anais de resumos expandidos 2010

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anais de resumos expandidos 2010
1
II SIMBRAS-AS
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA
SUSTENTÁVEL
Agropecuária, Agroecologia e Cooperativismo
ANAIS DE RESUMOS EXPANDIDOS
Realização
Universidade Federal de Viçosa
Pró – Reitoria de Extensão e Cultura - PEC
Viçosa – MG – Brasil
2010
2
© 2010 by Rogério de Paula Lana e Geicimara Guimarães
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida
sem a autorização escrita e prévia dos detentores do Copyright.
Impresso no Brasil
Ficha catalográfica preparada pela Seção de Catalogação e Classificação da
Biblioteca Central da Universidade Federal de Viçosa
S612a
2010
Simpósio Brasileiro de Agropecuária Sustentável
(2 : 2010 : Viçosa, MG).
Anais de resumos expandidos [recurso eletrônico] / II Simpósio Brasileiro
de Agropecuária Sustentável, 23 a 26 de setembro de 2010, Viçosa, MG ;
Editores Rogério de Paula Lana, Geicimara Guimarães – Viçosa, MG : Os
Editores, 2010.
1 CD-ROM (767p.) : il. ; 4 ¾ pol.
Tema do congresso: Agropecuária, agroecologia e cooperativismo.
Inclui bibliografia.
ISSN 2176-0772
1. Agropecuária – Congressos. 2. Ecologia agrícola – Congressos. 3.
Cooperativismo – Congressos. I. Lana, Rogério de Paula, 1965-. II.
Guimarães, Geicimara, 1980-. III. Título. IV. Título: II Simpósio Brasileiro
de Agropecuária Sustentável. V. Título: II SIMBRAS-AS. VI. Título:
Agropecuária, agroecologia e cooperativismo.
CDD 22.ed. 630.6
Capa: TD Software
Digitação e Montagem: Rogério de Paula Lana
Geicimara Guimarães
Diagramação: Rogério de Paula Lana
Geicimara Guimarães
Contato: Rogério de Paula Lana
Tel. (31) 3899 3288
E-mail: [email protected]
Geicimara Guimarães
Cel. (31) 9691 4015
[email protected]
3
II SIMBRAS-AS
II Simpósio Brasileiro de Agropecuária
Sustentável
Agropecuária, Agroecologia e Cooperativismo
ANAIS DE RESUMOS EXPANDIDOS
Editores
Rogério de Paula Lana
Geicimara Guimarães
23 a 26 de setembro de 2010
Viçosa – MG – Brasil
4
II SIMBRAS-AS
II Simpósio Brasileiro de Agropecuária Sustentável
Agropecuária, Agroecologia e Cooperativismo
Comissão Organizadora
Professores/Pesquisadores:
Rogério de Paula Lana
Cristina Mattos Veloso
Théa Mirian Medeiros Machado
Antônio Bento Mancio
Diogo Vivacqua de Lima
Maria Regina de Miranda Souza
José Carlos Peixoto Modesto da Silva
Acadêmicos:
Geicimara Guimarães
José Fidelis da Silveira
Thiago Rodrigues de Castro
Matheus Pinto Coelho Gomes
Pedro Henrique Alcântara
Amanda Cristina Nicacio Pimenta
Cristina Caetano de Aguiar
Dayane Rouse Neves Sousa
Gleice Santana Morais
Flávio André Omena Baracho
Jorge Cunha Lima Muniz
Gabriel da Silva Viana
Renata de Souza Reis
Vanessa de Paiva
Daniele de Jesus Ferreira
Genuíno das Neves
Hinayah Rojas de Oliveira
Leonardo Soares
Patrícia Santos Abrahão
Patrícia Dias de Sousa
Bruno Reis de Carvalho
Clebio José Lopes
Douglas Vieira Lelis
Rogério Cássio F. Coelho
Gislaine Gomes Rodrigues
Creiciano Garcia Paiva
Cíntia Maria de Souza
Tamara A.G. Gomes
Raul da Cruz Couceiro
Taynan Stonoga Kawamoto
5
Patrocínio:
CAPES
FAPEMIG
FUNARBE
Apoio:
ALLTECH
CCA - Centro de Ciências Agrárias
CA de Cooperativismo
CA de Zootecnia
CAMPIC
Casa dos Prefeitos
DER
Editora UFV
EJZ
EMATER
EPAMIG/UREZM – Unidade Regional EPAMIG Zona da Mata
Panorama Rural
Portal Dia de Campo
TD Software
6
Comissão científica avaliadora dos resumos do II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE
AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL – 23 a 26 de setembro de 2010
Coordenador: Rogério de Paula Lana, Ph.D.
Membros:
Adbeel de Lima Santos; Alcy Heleno de Souza Júnior; Anderson de Moura Zanine;
Antônio de Pádua Alvarenga; Bruno Pietsch Cunha Mendonça; Cristina Mattos Veloso;
Cesar Conte Guimarães Filho; Cláudia Lúcia de Oliveira Pinto; Cleide Maria Pinto;
Daniel Carneiro de Abreu; Daniele de Jesus Ferreira; Diogo Vivacqua de Lima;
Domingos Sávio Queiroz; Eduardo José Azevedo Corrêa; Flávio Pereira da Silva;
Glória Zélia Teixeira Caixeta; Hugo Freitas Sobreira; José Carlos Peixoto Modesto da
Silva; Maria Aparecida Nogueira Sediyama; Maria Regina de Miranda Souza; Paulo
César Lima; Renata de Souza Reis; Rodolfo Molinário de Souza; Rogério Faria Vieira;
Sérgio Maurício Donzeles; Théa Mírian Medeiros Machado.
Trabalhos selecionados para receber a menção honrosa “Agropecuária Sustentável” no
II SIMBRAS-AS:
1º Autor
1
2
3
4
A serem indicados durante o evento.
Resumo expandido
7
Prefácio
A agricultura moderna ou de alta tecnologia visa o aumento na produtividade
animal e de plantas, utilizando elevados níveis de insumos, mas tem causado excessiva
utilização de recursos naturais não renováveis e poluição ambiental. Estudos sobre a
eficiência de uso dos recursos limitantes, que incluem não somente a terra, mas também
a água, os fertilizantes e o petróleo, devem ser considerados, através da adoção de
modelos de saturação cinética, minimizando a dependência dos recursos naturais não
renováveis e os problemas ambientais (Rogério de Paula Lana).
A Ecologia se refere ao sistema natural de cada local, envolvendo o solo, o
clima, os seres vivos, bem como as inter-relações entre esses três componentes. A
abordagem agroecológica propõe mudanças profundas nos sistemas e nas formas de
produção. Na base dessa mudança está a filosofia de se produzir de acordo com as leis e
as dinâmicas que regem os ecossistemas – uma produção com e não contra a natureza.
O resgate de saberes tradicionais e os avanços nos estudos científicos na área da
agricultura ecológica alternativa são fundamentais para a construção de modelos de
desenvolvimento mais sustentáveis (Diogo Vivacqua de Lima).
O Artigo 225 da Constituição brasileira (1988), afirma que “Todos têm direito
ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial
à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá-lo para a presente e futuras gerações”. Segundo a Convenção da
Diversidade Biológica (1992) os Estados têm direitos soberanos sobre os seus próprios
recursos biológicos; bem como, é desejável repartir equitativamente os benefícios
advindos da utilização do conhecimento tradicional e dos recursos biológicos. A
Agropecuária Sustentável se baseia nestes mesmos princípios de perenidade (donde a
expressão francesa “l‟agriculture durable”) e de equidade social, além de sua viabilidade
produtiva e econômica. A Agropecuária Sustentável é evocada quando se faz referência
à „segurança alimentar‟, que consiste na disponibilidade e acesso ao alimento humano
em quantidade e qualidade suficientes (Théa Mirian Medeiros Machado).
Tendo em vista a situação que ora impera em grande parte das propriedades
rurais do território nacional, no que tange ao aspecto de conservação do solo e estado
das pastagens, é que se estimula e valoriza, cada vez mais, o desenvolvimento da
atividade agropecuária de forma sustentável, com vistas a promover o manejo adequado
dos sistemas de produção agrícola e pecuária, no sentido de minorar o impacto negativo
sobre o meio ambiente (Cristina Mattos Veloso).
A recuperação de áreas degradadas é imprescindível, para proporcionar o
restabelecimento de condições de equilíbrio e sustentabilidade que existiam antes da
degradação. O sistema de plantio de direto, aliado ao sistema de Integração Lavourapecuária, é uma alternativa viável e exeqüível, que pode ser adotado por propriedades
de diversos tamanhos e por produtores de diferentes níveis sócio-econômicos (José
Carlos Peixoto Modesto da Silva).
Associação é uma organização estabelecida a partir de um processo de
construção, que se inicia a partir de necessidades comuns, e que se estrutura por meio
do compartilhamento de valores e interesses comuns, e se sustenta por meio da união e
da extensão dos benefícios a todos os participantes efetivos. O sucesso é percebido no
bem-estar progressivo de seus membros, traduzidos em resultados econômicos e, ou
sociais, dependendo do tipo de associação. Para promover a sustentabilidade dos
sistemas familiares de produção, onde o maior gargalo é a necessidade de inserção dos
8
agricultores no mercado, é necessária a implementação de projetos ou programas de
desenvolvimento que, antes de qualquer processo de intervenção técnica, busquem
envolver os grupos ou comunidades, em atividades que permitam a descoberta de
valores e interesses comuns entre as pessoas. Nesse sentido, é necessário que
instituições de ensino, como universidades e escolas técnicas invistam na formação
humanística de profissionais que irão atuar como agentes de desenvolvimento, e
estimulem estudos acadêmicos inovadores, que proponham metodologias eficazes para
enfrentar esse desafio (Maria Regina Miranda de Souza).
A sustentabilidade do cooperativismo baseia na união das pessoas em um
objetivo comum, gerando condições de melhor resultado na compra (insumos,
equipamentos, armazenamento e assistência técnica) e venda (volume da produção e
melhor preço), fazendo com que seus membros se tornem responsáveis pelo próprio
desenvolvimento local e permitindo o reconhecimento dos problemas do campo e as
possíveis soluções. Por isto, uma educação cooperativista resulta em benefícios e
sustentabilidade bastante maiores, não alcançados sem a participação e compreensão
dos cooperados, uma vez que a cooperativa pertence aos associados. Para que isto
aconteça, os cooperados têm que participarem das reuniões, andamentos e movimentos
que acontecem na cooperativa (Geicimara Guimarães).
9
Índice
Item
1. Agricultura familiar
2. Agroecologia
3. Associativismo e cooperativismo
4. Ciência, tecnologia e inovação
5. Economia
6. Políticas públicas
7. Fitotecnia, fitopatologia e solos
8. Forragicultura e produção animal
Página
10
90
115
174
225
258
297
465
Obs.: Para localizar nomes de autores ou assuntos ao longo dos Anais, utilizar o recurso “Localizar” do editor ou leitor de texto.
10
1. Agricultura familiar
11
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
1.1. Fatores que afetam a produção de milho e feijão em Cajuri e Coimbra, MG
Geicimara Guimarães1, Rogério de Paula Lana2, Ana Lídia Coutinho Galvão2, Maria
Rita Josaphá3
1
Estudante de Gestão de Cooperativas - DER/UFV; Bolsista do CNPq; [email protected].
Professor da Universidade Federal Viçosa.
3
Estudante de Gestão de Cooperativas - DER/UFV; Bolsista do PIBEX/UFV.
2
Resumo: Foi objetivo avaliar o efeito de alguns fatores que afetam a produção de milho
e feijão em propriedades rurais dos municípios de Cajuri e Coimbra, da Zona da Mata
Mineira. Os aumentos das produções de milho e feijão ocorreram pelo aumento da área
plantada, na ordem de 5804 e 2346 kg por hectare, respectivamente, e não pelo aumento
dos índices de produtividades. Os índices de produtividade do milho e feijão não
correlacionaram com nenhuma das variáveis analisadas, sendo que os fertilizantes não
estimularam a produtividade dentro dos níveis empregados, mostrando haver
necessidade de pesquisas para se encontrar os níveis ótimos econômicos e ambientais de
recomendação de fertilizantes.
Palavras-chave: agricultura familiar, análise de dados, feijão, milho, produção,
produtividade
Factors affecting corn and bean production in Cajuri and Coimbra, MG, Brazil
Abstract: The objective was to evaluate the effect of some factors that affect corn and
bean production in farms of Cajuri and Coimbra counties of Zona da Mata of Minas
Gerais state, Brazil. The increases in corn and bean productions occurred by increase in
total cultivated area, in the order of 5804 and 2346 kg per hectare, respectively, and not
by increase in the productivity indexes. The productivity indexes of corn and bean did
not correlate with none of the analyzed variables, in which the fertilizers did not
stimulate productivity in the used levels, showing to have need of researches to find the
optimal economical and environmental levels of fertilizer recommendation.
Keywords: bean, corn, data analyses, household agriculture, production, productivity
Introdução
A “revolução verde” teve início na década de 1970 levando ao rápido aumento
da produtividade agropecuária, com base em adubação química, mecanização,
intensificação e uso de defensivos agrícolas, favorecendo os grandes fazendeiros. Por
outro lado, os produtores familiares são responsáveis por boa parte da produção agrícola
e com pouca adoção de tecnologias (Silveira et al., 2004).
O pequeno produtor não tem recebido a atenção merecida, embora tenha
produção eficiente de alimentos e é geradora de empregos, com 77% dos empregos
criados nas áreas rurais, ou seja, de cada cinco empregos criados no campo, quatro são
proporcionados pela produção familiar (Zoby & Xavier, 2004). O pequeno produtor tem
sobrevivido por décadas apesar de previsões negativas contra atividades de baixa
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produção, mas a agricultura familiar tem ganhado espaço na sociedade, com geração de
políticas públicas (Pires, 2004).
O objetivo do presente trabalho foi avaliar o efeito de alguns fatores que afetam
a produção de milho e feijão em propriedades rurais de agricultura familiar dos
municípios de Cajuri e Coimbra, da Zona da Mata Mineira.
Metodologia
Foram coletados dados de produção de milho e feijão junto a produtores rurais
dos municípios de Cajuri e Coimbra, da Zona da Mata Mineira, em Abril de 2010,
quanto à produção anual, área plantada e produtividade (toneladas/ha/ano).
Foi feito estrato de produção da produção anual de milho e feijão e análise de
correlação linear de Pearson da produção anual com o tamanho da propriedade, área
plantada, quantidade de fertilizante (N-P-K na relação 4-14-8) e produtividade por área.
Resultados e Discussão
Os dados sobre a produção de milho e feijão pelos estratos de produtores
encontram-se na Tabela 1 e a correlação entre tamanho da propriedade, área plantada,
quantidade de fertilizante (N-P-K na relação 4-14-8), produção anual e produtividade
por área na Tabela 2. Os aumentos das produções de milho e feijão ocorreram pelo
aumento da área plantada, na ordem de 5804 e 2346 kg por hectare, respectivamente
(Figura 1) e não pelo aumento dos índices de produtividades (r = -0,38 e 0,13,
respectivamente; Tabela 2).
Estes dados estão de acordo com Guimarães et al. (2008) e Lana (2009), que
observaram altas correlações entre produção de leite pelo produtor rural e por estado da
federação, respectivamente, com o número de vacas ordenhadas e o tamanho da área
destinada aos rebanhos, e Lana (2009) especulou que provavelmente este fenômeno
poderia também acontecer com a produção de gado de corte e a produção agrícola.
Estes resultados têm como conseqüência a falta de sintonia entre aqueles que
acreditam que o aumento de produção e conseqüente aumento de renda pelos produtores
rurais devem ocorrer em função do aumento de produtividade em vez da redução da
relação custo-benefício, que na maioria das vezes não tem correlação com aumento de
produtividade. A relação custo-benefício assim como o desempenho das plantas e
animais em função do nível nutricional tem ligação com a lei dos rendimentos
decrescentes, que segue um modelo hiperbólico ou de saturação e pode ser o mais
recomendado para os produtores rurais (Lana, 2009).
Os índices de produtividade do milho e feijão não correlacionaram com
nenhuma das variáveis analisadas (Tabela 2), sendo que os fertilizantes não estimularam
a produtividade dentro dos níveis empregados (Figura 2), mostrando haver necessidade
de pesquisas para se encontrar os níveis ótimos econômicos e ambientais de
recomendação de fertilizantes.
Conclusão
O aumento da produção de milho e feijão ocorre pelo aumento da área plantada
e não pelo aumento de índices de produtividade.
13
Literatura Citada
GUIMARÃES, G.; LANA, R.P.; GUIMARÃES, A.V. et al. Sustentabilidade da
agricultura familiar na produção de leite. In: 10º Minas Leite, 2008, Juiz de ForaMG. Anais... Juiz de Fora: EMBRAPA, 2008. CD-ROM.
LANA, R.P. Uso racional de recursos naturais não renováveis: aspectos biológicos,
econômicos e ambientais. Revista Brasileira de Zootecnia, v.38, p.330-340, 2009
(suplemento Especial).
PIRES, J.A.A. O papel da pecuária familiar na produção de bovinos de corte. In:
MEDEIROS, S.R.; EUCLIDES FILHO, K.; EUCLIDES, V.P.B. (Ed.) A produção
animal e a segurança alimentar. Campo Grande: SBZ, 2004. p.55-62.
SILVEIRA, M.A.; MENEZZI, C.H.S.D.; SÁ, S.P.P. O papel da ciência e tecnologia na
geração de renda para o agronegócio: O caso do segmento de pequenos produtores.
In: MEDEIROS, S.R.; EUCLIDES FILHO, K.; EUCLIDES, V.P.B. (Ed.) A
produção animal e a segurança alimentar. Campo Grande: SBZ, 2004. p.63-74.
ZOBY, J.L.F.; XAVIER, J.H.V. Estratégias para a produção sustentável de leite na
agricultura familiar. In: MEDEIROS, S.R.; EUCLIDES FILHO, K.; EUCLIDES,
V.P.B. (Ed.) A produção animal e a segurança alimentar. Campo Grande: SBZ,
2004. p.63-74.
Anexos
Tabela 1 – Estrato de propriedades produtoras de milho e feijão dos municípios de
Cajuri e Coimbra, da Zona da Mata Mineira, número de propriedades por
estrato, área total e cultivável, fertilizantes, produção e produtividade
Estrato
Número de
Tamanho Tamanho Fertilizantes Produção
do
propriedades médio da
da área
(kg/ano)
(kg/ano)
Tamanho
propriedade de plan(n)
da
(ha)
tio (ha)
propriedade (ha)
Produtividade
(kg/ha)
Cultura de milho
1,25-2,5
2
2,3
0,5
250
3150
6300
2,5-5,0
3
3,5
1,3
567
7600
6067
5-10
4
5,3
1,1
575
6750
6150
10-20
2
15,0
3,0
1125
17700
5850
Cultura de feijão
1,25-2,5
2
2,3
0,5
200
1140
2280
2,5-5,0
3
3,5
1,3
517
2800
2183
5-10
4
5,3
1,1
513
1920
1665
10-20
2
15,0
3,0
1125
7200
2400
14
Tabela 2 – Correlação linear (r) entre algumas variáveis relacionadas à produção de
milho e feijão em propriedades dos municípios de Cajuri e Coimbra, da
Zona da Mata Mineira
Tamanho da
Item
Área
cultivada
propriedade
(ha)
Fertilizantes
Produção
(kg/ano)
(kg/ano)
(ha)
Cultura de milho
Área cultivada (ha)
0,86
Fertilizantes (kg/ano)
0,90
0,95
Produção (kg/ano)
0,88
0,99
0,95
Produtividade (kg/ha)
-0,19
-0,45
-0,45
-0,38
Cultura de feijão
Área cultivada (ha)
0,86
Fertilizantes (kg/ano)
0,85
0,94
Produção (kg/ano)
0,91
0,99
0,98
Produtividade (kg/ha)
0,38
0,02
0,14
8000
25000
Milho (kg)
Milho (kg/ha)
y = 140 + 5804x
r2 = 0,99
20000
15000
10000
5000
6000
4000
2000
0
0
0
10000
1
2
3
Área de plantio (ha)
4
y = -125 + 2346x
r2 = 0,99
8000
Feijão (kg/ha)
Feijão (kg)
0,13
6000
4000
2000
0
0
1
2
3
Área de plantio (ha)
4
0
500
1000
Fertilizante (kg)
1500
0
500
1000 1500
Fertilizante (kg)
3000
2500
2000
1500
1000
500
0
Figura 1 – Produção de milho e feijão em função da área de plantio e produtividade em
função do nível de fertilização com adubo N-P-K (4-14-8) nos municípios de
Cajuri e Coimbra, da Zona da Mata Mineira.
15
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
1.2. Estratificação da produção e correlações de fatores que afetam a produção de
feijão
Geicimara Guimarães1, Rogério de Paula Lana2
1
Estudante de Gestão de Cooperativas - DER/UFV; Bolsista do CNPq; [email protected].
Professor do Departamento de Zootecnia - DZO/UFV; Pesquisador 1B do CNPq; [email protected].
2
Resumo: Foi objetivo avaliar o efeito da área plantada e de índices de produtividade
sobre a produção de feijão em municípios do Rio Grande do Sul, com base em dados do
IBGE/ITEPA. A produção anual de feijão por município variou de 33 a 4055 toneladas,
sendo os municípios classificados em função do estrato de produção. O aumento da
produção de feijão ocorreu pelo aumento da área plantada (ton de feijão/município/ano
= 5,13 + 0,59 * ha plantado; r2 = 0,99) e não pelo aumento do índice de produtividade,
confirmando observação anterior com a produção de leite a pasto que a área de
pastagem ou tamanho da propriedade interferem na produção em detrimento dos índices
de produtividade, que apresentaram correlação insignificante.
Palavras-chave: análise de dados, feijão, produção, produtividade
Estratification of production and correlations among factors that affect bean
production
Abstract: The objective was to evaluate the effect of cultivated area and productivity
indexes on bean production in counties of Rio Grande do Sul, Brazil, based on data of
IBGE/ITEPA. The annual bean production by county ranged from 33 to 4055 tons, and
the counties were classified as a function of production strata. The increase in bean
production occurred by increase in the cultivated area (ton of bean/county/year = 5.13 +
0.59 * ha cultivated; r2 = 0.99) and not by increase in productivity indexes, confirming
the former observation with milk production at pasture in which the pasture area or farm
size affected the production instead of productivity indexes, that presented insignificant
correlations.
Key Words: bean, data analyses, production, productivity
Introdução
As produtividades médias de grãos de milho e soja no Brasil são de 2.770 e
2.430 kg/ha, respectivamente, e as mais altas produtividades comerciais são de 11.000 e
4.800 kg/ha, respectivamente (Lobato & Sousa, 2004). Acredita-se que existe um alto
potencial de produção a ser atingido pela maioria dos produtores, não só no caso do
milho e soja, mas também em outras culturas, a exemplo do feijão, uma vez que o
conceito de eficiência produtiva tem sido associado ao aumento na produtividade.
Entretanto, o aumento da produtividade se associa à produção em escala, devido ao
aumento dos custos de produção, favorecendo os grandes produtores, em detrimento dos
agricultores familiares.
O pequeno produtor não tem recebido a atenção merecida, embora tenha
produção eficiente de alimentos e é geradora de empregos, com 77% dos empregos
16
criados nas áreas rurais, ou seja, de cada cinco empregos criados no campo, quatro são
proporcionados pela produção familiar (Zoby & Xavier, 2004). O pequeno produtor tem
sobrevivido por décadas apesar de previsões negativas contra atividades de baixa
produção, mas a agricultura familiar tem ganhado espaço na sociedade, com geração de
políticas públicas (Pires, 2004).
O objetivo do presente trabalho foi avaliar o efeito da área plantada e de índices
de produtividade sobre a produção de feijão em municípios do Rio Grande do Sul.
Metodologia
Foram obtidas informações do IBGE/ITEPA de municípios produtores de feijão
no Rio Grande do Sul, entre os anos de 1975 a 1999, quanto à produção anual, área
plantada e produtividade (toneladas/ha/ano). Os dados foram obtidos no site
http://antares.ucpel.tche.br/
itepa1/25_anos/disco8/diag_agric_fe...
(acesso
em
09/03/2010).
A produção anual de feijão por município variou de 33 a 4055 toneladas, sendo
os municípios classificados em função do estrato de produção (até 125 toneladas, 126250, 251-500, 501-1000, 1001-2000, 2001-4100). Foi feita análise de correlação linear
de Pearson da produção anual por município com o tamanho da área plantada e
produtividade por área.
Resultados e Discussão
Os dados sobre a produção de feijão pelos estratos de produtores encontram-se
na Tabela 1 e a correlação entre produção de feijão, área plantada e produtividade na
Tabela 2. O aumento da produção de feijão ocorreu pelo aumento da área plantada, na
ordem de 0,59 tonelada por hectare (Figura 1) e não pelo aumento do índice de
produtividade (r = -0,09; Tabela 2).
Estes dados estão de acordo com Guimarães et al. (2008) e Lana (2009), que
observaram altas correlações entre produção de leite pelo produtor rural e por estado da
federação, respectivamente, com o número de vacas ordenhadas e o tamanho da área
destinada aos rebanhos, e Lana (2009) especulou que provavelmente este fenômeno
poderia também acontecer com a produção de gado de corte e a produção agrícola.
Estes resultados têm como conseqüência a falta de sintonia entre aqueles que
acreditam que o aumento de produção e conseqüente aumento de renda pelos produtores
rurais devem ocorrer em função do aumento de produtividade em vez da redução da
relação custo-benefício, que na maioria das vezes não tem correlação com aumento de
produtividade. A relação custo-benefício assim como o desempenho das plantas e
animais em função do nível nutricional tem correlação com a lei dos rendimentos
decrescentes, que segue um modelo hiperbólico ou de saturação e pode ser o mais
recomendado para os produtores rurais (Lana, 2009).
O estímulo ao aumento da produção de feijão deve ser feito junto aos produtores
de menor produção, que utilizam a atividade como fonte de renda. Estes produtores têm
maior potencial de aumento da produção de feijão sob demanda e muitas vezes não
utilizam insumos como os fertilizantes ou utilizam em quantidade muito moderada.
Sugere-se que sejam fomentadas pesquisas que visem a melhorar a produção e
rentabilidade deste segmento, com menor dependência dos recursos naturais não
17
renováveis, visando maior sustentabilidade em longo prazo e maior geração de emprego
no campo.
Conclusão
O aumento da produção de feijão ocorre pelo aumento da área plantada e não
pelo aumento de índices de produtividade.
Literatura Citada
GUIMARÃES, G.; LANA, R.P.; GUIMARÃES, A.V. et al. Sustentabilidade da
agricultura familiar na produção de leite. In: 10º Minas Leite, 2008, Juiz de ForaMG. Anais... Juiz de Fora: EMBRAPA, 2008. CD-ROM.
LANA, R.P. Uso racional de recursos naturais não renováveis: aspectos biológicos,
econômicos e ambientais. Revista Brasileira de Zootecnia, v.38, p.330-340, 2009
(suplemento Especial).
LOBATO, E.; SOUSA, D.M.G. Fertilidade do solo e máxima eficiência produtiva. In:
SOUSA, D.M.G.; LOBATO, E. (eds.) Cerrado - correção do solo e adubação.
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MEDEIROS, S.R.; EUCLIDES FILHO, K.; EUCLIDES, V.P.B. (Ed.) A produção
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V.P.B. (Ed.) A produção animal e a segurança alimentar. Campo Grande: SBZ,
2004. p.63-74.
Anexos
Tabela 1 – Estrato de produção de feijão por município no Rio Grande do Sul, número
de municípios por estrato, produção anual, área plantada e produtividade
Estrato de
produção
Número de
municípios
(toneladas/
Produção
média por
município
município/ano)
(toneladas/
Área plantada
Produtividade
(ha)
(kg/ha/ano)
ano)
Até 125
9
70
135
595
126-250
3
237
313
688
251-500
3
338
568
615
501-1000
4
661
1090
629
1001-2000
3
1483
2557
590
2001-4100
1
4055
6726
590
Dados médios obtidos do IBGE/ITEPA entre 1975 e 1999.
http://antares.ucpel.tche.br/itepa1/25_anos/disco8/diag_agric_fe... (acesso em 09/03/2010).
18
Tabela 2 – Correlação linear (r) da produção anual de feijão por município no Rio
Grande do Sul com área plantada e produtividade
Ítem
Produção (ton/ano)
Área plantada (ha)
0,99
Produtividade (kg/ha)
-0,09
Área plantada (ha)
-0,13
Dados médios obtidos do IBGE/ITEPA entre 1975 e 1999.
Produção (ton/ano)
http://antares.ucpel.tche.br/itepa1/25_anos/disco8/diag_agric_fe... (acesso em 09/03/2010).
5000
y = 5,13 + 0,59x
4000
2
r = 0,99
3000
2000
1000
0
0
2000 4000 6000
Área plantada (ha)
8000
Figura 1 – Produção de feijão em função da área plantada em municípios do Rio Grande
do Sul (Dados médios obtidos do IBGE/ITEPA entre 1975 e 1999).
http://antares.ucpel.tche.br/itepa1/25_anos/disco8/diag_agric_fe... (acesso em 09/03/2010).
19
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
1.3. A mulher rural e o trabalho na agricultura familiar: uma questão de gênero
Edilene Pereira Guimarães1, Gilda Campos2, Ana Lídia Coutinho Galvão3
1Estudante do curso de Economia Doméstica da UFV – [email protected]
2Estudante do curso de Economia Doméstica da UFV – gilda.campos @ufv.br
3Professora e coordenadora do Departamento de Economia Doméstica da UFV – [email protected]
Resumo: A agricultura familiar, de modo geral, é a grande responsável pela produção
de alimentos no Brasil. Nos últimos anos tem tido maior destaque, impulsionada,
principalmente, pela questão do desenvolvimento sustentável, geração de emprego e
renda, segurança alimentar e desenvolvimento local. Essas transformações e mudanças
ocorridas no contexto brasileiro, especificamente na agricultura, vêm nos últimos anos,
contribuindo para o surgimento de uma nova estrutura do trabalho rural. O espaço rural
passou por transformações com sua intensa diversificação nas formas de organização
social e produtiva, e a participação feminina passou a ser vista em outra perspectiva,
sendo essas com especificidades próprias em relação aos processos de trabalho que,
geralmente envolvem mão de obra familiar no desenvolvimento das atividades. Neste
contexto, o presente estudo visou refletir a questão da mulher rural e o trabalho na
agricultura familiar, já que estas têm avançado bastante nos últimos anos, mas ainda
continua centrado na invisibilidade do trabalho feminino nas atividades produtivas e
reprodutivas no meio rural. Diante disso, é preciso repensar o conceito de trabalho e os
diferentes contextos e realidades relacionadas a esta variável, de modo que o trabalho da
mulher na agricultura familiar deixe de ser visto como “ajuda”, auxiliar ou subordinado,
e faça aumentar a visibilidade, considerando sua contribuição econômica na produção
agrícola.
Palavras-chave: Agricultura Familiar; Mulher rural; Gênero.
Introdução
A agricultura familiar durante muito tempo foi deixada em segundo plano e até
mesmo esquecida pelas políticas pública. Os recursos foram priorizados para favorecer
a grande produção e a grande propriedade. A conseqüência desta desigualdade
repercutiu diretamente na agricultura familiar e na sua base fundiária, a pequena
propriedade, que vêm sobrevivendo precariamente em meio à competição de condições
com setores da moderna agricultura brasileira (FALCÃO et al., 2003).
A partir dos anos 90, a agricultura familiar ganha relevância no cenário
brasileiro quando é reconhecida como setor estratégico para a manutenção e
recuperação do emprego, para redistribuição da renda, para a garantia da soberania
alimentar do país e para a construção do desenvolvimento sustentável
(BITTENCOURT, 2000 apud BURG e LOVATO, 2007).
Segundo Silvestro (2001, apud Burg e Lovato, 2007), não existe atividade
econômica nas quais as relações familiares tenham tanta importância quanto na
agricultura. A unidade de produção familiar é o resultado da integração do trabalho dos
componentes da família, e o trabalho produtivo realizado pela mulher constitui
diversificadas funções que favorecem tal unidade. As mulheres de um modo geral estão
20
presentes tanto nos trabalhos que dizem respeito ao processo de reprodução quanto de
produção. A esfera da reprodução envolve a atividade biológica e as atividades ligadas à
reprodução da família (força de trabalho) como alimentação, vestuário, educação, saúde,
manejo de pequenos animais, ordenha, processamento do leite e cuidados com o quintal
- horta e pomar (BURG e LOVATO, 2007).
Embora a mulher esteja inserida nesses processos, Gouveia (2003, apud
Siliprandi, 2007) é bastante incisivo na sua análise de que, a agricultura familiar,
mesmo nas suas formas mais “democráticas” não tem sido capaz de enfrentar as
desigualdades de gênero, continuando a ser um setor onde as mulheres têm a sua
autonomia limitada, e a sua cidadania negada, seja pelo Estado (através das políticas
públicas) seja pela sociedade civil. Esta situação se explica porque tanto o Estado como
os movimentos trabalham com uma visão ideal de “família”, em que as pessoas mantêm
entre si fortes laços de complementariedade, mas permanecem articuladas por um poder
central, exercido pelo “marido e/ou pai” (BURG e LOVATO, 2007).
Diante disso, a opressão de gênero cria, assim, empecilhos e muitas vezes
impossibilitam a completa participação das trabalhadoras, na vida pública e política das
comunidades rurais, acampamentos, assentamentos rurais e no município de uma
maneira em geral (FALCÃO et al. 2003).
Assim, o trabalho masculino é atribuído valor e o da mulher, não, produzindo
uma distribuição desigual de poder e prestígio. Na sua particularidade a relação de
gênero é uma relação de poder, reforçando comportamento de opressão, exploração e
exclusão (FALCÃO et al. 2003).
Saffioti (2004, apud Siliprandi, 2007) vendo a questão de uma forma mais geral
aponta que o problema não está apenas no fato de que vivemos em um mundo com
desigualdades de gênero, mas sim na existência de uma ordem patriarcal de gênero, ou
seja, um mundo onde os homens exercem decididamente poder sobre as mulheres, e
esse poder se expressa de várias formas.
Por este motivo, torna-se importante refletir sobre a questão da mulher rural e o
trabalho na agricultura familiar; já que estas têm avançado bastante nos últimos anos,
mas ainda se discute pouco a importância delas no processo de produção da agricultura
familiar, centrado na invisibilidade do seu trabalho, no que se refere às atividades
produtivas e reprodutivas no meio rural.
Este estudo tem como objetivo geral buscar compreender o significado do
trabalho das mulheres inseridas nas atividades produtivas do setor agrícola.
Especificamente, pretende-se: Caracterizar de forma sucinta o modelo agrícola
familiar brasileiro, para um melhor entendimento da realidade da mulher nesse modelo
agrícola de produção; apontar as transformações pelas quais o mundo rural vem
passando, abordar a questão de gênero e a invisibilidade do trabalho da mulher na
agricultura familiar.
Procedimentos Metodológicos
O presente estudo foi realizado considerando uma fase em específico; da qual
consistiu na definição do tema, onde se optou por realizar uma ampla revisão
bibliográfica sobre os modelos agrícolas familiar, as transformações que o mundo rural
vem passando, a questão de gênero e trabalho feminino no meio rural, objetivando a
obtenção de embasamento teórico para refletir sobre a invisibilidade do trabalho
21
feminino na agricultura familiar. A pesquisa bibliográfica foi de fundamental
importância para analisar a situação da mulher de forma crítica e objetiva por meio das
pesquisas de diversos autores que retrataram os diferentes temas anteriormente
mencionados.
Revisão Bibliográfica
No Brasil, de acordo com estudo realizado pela FAO/Incra (1994), os produtores
rurais estão inseridos em dois modelos de agricultura, sendo eles o da agricultura
patronal e da agricultura familiar. Esses modelos possuem características que os
diferenciam quanto a: cultura adotada, tamanho da área produzida, direção e execução
do processo produtivo e utilização do trabalho assalariado (MELO, 2002).
De acordo com Carmo (1999, apud Tinoco, 2008), à agricultura familiar é
conceituada como forma de organização produtiva em que os critérios adotados para
orientar as decisões relativas à exploração agrícola não se subordinam unicamente pelo
ângulo da produção ou rentabilidade econômica, mas leva em consideração também as
necessidades e objetivos da família.
Na agricultura patronal, há completa separação entre gestão e trabalho, ao
contrário do modelo familiar em que estes fatores estão intimamente relacionados
(TINOCO, 2008). Sachs (2001) complementa que a importância dada à agricultura
familiar não deve significar um descuido da agricultura patronal. O Brasil tem
condições para avançar simultaneamente nas duas frentes, ainda que supere a atual
dicotomia administrativa e subordine a agricultura patronal aos critérios de
desenvolvimento sustentável, partindo para um planejamento agroecológico efetivo.
Segundo Bueno e Romero (2006), a agricultura familiar vem se destacando nos
últimos anos, impulsionada, principalmente, pelo debate sobre desenvolvimento
sustentável, geração de emprego e renda, segurança alimentar e desenvolvimento local.
De modo geral, ela é a grande responsável pela produção de alimentos no Brasil, e
apesar disso, ela “sempre ocupou um lugar secundário e subalterno na sociedade
brasileira. Quando comparada ao campesinato de outros países, foi historicamente um
setor „bloqueado‟, impossibilitado de desenvolver suas potencialidades como forma
social específica de produção” (WANDERLEY, 1997 apud MELO, 2002).
As dificuldades enfrentadas pelos agricultores familiares, principalmente aqueles
que cultivam para subsistência, em se estabelecerem economicamente são, dentre
outras, o acesso à terra, às técnicas agrícolas modernas e ao crédito bancário, fatores que
se não impedem, restringem a integração aqueles ao mercado e, consequentemente, a
prosperidade (MELO, 2002).
Nas últimas décadas, o mundo rural passou por transformações, com sua intensa
diversificação nas formas de organização social e produtiva. Essas transformações e
mudanças ocorridas no contexto brasileiro, especificamente na agricultura, vêm nos
últimos anos contribuindo para o surgimento de uma nova estrutura do trabalho rural
(ALMEIDA, 2006).
Segundo Pastore (2005), a partir da metade do século XX e com o crescimento
da indústria brasileira, as mulheres passaram a introduzir-se no mercado de trabalho,
aumentando sua participação entre os anos de 1950 a 1980, chegando aos anos de 1990
a representar uma taxa de participação feminina de 40%. Contudo, mesmo com a
crescente entrada das mulheres nos espaços de trabalho, isto não significou uma
22
diminuição das desigualdades de gênero. O emprego para as mulheres ainda concentrase em alguns setores e em pequeno número de profissões. Há muitas situações onde as
mulheres trabalham em profissões pouco definidas, menos especializadas e menos
remuneradas. O espaço doméstico permanece, na grande maioria das famílias, ainda sob
responsabilidade das mulheres, ocasionando uma sobrecarrega da jornada de trabalho.
No espaço rural, a participação feminina é vista em outra perspectiva, sendo
essas com características próprias em relação aos processos de trabalho que,
comumente, envolvem mão-de-obra familiar no desenvolvimento das atividades. As
mulheres participam em todas as atividades, dependendo da quantidade de componentes
da família disponibilizados para as atividades agrícolas. As mulheres, mãe e filhas, têm
por responsabilidade as atividades ditas domésticas, e conciliam com as atividades
agrícolas (PASTORE, 2005).
Embora seja notório que aos poucos e com muita resistência e luta este cenário
esteja começando a passar por modificações adquirindo novas configurações; a
agricultura familiar ainda é tida como de responsabilidade do chefe da casa, mas no
trabalho, a mulher, com alguma exceção, participa muito. Tarefas da lavoura como
capinar, preparar a terra para o plantio, semeadura, colheita, são desempenhadas por
todos da casa, mulher e filhos (PANZUTTI, 2004).
De acordo com Boff (2002, apud Araújo, 2008), a reflexão sobre a participação
das mulheres no espaço da produção na agricultura familiar pressupõe que as relações
entre homens e mulheres envolvam dimensões biológicas, culturais, históricas e sociais,
passando por processos de construção e de reconstrução nos seus diferentes aspectos e
repercutindo na divisão sexual do trabalho.
Entretanto, mesmo quando os filhos e a esposa desempenham tarefas no roçado
são consideras, apenas, como "uma ajuda" ao trabalhador principal, o homem, e não são
elas que decidem o que plantar e não comercializam os produtos, nem ficam com o
dinheiro (PASTORE, 2005).
Pelo ponto de vista de que o trabalho doméstico dentro do contexto sóciohistórico do rural brasileiro é produzido, segundo Paulilo (2004, apud Andrade et al.,
2009), enquanto um espaço de responsabilidade feminina; no meio rural as relações de
trabalho apresentam um recorte marcadamente de gênero, em que às mulheres são
atribuídos os afazeres considerados „leves‟, enquanto aos homens os afazeres
considerados „pesados‟.
De acordo com Falcão et al. (2003), entre os critérios criados, buscando
justificar a valorização ou desvalorização do trabalho, o sexo foi um dos mais utilizados
pela sociedade capitalista, dando surgimento à divisão sexual do trabalho. Neste
sentido, a valorização do trabalho que predomina na nossa sociedade diferencia
trabalhos produtivos de trabalho improdutivo.
Para esse mesmo autor, nesta divisão, as mulheres foram as mais prejudicadas,
pois o papel feminino tradicional estabeleceu a maternidade como a principal atribuição
da mulher, ou seja, cuidar da casa e dos filhos, pequenos animais, horta. Suas atividades
restringem-se ao âmbito doméstico, e o homem é tido como o provedor e que traz o
sustento da família.
Com isso, as mulheres são representadas, sócio-culturalmente, como os atores
responsáveis pelas atividades ligadas à reprodução sexual e familiar e os homens pelas
atividades agrícolas compreendidas como responsáveis pela sobrevivência econômica e
social da família (CARNEIRO, 2001).
23
Nota-se, portanto, que as relações de gênero na agricultura manifestam-se sob
formas variadas. Partindo da compreensão de que o gênero é uma construção social e,
conseqüentemente, resultante de uma interpretação e de representações embutidas em
relações de poder, as quais se reproduzem em todas as sociedades e ambientes sociais,
também é esperado que essas assimetrias e as relações sociais correspondentes se
mantenham no meio rural (PASTORE, 2005).
Esses conceitos explicitam, portanto, que a subordinação das mulheres não
estaria nas diferenças físicas ou biológicas, que aparecem muitas vezes como
responsáveis por uma superioridade masculina, e uma natureza feminina inferior,
incompleta e frágil; pois os papeis desempenhados por homens e mulheres são
construídas socialmente (MAGALHÂES, 2007).
Como evidenciado anteriormente, essas desigualdades de gênero permanecem
no mundo rural, de forma bastante conservadora, em vista de valores que são mantidos
pela cultura (através da educação, da religião e de outros processos de socialização) e
das formas de organização e estruturas sociais (PASTORE, 2005).
No entanto, a questão de gênero e a invisibilidade do trabalho feminino estão
relacionacionadas, visto que podem ser entendidas por meio da sua não-valorização e
valoração econômica, ou seja, é um trabalho reprodutivo, que objetiva ser o mantenedor
da força de trabalho na unidade familiar (PASTORE, 2005).
Seja qual for à terminologia adotada, a ideologia da agricultura familiar entende
a figura do pai como representação principal da agricultura familiar, refletindo a cultura
que secularmente elegeu o masculino como responsável pelo exercício das atividades
desenvolvidas “fora do espaço da casa”, uma vez que o âmbito de trabalho “da casa” é o
“lugar da mulher” (MELO, 2002).
No geral, essa ideologia existe, mesmo quando a participação da mulher no
mundo do trabalho é cada vez mais crescente; embora a participação da mulher nas
atividades agrícolas familiares, na maioria das vezes, não seja remunerada (MELO,
2002).
Neste contexto, a gratuidade do trabalho da mulher na agricultura brasileira tem
como suposição a sua invisibilidade na agricultura familiar. Tendo como desfecho, a
não identidade, o não reconhecimento do seu trabalho nessa classificação de produtores
agrícolas, sendo o trabalho considerado “ajuda”, não gerando valor econômico e/ou
social, revelando que a atividade desenvolvida nessa forma de produção pertence ao
homem.
A idéia de que a mulher não faz parte do processo de trabalho da agricultura
familiar está, muitas vezes, processada nas mentes não apenas dos homens, mas das
próprias mulheres (MELO, 2002). A sua subordinação é dada pela posição que ocupa
no seio da família e a invisibilidade do trabalho da mulher, no campo, é atribuída ao seu
caráter familiar (CUNHA, s/d).
Porém, a falta de identificação dessa mulher como produtora agrícola resulta não
somente na desvalorização da sua capacidade produtiva, como na sua real integração
nos programas de desenvolvimento rural, cujo público meta são os produtores da
agricultura familiar (MELO, 2002).
Dessa forma, os estereótipos que são projetados a imagem feminina aliada a
características de inferioridade, submissão e constrangimento, incumbindo ao gênero
masculino às características de superioridade, força, coragem e liberdade em todos os
24
seus significados repercutem na concretização da cidadania das mulheres trabalhadoras
rurais. Por isso, é necessário romper as limitações econômicas, assim como os
obstáculos culturais e sociais.
Considerações Finais
Com esse estudo foi possível constatar que embora a agricultura familiar seja
reconhecida como setor estratégico para a manutenção e recuperação do emprego,
redistribuição da renda, garantia da soberania alimentar do país e construção do
desenvolvimento sustentável; o meio rural tem sido marcado pela carência ou
precariedade das políticas públicas e a questão de gênero envolvendo o trabalho
produtivo feminino é tida como uma das maiores dificuldades que as mulheres rurais
vivenciam no seu cotidiano.
Neste aspecto, as mulheres rurais ainda são vista como invisíveis, pois o seu
trabalho é considerado como “ajuda”, aumentando assim, sua invisibilidade e
desconsiderando sua contribuição econômica na produção agrícola.
Portanto, é preciso repensar o conceito de trabalho e os diferentes contextos e
realidades relacionadas a esta variável, para que possamos situar o problema e buscar
alternativas de modo que o trabalho da mulher na agricultura familiar assim como em
todas as áreas de trabalho se torne visíveis, ou seja, sejam reconhecidas.
Literatura Citada
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26
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
1.4. Avaliação do fornecimento de produtos agrícolas por produtores familiares
para merenda escolar em Caxambu, MG1
Marcelo Maia Pereira2, Antonella Zogbi Gomes Pinto3, Danielle de Oliveira Silva4,
Maria do Carmo Rodrigues5, Larissa Perrone Bustamante Pinto6
1
Trabalho realizado pela Prefeitura Municipal de Caxambu-MG.
Engenheiro Agrônomo e Doutorando CAUNESP/Jaboticabal-SP.
3
Nuticionista da SEMEC/Caxambu, MG e Professora do CESEP/FEM/Unidade São Lourenço, MG.
4
Supervisora de Merenda Escolar SEMEC/Caxambu, MG.
5
Secretária Municipal de Educação da Prefeitura Municipal de Caxambu, MG.
6
Nutricionista e Professora do CESEP/FEM/Unidade São Lourenço, MG.
2
Resumo: A aquisição de alimentos provenientes da agricultura familiar iniciou-se no
município de Caxambu, MG, em 2010, para garantir o acesso a alimentos em
quantidade e regularidade para os estudantes e permitir aos agricultores familiares
comercializarem seus produtos. Objetivo deste trabalho foi avaliar o correto
fornecimento dos produtos agrícolas através da análise de todas as notas de entrega, os
parâmetros avaliados foram regularidade, produto, quantidade, qualidade e valor pago,
sendo realizada uma análise descritiva dos dados coletados. Dos três produtores rurais,
apenas dois continuaram. Os alimentos chuchu, couve, mandioca, repolho, abóbora
madura, abobrinha, alface e cheiro verde são entregues duas vezes na semana, de
excelente qualidade e na quantidade combinada no contrato. O custo da compra de
produtos da agricultura familiar ficou em 8,99% em relação ao valor destinado pelo
FNDE, este dado fica mais evidente quando é considerado o gasto total com a
alimentação escolar no mês de maio, este valor cai significativamente para 2,57%. O
município não está atendendo a Lei n° 11.947 que dispõe de um mínimo de 30% para
aquisição de gêneros da agricultura familiar. Assim, fica clara a necessidade de maior
empenho do município em aumentar a participação na aquisição de gêneros alimentícios
provenientes da agricultura familiar, sendo uma excelente iniciativa para otimizar o
destino dos produtos do agricultor familiar local.
Palavras–chave: agricultura familiar, produtor rural, merenda escolar, produto agrícola
Assessment of the supply of agricultural products by family farmers to school
lunch in Caxambu - MG
Abstract: The purchase of food from family farms began in the city of Caxambu, MG,
in 2010 to ensure access to food in quantity and regularity for the students and allow
farmers to market their products. This study aimed to evaluate the correct delivery of
agricultural products through the analysis of all delivery notes, the parameters were
evaluated regularly, product, quantity, quality and amount paid, being performed a
descriptive analysis of data collected. Of the three farmers, only two remained. Food
chayote, cabbage, cassava, cabbage, ripe pumpkin, zucchini, lettuce and parsley are
delivered twice a week, excellent quality and quantity combination in the contract. The
cost of purchase of agricultural family stayed at 8.99% over the amount allocated by the
ENDF, this data becomes more evident when considered the total spending on school
meals in the month of May, this figure drops significantly to 2, 57%. The council is not
meeting the Law No. 11 947 which has a minimum of 30% for purchase of genera of
27
the family farm. Thus, it is clear the need for greater commitment of the municipality to
increase the involvement in procurement of food from family farms, is an excellent
initiative to optimize the use of products from local family farmers.
Keywords: family farms, farmer, school lunch, agricultural product
Introdução
O Programa de aquisição de alimentos para a merenda escolar proveniente da
agricultura familiar no município de Caxambu iniciou em fevereiro de 2010 juntamente
com o início do ano letivo escolar, para garantir o acesso a alimentos em quantidade e
regularidade necessárias para os estudantes e permitir aos agricultores familiares
comercializarem seus produtos a preços mais justos e garantia da venda. Para
implementação do programa foram realizadas reuniões durante o ano de 2009, com
auxílio da EMATER e definiu que três produtores rurais seriam responsáveis por
fornecer alguns gêneros alimentícios, conforme o cardápio das escolas do município,
aliado à produção do fornecedor, após acordo, os produtores rurais selecionados foram
solicitados para comparecer à reunião com o Conselho de Alimentação Escolar – CAE
(conselho fiscalizador da aplicação dos recursos transferidos e zelar pela qualidade da
alimentação escolar), nesta mesma reunião foram preenchidos o contrato de aquisição
de gêneros alimentícios sem licitação da agricultura familiar para a alimentação escolar
e o termo de recebimento da agricultura familiar.
Programas públicos são implementados mais rapidamente se oferecem boas
perspectivas de negócios, se forem pautados por métodos padronizados de ação que
tornam seu controle mais simples e seus resultados mensuráveis (Ribeiro et al., 2007).
Mecanismos que incentivem a participação social podem levar a mobilização dos
produtores familiares (Ferreira et al., 2009). Foi realizado este trabalho com objetivo de
avaliar o fornecimento de produtos agrícolas pelos produtores rurais para merenda
escolar para as escolas de Caxambu, MG e avaliar a implantação do programa.
Material e Métodos
O trabalho foi realizado no município de Caxambu, MG, no período de fevereiro a
maio de 2010. Foram analisadas todas as notas de entregas dos produtos agrícolas para
verificar o fornecimento dos produtores familiares, os parâmetros avaliados foram à
regularidade das entregas, quais produtos, a quantidade, qualidade e o valor pago.
Todas as notas foram liberadas com autorização da Prefeitura Municipal de
Caxambu e dos produtores rurais envolvidos.
Todos os parâmetros foram digitalizados no programa Microsoft Excel 2003® e
foi realizada uma analise descritiva dos dados coletados.
Resultados e Discussão
Dos três produtores rurais, um desistiu de fornecer os produtos antes de
fevereiro, sendo que este ficaria responsável pelo fornecimento de cenoura e beterraba
(gêneros que tiveram que ser inseridos na licitação). Atualmente o município conta com
o fornecimento de apenas dois produtores rurais, onde o produtor 1 fornece chuchu,
couve, mandioca e repolho e o produtor 2 abóbora madura, abobrinha, alface e cheiro
verde. A entrega por parte dos produtores tem sido duas vezes por semana de todos os
28
gêneros citados acima, na quantidade prevista, de boa qualidade como previsto no
contrato de aquisição de gêneros alimentícios sem licitação da agricultura familiar para
a alimentação escolar.
No mês de maio de 2010, o repasse do Fundo Nacional de Desenvolvimento da
Educação (FNDE) para a merenda escolar foi de R$ 14.106,00, enquanto que o custo da
Prefeitura Municipal com a Agricultura Familiar ficou em torno de R$ 1.268,16; isso
equivale a 8,99%. Desse modo, pode-se concluir que o município não está atendendo a
atual legislação - Lei n° 11.947 de 16/06/2009 (art. 14) (Brasil, 2009) onde o total dos
recursos financeiros repassados pelo FNDE, no âmbito do PNAE, no mínimo 30%
(trinta por cento) deverão ser utilizados na aquisição de gêneros alimentícios
diretamente da agricultura familiar e do empreendedor familiar rural ou de suas
organizações, priorizando-se os assentamentos da reforma agrária, as comunidades
tradicionais indígenas e comunidades quilombolas. O gasto da Prefeitura municipal com
a merenda escolar no mês de maio foi de torno de R$ 49.319,94 (valor gasto com os
alimentos destinados a alimentação escolar), o investimento da administração municipal
com a merenda escolar é elevado. Ao considerar este valor, o gasto com a agricultura
familiar ficou apenas 2,57%. Diante do que foi exposto, fica evidente a necessidade de
redobrar esforços para que o referido município adquira mais gêneros alimentícios
provenientes da agricultura familiar para a alimentação escolar. Vale lembrar que por
ser o primeiro ano de vigor da referida lei, o município está aprimorando para alcançar
o mínimo recomendado (30%).
Há necessidade de maior esclarecimento para os produtores rurais locais no
sentido de aumentarem o número de participantes, produtos agrícolas e quantidade no
fornecimento dos gêneros alimentícios provenientes da agricultura familiar, pois uma
atenção diferenciada à agricultura familiar pode ser uma boa estratégia para aumentar
preços recebidos e a renda dos produtores familiares (Rodrigues et al., 2007), por isso
continuidade à parceria com a EMATER do município é fundamental para cumprir a
legislação atual. Segundo os dois produtores rurais, esta iniciativa do governo foi um
incentivo muito valioso para o agricultor rural, assegurando a aquisição de seus
produtos, pois uma política de garantia de renda melhoraria a distribuição da renda no
setor agrícola e asseguraria rentabilidade estável aos produtores (Oliveira e Teixeira,
2005). Além de promover o desenvolvimento sustentável nas áreas mais necessitadas do
meio rural (Delgado et al., 2005).
Conclusões
O programa de aquisição de alimentos para merenda das escolas municipais de
Caxambu é uma ótima iniciativa para destino dos produtos dos agricultores familiares e
ainda é pouco explorado.
Agradecimentos
Agradecimentos a Prefeitura Municipal de Caxambu, MG e a EMATER de
Caxambu, MG pelo apoio, parceria e disponibilizar as informações.
29
Literatura Citada
BRASIL. Lei n°11.947, de 16 de junho de 2009. Dispõe sobre o atendimento da
alimentação escolar e do Programa Dinheiro Direto na Escola aos alunos da educação
básica. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, n. 113, 17
jun. 2009. Seção 1.
DELGADO, G.C.; CONCEIÇÃO, J.C.P.R. da; OLIVEIRA, J.J. de. Avaliação do
Programa de aquisição de alimentos da agricultura familiar (PAA). Texto para
Discussão n° 1145. Brasília: IPEA, 2005, 29p.
FERREIRA, P.A.; PEREIRA, J.R.; ALENCAR, E. Estado e agricultores familiares:
uma análise interpretativa sobre o desenvolvimento rural no Sul de Minas Gerais.
Revista de Economia e Sociologia Rural, v. 47 (3), p. 769-792, 2009.
OLIVEIRA, M.A.S.; TEIXEIRA, E.C. Política de estabilização de renda para a
agricultura familiar: uma análise de risco. Revista de Economia e Sociologia Rural,
v.43 (1), p. 45-62, 2005.
RIBEIRO, E.M.; GALIZONI, F.M.; SILVESTRE, L.H. et al. Agricultura familiar e
programas de desenvolvimento rural no Alto Jequitinhonha. Revista de Economia e
Sociologia Rural, v.45 (4), p. 1075-1102, 2007.
RODRIGUES, R.V.; CASTRO, E.R.; TEIXEIRA, E.C. Avaliação de uma política de
estabilização de renda para a agricultura familiar. Revista de Economia e Sociologia
Rural, v.45 (1), p.139-162, 2007.
30
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
1.5. Experiência do município de Itamonte, MG, na compra de gêneros
alimentícios de produtores familiares para a alimentação escolar1
Marcelo Maia Pereira2, Larissa Perroni Bustamante Pinto3, Isabel de Andrade Pinto4,
Ana Carolina Reis Constantino dos Santos Guimarães5, Débora Cristina de Siqueira6,
Antonella Zogbi Gomes Pinto7
1
Trabalho realizado pela Prefeitura Municipal de Itamonte, MG.
Engenheiro Agrônomo e Doutorando CAUNESP/Jaboticabal-SP..
3
Nutricionista da SEMEC de Itamonte, MG, Professora do CESEP/FEM – Unidade de São Lourenço.
4
Secretaria Municipal de Agricultura e Meio Ambiente de Itamonte, MG.
5
Secretária Municipal de Educação e Cutura de Itamonte, MG.
6
Extensionista da EMATER de Itamonte, MG.
7
Nutricionista e Professora do CESEP/FEM/Unidade São Lourenço, MG.
2
Resumo: A compra de gêneros alimentícios para a alimentação escolar no município de
Itamonte, MG iniciou em 2010, em exigência à Lei nº. 11.947, que dispõe de um
mínimo de 30% para a aquisição de gêneros da agricultura familiar. Outro ponto
positivo para o cumprimento desta lei foi à oferta de vários gêneros até então nunca
introduzidos na alimentação das crianças. O objetivo deste trabalho é avaliar o
fornecimento e qualidade destes produtos. Os parâmetros avaliados foram fornecimento
regular, qualidade, quantidade e valor pago. Os produtores que se interessaram pelo
programa entregam regularmente os produtos conforme contrato assinado. Os alimentos
comprados foram abóbora madura, abobrinha, batata, beterraba, cenoura, chuchu, cheiro
verde, couve, repolho e pêssego, que são entregue uma vez por semana. Outro produto
comprado foi iogurte, mas que ainda não está sendo oferecido, pois precisa do selo de
inspeção municipal, o SIM. Importante ressaltar que o município ainda está se
adequando a lei, o programa de aquisição de alimentos para merenda escolar do
município de Itamonte é uma excelente iniciativa para destino dos produtos dos
agricultores familiares e para alimentação dos estudantes, mas ainda é pouco explorado.
Palavras–chave: agricultura familiar, produtor rural, merenda escolar, prefeitura
municipal
Experience the city of Itamonte, MG, in the purchase of food from family farmers
to supply school
Abstract: The purchase of food for school feeding in the municipality of Itamonte, MG
began in 2010 with Law requirement nº. 11 947, which has a minimum of 30% for the
purchase of genera of the family farm. Another positive point for the implementation of
this law was the provision of various genres hitherto never introduced into the diet of
children. The aim of this study is to assess the supply and quality of these products. The
parameters were regular supply, quality, quantity, price paid, transportation. Producers
who are interested in the program regularly deliver products as a signed contract. Foods
were purchased ripe pumpkin, zucchini, potato, beet, carrot, parsley, kale, cabbage and
peach, which are delivered once a week. Another product was bought yogurt, but still
not being offered because it needs the stamp of municipal inspection, the SIM.
Important to note that the municipality is still adjusting to the law, the program of
31
purchasing food for school feeding in the municipality of Itamonte is a great initiative to
target the products of family farmers and to feed the students, but is still little explored.
Key Words: family farms, farmer, school lunch, agricultural product
Introdução
O programa para a aquisição de gêneros alimentícios para a alimentação escolar
no município de Itamonte iniciou-se em janeiro de 2010, antes do início do ano escolar,
para o fornecimento começar a partir do inicio das aulas deste ano, para garantir desta
forma o acesso aos estudantes das escolas públicas do município a alimentos de
qualidade e em quantidade. Para a implementação do programa de aquisição dos
alimentos foram realizadas várias reuniões durante o 2º semestre de 2009, entre o
Departamento de Compras da Prefeitura de Itamonte, MG, Conselho de Alimentação
Escolar (CAE) de Itamonte, MG, EMATER-MG e da Secretaria Municipal de
Agricultura e Meio Ambiente de Itamonte para esclarecimento e conhecimento dos
produtores e do potencial de produção deles para o programa. Onde mecanismos de
incentivos a participação social levam a mobilização dos produtores familiares (Ferreira
et al., 2009) e pode promover o desenvolvimento sustentável nas áreas mais
necessitadas do meio rural (Delgado et al., 2005). Após reuniões, iniciou-se a chamada
pública onde definiu os quatro produtores interessados pelo fornecimento dos gêneros
alimentícios durante o ano letivo de 2010, respeitando-se a safra e conforme o cardápio
elaborado pela nutricionista.
Avaliação do programa de aquisição de alimento é importante, pois programas
públicos são implementados se oferecem boas perspectivas de negócios, pautados por
métodos padronizados de ação que tornam seu controle mais fácil (Ribeiro et al., 2007).
Foi realizado este trabalho com objetivo de avaliar o fornecimento de gêneros
alimentícios pelos produtores rurais para merenda escolar para as escolas municipais de
Itamonte, MG e avaliar a implantação do programa.
Material e Métodos
O trabalho foi realizado no município de Itamonte, MG, no período de março a
junho de 2010, nas 16 escolas municipais. Foram analisadas as notas fiscais de entregas
dos produtos para verificar o fornecimento. Os parâmetros avaliados foram:
periodicidade das entregas, transporte adequado, quantidades, qualidade dos produtos e
o valor pago.
Todas as notas foram liberadas com a autorização da Prefeitura Municipal de
Itamonte e dos produtores rurais envolvidos.
Todos os parâmetros foram digitalizados no programa Microsoft Excel 2003® e
foi realizada uma análise descritiva dos dados coletados.
Resultados e Discussão
Dos quatro produtores rurais envolvidos, todos se mantêm dentro do programa,
procurando-se adequar às exigências na Vigilância Sanitária, a fim de garantir a
qualidade dos produtos entregues. O produtor 1 é responsável pelo fornecimento de
abóbora madura, abobrinha, cenoura, chuchu, beterraba, cheiro verde , couve e repolho,
o produtor 2 pela batata, produtor 3 pelo iogurte e o quarto pelo pêssego. A entrega dos
32
produtos pelos produtores 1, 2 e 4 tem sido feita semanalmente, na quantidade prevista,
de boa qualidade, atendendo às exigências com relação a características higiênicosanitárias, conforme previsto no contrato de aquisição de gêneros alimentícios, sem
licitação da agricultura familiar para a alimentação escolar. O terceiro produtor ficou
responsável pela entrega do produto lácteo iogurte, mas que ainda não está sendo
oferecido, pois não possui o selo de inspeção municipal, o SIM, obrigatório para
comercialização do produto dentro do município.
O repasse mensal do FNDE para o município é de R$ 9.456,00 enquanto que o
valor destinado mensal para agricultura familiar é de R$ 2.836,80, Onde o gasto com
agricultura familiar no mês de março foi de R$ 503,15, abril de R$ 448,11, maio de R$
960,77 e junho de R$ 677,12, os valores representam 17,7%, 15,7%, 33,8% e 23,8% em
relação ao valor destinado a agricultura familiar, respectivamente. Deste modo, pode-se
dizer que o município não está atendendo a atual legislação (Brasil, 2009), mas na
verdade o município se encontra em período experimental ao programa de aquisição de
alimentos, mas esse trabalho inicial é importante para revelar os primeiros passos do
programa e para servir de base para manutenção deste e repassar informações a outros
programas semelhantes.
Diante do que já foi exposto o programa de aquisição de alimentos da agricultura
familiar para a alimentação escolar é de grande importância, uma vez que favorece e
incentiva o consumo de alimentos saudáveis, ricos em vitaminas e minerais, pelos
escolares, fase na vida na qual o hábito alimentar está sendo formado, o que contribuem
para um melhor desenvolvimento escolar e conseqüente para uma melhor qualidade de
vida. Além do mais, é uma alternativa para o escoamento da produção dos agricultores
familiares, estimulando o plantio e ajudando no crescimento do município.
Maior esclarecimento é necessário para que os produtores rurais do município de
Itamonte possam aumentar o número de agricultores, gêneros alimentícios agrícolas e
quantidade no fornecimento dos alimentos provenientes da agricultura familiar, pois
atenção diferenciada à agricultura familiar pode ser excelente estratégia para aumentar
preços recebidos e a renda dos produtores familiares (Rodrigues et al., 2007), por isso
continuidade à parceria entre os órgãos da Prefeitura Municipal de Itamonte e a
EMATER do município é fundamental para cumprir a legislação atual. A aquisição e
garantia da compra de produtos agrícolas dos produtores rurais do município de
Itamonte pode ser uma excelente política de garantia para melhorar a distribuição de
renda no setor agrícola e asseguraria rentabilidade estável aos produtores (Oliveira e
Teixeira, 2005).
Conclusões
O programa de aquisição de alimentos para merenda escolar do município de
Itamonte é uma excelente iniciativa para destino dos produtos dos agricultores
familiares e para alimentação dos estudantes, mas ainda é pouco explorado.
Agradecimentos
Agradecimentos a Prefeitura Municipal de Itamonte, MG e a EMATER de
Itamonte, MG pelo apoio, parceria e disponibilizar as informações.
33
Literatura Citada
BRASIL. Lei n°11.947, de 16 de junho de 2009. Dispõe sobre o atendimento da
alimentação escolar e do Programa Dinheiro Direto na Escola aos alunos da educação
básica. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, n. 113, 17
jun. 2009. Seção 1.
DELGADO, G.C.; CONCEIÇÃO, J.C.P.R. da; OLIVEIRA, J.J. de. Avaliação do
Programa de aquisição de alimentos da agricultura familiar (PAA). Texto para
Discussão n° 1145. Brasília: IPEA, 2005, 29p.
FERREIRA, P.A.; PEREIRA, J.R.; ALENCAR, E. Estado e agricultores familiares:
uma análise interpretativa sobre o desenvolvimento rural no Sul de Minas Gerais.
Revista de Economia e Sociologia Rural, v. 47 (3), p. 769-792, 2009.
OLIVEIRA, M.A.S.; TEIXEIRA, E.C. Política de estabilização de renda para a
agricultura familiar: uma análise de risco. Revista de Economia e Sociologia Rural,
v.43 (1), p. 45-62, 2005.
RIBEIRO, E.M.; GALIZONI, F.M.; SILVESTRE, L.H. et al. Agricultura familiar e
programas de desenvolvimento rural no Alto Jequitinhonha. Revista de Economia e
Sociologia Rural, v.45 (4), p. 1075-1102, 2007.
RODRIGUES, R.V.; CASTRO, E.R.; TEIXEIRA, E.C. Avaliação de uma política de
estabilização de renda para a agricultura familiar. Revista de Economia e Sociologia
Rural, v.45 (1), p.139-162, 2007.
34
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
1.6. A migração juvenil na agricultura familiar e as implicações sobre a questão
sucessória1
Rosani Marisa Spanevello², Daniel Arruda Coronel ³, Alessandra Matte4, Letícia Fátima
de Azevedo4, Letícia Paludo Vargas4, Glênio Piran Dal Magro4
1
Parte dos dados referente a tese de doutorado da primeira autora.
Profª. Drª. do Departamento de Zootecnia – CESNORS/UFSM.
3
Doutorando em Economia Aplicada DER-UFV e Bolsista de Doutorado do CNPq.
4
Estudante de Graduação em Zootecnia – CESNORS/UFSM.
2
Resumo: Este trabalho objetiva analisar: a) os principais aspectos motivadores que
levam os jovens, filhos de agricultores familiares, a ficar ou sair do meio rural; b) as
implicações da saída para sucessão das propriedades e para o meio rural. No Brasil, boa
parte das pesquisas sobre a migração juvenil trata dos aspectos motivadores da saída do
meio rural sob a ótica dos próprios jovens. Visando uma análise mais complexa da
questão migratória juvenil, este trabalho busca fazer um recorte dos processos
motivadores da saída dos jovens e os impactos desta saída sob o olhar dos pais. A
pesquisa de campo ocorreu nos municípios de Pinhal Grande e Dona Francisca, ambos
localizados na região central do RS. A coleta de dados se deu através de entrevistas a
agricultores familiares sem sucessores e com sucessores. Os resultados mostram que a
saída dos jovens está atrelada a dificuldades do trabalho agrícola, os escassos espaços
de lazer no meio rural, falta de controle dos pais sobre os filhos, ausência da cobrança
pela ajuda dos filhos nas atividades da propriedade, entre outros. Para os entrevistados,
as conseqüências da saída são a falta de sucessores nas propriedades, a diminuição do
número de pessoas nas comunidades rurais e as dificuldades de formação de novas
famílias no meio rural.
Palavras-chave: agricultura familiar, jovens, migração
The juvenile migration in family farming and the successory implications
Abstract: This paper aims to examine: a) the main motivations that lead young people,
children from the farming families, to stay or leave rural areas, b) the implications of
this leaving for the succession of the property and rural areas. In Brazil, much of the
research on juvenile migration deal with the motivational aspects of the rural area exit
from the perspective of the young people. Aiming a more complex analysis of the
young migration issue, this work analyse the motivational processes of this leaving and
the impact to the parents. The fieldwork took place in Pinhal Grande and Dona
Francisca, both located in the central region of RS. The data collection was through
interviews with family farmers without successors and with successors. The results
showed that the young people leaving is linked to agricultural work problems, the
limited leisure facilities in rural areas, lack of parental control over children, parents do
not ask for children help in the activities of the property, among others. To the
interviewed, the consequences of this leaving are the absence of successors, the
decrease in the number of people in rural communities and the difficulties of forming
new rural families.
Keywords: family agriculture, young people, migration
35
Introdução
O processo de saída dos jovens pertencentes a agricultura familiar1 do meio rural
brasileiro vem cada vez mais ocupando espaço nas agendas de pesquisa dos agentes e
agências de desenvolvimento rural, especialmente no sul do Brasil. Desde a década de
1960-1970, o Brasil vem perdendo sua população rural em razão do fluxo migratório
campo-cidade. Camarano e Abramovay (1999) afirmam que na década de 1990
deixaram o campo os mais jovens (homens entre 20 a 24 anos e as mulheres de 15 a 19),
sendo as moças em maior proporção.
Este acentuado fluxo migratório juvenil reforça a idéia que os filhos não desejam
permanecer no lugar dos pais na condição de sucessores 2 ou gestores das propriedades.
A pesquisa de Brumer e Spanevello (2008) realizada nos três estados da região sul do
Brasil, apontam que 27% das moças e 19% dos rapazes acreditam que ninguém da sua
família pretende permanecer no meio rural como sucessor. Estes dados reforçam a
lógica que nem todo filho de agricultor pretende continuar nesta ocupação e fazer dela a
sua atividade de sustento. As implicações da saída dos filhos de agricultores familiares
segundo Silvestro et al. (2001), a não continuidade das propriedades e o crescente
esvaziamento demográfico, econômico, cultural de regiões de predominância da
agricultura familiar.
O objetivo deste trabalho é analisar os principais aspectos motivadores que
levam os jovens a ficar ou a deixar o meio rural e as implicações desta saída sobre a
sucessão das propriedades e do meio rural.
Material e Métodos
A pesquisa de campo foi realizada nos municípios de Pinhal Grande e Dona
Francisca, localizados na região central do RS. Foram selecionados 43 agricultores
familiares: 17 sem sucessão (agricultores sem perspectivas que algum dos filhos vá
assumir a propriedade) e 26 com sucessão (há pelo menos um filho residindo no
estabelecimento familiar ou em outro estabelecimento próximo, já definido ou
encaminhado como sendo o sucessor).
A coleta de dados ocorre através da entrevista embasada num questionário com
questões fechadas e abertas, focadas no processo de saída dos jovens do meio rural ou
as motivações que levam os jovens a sair e as implicações desta saída. As entrevistas
foram realizadas com o casal (agricultor e sua esposa).
Resultados e Discussão
Fatores motivacionais para a saída dos jovens
A saída dos jovens, de acordo com a maioria dos agricultores entrevistados,
difere do que ocorria no passado, quando os filhos deixavam a casa paterna para
1
Gasson e Errington (1993) definem a agricultura familiar através de seis características: a gestão
encontra-se nas mãos dos proprietários dos estabelecimentos; Os proprietários do empreendimento estão
ligados entre si por laços de parentesco; É responsabilidade de todos os membros da família prover
capital para o empreendimento; O trabalho é feito pela família; O patrimônio e a gestão do
estabelecimento são repassados de geração a geração e os membros da família vivem no estabelecimento.
2
Por sucessão entende-se transferência do controle ou do gerenciamento sobre o uso do patrimônio
familiar aos filhos sucessores ou à próxima geração (GASSON; ERRINGTON, 1993).
36
instalar-se no meio rural, seja na própria comunidade (embora em outro
estabelecimento), em outro município, região ou até mesmo estado. Hoje, o
deslocamento dos filhos dos agricultores tem sido em direção as cidades, seja pelo
desejo de não permanecer nas propriedades como sucessores ou mesmo no meio rural
gerenciando uma atividade não-agrícola.
As motivações e razões que levam os jovens a sair são variadas. Para alguns é o
fato do jovem “não querer trabalhar na agricultura”, “querem vida mansa” ou “sofrer
menos”, “buscam uma vida melhor”. Neste caso, a vida melhor se resume ao estilo de
vida das cidades, do trabalho com menor esforço físico, com remuneração fixa e mensal
diferentemente do que acontece nas atividades agropecuárias. Para os demais
agricultores, os jovens migram para “buscar mais divertimento, estar no movimento, na
cidade”, reforçando a idéia que o meio rural não oferece lazer atrativo.
A educação é um aspecto motivador. O prolongamento dos estudos é visto como
a primeira porta de saída dos filhos do meio rural e provocador dos processos de
individualização. Como conseqüência, gera uma desmotivação nos jovens para ficar na
agricultura.
Além disso, a maior circulação em espaços urbanos, a possibilidade do contato
com outra realidade até então pouco conhecida, acaba gerando e aumentando as
perspectivas de saída. O controle pelos pais, a cobrança pela ajuda dos filhos nas
atividades da propriedade é visto como uma forma de atenuar o processo de saída dos
filhos. As perspectivas de saída também são reforçadas pela proximidade com os
valores urbanos em detrimento dos rurais. O sentido dessas mudanças levanta os
“conflitos” e acentua as diferenças entre as gerações: “Os filhos estão abandonando a
lavoura e o pai não manda no filho. Uma vez os pais mandavam mais os filhos e eles
obedeciam”. Essas distintas dimensões atingem os estabelecimentos e também a
comunidade.
Uma dessas mudanças diz respeito ao próprio lazer para os jovens e suas
famílias nas comunidades rurais. Os jovens têm reduzido sua presença nesses espaços,
tendo em vista a maior apreciação pelos espaços de lazer urbano. Outro agricultor
(agricultor 208) também pontua as diferenças entre as gerações em relação ao lazer, ao
afirmar que na sua geração o lazer acontecia uma vez por semana, geralmente aos
domingos. Hoje, os jovens circulam diariamente em diferentes espaços, especialmente
nas cidades. Esta mobilidade é acentuada porque a grande maioria dos jovens possui
carro ou motocicleta.
Outros fatores motivacionais são as dificuldades em desenvolver a atividade
agrícola e as próprias condições que os pais podem oferecer aos filhos. Os agricultores
afirmam que em estabelecimentos com condições desfavorecidas: “as propriedades mais
difíceis, com pouca renda e de área dobrada, são as que mais sofrem com a saída dos
filhos”.
As implicações da saída para sucessão das propriedades e do meio rural
Para outros agricultores, a saída dos jovens e seus efeitos não passam
despercebidos, seja na ausência de braços para o trabalho familiar, seja para permanecer
no lugar do pai como sucessor. A referência à ausência dos jovens surge nas falas dos
agricultores “tem pouca gente nova aqui”, “poucos filhos”, “uma vez na igreja os
primeiros bancos eram cheios de gurizada, agora são poucos”, “só tem os velhos na
colônia”, “tá ficando um lugar de aposentado”, “só tem gente de idade”.
37
Por outro lado, os entrevistados reforçam a redução da força do trabalho: “como
vão se virar quando ficarem mais velhos e sozinhos?”, “ficam só os velhos e amanhã ou
depois os velhos não podem trabalhar”, seja pela falta da companhia dos filhos em casa:
“a gente se sente sozinho sem os filhos, às vezes não tem nem para quem dar bom dia”.
Essa falta não é sentida apenas no interior das famílias, mas também na comunidade:
“se juntar todos os jovens da nossa comunidade, não dá para fazer um time de futebol, a
juventude daqui se foi toda”.
Os agricultores apresentam preocupações com a geração de novas famílias no
meio rural, em razão do êxodo dos próprios filhos e dos demais jovens da comunidade
ou município e da diminuição da população rural. Ademais, é salientado o caráter
seletivo do êxodo, levando cada vez mais moças a deixarem o campo, com escassas
possibilidades de retorno das mesmas ou da vinda de moças do meio urbano para residir
no meio rural.
As dificuldades do trabalho agrícola e doméstico dificultam a constituição de
matrimonio ou união estável no meio rural, tendo em vista a falta de atração das moças
por essas atividades. Em nome dessas dificuldades, há uma tendência das moças
rejeitarem os casamentos com os filhos de agricultores. Os entrevistados consideram
que os filhos e os jovens rurais em geral, devem estabelecer relacionamentos e
casamentos com moças do “interior” para garantir a ajuda no trabalho agrícola.
Conclusões
Os resultados apontam que os jovens deixam o campo em razão das dificuldades
do trabalho agrícola, os escassos espaços de lazer no meio rural, falta de controle dos
pais sobre os filhos, ausência da cobrança pela ajuda dos filhos nas atividades da
propriedade, entre outros. As conseqüências estão diretamente relacionadas a não
sucessão das propriedades rurais dos municípios estudados já na próxima geração. Além
disso, os agricultores ressaltam outras dificuldades: perspectivas de constituição de
novas famílias devido ao aumento do êxodo feminino; manutenção dos centros
comunitários como escolas, igrejas, espaços de lazer devido à diminuição da população
jovem local.
Literatura Citada
BRUMER, A.; SPANEVELLO, R. M. Jovens agricultores da Região Sul do Brasil.
Porto Alegre: UFRGS; Chapecó: Fetraf-Sul/CUT, 2008. Relatório de Pesquisa.
CAMARANO, A.; ABRAMOVAY, R. Êxodo rural, envelhecimento e
masculinização no Brasil: panorama dos últimos 50 anos. Rio de Janeiro: IPEA, 1999
(Texto para Discussão nº 621). Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/pub/td/1999/
td_0621.pdf>. Acesso em: 03 out. 2006.
CHAMPAGNE, P. La reproduction de l´identité. Actes de la Recherche en Sciences
Sociales, Paris, n. 65, p. 41-64, nov. 1986.
GASSON, R.; ERRINGTON, A. The farm family business. Wallingford: Cab
International, 1993.
SILVESTRO, M. et al. Os impasses sociais da sucessão hereditária na agricultura
familiar. Florianópolis: EPAGRI; Brasília: NEAD, 2001.
SILVESTRO, M.; CORTINA, N. Desenvolvimento rural sem jovens? Agropecuária
Catarinense, Florianópolis, v.11, n.4, p.5-8, dez.1998.
38
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
1.7. Análise econômica na produção de feijão de acordo com a lei do retorno
decrescente para os agricultores familiares1
Geicimara Guimarães2, Rogério de Paula Lana3, Gustavo Leonardo Simão4
1
Projeto financeiro financiado pelo CNPq.
Estudante de graduação de Gestão de Cooperativas – DER/UFV, bolsista ITI - CNPq.
3
Professor do Departamento de Zootecnia – Bolsista de Produtividade 1B do CNPq.
4
Estudante de graduação de Gestão de Cooperativas – DER/UFV, bolsista ITI - CNPq.
2
Resumo: Com a intensa globalização, um elemento pulsante em qualquer setor da
economia, e com as crises que surgem devemos ficar atentos aos custos da produção e
ao retorno financeiro sustentável. É necessário analisar economicamente a atividade dos
agricultores familiares, para que por meio deles o produtor passa a conhecer com
detalhe e a utilizar, de maneira inteligente e econômica, os fatores de produção, para
atingir os seus objetivos de maximização de lucros ou minimização de custos. O
objetivo foi analisar economicamente a viabilidade do uso de fertilizantes em níveis
diferentes na produção do feijão carioca, utilizando a resposta da produção de acordo
com o uso de insumo, que segue a lei dos rendimentos decrescentes. Na análise de
custos, considerou-se o preço do quilograma de feijão e fertilizante NPK predominante
em Minas Gerais atualmente de 1,6 e 1,3/kg, respectivamente. O nível ótimo de
recomendação de fertilizantes é no ponto onde a produção a mais de feijão paga a
quantidade a mais de adubo, que neste caso é de 1,23 kg de feijão para remunerar 1 kg
de fertilizante. No presente experimento, o nível ótimo foi de 200 kg de fertilizante/ha.
Concluindo, o aumento na produção pelo aumento na fertilização leva ao desperdício de
fertilizantes, que são recursos naturais não renováveis, e aumento do custo de produção.
Palavras–chave: agricultura familiar, análise de custo, produção
Economical evaluation of bean production according to the Law of diminishing
return for family farmers
Abstract: With intense globalization, an important element in any sector of economy,
and with appearing crises we should be attempt to the cost of production and sustainable
financial return. It is necessary to analyze economically the activities of family farmers,
in order to the producer know and use, in a intelligent and economical way, the factors
of production, to reach their objectives, to maximize profits and minimize costs. The
objective was to analyze economically the viability of use of fertilizers in different
levels in production of bean, using response of production by the use of fertilizers,
which follow the law of diminishing return. In costs analyses, it was considered the
price of kilogram of bean and NPK fertilizer predominant of Minas Gerais actually of
1.6 and 1.3/kg, respectively. The optimal level of fertilizer recommendation is in the
point when the increase in bean production pays the accretion in fertilizer use, it which
in this case is of 1.23 kg of bean to pay 1 kg of fertilizer. In the present experiment, the
optimal level of fertilizer was 200 kg/ha. Concluding, the increase in production by
increase in fertilization leads to losses of fertilizers, which are non renewable natural
resources, and increase the production cost.
Key Words: household producer, analyses of cost, production
39
Introdução
No Brasil, a produção de alimentos tem grande participação da agricultura
familiar, que é mais sustentável, menos prejudicial ao meio ambiente e permite geração
de grande número de emprego no campo. Conseqüentemente, há diminuição do
desemprego e marginalidade em cidades de pequeno e médio porte, que vivem da
agricultura (Lana, 2007).
É necessário o conhecimento sobre a eficiência de utilização de fertilizantes na
agricultura, que no futuro servirá como ferramenta nas decisões políticas sobre o uso
racional dos recursos naturais não renováveis. As fontes de fertilizantes naturais têm de
ser usadas com a máxima eficiência e com o mínimo de efeitos negativos no meio
ambiente. A fertilização representa em torno de 42% dos custos da produção e o
aumento marginal no crescimento da planta reduz pelo aumento da fertilização, que leva
a poluição do solo, da água e desperdício de recursos naturais não renováveis (Lana,
2007b).
No Brasil são cultivados dois feijões em maior escala: o feijão comum (carioca,
preto e vermelho), Phaseolus vulgaris, e o feijão de corda ou macassar, Vigna sinensis.
O último é mais cultivado no N e no NE. Embora o feijão seja a principal fonte de
proteína vegetal para o brasileiro, não é muito rica a literatura nacional em termos de
ensaios de calagem e de adubação. Os poucos dados disponíveis, entretanto, são
suficientes para mostrar que o feijoeiro agradece aos cuidados da adubação (Malavolta,
1987).
Com a intensa globalização, um elemento pulsante em qualquer setor da
economia, e com as crises que surgem devemos ficar atentos aos custos da produção e
ao retorno financeiro sustentável. É necessário analisar economicamente a atividade dos
agricultores familiares, para que por meio deles o produtor passa a conhecer com
detalhe e a utilizar, de maneira inteligente e econômica, os fatores de produção, para
atingir os seus objetivos de maximização de lucros ou minimização de custos.
A recomendação de fertilizante na produção de feijão em solos tropicais no
período das águas deve ser feita considerando a eficiência econômica, em adição às
avaliações de produção, devido o fertilizante ser de custo elevado e desgasta o meio
ambiente, nota se o resultado esperado na produção, com resposta a lei do retorno
decrescente, e que melhoria do nível proporciona aumento no custo da produção, o que
pode tornar a atividade de baixa rentabilidade.
Com o aumento do fornecimento de nutrientes, há decréscimo crescente na
resposta até atingir um limite em que a resposta deixa de ser positiva, causando inibição
por toxidez. Este tipo de resposta é biológico e de forma generalizada, em que podem
observar altas respostas na produção de feijão, crescimento vegetal e crescimento
microbiano com pequena adição de nutrientes, especialmente em condições tropicais,
em que há baixa disponibilidade de nutrientes no solo e baixo valor nutritivo dos
alimentos (Lana, 2005, 2007b).
O objetivo foi analisar economicamente a viabilidade do uso de fertilizantes em
níveis diferentes na produção do feijão carioca, utilizando a resposta da produção de
acordo com o uso de insumo.
40
Material e Métodos
No plantio de feijão foram utilizados níveis crescentes do fertilizante NPK 4-148 (0,0; 0,25; 0,50; 1; 2; 4; 8; 16 e 32 g/cova). Foram utilizados dois grãos de feijão
carioca por cova em espaçamento de 20 cm entre covas e 50 cm entre linhas,
proporcionando uma densidade populacional de 71.429 plantas/hectare, semelhante às
densidades populacionais em plantios comerciais mecanizados. Foram utilizadas oito
covas com duas plantas por cova para cada nível, totalizando 144 plantas na área
experimental. O plantio foi feito em março em Viçosa-MG, e houve baixa incidência de
chuvas no período.
Na análise de custos, considerou-se o preço do quilograma de feijão e fertilizante
NPK predominante em Minas Gerais atualmente de 1,6 e 1,3/kg, respectivamente. O
nível ótimo de recomendação de fertilizantes é no ponto onde a produção a mais de
feijão paga a quantidade a mais de adubo, que neste caso é de 1,23 kg de feijão para
remunerar 1 kg de fertilizante.
Resultados e Discussão
Houve aumento da produção do feijão com o incremento no fornecimento de
fertilizante, seguindo a lei dos rendimentos decrescentes de Michaelis-Menten (Figura
1). Pode-se notar a importância da fertilização no estímulo da produção, devido à
conseqüência direta sobre a nutrição e indireta sobre a viabilidade da planta, onde houve
elevado nível de falhas nos níveis próximos de zero, associado ao plantio em um
período de baixa intensidade de chuvas.
Por outro lado, níveis de fertilizantes acima de 2 gramas/cova ou 200 kg/ha,
considerando densidade de 100.000 plantas/ha, pouco trouxe de benefício em termos de
produtividade. Estes extremos mostram que há necessidade do uso racional dos
fertilizantes, pois os mesmos são indispensáveis na produção agrícola, mas as reservas
mundiais podem se exaurir em um futuro próximo, se não houver um planejamento de
uso estratégico em doses “homeopáticas” (Lana, 2007c).
O nível ótimo de recomendação de fertilizantes para o preço do quilograma de
feijão e fertilizante NPK de R$1,6 e 1,3/kg, respectivamente, é de 1,23 kg de feijão para
remunerar 1 kg de fertilizante. No caso do presente experimento, o nível ótimo foi de
200 kg de fertilizante/ha (Tabela 1). Podemos manter bons índices de produtividade de
feijão com baixo nível de fertilização e com alta eficiência de uso de fertilizantes. Com
isto, há diminuição da dependência externa de fertilizantes e redução dos custos de
produção, haja vista que a fertilização corresponde a 30 a 60% dos custos totais.
Conclusões
O nível ótimo de recomendação de uso de fertilizantes depende do preço do
insumo (fertilizante) e produto (feijão), sendo que a resposta na produção do feijão pelo
aumento na fertilização segue a lei dos rendimentos decrescentes. O aumento na
produção pelo aumento na fertilização leva ao desperdício de fertilizantes, que são
recursos naturais não renováveis.
41
25
Número de grãos/
grão plantado
g de grãos/
grão plantado
5
4
3
2
1
0
20
15
10
5
0
0 4 8 12 16 20 24 28 32
Fertilizante (g)
0 4 8 12 16 20 24 28 32
Fertilizante (g)
Figura 1 – Produção de feijão em função do nível variável do adubo NPK (4-14-8) no
plantio.
Tabela 1 – Produção de feijão, diferencial de produção em função do nível crescente de fertilizantes e
nível ótimo de fertilização
Fertilizante,
g
Feijão,
g
Kg de
fertilizante/ha
Kg de feijão
/ha
0
0,4
0
20
0,25
1,8
12,5
90
5,6
0,5
2,5
25
125
2,8
1
5,0
50
250
5,0
2
7,0
100
350
2,0
4
9,4
200
470
1,2
8
8,0
400
400
0,00
16
7,6
800
380
0,00
32
8,0
1600
400
0,01
1
g feijão/g
fertilizante1
Nível ótimo de
fertilização2
*
(g de feijão do nível 2 - g de feijão do nível 1)/(g de fertilizante do nível 2 - g de fertilizante do nível 1).
2,
*O nível ótimo de recomendação de fertilizantes é no ponto onde a produção a mais de feijão paga a
quantidade a mais de adubo, que no caso do preço do quilograma de feijão e fertilizante NPK de R$1,6 e
1,3/kg, respectivamente, é de 1,23 kg de feijão para remunerar 1 kg de fertilizante.
Literatura Citada
LANA, R.P. Nutrição e alimentação animal (mitos e realidades). 2ª ed. Viçosa:
UFV, 2005. 344p.
LANA, R.P. Nutrição e alimentação animal (mitos e realidades). 2ª Ed. Viçosa,
UFV, 2007. 344p.
LANA, R.P. Respostas biológicas aos nutrientes. Viçosa: Editora CPD, 2007b. 177p.
MALAVOLTA, E. Manual de calagem e adubação das principais culturas. São
Paulo: Ceres, 1987. 496p.
42
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
1.8. Diagnóstico socioeconômico e ambiental de propriedades rurais da Bacia
Hidrográfica do Rio Xopotó - MG e alternativas para melhoria das condições
ambientais
Ana Carolina Campanha de Oliveira1, Mariana Barbosa Vilar2, Matheus Garcia
Ferreira3, Laércio Antônio Gonçalves Jacovine4
1
Engenheira Florestal, bolsista de iniciação tecnológica industrial pelo CNPq.
Engenheira Florestal, MSc. Ciência Florestal/UFV, Pesquisadora Polo de Excelência em Florestas.
3
Estudante de graduação em Engenharia Florestal da UFV, bolsista de iniciação científica do CNPq.
4
Professor do Departamento de Engenharia Florestal da UFV.
2
Resumo: Na Zona da Mata Mineira, propriedades rurais, têm sido consideradas
degradadas em função do uso indevido de seus recursos naturais. Entretanto, estas
afirmações são feitas de forma generalista, sem estudos concisos que apontem as causas
da degradação e as alternativas para sua reversão. Neste sentido, o presente estudo
objetivou realizar um diagnóstico de propriedades rurais da Bacia Hidrográfica do Rio
Xopotó, bem como apontar ações estratégicas e alternativas para melhoria ambiental da
região. Foram visitadas 40 famílias em quatro municípios distintos. Destas, 87,5%
possuem propriedade com área menor que quatro módulos fiscais. A principal fonte de
renda para 70% destes produtores provêm da atividade rural, sendo que estes utilizam,
em sua maioria, mão de obra exclusivamente familiar. A pecuária leiteira é a principal
atividade geradora de renda na região e é também a maior causadora de degradação. A
partir do conhecimento da realidade dos produtores da região, identificou-se que a
realização de oficinas de capacitação abordando temas relacionados à agricultura
familiar, aliada ao planejamento rural participativo se apresentou como alternativa para
potencializar a produção sustentável nas propriedades. Oficinas de capacitação foram
realizadas e, pela aceitação e aproveitamento das técnicas e conhecimentos apresentados
aos produtores, pode-se afirmar que este é um importante instrumento para garantir a
produção agropecuária com qualidade e a conservação ambiental.
Palavras–chave: agricultura familiar, conscientização ambiental, planejamento rural
participativo
Socioeconomic and environmental diagnosis of farms from the Xopotó River
Watershed and alternatives to improve environmental conditions
Abstract: In the Forestry area of Minas Gerais, farms have been considered degraded
due to the improper use of natural resources. However, these statements are made in a
generalist way, without studies that show the real status of these farms, causes of
degradation and options for its reversal. Thus, this paper has aimed at making a
diagnosis of farms from the Xopotó River Watershed, as well as identifying strategic
actions and alternatives for improving the region's environment. Fourty families were
visited of which 87.5% own properties smaller than four fiscal units. The farming
activity is the main income source for 70% of these families and most of them employ
their own family labor. The milk cattle is the main economical activity at the region and
the one that causes the worst environmental impacts. From the knowledge of the
farmers‟ reality, workshops addressing issues related to family farming, coupled with
43
the participatory rural planning were identified as alternatives to enhance agricultural
activities conducted on the farms. Training workshops were held. The acceptance and
use of new techniques of agricultural production by producers, indicates that this is an
important guiding tool for ensuring agricultural production with quality and
environmental conservation.
Key Words: environmental awareness, family farming, participatory rural planning
Introdução
A expansão das fronteiras agrícolas motivada pela necessidade crescente de
produzir alimentos, aliada à falta de assistência técnica no campo, promoveu a
derrubada de importantes áreas florestais, sem que para isto houvesse um planejamento
adequado que considerasse a questão ambiental. Esta realidade não é diferente na Bacia
Hidrográfica do Rio Xopotó, em Minas Gerais. Esta bacia está inserida na cabeceira da
Bacia do Rio Doce e é constituída por pequenos municípios com IDH entre os mais
baixos do país. Nesta bacia está sendo desenvolvido o Projeto Agente Ambiental, por
iniciativa do Instituto Xopotó3. Como parte das ações da primeira fase deste projeto, foi
realizado em julho de 2008 o primeiro diagnóstico socioeconômico e ambiental de
propriedades rurais em quatro dos 14 municípios que compõe esta Bacia. O Projeto
Agente Ambiental objetiva fomentar a sustentabilidade de propriedades rurais
localizadas na região das Nascentes do Rio Doce, orientando as atividades produtivas de
forma a promover renda ao produtor rural sem comprometer os recursos naturais.
Dentro deste contexto e entendendo que a promoção do desenvolvimento rural
sustentável deva ocorrer a partir de um processo educativo, participativo e contínuo,
busca-se a realização de atividades que promovam a sustentabilidade da propriedade
rural. Estas ações tiveram início em uma segunda fase do projeto Agente Ambiental
como fruto da parceria da UFV com o CNPq. Desta forma, o presente estudo teve como
objetivo diagnosticar municípios que compõe a Bacia Hidrográfica do Rio Xopotó, bem
como apontar ações estratégicas e alternativas para melhoria ambiental da região.
Material e Métodos
Os métodos de diagnóstico rural permitem não só identificar os recursos
existentes em nível local, mas também perceber como interesses sociais se estruturam e
se articulam naquele espaço (COELHO, 2005).
O diagnóstico realizado em propriedades rurais da Bacia Hidrográfica do Rio
Xopotó, contemplou os municípios de Alto Rio Doce, Brás Pires, Cipotânea e Desterro
do Melo, totalizando 40 famílias visitadas, sendo 10 em cada um destes municípios.
Aplicou-se um questionário no qual os perfis socioculturais das famílias foram
identificados e realizou-se a caracterização agropecuária e ambiental dos
estabelecimentos visitados.
A avaliação ambiental das propriedades foi obtida a partir da técnica do
caminhamento transversal. Esta técnica de diagnóstico rápido-participativo consiste em
percorrer a propriedade rural junto do proprietário, buscando informações sobre o uso e
3
Organização da Sociedade Civil de Interesse Público, com sede em Brás Pires – MG, criada em 1999
com o objetivo de promover a sustentabilidade da região da cabeceira do Rio Doce.
44
ocupação do solo, seu histórico e utilização. As análises ambientais das propriedades
rurais tiveram como princípios a legislação vigente. A determinação do uso e ocupação
do solo nas propriedades se deu de acordo com o Código Florestal Brasileiro - Lei
Nº4.771 de 1965, e a Resolução do CONAMA Nº303 de 2002.
Durante a realização do diagnóstico buscou-se estabelecer um diálogo entre o
saber técnico-científico e o popular, esclarecendo sempre aos produtores rurais sobre a
necessidade de manter os recursos naturais e os benefícios destas ações. Para identificar
as ações estratégicas e alternativas para melhoria ambiental da região utilizou-se da
avaliação dos resultados do diagnóstico e das demandas levantadas pelos produtores.
Resultados e Discussão
Ao todo foram visitadas 40 famílias, destas, 87,5% possui propriedade com área
menor que quatro módulos fiscais. A atividade rural desenvolvida na propriedade é a
principal fonte de renda para 70% destes produtores, sendo que estes utilizam, em sua
maioria, mão de obra exclusivamente familiar, sendo classificados, de acordo com a Lei
Nº 11.326, de 2006, como agricultores familiares.
O nível de instrução dos integrantes das famílias pode ser considerado baixo visto
que 46% dos entrevistados não concluíram o ensino fundamental.
Em relação à assistência técnica rural, a EMATER – MG presta assistência para
38% dos entrevistados, enquanto 44% não recebem nenhum tipo de assistência. Durante
a caminhada transversal notou-se que 77,5% das propriedades visitadas possuem áreas
degradadas ou erodidas. Destas, 93% possuem áreas com erosão laminar, 61% possuem
áreas com erosão em sulco e 26% das propriedades possuem áreas com erosão do tipo
voçoroca.
A pecuária leiteira é a principal atividade realizada para geração de renda na
região e é também uma das atividades que gera maiores problemas ambientais.
Em 100% das propriedades visitadas foram encontradas Áreas de Preservação
Permanente (APPs), sendo que destas, apenas 12% foram classificadas como
conservadas. Percebeu-se ainda que 75% das propriedades visitadas têm topografia
montanhosa, 22,5% topografia ondulada e apenas 2,5% topografia plana. Este fato
favorece bastante a ocorrência de processos erosivos e também enquadra maiores áreas
das propriedades na categoria de Áreas de Preservação Permanente, restringindo
legalmente seus usos.
A principal forma de uso do solo em áreas ciliares foram as pastagens, sendo que
apenas 9% desta categoria de APPs estavam cobertas por florestas nativas. As áreas no
entorno de nascentes se apresentaram cobertas por florestas nativas em 35% dos casos,
o que demonstra maior preocupação dos produtores em conservar estas áreas. As áreas
de mata nativa em melhor estado de conservação foram encontradas em topos de morro.
Avaliou-se que 29% dos topos de morro diagnosticados estão conservados. Este fato
pode ser explicado pela dificuldade de manejar estas áreas e por serem áreas menos
nobres para o cultivo agrícola.
A partir da análise dos dados coletados em campo percebeu-se que grande parte
das dificuldades encontradas pelos produtores em relação à contínua degradação
ambiental se deve à ausência do domínio de técnicas agropecuárias que considerem a
conservação da água e do solo.
45
A partir dessa constatação identificou-se que a realização de oficinas de
capacitação para produtores rurais abordando temas relacionados à agricultura familiar,
aliada ao planejamento rural participativo, se apresentaria como alternativa para
potencializar a produção sustentável nas propriedades. Assim, as oficinas foram
realizadas e, pela aceitação e aproveitamento das técnicas e conhecimentos apresentados
aos produtores, pode-se afirmar que este é um importante instrumento para garantir a
produção agropecuária com qualidade e a conservação ambiental.
A metodologia participativa utilizada nestas ações considera o produtor rural
como principal ator do processo de transformação da realidade entendendo que as
mudanças surgirão da iniciativa dos próprios produtores.
Conclusões
Os dados levantados durante o diagnóstico socioeconômico e ambiental da Bacia
Hidrográfica do Rio Xopotó, demonstraram que esta região é rica em recursos naturais e
carente em assistência técnica e apoio governamental. A sistematização desses dados é
de suma importância para a criação de parcerias institucionais na busca de melhorias
socioambientais, a fim de deixar o homem do campo mais assistido e mais capacitado
de conhecimentos.
A pecuária leiteira, principal atividade realizada para geração de renda na região,
gera, na grande maioria das vezes, sérios problemas ambientais, algumas vezes devido à
localização das pastagens em áreas impróprias, outras pelo manejo inadequado dos
pastos, sobrecarregando o solo com excesso de animais por área. A falta de assistência
técnica contribui para o agravamento desta situação e dificulta o bom desenvolvimento
desta atividade.
Desta forma, a capacitação técnica e conscientização de produtores através de
oficinas, aliada ao planejamento participativo do uso e ocupação do solo, que considere,
além de melhorias na produtividade, a preservação de áreas que exercem importantes
funções ambientais, é uma alternativa para potencializar as atividades agropecuárias e
ambientais exercidas nas propriedades. Além disto, estas atividades se mostram como
alternativas viáveis para a promoção de melhorias socioambientais e econômicas para a
região da Bacia Hidrográfica do Rio Xopotó.
Através deste processo é possível minimizar a distância entre a academia e a
sociedade, viabilizando práticas de extensão rural e de reconhecimento dos produtores
pelas suas atividades de manutenção e preservação dos serviços ambientais
fundamentais à sobrevivência humana.
Agradecimentos
Ao Instituto Xopotó pelo desenvolvimento do “Projeto Agente Ambiental –
produtor rural prestador de serviços ambientais”. Ao Instituto Estadual de Florestas
(IEF-MG) pelo apoio. Ao CNPq pelo financiamento da pesquisa e de bolsas. E aos
produtores rurais que receberam a equipe de trabalho e acreditaram na proposta do
mesmo.
46
Literatura Citada
BRASIL. Lei 4.771/65, 15 set.1965. Institui o Novo Código Florestal. Brasília:
Ministério do Meio Ambiente. 1965.
BRASIL. Lei 11.326/2006, 24 jul.2006. Estabelece as diretrizes para a formulação da
Política Nacional da Agricultura Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais.
Brasília: Ministério do Meio Ambiente. 2006.
BRASIL. Resolução CONAMA Nº 303, 20 mar. 2002. Dispõe sobre parâmetros,
definições e limites de áreas de preservação permanente. Brasília: Ministério do Meio
Ambiente/ Conselho Nacional de Meio Ambiente. 2002.
COELHO, F.M.G. A arte das orientações técnicas no campo: concepções e métodos.
Viçosa. Ed.: UFV. 2005. 139p.
47
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
1.9.
Caracterização da Produção de Pimenta-Do-Reino na Região
Litorânea-Norte do Espírito Santo
Bruno Sérgio Oliveira e Silva1, Antônio Pereira Drumond Neto2, Marcelo Barreto da
Silva3, Welington Secundino4
1
Estudante de graduação em Agronomia – Universidade Federal de Viçosa.
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Agricultura Tropical – Centro Universitário Norte do
Espírito Santo /UFES.
3
Professor do Departamento de Agronomia – Centro Universitário Norte do Espírito Santo / UFES.
4
Engo Agrônomo – Incaper e Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Agricultura Tropical –
Centro Universitário Norte do Espírito Santo /UFES.
2
Resumo: O Estado do Espírito Santo, com cerca de 15% da produção, é o segundo
maior produtor brasileiro de pimenta-do-reino, superado apenas pelo Estado do Pará. As
áreas de predominância do cultivo da pimenteira-do-reino, no Espírito Santo, estão
situadas no litoral norte do Estado, concentrando-se no município de São Mateus a sua
maior produção com aproximadamente 77% do total do Estado. A pipericultura é
responsável por gerar mais de 2.200 empregos diretos na região. O trabalho demonstrou
que a produção da pimenta encontra-se em evolução, de 1974 a 1990 a produtividade
aumentou em 234% e de 1990 a 2006 a alta foi de 160%. Apesar dos expressivos
avanços da produção os obstáculos referentes ao atraso tecnológico pela ausência de
pesquisas recentes voltadas para a cultura impedem a exploração completa do potencial
produtivo da região, mas medidas voltadas às atividades de pesquisa e extensão estão
em ação, no entanto são promissoras.
Palavras–chave: agricultura familiar, caracterização, espírito santo, pimenta-do-reino,
produção, são mateus
Characterization of Black Pepper Production in the Region
Littoral-North of the Espírito Santo
Abstract: The State of Espirito Santo, with about 15% of production, is the second
largest producer of black pepper, surpassed only by the State of Pará. The areas of
predominance of black pepper cultivation in the Espírito Santo are located on the north
coast State, concentrating in São Mateus its largest production with approximately 77%
of the total. The culture of pepper is responsible for generating more than 2,200 direct
jobs in the region. The study showed that pepper production is evolving, from 1974 to
1990 productivity increased by 234% and from 1990 to 2006 the increase was 160%.
Despite significant advances in production obstacles related to technological
backwardness by the absence of recent research aimed at preventing the exploitation
culture full productive potential of the region, but measures aimed to research and
extension are in action, however, are promising.
Key Words: black pepper, characterization, espírito santo, familiar agriculture, pepper
production, são mateus
48
Introdução
A região litorânea-norte do Espírito Santo envolve quatro municípios do Litoral
Norte (Conceição da Barra, Jaguaré, Pedro Canário e São Mateus) e quatro do Extremo
Norte (Montanha, Mucurici, Pinheiros e Ponto Belo), numa área de 7.590 km2, com
uma população residente de 209.203 habitantes (IBGE, 2007). Sob o ponto de vista da
relevância do setor agropecuário, a região apresenta uma das melhores participações do
PIB, representando 43,88% do Produto Interno Bruto Regional (IPEA, 2005).
O Estado do Espírito Santo, com cerca de 15% da produção, é o segundo maior
produtor brasileiro de pimenta-do-reino, superado apenas pelo Estado do Pará. As áreas
de predominância do cultivo da pimenteira-do-reino, no Espírito Santo, estão situadas
no litoral norte do Estado, concentrando-se no município de São Mateus a sua maior
produção. Apesar de a pimenta-do-reino participar com 0,5% das vendas externas do
agronegócio brasileiro, frente às exportações globais brasileiras, a mesma é de extrema
relevância para o setor da agricultura, tanto no Brasil como no Espírito Santo. (NOVO
PEDEAG , 2008).
A pimenta-do-reino (Piper nigrum L.), também conhecida como pimenta-da-Índia
é uma espécie perene, arbustiva e trepadeira, originária de regiões tropicais da Índia,
sendo a mais comum e mais importante das especiarias. Seus frutos possuem alto valor
comercial na forma de pimenta-preta, pimenta-branca e pimenta-verde, em conserva e
em pó, além de ser utilizada como condimento na alimentação, indústrias de carne e
perfumaria. Onde nestas, o preço pode alcançar até três vezes o valor do produto
comercializado na forma de grãos (MAISTRE, 1969).
Apesar do importante papel no desenvolvimento da agropecuária regional, a
pipericultura tem perdido gradualmente posição para outras culturas, os motivos que
explicam tal comportamento são por um lado, a instabilidade dos preços e os custos de
produção. Problemas relativos a quase nenhum estudo sobre manejo fitossanitário da
especiaria são referidos como um dos mais importantes obstáculos existentes ao
desenvolvimento da pipericultura regional.
O desenvolvimento da presente pesquisa tem como objetivo realizar uma
caracterização da produção de pimenta-do-reino na região litorânea-norte do Estado do
Espírito Santo.
Material e Métodos
O presente estudo tem como referência os municípios situados ao litoral norte do
estado do Espírito Santo. A escolha da região baseou-se no fato da atividade
representar, segundo a Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Estado do Espírito
Santo, uma área de cultivo de pimenta-do-reino superior a 2.600 hectares, espalhada por
mais de 1.000 propriedades e famílias, gerando em torno 2.200 empregos diretos. É
conduzida basicamente por agricultores de base familiar, com tamanho médio de área
de plantio de 2,5 hectares, comprovando a importância da pequena propriedade que é
responsável por manter os municípios da região norte do Espírito Santo como maior
pólo produtor de pimenta-do-reino do estado e em segundo lugar do País. Além disso,
esta pesquisa faz parte de um projeto maior que está sendo desenvolvido com o
Programa de Pós- graduação em Agricultura Tropical no Centro Universitário Norte do
Espírito Santo/UFES.
49
A pesquisa consistiu em uma revisão bibliográfica sobre a cultura. Assim foram
coletados dados específicos sobre a cultura, através de publicações censitárias do IBGE
– Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, da SEAG-ES - Secretaria da
Agricultura e Abastecimento do Estado do Espírito Santo, IPEA – Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada Órgãos públicos e privados dos municípios estudado.
Resultados e Discussão
Analisando os dados da SEAG-ES, 2008, nota-se que a produção no Espírito
Santo de pimenta-do-reino no período de 1974 a 1990 cresceu 2.711%, com aumento de
produtividade de 234%. A área plantada e colhida no mesmo período expandiu 1.077%.
No período de 1990 a 2006 a produção (figura 1) cresceu 170%, com aumento de
produtividade de 160%. A área plantada e colhida no mesmo período expandiu 130% e
114%, respectivamente. Apesar do expressivo avanço o cultivo da pimenta-do-reino
ainda se encontra distante do seu real potencial, que segundo o Novo PEDEAG 20072025, (Plano Estratégico de Desenvolvimento da Agricultura Capixaba) a meta é atingir
no ano de 2025 uma produção de 22.457 toneladas, uma área cultivada de 3.455
hectares com a produtividade de 6.500 t.ha-1.
No estado do Espírito Santo a produção total em 2006 foi de 8.295 toneladas e a
previsão é de encerrar o ano de 2010 com 12.955 toneladas. O município de São Mateus
é o principal produtor de pimenta-do-reino (Figura 2), responsável por
aproximadamente 77% (6.400 toneladas) da produção do estado, seguido pelos
municípios de Jaguaré com 8% (684 toneladas), Nova Venécia 4% (330 toneladas), Boa
Esperança 3% (219 toneladas), Linhares 2% (180 toneladas) e outros municípios 6%
(482 toneladas). A conquista dessa posição pelo município de São Mateus deve-se ao
fato da presença de mão-de-obra abundante na região, rentabilidade da cultura, tradição
na cultura e predominância das condições edafoclimáticas favoráveis para o
desenvolvimento da cultura.
A criação da Cooperativa de Produtores Agropecuários da Bacia do Rio Cricaré –
COOPBAC, em 2005, que foi responsável por facilitar o escoamento da produção para
a comercialização; a formação de grupo de pesquisa no Instituto Capixaba de Pesquisa e
Extensão Rural - INCAPER para as culturas condimentares através do Programa de
Desenvolvimento da Pipericultura no Estado do Espírito Santo em 2005; a instalação do
CEUNES/UFES – Centro Universitário Norte do Espírito Santo, em 2006 , e atualmente
com o início do Programa de Pós-Graduação em Agricultura Tropical, são fatores
determinantes porém ainda promissores para o alcance da meta de 2025.
50
Figura 1 – Evolução da produção de pimenta-do-reino no Espírito Santo (NOVO
PEDEAG, 2008). Adaptado.
Figura 2 – Principais municípios produtores em 2006 (NOVO PEDEAG, 2008).
Adaptado.
Conclusões
Pode-se constatar que apesar da pipericultura ser uma atividade realizada há
muitas décadas e tradicional na região litorâneo-norte do Estado do Espírito Santo, a sua
produção esta em progresso.
Os obstáculos como: a falta de integração produtores/órgãos de pesquisa, ausência
de pesquisas recentes nas áreas de fisiologia da planta, fitossanidade, melhoramento
vegetal, tratos culturais e manejo pós-colheita, voltados para a cultura de pimenta,
51
justificam o potencial de produção não atingido até o momento, mas são consideradas
áreas promissoras para produção de trabalhos capazes de modificar realidade da região
para que essa seja no futuro referência mundial na produção de pimenta-do-reino.
Literatura Citada
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Dados
Demográficos. 2007. In: http://www.ibge.gov.br (acessado em 10 de Agosto de 2010).
INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA - IPEA. Contas Nacionais.
2005. In: http://www.ipea.gov.br (acessado em de 10 Agosto de 2010).
MAISTRE, J. Las plantas de especias. Barcelona: Ed. Blume, 1969. p.123-208.
SECRETARIA DA AGRICULTURA E ABASTECIMENTO DO ESTADO DO
ESPÍRITO SANTO. 2008. Plano Estratégico de Desenvolvimento da Agricultura:
novo PEDEAG 2007-2025. Vitória. 284 p.
SECRETARIA DA AGRICULTURA E ABASTECIMENTO DO ESTADO DO
ESPÍRITO SANTO. Plano Estratégico de Desenvolvimento da Agricultura: novo
PEDEAG 2007-2025. Estudo Setorial: Pimenta-do-reino e Especiarias. 2008.
Vitória. 20 p. In: http://www.seag.es.gov.br/pedeag/doc_tematicos.htm (acessado em 8
de Agosto de 2010).
52
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
1.10. A Contribuição das redes sociais no desenvolvimento rural1
Alessandra Vasconcelos Albergaria2, Maria das Dores Saraiva de Loreto3
1
Parte do Projeto de Dissertação do primeiro autor, financiado pelo CNPq.
Mestranda do Programa de Pós-graduação em Economia Doméstica.
3
Pós-doctor em Família e Meio Ambiente, Professora Associada do Departamento de Economia
Doméstica/UFV.
2
Resumo: Dentre as inúmeras formas que tem assumido o desenvolvimento rural no
Brasil contemporâneo, algumas se distinguem pela maneira como os atores sociais se
vinculam e interagem. Produtores de muitas regiões têm realizado estratégias de
reprodução social fundamentadas em relações não-mercantis, oferecendo um horizonte
profícuo acerca de como as lógicas mercantis podem ser contrapostas através de
práticas de reciprocidade e relações de proximidade entre as pessoas, nas quais estas
últimas assumem fundamental importância. Nesse sentido, objetivou-se mostrar, por
meio de pesquisa bibliográfica, o papel das redes sociais no desenvolvimento rural.
Entende-se por redes sociais como o campo estruturado por vínculos entre indivíduos,
grupos e organizações construídos ao longo do tempo, considerados centrais na
sociabilidade dos indivíduos e no seu acesso aos mais diferenciados elementos materiais
e imateriais. Essas redes sociais são organizadas e acionadas pelos agricultores como
mecanismos de interação social e busca de garantia de sua reprodução, além do
fortalecimento do capital social, onde a centralidade está em observar como se
constituem estas redes são constituídas e como estimulam o aparecimento da
pluriatividade, bem como o desenvolvimento rural.
Palavras–chave: Agricultura familiar, Redes sociais, Capital social, Reciprocidade,
Desenvolvimento Rural
The contribution of social nets in rural development
Abstract: Amongst the innumerable forms that the agricultural development in
contemporary Brazil has assumed, some are distinguished for the way as the social
actors entail and interact. Producers of many regions have carried through strategies of
social reproduction based on non-mercantile relations, offering to a useful horizon
concerning as the mercantile logics can be opposed through practical of reciprocity and
relations of proximity between the people, in which these last ones assume basic
importance. In this sense, it was objectified to show, by means of bibliographical
research, the paper of the social nets in the agricultural development. It is understood
for social nets as the field structuralized for bonds between individuals, groups and
organizations constructed throughout the time, considered central in the sociability of
the individuals and its access to the most differentiated material and incorporeal
elements. These social nets are organized and incorporated for the farmers as
mechanisms of social interaction and search of guarantee of their reproduction, beyond
of the reinforcement of the social capital where the central is in observing how these
nets are constituted and stimulate the appearance of the pluriactivity as well as the rural
development.
Key Words: Familiar agriculture, Social nets, Social capital, Reciprocity, Rural
development.
53
Introdução
As formas como os atores sociais se vinculam e interagem têm influenciado o
desenvolvimento rural no Brasil contemporâneo. Protagonistas destes processos
conjugam princípios usualmente nomeados de “tradicionais”, tais como: o reforço dos
laços de reciprocidade e proximidade nas comunidades rurais, com relações tipicamente
capitalistas nos mercados de trabalho e de produtos. Malgrado o evidente fenômeno da
mercantilização das práticas econômicas, como a modernização da agricultura, a
externalização dos processos produtivos e o crescimento das formas de trabalho
assalariado dos agricultores familiares nos mercados de trabalhos não agrícolas,
produtores de muitas regiões têm realizado estratégias de reprodução social
fundamentadas em relações não-mercantis, mostrando como as lógicas mercantis
podem ser contrapostas às relações de proximidade entre as pessoas/grupos/instituições;
enfim, às redes sociais, que assumem importância capital no desenvolvimento local
(RADOMSKY, 2006).
A palavra rede é bem antiga e vem do latim “retis”, significando entrelaçamento
de fios, com aberturas regulares, que formam uma espécie de tecido. Pode ser
conceituada como um conjunto de pessoas em uma população e suas conexões. Na
concepção de Barnes (1987, p. 167), rede social é um conjunto de relações interpessoais
concretas que vinculam indivíduos a outros indivíduos. As redes são abstrações que
explicam relações diádicas e de extensões variáveis. Elas são constituídas por relações
sociais de proximidade, de amizade ou de poder e envolvem elementos diversos que as
estabelecem e a mantém.
Nesse contexto, como destacam Fazito e Soares (2010), o foco do estudo das
redes não deve recair sobre indivíduos isolados, mas sobre sistemas interativos de
relações, em um contexto estrutural, considerando as interações entre diferentes
dimensões (micro, meso e macro) e definindo suas regularidades e propriedades
estruturais, consideradas centrais na sociabilidade dos indivíduos e no seu acesso aos
recursos. No que diz respeito especificamente aos debates sobre desenvolvimento rural,
as redes são citadas muito freqüentemente como fatores chaves na obtenção de
empregos, na criação e fortalecimento das associações e cooperativas rurais, na
organização comunitária e política, no comportamento religioso e na sociabilidade em
geral. Diante do exposto, o objetivo do estudo é mostrar a contribuição das redes sociais
no desenvolvimento rural.
Material e Métodos
O referido trabalho foi realizado por meio de pesquisa bibliográfica acerca da
temática em questão, por meio de consultas em teses, dissertações, livros, artigos
científicos, sites da internet, dentre outros.
Resultados e Discussão
Para Lowe et at. (1995), utilizar o referencial teórico das redes possibilita avanços
importantes, em termos de como compreender o papel das redes num território; verificar
o quanto as relações de reciprocidade são mantenedoras das redes e como estas se
apresentam e se caracterizam; ou seja, analisar como as redes extravasam os territórios,
indo além do modelo exclusivamente endógeno de desenvolvimento.
Segundo Radomsky (2006), as redes sociais são organizadas e acionadas pelos
agricultores como mecanismos de interação social e busca de recursos. Ainda, por meio
das redes sociais, é possível enfatizar que no meio rural pode-se gerar inúmeras
estratégias de diversificação de renda e inserção econômica para as famílias. Neste
54
processo, as redes têm papel fundamental para que o tecido social consiga recriar
estratégias e ampliar o leque de possibilidades laborais; além de potencializar as
relações sociais que dinamizam o mercado de trabalho e fazem surgir o fenômeno da
pluriatividade.
Do ponto de vista do desenvolvimento rural, se faz necessário pensar que as redes,
além de se constituírem em formas de inserção econômica e reprodução social,
potencializam os vínculos políticos, as associações nas comunidades rurais (associações
de mulheres, cooperativas, sindicatos rurais, grupos religiosos, grupos de jovens, etc.),
as cooperativas e ações coletivas; ou seja, elas expressam a pluralidade de empreender
esforços coletivos para o desenvolvimento rural.
Outra pesquisa que destaca essa característica das redes sociais é a de Radomsky e
Schneider (2007, p.254), que discutem o papel das redes sociais e da reciprocidade nos
processos de desenvolvimento, considerando que as trocas não representam somente
permuta de produtos, mas carregam a potencialidade da sociabilidade humana, que
fundamenta a solidariedade, a integração social e as obrigações mútuas. Concluem que
o conjunto de relações em rede é responsável pelo dinamismo do mercado de trabalho e
pela diferenciação da economia local, uma vez que existe uma externalidade positiva
quando a intensidade dos laços sociais de proximidade auxilia na promoção de sinergias
locais entre os atores sociais.
No trabalho realizado por Radomsky (2006), na cidade de Veranopólis/Porto
Alegre, o autor constatou que à medida que se descobria o modo do funcionamento das
redes verificava-se que as relações de proximidade eram fundamentais para a sua
constituição e operação. Para esse autor, a reciprocidade pode sedimentar as relações
sociais, pois vincula os sujeitos por meio de suas condutas e da carga simbólica que
contém o “dar, receber e retribuir”. Assim, o conjunto de relações em rede fornece um
dinamismo ao mercado de trabalho, exercendo importante efeito para o
desenvolvimento do território.
O papel das redes sociais na provisão de recursos é discutido por Bourdieu (1998),
quando as relaciona com o capital social, que expressa uma dinâmica das relações de
organização, confiança, cooperação, iniciativa, solidariedade e participação entre os
indivíduos de uma determinada comunidade, que contribuem de forma efetiva na
formação de um senso de responsabilidade da própria comunidade sobre seus rumos,
viabilizando um maior acesso a direitos e conseqüentemente a melhoria da qualidade de
vida (ARAUJO et al., 2010.)
Considera que no modelo de rede social, o sentimento de confiança mútua entre
os indivíduos que compõem as redes é, sem dúvida, o elemento chave para a
consolidação das comunidades pessoais ou das redes sociais, reconhecendo uns nos
outros, suas habilidades, competências, conhecimentos e hábitos. Além disso, destaca a
importância do capital social para o sucesso nessas conexões, onde, o capital social é
visto como um bem social em virtude das conexões dos atores envolvidos e das redes da
qual fazem parte, que se refere diretamente às conexões entre os indivíduos. Como
ressalta Marques (2009, p.476): o capital social se refere às redes de relações sociais
que podem proporcionar aos indivíduos e grupos o acesso a recursos e apoio.
A noção de capital social permite ver que os indivíduos não agem
independentemente, que seus objetivos não são estabelecidos de maneira isolada e seus
objetivos nem sempre estritamente egoístas. Neste sentido, as estruturas sociais devem
ser vistas como recursos, como um ativo de capital de que os indivíduos podem dispor.
O capital social, de acordo com Coleman (1990:302), “não é uma entidade singular,
55
mas uma variedade de diferentes entidades que possuem duas características em
comum: consistem em algum aspecto de uma estrutura social e facilitam algumas ações
dos indivíduos que estão no interior desta estrutura”.
Dessa forma, fortalecer o capital social, assim como a reciprocidade que é muito
comum entre os agricultores familiares torna-se um instrumento importante para o
desenvolvimento rural, pois possibilita que se alcancem objetivos que não seriam
atingidos na sua ausência.
Nesse sentido as redes criam territorialidades, realizando-se por meio de atores
diversos. Pode-se dizer que as mudanças empreendidas por meio das redes são
constantes na dinâmica econômica e social, estando a textura das redes sempre na
eminência de transformações e da reinvenção das territorialidades. Dessa forma, os
atores sociais compartilham recursos sociais e simbólicos, que são essenciais pra gerar
benefícios do ponto de vista social e econômico, dinamizando o mercado de trabalho
local e contribuindo para o desenvolvimento rural.
Conclusões
O desenvolvimento rural somente faz sentido, para além da noção e da concepção
política de “desenvolvimento agrícola”, se for capaz de almejar que o rural seja um
espaço de interações sociais e de relações com o meio ambiente. São elas que carregam
as potencialidades tanto para a permanência do território, enquanto espaço apropriado e
“vivo”, quanto para uma perspectiva para as gerações futuras. Sendo assim, as redes
sociais assumem, cada vez mais, um importante papel para o desenvolvimento rural,
pois elas acentuam a dinamização da economia e favorecem a acumulação de capital
social no território.
Literatura Citada
ARAÚJO, J.B.C.; VASCONCELOS, H.E.M.; PIMENTEL, J.C.M. et al. Elementos
constitutivos de capital social nos projetos de assentamento Che Guevara e Santa
Bárbara, localizados no Estado do Ceará. Disponível em <http://www.cnpat.
embrapa.br> Acesso 20/04/2010.
BARNES, J.A. Redes Sociais e processo político. In: FELDEMAN-BIANCO, B.
(Org.). Antropologia das Sociedades Contemporâneas: Métodos. São Paulo: Global,
1987. p. 159 -193.
BOURDIEU, P. O poder simbólico. 2ª edição. Rio de Janeiro. RJ: Editora Bertrand
Brasil, 1998.
FAZITO, D.; SOARES, W. Análise das redes de migração interna no Brasil (19861991): aspectos macroestruturais. Disponível em: <http://www.abep.nepo.unicamp.
br>. Acessado em: 12/04/2010.
LOWE, P. et al. Networks in rural development: beyond exogenous and endogenous
models. In: PLOEG, J.D.; DIJK, G. (Ed.). Beyond modernization: the impact of
endogenous rural development. Assen: Van Gorcum, 1995. p.87-105.
RADOMSKY, G.F.W. Redes Sociais de Reciprocidade e Trabalho: as bases
histórico-sociais do desenvolvimento na Serra Gaúcha. Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, Faculdades de Ciências Econômicas, Porto Alegre, 2006.
RADOMSKY, G.; SCHNEIDER, S. Nas teias da economia: o papel das redes sociais e
da reciprocidade nos processos locais de desenvolvimento. Sociedade e Estado, v.22, n.2, p.249-284, 2007.
56
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
1.11. O Papel das redes sociais na qualidade de vida das famílias do projeto de
assentamento (PA) São Francisco/MG1
Júnia Marise Matos de Sousa2, Maria das Dores Saraiva de Loreto3
1
Parte das exigências do Pós-Doutorado (PPGED/UFV) do primeiro autor, financiado pelo CNPq.
Pós-doutoranda do Programa de Pós-graduação em Economia Doméstica da Universidade Federal de
Viçosa; Professora do Departamento de Economia Doméstica/UFV.
3
Pós-Doctor em Família e Meio Ambiente, Professora Associada do DED/UFV.
2
Resumo: Este artigo tem por objetivo refletir sobre o papel das redes sociais no Projeto
de Assentamento (PA) São Francisco. Especificamente, buscou-se identificar as redes
sociais existentes, seu nível de importância e estado da relação atual, visando analisar a
relação entre estas redes sociais e o alcance da qualidade de vida das famílias. A partir
deste contexto, buscou-se responder os seguintes questionamentos: Quais são as redes
sociais existentes, a importância atribuída e situação atual com relação ao PA? Qual a
relação das redes sociais e a qualidade de vida das famílias? Metodologicamente, fez-se
uso da pesquisa qualitativa, com a realização de uma Oficina Diagnóstica Participativa e
levantamento de dados secundários. O PA São Francisco é composto atualmente por 29
famílias, que produzem para subsistência e vivenciam um conflito ambiental para o uso
das veredas, dificultando o alcance de uma melhor qualidade de vida. Os resultados
revelaram que as redes sociais são compreendidas pelas famílias assentadas como sendo
de fundamental importância para a qualidade de vida no PA. As principais redes
identificadas foram: INCRA, EMATER, Associação, Prefeitura, Sindicato dos
Trabalhadores Rurais, vizinhos e família. Apesar da importância atribuída às redes
sociais, é necessário um aumento da proximidade social das famílias assentadas com as
instituições locais, por meio do estabelecimento de relações coletivas organizadas,
aprimoramento das redes de solidariedade e relações generalizadas de reciprocidade. A
fragilidade das redes sociais é um aspecto limitante ao desenvolvimento do PA e
alcance da qualidade de vida, apesar da sua relevância no contexto da reforma agrária.
Palavras-chave: Assentamentos rurais, redes sociais, reforma agrária, qualidade de vida
The role of social nets in life quality of families in the project of seating of São
Francisco/MG
Abstract: This work has as objective to reflect about the paper of the social nets in the
Project of Seating (PA) São Francisco. Specifically, one searched to identify the
existing social nets, its level of importance and state of the current relation, aiming to
analyze the relation between these social nets and the reach of the quality of life of the
families. From this context, one searched to answer the following questionings: Which
are the existing social nets, the attributed importance and current situation with regard
to the PA? Which the relation of these social nets and the quality of life of the families?
