Versão para Impressão

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TRANSFORME-SE 2 - Apresentação
TRANSFORME-SE
VOLUME 2
CAIO ARES
1
TRANSFORME-SE 2 - Apresentação
Título:
Transforme-se
Volume 2
ISBN 85-900562-5-2
© 2009, Caio Ares
Caio Ares Editor
www.caioares.com
Capa e Ilustração:
Caio Ares
Editoração:
Inês Julia Castelli
Revisão:
Mônica Rodrigues de Lima
Dados internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Ares, Caio
Transforme-se, volume 2 / Caio Ares – São Paulo : Caio Ares Editor, 2009
ISBN-85-900562-5-2
1. Autoconsciência 2. Auto-realização 3. Felicidade. 4. Meditações 5.
Sucesso l. Título
1ª edição: 1999
2ª edição: 2005, revista
3ª edição: 2009, reduzida e simplificada
99-0336
CDD-158.1
Índices para catálogo sistemático:
1. Transformação interior : Mensagens : Psicologia aplicada
158.1 7
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TRANSFORME-SE 2 - Apresentação
APRESENTAÇÃO
A história do pensamento humano começou quando o homem abriu os olhos para o espaço que o cercava e tentou
compreendê-lo.
Adão desperta do sono instintivo do reino animal e entra, pelas portas entreabertas da razão, no mundo artificial dos
humanos e suas incontáveis realizações.
Entretanto, para o antigo, a noção do limite entre o espaço interior, o mundo exterior e sua imaginação, praticamente não
existia.
Ele olhava o horizonte luminoso e sonhava com terras longínquas pontilhadas por cidades de ouro. Mirava os céus azuis
e avistava, bem visíveis, deuses protetores e, ao mesmo tempo, sanguinários e vingativos.
Tentava, exausto, descansar o coração brutalizado pelas constantes batalhas contemplando o verde mar, quando
demônios horrendos surgiam para aterrorizá-lo.
Por estes dias antigos, a vida era cheia de sustos, superstições e enganos provenientes da falta de bom senso em saber
diferenciar o real - o plano objetivo - do imaginado - o plano subjetivo. Uma imagem fundia-se na outra e turvava o conhecimento e
a compreensão inteligente sobre o mundo e o homem.
A produção de imagens interiores é um interessante fenômeno do pensamento. Durante séculos, vários pensadores
procuraram as bases da construção do pensamento lógico para que o homem comum, ao encontrar a razão, não mais se tornasse
escravo da sua imaginação ou daqueles que pudessem manipulá-la.
A filosofia surgiu na Grécia, no século VI a.C., não só para satisfazer esta necessidade individual e social, como também
para, através do despertar da consciência humana, levar o homem a agir de forma centrada, racional, construtiva, moral e ética.
A primeira preocupação do filósofo foi identificar as coisas que pertenciam ao plano objetivo, dando-lhes permanência e
características próprias.
A partir de então, água seria sempre água, fogo sempre fogo e, nesta nova ordem das coisas, um elemento básico, um
objeto ou uma situação qualquer seriam estáveis, sem correrem o risco de se transmutarem de forma sobrenatural ou mágica.
Enquanto ia estabilizando e organizando em sequências coerentes as imagens e as dinâmicas do meio ambiente, o
filósofo percebia que o conhecimento que adquiria, refletia-se em seu plano subjetivo aumentando-Ihe a compreensão e
responsabilidade acerca da sua participação no mundo.
Assim, o pensamento inteligente, estruturado e racional começava a dar os primeiros frutos ao fazer com que os gregos
se colocassem na comunidade como indivíduos sociais construtivos.
Todo cidadão, de qualquer idade ou classe social, sentia-se valioso e imprescindível para o desenvolvimento harmônico
da sociedade. A individualidade, a excelência e o orgulho pessoal, eram incentivados por meio de debates, torneios, concursos
artísticos, exposições, jogos ou outras atividades comunitárias, onde cada um tinha a oportunidade de mostrar seus talentos,
escolhendo para tanto, qualquer área de atuação compatível com suas capacidades e expectativas. Então, verdade é beleza,
ordem e excelência.
Concomitante à busca heróica pelo conhecimento do conhecimento e a justa medida de todas as coisas, igual aos
helenos, nenhum outro povo demonstrou tanta honestidade em querer aprender a amar e exaltar esse mundo, essa vida e os
homens. A materialização delicada do sublime em sua cultura, prova-o.
Para o especialíssimo filho da Hélade, a pobreza de resultados, a mediocridade e a indolência física eram tão graves
quanto a ignorância: significavam falta de esforço, de civilidade e de educação sã.
É da natureza do homem querer ser reconhecido e aceito pela comunidade por aquilo que ele é. Por este motivo, todos
eram incentivados a se conhecerem e se desenvolverem -"Conhece-te a ti mesmo". E, por precaução, para que as gerações
futuras não perdessem o poder transformador da razão e do pensamento reflexivo, educavam seus filhos para serem homens
livres de ideias, não subjugados por um rei, um sacerdote ou uma religião. Pois, lhes era claro que sua imensa prosperidade era
consequência direta dos seus esforços bem dirigidos.
Em posse deste amadurecimento sem precedentes, o povo grego, conseguiu materializar a civilização mais brilhante de
que se tem notícia até os dias de hoje. Mas, embora esta fosse a Era de Ouro da humanidade, o pensamento racional e suas
técnicas de desenvolvimento foram perdendo terreno para outras linhas de pensamento mais exóticas.
O choque de outras culturas, com juízos e conceitos excêntricos, aliado aos atentados intermitentes da superstição e da
fantasia contra a razão estruturadora, contaminou a construção do raciocínio dos mais célebres pensadores.
Assim, a filosofia, que nos seus primórdios buscava o encontro do conhecimento racional e científico para construir um
mundo novo e brilhante, terminou seus dias como uma teologia intelectualizada que definia, por meio de hipóteses pseudocientíficas, a relação exata entre Deus, a Alma e o mundo.
Do passado até os nossos dias, o mundo mudou drasticamente, está moderno, cheio de invenções mirabolantes e quase
virtual.
Mas, infelizmente, o pensamento racional, capaz de criar limites eficientes entre o interior, o exterior e a imaginação, não
se desenvolveu como deveria. Pois, por entre prédios espelhados, elevadores panorâmicos, carros velozes e foguetes
interplanetários, bilhões de seres humanos, por não conseguirem raciocinar com clareza, ainda se apavoram com as imagens
criadas pela própria imaginação deseducada ou pelos reflexos das alucinações alheias.
Muitos destes, incrivelmente, ainda temem deuses julgadores, demônios assustadores e continuam sonhando em um dia
habitar lugares sobrenaturais, paradisíacos e cheios de ventura.
Miragens à parte, hoje sabe-se cientificamente que o homem vive inserido em um eco-sistema globalizado altamente
inteligente, onde, além de ser criatura do mundo natural é seu co-criador ao lhe interferir decisivamente nos complexos sistemas
interligados.
Como se não bastasse, ao criar a cultura e desenvolver as civilizações, inventa e re-inventa outros mundos em constante
mutação e auto-equilíbrio.
O mundo civilizado não existe sem a ação do homem. Entretanto, por ainda não saber controlar todos os seus poderes
interiores por meio da razão, nem saber exatamente quem é, onde está, ou qual a sua função orgânica na ordem dos sistemas
naturais e artificiais que ele mesmo inventou (político, jurídico, econômico, ecológico, social, familiar, linguístico, cultural,
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TRANSFORME-SE 2 - Apresentação
educacional, religioso, computacional, globalização e outros), por ignorância, está destruindo, sua vida, o planeta e o mundo
civilizado.
É justamente para ser útil, frente a este frágil equilíbrio do início do século XXI que surge Transforme-se.
Transforme-se é um novo método de autoconhecimento que, por meio de questões filosóficas encadeadas, promove a
evolução da consciência ao reestruturar os parâmetros interiores sobre o próprio eixo do ser.
A abordagem dos textos diários é coloquial, carinhosa, poética, algumas vezes rousseauniana, outras, instigantes como
Maquiavel, Voltaire ou Sócrates. Porém, é justamente essa expressão atualizada, popular e variada que envolve o leitor, fazendo-o
pensar... refletir... transformar.
Somente quem achou a si próprio e entendeu as dinâmicas sistemáticas do mundo pode inserir-se de modo funcional e
harmônico na comunidade a qual pertence. Por esse motivo, o leitor, ao ser colocado no centro holográfico deste jogo de espelhos
conceituais variados, composto pelas meditações aqui apresentadas, é estimulado a procurar por algo mais: sua individualidade,
única e intransferível.
E, como resultado desse amplo desenvolvimento interior, ele descobre quem realmente é, onde verdadeiramente está e
o que deve fazer para realizar-se enquanto pessoa humana.
Medite ao ler cada capítulo, deixe-o penetrar em você, mastigue-o, digira-o, entenda-o, compare-o com o que lhe
ensinaram ou com os exemplos que você conhece. Permita que eles flexibilizem a sua inteligência, fazendo-o ir além dos conceitos
superficiais aprendidos por meio da cultura e da tradição.
Aquele que guia os passos pelo som cristalino de sua voz interior, a qual, uma vez ouvida, nunca se cala, consegue
encontrar a segurança e o equilíbrio verdadeiros para olhar em frente e seguir confiante o caminho da realização individual, de fato.
Nota do Autor
Conforme foi anunciado em 2004 e 2005, o volume 2 do livro Transforme-se deveria ter chegado às
livrarias em setembro de 2005, ao mesmo tempo em que outros prod utos de minha autoria eram colocados no
mercado. Contrário aos meus esforços, todos os lançamentos foram abortados por culpa da ação criminosa da
Crivo Assessoria de Imprensa.
De má-fé, os profissionais da Crivo Assessoria de Imprensa desviaram o material informativo sobre o meu
trabalho em diversas áreas, o qual deveria ter chegado às mãos de jornalistas alocados em todo o território
nacional.
Apanhado de surpresa por profissionais corruptos da mídia, cuja existência a maioria dos brasileiros
desconhece, fui ameaçado e chantageado por jornalistas desonestos, pertencentes a grandes veículos de
comunicação, os quais foram contatados pela Crivo.
Em troca de somas em espécie, essas pessoas se propõem a falar bem, mal ou se calar sobre esse ou
aquele assunto, independente da veracidade dos fatos. Avesso ao achaque, acabei pagando com meu próprio
futuro, por não ter cedido ao pagamento de propina.
Os maus integrantes da imprensa roubaram meus arquivos pessoais, levaram tudo que puderam, incluindo
os originais não publicados dos volumes 2, 3, 4, 5 e 6 da coleção Transforme-se. No mesmo período, em meio às
dificuldades causadas por eles, eu, meus parceiros comerciais e meus clientes de coaching, passamos a receber
ameaças anônimas por telefone. A fim de proteger a to dos, encerrei minhas atividades e retirei -me do mercado por
tempo indeterminado. Não tardou para que o desgosto e o estresse me vitimassem. Em poucos meses comecei a
apresentar cegueira progressiva.
Abatido, mas não vencido, tão logo descobri que ficaria c ego, me esforcei para reescrever as ideias
principais do material que havia sido roubado. Por isso, peço desculpas aos leitores pelas falhas evidentes dessa
obra. A ausência completa de colaboradores, aliada aos problemas de visão, impediram -me de escrever mais e
melhor. Contando com apenas 5% de acuidade visual em um dos olhos, fiz o melhor que pude para transmitir
minha mensagem por escrito.
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TRANSFORME-SE 2 - Sumário
SUMÁRIO
página
Apresentação
3
Capítulo 1
6
Capítulo 2
17
Capítulo 3
22
Capítulo 4
25
Capítulo 5
27
Capítulo 6
32
Capítulo 7
42
Capítulo 8
46
Capítulo 9
53
Capítulo 10
55
Capítulo 11
61
Bibliografia Consultada (resumida) e
Recomendada
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 1
CAPÍTULO 1
―O mistério das criações humanas:
A mente que imagina maravilhas e seduz o sujeito.
O corpo reclamante que as anseia com a força dos cinco sentidos.
O espírito (a inteligência individual) que encara a situação como um problema e avança
corajosamente ao encontro da solução para materializar o desejado.
Se conseguir, independente das conse quências, se sentirá feliz e realizado.
Até sonhar novamente, novamente e novamente.‖
(Caio Ares)
Então, diante de tantas criações, nos perguntamos assombrados: como o descendente sensual de um elo
perdido, parente próximo dos chimpanzés e gorilas, pode ter organizado um outro mundo, além do natural, para
propiciar sua sobrevivência e gozo?
Como pôde ter inventado e construído o avião, o carro, o foguete, o submarino, os arranha -céus, os
computadores, o cinema, os navios, as cidades, as nações e as demais criações artificiais que estão representadas
na história da humanidade?
Como faz para materializar essas coisas prodigiosas e inacreditáveis que, aparentemente, vão contra as
expectativas sobre o que é possível? Será mágica? Pensamento positivo? Fé? Deus? Ou há algo mais que
ninguém desconfia?
Pois bem, o livro Transforme-se 2 vai tratar desses assuntos ao revelar para o leitor os segredos
escondidos atrás das imagens, dos jogos, da programação da mente e, mais importante, como tudo isso interfere
na construção da realidade humana, em qualquer época ou lugar.
Não seríamos grandes criadores, nem teríamos construído civilizações tão complexas, caso não fôssemos
capazes de imaginar e materializar o imaginado. Para nós, em essência, tanto faz visualizar no âmag o da mente
um objeto precioso, uma máquina avançada, um comportamento humano requintado ou um movimento físico que
transcende as limitações do corpo humano. Imaginamos, desejamos, arquitetamos, treinamos, erramos, acertamos
e, não raro, em pouco tempo, conseguimos materializar no plano sensível o que vimos no mundo das construções
não concretas. Quase não existe o que não possa ser realizado nos três estados da matéria: sólido, líquido ou
gasoso.
Esse fenômeno é possível porque a própria visão estampada na tela mental é consequência última de uma
construção interior minuciosa, inteligente, sistêmica e factível em vários planos, cujos elementos constitutivos
baseiam-se na lógica mais pura e absoluta. A função final de cada representação mental é materializar -se. Ela
existe em potência intelectual, perfeita, para vir a ser realidade um dia, quando as condições forem propícias.
Quanto mais inteligentes, informadas e sociais forem a mente e a pessoa que estiver imaginando ou
incorporando imagens criadas por outros sujeitos, maiores serão as chances de as ideias visualizadas virem a ser
completamente concretizadas por intermédio de ações ordenadas sob condições controladas de forma consciente,
restando apenas descobrir a estratégia e os elementos certos, naturais, artificiais e humanos para realizar os
sonhos pessoais e coletivos.
Vamos a um exemplo instigante, extraído dos anais da história antiga.
Um belo dia, há muito tempo, provavelmente em algum ponto perdido do Oriente Médio, alguém imaginou
a figura de um ser com magníficas asas farfalhantes. Como não se viam esses espécimes movendo -se à solta por
paragens conhecidas ou, então, por aquelas relatadas por viajantes, quase imediatamente a estranha
representação foi associada à outra dimensão, que não a natural.
Naqueles tempos, de priscas eras, as pessoas davam uma importância descomunal às imagens pensadas,
às produzidas por mãos humanas e às originadas espontaneamente pelos fenômenos do meio ambiente.
Imaginação e realidade eram tidas como aspectos semelhantes.
Mais adiante, esses personagens alados acabariam absorvidos pelo plano das lendas, do imaginário
popular e das fábulas que, juntas, são fonte inesgotável de inspiração para a construção da cultura dos povos.
Entretanto, resta-nos uma pergunta: Será que os seres alados são mesmo tão absurdos? Pura fantasia
oriental?
A resposta é não.
Hoje, com os avanços das ciências e da genômica, em particular, cada vez mais está próximo o dia em
que conviveremos com esplêndidos espécimes emplumados, escamados ou meio equi nos.
O que está havendo?
Será que naquela época remota, a mente projetava uma realidade à frente do seu tempo?
Será que ela sinalizava a existência de possibilidades lógicas para um belo dia no futuro ou era apenas
um sintoma da necessidade humana em integ rar o mundo dos homens ao mundo natural?
Esses são questionamentos que somente se esclarecerão mediante a análise detalhada do universo das
imagens concretas e não concretas.
Por conta de sua importância evidente, toda e qualquer imagem criada pela mente d eve ser estudada com
respeito e profundidade ao procurar-se entender sua origem, seu meio estrutural e sua finalidade funcional ou em
outras palavras: o que é, para que serve, para quem serve, para quem não serve e por que deve ser materializada.
Afinal, como acreditavam intuitivamente os antigos, as imagens mentais possuem um poder extraordinário
e perigoso por serem exequíveis.
Porém, se as lendas realmente inspiram as massas, será que o Paraíso poderá ser materializado um dia,
em algum lugar?
Sim.
E o Apocalipse?
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 1
Também.
Se as condições forem propícias e os jogos favoráveis, a materialização dessas imagens é quase certa.
Tudo começa no interior da mente: a alegria, a dor, a verdade, a mentira, o problema e a solução. Tudo,
até mesmo o começo do fim.
Não se deve brincar com a imaginação achando que ela serve como alcova onde tudo é permitido, sem
maiores consequências, uma vez que ninguém fica sabendo.
Muitas vezes, por exemplo, para alguns casais, a imaginação pouco educada e leviana pode levá -los à
infidelidade conjugal.
Cada traição imaginada é tão fatal para a história do par, quanto a perfídia vivenciada. Talvez seja pior,
porque para a mente quase não há limite entre a fantasia e a realidade. Para ela são apenas imagens e sensações.
Com a oportunidade ao alcance, tanto faz materializar a fidelidade ou a infidelidade.
Se o corpo desejar o imaginado...
Vamos a outro exemplo?
Imagine algo absurdo: uma situação pessoal, uma coisa, um objeto, uma máquina, um ser vivente, um
comportamento, qualquer coisa. Ao terminar, questione-se interiormente: o que é preciso para que essa ideia seja
concretizada no plano material?
Use sua criatividade e inventividade. Ouse ao buscar soluções racionais e responsáveis. Esteja
comprometido com o histórico-processual de seus produtos e serviços. Interrogue-se até encontrar esquemas
operacionais que sejam assertivos para esse caso em especial. Seja preciso e trace uma receita de sucesso de
execução, passo a passo.
Enquanto pratica esse exercício, preste atenção em tudo o que acon tece em seu interior, desde o início da
ação intelectual até encontrar a solução desejada.
Repare no funcionamento integrado de seus processos interiores e responda: Como eles enfrentam a
tarefa de encontrar soluções para problemas operacionais e criativos ? Eles se põem a resolvê-los alegremente ou
paralisam diante das dificuldades? Como eles se automotivam para encontrar resultados satisfatórios?
Que tipo de comentários você escuta em seu interior enquanto pensa em fazer esse exercício: Críticos?
Autocríticos? Elogiosos? Bobos? Destrutivos?
Que tipo de voz habita em seu interior: Masculina ou feminina? Adulta, infantil ou adolescente? Como ela
lhe fala?
Sua mente é: Criativa? Curiosa? Flexível? Preguiçosa? Debochada? Aventureira? Ou está paralisada?
Ao final desse exercício, se você e sua mente estiverem funcionando a contento, é provável que descubra
que sua ideia originalmente absurda e pouco provável, pode não ser tão inverossímil assim. Verá que é viável ou,
pelo menos, coerente para ser e estar em algum momento do futuro, bastando simplesmente decidir como, quando,
onde e com quem materializá-la. O mesmo acontece com suas imagens pessoais, elas podem ser materializadas
em circunstâncias especiais. A mente é um organismo solucionador.
Responda:
O que você imagina para si? Para sua história de vida?
Que tipo de histórias você imagina para o mundo? E para as outras pessoas ao seu redor?
Em que tipo de mundo você acredita que está vivendo?
Que tipo de imagens existe em sua mente?
Que tipo de imagens você prefere absorver do meio ambiente físico e cultural?
Quais são os seus medos?
Quais são as suas crenças?
É preciso cuidado e atenção máxima com as representações que você visualiza e, mais ainda, com
aquelas que incorpora diariamente, seja por meio de filmes, noticiários, revistas, jornais, livros, músicas,
comentários de amigos, de inimigos e outros.
As imagens que você cria interiormente e as consumidas do exterior são construtivas ou destrutivas?
Você sabe o que são imagens construtivas? Será que sabe realm ente?
Você sabe o que são realidades construtivas? Será?
Você acha que são muitas perguntas?
Antes de tecer conclusões apressadas, observe que essas questões revelam e reorganizam sua estrutura
interior, a partir do núcleo de sua personalidade individual e , portanto, única.
Por acaso você quer que as imagens destrutivas se materializem em seu cotidiano na forma de histórias
de vida assistêmicas, por falta de consciência e responsabilidade da sua parte?
Lembre-se (para não cair na tentação): quem carrega car ências e dificuldades, não funciona bem.
Cuidado!
Os indivíduos que estão cheios de problemas, na verdade, possuem um único problema: eles mesmos. O
problemático é o problema, não funciona, não soluciona, não toma as devidas providências e, se possível, fi ca na
cola dos outros reclamando e tentando fazer com que os demais resolvam por ele as situações difíceis.
É por isso que, no fundo, efetivamente, ninguém consegue solucionar a vida de ninguém, pois todo
problema só é problema para quem o gerou e o carreg a. É o problema dele, porque ele ainda não movimentou os
recursos certos, internos e externos, para solucioná -los como bem entender, segundo seu livre -arbítrio e
competência pessoal. E, como o problema é dele, pessoal e intransferível, a solução tem de ser dele e não dos
outros, senão, a situação se repetirá até que seja, finalmente, resolvida pelo reclamante problemático.
E por falar em competência, quantos pobres competentes você conhece?
Há muito tempo, a pobreza virou um mito celestial, mas é uma farsa que não tem nada de santa ou
abençoada. Tanto a pobreza quanto a riqueza são duas polaridades que não existem de fato. São conceitos
contraditórios que confundem e desequilibram os já desequilibrados sujeitos pensantes.
Todavia, se, como dizem as bocas irresponsáveis, os pobres vão para o céu porque alguém lá em cima os
ama, então é hora de começar a investigar as intenções daqueles que inventaram o Paraíso e o lotearam. Não há
pobres competentes.
A miséria é a paga honesta quando a incompetência governa s oberana sobre as pessoas que,
independente da posição social ou fortuna pessoa is, são incompetentes. Mesmo o homem mais rico ou bem nascido, se for incompetente, ficará pobre ou gerará descendentes destinados à miséria.
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 1
Por ser uma qualidade de espírito qu e afeta todas as instâncias da vida do sujeito e de seus
relacionamentos, é impossível que uma pessoa competente produza um filho sadio, porém incompetente.
Competentes geram e educam competentes.
Então, para acabar de vez com a pobreza do mundo, não adian ta desculpar e financiar os incompetentes,
dando-lhes dinheiro, promessas do Céu ou bens materiais aqui na Terra, basta que a sociedade lhes cobre
competência e responsabilidade pessoal, familiar e social. Portanto, a solução não é dar, mas cobrar.
Mesmo porque, cá entre nós, para sermos verdadeiramente honestos, ninguém se importa tanto com as
dores alheias a ponto de salvá-las delas. As soluções que vêm de fora sempre são paliativas, circunstanciais,
―meia-boca‖, inclusive, a maioria dos que ajudam, o faz por causa das próprias dores psicológicas. Esses querem
se sentir aliviados interiormente, importantes, maiores e melhores do que são ou pensam ser. São problemáticos
querendo salvar problemáticos e, por esse motivo, se atraem desejando vivenciar as mesma s histórias tristes, os
mesmos fundos emocionais doentios e dramáticos, as mesmas incompetências.
Isso não quer dizer que não se deva participar das soluções alheias, ao contrário, a cumplicidade
solucionadora é muito divertida, impulsiona as relações posi tivas e saudáveis e gera boas lembranças para todos
os envolvidos. É gostoso demais poder trocar informações construtivas, estratégicas, solucionadoras, lúdicas e
humanas de alta qualidade.
Mas, evidentemente, isso não tem nada a ver com a caridade, pois é diferente, é outra sinergia, é um
outro tipo de jogo. Sim, porque a caridade é um jogo como outro qualquer, possui regras predeterminadas,
parceiros com comportamentos pré-estudados e prêmios pré-estabelecidos culturalmente para ambas as partes.
Adivinhe!
Quem ganha nesse Jogo de interesses?
O que ganha?
Quem perde?
O que perde?
Por que os jogadores jogam esse jogo?
Como esse jogo começou?
Qual seu desenvolvimento histórico?
Como ele se multiplicou estruturalmente?
Você o joga?
Quais são seus interesses?
Efetivamente, o que você ganha?
Por acaso, a caridade premia e incentiva a incompetência, a desonestidade e a irresponsabilidade?
O que mais você descobriu com essas questões, e que não havia pensado antes?
A caridade é um negócio rentável?
Os maus governantes e os bons comerciantes sabem que sempre poderão contar com a boa e velha
mágica da caridade, quando quiserem mascarar e financiar as falhas dos sistemas e a incúria dos homens. Em
nome da caridade, quanto mais circular milhares, milhões, bilhões, às cu stas dos caridosos, melhor será para os
negócios.
Quando se participa desse jogo de interesses escusos, quais são as consequências a curto, médio e longo
prazo, para você, sua estrutura de relacionamentos e a sociedade em geral?
Observe: se os problemas forem considerados de forma correta, por pessoas criativas, construtivas e
responsáveis, eles se tornam desafios instigantes, oportunidades imperdíveis de crescimento humano e social.
Cultivar o hábito de solucionar os problemas particulares com responsabili dade e competência é um
expediente que mantém o indivíduo saudável, bem estruturado e feliz.
Você, leitor, já se deu conta de que, em seu cotidiano, quando encontra a solução ou soluções para um
determinado problema, imediatamente sente -se invadido por uma sensação de felicidade e realização pessoal que
é compatível com o nível de dificuldade da situação enfrentada?
Em contrapartida, já percebeu o que acontece com quem não quer ou não gosta de solucionar seus
próprios problemas?
Analise os problemáticos que você conhece, suas histórias de vida, e tire suas próprias conclusões.
Quem sabe quem é, onde está, o que produz, que papéis representa, com quem e por que, dificilmente se
perderá nos jogos da vida humana e animal.
Leitor, esteja sempre no centro produti vo da sua história de vida, pois não é fácil manter -se equilibrado no
mundo humano, repleto de ideias em choque, com homens prontos para matar ou morrer, para que elas possam
sobreviver.
E pensar que são só histórias...
Os povos se organizam e têm, como pano de fundo, histórias de todas as coisas. As de origem mais
primitiva, que contam sobre o surgimento dos primeiros homens, relatam que eles nasceram do sapo, do peixe, do
canguru, da cobra, do jaguar, dos ovos dos pássaros, dos seixos, dos pingos da chuva e outros elementos. As
histórias mais próximas dos costumes modernos narram que deuses antropomórficos criaram os homens para
conduzi-los.
Dessas narrativas, a mais famosa, o Criacionismo, que imperou solene e impoluta até o século XIX, revela
que, em seis dias, Deus criou o céu, as estrelas, a Terra, os mares, as espécies e o homem, segundo sua imagem
e semelhança, uns seis mil anos atrás, no máximo, segundo as indicações bíblicas.
Em 24 de novembro de 1859, na Inglaterra, Charles Darwin lançou o livro A Origem das Espécies e a
Seleção Natural, no qual afirmava que os organismos vivos descendem de ancestrais comuns, porém, com
modificações anatômicas e funcionais, consequentes às condições ambientais. Em outro tópico, ele aponta que,
quanto mais recentes forem os fósseis na escala evolutiva, mais devem parecer -se com o indivíduo atual ou o mais
novo, caso a espécie esteja extinta.
Diferentemente dos postulados do Criacionismo – que prega a ideia de um mundo fixo e imutável, criado e
organizado por uma potência suprema, segundo sua vontade e lei eternas, até o fim dos tempos –, Darwin
descrevia um meio natural hostil e instável, subordinado à competição e à cooperação, tendo em vista a
sobrevivência dos mais aptos, apartados da influência do poder divino.
Suas ideias evolucionistas receberam o apoio imediato de alguns dos cientistas mais célebres da época,
entre eles, Alfred R. Wallace, Thomas H. Huxley, Joseph Hooker, Paul Broca e Ernst Haeckel. Mesmo assim, o
livro A Origem das Espécies recebeu críticas violentas das sociedades cristãs e tementes a Deus, em todas as
partes do mundo. Foi um escândalo internacional.
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 1
Em 1871, a tradicional família inglesa sofreu um ataque ainda mais devastador sobre suas crenças e
valores quando Darwin declarou, em seu novo livr o A Origem do Homem e a Seleção Sexual, que os seres
humanos descendem do ramo comum aos chimpanzés e outros símios. Outro tumulto mundial.
Segundo suas conclusões, já que na época não existiam fósseis de hominídeos reconhecidos pela
comunidade científica, os homens não passavam de primatas melhor adaptados. Visionário, ele chegou a prever
que os ancestrais humanos seriam encontrados na África, fato que só pôde ser comprovado em 1924 com a
descoberta de um espécime Australopithecus Africanus (antropoide do sul da África), com 2,5 milhões de anos,
batizado de Menino de Taung e aceito pelos cientistas em 1950, após muitas discussões, como convém à classe,
evidemment.
Os confrontos entre os criacionistas e os darwinistas continuam em pauta, com os expositores i nflamados
e o público dividido. De seus balcões-púlpitos, os criacionistas jogam pesado e argumentam que as verdades científicas devem
ser procuradas nas palavras de Deus, que estão transcritas nos textos sagrados, não na interpretação duvidosa de uns ossinhos
mudos. Os dois lados possuem argumentos fortes, que arregimentam e movimentam multidões. Quem tem a razão? Que tipo de
jogos estão envolvidos em cada caso?
Assim, para se entender como funcionam os jogos, será preciso viajar no tempo e no espaço, visitar vários momentos
históricos interessantes a fim de conhecer a história das histórias, para se ter condições de contar uma nova história sobre o
homem, sua origem e, de quebra, responder a algumas questões que estão em aberto sobre os tais ossinhos mudos.
Mas tenha cuidado: não entre nessa aventura desprotegido e inocente, pois coisas estranhas estão para acontecer com
você. De agora em diante, seus demônios e medos mais secretos surgirão nas encruzilhadas da mente, como fantasmas de
insepultos, para cobrar-lhes as respostas certas aos enigmas que arruínam a vida de tantos.
Se errar ou fugir apavorado, será devorado pelas piores emoções, as mais animalescas, irracionais e violentas.
Se acertar...
Bem, de qualquer modo, se você conseguir sair do labirinto, nunca mais será a mesma pessoa, nem seu mundo voltará a
ser igual. A parte heroica da sua personalidade deixará de ser comum, crescerá e fará grandes mudanças positivas em seu mundo
particular.
Vamos? Então, ―ajustem os cintos, vai ser uma noite cheia de turbulência‖, a noite dos tempos.
Nossa viagem começa há 15 bilhões de anos quando o universo, o organismo máter, nasceu de uma explosão colossal,
o big-bang. Desde então, enquanto cresce e amadurece, tem avançado contra o negrume aterrador, enchendo-o de movimento,
galáxias, pulsações de vida, estrelas, transformações e planetas.
A Terra, celeiro fértil de vidas e outras circunvoluções biológicas, formou-se há 4,5 bilhões de anos. Os primeiros
registros fósseis pertencem às bactérias com 3,8 bilhões de anos. As plantas multicelulares e os animais surgiram há 750 milhões
de anos. Os répteis, que apareceram há 300 milhões de anos, culminaram com os dinossauros que dominaram o planeta de 200 a
65 milhões de anos, encerrando o período Cretáceo.
O período Terciário, posterior ao Cretáceo e que se estendeu de 65 milhões a 1,8 milhão de anos atrás, caracterizou-se
por profundas alterações geológicas, ambientais e climáticas, com quedas e elevações ocasionais de temperatura.
Nessa época, a Terra parecia estar possuída por forças titânicas e sobrenaturais que balançavam, levantavam e
dobravam o chão formando cadeias gigantescas como aconteceu com o Himalaia, os Pireneus, os Cárpatos, os Apeninos, os
Andes e os Alpes.
Havia ainda os vulcões que cobriam os céus dos mares e da terra firme, com uma imensidão de fumo e enxofre avisando
à bicharada que, por milhões de anos, de suas bocarras infernais iria escorrer o sangue quente da Terra, tornando pedra e morte
onde antes havia cor e vida.
Como se não bastasse, em meio a rangidos ensurdecedores, por vezes, em alguns pontos, a paisagem abria-se em
feridas que jamais se cicatrizariam.
Em um todo, a fauna e a flora seguiam as mudanças, eliminavam espécies e forneciam condições para que os
mamíferos aumentassem o tamanho físico, a variedade e o número de espécies.
As aves perderam suas características répteis (dentes e rabos) e especializaram-se para o voo.
As plantas ganharam flores e incrementaram o sistema reprodutivo. Em todos os reinos, os organismos vivos foram
forçados a criar estratégias para sobreviver nos novos ambientes.
O comportamento dos animais foi influenciado por sua morfologia, herança genética e estímulos provenientes do meio.
Assim, é certo que as espécies herdeiras foram aquelas que, quando necessário, conseguiram gerar soluções contínuas,
morfológicas e comportamentais.
O sistema biótico do planeta Terra, a biosfera terrestre, representa a soma da interação do histórico-processual de todos
os elementos existentes, os animados e os inanimados. A vida se divide e se multiplica pelo dom da Matemática. Energia e
nutrientes são presos à cadeia que promove a explosão criativa de incontáveis formas de vida.
A adição, divisão e multiplicação de uma nova espécie viva ou a subtração de uma espécie já existente (extinção), por
exemplo, reflete-se no comportamento dos demais elementos restantes e do conjunto, o qual funciona como um todo orgânico
racional. As relações causais tramam os processos bióticos e interferem na sistêmica do universo inteiro.
Há aproximadamente 60 milhões de anos, surgiram duas espécies de primatas com uma inovação adaptativa singular:
possuíam o cérebro relativamente grande, em proporção ao tamanho de seus corpos. Essas espécies antigas eram parecidas com
os lêmures e os tarsos da atualidade, viviam em grandes bandos barulhentos e alimentavam-se de frutas e folhas em abundância.
Ao que tudo indica, seus cérebros cresceram em virtude de a alimentação farta e a enorme quantidade de informações
que precisavam processar. Havia as informações da Natureza, das espécies com quem partilhavam o ambiente (de quem
deveriam se proteger) e, principalmente, das mensagens geradas pelos indivíduos do bando, quando do relacionamento cara a
cara.
Quanto ao restante da fauna, a vida desses primatas gregários era mais complexa e demandava um número maior de
soluções práticas para continuarem a existir.
As pressões em espiral ascendente levaram as espécies primatas subsequentes a se tornarem exímias em organizar
estratégias comportamentais que garantiram a formação de sistemas sociais eficientes e autossolucionadores, o que lhes deu a
chance de manter o cérebro grande e em perfeito funcionamento em ambientes abertos.
Essa é a origem da evolução do cérebro, da mente e do indivíduo social e sistêmico, quando ainda não havia o humano,
só o animal.
Há cerca de 10 milhões de anos, as densas florestas que dominavam o continente africano, lentamente, cederam espaço
às savanas, às matas, aos pastos e aos pântanos. Um novo horizonte começava a ser desenhado, trazendo consigo
oportunidades inéditas de evolução para os animais que puderam se organizar em bandos melhor adaptados.
Com a alteração do ambiente, certos grupos de macacos se viram estimulados a descer dos galhos e buscar alimentos
no chão – plantas, raízes, frutos e, ocasionalmente, restos de animais mortos (carniça).
9
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 1
A Natureza gosta de brincar com o acaso, ao materializar o provável e o improvável. O que vale para ela é manter a
chama da vida acesa, seja como ou onde for. Contudo, entre suas infindáveis e ininterruptas tentativas de acerto, uma nova forma
estava fadada a dominar o planeta, uma entidade destinada a gerar a mente racional e sistêmica, ou seja, a maior criação da
sistêmica universal, o indivíduo último e virtual: a mente Humana liberta de todos os padrões irracionais e, portanto, inferiores.
Em determinado momento, entre 10 e 7 milhões de anos atrás, a Natureza produziu uma espécie inédita de primata, cuja
morfologia privilegiava o desenvolvimento do sistema cerebral e esse, futuramente, estava destinado a gerar a mente.
Então, a partir do nascimento do primeiro hominídeo, pouco a pouco, e durante o avanço dos milhões de
anos, as metamorfoses pertinentes à evolução natural prepararam o terreno para o surgimento de um organismo
que, mais tarde, bem à frente, teria a capacidade de contribuir beneficamente com a Natureza que o gerou de
maneira indireta. Um ser altamente sistêmico e integrado.
O estudo da evolução humana é um ramo científico repleto de surpresas e armadilhas desconcertantes. A
nova corrente de pensamento, aceita pela maioria dos estudiosos, considera que a evolução não foi linear e
naturalmente progressiva, mas que se processou aos saltos, em forma de arbusto, com várias espécies que
apareciam, desapareciam e se afunilaram após o surgimento do Homo sapiens sapiens, nossa espécie, há
aproximadamente 200 mil anos. Os motivos que levaram os sapiens sapiens a serem os únicos a sobreviver ainda
são impenetráveis.
Das 20 espécies aceitas como nossas ancestrais, poucas têm seu lugar garantido. Dependendo das
descobertas futuras, algumas podem cair dos galhos que as prendem à família humana, como aconteceu no
passado com outros pretendentes.
Para pertencer a essa comunidade diferenciada, os candidatos ao posto de nossos antepassados devem
apresentar credenciais físicas e intelectuais que hoje são tomadas como exclusivas dos humanos.
As credenciais físicas incluem o bipedalismo, a postura vertical e ereta, o cérebro grande e multifuncional,
a capacidade manipulativa com o polegar oponente, molares grandes, caninos pe quenos e incisivos, esmalte
dental espesso, face inferior vertical, caixa craniana arredondada e regular.
Das habilidades intelectuais podemos citar a aptidão de criar estruturas sociais complexas, a utilização do
símbolo, a criatividade, a capacidade de c onstruir instrumentos, o pensamento ordenado e inventivo, a arte e, mais
importante, a facilidade para desenvolver sistemas que ajudam os homens a construírem outros mundos, além do
mundo natural.
Parece muito, mas, segundo as pesquisas mais recentes, quan do se comparam as demais espécies de
animais com os humanos, nota-se que as referências e os conceitos podem se confundir, até se perder a noção
exata sobre o que diferencia os humanos dos animais antigos e modernos.
Por esse motivo, os especialistas tenta m responder a uma questão urgente: O que nos torna humanos?
Há oito tipos básicos de vida no planeta: as eubactérias, as arqueobactérias, os arqueozoanos, os
protistas, os cromistanos, as plantas, os fungos e os animais. O homem é um animal vertebrado e ma mífero, que
se encontra no topo da cadeia evolutiva e guarda em seu interior todas as informações dos que estão abaixo dele.
Ao que parece, se não evoluir mentalmente, pode vir a utilizar estratégias comportamentais de ordens inferiores,
que comprometerão seu amadurecimento humano.
Então, como devemos classificar um homem moderno e citadino que apresenta um tipo de comportamento
similar àquele observado em predadores, parasitas ou vírus?
Essa pessoa é um ser humano?
Se optarmos pela negativa, como pode ter direitos humanos?
Diante da dúvida sobre o que é a humanidade e o que nos faz humanos, nessa viagem pela noite dos
tempos, precisamos voltar os olhos para nossos antepassados.
O candidato mais antigo a pleitear uma posição confortável na estranha família h umana chama-se Toumaï,
tem 7 milhões de anos e foi encontrado em Toros -Menalla, no norte do Chade, em 2002, por Michel Brunet e
Patrick Vignaud. Seu fóssil (alguns dos tais ossinhos mudos) resume -se a uma caixa craniana praticamente
completa e muito bem preservada.
Toumaï tinha o tamanho de um chimpanzé e habitava próximo a um lago com 400 mil quilômetros
quadrados circundado por uma floresta. Naquela época, onde hoje é um deserto inóspito, o ambiente apresentava
um misto de florestas, rios e pântanos habit ados por várias espécies de animais.
Os próximos pretendentes são: o Orrorin tungensis (6 milhões de anos), o Ardipithecus ramidus kadabba
(5,8 milhões de anos), o Ardipithecus ramidus (4,5 milhões de anos) e o Australopithecus anamensis (4,2 milhões
de anos). Todos eram bípedes ou bípedes e arbícolas, especialmente vegetarianos e habitantes de regiões
arborizadas.
Por volta de 3,5 milhões de anos, emerge a estrela máxima do mundo fóssil, Lucy, um Australopithecus
afarensis, encontrado por Donald Johanson, em Hadar (Etiópia), em fins de novembro de 1974. Os A. afarensis
3
mediam de 1 m a 1,50 m, pesavam de 30kg a 75 kg, possuíam um cérebro de 450 a 550 cm e habitavam as
savanas.
Por volta de 2,5 milhões de anos, entram em cena os Australopithecus africanus q ue, em companhia dos
A. afarensis, são conhecidos como australopitecíneos gráceis, por serem leves, com braços longos e corpos
enxutos. Os Paranthropus robustus, seus contemporâneos, são mais encorpados e apresentam uma crista sagital
no topo do crânio, que era responsável pela fixação de músculos mastigatórios poderosos. Os primeiros
instrumentos líticos datam de 3 a 2,5 milhões de anos e resumem -se em simples pedras lascadas (complexo
industrial de Omo) que foram fabricadas por membros dos gêneros Austral opithecus e Paranthropus.
Fabricar algo exige memória, planejamento, criatividade e competência intelectual para superar problemas
de ordem abstrata. Mesmo assim, os especialistas costumam considerar essas espécies como meros macacos em
pé, animais destituídos de qualquer lampejo de humanidade, porque não existem provas de que esses
antepassados possuíssem cultura própria.
Trata-se de um rigor injusto, se levarmos em conta que esses arcaicos punham -se de pé, olhavam-se nos
olhos, comunicavam-se por meio da fisionomia, produziam sons inteligíveis, tinham as mãos livres para o gesto e
estavam inseridos em um mundo cheio de coisas interessantes para serem manipuladas e conhecidas
detalhadamente.
Se realmente a ontogênese (processo individual de desenvolvimento dos seres vivos) recapitula a
filogênese (desenvolvimento das espécies), como propôs o cientista Haeckel (1834 -1919), a comunicação entre
nossos antepassados teria começado com o olhar e a expressão facial acompanhada de sons, como acontece com
os recém-nascidos sapiens sapiens que avidamente buscam travar contato com a mãe e as outras pessoas, desde
os primeiros momentos da vida.
10
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 1
Da mesma maneira, é possível imaginá -los explorando os terrenos, fascinados com os elementos naturais
próximos e distantes, demonstrando a mesma curiosidade travessa, peculiar aos nossos pequenos primitivos
modernos, e que nos enternece tanto.
Os véus que escondem os segredos do universo humano não resistem aos questionamentos da mente,
quando esta se vê diante do desconhecido, com o acontece com a coragem afetiva de querer penetrar no coração
alheio, aberto pelo caminho daqueles que se olham emocionados, tentando descobrir o cerne de várias emoções e,
até quem sabe, o amor florescente. Ou, em outro momento, como um Narciso primitivo , ter a coragem de olhar-se
na superfície do espelho d‘água, encontrando -se no fundo de si próprio, pequeno, porém sentindo -se
estranhamente um pouco menos animal. ―gnōthi seauton‖ (conhece -te a ti mesmo).
Esse foi o princípio da história do sujeito pensan te que, para relacionar-se consigo mesmo, precisava se
conhecer e aprender a se escutar.
E então, esse eu interior pequenino e confuso, suspenso por vontades, desejos, temores e dúvidas, olhou
por cima dos arbustos, das copas das maiores árvores, dos monte s, das montanhas e enamorou-se da linha do
horizonte, porque, lá longe, ele sentiu que o chamavam.
Da visão daquilo que o convida, com a intimidade cúmplice de quem o conhece, as terras, os mares, os
céus e o que mais houvesse, estariam prontos para serem analisados, decodificados, simbolizados e historiados
mediante um processo lento, longo e cumulativo que duraria milhões de anos e culminaria com o surgimento da
memória em seus níveis mais sofisticados, assim como a conhecemos nos Homo sapiens. Porém, se a imensidão
lhe fazia promessas, por outro lado, escondia perigos: as feras (que poderiam estraçalhá -lo ou devorar seus
queridos), as borrascas (que poderiam arrasar seus habitats), as mudanças bruscas no clima e os desastres
naturais que pareciam querer puni-lo, sabe-se lá por quê. Forças essas, superiores àquelas observadas nos seres
naturais, talvez sobrenaturais, quem sabe, pertencentes a um mundo poderoso, mas invisível aos seus olhos
inquisidores. A ignorância guiava seus pensamentos.
Assim, para o hominídeo, as paisagens pareciam conter vida própria, como entidades sedutoras,
cúmplices e violentamente perigosas.
Mas, por causa dessa instabilidade temperamental e aterradora, que lhe fugia do controle e da
compreensão, é provável que ele tenha aprendido a sentir medo do que está à espreita, do que está guardado e do
que virá amanhã e depois. E pode ser também que hoje essa emoção esteja escondida no fundo dos corações
humanos, bem longe da razão.
Como não poderia deixar de ser, no passado, consoante a es sas condições cognitivas especiais, a
evolução abriu o leque mostrando opções variadas de relacionamentos baseados em laços afetivos profundos.
Por seu turno, o bipedismo interferiu em suas relações sociais, sexuais e nos nascimentos das crianças ao
projetar os genitais à frente do corpo nu. O ato sexual, praticado nessas condições, diferentemente dos símios,
cuja penetração é por trás e oportunista, força o par a se olhar, se reconhecer e trocar importantes informações
racionais, emocionais e sociais: antes, durante e depois da cópula.
A sexualidade, entendida como complemento íntimo do relacionamento afetivo maduro, desempenhou e
ainda desempenha um papel fundamental na evolução dos indivíduos e da raça humana em geral.
Quanto ao parto, o bipedismo estreitou a bacia e obrigou as crias – com a cabeça aumentada por causa
do cérebro maior – a nascerem prematuras em relação aos outros animais. A finalização do desenvolvimento do
filhote hominídeo é extrauterina e depende integralmente do relacionamento com os p ais e o meio que o cerca,
desse modo pode-se verificar que o fenótipo é produto da interação entre o genótipo e o ambiente. A soma desses
fatores, ordenados em um sistema individual, lhes estimulou a inteligência, moldou seu caráter e propiciou o
surgimento de novas formas de contato, comunicação interpessoal, acordo social e relacionamento com o entorno.
Em complemento, as mãos libertas foram imprescindíveis para o desenvolvimento da interligação dos
cinco sentidos. Com a facilidade de manipular as coisas que estavam à disposição, os antigos puderam analisá -las
melhor, cheirá-las melhor, trazê-las para junto do ouvido, sacudi -las, lambê-las em pontos diferentes e tocá-las de
modos variados e criativos.
Os primeiros representantes do gênero Homo têm 2,5 milh ões de anos e apresentam grande variação de
tamanho e forma. Entre os inúmeros fósseis coletados, os antropólogos identificaram três espécimes principais:
Homo habilis, Homo rudolfensis e Homo ergaster. Esses espécimes possuíam cérebros com tamanhos de 500 a
3
800 cm , eram maiores do que os australopithecus e habitavam regiões da África oriental e meridional.
Alguns cientistas preferem chamá-los apenas de habilis, já que é quase impossível identificar e classificar
com segurança os vários fósseis encontrados . É muito provável que várias espécies estejam juntas, em número
muitas vezes superior ao classificado.
Pela análise da caixa craniana dos habilis, os neurologistas acreditam que seus cérebros tinham as
regiões de Broca e Werneck (responsáveis, respectivam ente, pela fala e compreensão linguística) completamente
desenvolvidas, o que caracterizaria a competência para o uso corrente da linguagem falada. Os habilis receberam
essa denominação por causa dos instrumentos que fabricavam ao bater uma rocha de cascal ho contra outra para
produzir lascas afiadas. O restante do seixo, o núcleo desbastado e pontudo, servia como ferramenta para serviços
mais pesados (Indústria Olduvaiense).
Os habilis foram os primeiros a consumir grandes quantidades de carne, provavelment e conseguidas com
a coleta de restos de animais abatidos por outros carnívoros. Essa prática é conhecida como carniçagem e,
ocasionalmente, deveria ser aplicada pelos Australopithecus que, igual aos Homo, costumavam partir os ossos
grandes para retirar do seu interior o tutano, altamente nutritivo.
Certos pesquisadores defendem que os A. afarensis consumiam carne regularmente e que, inclusive, eram
adeptos do canibalismo, como acontece com alguns bandos e chimpanzés e representantes do gênero Homo.
