimo de desvalorizar o valor genético da raça a usar, mas selecionar, a par dos melhores Holstein, os
melhores Montbéliarde, Sueco Vermelho ou Pardo Suíço.”
entrevista
A VACA PROCROSS
NA HOLANDA
Entrevista com Walter Liebregts da KOOLE & LIEBREGTS B.V. Heino, Holanda
por ruminantes
A empresa holandesa K&L está há 20
anos no mercado da genética e conta
atualmente com 25 colaboradores. O
seu negócio centra-se na venda de
sémen das raças Holstein Friesian,
Montbéliarde, Jerseys e Vermelho Sueco,
na Holanda; e Holstein na Europa e nos
EUA. Entrevistado pela Ruminantes,
Walter Liebregts, fundador e atual
gerente, falou acerca dos principais
problemas que afetam as explorações
leiteiras holandesas no que se refere à
genética.
O mercado holandês de vacas leiteiras
representa, segundo Liebregts, cerca
de 2 milhões de animais e 18 mil
produtores com uma média de 95
vacas por exploração. Os valores
médios de produção por vaca são
de 8.800 kg leite por ano, com 4,4%
gordura e 3,5% de proteína. A genética
mais difundida é a Holstein mas,
segundo o entrevistado, são cada vez
mais os produtores que começam
a cruzar as vacas. Referiu ainda que,
atualmente, cerca de 15% do efetivo
leiteiro holandês é inseminado com
outra raça e que o crescimento anual
de vacas cruzadas é de 1%.
Para o gerente da K&L, o preço elevado
da terra e da alimentação das vacas,
aliados à tendência de crescimento do
número de animais no seu país, fazem
com que a eficiência alimentar seja um
fator muito importante e em que os
produtores terão que se concentrar nos
próximos tempos. Com efeito, refere
“muitas explorações novas foram
construídas nos últimos três anos, e
quando o sistema de quotas acabar,
estas explorações serão preenchidas
com mais vacas.”
62 julho . agosto . setembro 2014 Ruminantes
Ruminantes - O que mudou no negócio da
genética na Holanda, nos últimos cincos
anos?
Walter Liebregts - Os agricultores começaram
a verificar que a fertilidade das vacas e a
vida produtiva está a piorar, há menos vacas
gestantes e com maior número de doses por
vaca gestante, e estão menos anos em lactação.
Os produtores estão cada vez mais atentos ao
problema do aumento da consanguinidade da
raça Holstein, e a seleção genómica vai fazer
acelerar este problema. Os agricultores querem
vacas mais eficientes e mais saudáveis, e as
cruzadas são muito melhores animais no que
toca a eficiência e rentabilidade.
Quais são os principais problemas de
origem genética nas explorações leiteiras
holandesas?
A consanguinidade na população das vacas
Holstein.
entrevista
Que têm feito os produtores
para resolver esses
problemas?
Os cruzamentos são
a única solução para
resolver os problemas de
consanguinidade.
Que resultados de campo
está a obter com o programa
ProCross?
Relativamente aos
produtores holandeses
que já estão no programa
e dos quais analisamos
regularmente os dados,
podemos afirmar que,
em média, registam uma
melhoria substancial nos
seguintes pontos:
• Intervalos entre Partos
(IPP): menos de 40 Dias
• Células Somáticas: menos
de 50.000/ml
• Média das produções por
dia igual à das vacas puras
• Menos animais na recria
devido ao refugo ser muito
baixo
• As vacas vivem em média
mais de 1 ano
• Custos de saúde:
Despesas com veterinários
e medicamentos reduzidos
em 50%
O conceito ProCross
é bastante recente na
genética leiteira. Acha que é
um produto com condições
para vencer? Porquê?
Sim, claro que é um
produto vencedor. Resolve
muitos dos problemas
de saúde originados pela
consanguinidade. As
três raças são as mais
produtivas, e entre elas
combinam-se muito
bem nos pontos fortes e
fracos de cada uma. Com
o decorrer do programa,
os produtores começam
a confirmar através do
acompanhamento dos
principais indicadores
económicos, reprodutivos,
produtivos e de saúde, que
tudo o que o programa
Procross propõe está lá para
seu benefício.
O ProCross implica a
utilização de três raças
diferentes, Holstein,
Vermelha Sueca e
Montbéliarde. Porque é
que não são outras raças
leiteiras?
Devido à baixa produção das
outras raças e também às
diferenças no tamanho dos
animais. As outras raças
são demasiado pequenas
para se trabalhar com elas
num programa rotacional
como o ProCross.
Como explica as diferentes
reações das pessoas
ao conceito Procross na
Holanda?
Cada vez mais agricultores
iniciam o programa
ProCross com a nossa
empresa. Outros ainda
estão emocionalmente
ligados às Holstein. Alguns
grupos de veterinários já
veem o nosso programa
como uma prevenção para
os problemas excessivos
das Holstein e até têm sido
bastantes favoráveis. Outros
ainda o veem como uma
ameaça ao seu modelo de
rendimento económico. Os
nutricionistas têm tido, até
agora, uma atitude mais
neutra.
Como vê o negócio de
genética na Holanda nos
próximos cinco anos?
Esperamos duplicar as
nossas vendas a cada três
anos.
Quanto representam as
vendas de sémen ProCross?
Cerca de 90%.
Que tipo de serviços presta
aos produtores?
Programas de
emparelhamentos e
distribuição de sémen
diretamente nas
explorações.
Todo-o-terreno com queda
para a agricultura
A Polaris apresentou, no
passado mês de maio,
novos produtos com
aplicações possíveis na
agricultura. Para o efeito,
a marca norte-americana
organizou uma prova
todo-o-terreno na Herdade
do Monte da Ribeira, em
Reguengos, propriedade da
Ervideira.
Na gama ATV, a Sportsman
570 – modelo testado pela
abolsamia - apresentase interessante para
deslocações no interior
de herdades, devido à sua
rapidez e versatilidade. Este
veículo está disponível para
homologação como trator.
Na gama RANGER, o
modelo XP900 de 60
cavalos (off road) – que
também testámos–
apresenta-se mais
potente, com o motor
localizado sob a caixa de
carga, fazendo com que
a condução seja mais
silenciosa. É possível
efetuar a alteração de
AWD (All Wheel Drive)
para 2WD em andamento,
sendo apenas necessário
desacelerar. Este modelo
tem a possibilidade de
desbloquear o diferencial
e permitir que as rodas
de transmissão traseiras
funcionem de forma
independente. Esta
inovação facilita a rodagem
em pisos sensíveis como
estufas e relvas, permitindo
ainda manobras em
espaços apertados.
A linha Full Size desta
gama tem ainda uma
versão a diesel, com motor
Yanmar 900cc 3 cilindros,
possuindo mais de 40
por cento de autonomia
que o XP e uma maior
capacidade de reboque.
Este veículo tem bastante
interesse para a utilização
de gasóleo agrícola.
A versão Crew, por sua vez,
apresenta-se com a 570,
800 e 900. Esta última é
idêntica à RANGER 900,
atinge os 80 quilómetros/
hora e tem mais espaço
para os passageiros atrás.
A Polaris é uma empresa
de origem norte-americana
que nasceu em 1954,
em Roseau, no estado
do Minnesota, como
fabricante de motos de
neve.
Está presente a nível
mundial com mais de 12
filiais e 41 distribuidores.
Em Portugal, as operações
são geridas pela
Polaris Ibéria, que tem
4 concessionários e 8
agentes, dependentes do
Grupo MASAC.
ruminantes julho . agosto . setembro 2014 63
SAÚDE E BEM-ESTAR ANIMAL
Joaquim Cerqueira
Escola Superior
Agrária do Instituto
Politécnico de Viana
do Castelo
José Araújo
Escola Superior Agrária
do Instituto Politécnico
de Viana do Castelo,
Centro de Investigação de
Montanha (CIMO) – ESA-IPVC
ORIENTAÇÕES PARA
AVALIAÇÃO DE RISCO
Em bem-estar animal
Autoridade Europeia
de Segurança
Alimentar
A Autoridade Europeia de
Segurança Alimentar (EFSA)
foi criada em janeiro de
2002, e tem como principais
atribuições o aconselhamento
científico independente e o
apoio à Comissão Europeia
na criação de legislação para
as políticas de segurança
alimentar da UE. A EFSA
tem realizado um trabalho
fundamental na elaboração
de pareceres independentes
sobre os riscos associados à
alimentação humana e animal,
fitossanidade, ambiente,
saúde animal e bem-estar
animal utilizando, sempre
que possível, uma avaliação
de risco. Além disso, uma
das funções da Autoridade
é promover e coordenar
o desenvolvimento de
metodologias de avaliação
de risco uniformes, nas áreas
mencionadas, auxiliando os
investigadores, professores e
alunos na orientação dos seus
estudos nestas temáticas.