Methodologically, it was used the qualitative research became, with the
accomplishment of a Participative Diagnostic Workshop and secondary data-collecting.
The PA San Francisco is composed currently for 29 families, who produce for
subsistence and live deeply an ambient conflict for using of the swampy plains
(veredas), making it difficult the reach of one better quality of life. The results had
disclosed that the social nets are understood by the family seated as being of basic
57
importance for the quality of life for the PA. The main identified nets had been:
INCRA, EMATER, Association, Prefecture, Union of the Agricultural Workers,
neighbors and family. Although the importance attributed to the social nets, is necessary
an increase of the social proximity of the families seated with the local institutions, by
means of the establishment of organized collective relations, improvement of the
solidarity nets and generalized relations of reciprocity. The fragility of the social nets is
a restricted aspect to the development of the PA and reach of the quality of life,
although its relevance in the context of the agrarian reform.
Key Words: Rural seating, Social nets, Agrarian reform, Quality of life
Introdução
As redes sociais têm sido estudadas por diversos autores e apontada como
elemento importante para a construção de estratégias para o alcance da qualidade de
vida almejada. Redes sociais podem ser definidas como um conjunto de relações
interpessoais concretas que vinculam indivíduos a outros; sendo, portanto, recursos dos
indivíduos, mediadas por esquemas simbólicos e culturais (BARNES, 1987). A este
respeito, Loreto et al. (2010) afirmam que, dentre as redes sociais, a rede de íntimos4
tem mobilizado recursos e atuado como estratégia de sobrevivência. Nesse mesmo
sentido, Leite et al. (2004) comentam que as famílias e as redes de vizinhança são as
bases sobre as quais se constroem as relações de sociabilidade nos assentamentos rurais
De acordo com as proposições de Bourdieu (1998), as redes sociais são
construídas através da comunicação e de estratégias de investimento nas relações sociais
a fim de alcançar fontes de benefícios, sejam emocionais, operacionais e financeiros.
Entretanto, a ativação dessa rede não é suficiente para criar oportunidades sociais, é
necessário um aumento da proximidade social com as instituições locais. É neste
contexto que estas redes sociais foram analisadas no PA São Francisco. Os
assentamentos de reforma agrária, a exemplo do PA São Francisco, configuram um
novo território a partir da posse da terra, pois necessitam de que sejam empreendidos
esforços que possibilitem a produção e reprodução simples e ampliada destes
agricultores familiares, de modo que redes sociais estabelecidas possam contribuir para
o alcance de uma melhor qualidade de vida.
Entretanto, no cotidiano destas famílias assentadas e nas lutas diárias pelas
condições de produção (crédito, assistência técnica e mediação de conflitos ambientais),
nem sempre as redes sociais se apresentam como efetivas neste processo. Ou seja,
apesar da importância atribuída, nem sempre as redes sociais formais e informais se
encontram próximas e integradas o suficiente para auxiliar no desenvolvimento dos
assentamentos. Não há aqui uma visão reducionista de que o desenvolvimento do
assentamento e a conseqüente qualidade de vida de vida dependa única e
exclusivamente das redes sociais, sobretudo das formais (a exemplo do INCRA,
Prefeituras, Emater). Mas, ressalta-se que estas são de fundamental importância, numa
via de mão dupla, para o desenvolvimento não apenas do assentamento em questão, mas
do desenvolvimento local. Nesse sentido, considera-se fundamental a reflexão sobre as
4
Segundo Portugal (2010), no dimensionamento dos nós e laços das redes, estas podem assumir três
tipos: a) Redes de Íntimos, considerados pelos entrevistados como importantes para si mesmos; b) Redes
de Interação, que relacionam os membros com os quais as famílias se interagem, em um determinado
período de tempo; c) Redes de Troca, que inclui pessoas da rede que compensariam ou penalizariam as
trocas, que vão desde a ajuda material, prestação de serviços, aconselhamento e companhia.
58
redes sociais e sua relação com a qualidade de vida no PA São Francisco, pois esta
realidade pode ser a de outros assentamentos brasileiros, de forma a aprofundar os
conhecimentos sobre o tema, visando à construção de oportunidades sociais e melhoria
da qualidade de vida das famílias assentadas. Assim, este artigo tem por objetivo refletir
sobre a temática das redes sociais e qualidade de vida no Projeto de Assentamento (PA)
São Francisco, buscando-se compreender o papel das redes sociais e a qualidade de vida
das famílias assentadas.
Material e Métodos
Para atingir os objetivos, realizou-se uma Oficina Diagnóstica com as famílias
assentadas, que foram sensibilizadas a participar de uma Oficina, com uma
programação específica e orientada para a coleta qualitativa dos dados sobre as redes
(identificação, importância e proximidade), por meio da construção do painel “As redes
Sociais do PA São Francisco”. As informações foram transcritas na íntegra e analisadas
a partir de uma revisão bibliográfica sobre o tema. A Oficina Diagnóstica foi realizada
no mês de julho de 2010, com a participação de representantes de todas as famílias que
fazem parte do PA desde a sua criação.
Resultados e Discussão
O PA São Francisco foi criado em 10 de novembro de 1995, no município de
Buritizeiro/MG, com uma área de 2.081,45 ha. Nele estão assentadas 29 famílias, que
em sua maioria eram posseiras naquela localidade antes de serem assentadas. Os lotes
são de aproximadamente 50 ha, com pequenas variações. As atividades produtivas são
voltadas para os cultivos de subsistência, sobretudo a mandioca, bem como a criação de
pequenos animais e extrativismo de frutos do cerrado, a exemplo do buriti, da qual se
utiliza a polpa para produção de doces e fibra para produção de artesanato. Atualmente,
as famílias vivenciam situação complexa, relacionada ao conflito ambiental relativo ao
uso das veredas. Neste sentido, as pensões e aposentadorias têm sido a fonte de renda
monetária que mantém a maior parte das famílias, explicando assim que a qualidade de
vida destas famílias está aquém daquela desejada por elas. Observou-se, ainda, uma
rotatividade de famílias, pela desistência e venda dos lotes, em virtude das dificuldades
vivenciadas. Por este motivo, optou-se por envolver nesta pesquisa apenas as famílias
que estão no PA desde a sua criação.
A Oficina Diagnóstica foi programada em acordo com as características do
público alvo, considerando os processos iniciais de sensibilização e mobilização dos
assentados para a participação. O objetivo da Oficina Diagnóstica em questão foi de
identificar as redes sociais, o seu nível de importância e a proximidade atual com o PA.
Inicialmente buscou, no primeiro momento, discutir o conceito de redes sociais
com as famílias, buscando-se identificar a relação percebida destas redes sociais com a
qualidade de vida no PA. Neste sentido, as famílias são unânimes em reconhecer que as
redes são “todas as relações que podem ajudar a conseguir alguma coisa melhor pro
assentamento”. Ao identificar as redes sociais existentes, as famílias citam as
instituições que estão diretamente associadas ao PA, a exemplo do INCRA, EMATER,
Bancos, Prefeitura, sindicato e Associação. Identificaram-se também as redes informais,
como a família, amigos e vizinhos.
59
A todas estas redes, foi atribuída grande importância para o alcance de uma vida
melhor no PA. Entretanto, no que se refere à proximidade, nem todas estas estão tão
próximas como as famílias desejariam. Alegam que o INCRA, a Prefeitura, os Bancos,
a Prefeitura e, até mesmo, a Associação poderiam estar mais próximos em termos de um
maior envolvimento. Quem sabe se o INCRA estivesse mais presente os conflitos
ambientais já teriam sido superados? Se a Prefeitura se preocupasse mais, o
investimento em infra-estrutura não poderia ser maior... No que se refere à Associação,
verificou-se a fragilidade destas relações, com baixa participação e envolvimento dos
assentados; ocorrendo situação semelhante com o Sindicato. As famílias, amigos e
vizinhos constituem as redes mais próximas que têm auxiliado as famílias de forma
mais direta na atenuação de seus problemas existenciais.
Conclusões
A importância atribuída às redes sociais no PA Francisco revelam que estas são
fundamentais para o alcance da qualidade de vida. Entretanto, verificou-se que, apesar
das redes apresentarem grande importância, há um distanciamento entre as mesmas e os
assentados, o que revela a fragilidade destas redes, com comprometimento da melhoria
da qualidade de vida das famílias assentadas. Para pensar em reforma agrária como um
projeto viável de desenvolvimento e minimização das desigualdades sociais através do
acesso a terra, é preciso pensar que o fortalecimento das redes sociais (formais e
informais) é fundamental para a construção de estratégias de sobrevivência, reprodução
social e qualidade de vida, para o qual se recomenda um maior investimento em
relações mais horizontais e integradas no desenvolvimento dos assentamentos de
reforma agrária.
Literatura Citada
BARNES, J.A. Redes sociais e processo político. In: FELDMAN-BIANCO, B. (Org.).
Antropologia das sociedades contemporâneas: métodos. São Paulo: Global, 1987.
p.159-193.
BOURDIEU, P. O poder simbólico. 2ª edição. Rio de Janeiro. RJ: Editora Bertrand
Brasil, 1998.
LEITE, S.; HEREDIA, B.; MEDEIROS, L. Impactos dos assentamentos: um estudo
sobre o meio rural brasileiro. Brasília: Editora UNESP, IICA/NEAD, 2004. 392p.
LORETO, M.D.S.; SOUZA, J.M.M.; CUNHA, B.G. Reforma Agrária e Redes Sociais
na Situação Concreta do Assentamento Cuiabá, Canindé do São Francisco-SE. In: IV
Simpósio sobre Reforma Agrária e Assentamentos Rurais – Assentamentos
Rurais: Controvérsias e Alternativas de desenvolvimento. Centro Universitário
UNIARA, Araraquara/SP, junho 2010.
PORTUGAL, S. Contributos para uma discussão do conceito de rede na teoria
sociológica. Disponível em <http://www.ces.uc.pt/publicacoes/oficina/271/271.pdf.>
Acesso em 19/04/2010.
60
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
1.12. Utilização da competitividade como ferramenta de estímulo numa
capacitação de jovens agricultores: realização de uma gincana empreendedora1
Jalmir Pinheiro de Souza Júnior², Emanuelle Araujo dos Santos3, Daniela Moreira de
Carvalho4, Juliana de Lima Pimentel5, Monique do Val de Souza6
1
Parte do projeto de pesquisa e extensão financiado pelo CNPq.
Professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco, Unidade Acadêmica de Garanhuns.
3
Estudante de graduação em Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco,
Unidade Acadêmica de Garanhuns.
4
Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Agronegócio da Universidade federal do Rio Grande do
Sul e Professora da Universidade Federal Rural de Pernambuco, Unidade Acadêmica de Garanhuns.
5
Estudante de graduação em Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco,
Unidade Acadêmica de Garanhuns.
6
Economista Doméstica.
2
Resumo: Para melhor possibilitar a aprendizagem necessária à capacitação de jovens
Agricultores foram desenvolvidas dinâmicas competitivas que englobavam
conhecimentos acerca de administração e gerenciamento de propriedades rurais.
Observações feitas no inicio do projeto “Capacitação Gerencial de Jovens Agricultores”
indicaram que os jovens necessitavam não apenas de conhecimentos básicos de
administração, mas também de orientações sobre competitividade e atualizações dos
métodos de trabalho, que acarretavam baixa produtividade e pequeno volume de
vendas, além de tornar a atividade agrícola desestimulante até mesmo para os que dela
sobrevivem. 129 alunos da escola da comunidade foram divididos em três turmas, com
quatro grupos de seis a sete componentes cada uma, que receberam aulas com
utilização de vários materiais didáticos. Porém para fixação eficiente do conteúdo,
identificou-se a necessidade de despertar interesse maior, que surgiu quando aplicadas
dinâmicas, paralelamente, e em correspondência aos módulos de treinamento,
desenvolvidas especificamente através da contextualização de realidades, porém com
avaliação pontuada de desempenho no formato de uma “gincana empreendedora”.
Palavras–chave: administração, empreendedorismo, dinâmicas de ensino.
Use of competitiveness as a stimulus tool in the management training of young
farmers: creation of an entrepreneurial contest1
Abstract: To better facilitate the learning necessary to train young farmers were
developed competitive dynamics that included knowledge about management and
administration of farms. Remarks made at the beginning of the project "Capacity
Management of Young Farmers' indicated that young people needed not only basic
administration knowledge, but also competitiveness and updates guidance on working
methods, which cause low productivity and low amount of sales, in addition to make
farming unattractive even to the farmers. 129 students in the school community were
divided into three classes, with four groups of six to seven components each, who
received lessons with use of various coursewares. However, for efficient determination
of the content, it was identified the need to arouse greater interest that arose when
applied dynamic, parallel, and in correspondence to the training modules, developed
61
specifically through the context of realities, but evaluating the performance punctuated
format an "entrepreneurial contest."
Key Words: administration, enterprising, dynamic teaching
Introdução
Após anos de interfaces entre o urbano e rural, muito da caracterização dos jovens
agricultores sofreu grandes alterações. Hoje, pode-se afirmar que tecnologias de
informação fazem parte também do universo dos habitantes da zona rural o que acarreta
nos jovens ainda mais desejo de buscar idéias de vida em grandes cidades. Esta
realidade tem criado jovens agricultores cada vez mais desinteressados pelas atividades
de suas propriedades, de forma que necessitem não apenas de conhecimentos básicos de
administração, mas, sobretudo, de estímulo a competitividade, através de técnicas de
vendas, marketing pessoal e conseqüentes atualizações dos métodos de trabalho
adotados ainda através do empirismo familiar. Despertar interesse dos jovens pelo
aprendizado de técnicas de comercialização que apresentem resultados pode ser uma
alternativa para manter o interesse pela atividade agrícola. O estímulo a
competitividade, através da prática, provoca uma busca por conhecimento que, se
contextualizado adequadamente, pode dinamizar as relações e gerar motivação. De
acordo com Carneiro e Castro (2007), a juventude constitui uma etapa de vida em que a
imprecisão é um grande destaque, sobretudo quando paralelamente ocorre a saída da
escola, o início da vida profissional, a pretensão de saída da casa paterna e a formação
do próprio núcleo familiar. Esta ansiedade propicia um ambiente competitivo
importante que precisa ser cuidadosamente canalizado para produtividade e eficiência.
Material e Métodos
Para diagnosticar ações empreendedoras natas, foram realizadas entrevistas com
129 jovens selecionados, identificando que a melhor forma metodológica para aplicar
conceitos é envolver os jovens em atividades que despertem o interesse, via competição.
Desta forma, uma gincana empreendedora com a utilização de dinâmicas envolvendo
práticas de administração em atividades agrícolas, pontuadas em escala de valores
decrescentes, foi implantada, conforme os seguintes módulos:
1) Planejamento da Produção: Dinâmica denominada “Formas e formatos” (dividir para
cada grupo 5 potes com formatos e cores diferentes que devem ser preenchidos por
objetos com formas e tamanhos que se encaixam num único tipo de pote). É dada uma
folha com recomendações através de enigmas. Esta dinâmica objetiva assimilação da
necessidade da divisão de tarefas. 2) Organização e Direção: Dinâmica denominada
“Quebrando a cabeça” (entregar a cada grupo 3 quebra-cabeças de 100 peças cada um
para que fossem montados com a participação de todos os integrantes do grupo, em
apenas 30 minutos). 3) Gestão dos Custos: Dinâmica denominada “Lucro ou prejuízo”
(distribuir para cada grupo uma tabela de apuração de custos para ser preenchida). O
objetivo é fazer com que se divirtam e memorizem conceitos. 4) Cooperativismo e
comercialização: Dinâmica denominada “ajustando os elos” (montar no chão,
retângulos com grande comprimento e pequena largura, dentro do qual todos os
componentes do grupo devem ficar enfileirados, com a missão de fazer com que um
apenas que está em uma extremidade, chegue até a outra sem o auxílio das mãos e sem
poder sair dos limites do retângulo, regra válida também para os outros componentes do
grupo). O objetivo é perceber o quanto um (presidente de cooperativa), necessita confiar
62
nos demais (cooperados) e vice-verso, para chegar até a consecução dos objetivos
finais. Já na parte de comercialização foi utilizada a dinâmica denominada “Montando a
feira” (fazer com que preparem produtos e efetuem a venda na vila da comunidade). Foi
dado a cada grupo uma caixa contendo vários materiais necessários a esta tarefa. 5)
Projetos e Captação de recursos Financeiros: Primeira denominada “elástico coletivo”
(dispor os componentes de cada grupo em círculo, de mãos dadas e dar-lhes um
pequeno elástico fechado, inserido no braço de um dos componentes, antes de darem as
mãos. A atividade é fazer com que este elástico passe por todos, percorrendo a roda e
retornando ao local de origem, sem que soltem ou utilizem as mãos). Segunda,
denominada “vencendo barreiras” (dispor os componentes dos grupos de mãos dadas
em círculo, com uma cadeira no meio, onde foram colocadas balas. A atividade a ser
realizada refere-se a fazer com que cada componente do grupo consiga colocar na boca
uma bala descascada, sem utilizar as mãos, mantendo-as ligadas aos companheiros.
Desta forma a única maneira de descascar as balas será utilizar a boca de duas pessoas
ao mesmo tempo). Pretende-se com fazer com que vençam a barreira do preconceito de
ter que estar próximo do colega para ajudá-lo a descascar a bala, e que isto é importante
para que todo o grupo consiga vencer. Assim também tem ocorrido em associações e
cooperativas, as pessoas estão com idéias equivocadas pré-concebidas de que não dá
certo, de que não vale a pena, ninguém precisa fazer nada, que acabam não entrando, ou
entrando e não participando.
Resultados e Discussão
Tesser (1989, p.45) afirma que: “O vetor principal na unidade teoria/prática não
deve ser buscado simplesmente na teoria crítica, mas na atividade prático-crítica.”.
Desta forma, teoria e prática devem estar juntas para que a ação de ensinar e aprender
aconteçam de maneira adequada.
A gincana permitiu praticar tudo o que foi dado durante um dia de capacitação e
praticar as habilidades dos jovens. As atividades propostas nas dinâmicas foram
elaboradas de forma que os participantes tivessem que desenvolver a divisão de
responsabilidades. Em cada “brincadeira”, os jovens se mostraram empolgados e
empenhados, era possível, também, notar se existia integração entre eles. Lacombe e
Heilborn (2003) defendem que uma organização deve estar em constante construção,
fortalecendo um entendimento ideológico de ser uma reunião de comportamentos
sociais interligados por participantes, considerando-os como instrumentos vitais de uma
sociedade. Destarte cada grupo assim deveria se comportar para que obtivesse êxito
final, e tal descoberta ocorreu gradativamente a cada dinâmica
A primeira tarefa colocada, como se vê na Figura 1, permitiu a visão de que é
necessário existir uma divisão do trabalhado que é colocado para ser feito.
63
Fotografia 1 – Dinâmica “Formas e Formatos”.
A segunda dinâmica, denominada “Quebrando a cabeça” possibilitou ver a
integração e agilidade dos grupos, avaliando também a maneira como cada líder
conduziria a competição. A terceira dinâmica, que tratava de gestão de custos,
possibilitou a aplicação de conceitos que foram dados durante a capacitação. A
dinâmica “ajustando os elos”, tratando de cooperativismo e comercialização tornou
claro como se deveria agir em ocasiões em que o conjunto é necessário para ter o
termino da atividade. Colocando na prática que para se alcançar o objetivo é necessário
cooperar. Na quinta atividade proposta, chamada de “elástico coletivo”, onde era
necessário raciocínio e se desprender de preconceitos relacionados ao próximo, a prática
mostrou como é importante a cooperação do próximo para que o que se necessita seja
realizado. Do contrário, o objetivo não seria alcançado, conforme ilustra a Figura 2.
Figura 2: Dinâmica “elástico coletivo”.
Realizando as atividades práticas, possibilitou-se a assimilação do conteúdo
teórico complexo e propiciou avaliar como os alunos interagem em busca do
aprendizado para obter o melhor resultado. A gincana permitiu desenvolver várias
habilidades nos alunos no campo prático e gerar conseqüentes competências. Para
Fleury (2000) as competências representam fonte de valor para o indivíduo e para a
organização, na aplicabilidade do saber agir, saber aprender, saber se engajar, mobilizar
recursos, reconhecer a integração dos conhecimentos, assumindo responsabilidades,
norteados sempre por uma visão estratégica.
Conclusões
As gincanas educativas usadas como diferencial no aprendizado estimulam os
jovens a aprenderem mais. Os jovens conseguem assimilar de forma simples como
administrar seus objetivos pessoais inicialmente e consequentemente aplicar conceitos
64
na gestão da propriedade rural como forma de se fazer competitivo no mercado e obter
retornos para o crescimento de toda sua família.
Agradecimentos
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e tecnológico (CNPq),
órgão financiador do projeto e à Universidade Federal Rural de Pernambuco, Unidade
Acadêmica de Garanhuns (UFRPE-UAG).
Literatura Citada
CARNEIRO, M.J.; CASTRO, E.G.C. Juventude rural em perspectiva. Rio de
Janeiro: Mauad X, 2007.
FLEURY, A.; FLEURY, M.T.L. Estratégias Empresariais e Formação de
Competências. São Paulo: Editora Atlas, 2000.
LACOMBE. F.; HEILBORN. G. Administração: princípios e tendências. São Paulo:
Saraiva, 2003.
TESSER, O. Unidade Teoria e Prática. No.4. In: Revista Municipal, São Paulo, maio,
1989, pp.45-54.
65
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
1.13. Estudo do contexto sócio-ambiental de agricultores familiares do entorno do
Parque Estadual do Ibitipoca – MG: a perspectiva do turismo como agente do
desenvolvimento de comunidades rurais no entorno de áreas protegidas1
Fabiana B. Almeida2, Altair Sancho3, Fernanda Amaral4, Gilzilene Silva5, Maria F.
Ávila Pires6, Eduardo A. Coelho7
1
Este ensaio é resultado de pesquisas realizadas pelo CEPLANTUR/UFMG,com financiamento da
EMBRAPA Gado de Leite/Juiz de Fora.
2
Professora do Dep. Geografia/Curo de Turismo da UFMG.
3
Professor do Dep. Geografia/Curo de Turismo da UFMG.
4
Graduada em Turismo pela UFMG.
5
Graduada em Turismo pela UFMG.
6
Pesquisadora EMBRAPA Gado de Leite/Juiz de Fora e Coordenadora do Projeto.
7
Analista de Turismo do Instituto Mamirauá.
Resumo: A realidade dos agricultores familiares no Brasil, caracterizada por inúmeras
dificuldades de sobrevivência e manutenção no campo, tem estimulado a realização de
pesquisas sobre novas formas de inovação da funcionalidade do campo e novas
maneiras de se pensar a relação homem/natureza. Neste contexto, os princípios do
turismo qualificado como sustentável apresentam-se como uma alternativa para a
minimização dos processos exclusivos no campo. Nesse sentido, o presente ensaio se
propôs a compreender a realidade dos agricultores familiares do entorno do Parque
Estadual de Ibitipoca (PEIB) e identificar potencialidades turísticas, capazes de
fundamentar a elaboração de um plano de desenvolvimento do turismo para a região. Os
procedimentos metodológicos envolveram: revisão bibliográfica; pesquisa documental e
de campo; processamento e sistematização dos dados; análise dos resultados. Os
resultados evidenciaram que as comunidades pesquisadas enfrentam dificuldades
relacionadas à insuficiência de infra-estrutura básica, pouca expressividade de
lideranças locais, falta de diálogo e proximidade com a gestão do PEIB, baixo preço do
leite e dificuldades de acesso a insumos agrícolas e apoio técnico. Por outro lado, foram
identificadas significativas potencialidades na região e nas propriedades rurais
estudadas, capazes de justificar estudos mais aprofundados sobre desenvolvimento do
turismo rural, numa perspectiva de sustentabilidade.
Palavras-chave: comunidades de agricultures familiares, turismo, território, Parque
Estadual de Ibitipoca.
Abstract: The reality of family farmers in Brazil, characterized by various difficulties
of survival and to be continued in the Field, has stimulated researches about new forms
of field`s functionalities innovation and new ways of thinking about the relation
between man and nature. In this context, the principles of sustainable tourism compose
an alternative to the minimization of exclusive processes in the field. Based on this
context, this paper aimed to understand the reality of family farmers around the State
Park of Ibitipoca and identify touristic potentialities, able to support the construction the
tourism`s development plan for the region. The methodological procedures involved
literature review, document and field research, processing and systematization of the
informations, analyze the results. The results showed that the surveyed communities
66
face difficulties related to inadequate basic infrastructure, little expression of local
leaders, default of dialogue to the PEIB`s management, low prices of the milk and
difficulties access to agricultural inputs and technical support. Furthermore, we
identified important potentialities in the region and in the proprieties studied, able to
justify further studies on rural tourism development, in a sustainable perspective.
Key Words: community‟s family agriculture, conservation areas, tourism and territory.
Introdução
Atualmente, a sociedade presencia vários problemas ambientais que vêm
impulsionando uma série de debates acerca da necessidade de proteção da natureza em
todo mundo, discutindo estratégias capazes de minimizar os efeitos das atividades
humanas sobre a base de recursos naturais renováveis. Nesse contexto, dentre as ações
de proteção da natureza e de conservação da biodiversidade globalmente reconhecidas,
uma das mais importantes estratégias tem sido o estabelecimento de áreas naturais
protegidas.
Todavia, a implantação dessas unidades nem sempre é feita de forma harmoniosa,
principalmente as unidades de conservação criadas com base na lógica da proteção
integral, como os parques, que não consideram a existência de populações em seu
interior, tornando-se lócus preferencial de tensões e conflitos. Nessa perspectiva, é
importante que os parques não sejam considerados como “ilha de conservação”
(DIEGUES, 2004), uma vez que as atividades exercidas nas áreas de seu entorno
influenciam direta ou indiretamente a conservação ambiental e o equilíbrio ecológico de
seus territórios. Nessa lógica, cumpre mencionar a importância em se considerar as
comunidades que residem no entorno dessas áreas protegidas em iniciativas de gestão e
planejamento, uma vez que a biodiversidade natural está estritamente relacionada à
biodiversidade cultural.
No entorno de unidades de conservação, frequentemente, habitam grupos sociais
diversos, como populações tradicionais, latifundiários, populações ribeirinhas,
agricultores familiares, entre outros. No caso específico de comunidades de agricultores
familiares, foco deste estudo, verifica-se inúmeras dificuldades de sobrevivência e
manutenção no campo, em virtude de vulnerabilidades às oscilações de mercado,
alterações climáticas, ausência ou pequeno alcance de políticas rurais e infra-estruturas
insuficientes (BUAINAIN, 2005). Tal contexto, muitas vezes, é intensificado pela
criação de unidades de conservação integral, que impõem restrições ao manejo da terra,
ao mesmo tempo em que consideram tais comunidades do entorno como potenciais
causadoras de danos ao meio ambiente.
Diante desse contexto, verifica-se a necessidade de se pensar em novas formas de
inovação da funcionalidade do campo, de subsídio ao ordenamento territorial e novas
maneiras de se pensar a natureza, não em termos de restrição ao desenvolvimento, mas
como meio de agregação de valores às alternativas econômicas locais. Nessa
perspectiva, os princípios do turismo qualificado como sustentável apresentam-se como
uma referência para se pensar a intervenção territorial no entorno de parques. O turismo
planejado, orientado pelos princípios da sustentabilidade e compreendido enquanto
fenômeno capaz de agregar valor à agricultura familiar, atividade econômica central,
pode interferir positivamente nas dimensões ambiental, econômica, social e cultural que
compõem o território, contribuindo para sua estruturação e desenvolvimento.
67
Nesse sentido, o trabalho em questão se propôs a investigar a realidade social,
econômica e física na qual estão inseridos os agricultores familiares do entorno do
Parque Estadual de Ibitipoca (PEIB) e identificar potencialidades turísticas, capazes de
favorecer o desenvolvimento do território que abrange tais comunidades rurais.
O território contemplado pela presente pesquisa compreende o entorno do Parque
Estadual do Ibitpoca (PEIB), localizado na Zona da Mata do estado de Minas Gerais,
nos municípios de Lima Duarte, Santa Rita do Ibitipoca e Bias Fortes. A área situa-se a
90 Km de Juiz de Fora e 241 Km de Belo Horizonte. A pesquisa abrange,
especificamente, a comunidade de Várzea de Santo Antônio – município de Bias Fortes,
a comunidade do Mogol – município de Lima Duarte, a comunidade de Moreiras e o
distrito de Bom Jesus do Vermelho - município de Santa Rita do Ibitipoca5.
Material e Métodos
A primeira etapa da metodologia compreendeu uma revisão bibliográfica em
livros, artigos e periódicos científicos, teses e dissertações sobre as temáticas de
unidades de conservação, agricultura familiar, turismo e categorias de análise do espaço
geográfico – território e paisagem. Em seguida, houve o levantamento dos dados
secundários sobre a área de estudo, a partir de pesquisa documental em sites
institucionais, teses e dissertações, relatórios e documentos oficiais, mapas, entre outros,
com o objetivo de subsidiar uma caracterização geral da área de estudo. A terceira etapa
envolveu a realização de uma pesquisa em campo, que abrangeu: i. entrevistas semiestruturadas; ii. observação e estudo da paisagem local; iii. georreferenciamento de
pontos de interesse, tomando-se nota das coordenadas planas, por meio de um receptor
GPS de navegação, e; iv. registros fotográficos. As entrevistas estruturadas foram
direcionadas para agricultores familiares, líderes locais e técnicos da EMATER6.
Após a pesquisa de campo, os dados coletados foram sistematizados, permitindo,
primeiramente, a caracterização dos produtores e áreas estudadas e a elaboração de
mapas temáticos, referentes à infra-estrutura de acesso, rede hidrográfica, uso e
ocupação do solo e relevo. Estes mapas foram elaborados a partir dos dados
georreferenciados em campo7.
Por fim, as informações coletadas sobre a região e os mapas elaborados
permitiram uma compreensão e análise sobre a realidade dos agricultores familiares do
entorno do PEIB, bem como do potencial turístico regional. Tais aspectos são
fundamentais para se pensar em um plano de desenvolvimento turístico para o entorno
5
A área de estudo foi selecionada com base nos resultados da primeira etapa do macroprojeto
“Conhecimentos e saberes locais: inserção social e econômica de produtores de leite de base familiar e
quilombolas em ambiente sustentável”, sob responsabilidade do Centro de Pesquisa-Ação em
Planejamento Turístico da UFMG (CEPLANTUR/UFMG). O trabalho desenvolvido compreende ações
de sistematização e proposição de alternativas não-agropecuárias ecologicamente sustentáveis para
agricultores familiares residentes no entorno do PEIB.
6
O universo considerado abrange quatorze propriedades familiares, um laticínio e um estabelecimento
voltado para a plantação de ervas medicinais. Para o registro dos elementos da paisagem elaborou-se um
quadro que abrange os critérios pertinentes a serem observados em campo, tais como: o tipo de
vegetação; a presença de água; o predomínio, isto é, o que está fortemente presente na paisagem; a
raridade, que corresponde ao que não é comum na paisagem como um todo; a topografia e as
intervenções antrópicas.
7
Para a geração dos mapas temáticos utilizou-se o software Track Maker, que possui uma interface com o
receptor GPS, onde é possível processar os dados georreferenciados em campo e convertê-los para o
formato shape, compatível com software ArcGIS, que subsidiou a elaboração dos mapas temáticos.
68
do PEIB, a ser construído de maneira participativa com as diferentes lideranças
regionais.
Resultados e Discussão
Com a realização desse estudo foi possível perceber que mesmo em um universo,
aparentemente homogêneo como dos produtores rurais amostrados na pesquisa, há
diferenças significativas que demonstram a diversidade existente nas comunidades de
agricultores familiares, apontando para a centralidade de um olhar cuidadoso ao se tratar
da temática do desenvolvimento do turismo em espaços rurais. O contexto regional
envolvendo as comunidades de Mogol, Várzea de Santo Antônio, Moreiras e Bom Jesus
do Vermelho é extremamente diverso, se considerados os níveis de desenvolvimento
sócio-econômico. Apesar da pecuária de leite constituir a principal atividade econômica
da região, foi possível verificar que as comunidades de Mogol e Moreiras, em especial,
enfrentam diversas dificuldades, oriundas das péssimas condições das estradas e vias de
acesso, ausência de energia elétrica em muitas das propriedades, falta de engajamento
de seus moradores em associações comunitárias, falta de diálogo e proximidade com a
gestão do PEIB, baixo preço do leite, forte especulação imobiliária e dificuldades de
acesso a insumos agrícolas e apoio técnico, bem como a serviços públicos como saúde,
educação. A comunidade de Mogol, em particular, vêm sofrendo grande impacto em
relação à expansão da área protegida por agentes privados. Isto tem ocorrido à custa da
venda da terra pelos moradores antigos da comunidade, ocasionando um esvaziamento
da mesma. Em virtude desse cenário, faz-se necessário direcionar ações voltadas à
minimização dessa situação de exclusão social. Além das iniciativas específicas
relacionadas à implantação de Unidades Demonstrativas em propriedades selecionadas8,
o estímulo à diversificação das atividades econômicas também constitui aspecto central
para a inserção destas comunidades rurais em ambiente sustentável, oferecendo
condições para a reprodução da vida nos próprios territórios de origem. A pesquisa
identificou diversas potencialidades nas propriedades do entorno do PEIB, entre as
quais: visitação de atrativos naturais, venda de produtos fabricados na própria
propriedade (cachaça, ervas medicinais, doces, biscoitos, colchas e demais artesanatos),
serviços de alimentação e hospedagem, visitação às festas e manifestações religiosas,
entre outros.
Nesse contexto, o desenvolvimento do turismo rural de base comunitária no
entorno do PEIB apresenta-se não somente como oportunidade de gerar renda e
melhorar a qualidade de vida dos agricultores familiares, mas também como elemento
de conservação da natureza, ao interferir diretamente na redução da pressão sobre o
Parque, causada pela visitação turística massificada. Esta perspectiva ressalta a
importância do envolvimento da gestão do Parque em iniciativas relacionadas ao seu
entorno, sobretudo porque as ações empreendidas nas proximidades do Parque refletem
diretamente na conservação da biodiversidade e equilíbrio ecológico de seu território.
Nessa discussão, é essencial que a gestão do parque assuma uma postura integrada e
transversal frente ao contexto regional, de maneira a proporcionar o envolvimento e
engajamento dos diversos atores sociais nas ações de desenvolvimento e proteção da
natureza.
8
Uma das iniciativas do projeto coordenado pela Embrapa Gado de Leite consiste na implantação de
Unidades Demonstrativas em propriedades rurais, com o intuito de maximizar as atividades produtivas e,
ao mesmo tempo, contribuir para a disseminação, entre outros agricultores familiares, de técnicas de
melhoramento da produção rural.
69
Conclusões
Considerar o turismo como atividade capaz de interferir positivamente na
melhoria da qualidade de vida de agricultores familiares constitui um desafio e, ao
mesmo tempo, uma iniciativa complementar para os planos de desenvolvimento rural e
territorial. Iniciativas nessa direção precisam considerar o turismo em todo o seu
potencial de desenvolvimento, que supera a visão pautada unicamente em seus
benefícios econômicos, para privilegiar novas abordagens, capazes de privilegiar o
potencial humano e relacional inerente à prática do turismo de base comunitária.
Nesse contexto, foi possível constatar que o desenvolvimento do turismo rural de
base comunitária no entorno do PEIB pode contribuir para fortalecer a ruralidade
presente, através da promoção da valorização das tradições do meio rural, das
manifestações culturais e religiosas, da gastronomia e das paisagens rurais, de maneira a
fortalecer as identidades e estimular o desenvolvimento rural. O estímulo à autonomia
destas comunidades poderá oferecer aos agricultores maiores condições de permanecer
no campo e dar continuidade à produção de leite e demais atividades rurais, associada a
iniciativas no âmbito do turismo, levando-se em consideração o perfil e intenções de
cada produtor.
Contudo, a inserção de ações voltadas ao turismo nas comunidades, etapa
subseqüente deste estudo, requer uma abordagem participativa e democrática, que
considere o envolvimento de diferentes representatividades sociais num debate crítico
sobre as possibilidades e caminhos de desenvolvimento do turismo e, sobretudo, de
reestruturação das condições de vida e produção no meio rural.
Literatura Citada
BUAINAIN, A.M. Gestão integrada da agricultura familiar. Ed. UFSCar, São
Carlos, 2005.
DIEGUES, A.C. O mito moderno da natureza intocada. São Paulo: HUCITEC, 2001.
70
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
1.14. Aspectos econômicos da adubação N, P, K para o milho (Zea maiz, L.),
cultivado pela agricultura familiar, no município de Salvaterra, Marajó-Pará
Sonia Maria Botelho1, João Elias Lopes Fernandes Rodrigues2, João de Deus Barbosa
do Nascimento Júnior3
1
Eng. Agr. M.Sc., Pesquisadora da Embrapa Amazônia Oriental, Tv. Dr. Enéas Pinheiro, s/n. Cx. Postal
48, CEP: 66095-100, PA; email: [email protected]
2
Eng. Agr. D.Sc., Pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental; email: [email protected]
3
Economista. M.S.c, Analista da Embrapa Amazônia Oriental, e-mail: [email protected]
Resumo: O objetivo deste trabalho foi definir o nível mais econômico da fórmula
comercial (10:28:20), como fonte de N, P e K para a cultura do milho, variedade BR
4154 Saracura, no município de Salvaterra, Marajó, PA. A pesquisa foi conduzida no
campo experimental da Embrapa, no Marajó, em Latossolo Amarelo distrófico. O
delineamento foi blocos casualizados, com cinco tratamentos e quatro repetições,
totalizando vinte parcelas. Os tratamentos foram cinco níveis (0, 150, 300, 450 e 600 kg
ha-1) da fórmula comercial (10:28:20). As parcelas experimentais foram constituídas por
seis linhas de plantio, com espaçamento de 1,0 m x 0,4 m, e área útil de 5,0 m x 4,8 m,
totalizando 24,0 m2. O preparo da área foi em sistema de plantio direto e o plantio foi
manual, em covas nas quais foram colocados 1 kg de composto orgânico. Por ocasião
da colheita foi avaliada a produtividade de grãos de milho, e os resultados foram
submetidos a uma análise econômica simples na qual o lucro bruto foi comparado com
o custo total de produção, para determinação da relação Beneficio/Custo. Os resultados
obtidos permitiram concluir que a produção ótima econômica estimada foi de 4097 kg
ha-1 de grãos, com a aplicação de 335 kg ha-1 da fórmula comercial (10:28:20). No
entanto, a análise econômica demonstrou que, nas condições estudadas, não foi
economicamente viável o emprego de fertilizantes no cultivo do milho BR 4154
Saracura, no município de Salvaterra, Pará.
Palavras-chave: adubação química, agricultura familiar, análise financeira, milho
Economical aspects of N, P, K fertilization to maize (Zea maiz, L.), var. BR 4154
Saracura, cultivate by family agriculture, in Salvaterra city, Marajo-Para state,
Brazil
Abstract: The objectives of this work was to define the more economic level of
commercial formula N, P, K, (10:28:20) to culture of maize var. BR 4154 Saracura in
Salvaterra city, in Marajo island, PA. The research was carried out in a dystrophic
Yellow Latosol, of the experimental area of Embrapa. The experimental design was
randomized blocks, with five treatments (0, 150, 300, 450 and 600 kg ha-1) of
commercial formula and four replications. The experimental parcels had been
constituted by six plants lines, with spacing of 1.0 m x 0.4 m, and profitable area of 5.0
m x 4.8 m totalizing 24.0 m2. In preparation of area was direct planting, and the
plantation was manual, in roles. At the time of the harvest the maize grains productivity
was valued. The results were submitted to simple economical analyze to determine the
relation Benefit/Cost. The best economical yield was 4 097 kg ha-¹ of grains with
applications of 335 kg ha-¹ of commercial formula (10:28:20). The economical analyze
71
showed that the in the studied conditions was not economically practicable the use of
commercial formula in the culture of maize var. BR 4154 Saracura in the Salvaterra
city, Para state, Brazil.
Key Words: chemical fertilization, family agriculture, economical analyze, maize
Introdução
A maioria da população rural da região marajoara sobrevive basicamente de
culturas de subsistência e da coleta e exploração de produtos extrativos. Essas formas de
sobrevivência quase nenhum apoio recebem dos órgãos governamentais e os
conhecimentos com relação à utilização de sistemas produtivos, que poderiam melhorar
a capacidade produtiva, a renda e as condições de vida do marajoara, ainda são
escassos.
Entre os fatores que dificultam o desenvolvimento econômico do arquipélago do
Marajó destacam-se o baixo desenvolvimento tecnológico, a baixa qualificação de mãode-obra, a pouca educação formal e a frágil capacidade de organização social, que
impossibilitam o crescimento das atividades produtivas. Desta forma, para o fomento da
tecnologia, no Marajó, devem ser priorizadas ações que concorram para a transformação
da estrutura produtiva existente, particularmente as vinculadas à agricultura familiar.
(PLANO..., 2007). O incentivo à produção de alimentos, através da pesquisa
participativa com uso de sementes selecionadas de milho, variedade BR 4154 Saracura,
tem sido absorvido pelos agricultores familiares do município de Salvaterra
proporcionando, com isso, ganhos significativos com relação à utilização de materiais
melhorados para plantio, visando o consumo humano e animal e o aumento de renda
através da comercialização do excedente da produção (Rodrigues et al., 2000).
Entretanto, o agricultor familiar dos municípios do arquipélago do Marajó tem
sido prejudicado pela ausência de definição das doses mais econômicas de nutrientes
para as culturas alimentares, o que certamente tem influenciado na limitação de áreas de
plantio e na redução da produtividade das culturas (Rodrigues et al., 2000). Segundo
dados do IBGE (2006), o rendimento médio da cultura do milho na região situa-se em
torno de 400 kg/ha, devido a não utilização das tecnologias básicas de cultivo, o que
pode comprometer o esforço para a introdução de materiais melhorados, na agricultura
familiar do Marajó. Nesse contexto, a Embrapa Amazônia Oriental, em parceria com o
Sindicato de produtores rurais e Comunidades quilombolas do Município de Salvaterra,
vem desenvolvendo ações com culturas alimentares tradicionais na Região, tentando
aumentar a baixa produtividade existente, especialmente através do uso racional dos
recursos existentes e dos insumos externos às propriedades.
Já foi comprovado pela pesquisa que, com manejo adequado e adubação
economicamente correta, é possível elevar o rendimento das culturas, sem onerar os
custos de produção. Como as formulações comerciais são as fontes de N, P e K mais
encontradas no mercado do arquipélago do Marajó e as mais utilizadas, pelos
produtores, o presente trabalho objetivou definir o nível mais econômico da fórmula
comercial (10:28:20) para adubação com N, P e K, no cultivo do milho pela agricultura
familiar, no município de Salvaterra.
72
Material e Métodos
O experimento foi conduzido com a participação de produtores, no campo
experimental da Embrapa Amazônia Oriental, localizado no município de Salvaterra, no
arquipélago do Marajó. O clima da região é tropical úmido do tipo Ami (classificação
de Köppen), com temperatura média anual de 26ºC e precipitação anual em torno de
3.000 mm. A distribuição das chuvas caracteriza duas épocas, uma muito chuvosa, de
dezembro a julho, e outra, menos chuvosa, nos demais meses do ano, onde as
precipitações mensais ficam abaixo de 60 mm.
O solo da área experimental foi classificado como Latossolo Amarelo distrófico,
textura média, podendo ser considerado como um dos mais representativos das áreas de
terra firme da região do Marajó (Instituto..., 1974; Falesi e Veiga, 1986), cujas
características químicas são apresentadas na Tabela 1.
Tabela 1. Características químicas do Latossolo Amarelo distrófico onde foi conduzido
o experimento, em Salvaterra – Marajó – PA, 2008
pH
C
MO
N
------- g/dm3 -------4,7
15,0
25,82
0,26
P
K
Na
------ mg/dm3 -------32
63
44
Ca
Ca+Mg
Al
H+Al
----------- cmolc/dm3 -----------0,7
1,1
2,2
6,3
Fonte: Laboratório de Análise da Embrapa Amazônia Oriental
O delineamento experimental utilizado foi de blocos casualizados, composto de
cinco tratamentos e quatro repetições. Os tratamentos foram representados por quatro
doses (150, 300, 450, e 600 kg ha-1) da fórmula comercial (10:28:20), usada como fonte
de N, P e K, além de um tratamento testemunha. As parcelas experimentais foram
constituídas de seis linhas espaçadas de 1,0 m, com espaçamento de 0,4 m entre as
plantas, e área útil de 5,0 m x 4,8 m, totalizando 24,0 m2.
O preparo da área foi em sistema de plantio direto, sendo o controle do mato
efetuado através do uso de uma capina química. O plantio foi efetuado manualmente
colocando-se três sementes por cova da variedade de milho BR 4154 Saracura,
desenvolvido pela Embrapa Milho e Sorgo. Nas covas foi colocado um quilo de
composto orgânico, produzido na fazenda, misturado com a terra da superfície.
A adubação foi realizada manualmente, 20 dias após a germinação, empregando
as doses do fertilizante descritas no delineamento experimental, em covas distanciadas
de aproximadamente, 5,0 cm das plantas. Na ocasião, foi efetuado o desbaste das
plantas, deixando apenas duas plantas por cova. Durante o ciclo da cultura não foi
necessário a realização de capinas e de amontoa de terra para os pés das plantas.
Por ocasião da colheita foi avaliada a produção de grãos e os resultados obtidos
foram submetidos a uma análise financeira simples (Tabela 2) onde o lucro bruto foi
comparado com o custo total de produção, para determinação da relação
Beneficio/Custo (B/C).
73
Resultados e Discussão
Através da derivação da equação de regressão (Dillon, 1977) obteve-se uma
máxima produção estimada de 4097 kg ha-1 de grãos, com a aplicação de 488 kg ha-1 do
fertilizante, e uma produção ótima econômica estimada de 3898 kg ha-1 de grãos, com
aplicação de 335 kg ha-1 da fórmula (10:28:20), considerando o preço do insumo de R$
1,00/kg e do produto de R$ 0,40/kg.
A análise financeira (Tabela 2) revelou que a testemunha apresentou uma
relação de 1,34, o que significa que, para o tratamento sem adubação, para cada R$ 1,00
(um Real) aplicado, foi observado um ganho adicional de R$ 0,34. Com a aplicação de
150 kg ha-1 da fórmula comercial (10:28:20) obteve-se uma produtividade de 3442 kg
ha-1, com um lucro bruto de R$ 520,80 ha-1, apresentando a maior relação B/C (de
1,61), ou seja, para cada um real investido, obteve-se um ganho adicional de R$ 0,61.
Com a aplicação de 300 kg ha-1, obteve-se uma relação de 1,41 que foi menor do que
aquela obtida com a dose de 150 kg ha-1, apesar de ter apresentado uma produtividade
superior (3571 kg ha-1). Para os demais níveis também se observou a mesma correlação
entre a relação B/C e o aumento da produtividade, o que caracteriza a obtenção de
rendimentos decrescentes à medida que se aumenta o nível do insumo, indicando que
não foi economicamente viável o emprego de doses elevadas do fertilizante no cultivo
do milho, var. BR 4154 (Saracura) no município de Salvaterra, Marajó, Pará.
Tabela 2 – Análise financeira da produção de milho BR4154 Saracura, em função da
aplicação de diferentes doses da fórmula comercial NPK (10:28:20), no
município de Salvaterra, Marajó- Pará, em 2008
Índices avaliados
Níveis de N, P, K (10:28:20)
(kg ha-1)
0
125
250
375
500
A - Produtividade (kg ha-1)
1976
3442
3571
4062
4018
B(1) - Custo total (R$ 1,00)
588,00
856,00
1014,00
1200,00
1354,00
C - Receita bruta (R$ 1,00)
790,40
1376,00
1428,40
1607,20
1625,20
D - Lucro bruto (C-B) (R$)
202,40
520,80
414,40
407,20
271,20
1,34
1,61
1,41
1,34
1,20
(test.)
E - Relação Benefício/Custo
(C/B)
1. Demarcação da área, retirada de piquete, piqueteamento, abertura das covas, plantio, capina química,
adubação orgânica e química, colheita, sementes, beneficiamento, transporte, controle fitossanitário,
fertilizantes e sacarias
- Preço de fertilizante: R$50,00/saco de 50 kg.
- Preço médio do milho pago ao produtor (setembro de 2008): R$20,00/saco de 50 kg
- Diária de mão-de-obra paga pelo produtor na região do Marajó: R$ 15,00/dia
74
Conclusões
Nas condições edafoclimáticas em que foi conduzido o experimento pode-se
concluir que:
A produção ótima econômica estimada foi de 3898 kg ha-1 de grãos, com
aplicação de 335 kg ha-1 da fórmula comercial (10:28:20), enquanto a máxima produção
estimada foi de 4097 kg ha-1 de grãos, com a aplicação de 488 kg ha-1 do fertilizante.
Embora a cultura tenha respondido positivamente à adubação, a análise financeira
demonstrou que não é economicamente viável o emprego de fertilizantes no cultivo da
variedade de milho BR4154 Saracura, pelo agricultor familiar de Salvaterra. Entretanto,
a resposta agro-social é de suma importância, por ser um indicativo de que a
comunidade poderá produzir, sem adubação, seu próprio alimento com sustentabilidade.
Literatura Citada
DILLON, S.L. The Analyze of Response in Crop and Livestock Production. Oxford,
Pergamon Press, 1977. 213p.
FALESI, I.C.; VEIGA, J.B. O solo e as pastagens cultivadas. In: PEIXOTO, A.M.;
MOURA, J.C.; FARIA, V.P. Pastagens na Amazônia. Piracicaba – SP, FEALQ, 1986.
p.1-26.
IBGE, 2006. www.ibge.gov.br/ (consulta realizada em ago, 2010).
INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL DO PARÁ.
Estudos integrados da Ilha do Marajó. Belém, 1974. 333p. PLANO de desenvolvimento
territorial sustentável do arquipélago do Marajó. Brasília, DF: Presidência da
República–Casa Civil; Belém, PA: Secretaria de Estado de Integração Regional, 2007.
313p.
RODRIGUES, J.E.L.F.; ALVES, R.N.B.; SILVA, J.F.A.F. Adubação N, P, K na cultura
do milho (Zea mayz, L.), conduzida em sistema de pesquisa participativa em agricultura
familiar, no município de Salvaterra, PA. Belém: Embrapa Amazônia Oriental, 2000.
4p. (Embrapa Amazônia Oriental. Comunicado Técnico, 33).
75
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
1.15. Relação benefício/custo da adubação NPK na cultura do amendoim (Arachis
hypogaea L.) cultivada pela agricultura familiar, no município de Ponta de Pedras,
Marajó, Pará1
João Elias Lopes Fernandes Rodrigues2, Sonia Maria Botelho3, João de Deus Barbosa
do Nascimento Júnior4
1
Pesquisa realizada com a colaboração do Núcleo de Apoio a Pesquisa e Transferência de Tecnologias do
Marajó e Prefeitura Municipal de Ponta de Pedras.
2
Eng. Agr. D.Sc., Pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental; Tv. Dr. Enéas Pinheiro, s/n. Cx. Postal 48,
CEP: 66095-100, PA; email: email: [email protected].
3
Eng. Agr. D.Sc., Pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental; email: [email protected].
4
Economista. M.S.c, Analista da Embrapa Amazônia Oriental, e-mail: [email protected].
Resumo: O objetivo deste trabalho foi definir o nível mais econômico da fórmula
comercial (10:28:20), como fonte de N, P e K para a cultura do amendoim, variedade
BR 01, no município de Ponta de Pedras, Marajó, PA. A pesquisa foi conduzida na
comunidade Jagarajó, em Latossolo Amarelo distrófico, textura arenosa. O
delineamento foi inteiramente casualizado, com três tratamentos e quatro repetições,
com área útil das parcelas de 7,5 m2. O preparo da área foi mecanizado, constituindo-se
de aração e gradagem e o plantio feito com plantadeira manual (tico-tico) no
espaçamento de 0,70m x 0,20m, com duas sementes por cova da cultivar de amendoim
BR 01. Nas covas foi colocado um quilo de composto orgânico, produzido na fazenda,
misturado com a terra da superfície. A adubação foi realizada manualmente, em covas,
abertas por espeque a, aproximadamente, 5,0 cm das plantas, 15 dias após a
germinação. Foram testados, além do tratamento testemunha, duas doses da fórmula
comercial NPK (10:28:20) correspondentes a 250 e 500 kg/ha, que foram transformadas
em g/cova e aferidas para tampinhas de plástico a fim de facilitar a percepção dos
produtores. Durante o ciclo da cultura, foram necessárias apenas duas capinas, quando
se processou, também, a amontoa. Por ocasião da colheita foram feitas as avaliações de
produtividade de amendoim em casca e sementes em kg/ha. Os dados foram submetidos
a uma análise financeira simples, na qual a receita bruta foi comparada com o custo
total de produção, para determinação da relação custo/benefício. A análise econômica
demonstrou que, nas condições estudadas, não foi economicamente viável o emprego de
fertilizantes no cultivo do amendoim var. BR 01, no município de Ponta de Pedras,
Marajó, Pará.
Palavras-chave: adubação química, agricultura familiar, análise financeira, amendoim
Benefit/Cost ratio of N, P, K fertilization to peanut (Arachis hypogaea L.), var. BR
01, cultivated by family agriculture, in Ponta de Pedras city, Marajo-Para state,
Brazil
Abstract: The objectives of this work was to define the more economic level of
commercial formula N, P, K, (10:28:20) to culture of peanut var. BR 01 in Ponta de
Pedras city, in Marajo, state of Para. The research was carried out in a dystrophic sandy
Yellow Latosol, of the experimental area of Jagarajo community. The experimental
design was entirely randomized, with three treatments (0, 250 and 500 kg ha -1) of
commercial formula and four replications and profitable area of 7.5 m2. The staging
76
area was mechanized, comprising of plowing and harrowing and planting done with
planter manual (tico-tico) in spacing 0.70 m x 0.35 m, with two seeds/roles of variety
BR 01. In the roles was placed 1 kg of organic compound mixed with the surface soil.
The fertilization was performed manually, in roles, near 5.0 cm of the plants, 15 days
after germination. Were tested, in addition to treatment test, two levels of commercial
NPK formula (10:28:20) corresponding to 250 and 500 kg/ha, which were transformed
to g/role in order to facilitate the perception of the producers. During the cycle of
culture, it took only two capinas, when processed, also, the lumps. On the occasion of
the harvest were made productivity assessments of peanut on bark and peanut seeds in
kg/ha. The results were subjected to a simple economical analysis to determine the
Benefit/Cost ratio. The economical analyze showed that the in the studied conditions
was not economically practicable the use of commercial formula in the culture of
peanuts var. BR 01 in Ponta de Pedras city, Marajo island, Para state, Brazil.
Key Words: chemical fertilization, family agriculture, economical analyze, peanut
Introdução
O amendoim é uma das culturas de maior expressão econômica no mundo, sendo
considerada uma das mais importantes leguminosas, junto com o feijão e a soja. Além
de ser um alimento protéico e energético de reconhecida qualidade, é também um dos
principais produtores de óleo com amplas possibilidades de aproveitamento na
indústria, inclusive para produção de biodiesel. No Brasil, grande parte da produção é
destinada à fabricação de óleo que tem no mercado externo o seu principal consumidor,
uma vez que o consumo interno é inexpressivo (SAVY FILHO, 1980).
Entre os fatores que dificultam o desenvolvimento econômico do arquipélago do
Marajó destacam-se o baixo desenvolvimento tecnológico, a baixa qualificação de mãode-obra, a pouca educação formal e a frágil capacidade de organização social, que
impossibilitam o crescimento das atividades produtivas. Por isto, a maioria da
população rural da região marajoara ainda sobrevive basicamente de culturas de
subsistência e da coleta e exploração de produtos extrativos. Essas formas de
sobrevivência quase nenhum apoio recebem dos órgãos governamentais e os
conhecimentos com relação à utilização de sistemas produtivos, que poderiam melhorar
a capacidade produtiva, a renda e as condições de vida do marajoara, ainda são
escassos. Desta forma, para o fomento da tecnologia, no Marajó, devem ser priorizadas
ações que concorram para a transformação da estrutura produtiva existente,
particularmente as vinculadas à agricultura familiar. (PLANO..., 2007).
O incentivo à produção de alimentos com uso de tecnologias e sementes
selecionadas, através da pesquisa participativa, tem sido bem aceito pelos agricultores
familiares de Ponta de Pedras, proporcionando com isso, ganhos significativos
resultantes da utilização de materiais melhorados para plantio (Rodrigues et al. 2000). A
introdução da cultivar BR–01, no sistema produtivo, surge como mais uma opção para
cultivo intercalar de amendoim em lavouras de coqueirais solteiros existentes no
município.
Entretanto, segundo a Confederação Nacional da Agricultura (2001), uma
pesquisa do Projeto Conhecer, mostrou que 85% dos 5.980 produtores rurais
consultados em 2000, consideram os preços dos insumos agrícolas, principalmente, das
formulações comerciais que são os fertilizantes mais encontrados no mercado regional,
como o principal problema enfrentado pela atividade produtiva no campo. Assim, o
77
presente trabalho objetivou definir a dose mais econômica da fórmula comercial de
adubação NPK (10:28:20) para a cultura do amendoim, na comunidade de Jagarajó, no
município de Ponta de Pedras, no Marajó.
Material e Métodos
O experimento foi conduzido com a participação de produtores familiares, da
comunidade de Jagarajó, no município de Ponta de Pedras, no arquipélago do Marajó.
O clima da região é tropical úmido do tipo Ami (classificação de Köppen), com
temperatura média anual de 26ºC e precipitação anual em torno de 3.000 mm. A
distribuição das chuvas caracteriza duas épocas, uma muito chuvosa, de dezembro a
julho, e outra, menos chuvosa, nos demais meses do ano, onde as precipitações mensais
ficam abaixo de 60 mm.
O solo da área foi classificado como Latossolo Amarelo, textura arenosa
(Instituto..., 1974; Falesi & Veiga, 1986), de baixa fertilidade natural, cuja análise
química apresentou pH 5,1; 6 mg/dm3 de P; 22mg/dm3 de K; 3,8 cmolc/dm3 de Ca +
Mg; 0,4 cmolc/dm3 de Al.
O delineamento experimental utilizado foi inteiramente casualizado, composto de
três tratamentos e quatro repetições com área útil das parcelas de 7,5 m2.
O preparo da área foi mecanizado, constituindo-se de aração e gradagem. O
plantio foi efetuado com o uso de plantadeira manual (tico-tico) no espaçamento de
0,70m x 0,20m, com duas sementes por cova, utilizando-se 70 kg/ha de sementes da
cultivar de amendoim BR 01, desenvolvida pela Embrapa. Nas covas foi colocado um
quilo de composto orgânico, produzido na fazenda, misturado com a terra da superfície.
A adubação foi realizada manualmente, em covas, abertas por espeque, distantes
aproximadamente 5,0 cm das plantas, quinze dias após a germinação. Foram testados,
além do tratamento testemunha, duas doses da fórmula comercial NPK (10:28:20)
correspondentes a 250 e 500 kg/ha, que foram transformadas em g/cova e aferidas para
tampinhas de plástico, a fim de facilitar a percepção dos produtores.
Durante o ciclo da cultura, foram necessárias apenas duas capinas oportunidade
em que se processou a amontoa facilitando, com estas práticas, o desenvolvimento e a
formação das vagens.
Por ocasião da colheita foram feitas as avaliações de produtividade de amendoim
em casca e sementes, em kg/ha, sendo os resultados submetidos a uma análise
financeira simples (Tabela 1) na qual a receita bruta foi comparada com o custo total de
produção, para determinação da relação Benefício/Custo (B/C). Esta relação representa
a razão entre o valor monetário do produto gerado pela atividade e o valor monetário
dos fatores necessários para realização da produção, ou seja, é a relação entre as receitas
auferidas e o capital empregado, que é o custo de produção.
Resultados e Discussão
A análise financeira (Tabela 1) revelou que a testemunha apresentou uma relação
B/C de 1,91, o que significa que, para o tratamento sem adubação, para cada R$ 1,00
(um Real) investido na cultura, plantada no sistema tradicional, foi observado um ganho
adicional de R$ 0,91. Já com a aplicação de 250 kg ha-1 da fórmula comercial
(10:28:20) obteve-se uma produtividade de 1 408 kg ha-1de amendoim com casca, com
um lucro bruto de R$ 381,60 ha-1, apresentando a maior relação B/C (1,63), ou seja,
78
para cada R$ 1,00 investido, houve um ganho adicional de R$ 0,63. Com a aplicação de
500 kg ha-1 do fertilizante, a relação foi 1,56, menor do que a obtida com a dose de 250
kg ha-1, apesar de ter apresentado produtividade superior (1 717 kg ha-1). Isto caracteriza
a obtenção de rendimentos decrescentes à medida que se aumenta o nível do insumo,
indicando que não foi economicamente viável o emprego de doses elevadas do
fertilizante no cultivo do amendoim, var. BR 01 no município de Ponta de Pedras,
Marajó, Pará.
Tabela 1- Análise financeira da produção de amendoim BR 01, em função da aplicação
de diferentes doses da fórmula comercial NPK (10:28:20), no município de
Ponta de Pedras, Marajó - Pará
Índices avaliados
Doses de N, P, K (10:28:20)
(kg ha-1)
0 (test.)
250
500
A - Produtividade (kg ha-1)
1216
1408
1717
B - Custos fixos(1) (R$ 1,00)
370,00
370,00
370,00
C - Custos variável(2) (R$ 1,00)
75,00
234,00
402,00
D - Custo total (B+C) (R$ 1,00)
445,00
604,00
772,00
E - Receita bruta (R$ 1,00)
851,20
985,60
1201,90
F - Lucro bruto (E-D) (R$)
406,20
381,60
429,90
1,91
1,63
1,56
E - Relação Benefício/Custo (C/B)
1. Aração, gradagem, plantio, capina, adubação, colheita, sementes.
2. Fertilizantes, sacaria, transporte, beneficiamento.
- Preço do fertilizante: R$30,00/saco de 50 kg.
- Preço médio do amendoim em casca pago ao produtor no estado do Pará: R$0,70/kg.
- Mão-de-obra: recursos capitalizados pelo uso de mão-de-obra familiar em sistema de mutirão, com
fornecimento de alimentação.
Tabela 2 - Análise dos preços de equilíbrio por quilo de amendoim em casca produzido
em Ponta de Pedras, Marajó, Pará
Doses NPK
Preço de
venda (R$)
Lucro bruto
(kg/ha)
Custo
unitário (R$)
A
B
A/B=C
D
D-C
0
445,00
1 216
0,37
0,70
0,33
250
604,00
1 408
0,43
0,70
0,27
500
772,00
1 717
0,45
0,70
0,25
(kg/ha)
Custo
total/ha (R$)
Produtividade
(R$)
Esse resultado deve-se em grande parte ao alto custo do fertilizante, em
detrimento ao preço pago ao produtor pelo amendoim em casca, no mercado do Estado
do Pará, o que valida os dados do relatório da CN, que colocou os preços dos insumos
agrícolas como um dos grandes vilões do setor rural.
79
Quando se estima os preços que devem ser praticados pelo agricultor para cobrir
os custos da produção (preços de equilíbrio ou de custos) do amendoim em casca na
região (Tabela 2), nota-se que haveria um lucro de R$ 0,33 por quilo produzido sem
fertilizante, de R$ 0,27 por quilo produzido com 250 kg/ha da fórmula comercial
(10:28:20) e de R$ 0,25 por quilo, quando se utilizou 500 kg/ha, comparado ao preço de
comercialização praticado no mercado.
Conclusões
Nas condições edafoclimáticas em que foi conduzido o experimento pode-se
concluir que:
Embora a cultura tenha respondido positivamente à adubação, a análise financeira
demonstrou que não é economicamente viável o emprego de fertilizantes (no cultivo da
variedade de amendoim BR 01, pelo agricultor familiar de Ponta de Pedras. Entretanto,
a resposta agro-social é de suma importância, por ser um indicativo de que a
comunidade poderá produzir, sem adubação, seu próprio alimento com sustentabilidade.
Literatura Citada
CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA AGRICULTURA (Brasília, DF). Relatório de
Atividades – 2000., Brasília, 2001.
FALESI, I.C.; VEIGA, J.B. Solos e as pastagens cultivadas. In: PEIXOTO, A.M.;
MOURA, J.C.; FARIA, V.P. Pastagens na Amazônia. Piracicaba: FEALQ, 1986. p.126.
INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL DO PARÁ
(Belém, PA). Estudos integrados da ilha do Marajó. Belém, 1974, 333p.
RODRIGUES, J.E.L.F.; ALVES, R.N.B.; SILVA, J.F. de A. Adubação NPK na
cultura do milho (Zea mayz, L.), conduzida em sistema de pesquisa participativa
em agricultura familiar, no município de Ponta de Pedras, PA. Belém: Embrapa
Amazônia Oriental, 2000. 4p. (Embrapa Amazônia Oriental. Comunicado Técnico, 33).
SAVY FILHO, A. Técnicas adequadas para o cultivo do amendoim. Correio agrícola,
nº 2, p. 258-265, 1980.
80
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
1.16. Resgate de cultivares
de café no Território da Chapada dos Veadeiros, Goiás
Waldênia de Melo Moura1, Paulo César de Lima1
1
Pesquisadores da EPAMIG/ UREZM.
Resumo: Este trabalho teve por objetivo resgatar cultivares de café no Território da
Chapada dos Veadeiros, Estado de Goiás. Utilizou-se a metodologia de pesquisa
participativa envolvendo agricultores familiares da região, técnicos, pesquisadores e
estudantes. Foram visitadas e catalogadas treze propriedades dos municípios de Alto
Paraíso de Goiás e São João d`Aliança. Os cafeeiros selecionados foram avaliados com
base em características morfológicas e a incidência de doenças e pragas. Foi possível
identificar três cultivares de café Coffea arabica (Comum, Nacional ou Typica, Caturra
Vermelho e Caturra Amarelo) e em uma região mais quente, uma cultivar de conilon da
espécie Coffea canephora. Numa segunda etapa, esses cafeeiros serão amostrados para
análise molecular, visando complementar o processo de identificação. As sementes
dessas cultivares foram colhidas, e multiplicadas em viveiros das três escolas nas
comunidades do Sertão, da Veredas e da Cidade da Fraternidade.
Palavras–chave: Agroecologia, agricultura familiar, cafeicultura orgânica, cultivares
Rescue of coffee cultivars in the territory of “Chapada dos Veadeiros”, Goiás
Abstract: This work‟s objective was rescuing coffee cultivars in the territory of
“Chapada dos Veadeiros”, State of “Goiás”. It was used the participative research as the
methodology, which involved family farmers, technicians, researchers and students. It
was visited and classified thirteen properties on the “Alto Paraíso de Goiás” and “São
João d‟Aliança” counties. The selected coffee plants were appraised based in
morphologic characteristics and in the diseases and curses incidences. It was possible
identifying three coffee cultivars of Coffea arabica (“Comum”, “Nacional” or Typica”,
“Caturra Vermelho” and “Caturra Amarelo”). And in a hotter area we have found a
Conilon specie cultivar, Coffea canephora. In the second stage, these coffee plants are
going to be sampled for molecular analyzes, to complement the identification process.
The seeds from those cultivars were picked up and them planted at three schools
nurseries at the “Sertão”, “Vereda” and “Cidade da Fraternidade” communities.
Key Words: Agroecologia, family agriculture, organic coffee, cultivars
Introdução
O Território da Cidadania Chapada dos Veadeiros – GO faz parte do Bioma
Cerrados. Ocorre em altitudes que variam de cerca de 400m, a mais de 1600m, abrange
uma área de 21.475,60 Km² e é composto por 8 municípios: Alto Paraíso de Goiás,
Campos Belos, Cavalcante, Colinas do Sul, Monte Alegre de Goiás, Nova Roma, São
João d‟Aliança e Teresina de Goiás. A população total do território é de 59.537
habitantes, dos quais 21.398 vivem na área rural, o que corresponde a 35,94% do total.
Possui 2.022 agricultores familiares, 925 famílias assentadas, seis comunidades
quilombolas e uma comunidade em terras indígenas. Em 1961 foi criado o Parque
81
Nacional do Tocantins, e em 1985 esse parque reformatado e renomeado a Parque
Nacional da Chapada dos Veadeiros com área de 64 mil hectares. O ecoturismo tem
sido o principal fator de promoção do desenvolvimento regional, embora não seja ainda
fator de alavancamento do desenvolvimento da agricultura familiar (LIMA, et al,
2009a).
No município de Alto Paraíso e outros da região existem várias propriedades de
agricultores familiares onde são encontrados cafeeiros muito antigos. Segundo relatos
dos mais velhos os cafeeiros encontrados nos quintais são originados de plantas
seculares encontradas nas matas da região. Não sabem exatamente a origem delas. Na
época do garimpo o café era utilizado como moeda para compra de utensílios e
mantimentos. Os sistemas de cultivos nos quintais são tradicionais, em espaçamentos
largos e sob manejo rudimentar, porém, sombreados sob diferentes espécies de árvores
de lenha e frutíferas, são sistemas próximos aos empregados nos orgânicos e
agroecológicos. Não existem na região lavouras que permitam proporcionar renda às
famílias (LIMA et. al., 2009b).
Mais recentemente foi percebido que esses cafés produziam bebidas de
excelente qualidade. Alguns agricultores familiares e comerciantes ligados à exploração
turística do município procuraram ajuda da Embrapa em 2006, que, por sua vez,
solicitou da EPAMIG o desenvolvimento de tecnologias orgânicas adaptadas às famílias
da região, dentre essas pesquisas insere o resgate de cultivares antigas de café.
Material e Métodos
O resgate das cultivares antigas de café na Região do Território da Chapada dos
Veadeiros foi efetuado com a participação de agricultores familiares da região e
realizado em várias etapas:
1. Visitas as comunidades para conhecimento da região e escolha de três
localidades como referencia para a execução dos trabalhos;
2. Reuniões com a participação de agricultores familiares, técnicos, pestudantes e
pesquisadores para a apresentação da proposta de trabalho;
3. Visita as propriedades indicadas pelos agricultores familiares, visando catalogar
e descrever os cafeeiros considerando os seguintes ítens: nome do proprietário e da
propriedade, idade e origem dos cafeeiros, aquisição de sementes ou mudas, incidência
de doenças e pragas (ferrugem, cercosporiose, seca de ponteiro e bicho mineiro),
sistema de cultivo, tipo de solo, comprimento dos internódios, número de rosetas,
coloração dos frutos e produtividade.
4. Identificação dos cafeeiros com base em características morfológicas.
5. Colheita de frutos, preparo de sementes e multiplicação das cultivares.
Resultados e Discussão
Selecionaram-se as comunidades do Sertão, Cidade da Fraternidade e Veredas,
nos municípios de Alto Paraíso e São João D´Aliança, para a realização dos trabalhos,
as quais possuem escolas como base de referencia. Nessas comunidades foram
realizadas reuniões com os agricultores familiares, estudantes, técnicos, pesquisadores
para apresentação da proposta e realizar um levantamento e planejamento de visitas em
propriedades onde havia cafeeiros antigos.
82
No município de São João D´Aliança, foi possível visitar quatro propriedades: 1.
Comunidade Monjolinho, Fazenda Capão Felipe(Rosman Rodrigues Pereira); 2.
Comunidade Nabarro, Fazendo Nabarro (Dezico Antônio Ferreira); 3. Comunidade
Bandeira, Fazenda Bandeira (Ana Santana Teles G. Nascimento), 4. Comunidade
Bandeira, Fazenda Bandeira, (Adaziel Teles Pires). Já no município de Alto Paraíso de
Goias foi possível visitar nove propriedades: 1. Cidade da Fraternidade, Sítio da Virda
(Virda Fátima Oliveira Simões); 2. Cidade da Fraternidade, Sítio (Sinomar Machado de
Carvalho); 3. Cidade da Fraternidade, Sítio da Barra (Maria Pia Farias);.4. Cidade da
Fraternidade, Sitio (Lara André Luiz, Avelina Bernardes Pinto); 5. Cidade da
Fraternidade, Sitio (Hergídio Antônio de Souza); 6. Cidade da Fraternidade, Fazenda
Paraíso, (Bernardino de Sena); 7. Comunidade Sertão, Fazenda Taquiril, (Oneir Jorge
de Carvalho); 8. Comunidade Sertão, Fazenda Santo Antônio, (Denezin I. Mota e Elvira
A. de Souza); 9. Mata Morrinhos, Chapada dos Veadeiros, (Dalvin Herculano).
Com base na descrição histórica da origem do plantio desses cafeeiros, iniciaram
desde a época da escravidão, quando os escravos fugiam das propriedades de vários
Estados e formaram os quilombos em locais de difícil acesso no Estado de Goiás.
Nessas fugas carregavam sementes de várias culturas, dentre elas, o café, que eram
plantadas no meio das matas, contribuindo dessa forma para a disseminação da cultura.
Esse plantio era feito com sementes jogadas a lanço, diretamente no solo, que por ser
macio, úmido, e bastante sombreado, proporcionavam condições para a germinação
dessas sementes. Também, encontram-se cafeeiros plantados há vários anos nos leitos
dos rios nas rotas das tropas dos Bandeirantes utilizadas para o desbravamento do país e
a ocupação dos cerrados entre os séculos XVI e XIX.
Quando os frutos desses cafeeiros antigos amadureciam, caiam no chão,
rompiam-se e as sementes germinavam em grande quantidade, promovendo o
crescimento de mudas em torno dos cafeeiros. Essas mudas foram transplantadas para
os quintais de forma aleatória. Com o passar dos anos, esse mesmo processo foi também
utilizado nos quintais, disseminando os cafeeiros de uma região para outra, alcançando
várias comunidades e municípios. Outras cultivares antigas foram introduzidas, por
meio da aquisição de mudas ou sementes vindas principalmente dos Estados da Bahia e
de Minas Gerais.
Os cafeeiros que sobreviveram nessa região encontram-se todos plantados em
sistemas semelhantes aos orgânicos e agroecológicos, bastante rudimentares, em
espaçamentos largos, na forma de mosaico sob as sombras das árvores de lenha ou
frutíferas, como abacateiros, goiabeiras, bananeiras, citros etc. Essas árvores fornecem
sombra aos cafeeiros, imitando o habitat natural dos mesmos, que é originário de
regiões altas, com temperaturas amenas, em áreas sombreadas do continente africano.
Por outro lado, os cafeeiros plantados a pleno sol definharam ao longo dos anos.
As altitudes das propriedades visitadas variaram de 690 a 1.050m e o numero de
cafeeiros por quintal não ultrapassaram a 100 plantas. A maioria dos quintais apresenta
solos úmidos, ricos em manta orgânica ou serrapilheira. E as adubações, quando
realizadas, são feitas com restos de alimento, com a varrição dos quintais e com dejetos
de animais, que são criados soltos nos quintais. Também, não são realizados manejo dos
cafeeiros, as plantas encontram-se com excesso de caules e são mantidas em livre
crescimento, o que contribui para a grande quantidade de seca de ponteiro observada.
Observaram-se que os cafeeiros antigos, com idade superior a 100 anos, em sua
grande maioria, originaram-se de mudas provenientes das Matas da Beira do Tocantins,
do Desbrave do Tocantins, do Piçarrão, e do Morrinhos.
83
Constataram-se cafeeiros com frutos de coloração amarela ou vermelha, e
variações no comprimento dos internódios dos ramos ortotrópicos, plagiotrópicos e da
produção. Entretanto, as duas ultimas características podem ser influenciadas pela falta
de menejo dos cafeeiros e do solo, como também pelo sombreamento.
Devido aos espaçamentos largos utilizados entre os cafeeiros, observou-se um
grande efeito da bianualidade de produção, ou seja, um ano os cafeeiros apresentam alta
carga e no ano seguinte, ausência ou produção extremamente baixa.
Quanto à incicidência de doenças, observou-se desde a ausência de sintomas até
infestações intensas de ferrugem, cercosporiose e seca de ponteiro. Enquanto que o
ataque de bicho mineiro variou de ausência a pouca incidência da praga.
Com o levantamento realizado e as informações obtidas, foi possível identificar
três cultivares antigas de café da espécie Coffeea arabica: Comum, também conhecida
como Crioulo, Nacional ou Típica, Caturra Amarelo e Caturra Vermelho, e numa região
mais quente, uma cultivar de Conilon da espécie Coffeea canephora. As sementes
dessas cultivares foram colhidas e formadas mudas nos viveiros das Escolas.
Numa segunda etapa serão amostradas folhas dos cafeeiros avaliados para a
realização de análises moleculares, visando complementar o processo de identificação.
Figura 1. Identificação de cultivares, preparo de sementes, instalação de viveiro, preparo de substrato,
semeio, e mudas desenvolvidas.
Conclusões
Com base nas informações coletadas e nas avaliações realizadas nos cafeeiros
antigos junto aos agricultores familiares foi possível identificar quatro cultivares antigas
de café, Comum, Caturra Vermelho, Caturra Amarelo e Conilon, nos municípios de
Alto Paraíso de Goiás e São João DÁliança.
Agradecimentos
Ao Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento do Café (CBP&DCafé), à Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) pelas
bolsas concedidas aos autores e pelo apoio financeiro para a realização desse trabalho.
84
Literatura Citada
LIMA, P.C; MOURA, W.M.; OLIVEIRA, J.F.; CORRÊA, E.J.A.Implementação da
Cafeicultura Orgânica e Agroecológica para a Agricultura Familiar da Região de Alto
Paraíso de Goiás. CD-Room VI Congresso Brasileiro de Agroecologia e II
Congresso Latino Americano de Agroecologia, Curitiba, PR, 2009a.
LIMA, P.C.; MOURA, W.M., REIGADO, F.R.; SANTOS, J. Agroecologia como base
para o desenvolvimento da agricultura familiar. Informe Agropecuário, Belo
Horizonte v. 30, n. 250, p. 29-40, 2009b.
85
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
1.17. Agricultura familiar, turismo e unidades de conservação: estudo da realidade
socioambiental dos bairros rurais do entorno do Parque Estadual Serra do
Papagaio, MG para o desenvolvimento do turismo1
Gilzilene Silva2, Altair Sancho3, Fabiana B. Almeida4, Fernanda Amaral5, Eduardo A.
Coelho6, Maria F. Ávila Pires7
1
Este ensaio é resultado das pesquisas realizadas pelo CEPLANTUR/UFMG, com financiamento da
EMBRAPA Gado de Leite/Juiz de Fora.
2
Graduada em Turismo pela UFMG.
3
Professor do Dep. Geografia/Curso de Turismo da UFMG.
4
Professora do Dep. Geografia/Curso de Turismo da UFMG.
5
Graduada em Turismo pela UFMG.
6
Analista de Turismo do Instituto Mamirauá.
7
Pesquisadora EMBRAPA Gado de Leite/Juiz de Fora e coordenadora do projeto.
Resumo: O presente trabalho se propôs a compreender a realidade dos produtores de
base familiar do município de Alagoa, MG, localizados no entorno do Parque Estadual
Serra do Papagaio (PESP), e identificar potencialidades turísticas, capazes de
fundamentar a elaboração de um plano de desenvolvimento do turismo para a região. Os
procedimentos metodológicos envolveram: revisão bibliográfica; pesquisa documental e
de campo; processamento e sistematização dos dados; análise dos resultados. A
pesquisa realizada permitiu compreender e caracterizar as práticas agrícolas,
socioambientais e econômicas desenvolvidas pelos agricultores, o manejo da terra e
estratégias produtivas empreendidos, organização do trabalho, condições sócioeconômicas das famílias e da infra-estrutura das propriedades. Os produtores enfrentam
dificuldades relacionadas à insuficiência de infra-estrutura básica, espírito associativista
fragilizado entre os produtores e dificuldades de comercialização do queijo parmesão,
principal produto agrícola regional. Ao mesmo tempo, foram identificadas significativas
potencialidades na região e nas propriedades rurais estudadas, capazes de justificar
estudos mais aprofundados sobre desenvolvimento do turismo rural, numa perspectiva
de sustentabilidade.
Palavras–chave: agricultura familiar, unidades de conservação, turismo, território,
Parque Estadual Serra do Papagaio.
Abstract: This study aimed to understand the reality of family-based producers of the
city of Alagoa, MG, residents in the vicinity of the Mountain State Park Parrot (PESP),
and identify potential tourist, able to support the preparation of a development plan
tourism to the region. The methodological procedures involved literature review, desk
research and field processing and systematization of the data, analyze the results. The
research has to understand and characterize agricultural practices, social environmental
and economic developed by farmers, land management and production strategies
undertaken, work organization, socio-economic conditions of families and the
infrastructure of the properties. The results showed that producers face difficulties
related to inadequate basic infrastructure, weakened associative spirit among producers
and marketing difficulties of Parmesan cheese. At the same time, we identified
86
significant potential in the region and in the farms studied, able to justify further studies
on development of rural tourism in a sustainable perspective.
conservation areas, family farms, Mountain State Park Parrot,
tourism area
Key Words:
Introdução
As transformações que vem ocorrendo no campo têm interferido diretamente na
vida das comunidades rurais. Fatores como êxodo rural, restrições ao uso da terra, falta
de incentivo à agricultura familiar, atividades não-agrícolas cada vez mais presentes no
modo de vida rural, entre outros, têm influenciado diretamente as relações sociais,
econômicas, culturais e ambientais dos moradores do campo (SILVA, 1999). Esse
contexto evidencia a necessidade da realização de estudos voltados à compreensão
dessas modificações no espaço rural, que implicam em alterações nos modos de vida e
na organização social e produtiva das populações rural. Ao mesmo tempo, exige
também reflexões sobre novas formas de inovação da funcionalidade do campo, de
subsídio ao ordenamento territorial e novas maneiras de se pensar a natureza, não em
termos de restrição ao desenvolvimento, mas como meio de agregação de valores às
alternativas econômicas locais. Nessa perspectiva, os princípios do turismo qualificado
como sustentável apresentam-se como uma referência para se pensar a intervenção
territorial no entorno de parques. Segundo Lousada (2007) e Elesbão (2008), o turismo
planejado, orientado pelos princípios da sustentabilidade e compreendido enquanto
fenômeno capaz de agregar valor à agricultura familiar, atividade econômica central,
pode interferir positivamente nas dimensões ambiental, econômica, social e cultural que
compõem o território, contribuindo para sua estruturação e desenvolvimento.
Nesse sentido, a presente pesquisa buscou compreender a realidade
socioambiental dos bairros rurais do município de Alagoa, MG, localizados no entorno
do Parque Estadual Serra do Papagaio (PESP), e identificar potencialidades turísticas,
capazes de fundamentar a elaboração de um plano de desenvolvimento do turismo para
a região. Mediante as modificações que vem ocorrendo no espaço rural, faz-se
necessário entendê-lo, como vivem os produtores rurais, suas dificuldades, bem como,
as características específicas de cada propriedade em estudo, visando reconhecer as
condições socioambientais das unidades de produção nos quais os mesmos estão
inseridos.
Material e Métodos
A primeira etapa da metodologia compreendeu uma revisão bibliográfica em
livros, artigos e periódicos científicos, teses e dissertações sobre as temáticas de
unidades de conservação, agricultura familiar, turismo e categorias de análise do espaço
geográfico – território e paisagem. Em seguida, houve o levantamento dos dados
secundários sobre a área de estudo, a partir de pesquisa documental em sites
institucionais, teses e dissertações, relatórios e documentos oficiais, mapas, entre outros,
com o objetivo de subsidiar uma caracterização geral da área de estudo. A terceira etapa
envolveu a realização de uma pesquisa em campo, que abrangeu: i. entrevistas semiestruturadas; ii. observação e estudo da paisagem local; iii. georreferenciamento de
pontos de interesse, tomando-se nota das coordenadas planas, por meio de um receptor
GPS de navegação, e; iv. registros fotográficos. As entrevistas estruturadas foram
87
direcionadas para agricultores familiares, líderes locais e técnicos da EMATER9. Os
dados levantados abrangeram aspectos que ressaltam as práticas agrícolas, o uso da
terra, estratégias produtivas, organização do trabalho, condições sócio-econômicas das
famílias e da infra-estrutura das propriedades.
Após a pesquisa de campo, os dados coletados foram sistematizados, permitindo,
primeiramente, a caracterização dos produtores e áreas estudadas e a elaboração de
mapas temáticos, referentes à infra-estrutura de acesso, rede hidrográfica, uso e
ocupação do solo e relevo. Estes mapas foram elaborados a partir dos dados
georreferenciados em campo10. Por fim, as informações coletadas sobre a região e os
mapas elaborados permitiram uma compreensão e análise sobre a realidade dos
agricultores familiares do entorno do PESP, bem como do potencial turístico regional.
Tais aspectos são fundamentais para se pensar em um plano de desenvolvimento
turístico para o entorno do PESP, a ser construído de maneira participativa com as
diferentes lideranças regionais.
Resultados e Discussão
A observação e as pesquisas sobre o contexto social, ambiental e econômico dos
bairros rurais de Alagoa, entorno do Parque Estadual da Serra do Papagaio, forneceram
subsídios importantes para a compreensão da relação dos produtores com o meio em
que vivem, as principais dificuldades enfrentadas, bem como os aspectos culturais
representativos e áreas potenciais de desenvolvimento.
De maneira geral, os produtores entrevistados nos bairros rurais de Alagoa se
encontram em um nível de organização de trabalho de agricultura de base familiar,
utilizando técnicas ainda tradicionais de manejo no cultivo de lavouras de subsistência e
criação de gado de leite, base para a produção e comercialização de queijo parmesão,
principal fonte de renda regional. Contudo, a pesquisa identificou que estes agricultores
encontram dificuldades de manutenção desta atividade, em virtude da falta e/ou
deficiência de apoio técnico (para melhoria da qualidade da terra e do incremento do
manejo), políticas públicas rurais mais efetivas, acesso a crédito, infra-estrutura
(comunicação, estradas, saneamento, tratamento de água), espírito associativista e
estratégias de comercialização do queijo parmesão.
Outra situação a considerar em Alagoa, e que alguns autores evidenciam
(Diegues 2004, por exemplo), refere-se aos impactos e à influência da criação de uma
UC na vida das comunidades do entorno, com destaque para a questão das inúmeras
restrições impostas ao manejo da terra. Entre os bairros pesquisados, o Garrafão tem
sofrido inúmeras influências da criação do PESP, por estar localizado no entorno direto
do PESP. As fiscalizações e restrições de uso da terra impostas pelo IEF provocaram o
êxodo de muitos moradores deste bairro. Segundo a pesquisa, durante o processo de
implementação do PESP, os produtores do entorno não foram informados sobre os
objetivos e motivos de sua criação, o que gerou insatisfação em grande parte dos
9
O universo considerado abrange nove propriedades familiares. Para o registro dos elementos da
paisagem elaborou-se um quadro que abrange os critérios pertinentes a serem observados em campo, tais
como: o tipo de vegetação; a presença de água; o predomínio, isto é, o que está fortemente presente na
paisagem; a raridade, que corresponde ao que não é comum na paisagem como um todo; a topografia e as
intervenções antrópicas.
10
Para a geração dos mapas temáticos utilizou-se o software Track Maker, que possui uma interface com
o receptor GPS, onde é possível processar os dados georreferenciados em campo e convertê-los para o
formato shape, compatível com software ArcGIS, que subsidiou a elaboração dos mapas temáticos.
88
produtores residentes no entorno desta UC, o que fica claro na fala de um agricultor
entrevistado “Eles iam chegando e falando que num podíamos mais ficar nas nossas
terras, porque agora era do parque”. (morador do Bairro Garrafão). Para o técnico da
EMATER de Alagoa, “a criação do parque trouxe melhorias para as vias de acesso entre
os bairros, facilitando para o produtor o escoamento de sua produção”. Entretanto,
gerou também significativo êxodo de muitos produtores que habitavam as proximidades
do parque, em virtude das restrições impostas ao manejo da terra. Os produtores que
ainda permanecem na região demonstraram uma preocupação crescente em relação ao
futuro de suas atividades, em especial à rentabilidade da produção e à permanência no
campo.
Diante desse contexto complexo, alguns questionamentos têm sido realizados,
seja por produtores rurais, técnicos agrícolas, empreendedores ou pela própria
população de Alagoa, sobre possíveis meios alternativos para complementar as
atividades rurais tradicionais. Orientados por esses questionamentos, a pesquisa em
questão se propôs a investigar o potencial turístico da região, bem como o interesse dos
produtores no desenvolvimento de atividades turísticas complementares às atividades
rurais. Em campo, constatou-se, a partir da observação da paisagem, as interferências
antrópicas ocorridas ao longo dos tempos, como a mineração, a lavoura e, hoje, intensa
presença da pecuária. Mas também foi possível observar que, apesar desses impactos
sobre a paisagem, existem áreas significativas de vegetação preservadas, reflexo, em
grande parte, das iniciativas de proteção da natureza presentes na região (município está
inserido na APA da Mantiqueira, além de estar nos limites do PESP). A elaboração dos
mapas temáticos sobre hidrografia, relevo, uso e ocupação do solo subsidiaram a
identificação das singularidades da paisagem de Alagoa, bem como permitiram a
interpretação dessa realidade. O mapeamento realizado identificou ainda os atrativos
naturais e histórico-culturais, reforçando a existência de potencial turístico nos bairros
estudados.
A pesquisa identificou algumas singularidades regionais, capazes de sustentar
ações de planejamento turístico de médio e longo prazo: conjunto de atividades
agropecuárias desenvolvidas e as relações entre o homem do campo e o meio ambiente,
evidenciando diversos elementos característicos da ruralidade; as tradições culturais; a
produção do queijo parmesão; a relevância ambiental e paisagística, que evidencia uma
diversidade de cenários (topografia, tipos de solos, mananciais hídricos disponíveis,
cachoeiras e cursos d‟água, tipos de vegetações predominantes, entre outras) e a
inserção em diferentes tipos de UCs (APA da Mantiqueira, PESP), que revela um
potencial ambiental e cultural relevante.
Através dos levantamentos realizados, verificou-se ainda que alguns produtores
têm interesse em investir na área de turismo, seja através de hospedagem familiar,
serviços de alimentação ou guiamento. A essa realidade constatada, e dentro do que
vem afirmando alguns autores (LOUSADA, 2007; ELESBÃO, 2008), o turismo pode
constituir uma alternativa econômica e social em muitos espaços rurais, como
complemento das atividades exercidas nesse espaço.
Conclusões
A realidade socioambiental dos agricultores familiares de Alagoa evidenciou a
necessidade de se empreender ações de planejamento com enfoque territorial, a partir de
uma perspectiva que privilegie um desenvolvimento abrangente e estruturante da região.
Este desafio implica na reestruturação e articulação de políticas públicas no município,
89
investimentos em setores produtivos tradicionais (agricultura) e aqueles com valor
inovativo (turismo, artesanato, prestação de serviços), numa perspectiva de
interdependência e complementaridade, além do incremento do meio rural, como forma
de incentivar a permanência do homem no campo e valorizar os aspectos tradicionais e
culturais, característicos da ruralidade. Nessa direção, o turismo, ancorado numa lógica
inclusiva e sustentável, pode contribuir para o alcance desses objetivos, impactando na
conservação ambiental, geração de renda alternativa, intercâmbio cultural e melhoria da
qualidade de vida no meio rural. No entanto, a construção de um plano de
desenvolvimento turístico para o entorno do PESP, etapa subseqüente deste estudo,
requer uma abordagem participativa e democrática, que considere o envolvimento de
diferentes representatividades sociais num debate crítico sobre as possibilidades e
caminhos de desenvolvimento do turismo e, sobretudo, de reestruturação das condições
de vida e produção no meio rural.
Literatura Citada
DIEGUES, A.C.S. O mito moderno da natureza intocada. Hucutec, Núcleo de Apoio a
Pesquisa sobre Populações Humanas e Áreas Úmidas do Brasil, USP. SP. 2004.
ELESBÃO, I. Os efeitos do turismo no espaço rural: um olhar sobre um pequeno
município brasileiro. Universidade de Cruz Alta, Cruz Alta, RS, Brasil. 2008.
LOUSADA, M. Geografia do turismo rural no estado de Minas Gerais: ecos
contraditórios de um segmento turístico dito em expansão. Dissertação, programa de
pós-graduação UFMG. Belo Horizonte, MG. 2007.
SILVA, J.F.G. O novo rural brasileiro. Campinas: IE/UNICAMP - Coleções de pesquisa,
SP. 1999.
90
2. Agroecologia
91
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
2.1. Verificação dos aspectos e impactos ambientais gerados em uma unidade
processadora de polpa de fruta1
Lizzy A.P. Alcântara2, Cheila da S. Teixeira3, Wellington S. Freitas4
1. Trabalho desenvolvido na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Campus de Itapetinga.
2. Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos pela Universidade
Federal de Viçosa.
3. Engenheira de Alimentos pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia.
4. Professor do Departamento de Tecnologia Rural e Animal da Universidade Estadual do Sudoeste da
Bahia.
Resumo: As atividades indústrias são as principais responsáveis pela poluição da água,
ar e solo, além de consumir recursos naturais contribuindo para seu esgotamento. A
NBR 10.004/2004 da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) define e
classifica os resíduos quanto aos seus riscos potenciais ao meio ambiente e à saúde
pública, para que estes resíduos possam ter manuseio e destinação adequada. O objetivo
deste trabalho foi verificar os aspectos e impactos ambientais gerados em uma unidade
responsável pelo processo de industrialização de polpa de frutas. Realizou-se um
levantamento dos aspectos e impactos ambientais de uma indústria processadora de
polpa de fruta por meio do estudo de seu processo produtivo. De posse dos resultados
obtidos, conclui-se que o manejo de resíduos e efluentes como parte do processo de
produção e aplicação de técnicas de avaliação da qualidade da produção é o caminho
mais curto para o desenvolvimento sustentável agroindustrial.
Palavras-chave: Efluentes, meio ambiente, norma, polpa de fruta, resíduos
Verification of environmental aspects and impacts generated by a processing unit
of a fruit pulp
Abstract: The activities industries are the main ones responsible for the water, air and
soil pollution, besides consuming natural resources contributing to its exhaustion. NBR
10.004/2004 of ABNT (Brazilian Association of Technical Norms) it defines and it
classifies the residues as for their potential risks to the environment and the public
health, so that these residues can have handling and destination appropriate. The
objective of this work was to study and to verify the aspects and environmental impacts
generated during the industrialization of fruits pulp. . We conducted a survey of
environmental aspects and impacts of a processing industry of fruit pulp through the
study of its production process. With the results obtained, it is concluded that the
management of waste and wastewater as part of the production process and application
of techniques for evaluating the quality of production is the shortest path to sustainable
development agribusiness.
Key Words: environment, fruit pulp, norm, residues, wastewater
92
Introdução
Dentre as diversas atividades agroindustriais, o processamento de polpa de
frutas, destaca-se por apresentar baixa exigibilidade de capital, minimização dos riscos
da pós-colheita e valor agregado ao produto final.
O processamento e o congelamento de polpas de frutas é um método de
conservação que preserva as características da fruta, além de propiciar a
comercialização e a redução de perdas, tanto para o produtor quanto para o consumidor,
pois traz praticidade e conserva as características químicas e organolépticas da fruta in
natura.
No entanto, o volume de resíduos gerados na produção destas polpas e
considerável, evidenciando a importância e a necessidade de novos conhecimentos
relativos ao aproveitamento dos resíduos agroindustriais (Intec, 2005).
De acordo com a NBR 10.004/2004 da ABNT (Associação Brasileira de Normas
Técnicas) os resíduos sólidos e semi-sólidos são definidos como resultantes da atividade
da comunidade de origem: industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de
serviços e de varrição. Esta norma também os classifica quanto aos seus riscos
potenciais ao meio ambiente e à saúde pública, para que estes resíduos possam ter
manuseio e destinação adequados (ABNT, 2004).
O objetivo deste trabalho foi verificar e explicitar os aspectos e impactos
ambientais gerados em uma unidade processadora de polpa de frutas por meio do estudo
de seu processo produtivo.
Material e Métodos
O levantamento dos aspectos e impactos ambientais foi realizado através do
estudo do processo produtivo de uma unidade processadora de polpa de fruta localizada
no estado da Bahia, segundo Bastos et al. (1998). Inicialmente, elaborou-se um
fluxograma do processo produtivo da indústria, descrevendo todas as atividades
operacionais realizadas, identificando em cada uma o aspecto ambiental e controle
operacional. Para os resíduos sólidos, observou-se a freqüência de sua ocorrência, bem
como sua classificação de acordo com a NBR 10.004/2004 no que diz respeito a sua
severidade. Para os demais aspectos ambientais efetivou-se um levantamento “in loco”
de acordo com a etapa do processo produtivo.
Resultados e Discussão
As etapas executadas pela unidade produtora no processamento de polpa de fruta
estão descritas em um fluxograma conforme mostrado na Figura 1. Foram identificadas
as seguintes estapas: Recepção, lavagem em detergente específico para vegetais e
lavagem com água, seleção, despolpamento, refinamento, correção do brix da polpa nos
tanques de equilíbrio, pasteurização, envase, congelamento, armazenagem e expedição.
93
Figura 1 - Fluxograma do processamento de polpa de fruta
Os resultados da avaliação qualitativa dos resíduos gerados em cada etapa do
processo produtivo são dispostos na Tabela 1. Na Tabela 2 são apresentados os
resultados obtidos para os efluentes líquidos e aspectos gerais do processamento.
Tabela 1 - Resultados obtidos para a avaliação qualitativa dos aspectos e impactos ambientais de uma
unidade processadora de polpa de fruta com seus devidos controles operacionais
Atividade
Resíduo
Freqüência
Severidade
Impacto
Controle
Operacional
Recepção da fruta
Caixas plásticas
1
3
3
Reciclagem
Lavagem
Folhas, pedras, caule e
materiais estranhos
3
1
4
Aterro sanitário e
Compostagem
Despolpamento
Cascas e sementes
3
1
3
Compostagem
Refinamento
Peneiras, borrachas,
escovas de nylon
1
3
4
Reciclagem e
aterro sanitário
Correção do brix
Embalagens plásticas
3
3
4
Reciclagem
Pasteurização
Tubulação, graxa,
óleos
1
3
4
Reciclagem e
aterro sanitário
Envase e
Embalagens plásticas,
latas, caixas
3
3
4
Reciclagem,
aterro sanitário
Expedição
Caixas de papelão
3
3
3
Reciclagem
Análises
Material amostral,
3
3
4
Químicas
Vidrarias, reagentes
Aterro sanitário,
reciclagem
Análises
Microbiológicas
Kit para análises,
material amostral
2
5
6
Reciclagem
Higienização dos
equipamentos
Soluções cloradas ou
alcalinas
3
3
6
Aterro sanitário
Conservação a frio
Em que: Freqüência: 1: baixa: 1 vez/mês, 2: média: 15 em 15 dias a 4 vezes/mês, 3: alta: ocorre todos os
dias; Severidade: 5: classe I: perigoso, 3: classe II a: não inerte, 1: classe II b: inerte; Impacto: impacto
maior ou igual a 6: necessita de controle operacional.
94
Tabela 2 - Efluentes líquidos e aspectos gerais do processamento de polpa de fruta
Efluentes Líquidos
Atividades
Aspectos Ambientais
Controle operacional
Lavagem
Águas residuárias
FILTRO / DAFA (Digestor
anaeróbio de fluxo ascendente) /
ETE (Estação de Tratamento de
Efluentes)
Despolpamento
Águas residuárias
FILTRO / DAFA / ETE
Refino
Águas residuárias
FILTRO / DAFA / ETE
Higienização dos Equipamentos
Águas residuárias
FILTRO / DAFA / ETE
Aspectos Gerais
Atividades
Aspectos Ambientais
Controle operacional
Lavagem
Consumo de água e de energia
Uso racional
Despolpamento
Consumo de água e de energia
Uso racional
Refino
Consumo de água e de energia
Uso racional
Higienização dos equipamentos
Consumo de água e de energia
Uso racional
Escritório e refeitório
Consumo de água e de energia
Uso racional
Em cada etapa do processamento das polpas foram gerados aspectos ambientais
que poderão se constituir em impactos ambientais caso os controles operacionais não
sejam implantados. Assim, elaboraram-se medidas preventivas de controle para cada
aspecto ambiental gerado, como pode ser visto na Tabela 3.
Tabela 3 - Estratégias para minimizar resíduos gerados em uma unidade processadora de polpa de fruta
Aspectos Ambientais
Medidas Minimizadoras
Material de embalagem
Segregar as embalagens por tipo (plásticos,
papelão, sacos de ráfia, sacos de papel kraft).
Efluente proveniente das operações de limpeza
dos equipamentos e das instalações
Utilizar sistemas com água pressurizada;
Otimizar o sistema de limpeza. Treinar os
funcionários para executar a limpeza de forma
eficiente;
Empregar agentes de limpeza que não exijam
grande consumo de água para remoção (controlar
a concentração das sanitizantes utilizados);
Maximizar a capacidade de processamento
para diminuir a freqüência de limpezas;
Usar sistemas CIP (cleaning in place) na
higienização de equipamentos;
Reutilizar quando possível, as águas de
lavagens dos equipamentos.
Água de resfriamento
Empregar sistemas de resfriamento que
operem em circuito fechado de modo que a água
seja recirculada.
95
Perdas de matérias-primas e insumos
Elaborar auditorias regulares dos materiais
utilizados;
Eliminar
armazenagem;
condições
precárias
de
Adquirir material que atenda as especificações.
Produto fora de especificação
Elaborar manual de boas práticas
fabricação;
especificar
claramente
procedimentos de operação; treinar
funcionários para controlar de modo eficaz
variáveis de processo.
de
os
os
as
Conclusão
Apesar do potencial poluidor, a agroindústria tem à sua disposição tecnologias
eficientes para a redução do impacto ambiental de sua atividade.
A elaboração de projetos que integre de forma eficiente o processo produtivo e o
sistema de tratamento e manejo dos resíduos é fundamental para um gerenciamento
ambiental efetivo, e de preservação do meio-ambiente.
Literatura Citada
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 10.004 – Resíduos Sólidos –
Classificação. ABNT. São Paulo, 2004.
BASTOS, M.S.R.; SOUZA FILHO, M.S.M.; OLIVEIRA, M.E.B.; MACHADO, T.F.;
CUNHA, V.A. Boas práticas de fabricação: uma alternativa para melhoria da qualidade
de polpas congeladas de frutas. Higiene Alimentar, v.12, p.15-18, 1998.
Intec. Estudo de Viabilidade Técnica e Econômica para Abertura de uma
Agroindústria Processadora de Polpa de Frutas no Município Aimorés-MG. 2005.
In: http://www.institutoterra.org/doc/06_EVTE_IND_STRIA_DE_POLPAS_AI.PDF
(acessado em 02 de Julho de 2010).
96
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
2.2. Estudo de caso de uma área orgânica certificada na região sul da bahia, em
20081
Luciano Ramos de Lima1,2; José Olímpio D‟ Souza Neto2; Jaênes Miranda Alves3;
Eduardo Gross4
1
Parte do relatório do trabalho de conclusão do curso em agronomia da UESC.
Engenheiros agrônomos.
3
Professor do DCET/UESC.
4
Professor do DCAA/UESC.
2
Resumo: Este trabalho teve como objetivo elaborar uma análise comparativa entre uma
propriedade rural orgânica certificada e uma propriedade de cultivo convencional, sobre
aspectos econômicos e agronômicos, no município de Ilhéus, no sul da Bahia, no ano de
2008, bem como observar a importância dos princípios da agricultura orgânica para a
sustentabilidade da atividade agropastoril e a preservação da cabruca e Mata Atlântica.
Como principais resultados o cenário aponta para o fato de que, a propriedade rural com
cultivo orgânico e com a diversificação de suas atividades, obteve uma maior
rentabilidade e uma maior eficiência no uso da terra. Mostrando que o Sistema de
Consórcios, Sistemas Agro-Florestais e Agropastoris da área orgânica é mais eficiente
que o sistema de monocultivo da área convencional.
Palavras-chave: cacau em cabruca, produção orgânica, Sistema Agroflorestal
Introdução
O Brasil é o país que tem a maior biodiversidade do planeta; dos
aproximadamente 1,4 milhões de organismos conhecidos pela ciência, cerca de 10%
vivem em território brasileiro. A floresta Atlântica, que correspondia de 12% do
território brasileiro, está reduzida a 7% de sua área original. Considerando a
importância econômica e social desta região que gera mais de 70% do P.I.B. e abriga
70% da população e onde se concentram as maiores cidades e os grandes pólos
industriais do Brasil (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2002) e analisando a
biodiversidade, potencial biológico, econômico e social da floresta Atlântica, impõe-se
a necessidade de manter e manejar estes últimos fragmentos florestais. A Região
Cacaueira é considerada a região mais tradicional no cultivo do cacau no sistema
cabruca (cacau cultivado a sombra de árvores remanescentes), a última e grande crise do
cacau (década de 90) tratava-se de uma crise de rendimento e não apenas de preço; a
doença Moniliophthora perniciosa11 (vassoura de bruxa) se expandiu e reduziu a
produção em mais de 80%, provocando um índice de desemprego de 66%, a queda do
preço do cacau no mercado internacional incentivou um novo ciclo de exploração
madeireira dos remanescentes florestais e das cabrucas, com a conversão de cabrucas
em pastos e cafezais, ficando clara a necessidade de diversificação, verticalização e
sustentabilidade da matriz econômica rural, para que os produtores tenham suporte às
suas demandas e fixação no campo, sem a supressão dos fragmentos florestais ou
11
Doença fúngica de rápida difusão, devastadora dos cacauais, identificada na região em 1989. Ataca
todas as partes do crescimento da planta, particularmente os brotos mais jovens e os frutos.
97
cabruca com cacau. Utilizando arranjos que tolerem vários níveis de luz, espécies de
plantas com diferentes exigências nutricionais, áreas de exploração do sistema radicular,
pontecializando os processos biológicos. Uma alternativa de atividades econômicas
utilizada é a do sistema de produção orgânico em sistema agroflorestal. Em termos
sociais, o sistema de cultivo orgânico permite dar condições dignas de trabalho e
permanência do homem no campo. Além disso, pode ser um caminho para a
sustentabilidade agrícola. Para Altieri, a expressão agricultura sustentável se refere à
“busca de rendimentos duráveis, em longo prazo, através do uso de tecnologias de
manejo ecologicamente adequadas”, o que requer a “otimização do sistema como um
todo e não apenas o rendimento máximo de qualquer produto específico” (ALTIERI,
2002). O sistema orgânico permite maior aproveitamento de energia na forma de luz,
nutrientes, água, sinergismo, equilíbrio ecológico. O objetivo deste trabalho foi analisar
os aspectos econômicos e agronômicos de uma propriedade agrícola orgânica
certificada na região sul da Bahia, em 2008, comparando com uma área convencional e
quantificar a produção, produtividade, receita líquida por hectare e por produto, nos dois
sistemas de cultivo.
Metodologia
Este estudo de caso trata de duas propriedades localizadas no município de
Ilhéus (BA), com as coordenadas geográficas S 14°54‟60” e W 39°07‟39” (área
orgânica) e a S 14°54‟43,03” e W 39°07‟59,33” (área convencional). A primeira área é
composta de 23 hectares (ha), onde 6,8 ha é de Reserva Legal (RL); 10,5 ha é de cultivo
divididos em 13 quadras, onde todas as quadras são em sistema de cultivo consorciado,
SAF ou sistema agropastoril; 1 ha de lâmina d‟água e 5,7 ha está em pousio (SOUZA
NETO, 2009). Contém na área de cultivo: 152 pés de araçá-boi (Eugenia stipitata); 141
touceiras de açaí (Euterpe oleracea); 165 pés de banana (Musa ssp, cv Prata); 2.272 pés
de cacau (Theobroma cacao); 1.486 pés de cupuaçu (Theobroma grandiflorum); 10.000
m² de flores tropicais (Heliconia ssp,, Etlingera elatior e Zingiher spectabilis); 500 pés
de graviola (Annona muricata); 70 touceiras de pupunha (Bactris gasipaes). A segunda
área é formada por 37 ha, sendo 8 ha de cacau (5500 pés), 2 ha, com 300 pés de coco
(Cocos nucifera) e 4 ha de pasto e 23 ha de mata. As duas áreas têm as mesmas
características de solo (argissolo amarelo distrófico), relevo (ondulado) e clima (na
faixa de Af de Koeppen – quente e úmido, sem estação seca e temperaturas externas
entre 17°C e 30°C, umidade média anual de 80% e pluviosidade média anual acima de
1600 mm) (SÁ et. al 1982). As duas áreas têm dois funcionários e os preços de venda
dos produtos foram os mesmos para os dois sistemas. O trabalho é caracterizado como
um estudo de caso, por enfocar a sua análise em dois casos de sistemas agrícolas
definidos. O método de análise adotado foi o descritivo, utilizando instrumentos da
estatística descritiva. Os dados e os preços dos produtos das propriedades foram obtidos
juntos aos proprietários, não havendo diferenciação de preços entre os produtos do
sistema orgânico e convencional.
Resultados e Discussão
A produtividade agrícola e rentabilidade financeira da área de cultivo
convencional com cacau e coco no ano de 2008 pode ser observada na Tabela 1. Esta
propriedade, de sistema de cultivo convencional, teve sua receita líquida formada pela
cultura do cacau (70,6%) e coco (29,4%). O custo e a receita líquida por kg de cacau
98
produzido foram, respectivamente de R$ 4,04 e R$ 2,21. A propriedade só possui duas
quadras de produção, a área com a cultura do cacau e a área com a cultura do coco.
Tabela 1 - Produtividade, produção total por cultura, preço, receita bruta, receita líquida
e participação de cada atividade econômica na receita líquida total do
sistema de cultivo convencional, Ilhéus-BA, em 2008
Média/pl
(Kg)
Produção
(kg)
Preço
(R$/kg)
Receita
Bruta (R$)
Cacau
0,33
1.848,0
6,25
11.550,00
4.080,00
70,6
Coco
42,67
12.800,0
0,60
7.680,00
1.700,00
29,4
19.230,00
5.780,00
100,0
Culturas
Total
Receita
Participação na
Líquida (R$) Receita Líquida (%)
Fonte: dados da pesquisa.
No Sistema de cultivo orgânico (Tabela 2), em 2008, 80% da renda líquida do
foi composta por: cupuaçu (54,9%) e cacau (25,1%). E as outras atividades: açaí, araçáboi, banana, flores tropicais, graviola, ovinocultura e pupunha semente contribuíram
com 20%. As culturas com receitas líquidas negativas estão na fase produtiva declinante
ou em início de produção. Para compara com o outro sistema de produção, o custo e a
receita líquida por kg de cacau produzido no sistema orgânico foram de R$ 2,65 e R$
3,60, respectivamente.
Tabela 2 - Produtividade, produção total, preço, receita bruta, receita líquida e
participação na receita líquida total de cada atividade econômica do sistema
orgânico de cultivo, Ilhéus-BA, em 2008
Média/pl
(Kg)
Produção
(kg)
Preço
(R$/kg)
Receita
Bruta (R$)
Açaí
1,76
151,2
5,00
756,00
78,30
0,6
Araçá-boi
0,60
80,4
4,00
321,60
92,74
0,7
Banana
15,24
2.501,5
0,80
2.001,20
-412,88
-3,1
Cacau
0,41
927,0
6,25
5.793,75
3.337,13
25,1
Cupuaçu
6,96
8.198,4
1,50
12.297,60
7.302,45
54,9
Flores
21,87
7.800,0
0,60
4.680,00
1.870,63
14,1
Graviola
2,34
674,4
1,50
1.011,60
-509,39
-3,8
4.255,00
757,90
5,7
1.512,00
775,60
5,8
32.628,75
13.292,48
100,0
Culturas
Ovinos
Pupunha
1,60
Total
75,6
20,00
Receita
Participação na
Líquida (R$) Receita Líquida (%)
Fonte: dados da pesquisa.
No item rendimento líquido por quadra, do sistema orgânico de cultivo, foi feito
uma projeção da contribuição percentual por hectare de cada quadra na receita líquida
total, pois as quadras têm tamanhos variados. Observou-se que a Quadra 5 com
consórcio de cupuaçu e flores, obteve o melhor resultado, com 42,8%; seguido da
99
Quadra 11 - SAF, formado por açaí, cacau, cupuaçu e flores, em cabruca (20,7%) e a
Quadra 21 - consórcio de cupuaçu e flores (16,9%). Algumas quadras que tiveram os
resultados inferiores como: a Quadra 1 (1,45 ha), o número de culturas (flores e araçáboi) é variável na composição da receita líquida; a Quadra 3 - a cultura da graviola está
em decadência e o projeto de ovinocultura tem apenas 35% da capacidade de suporte
implantada; a Quadra 7 é composta pelas culturas açaí e cupuaçu que ainda não
chegaram a estabilidade produtiva; a Quadra 20 é composta por cacau e flores, neste
caso o cacau esteve com baixa produtividade e com preços baixos também em 2008. Os
resultados negativos como: na Quadra 2 - está instalado o aprisco e este ainda tem um
custo alto devido a sua sub-utilização; na Quadra 4 – a área de pupunha para produção
de sementes está decadente; na Quadra 6 – a metade da área ainda não está em fase de
produção.
A Tabela 3 mostra que o sistema de cultivo orgânico apresentou uma receita
líquida por hectare ao ano 119% maior que o sistema de cultivo convencional. Ou seja,
uma hectare no sistema de cultivo orgânico apresentou uma receita líquida anual de R$
1.265,95, enquanto o sistema de cultivo convencional foi de R$ 578,00, uma diferença
de R$ 678,95.
Tabela 3 - Área total cultivada, receita bruta total, receita líquida total, receita líquida
por hectare por ano e a diferença percentual dos sistemas de cultivo
orgânico e convencional, Ilhéus-BA, em 2008
Área Cultivada (ha)
Rec. Br. Total
(R$)
Rec. Líq. Total
(R$)
Rec. Líq./ha/ano
(R$)
10,5
32.628,75
13.292,48
1.265,95
Convencional
10
19.230,00
5.780,00
578,00
Dif. Percentual (%)¹
5,0
69,7
130,0
119,0
Sistema de Cultivo
Orgânico
Fonte: dados da pesquisa.
(1) Cálculo: [(valor do orgânico – valor do convencional)/ valor do convencional] x 100.
Conclusões
Os resultados apresentados permitem as seguintes conclusões para este estudo de
caso. A área avaliada com sistema de cultivo orgânico tem maior Uso Eficiente da
Terra, em termos financeiros com maior rentabilidade por hectare ano, de recursos
humanos com maior uso da disponibilidade de mão-de-obra com menor ociosidade por
ter um número de atividade maior, em termos de diversidade de culturas o que reduz o
risco na de perda de produção. O custo por kg de cacau produzido no sistema de cultivo
orgânico foi menor do que no sistema convencional e a receita líquida maior. A grande
variação de receita líquida nas quadras é devido aos diversos arranjos, diferentes fases
de desenvolvimento das culturas e a implantação parcial do projeto de ovinocultura. A
otimização dos recursos internos oferece ao sistema orgânico uma menor dependência
de insumos externos, reduzindo custos e riscos financeiros, melhorando a segurança
alimentar e protegendo os recursos naturais básicos necessário a sustentabilidade
agrícola e humana. É preciso compreender melhor a dinâmica e a complexidade dos
policultivos, aperfeiçoando os efeitos benéficos das interações e entre os componentes
arbóreos, agrícolas e animais. O sistema de cultivo avaliado orgânico permitiu uma
maior estabilidade e melhor rentabilidade financeira em comparação com o sistema
convencional em questão, além de uma melhor distribuição de renda ao longo do ano,
100
menor risco de comprometimento da receita líquida a devido à maior diversidade na
matriz de produção, sem quantificar a questão ambiental em termos de serviços
ecossistêmicos fornecidos que podem proporcionar uma melhor qualidade de vida.
Literatura Citada
ALTIERI, M. Agroecologia: bases científicas para uma agricultura sustentável.
Guaíba: Agropecuária, 2002. 592p.
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Biodiversidade Brasileira. Brasília, DF. 2003.
235p.
SÁ, D.F.; ALMEIDA, H.A.; SILVIA, L.F.; LEÃO, A.C. Fatores edafo-climáticos
seletivos no zoneamento espacial da cacauicultura no sudeste da Bahia. CEPLAC.
1982.
SOUZA NETO, J.O. Caracterização do uso do solo empregando técnicas de
geoprocessamento. 2009.
101
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
2.3. Desenvolvimento regional com base na produção de leite agroecológico no
oeste catarinense1
Grazyne Tresoldi2, Luciana Aparecida Honorato3, João Henrique Cardoso Costa2,
Rolnei Ruã Darós4, Leonardo Cassiano4, Luiz Carlos Pinheiro Machado Filho5
1
Parte do projeto de extensão “Desenvolvimento Sustentado do Oeste de SC, através do Método
Participativo e do Planejamento e Uso Integrado da Unidade de Produção Familiar”, financiamento CNPq
e Sebrae/SC.
2
Mestranda(o) do Programa de Pós-graduação em Agroecossistemas/UFSC.
3
Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Zootecnia/UFPel.
4
Estudante de graduação em Agronomia/UFSC.
5
Professor do Departamento de Zootecnia e Desenvolvimento Rural/UFSC.
Resumo: A produção de leite é a principal atividade econômica dos agricultores do
oeste catarinense. O Núcleo de Pastoreio Racional Voisin-UFSC através de um projeto
de extensão, promoveu e dinamizou junto às comunidades envolvidas, alternativas
agroecológicas para a agricultura familiar. Entre março de 2008 a maio de 2010, foram
elaborados 32 planos individuais de propriedades (PIP´s) em onze municípios do oeste
catarinense. Nos PIP´s foram abordadas questões relativas ao manejo de pastagens,
práticas conservacionistas do solo, reprodução, sanidade animal e administração da
propriedade. Os produtores participantes já observam resultados como: maior produção
e vigor dos pastos, aumento da produção de leite e diminuição do custo de produção.
Além disso, a formação de técnicos está sendo essencial para atenuar a demanda dessas
e de outras famílias, melhorando as ações de ATER na região contribuindo com o
desenvolvimento regional.
Palavras–chave: desenvolvimento rural, assistência técnica rural, pastoreio racional
voisin
Regional development based on organic milk production in western of Santa
Catarina state
Abstract: Milk production is the main economic activity of farmers in western Santa
Catarina. The Núcleo de Pastoreio Rational Voisin-UFSC through an extension project,
promoted and modernized agro-ecological alternatives to family farms. Between March
2008 and May 2010, plans were drawn up 32 individual properties plans (PIP's) in
eleven towns in western of Santa Catarina State. The PIP's contains issues related to
pasture management, soil conservation, breeding, animal health and administration. The
participating producers already comply results as: higher production and vigor of the
pasture, higher milk production and loss production cost. Moreover, training of
technicians is essential to reduce the demand for these and other families in organic
Milk production, improving the actions of rural technical assistance in the region
contributing to regional development.
Key Words: rural development, rural technical assistance, voisin rational grazing
system
102
Introdução
Em Santa Catarina 60% do espaço destinado às práticas agrícolas são ocupados
por estabelecimentos agropecuários familiares que produzem cerca de 70% dos
alimentos (ICEPA, 2006). O estado atualmente é o quinto maior produtor de leite no
país (Epagri, 2008), indicando a importância deste produto para a economia agrícola,
especialmente da região oeste a qual é caracterizada por pequenas e médias
propriedades de até 50 há as quais são responsáveis por de mais de 80% da produção
leiteira estadual (ICEPA, 2006).
No oeste catarinense as atividades agropecuárias e as relações estabelecidas entre
as unidades produtivas e os agentes públicos e privados municipais se constituem no
principal alicerce do desenvolvimento destas localidades. O dinamismo social e
econômico das comunidades rurais depende, fundamentalmente, do cultivo de cereais
(milho, soja, trigo e feijão), da suinocultura, da avicultura, do fumo, da piscicultura, do
reflorestamento, da erva-mate e da bovinocultura de leite.
A expansão da indústria do leite no oeste de SC tem motivado os produtores a
incrementarem a produção de leite em virtude dos melhores preços ofertados.
Entretanto os modelos produtivos que estão adotando são o confinamento e/ou o semiconfinamento. Esses modelos se caracterizam pela alta dependência de insumos
capitais-intensivos e pelo seu caráter agressivo ao meio ambiente e ao bem-estar animal,
havendo necessidade de superação e substituição por tecnologias sustentáveis para
evitar o endividamento, a pobreza rural e, conseqüentemente, a migração para centros
urbanos e, ainda, estimular a reprodução social.
A agricultura familiar carece de alternativas tecnológicas sustentáveis, que
associem produtividade, economicidade e proteção ambiental, já que dentro da visão da
agricultura convencional, os sistemas agrícolas são subsidiados por energia fóssil,
nutrientes de síntese industrial e agroquímicos, o que não implica em sua
sustentabilidade (Gliessman,1990). Dentre os diversos modelos produtivos, o
agroecológico é um dos modelos que mais favorece a sustentabilidade, pois contempla a
produção de leite à base de pasto, o manejo sustentável dos agroecossistemas, a
utilização de sementes crioulas, o uso de homeopatia e de fitoterápicos e o bem-estar na
produção animal. Além disso, esse sistema produz alimentos “limpos” saudáveis para os
consumidores.
Com a perspectiva de promover a construção social do conhecimento e o
desenvolvimento de produção agroecológico, O Núcleo de Pastoreio Racional VoisinUFSC, através do projeto de extensão “Desenvolvimento Sustentado do Oeste de SC,
através do Método Participativo e do Planejamento e Uso Integrado da Unidade de
Produção Familiar”, promoveu e dinamizou junto às comunidades envolvidas,
alternativas agroecológicas para a agricultura familiar.
Material e Métodos
A partir da demanda pela sustentabilidade dos produtores de leite do oeste
catarinense, foi elaborado o projeto de extensão “Desenvolvimento Sustentado do Oeste
de SC, através do Método Participativo e do Planejamento e Uso Integrado da Unidade
de Produção Familiar”. A proposta do projeto pressupôs a capacitação, o treinamento e
o aparelhamento de produtores e técnicos na produção agroecológica do leite e, para
103
isto, o pressuposto científico foi a implementação de um paradigma produtivo
revolucionário conhecido como Sistema de Pastoreio Racional Voisin – PRV, que é
uma tecnologia de produção de leite à base de pasto, barata, simples e rentável e que
conserva a biodiversidade dos ecossistemas dos campos e aumenta a produtividade sem
gerar impacto ambiental negativo (Machado, 2010). Além disso, preconizou-se o uso de
técnicas que garantam a integridade do solo, das áreas de reserva e, também, o manejo
sanitário preventivo dos animais.
Foram organizadas reuniões para apresentação do projeto e levantamento dos
municípios interessados no início de 2008. Inicialmente onze municípios do oeste
catarinense propuseram-se a participar do projeto: Anchieta, Coronel Martins,Flor do
Sertão, Formosa do Sul, Galvão, Guaraciaba, Jupiá, Novo Horizonte, São Domingos,
Bom Jesus e Jardinópolis. Planejou-se, então, visitas técnicas em todos esses municípios
nos anos de 2008, 2009 e 2010.
Em cada um dos municípios foram escolhidas, pelos técnicos locais, duas a quatro
propriedades as quais receberam uma visita técnica de grupos formados por alunos do
curso de Agronomia da UFSC, estagiários do Núcleo de Pastoreio Racional Voisin e
técnicos locais para maior detalhamento do projeto e, também, para fazer o
levantamento da estrutura física e sistema de produção da propriedade e de aspectos
socio-econômicos da família. Esses grupos com a colaboração da família produtora, sob
supervisão dos bolsistas do projeto e professores, elaboraram o planejamento individual
de propriedade (PIP).
No PIP foram abordadas questões relativas ao manejo de pastagem sob os
princípios do PRV – planejou-se a área de pastagens e o piqueteamento das mesmas, a
introdução de espécies perenes nas pastagens, a rede hidráulica para abastecimento de
água nos piquetes, o plantio de árvores para o sombreamento e, ainda, calculou-se a
projeção do rebanho até a estabilização do sistema. Foram adequadas as áreas de reserva
legal e sugeriu-se a adoção de práticas conservacionistas do solo como o plantio direto,
a rotação de culturas e o uso de plantas de cobertura para melhoria da qualidade do solo
nas áreas de lavoura, e o uso de diferentes corredores entre os piquetes para o controle
de erosão na área de pastagem.
As principais falhas de manejo para a ocorrência de doenças foram apontadas e a
partir disso sugeriu-se o uso de práticas profiláticas e, também, o uso de um calendário
sanitário estratégico para vacinações, everminações, controle de ectoparasitos e de
mastite. Tanto para uso preventivo, quanto para uso terapêutico foram indicados o uso
de remédios homeopáticos e fitoterápicos, sendo que para esses últimos valorizou-se as
receitas locais. Enfatizou-se a importância dos aspectos nutricionais e sanitários frente
ao reprodutivo, bem como a observação do cio, uso de inseminação artificial, o descarte
de animais “problema” e o uso de raças leiteiras que são bem adaptadas ao clima da
região. Os produtores foram estimulados a fazer um controle rigoroso das entradas e
saídas da propriedade, da produção do leite e do desempenho do plantel. Para isso,
receberam um caderno de anotações, fichas para controle das vacas e do leite.
Foram oferecidos, para produtores e técnicos, com a finalidade de capacitação:
oficinas de melhoramento de pastagens e peletização de sementes, de gestão da
propriedade, de sanidade animal, de práticas conservacionistas do solo, um encontro de
jovens e um seminário regional onde foram abordados o plantio direto, manejo de
pastagem em sistema de PRV e as perspectivas para a sucessão da agricultura famíliar
no oeste catarinense. Além disso, está sendo oferecido um curso de capacitação para os
104
técnicos de nível superior a fim de qualificar os técnicos em agroecologia e preparar
equipes multidisciplinares.
Resultados e Discussão
Até maio de 2010, trinta e duas propriedades foram incluídas no projeto e para
todas foram realizados PIP´s e acompanhamento técnico nos onze municípios distintos.
Cada unidade familiar está caminhando, ao seu modo, para a implantação do PIP, Os
produtores participantes já observam resultados como: maior produção e vigor dos
pastos, aumento da produção de leite e diminuição do custo de produção. O custo de
produção variável do leite nessas propriedades varia entre R$ 0,15 e 0,34. Os custos
referentes à implantação do sistema PRV (construção da rede hidráulica, de cercas e
recuperação de pastagens) por ha de área de pastagem foi cerca de R$ 2.230,00, que
permite que o produtor quite seu investimento, em média, em 2 anos e 4 meses,
incluindo o pró-labore da família.
Entretanto, existem algumas dificuldades. As inerentes aos produtores estão
relacionadas com a falta do hábito de controle das entradas/saídas e dos demais eventos
ocorridos na unidade e com a descapitalização, mesmo que para pequenos
investimentos. Este último item pode tardar a implantação do PIP, porém ele não é
definitivo para o abandono do projeto. A formação de técnicos está sendo essencial para
atenuar a demanda dessas e de outras famílias, melhorando as ações de ATER na região
contribuindo com o desenvolvimento regional.
Conclusões
O Sistema de Pastoreio Racional Voisin tem-se apresentado como uma opção
tecnológica de produção animal, capaz de promover a sustentabilidade dos agricultores
familiares do Oeste Catarinense. A adoção de práticas e ações voltadas para a produção
de leite agroecológica por parte dos produtores tem importante papel no processo de
construção do conhecimento técnico-científico, o que tem resultado em avanços
significativos. A interlocução entre a Universidade, as equipes de assistência técnica e
os agricultores é fundamental na consolidação do sistema de criação animal
agroecológica.
Agradecimentos
Pelo apoio das famílias, das prefeituras e técnicos dos municípios participantes do
projeto e pelo auxílio financeiro do CNPq e Sebrae/SC.
Literatura Citada
Epagri. Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola. Síntese anual da
agricultura de Santa Catarina 2007-2008. Disponível em: http://cepa.epagri.
sc.gov.br:8080/cepa/Publicacoes/sintese_2008/Sintese_2008.pdf. Acesso em: 22 de
junho de 2009.
GLIESSMAN, S.R.(ed). Researching the ecological basis of sustainable agriculture.
New York: Ed. Springler-Verlag. 1990.
105
ICEPA (Instituto de Planejamento e Economia Agrícola de Santa Catarina). Área total
dos estabelecimentos agropecuários, segundo a utilização da terra e por
abrangência geográfica - Estado e Município - Santa Catarina. Disponível em:
<http://cepa.epagri.sc.gov.br:8080/cepa/Dados_do_LAC/tabelas/modulo1/Estrutura%20
fundiaria%20EAP%20julho06.pdf.> Acesso em: 17/07/2010.