3
Há dois milhões de anos, aparece o Homo erectus com um cérebro de 750 a 1250 cm . Sabe-se que ao
redor do lago Turkana, no norte do Quênia, há 1,9 milhão de anos, grupos de Paranthropus boisei, Homo habilis,
Homo rudolfensis, Homo ergaster e Homo erectus dividiam os mesmos recursos ambientais. Se levarmos em conta
que os hominídeos são animais sociais, chegamos à conclusão de que eles tiveram algum tipo de interação social
e cultural.
Há 1,8 milhão de anos, surpreendentemente, os H. erectus surgem na Ásia e no extr emo oriente, resultado
de uma possível migração da África, anterior há dois milhões de anos. Sobreviveram até 40 mil anos atrás (fósseis
encontrados em Ngandong, Java). Os H. erectus provavelmente foram os criadores dos famosos machados de
mão, feitos de seixos desbastados de ambos os lados e moldados em forma de gota. As primeiras ferramentas
desse tipo apareceram há 1,4 milhão de anos e foram encontradas em todo o velho mundo, menos no sudeste
asiático.
11
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 1
O formato e as dimensões desses instrumentos foram m antidos por centenas de milhares de anos, o que
nos faz supor que os Homo antigos eram orientados por uma cultura tradicional, que desprezava a criatividade e a
variedade produtiva, como ainda acontece com quem se prende aos cânones.
À parte da limitação desses antepassados, a fabricação dos machados de mão exigia que os produtores
possuíssem sensibilidade, destreza, conhecimento natural e grande perícia técnica para superar os desafios que
se apresentavam durante o processo de desbaste das diferentes rocha s, com diferentes graus de dificuldade
(Indústria Acheulense).
A produção lítica do passado é obra de grandes peritos que legaram às futuras gerações belas lições de
pertinácia para vencer desafios e superar limitações. Como acontece nas oficinas modernas, é possível que os
artífices mais jovens e inexperientes fossem orientados e treinados por mestres mais velhos e mais traquejados.
Os machados de mão, encontrados em vários sítios arqueológicos do mundo, nos revelam que seus fabricantes
conseguiam pensar, refletir e planejar suas ações operacionais para materializar uma determinada forma
preexistente em suas mentes, respeitando diretrizes precisas e pre -determinadas, possuindo, talvez, um senso
rudimentar de ordem e valor, que exigia da Natureza mais do que ela lhes oferecia.
Assim, depois que os hominídeos entraram no curso da história e da vida do planeta, talvez a noite dos
tempos tenha ficado bem mais curiosa, ruidosa e inteligente do que se supõe.
Os primatas são a ordem social por excelência do reino a nimal. Praticamente, todos os primatas
antropoides vivem em grupos sociais complexos, mostrando -se aptos a aprender regras comuns a um conjunto de
experiências e utilizá-las para enfrentar novos problemas. Portanto, a propensão humana à sociabilidade, à
solução de questões complexas, ao aprendizado e à encefalização (desenvolvimento e aumento do cérebro) é
parte de uma tendência geral.
Para sobreviver no turbulento redemoinho da história do planeta, em constante transformação, era forçoso
que os hominídeos conseguissem transpor o roteiro imposto pelo instinto. Pois, como animais pertencentes ao
reino animal, eles encontravam-se em franca desvantagem. Com corpos tão frágeis e sensíveis, eram presas fáceis
das feras.
Se os sujeitos pensantes, em conjunto com s uas mentes, não solucionassem os problemas do entorno,
desenvolvendo comportamentos individuais e grupais que os estimulasse à cooperação e à troca inteligente, na
atualidade não existiriam seres humanos. A forte inclinação ao social foi a salvação da espé cie humana.
Os primeiros antepassados a ultrapassar os limites que os prendiam a mais completa animalidade foram
aqueles cuja verve social expandiu-se e começou a individualizar os elementos do entorno, emprestando -lhes
propriedades objetivas e subjetivas, que facilitavam sua manipulação física e intelectual. Com o passar dos
milênios, enquanto seu sistema intelectual se desenvolvia, o meio ia ganhando um caráter responsivo e afetivo
que, segundo sua leitura particular, ampararia, protegeria e recompensaria quem se comportasse de modo correto.
Essa compreensão, baseada em trocas inteligentes e sistêmicas, aliada a uma certa competência para
resolver os problemas do ambiente, deu-lhes respaldo para organizar um mundo com crenças, ideias e leis não
naturais que facilitou-lhes a sobrevivência.
Em Israel, no ano de 2004, no vale do Hula (um caminho de migração da África para a Europa e a Ásia),
foram encontrados restos de fogueiras com 750 mil anos, produzidas por hominídeos não identificados.
Especula-se que os H. erectus já dominassem a produção do fogo no continente africano, há 1,8 milhão de
anos, próximo do início do Pleistoceno, quando placas de gelo começaram a invadir o hemisfério norte, interferindo
no clima do planeta.
O domínio da técnica da combustão p ode ter facilitado a conquista das terras do velho mundo, com climas,
fauna e flora diferentes do continente africano.
A alimentação interfere diretamente na morfologia dos seres vivos. Somos o que comemos. Com a
utilização regular do fogo, o homem pré-histórico teria condições de incrementar sua dieta e poder alimentar com
maior facilidade e eficiência crianças, jovens e velhos. Já foi observado que o alimento cozido tem seu potencial
energético aumentado porque facilita a mastigação e a digestão. Isso fez com que os intestinos trabalhassem
menos e diminuíssem de tamanho, enquanto o cérebro passava a ter condições de absorver a energia excedente.
Além desses fatores, os alimentos macios dispensam a necessidade de músculos grandes, os quais
pressionam a caixa craniana e impedem que o cérebro se expanda, como aconteceu com os Paranthropus.
Mastigar menos e com menor força permitiu que os músculos mastigatórios diminuíssem e imprimissem
menos força à caixa craniana, o que facilitou sua expansão enquanto o céreb ro crescia com a energia que recebia
da alimentação rica e variada. O cérebro é um órgão dispendioso, pois, nos humanos, ele consome 25% da energia
disponível.
As fogueiras também representaram um importante avanço para socializar o bando e protegê -lo dos
predadores. Se levarmos em conta o comportamento dos povos primitivos em geral, ou das civilizações antigas, é
possível que, para esses antigos pré-históricos, o lugar destinado às fogueiras era tido como um espaço sagrado
que unia, confortava e protegia, fornecendo oportunidades para alimentar o corpo e o espírito.
Para maximizar as chances oferecidas pelos ambientes, com seus mais variados desafios, os bandos se
estruturavam em torno de 10 ou 20 indivíduos empenhados em solucionar as necessidades básicas diárias. Uma
pequena célula social flexível, soldada por laços indissolúveis, em constante equilíbrio funcional.
Pelo visto, a tendência aos agrupamentos pequenos se manteve até o Paleolítico Superior, há
aproximadamente 40 mil anos, quando os grupos começ aram a duplicar o número de integrantes e a diversificar a
estrutura original, por vezes, enfraquecendo -a.
Há 500 mil anos, inicia-se a fabricação dos machados de mão com simetria e acabamento superior
(Técnica Levallois). Hoje em dia, uma pessoa hábil e i nteligente levaria muitos meses, talvez anos, para dominar a
técnica do lascamento bifacial e perfeitamente simétrico. Os experts seriam raros, tamanha a complexidade do
processo. Quanto à funcionalidade, a simetria não era indispensável no emprego das ped ras talhadas, mas já
deveria ser considerada uma qualidade. Vemos que os homens do Paleolítico Inferior haviam começado a se
preocupar com a estética dos seus instrumentos.
O emprego do princípio da simetria por parte desses lascadores – primitivos, por certo, mas cujos
intelectos se empenhavam em alcançar a correspondência das partes, sem se importarem com os sacrifícios e as
decepções necessárias, quando se punham a transformar as irregularidades das formas naturais – é um indício
claro de que eles pensavam com maior requinte, quando comparados aos seus ascendentes.
A perfeição, em qualquer das suas feições, é uma ilusão da mente, um fenômeno imagético interior e
conceitual, peculiar às estruturas de raciocínio desenvolvidas, mas, que, ainda não atingiram os níveis superiores
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 1
de compreensão formal e funcional. Ao que parece, desde esses velhos tempos, a desigualdade das partes
incomodava o senso estético e, provavelmente, também o sentimento ético das gentes.
Algumas dessas peças destacam-se pela personalidade transcendental, comunicando, para quem as vê e
toca, que o artífice preocupou-se em ultrapassar os limites da matéria para atingir um padrão plástico que primasse
pela beleza e expressão de uma sensibilidade inteligente e refinada. São verdadeiras obra s-primas,
cuidadosamente esculpidas com incisões precisas e delicadas. É provável que alguns desses machados de mão
representem as primeiras manifestações de arte que se tem notícia. Os mais belos não foram maculados pelo uso
ordinário de picar vegetais, talhar a carne, trabalhar a madeira e cortar peles de animais. Foram mantidos
praticamente intactos por centenas de milhares de anos, como que para preservar o esplendor e o potencial
funcional inviolados, lembrando os punhais e as facas sagradas encontrada s em culturas primitivas de todos os
tempos.
Tendo em conta a qualidade das emoções e das crenças envolvidas na fabricação, no uso e na apreciação
desses objetos, é quase certo que esses indivíduos já acreditavam na influência da imagem mental sobre o obje to
e vice-versa.
Porém, são inferências desse calibre que, muito mais adiante e a par de outras realizações, anunciam a
prática inquestionável das artes, da magia e, depois delas, das religiões.
A representação figurativa mais antiga foi encontrada no síti o de Berekhat Ram, em Israel, e conta com
250 mil anos de idade. A figura esculpida em um pequeno pedaço de rocha lembra a silhueta de uma mulher.
Contudo, há divergências quanto às intenções do escultor. No caso da confecção de ornamentos pessoais, o intu ito
é claro e revela a interferência do pensamento simbólico de modo inequívoco. As primeiras joias do mundo são
colares de conchas pequenas e regulares, encontradas na caverna de Blombos, África do Sul, com cerca de 75 mil
anos de idade.
Em data incerta, algo entre 800 e 400 mil anos, começaram a aparecer hominídeos de várias espécies e
3
subespécies, com crânios mais arredondados e cérebros maiores, entre 1000 e 1400 cm .
Dada a dificuldade em classificá-los, os pesquisadores costumam chamá -los de Homo sapiens arcaicos.
Uma denominação inapropriada.
Por volta de 800 mil anos, surge o Homo heidelbergensis, o primeiro hominídeo a habitar a Europa. Os
Homo sapiens arcaicos sobreviveram até 100 mil anos atrás.
Na Etiópia, em 1997, foram encontrados os fósseis do s Homo sapiens idaltu (subespécie sapiens) e ossos
de outros indivíduos. Os crânios encontrados parecem que foram separados dos corpos, descarnados e
cuidadosamente polidos, fazendo supor que eles praticavam algum culto destinado aos antepassados. Até há
pouco tempo, acreditava-se que o culto dos crânios havia surgido no Paleolítico Tardio (por volta de 10 mil anos
atrás), junto aos primeiros povos agricultores e sobrevivido até os nossos dias, em povos de cultura primitiva que
ainda acreditam que a cabeça é a morada do espírito do indivíduo.
Segundo essa crença, depois que o corpo morre, o espírito sobrevive e continua habitando no crânio do
falecido, de onde acompanha os passos dos descendentes, cuidando para que as tradições não se alterem. Tudo
deveria continuar como sempre foi, desde antanho, para garantir a segurança e a permanência do espírito dos
mortos, dos vivos e daqueles que um dia virão.
Os antigos procuravam controlar a volubilidade da Natureza, ao querer fixar seus usos e costumes, regras
e formas por gerações sem fim, como se a conservação do mundo humano e artificial interferisse diretamente na
estabilidade das imagens naturais. As informações do meio eram organizadas em sequências de representações
mentais ligadas por intermédio de correspond ências gramáticas e processuais. Eles acreditavam que as imagens
produzidas por suas mentes e mãos, de alguma forma, refletiam na estrutura do ambiente, como se as mesmas
possuíssem vida e essência independentes.
Segundo essa linha de raciocínio, que privilegia a construção de enredos e histórias, se houve o ontem,
então haverá o amanhã, desde que o contexto social e os elementos do cenário humano se mantivessem iguais.
Durante o Pleistoceno, o planeta passou por mudanças ambientais e climáticas, com variaç ões bruscas de
temperatura, em consequência de pelo menos oito grandes ciclos de glaciação -interglaciação.
Enquanto as paisagens se alteravam e os recursos do ambiente escasseavam, as espécies lutavam contra
os perigos da extinção iminente. A história era dramática para os hominídeos que, para sobreviver, precisavam de
grandes quantidades de energia proveniente dos alimentos. A variedade e a quantidade necessárias para saciar a
fome dos bandos foram garantidas a duras penas.
Os registros arqueológicos apontam que, a partir de 250 mil anos atrás, havia uma nova espécie que
caminhava sobre a Europa e o Oriente Médio – os neandertais – que sobreviveram até provavelmente 28 mil anos
atrás. Há quem garanta que eles estiveram entre nós após essa data.
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Essa espécie possuía o cérebro volumoso (entre 1400 e 1600 cm ), rosto grande, maxilar destituído de
queixo, arcadas supraciliares salientes, testa baixa e inclinada, torso bojudo como um barril e membros curtos.
Eram fortes, inteligentes, laboriosos e estavam fisicam ente adaptados para suportar as exigências extremas da
época. Alguns dos piores anos que os hominídeos já enfrentaram.
No continente europeu, o frio glacial colocava os organismos vivos em xeque. As alterações ocorridas em
um único ano, muitas vezes, eram capazes de mudar completamente a constituição da fauna e da flora de regiões
inteiras. Essa situação comprometia, de forma irrecuperável, a sustentação da cadeia alimentar e levava várias
espécies à extinção.
Por causa das dificuldades e do estresse, a exp ectativa de vida dos neandertais era de 40 anos de vida.
Seus fósseis costumam apresentar fraturas por esforço, levando -nos a imaginar o trabalho que tinham para se
manterem vivos e produtivos. E, mesmo diante de tais problemas, eles conseguiram prosperar com galhardia, por
mais de 200 mil anos.
No Levante, os neandertais repartiram o espaço com os sapiens entre 100 mil e 40 mil anos atrás. Na
Europa, eles estiveram juntos por 12 mil anos, no mínimo, entre 40 e 28 mil anos atrás.
De todos os antepassados comuns, os neandertais são os que geram mais controvérsias, por seu
comportamento estranhamente parecido com o dos sapiens sapiens, em pontos que comprometem a ambos, eram:
exímios caçadores de animais de médio e grande porte, consumiam grandes quantidades d e carne, construíam
ferramentas com mais de uma matéria-prima, enfeitavam-se com objetos de adorno pessoal, enterravam seus
mortos, acreditavam na vida após a morte, cuidavam dos velhos e dos doentes, possuíam estruturas de raciocínio
lógico matemático e foram os melhores lascadores da dificílima técnica Levallois de que se tem notícia.
A maior parte dos pesquisadores acredita que os neandertais eram intelectualmente atrasados e que,
portanto, os usos e costumes ―humanos‖ que eles apresentavam foram grossei ramente copiados dos homens
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 1
anatomicamente modernos com quem tiveram algum tipo de contato, sem, contudo, terem consciência do valor
simbólico e cultural do que estavam imitando.
Mas, pesquisadores menos puristas reagem alertando que a história não foi bem assim, pois os registros
não são conclusivos e mostram evidências ambíguas. A transição do Musteriense (cultura associada aos
neandertais de 40 a 28 mil anos atrás) para o aurignaciano (cultura associada aos sapiens sapiens de 34 a 30 mil
anos atrás) foi bem mais complexa e intrincada do que pretendem os fãs incondicionais da nossa superioridade.
Talvez nunca se saiba ao certo se houve cópia, interação cultural ou se ambos os grupos evoluíram de
forma paralela. Uma estranha coincidência estrutural, que som ente poderia ocorrer se as duas mentes possuíssem
capacidades semelhantes de cognição e inventividade.
Dada a semelhança comportamental, cultural e produtiva, fica evidente que tanto os neandertais quanto os
sapiens sapiens possuíam formas de pensar compat íveis com igual compreensão do meio e a mesma facilidade
para simbolizá-lo em benefício próprio.
Não há certeza quanto aos motivos que levaram os neandertais a, literalmente, sumirem do mapa.
Costuma-se atribuir o ocorrido ao possível confronto dos sapiens , mais numerosos e belicosos, contra os pequenos
agrupamentos neandertais. Mistério semelhante ronda a existência do Homo floresinesis que habitou a ilha de
Flores, na Indonésia, até 12 mil anos atrás. Essa criatura era pequena, em torno de um metro, mais inteligente,
boa caçadora e excelente fabricante de armas e instrumentos. Sua extinção deu -se em decorrência de uma
erupção vulcânica e é possível que tenha mantido contato com populações modernas. Até hoje, as lendas dos
povos da região contam sobre a existência de homens minúsculos no passado remoto.
Em relação ao desaparecimento dos neandertais, alguns acreditam que houve absorção pacífica, sendo
que as características genéticas dos mais antigos, e em menor número, foram diluídas com o passar do tempo.
A teoria da mestiçagem costuma receber críticas da parte dos puristas da raça, que não admitem a
hipótese de que houve qualquer tipo de intercâmbio social, cultural e, menos ainda, sexual entre os diferentes
grupos de hominídeos. Mas há evidências constrang edoras que levam a crer que realmente houve cruzamentos
entre os neandertais e os sapiens, como sugerem os resultados dos estudos de alguns fósseis (com características
cruzadas) encontrados em sítios da Europa e do Levante, região do mediterrâneo oriental .
Além desse fato, ainda restam dúvidas se os neandertais são uma subespécie sapiens. Algumas análises
químicas pesam a favor do parentesco íntimo. Quanto aos sapiens, é provável que o aumento do número de
indivíduos tenha favorecido o avanço cultural e so cial dos bandos, interferindo naturalmente no comportamento e
na maneira de encarar o meio e seus recursos. Grupos grandes precisam encontrar mais alimentos para
sobreviver. Portanto, seus elementos devem ser mais flexíveis e criativos.
No ambiente glacial, a busca por um novo repertório de soluções adaptativas emergenciais obrigou -os a
pensar mais e melhor, e em consequência, levou -os a transgredir os limites impostos pela tradição sobre a
formação do pensamento, lançando o homem e sua mente em direção à c riatividade moderna.
Com isso, a mente tinha a chance de desenvolver -se ainda mais, sistematizando o meio, segundo suas
leis, em conjunto com as regras ditadas pelo mundo natural. O mental e o animal fundem -se para formar o homem
daqueles dias primitivos.
É possível que, para aquela época, se os sapiens, como um todo, não fossem mais cooperativos entre si,
criativos e hábeis em criar estratégias de exploração mais agressivas, teriam soçobrado. Assim, se estavam em
desvantagem devido à sua sensibilidade, suas mentes, mais racionais que instintivas, apresentavam possibilidades
que lhes davam vantagens assombrosas.
É provável que a linguagem, formada por um léxico de tamanho razoável e regras gramaticais ordenadas,
tenha desempenhado um papel vital nos processo s peculiares ao desenvolvimento observado. Se for assim, a fala
melhor estruturada favoreceu a fixação e a transmissão dos conhecimentos acumulados, bem como facilitou a troca
de experiências, ideias, pensamentos e emoções complexas entre as pessoas, os ba ndos e, desses, às futuras
gerações.
Na literatura arqueológica, a transição do Musteriense para o Aurignaciano é conhecida sob o termo de
―Explosão do Paleolítico Superior‖, momento em que foi plasmado o universo cultural da humanidade, esteio do
progresso posterior.
A produção da época, em sua íntegra, já expressava uma sensibilidade moderna que, no futuro, daria
variedade e vida à moda, às artes plásticas, à música, à indústria, à religião, ao comércio e à sociedade
organizada. A inovação chocava-se com a tradição e a relegava a segundo plano – o novo contra o velho.
É bem verdade que em estágios anteriores, como vimos, havia indícios tímidos de representações
simbólicas, linguísticas, artísticas e sistêmicas, mas nada comparado à expansão criativa do Pal eolítico Superior,
quando foi formada a identidade humana.
O emergir absoluto do pensamento simbólico e articulado causa a impressão de que a mente se apossou
do homem levando-o a materializar, quase à força, à custa da sua necessidade de expressão, comuni cação e
realização pessoal, uma realidade nascida em sua imaginação.
Imbuído de forças interiores que fugiam do seu controle, parecia que o homem precisava provar para si,
para os demais e o além que era capaz de realizar façanhas sobrenaturais, iguais ou superiores àquelas vistas e
pressentidas. Mais do que querer participar da intimidade dos deuses, ele sentia a necessidade de ser e parecer
um deus, mesmo quando a ideia sobre os poderes e os seres além do natural não passavam de conjecturas,
simples rascunhos mentais.
De vivência em vivência, de ação em ação, tudo aquilo com que o homem se identificava e que lhe falava
ao coração, desde uma paisagem até uma ideia, sentia que lhe pertencia de alguma forma. Era parte da sua
essência mais íntima e verdadeira.
Se, por milhões de anos, seus antepassados privilegiaram a pedra e a madeira para confeccionar uns
poucos instrumentos e ferramentas, agora ele tomou as matérias -primas, sem cerimônias, transformando -as, na
medida do possível, em um meio para exercer e de monstrar seu poder, sem limites. Para se exibir, seus delicados
objetos de adorno pessoal (as joias da pré -história) eram montados com dentes de animais importantes, conchas,
contas de marfim, ossos, chifres, sementes, penas, flores e o que mais houvesse d e valioso e diferente. Os
elementos da Natureza ganharam significados novos e passaram a ser utilizados para ressaltar suas
personalidades únicas, individuais e grupais.
Preocupação idêntica inspirava a criação e a confecção de roupas e tecidos. A maioria dos modelos era
simples, funcional e destacava a etnia dos grupos. Mas também existiam trajes elaborados, confeccionados para
personalidades ou ocasiões importantes. Tais vestimentas abusavam dos enfeites dispendiosos e evidenciavam
que o aspecto luxuoso da vida possuía um papel importante na organização social da comunidade.
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 1
Em Surgir, na Rússia, foi encontrado um túmulo com 28 mil anos de idade, onde foram sepultadas três
pessoas: um ancião de aproximadamente 70 anos e dois jovens (um rapaz e uma moça).
Os personagens foram enterrados com uma suntuosidade impressionante. Embora o tecido tenha
desaparecido com o passar do tempo, supõe -se que suas vestes foram bordadas com mais de 13 mil contas de
marfim, encontradas espalhadas sobre os restos mortais. Isso caracteriza o amor pelo excesso, o horror ao vazio,
tão característico de mentalidades barrocas.
Para consolidar a imagem de poder pessoal e riqueza, eles portavam braceletes de marfim polido (o mais
velho usava 25 braceletes), colares gravados e pintados, alfinetes de marfim, broches, toucados trabalhados,
armas e outros adereços preciosos.
Quanto às habitações, da mesma forma que havia o infalível ―puxadinho‖, em certas zonas, algumas
cavernas ostentavam a fachada pintada e a entrada revestida com pedras chamativas.
Por esses tempos, a linguagem artística fluía com tranquilidade e construía um sistema sofisticado de
signos que facilitavam a expressão e o intercâmbio de uma qualidade diferente de ideias, valores e conceitos.
Aos humanos não bastava mais a ração diária para se manterem vivos e satisfeitos, a partir de então,
necessitavam acessar as benesses da moda, decoração, joalheria e artes para sentirem que participavam da vida
humana e artificial, em toda sua plenitude. Quem possuía, desfrutava e se exi bia. Quem não tinha, olhava e
desejava.
Em complemento à estimulação que os outros sentidos recebiam, a audição ganhava seu quinhão
deleitando-se com as notas melodiosas de flautas, apitos e o som curioso de guizos, tambores e xilofones
primitivos. Não há registros confiáveis, mas decerto, havia o canto e a dança.
A construção da realidade humana contou com a ajuda de instrumentos poderosos de aferição, os cinco
sentidos, que serviam para inspirar e guiar o sujeito pensante, enquanto esse procurava a medida correta para
produzir aquilo que lhe traria prazer físico, estético e intelectual.
O cérebro humano foi moldado para buscar e ser capaz de produzir mais prazer. A sensibilidade aguçada
aliada a uma noção funcional e produtiva do entorno levou os grandes c riadores pré-históricos a elaborar obras
com grande qualidade técnica e artística. Com seu toque criativo, eles materializam trabalhos dignos de culto, os
quais remetiam a um estado de espírito que atingia a ideia do sobrenatural, uma crença de que existe algo superior
aos homens interferindo em suas vidas. Por essa razão, por suas características intrínsecas que estimulam a
contemplação, a reverência e a reflexão, a arte sempre esteve filiada ao universo mágico e religioso.
Entretanto, a arte e o sentido estético ainda são incógnitas que resistem às melhores explicações e
independem da época ou do lugar de origem. Há 30 mil anos havia mestres que possuíam um tal senso e gosto,
que nada deviam aos maiores e melhores expoentes da história da arte.
Diante das obras-primas do passado remoto, o espírito do homem moderno é pego de surpresa e
arremessado a um mundo de imaginação e êxtase reverente. As pinturas parietais das cavernas de Lascaux, na
França, e de Altamira, na Espanha, são obras -mestras comparáveis, em expressão e gênio, à Capela Sistina,
executada por Michelangelo, durante o Renascimento – outro grande momento da história da humanidade.
Essa comparação realizada por especialistas modernos revela que os artistas pré -históricos, pobres em
conhecimentos técnicos, instrumentos e materiais, conseguiram produzir maravilhas, guiados pela emoção à flor da
pele. A sensibilidade do corpo lapidou a essência.
Porém, a sensibilidade física dos sapiens é tão grande, tão anormal, que chega a invalidar a teoria da
evolução das espécies, quanto à adaptabilidade dos organismos vivos em relação aos ambientes.
Seguindo o esquema imposto pela Natureza, seria de esperar que, para enfrentar as adversidades dos
últimos milhões de anos, os hominídeos apresentassem um corpo difer ente do que possuímos. No entanto, em
oposição às expectativas, constata -se que a evolução chegou ao cúmulo de formar corpos inaptos para a vida ao
natural.
Se a maioria dos representantes das várias espécies hominídeas não tivesse lançado mão de vestiment as
e outros artifícios para compensar suas inadequações progressivas, hoje não existiriam homens e mulheres
vivendo nos cinco continentes, superando os climas mais inclementes e triunfando sobre as cadeias alimentares
mais variadas.
Por causa da sua inteligência e criatividade culinária a serviço do paladar, o homem é o único animal que
consegue explorar todos os ecossistemas, engolindo praticamente tudo que vê pela frente: fungos, bactérias,
insetos, raízes, caules, folhas, frutos, flores, tubérculos, cere ais, peixes, algas, crustáceos, moluscos, hortaliças,
derivados animais e, até mesmo, terra. Ele só não come pedra... por enquanto. O homem é um paradoxo, uma
contradição ambulante que está devorando e destruindo a Natureza.
As atividades humanas da extração mineral à agricultura, passando pela indústria, urbanização e
exploração marinha, interferem definitivamente no equilíbrio instável da Natureza. Os estragos já efetuados são
irrecuperáveis. Não se pode prever as consequências da ação humana a longo praz o sem uma compreensão global
do funcionamento sistêmico da biosfera, a fina película de vida que envolve o planeta.
Contudo, como o homem está preso às duas senhoras que não se entendem - a Natureza e a mente - tudo
que lhe diz respeito é incongruente e di vidido entre o biológico e o mental: seu físico, o pensamento e o
comportamento.
Em oposição ao instinto do animal que lhe anima as entranhas, seu corpo o impele para o racional e o
social, preparado como está para funcionar como um instrumento de alta pre cisão, útil para coletar, analisar e
processar material físico e intelectual.
Os animais humanos possuem essa estrutura física, essa pele macia e sensual, essa aparência e postura
empinada, porque a mente assim os obriga. Estão acima da Natureza, porque o mundo humano é o espaço da
mente.
Todos os animais humanos – os homens – possuem mentes, porém, nem todas as mentes, por culpa de
falhas naturais ou má educação, atingem o alto nível de evolução sistêmica e funcional, que eleva o simples sujeito
pensante à categoria de ser humano.
Por ser um animal potencialmente racional, que interfere decisivamente nos sistemas que o contém,
podendo afetá-los até a destruição total, o homem, para ser considerado humano, deve ser completamente
responsável pela qualidade de sua produção, bem como pelo histórico -processual de suas ações e produtos – da
formação e manutenção da prole, ao fruto de seus trabalhos. O indivíduo atinge a condição humana, quando sua
mente expurga a irracionalidade e passa a produzir pensamentos e ra ciocínios completamente racionais
(sistêmicos e consequentes). De onde pode -se inferir que, só é humano quem possui uma mente racional.
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 1
Sujeito pensante e mente. O mundo natural fornece muitos exemplos de associações entre espécies
diferentes. Quando os dois espécimes ganham com a parceria, o relacionamento é chamado de mutualismo, se um
deles é prejudicado, então é parasitismo. Nesse caso, se a relação entre ambos, sujeito pensante e mente, for
negativa, o indivíduo será assistêmico, inumano e prejudicará o meio que o envolve e o contém.
Assim, a mente humana é uma espécie viva e produtiva, não animal, que sobrevive e prospera a partir da
relação íntima que mantém com o sujeito pensante e o meio. É revelador que depois do Paleolítico Superior,
quando os estímulos do entorno se tornaram mais variados e dados às construções intelectuais, a evolução dos
homens se processou muito mais ativamente nos setores voltados ao pensamento e à cultura, do que no genético.
A entrada definitiva da mente em cena originou um movimento evolutivo que, até a presente data, tem se chocado
com a Natureza. É preciso, pois, conhecer essa entidade a fundo.
Para dissecar a estrutura da mente, há uma chave que a revela: o Homo sapiens pensa e fala formando
enredos.
Das religiões às ciências, dos objetos aos usos e costumes, a totalidade das informações que estão na
cultura dos povos resume-se a coleções de histórias criadas em várias épocas, segundo a interpretação ou o
interesse daqueles que as criaram. De fato, no mundo humano, não exi stem realidades, só conclusões. Algumas,
inclusive, completamente conflitantes, mesmo quando derivadas de acontecimentos semelhantes ou iguais. As
megatendências surgem e se perpetuam quando certas mentes conseguem fazer prevalecer suas ideias sobre o
meio e as demais mentes, em grande escala.
Já foi apontado que as ideias são os genes das mentes (Richard Dawkins).
Infelizmente, dada a gravidade histórica, ainda participamos de uma situação que ameaça a evolução da
raça humana. Há milhares de anos, os homen s fazem a mesma pergunta: Quem está dirigindo a trama da minha
vida? Os deuses? Não, definitivamente, não há nenhum deus traçando o destino de quem quer que seja.
Deus não existe.
De modo ininterrupto, dia e noite, a mente conta histórias, cria diálogos in teriores, gera imagens e
desenvolve jogos mentais de vida e morte que envolve tudo e todos: eu, pai, mãe, dinheiro, casa, amores, trabalho,
traição, mudança, carro, filhos, morte e outros componentes cognitivos.
Por estar naturalmente alinhada com as leis do espaço-tempo e suas subordinadas estruturais, a mente
consegue gerar pensamentos sobre esses componentes, localizando -os no espaço, dando-lhes significados e
organizando-os no tempo em processos interligados em rede com passado, presente e futuro coeren tes. Ela utiliza
o mesmo artifício para conhecer-se, explicar-se e reconhecer-se como unidade pertencente ao todo – o Eu. Em
consequência, torna-se social, inventiva e potencialmente transformadora do meio. É o princípio gerador da cultura
e da civilização.
Desse modo, uma vez consciente da sua individualidade complexa, pois é mente, corpo e personalidade
atuante, busca tomar posse do ambiente para testar suas criações intelectuais, suas histórias, de acordo com suas
ideias e crenças sobre o que é real ou passível de vir a sê-lo.
Então, a mente humana, com suas dinâmicas muito particulares, é a verdadeira escritora dos dramas, das
comédias e dos romances que os homens e mulheres representam diariamente nos palcos da vida.
Os gêneros dramáticos, com suas dife rentes sequências operacionais, papéis e inúmeras chances de
expressão racional e emocional, dão oportunidade aos mais variados tipos de personalidades, de se encaixarem e
se desenvolverem em seus gêneros prediletos. Por exemplo, personalidades com inclina ção nata para o drama
estarão propensas a vivenciar dramas na vida real. Naturalmente, de forma consciente ou inconsciente, elas
buscam e acham os elementos dramáticos certos para construir seus dramas pessoais, ou então, para participar
dos dramas alheios.
Seja quem for e esteja onde estiver, nenhum homem ou mulher consegue sobreviver sem estar ligado a
algum tipo de história ou histórias.
Porém, todo cuidado é pouco, pois há histórias que enlouquecem. Como acontece quando, andando a
passos largos, desequilibrados naturais e mentais erigem cidades, nações e monumentos, impulsionados pela
crença esquizofrênica de que Deus, governante absoluto de um mundo fixo e imutável, guia seus passos e
abençoa suas ações irresponsáveis e assistêmicas. A fé em Deus enlouq uece.
Por capricho extremo da Natureza, algumas mentes nascem aptas a organizar scripts bem planejados,
abrangentes, equilibrados e completamente felizes para todos os envolvidos. São composições repletas de
situações prazerosas de serem vividas e repetida s ao longo dos anos. Todavia, mentes que nascem prontas são
exceção.
A esmagadora maioria vem ao mundo comum carente de educação competente e orientação assertiva. Por
isso, suas histórias de vida estão fadadas a serem malformadas, assistêmicas, cheias de erros e problemas sem
fim.
Além disso, por falta de julgamento crítico e conhecimento, é muito comum que as pessoas tomem meras
construções arquetípicas, criadas pela mente, para compor e testar seus enredos preliminares, como pessoas reais
e não meros personagens de ficção, criados pela mente. Igualmente acontece com as imagens concretas e não
concretas: faz-se a maior confusão. Mas será que Deus não existe mesmo?
Bem, para dizer a verdade... é lógico que Ele está em algum lugar especial. E na ordem das co isas, Deus
mora ao lado do Papai Noel, no mesmo bairro que a Branca de Neve e os sete anões, próximo à Fonte da
Juventude, depois do Eldorado, virando à esquerda em Oz, vizinho da Terra do Nunca.
Histórias, histórias, histórias!
Pode-se afirmar que, independente da vontade consciente do sujeito pensante, a mente ordena -se
naturalmente por meio de enredos e tramas. Em termos evolutivos, é impossível precisar quando se iniciou esse
curioso processo de organização sistêmica interior e exterior. Mas, certamente , essa é a qualidade primordial que
proporcionou a evolução da raça humana como um todo congruente, sistêmico, lúdico e histórico.
Na verdade, a denominação Homo sapiens sapiens é equivocada, deveríamos ser classificados como
Homo sapiens historicus, já que é a partir da nossa espécie que a história se fixa como linguagem da mente e
elemento inseparável do homem e das sociedades humanas e históricas.
Todavia, se a história é uma consequência lógica do processamento das informações contidas na mente,
de que forma o cérebro humano foi se estruturando no decorrer dos milhões de anos para chegar a produzir a
mente que é capaz de criar histórias?
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 2
CAPÍTULO 2
A primeira infância é um período de evolução biológica e intelectual profundamente comprometedor para o
futuro da criança, da família e da sociedade, pois há o perigo de o pequeno não conseguir se humanizar, caso não
receba os estímulos necessários.
Para entrar no caminho da humanização, em um curto espaço de tempo, o infante deve aprender a andar,
alimentar-se, higienizar-se, falar, desenvolver o repertório emocional humano, relacionar -se corretamente com
seres e coisas, respeitar limites sistêmicos, construir limites pessoais saudáveis, incorporar dinâmicas nucleares e
códigos de parentesco, funcionar me ntalmente segundo as noções sistêmicas interligadas às leis do espaço -tempo
linear e circular, ser cooperativo em sociedade e responsável pelo histórico -processual da sua produção.
Além desses tópicos gerais, igualmente, a criança precisa ser levada a inve stir na expansão consciente de
suas aptidões físicas, motoras e intelectuais, processos que, sistematizados em conjunto aos demais, sustentarão
seu desenvolvimento posterior. A boa educação capacita o homem e o humaniza.
A fim de viabilizar o aprendizado e afastar as pressões inerentes às exigências do início da vida,
instintivamente, a criança utiliza seu incrível talento para brincar, seduzir e divertir -se ao passo que procura
humanizar-se. Enquanto o filhote hominídeo brinca e interage com o meio, tem o ensejo imperdível de incrementar
a inteligência e as habilidades, de aprender conceitos culturais construtivos, de organizar valores positivos, de
testar metas pessoais e de modelar sua personalidade e seu comportamento para participar do meio familiar e
social de forma produtiva e sistêmica.
Sendo assim, quando o filhote homínida nasce, vem ao mundo munido de capacidades humanas em
estado bruto, cujo desenvolvimento progressivo e consciente é fundamental para que ele tenha condições de
manter relações satisfatórias com os elementos animados e os inanimados que o cercam.
Se esse pequeno indivíduo em formação tiver a sorte de participar de ambientes naturais e humanos que
promovam a expansão dos seus talentos particulares, quando tornar -se adulto, poderá realizar todos os objetivos
de vida. Pois, se não bastassem os dotes internos que crescem vigorosos com a educação correta, a Natureza
ainda lhe oferece uma infinidade de biomas e matérias -primas prontas para se moldarem à vontade do criador.
É com a exploração inteligente dessa riqueza interior e exterior descomunal, que os homens podem
materializar os sonhos pessoais, construindo realidades artificiais que lhes tragam maior conforto e segurança: o
ambiente humano – espaço não natural criado por um ou mais ind ivíduos. Então, quanto mais acurado for o
conhecimento teórico e prático dos produtores, maior competência eles terão para gerar soluções racionais que
viabilizem a concretização de ideias e ideais.
Observando a evolução da produção humana, com seus símbol os e significados inerentes, nota-se que ao
atingirem certos estágios de maturação intelectual e funcional, os indivíduos, os grupos e as comunidades buscam
integrar os recursos naturais aos recursos humanos disponíveis, em conformidade com a noção dessas pessoas
sobre o que é real e realizável no Universo.
Esse fenômeno sistêmico incomum ocorre, porque, em essência, o bicho -homem, também chamado pelos
antropólogos de animal com cultura, é um ser biológico único. Potencialmente social e sistematizador do me io, ele
é capaz de produzir conjuntos sociais variados e personalizados – parte natural e parte humano – onde busca
encaixar-se para sentir-se reconhecido por seus méritos e integrado ao Todo.
Inseridas em ambientes naturais em constante transformação form al e funcional, as sociedades
organizam-se em torno de um tipo específico de cultura que ampara e coordena o intercâmbio da produção dos
indivíduos, com vistas à evolução das partes e dos conjuntos interessados. O mesmo acontece com os elementos
naturais e os artificiais, os seres humanos acham-se engastados à fina película de vida que recobre o planeta.
Ninguém está só ou desligado. Sem exceção, tudo e todos se encontram interconectados em rede com a totalidade
dos sistemas naturais e artificiais que, junt os, compõem o ambiente sensível, racional e responsivo que sustenta a
evolução dos seres naturais e do bicho -homem em particular.
No âmbito da sistêmica natural, os seres vivos: plantas, bactérias, insetos, animais, etc., são organismos
*
**
geradores de produtos e resíduos , que são assimilados na íntegra pelo meio ambiente, em completa
*
Produto: Em virtude do funcionamento dos sistemas, esses geram produtos, serviços e resíduos que podem ser físicos, intelectuais ou culturais.
Quaisquer uns desses aspectos são instrumentos de interação do indivíduo produtor (organismo, pessoa, empresa, sistema misto ou artificial) com
o meio ambiente e os demais seres (elementos sistêmicos) que compõem o macrossistema interligado – biosfera, o planeta Terra. A qualidade da
interação histórico-processual dos produtos ou serviços explicita o patamar da inteligência do indivíduo produtor (organismo, pessoa, empresa,
sistema misto ou artificial). Deve-se entender por qualidade de interação histórico-processual o desenvolvimento completo do produto, atuando
em conjunto sobre todos os demais sistemas que cercam o produtor. Aqui não cabe uma avaliação sobre as vantagens intrínsecas do produto ou
serviço, mas sim, sua função sistêmica e sistematizadora dentro do meio e suas consequências histórico-processuais. Produtos de má qualidade e
serviços ruins podem ser muito bem executados, mas isso não os torna bons, úteis ou mesmo necessários. Exemplificando, temos: o cigarro, a
bebida, os tóxicos, a prostituição, o crime, a maternidade irresponsável e outros. A lei e a ordem da sociedade são dependentes do compromisso
dos indivíduos em suas relações, como também pela responsabilidade inerente ao histórico-processual para com seus produtos e serviços. Sem
compromisso não há responsabilidade e, muito menos, respeito à lei e à ordem, à moral e à ética. Quando o indivíduo produtor se liga de forma
sistêmica, consciente e comprometida com sua produção, torna-se responsável pela qualidade histórico-processual dos seus produtos e serviços,
em crescimento natural e potencial, junto aos demais sistemas que o amparam e o sustentam.
**
Resíduo: Elemento sistêmico (indivíduo, extrato ou sedimento) que gera trocas assistêmicas, deficientes, destrutivas ou nulas. Por esse
motivo, a tendência natural do sistema é eliminá-lo de seu modelo ou colocá-lo à margem. Se não o fizer, o sistema pode vir a se desestruturar ou
se extinguir. Dentro desse enfoque, o homem é considerado produtor e produto de si mesmo, pois é um ser consciente que apresenta a capacidade
de relacionar-se criativamente consigo e transformar-se a partir dessa relação, segundo seu livre-arbítrio, independente de suas origens e
condições. Sendo assim, é unicamente sua a responsabilidade em tornar-se produto e não resíduo biológico e social, caso não queira ser rejeitado
ou excluído naturalmente pelos sistemas.
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 2
conformidade com as leis universais que regulam o funcionamento de todos os vários tipos de elementos
existentes, dos átomos às galáxias.
No entanto, o animal humano foge à regra porque, embora faça parte do Todo, na condição de elemento
natural terrestre, sua produção não é determinada nem regulada pelas leis cósmicas, como acontece com os
representantes das demais ordens e gêneros conhecidos.
A produção humana, ao contrário, obedece aos interesses dos indivíduos, dos grupos e das várias
culturas, sendo uma mais equivocada que a outra. Como afirmou Nietzsche: ―Verdades são ilusões cuja natureza
ilusória esquecemos‖.
O fato preocupa e produz conflitos contínuos. Os espaços artif iciais que as sociedades plasmam na
biosfera, sustentados por regras culturais não naturais, interferem diretamente nos processos naturais que
constroem o planeta Terra e, por extensão, o corpo universal.
Como ensinam as ciências exatas e as humanas, a his tória de cada indivíduo, grupo ou nação, está
atrelada à competência com que cada elemento efetua suas trocas sistêmicas internas e externas. Intercâmbios
inteligentes e, portanto, focados na maximização dos recursos, produzem sistemas individuais e grupai s, altamente
satisfatórios e sustentáveis, sem produzir resíduos tóxicos ou dinâmicas degradantes.
Para que os relacionamentos humanos possam atingir a excelência máxima, o homem, o animal mais
poderoso da Natureza, conta em seu interior, com a competência sistêmica. Como acontece com as demais
capacidades latentes natas, tais como a criatividade, a racionalidade, o talento artístico e o afetivo, a competência
sistêmica também precisa ser expandida conscientemente. Se esse dom não for ativado, o produtor nã o terá como
gerar produtos com alto valor humano agregado.
Sendo assim, embora sejam ilimitadas as possibilidades dos homens alcançarem a realização plena no
particular e no coletivo, a situação limite em que o planeta se encontra, com a maior parte dos bi omas devastados
e a restante comprometida, comprovam que os bichos -homens ainda não desenvolveram o enorme potencial
sistêmico e solucionador, para serem capazes de utilizar os recursos à disposição em prol da materialização de um
orbe paradisíaco, assim como eles pressentem que é possível de vir a existir.
Em relação à vida particular do homem, o resultado é igualmente desconcertante, aquém do que poderia
ser. À sombra de construções vaidosas, os ambientes denunciam a presença de ligações humanas destrutiv as,
com sonhos traídos, esperanças perdidas e decepções incuráveis, misturados à sensação de fracasso pelo que se
foi e de medo pelo que virá no amanhã.
Colada à rede degradada que recobre o planeta, a maioria das pessoas sente -se só, desligada do mundo
e sem chance de encontrar a tão procurada felicidade. É geral, a noção de que ninguém está a salvo dos ataques
intermitentes que a fina película de vida sofre por conta da ação humana predatória, a qual pode levar qualquer
criatura, em qualquer lugar e a qualquer momento, a ter sua história arrasada. O interior humano mal formado e
mal informado, reflete-se no exterior, levando homens e mulheres a se comportarem ora como presas ora como
predadores.
Porém, como os indivíduos podem evoluir, se o seio cultural q ue os tem nutrido desde os dias mais
recuados da Pré-História, enfraqueceu-os a ponto de eles se tornarem meros fiascos das potências que poderiam
ser?
É vergonhoso. Nenhum dos povos que habitam a Terra, age de modo sistêmico ou trabalha para manter os
sistemas que compõem a ordem universal. E, como resultado sinistro, restou -lhes participar das consequências
cumulativas da destruição milenar e do perigo iminente da autodestruição.
Está longe o tempo em que os homens começaram a fomentar mal a psique, base da personalidade e
sede da consciência. Tal se deu quando após eras incontáveis de especulações sistêmicas imprecisas, eles
passaram a crer que a sobrevivência humana dependia dos humores sobrenaturais, e não da ação inteligente do
homem que transforma as circunstâncias e os materiais mais diversos, em benefício das suas aspirações e
necessidades. A má escolha serviu para emperrar o desenvolvimento da consciência, aprisionando o sujeito
pensante no estágio infantil da evolução humana.
Na fase pré-racional, até os seis anos de idade, as crianças creem que o mundo é mágico. Conforme
crescem, vão descobrindo como as coisas funcionam de fato e de medida, dentro do possível.
Ameaçados pelos desafios naturais e humanos em formação, nossos antepassados, sentindo -se inseguros
por conta do raciocínio deficiente, se comportavam como infantes assustados e maravilhados, à procura de
proteção e aprovação superior.
A emergência do pensamento abstrato e simbólico, o estado onírico (capacidade dos mamíferos de sonhar
durante o sono), as desordens mentais, o uso de alucinógenos e o consumo frequente de fermentados com alto
teor alcoólico, fizeram com que o primitivo acreditasse na existência de realidades paralelas àquelas que ele
experimentava nos entornos naturais e nos plan os das realizações humanas.
Quando se encontrava refém dos estados alterados de consciência, o antigo participava de experiências
insólitas e visualmente impressionantes, que consolidavam a tendência não racional de formular explicações
factuais, a partir de enredos fantásticos que misturam o natural com o sobrenatural, o objetivo com o subjetivo, o
real com o imaginário, a história (a narrativa lógica) com a ficção.
Muito antes que a escrita fosse inventada e pudesse servir como veículo de transmissão cult ural, os povos
usavam as lendas e as epopeias mitopoéticas para passarem a cultura tribal de geração em geração.
Como acontece hoje em dia nas lendas modernas, a maioria das narrativas antigas versava sobre fatos
reais que eram compreendidos e explicados e m forma de ficção maravilhosa, como cabe às mentalidades
ingênuas. Dinamizadas pelo forte acento mágico, as histórias do passado remoto ensinavam acerca das origens,
finalidades e propriedades das coisas, dos seres e dos ambientes. Além do que, e mais impo rtante, passavam
conselhos e regras de como, quando e por que os homens deveriam seguir esta ou aquela linha de conduta no
trato com as coisas visíveis e as invisíveis.
Por esses tempos recuados, por mais infantis que os primitivos fossem, eles procuravam ordenar de modo
histórico e produtivo seu espaço de atuação, tentando colocar cada elemento no devido lugar, levando em conta
sua função e importância dentro dos conjuntos sistêmicos.
Na ausência do raciocínio científico, que surgiria bem mais tarde na his tória da evolução humana, os préhistóricos buscavam com grande esforço intelectual explicar como e por que se processava o intercâmbio das
partes que eles pressentiam estar integradas por estranhas forças causais e consequentes. O objetivo imediato era
garantir a segurança, o acesso fácil às fontes de alimento e a continuidade do grupo diante de uma dinâmica
natural aparentemente imprevisível.
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 2
A fim de funcionalizar a ação do sujeito pensante, a mente organiza as informações que recolhe do meio,
sistematizando-as em roteiros lineares com começos, meios e finalidade coerentes. Porém, os homens do passado,
mais animais que humanos, não possuíam conhecimento suficiente para compreender e explicar as ocorrências
com precisão história e científica. As falhas cog nitivas na coleta e no processamento das informações
comprometiam a racionalidade linear do pensamento e da ação do primitivo.
