Inovação e Cooperação - Universidade Federal do Paraná

Transcrição

Inovação e Cooperação - Universidade Federal do Paraná
Organizadores
Fernando Antonio Prado Gimenez Emerson Carneiro Camargo
Alexandre Donizete Lopes de Moraes
Inovação e Cooperação:
Universidade-Empresa
A Relação
Franciele Klosowski
INOVAÇÃO E COOPERAÇÃO:
A RELAÇÃO
UNIVERSIDADE-EMPRESA
Organizadores:
Fernando Antonio Prado Gimenez
Emerson Carneiro Camargo
Alexandre Donizete Lopes de Moraes
Franciele Klosowski
Realização
Agência de Inovação UFPR
Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação
Universidade Federal do Paraná
Capa e Projeto Gráfico Editorial
Liriane Knapik
Diagramação
Lais Romero Pancote
E-mail para contato
[email protected]
E24
Inovação e cooperação: a relação universidade-empresa \ Fernando Antonio Prado Gimenez ... [et al.], organizadores. – Curitiba: UFPR, 2015.
192 p. : il.
Vários autores.
Inclui bibliografias.
ISBN: 978-85-87801-28-9
1. Inovações tecnológicas. 2. Cooperação universitária.
3. Transferência de tecnologia. I. Gimenez, Fernando Antonio
Prado, 1957-. II. Universidade Federal do Paraná. Agência de
Inovação.
CDD 378.103
Bibliotecário: Arthur Leitis Junior - CRB 9/1548
ISBN: 978-85-87801-28-9
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Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação
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AGÊNCIA DE INOVAÇÃO UFPR
Diretora Executivo
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Coordenador de Empreendedorismo e Incubação de Empresas
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Coordenador de Propriedade Intelectual
Alexandre Donizete Lopes de Moraes
Coordenadores de Transferência de Tecnologia
Elenice Mara Matos Novak/Alexandre Donizete Lopes de Moraes
Secretária Executiva
Franciele Klosowski
Estagiário
Robert Adonias Costa Gomes
Zaki Akel Sobrinho
Apresentação
A Universidade Federal do Paraná, em seu tripé de ensino-pesquisa-extensão, gera inovações em diversas áreas do conhecimento.
A partir de 2008, com a criação da Agência de Inovação, esta Universidade
definiu um ambiente que agrega esforços à produção da pesquisa e inovação, trazendo benefícios à sociedade em diferentes áreas de atuação.
A Agência publica anualmente um livro que aborda temas referentes ao
Empreendedorismo e Inovação, visando auxiliar na compreensão da relação Universidade-Empresa. Esta edição se baseia em estudos e experiências
sobre a evolução da inovação no Brasil, sobretudo no campo da gestão
pública do transporte, esforços de inovação realizados por universidades
em empreendedorismo e agronegócio, bem como alianças cooperativas e
mecanismos de apoio que integram empresas, universidades e organizações
sem fins lucrativos.
Esperamos que a leitura seja profícua e contribua para a consolidação de
movimentos integradores nas Instituições, demonstrando cada vez mais o
papel da inovação para o desenvolvimento sustentável do País.
Zaki Akel Sobrinho
Reitor da Universidade Federal do Paraná
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1: O SISTEMA DE TRANSPORTE DE CURITIBA –
INOVAÇÕES E DESAFIOS
Luiz Aurélio Virtuoso
Silvia Mara dos Santos Ramos
Página 11
CAPÍTULO 2: INOVAÇÃO: ASPECTOS HISTÓRICOS E O BRASIL
ATUAL
Admir Pancote
Página 33
CAPÍTULO 3: INOVAÇÃO NO AGRONEGÓCIO: CASO DO
PROJETO TECNOPARQUE FAZENDA EXPERIMENTAL GRALHA
AZUL DA PUCPR
Paulo Renato Parreira
Página 57
CAPÍTULO 4: APRENDER A EMPREENDER EM QUINZE
MINUTOS: O DESAFIO DA CONSTRUÇÃO DESTE OBJETO DE
APRENDIZAGEM
Dieval Guizelini
Sandramara Scandelari Kusano de Paula Soares
Silvia Teresa Sparano Reich
Página 71
CAPÍTULO 5: RELAÇÃO UNIVERSIDADE-EMPRESA NO
BRASIL: UM ESTUDO EXPLORATÓRIO
Lívia Maria dos Santos
Walter Shima
Página 85
CAPÍTULO 6: CAPACIDADES RELACIONAIS E INOVAÇÃO: UM
CASO DE ALIANÇA INTERSETORIAL
Fernanda Salvador Alves
Andréa Paula Segatto
Página 115
CAPÍTULO 7: INTERAÇÃO UNIVERSIDADE-EMPRESA PARA
TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA: O CASO DA AGÊNCIA DE
INOVAÇÃO UFPR
Fernando Antonio Prado Gimenez
Emerson Carneiro Camargo
Alexandre Donizete Lopes de Moraes
Franciele Klosowski
Robert Adonias Costa Gomes
Página 131
CAPÍTULO 8: ECOSSISTEMAS
META-SÍNTESE
DE
INOVAÇÃO:
UMA
Marcos Ferasso
Adriana Roseli Wünsch Takahashi
Fernando Antonio Prado Gimenez
Página 145
CAPÍTULO 9: O DESENVOLVIMENTO DE PRÁTICAS DE
GESTÃO EM ATIVIDADES DE COLABORAÇÃO: UMA ANÁLISE
DA GESTÃO ESTRATÉGICA DE STARTUPS.
Luciano Minghini
Página 173
O SISTEMA DE TRANSPORTE DE
CURITIBA – INOVAÇÕES E DESAFIOS
1
Luiz Aurélio Virtuoso
Silvia Mara dos Santos Ramos
A capital paranaense, desde meados da década de 70, abraçou sua vocação
para inovação. Naquele momento, quando grande parte dos governantes
municipais de todo o país focavam seus orçamentos em obras para melhoria do tráfego dos automóveis, Curitiba inicia seus investimentos em obras
que priorizam a mobilidade por meio do transporte público por ônibus. O
primeiro corredor exclusivo para circulação do transporte coletivo no Brasil
entra em operação conectando as regiões norte e sul da cidade.
A inauguração dessa nova era, coordenada com ações de impacto voltadas à
preservação do meio ambiente, mudou os rumos de crescimento e desenvolvimento da cidade que hoje, apesar de todas as dificuldades que apresenta,
ainda é vista como referência em modelo de transporte público, planejamento urbano e sustentabilidade.
O transporte coletivo, a partir da implantação das canaletas exclusivas de norte
a sul e de leste a oeste, complementados pelos corredores Boqueirão na região
sudeste atuou como indutor do crescimento da cidade, ordenando a ocupação
e uso do solo. Mas além das vias segregadas, o serviço evoluiu também com a
implantação de diferentes categorias de linhas que interagem com os corredores,
conectando as diferentes regiões da cidade, o que, com o passar dos anos formou
uma grande rede denominada RIT – Rede Integrada de Transporte, onde o usuário troca de coletivo no interior dos terminais sem pagar nova tarifa.
Entretanto a cidade é um organismo vivo e, muitas vezes, toma rumos de
crescimento que fogem do controle do poder público. Consequentemente se
faz necessário diagnosticar os problemas que a população enfrenta e buscar
soluções para superá-los, mesmo com as dificuldades e entraves com que o
gestor público se depara diariamente. As canaletas exclusivas, ônibus expressos, estações tubo, ligeirinhos e biarticulados foram soluções criativas e relativamente baratas que promoveram o ônibus a agente principal da mobilidade
e acessibilidade de Curitiba.
Porém, com as atuais facilidades para aquisição de automóveis e com recursos escassos para investir em melhorias para o transporte público, a cidade
enfrenta grandes problemas que surgem como desafios aos técnicos que deverão atuar com rapidez e criatividade para voltar a ofertar transporte de
qualidade ao cidadão curitibano.
O transporte coletivo
Segundo a Constituição Federal (1998) – Art. 30 Inciso V, compete ao município organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, os serviços públicos de interesse local, incluído o de transporte coletivo,
que tem caráter essencial.
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Assim, o transporte coletivo é um serviço público de responsabilidade da
esfera municipal de governo que influencia diretamente na mobilidade da
população das cidades o que lhe confere o caráter essencial. Faz parte do cotidiano da maioria das pessoas que se deslocam para trabalhar, estudar, lazer,
etc. Por outro lado, o transporte participa da dinâmica de desenvolvimento da
cidade, e interfere decisivamente em sua organização espacial e social.
De acordo com Gomide (2003), a existência de um serviço de transporte
coletivo eficiente, com custo acessível e de qualidade, que proporcione acessibilidade da população a todo o espaço urbano, pode aumentar consideravelmente a disponibilidade de renda e tempo dos mais pobres, propiciando ainda o acesso aos serviços sociais básicos (educação, saúde, lazer) e às
oportunidades de trabalho. Visto deste enfoque, o transporte coletivo pode
ser considerado um instrumento fundamental para o combate à pobreza e
verdadeiro promotor da inclusão social.
Ainda segundo Gomide (2003), os impactos do transporte coletivo sobre a
pobreza podem ser avaliados de duas formas: indireta e direta. Os impactos
indiretos referem-se às externalidades do transporte urbano sobre a competitividade das cidades (as economias ou deseconomias urbanas) e seus efeitos sobre a atividade econômica. Altos custos de transporte provocados por
infindáveis congestionamentos de tráfego, por exemplo, limitam as escolhas
de localização das empresas e elevam os custos de produção, o que afeta o
emprego e a renda. Os impactos diretos, por sua vez, envolvem o acesso
aos serviços e atividades sociais básicos e às oportunidades de trabalho dos
menos favorecidos.
A inexistência ou a precariedade na oferta dos serviços e as altas tarifas do
transporte público podem, por exemplo, restringir as oportunidades de trabalho dos mais pobres, tanto na procura pelo emprego como no deslocamento
ao local de trabalho. Condicionam também as escolhas do local de moradia e
dificultam o acesso aos serviços de saúde, educação e lazer.
De acordo com Boareto (2003), os sistemas de transportes públicos têm enfrentado uma situação muito adversa nos últimos anos com crises cíclicas
ligadas principalmente à incompatibilidade entre custos, tarifas e receita, bem
como, às deficiências na gestão e operação dos sistemas.
Os investimentos em infraestrutura e sua operação são custeados quase que
exclusivamente pela tarifa paga pelos usuários. A queda nos níveis de emprego e renda somada ao valor crescente dos custos tarifários tem graves efeitos
sobre a população, como a eliminação de viagens menos essenciais e, na pior
das hipóteses, com a eliminação total da utilização do transporte público.
O mesmo autor ainda reforça que o sistema de transporte coletivo também
perde passageiros de maior poder aquisitivo, que passam a resolver seus problemas de mobilidade com a aquisição de motocicleta ou automóvel, possibi-
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lidade esta fomentada pelas facilidades de financiamento para compra, muitas
vezes estimulada por políticas adotadas pelo Governo Federal.
Assim está configurado o panorama atual ao qual os sistemas de transporte
públicos estão expostos.
A cidade de curitiba
Curitiba é a capital do estado do Paraná, localizado na Região Sul do país.
Apresenta clima subtropical. Com população de 1.751.907 segundo Censo
2010 do IBGE, em sua área de 434 km², disponibiliza 64,5m² de área verde
por habitante (PMC, 2012).
Fundada em 29/03/1693, a partir de um pequeno povoado bandeirante, somente em 1853, Curitiba tornou-se a capital da recém-emancipada província
do Paraná e desde então a cidade, conhecida pelas suas ruas largas, manteve
um ritmo de crescimento urbano fortalecido pela chegada de uma grande
quantidade de imigrantes europeus ao longo do século XIX, na maioria alemães, poloneses, ucranianos e italianos, que contribuíram para a diversidade
cultural que permanece até hoje.
A cidade experimentou diversos planos urbanísticos e legislações que visavam ordenar seu crescimento de forma planejada. A maior transformação
ocorreu no transporte público, cujo sistema inspirou implantações em diversas cidades do mundo, como Bogotá na Colômbia e Seul na Córéia. Hoje, a
cidade é considerada a capital com melhor qualidade de vida do Brasil, com
um polo industrial diversificado que lhe dá o posto de quinta maior economia
do país, sendo considerada uma das cinco melhores cidades para se investir
na América Latina.
Curitiba, por ser a capital do estado, é a principal cidade da Região Metropolitana formada por 29 municípios. A ligação destes municípios com Curitiba
se intensificou a partir do processo de expansão da RIT – Rede Integrada de
Transporte de Curitiba – para os municípios vizinhos proporcionando a integração das linhas de ônibus urbanas com as metropolitanas a partir de 1996
quando o Governo do Estado do Paraná firmou convênio com o Município
de Curitiba, delegando à URBS – Urbanização de Curitiba S/A – o gerenciamento também do transporte metropolitano.
O sistema de transporte coletivo de curitiba
A capital paranaense é mundialmente reconhecida pelas soluções inovadoras
e de baixo custo apresentadas às demandas de transporte público. O sistema
de transporte coletivo de Curitiba é um dos mais eficientes do Brasil, o que
é comprovado a partir dos altos índices de aprovação apresentados em pesquisas (URBS, 2012).
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Implantado nos anos 70, com a preocupação de privilegiar o transporte de
massa, o sistema é reconhecido por aliar baixo custo operacional e serviço de
qualidade. Cerca de 2,3 milhões de passageiros são transportados diariamente
pela RIT – Rede Integrada de Transporte.
A partir de 1974, Curitiba passou a dispor do Sistema de Ônibus Expresso - o
chamado metrô de superfície. Na época, foi uma solução inédita para ligação
entre o centro e os bairros por vias exclusivas. Assim foi criado o sistema trinário de vias, que tem ao centro uma canaleta exclusiva para o Expresso, ladeada
por duas vias de tráfego lento, em sentidos opostos (Figura 1). Paralelamente
existem ainda duas ruas de sentidos únicos e opostos de tráfego rápido.
Figura 1: O Sistema Trinário de Vias de Curitiba
Fonte: www.urbs.curitiba.pr.gov.br
O grande diferencial do transporte curitibano é dispor de uma rede integrada, permitindo deslocamentos para toda a cidade, pagando apenas uma
passagem. Cada pessoa pode compor seu próprio percurso, já que o sistema
é integrado por meio de Terminais e Estações Tubo que disponibilizam diversas opções de destinos. Assim, quem percorre trajetos longos, o que é
mais comum entre a população de menor poder aquisitivo, é subsidiado por
aqueles que realizam percursos menores. Calcula-se que diariamente 94% dos
usuários sejam beneficiados pela integração.
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A URBS – Urbanização de Curitiba S/A é responsável pelo gerenciamento
do transporte coletivo de Curitiba. A gestão está institucionalizada por meio
de lei municipal específica, enfatizando a operação privada e remuneração
dos serviços a partir da arrecadação da tarifa. Empresas privadas definidas a
partir de um processo licitatório são responsáveis pela operação do sistema,
que por força de instrumento contratual, tem prazo de concessão de 15 anos.
A Rede Integrada de Transporte - RIT
O Sistema Integrado de Transporte de Passageiros de Curitiba e Região Metropolitana garante a integração físico-tarifária a 14 municípios da Grande Curitiba.
São 356 linhas que utilizam a frota de mais de 2.100 ônibus e transportam cerca
de 2,3 milhões de passageiros/dia. Destes, em torno de 460 mil vêm dos municípios vizinhos (URBS, 2014). Para dar prioridade ao transporte coletivo, a Rede
Integrada de Transporte conta com 81,4 km de canaletas ou vias exclusivas, utilizadas por ônibus de alta capacidade (biarticulados) com embarque em nível nas
estações, garantindo prioridade à circulação viária dos coletivos. É o chamado sistema BRT (Bus Rapid Transit), sigla utilizada pelo Banco Mundial, e amplamente
difundida, para identificar os sistemas rápidos de transporte por ônibus.
A RIT, conforme descrito pela URBS, é composta por diferentes categorias
de linhas que são caracterizadas por cores, entre as quais: linhas expressas, alimentadoras, troncais, interbairros e linhas diretas. Além disso, outros elementos complementam a Rede Integrada, sendo eles: os terminais de integração,
as estações tubo e os pontos de parada ao longo do trajeto das linhas.
Segundo a URBS, a categoria Expresso é composta por linhas que caracterizam o transporte de massa de Curitiba. Operadas por veículos tipo biarticulados ou articulados na cor vermelha, ligam os terminais de integração ao
centro da cidade, através das canaletas ou corredores exclusivos. Essa categoria de linhas sofreu uma grande intervenção em 1992, quando o aumento
da demanda passou a exigir alterações mais profundas. Apenas a ampliação
de frota nas linhas, que já operavam totalmente com veículos articulados em
intervalos de 2 a 3 minutos em horários de pico, somente provocaria maior
saturação nos corredores com a formação de comboios ao longo do trajeto e
transtornos nos cruzamentos próximos à região central. Considerando que a
implantação de um novo modal como metrô ou bondes seria muito dispendiosa, Curitiba optou por substituir os ônibus por veículos biarticulados e
implantar estações tubo nas paradas para dar maior agilidade aos embarques e
desembarques. Como é citado por diversos especialistas, este foi um processo
de “metronização” dos eixos, pois, de forma inédita, trouxe características
próprias de um sistema de metrô para corredores operados com ônibus.
O embarque em nível e o pagamento antecipado da tarifa tornaram-se grandes diferenciais que contribuíram para aumentar a velocidade operacional dos
eixos, além dos veículos maiores que propiciaram a ampliação da capacidade
de transporte das linhas. Os veículos vermelhos realizam paradas em todas
as estações que se localizam a cada 500 metros nos eixos. Ao todo, segundo
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divulgado pela gestora do sistema, atualmente os eixos são atendidos por 149
veículos biarticulados vermelhos que transportam de 230 a 250 passageiros.
A categoria Expresso Ligeirão também faz parte do transporte de massa da
capital, pois circula nos mesmos eixos exclusivos das linhas expressas e também
realiza embarques em nível. Porém, realiza paradas apenas nos terminais de
integração e na região central. Este processo, que iniciou em 2009, representou mais um marco na evolução do sistema, pois a partir de simples obras de
desalinhamento das paradas e implantação de uma terceira faixa nos trechos
em frente às estações, a fim de garantir espaços para ultrapassagem dos ônibus,
foi possível ampliar a capacidade dos corredores com a operação conjunta de
linhas paradoras (biarticulados vermelhos) e diretas (biarticulados azuis) em um
mesmo eixo. Assim, esta categoria representa mais uma opção de deslocamento dentro dos corredores, oferecendo transporte mais rápido para deslocamentos diretos entre os terminais e o centro da cidade. Este novo modelo está presente apenas no corredor Boqueirão e na Linha Verde, porém, com previsão
de implantação também para os demais eixos. Nos corredores já contemplados,
todos os veículos apresentam capacidade para 250 passageiros e, atualmente 24
biarticulados azuis estão incorporados à frota da RIT.
