CRESCIMENTO ECONÔMICO DA RÚSSIA, MÉXICO E BRASIL1

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CRESCIMENTO ECONÔMICO DA RÚSSIA, MÉXICO E BRASIL1
CRESCIMENTO ECONÔMICO DA RÚSSIA, MÉXICO E BRASIL1
SOUZA, Nali de Jesus.
Desenvolvimento Econômico. 5a ed. São Paulo: Atlas, 2005.
1 - CRESCIMENTO ECONÔMICO DA RÚSSIA
A Federação Russa, reunindo 89 regiões, surgiu após a dissolução da União Soviética em
dezembro de 1991, a quem sucedeu como potência nuclear e membro do Conselho de Segurança da
ONU. Ela possuía 147 milhões de habitantes em 1999; a parte européia concentra 80% da população
e a maioria das cidades; seu vasto território de 17,1 milhões de km2 é composto por imensas planícies inabitáveis na Ásia (Sibéria), mas com imensas reservas de carvão, petróleo e gás natural. Nesse
mesmo ano, seu PNB atingiu US$ 332,5 bilhões, constituindo a 16ª economia do mundo. Seu PNB
per capita de 1999, igual a US$ 2.227, no entanto, colocava esse país na 98ª posição no contexto
mundial. No plano político, o principal problema decorre de resistência da Chechênia ao domínio
russo.2
A civilização russa originou-se no século 9 a.C. com migrações vindas da Ásia e Europa, sobretudo normandos, turcos e gregos. Por sua posição geográfica, essa região não fez parte do império
romano, mas recebeu influência diversa. Alemães e poloneses difundiram o catolicismo na região,
influenciado a formação da língua russa. No século 12, a região foi invadida pelos mongóis chefiados
por Genghis Khan, cuja ocupação durou de 1237 ao fim do século 15. Eles governaram do Báltico ao
mar da China, estabelecendo uma administração bem organizada, com cobrança de impostos. No
seio da dominação mongol surgiram três centros de poder: Galícia, Novgorod e Moscou, que acabou
se impondo política e economicamente sobre os demais centros, por sua posição geográfica (Mirador, 1995, p. 10.105).
No reino de Pedro I, o Grande (1682-1725), modernizou-se a Moscóvia, a futura Rússia. Para
imitar as ações de soberanos ocidentais, ele cercou-se de conselheiros estrangeiros e centralizou a
administração; protegeu artesãos, técnicos e construtores; fundou São Petersburgo, para onde transferiu a capital; mandou traduzir livros e copiar os anais conservados nos mosteiros; ordenou a construção do canal ligando Moscou a São Petersburgo. Em 1700, ele declarou guerra à Suécia e invadiu a
Livônia, Estônia e o delta do Neva. Ao estabelecer a paz com a Suécia, em 1721, foi reconhecido o
direito da Rússia sobre as regiões invadidas. A partir de então estava aberta importante janela para o
restante da Europa.
Catarina II (1725-1762) conquistou grande prestígio ao corresponder-se com os enciclopedistas franceses e com reis europeus. Ela protegeu os pensadores e as artes. Aproveitou o seu carisma
1
2
Este texto constitui um anexo ao Capítulo 12 do livro Desenvolvimento Econômico (Souza, 2005).
Esse país, de maioria muçulmana, declarou-se independente em 1991, provocando a guerra da Chechênia, com mais de 100 mil mortes. Com a derrota, os chechenos vêm realizando atentados a bomba (300 mortos em 2003); em 2004 uma escola foi invadida, resultando na morte de 646 pessoas, entre elas 227 crianças.
para realizar reformas políticas e administrativas. Prosseguiu a expansão externa, absorvendo grande
parte da Ucrânia, a Bielorrússia e parte da Polônia; em 1783 anexou a Criméia. Foi a era do absolutismo esclarecido: construíram-se hospitais e orfanatos; foi criada a academia de literatura e lingüística; foi incentivada a educação e a assimilação da cultura ocidental (Mirador, 1995, p. 10.110).
Alexandre I (1801-1825) expulsou Napoleão e Nicolau II (1894-1917) foi destronado pela
Revolução Bolchevique. As idéias e Marx e Engels haviam penetrado na Rússia no final do século
19. Em 1896, 30 mil operários de São Petersburgo entraram em greve e em 1898 surgiu o Partido
Social-Democrático dos Trabalhadores Russos. A derrota russa diante dos japoneses, em 1895, favoreceu os revolucionários, que intensificaram a sua ação até 1914. A situação econômica era crítica no
fim da Primeira Guerra Mundial: inflação alta e escassez de mão-de-obra na indústria e agricultura.
A Revolução ocorreu em 1917, surgindo a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), que
abrangia as repúblicas da Rússia, Ucrânia, Bielorússia e Transcaucásia (Mirador, 1995, p. 11226).3
1.1 A Revolução Soviética
Entre 1900 e 1917, a economia russa se encontrava em uma situação intermediária entre as
economias atrasadas e as regiões de alto desenvolvimento industrial. Em alguns setores, a indústria
russa era bastante moderna e se caracterizava por alta concentração da produção, propriedade e controle. Havia poucas zonas industriais, destacando-se os distritos de Leningrado e Moscou. Assim,
menos de 15% da população vivia nas cidades, e menos de 10% trabalhava na indústria. A maioria
das fábricas existentes era importada e financiada com capital estrangeiro. Certo número de trabalhadores, o pessoal administrativo e de nível técnico, bem como os executivos, era estrangeiro. O sistema ferroviário era o mais atrasado da Europa ocidental. O setor externo era muito dependente do ocidente, principalmente do mercado alemão. Mais de 50% das exportações russas eram constituídas
por cereais e produtos alimentícios, principalmente trigo, e 36% correspondiam a matérias-primas e
produtos semimanufaturados. Pelo lado das importações, 1/3 era de produtos manufaturados e 50%
do total compunham-se de algodão, lã, seda e metais ferrosos (Dobb, 1972, p. 44).
A produtividade da agricultura era baixa, o que contribuía para o reduzido nível de vida na
Rússia, uma vez que 80% da população vivia desse setor. A proporção de terra cultivada era relativamente pequena, correspondendo a 25% da área total do país. A densidade demográfica era grande
se comparada com a dos EUA. Embora as terras russas fossem bastante férteis, o rendimento da agricultura russa era baixo pelo emprego de técnicas agrícolas inadequadas e baixa intensidade de capital. Diante das dificuldades, o produtor rural buscava uma ocupação adicional, assalariando-se ou
montando em casa um artesanato. Desse modo, a escassez de alimentos era cada vez maior e não
atendia às necessidades da população. Durante o ano de 1917, produziram-se movimentos sociais
intensos demandando reforma agrária. Houve muitos casos de destruição e violência.
3
Os soviéticos reconheceram a independência da Finlândia em 6-12-1917, mas não cederam a da Ucrânia. A URSS possuía um território de 22,4 milhões de km2.
2
Os trabalhadores do setor industrial, de sua parte, desejavam melhores salários e redução da
jornada de trabalho para oito horas. Assim, com o novo governo, o bloco proletário-camponês passou
a apoiar o regime comunista. Tendo chegado ao poder, um dos primeiros atos de Lênin foi abolir o
direito dos proprietários de terra, sem qualquer compensação. A partir desse momento, todo cidadão
passou a ter o direito de trabalhar em uma parcela de terra por tempo indeterminado. A intenção foi
repartir a terra, mantendo uma parcela considerável nas mãos do Estado, a fim de criar empresasmodelo estatais. Contudo, a quantidade de terras em mãos dos camponeses passou de 70% para 96%
do total da área agriculturável. A produção agrícola ficou sob controle quase completo dos pequenos
camponeses (Dobb, 1972, p. 86).
O novo regime soviético não previa a transição imediata para uma economia socialista. Desejava-se primeiro consolidar o poder político e evitar a desintegração econômica por uma possível
greve de capitais que o governo pretendia dominar. Assim, as primeiras medidas visaram ao controle
da indústria, para que ela continuasse se expandindo. Pretendia-se implantar um capitalismo dirigido,
controlado por normas de caráter econômico. Durante o Governo Lênin (1917-1924), outras medidas
importantes foram a nacionalização das indústrias e dos bancos estrangeiros, assim como o pagamento de reparações de guerra à Alemanha. A oposição, liderada por bolcheviques e czaristas, se uniu,
iniciando a resistência militar contra o novo governo, formando os “russos brancos”. Em socorro aos
brancos, desembarcaram no país tropas francesas, inglesas, japonesas e norte-americanas, desencadeando uma guerra civil que perdurou de 1917 a 1921. O exército vermelho bolchevique saiu vitorioso, mas arruinou a economia russa. A situação econômica era desesperadora em 1921; em relação a
1913, a produção agrícola havia caído 2/3 e a indústria quase 90%; cerca de 5 milhões de pessoas
morreram de fome. As minas de carvão estavam paralisadas e as estradas de ferro destruídas. A circulação interna de mercadorias havia praticamente cessado. A população de Moscou reduziu-se de 2
milhões em 1918, para 1,2 milhão em 1921 (Niveau, 1969, p. 456).
Lênin instituiu o capitalismo de estado através da Nova Política Econômica (NEP), envolvendo o planejamento estatal da economia, combinando princípios socialistas com elementos capitalistas. A NEP estimulava a pequena manufatura privada e o livre comércio, cabendo ao Estado cerca
de 10% da produção camponesa. O restante dirigia-se livremente ao mercado, estimulando a produtividade e a normalização do abastecimento. Entendia-se que a implantação do regime socialista exigia
o fortalecimento prévio da economia com algumas medidas capitalistas. Assim, o governo liberou o
comércio interno e autorizou grande número de empresas industriais nacionalizadas a competirem
livremente no mercado, mas manteve o monopólio do comércio externo. Entre 1922 e 1924, a produção soviética quadruplicou e a agricultura começou a se recuperar dos efeitos da grande seca e da
guerra civil. Lênin morreu em 21-01-1924, no momento em que a prosperidade da “nova burguesia”
(rural e urbana) começava a inquietar o governo comunista. Nesse ano, as potências ocidentais reconheceram o governo comunista soviético. Stalin sucedeu a Lênin (1924/1953) e em 1928 foi adotado
o primeiro plano qüinqüenal, elaborado pela Gosplan.4 Intensificou-se a coletivização da economia
4
Comissão Estatal de Planejamento criada em 1921 para garantir o plano de eletrificação. Em 1928, a Gosplan passou a ser responsável pela elaboração e execução do planejamento centralizado soviético.