Para conseguirem ser lineares e precisos ao mesmo tempo, dentro do padrão historiográfico correto,
antes, eles deveriam ser capazes de reconhecer e compreender a sistêmica que une e anima o Todo. No geral,
somente sendo sistêmicos e conscientes, teriam condições de pensar e agir com lógica. Não era o caso. Os
homens do passado não tinham a menor ideia de que o ambiente físico obedec e às leis universais
matematicamente precisas e imutáveis, as quais começaram a ser timidamente descobertas com o trabalho
científico dos gregos, a partir das primeiras conclusões racionais de Tales de Mileto, pai da Filosofia e o maior dos
Sete Sábios da Grécia.
Excitados, impressionados e assombrados com as imagens, as ideias e as sensações deformadas que
lhes brotavam na mente em formação, os pré -históricos supuseram, com seus parcos intelectos, que a ―realidade
invisível‖ era superior à ―realidade visív el‖, sendo então, responsável direta pelos prodígios ocorridos nessa. O
real, desta feita, passava a ser o invisível sobrenatural, em detrimento do visível natural. Essa inferência errônea
sobre oponentes causais ecoou com vigor nos trabalhos de Platão e F reud.
No famoso Mito da Caverna, Platão tentou explicar a relação existente entre a ideia divina perfeita e a
representação mundana imperfeita, seguindo o padrão dos opostos complementares. O Pai da Psicanálise agiu da
mesma maneira; teorizou sobre a dinâmica que cria os fenômenos psicológicos, reinventando, mais uma vez, a
velha ideia dos conflitos irreconciliáveis, como causa geradora máter de tudo que há. As conclusões do grego e do
austríaco são coerentes, mas irracionais. Baseados em leituras equivocad as, o trabalho completo dos dois
intelectuais produziram sérias deformações no pensamento humano.
No passado remoto, confuso diante dos processos produtivos humanos – que materializam as imagens
mentais em fatos e comportamentos – o primitivo aprendeu a considerar as forças sobrenaturais que ele
imaginava, como sendo reais, e que no berço dos tempos humanos não passavam de sensações e impressões
fugidias.
Contudo, quando ele as significou, simbolizou e as representou em imagens, dando -lhes finalmente
concretude, passou a confiar cegamente no poder dos ídolos e das formas que ele mesmo inventou para protegê -lo
e guiá-lo em todos os momentos.
As definições precárias da mentalidade pré -lógica, que dividem o Universo em planos distintos, entre eles,
o mundo invisível, o mundo natural e o mundo artificial humano, inseriam o primitivo em um contexto fenomênico
supostamente controlado por forças e entidades supernaturais, a meio caminho entre a loucura e a objetividade.
Nesse senso precário, o Eu nascente minguava d iante dos itens do cotidiano que, por trás das aparências
sensíveis, guardava energias tremendas que espreitavam e julgavam cada um dos pensamentos e atos do sujeito
pensante.
Segundo a avaliação primeva, tudo que fosse captado pelos cinco sentidos possuía uma contraparte
invisível e inteligente, como por exemplo, as pedras, as plantas, os metais, as palavras, os astros, as cores, os
ventos, os animais, as sílabas faladas ou escritas, as paisagens, os alimentos, os enfeites, os objetos de adorno
pessoal, os objetos de decoração, as partes do corpo humano e animal, as máscaras, os ciclos biológicos, os
trajes, as palavras escritas ou faladas, os textos escritos, as posturas físicas, as danças, os gestos físicos, etc.
O homem percebe o mundo pelo filtro dos sentidos. Além dos cinco clássicos que captam milhares de
informações por segundo, a ciência está descobrindo outros, dezenas, muitos deles formados pela interconexão
dos já conhecidos.
É por meio dessa coleta particular que cada cérebro forma as imagens e o s conteúdos aos quais os
indivíduos reagem. Se houver falhas no processo de absorção e interpretação cognitiva, a pessoa terá dificuldades
para analisar os ambientes, a si própria e também para compreender como os elementos e os sistemas se integram
para formar um organismo único – o Cosmo.
Hipersensível, o cérebro requer cuidados especiais para funcionar bem. A percepção que o alcoólico, o
dependente químico e o crente têm do mundo é diferente do panorama visto por alguém saudável e normal que
protege o conjunto cognitivo (sistema nervoso, cérebro e mente) de substâncias, sensações e imagens destrutivas
ou tóxicas: maconha, ecstase, skank, crack, ópio, heroína, cocaína, chás alucinógenos, bebidas alcoólicas,
agressões ao físico (táteis, palatares, auditivas , odoríficas, visuais, etc.), a crença no sobrenatural (demônios,
deuses, forças mágicas, etc.) e outras. Essas drogas desorganizam de imediato os sensíveis registros mentais,
levando o homem a comportar-se mais próximo do animal irracional do que do human o. Por conta do meio e da
cultura dos tempos pré-históricos, a mente primitiva produziu um confuso mapa conceitual da realidade, no qual,
qualquer coisa, por mais insignificante que fosse, escondia forças sobrenaturais que poderiam dirigir ou alterar, a
seu bel-prazer, o destino dos seres vivos. Uma pedra, segundo esse raciocínio supersticioso, poderia interferir na
sorte humana, através de sua energia hiperfísica – o duplo invisível – ou de alguma entidade espiritual que se
manifestasse por intermédio dela.
As primeiras tentativas para controlar as energias supostamente fenomenais surgiram com a invenção da
magia e das mancias seguidas, mais tarde, pela criação das religiões que simplificaram o caos do universo mágico,
ao proporem a ideia de um só deus ou d e uma plêiade de deuses que, como pais e mães espirituais, dirigiam a
criação.
Entretanto, o controle que a magia e as religiões ofereciam funcionava às avessas, pois praticava a
completa submissão do homem às potências supernaturais. Nesse relacionamento patológico, o indivíduo se
oferecia para servir ao invisível ou a seus eméritos representantes sagrados – os xamãs, os magos e os
sacerdotes – a fim de que pudesse ser recompensado nessa vida e, segundo especulações mais ousadas, na vida
que há depois da morte.
E ai dos coitados que não respeitassem as ordens do invisível e dos representantes exclusivos; se
desagradassem as divindades manhosas, suas existências, nessa vida e na outra, seriam amaldiçoadas para todo
o sempre. Loucura? Não, fé.
Certas crenças também professavam que os faltosos eram acorrentados a terríveis encarnações pela
eternidade afora. De todo o jeito, no geral, imperava a ameaça do castigo, aqui ou em outro lugar fantástico.
A incerteza quanto à configuração do Universo, e de qual a posiç ão do elemento humano na ordem das
coisas, acabou levando o pré-racional a desenvolver um perfil doentio. Atormentado por medos irracionais, ele
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 2
passou a produzir enredos de vida marcados pela busca alucinada por forças poderosas que lhe garantissem o
direito de ser e estar nos ambientes terrestres e espirituais superiores.
Porém, essa procura insensata por segurança e estabilidade estava destinada ao fracasso eterno.
Conjecturava-se que as forças sobrenaturais se mantinham em constante disputa pelo domínio dos ambientes, dos
seres e das coisas. Devido ao clima de instabilidade e insegurança, o poder dos bruxos era relativo. Os esforços
encantatórios poderiam ser anulados pela ação de outros magos ou por forças contrárias que fariam com que o
feitiço virasse contra o feiticeiro e aqueles que estivessem ao seu lado.
São comuns os relatos dos embates místicos das forças destrutivas que geram o perigo, a fome, a
doença, os desastres climáticos, as catástrofes geológicas, as pragas e a morte, versus as forças con strutivas que
trazem a segurança, a fartura, a saúde, a providência climática, a estabilidade geológica, a fertilidade e a vida
longa.
E, como o primitivo não sabia quando seria atingido pelo ataque insidioso das forças negativas nem o
motivo exato da agressão, era normal que eles procurassem se proteger com todos os artifícios que estivessem ao
alcance: imprecações mágicas, escarificações (cortes profundos na pele), amputações de membros do corpo,
rezas, cânticos, danças, posturas corporais, oferendas diár ias e sazonais, uso de desenhos mágicos, pinturas
corporais, uso de trajes especiais, consumo de excrementos corporais, jejuns, sacrifícios de animais e pessoas,
abstinências, consumo de carne e sangue sacrificial, consumo de alucinógenos, ligação com o du plo invisível de
seres e coisas, consulta de mancias, confecção e uso de máscaras, de amuletos, etc.
Criadas pelo desatino dos homens e organizadas em torno de crenças, rituais e práticas sedimentadas no
absurdo, a magia e a religião tem mal educado as soc iedades, desde antanho, fazendo com que elas se expandam
alienadas das verdadeiras responsabilidades sistêmicas do gênero humano.
É inquestionável, com base nos fatos históricos, que a estrutura mental dos indivíduos que se submetem
aos ditames impostos pelo poder mágico dos números, ou pelo poder dos elementos naturais, ou pelo poder dos
orixás, ou pelo poder dos astros, ou pelo poder das paisagens, ou pelo poder de Deus, ou pelo poder do filho de
Deus, ou pelo poder dos espíritos, ou pelo poder das leis d e Deus, ou pelo poder dos livros sagrados, ou pelo
poder dos ícones santificados, etc. possuem falhas psíquicas e funcionais que comprometem suas ideias, ações,
ideais e obras.
Embora seja praticamente impossível identificar quando as crenças sobrenaturais e outros fatores
alienantes começaram a danificar o raciocínio humano, é possível saber exatamente quando, como e por que a
delicada ordem dos sistemas naturais foi rompida pelos animais com cultura.
A luta pela sobrevivência obriga os organismos vivos a buscarem soluções práticas para suprirem três
necessidades básicas: a alimentação, a segurança individual e grupal e, finalmente, a reprodução sexuada ou
assexuada.
Dessas carências naturais, comuns a todas as espécies vivas, a que mais preocupa o cérebro e, por
extensão, a mente, é a premência de encontrar fontes de alimentos nutritivos e variados, que garantam sua
sobrevivência e evolução.
As pressões internas de ordem fisiológica e mental para obter suprimentos abundantes, se possível em um
local de bem-aventurança perene, forçaram o hominídeo a iniciar a longa jornada mundo adentro, contando apenas
com o intelecto poderoso (mesmo que mal informado) e a inusitada habilidade para fabricar ferramentas de
madeira, osso e pedra.
Porém, ao utilizar as tais ferramentas, ocorria um prodígio inesperado: o bicho -homem superava as
limitações do físico frágil e se transformava em um ser extraordinário, acima das expectativas naturais. Com elas
em mãos, ele golpeava com fúria, arremessava longe, cortava com precisão, cavava fundo, quebrava ossos e
coisas duras, furava diferentes texturas e corpos, triturava grãos, lascava pedras e outros materiais resistentes,
espetava insetos e bichos, picava nacos de diversos tamanhos e formas, rasgava couros e carnes, serrava caules ,
macerava folhas e formava compostos e, ainda por cima, conseguia lixar, partir, desbastar, limar, martelar,
espremer, prender, prensar, etc. Um verdadeiro multiprocessador vivo e inteligente.
Com exceção do bicho-homem, não há nenhum outro animal, monstr o ou criatura que consiga praticar
essas atividades em conjunto. Com seus instrumentos toscos dando -lhe mais força e poder de atuação, o antigo se
posicionava em um patamar evolutivo, muito além do que a Natureza conseguiria alcançar ou mesmo suportar.
Como uma história de horror do tempo das cavernas, quando o super -homem paleolítico, impulsionado por
um cérebro faminto e oprimido pela caixa craniana, se armou de pedras lascadas, pedaços de paus e ossos para
enfrentar os ambientes terrestres e seus habitan tes, nenhuma espécie se mostrou forte o bastante para impedir -lhe
o avanço predador. Matérias-primas, florestas, morros, rios, fontes, bichos, tudo tombou diante da mão armada. É
com esse arsenal de tecnologia barata que os hominídeos começaram a interferi r nos mais variados sistemas da
Natureza, completamente alheios aos limites impostos pelas leis universais que regulam a trama das relações
produtivas naturais.
Contudo, a cisão dramática da sinergia natural deu -se muito mais tarde, quando o homem Neolític o deixou
de depender da coleta e da caça para sobreviver da produção de alimentos. A agricultura surgiu após o término do
período de Wurn, há aproximadamente onze mil anos, no final da última Era Glacial, que causou tantos sofrimentos
às inúmeras espécies de hominídeos. A alteração favorável do clima, com estações melhor demarcadas,
temperaturas mais amenas e regime regular de chuvas facilitou o cultivo de várias categorias vegetais. Um pouco
mais adiante, os neolíticos também se poriam a domesticar os anim ais para abatê-los, explorá-los, sacrificá-los aos
deuses e tê-los como companheiros fiéis, bonzinhos e obedientes.
Sem ter mais a obrigação de deslocar-se por longas distâncias à cata de alimentos, carregando a família e
os poucos pertences nas costas e nos flancos. Aos trancos e barrancos, finalmente, o primitivo podia apropriar -se
em definitivo de localidades escolhidas a dedo.
Nas paragens que chamou de suas, ele decifrou seus segredos íntimos, amou -as, deflorou-as e,
lentamente, foi exercitando o potencial inventivo e sistematizador para dominar e transformar os sistemas originais
que as compunham.
Sobre essas terras despidas e desvirginadas sem pudor, construiu e destruiu os sonhos que ia sonhando e
que, de qualquer jeito, estavam destinados a serem aç oitados pelos ventos e pelo humor tempestuoso dos homens.
Com a alteração drástica das oportunidades, as antigas hordas nômades, socialmente independentes e
autossuficientes, aos poucos, aceitaram a ideia de materializarem uma nova ordem terrena, organizan do-se em
comunidades ligadas ao solo e interligadas por relações de trocas de produtos e serviços, entre eles, a ajuda em
caso de conflito intertribal.
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 2
Incentivados pela estabilidade aparente, produzida em virtude da agricultura planejada e do
apaziguamento da Natureza, os grupos viraram comunidades, que viraram aldeias, que viraram vilas, que viraram
pequenas cidades, que viraram grandes cidades famintas, como feras prontas para atacarem os vizinhos, de
preferência, os mais ricos e indefesos.
Os processos históricos e produtivos das civilizações nascidas à beira dos grandes rios Eufrates, Nilo,
Ganges e Amarelo, assemelham-se, não importando a distância que existe entre a Mesopotâmia, o Egito, a Índia e
a China. O conflito de interesses, a dominação calculi sta e a exploração desumana do mais forte contra o mais
fraco tomaram a cena em cada uma delas, para se imporem definitivamente no tempo e no espaço, como padrão
comportamental válido para o individual, o social e o nacional.
A certeza de que era possível alterar a configuração do mundo, simplesmente, possuindo, domando e
explorando a terra, em vez de migrar conforme a estação, modificou a forma como o homem via o mundo e se
encaixava na nova ordem das coisas.
Nesse clima perigoso de revolução de valores, d e conceitos, de comportamentos, de visão do mundo e do
homem, se os Estados nascentes quisessem se organizar e se estabelecer no plano histórico, teriam de impor ao
povo barulhento, tanto uma nova explicação do Todo quanto novas regras de vida, com começo, meio e finalidades
que satisfizessem a maioria.
A criação da estrutura institucional religiosa acompanhou a evolução da organização dos sistemas sociais
complexos e hierarquizados. Oriundas das concepções mágicas primitivas, as religiões surgiram como
instrumentos de coerção psicológica e social, finamente concebidos para explorar ao máximo a força produtiva das
pessoas fracas de espírito, as quais deveriam gerar riquezas para sustentar o Estado, os governantes e os
agregados do poder.
Como os deuses comandavam os fieis de um ponto inacessível do além, esses não podiam questionar
diretamente os mandantes divinos sobre o volume abusivo do trabalho imposto, o montante excessivo dos tributos
cobrados, as condições subumanas de vida dos trabalhadores e, muito m enos, reclamar de os sacerdotes governantes se apropriarem da quase totalidade dos lucros obtidos com os produtos e os serviços por eles
gerados.
Embora a dominação político-religiosa fosse implantada em todos os cantos, a tarefa não era simples e
exigia imensa criatividade e poder de persuasão. Pois, além das instituições religiosas terem de manter as pessoas
imbecilizadas por tempo indeterminado, tornando -as cegas, surdas e incapazes de raciocinar diante das evidências
mais escandalosas, as crenças religiosas eram criadas para justificar e validar a posição de comando do
governante-sacerdote-absoluto, na base do Um sobre todos e todos a serviço do Um.
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 3
CAPÍTULO 3
É noite de céu fechado. No interior da mata às cegas, sons estranhos anunciam que alg o fora do comum
vai acontecer. Passos sinistros se misturam aos gritos, urros, silvos e ao barulho de asas batendo em retirada. Um
horror. Temendo pelo pior, os bichos se enfiaram onde deu. Tem tatu com onça, veado com urso, arara com
esquilo, jacaré com garça. Nos campos, sumiu quem anda, quem voa, quem pula e quem rasteja.
Acima, no reino do infinito, não querendo ver o que está por vir, a Lua, a poderosa soberana da noite,
resolveu se esconder sob um pesado manto cor de carvão. Se algo der errado hoje, n inguém sabe o que poderá
acontecer com o mundo visível e o outro mundo. De norte a sul e de leste a oeste o céu treme soltando raios e
trovões. De alto a baixo a apreensão é geral. Na aldeia dos homens, as mulheres, os velhos e as criancinhas de
olhos questionadores, unidos em um abraço apertado, junto da fogueira, rezam para que os seres que se
escondem na escuridão não venham pegá-los.
Quanto aos homens, esses saíram faz tempo, rumo ao sopé da grande montanha, há quilômetros de
distância, lá para os lados das terras que gente viva tem medo de andar. A essa altura da noite, eles já devem
estar na iminência de provarem os perigos da morte.
Diante da caverna que leva ao mundo dos espíritos, um punhado de homens nus e pintados de ocre – a
cor sagrada – espia assustado para o interior da goela negra que os engolirá em breve. O mais velho deles, o
xamã, veste um rico traje adornado com peles, contas de marfim tingidas de várias cores, bordados e penas de
aves mágicas.
Altivo, o bruxo segura na mão esquerda o caja do ritual com cabeça de águia esculpida no topo. Na mão
direita porta uma lamparina que ameaça se apagar com o vento que anuncia a chegada da tempestade. Antes que
a minúscula chama desmaie, o que seria um mau presságio, eles invocam a proteção dos bons es píritos para
darem início à missão mágica.
A cerimônia começa. Uncl, o guardião do elixir encantado, apresenta o líquido turvo para o bruxo
abençoar e libar a terra. Após a bênção, a beberagem passa de mão em mão. Enquanto os moços bebem goles
generosos da infusão que abre os caminhos do bem, eles pressionam o punho esquerdo contra o peito direito.
Dentro da mão cerrada, esconde-se o amuleto pessoal. Com o corpo devidamente fechado às influências
negativas, os pobres coitados estão preparados para enfrentar a perigosa jornada, em que muitos podem se perder
para sempre.
Há histórias medonhas sobre essas aventuras perigosas. Falam de bravos que foram mastigados por
paredes de pedra que se abrem de repente, pegando os descuidados de surpresa. Também se conta de alguns
que, deixados para trás na escuridão mais fechada, foram estraçalhados por garras invisíveis. Outros ainda, por
encanto, viraram morcegos, víboras e almas famintas de tudo: de gente, de amor, de sonhos e de esperanças.
Uma vez dentro da caverna, a única proteção existente encontra-se na mão direita do guia. É a pequena
chama que sofre para sobreviver. Quem se afastar dessa luz corajosa, está perdido, é presa fácil das sombras e
dos endemoniados que moram nelas.
Entoando canções que mais parecem os l amentos dos antepassados, o grupo amontoa -se a um passo da
entrada do túnel.
Os moços estão colados uns nos outros de temor por não saberem o que lhes acontecerá quando
deixarem esse mundo. Segurando forte os amuletos nas mãos, enfim, entram, logo atrás do bruxo, tomando
cuidado para manterem a distância exigida pelas leis xamânicas.
Há tempos, sabe-se que, para se manter o poder intacto, o líder não pode se misturar com pessoas
inferiores a ele. O mais puro e elevado não deve perder sua energia unindo -se aos menos elevados. Sendo assim,
nessa noite, ao mesmo tempo que procuravam manter a distância correta do xamã, os liderados se empurravam
nervosamente, tentando não perder a luz do líder espiritual de vista. Nenhum deles quer se arriscar a ficar para
trás, no mais puro breu.
À medida que avançam, descendo a ladeira escorregadia e tortuosa, o ar vai sendo roubado dos pulmões.
No chão lodoso, os pés vacilantes e descalços sofrem com os pedregulhos pontudos que os perfuram como presas
de serpentes. Meio zonzos, por causa da bebida que tomaram à entrada da caverna, sentem que quanto mais
passos dão, mais perdem a noção do tempo e do espaço.
O menor ruído ou a mais leve sensação de toque faz com que suas mentes gritem e seus corações
disparem, temendo que os horrores que habitam nessa zona perdida entre os mundos os ataquem sem dó nem
demora.
É nesse momento que eles percebem que os barulhos da mata desapareceram. A constatação é
alarmante: significa que a passagem para o mundo exterior se fechou. É tarde demais p ara pensarem em retornar,
eles estão perdidos em outra dimensão. Não há mais saída.
Presos às circunstâncias, cada um deles tem certeza que não voltará mais a ver os entes queridos, a
aldeia, o lar, o céu azul, os campos e os caminhos amados. De agora em d iante, o destino lhes reserva o negro, o
nada e o terror eterno. Estão vivos, mas mortos para o mundo.
Quando a tensão atinge o limite máximo, os corpos molhados de pavor não conseguem dar mais um passo
sequer. O xamã, percebendo que os homens estão próxim os de serem tragados pelo colapso, emite um grito
estridente, invocando os espíritos das aves mágicas que protegem a tribo de todos os perigos.
O chamado de socorro surte efeito imediato nos ânimos esgotados. Como em um passe de mágica, a força
renasce nos corações que pareciam querer fugir dos peitos apertados. Mais confiante, o grupo sente que os
espíritos do bem se juntaram a eles, para defendê -los dos espíritos do mal, pelo resto do caminho.
Se saírem vivos dessa empreitada, pensam, farão novas cicatriz es no rosto e no tronco reafirmando a
ligação espiritual com os guias benfazejos. Contra as forças do mal, todos os sacrifícios e penitências, por piores e
mais dolorosos que sejam, se justificam.
Mais adiante, quando a trilha descendente se estreita em um a última passagem sinuosa, brota uma
estranha luminosidade nas paredes encrespadas, como se a luz e as energias negras estivessem guerreando. Para
os homens, a visão bruxuleante, longe de assustar, ao invés, reconforta. Conforme acreditam, é sinal de que a
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 3
aventura está prestes a alcançar o destino supremo. Mais algumas dezenas de metros e estarão diante da fonte de
luz primordial que guarda a vida de todas as coisas e seres: a fogueira sagrada que mora no centro da Terra.
Atraídos pela visão da luz, que parece estar enfrentando e vencendo o inimigo negro, eles avançam
aliviados, sabendo que vão de encontro a algo divino que os anima e os protege à distância desde que nasceram.
Os velhos sábios ensinavam que no momento exato do nascimento uma chispa espiritu al da fogueira
sagrada saía da caverna e entrava no corpo pequenino, enchendo -o de vida e de movimento. Filhos dos homens e
das chamas, um dia, entretanto, a energia emprestada deveria voltar ao centro da Terra, para aninhar -se junto das
labaredas que nunca se apagam. Então, no mundo dos homens, quem havia deixado a fagulha divina escapar,
perderia o calor, o brilho e, apagado, viraria pó, cinzas.
Perdidos no interior da caverna, diante da promessa da luz, em um movimento instintivo, o bando procura
acelerar o passo, agindo como crianças amedrontadas que correm para o colo materno, na intenção de fugirem de
fantasmas que as perseguem. Um impulso íntimo, tão velho quanto a humanidade, os faz querer aconchegar -se
junto à luz quente e afetuosa.
Percebendo o nervosismo geral e o perigo de tudo virar uma confusão só, o mago lhes segura o ânimo e o
passo acelerado, diminuindo o seu, à frente dos mais jovens, enquanto, em voz alta, entoa cânticos de
agradecimento aos bons espíritos, por todos estarem vivos e sãos ap ós terem atravessado a perigosíssima zona
negra que separa o mundo dos seres vivos, do mundo sagrado, no qual eles estão prestes a adentrar.
E eis que, por fim, chegam ao destino tão temido e, em igual medida, tão desejado. A andança terminou
em um imenso salão. A cena com que se deparam é bela e terrível. Nas paredes há pinturas maravilhosas de
animais correndo em disparada, rugindo, urrando, atacando ou prontos para serem abatidos. Os olhos das feras
são impressionantes, miram dentro dos visitantes do out ro mundo, como se espreitassem seus corações e mentes,
procurando descobrir que emoções e intenções carregam consigo.
Deixando de lado os homens atônitos perante o espetáculo intimidador, o guia espiritual se acerca da
fogueira no centro do recinto e acrescenta-lhe a pequena chama que trazia na mão direita. Em seguida, toma o
apito de obsidiana esculpida que pende em seu peito. Com gesto estudado, glorifica o ambiente assoprando as
notas sagradas que só ele conhece. Logo após, rabisca desenhos mágicos no ch ão argiloso. Acompanhando os
movimentos do velho feiticeiro, meio atordoados, os bravos da tribo balbuciam as frases certas, repetindo -as em
tom de cantilena sem fim.
De uma pequena bolsa presa à cintura, o mago pega um bocado de pó branco e o joga sobre a s chamas
crepitantes. Feito isso, o fogaréu se aviva e produz labaredas maiores e mais trêmulas. O efeito é de arrepiar.
Parece que, repentinamente, o enorme salão pétreo encheu -se de mais vida e poder sobrenatural. Tem -se a
impressão exata de que, a qualquer instante, as imagens vivificadas pelo reflexo das chamas, podem saltar das
paredes e atacar o pequeno comitê, que se sente suspenso em um espaço entre a realidade, a ilusão e a mais
pura magia revelada.
Produzindo um movimento espetacular, o grande bru xo levanta os braços magros em direção ao infinito.
De um só golpe, as mangas do traje escorregam pesadamente, revelando os símbolos tatuados na pele enrugada e
venerável. A cena é tão forte e o poder explicitado é tão imenso, que os valentes caçadores bai xam os olhos
temendo serem subjugados como as feras ao redor.
Após beberem mais uns bons goles da poção que abre os caminhos do bem, o xamã sinaliza para que se
sentem na posição que agrada aos espíritos protetores.
Enquanto se ajeitam no chão, mais tomban do do que sentando, o mago, em pé, coloca a máscara mágica,
de feição terrível, para dar início ao ritual de encantamento dos espíritos dos animais que estão encarcerados nas
rochas e que deverão ser caçados nos dias seguintes.
Com a máscara colocada, o bruxo joga três punhados, a medida sagrada, do pó alvo sobre o fogo vivo,
que se levanta mais violento do que antes, enlouquecendo os bichos. Com essa nova provocação mágica, os
bisões, os cavalos, os mamutes, os ursos, as renas, os leões e as outras feras r ealmente querem se livrar das
paredes para atacar aqueles que querem matá -las.
Mas todos sabem que isso não vai acontecer porque o poder do mago é descomunal. Por mais que as
horríveis bestas se agitem, ele as mantém presas nas paredes espelhadas, prontas para receberem o
encantamento que as farão perecer pela lança certeira. Arremessada pela mão hábil do caçador experiente, todos
sabem que, na verdade, o projétil será guiado espiritualmente pela magia infalível do bruxo, aquele que guarda as
tatuagens ocultas dos olhares curiosos. Dos que estão nesta vida e daqueles que estão na outra ou nas outras
existências.
No corpo do velho está gravado o repertório completo dos símbolos de força que guardam a tribo. Os mais
antigos datam da época da sua formação, faz muito tempo. São dezenas. Entre eles, estão os sinais gráficos que
representam os guias espirituais do passado. Por meio dos símbolos pessoais, os mortos transmitem sua energia
do além para o velho feiticeiro.
A história da tribo está contada no corpo tatu ado do venerando, ele próprio, instrumento de magia,
respeito e adoração. Verdadeiro ídolo vivo e atuante.
No meio dos caçadores, as emoções estão de tal jeito afloradas, que os cinco sentidos se abriram para
captar toda e qualquer impressão, a fim de que essa experiência jamais seja esquecida, em nenhum dos detalhes
fascinantes.
A cerimônia é longa e vai noite adentro. Durante horas seguidas eles cantam canções sagradas, dançam
coreografias encantatórias, fazem caretas ritualísticas, soltam gritos mágicos apavorantes e encenam que estão
atacando as feras, sem piedade. Contra os animais acuados na superfície das rochas, lançam artefatos mortais em
direção aos órgãos vitais e às partes vulneráveis.
Próximo ao término do ritual, exaustos, invocam mais uma vez a proteção dos espíritos e lhes pedem
coragem, acompanhamento e perdão pelas vidas que vão roubar da Natureza. Em troca, para provar a boa
intenção dos seus propósitos, prometem reverenciar e adorar o primeiro bicho que for morto, oferecendo sua
carne, sangue e espírito ao mundo sobrenatural.
Há milênios, os caçadores contam a mesma história aos filhos pequenos. O primeiro animal que morresse
pela lança encantada, ocuparia a liderança espiritual da manada. Do mundo dos espíritos, o líder orientava os
espíritos dos animais ainda vivos para que seguissem seu nobre exemplo. Como ele fez, deveriam oferecer os
corpos em favor da sobrevivência da comunidade humana. Aqueles que trilhassem o caminho do mártir elevado
seriam recompensados com pastos verdes no além. Q uando quisessem, também poderiam voltar à carne para
correrem e pastarem nos campos terrestres. E, desde que os homens continuassem a praticar os rituais da carne e
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 3
do espírito santo, a manada voltaria ao planeta novamente, e novamente, e novamente, e nova mente, entregando o
corpo aos caçadores em troca do bem mais precioso: a imortalidade da alma.
Quanto às feras que não copiassem o exemplo do líder espiritual, quando morressem, sem poder contar
com a direção do guia iluminado, se perderiam nas sombras do além, virando assombrações para sempre famintas
de tudo.
Com a finalização das preces emocionadas, mais uma vez em fila, com o xamã à frente, os homens
dançam ao redor da fogueira sagrada. Suas sombras engolem as imagens dos animais emparedados como se
estivessem apagando a luz da vida que os bichos também possuem.
A um sinal do bruxo, o grupo se acerca mais da fogueira e passa a dançar de forma frenética. A sombra
que os caçadores produzem é fenomenal, parece um só corpo com mil mãos, mil armas, mil cabeça s e uma só
intenção: assassinar os oponentes.
Quando o fogo que nunca apaga diminui, é sinal de que a cerimônia deve ser encerrada. Para iluminar o
caminho de volta ao mundo dos vivos, o feiticeiro entrega a cada um dos bravos um graveto que deverá ser ace so
na fogueira sagrada.
Excitados com as experiências vividas, e profundamente gratos pelas graças que irão alcançar, eles saem
em silêncio reverente do útero da Terra, pela manhãzinha, renascidos e cheios de esperanças.
Durante dois dias, eles serão festejados pela tribo, na condição de novos -homens, que morreram ao entrar
na caverna sagrada, mas que voltaram revividos, quando saíram dela, trazendo na mão direita a chama do fogo
eterno. Na semana seguinte, partirão para a caçada que pode durar vários dias.
Esta historieta pode muito bem ter acontecido há 5, 15, 25, 40 mil anos atrás, ou mais, muito mais.
Levando-se em conta as escavações dos arqueólogos, as descobertas dos antropólogos e a análise das lendas
arcaicas que chegaram aos nossos dias, preservada s em relatos escritos e falados, tidos como mágicos ou
sagrados, em linhas gerais, era assim que os antigos magos conduziam seus trabalhos encantatórios.
Os xamãs, um misto excêntrico de médico, sacerdote, psicólogo, ilusionista e ator, eram os mediadores
das tribos junto ao mundo dos espíritos eternos, um lugar habitado pelos espíritos da Natureza e das forças
extrafísicas, segundo crenças muito antigas.
Os feiticeiros eram peritos na aplicação de técnicas avançadas de sugestão dirigida. Profundos
conhecedores dos processos que estruturam a psique humana, fabricavam visões interiores com o auxílio da
imaginação criativa dos espectadores, os quais acabavam interferindo decisivamente sobre a dinâmica dos
intercâmbios naturais.
O homem é um ser social consciente, que busca soluções práticas para resolver os problemas que surgem
continuamente em suas relações com os elementos animados e os inanimados, com os quais ele mantém contato
regular, a começar por si próprio. Sendo naturalmente sistêmico e solucionador, ele anseia obter das relações o
que elas podem produzir de melhor. O objetivo final (teleologia) é alcançar a felicidade e a realização plena.
Para atender à demanda variada, os magos antigos, os primeiros comerciantes a explorar a credulidade
humana, inventaram uma infinidade de explicações, serviços e produtos mágicos que, como faziam crer, possuíam
o poder de solucionar todos os tipos de relacionamentos humanos: as relações amorosas, as relações pessoais, as
relações de poder, as relações com a terra (co leta, semeadura e moradia), as relações com os animais (caça,
exploração, criação e proteção), as relações com os ambientes (segurança, exploração e viagens), as relações
com a economia (autossustento, comércio e investimentos), etc.
Para sorte dos magos, na maioria das vezes, as coisas pareciam dar certo por uns tempos, por causa do
brilhantismo da mente humana que, depois de colher todas as informações operacionais disponíveis no ambiente –
reais e fictícias – elaborava um plano de ação de curto prazo, la nçando o homem, artificialmente otimizado, em
direção à realização dos objetivos almejados, custando o que tivesse que custar e doendo em quem estivesse pelo
caminho.
A indústria da propaganda e do marketing, voltada à exploração do nicho da assistência es piritual,
começou cedo. Os feiticeiros criavam e comercializavam no atacado e no varejo, produtos e serviços milagrosos,
ganhando o coração, a mente e os recursos dos consumidores.
Os pré-históricos consumiam objetos insólitos, porque, conforme afirmavam o s fabricantes, eles conferiam
poder, proteção e boa sorte. Mas, sem que os usuários percebessem, os significados contidos nos artigos
―mágicos‖, confeccionados sob encomenda ou prêt -à-porter, programavam a mente para que os indivíduos fossem
obedientes às lideranças institucionalizadas. Manipulação dirigida? Não, fé.
Desta feita, parecendo bicho amestrado e fantasiado, lá ia o sapiens pelos caminhos da vida, carregando
balangandãs e outras bizarrices, crentes que os penduricalhos e os acessórios os faziam m elhor que os demais.
Como pode ser observado, o teatro, o domínio da arte de enganar o espectador já existia e era
fundamental nas negociações de natureza milagrosa. Quem representava e mentia com mais competência ganhava
destaque nas duas vidas, nessa e na outra.
Muitos dos talismãs, inventados no passado remoto, continuam sendo comercializados nos dias atuais,
sem apresentar alterações na forma e no conteúdo. Um outro tanto modificou a forma, mas manteve intactos os
significados primitivos. Os talismãs do bicho morto, hit dos Tempos das Cavernas, são exemplos típicos.
Originalmente confeccionados com partes de animais mortos, tidos como mágicos, poderosos ou ambos, na
atualidade, se resumem a imagens de mártires religiosos, que viveram e morreram em benefí cio dos homens. Pelo
menos, é assim que se crê.
Desde sempre, os talismãs do bicho morto são oferecidos como produtos mágicos que conferem poder e
proteção. Mas, sem que os usuários saibam, eles foram elaborados para cumprir uma função bem menos nobre e
elevada. Esses artigos influenciam os processos mentais, levando os consumidores a, inconscientemente,
desprezar e destruir o mundo material, os corpos físicos (inclusive os próprios), e buscar a salvação do espírito em
outra vida.
O que essa gente espiritualizada fez com esse lindo planeta inocente?
Histórias, histórias, histórias ...
24
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 4
CAPÍTULO 4
Histórias...
Os gregos foram livre-pensadores por excelência, enquanto os bárbaros confundiam suas mentes com
dogmas e pensamentos excêntricos, os nobres filh os da Hélade colocavam o intelecto a serviço da descoberta de
formas mais racionais e equilibradas de ser e de estar no mundo, para, inclusiv e, protegê-los da ação
inconsequente dos homens. Eles amavam a Natureza e tratavam -na como uma extensão de si mesmos.
Daí a aversão grega às obras arquitetônicas megalomaníacas, tão ao gosto das demais sociedades e à
construção de máquinas que pudessem quebrar o frágil equilíbrio natural, ao agigantar os efeitos da interferência
humana nos ambientes, além do que a natu reza consegue suportar.
Procuravam exercitar o comedimento e o bom -senso, onde quer que estivessem. Em incursões ao redor
do mundo ou recebendo estrangeiros em solo pátrio, comportavam -se com pragmatismo em relação à cultura
alheia. Aprendiam o que lhes interessava, tomando o cuidado de reconfigurar informações, técnicas e usos, para
que o material colhido servisse à evolução do conjunto social helênico, sem que o mesmo descaracterizasse a
cultura grega.
O passado não nos legou nenhum texto ou palavra firma da de Pitágoras e há sérias dúvidas se ele deixou
algo escrito aos contemporâneos. Por essa razão, sobre seu pensamento restam -nos mais questionamentos que
certezas.
Mesmo assim, a tradição lhe atribui ideias muito interessantes e originais. Segundo consta , o mestre
ensinava que os números são a verdadeira essência das coisas. Sob o ponto de vista da física, da química e da
biologia moderna, o pensamento pitagórico está correto. O Universo, com tudo que ele contém de visível e de
invisível a olho nu, pode ser resumido em um punhado de fórmulas, de leis e de equações matemáticas.
Porém, ao que parece, para o filósofo nascido na ilha de Samos, na Jônia, em torno de 570 a.C., os
números não são fatores abstratos, úteis tão somente à confecção de operações matem áticas variadas. Cada
número representa algo real, individualizado e atemporal.
Por essa época, é bom lembrar, no século VI a.C., período que assistiu ao nascimento da Filosofia, os
maiores pensadores gregos estudavam a Natureza, baseados na conjectura de que o Cosmo é um organismo vivo
autogerado. Sendo assim, Pitágoras deveria supor que a Matemática possui uma função geradora e mantenedora
da vida, completamente diferente da visão estéril que temos dela na atualidade.
O Todo é um mecanismo criado por Deus ou é um organismo vivo? É criação ou criatura? Não é nenhum
dos dois? Então, o que é? A Matemática realmente guarda os segredos do surgimento da vida?
Se Pitágoras nos visitasse hoje, vindo diretamente do passado e tivesse acesso aos nossos
conhecimentos científicos modernos, talvez, fiel ao pensamento de sua época e ao jeito grego de absorver
informações estranhas, ele nos explicasse o Todo por intermédio de uns poucos princípios semelhantes a estes:
Princípio da Individualidade Absoluta
Nunca houve, não há e jamais haverá dois indivíduos exatamente iguais no histórico cósmico. Cada
elemento sistêmico físico, dos átomos aos corpos mais complexos, possui individualidade única. Não há repetições
no Cosmo. Todos são exclusivos e únicos no tempo e no espaço: átomos, planetas, estrelas, cometas, satélites,
plantas, insetos, animais, homens, produtos gerados pelos homens, etc.
Princípio da Identidade Numérica Absoluta
Por possuir um conjunto único de características no tempo e no espaço, cada indivíduo pode s er
associado a um número único e dinâmico, tal qual um código de barra vivo e inteligente, o qual nunca se perde ou
se repete no processo de formação e evolução do Cosmo.
Então, os números são essências que sempre existiram e que sempre existirão, mas que guardam o
potencial do que poderão vir-a-ser a partir da individualidade que lhes pertence, na condição de grandeza numérica
absoluta.
O homem, unidade física finita e temporal, por exemplo, evolui à medida que amadurece o raciocínio e
alcança a sabedoria. Por conseguinte, acompanhando a evolução racional do sujeito pensante e agente, o número
que o representa possui o potencial de evoluir, também infinitamente, sem que ambos deixem de ser o que são:
pessoa temporal e número atemporal únicos.
Princípio da Instabilidade Numérica Absoluta
Exatamente como acontece com os seres humanos e os demais elementos sistêmicos do sistema cósmico
(as unidades em processo de racionalização crescente), o Cosmo pode ser representado por um número único e
infinito em sua dimensão potencial. O Todo É, enquanto se exercita como potência absoluta de vir -a-ser.
Entretanto, É sem nunca Sê-lo, porque continuadamente Está, sem deixar de Ser o que realmente É.
Aristóteles se manifestou sobre o assunto: ―O Ser é uno como sujeito e mú ltiplo como predicado‖.
Hegel também refletiu: ―O Todo é apenas essência realizando -se a si mesmo em seu desenvolvimento
natural‖, o que o levou a concluir que ―o absoluto é essencialmente resultado, nisso constituindo sua natureza de
ser efetivo, sujeito ou vir-a-ser de si mesmo‖.
Princípio do Padrão Sistêmico Biótico
As energias cósmicas, materializadas em inúmeros níveis de condensação, organizadas em diferentes
associações sistêmicas, racionalizam -se para dar origem a leis orgânicas que emprestam funç ões reguladoras ao
Todo, com vista à sua sobrevivência por tempo indeterminado.
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 4
Princípio da Unidade Constitucional com a Fonte Sistêmica Biótica Original
O Cosmo é um organismo único e autogerado que funciona amparado por um padrão sistêmico biótico
altamente dinâmico. As relações sistêmicas, que estruturam os aspectos visíveis e os não visíveis do Cosmo,
ordenam-se em processos matemáticos de caráter produtivo e autoequilibrado.
O conjunto cósmico possui formato, conteúdo e expressão sistêmica individu al graças ao potencial
ilimitado das entidades físicas e numéricas que o compõem e que geram combinações, expressões e formas em
quantidades infinitas.
É a matemática orgânica, e não qualquer divindade sobrenatural, que garante a continuidade do
movimento, da transformação e do equilíbrio, enquanto as unidades sistêmicas físicas surgem, evoluem e
desaparecem no corpo cósmico: o mundo da matéria. Igualmente, é a sinergia orgânica que mantém os elementos
unidos para formar um sistema único, patrocinando, entã o, a formação de um pensamento cósmico (sistêmico e
sistematizador) comum a toda a criação visível e não visível.
Desta feita, todos os elementos sistêmicos universais possuem o DNA cósmico e estão sujeitos às leis
impostas pela física sistêmica (atômica e subatômica), em todos os seus níveis de expressão e conformidade. Se
realmente houvesse um Deus impondo sua vontade e alterando as relações que interligam todas as diferentes
unidades cósmicas, formando um Todo coerente e produtivo, o Cosmo se desintegrar ia, porque a racionalidade da
sua ordem teria sido quebrada. Se Deus existisse, ele só serviria para gerar o caos.
Princípio das Ligações Sistêmicas em Rede Absoluta
O Cosmo se comporta como um sistema de partes perfeitamente interligadas. Não há um só e lemento que
não lhe pertença ou que não se comunique com as demais unidades sistêmicas restantes, por via direta ou
indireta, ao interferir nos ambientes aos quais estão inseridos.
O resultado fluente das trocas que ocorrem entre as partes mantém o conjunt o cósmico em contínuo
estado de transformação constitucional e funcional, por conta da alternância das relações mantidas pelos
elementos sistêmicos que surgem, evoluem e desaparecem no plano físico. E, enquanto a instabilidade resultante
conseguir se equilibrar, o corpo cósmico tem a oportunidade de continuar existindo. Contudo, se o fluxo sinérgico
for rompido ou vier a se degenerar, o Cosmo, assim como o conhecemos, deixará de existir.
O bicho-homem, ao gerar produtos e serviços inconsequentes, que contra riam as leis naturais e as
necessidades evolutivas da Natureza, pode provocar não só a destruição do planeta Terra, como também do
Cosmo, por inteiro.
Princípio da Unidade Constitucional dos Organismos Vivos
A simples existência de um único ser vivo, que se encontra inserido em uma cadeia complexa de
dinâmicas biológicas integradas (o nascimento, a evolução orgânica completa, a geração de descendentes e a
morte) comprova que o Cosmo, enquanto sistema integrado de forças afins, realmente é um organismo viv o (Zoé,
vida cósmica), já que suas estruturas visíveis e não visíveis propiciam o nascimento de inúmeras formas de vida
(bios, vida individual), bem como as mantêm em rede cósmica, por tempo indeterminado. Apenas no planeta Terra,
a vida existe há aproximadamente 3,8 bilhões de anos, sendo assim, pode -se inferir que, assim como acontece
com as células do corpo humano, todas as unidades existentes no Universo possuem a mesma informação
constitucional. Os gregos antigos gostavam de utilizar duas frases que, e m poucas palavras, definiam sua opinião
sobre o assunto: ―As partes e o Todo são a mesma coisa e uma coisa só‖ e ―O que está em cima é igual ao que
está embaixo‖.
* * * * *
Desde o momento em que nossos antepassados mais remotos passaram a olhar o fi rmamento com
curiosidade e desejo, sentiram o ímpeto de decifrar como e por que havia algo tão belo suspenso acima de suas
cabeças pensantes. Se descobrissem os segredos daquele tesouro, um dia, quem sabe, os mais cobiçosos
conseguiriam subir aos céus, se apropriariam do espaço e se enfeitariam com os astros cintilantes. Não lhes
bastava mais querer conquistar as terras avistadas e as sonhadas, os bichos -homens queriam mais, famintos no
espírito, queriam dominar além, queriam se saciar no infinito. Faltava -lhes, então, saber a origem da abóboda
celeste, conhecer seu funcionamento e descobrir de que forma se chega lá. A ambição e a loucura não aceitam
limites.
Durante a História da Humanidade, os sujeitos pensantes e agentes produziram muitas explicações sobr e
os mistérios da existência do céu e da Terra. Entre as muitas conjecturas antigas, que chegaram até nossos dias,
há a que toma o Todo por criação de Deus e a que o considera como organismo vivo, uma macrocriatura
autogerada. Desse par de alternativas, qual é a mais racional? Qual é a mais fantasiosa? Por quê? Pela lógica, a
especulação mais racional está mais próxima da verdade, já que o Universo é um sistema racional que obedece a
leis racionais, passíveis de serem conferidas por métodos científicos prec isos. Você teria coragem de escolher uma
dessas explanações para nortear todas as facetas da sua história de vida? Por quê? Você se arriscaria a entregar se de corpo e alma a uma religião que se baseia em uma dessas suposições? Por quê? E se, caso tenha se
entregado, vier a descobrir, no futuro, que construiu sua existência em cima de uma mentira, de uma teoria
descabida? Com que cara ficaria? Com que cara está neste exato momento? Conhece a ti mesmo, olhe para si
mesmo, antes de querer olhar para o céu, pa ra o outro e para o que mais houver.
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 5
CAPÍTULO 5
A caça era a atividade mais relevante da vida primitiva. Sem o consumo regular da proteína animal, a
evolução do físico humano, e principalmente do cérebro, estava comprometida.
Embora não se envolvesse no confronto direto com os animais ferozes, como faziam os destemidos
matadores de feras, o mago, o depositário fiel do conhecimento teórico e prático da tribo, desempenhava a função
mais importante do processo, treinando a mente e o corpo dos caçadores para que eles alcançassem o sucesso na
dura empreitada.
Nos rituais propiciatórios para as caçadas, como o ocorrido em nossa historieta na caverna do fogo
eterno, o xamã organizava encenações dramáticas em que os limites entre o palco e a plateia se mistu ravam, com
o fito de treinar os caçadores para o enfrentamento mortal.
Nessas ocasiões catárticas especiais, todos os detalhes eram fixados a priori na mente dos combatentes
para que, quando se lançassem à perseguição na vida real, estivessem aptos para re produzir os mesmos
procedimentos técnicos e sentir as mesmas emoções positivas que haviam sido ensaiadas no rito.
Crenças místicas à parte, as soluções táticas que levavam à vitória eram encontradas no curso do
acontecimento. Enquanto caçavam sôfregos e ap aixonados, completamente entregues ao enfrentamento, suas
mentes solucionadoras operacionalizavam aquela situação extrema, tomando -a como um jogo de vida e morte,
onde o foco, a experiência, a comunicação integrada e a sinergia da equipe contavam mais do q ue o número e o
tamanho dos contrários, fossem eles, renas, ursos, bisões ou mamutes gigantescos.
Oposto ao que os caçadores crentes pensavam, o diferencial que garantia a vitória era humano, não
sobrenatural. A mente humana jogava, planejava, estrategiava e organizava enredos operacionais muito mais
eficientes que os oponentes. O ganho para o lado humano era certo, com poucas margens de erro.
Então, no lugar em que os crentes primitivos viam forças espantosas agindo no destino dos viventes, o
que realmente havia era a mais pura programação mental, física e emocional, interferindo na produção dos fatos.