Compete à EFSA contribuir
para o desenvolvimento de
normas, realizar a avaliação
dos riscos num contexto
global e promover medidas
64 julho . agosto . setembro 2014 Ruminantes
baseadas nos resultados
obtidos ao nível do bem-estar
animal. Saliente-se que o
painel de peritos da área de
Saúde e Bem-Estar Animal da
EFSA aprovou 42 pareceres
científicos sobre bem-estar
animal, entre 2004 e 2012,
nomeadamente no que se
refere ao bem-estar de vitelos,
suínos, vacas e espécies
selvagens.
A avaliação dos riscos para
a saúde e o bem-estar dos
animais, como um bem
público, visa a proteção da
saúde humana, do meio
ambiente e a garantia dos
benefícios económicos. O
Painel de Saúde e Bemestar Animal da EFSA é
responsável por todos os
aspetos de saúde e bemestar animal, relacionados
principalmente com animais
de produção na sua relação
homem-animal-ambiente.
Os protocolos de avaliação
de bem-estar utilizados em
trabalho de campo devem
abranger os principais riscos
identificados em pareceres
científicos da EFSA.
A integração da avaliação
de risco com a aplicação
das medidas baseadas
nos animais, passa por um
quadro metodológico da
SAÚDE E BEM-ESTAR ANIMAL
Avaliação de risco
em bem-estar animal
EFSA, garantindo a definição
e validação dessas medidas,
recolha sistemática de dados
de campo, assegurando a
fiabilidade e robustez dessas
medidas que poderiam ser
usadas em sistemas de
vigilância de bem-estar a nível
europeu, permitindo ainda
futuras avaliações.
Geralmente as patologias
dos animais de produção
apresentam uma etiologia
multifatorial. Muitos dos fatores
de risco interagem entre si
e apresentam um carácter
cumulativo, tendo cada
exploração um conjunto de
fatores de risco específicos. Por
isso, uma análise individual por
fator de risco, apesar de indicar
uma tendência da avaliação,
será redutora na sua análise
estatística. Os fatores de risco
podem ser externos (agentes
ambientais) ou internos
(intrínsecos ao animal).
A avaliação dos riscos em
bem-estar animal compreende
três etapas: a avaliação da
exposição, a identificação de
perigos e as consequências
associadas. Algumas avaliações
consideram um único fator e
um único resultado, no entanto
para a avaliação dos riscos
de bem-estar animal, deve
equacionar-se muitas vezes a
necessidade de incluir vários
fatores em simultâneo, com
ou sem interacção entre estes
(Tabela 1).
Os animais podem ser
expostos em simultâneo ou
sucessivamente a um ou mais
fatores de risco, contribuindo
para a mesma ou para uma
variedade de consequência(s).
TABELA 1
Exemplos de fatores de risco de bem-estar e respetivas consequências (adaptado
de EFSA, 2012b).
Fator de risco único
Consequência única
Mycobacterium bovis
Listeria monocytogenes
Tuberculose bovina
Listeriose
Fatores de risco múltiplos
Consequência única
Agentes microbianos
Higiene na ordenha
Sistema de estabulação
Nutrição
Genética
Mastite
Fatores de risco múltiplos
Consequências múltiplas
Higiene na ordenha
Sistema de estabulação
Nutrição
Agentes químicos
Maneio animal
Mastite
Claudicação
Infertilidade
Lesões
Comportamento anormal
FIGURA 1
Fluxograma de princípios de bem-estar animal, algumas medidas
baseadas nos animais e sua magnitude (adaptado de EFSA, 2012b).
Consequências da
falta de bem-estar
(exemplos)
Medidas de
bem-estar
(exemplos)
Magnitude
(duração x intensidade)
duração
Cenário de
exposição
•
•
•
•
•
•
•
•
Fome
Sede
Conforto fisico
Conforto térmico
Lesões
Doenças
Dor
Comportamento
A avaliação de risco para vários
fatores pode ser efetuada
isoladamente ou levar em
consideração as possíveis
interações entre diversos
fatores (antagonismos, sinergias
e seus efeitos), devendo a
sua identificação ter por base
a investigação científica.
Nesta fase e de acordo com a
causa dos riscos associados
à população alvo, o objetivo
consiste em obter uma listagem
completa dos fatores relevantes
com influência no bem-estar
dos animais. É importante
considerar o nível, a duração e
a variabilidade de um fator de
risco.
As medidas de bem-estar
baseadas nos animais
(indicadores) são necessárias
para avaliar as consequências
dos problemas, dependendo a
sua interpretação e avaliação
da magnitude da patologia. As
medidas podem ser realizadas
por um produtor, por um técnico
ou inspetor habilitado, sendo
recomendável a consulta de
publicações da EFSA (ex:
avaliação de bem-estar em
vacas leiteiras (EFSA, 2012a)).
O diagrama seguinte ilustra
as consequências da falta de
bem-estar animal e algumas
medidas de avaliação baseadas
no animal. As pontuações de
cada medida proporcionam
uma avaliação da intensidade
de cada problema de bem-
pontuação
claudicação
Magnitude
intensidade
pontuação
higiene
pontuação
condição
corporal
estar específico. A magnitude
por sua vez resulta do binómio
da duração e da intensidade
de cada indicador mensurado
(Figura 1).
A caraterização do risco
consiste em determinar a
estimativa quantitativa e
qualitativa do mesmo, incluindo
as incertezas inerentes e a
probabilidade de ocorrência de
perigos para o bem-estar de
uma determinada população,
podendo igualmente ser
realizada ao nível do indivíduo.
Mais Informação
Para ter acesso aos pareceres
científicos da EFSA é favor consultar o
endereço eletrónico:
www.efsa.europa.eu/en/panels/ahaw.htm
Bibliografia
EFSA (European Food Safety Authority),
2009. Scientific Opinion of the Panel on
Animal Health and Welfare on the overall
effects of farming systems on dairy cow
welfare and disease. The EFSA Journal,
1143: 1-38.
EFSA (European Food Safety Authority),
2012a. Scientific Opinion on the use
of animal-based measures to assess
welfare in dairy cows. EFSA Journal, 10(1):
2554.
EFSA (European Food Safety Authority),
2012b. Scientific Opinion on Guidance
on Risk Assessment for Animal Welfare.
EFSA Journal, 10(1): 2513.
ruminantes julho . agosto . setembro 2014 65
SAÚDE E BEM-ESTAR ANIMAL
Mas afinal o que é
a CETOSE?
POR ELANCO PORTUGAL
A cetose é um distúrbio
metabólico, que está associado
ao período de transição da vaca,
período esse em que a vaca
necessita de mais energia (para
o desenvolvimento da glândula
mamária, produção de leite,
crescimento do feto, sistema
imunitário e sua manutenção)
e simultaneamente ingere
menos concentrado, o que faz
com que entre em balanço
energético negativo e como
não o consegue “ vencer”, o
seu organismo vai mobilizar
reservas corporais ( Nefas) que
levarão à formação de corpos
cetónicos no fígado. Em vacas
leiteiras, o principal corpo
cetónico é o BHBA.
Daqui é de salientar a ideia que
os sintomas de cetose surgem
no pós-parto, mas claramente a
origem desta é no pré-parto, daí
ser fundamental a prevenção.
Quando se fala de cetose há
que considerar cetose clínica e
subclínica.
Tal como o próprio nome indica,
cetose subclínica é aquela
em que não há manifestação
de sintomas por parte do
animal. Ora aqui está o grande
problema inerente a esta
patologia, uma vez que não
se evidencia clinicamente,
muitas vezes não é detetada
precocemente.
É uma doença que surge
com prevalência bastante
significativa, mesmo em
explorações com bom maneio e
gestão. A cetose subclínica tem
uma prevalência muito maior
que a forma clínica; estamos
a falar, em média, de 3% de
prevalência cetose clínica para
30% de prevalência cetose
oculta. Assim, se pensarmos
numa exploração com 100
vacas, há cerca de 3 vacas
em que é possível observar
os sintomas e diagnosticar a
doença; contudo há 30 vacas
que podem ter cetose e como
não manifestam os sintomas
passam despercebidas, o que
permite que a patologia se
desenvolva e agrave.
São muitas as consequências
associadas á cetose, tais como:
diminuição da produção de
leite (menos de 350l/vaca
afetada), Quebra na reprodução
(potencia o aparecimento de
quistos ováricos, conduzindo
à infertilidade), deslocamentos
de abomaso, metrites, maior
taxa de refugo de vacas e/ou
novilhas.