3
soviética: em 1926, 20% da produção industrial provinha do setor privado, quantia que se reduziu
para 5,6% em 1930 e para 0,5% em 1932, quando se proibiu o comércio privado (Niveau, 1969, p.
465).
1.2 Planos qüinqüenais soviéticos
Stalin centralizou o poder e eliminou a oposição; através do planejamento, ele deu prioridade à
indústria pesada. O primeiro plano (1928/1932) concentrou seus esforços na supressão da propriedade individual e no aumento da produção. A produção agrícola e o comércio diminuíram, assim como
os salários reais. Os objetivos do plano não foram alcançados. O segundo plano (1933/1937) caracterizou-se por uma planificação mais homogênea dos vários setores da economia, mas manteve a prioridade da produção de bens de capital. Desta vez, maior demanda de matérias-primas aumentou a
produção agrícola, o emprego e a renda. O terceiro plano (1938/1942) foi perturbado pela Segunda
Guerra Mundial. A produção industrial de armamentos superou a produção de bens para o atendimento da população. No quarto plano (1946/1950) procurou-se recuperar a economia. A partir de
1947 observou-se grande melhoria na agricultura e a produção do conjunto da indústria elevou-se
para 90% do nível de antes da guerra, sendo ultrapassado em 1948. Os soviéticos recusaram a ajuda
do Plano Marshall, iniciando-se a Guerra Fria, com a concentração dos investimentos na indústria
pesada, armamentos e energia nuclear (Niveau, 1969, p. 471).
O quinto plano qüinqüenal (1951/1955) tinha como principais traços um ritmo de incremento
da produção industrial de 72% e a diminuição das desigualdades entre as taxas de crescimento dos
principais departamentos da indústria, produtora de bens de capital e de consumo. Durante os primeiros anos da década de 1950, a situação da agricultura havia piorado bastante. Esse foi um dos motivos que levaram o plano a centrar-se na agricultura. O sexto plano (1956/1960) não se diferenciou
muito do anterior. O crescimento total da produção industrial foi estabelecido em 65%. Em geral, os
objetivos foram alcançados, mas a produção de bens de consumo ficou abaixo da média geral. Esse
plano foi substituído no final de 1958 por um novo plano de sete anos, para o período de 1959/1965.
O crescimento anual projetado para a indústria foi de 8,6%. A renda nacional deveria aumentar durante o período entre 62 e 65% (Dobb, 1972, p. 315).5
Após a morte de Stálin, em 1953, assumiu o poder Nikita Kruschev, que governou até 1964,
quando foi destituído por membros da burocracia stalinista. Kruschev buscou certa abertura da economia, ao defender maior intercâmbio político-econômico com o bloco ocidental. Assim, condenou o
centralismo administrativo, a burocracia e a repressão stalinista. Defendeu a dinamização socialista e
o estímulo à produção de bens de consumo, buscado elevar o padrão de vida da população. No plano
externo, ele buscou uma aproximação com os EUA, sendo o primeiro dirigente soviético a visitar
esse país, em 1959. Esse fato levou a China a romper relações com a União Soviética, em 1960. Essa
aproximação, no entanto, foi interrompida quando os soviéticos passaram a tutelar Cuba.
5
Em 1955, a produção industrial soviética equivalia a 23% da produção industrial americana, contra 14% em 1913. Observa-se que o
crescimento econômico foi bastante intenso, graças ao planejamento estatal (Niveau, 1969, p. 481).
4
Com a destituição de Kruschev, em 1964, assumiu Leonid Brejnev, que retomou o centralismo administrativo, contrariando a abertura política promovida pelo governo anterior. Renasceram as
disputas com os países capitalistas, motivando a corrida armamentista. Nesse período, consolidou-se
o crescente atraso tecnológico e econômico soviético frente às economias capitalistas mais desenvolvidas. Nesses 18 anos de poder, Brejnev sufocou qualquer abertura com o Ocidente, embora o Presidente Richard Nixon (1968/1974) houvesse tentado uma aproximação. Com a invasão soviética do
Afeganistão em 1979, as conversações acerca da limitação das armas nucleares foram mais uma vez
interrompidas. Para os soviéticos essa limitação era fundamental, porque não suportavam mais os
crescentes gastos militares. A economia de guerra drenava capitais e mão-de-obra mais qualificada, o
que prejudicava o desenvolvimento dos demais setores econômicos. Além disso, a partir dos anos de
1970 passou a influir negativamente na economia e na opinião pública soviética a questão agrícola.
Na década de 1980, a agricultura absorveu mais de um quarto dos investimentos totais do país, ao
mesmo tempo em que apresentava produtividade muito baixa.
1.3 O Governo Gorbatchev e a desintegração da URSS
Brejnev faleceu em 1982 e Mikhail Gorbatchev assumiu o governo da União Soviética em
1985. Suas principais realizações foram a glasnost e a perestroika. A glasnost foi a uma política de
abertura política, econômica e cultural, com transparência das questões soviéticas, visando ao combate da corrupção e da ineficiência na administração. A perestroika foi o plano de reestruturação do
sistema político e econômico da União Soviética. Assim, Gorbatchev retirou os excessivos controles
da economia, fruto do rígido planejamento estatal, e simplificou a estrutura administrativa do país.6
Em 1989, houve a primeira eleição livre para o Congresso; em 1990, reorganizou-se os partidos políticos, pondo fim ao partido único. Em 1991 foi aprovado um programa para a volta da economia de
mercado, com a liberalização dos preços, privatização de empresas e estímulo ao comércio exterior.
Em 1991, Gorbatchev sufocou um golpe de Estado, com o apoio da população. A tentativa de golpe
de Estado abriu as portas para o movimento de independência das repúblicas que compunham a União Soviética, dando início à desintegração. Surgiu a Comunidade de Estados Independentes, composta pela Rússia, Ucrânia a Bielorússia. Em 1992, a União Soviética foi extinta; Gorbatchev renunciou
e transferiu ao presidente da Rússia, Bóris Yeltsin o comando do arsenal nuclear.
Em termos econômicos, a Rússia é a parte mais importante da ex-União Soviética; em 1990,
ela mantinha cerca de 62% do potencial produtivo do antigo bloco. A partir das privatizações, as
mudanças tornaram-se visíveis em todos os setores econômicos. No início, houve queda da produção
industrial, mas a economia conseguiu recuperar-se rapidamente. O seu grande trunfo é a grande riqueza de recursos minerais de praticamente todos os tipos, que atendem às necessidades internas e
permitem a exportação. Petróleo, gás e carvão constituem 71% das reservas totais dos recursos minerais, seguindo-se os metais ferrosos, não ferrosos e metais raros com 13%. Com a retomada do crescimento industrial e o ressurgimento da economia de mercado, a renda da população mais do que
6
Ver o Capítulo 4, seção 4.3 (Conclusão).
5
duplicou, estimulando a expansão dos investimentos. Os indicadores econômicos mostram, em 2002,
que a economia ultrapassou os níveis anteriores à crise de 1998 e a Rússia voltou a amortizar normalmente as suas dívidas (http://users.linkexpress.com.br/embrus/economic.htm).
O aumento dos preços internacionais do petróleo aumentou o volume de divisas para a Rússia, permitindo-lhe o pagamento da dívida externa, sem necessidade de reestruturação e de recorrer a
novos empréstimos externos. Esse país é o segundo maior exportador de petróleo, depois da Arábia
Saudita. A recuperação econômica e a transformação política valeram à Rússia a entrada no G-8.7
Internamente, a maior parte do orçamento para 2003 foi reservada para investimentos na educação,
seguindo-se investimentos nas áreas de segurança, saúde, transportes e infra-estruturas. Os aportes
financeiros do governo para a maioria dos setores econômicos estão sendo reduzidos gradualmente,
ficando estes sujeitos aos mecanismos do mercado (energia, indústria, agricultura, construção civil,
auto-estradas, comunicações e informática). Em 2002, o PIB russo cresceu 4% e foram colhidas 85
milhões de toneladas de grãos; as reservas externas aumentaram 30%, chegando a US$ 47,7 bilhões,
e a dívida externa reduziu-se para US$ 120 bilhões, ou 40% do PIB. A taxa de desemprego é de
7,5%, o que representa 5,4 milhões de desempregados.8 Em 2003, o PIB russo cresceu 4,5%, devendo aumentar para 6% entre 2005/2006 se os preços internacionais do petróleo estiverem acima de
US$ 21,5 por barril e se for crescente o afluxo de capitais estrangeiros (US$ 12,9 bilhões em 2002)9.
Assim, a expectativa é a de que o PIB russo duplique até 2010 (http://consrio.narod.ru/br/artigos/
economika/17/htm.
2 - CRESCIMENTO ECONÔMICO DO MÉXICO
A economia mexicana, com um PNB de US$ 429 (1999), é a segunda maior da América Latina, depois do Brasil. O México possui um território de 1958 km2 e uma população de 97 milhões de
habitantes (1999). A proximidade com os EUA torna esse país seu principal parceiro comercial. O
comércio externo passou a comandar o crescimento econômico do país depois que ele passou a formar o NAFTA,10 juntamente com os EUA e o Canadá.
Antes da chegada dos espanhóis, a região onde hoje fica o México era ocupada pelos maias,
toltecas e astecas, civilizações muito antigas. Os maias eram uma civilização agrícola que remonta ao
século 15 a.C.; eles ergueram pirâmides e criaram um calendário. A atual cidade do México foi fundada em 1325 pelos astecas, consolidando um poderoso império. Entre 1519 e 1521 a civilização
asteca, no reinado de Montezuma II, foi destruída por Hermán Cortés. Em 1526, os maias foram dominados e o México passou a integrar o Vice-Reino da Nova Espanha. A extração e a exportação de
prata formavam a base econômica da colônia. A corrupção e o autoritarismo da Metrópole levaram à
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Grupo dos países mais desenvolvidos do mundo: EUA, Reino Unido, Alemanha, França, Japão, Itália e Canadá, que inclui agora a
Rússia, principalmente por seu poder bélico.
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Em outubro de 2002, a população russa era de 145,1 milhões de pessoas.