Contudo, como o povo não tinha consciência do que se passava; mesmo porque quem fabricava os
milagres disfarçava a trucagem milenar; acreditava -se piamente que o prêmio da aventura, o animal morto,
esquartejado e pronto para ser devorado em segurança, devia -se à benevolência das energias extrafísicas e ao
poder descomunal do guia espiritual que conduzia e protegia a tribo com passes de mágica.
Com a formulação da ideia do mundo dos espíritos eternos, dividido em planos inferiores e superiores,
claros e escuros, o homem antigo sentia que tinha acesso ao destino de todos os seres e, inclusive, dele mesmo,
bizarro híbrido separado em partes conflitantes: animal, h umana, cultural e espiritual. Sim, pois se todos os
elementos físicos possuem o duplo invisível, ele, em posse de um corpo material, também deveria ter alma e estar
ligado aos níveis não físicos no além.
É provável que a partir do momento em que a psique h umana (social e unificadora por excelência)
interpretou a Natureza como sendo enganadora e traiçoeira, o sujeito pensante e agente sentiu -se abortado da
ordem planetária e passou a lutar contra os elementos para conseguir sobreviver.
Os povos antigos contam sobre uma Idade de Ouro perdida, quando reinava a perfeita união. Talvez, a
sensação de perda e exclusão que habita no interior humano: a angústia, tenha sido gerada quando o homem
deixou de ser completamente animal para passar a sobreviver dos méritos d a cultura.
A busca íntima pela reunião perdida nas dobras do tempo humano satisfazia -se com a ideia de um plano
perfeito que reuniria as espécies em um estado supremo de paz, ordem e graça infinitas, após a morte.
Ao mesmo tempo, dando continuidade a essa linha de raciocínio idealista, que deve ter sido construída em
milhares de anos de confabulações, a morte não poderia representar o fim absoluto da carne nem a libertação
definitiva do espírito. Porque, caso contrário, com o passar do tempo, a união dos pl anos se desintegraria por falta
ou por excesso de contingente. Em determinado instante, todos estariam mortos e eternamente presos no mundo
superlotado dos espíritos, o que acarretaria a dissolução dos mundos originais, levando o Universo ao caos.
Para solucionar essa questão funcional complicada, inventou -se a dinâmica da reencarnação, ideia que
garantia a manutenção de todos os mundos e seres ad infinitum, graças ao fluxo contínuo de ciclos de nascimentos
e mortes ininterruptos. A profunda necessidade de reencontro e reunião sentida há tanto tempo, estava
equacionada a contento. Um verdadeiro prodígio de força intelectual, desenvolvido enquanto as Eras e os
homínidas se sucediam.
Aqui não cabe analisar se o conteúdo dos raciocínios estava certo ou errado. O que conta é maravilhar-se
com a maestria do processo que busca ser coerente e dinâmico para tornar -se orgânico e permanente, mesmo
quando os elementos do sistema de inferências, as ideias e as conclusões, estiverem equivocados.
Se forem examinar a construção do pensamento dos ancestrais, de forma contínua e progressiva, desde o
princípio dos tempos, fica fácil perceber que há muito a mente vinha se preparando para funcionar como sistema
independente, criativo e sistematizador do meio.
À época em que a produção humana não passava de poucas pedras lascadas, a mente já se mostrava
potencialmente apta para elaborar sistemas intelectuais altamente complexos, por meio dos quais os homens
pudessem entender o funcionamento de todas as coisas, como uma rede de troc as interligadas com começo, meio
e finalidades, em movimento perpétuo. Graças a essa visão gestáltica e inclusiva, o sujeito pensante e agente
poderia interagir com o entorno, transformando -o segundo sua compreensão particular e vontade expressa.
Bravos! A mente merece aplausos e elogios superlativos.
Diante do exposto, se aqueles indivíduos tivessem recebido informações constitucionais de alta qualidade
psicoestrutural, é quase certo que teriam imaginado e construído um outro mundo. Mas, para azar geral, n ão foi o
caso.
O termo psicoestrutural refere-se às informações educativas provenientes da família, da escola, da
religião, das instituições, dos grupos sociais, da sociedade e da Natureza. Elas podem ser positivas e construtivas
ou irracionais e destrutivas. Esses dados constitucionais são apreendidos pelo sujeito e são determinantes na
construção dos modelos mentais que o levam a enxergar e significar a si próprio, o mundo, as coisas do mundo,
bem como a forma como deve se relacionar com os mesmos.
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 5
Quanto àquele mundo antigo, ele fora malvisto, mal -interpretado, malsimbolizado e malsignificado por
pessoas que podiam materializar qualquer coisa, desde que as visualizasse antes no espaço holográfico que existe
no interior da mente.
Toda e qualquer imagem mental pode ser materializada se for trabalhada racionalmente, à medida que o
sujeito trava relações produtivas com os sistemas naturais, artificiais e humanos.
E o que os animais com cultura viam no íntimo, reproduziam no plano físico. Principalmente no que diz
respeito às cenas dignas dos piores infernos.
As figuras mentais são construções plásticas inteligentes, configuradas internamente por conta do
processo mental que produz imagens em três ou mais dimensões. A produção imagética de determinada figura
mental, inicia-se com a mente humana coletando informações minuciosas, por intermédio dos cinco ou mais
sentidos, sobre um fato específico, ser, coisa ou pessoa. Todos os dados são reunidos nos arquivos mentais,
formando a ideia e a imagem interior do objeto analisado.
Depois que a fonte de estudo passou pelo crivo da cognição (conhecimento) e teve seus segredos
descobertos, ela pode ser utilizada pelo sujeito pensante e agente. O processo se completa quando o homem
nomeia a imagem mental e a transmite criando comportamento e cultura.
Quando a imagem, o nome, o objeto estudado ou seus predicados são reinseridos nos sistemas naturais e
humanos pela mão do homem, esses aspectos retornam na condição de produto, serviço ou resíduo, os quais,
obrigatoriamente, serão inventariados e consumidos pelos ambientes e os seres que os habitam, em rede cósmica.
Por exemplo, uma maçã existe como imagem, forma e conteúdo na Natureza. Mas, como cada maçã é um
elemento único, uma entidade numérica absoluta e original no tempo e no espaço, haverá tantas versões da
mesma coisa quantas forem as maçãs existentes na totalidade da história universal, ou seja, todas as maçãs que
já existiram, as que existem e aquelas que ainda existirão. Jamais haverá duas maçãs exatamente iguais. Cada
uma é uma, embora todas juntas pertençam a uma mesma categoria.
Diante da diversidade predicativa das unidades, a mente desenvolveu a capacidade de criar a imagem
idealizada da fruta em seu espaço holográfico interior, adicionado ao que ela significa e repre senta, como
resultado da soma dos dados e experiências que o sujeito apreendeu ao se relacionar com esse fruto, no geral.
A partir do momento em que a mente ―conhece‖ a maçã e pode localizá -la no espaço, ela passa a estar à
disposição da vontade do sujeito pensante e agente, na condição de coisa manipulável. Abre -se, assim, a
oportunidade para que haja a relação produtiva entre o homem e o objeto. Em termos conceituais, nasce o criador
e a criatura.
Exatamente como procede com os componentes do entorno – dissecando-os, interpretando-os e
internalizando-os como imagem e ideia –, a pessoa faz consigo, pois se reconhece como unidade produtiva que
interfere na sistêmica do ambiente.
Cada ligação produtiva que o sujeito pensante e agente mantém com os elementos a nimados e os
inanimados que o cercam é única e geram resultados igualmente únicos. No caso das relações humanas, os
participantes têm a oportunidade de aprender algo de si à medida que o Um se reflete nos Outros.
A totalidade das opiniões que o homem absorve em resposta à sua presença no meio natural e humano,
unem-se no espaço holográfico para formar uma imagem única que o define e o qualifica como agente causal.
*
Tomando essa figura por base, a mente compõe esquemas algorítmicos que correspondam às suas possibilidades
atuais e futuras.
É essa entidade formada no interior da mente, e síntese das várias interpretações que o indivíduo tem
dele mesmo como agente/pessoa, que vai funcionalizar as demais imagens mentais, organizando -as em processos
subordinados à ação do sujeito internalizado, o ―Eu Interior‖: o ator principal dos enredos mentais. Na Idade Média,
o Eu Interior aparece nos textos secretos dos alquimistas sob a alcunha de ―homúnculo‖.
Então, há o sujeito oculto – o Eu Interior – que habita no centro do universo das imagens e das tramas
mentais, e há o sujeito revelado – o indivíduo – que possui corpo físico, nome, sobrenome e que atua no plano
físico.
Na formação do indivíduo (administrador de dois universos, o mental e o material), os climas psicoló gico e
o fenomênico se espelham e se completam na sistêmica comportamental dos sujeitos oculto e revelado. Se a
pessoa se desenvolver em ambientes com conteúdos deformantes (agrupamentos sociais doentios, favelas,
cortiços, lares conflituosos, etc.), o Eu Interior se formará de modo distorcido. Concomitantemente, o sujeito
revelado se comportará de maneira patológica, produzindo histórias de vida e produtos doentios.
No momento em que a mente primitiva percebeu que a individualidade existia na multiplicidad e de uma
mesma categoria, produziu a sintaxe que admite o sujeito e o predicado como sendo essenciais à compreensão
dos fatos naturais e dos humanos. Ao indicar o sujeito, a humanidade deu um grande passo. O sujeito é o termo da
oração a respeito do qual se declara algo. O predicado é tudo o que se diz do sujeito. Os verbos fazem parte do
predicado e explicitam ações, processos, situações ou estados.
A sintaxe progride como dinâmica sistêmica que se funda na individualidade da palavra que, combinada a
outras, forma a oração, a qual, por sua vez, conduz à linguagem oral e escrita, que favorece a comunicação entre
os seres, que serve de esteio à produção da cultura, que gera a civilização. Um sistema leva a outro e outro e
outro e outro.
É assim mesmo, uma história sempre desencadeia outra e outra e outra. No entanto, no terreno humano,
tudo tem início no sujeito que significa e que é significado. No processo histórico da humanidade, o homem é
semente plantada no solo fértil do Universo.
Para organizar o mundo e o sujeito que age no mundo, a mente parte de pressupostos elementares, tais
como: ―Quem faz, faz alguma coisa‖ e ―Se algo foi feito, é porque alguém o fez‖.
A segunda inferência levou o homem das cavernas a acreditar que existiam entidades sobrenaturais,
quando buscou pelos sujeitos poderosos que haviam feito as árvores e as florestas, as pedras e as montanhas, os
rios e os mares, os bichos e a fauna e, em última instância, os astros e o Universo, quando ele finalmente tomou o
macrossistema universal como um Todo.
Segundo a compreensão do primitivo, o mundo visível seria o predicativo do sujeito divino superpoderoso,
que foi manifesto pelo verbo, igual acontece com o homem que materializa as coisas, pela sua vontade e atitude
consciente. Nesse caso, o sujeito em questão recebeu o nome de Deus.
Esse raciocínio é extremamente coerente, segundo o ponto de vista linear. Porém, sob a ótica sistêmica, é
uma construção intelectual irracional e obtusa, que pode levar o homem, em processo de racionalização, à loucur a,
*
Algoritmo: Sequência finita de regras matemáticas formais que levam à solução de um determinado problema ou de problemas semelhantes.
28
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 5
caso ele aceite a ideia de que Deus – o sujeito superpoderoso que criou o Universo – protege e guia cada uma das
suas criações.
A fé em Deus sobre todas as coisas obriga o Eu Interior a sair do centro dos processos mentais
inconscientes e conscientes para colocar-se à margem, na categoria das coisas manipuláveis, junto às demais
imagens mentais de segunda categoria.
Os efeitos dessa anormalidade sobre a organização interior são devastadores. As sensíveis dinâmicas
criativas e sistematizadoras da mente não funcionam corretamente diante da sujeição do Eu Interior a uma imagem
de ficção, no caso Deus, por mais que as culturas tenham lhe emprestado predicados maravilhosos.
Por ser Deus, um personagem de ficção destituído de realidade, evidentemente, Ele não p ode ser
decodificado pelos cinco sentidos. O que obriga a pobre mente inquiridora a querê -lo, sem descanso, para poder
conhecê-lo e possuí-lo de fato e de medida.
Essa busca alucinada no céu e na Terra pelo que não pode ser tocado, visto, cheirado, provado e ouvido,
relega o homem e os predicados humanos a segundo plano. O mesmo ocorre com a crença em vários deuses.
A interpretação mística dos acontecimentos arruína a racionalidade das leituras cognitivas e produz
distorções de compreensão que levam a aluci nações em graus variados. Então, as coisas e os fatos deixam de ser
o que são, e passam a ser tomados pelo que a imaginação fantasiosa crê que eles sejam, baseada no que, na
verdade, eles não são.
Com a racionalidade da mente arruinada e, portanto, incapaz de participar do meio ambiente regulado por
causas e consequências racionais, o crente principia a interagir com o mundo que o cerca, baseando -se nas
fantasias irracionais que se criam em seu espaço holográfico.
Com o correr do tempo, sem que se dê conta, o indivíduo começa a viver tranquilamente da ―realidade
ficcionalizada‖ que a mente lhe oferece, alienando -se progressivamente dos processos sistêmicos da vida humana
saudável e responsável.
Nesse caso, a mente passa a funcionar sob a égide de processos i nternos ilógicos que a impedem de
formular soluções racionais efetivas. Isso porque o centro do pensamento foi invadido por uma ou mais figuras
inexistentes que, por não terem sido dissecadas e interpretadas pelos cinco ou mais sentidos, não podem entrar
em processos mentais ou naturais. Deus não É, nunca Foi e não poderá Ser jamais, porque não é fato, é ficção.
É com esse desequilíbrio mental sedimentado na mais pura linearidade inconsistente que os alucinados
têm pensado, visualizado e materializado a his tória da humanidade no planeta e no espaço sideral, crendo que as
forças sobrenaturais estão ao seu lado, zelando por seus destinos.
Quanto à Natureza, segundo as religiões monoteístas, quem a criou, o Deus Pai Todo -Poderoso, é
responsável por sua criação e vai repará-la no devido tempo, em um passe de mágica, quando Ele achar que é a
hora certa. E aqueles que estiverem ao lado Dele, o maior e mais poderoso bruxo do Universo, criador da criação e
vencedor do bruxo do mal, Satã, vão continuar progredindo con tra os que não creem Nele, perpetuando assim, o
eterno conflito entre oponentes: os fiéis contra os infiéis, os superiores contra os inferiores, os do bem contra os
do mal, os puros contra os impuros, os escolhidos contra os não escolhidos e por aí vai...
É assustador pensar que, até meados do século XIX, a ―ciência ocidental‖ tenha sido dominada pelo
pensamento mecanicista que considerava o Universo como sendo uma máquina criada e movida por Deus. A
matéria era vista e entendida como coisa útil apenas à gl orificação do criador: Ele, Deus. Deus?
Desagradável e egoica, essa história tinha tudo para ser um fracasso retumbante nas bilheterias mundiais.
Entretanto, nas mãos de excelentes roteiristas, diretores, produtores, cenógrafos, figurinistas, técnicos de e feitos
especiais, sonoplastas, atores, propagandistas e comerciantes, o espetáculo virou sucesso internacional, atraindo
cada vez mais fãs do mundo inteiro, ano a ano, sem perder o encanto mágico e o aplauso do público pagante e
consumidor de chaveiros às relíquias mais portentosas e caras.
Por mais que os concorrentes do showbiz tentem, essa história se mantém no topo da lista das mais mais.
Nem mesmo as megaproduções hollywoodianas mais rentáveis e ganhadoras de Oscars conseguiram chegar -lhe
perto em termos de lucro líquido e espaço na mídia.
Para contar nossa história campeã, como convém à farsa, as cortinas do tempo se abrem e uma voz vem
do fundo, em off: ―Era uma vez, no centro do Universo, iluminado por estrelas fulgurantes, Deus, vestido com
esmero, diverte-se à larga interferindo no destino de tudo que há, ao som de trombetas e harpas eternas‖.
Pois bem, sem ter que dar satisfações sistêmicas a ninguém, o personagem principal dessa historinha
ridícula, no papel de soberano absolutista e sobrenatural, à moda oriental, faz o que bem entende, contra e a favor
do que for. Interesseiro e de humor vacilante, ora assassino, ora dadivoso, Ele cria, destrói e transforma o que
quiser, onde e quando achar melhor, na base do Um sobre todos e todos a serviço do Um .
O termo loucura define o sujeito que perdeu o contato com a realidade. Nenhum indivíduo, que acredite
em Deus ou que siga suas palavras ou leis não sistêmicas, está em contato com a realidade, porque quem está
dirigindo seus processos cognitivos e produt ivos, do céu e do interior da mente, é uma ficção vazia. E como tal,
não pensa, não fala, não age, não dita leis, nem dirige nenhuma sina.
O pensamento místico afirma-se na centralização do poder sobrenatural, em detrimento do poder
individual, no sistema de vida de cada homem em particular e no conjunto social. Por falta de consciência, muitos
são reféns obedientes, dos que sabem programar a mente e a história de vida dos sujeitos pensantes, do começo
ao fim. Há muito tempo, a evolução da raça humana tem s ofrido com a intervenção inescrupulosa dos
manipuladores e dos crentes servis.
Mesmo que se autoproclamem evoluídos espiritualmente ou santos, nenhum crente é responsável,
confiável ou racional. Apresentando a imaginação impressionável e sedenta em ser man ipulada por outrem, é
presa fácil que pode ser levada a praticar atos odiosos contra o que for, como comprova a História Universal.
O homem consegue pensar de forma abstrata e criativa ao unir as diferentes figuras mentais e as ideias
que se articulam ao redor do sujeito oculto, localizado no centro do sistema do pensamento humano. A plasticidade
inteligente das imagens mentais favorece o surgimento de hipóteses, que podem ser previamente ensaiadas no
espaço holográfico da mente, para depois serem testadas no plano físico.
Diferente do animal instintivo, antes de agir, o homem tem condições de pensar, refletir, escolher entre
opções múltiplas (livre-arbítrio), modelar o comportamento escolhido e estruturar a ação (planejamento e
estratégia), baseando-se na sistêmica do sujeito oculto, que busca fins específicos na condição de sujeito
revelado.
Os sistemas construídos pelos homens, sejam eles máquinas, livros, artefatos complexos, etc., revelam o
interior do produtor. Evidentemente, a linguagem não escapa à re gra.
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 5
A linguagem é um sistema de comunicação composto de signos falados ou escritos, que facilitam a troca
de informações, ideias e emoções entre os indivíduos. Ampliando o conceito, os estímulos visuais, táteis, sonoros,
palatares e olfativos também fazem parte do sistema da comunicação humana.
A psique, o pensamento e a linguagem são fenômenos sistêmicos consequentes que geram produtos e
subprodutos como, por exemplo a capacidade para criar enredos, histórias racionais e fantasias, entre outros.
Pela concatenação do discurso do indivíduo, o ouvinte atento pode identificar sua moral, ética, visão do
mundo, de si, da história de vida na qual o sujeito que fala está inserido, seu futuro provável e o que mais há no
interior para ser trocado com o mundo e os se res vivos. Curtas ou extensas, as declarações funcionam como
janelas da alma, que revelam o íntimo do comunicador ao comunicado. Contando de si e dos outros, o homem se
desnuda.
A oração ―João colheu a maçã‖, por exemplo, informa que determinado agente cau sal (João – o sujeito)
praticou uma ação específica (colheu a maçã – o predicado). Não há dados complementares que indiquem o antes
(como) e o depois (por que e para que). Mas é possível conjecturar racionalmente sobre o assunto.
A frase supõe um conjunto ordenado de pensamentos, atitudes e emoções que podem ter precedido e
sucedido o fato, enquadrando o sujeito que praticou a ação, em um contexto histórico natural e racional.
João poderia ter subido na macieira e colhido a mação para comê -la, vendê-la, dá-la de presente a alguém
ou destiná-la a outro fim.
Se inquirido sobre o assunto, João diria com clareza de espírito: ―Eu colhi a maçã‖. Admitindo a autoria,
João torna-se responsável pelo ocorrido e por suas consequências.
Nesse ambiente orgânico de leituras factuais racionais, João se reconhece naturalmente como sujeito
pensante e agente, o que o leva a compreender o fato em relação à organização mental do processo e às
respostas do meio que o contém.
Em comparação, na sentença ―Deus quis que Paulo colhess e a maçã‖, a ação encontra-se em um contexto
anômalo, onde as relações causais se confundem e as responsabilidades produtivas se anulam reciprocamente.
Na primeira frase, João é o sujeito (autor causal responsável) que praticou o trabalho de colher a maçã.
Como acontece com qualquer pessoa que suba em uma árvore frutífera para colher frutos, presume -se que o
agente causal aprendeu algo no procedimento. Se desejar, no futuro, para colher outros frutos, João pode
aperfeiçoar a dinâmica e reproduzi -la. Então, a ação produtiva possui o potencial de gerar conhecimento prático e
autoconsciência produtiva.
Na segunda frase, a irracionalidade trai o processo. Deus é o sujeito da ação, mas quem trabalhou e se
arriscou ao subir na árvore foi Paulo. A situação difere b astante do primeiro caso, pois o trabalhador, o verdadeiro
agente causal responsável, diria sem clareza de espírito: ―Deus quis que eu colhesse a maçã‖.
Nessa segunda frase, as relações produtivas não são racionais. O produtor que executou o trabalho não é
o sujeito da oração. Esse, por ser desconhecido, não pode ser confirmado racionalmente por nenhum tipo de
leitura sensorial, nem ter a participação confirmada no processo.
Basta que se admita a segunda frase como verdadeira para que os delicados sistemas mentais superiores
entrem em pane, os de Paulo e daqueles que creem na afirmação.
Sempre que o crente agradece a Deus pela direção e participação em seu trabalho, sem perceber, está se
anulando como sujeito perante a própria mente. Diante da incoerência do s sujeitos na sintaxe, que se confundem
entre o real – o agente causal de carne e osso, e o fictício – Deus, a mente descarta a experiência factual como
sendo racionalmente válida.
Com isso, o crente deixa de aprender verdadeiramente com o procedimento pro dutivo, turvando a
consciência e se construindo como pessoa menos consequente e menos responsável para com as suas ações no
presente e no futuro. A moral e a ética desse sujeito estão comprometidas.
A maravilhosa mente humana, sistema criativo por excelênc ia, não possui nenhum tipo de julgamento em
seus departamentos de criação. Com a mesma facilidade cria o medíocre, o monstruoso e o sublime na arte, na
ciência, na cultura e na vida cotidiana. A análise crítica, o pensamento reflexivo, o pensamento filosóf ico, a moral e
a ética são produtos exclusivos dos processos interiores que geram a consciência do indivíduo.
Os aprendizados conscientes, com os erros e os acertos, as frustrações e os desafios, dão à pessoa que
deseja expressar o poder humano no plano fí sico a oportunidade de encarar as limitações individuais com coragem
e determinação. Ele sabe que, se quiser ver seus sonhos materializados na íntegra, deve investir na expansão dos
talentos natos para conseguir agir como elemento solucionador que harmoniz a as partes, elevando o conjunto dos
relacionamentos à plenitude.
Para o indivíduo, o Outro representa o não Eu, o diferente, o desconhecido, aquele que lhe instiga a
curiosidade e os sentidos, apaixonando e assustando, atraindo e afastando. Contudo, não h á o Eu, se não houver
o Outro que o revela, muitas vezes cobrando o que lhe falta para ser melhor, mais inteiro e digno de receber o
amor e o respeito dos Outros.
Diferentes e potencialmente complementares, se vierem a estabelecer vínculo estável, o Eu e o Outro
reagirão igual: se analisarão reciprocamente, criarão juízos de valor e moral, avaliarão possibilidades atuais e
futuras, cruzarão interesses e capacidades, criarão estratégias e comportamentos específicos, problematizarão as
facetas da relação e procurarão gerar soluções para que a ligação energética (sinergia) progrida, satisfazendo os
envolvidos.
As relações pessoais pedem investimentos recíprocos para se firmarem e crescerem. Quando as forças
que ligam os relacionamentos carecem de verdade, os p articipantes se distorcem como pessoas.
Se o indivíduo se comportar como não humano, o Outro será oponente, vítima ou produto medíocre. Se
agir como humano, o Outro será companheiro, amigo querido, parceiro do amor compartilhado ou produto de
qualidade inquestionável. Quando o Eu Interior está no centro do pensamento, em vez da figura imagética de Deus
ou dos deuses, como acontece com os crentes, à medida que os aprendizados racionais vão se acumulando nos
registros mentais, a consciência progride a níveis cada vez mais elevados. Ao atingir o estágio da excelência
funcional e emocional, nasce a sabedoria, a Sophia dos gregos, o produto mais nobre e belo da consciência.
Sendo assim, se a sabedoria é o resultado último da soma das experiências racionais entre o Eu e os
Outros, evidentemente não há consciência e solução onde prevalecer a mentira sobre a verdade.
O santo iogue não é sábio, o santo monge tibetano não é sábio, o santo Papa não é sábio, o santo rabino
não é sábio, o santo pai de santo não é sábio, o santo pregador espiritualista também não é sábio.
Não há sábios na senda do sobrenatural porque nenhum místico conhece de fato e de medida nada do que
ensina, seja sobre o Paraíso e os paraisanos, o Inferno e os infernais, o Umbral e os sombrios, Deus e a s
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 5
hierarquias sagradas, ou outra bobagem qualquer. Todos, do Papa ao macumbeiro, mentem, enganam e traem os
Outros.
Funcionando como produto refinado da consciência, cabe à bela Sophia exercer o controle dos processos
produtivos do Eu e dos Outros. É preci so não esquecer que o início da Civilização Humana foi marcado por guerras
bestiais, por falta de sabedoria e excesso de fé mística. Civilização? Humana?
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 6
CAPÍTULO 6
―Entusiasmados com os prodígios da boa semeadura, à medida que os primeiros
lavradores aprendiam a multiplicar os frutos que nasciam da terra generosa, deixavam vir
mais e mais filhos, os frutos do ventre humano fértil.
Todavia, em pouco tempo, o otimismo viraria dor, com muitos corpos famintos de
tudo, se somando na divisão da colheita. Uma gente ignorante, que rezava dia e noite,
pedindo ao léu para sobreviver com os restos do que haviam colhido para seu Senhor.‖
(Caio Ares)
Se, no passado, os pequenos grupos de caçadores -coletores andavam livres pelo mundo, agora, presos à
terra, aumentavam o contingente, crentes em um futuro promissor, há muito sonhado. Uma onda inspiradora
afirmava que, enfim, onde nascia e crescia um, deveriam nascer e crescer vários.
Crescei e multiplicai-vos... Para o élã da época, nessa operação comercial ordi nária, quanto mais braços
estivessem trabalhando, maior seria a produção; produzir mais equivalia a somar mais riquezas; mais recursos,
fomentava a construção de um modelo produtivo básico; a necessidade de manter ações produtivas e sociais sob
controle, consequentemente, abria espaço para o aparecimento de um personagem que desempenhasse o papel de
chefe-controlador absoluto, o último fator a entrar nessa conta, fechando a nota.
Quanto aos lucros dessa fatura tosca, esses seriam tão maiores quanto mais se subtraísse dos produtores
– os braços multiplicados - por meio de dízimos, cêntimos, meio a meio, 90%, impostos fixos, subornos, achaques,
impostos extraordinários, taxas do solo, oferendas, donativos e tantas invencionices mais criadas para tirar do
trabalhador aquilo que, originalmente, era dele: o produto ou serviço, frutos naturais do seu labor. De taxa em taxa,
o homem se escravizava sem perceber.
Para que esse sistema mal formado e escorchante se mantivesse em funcionamento sem que houvesse
resistências internas, urgia criar meios para que os produtores perdessem o vínculo com a produção e o produto. A
solução mágica, lógico, como de praxe, viria do mundo espiritual e estava destinada a ser tomada como verdade
inquestionável, por tempo indeterminado ou enquanto existisse um crente.
As terras úmidas do Crescente Fértil, do Egito à Mesopotâmia, começaram a abrigar comunidades rurais
desde o nono milênio. Por volta do sexto e quinto milênios, chegaram a comportar centenas e, em alguns casos,
milhares de pessoas divididas em cômodos de paredes geminadas, formando imensos aglomerados populacionais,
em um único bloco.
Nos primeiros conjuntos habitacionais não havia ruas, corredores ou passagens comuns, as pessoas
transitavam de uma localidade à outra, atravess ando as habitações por dentro, inviabilizando assim, a existência
da intimidade e da quietude interior. Por vezes, abriam buracos nos tetos, que serviam de portas ou criavam
pequenos pátios internos, úteis para a entrada da luz solar, do ar fresco e para f acilitar a circulação das pessoas.
Nessas protocidades que cresciam como massas orgânicas, sem formas definidas, os cômodos não
apresentavam grandes diferenciações. Por vezes, havia pequenos recintos que deveriam ter servido para o culto e,
outros maiores, que talvez fossem utilizados para armazenar provisões e utensílios.
Mas, por mais promissora que a nova situação pudesse parecer, o plantio não fornecia garantia de fortuna
certa. Similar à dinâmica imprevisível e emocionante dos jogos de azar, fatores mú ltiplos poderiam trazer a
abundância ou a miséria aos jogadores que sulcavam o imenso tabuleiro no terreno preparado.
A cada nova estação, a sociedade da terra apostava tudo que possuía, torcendo para que a providência
estivesse com ela, à frente de cada l ance jogado.
Na lide diária, para a maioria dos trabalhadores de então, já não bastava ser capaz de estrategiar
situações de ataque, como faziam os antigos, nos dias em que os principais adversários não passavam de animais
movidos pelo instinto, jogadores previsíveis e conhecidos desde sempre.
A abrangência da problemática da produção agrícola desafiava a compreensão dos primitivos e pedia -lhes
mais conhecimento e técnica para que tivessem condições de trabalhar com tantas variáveis praticamente
indomáveis.
Com o advento da agricultura, o bicho -homem subiu um degrau evolutivo a mais e avançou na construção
de um ambiente artificial, onde, sem perceber, acabou tornando -se peça funcional da engrenagem de um sistema
de produção que desprestigiava as necessidade s do humano e da Natureza.
Na condição de dependente da terra, o plantador primitivo, ex -caçador-coletor, customizou seus conceitos
e crenças fora de moda, adaptando -as às exigências dos novos tempos. Logo, seus deveres, direitos e chances de
crescimento pessoal, girariam em torno dos interesses da produção, sob a direção abusiva dos deuses que
estivessem em alta.
Para funcionar, os sistemas precisam que seus múltiplos fatores estruturais (modelo, forma, funções,
células, órgãos, leis, dinâmicas processuais , etc.) estejam em sintonia, formando um todo produtivo estável e
inteligente. Se houver falhas sistêmicas graves, o conjunto entrará em xeque, mais cedo ou mais tarde.
Igual acontece com os demais sistemas, a sistêmica agrícola possui inteligência raciona l própria, capaz de
ordenar e modelar seus vários aspectos, na tentativa de atingir um grau de eficiência absoluta. Os sistemas
formatam os elementos sistêmicos que o constituem.
Entretanto, nascida naqueles tempos pouco humanizados, no meio daquelas gente s ignorantes e
supersticiosas, a sistêmica agrícola acabou gerando uma sociedade peculiar.
O negócio com a terra, baseado na exploração dos recursos naturais e humanos, pedia a construção de
uma superestrutura social, organizada na divisão de classes e na especialização do trabalho. O conhecimento,
matéria-prima indispensável à evolução de pessoas e comunidades, era tratado como bem valioso e ficava restrito
aos que detinham o poder nas mãos. A prática não era de todo nova, fincava raízes profundas no rico terreno
xamânico, onde crescia a árvore dos frutos proibidos, aquela que devia ser protegida das pessoas comuns, como
recomendam as lendas.
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 6
Os xamãs, personagens esquisitos, tinham importância capital na vida das pessoas e das comunidades
porque, antes de mais nada, armazenavam a cultura da tribo na cabeça. Apenas eles conheciam todas as lendas e
técnicas de memória. Se, por alguma razão, o bruxo sumisse do mapa, desapareceriam com ele todas as
referências do grupo no mundo, restando apenas o desconhecido, o caos, onde antes havia a ordem na palavra
dita pelo xamã.
Aquele que conhecia as teorias e as práticas, punha -se à frente iluminando o caminho e assustando o
cortejo impressionável. Quem nada sabia e tudo temia, seguia trêmulo a luz salvadora nos domínio s assombrados
pelos terríveis seres das trevas. A ignorância sempre produz monstros.
No lento decantar do tempo e das experiências, graças aos avanços das técnicas agrícolas, como a
irrigação, que resolvia o problema dos terrenos secos, as colheitas se tor navam cada vez mais abundantes.
Com o excedente da riqueza obtida na exploração do trabalho do agricultor assustado e idiotizado, o
sistema encorpava e criava novos tipos de profissionais que deveriam cobrir as carências das operações primárias,
produzindo um ambiente frenético e palpitante, que em nada lembrava o cenário do passado.
O novo espaço de atuação humana contava com a ação coordenada dos administradores, escribas,
comerciantes, sacerdotes, guerreiros, arquitetos, governantes, adivinhos, artífices , pastores, artistas, pecuaristas,
prostitutas, ladrões, vagabundos, generais, ministros, artesãos, entre outros.
O clima psicológico progressista e aberto a novas experiências criou a oportunidade para que o conjunto
confuso de crenças antigas fosse substituído por um sistema teológico completo, que apresentava explicações
precisas sobre a origem do mundo e de todas as demais coisas existentes, surgidas a partir da vontade expressa
de divindades ligadas à terra, à fertilidade, aos fenômenos atmosféricos e aos estados de espírito.
Para facilitar a conversão ao novo sistema de ideias religiosas, criou -se um receituário com rezas,
liturgias, cânticos, rituais caseiros, rituais comunitários, festas e ofícios propiciatórios da boa fortuna, que
preenchiam todos os momentos da vida dos cidadãos.
Hipnotizados pela religião, se os deuses mandassem plantar, eles plantavam. Se mandassem colher, eles
colhiam. Se mandassem crescer e se multiplicar, eles se multiplicavam como animais movidos pelo instinto. Se
mandassem matar, eles assassinavam sem nenhuma piedade. Se mandassem que morressem, eles entregavam
suas vidas com humildade reverente.
Uruk, cidade suméria situada próxima ao Golfo Pérsico, foi a primeira localidade habitada a apresentar
uma inovação que seria exaustivamente copiada por outros povos: o modelo urbano. Nesse modelo, o sistema
social e político organizava-se em torno do templo – símbolo maior da comunidade.
Diferentemente dos aglomerados entupidos, escuros e insalubres de outrora, as cidades urbanizadas
possuíam ruas, avenidas, prédios públicos, centros administrativos, armazéns, residências reais e quarteirões
diferenciados por classes ou ofícios.
A precariedade da organização produtiva e social dos primeiros aglomerados populacionais igualitários, as
protocidades, evoluíram dividindo-se em duas metades distintas e interdependentes. A primeira, a zona rural,
produzia os alimentos, a riqueza básica que nutria a cidade, o sistema e tudo o que nele houvesse. A segunda, no
polo oposto, a cidade, centro urbano administrativo, religioso, cultural, comercial e produtor de bens móveis e
serviços, dos quais a zona rural dependia para sobreviver.
Cada nova ideia, conceito, descoberta, produto, serviço ou resíduo que qualquer das duas partes
produzisse, entrava na sistêmica produtiva do conjunto social, servindo de base à geração de outros produtos,
serviços e resíduos, em moto-contínuo. Em termos sistêmicos, nada se perde, seja uma ideia, um produto ou a
expressão do indivíduo na História.
O modelo urbano se difundia em todos os cantos, bem como o sistema político, econômico e social que o
caracterizava. A passagem da economia de aldeia para a economia urbana centralizou o poder e remodelou o
papel do governante, que passou a ser respeitado como ser especial, capaz de feitos colossais. Empossados como
representantes exclusivos dos deuses, os soberanos tomavam para si a nobre obrigação de imprimir a ordem no
caos terrestre.
A cidade, o ―Paraíso na Terra‖, simbolizava a força sagrada do rei -construtor. Eficiente, a propaganda real
fazia crer que o empreendimento imobiliário se materializava com a energia que descia dos céus.
Conforme se explicava com grande aparato de marketing, a hierarquia divina, que movia as estrelas e
formava o espaço celeste, se refletia na hierarqu ia governante, transferindo o poder cósmico a essa, para que ela
materializasse a ordem sagrada no reino da Natureza selvagem. Desta feita, o exercício do poder egoísta e
irrefreável virava sinônimo de civilização e progresso.
Como a hierarquia divina e a hierarquia governante (o rei e o alto escalão, tidos como sagrados ou
pertencentes ao sagrado) não podiam pegar no pesado nem sujar suas ricas vestimentas, era dada ao povo a
honra de colocar a mão na massa para finalizar o milagre da materialização. Produ zir a edificação e a manutenção
da cidade garantia ao humilde trabalhador o ingresso no sistema do divino. Ao obedecer às ordens superiores, os
gentios se ligavam aos deuses. Na prática, a gentalha estava sendo vergonhosamente enganada e explorada, com
a desculpa de que o que estava sendo construído embaixo era um reflexo da ordem divina que existia em cima.
Desde o florescimento do pensamento mágico, nos tempos das cavernas, os grupos sociais, infantilizados,
se apegavam à proteção de forças e entidades so brenaturais poderosas. Então, quando as cidades foram
pensadas, entregaram-nas aos cuidados dos deuses de origem, tendo um deles à frente, o qual era proprietário
legal do território e de tudo que havia nele. Com o passar do tempo, os deuses protetores das cidades começaram
a competir entre si querendo fazer prevalecer os direitos do mais forte sobre os mais fracos.
Nesse regime que fundia o sagrado ao humano e ao animal, as riquezas do Estado pertenciam à suprema
entidade sobrenatural que, generosa, permit ia que os produtores e os prestadores de serviços retivessem
pequenas cotas da produção ou dos lucros obtidos.
Traindo o vínculo indissolúvel que há entre o indivíduo e seus produtos, os produtores foram levados a
acreditar que a produção humana era obra d os deuses, que ―trabalhavam‖ por intermédio dos homens. Nada do
que o sujeito pensante e agente produzisse de bom e valioso era propriamente seu. Sem o intercurso do divino, os
homens nada podiam e pouco valiam.
Os ―sábios‖ explicavam que a materialização da obra humana ocorria porque fora previamente
determinada pelos seres imateriais, que estavam acima do homem, no além. O produtor humano, como um vaso
oco, não passava de mero veículo do divino que o preenchia e o incitava a produzir. Desse modo, ao homem não
restava espaço para nada, muito menos para o espírito humano se desenvolver. Por todos esses motivos, viam a
riqueza pessoal com maus olhos. O acúmulo de bens, de capital e de provisões representava um sintoma evidente
de expropriação da fortuna divina. Em razão do que, qualquer sujeito abastado poderia ser apontado como ladrão,
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 6
sem que houvesse a necessidade de apresentar provas. Se o tal gajo fosse pego pela vigilância real, iria arder no
paço público, para que todos aprendessem a lição.
Um dia, muito mais à frente no tempo, os ricos também seriam condenados a arder nas chamas violentas
do Inferno, quando ele fosse inventado junto ao Paraíso Celeste, jardim de delícias eternas.
Porém, enquanto essas duas criações ainda não dominavam o imaginário popul ar, para o governante do
Paraíso Terrestre, o cidadão ideal deveria ser fiel, temente aos deuses, servil e, de preferência, pobre, quase
miserável, para provar sua honestidade e ser digno da piedade divina. Pois, se os deuses se zangassem com a
soberba de um ou de outro, toda a sociedade poderia sofrer com a ira das potências supremas.
Ricos, mesmo, só os deuses e seus representantes poderiam ser e parecer. Ainda assim, quando os
soberanos sacerdotes quiseram ostentar mais que o habitual, trataram de mascar ar a situação, introduzindo o
templo no interior do palácio real, que passou a ser a casa do deus e centro natural de convergência de todas as
riquezas do reino.
Depois que a pompa virou símbolo da capacidade real para proteger e alimentar o povo, quanto m ais o rei
aparentasse ser rico e perdulário, mais acreditavam que as riquezas jorrariam sobre os cidadãos, das fontes
produtivas do Estado. Afinal, o rei e o Estado eram uma coisa só. Cretinice coletiva? Não, fé.
No terceiro milênio a.C., enquanto as cidad es-estado mesopotâmicas duelavam por ordem dos deuses
padroeiros, inviabilizando o estabelecimento de alianças estáveis – base da formação das nações – o sistema de
crenças foi acrescido de uma ideia para lá de esperta.
Um soberano semita se autoproclamou ―deus-vivo‖. Note bem, ele não dizia ser Filho de Deus ou seu
representante único. Ele, que era exibido, e tinha um guarda -roupa de fazer inveja, apresentou-se ao respeitável
público como sendo o próprio deus em pessoa. Aquele a quem todos deviam obediênci a cega. Naram-Sin, o
soberano nada ingênuo, era neto de Sargão, o magnífico, fundador do império acádico, um reino efêmero, porém
voraz, que desejou possuir tudo que havia no mundo.
O primeiro império semita sonhava em conduzir filhos -cidadãos obedientes de um só deus pai entronizado,
servos de um só senhor, rebanho dócil de um só pastor. Acad durou pouco. Porém, as ideias, mais resistentes que
os impérios, sobreviveram.
No final do quarto milênio, no norte do continente africano, na faixa de terra fértil q ue ainda margeia o
delta do Nilo e se aprofunda para o interior, rumo às cataratas, regiões essas conhecidas como baixo e alto Egito,
foi inaugurado o primeiro estado burocrático centralizado da humanidade, com estrutura estável e duradoura.
Segundo contam as lendas que continuam voando com as areias do deserto, por volta de 3000 a.C.,
Menés deu início ao longo período faraônico ao unificar sob uma só coroa os povos que viviam divididos nas duas
regiões.
A estrutura política dessa civilização de origem fluv ial organizou-se sob o modelo fixo da teocracia
absolutista. No cume da pirâmide social reinava o faraó, monarca absoluto de natureza divina, responsável por
transferir a maat do Universo para o plano terreno. Disso dependia a continuidade dos ciclos: as c heias do Nilo, as
chuvas, as colheitas, os nascimentos, as realizações humanas, enfim, tudo.
As crenças egípcias mais antigas contavam que, no início, só existia Nun, o oceano caótico sem começo
nem fim. Em determinado instante, vindo do nada, surgiu, sobr e as marés agitadas, uma duna piramidal encimada
pelo Sol (Rá). A luz sagrada correu rápido, plasmando formas que foram colocadas no seu devido lugar. Fez -se a
ordem (Maat), nasceu o Universo.
No Império Egípcio, logo abaixo do trono real, escorando -o com a força ameaçadora das crenças
religiosas e das armas, acomodavam -se confortavelmente os sacerdotes e os generais. O restante da pirâmide era
preenchido pela população em geral. O país pertencia ao soberano que dispunha das terras, das riquezas e das
gentes como bem entendia.
Entronizado na condição de deus encarnado, e representante exclusivo das potências supremas, o faraó
assegurava sua soberania exercendo com punhos de aço a chefia da política, da religião e do exército. Sua
vontade era lei inconteste e deveria regular todos os aspectos da vida dos súditos, nessa vida e na outra. Depois
de morto, a alma imortal do faraó rumaria para o céu, levando consigo seus pertences e favoritos para servi -lo no
além.
Não havia separações entre a figura do faraó, o Un iverso e o país. Quem ousasse atentar contra a pessoa
do faraó, o pior dos crimes do antigo Egito, deveria receber os maiores castigos nessa existência e na outra, por
ter colocado a permanência do reino e do Todo em risco.
O complexo sistema faraônico durou três mil anos, produziu 31 dinastias, acomodadas em três períodos
históricos distintos: o alto império, o médio e o baixo império. Entre essas etapas, houve dois períodos
intermediários, marcados por profundas agitações.
A glória dos faraós findou-se com a queda da rainha Cleópatra, última reinante da casa dos gregos
Ptolomeus, em 29 a.C., após a derrota da batalha naval na baía do Áccio, contra o exército romano, comandado
por Otaviano, futuro Augusto, pai da Roma imperial. Em nome da Pax e contra a des ordem, a cidade eterna ocupou
o centro do Universo. No trono, primeiro o imperador, após a queda do império, seguiu -se o Santo Papa, o
guerreiro da cristandade. E tudo aquilo que não deveria ter vingado no solo fértil, pelo bem da humanidade,
cresceu, multiplicou-se e transformou-se em algo desprezível.
As guerras representam a produção de pessoas perturbadas que utilizam a maravilhosa mente humana da
pior forma: sistematizando destruições contínuas, em modalidades variadas, com requintes de crueldade
demoníacos.
O bicho-homem é o único ser natural que vive em todos os climas, que produz o fogo, as artes, as
ciências, que reza para deuses inexistentes e que compraz -se em destruir sua espécie e o meio ambiente em
guerras, revoluções ou simplesmente agindo em nome do progresso, da liberdade, da fraternidade e da igualdade,
como cidadão obediente e temente àqueles que o protegem no céu e na Terra.
E pensar que tudo começou com o pobre primitivo pré -histórico sentindo-se oprimido, angustiado, pequeno
interiormente e sonhando com dias mais felizes no futuro. Histórias...
Embora os níveis de evolução física e intelectual dos hominídeos pré -sapiens sapiens sejam variados,
tem-se a impressão de que a história da cultura humana continua sendo fiada, de geração em ger ação, com um fio
único, há milhões de anos, sem que sejam feitas críticas rigorosas quanto à qualidade do material. Quando muito,
de tempos em tempos, mudam-se as aparências e algumas normas sociais, mas nunca se desce fundo, atingindo
os núcleos basilares da mentalidade humana.
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Da noite negra das Eras primitivas, até os nossos dias modernos, tem -se aproveitado praticamente tudo
que vem sendo coletado e guardado nos balaios caducos da cultura do animal -humano.
Até quando, os donos da História, os homens e a s mulheres que a constroem, serão vítimas dessa total
falta de consciência? Dessa falta de sabedoria para separar o joio do trigo?
Os indícios arqueológicos contam que, em muitos aspectos, o hominídeo da atualidade continua
semelhante em essência aos antepassados mais próximos da condição animal. Esquece -se que os seres
irracionais sofrem para sobreviver.
―O cenário natural envolve e emociona quem busca a beleza no que há para ser
apreciado pelos 5 sentidos, como o céu azul -turmalina, o Sol quente e dourado, os pássaros
que rabiscam lindos arabescos no ar, as matas verde -esmeralda, as flores que explodem em
cores perfumadas, os frutos maduros prontos para serem saboreados, os rios cintilantes que
cantam e dançam, os mares enamorados pedindo para lamber os c orpos suados. As emoções
afloradas convidam ao romance. Porém, todo cuidado é pouco, as aparências enganam e
traem os sentimentos mais finos. Movidos pelos instintos, muitos se perdem em dramas
inesperados.‖
(Caio Ares)
Na Natureza, os comportamentos dos seres vivos são fortemente influenciados por estratégias de
confronto. Como Darwin observou, todas as espécies estão fadadas a participar da luta do forte contra o fraco para
tentar garantir a segurança, a satisfação sexual e a alimentação diária.
Os jogos de combate, baseados no choque de forças, são primitivos e pouco funcionais, uma vez que
produzem traumas e perdas em larga escala. Entretanto, eles servem de fio condutor para unir todas as criaturas
terrestres na mesma macrodinâmica comportamental e pro dutiva, independente das diferenças que existem entre
os integrantes.
À medida que o homem evolui racionalmente, os padrões menos elevados da Natureza deixam de
influenciá-lo. Aliviado do peso imposto pela animalidade, ele passa a sofrer cada vez menos par a viver no planeta.
Em suma, o repertório lúdico do reino natural contém jogos ruins que podem modelar o estilo de vida das
criaturas movidas pelo instinto e dos homens, quando eles se comportam e pensam de modo irracional.
Então, embora os sapiens sapiens sejam os seres mais evoluídos do planeta, a maioria tem se perdido em
jogos medíocres que os impedem de alcançar os estágios superiores da consciência: guerras, revoluções, revoltas,
rebeliões, greves, guerrilhas, atentados e todas as modalidades de lutas corporais, pessoais, ideológicas, políticas,
sociais, religiosas, etc. Nos jogos verdadeiramente humanos, não existe espaço para lutas, conflitos, confrontos e
choques.
Para o mundo dos homens, os conflitos representam a diversão típica e doentia de perso nalidades
malcriadas e mal educadas que tiveram o desenvolvimento mental comprometido desde cedo.
Esses indivíduos intelectualmente assistêmicos, por mais que façam, jamais gerarão soluções sistêmicas
e felizes, pois suas relações de vida são fruto de uma luta interior e exterior contínua, por todas e quaisquer
causas.