A grande consequência da
cetose subclínica é o forte
impacto económico, que se
traduz por elevados prejuízos
para o produtor, podendo
chegar aos 600 euros por vaca
afetada.
Então como
é possível
fazer um
diagnóstico
rápido e
concreto
de cetose
subclínica?
Para ajudar os
veterinários e
produtores a
identificar cetose
subclínica nas suas
explorações, a
Elanco lançou um
66 julho . agosto . setembro 2014 Ruminantes
Kit denominado
Keto-Test, que se
pode realizar na
própria exploração.
Este Kit de diagnóstico foi
apresentado no colóquio
e explicado o seu modo
simples e fácil de manusear.
São apenas necessários
breves minutos para obter
uma avaliação precisa da
presença de cetose subclínica.
Consiste num Kit de 20
tiras colorimétricas. Assim,
mergulhando a tira num
recipiente com leite durante
pouco mais de 1 minuto, vai
surgir uma cor entre amarelo
a roxo intenso no topo da tira;
quanto mais intensa a cor
roxa, maior a concentração
de BHBA no leite e logo mais
grave é a cetose. Obtém-se
um resultado positivo quando
a concentração de BHBA é
superior a 100 micromoles/
litro leite, resultado esse que se
revela por uma tonalidade que
não se altera após a realização
do teste.
A quando da realização do
teste, há uma folha de registos
que deve der preenchida;
nessa ferramenta deve-se
registar o número de vacas
testadas e dessas as positivas.
Se a prevalência for acima
dos 25% - sinal de alarme – é
necessário consultar o médico
Veterinário.
O Keto-Test pode ajudar não só
a diagnosticar cetose subclínica
em vacas e novilhas em risco,
como também a realizar
uma monitorização regular
da exploração. Conhecer a
prevalência de cetose oculta
pode ser o primeiro passo
para decidir e implementar
estratégias de prevenção
que permitam reduzir o nível
de e o impacto da cetose na
exploração.
É sem dúvida um teste semiquantitativo muito prático,
podendo ser realizado quer
pelo veterinário quer pelo
produtor, sendo o único
método de diagnóstico de
cetose subclínica no leite,
existente no mercado. Uma
das principais vantagens desta
prova é que é realizada no leite
sendo assim mais prático do
que os outros testes existentes
no mercado.
Não promove qualquer tipo
de stress à novilha ou vaca e é
muito simples e fácil de efetuar.
Para além disso, os resultados
obtidos com este teste têm
uma ótima correlação com os
obtidos na análise laboratorial
de sangue.
conclusão
No final deste evento
sumarizaram-se as
seguintes conclusões:
• Prevalência cetose
subclínica ronda os
30%.
• Muitas consequências
que acarretam muitas
perdas financeiras para
o produtor.
• É possível diagnosticar
no leite cetose
subclínica: keto-test.
• É fundamental pensar
e adotar a prevenção,
para isso pode contar
com uma solução
inovadora Elanco!
O que aconteceria se um terço
das vacas dos seus produtores
tivessem um s€gr€do?
A cetose oculta não se vê, mas existe. Estudos recentes indicam que pode afetar
aproximadamente 30% das vacas, inclusive em explorações com um adequado
maneio.
Enquanto não se manifesta com sintomas visíveis, provoca custos. A cetose oculta é prejudicial
para a saúde das vacas, para o rendimento reprodutivo, para a produção de leite e a sua qualidade.
Pode trazer custos, desde 250€ até 600 € por vaca.
O Keto-Test é uma prova de leite rápida e fácil que ajuda os produtores
a controlar esta ameaça oculta na sua exploração. E nós podemos
ajudá-lo, dando-lhe recomendações e proporcionando ferramentas
para o controlo integral da exploração.
Para obter informações acerca da possibilidade em oferecer
um serviço de mais valia aos seus produtores, entre em contacto
com um representante da Elanco.
A etiqueta de Keto-Test contém toda a informação sobre a sua utilização, incluindo as advertências.
Leia, compreenda e siga sempre as instruções de manuseamento e a etiqueta.
Prevalência de cetose: Macrae, A.I. y col. Prevalence of clinical and subclinical ketosis in UK dairy herds 2006-2011. Congreso Mundial de Buiatría, Lisboa, Portugal, 2012;
Auditoria numa exploração da Elanco, 2011, n.º GN4FR110006. Dados arquivados.
Redução na quantidade de leite: Ospina 2010. Association between the proportion of sampled transition cows with increased nonesterified fatty acids and ß-hydroxybutyrate and disease incidence, pregnancy rate and milk production at the herd level. J. Dairy Sci. 93:3595-3601.
Diminuição da ferilidade: Walsh 2007. The effect of subclinical ketosis in early lactation on reproductive performance of postpartum dairy cows. J. Dairy Sci. 90:2788-2796.
Qualidade do leite: Duffield 2000. Subclinical ketosis in lacating dairy cattle. Vet. Clin North Am. Food Anim. Pract. 16:231-253.
Risco de reposição: Leblanc 2010. Monitoring metabolic health of dairy cattle in the transition period. J. Reprod. Dev. 56:S29-S35.
Deslocamento do abomaso, metrites e cetose clínica: Duffield 2009. Impact of hyperketonemia in early lactation dairy cows on health and production. J. Dairy Sci. 92:571-580.
Ovários quísticos: Dohoo 1984. Subclinical ketosis prevalence and associations with production and disease. Can. J. Comp. Med. 48:1-5.
Retenção de placenta: Leblanc 2004. Peripartum serum vitamin E, retinol and beta-carotene in dairy cattle and their associations with disease.
J. Dairy Sci. 87:609-619.
Custos e prevalência: Esslemont, R.J. The Costs of Ketosis in Dairy Cows. Congresso Mundial de Buiatria, Lisboa, Portugal, 2012.
Elanco, Keto-Test e a barra diagonal são marcas registadas própias ou autorizadas por Eli Lilly and Company, suas filiais ou afiliados.
Keto-Test™ é uma marca registada de Elanco Animal Health. Fabricado por SKK, Japón.
© 2012 Elanco Animal Health. WECTLKTO00021
Elanco Lilly Portugal – Produtos Farmacêuticos, Lda. – Rua Cesário Verde, 5 - piso 4 – Linda-a-Pastora – 2790-326 QUEIJAS – Tel.: 21 412 66 40 – Fax: 21 410 99 44
Saúde e bem-estar animal
Ana Paula Peixoto
Med. veterinária - Anavet-serviços
veterinários, Lda
[email protected]
Hidroterapia
O único método capaz de elevar um bovino, mantendo-o confortável durante várias horas,
sem causar lesões de pressão adicionais, é a flutuação em água morna.
síndrome da
vaca caída
O síndrome da vaca caída
é um problema grave que
acontece com alguma
frequência nas explorações
leiteiras. O diagnóstico das
possíveis causas deste
síndrome e o sucesso do
tratamento continuam a ser
um desafio para o produtor
e veterinário assistente, com
resultados positivos aquém
do esperado.
O síndrome da vaca caída
caracteriza-se pela vaca incapaz
de se levantar, normalmente
em decúbito esternal, a comer,
beber e alerta.
Este síndrome tem
etiologia múltipla, que inclui
traumatismos (lesões musculo
esqueléticas primárias,
injúrias pélvicas resultantes
de parto distócico), problemas
metabólicos (hipocalcémia,
hipofosfatémia, fígado gordo),
disfunções neurológicas
(lesões medulares ou do
sistema nervoso central
(SNC)) e toxémias severas
associadas a doenças
infecciosas. Apesar da
etiologia multifactorial, este
ocorre imediatamente antes
ou depois do parto, sendo que
97% das vacas caídas surgem
até 100 dias pós-parto. Os
partos difíceis são a causa
mais comum.
FIGURA 1
Animal durante a hidroterapia, tanque adaptado.
68 julho . agosto . setembro 2014 Ruminantes
A vaca caída alerta é o
resultado de um animal
que foi submetido a uma
abordagem inicial, para
tratamento da doença
primária, mas que continua
em decúbito. Este decúbito
prolongado causa uma
lesão muscular/nervosa e
tendinosa, particularmente
se o animal está caído numa
superfície dura, escorregadia
e se mantém na mesma
posição durante muitas
horas. Uma compressão
prolongada dos músculos
conduz a uma “morte
localizada dos tecidos vivos”,
lesão celular e inflamação,
e que consequentemente
conduzem a uma
tumefacção, com aumento
adicional de pressão,
limitando a perfusão
sanguínea dos tecidos,
provocando diferentes graus
de lesões musculares e
nervosas locais. À medida
que a compressão nervosa
aumenta, a condução
nervosa é altamente
prejudicada e eventualmente
perdida, secundariamente
o animal nunca mais se
levanta. Estas lesões são
sempre mais acentuadas nos
membros posteriores por
suportarem mais peso.