LORENZON, J. Impactos sociais, econômicos e produtivos das tecnologias de
produção de leite preconizadas para o oeste de Santa Catarina: estudo de caso.
Florianópolis, 2004. xv, 95 f. Dissertação (Mestrado) – Centro de Ciências Agrárias,
Universidade Federal de Santa Catarina.
MACHADO, L.C.P. Pastoreio Racional Voisin: tecnologia agroecológica para o
terceiro milênio. 2. ed. São Paulo: Expressão Popular, 2010. 376p.
106
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
2.4. Estudo etnobotânico das plantas relacionadas a bovinos em propriedades
agroecológicas de Araponga, Zona da Mata Mineira1
Mateus Pereira Freitas Mendes2, Lívia Constancio de Siqueira3, Caio César4, Yuri
Wanick Loureiro de Sousa2, Maurílio Duarte Batista5, Irene Maria Cardoso6, Flávia
Cristina Pinto Garcia7
1
Parte do projeto de extensão, financiado pela FAPEMIG.
Estudante de graduação em Engenharia Florestal.
3
Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Botânica.
4
Estudante de graduação de Agronomia.
5
Estudante de graduação de Engenharia Agrícola.
6
Professora do Departamento de Solos.
7
Professora do Departamento de Botânica.
2
Resumo: Em Araponga agricultores familiares desde 1994 trabalham com
experimentações agroecológicas com a implantação de Sistemas Agroflorestais. Estes
agricultores utilizam uma variedade de recursos vegetais encontrados em suas
propriedades para complementar a alimentação do gado, principalmente na época da
seca. Este conhecimento deve ser resgatado e compartilhado, pois pode vir a oferecer
alternativas na alimentação e cuidados com animais conforme a realidade local. A
etnobotânica aborda a forma como diferentes grupos humanos interagem com a flora,
apresentando-se como uma importante ferramenta nesse trabalho. A metodologia usada
consistiu de entrevistas semi-estruturadas, realizadas durante turnês guiadas com os
próprios agricultores que atribuíam algum uso as espécies apontadas por eles. As
espécies foram coletadas e identificadas no Herbário VIC. Foram citadas 22 espécies
com usos para bovinos. As famílias mais representativas foram Asteraceae,
Leguminosae e Rutaceae. A categoria alimento foi a mais citada com 59%. Apenas uma
espécie e seu uso foi citada por mais de um informante, o que demonstra a diversidade
de conhecimento entre os agricultores. Este conhecimento, devido sua importância deve
ser socializado com outros.
Palavras–chave: agricultura familiar, agroecologia, alimentação animal, etnobotânica
Etnobotany study of plants related to cattle in agroecological properties in
Araponga, Zona da Mata Mineira
Abstract: Since 1994, family farmers in Araponga, Minas Gerais, work with
agroecological trials, such as Agroforestry Systems. These farmers use many different
plant species available in their properties to supplement the cattle feed, mainly in the
dry season. Ethnobotany studies how different human groups use and interact with
flora, and is an important tool in this work. We used methodology normally used in
etnobotanical studies, consisting of semi-structured interviews and guided tours with
farmers. During these guided tours, the farmers attributed use to the species indicated by
them. The species were collected and identified in Herbarium VIC. Cattle use twenty
two species mentioned by the farmers. The most representative families were
Asteraceae, Leguminosae e Rutaceae. The food category was most cited (59%). Only
one species was mentioned by more than one farmer, which demonstrates how diverse
the knowledge of the farmers is. This knowledge can be used to point out alternatives
107
for feeding and caretaking of animals, using local resources and should be shared with
others.
Key Words: family agriculture, agroecology, cattle food, ethnobotany
Introdução
O município de Araponga, situado na Zona da Mata Mineira, caracteriza-se por
apresentar um relevo montanhoso e estar situado no entorno do Parque Estadual da
Serra do Brigadeiro (PESB) onde o bioma presente é o de Mata Atlântica, possui o café
como a principal cultura e a agricultura familiar se faz presente na região. Buscando
realizar uma agricultura de modo menos impactante e restaurar a fertilidade dos solos,
que se encontravam degradados, no ano de 1994 iniciaram experimentações
agroecológicas com as(os) agricultoras(es) da região, assessorados pelo Centro de
Tecnologias Alternativas (CTA). Desde então, algumas famílias que já vinham fazendo
uso de Sistemas Agroflorestais (SAFs), introduziu árvores nos cafezais e nas pastagens,
optando por manejar seus agro ecossistemas com baixo uso de insumos externos
(DUARTE, 2007). Após as experimentações, em 2005, foi feita a sistematização das
experiências, e constatou-se que havia poucaintegração entre os sistemas agroflorestias
e o componente animal nas propriedades. Em 2006, foi elaborado o projeto Vacas Para
o Café, envolvendo 15 famílias, visando aumentar essa integração. Com apoio de
organizações holandesas as famílias receberam a fundo perdido apoio para a compra de
animais e melhoria de infraestrutura. Para apoiar estas familias articulou-se um grupo de
estudantes e professores da Universidade Federal de Viçosa.
Entre os trabalhos desenvolvidos pela UFV, encontra-se a identificação de
espécies presentes nas pastagens e seus diferentes potenciais de uso. Foi realizado um
estudo etnobotânico nas propriedades com objetivo de reunir as informações para que
sirvam de auxilio a outros agricultores como alternativa alimentar e base para nortear
futuras pesquisas referentes ao uso dessas plantas. A etnobotânica aborda a forma como
diferentes grupos humanos interagem com a vegetação. Deste modo, a etnobotânica
interessa-se tanto pelas questões relativas ao uso e manejo dos recursos vegetais, quanto
sua percepção e classificação pelas populações locais (AMOROZO, 2002).
Material e Métodos
O estudo etnobotânico foi realizado em propriedades agroecológicas, localizadas
na zona rural do município de Araponga, Zona da Mata Mineira. Os cinco informantes
da pesquisa foram os próprios agricultores responsáveis pelo manejo dos sistemas. As
entrevistas realizadas foram semi-estruturadas, por meio de turnê guiada, onde o
agricultor reconhecia e apontava a planta informada durante uma caminhada no campo
(ALBUQUERQUE & LUCENA, 2004). Todas as plantas citadas foram coletadas,
herborizadas conforme metodologia convencional em botânica (FIDALGO &
BONONI, 1989) e identificadas para serem incluídas no acervo do Herbário VIC, do
Departamento de Biologia Vegetal, da UFV. A identificação botânica foi realizada por
comparação com o acervo do herbário e com base em literatura taxonômica. Os
estudantes da Escola Família Agrícola Puris participaram das entrevistas e coletas,
complementando sua formação, pois puderam ter contato com metodologia de pesquisa
além de aprenderem novos usos atribuídos às plantas.
108
Resultados e Discussão
Nos Sistemas estudados foram citadas pelos agricultores 22 espécies com
potencial de uso, pertencentes a 20 gêneros dentro de 16 famílias botânicas (Tabela 1).
As famílias mais representativas para o estudo etnobotânico foram Asteraceae,
Leguminosae e Rutaceae com três espécies cada. As outras 13 famílias estiveram
representadas por apenas uma espécie cada.
Tabela 1 - Espécies e categorias de uso amostradas no levantamento etnobotânico:Háb = hábito; ARV =
árvore; HER = herbácea; ARB = arbustivo; LIA = liana; Orig = origem; Nat = nativa; Exo =
exótica; Cat = categoria de uso; I = informantes do estudo; Tox = toxico para o gado; Med =
Medicinal para o gado; NP = não palatável para o gado; Ali = alimento para o gado; AS =
alimento no período de seca.
Nome científico
Nome popular
Háb
Orig
Cat
I
Erva de rato
HER
Nat
Tox
1
Baccharis dracunculifolia DC.
Alecrim do mato.
ARB
Nat
Ali
1
Baccharis trimera (Less.) DC.
Carqueja
HER
Nat
Med
1
Vernonia polyanthes Less.
Cambará
ARB
Nat
NP
1
Trapoeraba
HER
Exo
Ali
1
Erva canudo
HER
Nat
NP
1
Abacate
ARV
Exo
Ali
2
Jequitibá rosa
ARV
Nat
AS
1
Inga subnuda Benth.
Angá
ARV
Nat
Ali
2
Piptadenia gonoacantha (Mart.) J.F.Macbr.
Jacaré
ARV
Nat
Ali
1
Amendoim forrageiro
HER
Nat
Ali
1
Erva de passarinho
LIA
Nat
Ali
1
Vassoura branca grande
HER
Nat
AS
1
Quaresma roxa.
ARV
Nat
NP
1
Amora
ARV
Exo
Ali
2
Apocynaceae
Asclepias curassavica L.
Asteraceae
Commelinaceae
Commelina benghalensis L.
Lamiaceae
Hyptis mutabilis (Rich.) Briq.
Lauraceae.
Persea americana Mill
Lecythidaceae
Cariniana sp.
Leguminosae - Mimosoideae
Leguminosae - Papilionoideae
Arachis pintoi Krapov. & W. C. Greg
Loranthaceae
Struthanthus concinnus Mart.
Malvaceae
Sida glaziovii K. Sch.
Melastomataceae
Tibouchina granulosa Cogn.
Moraceae
Morus nigra L.
109
Myrsinaceae
Rapanea ferruginea (Ruiz et Pavon) Mez.
Canela pororoca
ARV
Nat
Ali
1
Rabo-de-burro
HER
Nat
Ali
1
Limão Rosa
ARV
Exo
AS
2
Med
1
Poaceae
Andropogon bicornis L.
Rutaceae
Citrus limonia Osbeck
Citrus sinensis L. Osbeck
Laranja
ARV
Exo
Ali
1
Dictyoloma vandellianum A. H. L. Juss
Brauninha
ARV
Nat
NP
1
Capoeira branca
ARV
Nat
Ali
1
Cipó suma
LIA
Nat
Ali
1
Solanaceae
Solanum mauritianum Scop.
Violaceae
Anchietea salutaris St. Hil.
As categorias de uso estabelecidas para a criação bovina foram cinco: planta
tóxica, medicinal, alimento, não palatável e alimentos disponíveis no período de seca. A
categoria alimento esteve representada por 13 espécies vegetais sendo a que mais se
destacou. A espécie Citrus limonia Osbeck (limão rosa) foi indicada para dois usos;
alimento no período da seca, citado por dois informantes e medicinal por apenas um
informante. Essa espécie foi à única no estudo que obteve citação de duas categorias de
uso. O número máximo de informantes que citou a utilização de uma espécie foram dois
agricultores e as demais foram mencionadas por apenas um agricultor, o que demonstra
que esse conhecimento precisa ser disseminado entre a comunidade.
O hábito arbóreo predominou ocorrendo em 50% das espécies, seguido pelo
herbáceo (32%), arbustivo e liana (9%). A maioria das espécies utilizadas por eles são
nativas do Brasil (77%) e apenas 23% são espécies exóticas, mostrando que os
agricultores utilizam e tem conhecimento sobre a vegetação local.
Conclusões
Com base nos resultados apresentados, pode se concluir que há uma diversidade
representativa de plantas que estão sendo utilizadas na criação bovina dos agricultores
de Araponga. Estes agricultores detêm um conhecimento sobre o uso da vegetação das
suas propriedades e buscam meios alternativos para a alimentação do gado. É preciso
que este conhecimento seja expandido para a comunidade. Estes resultados fazem parte
de um projeto aprovado pela FAPEMIG e que ainda está em andamento podendo vir a
surgir novos resultados com as análises finais dos dados. Seis espécies conhecidas e
utilizadas para a alimentação do gado por agricultores de Araponga estão sendo
submetidas à análises bromatológicas nos laboratórios do Departamento de Veterinária
da UFV.
Agradecimentos
À Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) pelo
financiamento do projeto e financiamento de bolsa de iniciação científica. Ao Centro de
110
tecnologia agroecológico da Zona da Mata Mineira (CTA) pelos recursos fornecidos
para o desenvolvimento da pesquisa, a Associação dos(as) Agricultoras(es) Familiares e
o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Araponga (STR) por participar, colaborar e
facilitar o dialogo com as(os) agricultoras(es). Aos agricultores familiares de Araponga
por nos receber e por confiarem no nosso trabalho acreditando na agroecologia.
Literatura Citada
AMOROZO, M.C.M. A perspectiva etnobotânica e a conservação de biodiversidade.
In: XIV Congresso da Sociedade Botânica de São Paulo. Anais..., Rio Claro: UNESP,
2p. 2002.
ALBUQUERQUE, U.P.; LUCENA, R.F.P. Seleção e escolha dos informantes. In:
Albuquerque, U.P.; Lucena, R.F.P. (org.). Métodos e técnicas na pesquisa
etnobotânica. Recife – PE: Livro Rápido / NUPEEA, 2004. 189p.
DUARTE, E.M.G.; CARDOSO, I.M.; SOUZA, H.N.; GOMES, L.C.; POLIZEL,
R.H.P. Sistemas agroflorestais, o manejo do solo e a conservação da biodiversidade na
Mata Atlântica. In: V Congresso Brasileiro de Agroecologia; Manejo de
Agroecossistemas Sustentáveis. Anais... Guarapari, 2007.
FIDALGO, O.; BONONI, V.L.R. Técnicas de Coleta, Preservação e Herborização
de Material Botânico. São Paulo: Secretaria do Meio Ambiente, Série Documentos,
1989. 62p.
111
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
2.5. Diagnóstico rural participativo de um assentamento no Norte Fluminense
Juliana Costa Velho de Abreu1, Milton Siqueira Campos2, Luis Humberto Castillo
Estrada3, David Barbosa do Nascimento4
1
Estudante de graduação em Zootecnia. – LZNA/CCTA/UENF.
Engenheiro Agrônomo, participante do grupo de pesquisa.
3
Professor do Departamento de Zootecnia LZNA/CCTA/UENF.
4
Produtor Rural, participante do grupo de pesquisa.
2
Resumo: O Norte Fluminense caracteriza-se pela predominância da agricultura
familiar, abrigando quase 70% da mão-de-obra utilizada representando 36% do valor
anual de produção (VAP). Apesar da sua importância, são poucos os trabalhos
multidisciplinares e interdisciplinares que analisam as dificuldades e técnicas
encontradas na agricultura familiar. Muito menos, sobre sistemas integrados de
produção. Desprende-se do exposto, a importância da implantação de uma Unidade
Demonstrativa de Sistemas Integrados de Produção Agroecológica (UDSIPA), sendo
esta, um instrumento de pesquisa, ensino e extensão. A UDSIPA será implantada no
assentamento Che Guevara, localizado no município de Campos dos Goytacazes, na
estrada Campos-Farol à aproximadamente 50 km do centro do município de Campos.
Para iniciar o projeto, elaborou-se um Diagnóstico Rural Participativo – DRP. O DRP
realizado na comunidade nos indica que entre as fortalezas destacam-se que todos
possuem energia elétrica, estrada de acesso, infra-estrutura de produção coletiva e existe
uma associação; entre oportunidades observaram-se que podem ser ampliadas as
criações de animais de pequeno porte, piscicultura e horticultura entre outras;
entretanto, uma das fraquezas observadas foi à falta de participação coletiva e ameaça
de desunião do grupo. Cabe citar-se aproximidade do mercado consumidor e a Lei
federal 11.947/2009 como oportunidades a destacar. Concluindo-se através do DRP ser
viável a implantação da UDSIPA.
Palavras–chave: agroecologia, diagnóstico rural participativo – DRP, pequenos
produtores rurais
Rural participatory diagnosis of a settlement in the North Fluminense
Abstract: The North Fluminense is characterizedf by the predominance of family
farming, housing almost 70% of hand-to-work used representing 36% of the annual
value of production (VAP). Despite its importance, there are few and interdisciplinary
multidisciplinary work to analyze difficulties and techniques found on family farming.
There are much less works on integrated systems of production. Based on everthing said
it can be noticed the importance of the deployment of a unit of integrated systems shows
Production (UDSIPA Agroecológica), and this, an instrument of research, teaching and
extension. THE UDSIPA will be built in Che Guevara's settlement, located at CamposFarol's road with approximately 50 km from the center of Campos City to Farol de São
Tomé City. A rural participatory diagnosis - DRP was made to start the project. THE
DRP made with the community indicates that the strong points are everyone's access to
electric energy, everyone's access to access road, infra-structure of production and also
there is a collective association; between opportunities was observed that small animal's
farms can be extended, and also fish farms and horticulture farms among others;
112
however, one of the weaknesses observed was the lack of collective participation and
the threat of the group's disunity. It is important to detach the proximity of consumer
market and the federal law 11,947 /2009. In conclusion through DRP it is viable the
implantation of UDSIPA.
Key Words: agroecology, rural participatory diagnosis – DRP, small rural producers
Introdução
O Censo Agropecuário de 2006 indica que 84,4% dos estabelecimentos brasileiros
são caracterizados como agricultores familiares (IBGE, 2009). No Norte Fluminense,
83,7% dos estabelecimentos pertencem à agricultura familiar, com uma área total de
222.756 hectares, o que corresponde a 33,6% da área total rural. Estes estabelecimentos
abrigam 69,1% da mão-de-obra utilizada e representam 35,8% do valor anual de
produção (VAP) do território, daí a importância quantitativa da agricultura familiar, seja
pelo número de estabelecimentos, seja pela participação na geração de emprego no
campo, o que caracteriza a importância da agricultura familiar na economia do Norte
Fluminense.
A baixa rentabilidade na agricultura e conseqüentemente da pobreza rural deve-se
entre outras coisas a baixíssimos rendimentos médios por hectare e por animal, devidos
à inadequada (ou a não) adoção de tecnologias de baixo custo; insuficiente ou
inadequada diversificação produtiva; inadequado dimensionamento dos meios de
produção; excessiva intermediação na aquisição dos insumos e na comercialização dos
excedentes; baixa qualidade dos bens produzidos e sua venda sem incorporação de
valor; produção de espécies de baixa densidade econômica, entre outros.
Com relação à tecnologia a ser incorporada nas situações atuais do campo, não cabe
duvidas pelos seus resultados, a fácil compreensão e adaptação dos pequenos produtores
à agricultura integrada e agroecológica, como alternativas para alcançar a agricultura
orgânica sustentável.
CAPORAL & COSTABEBER (2002) defendem a agroecologia como um
promissor campo do conhecimento, uma ciência com especial potência para orientar os
processos de transição a estilos de agricultura e de desenvolvimento rural sustentável.
Acrescentam ainda, que a agroecologia possibilita o desenvolvimento de tecnologias
baseadas no conhecimento local e na observação da natureza, permitindo um rearranjo
do sistema de produção. O enfoque agroecológico traz consigo ferramentas teóricas e
metodológicas que auxiliam de maneira sistêmica as dimensões da sustentabilidade, seu
objetivo principal.
A agricultura orgânica e a agroecológica segundo FUNES (2001) não é apenas
uma mudança tecnológica, é também uma mudança da concepção agrícola.
Este processo, no particular implica uma transformação na consciência social da
agricultura, conhecimento dos ciclos produtivos e processos naturais para sua
exploração racional. No caso de Cuba, com o bloqueio econômico, o país teve que se
ajustar a modelos que levaram a um sistema produtivo de baixo custo e com mínimos
insumos externos, substituindo os insumos químicos pelos biológicos. Suficientes
experiências durante muitos anos têm verificado que as mudanças para sistemas
sustentáveis tiveram efeito positivo como forma de superar a crise econômica.
Para responder a esta perspectiva no aumento do consumo de alimentos
ecologicamente corretos, diminuição da população que residem no meio rural e a
113
predominância de produção baseado na agricultura familiar, somente há uma saída:
aumentar a tecnificação na produção do campo com tecnologias apropriadas para o
pequeno proprietário, tendo como base a educação integrada com outras ações de
políticas públicas como instrumentos para alcançar estes objetivos, proposta do presente
trabalho.
Com este objetivo, propõe-se a implantação de uma unidade demonstrativa de
“Sistemas Integrados de Produção Agroecológica - UDSIPA” como um recurso que
contribuirá como método para o fortalecimento da agricultura familiar, a inclusão social
e a transferência tecnológica em sistemas de produção integrada ecologicamente
sustentável na produção de alimentos saudáveis e na geração de emprego e renda.
A criação da UDSIPA visa fortalecer a agricultura familiar mediante mecanismos
capazes de atender a demanda de tecnologias ambientalmente apropriadas e capazes de
garantir a produção de alimentos sadios, sem contaminação por agrotóxicos e de melhor
qualidade biológica. A sua implantação permitirá a visualização in loco, por parte dos
agricultores familiares e assentados da região, da utilização de algumas tecnologias
inovadoras de caráter agroecológico, que agregadas às atividades de capacitação
previstas, poderão proporcionar a reprodução das mesmas nas propriedades destes
agricultores, seja através do financiamento direto pelo PRONAF, seja mediante outros
projetos e políticas públicas de caráter Municipal, Estadual ou Federal.
Para início da implantação da UDSIPA teremos que elaborar um Diagnóstico
Rural Participativo e realizar um levantamento de dados sobre uma comunidade
selecionada, representativa da agricultura familiar do Norte Fluminense.
Material e Métodos
Depois de estudar as características de todos os núcleos de produção de
agricultores familiares, determinou-se que seria interessante elaborar este projeto no
município de Campos dos Goytacazes, no Assentamento Che Guevara. Este
assentamento possui 74 lotes com aproximadamente 10 ha por lote, sendo esta área
variável em tamanho de acordo com a qualidade da terra em questão. Localizada à
aproximadamente 50 km da Universidade Estadual do Norte Fluminense, sobre a
estrada Campos – Farol no 5º distrito de Campos dos Goytacazes.
Iniciam-se as atividades com aplicação de um Diagnóstico Rural Participativo
(DRP). O DRP é um conjunto de técnicas e ferramentas que permite que as
comunidades façam o seu próprio diagnóstico e a partir daí comecem a autogerenciar o
seu planejamento e desenvolvimento (VERDEJO, 2006). Desta maneira, os
participantes poderão compartilhar experiências e analisar os seus conhecimentos, a fim
de melhorar as suas habilidades de planejamento e ação. O DRP em vez de confrontar
as pessoas com uma lista de perguntas previamente formuladas, a idéia é que os
próprios participantes analisem a sua situação e valorizem diferentes opções para
melhorá-la. Não se pretende unicamente colher dados dos participantes, mas, sim, que
estes iniciem um processo de auto-reflexão sobre os seus próprios problemas e as
possibilidades para solucioná-los. O objetivo principal do DRP é apoiar a
autodeterminação da comunidade pela participação e, assim, fomentar um
desenvolvimento sustentável. Para isto, foram feitas diversas reuniões para seu
planejamento e execução.
Posteriormente, com os resultados do DRP se iniciaram atividades de priorização
e levantamento individual de dados socio-econômicos da comunidade.
114
Resultados e Discussão
Primeiramente foi necessário esclarecer os conceitos do DRP que são definidos
com: fortalezas, fatores do interior do grupo que contribuem para seu melhor
desempenho; fraquezas são fatores no interior do grupo que influem negativamente
sobre seu desempenho; oportunidades são fatores externos que influem ou poderiam
influenciar positivamente para o desenvolvimento do grupo; ameaças são fatores que
influenciam negativamente sobre o desenvolvimento do grupo, sobre os quais o grupo
não tem controle.
Após esclarecimento conceitual definido, discutimos em reuniões esses conceitos
e obtivemos os seguintes resultados:
Fortalezas: estrada, energia, água no subsolo, clima favorável, disposição física, infraestrutura (agroindústria, sede do grupo, estradas boas). Oportunidades: Biodigestor,
piscicultura, mercado local, criação de pequeno porte, horticultura. Fraquezas: vento,
falta de cooperação, desmotivação. Ameaças: falta de união do grupo, divergências de
idéias, limpeza de canais, má utilização das estruturas (baixa utilização). Apesar de que
a comunidade tem dez anos de existência, ela, não esta acostumada a este tipo de
modalidade socio-educativa, portanto, requer maior dedicação para sua implantação e
seguimento, porém vislumbra-se como a única ferramenta para construir o
associativismo ou qualquer forma de trabalho coletivo. Isto é devido ao desgaste
histórico sobre o trabalho comunitário.
Conclusões
A maioria dos assentados são ex-trabalhadores de usinas da região e não moram
nos lotes, tampouco se sustentam através deles.
Conclui-se que ainda há muito trabalho educativo de conscientização a se fazer
antes da implantação propriamente dita da unidade demonstrativa de sistemas
integrados de produção agroecológica (UDSIPA). Porém, os assentados em questão, se
dispõem plenamente a tornarem a UDSIPA viável e funcional.
Literatura Citada
CAPORAL, F.R. & COSTABEBER, J.A. Análise multidimensional da
sustentabilidade. Uma proposta metodológica a partir da agroecologia. Agroecol e
Desv. Rur. Sust., v.3, n.3, 2002.
FUNES, F.M. La agricultura cubana, en camino a la sostenibilidad. Rev. Agroecologia,
v.17, n.01, 2001.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. 2009.
Estimativas de população. In: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/
estimativa2009/default.shtm (acessado em 17 de agosto de 2009).
VERDEJO, M.E. Diagnóstico Rural Participativo. Um guia prático. In: http://
redeagroecologia.cnptia.embrapa.br/biblioteca/manuais-e-guias/DRRP.pdf
(acessado
em 10 de agosto de 2010).
115
3. Associativismo e
cooperativismo
116
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
3.1. Os Contratos de Integração Vertical agroindustriais como instrumentos de
inserção do pequeno produtor na cadeia de produção do biodiesel1
Marlene de Paula Pereira2
1
Parte da monografia da especialização em Direito Agro-ambiental.
Mestranda em Direito – UERJ.
2
Resumo: A inserção dos pequenos produtores na cadeia produtiva é um desafio para o
desenvolvimento social do país. Os contratos de integração vertical agroindustriais são
instrumentos jurídicos capazes de contribuir para a inserção dos pequenos produtores
rurais na cadeia produtiva do biodiesel, pois por meio deles a empresa beneficiadora
poderá financiar parte da produção do pequeno agricultor oferecendo a este sementes,
fertilizantes e assistência técnica, enquanto, em contrapartida, obterá matéria-prima em
quantidade e qualidade desejáveis para disputar o mercado.
Palavras-chave: agricultura familiar, biodiesel, inclusão social, sustentabilidade social
Introdução
As normas especificadas pela ANP (Associação Nacional do Petróleo) sobre o
programa de produção de biodiesel estabelecem muitas exigências técnicas tornando
quase impossível que um pequeno agricultor opere sua própria unidade de produção,
mesmo que ele disponha de grãos de oleaginosas. Muitos pequenos produtores não têm
conhecimento a respeito de o quê produzir, para quem produzir, onde buscar
capacitação técnica, financiamentos, etc.
Em função destas dificuldades é necessário pensar formas de tornar as regras do
processo mais acessíveis aos produtores rurais e ainda pensar maneiras de equilibrar a
relação entre o produtor rural e o fabricante de biodiesel. Nesse contexto, revela-se
apropriado e compatível a realização dos contratos de integração vertical.
Os contratos de integração vertical surgem como importante instrumento de
modernização da agricultura através da cooperação entre os setores produtivos. Este
trabalho analisará a viabilidade da utilização de tais contratos para a inserção do
pequeno produtor na cadeia de produção do biodiesel.
Material e Métodos
O método utilizado foi a análise da viabilidade da utilização dos contratos
agroindustriais entre pequenos produtores rurais e empresas processadoras de biodiesel,
nos moldes em que estes contratos já são utilizados em outras agroindústrias.
Resultados e Discussão
Entende-se por contrato de integração vertical agroindustrial o acordo firmado
entre produtor agrícola, individual ou associado, e empresa de transformação industrial
ou comercial, individual ou associada, e, que estabelece recíprocas obrigações de
117
fornecimento de produtos ou serviços, segundo orientações e critérios técnicos
convencionados. O papel dos contratos de integração vertical é o de fortalecer a
atividade empresarial agrária através da minimização dos riscos produzidos, sobretudo
pelas oscilações agrícolas.
A integração, enquanto fenômeno econômico pode ser: horizontal, quando a
coordenação das atividades de duas ou mais empresas ocorre dentro de um mesmo setor
do processo produtivo; vertical, quando a coordenação ocorre entre setores diferentes
dentro do mesmo processo produtivo; e conglomerada, quando coexistem a integração
vertical e a integração horizontal. No âmbito da integração, existem duas subespécies: a
integração vertical total, caracterizada pela unidade de gestão, e a integração parcial,
também denominada contratual, na qual a coordenação interempresarial realiza-se por
meio de contratos.
Normalmente as partes signatárias de um contrato vertical são os sujeitos
econômicos da operação de integração, ou seja, de um lado o empresário industrial ou o
empresário comerciante e do outro o produtor rural, empresário ou não.
Além do efeito translativo da propriedade dos produtos agrícolas, o contrato de
integração prevê o cumprimento de outras obrigações. Dentre estas obrigações
destacam-se as seguintes:
I - A parte agrícola se compromete
- realizar as atividades de cultivo ou criação de animais dos quais deriva o produto ou
serviço objeto do contrato, com respeito às indicações técnicas pactuadas;
- entregar toda a produção contratada que corresponde aos critérios de quantidade e
qualidade pactuados.
II - A parte industrial se obriga a:
- receber toda a produção objeto do contrato correspondente à quantidade e qualidade
pactuada;
- pagar o preço conforme o pactuado.
Por meio do contrato de integração vertical, o produtor tem aumentada a
possibilidade de buscar linhas de crédito bancário, com a garantia da compra de sua
produção, que é dada pela agroindústria à instituição financeira.
De outra forma, a agroindústria, ao fornecer os insumos no início do ciclo de
produção e resgatando o seu valor no final, no abatimento do produto agrícola entregue,
também realiza uma forma de financiamento em alguns casos mais vantajosa para o
produtor que, muitas vezes, não tem capital de giro suficiente e tem de buscar
financiamentos bancários, cujos juros acabam por minar seu lucro final.
A participação da cooperativa ou do Comitê da Secretaria de Agricultura do
Estado na fixação das normas de qualidade e fiscalização no momento de classificação
dos produtos entregues é importante para o produtor, pois reforça o poder contratual
deste e contribui para a diminuição dos litígios resultantes de manobras abusivas para
desqualificar o produto agrícola entregue na indústria, com diminuição do preço de
compra.
A integração horizontal (cooperativas) é fundamental para a correção dos efeitos
negativos derivados da excessiva fragmentação das unidades produtivas. Favorece ainda
uma maior homogeneidade da produção agrícola, de forma que o mercado possa ser
118
abastecido de produtos padronizados, segundo tipos bem definidos e possam subtrair os
agricultores da inferioridade contratual nas relações com os demais setores.
Com relação à produção de biodiesel, as partes são, basicamente, o produtor, ou
seja, aquele que produz a matéria-prima ou, neste caso, cultiva o grão, e o processador
ou produtor de biodiesel, aquele que adquire a matéria-prima e a transforma em produto
final: o biodiesel, que tem como subproduto a glicerina.
Nesta atividade, os contratos de integração vertical podem ser utilizados com
proveito para ambas as partes, pois, por um lado, a empresa beneficiadora financiará
parte da produção do pequeno agricultor oferecendo a este sementes, fertilizantes e
assistência técnica, por outro, o agricultor deverá produzir dentro das especificações
feitas pelo beneficiador, mas terá mercado certo para os seus produtos, a um preço
previamente ajustado.
A empresa produtora de biodiesel se compromete a assegurar assistência e
capacitação técnica aos agricultores familiares. Além disso, nos contratos negociados
com os agricultores devem constar o prazo contratual, o valor de compra, os critérios de
reajuste do preço, as condições de entrega da matéria-prima e a identificação e
concordância de uma representação dos agricultores (sindicatos, federações, entre
outras) – que participou das negociações.
O fornecimento das sementes e fertilizantes por parte dos produtores de
biodiesel pode ser benéfico tanto para o produtor, que muitas vezes não tem capital de
giro para dar início à produção, quanto para o fabricante, que poderá adquirir insumos e
matérias-primas com padrões de qualidade internacionalmente aceitos, evitando assim
que o produto final encontre barreiras no mercado internacional.
Entretanto, os contratos de integração vertical poderão trazer maiores vantagens
aos pequenos produtores se a integração horizontal for seguida da integração vertical,
ou seja, primeiro os agricultores se organizariam em cooperativas, que fortalece o grupo
e valoriza a atividade. Depois, realizariam as negociações com as empresas
processadoras de matéria-prima e ajustariam os termos em um contrato.
Dessa forma poderiam produzir produtos padronizados, de qualidade, em maior
quantidade e, por esta razão, negociá-los de modo a conseguir um melhor preço e
condições mais vantajosas de venda.
Conclusões
A integração contratual é o sistema que gera segurança jurídica para as partes
através da idéia de formação de parcerias entre as diversas instituições de vários níveis
para atendimento integrado a toda a comunidade produtiva de uma região.
O fato de as empresas precisarem estar preparadas para enfrentar de forma
competitiva a concorrência do mercado internacional, justifica a realização de contratos
de integração vertical na produção do biodiesel.
Através da formação de associações e cooperativas os pequenos produtores de
matéria-prima podem se fortalecer e, por meio da utilização dos contratos
agroindustriais poderão obter da empresa processadora assistência, financiamento e
capacitação técnica, enquanto esta, à seu turno, estará segura da entrega da matériaprima, a um prazo e preço previamente ajustados.
119
A soma do fator tecnológico com a integração da cadeia produtiva permite uma
sólida inserção no mercado internacional, além de ser garantia da manutenção e
ampliação do mercado interno.
Agradecimentos
CNPq
Literatura Citada
FERRAZ, D.A.; MAZZOLENI, E.M.; SILVA, F.T.C. Integração para Exportação:
condomínio e consórcio como alternativas para a comercialização de produtos
apícolas. In: CONGRESSO BRASILEIRA DE APICULTURA, 16, 2006, Aracaju.
Anais eletrônicos... Aracaju: SEBRAE, 2006. Disponível em: <http://www.apis.sebrae.
com.br/Arquivos/16º%20Cong_Bras_Apic/Anais_1/INTEGRAÇÃO%20PARA%20EX
PORTAÇÃO%20-%20CONDOMÍNIO%20E%20CONSÓRCIO%20COMO%20ALTE
RNATIVAS%20PARA%20A%20COMERCIALIZAÇÃO%20DE%20PRODUTOS%2
0APÍCOLAS.pdf>. Acesso em: 20 jun. 2007.
PAIVA, Nunziata Stefania Valenza. Os Contratos de Integração Vertical
Agroindustriais: viabilidade de uma disciplina legal em face da prática contratual
brasileira (estudo comparativo doutrinário e legal dos sistemas italiano, francês e
brasileiro). 2005. Tese (Mestrado em Direito Civil) - Universidade Federal de Minas
Gerais, Belo Horizonte.
120
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
3.2. Agricultura familiar e associativismo: um estudo realizado nas feiras livres dos
municípios de Visconde do Rio Branco e Viçosa, MG
Maria Rita Josaphá1, Geicimara Guimarães2, Flávia Cardoso Neves3, Rogério de Paula Lana4,
Ana Lídia Coutinho Galvão5
1
Estudante de Gestão de Cooperativas - DER/UFV; Bolsista PIBEX/UFV; [email protected].
Estudante de Gestão de Cooperativas - DER/UFV; Bolsista CNPq ITI; [email protected].
3
Estudante de Economia Doméstica - ECD/UFV; Bolsista PIBID/ CNPq;
4
Professor do Departamento de Zootecnia - DZO/UFV; Pesquisador 1B do CNPq; [email protected].
5
Professora do Departamento de Economia Doméstica - DED/UFV; [email protected].
2
Resumo: No Brasil, são cerca de 4,5 milhões de estabelecimentos familiares, dos quais
50% no Nordeste. O segmento detém 20% das terras e responde por 30% da produção
global na produção de alguns produtos básicos da dieta do brasileiro como o feijão,
arroz, milho, hortaliças, mandioca e pequenos animais chegam a ser responsáveis por
60% da produção. Numa visão geral, são agricultores com baixo nível de escolaridade
que diversificam os produtos cultivados para diluir, aumentar renda e aproveitar as
oportunidades de oferta ambiental e disponibilidade de mão-de-obra. Os produtores e
seus familiares desempenham um papel importante na economia, pois são responsáveis
por inúmeros empregos no comércio e nos serviços prestados nas pequenas cidades. A
melhoria de renda deste segmento por meio de sua maior inserção no mercado tem
impacto importante no interior do país e por conseqüência nas grandes metrópoles. Os
objetivos do trabalho foram relacionar? a produção de milho e feijão dos agricultores
familiares da Zona da Mata Mineira, especificamente das cidades de Visconde do Rio
Branco e Viçosa; analisar a feira livre e associativismo como forma de comercialização
dos excedentes de produção do agricultor familiar; e identificar as relações entre a
agricultura familiar, feira livre e associativismo entre os agricultores familiares de feijão
e milho das cidades de Visconde do Rio Branco e Viçosa da região da Zona da Mata
Mineira. Assim, verifica-se que nas regiões de Viçosa e Visconde do Rio Branco as
feiras livres são as principais formas de escoamento dos produtos da agricultura
familiar, sendo a receita da venda desses ,nestes locais principal fonte de renda para o
agricultor familiar e o associativismo uma das principais formas de inserção no
mercado.
Palavras-chave: agricultura familiar, associativismo, feira livre
Familiar agriculture and associativism: an study performed in the free market of
the counties of Visconde do Rio Branco and Viçosa, MG, Brazil
Abstract: In Brazil, there are about of 4.5 millions of familiar establishments, in which
50% are at NE. The familiar producers have 20% of the lands and respond with 30% of
the global production. At some of the basic products of Brazilians‟ diet like bean, rice,
corn, vegetables, cassava and small animals, the familiar agriculture is responsible by
60% of the production. In a general point of view, the staff is made by farmers with low
level of studies and diversifies the cultivated products to dissolve costs, increase the
profit and to use better the opportunities of environmental offers and available labor.
The producers and his/hers relatives do an important function on the economy, because
121
they are responsible by various jobs at the market and by services performed at the
towns. The increase of fund in this segment as a result of its bigger insertion at the
market have a relevant impact at the interior of the country and have consequences in
the big cities. The objective of this project was to relate the corn and bean productions
of the familiar farmers of Zona da Mata of Minas Gerais, specifically of the towns of
Visconde do Rio Branco and Viçosa; to analyze the free market and associativism with
the objective of commercialize the excess of the production of the familiar producers;
and to identify the relation between familiar agriculture, free market, and associativism
among the familiar producers of bean and corn of the towns of Visconde do Rio Branco
and Viçosa. So, it‟s clear that at the towns of Viçosa and Visconde do Rio Branco, free
markets is the general form to sell the products of the familiar producers, in which this
activity proportionate the main profit source of the familiar producers and the
associativism is one of the general forms of insertion at the market.
Key Words: associativism, free market, household agriculture
Introdução
A Agricultura Familiar de acordo com Homem de Melo (2001) apud Cepea
(2008 aquela que é praticada em propriedades com menos de 100 hectares. Engloba-se
nessa categoria a agricultura de subsistência, a pequena produção ou campesinato.
Segundo o mesmo autor, o INCRA diz que esse tipo de agricultura atende a duas
condições: uma que diz respeito à direção dos trabalhos do estabelecimento que é
exercida pelo produtor e a outra é que o trabalho familiar seja superior ao trabalho
contratado.
No Brasil, são cerca de 4,5 milhões de estabelecimentos, dos quais 50% no
Nordeste. O segmento detém 20% das terras e responde por 30% da produção global.
Na produção de alguns produtos básicos da dieta do brasileiro como o feijão, arroz,
milho, hortaliças, mandioca e pequenos animais os pequenos agricultores familiares
chegam a ser responsáveis por 60% da produção. Em geral, são agricultores com baixo
nível de escolaridade que diversificam os produtos cultivados para diluir custos,
aumentar a renda e aproveitar as oportunidades de oferta ambiental? e disponibilidade
de mão-de-obra. Os produtores e seus familiares desempenham um papel importante na
economia, pois são responsáveis por inúmeros empregos no comércio e nos serviços
prestados nas pequenas cidades. A melhoria de renda deste segmento por meio de sua
maior inserção no mercado tem impacto importante no interior do país e por
conseqüência nas grandes metrópoles (Portugal, 2004).
De acordo com Portugal (2004), a inserção no mercado ou no processo de
desenvolvimento depende de tecnologia e condições político-institucionais,
representadas por acesso a crédito, informações organizadas, canais de comercialização,
transporte, energia, etc. Este último conjunto de fatores normalmente tem sido o
principal limitante do desenvolvimento. Embora haja um esforço importante do
Governo Federal com programas como o PRONAF, programas estaduais de assistência
técnica e associativismo, há um imenso desafio a vencer.
O PRONAF (Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar) foi criado a
partir de pressão de movimentos sociais relacionados à agricultura familiar, facilitando
o acesso dos pequenos agricultores familiares ao crédito. Além disso, têm sido feitos
esforços para dinamizar a economia desses agricultores, incentivando a produção e a
comercialização de seus produtos (Silvestre et al., 2005).
122
Dentre as diversas formas de comercialização dos produtos agrícolas, são nos
pequenos mercados locais caracterizados como feiras livres, que o produtor familiar
comercializa o seu “excedente” de produção. Esse espaço representa um dos mais
importantes locais para a comercialização da produção da agricultura familiar, além de
movimentar o comércio, circular alimentos, bens e cultura (Silvestre et al., 2005).
Assim, as feiras são uma forma de possibilitar o acesso desses agricultores ao
mercado, gerando renda para a compra de produtos para o consumo familiar, para
algum incremento na unidade de produção, ou até mesmo para uma poupança. Também,
são espaços de reprodução social e cultural onde os produtores familiares se encontram,
socializam-se, trocam idéias e produtos (Schneider, 2003 apud Silvestre et al., 2005).
É importante ressaltar que as propostas de incentivo à comercialização dos
produtos da agricultura familiar seguiram principalmente duas orientações: o
associativismo/cooperativismo cujo objetivo era reduzir dificuldades de
comercialização de pequenos produtores familiares,por meio da obtenção de ganhos de
escala que proporcionariam menores custos de produção , regularia a oferta e
possibilitaria maior poder na negociação de preços. Ações neste sentido viabilizariam a
integração destes pequenos produtores em mercados maiores, localizados nos grandes
centros urbanos, e possibilitariam a redução das disparidades regionais existentes, por
meio da distribuição de renda entre as diversas regiões do país e dinamização daquelas
caracterizadas pela estagnação econômica (Ribeiro et al., 2003).
Como empresa, a cooperativa é criada pelas pessoas para satisfazer aspirações e
necessidades econômicas, sociais e culturais comuns. Nessa empresa, a propriedade é
coletiva e democraticamente administrada. Um aspecto fundamental da vida das pessoas
é o econômico. Esse aspecto é importante porque se relaciona à sobrevivência das
pessoas. O indivíduo é desafiado a buscar a melhor saída para essa questão. Muitas
alternativas lhe são oferecidas pelo mercado, mas, em quase todas, ele se torna apenas
um objeto para satisfazer os interesses dos outros, pois são outros os que tomam as
decisões, conforme os seus próprios interesses (Valadares, 2005).
O objetivo desse trabalho foi identificar as relações da agricultura familiar, feira
livre e associativismo e os agricultores familiares produtores de feijão e milho da região
da Zona da Mata Mineira das cidades de Visconde do Rio Branco e Viçosa; relacionar?
a produção de milho e feijão dos agricultores familiares da Zona da Mata Mineira,
especificamente das cidades de Visconde do Rio Branco e Viçosa; e analisar a feira
livre e associativismo como forma de comercialização dos excedentes de produção do
agricultor familiar.
Material e Métodos
O estudo analisou o comportamento de agricultores familiares nos municípios de
Visconde do Rio Branco e Viçosa da Zona da Mata localizados na região sudeste de
Minas Gerais.
A população da pesquisa abrangeu 84 feirantes do município de Visconde do
Rio Branco e 35 do município de Viçosa.
A coleta de dados baseou-se na aplicação de questionários semi-estruturados aos
produtores de milho e feijão nas referidas cidades.
123
Resultados e Discussão
Constatou-se dos dados analisados que dentre os 35 produtores feirantes da
região de Viçosa, 49% produzem milho e feijão e possuem uma média de dois
ha/produtor. Para o plantio dessas culturas o método realizado é de plantio direto e uso
de máquina agrícola como o trator na colheita da produção. O principal meio de
comercialização do excedente de produção após o consumo da família são as feiras
livres e alguns mercados locais,de onde os agricultores,, retiram a sua renda para a
compra de produtos para o consumo familiar, para algum investimento na unidade de
produção, ou até mesmo para uma poupança.
Já dentre os 84 produtores da região de Visconde do Rio Branco, 8% são
produtores de milho e feijão e possuem uma média três ha/produtor. Assim como na
região de Viçosa, o principal meio de comercialização são as feiras e os mercados locais
e o plantio dessas culturas também é realizado pelo método de plantio direto e há uso de
maquinários.
É importante ressaltar que os agricultores familiares dessa região possuem uma
associação, onde 50% freqüentam assembléias e são associados e vê o associativismo
como forma de inserção no mercado de trabalho.
Conclusões
A principal forma de escoamento dos produtos e de sua venda e, portanto,
também principal fonte de renda da agricultura familiar das regiões de Visconde de Rio
Branco e Viçosa são as feiras livres. O associativismo vigente constitui-se uma das
principais formas de inserção dos produtores nesse mercado por reduzir dificuldades
de comercialização da pequena produção dos produtores familiares, proporcionar
menores custos de comercialização, regularizar oferta e possibilitar maior poder na
negociação de preços.
Literatura Citada
PORTUGAL, D.A. O desafio da agricultura familiar.
<http://www.embrapa.com.br> Acesso dia 19 de junho de 2010.
Disponível
em:
RIBEIRO, E.M.; ANGULO, J.L.G.; NORONHA, A.B.; CASTRO, B.S.; GALIZONI,
F.M.; CALIXTO, J.S.; SILVESTRE, L.H. A feira e o trabalho rural no alto
Jequitinhonha: um estudo de caso em Turmalina, Minas Gerais. Montes Claros:
Unimontes Científica, v.5, n.1, jan/jun, 2003.
SILVESTRE, L.H.A.; CALIXTO, J.S.; RIBEIRO, E.D. Mercados locais e políticas
públicas para a agricultura familiar: um estudo de caso no município de Minas Novas.
Ribeirão Preto. XLII congresso do SOBER. Julho de 2005.
VALADARES, J.H. Teoria Geral do Cooperativismo. 1ª versão. Pós-Graduação em
Cooperativismo, Viçosa, MG, 2005.
124
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
3.3. As relações de cooperação e os Arranjos Produtivos Locais: uma abordagem
do aglomerado calçadista de Nova Serrana/MG
Gustavo Leonardo Simão1, Nora Beatriz Presno Amodeo2, Geicimara Guimarães3,
Aristides José de Freitas3
1
Graduando em Gestão de Cooperativas – Universidade Federal de Viçosa/MG.
Professora do Departamento de Economia Rural – UFV/MG.
3
Graduando em Gestão de Cooperativas – UFV/MG.
2
Resumo: Este trabalho teve por objetivo analisar as relações de cooperação entre os
empresários do Arranjo Produtivo Local (APL) de Nova Serrana/MG, com vistas à
identificação das características dos participantes, seu grau de atuação conjunta e quais
os principais objetivos desta. Utilizou-se o método de entrevistas, com 22 proprietários
de empresas produtoras de calçados sediadas no município de Nova Serrana/MG. Os
resultados mostram que 90,9% das empresas pesquisadas não possuem qualquer tipo de
atuação conjunta com outros empresários do pólo, embora todas afirmarem uma
necessidade de convergência para a cooperação. Os entrevistados apontaram como
principais benefícios de uma possível cooperação entre empreendimentos uma melhoria
na competição com outros pólos calçadistas brasileiros e a troca de informações entre si
(45,6%), menores preços de insumos através da compra conjunta (27,2%) e maior
preparação ao enfrentamento de crises econômicas (27,2%). Conclui-se que decorridos
sete anos da oficialização do APL pelo sindicato local, ainda é incipiente o grau de
sinergia entre seus membros, possivelmente causado pela valorização do aspecto
econômico, frente ao social conforme apontam os resultados da pesquisa.
Palavras-chave: Arranjo produtivo local (apl), atuação conjunta, cooperação, indústria
calçadista
The relations of cooperation and the Local Productive Arrangements: an approach
to the crowded shoe Nova Serrana / MG
Abstract: This study aimed to analyze the cooperative relations between the
businessmen of the Local Productive Arrangement (LPA) from Nova Serrana / MG,
with a view to identifying the characteristics of the participants, their degree of joint
action and what the main goals of this. We used the method of interviews with 22
owners of companies producing footwear based in Nova Serrana/MG. The results show
that 90.9% of companies surveyed do not have any kind of joint action with other
entrepreneurs from the pole, while all claiming a need for convergence for cooperation.
The interviewees pointed out the main benefits of a possible cooperative ventures
between an improvement in competition with other poles brazilian footwear and
exchange of information between them (45.6%), lower input prices through joint
purchasing (27.2%) and higherpreparation for coping with economic crises (27.2%). It
is concluded that after seven years of APL by formalizing the local union, is still
incipient degree of synergy between its members, possibly caused by the appreciation of
the economic, the social front as show the search results.
125
Introdução
A cidade de Nova Serrana situada na região centro-oeste do estado de Minas
Gerais se destaca no cenário nacional por ser responsável por 55% da produção
brasileira em calçados esportivos, concentrando aproximadamente 850 empresas
diretamente relacionadas com a produção calçadista. Nesse contexto desde o ano de
2002 por iniciativa do sindicato da indústria local (Sindinova) houve a formalização de
um Arranjo Produtivo Local (APL).
Concordando com Carneiro et al. (2007, p.8) se percebe a necessidade de
cooperação para o êxito de um APL, pois segundo esse os arranjos produtivos são
aglomerações de empresas localizadas em um mesmo território, que apresentam
especialização produtiva e mantêm algum vínculo de articulação, interação, cooperação
e aprendizagem entre si e com atores locais como governo, associações empresariais,
instituições de crédito, ensino e pesquisa.
Na visão de Ichikawa e Silva (2005, p.18): “os APL's emergem (...),
possibilitando ações conjuntas e mecanismos de coordenação da atividade produtiva.
Sumarizando, com a proximidade geográfica e especialização setorial (aglomeração
industrial) surge à eficiência coletiva (economias externas e cooperação)”. Relacionado
a essa observação se pode inferir que as empresas de um clusteri, muito além da
proximidade física e uma grande interação com os agentes locais, devem apresentar
uma mesma vocação econômica. Verifica-se então que os clusters podem promover de
forma eficiente uma maior competitividade das empresas nele inseridas pelo fato de que
através de ações conjuntas as mesmas podem obter ganhos de produtividade,
capacitação da mão-de-obra local e ainda ganhos na conjuntura comercial uma vez que
contribui para sua promoção
No contexto, fato essencial para a consolidação de um arranjo produtivo local, é
a formação de uma grande rede, onde os aspectos sociais não sejam deixados de lado
frente aos econômicos, “crucial para o estabelecimento de APL‟s é a presença de uma
“cola social”, oriunda de redes de relacionamentos entre empresas semelhantes e entre
estas e seus fornecedores e provedores de serviços locais” (VASCONSELLOS et al.
2005, p.19).
Com efeito, observa-se que um estudo com o objetivo de analisar a atual
situação do APL calçadista de Nova Serrana/MG é sobremaneira pertinente diante do
fato salientado por Suzigan (2005, p. 111), “são ainda fracas as relações de cooperação
entre fabricantes de tênis na esfera produtiva. Prevalece o espírito de competição na
disputa por mercados com base na diferenciação e no desenvolvimento de produtos
próprios”, com relação a cooperação no pólo.
Procura-se assim com este trabalho identificar a atual situação do APL calçadista
de Nova Serrana/MG, caracterizando a evolução do processo de cooperação entre os
atores do arranjo, bem como os reflexos econômico/sociais em seus empreendimentos,
para isso esse artigo se divide em três partes, além dessa introdução. A seguir é
apresentada a metodologia que norteou a coleta dos dados deste estudo, os resultados e
por fim a conclusão.
Metodologia
Para a coleta dos dados optou-se pelo uso de entrevistas semi-estruturadas, de
respostas abertas, visto que nesse tipo o pesquisador dispõe de uma relativa
126
flexibilidade e as questões não precisam seguir a ordem prevista no guia e poderão ser
formuladas novas questões no decorrer da entrevista” (Mattos, 2005, p. 825). Nesse
sentido durante os dias 20 e 28 de julho de 2009 foram realizados os trabalhos de campo
que contou com uma amostra de 22 empresários escolhidos de forma aleatória, todos
proprietários de empresas do setor calçadista, localizadas no município de Nova
Serrana/MG principal cidade do APL.
No universo da pesquisa das 22 empresas, representadas por seus proprietários,
houve uma divisão em três segmentos segundo o volume de fabricação diária de
calçados. Nesse sentido as indústrias que produziam uma quantidade maior que
1000(um mil) pares de calçados/dia, foram classificadas como empresas de grande
porte, aquelas com produção entre 500(quinhentos) e 1000(um mil) pares/dia, empresas
de médio porte e as de produção inferior a 500(quinhentos) pares/dia como micro e
pequenas empresas. Assim, a amostra está composta, segundo os segmentos,
representada por 9% grandes empresas, 72,8% empresas de médio porte e 18,2% micro
e pequenas.
Resultados
Num primeiro momento buscou-se analisar a evolução da cooperação entre os
empresários do pólo, visto que, conforme salientava Santos et al. (2003, p. 187), “os
níveis de cooperação dentro do cluster (referindo-se ao APL de Nova Serrana) ainda são
fracos quando comparados a outras experiências”, assim conforme dados evidenciados
pela figura 1, pode-se perceber ainda uma baixa cooperação decorridos 5 anos das
afirmações do autor ora citado.
Fonte: dados da pesquisa
Figura 1 – Existência de atuação conjunta entre os empresários de Nova Serrana/MG
Diante desse fato analisa-se numa abordagem preliminar, a percepção dos
empresários quanto à importância de uma convergência à cooperação. Nesse sentido,
todos os entrevistados manifestaram acreditar em possibilidades de ganhos caso isso
acontecesse. Declararam também que a cooperação poderia contribuir para a diminuição
de externalidades nas suas empresas, conforme demonstra a Figura 2. As respostas
foram agrupadas em três principais apontamentos com relação às vantagens da atuação
conjunta entre os membros entrevistados daquele APL.
127
Fonte: dados da pesquisa
Figura 2 – Benefícios apontados de uma possível convergência a cooperação
Tendo em vista esses dados, se percebe três grandes vertentes quanto à
percepção dos entrevistados no sentido de uma possível cooperação. A primeira delas
faz ênfase em obter maior importância quando comparados com outros pólos produtivos
calçadistas (ver Figura 2), considerando principalmente fatores econômicos, em
contraste com a afirmação de Haddad (2003, p.12):
“Celso Furtado afirma que o verdadeiro desenvolvimento é, principalmente,
um processo de ativação e canalização de forças sociais, de melhoria da
capacidade associativa, de exercício da iniciativa e da criatividade. Portanto,
trata-se de um processo social e cultural, e apenas secundariamente
econômico”.
Adicionalmente, os membros do APL de Nova Serrana/MG ressaltam também,
como possíveis vantagens da atuação conjunta, outros fatores econômicos como a
compra de insumos e uma maior preparação ao enfrentamento de crises econômicas. A
respeito deste último, as respostas faziam referência a intervenções em áreas políticas,
através do chamado lobby, relacionando-o principalmente as importações de calçados
de outros países e na busca por políticas governamentais de incentivos ao setor.
Outros fenômenos, que são inegavelmente característicos de aglomerações
empresariais, não foram mencionados principalmente as relacionadas a articulação e
coordenação de ações conjuntas ao desenvolvimento de capital social, o que sentaria
bases sólidas para o funcionamento de um verdadeiro cluster. As respostas dos
entrevistados, no entanto, colocam as eventuais vantagens econômicas individuais em
destaque, sem perceber a importância do desenvolvimento de outros tipos de
articulações e de cooperação na construção da competitividade sistêmica do APL. Nesse
sentido nota-se a discordância entre os objetivos almejados pelos entrevistados e a
realidade evidenciada pelos mesmos.
As respostas obtidas se identificariam mais com ações próprias de uma entidade
de defesa de classe que com aquelas de um APL.
128
Conclusões
Conclui-se que não houveram grandes mudanças ocorridas, no empresariado
calçadista de Nova Serrana/MG, quanto às questões referentes ao nível de atuação
conjunta ao longo dos sete anos de criação do APL, fato que poderia ser explicado pelo
exclusivo foco em questões econômicas e vantagens individuais, sem considerar outros
aspectos relacionados com a gestão coletiva do cluster e a interação social,
imprescindíveis para a efetiva consolidação desse tipo de arranjo.
O que se pode inferir por essa análise preliminar é que enquanto não houver um
delineamento de ações voltadas à gestão social do APL calçadista de Nova Serrana/MG,
os índices de cooperação e atuação conjunta entre os atores daquele pólo não se
mostrarão efetivas para consolidar um verdadeiro cluster, e manter-se-ão ao nível de
cooperação superficial e/ou de eventuais vantagens obtidas por pressão da representação
patronal. Por se tratar de uma análise preliminar, observa-se que surgem grandes
temáticas a novas pesquisas mais aprofundadas.
Literatura Citada
CARNEIRO, C.M.B. A redução dos custos no uso de arranjos produtivos locais na
gestão competitiva da logística de suprimentos. Estudo de caso no APL leite e Sol
da cadeia produtiva do leite no Estado do Ceará. XIV Congresso Brasileiro de
Custos. Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis/SC. Brasil. 2007.
HADDAD, P.R. Cultura local e associativismo. Texto de referência da palestra sobre
cultura local e associativismo – 27/10/2004. Seminário do BNDES sobre arranjos
produtivos locais.. Belo Horizonte/MG, Brasil. SET 2005.
ICHIKAWA, R.A.; SILVA, R.S. Arranjos produtivos locais: uma alternativa de
empreendimento rumo ao desenvolvimento sustentável. In: CADERNO DE
ADMINISTRAÇÃO. V. 13, N.2, p.13-23, JUL/DEZ.2005.
MATTOS, P.; LINCOLN, C.L. A entrevista não-estruturada como forma de
conversação: razões e sugestões para sua análise. Rev. adm. Publica; v.39(4):823847, JUL/AGO 2005.
SANTOS, G.A.G.; DINIZ, E.J.; BARBOSA, E.K. Aglomerações, arranjos produtivos
locais e vantagens competitivas locacionais. BNDEs.. Disponível em:
http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Institucional/Publicacoes/Consult
a_Expressa/Tipo/Seminarios/200410_4.html. Versão Preliminar, 2003.
SUZIGAN, W.; FURTADO, J.; GARCIA, R.; SAMPAIO, S.E.K. A indústria de
calçados de Nova Serrana/MG. Nova Economia. 15(3), SET/DEZ 2005.
VASCONCELOS, F.C. de; GOLDSZIMIDT, R.G.B.; FERREIRA, F.C.M. Arranjos
Produtivos. Revista GV Executivo. FGV. V.4. Rio de Janeiro 2005.
129
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
3.4. Ações ambientais desenvolvidas pelas cooperativas agropecuárias da região do
Alto Jacuí – Rio Grande do Sul1
Glenio Piran Dal Magro3, Rosani Marisa Spanevello2, Letícia Paludo Vargas3, Daniel
Arruda Coronel4
1
Parte de um projeto de pesquisa desenvolvido pelo primeiro autor no Curso de Zootecnia.
Professora Adjunta do Departamento de Zootecnia - Centro de Educação Superior Norte, Universidade
Federal de Santa Maria.
3
Estudante de Graduação em Zootecnia - Centro de Educação Superior Norte, Universidade Federal de
Santa Maria.
4
Doutorando em Economia Aplicada DER-UFV e Bolsista de Doutorado do CNPq.
2
Resumo: Este trabalho objetiva caracterizar as atuações ambientais realizadas pelas
cooperativas agropecuárias nas respectivas comunidades de abrangência. Os dados
foram coletados entre abril e maio de 2009, em cooperativas agropecuárias localizadas
na região do Alto Jacuí – Rio Grande do Sul. Como resultados observam-se que todas
as cooperativas realizam alguma ação específica quanto ao recolhimento de embalagens
de agrotóxicos e o que é mais importante ainda, dão um correto destino as mesmas.
Concomitantemente, algumas cooperativas realizam de modo mais específico, ações
sociais ou educacionais de cunho ambiental para alguns grupos específicos dentro da
área de abrangência da respectiva cooperativa.
Palavras–chave: ações, cooperativas agropecuárias, meio ambiente
Environmental Actions developed of the agropecuary cooperatives of the Alto
Jacuí region – Rio Grande do Sul
Abstract: This paper aims at characterizing actions cattle raising cooperatives in their
communities covered. The data were collected between April and May 2009, within
cattle raising cooperatives located in Alto Jacuí region – Rio Grande do Sul. As result, it
was that all cooperatives perform some specific action regarding the collection of
pesticide containers and what is more important, give them a correct destination. In
addition, some cooperatives hold more specifically, educational or social activities of
environmental nature for some specific groups within the coverage area of their
cooperative.
Key Words: actions, cattle raising cooperatives, environment
Introdução
O cooperativismo moderno como conhecemos, possui origem na Revolução
Industrial do século XVIII através da revolta das classes menos favorecidas (operários e
camponeses) por mudanças econômicas e sociais. Historicamente, a partir de 1907, em
Minas Gerais e Rio Grande do Sul, foram organizadas as primeiras cooperativas rurais
através de grupos de produtores rurais (OCB, 2010a).
130
Assim, o ramo agropecuário, segundo a OCB (2010b), é composto por
cooperativas de produtores rurais ou agropastoris e de pesca, cujos meios de produção
pertencem ao cooperado.
Na Legislação Brasileira12, as cooperativas são tidas como sociedades de pessoas
com forma e natureza jurídica próprias, de natureza civil, não sujeitas à falência,
constituídas para prestar serviços aos associados. Deste modo, confere-se a elas uma
dupla proposta de trabalho que as difere das demais organizações, abrangendo o lado
econômico e social (SCHMITZ, 2003, p. 198).
Similarmente Abrantes (2004) apud Freitas et al (2009) relata que uma
cooperativa tem objetivos sociais e econômicos a fim de integrar pessoas na busca de
uma vida melhor.
Quanto a presença das cooperativas agropecuárias na região do Alto Jacuí – Rio
Grande do Sul, Dal Magro, Spanevello e Coronel (2009) relatam que na sua maioria
teve início na década de 1950, possuindo “uma relação histórica com a cultura do trigo
na região, através da união e mobilização local de grupos de agricultores produtores de
trigo (principal produto da época)”.
Na busca por atender aos associados e construir uma base socioeconômica sólida
e competitiva, as cooperativas agropecuárias promovem ações diversas que visam o
desenvolvimento do local onde se inserem. Dentre estas ações, podem-se citar ações
sociais, educativas, comunicativas, ambientais, entre outras, destinadas a todos os
públicos, mas principalmente aos seus associados.
Neste trabalho objetiva-se caracterizar uma destas ações: as ações ambientais
realizadas pelas organizações cooperativas do ramo agropecuário nas respectivas
comunidades de abrangência.
Material e Métodos
Este material compreende parte de um projeto de pesquisa que abrange a
caracterização das cooperativas agropecuárias do norte gaúcho. Neste trabalho, foram
selecionadas cooperativas agropecuárias filiadas a Federação das Cooperativas
Agropecuárias do Rio Grande do Sul - FECOAGRO, fundada em 1997, sendo
considerada uma entidade representativa e defensora dos interesses do cooperativismo
agropecuário estadual (FECOAGRO, 2009). No total, são 62 cooperativas (entre
singulares e centrais) distribuídas em sete regiões do estado: região Leste, Sul,
Sudoeste, Central, Missões, Noroeste e Alto Jacuí.
A região escolhida para a pesquisa é a região do Alto Jacuí, que possui oito
cooperativas singulares. Os dados, primeiramente foram coletados entre abril e maio de
2009 nos sites das cooperativas e posteriormente através da aplicação de um
questionário aos representantes de cada cooperativa.
O questionário caracteriza-se por questões semi-estruturadas de múltipla escolha,
que definem a caracterização da cooperativa quanto às atividades ou ações ambientais
realizadas pela cooperativa a comunidade em geral.
Para a construção deste trabalho, são usados cinco questionários respondidos
pelos dirigentes das seguintes cooperativas: Cooperativa Tritícola Taperense Ltda 5
No Brasil, a Lei 5764/71 define a Política Nacional de Cooperativismo, institui o regime jurídico das
sociedades cooperativas e dá outras providências.
131
COTRISOJA, com sede no município de Tapera; Cooperativa Agrícola Mista General
Osório Ltda - COTRIBÁ, sediada em Ibirubá; Cooperativa Agrícola Soledade Ltda COAGRISOL, localizada em Soledade, Cooperativa Tritícola Sarandi Ltda –
COTRISAL, sediada em Sarandi; e a Cooperativa dos Agricultores de Chapada LtdaCOAGRIL, localizada em Chapada além das informações coletadas no site de cada uma
das três cooperativas.
Resultados e Discussão
A pesquisa realizada mostra algumas características peculiares na atuação das
cooperativas agropecuárias da região riograndense do Alto Jacuí. Os resultados
abordam de modo geral, o manejo das embalagens de agrotóxicos, principalmente pela
preocupação existente por parte das cooperativas a respeito dos problemas que essas
embalagens podem causar, através do mau uso ou inadequado reaproveitamento das
mesmas.
Do mesmo modo, foram encontradas ações específicas relativas a alguns projetos
ambientais desenvolvidos nas respectivas cooperativas, sendo estes de cunho social ou
educacional, porém estão diretamente ligados ao tema ambiental desenvolvido.
A respeito do destino das embalagens de agrotóxicos, todas as cooperativas
possuem uma ação ou realizam o correto destino das embalagens, sendo que cada uma
tem um método de coleta e de funcionamento do seu programa.
De modo mais específico, a Coagril realiza o recolhimento das embalagens a cada
três meses, armazenando-as posteriormente em um depósito da cooperativa e após são
enviadas a central de recebimento de embalagens vazias de agrotóxicos (Cimbalagens).
Já a Coagrisol possui um trabalho diferenciado, pois realiza o recolhimento das
embalagens mensalmente e as envia para o depósito central da cooperativa, onde,
também são enviados posteriormente para a Cimbalagens, que prensam em fardos e
remetem para o Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (INPEV),
em São Paulo-SP, onde, por sua vez faz a industrialização e reaproveitamento dessas
embalagens de agrotóxicos.
A Cotribá, na região da matriz, faz o recolhimento diário das embalagens, onde há
um depósito temporário e posteriormente são enviadas a Cimbalagens, em Passo Fundo.
Nas outras regiões o recolhimento das embalagens é realizado anualmente na forma de
“campanhas itinerantes”. Após o recolhimento, são enviadas para as filiais, onde existe
um credenciamento entre as regiões e remetidas a central.
Similarmente, a Cotrisal faz o recolhimento duas vezes ao ano, e é feito,
posteriormente, a reciclagem das embalagens. A Cotrisoja realiza o recolhimento das
embalagens uma vez por mês, onde são depositados na central, para posteriormente
serem enviadas a uma empresa de reciclagem das embalagens.
Quanto aos projetos de cunho social ou educacional através de ações ambientais,
três, das cinco cooperativas que responderam o questionário na região gaúcha do Alto
Jacuí, realizam algum tipo de projeto. A Coagrisol desenvolve o Projeto Terra Verde,
realizado na forma de conscientização dos participantes a respeito de assuntos que
envolvem o reflorestamento e a preservação do meio ambiente. Ainda, a mesma, realiza
o Programa Reciclar entre os colaboradores, onde são desenvolvidos trabalhos de
conscientização sobre o descarte e a separação de lixo e materiais que podem ser
utilizados na reciclagem.
132
Já a cooperativa Cotribá realiza o Projeto Escola no Campo, que é direcionado aos
alunos das 5ª séries dos municípios de Ibirubá, Fortaleza dos Valos, Quinze de
Novembro, Boa Vista do Incra e Santa Bárbara do Sul. Esse projeto é realizado
anualmente, desde 2005, com cerca de 640 alunos participantes. Envolve atividades
relacionadas às questões ambientais, onde em cada ano é abordado um assunto
diferente, mas sempre relacionado ao meio ambiente. O principal objetivo deste projeto
é de ter a criança como um agente multiplicador de seu aprendizado, repassando
informação que venham de encontro ao seu crescimento, e principalmente, que essas
crianças tenham consciência da problemática das questões ambientais. O projeto que é
promovido em parceria com a empresa Syngenta, almeja que as crianças sejam
multiplicadoras de conhecimento dentro da família e da comunidade.
A Cotrisal possui como projetos ambientais, uma área de reflorestamento de 120
hectares e utiliza biodigestores na sua unidade de produção de leitões (UPL), onde faz a
captação do gás metano e a transformação em energia elétrica.
Conclusões
A partir da análise dos dados, percebe-se que todas as Cooperativas entrevistadas
preocupam-se com os problemas que o mau uso ou reaproveitamento incorreto das
embalagens de agrotóxicos podem causar. E, além do recolhimento das embalagens, as
cooperativas ainda possuem um trabalho de correto destino final destas embalagens,
enviando-as aos órgãos responsáveis, o que reflete na conscientização tanto do
associado e da própria cooperativa quanto aos cuidados com o meio ambiente.
A respeito dos projetos sociais ou educacionais através de ações ambientais, três
das cinco cooperativas realizam algum tipo de programa, que vai desde a realização de
atividade de reflorestamento até a própria conscientização ambiental das futuras
gerações. Portanto, independente do trabalho ou projeto realizado, por menor que sejam
as ações ambientais realizadas, mas elas sempre possibilitam o desenvolvimento do
senso crítico e protetor ambientalmente.
Literatura Citada
DAL MAGRO, G.P.; SPANEVELLO, R.M.; CORONEL, D.A. Características sócioeducativas das cooperativas agropecuárias da região do Alto Jacuí – Rio Grande do Sul.
In: 1º Simpósio Brasileiro de Agropecuária Sustetável, 2009, Viçosa-MG. Anais...
Viçosa: SIMBRAS, 2009. CD-ROM.
FEDERAÇÃO DAS COOPERATIVAS AGROPECUÁRIAS DO RIO GRANDE DO
SUL – FECOAGRO. Cooperativas. In: Http://www.redeagro.com.br/sig/home/
modulo.textos.php?link=11 (acesso em 17 de agosto de 2009).
FREITAS, A. F. de, et al. A Prática institucional da Participação em Cooperativas: Uma
Estratégia de Organização do Quadro Social. In: 47º Congresso da Sociedade Brasileira
de Economia, Administração e Sociologia Rural, 2009, Porto Alegre-RS. Anais... Porto
Alegre: SOBER, 2009. CD-ROM.
ORGANIZAÇÃO DAS COOPERATIVAS BRASILEIRAS. História: linha do tempo.
In: Http://www.ocb.org.br/SITE/ocb/historia.aspf (acesso em 14 março 2010a).
133
ORGANIZAÇÃO DAS COOPERATIVAS BRASILEIRAS. Ramos: agropecuário. In:
Http://www.ocb.org.br/site/ramos/agropecuario_conceito.asp (acesso em 10 maio
2010b).
SCHMITZ, V. R. COMUNICAÇÂO NAS COOPERATIVAS: seus diferentes públicos
e instrumentos. In: SCHNEIDER, J. O. Educação cooperativa e suas práticas.
Brasília: Editora da UNISINOS, 2003. Parte II, p. 195-205.
134
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
3.5. O Cooperativismo como alternativa para o alcance da sustentabilidade
Cristina Caetano de Aguiar1, Felippe Silva Martins2, Bruno Costa Fonseca3, João Paulo
Silva Martins4
1
Estudante de graduação em Bacharelado de Cooperativismo.
Estudante de graduação em Bacharelado e Licenciatura de Educação Física.
³Estudante de graduação em Bacharelado de Cooperativismo.
4
Estudante de graduação em Gestão Ambiental.
2
Resumo: Este artigo visa estabelecer conceitos sobre desenvolvimento sustentável e
cooperativismo, numa tentativa de promover a associação destes temas. Desta forma
busca-se apresentar por meio deste estudo, que o cooperativismo pode ser visto como
uma alternativa viável e real para o atingimento da sustentabilidade, pois sua doutrina
não foca apenas o desenvolvimento econômico, mas busca o equilíbrio entre o
econômico, social e ambiental.
Palavras-chave: cooperativismo, desenvolvimento sustentável, sustentabilidade
Cooperatives as an alternative to the achievement of sustainability
Abstract: This article aims to establish sustainable development concepts and cooperativism in
an attempt to promote the Association of these themes. Thus sought to introduce through this
study, that cooperatives can be seen as a real and viable alternative to the achievement of
sustainability because its doctrine not only focuses on economic development, but seeks the
balance between the economic, social and environmental.
Key Words: cooperatives, sustainable development, sustainability
Introdução
A temática do presente trabalho procura contribuir para o entendimento dos
conceitos de desenvolvimento sustentável e cooperativismo, bem como a relação entre
eles. Iremos perceber que esses conceitos possuem características em comum, pois
ambos demonstram uma preocupação em manter uma relação de equilíbrio entre os
agentes que interagem economicamente e socialmente no mesmo ambiente, observamos
que existe uma preocupação em que os interesses coletivos se sobreponham aos
interesses individuais. Como objetivo desse trabalho, procuramos mostrar que o
cooperativismo pode ser visto como uma alternativa para alcançarmos a
sustentabilidade.
Material e Métodos
Esse estudo se caracteriza por pesquisas em materiais didáticos relacionados ao
assunto em questão, inicialmente foi realizada uma revisão de literatura sobre o tema,
seguido da revisão de publicações em periódicos, livros e bancos de dados on line.
135
Resultados e Discussão
Os conceitos de desenvolvimento sustentável e sustentabilidade são recentes e
surgem do conceito original de desenvolvimento. Ainda não existe um consenso
inquestionável do que seria o desenvolvimento sustentável, mas podemos perceber que,
vem aumentando a discussão sobre o que seria a sustentabilidade. As primeiras
discussões acerca dos conceitos sobre desenvolvimento sustentável e sustentabilidade
surgiram oficialmente no final da década de 1960, quando os primeiros reflexos do
desequilíbrio ocasionado pelo modelo econômico vigente tornaram-se mais
perceptíveis. Diante desse desequilíbrio, iniciou-se um processo de reflexão, onde
surgiram questionamentos a respeito dos conceitos e crenças sobre o progresso e o
desenvolvimento, baseado no contínuo crescimento das demandas de mercado,
demonstrando com nitidez que, o modelo capitalista não considerava todos os aspectos
exigidos em termos econômicos, sociais e ambientais.
De acordo com o Relatório Brundtlan da Organização das Nações Unidas de
1987, desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento que satisfaz as necessidades do
presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras satisfazerem as suas
próprias necessidades.
Percebemos que existe dificuldade em colocar esse conceito em prática, pois
ainda não se tem um consenso do que seria o desenvolvimento, várias são as idéias
existentes. Segundo MALUF (2000), mais do que nunca estamos colocados frente ao
desafio de atribuir sentido, talvez mais de um sentido, à noção de desenvolvimento
quando aplicada aos processos sociais, em particular ao se tratar do desenvolvimento
econômico.
Para SEN (2000), o desenvolvimento requer que se removam as principais
fontes de privação de liberdade: pobreza e tirania, carência de oportunidades
econômicas e destituição social sistemática, negligência dos serviços públicos e
intolerância ou interferência excessiva de Estados repressivos.
Outra dificuldade encontrada para colocar o conceito de desenvolvimento
sustentável em prática seria entender o que vem a ser a sustentabilidade, alguns
enxergam esse conceito sob a ótica econômica, outros acreditam que sustentabilidade
seria a preocupação com o meio ambiente, mas afinal, o que seria sustentabilidade?
Sustentabilidade significa sobrevivência, entendida como a perenidade dos
empreendimentos humanos e do planeta. Por isso, o desenvolvimento sustentável
implica planejar e executar ações sejam elas de governos ou de empresas, sejam elas
locais, nacionais ou globais, levando em conta simultaneamente as dimensões
econômica, ambiental e social.
Cooperativismo
O cooperativismo surgiu nos meios populares como instrumento de defesa e de
emancipação dos trabalhadores como resposta a situação precária a qual vinha passando
na época da Revolução Industrial, fome, doenças e excessivas jornadas de trabalho.
A procura de uma solução para os problemas sociais, os socialistas denominados
utópicos (Robert Owen, Charles Fourier e Louis Blanc) imaginaram a criação de
136
colônias auto-suficientes onde os membros das colônias não seriam apenas os próprios
comerciantes, mas também os próprios produtores e empregados. Os socialistas
utópicos contribuíram para a formação da concepção cooperativa para definição dos
princípios básicos da organização e do funcionamento das instituições cooperativas
modernas. O pensamento socialista utópico dos séculos XVII e XVIII expressa o desejo
de um mundo novo, de uma nova organização social alicerçada na solidariedade entre
os homens e na justiça social.
A primeira cooperativa surge em torno de 1884 na cidade de Rochdale, na
Inglaterra por iniciativa de um grupo de 28 tecelões que fundaram uma cooperativa de
consumo denominada Rochdale Society of Equitable Pioners, cujo objetivo principal
era encontrar formas para melhorar sua situação econômica e social.
No Brasil o cooperativismo surge logo no início do período da colonização
portuguesa, passando por um período de quase esquecimento durante o período da
escravidão. Dados atualmente indicam que a história do cooperativismo no Brasil
começa, de fato, com a fundação da Sociedade Cooperativa Econômica dos
Funcionários Públicos de Ouro Preto, em 27 de outubro de 1889, a mais antiga
cooperativa no Brasil.
O cooperativismo se difere de outras organizações por possuir doutrinas e
princípios próprios, que são as linhas orientadoras através das quais as cooperativas
levam os seus valores à prática. Ao todo são sete princípios que definem os valores do
sistema cooperativista. Em sua mais recente formulação, em 1995, pela Aliança
Cooperativa Internacional – ACI, os princípios cooperativistas passaram a ser:
1º Princípio: Adesão Voluntária e livre
2º Princípio: Gestão Democrática Pelos Membros
3º Princípio: Participação Econômica dos Membros
4º Princípio: Autonomia e Independência
5º Princípio: Educação, formação e informação
6º Princípio: Intercooperação
7º Princípio: Interesse pela Comunidade
Cooperativismo e sustentabilidade
Por sua definição, valores e princípios, o sistema cooperativista é considerado
como um importante instrumento para a dinamização da economia de um país seja pela
sua relação junto a outros agentes de mercado ou pela política de distribuição de
resultados que possibilita uma melhor distribuição equitativa de renda.
No contexto social, as cooperativas através das políticas aprovadas pelos seus
cooperados, atuam de forma a garantir a sustentabilidade da comunidade em que está
inserida. O respeito pelo meio ambiente e pelas demandas sociais devem ser
preocupações permanente, por isso diversas cooperativas possuem projetos sociais que
visam ajudar o desenvolvimento da comunidade a qual faz parte, logo o conceito de
responsabilidade é historicamente exercido pelo sistema cooperativista desde a sua
origem, através da aplicação dos princípios e valores do cooperativismo nos quais as
preocupações com as dimensões econômica, social, cultural, política, ambiental e
137
espacial são orientadas para a manutenção do bom funcionamento da rede de
relacionamentos dos agentes envolvidos.
Segundo SCHNEIDER (2004), quando a cooperativa assume seu papel social de
empresa cidadã, ela pode contribuir nos três planos do desenvolvimento sustentável;
a) A primeira importante exigência de um desenvolvimento sustentável é contribuir
em prol de um desenvolvimento econômico eficiente, eficaz e adequado à
realidade local e regional. Pela sua exigência de ser uma empresa racional,
disciplinada, eficiente e ao mesmo tempo transparente perante o quadro social e
o público em geral, ela tem todas as condições para contribuir em prol do
desenvolvimento econômico. Ao fazê-lo, ela promove melhores condições de
renda e de vida para seus associados e indiretamente para a comunidade local, e
com isso, constitui-se num dos melhores mecanismos de distribuição social e
regional da renda. Portanto, a maior parte da riqueza gerada numa região retorna
à mesma, graças à lógica de funcionamento das cooperativas, que faz o
associado participar dos resultados do empreendimento, lá onde ele vive e
trabalha. O desenvolvimento capitalista, ao contrário, além de concentrar social
e regionalmente a renda e o poder, desmantela, desestrutura as economias locais
e regionais;
b) Um segundo requisito do desenvolvimento sustentável é a promoção de um
desenvolvimento socialmente justo e eqüitativo. O cooperativismo quer e pode
contribuir para fazer avançar a cidadania, nas suas dimensões econômica, social,
política e cultural. Pelo fato de exercer a democracia no campo social e
sobretudo econômico, a cooperativa pode constituir-se numa das melhores
escolas de democracia e de participação. É a expansão da cidadania/democracia
do campo meramente político-eleitoral, para o campo econômico e social;
c) A outra dimensão do desenvolvimento local e sustentável é a constante
vigilância em prol da preservação do meio ambiente. O empenho do movimento
cooperativo a favor de um desenvolvimento sustentável requer uma análise
séria, para ver como inserir esta orientação nas estratégicas de futuras produções
do setor primário.
Como podemos observar, o cooperativismo possui uma estreita relação com o
desenvolvimento sustentável, podendo ser visto como uma alternativa para o alcance da
sustentabilidade.
Conclusão
Estamos vivendo uma época repleta de incertezas em relação ás verdadeiras
condições futuras de vida em nosso planeta, que nos remete a uma reflexão para a busca
de soluções e práticas sustentáveis capazes de proporcionar o surgimento de um novo
modelo desenvolvimentista.
Este artigo buscou demonstrar que através da doutrina cooperativista, ainda há
alternativas para alcançarmos a sustentabilidade. Não queremos dizer que o
cooperativismo seja imune á falhas, porém o seu exemplo retrata com fidelidade que
ainda há alternativas que priorizem outros aspectos de desenvolvimento além do
econômico.
Para atingir este novo estágio de desenvolvimento, denominado de
desenvolvimento sustentável, será necessário uma transformação no pensamento da
138
sociedade mundial, devemos substituir o modelo de características individualistas, para
um modelo sustentado por preocupações coletivas. Será necessário também que o
modelo deixe de focado unicamente nas questões econômicas e evolua para um novo
modelo capaz de priorizar o desenvolvimento social e o respeito ambiental em
proporções equilibradas.
Literatura Citada
MALUF, R. Atribuindo sentido(s) à noção de desenvolvimento econômico. Revista
Estudos Sociedade e Agricultura, 2000.
SEN, A.K. Desenvolvimento como liberdade. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
SCHNEIDER, J.O. Globalização, Desenvolvimento Local Sustentável e
Cooperativismo. In: Unisinos: Anais do III Encontro Latino-americano dos
Pesquisadores em Cooperativismo, 2004.
139
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
3.6. O Estado e sua relação com a Economia Solidária no Brasil
Bruno Costa da Fonseca¹, Cristina Caetano de Aguiar¹
¹Estudante de Graduação em Bacharelado de Cooperativismo.
Resumo: Este estudo tem por objetivo contribuir com a crescente reflexão que têm sido
feita em torno da chamada Economia Solidária e sua relação com o Estado, na criação
de políticas públicas proeminente ao fomento da mesma. No Brasil, como forma de
resistência à marginalização social provocado pelo elevado índice de desemprego dos
últimos anos, a Economia Solidária ganha força sob a forma de cooperativas,
associações, empresa de autogestão, e clube de trocas. A partir da compreensão do
Estado enquanto agente local e propulsor da Economia Solidária foram considerados
alguns aspectos importantes da gestão de Luiz Inácio Lula da Silva, primeiro candidato
eleito pelo Partido dos Trabalhadores (PT) à Presidência da República. Conclui-se a
importância do Estado na impulsão do movimento de Economia Solidária como
alternativa ao excludente capitalismo.
Palavras--chave: cooperativas, economia solidária, estado
The State and its relation with the Solidary Economy in Brazil
Abstract: This study it has for objective to contribute with the increasing reflection that
they have been made around the call Solidary Economy and its relation with the State,
in the creation of public politics prominent to the promotion of the same one. In Brazil,
as form of resistance to the social marginalização provoked by the raised index of
unemployment of the last years, the Solidary Economy gains force under the form of
cooperatives, associations, company of self management, and club of exchanges. From
the understanding of the State while local and propeller agent of the Solidary Economy
had been considered some important aspects of the management of Luiz Inácio Lula Da
Silva, first elect candidate for the Party of Trabalhadores (PT) to the Presidency of the
Republic. Importance of the State in the impulse of the movement of Solidary Economy
as alternative to the exculpatory capitalism is concluded it.
Key Words: cooperatives, solidary economy, state
Introdução
A Economia Solidária (ES) surge no Brasil no começo do século XX, trazido
pelos emigrantes europeus. Segundo Singer (2002) a ES tomou principalmente a forma
de cooperativas de consumo nas cidades e de cooperativas agrícolas no campo.
Entretanto em décadas mais recentes, emergiram grandes redes de hipermercados que
conquistaram os mercados e provocaram o fechamento da maioria das cooperativas de
consumo. Por outro lado, as cooperativas agrícolas se expandiram e algumas se
transformaram em grandes empreendimentos agroindustriais e comerciais. Porém
nenhuma dessas cooperativas eram ou é autogestionárias. Sua direção e as pessoas que
as operam são assalariadas. Por isso não se pode considerá-las parte da ES.
140
Com a desindustrialização do país ocorrida em consequência da crise social das
décadas de 1980 e de 1990, milhões de postos de trabalho foram perdidos, acarretando
desemprego em massa e acentuada exclusão social, fazendo com que ressurgisse a ES
no Brasil. Ela assumiu em geral a forma de cooperativa ou associação produtiva, sob
diferentes modalidades mas sempre autogestionárias
Movimentos como a Cáritas, entidade ligada à Conferência Nacional dos Bispos
do Brasil (CNBB), a Associação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de
Autogestão e Participação Acionária (ANTEG), o MST e as Incubadoras Tecnológicas
de Cooperativas Populares (ITCPS) auxiliaram efetivamente na difusão da ES pelo
Brasil.
Entretanto, foi na primeira gestão do governo Luiz Inácio Lula da Silva (Lula)
que ocorreu a primeira grande intervenção do Estado com a criação da Secretaria
Nacional de Economia Solidária (SENAES), ligada ao Ministério do trabalho e
Emprego (TEM) e que teve como principal desafio, realizar o Programa de Economia
Solidária em Desenvolvimento.
As ações do Estado em direção á ES representam uma alternativa para o
desenvolvimento local, vez que este movimento cria um processo de emancipação
social e coletiva que contribui para a geração de ocupação e renda gerando reflexos na
sociedade como um todo.
Dessa forma, com um olhar sobre a atuação do Estado enquanto agente
propulsor da ES, desenvolveu-se o presente trabalho baseado em uma pesquisa
bibliográfica e que também é resultado de pesquisas feitas em um grupo de estudo
referentes ao tema em questão.
Material e Métodos
Esse estudo faz parte dos resultados alcançados em pesquisas sobre a Economia
Solidária no Brasil. Foi realizado uma revisão de literatura sobre o tema, proporcionada
por livros, artigos científicos e bancos de dados on line.
Resultados e Discussão
O Estado possui importante papel de propulsar a ES por meio de políticas
publicas que dispunham de instrumentos e mecanismos adequados para o
reconhecimento e o fomento deste setor.
Em 2002 o partido dos trabalhadores (PT) conseguiu eleger pela primeira vez o
seu candidato a presidente Luiz Inácio Lula da silva que tinha como plataforma de
campanha o Pacto Social. De acordo com Alcântara (2005) “O Pacto Social é o
mecanismo que, segundo o Governo eleito, permitiria articular sociedade civil
organizada, empresários e trabalhadores, para que os projetos mais urgentes fossem
implementados da forma esperada, sem nenhum impedimento devido a problemas
políticos.
No programa “Vida Digna no Campo: desenvolvimento rural, política agrícola,
agrária e de segurança alimentar” proposta pelo PT, é possível perceber o
cooperativismo como importante articulador do desenvolvimento. Segundo estimativa
do PT 40% da população economicamente ativa trabalha no campo ou na agroindústria.
Sendo assim, justifica-se a preocupação com a agricultura como um mecanismo de
141
geração de emprego e renda. O cooperativismo assume um papel fundamental, desde a
distribuição dos recursos até a comercialização da produção, a implementação e difusão
da agroindústria.
Outro importante programa seria “Mais e Melhores Empregos-2002.” Uma das
propostas deste documento é promover é um “desenvolvimento sustentável e solidário.”
Esse desenvolvimento segundo o programa, só ocorrerá se for implantado um “Plano
Nacional de Emprego e Trabalho” que constituiria em várias ações em setores
diferentes como: Reforma Agrária; Política e de Fortalecimento da Agricultura
Familiar; Estímulo ao Empreendedor Rural; Investimento em Infra-Estrutura; Habitação
Popular; Sistema Público de Emprego e Trabalho; Políticas de Redistribuição da Renda;
Inserção Social; Programa de Estágio e primeiro Emprego para Jovens; Formalização de
Empresas e Empregos; Estímulo à Industria do Turismo.Pode-se perceber a participação
direta da ES em pelo menos três itens citados: a Reforma Agrária, o Estímulo ao
Empreendedor Rural e a Inserção Social.
Já em 2003, atendendo a um pedido da II Plenária Nacional do GT Brasileiro de
Economia Solidária constituinte do Fórum Social Mundial, foi criada a Secretária
nacional de Economia Solidária (SENAES) dirigida pelo economista Paul Singer, que
têm como objetivo desenvolver um trabalho de informação e organização do
movimento nacional, além de promover políticas de incentivo aos empreendimentos do
cooperativismo e articulação com outros órgãos do governo, para pensar propostas de
melhoramento e expansão das políticas já existentes. (Alcântara 2005)
Em mapeamento feito pela SENAES (Tabela1) verifica-se um crescimento de
46,17% de empreendimentos solidários em apenas dois anos, reflexo de políticas
públicas de incentivo a ES.
Tabela 1- Número de Empreendimentos Solidários (ES) em 2005 e 2007 no Brasil
Região
N° de ES em 2005
N° de ES em 2007
Nordeste
6.549
9.498
Sul
2.592
3.583
Sudeste
2.144
3.912
Norte
1.844
2.656
Centro-Oeste
1.785
2.210
Total
14.954
21859
Consideramos ainda que falta a este trabalho investigar mais a fundo quais as
ações do Estado na promulgação de decretos, discursos, medidas provisórias, projetos
de lei, comunicados e outros pertinentes a regulamentação da ES. É importante
evidenciarmos a multiplicação dos empreendimentos solidários e a inserção social que
esta acarreta por meio da tentativa de institucionalização da ES nesta última década.
142
Conclusão
Acreditamos que o aumento da interação entre os movimentos sociais e o
Estado, que por meio de políticas públicas facilite uma maior articulação, fatalmente
culminará numa expansão dos empreendimentos solidários autogestionários no Brasil.
Com isso, é possível dar acesso a uma camada que sofre pela exclusão social
possibilitando uma inserção no mercado de trabalho de forma alternativa ao capitalismo
vigente.
Não é possível quantificar as pessoas beneficiadas direta e indiretamente com o
aumento dos Empreendimentos Solidários no Brasil, de forma que, estas iniciativas vêm
sendo um grande artifício para o desenvolvimento do nosso país, propiciando uma
melhoria na qualidade de vida dos indivíduos.
Agradecimentos
Agradecemos primeiramente a Deus que é o centro de nossas vidas e a ele
compete a vontade de perseverar mesmo em meio a tantas dificuldades. Agradecemos
também aos nossos familiares e amigos que tanto nos apóiam em busca de nossos
sonhos.
Literatura Citada
SINGER, P. Introdução à economia solidária. São Paulo: Editora Fundação Perseu
Abramo, 2002.
ALCÂNTARA, F.H.C. Economia Solidária: o dilema de sua institucionalização. São
Paulo: Arte e Ciência, 2005.
143
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
3.7. Gestão de cooperativas sob a ótica dos cooperados: um Estudo de Caso
Edson Arlindo Silva1, Vagner Rosalem2, Fabiana Ferreira da Silva3, Valderí de Castro
Alcântara4
1
Doutor em Administração e Professor do Departamento de Administração da UFV.
Mestre em Administração e Professor da Universidade Federal de Goiás – Campus de Catalão.
3
Graduanda em Administração pela Universidade Federal de Viçosa – Campus de Rio Paranaíba.
4
Graduando em Administração pela Universidade Federal de Viçosa – Campus de Rio Paranaíba.
2
Resumo: Este estudo objetivou compreender a visão dos cooperados em relação à
cooperativa em que estão inseridos, no que se refere ao significado de uma organização
cooperativista, além de buscar identificar suas principais reivindicações, sugestões,
expectativas e problemas. Para isso utilizou-se de um estudo de caso em uma
cooperativa de granjeiros situada no Estado de Minas Gerais, e o resultado do trabalho
foi a constatação de que existe a necessidade de uma revisão de valores e princípios por
parte dos membros da cooperativa, que devem buscar um maior equilíbrio entre seus
interesses particulares e seus interesses coletivos comuns enquanto cooperados. A falta
de capacitação profissional dos gestores da cooperativa revela-se como propulsor da
perda de motivação, da falta de participação e do baixo comprometimento por parte dos
cooperados. As considerações finais do estudo apontam para a necessidade de promover
no seio da cooperativa, a educação cooperativista de forma contínua.
Palavras–chave: Gestão de Cooperativas; Cooperados; Educação Cooperativista.
Cooperative management from the perspective of cooperative: a Case Study
Abstract: This study aimed to understand the perspective of the cooperated on the
cooperative where they are associates with reference to what a cooperative organization
means. Furthermore, it sought to identify their principal demands, suggestions,
expectations and problems. In order to achieve this goal, a case study was carried out at
a grangers‟ cooperative located in the state of Minas Gerais. The results show that the
cooperative members need to revise their values and principles so as to reach a better
balance between their individual interests and their common collective interests. The
lack of qualification of the cooperative managers becomes the triggering factor for the
associates‟ loss of motivation, lack of participation and low commitment. The final
thoughts on the subject point to the necessity to foster continuous cooperative education
in the cooperative environment.
Key Words: Cooperative management; Cooperative associates; Cooperative education.
Introdução
No contexto da globalização uma das maneiras da empresa rural se aproximar do
consumidor final e de se associar aos outros produtores é por meio da criação de
cooperativas, que possam promover a aproximação do produtor junto ao consumidor, e
que tem por propósito fortalecer os pequenos produtores.
144
Uma cooperativa bem representada, composta por cooperados atuantes e
empenhados através da participação, com visão coletiva e acima de tudo, como
principais defensores do seu negócio, tende a contribuir para uma melhor gestão do que
é produzido. Nesse contexto, a cooperativa “é uma associação de pessoas que se
predispõem a trabalhar juntas e de forma contínua, possuem um ou mais objetivos em
comuns” (RIOS, 1998, p. 53).
Este trabalho tem por objetivo identificar a visão dos cooperados em relação à
cooperativa em que estão inseridos. Mais especificamente pretende analisar a
compreensão dos cooperados e dirigentes a respeito do significado de uma organização
cooperativa; identificar as principais reivindicações, sugestões e expectativas dos
cooperados e identificar os principais problemas detectados pelos cooperados na sua
cooperativa.
Material e Métodos
A pesquisa que se encontra em evidência é fruto de um Estudo de Caso em uma
cooperativa de granjeiros, caracterizando-se como uma abordagem exploratória. De
acordo com Yin (2001), um estudo de caso é uma investigação empírica que investiga
um fenômeno contemporâneo dentro do seu contexto da vida real, especialmente
quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos. Assim,
ressalta-se que o presente trabalho foi realizado na Cooperativa dos Granjeiros, que está
localizada em um pequeno município de Minas Gerais. Na coleta de dados/informações
utilizaram-se como técnicas a observação participante, aplicação de questionário semiestruturado junto aos cooperados, entrevistas informais junto aos funcionários e
dirigente e análise de documentos e material bibliográfico (GIL, 1999).
O questionário semi-estruturado foi aplicado para dez por cento (10%) dos
cooperados, procurando-se, na medida do possível e de acordo com a disponibilidade
dos cooperados, buscar uma amostra diversificada para que o resultado fosse o mais
representativo possível. Sendo assim, fazem parte da amostra cooperados de pequeno,
médio e grande porte.
Resultados e Discussão
Fundada há mais de vinte e cinco anos, a Cooperativa dos Granjeiros é uma
empresa tradicional em Minas e no Brasil, atuando na produção e comercialização de
frangos de cortes em geral.
A maioria das propriedades faz parte do município onde a cooperativa está
sediada. Essas propriedades têm como atividade principal o frango de corte (85,71%
dos cooperados) sendo o restante divido igualmente em gado leiteiro e gado de corte
(7,14% cada atividade). Já a atividade secundária das respectivas propriedades é
destinada à suinocultura 35,71%, a criação de gado leiteiro (28,57%), 14,29% referente
ao frango de corte e gado de corte, e hortaliças e produção para o consumo ficam em
7,14% cada um. Em relação ao tamanho da propriedade 42,86% dos entrevistados
possuem propriedades entre 61 e 100 hectares.
Os cooperados que fazem parte da Cooperativa dos Granjeiros, em média, há 17
anos. A maioria dos entrevistados é do sexo masculino. Em relação a atividades do
proprietário tem-se que 57,14% dos cooperados se dedicam somente as atividades rurais
do ramo agropecuário e 42,86%, além de trabalhar com a agropecuária têm atividades
145
no comércio da cidade, sendo estas em sua maioria não ligadas diretamente ao meio
rural como loja de material elétrico, indústria e supermercado.
Grau de participação e contato do cooperado com a cooperativa
No que se refere às formas de gestão da cooperativa, as propriedades em sua
maioria são administradas apenas pelo proprietário (64,29%), em seguida foi observado
que 21,43% das propriedades são administradas pelos proprietários e familiares, e
14,29% das propriedades pelos proprietários juntamente com um administrador
contratado e nenhuma propriedade é deixada sob a responsabilidade única de um
administrador contratado.
A maioria dos cooperados (78,57%) mantém contato direto com a cooperativa,
14,29% dos contatos são feitos por familiares do proprietário e apenas 7,14% dos
contatos são de responsabilidade de empregado contratado. A pesquisa mostra que os
cooperados estão sempre falando com os funcionários e dirigentes da cooperativa:
64,29% marcaram, em relação a sua frequência, a opção muita, 21,43% respondeu
alguma e 14,29% disseram que sua frequência é muito baixa chegando a nenhuma.
A respeito da quantidade de vezes que os cooperados vão até a cooperativa foi
visto que metade dos entrevistados (50%) respondeu muitas vezes, e o restante
respondeu algumas vezes (35,71%) e raramente (14,29%). Não houve nenhum caso de
alguém que ainda não tenha visitado a cooperativa.
A presença dos cooperados em assembléias e reuniões foi demonstrada da
seguinte forma: 57,14% marcaram alta, 28,57% média, e 14,29% baixa. Para os
cooperados que responderam que faltam bastante as assembléias e reuniões foi
perguntado a razão de sua ausência e 66,67% destes disseram que foi por falta de tempo
e o restante ficou dividido em desinteresse pela cooperativa (16,67%) e receio de
conflitos (16,67%).
Percepção do cooperado sob a ótica da importância da cooperativa no cotidiano
Quando foi pedido ao entrevistado o seu conceito de cooperativa, várias foram as
respostas, no entanto a maior parte, consideram-na como “uma união”. Sobre a
autogestão a resposta foi positiva, a maioria é a favor dos próprios cooperados
administrando a cooperativa. As perguntas relacionadas aos papéis que os cooperados
exercem dentro da organização cooperativa tiveram em suas respostas uma certa
insegurança por parte dos entrevistados. Parece haver um desconhecimento sobre os
papéis, de dono, funcionário, fornecedor, cliente e fiscal, desempenhados por aqueles
que fazem parte de uma cooperativa.
Dos cooperados questionados, 78,57% estão cientes dos papéis que exerce na
cooperativa e 21,43% ainda não se conscientizaram. Na questão de ser dono da
instituição os cooperados estão totalmente divididos em relação ao sentimento de
propriedade da cooperativa, 50% respondeu que não e 50% sim.
Os cooperados parecem estar bem claros de sua importância em relação ao
fornecimento de produtos à cooperativa (92,86%). Os cooperados foram unânimes em
relação à importância de sua fidelidade para com a cooperativa.
146
Panorama dos discursos dos cooperados em relação à estrutura-funcional
Os cooperados foram questionados sobre a sua satisfação em relação à
cooperativa e um número considerável (71,43%) se encontram, no momento, satisfeitos,
apenas 7,14% estavam insatisfeitos. Dos cooperados questionados, 71,43% negam que a
cooperativa proporcione aos seus integrantes uma educação cooperativa.
Foram feitas algumas afirmações sobre a cooperativa e o cooperado marcou a que
melhor expressava sua opinião, onde 1 (Discordo totalmente), 2 (Discordo em parte), 3
(Concordo em parte) e 4 (Concordo totalmente).
A Tabela 1 nos mostra de forma bem clara a opinião dos cooperados em relação a
alguns assuntos de interesses coletivos comuns. A maioria concorda totalmente com as
afirmações, apenas no caso em que exposto o problema na hora de defender os
interesses individuais é que houve respostas mais diferenciadas. Os próprios membros
da cooperativa afirmam que seus companheiros desconhecem os princípios
cooperativistas e o estatuto de sua cooperativa. Eles também percebem que falta mais
instruções sobre cooperativismo e que deveria haver mais assembléias. Apesar de
constatado que a presença dos associados nas assembléias/reuniões é alta, os próprios
cooperados consideram que ainda não é a presença esperada.
Tabela 1 - Tabulação dos resultados
Afirmação
4
3
2
1
A cooperativa deve atuar na educação de seu cooperado de
forma a desenvolver o cooperativismo para criar um homem
mais solidário e participativo.
71,43%
28,57%
0%
0%
Grande parte dos associados de nossa cooperativa não conhece
os princípios que regem o cooperativismo.
85,71%
0%
7,14%
7,14%
Grande parte dos associados de nossa cooperativa não conhece
o Estatuto da cooperativa.
85,71%
7,14%
0%
7,14%
È complicado para o cooperado ser ao mesmo tempo dono e
usuário da cooperativa. Às vezes, fico em dúvida para quem vou
puxar o interesse, se é para o meu próprio negócio ou para a
cooperativa.
50%
14,29%
0%
35,71%
No geral, as assembléias de nossa cooperativa são pouco
freqüentes e costumam apresentar baixa participação dos
associados.
71,43%
14,29%
7,14%
7,14%
Não é bom para a cooperativa quando grupos se apropriam do
poder e ficam muito tempo na diretoria.
78,57%
17,29%
0%
7,14%
O cooperado que não cumpre o seu papel com a cooperativa e
age de maneira oportunista deveria sofrer alguma punição por
isto. Em caso extremo deveria ser até excluído da cooperativa.
85,71%
14,29%
0%
0%
A autogestão, ou seja, os cooperados administrando a
cooperativa têm funcionado bem e deve continuar dessa forma.
64,29%
7,14%
21,43%
7,14%
Fonte: Dados da pesquisa.
Conclusões
A pesquisa revelou claramente a falta de informação dos cooperados sobre
conceitos básicos do cooperativismo, fruto da ausência de um efetivo processo de
147
Educação Cooperativista, além de deixar claro que estes desconhecem seu verdadeiro
papel perante a cooperativa. A grande maioria dos cooperados negou que a cooperativa
proporcione aos seus integrantes uma educação cooperativa, o que reforça a conclusão
de que a desinformação é generalizada.
Os cooperados, em sua maioria, encaram a cooperativa como uma empresa
comercial qualquer, sendo que participam muito pouco das decisões tomadas em
assembléias. Outro fator a ser considerado é que existe a falta de união entre os
cooperados, e a existência de um grupo de associados tidos como privilegiados,
alimenta ainda mais a desunião e a efetiva cooperação entre os associados.
O cooperativismo tem mais um desafio, resgatar a cultura cooperativista que vem
sendo esquecida pelos seus membros, a união esta dando lugar aos interesses
particulares. Os cooperados estão perdendo a motivação, a participação e o
comprometimento com a cooperativa. Surge também a necessidade de capacitação
profissional dos executivos e profissionais das cooperativas, bem como dos cooperados.
Literatura Citada
GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999.
RIOS, L.O. Cooperativas brasileiras: manual de sobrevivência & crescimento
sustentável. São Paulo: editora. STS, 1998. 109p.
YIN, R.K. Case study research: desing and methods. EUA: Sage Publications, 1990.
148
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
3.8. Características gerais dos Empreendimentos Econômicos Solidários do Estado
de Minas Gerais (EES-MG)1
André Cézar de Souza2, Valderí de Castro Alcântara3, Jader Fernandes Cirino4
1
Trabalho oriundo de projetos de pesquisa financiados pelo CNPq (PIBIC) e pela UFV (PIBEX).
Graduando em Administração pela Universidade Federal de Viçosa – Campus de Rio Paranaíba.
3
Graduando em Administração pela Universidade Federal de Viçosa – Campus de Rio Paranaíba.
4
Doutor em Economia, professor do Departamento de Administração da Universidade Federal de Viçosa.
2
Resumo: A Economia Solidária representa uma possibilidade real e concreta de um
novo modelo de organização da produção e das relações sociais de produção que se
pauta na cooperação e na solidariedade e não mais nas relações de competição
darwinistas. No Estado de Minas Gerais tais empreendimentos se apresentam como
ferramentas poderosas de fomento a economia, sendo fundamental para a geração de
trabalho e renda principalmente para a população de baixa renda. O presente trabalho
tem por objetivo demonstrar as Características gerais dos Empreendimentos
Econômicos Solidários do Estado de Minas Gerais através de dados secundários
oriundos do Sistema Nacional de Informações em Economia Solidária.
Palavras–chave: Economia Solidária; Empreendimentos solidários, Minas Gerais
General Characteristics of the Enterprises Economic Solidarity of the State of
Minas Gerais (EES-MG)
Abstract: The Solidarity Economy is a real, concrete possibility of a new model of
production organization and social relations of production which is guided in
cooperation and solidarity and not more in the relations of Darwinian competition. In
the State of Minas Gerais such ventures are presented as powerful tools for promoting
the economy and is central to the generation of employment and income particularly for
low-income population. This paper aims to demonstrate the general characteristics of
the Solidarity Economy Enterprises of the State of Minas Gerais using secondary data
from the National Information System in Economy
Key Words: Solidarity Economy; Enterprises supportive, Minas Gerais
Introdução
Fica evidente a cada dia que o modo de produção e organização capitalista não é
efetivo para suprir as necessidades básicas da sociedade. Pautado na lógica da
competitividade e da individualidade acarreta uma desigualdade crescente e quase
sempre irreversível (SINGER, 2003).
Nesse sentido a Economia Solidária surge como uma crítica e uma alternativa ao
sistema capitalista. Assim sendo, para o pleno funcionamento da sociedade acredita-se
que é necessário que a cooperação, ao invés da competição, esteja impregnada na
consciência, no pensamento e nas ações dos indivíduos na sociedade; esta Economia
149
Solidária surge inevitavelmente dentro do próprio modelo de produção/organização
dominante que é o capitalismo, já que “Mesmo sendo hegemônico, o capitalismo não
impede o desenvolvimento de outros modos de produção porque é incapaz de inserir
dentro de si toda população economicamente ativa.” (SINGER, 2003, p. 86).
No Brasil, a Economia Solidária se expandiu a partir de instituições e entidades
que apoiavam iniciativas associativas comunitárias e pela constituição e articulação de
cooperativas populares, redes de produção e comercialização, feiras de cooperativismo e
Economia Solidária, e de outras formas alternativas de comercializar e produzir.
Atualmente, a Economia Solidária tem se articulado em vários fóruns locais e regionais,
resultando na criação do Fórum Brasileiro de Economia Solidária.
No Estado de Minas Gerais tais empreendimentos se apresentam como
ferramentas poderosas de fomento a economia, sendo fundamental para a geração de
trabalho e renda principalmente para a população de baixa renda.
O presente trabalho tem por objetivo demonstrar as Características gerais dos
Empreendimentos Econômicos Solidários do Estado de Minas Gerais através de dados
secundários oriundos do Sistema Nacional de Informações em Economia Solidária
(SIES).
Material e Métodos
No presente trabalho os dados foram obtidos no site do Ministério do Trabalho e
Emprego dentro do Sistema Nacional de Informações em Economia Solidária (SIES),
os resultados mais relevantes foram apresentados e discutidos.
Resultados e Discussão
O estado de Minas Gerais em 2007 possuía 1.236 Empreendimentos Econômicos
Solidários (EES-MG) cadastrados no Sistema Nacional de Informações em Economia
Solidária (SIES). Destaca-se que dos 1.236 Empreendimentos Solidários presentes em
Minas Gerais, 7% se encontravam em implantação e 93% já estavam
funcionando/operando. Outra característica é que do total destes empreendimentos
maior parte são empreendimentos urbanos (56%), 32% rurais e apenas 12% rurais e
urbanos simultaneamente.
Analisando os municípios de Minas Gerais, o que possui o maior número de EES
é Belo Horizonte com 160, sendo seguido por Contagem que possui 45 e Montes Claros
36 EES.
Figura 1: Evolução dos Empreendimentos Econômicos Solidários Gerais.
Fonte: Sistema Nacional de Informações em Economia Solidária, 2007.
150
Através da Figura 1 é possível observar a evolução dos Empreendimentos
Econômicos Solidários no estado de Minas Gerais, sendo que o grande salto, como se
observa, foi do ano 2000 (quando existiam 440 EES) para 2007 quando passou a existir
(1.213 EES), ou seja, de 2000 a 2007 foram criados 773 novos EES; observa-se um
crescimento exponencial dos EES presentes nos estado de Minas Gerais.
Os dados disponíveis indicam que a forma de organização dos Empreendimentos
Econômicos Solidários de Minas Gerais são diversas, apesar de a maioria ser “grupos
informais”, o que nos leva a observar que apenas 40% dos EES possuem CNPj, ou seja,
são reconhecidos legalmente.
Figura 2: Formas de organização dos EES-MG.
Fonte: Sistema Nacional de Informações em Economia Solidária, 2007.
Em relação aos principais motivos que levaram a criação dos EES-MG, observase que o motivo predominante é a abertura dos EES como alternativa ao desemprego
(42,73%), isto segundo Singer (2000) é explicado pelo forte e crescente desemprego na
década de 90, advindo de políticas neoliberais do governo Fernando Henrique Cardoso.
A Figura 3 apresenta a quantidade de EES em relação a quantidade de
participantes em cada um dos empreendimentos, como se observa a maior parte dos
EES-MG são aqueles formados por até 10 pessoas (41%), 20% por grupos de 11 a 20
pessoas, 25% por grupos de 21 a 50 pessoas e apenas 14% por grupos com mais de 50
pessoas, através destes dados observamos a dificuldade destes grupos em formar
cooperativas já que segundo a Lei das cooperativas (Lei 5.764/71) elas devem possuir
no mínimo 20 membros, sendo assim 61% destes EES são impedidos de se organizarem
em forma de cooperativas.
Figura 3: Número de participantes por EES-MG.
Fonte: Sistema Nacional de Informações em Economia Solidária, 2007.
Dos que afirmaram possuir sede tem-se que 537 empreendimentos declararam ser
o local de funcionamento cedido ou emprestado, 407 ser próprio, 135 ser alugado, 98
151
disseram não possuir sede e 24 afirmaram ser ela ocupada ou arrendada. É possível
observar que do total que declarou ter ou não sede e que especificou a situação da sede,
apenas 34% delas pertencem ao empreendimento e isso se deve principalmente e
dificuldade de financiamento para adquirir imóveis.
As 20 atividades econômicas que mais aparecem nos EES-MG estão presentes na
tabela abaixo, sendo que a atividade mais desenvolvida é o comércio varejista. É
possível observar que as principais atividades giram em torno do comercio varejista,
devido a produção em baixa escala, e atividades relacionadas a confecção e agricultura
(afinal 32% dos EE-MG são rurais).
Dessa forma temos os principais produtos gerados por tais empreendimentos:
Confecções; Artigos de cama, mesa e banho; Leite, Farinha de mandioca; bolsas, panos
de prato; bijuterias, milho, doces; artesanato; hortifrutigranjeiros; tapetes, alface, café;
entre outros. Estes produtos em sua maioria possuem pouco valor de mercado o que
impacta diretamente no valor do faturamento de tais empreendimentos, o que será
analisado posteriormente.
Da mesma forma tem-se se os principais insumos/matérias-primas mais usados
pelos empreendimentos: Aviamentos para costura (linha, agulha entre outro); tecidos;
adubo; sementes; tintas; mandioca; papeis diversos; açúcar; leite; madeira; argila entre
outros e assim é possível observar qual a origem dos insumos/matérias-primas utilizadas
pelos EES-MG, as quais em sua maioria (555) são adquiridos de empresas privadas.
No que se refere ao faturamento médio mensal dos EES-MG os resultados são:
304 empreendimentos afirmaram obter faixa de faturamento mensal até R$ 1.000,00;
297 entre R$ 1.001,00 e R$ 5.000,00; 83 entre R$ 5.001,00 e R$ 10.000,00; 105 entre
R$ 10.001,00 e R$ 50.000,00; 14 entre R$ 50.001,00 e R$ 100.000,00 e apenas 16 EES
apresentou valores acima de R$ 100.000,00. Ainda tem-se que 415 EES afirmaram
faturamento igual a R$ 0,00 e 2 não declararam seu faturamento médio mensal.
Analisando de forma geral temos que aproximadamente 36% dos EES-MG
declararam faturamento mensal igual a R$ 0,00. Analisando dentre aqueles que
declaram ter algum faturamento médio mensal observa-se que 73% dos mesmos obteve
faturamento até R$ 5.000,00, sendo 37% até R$ 1.000,00. Apenas 4% obtém
faturamento acima de R$ 50.001,00.
Conclusões
O presente trabalho se propôs a apresentar com base em dados oriundos do SIES,
as principais características dos Empreendimentos Econômicos Solidários do estado de
Minas Gerais.
O trabalho contribui de forma a elucidar certas características destes
empreendimentos e a importância dos mesmos para a geração de trabalho e renda para a
população mineira. Tais empreendimentos constituem uma opção para aqueles que
vivem as margens do sistema de apropriação do excedente denominado de capitalismo;
sendo que estes se organizam e assim criam e mantém formas alternativas de produção
e comercialização. As cooperativas, os clubes de trocas, as associações são exemplos.
Os dados revelam que houve um crescimento acelerado dos EES nas últimas
décadas, que os mesmos são em sua maioria grupos informais principalmente devido a
exigências legais para a formação de cooperativas e possuem rendimentos satisfatórios.
152
A Economia Solidária representa uma possibilidade real e concreta de um novo
modelo de organização da produção e das relações sociais de produção que se pauta na
cooperação e na solidariedade e não mais nas relações de competição darwinistas;
assim, enquanto os teóricos discutem os possíveis conceitos da Economia Solidária, os
Empreendimentos Econômicos Solidários mostram que realmente uma outra economia
acontece.
Literatura Citada
GAIGER, L.I. A economia solidária diante do modo de produção capitalista.
Cadernos do CRH (UFBA), UFBA – Salvador, v. 39, n. 39, p. 181-211, 2003.
SINGER, P. Introdução à Economia Solidária. São Paulo: Fundação Perseu Abramo,
2002.
SIES. Sistema Nacional de Informações em Economia Solidária. 2007. Disponível em:
http://www.mte.gov.br/ecosolidaria/sies.asp.
153
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
3.9. As práticas da governança corporativa em cooperativas agropecuárias
Alex dos Santos Macedo; Layon Carlos Cezar1
1
Estudante de graduação em Gestão de Cooperativas - UFV
Resumo: Este trabalho visa expor a importância de adotar as boas práticas de
governança corporativa para cooperativas. A relevância desse estudo concentra-se na
necessidade de disseminar para cooperativas agropecuárias as boas práticas de
governança corporativa, visto que, poderia possibilitar o crescimento e a sobrevivência
dessas organizações num ambiente competitivo, além de dotá-las de ferramentas que, de
fato, as tornem competidoras e ofereçam diferenciais nos produtos e serviços, tanto para
os cooperados como para os clientes. Dessa forma como objetivo principal buscou
entender os problemas que afetam as cooperativas na gestão social e empresarial e
posteriormente elencar as vantagens da governança corporativa. Como metodologia de
trabalho utiliza-se de pesquisa documental nos órgãos que ditam as regras de
governança corporativa, o INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA
CORPORATIVA – IBGC, bem como pesquisa nas publicações do Sistema
OCB/SESCOOP/MG e em livros que tratam sobre o assunto. Como resultado principal,
observamos que na teoria as boas práticas da governança corporativa aplicadas às
cooperativas promovem a transparência da administração, facilita o desenvolvimento e
a competitividade dos negócios e a pratica da autogestão como forma de continuidade
no mercado, só que para isto ocorrer, necessita de uma sintonia entre gestão empresarial
e gestão social.
Palavras–chave: gestão empresarial, gestão social e governança corporativa
Abstract: This work seeks to expose the importance of adopting the good practices of
corporate governance for cooperatives. The relevance of that study concentrates on the
need of disseminating for agricultural cooperatives the good practices of corporate
governance, because, it could make possible the growth and the survival of those
organizations in a competitive atmosphere, besides endowing them of tools that, in fact,
turn them competitors and offer differential in the products and services, so much for
cooperated them as for the customers. In that way as main objective looked for to
understand the problems that affect the cooperatives in the social and business
administration and later eldercare the advantages of the corporate governance. As work
methodology is used of documental research in the organs that dictate the rules of
corporate governance, the BRAZILIAN INSTITUTE OF CORPORATE
GOVERNANÇA - IBGC, as well as he/she researches in Sistema OCB/SESCOOP/MG
publications and in books that treat on the subject. As main result, we observed that in
the theory the good practices of the applied corporate governance the cooperatives
promote the transparency of the administration, it facilitates the development and the
competitiveness of the businesses and he/she practices her/it of the self-management as
continuity form in the market, only that for this to happen needs a syntony between
business administration and social administration.
Key Words: Business administration, social administration and corporate governance
154
Introdução
As cooperativas agropecuárias estão inseridas em um ambiente altamente
competitivo, além disso, possuem aspectos doutrinários e culturais que trazem a
dimensão social para sua gestão. E, com o atual nível de competitividade e
profissionalização das empresas agropecuárias brasileiras, surge uma tendência de
profissionalizar a gestão das cooperativas agropecuárias, pois nas cooperativas mais
simples prevalece o princípio da autogestão, onde os próprios cooperados eleitos como
dirigentes exercem a administração. Porém, nas cooperativas com maior complexidade
administrativa, e que atuam em mercados e atividades mais dinâmicas, a gestão passou
a requerer um maior grau de profissionalização e, portanto, investimento na qualificação
de seus associados-administradores, e na contratação de profissionais no mercado de
trabalho.
Logo, umas das justificativas para este estudo é que, em razão da importância
econômica e social das cooperativas pertencentes ao ramo agropecuário, a utilização de
das práticas de governança corporativa poderia possibilitar o crescimento e a
sobrevivência dessas organizações num ambiente competitivo, além de dotá-las de
ferramentas que, de fato, as tornem competidoras e ofereçam diferenciais nos produtos e
serviços, tanto para os cooperados como para os clientes.
Material e Métodos
Como material e métodos o estudo se baseia em pesquisa bibliográfica nos órgãos
que ditam as regras de governança corporativa, o INSTITUTO BRASILEIRO DE
GOVERNANÇA CORPORATIVA – IBGC, bem como pesquisa nas publicações do
Sistema OCB/SESCOOP/MG e em livros que tratam sobre o assunto.
Resultados e Discussão
Sabe-se que as economias das cooperativas estão situadas entre as economias
particulares dos cooperados, de um lado, e o mercado, de outro, aparecendo como
estruturas intermediárias, formadas em comum. Neste sentido, Bialoskorski Neto (2002)
defende que as cooperativas, não irão possuir, então, do ponto de vista econômico, uma
existência autônoma e independente dos seus membros, como ocorre nas sociedades de
capital, mas deverão existir como organização econômica intermediária, posta a serviço
da satisfação das necessidades das economias particulares dos cooperados.
Tida como diferenciada por sua dupla natureza, a sociedade cooperativa é cada
vez mais desafiada a atingir em sua gestão, ao mesmo tempo, objetivos de ordem
econômica e social, o que a torna, a priori, mais complexa e distinta de outras formas de
organização. No caso da gestão empresarial, a sua finalidade é gerir os interesses e
incentivos econômicos dos associados do empreendimento coletivo, além de preocupar
com questões estratégicas da administração, tais como os aspectos financeiros,
produção, marketing, recursos humanos, entre outros. Por outra parte, a gestão social
está voltada para o relacionamento da cooperativa com os associados, como forma de
envolvê-los na participação em processos decisórios, bem como qualificá-los para tal,
além de assegurar espaço nas instâncias participativas. Além disso, a existência da
gestão social, pautada por práticas de cooperação, é o que garantiria à sociedade
cooperativa cumprir com o seu imperativo democrático, base pela qual se diferencia
entre as demais organizações ditas capitalistas.
155
Neste sentido,... “o perigo está em acreditar que uma adequada gestão empresarial
pode substituir ou prescindir de uma adequada gestão social para obter a tão almejada
competitividade. Do mesmo modo, ênfase exclusiva na gestão social ou política das
cooperativas, sem uma clara preocupação com os aspectos empresariais, econômicos e
financeiros, também não fará das cooperativas a ferramenta de desenvolvimento
almejada, logo os mesmos devem caminhar lado a lado”. (AMODEO, 2006, p. 163)
Desta forma, uma das ferramentas adotas pelas cooperativas para garantir que a
gestão empresarial e a gestão social caminhem juntas, interligando cooperados e
cooperativas, diminuindo as assimetrias de informação entre propriedade (dono) e
controle (agente), é a governança corporativa, que tem como objetos básicos a
transparência, a equidade, a prestação de contas e responsabilidade corporativa.
Segundo o INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA –
IBGC governança corporativa é:
O sistema pelo qual as organizações são dirigidas, monitoradas e
incentivadas, envolvendo os relacionamentos entre proprietários,
Conselho de Administração, Diretoria e órgãos de controle. As boas
práticas de Governança Corporativa convertem princípios em
recomendações objetivas, alinhando interesses com a finalidade de
preservar e aperfeiçoar o valor da organização, facilitando seu acesso
a recursos e contribuindo para sua longevidade. (IBGC, 2009, p.19)
Nas cooperativas, a governança é o sistema pelo qual as cooperativas e
organizações cooperativistas são dirigidas e autogeridas. Envolve o relacionamento
entre Associados, Conselheiros Fiscais, Conselheiros de Administração, Diretores,
Executivos, Auditores, Colaboradores em geral, além do público externo. Para o
Sistema OCEMG/SESCOOP/MG (2005) a aplicação da boa prática de Governança
Corporativa na Cooperativa pode permitir a transparência da administração da
sociedade cooperativa; facilitar o desenvolvimento e a competitividade dos negócios
cooperativos; praticar a autogestão como forma de perenidade no mercado; obter
melhores resultados econômico-financeiros; proporcionar a melhoria da qualidade dos
serviços ao quadro social; aplicar a responsabilidade social como integração da
cooperativa com a sociedade civil.
Além do mais, as práticas de governança em cooperativas no entendimento do
SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM DO COOPERATIVISMO SESCOOP (2007) buscam cumprir a legislação em vigor (lei 5.764/71) bem como o
estatuto social; aprimorar sua competitividade e desempenho e estabelecer modelos
competitivos de gestão baseados nos princípios cooperativistas e nas boas práticas de
governança corporativa.
Neste sentido, é a administração da cooperativa visando à otimização de seus
resultados, a redução dos custos e sua maior eficiência e eficácia econômica. Tudo isto
exige mudanças na arquitetura organizacional da cooperativa, porém, não se deve
esquecer a importância das funções sociais da empresa cooperativa, nem sua estrutura
democrática e participativa.
Conclusões
Regras bem clara e um ótimo grau de transparência, eqüidade, prestação de contas
e responsabilidade corporativa que são os princípios básicos do código perante os
associados, são ações indiscutíveis que uma cooperativa deve manter objetivando dar o
156
respaldo necessário aos proprietários da sociedade. E, com isso conseguem reduzir a
infidelidade dos cooperados, minimizando os comportamentos oportunistas e
fortalecendo o relacionamento entre a cooperativa e cooperado, já que agora os mesmos,
têm as informações sobre o seu negócio, desta forma, reduz as assimetrias de
informação entre a propriedade e o controle da cooperativa. Outra vantagem é
diminuição dos custos de monitoramento, ou seja, o aumento da confiança entre os
agentes da transação devido a um maior fluxo de informação entre os agentes e
qualidade das mesmas melhoram o relacionamento e reduz os espaços de incerteza e
oportunismos.
Diante desta situação as práticas de governança corporativa objetivam contribuir
para o desenvolvimento perene e sustentável de qualquer entidade, independente do
porte ou da composição do capital. Além do mais, consegue fazer a organização social
da cooperativa, quando, dirigente, colaboradores, técnicos, líderes e cooperados
trabalham para respeitar os princípios da governança corporativa e a filosofia
cooperativista
Literatura Citada
AMODEO, Nora Beatriz Presno. Contribuições da educação cooperativista nos
processos de desenvolvimento rural. In:_________. Ruralidades, capacitação e
Desenvolvimento. AMODEO, Nora Beatriz Presno; ALIMONDA, Héctor. (orgs.).
Viçosa: Ed. UFV, 2006. 214p.
BIALOSKORSKI NETO, Sigismundo. Aspectos econômicos das cooperativas. Belo
Horizonte: Mandamentos, 2006, 222p.
I59c INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA. Código das
melhores práticas de governança corporativa. 4 ed. São Paulo, SP: IBGC, 2009. 73p.
ISBN: 978-85-99645-14-7
OCEMG/SESCOOP/MG. Manual de governança corporativa para cooperativas. 1 ed.
Jun. 2005, 28p.
SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM DO COOPERATIVISMO. Manual de
governança cooperativa. Brasília: SESCOOP, 2007, 80p. Série Gestão Cooperativa.
157
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
3.10. A comunicação como estratégia para a integração vertical em cooperativas
Alex dos Santos Macedo1, Diego Neves de Sousa2, Nora Beatriz Presno Amodeo3, José
Benedito Pinho4
1
Graduando em Gestão de Cooperativas – UFV.
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Extensão Rural – UFV.
3
Professora do Departamento de Economia Rural – UFV.
4
Professor do Departamento de Economia Rural – UFV.
2
Resumo: Este estudo visa analisar o papel da comunicação como estratégia para a
integração vertical em cooperativas. A relevância desse estudo decorre da importância
dada à comunicação como ferramenta de gestão e como suporte para realização de um
processo administrativo eficaz. Se bem realizada, a comunicação permitirá maior
entendimento e envolvimento entre cooperados (base) e dirigentes (cúpula), capaz de
proporcionar mecanismos de controle e tomada de decisão para atuar no mercado e
gerar vantagem competitiva para essas organizações. Dessa forma, buscou entender os
problemas causados pela ausência de comunicação na integração entre cooperativa
central e singular. Como metodologia de trabalho utilizou-se de pesquisa bibliográfica a
fim de conhecer as diferentes formas de contribuição científica sobre este assunto.
Como resultado, observou-se que a comunicação é uma ferramenta estratégica para
viabilizar melhorias na gestão empresarial e social das organizações cooperativas. Para
isso é também necessário o apoio da educação cooperativista, visto que a mesma
necessita cada vez mais de instrumentos de comunicação adequados à realidade do
cooperativismo.
Palavras–chave: Comunicação, cooperativas, integração vertical.
Abstract: This study seeks to analyze the paper of the communication as strategy for
the vertical integration in cooperatives. The relevance of that study elapses of the
importance given to the communication as administration tool and as support for
accomplishment of an effective administrative process. If well accomplished, the
communication will allow larger understanding and involvement among cooperated
(base) and leaders (cupola), capable to provide control mechanisms and socket of
decision to act at the market and to generate competitive advantage for those
organizations. In that way, he/she looked for to understand the problems caused by the
communication absence in the integration among central and singular cooperative. As
work methodology was used of bibliographical research in order to know the different
forms of scientific contribution on this subject. As result, was observed that the
communication is a strategic tool to make possible improvements in the business and
social administration of the cooperative organizations. For that it is also necessary the
support of the education cooperative, because the same needs appropriate
communication instruments more and more to the reality of the cooperative.