Por essa razão, para o adulto evoluir por intermédio das ligações que mantém com o mundo, deve
conservar ativos os processos interiores e exteriores que o levam a comportar -se construtivamente. Tanto que,
para os indivíduos plenamente humanizados, vencer na vida – o jogo do sucesso e da realização pessoal plena –
deixa de ser uma batalha entre desiguais, como acontece com os inumanos assistêmicos, para transformar -se em
um prazeroso jogo de parcerias construtivas, em que o adulto bem -nascido, bem-criado e bem-educado participa
com inventividade, curiosidade, alegria, responsabilidade produtiva e sensibilidade apurada.
Do ponto de vista tático, as guerrilhas são mais antigas que as guerras. Assa ltos de bandos são comuns
entre os animais e é possível que os hominídeos os tenham praticado regularmente desde sempre. A conceituação
moderna deriva-se da resistência das tropas irregulares espanholas durante a Guerra Peninsular Napoleônica
(1808-1813).
A partir de então, as guerrilhas têm-se multiplicado, de braços dados com o terrorismo, nascido em 1793,
durante a Revolução Francesa. Elas caracterizam -se por ataques-surpresa de bandos autônomos, frequentemente
comandados por líderes populistas que fanat izam as pessoas ignorantes, imprimindo-lhes imagens idealizadas na
mente por meio das mesmas velhas promessas de sempre.
Diferentemente do que os manipuladores sociais pregam há milhares de anos, não existem soluções
definitivas, a não ser na morte, quando cessam os pensamentos e os jogos mentais.
É normal que o sistema cerebral, eternamente interessado em tirar mais prazer do entorno, procure por
soluções efetivas que resolvam as relações do sujeito com os seres, as coisas e o mundo. Se o indivíduo for
saudável em termos psíquicos, saberá utilizar esse impulso em favor da construção de relações harmoniosas. Caso
contrário, sobrevém o horror.
Hitler, Lênin e Napoleão, por exemplo, inventaram soluções fabulosas que destruíram milhões de vidas em
cenas do Inferno. Entretanto, nenhum homem provocou tantos desastres sistêmicos, guerras, mortes e horrores
infernais, quanto Jesus Cristo, com suas promessas e soluções alucinantes.
E quanto a Moisés e Maomé? Que soluções, sonhos e futuros, esses místicos venderam aos seus povos?
Em quais enredos essas pessoas foram obrigadas a entrar por causa deles? Como esses povos estão hoje?
O homem gosta de sonhar com situações maravilhosas, igual faz consigo mesmo, quando se visualiza no
futuro, desfrutando de uma existência mai s feliz e mais perfeita. Como indivíduo, esta qualidade projetiva é
fundamental para sua evolução. Porque, se consegue ver o que quer no amanhã, pode planejar sua trajetória para
materializar seus sonhos de modo consciente e responsável, realizando -se progressivamente como entidade
sistêmica em contínuo estado de construção formal e funcional.
Mas, quando sonha em conjunto com outros, permitindo que seu espaço imagético interior seja invadido
por ficções projetadas por líderes desonestos, passa a fazer part e da massa sem vontade e destino próprio, pronta
para ser imbecilizada e explorada.
Não há líderes oportunistas que não tenham liderados à altura. Os prêmios que estão em jogo são
imperdíveis: a vida eterna, a Terra Prometida, o Nirvana, o Paraíso Terrestr e, o Paraíso Celeste, a libertação do
Karma, o domínio do mundo, 100 virgens esperando no além e outros tesouros tentadores.
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 6
E o que é exigido em troca para se ganhar essas prendas maravilhosas? Quase nada, apenas as almas
dos indivíduos, como só os melhores demônios seriam capazes de pedir, enganando os desprevenidos que, de
qualquer jeito, não valem muito.
Por conta dessa jogatina desenfreada, é muita ingenuidade ou leviandade achar -se que a massa é pobre
vítima indefesa daqueles que ela se põe à mercê pa ra guiá-la, protegê-la e sustentá-la em suas necessidades e
desejos. Entre ambas as partes, líderes maquiavélicos e massas comandadas, estabelece -se uma relação
oportunista que funde os interessados em um único sistema residual, com propósitos de exploraçã o mútua e além,
por tempo não definido.
Como demonstra a História, as gentes quebram os vínculos sociais estabelecidos e se lançam em
ocorrências graves quando opositores do sistema vigente lhes oferecem opções de vida mais vantajosas, mesmo
que irreais. Trotski observou: ―A mera existência de privações por parte do povo não basta para provocar
insurreições; se bastasse, as massas sempre descontentes com sua situação, estariam sempre em clima de
revolta‖. Sofrimentos e miséria, portanto, não são suficientes para derrubar regimes políticos e religiosos.
Para se pôr o edifício social abaixo, deve -se destruir as imagens fantasiosas que os poderes instituídos
implantaram na mente da população impressionável. O povo deve ser levado a compreender, de uma vez por
todas, que o futuro maravilhoso que lhes prometeram não existe, é ficção, fraude.
Contudo, para que as massas se mantenham suscetíveis às rédeas, enquanto lhes destroem as
esperanças antigas, deve-se criar outra miragem impressionante para que as pessoas po ssam se prender a ela.
Entretanto, é preciso ter cuidado com o processo de câmbio da manipulação social. Pois, quando o povo
percebe que foi enganado, enfurece-se e passa a destruir os ícones com a mesma facilidade com que os havia
obedecido, adorado e enriquecido.
O princípio da débâcle final da monarquia francesa, nascida de um conchavo com a célebre Igreja Católica
deu-se quando o público se viu soterrado por uma avalanche de publicações estrangeiras e nacionais sobre a vida
privada da família real e da aristocracia, em fins do século XVIII.
Pela mesma época, oportunamente, os pensadores burgueses e a alta nobreza capitalista construíam a
imagem de um mundo perfeito e mágico, produzida sob medida para ser desejada pela população descontente.
Mais do que política, ideológica ou econômica, a principal batalha dos líderes revolucionários foi travada
no campo das imagens mentais. De um lado, Luiz XVI, igual aos seus antecessores, procurava manter o respeito
do povo fabricando milagres e prometendo a ordem cont ra o caos. No polo oposto, os iluministas avant-gard
propunham o início imediato da construção do novo Paraíso Terrestre, em pleno solo francês, com Liberdade,
Igualdade e Fraternidade.
Para azar do pobre monarca, ele iria enfrentar a oposição com os cofre s e os celeiros vazios, a década de
1780 trouxe invernos rigorosos. A produção agrícola sofreu perdas monumentais. O povo passava fome. Na época
da Revolução Francesa, o país contava com 25 milhões de pessoas, 90% delas vivendo na zona rural, em situação
mais do que precária. O sonho virava pesadelo.
Ao longo de 54 anos de reinado (1661-1715), Luiz XIV investiu na construção de um reino de sonho e
desejo que deveria durar por muito tempo, para si e para seus descendentes, como se fosse um maravilhoso dia
ensolarado que custa a se findar.
Mas, agora, em fins do século XVIII, nuvens negras de ódio apagavam a luz do céu azul e ameaçavam
desabar sobre quem estivesse em terras francesas. Vivo ou morto, ninguém seria poupado dos perigos à vista. O
idílio era coisa do passado.
Ah! O passado..., que dias gloriosos foram aqueles, quando a França viu surgir o mais iluminado dos seus
reis...
Como um único homem pôde fazer tanto em tão curto espaço de tempo? De cetro em punho, ele fez a
França virar outra, como por encan to.
Quando Luiz XIV ascendeu ao trono, na condição de primeiro entre seus pares, herdou uma posição
mantida às custas dos achaques que os nobres e os clérigos praticavam contra os soberanos, desde o século V
quando o reino foi fundado. Se vossas altezas nã o satisfizessem a gula pantagruélica dos gananciosos,
alimentando-os com bens, privilégios e honrarias, a coroa rolaria das cabeças coroadas.
Nesse sistema social sórdido, no qual os mais privilegiados lançavam mão da chantagem e do assassinato
para sobreviver e prosperar, o povo era voto vencido e seguia qualquer um que lhe oferecesse uns trocados ou
diversão gratuita.
De temperamento arrivista, sensível à baderna e à carnificina, o francês, como todo bom bárbaro, deixava se dominar facilmente pelo rufar das paixões violentas, como aconteceu na semana de 23 a 30 de agosto de 1572,
*
data em que Paris tingiu-se de sangue. A matança desenfreada, conhecida como a ―Noite de São Bartolomeu‖ ,
começou no interior do palácio do Louvre, por ordem de Carlos IX, contra os protestantes que almejavam derrubar
o governo e tomar o trono. Com a coroa em risco, o rei católico resolveu a questão a golpes de punhal.
Após o cheiro de morte impregnar os salões reais e os bairros de Paris, o conflito espalhou -se pelo país
inteiro. Católicos e protestantes se enfrentavam como bandos de animais ferozes.
A luta perdurou por 30 anos, com altos e baixos, e foi parcialmente resolvida com a assinatura do Édito de
Nantes, em 1598, por Henrique IV. Em 1685, Luiz XIV revogou o tratado que co nferia liberdade à Igreja Reformada
e expulsou os protestantes do território francês, pondo fim às pretensões dos reformadores. Eles obtiveram
permissão para retornar ao país, em 1787, dois anos antes de explodir o Terror, na Revolução Francesa.
A Reforma nasceu na Alemanha, em 1517, no dia em que Lutero pregou 95 teses na entrada da igreja de
Wittenberg, destinadas a desafiar os interesses da instituição que produziu a ordem feudal.
Durante o desenrolar da história cristã, igual acontecia nas sociedades pa gãs da antiguidade, as pessoas
de fé em Cristo temiam ser e parecer ricas, por medo de arderem nessa vida e na outra.
Mas tudo mudou quando Lutero inverteu os valores que a sociedade feudal emprestava à riqueza e à
pobreza. Segundo os ensinamentos do cléri go alemão, Deus, o Pai mais do que justo, recompensa as almas
virtuosas com uma existência de riquezas materiais, da mesma forma que condena os impuros e os pecadores com
a miséria e o sofrimento.
Em um só golpe certeiro, os pobres deixavam de ser os queri dinhos do altíssimo e levavam um belo pé no
traseiro maltrapilho.
*
O filme Rainha Margot, dirigido por Patrice Chéreau e estrelado pela inesquecível Isabelle Adjani e por Daniel Auteuil, em 1994, traz-nos um
retrato bastante fiel dos fatos ocorridos na França à época da “Noite de São Bartolomeu”, em 24 de agosto de 1572.
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A nova Boa Nova luterana apareceu exatamente no momento em que a Europa fervilhava com as
expectativas de lucro certo nas terras conquistadas e a conquistar no Velho e no Novo Mundo.
Às favas com os ideais cristãos de humildade e pobreza, o dinheiro prometia correr solto, como nunca se
vira antes, e nenhum crente parecia se importar em pegá -lo com as mãos sujas de sangue inocente. Diante do ouro
e das riquezas abundantes, os cordeiros de Deus viravam lobos famintos e endemoniados.
A navegação abriu os mercados mundiais e alterou a configuração dos mapas geográficos e mentais. As
circunstâncias excepecionais que pegavam de surpresa as Sagradas Escrituras, que nada falavam do novo mundo
recém-descoberto, exigiam a formulação urgente de novas explicações sobre a organização e o funcionamento das
coisas no plano universal.
Lutero e Calvino foram espertos e agiram rápido. Viraram o mundo cristão pelo avesso, simplesmente
mudando as regras para a conquista do prêmio máximo da cristandade: o ingresso nos céus. Da noite para o dia,
despejaram os miseráveis do Paraíso e revenderam o espaço desinfetado aos ricos e aos hipócritas.
Pela nova fé, batizada de Protestante, o mesmo Pai, que antes amava os pobre s e condenava os ricos ao
Inferno, agora queria que seus queridos filhos fossem pródigos e poderosos como Ele. Os herdeiros aproveitariam
da boa vida cá e, depois, poderiam desfrutar de merecidas férias eternas ao lado do Criador, no belíssimo Resort
Celeste, lugar de gente ―escolhida a dedo‖.
O Evangelho Protestante foi aceito de chofre por milhões de homens e mulheres que precisavam justificar
a vontade de aparecer e a ânsia incontrolável de acumular bens materiais e capital, perante os juízes da Terra e do
Além.
Na Europa dominada pelo catolicismo, a burguesia encontrou na nova direção espiritual os argumentos
necessários para combater o sistema feudal e o controle absoluto dos reis. As Sagradas Escrituras reinterpretadas
abriam brechas importantes para que os emergentes penetrassem no restrito círculo do poder aristocrático, sendo
recebidos de igual para igual, com a aprovação de Deus e de Jesus Reformados.
Quanto a Luiz XIV, ele não vivenciou os terrores da ―Noite de São Bartolomeu‖ (passada décadas ante s de
seu nascimento), mas sofreu, na carne, os perigos da Fronda. Dos dez aos quinze anos de idade, o futuro rei dos
Franceses deve ter rezado todos os dias para que ele e sua mãe, Ana da Áustria, não fossem assassinados. Com
exceção do Cardeal Mazzarino, provável amante da rainha-regente, mãe e filho não podiam confiar em ninguém.
Os ricos tinham recursos para comprar a revolta, os pobres ofereciam -na em cada esquina escura e mau cheirosa.
Assim era a França.
Quando assumiu o poder em 1661, aos 22 anos de idade, após a morte do querido Mazzarino, se quisesse
sobreviver, Luiz teria de domar, sozinho, aquele povo venal, dividido e apaixonado. A tarefa era quase impossível.
De estatura baixa e compleição física insignificante, o jovem começou por investir maci çamente na construção de
uma imagem pessoal de caráter e aparência divinas. A mensagem era clara: como um deus vivo, ele criaria um
novo mundo, impondo uma nova ordem.
Se tudo desse certo nos planos do monarca visionário, em breve, o mundo, a humanidade e os deuses se
renderiam ao novo classicismo francês. O estilo Luiz XIV deveria ser símbolo de poder e sofisticação. Um
verdadeiro marco na história das artes e da civilização humana.
Ao jovem e ambicioso rei, portanto, não bastava ser tomado como santo mila greiro e bom guerreiro
humilde, igual aconteceu com os que o antecederam no cargo, para ter o poder reconhecido pelo aval
comprometedor de Roma, dos nobres e do povo.
Por trabalhar com o imaginário popular, há milhares de anos, a política, a magia, a relig ião e o marketing
se mesclam e se confundem nas técnicas de persuasão e de controle social. Nas mãos hábeis do grande feiticeiro
real, Luiz XIV, a invenção do requinte ―tipicamente francês‖ e da etiqueta social ( etiquette) foram utilizados como
instrumentos de controle social. A última moda em magia para mudar humores e valores. Trés chic.
De uma hora para outra, a nação passaria a investir no requinte dos usos e dos costumes. Vulgares de
espírito, os súditos, por fora, pareceriam finos e educados, embora l embrassem as mundanas que mudam de
aparência e expressão, mas que deixam sérias dúvidas, se, por acaso, por dentro, deixaram de ser o que sempre
foram. Eles ainda aprenderiam um dia, que o verniz novo precisa envelhecer, geração após geração, para ganhar
caráter e respeito.
No menor tempo possível, o pensamento e o comportamento dos súditos seriam remodelados com o
consumo e a aceitação de novos ritos de corte, novos símbolos de adoração, novos trajes, novos acessórios,
novos adereços pessoais, novos penteados, novos objetos de decoração, novos talismãs de força e proteção.
Sem que os súditos-consumidores percebessem, sob a aparência encantadora do novo conjunto de usos e
costumes à moda Luiz XIV, meticulosamente planejados e confeccionados, escondiam -se mensagens subliminares
que forçavam as mentes dos sujeitos pensantes e agentes a se renderem às ordens e aos caprichos do rei.
Hipnotizados pela nova moda reinante, todos se entregavam de corpo e alma ao grande xamã coroado.
Querendo provar que era uma entidade poderosa, produtora de prodígios sem fim, o soberano dos
franceses se metamorfoseava todos os dias, na frente de todos, maravilhando -os com seu dom extraordinário. Ele
realizava com elegância e mostrava-se com orgulho, desde o despertar até o adormecer , para quem quisesse
conferir, fosse cidadão francês ou estrangeiro. Com um toque mágico, aquilo que era feio e torto virava um
deslumbramento digno de aplausos e ós. Ele possuía a luz e merecia ser seguido onde quer que fosse.
O problema da baixa estatura foi resolvido com saltos altos, inventados e estreados por sua majestade em
pessoa. A cabeça irregular adornou -se com perucas de cachos lustrosos e penteados altos, que lhe emprestavam
um quê de portentoso. No rosto sem graça, uma fina máscara de cosmétic os redesenhava os contornos e escondia
as imperfeições da cútis. Sobre o corpo miúdo, os trajes reluziam como joias preciosas. Perfumes, peles, rendas,
sedas, veludos, brocados, brilhos e adornos de valor incalculável eram usados com maestria.
Para servirem de palco aos novos modos e modas, plasmaram palácios de sonho, com jardins e
decoração à altura. O ambiente tinha de ser mais luxuoso e respeitoso do que em Roma, o qual servia para
emoldurar a imagem divina do Santo Papa.
Luiz XIV contou com a colaboração imprescindível de Jean-Baptiste Colbert, seu braço direito e principal
ministro, quando se pôs a financiar o desenvolvimento de um sistema de manufaturas e de oficinas dependentes da
coroa, destinadas a produzir artigos de luxo e de alto -luxo a um nível nunca visto na Europa até então.
Os melhores artistas e artesãos nacionais disponíveis, somados a outros vindos do estrangeiro:
tapeceiros, pintores, marceneiros, ourives, vidraceiros, artífices do bronze e da prata, estofadores, joalheiros, etc.,
se reuniram para criar um conjunto coeso de produtos e de obras -primas que refletiam a grandiosidade do poder
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 6
real e exaltavam a figura gloriosa do soberano da França. À vista do mundo, Luiz XIV se exibia como o Rei -Sol. Ao
tempo, com propriedade, cunhou a frase que o explicava perfeitamente: ―O Estado sou Eu‖.
Sentado confortavelmente no centro do sistema nacional francês, o Rei -Sol organizava e controlava os
aspectos produtivos da França, iluminando tudo e todos, ao mesmo tempo em que ameaçava as forças vivas do
continente e do além-mar. Pelas armas ou pelo comércio dos magníficos produtos franceses, Luiz influenciava a
cultura e os hábitos dos povos em que seu fulgor tocava.
Como um dia arderam Persépolis e Cartago, inimigas fidagais de gregos e romanos, agora a rdiam sob a
lei do mais forte, as cidades que se opunham ao soberano refinado. Em redor das imensas fogueiras gritantes, os
guerreiros bem vestidos cantavam e dançavam, lançando terríveis sombras contra os espectadores atônitos e
apavorados.
No entanto, por mais forte que seja a magia política, um dia ela acaba. O Estado era Luiz e esse sofreria o
desgaste do tempo com ele. Ao término de 54 anos de reinado, o sistema artificial criado pelo mago -rei
demonstrava sinais de envelhecimento. O povo, as terras cul tivadas, as modas, os modos, as artes e o cofre
público estavam exauridos com as exigências do governo. A França expandira em todos os sentidos, inclusive
anexando territórios e redesenhando os limites do reino. Porém, as forças vivas da nação haviam traba lhado no
limite do possível.
Para que o modelo continuasse existindo e progredindo, era necessário que o próximo feiticeiro real
revigorasse o sistema, implementando reformas profundas que rejuvenescessem as partes do conjunto social e a
sistêmica no geral.
Infelizmente, após a morte do Rei-Sol, o novo rei, Luiz XV, não raiou perante o povo para continuar com o
encantamento fulgurante, em vez disso, preferiu esconder -se nos braços e no interior das coxas das amantes, sob
o enxoval licencioso do Rococó. O maravilhoso sonho um dia sonhado avançava para o fim sombrio.
Como Jean-Antoine Watteau, pintor do período, denunciou com grande perspicácia em seus trabalhos, os
rostos estão narcotizados, os olhos não se encontram, os corpos elegantes perderam a alma, no a r, falta algo mais
além do oxigênio. Nas telas, os ambientes são insustentáveis, reclamam por vida, por sangue correndo nas veias,
por gente de verdade, por revolução. Será que Watteau previa a vinda do inevitável?
Morto Luiz XV, ergue-se outro mago-rei ainda mais medíocre que o falecido. Em comparação com Luiz
XIV, o novo soberano dos franceses, Luiz XVI, era infinitamente menos brilhante e menos cuidadoso com a
produção das imagens que deveriam ser impressas no imaginário popular para sustentar a monarqui a e os
agregados desta. Quanto à Maria Antonieta, a prostituta austríaca, como era conhecida, contribuiu de forma
desastrosa à confecção das cenas da corte.
Durante o curto reinado, o jovem casal real conseguiu dissipar o pouco que restava da aura mágica d e
poder e respeito que sustinha os soberanos em seus ambientes. Os figurinos, os usos e os costumes imprimidos
pela corte esbarravam perigosamente no exagero e no gosto duvidoso que, confrontados com a força que emanava
das modas e dos modos do passado áureo, transmitiam um ar de deboche.
Enquanto isso, os antigos ritos da corte, pesadamente marcados para controlar os ânimos ao máximo,
perdiam os elementos pedagógicos e corrompiam -se na importância dada às festas e às novas danças de salão,
que juntavam os pares e os grupos para todos os fins, dos prazeres da cama às conspirações mais desbragadas.
Ao fim do longo período, que se iniciara com Luiz XIV, a corte de Luiz XVI e de Maria Antonieta tornara -se
uma caricatura risível e obscena do esplendor que um dia fora reverenciado em todo o mundo.
Manipulados há séculos, desde a fundação do reino, pela encenação mística e mágica dos diferentes reis,
com a fragmentação dos rituais e das imagens criadas para serem adoradas e respeitadas, as gentes acordavam
do transe e descobriam que os soberanos nunca tinham sido seres divinos capazes de garantir a fartura, a saúde e
a segurança nacional, como faziam crer. O povo se sentia enganado.
O sagrado virava profano e o profano mundano demais para ser aceito. A desfaçatez se espalhava e
envolvia a todos. ―A Vida Privada de Luiz XV‖ e ―Casos da Condessa Du Barry‖, entre dezenas de outros livros,
jornais e panfletos subversivos contavam, com a picardia típica das edições de fofocas escabrosas, que as cenas
domésticas da realeza e da alta nobreza não eram diferentes daquilo que se passava no interior dos bordéis, das
tavernas e das alcovas mais infectas.
Os poderosos eram retratados como pessoas de carne e osso, ordinárias até a medula. A corte real,
devassa e corrupta, encampando príncipes, duques, condes, bispos, ministros, cortesãos, cidadãos, aldeões e
quem mais dela se aproximasse, era descrita como sendo uma extensão natural dos vícios e dos apetites dos
soberanos. Por dentro e por fora do palácio real o reino estava apodrec ido.
A fratura da boa imagem francesa, de alto a baixo na escala social, expôs a nu e a cru, aquilo que todos
procuravam esconder com pó de arroz e rouge, atrás das cortinas de seda brocada, dentro das gavetas dos móveis
preciosos, debaixo das camas cobertas de peles e adamascados, e também no interior das igrejas, dos prostíbulos,
das casas de tijolos e dos casebres de barro e sapé. Os corpos vestidos de joias, de púrpura, de algodão ou de
trapos já não valiam muita coisa.
Com tudo posto a descoberto, o povo não aguentou a violência do confronto com a miséria da realidade,
um dia feita de sonho e desejo. Diante dos graves problemas sistêmicos que exigiam soluções imediatas contra a
fome, a bancarrota e o perigo eminente da guerra civil, cada um esqueceu da parcela de culpa pelas desgraças
nacionais e acabou achando que valia mais a pena arriscar a própria cabeça e a alheia na construção do Paraíso
pós-Luízes, com os ideais mágicos do Cristo.
Se a Itália desenterrara ossos, obras -primas e os ideais clássicos para criar o Renascimento e o Barroco,
a Revolução Francesa queria reinventar a França enterrando cabeças.
A magia dos soberanos franceses se voltava contra todos os cidadãos -figurantes do sonho alheio. Era
hora de cada um deles pagar pelo fim do encantame nto, muitos, debaixo do fio afiado. Final do último ato, início da
próxima atração histórica.
Nesse caso, de pronto, havia novos produtores de sonhos em ação. Sendo assim, mais uma vez na
História da Humanidade, as massas se moveriam às cegas, porque algué m lhes prometia o acesso a uma realidade
mágica.
Dessa vez, a ilusão não estava sendo vendida ao povo impressionável, como algo existente ou factível no
mundo dos espíritos eternos ou no meio da poeira do deserto, no céu, no além, no fim do oceano, debaixo da terra,
sob o mar, depois da linha do horizonte ou em um lugar secreto, reservado a poucos escolhidos. No fim do século
XVIII, em pleno apogeu da Era das Luzes, a ficção era prometida como produto final da Revolução Francesa.
Como é comum a esses movimentos sociais, os organizadores queriam usar e abusar da massa ignorante,
em benefício próprio, sem ter a menor intenção de realizar os desejos da ralé, como prometiam. Se muitos
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 6
morressem pelo caminho sangrento da revolução, tanto melhor, abririam espaço p ara o florecimento de gerações
obedientes ao comando da nova direção ideológica.
Voltaire era contrário à revolução, achava a gentalha interesseira, traiçoeira e violenta demais para se
confiar. O velho filósofo ladino estava certo. Estima -se que somente entre 1793-1794 foram julgados, torturados,
condenados e executados mais de 30 mil franceses de todas as classes sociais, tidos como ―inimigos do povo‖.
Descobriram, a duras penas, que toda promessa paradisíaca esconde as sementes do Inferno nas
entranhas. Dezenas de castelos, aldeias, palácios, casas e casebres eram incendiados ao som da turba que
gritava: ―Mata, mata, mata!‖. Nas cidades agitadas, as ruas viravam matadouros públicos. Nas cadeias lotadas,
assassinos compartilhavam as celas com as futuras ví timas. Uns acusavam os outros, clamando por um frenesi de
sangue e vingança.
Não havia um só canto do reino onde alguém pudesse se esconder em segurança. Findara o tempo do
refinamento aparente. Como bichos que haviam sido disfarçados, ao rasgar das fantas ias, se lançavam à refrega
como feras famintas.
O sonho irresponsável, imprimido nas gentes por Robespierre e os outros iluministas portadores das
―Luzes‖, libertou forças primitivas incontroláveis. Até mesmo os líderes mais destacados, aqueles que arquite taram
e movimentaram a revolução, tiveram as cabeças cortadas na guilhotina.
A França quase foi destruída pela guerra civil e pela invasão das potências estrangeiras, salvou -se no
último minuto, pela ação aglutinadora de Napoleão que, por trás da máscara r evolucionária, maquiada com as
tintas mentirosas da igualdade, da fraternidade e da liberdade, sonhou um sonho grandioso e luxuoso para si, com
consequências trágicas para aqueles que, como sempre, de um jeito ou de outro, perdem -se ao seguir os sonhos
alheios.
Em sua empreitada, o pequeno general corso tentou plagiar as mágicas e os truques de Luiz XIV, porém,
o mundo havia mudado e exigia novos encantamentos. Napoleão, démodé, não se deu conta e o perdeu. Seu
sonho revelou-se um pesadelo trágico, que levou milhões à morte.
As imagens que são fixadas na mente das pessoas por outrem podem conduzi -las à infelicidade ou à
morte, se os sujeitos pensantes não tiverem controle sobre as mesmas ou se não souberem proteger o espaço
holográfico da invasão daqueles que tencionam dominar os pensamentos, as emoções, a força produtiva e, em
última instância, suas histórias de vida, em todas as situações, do começo ao fim.
Há os sonhos, as fantasias, as alucinações, as ilusões, as ficções... Dessas projeções mentais, quais são
factíveis? Quais são simples rascunhos imagéticos e históricos da mente? Quais são resultado de sérios problemas
mentais individuais e coletivos? Os grandes manipuladores conhecem essas diferenças sutis com profundidade.
Quando querem ludibriar e dominar o Outro, usam-nas com precisão, cada uma delas, no momento certo.
Os estratos menos racionais da evolução natural prendem os seres inferiores à roda dos jogos da vida e
da morte, pautados pela dor e pelo sofrimento. Mas há opções de vida mais alvissare iras, em estágios bem mais
acima. Os seres evoluídos escapam dessa terrível sina marcada por problemas de todo tipo, por se envolverem em
jogos sociais e produtivos, com alto nível de racionalidade e qualidade produtiva.
Todas as espécies terráqueas possuem o potencial de evoluir racionalmente, a começar pelo bicho homem, a grande esperança da Mãe-Natureza. A teleologia humana aponta para a realização plena do indivíduo no
tempo e no espaço.
É por meio do crescimento pessoal consciente (certificando -se que os processos mentais estão a salvo da
ação invasiva daqueles que querem manipulá -los), que o homem assegura a liberdade e a evolução dos talentos
particulares. Quanto à tão desejada felicidade, esta provém da competência com que o sujeito encontra soluções
harmoniosas para si e para cada um dos seus relacionamentos com as coisas, os seres e as demais pessoas. Para
auxiliá-lo no processo de ascese pessoal, a mente lhe disponibiliza múltiplos recursos, tais como, o espaço
holográfico para visualizar o que quiser, sob qualquer ângulo físico ou processual, a capacidade de planejar e
estrategiar a execução de projetos e, também, o prodígio de poder sistematizar e solucionar os relacionamentos
produtivos de modo lúdico e divertido. Diferentemente do que ensinam as religiões, Deus não existe e, portanto,
não comanda o destino de ninguém. E, se existisse, de fato e de medida, nada poderia fazer, porque se o fizesse,
destruiria a sistêmica universal, construída por uma rede de causas e consequências racionais precisas .
Se os indivíduos não manipularem pessoalmente seus processos criativos e produtivos, outros o farão em
seu lugar. Para essas dinâmicas funcionarem, basta a ordem de um sujeito qualquer. É essa sensibilidade extrema
que torna o animal humano vulnerável à ação inescrupulosa dos magos, dos religiosos, dos políticos e de todos
aqueles que tentam seduzir, amedrontar e anular os sujeitos pensantes e agentes, para usá -las em benefício
próprio, como animais exploráveis.
Há milhares de anos, os manipuladores das massas conhecem as técnicas que dominam os mecanismos
delicados que produzem as histórias e as imagens no interior da mente humana.
Os ensinamentos secretos (técnicas de manipulação), os frutos mais cobiçados da árvore do
conhecimento, são proibidos aos que devem ser manipulados, claro. Essas informações privilegiadas destinam -se
às personalidades escolhidas com rigor, que deverão ser fortes, espertas e imorais, para poderem dominar os
ignorantes impressionáveis, sem dó e sem dramas de consciência. Nas sombr as mais veladas, totalmente
protegidos dos olhos e dos ouvidos curiosos, o velho sacerdote ensina ao novo como ludibriar as mentes alheias,
para conquistar as almas e os pertences dos homens descuidados.
O controle dos segredos sagrados é exercido pelos es colhidos dos escolhidos, amparados por instituições
fechadas, contíguas aos poderes que governam as sociedades planetárias. Dentro e fora do Planeta, o lixo se
acumula.
Por mais incrível que possa parecer, o processo de apropriação da mente alheia é simple s e pode alterar
imediatamente os pensamentos, as emoções, os desejos, os movimentos produtivos, os comportamentos sociais e
a história de vida de uma ou mais pessoas.
Para que o sujeito possa desenvolver-se como criador de si mesmo, ele não pode ser dirig ido por líderes
que prometem uma solução mágica para todos, sejam eles, Lênin, Mao Tsé -Tung, Buda, Jesus Cristo, Marx,
Robespierre ou o flautista de Hamelin que, igual aos outros encantadores, levou milhões ao abismo com seu som
hipnótico.
A história humana atual, frágil e doentia, não comporta mais os messias que tanto sucesso fizeram no
passado nem os movimentos alucinantes que eles produziram e que geraram tantas mortes e destruições.
Os mais inescrupulosos prometeram entregar o Paraíso Celeste na outra vida, sem apresentar
previamente o produto ao consumidor ainda vivo. Bilhões já morreram por causa dessa ilusão, criada para ludibriar
e expropriar as pessoas impressionáveis e pouco racionais.
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 6
Mas será que o Paraíso Celeste realmente não existe?
Para se saber a verdade, basta desmembrar a imagem idealizada, seja ela qual for, em partes menores
com começos, meios e finalidades interligadas em rede. Se todas as secções funcionarem em conjunto, então o
modelo proposto é viável.
Quando o modelo não estiver disponível à análise, como é o caso do Paraíso Celeste, pode -se conjecturar
sobre sua essência, forma e função prováveis, formulando conjuntos de questões encadeadas, como o questionário
que se segue:
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Exatamente, onde está localizado o Paraíso? Qual é sua ext ensão exata?
O solo é de terra? Se não for de terra, de qual material, cor, textura e aparência ele é formado?
O Paraíso tem rios? Quantos rios? Qual é a largura e a extensão dos rios paraisanos? Onde desemboca a
água dos rios? No vácuo?
O Paraíso é um planeta? Se for um planeta, ele faz parte de algum sistema solar ou o Paraíso é uma coisa
solta em lugar algum?
O Paraíso possui mar? Quantos mares há no Paraíso? Há oceanos também? Se os paraisanos forem à praia,
que tipo de trajes usarão?
O que fazem as pessoas e os demais seres durante o dia inteiro e pelo resto de suas ―vidas‖?
Os paraisanos usam roupas? De que tipo? No Paraíso tem moda, grife, tendência ou é algo mais simplesinho,
mais padrão, feito uniforme comunista cubano para evitar a vaidade e a ostentação?
Que tecidos são permitidos?
Que tipos de modelos são permitidos? Quem desenha os modelitos?
Quem produz os tecidos e os modelos?
Tem fábricas, lojas, shoppings, centros comerciais?
Os humanos e os demais ―seres vivos‖ produzem lixo ou resíduos? Se houver lixo, então tem lixeiro e lixão?
Já pensou conseguir ir ao Paraíso para virar lixeiro ou morar perto do lixão?
Quem mora no Paraíso come o quê?
Se eles se alimentam, o que lhes acontece depois da digestão?
Tem papel higiênico ou é como nos tempos bíblicos?
Já que não acontece nada de novo, sobre o que os paraisanos conversam pela eternidade afora?
Quais assuntos são proibidos?
Sobre o que os paraisanos pensam eternamente?
Os paraisanos se emocionam? Que emoções eles podem sentir? Quais emoções el es não podem sentir pelo
resto de suas ―vidas‖?
Desejo sexual pode?
Empreendedorismo pode?
Desejo de mudar de ―vida‖ pode?
Pode-se criar, inventar, crescer e prosperar?
No Paraíso tem música? Quem compõe as músicas? Que tipo de músicas tocam no Paraíso? Qu e tipo de
músicas são proibidas?
Os paraisanos dançam? Onde dançam? Que danças são permitidas? Dançar coladinho pode?
O Paraíso possui animais? Quantos e de quais espécies? Tem dinossauro? Tem pernilongo? Tem urubu,
pulga, aranha ou chato? Ué, por quê? Poi s não foi Deus quem fez o coitado do chato e a pobrezinha da pulga?
O Paraíso tem plantas, flores, frutos e brotos? Quantas e quais são as espécies vegetais paraisanas?
Em relação aos frutos maravilhosos, o que os paraisanos fazem com eles? Os frutos nasce m, crescem e
apodrecem ou se parecem com frutos de plástico, já que no Paraíso nada pode nascer, crescer e morrer, posto
que tudo é eterno e inalterável? Que tipo de ―vida‖ é essa?
E quanto às belíssimas plantas e flores do Paraíso, também são de plástico?
Será que o tal Paraíso é igual a um cenário onde o homem é um objeto de cena que não tem qualquer função
histórica?
No Paraíso o homem é um nada?
Isso é a ―outra vida‖?
Se isso é a ―outra vida‖, então é uma ―não vida‖, de um ―não ser‖, já que não há evol ução, variedade e
movimento natural.
Qual é o tipo de regime político vigente no Paraíso? É democrático, absolutista, comunista ou o quê?
Quem manda por lá eternamente? Alguém pode questionar as ordens do governante eterno? Se questionar, o
que acontece com o reclamante?
Como é a cultura no Paraíso? Quem controla a produção cultural? Quem censura? Como censura?
No Paraíso o tempo passa ou é um eterno nada?
O Paraíso tem noite? Tem dia? Se tem noite e dia, então o tempo passa.
Os paraisanos usam relógio? Tem várias marcas ou é modelo padrão?
As criaturas que moram no Paraíso dormem ou ficam eternamente acordadas feito zumbis? Se dormem, a que
horas se levantam religiosamente, às 3:00? Para fazerem o quê?
Os paraisanos tomam banho? Pelados? Credo, que pecado! Banho juntinhos pode? Nossa! Isso também não é
pecado?
Com essas perguntas básicas e bem-humoradas, como o assunto ridículo requer, é possível saber se o
Paraíso existe e como funciona ou se ele não existe porque não funciona de jeito nenhum. Se ele realm ente existir,
deve funcionar como um sistema em pleno movimento inteligente.
Além do que, e mais importante, para que ele exista de fato e de medida, como um Paraíso prometido e
entregue ao consumidor, é preciso que todos os clientes tenham eternamente a m esma opinião e gosto. Porque, se
apenas um paraisano discordar e for reclamar ao SACP (Serviço de atendimento ao consumidor do Paraíso) de que
o tal Paraíso não é nenhum ―Paraíso‖, então o Jardim das Delícias deixa de ser unanimidade universal para se
tornar um local como outro qualquer, com gente reclamando insatisfeita, cheio de pobres, de gente ignorante, de
santos, de mártires, de profetas mentirosos, de mendigos, de prostitutas, de bandidos ―arrependidos‖, de
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 6
manipuladores e outras personalidades palpi tantes que, segundo Jesus de Nazaré, tem vaga garantida no Paraíso
Celeste do Pai. Paraíso?
Cristo prometeu o Paraíso com três palavras: ―humildade, caridade e obediência‖. Mao, Robespierre e
Lênin também. Mao encantou a ralé gritando: ―Comida, Paz e Liber dade‖. Lênin usou: ―Pão, Paz e Terra‖. Os
revolucionários franceses: ―Liberdade, Igualdade e Fraternidade‖. Como muitos durante a história, eles
empregaram a velha técnica de vendas apoiada em três palavrinhas mágicas: nem duas, nem quatro, apenas três.
Se o Paraíso Celeste é uma grande bobagem, então o Paraíso Terrestre também o é?
Não. O Paraíso Terrestre é possível de vir a ser construído racionalmente como um sistema social de alta
performance, desde que as lideranças alucinantes sejam banidas da face d o planeta para todo o sempre. Ontem e
hoje, as sociedades planetárias têm sido usadas para satisfazer os interesses caprichosos dos detentores do poder
religioso e político.
No dia em que os manipuladores inescrupulosos deixarem de destruir a mentalidade h umana para explorar
os sujeitos como bestas apascentadas e produtivas, os indivíduos conseguirão evoluir como pessoas humanas e
passarão a materializar o ambiente humano, o verdadeiro Paraíso Terrestre, lugar de homens e mulheres
racionais, consequentes e responsáveis por seus destinos e produtos.
Aqui termina o velho conflito filosófico ―Fides x Ratio‖ (Fé contra Razão).
E por falar em fé irracional, fé não humana, existe historinha mais sonsa do que a lenga -lenga do
Paraíso? Existe.
―Um belo dia, há mais de cinco mil anos, uns mil, após a criação ter sido criada, o Criador procurou
Abraão para lhe propor um negócio pra lá de tentador. Se o velho hebreu lhe entregasse a alma e passasse a
adorá-lo sobre todas as coisas, ele e seus descendentes herdariam o mu ndo e dominariam os demais povos. De
olho no riquíssimo butim planetário, o patriarca corruptível aceitou as condições propostas e firmou a aliança com o
Todo-Poderoso que atende no balcão de vendas e de trocas do além. O ambicioso Abraão nem se deu conta que
Satã, o fingidor dos mil disfarces, costuma oferecer o mundo para quem o adorar de corpo e alma. Assim nasceu o
Povo Escolhido. Desde então, de reza em reza, de ritual em ritual, de conjura em conjura, de prática mágica em
prática mágica, minuto a minuto, hora a hora, semana a semana, mês a mês, ano a ano, decênio a decênio, século
a século, milênio a milênio, essa gente está à espera do momento em que terão o planeta sob seu comando.
Segundo creem, a qualquer instante deve surgir o Rei -Vingador que lhes trará a vitória final, enchendo-os de glória
e júbilo, sob os corpos dos seus inimigos, em nome do Pai. Amém.‖ Repugnante? Execrável? Inumano? Hipócrita?
Não, fé.
Será que o Demo passou a perna no ancião ambicioso?
Hum... se for assim, essa historinha infeliz tem tudo para gerar consequências medonhas, dignas de quem
a criou.
E você, leitor, já entregou sua alma? O que lhe ofereceram em troca? Este mundo? O Paraíso? Este
mundo mais as delícias eternas do Paraíso? Judaísmo, catolicismo, islamismo, protesta ntismo, budismo,
hinduísmo... As ofertas não param de crescer. Será que você fez um bom negócio? Será que avaliou bem as
opções que estão à disposição no mercado da compra e da venda de almas? Há opções incríveis que satisfazem
todos os gostos e necessidades. É praticamente impossível resistir a tantas tentações milagrosas.
E quanto a Abraão, será que o maligno realmente o ludibriou? Os hebreus são comerciantes notórios. E se
a alma barganhada não valesse muita coisa, no final das contas? Quem teria enganad o quem? Então...
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 7
CAPÍTULO 7
Em termos sistêmicos, a interação inteligente das unidades conduz ao surgimento de uma entidade
conjuntiva, diferente das partes unitárias que a constituem. A soma das partes, então, produz um novo elemento
sistêmico universal, uma nova energia racional e produtiva que vai interagir com o meio. Assim inicia a história de
tudo que há, do Universo, ao cérebro e à mente humana.
O cérebro humano, o mais completo do reino animal, possui algo em torno de 86 bilhões de neurônio s
individualizados, capazes de efetuar aproximadamente 30 mil sinapses (conexões interneuroniais). Foram
identificados cerca de 400 tipos diferentes de neurônios, tais como as células piramidais e os neurônios fusiformes
que, ao que tudo indica, são responsáveis pela sociabilidade, a vocalização, a cognição e a organização de
comportamentos alimentares complexos.
Além dos seres humanos e dos grandes primatas, os neurônios fusiformes foram localizados nos cetáceos
odontocete (com dentes) e nas baleias jubart e, todos animais sociais de grande inteligência.
As propriedades de excitabilidade, de condução e de medição química são específicas do processo de
comunicação dos neurônios, que se ligam formando redes estáveis (modelos mentais), responsáveis pelo conjunt o
de respostas comportamentais do indivíduo, frente às mais diversas situações.
Os modelos sistêmicos configurados pelos neurônios são plásticos e podem ser alterados com o
aprendizado de informações psicoestruturais que interfiram na compreensão que o suj eito possui do mundo – como
um ambiente sensível à ação das leis naturais e à cultura humana –; de si – como agente pensante e atuante –;
das coisas do mundo – como elementos passíveis à força do sujeito e à ação da sinergia que interconecta o que
há, formando o Todo.
A mudança na forma de ver e entender a realidade, leva o sistema cognitivo a criar novas estratégias
operacionais, novos comportamentos, novas maneiras de perceber, de interpretar e de lidar com o meio e, por
conseguinte, a uma nova organização interna e externa.
O encéfalo é supersensível. Se o sujeito absorver informações, imagens, substâncias e conteúdos
destrutivos ou tóxicos, a mente se tornará assistêmica e perderá a capacidade de entender e de trabalhar com os
aspectos racionais do meio responsivo que contém o indivíduo.
As sistêmicas cerebrais e mentais, ambas pertencentes aos sistemas do cérebro e da mente, devem ser
construídas com cuidado e responsabilidade máximas. Cada criança merece ser criada com o mesmo primor com
que são confeccionadas as joias mais deslumbrantes e valiosas. Quando pronto, o produto final deve servir para
maravilhar e embelezar o mundo, com suas propri edades únicas. O ser humano é joia rara e fulgurante. Por essa
*
razão, a maternidade irresponsável é crime que os progenitores cometem contra os descendentes, a sociedade e o
Universo.
A estrutura cerebral humana, fruto da evolução do reino animal como um todo, divide -se em três partes
interligadas, o rombencéfalo, o mesencéfalo e o prosencéfalo.
O rombencéfalo, conhecido por cérebro animal, herança dos répteis, surgiu há 350 milhões de anos.
Comanda o comportamento instintivo e os componentes neurológicos que controlam a sobrevivência física. Com o
tempo, acompanhando a evolução do cérebro, sobre o rombencéfalo, apar eceu o mesencéfalo, responsável pela
produção das emoções, que tornaram os indivíduos mais aptos a reagir aos estímulos dos ambientes.
Por fim, sobre o rombencéfalo e o mesencéfalo, a evolução natural produziu o prosencéfalo que abriga o
córtex cerebral, que recobre o conjunto. O córtex é conhecido como massa cinzenta. Os neurônios corticais não
possuem cobertura de mielina, razão pela qual adquirem a cor acinzentada característica.
A massa cinzenta produz os pensamentos e é responsável pelos aspectos super iores da vida psíquica do
indivíduo. Nas áreas de projeção do córtex ocorrem as configurações e os esquemas perceptivos. Da zona
projetiva partem as mensagens que bloqueiam ou reforçam os influxos efetores, que determinam as respostas
motoras, com íntima participação do tálamo e do hipotálamo.
Então, no encéfalo, como um todo sistêmico integrado e inteligente, estão registrados os comportamentos
e as estratégias operacionais de todas as ordens abaixo do homem.
É esse arquivo, à disposição do córtex cerebral , que leva os animais humanos, no topo da evolução
natural, a entenderem, preverem e suplantarem o comportamento de qualquer ser vivo que esteja sendo analisado.
Os dados obtidos podem ser acessados de forma inconsciente e misturados às informações conscie ntes, formando
padrões comportamentais mais flexíveis e assertivos em relação ao objeto estudado (indivíduo ou grupo).
Há muito, a mente utiliza o expediente de unir o conhecimento pre -fixado (o instinto) ao conhecimento
adquirido nas experiências pessoais do sujeito pensante e agente, com a intenção de organizar comportamentos
mais eficientes e assertivos. A prática pode ser observada ao longo da História Humana, dos caçadores que
estudavam os hábitos da caça variada, aos biólogos modernos que pesquisam os vírus mais impenetráveis, à
*
O homem é uma criatura rara e potencialmente destrutiva. Se não for humanizado, pode vir a se transformar no maior predador da natureza. Sob
esse enfoque, a multiplicação indiscriminada de homínidas inconsequentes e irracionais, pode ser considerada crime contra a Humanidade e os
biomas.
O direito de gerar descendentes deve ser reservado aos indivíduos que detêm meios de garantir a humanização de sua prole. Para tanto, antes de
procriar, os candidatos à progenitura precisam provar à sociedade a qual pertencem, que o casal possui condições sistêmicas precisas: familiares,
ambientais, sociais, físicas, mentais, psicológicas, financeiras, patrimoniais, emocionais e culturais. Nenhum indivíduo deveria ser gerado sem ter
seus direitos evolutivos previamente garantidos. E caso os pais venham a faltar, o sistema de parentesco deve absorver os órfãos, os quais são e
sempre serão parte integrante e indissolúvel desse. Se a família for irresponsável para com seus produtos, a sociedade também o será para com
sua produção.
Nenhuma criança deveria nascer em favelas, cortiços, lares conflituosos ou em meio ambientes avessos à evolução humana. Nenhuma criança
deveria se sentir estranha, não amada, desajustada ou infeliz. Para o bem da Humanidade, nenhuma criança deveria crescer torta ou
desestruturada.
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 7
procura de estratégias para vencê-los. E o homem sempre vence a competição, conseguindo jogar melhor que o
vírus, o parasita e o animal, sem que haja a revanche consciente por parte dos perdedores não humanos.
Todavia, os jogos de vida e morte praticados entre os animais humanos, não possuem soluções efetivas,
como comprova o histórico dos primeiros guerreiros, os povos do Oriente Médio, cujos descendentes continuam
enfrentando-se até hoje, como bichos mal-educados, após milhares de anos.
E o que não deveria ter crescido pelo bem da humanidade, multiplicou -se...
Desde o primeiro sopro de vida, o pequeno homínida consulta o órgão cerebral, por meio de processos
conscientes, inconscientes e endopsíquicos (trata -se de processos diferenciados, ocorridos na zona inconsciente),
à cata de comportamentos pre-fixados ou novos que o ajudem a sobreviver e progredir no ambiente que o acolhe.
Se o meio for violento, excêntrico ou desequilibrado, o bebê humano reagirá organizando comportament os
inadequados, em resposta aos estímulos recebidos. Se nenhuma medida socioeducativa for aplicada a tempo, o
padrão comportamental assistêmico e destrutivo poderá permanecer inalterado pelo resto de sua conturbada
história de vida.