O decúbito agrava sempre
a lesão muscular, por isso
um animal caído deve
ser colocado numa cama
“mole” e confortável. Em
condições normais o animal
vai trocando de posição por
forma a suportar o seu peso,
prevenindo desta forma as
lesões musculares/nervosas.
Tradicionalmente existem
várias formas para levantar
os animais, tais como as
“pinças da anca”, “cintas”,
colchões insufláveis, entre
outros métodos. Todas estas
formas de elevar o animal
são temporárias, de aplicação
rápida, de forma a não causar
traumas adicionais. Todos
estes métodos falham e
causam lesões de pressão
adicionais quando aplicados
durante algum tempo.
flutuação
em água
morna
Desta forma, o único método
“humano” capaz de elevar
um bovino, mantendo-o
confortável durante várias
horas, é a flutuação em água
morna. Estima-se que a vaca
só deve levantar 10% do seu
peso corporal, devido à força
da flutuação da água. A água
morna por si só tem efeitos
terapêuticos estimulando
a circulação nas zonas
musculares comprimidas. No
entanto na nossa realidade
nem sempre os animais são
saúde e bem-estar animal
colocados em água morna,
dependendo do proprietário
e das condições climatéricas,
pois os “tanques” utilizados
são “adaptados” às nossas
condições (ver figura 1 e 2). No
campo, colocamos o animal
com a ajuda da “Pá frontal do
Trator” e deixamos a cintas
colocadas, de forma a que no
final do tratamento possamos
retirar o animal, pois os
“tanques” são “adaptados” e
não têm “portas”.
Os animais com este
síndrome devem ser
avaliados para determinar se
são candidatos à flutuação.
Animais com fracturas,
compressão medular severa,
rupturas musculares, paralisia
nervosa ou doença sistémica
grave não devem ser
submetidos a hidroterapia.
Apesar da flutuação não
curar nenhuma desta
doenças, em determinados
animais permite-nos efectuar
um diagnóstico definitivo,
de forma a evitar mais
sofrimento ao animal e
continuar com vários dias de
tratamento sem sucesso. Os
animais que submetemos
a hidroterapia e na primeira
flutuação não suportam o
tratamento, que se debatem
constantemente, não
aguentam a estação mesmo
na água, demonstrado ainda
mais sofrimento, devem ser
imediatamente eutanaziados.
Os animais que submetidos
a hidroterapia, que suportam
a estação, mesmo por vezes
apoiando-se nas paredes
do “tanque” (lado do animal
lesionado), começam a
comer e tentar ganhar
coordenação motora nos
membros lesionados, são
os melhores candidatos à
recuperação. Estes animais
não apresentam sofrimento
e transmitem uma sensação
de “bem- estar”, começando
a comer e a ruminar. No
final do tratamento, quando
os retiramos da água, e
estes conseguem ficar em
estação, existem animais
que “parecem felizes”….
No entanto, muitos destes
animais têm que ser
submetidos vários dias a
flutuação, por vezes 10 dias
consecutivos, várias horas
por dia, começando em
quatro horas até oito horas,
aumentando a duração ao
longo dos dias.
No final dos tratamentos, ao
retirarmos os animais, estes
devem ser colocados em
terrenos não escorregadios,
pois a primeira tentativa uma
vez fora do “tanque” é tentar
andar. Por vezes é neste
preciso momento que o
animal acaba por se lesionar
gravemente. Normalmente
o membro contra-lateral
ao membro lesionado vai
suportar todo o peso, e é
exactamente no momento
em que sai da flutuação
que o animal se lesiona, se
não tivermos os devidos
cuidados, como colocar o
animal num local de cama
“mole” não escorregadia, e
limitarmos os movimentos
iniciais do animal que ainda
esta a tentar a coordenação
motora. No tempo frio
os animais devem ser
protegidos quando saem
da flutuação, pois as
diferenças de temperatura
podem causar uma doença
secundária ao tratamento.
A hidroterapia é um método
muito trabalhoso e nem
todos os proprietários
apresentam disponibilidade
para o realizar. No entanto,
quando optamos por este
tratamento a sua taxa de
sucesso sobe quanto mais
cedo é aplicado, antes do
desenvolvimento de graves
miopatias ou neuropatias. Um
dos principais motivos para o
insucesso deste tratamento
é a decisão em aplicá-lo,
pois quando o decúbito
continua ao longo dos dias
as lesões secundárias já são
irreparáveis, e no momento
em que decidimos já é tarde
demais. No final de 12 horas
de decúbito, se o animal
está alerta e é um bom
candidato à flutuação deve
ruminantes julho . agosto . setembro 2014 69
Saúde e bem-estar animal
ser imediatamente submetido
ao tratamento, como forma de
aumentar a taxa de sucesso.
Os animais que recuperam
voltam a ter uma vida
produtiva normal. Os melhores
candidatos são os animais
jovens, no entanto alguns
animais com várias lactações
recuperam completamente.
A taxa de sucesso na nossa
opinião ronda os 50%, se
aplicado prontamente.
A hidroterapia pelo trabalho
que requer não é um
método muito atractivo, no
entanto se salvamos alguns
animais, regressando estes
a uma vida produtiva normal,
economicamente é viável e
rentável permitindo uma certa
realização pessoal. Um animal
produtivo nunca pode ser visto
como um animal de estimação,
no entanto entre tentar o
tratamento ou a eutanásia, se
existe alguma possibilidade,
embora algo remota, porque
não tentar? Azaradamente
alguns produtores nunca tem
sucesso neste tratamento, por
isso por vezes é considerado
como uma “loucura” e uma
perda de tempo. No entanto
outros conseguem recuperar
aproximadamente 50%
dos animais e consideram
um método útil. Neste
momento os “tanques “
disponíveis não apresentam
as melhores condições e
arranjar água morna é uma
tarefa complicada, mas vamos
sempre tentando.
FIGURA 2
Animal durante
a hidroterapia,
tanque adaptado.
Bibliografia:
Para ter acesso às referências
bibliográficas basta consultar o autor.
Lã suja pode ser
convertida em
fertilizante
A MANQUITA
Um dos temas mais abordados
actualmente é a rentabilidade de
uma exploração e o setor do leite
não é exceção. Qualquer produtor
tem como objectivo, maximizar o
potencial genético de uma vaca e
assim obter a maior produção de
leite possível durante a vida útil
desse animal.
Existem valores padrão que
nos ajudam a avaliar um animal,
no entanto há animais que
nos surpreendem com a sua
capacidade de produção, como
acontece com a vaca de nome
Manquita, que se encontra na
vacaria do Sr. Francisco Muga,
no Planalto Mirandês. Ao longo
dos seus onze anos de vida, já
produziu 113 151 litros de leite e
encontra-se no primeiro trimestre
da oitava lactação. Mas esta
não é a única alta produtora que
encontramos na vacaria do Sr.
Francisco Muga. A Canadiana
é uma vaca mais nova, mas
produziu até ao momento, 91 347
litros de leite em sete lactações.
A produção de leite é influenciada
por um vasto leque de factores,
desde aspectos genéticos,
ambientais, nutricionais,
instalações e maneio. Este
conjunto de aspectos associados
a muito trabalho e dedicação
permitem ao Sr. Francisco Muga
obter altas produtoras.
Por Rosemary Carvalho
70 julho . agosto . setembro 2014 Ruminantes
O projeto “GreenWoolf”, coordenado pelo Instituto
de Macromoléculas de Turim, e financiado pelo
programa europeu Life +, tem como objetivo
desenvolver um sistema inovador de hidrólise
capaz de transformar a lã em fertilizante ecológico.
A lã suja, um subproduto que resulta da tosquia,
e que até aqui apenas constituía um custo para
o produtor, obrigado a recolhê-la do campo e a
eliminá-la, pode, através desta tecnologia, ganhar
valor comercial ao ser reciclada e utilizada na
fertilização do solo. Ao sujeitar a lã a temperaturas
elevadas, obtém-se biomassa que atua como
fertilizante natural, aumentando o carbono e a
capacidade de retenção de água no solo.
O projeto, que será desenvolvido num prazo de
três anos, conta com uma verba de um milhão de
euros. A longo prazo, espera-se que a experiência
piloto entre no mercado real e que a utilização
desta tecnologia possa gerar emprego nos países
detentores de grandes rebanhos de ovelhas.
Para mais informações
www.agrodigital.com
SAÚDE E bem-estar animal
A SANOFI COMPANY
A castração
POR José Miguel Lopes Jorge, Merial Portuguesa - Saúde Animal, Lda
[email protected]
Avaliação do
desconforto com base
em critério zootécnico
Avaliação do
desconforto com
base em marcadores
bioquímicos
Durante o ensaio foi medido
o ganho médio diário de
peso (GMD) dos animais, dos
diferentes lotes, antes e depois
da castração.