Key Words: communication, cooperative and vertical integration
158
Introdução
Para que as organizações cooperativas possam contribuir no desenvolvimento do
espaço onde se encontram, torna-se válido estudar as suas específicas estratégias de
gestão, em especial, a importância dada à comunicação como ferramenta de gestão e
como suporte para realização e transmissão dos processos de educação cooperativista
que primam pela educação, formação e informação dos produtores rurais cooperados,
no intuito de capacitá-los para assumirem a gestão e o controle democrático em tal
organização. Busca-se, então, na estrutura cooperativista uma comunicação de relações
simétricas e que proporcione melhor contato e intercâmbio entre os públicos
beneficiários, uma vez que este tipo de organização permite, em sua estrutura, uma
relação mais participativa e dialógica.
Assim, para que as mesmas consigam permanecer no mercado, é necessário
utilizar ferramentas que auxiliam no processo administrativo. Uma das ferramentas que
poderiam ser aplicada é a comunicação, que sendo bem realizada, permitirá maior
entendimento e envolvimento entre cooperados e cooperativa, capaz de proporcionar
mecanismos de controle e tomada de decisão para atuar no mercado que cada vez mais
está competitivo.
Logo, umas das justificativas para este estudo é que, em razão da importância
econômica e social das cooperativas, a utilização da comunicação poderia possibilitar o
crescimento e a sobrevivência dessas organizações num ambiente competitivo. Assim, a
escolha deste tema decorreu da carência de trabalhos nesta área. Embora o assunto seja
conhecido e muito discutido nas instâncias do cooperativismo (Universidades,
Organização das Cooperativas Brasileiras – OCB; Serviço Nacional de Aprendizagem
do Cooperativismo – SESCOOP) pouco resultados de pesquisa têm sido publicados.
Metodologia
Nos procedimentos metodológicos, o estudo baseou-se numa pesquisa
bibliográfica a fim de conhecer as diferentes formas de contribuição científica que se
realizaram neste campo de investigação.
Resultados e Discussão
Segundo Draheim (1955), um dos fatores que evidenciam a orientação social das
cooperativas está relacionado ao conjunto de relações existentes entre agentes que
compõem determinado segmento da sociedade que, por sua vez, tendem a configurar
um enraizamento social. Sendo assim, a rede de cooperação existente entre os diferentes
indivíduos envolvidos na cooperativa, se constitui antes mesmo da criação do
empreendimento econômico e pressupõe que, para seu fortalecimento, haja um eficiente
processo de comunicação, que permita maior entendimento e envolvimento entre
cooperados e cooperativa, capaz de proporcionar mecanismos de controle e tomada de
decisão para atuar no mercado.
Neste sentido, a comunicação é uma ferramenta estratégica para viabilizar
melhorias na gestão empresarial e social das organizações cooperativas, o que apresenta
desafios específicos quanto às técnicas utilizadas, sobretudo para evitar o surgimento de
barreiras que impeçam o desenvolvimento de fluxos de informação entre os públicos
que envolvem com o empreendimento cooperativo. Assim, por ser considerado um dos
maiores problemas encontrados na gestão cooperativa a educação cooperativista
159
necessita, cada vez mais, de eficientes instrumentos de comunicação adequados à
realidade do cooperativismo, como forma de impulsioná-la e assessorá-la na conquista
de melhores resultados.
Isso posto, compreende-se, segundo Frantz (1983), que a realização de um
trabalho de comunicação atrelado ao de educação cooperativista é um significativo
instrumento a serviço das cooperativas para a eliminação de conflitos, na medida em
que oferece aos associados mais possibilidades de articular seus interesses. Além disso,
a educação cooperativista tem exatamente o papel de atuar simultaneamente na gestão
social e na empresarial das cooperativas, com o objetivo de proporcionar melhorias
tanto no que se refere ao aumento da participação dos cooperados, quanto na
profissionalização da gestão, para fortalecer assim a estrutura organizacional específica
destas. Essa característica do processo comunicativo pode ser utilizada na capacitação
dos sócios, promovendo a participação dialógica e educativa, e na busca de equilíbrio
entre os interesses dos envolvidos na organização.
Dessa forma, a gestão da empresa cooperativa necessita utilizar alguns
instrumentos específicos de gestão que não estão somente, ou diretamente, voltados
para o empresarial, mas que são instrumentos que reforçam a gestão social, seja por
meio da educação cooperativa, de eficientes sistemas de comunicação intra-empresa e
com os associados, seja por meio de uma gestão interna do poder que conduza a uma
aprendizagem conjunta e a um funcionamento democrático, como afirma Amodeo
(2006).
No caso das cooperativas do ramo agropecuário, por exemplo, a informação
direcionada aos produtores rurais associados tende, muitas vezes, ser controlada pelos
dirigentes, já que os cooperados não se reconhecem como donos do empreendimento
econômico e os dirigentes, por serem representantes legais do quadro social, têm
maiores possibilidades de controlar as informações e alinhá-las, assim, aos seus próprios
interesses. O fato é que esta situação aumenta o risco de comportamentos oportunistas,
pois os associados que não têm vez na própria cooperativa não se comprometerão com a
fidelização.
Diante desse argumento, verifica-se que a deficiente realimentação de
informações e de comunicação tem dificultado não só no que diz respeito à cooperativa
e o seu quadro social, mas também no fluxo de informações das cooperativas singulares
com sua cooperativa Central. Além das inúmeras mudanças no mercado, que se
configura cada vez mais marcado pela competição, as cooperativas estão tendendo a
formar alianças estratégicas com outras do mesmo setor a fim de manterem e/ou
expandirem sua participação no mercado, formando em conjunto uma organização de
segundo grau, que é denominada de Central. Dessa forma, a busca por maior eficiência
e eficácia é que tem provocado a predominância de estruturas centralizadas.
Neste sentido, Gimenes (2004) salienta que o cenário da atual economia mundial
apresenta-se para as cooperativas sob a forma de uma permanente contradição, qual
seja, a de manter uma empresa competitiva, capaz de enfrentar multinacionais de grande
porte que conquistam seus mercados e, ao mesmo tempo, atender às necessidades dos
seus associados, mas nem sempre podendo fazê-lo eficientemente. Formam-se, assim,
estruturas verticalizadas, que permitam eficiências de escala e de escopo, onde as
decisões nas organizações superiores (cooperativa central) estão sustentadas por
instâncias de decisão também das bases (cooperativas sócias e associados das
cooperativas singulares filiadas à central). Geralmente, os critérios de decisão das
centrais requerem conhecimento sobre o complexo agroindustrial, enquanto o
160
conhecimento das bases está focado nas questões atinentes à produção primária. Assim,
existem dois raciocínios distintos que devem ser harmonizados, o global e o local, ou
melhor, a produção industrial e a produção primária, para o qual a comunicação passa a
ter papel fundamental.
Desse modo, as cooperativas centrais precisam gerir economicamente seus
negócios, vinculando estrategicamente as cooperativas singulares, mas também
viabilizar de forma adequada a gestão social, com consulta, participação e decisão junto
ao quadro de associados. No entanto, observa-se na prática a predominância de
interesses econômicos da Central sobre os associados acerca da indústria e do mercado
de seus produtos, pareceria que as centrais se convertem em um fim em si mesmas.
Conclusões
No que se refere ao modelo de gestão das Centrais Cooperativas do ramo
agropecuário, geralmente elas gerenciam uma agroindústria sofisticada, que concorre no
mercado com as principais transnacionais do segmento, o que demanda não só capital,
mas também, planejar estratégias globais, decisões bem informadas e, principalmente,
de produtores que forneçam matéria prima de qualidade e nas condições que a
cooperativa necessita para atender seus mercados. Porém, esses produtores se
relacionam com as cooperativas singulares e não diretamente com a Central, o que
exige dessas um papel essencial no processo de transmissão da comunicação.
Desta forma, deve ser repensada uma adequada forma de relacionar e gerir o
modelo Central-Singular e entender como se estruturam os fluxos de informação na
gestão desse modelo. Nesse sentido, a comunicação passa a cumprir um papel
fundamental na articulação dos diferentes níveis da organização (produtores cooperativas singulares - central) para que nesses três níveis de decisão atuem de forma
articulada e não concorram por recursos ou se enfrentem diretamente, tirando a
potencialidade competitiva da integração vertical cooperativa.
Literatura Citada
AMODEO, N.B.P. Contribuição da educação cooperativa nos processos de
desenvolvimento rural. In: AMODEO, N. B. P; ALIMONDA, H. (Orgs) Ruralidades:
capacitação e desenvolvimento. Viçosa: Ed. UFV, 2006, p.151-176.
DRAHEIM, G. Die Genossenschaft
Vandenhoeck & Ruprecht, 1955.
als
Unternehmungstyp.
Goettingen:
FRANTZ, W. “Comunicação e educação em cooperativas: retrospectiva histórica e
importância atual”. Perspectiva Econômica, São Leopoldo, ano XVII, v. 13, nº 39,
1983.
GIMENES, R.M.T. Agribusiness cooperativo: viabilidade econômica da abertura
direta do capital pela emissão de debêntures, Florianópolis: Tese de doutorado em
Engenharia de Produção. UFSC, 2004.
161
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
3.11. A evolução do conceito de marketing aplicado em cooperativas
Layon Carlos Cezar1, Alex dos Santos Macedo1
1
Estudante de graduação em Gestão de Cooperativas/UFV.
Resumo: Este trabalho visa expor um estudo realizado acerca da evolução do conceito
de marketing para as cooperativas. A relevância desse estudo concentra-se na
importância da adequação do conceito de marketing para as cooperativas uma vez que
há uma diferenciação acerca de valores e princípios que regem o cooperativismo para
com as demais organizações. Dessa forma como objetivo principal buscou entender o
que é marketing, qual sua definição quando se trata de cooperativas e qual sua
aplicabilidade na gestão de empreendimentos cooperativos. Como metodologia de
trabalho utiliza-se de pesquisa documental por meio dos livros conceituais de
marketing, bem como informações do anuário do cooperativismo brasileiro da
Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB). Como resultado principal,
observamos que na teoria o conceito de marketing deve ater-se aos princípios de
equidade, liberdade e fraternidade inerentes do modelo cooperativista e que devem ser
valorizados nestes empreendimentos, contudo em relação à prática notamos que o foco
é bem mercadológico onde prioriza-se o marketing de vendas.
Palavras–chave: marketing social, cooperativas
Abstract: This paper aims to bring out a study on the evolution of marketing concept
for cooperatives. The relevance of this study focuses on the importance of the adequacy
of the marketing concept for cooperatives since there is a distinction about values and
principles governing cooperative toward other organizations. Thus the main objective
sought to understand what marketing is, what is your definition when it comes to which
cooperatives and their applicability in the management of cooperative ventures. As a
working method is used to document research through books conceptual marketing and
information in the yearbook of Brazilian Cooperatives Organization of Brazilian
Cooperatives (OCB). As a main result, we observed that in theory the concept of
marketing should stick to the principles of fairness, liberty and fraternity and involved
the cooperative model that should be valued in these ventures, however regarding the
practice we noticed that the focus is where marketing and prioritizes to marketing sales.
Key Words: social marketing, cooperatives
Introdução
O aumento do número de cooperativas no Brasil vem resultando na busca de
profissionais cada vez mais qualificados que atendam as necessidades específicas na
gestão destes empreendimentos. Com uma ampla diversificação de conceitos, foco de
vários estudos e análise, o marketing configura uma das áreas mais complexas e
importantes de ser trabalhada no contexto cooperativista. Ao passo que a gestão de
cooperativas torna-se cada vez mais empresarial, é importante que o profissional
responsável pela área de marketing, diferencie quais são as principais estratégias que
162
devem ser enfatizadas para que a cooperativa ganhe força e expressão em seus produtos
e ou serviços.
Ao longo dos anos o conceito de marketing sofreu várias diferenciações devido
às exigências do mercado e da discussão de vários autores. Ainda que o conceito venha
sofrendo diferenciações, o foco sempre se concentra nas necessidades e nos desejos dos
clientes. No contexto cooperativista surge então o marketing social, enfatizando o
sétimo princípio do cooperativismo: Interesse pela comunidade. A cooperativa deve ser
capaz de atender os desejos e necessidades dos cooperados, mostrando para os mesmos
o quão importante é sua participação no desenvolvimento local e na sua própria vida.
Englobando todas as definições o marketing social resume de forma aplicável, qual a
importância na diferenciação de conceitos tão semelhantes, mas que por motivos
importantes devem ter uma análise mais detalhada.
Material e Métodos
Como material o estudo se baseia em pesquisa bibliográfica do anuário do
cooperativismo brasileiro de 2009 da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB),
bem como pesquisa nos livros conceituais de marketing. Por meio destes materiais foi
possível traçar um paralelo entre o histórico do marketing, as transformações ocorridas
bem como sua modelagem para os dias atuais voltado para as cooperativas.
Resultados e Discussão
A palavra marketing é derivada do latim mercare que significado mercado, ou
ato de comercializar. Segundo Rocha (2007) as primeiras disciplinas de marketing
surgiram nos EUA em meados dos da década de 1950, configurando com uma nova
área da administração: a mercadologia. Entretanto com o passar dos anos a limitação
dessa conceituação, cedeu espaço a caracterizar esta nova área de estudo com junção da
palavra market (mercado) com o sufixo ing, indicando que as práticas mercadológicas
são constantes.
Para que possamos fazer uma inferência maior à conceituação deste conceito, é
importante que saibamos entender sua origem. De acordo com Kotler e Armstrong
(2007) as primeiras manifestações de marketing começaram com os fenícios já
utilizavam marcas no artesanato em barro comercializado nas feiras, como forma de
diferenciar o produto dos demais.
Pós guerra, ainda na década de 1950, o consumismo aumentou vertiginosamente
devido a industrialização que acirrou a disputa entre as empresas. Segundo Rocha
(2007) nessa época:
[...] não bastava desenvolver e produzir produtos e serviços com qualidade e
a custo competitivo para que receitas de lucros fossem alcançadas. O cliente
passou a contar com o poder de escolha, selecionando a alternativa que lhe
proporcione a melhor relação entre custo e benefício.
Tendo em vista toda essa situação em 1985 a American Marketing Association
(AMA) reúne seus profissionais e faz a primeira definição de marketing: “o processo de
planejamento e execução do conceito, do preço, da comunicação e da distribuição de
idéias, bens ou serviços, de modo a criar trocas que satisfaçam objetivos individuais e
organizacionais”.
163
Nos dias atuais o marketing pode ser definido como “[...] um processo social e
gerencial pelo qual indivíduos e grupos obtêm o que necessitam e desejam através da
criação, oferta e troca de produtos de valor com outros [...]” (KOTLER, 1998, 25). Em
geral a sociedade enxerga o marketing como um mecanismo de promoção e vendas
onde o consumidor é conhecedor do produto por intermédio da propaganda e da
divulgação da marca. Abreu (2000) salienta que tal tema pode ser visto como resposta
da organização às demandas do consumidor, por meio de ajustamentos realizados em
seus processos operacionais. Pode-se perceber então que o marketing por si só,
apresenta infinitas definições resultado do amplo processo de investigação de
pensadores e colaboradores do assunto.
Nesta seara deve-se traçar uma diferenciação do marketing das sociedades de
capital, para o marketing voltado para as sociedades de pessoas (como as cooperativas),
onde alguns princípios como equidade, liberdade e fraternidade são inerentes do
empreendimento e devem ser considerados na agregação de valor ao conceito. O
marketing de cooperativas é voltado para atender as necessidades e os desejos dos
cooperados na compra de um bem ou na contratação de um serviço, a esse marketing
denominamos como marketing social ou marketing societal. Segundo Crúzio (2003, 23)
o conceito de marketing social nas cooperativas pode ser definido como:
[...] a arte de dirigir, gerenciar e executar o composto de marketing (os 4 pês:
produto, preço, ponto-de-venda e promoção) e, ao mesmo tempo, promover o
desenvolvimento social, político e econômico dos associados, empregados,
familiares e membros da comunidade local. Compete ao conselho de
administração (CA) construir relacionamentos de longo prazo com os
consumidores, revendedores, contratantes de serviços, agentes financeiros,
representantes de classes, etc.
De acordo com a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB, 2009), a
movimentação econômico-financeira das cooperativas brasileiras obteve 88,50 bilhões
de reais em 2009. Observado um aumento nas exportações principalmente para a
Alemanha, China, Países Baixos, Emirados Árabes e China. Entre a participação dos
produtos exportados, vale destacar a soja e derivados, representando 31,3% da
exportação total das cooperativas, do complexo sucroalcooleiro representando 31,1%,
das carnes 17,0%, dentre outros produtos como o café, o leite, frutas, algodão e cereais.
Os bons números do cooperativismo principalmente no que tange as exportações
são de extrema importância para que os empreendimentos qualifiquem e diferenciem
cada vez mais seus produtos visando aumentar tanto o consumo interno quanto o
consumo internacional. Essa diferenciação agrega valor ao produto exportado, uma vez
que certifica o consumidor da qualidade consumida. Vale ressaltar que o bom número
de exportações das cooperativas brasileiras acontece devido à força que estes
empreendimentos vêem ganhando no país. Segundo a OCB (2009) o Brasil conta hoje
com 7261 cooperativas gerando trabalho e renda.
Conclusões
De acordo com o exposto acima, é possível notar que a evolução do conceito de
marketing atendeu não somente as organizações de capital, mas sim todas as
organizações no qual o conceito pode ser aplicado na prática como no caso das
cooperativas. Com o aumento considerável de cooperativas no cenário brasileiro,
164
contribuindo principalmente por uma relevante parte nas exportações, percebemos que o
marketing voltado para a qualidade dos produtos é o grande diferencial. As cooperativas
(principalmente agropecuárias) investem cada vez mais na qualidade do produto que
será comercializado no exterior, a fim de garantir maior abertura de marcado. Entretanto
o marketing que realmente é voltado para o cooperativismo – o marketing social –
acaba sendo deixado de lado, cedendo espaço mais para o marketing de venda onde o
foco é trabalhar os quatro P`s (produto, preço, praça e promoção), não diferenciando-se
muito do marketing tradicional.
Literatura Citada
ABREU, C.B. Curso de marketing para cooperativas. Fortaleza: SESCOOPCE/OCEC, 2000.
CRUZIO, H.O. Marketing Social e Ético nas Cooperativas. Rio de Janeiro: Editora
FGV, 2003.
KOTLER, P. Administração de Marketing: análise, planejamento, implementação
e controle. 5ª edição. São Paulo: Atlas, 1998.
-------, P.; ARMSTRONG, G. Princípios de Marketing. 12a ed. São Paulo: Pearson
Prentice Hall, 2007.
OCB, 2009. Números do cooperativismo. Acesso em 30 de julho de 2010. Disponível
em: < http://www.brasilcooperativo.coop.br/GERENCIADOR/ba/arquivos/250210_
somentenumeros.pdf>.
ROCHA, F.R.V., 2007. Evolução histórica do marketing. Acesso em 30 de julho de
2010. Disponível em: <http://www.portaldomarketing.com.br/Artigos/evolucao_
historica_do_marketing.htm>
165
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
3.12. A Utilização da Análise Fatorial Confirmatória na extração dos Princípios do
Cooperativismo: uma proposta1
Valderí de Castro Alcântara2, André Cézar de Souza3, Jader Fernandes Cirino4, Edson
Arlindo da Silva5
1
Trabalho oriundo de projetos de pesquisa financiados pelo CNPq (PIBIC) e pela UFV (PIBEX).
Bolsista/Pesquisador e Graduando em Administração pela Universidade Federal de Viçosa – Campus de
Rio Paranaíba.
3
Bolsista/Pesquisador e Graduando em Administração pela Universidade Federal de Viçosa – Campus de
Rio Paranaíba.
4
Doutor em Economia e Professor do Departamento de Economia da Universidade Federal de Viçosa.
5
Doutor em Administraçaõ e Professor do Departamento de Administração da Universidade Federal de
Viçosa.
2
Resumo: O presente trabalho tem por objetivo demonstrar a possível utilização da
Análise Fatorial Confirmatória na extração de dimensões inerentes aos princípios do
cooperativismo, para tanto aqui se apresenta a escala a ser utilizada para coleta de
dados. A escala foi composta por quatro itens para cada um dos princípios e esta é do
tipo likert (5 pontos) e foi construída com base em estudo diversos sobre
cooperativismo. Os sete princípios são fundamentais para o funcionamento efetivos dos
empreendimentos cooperativos.
Palavras–chave: Análise Fatorial, Princípios do Cooperativimo
The Use of Confirmatory Factor Analysis in the extraction of the Principles of Cooperative: a proposal
Abstract: This paper aims to demonstrate the possible use of Confirmatory Factor
Analysis on the extraction of dimensions inherent to the principles of cooperatives, so
here we present for the scale to be used for data collection. The scale consists of four
wire items for each of the principles and this is the type Likert (5 points) and was built
based on several studies about cooperative. The seven principles are fundamental to the
effective functioning of cooperative ventures.
Key Words: Factor analysis, principles of cooperativism
Introdução
O cooperativismo nasceu durante a Revolução Industrial, muitas das cooperativas
nasceram das negociações dos operários com os patrões nos lembra Alcântara (2005) e
Lechat (2005), ambos nos informam que a primeira cooperativa a qual teve grande
relevância para o cooperativismo moderno foi a Cooperativa de Rochdale, na Inglaterra,
chamada de Society of Equitable Pioneers, a qual foi criada em 1844. As cooperativas
de consumo foram as primeiras a serem criadas e após surgiram as de crédito, as
cooperativas de trabalhadores foram fundadas na França por operários que, depois de
organizarem uma série de protestos contra as condições de trabalho desumanas nas
166
fabricas em que trabalhavam, decidiram fundar e administrar coletivamente as suas
próprias fábricas.
De maneira geral, as cooperativas são percebidas pelos estudiosos da área como a
união de pessoas voltadas para um objetivo comum que é aumentar o bem-estar
econômico e social dos cooperados. O cooperativismo, como seu próprio nome diz, tem
como sua maior finalidade libertar o homem do seu individualismo e ignorância através
da cooperação entre os seus associados, satisfazendo assim suas necessidades,
resolvendo seus problemas e atingindo seus objetivos e interesses. Busca a superação de
injustiças sociais com a repartição equitativa de bens e valores.
Uma cooperativa “ é uma associação de pessoas que se predispõem a trabalhar
juntas e de forma contínua, possuem um ou mais objetivos em comuns” e dessa forma
“gerenciam democraticamente os recursos disponíveis, em que custos, riscos e
benefícios são divididos entre os associados eqüitativamente” (RIOS, 1987, p. 53).
De acordo com a Aliança Cooperativista Internacional, cooperativa é uma
associação autônoma de pessoas que se unem, voluntariamente, para satisfazer
aspirações e necessidades econômicas, sociais e culturais comuns, por meio de uma
organização de propriedade coletiva e democraticamente gerida. A definição legal das
cooperativas é baseada na Lei n° 5.764 de 16/12/1971, a qual define cooperativa como
“uma sociedade de pessoas, com forma e natureza jurídica própria, de natureza civil,
não sujeita à falência, constituída para prestar serviços aos associados” (Lei 5.764/71).
Já existem cerca de 700 mil cooperativas em todo o mundo, representando a
possibilidade de superar dificuldades comuns pela ajuda mútua. No Brasil, as
cooperativas registradas na Organização das Cooperativas Brasileiras - OCB já eram
mais de 7,5 mil, no final de 2.005.
Os princípios do cooperativismo são os que se segue com breve descrição:
Tabela 1 - Resumo sintético dos princípios do cooperativismo
Princípios
1
2
Definição
Adesão
voluntária
livre
e
Gestão
democrática
livre
e
As cooperativas são organizações voluntárias, abertas a todas as pessoas aptas
a utilizar os seus serviços e assumir as responsabilidades como membros, sem
discriminações de sexo, social, racial, política ou religiosas.
As cooperativas são organizações democráticas, controladas pelos seus
membros, que participam ativamente na formulação das suas políticas e na
tomada de decisões. Os homens e as mulheres, eleitos como representantes dos
demais membros, são responsáveis perante estes. Nas cooperativas singulares*
os membros têm igual direito de voto (um membro, um voto); as cooperativas
centrais são também organizadas de maneira democrática.
3
Participação
econômica dos
membros
Os membros contribuem equitativamente para o capital das cooperativas e
controlam-no democraticamente. Parte desse capital é, normalmente,
propriedade comum da cooperativa. Recebem, habitualmente, se houver, uma
remuneração limitada ao capital integralizado, como condição de sua adesão”.
4
Autonomia
e
independência
As cooperativas são organizações autônomas, de ajuda mútua, controladas
pelos seus membros. Se firmarem acordos com outras organizações, incluindo
instituições públicas, ou recorrerem a capital externo, devem fazê-lo em
condições que assegurem o controle democrático pelos seus membros e
mantenham a autonomia das cooperativas.
167
5
Educação,
formação
informação
e
As cooperativas promovem a educação e a formação dos seus membros, dos
representantes eleitos e dos trabalhadores, de forma que estes possam
contribuir, eficazmente, para o desenvolvimento das suas cooperativas.
Informam o público em geral, particularmente os jovens e os líderes de opinião,
sobre a natureza e as vantagens da cooperação.
6
Intercooperação
As cooperativas servem de forma mais eficaz os seus membros e dão mais força
ao movimento cooperativo, trabalhando em conjunto, através das estruturas
locais, regionais, nacionais e internacionais.
7
Interesse pela
comunidade
As cooperativas trabalham para o desenvolvimento sustentado das suas
comunidades fundamentado em políticas aprovadas pelos seus próprios
membros.
Fonte: Adaptado pelos autores.
O presente trabalho tem por objetivo demonstrar a possível utilização da Análise
Fatorial Confirmatória na extração de dimensões inerentes aos princípios do
cooperativismo, para tanto aqui se apresenta a escala a ser utilizada para coleta de
dados.
Material e Métodos
O trabalho será realizado tendo por amostra cooperativas dos mais diversos ramos
e situadas na região do Alto Paranaíba-MG.
O instrumento de mensuração é uma escala do tipo Likert com 5 pontos: 1
(Nunca), 2 (Quase Nunca), 3 (Às vezes), 4 (Quase Sempre) e 5 (Sempre) desenvolvida
comm base nos prrincípios do cooperativimo segundo referencial diversificado.
Os procedimentos utilizados para validação serão o Coeficiente α de Crombach
(consistência interna) e a Análise Fatorial.
A Análise Fatorial é uma técnica utilizada, essencialmente, para redução e
sumarização de dados, em pesquisas que trabalham com grande número de variáveis
que se correlacionam. A técnica identifica poucos fatores subjacentes que explicam as
correlações entre um conjunto de variáveis (HAIR e al, 2005).
Para a realização da Análise Fatorial faz-se necessário que exista relação entre as
variáveis, já que é necessário que se identifique as possíveis associações entre as
variáveis observadas. A análise pode ser realizada através da matriz de correlações ou
de covariâncias; aqui utilizou-se a matriz de correlações; neste sentido são necessários a
realização dos seguintes procedimentos: Teste KMO (Kaiser-Meyer-Olkin Measure of
Sampling Adequacy) e Teste de Esfericidade de Bartlett (Bartlett‟s esto f Sphericity).
Resultados e Discussão
No presente trabalho apresenta-se a escala construída para a coleta de dados.
168
Tabela 2 - Resumo sintético dos princípios do cooperativismo
Adesão Voluntária e livre
Tomei conhecimento das normas e regras ao me associar a este empreendimento (estava ciente delas).
O empreendimento procura evitar a adesão de aventureiros (pessoas sem comprometimento).
As pessoas se associam a esse empreendimento de forma livre e voluntária.
Qualquer pessoa (sem discriminações de sexo, social, racial, política ou religiosa) pode se associar a
este empreendimento.
Gestão Democrática Pelos Cooperados
Os homens e as mulheres tem direitos iguais de serem eleitos como representantes dos demais
membros.
No empreendimento vale o princípio "Uma Pessoa, Um Voto".
Usando seu direito ao voto, os sócios elegem os diretores e conselheiros.
A cooperativa atua de forma democrática.
Participação Econômica dos Cooperados
Os membros contribuem equitativamente para o capital do empreendimento e controlam-no de forma
democrática.
É a Assembléia Geral dos Sócios quem determina a destinação dos excedentes ou sobras, sempre em
conformidade com a legislação.
Os cooperados recebem, habitualmente, se houver, uma remuneração limitada ao capital integralizado,
como condição de sua adesão.
O destino dos excedentes conta com a participação de todos os cooperados.
Autonomia e Independência
As cooperativas são organizações autônomas, de ajuda mútua, controladas pelos seus membros.
Os cooperados decidem sobre suas atividades, definem sua missão, objetivos e metas, sem interferência
governamental nas decisões.
O empreendimento não depende de outras organizações para realizar suas atividades.
O empreendimento pode firmar convênios e contratos com terceiros, desde que mantenha sua
independência, principalmente em relação aos seus objetivos econômico, político e social.
Educação, formação e informação
O empreendimento promove a educação e a formação dos seus membros.
O empreendimento visa a incentivar o desenvolvimento intelectual e profissional dos associados e de
seus familiares e, ainda, a comunidade na qual se encontra instalada.
O cooperativimo informa ao público em geral, particularmente os jovens e os líderes de opinião, sobre
a natureza e as vantagens da cooperação.
Existe disseminação dos princípios do cooperativismo.
Intercooperação
As cooperativas servem de forma mais eficaz os seus membros e dão mais força ao movimento
cooperativo, trabalhando em conjunto, através das estruturas locais, regionais, nacionais e
internacionais.
O empreendimento possibilita o fortalecimento do movimento cooperativista, a partir de troca de
informações e de experiências.
169
O empreendimento procura trabalhar em cooperação com os demais sejam eles cooperativas,
associações ou empresas.
A intercooperação proporciona resultados econômicos positivos.
Interesse pela Comunidade
As cooperativas trabalham para o desenvolvimento sustentado das suas comunidades fundamentado em
políticas aprovadas pelos seus próprios membros.
Há uma preocupação com a geração de empregos, com a produção, com serviços e com preservação do
meio-ambiente.
As Assembléias Gerais dos Sócios determinarão as ações de cunho social e/ou desenvolvimentistas que
serão implementadas na comunidade, visando ao seu fortalecimento e melhoria da qualidade de vida
local.
O empreendimento procura gerar desenvolvimento local de forma sustentável.
Fonte: Elaborado pelos autores, 2010.
Conclusões
O presente trabalho visou mostrar os procedimentos a serem utilizados
posteriormente na validação do presente instrumento de mensuração.
A escala foi composta por quatro itens para cada um dos princípios e esta é do
tipo likert (5 pontos) e foi construída com base em estudo diversos sobre
cooperativismo. Os sete princípios são fundamentais para o funcionamento efetivos dos
empreendimentos cooperativos.
Cada vez mais o cooperativimo se fortalece, apesar da existência de falsas
cooperativas, as quais não internalizam os princípios do cooperativimo. Assim, a
presente escala será um instrumento de avaliação da cooperativa sob o ponto de vista de
sua cultura e dos valores que desenvolve e promove.
Literatura Citada
HAIR, J. F. Jr. et al. Análise multivariada de dados. 5. ed. Porto Alegre, Bookman,
2005.
ALCÂNTARA, F.H.C. Economia Solidária: o dilema da institucionalização. São
Paulo: Arte e Ciência: 2005.
LECHAT, N.M.P. As raízes históricas da economia solidária e seu aparecimento no
Brasil. 2005. Disponível em www.scholar.google.com. Acesso em 15 de jul. 2009.
RIOS, G.S. O que é cooperativismo. São Paulo: Brasiliense, 1987.
170
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 25 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
O processo de formalização em um empreendimento comunitário autogestionário
Dayane Rouse Neves Sousa1, Diego Neves de Sousa2, Cleiton Silva Ferreira Milagres3,
Marcelo Miná Dias4
1
Graduanda em Cooperativismo – UFV.
Mestrando em Extensão Rural - UFV.
3
Mestrando em Extensão Rural - UFV.
4
Professor do Departamento de Economia Rural - UFV.
2
Resumo: O presente trabalho tem como objetivo descrever as informações necessárias
para a formalização de um empreendimento comunitário autogestionário, que tem como
caso empírico a “Padaria Artesanal Comunitária Mãos de Fibra”, localizada na zona
rural de Viçosa – MG, utilizando do apoio de técnicas participativas. O processo de
formalização consiste nas seguintes etapas: assembléia de fundação, elaboração do
Estatuto Social, formação de chapa, ata de fundação, requerimento, registro da
Associação no cartório e, por fim aquisição do CNPJ. Entre os resultados, verifica-se
que a formalização de um empreendimento coletivo, como organização comunitária,
passa a ser uma instituição importante na promoção da participação social dos
envolvidos na comunidade e na condução de suas ações e decisões, a fim de promover o
desenvolvimento local.
Palavras-chave: associação, formalização, empreendimento comunitário.
Introdução
A formalização de um empreendimento coletivo, como organização
comunitária, passa a ser uma instituição importante na promoção da participação social
dos atores envolvidos na comunidade e na condução de suas ações e decisões, a fim de
promover o desenvolvimento local. Além disso, concorre positivamente para promover
a ação empreendedora da comunidade em que está inserido.
Jesus (2003) associa o desenvolvimento local como o processo de transformação
da economia e da comunidade local, criando maiores oportunidades de trabalho e renda,
superando as dificuldades para beneficiar a melhoria da qualidade de vida da população
beneficiária.
O associativismo aparece como uma forma de desenvolvimento, a partir da
mobilização de pessoas que buscam se organizarem para desenvolver atividades de
caráter econômico, social, cultural, educacional e político. Para Ramirez (1983), o
associativismo em sentido amplo compreende toda iniciativa formal ou informal por
meio do qual um grupo de pessoas ou de instituições buscam realizar em conjunto
determinados interesses em comum.
A Padaria Artesanal Comunitária Mãos de Fibra caracteriza-se como um
empreendimento comunitário solidário baseado na autogestão e com uma gestão
desenvolvida de forma coletiva pelos próprios membros. O grupo é composto por 16
pessoas, predominando as mulheres, residentes nas comunidades Zig-Zag, Buieié,
Violeira e Estação Velha, setores que compõe a comunidade do Córrego Fundo, zona
rural de Viçosa, Minas Gerais. O grupo teve sua origem na necessidade de produzir
171
alimentos para a própria comunidade e, num segundo momento, gerar renda por meio
da comercialização de pão integral, transformando a matéria prima agrícola em algo que
pudesse garantir rendimentos financeiros ao grupo e, por conseguinte, a permanência no
campo. Até este ano, como a Padaria não tinha uma sede própria para fazer os pães, o
grupo fazia sua produção na casa de uma das integrantes. Com o apoio de parceiros, a
instituição está construindo sua futura sede.
Assim, este trabalho tem como foco descrever as informações necessárias para a
formalização de um empreendimento comunitário autogestionário, tendo como estudo
de caso a Padaria Artesanal Comunitária Mãos de Fibra. Justifica-se a escolha deste
empreendimento para o presente estudo por, atualmente, ser objeto empírico de um
projeto de extensão universitária da UFV.
Metodologia
O procedimento metodológico utilizado para o processo de formalização da
Padaria Artesanal Comunitária Mãos de Fibra foi de caráter eminentemente
participativo onde foram utilizadas dinâmicas de grupo para o encaminhamento dos
conteúdos relacionados à formalização junto aos integrantes da Padaria. Nesse processo
se buscou a valorização cultural das experiências e do conhecimento proveniente da
própria comunidade construindo um diálogo entre o saber científico e o saber popular.
Neste trabalho, não tem o objetivo de descrever as técnicas utilizadas, mas tão somente
os resultados obtidos a partir dela.
Resultados e Discussão
A idéia de formalizar a Padaria Mãos de Fibra em uma associação surgiu como
necessidade de solucionar os problemas que os integrantes da Padaria vinham
enfrentando em relação ao recebimento dos materiais e equipamentos contemplados
pelo Programa Minas Sem Fome do Governo Federal, o acesso ao crédito, a emissão de
notas fiscais e as redes de comercialização.
A partir daí, os integrantes do projeto de extensão iniciaram o processo de
formalização, inicialmente, através de uma reunião com os membros da Padaria
Comunitária explicando quais seriam os passos a serem tomados diante desta decisão,
os benefícios que a formalização irá trazer para aquele grupo e até mesmo para a
comunidade local, além de apresentar algumas dificuldades que iriam passar a ter e
despesas a pagar. Após a reunião, o grupo se manifestou mencionando o que acharam
dos procedimentos para a formalização do empreendimento e, ao mesmo tempo,
confirmaram que queriam que a Padaria tivesse um caráter legal, isto é, que
constituíssem em uma pessoa jurídica.
O primeiro passo em questão foi a realização da assembléia de fundação da
associação, designada no decorrer desta reunião como “Associação dos Agricultores
Familiares Rurais Mãos de Fibra”. Nesta etapa, reuniram-se todos os integrantes da
Padaria, e agora fundadores da associação, e os extensionistas, para elaboração e
discussão do Estatuto Social. Um dos extensionistas que tem formação na área de
Direito esboçou uma estrutura de Estatuto Social, para que eles pudessem ter uma
noção, ou seja, para que todas as dúvidas quanto ao processo de formalização sejam
sanadas. Reunido em pequenos grupos, foram sendo esboçados as primeiras idéias do
Estatuto Social no qual foi lido, explicado e discutido cada capítulo com os seus
respectivos parágrafos, em seguida, eles deveriam levantar a mão indicando que estava
172
aprovado cada argumento lido e em caso de reprovação ou acréscimo de algo no
referido item os integrantes do empreendimento se manifestavam dando suas opiniões.
Na elaboração do Estatuto foram observadas regras pertinentes a formulações de
qualquer ato legal, tais como, apresentação formal, linguagem correta e precisa, idéias
coordenadas, concisas e claras.
No segundo momento foi à formação de chapa do Conselho Administrativo e do
Conselho Fiscal da Associação, constituída por nove membros, os quais ocuparão o
cargo de Presidente, Vice-Presidente, primeiro e segundo Secretários, primeiro e
segundo Tesoureiros e três Conselheiros Fiscais, conforme norteia o Estatuto Social
desta Associação. A formação de chapa teve a participação de todos os integrantes da
Padaria através da comparação das atividades administrativas que cada membro já
executava dentro do empreendimento com os novos cargos que surgiram. Além disso,
foi analisado o nível escolar, cursos extracurriculares e o perfil de cada pessoa em
determinada situação. Após a comparação foi indicado os nomes das pessoas para
ocuparem cada Diretoria e a pessoa escolhida decidia se queria ou não fazer parte. A
chapa completa de candidatos trabalhará por um período de dois anos, podendo seus
membros ser reeleitos nas próximas eleições.
No terceiro momento foram redigidos os seguintes documentos: Ata de
Fundação da Associação e o Requerimento para realizarem o Registro da Associação
Civil no cartório do município de Viçosa – MG. Na elaboração da ata foi necessário
adquirir o nome completo de cada membro da chapa formada por seus respectivos CPF.
Em seguida, foi necessário consultar o documento no site da Receita Federal para
verificar se estavam todos regularizados para fazer o devido Registro no cartório. Os
CPF que estavam irregulares foram informados para as pessoas e orientados para
solucionarem as suas pendências com a Receita Federal.
O registro da Associação no Cartório de Registro de Pessoas Jurídicas foi a
etapa mais burocrática e que precisou ter mais atenção, pois foi o momento que deve ser
levado todos os documentos que estão previstos na lei, sendo necessários os seguintes
para se registrar uma associação: três vias da Ata de Fundação, contendo os nomes e os
CPF dos membros do Conselho Administrativo, assinatura de todos os membros
presentes e reconhecer firma do presidente, vice-presidente, primeiro secretário e
primeiro tesoureiro; duas vias do Estatuto Social da Associação, com a assinatura do
presidente e com visto e carimbo de um advogado em todas as páginas; duas vias do
Requerimento, ofício dirigido ao cartório solicitando o registro da Associação, assinado
pelo presidente; um livro de ata; e, por fim, o xerox do CPF e o RG dos diretores do
Conselho Administrativo. Com a documentação em ordem o registro foi realizado. O
oficial do cartório fez o lançamento da certidão de registro e devolveu uma das vias dos
estatutos com o número de ordem, livro e folha onde foi lançado.
Por último, foi necessário providenciar o Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica –
CNPJ, que foi feito na Receita Federal de Ubá - MG. Esse cadastro permite a associação
prestar serviços, realizar contratos, comprar, vender e pagar impostos. Após tirar o
CNPJ é necessário também que se providencie a nota fiscal eletrônica através da
Receita Federal. Concluída esta etapa a Associação estará devidamente registrada e
pronta para entrar em funcionamento.
Neste contexto, verifica-se que associações solidárias de agricultores têm, a
duras penas, buscado inserção qualitativa e sustentável em mercados. Estes mercados,
longe de serem solidários e abertos às necessidades de inclusão social, são seletivos,
competitivos e excludentes. Este caráter da economia capitalista gera a necessidade de
173
qualificação e capacitação para firmar empreendimentos econômicos solidários e de
produção em pequena escala. Um passo importante nesta direção é a institucionalização
das práticas organizativas, a qualificação do processo produtivo, a agregação de valor
cultural aos produtos, dentre outras iniciativas. A formalização do empreendimento é
parte fundamental deste esforço.
Conclusão
Por meio de um trabalho participativo junto às famílias rurais a fim de
identificar mecanismos para a formalização e inserção do grupo no mercado, os
membros do empreendimento foram capacitados para que participassem de maneira
mais qualificada das atividades da associação. Dessa forma promove-se, a formação de
cidadãos capazes de atuar na gestão dos processos locais voltados para o
desenvolvimento humano e inclusão social.
Entre os resultados deste estudo, postula que a organização desses integrantes da
Padaria em um empreendimento cooperativo, além de transformar essas em agentes
sociais ativos, com papel destacado no processo de desenvolvimento comunitário,
contribui para a sustentabilidade socioeconômica e cria condições que propiciem
melhor renda e qualidade de vida.
Percebe-se, ainda, que a formalização da Padaria Artesanal Comunitária Mãos
de Fibra possibilitou uma estrutura organizacional formal e auto-sustentável, oferecendo
condições de trabalho digno para a comunidade rural, aumentando a produção e
otimizando os seus resultados através de técnicas organizacionais de empreendimentos
sociais.
Literatura Citada
JESUS, P. de. Desenvolvimento Local. In: Cattani, A. D. (org). A Outra Economia.
Porto Alegre: Vaz Editores. 2003.
RAMIREZ, B.R. Formas Associativas de Cooperación. São Leopoldo: Unisinos,
Perspectiva Econômica, nº11, 1983.
174
4. Ciência, tecnologia e
inovação
175
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
4.1. Variáveis físicas, econômicas e populacionais nos ambientes urbano e rural em
municípios da Zona da Mata e Central de Minas Gerais
Rogério de Paula Lana1, Geicimara Guimarães2
1
Professor do Departamento de Zootecnia - DZO/UFV; Pesquisador 1B do CNPq; [email protected].
Estudante de Gestão de Cooperativas - DER/UFV; Bolsista ITI do CNPq; [email protected].
2
Resumo: O objetivo do presente trabalho foi desenvolver correlações entre variáveis
físicas, econômicas e populacionais relacionadas às atividades urbanas e rurais em
municípios da Zona da Mata e Central de Minas Gerais. Foram utilizados dados
disponíveis em www.cidadesnet.com.br (ano de 2003). O tamanho do município
apresentou correlação positiva com a população urbana e rural, o PIB (agropecuário,
industrial e de serviço) e a população de bovinos (r>0,44). As maiores correlações
foram observadas entre a população urbana, o PIB industrial e o PIB de serviços
(r>0,90), enquanto que a população rural apresentou moderadas correlações com o PIB
agropecuário, população de bovinos e produção de café (0,42<r<0,60). O PIB
agropecuário apresentou moderadas correlações com a população de bovinos, suínos,
café e cana (0,40<r<0,67), mostrando serem estas as principais atividades que dão
suporte à população rural. O PIB agropecuário corresponde a apenas 6,5% do total do
PIB, enquanto que o PIB industrial corresponde a 42,3% e o PIB de serviços a 51,2%,
sendo os últimos concentrados nos grandes centros urbanos.
Palavras-chave: agricultura, análise de dados, estatística, municípios, pecuária,
produção
Physical, economical and populational variables in urban and rural environments
in municipalities of Zona da Mata and Central regions of Minas Gerais state,
Brazil
Abstract: The objective of the present work was to develop correlations among
physical, economical and populational variables related to urban and rural activities in
municipalities of Zona da Mata and Central regions of Minas Gerais state. The data
used were available in www.cidadesnet.com.br (year of 2003). The size of the county
presented positive correlation with urban and rural population, gross internal product GIP (agricultural, industrial and services) and cattle population (r>0.44). The largest
correlations were observed among the urban population, industrial GIP and service GIP
(r>0.90), while the rural population presented moderated correlations with agricultural
GIP, cattle population and coffee production (0.42<r<0.60). The agricultural GIP
presented moderated correlations with cattle and swine populations, coffee and
sugarcane production (0.40<r<0.67), being these the main activities that give support to
the rural population. The agricultural GIP corresponds to only 6.5% of the total GIP,
while the industrial GIP corresponds to 42.3% and the service GIP to 51.2%, being the
last ones concentrated in the big urban centers.
Key Words: agriculture, counties, data analyses, animal science, production, statistics
176
Introdução
A “revolução verde” iniciada na década de 70 teve como meta o aumento da
produção agrícola através da intensificação dos sistemas de produção, com uso
crescente de fertilizantes e agrotóxicos e pressão sobre os recursos naturais. Como
conseqüência, está levando à poluição das águas, perda de solo em quantidade e
qualidade, perda de biomas naturais, êxodo rural, perdas econômicas e empobrecimento
das famílias rurais (Cardoso & Jucksch, 2009).
O agronegócio brasileiro, em razão da desequilibrada distribuição agrária,
favoreceu o surgimento de grandes produtores, enquanto milhões de produtores
permanecem com suas pequenas propriedades de agricultura familiar (Sávio, 2009). A
principal função da agricultura é a produção de alimentos e a agricultura familiar, além
de produzir alimentos para o autoconsumo, é responsável por grande parcela dos
alimentos destinados ao consumidor brasileiro. Entretanto, esta atividade é pouco
valorizada e contribui com uma pequena parcela do PIB (Cardoso & Jucksch, 2009).
O objetivo do trabalho foi desenvolver correlações entre algumas variáveis
relacionadas às atividades urbanas e rurais em municípios da Zona da Mata e Central de
Minas Gerais e avaliar a contribuição econômica destas atividades para o
desenvolvimento dos municípios.
Metodologia
Foram obtidas informações sobre a extensão dos municípios, população urbana e
rural, PIB (agropecuário, industrial e serviços; ano 2000), população animal (bovinos,
suínos e aves), produção anual de café, cana-de-açúcar e outras culturas em 87
municípios da Zona da Mata e 23 da Zona Central (próximos à Zona da Mata) de Minas
Gerais, referente ao ano de 2003, no portal cidadesnet (www.cidadesnet.com.br). Foi
feita análise de correlação linear de Pearson entre as variáveis, bem como foram obtidos
a média, o desvio padrão e o coeficiente de variação das variáveis por município.
Resultados e Discussão
O tamanho do município apresentou correlação positiva com a população urbana
e rural, o PIB (agropecuário, industrial e de serviço) e a população de bovinos, todos
com r>0,50, exceto PIB agropecuário em que r=0,44 (Tabela 1), mostrando que maiores
municípios geram mais riquezas, favorecendo o desenvolvimento urbano e rural. No
caso da população bovina, com a maior correlação (r=0,73), verifica-se a dependência
de extensão de área para exploração, em sistema obviamente extensivo a pasto.
As maiores correlações foram observadas entre a população urbana, o PIB
industrial e o PIB de serviços (r>0,90), enquanto que a população rural apresentou
moderadas correlações com o PIB agropecuário, população de bovinos e produção de
café (0,42<r<0,60). O PIB agropecuário apresentou moderadas correlações com a
população de bovinos, suínos, café e cana (0,40<r<0,67), mostrando serem estas as
principais atividades que dão suporte à manutenção da população rural. Houve
moderada correlação entre produção de cana e suínos (r=0,53), devido à atividade
suinícola se concentrar em municípios produtores de cana.
Os maiores coeficientes de variação dos dados entre municípios (acima de
200%) foram verificados para população urbana, PIB industrial, PIB de serviços,
177
população de suínos, população de aves, produção de café e produção de cana,
mostrando concentração da população e do PIB em grandes cidades, bem como
concentração da produção agrícola ou especialização em determinados municípios. Ao
avaliar os dados, foi constatada grande variação na produção total e área plantada entre
os municípios, mostrando ter determinados municípios alta especialização em uma ou
mais culturas (café, cana, milho, arroz, feijão, tomate, batata, mandioca, laranja, coco e
banana). Só foram mostrados os dados de café e cana, devido às maiores correlações
com o PIB agropecuário.
Os menores coeficientes de variação dos dados entre municípios (73 a 94%)
foram verificados para o tamanho do município, população rural, PIB agropecuário e
população de bovinos, que são pouco alterados pela economia. Estes dados confirmam a
observação de Pires (2004) que o pecuarista familiar de Minas Gerais tem como
atividade principal ou, muitas vezes, única, a criação de bovinos para venda de leite e de
animais (vacas de descarte, novilhas excedentes, bezerros para recria e animais para o
abate).
O PIB agropecuário (que inclui todas as atividades agrícolas e pecuárias)
corresponde a apenas 6,5% do total do PIB, enquanto que o PIB industrial corresponde
a 42,3% e o PIB de serviços a 51,2%, sendo os últimos concentrados nos grandes
centros urbanos. A pressão econômica à montante e à jusante da atividade agropecuária
ou setor primário é responsável pela baixa fatia do total do PIB destinado ao setor.
Pressão à montante são provenientes das indústrias de insumos, equipamentos,
tecnologia e serviços e à jusante, das indústrias de processamento, setores de serviço,
comércio e consumidor.
Conclusões
Maiores municípios apresentam maiores populações urbana e rural, PIB
(agropecuário, industrial e de serviço) e população de bovinos.
O PIB agropecuário correlaciona com a população de bovinos, suínos, café e
cana, mostrando serem estas as principais atividades que dão suporte à população rural.
O PIB agropecuário corresponde a apenas 6,5% do total do PIB, enquanto que o
PIB industrial corresponde a 42,3% e o PIB de serviços a 51,2%, sendo os últimos
concentrados nos grandes centros urbanos.
Literatura Citada
CARDOSO, I.M.; JUCKSCH, I. Agricultura familiar – novas oportunidades. In:
LANA, R.P.; MANCIO, A.B.; GUIMARÃES, G. et al. (eds.) I Simpósio Brasileiro de
Agropecuária Sustentável. Viçosa, MG: UFV, 2009. p.180-188.
PIRES, J.A.A. O papel da pecuária familiar na produção de bovinos de corte. In:
MEDEIROS, S.R.; EUCLIDES FILHO, K.; EUCLIDES, V.P.B. (Ed.) A produção
animal e a segurança alimentar. Campo Grande: SBZ, 2004. p.55-62.
SÁVIO, D. A importância do cooperativismo para a sustentabilidade da agricultura. In:
LANA, R.P.; MANCIO, A.B.; GUIMARÃES, G. et al. (eds.) I Simpósio Brasileiro de
Agropecuária Sustentável. Viçosa, MG: UFV, 2009. p.17-24.
178
Anexo
Tabela 1 – Correlação linear (r) entre algumas variáveis relacionadas às atividades
urbanas e rurais, média, desvio padrão e coeficiente de variação dos
dados, em municípios da Zona da Mata e Central de Minas Gerais em 2003
Munic
2
População
PIB no ano 2000 (R$)
População
Café
Cana
Ton/ano
Ton/ano
Item
Km
População
urbana
0,61
População
rural
0,59
0,20
PIB agropecuário
0,44
0,36
0,56
PIB
industrial
0,60
0,91
0,20
0,23
PIB de
serviços
0,58
0,99
0,20
0,33
0,93
População
bovina
0,73
0,49
0,42
0,43
0,35
0,45
População
suína
0,07
0,06
0,05
0,67
-0,01
0,02
0,04
População
de aves
-0,02
0,06
0,11
0,13
0,04
0,06
0,14
-0,02
Produção de
café
0,07
0,01
0,60
0,48
-0,03
0,05
-0,02
-0,07
-0,08
Produção de
cana
-0,04
-0,05
-0,03
0,40
-0,05
-0,04
0,01
0,53
-0,01
-0,10
Média
322
17323
3824
6462
42063
50860
11315
7216
95156
888
13205
DP
273
46073
2798
6105
145019
158536
10125
21422
209011
2071
36588
CV(%)
85
266
73
94
345
312
89
297
220
233
277
n
110
110
110
110
110
110
110
110
110
95
101
Urbana
Rural
Agrop
Indus
Serv
DP = desvio padrão; CV = coeficiente de variação; n = número de municípios.
Bov
Sui
Aves
179
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
4.2. Produção média e correlações entre algumas variáveis que afetam a produção
de diversas culturas em municípios da Zona da Mata e Central de Minas Gerais
Rogério de Paula Lana1, Geicimara Guimarães2
1
Professor do Departamento de Zootecnia - DZO/UFV; Pesquisador 1B do CNPq; [email protected].
Estudante de Gestão de Cooperativas - DER/UFV; Bolsista do CNPq; [email protected].
2
Resumo: O objetivo do presente trabalho foi avaliar o efeito da área plantada e de
índices de produtividade sobre a produção de diversos produtos agrícolas (milho, feijão,
arroz, cana, café, banana, mandioca, laranja, tomate, coco e batata), em municípios da
Zona da Mata e Central de Minas Gerais, com base em dados disponíveis em
www.cidadesnet.com.br (ano de 2003). Houve alta correlação entre produção e área
plantada (média: r=0,94) e baixas correlações entre produção e produtividade (média:
r=0,26) e produtividade e área plantada (média: r=0,10). Concluindo, a área plantada
por município tem efeito muito mais marcante na produção das diversas culturas que os
índices de produtividade, contrariando a tendência apontada pelos adeptos do aumento
da produtividade como solução para estimular o aumento da produção agrícola.
Palavras-chave: agricultura, análise de dados, produção, produtividade
Mean production and correlations between some variables that affect production
of several cultures in Zona da Mata and Central region of Minas Gerais state,
Brazil
Abstract: The objective of the present work was to evaluate the effect of cultivated area
and productivity indexes on production of several agricultural products (corn, bean,
rice, sugarcane, banana, tapioca, orange, tomato, bahia cocoa-nut and potato), in Zona
da Mata and Central region of Minas Gerais, based on data available in
www.cidadesnet.com.br (year of 2003). There was high correlation between production
and cultivated area (mean: r=0.94) and low correlations between production and
productivity (mean: r=0.26) and productivity and cultivated area (mean: r=0.10).
Concluding, the cultivated area by county has more pronounced effect in production of
the several cultures than the productivity indexes, being against the trend of adepts of
the increase in productivity as solution to stimulate increase in agricultural production.
Key Words: agriculture, data analyses, production, productivity
Introdução
As produtividades médias de grãos no Brasil são bem menores que as mais altas
produtividades comerciais e acredita-se que existe um alto potencial de produção a ser
atingido pela maioria dos produtores, uma vez que o conceito de eficiência produtiva
tem sido associado ao aumento na produtividade (Lobato & Sousa, 2004).
Por outro lado, o aumento da produtividade leva ao aumento dos custos de
produção que, se associado à falta de capital, inadequada logística/infra-estrutura e falta
180
de abertura de mercados, causa efeito antagônico aos interesses dos produtores, que é a
abundância e falta de escoamento da produção (Rodrigues, 2004).
O objetivo do presente trabalho foi avaliar a efetividade da área plantada e de
índices de produtividade sobre a produção de diversos produtos agrícolas em
municípios da Zona da Mata e Central de Minas Gerais.
Metodologia
Foram obtidas informações da produção agrícola (milho, feijão, arroz, cana,
café, banana, mandioca, laranja, tomate, coco e batata), área cultivada e produtividade
em 87 municípios da Zona da Mata e 23 da Zona Central (próximos à Zona da Mata) de
Minas Gerais, referente ao ano de 2003, no portal cidadesnet (www.cidadesnet.com.br).
Foi feita análise de correlação linear de Pearson da produção anual por município com o
tamanho da área plantada e produtividade por área.
Resultados e Discussão
Os dados sobre a produção agrícola, área cultivada e produtividade em
municípios da Zona da Mata e Central de Minas Gerais referente ao ano de 2003
encontram-se na Tabela 1. Os coeficientes de variação médios foram maiores para
produção (226%) e área plantada (172%) e baixo para produtividade (34%), mostrando
que a variação na produção entre municípios se deve mais à variação na área plantada
do que na variação da produtividade.
Estes dados se confirmam na Tabela 2, em que houve alta correlação entre
produção e área plantada (média: r=0,94) e baixas correlações entre produção e
produtividade (média: r=0,26) e produtividade e área plantada (média: r=0,10) (Tabela
2). Portanto, a área plantada por município tem efeito muito mais marcante na produção
das diversas culturas que os índices de produtividade, contrariando a tendência apontada
pelos adeptos do aumento da produtividade como solução para estimular o aumento da
produção agrícola.
Estes resultados estão de acordo com Guimarães et al. (2008) e Lana (2009), que
observaram altas correlações entre produção de leite pelo produtor rural e por estado da
federação, respectivamente, com o número de vacas ordenhadas e o tamanho da área
destinada aos rebanhos, e Lana (2009) especulou que provavelmente este fenômeno
poderia também acontecer com a produção de gado de corte e a produção agrícola.
Conclusão
O aumento da produção de diversas culturas (milho, feijão, arroz, cana, café,
banana, mandioca, laranja, tomate, coco e batata) ocorre pelo aumento da área plantada,
sendo pouco afetado pelo aumento de índices de produtividade.
Literatura Citada
GUIMARÃES, G.; LANA, R.P.; GUIMARÃES, A.V. et al. Sustentabilidade da
agricultura familiar na produção de leite. In: 10º Minas Leite, 2008, Juiz de Fora-MG.
Anais... Juiz de Fora: EMBRAPA, 2008. CD-ROM.
181
LANA, R.P. Uso racional de recursos naturais não renováveis: aspectos biológicos,
econômicos e ambientais. Revista Brasileira de Zootecnia, v.38, p.330-340, 2009
(suplemento Especial).
LOBATO, E.; SOUSA, D.M.G. Fertilidade do solo e máxima eficiência produtiva. In:
SOUSA, D.M.G.; LOBATO, E. (eds.) Cerrado - correção do solo e adubação. 2.ed.
Brasília, DF: EMBRAPA, 2004. p.257-282.
RODRIGUES, R. Prefácio. In: MEDEIROS, S.R.; EUCLIDES FILHO, K.;
EUCLIDES, V.P.B. (Ed.) A produção animal e a segurança alimentar. Campo
Grande: SBZ, 2004. p.3-4.
Anexos
Tabela 1 – Produção agrícola, área cultivada e produtividade em municípios da Zona
da Mata e Central de Minas Gerais
Toneladas/município/ano Área cultivada, ha
Toneladas/ha
n
Média
DP
Média
DP
Média
DP
110
2555
3013
814
852
3,04
0,64
Feijão1a
110
125
199
220
310
0,55
0,58
1b
110
181
296
283
385
0,56
0,18
101
13205
36588
230
559
45,2
16,8
95
888
2071
1165
2650
0,76
0,30
90
483
1034
43
103
13,5
6,8
86
231
361
17
28
12,7
4,1
Laranja
84
215
360
21
28
10,2
4,1
Arroz
4a
76
118
159
53
66
2,28
1,01
Arroz
4b
71
188
434
61
106
2,30
1,16
Tomate
51
1043
1922
18
31
49,3
13,0
Coco
18
128
367
9
15
12,7
10,1
Batata5a
12
1107
1501
52
66
19,3
4,2
Batata5b
11
1085
1557
65
80
17,7
5,0
Batata5c
10
1133
1398
61
77
19,7
3,1
Milho
Feijão
Cana
Café
2
Banana
Mandioca
3
CVmédio
226%
172%
34%
n = número de municípios; DP = desvio padrão; 1a = primeira safra; 1b = média da 2ª e
3ª safras; 2 = cachos em vez de toneladas; 3 = número (x1000) de laranjas em vez de
toneladas; 4a = arroz de várzea; 4b = arroz de sequeiro, sem ou com irrigação; 5a,b,c =
safras 1, 2 e 3, respectivamente; CV = coeficiente de variação. Fonte dos dados:
www.cidadesnet.com.br (ano de 2003).
182
Tabela 2 – Correlação linear (r) entre algumas variáveis relacionadas à produção
agrícola, em municípios da Zona da Mata e Central de Minas Gerais
Item
n
Milho
Produção (ton/ano)
Produção (ton/ano)
Produtividade
(ton/ha)
X área plantada
(ha)
X produtividade
(ton/ha)
X área plantada (ha)
110
0,95
0,35
0,14
Feijão
1a
110
0,87
0,18
0,02
Feijão
1b
110
0,96
0,42
0,31
101
0,99
0,34
0,30
95
0,98
0,07
0,00
90
0,96
-0,02
-0,14
86
0,98
0,21
0,09
Laranja
84
0,91
0,32
0,03
4a
76
0,88
0,22
-0,05
Arroz4b
71
0,91
0,53
0,38
Tomate
51
0,98
0,46
0,37
Coco
18
0,95
0,31
0,12
Batata5a
12
0,99
0,47
0,42
Batata5b
11
0,88
0,22
-0,19
Batata5c
10
0,99
-0,20
-0,29
0,94
0,26
0,10
Cana
Café
2
Banana
Mandioca
3
Arroz
Média
n = número de municípios; 1a = primeira safra; 1b = média da 2ª e 3ª safras; 2 = cachos
em vez de toneladas; 3 = número (x1000) de laranjas em vez de toneladas; 4a = arroz de
várzea; 4b = arroz de sequeiro, sem ou com irrigação; 5a,b,c = safras 1, 2 e 3,
respectivamente; Fonte dos dados: www.cidadesnet.com.br (ano de 2003).
183
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
4.3. Avaliação do protótipo de uma sacola ergonômica de colheita de laranja
visando a melhoria das condições de trabalho do trabalhador rural1
Vania Eugênia da Silva2, Simone Caldas Tavares Mafra3, Aline Constantino
Rodrigues4, Luiz Carlos Chamhum Salomão5, Regina Célia Pereira da Silva6
1
Artigo extraído de relatório técnico de pesquisa, financiada pela FAPEMIG Edital Universal/2007.
M.Sc. Economia Doméstica. Pesquisadora ERGOPLAN/UFV.
3
Professora Associada do Departamento de Economia Doméstica/UFV.
4
Bacharel em Economia Doméstica/UFV.
5
Professor do Departamento de Fitotecnia/UFV.
6
M.Sc. Economia Doméstica/UFV.
2
Resumo: O objetivo deste estudo foi reestruturação e teste do protótipo de uma Sacola
Ergonômica de Colheita de Laranja (SECOLA), por meio da aplicação da Análise
Ergonômica do Trabalho. O protótipo foi testado por trabalhadores vinculados à
atividade de colheita de citros em Visconde do Rio Branco e Viçosa-MG. O resultado
dos testes revelou que o protótipo desenvolvido encontra-se próximo ao que se
considera adequado para o desenvolvimento da tarefa, pois o material utilizado na
confecção foi bem aceito pelos trabalhadores. A estruturação foi considerada boa,
constatando-se a necessidade de melhorar aspectos relacionados a funcionalidade e a
produtividade com o uso do protótipo. Ressalta-se, entretanto, a necessidade de
conscientizar, informar e capacitar os trabalhadores para que estes aceitem mudanças no
ambiente de trabalho, ou seja, se tornem menos resistentes à mudança, quando se trata
de cuidados e prevenção em relação à saúde, pois estando esta preservada, os níveis de
produtividade tendem a aumentar. O estudo evidenciou que esta sacola pode levar à
redução dos desgastes físicos no desenvolvimento do trabalho, atendendo, por
conseguinte, as necessidades do trabalhador e do trabalho.
Palavras–chave: Análise Ergonômica do Trabalho, Colheita de Citros, Saúde do
Trabalhador
Evaluation of the prototype of an ergonomic bag of crop of orange seeking the
improvement of the conditions of work of the rural worker1
Abstract: The objective of this study was restructuring and test of the prototype of an
Ergonomic Bag of Crop of Orange (SECOLA), through the application of the
Ergonomic Work Analysis. The prototype was tested by workers linked to the activity
of citrus crop in Visconde do Rio Branco and Viçosa-MG. The result of the tests
revealed that the developed prototype is close to that considered appropriate for the
development of the task, because the material used in the making was well accept for
the workers. The structuring was considered good, being verified the need to improve
related aspects the functionality and the productivity with the use of the prototype. It is
stood out, however, the need to become aware, to inform and to qualify the workers for
these to accept changes in the work atmosphere, in other words, if they turn less
resistant to the change, when it is treated of cares and prevention in relation to the
health, because being this preserved, the productivity levels tend to increase. The study
184
evidenced that this bag can take to the reduction of the physical wear and tear in the
development of the work, assisting, consequently, the worker's needs and of the work.
Key Words: Ergonomic Work Analysis, Harvest of Citrus, Health of the Worker
Introdução
A eficiência na cultura da laranja, uma das frutas mais produzidas no Brasil, se dá
na colheita. Esta por sua vez, deve ser feita cuidadosamente e na época correta, não
danificando os frutos nem a planta, pois quando mal realizada compromete tanto a
qualidade do produto, quanto sua aceitação no mercado externo.
Os estudos que discutem os cuidados necessários na utilização das ferramentas
durante a colheita visam apenas o fruto e a planta, sem considerar o trabalhador e suas
necessidades. Este fato pode estar associado ao aumento do índice de acidentes,
insatisfação com o trabalho, que, por consequência, geram baixas de produtividade,
visto ser um trabalho extenuante, exigindo alto gasto de energia física por envolver
vários músculos e posturas desconfortáveis.
Apesar de haver vantagens e desvantagens tanto na colheita manual quanto na
colheita mecanizada, no Brasil, ainda, se utiliza a colheita manual visando a redução de
perdas e danos aos frutos. O trabalho de colheita manual requer atividades repetitivas,
força e posturas desconfortáveis, submete o trabalhador a condições precárias e
insalubres, uma vez que fica exposto ao sol, a intempéries, além de encontrar
dificuldades no desenvolvimento das tarefas como ferramentas mal projetadas que
reduzem a produtividade e comprometem sua saúde.
Entretanto, muitas tecnologias desenvolvidas ou reestruturadas, visando as
necessidades do trabalho e a saúde dos trabalhadores, passam a ter resistência por parte
dos mesmos. Estas, por sua vez, geram conflitos no ambiente de trabalho, entre o
trabalho e o trabalhador, que já habituado a um comportamento rotineiro percebe na
mudança algo negativo até que se conscientize de que a mesma é necessária, e de que
vai garantir-lhe a saúde e aumentar sua produtividade.
Nesse sentido, objetivou-se avaliar o protótipo de um equipamento de trabalho
denominado SECOLA (Sacola Ergonômica de Colheita de Laranja), testando-se
junto a trabalhadores na colheita de laranja, analisando as tarefas executadas pelos
mesmos e diagnosticando eventuais problemas relacionados ao uso do protótipo.
Material e Métodos
O método utilizado neste estudo foi a Análise Ergonômica do Trabalho. A partir
de dados obtidos em etapas anteriores desenvolvidas na cidade de Uberaba-MG (2002)
e Visconde do Rio Branco-MG (2007), foi confeccionado um novo protótipo. A coleta
de dados foi realizada, novamente na fazenda de Visconde do Rio Branco-MG e no
pomar da Universidade Federal de Viçosa (UFV), em 2008, utilizando-se para tanto os
trabalhadores que frequentemente usam a sacola na colheita da laranja, para o teste do
protótipo.
O novo protótipo foi confeccionado em lona vinílica de PVC, na cor azul, de alta
resistência, com aditivos especiais que a tornam auto-extinguível sob ação do fogo, antiUV e antifungos, o que confere ao produto maior durabilidade. O protótipo foi utilizado
com um cinturão de cadarço 100% algodão.
185
Na abertura superior da sacola foi utilizada uma correia para mantê-la aberta. O
comprimento foi reduzido de acordo com as sugestões dos trabalhadores em testes
anteriores, os ganchos fechados foram substituídos por ganchos abertos, o que na
opinião dos trabalhadores facilitaria o descarregamento dos frutos.
O novo protótipo foi estruturado com a possibilidade de regulagem, o que permite
que a mesma possa ser utilizada em diferentes situações, isto é, o trabalhador poderá
utilizá-la para colher 10kg, 15kg e 20kg de frutos.
Resultados e Discussão
Segundo os trabalhadores que testaram o protótipo, eles não recebiam treinamento
sobre como colher os frutos e nem como utilizar a sacola de colheita, aprendiam na
prática do dia-a-dia, e com outros trabalhadores.
Para os trabalhadores, a sacola que utilizavam no dia-a-dia era melhor em relação
ao protótipo que estava sendo testado, pois consideravam que com suas sacolas, o
trabalho rendia mais, uma vez que comportavam mais frutos, tendo, assim, a
possibilidade de encher uma caixa de laranja com apenas uma sacola, entretanto, alguns
se queixavam de dores no pescoço ao utilizá-la.
Os trabalhadores não perceberam muita facilidade na colheita dos frutos
utilizando o protótipo, pois para descarregar os frutos na caixa era preciso soltar os dois
ganchos que prendiam o fundo falso da SECOLA, enquanto que com suas sacolas
soltando apenas um dos ganchos conseguia-se esvaziar todo seu conteúdo. Além disso,
consideraram que o cinturão ergonômico era ruim, pois segundo eles apertava as costas.
Este fato vem reforçar a ideia de resistência do sujeito em relação à adoção de um
novo equipamento no seu cotidiano, ou seja, ele não consegue de imediato perceber os
benefícios e/ou vantagens que o novo instrumento pode lhe proporcionar (SILVA;
MAFRA, 2008).
No que diz respeito à colheita de frutos utilizando-se o protótipo, os frutos mais
fáceis de serem colhidos, segundo os trabalhadores, foram os que se encontravam na
altura mediana da árvore, pois podiam ficar com o corpo ereto, evitando dores, ao passo
que ao colher os frutos que se encontravam em uma altura considerada baixa, as costas
doíam. Com relação ao peso da SECOLA cheia, os trabalhadores a consideraram pouco
pesada.
Quanto ao manuseio da sacola, os trabalhadores consideraram difícil ter que soltar
os dois ganchos para descarregá-la. Com relação ao manuseio da sacola carregando a
escada, os mesmos disseram encontrar dificuldades, uma vez que ela ficava na frente do
corpo. O protótipo em teste não limitou os movimentos dos braços, porém dificultou os
movimentos da perna, como por exemplo, subir na escada. Assim, os trabalhadores
consideraram que com a sacola que utilizavam diariamente era mais fácil subir na
escada, uma vez que a mesma era colocada de lado.
No que se refere ao sistema de abertura do fundo falso, os trabalhadores relataram
que este atrasava o trabalho pelo fato de ter que soltar os dois ganchos para que a sacola
se esvaziasse. Quanto à abertura superior da sacola (boca), os trabalhadores
consideraram-na melhor, visto que a mesma se mantinha aberta facilitando a colocação
dos frutos e permitindo que o trabalhador ficasse com os dois braços livres para agilizar
a colheita e a colocação dos frutos.
186
Quanto ao material utilizado na confecção do protótipo (lona vinílica de PVC), os
trabalhadores não se mostraram muito satisfeitos. Isso demonstra mais uma vez a
resistência quanto ao novo, uma vez que nos testes anteriores, os próprios trabalhadores
sugeriram o referido material para a confecção do protótipo, considerando-o melhor,
pois, segundo eles, o material era resistente e não absorvia água. Chiavenato (1998) diz
que as pessoas podem habituar-se a um comportamento rotineiro e cotidiano, como
também podem reagir negativamente à mudança através de um comportamento de
defesa, ou ainda tentar obstruir de maneira velada ou aberta qualquer tentativa de
mudança.
Com relação ao peso da sacola, os trabalhadores consideraram-na mais leve
quando comparada às suas sacolas de trabalho. Porém, com a sacola repleta de frutos,
eles consideraram que seu peso poderia prejudicar a coluna, já que era colocada na
frente do corpo e quando cheia forçava o corpo a se curvar. Alguns trabalhadores
sentiram dores nas costas quando utilizaram a sacola em teste, entretanto, não houve,
durante os testes, nenhuma situação que pudesse levar a algum tipo de acidente de
trabalho.
Quanto aos aspectos passíveis de mudança no protótipo, os trabalhadores
sugeriram modificações: - na capacidade, para comportar maior quantidade de frutos,
para que se possa encher uma caixa de uma única vez, entretanto, ressalta-se que os
limites de peso que as pessoas podem transportar devem ser respeitados, e que este
aspecto foi considerado na estruturação do protótipo; - nas alças (cinturão ergonômico),
pois por não estarem acostumados prefeririam que elas fossem de lado, contudo,
ressalta-se que o cinturão ergonômico possui ajuste de altura e largura para melhor se
adaptar aos diferentes biotipos; e no material com o qual a sacola foi confeccionada.
O sistema de abertura superior da sacola (boca) foi considerado, pelos
trabalhadores, como um ponto positivo do protótipo. Em contrapartida, o cinturão
ergonômico - por considerar que o mesmo apertava o corpo -, e o sistema de abertura do
fundo falso - desprendimento dos dois ganchos -, foram citados como pontos negativos.
Quanto ao sistema de regulagem da capacidade da sacola para 20, 15 e 10 kg, os
trabalhadores afirmaram que para eles esse ponto não fazia diferença, mas preferiam a
opção de 20 kg porque o trabalho rendia mais, já que a sacola comportaria mais frutos.
De modo geral, o protótipo apresentou características positivas como o material
utilizado para sua confecção, a abertura superior, que se mantém aberta facilitando a
colocação dos frutos, e o cinturão ergonômico que possibilita a distribuição do peso
junto ao corpo do trabalhador. Por outro lado, no último teste realizado em Visconde do
Rio Branco-MG, o trabalhador se mostrou bastante resistente ao novo equipamento de
trabalho, que, inclusive, havia sofrido modificações sugeridas pelo mesmo.
Segundo Silva e Mafra (2008), essa resistência ao novo, comum a qualquer ser
humano e a qualquer produto, pode ser explicada por dois motivos: primeiro pelo
desconhecimento do produto bem como de seus benefícios, e depois pelo receio de
queda de sua produtividade, o que acarretaria em redução ou perdas econômicas.
De acordo com Spacey e Goulding (2003), o treinamento é a melhor estratégia
para se diminuir a resistência. No entanto, o treinamento deve ser feito com tempo
suficiente e de forma intensa para que todas as dúvidas e ansiedades sejam eliminadas.
187
Conclusões
De modo geral, considerando todas as etapas de teste do protótipo desenvolvido,
acredita-se que o mesmo encontra-se bem próximo do que se considera adequado para o
desenvolvimento da tarefa de colheita de citros. O material escolhido para a confecção
do protótipo foi bem aceito pelos trabalhadores, a estruturação do protótipo foi
considerada boa, mas constatou-se a necessidade de melhorar alguns aspectos, visando a
funcionalidade e a produtividade com o uso do protótipo proposto.
Entretanto, ressalta-se, a necessidade de conscientizar, informar e capacitar os
trabalhadores para que estes aceitem certas transformações no ambiente de trabalho,
quando se trata de cuidados e prevenção com relação à saúde dos mesmos, pois estando
esta preservada, os níveis de produtividade tendem a aumentar. Além disso, é
necessário, também, que se criem políticas e/ou normas que obriguem a adoção de
instrumentos de trabalho que sejam produzidos considerando o que estabelece a NR 31.
Neste contexto, o modelo proposto oferecerá o mínimo de risco e esforço físico ao
trabalhador e o máximo de eficiência na realização do trabalho proporcionando
elevação da produtividade, redução dos custos de produção e dos custos físicos no
desenvolvimento do trabalho, como por exemplo, os custos gerados pelos acidentes.
Sendo assim, espera-se que esse estudo possa, também, subsidiar outros trabalhos que
busquem melhorar as ferramentas utilizadas no trabalho rural.
Literatura Citada
CHIAVENATO, I. Os novos paradigmas. 2 ed. São Paulo: Atlas, 1998. 319p.
SPACEY, R.; GOULDING, A.M.I. ICT and change in UK public libraries: Does
training matter? Library Management, v. 24, n. ½, p.61-70, 2003.
SILVA, V.E.; MAFRA, S.C.T. Aplicação da Análise Ergonômica do Trabalho
(AET) na melhoria do processo de colheita de citros – O caso da sacola coletora.
Viçosa: MG, 2008. 123f. Relatório Técnico de Pesquisa (Bolsa de Apoio
Técnico/FAPEMIG). Universidade Federal de Viçosa, 2008.
188
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
4.4. A Economia Popular Solidaria como espaço emancipatório: um estudo nos
empreendimentos econômicos solidários da região norte de Minas Gerais1
Giliarde de Souza Brito2, Edina Souza Ramos3, Rony Enderson de Oliveira4
1
Parte da pesquisa sobre economia solidaria no norte de Minas, financiada pela FAPEMIG.
Mestrando em Ciências Agrária/Agroecologia UFMG/ICA.
3
Professor do Departamento de Ciências Sociais UNIMONTES.
4
Pesquisador do IFET Januária.
2
Resumo: No âmbito da Economia Popular Solidária, entendida como um movimento
emancipatório que agrega objetivos econômicos e sociais buscou-se, neste trabalho de
pesquisa, analisar os princípios de autogestão que apontam para uma nova cultura do
trabalho e os impactos econômicos de Empreendimentos Econômicos Solidários (EES)
da Região Norte de Minas. O trabalho de campo foi desenvolvido nos municípios de
Buritizeiro, Pirapora, Januária e Montes Claros. Para além dos dados quantitativos, o
estudo dos sujeitos no coletivo e no campo individual deu à pesquisa o caráter
qualitativo. Foram abordados três aspectos fundamentais para este estudo: as
características dos grupos, os indicadores de viabilidade econômica e os indicadores de
autogestão. Além dos aspectos coletivos relacionados aos empreendimentos, foi
também investigado sobre aspectos individuais relacionados a vivencia do integrante do
EES. A Economia Popular Solidária na região apresenta fragilidades e avanços nos três
aspectos abordados da pesquisa. Os pontos frágeis no campo da autogestão se referem
principalmente à questão da divisão de poder. No aspecto material percebe-se ainda
resultados econômicos tímidos com pouco impacto na renda familiar. Os avanços são
expressos em vários aspectos da realização humana e de novos processos de produção e
consumo.
Palavras-chave: autogestão, coletividade, solidariedade, vivência
The People's Solidarity Economy as emacipatorio space: a study in economic
enterprises supportive of the northern region of Minas Gerais
Abstract: As part of the solidary economy, understood as an emancipatory movement
that adds economic and social objectives we sought in this research work, analyzing the
principles of self-management that point to a new work culture and economic impacts
of Developments Economic Solidarity (ESS) from Northern Mines. The fieldwork was
conducted in the municipalities of Buritizeiro, Pirapora Januária and Montes Claros. In
addition to quantitative data, the study of subjects in the collective and the individual
field gave the qualitative research. Three aspects were central to this study: the
characteristics of the groups, the economic viability indicators and indicators of selfmanagement. Besides the aspects related to collective enterprises, was also investigated
aspects related to individual experiences of the member of the UES. The People's
Solidarity Economy in the region has weaknesses and progress in three areas addressed
in the research. The weak spots in the field of self-management refers primarily to the
issue of power sharing. On the material side perceives itself still timid economic results
with little impact on family income. Advances are denominated in various aspects of
human achievement and new production processes and consumption.
189
Key Words: self, community, solidarity, experience
Introdução
Este trabalho aborda, especificamente, o caráter social e econômico de
empreendimentos econômicos solidários de 4 municípios da região Norte de Minas:
Montes Claros, Januária, Pirapora e Buritizeiro, considerados referências em economia
popular solidária no âmbito do fórum mineiro de economia popular solidária - FMEPS e
no Fórum Brasileiro de Economia Solidária – FBES. Os quatro municípios juntos
representam mais de 50% dos empreendimentos da região.
Material e Métodos
A pesquisa busca identificar e analisar nos Empreendimentos Econômicos
Solidários (EES) princípios de gestão e organização do trabalho que remetem a novas
relações sociais de trabalho e os impactos do empreendimento no orçamento familiar
Em um universo de 60 (sessenta) empreendimentos econômicos solidários, mapeados
em 2005 pela Secretaria Nacional de Economia solidária - SENAES, 40 foram
pesquisados sob critérios previamente estipulados como: diversidade produtiva,
localização (urbana e rural), temporalidade, e formas de organização.
O enfoque metodológico adotado na pesquisa contribuiu na articulação de dados
objetivos e subjetivos possibilitando a descrição e compreensão dos diversos elementos
que explícita ou implicitamente mostram aspectos organizativos do trabalho associado e
resultados alcançados no âmbito social e econômico. Através da análise do perfil de
cada grupo, das relações de trabalho e formas de organização da produção e dos
resultados econômicos obtidos pelos grupos, busca-se apontar e compreender as
características e as implicações da economia popular solidária na região.
Na perspectiva de identificar e analisar nos Empreendimentos Econômicos
Solidários (EES) princípios de gestão e organização do trabalho que remetem a novas
relações sociais de trabalho e os impactos do empreendimento no orçamento familiar;
foi realizada a coleta de dados por intermédio de entrevista semi-estruturada focalizada
na trajetória pessoal de um ou dois membros do empreendimento econômico solidário e
de questionário focalizado nas características gerais de cada empreendimento.
Pretendia-se realizar seminários com os empreendedores, como campo de coleta de
dados sobre os novos conceitos e modelos em construção no movimento de economia
solidária. As circunstancia de um ano eleitoral impossibilitou esta atividade. No entanto,
nos municípios de Pirapora e Buritizeiro foi possível realizar reuniões de duas horas
com os diversos sujeitos da pesquisa
Resultados e Discussão
Constata-se que a maioria dos empreendimentos pesquisados (82%) estão situados
na zona urbana. Este dado reflete a realidade nacional em que os empreendimentos
urbanos só superam os rurais nas regiões Sudeste e Centro Oeste do Brasil, de acordo
com o mapeamento da SENAES, 2005/2007.
Ao pesquisar sobre o tempo de existência dos grupos deparamos com uma
realidade que nos chamou à atenção, pois na sua maioria (47,5%) já existem a mais de 5
190
anos e em segundo lugar, grupos com 1 a 2 anos de existência (25%). Isto reflete um
movimento ascendente sem quebra de tendência.
A participação de homens, no conjunto de participantes, no Estado de Minas é
maior que o das mulheres. Entretanto, na região e entre os municípios pesquisados, o nº
de mulheres é maior (74,75%). Entre os 4.784 participantes no Norte de Minas, 2.547
são mulheres e 2.237 são homens.
A comercialização é um dos obstáculos para o desenvolvimento e consolidação
dos empreendimentos solidários. Uma iniciativa de comercialização solidária pode ser
entendida como ponto de comercialização, tais como lojas, feiras (fixas ou pontuais),
centrais de comercialização ou centros públicos, que visam troca, interação, formação,
confraternização e até mesmo ser ponto local de referência da economia solidária.
Uma das alternativas encontradas pelos EES é a elaboração de catálogos que
contenham as características e informações dos produtos e histórico do EES. Tem feito
parte da realidade dos grupos, as compras públicas (PAA / CONAB; Compra Direta), o
comércio eletrônico, a formação de grupos de consumidores e o desenvolvimento de
canais de comercialização com o exterior (exportação).
Nos empreendimentos pesquisados, predominam os espaços próprios (22,5%) e
entrega direta aos clientes (27,5%), entende- se que aí a realidade é quase a mesma, pois
o espaço não altera. O cliente ou o consumidor pode ele mesmo ir buscar o produto
naquele espaço do empreendimento. As feiras livres representam também um espaço
fundamental de comercialização dos empreendimentos equiparando-se aos espaços
próprios.
Um dos indicadores de viabilidade econômica dos EES é a sua sustentabilidade e
autonomia financeira. A pesquisa mostra que os EES dos municípios pesquisados têm
aumentado o seu patrimônio através dos investimentos em equipamentos (52%) e
expressam uma grande preocupação com a capacitação de mão-de-obra (42%), no
sentido de atender os diversos aspectos práticos que compõem a atividade.
A renda familiar dos grupos pesquisados, na sua maioria não passa de 1 salário
mínimo. Com certeza este valor é resultado da soma do que o integrante ganha no
empreendimento. Isto nos leva a refletir sobre o estado de pobreza da nossa população.
A cooperação é uma dinâmica de relação humana, uma forma de “estar e interagir
com os demais” e, nesse sentido, passa por nossa constituição enquanto sujeitos sociais
históricos, assim diz Souza (2003). Cooperar implica em alta capacidade de
comunicação e diálogo, liderança e trabalho compartilhado, respeito à ação alheia,
responsabilidade, participação, etc.
Conclusões
Apesar das fragilidades apresentadas, tais como: baixa remuneração, dificuldades
na comercialização, distribuição de poder, troca de saberes, articulação em redes
regional e nacional, os empreendimentos econômicos solidários vêm adquirindo grande
importância no âmbito local, regional e nacional.
Quanto aos princípios de autogestão, encontramos algumas fragilidades em
relação a questão da socialização do saber e do poder, mas por outro lado, percebemos
que a periodicidade de reuniões que na sua maioria são semanais podem contribuir na
superação destas fragilidades. Através das entrevistas, foi possível visualizar esta
191
possibilidade de avanços a partir da constatação que as pessoas estão se sentindo
realizadas enquanto seres humanos, no trabalho.
De maneira geral, os dados obtidos nesta pesquisa indicam que, em meio a este
novo mundo do trabalho, a economia popular solidária vem significando mudanças
profundas na vida dos integrantes dos EES. Ao perguntar sobre em que a vida deles
havia melhorado depois começou a participar do empreendimento, alguns responderam:
Agradecimentos
Agradecemos em especial a FAPEMIG com os recursos disponibilizado para
dinamizar a pesquisa nos municípios. A todos os empreendimentos econômicos
solidários que nos recebeu com muita hospitalidade.
Literatura Citada
SOUZA, A.R. Uma outra economia é possível. São Paulo: Contexto, 2003.
192
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
4.5. Oficinas de sanidade animal: uso de fitoterapia e homeopatia em rebanhos
leiteiros no oeste catarinense1
Luciana Aparecida Honorato2, Grazyne Tresoldi3, Rafaela Cristini de Souza4, Lucas
Fillietaz Balcão3, Vitor Borguezan Mozerle5, Luiz Carlos Pinheiro Machado Filho6
1
Parte do projeto de extensão “Desenvolvimento Sustentado do Oeste de SC, através do Método
Participativo e do Planejamento e Uso Integrado da Unidade de Produção Familiar”, financiamento CNPq
e Sebrae/SC.
2
Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Zootecnia/UFPel.
3
Mestranda(o) do Programa de Pós-graduação em Agroecossistemas/UFSC.
4
Estudante de graduação em Agronomia/UFSC.
5
Estudante de graduação em Zootecnia/UFSC.
6
Professor do Departamento de Zootecnia e Desenvolvimento Rural/UFSC.
Resumo: Objetivando fortalecer a produção familiar leiteira agroecológica nas
microrregiões catarinenses de Xanxerê, Chapecó e São Miguel do Oeste, buscou-se
identificar as principais falhas no manejo da saúde animal e da ordenha a fim de
propormos didáticas para suprir a demanda de produtores e técnicos na adoção de
práticas que atuem na promoção da saúde de rebanhos leiteiros. Verificou-se que as
mastites, os abortos, as endo e ectoparasitoses são os principais problemas sanitários
que acometem os rebanhos e que os medicamentos químico-sintéticos representam
grande parte dos custos de produção. A partir disso, foram realizadas oficinas com foco
nos métodos sanitários profiláticos e no uso de tratamentos alternativos baseados em
homeopatia e fitoterapia veterinária. Os agricultores participantes demonstraram
bastante interesse, especialmente em relação à homeopatia, prática pouco conhecida e
utilizada por eles.
Palavras–chave: adoção de tecnologias, fitoterápicos, homeopatia, profilaxia, vacas
leiteiras
Workshops on animal health: use of herbal medicine and homeopathy in dairy
cattle in western Santa Catarina
Abstract: Aiming to strengthen the organic milk production on small farms in the
regions of Santa Catarina State Xanxerê, Chapecó and São Miguel do Oeste, we identify
the main flaws in the management of animal health and milking to proposing teaching
to meet the demand of producers and technicians in the adoption of practices that work
in promoting the health of dairy herds. We found that the mastitis, abortions, the endo
and ectoparasites are the main health problems affecting the livestock and the chemicalsynthetic drugs represent a large part of production costs. From this, workshops were
held focusing on prophylactic and sanitary methods in the use of alternative treatments
based on veterinary homeopathy and herbal medicine. The participating farmers showed
great interest, especially in relation to homeopathy, a practice little known and used by
them.
Key Words: adoption of technologies, herbal medicine, homeopathy, prophylaxis, dairy
cows.
193
Introdução
A agroecologia tem se apresentado como uma importante alternativa para os
sistemas de produção para a agricultura familiar. Entretanto, para viabilizá-los é
necessário incentivar as famílias rurais para a adoção de práticas que garantam a
produção de alimentos saudáveis e autonomia ao agricultor. Na transição para a criação
animal agroecológica deve haver uma etapa inicial de conscientização dos agricultores
sobre o sistema agroecológico, de forma a propiciar mudanças de atitudes com relação
aos animais. Nesse sistema, o manejo é baseado, primeiramente, em melhorar a saúde e
promover o bem-estar dos animais, permitindo que os mesmos possam executar seus
comportamentos naturais, melhorando as condições de higiene do ambiente, diminuindo
a exigência de produção dos animais e, secundariamente, enfatiza-se o uso de
tratamentos alternativos para as doenças dos animais (Vaarst et al., 2006). Tratamentos
alternativos, como homeopatia e fitoterapia, são reconhecidos pela Organização
Mundial de Saúde e estão sendo recomendados pelos órgãos certificadores de produtos
orgânicos. Tais terapias vêm sendo utilizadas em substituição aos medicamentos
químico-sintéticos geralmente em função de seu menor custo, pela fácil aplicação e por
não necessitarem de um período de carência e não causarem impacto ambiental grave.
Objetivando suprir a demanda de produtores e técnicos em adotar e/ou aperfeiçoar
práticas que atuem na promoção da saúde dos animais, bem como o uso de produtos
homeopáticos e fitoterápicos, visando o equilíbrio ambiental e o bem-estar do animal,
promovemos a capacitação de produtores e técnicos no oeste catarinense.
Material e Métodos
O trabalho foi realizado em 18 unidades familiares no ano de 2008, nos
municípios catarinenses de Anchieta, Bom Jesus, Coronel Martins, Formosa do Sul,
Galvão, Jupiá, Novo Horizonte e São Domingos. Em cada um deles, foram selecionadas
de duas a quatro unidades familiares em cada município com o intuito de transformá-las
em unidades modelo de produção leiteira agroecológica.
Inicialmente, foram realizadas entrevistas semi-estruturadas para o levantamento
dos problemas sanitários que afetam o rebanho e o uso de práticas alternativas para a
profilaxia/tratamento dos animais. Além disso, acompanhou-se a ordenha para detecção
das práticas utilizadas. A partir da compilação e análise destes dados, organizaram-se
oficinas de sanidade animal a fim de capacitar de agricultores e técnicos locais. Neste
mesmo momento, identificamos junto com os produtores, através da metodologia
MESMIS, os principais fatores que limitam a produção sustentável de leite.
Cerca de dois meses após as oficinas, retornamos a cada unidade para verificação
da implantação das práticas bem como as principais dificuldades encontradas.
Resultados e Discussão
A partir da análise das entrevistas, verificamos que os problemas sanitários mais
recorrentes nas vacas nas unidades visitadas foram identificados como sendo as
mastites, os abortos, as ecto e endoparasitoses representando, respectivamente, 44, 50,
56 e 72% dos casos nas unidades. Para estas doenças, tanto o tratamento profilático
quanto o terapêutico eram realizados com base em produtos de base química sintética
(medicamentos convencionais).
Embora as mastites não fossem relatadas como a doença de maior ocorrência
194
sabe-se que elas representam a maior parte dos prejuízos na atividade leiteira, seja pela
queda na produção ou na qualidade, pelo aumento dos custos dos tratamentos, ou até
mesmo pelo descarte precoce das vacas que apresentam casos de mastite crônica
(Müller, 2000). Os baixos índices de detecção de mastite estão relacionados com a falta
de instrumentos de análise do leite como o Califórnia Mastitis Test (CMT) e a
contagem de células somáticas (CCS). As principais falhas observadas em relação ao
manejo de ordenha consistiam com a falta de um ambiente de ordenha adequado, visto
que a maioria das unidades realiza ordenha em galpões improvisados; a falta de
utilização de métodos de higienização durante a ordenha; o desconhecimento de testes
diagnóstico de mastite clínica e subclínica (teste da caneca de fundo escuro e CMT); a
falta de manutenção e a deficiência dos métodos de higienização dos equipamentos de
ordenha. Todos esses fatores propiciam a multiplicação e a disseminação dos agentes
causadores de mastite e sua instalação nos tetos bem como a extração de um produto de
baixa qualidade pela sua alta contaminação bacteriana e pelos baixos índices de caseína.
Dentre os produtores visitados, 89% estão fora dos padrões de contagem de células
somáticas e de bactérias totais aceitos pela legislação vigente (Instrução Normativa 51,
MAPA), reforçando que existem falhas na manutenção da saúde do úbere, no processo
de ordenha e na conservação do leite.
Em relação à saúde geral, verificamos que os rebanhos não eram testados para
tuberculose e brucelose, e em menos de 30% deles eram feitas vacinações contra
importantes agentes infecciosos causadores de morte embrionária ou aborto como o
vírus da diarréia viral bovina (BVD), o vírus da rinotraqueíte infecciosa bovina (IBR) e
a Leptospira spp. Esses dados corroboram com os altos índices de aborto relatados
pelos produtores.
Outro aspecto relevante para a ocorrência de doenças dentro dos sistemas de
produção nas propriedades atendidas são as falhas no manejo das pastagens. Grande
parte dos produtores possuía um número reduzido de piquetes, fazendo com que o gado
permanecesse por um longo período naquele mesmo piquete, facilitando a recontaminação/ re-infestação de endo e ectoparasitos. Para minimizar este efeito e
melhorar o desempenho produtivo animal, as pastagens e o solo, o projeto propunha-se
a implantar o método de manejo de pastagens conhecido como Pastoreio Racional
Voisin (Machado, 2010).
Com intuito de suprir as demandas das famílias envolvidas relacionadas ao
manejo sanitário leiteiro na produção agroecológica de leite realizaram-se oficinas onde
abordamos o uso de práticas alternativas ao manejo convencional (para o uso de
medicamentos) e a otimização das práticas de manejo de ordenha. Para tal, discutimos
os princípios da homeopatia e da fitoterapia bem como suas formas de aplicação e uso,
manejo higiênico da ordenha e qualidade do leite. Foram preparados extratos de plantas
medicinais para uso na ordenha e fitoterápicos para a prevenção/cura de mastites e
outras doenças do úbere, endo e ectoparasitoses. Distribuiu-se para cada família um kit
com 15 diferentes medicamentos homeopáticos com as devidas instruções.
Durante as oficinas o alto grau de suplementação alimentar foi apontado, entre os
produtores, como sendo o principal fator limitante para a produção leiteira sustentável.
Entretanto, o uso de medicamentos de síntese química para tratamento de doenças foi
apontado como o segundo item que mais pesa no custo de produção. Nenhuma das
famílias utilizava substâncias naturais na assepsia dos tetos das vacas, entretanto, o uso
de plantas medicinais foi mencionado especialmente para a cura dos animais. Os
produtores mostraram-se abertos ao uso de tratamentos alternativos, especialmente,
195
frente ao uso de homeopatia. A maioria dos produtores já conhecia seus benefícios
através de conversas com outros produtores que já usavam homeopatia, mas não sabiam
de que forma ela agia no organismo e como poderiam introduzi-la na sua atividade.
Nas visitas de retorno às unidades para identificamos a adoção das práticas,
verificamos que 61 e 44% dos produtores adotaram, respectivamente, o uso de
homeopatia e fitoterapia tanto para processos profiláticos quanto curativos e 28% deles
modificaram algum quesito no manejo e nos processos de higienização do sistema de
ordenha a fim de melhorar a qualidade do leite produzido. Possivelmente a motivação
prévia, a disposição dos kits e a facilidade do uso e aplicação fizeram com que a
homeopatia fosse a prática com maior adesão pelos produtores. As práticas de ordenha
requerem maior esforço e necessidade de mudança de atitude pelos produtores.
Conclusões
A partir de entrevistas semi-estruturadas e de observações diretas foi possível
identificar os principais aspectos relacionados a saúde de vacas leiteiras e a partir disso
a propor oficinas que visassem o manejo sanitário profilático e o uso de medicinas
alternativas à medicina clássica/convencional.
A realização de oficinas coletivas propiciou a troca de informações entre famílias
agricultoras bem como possibilitou-lhes melhor entender e aplicar práticas como o uso
da homeopatia e fitoterapia, dando suporte para a produção de leite agroecológico.
Entretanto, a adoção de boas práticas de ordenha estão relacionadas com a mudança de
atitude por parte dos agricultores.
Agradecimentos
Pelo apoio das famílias, das prefeituras e técnicos dos municípios participantes do
projeto e pelo auxílio financeiro do CNPq e Sebrae/SC.
Literatura Citada
MACHADO, L.C.P. Pastoreio Racional Voisin: tecnologia agroecológica para o
terceiro milênio. 2. ed. São Paulo: Expressão Popular, 2010. 376p.
MÜLLER, E.E. Profilaxia e controle da mastite. In: Workshop sobre produção e
qualidade do leite, 2000, Maringá-PR. Anais... Maringá: UEM, 2000. CD-ROM.
VAARST, M.; BENNEDSGAARD, T.W.; KLAAS, I.; NISSEN, T.B.; THAMSBORG,
S.M.; OSTERGAARD, S. Development and daily management of an explicit strategy
of nonuse of antimicrobial drugs in twelve Danish dairy herds. Journal of Dairy
Science, v.89, p.1842-1853, 2006.
196
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
4.6. Genes Ty-2 e Ty-3, que conferem resistência a begomovírus, presentes em
subamostras do banco de germoplasma da UFV
Jorge González Aguilera1, Francisco Dueñas Hurtado2, César Augusto Diniz Xavier3,
Bruno Soares Laurindo3, Derly José Henriques da Silva4 e Francisco Murilo Zerbini5
1
Parte da tese de doutorado do primeiro autor, financiada pela FAPEMIG.
Departamento de Genetica y Mejoramiento del Instituto Nacional de Ciencias Agrarias (INCA), Cuba.
3
Estudante de graduação em Agronomia, Universidade Federal de Viçosa (UFV).
4
Professor do Departamento de Fitotecnia, Universidade Federal de Viçosa (UFV).
5
Professor do Departamento de Fitopatologia, Universidade Federal de Viçosa (UFV).
2
Resumo: Os begomovírus são vírus transmitidos por mosca branca (Bemisia tabaci) e
constituem uma das principais causas de perdas e danos na cultura do tomate no Brasil.
Os genes Ty-1, Ty-2 e Ty-3 são os que mais estão sendo empregados nos programas de
melhoramento da cultura no mundo. No Brasil, encontram-se numerosas variedades e
híbridos que são portadores apenas do gene Ty-1. Neste trabalho identificou-se a
presença de marcador relacionado ao gene de resistência Ty-2, em heterozigose na
subamostra BGH-6882, e o marcador relacionado ao gene Ty-3 em três subamostras,
BGH-6880, BGH-6882 e BGH-6901, dentre 78 subamostras analizadas do Banco de
Germoplasma de Hortaliças da UFV.
Palavras–chave: geminivirus, recursos genéticos, Solanum lycopersicum
Genes Ty -2 and Ty -3, which confer resistance to begomoviruses, found in
subsamples of the germplasm bank of UFV
Abstract: Begomoviruses are transmitted by whiteflies (Bemisia tabaci) and are a
major cause of yield losses on tomato crops in Brazil. The Ty-1, Ty-2 and Ty-3 genes
are the main resistance genes that are being used in crop breeding programs worldwide.
In Brazil, there are numerous varieties and hybrids that carry only the Ty-1 gene. In this
work, the presence of a marker band related to the Ty-2 gene was detected in
heterozygosis in the subsample BGH-6882, and a marker band related to the Ty-3 gene
was detected in three subsamples (BGH-6880, BGH-6882 and BGH-6901) out of the 78
accessions analyzed from the Vegetable Crops Germplasm Bank of UFV.
Key Words: geminivirus, genetic resources, Solanum lycopersicum
Introdução
Considerando a vulnerabilidade atual dos genótipos cultivados de tomate
(Solanum lycopersicum) e a ocorrência frequente de novos vírus no campo (CastilloUrquiza et al., 2008), numerosos programas de melhoramento genético tem como
objetivo a procura e introgressão de genes relacionados com a resistência a viroses a
partir das espécies silvestres pertencentes ao gênero Solanum, como uma das
alternativas mais duradouras e eficientes em comparação com outras estratégias de
manejo.
197
As variedades e híbridos atualmente disponíveis no mercado brasileiro são
principalmente portadoras do gene Ty-1, que confere resistência ao Tomato yellow leaf
curl virus (TYLCV). O TYLCV é um begomovírus monossegmentado que, embora
ainda não relatado no Brasil, é o mais importante mundialmente devido à severidade
dos sintomas induzidos em tomateiro. Daí a importância de fontes de resistência a este
vírus serem incorporadas nas variedades e híbridos disponíveis no mercado brasileiro. A
procura por fontes adicionais de resistência levou à descoberta e introgressão dos genes
Ty-2 e Ty-3, descritos nas espécies selvagens S. habrochaites e S. chilense,
respectivamente, e que como o gene Ty-1 conferem resistência a diferentes isolados de
TYLCV (Hanson et al., 2006, Ji et al., 2007).
Este trabalho teve como objetivo identificar a presença dos genes Ty-2 e Ty-3
dentre 78 subamostras do Banco de Germoplasma de Hortaliças (BGH) da Universidade
Federal de Viçosa (UFV).
Material e Métodos
O experimento foi conduzido no Laboratório de Virologia Vegetal Molecular
(LVVM) do Departamento de Fitopatologia da UFV. Foram avaliadas 78 subamostras
pertencentes à coleção do BGH da UFV (Tabela 1). Como controles negativos (ausência
dos genes Ty-2 e Ty-3) foram utilizados a cultivar Santa Clara e o híbrido Débora.
Como controles positivos foram empregados materiais portadores dos genes Ty-2 (H24
e LD7) e Ty-3 (STY4), doados pelo Instituto Nacional de Ciências Agrícolas (INCA) de
Cuba. As mudas foram cultivadas em bandejas até 25 dias após a germinação e
transplantadas para vasos plástico de 1 L de capacidade contendo solo e esterco bovino
(2:1) previamente esterilizados.
As plantas foram mantidas até o estádio de quatro pares de folhas verdadeiras.
DNA total foi extraído pelo método de Dellaporta et al. (1983). Para a identificação dos
genes foram utilizados oligonucleotídeos específicos para os genes Ty-2 e Ty-3
descritos por Hanson et al. (2006) e Ji et al. (2007), respectivamente. As reações de
PCR foram realizadas em um volume final de 25 μl, empregando 1U de Taq DNA
polimerase, 2,5 mM de cada dNTP, 2,5 mM de tampão, 1,5 mM de MgCl2 e 2,5 µM de
cada oligonucleotídeo. Os produtos obtidos nas reações de PCR foram analisados em
géis de agarose a 1,5%. Os géis foram corados com brometo de etídeo e fotografados
sob luz ultravioleta.
Resultados e Discussão
O gene Ty-2 foi identificado apenas na subamostra BGH-6882, obtendo-se um
padrão de bandas características para a condição de heterozigose (Ty-2/ty-2) (Tabela 1).
Esse padrão consiste em um fragmento com aproximadamente 950 pares de bases (pb)
correspondente ao alelo que confere resistência (Ty-2, também presente )nas linhagens
H24 e LD7) e outro com aproximadamente 850 pb correspondente ao alelo que confere
suscetibilidade (ty-2, também presente em todas as demais subamostras e nos controles
negativos).
Estudos realizados em Cuba por Dueñas et al. (2008) com materiais portadores do
gene Ty-2 mostraram que sob condições de infecção não controlada pelo isolado cubano
TYLCV-IL-[CU], os materiais H24 e CLN2116B apresentaram comportamento de
resistência, com ausência dos sintomas característicos do vírus e sem replicação viral.
198
Este resultado sugere a possibilidade de emprego desse gene no Brasil em novos
genótipos, os quais poderiam apresentar um comportamento similar em relação aos
begomovirus bissegmentados aqui presentes.
O gene Ty-3 foi detectado nas subamostras BGH-6880 e BGH-6901 em condição
de homozigose (amplificação de um fragmento com aproximadamente 640 pb, mesmo
padrão obtido no genótipo STY4 (Tabela 1). O gene também foi detectado, em
heterozigose (Ty-3/ty-3), na subamostra BGH-6882. A identificação do gene Ty-3 foi
feita por Ji et al. (2007) nos acessos LA 2779 e LA 1932, ambos da espécie silvestre S.
chilense. Este gene tem sido empregado no programa de melhoramento genético para
begomovírus na Florida, por conferir resistência ao TYLCV e ao Tomato mottle virus
(ToMoV).
A identificação dos dois genes nas subamostras do BGH da UFV indica a
possibilidade de identificação de genótipos portadores de outros genes de resistência.
Além disso, a identificação dos genes em subamostras da espécie S. lycopersicon
(BGH-6880 e BGH-6901) permitiria a obtenção de híbridos, linhagens ou variedades
com um espectro de resistência maior em curto prazo, pela facilidade dos cruzamentos.
A facilidade de detecção e identificação destes genes de resistência a partir de técnicas
simples como o PCR será de grande valia nos programas de melhoramento, permitindo
a seleção assistida por marcadores nos novos materiais em qualquer um dos genótipos
possíveis (heterozigose e homozigose dominante ou recessiva).
Tabela 1. Subamostras do Banco de Germoplasma de Hortaliças (BGH) da
Universidade Federal de Viçosa (UFV) utilizadas no trabalho, e resultado
da detecção dos genes Ty-2 e Ty-3 via PCR.
Genes 1
No
Código
Ty2
Ty3
1
BGH2087
-
-
2
BGH2088
-
-
3
BGH2089
-
-
4
BGH2091
-
-
5
BGH2092
-
-
6
BGH2093
-
-
7
BGH2095
-
-
8
BGH2096
-
-
9
BGH2097
-
-
Genes 1
No
Código
29
BGH-2132
30
BGH-2133
31
BGH-2134
32
BGH-2135
33
BGH-2138
34
BGH-2141
35
BGH-2114
36
BGH-2143
37
BGH-2149
Ty2
Ty3
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
Genes 1
No
Código
57
BGH-6881
58
BGH-6882
59
BGH-6885
60
BGH-6889
61
BGH-6901
62
BGH-6904
63
BGH-6924
64
BGH-6925
65
BGH-6926
Ty-2
Ty-3
-
-
±
±
-
-
-
-
-
+
-
-
-
-
-
-
-
-
199
10
BGH2098
-
-
11
BGH2100
-
-
12
BGH2102
-
-
13
BGH2105
-
-
14
BGH2109
-
-
15
BGH2110
-
-
16
BGH2111
-
-
17
BGH2115
-
-
18
BGH2116
-
-
19
BGH2117
-
-
20
BGH2118
-
-
21
BGH2120
-
-
22
BGH2121
-
-
23
BGH2122
-
-
24
BGH2124
-
-
25
BGH2125
-
-
26
BGH2127
-
-
27
BGH2128
-
-
28
BGH2131
-
-
1
38
BGH-2150
39
BGH-2151
40
BGH-2112
41
BGH-2113
42
BGH-2123
43
BGH-2129
44
BGH-2130
45
BGH-2136
46
BGH-2144
47
BGH-2145
48
BGH-2146
49
BGH-2119
50
BGH-6859
51
BGH-6861
52
BGH-6863
53
BGH-6867
54
BGH-6877
55
BGH-6878
56
BGH-6880
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
+
66
BGH-6993
67
BGH-7024
68
BGH-7192
69
BGH-7193
70
BGH-7197
71
BGH-7213
72
BGH-7218
73
BGH-7221
74
BGH-7222
75
BGH-7263
76
BGH-7267
77
BGH-7469
78
BGH-7474
79
Débora
80
Santa Clara
81
H 24
82
LD7
83
STY4
84
Campbell 28
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
+
-
+
-
-
+
-
-
Detecção em homozigose (+), heterozigose (±) ou ausência dos genes (-).
Conclusões
Identificou-se a presença de marcadores relacionados aos genes de resistência
Ty-2 na subamostra BGH-6882 e Ty-3 nas subamostras BGH-6880, BGH-6882 e BGH6901, dentre as 78 subamostras analizadas do Banco de Germoplasma de Hortaliças da
UFV.
200
Literatura Citada
CASTILLO-URQUIZA, G.P., BESERRA, J.E.A., BRUCKNER, F.P., LIMA, A.T.M.,
VARSANI, A., ALFENAS-ZERBINI, P. & ZERBINI, F.M. Six novel begomoviruses
infecting tomato and associated weeds in Southeastern Brazil. Archives of Virology,
v.153, p.1985–1989, 2008.
DELLAPORTA, S.L., WOOD. J. & HICKS. J.B. A plant DNA minipreparation:
Version II. Plant Molecular Biology Reporter, v. 1, p. 19-21, 1983.
DUEÑAS, F., MARTÍNEZ, Y., ÁLVAREZ, M., MOYA, C., PETEIRA, B., ARIAS,
Y., DIEZ, M. J., HANSON, P. & SHAGARODSKY, T. Caracterización
agromorfológica y evaluación de la resistencia al TYLCV en nuevos genotipos de
tomate (Solanum lycopersicum L.) como apoyo al programa de mejoramiento genético
de la hortaliza para la enfermedad. Cultivos Tropicales, v. 29, p. 53-60, 2008.
GONZÁLEZ-CABEZUELO, J.M., TOMÁS, D.M., LORENTE, I., ABAD, J.,
FERNÁNDEZ-MUÑOZ, R., MORIONES, E. & LOZANO, R. Marcadores Moleculares
ligados a la resistencia a TYLCD en tomate. Acta de Horticultura, v. 48, p. 105-108,
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HANSON, P.M., GREEN, S. K. & KUO, G. Ty-2, a gene on chromosome 11
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JI, Y., SCHUSTER, D.J. & SCOTT, J.W. Ty-3, a begomovirus resistance locus near
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Molecular Breeding, v. 20, p. 271–284, 2007.
PÉREZ DE CASTRO, A., DIEZ. M.J. & NUEZ, F. Inheritance of Tomato yellow leaf
curl virus resistance derived from Solanum pimpinellifolium UPV 16991. Plant
Disease, v. 91, p. 879-885, 2007.
201
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
4.7. Reação de subamostras do banco de germoplasma da UFV à infecção por
begomovírus em condições de casa-de-vegetação e de campo
Jorge González Aguilera1, Francisco Dueñas Hurtado2, César Augusto Diniz Xavier3,
Bruno Soares Laurindo3, Derly José Henriques da Silva4 e Francisco Murilo Zerbini5
1
Parte da tese de doutorado do primeiro autor, financiada pela FAPEMIG.
Departamento de Genetica y Mejoramiento del Instituto Nacional de Ciencias Agrarias (INCA), Cuba.
3
Estudante de graduação em Agronomia, Universidade Federal de Viçosa (UFV).
4
Professor do Departamento de Fitotecnia, Universidade Federal de Viçosa (UFV).
5
Professor do Departamento de Fitopatologia, Universidade Federal de Viçosa (UFV).
2
Resumo: O objetivo do trabalho foi avaliar a resposta de 48 subamostras de tomateiro
(Solanum lycopersicum Mill.) à inoculação artificial com begomovírus em casa-devegetação e inoculação natural no campo. Os resultados das inoculações indicaram a
presença de fontes de resistência com comportamento diferencial em ambas as
condições, destacando-se as subamostras BGH-2112 e BGH-2123, que apresentaram
comportamento similar ao apresentado pelo controle resistente (Fany) em casa-devegetação e no campo.
Palavras–chave: geminivírus, recursos genéticos, Solanum lycopersicum
Reaction of subsamples of the germplasm bank of UFV to begomovirus infection
under greenhouse and field conditions
Abstract: The objective of this study was to evaluate the response of 48 subsamples of
tomato (Solanum lycopersicon Mill.) after artificial inoculation with a begomovirus
under greenhouse conditions and natural infection in the field. Resistance sources with
different behaviors were detected under both inoculation conditions in the subsamples
BGH-2112 and BGH-2123, which displayed the same behavior shown by the resistant
control (Fany) in the greenhouse and in the field.
Key Words: geminivirus, genetic resources, Solanum lycopersicum
Introdução
O elevado grau de variabilidade genética de begomovírus em tomateiro (CastilloUrquiza et al., 2008) faz do Brasil um centro de origem e diversidade genética desses
patógenos, e dificulta a implementação de estratégias de controle baseadas no uso de
cultivares ou híbridos contendo o gene Ty-1, que confere resistência ao begomovírus
monossegmentado Tomato yellow leaf curl virus (TYLCV). A busca por fontes
adicionais de resistência específicas às espécies virais que ocorrem no Brasil torna-se
portanto essencial. Os bancos de germoplasma são importantes fontes de conservação
de recursos genéticos, e podem ser empregados na busca por fontes de resistência a
numerosas pragas e doenças. Subamostras do Banco de Germoplasma de Hortaliças
(BGH) da UFV tem sido caracterizadas de forma sistemática, tendo como resultado a
identificação de uma fonte de resistência ao potyvírus Pepper yellow mosaic virus
(PepYMV) (Juhasz et al., 2006) e seis fontes de resistência ao biótipo B de Bemisia
202
tabaci (Fernandes et al., 2009), o que evidencia o potencial deste material conservado
na UFV.
O objetivo deste trabalho foi avaliar a resposta de 48 subamostras de tomateiro
(Solanum lycopersicon Mill.) após a inoculação artificial com o begomovírus
bissegmentado Tomato yellow spot virus (ToYSV) em casa-de-vegetação e inoculação
natural no campo.
Material e Métodos
O experimento foi conduzido no Laboratório de Virologia Vegetal Molecular
(LVVM) do Departamento de Fitopatologia da Universidade Federal de Viçosa, e na
"Horta Velha", vinculada ao Departamento de Fitotecnia da UFV. Foram avaliadas 48
subamostras da espécie S. lycopersicum pertencentes à coleção do BGH da UFV
(Tabela 1). Como controles de suscetibilidade ao ToYSV foram empregados a cultivar
Santa Clara e os híbridos Débora e Fany. Foram conduzidos dois experimentos, um em
casa-de-vegetação sob condições controladas, e outro no campo sob condições de
infecção natural. As mudas foram cultivadas em bandejas até 25 dias após a germinação
e transplantadas para vasos plástico de 1 L de capacidade contendo solo e esterco
bovino (2:1) previamente esterilizados (experimento em casa-de-vegetação), ou
transplantadas diretamente (experimento no campo).
No experimento em casa-de-vegetação, cinco plantas de cada subamostra foram
inoculadas via biobalística utilizando-se os clones infecciosos pToYSV-A1.2 e
pToYSV-B1.2 do ToYSV (Andrade et al., 2006). Os sintomas observados aos 45 dias
pós-inoculação (dpi) foram avaliados por meio de uma escala de notas (0- ausência de
sintomas, 1- sintomas leves, e 2- sintomas severos). A concentração viral foi avaliada
aos 45 dpi por meio de uma segunda escala de notas (0- 0 ng, 1 -menos de 100 ng, 2100 ng, 3- mais de 100 ng). No experimento de campo, 10 plantas foram inoculadas por
livre escolha do inseto vetor (B. tabaci), garantindo fontes de inóculo próximas ao local
do experimento. Os sintomas e a concentração viral foram avaliados utilizando-se as
mesmas escalas de notas do primeiro experimento, porém aos 60 dpi. A extração de
DNA foi realizada pelo método de Dellaporta et al. (1983) e a quantificação viral foi
realizada por hibridização molecular com sondas radioativas (32P) conforme descrito
por Gilberson et al. (1991). As sondas utilizadas consistiram no clone infeccioso
correspondente ao DNA-A do ToYSV em condição de alta especificidade (experimento
em casa-de-vegetação), e na mistura de clones correspondentes aos DNAs-A de
diferentes begomovírus , em condição de baixa especificidade (experimento de campo).
O nível de resistência das subamostras foi determinado com base nas notas das
hibridizações: altamente resistente (AR) 0 - 0,3ng; resistentes (R) 0,31 - 0,6ng;
moderadamente resistente (MR) 0,61 – 1,2ng; suscetível (S) 1,21 – 1,8ng; altamente
suscetível (AS) 1,81 – 3ng.
Resultados e Discussão
Observou-se um comportamento diferencial das subamostras em ambos os
experimentos. Em casa-de-vegetação, as subamostras BGH-2150, BGH-2112, BGH2129 e o controle Fany apresentaram um comportamento altamente resistente com base
nas notas da hibridização, com boa correlação quanto às notas de sintomas (Tabela 1).
Com relação às demais categorias, duas subamostras foram consideradas resistentes
(BGH-2151 e BGH-2145), seis moderadamente resistentes (BGH-2087, BGH-2092,
203
BGH-2096, BGH-2124, BGH-2113 e BGH-2130), 21 suscetíveis e 16 altamente
suscetíveis (Figura 1).
No experimento de campo a inoculação foi realizada de forma natural pela mosca
branca. A população do vetor esteve alta na área do experimento, com cultivos e plantas
daninhas exibindo sintomas característicos de mais de um begomovírus, que serviram
como fonte de inóculo nas proximidades do experimento. Nestas condições de alta
população do vetor e disponibilidade de fontes de inóculo, a maioria das subamostras
exibiram sintomas nas categorias 1 e 2, com a exceção das subamostras BGH-2121,
BGH-2141, BGH-2123 e Fany, que apresentaram valores inferiores a 1. Ao avaliar a
concentração viral destas três subamostras e do controle Fany, apenas BGH-2123 e
Fany apresentaram baixa concentração viral, sendo considerados moderadamente
resistente e resistente, respectivamente. Dentre as demais subamostras, ainda que
visualmente apresentassem notas altas (entre 1 e 2), algumas se destacaram por
apresentarem concentrações virais baixas, sendo classificadas como resistentes (BGH2105 e BGH-2138) e moderadamente resistente (BGH-2088, BGH-2102, BGH-2134,
BGH-2114, BGH-2112, BGH-2123 e BGH-2129). O restante das subamostras
apresentou comportamento de suscetibilidade, com uma alta correlação entre os
sintomas visuais e a concentração viral: quinze foram classificadas como suscetíveis, e
24 como altamente suscetíveis (Figura 1).
Do total de subamostras, nenhuma apresentou acúmulo viral zero, o que indica
que para o ToYSV em condições de casa-de-vegetação, assim como para os
begomovírus ainda não identificados em condições de campo, as fontes de resistência
obtidas conferem tolerância, e não resistência. Mesmo assim, devem ser consideradas
para uso em programas de melhoramento, uma vez que é muito difícil obter
comportamentos de imunidade nas condições de alta pressão de inóculo empregadas nos
dois experimentos.
Tabela 1. Notas das avaliações visuais (V) e a hibridização (H) nas subamostras de
tomateiro do Banco de Germoplasma de Hortaliças (BGH) da Universidade
Federal de Viçosa (UFV) inoculados com o ToYSV em condições de casa-devegetação e infecção natural por begomovírus no campo
Casa-devegetação
No. Subamostra
(45 dpi)
Casa-devegetação
Campo
(60 dpi)
V
H
V
H
No.
Subamostra
(45 dpi)
Campo
(60 dpi)
V
H
V
H
1
BGH-2087
0,40
0,80
1,40
2,00
27
BGH-2128
1,00
2,20
2,00
3,20
2
BGH-2088
2,00
1,60
1,40
1,00
28
BGH-2131
1,20
2,00
2,00
2,80
3
BGH-2089
0,80
1,80
1,40
1,80
29
BGH-2132
1,80
2,20
1,00
1,80
4
BGH-2091
1,00
1,80
1,80
2,40
30
BGH-2133
1,20
2,20
1,40
2,20
5
BGH-2092
0,80
0,80
1,00
1,60
31
BGH-2134
0,80
1,40
1,00
1,20
6
BGH-2093
1,00
1,80
1,80
2,00
32
BGH-2135
1,00
1,60
1,00
1,40
7
BGH-2095
0,40
1,40
2,00
3,00
33
BGH-2138
1,20
1,60
1,20
0,60
8
BGH-2096
1,00
1,00
1,00
1,60
34
BGH-2141
1,40
2,20
0,80
1,40
9
BGH-2097
0,80
1,60
2,00
2,20
35
BGH-2114
1,60
2,00
1,00
1,20
204
10
BGH-2098
1,00
1,60
1,40
2,60
36
BGH-2143
1,00
1,80
1,60
1,60
11
BGH-2100
0,80
1,80
1,20
1,60
37
BGH-2149
0,80
1,80
2,00
2,40
12
BGH-2102
1,00
1,40
1,00
1,20
38
BGH-2150
0,00
0,00
1,60
2,40
13
BGH-2105
0,80
1,80
1,00
0,60
39
BGH-2151
0,40
0,60
1,92
2,48
14
BGH-2109
1,80
2,20
1,20
1,80
40
BGH-2112
0,25
0,25
1,50
1,00
15
BGH-2110
1,40
2,40
2,00
2,60
41
BGH-2113
0,80
1,20
2,00
1,80
16
BGH-2111
0,80
1,80
1,00
1,60
42
BGH-2123
0,80
1,60
0,60
1,00
17
BGH-2115
1,20
1,80
2,00
2,40
43
BGH-2129
0,60
0,20
1,20
1,20
18
BGH-2116
1,60
2,40
1,20
2,00
44
BGH-2130
0,00
0,75
1,75
3,00
19
BGH-2117
1,00
2,20
1,00
1,40
45
BGH-2136
1,00
2,40
1,20
2,40
20
BGH-2118
0,80
1,60
2,00
2,40
46
BGH-2144
1,20
2,40
2,00
2,60
21
BGH-2120
1,60
1,60
1,20
1,40
47
BGH-2145
0,00
0,60
1,20
2,00
22
BGH-2121
1,40
2,40
0,80
2,40
48
BGH-2146
0,60
1,40
1,20
2,20
23
BGH-2122
1,20
2,80
1,00
2,40
49
Débora
0,40
1,00
2,00
1,80
24
BGH-2124
1,00
1,00
1,40
2,00
50
Fany
0,40
0,20
0,00
0,50
25
BGH-2125
1,80
2,60
1,00
1,80
51
S. Clara
1,20
1,20
2,00
2,00
26
BGH-2127
2,00
2,80
1,60
1,40
Figura 1. Respostas das subamostras inoculadas com begomovírus em condições de
casa-de-vegetação e de campo, considerando-se as notas da hibridização molecular.
Literatura Citada
ANDRADE, E.C., MANHANI, G.G., ALFENAS, P.F., CALEGARIO, R.F., FONTES,
E.P.B. & ZERBINI, F.M. Tomato yellow spot virus, a tomato-infecting begomovirus
from Brazil with a closer relationship to viruses from Sida sp., forms
pseudorecombinants with begomoviruses from tomato but not from Sida. Journal of
General Virology, v.87, p.3687-3696, 2006.
CASTILLO-URQUIZA, G.P., BESERRA, J.E.A., BRUCKNER, F.P., LIMA, A.T.M.,
VARSANI, A., ALFENAS-ZERBINI, P. & ZERBINI, F.M. Six novel begomoviruses
205
infecting tomato and associated weeds in Southeastern Brazil. Archives of Virology,
v.153, p.1985–1989, 2008.
DELLAPORTA, S.L., WOOD, J. & HICKS, J.B. A plant DNA minipreparation:
Version II. Plant Molecular Biology Reporter, v.1, p.19-21, 1983.
FERNANDES, M.E.S., SILVA, D.J.H., FERNANDES, F.L. & PICANÇO, M.C. Novos
acessos de tomateiro resistentes à mosca-branca biótipo B. Pesquisa Agropecuária
Brasileira, v.44, p.1545-1548, 2009.
GILBERTSON, R.L., HIDAYAT, S.H., MARTINEZ, R.T., LEONG, S.A., FARIA,
J.C., MORALES, F.J. & MAXWELL, D.P. Diferentiation of bean-infecting
geminiviruses by nucleic acid hybridization probes and aspects of bean golden mosaic
in Brazil. Plant Disease, v.75, p.336-342, 1991.
JUHASZ, A.C.P., DA SILVA, D.J.H., ZERBINI, F.M., SOARES, B.O. & AGUILERA,
G.A. Base genética da resistência de um acesso de tomate silvestre ao mosaico-amarelo
do pimentão. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.43, p.713-720, 2008.
206
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
4.8. Conhecendo a Biodiversidade da Mata Atlântica na Zona da Mata, estado de
Minas Gerais, Brasil1
Eduardo Jose Azevedo Correa2, Maria Regina de Miranda Souza3, Claudia Lucia de
Oliveira Pinto4, Ana Eurica de Oliveira Mendes5
1
Projeto realizado para a Semana de Ciência e Tecnologia, financiado pela FAPEMIG.
M.Sc. Extensão Rural, Pesquisadora EPAMIG Doutoranda em Fitotecnia UFV.
3
M.Sc. Biologia Vegetal, Pesquisador EPAMIG.
4
D.Sc. Microbiologia de Alimentos, Pesquisadora EPAMIG
5
Pedagoga, especialista em Gestão de unidade de Conservação, IEF/PESB.
2
Resumo: A Mata Atlântica constitui um mosaico vegetacional que proporciona a
grande biodiversidade reconhecida para o bioma e apesar da devastação acentuada,
ainda abriga uma parcela significativa da diversidade biológica do Brasil. Nesse sentido,
este Projeto propôs uma série de atividades para difusão das ações e métodos científicos
de estudo direcionados ao aproveitamento da Biodiversidade na Mata Atlântica. O
projeto foi dividido em três ações realizadas durante a Semana Nacional de Ciência e
Tecnologia no ano de 2010, a saber: 1ªAção. Realização de oficinas interativas a fim de
demonstrar como a biodiversidade é estudada pelo método científico, bem como sua
riqueza é transformada em bens industriais; 2ªAção. Realização de um conjunto de
palestras educativas que denotam como a sociedade relaciona-se com seus recursos
naturais e como esse conhecimento tem transformado o estilo de vida da sociedade;
3ªAção. Visitação a unidade de conservação Parque Estadual Serra do Brigadeiro onde
foram expostos os trabalhos científicos realizados nesse cenário, bem como um
reconhecimento da sua biodiversidade natural. As atividades permitiram desenvolver a
conscientização dos estudantes sobre a importância da conservação da biodiversidade
local e a construção de uma metodologia de aplicação do conhecimento científico sobre
o tema.
Palavras-chave: biodiversidade, mata atlântica, pesquisa-ação, novas metodologias
Knowing the Atlantic Forest Biodiversity in Zona da Mata, Minas Gerais state
Abstract: The Atlantic Forest is a vegetation mosaic that provides a great biodiversity
recognized for the biome and despite the severe devastation, still houses a significant
portion of biological diversity in Brazil. Thus, this project proposed a series of activities
to disseminate actions and scientific methods of study aimed at making use of
Biodiversity in Atlantic Forest. The project was divided into three shares held during
the National Week of Science and Technology in 2010, namely: 1st Action Realization
of interactive workshops to demonstrate how biodiversity is studied by the scientific
method as well as their wealth is transformed into industrial goods; 2nd Action
Conducting a series of lectures that show how the society relates to its natural resources
and how this knowledge has transformed the lifestyle of society; 3rd Action Visit the
Serra do Brigadeiro State Park where they were exposed to the scientific work in this
scenario as well as a recognition of its natural biodiversity. The activities allowed the
students to develop awareness about the importance of biodiversity conservation and
207
local development of a methodology for the application of scientific knowledge on the
subject.