9
Em setembro de 2004, o preço do petróleo ultrapassou US$ 50 por barril.
10
NAFTA é a sigla de North American Free Trade Agreement.
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Independência Mexicana em 1821, com Agustín de Iturbide aclamando-se imperador. A República
Mexicana foi proclamada em 1824.
Entre 1836, o México sofreu a independência do Texas, que foi anexado pelos EUA em 1845.
Isso provocou guerra entre os dois países (1846/1848). Com a derrota, o México perdeu os territórios
da Alta Califórnia, Novo México, Utah, Nevada, Arizona e oeste do Colorado. A promulgação de
uma constituição liberal em 1857 lançou o país em uma guerra civil (1858/1861), vencida pelos liberais, em detrimento dos conservadores. O presidente Benito Juárez recusou pagar a dívida externa e o
país foi invadido pela Inglaterra, Espanha e França. Os franceses, ao invadirem a capital, coroaram o
austríaco Maximiliano de Habsburgo imperador do México. A monarquia, no entanto, foi derrubada
em 1867. Depois de alguns anos, emergiu a ditadura de Porfírio Díaz.
A economia conheceu alguma estabilidade entre 1878 e 1910, quando cresceram as exportações
agrícolas e minerais. Havia terras férteis em abundância, assim como mão-de-obra e recursos minerais subutilizados. Os mercados mundiais estavam em expansão. O que limitava a produção interna
era a escassez de divisas para a importação de bens de capital. Isso foi contornado, em parte, pelo
aumento da inversão estrangeira no período e pelo aporte de capacidade empresarial. O setor agrícola
de exportação cresceu acima de 5%. A taxa de crescimento do PIB passou de 0,5% entre 1877/1900
para 2,2% entre 1900/1910 (Reynolds, 1973, p. 41).
2.1 A Revolução Mexicana
Em 1910, o candidato à sucessão de Porfirio Díaz, Francisco Madero, foi derrotado por fraude nas eleições presidenciais. A reação em apoio a Madero deu origem à Revolução Mexicana. Rebeldes e camponeses chefiados por Pascual Orozco, Pancho Villa e Emiliano Zapata venceram as
forças federais e colocaram Madero no poder. Porém, os revolucionários que exigiam reforma agrária depuseram Madero em 1913, quando se instaurou uma ditadura. Seguiu-se uma sucessão de conflitos, culminando com as eleições presidenciais de 1920. Os setores mineiros e petroleiros, protegidos por exércitos privados, ficaram isolados dos conflitos armados. Entre 1901 e 1920, eles cresceram a uma taxa média anual de 5,6%, contra 2,5% para o PIB, 1,7% para a indústria e apenas 0,1%
para o setor agrícola (Reynolds, 1973, p. 45). A indústria e a agricultura, dependentes do mercado
nacional, ficaram prejudicados pela turbulência interna. Nesse período revolucionário, desorganizouse a economia mexicana. A moeda foi muito desvalorizada e o sistema bancário praticamente desapareceu. As ferrovias ficaram destruídas e o sistema de comunicações tornou-se muito precário.
O México somente voltou à normalidade em 1920, mas ainda não havia clima para investimentos. O governo procurou no exterior novos mercados e novas fontes de financiamento, o que estimulou a economia nos anos seguintes. No entanto, a recuperação econômica foi prejudicada seriamente com a depressão mundial de 1929, que derrubou o nível de renda e de emprego. O período de
1925 a 1934 foi de transição e de consolidação de uma economia mista, tendo de um lado a iniciativa
privada e, de outro, forte controle governamental. O Banco do México tornou-se o órgão financeiro
central e único banco de emissão. O governo criou um banco agrícola para financiar a agropecuária
7
com juros mais baixos. Foram instituídos bancos de fomento para financiar obras públicas de alto
custo e menor rentabilidade. O Estado tornou-se responsável pelo controle dos recursos naturais não
renováveis. Nos anos de 1930, a economia iniciou uma recuperação gradual da Grande Depressão,
sob a liderança da indústria petrolífera e da agricultura comercial. Isso foi o resultado de diversas
reformas estruturais, como nacionalização e melhoria das ferrovias, intensificação da reforma agrária
e nacionalização da indústria petrolífera (extração, refino, comercialização e petroquímica). Nesse
período, a indústria cresceu 4,3% ao ano, a agricultura 2,7% e a produção mineira e petrolífera 1,9%.
Em 1940, o PIB atingiu o nível de 1925 (Reynolds, 1973, p. 51).
Na década de 1940, com a Segunda Guerra Mundial, o México foi obrigado a buscar a autosuficiência em vários setores, o que acelerou a industrialização. Ao terminar a Guerra, o país continuou voluntariamente o processo de substituição de importações, com fortes financiamentos governamentais. A iniciativa privada, amparada pelo governo, assumiu a liderança do desenvolvimento.
Nos anos de 1940 o PIB cresceu a uma taxa média anual de 6,7%, contra 2,8% para o crescimento
populacional, com a renda per capita crescendo 3,9%. A taxa de crescimento anual da produção foi
de 8,1% para indústria, 5,8% para agricultura e 2,5% para os setores de extrativa mineral e petrolífero (Reynolds, 1973, p. 55). Esse crescimento foi impulsionado pelas exportações, devido ao aumento
da demanda mundial. Os efeitos multiplicadores das exportações se repercutiram no setor de mercado interno. Ao mesmo tempo, o Governo restringia importações de bens de consumo e incentivava as
importações de bens de capital, que eram pagas com as divisas acumuladas durante a Guerra.
2.2 O crescimento econômico mexicano entre 1950/1970
O aparato protecionista criado em 1947 tinha como finalidade economizar divisas. Na década
de 1950, o esquema avançou para vários produtos. Com o tempo, isto levou a uma política explícita
de industrialização baseada na substituição de importações. Para que a política tivesse êxito, o governo estabeleceu subsídios e implantou infra-estruturas. Até a metade dos anos 1950, o câmbio valorizado impedia o funcionamento eficaz da substituição de importações. Mais tarde, a moeda desvalorizou-se e a redução de importações fortaleceu as indústrias nacionais. Medidas fiscais eliminaram
as expectativas inflacionárias e o aumento da inversão privada elevou o crescimento econômico.
Nos anos de 1950, o PIB cresceu 6,1% e a renda per capita 3%. Já na década de 1960 essas
taxas subiram, respectivamente, para 7,1% e 4,1%. As forças de crescimento da economia mexicana
continuavam apresentando um caráter endógeno, tanto do lado da oferta como do lado da demanda.
A produção aumentou mais para o mercado interno do que para a exportação, em função do dinamismo de crescimento da renda interna. No início dos anos 1960, estudos apontavam a necessidade
de se abrir a economia. No entanto, o crescimento continuava fundamentado no mercado interno;
resultou aumento do déficit público e da dívida externa. A economia procurou aprofundar a substituição de insumos e bens de capital (produtos químicos, derivados de petróleo, borracha e plástico). Na
década de 1960, a economia continuou mantendo alta taxa de crescimento do emprego e da renda,
com baixa inflação. A produção manufatureira liderou o crescimento econômico, com uma taxa mé8
dia anual de 7,3% nos anos 1950 e de 8,1% nos anos 1960 (Reynolds, 1973, p. 60).
2.3 O período do desenvolvimento compartilhado (1970/1980)
Na década de 1970 houve a última tentativa de revitalização do Estado populista; o aumento
dos gastos públicos e dos preços do petróleo elevou a taxa de crescimento da economia mexicana,
entre 1971/1981, para 6,7% ao ano, em média. O setor agropecuário continuou perdendo importância
na produção nacional. As importações aumentaram para 9,7% do PIB, enquanto as exportações atingiram 7,7%. A balança comercial deteriorou-se e a inflação aumentou, levando à abertura econômica
dos estados fronteiriços para o comércio e inversão estrangeira; isso representou uma ruptura do México com o modelo de substituição de importações. A nova liberalização significou a adoção do programa das indústrias maquiladoras, que desde a década de 1960 haviam estimulado o desenvolvimento da manufatura para exportação. Contudo, a economia não era competitiva, pois o câmbio havia se valorizado 50% entre 1970/1975. O financiamento do gasto do governo elevou a dívida pública. Em meados dos anos 1970 a deterioração do crescimento econômico e as deficiências estruturais,
tanto do setor industrial quanto do agrícola, se vinculavam à crise financeira e à deterioração do balanço de pagamentos. O déficit fiscal, a sobrevalorização do peso, a inflação e a fuga de capitais pelas importações deram início a uma prolongada crise. O descobrimento de petróleo na baía de Campeche alimentou as falsas esperanças do populismo (http:/mx.geocities.com/gunnm_dream/ desarrollo_ compartido.html).
2.4 As crises do período 1980/1995
A desvalorização do dólar norte-americano afetou a economia mundial a partir de 1982. Mais
tarde, os problemas monetários decorrentes e a desregulamentação financeira em todo o mundo multiplicaram os movimentos de capitais. A crise mexicana do período 1980/1995 começou com a desvalorização de 1976, no contexto mundial de reestruturação do sistema monetário com a passagem
de taxas de câmbio fixas para flutuantes. Em 1982, a crise foi provocada pela queda dos preços do
petróleo e pela explosão da crise da dívida externa que envolveu 40 países. A moratória mexicana de
agosto de 1982 desencadeou a crise da dívida na América Latina, gerando queda contínua do PIB na
década perdida, principalmente no Brasil. Em 1987, as bolsas de valores de todo o mundo tiveram
uma queda de 30 a 40%; e, em 1994, houve novas desvalorizações desencadeadas pelo efeito tequila.
A crise iniciada em 1982 gerou recessão entre 1982/1987 (-0,5%), com crescimento moderado de 3,1% em 1989/1994 (contra 8,6% entre 1970/1981). A relação dívida externa/PIB subiu de
quase 36% em 1977, para 62% em 1983 e 78% em 1987 (75% em 1994). A origem da crise da dívida nos anos de 1980 resultou do aumento desproporcional dos juros pela concentração da dívida com
vencimentos de curto prazo e com taxas variáveis. O investimento/PIB, estável nos anos de 1970 em
18,5%, chegou a 26,4% em 1981, para declinar para 5,5% em 1983 (www.azc.vam.mx/publicaciones
/etp/num9/a4.htm).