A categoria Alimentador é operada por veículos em grande parte do tipo comum, na cor laranja e que ligam terminais de integração aos bairros da região,
com trajetos de curta distância. Esta categoria realiza o importante papel de garantir que o usuário usufrua de seu direito de ter acesso a uma linha de ônibus
com deslocamentos máximos de 500 metros, conforme lhe garante o parágrafo
único do inciso XI do art.40. da Lei Municipal 12.597/2008 – a chamada Lei do
Transporte Coletivo de Curitiba. A essas linhas cabe a responsabilidade de levar
o usuário das proximidades de sua residência até o Terminal de integração mais
próximo da sua região, o que lhe proporcionará deslocamentos para diversos
pontos da Grande Curitiba com o pagamento de uma única tarifa. Hoje são ao
todo 220 linhas que operam com uma frota de quase 800 ônibus.
Quanto à categoria Interbairros, totaliza sete linhas de ônibus que percorrem
diversos bairros de Curitiba, em trajetos que ligam os terminais de diferentes
eixos de transporte realizando conexões mais diretas de uma região a outra.
Assim, o passageiro pode se deslocar de um bairro a outro sem ter de passar
pela região central da cidade. Estas linhas operam com veículos tipo padrão
ou articulados, na cor verde.
A categoria Linha Direta, conhecida também como “ligeirinhos”, operam
com veículos especiais, na cor prata, com paradas em média a cada 3km, com
embarque e desembarque em nível nas estações tubo, porém não circulam em
canaletas exclusivas, mas sim em vias compartilhadas com automóveis. São
linhas complementares principalmente das linhas expressas e Interbairros.
Por fim, a categoria Troncal opera com veículos tipo comum ou articulados,
na cor amarela, com trajetos que ligam os terminais de integração localizados
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fora dos corredores principais ao centro da cidade, utilizando vias compartilhadas. Atualmente são 152 veículos circulando em 21 diferentes itinerários,
os quais atendem bairros como Fazendinha, Barreirinha, Santa Felicidade,
Bairro Alto, entre outros.
Terminais de Integração, Estações Tubo e Pontos de Parada
Os terminais de integração são equipamentos públicos que recebem diversas
linhas de ônibus que seguem para diferentes destinos, proporcionando aos
usuários o processo de integração, ou seja, a troca de uma linha para outra
até chegar ao seu destino final, com o pagamento de uma única tarifa. Estes
grandes pontos de concentração de linhas estão localizados ao longo dos
eixos estruturais, ou mesmo em áreas estratégicas nos bairros da cidade.
Somente na região de Curitiba são vinte e um terminais de integração e,
complementando as integrações com a Região Metropolitana são mais nove
terminais localizados nos municípios vizinhos. No interior destes terminais
ainda é possível encontrar área comercial destinada a atender as principais
necessidades dos usuários que por ali circulam. Também se verifica que no
entorno dos terminais a área comercial se desenvolve com mais intensidade,
contribuindo para o crescimento destas regiões.
Há 357 estações tubo que proporcionam uma condição diferenciada ao usuário para aguardar o ônibus com mais conforto e segurança, além do pagamento antecipado da tarifa, o que confere maior agilidade no momento
de embarque nos coletivos. Deste montante, aproximadamente 300 estações
já apresentam adaptações – elevadores ou rampas – para atender usuários
cadeirantes ou pessoas com mobilidade reduzida (Figura 2). Conforme a demanda apresentada na região e nas linhas que atendem, as estações podem
ter diferentes tamanhos e quantidades de módulos e algumas apresentam
também a possibilidade de integração entre duas ou mais linhas.
Figura 2: Estação Tubo Agrárias – Equipada Com Elevador
Fonte: SMCS – Secretaria Municipal de Comunicação Social (2011).
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Curitiba conta hoje com aproximadamente 6.500 pontos de parada devidamente sinalizados com placa, abrigo tipo domus (cobertura de fibra
em formato de abóbada lembrando nuvens), abrigo tipo chapéu chinês
(cobertura de fibra em formato piramidal) ou ainda com o novo modelo
de mobiliário urbano, fruto de um contrato de concessão celebrado com
a Empresa ClearChannel para exploração de publicidade, sem custos de
implantação ou manutenção para o município, que adota a estrutura demonstrada na Figura 3.
Figura 3: Modelo do Novo Mobiliário Urbano
Fonte: SMCS (2009).
Gestão e Operação do Sistema
A gestão do sistema é de responsabilidade da URBS – Urbanização de Curitiba S/A – empresa da Administração Direta da Prefeitura Municipal de
Curitiba, que responde por toda a organização, programação e controle do
sistema. A operação é delegada às empresas privadas por meio de concessão.
O Processo Licitatório do Sistema de Transporte Coletivo de Curitiba, concluído em setembro de 2010, estabeleceu três lotes de linhas e, após concorrência pública, foram assumidos por três consórcios de empresas de ônibus,
conforme contratos de concessão publicados pelo poder concedente
Cada lote apresenta um percentual pré-definido de linhas e quilometragem
percorrida, de modo a garantir o equilíbrio econômico/financeiro entre os 3
lotes. Em casos de ocorrências que alterem significativamente o percentual
de participação de um dos lotes de forma positiva ou negativa, o contrato
prevê instrumentos para realizar uma redistribuição de linhas a fim de reequilibrar os três grupos.
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Inovações e melhorias implantadas em curitiba
O Sistema de Transporte de Curitiba iniciou sua transformação a partir de 1974
quando foi implantada a primeira linha expressa circulando em via exclusiva.
Este processo de priorização do transporte público foi inovador, considerando
que neste período, os governantes da maioria das cidades brasileiras ainda não
viam o transporte coletivo como solução para a mobilidade da população. Este
foi o início da configuração de um sistema que passou por diversas transformações, visando dar melhores condições de transporte aos seus usuários.
Seguindo essa evolução, até 1980, Curitiba já contava com os cinco Eixos
Estruturais de transporte (atuais BRT): Norte, Sul, Boqueirão, Leste e Oeste com seus respectivos terminais. Neste período também foram criadas
linhas alimentadoras e interbairros, ampliando as possibilidades de integração nos terminais. Durante estas intervenções, a parceria com as montadoras de ônibus e as empresas que operavam as linhas foi fundamental para
consolidar essa trajetória.
No ano de 1980, foi implantada também a tarifa única, definindo um único
valor para todas as linhas da rede. Neste mesmo ano, o aumento excessivo
da demanda de passageiros foi determinante para substituição dos veículos
comuns dos Eixos Norte, Sul e Boqueirão por veículos articulados.
Já em 1986 a Prefeitura de Curitiba instituiu a URBS – Urbanização de
Curitiba S/A como gerenciadora do transporte público, transformando as
empresas operadoras em permissionárias do sistema. Outra mudança ocorreu em 1988 quando foi implantada a ficha metálica para pagamento da tarifa, com a adoção de catracas automáticas proporcionando maior conforto
e segurança aos usuários.
Após um período de pesquisas e estudos, em 1990 foi promulgada a Lei Municipal 7.556/90 que trouxe alterações para o sistema de transporte estabelecendo a URBS como única concessionária do sistema. O Decreto 210/91
estabeleceu o Regulamento para o Sistema de Transporte, com regras definidas para a programação, operação e fiscalização dos serviços.
Prosseguindo com as melhorias no serviço, em 1991, Curitiba em parceria
com a fabricante Volvo do Brasil propôs uma solução criativa para readequar
a oferta de linhas à demanda de passageiros com a implantação da primeira
Linha Direta, popularmente conhecida como “ligeirinho”, que atuava como
complemento para as linhas expressas. São linhas que utilizam ônibus especiais, com as portas instaladas do lado esquerdo do veículo e plataformas no
lugar de degraus, o que permite o embarque em nível.
O modelo das paradas foi outra inovação. Estações tubulares foram instaladas em média a cada 3 km para que os veículos possam desenvolver maior
velocidade operacional e, com isso, dar suporte às necessidades de desloca-
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mentos mais diretos para os usuários. O pagamento da tarifa também foi
alterado, pois não havia mais catraca no interior dos veículos. O usuário paga
a tarifa ao embarcar nas estações e quando o veículo chega à estação, o embarque ocorre mais rapidamente.
Os processos de embarque e desembarque foram agilizados também pela
plataforma da estação que, acoplada à plataforma dos ônibus, permitem que
o transbordo seja em nível, sem a transposição de degraus. Este novo modelo
de operação foi amplamente elogiado por diversas cidades do mundo. Além
disso, as estações também inovaram, trazendo no início da década de 90, um
novo conceito de acessibilidade para o transporte público: a ampla acessibilidade. Por meio de elevadores acoplados na entrada da estação, os usuários
com mobilidade reduzida conquistaram autonomia para utilizar as linhas de
ônibus, ingressando nos coletivos sem auxílio de terceiros.
As Estações, em formato tubular, com um projeto arquitetonicamente pensado para interferir minimamente na paisagem urbana, foram o resultado de
uma parceria entre a Prefeitura de Curitiba, realizada pelo então prefeito Jaime Lerner, e a empresa FAM - Artefatos Metálicos, que produziu as estações
e também os primeiros elevadores. Atualmente as empresas FabSteell e RB
Ouro produzem as estações tubo,e a empresa WAS os elevadores.
Considerando o sucesso das Linhas Diretas, em 1992, o corredor Boqueirão
passou por um processo de remodelação com reestruturação do pavimento
das vias e a implantação de Estações Tubo nas paradas, transferindo o modelo já implantado nas Linhas Diretas para os corredores, proporcionando o
embarque em nível e o pagamento antecipado da tarifa.
Foram essas inovações incorporadas aos corredores que, à época, garantiram
a viabilidade e a manutenção de um sistema de transporte operado exclusivamente por ônibus, transformando as linhas expressas em um verdadeiro
“metrô de superfície”, como foi amplamente reconhecido naquele período.
Os veículos biarticulados, assim como os ligeirinhos, foram produzidos com
exclusividade para, operar no sistema curitibano, a partir de uma parceria
com a Volvo do Brasil. Nesse primeiro momento, os biarticulados assumiram a mesma coloração dos veículos ligeirinhos, ou seja, a cor prata, pois se
considerava que este modelo deveria seguir estas características, por serem
originários da categoria Linha Direta.
Em 1995, os Eixos Norte e Sul passaram pelo mesmo processo de remodelação, com a implantação de estações tubos, porém, os veículos biarticulados
agora foram produzidos já na cor vermelha, pois retomaram as características
das linhas expressas. O mesmo padrão também foi adotado nos Eixos Leste
e Oeste no ano 2000, quando estes corredores receberam as mesmas melhorias. Neste conjunto de obras também se viabilizou a integração dos eixos
Norte/Sul e Leste/Oeste na região central de Curitiba: na Estação da Praça
Eufrásio Correia (Shopping Estação).
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Antes, porém, em 1996, segundo publicado pela COMEC – Coordenação da
Região Metropolitana de Curitiba – a Prefeitura de Curitiba assinou um Convênio com o Governo do Estado do Paraná, delegando à URBS o gerenciamento das linhas de ônibus dos municípios da Região Metropolitana, o que
permitiu a ampliação do processo de integração a treze municípios vizinhos.
Em 1999, com o crescimento acelerado da Região Sul de Curitiba, destacou-se a necessidade de estabelecer ligações mais diretas entre os Corredores Sul
e Boqueirão. Foi quando a cidade optou pela criação da Linha Circular Sul:
uma linha que integra sete terminais ligando o Corredor Sul ao Boqueirão
através dos Terminais Portão - Hauer e Pinheirinho - Boqueirão, circulando
também em vias exclusivas nos dois sentidos, horário e anti-horário.
A cidade manteve seu ritmo de crescimento, o que intensificou também os
problemas com evasão da tarifa. Em 2002, visando minimizar os problemas
apresentados pelo sistema de fichas metálicas utilizadas para o pagamento
da tarifa, foi implantado o Sistema de Bilhetagem Eletrônica que adotou um
cartão individual com chip-smartcard - que poderia ser carregado pelo usuário quantas vezes e com quantos créditos preferisse. Este sistema eliminou
as fraudes registradas nas fichas metálicas e facilitou a compra de créditos
pelas empresas que fornecem vale-transporte aos seus funcionários – uma
obrigação determinada pela legislação federal, sendo que a compra foi disponibilizada por meio da internet, eliminando o transporte das fichas de
metal, bem como, eliminando o uso do vale-transporte como moeda de
troca, permitindo sua utilização apenas para o fim a que se destina, pagamento da tarifa. Para a implantação do Sistema de Bilhetagem Eletrônica,
o município estabeleceu uma parceria entre a Dataprom Equipamentos e
Serviços de Informática Industrial Ltda, a URBS e o ICI - Instituto Curitiba
de Informática, o qual coordenou o projeto.
Já em 2005, a fim de proporcionar ao usuário do transporte coletivo maior
acesso às atividades de lazer, Curitiba instituiu a Tarifa Domingueira, com
valor de R$ 1,00 aos domingos (naquela data, em dias úteis e sábados a tarifa
custava R$ 1,90). Esse incentivo também foi copiado por diversas outras
cidades brasileiras, por representar uma medida de caráter social que poderia
trazer maior qualidade de vida aos cidadãos.
Com o propósito de adequar a frota de ônibus aos novos padrões de preservação do meio ambiente, em 2006, Curitiba recebeu, no processo de renovação da frota do transporte coletivo, 295 novos ônibus equipados com
motores de tecnologia avançada denominada Euro III, que viriam a reduzir
de forma significativa a emissão de poluentes. Na continuidade, todos os
novos veículos adquiridos para operar no sistema, seguiram estes padrões.
Considerando a necessidade premente de buscar melhorias para o Sistema de Transporte e viabilizar o processo licitatório das linhas de ônibus,
em 2008, o município aprovou a nova Lei do Transporte Coletivo de
22
Curitiba, Lei 12.597/2008. Sequencialmente foi aprovado também o Decreto 1.356/2008 que estabeleceu a regulamentação dos serviços.
Também no ano de 2008, Curitiba inovou com a implantação de veículos
de dois andares (Double-deck) para operar no roteiro da Linha Turismo
(Figura 4). Segundo a URBS, esta alteração promoveu o aumento médio
de 40% na demanda da linha. Nesse processo, a inovação ficou por conta
da metodologia estabelecida para inserir este novo padrão de veículo a
um roteiro que apresentava uma série de obstáculos devido à altura total
do ônibus (4,20m).
Figura 4: Linha Turismo – Ônibus Double-Deck
Fonte: URBS (2009).
Já em 2009, Curitiba proporcionou aos usuários do Eixo Sul uma nova opção
de deslocamento no trecho Pinheirinho – Centro: a Linha Verde. O Sexto
Corredor de Transporte da cidade representa uma terceira geração de corredores de BRT implantado em Curitiba. Conforme é possível visualizar na
Figura 5, as estações são duplas e climatizadas, contando com painéis eletrônicos para informações aos usuários e cisternas que armazenam água da
chuva para ser utilizada na limpeza do espaço. As pistas do corredor, com
pavimento de concreto, apresentam espaço para ultrapassagem defronte às
estações e os ônibus que por lá circulam, utilizam biocombustível 100% a
base de soja.
Os passageiros do Eixo Sul que levavam 35 minutos para se deslocar do
Pinheirinho ao Centro, passaram a levar 25 minutos para fazer este deslocamento pela Linha Verde. Isto porque, além das estações intermediárias estarem instaladas a cada 1 km (no Eixo Sul estão a cada 500 metros), os veículos
também são equipados com dispositivos eletrônicos que favorecem a abertura dos semáforos com a aproximação do coletivo ao cruzamento.
23
Figura 5: Linha Verde – Estação de Integração
Fonte: SMCS (2009).
No processo de evolução do sistema de transporte, o biocombustível de soja
representa um capitulo a parte na história do transporte coletivo curitibano,
principalmente por reafirmar o compromisso do município com a preservação do meio ambiente e melhoria da qualidade do ar.
Foi um esforço conjunto da gestora do sistema, das operadoras da linha, das
montadoras dos veículos, das produtoras e distribuidoras do novo combustível. Este esforço concentrado visava viabilizar a utilização de um combustível de origem vegetal que, ao final do primeiro ano de sua implantação, já
apresentava redução de 30% no nível de emissão de poluentes. Atualmente a
opacidade (emissão de fumaça) já apresenta reduções na ordem de 67% e o
monóxido de carbono – CO – em torno de 30% (URBS, 2014).
Para a adoção do Biodiesel B100, foram reunidas em um acordo cooperativo todas as empresas envolvidas: Secretaria Municipal do Meio Ambiente,
empresas operadoras do transporte Viação Cidade Sorriso e Auto Viação
Redentor, montadoras Scania Latina America e Volvo do Brasil, Instituto
Tecnológico do Paraná (Tecpar), e Programa Brasileiro de Desenvolvimento
Tecnológico e Combustível (Probiodiesel), empresa de fomento e pesquisa
tecnológica, além da fabricante do biocombustível – BSBios Indústria e Comércio de Biodiesel Brasil Sul S/A – e a RDP Distribuidora de Petróleo Ltda,
responsável pelo transporte do biocombustível.
Também neste mesmo ano a Linha Direta Inter 2 teve sua frota de veículos comuns substituída por veículos articulados, que ocorreu após um
grande investimento para a reforma de todas as estações da linha que
visavam incluir um módulo a mais em cada estação com mais uma porta
para receber os passageiros da terceira porta do veículo com articulação.
24
O Inter 2 é a linha de maior rotatividade do sistema, pois liga terminais de
grande movimentação de passageiros como Cabral, Campina do Siqueira,
Portão, Capão Raso, Hauer e Capão da Imbuia.
Em 2010 Curitiba implantou a primeira Linha Direta Expressa, o Ligeirão
Boqueirão. Esta implantação foi possível após a conclusão das obras de desalinhamento das estações intermediárias do eixo da Av. Marechal Floriano,
possibilitando a manobra de ultrapassagem entre os veículos que utilizam o
eixo. Esta mudança representou também um grande avanço, configurando
agora a Linha Direta circulando dentro da via exclusiva, já que o Ligeirão só
realiza paradas nos terminais e estações da região central da cidade.