Os resultados confirmam os
obtidos em ensaios anteriores:
o desconforto consecutivo a
uma intervenção cirúrgica tem
repercussões no GMD dos
animais em crescimento.
A diminuição do GMD é
significativa durante a primeira
semana a seguir à intervenção:
890 g de diferença entre
o lote testemunha e lote
castrado sem tratamento. O
lote castrado com anestesia
local demonstrou também
um GMD negativo durante a
semana seguinte à operação.
Os animais só atingiram o seu
peso inicial no decorrer da
segunda semana, enquanto o
lote tratado com AINE obtém
desempenhos de crescimento
positivos nos dias seguintes à
cirurgia.
O cortisol é um marcador de
desconforto quase instantâneo.
No momento da castração
cirúrgica, a sua concentração
sanguínea aumenta
rapidamente e mantém-se num
nível elevado durante umas
doze horas após a operação.
A haptoglobina é um marcador
de desconforto crónico, mais
tardio e persistente. É também
um marcador precoce da
inflamação. A concentração
sanguínea em haptoglobina,
normalmente nula ou próxima
de zero nos bovinos, aumenta
nas 24 horas seguintes à
castração, e é máxima cerca do
terceiro dia.
Com base nestes indicadores,
um ensaio conduzido na Irlanda
mostra que a utilização de AINE
durante a castração permite um
melhor controlo do desconforto
do que uma anestesia local,
quer imediatamente (cortisol
nas primeiras 12 horas após a
intervenção; Gráfico 1), quer de
forma prolongada (haptoglobina
nos 3 dias após a intervenção,
Gráfico 2).
Em resumo
Durante a castração
cirúrgica a anestesia local
não é suficiente para gerir
o desconforto do animal. A
GRÁFICO 2
1,4
1,4
D1
1
0,8
0,6
p<0,05
- vs castrado
- vs castrado
+ anestesia local
0,4
0,2
0
Testemunha não castrado
D3
1,2
Haptoglobina (g/dl)
Haptoglobina (g/dl)
1,2
1
0,8
0,6
12 horas
200
150
p<0,05
p<0,05
100
50
0
GRÁFICO 3
319
250
-130
p<0,05
-500
utilização de AINEs com acção
anti-álgica (limitação da dor)
diferenciada (ex: cetoprofeno)
no momento da castração
permite:
• Acção rápida e prolongada
na diminuição do
desconforto.
• Manutenção de um
desempenho de
crescimento (GMD) positivo
após a intervenção.
p<0,05
- vs castrado
0,4
0,2
0
Castrado
GRÁFICO 1
Cortisol (ng/ml.h-l)
no momento da castração.
GMD médio de D1 a D7 (g)
A castração dos bovinos
machos é uma prática corrente
em numerosos países. Não só
tem influência na qualidade
da carne, mas também
facilita a gestão da produção,
reduzindo consideravelmente
os comportamentos sexuais
e a agressividade observados
nos lotes não castrados.
Dependendo da conveniência
do operador e tendo em conta
a idade dos animais, podem
ser escolhidas várias técnicas:
constrição com o auxílio de
um elástico, esmagamento do
cordão espermático usando
uma pinça ou ablação cirúrgica
dos testículos. O desconforto
consecutivo à castração
traduz-se, nas horas e dias que
se seguem, por um aumento
do cortisol, redução dos
desempenhos zootécnicas
e depressão imunitária. A
castração cirúrgica é o método
que provoca uma resposta mais
forte do cortisol.
A legislação de alguns países
impõe que a castração
cirúrgica seja precedida de uma
anestesia local. Esta última pode
ser utilmente prolongada ou
até substituída pelo emprego
de anti-inflamatórios não
esteróides (AINEs) com acção
anti-álgica (limitação da dor)
diferenciada (ex: cetoprofeno)
Castrado + anestesia local
Castrado + AINE
Bibliografia
“Effects of ketoprofen alone or in
combination with local anaesthesia
during the castration of bull calves on
plasma cortisol, immunological, and
inflammatory responses” B. Earley, M.
Crowe J.Anim.Sci.2002.80.
ruminantes julho . agosto . setembro 2014 71
SAÚDE E BEM-ESTAR ANIMAL
Clamidíase em
pequenos ruminantes
A comumente designada clamidiose ou clamidíase é uma doença causada
por bactérias gram negativas intracelulares de nome Chlamydofila psittaci e
Chlamydofila pecorum.
POR Inês Ajuda, Ana Vieira e George Stilwell
AWIN – Animal Welfare Indicators, Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade de Lisboa
[email protected]
Estes agentes ainda continuam
a ser estudados, sendo que
estão constantemente a ser
divulgadas novas informações.
Este texto pretende fazer
um apanhado geral do
conhecimento actual sobre
esta doença, para que possa
auxiliar na sua prevenção e
combate, nas explorações de
pequenos ruminantes.
Quantas formas há
desta doença?
Estes microrganismos
afectam tanto cabras como
ovelhas, bem como outras
espécies (aves, bovinos,
humanos, etc), sendo que
a sua expressão clínica
apresenta várias formas, entre
as quais as principais são:
1. Reprodutiva
2.Respiratória
3.Articular
4.Ocular
Reprodutiva
Esta forma caracteriza-se
nas fêmeas por aborto e
nos machos por afecções
do aparelho reprodutivo,
nomeadamente epididimites
e orquites. É a forma mais
conhecida da doença e aquela
com maior impacto na produção
de pequenos ruminantes,
uma vez que causa grandes
prejuízos, podendo 25% a 60%
das fêmeas abortarem durante
um surto. É uma das causas
de aborto mais prevalente
em pequenos ruminantes
apresentando uma distribuição
mundial. O aborto dá-se
apenas a partir dos 90 dias de
gestação, sendo mais comum
no último mês. Mesmo que o
animal já esteja previamente
infectado, o aborto só se dá
nesta altura da gestação devido
à multiplicação do agente
nos cotilédones da placenta,
impedindo o fornecimento de
nutrientes ao feto.
Estes surtos acontecem
geralmente aquando da
entrada de novos animais
na exploração, expondo os
animais que já estavam na
exploração, ou os novos
animais, a um agente com o
qual nunca tinham contactado
e contra o qual não possuem
imunidade. Podem no entanto
existir fêmeas que contactam
com a bactéria apenas no
último trimestre da gestação,
mantendo-se num estado de
latência até à época de partos
seguinte. Após a infecção o
hospedeiro torna-se imune à
doença durante cerca de três
anos.
Nas fêmeas os sinais
clínicos desta forma de
clamidíase estão quase todos
relacionados com o aborto. As
fêmeas podem apresentar, 2
a 3 dias antes de abortarem,
febre, falta de apetite e
corrimento sanguíneo vaginal.
Podem abortar o feto intacto ou
em decomposição, bem como
72 julho . agosto . setembro 2014 Ruminantes
FIGURA 1
Placenta típica de uma fêmea com Clamídia com
placentomas de várias colorações (www.uoguelph.ca).
fazer retenção de placenta.
Apesar de não existirem
lesões características no feto,
as lesões na placenta são
bastante típicas: espessamento
e manchas com diversas
colorações (brancos, cinzentos,
amarelos e vermelhos) nos
placentomas (ver Figura 1).
De notar, que quando a
clamidíase se torna enzoótica
numa exploração (por exemplo
depois do primeiro surto de
abortos) a percentagem de
abortos por época de partos
pode baixar para taxas entre 1
a 15%.
Quanto aos machos,
sabe-se que pode causar
infecções a vários níveis do
trato reprodutivo, levando a
sinais como um edema da
zona testicular, aumento da
temperatura e recusa em
montar. Ou seja, poderá causar
uma muito baixa taxa de
gestação no efectivo.
Respiratória
É uma forma mais rara da
doença e normalmente está
associada às outras formas da
mesma. Os animais aparecem
deprimidos, febris, com
tosse seca, descarga nasal,
dificuldade respiratória e, por
vezes, com diarreia. Durante
um surto da doença a forma
SAÚDE E BEM-ESTAR ANIMAL
respiratória é mais provável nos
animais mais jovens.
Articular
Pensa-se que esta forma
é causada essencialmente
pela espécie Chlamydophila
pecorum, sendo
frequentemente descrita
em engordas intensivas de
borregos nos Estados Unidos.
Atinge animais entre um mês
a oito meses de idade, sendo
mais comum entre os três e
os cinco meses. Normalmente
estes animais surgem com
febres muito altas (podendo
chegar aos 42 ºC), relutância
em mexerem-se, prostrados,
claudicantes e com as
articulações inchadas. Surge
muitas vezes juntamente com
a forma ocular.