Key Words: biodiversity, rainforest, action research, new methodologies
Introdução
As questões relacionadas à biodiversidade, sua conservação, preservação, valor
econômico, e sua importância tem sido objeto de interesse crescente da sociedade e de
investigação científica pela comunidade acadêmica. Esse tema tem uma repercussão
atual cada vez mais expressiva à medida que o efeito da depredação dos recursos
naturais pelo homem tem provocado catástrofes ambientais e, em conseqüência,
demandado da sociedade um posicionamento quanto à busca de maior equilíbrio
ecológico. Paralelamente, têm-se observado maior valorização dos serviços ambientais
dos ecossistemas e os produtos extraídos dos vegetais, principalmente aqueles de uso
medicinal. Esse fato demonstra a necessidade de ações educativas voltadas para o
entendimento dos problemas ambientais, preservação e conservação da biodiversidade,
considerando o seu uso racional.
A popularização da ciência passou a fazer parte do Edital da FAPEMIG
disponibilizado anualmente com a finalidade de difundir o conhecimento científico
gerado pelas instituições de ensino e pesquisa para a sociedade, incluindo as escolas de
Ensino Médio e Fundamental. O projeto “Conhecendo a Biodiversidade da Mata
Atlântica na Zona da Mata Minas Gerais, Brasil foi coordenado pela EPAMIG, e
desenvolvido em parceria com profissionais do IEF que prestam serviço na Unidade de
Conservação Parque Estadual Serra do Brigadeiro, com os estudantes e dirigentes da
Escola Família Agrícola Puris de Araponga – MG, e Universidade Federal de Viçosa.
Foram desenvolvidas ações e difusão de métodos científicos de estudo direcionados ao
aproveitamento da Biodiversidade na Mata Atlântica para estudantes de escolas
públicas e particulares na Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, de forma a
desenvolver a consciência crítica sobre biodiversidade com base na elaboração de
conceitos relacionados ao seu uso, conservação e preservação e criação de uma
metodologia que associasse adoção de técnicas, processos e métodos.
O objetivo desse trabalho foi apresentar e avaliar as atividades do Projeto
Conhecendo a Biodiversidade da Mata Atlântica na Zona da Mata Minas Gerais.
Material e Métodos
A metodologia empregada associou a adoção de técnicas, processos e métodos de
investigação científica sobre botânica e etnobotânica, e da pesquisa participativa, sobre
os recursos vegetais presentes no Bioma Mata Atlântica. A área de atuação inclui uma
Unidade de Conservação, Reserva Ecológica Legal de uma instituição educadora e
comunidades rurais localizadas no Território Rural Serra do Brigadeiro. As atividades
incluíram atividades para difusão de ações e métodos científicos de estudo direcionados
ao aproveitamento da biodiversidade na Mata Atlântica de forma a despertar o interesse
público em um ambiente propício para reflexões sobre o homem e sua relação com a
natureza. Foram realizadas oficinas temáticas sobre biodiversidade, sua utilização e o
conhecimento tradicional a ela associada, palestras e exposição de trabalhos de
estudantes do curso Técnico em Agropecuária da Escola Família Agricola Puris,
208
município de Araponga MG. Ao final de todas as atividades foi aplicado um
questionário avaliativo aos estudantes.
Resultados e Discussão
Na oficina de levantamento de plantas na comunidade do entorno do PESB: foram
aplicados, analisados e sistematizados questionários junto aos estudantes para
identificar o grau de conhecimento dos estudantes sobre as espécies vegetais em suas
comunidades de origem. Na oficina de montagem de exsicatas com plantas coletadas na
Reserva Legal da EFA Puris foram coletados ramos das espécies vegetais na Reserva
Legal da Escola Família Agrícola, montagem de exsicatas orientada pelos pesquisadores
para demonstração de técnicas de identificação, catalogação e manutenção em herbários
para estudo científico. Para a realização da oficina de utilização dos recursos vegetais
foram feitas demonstrações práticas de extração da fibra da bananeira e seu preparo para
a confecção de peças artesanais por artesã da Comunidade do Zig-Zag de Viçosa-MG.
Em seguida, os estudantes confeccionaram peças artesanais com fibra da bananeira e
realizaram uma mostra dos produtos.
A realização das palestras e visitas possibilitou o contato dos estudantes com
pesquisadores das áreas de entomologia e botânica, que atuam na área de geração de
tecnologias para conservação da biodiversidade na região da Zona da Mata de Minas
Gerais, especialistas em gestão ambiental do Parque Estadual Serra do Brigadeiro. Os
estudantes, também, tiveram a oportunidade de visitar a Unidade de Conservação da
Mata do Paraíso localizada no município de Viçosa e participar de trilha interpretativa.
A exposição dos trabalhos produzidos pelos estudantes da Escola Família
Agrícola (EFA) Puris constituiu-se da apresentação audio-visual do trabalho de
levantamento das espécies vegetais e seu uso nas comunidades e banners relativos às
atividades do Projeto, do Herbário da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas
Gerais (PAMG) e da atuação da EFA Puris e pôster de trabalho científico a ser
apresentado em congresso de Sociologia e Desenvolvimento Rural.
Todas as oficinas e trabalhos realizados foram registrados por fotografias, as
quais foram selecionadas e expostas em porta-retratos confeccionados em palha de
bananeira e organizadas em painéis na exposição realizada na sede do Parque Estadual
da Serra do Brigadeiro onde ficou disponível para visitação dos estudantes das escolas
da região e público em geral. As exsicatas preparadas durante a Oficina de montagem
de exsicatas com plantas coletadas na Reserva Legal da EFA Puris, os trabalhos
confeccionados durante a oficina de fibra de bananeira foram também expostas.
Estadual da Serra do Brigadeiro (PESB).
Finalmente, foi apresentado, o tema “O que é Unidade de Conservação” para
que os estudantes confeccionassem desenhos demonstrativos da sua concepção sobre
este tema. Cada estudante teve a oportunidade de apresentar e interpretar seu desenho.
Essa atividade permitiu refletir sobre a importância da unidade de conservação, e do
homem como agente fundamental para preservação e conservação do ambiente natural.
Constatou-se, pela oficina de levantamento sobre as espécies de uso local, a
partir dos dados sistematizados junto com os alunos, que 57 a 100% dos estudantes
conheciam 25 das 31 espécies alimentícias identificadas e 5 foram consideradas pouco
conhecidas. De 52 a 100% dos estudantes conheciam 43 das 71 espécies medicinais
identificadas, e menos de 21% conheciam 29 dessas 71 espécies. Embora esses números
demonstrem que mais de 50% dos estudantes tinham conhecimento sobre a maioria das
209
espécies identificadas em suas comunidades, observou-se a necessidade de ampliar a
troca de conhecimento dos pais e das pessoas que detêm esse conhecimento e os jovens.
Sobretudo, a avaliação realizada em sala de aula, e as atividades podem constituir
ferramentas para o aprofundamento do conhecimento da biodiversidade local, pela
associação do conhecimento científico e do conhecimento popular. A experiência dos
alunos ao realizar o levantamento na família e nas comunidades e a sua sistematização
junto aos pesquisadores pode representar uma metodologia de conscientização sobre a
importância desse conhecimento na conservação dos recursos naturais e no
desenvolvimento local.
Os depoimentos e a avaliação dos estudantes sobre a contribuição das atividades
do Projeto para sua formação e para sua vida prática permitiram concluir que as
atividades tiveram um impacto positivo na conscientização sobre a importância dos
recursos vegetais locais e sua conservação e preservação, da troca de conhecimentos, de
sua atuação como multiplicador do conhecimento e permitiu desenvolver uma opinião
crítica sobre a sua relação com a biodiversidade local, Unidade de Conservação e da
Unidade de Preservação.
Conclusões
As atividades realizadas no Projeto e metodologia construída permitiram a
vivência do conhecimento científico aplicado à prática, associado ao conhecimento
popular, na elaboração do conceito sobre biodiversidade e sua importância para o
desenvolvimento local. O Projeto propiciou o desenvolvimento coletivo da consciência
crítica sobre a integração de cada pessoa, como componente e agente responsável por
sua conservação e preservação. A metodologia pode ser utilizada como modelo para o
ensino de ciências ambientais a ser aplicada para conscientização da preservação e
conservação ambiental em outros Biomas.
Agradecimentos
À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) pelo
apoio financeiro.
Literatura Citada
Aliança para conservação da Mata Atlântica,
<www.aliancamataatlantica.org.br> acesso em: ago 2010.
2009.
Disponível
em:
Conservação sobre Diversidade Biológica 1992. Ministério do Meio Ambiente, Brasília,
DF. 30p.
Durigan, G. Métodos para análise de vegetação arbórea. In: Cullen, L., Rudran, R.,
Padua-Valladares, C. Métodos de Estudo em Biologia da Conservação Manejo da
Vida Silvestre. Editora IPÊ, Curitiba, PR, 2004. 665p.
PESB 2009. Parque Estadual da Serra do Brigadeiro. Disponível em: < http://www.ief.
mg.gov.br/component/content/197?task=view > Acesso em: jun 2009.
210
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
4.9. O Paradigma científico interativo como alternativa para o processo de
pesquisa e geração de tecnologia1
Davi Augusto Santana de Lelis2, Rodrigo Carvalho3
1
Parte de trabalho apresentado pelos autores na disciplina ERU-650, financiado pela CAPES.
Mestrando do Programa de Pós-graduação em Extensão Rural.
3
Mestrando do Programa de Pós-graduação em Extensão Rural.
2
Resumo: Este texto trabalha a atuação da geração de tecnologia e sua respectiva
propagação, apontando ao final a preponderância da simples difusão de tecnologia
convencional como prática corriqueira das ciências agrárias em detrimento da difusão
interativa.
Palavras–chave: geração de tecnologia, paradigma científico, ciências sociais, ciências
agrárias
The interactive science paradigm as an alternative to the process of research and
technology generation
Abstract: This text examines the role of technology generation and its corresponding
spread, pointing the dominance of simple diffusion of conventional technology as
standard practice of agricultural sciences.
Key Words: generation of technology, scientific paradigm, social sciences, agricultural
sciences
Introdução
Diante da atual conjectura não se pode olvidar que a abordagem dada à
agricultura dentro do projeto de sociedade contraria o esboço original arquitetado pelo
projeto do esclarecimento de Bacon e Descartes. Afinal, tal projeto almejava a
emancipação social por meio da ciência que produzia tecnologia, sendo que a
agricultura, e também a extensão rural, não passavam ao largo de tais pretensões.
Entretanto, a sociedade organizada em um sistema capitalista de produção
embasou-se no desenvolvimento de ciência e tecnologia por meio do capital, de modo a
fazer com que a tecnologia fosse inserida no sistema produtivo – de modo parelho a
ciência se insere na realidade da classe dominante, com a suposição de que esta classe
detém o capital, reproduzindo assim a ideologia de um sistema de transferência de
tecnologia que não se preocupa em tornar sustentável a produção agrícola.
Material e Métodos
A produção do trabalho se deu por meio de revisão bibliográfica e discussões
sobre o tema, efetuando uma prospecção para o futuro de como deve ser a atuação
científica da geração e transmissão de tecnologia no âmbito agrário.
211
Resultados e Discussão
O sistema de transferência de tecnologia, original no inglês como Transference
of Tecnology, doravante chamado apenas de TOT, foi pensado por Roling, como
expressão inicial do paradigma científico convencional que não presta mais à
reprodução ideológica que se pretende dar à agricultura e consequentemente à extensão
rural.
Deste modo, explicita o autor (Roling, 1996), que uma mudança deveria ocorrer,
sendo que as ciências agrícolas deveriam apresentar soluções ao invés de permanecer
mormente como parte integrante do problema. A tecnologia não pode ser considerada
como principal fator de ação e sim a prática de programas e projeto interdisciplinares.
Entretanto, as confecções de tais alterações perfazem grande desafio.
A dificuldade de implementação da mudança proposta por Roling e acatada
neste trabalho, se dá por que as ciências agrárias, embora não sejam apenas uma soma
de disciplinas autônomas, não têm trabalhado de forma integrada a promover a mudança
no sistema, em prol do paradigma interativo.
Explica-se: segundo o autor em comento, o paradigma científico convencional,
fundado por uma ótica positivista e reducionista, tem como elementos: a) existência da
realidade independentemente da observação humana; b) pesquisa científica permitindo
aquisição de conhecimentos das leis da natureza; c) cientistas descobrindo a verdade
sobre a natureza; d) pesquisa produzindo acúmulo de conhecimento; e) pesquisa
científica como fonte de inovação; f) ciência aplicada por meio do TOT.
Neste cenário, as ciências sociais não têm capacidade de apresentar qualquer
contribuição, afinal, elas não apresentam nenhuma verdade objetiva e nenhuma
inovação técnica. O papel designado à extensão rural é o de meramente servir ao TOT,
transferindo os resultados das pesquisas científicas para os usuários destas tecnologias.
Neste sentido pode-se ter como exemplo a Revolução Verde, que a partir da
década de 1960, tentando solucionar o problema da fome, passa a promover um tipo de
agricultura altamente intensiva, de monocultura, com baixos custos e dependente de
insumos agrícolas, como fertilizantes e agrotóxicos.
Estas propostas foram acatadas pelos setores públicos e privado devido aos
resultados de produtividade. Porém, os verdadeiros efeitos da Revolução Verde foram
diversos: como a perda de qualidade dos alimentos; aceleração dos processos erosivos;
perda de variabilidade genética, extinção de espécies nativas, uso indiscriminado de
fertilizantes e agrotóxicos (Busch, 1981:46).
Desta forma quando se lança olhar sobre as ciências agrícolas bem como para a
extensão rural praticada sobre este paradigma, pode-se verificar que estas agem
meramente como transferidores de tecnologia, sem de modo algum questionar o papel
desenvolvido e suas possíveis conseqüências.
Ainda no tocante ao paradigma científico definido pelo positivismo, pode-se
auferir a existência de uma abordagem sistêmica – contraposta à abordagem
reducionista supramencionada – onde a propriedade rural é entendida como um sistema.
Tal abordagem originalmente no inglês foi denominada de Farming System Research, à
partir de agora chamada apenas de FSR.
Tal abordagem é uma tentativa de reação à forma original da pesquisa agrícola,
afeita às características das ciências biológicas e físicas focada tão somente na
necessidade de criar produtos que atendam à demanda da indústria em detrimento de
212
pesquisas feitas como fontes de novas ideias para atender e beneficiar à todos os que
vivem no âmbito rural, inclusive os agricultores pequenos e familiares, que raramente
são contemplados com pesquisas e demandas das ciências agrárias.
David Gibon identifica como elementos essenciais do FSR: a) desenvolvimento
integral da realidade social, econômica e política do meio ambiente rural,
desenvolvendo um entendimento contínuo; b) é possível criar uma orientação
específica, mas com a identificação do grupo, atendendo assim aos agricultores
pequenos e familiares; c) a análise da pesquisa deve ser interdisciplinar; d) os problemas
tratados devem ser identificados junto aos agricultores envolvidos; e) a pesquisa e as
soluções apresentadas devem estar ligadas a outros programas científicos; f) as soluções
devem ser flexíveis, respondendo deste modo às mudanças que por ventura ocorrerem
no caminho. (Gibbon, 1994)
Tal parâmetro pode apresentar problemas como a impossibilidade de realizar a
abordagem sistêmica, por dificuldade de reunir pesquisadores com extencionistas, com
o agricultor e demais atores, desenvolvendo de modo simultâneo a pesquisa. Ou seja,
apesar da proposta de interdisciplinaridade existente no paradigma positivista/sistêmico,
esta não atua com eficiência, pois, mesmo que traga diversos especialistas de diferentes
áreas para analisar certos sistemas, estes, por vezes, não são capazes de auferir
resultados em comum para o problema identificado.
Obviamente tais abordagens científicas são muito restritas, pois ignoram o fato
da agricultura ter objetivos múltiplos, como a ecologia, o social, a sustentabilidade, a
produção, a ética, etc.
Em termos: O uso dos recursos naturais cada vez menos é decidido por meio de
perícias técnicas e cada vez mais por interesses econômicos. A ciência deste modo trata
a relação da pessoa com um objeto, e não a relação de uma pessoa com a outra. O
conhecimento científico é levado somente para a aplicação prática esmagando qualquer
conhecimento local sobre o assunto, quando na verdade a aplicação prática deveria ser
uma conseqüência da soma dos conhecimentos locais e dos conhecimentos científicos.
Levando em consideração estas disposições é que Roling chega a conclusão de
que o paradigma convencional precisa ser revisto, tendo como proposição um
paradigma científico interativo fundamentado não no positivismo, seja ele reducionista
ou sistêmico, mas sim no construtivismo de forma sistêmica, chamada pelo autor tão
somente de paradigma interativo. (Roling, 1996:43).
Contrapondo o construtivismo ao positivismo, tem-se que o primeiro não
permite que as divergências sejam mais vistas como divergências, o conhecimento já
não é visto como uma realidade inerente, mas como uma construção, o resultado de um
processo de aprendizagem coletiva que é por excelência o mecanismo de sobrevivência
da humanidade. Nestes termos, não é tarefa da ciência acumular um corpo de
conhecimento, mas sim, formular novas perspectivas.
Neste paradigma científico proposto por Roling, uma importante vantagem é que
há espaço para a contribuição das ciências sociais, representando um importante papel
nas ciências agrícolas, já que este estimula o processo de aprendizagem coletiva, bem
como instiga as pessoas a pensarem em si e por si mesmas, construindo deste modo
novas configurações de realidades sociais.
Seguindo estas orientações construtivistas/sistêmicas, é que surge uma nova
proposta de atuação, exemplificada pela Farming First, de modo que o agricultor se
torna o centro das discussões, envolto por uma tríade composta de um sistema de
213
educação, de pesquisa e extensão. Deste modo, “a grande mudança é a introdução do
produtor rural como possível agente no sistema de pesquisa”. (Muniz, 1999:58)
Desta forma, esta proposta busca atender as necessidades de conhecimento do
agricultor como, por exemplo, sobre os recursos naturais, a produtividade, a renda, e a
gestão de sua propriedade. Assim, o objetivo deste paradigma interativo não visa apenas
a difusão da tecnologia, mas trás outros questionamentos e objetivos.
Pode-se então caracterizar, em síntese, o paradigma interativo como: a)
construtivista; b) a verdade tem perspectivas múltiplas e diversas; c) o tratamento entre
os atores envolvidos se estabelece em um processo interativo e participativo; d) as
metas são múltiplas e frequentemente se confrontam; e) o sistema permite uma
construção para a ação coletiva; f) a política resulta das interações na realidade; g) a
ciência tem papel ativo na construção social da realidade; h) a ciência é um híbrido
entre as ciências naturais e as ciências sociais; i) a extensão rural facilita a
aprendizagem e estimula os métodos participativos.
Proposto assim, em termos ideais, e considerando a contemporaneidade da
revolução biotecnológica, o paradigma interativo pode ser considerado como a
alternativa para o processo de pesquisa desenvolvido sob os referidos pressupostos,
entretanto, tal paradigma não está isento de críticas, visto que, por mais que suas
propostas busquem alternativas mais interativas, o que se percebe, e questiona é que: a)
não existem, à princípio, instituições, sejam elas públicas ou privadas, dispostas a
operacionalizar este tipo de atuação; b) também não existem especializações capazes de
preparar este tipo de profissional; c) a ciência não consegue atuar como um híbrido
entre as ciências naturais e as sociais, pelo motivo de sua própria formação institucional.
Conclusões
À guisa de conclusão tem-se, portanto, que o sistema interativo é idealmente
construtivista/sistêmico, mas na realidade quando se resume em termos práticos,
percebe-se que ele comumente pode retornar ao paradigma convencional determinado
pelo positivismo/sistêmico. Percebe-se também que o paradigma científico atualmente
praticado não tem o pensamento afinado com Descartes ou Bacon; Pode-se afirmar que
tal prática afasta-se das premissas originais do projeto iluminista, e adentra em novos
componentes da razão.
Portanto, não se deve considerar mais a tecnologia como pedra fundamental.
Atualmente o grande mote da inovação devem ser os programas e projetos que abarcam
diversas áreas – inclusive a produção de tecnologia – de modo a tornar o sistema
produtivo independente do domínio tecnológico e promovendo uma produção
sustentável para a busca da razão que liberta e promove a igualdade e emancipação
social.
Literatura Citada
BUSCH, L.; SACHS, C. The Agricultural Sciences and the Modern World System. In:
Busch, L. (ed.) Science and Agricultural Development. New Jersey: Allanheld,
Osmum, 1981.
DENT, J.B. & MEGREGOR, M.J. Rural and Farming Systems analysis European
perspectives. Wallingford: Cab. International, 1994.
214
GIBBON, D. Farmning systems research/extension: background concepts, experience
and networking. In: DENT, J. B. & MEGREGOR, M. J. Rural and Farming Systems
analysis European perspectives. Wallingford: Cab. International, 1994.
MUNIZ, J.N. A Extensão Rural em Tempos de Mudanças. Informe Agropecuário,
Belo Horizonte. v.20, n.199, p.56-61, Julho/Agosto, 1999.
ROLING, N. Toward an interactive agricultural science. European Journal of
Agricultural Education and Extension, v.2, n.4, p.35-48, 1996.
215
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
4.10. Integração das tecnologias sociais Barraginhas e Lago de Múltiplo Uso1
Luciano Cordoval de Barros2a,*, Wagner de Souza Tavares3, Isabela de Resende
Barros4, Paulo Eduardo de Aquino Ribeiro2b
1
Projeto apoiado pela FAPED e patrocinado pela Petrobrás.
Analistas da Embrapa Milho e Sorgo, (a) Coordenador e (b) Membro da equipe do Projeto Petrobrás de
Difusão das Tecnologias Sociais Barraginhas e Lago de Múltiplo Uso, Rodovia MG 424, Km 45, CP
151, CEP 35702-098, Sete Lagoas-MG. *e-mail: [email protected]
3
Estudante de Mestrado em Fitotecnia da Universidade Federal de Viçosa (UFV) e Membro da equipe do
Projeto Petrobrás de Difusão das Tecnologias Sociais Barraginhas e Lago de Múltiplo Uso, Avenida
Peter Henry Rolfs, s/n, Campus Universitário, CEP 36570-000, Viçosa-MG.
4
Membro da equipe do Projeto Petrobrás de Difusão das Tecnologias Sociais Barraginhas e Lago de
Múltiplo Uso.
2
Resumo: A integração das tecnologias sociais barraginhas e lago de múltiplo uso vêm
garantindo sustentabilidade hídrica para agricultores familiares, viabilizando criatórios
de peixes e irrigação de hortas. No município de Araçaí-MG, comunidade Fazendinhas
Pai José, em um solo seco sob vegetação de Cerrado, com predominância de latossolos
vermelho e amarelo, porosos e profundos, após reuniões com a comunidade, foram
construídas 96 barraginhas no ano de 2008 e 90 em 2009, para colher a água dos
escorrimentos superficiais das chuvas: as enxurradas. Ao contê-las, foram reduzidas
também as erosões e assoreamentos. As barraginhas são carregadas e descarregadas de
10 a 12 vezes por ano, infiltrando e elevando o lençol freático, umedecendo o solo em
torno das mesmas e nas baixadas, amenizando secas, revitalizando córregos. Foi
observado aumento do nível das cisternas de quatro para 10 a 11m de coluna de água,
gerando nos agricultores sentimento de abundância. Isso viabilizou a construção de
lagos impermeabilizado com lona de plástico comum para armazenamento de água
durante o período seco, pelo bombeamento de água das cisternas, o que viabilizou a
criação de peixes e ainda irrigação de hortas. De forma complementar, no período
chuvoso, os lagos são abastecidos também por água captada por telhados. A experiência
já foi reaplicada em mais dois municípios vizinhos e poderá ser extrapolada aos estados
do Brasil central, onde predominam solos e condições similares.
Palavras–chave: barraginhas, cisternas, colheita de água de chuvas, conservação de solo
e água, lago de múltiplo uso, recarga do lençol freático
Integration of social technologies Barraginhas and Lago de Múltiplo Uso
Abstract: The integration of the social technologies Barraginhas and Lago de Múltiplo
Uso are ensuring water sustainability for family farmers, allowing fish farms and
irrigation of gardens. In the municipality of Araçaí-MG State, Fazendinhas Pai José
community, in a dry soil under Cerrado vegetation, with predominantly red and yellow
latosol, porous and deep, after meetings with the community, were built 96 barraginhas
in 2008 and 90 in 2009, to collect surface runoff water from the rains: the mudslides. To
contain them, were also decerased the erosion and silting. The barraginhas are loaded
and unloaded 10-12 times a year, infiltrating and raising the water table, moistening the
soil around them and in the lowlands, softening dry, revitalizing streams. Observed
increase in the level of tanks from four to 10 to 11m of water column, resulting in
216
farmers feeling of abundance. This enabled the construction of impermeable ponds with
plastic sheet common to store water during the dry season, by pumping water from the
tanks, which enabled the creation of fishes and irrigate gardens. As a complement, in
the rainy season, the lakes are also supplied by water taken up by roofing. The
experiment has been reapplied in two neighboring counties and can be extrapolated to
states of central Brazil dominated soils and similar conditions.
Key Words: barraginhas, tanks, rain water harvesting, conservation of soil and water,
lago de múltiplo uso, recharge groundwater
Introdução
Na comunidade Fazendinhas Pai José, no município de Araçaí, região Central de
Minas Gerais, em um solo seco sob vegetação de Cerrado, a integração entre as
tecnologias sociais barraginhas e lago de múltiplo uso tem tornado realidade o sonho
dos moradores. Na localidade, há 150 chácaras com extensão de 0,5 a 2 ha. Os
proprietários são, em sua maioria, aposentados, de baixo poder aquisitivo. Muitos
alimentavam um antigo desejo de construir um pequeno lago e criar peixes. A limitação
era a água, de difícil acesso.
Material e Métodos
Entre agosto de 2008 e outubro de 2009, após a apresentação da tecnologia à
comunidade em reuniões mobilizadoras (Figura 1), foram construídas 186 barraginhas
para captação de enxurradas na Fazendinhas Pai José, que é uma das 40 comunidades
atendidas pelo programa Desenvolvimento e Cidadania, patrocinado pela Petrobrás, que
abrange 16 municípios dos estados de Minas Gerais, Piauí e Ceará. Os moradores
tinham pedido que a máquina usada para cavar as barraginhas fizesse alguns poços a
serem lonados. Queriam também ter pequenos lagos de múltiplo uso, outra tecnologia
disseminada pelo projeto, e foram atendidos.
Figura 1 – Reuniões na comunidade Fazendinhas Pai José, Araçaí-MG.
Entendendo o Sistema Barraginhas
- O produtor é quem sabe onde estão localizadas as enxurradas em seu terreno, então,
ele tem de conhecer o sistema barraginhas para poder auxiliar o técnico e o operador da
máquina a localizar os pontos para construção das barraginhas. - As barraginhas são
poços de 15m de diâmetro, construídas uma para cada enxurrada significativa. Elas
ficarão localizadas nas pastagens, onde as chuvas caem. - São construídas
gradativamente, um terço no primeiro ano, outro no segundo e o último terço no terceiro
217
ano, assim o produtor vai aprendendo com o sistema em funcionamento. - Se gasta para
sua construção uma hora em solo macio e úmido, em média, e uma hora e meia em solo
firme e seco, ao custo de R$100,00 a R$150,00 por barraginha.
Passo a Passo de Construção dos Lagos
- Primeiramente, abre-se um buraco com 14m de diâmetro no formato de uma bacia,
com maquina pá-carregadeira. Depois é impermeabilizado com uso de lonas de plástico
comum, aquelas que recobrem silagem de milho (Figura 2). - As lonas de 8m de largura
são coladas com cola de sapateiro, em processo de colagem rápida. A cada 2m, as partes
devem ser unidas, recobrindo de terra a parte colada para firmá-la. Em mais 2m adiante,
o procedimento é repetido e, assim, sucessivamente. - Sobre a lona, é colocada uma
camada de terra de 25cm para sua fixação no fundo e proteção contra raios solares,
peixes e unhas de animais. - No período das chuvas, o lago é abastecido com água das
chuvas por meio de canaletas coletoras fixadas no telhado e na seca ele é abastecido
com água de cisterna. - O produtor que tiver água de regos, córregos e açudes poderá
construir lagos de diâmetros maiores. - Na comunidade Fazendinhas Pai José, foram
feitos 25 mini lagos de 14m de diâmetro, por 1,2m de profundidade, de 80.000L,
gastando 4 horas de máquina tipo pá carregadeira e mais 30m de lona de 8m de largura.
O custo fica em torno de 600 reais por lago.
Figura 2 – Construção do lago de múltiplo uso.
Resultados e Discussão
Desde o início do projeto, o nível de água das cisternas, que era, em média, de 4
m, aumentou para mais de 10 m, como conta um dos moradores, Dimas Marques
Sobrinho. As barraginhas distribuídas nas propriedades colhem as enxurradas e evitam
erosão do solo. A água captada infiltra na terra e recarrega o lençol freático, elevando-o
(Figura 3). Isso reflete no nível das cisternas e no umedecimento das baixadas (Barros,
2000).
O lago está sendo sustentado no período das chuvas por água colhida nos
telhados e no período da seca, com água de cisterna, e produz peixes, como esperavam
os produtores, a exemplo de Giovani Vicente. O sonho dele era instalar um poço em seu
terreno. A água ainda é suficiente para irrigar hortas, pomares, milho-verde, capineiras e
dar de beber aos animais (Figura 4).
218
Conclusões
A experiência da integração entre barraginhas e lagos abastecidos por cisternas,
surgida na comunidade Fazendinhas Pai José, em Aracaí-MG, já foi replicada com
sucesso em outros dois municípios de Minas Gerais, como na comunidade de Periquito,
em Cordisburgo-MG, e na comunidade de Rio Preto, em Santana de Pirapama, e pode
ser replicada em toda a região de latossolo vermelho e latossolo amarelo, porosos, e
predominantes no Brasil Central. O modelo pode ser adotado com um investimento
baixo. Já no primeiro ano, o produtor percebe a elevação do nível das cisternas e o
controle das erosões. Observam-se, ainda, seus efeitos nos pomares, por meio de uma
florada mais intensa, maior produção dos frutos, aumento na fabricação de mel, e no
verde das pastagens situadas no entorno das barraginhas e nos baixios. O sistema
diminui o período de trato do gado durante a seca, bem como proporciona lavouras
seguras nas baixadas.
Figura 3 – Barraginha com água da chuva colhida e após infiltração no solo.
Figura 4 - Abastecimento e uso de água de chuva captada por telhado e barraginhas e
armazenada no lago.
219
Agradecimentos
À Fundação de Apoio à Pesquisa e ao Desenvolvimento, pelo apoio, e à
Petrobrás, pelo patrocínio.
Literatura Citada
BARROS, L.C. de. Captação de águas superficiais de chuvas em Barraginhas. Sete
Lagoas, MG: Embrapa Milho e Sorgo, 2000 16p. (Embrapa Milho e Sorgo. Circular
tecnica, 2).
BARROS, L.C. de; RIBEIRO, P.E. de A. Barraginhas: água de chuva para todos.
Brasília, DF: Embrapa Informação Tecnológica; Sete Lagoas: Embrapa Milho e Sorgo,
2009. 49p. il. (ABC da agricultura familiar, 21).
220
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
4.11. Avaliação através dos testes de termorresistência e supravital dos aspectos
físicos e morfológicos do sêmen caprino descongelado após a adição de Ringer com
lactato, TRIS e citrato de sódio 2,92%1
Júlio César Oliveira Dias2, Antonio Bento Mancio3, Madriano Christilis da Rocha
Santos2, Jurandy Mauro Penitente Filho2, Giselle Dias de Oliveira5, Vívian Rachel de
Araújo Mendes4
1
Parte da dissertação de mestrado do primeiro autor.
Doutorando do Programa de Pós-graduação em Zootecnia.
3
Professor do Departamento de Zootecnia.
4
Mestranda do Programa de Pós-graduação em Medicina Veterinária.
5
Médica Veterinária.
2
Resumo: A inseminação artificial é base para muitas biotecnologias reprodutivas,
porém na caprinocultura é pouco utilizada devido dificuldades no processo de
criopreservação do sêmen, com resultados insatisfatórios nos índices de concepção.
Objetivou-se com este trabalho verificar a estabilidade e persistência da motilidade e
vigor dos espermatozóides, após adição, no sêmen descongelado, das soluções: Ringer
com lactato, citrato de sódio 2,92% e solução TRIS. Foram coletados e congelados os
sêmens de dois caprinos adultos da raça Parda Alpina, e após o descongelamento e
adição das soluções, verificou-se pelo teste de termorresistência (TTR) a motilidade,
vigor, e a integridade da membrana dos espermatozóides pelo teste supravital. Após
cinco minutos do TTR, o tratamento controle apresentou maior valor de motilidade
(42,2%), em relação aos tratamentos que receberam a solução TRIS (32,8%), Ringer
com lactato (30,9%) e citrato de sódio 2,92% (26,3%). O tratamento que recebeu
solução TRIS apresentou maior persistência e diminuição menos abrupta dos
parâmetros motilidade e vigor, mas o período de sobrevivência do sêmen em todos
tratamentos não ultrapassou 90 minutos após o descongelamento. O teste supravital não
apresentou diferença estatística entre tratamentos. Concluiu-se, assim, que a adição das
soluções Ringer lactato, citrato de sódio 2,92% e solução TRIS não permitiu maior
persistência da motilidade e vigor após descongelamento.
Palavras–chave: caprino, citrato, ringer, sêmen, TRIS
Evaluation through the thermal resistance tests and supravital of the physical and
morphologic aspects of the bovid semen thawed after the addition of Ringer with
lactato, TRIS and citrate of sodium 2,92%
Abstract: The artificial insemination is base for many reproductive biotechnologies,
however in the caprinocultura it is little used due difficulties in the process of
cryopreservation of the semen, with unsatisfactory results in the conception indexes. It
was aimed at with this work to verify the stability and persistence of the mobility and
energy of the spermatozoids, after addition, in the thawed semen, of the solutions:
Ringer with lactate, citrate of sodium 2,92% and solution TRIS. They were collected
and frozen the two goat adults' of the Alpine Brown race semen, and after the thawing
and addition of the solutions, it was verified by the thermal resistance test (TTR) the
mobility and energy of the spermatozoids, and the integrity of the membrane for the test
221
supravital. After five minutes of TTR, the treatment control presented larger mobility
value (42,2%), in relation to the treatments that received the solution TRIS (32,8%),
Ringer with lactate (30,9%) and citrate of sodium 2,92% (26,3%). THE treatment that
received solution TRIS presented larger persistence and less abrupt decrease of the
parameters mobility and energy, but the period of survival of the semen in all treatments
didn't pass 90 minutes after the thawing. The test supravital didn't present statistical
difference among treatments. It was ended, like this, that the addition of the solutions
Ringer lactate, citrate of sodium 2,92% and solution TRIS didn't allow larger
persistence of the mobility and energy after thawing.
Key Words: citrate, goat, ringer, semen, TRIS
Introdução
A inseminação artificial (IA) é ferramenta para várias outras biotecnologias
ligadas à reprodução animal e pode realizar o melhoramento genético do rebanho com
maior rapidez e eficiência, além permitir preservar a genética de animais extintos ou
falecidos por longos períodos através da criopreservação. Essa técnica também pode ser
utilizada na sincronizaão artificial, eliminando a estacionalidade reprodutiva e ofertando
produtos caprinos ao mercado consumidor de maneira constante e padronizada.
No entanto, a utilização da IA na espécie caprina, no Brasil e no mundo, ainda
não acontece no mesmo nível que em bovinos. Dentre as causas que contribuíram e
contribuem para a pouca utilização da IA na caprinocultura está, principalmente, a
dificuldade no processo de preservação do sêmen sob a forma congelada, com
resultados insatisfatórios nos índices de concepção. A inexistência de técnicas rápidas,
eficazes e seguras para se avaliar a capacidade fecundante da célula espermática
caprina, antes e após o processo de congelamento, ainda representa desafios a serem
solucionados. LUZ et al. (2000) concluíram que por meio de avaliação conjunta do
percentual de células espermáticas íntegras, da motilidade progressiva individual após a
descongelação e do teste de termorresistência, é possível estimar-se a capacidade
fecundante do sêmen ovino congelado.
Após o descongelamento, o espermatozóide adquire novamente sua
movimentação. Portanto, a IA deve ocorrer o mais próximo do momento da ovulação do
oócito para que aconteça a fecundação antes que as células espermáticas fiquem
inviáveis. Como a cabra pode ovular de 24 a 30 h após o início do estro (AISEN, 2008),
quanto maior o tempo de sobrevivência dos espermatozóides, maiores são as chances de
fecundação e os intervalo para a realização da IA. Desta forma, objetivou-se com este
trabalho verificar a estabilidade e persistência da motilidade e vigor dos
espermatozóides, assim como alterações da membrana plasmática, após adição das
soluções isoosmóticas: Ringer com lactato, citrato de sódio 2,92% e solução TRIS, no
sêmen caprino descongelado.
Material e Métodos
O trabalho foi realizado no Setor de Caprinocultura do Departamento de
Zootecnia da Universidade Federal de Viçosa, onde foram selecionados para coleta do
sêmen dois caprinos machos da raça Parda Alpina com idade média de 4 anos e
histórico de fertilidade normal. As coletas aconteceram com intervalo de um dia,
durante o período da manhã, entre os meses de março e abril de 2010. Foram coletados
222
oito ejaculados por animal, utilizando a técnica da vagina artificial (40-42°C) e como
manequins fêmeas que estavam na fase de estro.
Após as coletas, o sêmen foi analisado quanto as suas características físicas
(volume, aspecto, coloração, turbilhonamento, motilidade, vigor e concentração).
Aquelas amostras com motilidade acima de 70% (0-100%) e vigor acima de 3 (0-5),
eram diluídas e envasadas em palhetas de 0,25 mL para serem criopreservadas em
nitrogênio líquido segundo Furst (2006). Foi utilizado o diluente Glicose-EDTA
(MARTIN et al., 1979 modificado por BISPO, 2009), objetivando uma concentração
final de 50 milhões de espermatozóides por mL. As soluções Ringer com lactato, citrato
de sódio 2,92% e solução TRIS foram aliquotados em ependorfes no volume de 0,25
mL cada, sendo também criopreservadas no mesmo botijão.
As palhetas de sêmen foram descongeladas a 37°C/30 segundos e transferidas aos
ependorfes com as soluções também descongeladas e mantidas na mesma temperatura.
Após 5 minutos, iniciaram-se as análises físicas (motilidade e vigor) do TTR, com
intervalos de trinta minutos, durante três horas. Neste momento, também foi retirada
uma alíquota de 10 μL para a realização do teste supravital. Para este teste, misturou-se
a alíquota selecionada com o corante eosina-nigrosina (10 μL), realizando
posteriormente um esfregaço em lâmina para a contagem em microscópio de luz de 200
células espermáticas. Aquelas que não se coraram eram consideradas normais, enquanto
as que se coraram de róseo foram consideradas lesadas.
As variáveis foram submetidas à análise de variância (ANOVA), aplicando-se o
teste de Tuckey a 5% de probabilidade para aquelas que apresentaram significância, e as
relações entre as características foi feita pela correlação de Pearson.
Resultados e Discussão
Os parâmetros motilidade e vigor do sêmen, nos tratamentos controle, TRIS e
Ringer com lactato, após o descongelamento (cinco minutos do TTR), atenderam o que
é estabelecido pelo Colégio Brasileiro de Reprodução Animal (CBRA) que é 30% e 2,
respectivamente (Tabela 1), apresentando diferença estatística (P<0,05). No entanto, o
período de sobrevivência do sêmen não ultrapassou os noventa minutos após o
descongelamento, diminuindo bruscamente com o passar do tempo. O tratamento
controle foi o que obteve maior motilidade no descongelamento (42,2±2,0) e o
tratamento que recebeu a solução TRIS apresentou maior persistência (noventa
minutos) e diminuição menos abrupta dos parâmetros motilidade e vigor, em relação
aos outros tratamentos. Em todos os tratamentos, após 30 minutos de TTR, os
parâmetros estavam aquém do preconizado pelo CBRA. Uma possível explicação para a
solução TRIS ter permitido persistência e diminuição menos abrupta dos parâmetros
motilidade e vigor pode ser devido o aumento de volume e diluição dos elementos que
poderiam estar sendo tóxicos aos espermatozóides (radicais livres) e, também, a adição
de frutose (substratro energético), TRIS e ácido cítrico (agentes tamponantes).
223
Tabela 1 - Médias e desvios- padrão para motilidade (MOT - %) e vigor (VIG – 0-5) no
teste de termorresistência (37 ºC) do sêmen descongelado nos tratamentos
experimentais e em função do tempo (minutos)
5 minutos
30 minutos
60 minutos
90 minutos
Tratamen
tos
MOT
VIG
MOT
VIG
MOT
VIG
MOT
VIG
Grupo
controle
42,2 ±
2,0ª
3,3 ±
0,1ª
16,6 ±
3,0b
1,5 ±
0,3b
1,3 ±
1,3b
0,1 ±
0,1b
0,0b
0,0b
Solução
TRIS
32,8 ±
1,4b
3,2 ±
0,1ª
22,2 ±
2,0ª
2,1 ±
0,2ª
10,9 ±
2,5ª
1,0 ±
0,2a
3,8 ±
2,00ª
0,3 ±
0,2ª
Ringer
Lactato
30,9 ±
1,5b
3,1 ±
0,1ª
11,0 ±
2,2c
1,1 ±
0,2b
2,7 ±
1,7b
0,2 ±
0,1b
0,0b
0,0b
Citrato de
Sódio
2,92%
26,3 ±
2,4c
2,5 ±
0,2b
1,9 ±
1,4d
0,3 ±
0,2c
0,6 ±
0,6b
0,1 ±
0,1b
0,0b
0,0b
Médias seguidas por letras diferentes na mesma coluna diferem estatisticamente (P<0,05) pelo teste de
Tukey.
No teste supravital, não foi apresentado diferença entre tratamentos (P>0,05)
(Tabela 2). Foi encontrada correlação positiva entre a motilidade aos cinco minutos e o
exame supravital, ou seja, quanto maior o número de células não coradas (íntegras)
contadas no teste supravital, maior será a motilidade no descongelamento (5 minutos).
A coloração supravital é um teste quantitativo e a motilidade uma avaliação subjetiva,
porém, geralmente, os seus valores ficam próximos, desde que a avaliação da
motilidade seja realizada com critérios. Portanto, o teste supravital pode ser considerado
uma forma de ratificar os valores de motilidade aferidos subjetivamente pelo
pesquisador.
Tabela 2 - Médias e desvios-padrão para motilidade (%), vigor (0-5) e teste supravital
(% de células íntegras) do sêmen descongelado, entre os tratamentos
Tratamentos
Motilidade (5 min.)
Vigor (5 min.)
Supravital *
Controle
42,2 ± 2,0ª
3,3 ± 0,1ª
38,53 ± 9,33a
Solução TRIS
32,8 ± 1,4b
3,2 ± 0,1ª
37,09 ± 8,73a
Ringer lactato
30,9 ± 1,5b
3,1 ± 0,1ª
36,00 ± 11,58a
Citrato de sódio 2,92%
26,3 ± 2,4c
2,5 ± 0,2b
33,84 ± 11,88a
Media ± Sx
33,1 ± 1,8
3,0 ± 0,1
36,37 ± 10,38
Médias seguidas por letras diferentes na mesma coluna diferem estatisticamente (P<0,05) pelo teste de
Tukey.
* = a alíquota de sêmen utilizada para a realização do supravital foi retirada também aos 5 minutos, do
mesmo ependorfe que se realizava o TTR.
224
Sugere-se a realização de testes in vivo a fim de verificar se o tempo de
sobrevivência apresentado após adição dos diluentes é suficiente para se realizar a
fertilização, uma vez que se pode contar com o auxílio de fatores inerentes a fêmea
(nutrição e auxílio na movimentação do espermatozóide). Recomenda-se ainda, o uso de
sondas fluorescentes na avaliação espermática para se verificar melhor a integridade da
membrana dos espermatozóides, pois os espermatozóides neste trabalho possuíam
motilidade após o descongelamento, mas as suas membranas poderiam estar alteradas a
ponto de não suportarem o desafio da temperatura (37 ºC) por longo período.
Conclusão
A adição das soluções Ringer com lactato, citrato de sódio 2,92% e TRIS não
permitiram uma maior persistência da motilidade e vigor após o descongelamento.
Literatura Citada
AISEN, E. G. Reprodução ovina e caprina. São Paulo: MedVet, v.1, 203p., 2008.
BISPO, C. A. S. Fertilidade do sêmen caprino resfriado ou congelado em diferentes
concentrações de gema-de-ovo no diluente. 2009. 96p. Tese (Doutorado em
Zootecnia) – Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG, 2009.
FÜRST, R. Efeito de diferentes tempos de equilíbrio, taxas de congelamento e
concentrações espermáticas na fertilidade do sêmen eqüino. Tese (Doutorado em
Zootecnia) - Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG, 2006.
LUZ, S. L. N. da; NEVES, J. P.; GONÇALVES, P. B. D. Parâmetros utilizados na
avaliação do sêmen congelado ovino para inseminação laparoscópica. Brazilian
Journal Veterinary Research Animal Science, v.37(2), p.10-18, 2000.
225
5. Economia
226
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
5.1. Produção de biodiesel no Brasil e Protocolo de Quioto: perspectivas e
possibilidades no mercado de carbono
Marlene de Paula Pereira1, Sebastião Cezar Ferreira2
1
Advogada e Mestranda em Direito – UERJ.
Economista e Professor.
2
Resumo: A partir de janeiro de 2005, por meio da Lei Federal 11.097, o biodiesel foi
inserido na matriz energética brasileira. Foram estabelecidos e tornaram-se obrigatórios
os percentuais de mistura deste combustível ao óleo diesel. Desde então, discute-se a
compatibilidade entre esta lei e o Protocolo de Quioto, questionando-se a possibilidade
de a produção de biodiesel ser utilizada como geradora de créditos de carbono, visto que
a mistura decorre de uma imposição legal e, de acordo com o Protocolo de Quioto, para
a implantação de um Mecanismo de Desenvolvimento Limpo é essencial que a
participação dos envolvidos seja voluntária.
Palavras-chave: biodiesel, Protocolo de Quioto, mercado de carbono.
Introdução
De acordo com o Protocolo de Quioto, elaborado em 1997, durante a
Conferência das Partes ocorrida no Japão, e atualmente ratificado por 155 países, dentre
eles, o Brasil, os países industrializados devem reduzir suas emissões de gases de efeito
estufa (GEE) em pelo menos 5% em relação aos níveis de 1990 entre o período de 2008
a 2012.
Pelas regras determinadas nos artigos 2◦ e 3◦ do Protocolo de Quioto, os países
ou partes listados em seu Anexo 1 devem cumprir seus compromissos de redução de
emissões de GEE, minimizando os impactos adversos ambientais, sociais e econômicos,
a fim de promover o desenvolvimento sustentável. Estas reduções devem ser obtidas a
partir de modificações de suas atividades antrópicas.
Porém, frente às dificuldades tecnológicas, econômicas e físicas são permitidos
mecanismos de flexibilização. Os artigos 6◦ e 12 do Protocolo de Quioto definem como
mecanismos de flexibilização a transferência de Unidades de Redução de Emissões
(URE) entre as partes signatárias, sendo cada unidade medida em tonelada de CO2
equivalente.
Existem três tipos de mecanismos de flexibilização: Comércio de Emissões,
Implementação Conjunta e Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). Os dois
primeiros são aplicados para transferência de URE apenas entre países do Anexo 1 do
Protocolo. Já o MDL estabelece as regras para a transferência de Unidades de Redução
de Emissões de signatários não Anexo 1 para signatários do Anexo 1.
O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) nasceu de uma proposta
brasileira à Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima
(CQNUMC). Trata-se do comércio de créditos de carbono baseado em projetos de
sequestro ou mitigação. O MDL é um instrumento de flexibilização que permite a
participação no mercado dos países em desenvolvimento, ou nações sem compromissos
227
de redução, como o Brasil. Os países que não conseguirem atingir suas metas terão
liberdade para investir em projetos de MDL de países em desenvolvimento. Através
dele, países desenvolvidos comprarão créditos de carbono, em tonelada de CO2
equivalente, de países em desenvolvimento responsáveis por tais projetos. As unidades
de redução de emissões decorrentes de flexibilização do tipo MDL são denominadas
Certificados de Emissões Reduzidas (CER).
O objetivo deste trabalho é analisar, se pelas regras previstas no Protocolo de
Quioto, a produção de biodiesel poderá alavancar a capacidade de captação de recursos
externos no Brasil pela via do registro e comercialização de Reduções de Emissões
Certificadas, visto que a mistura de percentuais de biodiesel no óleo diesel decorre de
uma imposição legal e, de acordo com o Protocolo de Quioto, para a implantação de um
Mecanismo de Desenvolvimento Limpo é essencial que a participação dos envolvidos
seja voluntária.
Material e Métodos
O método utilizado foi a análise do Protocolo de Quioto e o estudo acerca da
possibilidade de converter os benefícios decorrentes da utilização da mistura de
biodiesel ao óleo diesel em crédito de carbono.
Resultados e Discussão
Sendo o Brasil um país signatário do Protocolo de Quioto e não constante do
Anexo 1, o procedimento para MDL é a única opção possível de comercialização de
Créditos de Carbono.
Neste sentido, os projetos de MDL podem ser classificados em três tipos
básicos. Primeiro, aqueles de seqüestro ou fixação de carbono que resultam da formação
de estoques dinâmicos de carbono fixado em formações de florestas.
O segundo tipo é conhecido como de eficiência energética, sendo resultante de
ações de redução de consumo de energia que sejam gerados de fontes fósseis, como a
redução do consumo de energia elétrica produzida por uma usina térmica ou a redução
na utilização de combustíveis como a substituição progressiva de diesel fóssil por
biodiesel.
O terceiro tipo seria o de projetos mistos onde poderiam ser combinados
componentes das duas linhas de ação.
As regras para implantação de MDL são:
1. A participação das partes envolvidas deve ser voluntária;
2. Os CER devem ser mensuráveis, reais e de longo prazo;
3. As reduções de emissões devem ser adicionais àquelas que ocorreriam sem MDL.
4. Minimização dos impactos adversos ambientais, sociais e econômicos, e promoção
do desenvolvimento sustentável.
No caso do Biodiesel poderiam ser planejados projetos integrados de produção
e consumo em atividades de agricultura familiar que resultariam na formação de
estoques dinâmicos de carbono fixado e adicionalmente poderiam evitar emissões
adicionais pela substituição de óleo diesel.
228
Há estudos que afirmam que em função da regra de acordo com a qual a
participação das partes envolvidas deve ser voluntária, o Brasil não poderá
comercializar estes créditos com outros países pelo fato de a mistura de biodiesel ao
óleo diesel ser, até o momento, conseqüência de uma imposição legal - a Lei 11.097 de
13 de janeiro de 2005.
Entretanto, a avaliação da cadeia de produção do biodiesel, desde a produção de
oleaginosas até o consumo final do combustível, permite enquadrá-la como um
programa que promove o desenvolvimento sustentável, pois promove geração de renda,
empregos, integração social e redução dos níveis de emissões de alguns gases de efeito
estufa.
As próprias características do biodiesel demonstram suas vantagens ambientais,
pois é produzido com matérias-primas renováveis, biodegradáveis e não tóxicas.
Além desses fatores, outro impacto da progressiva utilização deste
biocombustível como aditivo em percentuais crescentes no diesel fóssil é a
possibilidade de redução da poluição atmosférica nos grandes centros urbanos com
rebatimento imediato na melhoria da qualidade de vida e redução de gastos no sistema
de saúde para atendimento de problemas respiratórios.
Outra vantagem que está sendo estudada é a absorção de carbono na atmosfera
pela própria plantação de mamona. Uma lavoura de 1 hectare de mamona pode absorver
até 8 toneladas de gás carbônico da atmosfera. Como para a substituição de 1% de
diesel mineral são necessários 348 mil toneladas de mamona, são ocupados 740 mil
hectares, ou seja, anualmente poderiam ser absorvidas mais 6 milhões de toneladas de
carbono pela lavoura de mamona. Porém, esse cálculo não pode ser considerado, pois
não existem garantias de que esse tipo de seqüestro seja comercializável, em função do
curto ciclo de vida da planta de mamona.
Conclusões
Acredita-se que, pelo acordo estabelecido no Protocolo de Quioto e nas
diretrizes do MDL, os benefícios gerados pela produção de biodiesel no Brasil podem
ser convertidos em vantagens econômicas, pois a cadeia de produção do biodiesel
promove geração de renda, empregos, integração social e redução dos níveis de
emissões de alguns gases de efeito estufa funcionando como um programa que promove
o desenvolvimento sustentável.
A lei, neste caso, tem uma importante função de assegurar que a mistura vai
ocorrer e, consequentemente, que o benefício ambiental será alcançado.
A conversão deste benefício ambiental em crédito de carbono poderá funcionar
como um incentivo para que outros países produzam o consumam biocombustíveis, o
que, em longo prazo, reverterá em prol da coletividade.
Agradecimentos
CNPq
229
Literatura Citada
NASCIMENTO, Juliana Eiko, NOTOYA, Elaine Yumi, FERREIRA, Maria Rosângela.
A cadeia produtiva de biodiesel e as possibilidades no mercado de carbono. Rede
Baiana de Biocombustível. Disponível em <http://www.rbb.ba.gov.br, acesso em 28 de
maio de 2007.
SABBAG, Bruno Kerlakian. O Protocolo de Quioto e seus créditos de carbono. Manual
Jurídico Brasileiro de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo. São Paulo: LTr, 2008.
SILVA, Jancleyton Andrade et al. Relação entre o mercado de créditos de carbono e o
cultivo de mamona para produção de biodiesel no semi-árido nordestino: caso do
assentamento libertação em Itaíba-PE. Universidade Federal Rural do Pernambuco.
Disponível em http://www.biodiesel.gov.br, acesso em 28 de maio de 2007.
SUERDIECK, Sidnei Silva. Impactos sócio ambientais da cadeia do biodiesel: o caso
da Bahia em perspectiva. I Congresso de mamona. Energia e sustentabilidade. 23 a 26
de novembro de 2004. Rede Baiana de Biocombustível. Disponível em
<http://www.rbb.ba.gov.br>, acesso em 31 de maio de 2007.
230
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
5.2. Mudanças climáticas e o requerimento de água para irrigação do milho no
Paraná¹
Rosandro Boligon Minuzzi², Paulo Henrique Caramori³
¹ Parte do Projeto SIMCAFE (Simulação dos impactos das mudanças climáticas globais sobre os setores
de agropecuária, floresta e energia).
² Prof. Adjunto, Universidade Federal de Santa Catarina, Dep. Eng. Rural. E-mail: [email protected]
³ Pesquisador, Instituto Agronômico do Paraná. E-mail: [email protected]
Resumo: Com a utilização do modelo CROPWAT e de tendências climáticas
observadas nas últimas décadas da chuva, temperatura máxima e mínima nas principais
regiões produtoras do Paraná, foram realizadas projeções para os anos de 2030 e 2060
no requerimento de água para irrigação do milho (1º safra) em três datas de semeadura.
Os decréscimos nos requerimentos de água para irrigação observados no período 19611990, em relação aos projetados para os anos 2030 e 2060 tem sido maiores (entre 35 a
50%) no Sul do Paraná, do que aos obtidos para o Norte do estado. No Norte
paranaense, este percentual de decréscimo varia de 20 a 25% para as semeaduras feitas
em 15 de setembro, até 30 a 45% para as semeaduras realizadas em 15 de novembro.
No Sul do estado, praticamente não há variação expressiva entre as datas de semeadura.
Palavras-chave: modelagem agrometeorológica, chuva, temperatura do ar
Climate change and water requirement for irrigation of corn in
Paraná
Abstract: Using the model CROPWAT and climate trends observed in recent decades
of rainfall, maximum and minimum temperatures in the main producing areas of
Paraná, projections were made for the years 2030 and 2060 in the water requirement for
irrigation of corn (1st season) in three sowing dates. The decreases in water
requirements for irrigation observed in the period 1961-1990, compared to projected for
the years 2030 and 2060 has been higher (between 35-50%) in southern Paraná, than
those obtained for the northern state. In Northern Paraná, the percentage of decrease
varies 20-25% for sowing on September 15, up 30-45% for the sowing performed on
November 15. In the South State, there is almost no significant variation between
sowing dates.
Key Words: agrometeorological modeling, rainfall, air temperature
Introdução
As modificações no comportamento climático observado nas últimas décadas e
as projetadas para o futuro próximo, provavelmente trarão alterações no ciclo
hidrológico. Como conseqüência, essas variações temporal e espacial devem afetar o
desenvolvimento das culturas, sua produção e o consumo de água. Todisco e Vergni
(2008) mostram que em alguns locais da Itália o risco de danos ao milho devido ao frio
tem diminuído e por isso, o ciclo da cultura na primavera pode ser antecipado.
Acrescentam que o aumento na tendência dos requerimentos de água pela cultura é
231
esperado somente quando ocorre simultaneamente com tendência positiva da
evapotranspiração e tendência negativa da chuva.
Os resultados obtidos por Supit et al. (2010) é um exemplo da importância em
realizar estudos na escala regional quando estes envolvem modificações no clima. Os
estudiosos mostram que as mudanças no comportamento meteorológico não são
uniformes na Europa. Os impactos das mudanças encontradas diferem de acordo com o
tipo de cultura e região. Em várias regiões da Europa o requerimento de água para o
trigo mostrou uma tendência de decréscimo que pode ser atribuído ao menor ciclo da
cultura em razão do aumento da temperatura durante a primavera.
Sendo o Paraná o maior responsável pela produção nacional de milho, este
estudo visa analisar os possíveis efeitos das mudanças climáticas no requerimento de
água para irrigação do milho (1º safra) cultivado no estado.
Material e Métodos
Dados e área de estudo:
Foram utilizados dados de temperatura máxima, temperatura mínima e
precipitação, obtidos de estações meteorológicas e hidrológicas pertencentes,
respectivamente, ao Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR) e a Agência Nacional de
Águas (ANA), localizadas nas duas maiores regiões produtoras de milho do Paraná
(SEAB, 2010), sendo a Sul e a Norte. Para fins de utilização das coordenadas e altitude
no modelo agrometeorológico, foram utilizados as informações das estações
meteorológicas de Ponta Grossa (latitude: 25,22°S, longitude: 50,02°W e altitude: 880
metros) e de Apucarana (latitude: 23,50°S, longitude: 51,53°W e altitude: 746 metros),
como sendo representativas das regiões Sul e Norte do Paraná, respectivamente.
Projeções climáticas:
Foram realizadas projeções climáticas para os anos de 2030 e 2060,
considerando as tendências sazonais observadas da precipitação (Minuzzi e Caramori,
2010) e da temperatura máxima e mínima do ar nas duas regiões em análise (Minuzzi et
al., 2010). As referidas tendências foram igualmente divididas aos meses que
representam os períodos sazonais: setembro a novembro (primavera), dezembro a
fevereiro (verão) e março a maio (outono) encontram-se na Tabela 1.
Modelo agrometeorológico:
Os possíveis impactos das mudanças climáticas no requerimento de irrigação
na cultura do milho foram obtidos com a utilização do modelo CROPWAT, versão 8.0,
desenvolvido pela FAO em 2009. As informações abaixo, descrevem os parâmetros
meteorológicos, fenológicos do milho e edafológicos exigidos e utilizados no
CROPWAT.
- A evapotranspiração de referência foi obtida pelo método de PenmanMonteith (Padrão FAO-1998) utilizando os dados de temperatura máxima e mínima do
ar para estimar as demais variáveis meteorológicas;
232
Tabela 1. Projeções climáticas sazonais no Norte e Sul do Paraná para os anos de 2030 e
2060 da precipitação, temperatura máxima (Temp. máx.) e temperatura mínima (Temp.
mín.)
Norte do Paraná
Sul do Paraná
Primavera
Verão
Outono
Primavera
Verão
Outono
43,2
48
55,2
74,4
72
ns
2030 Temp.máx.(°C)
0,96
ns
ns
ns
0,48
0,48
Temp.mín.(°C)
0,96
0,48
0,72
0,72
0,72
0,72
Chuva (mm)
97,2
108
124,2
167,4
162
ns
2060 Temp.máx.(°C)
2,16
ns
ns
ns
1,08
1,08
Temp.mín.(°C)
2,16
1,08
1,62
1,62
1,62
1,62
Chuva (mm)
ns= tendência não significativa a 10% (chuva) ou 5% (temperaturas).
- O cálculo da precipitação efetiva foi realizado pelo método proposto do
Serviço de Conservação do Solo, do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos;
- Foram consideradas três datas de semeadura da primeira safra do milho (ciclo
médio de 125 dias), sendo 15 de setembro, 15 de outubro e 15 de novembro. Os dados
fenológicos da cultura do milho exigidos no CROPWAT, constam na Tabela 2.
- Para os dados edafológicos, consideraram-se as características do solo
predominante nas regiões analisadas, sendo do tipo Latossolo Vermelho (Tabela 3).
Tabela 2. Dados fenológicos para o milho de ciclo médio cultivado no Paraná
Fases fenológicas
Inicial
Vegetativo
Granação
Maturação
Colheita
Coeficiente de cultura (Kc)
0,4
-
1,1
-
0,6
Fase fenológica (dias)
10
35
60
20
-
Profundidade da raiz (metros)
0,3
-
1,35
-
-
Fração crítica de água no solo (p)¹
0,42
-
0,55
0,51
-
Fator de resposta da cultura (ky)
0,4
0,5
0,5
0,2
1,25
¹ p=0,55 (tabelado)+0,04(5-ETc)
Tabela 3. Dados edafológicos para solo do tipo Latossolo Vermelho
Total de umidade disponível no solo (mm/metro)
180
Taxa de infiltração máxima da chuva (mm/dia)
30
Profundidade máxima da raiz (cm)
900
Percentual crítico inicial de umidade do solo
0
233
Resultados e Discussão
Apesar dos meses de cultivo da primeira safra do milho serem climaticamente os
mais chuvosos do ano, nas fases de maior necessidade de água pela cultura (floração e
granação) ainda há a necessidade de irrigação, independente da data de semeadura,
porém, com maiores volumes quanto mais precoce for a semeadura em ambos
municípios analisados, inclusive no início da maturação (Figura 1). Estes volumes de
água requeridos para a irrigação do milho são maiores no Sul do Paraná, mas os
decréscimos destes volumes observados no período 1961-1990 em relação aos
projetados para os anos 2030 e 2060 tem sido maiores (entre 35 a 50%) do que aos
obtidos para o Norte do estado. No Norte paranaense, este percentual de decréscimo
varia de 20 a 25% para as semeaduras feitas em 15 de setembro (Figura 1a) até 30 a
45% para as semeaduras realizadas em 15 de novembro (Figura 1c). Enquanto, no Sul
do estado, praticamente não há variação expressiva entre as datas de semeadura.
Mesmo com o aumento da temperatura mínima no Paraná, que em tese
aumentaria a perda de água para a atmosfera, o comportamento da precipitação (entrada
de água no solo) prevalece quando analisamos as variáveis meteorológicas que
influenciam a demanda atmosférica. Assim, este comportamento da projeção no
requerimento de água para irrigação é um evidente reflexo da predominante tendência
de aumento nos volumes de precipitação no Paraná. Se por um lado, isto favorece a
economia de água e energia na agricultura do Paraná, pelo outro, a de se atentar para
possíveis aumentos na ocorrência de doenças e conseqüentes gastos com a aquisição de
defensivos agrícolas. Mas conclusões mais precisas quanto a questão fitossanitária das
plantas são cabíveis aos objetivos de estudos futuros. Seguindo este raciocínio de
aumento da precipitação, Cai et al. (2009) mostram que o déficit de umidade do solo
durante a fase de estabelecimento do milho cultivado em Illinois (Estados Unidos) será
menor em quantidade e variabilidade no ano de 2055 em relação ao observado
atualmente. Atribuem ao aumento da precipitação durante o período janeiro a abril que
precede o ciclo da cultura.
Conclusão
A diminuição no requerimento de água para a irrigação deverá favorecer a
economia agrícola no cultivo da primeira safra do milho no Paraná.
Literatura Citada
CAI, X.; WANG, D.; LAURENT, R. Impact of climate change on crop yield: A case
study of rainfed corn in Central Illinois. Journal of Applied Meteorology and
Climatology, v.48, p.1868-1881. 2009.
MINUZZI, R.B.; CARAMORI, P.H. Tendência climática sazonal e anual da chuva no
estado do Paraná. In: Congresso Brasileiro de Meteorologia, 16, Belém-PA. Anais...
Belém: SBMet, 2010. CD-Rom.
MINUZZI, R.B.; CARAMORI, P.H.; BORROZZINO, E. Tendências na variabilidade
climática sazonal e anual das temperaturas máxima e mínima no estado do Paraná.
Bragantia. no prelo. 2010.
234
Figura 1. Requerimento de água para irrigação necessária durante o ciclo do milho
cultivado no Norte e no Sul do Paraná em diferentes datas de semeadura: 15
de setembro (1a), 15 de outubro (1b) e 15 de novembro (1c).
SECRETARIA DA AGRICULTURA E DO ABASTECIMENTO DO PARANÁ
(SEAB). Estimativa de safras. Acesso em janeiro de 2010: www.seab.pr.gov.br/
SUPIT, I.; VAN DIEPEN, C.A.; BOOGARD, H,L,; LUDWIG, F.; BARUTH, B. Trend
analysis of the water requeriments, consumption and deficit of field crops in Europe.
Agricultural and Forest Meteorology, v.150, p.77-88. 2010.
TODISCO, F.; VERGNI, L. Climatic changes in Central Italy and their potential effects
on corn water consumption. Agricultural and Forest Meteorology, v.148, p.1-11.
2008
235
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
5.3. Turismo rural: uma alternativa econômica para o agricultor familiar
Edilene Pereira Guimarães1, Ana Lídia Coutinho Galvão2
1
Estudante do curso de Economia Doméstica da UFV – [email protected]
Professora e coordenadora do Departamento de Economia Doméstica da UFV - [email protected]
2
Resumo: A agricultura familiar, de modo geral, é a grande responsável pela produção
de alimentos no Brasil e tem passado por transformações, contribuindo para o
surgimento de uma nova estrutura do trabalho rural permitindo que os agricultores
familiares tenham a possibilidade de aumentar a renda familiar. Com isso, tem-se
demonstrado que a agricultura não pode ser o único embasamento econômico para o
desenvolvimento do meio rural; e para congregar alternativas econômicas ao meio rural
tem sido a tática adotada por muitos agricultores familiares, o turismo rural. Neste
contexto, o presente estudo tem como objetivo geral estudar por meio de uma ampla
revisão bibliográfica, a importância do turismo rural para a geração de renda, tornando
uma alternativa econômica para o pequeno agricultor e ressaltando os benefícios que a
comunidade teria com a implantação do turismo rural, assim como os malefícios caso
seja má utilizada. Diante disso, torna-se importante maximizar os impactos positivos
advindos do turismo e tomar medidas para combater os impactos negativos diversos que
possam prejudicar o progresso dessa nova alternativa econômica de geração de renda e
prejudicar a qualidade de vida para esses pequenos agricultores.
Palavras-chave: Agricultura familiar; Turismo rural; Renda.
Introdução
Nas últimas décadas, o mundo rural passou por transformações, com sua intensa
diversificação nas formas de organização social e produtiva. Essas transformações e
mudanças ocorridas no contexto brasileiro, especificamente na agricultura vêm, nos
últimos anos, contribuindo para o surgimento de uma nova estrutura do trabalho rural
(ALMEIDA, 2006).
De acordo com Silva (1997), o meio rural brasileiro ganhou novas funções não
sendo caracterizado somente como um conjunto de atividades agropecuárias e
agroindustriais, pois inserido ou não em sua propriedade ele vem desenvolvendo outras
atividades no meio rural, competindo com as atividades agrícolas. Assim, como
atividades não-agrícolas, destacam-se, a prestação de serviços, dentre eles serviços de
hospedagem, alimentação e venda de produtos artesanais locais; a indústria de
transformação, o comércio de mercadorias, os serviços sociais e a indústria da
construção civil. Ainda como forma alternativa de turismo, as propriedades rurais,
oferece a oportunidade dos visitantes desfrutarem de trilhas e diferentes ambientes
rurais, do contato com a natureza e costumes fora do ambiente urbano (PEREIRA et al.
2007).
Com isso, tem-se demonstrado que a agricultura não pode ser o único
embasamento econômico para o desenvolvimento do meio rural. Por isso, a
possibilidade de congregar outras alternativas econômicas ao meio rural tem sido a
tática adotada por muitos agricultores familiares, tornando-se uma alternativa para o
236
aumento de sua renda, que passa a ser gerada por uma maior diversidade de atividades e
funções e supostamente para que tenham uma melhoria de sua qualidade de vida.
Pereira (2007) vendo a questão de uma forma mais geral aponta que estas
atividades representam um instrumento valioso na revitalização do ambiente cultural de
uma região, pois além de beneficiar o pequeno produtor rural com uma fonte alternativa
de renda contribuiu, para evitar o êxodo rural, graças à melhora da renda e da vida da
população local.
Nessa perspectiva, Wanderley (1999) comenta que: “o meio rural não seria
apenas o lugar da produção agrícola, mas também um espaço diferenciado, capaz de
oferecer a população urbana, padrões de residência específicos e formas de lazer ligadas
ao contato com a natureza, como turismo rural”.
Dessa forma, o turismo no meio rural, segundo Silva e Campanhola (1999), pode
se constituir em um dos vetores do desenvolvimento local, a partir do momento em que
as decisões sejam tomadas no setor local, que haja controle dos processos de
desenvolvimento por atores sociais locais, e que as comunidades locais se apropriem
dos benefícios gerados. O turismo no meio rural deve ser considerado um turismo local
de território, caracterizado por um cenário onde se valorize a cultura local.
Por este motivo, torna-se importante compreender que as atividades não
agrícolas no meio rural estão sendo responsáveis cada vez mais pela ocupação
econômica do campo, introduzindo nas propriedades novas estratégias familiares de
reprodução.
Nesse sentido, este estudo tem como objetivo geral estudar por meio de uma
ampla revisão bibliográfica, a importância do turismo rural para a geração de renda,
tornando uma alternativa econômica para o pequeno agricultor.
Especificamente, pretende-se: Apontar de forma sucinta, os pontos positivos e os
pontos negativos que o turismo rural pode proporcionar ao agricultor familiar, sejam
eles de ordem social ou ambiental.
Revisão Bibliográfica
A agricultura familiar, de modo geral, é a grande responsável pela produção de
alimentos no Brasil. Apesar disso, ela sempre ocupou um lugar secundário na sociedade
brasileira, tornando visíveis as dificuldades enfrentadas pelos agricultores familiares,
principalmente aqueles que cultivam para subsistência, em se estabelecerem
economicamente.
Porém, as transformações ocorridas no espaço rural brasileiro, principalmente no
que se refere às relações e formas de trabalho, têm permitido aos agricultores familiares
a possibilidade do aumento da renda familiar (QUEIROZ, 2005).
Tais transformações segundo a mesma autora apontam para a abertura de um
processo produtivo rural, o qual abre espaço para a consolidação de atividades, como o
turismo, que, embora recente no meio rural brasileiro, vem emergindo também na
agricultura familiar. Além disso, a característica transdisciplinar e multissetorial do
turismo permite a valorização dos aspectos naturais, da cultura e da atividade produtiva
das comunidades familiares, e estimula, também, a recuperação e conservação da
economia do território.
237
De acordo com Philereno et al. (2009), a expressão turismo rural é empregada
muitas vezes no sentido genérico como o conjunto de atividades que se desenvolvem no
meio rural, tendo como objetivos proporcionar, ao produtor rural, a complementação da
renda e ao visitante o descanso, o contato com os valores culturais e patrimoniais
tradicionais, ou até a prática do lazer num âmbito diferente da cidade.
Na concepção de Etges (1998), o turismo rural é a criação de uma nova
alternativa econômica para o interior do país, aproveitando as propriedades e os
recursos naturais existentes, além da cultura e dos costumes da população.
Pelo ponto de vista econômico, infere-se que a introdução da atividade turística
na agricultura familiar pode maximizar a renda, especialmente com a comercialização
de produtos feita diretamente ao consumidor e turista.
Neste contexto, os benefícios que a comunidade teria com a implantação do
turismo rural seriam basicamente: a geração de uma nova alternativa de renda; a
animação da economia rural; a geração de empregos diretos e indiretos; a redução do
êxodo rural; a preservação dos valores culturais; o resgate da auto-estima do homem
rural e; as atividades nas propriedades agropecuárias voltadas ao turismo receptivo
(ETGES, 1998).
Especificamente, os benefícios sociais refletem-se na dinamização da cultura
rural, da necessidade de os agricultores familiares manterem sua identidade e
autenticidade. É desencadeado um resgate de valores, costumes, códigos, onde estes
possam orgulhar-se da sua ascendência, relembrar histórias, resgatar a gastronomia,
exibir objetos antigos antes considerados velhos e inúteis, seu modo de falar, suas
vestimentas, seu saber (QUEIROZ, 2005). Ressurge, desse modo, a valorização da
essência do homem do campo, uma vez que a sua cultura original torna-se o próprio
atrativo turístico, com efeitos diretos no aumento da auto-estima da população (SILVA
et al., 2007).
Quanto aos aspectos ambientais, o turismo rural na agricultura familiar visa ao
uso coerente dos recursos naturais, sua preservação, conservação e recuperação, uma
vez que tais recursos passam a constituir atrativos turísticos. O ambiente também é
beneficiado com a produção agroecológica, que contribui para a qualidade de vida dos
agricultores e dos visitantes (QUEIROZ, 2005).
Embora, conforme apresentado anteriormente, Philereno (s/d) e Queiroz (2005)
citem vantagens relacionadas à atividade turística, também existem estudos que revelam
efeitos negativos relacionadas às mesmas que também merecem ser destacadas.
Algumas vezes essas atividades podem se tornar prejudiciais, a ponto de serem
irreversíveis, isto decorrente da sua má utilização. Dentre os efeitos negativos podem
estar os impactos econômicos, socioculturais e ambientais.
De acordo com Ruschmann (2004 apud Silva et al. 2007), a preocupação quanto
aos efeitos negativos da implantação do turismo rural, enfatiza intensamente, os efeitos
sobre a comunidade receptora, como: o crescimento desordenado da atividade turística
no meio rural, que é embasada pelo setor agrícola; as alterações socioculturais, na
introdução de novos valores, com o aumento da renda familiar e uma demanda que não
acompanha o planejamento adequado para receber visitante.
Portanto, pode perceber que assim, como em toda atividade, o turismo no meio
rural também possui aspectos positivos e negativos, ou seja, ele proporciona benefícios,
mas também pode causar conseqüências que trazem problemas para a população local,
sendo necessário o comprometimento dos agricultores familiares, não somente com a
238
conservação dos recursos naturais, como também um planejamento adequado para
receber turistas que queiram visitar a propriedade.
Dessa forma, os pequenos agricultores terão como alternativa, a geração de
renda e melhoria no padrão de vida e equidade social para as comunidades locais.
Considerações Finais
Com esse estudo foi possível entender que o espaço rural já não pode ser mais
concebido como apenas o lugar que se planta e se criam animais. Novas atividades estão
sendo inseridas no meio rural, com destaque para o turismo rural. Sendo este uma forma
de possibilitar a valorização da agricultura familiar, uma vez que a sua cultura torna-se
o próprio atrativo turístico, com efeitos diretos no aumento da auto-estima da
população.
Além disso, a busca por alternativas a fim de diversificar a renda familiar é
notório, onde os agricultores familiares procuram diversificar suas atividades e investir
no turismo rural como estratégia de diversificação de atividade produtiva e melhoria de
qualidade de vida.
Nesse sentido, torna-se importante maximizar os impactos positivos advindos do
turismo e tomar medidas para combater os impactos negativos diversos que possam
prejudicar o progresso dessa nova alternativa econômica de geração de renda e
prejudicar a qualidade de vida para esses pequenos agricultores.
Literatura Citada
ALMEIDA, L.V. O vestido e a enxada: a participação feminina no trabalho rural.
2006.
ETGES, V.E. Turismo rural: uma alternativa de desenvolvimento para as
comunidades rurais. In: LIMA, Luiz Cruz. Da cidade ao campo: a diversidade do saberfazer turístico. Fortaleza: UECE, 1998.
PEREIRA, L. M. B.; SANTOS, S. G.; SENA, C. dos S.; SOUZA, R. L.; SOUZA, D. A.
Turismo rural: revisão de literatura. Revista Científica Eletrônica de Turismo.
Periódicos Semestrais. Ano IV, n.7, Jan. 2007. ISSN: 1806-9169.
QUEIROZ, P. G. de. Turismo rural e desenvolvimento local na agricultura familiar.
In: XLIII Congresso da Sober “Instituições, Eficiência, Gestão e Contratos no Sistema
Agroindustrial”. Ribeirão Preto. 2005.
PHILERENO, D. C.; SOUZA, O. T. de.; BAGOLIN, I. P. O turismo rural como
alternativa de desenvolvimento para a agricultura familiar: investigação sobre suas
possibilidades nos municípios de Taquara e Rolante (RS). Ensaios FEE, Porto Alegre,
v. 30, Número Especial. 2009.
SILVA, N. P.; FRANCISCO, A. C. de; THOMAZ, M. S.; SILVA, U. B. da; SILVA, S.
G. da; SILVA, M. C. G. da. Turismo rural, fonte de renda alternativa das pequenas
propriedades rurais. In: 3º Encontro de Engenharia e Tecnologia dos Campos Gerais.
2007.
SILVA, J. G. da.Velhos e novos mitos do rural brasileiro. In: Estudos avançados. v.
15, n. 43. São Paulo. Set./Dez. 2001.
239
SILVA, J. G. da. O novo rural brasileiro. In: Revista Nova Economia, v.7, n.1. 1997.
SILVA, J. G. da.; CAMPANHOLA, C . Panorama do turismo no espaço rural
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Turismo Rural. Piracicaba: FEALQ, 1999.
WANDERLEY, M. de N. B. Territorialidade e Ruralidade no Nordeste: Por um
pacto social pelo desenvolvimento Rural. Seminário Internacional: Planejamento e
Desenvolvimento Territorial. Campina Grande (PB). Set. 1999.
240
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
5.4. Identificação de dificuldades e barreiras na comercialização e na
agroindustrialização da produção agrícola familiar no município de Canaã, MG1
Fabiana Aparecida de Paula2, Aziz Galvão da Silva Júnior3, Francylara Miranda Castro4
1
Parte do projeto de iniciação científica dos autores, financiada pela FAPEMIG.
Estudante de graduação em Gestão do Agronegócio.
3
Professor do Departamento de Economia Rural.
4
Estudante de graduação em Gestão do Agronegócio.
2
Resumo: Diante da importância da Agricultura Familiar para o agronegócio brasileiro,
faz-se necessário conhecer as principais barreiras e dificuldades enfrentadas pelos
produtores rurais. No presente trabalho, foram levantados dados referentes à produção,
comercialização e agroindustrialização. Para tal análise foi utilizado o Método de
Análise Rápida (Rapid Appraisal) que trata-se de um enfoque pragmático que está
situado entre o contínuo dos métodos informais, como conversas não-estruturadas e
visitas de curta duração, e das pesquisas bem estruturadas, sendo implementado através
da aplicação de questionários. Os questionários foram aplicados no município de Canaã
em Minas Gerais. Com base neste estudo introdutório constatou-se que os agricultores
familiares de Canaã estão dentro da realidade brasileira, apresentando dificuldades tanto
na comercialização de produtos in natura como na implementação de atividades
agroindustriais. Finalmente, comprovou-se o interesse de produtores da região em
agregar valor à produção através da agroindustrialização.
Palavras–chave: agricultura familiar, barreiras, dificuldades, agroindustrialização,
comercialização
Identification of difficulties and barriers in the marketing and industrialization of
agricultural family in the town of Canaan, MG
Abstract: Given the importance of Family Agriculture for Brazilian Agribusiness, it is
necessary to know the main barriers and difficulties faced by farmers. In the present
study data were collected concerning the production, commercialization and
industrialization in small scale farms. For such analysis the Method Rapid Appraisal
that was used. This method is a pragmatic approach which is situated between the
continuum of informal methods, such as unstructured conversations and visits of short
duration, and research well structured, being implemented through the use of
questionnaires. These were applied in the Canaan Municipality, Minas Gerais State,
Brazil. Based on this sample it was found that the family farmers of Canaan are similar
to the Brazilian small scale farming reality, facing difficulties in both the marketing of
fresh products and in the implementation of agro-industrial activities. As final result, the
farmers consider the agroindustrilization as an interesting alternative.
Key Words: agro-industrialization, barriers, difficulties, family agriculture, marketing
241
Introdução
A Agricultura Familiar é de extrema importância para o agronegócio brasileiro,
sendo responsável por 38% do Valor Bruto da Agropecuária Nacional, além de
representar cerca de 85% de propriedades rurais. Segundo o Ministério de
Desenvolvimento Agrário (MDA) aproximadamente 70% dos produtos da cesta básica
são produzidos pela Agricultura Familiar.
Este segmento tem grande participação principalmente na economia das pequenas
cidades sendo responsável pela maioria dos empregos no comércio e nos serviços
prestados nestes municípios. A melhoria de renda deste segmento por meio de sua
maior inserção no mercado tem impacto importante no interior do país. A criação de
oportunidades de empregos sustentáveis é imprescindível para evitar o contínuo fluxo
populacional para as grandes metrópoles.
A inserção sustentável e competitiva no mercado dos agricultores familiares
depende de tecnologias e condições político-institucionais, representadas por acesso a
crédito, informações organizadas, canais de comercialização, transporte, energia e
assistência técnica. Além disso, é preciso chegar a um ponto de equilíbrio entre a
articulação dos agentes da cadeia de produção e a consequente perda de poder decisório,
em troca de maior rentabilidade e estabilidade (BATALHA et al., 2008).
Considerando a importância econômica e social da agricultura familiar e as
consequências sociais de inviabilização da produção, com o abandono da propriedade
rural e migração para centros urbanos, a implementação de atividades de agregação de
valor pode ser uma alternativa para o aumento de renda na agricultura familiar.
No presente trabalho buscou-se identificar as principais barreiras e dificuldades
encontradas pelos produtores rurais na comercialização e agroindustrialização na
Agricultura Familiar, sendo utilizada como referências propriedades rural familiares
situadas no município de Canaã, Zona da Mata de Minas Gerais.
Material e Métodos
O Método de Análise Rápida (Rapid Appraisal) foi utilizado na identificação de
dificuldades e barreiras enfrentadas pelos agricultores familiares da Zona da Mata de
Minas Gerais na comercialização e implementação de atividades que agregam valor a
produção agrícola.
O Método de Análise Rápida trata de um enfoque pragmático que está situado
entre o contínuo dos métodos informais, como conversas não-estruturadas e visitas de
curta duração, e das pesquisas bem estruturadas como censos, pesquisas de mercado e
experimentos (SILVA et al., 1998; USAID, 1996 apud in WIAZOWSKI, 2002). O
método pode ser implementado através da aplicação de questionário.
O questionário é um instrumento de coleta de dados composto por uma série
ordenada de perguntas, que devem ser respondida por escrito e sem a presença do
entrevistador (MARCONI, 2008).
Para a aplicação de tal método nesta pesquisa, foram selecionados 15 produtores
do município de Canaã para responderem ao questionário. O Pré-teste foi realizado no
município de São Miguel do Anta que faz divisa com o Município de Canaã. Após a
coleta dos dados foi realizada uma análise dos mesmos e uma breve revisão
bibliográfica sobre o tema.
242
Resultados e Discussão
A agricultura familiar brasileira apresenta grande diversidade que caracteriza o
universo dos agricultores, reflexos de condições locais, como o clima, acesso aos
mercados, infra-estrutura entre outros. Além disso, as condições dos próprios
agricultores, como o tamanho da propriedade e acesso às tecnologias são peculiares.
Os problemas comuns enfrentados pelos agricultores são: exigência de
investimentos sucessivos, requerimento de capital de giro; insuficiência de mão-deobra; dificuldades para acompanhar o processo de inovações; deficiência de gestão tanto
da propriedade como do sistema no qual estão inseridos; deficiência de informação e
conhecimento/experiência dos mercados; restrição de terra; nível de qualidade
inadequado para enfrentar as novas exigências do mercado, entre outros. Um dos
maiores entraves a competitividade dos agricultores familiares é a utilização de
tecnologias inadequadas.
Outra grande dificuldade por parte desses agricultores é a compreensão do
funcionamento dos mercados, que impõem articulação com os segmentos pré e pósporteira, novas formas de negociação e práticas de gestão do processo produtivo. Há
problemas comuns a toda a agricultura familiar brasileira, mas se analisarmos o cenário
em que essa agricultura está inserida podemos observar que há problemas diferentes
para cada região, estados ou município. No Norte há dificuldades de comercialização
pela distância dos mercados consumidores e esgotamento da terra nas áreas de
produção. No Nordeste são minifúndios inviáveis economicamente. No Sudeste é a
exigência em qualidade por parte dos consumidores. Finalmente, no Sul é a
concorrência externa de produtos do MERCOSUL (PORTUGAL, 2002).
As entrevistas foram realizadas na propriedade de cada produtor com duração
média de cinco minutos. A seguir são resumidos alguns resultados obtidos.
Com base nessa amostra constatou-se que os agricultores familiares de Canaã
estão dentro da realidade brasileira. Estes apresentam problemas na comercialização,
sendo o preço baixo de venda do produto o principal deles, sendo citado por 58%
produtores. Outras dificuldades detectadas foram concorrência (21%), falta de mercado
para o produto (17%) e qualidade do produto inferior a desejada pelo consumidor (4%).
Esses agricultores geralmente não possuem família com muitos membros, sendo
que 60% dos produtores possuem até três membros na família. Foi constatado que estes
agricultores têm experiência na atividade, pois 87% destes são agricultores há mais de
onze anos. Os produtos mais cultivados nas propriedades são: café (32%), milho (32%)
e feijão (28%). E ainda, 47% dos agricultores declararam que o preço de venda não
cobre o custo de produção.
Não foi encontrado nenhum produtor que processasse o produto na própria
propriedade. No entanto, somente 27% dos produtores já consideraram a possibilidade
de montar uma agroindústria para processar o produto, sendo citados os seguintes
fatores que impediram esta iniciativa; como o baixo volume de produção (50%), falta de
apoio municipal (17%), complexidade do processo de implantação (17%) e falta de
capital (16%).
E por fim, 47% dos produtores declararam que estariam dispostos a processar seus
produtos caso tivessem acesso ao crédito e 40% dos produtores estariam dispostos se
houvesse uma associação entre os produtores.
243
Conclusões
Por meio do método Análise Rápida percebeu-se que os produtores de Canaã
encontram dificuldades tanto na comercialização de produtos in natura como na
implementação de atividades agroindustriais. Ainda, por meio desse método, foi
detectado o interesse de produtores da região em agroindustrializar a produção, bem
como a possibilidade de se formar uma associação de produtores na região para o
processamento do produto. Foram constatadas barreiras na implantação de
agroindústrias, principalmente quanto à baixa escala de produção e falta de capital.
Portanto, através dos resultados obtidos conclui-se que a implantação de
atividades agroindustriais em uma propriedade agrícola familiar apresenta barreiras e
dificuldades, mas ainda pode ser uma alternativa viável para esses agricultores se
manterem no campo. Este trabalho poderá servir como referência para futuras pesquisas
sobre o assunto, considerando-se a importância da agroindustrialização para
manutenção do produtor no meio rural e garantia de renda para a agricultura familiar.
Literatura Citada
BATALHA, M.O.; BUAINAIN, A.M.; FILHO, H.M.S. Tecnologia de Gestão e
Agricultura Familiar. Disponível em: <biblioteca.planejamento.gov.br/.../at_mana
ged _file.2009-11-05.8919212063/ > Acesso: 28 jan. 2010.
MARCONI, M.A.; LAKATOS, E.M. Técnicas de Pesquisa. 7ª edição. São Paulo: Ed.
Atlas, 2008.
MDA – Ministério do Desenvolvimento Agrário. Disponível em: <http://www.mda.
gov.br/portal/>. Acesso em: 5 jan. 2010.
PORTUGAL, A.D. O desafio da Agricultura Familiar. Disponível em: <http://www.
embrapa.br/imprensa/artigos/2002/artigo.2004-12 07.2590963189/> Acesso: 8 jan.
2010.
WIAZOWSKI, B.A. Cadeia Produtiva de Bovinos de Corte> Uma Análise
Sistêmica de sua Competitividade.
Disponível em < http://www.imagetec.
com.br/arquivos%5CMonografiaAgrosoft.pdf> Acesso: 02 dez. 2009.
244
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
5.5. Abertura comercial e seus efeitos na transmissão de preços entre os mercados
de trigo argentino e internacional
Daniel Arruda Coronel1, Airton Lopes Amorim2, Eliane Pinheiro de Sousa3
1
Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Economia Aplicada DER-UFV e Bolsista de Doutorado
do CNPq. E-mail: [email protected].
2
Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Economia Aplicada DER-UFV e Bolsista de Doutorado
do CNPq. E-mail: [email protected].
3
Professora Adjunta do Departamento de Economia na Universidade Regional do Cariri (URCA). E-mail:
[email protected]
Resumo: Este trabalho buscou examinar os efeitos da abertura comercial na transmissão
de preços entre os mercados de trigo argentino e internacional. Para isso, foram
comparados dois subperíodos, sendo o primeiro anterior à política de liberação
comercial de 1990 e o segundo, pós-liberalização. Essa divisão possibilitou verificar
como esse processo alterou as condições de comércio dessa commodity entre os países,
sendo a análise realizada por meio da obtenção e comparação dos coeficientes dos
modelos de Correção de Erros Vetoriais (VEC). Os resultados indicaram que ocorreram
diferenças relevantes na formação dos preços entre ambos os períodos.
Palavras-chave: mercados de trigo, transmissão de preços, vetor autorregressivo
Trade liberalization and its effects in price transmission between the Argentinian
and international wheat market
Abstract: This study aimed to examine the effects of trade liberalization in the
transmission of prices between the Argentinian and the International wheat markets. For
this, it were compared two sub periods, the first being before the policy of commercial
liberalization of 1990 and the second post-liberalization. This division enable to verify
how this process changed the commerce conditions for that commodity among
countries, and the analysis performed by obtaining and comparing coefficients from the
Vector Error Correction model (VEC). The results indicated significant differences in
prices between the two periods.
Key Words: prices transmission, vector autoregressive, wheat market
Introdução
A cadeia tritícola tem muita importância na economia argentina, com grande
participação na geração de divisas (Argentina é o quinto maior exportador mundial de
trigo) e empregos, conforme a Secretaría de Agricultura, Ganadería, Pesca y
Alimentación (SAGPyA, 2009).
Assim como outros produtos da agropecuária argentina, o trigo passou por
profundas mudanças, nas últimas décadas, que alteraram a dinâmica produtiva e de
comércio deste produto. De acordo com Bisang (2001), os principais fatores da
mudança ocorrida na agropecuária argentina foram a incorporação de novas culturas; a
adoção de novos processos tecnológicos; a liberação dos preços e a eliminação de várias
245
barreiras de retenção à comercialização. Ainda de acordo com Bisang (2001), ao reduzir
as barreiras ao comércio internacional e permitir maior proximidade econômica entre os
países, a abertura comercial introduz modificações nos custos de produção dos produtos
agropecuários, modifica a característica final destes produtos e altera a formação dos
preços dos mesmos.
Diante desse contexto de mudanças e, em especial, da possível mudança na
formação de preços dos produtos agropecuários, este trabalho avalia os efeitos da
abertura comercial, ocorrida na Argentina, nos anos de 1990, sobre o processo de
transmissão de preços entre os mercados de trigo argentino e internacional. Estão
subjacentes a essa preocupação as perguntas: a) em que nível de mercado se originam as
variações nos preços e em que sentido essas variações se transmitem aos demais
mercados; b) durante que período se dá a transmissão e com qual intensidade; e c) como
a abertura comercial afetou o processo de transmissão de preços.
Para responder a essas questões, analisaram-se as séries de preços do trigo nestes
dois mercados, ao longo dos anos de 1980 a 2010, por entender que o comportamento
das mesmas pode responder a mudanças na política econômica e a outras mudanças
importantes, como mudanças tecnológicas.
Material e Métodos
O embasamento teórico deste trabalho está alicerçado na Lei do Preço Único
(LPU) a qual postula, de acordo com Krugman e Obstfeld (2005), que, sob livre
concorrência, arbitragem internacional, ausência de custos de transporte e barreiras ao
comércio, bens homogêneos devem ser comercializados pelo mesmo preço em
diferentes países, quando seus preços são cotados em termos da mesma moeda.
O modelo analítico segue o conceito de cointegração, elaborado por Engle e
Granger (1987) e por Johansen (1988). Este conceito está relacionado à idéia de que, se
séries temporais individuais não são estacionárias, mas uma combinação linear delas é
estacionária, então se pode afirmar que elas são cointegradas, ou seja, existe uma
relação de equilíbrio de longo prazo entre as séries (GREENE, 2008). Neste caso, podese especificar o modelo Vetorial de Correção de Erro (VEC):
que:
Yt    1Yt 1  ...  p 1Yt  p 1  Yt 1   t em
   ' e as combinações lineares
 'Yt 1 representam as r relações de cointegração.
A significância estatística das relações de cointegração indica se existe ou não
integração de preços no mercado de trigo argentino e internacional.
Os dados de preços do trigo argentino (PARGE) foram coletados no site da
Secretaria de Agricultura, Ganadería, Pesca y Alimentación (SAGPyA) e os preços
internacionais (PINTER) foram coletados no site do Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (IPEA), para o período de janeiro de 1980 a março de 2010. Esse período de
análise foi dividido em dois subperíodos, com o primeiro anterior à política de liberação
comercial de 1990 e o segundo, pós-liberalização.
Resultados e Discussão
O comportamento dos preços do trigo na Argentina e no mercado internacional
pode ser visualizado na Figura 1. Nota-se que os preços do trigo da Argentina e do
mercado internacional não apresentaram uma tendência linear bem definida, ao longo
246
do tempo, porém essas séries de preços movimentam-se conjuntamente no período
analisado. Isso é um indício de que as séries seriam cointegradas. Antes de testar essa
evidência, constatou-se por meio dos testes de raiz unitária de Dickey-Fuller
Aumentado (ADF), de Phillips Perron (PP) e de Kwiatkowski-Phillips-Schmidt-Shin
(KPSS) que tais séries são estacionárias em primeira diferença nos dois subperíodos
avaliados.
Figura 1 – Séries de preços mensais logaritmizadas do trigo da Argentina (LPARGE) e
do mercado internacional (LPINTER), janeiro de 1980 a março de 2010.
Fonte: Organização dos autores com base na SAGPyA (2010) e IPEA (2010).
Feito isso, realizou-se o teste de Johansen, que indica que as séries de preços do
trigo antes e após a abertura comercial contêm um único vetor de cointegração, cujas
equações são expressas, respectivamente, por: LPARGE = 0,9812xLPINTER e
LPARGE = 0,9870xLPINTER. A elasticidade de transmissão do preço do trigo entre os
mercados estudados apresenta um ligeiro acréscimo após a abertura comercial. Como os
coeficientes de elasticidade de transmissão do preço do trigo foram próximos à unidade
nos dois subperíodos analisados, verifica-se que a Lei do Preço Único prevalece nos
mercados de trigo nesses períodos.
Para confirmar a evidência anterior, empregaram-se os testes de hipóteses sobre
os parâmetros , os parâmetros de cointegração. Os resultados desses testes mostraram
que os preços do trigo nos mercados argentino e internacional participam das relações
de longo prazo, porém a hipótese nula de perfeita integração foi rejeitada em tais
mercados, logo a Lei do Preço Único não é perfeitamente verificada nesses mercados de
trigo analisados.
Como as séries de preços do trigo são cointegradas, tais séries convergem para
uma condição de equilíbrio de longo prazo, tornando-se relevante a estimação do
Modelo de Correção de Erro (VEC). A Tabela 1 apresenta os resultados da estimação
do VEC para cada subperíodo analisado.
Tais resultados indicam que a remoção dos desequilíbrios de curto prazo
requereu menos tempo após a abertura comercial, ou seja, os desequilíbrios de curto
prazo referentes à trajetória de longo prazo necessitavam, em média, de três meses e
meio para serem corrigidos antes da abertura comercial e, pós-abertura, três meses
passaram a ser suficientes para corrigi-los.
247
Tabela 1 – Estimação do VEC referente à variável preço do trigo na Argentina
(LPARGE) e preço do trigo no mercado internacional (LPINTER) nos dois
subperíodos considerados
Períodos (a)
Variáveis
∆LPARGEt
∆LPINTERt
Subperíodo 1

-0,2856
-0,0062
[-4,7697] (0,0599)
[-0,2764] (0,0224)
-0,3326
0,0129
[-6,9927] (0,0476)
[0,5071] (0,0254)
Subperíodo 2

Fonte: Resultados da pesquisa.
Nota: (a) O subperíodo 1 compreende o período de janeiro de 1980 a fevereiro de 1990; e o subperíodo 2
contempla o período de março de 1990 a março de 2010. Os valores entre colchetes referem-se à
estatística t e os valores entre parênteses correspondem ao erro padrão.
Conclusões
A partir da implementação da política macroeconômica de abertura comercial,
os choques não-antecipados no preço do trigo argentino foram corrigidos mais
rapidamente, o que pode ser atribuído à maior integração desse mercado com os
mercados internacionais de trigo.
Ademais, verificou-se que, no período pós-liberalização, os mercados
internacionais passaram a ter mais influência tanto na formação de preços do trigo da
Argentina quanto em seus próprios mercados.
Por fim, é relevante destacar que este trabalho aferiu os efeitos da abertura
comercial sobre o grau de integração dos mercados de trigo argentino e internacional,
considerando apenas seus preços, porém outros fatores, como cotações da taxa de
câmbio, podem ser incorporados em trabalhos futuros.
Literatura Citada
BISANG, R. Apertura económica, innovación y estructura productiva: la aplicación
de biotecnología en la producción agrícola pampeana argentina”, Buenos Aires:
Universidad Nacional de General Sarmiento, 2001.
ENGLE, R.F.; GRANGER, C.W. Co-integration and error-correction: representation,
estimation and testing. Econometrica, Chicago, v.55, n.2, p.251-276, 1987.
GREENE, W. H. Econometrics Analysis. 6.ed. New Jersey: Pearson Education, 2008.
JOHANSEN, S. Statistical analysis of cointegration vectors. Journal of Economic
Dynamic and Control, v.12, p.231-254, 1988.
KRUGMAN, P.R.; OBSTFELD, M. International economics: theory and policy. 5.ed.
Massachuts: Addson Welsley, 2005.
SECRETARÍA DE AGRICULTURA, GANADERÍA, PESCA Y ALIMENTACIÓN
(SAGPyA). Agricultura. 2009. Disponível em: <http://www.sagpya.mecon.gov.ar>.
Acesso em: 29 nov., 2009.
248
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
5.6. Agregação de valor à produção de leite: análise da aceitabilidade do
hambúrguer de queijo coalho
Jalmir Pinheiro de Souza Júnior1, João Tiago Correia Oliveira2, Jadilson de Araújo
Silva2, Amanda Ferreira dos Santos3, Wandemberg Rocha Freitas3
1
Professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco, Unidade Acadêmica de Garanhuns.
Mestrando do Programa de Pós-graduação em Ciência Animal e Pastagens da Universidade Federal
Rural de Pernambuco, Unidade Acadêmica de Garanhuns.
3
Bacharel em Zootecnia.
2
Resumo: A produção de leite bovino na atualidade requer no pequeno agricultor
familiar aperfeiçoamento e diversificação através da agregação de valor. Visando
desenvolver esta tendência, foi aplicado na disciplina Administração e Planejamento
Rural, parte da grade curricular do curso de zootecnia, um seminário onde o objetivo
principal era desenvolver e testar a aceitabilidade de um produto novo baseado numa
matéria-prima produzida na região. O hambúrguer de queijo coalho, produto
desenvolvido, foi resultado de testes no mercado do município de Garanhuns, que
apontaram significativa aceitabilidade, consolidando uma alternativa a ser utilizada
pelos agricultores familiares, como forma de complementação de sua renda e, sobretudo
inserir-se comercialmente no mercado com postura diversificada.
Palavras–chave: aceitação, hambúrguer de queijo coalho, novo produto
Adding value to milk production: analysis of the acceptability of curd cheese
hamburguer
Abstract: The production of daily cattle milk nowadays requires the small farmer
improvement and diversification through value addition. Aiming develop this trend was
applied to the subject Administration and Rural Planning, part of the curriculum of the
Animal Science course, a work where the main objective was to develop and test the
acceptability of a new product based on raw material produced in the region. The curd
cheese hamburger, the product developed, was the result of tests on market town of
Garanhuns, which indicated significant acceptability, consolidating an alternative to be
used by the farmers, as a way to supplement their income and especially
fall commercially in the market with diversified posture.
Key Words: acceptance, cheese curd hamburger, new product
Introdução
Entende-se por agronegócio toda relação comercial e industrial envolvendo a
cadeia produtiva agrícola ou pecuária. Sabe-se que o agronegócio do Brasil é
responsável por cerca de 1/3 de tudo que é produzido no país e é considerado o setor
mais importante da economia brasileira. As mudanças sociais, econômicas e de mercado
das últimas décadas em nível mundial, fizeram estabelecer o agronegócio globalizado.
Cenário este, em que as relações fornecedores clientes estão fortemente pautadas em
requerimentos de padrões de qualidade física, sanitária, nutricional de matérias primas
249
agroalimentares e derivados (SILVA, 2003). Para o agronegócio, produto é aquilo que a
empresa troca com seus clientes para que ambos os lados dessa relação satisfaçam suas
necessidades (BAKER e McTAVISH, 1978 Apud MOTTA, 2007). O desenvolvimento
dos projetos de agregação de valor às matérias primas agrícolas e as novas formas de
inserção nos mercados fazem-se, em geral, de forma gradativa, sem romper,
imediatamente, as relações comerciais preexistentes, principalmente aquelas
tradicionalmente mantidas com as cadeias integradas (MALUF, 2004). Sabendo que a
alimentação vem apresentando mudanças geradas pela introdução de novos produtos e
de modelos de produção em larga escala, o que afeta o mercado de alimentos como um
todo e possibilita o surgimento de estabelecimentos dedicados a fornecer refeições.
Desse modo, ocorre uma proliferação de cantinas, refeitórios, lanchonetes, quiosques
etc., sobretudo, um modelo de restaurante que atende uma nova perspectiva: servir
refeições rápidas com preços acessíveis (COLLAÇO, 2004). Sendo o queijo coalho um
produto largamente produzido e consumido na região e devida a sua versatilidade de
utilização na culinária regional é que surgiu a idéia de unir a regionalidade do referido
queijo com a aceitação mundial do hambúrguer, objetivando apresentar uma alternativa
de processamento do queijo tipo coalho, e outras formas de consumir o mesmo,
aumentando sua vida de prateleira e melhorando as características organolépticas
(sabor, odor, textura, cor e aparência) além de estratégias de lançamento do produto no
mercado.
Material e Métodos
O presente trabalho foi desenvolvido durante a disciplina de Administração e
Planejamento Rural, no Departamento de Zootecnia da Universidade Federal Rural de
Pernambuco/Unidade Acadêmica de Garanhuns. A elaboração do produto, bem como
todos os testes de pré lançamento necessários ocorreram no município de
Garanhuns/PE. Onde decorreram os seguintes passos de acordo com a metodologia
descrita por Motta (2004): 1) Levantamento de idéias viáveis (levando em consideração
fontes como consumidor, força de vendas, disponibilidade de matéria prima na região,
entre outros); 2) Desenvolvimento da proposta e teste de conceito, onde a idéia
aprovada na fase anterior foi transformada em conceito, como algo que possa ser
percebido pelo consumidor como elemento de satisfação de suas necessidades, que foi
testado por meio de questionário; 3) Análise de viabilidade, após a aprovação do
produto na fase anterior, agora sendo submetido a analise econômica financeira e nível
de prognostico de preço esta análise sendo contida e observada no questionário; 4)
Desenvolvimento do produto, a passagem do conceito de produto estipulado
anteriormente para produto de fato, fruto de investimento em pesquisa e
desenvolvimento; 5) Teste Sensorial onde o produto desenvolvido foi submetido ao
teste de aceitação pelo consumidor, com provadores não treinados, de ambos os sexos e
diferentes faixas etárias, onde foi observada sua aceitação em relação aos seguintes
parâmetros: aparência, aroma, sabor, textura e intenção de compra, por meio de
questionários; 6) Preparação do plano de marketing e estratégia de inserção do produto
no mercado que teve como objetivo divulgar o novo produto, por meio de estratégias
tais como: mala direta via e-mail, elaboração de um site próprio contendo
especificações sobre o produto, bem como em TV e jornal local.
Os questionários foram aplicados de acordo com metodologia estatística. Para
calcular o tamanho da amostra considerou-se a população do município optando-se por
uma amostragem aleatória simples, foi considerado um número de elementos casual de
250
forma representativa, resultando em uma amostra total de 100 entrevistas. As aplicações
dos questionários foram feitas aleatoriamente Aos possíveis consumidores de diferentes
classes sociais. Antes de realizar as entrevistas, o público recebia explicações sobre a
pesquisa, orientação para preenchimento do questionário e as condições de participação.
Após a conclusão das entrevistas, estas foram digitadas, formatadas, submetidas a uma
análise descritiva e as informações obtidas confrontadas com a literatura consultada. Os
dados foram submetidos à análise descritiva simples pelo programa Microsoft Office
Excel® 2007.
Resultados e Discussão
De acordo com o as respostas dos questionários com relação às perspectivas de
aceitabilidade do produto, 39% dos entrevistados têm preferência por queijo tipo
coalho, seguidos por queijo de manteiga e mussarela, com 26 e 24%, respectivamente.
Quanto a freqüência de consumo, 49% responderam que consomem queijo em média
cinco dias por semana. Perguntou-se também se comprariam hambúrguer de queijo
coalho, 56% responderam que certamente compraria e 31% provavelmente, ver Figura
1. Sobre o melhor lugar para se encontrar esse produto, 43% das pessoas disseram que
seria no supermercado, contra 29% que responderam que o melhor lugar seria nas
padarias. O teste de aceitabilidade e teste sensorial mostrou um provável sucesso do
produto, uma vez que quase 62% gostaram muitíssimo da aparência e pouco mais de
20% gostaram muito. O aroma também obteve ótima aceitabilidade pelo público, onde
60% dos entrevistados disseram ter gostado muitíssimo e 20% gostado muito. A textura
também foi muito aceita, pois pouco mais de 78% dos que consumiram o produto
disseram ter gostado muitíssimo. Já para o sabor, quase 66% das pessoas gostaram
muitíssimo e quase 31% gostaram muito, observar Tabela 1. Por fim, mais de 91%
disseram que certamente compraria o novo produto e mais de 8% provavelmente.
Para a decisão do plano de marketing, assim como para todos os outros requisitos,
entrevistou-se 100 pessoas, onde 76% tinham idade entre 21 e 30 anos; 88% fazem a
maioria das refeições em casa; 29% residem com quatro pessoas em casa e outros 29%
residem com cinco pessoas. 55% possuem renda de até R$ 1.000,00 (mil reais). Com
relação à embalagem do produto, perguntou-se quais eram os atrativos visuais que mais
chamavam a atenção dos consumidores, e que ainda podiam exercer certa influência na
decisão de compra de produtos alimentícios já embalados. 37% responderam que cores
vivas são atrativas e 32% o formato da embalagem. Relacionando os veículos de
comunicação que seriam mais acessíveis a rotina cotidiana dos entrevistados, verificouse que 26% gostariam de ver comerciais de divulgação deste produto na internet e 23%
na TV local. Com isso decidiu-se os meios de divulgação do produto. Com base nos
custos de matéria prima utilizados para produzir o hambúrguer, seu preço para o
consumidor final seria de R$0,45 (quarenta e cinco centavos), onde 38% dos
entrevistados responderam que certamente comprariam e 24% provavelmente.
251
Figura 1 – Percentual de entrevistados quanto a disponibilidade de compra do
hambúrguer de queijo coalho.
Tabela 1 – Avaliação percentual da aceitação das principais características
organolépticas do hambúrguer de queijo coalho
Níveis Satisfação
Critérios de avaliação
Aparência
Aroma
Textura
Sabor
7-Gostei muitíssimo
61,76%
60%
78,26%
65,22%
6-Gostei muito
20,59%
20%
17,39%
30,43%
5-Gostei
14,71%
20%
4,35%
4,35%
4-Não gostei, nem desgostei
2,94%
-
-
-
3-Desgostei
-
-
-
-
2-Desgostei muito
-
-
-
-
1-Desgostei muitíssimo
-
-
-
-
Conclusões
O processo de lançamento de um produto novo no mercado, sobretudo do gênero
alimentar, requer uma série de etapas que devem ser trabalhadas criteriosamente, com
objetivo de identificar de fato a necessidade do público que deseja alcançar. É
constatável, portanto, que tais etapas, mesmo que demoradas, cansativas e onerosas
possibilitam ao empreendimento ter o risco de insucesso diminuído, a medida que
obtendo informações daqueles que comprarão, tem-se a possibilidade de oferecer um
produto que se aproxime o máximo possível do que se deseja adquirir.
Literatura Citada
COLLAÇO, J.H.L. Restaurantes de comida rápida, os fast-foods, em praças de
alimentação de shopping centers: transformações no comer. 2004. Disponível em:
<http://br.monografias.com/trabalhos913/fast-food-comer/fast-food-comer.shtml>
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Disponível em: <www1.uol.com.br/cybercook.> Acesso em: 23 de jun. 2009.
252
MALUF, R.S. Mercados agroalimentares e a agricultura familiar no Brasil: agregação
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MOTTA, S.L.S. Processo de desenvolvimento e lançamento de novos produtos em
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Santo: II semana Acadêmica de Engenharia Agrícola – Engenharia do agronegócio.
2003. Disponível em: <http://www.agais.com/ms0107_agronegocio .pdf>. Acesso em:
23 jun. 2009.
253
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
5.7. O Turismo rural como instrumento de alavancagem de desenvolvimento local
Anderson Alves Santos1, Edson Arlindo Silva2, Valderí de Castro Alcântara3
1
Mestre em Administração pela Universidade Federal de Lavras e professor da Universidade Federal de
Goiás.
2
Doutor em Administração pela Universidade Federal de Lavras e professor da Universidade Federal de
Viçosa.
3
Graduando em Administração pela Universidade Federal de Viçosa – Campus de Rio Paranaíba.
Resumo: Este artigo se pressupõe a promover um breve levantamento sobre a
importância do Turismo Rural e como ele alavanca o Desenvolvimento Local, desde
que seja bem planejado e que os atores locais onde esta atividade seja utilizada tenham
consciência da sua importância, bem como da importância da preservação cultural e
ambiental como forma de se manter a atividade turística aliada aos afazeres rurais,
incrementando a arrecadação financeira da propriedade, sem com isso provocar o
niilismo das tradições do lócus, mantendo a fixação do homem em seu local de origem.
Os arranjos produtivos locais, territórios produtivos e clusters serão mencionados como
forma de melhorar a compreensão da questão sobre o turismo rural, suas propriedades e
sobre a importância de se respeitar o continuum de um território e de se manter a
cooperação entre os pares inseridos no mesmo.
Palavras-chave: Desenvolvimento local, economia, turismo local
The Rural Tourism as an instrument of leverage for local development
Abstract: This article if estimates to promote a brief survey on the importance of the
Agricultural Tourism and as it handspike the local development, since that either
planned well and that the local actors where this used activity either has conscience of
its importance, as well as of the importance of the cultural and ambient preservation as
form of if keeping the allied tourist activity to the agricultural tasks, developing the
financial collection of the property, without with this provoking the destruction of the
traditions of lócus, keeping the setting of the man in its place of origin. The local
productive arrangements, productive territories and clusters will be mentioned as form
to improve the understanding of the question on the agricultural tourism, its properties
and on the importance of if respecting continuum of a territory and of if keeping the
cooperation it enters the inserted pairs in the same.
Key Words: Agricultural tourism, economy, local development
Introdução
Turismo Rural é entendido como “o conjunto de atividades turísticas
desenvolvidas no meio rural, comprometido com a produção agropecuária, agregando
valor a produtos e serviços, resgatando e promovendo o patrimônio cultural e natural da
comunidade” (TROPIA, 1998). Já Cavaco (2001) entende que turismo no espaço rural é
um tipo de turismo de espaços naturais e, sobretudo, de espaços humanizados, ativo ou
apenas contemplativo, que assegura um regresso pela cultura.
254
O turismo rural é um produto que atende a demanda de uma clientela turística
atraída pela produção e consumo de bens e serviços no ambiente rural e produtivo. Para
tornar um circuito turístico viável, é preciso que se tenha pelo menos uma cidade com
infra-estrutura suficiente para que os turistas sejam acolhidos e possam se deslocar, a
partir dela, para outros pontos de visitação nos municípios de entorno. O Turismo Rural
é diferenciado dos outros tipos de turismo por permitir aos visitantes uma maior
inserção no meio rural, promovendo um contato mais personalizado e, sempre que for
possível, uma participação nas atividades desenvolvidas, nos usos e costumes de vida da
população da localidade visitada.
O objetivo do presente artigo é apresentar a importância do Turismo Rural e como
ele alavanca o desenvolvimento local, desde que seja bem planejado e que os atores
locais onde esta atividade seja utilizada tenham consciência da sua importância, bem
como da importância da preservação cultural e ambiental como forma de se manter a
atividade turística aliada aos afazeres rurais, incrementando a arrecadação financeira da
propriedade, sem com isso provocar o niilismo das tradições do lócus, mantendo a
fixação do homem em seu local de origem. Os arranjos produtivos locais, territórios
produtivos e clusters serão mencionados como forma de melhorar a compreensão da
questão sobre o turismo rural, suas propriedades e sobre a importância de se respeitar o
continuum de um território e de se manter a cooperação entre os pares inseridos no
mesmo.
Material e Métodos
A pesquisa é de cunho teórico e para tanto foram analisados diversos livros e
artigos que explanavam sobre a temática e buscando os pontos de consenso entre
turismo rural e desenvolvimento local.
Resultados e Discussão
Contribuições do turismo rural
Em quase todo o Brasil o Turismo Rural exibe um quadro de oportunidades de
investimento que se apresenta bastante rentável e vem chamando a atenção de
administradores públicos, que observam na nova atividade uma forma de diversificar a
economia regional, atendendo, assim, as necessidades de incentivo ao desenvolvimento
e ao fortalecimento da agropecuária de caráter familiar. Cabe ressaltar que o Turismo
Rural carrega em si uma extraordinária força econômica, uma vez que gera divisas para
a região, impacta positivamente a economia local e ainda pode contribuir de maneira
singular para a preservação ambiental e para a melhoria da qualidade de vida das
populações do interior.
O Turismo Rural surge como uma alternativa de melhoria nas condições de vida e
de trabalho no meio rural, visto que as comunidades rurais estão mais bem
conscientizadas de que seu desenvolvimento, em que amplitude for, depende
unicamente de seus esforços, e que eles devem promover e viabilizar recursos locais em
atividades econômicas competitivas, como forma de alavancar uma melhoria de vida e
de ganhos monetários que ajudem” na manutenção do locus rural.
255
Turismo rural e o desenvolvimento local e regional sustentável
A forma de se prover a orientação da ocupação do espaço, gerada pelo sistema
capitalista, privilegia as classes dominantes oferecendo vantagens aos grandes
produtores rurais, que podem ser desde facilidade de financiamentos até acesso a
tecnologias de ponta para apoiar a produção, justificando assim o desenvolvimento do
Turismo Rural para que os pequenos produtores sejam beneficiados também, isto
através da diversificação de atividades no campo, desenvolvendo um conceito de
sustentabilidade com justiça social visando proporcionar melhores condições de vida no
campo.
Conforme salienta Tulik (1998), a preocupação com a prática e com a realidade
do turismo nas zonas rurais têm levado a resultados positivos promissores, revelando
avanços na abordagem de temas que incluem a oferta de atrativos, de bens e de serviços,
as condições de aproveitamento da mão-de-obra local, a avaliação do fluxo e as
características de demandas segmentadas, as relações do turismo com o espaço agrário,
os relatos de experiências bem ou mal sucedidas, a situação do Turismo Rural
observada em lugares e escalas, bem como alertas sobre a importância do planejamento
e do desenvolvimento sustentável.
Nesse sentido, Silveira (2001) acredita que o Turismo Rural também vem sendo
adotado como um dos instrumentos da política de desenvolvimento de localidades
rurais, conforme demonstra a atitude do governo federal ao incluí-lo nas Diretrizes,
Estratégias e Programas da Política Nacional de Turismo, como uma das atividades
estratégicas a serem usadas para diversificar o produto turístico
nacional
(EMBRATUR, 1995). Da mesma forma como nos outros países, aqui o Turismo Rural
também é considerado uma atividade que pode contribuir para (...) colocar em prática o
conceito de desenvolvimento local com sustentabilidade.
Turismo rural e o território produtivo
No contexto da globalização ganharam destaque as ações dos Arranjos Produtivos
Locais (APLs). A percepção atual é de que são necessárias ações orientadas para a
constituição e o fortalecimento destes no país, objetivando o fortalecimento da
cooperação. Estes Arranjos podem ser entendidos como aglomerados de agentes
econômicos, políticos e sociais, localizados em um mesmo território, que apresentam,
real ou potencialmente, vínculos consistentes de articulação, interação, cooperação e
aprendizagem.
Um Arranjo Produtivo Local é caracterizado pela existência da aglomeração de
um número significativo de empresas que atuam em torno de uma atividade produtiva
principal. Para isso, é preciso considerar a dinâmica do território em que essas empresas
estão inseridas, tendo em vista a quantidade de postos de trabalho, faturamento,
mercado, potencial para crescimento, diversificação, entre outros aspectos. Por isso, a
noção de território é fundamental para a atuação em Arranjos Produtivos Locais.
Em relação ao Turismo local os arranjos potencializa a geração de trabalho e
renda para o campo e assim é capaz de gerar uma estrutura econômica sólida, se for
mantida viável, através da preservação do que for implantado. Em longo prazo, os
benefícios trazidos pelo Turismo Rural serão muitos, tanto sociais quanto econômicos.
A participação da comunidade durante o processo, direta ou indiretamente, colaborará
para que esses benefícios sejam ainda maiores e estes principalmente quando dentro dos
APLs.
256
Conclusões
É preciso um cenário que contemple, na realidade, a dimensão do idealismo, que
deve sempre direcionar o querer dos homens. Mas esse cenário não poderá ou não
deverá contar com as tendências passadas, embora existam condições para que se
verifique a inversão de algumas orientações na organização do território.
O mais importante, ou até mesmo fundamental, na implantação de políticas
públicas é constituir instituições que reflitam o esforço reflexivo que se acumula na
sociedade sobre a necessidade de incorporar mudanças. O que significar construir, em
primeiro lugar, uma parceria com três vértices: as iniciativas privada e pública (em
todas suas três esferas) e as academias que acumulam uma reflexão crítica sobre o
Turismo enquanto uma atividade econômica. Pois, o simples ato de se criar órgãos
setoriais, que tenham ações apenas administrativas, não é suficiente para dotá-lo de uma
cultura que reflita as tendências e os anseios de um segmento.
Em segundo lugar, unificar, sem centralizar, ações que ocorrem em todo o Estado
em defesa do Turismo e se possível integrá-las a partir de uma visão nacional . Essa
unificação faz-se necessária para dotá-las de uma estratégia – ou de estratégias nacionalmente concebida por meio de um profissionalismo que dispensa intervenções
voluntaristas e provincianas, evidentemente respeitando todo conteúdo regional que
valorize o local.
Assim, acredita-se que o Turismo, e principalmente o Turismo Rural, possa vir
cumprir uma missão que já é desempenhada em outras áreas do planeta, a saber:
provedor de lazer; desenvolvimento local e de integração social. É importante investir
na operacionalização de um modelo que permita, a cada momento, avaliar as
conseqüências territoriais das decisões na esfera econômica e social. Um modelo cuja
arquitetura e alimentação sejam continuamente melhoradas, devendo permitir a inclusão
de alterações em domínios tão sensíveis como os impactos ambientais, a mudanças
tecnológicas ou alternativas energéticas.
Existem diferentes e freqüentes conflitos de interesse sobre o uso de recursos, o
que significa que na prática pode ser necessário abrir mão de vantagens e estabelecer
compromissos, sempre visando o bem maior do território. O balanço de custos e
benefícios nas decisões sobre diferentes cursos de ação devem abranger até a
verificação de quanto os diferentes indivíduos e grupos ganharão ou perderão, se for o
caso. Deve-se organizar o projeto de forma a estar relacionado diretamente com o
debate do desenvolvimento sustentável aliado aos conceitos de educação e preservação
ambiental, valorizando o ambiente natural e a cultura local, resgatando o regionalismo,
permitindo desta forma a integração do visitante com o meio rural.
Atividades internas à propriedade, que geram ocupações paralelas às atividades
agrícolas, as quais continuam a fazer parte do cotidiano da propriedade, em menor ou
maior intensidades, devem ser entendidas como parte de um processo de agregação de
serviços aos produtos agrícolas e bens não materiais existentes nas propriedades rurais
(paisagem, ar puro, etc.), a partir do „tempo livre‟ das famílias agrícolas, com eventuais
contratações de mão-de-obra externa.
São exemplos de atividades associadas ao Turismo Rural: a fazenda-hotel, o
pesque-pague, a pousada, o restaurante típico, as vendas diretas do produtor, o
artesanato, a industrialização caseira e outras atividades de lazer associadas à
recuperação de um „estilo de vida dos moradores do campo‟. Essa forma de turismo
257
incorre diretamente na melhoria da qualidade de vida do pequeno produtor rural, se
tornando um projeto de cunho social e econômico.
Literatura Citada
CAVACO, C. Turismo rural e desenvolvimento local: turismo e geografia. São
Paulo: Hucitec, 2001.
SILVEIRA, M.A.T. da. Política de turismo: oportunidades ao desenvolvimento local.
In: RODRIGUES, A.B. (org.) Turismo rural: práticas e perspectivas. São Paulo:
Contexto, 2001.
258
6. Políticas públicas
259
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
6.1. Análise de sustentabilidade ambiental na agricultura familiar em SilvâniaGoiás1
Luiz Batista Alves2, Rogério Pereira Bastos3
1
Parte da tese de doutorado do primeiro autor, financiada pela Universidade Estadual de Goiás - UEG.
Doutor em Ciências Ambientais pela Universidade Federal de Goiás (CIAMB/UFG); Mestre em
Economia Rural pela UFV/MG e Professor Adjunto e Pesquisador da UEG. E-mail: [email protected].
3
Doutor em Ciências Biológicas (Zoologia) pela Universidade Paulista Júlio de Mesquita Filho. Professor
Doutor Associado II do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Goiás (ICB/UFG) e
Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais da UFG.
2
Resumo: Com o objetivo de alterar a forma de uso e posse da terra o II Plano Nacional
de Reforma Agrária (2003) teve como inovação principal a introdução do conceito de
desenvolvimento territorial, abandonando a idéia de modelo único de assentamento para
todo o país, buscando a sustentabilidade ambiental. Analisou-se a sustentabilidade
ambiental no assentamento São Sebastião da Garganta criado em 1996 em Silvânia,
Goiás, com 33 famílias e área de 1996 ha por meio da aplicação de questionário com
variáveis socioeconômicas, ambientais e de capital social com índices resultante da
agregação de diversos indicadores. O método utilizado foi desenvolvido por Khan e
Silva estabelecendo escores e pesos. Chegou-se aos seguintes índices: Índice de
Desenvolvimento Socioeconômico de 0,6779; Índice Ambiental de 0,6470; e Índice de
Capital Social de 0,8939, que permitiram a composição pela média aritmética simples
do Índice de Sustentabilidade com valor de 0,7396, caracterizando nível médio de
sustentabilidade. Os índices indicaram um nível médio de desenvolvimento
socioeconômico, alto de capital social e médio no aspecto ambiental. Chama-se a
atenção na formação da sustentabilidade ambiental, que apesar de melhores resultados,
também necessitam receber incentivos à sua dinamização, evitando o aparecimento de
entraves à promoção do desenvolvimento sustentável.
Palavras–chave: assentamento, meio ambiente, reforma agrária, sustentabilidade
Analysis of environmental sustainability in family farming in Silvânia- Goiás
Abstract: With the aim of changing the form of land use and tenure of the II Plano
Nacional de Reforma Agrária (2003) had as a major innovation by introducing the
concept of territorial development, abandoning the idea of uniform model of settlement
for the whole country, seeking environmental sustainability. Studied the settlement of
São Sebastião da Garganta created in 1996 in Silvânia, Goiás, with 33 families and an
area of 1996 ha. Questionnaire was used with socioeconomic, environmental and social
capital with rates resulting from the aggregation of several indicators, it was examined
and found to sustainability in the settlement. The method was developed by Khan and
Silva establishing indicators with scores and weights and organizes posts placements in
order of increasing values for performance. Came to the following indices:
Socioeconomic Development Index of 0.6779; Environmental Index of 0.6470 and
Social Capital Index of 0.8939; which allowed the composition by simple arithmetic
average of the Sustainability Index that reached the of 0.7396, characterizing the
average level of sustainability. The indices indicated an average level of socioeconomic
260
development, high social capital and the average environmental aspect. It calls attention
to the training of environmental sustainability, which despite best results, also need to
receive incentives for their dynamic, avoiding the appearance of barriers to the
promotion of sustainable development.
Key Words: environment, land reform, settlement, sustainability
Introdução
Em momentos da história brasileira, principalmente nas décadas de 1970 e 1980, a
reforma agrária foi almejada por cidadãos que, em função disso, geravam conflitos
fundiários, dada a expansão de fronteira agrícola e a modernização da agricultura. Em
projetos da reforma agrária, a construção do desenvolvimento sustentável depende,
basicamente, da aptidão agrícola das terras, organização política e educacional dos
assentados e capacidade de interação com entidades governamentais e nãogovernamentais (GUERRA, 2002).
Com o objetivo de alterar a forma de uso e posse da terra o II Plano Nacional de
Reforma Agrária, em 2003, teve como inovação a previsão do número de famílias, a
proposição sobre a recuperação da capacidade produtiva e a viabilidade econômica dos
assentamentos já implantados e, principalmente, a introdução do conceito de
desenvolvimento territorial, admitindo as diferenças regionais na criação dos
assentamentos, abandonando a idéia de modelo único de assentamento para todo o país
(TRINDADE et al., 2006). Dessa forma, medir a sustentabilidade é uma tarefa
complexa, pois o conceito de sustentabilidade abrange diversas questões na
determinação do perfil da agricultura familiar e suas especificidades locais.
Então, a partir da realidade do assentamento São Sebastião da Garganta em
Silvânia, estado de Goiás, beneficiado pelos projetos de reforma agrária e políticas do
governo federal, pretende-se mensurar e avaliar a sustentabilidade, levando-se em
consideração os aspectos socioeconômicos, ambientais e a mobilização do capital
social, buscando diagnosticar possíveis entraves à promoção do desenvolvimento
sustentável. Neste cenário, apesar das diversas e complexas dificuldades vivenciadas
pela agricultura familiar advinda dos projetos de reforma agrária, levanta-se a hipótese
de que o assentamento apresenta nível médio de sustentabilidade.
Material e Métodos
A área de estudo foi o assentamento de reforma agrária denominado São
Sebastião da Garganta, implantado em out./1996, abrigando 33 famílias, área total de
1.996 ha em Silvânia-GO. As principais culturas são milho, cana-de-açúcar, mandioca,
banana e gueiroba e produção de leite. Os dados utilizados são de natureza primária e
obtidos por pesquisa direta através de questionários especialmente elaborados e
aplicados em entrevistas, ocorridas nos meses de janeiro, fevereiro, março e setembro
de 2009.