9
2.5 O período pós-1995
O Tratado do NAFTA foi assinado em 1993, gerando impactos mais significativos sobre o
comércio externo a partir de 1996. Com o NAFTA e as reformas econômicas de 1995, aumentaram
os investimentos externos diretos. A economia mexicana atingiu um crescimento de 6% (1996/1997)
e de 6,9% em 2000, com inflação em baixa (52% em 1995, para 19% em 1998). Os fatores do crescimento econômico foram as exportações manufaturadas e a reativação do consumo privado interno.
As exportações subiram de US$ 21,9 bilhões em 1986 para US$ 95,6 bilhões em 1996 e para US$
160 bilhões em 2002. As importações, por seu turno, cresceram de US$ 88,8 em 1996 para US$
168,1 em 2002. Houve uma “quebra estrutural” na corrente de comércio do México após a implantação do NAFTA (Banco Central do México). A renda real per capita mexicana cresceu 4,1% entre
1996/2000, após ter caído 8,3% em 1995 (Moraes, 2001, p. 57).
O que diferencia o México das demais economias latino-americanas são suas exportações aos
EUA, o que lhe permitiu recuperar seu dinamismo em poucos anos após a crise.11 Apesar da excessiva volatilidade dos mercados financeiros internacionais, as taxas de juros nominais e reais têm-se
reduzido consideravelmente e a taxa de câmbio tem apresentado relativa estabilidade. O fortalecimento da economia mexicana e sua menor vulnerabilidade a choques externos permitiram retomar a
confiança da comunidade financeira internacional (www.feneri.org.br/eneri2003 /refposter002.pdf).
Ao longo de 2001, a economia mexicana esteve influenciada por um cenário internacional
adverso. Em particular, a desaceleração da atividade econômica dos EUA foi muito maior do que a
antecipada no início do ano. Todos os setores orientados para exportação sofreram grandes contrações na produção. Em conseqüência, o ritmo de crescimento da economia mexicana diminuiu drasticamente em 2001 (o PIB caiu 1,6% e a produção industrial 4,7%). A política monetária restritiva
abateu o crescimento dos preços. A inflação foi de 4,4%, inferior à taxa de 6,5% projetada pelo Banco do México. O menor dinamismo da economia mundial inibiu as exportações mexicanas (-4,8%),
resultando um déficit comercial 21,6% superior ao do ano anterior. Em 2002 a economia mexicana
mostrou sinais de recuperação, com aumento das exportações, redução do déficit comercial e criação
de empregos, com inflação sob controle (www.mexico.org.br/economia/economex2001_ es.pdf).
A proximidade geográfica com os EUA permitiu que o NAFTA exercesse considerável efeito
sobre a economia mexicana, cujo PIB cresceu de US$ 332,4 bilhões em 1996, para US$ 574,5 bilhões em 2000 (ele havia caído de US$ 420,8 em 1994 para US$ 286,1 em 1995) (Moraes, 2001, p.
58). Sem dúvida, a ajuda americana na crise de 1994 e a presença do NAFTA foram cruciais para a
retomada do desenvolvimento do México. Inúmeras empresas americanas, japonesas e coreanas instalaram filiais no México para aproveitar a mão-de-obra mais barata, a fim de montar componentes
importados dos EUA. Mais recentemente, no entanto, a concorrência da China está provocando a
saída de empresas maquiladoras japonesas e coreanas. Entre janeiro de 2001 e junho de 2002, o Mé11
A composição das exportações mexicanas mostra sua total dependência aos EUA: 90% do total exportado destinam-se a esse país.
Assim, toda recessão ocorrida nos EUA exerce um impacto direto na economia mexicana, principalmente na indústria e construção
civil.
10
xico teria perdeu 600 de suas 3.200 montadoras e 250 mil empregos, o equivalente a 15% da força de
trabalho das maquiladoras. Salários mais altos no México e insumos industriais mais baratos e eletricidade gratuita na China não seriam os únicos fatores: seria preciso assinalar também a falta de segurança no México, com vários seqüestros de executivos estrangeiros e roubos de cargas que viraram
rotina (Revista Sem Fronteiras, edição de 2002, www.semfronteirasweb.com.br).
3 - CRESCIMENTO ECONÔMICO DO BRASIL
O Brasil passou a ter crescimento econômico mais efetivo com o surgimento do café como base
exportadora mais dinâmica; a introdução do trabalho assalariado nessa cultura e a promoção de imigração alemã e italiana no fim do século 19 também foi um fator importante para gerar mercado interno e torná-lo receptivo aos efeitos de encadeamento provenientes das exportações. Assim, o primeiro surto industrial no Brasil ocorreu nos anos de 1890, em virtude da expansão do crédito à agricultura, da criação de bancos de emissão de moeda e do aumento das tarifas sobre as importações,
cobradas em ouro. A expansão dos meios de pagamentos e o encarecimento das importações criaram
um clima de euforia, com o surgimento de novas empresas, provocando a Crise do Encilhamento, em
1891, com inflação e déficits no balanço de pagamentos.
No início do século 20, o governo adotou um programa de estabilização que saneou a economia.
Após, iniciou-se um programa de melhoria de portos e de construção de ferrovias visando à exportação. Através da política cambial o governo mantinha a renda do setor cafeeiro, para estimular a produção de café. Porém, ao vender moeda estrangeira no mercado, para favorecer os exportadores, o
governo retirava dinheiro de circulação, provocando recessão. O encarecimento das importações e a
escassez de divisas restringiam as importações (Vilela e Suzigan, 1973, p. 42).
3.1 Choques externos e o protecionismo, 1929/1945
O grande crescimento das exportações de café nos anos de 1920 proporcionou a importação de
bens de capital para a indústria. O índice de quantum dessas importações subiu de 108 em 1920 para
209 em 1925; em 1929 ele caiu para 185. A queda da bolsa de Nova Iorque nesse ano derrubou os
preços do café e esse índice atingiu 29 em 1932, ano em que a economia brasileira recuperou o nível
de 1929; o referido índice chegou a 100 em 1939 e a 176 em 1943. As aquisições de café pelo governo, para ser queimado, ajudaram a manter o nível de renda. Entre 1920/1938, a economia brasileira
duplicou de tamanho e entre 1940/1945 a indústria brasileira cresceu 36% e o conjunto da economia
20,7% (Villela e Suzigan, 1973, p. 431 e 437).
A interrupção das importações pela Segunda Guerra Mundial reduziu a capacidade ociosa da
indústria, gerando novo surto industrial; acumularam-se reservas para importações posteriores, o que
favoreceu a acumulação de capital. Entre 1947 e 1951, a indústria cresceu 46%, aumentando a sua
participação no produto, que passou de 21% para 25%. Em 1920, havia apenas 300 mil trabalhadores
11
na indústria, com a têxtil gerando 28,6% do produto industrial total. Em 1940, as indústrias mais importantes eram as de produtos alimentares (22,9% do total), têxtil (22,7%) e a química/farmacêutica.
Em 1950, a metalurgia produzia 7,4% do total da indústria e a mecânica 2,2% (Baer, 1975, p. 13 e
60).
A Revolução de 1930, com a tomada do poder por Getúlio Vargas, foi muito importante para a
industrialização brasileira, pois correspondeu à emancipação política da classe industrial, contra a
hegemonia agrário-exportadora, enfraquecida pela crise de 1929. Criou-se uma legislação trabalhista
moderna (salário mínimo, oito horas de trabalho, férias anuais remuneradas, direito de sindicalização). O objetivo foi disciplinar os salários e assegurar a oferta de trabalho para a indústria, estimulando, assim, as emigrações do campo para as cidades, no momento em que havia praticamente cessado as emigrações internacionais.
O Relatório Niemeyer de 1931, encomendado pelo governo, apontou a monocultura de exportação como o principal problema da economia brasileira; ele sugeriu que o país diversificasse a agricultura de exportação, para financiar importações de bens de capital.12 Os economistas do governo
reconheciam que o país era muito dependente das importações de bens de consumo e vulnerável às
oscilações das exportações de café. Desse modo, o país precisava “substituir importações” por produção interna, através do estabelecimento de um sistema de proteção tarifária e de licenciamento de
importações, o que foi implantado em 1938. Essas substituições vinham-se realizando desde 1930, o
que explica o crescimento de 17% para a indústria entre 1935 e 1939. Contudo, a industrialização
necessitava da expansão do mercado interno. Nesse sentido, em 1937 foram eliminadas as tarifas de
exportação e importação entre os Estados, representando um passo importante na integração espacial
da economia nacional.
Outro importante diagnóstico sobre a economia brasileira foi o da Missão Cooke (1942/1943),
formada por técnicos dos EUA. O seu relatório apontou a deficiência dos transportes e da distribuição de combustíveis, o baixo nível dos investimentos industriais, a falta de treinamento técnico e as
restrições ao capital estrangeiro. Ela recomendou a implantação da siderurgia e de indústrias de madeira e papel (Baer, 1975, p. 27). Inspirado nesse relatório, Roberto Simonsen idealizou, em 1945, o
Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e a Companhia Siderúrgica Nacional, que
começou a funcionar em Volta Redonda em 1946. O principal efeito da Missão Cooke foi o Plano
Salte (saúde, alimentação, transportes e energia), que só funcionou em 1950, por problemas de financiamento. Outros diagnósticos parciais sobre a economia brasileira foram os da Missão Abbink em
1948 e da Comissão Mista Brasil-EUA entre 1951 e 1953. A equipe brasileira dessa comissão foi a
mesma que estruturou o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e que elaborou o Plano de
Metas (1956/1961) do governo Kubitschek.
3.2 Crescimento do Brasil entre 1945/1962
Entre 1947 e 1953, o governo adotou um sistema de licenciamento de importações, em virtude
12
A política do New Deal dos EUA exerceu grande influência no Brasil, interrompendo a política livre cambista vigente até 1930.
12
da escassez de divisas. As importações de remédios, inseticidas e fertilizantes eram livres, enquanto
eram prioritárias as importações de combustíveis, alimentos básicos, cimento, papel, equipamento
tipográfico e máquinas. O repatriamento de capitais ficava limitado a 20% de seu montante e os juros
a 8% do capital registrado. A partir de 1953 e até 1957, passou a vigorar o sistema de taxas múltiplas
de câmbio. As importações foram classificadas em cinco categorias, de acordo com a sua importância havia uma taxa de câmbio específica. As exportações e as importações essenciais, como petróleo
e seus derivados, não participavam dos leilões de câmbio e se realizavam à taxa oficial, com um pequeno ágio. O sistema proporcionou rápida substituição de importações, porque encarecia o preço
dos produtos concorrentes, sem elevar o custo de matérias-primas e bens de capital importados (Baer, 1975, p. 43 e 46).