Está associada a uma
morbilidade de 80% e a uma
mortalidade de 1%, sendo que
há uma resolução dos sinais
clínicos, mesmo em animais
não tratados, num prazo de
10 a 14 dias, podendo alguns
ficar a coxear de um ou mais
membros.
ocular
Apresenta-se como uma
conjuntivite muito semelhante
à conjuntivite causada por
Micoplasmas (ver Figura
2). Esta forma aparece
normalmente relacionada com
doença sistémica, ou seja, não
só aparece mais comumente
nos dois olhos (80% dos
casos), como está associada
a pelo menos a uma das
formas da doença referidas
acima. Uma característica que
pode ser difícil de detectar na
prática, mas que é referida na
teoria, é a presença de lesões
esbranquiçadas que se tornam
rosas ou avermelhadas, na
zona superior do globo ocular,
por baixo da pálpebra superior.
FIGURA 2
Queratoconjuntivite pode ser
causada por diversos agentes e
apresentar sinais semelhantes. Um
desses agentes é a Chlamydofila
psittaci (www.sheepandgoat.com).
Como se transmite
esta doença?
As várias formas da doença
discutidas acima têm
mecanismos de transmissão/
contágio semelhantes.
Todos os animais infectados
podem eliminar os agentes
através de secreções vaginais,
uterinas (ou esperma no caso
dos machos), urina, fezes,
secreções oculares e nasais.
Sabe-se ainda que aves, como
o pombo e o pardal-comum,
são reservatórios da bactéria e
que carraças e outros insectos
podem também transmitir a
doença.
No caso da forma reprodutiva
as fêmeas que abortam
excretam o agente durante
pelo menos três semanas após
o aborto, sendo que algumas
podem vir a excretá-lo durante
o estro. Os machos infectados
eliminam bactérias através
do esperma pelo menos
até 29 dias após a infecção.
Em feedlots de borregos
descobriu-se que podem existir
até 50% de animais a eliminar
bactérias sem qualquer tipo de
sinal clinico.
acompanhado ou não por
sinais clínicos e lesões típicas
da placenta. Para tornar
o diagnóstico definitivo o
melhor método é a cultura do
microrganismo a partir das
secreções, sendo que este
método é actualmente mais
referido para o tecido fetal
ou placenta, ou, caso não
seja possível nestes, através
das secreções vaginais. No
entanto, também é possível
fazer uma pesquisa de
anticorpos no sangue (ELISA
ou imunofluorescência), não
sendo este diagnóstico tão
conclusivo. Como apenas a
presença de anticorpos não
é suficiente para diagnosticar
a doença, é necessário
colher amostras de sangue
em alturas diferentes da
manifestação da doença e
confirmar o aumento dos
níveis de anticorpos. Por
exemplo, no caso da forma
reprodutiva, o sangue deve
ser colhido na altura do
aborto e novamente 2 a 3
semanas mais tarde, tanto
de fêmeas que abortaram
como de fêmeas que não
abortaram, para que se possa
traçar um perfil antigénico da
exploração a fim de chegar a
uma conclusão (ver Tabela 1).
Há algum tratamento?
Existem vários tratamentos
antibióticos que funcionam
contra este agente, devendo
o médico-veterinário
assistente decidir pela melhor
opção para cada caso. No
entanto, devido às graves
consequências desta doença,
não só a nível sanitário,
como económico, e ao nível
do bem-estar animal (como
aborto, claudicação e lesões
pulmonares crónicas), deve-se
apostar essencialmente na
prevenção.
Como podemos
preveni-la?
Existem vacinas mono ou
polivalentes disponíveis no
mercado. Até agora não
existe nenhuma que seja
100% eficaz na eliminação
da doença, pelo que poderão
ainda existir abortos devidos a
clamidíase após a vacinação.
As vacinas têm algumas
condicionantes e podem
causar algumas reacções, pelo
que o programa vacinal deve
ser sempre efectuado em
colaboração com o médicoveterinário assistente da
exploração.
Os animais que abortam
na exploração devem ser
separados do rebanho, pelo
menos durante três semanas,
e o material biológico
derivado do aborto deve ser
queimado. Devem também
ser tomadas medidas para
evitar a contaminação da
comida e da água, como
sejam não fornecer o alimento
no chão nem em comedores
para onde os animais
consigam subir. Evitar ainda
a contaminação da água de
bebida (furos e poços) e a
coabitação dos ruminantes
com aves como os pombos
ou galinhas.
TABELA 1
Material que é necessário colher num
surto de abortos para confirmar a
presença de Chlamydofila psittaci
1 – Placenta e feto conservados em gelo.
Como podemos
diagnosticá-la?
2 – Esfregaço vaginal até 3 dias após o aborto (caso não existam,
placenta ou feto).
O diagnóstico é geralmente
feito através da história
de um surto de aborto
3 – Amostras de sangue de fêmeas que abortaram e de fêmeas que
não abortaram.
ruminantes julho . agosto . setembro 2014 73
equipamento
Conforto e Longevidade
dos animais
Depois de 130 anos a servir os produtores de leite em todo o mundo a visão da DeLaval
para o futuro é que devemos tornar possível a produção sustentável de alimentos.
POR José Santoalha - Harker XXI, SA
[email protected]
Isto consegue-se com a redução da pegada ambiental das
explorações agrícolas, o aumento da produção de alimentos, a
rentabilidade agrícola e melhorando o bem-estar das pessoas
e animais. A DeLaval apresenta soluções para “Cow Longevity”,
Longevidade das vacas com as melhores práticas para
aumentar o tempo de vida dos animais.
quatro pilares da actividade
leiteira Sustentável
As melhorias que fortalecem
os quatro pilares da actividade
leiteira Sustentável são:
Longevidade e
Rentabilidade
Uma lactação saudável
adicional aumenta o tempo
disponível para a vaca
pagar o investimento com a
recria (15-20% do total das
despesas relacionadas com a
produção de leite) e começar
a gerar lucro. O investimento
na recria e uma vida longa
e produtiva do rebanho é
naturalmente vantajoso para
recuperar o investimento na
produção de leite.
O aumento do tempo de
vida produtiva média do
rebanho, por mais uma
lactação saudável, aumenta
a produtividade em 13%. Isto
corresponde a um aumento
da rentabilidade de 110 euros
por vaca no rebanho e ano.
Longevidade e
Bem-estar Animal
Retirando as causas por
abate involuntário, as outras
três principais razões são
a infertilidade, mastite e
claudicação, que irão melhorar
significativamente com o
bem-estar animal. A ciência
tem demonstrado que as
melhores práticas de gestão
resultam em melhorias
significativas no bem-estar
animal e rentabilidade da
exploração.
A doença e lesão são
problemas de bem-estar
óbvios, e a claudicação é
amplamente reconhecida
como o problema mais grave
para o bem-estar de vacas
leiteiras. Recentemente,
a Autoridade Europeia
para a Segurança dos
Alimentos concluiu que a
falha reprodutiva é devida
essencialmente a problemas
de saúde, e também pode ser
um indicador de bem-estar
animal baixo. Assim, as altas
taxas de refugo involuntário
numa exploração indicam
um baixo nível do bem-estar
animal.
Longevidade e
Responsabilidade
Social
Todas as questões de bem-estar das vacas leiteiras
74 julho . agosto . setembro 2014 Ruminantes
associadas ao abate e à
morte são uma das principais
fontes de má publicidade para
a produção leiteira. Assim, as
normas de bem-estar animal
para vacas leiteiras têm de
reduzir estas ocorrências.
Um excelente conforto e
gestão também melhora
a qualidade de vida das
pessoas.
A gestão e a melhoria da
saúde e longevidade vão
contribuir para a diminuição
do consumo de antibióticos, o
que representa outro grande
benefício.
Longevidade e
Sustentabilidade
O impacto ambiental da
produção de leite é reduzido
quando a longevidade de
cada vaca e a eficiência
da produção de leite são
melhoradas. As doenças,
para além do impacto
negativo na produtividade
e longevidade da vaca,
reduzem a eficiência global
da produção de leite e
aumentam o impacto
ambiental da indústria de
lacticínios.
Conclusões:
A substituição controlada de vacas por novilhas saudáveis e
​​ produtivas
paridas pela primeira vez, é o motor de toda a luta do produtor de leite para
manter a rentabilidade;
Numa base anual 35 - 40 % das vacas no rebanho são substituídas.