Assim, a partir dessas alterações no Corredor Boqueirão, passaram a circular
duas categorias de linhas: a Expressa (biarticulados vermelhos) que é paradora – realizando paradas em todas as estações intermediárias e terminais do
eixo (biarticulados vermelhos) – e a Linha Direta Expressa ou Expresso Ligeirão (biarticulados azuis) – que realiza paradas somente em terminais e estações da região central (biarticulados azuis). Este novo modelo de operação
trouxe melhorias ao usuário do transporte coletivo com a redução do tempo
de viagem do Boqueirão ao Centro em 15 minutos, pois o veículo parador
leva 35 minutos neste trajeto e o Ligeirão, apenas 20 minutos. O usuário chega a ganhar 30 minutos por dia em seus deslocamentos diários.
Para a operação do Expresso Ligeirão, optou-se por um novo modelo de
veículo, o Ligeirão Azul. Biarticulado de 28 metros, considerado o maior
ônibus do mundo, este veículo tem capacidade para 250 passageiros (em
um dimensionamento de 6 passageiros/m²) e conta com um dispositivo de
abertura automática dos semáforos, priorizando a passagem dos ônibus nos
cruzamentos. Esta mudança representou uma ampliação de 40% da oferta
de lugares neste corredor.
Em 2012, a fim de aprimorar as atividades de monitoramento dos sistemas de
trânsito e transporte da capital, entrou em operação o Centro de Controle Operacional - CCO, instalado junto à sede da URBS. Esta central, equipada com computadores e telas de LCD, abriga um conjunto de hardwares e softwares ajustados
para transmitir imagens e informações em tempo real dos principais cruzamentos
de vias da cidade e também da operação de todos os ônibus da RIT, equipados
com GPS e conectados através da chamada tecnologia 3G. O monitoramento do
trânsito e transporte integrados confere maior qualidade às ações de fiscalização e
mais agilidade na solução dos problemas ligados à mobilidade do cidadão.
O trânsito, além das câmeras de monitoramento, conta também com seus
sistemas de semaforização integrados nessa central, o que permite alterações remotas em tempos semafóricos de mais de 60% dos cruzamentos
semaforizados da capital. Conta ainda com painéis de mensagens variáveis
em vias de grande fluxo, para orientações aos usuários quanto a congestionamentos, desvios, acidentes ou obras.
25
O transporte coletivo, além do acompanhamento da operação dos ônibus
em tempo real, ganhou também uma ferramenta de conexão direta entre a
gestora do sistema – URBS – e os motoristas dos veículos em operação. Uma
tela de sete polegadas instalada no painel dos ônibus permite enviar aos motoristas mensagens e orientações para ajustes ou alterações na rotina da linha,
de forma a solucionar mais rapidamente as interferências que o sistema sofre,
tais como, acidentes, congestionamentos, obras, etc. Ao condutor é permitido que envie à central, informações sobre acidentes, quebras e até mesmo
alertas de conflitos, assaltos, etc. Com tudo isso, o objetivo do CCO é reduzir
os transtornos causados aos usuários como atrasos e supressão de viagens,
conferindo maior credibilidade à operação do sistema.
Além do CCO, o ano de 2012 foi também marcado pela inovação na busca de
novas tecnologias para reduzir os impactos ambientais, quando Curitiba, novamente com a parceria da Volvo do Brasil, incorporou à sua frota de ônibus,
30 veículos híbridos. Estes ônibus apresentam dois motores funcionando em
paralelo, sendo um elétrico e um movido a biocombustível, o que confere a
eles um índice de emissão de poluentes muito menor que os veículos operados apenas com diesel. A redução na emissão de material particulado é da ordem de 89%, além na redução do consumo de combustível, que chega a 35%.
Outro capítulo importante na busca da melhoria da mobilidade urbana são
os processos de colaboração entre cidades que Curitiba participa. No final
de 2013, por exemplo, com a visita do rei Carlos XVI Gustavo da Suécia à
capital paranaense, o rei e membros da Academia Real Sueca de Ciências de
Engenharia, a Prefeitura e o Royal Institute of Technology (KTH), da Suécia,
assinaram um termo de entendimento para o desenvolvimento de soluções
e tecnologias de mobilidade e eletromobilidade em Curitiba. Também assinaram o acordo a Universidade Federal do Paraná (UFPR), Universidade
Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Pontifícia Universidade Católica do
Paraná (PUCPR), Universidade Positivo, Federação das Indústrias do Estado
do Paraná (FIEP) e Centro de Pesquisa e Inovação Sueco-Brasileiro (CISB).
Em julho de 2013, o itinerário dos ônibus do transporte coletivo passou a
ser apresentado na plataforma do Google Maps e disponibilizado no site da
URBS (www.urbs.curitiba.pr.gov.br) oferecendo no mapa da cidade as opções
de linhas e horários para deslocamentos no transporte coletivo.
Neste período, a URBS passou a incentivar o desenvolvimento de aplicativos de apoio ao usuário de ônibus, garantindo acesso do seu banco
de dados às empresas ou grupos interessados. Nessa iniciativa a Área de
Tecnologia da Informação da URBS libera acesso ao sistema de dados que
gera as tabelas horárias e itinerários das linhas da RIT a qualquer instituição
ou pessoa física interessada em desenvolver aplicativos a serem disponibilizados à população para consultar horários dos ônibus ou geração de
rotas origem-destino. Este acesso também pode ser utilizado para pesquisas
realizadas por estudantes universitários, solicitados através de suas Institui-
26
ções de Ensino. A partir disso, já foram desenvolvidos aplicativos para as
plataformas Android e IOS, como o Moovit e o Busão Curitibano.
Seguindo com o objetivo de melhorar a informação, o usuário do transporte coletivo também passou a contar nesse ano com a informação do horário
de chegada dos ônibus, em tempo real, em painéis instalados em todos os
pontos de ônibus dos terminais, o que faz parte do Sistema Integrado de
Mobilidade (SIM) e do Sistema de Bilhetagem Eletrônica (SBE). No primeiro trimestre de 2014, as informações em tempo real também chegaram
aos painéis eletrônicos das 364 estações-tubo da cidade. A instalação dos
painéis foi concluída em 2013.
Na busca de ampliar o compartilhamento de informações, a URBS atendeu,
somente no ano de 2013, 80 delegações formadas por 759 técnicos, especialistas e autoridades – 65% deles do exterior, interessados em conhecer o
funcionamento do Sistema de Transporte de Curitiba. Outros 125 estudantes
foram atendidos na sexta edição do Ciclo de Palestras, realizada em parceria com o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano (IPPUC), Instituto
Municipal de Administração Pública (IMAP) e Secretaria Municipal do Meio
Ambiente. Participaram alunos das instituições de ensino superior de Curitiba e de universidades e faculdades de Mogi das Cruzes, Campinas, Sorocaba,
São Carlos e São Paulo (SP), Recife (PE) e Florianópolis (SC).
Também atendido pela Ouvidoria, o Banco de Idéias foi uma das novidades
da URBS em 2013. Desenvolvido pela Área de Tecnologia da Informação e
disponibilizado em março, o Banco de Idéias registrou no ano de 2014 150
sugestões apresentadas pelos usuários. Este canal permite que os públicos
interessados apresentem idéias e sugestões para melhoria dos serviços prestados pela URBS, de forma adequada e responsável, alinhada aos Valores e
Políticas da URBS - Urbanização de Curitiba S.A
Em meio a um cenário crescente da utilização de automóveis na capital, Curitiba iniciou em 2014 a implantação de faixas exclusivas para ônibus convencionais, que seguem para a região central, de forma a minimizar os atrasos
ocorridos devido a congestionamentos e pontos de lentidão registrados nas
vias principais em horários de pico.
A primeira faixa exclusiva foi implantada na Rua XV de Novembro, no trecho entre a Avenida Nossa Senhora da Luz e Rua João Negrão atendendo
53 mil usuários de 13 linhas de ônibus que passaram a circular por essa faixa. Na seqüência foram implantadas as faixas exclusivas da Desembargador
Westphalen, por onde passam 20 linhas de ônibus que transportam 70 mil
passageiros, e da Marechal Deodoro, entre João Negrão e Praça Zacarias,
atendendo 30 mil passageiros de 15 linhas de ônibus. Com isso, os atrasos e
supressões de viagens nessas linhas reduziram significativamente, sendo que
algumas linhas já apresentam índices de cumprimento de horários próximos
a 100%, beneficiando 153 mil passageiros por dia.
27
Em novembro de 2014, Curitiba iniciou um período de testes com um ônibus movido exclusivamente a eletricidade e com um automóvel elétrico, ambos
produzidos pela empresa chinesa BYD. Este ônibus tem um consumo de energia 75% menor do que um veículo similar movido a diesel. Atualmente, são
produzidos em três fábricas, duas na China, em Shenzhen e Changsha, e uma
em Lancaster, nos Estados Unidos. A empresa também está instalando uma
unidade industrial em Campinas (SP). Além do Brasil, o modelo vem sendo
testado, desde 2011, em diversas cidades do mundo, como Nova Iorque (EUA),
Bogotá (COL), Londres (GB) Copenhagem (DIN) e Oranjestad (Aruba).
Os carros elétricos, fruto dessa parceria com a BYD, começaram a ser utilizados na frota de táxi de Curitiba a partir de março de 2015, em rodízio,
por taxistas ligados às sete centrais de táxi da cidade. Atualmente, as centrais
reúnem 1.920 taxis, ou seja, mais de 64% da frota de três mil táxis.
Estes testes fazem parte de um conjunto de iniciativas de Curitiba para
buscar tecnologias inovadoras e mais sustentáveis para a mobilidade urbana, salientando que a mesma já desenvolve outras ações na área de
eletromobilidade, como é o caso do Projeto Eco-Elétrico, conduzido em
parceria com a Itaipu Binacional, Renault e outras entidades. A partir desse projeto, a capital paranaense passou a contar com a maior frota pública
de veículos movidos a eletricidade no país.
O Município também firmou um protocolo de intenções com a Volvo Bus
Latin América, UTFPR e concessionárias do transporte coletivo, para avaliar
na Linha Verde uma nova geração de ônibus híbrido-elétrico articulado, cujos
testes de campo estão previstos para o início de 2016.
Ainda em novembro de 2014, Curitiba participou do 4º Encontro Anual do
Centro de Pesquisa e Inovação Sueco-Brasileiro (CISB) com a apresentação
do projeto Smart City Concepts in Curitiba (Conceitos de Cidade Inteligente em Curitiba), aprovado em um edital da agência sueca Vinnova, que
investe em projetos de inovação.
Portanto, com parceria de diversas empresas atuantes no mercado, Curitiba
age de forma constante na busca de melhorias e sustentabilidade para o sistema de transporte muitas vezes com soluções criativas e de baixo custo, se
comparadas à implantação de um novo modal como metrô ou veículos leves
sobre trilhos, como tantas vezes foi sugerido por especialistas, estudiosos ou
cidadão comuns. Estes modais certamente ofereceriam melhorias, entretanto,
poderiam representar um grande nível de endividamento ao município que
viria a comprometer os investimentos futuros em outras áreas prioritárias ao
cidadão, como saúde, educação e segurança.
O que se deve considerar, porém, é que apesar dos esforços até agora despendidos na busca de soluções criativas para melhorias no transporte, ainda
é possível verificar que o sistema, apesar de atender grande parcela da po-
28
pulação, principalmente a de menor poder aquisitivo, ainda não se apresenta
como uma boa opção de deslocamento aos usuários do automóvel. Este público anseia por um serviço de transporte que ofereça mais conforto, rapidez,
agilidade, credibilidade e menor custo, de forma que, deixar o carro em casa,
seja uma possibilidade viável e interessante para todos.
Esta análise permite enumerar os desafios que Curitiba tem a transpor para
que a cidade possa atender os desejos de mobilidade do cidadão evitando os
problemas de congestionamentos e acidentes de trânsito que começam a se
configurar com mais incidência neste meio urbano.
Desafios a enfrentar
São inúmeros os desafios que se apresentam à cidade para minimizar as dificuldades de deslocamento impostas ao morador de Curitiba e Região Metropolitana. É imprescindível garantir que todas as necessidades dos usuários
sejam atendidas, ofertando altos índices dos principais indicadores de qualidade de um sistema de transporte, quais sejam: rapidez, agilidade, segurança,
conforto, confiabilidade, credibilidade e modicidade tarifária.
Considerando o crescimento acelerado da frota de veículos, faz-se necessária a
adoção de mais medidas de priorização do transporte público, como a implantada no Corredor Boqueirão em 2010. Ou seja, criar espaços para ultrapassagem e implantar os ligeirões nos Eixos Norte, Sul, Leste e Oeste, aumentando
a capacidade de transporte destas linhas que já apresentam excesso de passageiros em horários de pico. Esta medida dará melhores condições de transporte
aos passageiros destes corredores, proporcionando maior rapidez nos deslocamentos e ampliando a capacidade de transporte também nessas regiões.
Ainda com a prioridade semafórica para os ônibus na travessia dos cruzamentos, o usuário do automóvel facilmente perceberá que, em determinados
trechos, principalmente próximos à região central, o ônibus se deslocará com
mais agilidade que o veículo particular, propiciando assim, o interesse em
transferir alguns de seus trajetos realizados com automóvel, para o ônibus.
Também é possível reservar algumas faixas de trânsito nas vias de maior movimento para uso exclusivo dos ônibus, visando melhorar a operação e o cumprimento de horários de linhas que hoje circulam nas mesmas vias que o automóvel,
numa concorrência desleal pelo espaço, já que um ônibus pode transportar de
60 a 150 passageiros (no caso de convencionais, alimentadores, interbairros e
ligeirinhos) e um automóvel, em geral, transporta apenas um passageiro. Estas
ações certamente vão melhorar os indicadores de rapidez e agilidade do sistema.
Outra medida importante a ser considerada é o aprimoramento do sistema de controle eletrônico das linhas, implementando maior efetividade
nas ações de fiscalização que, além de orientativas, devem também atuar
de forma punitiva, quando necessário, de modo a garantir que as opera-
29
doras atuem com maior empenho na solução dos problemas diários e na
prevenção destes. Assim, melhora-se também o indicador de confiabilidade no sistema.
A sensação de segurança nos coletivos poderá ser ampliada caso as empresas optem por instalar nos veículos, tal como já existe em terminais e estações, câmeras de segurança que registrem todos os movimentos ocorridos
no interior dos ônibus durante seu horário de operação. Estes equipamentos auxiliarão na redução do número de assaltos e, consequentemente, na
redução das perdas de receita da tarifa arrecadada em dinheiro pelos cobradores. Também ações para intensificar o uso do cartão transporte podem
auxiliar neste processo. Interfere-se aqui no indicador segurança.
Já o indicador conforto pode ser melhorado a partir da adoção de veículos mais silenciosos, o que é possível com a ampliação da frota de
veículos híbridos e elétricos, que, além da redução de ruídos, cumprem
um importante papel no processo de redução na emissão de poluentes
causados pelos sistemas de transporte público. Novas tecnologias devem
ser constantemente testadas e incorporadas à frota com esse objetivo.
Também a implantação de equipamentos que visem minimizar o desconforto térmico no interior de veículos e estações tubo podem aumentar os
índices do indicador conforto.
E por fim, é de fundamental importância buscar novos instrumentos para
garantir que o usuário tenha uma tarifa justa e possível de ser incorporada
ao seu orçamento, já tão sobrecarregado por novos reajustes e taxas que
surgem a cada dia. É necessário promover esforços para buscar novas
fontes de receita ao sistema de transporte, de modo a baratear o valor
final da tarifa.
Além disso, é preciso regulamentar fontes custeadas pelas partes que mais
se beneficiam de um sistema de transporte eficiente, isto é, os governos
municipal, estadual e federal, os empresários e também os usuários de automóvel. Alguns exemplos já são aplicados em cidades como Paris, Londres e Barcelona, que apresentam altos índices de subsídios dos governos
locais e federais, além de sistemas de cobrança de impostos ou taxas aos
usuários de automóvel para circular em determinadas vias do perímetro
urbano, valores estes que são aplicados na melhoria do sistema de transporte público. Tais fontes de custeio devem ser fortemente regulamentadas por legislação, de modo que não sofram interferências a partir das
mudanças ocasionadas por processos eleitorais.
Há que se pensar mais adiante em buscar soluções que sejam mais que
paliativos para a operação diária, mas sim ações que verdadeiramente tragam maior estabilidade para os operadores e principalmente maior qualidade dos serviços prestados aos usuários, conferido assim maior interesse
e atratividade ao transporte público.
30
Considerações finais
O transporte público é elemento de fundamental relevância na vida dos
cidadãos, já que é o principal responsável pela mobilidade dos indivíduos,
propiciando seu acesso ao trabalho, ao estudo e ao lazer, resultando em
melhor condição de vida aos moradores de áreas urbanas.
Desta forma, verifica-se que desde a década de 70, Curitiba tem se preocupado com a mobilidade urbana buscando aplicar soluções criativas ao
sistema de transporte, de forma a garantir os direitos de deslocamentos
dos usuários, passando de noventa e dois mil passageiros transportados
por dia útil em 1972 para dois milhões e trezentos mil passageiros por dia
útil em 2014, sem onerar excessivamente a tarifa. Estas soluções foram
bastante efetivas e amplamente reproduzidas em outros municípios brasileiros, da América Latina e até mesmo no continente asiático.
Não se destaca apenas pela criação de linhas com ônibus diferenciados ou
corredores exclusivos, mas também por todas as possibilidades de integração que permitem ao cidadão compor seu próprio trajeto de sua origem
até o destino desejado com o pagamento de uma única tarifa, que tem o
mesmo valor para qualquer uma das linhas do sistema. Isso permitiu uma
maior democratização do uso do transporte público, que, na década de 70
atuou como indutor do crescimento da cidade e que, principalmente após
1996, ampliou suas funções quando intensificou o processo de integração
com as cidades da Região Metropolitana.
As vias exclusivas, as estações tubo, os ônibus ligeirinhos e biarticulados e o
pagamento da tarifa através do cartão transporte são diferenciais que Curitiba adotou e que realmente se configuraram em avanços no atendimento às
necessidades do usuário do transporte coletivo. O cidadão tem diversas categorias de linhas à sua disposição nos terminais de transporte que ele acessa
a partir de linhas alimentadoras que lhe garantem um deslocamento máximo
de 500 metros a pé para acessar o sistema.