A indústria cresceu 8,3% nesse período, chegando a 16,2% em 1958 e a 11,9% em 1959, durante o Plano de Metas (Langoni, 1976, p. 24). Este plano abrangia cinco setores, com um total de 30
metas: a) energia (43,4% dos recursos planejados); b) transportes (29,6%); c) alimentação (3,2%): d)
indústrias de base (20,4%); e) educação (3,4%). A nova capital (Brasília), a meta-síntese, foi construída em um tempo recorde e consumiu cerca de 2,3% do PNB (Lafer, 1975, p. 48). Seguindo as idéias
de Hirschman (1974) e de Perroux (1977), procurou-se maximizar os efeitos de encadeamento dos
investimentos, concentrando-os em setores-chave, ou pontos de germinação (como siderurgia, metais
não ferrosos e a indústria automobilística). Da mesma forma, as novas indústrias foram concentradas
na Região Sudeste, onde havia uma infra-estrutura inicial, fornecendo economias externas para as
novas atividades. Outra idéia foi a de ponto de estrangulamento, devido à existência de demanda
insatisfeita por rigidez de oferta. Isso explica as metas relativas aos transportes rodoviários, reaparelhamento das ferrovias e energia elétrica.
Como resultado, a economia brasileira cresceu 6,2% ao ano entre 1951/1956 e 7,8% entre
1957/1962. Neste período, houve intensa substituição de importações, com substancial afluxo de capitais externos.13 Aumentou substancialmente a produção de aço (1,4 milhão de t, para 2,7 milhões),
energia elétrica (2,8 milhões de kw, para 5,8 milhões) e de automóveis (31 mil montados para 200
mil fabricados). O Brasil tornou-se auto-suficiente na produção de cimento e as rodovias pavimentadas triplicaram em extensão (Baer, 1975, p. 57). A Lei de Tarifas de 1957 mudou o caráter do sistema cambial brasileiro, cujo objetivo deixou de ser simples instrumento de ajuste do balanço de pagamentos para tornar-se elemento ativo da industrialização do país. Embora essa lei aumentasse as
tarifas em 60, 80 a 150%, determinadas indústrias podiam importar equipamentos e matérias-primas
ao câmbio de custo. Essa lei complementava a Instrução 113 da SUMOC,14 de 1955, que permitia a
13
Nem sempre as novas fábricas implantadas nesse período substituíam importações, como a construção naval, com importações insignificantes. Durante o Plano de Metas, a industrialização brasileira seguiu também a estratégia do crescimento desequilibrado de
Hirschman.
14
Superintendência da Moeda e do Crédito, transformada em 1965 no Banco Central do Brasil. A Instrução nº 113 da SUMOC, que
favoreceu o ingresso do capital estrangeiro no Brasil, e a política cambial de 1957, completaram-se com a lei dos similares nacionais,
outro importante instrumento para a industrialização brasileira do final dos anos de 1950. Essa lei foi importante para que “os investidores estrangeiros passassem da importação para a montagem e desta para a fabricação completa”. As firmas multinacionais aderiam
ao novo sistema, não apenas para obterem os incentivos, mas, sobretudo, para não ficarem de fora do mercado (Gordon e Grommers,
apud Baer, 1975, p. 51).
13
importação de bens de capital sem cobertura cambial (Baer, 1975, p. 49).
3.3 Estabilização e crescimento entre 1962 e 1974
Como resultado da nova política industrial, o crescimento da indústria aumentou para 10,3% entre 1957 e 1962. O crescimento econômico reduziu-se no início da década de 1960 pelo aumento da
inflação e da instabilidade política do país, que diminuiu o afluxo de capital estrangeiro. A política
econômica ficou vacilante diante da demanda dos trabalhadores por maiores salários e dos empresários por facilidades creditícias. A instabilidade econômica e a agitação política levaram ao golpe militar de 1964. O novo regime estabeleceu um Plano de Ação Econômica do Governo (PAEG), com o
objetivo de conter a inflação, mediante a redução do déficit público, dos salários e do crédito. Os
subsídios às importações de petróleo e do trigo foram eliminados; iniciou-se um processo de correção dos preços públicos defasados, denominado de inflação corretiva.
Modernizou-se o sistema financeiro, com a criação do Banco Central e do Banco Nacional de
Habitação. Incentivaram-se as exportações, com a eliminação dos impostos, concessão de crédito e
desburocratização. Para atrair o capital estrangeiro, procurou-se criar um clima de confiança e de
credibilidade na condução da política econômica. Os investimentos estrangeiros, que se reduziram
para US$ 86 milhões em 1964, depois de ter alcançado uma média anual de US$ 123,1 milhões entre
1956 e 1962, voltou a subir em 1965, atingindo US$ 322 em 1969 e US$ 1,45 bilhão em 1973. Com
a queda da inflação de 91,9% ao ano, em 1964, para 25% em 1967, o aumento do afluxo de capitais
estrangeiros, as reformas realizadas e o aproveitamento da capacidade ociosa, a taxa de crescimento
do produto elevou-se para 9%, entre 1968/1970, e para 11%, entre 1971/1973 (Langoni, 1976, p. 24).
Um dos fatores do crescimento industrial desse período foi o aumento da capacidade de importar, explicado por maior afluxo de capitais externos e pela adoção de uma política cambial mais flexível, com minidesvalorizações periódicas, a partir de 1968. As exportações passaram de US$ 1,4
bilhão em 1964, para US$ 2,3 bilhões em 1971 e US$ 8 bilhões em 1974. Nesse período, as exportações de produtos manufaturados desempenharam um papel relevante, ao viabilizarem novas importações de bens de capital e ao exercerem impactos importantes no setor de mercado interno. A composição das exportações mudou substancialmente: os produtos primários caíram de 81% das exportações totais em 1951, para 68% em 1973. Os produtos industrializados subiram de 18% das exportações totais em 1961, para 30% em 1973 (Langoni, 1976, p. 61).
3.4 Crescimento econômico após 1974
O aumento do déficit da balança comercial de US$ 241 milhões em 1972, para US$ 4,7 bilhões
em 1974, levou o Brasil a adotar uma solução definitiva para a crise do petróleo, por meio da substituição de importações de insumos básicos, como produtos petroquímicos, celulose, metais não ferrosos etc., com a utilização de fontes externas de financiamento (Castro e Souza, 1985, p. 34). Desse
modo, o II Plano Nacional de Desenvolvimento, 1975/1979 (II PND) buscou substituir importações e
14
abrir novas possibilidades de exportação, principalmente de manufaturados. Os ganhos de divisas
com a substituição de importações montaram a US$ 2,7 bilhões em 1981 e a US$ 7,4 bilhões em
1984. Essas substituições ajudaram a gerar superávites no balanço de pagamentos nos anos de 1980,
que chegaram a US$ 13 bilhões em 1984 (Castro e Souza, 1985, p. 14 e 58).
Entre 1974 e 1980, o Brasil manteve a taxa histórica de crescimento da economia de 7% ao ano,
apesar do crescimento negativo do produto em 1981 (-1,6%) e em 1983 (-3,2%). Nesse mesmo período, a indústria de bens de capital expandiu-se mais do que a média da economia (8,5% ao ano). A
estrutura produtiva nacional modificou-se substancialmente; entre 1971 e 1983, reduziram-se em
relação ao total as importações de bens de consumo (11% para 5,2%) e de bens de capital (38,2%
para 16,2%). Cresceram as importações de combustíveis, apesar da substituição (11,6% para 55,8%).
Desse modo, a dívida externa total de longo prazo expandiu-se de US$ 5,1 bilhões em 1970 (12% do
PNB), para US$ 102,7 bilhões em 1988 (30% do PNB). Em função do modelo, a taxa de crescimento
anual das exportações reduziu-se de 22,1% entre 1970/1980, para 4,5% entre 1980/1990, aumentando para 8,2% entre 1990/1995.
3.5 Ajuste externo, 1983/1993
O superávit comercial de 1970 foi substituído por sucessivos déficits em decorrência dos choques dos preços do petróleo de 1973 e 1979. Até 1980, as exportações não conseguiram acompanhar
o ritmo das importações, apesar de crescerem rapidamente (25,9% entre 1970/1975 e 18,4% entre
1975/1980). Após 1974, desacelerou-se o crescimento das importações, fruto das substituições de
importações do II PND e de restrições quantitativas. Contudo, o déficit comercial atingiu US$ 3,5
bilhões em 1975 e US$ 2,8 bilhões em 1980. Diante disso, o governo tomou medidas enérgicas para
reduzir o déficit comercial, que nos anos de 1970 atingiu a cifra de US$ 17,4 bilhões (Tabela 1).
Em função da política de contenção das importações, o superávit comercial atingiu US$ 12,5
bilhões em 1985 e US$ 10,8 bilhões em 1990. Nos anos de 1980, o país acumulou US$ 99,8 bilhões
de saldos comerciais (US$ 107,5 bilhões entre 1970/2000). Esses saldos proporcionaram o ajuste
externo da economia brasileira até 1990/1993; porém, eles foram obtidos com a compressão das importações, tendo em vista as limitações para um crescimento ainda maior das exportações, a crise do
petróleo e a elevação das taxas de juros internacionais.15
Na década de 1980, apesar dos superávites da balança comercial, o crescimento das exportações
foi mais lento e bastante irregular, reduzindo-se em alguns anos. Isso pode ser explicado pelas próprias restrições às importações de insumos industriais e de bens de capital e pela valorização cambial. Além disso, o crescimento das exportações e da renda interna eleva as importações. Em segundo
lugar, há a escassez de recursos para crédito aos exportadores. O comércio internacional, sendo “uma
via de duas mãos”, é interdependente: os países precisam de divisas ou crédito para importar produ-
15
Os críticos temiam que a compressão extrema das importações, incluindo bens de capital e insumos indispensáveis à indústria, prejudicasse o parque produtivo nacional (Arida, 1983). Implantada a estratégia do ajuste externo, as importações se reduziram de US$ 23
bilhões em 1980 a um mínimo de US$ 13,2 bilhões em 1985.