Destas, 70 - 80% são abatidas devido à saúde, predominantemente
mastites e claudicação, ou problemas de fertilidade; 15-30% das vacas de
descarte involuntário deixam o rebanho durante os seus dois primeiros
meses de lactação, e até 25 % do involuntário abatidos morrem;
É preciso pelo menos uma lactação para recuperar o investimento na
compra e / ou criação de uma novilha;
Aumentar o tempo de vida produtiva média do rebanho, mantendo
as vacas no rebanho por mais uma lactação saudável, é aumentar a
produtividade do tempo de vida média por dia em cerca de 13%. Isto
corresponde a um aumento da rentabilidade de 110 euros por cada vaca no
rebanho e ano;
Os problemas de saúde subjacentes (mastite, infertilidade e claudicação)
levam os produtores a abater os seus animais a um alto custo. Como
exemplo, a claudicação custa 220 euros por caso e a prevalência média
muitas vezes ultrapassa 20%;
Abate e mortes no início da lactação custam até 740 euros por caso (não
incluindo as perdas na produção de leite). Os esforços para reduzir as
taxas de mortalidade e melhorar a saúde no início da lactação são muito
rentáveis;
Proporcionar conforto e excelentes práticas de gestão, melhora a
rentabilidade e a qualidade de vida para as pessoas que trabalham na
exploração leiteira. Também melhora a imagem pública, bem como reduz o
impacto ambiental da produção de leite.
equipamento
para conseguir atingir o objectivo de maior Longevidade
das Vacas, a DeLaval apresenta as suas soluções
A Longevidade pode
também ser vista pela
Qualidade do Leite
Controlador do Sistema
de Estabulação BSC
É o cérebro que comanda o estábulo! O
BSC ajuda automaticamente a criar as
condições ambientais óptimas dentro
do estábulo em qualquer momento do
dia ou da noite e em todas as condições
climatéricas possíveis. Ventilação,
luminosidade, estação meteorológica,
sensor de humidade, sensor de chuva. O
BSC centraliza todos os comandos e todos
os sensores. É um mini-computador que
pode ser ligado ao PC da exploração e ao
Smartphone. As condições ambientais
internas do estábulo supervisionam-se
e regulam-se para alcançar um índice de
temperatura e humidade (THI) óptimo, um
cálculo baseado nos níveis médios de
temperatura e humidade. Os ventiladores
e as soluções de iluminação podem
activar-se mediante um sensor ou um
temporizador, consoante o caso. Todos
os sistemas do estábulo funcionam
conjuntamente para proporcionar um
aumento de produção e um leite de elevada
qualidade. Ter a capacidade de controlar as
condições ambientais do estábulo pode
ter um efeito muito positivo na produção
de leite e no rendimento produtivo do
rebanho. Ao aumentar a intensidade de
luz no estábulo, reduzem-se os níveis
de melatonina e, por consequência, a
produção de leite aumenta. As condições
de temperatura óptimas também reduzem
o risco de stress térmico.
Esta é a vocação do Herd Navigator. Vaca por vaca,
ordenha por ordenha, o Herd Navigator da DeLaval é um
Laboratório de Análises que se instala na Máquina de
Ordenha para determinar os Parâmetros de Progesterona
– Reprodução, Lactose Desidrogenada – Saúde do Úbere, Ureia e B-hidroxibutírico –
Alimentação e Balanço Energético no Leite. O Sistema selecciona automaticamente,
mediante um avançado modelo biométrico (fórmulas matemáticas que se combinam com
factores de risco adicionais), quais as vacas que devem ser analisadas, em que ordenha e
a que parâmetros. Apresenta indicadores de detecção de enfermidades para tomada de
acções rápidas e precisas – Antes das vacas apresentarem sintomas clínicos.
Contador de Células
Somáticas OCC
Entre 265 expositores, de 15 países,
o Contador de Células Somáticas OCC
Supra da DeLaval conhou o Concurso
de Inovação Tecnológica em GandAgro
- Feira de Agricultura de Silleda, pelo seu
impacto claro e imediato no sector e pela
sua capacidade de medição traduzido na
rentabilidade económica das explorações. Trata-se do primeiro verdadeiro contador de
células somáticas automático disponível para VMS. Acesso a um nível de conhecimento
incomparável, que permite controlar o rebanho, monitorizando proactivamente o nível de
células somáticas de cada vaca, em cada ordenha. Uma nova opção revolucionária!
Protecção de
Manjedouras
As vacas alimentam-se melhor com
a protecção de manjedouras lisa, fácil
de limpar e resistente a substâncias
ácidas e alcalinas. As manjedouras sem
protecção e degradadas por substâncias
ácidas estão contaminadas por milhões
de germes e bactérias, que podem
causar problemas de saúde nas vacas e
reduzir a produção de leite. A Tecnologia
BI-Orientation patenteada, faz com que
a protecção de manjedouras seja três
vezes mais resistente a substâncias
ácidas e alcalinas que outras superfícies
plásticas. Resistente à carga pesada dos
tractores.
vacas mais
confortáveis no tapete
Esta é uma das conclusões da
Universidade de Ciências Agrícolas da
Suécia (SLU). Durante 4 meses, Pernilla
Norberg criou dois lotes de animais, um
dos quais deitava-se sobre betão e o
outro sobre camas de borracha. Nesta
experiência comprovou-se que existiam
menos infecções e menos exclusões no
lote das vacas sobre tapetes.
Escova Rotativa
Um estudo feito pela Universidade Cornell
no Estado de Nova Iorque comparou dois
lotes de vacas, escovadas e não escovadas, e
concluiu que a utilização da escova melhora
substancialmente a saúde animal devido ao
facto de melhorar o seu sistema circulatório. O
estudo concluiu também que a probabilidade
de mastite clínica é menor em 34% em vacas
que usaram a escova SCB DeLaval. A equipa
que conduziu a pesquisa constatou um
aumento na produção de leite de até 1 kg
por dia (3,5%) nas vacas em que foi utilizada
a escova, em comparação com um grupo
de referência, que foi mantido nas mesmas
condições, sem acesso à escova SCB.
ruminantes julho . agosto . setembro 2014 75
conheça a lei
Transporte
de Animais Vivos
POR Miguel Neves Lima, Advogado - WWW.FLADVOGA.COM
Há já várias décadas que se sabe
que a forma como os animais são
transportados tem forte impacto no seu
bem-estar e saúde. Para além disso, o
transporte dos animais, designadamente
em longas distâncias, constitui um
fator de disseminação de doenças
infecto-contagiosas que importa evitar.
Assim, a Comunidade Europeia tem
vindo a regulamentar esta atividade,
estabelecendo, entre outros aspetos,
requisitos que visam evitar a dor e o
sofrimento dos animais durante e após
o transporte.
Atualmente, aplica-se a esta matéria
o Regulamento (CE) n° 1/2005, do
Conselho, de 2 de Dezembro de
2004. Não obstante a obrigatoriedade
da aplicação direta do mencionado
regulamento em todos os Estados
membros, com o objetivo de assegurar
a execução e garantir o cumprimento,
no ordenamento jurídico nacional,
das obrigações dele decorrentes
no transporte rodoviário efetuado
em território nacional, no transporte
marítimo entre os Açores, a Madeira
e o continente, e no transporte entre
ilhas, bem como definir a entidade
responsável pelo controlo da sua
aplicação no nosso país, foi publicado o
decreto-lei n° 265/2007, de 24 de Julho,
posteriormente e pontualmente alterado
pelo decreto-lei nº158/2008, de 8 de
Agosto.
A interpretação destes normativos
reveste-se de alguma complexidade,
pelo que a Direção Geral de Alimentação
e Veterinária (DGAV) – entidade
que atualmente no nosso país tem
competência para controlar a aplicação
de tais normas - elaborou diversos
“documentos explicativos da legislação”
cuja leitura pode contribuir para o
facilitar a interpretação dos textos legais
e que podem ser consultados em www.
dgv.min-agricultura.pt.
O primeiro aspeto com que nos
debatemos prende-se com a
determinação dos transportes a que
se aplica o regime legal instituído por
tais diplomas legais. As regras e as
obrigações deles resultantes aplicamse a todos os transportes de animais
vivos?
No considerando 12 do Regulamento
(CE) nº 1/2005 pode ler-se: “O
transporte para fins comerciais não se
limita aos transportes que impliquem
uma troca imediata de dinheiro, de bens
ou de serviços. O transporte para fins
comerciais inclui nomeadamente os
transportes que induzam ou tendam
a produzir direta ou indiretamente um
lucro.” Por seu lado, no nº 5 do seu
artigo 1º, onde se estabelece o âmbito
da respetiva aplicação estatui-se: “O
presente regulamento não é aplicável
ao transporte de animais que não seja
efetuado em relação com atividades
económicas, nem ao transporte direto
de animais de ou para clínicas ou
consultórios veterinários por indicação
de um veterinário.” Acresce que o nº 1
do artigo 8º do decreto-lei nº 265/2007,
relativo ao transporte rodoviário de
animais em território nacional, refere:
“Para efeitos do presente artigo
entende-se por transporte com fins
comerciais todo aquele transporte que
induza ou tenda a produzir direta ou
indiretamente um lucro, não se limitando
76 julho . agosto . setembro 2014 Ruminantes
aos transportes que impliquem uma
troca imediata de dinheiro, de bens ou de
serviços.”