O Índice de Desenvolvimento Socioeconômico (IDESE) é resultante da agregação
dos indicadores saúde, educação, habitacional, condições sanitárias e higiene, renda e
lazer. O método utilizado foi desenvolvido por Khan (2001) estabelecendo escores e
pesos, definido por meio da seguinte expressão matemática:
261
Quanto ao Índice Capital Social, Putnam (1997) aponta as características da
organização social, confiança, normas e sistemas, que contribuem para aumentar a
eficiência da sociedade, facilitando as ações coordenadas e quando presente em uma
sociedade fortalece a tomada de decisões e a execução de ações colaborativas que
beneficiam toda a comunidade. Pode ser definido por meio da seguinte expressão:
Uma forma para se analisar o índice de sustentabilidade ambiental, conforme
Pereira (2001) seria verificar as condições de preservação ou recuperação do solo, da
manutenção da biodiversidade e da monocultura que está mais exposta ao ataque de
pragas, devido à redução da biodiversidade, representando fator negativo em termos de
sustentabilidade ambiental. O Índice Ambiental pode ser definido como:
O Índice de Sustentabilidade (IS) resume-se na composição da agregação média
dos três índices utilizados para medir os aspectos da sustentabilidade. Dessa forma, temse matematicamente o Índice de Sustentabilidade dado por:
Onde Pij = Peso do i-ésimo indicador, alcançado pelo j-ésimo produtor; Pmax = Peso
máximo do i-ésimo indicador; Eij = escore do i-ésimo indicador obtido pelo j-ésimo
produtor; Emaxi = escore máximo do i-ésimo indicador; i = 1, ..., m, que representa o
número de indicadores; j = 1, ..., n, que representa o número de assentados e; I = valor
do h-ésimo índice; h = 1, ..., k.
Todos os índices apresentados (IDESE, IKS, IA e IS) proporcionam dimensões
que variam no intervalo do valor 0 (zero) até 1 (um). Assim, optou-se em adotar três
níveis para estes índices: Baixo, entre 0,0 e 0,5; Médio, entre 0,5 e 0,8; e Alto, entre 0,8
e 1,0, estabelecidos por Khan & Silva (2002).
Resultados e Discussão
Na Tabela 1 observa-se que as dimensões de participações absolutas dos três
índices que compõem o Índice de Sustentabilidade, atingiu o valor de 0,7396 no
assentamento caracterizando, pelos critérios utilizados, nível médio de sustentabilidade.
Verifica-se que a dimensão com maior contribuição a este resultado é o Índice de
Capital Social, com participação absoluta de 0,8939 o que revela que o assentamento
possui nível alto de Capital Social, possibilitando contribuir com 40,29% à sua
sustentabilidade.
Em seguida aparece o IDESE, que atingiu nível médio, com índice absoluto de
0,6779 contribuindo relativamente com 30,55%, à composição da sustentabilidade.
262
Tabela 1. Resumo da composição média do IDESE, IKS e IA à formação do IS, com
participação absoluta (VA) e relativa (VR) no assentamento de reforma agrária
São Sebastião da Garganta (ASSG), no município de Silvânia, Goiás, 2009
Indicador
ASSG
VA
VR
IDESE
0,6779
30,55
IKS
0,8939
40,29
IA
0,6470
29,16
IS
0,7396
100,00
Fonte: dados da pesquisa.
A questão ambiental fica em terceiro lugar, na composição do Índice de
Sustentabilidade, apresentando nível médio ao assentamento, cujo valor absoluto
chegou a 0,6470, e relativamente contribuiu com 29,16% à Sustentabilidade. Neste
quesito, que realça indicadores ligados diretamente ao meio ambiente, a análise apontou
várias dificuldades na composição da sustentabilidade do assentamento.
Conclusões
No assentamento São Sebastião da Garganta a sustentabilidade ambiental atingiu
nível médio, sendo influenciada pelas condições econômicas, sociais e ambientais. Com
relação aos aspectos socioeconômicos, há necessidade de políticas para a melhoria em
relação aos seus indicadores. O capital social contribuiu com a maior parcela na
formação do Índice de Sustentabilidade e, no aspecto ambiental, obtiveram-se
resultados poucos satisfatórios, confirmando-se a hipótese levantada da ocorrência do
nível médio de sustentabilidade.
Entretanto, chama-se a atenção à relação de interatividade entre todos os
indicadores na formação da sustentabilidade ambiental, assim como aos demais
indicadores, que apesar de melhores resultados, também necessitam receber incentivos à
sua dinamização, evitando o aparecimento de entraves à promoção do desenvolvimento
sustentável.
Com o intuito de comparar com outros assentamentos próximos à área de estudo,
novos trabalhos poderão ser realizados para a verificação da sustentabilidade ambiental.
Literatura Citada
GUERRA, R.M.N. É possível Atingir a Sustentabilidade nos Assentamentos de
Reforma Agrária na Amazônia Legal? O caso do PDS São Salvador no estado do
Acre. Brasília-DF: UnB, 2002. 149 p. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento
Sustentável) - Universidade de Brasília – Centro de Desenvolvimento Sustentável,
2002.
KHAN, A.S.; SILVA, L.M.R. Avaliação do Projeto São José no Estado do Ceará:
Estudo de caso. UFC/CCA/DEA, Fortaleza, Ceará, 2002.
263
KHAN, A. S. Reforma agrária solidária e qualidade de vida dos benefícios no estado do
Ceará. Revista de Economia e Sociologia Rural. v. 39, n.4, out/dez., 2001. p. 93-117.
PEREIRA, N.L. Análise da sustentabilidade da produção do algodão orgânico: o
caso do município de Tauá. Dissertação (Mestrado em Economia Rural), Departamento
de Economia Agrícola do Centro de Ciências Agrárias, Universidade Federal do Ceará.
Fortaleza, 2001.
PUTNAM, R.D. Comunidade e democracia: a experiência da Itália moderna. Rio de
Janeiro: Fundação Getúlio Vargas. 1997.
TRINDADE, E.S., SCHAEFER, C.E.G.R., MUNIZ, J.N. Avaliação ambiental em áreas
de assentamento de reforma agrária: o caso do PA Campo Novo, Jequitinhonha, MG.
In: J.A. Ferreira Neto; S.M. Doula (orgs.), Assentamentos rurais e meio ambiente no
Brasil: atores sociais, processos produtivos e legislação. Viçosa: DER/UFV, 2006.
307p.
264
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
6.2. Emissão de óxido nitroso em argissolo vermelho-amarelo e em gleissolo sob
a cobertura vegetal de Brachiaria humidicola
Séphora Neves da Silva1, Bruno Unterleitner2, Fábio Luiz Cosma3, Renan Bastos4, Érika
F.M. Pinheiro5
1
Graduando em Agronomia na UFRRJ.
Graduando em Agronomia na UFRRJ.
3
Graduando em Agronomia na UFRRJ.
4
Graduando em Agronomia na UFRRJ.
5
Prof. Doutora do Departamento de Solos da UFRRJ, Seropédica-RJ. e-mail:[email protected]
2
Resumo: No Estado do Rio de Janeiro, grande parte da paisagem foi modificada em
sucessivos ciclos de exploração, como o da madeira, do cultivo de cana-de-açúcar e do
café, variável em função do relevo e do clima, e mais recente a conversão de grande
parte das terras agrícolas em pastagens. Essas mudanças no uso da terra causaram
alterações no conteúdo de C e N do solo (Bonde et al., 1992). Algumas práticas levam à
produção de CH4, N2O, NOx, CO, CO2, e afetam a dinâmica do C e do N do solo. O
objetivo do trabalho foi de avaliar a emissão de óxido nitroso em Argissolo VermelhoAmarelo e em Gleissolo sob cultivo de pastagem natural de braquiária. A área de
pastagem usada para o estudo, situa-se no Instituto de Zootecnia da UFRRJ, em
Seropédica-RJ. Em fevereiro de 2009 foram instaladas 8 câmaras para fazer a
amostragem do fluxo de N2O, que com o auxilio de um vacômetro manual foram
coletados. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, com 4 repetições.
A emissão de óxido nitroso foi maior no argissolo vermelho-amarelo,onde também
apresentou maior massa de fração leve da matéria orgânica do solo.
Palavras–chave: argissolo vermelho-amarelo, gleissolo, fluxo de N2O, Brachiaria
humidícula
Emission of nitrous oxide in acrisol and ultisol under the cover of Brachiaria
Abstract: In the State of Rio de Janeiro, much of the landscape was changed in
successive cycles of exploitation, such as wood, cultivation of sugar cane and coffee,
which varies depending on the topography and climate, and more recent
conversion large portion of agricultural land to grassland. These changes in land use
have caused changes in content of soil C and N (Bonde et al., 1992). Some practices
lead to the production of CH4, N2O, NOx, CO, CO2, and affect the dynamics of C and N
in the soil. The objective was to evaluate the emission of nitrous oxide in Acrisol Ultisol
under cultivation and grazing natural pasture. The area of grassland used for the study,
is located at the Institute of Animal Science UFRRJ in Seropédica-RJ. In February 2009
eight cameras were installed to sample the flow of N2O, which with the help of a
manual vacômetro were collected. The experimental design was completely randomized
design with four replications. The emission of nitrous oxide was higher in red-yellow
podzolic, which also showed a mass of light fraction of soil organic matter.
Key Words: Brachiaria humidicula, N2O flux, red-yellow podzolic, ultisol
265
Introdução
O Brasil é detentor do maior rebanho comercial de bovinos do mundo e utiliza
forrageiras tropicais como base da alimentação destes animais. A maior parte da
produção de ruminantes no Brasil (cerca de 90%) é gerada sobre pastagens. Além disso,
o uso de pastagens tropicais tem sido enfatizado mundialmente como o diferencial da
pecuária brasileira. Segundo Paulino, V.T et al.(2010), devido a anos de esforços na
área de pesquisa e desenvolvimento de tecnologias aplicadas à pecuária o sistema
produtivo tem grande potencial para colaborar com a mitigação do aquecimento global,
causado pelos gases de efeito estufa (CO2, CH4 e N2O). O ecossistema pastagem, com
manejo adequado, tem recebido destaque por seu papel no combate ao aumento do
efeito estufa, ao atuar em favor do seqüestro de carbono. A redução no uso de
fertilizantes como a lotação animal reduziu as emissões de CH4 e N2O por unidade de
área. A emissão de N2O dos solos ocorre, principalmente, como conseqüência da
desnitrificação a partir do N mineral, e significa também a perda de um nutriente
valioso para o crescimento das plantas, além do papel dos sistemas de manejo das
atividades agrícolas nas perdas de carbono e nitrogênio para a atmosfera, portanto o
objetivo deste trabalho foi de avaliar a emissão de óxido nitroso em Argissolo
Vermelho-Amarelo e em Gleissolo sob cultivo de pastagem natural de Brachiaria
humidicola.
Material e Métodos
O estudo foi conduzido na área Experimental de Bovinocultura de Leite, do
Instituto de Zootecnia da UFRRJ, situada em Seropédica (RJ). A área experimental
apresenta duas classe de solo: Argissolo vermelho-amarelo e gleissolo. A pastagem é de
Brachiaria humidicola. Para a amostragem do fluxo de N2O, foram instaladas 4 câmaras
sob Argissolo Vermelho-Amarelo e 4 câmaras sob o Gleissolo. O delineamento
experimental foi inteiramente casualizado com 4 repetições. Foram coletadas amostras
de terra para a análise da umidade e o fracionamento físico da matéria orgânica por
densidade, conforme a metodologia proposta por Sohi et al. (2001). Para a amostragem
do fluxo de N2O instalou-se câmaras estáticas especialmente construídas em cada
parcela experimental. As amostras foram coletadas com auxílio de um vacuômetro
manual, sendo o gás diretamente transferido para frascos previamente submetidos a
vácuo. As medidas foram realizadas uma vez ao dia, sempre no período da manhã. Os
frascos foram enviados para serem analisados no Laboratório de Solos da Embrapa
Agrobiologia. As concentrações de N2O nas amostras foram analisadas por
cromatografia gasosa, num Perkin Elmer, em coluna empacotada a 2800C. Em cada
coleta de gás foram determinadas a umidade gravimétrica do solo (0-10 cm), a
temperatura e a umidade do ar.
Resultados e Discussão
Sob Argissolo Vermelho-Amarelo, ocorreu a maior perda de óxido nitroso
(72μgNN2O/m2/h) para a atmosfera (Figura 1). Porém, segundo dados na literatura, essa
perda de N2O não é considerada elevada. Somente nos dias 5, 8 e 12 de fevereiro o
Gleissolo apresentou maiores fluxos de N2O que o Argissolo Vermelho-Amarelo, com
uma média de 20 μg NN2O/m2/h após dez dias de monitoramento. Sob Argissolo
Vermelho-Amarelo, também foi observada maior massa de fração leve livre (FLL) em
266
comparação ao Gleissolo (Figuras 2). O teor de umidade do solo, não diferiu entre os
solos estudados (Figura 2).
O Para ocorrer emissão de óxido nitroso é necessário que haja uma fonte de
energia. Esse carbono prontamente disponível para utilização pelos organismos do solo
está sendo representado pela FLL da matéria orgânica do solo. Sendo assim, os resíduos
orgânicos são rapidamente decompostos e o N2O é liberado. A maior perda N2O no
Argissolo Vermelho-Amarelo, em comparação ao Gleissolo, pode estar relacionada à
maior massa de FLL no primeiro solo.
Figura1. Fluxo de N2O (μgN-N2O/m²/h) em Argissolo Vermelho-Amarelo e em
Gleissolo sob cultivo de Brachiaria humidicula, na área Experimental de Bovinocultura
do Instituto de Zootecnia da UFRRJ, em Seropédica (RJ).
Figura2. Fluxo de N2O (μgN-N2O/m²/h), umidade gravimétrica e fração leve da
matéria orgânica do solo em Argissolo Vermelho-Amarelo e em Gleissolo sob cultivo
de Brachiaria humidicula, na área Experimental de Bovinocultura do Instituto de
Zootecnia da UFRRJ, em Seropédica (RJ).
267
Conclusões
A emissão foi maior no Argissolo Vermelho-Amarelo em comparação ao Gleissolo. As
emissões de N2O foram de no máximo 72 μgNN2O/m2/h no Argissolo VermelhoAmarelo e de 40 μgNN2O/m2/h, valores baixos em relação a outros ambientes e usos.
Agradecimentos
Os autores agradecem ao Instituto de Zootecnia da UFRRJ, ao CPGA-CS, a FAPERJ, a
CAPES e a Embrapa Agrobiologia pelo apoio técnico e financeiro.
Literatura Citada
BONDE, T.A, CHRISTENSEN, B.T., CERRI, C.C. Dynamics of soil organic matter as
reflected by natural 13C abundance in particle size fractions of forested and cultivated
Oxisols. Soil Biology and Biochemistry, 24: 275-277, 1992.
PAULINO, V.T.; TEIXEIRA, E.M.L. Sustentabilidade de pastagens – manejo
adequado como medida redutora da emissão de gases de efeito estufa. 2010.
SOHI, S.; MAHIEU, D.; POWLSON, D. MADARI, B.; SMITTENBERG, R. &
GAUNT, J. Investigating the chemical characteristics of soil organic matter suitable for
modeling. Soil Science Society of America Journal, v.69, p.1248-1255, 2005.
268
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
6.3. Organização do agronegócio familiar baseado em arranjos produtivos locais1
Timotheo Souza Silveira2, Lizzy Ayra Pereira Alcântara3, Ronaldo Perez4, Marjorie
Sabioni5, Marcelo Teixeira Rodrigues6
1
Trabalho desenvolvido no departamento da Zootecnia da Universidade Federal de Viçosa – UFV.
Mestrando do Programa de Pós-graduação em Produção Animal pela UFV.
3
Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos pela UFV.
4
Professor do Departamento de Tecnologia de Alimentos da UFV.
5
Estudante de graduação de Engenharia de Alimentos pela UFV.
6
Professor do Departamento de Zootecnia da UFV.
2
Resumo: A globalização aliada ao avanço tecnológico transformou significativamente
as organizações empresarias. O agronegócio sofre uma forte influencia da concorrência
e da política protecionista da competição mundial. Mesmo com uma deficiência
relativamente alta nos aspectos gerenciais, existe a necessidade de melhoria da margem
de contribuição da produção agrícola através de novas tecnologias e gerenciamento
eficiente. O objetivo deste trabalho foi levantar informações sobre a formação de
Arranjos Produtivos Locais (APLs) e discutir sobre a sua utilização na agricultura
familiar. As discussões teóricas dão subsídio ao desenvolvimento de políticas públicas
para o desenvolvimento de projetos específicos para APLs, demonstrando o crescimento
de produção e o desenvolvimento das propriedades e pessoas, além de possibilitar que
sejam obtidas informações sobre como devem ser implementadas essas políticas.
Portanto, conclui-se que a formação APLs é uma estratégia de desenvolvimento rural
sustentável, socialmente inclusora e economicamente atrativa aos produtores.
Palavras–chave: agronegócio, arranjos produtivos, caprinocultura, cadeia produtiva
Organization of family agribusiness based on local productive arrangement
Abstract: The globalization coupled with technological advancement has significantly
changed business organizations. The agribusiness undergoes a strong influence on
competition and protectionist policies of global competition. Even with a relatively high
deficiency in management aspects, there is a need to improve the contribution margin of
agricultural production through new technologies and efficient management. The aim of
this study is to gather information about the formation of local productive arrangement
(LPA) and discuss their use in family farming. Theoretical discussions give subsidy to
the development of public policies for the development of specific projects to LPA,
demonstrating the growth of production and development of properties and people. Also
bring important information on how these policies should be implemented. It is
concluded that training is an LPA sustainable rural development strategy, enclosing
socially and economically attractive to producers.
Key Words: agribusiness, goat, productive arrangement, supply chain
269
Introdução
A crescente internacionalização das economias nacionais aliadas à expansão do
fluxo de mercadorias e investimentos entre os países causou grandes mudanças no
cenário internacional. Praticamente todos os setores da economia foram fortemente
afetados pela globalização e apresentaram a necessidade de se adequar a essa nova
realidade.
Neste cenário, alguns setores e empresas não conseguiram obter desempenho
suficiente. Outros, porém, se modernizaram e conseguiram atender os desafios
competitivos. Isso ocorre devido, sobretudo, a atitudes estratégicas dos agentes.
As redes de empresa são definidas como grupo de organizações com interesses
comuns, que se unem para a melhoria da competitividade de um determinado setor ou
segmento e cooperam entre si. Este conceito é aplicado a diferentes formas de relações
entre firmas, como por exemplo, joint ventures, alianças estratégicas, relações de
terceirização e subcontratação, distritos industriais, consórcios, redes sociais, redes de
cooperação entre pequenas e médias empresas.
O objetivo desse trabalho foi levantar informações sobre a formação de Arranjos
Produtivos Locais (APLs) e discutir sobre a sua utilização na agricultura familiar.
Métodos
Definições Teóricas
Crocco et al. (2003), determina algumas características básicas para formação de
um APLs como: proximidade geográfica, especialização setorial, predominância de
pequenas e médias empresas PMEs, cooperação inter-firmas, competição inter-firmas
determinada pela inovação, troca de informações baseada na confiança socialmente
construída, organizações de apoio ativas na oferta de serviços e parceria estreita com o
setor público local. Ainda conclui que o dinamismo de inovação decorre do fato de ser
um tipo de arranjo institucional específico e localizado, capaz de estabelecer o
aprendizado coletivo interativo que, por sua vez é alimentado e induzido no tempo pelo
próprio processo de competição entre as firmas.
A proximidade geográfica é origem comum dos APLs, que tendem a estimular o
estabelecimento de laços sociais entre os agentes (Britto e Albuquerque, 2001). Schmitz
(1992) especificando sobre essa tendência de origem expõe os ganhos na eficiência e na
flexibilidade que são raramente atingidas por empresas pequenas dispersas. Esse
processo tem como característica marcante a ampliação da base de decisões autônomas
por parte dos atores locais; colocando em suas mãos o destino da economia local ou
regional (Barroso, 2009).
Dentro do exposto, Amato Neto (2008) conclui a respeito da relação das políticas
públicas para desenvolvimento dos APLs, que essa relação deve ser construída baseada
no objetivo dos ganhos de eficiências coletivas, por meio da viabilização de redes de
cooperação entre as PMEs e os demais atores locais.
Portanto um novo cenário que consiste em incorporar os atores locais na
concepção e sustentação do processo de desenvolvimento, assim como articular os
indivíduos para que, fortalecidos em sua autonomia, possam produzir um projeto
estratégico de desenvolvimento regional, que passa ser um dos motivadores das
políticas governamentais (Vecchia, 2006).
270
Portanto, os APLs têm se tornado uma importante forma de promover o
desenvolvimento econômico. Daí a relevância de “se desenvolver metodologias que
ajudem os gestores de políticas de desenvolvimento a identificarem o surgimento desses
arranjos”. O verdadeiro critério de eficiência de qualquer política implementada em
APLs é que essas ações devem gerar melhorias significativas na capacidade produtiva
da comunidade local (Crocco et al., 2003).
Estudo de Caso
O nordeste é uma das regiões que historicamente mais apresentam bolsões de
pobreza. A criação de órgãos do governo federal e departamentos estatais têm
evidenciado a tentativa do governo de minimizar os problemas econômicos e sociais da
região e criar formas de redução da linha da pobreza e marginalidade.
O nordeste é uma região que tem grande aptidão para a pecuária, havendo uma
relação histórica com a pecuária bovina de corte, que já exerceu importante papel na
economia nordestina. Ultimamente, há um destaque no semi-árido para pecuária bovina
leiteira, mas que atualmente está enfrentando grandes problemas de competitividade,
especialmente no segmento de pequenos produtores. Nesse contexto, a
ovinocaprinocultura tem se tornado um negócio bastante promissor, em decorrência dos
seguintes fatores: adaptação às condições locais, crescimento do mercado, oportunidade
para todas as categorias de produtores, e interesse do poder local pela atividade, com
pretensão de inserção competitiva, direcionada para a visão sistêmica de cadeias
produtivas
Os relatos da literatura evidenciam os fatores positivos da formação desses APLS
no que tange a aumento de produtividade; capacitação; inovação na gestão; inovação
tecnológica; linhas de crédito; melhoria da qualidade do rebanho; melhorias
significativas encontradas repassam uma confiança no poder público e corroboram com
a literatura sobre Arranjos Produtivos.
No aspecto aumento de produtividade Barroso (2009) em sua pesquisa de campo
confirma que no município de Quixadá existiu um ganho significativo em produção
devido a melhorias no manejo e na eficiência produtiva. Ações implementadas nos
APLs originaram um aumento geral de produção e uma melhoria em outras
propriedades ligadas indiretamente ao APL, no que podemos citar propriedades que
produzem milho para ensilagem. Satisfazendo a demanda de forragem no período da
seca, foi possível manter um nível produtivo satisfatório do rebanho e melhorar a
produtividade média durante o ano.
Quanto a capacitação é imprescindível para dar continuidade à atividade, já que
aumento da produtividade implica em maiores níveis de desempenho. Diretamente, o
aumento do rebanho com baixo índice de capacitação do produtor é um fator dualista,
ou seja, cria-se um aumento de produção e renda em um primeiro momento e em um
segundo instante cria-se um perfil de propriedade cheio, determinando um consumo alto
de insumos e uma baixa produção. Espera-se que propriedades tenham um pico de
produtividade de leite e numa segunda etapa uma redução de produção culminando na
venda de animais por baixa produtividade dos mesmos.
Gonçalves Jr. (2009) expõe a constante presença de diversas instituições e
técnicos que fomentam a produção de leite de cabra e o aprimoramento da cadeia.
Entusiastas da produção tentam manter a necessidade de busca de conhecimento nos
271
agentes produtivos. O mesmo autor levanta novamente a necessidade da utilização do
poder público nesse papel.
Segundo Schmitz (2005) a atratividade de fontes de financiamento para o APL
deve partir do poder público, uma vez que a interferência é necessária para o
desenvolvimento do APL. Dessa forma, o poder público tem uma ação significativa na
atratividade de novos projetos financiadores para o APL. Em contra partida, o produtor
rural deve buscar individualmente fontes de crédito para equilibrar o crescimento da
produção e a necessidade de investimentos
A verificação do desenvolvimento dos APLs, das melhorias na estrutura para os
animais, da qualidade do rebanho, aumento do número de animais nas fazendas, a
fabricação de novos produtos como o iogurte de leite de cabra e o desenvolvimento
local a partir da transformação consciente da realidade, demonstram que a formação do
arranjo é um benefício social e econômico muito importante para os produtores, sendo
uma forma de estrutura que permite o crescimento regional. Independente do modo de
formação do APL, discussões teóricas e empíricas defendem que a constituição auxilia
no desenvolvimento de pequenas e médias empresas a superarem barreiras e crescer.
Com isto, o indicativo é que a política pública desenvolvida tenha continuidade e
procure alternativas para um maior desenvolvimento do APL.
Conclusões
Conclui-se que a formação de Arranjos Produtivos Locais como política pública e
formada do relacionamento entre produtores é importante e resulta em desenvolvimento
satisfatório. Dessa forma, a formação de APLs é uma organização que tende a trazer
desenvolvimento sustentável, socialmente enclusora e economicamente atrativa.
Literatura Citada
BARROSO, J.A.; SOAREAS, A.A.C. Políticas públicas para o desenvolvimento e
fortalecimento de arranjos produtivos locais: O caso de um arranjo produtivo local de
ovinocaprinocultura no Nordeste do Brasil. Anais do XXXIII Encontro da Associação
Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração. São Paulo, 2009
BRITTO, J.; ALBUQUERQUE, E.M. Estrutura e dinamismo de clusters industriais na
economia brasileira: uma análise a partir de dados da RAIS. Est. Econ., São Paulo,
v.32, n.1, p.71-102, 2002.
CROCCO, M.A. et al. Metodologia de identificação de arranjos produtivos locais
potenciais. Belo Horizonte: UFMG/ CEDEPLAR, 2003.
GONÇALVES JR. Construção social de mercados, novos arranjos e configurações no
desenvolvimento: O caso da Caprinovinocultura no Semi-árido. Anais do XXXIII
Encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração.
São Paulo, 2009.
SCHMITZ, H. On the clustering of small firms. Brigton: Institute of Development
Studies, v.23, n.3, 1992
VECCHIA, R.D. Arranjos produtivos locais como estratégia de desenvolvimento
regional e local. Capital Científico, v.4, 2006.
272
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
6.4. O acesso das mulheres ao PRONAF Mulher no Município de Humaitá – RS¹
Alessandra Matte², Letícia Fátima de Azevedo², Rosani Marisa Spanevello³, Daniel
Arruda Coronel4
¹Monografia defendida no Curso de Zootecnia – UFSM/CESNORS.
²Acadêmica do Curso de Zootecnia - Centro de Educação Superior Norte - Universidade Federal de Santa
Maria. E-mail: [email protected]; [email protected]
³Profª Adjunta do Departamento de Zootecnia - Centro de Educação Superior Norte - Universidade
Federal de Santa Maria. E-mail: [email protected]
4
Doutorando em Economia Aplicada DER-UFV e Bolsista de Doutorado do CNPq.
Resumo: Este estudo visa analisar a inserção das mulheres no Programa Nacional de
Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), na linha de crédito PRONAF
Mulher. O objetivo central é analisar para quais investimentos as mulheres destinam o
recurso do PRONAF Mulher, verificando em que atividades produtivas as mulheres
aplicam o crédito. O estudo é realizado com mulheres que acessaram ao crédito no
município de Humaitá - Rio Grande do Sul. A pesquisa foi realizada em janeiro de
2010, por meio de entrevistas semi-estruturadas com as mulheres que haviam acessado
ao crédito. Os resultados mostram que as mulheres investiram em atividades já
pertencentes ao sistema produtivo da família com o intuito de aumentar a eficiência
produtiva, diminuir a penosidade na execução da atividade e garantir uma renda regular
na propriedade. O acesso visa atende a uma demanda da família e não somente da
beneficiada.
Palavras–chave: crédito rural, mulheres agricultoras, sistemas produtivos
The access to women PRONAF Woman the municipality of Humaitá-RS
Abstract: This study aims to analyze the inclusion of women in the National Program
to Strengthen Family Agriculture (PRONAF), the credit line PRONAF Women. The
central objective is to analyze which investments are designed to appeal women
PRONAF Women, checking in productive activities that women apply the credit. The
study was conducted with women who accessed credit in the city of Humaitá - Rio
Grande do Sul The survey was conducted in January 2010, through semi-structured
interviews with women who had accessed credit. The results show that women have
invested in activities belonging to the family production system in order to increase
production efficiency, reduce the heavy work in implementing the activity and ensure a
regular income on the property. Access aims to meet the demands of a family and not
on benefit.
Key Words: rural credit, women farmers, production systems
Introdução
A discussão atual da questão de gênero, especialmente entre os estudos do meio
rural brasileiro, vem ganhando espaço, tais como os que tratam da inserção das
mulheres nas políticas públicas de crédito rural.
273
Conforme Lisboa (2003, p. 19) “a perspectiva de gênero permite compreender as
relações de desigualdade e iniqüidade entre homens e mulheres”. Para Abramovay e
Silva (2000), gênero é uma categoria social, que nos permite analisar papéis,
responsabilidades, limitações e oportunidades. Essas construções sociais de gênero
marcam a diferenciação de qual é o papel do homem (geralmente no papel de
dominante) e da mulher (na condição de dominada), numa determinada sociedade.
O que se observa na atualidade é que já houve diminuição da desigualdade de
gênero, porém não tanto quanto desejado, pois, grande parte dos empregos femininos se
restringe alguns setores da atividade, em condição de desigualdade com os homens,
especialmente salariais (ABRAMO, 2000). Nessa participação no mercado de trabalho
observa-se uma diferença na participação das mulheres urbanas, em relação às rurais,
sendo superior para as primeiras.
Nos últimos anos, o Governo Federal promoveu a incorporação das mulheres
trabalhadoras rurais como sujeitos de direitos específicos na distribuição do crédito para
produção e investimentos em atividades, tanto agrícolas como não agrícolas. Isso
acontece pela criação do PRONAF, em sua linha especial o PRONAF Mulher.
O acesso das mulheres ao PRONAF Mulher é marcado por incertezas e
dificuldades. Neste trabalho, objetiva-se analisar para quais investimentos as mulheres
destinam o recurso do Programa de Crédito Rural – PRONAF Mulher.
Métodos
O estudo foi realizado no município de Humaitá – RS, com mulheres
trabalhadoras rurais que acessaram ao Programa PRONAF Mulher. A pesquisa foi
realizada em janeiro de 2010. Foram entrevistadas todas as mulheres do município que
haviam acessado ao crédito, totalizando 6 mulheres.
As condições de acesso ao PRONAF Mulher podem ser melhor visualizadas na
Tabela 1.
Tabela 1 – Tabela síntese da linha de crédito PRONAF Mulher e suas condições de
financiamento
Beneficiário
Finalidade
Limites
Mulheres agricultoras
familiares que
consigam comprovar
a condição de
agricultora familiar.
Investimento para atividades
agropecuárias, turismo rural,
artesanato e outras atividades
de interesse da mulher
agricultora.
R$ 1.500,00
até
R$ 36.000,00
Juros
Prazo/
Carência
0,5% até
5% ao ano
De 2 anos
até 8 anos
Fonte: Banco do Brasil (2009).
Resultados e Discussão
O trabalho exercido pelas mulheres envolve as tarefas domésticas (lavar roupa,
preparar alimentos, limpeza da casa), produção de panificados (bolachas), os cuidados
com os filhos (atenção as atividades da escola, roupa, alimentação, preocupação com a
saúde e bem estar), produção e comercialização de hortifrutigranjeiros, trato de animais
274
(arraçoamento dos suínos), execução das atividades na produção leiteira (ordenha das
vacas, alimentação dos animais). As entrevistadas também são responsáveis por
atividades executadas fora da propriedade, tais como os serviços bancários.
A perspectiva de avaliar o uso e destino, ou para qual investimento as mulheres
acessam o crédito do PRONAF Mulher está relacionado com a questão da autonomia
das beneficiadas em relação à destinação do crédito.
Todas as entrevistadas possuem um histórico de acesso ao crédito PRONAF nas
chamadas linhas convencionais, especialmente a linha Agricultura Familiar. No entanto,
a linha PRONAF Mulher foi acessada pela primeira vez por todas as entrevistadas. Na
Tabela 2, visualizamos para quais investimentos as mulheres acessaram o PRONAF
Mulher.
Tabela 2 – Investimentos e valores acessados pelas mulheres e seus respectivos prazos
de pagamentos
Entrevistadas
Investimentos
1
Compra de vacas leiteiras (4 animais)
2
Compra de vacas leiteiras (7 animais)
3
Compra de um trator
4
Compra de vacas leiteiras (4 animais)
5
Construção de uma estufa e recuperação de solo
6
Compra de um picador
Três das entrevistadas usaram o financiamento para a compra de vacas para
aumentar a produção de leite, sendo que as duas primeiras estavam iniciando na
atividade e a terceira busca aumentar a produção. Dentro da idéia de implementar uma
atividade geradora de renda, a produção de leite é a opção da maioria das mulheres. Esta
atividade, conforme as entrevistadas, caracteriza-se como a melhor escolha para obter
uma renda mensal. Como foi identificado por Tedesco (1999), o leite serve
exclusivamente para o consumo interno e a elaboração de derivados, podendo, aos
poucos, ir deixando de cumprir esta função, para se tornar numa alternativa
economicamente viável para a reprodução social da agricultura familiar.
Correlacionando o destino do recurso com os sistemas produtivos que já estavam
implantados na propriedade, observa-se que as entrevistadas não usaram o recurso do
crédito para a introdução de novas atividades ou de atividades distintas das executadas:
as atividades pelas quais foi destinado o crédito são as já exercidas nas propriedades.
Estes resultados se aproximam dos encontrados por Fernandes (2008) entre as
beneficiárias do PRONAF Mulher em Santa Catarina. Conforme a autora, as mulheres
compraram ordenhadeira, equipamento para aviário, cantina de vinho, vacas e
equipamentos para melhorar a qualidade e o desenvolvimento de atividades que eram
exercidas na propriedade.
As razões levadas em conta no momento do uso do recurso estão baseadas no fato
de ser uma atividade conhecida pela família. Os estudos de Zorzi (2008) e Hernández
275
(2009) apontam que o acesso por parte das agricultoras contribui com a geração de
renda total da família e também com sua valorização através do desenvolvimento de
uma atividade gerenciada por elas mesmas, tornarem-se mais independentes em relação
aos homens. Observa-se que o receio de contrair uma dívida, devido às dificuldades de
pagar o investimento, está presente entre as entrevistadas. Por isso, justificam que
pegaram investimento para continuar “fazendo o mesmo”.
De maneira geral, as mulheres justificam o uso do crédito com base em dois
fatores:
a) Facilitar o desenvolvimento da atividade.
b) Investir em uma atividade geradora de renda regular ou mensal, especialmente
no caso do leite.
O uso do recurso para uma atividade desenvolvida há mais tempo está alicerçada
na possibilidade de melhorias desta atividade em termos de aumento da produção, maior
facilidade e rapidez na execução do trabalho, reduzindo o tempo gasto e penosidade.
Conclusões
A partir deste estudo, observa-se que os projetos propostos para investimento têm
o objetivo de melhorar as condições econômicas da família, através da ampliação da
atividade, gerando aumento na produção e renda, bem como facilitar a realização das
tarefas. O que se observa é que as mulheres buscam através do PRONAF Mulher
beneficiar um membro ou o conjunto da família, através da geração de renda advinda do
investimento.
O investimento ocorre em atividades já pertencentes ao sistema produtivo. Uma
das razões que justificam o acesso a atividades já existentes é o receio de investir em
novas ou distintas produções que podem demorar a gerar retorno suficiente para a
família. Dentro desta lógica, a metade das entrevistadas investiu na produção leiteira, a
qual permite um retorno imediato, além de facilitar o pagamento do investimento, pois o
leite é uma atividade que gera renda mensal.
Literatura Citada
ABRAMO, L. A situação da mulher Latino – americana: o mercado de trabalho no
contexto da reestruturação. In: DELGADO, D.G.; CAPPELIN, P.; SOARES, V.P.
(Orgs.). Mulher e Trabalho: Experiências de ação afirmativa. São Paulo: Boitempo,
p.111-134. 2000.
ABRAMOVAY, M.; SILVA, R. da. As relações de gênero na Confederação Nacional
de Trabalhadores Rurais (CONTAG). In: ROCHA, M. I. B. da. (Org.) Trabalho e
Gênero: mudanças, permanência e desafios. CEDEPLAR/UFMG. Ed. 34; São Paulo,
2000.
BANCO DO BRASIL. Crédito Rural. Disponível em: <http://www.bb.com.br/docs/
pub/siteEsp/agro/dwn/cartilhasolucoes.pdf> Acessado em: 09 nov. 2009.
FERNANDES, S.A. Gênero e políticas de crédito: o Pronaf-Mulher em Santa
Catarina. 2008. Dissertação (Mestrado em Sociologia Política) – Universidade Federal
de Santa Catarina, Florianópolis, 2008.
276
HERNÁNDEZ, C.O. Política de crédito rural com perspectiva de gênero: um meio
de “empoderamento” para as mulheres rurais? Tese (Doutorado em Desenvolvimento
Rural) - Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento Rural. Universidade Federal
do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2009.
LISBOA, T.K. Gênero, classe e etnia: trajetórias de vida de mulheres migrantes.
Florianópolis: Ed. da UFSC; Chapecó: Argos, 2003.
TEDESCO, J. C. Terra, trabalho e família: racionalidade produtiva e ethos camponês.
Passo Fundo: Editora da EDIUFP, 1999. 325p.
ZORZI, A. Uma análise critica da noção de empoderamento com base no acesso
das agricultoras ao Pronaf-Mulher em Ijuí-RS. 2008. Dissertação (Mestrado em
Sociologia) - Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Universidade Federal do Rio
Grande do Sul. Porto Alegre, 2008.
277
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
6.5. Potencialidades e limitações da implantação de políticas públicas rurais no
fomento de pequenos produtores1
Valderí de Castro Alcântara2, Fernanda Machado Freitas3, Edson Arlindo Silva4
1
Prosposta desenvolvida como parte dos trabalhos do NEAUD (Núcleo de Estudos sobre Autogestão e
Desenvolvimento).
2
Bolsista/Pesquisador e Graduando em Administração pela Universidade Federal de Viçosa – Campus de
Rio Paranaíba (UFV-CRP).
3
Mestre em Tecnologia e professora do curso de Administração pela Universidade Federal de Viçosa –
Campus de Rio Paranaíba (UFV-CRP).
4
Doutor em Administração e Professor do Departamento de Administração da Universidade Federal de
Viçosa (DAD-UFV).
Resumo: O presente trabalho tem por objetivo propor um estudo sobre os limites e as
potencilidades da implantação de políticas públicas rurais que fomentem as atividades
dos pequenos empreendimentos rurais. Neste ponto definiu-se como campo de estudo a
região do Alto Paranaíba – MG que possui um longo histórico de intervenções estatais.
Neste sentido o presente trabalho propõe o estudos dos limites e das potencialiadades da
região do Alto Paranaíba – MG no que tange a inserção de políticas públicas especificas
para o campo; já que a maior parte da economia da região provém da atividade rural
(agronegócio). O presente trabalho visa principalmente as políticas que podem fomentar
a sobrevivência e o desenvolvimento de pequeno proprietários os quais competem de
forma desigual com grandes produtores e pecuiáristas regionais; além de que pretende
construir um modelo de gestão pública rural especifica para a região levando em
consideração os seguites pontos: cultura regional, limites e potencialidades; pequenos
empreendimentos rurais e histórico de interveções estatais.
Palavras–chave: Alto Paranaíba, cultura regional, políticas públicas
Proposal for a study on the potential and limitations of the implementation of
public policies on rural development of small producers
Abstract: This paper aims to propose a study on the limits and potencilidades the
implementation of public policies that foster rural activities of small rural enterprises.
At this point it was defined as a field of study to the upper Paraíba - MG that has a long
history of state intervention. In this sense this paper proposes the study of limits and
potencialiadades from the Alto Paranaíba - MG with respect to integration of public
policies specific to the field, since most of the region's economy comes from the ativity
rural (agribusiness). This work is intended primarily for policies that can promote the
survival and development of small owners who compete unequally with major
producers and regional pecuiaristas, besides who wants to build a management model
for rural public specifies the region taking into account the Wikinews's sibling Points:
regional culture, limits and potential; small rural enterprises and history interveções
states.
Key Words: Alto Paranaíba, cultural regional, public policy
278
Introdução
Acredita-se que todos os agentes envolvidos conscientemente em uma sociedade
tenham interesse em promover o desenvolvimento das mesmas. As práticas de
desenvolvimento social preconizadas pelo assistencialismo promovem melhoria da
qualidade de vida, mas não promovem o aprendizado necessário para construção de
uma nova realidade, pois segundo Demo (2002, p.40) “solidariedade que produz ajuda
assistencialista representa um fantástico processo de imbecilização”.
Quando certas políticas públicas são propostas com base em modelos adotados
por países desenvolvidos, nem sempre se mostra como ação satisfatória e que garanta a
continuidade de resultados positivos a médio e longo prazo. Outras propostas de ações
para o desenvolvimento regional tem se mostrado satisfatórias tanto a médio como em
longo prazo, através da identificação das potencialidades de uma região e mapeamento
das necessidades reais, considerando a diversidade cultural existente.
Neste sentido o presente trabalho propõe o estudos dos limites e das
potencialiadades da região do Alto Paranaíba – MG no que tange a inserção de políticas
públicas especificas para o campo; já que a maior parte da economia da região provém
da zona rural (agronegócio). O presente trabalho visa principalmente as políticas que
podem fomentar a sobrevivência e o desenvolvimento de pequeno proprietários os quais
competem de forma desigual com grandes produtores e pecuiárista regionais; além de
que pretende construir um modelo de gestão pública rural específica para a região
levando em consideração os seguites pontos: cultura regional, limites e potencialidades;
pequenos empreendimentos rurais e histórico de interveções estatais na região.
Neste ponto pode-se ater que o desenvolvimento tem que vir de “baixo” e na de
“cima”, ou seja, ele precisa ser implusionado não por um crescimento econômico ou
uma mudança de padrão tecnológico, mas pelo desenvolvimento humano e social no
âmbito da sociedade.
O desenvolvimento regional/local deve ser alcançado através da utilização de uma
administração pública/gestão social, a qual preconiza que todos os atores sociais
participem efetivamente das ações e dos planos de desenvolvimento; afinal, são estes
atores sociais que convivem dia-a-dia com a realidade local, ou seja, são os indivíduos
mais capacitados a intervir na própria realizdade.
As atividade de intervenção devem iniciar-se pela identificação dos reais atores da
ação transformadora e sua realidade. Atores estes que serão agentes e receptores da
mudança. Cada região, cada comunidade traz em sim uma ampla bagagem de
conhecimentos que associados a outros saberes formalmente sistematizados podem
gerar o desenvolvimento, o aperfeiçoamento esperado. Mas como ligar os saberes locais
e os saberes globais? Ou como as políticas públicas podem maximizar o
desenvolvimento local e regional de forma a não ter excludentes do processo?
Material e Métodos
De acordo com dados do IBGE (2008) a região do Alto Paranaíba - MG é dotada
de uma forte produção agrícola e que considerados em sua totalidade constituem fontes
de riqueza ligadas às atividades do agronegócio. A região do Alto Paranaíba reúne 31
dos 853 municípios mineiros, totaliza uma área de 36.826 km2 (6,3% do território
mineiro) e possui população estimada em aproximadamente 643 mil habitantes (IBGE,
2008).
279
Com características marcantes, acredita-se que a região do Alto Paranaíba passa a
ser uma importante área de estudo no sentido de facilitar a compreensão do papel do
fomento aos pequenos produtores rurais da região através de politicas públicas
específicas.
A pesquisa será norteada pelo método fenomenológico, preconizado por Husserl,
com a perspectiva de pesquisa quali-quantitativa, pois deverá se basear na coleta e
análise de variáveis qualitativas.
Serão levantados todos os tipos de documentos possíveis, quais sejam, relatórios,
notícias de jornais, estatutos, dentre outros. Como principal forma de coleta de dados
primários serão utilizados entrevistas semi-estruturadas que é uma das técnicas mais
aconselhadas no que concerne a pesquisas qualitativas (GIL, 2007).
Nesse sentido, algumas questões orientadoras da entrevista são elaboradas a priori
e complementadas à medida que vão aparecendo mais informações, sejam secundárias
ou primárias, em um processo contínuo de retroalimentação. Dessa forma, os diferentes
atores sociais, individuais e coletivos, envolvidos no âmbito da pesquisa, serão
submetidos a várias entrevistas, com objetivo de obter o máximo de informações e
avaliar as variações das respostas em diferentes momentos. Outro método de pesquisa
que pode ser utilizado no intuito de identificar as reais neessidades dos pequenos
produtores locais é o Grupo Focal e a Análise de Conteúdo.
O Grupo focal é utilizado para um tipo especial de grupo, onde um animador
coordena a discussão para identificar a tendência de percepções dos participantes do
grupo, fundamentando-se nas atitudes e percepções relacionadas a conceitos, produtos,
serviços, os quais são um produto de nosso ambiente e são influenciados pelas pessoas
ao nosso redor. Além do animador deve haver um anotador/observador dentro do grupo
para descrever a situação e discutir, posteriormente, com o animador. Dependendo do
contexto, a reunião poderá ser gravada e, em caso contrário, o anotador/observador
deverá anotar as respostas dos participantes. Tal método é importante nesta pesquisa
porque permitirá um aprofundamento qualitativo da temática em questão. Este método
caracteriza-se por ser um processo dialógico entre os participantes (GIL, 2007).
A Análise de Conteúdo é um conjunto de técnicas de análise das comunicações
visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das
mensagens que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de
produção/recepção destas mensagens. Assim, permitirá ao pesquisador analisar
características das intrísecas e extrínsecas referentes as opniões dos pequenos
produtores e de órgão públicos aos mesmos relacionados, assim permitirá obsevar as
principais barreiras e dificuldades a serem infrentadas no decorrer do projeto.
Resultados e Discussão
Os resultados preliminares indicam que no que tange a cultura regional, existe
certa resistência a implantação de modelos alternativos de desenvolvimento como por
exemplo as cooperativas populares e as associações; entretanto se deve principalmente a
falta de conhecimento dos envolvidos sobre tais temas; segundo a Senaes (2007) a
maior parte dos municípios que compõe a região não posssui nemhum empreendimento
econômico solidário. Dessa forma ações devem ser desenvolvidas para que antes da
tentativa de implantar políticas públicas especificas, que se quebre a cultura, a
programaçaõ mental (HOFSTEDE, 1994) de competição existente e faça nascer uma de
cooperação onde exista uma solidadiedade que “se introduzca en la economía misma, y
280
que opere y actue en las diversas fases del ciclo económico, o sea, en la producción,
circulación, consumo y acumulación” (RAZETO, 1993, p. 14). A formação de
cooperativas ou outra forma de organização em grupo representa alternativas para que
os pequenos produtores sobrevivam ao mercado competitivo e instável.
Em relação aos pequenos proprietários tem-se que desenvolvem atividades de
agricultura e pecuária de forma auto-sustentável e que na maioria das vezes falta
incentivos econômicos e orgãos de fomento que os priorize; o foco acaba caindo sobre
os grandes produtores de forma que os pequenos acabam sendo os les exclus do
desenvolvimento local e regional.
No que tange as intervenções estatais é preciso considerar o longo dos anos 90 as
constantes intervenções, entretanto que beneficiários representam apenas parte da
população local e de imigrantes; este é o grande problema da maioria das políticas
públicas, sempre existirá os que ficam nas margens das mesmas.
As constantes intervenções do Estado culminaram com o advento de planos,
programas e políticas governamentais que viam neste espaço territorial uma maneira de
dinamizar em grande escala de produção, “novas” áreas para a expansão da agricultura e
da pecuária. Dentre as principais ações governamentais implementadas com intuito de
acelerar a ocupação desta região por atividades ligadas à agropecuária, podem ser
destacadas as seguintes: constituição do Programa de Assentamento Dirigido do Alto
Paranaíba (PADAP), incentivado pelo governo do Estado de Minas Gerais;
implementação do Programa de Desenvolvimento dos Cerrados (POLOCENTRO) e do
Programa de Cooperação Nipo-Brasileira para o Desenvolvimento dos Cerrados
(PRODECER).
Conclusões
Em relação aos limites e potencilidades observa-se que todos os fatores
brevemente abordados corroboram para que exista possibilidades na região, mas que
existem vários desafios a serem mensurados e estudados no intuito de propor ações que
efetivamente promova o desenvolvimento local, tendo como foco os pequenos
produtores rurais.
Logo, a pesquisa procurará identificar qual a real importância dos questionamento
levantados e como superar os principais desafios existentes para a implantaçaões de
ações que fomentem as atividades dos pequenos proprietários rurais, os quais
consideramos como atores sociais da pesquisa. Ressalta-se que o processo constituíra-se
de forma dialógica, de modo que o conhecimento seja construído por todos os
envolvidos e que não seja elitizado e usado simplismente para aumentar a riqueza de
poucos (FREIRE, 2008).
Grandes são os desafios das políticas públicas e da gestão social no Brasil,
entretanto, com a participação das universidades, das pessoas e dos órgão do setor
público, privado e terceiro setor muito pode ser feito no caminho de uma sociedade
mais justa e solidária; com um desenvolvimento que garanta a vida das futuras gerações
(sustentável).
Literatura Citada
ALENCAR, E. Introdução à metodologia da pesquisa. Lavras: UFLA/FAEPE, 2000.
281
DEMO, P. Eucação & Conhecimento: Relação necessária, insuficiente e
controversa. Petrópolis: Vozes, 2002.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 37.
ed. São Paulo: Paz e Terra, 2008.
GIL, A.C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5.ed. São Paulo: Atlas, 2007.
HOFSTEDE, G. Culturas e Organizações: Compreender a nossa programação
mental. Lisboa: Edições Sílabo, 1997.
RAZETO, L. Economia de solidariedade e organização popular. In Gadotti, M.;
GUTIÉRRES, F. Educação comunitária e economia popular. Perdizes: Cortez, 1993.
282
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
6.6. Políticas Públicas e Extensão Rural: Mudanças institucionais e dificuldades de
atuação em um contexto local de intervenção1
Paulo Henrique Dias Barbosa2, Marcelo Miná Dias3
1
Parte do relatório final do Projeto de Iniciação Científica financiado pelo Programa Funarbic.
Graduando do curso de Agronomia da Universidade Federal de Viçosa.
3
Professor adjunto do Departamento de Economia Rural.
2
Resumo: De acordo com a Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural
(Pnater) o trabalho dos extensionistas deve ser pautado pelos princípios da
agroecologia, que pressupõe a utilização de metodologias participativas e adaptação das
propostas às especificidades agroambientais dos contextos de intervenção. Tomando
estas orientações como ponto de partida, este trabalho objetiva compreender em um
contexto local, com as inovações conceituais, as diretrizes e os objetivos da Pnater
influenciam a intervenção extensionista e quais as dificuldades de aplicação da mesma.
O método de investigação foi à análise documental combinada com entrevistas
estruturadas e semi-estruturadas. Com os resultados alcançados pode-se perceber que a
ação extensionista do escritório local da Emater-MG em Viçosa não segue as
orientações propostas pela Pnater, porém percebe-se uma preocupação crescente de
outros temas relacionados à sustentabilidade e qualidade de vida.
Palavras–chave: dificuldades, extensão rural, inovações, intervenção, pnater
Introdução
Os serviços de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater) no Brasil iniciaramse ao final da década de 40 com o apoio financeiro e tecnológico de programas estatais
e entidades privatizadas dos Estados Unidos, como parte de projetos de apoio aos países
subdesenvolvidos do terceiro mundo (Oliveira, 1999). Antagonicamente não foram
debatidas políticas que se adequavam aos problemas, necessidades e anseios do meio
rural do país, sendo introduzidos padrões metodológicos impróprios a realidade
brasileira. Como não houve um planejamento de forma adequada, as características
estruturais da Ater pública foram se transformando, cada vez mais, em uma
problemática cada vez maior e de difícil acuação.
Mesmo com todas as reformulações ocorridas nas políticas para o setor rural
como a Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (BRASIL, 2004) e a
criação do Ministério do Desenvolvimento Agrário, o que se vê na prática ainda é muito
distante da teoria, reflexo dos modelos produtivistas implantados principalmente entre
as décadas de sessenta e oitenta, também seguindo modelos internacionais e
denominados no Brasil como “Revolução Verde”. (CAPORAl e COSTABEBER, 2004)
A Pnater se propôs, a partir de seu lançamento em 2004, a suprir a lacuna de
coordenação, recriando o sistema nacional de coordenação das ações extensionistas e,
além disso, propôs inovações conceituais e institucionais ao conjunto de organizações
que prestam serviços de extensão rural no Brasil. Entende-se que o problema da
promoção do desenvolvimento rural, foco da Política, torna-se ainda mais relevante ao
considerar a demanda de milhares de agricultores de base familiar, acampados,
283
assentados e sem terra que necessitam tanto de apoio governamental (por meio de
políticas públicas) quanto da ação de profissionais que lhes auxilie a sair de situações de
carência, dificuldades sociais e econômicas, pobreza ou miséria. (DIAS, 2007)
Diante deste contexto surgem vários questionamentos. No caso desta pesquisa, a
principal questão é saber como, em um contexto local, se as inovações conceituais, as
diretrizes e os objetivos da Pnater influenciam a intervenção extensionista e quais as
possíveis dificuldades de aplicação da mesma.
Material e Métodos
A pesquisa foi realizada com os seis extensionistas do Escritório Local de
Viçosa da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (EmaterMG) que está localizado em uma área dentro do campus da Universidade Federal de
Viçosa (UFV). Para a realização do estudo foram utilizados métodos fundamentados em
três modelos de pesquisa e busca de informação: 1) Entrevistas estruturadas, ou seja,
constituídas de perguntas com respostas já definidas, seguindo um padrão de múltipla
escolha e também de perguntas diretas onde as respostas são números ou nomes; 2)
Entrevistas semi estruturadas, onde as perguntas não possuem respostas previamente
formuladas, ou seja, o entrevistado possui total liberdade para expressar sua opinião
sobre a questão; 3) análise de documentos pertinentes à conclusão da pesquisa, que
consiste em ler o documento e a partir da leitura extrair informações pertinentes ao
entendimento dos temas abordados durante o desenvolvimento do trabalho.
Resultados e Discussão
A partir da análise do Política Pública de Assistência Técnica e Extensão Rural
foram definidos os seguintes temas de abordagem (Tabela 1): a) Desenvolvimento
Rural; b) Atribuições aos serviços públicos de Ater; c) Perfil atribuído ao extensionista
e sua relação com o agricultor; d) Enfoque tecnológico recomendado; e) Metodologias
na Ater.
A partir da análise da Pnater e das entrevistas com os extensionistas do escritório
local da Emater-MG em Viçosa, puderam ser feitas análises entre a orientação contida
na política e a percepção da mesma em um contexto local.
Todos os extensionistas se referiram ao Desenvolvimento Rural como aumento da
qualidade de vida das famílias rurais, principalmente dentro dos parâmetros
econômicos, sociais e ambientais. Os fatores endógenos e culturais foram pouco
mencionados, mostrando falta de conhecimento sobre a importância desses fatores
durante os processos de desenvolvimento. Em algumas entrevistas percebeu-se que
fatores sociais eram equivalentes a “desenvolvimento econômico” mostrando uma
influência na atuação partindo dos modelos de extensão rural aplicados na década de
setenta, onde, lazer, cultura e bem estar não eram incluídos como fator social.
284
Tabela 1 – Divisão teórica da política pública de assistência técnica e extensão rural em
diferentes temas de abordagem
C
O
N
Desenvolvimento
Rural
Atribuições aos
serviços públicos
de Ater
Perfil atribuído
ao extensionista e sua
relação com o
agricultor
Enfoque
tecnológico
recomendado
Metodologias
na Ater
Sustentabilidade
Viabilização do
desenvolvimento
econômico
eqüitativo
e
solidário
Intervenção
Abordagem
participativa,
multidisciplinar
e
interdisciplinar
Desenvolver
processos
educativos
permanentes
continuados
Desenvolvimento
Endógeno
Estimular
processos
participativos
Metodologias
participativas
Enfoque
aos
princípios
agroecológicos
Construção de
agriculturas
sustentáveis
Fortalecimento da
Agricultura Familiar
Promoção
do
desenvolvimento
sustentável
a
partir de processos endógenos
pedagogia
construtivista e
humanista
Conservação e
recuperação dos
ecossistemas e
ao manejo sustentável
dos
agroecossistemas
Metodologias
educativas
e
participativas,
integradas
às
dinâmicas
locais
Apoiar
a
construção
da
equidade social e
valorização
da
cidadania
e
apoiar estabelecimento de redes
solidárias
de
cooperação
co-responsabilidade entre os
participantes,
suas
organizações e as
instituições
apoiadoras ou
prestadoras de
serviços
produção
de
subsistência,
assim como a
diversificação de
cultivos, visando
à
busca
da
Segurança
Alimentar
e
Nutricional
Sustentável
Democratização
das
decisões,
contribuindo
para a construção da cidadania e comtrole social no
planejamento,
monitoramento
e avaliação das
atividades
Orientar para a
construção
e
valorização
de
mercados locais e
formação
de
conselhos
e
parcerias
com
instituições
Interações
efetivas
e
permanentes
com
as
comunidades
rurais
segurança
alimentar e da
diversificação da
produção, para a
manutenção
e
geração de novos
postos
de
trabalho
Incentivar
a
Pluriatividade e
valorização
do
conhecimento e
saber local
Valorização da
realidade e do
conhecimento
local
produção
de
alimentos sadios
e de melhor
qualidade
biológica
democrática
C
E
P
Ç
Õ
E
S
D
E
A
T
E
R
Atuar na segurança alimentar
Capacitar
conselhos
Qualificação
aumento
produção
e
da
e
285
Sobre o tema Atribuições dos serviços de Ater, percebe-se que há uma
preocupação, presente em grande parte das respostas, no que diz respeito à melhoria de
vida (economia, lazer, educação, etc.) da família rural e de organização das atividades
da propriedade rural nas comunidades. Porém em momento algum é citado como
atribuição a formação de cooperativas ou associações, construção e articulação com
outras redes de Ater, mostrando que não há esforços para promover maior
independência dos produtores rurais com o escritório local da Emater-MG em Viçosa.
Também não são citadas a construção de programas para a produção não-agrícola e de
equidade social, visando a não discriminação em suas diversas formas. Poucas vezes a
valorização da cultura endógena é referenciada, o que indica uma possível visão
homogênea do escritório local para com as comunidades.
Em relação às técnicas de produção pode-se perceber que, para a maioria dos
extensionistas, a participação dos produtores para construção das atividades
desenvolvidas, juntamente com as práticas que promovem a preservação ambiental são
as técnicas de produção mais valorizadas. Porém, a preservação ambiental não é a
mesma descrita na Pnater. A atuação dos extensionistas não é pautada totalmente nos
métodos agroecológicos descritos na política, porém são bem mais sustentáveis que os
métodos convencionais utilizados durante o período da Revolução Verde. São
recomendadas técnicas menos agressivas, como plantios diretos, menor uso de
agrotóxicos pesados, mas que ainda não são ideais. Questões como segurança alimentar
e economia solidária não foram citados.
A respeito do tema Metodologias de Ater, percebe-se uma contínua preocupação
com a preservação dos recursos naturais e de estar sempre trabalhando de forma
participativa junto às famílias rurais.
Conclusões
Com os resultados alcançados pode-se perceber que a ação extensionista do
escritório local da Emater-MG em Viçosa não segue as orientações propostas pela
Pnater. Vários fatores podem atuar como empecilhos para a adoção real da Política.
Segundo Caporal (2008), um fator que pode ser colocado como um dos principais é o
modelo presente nas instituições de ensino brasileiras (do ensino básico ao
universitário) que se preocupam em construir objetos do meio e não agentes atuantes no
meio, formando profissionais despreocupados com as questões socio-econômicas
decorrentes na sociedade . Dessa forma é impossível cobrar mudanças imediatas de
atitude dos extensionistas. Outro fator é a falta de estímulo ao agricultor, ou seja, o
agricultor não é estimulado a ter representatividade dentro das organizações municipais,
regionais, etc. e participar efetivamente das decisões dentro das mesmas, provocando o
distanciamento do produtor rural das decisões elaboradas e tomadas em relação às
políticas de Ater, ou seja, o mesmo passa a não conhecer seus direitos.
Literatura Citada
BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Agrário. Política Nacional de Assistência
Técnica e Extensão Rural. Brasília: MDA, 2004.
DIAS, M.M. As mudanças de direcionamento da Política Nacional de Assistência
Técnica e Extensão Rural (Pnater) face ao difusionismo. Revista Oikos, Viçosa, v.18,
n.2, p.11-21, 2007.
286
CAPORAL, F.R. A redescoberta da Assistência Técnica e Extensão Rural e a
implementação da Pnater: nova âncora para viabilização de acesso a políticas de
fortalecimento da Agricultura Familiar. Versão preliminar, 2008.
CAPORAL, F.R., COSTABEBER, J.A. Agroecologia e extensão rural –
contribuições para a promoção do desenvolvimento rural sustentável. Brasília:
MDA/SAF/DATER/IICA, 2004. 166p.
OLIVEIRA, M.M. As Circunstâncias da criação da Extensão Rural no Brasil. Caderno
Ciência & Tecnologia, Brasília, v.16, n.2, p.97-134, maio/agosto, 1999.
287
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
6.7. Aplicativo de geodecisão para monitoramento espaço-temporal da produção
extensiva de bovinos1
Anderson Soares Ferreira2, Ricardo Guimarães Andrade3, Mateus Batistella3
1
Parte integrante do projeto OTAG, financiado pela União Européia.
Analista da Embrapa Monitoramento por Satélite.
3
Pesquisador da Embrapa Monitoramento por Satélite.
2
Resumo: A integração de tecnologias e ferramentas inovadoras, de fácil compreensão,
economicamente viáveis e espacialmente explícitas é essencial para gestão sustentável
da bovinocultura. Esse trabalho objetivou a implementação de um aplicativo de
geodecisão de manipulação e apresentação de informações geográficas para o
monitoramento espaço-temporal da produção extensiva de bovinos. Para o
desenvolvimento do aplicativo foram utilizados padrões e ferramentas de código aberto.
A estrutura do aplicativo permite a integração de um conjunto de informações
geoespaciais ligados a fatores ambientais, tais como erosividade do solo, deficiência
hídrica e temperatura da superfície. O aperfeiçoamento dessa ferramenta tecnológica
pode permitir a utilização de dados de diferentes formatos, facilitando sua integração
com outros sistemas de informação.
Palavras–chave: sistema de informação, monitoramento, bovinos, gestão da pecuária
Geodecision tool for the spatio-temporal monitoring of extensive bovine
production
Abstract: The integration of innovative technologies and tools, easy to understand,
affordable, and spatially explicit is essential for the sustainable management of
livestock. This paper aimed at implementing of a geodecision tool for manipulation and
presentation of geographic information for spatio-temporal monitoring of the extensive
bovine production . Open source tools and standards for system development were used.
The system structure allows the integration of a set of geospatial information related to
environmental issues such as soil erosivity, water deficit, and soil surface temperature.
The improvement of this technological tool will allow the use of different data formats,
facilitating its integration with other information systems.
Key Words: information systems, monitoring, cattle, management of livestock.
Introdução
O rebanho de bovinos no Brasil está ao redor de 200 milhões de cabeças, sendo o
País líder isolado nas exportações de carne bovina. Um dos fatores que se destacam para
o sucesso da produção de carne bovina é o baixo custo de produção, em que
aproximadamente 89% da criação ocorre exclusivamente em pastagens, e o restante
tendo utilizado áreas de pasto em alguma fase do processo de criação (FAGUNDES,
2004). No entanto, nota-se crescente preocupação mundial com os impactos ambientais
dos sistemas de produção. Um dos desafios da produção de carne no Brasil é aliar
intensificação da produção com a preservação do meio ambiente. Nesse sentido, as
288
geotecnologias vêm se constituindo como meio imprescindível para o planejamento, o
uso racional e o monitoramento dos recursos naturais terrestres e sua utilização por
parte de órgãos e empresas, públicos e/ou privados, têm crescido consideravelmente
(BATISTELLA et al., 2008). A gestão do ambiente rural está diretamente relacionada
ao espaço geográfico: uso e ocupação do solo, topografia, climatologia, tipo de solo,
recursos hídricos, entre outros. Ao levar em conta esses fatores e associá-los à
mobilidade dos bovinos na produção extensiva, proporciona indicadores que favorece o
processo de avaliação e qualificação do meio ambiente. Ao ter conhecimento da posição
do animal no espaço e no tempo podem ser feitas, por exemplo, análises de
comportamento dos animais no pastejo. Esse trabalho objetivou a implementação de um
aplicativo de geodecisão para manipulação e apresentação de informações geográficas
visando o monitoramento espaço-temporal da produção extensiva de bovinos.
Material e Métodos
O aplicativo de geodecisão para monitoramento espaço-temporal da produção
extensiva de bovinos teve como entrada dados coletados na fazenda experimental da
Embrapa Gado de Corte, Campo Grande, MS. Para coleta e registro das informações de
posicionamento e mobilidade dos animais, foram colocados colares em bovinos
previamente selecionados. Todos os colares feitos em couro possuíam em sua estrutura
sensores de transponder, GPS com antena, sistema UHF para comunicação com a
estação base, memória para armazenar os dados GPS antes que eles fossem transferidos
para a estação base, um microcontrolador que gerenciava o funcionamento geral do
colar e um elemento de controle do consumo de energia. O aplicativo foi desenvolvido
usando padrões e ferramentas de código aberto conforme Batistella et al. (2009), sendo
utilizada uma arquitetura cliente/servidor implementada em plataforma web (Figura 1).
Figura 1 – Arquitetura do aplicativo.
Na arquitetura proposta, a aplicação foi organizada em três módulos interconectados e com funções distintas bem definidas. O módulo provedor de informações é
composto pelo banco de dados local, e um ou mais servidores que fornecem os serviços
de acordo com os padrões especificados pelo Open GIS Consortium (OGC). O módulo
289
cliente se refere a uma aplicação escrita em JavaScript e executada pelo browser no
computador do usuário. Esse módulo é responsável pela interface com o usuário e
processamento de parte das informações geoespaciais fornecidas pelo módulo provedor
de informações, e seu desenvolvimento foi baseado em duas ferramentas de
desenvolvimento (framework): ExtJS - uma biblioteca para criação e gerenciamento de
interfaces com o usuário; OpenLayers - responsável pela apresentação e manipulação de
dados geográficos. O módulo do servidor se refere a um conjunto de programas PHP
interpretados pelo servidor web (HTTP Server), responsáveis por fazer a ligação entre o
módulo cliente e o módulo provedor de informações. Diversas extensões da linguagem
PHP foram utilizadas para permitir que os programas tivessem a habilidade de se
comunicar através de mensagens baseadas em XML, JSON e WFS, bem como acessar a
bases de dados PostgreSQL/PostGIS.
Resultados e Discussão
Os princípios de operação do aplicativo são semelhantes aos de um programa de
SIG para computador (desktop). Quando o aplicativo é iniciado, o usuário pode
adicionar camadas de informações que constituirão um mapa. As camadas de
informações disponíveis para uso no aplicativo são divididas em dois grupos: (1)
imagem - camada sem atributos adicionais, exceto as coordenadas geográficas e a
própria imagem; (2) dados - camadas de informações que associam um ou mais
atributos aos seus objetos espaciais; a representação visual dos objetos pode ser um
polígono, uma linha ou um ponto. A Figura 2a mostra a tela principal do aplicativo,
com apresentação das ferramentas em ordem numerada (itens 1 a 7). Nas Figuras 2b, 2c
e 2d podem ser visualizadas respectivamente a janela com resultados da consulta de
atributos das camadas, ferramenta de animação traçando o percurso do animal e
camadas de dados ambientais disponibilizadas na base de dados.
No item 1 (Figura 2a) tem-se a barra de menus que proporciona acesso a vários
recursos do aplicativo, como salvamento e carregamento de mapas, alteração da
exibição de elementos da interface, entre outros. A parte de controle de camadas (item
2) disponibiliza ferramentas para adicionar, remover e alterar a ordem de apresentação
das camadas de informações. No item 3 tem-se as funções de zoom e movimentação,
ferramentas de consulta e medição. Já nos itens 4, 5 e 6 (Figura 2a) são respectivamente
apresentados a lista de camadas adicionadas, a área de visualização das camadas e uma
visão geral da região geográfica exibida na área de visualização do mapa. No item 7
visualiza-se a escala do mapa projetado juntamente com as coordenadas geográficas de
um ponto representado pela posição do mouse. Além da parte de opções de
manipulação das informações, esse aplicativo permite monitorar, por exemplo, a
movimentação dos animais na fazenda e entre fazendas (Figura 2c), realizar um
acompanhamento espaço-temporal das condições ambientais das pastagens por meio de
indicadores como temperatura da superfície, evapotranspiração (Figura 2d), produção
de biomassa, déficit hídrico, relevo, erosividade, entre outros. Além disso, essas
informações são importantes para compreensão de processos comportamentais dos
animais nas áreas de pastagens. Avaliar, por exemplo, quanto tempo os animais
estiveram em movimento e/ou parados, qual região da pastagem prefere ficar mais e
porque isso acontece, são algumas análises que podem contribuir para tomada de
decisão.
290
(a)
(b)
(c)
(d)
Figura 2 – (a) janela do aplicativo com apresentação das ferramentas em ordem
numerada; (b) janela com resultados da consulta de atributos das camadas;
(c) ferramenta de animação traçando o percurso animal; (d) visualização
de um mapa temático de evapotranspiração diária (mm d-1) pertencente a
base dados ambientais.
Conclusões
O aplicativo desenvolvido possui potencial para integração de ampla base de
dados e flexibilidade para ser utilizado tanto na escala local (fazenda) como regional
(várias fazendas). Nesse sentido, a plataforma web com código aberto se mostra como
solução tecnológica viável para análise espaço-temporal da produção extensiva de
bovinos por meio da apresentação e manipulação de dados de mobilidade e camadas
temáticas relacionadas a indicadores ambientais das áreas de pastagens. Entretanto,
aperfeiçoamentos são necessários para que o aplicativo permita a inserção de camadas
com diferentes formatos (raster, vetor, tabelas, etc) ampliando suas funcionalidades.
Literatura Citada
BATISTELLA, M.; CARVALHO, G. R.; PIEROZZI JÚNIOR, I. Análise e tendências
para o mercado de geoinformação no Brasil. In: BATISTELLA, M.; MORAN, E. F.
291
(Org). Geoinformação e monitoramento ambiental na América Latina. São Paulo:
Editora Senac São Paulo, 2008. 283p.
BATISTELLA, M.; FERREIRA, A.S.; ANDRADE, R.G. The OTAG Operational
Prototype and its Web Management Interface. In: IICA (Coord.). OTAG Booklet: New
tools for precision livestock management. Montevideo: IICA, 2009. p. 44-50, Part 4.
Disponível em: <http://www.otag-project.org/content/reports.htm>. Acesso em: 16 ago.
2010.
FAGUNDES, J.L. Características morfogênicas e estruturais do pasto de
Brachiaria Decumbens Stapf. adubado com nitrogênio. 2004. 76 f. Tese (Doutorado
em Zootecnia) – Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG, 2004.
292
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
6.8. Perspectivas organizacionais entre o público e o privado na geração de
desenvolvimento sustentável1
Edson Arlindo Silva2, Fabiana Ferreira da Silva3, Valderí de Castro Alcântara4
1
Resumo expandido oriundo de projeto de pesquisa fomentado pelo FUNARBIC.
Doutor em Administração e Professor do Departamento de Administração da UFV.
3
Graduanda em Administração pela Universidade Federal de Viçosa – Campus de Rio Paranaíba.
4
Graduando em Administração pela Universidade Federal de Viçosa – Campus de Rio Paranaíba.
2
Resumo: O presente estudo objetivou mostrar dentro do contexto atual as
potencialidades e limitações que circundam as organizações públicas e privadas no que
concerne à geração de desenvolvimento sustentável. Para tanto se constituiu de objeto
de estudo o panorama quantitativo dessas organizações existentes na região do Alto
Paranaíba – MG. Estas organizações são vistas como potencialidades para a geração de
desenvolvimento sustentável, sejam através de políticas públicas direcionadas e/ou de
parcerias público-privadas. Tal perspectiva embasou-se nos estudos realizados pelo
Zoneamento Ecológico-Econômico do Estado de Minas Gerais (ZEE-MG). Por
conseguinte, os métodos e técnicas de pesquisa foram compatíveis com o propósito do
estudo, sendo priorizada a abordagem quantitativa. Os resultados encontrados
apontaram para cenários de potencialidades e limitações, desafios e expectativas, e
alertando sempre para o contínuo e ininterrupto monitoramento do meio ambiente.
Palavras–chave: Desenvolvimento sustentável, organizações, potencialidade
Organizational Perspectives from the Public and the Private in the generation of
Sustainable Development
Abstract: This study aimed to show within the context of current capabilities and
limitations surrounding the public and private organizations with respect to the
generation of sustainable development. For this object was formed to study the
quantitative study of public and private organizations in the region of Alto Paranaíba MG. These organizations are seen as potential for generating sustainable development,
whether through public policies directed and / or public-private partnerships. This
perspective embase on the studies conducted by the Ecological and Economic Zoning of
the State of Minas Gerais (ZEE-MG). Therefore, the methods and research techniques
were consistent with the purpose of the study, and prioritized the quantitative approach.
The results pointed to scenarios of potential and limitations, challenges and
expectations, but warned always to the continuous and uninterrupted monitoring of the
environment.
Key Words: Capability, development, sustainable organizations
Introdução
As organizações públicas e privadas são vistas neste trabalho como
Potencialidades para a geração de desenvolvimento sustentável, sejam através de
políticas públicas direcionadas ou de parcerias público-privadas voltadas para a
sustentabilidade. A pesquisa constatou que as instituições são fundamentais para a
293
geração de desenvolvimento sustentável e que “a presença e o funcionamento adequado
das instituições em um município, tornam-se uma condição decisiva para o
desenvolvimento local sustentável”, já que elas são “responsáveis pelo bom
funcionamento da sociedade associado ao crescimento, desenvolvimento e eqüidade
social” (ZEE-MG, 2008, p.101).
O ZEE-MG considera as instituições estudadas pelo mesmo como, “organizações
formais de caráter público ou privado, voltadas para o atendimento público nos setores
da saúde, da educação, do meio ambiente, da cultura, do lazer, da segurança, da
economia, entre outros” (ZEE-MG, 2008, p.101); tal perspectiva está presente neste
trabalho ao ponto que considerarmos como objeto de estudo as organizações públicas e
privadas do Alto Paranaíba – MG. Respaldando essas considerações, neste trabalho, a
potencialidade institucional é vista como a potencialidade das organizações públicas e
privadas em gerar desenvolvimento sustentável.
Tal como a análise do Zoneamento, este trabalho se constituiu em uma abordagem
quantitativa e através dela foi mapeado as classificações organizacionais delimitadas
pelo ZEE-MG e que estão presentes nos 31 municípios da região. A abordagem
quantitativa considera que a existência de organizações “é uma condição sine qua non
para o desenvolvimento sustentável, pois a presença representa potencialidade” (ZEEMG, 2008, p.101).
A presente pesquisa objetivou quantificar e mapear o conjunto de organizações
presentes nos 31 municípios da região do Alto Paranaíba, através de busca exploratória.
Material e Métodos
No presente trabalho o universo de pesquisa se constitui das organizações
públicas e privadas presentes na região do Alto Paranaíba, Minas Gerais. A pesquisa
bibliográfica consistiu no levantamento de todo o acervo bibliográfico possível acerca
do tema estudado, publicado em periódicos nacionais e internacionais, livros,
dissertações, teses, revistas científicas e outras. Toda a bibliografia selecionada foi lida,
fichada e sistematizada em forma de texto teórico. Outro tipo de pesquisa essencial
neste trabalho foi a Documental que se constituiu no levantamento de dados
quantitativos. Tais dados levantados são os que caracterizaram, numericamente, as
organizações presentes na região do Alto Paranaíba (GIL, 2007).
Resultados e Discussão
Organizações municipais
As organizações municipais são órgãos públicos que prestam serviços necessários
à sociedade dentro do município, atendendo a demandas e interesses coletivos.
Na região do Alto Paranaíba, os seus 31 municípios possuem secretarias
municipais que abrangem diversos setores, desde saúde e educação até meio ambiente,
esporte e lazer. Grande parte desses municípios possui também conselhos municipais,
tanto urbanos quanto rurais. Foram detectados consórcios entre municípios e a
existência de projetos em andamento para posterior implantação. Alguns municípios
particiipam de comitês de bacias hidrográficas, dentre eles Araxá, Patos de Minas,
Arapuá, Coromandel, Grupiara, Ibiá e outros. Em geral, Patos de Minas, Araxá, Monte
294
Carmelo, Carmo do Paranaíba se apresentam como em condições mais favoráveis;
Santa Rosa da Serra e Guimarânia mais precária.
Organizações jurídicas
As organizações jurídicas organizam de acordo com os princípios e as disposições
do direito, de forma legal e lícita. Referente a essas organizações foram mapeadas a
presença de comarcas, justiça do trabalho e justiça federal.
A existência de comarcas é visível em quase metade dos municípios do Alto
Paranaíba, a de justiça do trabalho em apenas cinco e finalmente apenas quatro
municípios possuem presença de justiça federal, sendo eles os de maior porte (Araxá,
Nova Ponte, Patos de Minas e Patrocínio). Os municípios de Araxá, Nova Ponte, Patos
de Minas e Patrocínio se apresentam como os mais favoráveis já que possuem
simultaneamente as três formas de organizações supracitadas. Alguns não apresentam
nenhuma dessas organizações (Arapuá, Tapira, Pratinha, Grupiara, Douradoquara e
outros) e são considerados assim como “muito precários”.
Organizações financeiras
As organizações financeiras podem ser órgãos públicos ou privados, oficialmente
autorizados, que lidam com recursos financeiros. Com relação a essas organizações
procurou-se identificar a presença de postos de atendimento bancário, postos de
atendimento cooperativo, organizações de microfinanças e bancárias comerciais.
Nos 31 municípios pesquisados encontrou-se algum tipo de organização
financeira, sendo que pode ser observada a proporcionalidade entre número de
habitantes e o número de organizações financeiras. Na maioria dos municípios há postos
de atendimento cooperativo e de Postos de Atendimento Bancário. Em se tratando das
organizações de microfinanças e bancárias comerciais estas somente foram encontradas
em municípios com maior volume populacional.
Municípios como Araxá, Campos Altos, Carmo do Paranaíba, Coromandel,
Monte Carmelo, Patos de Minas, Patrocínio, Sacramento e Lagoa Formosa se destacam
por apresentar simultaneamente todas as organizações pesquisadas. Quatro municípios
são considerados como os mais precários e apresentam apenas posto de atendimento
bancário: Douradoquara, Pedrinópolis Guimarânia e Santa Juliana.
Organizações de fiscalização e controle
As organizações de fiscalização e controle são aquelas que fiscalizam e controlam
certas atividades e recursos advindos das esferas municipais, estaduais, federais e
também necessidades pessoais. Nem todos os municípios da região do Alto Paranaíba
possuem esse tipo de organização.
Constatou-se a presença da receita estadual em doze dos 31 municípios, a
exemplo, Araxá, Campos Altos, Carmo do Paranaíba, Coromandel, Estrela do Sul e
Patos de Minas. Já a presença da receita federal em apenas Araxá, Coromandel, Patos
de Minas e Patrocínio. Poucos possuem simultaneamente unidade de atendimento da
previdência social, junta comercial e cartório eleitoral (Araxá, Coromandel, Carmo do
Paranaíba, Monte Carmelo e Patos de Minas).
295
Patos de Minas, Araxá e Coromandel se destacam por possuírem simultaneamente
todas as organizações de fiscalização e controle pesquisadas e onze municípios não
possuem nenhuma dessas organizações (Arapuá, Guimarânia e outros).
Organizações de ensino e pesquisa
As organizações de ensino e pesquisa são aquelas que utilizam de um conjunto de
métodos e técnicas para transmitir conhecimentos, objetivando ampliá-los por meio da
pesquisa de determinada área do saber.
Através da pesquisa realizada foi possível identificar a presença de organizações
de ensino em todos os municípios da região do Alto Paranaíba, desde o ensino
fundamental ao ensino médio. Já as organizações de ensino superior estão presentes em
doze dos 31 municípios. As organizações de Pós-graduação Stricto-sensuas se
encontram ausentes na Região.
Organizações de ensino profissionalizante
As organizações de ensino profissionalizante são aquelas que além de ensinar e
transmitir conhecimentos tem como foco a profissionalização do indivíduo,
capacitando-o para atuar no mercado de trabalho.
As organizações de ensino profissionalizante como, SEBRAE, SENAC, SENAI,
SENAT e SENAR possuem escritórios em poucos municípios da região, mas atendem
às cidades mais próximas. Apenas Patos de Minas tem escritórios de todas essas
organizações do chamado sistema “S”. Apenas dois municípios se destacam, já que
possuem sete das oito organizações mapeadas, são eles Patos de Minas e Araxá. Patos
de Minas não possui escola agrotécnica federal e Araxá não possui SENAT (ZEE-MG,
2008). Os demais municípios estão em situação muito precária.
Organizações de segurança pública
As organizações de segurança pública são aquelas que garantem a proteção dos
interesses individuais e coletivos, assegurando o pleno exercício da cidadania.
Apenas três municípios apresentam guarda municipal (Abadia dos Dourados,
Araxá e Arapuá), somente Araxá e Patos de Minas apresentam batalhão de corpo de
bombeiro. Ressalta-se que o número de pessoas por policial militar e civil varia entre
500 a 2000 pessoas nos municípios que compõem a região do Alto Paranaíba. Unidade
prisional existe em Araxá, Abadia dos Dourados, Carmo do Paranaíba, Estrela do Sul,
Monte Carmelo, Patos de Minas e Patrocínio. Patos de Minas se destaca por ser o único
que possui todas as organizações de segurança pública delineadas.
Conclusões
A presente pesquisa revelou que os municípios de Patos de Minas e Araxá são os
que apresentam o maior número de organizações de forma que estes na ótica do ZEEMG são os municípios que possuem maior potencialidade de gerar desenvolvimento
sustentável e de formar parcerias público-privadas.
296
A pesquisa revelou também que municípios como Guimarânia, Santa Rosa da
Serra, Tiros, Serra do Salitre estão entre os que possuem o menor número de
organizações, de forma que apresentam ponto de partida precário para a geração de
desenvolvimento sustentável e promoção de parcerias público-privadas.
Estes dados revelam que a maior parte dos municípios da região apresenta
condições favoráveis para gerar desenvolvimento sustentável (possuem grande número
de organizações). Ressalva-se que a simples presença desta rede de organizações não
significa a efetividade das mesmas na geração de sustentabilidade para a região, é
necessário que estas organizações participem do processo de identificação, elaboração,
implementação e avaliação de políticas ou parcerias direcionadas para a geração de
desenvolvimento sustentável. “A natureza qualitativa das informações que caracterizam
cada município deve ser alvo de pesquisas específicas” (ZEE-MG, 2008, p. 194).
Agradecimentos
Agradecemos a Universidade Federal de Viçosa – Campus de Rio Paranaíba e ao
FUNARBIC pela bolsa de Iniciação científica.
Literatura Citada
GIL, A.C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2007.
ZONEAMENTO ECOLÓGICO-ECONÔMICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
(ZEE-MG). Relatório. Lavras: UFLA, 2008.
297
7. Fitotecnia, fitopatologia e
solos
298
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
7.1. Ocorrências de geada no estado de Santa Catarina
Rosandro Boligon Minuzzi¹
¹ Prof. Adjunto, Universidade Federal de Santa Catarina, Dep. Eng. Rural. E-mail: [email protected]
Resumo: Dados de 1990 a 2007, obtidas de 13 estações meteorológicas foram
utilizadas para elaborar uma climatologia das ocorrências e respectivas intensidades da
geada no estado de Santa Catarina. Julho é o mês com as maiores ocorrências,
principalmente na região do Alto Vale do Itajaí. No estado, 40 a 60% das ocorrências de
geada são de intensidade fraca e de 20 a 35% de intensidade moderada. Somente no
Planalto e Meio Oeste, ocorreram as geadas mais intensas („extremamente forte‟ ou
„excepcionalmente forte‟).
Palavras-chave: climatologia, economia, manejo agrícola
Occurrences of frost in the state of Santa Catarina, Brazil
Abstract: Data from 1990 to 2007, obtained from 13 meteorological stations were used
to develop a climatology of occurrence and intensity of frost in the state of Santa
Catarina, Brazil. July is the month with major events, especially in the region of Alto
Vale do Itajai. In the state, 40-60% of cases of frost are of weak intensity and 20-35% of
moderate intensity. Only on the Plateau and Midwest, occurred frosts more intense
('very strong' or 'exceptionally strong').
Key Words: climatology, economy, agricultural management
Introdução
Do ponto de vista meteorológico, define-se a ocorrência de geada quando há
deposição de gelo sobre plantas e objetos expostos ao relento (Pereira et al., 2000). A
intensidade dos danos depende da espécie vegetal e da fase fenológica a qual se
encontra. Como exemplo, Vieira et al. (2003) objetivaram avaliar as respostas das
espécies arbóreas nativas com potencial para implantação em um sistema
agrossilvicultural, na região de Florianópolis. Espécies de árvores como a licurana
(Hieronyma alchorneoides), a tucuneira (Citharexylum sp.), a corticeira (Erythrina
falcata) e o olandi (Calophyllum brasiliense) apresentaram baixa capacidade de rebrota
após a geada, mostrando uma taxa de mortalidade próxima dos 100%.
A diversidade agroecológica em Santa Catarina propicia ao estado a adoção de
várias culturas, algumas tornando-o o maior produtor nacional, como a maçã, cultivada
em sua maioria no Planalto Sul e Meio Oeste e, a cebola, amplamente difundida no
município de Ituporanga (Alto Vale do Itajaí).
O estudo da ocorrência de geada visando principalmente a sua climatologia é de
fundamental importância ao setor agropecuário, em razão dos danos às culturas e
conseqüentes prejuízos a economia. Assim, este estudo visa elaborar uma climatologia
de ocorrências e intensidades da geada no estado de Santa Catarina.
299
Material e Métodos
As informações da ocorrência e respectivas intensidades de geada no período
de 1990 a 2007 em Santa Catarina, foram obtidas de 13 estações meteorológicas
pertencentes a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina
(EPAGRI), localizadas espacialmente conforme ilustrado na Figura 1.
Figura 1. Localização das estações meteorológicas utilizadas no estudo em Santa
Catarina.
As intensidades da geada foram definidas em sete classes de acordo com os
registros da temperatura mínima de relva, conforme segue: Fraca (Fra= 0°C a -2°C);
Moderada (Mod= -2°C a -4°C); Mediana (Med= -4°C a -6°C); Forte (For= -6°C a 8°C); Muito Forte (MF= -8°C a -10°C); Extremamente Forte (ExF= -10°C a -12°C);
Excepcionalmente Forte (ExcF< -12°C). Foi realizada uma distribuição relativa para
cada uma das localidades e referidas intensidades, bem como, o percentual de
ocorrência mensal de geada independente de sua intensidade.
A distribuição de probabilidade cumulativa foi realizada para as localidades e
respectivos meses de maior ocorrência de geada.
Resultados e Discussão
O percentual de ocorrência mensal de geada em alguns municípios de Santa
Catarina são apresentados na Figura 2. Os resultados são unânimes em apontar julho
como o mês com as maiores ocorrências. O exemplo mais visível ocorre na região do
Alto Vale do Itajaí, onde mais de 35% das geadas na região são observadas em julho
(Figura 2d). Nas demais regiões as ocorrências são relativamente melhor distribuídas,
de forma que, em algumas localidades há a possibilidade de geadas durante os meses de
verão, como em Lages, São Joaquim (Figura 2a) e em Rio do Campo (Figura 2d). Numa
análise geral, os meses de maio a agosto concentram os maiores percentuais de
ocorrência. Seluchi (2009) explica que na região Sul, as geadas ocorrem devido à
combinação de dois fatores principais: a incidência de sistemas frontais frios e
anticiclones migratórios, e a presença de uma topografia complexa. Um exemplo da
importância do fator topográfico é o estudo de Massignam & Dittrich (1998) que
utilizaram modelos probabilísticos e método de regressão para estimar o número médio
mensal e a probabilidade mensal de ocorrência de geada para Santa Catarina com base
na altitude.
300
Figura 2. Percentual de ocorrência mensal de geada para alguns municípios de Santa
Catarina, localizados no Planalto Sul (2a), Meio Oeste (2b), Oeste (2c), Alto
Vale do Itajaí (2d) e Planalto Norte (2e).
A Tabela 1 mostra que as maiores ocorrências de geada são de intensidade fraca,
diminuindo gradativamente com o aumento da intensidade. Num contexto geral, de 40 a
60% das geadas observadas em Santa Catarina, são de intensidade fraca e de 20 a 35%
de intensidade moderada. Associando estes resultados com os fatores climáticos,
percebe-se a relação das ocorrências de geada com o fator topográfico. Em Santa
Catarina, regiões como no Planalto Sul, Planalto Norte e Meio Oeste, as elevações em
algumas áreas ultrapassam os 1000 metros, favorecendo como exemplos, geadas em
janeiro e dezembro (São Joaquim) e com intensidades igual ou superior a
„extremamente forte‟ (Lages, São Joaquim, Caçador, Major Vieira, Matos Costa e Rio
Negrinho). Seluchi (2009) faz a ressalva de que a intensidade e ocorrência de geadas
dependerão, na maioria das situações, da trajetória e da velocidade de deslocamento das
massas de ar envolvidas. Acrescenta que geralmente, as geadas mais intensas estão
associadas a anticiclones migratórios frios que se deslocam rapidamente, seguindo uma
trajetória meridional e continental.
301
Tabela 1. Percentual de ocorrências de geada por intensidades e datas das ocorrências
precoce e tardia
Municípios
Lages
São Joaquim
Caçador
Campos Novos
Videira
Chapecó
Ponte Serrada
São Miguel d'Oeste
Rio do Campo ¹
Ituporanga
Major Vieira
Matos Costa
Rio Negrinho
Ocorrências de geada por intensidade (%)
Fra Mod Med For
MF
ExF ExcF
53,17 21,8 12,01 9,01 2,78 1,11 0,11
41,82 29,44 14,48 9,11 2,78 0,93 0,46
52,16 23,91 15,56 5,76
2,3
0,29
0
51,02 24,65 10,96 11,98 1,37
0
0
49,34 31,9 11,51 5,59 1,64
0
0
41,98 32,82 1,52 22,13 1,52
0
0
48,68 28,68 16,23 5,66 0,75
0
0
55,86 16,55 13,1 12,41 2,07
0
0
44,83 43,1 10,34 1,72
0
0
0
36,54 35,58 20,19 7,69
0
0
0
45,85 29,24 15,28 6,64 2,66 0,33
0
56,27 10,61 5,14 26,37 1,29 0,32
0
60,11 26,4 7,87 2,81 1,69 1,12
0
Precoce
1/2/1998
11/1/1994
26/3/1998
26/3/1998
5/4/1997
17/4/1999
26/3/1998
17/4/1999
24/2/1998
11/4/1998
5/4/1997
17/3/1997
5/4/1997
Tardia
1/11/2006
26/12/2001
7/10/2000
17/11/1997
3/9/02 e 05
16/11/1991
5/11/1992
17/11/1997
4/11/2001
25/9/2007
11/10/1995
5/11/1992
15/11/2000
¹ Análise a partir de 1994
Fra= Fraca; Mod= Moderada; Med= Mediana; For= Forte; MF= Muito Forte; ExF= Extremamente Forte; ExcF= Excepcionalmente
Forte.
No período anual de maior ocorrência (maio a agosto) a probabilidade de que
haja pelo menos 14 eventos de geada é de aproximadamente 10% e de 83% para que
ocorram pelo menos de 4 a 6 geadas em cada um dos meses de maio a agosto em São
Joaquim (Figura 3a). Para Lages (Figura 3b) e Videira (Figura 3c), realizando uma
análise para o mês de julho, temos a probabilidade de aproximadamente 80% de que
ocorra ao menos de 2 a 3 eventos de geada independente da sua intensidade.
Figura 3. Probabilidade do número de ocorrências de geada mensal em São Joaquim
(3a), Lages (3b) e Videira (3c).
302
Conclusões
- O período entre maio a agosto é o de maior ocorrência de geadas em Santa
Catarina.
- Das geadas observadas em Santa Catarina, 40 a 60% são de intensidade fraca e
de 20 a 35% de intensidade moderada.
Literatura Citada
MASSIGNAM, A.M.; DITTRICH, R.C. Estimativa do número médio e da
probabilidade mensal de ocorrência de geadas para o estado de Santa Catarina. Revista
Brasileira de Agrometeorologia, v.6, p.213-220. 1998.
PEREIRA, A.R.; ANGELOCCI, L.R.; SENTELHAS, P.C. Agrometeorologia:
fundamentos e aplicações práticas. Guaíba: Agropecuária, 2002. 478p.
SELUCHI, M.E. Geadas e friagens. In: Cavalcanti, I.F.A.; Ferreira, N.J.; Justi da Silva,
M.G.A.; Silva Dias, M.A.F. (eds.) Tempo e clima no Brasil. São Paulo: Oficina de
Textos, 463p. 2009
VIEIRA, A.R.R.; FEISTAUER, D.; SILVA, V.P. Adaptação de espécies arbóreas
nativas em um sistema agrossilvicultural, submetidos a extremos climáticos de geada na
região de Florianópolis. Revista Árvore, v.27, p.627-634. 2003.
303
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
7.2. Assimilação fotossintética do carbono e potencial osmótico em plantas de
tomate (Lycopersicon esculentum, Mill) em resposta a salinidade
Sandro Dan Tatagiba1, Kelly Juliane Telles Nascimento2, Gustavo Adolfo Bevitori
Kling de Moraes3, Andressa Camilo de Souza Rocha4
1, 2 e 3
Doutorando(a) do Programa de Pós-graduação em Ciências Agrárias (Fisiologia Vegetal), UFV.
Biológa formada na Universidade Paranaense, UNIPAR.
4
Resumo: O trabalho teve como objetivo avaliar a assimilação fotossintética do carbono
e o potencial osmótico de plantas de tomate, cv. Santa Cruz, submetidas a
concentrações crescentes de NaCl cultivadas em solução nutritiva. O experimento foi
conduzido em casa de vegetação da Unidade de Crescimento de Plantas do
Departamento de Biologia Vegetal da Universidade Federal de Viçosa. O delineamento
experimental utilizado foi blocos casualizados, com quatro tratamentos (0, 50, 100 e
150 mM de NaCl) e três repetições, sendo a unidade experimental, constituída de duas
plantas. De acordo com os resultados obtidos, concluiu-se que aumentos nas
concentrações salinas promoveram diminuição do potencial osmótico nas folhas e raízes
das plantas. Este fato contribuiu para a intensificação dos efeitos do estresse salino,
levando a redução da assimilação fotossintética do carbono, principalmente pela
limitação estomática nos tratamentos de 100 e 150 mM de NaCl.
Palavras–chave: estresse salino, potencial osmótico, tomate, trocas gasosas
Photosynthetic carbon assimilation and osmotic potential on tomato (Lycopersicon
esculentum, Mill) in response to salinity
Abstract: The study aimed to evaluate the photosynthetic carbon assimilation and
osmotic potential of tomato plants, cv. Santa Cruz, exposed to increasing concentrations
of NaCl grown in nutrient solution. The experiment was conducted in a greenhouse of
the Plant Growth Unit, Department of Plant Biology, University Federal of Viçosa. The
experimental design was randomized blocks with four treatments (0, 50, 100 and 150
mM NaCl) and three replicates of one experimental unit consisting of two plants.
According to the results, we concluded that increases in salt concentrations led to a
decrease of osmotic potential in leaves and roots. This fact contributed to the
intensification of the effects of salt stress on plants, leading to reduction in
photosynthetic carbon assimilation by stomatal limitation in the treatments of 100 and
150 mM NaCl.
Key Words: gas exchange, osmotic potential, salt stress, tomato
Introdução
A salinidade é um fator limitante ao crescimento e desenvolvimento das plantas
por afetar vários processos fisiológicos, dentre os quais a fotossíntese, reduzindo assim
a produção e alocação de biomassa. A ocorrência do estresse salino promove redução
nos processos de síntese de ATP acoplada à fase fotoquímica da fotossíntese, além de
promover alterações no processo respiratório, assimilação do nitrogênio e metabolismo
304
de proteínas. A redução do crescimento e da produtividade observada por muitas
espécies sujeitas à salinidade, muitas vezes estão associadas com a menor capacidade
fotossintética das plantas, as limitações estomáticas e não estomáticas (Loreto et al.,
2003). A etapa bioquímica da fotossíntese pode ser afetada de maneira indireta por
condições salinas como conseqüência do desbalanço nutricional e da queda de potencial
de turgescência nas folhas. Estes fatores proporcionam o fechamento dos estômatos e
aumento na resistência à entrada do CO2 na folha, acarretando diminuição na taxa
fotossintética (Lu & Zhang, 1998).
Apesar da diminuição na aquisição e fixação do CO2 e o conseqüente
comprometimento da fase bioquímica da fotossíntese pelo estresse salino, ainda não se
sabe se esse comprometimento é resultado apenas da limitação estomática ou se estão
envolvidos outros fatores, não estomáticos, nesse processo.
De acordo com este contexto, objetivou-se no presente trabalho avaliar os efeitos
de níveis crescentes das concentrações de NaCl sobre a assimilação fotossintética do
carbono e o potencial osmótico em plantas de tomateiro, cultivar Santa Cruz, crescendo
em solução nutritiva.
Material e Métodos
O experimento foi conduzido em casa de vegetação pertencente à Unidade de
Crescimento de Plantas do Departamento de Biologia Vegetal da Universidade Federal
de Viçosa, no município de Viçosa-MG, localizado a 20º 45‟ S e 42º 52‟ W e 648, 82 m
de altitude.
O material vegetal utilizado foi o tomateiro (Lycopersicon esculentum, Mill.),
cultivar Santa Cruz. As mudas foram produzidas pela semeadura em caixas plásticas
contendo areia como substrato, sendo umedecidas diariamente. O transplante para
caixas de isopor, com capacidade de 5 litros, foi realizado quando as plantas
apresentaram 2 a 3 folhas por muda, contendo solução nutritiva a meia força, preparada
de acordo com Hoagland & Arnon (1950).
As plantas cresceram em solução nutritiva por 21 dias, quando então, foram
aplicados e iniciados os tratamentos, colocando-se as concentrações de NaCl
estabelecidas, aplicadas gradativamente, em intervalos de 12 horas, até a concentração
final dos respectivos tratamentos, a fim de evitar danos severos às plantas.
As plantas ficaram submetidas às concentrações salinas por um período de 15
dias, quando então, foram determinadas as análises fisiológicas, totalizando 36 dias de
experimentação. Correções e ajustes de pH, quando necessários, foram realizados
diariamente, a fim de manter o pH em valores próximos a 5,5 pela adição de HCl e
NaOH. As substituições da solução nutritiva foram realizadas uma vez por semana. A
solução nutritiva que continha o sistema radicular das plantas era arejada
continuamente, através de um sistema de influxo de ar mantido com timer.
Foram avaliadas as seguintes características das trocas gasosas: fotossíntese (A),
condutância estomática (Gs), transpiração (E), razão entre a concentração interna e
externa de CO2 (Ci/Ca), através de um analisador de gás a infravermelho (IRGA)
portátil, modelo LI-6400, LI-COR. As medições das trocas gasosas foram realizados no
horário compreendido entre às 9:00 e 11:00 horas. O potencial osmótico dos tecidos da
parte aérea e da raiz foi determinado por um osmômetro, modelo 2007 da marca
osmette.
305
O delineamento experimental utilizado foi blocos casualizados, com quatro
tratamentos de concentrações salinas, 0, 50, 100 e 150 mM de NaCl, constituído de 3
repetições, sendo a unidade experimental, constituída de duas plantas. Os dados
experimentais foram submetidos à análise de variância, e quando significativas, as
médias foram comparadas pelo teste Tukey a 5% de probabilidade, utilizando software
o SAEG.
Resultados e Discussão
Na Tabela 1 são apresentados os valores médios de potencial osmótico (Ψs)
obtidos pelo osmômetro para as folhas e raízes das plantas do tomateiro. Verifica-se que
os valores de Ψs reduziram à medida que se aumentava a concentração de sais na
solução, tanto para as folhas quanto para as raízes. A redução do Ψs pode levar a
diminuição do potencial hídrico (Ψw) da planta, o que dificulta a retirada de água da
solução pelas raízes das plantas. Segundo Ayers & Westcot (1991), o excesso de sais na
solução reduz a disponibilidade de água para as plantas, além de trazer problemas como
o efeito de íons tóxicos específicos sobre o metabolismo vegetal, a tal ponto de afetar o
rendimento e a produtividade.
Tabela 1 - Valores médios de potencial osmótico (Ψs) da folha e da raiz obtidos por
osmômetro em plantas de tomateiro, cultivadas em solução nutritiva sob
diferentes concentrações salinas.
Ψs (MPa)
Concentração de NaCl (mM)
Folhas
Raízes
0
-0,799
-0,176
50
-0,852
-0,354
100
-1,226
-0,359
150
-1,370
-0,422
De acordo com o teste de médias de Tukey a 5% de probabilidade, foi verificado
que houve diferença significativa entre os valores de fotossíntese líquida (A) nas plantas
do tomateiro submetidas às diferentes concentrações de NaCl (Figura 1).
Nota-se, que a fotossíntese foi reduzida à medida que se aumentava a
concentração de sais na solução, registrando os menores valores médios para
concentrações de 50, 100 e 150 mM, as quais não diferiram significativamente entre si.
A menor assimilação fotossintética de CO2 pelas plantas mantidas em maiores
concentrações de sais pode estar atribuída à menor abertura estomática.
A condutância estomática (gs) foi reduzida nas plantas cultivadas sob maiores
concentrações de sais, quando comparadas com as plantas controle (0 mM de NaCl).
Efeito semelhante ao da fotossíntese foi verificado na condutância estomática, com
valores das médias de concentrações de 50, 100 e 150 mM, não diferindo
significativamente. A menor abertura estomática verificada nas plantas sob maiores
concentrações de sais contribuiu para os menores valores de fotossíntese registrados.
Essa diminuição da condutância estomática pode ter ocorrido devido à menor
disponibilidade de água para as raízes provocada pelo estresse salino (Loreto et al.,
2003). Sob condições de baixa disponibilidade hídrica, o fechamento estomático
306
restringe fortemente a fotossíntese, de forma que o controle estomático tem sido
apontado como a fração principal da limitação da fotossíntese.
C.V(%) = 19,02
C.V(%) = 30,32
C.V(%) = 30,48
C.V(%) = 18,76
Figura 1 - Fotossíntese líquida (A), condutância estomática (gs), transpiração (E) e
relação Ci/Ca em folhas de tomateiro cultivado em solução nutritiva sob
diferentes concentrações salinas. Valores seguidos pela mesma letra na
coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
Percebe-se na Figura 1, que quando se aumentava as concentrações de sais, as
taxas transpiratórias reduziam seus valores. Os maiores e menores valores encontrados
para as taxas transpiratórias foram de 1,74 e 0,69 mmol m-2 s-1, registrados nas plantas
controle e a 150 mM, respectivamente. Os menores valores de transpiração verificados
nas plantas submetidas a 150 mM de NaCl, pode ser atribuída à menor abertura
estomática encontrada em virtude do estresse salino.
As razões Ci/Ca não diferiram significamente entre os tratamentos analisados,
sendo resultado das variações observadas entre a fotossíntese e a condutância
estomática. Esperava-se que está razão diferisse significativamente e que fosse maior
nas plantas submetidas ao estresse salino, pelo fato de apresentarem menores taxas
fotossintéticas, o que contribuiria para uma maior disponibilidade da concentração
interna de CO2.
Conclusões
Aumentos nas concentrações salinas promoveram diminuição do potencial
osmótico nas folhas e raízes. Este fato contribuiu para a intensificação dos efeitos do
307
estresse salino sobre as plantas, levando a redução da assimilação fotossintética do
carbono pela limitação estomática nos tratamentos de 100 e 150 mM de NaCl.
Literatura Citada
AYERS, R.S.; WESTCOT, D. W. Qualidade de água na agricultura. Tradução de
GHEYI, H.R.; MEDEIROS, J.F.; DAMASCENO, F.A.V. Campina Grande: UFBR,
1991. 218p. (FAO. Estudos de Irrigação e Drenagem, 29).
LORETO F, CENTRITTO M AND CHARTZOULAKIS K. (2003) Photosynthetic
limitations in olive cultivars with different sensitivity to salt stress. Plant Cell Environ
26:595–601
LU, C.; ZHANG, J. (1998) Thermostability of photosystem II is increased in saltstressed sorghum. Australian Journal of Plant Physiology 25:317-324
HOAGLAND, D. R.; ARNON, D. I. The water culture method for growing plants
without soils. Cal. Agric. Exp. Stat. Circ., v. 374, 1950. 32 p.
308
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
7.3. Crescimento e rendimento produtivo do feijoeiro (Phaseolus vulgaris L.)
mantido sob restrição hídrica
Sandro Dan Tatagiba1, Kelly Juliane Telles Nascimento2, Gustavo Adolfo Bevitori
Kling de Moraes3, Andressa Camilo de Souza Rocha4
1, 2 e 3
Doutorando(a) do Programa de Pós-graduação em Ciências Agrárias (Fisiologia Vegetal), UFV.
Biológa formada na Universidade Paranaense, UNIPAR.
4
Resumo: O objetivo deste trabalho foi avaliar o crescimento e o rendimento produtivo
do feijoeiro, cultivar manteigão, durante seu ciclo cultural, quando submetido à
restrição hídrica. Os parâmetros analisados foram: altura da planta, área foliar, número
de folhas, vagens e grãos, peso seco de grãos e incremento matéria seca total. O
delineamento experimental utilizado foi o de blocos casualizados, em parcelas
subdivididas no tempo, com dois tratamentos de disponibilidade hídrica, 50 e 100% da
capacidade de campo, constituído de três repetições, sendo a unidade experimental
constituída de duas plantas por vaso. De acordo com os resultados obtidos, concluiu-se
que a restrição hídrica imposta pelo tratamento de 50% da capacidade de campo reduziu
o crescimento e o rendimento produtivo do feijoeiro, verificado principalmente pelo
peso seco dos grãos e o incremento da matéria seca total, levando a uma menor
produtividade.
Palavras–chave: crescimento, estresse hídrico, feijão, produção
Growth and productive yield of common bean (Phaseolus vulgaris L) kept under
water restriction
Abstract: The aim of this study was to evaluate the growth and yield production of dry
bean cultivar Manteigão during its crop cycle, when subjected to water restriction. The
parameters analyzed were: plant height, leaf area, number of leaves, pods and grains,
dry weight of grains and increase the dry matter. The experimental design was a
randomized block in split plot in time with two levels of water availability, 50 and
100% of field capacity, consisting of three replicates of one experimental unit consists
of two plants per pot. According to the results, it was concluded that fluid restriction
imposed by the treatment of 50% of field capacity reduced growth and yield of bean
production, especially checked by dry weight of the grains and the increase in total dry
matter, leading to a lower productivity.
Key Words: beans, growth, water stress, production
Introdução
O feijoeiro é considerado uma planta sensível ao estresse hídrico, principalmente
em pela baixa capacidade de recuperação do crescimento após a ocorrência de
deficiência hídrica no solo. O período mais crítico do feijoeiro à deficiência hídrica
coincide com a fase de maior consumo de água pela planta. Carlesso et al. (2007),
observaram maior demanda de água pela planta durante o período de florescimento ao
309
início de enchimento de grãos, épocas em que ocorre maior índice de área foliar e
atividade fotossintética.
Os efeitos da umidade do solo para o feijoeiro manifestam-se ao longo do seu
ciclo e nas diferentes partes da planta. Em geral, o que mais interessa são os efeitos do
estresse hídrico sobre o crescimento e o desenvolvimento da cultura, o que,
conseqüentemente, limita o rendimento de produção.
Conforme a resposta da cultura a deficiência hídrica é possível estabelecer seu
grau de resistência ao estresse hídrico e definir o estádio fenológico mais sensível a
disponibilidade de água. Dessa forma, objetivou-se neste trabalho, avaliar o crescimento
e o rendimento produtivo do feijoeiro (cv. manteigão) durante seu ciclo cultural, quando
submetido à restrição de água no substrato.
Material e Métodos
O experimento foi conduzido em casa de vegetação pertencente à Unidade de
Crescimento de Plantas do Departamento de Biologia Vegetal da Universidade Federal
de Viçosa, no município de Viçosa-MG, localizado a 20º 45‟ S e 42º 52‟ W e 648, 82 m
de altitude.
Foram utilizadas plantas de feijão (Phaseolus vulgaris L.), cultivar manteigão,
crescendo em vasos com capacidade de 5 litros, previamente preenchidos com 3 kg de
substrato constituído de uma mistura de solo, areia e esterco curtido na proporção 3:1:1,
respectivamente.
O delineamento experimental utilizado foi o de blocos casualizados, em esquema
de parcelas subdivididas no tempo, com dois tratamentos de disponibilidade hídrica,
100% e 50% da capacidade de campo, constituído de três repetições, sendo a unidade
experimental constituída de duas plantas por vaso.
Para o estabelecimento dos tratamentos foram utilizados dois níveis de água
definidos a partir da porosidade total do solo, com valores de 50 e 100 % do volume
total de poros ocupados por água (Capacidade de campo). Para a determinação da
capacidade de campo foram usadas cinco amostras de 100g do substrato, previamente
seco a 105 0C por 24 horas. Essas amostras foram saturadas com 250 ml de água e a
média dos volumes de água não percolados após 24 horas em cada uma das amostras
foram tomadas como a capacidade de campo, de acordo com Embrapa (1997). O
controle da irrigação foi realizado pelo conforme metodologia adotada por Freire et al.,
1980.
As coletas dos dados foram realizadas semanalmente, por um período de oito
semanas, iniciadas após o décimo quinto dia de emergência e sete dias após o inicio da
aplicação dos tratamentos. Em cada coleta, foram analisadas as seguintes características
das plantas: altura, área foliar, número de folhas, vagens e grãos, peso seco de grãos.
Determinou-se o incremento de matéria seca total de acordo com Hunt (1990).
A área foliar de cada unidade experimental foi determinada com o auxílio de um
integrador de área foliar (Area Mater MK2). A matéria seca foi obtida com o auxílio de
uma estufa com ventilação forçada, a 75 0C, até que o material atingisse peso constante.
Realizou-se o controle nutricional utilizando NPK (30-06-30), parcelados em três
adubações de cobertura. As adubações foram realizadas de modo a fornecer 50 mg do
adubo para cada muda.
310
Resultados e Discussão
Verificam-se na Figura 1 as características de crescimento e do rendimento
produtivo da cultura de feijoeiro submetido aos tratamentos de 50 e 100% da
capacidade de campo. Nota-se que a restrição hídrica (50% da CC) contribuiu para a
redução do crescimento em altura das plantas, quando comparadas com as plantas
mantidas a 100% da CC. Aos 36 dias após a emergência, houve uma redução em altura
nas plantas a 100% da CC, permanecendo até o final do experimento. A priori está
redução pode estar envolvida com a exportação preferencial de fotoassimilados para o
desenvolvimento de flores, vagens e grãos, em detrimento de manutenção do
crescimento vegetativo. Em seguida, a ocorrência da senescência natural da planta no
final do ciclo, contribuiu para o menor valor de altura registrado.
As plantas cultivadas sob restrição hídrica (50% da CC) apresentaram de modo
geral, menor área foliar, quando comparadas com as plantas cultivadas a 100% da CC.
O processo fotossintético depende da interceptação da energia luminosa e sua conversão
em energia química, sendo este um processo que ocorre diretamente na folha, atuando
na formação de carboidratos, que são alocados para os órgãos vegetativos e
reprodutivos. A resposta a restrição hídrica limita o tamanho e o número de folhas,
levando a redução no consumo de carbono e energia por esse órgão da planta.
As plantas cultivadas sob restrição hídrica, também apresentaram os menores
valores do número de vagens e de grãos, quando comparadas com as plantas mantidas a
100% da CC, como pode ser observada na Figura 1. Dessa forma, permite-se concluir,
que a restrição hídrica (50% da CC), foi suficiente para provocar uma redução no
rendimento produtivo das plantas. A frutificação é a fase fenológica do feijoeiro que
requer maior consumo de água, sendo considerada crítica para se obter uma boa
produtividade de grãos.
Verifica-se, portanto, que as plantas mantidas a 100% da CC apresentaram os
maiores valores de peso seco de grãos em comparação as plantas submetidas à restrição
hídrica. Este resultado mostra a importância de uma boa disponibilidade hídrica para a
produção, além de ser fundamental para a translocação de nutrientes para a parte aérea.
Nota-se na Figura 2 que o incremento da matéria seca total se ajusta a curva
logística. Essa característica aumentou com o tempo para ambos os tratamentos, porém,
as plantas cultivadas a 50% da CC registraram menores valores em relação às plantas a
100% da CC. Dessa forma, evidencia-se que a restrição hídrica promoveu a redução do
crescimento e da produção das plantas de feijoeiro.
311
Figura 1 - Valores médios das características de crescimento e do rendimento produtivo
das plantas de feijoeiro durante o período experimental, submetidas aos
tratamentos de 50 e 100% da capacidade de campo. As barras correspondem
ao erro experimental.
Equações Logísticas
100% da CC
IMST= 29.20892/[1 + 44.138exp(-0.12877t)]
R2=0.72
50% da CC
IMST = 11.80883/[1 + 6.5130exp(-0.06137t)]
R2=0.89
Figura 2 - Incremento de matéria seca total (IMST) durante o período experimental e
equações de regressões logísticas e seus coeficientes de determinação (R 2)
em plantas de feijoeiro submetidas aos tratamentos de 50 e 100% da
capacidade de campo.
312
Conclusão
A restrição hídrica promoveu redução das características de crescimento e do
rendimento produtivo durante o ciclo cultural do feijoeiro, verificado principalmente
pelo peso seco de grãos e pelo incremento da matéria seca total das plantas.
Literatura Citada
CARLESSO, R.; JADOSKI, S.O.; MAGGI, M.F.; PETRY, M.; WOLSHICK, D. Efeito
da lâmina de irrigação na senescência foliar de feijoeiro. Irriga, Botucatu, v. 12, n.4, p.
545-556, 2007.
EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Centro Nacional de
Pesquisas de Solos. Manual de métodos de análise de solos. 2a.ed. Rio de Janeiro:
1997.212p.
HUNT, R. Basic growth analysis-Plant growth analysis for beginners. Unwim
Hyman Ltda. London. 1990.
FREIRE, J.C.; RIBEIRO, M.V.A.; BAHIA, V.G.; LOPES, A.S.; AQUINO, L.H.
Respostas do milho cultivado em casa de vegetação a níveis de água em solos da região
de Lavras (MG). Revista Brasileira de Ciência do Solo, Campinas, v.4 n.1, 1980.
313
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
7.4. Caracterização fitopatológica de subamostras de tomateiro do BGH-UFV
quanto à severidade da requeima ou mela1
Bruno Soares Laurindo2, Renata Dias de Freitas2, Carlos Nick3, Derly José Henriques
da Silva4, Eduardo Seiti Gomide Mizubuti5
1
Parte do projeto de iniciação cientifica do primeiro autor, financiado pela FAPEMIG.
Estudante de graduação em Agronomia.
3
Doutorando do Programa de Pós-graduação em Fitotecnia.
4
Professor do Departamento de Fitotecnia.
5
Professor do Departamento de Fitopatologia
2
Resumo: O objetivo do presente estudo foi caracterizar cinquenta subamostras de
tomateiro do BGH-UFV, e as testemunhas 'Débora Plus‟, 'Fanny' e 'Santa Clara' quanto
à resistência a requeima do tomateiro incitada pelo patógeno (Phytophthora infestans,
Mont. De Bary). O experimento foi conduzido no campo experimental do Departamento
de Fitotecnia da Universidade Federal de Viçosa. Avaliou-se a severidade (da doença
por meio da porcentagem da área foliar lesionada e, os dados foram transformados para
área abaixo da curva de progresso da doença, AACPD). A subamostra que apresentou
menor média para AACPD foi o BGH – 2332, sendo, portanto, potencialmente útil em
programas de melhoramento do tomateiro que objetivem a resistência a requeima.
Palavras-chave: Phytophthora infestans, pré-melhoramento, recursos genéticos,
resistência a doenças
Phytopathological characterization of tomato subsamples from BGH-UFV for the
severity of late blight
Abstract: The objective of this study was to characterize fifty tomato subsamples from
BGH-UFV and three commercial varieties: 'Débora Plus', 'Fanny' and 'Santa Clara' for
resistance to late blight of tomato caused by the pathogen Phytophthora infestans Mont.
De Bary. The experiment was carried out at the experimental field of Department of
Crop Science at Federal University of Viçosa. The disease severity was evaluated by the
percentage of diseased leaf area and the data were converted into area under the disease
progress curve, AUDPC). The subsample that presented the lowest AUDPC was the
BGH - 2332, and is, therefore, potentially useful in breeding programs that target the
tomato resistance to late blight.
Key Words: Phytophthora infestans, pre-breeding, genetic resources, disease resistance
Introdução
No melhoramento genético do tomateiro, os principais objetivos estão
relacionados ao aumento da produtividade, a características relacionadas à qualidade e a
introdução de resistência a fitopatógenos. Porém, um problema recorrente, é a requeima
ou mela, doença de grande poder de destruição causada pelo oomiceto Phytophthora
infestans (Mont.) De Bary.
314
Em condições favoráveis, o patógeno causa severas epidemias, chegando a
comprometer todo o campo de produção em poucos dias. Todas as regiões produtoras
de tomate, bem como de batata, com clima favorável, estão sujeitas à ocorrência desta
doença (Mizubuti, 2001). Atualmente todos os cultivares de tomates usados pelos
produtores são suscetíveis a requeima. O controle é realizado por meio de freqüentes
aplicações de fungicidas de modo preventivo. Nesse tipo de manejo, há elevação dos
custos de produção, da poluição ambiental pelos resíduos químicos, maior risco de
contaminação de aplicadores e consumidores, além da seleção de genótipos de P.
infestans resistentes a esses produtos (Gisi & Cohen, 1996).
A estratégia mais promissora no controle seria a utilização de cultivares
comerciais com resistência a P. infestans. Considerando-se que o tomateiro é uma das
plantas cultivadas mais bem estudadas em termos genéticos, a inexistência de
variedades resistentes no mercado reflete a dificuldade em se trabalhar essa
característica dentro dos programas de melhoramento.
Fontes de resistência a P. infestans são conhecidas e alguns genes de resistência
já foram reportados (Moreau et al., 1998), mas geralmente não são da espécie Solanum
lycopersicon (Jones et al., 1991). A caracterização de subamostras de Solanum
lycopersicon conservadas em bancos de germoplasma e a busca de genótipos que sejam
potenciais fontes de resistência devem ser realizadas a fim de subsidiar o planejamento
de programas de melhoramento do tomateiro.
Assim, o objetivo deste trabalho foi avaliar 50 subamostras de tomateiro do
BGH - UFV e três testemunhas 'Débora Plus‟, 'Fanny' e 'Santa Clara' quanto à
resistência a requeima do tomateiro (Phytophthora infestans).
Material e Métodos
O experimento foi conduzido no setor de Olericultura do Departamento de
Fitotecnia da Universidade Federal de Viçosa, entre os meses de janeiro e abril de 2009,
sendo o transplantio realizado no dia 09 de março de 2009.
O delineamento utilizado foi o de blocos casualizados, com três repetições e
cinco plantas por parcela, sendo três as plantas úteis. O semeio foi realizado em
bandejas de 128 células contendo substrato comercial e o transplantio feito quando as
plantas possuíam quatro folhas definitivas. Os tratos culturais foram aqueles
recomendados para a cultura.
Como inóculo, foi utilizada uma mistura de esporângios provenientes de
isolados de Phytophtora infestans, patogênicos a tomate. Os isolados foram coletados
em diferentes regiões da zona da mata mineira, algumas regiões dos estados da Bahia,
Espírito Santo e Rio Grande do Sul, regiões estas que se destacam como produtoras de
tomate no Brasil.
O inóculo foi multiplicado no Laboratório de Manejo de Recursos Genéticos da
UFV. Para isso, transferiram-se os folíolos dos sacos de papel para bandejas de plástico
previamente desinfestadas com álcool 70% e forradas com papel toalha umedecido com
água destilada, e mantidas a 18ºC por 24 a 48 horas, de modo a criar o microclima
favorável ao desenvolvimento do patógeno e promover maior esporulação.
Após este período, para cada isolado, foi preparada uma suspensão de
esporângios. A suspensão de esporângios foi homogeneizada, procedendo-se à
contagem do número de esporângios em um microscópio óptico. Logo após, ajustou-se
315
a concentração do hemacitômetro para 5 x 103 esporângios/ml. As inoculações foram
feitas ao entardecer, às 18:00, com o auxílio de um pulverizador costal manual,
pulverizando todas as plantas.
Três dias após a inoculação foram realizadas as avaliações para resistência à
Phytophtora infestans, em intervalos regulares de três dias, totalizando seis avaliações.
Para as avaliações de severidade da requeima, os avaliadores foram submetidos
a um treinamento mediante o uso do programa Severity PRO (Nutter, 1997), visando
corrigir distorções inerentes à estimativa visual.
No campo, os avaliadores deram notas para cada planta, estimando a
porcentagem do tecido vegetal afetado pela doença, ou seja, a porcentagem de
severidade da doença.
Os dados de severidade foram transformados para AACPD e submetidos a
análise de variância e posterior comparação entre as médias por meio do teste de Scott
Knott, a 5% de probabilidade.
Resultados e Discussão
A análise de variância para AACPD mostrou a existência de diferença
significativa entre as subamostras, ao nível de 5% de probabilidade pelo teste F.
As subamostras e as testemunhas susceptíveis avaliadas foram alocadas em
quatro grupos de médias distintos, segundo o teste de Scott-Knott (Tabela 1).
Tabela 1 - Médias obtidas de AACPD para subamostras de tomateiro do Banco de
Germoplasma de Hortaliças da UFV, avaliados quanto à resistência a
Phytophythora infetans. Viçosa-MG, 2009
SUBAMOSTRA
AACPD
SUBAMOSTRA
AACPD
SUBAMOSTRA
AACPD
2332
245.83 d
2300
484.67 b
2345
544.50 a
2333
356.00 c
2337
488.33 b
2326
549.67 a
2343
404.50 b
2245
491.50 b
2336
550.67 a
2282
405.33 b
2280
491.83 b
2364
551.83 a
2307
414.33 b
2324
493.00 b
2294
554.00 a
2298
419.50 b
2318
496.00 b
2302
556.00 a
2288
426.83 b
2299
496.67 b
2317
562.33 a
2322
430.83 b
2267
498.67 b
Fanny
565.67 a
2320
447.33 b
2319
501.83 b
2370
574.00 a
2314
450.17 b
2338
502.67 b
2348
580.33 a
2316
458.83 b
2293
513.50 a
2266
583.00 a
2285
459.00 b
2330
514.00 a
2327
585.33 a
2267
462.17 b
2362
517.17 a
2329
596.33 a
2321
470.17 b
2339
532.83 a
Débora
604.33 a
2305
475.17 b
2334
536.50 a
Sta Clara
611.00 a
2328
478.00 b
2283
538.33 a
2306
619.67 a
2287
478.67 b
2289
539.00 a
2284
667.00 a
2342
479.83 b
2369
541.33 a
Grupos de médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si a 5% de significância, pelo teste de
Scott-Knott.
316
Verificou-se que a subamostra BGH 2332, e as testemunhas susceptíveis (Santa
Clara, Débora e Fanny) alocaram-se em grupos de médias extremos, compondo os
grupos um e quatro respectivamente. As médias para a AACPD foram de 245,33 para o
BGH 2332 e 593,66 para as testemunhas. Estes resultados nos permitem inferir sobre a
existência de uma maior tolerância e susceptibilidade entre esta subamostra e as
cultivares comerciais, sendo considerada possível fonte de resistência a requeima do
tomateiro.
O segundo grupo foi formado pela subamostra BGH-2333, com média para
AACPD igual a 356,00. De acordo com este resultado, é importante destacar seu
comportamento em relação às demais subamostras que ficaram alocadas no grupo três,
apresentando um bom nível de tolerância a requeima.
Com este trabalho, foi possível observar diferenças quanto à AACPD entre as
cultivares comerciais susceptíveis e as subamostras do BGH-UFV em relação à
resistência a incidência da requeima. As subamostras com maior destaque, BGH 2332 e
BGH 2333, apresentam-se com possíveis fontes de resistência a requeima, podendo ser
utilizadas no desenvolvimento de cultivares resistente a esta doença, o que acarretará
em menores níveis de ataque da doença no campo e, conseqüentemente, contribuirá
para a redução do uso de fungicidas, através da diminuição do número de pulverizações.
Dessa forma, tais resultados comprovam a importância dos recursos genéticos de
tomateiro armazenados no BGH-UFV como repositórios de genes de resistência.
Conclusões
A caracterização agronômica disponibiliza informações que auxiliam na escolha
de subamostras promissoras.
Os resultados comprovam a importância dos recursos genéticos de tomateiro
armazenados no BGH-UFV como repositórios de genes de resistência.
Agradecimentos
A FAPEMIG e ao CNPq, pela concessão dos recursos financeiros e à Universidade
Federal de Viçosa.
Literatura Citada
ABREU, F.B. Herança da resistência a Phytophthora infestans, de características de
frutos e seleção de genótipos resistentes em geração F5 do cruzamento interespecífico
em tomateiro. Viçosa: UFV, 2005. 107p. Tese de doutorado.
MIZUBUTI, E.S.G. Requeima ou mela da batata e do tomate. In: Luz, E.D.N., Santos,
A.F., Matsuoka, K. & Bezerra, J.L. (Eds.) Doenças causadas por Phytophthora no
Brasil. Campinas. Livraria Editora Rural. 2001. pp.100-174.
MORALES, E.A.V.; VALOIS, A.C.C.; NASS, L.L. Recursos genéticos vegetables.
Brasília: SPI, 1997. 79p.
SILVA, D.J.H.; MOURA, M.O.; CASALI, V.W.D. Recursos genéticos do banco de
germoplasma de hortaliças da UFV: histórico e expedições de coleta. Horticultura
Brasileira, Brasília, v.19, n.2, p.108-114, 2001.
317
VALOIS, A.C.C. Genética aplicada a recursos fitogenéticos. Brasília: Editora UNEB,
1998. 3l8p. mimeografada.
VALOIS, A.C.C. SALOMÃO, A.N.; ALLEM, A.C. Glossário de recursos genéticos
vegetais. Brasília: SPI, 1996, 62p.
318
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
7.5. Identificação de potenciais fontes de resistência a Alternaria solani em
subamostras de tomateiro do BGH-UFV1
Bruno Soares Laurindo2, Renata Dias de Freitas2, Carlos Nick3, Derly José Henriques
da Silva4, Eduardo Seiti Gomide Mizubuti5
1
Parte do projeto de iniciação cientificado primeiro autor, financiado pela FAPEMIG.
Estudante de graduação em Agronomia.
3
Doutorando do Programa de Pós-graduação em Fitotecnia.
4
Professor do Departamento de Fitotecnia.
5
Professor do Departamento de Fitopatologia.
2
Resumo: O presente trabalho teve como objetivo avaliar 32 subamostras de tomateiro
do BGH-UFV, e as testemunhas 'Débora Plus‟, e 'Santa Clara' quanto à de resistência a
pinta preta do tomateiro (Alternaria solani). O experimento foi conduzido no campo
experimental do Departamento de Fitotecnia da Universidade Federal de Viçosa.
Avaliou-se a severidade (da doença por meio da porcentagem da área foliar lesionada e,
os dados foram transformados para a área abaixo da curva de progresso da doença
AACPD). As subamostras BGH-2153, BGH-2177, BGH-2178, BGH-2180, BGH-2183,
BGH-2192, BGH-2201, BGH-2209, BGH-2212, obtiveram valores médios de AACPD
inferiores ás testemunhas, sendo, portanto, possíveis fontes de resistência a serem
utilizadas em programas de melhoramento do tomateiro visando resistência a pinta
preta.
Palavras-chave: Alternaria solani, recursos genéticos, resistência a doenças
Identification of potential resistance sources to Alternaria solani in tomato
subsamples from BGH-UFV
Abstract: This objective of this study was to evaluate 32 tomato subsamples from
BGH-UFV and the commercial varieties: 'Débora Plus' and 'Santa Clara' for resistance
to early blight (Alternaria solani). The experiment was carried out at the experimental
field of Department of Crop Science at Federal University of Viçosa. The disease
severity was evaluated by the percentage of diseased leaf area and the data were
transformed into area under the disease progress curve (AUDPC). The subsamples BGH
2153, BGH-2177, 2178, BGH, BGH-2180, BGH-2183, BGH-2192 BGH-2201 BGH2209, BGH-2212 had average values of AUDPC lower than the commercial varieties
and, therefore, they are possible sources to be used in breeding programs for resistance
to tomato early blight.