15
tos brasileiros. As dificuldades para o aumento das exportações decorrem também das descontinuidades da política econômica, em relação ao setor exportador, das modificações do poder de compra
interno da moeda e das alterações dos preços relativos, que viabilizam ou entravam as exportações
em determinados períodos.
Tabela 1
Balança comercial do Brasil, 1970/2003, em US$ milhões.
Ano
Exportações
Importações
Saldo
1970
2.739
2.507
232
1975
8.670
12.210
- 3.540
1980
20.132
22.955
- 2.823
1985
25.639
13.153
12.486
1990
31.414
20.661
10.753
1995
46.506
49.663
-3.157
2000
55.086
55.791
-0.705
2001
58.223
55.581
2.642
2002
60.361
47.241
13.12
2003
73.084
48.253
24.831
1970/1980
102.738
120.158
-17.420
1980/1990
266.171
166.373
99.798
1990/2000
482.411
446.278
36.133
1970/2000
819.904
712.382
107.522
1990/1995
227.475
170.478
56.997
1995/2003
493.152
476.762
16.390
Fontes: Exportações brasileiras: SISCOMEX e SECEX; Importações brasileiras: SISCOMEX e MF/SRF.
Na ausência de uma política favorável e contínua às exportações, os surtos exportadores ocorrem quando a demanda interna se retrai pela concentração de renda, ou quando existe oferta excessiva no sistema. As empresas são impelidas a se lançarem nos mercados externos. Essa abertura é circunstancial e as firmas voltam ao mercado interno tão logo o poder de compra da população se recupera ou os preços relativos se modificam. A ausência de incentivos sistemáticos às exportações contribui para explicar as flutuações das exportações, aumentando o grau de vulnerabilidade da economia aos choques externos.
Em 1986, o Plano Cruzado elevou o poder de compra da população e congelou a taxa de câmbio; com isso, as exportações se reduziram, porque as empresas deslocaram vendas do mercado externo para o mercado interno. O saldo da balança comercial reduziu-se, mas voltou a subir, chegando
a US$ 10,8 bilhões em 1990. Porém, com abertura econômica implementada no Governo Collor e a
valorização cambial do Plano Real, o déficit comercial voltou, atingindo US$ 3,2 bilhões em 1995.
Esse déficit continuou na primeira fase do Real, com o aprofundamento da abertura comercial. A
recuperação da balança comercial retornou com a crise externa de 1998/1999, que desvalorizou a
16
moeda e estimulou as exportações. O déficit comercial externo reduziu-se para US$ 0,7 bilhão em
2000. Nos anos seguintes, com a elevação da taxa de câmbio, mantida flutuante, os superávits na
balança comercial cresceram sistematicamente, chegando a US$ 24,8 bilhões em 2003.
Tabela 2
Dívida externa total líquida e PIB do Brasil, 1986/2003 (US$ milhões e %).
Anos
Dívida
externa total
líquida
PIB
Dívida/PIB
1986
111.203
257.812
1990
123.438
1995
Taxas reais de crescimento
PIB
indústria
agricultura
43
7,5
11,7
-8,0
469.318
26
-4,3
6,9
8,1
159.256
705.449
23
4,2
2,0
4,9
2000
171.082
602.207
28
4,4
6,6
2,8
2001
162.704
509.797
32
1,3
1,6
8,6
2002
165.002
459.379
36
1,9
2,4
17,2
2003
151.188
493.348
31
-0,2
0,3
16,9
Fontes: Relatórios do Banco Central do Brasil; Confederação Nacional da Agricultura e Indicadores Rurais.
O resultado do ajuste externo pode ser visto pelo exame da evolução da dívida externa total líquida (Tabela 2). Essa dívida, igual a US$ 111,2 bilhões em 1986, subiu para US$ 171,1 em 2000.
Nesse período, ela cresceu mais lentamente e reduziu-se em alguns anos. Após 1998, com a desvalorização cambial, aumentaram os saldos comerciais e o volume das reservas internacionais, reduzindo
a dívida externa total líquida para US$ 151,2 bilhões em 2003. O coeficiente da dívida líquida/PIB se
reduziu de 43 em 1986, para um mínimo de 23 em 1995, voltando a atingir 36 em 2002.
3.6 Ajuste interno, 1994/1996
Entre 1986 e 1994, o Brasil tentou, sem sucesso, proceder ao ajuste interno da economia. As oscilações da taxa de crescimento do PIB nesse período refletem as dificuldades para a estabilização; a
inflação anual atingiu 1.764,8% em 1989 e 2.708,5% em 1993 (IGP-DI da FGV/RJ). Em fevereiro de
1986, o Plano Cruzado congelou preços, salários, tarifas e o câmbio, o que estimulou as importações
e comprimiu as exportações, exaurindo as reservas cambiais. A eliminação da correção monetária
reduziu as taxas de juros e estimulou o consumo em detrimento da poupança. Após o descongelamento, em 1987, a inflação voltou, atingindo 25% ao mês.16 Nesse plano, como nos demais planos
heterodoxos, foi dada ênfase exclusiva em seus aspectos inerciais, sem atacar as causas fundamentais
da inflação: o déficit público e a expansão dos meios de pagamentos. Além disso, os juros baixos
estimulavam a demanda agregada, pressionando os preços.
O Plano Bresser, adotado em junho de 1987, congelou preços e salários por três meses, com
descongelamento gradual. O aumento das expectativas em relação a novos congelamentos acelerou a
16
Confiando em inflação zero, o gverno prometeu aos trabalhadores o gatilho salarial: os salários aumentariam toda a vez que a inflação atingisse 20% ao mês. Essa prática gerou hiperinflação nos anos seguintes.
17
taxa inflacionária de 8% ao mês em setembro de 1977, para 20,3% em abril de 1988 (IGP-DI). A
inflação mensal de 36,6% em janeiro de 1989 levou ao lançamento do terceiro plano heterodoxo do
Governo Sarney. O Plano Verão, em janeiro de 1989, praticou igualmente o congelamento de preços,
salários e de tarifas públicas, após ter reajustado os preços dos combustíveis e da energia elétrica. A
inflação chegou a quase 81,3% ao mês nas vésperas da posse do novo governo e da edição do Plano
Collor (março de 1990), que confiscou dois terços da poupança privada nacional, além de congelar
preços e salários. Adotou-se câmbio flutuante e o comércio externo foi desburocratizado. No início
de 1991, as finanças públicas encontravam-se equilibradas e as reservas internacionais em crescimento; porém, o PIB apresentava crescimento negativo de 4,3%, e com a produção industrial caindo
8,2%; havia mais de um milhão de desempregados e uma inflação de 20% ao mês.
Em fevereiro de 1991 foi lançado o Plano Collor 2, que procurou acabar com a indexação da
economia (fim da correção monetária e de alguns fundos de curto prazo responsáveis pela especulação financeira). As tarifas públicas foram reajustadas antes do congelamento dos preços por um curto
período de tempo, em que passaram a ser monitorados pelas câmaras setoriais. No domínio da competitividade industrial, o Plano procurou desenvolver novas indústrias, nos ramos de química fina,
informática, biotecnologia, mecânica de precisão e novos materiais. Procurou abrir a economia às
importações, a fim de aumentar a concorrência interna e induzir os demais setores a melhorar sua
eficiência e qualidade segundo os padrões internacionais. Esse plano reduziu a inflação para 6,5%
em maio de 1991, mas a partir de outubro ela ultrapassou 25% ao mês. Em 1992, a economia voltou
a apresentar crescimento negativo (-0,8%), com a indústria reduzindo sua atividade em 3,2%. Porém,
em 1993 o PIB cresceu 4,2%, apesar da elevada taxa anual de inflação, graças ao desempenho da
indústria (6,9%).
No último ano do governo Itamar Franco (1994), o Ministro da Fazenda Fernando Henrique
Cardoso e sua equipe econômica encontraram condições mais favoráveis para implementação de um
novo plano de estabilização, uma vez que a economia estava em crescimento, com desindexação em
marcha e reservas cambiais de US$ 40 bilhões (junho de 1994). O Plano Real continha três etapas até
sua aplicação. A primeira foi a instituição do Fundo Social de Emergência, composto por cerca de
US$ 15 bilhões, destinado a cobrir despesas até o fim de 1995, sem a necessidade de emissão de moeda. A segunda consistiu na criação da Unidade Real de Valor (URV), em março de 1993. Tratava-se
de um indexador, equivalente a um dólar, em torno do qual flutuavam livremente os preços em cruzeiros. Esse mecanismo foi fundamental para ajustar os preços relativos e gerar confiança na nova
moeda. A terceira etapa consistiu na transformação da URV na nova moeda, o real, em julho de
1994, quando a inflação atingia 24,7% ao mês.
Para acabar com a indexação, o Plano Real proibiu os repasses da inflação passada para os preços de um período inferior a um ano. Para equilibrar as contas públicas, o governo privatizou a maioria das empresas estatais e procurou realizar a reforma tributária, administrativa e da previdência social, entre outras. Sem congelamentos, a inflação reduziu-se para 3,3% ao mês em agosto, chegando
a 0,57% em dezembro e a 0,4% em maio de 1995. Em outubro de 1996, o Índice de Preços ao Consumidor da FIPE/USP foi de 0,58%, constituindo um dos mais baixos índices inflacionários do Brasil
18
dos últimos 40 anos. Além do equilíbrio orçamentário, o elemento fundamental do plano foi a âncora
cambial, instrumento pelo qual a nova moeda flutuava em torno do dólar, dentro de uma faixa tolerada. Para manter a taxa de câmbio dentro dessa faixa, o Banco Central comprava e vendia dólares
no mercado. Entre julho de 1994 e fins de 1998, a taxa de câmbio não acompanhou a elevação de
preços (em torno de pouco mais de 1% ao mês), contendo as exportações e aumentando as importações, o que elevou o déficit da balança comercial de US$ 3,2 bilhões em 1995, para cerca de US$ 6,6
bilhões em 1998. Medidas foram, entretanto, adotadas para estimular as exportações, como isenção
de impostos, ampliação do crédito e estímulos ao aumento de competitividade.