Por conta da eficiência dos processos mentais que adaptam, estruturam e sistematizam todas as
informações que entram no sistema cognitivo, se o pequeno animal humano crescer mal -educado, poderá vir a se
tornar a criatura mais perigosa da Natureza, pronta para destruir qualquer s er, coisa ou ambiente, muitas vezes,
por puro prazer.
Parece absurdo propor-se que o magnífico ser humano possa desperdiçar o potencial ilimitado,
comportando-se como vírus, parasita ou predador que mata por cobiça, loucura ou diversão. No entanto, é
exatamente assim que acontece.
Amparados por culturas planetárias que privilegiam a formação de ambientes irracionais, com imagens
distorcidas e dinâmicas sem solução, a quase totalidade dos eventos históricos foi produzida por homens e
mulheres, que se comportavam e pensavam como vírus ou piores que os animais mais sanguinários. Quase não há
exemplos de humanidade na História do homem no planeta.
Para que, finalmente, haja a evolução sociopolítica das comunidades planetárias, os povos devem deixar
de produzir tanto os líderes ilusionistas, quanto as massas acríticas e ignorantes. Os maiores entraves à evolução
social provêm dos indivíduos inconsequentes, que dão o apoio, o voto, a vela ou o dízimo, esperando que, em
troca, alguém no céu ou na Terra, satisfaça se us desejos oportunistas.
Em outro evento trágico, a Revolução Russa, os Romanov foram alvejados e esquartejados com tal
selvageria que, em 17 de julho de 1998, depois que os ossos quebrados da família imperial, por fim, foram
encontrados, identificados e puderam ser enterrados na catedral de São Paulo e São Pedro, Boris Yeltsin,
presidente russo em exercício, fez voto de penitência diante do mundo: ―Durante esses oitenta anos, colocamo -nos
mudos a respeito desse crime horrendo. Aqueles que o perpetraram, as sim como aqueles que há décadas
encontram justificativas para esse ato bárbaro, são culpados. Todos nós somos culpados. Não podemos nos
enganar e explicar a mais desenfreada crueldade humana como necessidade política ou social... Somos todos
responsáveis perante a história do povo russo e da humanidade no geral‖...
E por extrema ironia, após o Paraíso Russo ter se mostrado palco de atrocidades infernais, o povo
transformou os Romanov em santos martirizados, colocando -os em altares maravilhosamente adornados , para que
os assassinados, do além, pudessem atender aos pedidos piedosos daquela gente tão boa, humilde e fiel.
O ―case‖ chinês foi igualmente trágico. Mao Tsé-Tung, querendo avivar a chama revolucionária assassina,
que iria produzir o Paraíso Comunista Chinês, afirmava que ―Todo poder político se origina no cano de uma arma‖.
E durante décadas, enquanto construíam o Éden chinês, a história de vida das pessoas esteve presa às
armas, ora à frente do cano certeiro, ora atrás, com o dedo no gatilho ligeiro.
O processo revolucionário chinês custou dezenas de milhões de vidas, quiçá centenas. Nunca se saberá
ao certo, os detalhes escabrosos da materialização do Inferno do Paraíso Comunista Chinês.
Por mais que os resultados fossem sinistros e as populações se t ornassem mais miseráveis do que eram
sob os antigos regimes, os ideais revolucionários marcaram profundamente a história e a mentalidade do século
XX.
Embalados pelos exemplos gloriosos da Revolução Francesa, da Revolução Russa e da Revolução
Chinesa, cidadãos de vários países se entregaram à ilusão do processo revolucionário que, segundo prometiam os
organizadores do movimento, ao fim da convulsão social, materializaria, em um passe de mágica, o Paraíso dos
Princípios Cristãos na Terra, em versões caseiras .
Contudo, se os ideais cristãos não deram certo na Idade Média, em mais de mil anos de tentativas
dolorosas, por que dariam certo em outro tempo? Ou será que eles deram certo, atingiram seus objetivos e era
exatamente isso que os manipuladores queriam rep etir?
Durante o século XX, iludidas pelas promessas mágicas, milhões de pessoas se tornaram esquisitas no
conteúdo e na forma, inaugurando um novo tipo: o camarada revolucionário que pensa e age como vírus.
Como compete às mentalidades viróticas, acreditav am que unidos venceriam, desde que fossem muitos e
estivessem infiltrados no corpo social, contaminando -o por inteiro. Porém, a ação inorgânica dessas pessoas foi
tão eficiente, que elas inviabilizaram a sustentação de qualquer tipo de sistema social, incl usive daqueles que se
propunham a construir e manter pela eternidade afora.
Qual é o nível intelectual do indivíduo que pensa como um vírus? Como ele se comporta no dia a dia?
Como ele contribuiu com a delicada rede de sistemas integrados (naturais, humano s, artificiais e mistos)? Que
histórias de vida ele está preparado para construir? Em qual mundo ele vive? O que é o mundo para ele? O que
acontece com o organismo social, quando ele consegue se infiltrar em seus pontos -chave? Esse indivíduo é
confiável e emocionalmente sadio? O religioso age como um vírus perigoso? Por quê? Quem mais age como vírus?
Com os acontecimentos de 1765 e 1783, na colônia inglesa na América, os norte -americanos,
autointitulados como ―Filhos da Liberdade‖ e ―Povo Eleito por Deus, p ossuidor do destino manifesto na grandeza e
na soberania sobre os demais‖, aproveitaram as oportunidades para cometerem matricídio ideológico, cortando os
laços históricos e culturais que os soldavam aos antepassados, às vistas do mundo apreensivo.
Isso, porque, na prática, a velha, culta e tradicional mãe Inglaterra, havia sido ferida de morte por seus
filhos coloniais, em nome de Deus e da igualdade que visava o lucro proveniente da completa autonomia política e
econômica.
43
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 7
Diante da possibilidade de fortuna fácil na ―Nova Canaã‖, na América, a riquíssima terra prometida por
Deus aos filhos protestantes, os olhos cobiçosos dos Orestes norte -americanos se arregalaram, ao mesmo tempo
que os bolsos e as bolsas abriram as bocas famintas de moeda nacional e estr angeira.
Com rapidez impressionante, a alma desgarrada e aventureira, que corria pelas extensas pradarias, de
arma e Bíblia em punho, flagelando os índios em nome de Deus, vestiu -se de vívido afã nacionalista e entrou no
conflito contra a velha mãe-Inglaterra, para ver quem era mais forte. O imenso butim americano não seria dividido
com ninguém, nem com a metrópole, nem com os pobres coitados dos nativos emplumados, os ―cananeus‖ do novo
mundo. Genocídio? Não, fé.
De uma hora para outra, os valores se inver teram e o mundo, fascinado com as atitudes ―progressistas
norte-americanas‖, passou a valorizar o novo, o jovem e a modernidade sem lastro, comprometendo a
sustentabilidade dos sistemas nucleares, as famílias, que se fundavam na preponderância tradicional dos
progenitores, mais velhos e experientes, sobre os filhos jovens e inexperientes.
A partir de então, por todos os continentes, de geração em geração, a instituição familiar, com seus
vínculos de raiz, seus compromissos ancestrais e objetivos de crescime nto histórico e cultural em comum, foi
perdendo importância, ao passo que os lares viravam campo de batalha das diferentes gerações antagonizadas.
Todo relacionamento humano necessita de ajustes para propiciar a evolução das partes envolvidas, seja
no vínculo estabelecido entre patrão-empregado, pai-filho, marido-mulher, irmão-irmão, noivo-noiva, namoradonamorada, professor-aluno, sócio-sócio, cidadão-governante, empresa-consumidor ou outro qualquer. Se houver
desconfiança e desrespeito, a relação adoece e morre.
Via de regra, desde então, findava o respeito sincero, a segurança familiar, a integridade dos papéis
sociais, a indestrutibilidade dos laços tradicionais, a compreensão conjugada e a admiração verdadeira de uns
pelos outros.
Falidos, os casamentos que se mantinham por conveniência, usavam e abusavam da dissimulação
calculista e da afronta cínica, tão bem representadas na cultura, na postura e na história norte -americana.
A magia ianque demonstrou ser tão poderosa e persuasiva que, durante o século XX, a psicanálise (o pior
mal desse século de tantos males), chegou ao absurdo de pregar que os jovens devem se rebelar contra os pais,
velhos e ultrapassados, para desenvolverem cultura e identidade diferente (oposta e não complementar). Um
verdadeiro terror que continua no século XXI.
Segundo as teorias psicanalíticas, em voga, os pais tendem a oprimir e castrar seus rebentos, enquanto
esses precisam de liberdade e igualdade incondicionais para crescerem fortes, firmes e independentes. No
particular, recomenda-se que cada um repita o exemplo norte -americano, para ser alguém e vencer na vida. Essa é
a fórmula mágica do sucesso!
Mas esse sucesso não vai se materializar jamais pois, ao se tentar cortar os indissolúveis vínculos
históricos e processuais com os ascendentes e os antepassados, o jovem compromete sua significação histórica
pessoal.
Cada descendente é resultado de um momento histórico e sistêmico único na vida do casal progenitor.
Mais do que a simples invasão oportunista do espermatozoide, a fecund ação do óvulo envolve fatores genéticos,
psicológicos, ambientais, geracionais, sociais, econômicos e históricos do pai e da mãe. A sinergia do casal produz
um ser único no Universo. Cada ser humano é um universo completamente diferente do Outro. Dentro de sse
conjunto de fatores sistêmicos determinantes e interligados em múltiplas esferas, o filho concebido representa a
tentativa da Natureza para solucionar a soma dessas variantes, produzindo um indivíduo apto (tendo em vista o
momento da concepção) para garantir a sobrevivência e a multiplicação futura dos genes do sistema produtor
original – os pais.
O organismo gerado, o filho biológico e espiritual do casal em questão, é o elemento sistêmico
potencialmente solucionador para o sistema que o gerou e para o meio que o contém. Então, para se entender sua
gênese, função e forma, deve-se analisar detalhadamente todos os componentes envolvidos em sua geração,
*
dentro do contexto individual, familiar e coletivo, único e diferente dos demais indivíduos .
Quando exposta às teorias e às práticas psicanalíticas inconsequentes, a mente revolta -se contra tal
barbárie biológica e intelectual, desestruturando o interior e o exterior do sujeito pensante e agente o quanto pode.
Afinal, ela, a mente, não foi orientada a corta r laços vitais indissolúveis?
A partir desse comando grosseiro, a mente passa a construir histórias de vida potencialmente destrutivas
e sem solução. Por esse motivo, cada vez mais, as sociedades modernas, psicanalisadas, veem -se ameaçadas por
jovens e adultos revoltados, desequilibrados, sem rumo e americanizados no pior sentido do termo.
Quanto aos Orestes norte-americanos da época da Independência, mal sabiam eles que as Fúrias
perseguiriam seus descendentes e os descendentes desses, atormentando suas me ntes com cenas de julgamentos
na vida real e nas películas de Hollywood.
A culpa interior será redimida, quando finalmente chegar o dia em que o ―Novo Povo de Deus‖ for julgado
pela História, no centro do antigo Areópago da consciência da raça humana, por todos os crimes morais, éticos,
políticos, econômicos, militares, ecológicos, culturais, históricos, pessoais e étnicos por ele cometido contra a
Humanidade e a Natureza.
Abraham Lincon, um amante do teatro e da arte de enganar o espectador, deveria estar pensando em seu
povo ou em suas intenções hipócritas quando proferiu a seguinte frase: ―É possível enganar muitos por pouco
tempo e poucos por muito tempo, mas é impossível enganar a todos o tempo todo.‖
No nascimento lendário da nação, junto da elaboração da Declaração da Independência Americana, com
fortes acentos místicos e mágicos, criou -se o mito do Paraíso Prometido Americano, terra da oportunidade
igualitária e fraterna, onde a riqueza jorrava em fontes borbulhantes e as ruas eram pavimentadas com ba rras de
ouro puro para os imigrantes passearem.
Como convinha à pretensão histórica do jovem ―Povo Escolhido por Deus‖, o conteúdo da Declaração
encanta e impressiona do começo ao fim:
―Quando, no curso dos acontecimentos humanos, se torna necessário a um povo dissolver
os laços políticos que os ligavam a outro, e assumir, entre os poderes da Terra, posição igual e
separada, a que lhes dão direito as leis naturais e as leis do Deus da Natureza... Nós, por
*
A adoção de órfãos é uma prática que requer cuidados extremos. Não há garantias sobre o que pode ocorrer quando a família adotiva insere em
seus processos um elemento sistêmico pertencente a um sistema nuclear diferente. A adaptação sistêmica pode não ocorrer jamais. E mesmo que
ocorra, ela jamais será completa. O órfão, inconscientemente, sempre se sentirá fora do seu sistema.
44
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 7
conseguinte, representantes dos Estados Unidos da A mérica, reunidos em congresso geral, apelando
para o Juiz Supremo do mundo pela retidão das nossas intenções... E em apoio desta declaração,
pleno de firme confiança na proteção da divina Providência, empenhamos mutuamente nossas vidas,
nossas fortunas e nossa sagrada honra.‖
Bem, no todo, a Declaração falava em liberdade, igualdade e retidão das nobres intenções. Na prática, por
baixo dos panos, os declarantes pensavam e agiam diferente. Sim, o país nascia forte, porém, cheio de artimanhas
e dubiedades para mascarar sabe-se lá o que.
Thomas Jefferson passou à História, como o coautor mais brilhante da Declaração da Independência
Americana. No fundo, não era diferente dos infames que tratavam os negros e os miseráveis como peças sem
alma, simples carnes vivas, úteis para todos os fins.
Na propriedade do ilustre personagem nacional, os negros, rotos aos milhares, eram usados no trabalho
extenuante da lavoura; às dezenas e melhor vestidos, podiam ser encontrados servindo nos cômodos da casa
principal; nus e escolhidos a dedo, de frente e de bruços, sob lençóis de linho branco ou no chão cru, eram vistos
abertos para saciar a luxúria do grande senhor branco.
O mais incensado representante da Declaração da Independência Americana, que jurou perante Deus e os
homens, ser portador da mais alta moral humana, nunca teve caráter e vergonha suficiente para alforriar os
escravos, aproximadamente cinco mil negros, que lhe garantiam a fortuna e o tempo livre para exibir -se ao mundo,
sobre os red carpets, como símbolo da nação emergente.
Já naquela época, a verdadeira intenção da alma americana era evidente para quem sabia ler nas
*
entrelinhas, os fins – os lucros – justificam os meios – a exploração dos mais fracos. Yes, ―In God we trust‖ .
Durante o século XX, os norte-americanos criaram a mais impressionante indústria bélica do mundo.
Armados até os dentes, derrubaram governos, assassinaram pessoas e populações, invadiram territórios,
alimentaram revoltas internacionais, tudo para abrirem mercados aos produtos ―made in USA‖ e para garantirem o
acesso privilegiado às fontes de matérias -primas planetárias. O sucesso do comércio com o exterior foi conseguido
à bala, ou sob ameaças, para a graça do ―Povo Escolhido‖, de arma e Bíblia em punho.
Os americanos creem que Deus lhes reservou um destino especial: dominar o mundo pelo bem da
humanidade. Eles são os salvadores, os super -heróis, the world cop, os guardiões do Universo, os representantes
do Salvador, Nosso Senhor Jesus Cristo. Nosso Senhor?
Sean Purdy e coautores explanam sobre o modo de pensar e agir do povo norte -americano no excelente
livro História dos Estados Unidos. Alguns trechos dessa obra:
―... essa missão divina levou protestantes evangélicos a promoverem um imperialismo
baseado na ‗retidão moral‘, isto é, que os n orte-americanos liderariam, não só pelo exemplo remoto,
mas também pela presença física entre raças ainda não redimidas do pecado... o mundo estaria
sendo beneficiado com a expansão, bem como a guerra manteria virtudes morais e os espíritos
disciplinados... o adágio de Roosevelt: ‗Fale macio e use o porrete‘, que simbolizava uma política de
‗paz pronta para a guerra‘... Comentou Charles E. Wilson, presidente da General Motors (acerca dos
lucros obtidos com as guerras), que o melhor cenário seria uma ‗econom ia permanente de guerra‘...
os lucros das corporações cresceram de US$ 6,4 bilhões, em 1940, para US$ 10,8 bilhões em 1944...
Os Estados Unidos saíram da guerra (Segunda Guerra Mundial) como líder militar e econômico do
mundo. A economia do país passou a ser controlada mais do que nunca pelas grandes corporações.‖
Sob o pretexto de ser defensora máter da paz mundial, da vida e da democracia, a iluminada nação
americana construiu o maior e mais letal parque industrial bélico do planeta. Em fábricas -modelo, milhares de pais
e mães de família produzem armas que matam seus filhos e os filhos de milhões de pessoas pelo mundo afora.
Em posse da produção fenomenal, os norte -americanos dominam o comércio internacional de armas.
Faturam bilhões de dólares todos os anos, colocando-se na liderança da exploração do rentável negócio com a
guerra e com os tipos diferentes de conflitos armados existentes, que vão do simples assalto à mão armada às
guerrilhas mais sofisticadas. Quanto ao mercado interno estadunidense, a con stituição garante o lucro. O cidadão
tem o direito, senão o dever, de portar e usar armas.
No imenso país armado e amado por Deus, o envolvimento com as dinâmicas de dominação bruta começa
na infância. Cedo, colocam nas mãos dos petizes em formação, aquela s gracinhas endiabradas, jogos de guerra,
armas e munições de brinquedo, miniaturas de armamentos pesados, réplicas de instrumentos de coerção e
tortura, cópias de material de combate, também há os desenhos animados e os videogames que banalizam a
violência e o sofrimento alheio. Para os pequenos, perseguir, matar, destruir e infringir sofrimento é diversão
inocente, brincadeira de criança.
A tendência beligerante dos ―Filhos da Liberdade‖ é agravada pela cultura nacional que se esforça em
criar heróis arquetípicos que sejam bons de briga e de tiro ao alvo. Ao travar contato com a parte expressiva das
lendas, da literatura, das artes plásticas e, sobretudo, do cinema, o público consumidor vê -se induzido a glorificar a
atitude de personagens que afrontam, perseguem, atiram e explodem carros, casas e gente. Tais artigos culturais
são verdadeiras odes ao assassinato a sangue -frio.
Parafraseando Rousseau: ―Os homens nascem destinados a se tornarem deuses, as culturas os desvia do
caminho natural e os animaliza‖.
Energizado pela retórica alienante das Sagradas Escrituras, ―O Novo Povo Escolhido‖ ainda fará muito
pelo mundo, como quer o Criador, The Big One, The Big Boss, The Big Stick, que os protege e os guia pelos
caminhos abertos nos continentes.
Isto são os Estados Unidos. ―This is The End‖.
*
Essa frase está escrita nas notas e moedas de dólar.
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 8
CAPÍTULO 8
Com a queda do Império Romano, a Europa entrou na Baixa Idade Média, assistindo ao desaparecimento
extraordinário das cidades, as urbes, orgulho dos romanos. As poucas que sobraram, entraram em franca
decadência, acompanhando a diminuição da população em geral. As estradas e o comércio que as alimentavam e
as enchiam de vida e movimento, sumiram junto. Foram -se também os avanços culturais, sociais, artísticos e
científicos, alcançados pela civilização clá ssica. Desaparecia uma realidade, surgia outra. Os cidadãos romanos,
outrora alfabetizados, cultos, civilizados e pensantes, em um passe de mágica cristã, transformaram -se em animais
produtivos, humildes, caridosos e obedientes ao Deus Pai.
Em todas as partes, para se defenderem dos bárbaros que assolavam os agrupamentos indefesos, as
grandes propriedades rurais se organizavam em feudos fechados para o mundo. O conhecimento, como acontecia
na antiguidade pré-clássica, passou a ser reservado aos detentores d o poder. Apenas os sacerdotes e os nobres
mais importantes sabiam ler e escrever. A chama que conduzia as massas estava nas mãos dos novos guias
espirituais. Os caminhos trilhados pela população ignorante seriam os mais negros, medonhos e apavorantes da
história europeia.
Os vendedores desonestos costumam assustar e coagir os consumidores e os futuros consumidores,
provocando-lhes o medo e a apreensão, para facilitar a venda de produtos e serviços que não apresentam
garantias e valores agregados à mostra.
Os primeiros criadores dessa prática escusa, provavelmente, foram os xamãs pré -históricos que
sobreviviam às custas da comercialização de artigos com características intangíveis e sem comprovação.
Mas, em nenhuma outra época, os consumidores foram tão engan ados e explorados como os indivíduos
da Idade das Trevas, que caíram na rede da Igreja Católica. Para facilitar a venda de produtos e serviços cristãos,
o mundo encheu-se de sombras famintas, demônios, pragas, pavores e ameaças sem fim nem cabimento.
Na Alta Idade Média, as cidades, as estradas e o comércio retornaram trazendo esperança de vida para a
humanidade, que começava a desconfiar do caráter e das intenções da Santa Igreja, sem, contudo, questionar ou
desconfiar de Jesus.
Os séculos XIII e XIV foram decisivos para o futuro da Itália e do restante do continente europeu.
Enquanto os primeiros gênios do Renascimento e do Humanismo nascentes procuravam afugentar a ignorância
reinante há mais de mil anos, a massa acrítica italiana, seduzida pelas diretriz es insanas de São Francisco de
Assis, ameaçava enterrar a Europa em uma nova Idade das Trevas, ainda mais desastrosa que a original. O
culpado era um lunático santificado que prometia o reino dos céus àqueles que seguissem seu exemplo de
renúncia total à matéria.
Como é de praxe, a Natureza gerou um homem apto a produzir maravilhas para a Humanidade e o Todo:
Francisco de Assis (nascido Giovanni Battista di Pietro Bernardone). Porém, para azar do Universo, este infeliz
optou por contrariar os desígnios da Mãe-Natureza e passou a infectar os sistemas planetários com sua produção
irracional e irresponsável.
O célebre Giotto, pintor que deu início à tradição pictórica do Renascimento, ridicularizou a fé franciscana
em comentários divertidos, tais como: ―Quando as posses escasseiam, parece que o bom senso também
escasseia‖. E, ―Raramente há extremos sem vícios‖. Com típico bom humor latino, jocoso e atrevido, o mestre
chamava o santo de louco e seus seguidores de idiotas.
Os gregos foram os primeiros a ensinar qu e na vida e na arte, menos é mais, porém nesse caso, estamos
falando de refinamento, não de pobreza. Todo e qualquer artigo grego deveria expressar uma elegância ímpar. Nas
cenas que pintou de São Francisco de Assis, pagas a peso de ouro pela santa e rica Igreja, o grande pintor se
superou, ao produzir ambientes e personagens despojados de ornamentos supérfluos, mas requintados no conceito
estético e na construção formal. Exatamente o oposto do que pregava o santo adorador da pobreza humana. Com
beleza, perspicácia e refinamento artístico, Giotto combatia a alienação e a mediocridade.
A partir do ano 1700, os sistemas feudal e absolutista declinavam e cediam lugar ao sistema capitalista,
em bases preferencialmente democráticas. A substituição levava à reconf iguração da sistêmica do modelo
constitucional dos países que adotavam o capitalismo e, consequentemente, da ação dos cidadãos sem eliminar a
dependência mística das massas.
A preocupação coletiva de líderes e de liderados, de mudar as aparências e as norm as sociais, sem
alterar os jogos mágicos que subordinam a mentalidade das pessoas à manipulação fantasiosa, também servia aos
propósitos da alta burguesia, desejosa de participar do poder político, dividindo os mesmos truques imagéticos que
mantinham as massas cativas e obedientes, há milhares de anos, como ensina a Bíblia, para aqueles que sabem
ler nas entrelinhas. No caso, os manipuladores.
O poder político, a religião e o capitalismo (baseado no empreendedorismo e no trabalho assalariado)
esqueciam as antigas diferenças irreconciliáveis, a fim de unir as forças coercivas em nome do lucro e do poderoso
Deus-Capital. Muitos dos antigos baluartes do antigo regime se reciclavam em prósperos homens de negócios,
defensores do liberalismo e dos direitos civis.
Na maioria das vezes, os organizadores dos movimentos sociais pela igualdade e pelos direitos
democráticos dos cidadãos, agiam mancomunados com os capitães das indústrias nacionais e internacionais que
tencionavam azeitar a máquina capitalista, tendo à dis posição mais trabalhadores e consumidores manipuláveis.
Pelas contas ordinárias, quanto mais salários injustos fossem pagos aos braços multiplicados, mais os
lucros retornariam aumentados aos cofres das empresas, com a venda dos produtos milagrosos, que os próprios
explorados fabricavam e consumiam, enchendo o mundo de lixo.
Igual aconteceu na antiguidade, em que a gentalha suava e rezava para sobreviver; nos Novos Tempos,
mais uma vez, as pessoas seriam escravas do sistema e não perceberiam.
Insensíveis às consequências, os adoradores do Deus -Capital punham em marcha a construção de um
espaço sem fronteiras, destinado ao livre -comércio e ao acúmulo de bens móveis e imóveis. Um lugar mágico e
sobrenatural, de todas as bandeiras e idiomas, aberto aos consumid ores do mundo inteiro, que, livres, com direitos
iguais de consumo e irmanados na aquisição dos produtos comercializados, entrariam e participariam das delícias
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 8
do Paraíso do Consumo, quer fosse em Nova York, Roma, São Paulo, Paris, Tóquio, Sydney, Buenos Aires,
Toronto, Londres, sendo jovens, belos, desejados e felizes para todo o sempre.
A materialização desse novo engodo paradisíaco começou com uma revolução, como já era moda, que
jogava ao rés do chão os requisitos da busca pelo requinte da forma, da es sência e do conteúdo (taxados de
elitistas), com a finalidade de facilitar o consumo indiscriminado de artigos produzidos em larga escala e de caráter
duvidoso.
Com a propaganda, o marketing e a mídia a postos no trabalho de encantamento do público -alvo, foi fácil
convencer as pessoas de que os produtos industrializados em larga escala eram melhores do que os
manufaturados em pequena escala e com alto valor agregado. Além do que, acostumados a acreditar em passes de
mágica e promessas fantasiosas de ―grande s vantagens‖ em troca de ―pequenos esforços‖ (o velho custo benefício), os consumidores preferiam ser preenchidos de esperanças baratas, a serem obrigados a encarar o
vazio de si mesmos e de suas histórias de vida, pobres de significado e direção.
E, como continuavam precisando dos outros para lhes dizerem quem eram, como deveriam pensar, em
que deveriam acreditar, para onde deveriam ir e como deveriam se vestir e viver, os púlpitos balcões de vendas
foram divididos com os magos das vendas que apontavam par a os produtos que iriam solucionar todos os
problemas ... em um passe de mágica ... $$$ ...
―Processo é uma série de atividades que pegam alguma coisa e acrescentam valor, para fazer alguma
coisa nova, que, então, é passada para o cliente‖, como ensinou Ia n Brooks, em seu livro Seu cliente pode pagar
mais. Porém, se a coisa fabricada não possui valor agregado suficiente para valer algo, sobra ao mau fabricante o
recurso de ludibriar o consumidor, atribuindo resultados mágicos ao artigo que está sendo aprese ntado à venda.
Para facilitar o ingresso do maior número de interessados no Paraíso do Consumo, os produtos
miraculosos, dispostos em prateleiras, gôndolas, vitrines, displays, araras, poderiam ser adquiridos à vista ou a
prazo, ao gosto do freguês. Os clientes mais ocupados não ficariam na mão, seria possível atendê -los pelo sistema
delivery, a qualquer hora e onde estivessem. Os menos exigentes também não seriam esquecidos, efetivariam suas
compras por catálogos ou prestigiariam os serviços de contrabandi stas, traficantes, camelôs e ladrões. ―Satisfação
garantida ou o dinheiro de volta‖.
A fim de criar um certo frisson consumista, as palavras, ―novo‖, ―revolucionário‖, ―mágico‖, ―solução
definitiva‖, ―instantâneo‖, ―imperdível‖, ―garantido‖ e ―compre‖, est ariam impressas em cartazes, panfletos, anúncios
promocionais e nas embalagens dos produtos.
Reis, santos e loucos projetaram Paraísos no Céu e na Terra. O Novo Jardim das Delícias – o Paraíso do
Consumo – começou a ser montado por um tipo diferente de gen te, os burgueses capitalistas, que para atingirem
os fins desejados, enganaram os consumidores agregando poderes sobrenaturais aos produtos comercializados.
Pouco a pouco, os produtos deixavam de ser o que eram de verdade para serem aquilo que se pensava q ue eles
fossem, sem sê-los de fato e de medida.
A ação imoral e antiética ultrapassou os séculos, sem que ninguém agisse contra, virando prática comum,
inerente ao comércio de todas as nações. Os atributos mágicos são prometidos de forma implícita ou explí cita.
Entretanto, nada do que está sendo anunciado, pode ser entregue, como por exemplo, a ―satisfação garantida‖, ―o
amor correspondido‖, ―a sedução do ser amado‖, ―a conquista da riqueza‖, ―o sucesso pessoal‖, ―a plenitude
individual‖, ―a saúde perfeita‖, ―a alegria‖, ―a luz‖, ―a aceitação pessoal‖, ―a realização profissional‖, ―a beleza‖, ―a
juventude eterna‖ e ―a felicidade plena‖, entre outras mentiras.
Os anúncios de divulgação publicitária de produtos e serviços comercializados são fabricados para da rem
a impressão que os artigos e os modelos humanos que os recomendam, participam de um plano de existência
ideal, mágico e sobrenatural, muito acima da realidade imperfeita e temporal de qualquer pessoa normal.
Ataviados como ícones maravilhosos, sedutore s e acessíveis aos mortais, os itens de consumo que estão
sendo exibidos, transformam-se em objetos de desejo à mente atenta e impressionável, que passa a querer possuí los para satisfazer a curiosidade minuciosa dos cinco sentidos.
Para a mente faminta de informações sensoriais e sedenta em desfrutar mais prazer em suas relações
com o mundo e com as coisas do mundo, a não aquisição da mercadoria anunciada equivale à negação do
indivíduo, que se vê afastado dos prazeres do Paraíso do Consumo e dos deuses -modelos que nele habitam, em
clima de festa permanente.
A técnica de venda e revenda mais utilizada por sacerdotes, políticos e marketeiros consiste em duas
fases elementares.
Em primeiro lugar, deve-se desequilibrar os consumidores em potencial, fazendo com que se sintam
descontentes consigo e com suas realidades de vida, por melhores que elas sejam ou possam vir a ser. Para o
truque manipulatório funcionar, é importante que os consumidores se percebam incompletos e inseguros, como se
lhes faltasse algo para garantir a sobrevivência e a realização particular. Se for possível assustá -los ou ameaçálos, melhor ainda.
Em seguida, após deixá-los desequilibrados, ansiosos e deslocados, deve -se persuadir os consumidores
com promessas miraculosas, de que a solução p ara suas necessidades vitais serão completamente satisfeitas com
a aquisição imediata do produto ou do serviço que está sendo apresentado.
Em resumo, o que está à venda, por ser anunciado sob um ponto de vista mágico e encantador, aparenta
ser melhor, mais belo, mais emocionante, mais promissor, mais perfeito e, portanto, mais desejável do que
qualquer coisa que o consumidor possua de fato e de medida.
Assim, em vez de visar a felicidade e o bem -estar físico e psicológico das pessoas, como pregam os
anúncios e os anunciantes – do Santo Papa ao propagandista – são dispensados esforços e recursos monumentais
para que os consumidores estejam sempre insatisfeitos, inseguros e prontos para consumirem compulsivamente, a
fim de tentarem suprimir em vão, sua pequene z interior doentia.
Como Bernard Rosenberg disse em seu livro Cultura de Massa:
―Na medida em que nos tornamos objetos de manipulação (coisas), a nossa ansiedade é
explorável ... a masa cresce, somos mais semelhantes do que nunca e é mais profunda a sens ação
de termos caído numa armadilha e de estarmos sós e abandonados ... nada nos satisfaz realmente,
porque nada do que anunciam é verdadeiro, real. Estamos doentes da alma, pois somos enganados,
traídos em nossa boa fé e ingenuidade ... diante dos interes ses dos inescrupulosos, nenhuma forma
de arte, nenhum corpo de conhecimento, nenhum sistema de ética e valores é tão forte, que consiga
resistir à vulgarização e à fraude.‖
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 8
Cansados das pressões cotidianas e das incertezas com o futuro, nossos antepassado s sentiam-se
atraídos pela chance de ingressar em um ambiente idílico, nessa existência ou em outra, em que a
satisfação de seus desejos e necessidades estivesse eternamente garantida.
Conforme alguns povos antigos construíam a ideia do Paraíso Celeste, se gundo as expectativas
mais otimistas, surgia uma utopia maravilhosa. Nessa estância sublime não havia mortes, perdas,
sofrimentos e catástrofes de nenhuma espécie. Os usos, os costumes, as condições de vida e os vínculos
pessoais se mantinham intactos, em perfeita ordem, para todo o sempre.
Em igual medida, nos Paraísos terrestres das cidades antigas, via de regra, os governantes
procuravam imprimir esta mesma permanência formal e funcional, imobilizando o avanço das artes, das
relações sociais, dos ofícios e da forma de viver.
As inovações, quando aconteciam, somente eram aceitas se viessem por intermédio dos deuses,
que traziam as novidades do seu habitat prodigioso para introduzi-las no terreno dos mortais. Segundo os
antigos, por trás de cada produto hum ano havia um deus criador e protetor do produto em questão, do arado
à porta.
Com o caos ameaçando a frágil ordem universal, o único jeito que os homens tinham de se
proteger contra a destruição era viver na rotina, sem criar nada de novo ou de diferente. Causas iguais
gerariam consequências iguais. Para aqueles corações sempre intranquilos, a repetição dos mesmos atos,
dos mesmos usos e costumes era uma promessa de bem viver. Ou, pelo menos, uma esperança de se
acordar vivo no dia seguinte. O que já era um a grande conquista.
Com exceção da Grécia e de Roma, que souberam ousar e inovar, procurando manter o aspecto
positivo das tradições, a maioria das sociedades antigas enferrujaram no ramerrão. Nesses casos, a
tradição existia na vitória do hábito pelo hábi to, sem razão de ser.
Por mais de mil anos, o movimento cristão se pautou pela destruição sistemática dos valores e das
tradições pagãs. No mundo, apenas Cristo e sua Verdade deveriam sobreviver. O Renascimento procurou
trazer um freio a essa prática de rapina. Mas era tarde demais, o trigo e o joio estavam fadados à mistura
insana. Os homens já haviam se acostumado a participar dos movimentos de contra cultura com muita
paixão e poucos critérios de avaliação.
A partir do século XIII, alguns produtores cult urais audaciosos, pintores, escultores, literatos e
pensadores começaram a produzir pequenas fissuras no monólito da cultura cristã. Embora tímido e
dissimulado no início, dada a ameaça imposta pela vigilância católica (incluindo os horrores infernais que
foram praticados pela Santa Inquisição em 500 anos de atuação assassina), o processo era irreversível e
deveria crescer com o tempo, gerando discussões e batalhas que acabariam por vitimar
indiscriminadamente as tradições positivas e as irracionais da cult ura humana, englobando as cristãs, as
clássicas e as demais.
O segmento da contratradição encorpou com os fatos que ocorreram durante a Revolução Industrial
Inglesa, a Independência Americana e a Revolução Francesa, nos séculos XVII e XVIII. Com os valores
tradicionais em queda, as relações de longa duração viram -se desprestigiadas em favor das ligações de
curta duração, atendendo às exigências da sistêmica capitalista, que se alimenta do escambo ininterrupto
de coisas, seres e mercadorias.
A fragilização dos laços humanos com o mundo e com as coisas do mundo, desde então, tem
comprometido o desenvolvimento afetivo das pessoas. A elaboração sucessiva de novas técnicas e
tendências de mercado, aliadas à alta rotatividade de produtos e serviços, são componente s fundamentais
ao bom funcionamento da sistêmica capitalista, no que se refere à produção, à renovação dos estoques e à
agilidade das vendas.
À medida que a inteligência da sistêmica capitalista se impunha no cenário mundial, organizando
modelos sociais que competem na produção e no consumo máximos, pelo menor tempo e custo possíveis,
concomitantemente, mais e mais esses valores foram sendo utilizados como ingredientes das relações
pessoais modernas.
Se a inteligência do sistema agrícola provocou resultados humanos discutíveis, porque nasceu e
cresceu no interior de sociedades pouco humanizadas, o sistema capitalista padece do mesmo mal.
Antes, o Paraíso do além prometia a eternidade e, quando muito, uma certa periodicidade cíclica,
produzida por meio de reencarnações mal explicadas. Nos Novos Tempos, o Paraíso do Consumo prometia
se reinventar e se reciclar a cada nova estação, fazendo com que os consumidores se sentissem excitados
com as oportunidades anunciadas.
A partir do instante em que a cultura humana degradou ainda mais o foco evolutivo e passou a
absorver e refletir aspectos que dizem respeito unicamente ao fulcro do comércio capitalista, o animal com
cultura, que depende de estruturas socioculturais ricas e elevadas para se desenvolver no interior e no
exterior, foi lentamente se tornando produto com preço e prazo de validade estreitos. Em um passe de
mágica, os indivíduos passaram a valer pouco, quase nada. De novo?
Contudo, como esses efeitos colaterais mágicos são guardados em segredo, a sete chav es, a cada
nova estação, uma infinidade de novos produtos são lançados fazendo com que os consumidores sonhem,
desejem ardorosamente e se lancem à caça dos prêmios da última moda e dos amuletos de grife, que fazem
qualquer primitivo se sentir o máximo.
E, então, novamente e novamente, os deuses -modelos, volúveis e de mil caras, continuariam dando
o exemplo, ao mudar de penteado, de máscaras, de roupas, de joias, de utensílios divinos, de postura e de
expressão, levando as massas ignorantes e impressionáveis ao delírio com as novas promessas falsas de
felicidade plena, prazer garantido, sucesso pessoal e realização eterna.
As pilastras da Modernidade se apoiam em nome de três palavras mágicas cristãs: Liberté, Egalité
e Fraternité, mas que poderiam ser facilm ente traduzidas, em qualquer língua, para: mercado aberto,
consumo indiscriminado e lucro financeiro garantido.
Como já se sabe, todo Paraíso prometido esconde as sementes do Inferno. Nesse Admirável
Mundo Novo produzido a cada temporada, todos estão desti nados a ficar presos nas trevas, sendo
mastigados pelas figuras negras.
Diferente de algumas épocas do passado, que estampavam demônios e horrores nos templos, para
assustar e explorar a gentalha imbecilizada, agora o mal passa a habitar na mente e no cora ção apreensivo
dos consumidores, que se sentem instintivamente ameaçados, caso não consigam comprar os produtos
sobrenaturais que solucionam todos os problemas que afligem a moderna humanidade consumista: a feiura,
48
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 8
a imperfeição, a exclusão social, o fracasso amoroso, a impotência, a doença, a pobreza, o fracasso
profissional, a solidão, a tristeza, a não aceitação de si, a doença mental, a não realização pessoal...
As informações apreendidas pelos cinco ou mais sentidos unem -se no interior da mente atenta,
formando imagens do ambiente, as quais permitem que o leitor, o sujeito pensante e agente, enquadre -se
no tempo e no espaço para reagir aos estímulos recebidos. Quando há a perda momentânea da visão ou há
a falta da luz que revela a forma, a cor, a intenç ão e a essência das coisas e dos seres, as leituras dos
demais órgãos sensoriais sofrem graves deformações.
No homem, a visão predomina sobre os outros sentidos de exploração cognitiva. Assim, quando o
indivíduo se encontra submerso na escuridão, é normal que em seu espaço holográfico surjam imagens
mentais assustadoras, provenientes dos arquivos imagéticos internos, para avisar o sujeito que o meio que
o contém pode esconder ameaças não reveladas, já que os perigos não podem ser identificados de pronto.
Os sentidos estão integrados. Quando o principal deles, a visão, não puder operar com precisão, os
demais restantes terão suas leituras afetadas, comprometendo a racionalidade do conteúdo do conjunto de
informações colhidas no ambiente. Na escuridão, a mente , em pânico ou em estado de estresse, reage à
situação produzindo imagens interiores alarmantes para que o sujeito solucione imediatamente a questão ou
ponha-se em fuga.
Para a mente humana, a imagem, o símbolo e a ideia equivalem -se e se complementam para
formar um elemento único e racional, apto para ser otimizado nos processos mentais que geram os
pensamentos. O que vale dizer que a comunicação mais eficiente é aquela que consegue dominar todos os
aspectos constitutivos do pensamento, com a intenção de e nviar uma mensagem clara e facilmente
absorvível pela mente do receptor — o indivíduo que recebe a mensagem.
As instituições mais poderosas da história só chegaram ao topo do mundo porque foram exímias no
controle desses fatores. Usam-nos com perfeição para dominar o pensamento alheio, subjugando o diálogo
interior e exterior do receptor com precisão é método infalíveis.
Para a inteligência sistêmica que modela e dinamiza os processos produtores dos pensamentos, a
luz, a harmonia, a beleza, a ordem e a sens ação de felicidade, são facetas que se equivalem
intelectualmente para formar uma conclusão maior e mais perfeita, a qual faz parte do conjunto de
referências que se aloja no nível mais elevado da psique. Em igual medida, o negrume, o medonho, a dor e
o caos fazem parte dos níveis inferiores.
A propensão para fabricar ou utilizar instrumentos que facilitem a execução de tarefas do cotidiano
não é exclusiva dos animais humanos, outros bichos também a possuem. Porém, até o presente momento,
apenas o homem procura imprimir significados nos objetos por meio de símbolos e plásticas especiais que
sirvam como veículo de comunicação, expressão e interação para consigo e para com os demais.
Quão mais primoroso for o produto ou o serviço executado, melhor o produtor s e sentirá consigo
próprio, passando a se valorizar como sujeito que pensa, age e transforma seres, coisas, pessoas e
ambientes. Portanto, é natural que o ser humano se afeiçoe à sua produção, pois essa lhe fornece a
dimensão exata da sua individualidade, evolução e poder pessoal.
O caráter tosco dos primeiros artefatos líticos atesta que os fabricantes pré -históricos estavam tão
somente preocupados com a função do objeto, não mais que isso. A relação do hominídeo antigo com seus
produtos era objetiva e imediata. Sem que houvesse vínculos afetivos e intelectuais profundos. Entretanto,
com o avanço das Eras, vai ficando evidente que os homens da Idade da Pedra começaram a trabalhar os
aspectos abstratos dos produtos, agregando -lhes valores e predicados que excediam as finalidades práticas
dos objetos. O que, certamente, deveria proporcionar algum tipo de recompensa íntima e social. Desde
então, o indivíduo, o produto e a sociedade têm evoluído conjuntamente. A estética está intimamente ligada
à moral e à ética.
É tocante acompanhar a evolução das formas, dos conteúdos e da sintaxe na produção humana.
Progressivamente, e com grande dificuldade, os primitivos vão lascando as pedras, ferindo as mãos,
cortando os dedos e procurando, sem descanso, plasmar formas bela s e significativas que consigam falar
maravilhas aos corações.
Este é o primeiro grande indício do avanço da consciência humana quando, afastando -se do clima
psicológico que envolve os jogos brutais da evolução natural, o hominídeo procurou enriquecer suas
relações produtivas buscando, na medida do possível e do impossível, trazer a arte, a harmonia e a
linguagem para o cotidiano primitivo animalizado.
A partir do momento em que a chama estética acendeu -se em um crescendo lento, mas consciente
e determinado, os diferentes ofícios vão procurar materializar o belo em vários ângulos e versões, querendo
invadir a vida terrena de beleza, luz e encanto variado.
Enquanto isso, o lado monstruoso das formas e das ideias refugiou -se nas sombras da psique e da
vida, à espera para ser solucionado e transformado pela sabedoria, a bela Sophia.
Na arte, a busca pela perfeição da forma e do conteúdo, auxilia na evolução da vida humana, ao
interferir na construção positiva do intelecto do produtor e do apreciador do objeto ar tístico. Tanto a estética
quanto a moral e a ética representam a intenção inteligente do sujeito que se revela no pensamento e na
ação produtiva.
Expressão viva da cultura, a arte, com seus movimentos envolventes de estilo, conteúdo e forma,
tem peso decisivo na evolução dos conjuntos sociais, como pode ser observado na trajetória histórica dos
povos.
É notável que a cultura judaica, em mais de 5 mil anos de atuação no planeta, não tenha sido
capaz de legar à humanidade uma produção artística digna de nota.
No geral, quase inexistente, a arte judaica assemelha -se às paisagens desérticas e sufocantes, nas
quais, os predicados da vida e da alma humana não conseguem florescer e se encher de cor, movimento,
variedade e expressão criativa.
Se a cultura judaica não presta para fazer brotar a grande arte que refrigera e ―semeia‖ a alma
humana, presta para quê?
O que se pode esperar da cultura que atenta contra o natural e o humano? Da cultura cheia de fé,
que deforma os espíritos com o fel dos preconceitos (racismo, sectarismo, purismo, elitismo, sexismo,
*
fanatismo, homofobia e outros sentimentos execráveis)? Como pode haver paz no mundo?
*
Veja nota no final do capítulo, p. 51.
49
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 8
Não há humanidade verdadeira onde não houver a beleza da forma e do conteúdo do que o homo
produz, do produto ao ambiente. Então, será mais elevada e sábia, a expressão humana que se mostrar
mais depurada do inferior, do primitivo e, portanto, do animalesco irracional.
Desde tempos muito antigos, a magia e a religião mostraram -se eficientes na manipulação dos
conceitos e dos predicados imagéticos da luz e das trevas, inventando ficções, produtos e serviços que
aterrorizavam e seduziam as massas, prendendo -as ao comando inescrupuloso das elites governantes. Para
tanto, fizeram uso irrestrito dos poderes formativos da arte.
Inserido nesse campo de ação alienante, as lendas místicas que tratam do Inferno, com seus
pavores, e do Paraíso, com seus favores, em qualquer versão étnica existente, são ficções minuciosamente
inventadas, com o fito único de explorar os processos inconscientes e c onscientes das pessoas,
invalidando-as como indivíduo.
Em termos simbólicos e conceituais, os Paraísos são identificados com a luz e com tudo o que ela
representa no ideal imaginário. Em contrapartida, se o Paraíso é o lugar da luz, o que não está no Paraí so
encontra-se no lado escuro da existência, participando dos predicados que lhe são peculiares: os tormentos
infernais.
Sendo assim, os pobres consumidores que, por mais que consumam, nunca conseguirão desfrutar
do prometido idealizado – os atributos da luz e da felicidade eterna – brota-lhes na alma a sensação
insidiosa de que não sejam bons o suficiente para pertencerem ao Paraíso dos sorrisos infinitos. Pois,
pressentem os coitados que, se eles não participarem do Jardim das Delícias, onde todos são ven turosos
para sempre, a culpa é deles e não dos maravilhosos produtos mágicos que os deuses -modelos usam e
recomendam.
E, uma vez que creem que o problema está neles, seus maiores medos e inseguranças passam a
persegui-los, assumindo a forma instintiva de demônios interiores, que ninguém vê, mas que todos sabem
que estão lá. Então, o mal será eterno companheiro desses infelizes.
A Revolução Industrial Inglesa, a Independência Americana e a Revolução Francesa marcaram a
virada de um capítulo do drama da história trazendo novos cenários, novos enredos e novos atores. Como
mandam as normas comerciais mais ferozes, nas tramas dos novos tempos, tudo e todos deverão ser
passageiros e descartáveis, desmanchando no ar tudo o que um dia foi sólido.
Outra terceira onda? Outros tsunamis? Outras vítimas?
50
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 8
Nota da página 49:
No seio da Mãe-Natureza, centenas de espécies do reino animal são praticantes do chamado sexo entre os iguais. Nos céus, nos sete
mares e na terra firme, misturados a nuvens, vagas e flores, é normal se encontrar pares do mesmo sexo, dos insetos aos animais de grande porte,
copulando sem o menor sinal de constrangimento ou culpa. Até mesmo o leão, o rei altivo, tão admirado na antiguidade, não dispensa as carícias
e o sexo dos melhores companheiros.
Entre os seres humanos, igualmente, o comportamento homossexual sempre esteve presente, ora às claras, ora às escondidas,
conforme fosse encorajado ou desencorajado pelos códigos sociais em vigência.
Nos tempos antigos, época em que os padrões morais eram outros, os gregos conseguiram construir uma sociedade viril e
superavançada, que se baseava em sólidos vínculos de cumplicidade homossexual. Unidos de corpo e alma, como amigos e amantes, eles
venciam os maiores desafios nos campos de batalha e na lide diária, movidos ao ardor do coração apaixonado pelo outro, pela vida e pela
liberdade.
Homero, na Ilíada, nos relata os fatos e nos solta a imaginação nas entrelinhas do conto épico. Vamos às entrelinhas: após enfrentar
dez longos anos de duro cerco, Troia se mantinha firme. Ao redor dos altos muros intransponíveis, os guerreiros da Hélade, exaustos, minguavam
e se apequenavam. Se, outrora, aportaram nas praias troianas, em mil naus de guerra, cheios de vigor e autoconfiança, agora, secretamente,
sonhavam em voltar à terra natal, para tentar curar as feridas do corpo e da alma, ganhas nas contendas inúteis.