Key Words: Alternaria solani, genetic resources, disease resistance
Introdução
A cultura do tomateiro é suscetível a diversas pragas e doenças. Esta
característica pode estar associada à estreita base genética do tomateiro, ou seja, ao
pequeno número de genitores utilizados pelos programas de melhoramento no
desenvolvimento de cultivares.
319
Para que esta situação possa ser revertida, a busca por genótipos com
desempenho agronômico satisfatório associado a genes de interesse específicos pode
contribuir para a ampliação da base genética do tomateiro.
Estes genótipos podem ser selecionados a partir de variedades tradicionais, bem
como de espécies silvestres pertencentes ao mesmo gênero da espécie cultivada que se
encontram registrados nos bancos de germoplasma (Vallois, et al., 1996).
A pinta preta do tomateiro é causada pelo fungo Alternaria solani Sorauer e
ocorre em todas as regiões onde o tomateiro é cultivado. Sendo uma doença muito
importante, principalmente em condições de temperatura e umidade elevadas, onde sua
incidência é maior, podendo ocorrer consideráveis perdas na produção.
Diversos métodos de controle têm sido utilizados no combate a esta doença do
tomateiro, dentre eles, como opção viável e econômica para o produtor surge a
utilização de variedades resistentes.
Nesse contexto, o presente estudo teve como objetivo avaliar 32 subamostras de
tomateiro do BGH - UFV e duas testemunhas 'Débora Plus‟, e 'Santa Clara' quanto aos
níveis de resistência ao fungo Alternaria solani.
Material e Métodos
O experimento foi conduzido no setor de Olericultura do Departamento de
Fitotecnia da Universidade Federal de Viçosa, entre os meses de outubro de 2009 e
janeiro de 2010, sendo o transplantio realizado no dia 27 de novembro de 2009.
O delineamento utilizado foi em blocos casualizados, com três repetições e cinco
plantas por parcela, sendo três as plantas úteis. O experimento foi semeado em bandejas
de 128 células contendo substrato comercial e o transplantio foi realizado quando as
plantas possuíam quatro folhas definitivas. Os tratos culturais foram realizados de
acordo com o recomendado para a cultura.
Para a produção do inóculo, cultivou-se os isolados em meio V 8 CaCO3 ágar
(175 ml de suco V8, 3 g CaCO3, 20 g ágar, 1 L de água) a 25 ±2 oC, sob fotoperíodo de
12 h.
No quinto dia de incubação, adicionou-se água destilada a cada placa e com um
pincel, retirou-se o micélio. As placas foram mantidas, sem tampa, a 22 ±2 oC, sob 6
lâmpadas de luz negra 40 W (Sylvania® - 1,20 m de comprimento, distanciadas de 3 cm
entre si e posicionadas a 30 cm de altura das placas) por 24 h, em fotoperíodo de 16 h
de escuro e 8 h de luz.
Após esse período, os conídios foram removidos com a adição de 10 ml de água
destilada em cada placa seguida de raspagem superficial da colônia com escova de
cerdas macias. Filtrou-se a suspensão em dupla camada de gaze esterilizada a qual foi
recolhida em um béquer e a concentração ajustada para 2x103. Para cada isolado, foi
preparada uma suspensão de conídios com volumes iguais de cada isolado, assim, como
inóculo, foi utilizada uma mistura de conídios provenientes de isolados de Alternaria
solani, patogênicos a tomate. No período da tarde, às 16:00 horas, realizou-se a
inoculação com o auxílio de um pulverizador costal manual, pulverizando todas as
plantas.
Três dias após a inoculação foram realizadas as avaliações para resistência à
Alternaria solani, em intervalos regulares de três dias, totalizando seis avaliações.
320
Para as avaliações de severidade da requeima, os avaliadores foram submetidos
a um treinamento mediante o uso do programa Severity PRO (Nutter, 1997), visando
corrigir distorções inerentes à estimativa visual.
No campo, os avaliadores deram notas para cada planta, estimando a
porcentagem do tecido vegetal afetado pela doença, ou seja, a porcentagem de
severidade da doença.
Os dados de severidade foram transformados para AACPD e submetidos à
análise de variância e posterior comparação entre as médias por meio do teste de Scott
Knott, a 5% de probabilidade.
Resultados e Discussão
A análise de variância demonstra haver variabilidade genética para a
característica avaliada. Por meio do teste de agrupamento de Scott-Knott, a 5% de
probabilidade, foi possível a detecção de dois grupos distintos (Tabela 1).
Pelos resultados da AACPD obtidos quanto à pinta preta, os genótipos BGH2153, BGH-2177, BGH-2178, BGH-2180, BGH-2183, BGH-2192, BGH-2201, BGH2209, BGH-2212 com média igual a 5,8667, apresentaram as menores áreas, se
destacando em relação à menor suscetibilidade a incidência da pinta preta, e
despontando como potenciais fonte de resistência a este patógeno.
Em comparação com o padrão de suscetibilidade das cultivares Santa Clara e
Débora Plus que apresentaram média para AACPD igual a 9,8222, as demais
subamostras não diferiram de forma significativa.
A área abaixo da curva de progresso de doença (AACPD) possibilitou avaliar as
subamostras de tomateiros do BGH - UFV levando a conclusões com relação à
suscetibilidade e/ou possíveis fontes resistência dos genótipos a Alternaria solani
Observa-se que os resultados indicam que algumas subamostras do Banco de
Germoplasma de Hortaliças da UFV são promissoras quanto a resistência à A. solani
por divergirem geneticamente das testemunhas avaliadas, podendo desta forma ser
utilizadas em programa de melhoramento genético do tomateiro, uma vez que foram
menos suscetíveis a incidência da doença em questão.
Conclusões
As subamostras BGH-2153, BGH-2177, BGH-2178, BGH-2180, BGH-2183,
BGH-2192, BGH-2201, BGH-2209, BGH-2212 por apresentarem maior tolerância a
pinta preta do tomateiro, podem ser possíveis fontes de genes para futuros programas de
melhoramento.
A partir da caracterização agronômica as informações disponíveis auxiliam na
escolha de subamostras promissoras, pois se pode associar características agronômicas
as de tolerância a doenças.
Estes resultados comprovam a importância dos recursos genéticos de tomateiro
armazenados no BGH-UFV como repositórios de genes de resistência, assim, devem ser
realizados outros trabalhos de caracterização fitopatológica para a confirmação destes.
321
Tabela 1. Médias obtidas de AACPD para subamostras de tomateiro do BGH - UFV,
avaliados quanto à resistência a Alternaria solani. Viçosa-MG, 2009/2010
SUBAMOSTRA
2212
2209
2178
2201
2183
2180
2153
2177
2192
2175
2226
2194
CV(%)
Média
AACPD
4.6223
4.7337
5.4447
5.4777
5.7223
6.0333
6.6443
6.8887
7.2333
7.6333
7.6667
7.9557
SUBAMOSTRA
B
B
B
B
B
B
B
B
B
A
A
A
2188
2186
2218
2198
2179
2184
2181
2182
2231
2227
2206
2220
20.35
AACPD
8.1667
8.2890
8.3000
8.3220
8.3443
8.3667
8.4997
8.5113
8.5777
8.6557
8.7557
8.8223
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
SUBAMOSTRA
AACPD
2233
2197
2187
2165
DÉBORA
2222
STA CLARA
2230
2189
2157
2196
8.9000
9.1667
9.3670
9.4667
9.6887
9.7890
9.9557
9.9780
10.2777
10.4557
12.5447
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
8.21
Grupos de médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si à 5% de significância, pelo teste de
Scott-Knott.
Agradecimentos
A FAPEMIG e ao CNPq, pela concessão dos recursos financeiros e à Universidade
Federal de Viçosa.
Literatura Citada
CASTRO, M. E. A. Resistência do tomateiro Lycopersicon spp à “pinta preta”
Alternaria solani (Ellis & Martin) Jones & Grout. Viçosa: UFV, 1997. 118p. Tese de
doutorado.
MORALES, E.A.V.; VALOIS, A.C.C.; NASS, L.L. Recursos genéticos vegetables.
Brasília: SPI, 1997. 79p.
PAULA & OLIVEIRA. 2003. Resistência de tomateiro (Lycopersicon esculentum) ao
patógeno Alternaria solani. Pesquisa Agropecuária Tropical, 33 (2): 89-95.
SILVA, D.J.H.; MOURA, M.O.; CASALI, V.W.D. Recursos genéticos do banco de
germoplasma de hortaliças da UFV: histórico e expedições de coleta. Horticultura
Brasileira, Brasília, v.19, n.2, p.108-114, 2001.
VALOIS, A.C.C. Genética aplicada a recursos fitogenéticos. Brasília: Editora UNEB,
1998. 3l8p. mimeografada.
VALOIS, A.C.C. SALOMÃO, A.N.; ALLEM, A.C. Glossário de recursos genéticos
vegetais. Brasília: SPI, 1996, 62p.
322
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
7.6. Influência dos sistemas de preparo do solo na condutividade hidráulica de um
argissolo vermelho-amarelo
Luiz Rogério Martins Rezende1, Luciano Átila de Melo1, Rafael Macedo de Oliveira1,
Genelício Crusoé Rocha2, Hugo Alberto Ruiz2
1
Estudante de graduação em Agronomia/Universidade Federal de Viçosa
Professor do Departamento de Solos/Universidade Federal de Viçosa
2
Resumo: Os diferentes sistemas de preparo do solo provocam alterações no fluxo de
água, que são resultados das alterações das propriedades físicas do solo. Este trabalho
teve como objetivo avaliar os efeitos dos sistemas de preparo do solo sobre a
condutividade hidráulica de um Argissolo Vermelho Amarelo. Utilizaram-se amostras
dos dois tratamentos Plantio direto (P) e convencional (PC) a duas profundidades (0-5
cm e 20-25 cm). O delineamento utilizado foi de blocos casualizados, com três
repetições. Foram determinados o carbono orgânico e alguns parâmetros físicos, e as
médias foram comparadas pelo teste de Tukey ao nível de 5%. Os diferentes sistemas de
manejo provocaram variações nas propriedades físicas e biológicas do solo. O maior valor de
condutividade hidráulica foi encontrado no PDB (plantio direto, horizonte B). O PDA
(plantio direto, horizonte A) e o PCA (plantio convencional, horizonte A) não diferiram
estatisticamente. No PCB (plantio convencional, horizonte B) a condutividade hidráulica foi
nula. Em relação à porosidade, observou-se maior valor de porosidade total e de
macroporosidade no PCA, enquanto que o maior valor de microporosidade foi
encontrado no PCB.
Palavras–chave: Plantio direto, plantio convencional, carbono, condutividade
hidráulica
Influence of soil preparation systems in the hydraulic conductivity of an ultisol
xerult
Abstract: The different soil preparation systems cause changes in the water flow, which
are the result of changes in soil physical properties. This study aimed to evaluate of soil
preparation systems on soil hydraulic conductivity of an Ultisol Xerult. Samples of the
two treatments (no-Tillage (PD) and conventional tillage (PC)) at two depths (0-5 cm
and 20-25 cm) were used. The design was a randomized block with three replications.
Organic carbon and some physical parameters were determined, and averages were
compared by Tukey test at 5%. The different management practices have caused
changes in physical and biological properties of the soil. The greatest value of hydraulic
conductivity was found in PDB (tillage, B horizon). The PDA (tillage, A horizon) and
PCA (conventional tillage, A horizon) were not different by Tukey test. On PCB
(conventional tillage, B horizon) the hydraulic conductivity was zero. Regarding
porosity, we observed a higher value of total porosity and macroporosity in the PCA,
whereas the highest amount of microporosity was found on the PCB.
Key Words: tillage, conventional tillage, carbon, hydraulic conductivity
323
Introdução
O uso intensivo de técnicas convencionais de preparo do solo para fins agrícolas
tem gerado grandes problemas ambientais comprometendo características edáficas. Esta
prática tem contribuído para o aumento da degradação do solo, devido à perda da
matéria orgânica, compactação do solo e intenso processo erosivo, o que reflete na
dificuldade de infiltração da água, penetração e crescimento de raízes.
Uma alternativa para uma produção agrícola mais sustentável, muito utilizada
atualmente, seria a adoção sistema de plantio direto que se baseia na manutenção da
cobertura morta, ou simplesmente “palhada”, na superfície do solo, aumentando a
atividade biológica, menor revolvimento do solo e melhor uso dos recursos naturais,
tendo como resultado o da produtividade e diminuição dos custos.
Os sistemas de preparo do solo têm relação direta com o fluxo de água e sua taxa
de infiltração, por isso é de fundamental importância o conhecimento das propriedades
físico-hídricas do solo para entender o processo dinâmico dos movimentos de água e de
solutos no solo.
As mobilizações intensivas do solo no sistema convencional (PC), sob
condições inadequadas de umidade e de cobertura vegetal, modificam adversamente a
estrutura do solo, afetando basicamente as relações entre as fases sólida, líquida e
gasosa. Isto subdivide a camada arável em uma parte que é superficial e pulverizada em
função da descompactação mecânica da camada mobilizada, e outra que é
subsuperficial, sendo que a carga aplicada tem efeito cumulativo em subsuperfície ao
longo do tempo. Por outro lado, o sistema de plantio direto (PD) é eficaz na proteção da
superfície do solo contra agentes erosivos, mas como não há revolvimento do solo pode
ocorrer formação de camadas compactadas pela distribuição das pressões exercidas na
superfície do solo pelas máquinas e implementos (CRUZ et al., 2003). Essa
compactação é considerada o principal aspecto negativo do sistema de PD e tem
motivado alguns agricultores, ainda que temporariamente, a retornar ao preparo
convencional do solo, visando corrigir essa limitação (TORMENA; ROLOFF, 1996).
O objetivo deste trabalho foi avaliar a condutividade hidráulica em solo sob
Sistema de Plantio Direto (PD) e Plantio Convencional (PC), em duas camadas (0 – 5
cm, horizonte A, e 20 - 25 cm, horizonte B), em um Argissolo Vermelho-amarelo.
Material e Métodos
O trabalho foi realizado no ano de 2009 em um experimento que foi iniciado em
1985 na Estação Experimental de Coimbra (latitude: 20°45‟S; longitude: 45°51‟W e
altitude: 650 m), pertencente à Universidade Federal de Viçosa (UFV), Minas Gerais,
em solo do tipo Argissolo Vermelho-Amarelo, fase terraço, textura argilosa com
declividade em torno de 5%.
O delineamento experimental foi de blocos ao acaso, com dois tratamentos e três
repetições, totalizando 2 parcelas experimentais. Cada parcela foi formada por 15 linhas
de plantio com 10 m de comprimento, as linhas de plantio possuíam distância uma da
outra de 0,8 m, sendo que em cada parcela foram desprezados 2,5 m das bordas.
Os tratamentos constituíram-se dos seguintes sistemas de manejo: 1. Plantio
direto (PD): utilizou-se semeadora adubadora com tração motorizada. 2. Arado de
discos + grade pesada (AD + GP): utilizou-se o arado de discos reversíveis, com tração
324
motorizada, com três discos em uma só aração e profundidade de corte de 25 cm. A
seguir, efetuaram-se duas gradagens com grade pesada ou grade aradora de 28 discos.
As amostras de solo foram coletadas em abril de 2009, após a colheita do milho.
Foram realizadas amostragens em duas camadas diferentes: 0-5 (horizonte A) e 20-25
cm (horizonte B). Para a determinação da densidade de partículas e carbono orgânico do
solo foi aberta uma trincheira em cada parcela, de onde foram retiradas três amostras
para cada uma das duas camadas. As amostras para determinação da condutividade
hidráulica do solo saturado, macro, micro e porosidade total e densidade do solo, foram
retiradas com a utilização de amostrador Uhland, com auxílio de anéis volumétricos de
aço tipo Kopecky, retirando-se três amostras para cada uma das camadas. A densidade
de partículas foi determinada pelo método do balão volumétrico, o carbono orgânico foi
pelo método Walkley-Black, a densidade do solo pelo método do anel volumétrico
(EMBRAPA, 1997), a porosidade total, a macro e a microporosidade foram
determinadas pelo método da mesa de tensão (EMBRAPA, 1997), onde o peso
correspondente ao volume de água, retirado sob pressão negativa de 60 cm de coluna
d‟água constituiu a quantidade de macroporos e quantidade de microporos foi
determinada por meio da secagem na estufa, a 110 oC, e finalmente a condutividade
hidráulica do solo saturado foi determinada pelo método de permeâmetro de coluna
vertical e carga constante (Ferreira, 2002, EMBRAPA, 1997).
Na análise estatística, os sistemas de preparo foram considerados como sendo as
parcelas, e as profundidades de amostragem, como subparcelas, constituindo um
delineamento em blocos completos casualizados com parcelas subdivididas. As médias
obtidas nas análises químicas e físicas do solo foram comparadas pelo teste de Tukey, a
5 % de probabilidade.
Resultados e Discussão
A dinâmica da água no solo é dependente de suas características intrínsecas
(textura, porosidade, profundidade do lençol freático, tipo de argilas, matéria orgânica),
de fatores externos (cobertura do solo e densidade de plantas, precipitação, temperatura)
e da relação solo-planta-atmosfera.
Os diferentes sistemas de manejo do solo provocaram variações nas propriedades
físicas e biológicas do solo, principalmente na movimentação da água, quantificada neste
trabalho pela análise de condutividade hidráulica, ao longo do perfil, quando comparado os
dois sistemas de manejo e as duas profundidades estudadas.
Os valores de condutividade hidráulica foram relativamente baixos pelo fato de se
tratar de um Argissolo com 50% de argila, este tipo de solo caracteriza-se por apresentar
maior quantidade de microporos, o que dificulta o fluxo contínuo de água além da maior
interação solo-água devido as cargas presentes nos argilominerais.
O maior valor de condutividade hidráulica foi encontrado no PDB (plantio direto
horizonte B) (Quadro 1), o que pode ser explicado pela possível ocorrência da continuidade
dos poros devido aos canais formados pelo apodrecimento de raízes e pela ação
biológica de organismos da micro, meso e macrofauna no horizonte A, comprovada pela
maior quantidade de carbono orgânico (Quadro 2) apresentada no PDA (plantio direto,
horizonte A), além da menor perda de água por evaporação, em função da presença de
cobertura vegetal e do maior tempo de oportunidade de infiltração, por ocorrência da maior
rugosidade na superfície do solo, uma vez que não há formação de crostas,
proporcionando uma velocidade de infiltração mais uniforme durante maior tempo.
325
Além disso, os resíduos atuam na conservação da água pela redução das taxas de
evaporação decorrentes da reflexão de energia radiante.
O PDA e o PCA (plantio convencional, horizonte A) não diferiram estatisticamente
(Quadro 1), possivelmente pelo fato do PDA apresentar maior quantidade de matéria
orgânica, macro e microorganismos que auxiliam na formação de macroporos, que equiparase com o efeito do revolvimento do solo e conseqüentemente uma maior pulverização com a
utilização do arado de discos.
No PCB (plantio convencional, horizonte B) a condutividade hidráulica foi nula
(Quadro 1), devido provavelmente ao contínuo revolvimento do solo a uma mesma
profundidade, fazendo com que ocorra uma descontinuidade dos poros pela presença de
uma camada compactada, comprovada pelo alto valor de densidade do solo (quadro 2),
abaixo da camada mobilizada pelo arado, onde a macroporosidade (Quadro 2) e a
infiltração de água foram drasticamente reduzidas, enquanto que no plantio direto ela
apresenta uma maior continuidade de poros que facilita a movimentação tridimensional da
água (Logsdon et al., 1990; Khakural et al., 1992).
Quadro 1 - Condutividade hidráulica do solo saturado (cm s-1) em Plantio Direto e
Convencional, em dois horizontes pedológicos
Tratamento
Condutividade
hidráulica
PDA
PDB
PCA
PCB
3,65x10-05 b
6,39x10-04 a
6,39x10-05 b
oc
-1
(cm s )
PDA, PDB, PCA e PCB correspondem, respectivamente, a plantio direto, horizonte A; plantio direto,
horizonte B; plantio covencional, horizonte A; plantio convencional, horizonte B. Médias seguidas de
mesma letra na mesma linha, não diferem pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade.
Uma das propriedades físicas mais estudadas e monitoradas é a densidade do
solo. No trabalho em questão, a variação nos valores da densidade do solo, em sua
maior parte, é proveniente das diferenças no volume total de poros, de modo que
densidade e porosidade estão muito relacionadas e por isso são apresentadas de forma
conjunta. Geralmente, solos cultivados com preparo convencional perdem matéria
orgânica (Quadro 2) e sofrem aumento de densidade abaixo da camada de corte dos
implementos de preparo, o que foi observado no tratamento PDB. Já no tratamento PD
tem sido constatada uma leve compactação na camada mais superficial até 10 cm,
principalmente em solos argilosos, devido ao tráfego de máquinas e ao acomodamento
natural do solo, dada a ausência de revolvimento. Em contrapartida este aumento de
densidade é balanceado pelo maior teor de matéria orgânica devido à manutenção da
palhada presente na camada superficial que é responsável pela formação de bioporos
que contribui para a diminuição do valor deste atributo físico.
326
Quadro 2 - Teor de Carbono Orgânico, Densidade do Solo, Densidade de Partículas,
Porosidade Total, macro e microporosidade para Plantio Direto e Convencional, em dois
horizontes pedológicos
Manejo do Solo
1
Carbono Orgânico (dag kg- )
Densidade do solo (g cm-3)
-3
Densidade de Partículas (g cm )
3
-3
Porosidade total (dm dm )
PDA
PDB
PCA
PCB
1.79 a
1.17 b
1.19 b
1.14 b
1.29 b
1.26 b
1.15 c
1.39 a
2.64 a
2.62 a
2.58 a
2.59 a
49.04 b
51.96 b
55.50 a
43.32 c
3
-3
33.15 b
34.80 b
39.87 a
23.94 c
3
-3
15.89 b
17.16 b
15.63 b
19.38 a
Macroporosidade (dm dm )
Microporosidade (dm dm )
PDA, PDB, PCA e PCB correspondem, respectivamente, a plantio direto, horizonte A; plantio direto,
horizonte B; plantio covencional, horizonte A; plantio convencional, horizonte B.
Médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si na mesma linha (teste de Tukey ao nível de 5 % de
probabilidade.
Em geral a porosidade, da mesma forma que a densidade, é bastante alterada
pelo sistema de preparo de solo, para Eltz, et al (1989), diferentes implementos e
condições de umidade do solo no preparo, tipos de solo e de clima acarretam resultados
diferentes de porosidade. Foi observado maior valor de porosidade (Quadro 2) total e de
macroporosidade no PCA devido à ação pulverizadora do arado e menor valor de
macroporosidade no PCB devido a formação da camada compactada, como foi dito
anteriormente, ao qual teve relação direta com o aumento da microporosidade nesta
subsuperfície. Apesar dos valores de porosidade total e macroporosidade do PDA e
PDB apresentarem valores relativamente menores do que os encontrados no PCA, esses
valores não diferiram estatisticamente, o que mostra a maior sustentabilidade em
relação ao fluxo de água no sistema de plantio direto.
Conclusões
As diferentes formas de uso e manejo do solo promoveram alterações no movimento
da água no solo e nos atributos físicos do solo. O Sistema de Plantio Direto, horizonte B,
apresentou maior condutividade hidráulica do que os demais tratamentos. Os tratamentos
Sistema de Plantio Direto, horizonte A e Plantio Convencional, também horizonte A, não
diferiram estatisticamente. O tratamento Plantio Convencional, horizonte B, apresentou
valores de condutividade hidráulica nula, provavelmente devido à ocorrência da
descontinuidade de poros. O tratamento Plantio Convencional, horizonte A apresentou maior
valor de porosidade total e macroporosidade, entretanto apesar dos tratamentos Plantio Direto,
horizontes A e B, apresentarem valores relativamente menores de macroporosidade, estes
valores não diferiram estatisticamente, o que mostra a maior sustentabilidade do sistema de
plantio direto na palha.
327
Literatura Citada
ARAÚJO, M. A.; TORMENA, C. A.; SILVA, A. P. Propriedades físicas de um
Latossolo Vermelho distrófico cultivado e sob mata. Revista Brasileira de Ciências do
Solo, Campinas, v.28, n.2, p.337-345, 2004a .
ARZENO, J. L. Avaliação física de diferentes manejos de solo em um Latossolo
Roxo – distrófico. 1990. Tese (Doutorado) – Escola Superior de Agronomia Luiz de
Queiroz/USP, Piracicaba.
SCHAEFER, C.E.G.R.; SOUZA, C.M.; VALLEJOS M., F.J.; VIANA, J.H.M.;
GALVÃO, J.C.C. & RIBEIRO, L.M. Características da porosidade de um Argissolo
Vermelho- Amarelo submetido a diferentes sistemas de preparo de solo. R. Bras. Ci.
Solo, 25:765-769, 2001.
VALLEJOS, M. F. J. Influência de sistemas de preparo do solo em algumas
propriedades químicas e físicas de um Podzólico Vermelho-Amarelo câmbico
argiloso, e na cultura do trigo (Triticum aestivum L.). 1998. Dissertação (Mestrado) –
Universidade Federal de Viçosa, Viçosa.
328
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
7.7. Alterações físicas do solo em um sistema silvipastoril com eucalipto e
Brachiaria decumbens
Fábio L. Cosma1, Séphora N. da Silva2, Bruno Unterleitner3, Raphael P. Araújo4,
Everton T. Ribeiro5, João Carlos de C. Almeida6
1
Graduando em Agronomia na UFRRJ.
Graduando em Agronomia na UFRRJ.
3
Graduando em Agronomia na UFRRJ.
4
Mestrando em Zootecnia na UENF.
5
Mestrando em Zootecnia na UFRRJ.
6
Prof. Doutor, DNAP/IZ/UFRRJ, Seropédica-RJ. E-mail:[email protected]
2
Resumo: No presente estudo foi proposta a avaliação das alterações físicas do solo em
um sistema silvipastoril com eucalipto e braquiaria. No que se refere aos elementos
indicadores de qualidade do solo, tais como, carbono orgânico, densidade do solo e
diâmetro médio ponderado dos agregados devido à inclusão do eucalipto sobre a
braquiaria. O objetivo foi verificar as alterações que ocorrem no solo em função da
implementação de um sistema silvipastoril e gerar de forma simples e de fácil
aplicabilidade, informações sobre o melhor espaçamento que se adequaria ao sistema de
forma a maximizar a produtividade do sistema, visando aumentar o desempenho das
pastagens e, conseqüentemente, incrementar a produtividade animal por área sem que
haja custo elevado, principalmente quanto a implantação desta tecnologia, para o
pecuarista.
Palavras–chave: braquiaria, eucalipto, sistema silvipastoril
Physical changes of soil in a silvopastoral system with eucalyptus and Brachiaria
decumbens
Abstract: In the present study was proposed assessment of the physical changes of soil
in a silvopastoral system with eucalyptus and pasture. With regard to the factors of soil
quality indicators, such as organic carbon, soil bulk density and average diameter of
aggregates due to the inclusion of eucalyptus on Brachiaria. The objective was to assess
the changes occurring in soil depending on the implementation of a silvopastoral system
and generate a simple and easily applicable, information on the best spacing that would
fit the system to maximize the productivity of the system to increase theperformance of
pastures and consequently increase the productivity per animal area without the high
cost, especially regarding the deployment of this technology to the farmer.
Key Words: Brachiaria, eucalyptus, silvopastoral system
Introdução
Em comparação com os sistemas convencionais de uso da terra, o sistema
silvipastoril tem como objetivo principal permitir maior diversidade e sustentabilidade.
Do ponto de vista ecológico, a coexistência de mais de uma espécie em uma mesma
área pode ser justificada em termos da ecologia de comunidades, desde que as espécies
envolvidas ocupem nichos diferentes, de tal forma que seja mínimo o nível de
329
interferência (Budowski, 1991) Além dos vários produtos que podem ser obtidos, as
florestas de eucalipto oferecem múltiplos usos de acordo com SILVA e SOUZA (1994),
tendo em vista as suas funções ambientais dentre as quais se podem destacar: melhoria
da qualidade do ar; diminuição do aquecimento global, pelo seqüestro de gás carbônico;
controle do efeito erosivo do vento. No presente estudo foi proposta a avaliação das
alterações físicas do solo em um sistema silvipastoril com eucalipto e braquiaria. No
que se refere aos elementos indicadores de qualidade do solo, tais como, carbono
orgânico, densidade do solo e diâmetro médio ponderado dos agregados devido à
inclusão do eucalipto sobre a braquiaria.
Material e Métodos
O presente estudo foi conduzido no município de Seropédica, na região da
baixada fluminense do estado do Rio de Janeiro, situado a uma latitude de 22o45`S,
longitude 43o41‟W, com uma altitude média de 33 metros. A implantação do
experimento ocorreu em janeiro de 2008. Antes da implantação do experimento foi
realizada análise química do solo. De acordo com os resultados da análise do solo foram
realizadas a calagem e adubações necessárias. A adubação de plantio foi efetuada nas
linhas. Foram implantados bosques de Eucaliptus urophylla na área, nos espaçamentos
de 3X2, 6X4 e 10x4m. Consorciada com a espécie forrageira Brachiaria decumbens.
Para a caracterização física (densidade do solo, Diâmetro médio ponderado e carbono
orgânico do solo) foram retiradas amostras nas profundidades de 0-10, 10-20, cm. Em
seguida as amostras foram conduzidas para o laboratório de analises de solo do Instituto
de Agronomia da UFRRJ. Onde foram submetidas a peneiramento por via úmida,
segundo EMBRAPA (1997).
Resultados e Discussão
Pela análise dos dados abaixos, observa-se que não a variação estatística entre os
valores de DMP, Ds Cog. Apesar de não ser significativo observa-se uma me mor
densidade do solo quando comparado os tratamentos com o controle, evidenciando uma
ligeira melhoria na aeração do solo e menor resistência a penetração das raízes.Costa et
al. (2003) relatam que a relação entre o manejo e a qualidade do solo pode ser avaliada
estudando os efeitos sobre as suas propriedades físicas, químicas e biológicas. e que,
geralmente as práticas de manejo têm maior impacto sobre as propriedades físicas de
solos arenosos do que de solos argilosos. Os autores ainda complementam que, além da
classe de solo, as condições climáticas, os sistemas de cultivos utilizados, o tempo de
uso dos diferentes sistemas de manejo e a condição de umidade do solo em que são
realizadas as operações de campo, determinam a magnitude dos efeitos do manejo sobre
as propriedades físicas do solo.
Desde que adotado e manejado de modo correto, os sistemas integrados apresenta
vantagens sobres sistemas que revolvem o solo. Dentre as variáveis que são afetadas em
função do manejo pode-se citar a estrutura do solo. A estrutura do solo pode ser
definida como o arranjo das partículas minerais, formando os agregados do solo
(Azevedo e Dalmolin, 2004) Os agregados também são denominados de torrões, pedras
ou unidades estruturais, apresentando diferenças quanto à forma, resistência e tamanho.
Características importantes, tais como fluxo de água no perfil, aeração e densidade do
solo, são influenciadas pela estrutura (Azevedo e Dalmolin, 2004).
330
Tabela 1. Resultado da análise da densidade do solo, diâmetro médio ponderado e carbono orgânico, da
área experimental apôs dois anos de implantação do experimento
Dens(g/cm3)
Área
Prof(cm)
DMP (mm)
Corg (%)
Esp(m)
Tratam
Contro
Tratam
Contro
Tratam
Contro
Várzea
0 - 10
3x2
1,33Aa
0,98 Aa
4,61Aa
4,23 Aa
2,23 Aa
2,27 A
Várzea
0 - 10
6x4
1,14Aa
-0,98 Aa
4,06 Aa
4,23 Aa
2,11 Aa
2,27 A
Várzea
0 - 10
10 x 4
1,26Aa
0,98 Aa
4,49 Aa
4,23 Aa
2,42 Aa
2,27 A
Conclusões
Como o experimento é de longa duração novas observações serão realizadas
somente em fevereiro de 2011, momento em que teremos condições de avaliar o efeito
dos tratamentos sobre as condições físicas do solo. Segundo a Embrapa 2006 a variação
física e química do solo nestes sistemas melhora as propriedades do solo ao longo do
tempo, visto que tais variações só são perceptíveis ao longo de três a quatro anos de
observação.
Agradecimentos
FAPERJ, CNPq.
Literatura Citada
AZEVEDO, A.C.; DALMOLIN, R.S.D. Solo e ambiente: uma introdução. Santa
Maria: Editora Pallotti, 2004. 100p.
COSTA, F.S.; ALBUQUERQUE, J.A.; BAYER, C. et al. Propriedades fisica de um
latossolo Bruno afetadas pelos sistemas plantio direto e prepara convencional. Revista
Brasileira de Ciência do Solo, v.27, n.3, p.527-535, 2003.
EMBRAPA - Empresa Brasileira de pesquisa agropecuária. Tecnologias de produção
de soja - Paraná-2007. Londrina: Embrapa soja, 2006. 217p. (Sistemas de produção
10).
331
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
7.8. Importância da diversidade vegetal no manejo de lepidópteros desfolhadores1
Tiago Georg Pikart2, Teresinha Vinha Zanuncio3, Gabriely Köerich Souza2, Janaina
Canaan Rezende4, Lorena Carla dos Reis5, José Cola Zanuncio6
1
Projeto de pesquisa.
Mestrando do Programa de Pós-graduação em Entomologia, UFV.
3
Sociedade de Investigações Florestais, UFV.
4
Estudante de graduação em Agronomia, UFV.
5
Estudante de graduação em Ciências Biológicas, UFV.
6
Professor do Departamento de Biologia Animal, UFV.
2
Resumo: Eucalyptus cloeziana é plantado para fins energéticos no Brasil, porém é
muito suscetível a lagartas desfolhadoras. A influência de faixas de vegetação nativa
sobre populações de Eupseudosoma aberrans (Arctiidae) foi estudada em dois plantios
de E. cloeziana, um com e outro sem faixas de vegetação nativa. As coletas foram feitas
com armadilhas luminosas em cinco pontos: 1- interior de uma área de cerrado; 2borda entre o cerrado e o eucaliptal; 3- plantio de eucalipto a 250 metros do cerrado; 4no centro de uma faixa de cerrado no sistema com faixas e na transição
eucalipto/eucalipto, no sistema sem faixas; e o 5- no plantio de eucalipto a 750 metros
do cerrado. Quinhentos e cinquenta e quatro indivíduos de E. aberrans foram coletados,
sendo 418 no sistema com faixas e 136 no outro sistema. O maior número de indivíduos
dessa espécie foi coletado a partir do mês de março no sistema com faixas e a partir de
fevereiro no sistema sem faixas. Eupseudosoma aberrans foi constante em ambos os
sistemas e apresentou freqüência de 2,47 e 2,61% nos sistemas com e sem faixas,
respectivamente. Plantios sem faixas de vegetação nativa intercaladas aos talhões de
eucalipto apresentam maior número de indivíduos de E. aberrans que naqueles com
essas faixas. Por isto, a implantação dessas faixas é importante para a redução
populacional dessa praga em plantios de eucalipto.
Palavras-chave: Eucalyptus cloeziana, Eupseudosoma aberrans, mata nativa
Importance of plant diversity in the management of lepidopteran defoliators
Abstract: Eucalyptus cloeziana is grown for energy purposes in Brazil, but is
susceptible to defoliating caterpillars. This work studied the influence of strips of native
vegetation on populations of Eupseudosoma aberrans (Arctiidae), in two plantations of
E. cloeziana, one with and one without strips of native vegetation. Sampling with light
traps were made at five points: 1- inside a savanna area; 2- in the edge between the
savanna and eucalyptus area; 3- in the eucalyptus area 250 meters from the savanna; 4in the center of a savanna strip in the system with strips and in the transition
eucalyptus/eucalyptus, in the system without strips; and 5- in the eucalyptus area at 750
meters from the savanna area. A total of 554 individuals of E. aberrans was collected,
being 418 in the system with strips and 136 in the other one. The highest number of
individuals of this species was collected from March in the system with strips and from
February in the other one. Eupseudosoma aberrans was constant in both systems and
showed frequency of 2.47 and 2.61% in those with and without strips, respectively.
Plantations without strips of native vegetation interspersed at stands of eucalyptus
present highest number of individuals of E. aberrans than those with these strips.
332
Therefore, the use of these strips is important for population reduction of this pest in
eucalyptus plantations.
Key Words: Eucalyptus cloeziana, Eupseudosoma aberrans, native forest
Introdução
O eucalipto tem sido a essência florestal mais plantada no Brasil e o Eucalyptus
cloeziana se destaca como uma das mais importantes entre as espécies plantadas para
fins energéticos, principalmente, pela sua boa densidade e altos teores de carbono fixo.
Entretanto, esta espécie é muito suscetível a ataques de lagartas desfolhadoras e, por
isto, apresenta boas condições para estudos populacionais desses insetos.
A expansão do eucalipto em novas áreas proporciona a adaptação de insetos
nativos a essa cultura. Isto se deve às limitações biológicas de monoculturas florestais, o
que favorece pragas, em virtude da baixa diversidade ecológica, grande disponibilidade
de alimentos e baixa ocorrência de inimigos naturais (ALMEIDA et al., 1987). A fauna
de uma árvore pode ser influenciada por fatores como a estrutura morfológica e a
composição química das folhas, arquitetura da planta, relações espécies/área, reservas
de espécies nativas vizinhas e padrão de intercalação dessas reservas (MOORE et al.,
1991). Por isto, o estabelecimento e a manutenção dessas reservas são fundamentais
para o controle natural dos insetos fitófagos nas florestas implantadas, especialmente
em regiões de cerrado onde o sub-bosque, um fator importante no equilíbrio das
populações de insetos é pouco desenvolvido.
Assim, o objetivo deste trabalho foi avaliar a influência de faixas de vegetação
nativa (cerrado), intercalados em plantios de E. cloeziana, sobre a população de
Eupseudosoma aberrans (Arctiidae).
Material e Métodos
O experimento foi conduzido em duas localidades, conforme o sistema avaliado:
a) Sistema com faixas
Plantio de E. cloeziana, espaçamento 3 x 2,5 m, com sub-bosque ralo, divisas com
cerrado ou outros talhões de eucalipto. Neste sistema de plantio, a cada 500 metros de
reflorestamento são mantidas faixas de cerrado de 25 metros de largura, ligadas entre si
e a reservas ou ilhas de veegtação menores.
Os Lepidoptera foram coletados com cinco armadilhas localizadas nos seguintes
pontos: ponto 1- no interior de uma área de cerrado a 100 metros de sua borda; 2- na
zona de contato entre o cerrado e o eucaliptal; 3- no interior do eucaliptal a 250 metros
da borda do cerrado; 4- no centro de uma faixa de cerrado e, portanto, a
aproximadamente 500 metros da borda do cerrado; e 5- no interior do eucaliptal a 750
metros da borda. Este último ponto estava localizado a 450 metros de outra reserva fora
da área da empresa. A distância entre os dois tipos de armadilha em cada ponto de
coleta foi de 250 metros.
b) Sistema sem faixas
Plantio de E. cloeziana, espaçamento 3 x 2,5 metros, sub-bosque ralo, com
plantios de eucalipto nas divisas. A localização dos pontos de coleta em relação à borda
333
foi igual àquela do sistema com faixas. A única diferença foi que, no sistema sem
faixas, o ponto quatro localizou-se na zona de contato entre dois talhões de eucalipto.
As amostragens foram realizadas a cada 15 dias com armadilhas luminosas a dois
metros de altura, ligadas entre 18 e 19 horas e desligadas no dia seguinte entre 7 e 8
horas, quando o material coletado foi recolhido.
A análise faunística das comunidades foi feita pelos índices de freqüência,
constância e diversidade, calculados separadamente e comparados entre si. Os índices
de freqüência e constância foram calculados considerando-se todas as espécies pragas
primárias e secundárias, utilizando-se as fórmulas:
N
x 100, em que IF = índice de freqüência; N= número
T
total de indivíduos de cada espécie; e, T= número total de indivíduos de todas as
espécies.
- índice de freqüência: IF 
P
x100 , em que C= índice de constância; P= número de
N
coletas em que a espécie foi capturada; e, N= número total de coletas.
- índice de constância: C 
As espécies coletadas, incluindo E. aberrans, foram agrupadas, de acordo com o
índice de freqüência, nas seguintes categorias: espécie constante (presente em mais de
50% das coletas); espécie acessória (presente em 25 a 50% das coletas); e, espécie
acidental (presente em menos de 25% das coletas).
Resultados e Discussão
Um total de 554 indivíduos de E. aberrans foi coletado nos dois sistemas, sendo
418 no sistema sem faixas e 136 no com faixas. Esta espécie foi constante nos dois
sistemas e apresentou índices de freqüência de 2,47 e 2,61%, respectivamente, nos
sistemas com e sem faixas. Indivíduos dessa espécie começaram a ser coletados,
principalmente, no final do período chuvoso, a partir da segunda quinzena de fevereiro
no sistema sem faixas, e da primeira quinzena de março no sistema com faixas. O mês
de abril apresentou maior ocorrência, com 5,65 e 9,60 indivíduos de E. aberrans nos
sistemas com e sem faixas, respectivamente. No sistema com faixas, esta espécie foi
mais coletada na armadilha 4, localizada no centro da faixa de cerrado e a
aproximadamente 500 metros da borda do eucaliptal, com 50 indivíduos. No outro
sistema, esta espécie foi mais abundante na armadilha 2 e na zona de contato entre o
eucaliptal e o cerrado, com 106 indivíduos.
O sistema sem faixas apresentou maior número de indivíduos de E. aberrans que
no com faixas. Isto pode ser devido ao fato de que, em geral, a maior disponibilidade de
um recurso, como no sistema sem faixas, favorece poucas espécies, levando-as a
dominarem a comunidade e reduzindo sua diversidade (PRICE, 1984).
As diferenças observadas entre os dois sistemas podem ser explicadas, também,
pela ação dos inimigos naturais que tendem a ter populações maiores em habitats mais
diversificados, onde podem, consequentemente, reduzir o número de herbívoros.
O sistema com faixas apresentou menor número total de indivíduos que o sem
faixas e distribuição de abundância mais homogênea nos pontos de coleta. Por outro
lado, no sistema sem faixas, a transição apresentou maior número de indivíduos seguido
pelos talhões de eucalipto. O sistema com faixas apresentou menor número de
334
indivíduos no cerrado, borda e faixa, os quais podem ser caracterizados como
comunidades distintas. Estes habitats possuem maior diversificação e complexidade
estrutural de vegetação, o que, teoricamente, os tornaria mais pobres em número de
indivíduos.
O número de indivíduos de E. aberrans foi maior no sistema sem faixas na borda
(armadilha 2), seguido pelos pontos na zona de contato entre os talhões de eucalipto e
no cerrado, com 106, 92 e 77 indivíduos, respectivamente. A coleta de maior número de
indivíduos na borda pode estar relacionada ao fato desse ambiente ser a confluência de
dois habitats distintos, contendo espécies de duas comunidades adjacentes, o que
aumenta sua riqueza. Isto reflete, também, a maior diversidade da vegetação deste local,
onde existem espécies vegetais mais complexas, com maior biomassa, variedade e
persistência de estruturas, o que pode permitir uma maior variedade de locais para
oviposição, alimentação e abrigo para insetos (LAWTON & STRONG JR., 1981).
Eupseudosoma aberrans apresentou valores próximos nos sistemas com e sem
faixas e com baixas freqüências, concordando com relato de que a distribuição de
freqüência das espécies em determinado local exibe um padrão regular, com muitas
espécies relativamente raras e restritas e poucas abundantes e amplamente distribuídas
(BROWN 1984). Estas últimas são, em geral, localmente abundantes, apresentam
maiores flutuações populacionais e podem explorar maior quantidade de recursos que as
primeiras (BROWN, 1984).
Conclusões
A maioria das pragas primárias do eucalipto ocorrem principalmente de abril a
agosto, enquanto as pragas secundárias são coletadas durante todo o ano. Por isto,
sugere-se a continuação desta pesquisa nos demais meses do ano.
Surtos de Eupseudosoma aberrans no sistema sem faixas podem ser esperados,
onde a maior homogeneidade de vegetação e, possivelmente, a menor atuação dos
inimigos naturais podem favorecer a explosão populacional dessa espécie e aumentar
sua adaptação a plantios de eucalipto.
Literatura Citada
ALMEIDA, A.F.; LARANJEIRO; A.J.; LEITE, J.E.M. O melhoramento ambiental no
manejo integrado de pragas: um exemplo na Aracruz florestal. Silvicultura, v.39, p.2125, 1987.
BROWN, J.H. On the relationship between abundance and distribution of species.
American Naturalist, v.124, p.255-279, 1984.
LAWTON, J.H.; STRONG JR, D.R. Community patterns and competition in folivorous
insects. American Naturalist, v.118, n.3, p.317-338, 1981.
MOORE, R.; WARRINGTON, S.; WHITTAKER, J.B. Herbivory by insects on oak
trees in pure stands compared with paired mixtures. Journal of Applied Ecology, v.28,
p.290-304, 1991.
PRICE, P.W. Insect Ecology. New York, USA: John Wiley & Sons, 1984. 607p.
335
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
7.9. Diversidade vegetal como ferramenta no manejo de lepidópteros
desfolhadores1
Tiago Georg Pikart2, Teresinha Vinha Zanuncio3, Gabriely Köerich Souza2, Michell
Bahia Dutra4, Janaina Canaan Rezende4, José Cola Zanuncio5
1
Projeto de pesquisa.
Mestrando do Programa de Pós-graduação em Entomologia, UFV.
3
Sociedade de Investigações Florestais, UFV.
4
Estudante de graduação em Agronomia, UFV.
5
Professor do Departamento de Biologia Animal, UFV.
2
Resumo: Lepidópteros desfolhadores são pragas importantes do eucalipto e, por isto a
influência da vegetação nativa, em plantios de Eucalyptus cloesiana, sobre Glena
bipennaria bipennaria (Lepidoptera: Geometridae) foi avaliada em duas áreas, uma
com faixas de vegetação nativa entre os talhões de E. cloesiana (CF) e outra sem faixas
(SF). Adultos de G. bipennaria bipennaria foram coletados com armadilhas luminosas
em cinco pontos: (1) em faixa de reserva de cerrado, a 100 m da borda do plantio de
eucalipto; (2) na borda dessa reserva; (3) no eucalipto, a 250 m dessa borda; (4) na
transição eucalipto/eucalipto (SF) ou na faixa (CF), em ambos os casos a 500 m da
borda; e (5) no eucaliptal, a 750 m da borda dessa reserva. As coletas foram feitas com
duas amostragens mensais a intervalos de 15 dias. No sistema com faixas, foram
coletados maiores números de adultos desse lepidóptero em março e abril, enquanto no
sem faixas o número de indivíduos de G. bipennaria bipennaria foi maior de janeiro a
abril. O número de indivíduos dessa espécie foi maior no sistema sem faixas (1489) que
no outro (210). Isto indica que a utilização de faixas de vegetação nativa, intercaladas à
plantios de eucalipto pode reduzir o número de adultos dessa praga. Portanto,
recomenda-se que plantios de eucalipto sejam feitos com o uso dessas faixas, visando a
redução de problemas com surtos de G. bipennaria bipennaria.
Palavras-chave: cerrado, Eucalyptus cloesiana, lagartas desfolhadoras
Plant diversity as a tool in the management of lepidopteran defoliators
Abstract: Due to the importance of lepidopteran defoliators, as pests of eucalyptus, we
evaluated the influence of native vegetation, in plantations of Eucalyptus cloesiana, on
Glena bipennaria bipennaria (Lepidoptera: Geometridae) in two areas, one with strips
of native vegetation between the stands of E. cloesiana (CF) and one without strips
(SF). Adults of G. bipennaria bipennaria were collected with light traps at five points:
(1) in strips of savanna reserve, 100 m from the edge of the eucalyptus plantation; (2) on
the edge of the reserve; (3) in eucalyptus, 250 m of the edge; (4) transition
eucalyptus/eucalyptus (SF) or in the strip (CF), in both cases at 500 m from the edge,
and (5) in the eucalyptus plantation, 750 m from the edge of the reserve. Samples were
collected between October and April, with two samples per month at intervals of 15
days. Highest number of adults of this Lepidoptera was collected during March and
April in the system with strips, while the number of individuals of this species was
higher from January to April in the system without strips. This number was higher in
the system without strips (1489) than in the other one (210). This indicates that the use
of strips of native vegetation, interspersed the eucalyptus plantations can reduce the
336
number of adults of this pest. Therefore, it is recommended that eucalyptus plantations
are made with these strips to reduce problems with outbreaks of G. bipennaria
bipennaria.
Key Words: savanna, Eucalyptus cloesiana, defoliating caterpillars
Introdução
As modificações ambientais do cultivo de Eucalyptus spp. pode levar artrópodos
herbívoros ao nível de praga. A importância dos danos por lepidópteros desfolhadores
tem aumentado para o setor florestal em razão, principalmente, do aumento de áreas
plantadas com a monocultura do eucalipto.
Espécies do gênero Glena ocorrem desde o sul do Canadá até a Argentina. Em
povoamentos de eucalipto, lagartas dessa espécie apresentam, em repouso, o hábito de
ficarem espichadas nas bordas das folhas, o que dificulta sua localização. Fêmeas desse
gênero efetuam as posturas em reentrâncias do tronco ou sob a casca das árvores e a
pupação acontece no solo, a pouca profundidade ou debaixo de detritos. Glena
bipennaria bipennaria tem sido registrada associada a outras espécies de lepidópteros
desfolhadores, alimentando-se de eucalipto, Pinus patula, Pinus elliotti ou Cupressus
spp. (SANTOS et al. 1996).
O aumento populacional de herbívoros pode ser mais rápido em monoculturas que
em habitats diversificados, onde as presas e os hospedeiros dos inimigos naturais são
mais abundantes e disponíveis. Por isso, os inimigos naturais, especialistas ou
generalistas, apresentam maiores populações em policulturas onde podem controlar,
mais efetivamente, as populações de herbívoros (ROOT, 1973). Logo, populações de
herbívoros são mais freqüentes em monoculturas que em áreas com vegetação mais
diversificada.
Habitats complexos e mais persistentes suportam maior número de espécies que
aqueles simplificados e efêmeros (LAWTON & STRONG JR. 1981). Geralmente, a
influência das plantas sobre as populações de herbívoros e, portanto, sobre inimigos
naturais está relacionada com a diversidade e a concentração dos recursos além da
heterogeneidade do habitat.
Objetivando-se testar a hipótese de que a diversidade e a complexidade estrutural
da vegetação afetam populações de G. bipennaria bipennaria, adultos dessa espécie
foram coletados em sistema de plantio de Eucalyptus cloesiana com faixas de cerrado
intercaladas e em outro sem essas faixas.
Material e Métodos
Espécimes de G. bipennaria bipennaria foram coletados de outubro a abril em
dois plantios de E. cloesiana. O primeiro com faixas de vegetação nativa (CF) e o
segundo sem faixas (SF) no estado de Minas Gerais, Brasil, com duas amostragens por
ponto em intervalos de 15 dias. Foram utilizadas armadilhas luminosas instaladas a dois
metros do solo.
No sistema com faixas de vegetação nativa, o primeiro ponto foi localizado no
interior da reserva de cerrado a 100 metros de sua borda; o segundo na zona limítrofe
entre o cerrado e o eucaliptal; o terceiro no interior do eucaliptal a 250 metros da borda
do cerrado; o quarto no centro da faixa de cerrado e, portanto, a aproximadamente 500
337
metros da borda; e o quinto no interior do eucaliptal a 750 metros da borda. As zonas
limítrofes entre o cerrado e o eucaliptal e entre os talhões de eucalipto correspondiam a
estradas de terra com, aproximadamente, sete metros de largura. No sistema sem faixas
de vegetação nativa, a localização dos cinco pontos de coleta, em relação à borda, foi
semelhante àquela do sistema com faixas, exceto pelo fato de que a quarta armadilha,
nesse segundo sistema, estava localizada entre dois talhões de eucalipto.
A triagem e a identificação dos adultos de G. bipennaria bipennaria foram
realizadas na Universidade Federal de Viçosa (UFV) em Viçosa, Estado de Minas
Gerais, Brasil onde seus indivíduos foram catalogados e montados.
Resultados e Discussão
A abundância de G. bipennaria bipennaria foi mais homogênea no sistema com
faixas, atingindo as maiores freqüências em abril, enquanto no sem faixas, poucos
indivíduos foram coletados antes do mês de março. No entanto, a maioria dos
indivíduos dessa espécie, nesse sistema (SF), foi coletada em março e abril, e com
freqüência mais elevada que no sistema com faixas.
O número de indivíduos de G. bipennaria bipennaria, por ponto de coleta, foi
maior no sistema sem faixas, principalmente na transição eucalipto/eucalipto e no
último ponto de coleta, no eucalipto.
O maior número de indivíduos de G. bipennaria bipennaria no último ponto, no
sistema sem faixas, pode ser atribuído à maior distância desses pontos à reserva (750
metros). No cerrado ocorre maior heterogeneidade da vegetação e, consequentemente, a
diversidade de recursos pode impedir que o número de indivíduos de G. bipennaria
bipennaria aumente, pois não há concentração de uma única fonte de alimento que pode
facilitar a multiplicação dessa espécie. Por outro lado, no sistema com faixas, a
abundância por ponto foi menor e a distribuição entre os mesmos mais homogênea.
A maior homogeneidade na distribuição da abundância e o menor número de
indivíduos de G. bipennaria bipennaria no sistema com faixas, pode ser devido à maior
heterogeneidade ambiental desse sistema, onde os inimigos naturais podem ser mais
diversificados e abundantes, aliado à menor abundância de alimento. Na mesma linha
de raciocínio, no sistema sem faixas, a menor heterogeneidade da vegetação e,
consequentemente, baixa diversidade de recursos no eucalipto, pode indicar que G.
bipennaria bipennaria utilize a maior disponibilidade de alimentos representado por
essa essência florestal para aumentar sua população.
Altas populações e surtos de G. bipennaria bipennaria tem sido associados à
diversos fatores, entre os quais a baixa diversidade vegetal (ZANUNCIO et al. 1990).
Por outro lado, a expansão dos eucaliptais, em áreas de cerrado, também contribuem
para isso, pois nesses locais o sub-bosque é mais pobre, como nas áreas aqui estudadas,
o que pode favorecer o desequilíbrio populacional de insetos, com algumas espécies
tornando-se dominantes, como G. bipennaria bipennaria no sistema sem faixas.
A manutenção de maiores áreas de vegetação nativa, em plantios de eucalipto,
como no sistema com faixas, teve grande influência na dinâmica populacional de G.
bipennaria bipennaria. Por outro lado, a interligação de áreas de preservação, por faixas
ou “corredores”, diminui seu isolamento e facilita a dispersão dos insetos no eucaliptal,
especialmente dos inimigos naturais (FIRKOWSKI, 1993), os quais constituem,
aparentemente, o principal mecanismo de manutenção dos insetos-praga do eucalipto
338
abaixo do nível de dano econômico (ZANUNCIO et al. 1990). Na mata nativa, a maior
heterogeneidade da vegetação e, consequentemente, a diversidade de recursos impede
que muitas espécies aumentem suas populações (ROOT, 1973) e causem danos.
Estudos têm demonstrado os efeitos da complexidade estrutural e da diversidade
da vegetação sobre as populações de insetos, mas são necessárias pesquisas adicionais
sobre a influência da heterogeneidade ambiental em populações de insetos em plantios
de eucalipto, especialmente aquelas relacionadas com o número, largura e distância
entre faixas de vegetação nativa.
Conclusões
A diversidade e a complexidade estrutural da vegetação reduz o nível
populacional de G. bipennaria bipennaria, pois essa espécie apresentou maior número
de indivíduos no sistema sem faixas. Por outro lado, no cerrado, na borda e na faixa, há
menor concentração de um único recurso, e, por isto, as populações de insetos-praga são
menores.
Portanto, deve-se intercalar faixas de vegetação nativa nos plantios de eucalipto,
visando a redução dos problemas com surtos de G. bipennaria bipennaria. Sugere-se,
ainda a complementação deste estudo, com a avaliação do impacto dos inimigos
naturais sobre as populações de herbívoros nos dois sistemas.
Literatura Citada
FIRKOWSKI, C. Manipulação de habitat em monoculturas florestais. In: I Simpósio
Brasileiro de Pesquisa Florestal, 1993, Belo Horizonte-MG. Anais... Viçosa: SIF/UFV,
1993. p.143-16.
LAWTON, J.H.; STRONG JR, D.R. Community patterns and competition in folivorous
insects. American Naturalist, v.118, n.3, p.317-338, 1981.
ROOT, R.B. Organization of a plant-arthropod association in simple and diverse
habitats: the fauna of collards (Brassica oleracea). Ecological Monographs, v.43, n.1,
p.95-124, 1973.
SANTOS, G.P.; ZANUNCIO, T.V.; DIAS, O.S. COMPLETAR. Aspectos biológicos
e descritivos de Glena unipennaria (Guenée) (Lepidoptera: Geometridae) em
Eucalyptus urophylla. Anais da Sociedade Entomológica do Brasil, v.25, n.2, p.245249, 1996.
ZANUNCIO, J.C.; FAGUNDES, M.; ANJOS, N. et al. COMPLETAR. Levantamento
e flutuação populacional de lepidópteros associados à eucaliptocultura: V- Região de
Belo Oriente, Minas Gerais, junho de 1986 a maio de 1997. Revista Árvore, v.14, n.1,
p.35-44, 1990.
339
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
7.10. Diversidade de vegetação nativa em faixas reduz populações de Thyrinteina
arnobia (Lepidoptera: Geometridae) em plantios de eucalipto1
Tiago Georg Pikart2, Marcos Antonio Lima Bragança3, Gabriely Köerich Souza2,
Antônio José Vinha Zanuncio4, Emerson Cordeiro Lopes4, José Cola Zanuncio5
1
Projeto de pesquisa.
Mestrando do Programa de Pós-graduação em Entomologia, UFV.
3
Professor da Universidade Federal do Tocantins.
4
Professor do Departamento de Biologia Animal, UFV.
4
Estudante de graduação em Engenharia Florestal, UFV.
2
Resumo: A influência da vegetação nativa nas proximidades das plantações de
Eucalyptus cloesiana sobre a população de Thyrinteina arnobia (Stoll, 1782)
(Lepidoptera: Geometridae) foi avaliada em duas áreas: uma com vegetação nativa em
ilhas e faixas (CF) e outro sem estas faixas (SF). Thyrinteina arnobia foi coletada com
armadilhas luminosas em cinco locais: no interior de uma ilha com vegetação nativa, na
borda da ilha, a 250 metros desta ilha dentro do plantio de Eucalyptus, e a 500 metros
da ilha entre dois blocos de Eucalyptus (sistema CF) e no corredor entre dois blocos de
um plantio de Eucalyptus. Thyrinteina arnobia foi coletada duas vezes a cada 15 dias
durante seis meses. Em ambos os sistemas, o maior número de adultos de T. arnobia foi
registrado em abril, mas o sistema com faixas de vegetação nativa mostrou número
muito menor de indivíduos dessa praga durante o período de coleta. Maior abundância
de adultos de T. arnobia foi encontrado no sistema sem estas faixas, mas em ambos os
sistemas maiores populações desta praga foram encontradas em pontos no interior do
eucaliptal.
Palavras-chave: controle biológico, diversidade da vegetação, manejo ambiental, plantio
florestal
Diversity of native vegetation in strips reduces populations of Thyrinteina arnobia
(Lepidoptera: Geometridae) in Eucalypust plantations
Abstract: The influence of native vegetation nearby Eucalyptus cloesiana plantation on
Thyrinteina arnobia (Stoll, 1782) (Lepidoptera: Geometridae) population was evaluated
in two areas: one with the native vegetation on island and strips (WS) and the other
without these strips (NS). Thyrinteina arnobia was collected with light traps in five
sites: inside the island with native vegetation, in the border of this island, at 250 meters
from this island within the Eucalyptus plantation, and at 500 meters from this island
between two blocks of Eucalyptus (system WS) and within the corridor between two
blocks of an Eucalyptus plantation. Thyrinteina arnobia was collected twice every
fifteen days during six months. In both systems higher number of adults of T. arnobia
was registered in April but the system with native vegetation strips showed much lower
number of individuals of this pest during the collecting period. Higher abundance of
adults of T. arnobia was found in the system without these strips but in both systems
higher populations of this pest was found in the points inside the Eucalyptus plantation.
340
Key Words: biological control, environment management, forest plantation, vegetation
diversity
Introdução
Thyrinteina arnobia (Stoll, 1782) (Lepidoptera: Geometridae) é considerado um
dos principais lepidópteros desfolhadores de Eucalyptus no Brasil (ZANUNCIO et al.,
1994). Esta espécie é encontrada em quase toda a América do Sul e em partes da
América Central e, geralmente, seu ataque é notado somente quando suas lagartas
atingem os dois últimos estádios (ZANUNCIO et al., 1993). A formação de extensas
áreas de povoamentos puros de Eucalyptus contribui para a ocorrência de pragas
(ALTIERI & LETOURNEAU, 1984). A manutenção e o incremento da diversidade e
complexidade estrutural da vegetação nativa, no interior dos plantios de espécies
florestais, podem reduzir esses focos, diminuir perdas de espécies e aumentar o efeito
dos inimigos naturais (KRUESS & TSCHARNTKE, 1994). O aumento das plantações
de Eucalyptus e ataques de pragas tornaram necessários o estabelecimento do manejo
integrado das pragas nestes plantios. O objetivo desta pesquisa foi testar a hipótese de
que a manipulação da diversidade da vegetação nativa como faixas dentro dos plantios
de Eucalyptus cloesiana pode reduzir os níveis populacionais de T. arnobia.
Material e Métodos
Área de estudo
Esta pesquisa foi desenvolvida em dois plantios de Eucalyptus: um com faixas de
25 metros de largura de vegetação nativa a cada 500 metros de plantio de Eucalyptus
ligados uns aos outros e às ilhas de vegetação nativa, e outro sem essas faixas. O
primeiro plantio está localizado a 18° 57' S e 45° 26' W e o segundo a 19° 17' S e 44°
29' W em Minas Gerais, Brasil.
Amostragem
O primeiro ponto de amostragem foi localizado dentro de uma ilha de cerrado a
100 metros da sua borda; o segundo na borda desta reserva; o terceiro no plantio de
Eucalyptus; o quarto na transição Eucalyptus/Eucalyptus (sistema sem faixas) ou na
faixa (sistema com faixas) e o quinto a 750 metros da borda da reserva de vegetação
nativa. Os insetos foram coletados de novembro a abril durante duas noites por ponto, a
cada 15 dias, com uma armadilha luminosa instalada a dois metros do solo. As
armadilhas luminosas foram ligadas entre 18:00 e 19:00 horas e desligadas entre 7:00 e
8:00 horas do dia seguinte. Os insetos coletados foram acondicionados em envelopes
entomológicos e enviados ao Laboratório de Entomologia Florestal, Departamento de
Biologia Animal da Universidade Federal de Viçosa, em Viçosa, Minas Gerais, Brasil
onde os adultos de T. arnobia foram identificados. Alguns exemplares foram
depositados no Museu de Entomologia da instituição.
Resultados e Discussão
Os insetos não foram coletados durante os primeiros quinze dias de fevereiro em
ambos os sistemas com e sem faixas nem na primeira quinzena de março no sistema
sem faixas de vegetação nativa. Um maior número de adultos de T. arnobia foi coletado
341
no sistema com faixas em novembro, fevereiro e abril, enquanto no sistema sem faixas
o número de indivíduos dessa praga foi menor até janeiro. Estes números aumentaram
em fevereiro, porém, atingindo o pico mais elevado da população adulta no segundo
período de abril. A abundância de adultos de T. arnobia foi mais homogênea no sistema
com faixas, enquanto no sistema sem faixas a maioria dos adultos de T. arnobia foi
coletada nos últimos dois meses da pesquisa. O número de indivíduos de T. arnobia, por
ponto de coleta, do sistema com faixas de vegetação nativa foi maior nas duas
armadilhas instaladas no plantio de Eucalyptus, menor na armadilha localizada na área
da vegetação nativa e intermediário naquela na faixa. A abundância de adultos de T.
arnobia em cada ponto de coleta no sistema sem faixas foi maior, principalmente, nas
armadilhas instaladas no Eucalyptus e na transição Eucalyptus/Eucalyptus, com a coleta
de 244,0, 116,5 e 303,0 indivíduos de T. arnobia nestes pontos, respectivamente. O
número de adultos de T. arnobia, coletado por ponto no segundo período de abril foi
maior nas armadilhas com maior número de adultos desta praga na primeira quinzena de
março, especialmente, nas três armadilhas no interior do eucaliptal no sistema sem
faixas, e em dois pontos dentro do Eucalyptus no sistema com faixas.
Thyrinteina arnobia tem sido coletada na maioria dos meses do ano, mas,
geralmente, sua população começa a aumentar em janeiro, atinge picos populacionais
entre fevereiro e abril e populações, relativamente, elevadas em julho (ZANUNCIO et
al., 1993). Em Minas Gerais, o número de adultos de T. arnobia foi maior de março a
julho em várias regiões (ZANUNCIO et al., 1994). Esses resultados são semelhantes
aos desta pesquisa, que apresentou maior número de adultos de T. arnobia em abril, em
ambos os sistemas, mostrando o início das condições de surto dessa praga na área. No
entanto, neste mês, o número de adultos de T. arnobia foi, pelo menos, 20 vezes maior
no sistema sem faixas do que naquele com faixas, indicando menores possibilidades de
surtos dessa praga em áreas com este sistema de cultivo. A abundância e números mais
estáveis de indivíduos de T. arnobia no sistema com faixas pode ser devido à
heterogeneidade ambiental deste sistema onde os inimigos naturais são mais
diversificados e abundantes resultando em melhor atividade de controle biológico
(ALTIERI & LETOURNEAU, 1984). Embora o maior número de indivíduos de T.
arnobia no sistema sem faixas pode ser explicado pela menor heterogeneidade desse
sistema, o menor número de indivíduos desta espécie na armadilha localizada no último
ponto de Eucalyptus deve ser devido à proximidade deste ponto com a reserva de
vegetação nativa. Apesar esta armadilha estar localizada a 750 metros do primeiro ponto
de amostragem, os inimigos naturais provenientes desta segunda reserva poderiam estar
favorecendo o controle biológico de T. arnobia, conseqüentemente, reduzindo o número
de indivíduos desta espécie. A maior abundância desta praga nos pontos de Eucalyptus,
em ambos os sistemas, bem como no sistema sem faixas em relação ao com faixas pode
ser devido a diferenças na diversidade da vegetação. Essa diversidade pode estar
favorecendo a sobrevivência e a ação de inimigos naturais, devido à maior abundância
de pólen, néctar e hospedeiros alternativos, reduzindo assim os riscos de explosões
populacionais de herbívoros (ALTIERI & LETOURNEAU, 1984).
Adultos de T. arnobia foram coletados na maioria das amostragens no sistema
com faixa, mas a maior diversidade biológica desse sistema pode contribuir para evitar
a explosão populacional desse praga e indicando que T. arnobia pode manter-se em
hospedeiros nativos sem atingir nível de dano. Por outro lado, no sistema sem faixas
com uma menor quantidade de área de vegetação nativa para manter as populações
residuais de T. arnobia, essa espécie começou a aumentar sua população em fevereiro
alcançando números mais elevados em março e abril. Adultos de T. arnobia não
342
estiverem presentes durante todo o ano devido à redução do número de plantas
hospedeiras neste sistema. No entanto, ao atingir a área de migração, essa praga pode
facilmente atingir níveis de dano devido à menor pressão de seus inimigos naturais. As
maiores populações e os focos de T. arnobia têm sido associados a fatores como menor
diversidade da vegetação (ZANUNCIO et al., 1994). A adaptação de T. arnobia ao
Eucalyptus tem sido favorecida pelo fato de se alimentar de várias espécies de árvores
nativas, especialmente, aquelas da família Myrtaceae, a mesma do Eucalyptus
(ZANUNCIO et al., 1993). A manutenção de um percentual maior de áreas com
vegetação nativa, como no sistema com faixas, em plantios de Eucalyptus pode afetar a
dinâmica populacional de T. arnobia e de outras pragas. Além disso, a ligação de áreas
de vegetação nativa através de faixas pode diminuir o isolamento das mesmas e ajudar a
dispersão de insetos para os plantios de Eucalyptus, especialmente, inimigos naturais
(FIRKOWSKI, 1993). Este é o principal mecanismo que pode manter as pragas de
espécies de Eucalyptus em baixo nível (ZANUNCIO et al., 1990).
Conclusões
O impacto de faixas de vegetação nativa sobre T. arnobia mostra que o número,
largura e distância entre as mesmas deve ser melhor estudada para se melhorar a
distribuição dos inimigos naturais nestas plantações.
Literatura Citada
ALTIERI, A.F.; LETORNEAU, D.K. Vegetation diversity and insect pest outbreaks.
CRC Critical Review of Plant Science, v.2, p.131-169, 1984.
FIRKOWSKI, C. Manipulação de habitat em monoculturas florestais. In: 1° Simpósio
Brasileiro de Pesquisa Florestal, 1993, Belo Horizonte-MG. Anais... Viçosa: SIF/UFV,
1993. p.143-60.
KRUESS, A.; TSCHARNTKE, T. Habitat fragmentations, species loss and biological
control. Science, v.264, p.1581-1584, 1994.
ZANUNCIO, J.C.; FAGUNDES, M.; ANJOS, N. et al. Levantamento e flutuação
populacional de lepidópteros associados à eucaliptocultura: V- Região de Belo Oriente,
Minas Gerais, junho de 1986 a maio de 1987. Revista Árvore, v.14, p.34-44, 1990.
ZANUNCIO, J.C.; ALVES, J.B.; SANTOS, G.P. et al. Levantamento e flutuação
populacional de lepidópteros associados à eucaliptocultura: VI- Região de Belo Oriente,
Minas Gerais. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.28, p.1121-1127, 1993.
ZANUNCIO, J.C.; NASCIMENTO, E.C.; GARCIA, J.F. et al. Major lepidopterous
defoliators of eucalipt in Southeast Brazil. Forest Ecology Management, v.65,p.53-63,
1994.
343
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
7.11. Frequência e constância de lepidópteros desfolhadores em plantio de
Eucalyptus e vegetação nativa1
Gabriely Köerich Souza2, Onice Teresinha Dall‟Oglio3, Tiago Georg Pikart2, Rodolfo
Alves Barbosa4, Michell Bahia Dutra5, José Cola Zanuncio6
1
Projeto de pesquisa.
Mestrando do Programa de Pós-graduação em Entomologia, UFV.
3
Professor da Universidade Federal do Mato Grosso.
4
Estudante de graduação em Engenharia Florestal, UFV.
5
Estudante de graduação em Agronomia, UFV.
6
Professor do Departamento de Biologia Animal, UFV.
2
Resumo: O objetivo deste trabalho foi estudar a freqüência e os índices de constância
para Lepidoptera pragas de eucalipto coletadas com cinco armadilhas luminosas em
uma plantação de eucalipto e em um fragmento de vegetação nativa no município de
Ipaba, Minas Gerais. A primeira e a segunda armadilha foram instaladas no eucalipto a
400 e 200 metros da fronteira; a terceira nesta fronteira; e a quarta e a quinta na
vegetação nativa a 200 e 400 metros da fronteira. Um total de 2.039 indivíduos de
pragas primárias e secundárias foram coletados, com maior número de indivíduos no
eucalipto a 200m da fronteira da vegetação nativa. A maioria das espécies-praga
primárias coletadas foram Stenalcidia grosica e Thyrinteina leucoceraea (Geometridae)
com maior frequência no plantio de eucalipto a 400 e 200 metros de sua fronteira;
Oxydia vesulia (Geometridae) em vegetação nativa a 200 metros da transição e
Eupseudosoma involuta e Eupseudosoma aberrans (Arctiidae) na fronteira. Das
espécies de pragas secundárias, Automeris illustris (Saturniidae) apresentou maior
freqüência na vegetação nativa a 400m e 200m da fronteira. Stenalcidia grosica e T.
leucoceraea foram constantes na plantação de eucalipto e E. aberrans, O. vesulia e S.
grosica na fronteira, enquanto as outras espécies foram acessórias ou acidentes.
Palavras-chave: Insecta, comunidades florestais, monocultura de eucalipto, fragmento
Frequency and constancy of Lepidoptera defoliators in a Eucalyptus
Plantations and native vegetation
Abstract: The objective of this research was to study frequency and constancy indexes
for Lepidoptera pests of eucalyptus collected with five light traps in an eucalyptus
plantation and in a fragment of native vegetation in Ipaba, Minas Gerais. The first and
second traps were installed in the eucalyptus at 400 and 200m from the border; the third
at this border; and the fourth and the fifth in the native vegetation at 200 and 400m from
the border. A total of 2,039 individuals of primary and secondary pests was collected
with higher number of individuals in the eucalyptus at 200m from the border of the
native vegetation. Most collected primary pest species were Stenalcidia grosica and
Thyrinteina leucoceraea (Geometridae) with higher frequency in the eucalyptus
plantation at 400 and 200m from its border; Oxydia vesulia (Geometridae) in the native
vegetation at 200m from the transition and Eupseudosoma involuta and Eupseudosoma
aberrans (Arctiidae) in the border. Of the secondary pest species, Automeris illustris
(Saturniidae) presented higher frequency in the native vegetation at 400m and 200m
344
from the border. Stenalcidia grosica and T. leucoceraea were constant in the eucalyptus
plantation and E. aberrans, O. vesulia and S. grosica at the border while the others
species were accessory or accidentals.
Key Words: Insecta, forest communities, eucalyptus monoculture, fragment
Introdução
No Brasil, reflorestamentos com Eucalyptus têm aumentado significativamente
nas últimas duas décadas. No entanto, a baixa diversidade ambiental de florestas
plantadas pode favorecer a ocorrência de pragas que podem afetar as plantas de
diferentes maneiras, reduzindo a sua taxa de crescimento ou até mesmo causando a sua
morte.
No Brasil, surtos de Lepidoptera desfolhadores têm sido registrados há várias
décadas para muitas espécies como Apatelodes sericea (Eupterotidae), Eupseudosoma
involuta (Arctiidae), Euselasia apisaon (Riodinidae), Psorocampa denticulata
(Notodontidae), Sarsina violascens (Lymantriidae), Oxydia vesulia, Sabulodes caberata
e Thyrinteina arnobia (Geometridae) em plantios de eucalipto (ZANUNCIO, 1993).
Programas de manejo integrado de pragas em plantações de eucaliptos no Brasil
têm feito uso de remanescentes de vegetação nativa nas áreas de plantio (ZANUNCIO
et al., 1998a) visando reduzir as populações de insetos-praga. Isso pode ser explicado
pelo fato de que a manutenção ou implantação de áreas com vegetação nativa pode
favorecer a multiplicação e uma melhor distribuição de inimigos naturais, que por sua
vez podem reduzir os níveis populacionais de Lepidoptera desfolhadores nestas
plantações (BRAGANÇA et al., 1998).
O objetivo deste trabalho foi estudar a freqüência e constância de Lepidoptera
pragas primárias ou secundárias em uma plantação de Eucalyptus grandis, na sua
fronteira com uma área de vegetação nativa e nesta vegetação nativa.
Material e Métodos
A pesquisa foi desenvolvida em uma plantação de eucalipto da Celulose NipoBrasileira S.A. (CENIBRA), no município de Ipaba, Minas Gerais. Lepidoptera foram
coletados em uma plantação de E. grandis com área de 20,09 hectares, espaçamento 3 x
2 m entre as árvores e com sete anos de idade no início do experimento. Nenhum trato
cultural foi feito e a vegetação de sub-bosque incluindo ervas e arbustos não foi
removida durante o período de amostragem. O único tratamento silvicultural foi o
controle de formigas cortadeiras com isca sulfluramida. Lepidoptera foram coletados
quinzenalmente, com cinco armadilhas luminosas. A primeira e a segunda armadilha
foram instaladas no plantio de eucalipto a 400 e 200 metros da vegetação nativa (Eg400
e Eg200); a terceira na transição de vegetação nativa/eucalipto (Bor), e a quarta e a
quinta no fragmento de vegetação nativa a 200 e 400 metros de fronteira com eucalipto
(Vn200 e Vn400). Armadilhas luminosas foram ligadas uma vez a cada 15 dias entre
17:00 e 18:00 horas desligadas na manhã seguinte, quando os insetos foram coletados.
A frequência e os índices de constância das espécies de pragas coletados foram
calculados.
345
Resultados e Discussão
Um total de 2.039 indivíduos de 22 espécies de pragas de eucalipto no Brasil
foram coletados, sendo 13 primárias (grupo I) e nove secundárias (grupo II). Espéciespraga do eucalipto apresentaram maior número de indivíduos nos pontos de amostragem
Eg200, Eg400 e Bor, respectivamente. Pragas primárias apresentaram maior número de
espécies e de indivíduos no ponto Eg400 enquanto pragas secundárias apresentaram
maior número de espécies e de indivíduos no ponto Eg200.
As pragas primárias mais freqüentes foram Stenalcidia grosica, Thyrinteina
leucoceraea (Geometridae) e O. vesulia enquanto outras importantes pragas de
eucalipto como S. caberata, S. violascens e T. arnobia foram coletadas com menor
freqüência. Stenalcidia grosica e T. leucoceraea apresentaram maior freqüência no
eucalipto a 400 e 200 metros da transição, respectivamente; O. vesulia na vegetação
nativa a 200 m da transição, e E. aberrans na fronteira. Automeris illustris foi a espécie
mais freqüente no grupo II, principalmente na vegetação nativa a 400 e 200 metros da
fronteira.
Maior número de espécies constantes foi encontrado no ponto Bor, acessórios
em Eg200 e acidentais em Eg400 e Bor. Nenhuma espécie considerada praga primária
foi constante em todos os pontos. Stenalcidia grosica foi constante na plantação de
eucalipto e na sua fronteira e acidental na vegetação nativa; T. leucoceraea foi constante
no eucalipto, acessória na fronteira do mesmo e acidental na vegetação nativa; O.
vesulia foi constante na fronteira, acessória no eucalipto e acidental na vegetação nativa;
E. aberrans foi constante na fronteira, acidental no eucalipto e nenhum indivíduo desta
espécie foi coletado na vegetação nativa. Das espécies de pragas secundárias, Idalus
admirabilis foi acessória no eucalipto e nas fronteiras, enquanto as outras espécies
foram acidentais no eucalipto e na vegetação nativa.
Maior número de indivíduos e de espécies-praga primárias e secundárias no
interior do eucaliptal pode ser explicado pela maior disponibilidade de alimento e à
menor sobrevivência dos inimigos naturais nestas áreas. Plantios homogêneos de
eucalipto apresentam maior oferta de alimentos e reduzem a pressão de inimigos
naturais, o que pode resultar em aumento dos níveis de população de algumas espécies
(ZANUNCIO et al. 1998a). Por outro lado, as operações silviculturais, como a remoção
da vegetação arbustiva não é feita quando essas plantações possuem mais de três anos.
Isto pode aumentar a heterogeneidade da vegetação e, portanto, favorecer a sucessão
ecológica, que por sua vez pode criar melhores condições para a reprodução de um
maior número de espécies de insetos, inclusive de inimigos naturais (ZANUNCIO et al.
1998b).
Nenhuma das espécies-praga foi constante ou acessória na vegetação nativa
devido à maior heterogeneidade desse ecossistema que indica que tais locais apresentam
populações mais estáveis de insetos. Além de tais áreas apresentarem uma melhor
distribuição das espécies de plantas que podem favorecer a reprodução de diferentes
espécies, devido a uma diversidade maior de alimentos e presença de microhabitats
mais diversificada e de microclimas (BEGON et al., 2006).
Conclusões
A homogeneidade do plantio de eucalipto pode favorecer algumas espécies de
insetos para atingir números elevados e causar danos. Por outro lado, menor número de
indivíduos e de espécies de Lepidoptera pragas no fragmento de vegetação nativa indica
346
que a manutenção de áreas inseridas em monoculturas de eucalipto e a manutenção de
plantas de sub-bosque podem aumentar a heterogeneidade espacial e contribuir para
uma maior diversidade de espécies e para o controle natural de insetos herbívoros em
reflorestamentos com eucalipto. A diversidade elevada dentro das plantações de
eucalipto da Cenibra pode explicar o fato de que esta empresa nunca teve qualquer
problema econômico com espécies de Lepidoptera desfolhadoras em suas plantações.
Literatura Citada
BEGON, M.; HARPER, J.L.; TOWNSEND, C.R. Ecology: from individuals to
ecosystems. 4. ed. Blackwell Publishing, 2006. 752p.
BRAGANÇA, M.A.L.; ZANUNCIO, J.C.; PICANÇO, M. et al. Effects of
environmental heterogeneity on Lepidoptera and Hymenoptera populations in
Eucalyptus plantations in Brazil. Forest Ecology Management, v.103, p.287-292,
1998.
ZANUNCIO, J.C. (Coord.). Manual de pragas em florestas - Lepidoptera
desfolhadores de eucalipto: biologia, ecologia e controle. Viçosa: IPEF/SIF, 1993.
140p.
ZANUNCIO, J.C.; MEZZOMO, J.A.; GUEDES, R.N.C. et al. Influence of strips of
native vegetation on Lepidoptera associated with Eucalyptus cloeziana in Brazil. Forest
Ecology Management, v.108, p.85-90, 1998a.
ZANUNCIO, T.V.; ZANUNCIO, J.C.; MIRANDA, M.M.M. et al. Effect of plantation
age on diversity and population fluctuation of Lepidoptera collected in Eucalyptus
plantations in Brazil. Forest Ecology Management, v.108, p.91-98, 1998b.
347
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
7.12. Resposta de Hymenoptera inimigos naturais à diversidade vegetal1
Gabriely Köerich Souza2, Onice Teresinha Dall‟Oglio3, Tiago Georg Pikart2, Rodolfo
Alves Barbosa4, Emerson Cordeiro Lopes4, José Cola Zanuncio5
1
Projeto de pesquisa.
Mestrando do Programa de Pós-graduação em Entomologia, UFV.
3
Professor da Universidade Federal do Mato Grosso.
4
Estudante de graduação em Engenharia Florestal, UFV.
5
Professor do Departamento de Biologia Animal, UFV.
2
Resumo: Os parasitóides representam o maior grupo de inimigos naturais para o
controle biológico de insetos, com predominância de espécies famílias Braconidae,
Ichneumonidae, Eulophidae, Pteromalidae, Encyrtidae e Aphelinidae da ordem
Hymenoptera. A presença de vegetação nativa pode melhorar a distribuição de
Hymenoptera inimigos naturais e reduzir populações de Lepidoptera pragas em plantios
de eucalipto. A abundância de Hymenoptera parasitóides foi estudada em
reflorestamento de eucalipto e mata nativa, com 11 armadilhas Malaise em um transecto
eucalipto-mata nativa durante um ano. Um total de 2.099 indivíduos de nove
superfamílias e 26 famílias foi coletado. A superfamília Ichneumonoidea apresentou o
maior número de indivíduos, seguida por Chalcidoidea e Platygastroidea e o número de
indivíduos parasitóides foi maior nas proximidades e bordas da vegetação nativa,
demonstrando importância de fragmentos de vegetação nativa, intercalados com
plantios de eucalipto, como estratégia no manejo de pragas nesses plantios.
Palavras-chaves: eucalipto, diversificação, inimigos naturais
Response of Hymenoptera natural enemies to the vegetal diversity
Abstract: Parasitoids represent the most common group of natural enemies used for
biological control of insects, being the families Braconidae, Ichneumonidae,
Eulophidae, Pteromalidae, Encyrtidae and Aphelinidae, order Hymenoptera, the most
used. The presence of native vegetation in the eucalyptus plantations can improve the
distribution of Hymenoptera natural enemies and thereby reduce populations of
Lepidoptera pests in these crops. Thus, abundance of Hymenoptera parasitoids was
studied in a eucalyptus plantation and in a native vegetation area with 11 Malaise traps
in a transect with native vegetation-eucalyptus plantation during one year. A total of
2,099 individuals of nine superfamilies and 26 families of Hymenoptera were collected.
The superfamily Ichneumonoidea presented the highest number of individuals, followed
by Chalcidoidea and Platygastroidea. Higher number of parasitoids was collected in the
vicinity and borders of the native vegetation what demonstrates that fragments of native
vegetation inserted with eucalyptus plantations should be recommended as a strategy of
pest management in these plantations.
Key Words: eucalyptus, diversification, natural enemies
348
Introdução
Os parasitóides representam o grupo mais comum de inimigos naturais para o
controle biológico de insetos, com predominância de espécies de Hymenoptera e, em
menor escala, daquelas de Diptera. Na primeira ordem, as famílias Braconidae,
Ichneumonidae, Eulophidae, Pteromalidae, Encyrtidae e Aphelinidae apresentam as
espécies mais empregadas no controle biológico (VAN DRIESCHE & BELLOWS,
1996). Embora as espécies de Hymenoptera exibam grande diversidade de hábitos,
predominam, nesta ordem, insetos entomófagos, em número de espécies, freqüência e
eficácia com que atacam insetos pragas.
A associação de vegetação nativa aos agroecossistemas tem sido justificada, pelo
menos em parte, como forma de manipulação ambiental de um sistema amplo de
manejo de espécies-praga (ALTIERI & LETOURNEAU, 1984). No entanto, a
implementação de um modelo silvicultural com alta tecnologia, para se obter maior
produtividade e qualidade, tem levado a uma maior simplificação ambiental e ao
aumento da ocorrência de pragas. Por outro lado, a presença de vegetação nativa nos
plantios de eucalipto pode melhorar a distribuição de Hymenoptera inimigos naturais e,
com isso, reduzir as populações de Lepidoptera pragas nesses plantios (ZANUNCIO et
al., 1998).
O objetivo deste trabalho foi estudar a abundância das famílias de Hymenoptera
parasitóides e avaliar qualitativa e quantitativamente suas populações em
reflorestamento de eucalipto e em um fragmento de mata nativa adjacente ao mesmo.
Material e Métodos
O estudo foi realizado no estado de Minas Gerais em plantio de Eucalyptus
grandis, no Vale do Rio Doce, a 19º 20‟de Latitude Sul e 42º 25‟de Longitude Oeste,
em uma área de 2.909,65ha, sendo 815ha com plantios de Eucalyptus grandis e
Eucalyptus torelliana, intercalados com 1.363,83ha de áreas de preservação e
remanescentes de vegetação nativa. Os demais 730,82ha compreendem áreas de
pesquisa, pastagens, represas e sedes. Os Hymenoptera parasitóides foram coletados
com onze armadilhas Malaise instaladas em um transecto abrangendo áreas de
eucalipto, reserva de vegetação nativa, bordas e, novamente, plantio de eucalipto em
uma linha, com altitudes semelhantes e distanciadas 100m uma da outra.
Os pontos amostrais foram marcados com auxílio de um GPS (sistema de
posicionamento global). As três primeiras armadilhas foram localizadas no interior de
um talhão de eucalipto a 300, 200 e 100m da transição com a mata nativa; a quarta na
transição; a quinta, sexta e sétima no interior do fragmento de mata nativa de,
aproximadamente, 400m de largura; a oitava na outra transição; e a nona, décima e
décima primeira armadilhas a 100, 200 e 300m da transição mata nativa-eucalipto, em
outro talhão de eucalipto.
A cada duas semanas, os potes coletores foram retirados, levados à sede da
fazenda e enviados à Universidade Federal de Viçosa em Viçosa, Minas Gerais, onde os
insetos foram triados, quantificados e catalogados.
349
Resultados e Discussão
Foram realizadas 27 coletas, com a captura de 2.099 Hymenoptera parasitóides,
de nove superfamílias (Ceraphronoidea, Chalcidoidea, Chrysidoidea, Cynipoidea,
Evanioidea, Ichneumonoidea, Platygastroidea, Proctotrupoidea e Vespoidea) e 26
famílias. O número total de indivíduos coletados foi baixo com maior número das
superfamílias Ichneumonoidea e Chalcidoidea, com 1.029 e 507 indivíduos, o que
representou 49,02 e 24,15% do total coletado, respectivamente.
As famílias Ichneumonidae e Braconidae apresentaram maiores números de
indivíduos (577 e 452), representando 27,49 e 21,53% dos parasitóides coletados.
Embora a família Ichneumonidae tenha apresentado o maior número de indivíduos,
Braconidae apresentou o maior número de morfo-espécies, sendo coletados
representantes dessas duas famílias em todos os pontos amostrais. A superfamília
Chalcidoidea teve indivíduos coletados de 12 famílias (Chalcididae, Encyrtidae,
Eucharitidae, Eulophidae, Eupelmidae, Eurytomidae, Mymaridae, Perilampidae,
Pteromalidae, Signiphoridae, Torymidae e Trichogrammatidae). A família Eulophidae
apresentou maiores números de indivíduos (185), com 8,81% dos indivíduos e 34
morfo-espécies. Por outro lado, as famílias Signiphoridae e Trichogrammatidae tiveram,
apenas, um indivíduo coletado para cada uma.
Da superfamília Platygastroidea, a família Scelionidae representou 17,82% dos
indivíduos capturados, com 374 indivíduos, de 25 morfoespécies, enquanto a família
Platygasteridae teve, apenas, 0,62%, com 13 indivíduos de sete morfoespécies.
A família Dryinidae apresentou o maior número de indivíduos e de morfoespécies da superfamília Chrysidoidea, com 1,05% dos indivíduos coletados. Bethylidae
e Chrysididae tiveram três e 11 indivíduos coletados de duas e três morfo-espécies.
A superfamília Cynipoidea teve indivíduos coletados das famílias Eucoilidae e
Figitidae, com 37 e um indivíduo, respectivamente.
As superfamílias com menores números de indivíduos foram Ceraphronoidea,
com representantes da família Ceraphronidae; Evanioidea da família Evaniidae;
Proctotrupoidea das famílias Diapriidae e Monomachidae; e Vespoidea, da família
Rhopalosomatidae.
Os Hymenoptera parasitóides foram coletados durante todo o ano, com diferentes
números de indivíduos para algumas famílias, mas a maioria dos mesmos foi coletada
em março, abril e agosto.
A variação no número de indivíduos coletados dos diversos grupos de
Hymenoptera parasitóides pode ser devida a diferenças na abundância dessas espécies
nos plantios de eucalipto, na mata nativa e nas bordas, além de poder refletir as
características da fauna regional, a sazonalidade dos insetos e o tipo de armadilha ou
período de amostragem. O menor número de indivíduos coletados, de algumas famílias
como Mymaridae, Signiphoridae e Trichogrammatidae, pode ser devido ao tamanho
reduzido de suas espécies, o que pode levar à perda de material, pois a diversidade,
abundância, sobrevivência e atividade dos parasitóides podem ser afetadas pelas
condições microclimáticas, disponibilidade de alimento, pela competição intra e
interespecífica e por outros organismos (ALTIERI et al. 1993).
Maiores números de indivíduos de Hymenoptera inimigos naturais foram
capturados no eucalipto próximo à vegetação nativa (100m de sua borda). É possível
que espécies desse grupo encontrem maior disponibilidade de alimento e hospedeiros
350
em locais de transição, devido à maior diversidade da vegetação em sucessão ecológica,
o que proporciona maior variedade de espécies vegetais, com refúgios mais adequados e
maior disponibilidade de alimento, pela maior diversidade de espécies animais. Por isto,
a manutenção ou implantação de vegetação nativa próxima a plantios de eucalipto pode
melhorar a distribuição de Hymenoptera, inimigos naturais, os quais podem reduzir as
populações de Lepidoptera pragas nesses plantios (ZANUNCIO et al., 1998). A
diversificação de culturas e a manutenção de remanescentes de vegetação nativa
diminuem os danos por insetos-pragas em agroecossistemas (ALTIERI &
LETOURNEAU, 1984). No entanto, a redução na densidade relativa de plantas, pela
dispersão ou diversificação, pode não ser, por si só, a solução para problemas com
insetos-praga. De qualquer forma, a heterogeneidade ambiental é importante, pois a
freqüência dos picos populacionais de insetos é menor em áreas de vegetação nativa
pela maior resistência das plantas, à assincronia no ciclo de vida de insetos e plantas e à
maior diversidade e número de inimigos naturais (CROMARTIE, 1975).
Os parasitóides necessitam de recursos como hospedeiros, alimento, água,
refúgios etc., que, freqüentemente, não estão disponíveis, ou estão em quantidade
insuficiente em sistemas de cultivo simplificados. Por isto, a manipulação desses
recursos pode aumentar a diversidade e a abundância dos parasitóides e melhorar sua
eficiência nos agroecossistemas.
Conclusões
A fauna de Hymenoptera parasitóides coletada apresentou grande diversidade,
com indivíduos da maioria das superfamílias e famílias desse grupo e mostra que a
diversidade ambiental nos plantios de eucalipto estudados contribui para evitar
problemas com insetos pragas nos mesmos.
Literatura Citada
ALTIERI, M.A.; LETOURNEAU, D.K. Vegetation diversity and insect pest outbreaks.
CRC Critical Review in Plant Science, v.2, n.2, p.131-169, 1984.
ALTIERI, M.A.; CURE, J.R.; GARCIA, M.A. The role and enhancement of parasitic
Hymenoptera biodiversity in agroecosystems. In: LaSALLE, J.; GAULD, I.D. (Ed.)
Hymenoptera and Biodiversity. London: CAB International, 1993. p.257-275.
CROMARTIE, W.J. The effect of stand size and vegetational background on the
colonization of cruciferous plants by herbivorous insects. Journal of Applied Ecology,
v.12, n.2, p.517-533, 1975.
VAN DRIESCHE, R.G.V.; BELLOWS, T.S. Biological control. New York: Chapman
& Hall, 1996, 539p.
ZANUNCIO, J.C.; MEZZOMO, J.A.; GUEDES, R.C.N.; OLIVEIRA, A.C. Influence
of strips of native vegetation on Lepidoptera associated with Eucalyptus cloeziana in
Brazil. Forest Ecology Management, v.108, n.1, p.85-90, 1998.
351
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
7.13. Gradiente de diversidade vegetal em plantio de eucalipto afeta a fauna de
Hymenoptera inimigos naturais1
Gabriely Köerich Souza2, Teresinha Vinha Zanuncio3, Tiago Georg Pikart2, Lorena
Carla dos Reis4, Úrsula Ramos Zaidan5, José Cola Zanuncio6
1
Projeto de pesquisa.
Mestrando do Programa de Pós-graduação em Entomologia, UFV.
3
Sociedade de Investigações Florestais, UFV.
4
Estudante de graduação em Ciências Biológicas, UFV.
5
Estudante de graduação em Agronomia, UFV.
6
Professor do Departamento de Biologia Animal, UFV.
2
Resumo: A abundância da fauna de Hymenoptera foi estudada em gradiente de
diversidade no interior de um talhão de eucalipto, na borda e em uma área de vegetação
nativa. Os insetos foram coletados em cinco pontos: mata nativa, borda da mata e
eucaliptal (a 200, 400 e 600 metros da borda). O dendograma para os himenópteros
mostrou que os pontos estudados agrupam-se em dois níveis de similaridade. Aqueles
localizados no interior do eucaliptal (GRA-A, GRA-B, SAL1-A, SAL1-B, SAL2-A e
SAL2-B) formam um grupo distinto e mais semelhante entre si, e os do interior da mata
nativa (MN-A e MN-B) e na borda da mata (BOR-A e BOR-B) formam outro grupo. O
histograma da abundância de indivíduos das famílias de Hymenoptera nos pontos do
eucaliptal mostra pequeno número delas com grande número de indivíduos, enquanto o
interior da mata nativa e sua borda apresentam maior número de famílias com menor
número de indivíduos. Isto mostra que heterogeneidade da vegetação é importante como
princípio ecológico em programas de manejo de pragas em sistemas florestais, visando
o aumento do número de espécies benéficas para o controle biológico.
Palavras-chave: diversidade, Eucalyptus spp., Hymenoptera
Gradient of plant diversity in Eucalyptus plantation affects the fauna of
Hymenoptera natural enemies
Resumo: This study aimed to analyze the abundance of Hymenoptera fauna and the
existence of a gradient of diversity within a stand of eucalyptus, at the edge of it and in
an area of native vegetation. The insects were collected in five points: native forest, in
the edge of native forest and eucalyptus plantation (200, 400 and 600 meters from the
edge). The dendogram for hymenopterans showed that the points studied are grouped
into two levels of similarity. Those located within the eucalyptus plantation (GRA-A,
GRA-B, SAL1-A, SAL1-B, SAL2-A and SAL2-B) form a distinct group and most
similar to each other, and those of the interior of the native forest (MN-A and MN-B)
and on the edge of the native forest (BOR-A and BOR-B) form another group. The
histogram of the abundance of families in points of the eucalyptus plantation shows few
number of them with large numbers of individuals, while the interior of the native forest
and its edge present highest number of families with fewer individuals. This shows that
heterogeneity of vegetation is important as an ecologic principle in pest management
programs in forest systems, aimed the increasing of number of beneficial species for
biological control.
352
Key Words: diversity, Eucalyptus spp., Hymenoptera
Introdução
As espécies do gênero Eucalyptus são as essências florestais mais cultivadas no
mundo devido à sua capacidade de se adaptar a diferentes tipos de ambientes. No Brasil,
são encontradas em todas as regiões e a madeira produzida destina-se principalmente à
produção de celulose e carvão (SILVA et al., 2006).
Os lepidópteros desfolhadores representam um importante grupo de insetos para o
setor florestal, mas formigas cortadeiras dos gêneros Atta e Acromyrmex (Hymenoptera:
Formicidae) podem, também, causar grandes prejuízos e seu controle sistemático é
comum em qualquer empreendimento florestal (DELLA LUCIA, 1992). Embora os
Hymenoptera apresentem este grupo de insetos pragas do eucalipto, outras espécies
desta ordem são inimigos naturais e representam um dos importantes fatores bióticos
que regulam o tamanho e a biomassa das populações de espécies desfolhadoras do
eucalipto.
A influência das plantas sobre as populações de insetos herbívoros e de seus
inimigos naturais está relacionada com a diversidade e a concentração de recursos, pois
habitats complexos e mais persistentes suportam maior número de espécies (LAWTON
& STRONG JR, 1981).
Plantas em parcelas diversificadas são menos susceptíveis a ataques de insetos
devido à presença de uma fauna complexa de inimigos naturais; às dificuldades dos
herbívoros em localizar suas plantas hospedeiras e ao menor tempo de permanência dos
herbívoros sobre plantas nesses locais (ROOT, 1973). A hipótese de impacto de
inimigos naturais (ROOT, 1973) mostra que os especialistas e generalistas são mais
abundantes em policulturas, onde controlam mais facilmente as populações de
herbívoros. Além disso, as monoculturas anuais são continuamente alteradas, criando
microclimas desfavoráveis para parasitóides e predadores (ALTIERI et al., 1993).
Os organismos são mais numerosos em alguns habitats e regiões e escassos ou
ausentes em outros (BROWN, 1984), mas cada uma apresenta maior densidade próximo
ao centro de sua distribuição e diminui em direção às bordas, resultando na grande
maioria dos casos em uma curva normal.
Assim, o objetivo deste trabalho foi analisar a relação entre a abundância por
ponto de coleta e a existência de um gradiente de diversidade de himenópteros no
interior do eucaliptal, na borda do mesmo e em uma área de vegetação nativa.
Material e Métodos
O experimento foi conduzido no estado do Espírito Santo em plantio de
Eucalyptus spp. intercalados com áreas de conservação. As áreas estudadas são
formadas por duas áreas de Mata Atlântica e fragmentos de matas ciliares que
circundam diversas lagoas. A área desse estudo apresenta relevo plano e corresponde à
mata nativa e alguns talhões de Eucalyptus grandis e Eucalyptus saligna com altura
aproximada de 25 metros, cinco anos de idade e localizada a 19 o48‟26” de latitude sul e
40o97‟29” de longitude oeste, com altitude média de 27 metros.
Os himenópteros foram coletados em pontos previamente selecionados com 10
armadilhas Malaise, sendo duas em cada um deles. Esses pontos foram localizados em
353
transectos, sendo eles: mata nativa (MN) - interior da mata nativa a 400 metros da borda
da mata; borda da mata (BOR) - zona de contato entre a mata nativa e o talhão 027-03
(E. grandis); eucalipto (GRA) - talhão 027-03 (E. grandis) a 200 metros da borda;
eucalipto (SAL1) - talhão 027-04 (E. saligna) a 400 metros da borda; e, eucalipto
(SAL2) - talhão 027-04 (E. saligna) a 600 metros da borda.
Os potes coletores das armadilhas foram levados ao laboratório, onde os insetos
foram triados. Os himenópteros foram identificados em nível de família e agrupados nas
sub-ordens Symphyta e Apocrita, esta última dividida em Aculeata (vespas com ferrão)
e Parasitica (vespas parasitóides). As vespas parasitóides foram subdivididas em
Ichneumonoidea (Braconidae e Ichneumonidae) e Microhymenoptera (famílias
restantes).
A fauna de Hymenoptera foi estudada por análise de agrupamento, pois não foi
possível dividi-la em morfoespécies para se calcular os índices de diversidade. Essa
análise foi feita com a construção do dendograma pelo método de agrupamento pela
média. Além disso, registrou-se graficamente a abundância das famílias de
Hymenoptera de acordo com faixas de número de indivíduos para cada uma delas (1 a
5, 6 a 10, 11 a 20, 21 a 40, 41 a 80, 81 a 160, 161 a 320 e 321 a 660).
Resultados e Discussão
O dendograma para os himenópteros demonstra que os pontos estudados
agrupam-se em dois níveis de similaridade. Aqueles localizados no interior do
eucaliptal, ou seja, GRA-A, GRA-B, SAL1-A, SAL1-B, SAL2-A e SAL2-B formam
um grupo distinto e mais semelhante entre si, enquanto os do interior da mata nativa
(MN-A e MN-B) e na borda da mata (BOR-A e BOR-B) formam outro grupo.
O conjunto de duas armadilhas por ponto apresentou resultados semelhantes, entre
si, para o número de himenópteros coletados na mata e na borda da mesma, mas as
coletas por armadilha, nos pontos do interior dos talhões não apresentaram tal
semelhança.
O histograma da abundância das famílias de himenópteros nos três pontos do
eucaliptal mostra pequeno número de famílias com grande número de indivíduos,
enquanto aquelas do interior da mata nativa e da borda apresentam maior número de
famílias com menor número de indivíduos.
Embora as coletas de himenópteros nas armadilhas Malaise por ponto da mata
nativa tenham sido semelhantes, entre si, isto não ocorreu para aqueles dos talhões de
eucalipto. Por outro lado, era esperada maior similaridade entre os pontos do eucaliptal,
pela maior homogeneidade dos mesmos, que estão localizados na monocultura, com
pouca variação espacial, e talvez temporal, de sub-bosque e microclima, o que leva à
ocorrência de uma fauna menos diversificada e mais semelhante (ALTIERI et al.,
1993). Como a fauna de himenópteros da mata e da borda estão em ambientes de maior
heterogeneidade de vegetação e microclima, isto permite que esses pontos tenham
maior diversidade e melhor distribuição espacial das espécies de insetos (ALTIERI et
al., 1993). Ambientes menos modificados apresentam maior complexidade de habitats e
diversidade de hospedeiros, enquanto na borda da mata existem himenópteros
característicos da mata e do eucalipto, além dela própria. Isto pode ser comprovado pelo
dendograma dos Hymenoptera que mostra o padrão de distribuição desses indivíduos,
com os pontos da mata nativa e borda formando um grupo e o eucaliptal formando outro
com pontos mais semelhantes.
354
O menor número de famílias com muitos indivíduos no eucaliptal mostra que este
local apresenta menor diversidade de espécies hospedeiras dos himenópteros em relação
à mata, e que, apenas, aqueles capazes de utilizar os hospedeiros presentes no eucaliptal
persistem e aumentam suas populações nesses locais. O maior número de espécies dos
Hymenoptera na mata nativa pode ser devido a este ambiente ser pouco modificado e
ter maior complexidade de habitats e maior diversidade de hospedeiros para os
Hymenoptera. Por outro lado, a maior abundância na borda da mata pode ter ocorrido
pelo fato deste local ter espécies do eucaliptal e da mata nativa.
Como o ambiente do eucaliptal é, provavelmente, mais pobre em recursos
importantes para os himenópteros, como néctar, polén e abrigo, isto pode reduzir as
chances de sobrevivência e reprodução desses insetos nesses ecossistemas. Por isto, à
medida que a distância dos pontos de coleta do eucaliptal aumenta em relação à mata
nativa, as populações de herbívoros seriam mais abundantes e seus inimigos naturais
menos numerosos. Isto ocorre porque os inimigos naturais tendem a apresentar maior
riqueza e abundância na borda da mata, onde podem ser favorecidos pela maior
quantidade de fontes de alimento e abrigo (ALTIERI et al., 1993).
Conclusões
Os aspectos abordados demonstram a importância da heterogeneidade da
vegetação como princípio ecológico em programas de manejo de pragas em sistemas
florestais. Isto ficou evidenciado pelo significado positivo das áreas de conservação,
intercaladas aos talhões de eucalipto.
O aumento da diversidade e da complexidade estrutural da vegetação favorece a
multiplicação de himenópteros parasitóides, os quais podem reduzir as populações de
insetos pragas em monoculturas florestais. Isto demonstra a importância da
heterogeneidade da vegetação como princípio ecológico para sistemas de manejo de
pragas florestais em reflorestamentos de eucalipto.
Literatura Citada
ALTIERI, M.A.; CURE, J.R.; GARCIA, M.A. The role and enhancement of parasitic
Hymenoptera biodiversity in agroecosystems. In: LaSALLE, J.; GAULD, I.D. (Eds.)
Hymenoptera and biodiversity. London: CAB International, 1993. p.257-275.
BROWN, J.H. On the relationship between abundance and distribution of species.
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DELLA LUCIA, T.M.C. Bioecologia e controle de formigas cortadeiras. In: 2ª Reunião
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Lagoas: EMBRAPA, 1992. p.35-45.
LAWTON, J.H. & D.R. STRONG JR. 1981. Community patterns and competition in
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species for the production of essential oils. Scientia Agricola, v.63, n.1, p.85-89, 2006.
355
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
7.14. Manejo de pragas de eucalipto com ambiente heterogêneo
Ancidériton Antonio de Castro1, Emerson Cordeiro Lopes2, Rodolfo Alves Barbosa2,
Antonio José Vinha Zanuncio2, Rosenilson Pinto3, José Cola Zanuncio4
1
Doutorando do Programa de Pós-graduação em Entomologia.
Estudante de graduação em Engenharia Florestal.
3
Pós-doutorando do Programa de Pós-graduação em Entomologia.
4
Professor do Departamento de Biologia Animal.
2
Resumo: O efeito da heterogeneidade ambiental sobre a distribuição e abundância de
Lepidoptera foi avaliado em plantações de eucalipto com vegetação natural. As coletas
foram realizadas em Aracruz, ES, Brasil, em cinco locais ao longo de um transecto de
1000 m, a partir de um bosque nativo e “stands” de Eucalyptus grandis e Eucalyptus
saligna. As coletas foram realizadas com armadilhas luminosas, registrando o número
de indivíduos por espécie em cada local. Uma correlação positiva foi encontrada entre o
número de locais onde cada espécie foi registrada e sua abundância média local (r2 =
0,45, P <0,01, n = 7,901), indicando que as espécies mais onipresentes de Lepidoptera
são também aqueles que foram localmente mais abundantes. Nenhuma espécie-praga foi
registrada entre aquelas mais abundantes. Espécies-praga em geral apresentaram
abundância moderada e apenas três em cada dez foram encontradas em todos os locais.
Portanto, as espécies-praga foram condicionadas pela heterogeneidade conferida pela
coexistência de plantações de eucalipto e de vegetação nativa remanescente.
Palavras–chave: abundância local, distribuição regional, fragmentos florestais,
Lepidoptera
Pest management of eucalyptus with heterogeneous environment
Abstract: The effect of environmental heterogeneity on the distribution and abundance
of Lepidoptera was tested in Eucalyptus plantations interwoven with natural vegetation.
Collections were carried out in Aracruz, ES, Brazil, in five sites along a 1000 m transect
starting in a native woodland and penetrating stands of Eucalyptus grandis and
Eucalyptus saligna. Collections were undertaken with light traps, recording the number
of individuals per morphospecies in each site. A positive correlation was found between
the number of sites where each species was recorded and its mean local abundance (r2 =
0.45; P < 0.01; n = 7901), indicating that the more ubiquitous Lepidoptera species are
also those that were locally more abundant. No pest species was recorded among those
very abundant. Pest species generally presented moderate abundances and only three
out of ten were found at all sites. It seems, therefore, that pest species were constrained
by the heterogeneity conferred by the coexistence of Eucalyptus plantations and
remnants of native vegetation.
Key Words: Local abundance, Forest fragments, Lepidoptera, Regional distribution
Introdução
Plantações de eucalipto no Brasil são geralmente áreas contínuas e extensas,
conforme a definição de monocultura. Essa homogeneidade inerente às monoculturas
356
tem sido agravada pela prática crescente de plantio de clones de eucalipto (ver
Laranjeiro, 1994). Monoculturas são mais propensas a ataques de pragas que habitats
diversos (Andow, 1991). Mecanismos que conduzem à susceptibilidade incluem: (i) a
concentração de recursos que permitam expansão da população, e (ii) estrutura da
planta, espacial e temporal, homogênea, aumentando a previsibilidade dos recursos e,
portanto, facilitando o ataque de pragas. Além disso, os inimigos naturais são menos
abundantes nas monoculturas, devido às condições climáticas inadequadas (Altieri et
al., 1993) e a ausência de locais de forrageamento, repouso e oviposição. Para diminuir
os problemas de pragas em plantações de eucalipto, uma estratégia adequada poderia ser
a ruptura da homogeneidade do sistema, por exemplo, a preservação da vegetação
nativa remanescente da cultura. Essa estratégia já está em uso no Brasil, mas sua
eficácia é inferida, principalmente, de resultados empíricos, ao invés de uma análise
científica precisa. Este trabalho objetivou-se avaliar a heterogeneidade ambiental em
plantações de eucalipto e determinar se isso poderia diminuir a abundância de
Lepidoptera pragas.
Material e Métodos
O experimento foi realizado em uma plantação de eucalipto contendo espécies
nativas tropicais remanescentes de floresta úmida em Aracruz (ES), Brasil. A
temperatura média anual na região é 24 °C, com uma amplitude de 18,5 a 30 °C e
precipitação média anual de 1364 mm. A estação seca bem definida ocorre no inverno
(junho a setembro). Altitude é de 27 m acima do nível do mar.
As coletas foram realizadas três vezes por mês, de abril a agosto de 1993, em
cinco locais ao longo de um transecto de 1000 m, nos seguintes habitats: (i) 189,5 ha de
vegetação nativa remanescente, (ii) uma estrada de 5 m de largura entre o remanescente
e o plantio de eucalipto, (iii) um “stand” de Eucalyptus grandis, (iv) zona de transição
entre os dois "stands" de E. grandis e E. saligna, e (v) mesmo que o último, mas com
mais 200 m ao longo do transecto.
A floresta de eucalipto possuia 5 anos e aproximadamente 25 m de altura.
Nenhuma prática cultural, mecanizada ou química foi usada na área experimental seis
meses antes do início do experimento. Lepidoptera foram coletados por armadilhas de
luz ultravioleta que foram ativadas a partir das 16:00 h às 07:00 h, seguindo um
esquema aleatório restrito que não permite duas armadilhas adjacentes serem ativadas
simultaneamente, minimizando a interferência.
Espécies de Lepidoptera foram identificadas em comparação com a coleção da
Universidade Federal de Viçosa, Departamento de Biologia Animal, Seção de
Entomologia Florestal. Os dados foram analisados em termos da riqueza de espécies,
abundância total, índice de uniformidade, assim como a parcela significativa do número
médio de indivíduos por espécie (eixo y) versus o número de locais em que cada espécie
foi registrada (eixo x). A linha de regressão foi montada a partir de erros Poisson, cujos
resíduos foram investigados após o ajuste, a fim de assegurar a precisão estatística.
Resultados e Discussão
790 espécies de mariposas (Insecta: Lepidoptera), totalizando 8.569 indivíduos
foram coletados. Dentre estas, 10 espécies são consideradas como "pragas primárias"
em plantações de eucalipto (Zanuncio et al., 1994). O maior número de espécies foi
357
encontrado na borda entre o “stand” remanescente e eucalipto, enquanto o menor
número foi encontrado no “stand” contendo uma única espécie de eucalipto.
Abundâncias foram maiores nos ecossistemas modificados, com valores variando 1418
a 2188 indivíduos. O menor valor de abundância (1190) foi encontrado na floresta
residual. A fauna da vegetação nativa remanescente foi mais equilibrada de forma
equitativa entre as espécies, sem dominância. Em contrapartida, a fauna da plantação de
eucalipto foi numericamente dominada por poucas espécies. As espécies locais mais
abundantes também foram as mais difundidas, enquanto que as espécies que apresentam
moderada a baixa abundância local tende a ocorrer em poucos locais (r2= 0,45; P <0,01;
n = 790; Fig. 1).
Figura 1 - Relação entre a abundância média local e o número de locais onde as espécies de Lepidoptera
foram registradas, ao longo de um gradiente de uma floresta residual a “stands” de eucalipto,
em Aracruz. ES, Brasil. Linha de regressão com erros Poisson, corrigido para superdispersão.
Espécies são numericamente dominantes em plantações de eucalipto, enquanto na
floresta residual, a abundância de espécies é mais equilibrada. Isto está de acordo com a
expectativa teórica de que as monoculturas favorecem determinadas espécies, e pode
ampliar sua abundância, às vezes conduzindo a status de pragas. Policultivos (aqui
representada pelo residual floresta) promove tendência oposta. Como os recursos
específicos não são tão concentrados, espécies tendem a experimentar mais restrições na
construção de sua abundância. Como resultado, o tamanho das populações é, em geral,
mais equilibrado entre as espécies e os surtos são menos prováveis de ocorrer.
O mesmo raciocínio é válido se considerarmos toda a região (“stands” de
eucalipto mais floresta nativa remanescente) como "policultura". Aqui, os
remanescentes nativos contribuem para a criação da heterogeneidade genética e
estrutural necessária para diminuir a tendência de insetos alcançarem maior abundância.
Por conseguinte, tais espécies serão restritas a algumas áreas, onde esperamos não
358
chegarem à abundância tão elevada para obter o status de praga. Em vez disso, uma
paisagem mista deve ser caracterizada por espécies que não beneficiam de alimento
abundante e recursos e deve ser relativamente livre de problemas graves de pragas.
Para testar essas ideias, nós analisamos a variação espacial na abundância dentro
das espécies. Se o conjunto de ambientes (floresta + eucalipto) em estudo for
heterogêneo o suficiente para apresentar restrições ao potencial de espécies de pragas,
estes devem ser restritos a alguns locais e não atingir valores elevados de abundância.
Simultaneamente, o grupo de espécies que apresentam maior abundância local deve ser
amplo sobre a região, porque estes são generalistas, que podem lidar com uma ampla
gama de variação de recursos (Brown, 1984). Portanto, em tais situações, pode-se
esperar uma correlação positiva entre o número de locais que uma espécie ocorre e sua
abundância média local, ao invés de negativa ou nula (Gaston e Lawton, 1990). Essa
correlação foi encontrada em nossos dados (Fig. 1). Além disso, não foram registradas
espécies de pragas, entre as 13 espécies localmente mais abundantes e difundidas. As
espécies de pragas que foram amostradas tendem a ocorrer em densidades moderadas e
apenas três em cada dez eram onipresentes.
Conclusões
Preservar vegetação nativa remanescente dentro de plantações de eucalipto pode
ser uma estratégia adequada para gerenciar a incidência de insetos-praga. Entretanto,
experimentos de manipulação, explorando a relação causa/efeito precisam ser feitos
antes de nossas sugestões serem tomadas como recomendações técnicas.
Agradecimentos
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), à
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e à Fundação
de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) pelas bolsas e auxílios
concedidos.
Literatura Citada
ALTIERI, M.A.; CURE, J.R.; GARCIA, M.A. The role and enhancement of parasitic
Hymenoptera biodiversity in agroecosystems. In: LASALLE, J.; GAULD, I.D. (Eds.),
Hymenoptera and Biodiversity. CAB, London, p.257-275, 1993.
ANDOW, D.A. Vegetational diversity and arthropod population response. Annual
Review of Enlomology, v.36, p.561-586, 1991.
BROWN, J.H. On the relationship between abundance and distribution of species.
American Naturalist, v.114, p.255-279, 1984.
GASTON, K.J.; LAWTON, J.H. Effects of scale and habitat on the relationship
between regional distribution and local abundance. Oikos, v.58, p.329-335, 1990.
LARANJEIRO, A.J. Integrated pest management at Aracruz Celulose. Forest Ecology
and Management, v.65, p.45-52, 1994.
ZANUNCIO, J.C.; NASCIMENTO, E.C.; GARCIA, J.F. et al. Major lepidopterous
defoliators of eucalypt in southeast Brazil. Forest Ecology Management, v.65, p.5363, 1994.
359
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
7.15. Neem (Azadirachta indica) apresenta potencial para o manejo integrado de
Anticarsia gemmatalis (Lepidoptera: Noctuidae)
Ancidériton Antonio de Castro1, Sheila Abreu Mourão2, Janaina Canaan Rezende3, José
Milton Milagres Pereira4, Carlos Sigueyuki Sediyama5, José Cola Zanuncio6
1
Doutorando do Programa de Pós-graduação em Entomologia.
Pós-doutorando do Programa de Pós-graduação em Entomologia.
3
Estudante de graduação em Agronomia.
4
Técnico de nível superior do Departamento de Biologia Animal.
5
Professor do Departamento de Fitotecnia.
6
Professor do Departamento de Biologia Animal.
2
Resumo: A lagarta desfolhadora Anticarsia gemmatalis Hubner (Lepidoptera:
Noctuidae) é praga chave da soja, por danificar as plantas do início da fase vegetativa
até a reprodutiva, podendo causar grandes perdas na produção. O objetivo desse
trabalho foi avaliar a eficiência do extrato de neem (Azadirachta indica A. Juss) no
controle desse inseto. O extrato de neem foi pulverizado em plantas de soja, em estágio
fenológico V3 e V4, e, após três horas da aplicação ramos dessas plantas foram
envolvidos por uma sacola de organza e infestados com oito lagartas de A. gemmatalis
cada um, sendo 80 lagartas por tratamento em 10 repetições. A mortalidade total de A.
gemmatalis foi de 17,65; 23,24; 29,97; 34,64; 50,41; 68,24 e 77,32% até o final da fase
de pupa, nas concentrações de 0,0; 2,5; 5,0; 10,0; 15,0; 20,0 e 25,0% do extrato de
neem. O extrato dessa planta mostrou potencial para reduzir populações de A.
gemmatalis, especialmente na concentração de 25% e pode ser uma alternativa para
programas de manejo integrado de A. gemmatalis.
Palavras–chave: inseticidas naturais, lagarta desfolhadora, soja
Neem (Azadirachta indica) presents potential for integrated management of
Anticarsia gemmatalis (Lepidoptera: Noctuidae)
Abstract: Anticarsia gemmatalis Hubner (Lepidoptera: Noctuidae) is considered the
key pest of soybean plants damaging early vegetative to the reproductive stages and can
cause yield losses on this culture. The objective of this study was to evaluate the
efficiency of neem extracst (Azadirachta indica A. Juss) to control this insect. The neem
extract was sprayed on soybean plants at growth stage V3 and V4 and eight branches of
soybean plants were involved three hours after the application with organza bags and
infested with 10 larvae of A. gemmatalis each, with 80 larvae per treatment in 10
replications. The total mortality of A. gemmatalis was 17.65, 23.24, 29.97, 34.64, 50.41,
68.24 and 77.32% at the end of the pupa stage with the concentrations of 0.0, 2.5; 5.0,
10.0, 15.0, 20.0 and 25.0% of neem extracts The extract of this plant showed potential
to reduce population of A. gemmatalis, especially at a concentration of 25% and can be
an alternative for integrated management programs of A. gemmatalis.
Key Words: defoliating caterpillars, natural insecticides, soybean
360
Introdução
A lagarta-da-soja, Anticarsia gemmatalis Hubner (Lepidoptera: Noctuidae) é a
praga desfolhadora mais importante dessa cultura no Brasil do sul de Goiás ao Rio
Grande do Sul (Embrapa Soja 2006), sendo controlada com pesticidas convencionais,
mas outros métodos têm sido estudados. Extratos de plantas com potencial inseticida
têm sido utilizados, principalmente, quando agrotóxicos não são permitidos, como na
agricultura orgânica e sistemas familiares (Mourão et al. 2004). Os componentes de
neem (Azadirachta indica A. Juss) e a nicotina, rotenona e piretrinas naturais são os
fitoquímicos mais estudados. Produtos derivados do neem são, rapidamente, degradados
no solo e nas plantas e não são tóxicos ao homem.
A azadiractina, encontrada principalmente nas sementes e, em menor quantidade,
na casca e folhas de A. indica, é considerado o principal composto responsável pelos
efeitos tóxicos aos insetos (Silva et al. 2007). Os mecanismos de ação de extratos de
neem a insetos são, ainda, pouco conhecidos, mas a azadiractina atua na inibição da
alimentação, atrasa o desenvolvimento e o crescimento de larvas, reduz a fecundidade e
fertilidade, altera o comportamento, causa anomalias nas células e na fisiologia e
mortalidade de ovos, larvas e adultos de insetos, ácaros, fungos e nematóides.
Inseticidas fitoquímicos, como extratos de neem, apresentam vantagens
ecotoxicológicas sobre inseticidas sintéticos tradicionais. Por isto, o objetivo foi avaliar
a eficácia do extrato de neem (Bioneem Universal), por pulverização foliar sobre A.
gemmatalis em plantas de soja.
Material e Métodos
Esta pesquisa foi conduzida em casa de vegetação do Programa de Melhoramento
Genético de Soja do Departamento de Fitotecnia com fotoperíodo natural, temperaturas
máximas de 27,78 ± 0,61 e mínimas de 12,91 ± 0,66 °C na Universidade Federal de
Viçosa (UFV) em Viçosa, Minas Gerais. Sementes do cultivar de soja UFV-16 foram
obtidas do Departamento de Fitotecnia da UFV e as plantas cultivadas em vasos
plásticos com, aproximadamente, 10,0 litros de capacidade sobre bancadas de um metro
de largura por 3,5 metros de comprimento. As plantas utilizadas foram utilizadas entre
os estádios vegetativos V3 ou V4 até o reprodutivo R5 (Embrapa Soja 2006).
As lagartas de A. gemmatalis foram obtidas da criação massal do laboratório de
controle biológico de insetos, do Instituto de Biotecnologia Aplicada à Agropecuária da
UFV. O extrato de neem universal bioneem (óleo emulsionável obtido por prensagem a
frio das sementes de neem) utilizado é comercializado como inseticida natural e
certificado como produto orgânico pela EcocertBrasil (www.bioneem.com.br/). O
extrato de neem foi aplicado nas plantas de soja nos estádios fenológicos V3 e V4, nas
concentrações de 0,0; 2,5; 5,0; 10,0; 15,0; 20,0 e 25,0%, com pulverizador costal
pressurizado a CO2, ponta tipo leque dupla T11002VS, pressão de 2,5 bar e volume de
calda de 100 litros/ha. Os tratamentos foram: T1- A. gemmatalis + ramo de soja
(controle, pulverizado com água= A), T2- A. gemmatalis + ramo de soja (pulverizado
com extrato de neem 2,5L p.c/ha= N2,5%), T3- A. gemmatalis + ramo de soja
(pulverizado com extrato de neem 5L p.c/ha= N5,0%), T4- A.gemmatalis + ramo de soja
(pulverizado com extrato de neem 10L p.c/ha= N10,0%), T5- A. gemmatalis + ramo de
soja (pulverizado com extrato de neem 15L p.c/ha N15%), T6- A. gemmatalis + ramo de
soja (pulverizado com extrato de neem 20L p.c/ha= N20,0%), T7- A. gemmatalis + ramo
de soja (pulverizado com extrato de neem 25L p.c/ha= N25,0%).
361
As plantas de soja foram levadas para casa de vegetação e, três horas após a
aplicação do extrato de neem, seus ramos foram envolvidos por uma sacola de organza
e infestados com oito lagartas de A. gemmatalis por ramo, sendo 80 lagartas por
tratamento em 10 repetições em delineamento inteiramente casualizado. A mortalidade
larval, a viabilidade pupal e a emergência de adultos de A. gemmatalis foram avaliadas.
Esses parâmetros foram submetidos à análise de variância e ao teste de Tukey 5% com
o programa estatístico SAEG versão 9.1-2007.
Resultados e Discussão
A mortalidade de lagartas de A. gemmatalis, após exposição ao extrato de neem
em folhas de soja nas concentrações de 0,0; 2,5; 5,0; 10,0; 15,0; 20,0 e 25,0%, foi de
0,00; 3,17; 7,18; 5,00; 11,25; 16,75 e 18,15%, respectivamente. A viabilidade pupal
desse inseto foi menor nos tamentos T6 e T7 (Tabela 1), mas a redução do número de
lagartas do inseto foi baixa. A mortalidade de pupas de A. gemmatalis foi maior que a
de lagartas em todos os tratamentos (Tabela 1). A emergência de adultos de A.
gemmatalis foi menor nas concentrações de 15,0; 20,0 e 25,0% do extrato de neem
(Tabela 1), reduzindo a população de adultos dessa praga, especialmente na
concentração de 25,0%, com 22,68% de sobrevivência de adultos dessa lagarta.
Tabela 1- Percentagem de mortalidade de larvas, viabilidade de pupas, mortalidade de
pupas e emergência de adultos de Anticarsia gemmatalis Hubner
(Lepidoptera: Noctuidae) após exposição (contato e fitofagia) a plantas de
soja tratadas com extrato de neem e água, em casa de vegetação. Viçosa,
Minas Gerais
Extrato de neem
(%)
Mortalidade de
lagartas (%)
Viabilidade de pupas
(%)
Mortalidade de
pupas (%)
Emergência de
adultos (%)
0
0,00 ± 0,00 a
100,00 ± 0,00 a
17,65 ± 3,31
c
82,35 ± 3,31
d
2,5
3,17 ± 2,09 a
96,83 ± 2,09 a
20,57 ± 7,64
c
76,26 ± 7,20
d
5,0
7,18 ± 2,29 a
92,82 ± 2,29 a
22,79 ± 4,18
c
70,03 ± 3,56
cd
10,0
5,00 ± 3,33 a
95,00 ± 3,33 a
29,64 ± 3,61 bc
65,36 ± 3,73
cd
15,0
11,25 ± 5,08 ab
88,75 ± 5,08 ab
39,16 ± 5,52 abc
49,59 ± 4,83 bc
20,0
16,74 ± 4,96 b
83,26 ± 4,09 b
51,50 ± 6,72 ab
31,76 ± 6,11 ab
25,0
18,15 ± 7,21 b
81,85 ± 7,21 b
59,17 ± 7,53 a
22,68 ± 5,76 a
Médias seguidas de mesma letra, por coluna, não diferem pelo teste de Tukey 5%.
A mortalidade de lagartas e pupas de A. gemmatalis com o extrato de neem
reduziu a população de adultos dessa praga e pode ser atribuído aos mecanismos de
ação da azadirachtina, o principal composto inseticida do extrato de neem com ação em,
aproximadamente, 500 espécies de insetos, principalmente, como inibidor de
alimentação de imaturos e regulador de crescimento (Wang & Shen. 2007). A
azadirachtina apresenta maior toxicidade por ingestão que por contato, o que aumenta
seu efeito para A. gemmatalis ao se alimentar das plantas.
362
O aumento da mortalidade de pupas de A. gemmatalis com o bioneem vegetal
evidenciou inibição de crescimento dessa praga, por interrupção do desenvolvimento da
ecdise.
Mesmo causando baixa mortalidade de lagartas e pupas de A. gemmatalis em
concentrações inferiores a 15,0%, o bioneem vegetal pode diminuir a população de
adultos dessa praga. Isto pode, também, indicar que o teor de azadirachtina bioneem
vegetal possa ser baixo, por ter sido obtido pelo processo de prensagem a frio para
retirada do óleo das sementes de neem, mas 90,0% da azadirachtina da semente ficam
retidas no resíduo sólido, denominado torta de neem e, somente, 10% é extraída nesse
óleo por esse processo (Silva et al. 2007). Por isto, a eficiência de controle e a
seletividade de formulações de neem são, bastante, variáveis no mercado brasileiro,
sobretudo devido à falta de padronização do teor de azadiractina.