Por fim, vale lembrar que o Sistema de Transporte Coletivo de Curitiba, reconhecido por suas soluções inovadoras, pode e deve continuar inovando,
para melhorar e readequar seu modelo às novas necessidades da população
que cresce a cada dia. A utilização cada vez maior do automóvel vem causando congestionamentos na região central da cidade e prejudicando também a
operação dos ônibus que disputam cada vez mais o espaço com o automóvel,
perdendo em competitividade, pois o aumento nos atrasos e supressões de
viagens reduz a credibilidade do sistema junto aos usuários.
Somente quando os usuários do automóvel conseguirem perceber que o
transporte coletivo oferece níveis de agilidade, rapidez, conforto e segurança
similares à de um carro, a um custo bem inferior à do veículo particular, é que
realmente vão começar a adotar o modo coletivo para seus deslocamentos
31
diários e, com isso, reduzir as viagens realizadas por carros no ambiente urbano. A partir dessa migração gradativa do modal individual para o coletivo,
reduzir-se-ão os níveis de congestionamento, poluição, acidentes e mesmo de
stress, fazendo com que a cidade possa oferecer um melhor índice de qualidade de vida a todos os seus cidadãos.
É nesse contexto que a proatividade na busca de inovações tecnológicas,
fruto de parcerias com a iniciativa privada, com a academia e com os demais
setores da sociedade civil, torna-se de vital importância para que a cidade
alcance um nível de excelência na operação dos serviços de transporte, de
modo a quebrar o paradigma de que o transporte público é voltado apenas às
classes menos favorecidas.
Referências
BOARETO, R.A Mobilidade Urbana Sustentável. Revista dos Transportes
Públicos – ANTP. Ano 25. 3º Trimestre, São Paulo: 2003.
GOMIDE, A. A. Transporte Urbano e Inclusão Social: Elementos para Políticas Públicas.Brasília : IPEA, 2003.
PMC - Prefeitura Municipal de Curitiba. Índice de área verde passa para 64,5
m2 por habitante. Através do link:http://www.curitiba.pr.gov.br/noticias/
indice-de-area-verde-passa-para-645-m2-por-habitante/25525. Acesso em
01/02/2015.
URBS – Urbanização de Curitiba S/A. Relatório de Gestão 2012 e 2014.
Através do link http://www.urbs.curitiba.pr.gov.br/institucional/relatorio-gestao. Acesso em 01/02/2015.
_____ Rede Integrada de Transporte. Resumo Operacional –Projeção/2014.
Através do link: http://www.urbs.curitiba.pr.gov.br/transporte/rede-integrada-de-transporte. Acesso em: 01/02/2015.
SMCS – Secretaria Municipal de Comunicação Social. Departamento de Comunicação. Acervo de Fotos. Curitiba, 2009 e 2011.
32
INOVAÇÃO: ASPECTOS HISTÓRICOS
E O BRASIL ATUAL
2
Admir Pancote
Existe tendência de pensar que a inovação é reflexo de políticas governamentais e que o estágio do país depende da assertividade dessas políticas. Talvez
seja mesmo, já que muitos autores salientam, demonstram e defendem a importância das políticas públicas, da necessidade de financiamento subsidiado
e da subvenção com instrumentos eficazes. O autor não pretende contestar
esses posicionamentos, apenas analisar essa trajetória industrial focando a
inovação como tema principal.
No Brasil, as políticas industriais ou de industrialização sempre estiveram
um passo atrás da realidade dos países mais desenvolvidos. Basta observar
que quase cem anos após o início do processo de industrialização da Europa,
Inglaterra à frente, o Brasil era agrário e tinha como principal mão de obra
trabalhadora os escravos.
Na década de 1970, enquanto a política desenvolvimentista do governo militar preocupava-se com a instalação de indústrias, os países mais desenvolvidos, com seus parques industriais modernos, preparavam-se para a economia do conhecimento. Alain Touraine em 1969, segundo Meira (2013, p.
46) cunhava “a expressão sociedade pós-industrial para designar os novos
arranjos econômicos e sociais” com o fim do auge do ciclo industrial. Um
ano depois, 1970, o governo brasileiro estava às voltas com a implantação de
parques industriais. Todos os recursos, escassos, captados no exterior, eram
canalizados para a instalação de indústrias, que eram necessárias, porque o
Brasil estava atrasado em relação aos países mais desenvolvidos.
Cito dois exemplos do atraso da política industrial do País no período após
guerra: Enquanto a Samsung eletrônica, criada em 1969 (SAMSUNG, sd),
produz equipamentos com tecnologia atual, no Brasil, consumimos esses
equipamentos por eles produzidos. Na década de 1960, o Brasil tinha um
PIB per capta de 3.038 dólares, em 2010 era de 10.647 dólares. Na Coréia o
PIB per capta era de 1.765 dólares em 1960 e 28.226 dólares em 2010 (MEIRA, 2013). Essa razão nos conduz a pensar que parte das políticas industriais
implementadas no passado foram equivocadas.
Apesar de existirem algumas ações anteriores como a edição do livro “Universidades e Instituições Cientificas no Rio de Janeiro” organizado por Simon Schwartzmann em 1982, era tratado apenas da necessidade da institucionalização da pesquisa nas universidades. Antes disso, as preocupações das
instituições de pesquisa eram voltadas para a segurança nacional. Isso traz
indícios de que essas instituições eram direcionadas para a pesquisa básica.
Ainda que tenham apoiado a criação da Embraer, ajudado na evolução da
Petrobras e auxiliado na implantação da geração de energia nuclear, o foco
era a segurança. Somente a partir da década de 1990, há certa preocupação
e mobilização em torno da Ciência e Tecnologia, teoricamente, os geradores
de inovação.
34
De todo o investimento do Estado com relação à fabricação de computadores e desenvolvimento de software nos anos 1970 e 1980, o que restou ao
país, do ponto de vista do autor, foi algum conhecimento na área. Nossas
indústrias foram incorporadas por empresas transnacionais ou compradas
por bancos que focaram a tecnologia bancária. O restante do mercado foi
assumido pelas transnacionais.
Já nos anos 1990, e com a FINEP operando desde os anos 1970, uma não
identificada por solicitação de seu executivo, desenvolveu várias pesquisas
na área de reflorestamento e tentou, com uma equipe de três economistas,
atuando exclusivamente na área econômica com projetos de pesquisa, captar
recursos da FINEP durante três anos e depois desarticulou a área por terem
sido infrutíferas suas tentativas. Isto pode caracterizar três coisas: a falta de
conhecimento por parte da empresa, a excessiva burocracia e complexidade
dos processos de financiamento vigentes ou o direcionamento das pesquisas.
As duas primeiras caracterizações ainda são vigentes atualmente, como poderá ser visto no desenvolvimento deste trabalho.
Essa é uma das primeiras incursões que o autor faz em relação à inovação. O
objetivo foi o de abordar o tema sob uma perspectiva histórica com características acadêmicas. O texto não pretende ser linear e demonstrar ou mostrar uma
faceta do conhecimento já gerado sobre pesquisa, desenvolvimento e inovação.
A análise é uma síntese da visão que o autor pode obter nesses anos de trabalho
profissional sobre inovação, pesquisas em sistemas de informação e áreas correlatas e externar algumas inquietudes, principalmente sobre o desenvolvimento industrial brasileiro. O objetivo é indicar prováveis causas do atual estágio da
inovação no Brasil e apontar alguns cuidados a serem tomados na formulação
estratégica. Ainda, aponta que o Brasil, com atraso de mais de 20 anos, começa
a ter um arcabouço de um Sistema Nacional de Inovação.
Industrialização, inovação e política de inovação
Para o sentido que é pretendido neste artigo, é preciso um passeio pela história da industrialização brasileira. Em outros quatro tópicos são abordados
estrutura organizacional, inovação, contexto, atividade de risco e os instrumentos para uma política de inovação, leis e instituições, com foco entre a
história e a atualidade.
Um pouco da história industrial brasileira
A introdução dessa revisão histórica da industrialização do Brasil visa contextualizar para o entendimento do processo de inovação do País. Ela circunstancia,
no ambiente histórico, as bases para as mudanças nas estratégias de gestão das
inovações nas organizações e as políticas de Estado. As significativas mudanças
na economia, desde os anos 1950 aos dias atuais, formam o ambiente de análise
de investimentos e desinvestimentos em inovação nas ferramentas de administração e nos arranjos organizacionais para a otimização de resultados.
35
Nos anos 1950 o Brasil ainda se ressentia dos reflexos da industrialização baseada na produção primária do café e de outros produtos agrícolas. Além dessa
base iminentemente agrária, a crise de 1929 e as duas guerras em 1918 e 1945
induziram o país à “indústria da substituição”. O objetivo fundamental era a
substituição de produtos importados por produtos nacionais, pelas dificuldades de importação, decorrentes das dificuldades internacionais. Essa visão era
iminentemente interna, visão de produzir apenas para sustentar o consumo, e
evitava ou reduzia o desequilíbrio da balança comercial (BAER, 1996).
O governo de Juscelino Kubitschek, entre 1956 e 1960, criou o Plano de
Metas, um plano de modernização da economia com o avanço da industrialização. A partir de 1956 criou incentivos para a instalação de indústrias no
País, principalmente a automobilística. Criou um plano de integração nacional com base num plano viário, voltado para rodovias, por possuir o menor
custo de implantação. Para maiores esclarecimentos sobre o período do governo de Juscelino Kubitschek de Oliveira e outros, o leitor poderá buscar
junto ao CPDOC FGV, o DHBB, Dicionário histórico-biográfico brasileiro,
que teve diversos coordenadores e está em sua 3ª edição sob coordenação
geral de Christiane Jalles de Paula e Fernando Lattman-Weltman.
Durante todo o período que se sucede, o investimento no desenvolvimento
econômico do Brasil foi financiado, em grande parte, com capital externo,
gerando dívidas, sem que as exportações atingissem os mesmos patamares.
Embora o PIB – Produto Interno Bruto tenha mantido crescimento na ordem dos 7% ao ano, a inflação também crescia. A alta inflação e os serviços
da dívida drenavam os recursos que poderiam ser direcionados para financiar
o desenvolvimento e a inovação (BAER, 1996).
Os anos 1960 transcorreram envoltos nessas circunstâncias de escalada inflacionária e num golpe militar, sem espaço para novas articulações que levassem
a industrialização à avanços significativos. A indústria ressentia-se, principalmente, da falta de capital para a sua evolução e pleno desenvolvimento (BAER,
1996). Foram criadas poucas inovações nesse período, sendo a substituição das
importações a tônica da indústria nacional. Mesmo contando com a existência
de alguns institutos de pesquisa que será discutido no item Instituições.
Essa vertente do pensamento estratégico nacional da indústria da substituição e a falta de recursos levam o país às políticas protecionistas de desenvolvimento industrial e tecnológico, principalmente a partir do “milagre brasileiro” dos anos 1967-73 (CANO, 2004) e, principalmente, na área tecnológica.
Essa proteção visava à transferência de tecnologia e ao desenvolvimento de
tecnologias genuinamente brasileiras (TIGRE, 1995). Aliás, sobre a transferência de tecnologia, numa visão institucionalista, pode-se dizer que:
Nenhum arranjo institucional pode ser definido como “ótimo”, pois eles são frutos de contingências culturais e políticas
típicas de cada país. Em alguns países as instituições se desen-
36
volveram de forma a favorecer o progresso econômico, enquanto em outros países não. O ambiente institucional determina as oportunidades de lucro, direcionando as decisões e o
processo de acumulação de conhecimentos das organizações,
gerando trajetórias virtuosas ou viciosas (TIGRE, 1998).
Nessa visão de desenvolvimento de tecnologias nacionais não havia equilíbrio entre os objetivos e a contrapartida de capitais. Foram elaborados, na
década de 1970, dois planos para orientar o desenvolvimento: o I e II Plano
Nacional de Desenvolvimento - I e II PND (HELENA, 1980). Porém, a
política protecionista aliada à incapacidade de financiar esse desenvolvimento
retarda o surgimento de tecnologias próprias. É dessa época a lei da informática que restringia a importação de computadores com investimentos no desenvolvimento da indústria local. Porém, havia falta de tecnologias próprias e
de mão de obra especializada em computadores (TIGRE, 1995).
A maior parte do dinheiro que o Estado injetava na economia, principalmente os recursos do BNDES, eram canalizados para a criação de parques industriais. Eram financiadas, principalmente, construções, instalações de plantas e
aquisição de equipamentos:
O Banco, nos anos 70, foi uma peça fundamental na política
de substituição de importações. Os setores de bens de capital e
insumos básicos passaram a receber mais investimentos, o que
levou à formação do mais completo parque industrial da América Latina. Começaram os investimentos em segmentos ainda
incipientes, como a informática e a microeletrônica (BNDES).
O aumento da dívida interna e externa do País, a aceleração do processo inflacionário, a escassez de recursos e o atraso tecnológico induzido pelo protecionismo levou alguns pesquisadores a considerar os anos 1980 como a década
perdida (LINS, 1993; TEIXEIRA, 1998; BERTERO et al., 2003). Diante disso,
as empresas usavam o seu próprio capital na especulação financeira com o mínimo investimento para a modernização de seus processos e para o desenvolvimento de novos produtos. Em 1989, as montadoras de veículos brasileiras gastavam 48 horas para montar um veículo, enquanto nos centros mais avançados,
veículos semelhantes eram montados em 13 horas (URDAN, 1994). No início
dos anos 1990, muitas empresas observaram o acirramento da concorrência e
perceberam a necessidade de mudanças significativas em seus processos para
sobreviver a uma economia tendente globalização plena. Isso leva, de certa
forma, ao início dos processos de inovação (SUZIGAN; FURTADO, 2006).
Estrutura organizacional e inovação
Num contexto de complexidade das estruturas organizacionais, Lawrence e Lorsch (1967) indicavam que os direcionadores da inovação são a diversidade de tarefas e a diversidade de perspectivas. Essa diversidade produz uma série de contatos
com o ambiente que, por sua vez, produz mais ideias sobre o que precisa ser feito
37
e como deve ser feito. Dewar e Haje (1978) mostram a visão de que a ausência de
normas rígidas ou a baixa formalização permitem as iniciativas individuais. Essas
iniciativas favorecem a implementação de novas iniciativas ou novos programas.
Os autores, citados no parágrafo acima, estão discutindo a complexidade organizacional, entendida sob o ângulo do tamanho das organizações. Quanto
maior for a organização maior será a divisão do trabalho, exigindo mais coordenação e consequentemente aumento da complexidade (GALBRAITH,
1973). Essa complexidade passa a exigir processos mais formais e com maior
qualidade atraindo constantes inovações.
A visão externada por Dewar e Haje (1978) e Galbraith (1973), em contrapartida, favorece as micro e pequenas empresas, que segundo Cezarino e
Campomar (2006), demonstram flexibilidade para construir arranjos organizacionais, valorizando estruturas simples, mais dinâmica, inovadora, sensível
às exigências do mercado. A menor complexidade organizacional e a maior
troca de informação entre os indivíduos congregados sob o mesmo negócio
materializam-se em ideias mais consistentes pela maior possibilidade de colaboração criando um ambiente propício à inovação.
Inovação e contexto
O manual de Oslo traz a definição de inovação adotada neste capítulo:
Uma inovação é a implementação de um produto (bem ou
serviço) novo ou significativamente melhorado, ou um processo, ou um novo método de marketing, ou um novo método organizacional nas práticas de negócios, na organização do
local de trabalho ou nas relações externas (DE OSLO, 1997).
As mudanças e inovações estão diretamente relacionadas ao setor de atuação
das empresas. Há a tendência de que empresas dos setores de maior densidade tecnológica tenham rápidas mudanças e inovações mais radicais e empresas de setores de menor densidade tecnológica tenham mudanças menores
e incrementais. Nos países em desenvolvimento as mudanças incrementais
respondem pela maioria das inovações (DE OSLO, 1997). Para a OCDE,
Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico:
As atividades de inovação são etapas científicas, tecnológicas,
organizacionais, financeiras e comerciais que conduzem, ou
visam conduzir, à implementação de inovações. Insere-se nas
atividades de inovação a P&D por estar diretamente relacionada à inovação (DE OSLO, 1997).
Joseph Schumpeter argumenta que o desenvolvimento econômico é conduzido
pela inovação, num processo dinâmico onde as novas tecnologias substituem
as antigas. Rupturas mais intensas são provocadas por inovações radicais ou
disruptivas e aquelas que dão continuidade num processo de mudança denomi-
38
nam-se incrementais. Esse autor, adotado como base para a criação do Manual
de Oslo, sugere cinco tipos de inovação: a) introdução de novos produtos; b)
introdução de novos métodos de produção; c) abertura de novos mercados;
d) desenvolvimento de novas fontes provedoras de matérias-primas e outros
insumos; e, e) criação de novas estruturas de mercado em uma indústria. Essa
tipificação foi sintetizada em inovação em produto (bem ou serviço), processo,
método de marketing e método organizacional (DE OSLO, 1997).
Chama-se a atenção apenas para uma expressão correntemente adotada, latu
sensu, que é “modelo de negócios”. É uma expressão de uso comum e diário que, embora não esteja contemplada ipsis litteris, é coberta pela frase
“método organizacional nas práticas de negócios, na organização do local de
trabalho ou nas relações externas” citada acima.
Eduardo Peixoto em palestra no TI de Impacto, uma capacitação em estratégia da inovação, numa visão pragmática e aplicada, aponta algumas uniões
que podem caracterizar o surgimento de inovações como pode ser observado
na Figura 1. O palestrante sustenta, segundo a perspectiva da CESAR, Centro
de Estudos e Sistemas Avançados do Recife, que as dimensões da inovação
têm base no tripé: Pessoas, Negócios e Tecnologia.
Da superposição entre tecnologia e negócios, resultam inovações em processos. A inovação de marcas surge da junção das pessoas e dos negócios.
Inovação Funcional advém da superposição de Pessoas e Tecnologia onde
o resultado é medido pela acessibilidade, facilidade de uso e aplicabilidade.
Na união das três superposições surge o que chama de sweet spot (ponto
ideal). O ponto ideal é onde a combinação de fatores resulta em uma resposta
máxima para uma determinada quantidade de esforço. O palestrante defende
que a mola propulsora são as pessoas que percebem e geram as necessidades
dentro de um contexto. Desta forma, pode-se falar sobre a inovação, inserida
em um ambiente ou contexto.
Figura 1: Inovação segundo a CESAR
Fonte: Adaptado de Peixoto, Eduardo. Palestra proferida na capacitação TI de
Impacto. Curitiba, 2014.