Enquanto a desesperança corroía as sobras da expedição micênica, Heitor, o filho do rei Príamo, matou Pátroclo, erastes e
companheiro inseparável de Aquiles, o combatente mais temido e respeitado.
Tudo parecia perdido, quando o filho de Tétis encontrou o amigo mais que querido, lavado de sangue. Nas alturas sublimes, os deuses,
comovidos, encobriam o rosto nas dobras dos alvos mantos bordados a ouro. Ao mesmo tempo, nas profundezas sombrias, as almas penadas,
vestidas de andrajos pestilentos, arrancavam os cabelos e furavam os olhos para não verem a cena lancinante. Agarrado ao cadáver frio, Aquiles,
urrando como um demônio enlouquecido, jurava que iria destruir quem lhe trouxera tamanho sofrimento. Dos favores do mundo, nada mais
interessava ao bravo, nem luxo, nem glória. Apenas queria lutar e morrer, para ter suas cinzas unidas às cinzas daquele que lhe fora tirado. Na
morte, pelo menos, estariam juntos para sempre, fiéis um ao outro, como em vida.
Revoltados com a dor do grande herói, que acabara de perder a razão do seu viver, os corações dos camaradas de armas, de imediato,
começaram a bater forte, alto, como tambores de guerra. A sorte iria mudar, eles, vestidos de orgulho e armados de fúria, lutariam para vingar os
companheiros queridos que haviam partido dessa existência e, principalmente, para defender os que ainda estavam presente, ao lado de uns
poucos afortunados. Se possível, ninguém mais sofreria a dor que não se finda.
Pátroclo morrera, era certo, mas sua vida não seria tomada em vão. Troia, enfim, foi derrotada, porque o amor dos homens venceu.
Esse episódio lendário marcou profundamente o caráter e o destino do povo grego. E quem há de questionar minha interpretação dos poemas
homéricos? Os hebreus que fraudaram a história desde sempre? Os cristãos que fraudaram a história desde sempre? Os islâmicos que fraudaram a
história desde sempre? Os protestantes que fraudaram a história desde sempre? Quem tem moral para questionar-me?
Histórias, histórias, histórias...
Não se sabe, ao certo, quando a prática corrente da homossexualidade se alastrou pela Grécia. Algumas fontes a colocam à altura da
invasão dórica, ocorrida em meados do século XII a.C. Todavia, supõe-se que ela seja bem mais antiga, a julgar pela data da história contada por
Homero, passada no início do século XII a.C., somada às lendas de homossexuais, anteriores à entrada dos dórios no território, como por
exemplo, Pélops e Laio.
Dada a dimensão do caso, é provável que o comportamento homossexual estivesse ligado a rituais mágicos de transferência de
poderes, comuns na pré-história. Os pré-helênicos nativos ou os invasores, os povos indo-europeus que começaram a penetrar na Hélade desde
fins do Terceiro Milênio, talvez acreditassem que o relacionamento homossexual conferia dons especiais aos praticantes. O amante, ao absorver a
essência de outro macho, se tornaria duplamente másculo e valoroso. O assunto é pantanoso e jamais saberemos o que realmente aconteceu.
Homero, o bardo cego, foi sutil ao compor seus versos. Educador elegante e sagaz, evitou criar passagens cheias de erotismo, que
inflamam os espíritos vulgares, e procurou modelar o comportamento homossexual dos personagens dando-lhes os contornos do ideal. A relação
afetiva íntima entre dois homens, longe de servir de repasto à satisfação de desejos volúveis, deveria proporcionar o amadurecimento de
qualidades que elevassem os amantes, a sociedade e o Estado. Em suma, o relacionamento deveria servir de veículo à expressão do verdadeiro
amor.
K. J. Dover afirma na contracapa de seu livro A Homossexualidade na Grécia Antiga acerca da importância dos valores homossexuais
na formação da sociedade grega: “... o amor entre pessoas do mesmo sexo não foi apenas tolerado, mas elevado à condição suprema de realização
pessoal”. Protegido pela lei, do homossexual esperava-se os maiores exemplos de virtude e graça.
Se, na Terra, animais e homens partilhavam tranquilamente do amor entre os iguais, no Olimpo, o Lar Doce Lar dos deuses gregos, as
coisas não eram diferentes. Zeus e os demais deuses olímpicos não resistiam aos encantos dos jovens bem dotados. São famosas as historietas que
tratam dos romances entre os imortais e os mortais do mesmo sexo.
Os homossexuais caíram em desgraça no reino animal, nos ambientes dos seres humanos e no Panteão, quando a famigerada cultura
judaico-cristão, finalmente, conseguiu estender seus tentáculos sobre o Império Romano. A partir de então, as leis da Natureza e as leis de Roma
seriam contraditadas pelas leis do Deus perturbado que pesa mal, mede mal, julga mal, que calunia, gera conflitos intermináveis, roga pragas
violentas e condena os desafetos ao sofrimento e à morte infeliz.
Entre as vítimas lendárias e históricas dessa divindade encrenqueira e irracional encontram-se impérios, povos, raças, continentes,
países, cidades, religiões, deuses, pessoas e bichos. Algumas delas: Egito, Roma, Sodoma (destruída pelo Deus-Pai, porque os sodomitas
praticavam o pecado mortal da sodomia: sexo anal), Gomorra, os cananeus, os filisteus, os palestinos, os índios, os negros (que, como os índios e
os animais, foram acusados de não possuírem alma. Se os índios e os negros não aceitassem “humildemente” o batismo cristão e as leis de Deus,
O qual afirma ser a fonte original do amor, da verdade e da justiça, teriam que suportar a servidão por justa causa e, em alguns casos, enfrentar os
horrores do extermínio sistemático, igual se faz com certos “bichos indesejáveis”. Convertidos ou não, milhões de pobres coitados indefesos
foram escravizados e um outro tanto foi assassinado sem perdão), os pagãos, os ateus, os livre-pensadores, os homossexuais e outros indesejáveis.
Quem salvará os homossexuais das garras do Deus que os condena à infelicidade nessa vida e à danação eterna no Inferno?
Para o intolerante deus dos judeus, dos católicos, dos islâmicos e dos protestantes, a homossexualidade é a pior das perversões. Mas,
quem está pervertendo as leis naturais e as dinâmicas evolutivas da Humanidade: Deus ou os homossexuais? Quem merece ser condenado à
danação sem fim, por seus juízos e atos aberrantes: Deus ou os homossexuais?
A Antiguidade clássica e o Renascimento nos legaram lições importantes. As sociedades que mais evoluíram e contribuíram com o
progresso humano foram exatamente aquelas em que o gênio dos homossexuais, os homens que amam homens, mais encontrou espaço para se
revelar.
O mundo seria outro, diferente desse, certamente pior, mais feio e bem mais incompreensível, se os gregos, adeptos do sexo entre os
iguais, não tivessem existido nas lendas e na vida real. Não há atividade humana em que eles não tenham se destacado e se tornado perenes. Com
genialidade e pulso firme, esses homens mostraram seu valor.
Como nos ensina a Grécia Antiga, quanto mais homossexuais brilhantes houver, mais todos ganharão. Alguns deles: Aquiles,
Aristóteles, Epaminondas, Parmênides, Leônidas, Temístocles, Pitágoras, Hércules, Harmódio, Hesíodo, Policleto, Alexandre Magno, Heródoto,
Ésquilo, Pausânias, Zenão, Demóstenes, Fídias, Arquimedes, Protágoras, Sófocles, Aristogeiton, Empédocles, Píndaro, Eurípedes, Hiparco,
Clístenes, Demócrito, Miron...
51
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 8
No polo oposto, as sociedades que têm por hábito impedir que os homossexuais evoluam como pessoas normais e produtivas, dentro
de suas necessidades específicas, no geral, comprometem a qualidade dos processos sociais e históricos. Tais conjuntos sociais irracionais e não
sistêmicos, ao se afastarem daquilo que é pertinente ao natural e ao humano, acabam produzindo ambientes impróprios ao desenvolvimento
saudável dos seres vivos e, em particular, dos humanos.
Qualquer um que atente contra a integridade física, moral e psicológica dos homens que amam homens, comete crime contra a
Natureza e a Humanidade. Agora, mais uma vez, resta saber quem deve ir para o Inferno a fim de pagar por todos os seus pecados: Deus ou os
homossexuais?
A Natureza demonstra que os homossexuais masculinos são seres superiores. Que diferenças há no cérebro dos homossexuais
masculinos? Essas diferenças lhes dão quais capacidades extra? Que diferença há entre os indivíduos homossexuais masculinos e os femininos?
Que diferença há entre os homossexuais natos e aqueles que são produzidos pelas deformações do meio ou pela incapacidade que certos homens
apresentam em desempenhar papéis especificamente heterossexuais? Se os homossexuais masculinos são seres superiores, que tipo de papel
social, de imagem social e de comportamento eles deveriam estar produzindo? Por quê certas culturas obrigam os homossexuais a se
comportarem de forma caricata e reprovável? Que tipo de estruturas sistêmicas as sociedades e as culturas deveriam estar gerando para amparar e
proteger o desenvolvimento saudável dos indivíduos homossexuais, desde o seu nascimento?
52
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 9
CAPÍTULO 9
Índia, Nova Guiné, Venezuela, Estados Unidos, Kwait, Bali, Uganda, Brasil, Alemanha, Peru... Na
realidade do século XXI, a totalidade das nações participam de um conjunto orgânico e inteligente que é vivificado
pela troca ininterrupta de produtos, serviços e resíduos das partes. Não há mais casos isolados. A ação produtiva
de cada indivíduo nacional – o país – reflete-se na qualidade do sistema planetário como um todo.
Por sua vez, esses organismos estaduais individualizados e nominados, subdividem -se em células
menores – os habitantes nacionais – que, amalgamados pelas trocas humanas comuns, formam o corpo social que
recebe o nome do país.
Portanto, cada sociedade planetária representa a soma das ações produtivas coordenadas da totalidade
dos cidadãos. Será mais idílica e humanizada, quão maior for a competência de cada elemento sistêmico – o
cidadão – em participar do encontro de soluções simples e racionais para os problemas internos e externos que,
em geral, indiscriminadamente, desafiam a inteligênc ia dos sistemas.
O Brasil, por exemplo, representa o resultado da soma da produção física e intelectual de cada brasileiro,
minuto a minuto. As histórias nacionais são contas em aberto. Se não houver cuidados especiais, um único fator
desequilibrante (cidadão) pode inviabilizar a solução do todo social, a qualquer momento, colocando a evolução do
conjunto em risco.
Diante da complexidade dos ambientes internos e externos, para que uma determinada nação consiga se
manter produtiva e saudável, por tempo indet erminado, seu sistema social não pode se conformar com soluções
mágicas que subordinam as energias intelectuais e produtivas dos cidadãos.
A força, que mantém a continuidade da evolução das qualidades individuais de uma determinada nação
em particular, surge em decorrência da participação racional e compromissada de cada elemento sistêmico -social,
com vistas à realização do potencial da sociedade que o contém e que se acha inserida em um ambiente sistêmico
maior – o planeta Terra – onde coexistem outros sistemas naturais e nacionais.
Se os elementos ou os laços sinérgicos que os unem forem irracionais ou destrutivos, o sistema social
resultante, que no caso pode ser uma nação ou o conjunto delas, poderá se degenerar ou apresentar panes
sistêmicas graves, independente do grau de complexidade funcional conquistado.
Do mundo antigo, temos o exemplo monumental da construção da civilização romana, que abrangeu a
maior parte dos povos existentes, consolidando -os em um só organismo estável e altamente produtivo.
Com a tradição calcada no princípio da lei, da ordem e do trabalho em comum, o romano sabia que, para
construir uma civilização como nunca se vira até então, era preciso formar gerações de cidadãos civilizados e
compromissados entre si.
Os erros cometidos pelos povos mais antigos, com suas paixões e seus desvarios, haviam ensinado aos
austeros romanos, fascinados pela administração e organização política, que as ações, os pensamentos e os
ideais dos indivíduos e das sociedades determinavam o futuro dos Estados .
Para eles estava claro que as causas geravam as consequências, assim como o produtor competente e
responsável pela excelência da sua produção, gerava o produto de qualidade superior.
Como é normal, a força dos sistemas humanos está subordinada ao caráter do compromisso produtivo que
existe entre o produtor e seus produtos, bem como do tipo de interação produtiva vigente. Com a noção do dever e
da justiça enraizada no espírito do povo desde suas origens míticas, o sistema romano foi sendo modelado com tal
eficiência que, mesmo quando estava nas mãos dos governantes mais incompetentes, não raro, conseguia se
autossustentar e evoluir, sem maiores problemas.
O desejo de viver em uma sociedade progressista e segura fazia com que homens e mulheres se unissem
para desempenhar, de bom grado, a função de pilares, primeiro da monarquia, depois da república (res -pública =
coisa do povo) e, posteriormente, do vasto império.
O sucesso da administração dependia dos cidadãos romanos civilizados, e não só das sólidas insti tuições,
a qual proporcionava o progresso material e social nas regiões do globo que estavam sob a tutela da cultura
romana, com sua rede de estradas cruzando o império, pontes, aquedutos e cidades sistêmicas construídas em
pontos estratégicos (urbes).
No entanto, o maior trunfo da cultura romana, urdida em conjunto com a nobre cultura grega, ambas
formando a cultura clássica, não é visível e não pode ser encontrada na superfície, entre construções magníficas,
joias espetaculares, obras de arte insuperáveis , nem em textos inigualáveis. Ei-la no subsolo da cultura,
penetrando fundo no modo de pensar dos produtores desses prodígios.
Nenhuma outra cultura, a não ser a clássica, desenvolveu uma percepção tão aguda do valor do indivíduo
ou uma crença tão poderosa na capacidade humana. Como disse Protágoras de Abdera: ―O homem é a medida de
todas as coisas, do ser daquelas que são, do não ser daquelas que não são‖. É indiscutível que o pensamento
clássico foi a maravilha mais preciosa do mundo antigo, lapidado por uma racionalização exigente e audaz, que
engastou o homem no centro do Universo, tornando -o responsável pela construção do seu mundo interior e, em
consequência, do exterior.
Por esses tempos, depois de séculos de esforço dos maiores pensadores, a filosofi a e a ciência
finalmente ganharam a batalha contra a superstição, um perigo tão velho quanto a raça humana, sempre à espreita
para guiar os ignorantes pelo caminho da involução humana.
Como apontou Sêneca, com fina ironia:
―A diferença entre nós e os etruscos é que, enquanto acreditamos que os raios resultam da
colisão das nuvens, eles creem que as nuvens colidem para lançar raios; pois, como atribuem tudo à
vontade dos deuses, são levados a acreditar que as causas não possuem consequências naturais e
previsíveis, mas que elas acontecem porque são causadas por forças sobrenaturais e possuem
algum significado oculto.‖
53
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 9
Assim, com a vitória da razão, conquistada pela cultura clássica, os deuses – produtos que nunca
existiram – e os sacerdotes – vendedores que sempre existiram – deixaram de atormentar e explorar as pessoas –
os gentis consumidores. Pela primeira vez na história da humanidade, o homem estava livre para olhar o mundo
com objetividade e extremo rigor crítico. Agora, todas as perguntas eram permiti das e deveriam ser feitas para se
destruir os dogmas. Todos os véus místicos eram rasgados para se condenar e desterrar a ignorância bem alojada.
Para ser considerado humano, e portanto civilizado, em primeiro lugar, o homem teria de ser racional,
consciente das suas ações e responsável pelas consequências produtivas e residuais. Os romanos envidavam
esforços para construir um mundo humano formado por homens para homens, não um lugar excêntrico para
bárbaros dirigidos por deuses.
Mas, mal sabiam os espíritos racionais que, por mais que tentassem vencer a mediocridade dos homens,
um belo dia, a ignorância contrafeita e enroscada na mente de muitos que não paravam de crescer e se multiplicar
como animais, iria se unir em bandos de iguais, para vingar -se da razão e da busca honesta pelo real sobre todas
as coisas do céu e da Terra.
Para a época, a construção do Império Romano foi a experiência máxima em termos de organização
sistêmica e social. Evidentemente, o exemplo fica restrito no tempo, espaço e grau de ev olução da humanidade,
até então. Esse exemplo é caso, não regra, uma vez que para sua implantação, milhões de pessoas e várias
culturas antigas tiveram de ser vencidas.
E, ao fim, quando o sistema entrou em colapso, o ocidente afundou na Idade das Trevas, sepultando
praticamente todos os avanços obtidos nas diversas áreas da competência humana. O preço pago pela tentativa de
globalizar o mundo antigo foi muito caro.
Os especialistas continuam a debater sobre as causas da queda do Império Romano. Já foram le vantadas
centenas de hipóteses e todas são de cunho sistêmico.
Segundo Churchill:
―A experiência do Império Romano propiciou um tal avanço a seus cidadãos, que dificilmente
poderá ser igualado ou superado por qualquer civilização histórica dos nossos dias .‖
Gibbon, em seu livro Declínio e Queda do Império Romano, comenta que: ―A derrocada do Império foi uma
revolução que será sempre lembrada e que as nações do mundo moderno ainda sentem seus efeitos‖.
Somada a outros fatores, a análise histórica nos leva a inferir que o advento do Cristianismo abriu
precedentes perigosos para a proliferação de elementos virais humanos. Humanos? Homens que agem como vírus
podem ser considerados humanos?
O sistema cristão se baseia na igualdade, na fraternidade, na caridade, no autossacrifício em nome da fé
e na supremacia absoluta e inquestionável das leis de Deus, as quais devem ser administradas por homens
escolhidos e orientados diretamente por Deus, diferente, portanto, da organização política e do direito romano que
eram gerados por homens para homens.
Como já acontecia nos tempos bíblicos mais recuados, com as religiões mais primitivas, na dinâmica
produtiva cristã, o produtor é entendido e tratado como um mero instrumento da produção, ―uma coisa‖ usável,
cabendo a Deus-Pai que o inspira, guia e protege, o mérito sobre o sucesso da fabricação ou da obtenção do
produto final.
Pela fé do crente cristão, igual ao pensamento pagão do passado, é Deus que, conforme sua vontade
caprichosa, plasma a realidade na vida dos indivíd uos e das sociedades. Há frases notórias: ―meu destino está nas
mãos de Deus‖, ―o que é meu, Deus garante‖, ―não temo nenhum perigo, porque Deus está sempre comigo‖, ―não
deu certo, porque Deus não quis‖, ―Deus é Fiel‖, ―foi Deus quem quis assim‖, ―se Deus quiser‖, ―Deus te
acompanha e te guie‖, ―este problema eu coloco nas mãos de Deus, para Ele resolver para mim‖, ―o que é meu,
Deus me traz‖, ―terei quantos filhos Deus quiser‖, ―o futuro dos meus filhos Deus garante‖, ―Deus está na minha
frente, iluminando o meu caminho contra as forças das trevas‖, ―o Senhor é meu pastor, nada me faltará‖ e outras
―pérolas‖ de sabedoria que demonstra de forma inequívoca, a profunda falta de responsabilidade desses
produtores para com seus produtos, métodos e para as socie dades planetárias.
Jesus não era humanista, ele nada fez pela evolução da humanidade. Sua mensagem era voltada à
salvação do espírito pela submissão às leis do seu pai, Deus. O Deus do povo tantas vezes perseguido, humilhado
e escravizado. O Deus do povo que sempre sonhou com a revanche, com a vingança (que chamam de Justiça
Divina – aquela que pune os desafetos e os inimigos). O Deus que prometeu ao povo escolhido o domínio da Terra
e a conquista dos demais povos. O Deus que faria os fracos e os oprimidos, aqueles que sofrem e choram,
vencerem os fortes. O Deus que inverte o jogo. O Deus da dês -ordem natural. O Deus da pobreza humana. O Deus
que não admite a existência de nenhum outro, senão Ele. Ele, o mais forte. Ele que tira sua força da involução. Ele
que deve vencer sempre. Ele que deve destruir todos os demais deuses e infiéis. Ele que queima, castiga e mata
seus inimigos, em nome da ventura eterna.
A ideia judaico-cristã é clara. Os fracos, multiplicados e unidos, são capazes de vencer e dominar os
fortes. Mas isso não é evolução humana, é simples inversão das leis e dos jogos da Mãe -Natureza.
A Natureza evolui à medida que os organismos mais fortes e melhor preparados suplantam os mais fracos,
em jogos pouco racionais. Estes, porém, são menos irracion ais e danosos à evolução dos sistemas e dos
indivíduos, do que os jogos que são produzidos pela cultura judaico -cristão.
O mundo começou a ruir quando Jesus, o rei dos reis e corrompedor da Natureza, sonhou em reinar
absoluto sobre todos os miseráveis exis tentes, os judeus e os não judeus.
A gratidão é doença de cachorros? Nem divinas nem dignas, a submissão viciada e a gratidão humilde são
doenças que acometem os cachorros sem raça e sem vergonha. É coisa de gente cã, gente que clama pela coleira
salvadora e bendita, gente que despreza a razão e a consciência, gente que sofre e chora porque merece sofrer e
chorar. Miséria humana? Não, fé.
O dia em que o homem aprender a desenvolver a fé em si próprio e passar a se comportar como deus
vivo, tudo isso acabará. Não haverá mais animais nas cadeias, nas ruas pedindo esmolas, nos palácios dos
governos escusos, nas mansões dos ricos, pobres de espírito que vivem da exploração alheia. Uma patética
ciranda de bichos presos às velhas emoções sombrias ligadas ao instin to.
A justiça continua sendo feita.
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 10
CAPÍTULO 10
A cristianização do Império Romano implicou na absorção das ideias pregadas nas Escrituras Sagradas,
por parte de povos greco-latinos dominantes, os quais haviam se desenvolvido sob bases psicoestrutur ais
diferentes.
Orgulhosa em sua humildade ensaiada, a Boa-Nova disseminada entre os submetidos bem arregimentados
venceu os vencedores invencíveis e destruiu o sistema vigente, enquanto o pobre era elevado às alturas
paradisíacas, como símbolo máximo da evolução, pureza e santidade. Decretava-se assim, a estetização patética
da mediocridade, na absolvição da incompetência funcional e produtiva.
Com o foco evolutivo convergindo para a epifania da pobreza humana, a Europa degenerava na marra. As
artes, os usos e os costumes deveriam ser o mais tosco possível para agradar a Deus e combinar com o simplismo
medíocre de seu filho: Jesus Cristo.
Então, não havia outra opção, senão a desintegração do modelo imperial original para a formação de um
tipo de realidade fiel ao novo ideal.
À época, ninguém perguntou como um indivíduo ousa ser pobre de espírito e produzir pobreza, quando a
Natureza presenteou o gênero humano com recursos incontáveis no interior e no exterior. Longe de ser louvável ou
santificado, o medíocre ofende e contraria o Universo.
Todos os homens nascem ricos e únicos. E é exatamente assim que eles devem crescer e prosperar:
conscientes da importância em pensar, agir e produzir como deuses de infinita sabedoria. Disso depende a
sobrevivência do planeta, da humanidade e do Cosmo.
Como teria sido a história da humanidade se os crentes tivessem jogado seus deuses sobrenaturais na
lata do lixo e tivessem se tornado eles próprios, deuses de verdade?
A queda do sistema romano cedeu espaço à sistêmica que ir ia produzir uma nova qualidade de homem e
de cenário: a Idade Média.
Para o consumidor-medieval ignorante e impressionável, importava -lhe mais crer nos benefícios dos
produtos (crucifixos, amuletos, imagens santificadas, etc.) e dos serviços mágicos (bênçã os, batismo, extremaunção, etc.) e como eles eram anunciados pelos vendedores -sacerdotes nas missas, do que, aquilo que, em
verdade, lhe era entregue para ser consumido. Fato esse que, em consequência, abria a porta à institucionalização
da fraude e do abuso contra o cliente. Ou melhor, o embuste era inerente ao modelo comercial em questão. Os
clientes pagavam caro para serem enganados.
Ao gosto da freguesia, por mais de mil anos, demônios e terrores iguais aos que estão estampados no
tímpano da igreja de Saint-Foy, em Conques, seriam vistos e sentidos em todos os lugares, atazanando fiéis e
infiéis, vítimas masoquistas de longos chifres, dentes afiados, garras penetrantes, chamas infernais e dores
insuportáveis. A salvação, a Luz Divina, encontrava -se no interior do templo, no altar, ao lado da caixa
registradora.
Após dez séculos da mais absurda incompetência funcional e produtiva, azeitada pelo bordão ―Amai -vos
uns aos outros‖, o vergonhoso panorama humano alterou -se no Renascimento, com a absorção parcial e desfocada
da cultura clássica.
Nas artes e na vida, criar é modelar a matéria, submetê -la à ideia que se apossa do criador, clamando por
expressão e realidade. É ato que revela o amor e o respeito que o criador tem pela matéria, pela humanidade da
alma e pelos Outros.
Atravessando o Renascimento e o Barroco, a nódoa espiritual do sangue dos mártires alucinados pela fé
cristã, manchava a delicadeza do mármore finamente talhado, o qual, os críticos do período consideravam superior
ao produzido na antiguidade por gregos e romanos.
Mas era impossível compará-los, pois eram obras-primas oriundas de mundos incompatíveis. Analisando
ambos os períodos e suas respectivas produções, percebe -se no mais recente a loucura invadindo a alma e a obra
de Bosh, o tormento interior em Michelangelo, o desespero em Grünewald, o grito de revolta em Caravaggio. À
sombra da cruz, a Europa adoecera. Corroída em suas raízes ancestrais e conceituais, enlouquecera.
Evidentemente, tudo isso era estranho à plenitude encontrada nas obr as de Policleto, Fídias, Praxíteles ou
ao estilo realista dos romanos. Desta feita, por mais que os grandes mestres das artes, das ciências e do
pensamento renascentista e Barroco se esforçassem em igualar ou superar os clássicos no conteúdo e na
expressão, não tinham a menor condição de entender com a mente, o coração e o restante do corpo, a alegria de
viver que se esconde no sorriso maroto da Koré e do belo e sensual Kouros. Depois de Cristo, ninguém mais
ousaria sentir prazer sem culpas e medos tolos. A mai-vos uns aos outros? Como? Destruindo a humanidade da
alma? Enlouquecendo? Jesus demonstrou que desconhecia o amor de verdade. É bastardo do humano, por ser
filho de Deus. Mas, se os europeus não conseguiam curar as neuroses cristãs exumando os restos d o passado
assassinado, a descoberta de novos horizontes garantiria diversões à frente. Olhos piedosos miravam famintos o
ultramar. Ambição criminosa? Não, fé.
Quanto aos legítimos proprietários dessas terras, eles seriam tratados igual o foram os antigos c ananeus,
como ensina a Bíblia aos seus fieis. A espada afiada iria penetrar na carne virgem do nativo, com o mesmo fervor
com que os evangelizadores enterrariam a cruz no solo fértil e rico. Primeiro ao Sul, por bons cristãos – no Paraíso
Perdido – em nome do Deus dos pobres. Depois, ao Norte, por bons protestantes – na Terra Prometida – em nome
do Deus dos ricos. Deus dos pobres? Deus dos ricos?
O que gera mais lucro ao comércio da fé mística, 10% dos proventos de pobres imbecilizados ou 10% de
ricos imbecilizados?
O esperto Calvino fez as contas, avaliou as oportunidades, virou -se em direção a Lutero e resolveu
investir na formulação de uma nova jogada comercial, quer dizer, uma nova igreja mundial, destinada a jogadores
que quisessem ganhar recompensas nessa vida e na outra, sob uma nova logomarca.
Tendo pressa nos resultados, como todo bom negociante esperto, Calvino, pouco criativo, não inventou
propriamente um novo jogo, apenas deu -se ao trabalho de Reformar o antigo. A estratégia comercial se limitava a
tirar clientes do concorrente, a desgastada Igreja Católica, oferecendo mais vantagens mágicas do que ela e
denegrindo a imagem da empresa adversária. Uma barbada.
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 10
Aproveitando os princípios do comércio liberal, a Igreja Reformada revolucionou o mercado da fé. O
garoto-propaganda seria o mesmo, mas sairia da cruz. Repaginado, Ele apareceria na mídia prometendo o novo
Paraíso. Tudo muito clean e moderno.
Para atrair os clientes-alvo (os burgueses), os textos bíblicos passaram por uma limpeza generalizada,
mas simples. As palavras sagradas foram reinterpretadas, transformando uma coisa em outra, em um passe de
mágica cínico. Na releitura sagrada, o Pai, volúvel, deixa de amar os miseráveis e passa a preferir os bem
sucedidos que pagam 10% gordos.
No novo esquema comercial, a caridade não sofreu grandes modificações. Assim como acontecia com os
católicos, a caridade, sob a marca do protestantismo, continuou servindo à movimentação do comércio, do
marketing pessoal e para manter a ralé sob controle, condicionan do os pobres a se comportarem como cães
famintos à cata dos restos da mesa dos donos. Para se ganhar alguma coisa, só sendo bonzinho, humilde e
obediente.
A doação caridosa, a esmola calculada e calculista dos que têm mais, mascara as evidências egoístas,
calando a crítica de quem quer que seja. Afinal, quem dá aos pobres empresta a Deus e garante a ida aos céus
dos justos, como ensinam os textos sagrados. Portanto, infere -se que o caridoso é um justo celeste, não
importando se ele é um empresário inescrupu loso, um governante corrupto ou um criminoso perigoso.
Envolta na magia do protestantismo capitalista, a Holanda de Rembrant passou do mais austero recato
humilde à mais aberta luxúria e ostentação, mudando usos, costumes, aparências e valores morais, em q uestão de
uns poucos anos. Hipocrisia? Não, fé. Nas cidades pequenas, os mais velhos reclamavam baixinho, que se as
coisas continuassem assim, Amsterdã, a capital dos puritanos, um dia se transformaria na capital do sexo e do
consumo de drogas livres.
A sociedade moderna nasceu desse hibridismo torto e mau caráter, parido pela burguesia emergente,
louca para enterrar o modelo feudal e expandir os mercados pelos quatro cantos do mundo, derrubando governos
contrários, com a bênção do Pai, como convém, para qu e tudo continuasse como sempre foi.
Católicos, protestantes, israelitas, evangélicos, islamitas, comunistas, socialistas, jovens arrivistas, etc.
Se a história do passado requer uma leitura racional, para que se possa entender sua sistêmica, o presente faz -se
muito mais urgente. Isso, se, antes, a humanidade animalizada não fabricar um novo Inferno, talvez o último, com
rolos de enxofre saindo por todos os poros do planeta.
O animal com cultura evoluiu enormemente no âmbito tecnológico, mas nos campos socia l, intelectual,
individual e sistêmico, deixa muito a desejar. Entretanto, como sempre acontece na História Humana, do seu novo
patamar, ele busca integrar os sistemas que estão à sua disposição para formar um todo que esteja apto à sua
manipulação.
Ignorante e inconsequente, o bicho-homem mergulha no empreendimento mais arriscado da epopeia
humana: a globalização (integração de todos os sistemas naturais, humanos, artificiais e mistos) executada sem
estudos de impacto prévios que apresentem soluções em cas o de desastres sistêmicos de pequeno, médio e
grande porte.
Os conflitos espalhados pelo globo prometem ser crescentes. Ao se levar à união dos sistemas em escala
global, desencadeou-se um processo natural de tensão e sobrecarga sistêmica que pode levar o maximodelo à
fragmentação total.
Em 11 de setembro de 2001, atônito, o mundo recebeu um pequeno aviso do que poderá acontecer no
futuro, em escala mundial, se nada for feito imediatamente. Atingidas por raios vindos do céu, duas babéis
orgulhosas desfizeram-se em chamas infernais, por causa do confronto de duas religiões intransigentes. Ontem e
hoje, o desprezo à vida humana é o mesmo.
Em junho de 1099, quando Jerusalém foi libertada do domínio islâmico, durante a campanha da primeira
cruzada, um cronista cristão descreve a vitória dos fiéis sobre os infiéis:
―Todos os defensores da cidade abandonaram as muralhas e fugiram através da cidade e os
nossos os perseguiram, matando-os e acutilando-os, até no Templo de Salomão, onde a carnificina
foi tal que os nossos caminhavam com sangue até os tornozelos. ... Em breve corriam por toda a
cidade, arrebanhando o ouro, a prata, os cavalos, as mulas e pilhando as casas que regurgitavam de
riquezas. Depois, completamente felizes e chorando de alegria, os nossos foram adorar o sepulcro
do nosso Salvador Jesus e pagar as dívidas que tinham para com Ele. ...‖
Por onde passavam, rumo à Terra Santa, os cruzados pilhavam as cidades e massacravam as populações,
não poupando mulheres nem crianças. Houve um verdadeiro banho de sangue.
Há séculos, os fiéis de ambas as facções religiosas, cristãos e islâmicos, se perseguem como animais
famintos, crentes que os vencedores receberão os prêmios do Paraíso Celeste, como foi prometido por Deus, em
seus textos sagrados. Sagrados? Por q uê? Quem disse? Quem crê? Por que crê? São irracionais contra
irracionais. Animais contra animais, movidos pelas leis do mais forte.
Santo Agostinho afirmava que os hebreus descendem de Caim, o primeiro assassino bíblico, e que são
orientados pelo demônio em pessoa. No entanto, o Deus dos judeus não é o mesmo que acompanha os católicos e
os protestantes? Não é estranho que a Terra Santa seja foco perene de conflitos e assassinatos a sangue frio?
Será que Deus gosta de ver o sangue correndo no seu altar esco lhido?
Na atualidade, no século XXI, os animais humanos não estão preparados para participar de um tipo de
sistema globalizado que, para funcionar corretamente, exige que os produtos e serviços trocados entre os
elementos humanos sejam seguros e de altíssi ma qualidade.
Em um ambiente globalizado, a loucura ou a incompetência de um é problema de todos. Pois, basta a
ação, inconsequente ou maldosa, de um único bicho -homem para que se inicie a desintegração do Todo.
Não há mais ações isoladas, as informações e os fatos entram no sistema planetário e correm o mundo
com velocidade impressionante. Os produtos, serviços e resíduos dos sapiens, enfim estão em rede cósmica.
Todos esses fatores convergem para a necessidade de se encontrar novas soluções de trabalho, e nsino e
convívio social.
A educação do ser humano principia junto dos sistemas que sustentam e amparam sua sobrevivência:
sistema nuclear, sistema de parentesco e sistema de pessoas amigas (na infância, esse sistema é determinado
pelos dois sistemas anteriores, o nuclear e o de parentesco). Portanto, a educação da criança é filtrada e pouco
abrangente, porque fica limitada às crenças, aos conhecimentos, aos valores, aos pontos de vista e aos interesses
desse grupo de pessoas afins.
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 10
Ao entrar para a escola, a criança enfrenta um grande problema: vê -se diante de um universo diferente
daquele em que foi criada até então. Uma vez dentro da sala de aula, na companhia de Outros, os não -Eu, ela será
obrigada a organizar, de imediato, sua personalidade em processo d e formação para ser capaz de relacionar -se
socialmente com os elementos desse sistema social específico – a escola.
Dentro do modelo escolar, para poder sobreviver como ser biológico social, produtivo e cultural, a criança
tenderá a desempenhar um papel que seja coerente com seus parcos conhecimentos sobre si mesma, sobre suas
potencialidades e compatível com a pequena gama de papéis disponibilizados pelo grupo, de modo natural sendo a
maioria deles medíocre.
É importante salientar que, em grande parte das vezes, a criança, em sua essência, como indivíduo
potencial, é diferente do papel que está sendo levada a representar socialmente. Mas tanto a família quanto a
instituição de ensino, por estarem funcionando de forma limitante e limitada, não lhe oferecem c ondições de
aprofundar o conhecimento sobre si mesma para desenvolver -se de maneira saudável e orgânica.
Desse modo, quando consideradas pelo enfoque correto, as salas de aula são sistemas abertos
(microcosmos) que apresentam as condições necessárias para desenvolver e preparar os indivíduos de qualquer
idade para ingressarem na sociedade (macrocosmo), como cidadãos produtivos e responsáveis pelo histórico processual de seus produtos, serviços e resíduos, tornando -se, ao mesmo tempo, indivíduos diferentes e
complementares em relação às necessidades do todo orgânico ao qual pertencem. Esse é o ideal a ser alcançado.
Mas o ideal está longe da realidade. Então, o que se vê são oposições estratégicas e funcionais
envolvendo os professores e os alunos; ou os alun os contra os outros alunos; ou os alunos contra as matérias; ou
os alunos contra os poderes estabelecidos, estendendo -se da sala de aula à diretoria e à sociedade civil.
Na maioria dos casos, os alunos, na qualidade de sistemas individuais, não se abrem pa ra receber as
informações constitucionais que os levarão à condição de autoeducandos. Porque, em última instância, é o aluno
que se educa, quando percebe que é o único responsável pela construção consciente de si próprio, bem como de
seus produtos, serviços e enredos de vida. Ele é o educador e o construtor de si mesmo. O poder está em suas
mãos mágicas.
Atendendo a essa dinâmica que responsabiliza e educa, cabe à escola propiciar métodos, meios, materiais
e profissionais capacitados para facilitar a integr ação do aluno, de qualquer idade, às informações psicoestruturais
de qualidade, que garantirão seu desenvolvimento humano em conformidade sistêmica com o Todo racional.
Portanto, é inacreditável que o modelo vigente de educação, assistêmico em sua base ped agógica e
conceitual, ainda funcione para deseducar e desestruturar a maioria, sem que se faça algo de eficiente em prol do
homem e de sua humanidade latente.
Como característica sistêmica universal, típica desse microcosmos, podemos observar alguns
personagens representando papéis-padrão comuns (por exemplo: o aluno revoltado, o CDF, a namoradeira da
classe, o dedo-duro, o puxa-saco do professor, o esforçado inseguro, a putinha do colégio, o problemático, o
professor neurótico e outros) na micro e na macro escala, quando assistêmicas e doentias.
A sociedade problemática produz a escola problemática. Compatível com o histórico nacional doentio, os
norte-americanos, por exemplo, introduziram um novo tipo ao rol dos arquétipos pertinentes ao ambiente escolar: o
aluno cowboy, de arma em punho, que atira contra índios, negros, vietnamitas, japoneses, alemães, latinos,
russos, chineses, cubanos, islâmicos, marcianos, pobres, bandidos, mocinhos... The american way of life.
No interior da escola, as pessoas se exerci tam como seres sociais, incorporando papéis preestabelecidos
pela sistêmica escolar. Se o fenômeno não for controlado, os alunos (os atores sociais) vão carregar o ônus da
interpretação pelo resto de suas vidas e das vidas dos que estão ao redor, sofrendo as consequências.
Aprende-se a ser bom aluno, assim como aprende-se a ser bom filho, bom pai, bom profissional, etc. O
não investimento na busca pela excelência na formação acadêmica, interfere na construção dos demais papéis
*
sociais que o sujeito vai representar em sua história de vida. Os papéis sociais estão interligados e evoluem
conjuntamente. Os indivíduos evoluídos e responsáveis buscam alcançar o melhor em cada um deles. Conhece -se
a qualidade do homem pela quantidade de papéis que ele representa n o mundo.
Por exemplo, qual o tipo de homem e pensador que foi Marx? Esse homem conseguiu fracassar em todos
os papéis que representou na vida. Foi péssimo filho, irmão, neto, sobrinho, primo, aluno, empregado, patrão,
*
marido, pai, amigo, vizinho e cidadão . No entanto, esse cancro humano produziu ideias que movimentaram
milhões de sujeitos pensantes e agentes. Como alguém pode seguir uma pessoa tão desequilibrada e mau caráter?
Que tipo de ideias um homem desses pode produzir? Com quais intenções? Querendo ludibriar e explorar quem?
“O indivíduo se baseia no conjunto de seus scripts sociais internos, localizados nos registros mentais, para representar os papéis que vão definilo como pessoa.
*
Os scripts sociais internos se formam naturalmente no âmago da mente do sujeito pensante e agente, seja por aprendizado ou a partir das
informações cognitivas que o mesmo recolhe de forma inconsciente e consciente, dos ambientes naturais e humanos em que vive e se desenvolve.
Em conformidade com as leis matemáticas e orgânicas que constroem o Universo e tudo que ele contém, cada script social interno se organiza
como um sistema aberto de dados racionais e emocionais afins, que se unem com o intuito de funcionalizar o pensamento e o comportamento do
agente causal, o sujeito pensante e agente. É por intermédio desses scripts sociais internos, somados às demais dinâmicas e funções da mente, que
a personalidade se estrutura e passa a interagir com o meio que a cerca.
Entretanto, se a sistêmica mental vier a abrigar um único script social interior mal formado ou mal orientado, a totalidade da arquitetura íntima
que sustenta a psique se deformará e passará a criar perigosas distorções no pensamento e na ação produtiva do sujeito. Em igual medida, se
houver a falta de um ou mais scripts sociais internos no âmago da sistêmica mental do indivíduo, ele se sentirá impossibilitado de se envolver de
modo satisfatório e pleno nas relações pessoais pertinentes aos scripts em questão.
As culturas planetárias devem cuidar para que todos os indivíduos tenham condições de construir e de organizar scripts sociais internos,
relacionamentos pessoais e dinâmicas macrossociais que promovam a expressão elevada de suas divinas almas humanas.”
(Trecho do livro Estruturologia, de Caio Ares)
*
Para saber mais sobre o assunto, leia o livro Jenny Marx ou a mulher do diabo, de Françoise Giroud, editora Record, 1996.
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 10
Desde os primórdios, na Mesopotâmia, as escolas, na quase totalidade, não apresentam condições de
garantir a evolução de cada aluno e da classe como um todo. Assistêmicas na configuração e na função, as salas
de aula, de ontem e de hoje, são verdadeiros nichos de má formação humana.
De modo pitoresco, o modelo escolar, quando irracional, favorece o surgimento espontâneo de zonas
específicas comuns a qualquer época e espaço, que aparecem como bairros ou localidades demarcadas, tamb ém
encontradas na macroescala social, onde os personagens se alocam, segundo suas tendências ressaltadas pela
sistêmica do ambiente escolar (por exemplo: o ―fundão‖, as carteiras à frente do professor, o centro, as laterais,
etc.). Assim, representando papéis inadequados e participando de sistêmicas danosas, os alunos informam -se
intelectualmente e enformam-se como pessoa humana, agregando adjetivos e valores à sua individualidade, os
quais comprometem suas oportunidades de realização pessoal no futuro.
Desta feita, os educadores e as escolas deixam de cumprir as funções socioeducativas, não preparando
os alunos para as dinâmicas da vida em sociedade. São raros os casos em que os alunos e formandos modernos,
ao findarem os estudos acadêmicos, ingressam na ca deia produtiva sem apresentarem graves deficiências
sistêmicas, emocionais, intelectuais, morais e éticas, que muitas vezes vão acompanhá -los por toda a existência.
Desde que sejam propiciados por modelos sistêmicos inteligentes, as salas de aula, do jardi m de infância
às universidades, apresentam todas as chances de oferecer climas ricos em experiências humanas que formam e
informam cidadãos autoeducados, conscientes dos seus papéis e produtos, tornando -os assim, seres sociais
sinérgicos e participativos na construção e manutenção da riqueza que compõem o macrosistema social – a
sociedade civil.
Portanto, não basta passar-lhes informações, tarefas ou reprimendas, é necessário que os alunos se
tornem elementos sistêmicos responsáveis pelo histórico -processual dos seus produtos e serviços, desde a
geração e manutenção da sua prole ao fruto do seu trabalho.
A instituição socioeducativa escolar, porém, não é o único organismo sistêmico que possui a capacidade
de desenvolver e civilizar o indivíduo, humanizando -o mais amplamente, há também a empresa comercial.
A empresa alia o gabarito cognitivo, sobre o qual é formada a estrutura comportamental da mesma, à
responsabilidade de ser um organismo que leva seus elementos sistêmicos, os trabalhadores, a produzirem
produtos e serviços comercializados e difundidos conceitualmente em grande escala.
Quando assistêmica, a empresa também apresenta personagens, modelos, zonas, pontos focais e sinergia
deficiente. Entre os personagens típicos das dinâmicas produtivas problemáti cas, estão o sabotador, o ladrão, o
fala mal do patrão, o agitador, o fofoqueiro, o leva e traz, o espião industrial, o chefe neurótico, o torce -contra, o
diretor ou o gerente corrupto e outros tipos assistêmicos.
Do ponto de vista sistêmico-sinérgico, a existência dessas figuras na empresa denuncia que a organização
está enferma, além do que, sua sobrevivência e longevidade no mercado estão ameaçadas.
A instituição comercial, por sua extrema diversidade humana, de organização e função, é o local mais
propício para o indivíduo continuar seu desenvolvimento pessoal, social e profissional. Porque, se o trabalhador
não conseguir evoluir organicamente em seu espaço de trabalho, dificilmente o conseguirá em seus ambientes
íntimos, onde as relações são particulare s e sofrem cobranças de caráter afetivo, amoroso ou familiar.
Por ter condições de proporcionar inúmeras oportunidades de crescimento interior e exterior aos
funcionários, as empresas são escolas, em gênero, importância e caso. Por intermédio da sistêmica e da cultura
internas, que devem estar focadas na evolução contínua de pessoas, processos e produtos, a organização
produtiva tem por obrigação, instigar e garantir a evolução pessoal dos trabalhadores – as células vivas do sistema
empresarial. Não há empresas estáveis e de sucesso, quando seus trabalhadores são uns fracassos humanos.
Afinal, ao preparar-se com responsabilidade para ser um profissional competente e de futuro garantido, o
qual busca desempenhar seus papéis sociais com o máximo de excelência e responsabilidade produtiva, o homem
e a mulher descobrem a importância em desenvolver seus atributos individuais, para serem capazes de conviver
com pessoas variadas, as quais, por sua vez, devem estar aptas a formar equipes sistêmicas flexíveis,
solucionadoras e produtivas, somando os fatores biológicos aos sociais e aos culturais, na formação das estruturas
interiores e exteriores, comuns aos seres humanos.
Isso requer de cada trabalhador, do menor ao mais graduado, investimentos consistentes em educaçã o,
cultura geral, ética, moral, saúde, bons modos, aparência pessoal, redes de relacionamentos construtivos,
expansão intelectual e pensamento reflexivo, entre outros fatores capitais.
Nesse contexto amplo, o trabalho é muito mais do que um emprego ou uma opção de ganho financeiro, na
verdade é uma chance de aprender a adquirir qualidade nos relacionamentos sociais e produtivos.
Quando, no futuro, houver nas empresas a integração sistêmica dos trabalhadores e dos processos de
qualidade aos produtos, o indivíduo perceberá que produzir com excelência e consciência produtiva vai além da
sua responsabilidade com a organização, com os chefes e administradores ou com os consumidores finais. Antes,
na cadeia produtiva, ele está produzindo para si próprio. Os produt os e serviços gerados são espelhos de si
mesmo que refletem seu valor e nível evolutivo, enquanto pessoa em processo de individualização e humanização.
Segundo o que é comum à dinâmica dos sapiens, as dificuldades encontradas pelo criador, obrigam -no a
desenvolver suas capacidades natas, morais e éticas, para habilitá -lo a moldar a matéria sensível, segundo sua
vontade.
Essa relação produtiva contínua de aprendizado e especialização interior e exterior leva o produtor a
incorporar inconscientemente as quali dades dos materiais com que ele trabalha, com vistas a superar limitações e
resistências de ambas as partes. Dentro desse conjunto de fatores sistêmicos e sinérgicos, a cultura tende a
direcionar e amparar a ação daqueles que estão sob sua tutela.
Na Grécia Clássica, a relação produtiva individual e grupal contava com a orientação de um tipo de cultura
que buscava sentir e materializar a verdade em todas as coisas: no cosmo, no mundo, no homem e em sua
produção. Para os gregos, a verdade era sinônimo de ord em, beleza e harmonia. A base cultural originada em
tempos creto-micênicos, cozida em conjunto com os encantadores versos de Homero, bastou para que os helenos
munidos de espírito criativo e bons materiais legassem personalidades e obras -primas insuperáveis à humanidade.
Na arte, a busca pela perfeição da forma e do conteúdo, auxilia na evolução da vida humana, ao interferir na
construção positiva do intelecto do produtor, do consumidor e do apreciador do objeto artístico.
Tanto a estética quanto a moral e a ética representam a intenção inteligentes do sujeito que se revela no
pensamento e na ação produtiva. Durante o Império Romano, a cultura grega sobreviveu miscigenada à cultura
latina. Mas ambas morreram quando foram confrontadas pela cultura cristã, de baixa qualidade produtiva e,
portanto, sem qualidade moral e ética.
58
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 10
Os homens e os povos se constroem (para o melhor e para o pior) por intermédio de suas obras. Pois, não
há como negar que os produtos revelam os valores e o patamar evolutivo de quem os pr oduziu, seja o produtor um
organismo vivo, um povo, uma organização ou uma pessoa.