Do que já ficou dito resulta não ser
simples determinar quais os transportes
que o legislador comunitário tinha em
vista. Todavia, um dos mencionados
“documentos explicativos” emitidos
pela DGAV, e que, conforme referido,
pode ser consultado no endereço
acima indicado, explicita claramente
que o Regulamento (CE) nº 1/2005 e
o decreto-lei nº 265/2007 se aplica
exclusivamente aos transportes com
fins comerciais e que, assim sendo, não
se aplica:
• Ao transporte de animais para
pastagens quando efetuado
pelo produtor nos seus meios de
transporte;
• Ao transporte de animais entre
explorações, designadamente
para efeitos de recria, quando os
animais, as explorações e os meios
de transporte pertençam ao mesmo
produtor;
• Ao transporte de animais de
companhia pelos seus detentores, ou
por indivíduos por eles mandatados
nos seus meios de transporte com
destino a exposições e competições,
no decurso dos quais não se realizam
trocas comerciais;
• Ao transporte de cavalos pelos seus
detentores, ou por indivíduos por
eles mandatados, nos seus meios
de transporte, com o destino a outra
exploração do detentor ou a fim de
participarem em treinos, passeios,
exposições, concursos hípicos
e eventos culturais, no decurso
conheça a lei
•
•
•
•
•
•
•
•
dos quais não se realizam trocas
comerciais;
Ao transporte de animais pelo
produtor, nos seus próprios meios de
transporte, com destino a eventos de
carácter local, no decurso dos quais
não se realizam trocas comerciais;
Ao transporte de animais pelas forças
policiais ou organismos públicos no
âmbito das respetivas competências;
Ao transporte de animais para centros
de recuperação;
Ao transporte de animais de espécies
protegidas, ao abrigo da CITES (EEPs);
Transporte de animais entre parques
zoológicos por motivo de troca,
cedência ou doação, no decurso
dos quais não se realizam trocas
comerciais;
Transporte de animais entre parques
zoológicos efetuados ao abrigo de
programas de reprodução;
Ao transporte, a título gratuito, de
animais de laboratório cedidos entre
entidades de experimentação e outros
fins científicos;
Ao transporte de pombos correio para
treinos ou largadas que não possuam
um fim comercial.
Com o objetivo de garantir o bemestar dos animais nos transportes
com fins comerciais, o legislador
atendeu a diversas circunstâncias,
designadamente geográficas, as
distâncias a percorrer e a duração das
viagens, o tipo de transportador e dos
animais transportados para definir a
aplicabilidade a cada transporte dos
requisitos abaixo indicados, e a medida
em que o cumprimento dos mesmos é
obrigatório:
• Registo e autorização de transportador
de curta duração;
• Registo e autorização de transportador
de longa duração;
• Certificado de aprovação do meio de
transporte;
• Certificado de aptidão profissional
para condutores e/ou tratadores;
• Condições gerais aplicáveis ao
transporte de animais;
• Documentação de transporte;
• Obrigações de planeamento relativa à
viagem;
• Obrigações do transportador;
• Obrigações dos detentores;
• Aptidão dos animais para o
transporte;
• Condições dos meios de transporte;
• Práticas de transporte, carregamento,
descarregamento e manuseamento;
• Intervalos de abeberamento e
alimentação, períodos de viagem e
repouso;
• Requisitos adicionais para os veículos
que efetuem viagens de longa
duração de ovinos, caprinos, bovinos,
equídeos e suínos;
• Espaço destinado a cada animal a
transportar;
• Diário de viagem;
• Sistema de navegação por satélite.
De entre os tipos de transporte que
o decreto-lei n° 265/2007 prevê
destacamos os seguintes:
• O transporte de animais realizados no
território nacional, pelos agricultores
nos seus próprios meios de transporte
e dos seus próprios animais, numa
distância inferior a 50 km;
• O transporte de animais efetuado a
nível nacional numa distância inferior
a 65 km;
• O transporte de animais efetuados a
numa distância superior a 65 km;
• O transporte com fins comerciais de
equídeos registados e o transporte
de touros de lide, pelas características
próprias de que se revestem, têm
também regras específicas, não se lhe
aplicando algumas das disposições
do Regulamento (CE) nº 1/2005.
Os transportes acima referidos
só podem ser realizados por
quem disponha de autorização de
transportador. Estas autorizações são
válidas por um período de cinco anos a
contar da data de emissão, devendo ser
solicitada, 60 dias antes do termos da
validade, nova autorização.
A infração às normas sobre o
transporte de animais vivos no nosso
país, é punível com coima no montante
mínimo de € 500 e máximo de
3.740,00 ou € 44.890,00, consoante o
agente seja pessoa singular ou pessoa
coletiva. Para além disso, as infrações
poderão dar lugar, entre outras sanções,
à apreensão dos meios de transporte,
dos animais transportados, à interdição
do exercício de uma profissão ou
atividade, à privação do direito a
subsídio ou beneficio concedido por
entidades ou serviços públicos, ao
encerramento dos estabelecimento e à
suspensão de autorizações, licenças e
alvarás.
A fiscalização do cumprimento do
Regulamento (CE) nº1/2005 e do
decreto-lei nº265/2007 compete
à Direção-Geral de Alimentação e
Veterinária e a aplicação das sanções
previstas neste ultimo diploma legal
compete ao seu diretor-geral havendo
recurso das decisões deste para os
Tribunais.
ruminantes julho . agosto . setembro 2014 77
Não deixe de...
FEIRAS
Agroleite
17 a 20 julho de 2014
Rates - Portugal
www.leicar.pt
Agroglobal
10 a 12 setembro de 2014
Valada do Ribatejo - Portugal
www.agroglobal.com.pt
SPACE
16 a 19 setembro de 2014
Rennes - França
www.space.fr
formação
I Fórum Saúde do Úbere e Qualidade de Leite
Dia 8 de julho de 2014
Hotel Tryp Lisboa Aeroporto
A Inovpec irá organizar, em conjunto com a Milkrite o “I Fórum Saúde do Úbere
e Qualidade de Leite”, no dia 8 de Julho de 2014, das 9:30 às 18:00H, no Hotel
Tryp Lisboa Aeroporto. O evento destina-se a produtores de leite, técnicos,
responsáveis da exploração, médicos veterinários.
Conta com a presença de especialistas de reputação mundial como o Ian
Ohnstadt e a Sofie Piepens, assim como alguns dos mais experientes
consultores nacionais - Luís Pinho e Ricardo Bexiga.
Local:
Hotel Tryp Lisboa Aeroporto.
Rua C, Numero 2. Aeroporto Internacional de Lisboa.
1749- 125 Lisboa.
Tel: 218 425 000
Preço:
40€ (inclui almoço e coffee-break)
World Dairy Expo
“Designer Dairy”
30 setembro a 4 outubro de 2014
Madison - USA
www.worlddairyexpo.com
Contactos para inscrições e mais informações:
Sara Martins – Inovpec
Email: [email protected]
Telm: 913 751 705
Limitado a 35 participantes. Inscrições até dia 2 de Julho 2014.
Sommet de
l´élevage
1, 2 e 3 outubro de 2014
Clermont-Ferrand - França
www.sommet-elevage.fr
Fiera Internazionale
del Bovino da Latte
22 a 25 outubro de 2014
Cremona - Itália
www.bovinodalatte.it
Eurotier
11 a 14 novembro de 2014
Hanover - Alemanha
www.eurotier.com
AGROLEITE 2014
17 a 20 julho de 2014
Organizada pela Leicar, vai realizar-se em Rates, Póvoa de Varzim ,a XI Feira Agrícola
do Leite, AGROLEITE 2014, entre 17 e 20 de Julho. No evento estarão presentes
empresas expositoras de alimentação e nutrição animal, genética, máquinas
agrícolas e serviços. O ponto alto do certame será a realização do XI Concurso da
Raça Holstein-Frísia, a decorrer nos dias 19 e 20, e, uma novidade, o 1º Concurso
de Preparadores e Manejadores, a decorrer na sexta-feira, dia 18, durante a manhã
e tarde.Todos os dias haverá espectáculos de animação e jogos tradicionais. Os
visitantes terão á disposição tasquinhas e restaurantes das raças autóctones.
Mais informações:
www.leicar.pt
78 julho . agosto . setembro 2014 Ruminantes

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