39
Dagnino e Thomas (2001), com base no PLACTS, Pensamento Latino-Americano em Ciência, Tecnologia e Sociedade, questionam o “modelo linear
de inovação” e o “ofertismo sem contato com as necessidades sociais”. Segundo esses autores, essas duas orientações reduzem a análise do problema
à transferência institucional. Essa é a perspectiva da teoria da dependência
e dos conceitos de dominação cultural, neocolonialismo e aculturação, que
conduz à imitação e ao isomorfismo. Essa falta de contextualização gera uma
defasagem temporal e inovação desconectada da realidade.
Observa-se que o Manual de Oslo trata essa questão do contexto quando
acena para as diferenças entre setores e países (DE OSLO, 1997). Dentro
disso, a criação de “ambiente macroeconômico mais estável, com taxas mais
robustas de crescimento, pode contribuir para reduzir os riscos econômicos
e alavancar financeiramente as empresas” (SALERNO; KUBOTA, 2008, p.
28). Além disso, é necessária a criação de linhas de financiamento com características apropriadas à atividade inovadora, essencialmente, atividade de risco. Além, é claro, de Leis que reconheçam, beneficiem, fomentem e facultem
a acessibilidade para a inovação (SALERNO; KUBOTA, 2008).
A linguagem dos riscos abrange diferentes domínios. Na economia e tecnologia,
o risco é abordado na sua dimensão quantitativa e representa a probabilidade ou
chance de um evento ocorrer. Em outras áreas, o risco é cenário para se falar em
perigo. Aqui, o risco deve ser interpretado como uma maneira de expressar o perigo em termos de probabilidade num contexto de incerteza (SPINK et al., 2002).
Em essência, inovação corresponde a falta de experiência, falta de tradição,
falta de elementos de comparação e, em suma, incerteza sobre os resultados. Com esses elementos, a probabilidade de insucesso é elevada (SOUZA
NETO; STAL, 1991). O investimento em projetos inovadores depende de
avaliação quantitativa dos riscos envolvidos.
Instrumentos para uma política de inovação
Os principais instrumentos de incentivo à inovação no Brasil são as leis e as
instituições de ensino, pesquisa e desenvolvimento em CT&I.
O Decreto-Lei 2.433 de 1988 criou incentivos fiscais para o desenvolvimento
tecnológico e industrial, no sentido de uma política industrial voltada para a
inovação. Com a ascensão de um governo com ideologia liberalizante, essa
política foi interrompida e os incentivos não chegaram a ser aplicados (CORDER, 2006). Desde então, vem sendo articulada uma estratégia hegemônica
para a CT&I. A recriação dos incentivos em 1993, novamente trazia a tona
a necessidade de uma estratégia coordenada para a política de inovação. O
maior impulso veio com a criação dos fundos setoriais em 1999, baseados na
experiência do CT-Petro, fundo criado em 1977 (PACHECO, 2007).
Iniciativas anteriores serviram como reguladores das atividades de C&T e
não afetaram a estrutura de incentivos a inovação, fomento e financiamento.
40
Essa nova estratégia abrangeu aproximadamente 15 leis, aprovadas a partir de
1999 além de outras leis, planos e propostas de políticas engendradas desde
o início dessa década. A exceção do FUNTTEL todos os demais fundos setoriais são alocados ao FNDCT, Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, criado em 1969, que é gerido pela FINEP, Financiadora
de Estudos e Projetos (PACHECO, 2007; site da FINEP).
As instituições brasileiras voltadas ao fomento, pesquisa, desenvolvimento e
inovação são as Universidades, o CNPq, a FINEP, Fundações Estaduais (FAP)
e Institutos de Ciência e Tecnologia (ICT) e outras instituições federais. Com
essas instituições visa-se a criação do Sistema Nacional de Inovação.
Entre as funções das universidades está a formação de pessoas e geração de conhecimentos técnicos e científicos. São agentes que auxiliam na criação e disseminação de conhecimentos e tecnologias. Têm o papel de construir as competências
básicas e despertam, ainda que de forma incipiente, o interesse das instituições
públicas e privadas pela possibilidade de transformar em novos processos e produtos o resultado de suas pesquisas (PAIN, 1982; CHIARINI, VIEIRA; 2011).
Porém, num regime de incentivo desalinhado, nem sempre o conhecimento gerado
se transforma em aplicações comerciais que gerem ganhos de produtividade e competitividade. Há um gap entre a produção do conhecimento por meio das pesquisas
cientificas e a geração de inovações tecnológicas. Principalmente por que a relação
universidade-empresa é débil em razão de aquela não ter a adequada compreensão
da dinâmica do mercado (PLONSKI, 2005; CHIARINI, VIEIRA; 2011).
Para Batista e outros (2013), esse distanciamento entre a teoria e a prática,
provocado pelo distanciamento entre a escola e as empresas, gera a pesquisa
que auto alimenta a universidade e a ausência da pesquisa aplicada. Além
disso, no Brasil, há uma concentração de 37% dos pesquisadores na área de
ciências humanas e apenas 13% voltados para a engenharia. Com essa característica, as áreas estratégicas do Brasil para o desenvolvimento tecnológico e
de competitividade mundial, altamente tecnológica, pode estar comprometida (CHIARINI, VIEIRA; 2011)
O CNPq, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, foi criado em 1951, como principal instrumento de pesquisa do País. As
ações do CNPq, “apesar da abrangência de suas diretrizes iniciais”, eram “circunscritas sobretudo aos programas de auxílio à formação de recursos humanos”. Além do conceito de planejamento não estar plenamente incorporado
ao discurso oficial, o CNPq, instrumento iminentemente de planejamento de
longo prazo, estava intimamente relacionado à pesquisa voltada para a segurança nacional e com a questão nuclear (ROMANI, 1982).
Na comemoração dos 50 anos da fundação do CNPq, Motoyama observou
que os institutos de pesquisa, então existentes, orientavam-se pelo imediatismo e utilitarismo:
41
... a ciência e a tecnologia no país ressentiam-se da falta de
qualquer tipo de apoio sistemático antes da fundação do
CNPq. ‘Salvo por alguns investimentos federais e estaduais
em áreas como a saúde pública e o saneamento básico, por
algumas bolsas concedidas pela Fundação Rockfeller e iniciativas de uma ou outra empresa privada, simplesmente não havia
recursos para a ciência e tecnologia (FAPESP, 2001).
Além disso, o CNPq e os diversos institutos de pesquisa sofriam seguidos
cortes de dotações orçamentárias. Entretanto, a ampliação do papel do
CNPq como formulador e coordenador da política de ciência e tecnologia
passa a refletir a incorporação do conceito de planejamento à política governamental. É o reconhecimento da importância dessa atividade para o desenvolvimento brasileiro e reflexo de ideologias governamentais mais globais
(ROMANI, 1982).
Na década de 1980, com a reserva de mercado da informática, que impactava em toda tecnologia digital, citando o Programa Estratégico de Desenvolvimento do Ministério do Planejamento e Coordenação Geral do período
1968/1970, Romani (1982) transcreve:
A substituição de importações de produtos industriais, na forma do intenso processo desenvolvido no pós-guerra, não é
suficiente para assegurar um desenvolvimento autossustentável, devido particularmente às suas implicações no tocante à
criação de mercado e à adequação da tecnologia instalada. Será
preciso complementá-la através da substituição de tecnologia,
tomada esta, racionalmente, no sentido de adaptação de tecnologia importada e gradual criação de um processo autônomo
de avanço tecnológico...
Essa característica do desenvolvimento industrial, com base na substituição
de importações, permeia a maioria dos textos de pesquisadores da área econômica brasileira desde os anos 1960 (FURTADO, 1973 TIGRE, 1998).
A FINEP, criada inicialmente para ser a secretaria executiva do FNDCT Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, teve papel
importante na consolidação da pesquisa no País. Na década de 1970 financiou a criação de grupos de pesquisa, implantação de novos programas de
pesquisa, a institucionalização de pesquisa e pós-graduação e a expansão da
infraestrutura de Ciência e Tecnologia.
As dotações orçamentárias foram reduzindo-se desde a sua criação até 1999.
Com a criação dos Fundos Setoriais nesse ano e os recursos disponíveis,
inicialmente do CT-Petro, no valor 109 milhões, passaram em 2006, com os
novos fundos, para 1,8 bilhão. Em 2006 a FINEP passa a conceder recursos
para a inovação por meio de edital de subvenção econômica.
42
A FINEP tem contribuído para a consolidação do sistema de C&T com
os recursos dos Fundos Setoriais na reconstrução da Infraestrutura da base
científica e de geração de conhecimento. Porém, percebe-se na prática que
o fomento à ciência e tecnologia é insuficiente para que a inovação esteja
na essência do desenvolvimento. Uma perspectiva sistêmica surgirá somente
quando a política de C&T integrar a empresa nesse processo e transformar a
inovação em motor da política de desenvolvimento (THIELMANN, 2014).
Antes e depois da criação do CNPQ e FINEP, algumas já nos anos 2000,
diversas instituições públicas e privadas, locais, estaduais e federais de apoio
à pesquisa foram criadas. O objetivo principal era dar vazão à demanda por
ciência, tecnologia e inovação por meio do fomento à pesquisa científica e
tecnológica, ensino superior, formação de pesquisadores e disseminação da
ciência, tecnologia e inovação. Com algumas exceções essas instituições eram
gerenciadas com escassez de recursos. Não havia sido instituído um Sistema
Nacional de Inovação, que só toma forma nos dias atuais a partir da articulação entre as diversas instituições de PD&I estaduais, federais e os ICTs.
Industrialização tardia e a indústria da substituição
e da complementaridade
A princípio, a industrialização brasileira ocorreu, principalmente, pela necessidade de substituição das importações durante quase todo o século XX, chegando ao seu esgotamento nos anos 1980. Em todo o período, 1950-79, houve coevolução das tecnologias, estruturas econômicas e instituições, pautadas
pela priorização de alguns setores. Embora tenha avançado na constituição
do embrião do SNI, no desenvolvimento de infraestrutura econômica, e na
estrutura e infraestrutura industrial, era setorizado e baseado no tripé Estado,
Capital Estrangeiro e Capital Nacional (SUZIGAN; FURTADO, 2006).
O Estado era representado pelas estatais e a ele coube principalmente o desenvolvimento e a criação da infraestrutura e as indústrias de base, com a
produção direta de insumos indispensáveis à industrialização pesada. Na exploração da indústria de base, eventuais inovações trazem impacto pouco
perceptível ao consumidor final (SERRA, 1982).
O Capital Estrangeiro, representado pelas empresas transnacionais, tinham
o papel de transferir suas tecnologias de produtos, produção e gestão para o
País. Nesse período as empresas transnacionais chegaram a controlar 30% do
estoque de capital do setor da indústria da transformação, 85% da venda de
bens de consumo duráveis e 57% nas vendas de bens de capital. A indústria
estrangeira importava as inovações, também como forma de exportar divisas.
Portanto, não havia interesse no desenvolvimento de tecnologias no território brasileiro (SERRA, 1982).
O Capital Nacional era representado pelas empresas brasileiras a quem coube
contribuir com a indústria da complementaridade. Além de ter sido caracteri-
43
zada como a indústria da substituição, assumia nesse tripé a característica de
complementar. Com esses dois papéis restavam poucas alternativas para inovar
seja em processos, produtos, serviços ou modelo de negócios (SERRA, 1982).
A transferência de tecnologia pela instalação de empresas transnacionais no País
ou por acordos entre empresas com a aquisição de tecnologias, acelera a modernização. Apesar do ar de modernidade, há pouco desenvolvimento da CT&I
e pouco se inova. Em fins de 1984, Shozo Motoyama, falando sobre a ênfase
exagerada dada à transferência de tecnologia, diz que nessa visão a ciência tem
pouco a fazer exceto ajudar a compreender e adaptar essas tecnologias, quando
necessário, às condições peculiares de quem as recebe (MOTOYAMA, 1984).
Há uma conexão entre a teoria explicitada por Dagnino e Thomas (2001), o
momento econômico e a política de desenvolvimento industrial dos anos 19601990. Na indústria da substituição e na transferência de tecnologia, quando há
inovação, elas seguem sempre aos padrões existentes. O contexto, a criatividade e produção de ideias novas ficam relegadas a um plano secundário. Desta
forma, eventuais inovações podem ser imperceptíveis aos olhos da sociedade.
Além disso, há o lado pouco comentado da industrialização tardia do País,
cujos desdobramentos tem vários aspectos. Um desses aspectos é a própria
indústria da substituição que pode ser analisado sob o ângulo do Isomorfismo Mimético. Para essa corrente a estratégia baseia-se nas incertezas do
ambiente, na observação e imitação das estratégias de sucesso, capturando a
ideia de homogeneização. Assim, em grande parte, a estratégia competitiva
das empresas embasa-se em cópias e adaptações das práticas reconhecidas
(GIMENEZ; HAYASHI; GRAVE, 2007). No caso das empresas brasileiras
parece ter sido, senão a única, a alternativa mais viável.
A inovação tende a ocorrer com mais intensidade quando há a necessidade de
criar novos processos e produtos. A indústria da substituição exige pouca atividade de inovação. Quando se trata de instalação no país de uma indústria cuja
origem seja outro país, ocorre a replicação dos métodos, processos e produtos
definidos pela “matriz”. Para Lastres, “... o essencial da atividade de inovação
continua sendo desenvolvido no país de origem das empresas” (LASTRES; et
al., 1998, p. 8), de acordo com as estratégias das empresas produtoras.
A estratégia de redução do desequilíbrio da balança comercial apontada por
Baer (1996) pode ter dado certo, mas, não gerou o mais importante para o País:
a capacidade de inovação tecnológica, que começa a ser discutida apenas na década de 1990 (DE NEGRI; KUBOTA, 2008; SUZIGAN; FURTADO, 2006).
A educação e direcionamento das pesquisas
Discorrendo sobre a aproximação universidade-empresa Stal e Fujino salientam que os países em desenvolvimento, entre eles o Brasil, possuem infraestrutura tecnológica reduzida e, embora tenham sistemas de C&T, o SNI, Sistema
44
Nacional de Inovação, é incompleto e não se transformou ainda em efetivos
sistemas de inovação (STAL; FUJINO, 2005). Nos países menos desenvolvidos, a tendência é que as inovações sejam incrementais (DE OSLO, 1997).
Ricardo Hausmann, em entrevista a Giuliano Guandalini da Revista Veja,
publicada em março de 2015 (Veja, ed. 2417, ano 48, n.11, 18/mar/2015) diz
que vender a educação como bala de prata a resolver problemas do subdesenvolvimento é exagero. A produção de inovação em escala significativa passa pela articulação do conhecimento entre as empresas, cadeias produtivas,
universidades e institutos de pesquisa. Nos anos 1970, o Brasil decidiu pela
estratégia do protecionismo do mercado enquanto Coréia do Sul e Israel, por
exemplo, focaram na pesquisa e desenvolvimento de produtos voltados ao
mercado externo. Essa política brasileira dos anos 1960-70 foi uma das causas da “década perdida”. A política sul coreana gerou a Samsung, marca com
a qual os brasileiros estão habituados e a israelense gerou a melhor tecnologia
de irrigação da atualidade que é exportada, inclusive para os brasileiros.
Apesar de encontrar posicionamentos como o de Hausmann, o investimento
na criação de ambiente propício a inovação, como foram os casos da Coréia
e Israel, podem e começam pela educação. Ela sozinha não resolve todos os
problemas, mas, gente melhor preparada tem mais capacidade para pesquisar
e descobrir como e o que fazer. Os países citados fizeram nos anos 1970 e
anteriores o que o Brasil está tentando fazer desde aquela época: criar um
modelo nacional para CT&I.
Estratégia para investimento e financiamento à inovação
As empresas inovadoras e grandes empresas têm o seu volume de investimentos em PD&I definidos, independentemente dos recursos subsidiados. A
acumulação de capital intelectual e financeiro lhes permite destinar recursos
do próprio orçamento para esse fim. Há falta de recursos, principalmente,
para as empresas menores e as menos inovadoras. As razões podem ser muitas: juros altos, descontinuidade de instrumentos de apoio, abandono pelo
governo, privilégio das grandes empresas, desconhecimento das políticas de
CT&I, desconhecimento dos mecanismos de apoio, são alguns dos entraves
para a PME (CARON, 2006).
Destaca-se três razões por entendê-las como as principais: o desconhecimento dos mecanismos de apoio e financiamento e da legislação por parte da
população em geral e por parte do empresariado mais especificamente; a
questão da complexidade tributária que gera riscos fiscais e medo de errar e
com isso ser penalizado no futuro (SANTIAGO, SILVA; 2006; VARSANO;
2002); e falta de percepção, interesse ou desconhecimento da importância da
tecnologia. Como lembra Tigre (1998) “a visão mecânica da firma nos textos
de microeconomia é atribuída à falta de interesse dos economistas pelo que
ocorre no interior da ‘caixa preta’” (TIGRE, 1998). Isto se aplica à maioria
dos empresários e administradores, quando desconsideram a tecnologia na
45
formulação da estratégia. Essa formulação não deve desconsiderar a tecnologia, pois, ela é a base para inovação e nem a inovação que é uma das bases
para a evolução e a melhoria do desempenho
No passado os financiamentos de médio a longo prazo brasileiros, do Banco
Central para a agricultura, do BNDES e de alguns fundos instituídos eram
subsidiados e financiavam a instalação de indústrias e capital de giro suficientes apenas para financiar o caixa das empresas. Até algum tempo atrás não
havia financiamento destinado à inovação, exceto os recursos destinados às
universidades por meio do CNPq e FINEP que eram consumidos, em sua
maioria, em pesquisas e formação de pessoas que alimentavam a estrutura da
própria universidade (BATISTA, et al; 2013).
A atividade de inovação traz consigo alto grau de incertezas que não atrai os
investimentos convencionais. Em cada fase de evolução de um projeto de inovação são necessários diferentes tipos de recursos financeiros. Neste sentido:
... adentrar no mundo da inovação significa envolver-se num
conjunto maior de incertezas, irreversibilidades, buscar acesso
a ativos intangíveis, dentre outros aspectos que dão a esta atividade uma condição muito distinta daquela que permeia os investimentos convencionais. O mercado de capitais, assim como
o capital de risco, os incentivos fiscais e outras fontes de recursos públicos acessíveis ao setor privado, e o autofinanciamento
por parte das grandes empresas, são os principais mecanismos
de financiamento capazes de canalizar recursos para a atividade
de inovação, mas tendem a atuar em momentos distintos dos
investimentos (CORDER; SALLES-FILHO, 2006, p.70).