Ao espelhar-se em suas obras – seus produtos –, o homem acaba absorvendo os quesitos da produção à
sua personalidade: qualidade, espécie, forma, função, significado e símbol o. Então, o produtor e o produto tornam se um só, estando unidos por forças físicas e psicológicas, indestrutíveis. Imagem e reflexo um do outro. Quando o
agente produtor descobre esses fatores incontestáveis, está pronto para desenvolver -se de modo ininterrupto e
completamente responsável.
Das culturas conhecidas, nenhuma se mostrou tão imprópria à evolução de indivíduos e sociedades,
quanto a cultura judaica. Por sua culpa, o povo judeu tem sofrido em todos os cantos, milênios após milênios.
A cultura judaica tem produzido que tipo de processos produtivos e históricos? Que tipo de homens? Que
tipo de resíduos? Que tipo de produtos? São racionais? Humanos? Irracionais? Não humanos?
Por ser uma cultura inversora, a ordem natural se põe contra sua expressão e progresso, tentando corrigila por intermédio do infortúnio. Pelas consequências, conhece -se a qualidade das causas.
Pobre judeu, quem o salvará das garras de sua própria cultura? Quem salvará a Humanidade? A
humanidade e a racionalidade dos homens?
Além da judaica, que outras culturas merecem ser revistas? A islâmica? A tibetana? A americana? A
hindú? Quais mais? O que fazer quando uma certa cultura vitima um ou mais povos? As culturas humanas estão
alinhadas com as forças positivas do Universo?
Até o presente momento, a biosfera terrestre tem sido dinamizada por jogos de vida e morte pouco
racionais, mas que se mostram eficientes ao funcionalizar o conjunto dos comportamentos interligados de todos os
seres vivos, com seus respectivos produtos e serviços, mesmo quando a maioria das partes constituintes
apresentam níveis ínfimos de inteligência ou racionalidade.
É inequívoca a presença crescente da razão, o Logos dos gregos, nos processos bióticos que formam os
reinos naturais. Do aparecimento dos primeiros sistemas orgânicos há quase quatro bilhões de anos, compostos
por organismos unicelulares primitivos, até ser atingida a complexidade impressionante dos biomas da atualidade,
percebe-se que pouco a pouco, os sistemas foram evoluindo à medida que surgiam es pécies cada vez mais
complexas, mais ―inteligentes‖, mais diversificadas e mais preparadas para solucionar os problemas que iam sendo
propostos pelas condições cambiantes do macrossistema planetário.
Sabe-se que a inteligência sistêmica dos ambientes influ encia na construção formal e funcional dos
organismos vivos, na mesma proporção em que ocorre o inverso. As partes e o todo evoluem em conjunto.
O animal com cultura, o homem, locador natural da magnífica mente humana, é a mais nova aposta da
Mãe-Natureza à evolução da Terra. No entanto, esse ser potencialmente racional precisa evoluir rápido antes que
a irracionalidade da sua ação supere a racionalidade do conjunto universal e impeça a continuidade de qualquer
tipo de dinâmica lúdica biótica, por tempo ind eterminado. Se o planeta for danificado pelos homens irracionais, ele
poderá voltar à condição de semente cósmica, à espera de uma nova chance de ter a vida brotando de suas
entranhas.
A vida terrestre nasceu em meio a desafios quase intransponíveis. Para sobreviverem, os sistemas
nascentes foram obrigados a superar as inúmeras pressões contrárias. Começava a funcionar, então, a sinergia da
luta pouco racional pela sobrevivência a qualquer custo.
Somos filhos legítimos dessa inteligência sistêmica original. Somos todos filhos da luta, da vida e da
morte do mais fraco. Somos filhos do instinto, mas também somos filhos da razão maior que está tentando
construir o planeta Terra e o Cosmo. Cada um de nós é responsável por assenhorar -se da luz que, ao espantar as
sombras, ilumina nosso próprio caminho.
Herdamos as características de todos os sistemas que entram em nossa configuração sistêmica única
(sistemas: nuclear, de parentesco, de amigos, de bairro, de cidade, de estado, de país...). E, apenas pela razão,
evoluiremos a fim de transformar o planeta Terra em um local onde a vida não precise mais nascer pela dor e pelo
sofrimento. Isso vale para todas as espécies naturais, incluindo a espécie humana.
Mas, por ora, por pensarmos e agirmos com menos inteligência e racionalidade do que os vírus, os insetos
e os animais não humanos, nós, os homens, nos tornamos a maior ameaça à Mãe -Natureza. A mesma Mãe que
nos projetou e nos gerou com tanta boa-fé. Esperançosa, ela acreditou em nosso potencial descomunal e nós,
crentes nos deuses e enlouquecidos por eles, começamos a destruir a Natureza. Unido às partes, o bicho -homem
involuiu o conjunto.
A Humanidade é humana? Ainda não.
Como pode haver humanidade, quando todos, dos miseráveis aos multimilionários, dos tolos aos ―sáb ios‖,
das ―santas‖ às putas, espalham a pobreza humana por onde passam? São bichos que mentem, enganam, traem e
deixam-se ser traídos e enganados para poderem sobreviver e prosperar. Exceto o homem, nenhum outro ser vivo
se mostrou tão irracional, a ponto de provocar a destruição da biosfera.
Presa e predadora. Vítima e assassina. Pobre gentalha orgulhosa de sua loucura. Pobre Humanidade
quase sem humanidade nenhuma.
A distribuição das massas físicas do planeta Terra está sendo desastrosamente alterada com a extração
inconsequente de materiais e substâncias do solo e do subsolo (petróleo, gases, lençois freáticos, metais, carvão,
pedras preciosas, etc.) e a construção irresponsável de megacidades superpopulosas e amantes de edificações
colossais. O bicho homem esgarça a tecitura das tramas que formam o tecido da crosta terrestre ao impor -lhe
pesos, massas, volumes e práticas estranhas às dinâmicas evolutivas da Natureza.
A intromissão irracional e destrutiva interfere no equilíbrio da massa total do planeta. Graças aos
desequilíbrios já provocados, o eixo terrestre já está em processo de correção trazendo consequências graves à
Humanidade. Ninguém se dá conta? Enquanto o chão rui sob seus pés, os cientistas crentes, sempre soberbos e
embevecidos com a própria inteligência manca, se encantam com o brilho das estrelas criadas por Deus, junto de
tudo que há, em seis dias. No sétimo, descansou.
Santos, sábios ou idiotas amorais? Se a ciência trata da racionalidade sistêmica e matemática do
Universo e de todos os elementos universais, dos átomos às galáxias e à mente humana, como os praticantes e
estudiosos da ciência podem ser irracionais a ponto de acreditarem na existência física, energética e intelectual de
Deus? Que mundo é esse? Em quem se pode confiar? Enlouqu eceram? Os efeitos são devastadores. A justiça
continua sendo feita, as contas continuam sendo corrigidas. Os que erram...
59
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 10
Os homens, os sujeitos pensantes e agentes, não foram criados por acaso natural ou por capricho divino.
Em termos cósmicos, a racionalidade humana possui uma função sistêmica precisa: acelerar o processo de
racionalização da sinergia planetária.
Por estar no topo da escala evolutiva, cada homem já nasce com a responsabilidade de contribuir com a
evolução das espécies vivas, e dos biomas que as contêm, desenvolvendo o potencial racional das unidades
sistêmicas e dos conjuntos sistêmicos, como um todo único e inteligente.
O ser humano nasceu para ser guardião e mestre racional da Natureza.
―O homem possui a sombra e a luz, a irracionalida de e a racionalidade entranhadas em sua
essência. Se optar por espantar as sombras, seu caminho será eternamente protegido e iluminado.
Porque, se for luz e se fizer luz, é sinal de que se conscientizou que é Um, uma presença criativa
única no tempo e no espaço, um elemento sistêmico universal que sempre existiu e que sempre
existirá como potência matemática absoluta e predicativa.
Então, o homem que se libertou da irracionalidade para unir -se à racionalidade da sistêmica
universal, mira no infinito e enxerga seu próprio reflexo estampado no firmamento. Ele e o Todo,
enfim, são um só. A união há tanto tempo sonhada realizou-se.‖
(Caio Ares)
60
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 11
CAPÍTULO 11
Durante a evolução da história da cultura humana, as classes dominantes, em posse das teorias, da s
práticas e dos símbolos de poder das comunidades, conseguiam controlar os jogos sociais, manipulando a
imaginação e a sinergia produtiva das pessoas, com o anteparo das forças armadas.
Nas sociedades agrícolas primitivas, divididas em classes dependentes da terra, os grandes proprietários
(reis, nobres, sacerdotes e generais) ocupavam o topo da pirâmide social, dominando o território nacional e tudo
que havia sobre ele, das coisas aos seres vivos. Na base da pirâmide, amontoavam -se os que tudo deviam porque
nada possuíam.
Para perpetuar a oferta da mão de obra barata em grande quantidade (os braços multiplicados que
sustentavam os estados), as crenças religiosas, as tradições culturais e as leis (humanas e divinas) eram
formuladas, entre outros objetivos, para limitar ao máximo a evolução individual dos pobres e dos escravos.
Os trabalhadores braçais deveriam ser mantidos nos duros ofícios, de geração em geração, presos às
respectivas classes baixas e, de preferência, mansos e resignados para que as ―coisas ‖ se mantivessem no lugar
em que os poderosos os punham, segundo os interesses da época.
Nesses sistemas irracionais e imbecilizantes, o comércio representava um mal necessário. O Estado
lucrava e não conseguia sobreviver sem um sistema de trocas ativo. Em contrapartida, os comerciantes
conseguiam acumular riquezas com maior eficiência e segurança do que a elite rural conservadora, a qual jogava
com a sorte na lide com a terra.
Com a entrada nos Novos Tempos, marcada pela presença crescente da burguesia (a nobreza do
dinheiro) nos altos postos administrativos, a situação se alterou para os indivíduos ligados ao comércio, que
passaram a apresentar um peso diferente na construção e na organização dos corpos sociais, podendo participar
de forma progressiva na condução política dos países.
Rápido, os construtores do Paraíso do Consumo aprenderiam a criar cordéis para prender os fantoches
que lhes pertenciam por direito: os trabalhadores e os consumidores. Em breve, o Jardim das Delícias iria crescer
e começar a interferir na estabilidade dos Estados. O mundo nunca mais seria o mesmo. Pelo menos nas
aparências...
Sendo assim, a cabeça do homem moderno, além de ser propriedade do governante e do sacerdote, hoje
também pertence aos profissionais do universo do comérc io, que dela se apossam, usando os mesmos truques de
sempre.
Como os tempos mudam, mas se preservam as mágicas que mantêm a ralé cativa, a economia de
mercado da sociedade cristão moderna incorporou ideias, imagens e diretrizes bíblicas, como os princípios da
*
**
caridade e da custódia , com a bênção das igrejas católicas e protestantes, para sinalizar aos fiéis consumidores
do sobrenatural, que a vaidade, a ostentação e o desejo de consumo eram comportamentos aceitos por Jesus
Cristo. Por sinal, o mesmo Cristo que, plagiando Buda (nascido cerca de 566 a.C. e conhecido em todo o mundo
antigo, da China à Grécia), pregava o despojamento total e a ausência absoluta do desejo de consumo.
Quem não se lembra do Filho de Deus afirmar que ―É mais fácil um camelo passa r pelo buraco da agulha
do que o rico entrar no reino do Pai‖ ou ―Quando deres um banquete não convida teus amigos mas, sim, os pobres
e os estropiados‖ ou ―Bem-aventurados os pobres porque deles é o reino dos céus‖?
As máximas que o Filho de Deus pregava, por ordem do Pai, como sendo suas, circulavam pelo Império
Romano havia séculos. Na verdade, o que Cristo fez foi criar um mix populista de enunciados judaicos, gregos,
persas, hindus, egípcios, etc., para comercializá -lo como se fosse um novo produto junto a clientes de baixa renda
e pouco senso. O Velho Testamento também é pouco original. Está repleto de lendas retiradas das culturas
suméria, babilônica, hitita, hindu, persa e etc. Parece que o povo judeu absorveu (roubou?) a parte mais importante
da história dos povos com os quais mantiveram contato, tomando -as como sendo originalmente suas. De cabo a
rabo, do Velho ao Novo Testamento, a Bíblia apresenta o maior conjunto de fraudes históricas do mundo.
Independente da apropriação do pensamento alheio, o que mais salta aos olhos na avaliação da Boa Nova
messiânica, é o juízo do messias. Suas palavras denunciam uma personalidade neurótica, psicótica,
esquizofrênica, maníaco-depressiva, pessimista, irracional e dada a alucinações. São tantos os problemas men tais
que é quase impossível terem pertencido a uma só pessoa, no caso, Jesus de Nazaré, o salvador da humanidade.
Salvador?
No livro O Evangelho Segundo o Espiritismo , Allan Kardec nos fornece um retrato fiel da opinião de Jesus
sobre o planeta, sobre a missão do homem no mundo e sobre a gerência administrativa do Criador na ordem das
coisas:
―E, porventura, a Terra é um lugar de alegrias e um Paraíso de delícias? Não ressoam ainda
aos vossos ouvidos as palavras dos profetas? Não disse que haveria choro e ranger de dentes para
os que nascem nesse vale de lágrimas, de dores e sofrimentos? Vós que nele vieste viver, espera
lágrimas ardentes e penas amargas e quanto mais agudas e profundas forem as vossas dores,
*
Princípio da Caridade: Prega que os mais ricos devem ajudar os mais pobres.
**
Princípio da Custódia: Prega que as empresas e os indivíduos mais ricos devem agir como guardiões sociais, preservando e aumentando suas
fortunas, para o bem da sociedade.
Baseados nos ensinamentos bíblicos, os dois princípios foram lançados no livro O Evangelho da Riqueza, de autoria do magnata fundador do
conglomerado U.S. Steel Corporation, Andrew Carnegie. “Ambos os princípios eram francamente paternalistas, viam os donos de empresas
como pais de empregados que pareciam crianças ... A ideia de Carnegie era de que os ricos guardavam o dinheiro “em confiança” para o resto da
sociedade ... era também função das empresas multiplicar a riqueza da sociedade, aumentando a sua própria por meio de investimentos prudentes
dos recursos postos sob sua custódia” (Stoner e Freeman 1995).
61
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 11
levanta os olhos ao céu e bendizes ao Senhor por vos haver querido provar.‖ ... ―A felicidade não é
deste mundo. Realmente: nem a fortuna, nem o poder, nem mesmo a juventude são condições
essenciais para a ventura; direis mais; nem mesmo a reunião dessas três condições tão invejadas,
porque se ouve continuamente, em meio às classes mais privilegiadas e as pessoas de todas as
idades, a queixa amarga de sua condição de vida.‖ ... ―Bem sofrer, mal sofrer. Quando Cristo disse
‗Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados‘, não se referia, em g eral, aos que
sofrem, porque todos aqui sofrem, quer vivam em palácios, quer vivam em cabanas. Mas ah! Poucos
sabem sofrer bem, poucos compreendem que só as provas bem suportadas conduzem ao reino de
Deus.‖ ... ―A recompensa será tanto maior e mais precios a quanto maior houver sido a aflição.‖ ...
―Mesmo que tivésseis de chorar e sofrer toda uma existência, que significa isso ao lado da
eternidade de glória reservada ao que houver suportado a prova com fé, amor e resignação.‖ ...
―Busca, pois, consolo para os vossos males no futuro que Deus vos prepara e vós, os que mais
sofrem, sentir-vos-ei como os felizes da Terra.‖ ... ―Não resistais àquele que te fizer mal.‖ ... ―Perdoa
setenta vezes sete.‖
Paranoia? Mistificação? Não, fé.
Fé mística e hipocrisia são facetas da mesma moeda de trocas. Uma não existe sem a outra. Da mesma
forma, todos aqueles que fazem uso da fé mística são hipócritas à sua maneira. A fé humana nada tem a ver com a
fé mística.
Sobre essa questão, Madre Tereza de Calcutá legou -nos um belo exemplo, com a cruz cravada no peito e
as palavras do Pai na ponta da língua. Tereza ficou mundialmente famosa por seguir à risca as leis de Deus e de
seu filho amado, Jesus. No entanto, para espanto de todos, quando a madre santificada abandonou os palcos da
vida e as manchetes dos noticiários, descobriu -se que a religiosa desacreditava da existência de Deus. Hipocrisia?
Não, fé.
Todavia, há mais. No Evangelho segundo João, encontramos:
―De novo lhes falava Jesus, dizendo: Eu sou a luz do mundo; quem me se gue não andará
nas trevas, pelo contrário terá a luz da vida.‖ (8,12; Mat 5,14; Jó 9,5)
Na Primeira Epístola de João, encontramos:
―Não ameis o mundo, nem as cousas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor
do Pai não está nele.‖ (2,15)
―Porque tudo que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a
soberba da vida, não procede do Pai, mas procede do mundo.‖ (2,16)
―Ora, o mundo passa, bem como a sua concupiscência; aquele, porém, que faz a vontade de
Deus permanece eternamente.‖ (2,17)
―Nisto conhecemos o amor, em que Cristo deu a sua vida por nós; e devemos dar nossa vida
pelos irmãos.‖ (3,16)
Isso é o Cristianismo. Isso é o Espiritismo. Isso conduz à mediocridade Humana. Isso animaliza o sujeito
pensante e agente, o magnífico ser humano. Isso destrói a vida saudável. Involução humana? Não, fé.
O Todo é mente e corpo; é pensamento sistêmico e resultado; é energia e massa; é razão crescente, luz e
vida. O maravilhoso mundo da matéria, a parte visível do Universo, é a obra -prima dessa inteligência monumental.
Igual ao homem, é criador e criação, é produtor e produto de si mesma, é indivíduo e número únicos. Na arte e na
vida, o homem evolui pela matéria, a mesma matéria que ele precisa aprender a amar e respeitar para ser capaz
de transformá-la em obra-prima digna de pertencer ao Todo.
Moisés, Buda, Jesus, Maomé e todos os espiritualistas estão errados, o ser humano evolui por intermédio
da matéria. A arte é a verdadeira religião humana, a religião que revela o verdadeiro criado r divino e profícuo.
Todas as religiões usam e abusam dos conceitos e dos predicados da Luz e das sombras para atrair os
fiéis. O fundador do budismo, Sidarta Gautama, recebeu o codinome de Buda, que em sânscrito ( buddah) significa
―o Iluminado‖, aquele que ilumina os caminhos para a libertação do Carma. Os budistas creem em planos
superiores habitados por seres divinos e felizes. O fiel atinge a iluminação quando consegue renunciar
completamente aos apelos da matéria, fonte de dores e sofrimentos.
Para ludibriar o público leitor, a Bíblia é pródiga em citações e histórias que empregam a luz como
símbolo de força e salvação. Nos Salmos, livro de hinos e rezas, escritos de 1000 a 333 a.C., há passagens
famosas:
―Ainda que eu ande por um vale escuro como a mo rte, nada temerei. Pois tu, ó senhor Deus,
está comigo; tu me proteges e me dirige.‖ (23,4)
―O Senhor Deus é a minha luz e a minha salvação, de que terei medo?‖ (27,1)
―Tu és a fonte da vida e, por causa da tua luz, nós vemos a luz.‖ (36,9)
―Assim, é Deus, eu ando na tua presença, eu ando na luz da vida.‖ (56,13)
―O Senhor Deus é a nossa luz e nosso escudo.‖ (84,11)
―Alguns estavam vivendo na escuridão, nas trevas, aflitos e presos com correntes de ferro
porque haviam se revoltado contra as ordens do Deus a ltíssimo e rejeitado os seus ensinamentos.‖
(107,10-11)
―A tua palavra é lâmpada para guiar os meus passos, é luz que ilumina o meu caminho.‖
(119,105)
A fundação alemã Bertelsmann Stiftung entrevistou 21 mil pessoas de 18 a 29 anos, em 21 países, sobre
o tema religiosidade: 85% se disseram religiosos e 44% muito religiosos. No Brasil, os que disseram ser muito
religiosos atingiu a marca dos 65%.
Einstein, em carta enviada ao amigo Eric Gutking, em 1954, afirma: ―A religião judaica, como todas as
outras religiões, é uma encarnação das superstições mais infantis ... a palavra Deus para mim nada mais é do que
expressão e produto da fraqueza humana‖.
Como pode ser visto até agora, as religiões colecionam contradições não explicadas, que o público engole
sem o menor escrutínio. O Cristo da Igreja Católica é absolutista e feudalista. Prega o sofrimento bem suportado e
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 11
a simplicidade (pobreza interior e exterior) como regra de vida para o fiel agradar o Pai e alcançar o Paraíso. Já, o
Cristo protestante, é liberal e capitalista. Prega o bem-viver, o sucesso pessoal e o desejo de consumo nessa vida
e na outra. Ambos os personagens são opostos. Qual deles é o verdadeiro? Ou será que os dois são falsos?
Fora as contradições dessa ou daquela religião ou desse ou daquel e personagem sagrado, é praxe
encontrar nas empresas o pensamento técnico -administrativo misturado ao pensamento mágico -religioso, com a
intenção de criar normas de qualidade, conceitos comerciais e dinâmicas produtivas que embaralhem o raciocínio
dos trabalhadores e dos consumidores, que passam a trabalhar e consumir sem atentar para o fato de que estão
sendo explorados como animais produtivos.
Marcus Buckinghan e Donald O. Clifton, autores do livro Descubra seus Pontos Fortes, escrito a partir da
pesquisa efetuada pelo Instituto Gallup, com mais de 2 milhões de pessoas, em 101 empresas de 63 países,
afirmam que:
―A humanidade tem investido há séculos em sua fixação na culpa e no fracasso ... a maioria
das empresas opera com 20% da sua capacidade humana (8 0% do potencial nato do trabalhador é
desperdiçado) ... o mercado global de hoje tem um ritmo acelerado, é extraordinariamente complexo
e amoral‖.
Não se pode mais disfarçar o indisfarçável. Os homens, em todas as partes do mundo, são amorais e
involuídos. E agora?
O homem é um produtor histórico que, com seus produtos, modela -se, modela a sociedade e direciona os
rumos da História; mas quando é contratado, treinado e pago para produzir e consumir produtos e serviços sem
altos valores agregados, os quais são confeccionados de forma irracional e não humana, conforme teorias e
conceitos inorgânicos, passa a construir uma sociedade autodestrutiva e completamente assistêmica.
No princípio, as organizações precisavam preocupar -se apenas com a eficiência dos sistemas produtivos.
Reproduzindo a noção dos mercados e dos recursos limitados, essas organizações eram vistas e entendidas
simplesmente como instituições econômicas com responsabilidade para resolver problemas econômicos
fundamentais como: o que produzir, como produzir, para quem produzir, quanto investir, como vender e por quanto.
Há muito, essa compreensão revelou-se perigosamente limitada porque está evidente que o contexto de
atuação das empresas é muito mais abrangente e invasivo, enquanto o modelo de ge stão dos negócios sofre
questionamentos e julgamentos cada vez mais severos e corrosivos. Mediante tais observações empíricas da
realidade das empresas, constata-se a necessidade de se encontrar novos modelos de gestão para cada tipo de
empresa, instituição e outras formas jurídicas de entidades.
Entretanto, contrariando a urgência em se adquirir uma visão orgânica e consequente sobre o
funcionamento de uma e de todas as empresas em conjunto, a visão acadêmica ainda em vigência, trata a empresa
como uma soma de partes funcionais interligadas, orientadas à produção, comercialização e distribuição de
produtos e serviços. Essa definição equivocada aproxima -a de um mecanismo produtivo com foco na produção, nos
produtos e na saída dos mesmos – as vendas, convertidas em lucros que voltam à empresa.
A partir dessa compreensão mecanicista desfocada e interessada no capital, as teorias e os conceitos
utilizados para criar, gerir, organizar e administrar uma organização produtiva são formulados levando -se em conta
as experiências de determinadas empresas marcantes na economia de um determinado país.
As teorias e práticas que são tomadas como referência à criação de regras, explicitam e formalizam
conceitos que, longe de servirem para qualquer caso, demonstram ser empiri camente viáveis e pertencentes aos
ambientes onde foram geradas – e dos quais são consequência sistêmica lógica, estando então, circunscritos ao
tempo, espaço, experiência, competência e modelos sistêmicos dos mesmos. Portanto, não são ―fórmulas mágicas‖
mas, sim, produtos específicos daqueles sistemas.
Porém, desconsiderando essas singularidades fundamentais, é prática comum, no mundo empresarial
globalizado, que esses resultados sejam tomados como padrão e que os conceitos se expandam, sem se atentar
para os perigos da sua implantação indiscriminada.
Contra o conjunto empresarial heterogêneo, utiliza -se a premissa dos bons e velhos vendedores de
soluções messiânicas e salvadoras, que o que é válido para uma empresa ou um pool de empresas bem sucedidas
em determinada época e circunstância, é ótimo para todas em qualquer tempo, espaço e situação, desde que se
reproduzam as mesmas condições e se imponham as mesmas normas preconizadas pelas teorias consagradas
nacional e internacionalmente, reduzindo o mundo ao funcionamento comum.
Portanto, a implantação de programas oportunistas que alteram o funcionamento organizacional e agridem
a estrutura natural de uma empresa de forma assistêmica e irresponsável, pode destruir suas bases de
sustentação internas e externas, levando-a a um estado crítico e irrecuperável, no qual perde as referências como
indivíduo produtivo que possui identidade, inteligência, função, destino e predicados únicos.
De forma alguma, deve-se esquecer que à semelhança do sujeito pensante, agente e transformador, cada
empresa possui um patrimônio constituído de sua concepção e situação inaugural, histórico particular, inteligência
personalizada, órgão de executivos, órgão de trabalhadores e modelos sistêmicos absolutamente únicos que lhe
dão DNA, interesses, necessidades distintas e oportunidades de evolução e expansão individual.
Longe de ser um mecanismo produtivo que deve funcionar de forma padrão, segundo pregam as teorias e
as normas de cunho quase religioso, as empresas demonstram ser complex os sistemas empresariais vivos,
racionais, dinâmicos, responsivos, criativos, produtivos e potencialmente transformadores, cujo funcionamento e
consequente longevidade estão submissos ao desenvolvimento integrado dos seus fatores biológicos, sociais,
técnicos e organizacionais.
De forma concomitante, o enfoque tradicional da empresa como instituição econômica que tem a
responsabilidade consubstanciada na maximização dos lucros e na minimização dos custos, atualmente sofre
cobranças do macroambiente no qual opera sua missão econômica e social.
Entende-se por macroambiente as exigências que são feitas pelas partes integrantes em um negócio,
formalizadas pelo poder econômico dos clientes, pela sociedade local e global, pelos governos, pelas associações
e entidades não governamentais, pelas legislações, pelos concorrentes, pelo mercado fornecedor e distribuidor e,
por último, pelos profissionais que compõem o negócio e que exercem forças significativas e megatendências que
criam oportunidades e ameaças à organização.
Dentro desse conteúdo amplo, a visão atual da empresa em relação ao seu ambiente interno e externo é
infinitamente mais complexo do que reza a premissa clássica, pois ela é, na verdade, uma instituição sociopolítica
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 11
educacional, que precisa organizar as capacidades para funcionar como empresa, sociedade e escola de
desenvolvimento humano e produtivo.
Além do mais, é chegado o momento histórico, crucial, de o mundo empresarial refletir sobre como tem
utilizado e demonstrado a responsabilidade para com a sociedade, por meio da responsabilidade expressa no
histórico-processual dos seus produtos e serviços comercializados em larga escala.
Nas últimas décadas, em especial, graças aos modelos de gestão assistêmicos, mecanicistas, de cunho
religioso e irresponsável, que coisifica o homem e seus produtos, fomos obrigados a colecionar uma infinidade de
artigos de péssima qualidade intrínseca, sem contar os profissionais desonestos e desorientados, as fraudes nos
resultados e nas pesquisas, os investimentos perdid os, as fortunas gastas com a corrupção, os desvios de capital,
a destruição dos valores morais, éticos e culturais, os programas sociais assistencialistas e equivocados e tantos
outros senões.
A influência do ilícito ocorre desde a organização da gestão cl ássica de negócios até a apreensão de
selos de acreditação, certificações, ferramentas gerenciais, programas motivacionais e demais modismos mágicos
que surgem a cada estação, apregoados por gurus nacionais e internacionais como sendo a grande panaceia, a
boa-nova para se lucrar mais pelo menor custo possível, mas que, na verdade, não solucionam os problemas
empresariais e as exigências do macroambiente. Pior ainda: leva -os ao caminho sem solução, às expensas do
trabalhador e da sociedade.
Mesmo que se gastem fortunas com propaganda e marketing para valorizar as marcas e os produtos, é
público e notório que a empresa moderna enfrenta a crise mais dramática da sua existência histórica, por falta de
um modelo de gestão que integre e sistematize os processos, a s pessoas e seus produtos, elevando a consciência
e a competência desses produtores e consumidores, para que eles consigam produzir e consumir produtos que
contenham histórico-processual comprometido com a evolução do homem, das espécies e dos ambientes, d esde a
sua criação à total extinção dos mesmos em todos os sistemas integrados que amparam e sustentam a vida
humana: sociais, naturais, artificiais, humanos e mistos.
Desse patamar, somos confrontados com a profunda necessidade de reformar todos os aspect os
empresariais em andamento, a partir da formulação da missão da empresa, bem como sua concepção, criação e
desenvolvimento dos seus produtos e serviços, sua tecnologia, seus clientes -alvo, seus fornecedores, incluindo
igualmente a responsabilidade pelo histórico-processual dos produtos comercializados e difundidos
conceitualmente em escala histórica, cultural, social e comercial.
Segundo a noção clássica da concepção e do desenvolvimento de um negócio, para a definição e análise
da missão, enfoca-se a razão social e econômica pela qual deve existir e prosperar a organização.
Nesse item de base, encontramos contradições funcionais e operacionais graves podendo questionar já no
princípio das discussões que visam reformular o sistema atual. Como um produto qu e causa danos à sociedade,
independente de ter sido produzido e distribuído segundo todas as normas de qualidade, pode advir de uma
empresa que jurou uma missão incoerente com seus produtos e, portanto, mentirosa.
Ela é considerada como enganosa, porque não há conhecimento de uma missão que explicite sua vocação
e seu desejo de causar danos à saúde, morte dos usuários e trabalhadores, distúrbios psicológicos variados,
desintegração social e ambiental. Além de outros malefícios que incluem o mau gosto e a fa lta de educação e
cultura.
Desses produtos perniciosos, podemos citar os mais notórios: as armas, o cigarro, as máquinas e os
veículos movidos a combustível poluente, megarrebanhos de animais de abate (principalmente o gado), plásticos,
pneus, filtros de cigarro, as bebidas alcoólicas, programas de rádio e televisão de baixo nível, revistas e edições
de conteúdo medíocre, filmes, músicas e peças de teatro imorais ou violentas, artes ―pseudocultas‖, pornografia,
drogas, produtos confeccionados e embalados co m matérias-primas nocivas ao homem e aos ambientes, produtos
não biodegradáveis, produtos tóxicos, poluentes, remédios condenados e condenáveis, alimentos que prejudicam a
saúde e demais produtos, milhões deles com histórico -processual que atenta contra o homem, sua cultura, sua
evolução humana, contra os demais seres vivos e contra a manutenção do meio ambiente.
Não raro, esses produtos e serviços que matam, viciam, comprometem a sociedade e deseducam o
sapiens sapiens, sustentam o desenvolvimento do local , da cidade, do estado, do país e, porque não dizer, da
economia mundial, se levarmos em conta os milhões de postos de trabalho que são preenchidos, da contratação de
altos executivos com excelente educação acadêmica, pagos a peso de ouro, aos trabalhadore s mais empobrecidos
e ignorantes.
Com relação aos fornecedores, as contradições também têm guarida certa. A esses são exigidos
requisitos e especificações técnicas de alta precisão, tais como: grau de controle de matérias -primas, facilidade e
dificuldade de acesso às fontes e eventuais restrições à rede de distribuição e comercialização, incluindo a
preservação do meio ambiente e a responsabilidade social, quanto ao não emprego de mão de obra escrava e
infantil. Porém, estranhamente, não é levado em conta s e essas matérias-primas, ao serem utilizadas,
desfavorecem a vida e o desenvolvimento humano e ambiental em sentido amplo e histórico.
Da mesma forma, são encontradas distorções graves nos programas destinados às empresas, como
acontece com o Programa da Responsabilidade Social – SA 8000, quando esse premia a irresponsabilidade e a
incompetência produtiva de pessoas, ONGs, grupos e instituições privadas e governamentais, por intermédio de
ações com forte cunho paternalista e assistencialista.
A quase totalidade dos projetos que são praticados com base nas normas nacionais e internacionais do
programa SA 8000, longe de educar e conscientizar os produtores (instituições, trabalhadores e o público em geral)
para a necessidade de desenvolverem a responsabilidade produtiva em todos os níveis da população, tendo em
vista suas consequências lógicas para os diferentes sistemas e a sociedade, na verdade são utilizados como
instrumentos de marketing barato, para a fidelização dos clientes e a projeção de marcas e produ tos
comercializados. Por esse motivo, os profissionais envolvidos em sua organização e implantação, são chamados
vulgarmente de ―Marketing Social‖, com retorno financeiro garantido.
Tais ações populistas e duvidosas, a miúdo, enquanto revitalizam a imagem e os cofres das empresas
patrocinadoras, também buscam esconder suas deficiências produtivas e de caráter, embaixo do tapete do público
consumidor.
Abundam os exemplos vergonhosos e cínicos de organizações que promovem projetos pomposos sob a
égide da Responsabilidade Social, mas que não possuem responsabilidade produtiva particular. Seus métodos e
produtos estão aquém do desejado.
O verdadeiro corpo conceitual e prático da Responsabilidade Social, indiferente da origem e forma
normativa, apenas pode dizer respeito ao produtor e à responsabilidade que deve estar implícita no histórico -
64
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 11
processual de cada um de seus produtos, serviços e métodos produtivos. Fora isso, não há responsabilidade e
compromisso social de fato.
O mesmo se dá com os programas de Responsabilidade Ambiental que, por baixo dos panos, mais uma
vez, objetivam os lucros financeiros em detrimento dos reais interesses dos seres vivos e do planeta. Como já
aconteceu antes, o messianismo salvador continua sendo um negócio excelente.
Surgem mais contradições quanto à estratégia de desenvolvimento e ampliação do negócio, essa é obtida
por intermédio de um programa de formulação de estratégias de mercado que incluem a definição do público -alvo,
marketing, propaganda e perfil do consumidor, o qual é c hecado permanentemente para que haja o perfeito
conhecimento dos gostos e hábitos do cliente usuário, com vistas à sua manipulação posterior, de forma subliminar
ou explícita.
Entretanto, não se considera nessas práticas de pesquisa, científicas e quase cr iminosas, posto que são
aéticas e imorais, se esse cliente que vai ser induzido, pode ou deve consumir esses produtos de péssima
qualidade intrínseca, uma vez que é a sua vida, seu futuro e o futuro das gerações subsequentes que está em
jogo, em favor dos números, dos lucros e dos interesses ambiciosos dos empresários imperdoáveis.
Então, as empresas modernas, quase em sua totalidade, base da economia e do desenvolvimento social
em larga escala, por estarem pervertendo os mercados, as sociedades e as pessoa s, em cumplicidade com os
demais agentes do poder, além de atentarem contra a parte biológica e humana que existe naturalmente em seus
aspectos organizacionais, produtivos e comerciais, estão funcionando como perigosos focos infecciosos de
desintegração humana, social e ambiental.
Como se não bastasse, além dos péssimos exemplos já citados das normas nacionais e internacionais que
ludibriam e alienam as massas, os modelos de gestão consagrados e implantados por grandes empresas de
consultoria, assim como os demais programas disponíveis ao universo empresarial a cada nova estação, que, ao
objetivarem tão somente a qualidade em sentido abstrato, a quantidade da produção, o lucro e a satisfação ilusória
do cliente manipulado, tornam o homem o agente produtor, c ada vez mais alheio à produção do seu produto.
Desta feita, sua criatividade, inventividade, expressão individual e participação nas soluções referentes à
melhoria da produção e dos seus processos, são reduzidos ao mínimo. As fórmulas oportunistas já vêm p rontas e
são utilizadas, quase de forma indiscriminada, sem se levarem em conta a individualidade de cada empresa e as
necessidades humanas.
E, uma vez que a organização tenha ganhado um certificado de qualidade qualquer, esse,
necessariamente, não quer dizer, em hipótese alguma, que os trabalhadores tenham ganhado o equivalente em
relação às suas vidas e expectativas de futuro. Porque, ignorantes do seu potencial e apartados dos métodos
pedagógicos que os fariam crescer e prosperar, os trabalhadores tornam -se meros cumpridores de ordens
altamente complexas, artificiais e técnicas (porém irracionais), que visam aos interesses do próprio sistema de
produção de bens e serviços, comumente chamado de mercado e daqueles que o dirigem e mantêm.
Então, é roubada do trabalhador a chance de aprender, crescer, aprimorar -se de forma natural e
desenvolver-se interior e exteriormente por meio do exercício consciente propiciado pela execução do seu labor,
focando-se tão somente nos quesitos do capital, do mercado, do marketing, dos consumidores e das tendências
estilísticas e de gosto, sempre em constante contradição e embate.
O homem que depende do seu trabalho para sobreviver com dignidade é tratado como coisa que deve
produzir coisas vendáveis que gerem grandes lucros, i ndependente das suas características intrínsecas, para
outras coisas vivas consumirem, as quais são tão manipuladas e desrespeitadas em seus princípios de
humanidade latente quanto ele.
Por ser tomado como coisa produtiva que pode ser substituída, por qual quer pretexto, ou colocada de lado
como coisa sem valia, independente dos seus interesses e suas expectativas particulares de crescimento
individual, o trabalhador vê-se forçado a conviver com a incerteza e o medo contínuo de ter sua sobrevivência
ameaçada, junto dos seus, caso não consiga adivinhar que rumos tomar dentro do inconcebível, nem seja capaz de
corresponder às exigências, processos, produtos e pessoas. Tanto que o clima de insegurança e medo que assola
o mundo inteiro é sintoma agudo da incongruência dos sistemas que excluem o homem do centro dos processos
produtivos, anulando-os como sujeitos pensantes, agentes e transformadores.
Mais grave que em outras épocas históricas críticas, esse sistema de coisas suprime de cada homem seu
justo direito de viver com dignidade e qualidade humana.
Dentro desse ambiente doentio e alienante, o que realmente interessa é colocar o foco e os métodos
evolutivos sobre os produtores, não apenas sobre os produtos e os consumidores, como fazem os variadíssimos
programas de melhorias voltados aos produtos e aos processos. Haja vista que são estes, os trabalhadores, os
verdadeiros produtores dos sabres voltados à geração dos valores e riquezas, no sentido que eles dão forma e
conteúdo aos mesmos.
Os produtos são consequência direta dos agentes produtores, alicerçados em sua própria evolução interior
e exterior. Um é reflexo do outro. Então, se os trabalhadores não tiverem qualidade de vida, conteúdo e
consciência humana desperta, seus produtos estarão comprometidos, por mais bem feitos que eles pareçam ser.
Estarão aquém da criação responsável, compromissada e consequente de um verdadeiro produtor humano. Serão
coisas que não agregarão valores ou princípios éticos legítimos, aos produtores, aos consumidores e à História.
Dessa forma, as condições atuais, impetradas pelos mercados contra os trabalhadores e os consumidores,
estão favorecendo a involução do indivíduo humano, bem como estão destruindo seus valores e princípios.
Como se nada estivesse acontecendo de anormal, é comum sermos afrontados com grandes
investimentos em programas de melhoria da qualidade pelos ISOs, Prêmios Nacionais, Prêmios de Excelência,
programas motivacionais e treinamentos dos mais variados, com a finalidade de fazer o trabalhador produzir mais e
mais sem reclamar, sendo implantados em organizações doentias e sem caráter, com seus líderes, pessoas,
processos, produtos, fornecedores e consumidores que, juntos, constituem uma imensa rede assistêmica e nefasta
à evolução da história da raça humana.
Cúmplices inconsequentes de uma grande farsa, onde, nas fotos para a mídia, os personagens principais
riem satisfeitos, felizes e realizados em seus propósitos, enquanto ganham seus prêmios, selos de qualidade,
troféus por desempenho e palmas do público igno rante e facilmente impressionável. Contudo, infelizmente, esse é
um triste jogo de cartas marcadas, em que o homem – eu, tu, ele, nós, vós, eles – é o grande perdedor histórico.
Animais, animais, animais...
65
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 11
Faz tempo que a sistêmica evolutiva da Humanida de degenerou. Como acontece há milhares de anos, do
topo à base da pirâmide social, os canalhas ricos e pobres, manipuladores e manipulados, continuam ocupando as
mesmas posições estratégicas nos jogos pouco racionais que a vida também propõe. O sistema in teiro precisa ser
transformado. Todos são culpados. Esse mundo imoral e aético tem de acabar. Pois, então, que se decrete o fim
desse mundo. Que venham os transformadores, que nasça um novo mundo com uma nova Humanidade.
A profunda falta de preparo intelectual dos indivíduos para pensar e agir de modo sistêmico e focado na
produção de produtos com histórico -processual de alta qualidade e alto valor agregado está na raiz dos maiores
problemas do mundo moderno, seja no ambiente familiar, nas organizações e em sociedade.
As pesquisas apontam que 99,99% dos produtores não sabem identificar as diferenças existentes entre os
inúmeros sistemas naturais, humanos, artificiais, mistos e, menos ainda, como cada um deles funciona de modo
isolado e em conjunto. A pouca ou nenhuma compreensão gera a baixa competência sistêmica do indivíduo, da
organização e da sociedade.
É interessante apontar que, mesmo com o escol de informações técnicas e normativas que estão à
disposição dos administradores e dos empresários, um número impressionante de empresas inauguradas não
chegam ao segundo ano de vida. A situação das grandes empresas também deixa muito a desejar. Por mais que
invistam recursos em melhorias, continuam apresentando perdas inconcebíveis, em virtude da incompetência
sistêmica dos profissionais e da má formação do modelo organizacional.
Mas crescer como? A sistêmica capitalista atingiu o ponto máximo da contradição sinérgica. As leis da
sustentabilidade exigem que se diminuam as populações planetárias, a produção e o co nsumo a níveis mínimos.
Foi-se o tempo em que a máxima ―crescei e multiplicai -vos‖ era o máximo.
Temos que adotar um novo bordão ―diminuí a produção e o consumo, buscai a excelência do capital
humano e sobrevivereis‖.
Mas como encolher o mundo dos homens sem destruí-lo? Como eliminar os excessos sem a perda da
Humanidade? Como racionalizar os sistemas agrícola, pecuário e capitalista? Como torná -los sustentáveis? Se
forem feitas as contas, ver-se-á que a biosfera não suporta mais do que uns poucos milhões d e homens vivendo
dos seus recursos. Estima-se que até 2030 haverá 15 bilhões deles por aí. Mas quem se preocupa com isso?
Quem se preocupa em diminuir a produção irracional de produtos: gente e artigos?
Se a problemática do século XXI é colossal, ela també m traz consigo a oportunidade da raça humana
encontrar grandes soluções. Porém, antes, é preciso descartar aquilo que vem travando a evolução do homem há
milhares de anos. Porque a reutilização descarada de fórmulas mágicas com os mesmos truques encantatór ios e
irracionais de sempre tem produzido situações mortais.
Para resolver as novas questões, não basta à liderança continuar fazendo planejamento financeiro e
estratégico, desenvolvimento mercadológico, tentar zelar pela marca, obter certificações, criar um ritmo
organizacional rígido ou fazer medições rigorosas. É preciso sim, que as instituições entendam que são sistemas
vivos que precisam desenvolver suas capacidades sistêmicas individuais no ambiente interno e no externo, para
serem capazes de evoluir de modo saudável, sustentável e não residual.
As organizações deficientes no quesito da competência sistêmica apresentam patologias crônicas que
contaminam os setores e os indivíduos que a elas se ligam por intermédio dos seus processos e produtos.
Ao se efetuar o diagnóstico de consultoria ou de auditoria nas organizações doentes, é certo que as
análises vão declarar que essas instituições participam de procedimentos administrativos e produtivos
corrompidos, que sugam as energias e os recursos das empresas . Via de regra, os valores que norteiam o
comportamento dos indivíduos e da organização estão invertidos produzindo os seguintes fatos:
Falhas no Caráter








Roubos.
Sabotagem.
Corrupção.
Chantagem.
Rede de intrigas.
Traições à empresa, aos processos ou aos profissionais.
Revelação de sigilos da empresa.
Os responsáveis pelos processos empresariais (proprietários,
diretores, gerentes e chefes) geram maus exemplo pessoais,
contaminando as dinâmicas.
Baixa Competitividade do Negócio









Os produtos não possuem valor agregado.
Os produtos não possuem histórico-processual competitivo.
Os produtos não geram mercados estáveis.
Os produtos não têm competência para regular seu valor no mercado.
Os produtos agridem os sistemas.
Os produtos agridem os valores humanos.
Os processos produtivos e os trabalhadores não são sistêmicos.
Falta de compromisso do produtor, por não estar integrado à empresa.
A empresa não investe no desenvolvimento do capital humano.
Ameaças à Credibilidade da
Marca

A incompetência sistêmica dos produtores põe em risco a imagem da
empresa.
A má qualidade do histórico-processual dos produtos compromete a
imagem e a missão da empresa.
As práticas produtivas e comerciais são condenáveis.
A composição societária é problemática.
A postura dos proprietários e administradores é condenável.
O marketing põe em risco a imagem e a missão da empresa.
Acidentes de trabalho, ambientais e sociais.
Inconstância e inconsistência nos propósitos da empresa.







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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 11
Ameaças
Provocadas
Globalização
pela




As empresas não possuem competência sistêmica para sobreviverem
em rede global.
As empresas não possuem competência sistêmica para absorverem
novas tecnologias.
As empresas não possuem cultura de desenvolvimento sustentável e
não residual.
A administração da empresa se baseia na absorção de modismos na
área da gestão empresarial.
Pode-se encontrar a maioria dos problemas, citados acima, em 99,99% das empresas mundiais. Dessa
maneira, fica fácil perceber porque a raça humana do século XXI chegou a tal situação de decadência e
desesperança com o futuro. Enquanto as fraudes no ― business‖ e no ―marketing‖ prosperam, o ambiente dentro e
fora das empresas vai à falência.
Todavia, embora sejam passíveis de críticas quanto às formas como são implantadas na atualidade,
coisificando trabalhadores e consumidores, as normas de qualidade trazem ideias interessantes às empresas, as
quais também são úteis à orientação de pessoas, grupos e sociedades, em qualquer parte do globo: a busca pela
excelência produtiva, a preocupação em agregar altos valores aos produtos, a sistematização inteligente dos
ambientes interno e externo, o controle absoluto da não conformidade, o cuidado com a sustentabilidade ambiental,
a responsabilidade produtiva e social, as equivalências entre as causas e as consequênc ias, a priorização das
relações de qualidade entre os indivíduos e os sistemas, entre outras.
Poderíamos reduzir esses itens em duas palavras de extrema importância histórica e social: educação e
civilidade. Basta que se use como tal, e não como instrument os de imbecilização e de exploração do homem, como
tem acontecido até agora, para que não haja mais a produção da criminalidade, das guerras, da violência, do
tráfico, da prostituição, da mendicância, da maternidade irresponsável (aquela cujos pais não gar antem a
humanização do rebento – direito inalienável do indivíduo), da favelização, da destruição ambiental, da exploração
do forte sobre o fraco (o darwinismo social), da pedofilia, do incesto e tudo o mais que houver de mau feito, de
irracional e indigno à condição humana.
Para tanto, o homem globalizado do século XXI deve ocupar o centro dos processos produtivos, para que
possa, livre da magia e da religião, se desenvolver como produtor consciente e responsável pelo histórico processual dos seus produtos – da geração e manutenção da sua prole, aos frutos dos seus trabalhos.
Pois, somente assim, centrado e humanizado, ele pode ser capaz de construir uma vida plena para si,
para os seus entes queridos e uma sociedade planetária pacífica e maravilhosa para t odos. Um Éden de verdade,
digno dos Seres Humanos, os verdadeiros deuses do Universo.
Você já é Deus? E os Outros? Já são deuses os israelenses, os turcos, os tibetanos, os sudaneses, os
chineses, os americanos, os árabes, os brasileiros, os nicaraguenses, os nigerianos, os indianos, os vietnamitas,
os nepalenses, os bolivianos, os russos, os haitianos, os franceses, os cubanos, os iraquianos, os egípcios, os
sérvios, os colombianos, os afegãos...?
Então...
FIM
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TRANSFORME-SE 2 – Bibliografia
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA (RESUMIDA) E RECOMENDADA
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