Desde sua implementação, o Plano Real enfrentou quatro problemas principais, a exemplo de
outros planos de estabilização: aumento do consumo, crise bancária, crise externa e aumento dos gastos públicos. O consumo cresceu com o aumento do poder de compra da população, em decorrência
da estabilização dos preços. Taxas de juros elevadas contêm a demanda, mas aumentam os gastos
públicos. A crise bancária foi contornada, com relação a alguns bancos, com a criação do Programa
de Reestruturação do Sistema Financeiro Nacional (PROER), constituído com recursos dos depósitos
compulsórios dos bancos no Banco Central do Brasil. O problema da crise externa nos anos de 1990
resultou na fixação da taxa de câmbio em termos nominais, o que reduziu a competitividade externa
das exportações e barateou as importações. Entre julho/94 a março/96, a taxa de câmbio real valorizou-se 19,9% considerando-se o IPC-FIPE. No entanto, essa valorização foi de apenas 1,15%, ao se
levar em conta os ganhos de produtividade da economia brasileira no período (Portugal e Galvão,
1996, p. 104).
Os déficits da balança comercial brasileira na década de 1990 foram contrabalançados pelo ingresso de capitais externos, com destaque para os investimentos diretos, estimulados pelas altas taxas
de juros. As reservas internacionais subiram de US$ 10 bilhões em 1990, para US$ 60,1 bilhões em
1996, valores que se reduziram para US$ 49,3 bilhões em 2003. Em 1990, os investimentos estrangeiros diretos haviam atingido apenas US$ 989 milhões; após o Plano Real, com a nova política econômica do governo, que estabilizou a economia e reduziu os riscos dos negócios, esses investimentos
chegaram a US$ 10,8 bilhões em 1996 e a US$ 33,8 bilhões em 2000. Com a ascensão do Partido
dos Trabalhadores ao poder, em outubro de 2002, a incerteza dos investidores aumentou e os investimentos estrangeiros se reduziram para US$ 16,6 nesse mesmo ano e para US$ 10,1 em 2003 (BCBSéries Temporais). O novo governo, no entanto, manteve a política econômica do governo anterior,
com os juros para segurar a inflação. A taxa básica de juros (SELIC) subiu de 19,2% em 2002 para
23,4% em 2003 (acumulado do ano); com isso, a inflação reduziu-se de 12,5% em 2002, para 9,3%
em 2003 e 5,2% em maio de 2004.17
Com a elevação da taxa básica de juros (SELIC), para conter a inflação, aumentam os gastos do
governo com o serviço da dívida pública. Assim, torna-se necessário produzir superávits primários
para cobrir essas despesas. O superávit do Tesouro Nacional, igual a R$ 1,4 bilhão em 1994, transformou-se em déficit de R$ 4 bilhões em 1995 e de R$ 9,1 bilhões em 1996. As causas básicas do
17
A taxa de inflação atingiu apenas 1,7% ao ano em 1998 (IPCA); com a crise externa e a desvalorização cambial decorrente, ela subiu
para 8,9% em 1999, reduziu-se para 6% em 2000 e voltou a subir para 7,7% em 2001 (BCB).
19
crescimento do déficit foi o aumento da dívida pública mobiliária e dos gastos com o funcionalismo
federal.18 Em 1997, o Tesouro Nacional passou a apresentar superávit de R$ 5,2 bilhões, valor que se
elevou para R$ 35,3 bilhões em 2001 e para R$ 65,9 bilhões em 2003.19
A contenção dos gastos públicos para gerar superávit primário a fim de pagar a dívida pública,
diminuir o consumo e as importações reduz o crescimento econômico. A desaceleração da economia
gera capacidade ociosa e desemprego. No primeiro trimestre de 1996, o grau de ociosidade da indústria foi de 25%, quando o emprego industrial encontrava-se 27,3% inferior ao nível de 1989. Como
as vendas reais subiram 3,7% nesse período, conclui-se que aumentou a produtividade com desemprego tecnológico. Com efeito, a produtividade da indústria paulista passou de 100 em 1989 para 129
em 1995 (Boletim do Banco Central, junho/96, p. 63). No fim de 1989 e início de 1990, o governo
brasileiro havia adotado um programa para aumentar a produtividade da indústria nacional, através
de financiamentos e de maior abertura às importações. Foram facilitadas as importações de máquinas
e equipamentos, bem como de insumos mais baratos. O desemprego na indústria cresceu pela concorrência das importações e pela modernização tecnológica. No entanto, no final da década de 1990
as exportações aumentaram, gerando superávits comerciais, devido à desvalorização cambial.
Tabela 3 Estrutura das exportações brasileiras, 1993/1998 (US$ milhões).
Grupos dos produtos exportados
1. Produtos primários (valor)
1.1 Café
1.2 Soja
1.3 Suco de laranja
1.4 Minérios de ferro e outros
1.5 Carnes
1.6 Demais produtos primários
2. Produtos industrializados
2.1 Material de transporte e componentes
2.2 Produtos metalúrgicos
2.3 Produtos químicos
2.4 Máquinas e instrumentos mecânicos
2.5 Papel e celulose
2.6 Equipamentos elétricos e eletrônicos
2.7 Calçados e produtos de couro
2.8 Madeiras e manufaturas
2.9 Produtos têxteis
2.10 Demais produtos industrializados
3. Total das exportações
1 993
Valor
%
12 620
32,7
1 282
3,3
3 074
8,0
826
2,1
2 466
6,4
1 333
3,5
3 639
9,4
25 935
67,3
4 226
11,0
6 082
15,8
2 587
6,7
2 530
6,6
1 516
3,9
1 320
3,4
2 002
5,2
841
2,2
1 364
3,5
3 467
9,0
38 555
100,0
1 995
Valor
%
16 787
36,1
2 426
5,2
3 820
8,2
1 105
2,4
2 746
5,9
1 297
2,8
5 393
11,6
29 720
63,9
4 259
9,2
6 593
14,2
3 348
7,2
3 050
6,6
2 705
5,8
1 505
3,2
1 550
3,3
1 135
2,4
1 328
2,9
4 247
9,1
46 506
100,0
1 998
Valor
%
19 189
37,5
2 578
5,0
4 761
9,3
1 262
2,5
3 468
6,8
1 598
3,1
5 522
10,8
31 951
62,5
7 599
14,9
5 422
10,6
3 671
7,2
3 197
6,3
1 979
3,9
1 712
3,3
1 454
2,8
1 127
2,2
1 093
2,1
4 695
9,2
51 140
100,0
Fonte: Boletim do Banco Central, maio de 1998 e maio de 2001.
3.7 Transformação estrutural
Nas últimas décadas, a estrutura das exportações brasileiras mudou substancialmente. Em 1970,
86% das exportações do país eram compostas por produtos primários e semimanufaturados e somen18
O déficit agravou-se com a isonomia salarial concedida em 1994, no último mês do governo Itamar Franco.
Incluindo-se a Previdência Social, tradicionalmente deficitária, e o Banco Central, formando o conjunto do Governo Central, esse
superávit se reduz para R$ 21,7 bilhões e R$ 39,3 bilhões nos anos referidos (1,8 e 2,6% do PIB).
19
20
te 14% por produtos manufaturados; em 1993, 32,7% eram de produtos primários e 67,3% de produtos industrializados. Em função da abertura comercial e da valorização cambial, em 1998 a participação das exportações industrializadas nas exportações totais reduziu-se para 62,5% e a de produtos
primários aumentou para 37,5% (Tabela 3). Isso estaria revelando queda da competitividade da indústria nacional por produtos com maior nível tecnológico, quando surgiam novos concorrentes. As
maiores reduções das exportações manufaturadas foram de produtos metalúrgicos, calçados/produtos
de couro e produtos têxteis.
Entre 1998/2003, as exportações de produtos básicos continuaram se expandindo, aumentando
sua participação no total de 25,4% para 29%, com destaque para soja e demais produtos básicos (Tabela 4).20 Enquanto a participação das exportações de produtos semimanufaturados no total permaneceu relativamente constante no período, a participação das exportações de produtos manufaturados
continuou em queda. As maiores reduções relativas foram dos produtos da indústria automobilística
e da indústria mecânica e de calçados. As maiores expansões foram as vendas externas de aviões e
aparelhos transmissores.
Tabela 4 Estrutura das exportações brasileiras, 1998/2003 (US$ milhões).
Discriminação dos produtos
1. Produtos básicos
1.1 Soja, mesmo triturada
1.2 Minérios de ferro e seus concentrados
1.3 Farelo e resíduos da extração de óleo de soja
1.4 Carne e miúdos de frango
1.5 Café cru em grão
1.6 Demais produtos básicos
2. Produtos semimanufaturados
3. Produtos manufaturados
3.1 Automóveis, caminhões, motores, carroçarias e similares
3.2 Aviões
3.3 Máquinas, bombas,motores,equipamentos
3.4 Aparelhos transmissores ou receptores e componentes
3.5 Calçados, suas partes e componentes
3.6 Produtos laminados planos de ferro ou aços
3.7 Móveis, madeiras compensadas
3.8 Demais produtos manufaturados
4. Transações especiais
5. Total das exportações
1998a
Valor
%
12 977
25,4
2 178
4,3
3 253
6,4
1 750
3,4
739
1,4
2 332
4,6
2 725
5,3
8 120
15,9
29 387
57,5
5 543
10,8
1 159
2,3
1 464
2,9
609
1,2
1 387
2,7
999
2,0
1,0
536
17 690
34,6
656
1,3
51 140
100,0
2000
Valor
%
12 562
22,8
2 188
4,0
3 048
5,5
1 651
3,0
806
1,5
1 559
2,8
3 310
6,0
8 499
15,4
32 528
59,0
5 099
9,3
3 054
5,5
1 403
2,5
1 635
3,0
1 617
2,9
859
1,6
1,6
862
17 999
32,7
1 497
2,7
55 086
100,0
2 003
Valor
%
21 179
29,0
4 290
5,9
3 456
4,7
2 602
3,6
1 710
2,3
1 302
1,8
7 819
10,7
10 944
15,0
39 653
54,3
6 946
9,5
1 939
2,7
1 749
2,4
1 676
2,3
1 622
2,2
1 410
1,9
1,7
1 257
23 054
31,5
1 308
1,8
73 084
100,0
Fonte: Boletim do Banco Central, maio de 2001, abril 2004.
Nota: a Para 1998, os dados divergem daqueles da tabela 3 por mudança da classificação dos produtos.