Para projetos de alto risco muitas vezes não há fontes de financiamento disponíveis e dispostas a assumir no todo ou em parte esses riscos. O papel dos
agentes financeiros e investidores institucionais é tímido e abrange as fases
de menor incertezas. O governo pode aportar recursos diretos por meio de
suas instituições ou aplicar outros mecanismos sob o seu domínio como as
parcerias público-privada, os incentivos fiscais, os subsídios e a subvenção,
que podem diminuir os riscos dos investimentos privados. Com esses mecanismos pode ampliar as chances de deslocamento de recursos financeiros
privados para as atividades de inovação (CORDER, 2006; CORDER; SALLES-FILHO, 2006, MELO, 2009).
Porém, não é apenas a disponibilidade de recursos para investimentos em
inovação que irá mudar o perfil do empresário brasileiro. Há uma questão
recorrente, e relacionada ao tópico anterior, que é a criação do mecanismo
adequado de incentivos à inovação o elemento mais importante como observou Corder (2006). Quebrar a corrente do Isomorfismo Mimético é condição
para a abordagem da inovação enquanto “técnica” para a melhoria do desempenho organizacional.
46
As instituições de fomento à pesquisa, tendo dotações cada vez menores,
investiram basicamente na formação e capacitação de pessoas. Isso gerou um
gap entre a teoria e a prática. Enquanto as universidades formavam pessoas
mais qualificadas, enclausuradas em seus próprios ambientes, mais distancia
era criada entre a universidade e as empresas. O que gerou a crítica de Batista
et al. (2013) e Leal-Filho (2014).
O financiamento de inovação geralmente ocorre por meio da subvenção, renúncia fiscal ou subsídio. É fundamental que as definições de políticas visem
ter como resgate o efetivo desenvolvimento tecnológico dos setores privilegiados e as condições de acesso sejam adequadas. Porém, para se atingir
o nível de maturidade e aumento da competitividade, o volume de recursos
aportados tem que ser adequado e adequadamente distribuídos (SALERNO;
KUBOTA, 2008).
Mudanças na postura empresarial
Castro (2001) escreve que:
... a economia brasileira passava até o início dos anos 1990 por
um período de hibernação com perda de market share nos
anos 1980 no mercado mundial. Antes dos anos 1990 apenas
algumas empresas adotavam métodos organizacionais e gerenciais que modernizavam suas estruturas. A partir dos anos
1990, em meio à escalada inflacionária, começam a promover
cortes e introduzir mudanças organizacionais com a modernização dos métodos gerenciais. Nos anos 1995, começa-se a
modernização dos sistemas produtivos com o uso de novos
insumos e a substituição de equipamentos e informatização
dos procedimentos de gestão, reativando os investimentos.
Por outro lado, com a aceleração da produção de inovações no
mercado internacional torna-se mais rápido e barato adquirir
essas inovações do que investir internamente.
Já Cassiolato e Lastres (2001) afirmam que, na década de 1990:
... com a liberalização, desregulamentação e privatização as
políticas industriais foram ancoradas na aquisição das tecnologias no mercado internacional e na possibilidade das transferências de tecnologia por parte das empresas transnacionais
e consequente pressão pela modernização dos concorrentes
locais. As reformas estruturais se encarregariam de promover os investimentos sem a necessidade de estratégias mais
articuladas. Essa “estratégia” não possibilitou a realização de
mudanças que permitissem a participação intensiva de setores
intensivos em tecnologia no produto industrial brasileiro. Em
razão da falta de políticas industriais que privilegiassem o
47
desenvolvimento tecnológico, as empresas locais que desenvolveram essas capacidades no passado estavam sendo absorvidas pelas empresas transnacionais ou desaparecendo.
Quaisquer que sejam as leituras que se faça dos posicionamentos acima ou
qualquer delas que se tome como base, o empresariado brasileiro precisa
mudar essa postura, se apropriar das novas tecnologias e desenvolver suas
próprias inovações. Se há pretensão de alcançar uma economia eficiente em
termos de lucros e salários, essa estratégia de obter tecnologias em mercados
mais desenvolvidos precisa ser revista (CASTRO, 2001). Meira faz a afirmação “Você pode terceirizar qualquer parte do seu negócio, menos inovação e
marketing” (MEIRA, 2013, p.265), alinhada a essa ideia.
Num mercado aberto, o nível de concorrência é acirrado levando, muitas
vezes as empresas às práticas predatórias. Nesse mercado a capacidade de
diferenciação é fundamental para a sobrevivência do negócio. No caso dos
oligopólios, não existe a prática predatória, assim, o processo de diferenciação conduz à expansão e criação de novos mercados e a preservação da
margem. Empresas com melhores margens de lucros são as que têm maiores
possibilidades de crescimento a longo prazo. A acumulação de capital torna-se necessária para sustentar os altos custos de PD&I, necessários para a
manutenção das empresas em mercados dinâmicos. Isso é um processo planejado e torna-se uma espécie de círculo vicioso onde são preservadas apenas
as grandes empresas ou aquelas que tendem a ser grandes (TIGRE, 1998).
No caso das MPEs, o planejamento tem horizonte de curto prazo, pois, são
pequenas e seus administradores estão envolvidos na operação do dia a dia
o que impede estratégias de longo prazo e de inovação. Essa é uma provável razão pelas quais no passado mais de 80% das pequenas empresas não
resistiam às pressões do mercado e encerravam as atividades precocemente
(CARON, 2006).
As pequenas empresas, com pouca capacidade de investimento e grande inserção em todos os setores produtivos, precisam de políticas públicas mais eficientes. Essas políticas precisam ser revistas para alavancar a economia. Elas são
passivas porque desconsideram as especificidades de cada setor. Por exemplo, a
indústria do software que depende de suas próprias competências comparando
à indústria têxtil que também depende de outros elos da cadeia como a indústria química. Salienta-se, desta forma, o grau de complexidade para a criação de
um SNI que faça frente a essa diversidade. A inovação, além de levar em consideração esse perfil das empresas, deve ter suas ações integradas e articuladas,
nas várias esferas de governo, em políticas (LA ROVERE, 2001).
Mudanças na postura do estado
Com a inovação, na década de 1990, sem a instrumentalização e instituições
com capacidade de intervenção no sistema econômico, a agenda governa-
48
mental preocupava com o nível de investimento necessário, a falta de sistematicidade da pesquisa científica e tecnológica e a falta de incentivos explícitos. Somente em 1999 a inovação é incorporada às políticas de C&T com
a criação dos fundos setoriais e, nos anos 2000, o alinhamento do sistema
econômico brasileiro com o sistema global (LEMOS, CÁRIO; 2013).
Na década de 1990 a inovação tornou-se tão importante a ponto de Cassiolato e Lastres iniciarem um artigo assim:
Entre os poucos consensos estabelecidos no intenso debate
que procura entender o atual processo de globalização, encontra-se o fato de que inovação e conhecimento são os principais
fatores que definem a competitividade e o desenvolvimento de
nações, regiões, setores, empresas e até indivíduos (CASSIOLATO; LASTRES, 2000).
Ressalta-se a necessidade de continuidade, com leis e ações alinhadas que dão
esse caráter à política científica e tecnológica com destaque para a formação
de recursos humanos, a promoção do desenvolvimento e a internalização
das capacidades tecnológicas (LEMOS, CÁRIO; 2013). Esse caráter deveria
induzir a maior utilização dos recursos disponibilizados pela lei. No entanto,
isso não ocorre na prática.
Algumas políticas ou regulamentos são definidos pela tecnocracia no sentido
de ter um arcabouço não suscetível a desvios. É louvável a definição de uma
linha estratégica sustentável e que possa trazer respostas efetivas na evolução
dos processos de CT&I. Porém, a intervenção nas estratégias empresariais
não cabe aos definidores de políticas. São as empresas que definem as suas
estratégias e as políticas devem corroborar com elas e, quando muito, buscar
o alinhamento (CORDER, 2006).
Quando as universidades definem, submetem os projetos a um edital e detém
a patente de uma dada invenção, retira das empresas a sua autonomia. Exemplos dessa forma de ingerência é que alguns recursos dos fundos setoriais são
destinados às universidades. Há a exigência de que haja a cooperação entre
as universidades e empresas para se ter acesso aos recursos. Essa cooperação
pode ser bem-sucedida se houver prévia integração entre essas duas entidades e as empresas puderem escolher seus parceiros. Não sendo desta forma,
as empresas perdem o interesse em participar (CORDER, 2006).
A relação entre as empresas e as universidades é tão débil que as empresas
não sabem a quem procurar nas universidades. A alternativa mais viável e
mais eficaz seria a inversão dos sentidos. A empresa elabora o projeto, busca
a parceria com uma universidade à sua escolha e submete o projeto. Essa se
torna uma demanda real, da qual a universidade deve participar. No sentido
atual, a empresa estará participando de um projeto nem sempre aderente às
suas estratégias (BATISTA, et al; 2013; CORDER, 2006).
49
Não são necessários esclarecimentos para cada uma das vertentes apontadas
por Peixoto nas uniões entre pessoa, tecnologia e negócios, mas, podem-se
entender duas questões: a inovação deve ser baseada na necessidade, seja ela
de qualquer natureza, e deve oferecer resultados. O que corrobora com a tese
da contextualização citada anteriormente, porque a necessidade surge dentro
deles e resultados é o que se espera de investimentos (PEIXOTO, 2014 em
palestra). Assim a inversão dos sentidos apontada por Corder (2006) torna-se
lógica e pode tornar-se eficaz.
Reformulação das instituições
Além de equalizar os interesses das instituições envolvidas num SNI, é necessário reformular as universidades (CHIARINI, VIEIRA; 2011; BATISTA et
al; 2013), instituindo políticas que as aproximem das necessidades do mercado. Não apenas a forma passiva de formação de mão de obra, mas, ofertando
consultorias e desenvolvimento de projetos, como já é realizado por algumas
instituições de ensino à frente de seu tempo, UTFPR, por exemplo. Esta é
uma forma de, em contrapartida, perceber com maior nitidez as necessidades
do mercado. Há algum tempo atrás, uma universidade pretendendo lançar
um curso de gestão para o varejo, convidou os empresários do setor para
lançar a ideia. O resultado foi que o curso não saiu dos planos por estar dissociado da real necessidade dos empresários. Hoje, o conhecimento de um
graduando está aquém do desejado pelas empresas, pelo menos no segmento
da tecnologia da informação, com formação e preparo inadequados. Como
declara Eduardo Aguiar, empresário do setor:
... é difícil encontrar uma resposta porque grande parte dos
graduandos em diferentes instituições de ensino superior não
está preparada para a rotina diária do trabalho, frustrando as
expectativas das empresas de tecnologia da Informação quanto as habilidades e conhecimentos adquiridos no ensino, e o
quão longe está do mercado de trabalho.
Pelo lado das instituições de fomento Melo (2009) afirma:
... é importante o aumento dos recursos para o aporte financeiro, participação, equalização, subvenção e garantia
de crédito e liquidez com a respectiva redução e eliminação do contingenciamento de recursos. A FINEP precisará se capacitar para operar todas as formas de participação no risco nas empresas inovadoras. Hoje está
restrita, quase que exclusivamente, à participação em
fundos de capital de risco para empresas emergentes de
base tecnológica. É uma forma indireta, talvez menos
arriscada, mas não condiz com o papel institucional es-
50
tratégico que uma instituição financeira pública deve ter
na criação dessas empresas e no compartilhamento do
risco do investimento em inovação.
Parece claro que essas preocupações são necessárias. Porém, sem uma verdadeira motivação e a aproximação empresa-escola muito pouco aproveitamento se pode ter. As políticas devem observar todos os aspectos relevantes para
serem instituídas. Parece ser mais importante despertar os empresários para a
necessidade de inovar do que disponibilizar recursos para que isso aconteça
sem que eles estejam preparados. Basta ver a quantidade de recursos disponível em renúncia fiscal que não está sendo utilizada.
Sistema nacional de inovação
Um Sistema Nacional de Inovação é uma construção institucional que impulsiona as inovações e avanços tecnológicos em economia capitalista complexa.
O SNI envolve empresas, universidades, centros de tecnologia e inovação
representados pelos institutos (ITC), fundações de apoio à pesquisa (FAP),
laboratórios, cientistas e pesquisadores, instituições financeiras e todos os demais agentes, responsáveis pela geração, implementação e difusão das inovações. A partir desses agentes, a diversidade de configurações de SNIs é grande. Juntando a isso, as necessidades setoriais, a capacidade das empresas para
absorção de tecnologias, o papel do governo e o papel das demais entidades,
tem-se um grau de complexidade substancial (ALBUQUERQUE, 1996).
Para um País que, segundo Afonso (1996):
... apresenta disparidades regionais e familiares tão acentuadas
como as da Índia; incorre em custos financeiros para manter a
unidade nacional, através da redistribuição regional de recursos públicos, tão elevados como os do Canadá; e suas relações
intergovernamentais são tão complexas, desorganizadas e desarticuladas como as da Rússia – sem contar que as unidades
federadas “guerreiam” entre si como as da antiga Iugoslávia
(se não com armas, [... por meio de incentivos fiscais que ...]
prejudicam o bom funcionamento do mercado interno).
Criar um SNI que consiga articular os agentes dos três níveis de governo,
Municípios, Estados e União e difundir a inovação como instrumento de
evolução social e desenvolvimento sustentável não se torna uma tarefa das
mais simples. Um sistema de governança que consiga articular o poder dos
líderes das diversas esferas em prol de um sistema nacional que beneficie a
todos pode ser um caminho.
Os recursos destinados ao fomento tecnológico e formação de pessoas estão aquém das necessidades para o desenvolvimento. Isso leva Cavalcanti e
Gomes a escrever “claro que coragem para definir prioridades em termos de
51
C&T não basta. É preciso estabelecer linhas de financiamento adequadas, ter
uma visão de marketing, criar um ambiente e cultura que valorize e favoreça
a inovação e o empreendedorismo” (CAVALCANTI; GOMES, 2001, p. 13).
Considerações finais
As causas do atual estágio de inovação no caso brasileiro e os cuidados necessários se confundem. Parece que uma das principais causas é a autossuficiência e isolamento entre os atores. Decorrentes, em parte, da forma
como se deu o desenvolvimento industrial e, em parte, da descontinuidade
das políticas públicas.
O “Triangulo de Sábato” aponta os três vértices da inovação como sendo o
governo, a estrutura produtiva e a infraestrutura científico tecnológica. Essa
teoria foi desenvolvida há quase cinquenta anos e a esses três vértices foi
agregado o quarto como sendo os agentes de financiamento e outros, transformando-se em uma estrutura complexa de rede (FIGUEIREDO, 1993;
PLONSKI, 1995).
Partindo-se do princípio que um Sistema Nacional de Inovação é uma “rede
de instituições públicas e privadas, cujas atividades e interações iniciam,
importam, modificam e difundem novas tecnologias”, somente o entendimento da “extensão, polarização e graus de completude e de convergência”
(PLONSKI, 2005, p. 30) de uma rede permitirá criar um sistema de governança suficientemente forte para desenvolver o caráter sistêmico e auto coordenado da inovação tecnológica (PLONSKI, 1995) que é um SNI.
A questão fundamental, então, parece ser a capacidade de articular todas as
variáveis políticas e técnicas envolvidas. Cada vértice é composto de diversos
agentes que devem convergir para uma “atitude” comum. No caso do governo, os três níveis de poder: municipal, estadual e federal e dentro de cada um
dos níveis, suas estruturas e hierarquias executivas. No caso da infraestrutura
tecnológica, a articulação entre as diversas entidades envolvidas e até conflitantes como é o caso de ICTs e Universidades. Ainda inclui-se as FAPs, o
CNPq, a FINEP entre outras instituições. Pelo vértice da estrutura produtiva,
têm que ser considerados os setores, o porte das organizações e a distribuição
entre comércio, indústria e serviços com as suas peculiaridades.
Entendo que há a necessidade de um sistema de governança que consiga
tratar com tal complexidade e diversidade de atores que:
a)Busque a objetividade em cada um dos vértices;
b)Simplifique e harmonize a relação e as ações entre as entidades de um
mesmo vértice; e
c)Harmonize a relação entre os vértices.
E que ainda, esteja atento ao que sugerem Lundvall e Borrás para a Comu-
52
nidade Econômica Europeia que as políticas focadas na inovação devem ser
acompanhadas de políticas destinadas a mudar o contexto institucional sugerindo que devem ser usadas políticas que promovam a inovação no contexto
institucional e no contexto da política cientifica e tecnológica (LUNDVALL;
BORRÁS, 1997).
Entendendo que a questão não é apenas de P&D (PLONSKI, 2005), estabelecer
mecanismos de comunicação capazes de despertar nos empresários a necessidade de inovar e nos demais atores a necessidade de colaboração e co-criação com
os principais elos da cadeia. Plonski já sugeriu que os conceitos da “necessidade
vital de dinamizar a relação entre os atores” e “o reconhecimento da dificuldade
de estabelecer inter-relações horizontais” (PLONSKI, 1995, p.36) que eram presentes na década de 1970, ainda eram presentes em 1995 e ouso dizer que estão
presentes ainda na atualidade, embora um pouco atenuados.
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56
INOVAÇÃO NO AGRONEGÓCIO: CASO
DO PROJETO TECNOPARQUE FAZENDA
EXPERIMENTAL GRALHA AZUL DA PUCPR
3
Paulo Parreira
O papel da inovação ou de atitudes inovadoras para o desenvolvimento
de empresas e instituições tem sido cada vez mais discutido e vem despertando cada vez mais interesse dos diferentes atores do processo. Nas
Universidades isto não é diferente, na verdade é vital que este processo
aconteça, pois é através da inovação ou da busca por ela, que recursos
são captados e gerados para o desenvolvimento contínuo de pesquisas
básicas e aplicadas.
Ao mesmo tempo, estamos em um país em que o Agronegócio representa
boa parte das riquezas geradas, e com papel importante no desenvolvimento socioeconômico da nação. Este setor é igualmente ávido e dependente de pesquisas que gerem novos produtos e processos, ampliando a
sua competitividade.
Por que não articular estes dois lados, buscando com isto viabilizar a geração de recursos e de novas tecnologias? O presente capítulo traz uma
breve luz sobre este assunto, colocando o projeto do Tecnoparque Fazenda Experimental Gralha Azul como um possível cenário de interação
produtiva e criativa entre a PUCPR e empresas do Agronegócio.