Conclusões
O extrato de neem bioneem vegetal mostrou potencial para reduzir populações de
A. gemmatalis, especialmente na concentração de 25,0% e pode ser uma alternativa para
a rotação de inseticidas em programas de manejo integrado dessa praga.
Agradecimentos
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), à
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e à Fundação
de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) pelas bolsas e auxílios
concedidos.
Literatura Citada
EMBRAPA SOJA. Tecnologias de Produção de Soja - Região Central do Brasil 2005.
Londrina: Embrapa Soja, 2006. 225p.
MOURÃO, S.A.; ZANUNCIO, J.C.; PALLINI FILHO, A.P. et al. Toxicidade de
extratos de nim (Azadirachta indica) ao ácaro-vermelho-do-cafeeiro Oligonychus ilicis.
Revista Agropecuária Brasileira, v.39, p.827-830, 2004.
SILVA, J.C.T.; JHAM, G.N.; OLIVEIRA, R.D.L. et al. Purification of the seven
tetranortriterpenoids in neem (Azadirachta indica) seed by counter-current
chromatography sequentially followed by isocratic preparative reversed-phase highperformance liquid chromatography. Science Direct, v.1151, p.203-210, 2007.
WANG, X.Y.; SHEN, Z.R. Potency of some novel insecticides at various
environmental temperatures on Myzus persicae. Phytoparasitica, v.35, p.414-422,
2007.
363
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
7.16. Populações de Lepidoptera e Hymenoptera afetadas pela heterogeneidade
ambiental em plantações de eucalipto no Brasil
Ancidériton Antonio de Castro1, Michell Bahia Dutra2, Camila Porto Gonçalves2,
Rosenilson Pinto3, José Milton Milagres Pereira4, José Cola Zanuncio5
1
Doutorando do Programa de Pós-graduação em Entomologia.
Estudante de graduação em Agronomia.
3
Pós-doutorando do Programa de Pós-graduação em Entomologia.
4
Técnico de nível superior do Departamento de Biologia Animal.
5
Professor do Departamento de Biologia Animal.
2
Resumo: Insetos das ordens Lepidoptera e Hymenoptera foram coletados em cinco
locais: no interior de uma floresta nativa, na zona de contato entre a mata nativa e uma
plantação de eucalipto e em três locais no plantio de eucalipto, a 200, 400 e 600 m da
borda da floresta nativa, durante cinco meses. Lepidoptera foram coletados com
armadilhas luminosas e divididos em três grupos em relação à importância como pragas
para o Eucalyptus: pragas primárias, secundárias e outras espécies não pragas
abundantes. Hymenoptera foram coletados com armadilhas Malaise e separados em
predadores, parasitóides de ovos ou de larvas. Em geral, a hipótese de heterogeneidade
foi suportada: abundância total de lepidópteros foi maior e a total de inimigos naturais
menor no plantio de eucalipto que na floresta nativa ou na borda da floresta nativa e no
plantio de eucalipto. Correlações negativas foram encontradas entre a abundância de
lepidópteros e de parasitóides de ovos e de larvas. A abundância de lepidópteros pragas
e seus inimigos naturais (Hymenoptera) foram semelhantes nos três locaisd do plantio
de eucalipto. Áreas de vegetação nativa, intercaladas com plantios de eucalipto, podem
reduzir a ocorrência de focos de lepidópteros pragas e aumentar as populações e
diversidade de inimigos naturais (Hymenoptera).
Palavras–chave: Brasil, controle biológico, diversidade vegetal, eucalipto, inimigos
naturais, Lepidoptera
Lepidoptera and Hymenoptera populations affected by environmental
heterogeneity in eucalypt plantations in Brazil
Abstract: Insects of the Lepidoptera and Hymenoptera orders were collected during
five months at five sites: in the interior of a native forest, in the zone of contact between
the native forest and a Eucalyptus plantation, and in three sites within the Eucalyptus
plantation at 200, 400 and 600 m from the edge of the native forest. Lepidoptera were
collected with light traps and divided into three groups in relation to the damage they
can cause to Eucalyptus: primary pests, secondary pests, and other abundant but nonpest species. Hymenoptera were collected with Malaise traps and categorized as
predators, egg parasitoids or larval parasitoids. In general, the heterogeneity hypothesis
was supported: abundance of total lepidopteran was higher and that of total natural
enemy lower in the Eucalyptus plantation than within the native forest or at the edge of
the native forest and the Eucalyptus plantation. Negative correlations were found
between the abundance of Lepidoptera and that of egg parasitoids and larval parasitoids.
No significant differences in the abundance of lepidopteran pests and Hymenoptera
natural enemies were found between the three sites within the Eucalyptus plantation.
364
Native vegetation areas within Eucalyptus plantations can reduce populations of
lepidopteran pests by increasing numbers of Hymenoptera natural enemies of these
pests.
Key Words: Brazil, Eucalyptus, biological control, natural enemies, Lepidoptera,
vegetational diversity
Introdução
Lepidópteros desfolhadores são pragas importantes de Eucalyptus spp. no Brasil e
estratégias de manejo para suprimir suas populações incluem o controle biológico com
bactérias e liberações de predadores Pentatomidae e Reduviidae produzidos em
laboratório (Zanuncio et al., 1994). Menor diversidade de espécies tem sido registrada
em habitats simples como monoculturas de eucalipto que em ecossistemas heterogêneos
(Andow, 1991). Insetos herbívoros são abundantes e podem causar maiores danos no
primeiro ecossistema que no último (Moore et al., 1991). Empresas florestais no Brasil
têm estabelecido uma vegetação diversificada, incluindo plantas nativas sob árvores
cultivadas como estratégia para favorecer o controle biológico. Se a maior diversidade
vegetal em áreas nativas está associada à menor abundância de herbívoros Lepidoptera
devido ao impacto de seus inimigos naturais, assim menores populações de lepidópteros
pragas e maiores populações de inimigos naturais são esperadas em plantios próximas
de áreas com vegetação nativa intacta. Esta hipótese foi avaliada pela abundância de
lepidópteros e seus inimigos naturais (Hymenoptera) em plantações de eucalipto em
distâncias cada vez maiores de uma floresta nativa.
Material e Métodos
Este estudo foi realizado em uma plantação de Eucalyptus de cinco anos junto a
florestas nativas, em Aracruz, Estado do Espírito Santo, Brasil. Exemplares de
lepidópteros e himenópteros foram coletados em cinco locais ao longo de um transecto.
O primeiro local foi localizado no interior de uma floresta nativa de 189,5 há; o segundo
na extremidade desta floresta nativa a 400 m e os terceiro, quarto e quinto no interior de
uma plantação de eucalipto. O terceiro local foi localizado em um stand de Eucalyptus
grandis a 200 m do segundo, enquanto o quarto e quinto foram localizados em um stand
de Eucalyptus saligna a 400 e 600 m do segundo local, respectivamente. Havia outra
área de floresta nativa a 300 m sul do quinto local. Lepidoptera foram amostrados com
armadilhas luminosas 2 m acima do solo a 400 m uma da outra em cada um dos cinco
locais. Amostras foram coletadas três vezes por mês durante cinco meses. Duas
armadilhas Malaise (sete dias/mês) foram utilizadas para amostragem de inimigos
naturais (Hymenoptera) instaladas ao nível do solo por local de estudo, 30 m de cada
lado de cada ponto de coleta de Lepidoptera. Os insetos foram armazenados em álcool a
95% e, em seguida, identificados em nível de família. Lepidópteros foram divididos em
três grupos com base no status de praga na plantação de eucalipto: (1) pragas primárias
(2), pragas secundárias e (3) espécies abundantes não pragas.
Resultados e Discussão
Um total de 790 espécies de Lepidoptera foi coletado. Entre elas, 10 foram
considerados pragas primárias de eucalipto e 12 secundárias. Famílias de Hymenoptera
com inimigos naturais de Lepidoptera foram: predadores- Formicidae, Sphecidae e
365
Vespidae; parasitóides de larvas- Bethylidae, Braconidae, Chalcididae, Elasmidae,
Encyrtidae, Eulophidae, Ichneumonidae e Pteromalidae e parasitóides de ovosAphelinidae, Encyrtidae, Eupelmidae, Mymaridae, Scelionidae e Trichogrammatidae. A
família Encyrtidae inclui parasitóides de ovos e de larvas de lepidópteros. O maior
número de predadores e parasitóides foi encontrado dentro e ao longo da borda da
floresta nativa que no plantio de eucalipto. Em geral, os lepidópteros apresentaram
maior número de indivíduos nas bordas da floresta nativa e em três locais dentro do
stand de eucalipto. O número de inimigos naturais nos locais de eucalipto foi menor (P
<0,05) menor que nas parcelas situadas na mata nativa e na borda. Pelo contrário, o
número de pragas primárias (Lepidoptera) foi maior nas parcelas de eucalipto. O
número de inimigos naturais foi semelhante entre os locais na plantação de eucalipto.
Hymenoptera foram coletados em maior número no interior da mata nativa e na
borda que nas plantações distantes da floresta. Isso pode ser explicado pelo fato dessas
áreas apresentarem maior heterogeneidade e abundância de plantas como fonte de
alimento (Altieri et al. 1993), refletindo em maior número de hospedeiros e presas para
os Hymenoptera (Price et al., 1980). Menor abundância desses inimigos naturais nos
plantios de eucalipto com menores recursos de pólen, néctar e abrigo e, longe das
florestas nativas, era esperada. Maior heterogeneidade de recursos na floresta nativa
pode resultar no menor número de espécies (Lepidoptera) tornarem-se pragas (Rausher,
1981). O elevado número de pragas primárias no stand de eucalipto mostra que esses
insetos podem se multiplicar neste ecossistema, onde existe maior quantidade de
alimento disponível.
O número de inimigos naturais foi semelhante entre os três locais dentro do
Eucalyptus, o que pode ser devido à proximidade da área de vegetação nativa com o
quinto local. Esta pode ser uma fonte de inimigos naturais que colonizam o plantio
Eucalyptus e diminui populações de Lepidoptera neste local. Além disso, a tendência de
redução da população de Lepidoptera neste terceiro local pode estar relacionada com a
distância entre o local e a área de floresta nativa localizada nas proximidades.
Baixas populações de Hymenoptera em locais de maiores populações de
Lepidoptera podem ser explicadas por três hipóteses: (1) melhores condições dentro e
ao longo da borda da floresta nativa favorecem os Hymenoptera que, por sua vez,
mantém baixas densidades os Lepidoptera. O eucalipto favorece populações deste
último grupo e não permite o aumento das populações de Hymenoptera. (2) mudanças
nas populações de lepidópteros pragas e inimigos naturais podem ocorrer
independentemente das condições locais. Lepidoptera são mais abundantes em
plantações de eucalipto devido à maior oferta de alimentos, enquanto os Hymenoptera
são mais abundantes na floresta nativa, onde podem encontrar maior número de
espécies hospedeiras e melhores condições ambientais (por exemplo, maior umidade,
temperaturas menos extremas, fontes de alimento para o parasitóide adulto). Embora
maiores populações de Lepidoptera foram registradas com Eucalyptus, populações de
Hymenoptera podem não aumentar uma vez que microhabitats são desfavoráveis e
menores fontes de alimento (por exemplo, néctar, pólen) nesta área. (3) pragas primárias
podem utilizar o eucalipto para aumentar suas populações.
Conclusões
Manutenção ou implantação de vegetação nativa próxima às plantações de
eucalipto pode melhorar a distribuição de inimigos naturais (Hymenoptera) e reduzir
populações de lepidópteros praga nessas áreas.
366
Agradecimentos
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), à
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e à Fundação
de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) pelas bolsas e auxílios
concedidos.
Literatura Citada
ALTIERI, M.A.; CURE, J.R.; GARCIA, M.A. The role and enhancement of parasitic
Hymenoptera biodiversity in agroecosystems. In: LASALLE, J.; GAULD, I.D. (Eds.),
Hymenoptera and Biodiversity. CAB, London, p.257-275, 1993.
ANDOW, D.A. Vegetational diversity and arthropod population response. Annual
Review of Entomology, v.36, p.561-586, 1991.
MOORE, R.; WARRINGTON, S.; WHITTAKER, J.B. Herbivory by insects on oak
trees in pure stands compared with paired mixtures. Journal of Applied Ecology, v.28,
p.290-304, 1991.
PRICE, P.W.; BOUTON, C.E.; GROSS, P. et al. Interactions among three trophic
levels: influence of plants on interactions between insect herbivores and natural
enemies. Annual Review of Ecology and Systematics, v.11, p.41-65, 1980.
RAUSHER, M.D. The effect of native vegetation on the susceptibility of Aristolochia
reticulata (Aristolochiaceae) to herbivore attack. Ecology, v.62, p.1187-l195, 1981.
ZANUNCIO, J.C.; ALVES, J.B.; ZANUNCIO, T.V. et al. Hemipterous predators of
eucalypt defoliator caterpillars. Forest Ecology Management, v.65, p.65-73, 1994.
367
SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
7.17. Ajuste de equações volumétricas para um clone de eucalipto estabelecido em
um sistema silvipastoril
Marcelo Dias Müller1, Leonardo de Oliveira Rezende2, Domingos Sávio Campos
Paciullo3, Carlos Augusto de Miranda Gomide4, Vanderlei Porfírio-da-Silva5, Carlos
Renato Tavares de Castro6
1
Pesquisador da Embrapa Gado de Leite. [email protected];
Administrador de Empresas. [email protected]
3
Pesquisador da Embrapa Gado de Leite. [email protected];
4
Pesquisador da Embrapa Gado de Leite. [email protected];
5
Pesquisador da Embrapa Florestas. [email protected];
6
Pesquisador da Embrapa Gado de Leite. [email protected].
2
Resumo: Este trabalho teve como objetivo ajustar um modelo volumétrico para um
clone de eucalipto estabelecido em um sistema silvipastoril, visando à estimativa de
volume de madeira de primeiro desbaste. Para estimação do volume foi empregado o
método da árvore modelo. Após isto foram testados seis modelos volumétricos. As
árvores amostradas apresentavam altura média de 17,14 m, Diâmetro a Altura do Peito
médio quadrático de 15,8 cm e fator de forma de 0,05. O modelo que apresentou o
melhor ajuste, tanto para volume total quanto para volume comercial foi o de Koperzky
e Gehrhardt.
Palavras–chave: desbaste, modelagem, pecuária, silvicultura
Adjustment of volume equations for an Eucalyptus clone established in a
silvopastoral system
Abstract: This study aimed to set a volumetric model to a Eucalyptus clone established
in a silvopastoral system in order to estimate timber volume of first thinning. The
volume estimation was made by using the tree model method. After this, six volumetric
models were tested. The trees sampled had an average height of 17.14 m, a diameter
breast height RMS of 15.8 cm and form factor of 0.05. The model that produced the
best fit for both volume and for total trade volume was Koperzky e Gehrhardt.
Key Words: forestry, livestock, modeling, thinning
Introdução
A estimação do volume de madeira constitui uma das informações de maior
importância para o conhecimento do potencial disponível em um povoamento florestal,
haja vista que o volume individual fornece subsídios para a avaliação do estoque de
madeira e análise do potencial produtivo das florestas (Thomas et al., 2006).
Para isto, a ferramenta mais comumente empregada é a modelagem de equações
volumétricas cujos parâmetros são determinados por regressão. Este método tem sido
considerado um procedimento eficiente para a quantificação da produção em volume de
um povoamento florestal (Leite e Guimarães, 1996).
368
Diversos estudos têm sido desenvolvidos no sentido de definir equações
volumétricas para povoamentos florestais considerando diferentes espécies, sítios,
regimes de manejo, espaçamentos e etc. Entretanto, apesar da eficiência de alguns
modelos, estes nem sempre se ajustam a todas as espécies e condições (Thomas et al.,
2006).
No caso de sistemas silvipastoris, além do uso de espaçamentos mais amplos, os
sistemas de manejo, normalmente, preconizam o uso múltiplo por meio de desbastes
intermediários, aumentando ainda mais o espaço disponível para as plantas. Esta
situação proporciona um comportamento dendrométrico diferenciado daquele
observado em plantios puros. Conforme já observado por Couto et al. (2002), árvores
estabelecidas em espaçamentos mais amplos apresentam maior conicidade,
principalmente em função do maior investimento no crescimento em diâmetro. Neste
sentido, estudos envolvendo o ajuste de equações volumétricas para árvores
estabelecidas em sistemas silvipastoris são escassos.
Dessa forma, o objetivo deste trabalho foi ajustar um modelo volumétrico para um
clone de eucalipto estabelecido em um sistema silvipastoril, visando à estimativa de
volume de madeira de primeiro desbaste aos 42 meses de idade.
Material e Métodos
Este trabalho foi conduzido em uma área de 4 hectares localizada na Fazenda
Triqueda, município de Coronel Pacheco, Zona da Mata de Minas Gerais. Foi utilizado
um clone de um híbrido de Eucalyptus grandis x Eucalyptus urophylla (GG-100). As
árvores foram estabelecidas em renques de filas duplas com espaçamento de 15 metros
entre os renques, 3 metros entre linhas de árvores (dentro do renque) e 2 metros entre
plantas (dentro das linhas), totalizando uma densidade de 555 plantas por hectare.
Inicialmente foi feita a caracterização dendrométrica do povoamento por meio da
medição de altura total (Ht) e diâmetro a altura do peito (DAP) de 120 árvores
distribuídas em 4 parcelas de 476 m2. A partir destes dados, foram selecionadas três
árvores por classe diamétrica para realização da cubagem rigorosa. As árvores foram
cubadas segundo o método de Smalian, considerando-se o comprimento de seção de 1,5
m. Foram utilizadas árvores provenientes de um desbaste sitemático, considerando a
remoção de 50% das árvores. Para estimação do volume comercial, considerou-se a
altura até o diâmetro mínimo de 4 cm com casca.
A partir dos dados da cubagem rigorosa, foram ajustados seis diferentes modelos
matemáticos de volume em função do DAP e Ht, selecionados na literatura florestal,
conforme descritos na Tabela 1, a seguir:
A seleção dos modelos volumétricos foi feita com base no coeficiente de
determinação (R2), no erro padrão da estimativa (Syx), valor de F e no valor ponderado
dos parâmetros estatísticos (VP), conforme realizado por Thomas et al. (2006).
O cálculo do Valor Ponderado seguiu a metodologia descrita por Thiersch (1997).
Assim, foram atribuídos valores ou pesos aos parâmetros estatísticos, ranqueando-se as
estatísticas de acordo com a sua eficiência. Foi atribuído peso 1 para a equação mais
eficiente, 2 para a segunda e assim sucessivamente. Após essa classificação individual,
efetuou-se o somatório da pontuação para cada modelo matemático, sendo que a
equação de volume que recebeu a menor soma foi recomendada como mais adequada
para uso.
369
Tabela 1 - Modelos volumétricos testados para estimativa de volume do fuste de árvores
de um clone de eucalipto estabelecido em sistema silvipastoril aos 42 meses
de idade
Equação Modelo
Autor
lnV=β0+β1*lnDAP+β2*lnHt
1
2
Schumacher-Hall (logaritimizado)
2
lnV=β0+β1*ln(DAP *Ht)
Spurr (logaritimizado)
3
lnV=β0+β1*lnDAP+β2*DAP
Brenac
V=β0+β1*DAP
4
2
Koperzky e Gehrhardt
5
V=β0+β1*DAP+ β2* DAP
6
V= β0+β1*DAP
2
Hohenald e Kreen
Berkhout
Resultados e Discussão
As árvores amostradas apresentavam altura média de 17,14 m, Diâmetro a Altura
do Peito médio quadrático de 15,8 cm e fator de forma de 0,05.
Na Tabela 2 encontram-se resumidos os resultados estatísticos da seleção de
equações volumétricas para estimação de volume com casca do clone de E. grandis x E.
urophylla, aos 42 meses de idade, por ocasião do primeiro desbaste.
Tabela 2 – Parâmetros estatísticos da modelagem de equações volumétricas para
estimação de volume total de árvores de E. grandis x E. urophylla, aos 42
meses de idade, estabelecidas em sistema silvipastoril
Equação
1
2
3
4
5
6
β0
-8,6626
-9,0153
-7,7245
-0,0162
0,0048
-0,1576
Coeficientes
β1
1,9687
0,8459
2,0099
0,0007
-0,0029
0,0194
β2
0,4579
0,0167
0,0008
R2
Sxy
CV
F
97,7637
97,0231
96,7740
95,5238
95,5332
94,9669
0,0422
0,0467
0,0507
0,0072
0,0075
0,0077
31,63
35,97
37,98
5,59
5,66
5,93
262,29
423,70
179,99
277,42
128,32
245,29
Os dados apresentados na Tabela 2 revelam que todos os modelos apresentaram
um alto grau de ajuste de descrição do volume total de madeira.
A seleção dos modelos com base no Valor Ponderado é apresentada na Tabela 3.
De acordo com os resultados obtidos para Valor Ponderado, o modelo que mais se
apresentou adequado para explicar o volume foi o de Koperzky e Gehrhardt. Muller et
al. (2009) observaram que o modelo que melhor se ajustou para E. grandis, aos 10 anos
de idade, estabelecido em um sistema silvipastoril misto, foi o de Schumacher e Hall.
Neste sentido, Campos e Leite (2002) observam que o modelo de Schumacher e
Hall, tem sido o mais difundido em função de suas propriedades estatísticas, uma vez
que resulta quase sempre em estimativas não tendenciosas. Entretanto, os resultados
obtidos neste trabalho contrariam esta afirmação evidenciando que, para sistemas
silvipastoris, há a necessidade de maiores estudos sobre ajuste de modelos que melhor
representem a produção florestal.
370
Tabela 3 – Valor ponderado dos escores dos parâmetros estatísticos para equações de
volume total e comercial de árvores de E. grandis x E. urophylla, aos 42
meses de idade, estabelecidas em sistema silvipastoril.
Equação
1
2
3
4
5
6
R2
1
2
3
5
4
6
Escores dos Parâmetros Estatísticos
Sxy
CV
4
4
5
5
6
6
1
1
2
2
3
3
F
3
1
5
2
6
4
VP
12
13
20
9
14
16
Conclusões
O modelo volumétrico que se apresentou mais adequado para explicar a variável
dependente volume total de madeira de um clone do híbrido de E. grandis x E.
urophylla aos 42 meses de idade, pelo método do Valor Ponderado, foi o de Koperzky
e Gehrhardt.
Agradecimentos
Os autores agradecem a Fazenda Triqueda, e seus proprietários, a disponibilização
da área para a realização de pesquisa científica e a permissão para divulgação dos
dados.
Literatura Citada
CAMPOS, J.C.; LEITE, H.G. (Ed). Mensuração Florestal: perguntas e respostas.
Viçosa, MG: UFV, 2002. 407 p.
COUTO, L.; MÜLLER, M.D.; DIAS, A.N.; TSUKAMOTO FILHO, A.A.; FONSECA,
E.M.B.; CORRÊA, M.R. Espaçamentos de Plantio de Espécies de Rápido
Crescimento para Dendroenergia. 1. ed. Belo Horizonte: CEMIG, 2002. v. 1. 66 p.
LEITE, H.G.; GUIMARÃES, D.P. Influência do número de árvores na determinação da
equação volumétrica par Eucalyptus grandis. Scientia Forestalis, n.50, p.37-42, 1996.
MÜLLER, M.D.; FERNANDES, E.N.; CASTRO, C.R.T.; PACIULLO, D.S.C.;
ALVES, F.F. Estimativa de Acúmulo de Biomassa e Carbono em Sistema
Agrossilvipastoril na Zona da Mata Mineira. Pesquisa Florestal Brasileira, v. 60, p.
11-17, 2009.
THIERSCH, A.A eficiência das distribuições diamétricas para prognose da
produção de Eucalyptus camaldulensis. Lavras, 1997. 155f. Dissertação (Mestrado em
Engenharia Florestal) - Universidade Federal de Lavras, Lavras, 1997.
THOMAS, C.; ANDRADE, C.M.; SCHNEIDER, P.R.; FINGER, C.A.G. Comparação
de equações volumétricas ajustadas com dados de cubagem e análise de tronco. Ciência
Florestal, v. 16, n. 3, p. 319-327, 2006.
371
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
7.18. Desfolhamento em áreas reflorestadas após exploração petrolífera e gás
natural na Amazônia
Rafael Coelho Ribeiro1, Hany Ahmed Fouad2, Telma Fátima Coelho Batista1, José
Cola Zanuncio3
1
Doutorando do Programa de Pós-graduação em Fitotecnia.
Doutorando do Programa de Pós-graduação em Entomologia.
3
Professor do Instituto de Ciências Agrárias/ Universidade Federal Rural da Amazônia.
3
Professor do Departamento de Biologia Animal.
2
Resumo: Os índices de desfolhamento em cinco espécies de plantas (Myrcia fallax,
Inga edulis, Clitoria fairchildiana, Bellucia grossularoides e Vismia brasiliensi) por
insetos-praga foram avaliados em clareiras reflorestadas após exploração petrolífera.
Esta avaliação foi feita com a coleta de 20 folhas por planta as médias de desfolhamento
obtidas pela diferença entre a percentagem de área foliar consumida e as folhas
testemunhas, obtida com medidor portátil digital de área foliar em cm2. Myrcia fallax
foi a planta mais danificada, com 31% e Vismia brasiliensis a menos desfolhada.
Palavras–chave: áreas reflorestadas, desfolhamento, insetos-praga
Abstract: The defoliation rates in five plant species (Myrcia fallax, Inga edulis,
Clitoria fairchildiana, Bellucia grossularoides and Vismia brasiliensis) by insect pests
were evaluated in reforested clearing areas after oil exploration. This evaluation was
done collecting 20 leaves per plant defoliation. The average obtained from the
difference between the percentages of leaf areas consumed and leaves witnesses using
portable digital meter of leaf area in cm2. Results showed that Myrcia fallax was the
most damaged, with 31% of consumed area and Vismia brasiliensis was less leafless.
Key Words: Entomofauna, reforested areas, pests.
Introdução
A região Norte possui grande reserva de gás natural terrestre na Bacia do Rio
Solimões, entre os rios Urucu e Juruá, município de Coari, estado do Amazonas, com
cerca 51.465 milhões de m3 de gás, corresponde a 17% das reservas nacionais de gás
natural (Prates et al., 2006). A exploração desse gás pela Petrobrás no município de
Coari causou a formação de clareiras extensas (Hubbell & Foster, 1986). A empresa
refloresta essas áreas visando restabelecer a estrutura e a dinâmica desses sistemas
alterados na Amazônia Brasileira.
A "hipótese da heterogeneidade ambiental" prevê que a riqueza e a diversidade de
espécies aumentam em ambientes mais complexos pela maior oferta de nichos (Pianka,
1994) e que, em ambientes mais diversificados, insetos-praga, principalmente os
herbívoros, e benéficos, inimigos naturais, entrem em equilíbrio ecológico. No entanto,
essa complexidade ambiental depende do arranjo de suas estruturas físicas (Lassau &
Hochuli, 2004) que, em ecossistemas terrestres, são influenciadas, principalmente, pela
riqueza e composição da comunidade de plantas (Tews et al., 2004)
372
O presente trabalho objetivou mensurar desfolha por insetos herbívoros para
evidenciar a susceptibilidade e a resistência das plantas utilizadas no reflorestamento em
áreas alteradas após explorações de petróleo e gás natural pela Petrobras S\A na Base de
Urucu, município de Coari, Amazonas.
Material e Métodos
As áreas alteradas ficam localizadas na unidade UNBSOL da PETROBRÁS às
margens do Rio Urucu, município de Coari, Amazonas distante cerca de 650 Km de
Manaus. As áreas avaliadas foram as clareiras 02 e 12 e as dos poços petrolíferos LUC,
RUC e RUC 1 e Jazida 23. A idade média do reflorestamento foi de cinco anos. As
plantas avaliadas foram azeitona (Myrcia fallax), Ingá (Inga edulis), palheteira (Clitoria
fairchildiana), goiaba de anta (Bellucia grossularoides) e lacre (Vismia brasiliensi).
A desfolha foi avaliada por mediação da área foliar em 10 plantas por espécie,
escolhendo-se as mais representativas do desfolhamento. Vinte folhas foram coletadas
por planta e as médias de desfolhamento obtidas pela diferença de percentagem de área
foliar consumida e as folhas testemunhas. As medições foram realizadas com medidor
portátil digital de área foliar em cm2 e as médias comparadas pelo teste de Duncan 5%.
Resultados e Discussão
Azeitona (Myrcia fallax) foi mais susceptível a desfolha de insetos,
principalmente, na clareira 02, onde o índice ultrapassou 40%; o ingá (Inga edulis) teve
30% de desfolha e a menor perda de área foliar da azeitona foi na jazida 23 com 13,42%
onde a palheteira (Clitoria fairchildiana), apresentou os maiores índices de injúrias com
21,32% de desfolha. O lacre (Vismia brasiliensi) e o ingá, com 18,11% foram as
espécies menos desfolhadas, e a goiaba de anta (Bellucia grossularoides) e azeitona
apresentaram maiores desfolhas, cerca de 32% (Figura 1) na área do poço RUC.
A perda foliar das espécies vegetais foi alta e com índices acima de 5% de área
foliar consumida. Isto pode ser explicado pelo fato de serem áreas, recentemente
reflorestadas e que foram alteradas quanto a forma física, estrutural e química durante o
processo de exploração, demandando maior período de tempo para as espécies vegetais
e animais entrarem em equilíbrio ecológico (Risch et al., 1983).
Conclusões
Myrcia fallax foi a planta mais desfolhada por insetos pragas e Vismia
brasiliensis a menos desfolhada.
Literatura Citada
HUBBELL, S.P.; FOSTER, R.B. Canopy gaps and the dynamics of a neotropical forest.
In: CRAWLEY, M.J. (Ed.). Plant Ecology. Blackwell Scientific: Oxford, p. 77-96,
1986.
373
Percentual de desfolhamento (%)
50
Lacre
Palheteira
Goiaba de anta
Ingá
Azeitona
45
40
35
A
B
30
A
25
15
A
AA
A
AB
AB
AB
AB
B
B
10
A
A
A
20
A
B
AB
C
B
5
0
RUC 1
Clareira 12
LUC
Jazida 23
Clareira 02
RUC
Figura 1 - Índices de desfolha das principais espécies vegetais utilizadas no
reflorestamento no município de Coari, Amazonas após exploração petrolífera. Médias
seguidas de letras distintas diferem pelo teste de Duncan 5%.
RISCH, S.J.; ANDOW, D.; ALTIERI, M.A. Agroecosystem diversity and pest control:
data, tentative conclusions, and new research directions. Environmental Entomology,
v. 12, p. 625-630, 1983.
PRATES, C.P.T.; PIEROBON, E.C.; COSTA, R.C.; FIGUEIREDO, V.S. Evolução da
oferta e da demanda de gás natural no Brasil. BNDES Setorial. Rio de Janeiro, v.1,
p.35-68, 2006.
LASSAU, S.A. & HOCHULI, D.F. Effects of habitat complexity on ant assemblages.
Ecography, v.27, p.157-164, 2004
PIANKA, E. Evolutionary ecology. New York: Harper Collins College Publishers, v.5,
1994, 484p.
TEWS, J.; BROSE, U.; GRIMM, V.; TIELBÖRGER, K.; WICHMANN, M.C.;
SCHWAGER M.; JELTSCH, F. Animal species diversity driven by habitat
heterogeneity/diversity: The importance. Journal of Biogeography, v.31, p.79-92,
2004.
374
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
7.19. A abundância de insetos pode ser recuperada após a exploração na Amazônia
Brasileira?
Rafael Coelho Ribeiro1, Hany Ahmed Fouad2, Telma Fátima Coelho Batista3, José Cola
Zanuncio3
1
Doutorando do Programa de Pós-graduação em Fitotecnia.
Doutorando do Programa de Pós-graduação em Entomologia.
3
Professora do Instituto de Ciências Agrárias/ Universidade Federal Rural da Amazônia.
3
Professor do Departamento de Biologia Animal.
2
Resumo: Um levantamento foi realizado para quantificar os principais grupos de
insetos associados às clareiras reflorestadas após exploração petrolífera pela
PETROBRÁS S/A em Urucu, Município de Coari, Amazonas. A coleta foi realizada
com redes de varredura e os insetos identificados até o nível de ordem e as áreas de
poços petrolíferos (LUC 18/22 e RUC 7/14/17/18) apresentaram 33,9% e 28,5%, e as
áreas de clareiras 02 e 12, 24,2% e 13,4%, respectivamente, do total de indivíduos
coletados. Quatrocentos e trinta e seis indivíduos foram coletados, sendo 5.3%, 24,3%,
8.0%, 7,3%, 3,2% e 1,8% das ordens Coleoptera, Hemiptera, Hymenoptera, Orthoptera,
Thysanoptera e Dermaptera, respectivamente. A entomofauna coletada foi, bastante,
bastante diversificada na área de reflorestamento após exploração petrolífera e aquelas
dos poços petrolíferos (LUC 18/22 e RUC 7/14/17/18) teve maior abundancia de
indivíduos.
Palavras–chave: áreas reflorestadas, entomofauna, insetos pragas.
Abstract: The objective of this work was to survey and quantify the major groups of
insects associated with clearing areas replanted after oil extraction by PETROBRAS
S/A in Urucu, Municipality of Coari, Amazon. Samples were collected with sweep, than
and insects were identified to odors. The areas of oil wells (LUC 18/22 and RUC
7/14/17/18) showed that 33.9% and 28.5%, and areas of clearings (02 and 12) were
24.2% and 13.4% respectively of the total individual insects collected. Four hundred
and thirty-six individuals were collected, and 5.3%, 24.3%, 8.0%, 7.3%, 3.2% and 1.8%
of the orders were Coleoptera, Hemiptera, Hymenoptera, Orthoptera, Thysanoptera and
Dermaptera, respectively. The collected insects were sufficien and diversified in the
reforestation areas after oil exploration. However, the oil wells areas (LUC 18/22 and
RUC 7/14/17/18) had a greater abundance of individual insects collected.
Key Words: Entomofauna, reforested areas, pests.
Introdução
A floresta é caracterizada pela predominância de vegetação arbórea lenhosa com
um conjunto de plantas e animais em associação biótica, ou biocenose (Berti Filho et
al., 2006). No entanto, as clareiras são resultados de ações de distúrbios (impactos sobre
o ambiente) em florestas e consideradas peças chave para o entendimento de estrutura e
dinâmica desses sistemas (Hubbell & Foster, 1986).
375
A relação planta-herbívoro é um dos fatores principais do sucesso de
colonização de plantas em áreas de clareiras. Esta relação se expressa em diferentes
intensidades e conseqüências, dependendo do estágio de vida das plantas, freqüência e
representatividade das espécies com potencial de causar dano e das espécies benéficas
ao ambiente (p. ex., predadores, patógenos e polinizadores) (Brokaw, 1986).
O objetivo foi quantificar e caracterizar os principais grupos de insetos
associados em áreas de clareiras reflorestadas após exploração de petróleo e gás natural
pela Petrobrás S\A no município de Coari, estado do Amazonas.
Material e Métodos
As áreas estudadas ficam localizadas na unidade UN-BSOL da PETROBRÁS às
margens do Rio Urucu no município de Coari, Amazonas a, cerca de 650 Km de
Manaus. As áreas avaliadas foram às clareiras 02 e 12 e áreas dos antigos poços
petrolíferos LUC 18/22 e RUC 7/14/17/18.
Ingá (Inga edulis), tento (Abarema jupumba), angico (Anadenanthera peregrina),
palheteira (Clitoria fairchildiana), araçá (Psidium cattleianum), açaí (Euterpe
precatoria), goiaba de anta (Bellucia grossularoides), angelim (Dinizia excelsa), jatobá
(Hymenaea coubaril), bacaba (Oenocarpus bacaba), cumaru (Dipteryx alata), uxi
(Eudopleura uchi), lacre (Vismia brasiliensis), embaúba (Cecropia peltata), mata-pasto
(Acácia sp.), ameixa (Myrcia fallax), abiurana (Pouteria torta), pau d‟arco (Tabebuia
serratifolia), visgueiro (Parkia pendula), buriti (Mauritia flexuosa), acapurana
(Campsiandra comosa), sucupira (Pterogyne nitens), faveira orelha de macaco
(Enterolobium schomburgkii), andiroba (Carapa guianensis), mari-mari (Cassia
leiandra), leucena (Leucaena sp.), pacotê (Cochlosperma orinocens), tachi-branco
(Sclerolobium paniculatum), ucuúba (Virola surinamensis) e mungubarana
(Bombacopsis nervosa) foram utilizadas no reflorestamento.
Os insetos foram coletados por varredura (Gallo et al., 2002) e enviados para o
Laboratório de Microorganismos da Universidade Federal Rural da Amazônia onde dos
principais grupos (ordem) de insetos foram quantificados e identificados.
Figura 1 - Percentual de insetos presentes por área reflorestada após exploração
petrolífera em Urucu, município de Coari, Amazonas.
376
A maioria dos insetos identificados foi de herbívoros pragas que se alimentam de
ervas ou plantas como besouros, gafanhotos e esperanças or por sucção como os
percevejos, tripes e cigarrinhas. A diversidade de insetos coletados pode estar ligada à
grande variedade florística com varias espécies vegetais nativas, pois habitats mais
diversificados apresentam, em geral, maior riqueza de espécies (Santos et al., 1993).
As principais ordens dos insetos identificados foram Coleoptera (besouros), com
241 insetos (55,3%); Hemiptera (percevejos) com 106 insetos (24,3%), Hymenoptera
(vespas e abelhas) 35 insetos (8%), Orthoptera (esperanças, gafanhotos) 32 insetos
(7,3%), Thysanoptera (trips) 14 insetos (3,2%) e Dermaptera (tesourinhas) com oito
insetos, do total coletado, respectivamente (1,8%) (Figura 2).
Figura 2 – Principais ordens de insetos presentes em áreas reflorestadas após exploração
petrolífera em Urucu, município de Coari, Amazonas.
Conclusões
A entomofauna associada às áreas de reflorestamento após exploração petrolífera é
bastante diversificada, com maior abundancia naquelas dos poços petrolíferos (LUC
18/22 e RUC 7/14/17/18)
Agradecimentos
Aos órgãos fomentadores como a empresa Petrobras através da Rede Ctpetro,
FINEP e UFRA.
Literatura Citada
BERTI FILHO, E.; MOURA, R.G.; PIRES FILHO, O. Controle biológico de insetos
em florestas. In: PINTO, A.S.; NAVA, D.E.; ROSSI, M.M.; SOUZA, D.T.M. (Eds).
Controle biológico de pragas: na prática. Piracicaba: CP 2, p.153-159, 2006.
377
BROKAW, N.V.L. Seed dispersal, gap colonization, and the case of Cecropia insignis.
In: ESTRADA, A.; FLEMING, T.H. (Eds). Frugivores and seed dispersal. Dr W. junk
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SANTOS, G.P.; VILELA, E.F.; NOGUEIRA, S.B. Estudo da bionomia e controle
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378
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
7.20. Natural enemies collected in disturbed areas of Brazilian Amazon
Hany Ahmed Fouad1, Rafael Coelho Ribeiro2, Telma Fátima Coelho Batista3, José Cola
Zanuncio4
1
Doutorando do Programa de Pós-graduação em Entomologia.
Doutorando do Programa de Pós-graduação em Fitotecnia.
3
Professor do Instituto de Ciências Agrárias/ Universidade Federal Rural da Amazônia.
4
Professor do Departamento de Biologia Animal.
2
Abstract: Biological control is the natural phenomenon of regulation of insect and mite
populations by natural enemies. This study aimed to identify the main species of natural
enemies in reforested areas after extraction of oil and gas by Petrobras S\A Company in
Coari city, Amazon. The insects were collected using sweep, than identified. The
predators were represented about 3% of the total insects collected. The main species of
predators collected in studied areas were Doru luteipes (Dermaptera: Forficulidae),
Polistes sp. (Hymenoptera: Vespidae) and Nabis sp. (Hemiptera: Reduviidae).
Key-words: Reforested areas, Natural enemies, Amazon forest
Resumo: O controle biológico é o fenômeno natural de regulação de populações de
insetos e ácaros por inimigos naturais. O presente trabalho objetivou identificar as
principais espécies de insetos-predadores em áreas reflorestadas após extração de
petróleo e gás natural pela empresa Petrobrás S\A no município de Coari, Amazonas.
Os insetos foram coletados por varredura. Insetos predadores representaram cerca de
3% do total coletado, sendo Doru luteipes (Dermaptera: Forficulidae), Polistes sp.
(Hymenoptera: Vespidae) e Nabis sp. (Hemiptera: Reduviidae) as principais espécies
desse grupo coletadas.
Palavras–chave: áreas reflorestadas, inimigos naturais, Floresta Amazônica
Introduction
The most forests in the world have Clearings. These Clearings are due to
disturbances (impacts on the environment) in forests and considered key pieces to the
understanding of structure and dynamics of these systems change (Hubbell & Foster,
1986).
In Brazil, reforestation may have entomological problems due to being made of
monocultures on vast expanses and long periods, which favors pest species, especially
ants, beetles and lepidopteran defoliators (Zanuncio et al., 1994).
The restoration of environments should be done with plants that have shelter
structures (eg., Domatia), production of pollen, nectar and semiochemicals for attraction
and retention of natural enemies for controlling of pests in forest plantations (Bottrell &
Barbosa , 1998).
This study aimed to identify the major natural enemies in reforested areas after
holdings of oil and natural gas by Petrobras S \ A in Coari city, Amazon State.
379
Results and Discussion
Our result showed that four hundred thirty-six specimens of insects were
collected in clearings and old oil wells areas, which 97% of insects with the potential to
cause injury to plants and 3% of predators. Doru luteipes (Dermaptera: Forficulidae)
was the most common species found only in the clearings areas. Wasps Polistes sp.
(Hymenoptera: Vespidae) and predator bugs, Nabis sp. (Hemiptera: Reduviidae), also
were collected (Figure 1).
The presence of large number of altered areas are located in the unit un-BSOL
PETROBRAS called Urucu-AM River, Coari city, and distant about 650 km from
Manaus. The assessed areas were the clearing areas (02 and 12) and old oil wells (LUC
18/22 and RUC 7/14/17/18).
Plant species include area inga (Inga edulis), care (Abarema jupumba), mimosa
(Anadenanthera peregrina), palheteira (Clitoria fairchildiana), guava (Psidium
cattleianum), açaí (Euterpe precatoria), guava tapir (Bellucia grossularoides) angelim
(Dinizia excelsa), Jatoba (Hymenaea coubaril) bacaba (Oenocarpus bacaba), Cumaru
(Dipteryx alata), uxi (Eudopleura uchi), seal (Vismia brasiliensis), embaúba (Cecropia
peltata), forest-grassland (Acacia sp.) plum (Myrcia fallax) Abiurana (Pouteria pie),
pau d'arco (Tabebuia serratifolia) visgueiro (Parkia pendula) buriti (Mauritia flexuosa),
acapurana (Campsiandra comosa), sucupira (Pterogyne nitens), field bean ear of
monkeys ( Enterolobium schomburgkii) (Carapa guianensis), Mari-mari (Cassia
leiandra) (Leucaena sp.) package (Cochlosperma orinocensis) tachi-white
(Sclerolobium paniculatum) ucuúba (Virola surinamensis) and mungubarana
(Bombacopsis nervosa).
The insects were collected by sweeping net (Gallo et al., 2002) and sent to the Laboratory of
Microorganisms, Federal Rural University of Amazonia. The species were identified with the help of
taxonomic keys and morphological characteristics and individuals quantified. Taxonomists were
identified the unknown speciesherbivorous insects in the assessed areas can be explained by
the fact that they are new areas, with only five years of planting. Moreover, some time
these areas were demanding to plant and animal species to equilibrate again during the
process of exploitation, physical form, structure and chemistry (Risch et al., 1983).
The lower diversity of natural enemies demonstrated that we are need
monitoring and actions for integrated pest management with emphasis on the increase
of natural enemies in the reforested areas after oil exploration in Amazon forest.
Conclusions
The main species of natural enemies were collected Doru luteipes, Polistes sp.
and Nabis sp.
Acknowledgement
The authors are grateful for the promoting organs of Petrobrás Company in Rede
Ctpetro, FINEP and UFRA.
380
Figure 1 – Predators presented in areas reforested after exploration petrolifera in Urucu,
municipal district of Coari, Amazon.
References
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selection e modification: a realistic strategy? Annual Review of Entomology, v.43,
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381
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
7.21. Potencial alelopático de Angico (Anadenanthera colubrina Brenan: Fabaceae)
sobre germinação de Lactuca Sativa L.
Célio Rezende Lara Júnior1, Allanne Pillar Dias Gonzaga1, Luma Veloso Pereira1,
Josiane Cordeiro dos Santos2, Suerlani Aparecida Ferreira Moreira Ruas3, Renata
Oliveira Batista4
1
Estudantes de Ciências Biológicas da Faculdade de Saúde Ibirutuna – FASI.
[email protected].
2
Estudante de Pós Graduação da UFLA; E-mail: [email protected].
3
Professora da Faculdade de Saúde Ibituruna – FASI. E-mail:[email protected].
4
Estudante de Mestrado da UFV; E-mail: [email protected].
E-mail:
Resumo: A alelopatia caracteriza-se pela inibição da germinação e/ou desenvolvimento
de uma planta em detrimento de metabólitos secundários no solo ou atmosfera oriundos
de outra determinada planta. O Angico (Anadenanthera colubrina Brenan) é uma
espécie arbórea mimosoídea nativa, com expressiva ocorrência tanto em solo seco
quanto úmido. Este estudo objetivou constatar o potencial alelopático do Angico frente
ao alface (Lactuca sativa L.), que é uma espécie comumente utilizada em estudo
alelopáticos. Foi confirmado que a espécie apresenta sim potencial alelopático, nos dois
tipos de extrato preparados, exceto em extrato seco a 10%.
Palavras–chave: Alelopatia, Anadenanthera colubrina, Angico, Extratos vegetais
Allelopathic potential of Angico (Anadenanthera colubrina Brenan: Fabaceae) on
germination of Lactuca sativa L.
Abstract: Allelopathy is characterized by the inhibition of germination and / or growth
of a plant at the expense of secondary metabolites in the soil or atmosphere come from
the particular plant. The Angico (Anadenanthera colubrina Brenan) is a native
Mimosoidea tree, with a significant occurrence in both dry and wet soil. This study aims
to establish the Angico‟s allelopathic potential front with lettuce (Lactuca sativa L.)
which are species commonly used in study allelopathic. It was confirmed that the
species have a rather allelopathic potential in both types of extract prepared, except at
10% solids.
Key Words: Allelopathy, Anadenanthera colubrina, Angico, Vegetable Extracts
Introdução
Anadenanthera colubrina é uma espécie pertencente à família Fabaceae –
Mimosoideae, vulgarmente conhecida por Angico, nativa do semi-árido e amplamente
distribuída, caracteriza-se por ter porte arbóreo de altura entre 12 e 15 m e diâmetro de
30 a 50 cm, caducifólia, se encontra em risco de extinção por possuir grande demanda
no mercado – é utilizada como planta ornamental, forrageira, energética, madeireira,
resinífera e ainda possui propriedades medicinais –. Apesar de ser de grande
importância, ainda faltam estudos sobre a biologia dessa planta, o que dificulta o seu
manejo, propagação e preservação (RODRIGUES et al., 2007).
382
Segundo Rice (1984) o fenômeno químico-ecológico alelopático consiste na
interferência na germinação e/ou desenvolvimento de outras plantas num mesmo
ambiente devido a produção de metabólitos secundários que são liberados no meio por
alguma determinada espécie vegetal. Em um sentindo amplo, os efeitos alelopáticos se
referem tanto a inibição quanto ao estímulo de outros organismos. Nos últimos anos,
vários estudos sobre efeitos alelopáticos de plantas arbóreas vêm sendo publicado com
o fim de aumentar a gama de informação para inclusão dessas plantas em listas de
espécies com potencial para compor sistemas agroflorestais e silvipastoris tanto no
Brasil quanto em outros países. A alface (Lactuca Sativa L.) é utilizada nos bioensaios
para verificar a atividade alelopática, porque tem a germinação rápida, crescimento
linear insensível às diferenças de pH em ampla faixa de variação e insensibilidade ao
potencial osmótico de soluções (OLIVEIRA et al., 2009; RICE, 1984).
Sendo assim, este trabalho objetivou constatar o potencial alelopático, através de
extracos secos e aquosos, de A. colubrina sobre a germinação de L. sativa.
Material e Métodos
Para se fazer o estudo alelopático foi coletado as folhas de indivíduos que se
encontram no campus da Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES),
Montes Claros, MG. O extrato dessas plantas foram testados na espécie alvo, cuja é a
Alface Crespa-repolhuda, as sementes foram compradas no comércio local. O estudo foi
conduzido durante o mês de maio de 2010, na Casa de Vegetação da Faculdade de
Saúde Ibituruna (FASI).
Para a obtenção do extrato seco, primeiramente as folhas foram secas em estufa
durante 7 dias e depois trituradas e misturadas ao substrato plantmax® na proporção de
10 e 50% (p/p), atingindo um total de aproximadamente de 4,0 cm de profundidade no
recipiente de poliestireno, o qual foi semeado as sementes de L. sativa. Quanto ao
aquoso, o extrato foi preparado a partir do método de maceração estática (SOARES &
VIEIRA, 2000) sendo filtrado e diluído na proporção 10 e 50 % (massa/volume). As
sementes de alface foram embebidas por 5 minutos no extrato e também semeadas em
substrato plantmax®. A germinação das sementes foi constada por protusão da radícula
em período de 30 dias.
O índice de germinação foi determinado por análise estatística (STATISTICA®
7.0), comparando-os com os dados do grupo controle. Foram delineados dois
tratamentos (extrato seco 10% e 50%) com quatro repetições de 16 sementes cada,
considerando-se cada espécie vegetal um experimento independente.
Resultados e Discussão
Ao término do experimento constatou-se que, os dois extratos apresentaram
efeitos alelopáticos, já que nem todas as sementes germinaram. O extrato aquoso se
mostrou eficaz nas duas concentrações testadas, já que diferiram estatisticamente do
grupo controle, porém quando se analisa as duas em comparação, pode-se observar que
apesar do extrato à 10% ter sido mais inibitório, estatisticamente, não se difere do
extrato à 50% (Figura 1). Não foi encontrado na literatura citações que corroborem o
observado, porém segundo Ferreira (2004) a presença de compostos osmoticamente
ativos podem mascarar o efeito alelopático, o que pode explicar parcialmente o
resultado.
383
Figura 1 – Índice germinativo de sementes de Lactuca sativa sob ação dos extratos seco e
aquoso de Anadenanthera colubrina nas concentrações 10% e 50%.
No caso do extrato seco, o resultado foi de acordo o esperado. O extrato à 50% foi
mais alelopático que o extrato à 10% (Figura 1), sendo este último com resultado não
diferente do grupo controle.
Conclusão
Conclui-se que Anadenanthera colubrina é uma espécie com efetiva atividade
alelopática, o que requer uma maior atenção ao selecionar a espécie para
reflorestamento ou regeneração de áreas, entretanto apesar desta característica não se
deve excluí-la da lista de uso, já que a espécie já se encontra em risco de extinção.
Agradecimentos
À Coordenação do curso de Ciências Biológicas da Faculdade de Saúde Ibituruna
(FASI) por ceder o uso do espaço físico e infraestrutura do Laboratório de Botânica e da
Casa de Vegetação da faculdade; ao Biólogo Hisaias de Souza Almeida, pela ajuda na
identificação da espécie e na estatística do estudo.
Literatura Citada
FERREIRA, A.G. 2004. Interferência: competição e alelopatia. Pp.251-264. In: A.G.
Ferreira & F. Borghetti (eds.). Germinação:do básico ao aplicado. Porto Alegre
Artmed Editora.
OLIVEIRA, Andreya Kalyana de et al . Alelopatia em extratos de frutos de juazeiro
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ago.
2010.
doi:
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384
RODRIGUES, Ana Carolina da Cunha et al . Efeito do substrato e luminosidade na
germinação de Anadenanthera colubrina (Fabaceae, Mimosoideae). Rev. Árvore,
Viçosa, v. 31, n. 2, Abril, 2007. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?
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de ago. de 2010. doi: 10.1590/S0100-67622007000200001.
385
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
7.22. Avaliação da Atividade Alelopática em folhas de Aroeira (Myracroduon
urundeuva Allemão: Anacardiacea)
Suerlani Aparecida Ferreira Moreira Ruas1, Célio Rezende Lara Júnior2, Allanne Pillar
Dias Gonzaga2, Josiane Cordeiro dos Santos3, Luma Veloso Pereira2, Renata Oliveira
Batista4
1
Professora da Faculdade de Saúde Ibituruna – FASI. E-mail: [email protected]
Estudantes de Ciências Biológicas da Faculdade de Saúde Ibirutuna – FASI.
[email protected]
3
Estudante de Pós Graduação da UFLA; E-mail: [email protected]
4
Estudante de Mestrado da UFV; E-mail: [email protected]
2
E-mail:
Resumo: A alelopatia caracteriza-se pela inibição da germinação e/ou desenvolvimento
de uma planta em detrimento de metabólitos secundários no solo ou atmosfera oriundos
de outra determinada planta. A Aroeira (Myracroduon urundeuva Allemão) é uma
árvore nativa com propriedades medicinais e este estudo objetivou constatar o potencial
alelopático da espécie. Foi observado efeito alelopático em todas as concentrações de
extrato de Aroeira, seja ele seco ou aquoso, sendo o extrato seco com maior potencial.
A concentração com menor taxa de germinação foi o extrato seco a 50%, quanto ao
extrato aquoso não houve diferença estatística.
Palavras-chave: alelopatia, Myracroduon urundeuva, Lactuca sativa
Allelopathic activity in leaves of Aroeira (Myracroduon urundeuva Allemão:
Anacardiacea)
Abstract: Allelopathy is characterized by the inhibition of germination and/or
development of a plant at the detriment of secondary metabolites in the soil or
atmosphere come from the particular plant. Aroeira (Myracroduon urundeuva Allemão)
is a native tree which has medicinal properties. This study aims to verify the allelopathic
potential of this specie. Allelopathic effect was observed at all concentrations of the
aroeira, it being dry or watery, and the dried extract with the greatest potential. The
concentration with small rate of germination was 50% dry extract, and the watery
extract wasn‟t statistic difference.
Key Words: allelopathy, Myracroduon urundeuva, Lactuca sativa
Introdução
A Aroeira (Myracrodruon urundeuva Allemão), também chamada de aroeira-dosertão, aroeira-preta, entre outros, faz parte da família botânica Anacardiaceae, nativa da
região da caatinga e cerrado e se distribui desde o nordeste do Brasil, até Bolívia,
Argentina e Paraguai. Segundo Amaral (2008), a planta apresenta propriedades
medicinais antiinflamatórias e cicatrizantes na sua entrecasca comprovadas
cientificamente e o chá da sua casca é citado no conhecimento popular no combate a
gripe, bronquite e como calmante. Caracteriza-se por ser uma árvore lenhosa,
caducifólia, de madeira pardo-vermelhada e bastante resistente, o que a faz ser de muito
386
valor comercial na indústria madeireira, e devido esta exploração, em 1992 foi incluída
na lista oficial das espécies ameaçadas de extinção (ANDRADE et al., 2000).
Na ecologia, alelopatia é o mecanismo de inibição da germinação e/ou
desenvolvimento de uma planta relativamente próxima devido a liberação de composto
do metabolismo secundário de uma determinada planta na atmosfera, ou
principalmente, no solo. Acredita-se que as plantas causem esta reação devido a
informações genéticas de autopreservação, sendo o processo causado por modulações
ambientais. A identificação de plantas com potencial alelopático se faz necessário para a
escolha ideal de que espécies utilizar em recuperação de áreas degradadas, pois a
mesma pode colonizar ambientes impedindo estabelecimento de outras plantas.
(SOARES, 2000). A alface (Lactuca sativa L.) é comumente empregada em estudos
aleloquímicos devido à sensibilidade de sua semente e a facilidade de observação das
propriedades alelopáticas de uma planta, tanto em sua germinação quanto no seu
desenvolvimento (SILVA et al., 2008).
O presente estudo objetivou avaliar o efeito alelopático da aroeira, já que tal
espécie apresenta um comportamento consoante com a expectativa alelopática, que é a
inibição de crescimento de plantas ao seu redor.
Material e Métodos
Esse estudo foi conduzido na Casa de Vegetação da Faculdade de Saúde Ibituruna
(FASI). Como material vegetal foram utilizadas as folhas adultas de indivíduos de
Aroeira (M. urundeuva), recolhidas em áreas do campus da Universidade Estadual de
Montes Claros (UNIMONTES), Montes Claros, MG. Como espécie alvo foi utilizada a
Alface Crespa Repolhuda (L. sativa), cujas sementes foram compradas no comércio
local.
Após a colheita, as folhas foram submetidas à secagem em estufa, durante sete
dias para serem submetidas à produção de extrato aquoso e sólido. O extrato aquoso foi
preparado a partir do método de maceração estática (Soares & Vieira, 2000) adaptado às
condições do laboratório, e após foi filtrado e diluído na proporção 10% e 50%
(massa/volume), as sementes foram embebidas por 5 minutos no extrato. Para a
obtenção do extrato seco, as folhas trituradas foram misturadas ao substrato também na
proporção de 10 e 50% (p/p). As sementes de alface foram semeadas em recipiente de
poliestireno contendo substrato plantmax®.
O experimento foi o inteiramente casualizado, com quatro tratamentos (extrato
seco e aquoso) e quatro repetições de 16 sementes cada, considerando-se cada espécie
vegetal um experimento independente e para constatar se houver alelopatia no
experimento, os dados foram submetidos à análise estatística no programa
STATISTICA® 7.0, levando-se em consideração a taxa e o tempo de germinação em
comparação ao grupo controle.
Resultados e Discussão
Os extratos de concentração 50% (Figura 1) foram os que apresentaram maior
efeito alelopático, o que já era esperado, visto que apresentavam a maior concentração
de metabólitos secundários. Dentre eles, destaca-se o grande potencial alelopático do
extrato seco, que apresentou o índice de germinação mais baixo e com grande diferença
do índice do grupo controle. O extrato seco a 10% (Figura 1) em contraste com extrato
387
seco 50% foi o que menos apresentou alelopatia, com grande índice de germinação,
ainda assim apresentou resultado satisfatório, já que estatisticamente é diferente do
grupo controle. Os extratos aquosos não se diferenciaram estatisticamente entre si,
apesar do extrato à 50% ter sido mais inibitório.
Figura 1 - Índice de germinação das sementes de alface sobre a ação dos extratos
analisados.
Conclusão
Ao final do experimento, pode-se constatar que a Aroeira apresenta potencial
alelopático, já que o índice de germinação de sementes submetidas aos tratamentos,
tanto seco quanto aquoso, foi menor que o índice de germinação do grupo controle,
ainda foi observado que quanto maior a concentração do extrato, maior é a sua
eficiência como alelopático.
Agradecimentos
À Coordenação do curso de Ciências Biológicas da Faculdade de Saúde Ibituruna
(FASI) por ceder o uso do espaço físico e infraestrutura do Laboratório de Botânica e da
Casa de Vegetação da faculdade; ao Biólogo Hisaias de Souza Almeida, pela ajuda na
identificação da espécie e na estatística do estudo.
Literatura Citada
AMARAL, Eni Aparecida do & SILVA, Regildo Márcio Gonçalves da. Avaliação da
toxidade aguda de Angico (Anadenanthera falcata), Pau-santo (Kilmeyera
coreacea), Aroeira (Myracrodruon urundeuva) e Cipó-de-são-joão (Pyrostegia
venusta), por meio do bioensaio com artemia salina. Perquirere. 2008, edição 5, ano
5. ISSN 1806-6399
388
ANDRADE, Miguel Wanderley de; LUZ, José Magno Queiroz; LACERDA, Ary
Santana; MELO, Pedro Renato A. de. Micropropagação da Aroeira (Myracrodruon
urundeuva Fr. All). Ciênc. Agrotec. Lavras, 2000, vol.24, n.1, pp. 174-180.
SOARES, G.L.G. & VIEIRA, T.R. Inibição da germinação e do crescimento
radicular de alface (cv. “Grand Rapids”) por extratos aquosos de cinco espécies de
Gleicheniaceae. Floresta e Ambiente. 2000, vol. 7, n.1, pp. 180-197.
SILVA, Lígia Maria de Medeiros; RODRIGUES, Teresinha de Jesus Deléo and
AGUIAR, Ivor Bergemann de. Efeito da luz da temperatura na germinação de
sementes de aroeira (Myracrodruon urundeuva Allemão). Rev. Árvore [online]. 2002,
vol.26, n.6, pp. 691-697. ISSN 0100-6762.
389
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
7.23. Potencial alelopático de umbuzeiro (Spondias tuberosa Arr. Câm.) sobre a
germinação de sementes de Lactuca sativa L.
Allanne Pillar Dias Gonzaga1, Suerlani Aparecida Ferreira Moreira Ruas2, Célio
Rezende Lara Júnior1, Josiane Cordeiro dos Santos3, Luma Veloso Pereira1, Renata
Oliveira Batista4
1
Estudantes de Ciências Biológicas da Faculdade de Saúde Ibirutuna – FASI. E-mail:
[email protected]
2
Professora da Faculdade de Saúde Ibituruna – FASI. E-mail: [email protected]
3
Estudante de Pós Graduação da UFLA; E-mail: [email protected]
4
Estudante de Mestrado da UFV; E-mail: [email protected]
Resumo: Alelopatia caracteriza-se pelo fenômeno de interferência positiva ou negativa
na germinação e/ou desenvolvimento de sementes e plântulas. O presente estudo teve
por objetivo avaliar o efeito alelopático de Spondias tuberosa sobre a germinação de
sementes de Lactuca sativa. A pesquisa foi desenvolvida em casa de vegetação da
Faculdade de Saúde Ibuturuna, utilizando partes aéreas de S. tuberosa para o preparo de
quatro tratamentos, sendo estes, extrato seco e aquoso, ambos nas concentrações 10% e
50%. Foi possível perceber que para o extrato aquoso, em menores concentrações S.
tuberosa é mais alelopático, ao contrário do extrato seco, que apresenta características
alelopáticas mais intensas quando em maiores concentrações.
Palavras–chave: alelopatia, extrato aquoso, extrato seco, Spondias tuberosa
Allelopathic potential of Umbuzeiro (Spondias tuberosa Arr. Câm.) on the
germination of Lactuca sativa L. seeds
Abstract: Allelopathy is characterized by the phenomenon of positive or negative
interference in the germination and / or development of seed and seedling. This study
aimed to evaluate the allelopathic effect of vegetative air part of Spondias tuberosa on
Lactuca sativa seed‟s germination. This research was developed at Faculdade de Saúde
Ibituruna‟s greenhouse, using leaves of Spondias tuberosa to prepare four treatments,
dry extracts and watery extract in the concentrations of 10% and 50%. It was possible to
see that the small concentrations of watery extracts are more allelopathic, unlike in the
dry extracts, which large concentrations are more effective.
Key Words: allelopathy, watery extract, dry extract, Spondias tuberosa
Introdução
Muitos vegetais liberam no ambiente diversos metabólitos primários e secundários
que podem influenciar positiva ou negativamente no desenvolvimento da vegetação
adjacente, sendo este fenômeno de interferência denominado alelopatia, conforme
discutido por Rice (1984).
Em função dessas possíveis alterações provocadas, a alelopatia é reconhecida
como um processo ecológico importante em ecossistemas naturais e manejados, por
390
influenciar na sucessão vegetal primária e secundária, na estrutura, composição e
dinâmica de comunidades vegetais nativas ou cultivadas.
O umbuzeiro (Spondias tuberosa) é uma frutífera adaptada a sobreviver e produzir
sob condição de estresse hídrico, nativa da região Semi-Árida do Brasil, é uma espécie
xerófita, caducifólia pertencente à família Anacardiaceae (Gondim et al., 1991). Apesar
de sua distribuição ser dispersa, o umbuzeiro se consagra como espécie frutífera de
grande importância econômica, social e ecológica, cuja cultura representa fonte de
renda adicional no período da entressafra, contribuindo com a metade da renda média
anual dos agricultores nas áreas de coleta (Araújo et al., 2000).
O presente estudo objetivou avaliar o efeito alelopático de parte aérea vegetativa
de Spondias tuberosa sobre a germinação de sementes de Lactuca sativa.
Material e Métodos
Esse estudo foi conduzido em Casa de Vegetação da Faculdade de Saúde
Ibituruna. Foram coletadas folhas maduras de duas matrizes adultas, em boas condições
fitossanitárias, de Spondias tuberosa, recolhidas no campus da Universidade Estadual
de Montes Claros (UNIMONTES) e submetidas à secagem em estufa por sete dias.
Para testar as características alelopáticas da espécie foi preparado extrato a partir
do método de maceração estática (Soares & Vieira, 2000) sendo filtrado e diluído na
proporção 10 e 50 % (massa/volume), em seguida, sementes de Lactuca sativa foram
embebidas por 5 minutos nesta solução e semeadas em substrato plantmax®. A
germinação das sementes foi constatada por protusão da radícula em período de 30 dias.
Para maior robustez dos resultados obtidos, os procedimentos adotados foram
cautelosamente repetidos visando confirmar os dados observados.
Para a obtenção do extrato seco, as folhas foram trituradas e misturadas ao
substrato plantmax® na proporção de 10 e 50% (p/p), atingindo um total de
aproximadamente de 4,0 cm de profundidade no recipiente de poliestireno, no qual
foram semeadas as sementes de L. sativa.
O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, com quatro
tratamentos (extrato aquoso 10% e 50% e extrato seco 10% e 50%) e quatro repetições
de 16 sementes cada, considerando-se cada espécie vegetal como um experimento
independente. Os dados obtidos foram submetidos a análise estatística no programa
STATISTICA® 7.0, levando-se em consideração a taxa e o tempo de germinação em
comparação ao grupo controle.
Resultados e Discussão
No extrato aquoso a menor taxa de germinação, ou seja, o maior efeito alelopático,
foi conferida na concentração 10% (figura 1), ao contrário do que se esperava, uma vez
que nesta concentração, o extrato encontra-se diluído em maior quantidade de água, o
que consequentemente lhe confere menor concentração de metabólitos secundários. Já o
extrato na concentração 50% não diferiu estatisticamente quanto a sua taxa de
germinação do grupo controle (figura 1), contrariando as expectativas. Este resultado foi
observado nas duas versões do experimento, não sendo encontrado na literatura nenhum
registro semelhante.
391
Segundo Haugland & Brandsaeter 1996, diversos estudos mostraram que o
potencial osmótico do extrato, e não seus componentes químicos, afeta a germinação,
isso pode explicar parcialmente o resultado supracitado.
le
Co
nt
ro
50
U
m
A
10
U
m
A
S
m
U
U
m
S
50
1,800000
1,600000
1,400000
1,200000
1,000000
0,800000
0,600000
0,400000
0,200000
0,000000
10
Germinação (arcsen)
Conforme o esperado, a concentração 50%, para o extrato seco, exerceu forte
influência na taxa germinativa das sementes de Lactuca sativa, uma vez esta que
diferiu-se significativamente do grupo controle (figura 1), evidenciando seu alto
potencial alelopático. O extrato seco na concentração 10%, apesar de não ter diferido
estatisticamente da concentração 50% do extrato aquoso, diferiu-se do grupo controle
(figura 1), apresentando características alelopáticas.
Tratamentos
Figura 1 - Índice germinativo de sementes de Lactuca sativa sob ação dos extratos seco e aquoso de
Spondias tuberosa nas concentrações 10% e 50%.
Apesar da dificuldade de comparar trabalhos sobre alelopatia devido à grande
variedade de metodologias utilizadas, os extratos do S. tuberosa conseguem inibir a
germinação em menores concentrações que outras espécies normalmente encontradas na
literatura (Maraschinin-Silva & Aquila 2005).
Conclusões
O presente estudo torna evidente o potencial alelopático de Spondias tuberosa,
observado pelo baixo índice de germinação de sementes submetidas aos tratamentos,
tanto seco quanto aquoso, quando comparados ao índice de germinação do grupo
controle. Ainda foi possível notar que para o extrato aquoso, o potencial alelopático é
inversamente proporcional à concentração, ao contrário do extrato seco.
Agradecimentos
À Coordenação do curso de Ciências Biológicas da Faculdade de Saúde Ibituruna
(FASI) por ceder o uso do espaço físico e infraestrutura do Laboratório de Botânica e da
Casa de Vegetação da faculdade; ao Biólogo Hisaias de Souza Almeida, pela ajuda na
identificação da espécie e na estatística do estudo.
392
Literatura Citada
RICE, E. L. Allelopathy. 2 ed. New York: Academic Press, 1984. 422 p.
GONDIM, T. M. S.; SILVA, H.; SILVA, A. Q.; CARDOSO, E. A. Período de
ocorrência de formação de xilopódios em plantas de umbu (Spondias tuberosa Arr.
Cam.) propagadas sexualmente e assexuadamente. Revista Brasileira de Fruticultura,
Cruz das Almas, v. 13, n. 2, p. 33-38, 1991.
ARAÚJO, F.P.; SANTOS, A.C. & CAVALCANTI, N.B. Cultivo do umbuzeiro.
Petrolina, Embrapa, 2000. (Instruções Técnicas da Embrapa Semi-árido, 24)
SOARES, G., L., G & VIEIRA, T., R. Inibição da germinação e do crescimento
radicular de alface por extratos aquosos de cinco espécies de Gleicheniaceae. Floresta e
Ambiente. v. 7, n.1, 2000 p.180 - 197.
HAUGLAND, E. & BRANDSAETER, L. 1996. Experiments on bioassay sensitivity in
the study of allelopathy. Journal of Chemical Ecology 22:1845-1859.
MARASCHIM-SILVA, F. & ÁQUILA, M.E.A. 2006. Potencial alelopático de espécies
nativas na germinação e crescimento inicial de Lactuca sativa L. (Asteraceae). Acta
Botanica Brasilica 20:61-69.
393
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
7.24. Fusariose (Fusarium solani f. sp. piperis) da Pimenta-do-Reino na Região
Norte do Espírito Santo
Bruno Sérgio Oliveira e Silva1, Antônio Pereira Drumond Neto2, Marcelo Barreto da
Silva3
1
Estudante de graduação em Agronomia – Universidade Federal de Viçosa
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Agricultura Tropical – Centro Universitário Norte do
Espírito Santo /UFES
3
Professor do Departamento de Agronomia – Centro Universitário Norte do Espírito Santo / UFES
2
Resumo: A fusariose é a principal doença da cultura, de ocorrência restrita ao Brasil. A
doença é causada pelo fungo Fusarium solani f. sp. piperis. Nos últimos anos a doença
tem reduzido a vida útil dos pimentais que variavam de 12 a 15 anos, para a faixa de
quatro a seis anos. Foram abordados assuntos sobre sintomas, epidemiologia e controle.
Esta pesquisa faz parte de um projeto maior que está sendo desenvolvido com o
Programa de Pós- graduação em Agricultura Tropical no Centro Universitário Norte do
Espírito Santo / UFES. A doença pode iniciar a partir das raízes ou ramos. Com a
evolução da doença é observado o secamento da planta. Condições de elevada umidade
do ar favorecem a produção de conídios e os métodos de controle mais eficientes a
serem adotados no controle da fusariose da primenta-do-reino, são o preventivos.
Poucas pesquisas têm sido realizadas dificultando a criação de novas medidas
integradas de controle para doença.
Palavras–chave: fusariose, fusarium, pimenta-do-reino, piper nigrum, piperis
Fusarium wilt (Fusarium solani f. sp. Piperis) Black pepper in The North of
Espírito Santo
Abstract: The fusarium wilt disease is the main crop, whether restricted to Brazil. The
disease is caused by the fungus Fusarium solani f. sp. piperis. In recent years the
disease has reduced the life of peppers ranging 12-15 years, for a range of four to six
years. Discussing subjects about symptoms, epidemiology and control. This research is
part of a larger project being developed with the Graduate Program in the Centro
Universitário Norte do Espírito Santo / UFES. The disease can start from the roots or
branches. With the evolution of the disease is observed in a drying plant. Conditions of
high humidity favor the production of conidia and more efficient control methods to be
adopted in the control of fusarium wilt of black pepper are preventive. Few studies have
been made more difficult the creation of new integrated measures to control disease.
Key Words: black pepper, fusarium, fusarium wilt, piper nigrum, piperis
Introdução
O Brasil tem importante participação no mercado mundial de pimenta-do-reino
(Piper nigrum L.). A pimenta-do-reino é utilizada principalmente como tempero no
preparo de alimentos industrializados (salame, salsicha, mortadela, fiambre, presunto e
paio) e nas indústrias farmacêutica, cosmética e de perfumaria. A produção capixaba
394
representa aproximadamente 10% da produção nacional, em uma área de 2.600
hectares. No ano de 2007, o estado do Espírito Santo exportou 7.741 toneladas pimentado-reino pelo porto de Vitória, gerando a recita de 31 milhões de reais (Peppertrade,
2009), fazendo com que a pimenta participasse em terceiro lugar nos produtos
exportados pelo agronegócio capixaba.
A região norte é a responsável por produzir praticamente toda pimeta-do-reino
do Estado. O município de São Mateus é o principal produtor de pimenta-do-reino,
responsável por aproximadamente 77% da produção do estado, seguido pelos
municípios de Jaguaré com 8%, Nova Venécia 4% e Boa Esperança 3%.
A fusariose é a principal doença da cultura, de ocorrência restrita ao Brasil
(Trindade & Poltronieri, 1997). A doença é causada pelo fungo Fusarium solani (Mart.)
Appel & Wr. emend. Snyd. & Hans. f. sp. piperis, Albuquerque (Tel.: Nectria
haematococca Berk. & Br. f. sp. piperis Albuq.). Foi constatada em 1960 no Pará e já se
disseminou nos estados do Amazonas, Rondônia, Paraíba, Mato Grosso, Bahia, Minas
Gerais e Espírito Santo. A doença encontra-se nas regiões produtoras dos municípios de
Linhares, São Mateus, Jaguaré, Nova Venécia, Colatina, Boa Esperança e Aracruz
(Ventura & Milanez, 1983). No Pará, mais de 10 milhões de pimenteiras foram
dizimadas pela doença (Duarte & Albuquerque, 1997). As perdas causadas pelas
doenças são bem maiores caso se considere a redução de produtividade e do ciclo
produtivo da planta. Até o momento não há registro de variedades resistentes ou
tolerantes à doença. Nos últimos anos a doença tem reduzido a vida útil dos pimentais
da região amazônica de que variavam de 12 a 15 anos, para a faixa de quatro a seis
anos.
O desenvolvimento da presente pesquisa tem como objetivo realizar uma
caracterização da fusariose considerando sua influência na redução da produção de
pimenta-do-reino na região norte do Estado do Espírito Santo.
Material e Métodos
A pesquisa consistiu em uma revisão bibliográfica sobre a doença. Assim foram
abordados assuntos sobre sintomas, epidemiologia e controle, através de publicações de
revistas, artigos e capítulos de livros que tratam especificamente do tema.
A atividade que representa segundo a Secretaria da Agricultura e Abastecimento
do Estado do Espírito Santo mais de 1.000 propriedades e famílias, gerando em torno
2.200 empregos diretos,justifica a escolha deste estudo devido a importância da
produção de pimenta-do-reino para a região. Além disso, esta pesquisa faz parte de um
projeto maior que está sendo desenvolvido com o Programa de Pós- graduação em
Agricultura Tropical no Centro Universitário Norte do Espírito Santo / UFES.
Resultados e Discussão
Sintomas da Fusariose
A doença pode iniciar a partir das raízes ou ramos. Quando iniciada pela raiz, as
folhas tornam-se amareladas e flácidas, culminando com a queda prematura das folhas
(figura 1 a). Os internódios também amarelecem e caem (figura 1 b), e à medida que a
doença evolui ocorre a seca total da planta (figura 1 c). O sistema radicular é reduzido e
torna-se necrótico. A necrose do sistema radicular pode evoluir até 20 centímetros
395
acima do solo, na base da planta (figura 1 d). Quando a planta doente entra em fase de
produção, a doença promove a queda dos frutos. Já a ocorrência da doença a partir da
parte aérea é caracterizada pela presença de ramos amarelados em uma planta bem
vigorosa (figura 1 e). Com a evolução da doença é observado o secamento da planta
tanto para a parte de cima quanto para baixo. A disseminação da doença na parte aérea
ocorre pela fase perfeita do fungo, que em épocas úmidas do ano forma uma cobertura
esbranquiçada, com a formação de peritécios, que podem ser avermelhados, onde são
encontrados os ascósporos (Ventura e Costa, 2004).
Figura 1. Sintomas de fusariose na pimenta-do-reino encontrados em São Mateus-ES.
A: doença iniciada pela raiz. B: amarelecimento e necrose dos internódios. C:
seca da plantas. D: escurecimento dos vasos. E: doença a partir da parte aérea. F:
planta sadia.
Epidemiologia
Condições de elevada umidade do ar favorecem a produção de conídios que se
disseminam pela água e vento da doença a partir de tecidos infectados das raízes e dos
ramos. Os esporos germinam em contato com as raízes e a penetração nos tecidos é
favorecida por ferimentos causados por nematóides ou outros fatores. A infecção no
sistema radicular e na parte aérea ocorrem predominantemente na época chuvosa, apesar
da planta, nestas condições aparentemente não apresentarem sintomas da doença
(Duarte & Albuquerque, 1997).
A doença foi constatada em solos com pH variando de 4,5 a 7,0, sendo que o pH
recomendado para a cultura da pimenta varia de 5,5 a 6,6. Solos com problemas de
drenagem parecem ser mais favoráveis à doença, fazendo com que a mesma se
manifeste entre o terceiro e quarto ano, elevando os danos causados pela doença.
Segundo Duarte & Albuquerque (1997) observações de campo sugerem que a
fusariose pode ocorrer a partir de três condições: a) pimentais novos, formados com
estadas sadias e plantados bem distantes de pimentais doentes, a doença começa a surgir
no sistema radicular entre o 12° e 15° anos, de forma dispersa no pimental; b) pimentais
novos, implantados em áreas isoladas, porém utilizando estacas provenientes de
pimentais infectados, a doença pode surgir entre o 4° e 5° anos; c) epidemias precoces
396
podem surgir em pimentais preparados com estacas sadias caso o novo plantio se
encontre próximo de plantios infectados pela fusariose aérea.
Controle
Ainda não existe uma medida única e eficiente para o controle da fusariose,
sendo que uma série de orientações devem ser observadas para garantir a mais sanidade
do plantio e retardas o aparecimento da fusariose.
Os métodos de controle mais eficientes a serem adotados no controle da
fusariose da primenta-do-reino, são o preventivos, evitando assim a entrada do
patógenos na área de plantio. A principal medida preventiva é o controle de qualidade
das estacas de propagação (Trindade & Poltronieri, 1997). As estacas devem ser
provenientes de pimentais sadios e apresentar bom estado de desenvolvimento
vegetativo, proveniente de áreas não contaminadas. Outra medida é evitar o
reaproveitamento de tutores provenientes de áreas em que a doença já tenha sido
observada e fazer a desinfecção das mesmas com produtos fitossanitários como
hipoclorito de sódio ou um fungicida registrado para a cultura.
Quanto à área de plantio, o desejável é que não tenha histórico de ocorrência da
doença, esteja distante de plantios infectados, apresente solos bem drenados e com
declinação menor que 20%. Área com histórico de ocorrência da doença pode ser
utilizada somente após um período de cinco a oito anos após o último plantio (Ventura
& Costa, 2004)
Alguns tratos culturais recomendados é realizar cobertura mora na época seca do
ano, fazer uso de adubação orgânica, evitar o trânsito de máquinas provenientes de áreas
infectadas. No caso da ocorrência da fusariose na parte aérea, caso a mesma seja
detectada na fase inicial, a realização de poda e eliminação do material da lavoura,
seguido da pulverização de fungicida é recomendável (Ventura & Costa, 2004). O
controle da doença a partir de 15% de severidade não tem sido mais eficiente (Duarte &
Abuquerque 1986). Nesta condição, o recomendável é o arranquio e eliminação da
planta doente, evitando assim a disseminação do patógeno dentro da lavoura.
As medidas convencionais de controle utilizadas para permitir o convívio com a
doença no campo como as práticas culturais, obtenção de variedades resistentes e
aplicação de fungicidas (Duarte & Albuquerque, 1980; Albuquerque et al., 1997; Ando
et al. 1997), tem se mostrados onerosas e pouco eficientes (Benchimol et al., 2000).
Novos métodos alternativos têm sido estudados como o controle biológico, este que
pode ser otimizado a partir de estudos epidemiológicos.
Conclusões
Pode-se constatar que doença é responsável por grandes perdas na produção e
apesar da importância da pipericultura na região norte do Estado do Espírito Santo
poucas pesquisas têm sido realizadas nas áreas de fisiologia da planta, fitossanidade,
melhoramento vegetal e tratos culturais, voltados para a cultura de pimenta dificultando
a criação de novas medidas integradas de controle para doença.
397
Literatura Citada
DUARTE ML; ALBUQUERQUE FC. 1986. Secamento dos ramos da pimenta-doreino. In Simpósio do Trópico Úmido. 1. Culturas Perenes. Belém. EMBRAPA. p 383394.
PEPPERTRADE – Brazilian Peppertrade Board. 2009. Brazilian Pepper Statistics. In:
http://www.peppertrade.com.br (acessado em 12 de agosto de 2010).
TRINDADE DR; POLTRONIERI LS. 1997. Doenças da pimenta-do-reino (Piper
nigrum L.) In KIMATI H; AMORIM L; BARGAMIN FILHO A; CAMARGO LEA;
REZENDE JAM (eds). Manual de fitopatologia. Vol 2. São Paulo. Editora
Agronômica Ceres. P 579-593.
VENTURA JA; COSTA H. 2004. Manejo da fusariose da pimenta-do-reino no
Estado do Espírito Santo. Vitória: Incaper. 18p.
VENTURA JA; MILANEZ D. 1983. Fusariose da pimenta-do-reino e seu controle.
Cariacica. Encapa. 20p.
398
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
7.25. Protocolo de extração isoenzimática e padrão de bandas da enzima PGI
em barbatimão (Stryphnodendron adstringens)1
Jacqueline Siqueira Glasenapp2, Priscila Barros Barbosa3, Vicente Wagner Dias Casali4
1
Parte da tese de doutorado do primeiro autor, financiada pela FAPEMIG.
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Genética e Melhoramento, Universidade Federal de
Viçosa (UFV), Viçosa-MG CEP 36571-000, e-mail [email protected]
3
Estudante de graduação em Zootecnia (BIC-FAPEMIG), Universidade Federal de Viçosa UFV - MG
4
Professor do Departamento de Fitotecnia, Faculdade de Ciências Agrárias, Universidade Federal de
Viçosa UFV - MG
2
Resumo: O Stryphnodendron adstringens tem suas propriedades medicinais devidas á
presença de compostos fenólicos. Em estudos isoenzimáticos, tais compostos, reagem e
alteram a mobilidade e/ou inativam enzimas e proteínas. Este trabalho teve como
objetivo ajustar métodos de extração isoenzimática visando melhor resolução de bandas.
Foi verificado que concentrações de PVP menores que 12% na solução extratora
resultaram em artefatos nos géis das isoenzimas analisadas. Foram observadas três
regiões de atividade nos géis EST, PER, MDH e uma em SKDH e IDH. O número de
locos e alelos por locos variou, mas as estruturas quaternárias observadas concordam
com as relatadas na literatura. PGI teve melhores resultados e foram observadas duas
regiões de atividade controladas por um loco cada. O loco catodal pgi-1 apresentou dois
alelos e padrão isoenzimático dimérico. No loco anodal pgi-2 foi evidente uma única
banda não sendo possível inferir a estrutura quaternária isoenzimática para este loco.
Extraction protocol isoezymatic and banding pattern of the enzyme PGI on
barbatimão (Stryphnodendron adstringens)
Abstract: The Stryphnodendron adstringens has its own medicinal properties due to the
presence of phenolic compounds. In an isoenzymatic study, such compounds react and
change the mobility and/or inactivate enzymes and proteins. The objective of this paper
was to ajust methods of isoenzymatic extraction to improve bands resolution. PVP‟s
concentration lower than 12% in the extracted solution results in the artifacts on gels.
Three activity regions were observed on the gels EST, PER, MDH and one on the
SKDH and IDH. The amount of loci and alleles by loci fluctuated, the quaternary
structures observed are similar to the ones reported in literature. PGI had better results
and two regions of activity, each one controlled by one loci, were observed in the gels.
The catodal locus pgi-1 presented two alleles and pattern isoenzymatic dimeric. On the
anodal locus pgi-2, was evident one single band not being possible to conclude the
quaternary isoenzymatic structure for this locus.
Introdução
O Stryphnodendron adstringens (Mart.) Coville (Leguminosae), árvore do cerrado
conhecida popularmente como “barbatimão”, tem ampla distribuição geográfica.
Ocorre, principalmente, no cerrado típico, campo-sujo e cerradão, desde o Pará,
Planalto Central, Minas Gerais, até São Paulo. O barbatimão é conhecido por suas
399
propriedades medicinais e tanantes, as quais, são devidas às altas concentrações de
compostos fenólicos. Na extração de proteínas e isoenzimas de plantas a presença de
fenóis causa problemas por reagir e alterar a mobilidade de proteínas e ou inativar
enzimas. Entre os tipos de tecidos vegetais as folhas são especialmente vantajosas na
análise de isoenzimas, porém normalmente, mais ricas em compostos fenólicos e
enzimas oxidativas, os quais são liberados durante a trituração dos tecidos e mascaram a
atividade e resolução enzimática (Alfenas et al. 2006). Há grande interesse econômico
no barbatimão, a exploração é puramente extrativista e vem causando impacto
considerável. No estudo de populações naturais de S. adstringens, em áreas de
conservação ambiental no distrito Federal, verificou-se que 41% dos indivíduos tiveram
sinais de extrativismo. São necessários estudos visando manejo e a conservação das
populações naturais desta espécie. Uma vez que o barbatimão é desconhecido
geneticamente este trabalho teve como objetivo ajustar métodos de extração
isoenzimática, de modo, a evitar a reação dos compostos tânicos com enzimas, visando
a melhor resolução de bandas.
Material e Métodos
Amostras de folhas maduras foram coletadas, no mês de maio, na população
natural de barbatimão, no município de Grão Mogol, às margens da BR 251. Na coleta,
transporte e armazenamento foram mantidas, ao máximo, a integridade e turgescência
das folhas. No ato da coleta as amostras foram embaladas em folhas de alumínio,
devidamente etiquetado e, logo em seguida, acondicionado em nitrogênio líquido, onde
permaneceu por aproximadamente 72 horas, até a chegada ao Laboratório de
Melhoramento de hortaliças da Universidade Federal de Viçosa (UFV).
As análises do polimorfismo aloenzimático foram procedidas por meio da técnica
de eletroforese em gel de amido. Na extração enzimática foi utilizado 1 g de tecido
foliar ou uma semente para cada 3 mL da solução extratora nº 1 recomendada por
Alfenas et al. (2006). Porém, a concentração de PVP-40 foi ajustada de 2,56%, como
recomendado originalmente, para 12%. Os géis foram preparados com 12 g de sacarose
e 60 g de amido por 500 mL de solução-tampão do gel. Foram utilizados os sistemas
tampão sugeridos por Soltis et al. (1983) e por Shaw e Prasad (1970), descritos na
Tabela 1 como A e B, respectivamente. A pré-corrida foi conduzida a 15 mA e durou
30m para o tampão A e 1h para o tampão B. A corrida propriamente dita foi realizada a
35 mA e durou cerca de 5h. Os sistemas aloenzimáticos analisados e a composição dos
sistemas tampão eletrodo/gel estão esboçados na Tabela 1.
Análise dos zimogramas
Na análise dos zimogramas procurou-se identificar as zonas de atividade, os
locos envolvidos e os alelos pertinentes. Os locos aloenzimáticos foram identificados
com as mesmas abreviações utilizadas na designação de cada enzima (ex. PGI), porém
com letras minúsculas e itálicas, seguidas por ordenação numérica crescente a partir do
loco de migração mais lenta (ex. pgi-1). Os alelos em cada loco foram ordenados
alfabeticamente, sendo o alelo de migração mais rápida identificado com a letra a e os
de migração mais lenta seguindo a ordem.
400
Tabela 1. Sistemas enzimáticos e composição dos tampões utilizados nas corridas
eletroforéticas de folhas e sementes de Stryphnodendron adstringens
Enzima
Esterase
Fosfogluco isomerase
Isocitrato desidrogenase
Malato desidrogenase
Peroxidase
Xiquimato desidrogenase
Abreviação
E.C.no.
EST
PGI
IDH
MDH
PER
SKDH
3.1.1.1
5.3.1.9
1.1.1.42
1.1.1.37
1.11.1.7
1.1.1.25
Tampões
eletrodo/gel*
A
A
B
B
A
B
* Tampões eletrodo/gel:
A - eletrodo (4.0 g.L-1 NaOH, 18.55 g.L-1 ácido bórico), pH 7.9/gel (diluir 40mL.L-1 solução do eletrodo,
1.84 g.L-1 Tris, 0.69 g.L-1 ácido cítrico), pH 8.6.
B - eletrodo (Tris 16.35 g.L-1; 9.04 g.L-1
ácido cítrico), pH 7.0/gel (diluir 66.7 mL.L-1
solução do eletrodo), pH 7.0.
Resultados e Discussão
Provavelmente, devido às altas concentrações de compostos fenólicos nas folhas,
em média 19%, concentrações de PVP menores que 12% na solução extratora
resultaram em artefatos no gel. Foram observadas três regiões de atividade nos géis
EST, PER e MDH e uma em SKDH e IDH. O número de locos e alelos por locos
variou, as estruturas quaternárias observadas concordam com as relatadas na literatura
(Tabela 2). A enzima PGI teve melhores resultados, com padrões de bandas nitidamente
perceptíveis, facilitando grandemente, a interpretação e avaliação dos alelos (Figura 1).
Foram observadas duas regiões de atividade, aparentemente, controladas por um loco
cada. Duas regiões de atividade com um loco cada, também, foram evidentes em Pinus
taeda (Adams & Joly 1980). No loco catodal pgi-1 foram aparente dois alelos, e devido
a formação de bandas híbridas características de indivíduos heterozigotos foi verificada
estrutura quaternária dimérica. Estas observações estão de acordo com os estudos de
Brune et al. (2006) e de muitos outros organismos como fungos, bactérias, plantas e
animais, incluindo o ser humano, os quais mencionam a estrutura quaternária da enzima
PGI como formada por duas cadeias polipeptídicas (Noltmann et al. 1972). No loco de
migração mais rápida pgi-2 (anodal), foi evidente uma única banda não sendo possível
inferir a estrutura quaternária isoenzimática para este loco.
Agradecimentos
A Fundação de Amparo a Pesquisa de Minas Gerais (FAPEMIG), ao Instituto de
Ciências Agrárias (ICA) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e ao
laboratorista Francisco Glicério Ribeiro.
Referências
ADAMS, W.T. & JOLY, E.J. 1980. Genetics of allozyme variants in loblolly pine. The Journal
of Heredity 71:33-40.
401
Tabela 2. Regiões de atividade, número de locos, número de alelos por loco, estruturas
quaternárias observadas em Stryphnodendron adstringens e, estruturas quaternárias
registradas na literatura
Enzima
Regiões de
atividade
no. de
locos
no. de
alelos por
loco
Estrutura quaternária
observada
Estrutura quaternária
(Brune at al. 2006)
MDH
PGI
IDH
SKDH
PER
3
2
1
1
3
4
2
1
1
3
1-2
1-2
3
1
1-2
dimérica/ monomérica
dimérica/monomérica
dimérica
monomérica
dimérica/tetremérica
dimérica
dimérica/oligomérica
monomérica
EST
3
4
1-3
monomérica
monomérica/dimérica
+
Pgi-2
Pgi-1
2aa
1ab
2aa
1bb
2aa
1ab
2aa
1ab
2aa
1ab
2aa
1aa
2aa
1aa
Figura 1: Gel de eletroforese da enzima fosfogluco isomerase (PGI) de
Stryphnodendron adstringens (Grão Mogol – MG)
ALFENAS, A.C., DUSI, A., ZERBINI JÚNIOR, F.M., ROBINSON, I.P., MICALES,
J.A., de OLIVEIRA, J.R., DIAS, L.A.S., SCORTICHINI, M, PEREIRA, M.C.B.,
BONDE, R.B., de ALONSO, S.K., JUNGHANS, T.G. & BRUNE, W. (in memoriam)
2006. Eletroforese e marcadores bioquímicos em plantas e microorganismos. 2 ed, Ed.
UFV, Viçosa.
BRUNE, W., ALFENAS, A.C. & JUNGHANS, T.G. 2006. Identificações específicas
de enzimas em géis. In Eletroforese e marcadores bioquímicos em plantas e
microrganismos (A.C. Alfenas, ed). Ed. UFV, Viçosa, p. 202-328.
NOLTMANN, E.A. 1972. Aldose-ketose isomerases. In The Enzymes (P.D. Boyer,
ed.). 3 ed. 6: 271-354.
SHAW, C.R. & PRASAD, R. 1970. Starch gel electrophoresis of enzymes: a
compilation of recipes. Biochem. Gent. 4:297-320.
SOLTIS, D.E.; HAUFLER, C.H.; DARROW, D.C.; GASTONY, G.J., 1983. Starch gel
electrophoresis of fern: a compilation of gdung buffers, gel and electrode buffers, and
staining schedules. American Ferns Journal, v.73, n.1, p.9-27.
402
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
7.26. Incidência de Thrips palmi (Karny) (Thysanoptera: Thripidae) e
produtividade do tomateiro orgânico em monocultivo e policultivo1
Flávia Batista Gomes2, Anália Lúcia V. Pacheco3, Leidiane de Jesus Fortunato3, Letícia
H. Azevedo3, Narimã Freitas4, Sérgio Kenji Homma5
1
Parte de projeto de pesquisa, financiado pelo Centro de Pesquisa Mokiti Okada (CPMO).
Pesquisadora do CPMO.
3
Estudante de graduação em Agronomia.
4
Engenheira agrônoma do CPMO.
5
Coordenador de pesquisa do CPMO.
2
Resumo: O tripes Thrips palmi, assim como os fitovírus vetoriados por ele, são de
grande importância econômica para a cultura do tomate. Dentre as estratégias utilizadas
na regulação de insetos-praga destaca-se o uso da diversidade vegetal. O objetivo com o
presente trabalho foi comparar o plantio de tomateiro em monocultivo e policultivo
(consórcio com coentro e cravo-de-defunto e o sorgo como cultura circundante) em
relação à incidência de T. palmi, do “vira-cabeça-do-tomateiro” e à produtividade.
Foram avaliados: número de tripes presentes nos ponteiros das plantas, porcentagem de
plantas e frutos com sintomas da virose, produção total e a produção de frutos com
padrão comercial. Foi observado que no policultivo ocorreu menor número de tripes e,
consequentemente, menor porcentagem de plantas e frutos com sintomas da virose. A
produção total no monocultivo foi estatisticamente superior à do policultivo, porém, a
produção de frutos com padrão comercial foi igual nos dois sistemas de cultivo. Pode-se
concluir que o policultivo proporcionou menor ocorrência de T. palmi, bem como os
danos indiretos relacionados a esta praga e não afetou a produção de frutos com padrão
comercial.
Palavras–chave: agricultura natural, coentro, consórcio, cravo-de-defunto, sorgo, tripes
Incidence of Thrips palmi (Karny) (Thysanoptera: Thripidae) and organic
tomato´s productivity in monoculture and polyculture
Abstract: The Thrips palmi, as well as the phytovirus vector by it, are of great
economic importance to the tomato crop. Among the strategies used in the regulation of
pest insects stand out the use of plant diversity. The aim with this study was to compare
the tomato tillage in monoculture and polyculture (intercropping with coriander and
marigold and sorghum as surrounding culture) in relation to the incidence of T. palmi,
to the viral disease (tomato spotted wilt) and in relation to the productivity. Were
evaluated: number of thrips present in the tops of the plants, percentage of plants and
fruits with symptoms of viral disease, total production and fruit production with
commercial value. It was observed that in polyculture occurred minor number of thrips
and consequently a minor percentage of plants and fruits with symptoms of viral
disease. The total production in monoculture was statistically major than the
polyculture, however, the production of fruit with commercial value was similar in both
tillage systems. It can be concluded that polyculture showed minor occurrence of T.
palmi, as well as indirect damages related to this pest and the polyculture did not affect
the fruit production with commercial value.
403
Key Words: coriander, intercropping, marigold, nature farming, sorghum, thrips.
Introdução
Thrips palmi representa uma das espécies de tripes mais
importantes para a horticultura brasileira, principalmente para as cucurbitáceas e
solanáceas.
T. palmi
é muito
importante no ínício
do cultivo
pois, além se succionar a seiva das plantas, é vetor de vários tospovírus responsáveis
pelo desenvolvimento da virose conhecida como “vira-cabeça-do-tomateiro” (Silva et
al., 2003).
Atualmente, uma estratégia importante utilizada pela agricultura sustentável é a
incorporação da diversidade vegetal na paisagem agrícola e o manejo desta de forma
mais efetiva. A diversidade vegetal é importante para a estabilidade da dinâmica
populacional dos insetos fitófagos, visto que favorece o controle biológico natural e
desfavorece o encontro e a utilização da planta hospedeira pelos insetos herbívoros
(Altieri et al., 2003). Assim, com este experimento objetivou-se avaliar a incidência de
T. palmi e do “vira-cabeça-do-tomateiro” e também a produtividade do tomateiro
orgânico em monocultivo e policultivo.
Material e Métodos
O experimento foi conduzido em cultivo protegido no Centro de Pesquisa Mokiti
Okada (CPMO) no período de Janeiro a Maio de 2010 utilizando o híbrido Yandara
cultivado em sistema orgânico/natural, sendo que o tomateiro foi conduzido com duas
hastes, em fila única, com espaçamento de 35 cm entre plantas e 70 cm entre canteiros.
A área experimental constituiu-se de um conjunto de 5 estufas contíguas de 316 m2 cada
com capacidade para 520 plantas. As estufas 1, 3 e 5 foram plantadas com tomateiros
em igual época e variedade, e os tratamentos foram implantados nas estufas 2 e 4.
Foi comparado o plantio de tomateiro em monocultivo e policultivo [cultivo
consorciado com coentro (Coriandrum sativum L.) e cravo-de-defunto (Tagetes minuta
L.) nos canteiros e plantio do sorgo (Sorghum bicolor L.) circundando a estufa].
Na área do policultivo foi plantada uma linha de sorgo ao redor da área 20 dias
antes do transplantio das mudas do tomateiro. As mudas de coentro foram plantadas 15
dias antes do tomateiro margeando os canteiros em espaçamento de 0,5 m e as mudas de
cravo-de-defunto foram plantadas na mesma época do coentro formando ilhas com três
plantas a cada 1,75m na linha de plantio do tomateiro. As plantas de coentro foram
eventualmente podadas para prolongar o seu período de florescimento.
A contagem dos tripes presentes nos ponteiros das plantas foi realizada 30 dias
após o transplantio através da técnica da batida de bandeja, em oito plantas por parcela.
A porcentagem de plantas com sintomas do vira-cabeça-do-tomateiro foi determinada
50 dias após o transplantio,. Foram também avaliadas a produção total, produção de
frutos com padrão comercial e porcentagem de frutos com sintomas do “vira-cabeça-dotomateiro”.
Foram testados 2 tratamentos com 10 repetições cada, sendo que houve restrição
na casualização das mesmas. Cada parcela foi composta por uma área útil de 28,8 m 2
possuindo 48 plantas. As médias foram comparadas pelo teste t com 5% de
404
significância, sendo que os dados oriundos da contagem dos tripes foram transformados
para logx. As análises foram feitas pelo software estatístico R®, versão 2.10.0
(Gentleman & Ihaka, 2006).
Resultados e Discussão
Foi observada diferença significativa entre os dois sistemas de cultivo do
tomateiro em relação ao número de T. palmi presentes nos ponteiros das plantas. No
policultivo o número de tripes foi três vezes menor (3,1) do que no monocultivo do
tomateiro (9,1) (Figura 1). A maior incidência de tripes no tomateiro em monocultivo
resultou em uma porcentagem significativamente maior de plantas com sintomas do
vira-cabeça-do-tomateiro (23,18%) quando comparado ao policultivo (7,71%) (Figura
1).
a
25
20
15
a
b
10
b
5
0
Número de tripes
(ninfas e adultos)
Monocultivo
Plantas com sintoma do
vira-cabeça-do-tomateiro (%)
Policultivo
Figura 1- Número de tripes nos ponteiros do tomateiro e porcentagem de plantas com
sintomas do “vira-cabeça-do-tomateiro”. Barras com a mesma letra não
diferem estatisticamente entre si pelo teste t (p≤0,05). Ipeúna-SP (2010).
Esses resultados refletem a não preferência de T. palmi pelas parcelas de tomate
consorciado, provavelmente pela maior diversidade de espécies vegetais. Em ambientes
diversificados os índices de insetos herbívoros são menores (Risch et al., 1983) o que
seria em função da baixa concentração de plantas hospedeiras ou à dificuldade de
localização e/ou à maior abundância e diversidade de inimigos naturais levando à maior
mortalidade dos insetos fitófagos (Root, 1973).
O monocultivo obteve produção total estatisticamente maior do que o policultivo,
entretanto, apresentou maior porcentagem de frutos com sintomas do vira-cabeça-dotomateiro. Após a classificação dos frutos, em relação à produção de frutos com padrão
comercial, não houve diferença significativa entre os tratamentos (Tabela 1).
O consórcio com o coentro e o cravo-de-defunto na linha de plantio interferiu na
produção total de frutos do tomateiro, possivelmente pela competição por nutrientes e
água. A espécie de cravo-de-defunto utilizada no presente experimento foi o Tagetes
minuta cujo porte alto e vigoroso pode ter desfavorecido o tomateiro na competição
principalmente por luz. Já o coentro não aparenta competir com o tomateiro por ser uma
planta herbácea. Tal resultado foi também observado por Togni et al. (2007) em plantio
de tomateiro com coentro demonstrando que a produtividade não foi afetada pelo
consórcio.
405
Tabela 1 - Produção total de frutos, produção de frutos com padrão comercial e
produção de frutos com sintomas do vira-cabeça-do-tomateiro (VCT).
(média ± erro padrão). Ipeúna-SP (2010)
Tratamentos
Produção total
(t.ha-1)
Monocultivo do tomateiro
Policultivo do tomateiro
CV (%)
17,68 ± 3,55 a
13,87 ± 3,40 b
24,77
Produção de frutos
comerciais
(t.ha-1)
4,70 ± 1,38 a
5,45 ± 1,60 a
29,70
Frutos com
sintomas do VCT
(%)
32,50 ± 1,33 a
19,48 ± 1,53 b
30,79
As médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem estatisticamente entre si pelo teste t (p≤0,05).
Assim, a incidência significativamente menor de tripes e, consequentemente a
menor intensidade de seus danos ocorridos no policultivo, indicam o potencial de
contribuição que a técnica pode ter no manejo de insetos-praga nos processos de
produção agrícola ecologicamente corretos.
Conclusões
Pode-se concluir que o tomateiro em policultivo diminuiu a população de T.
palmi, bem como os danos indiretos relacionados a esta. Porém, é necessário estudos do
arranjamento espacial da plantas consorciadas de forma que seja mantida sua atuação na
regulação de insetos-praga e concomitantemente não haja interferência na produtividade
do tomateiro.
Literatura Citada
ALTIERI, M.A.; SILVA, E.N.; NICHOLLS, C.I. O papel da biodiversidade no
manejo de pragas. Ribeirão Preto: Holos, 2003. 226 p.
GENTLEMAN, R. IHAKA R. Development Core Team, R: A Language and
Environment for Statistical Computing. Foundation for Statistical Computing; Viena,
Áustria, 2006 ISBN: 3-900051-07-http://www.r-project.org.
RISCH, S.J.; ANDOW, D.; ALTIERI M.A. Agroecosystem diversity and pest control:
Data, tentative conclusions, and new research directions. Environmental Entomology,
v.12, n.3, p.625-629, 1983.
ROOT, R.B. Organization of plant – arthropod association in simple and diverse
habitats: the fauna of collards (Brassica oleraceae). Ecological Monographs, v.43, n.1,
p.95-124, 1973.
SILVA, J. B. C.; GIORDANO, L. B.; FURUMOTO, O.; BOITEAUX, L. S.; FRANÇA,
F. H.; BOAS, G. L. V.; BRANCO, M. C.; MEDEIROS, M. A.; MAROUELLI, W.;
SILVA, W. L. C.; LOPES, C. A.; ÁVILA, A. C.; NASCIMENTO, W. N.; PEREIRA,
W.
Cultivo
do
tomate
para
a
industrialização.
2003.
In:
Http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Tomate/TomateIndustrial/a
utores.htm (acessado em 20 de maio de 2010).
TOGNI, P. H. B.; MEDEIROS, M. A.; ERDMAN, M.; CAVALCANTE, K. R.;
NAKASU, E. Y. T.; PIRES, C. S. S.; SUJII, E. R. Dinâmica populacional da mosca-
406
branca, Bemisia tabaci Gennadius, 1889 (Hemiptera:Aleyrodidae), em tomate
plantado sob sistema de cultivo orgânico e convencional. Boletim de pesquisa e
desenvolvimento. Brasília, DF: Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia: Embrapa
Hortaliças, 2007. 17 p. (Boletim de pesquisa e desenvolvimento / Embrapa Recursos
Genéticos e Biotecnologia, 1676 - 1340; 164).
407
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
7.27. Influência da incorporação de capim-elefante na preferência de Myzus
persicae (Sulzer) (Hemiptera: Aphididae) e no desenvolvimento das plantas de
brócolis1
Leidiane de Jesus Fortunato3, Anália Lúcia V. Pacheco3, Flávia Batista Gomes2, Narimã
Freitas4, Sérgio Kenji Homma5
1
Parte de projeto de pesquisa, financiado pelo Centro de Pesquisa Mokiti Okada (CPMO).
Pesquisadora do CPMO.
3
Estudante de graduação em Agronomia.
4
Engenheira agrônoma do CPMO.
5
Coordenador de pesquisa do CPMO.
2
Resumo: A manutenção dos teores de matéria orgânica do solo através da adição de
biomassa vegetal é muito importante para recuperação e/ou manutenção da sanidade e
produtividade em sistemas agrícolas. Assim, o objetivo com o presente ensaio foi
avaliar a preferência de Myzus persicae e o desenvolvimento do brócolis em função das
doses de capim-elefante incorporado ao solo como fonte de material orgânico. Quatro
tratamentos com cinco repetições em delineamento inteiramente casualizado foram
testados, sendo os tratamentos as doses de capim-elefante: 0, 25, 50 e 100g.vaso-1. Foi
determinado o peso seco da parte aérea das plantas, o teor de aminoácidos livres e
açúcares redutores nas folhas de brócolis e realizado o teste de preferência de M.
persicae com chance de escolha. Foi observado que o teor de aminoácidos livres e de
açúcares redutores não foi influenciado pelas doses de capim-elefante, bem como a
preferência de M. persicae. O peso seco da parte aérea das plantas de brócolis foi
correlacionado positivamente com as doses de capim-elefante incorporado ao solo como
fonte de material orgânico, sendo o desenvolvimento vegetativo proporcionalmente
maior até a dose de 100g.vaso-1 de capim-elefante.
Palavras–chave: açúcares redutores, agricultura natural, aminoácidos livres, matéria
orgânica, teste de preferência
Influence of elephant grass´s incorporation in the preference of Myzus persicae
(Sulzer) (Hemiptera: Aphididae) and in the development of broccoli plants
Abstract: The conservation of the levels of soil organic matter by the addition of plant biomass is
very important for recovery and/or maintenance of health and productivity in agricultural systems. Thus,
the objective with this test was to evaluate the preference of Myzus persicae and the development of
broccoli in function of elephant grass doses incorporated in the soil as source of organic material. Four
treatments with five replicates in a randomized design were tested, the treatments were the doses of
elephant grass: 0, 25, 50 and 100g.vaso-1. It was determined the dry weight of aerial parts of plants, the
content of free amino acids and reducers sugars in leaves of broccoli and it was performed the preference
test of M. persicae with a choice chance. It was observed that the content of free amino acids and reducers
sugars was not affected by doses of elephant grass, as well as the preference of M. persicae. The dry
weight of aerial parts of broccoli plants was positively correlated with the dose of elephant grass
incorporated in the soil as source of organic material, and the vegetative development was proportionately
major until the dose of 100g.vaso-1 of elephant grass.
Key Words: free amino acids, nature farming, organic matter, preference test, reducers
sugars
408
Introdução
A matéria orgânica do solo (MOS) é resultante da deposição natural de resíduos
vegetais e animais. Sabe-se que a MOS tem efeito direto sobre as características físicas,
químicas e biológicas dos solos, sendo considerada uma peça fundamental para a
manutenção da capacidade produtiva dos solos em qualquer ecossistema terrestre.
Portanto, a manutenção dos teores de MOS através de práticas de manejo, como a
adição de biomassa vegetal, torna-se indiscutivelmente necessária à recuperação e/ou
manutenção de potencial produtivo de qualquer sistema agrícola (Ricci, 2006).
Myzus persicae é uma espécie de pulgão altamente polífaga, causando danos
diretos pela sucção de seiva e principalmente danos indiretos, tendo a capacidade
comprovada de transmitir mais 100 fitovírus, sendo bastante freqüente e causando
apreciáveis danos às brassicáceas (Blackman & Eastop, 2000). Portanto, o objetivo com
esse experimento foi avaliar a preferência de M. persicae e o desenvolvimento das
plantas de brócolis em função das doses de capim-elefante incorporado ao solo como
fonte de material orgânico.
Material e Métodos
O experimento foi conduzido em casa-de-vegetação no Centro de Pesquisa Mokiti
Okada (CPMO) no período de Junho a Julho de 2010 utilizando brócolis ninja cv. BR0
68 cultivado em vasos com capacidade de 5L de terra no sistema orgânico/natural. No
preparo dos vasos foi utilizado como substrato: terra (latossolo vermelho amarelo
argilo-arenoso), capim-elefante (Pennisetum purpureum, Schum.) seco e picado e adubo
orgânico fermentado „Bokashi‟ (2,5% N; 0,8% P; 1,0% K) na dose 2,5g.vaso-1.
Foram testadas 4 doses de capim-elefante (0, 25, 50, 100g.vaso-1) totalizando 4
tratamentos com 5 repetições em delineamento inteiramente casualizado. Os vasos
foram mantidos sobre bancadas sob condições naturais. A umidade adequada dos vasos
foi mantida através de regas diárias.
As avaliações foram realizadas após 50 dias do transplante das mudas de brócolis.
O teste de preferência com chance de escolha do pulgão Myzus persicae foi realizado
utilizando-se caixas de Gerbox, contendo uma camada de ágar (2%) no fundo, como
arena. Nos cantos de cada caixa foi colocado um disco foliar de cada tratamento testado
com diâmetro de 2,5cm. No centro da caixa foram liberados 20 pulgões adultos
oriundos da criação de manutenção em plantas de pimentão. As caixas de Gerbox foram
mantidas em câmara climatizada com temperatura regulada para 25±2ºC e fotofase de
12h. Após 72h da liberação dos pulgões foi realizada a contagem do número de adultos
e ninfas presentes em cada disco foliar. Neste teste foi utilizado o delineamento em
blocos casualizados com 10 repetições. Da mesma folha utilizada para o teste de
preferência foi retirada uma amostra para determinação dos teores de aminoácidos livres
(Yemn & Cooking, 1955) e açúcares redutores (Miller, 1959). Foi avaliado também o
peso seco da parte aérea das plantas que foi expresso em g.
Os dados foram submetidos à análise de variância e análise de regressão com 5%
de significância e os dados oriundos do teste de preferência com chance de escolha
foram transformados para logx e submetidos ao teste de média de Scott & Knott
também com 5% de significância. Em ambos os casos foi utilizado o software estatítico
Sisvar versão 5.0.
409
Resultados e Discussão
Foi observado que o peso seco da parte aérea das plantas de brócolis
correlacionou-se positivamente (r=0,98) com as doses de capim-elefante utilizadas
como fonte de material orgânico (Figura 1), ou seja, quanto maior a dose de capimelefante até a dose de 100g.vaso-1, maior o peso seco da parte aérea das plantas de
brócolis.
Ŷ= 4,28 + 0,0153x
R2 = 0,98
Peso seco (g)
5,7
5,2
4,7
4,2
0
25
50
75
100
-1
Doses de capim napier (g.vaso )
Figura 1- Peso seco da parte aérea das plantas de brócolis em função da dose de capimelefante utilizado como fonte de material orgânico.
Assim, pode-se observar que até a dose de 100 g.vaso-1, quanto maior a
quantidade de capim-elefante incorporado ao solo, melhor o desenvolvimento
vegetativo das plantas de brócolis. Tal resultado pode ter sido proporcionado pela
melhor condição nutricional das plantas, visto que o material vegetal incorporado ao
solo é de grande importância na manutenção da microbiota do solo e de suas funções,
como a decomposição e mineralização de nutrientes para os vegetais (Ricci, 2006).
Foi observado que o uso do capim-elefante incorporado ao solo, independente da
dose utilizada, não interferiu na preferência do pulgão M. persicae, visto que não houve
diferença significativa em relação ao número de adultos e ninfas presentes nos discos
foliares de brócolis (Tabela 1). Também não foram observadas diferenças significativas
em relação aos teores de aminoácidos livres e açúcares redutores presentes nas folhas de
brócolis, o que, provavelmente, justifica a igual preferência e capacidade reprodutiva
dos pulgões nos discos foliares.
A dieta natural dos afídeos – a seiva elaborada – apesar de aparentemente pobre,
é um líquido rico em aminoácidos e carboidratos e, geralmente, contém todos os demais
nutrientes essenciais, inclusive água, para o crescimento e reprodução normais. Sendo
que, no processo de aceitação da planta hospedeira pelo afídeo, é de grande importância
os aminoácidos, os carboidratos e também o equilíbrio relativo dessas duas classes de
substâncias (Lazzari & Zonta-de-Carvalho, 2009). Assim, uma planta hospedeira será
mais adequada para o desenvolvimento e reprodução dos afídeos se possibilitar ao
inseto adquirir aminoácidos livres e açúcares reduzidos, isto é, ainda não incorporados
em macromoléculas insolúveis (Chaboussou, 1969). O principal fator que controla a
dinâmica das populações de insetos e, consequentemente, determinam o ataque da
cultura pela praga é o estado fisiológico da planta, que por sua vez é influenciado por
vários fatores como: o genótipo, a condição edáfica, a disponibilidade de água e o
estado fenológico e nutricional das plantas (Lazzari & Zonta-de-Carvalho, 2009).
410
Tabela 1- Número de adultos e ninfas (média ± erro padrão) presentes nos discos
foliares oriundos de plantas de brócolis cultivadas com diferentes doses de
capim-elefante, 72h após a liberação dos pulgões
Tratamentos
Adultos
Ninfas
0 g de capim-elefante por vaso
4,8 ± 1,16 a
10,40 ± 3,14 a
25 g de capim-elefante por vaso
4,4 ± 1,53 a
7,20 ± 0,66 a
50 g de capim-elefante por vaso
2,2 ± 0,20 a
4,2 ± 2,06 a
100 g de capim-elefante por vaso
3,2 ± 0,37 a
5,8 ± 3,02 a
55,55
63,42
CV (%)
As médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem estatisticamente entre si pelo teste Scott &
Knott (p≤0,05).
Conclusões
Pode-se concluir que as doses de capim-elefante, por si só, não interferiram nos
teores de aminoácidos livres e açúcares redutores e, consequentemente, na preferência
de M. persicae pelas folhas das plantas de brócolis. O desenvolvimento vegetativo das
plantas de brócolis respondeu proporcionalmente às doses crescentes de capim-elefante
incorporado ao solo.
Literatura Citada
BLACKMAN, R. L.; EASTOP, V. F. Aphids on the world´s crop: an indentification
and information guide. 2. ed. Chichester: Wiley, 2000. 482p.
CHABOUSSOU, F. 1969. Recherches sur les fact de pululation des acariens
phytophages de la vigne à la suit des traitments pesticides du fenillage. Faculté des
Sciences de l'Université de Paris, Paris, 238 p. (Thèse).
LAZZARI, S. M. N; ZONTA-DE-CARVALHO, R. C. Sugadores de seiva
(Aphidoidea). In: PANIZZI, A. R.; PARRA, J. R. P. (Ed.) Bioecologia e nutrição de
insetos – Base para o manejo integrado de pragas. Brasília: Embrapa Informação
Tecnológica, 767-836 p. 2009.
MILLER, G.L. Use of dinitrosalicylic acid reagent for determination of reducing sugars.
Analytical Chemistry, Washington, v. 31, p. 426-8, 1959.
RICCI, M. S. F. A importância da matéria orgânica para o cafeeiro. Revista Campo
e Negócio, 2006. In: Http://www.cnpab.embrapa.br/publicacoes/artigos/mat_org_
cafeeiro.html (acessado em 06 de agosto de 2010).
YEMN, E.W.; COOKING, E. C. The determination of amino acids with
ninhidrin. Analyst, v. 80, p. 209-213, 1955.
411
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
7.28. Efeito de doses de esterco bovino no desenvolvimento inicial do milho1
Alexandre Garcia de Resende2, Ari Waldrich da Fonseca3, Bruno Gabriel de Carvalho4,
Patricia Cândida Pereira5, Carlos Manoel de Oliveira6
1
Projeto de Iniciação Científica PROBIC/UNIARAXÁ.
Estudante de graduação em agronomia.
3
Estudante de graduação em agronomia.
4
Estudante de graduação em agronomia.
5
Estudante de graduação em agronomia.
6
Professor Mestre do Curso de Agronomia do UNIARAXÁ.
2
Resumo: Embora considerado um dos produtos mais tradicionais de nossa agricultura,
a cultura do milho apresenta baixa produtividade. E para alcançar elevadas produções
além das características climáticas, é imprescindível o manejo correto do solo e da
própria cultura, pois estes exercem grande influência no processo produtivo. Esta
pesquisa tem como objetivo a avaliação da interferência de diferentes doses de esterco
bovino no desenvolvimento inicial de plantas de milho (Zea mays, L). O experimento
foi conduzido na Estação Experimental do curso de Agronomia do UNIARAXÁ. O
plantio foi feito em um delineamento em blocos casualizados, com 04 tratamentos
(doses 0, 2, 4 e 6T/ha de esterco) em 05 blocos. Foi avaliada a altura da planta, o
diâmetro do colmo, número de folhas e altura de inserção da espiga. A adição de esterco
bovino proporcionou aumento do diâmetro de colmo, altura de inserção de espigas e
altura das plantas de milho.
Palavras–chave: esterco, Zea mays, L.
Effect of cattle manure in the initial development of milho
Abstract: Although considered one of the more traditional products of our agriculture,
the maize crop has low productivity. And to achieve high yields in addition to the
climatic characteristics, it is essential to proper management of soil and their own
culture, because they carry great influence in the production process. This research aims
to evaluate the impact of different doses of manure in the early development of corn
(Zea mays L). The experiment was conducted at the Experimental Station of Agronomy
course UNIARAXÁ. The planting was done in a randomized block design with 04
treatments (doses 0, 2, 4 and 6t/ha manure) and 05 blocks. We assessed plant height,
stem diameter, leaf number and height of ear insertion. The addition of manure provided
an increase of stem diameter, height and ear insertion height of corn plants.
Key Words: manure, Zea mays, L.
Introdução
O milho embora considerado um dos produtos mais tradicionais de nossa
agricultura, apresenta baixa produtividade, sendo cultivado praticamente em todo o país.
É característica em pequenas propriedades, aparecendo normalmente integrado a
bovinocultura de corte e leite, a avicultura e a suinocultura (SOARES, 2003). Para se
obter altas produtividades de milho, deve-se considerar, além das características
412
climáticas da região o planejamento e manejo correto, tanto do solo quanto da cultura,
pois exercem grande influência no processo produtivo. Nesse aspecto, devem ser
considerados fatores como: o nível de fertilidade do solo; a disponibilidade potencial de
nutrientes; a época; a forma e modo de aplicação de fertilizantes; a absorção e acúmulo
de nutrientes pelo milho e a translocação e exportação de nutrientes (EPMIG, 2006). A
fertilidade do solo, esta diretamente relacionada à presença de matéria orgânica é o
componente chave do sistema e apresenta inúmeros benefícios na ciclagem de
nutrientes para posterior utilização pelas plantas. Segundo Sá (1993), o aumento de 1g
dm-3 de C resulta em acréscimo de 1,39 cmolc dm-3, na capacidade de troca catiônica
(CTC) do solo e que as taxas anuais de ganho na CTC do solo a logo período são: na
camada 0,0-2,5 cm, 1,1 cmolc dm-3; na camada de 2,55 a 5,0 cm, 0,3 cmolc dm-3 e na
camada de 5,0 a 10,0 cm, 0,28 cmolc dm-3 de solo ( maior CTC promove maior
produção de fitomassa que, por conseguinte, promove maior ciclagem de nutrientes). O
aumento na CTC do solo é também sinônimo de aumento de fósforo, devido à redução
na absorção de fósforo, a menor superfície de contato com o íon colóide e a formação
de formas orgânicas de fósforo. Este trabalho tem como objetivo a avaliação da
interferência de diferentes doses do esterco bovino no desenvolvimento de plantas de
milho, visando possíveis reduções na aplicação de adubo químico com a utilização da
matéria orgânica.
Material e Métodos
O experimento foi conduzido na Estação Experimental do Curso de Agronomia
do UNIARAXÁ. As parcelas foram delimitadas em 4m2 (2x2m) de largura, em um
delineamento em blocos casualizados, com 04 tratamentos e 05 blocos. A semeadura foi
conduzida obedecendo à densidade populacional recomendada para o cultivo de milho,
com o espaçamento entre linhas de 50 cm, cultivando 70 mil plantas por hectare. Foram
aplicadas aos tratamentos as doses de 0 kg; 0,4kg; 0,8kg e 1,2kg de esterco bovino para
cada tratamento. A variedade cultivada foi o híbrido simples DKB 215 de ciclo precoce.
A adubação de plantio e cobertura foi realizada segundo o livro Recomendações Para o
Uso de Corretivos e Fertilizantes em Minas Gerais. Aos 70 dias da emergência da
cultura, foi avaliado a altura da planta, diâmetro do colmo, o número de folhas e a altura
de inserção de espiga. Os resultados foram submetidos à análise de variância, seguido
do teste de Regressão a 5% de probabilidade.
Resultados e Discussão
A Figura 01 mostra o resultado obtido com plantas de milho, avaliadas com 70
dias após a emergência para altura de inserção de espiga. Observa-se, para as doses
estudadas a adição de esterco permitiu um melhor desenvolvimento de parte aérea do
milho. Doses entre 04 e 06 Toneladas/ ha de esterco bovino elevou a altura de inserção
da espiga, sendo que a dose de 4,75T/ha de esterco acarretou o máximo de 103,1cm de
altura de inserção de espiga. Segundo (EMBRAPA, 2009), as perdas de espigas na
plataforma são as que causam maior preocupação, uma vez que apresentam efeito
significativo sobre a perda total. Além de outras características, estas perdas estão
relacionadas também com a uniformidade da altura da inserção de espiga e altura de
inserção de espiga.
413
104
Altura (cm)
102
100
98
96
y = -0,5106x2 + 4,8552x + 91,555
94
R2 = 0,9512
92
90
0
2
4
6
Doses de Esterco T/ha
Figura 01 - Resposta da adição de esterco bovino para altura de inserção de espiga em plantas de milho.
Diâmetro colmo (cm)
A Figura 02 evidência os resultados obtidos com plantas de milho, avaliadas aos
70 dias após a emergência para diâmetro de colmo. Observa-se que, para as doses
estudadas, a adição de esterco permitiu um melhor desenvolvimento de diâmetro do
colmo de plantas de milho. Doses entre 02 e 04 Toneladas de esterco bovino por hectare
aumentou o diâmetro do colmo, sendo que a dose de 3,88T/ha de esterco acarretou o
máximo de 2,28cm de diâmetro do colmo. O colmo do milho, além de suportar as
folhas e partes florais, serve também como órgão de reserva acumulando sacarose
(MAGALHÃES et al., 1995).
2,35
2,3
2,25
2,2
2,15
y = -0,0125x2 + 0,097x + 2,099
R2 = 0,7316
2,1
2,05
0
2
4
6
Doses de Esterco T/ha
Figura 02 - Resposta a adição de esterco bovino para diâmetro do colmo em plantas de milho.
Para altura de plantas, os resultados obtidos demonstraram que a cada 01T elevase em 2,5cm a altura final da parte aérea da planta de milho. Segundo Gomes (2005), o
aumento das doses de adubo orgânico, aumenta a quantidade de nutriente disponível
resultando em maior crescimento (Figura 03).
Não houve resposta a adição de esterco bovino para número de folhas.
414
Altura de Planta (m)
2,2
2,15
2,1
2,05
y = 0,025x + 2,005
R2 = 0,6068
2
1,95
0
2
4
6
Doses de Esterco T/ha
Figura 03 - Resposta da altura de planta de milho a adição de esterco bovino.
Conclusões
Doses entre 04 e 06T proporcionaram maior altura de inserção de espiga. Doses
entre 02 e 04T maiores diâmetro do colmo e doses crescentes de esterco elevaram a
altura da parte aérea.
Literatura Citada
CONAB. Companhia nacional de abastecimento. <www.conab.gov.br>. Acesso em
10 jun. 2010
EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. Cultivo do milho.
2009. Disponível em:
http://www.cnpms.embrapa.br/publicacoes/milho_5_ed/
colregula.htm>. Acesso em: 11 jun. 2010.
GOMES; J. A.; SCAPIM; C. A. Adubações orgânica e mineral, produtividade do
milho e características físicas e químicas de um Argissolo Vermelho- Amarelo.
2005. Disponível em: < http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/ActaSciAgron/
article/viewArticle/1472>. Acessado em: 14 jun 2010.
MAGALHÃES, P.C.; DURÃO, F.O.M.; PAIVA, E. Fisiologia da planta de milho.
Sete Lagoas: EMBRAPA, 1995. (Circular técnica, n° 20).
SÁ, J.C. de M. Adubação nitrogenada na cultura do milho. Informações Agronômicas,
Piracicaba, n.63, p.5, set. 1993.
415
II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
23 a 26 de setembro de 2010 – Universidade Federal de Viçosa – Viçosa/MG
7.29. Efeito de doses de esterco bovino no desenvolvimento inicial de trigo1
Alexandre Garcia de Resende2, Ari Waldrich da Fonseca3, Bruno Gabriel de Carvalho4,
Patricia Cândida Pereira5, Carlos Manoel de Oliveira6
1
Projeto de Iniciação Científica PROBIC/UNIARAXÁ.
Estudante de graduação em agronomia.
3
Estudante de graduação em agronomia.
4
Estudante de graduação em agronomia.
5
Estudante de graduação em agronomia.
6
Professor Mestre do Curso de Agronomia do UNIARAXÁ.
2
Resumo: A agricultura sustentável se constitui no desenvolvimento de sistemas
agrícolas que sejam produtivos, mas que conservem os recursos naturais e que protejam
o meio ambiente. Com o objetivo de avaliar o efeito do esterco bovino no
desenvolvimento de plantas de trigo (Triticum aestivum, L). Um experimento foi
montado em um delineamento inteiramente casualizado com 4 tratamentos (0g, 0,14g,
0,28g e 0,42g) e cinco repetições. Resultados estatísticos significativos pela análise de
regressão foram obtidos para altura da planta, peso verde parte aérea, peso seco parte
aérea, peso seco raiz e número de perfilhos. Não houve diferenças significativas ao
avaliar comprimento de raiz e peso verde raiz.
Palavras–chave: esterco, Triticum aestivum, L
Effect of cattle manure on initial wheat developing
Abstract: Sustainable agriculture constitutes the development of agricultural systems
that are productive, but that conserves natural resources and protects the environment.
Aiming to evaluate the effect of manure on plant growth of wheat (Triticum aestivum
L). An experiment was performed in a completely randomized design with four
treatments (0g, 0.14 g, 0.28 g and 0.42 g)