A Tabela 5 mostra que as importações de bens de capital tiveram aumento expressivo de participação no total, de 30,8% em 1992, para 43,9% em 1998. Em termos absolutos, o aumento foi de
US$ 6,3 bilhões para US$ 25,2 bilhões. O grande destaque foi o aumento das importações de máquinas e materiais elétricos, que subiu de US$ 5,1 bilhões para US$ 18,5 bilhões no mesmo período.
20
É preciso mencionar a maior competitividade do Brasil na produção de grãos, principalmente pela mecanização de extensas áreas
nos Cerrados.
21
Observa-se que o Plano Real, ao baratear as importações, contribuiu decisivamente para a modernização da indústria nacional. As importações de matérias-primas tiveram sua participação reduzida de
37,1% para 33,3%, mas em termos de valor o aumento foi substancial: US$ 7,6 bilhões, pra US$
19,2 bilhões. Cresceram as importações de alimentos, que tiveram um papel importante na contenção
da inflação; porém, o que mais chama a atenção é a redução da participação das importações de petróleo e seus derivados no total (20,1% em 1992, para 7,5% em 1998). Isso se explica porque o Brasil praticamente atingiu a auto-suficiência na produção de petróleo.
Tabela 5 Estrutura das importações brasileiras, 1992, 1995 e 1998 (US$ milhões).
Grupo dos produtos importados
1. Bens de consumo
1.1 Alimentos
1.2 Vestuário
1.3 Outros
2. Matérias-primas
2.1 Produtos químicos
2.2 Cereais e produtos da indústria da moagem
2.3 Ferro fundido e aço
2.4 Metais não-ferrosos
2.5 Adubos e fertilizantes
2.6 Carvão
2.7 Outros
3. Petróleo e derivados
4. Bens de capital
4.1 Material de transporte
4.2 Máquinas e material elétrico
5. Total das importações
Fonte:
1992
Valor
%
2 450
11,9
850
4,1
116
0,6
1 484
7,2
7 628
37,1
3 089
15,0
917
4,5
353
1,7
410
2,0
441
2,1
700
3,4
1 717
8,4
4 141
20,1
6 335
30,8
1 283
6,2
5 052
24,6
20 554
100,0
1995
Valor
%
8 631
17,3
3 514
7,0
804
1,6
4 313
8,6
16 738
33,5
7 349
14,7
1 665
3,3
699
1,4
1 096
2,2
661
1,3
764
1,5
4 504
9,0
4 712
9,4
19 891
39,8
5 935
11,9
13 956
27,9
49 972
100,0
1998
Valor
%
8 786
15,3
3 053
5,3
789
1,4
4 944
8,6
19 169
33,3
9 263
16,1
1 941
3,4
1 362
2,4
1 084
1,9
979
1,7
747
1,3
3 794
6,6
4 339
7,5
25 235
43,9
6 754
11,7
18 481
32,1
57 529
100,0
Boletim do Banco Central, maio de 1999.
Entre 1997 e 2003, a composição da pauta importadora mudou substancialmente com a desvalorização cambial (Tabela 6). Reduziram-se as participações das importações de bens de capital (26,9%
para 21,4%) e de bens de consumo (18,6% para 11,5%); enquanto aumentou a participação das importações de matérias-primas (45,1% para 53,5%) e de combustíveis e lubrificantes (9,4% para
13,6%). Entre os bens de capital as maiores reduções foram de maquinaria industrial (US$ 6 bilhões
para US$ 3,4 bilhões), enquanto entre os bens de consumo caíram principalmente as importações de
alimentos e de automóveis. Entre as matérias-primas os maiores aumentos foram de produtos químicos/farmacêuticos e de peças de reposição para a indústria, além de acessórios e equipamentos de
transporte.
A partir da mudança do regime cambial em 1999, o Brasil reiniciou o ajuste externo de sua economia, com base no dinamismo das exportações. Em 2004, a economia brasileira deverá crescer 4%,
puxada pelo desempenho do setor industrial e das exportações, que deverão atingir US$ 94 bilhões
(superávit recorde de US$ 32 bilhões). A inflação ficará acima da meta de 6,5% ao ano, devendo
atingir 7,3%. Em função do desempenho das exportações, em 2004 caiu a relação dívida externa total
líquida/PIB para 26%, contra 32,5% em 1999. Nesse período, o coeficiente dívida externa total líqui22
da/exportações caiu de 3,6 para 1,8 e juros/exportações, de 36,4% para 19,9%. Melhorou a classificação externa de risco do Brasil, mas o afluxo de capitais externos deverá atingir apenas US$ 13 bilhões em 2004, contra US$ 19,2 bilhões em 2003 e US$ 26,4 bilhões em 2002
(www4.bcb.gov.br/pec/GCI/PORT/focus). Além da atração exercida por outros países, como China e
Rússia, atribui-se essa queda à morosidade das decisões do governo na aprovação do projeto de Parceria Público-Privada e à ausência de uma política industrial bem definida.
Tabela 6 Estrutura das importações brasileiras, 1997, 2000 e 2003 (US$ milhões).
Grupos dos produtos importados
1. Bens de consumo
1.1 Alimentos
1.2 Farmacêuticos
1.3 Automóveis
1.4 Objetos de uso pessoal
1.5 Outros
2. Matérias primas
2.1 Produtos químicos e farmacêuticos
2.2 Produtos intermediários - partes e peças
2.3 Produtos minerais
2.4 Acessórios de equipamentos de transporte
2.5 Produtos agropecuários não alimentícios
2.6 Produtos alimentícios
2.7 Outras matérias-primas para a agricultura
2.8 Matérias-primas diversas
3. Combustíveis e lubrificantes
4. Bens de capital
4.1 Maquinaria industrial
4.2 Outros equipamentos fixos
4.3 Máquinas e aparelhos de escritório, serviço científico
4.4 Peças para bens de capital para indústria
4.5 Equipamento móvel de transporte
4.6 Acessórios de maquinaria industrial
4.7 Outros bens de capital
5. Total das importações
Fonte:
1997
Valor
%
11 133
18,6
2 463
4,1
816
1,4
2 444
4,1
848
1,4
4.562
7,6
26 920
45,1
7 737
12,9
3 678
6,2
4 406
7,4
3 649
6,1
3 108
5,2
2 000
3,3
1 223
2,0
1.118
1,9
5 597
9,4
16 098
26,9
6 041
10,1
2 621
4,4
2 744
4,6
1 441
2,4
1 721
2,9
1 014
1,7
516
0,9
59 747
100,0
2000
Valor
%
7 442
13,3
1 507
2,7
1 126
2,0
1 211
2,2
697
1,2
2.901
5,2
28 432
50,9
7 856
14,1
4 885
8,7
4 931
8,8
4 057
7,3
2 402
4,3
1 639
2,9
1 618
2,9
1.044
1,9
6 358
11,4
13 605
24,4
3 926
7,0
2 882
5,2
2 629
4,7
1 535
2,7
1 260
2,3
947
1,7
426
0,8
55 839
100,0
2003
Valor
%
5 538
11,5
924
1,9
1 248
2,6
578
1,2
714
1,5
2.074
4,3
25 797
53,5
7 535
15,6
4 154
8,6
3 572
7,4
3 705
7,7
1 693
3,5
2 018
4,2
2 275
4,7
845
1,8
6 577
13,6
10 348
21,4
3 425
7,1
1 920
4,0
2 109
4,4
1 206
2,5
445
0,9
909
1,9
334
0,7
48 260
100,0
Boletim do Banco Central, maio de 2002 e maio de 2004.
No caso do Brasil, apesar da relativa lentidão com que medidas relevantes de política econômica foram tomadas, como foi o caso do ajuste interno da economia, e das reformas estruturais de base
ainda não realizadas em 2004, percebe-se que o Brasil passou por intensa transformação depois da
implantação do programa de substituição de importações de insumos básicos do II Plano Nacional de
Desenvolvimento (1975/1979) e do ajuste externo da economia de 1983/1993. Em 2003, 69,3% das
exportações brasileiras foram de produtos industrializados, sendo 54,3% manufaturados, contra 14%
em 1970. A tendência é de que essa participação aumente rapidamente nos próximos anos, face ao
aumento da competitividade da indústria brasileira e à existência de uma taxa de câmbio flexível e
favorável, favorecendo a expansão contínua das exportações.
23
QUESTÕES PARA REFLEXÃO E DISCUSSÃO
01. Caracterize a economia russa antes da Revolução Bolchevique.
02. Explique os fatores do crescimento econômico russo depois da Revolução de 1917.
03. Faça uma síntese dos planos qüinqüenais soviéticos.
04. Explique os fatores da desintegração da URSS.
05. Faça uma síntese da situação da economia mexicana antes de sua revolução.
06. Faça uma síntese da economia mexicana após a revolução e até fins de 1980.
07. Comente a situação econômica mexicana após o seu ingresso no NAFTA, a partir de 1995.
08. Explique por que a política cambial, que beneficiava os cafeicultores, prejudicava a industrialização do país e os principais fatores do desenvolvimento brasileiro nos anos de 1930.
09. Faça uma síntese da seção “Choques externos e o protecionismo, 1929/1945”.
10. Explique quais foram os principais fatores do crescimento do Brasil entre 1945/1962.
11. Explique a importância das taxas múltiplas de câmbio e da Lei de Tarifas de 1957 para o desenvolvimento do Brasil.
12. Quais foram as principais medidas econômicas entre 1962 e 1974.
13. Quais foram os principais fatores de crescimento após 1974? Centre sua análise no PAEG.
14. Explique os princípios básicos do Plano de Metas e do II Plano Nacional de Desenvolvimento.
15. Fale do ajuste externo do Brasil, efetuado entre 1983/93.
16. Disserte sobre o ajuste interno do Brasil, efetuado entre 1994 e 1996.
17. Disserte sobre a transformação estrutural das exportações brasileiras entre 1998/2003.
18. Disserte sobre a transformação estrutural das importações brasileiras entre 1992/2003.
REFERÂNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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1972.
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24
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SOUZA, Nali de Jesus. Desenvolvimento Econômico. 5a ed. São Paulo: Atlas, 2005.
VILLELA, Annibal V. , SUZIGAN, Wilson. Política do governo e crescimento da economia brasileira, 1889-1945. Rio de Janeiro : IPEA/INPES, 1973.
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