Inovação e o agronegócio
Nas décadas mais recentes, governos têm considerado a inovação como
fator chave para seu desenvolvimento socioeconômico, através da geração de empregos qualificados para a população e divisas para o país
pelo aumento da competitividade industrial. Alguns países têm obtido
melhores resultados através do reforço e ampliação de políticas científicas, tecnológicas e de inovação que realçam a mobilização dos processos
de aquisição e uso de conhecimentos e de capacitações inovadoras como
parte integrante e fundamental de suas estratégias de desenvolvimento
(OECD, 2010).
O agronegócio e o setor agroindustrial brasileiro responderam nos últimos anos em média a 30% do PIB, mostrando a grande importância do
segmento para a economia nacional e mundial. O enfoque econômico é
uma das principais formas de avaliarmos a importância e papel dos diferentes setores produtivos de um país.
Segundo a PwC Agribusiness Research & Knowledge Center (2012), o
agronegócio não refere-se somente à produção agropecuária. Ele é constituído por uma rede de elementos que direcionam a sua produção, como
mostra a Figura 1.
58
Figura 1: Rede de Interação do Agribusiness
Fonte: PwC Agribusiness Research & Knowledge Center (2012).
A inovação e o continuo processo de pesquisa para o desenvolvimento
de produtos e serviços, são as bases para o crescimento sustentável das
empresas. Conhecer as características e as condições gerais do processo
de inovação é essencial para o desenho e formulação de um projeto baseado em inovação. Edquist (2010) descreve uma série de determinantes
tidos como pré-condições para a criação de ambiente favorável para o
processo de inovação. Dentre estes determinantes, ele denomina como
condições estruturais domésticas as instituições, organizações, infraestrutura, políticas e programas. Além da qualidade do capital humano e social
disponíveis, podem ser elencadas algumas outras atividades de inovação a
serem consideradas na formulação de projetos:
a)Intensidade em geração de inputs de conhecimento (por meio de atividades de pesquisa e desenvolvimento [P&D], qualificação, formação e
aprendizado);
b)Atenção especial ao aspecto da demanda nos mercados, relativa à qualidade dos produtos e às preferências crescentemente mais complexas e
exigentes dos consumidores;
c)Fortalecimento de redes de produção e conhecimento, com interação entre os vértices do triângulo que compõe o sistema de inovação (governos,
universidades e empresas);
d)Capacidade de organização, investimento, iniciativa e risco empresarial
(“entrepreneurship”);
e)Existência de uma rede de serviços ágil e eficiente (inclusive com infraestrutura física adequada);
59
f) Existência de programas de financiamento, consultoria, apoio empresarial, incubação de empresas e compartilhamento de riscos; e
g)Criação e adaptação de instituições para a inovação, de modo a suprimir barreiras, reduzir riscos e oferecer incentivos, de natureza fiscal e
para registro de propriedade intelectual. (EDQUIST, 2010)
As empresas que não inovam, seja em processo, em produtos ou serviços,
terão maiores dificuldades de se manter no cenário atual da economia global. No agronegócio esta inovação impacta diretamente no aumento de
produtividade de alimentos e insumos, fundamentais para o crescimento
sustentável da população humana.
O agronegócio brasileiro tem uma importância fundamental na balança
comercial, sendo responsável por grande parte das divisas produzidas no
país (Figura 2).
Figura 2: Balança Comercial do Agronegócio Brasileiro (US$ bilhões)
Fonte: MAPA, MDIC / SECEX (2011). Adaptado por
PwC Agribusiness Research & Knowledge Center (2012).
Segundo Bellaver (2005), dos R$ 1,514 trilhões do PIB brasileiro em 2004, R$
508 bilhões (33,5%) são relativos ao agronegócio. A pecuária respondendo
por 29,1% (R$ 148 bilhões) e a agricultura por 70,9% (R$ 360 bilhões).
Já em 2010, o agronegócio representou 22,3% do PIB brasileiro, com um
total de R$ 821 bilhões. É o principal responsável pelo superávit da balan-
60
ça comercial brasileira, representando 37% do valor total de exportações
do país (Figura 3).
Figura 3: Participação do PIB do Agronegócio no PIB brasileiro
Fonte: CEPEA, MDIC/SECEX (2011). Adaptado por
PwC Agribusiness Research & Knowledge Center (2012).
Por conta da velocidade de transformação e de difusão do conhecimento, as
Instituições de Ciência e Tecnologia (ICTs) do agronegócio devem estar atentas aos seus objetivos para serem capazes de participar dos muitos aspectos
do agronegócio, deixando de ser em muitos casos, quase que exclusivas para
ações dentro da porteira, para atuarem em toda a cadeia produtiva. Devem
ainda estar atentas às mudanças que as leis de inovação permitem com seus
múltiplos incentivos e possibilidades (BELLAVER, 2005).
O acesso à tecnologia e a novos métodos de produção e desenvolvimento podem levar as micro e pequenas empresas a um novo patamar, criando novas
oportunidade de negócio e garantindo a sustentabilidade dos seus negócios
(BELLAVER, 2005).
Segundo Bellaver (2005), as empresas devem levar em consideração que desejar ganharem sozinhas em um ambiente competitivo é a contramão das
alianças estratégicas. É fundamental garantir e permitir que os ganhos e avanços tecnológicos sejam divididos entre todos os parceiros do processo. Isto
faz com que todos ganhem com melhoria na rotina tradicional da inovação.
Outro aspecto que favorece as alianças, é que o custo para Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) costuma ser muito alto para ser assumido sozinho.
Ainda segundo Bellaver (2005), pode ser inviável estruturar um centro de
P&D, dependendo do porte da empresa, por isso, a parceria se posiciona
como possibilidade mais factível e menos onerosa. As Universidades e Institutos de Ciência e Tecnologia (ICTs) ainda detêm a maioria significativa
dos recursos humanos científicos do país e demoraria muito até que todas
as empresas pudessem ter departamentos de P&D bem montados e com
infraestrutura necessária.
61
Segundo Schumpeter (1982), o desenvolvimento econômico decorreria das
inovações pelos donos do capital. Essas inovações podem tratar-se tanto da
criação de novos produtos quanto da introdução de novos métodos de produção, da abertura de um novo mercado, da conquista de uma nova fonte de
matérias-primas, ou ainda da criação de uma nova forma de organização do
setor (RODRIGUES; MARIETTO, 2012).
Na agricultura, a necessidade de inovação para o desenvolvimento econômico da mesma resultou na mudança do modelo importador de tecnologias
primárias que, há cerca de três décadas, era voltado à massificação do emprego de tecnologias geradas em condições totalmente diferentes para um modelo mais adequado às necessidades locais, o que provocou uma excepcional
evolução na pesquisa agrícola, pecuária e florestal brasileira (RODRIGUES;
MARIETTO, 2012).
Segundo Rodrigues e Marietto (2012), outro ponto fundamental é que existe agora uma pressão econômica, social e institucional sobre o agronegócio
oriunda de várias direções. Há sobremaneira, uma pressão em busca da eficiência e da eficácia dos sistemas produtivos, visto que a população mundial
cresceu cerca de 6,8 vezes nos últimos 100 anos, aumentando significativamente a pressão pela produção de alimentos (Figura 4).
Segundo as estimativas da ONU, no dia 31/10/2011 a população mundial
chegou a sete bilhões de pessoas (PwC, 2012), o que colocará cada vez mais
pressão sobre a sustentabilidade econômica e ambiental deste sistema.
Figura 4: Evolução do Crescimento Populacional Mundial)
Fonte: PNUD (2011) e ONU (2011). Adaptado por
PwC Agribusiness R. & Knowledge Center.
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Tendo em vista o que é sustentável, Hardi e Zdan (1997) salientam que existem diversas razões para avaliar o progresso em direção à sustentabilidade,
desde a criação de um comprometimento em relação ao uso de recursos
naturais até o compromisso de um governo mais eficiente no que se refere à
relação sociedade e meio ambiente.
O esforço que a comunidade internacional está desenvolvendo para alterar o
rumo atual da degradação ambiental e as consequências sociais, através das
conferências de cúpula da ONU serve para balizar as ações humanas no espaço de suas comunidades. As discussões tornam-se cada vez mais frequentes
e abrangem várias temáticas como: as riquezas naturais; a poluição do ar, da
água e do solo; o efeito estufa decorrente da agressão à camada de ozônio; o
espaço urbano; o destino das florestas tropicais; a modernização agrícola; o
crescimento da população; a biodiversidade; e a qualidade de vida e organização política (Brüseke, 1995).
As políticas públicas voltadas ao desenvolvimento têm hoje, obrigatoriamente, que falar em sustentabilidade, ou se compromissar com ela. Desenvolvimento em bases sustentáveis deve ser concebido no sentido de fazer com que
o processo de tomada de decisão seja informado não apenas pelos valores
econômicos e técnicos, mas também incorporando valores sociais, ambientais, políticos e institucionais.
A análise SWOT do agronegócio brasileiro (PwC, 2012), reforça os principais
pontos que justificam a necessidade de abordar o setor como um dos importantes indutores de crescimento e desenvolvimento sustentável no país (Quadro 1).
Quadro 1 - Análise SWOT do Agronegócio Brasileiro
Strengths (Forças)
Weaknesses (Fraquezas)
O Agronegócio é responsável por
22% do PIB e 37% das exportações,
contribuindo assim para o superávit da
balança comercial.
Líder mundial na produção de várias
commodities.
Agricultura diversificada (alta produtividade).
Área disponível para expansão.
Disponibilidade de água, diversidade
climática e luz solar.
Produção realizada com baixo nível de
subsídios.
Suporte de instituições de P&D públicas e privadas.
Segurança jurídica para direitos de propriedade intelectual (marcas e patentes).
Solos pobres; necessidade de altos
investimentos em fertilizantes.
Dependência de insumos importados.
Produtores com dificuldade de acesso a
financiamentos e seguros.
Baixa capacidade de estocagem nas
fazendas.
Risco de violação dos direitos de
propriedade da terra por movimentos
sem-terra.
Infraestrutura precária para o transporte.
Ineficiência na utilização dos modais
logísticos – Priorização do uso de
rodovias.
Falta de mão de obra qualificada e consequente encarecimento da mesma.
63
Opportunities (Oportunidades)
Threats (Ameaças)
Potencial de crescimento do mercado
interno.
Utilização de alta tecnologia nas
principais culturas (soja, milho, café,
cana-de-açúcar, laranja).
Adoção de melhores práticas agrícolas
(ex. plantio direto, integração de sistemas, etc.) para aumentar a eficiência de
produção.
Presença de multinacionais investindo
no Brasil em diferentes elos da cadeia
de valor do agribusiness.
Crescimento nas vendas de veículos
flex-fuel.
Novas tecnologias para o uso de biocombustíveis: diesel de cana, bioquerosene, etanol de 2º geração.
O Agribusiness não é uma prioridade
política.
Falta de políticas públicas direcionadas
à toda cadeia de valor.
Estrutura tributária complexa e ineficiente.
Alta burocracia.
Taxa de câmbio volátil.
Altas taxas de juros que encarecem os
financiamentoas.
Barreiras não-tarifárias no comércio
internacional.
Leis ambientais sob revisão.
Restrição da compra de terras por
estrangeiros.
Divergência entre agribusiness e agricultura familiar.
Exigência de certificados de sustentabilidade
Fonte: PwC Agribusiness Research & Knowledge Center,
2012 – adaptado pelo autor.
Esta análise em conjunto com os dados apresentados reforça a ideia de que
a busca pela inovação e pelo desenvolvimento sustentável das empresas do
agronegócio brasileiro é um processo continuo e fundamental. E a participação das Universidades, enquanto promotoras e catalisadoras da geração e
da difusão do conhecimento, torna-se um ativo indispensável para suportar o
desenvolvimento deste importante setor da economia brasileira.
Inovar é preciso, mas onde inovar?
durante as últimas décadas, mudanças econômicas e sociais contribuíram para
uma rápida urbanização, surgimento da economia do conhecimento, desenvolvimento da sociedade em rede, uso intensivo das tecnologias da informação e
comunicação, novas formas de produção, divisão global da força de trabalho,
tecnologias de transporte entre outros. O conjunto destes fatores conduziu a
uma gradual diminuição da participação das grandes plantas industriais para
gerar empregos e riqueza nos centros urbanos, e a produção de conhecimento
e de inovações assume o papel como novos recursos propulsores desta economia. Cidades transformam-se dentro de um contexto de competição global
para atrair e reter investimentos transnacionais com o intuito de fomentar o
desenvolvimento em seus territórios (YIGITCANLAR, 2011).
Esta economia fundamentada no conhecimento e criatividade tem se desenvolvido melhor em algumas regiões, considerando certas condições sociais,
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culturais e institucionais de seu território. As cidades que não conseguem
gerar ambientes com tolerância, diversidade e agitação cultural entram em
declínio econômico, muitas vezes por causa do excesso de rigor social, regulamentação e burocracia de suas instituições e organizações (KRAMA; SPINOSA; SILVA, 2012).
As metrópoles são o lócus desta diversidade e agitação – da economia à ideologia, passando pela religião e cultura. Para isto as metrópoles necessitam
do chamado capital territorial composto dentre outros da beleza natural, possibilidades de compras, atrações culturais, edifícios, museus e monumentos
assim como da cultura, tradições, festas e eventos, configurações de laços
sociais, cívicos e de lealdade, memória e capacidade de aprendizagem, esta
essencial para a produção de inovações (KRAMA; SPINOSA; SILVA, 2012).
Neste contexto econômico Yigitcanlar (2009) coloca que o objetivo do desenvolvimento urbano baseado em conhecimento é conseguir um desenvolvimento sustentável através da criação de um forte núcleo urbano, aproveitando a sua força econômica, combatendo a exclusão social e evitando a
degradação física.
Por desenvolvimento urbano sustentável baseado em conhecimento (Knowledge Based Urban Development – KBUD), segundo Yigitcanlar (2011),
entende-se uma nova forma, abordagem ou paradigma de desenvolvimento
na era do conhecimento que tem como objetivo produzir uma cidade intencionalmente projetada para promover e capacitar à produção de trabalho
intelectual – uma cidade do conhecimento. O termo refere-se ao intercâmbio
de conhecimentos urbanos, sobre o papel das tecnologias de informação e
comunicação (TIC), conhecimento das infraestruturas no desenvolvimento
das cidades, a maneira em que novas formas de conhecimento, a partir de
múltiplas partes interessadas, são incorporadas na tomada de decisões sobre
os locais urbanos, ou o papel das indústrias criativas e serviços intensivos em
conhecimento dentro da esfera urbana (YIGITCANLAR, 2009).
Para Yigitcanlar (2010), o KBUD ultrapassa muitas áreas da política econômica, social e urbana, e propõem várias melhorias incluindo níveis mais altos
de sucesso econômico e intensidade de conhecimento, diversificação industrial, fortes instituições acadêmicas, excelente infraestrutura de comunicação
e transporte e diferenciadas estratégias para investidores e indivíduos para
negócios. .Num primeiro momento, o KBUD é uma estratégia de desenvolvimento econômico que transforma conhecimento técnico para a inovação
de produtos e serviços, incluindo serviços urbanos, conhecimento de mercado para compreensão das mudanças na economia, conhecimento financeiro
para avaliar as entradas e saídas da produção e desenvolvimento de processos,
e conhecimento humano na forma de habilidades e criatividade, dentro de
um modelo econômico (Yigitcanlar, 2010).
Sendo assim, a existência de iniciativas que favoreçam este desenvolvimento
através da aproximação em um mesmo local dos diversos atores envolvidos
65
(empresas, governo, ICTs e Universidades) é sempre bem vinda. Nesta ótica,
a Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR, dentro da sua visão
de excelência, entendeu que possuir um local onde esta sinergia possa ocorrer, é fundamental. Sendo assim, a transformação da Fazenda Experimental
Gralha Azul em um Tecnoparque para empresas do agronegócio, passa a ser
um projeto interessante e com grandes chances de sucesso.
Fazenda experimental gralha azul
No início dos anos 90 a antiga Sociedade Paranaense de Cultura – SPC, atual
Associação Paranaense de Cultura - APC, Mantenedora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná - PUCPR, visando ampliar as áreas de conhecimento da universidade, com a oferta de novos cursos na área das Ciências Agrárias, iniciou o projeto da Fazenda Experimental Gralha Azul. Em outubro de
1992 a PUCPR adquiriu uma área de terras com 555,4 ha no município de
Fazenda Rio Grande e denominando-a de Fazenda Modelo.
No ano de 1993 foram contratadas consultorias visando elaborar o “Levantamento do Quadro Natural da Fazenda”, instrumento que daria suporte técnico
no planejamento de todas as atividades que viriam ocorrer posteriormente.
Em 1994, por ocasião da criação dos cursos na área das Ciências Agrárias, foi
adquirida uma nova área de 59,2 ha, totalizando 614,6 ha. Nessa mesma época inicio-se a implantação das unidades de Fruticultura, Pastagens, Lavouras
Anuais, Suinocultura, Bovinocultura de Leite, Garagem de máquinas e recuperação da antiga sede da Fazenda. No ano de 1995 tiveram inicio as aulas
no Centro de Ciências Agrárias e Ambientais e também foram ampliadas as
áreas de Lavouras, expandida a Garagem de máquinas e adquiridos novos
equipamentos para as unidades.
A construção da estrada principal da Fazenda iniciou-se em agosto de 1996.
Essa via de acesso foi de fundamental importância para o desenvolvimento da propriedade, porque integrou definitivamente as unidades produtivas
até então implantadas com a sede do município de Fazenda Rio Grande.
Ao longo dela surgiram os projetos de cunicultura, avicultura de postura e
a usina extratora de óleo essencial. A estrada principal também foi utilizada
para implantar redes de água e energia elétrica. Naquele ano também foram
incorporadas mais áreas adquiridas, atingindo um total de 670,9 ha, além do
início do funcionamento da piscicultura.
No ano de 1996, a Fazenda Modelo foi desmembrada da SPC e transformada
na Filial 5, cuja denominação à partir de 27 de dezembro de 1996 passou a
ser: Fazenda Experimental Gralha Azul.
No ano de 1997 novas áreas foram incorporadas e foram finalizadas as unidades da avicultura de corte, avicultura de postura e da cunicultura. Em dezembro daquele ano a Fazenda contava com 850 ha. A Fazenda foi oficialmente
66
inaugurada em dois de março de 1998 e naquela ocasião o Setor Acadêmico
foi entregue à comunidade.
Em 1999 houve um grande incremento na área construída da Fazenda, pela
conclusão das obras da Bovinocultura de Leite, Ovinocultura e o Hospital
Veterinário. Também foram adquiridas novas áreas, que somadas às já existentes, totalizam seus atuais 876,7 ha.
A estação climatológica foi instalada em 2000, sendo que em abril daquele
ano, teve inicio a coleta de dados climatológicos. As instalações da suinocultura deram lugar em 2000 ao início do criatório de animais silvestres, cujas
obras finalizaram em setembro de 2001. Naquele ano foram ainda inauguradas as unidades de secagem e armazenamento de grãos e a nova garagem de
máquinas/administração.
Houve mudança da denominação da FEGA em 2002, passado a ser chamada
de APC Fazenda Experimental Gralha Azul. Em 2004 teve início o funcionamento da Unidade Experimental de Óleos Essenciais e da Floricultura.
Em 2005 foi concluída a primeira etapa da construção do Packing House,
unidade que dá apoio à Fruticultura, Floricultura, Olericultura e Atividades
Acadêmicas. Na unidade, além de câmara fria, também há espaço para ferramentas e insumos e área para recepção e classificação de frutas.
No final de 2008 a FEGA, a pedido da Prefeitura de Fazenda Rio Grande,
vendeu uma das suas áreas, visando ampliação do Distrito Industrial do Município. Desde então a área da FEGA passou a 858,9 ha.
Dentro das diversas ações que a PUCPR vem implantando visando atingir o
proposto em seu Planejamento Estratégico Institucional, a FEGA passou por
mudanças importantes de ordem operacional. Atualmente a gestão da Unidade passou para a responsabilidade da Academia, representada pela Escola de
Ciências Agrárias e Medicina Veterinária (ECAMV), alterando o viés produtivo
e acadêmico para o viés de pesquisa, extensão e ensino. Esta mudança possibilita maior autonomia na tomada de decisão e na captação e formalização de
parcerias, que serão fundamentais para a sustentabilidade econômica do local.
Objetivos
A proposta de implantação do Tecnoparque da Fazenda Experimental Gralha Azul (FEGA) ocorre mais de dez anos após a apresentação do projeto
“Global Farm Plan” elaborado pelos professores Steven Russell e John Brennan da Nova Scotia Agricultural College, do Canadá.
Nesse período foram implantados praticamente todos os projetos propostos.
Por outro lado, dadas as substanciais mudanças ocorridas na agropecuária
estadual e nacional, sentimos necessidade de atualizar a proposta. Associada
a essa evolução, a reformulação da estrutura da Associação Paranaense de
67
Cultura e da Pontifícia Universidade Católica do Paraná enfatizam a necessidade das adequações.
O objetivo atual geral da FEGA é a “Contextualização do ensino, da pesquisa
e da extensão em sintonia com os avanços tecnológicos das Ciências Agrárias
e Ambientais, consoantes com a missão institucional”. E os objetivos específicos do Tecnoparque FEGA serão:
• Atender como unidade/laboratório de aplicação prática ao processo formativo dos discentes da ECAMV e das outras Escolas da Instituição;
• Servir como base experimental para a realização de pesquisas no âmbito
das áreas de atuação da ECAMV;
• Proporcionar a inserção e a interação com a sociedade por meio de projetos de extensão e comunitários; e
• Proporcionar a inserção e a interação com empresas das mais diversas áreas, possibilitando o desenvolvimento de pesquisas e projetos de interesse
acadêmico e produtivo.
Esta proposta, além de alinhar a FEGA ao Planejamento Estratégico Institucional, atende as demandas Acadêmicas sem deixar de lado as demandas
Produtivas. Vale ressaltar que o objetivo principal de qualquer proposta de
uso racional da FEGA tem por objetivo tratar esta Unidade de forma integral
e não segmentada. Tanto o lado Acadêmico quanto o Administrativo/Produtivo devem estar em perfeita sintonia para que qualquer um dos objetivos
traçados possa ser alcançado.
Considerações finais
Para atingir um patamar de maturidade, todo projeto deve ser exaustivamente
discutido e monitorado. Com o Tecnoparque FEGA não será diferente, principalmente por se tratar de uma proposta ainda não totalmente estruturada e
institucionalmente aprovada.
Existe a necessidade de se implantar uma proposta inovadora e com grandes perspectivas como esta, com grande demanda reprimida por parte das
empresas do agronegócio para o desenvolvimento de novos produtos e de
pesquisa de base e aplicada.
A PUCPR tem a possibilidade de assumir papel de protagonista neste cenário, tendo a FEGA como polo de desenvolvimento de pesquisas e prestação
de serviços, tendo como base principal a atuação dos professores e pesquisadores da Escola de Ciências Agrárias e Medicina Veterinária.
Um longo caminho deverá ser percorrido antes do Tecnoparque FEGA se
tornar uma realidade produtiva e sustentável, porém com grandes perspectivas de sucesso por conta da necessidade de contínuo desenvolvimento do
Agronegócio Brasileiro e mundial.
68
Referências
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EDQUIST, C. Livro Azul: Consolidação das recomendações da IV Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação. Painel “Diplomacia da
Inovação”. Brasília, 2010.
HARDI, P.; ZDAN, T. Assessing Sustainable Development: Principles in
Practice, IISD, 1997.
KRAMA, M.; SPINOSA, L. M.; SILVA, F. D. A. A Política de Inovação e
o Desenvolvimento Urbano Sustentável Baseado em Conhecimento: Aplicação em Habitats de Inovação. Habitats de inovação sustentáveis/parques
científicos, tecnológicos e desenvolvimento regional. XXII Seminário Nacional de Parques Tecnológicos e Incubadoras de Empresas e XX Workshop
Anprotec. Brasilia. 2012
OECD. The OECD Innovation Strategy: Getting a head start on tomorrow.
Paris. 2010.
PwC. Doing Agribusiness in Brazil: PwC Agribusiness Research & Knowledge Center. Disponível em < http://www.pwc.com.br/pt/estudos-pesquisas/
doing-agribusiness.jhtml>. Acesso: 27 set. 2012.
RODRIGUES, L.A; MARIETTO, M.L. Agronegócio: inovação e gestão
rumo à sustentabilidade. Disponível em http://www.revistasapere.inf.br/
download/terceira/AGRONEGOCIO.pdf>. Acesso: 25 set. 2012.
SCHUMPETER, J. A . Teoria do desenvolvimento econômico. São Paulo:
Abril Cultural, 1982.
YIGITCANLAR, T. Planning for knowledge-based development: global
perspectives, Journal of Knowledge Management, 13(5), 228-242. 2009
YIGITCANLAR, T., Comparing: knowledge-based urban development of
Vancouver, Melbourne, Manchester and Boston. In Building prosperous
knowledge cities: policies, plans and metrics. 2011.
69
70
APRENDER A EMPREENDER EM QUINZE
MINUTOS: O DESAFIO DA CONSTRUÇÃO
DESTE OBJETO DE APRENDIZAGEM
4
Dieval Guizelini
Sandramara Scandelari Kusano de Paula Soares
Silvia Teresa Sparano Reich
Com o objetivo de discutir perspectivas estratégicas para o desenvolvimento
do Estado, em 2005 foi realizado o Fórum Permanente Futuro 10 Paraná
pela Rede Paranaense de Comunicação, Federação das Indústrias do Estado
do Paraná (FIEP), Instituto de Promoção do Desenvolvimento (IPD) e outras entidades empresariais, além da participação das lideranças das federações e associações comerciais do Paraná.
Bem situada no contexto deste relato, uma das propostas de ação, no lançamento do Fórum Futuro 10 Paraná, chama a atenção. Na época, Rodrigo da
Rocha Loures, presidente da Federação das Indústrias do Paraná declarou:
“Temos que utilizar esses dados como plataforma para articular redes sociais
em prol do desenvolvimento do Estado, além de fortalecer o associativismo,
o empreendedorismo e a inovação”.
Ao passar dos anos o Fórum Futuro 10 Paraná foi agregando novas instituições e desenvolvendo projetos que visam apoiar o “Desenvolvimento
Sustentável do Paraná”. Em 2012 as universidades paranaenses passaram a
integrar o Fórum e iniciaram o desenvolvimento de projetos propostos e
coordenados pelo Fórum, focados no tema Inovação e Empreendedorismo.
Na Universidade Federal do Paraná (UFPR) ficou a cargo da Agência de Inovação da UFPR a função de representar a Universidade nas reuniões executivas do Fórum Futuro 10 Paraná e viabilizar a execução das metas propostas
pelo Fórum, dentro das condições e capacidades da UFPR. Sendo assim,
atendendo a demanda da Agência de Inovação da UFPR, em julho de 2014
a equipe do Núcleo de Educação a Distância (EaD) do Setor de Educação
Profissional e Tecnológica (SEPT/UFPR) tomou conhecimento da proposta
do Fórum sobre a criação de um banco de cursos sobre os diversos temas do
Empreendedorismo.
Os conteúdos de cada curso deveriam ser definidos em interlocução com
a proposta do Fórum Futuro 10 Paraná, buscando assegurar as seguintes
diretrizes:
• Um conjunto de pequenas palestras (de 5 a 10 minutos) online ministradas
por especialistas e empreendedores;
• Mini palestras ou cursos com formato padronizado, articulados com intervenção de um moderador;
• Linguagem e foco dos cursos orientados a um público alvo jovem, egresso
de cursos de graduação, pós-graduação, técnicos e profissionais em início
de carreira;
• Em cada curso, compondo os conteúdos, templates e ferramentas simples para serem disponibilizadas aos cursistas;
72
• Uma ficha de identificação dos participantes, para criação de uma comunidade ou fórum de discussão, para que ministrantes e cursistas possam
deixar suas mensagens e suas “dicas”; e
• Uma avaliação final, com impressão de um certificado “simbólico” digital.
O desafio
A equipe do Núcleo de EaD do SEPT, tendo em vista as diretrizes estabelecidas pelo Fórum Futuro 10 Paraná, reuniu-se para conceber, elaborar e
produzir um material didático sobre 2 (dois) temas do Empreendedorismo
Inovador e definiu que:
• Um professor da UFPR com conhecimento e experiência na área seria
convidado para indicar pelo menos dois temas e elaborar um texto base
sobre cada conteúdo;
• Os cursos teriam o formato semelhante a uma apresentação desenvolvida
no Microsoft PowerPoint, com 12 a 15 slides;
• A linguagem dos textos base seria a linguagem da EaD: dialógica, mediada
por textos curtos, imagens, áudios e vídeos;
• As intencionalidades do texto base deveriam contribuir para a construção
de uma aprendizagem significativa, mediante a contextualização, a reflexão, a introdução de conceitos e ideias novas, propiciando a análise crítica
e o desenvolvimento de postura investigativa;
• Uma atividade de avaliação da aprendizagem deveria ser proposta ao final
do curso;
• O material didático deveria ser disponibilizado em um ambiente virtual de
ensino e aprendizagem (AVEA), para proporcionar a interação e a interatividade; e
• Seria criada uma identidade visual e estrutural para o material didático,
associada às funcionalidades do próprio material e aos recursos do AVEA,
integrando aspectos técnicos, gráficos e pedagógicos.
O processo de autoria dos materiais didáticos dos cursos produzidos pela equipe do SEPT/UFPR ocorreu de forma compartilhada entre um professor especialista na área de conhecimento do empreendedorismo e duas especialistas
na área da EaD, que verificaram as possibilidades pedagógicas do material, para
tornar tangíveis as ideias do autor. A seguir, em autoria coletiva e compartilhada, os recursos didáticos foram moldados para a modalidade da EaD, por meio
da atuação de um profissional de produção de hipermídias, que juntamente
com uma equipe de produção de vídeo implementaram e potencializaram as
estratégias didáticas, utilizando diferentes recursos visuais e sonoros.
Desta forma, foi definido que os materiais didáticos produzidos pela equipe
do Núcleo de EaD do SEPT para os cursos do Fórum Futuro 10 Paraná
seriam Objetos de Aprendizagem (OAs) e, portanto, digitais, com recursos
de imagens, áudios, vídeos e links para textos multimídia da internet e seriam
veiculados pelo AVEA Moodle.
73
O planejamento
Segundo Torrezzan e Behar (2009 citadas por CAVELLUCI et al., 2013, p.
23) “... a integração de aspectos técnicos, gráficos e pedagógicos pode contribuir para a construção de uma aprendizagem significativa, por meio de
ambientes que motivem a interação e a interatividade, e que proporcionem a
adoção de uma postura crítica, investigativa e autônoma”.
Baseada nesta proposta de integração de aspectos técnicos, gráficos e pedagógicos, reuniu-se a equipe de EaD do SEPT para definir a concepção de
dois Objetos de Aprendizagem (OA), a partir de dois temas sugeridos pelo
professor conteudista: “A importância dos serviços no empreendedorismo
inovador” e “Capitalismo consciente.”
Do ponto de vista pedagógico, foi proposto ao professor conteudista a elaboração de um texto base para cada material, sob a forma de apresentação de
slides, em Microsoft PowerPoint.
É importante destacar que o texto base de um material didático de um
curso à distância deve ter conteúdo construído especialmente para o curso. Deve ser entendida a concepção de ensino-aprendizagem que norteia a
proposta, os recursos que se pretende incorporar ao material e a roteirização do estudo, em partes que encaminhem o leitor-cursista para a leitura de
outros documentos.
Assim, o texto base do material “A importância dos serviços no empreendedorismo inovador”, primeiro a ser produzido, deveria ser disponibilizado em
doze a quinze slides, cujo roteiro articulasse conteúdos a serem estudados,
roteirizados da seguinte forma:
• Apresentação do contexto onde as aprendizagens seriam importantes na
vida dos cursistas, ou seja, fazendo ponte entre estas aprendizagens e a
realidade dos cursistas;
• Momentos de reflexões, a partir dos quais os cursistas pudessem analisar a
sua pretensão e a sua realidade em contraponto às ideias ali descortinadas;
• Inserção de explanações em vídeo do professor e de outros profissionais
da área do empreendedorismo;
• Apresentação de exemplos de apropriação do conteúdo, tais como depoimentos de empreendedores e estudos de caso; e
• Disponibilização de hipertextos e referenciais bibliográficos.
Segundo Neder (2009), em EaD, o texto base deve estabelecer o diálogo entre o professor e os cursistas, além de propiciar a mediação da relação entre o
cursista e o conhecimento. Para isto, o professor conteudista não deve apenas
reproduzir no material didático as suas aulas presenciais, seja em texto disponibilizado na internet, áudio ou vídeo-aulas. O professor conteudista precisa
definir e orientar, no seu texto-base, as ações de aprendizagem.
74
Em cursos oferecidos em ambiente web, o texto base deve ser, na verdade, um hipertexto, ou seja, um material didático que tem suporte de
múltiplos recursos e linguagens de comunicação. O hipertexto configura-se na entrada de vários textos no percurso de estudo do cursista e ao
final do estudo, para além do material, levando o cursista-leitor para uma
atitude investigativa, de busca de mais conhecimento, mediante a pesquisa. No caso do material didático do curso “A importância dos serviços
no empreendedorismo inovador” construído para o Fórum Futuro 10,
a produção foi além da construção de textos e hipertextos, agregando
recursos de oralidade, ilustrações, vídeos, infográficos, entre outros. Para
dar conta de se obter uma aprendizagem significativa em tão pouco tempo de estudo – 15 minutos - os conceitos a serem desenvolvidos deveriam
ser os conceitos essenciais e os cenários apresentados nos slides seriam
os disparadores do estudo e da pesquisa a serem realizados pelo cursista,
movimento este, para fora do material didático.
Quanto aos aspectos técnicos e gráficos, foi levada para o planejamento
dos dois materiais didáticos a serem disponibilizados ao Fórum Futuro
10 Paraná toda a experiência acumulada pela equipe de EaD do SEPT
na oferta de cursos à distância que utilizam material didático multimídia.
Desde 2005, a equipe participa da produção e coordenação de cursos de
formação de professores da Universidade Aberta do Brasil (UAB/CAPES/MEC) tais como os cursos do programa “Mídias Integradas na Educação” e de cursos da Secretaria de Educação Básica (SEB/MEC), como
o “Curso de Qualificação em Tecnologia Digital – Aluno Integrado”. A
partir da identificação dos aspectos técnicos e gráficos dos materiais destes dois cursos e de como estes recursos podem propiciar a interação e a
interatividade, a equipe levou para a discussão com o professor conteudista a ideia de incluir nos slides:
•
•
•
•
Imagens e vídeos para reflexão sobre os temas,
Gráficos e figuras ilustrativas,
Links para textos e vídeos complementares,
Mediações do professor gravadas em vídeo.
Segundo Cavelucci et al (2013),
Na definição de Piaget (1974), a interação refere-se à relação
entre indivíduos, sendo entendida como um processo complexo de trocas e significações. Já a interatividade, de acordo
com Lemos (2002), refere-se à relação entre o indivíduo e a
máquina, no caso da interatividade digital, relacionando-se à
relação tecno-social que se efetiva por meio de interfaces. Por
isso, planejar estas relações requer uma aprofundada reflexão
a respeito da ação futura dos cursistas no decorrer de seu percurso pedagógico. (CAVELUCCI et al, 2013, p. 23)
75
Assim sintonizados, em breve período de tempo, a equipe recebeu do professor conteudista o material em Microsoft PowerPoint do curso “A importância dos serviços no empreendedorismo inovador”, em 13 slides.
A construção do objeto de aprendizagem “a importância do
serviço no empreendedorismo inovador”
Objetos de Aprendizagem (OAs) são recursos educacionais, em diversos formatos e linguagens, que têm por objetivo mediar e qualificar o processo de
ensino-aprendizagem.
A evolução tecnológica e metodológica dos OAs seguiu no rastro da iniciativa no Massachusetts Institute of Technology (MIT) que, em 1999, se
propôs a descobrir como a internet poderia ajudar a instituição em sua
missão e, em 2000, publicava na internet seus primeiros 50 cursos, sendo que atualmente disponibiliza mais de 2.150 cursos. Em um primeiro
momento os conteúdos e a tecnologia dos OAs buscavam reproduzir o
modelo da sala de aula tradicional, ou seja, apenas disponibilizar conteúdos
trabalhados em sala de aula. Depois, evoluiu para um modelo apoiado em
tutoria, fundamentado na interação entre os interessados em aprender, em
um processo de construção coletiva.
No contexto de intenções do Fórum Permanente Futuro 10 Paraná, tendo
como tema “Inovação e Empreendedorismo” a equipe de desenvolvimento
iniciou a construção do primeiro Objeto de Aprendizagem (OA): “A Importância do Serviço no Empreendedorismo Inovador”. Esse objeto tem a
característica de uma proposta inovadora experimental, de forma a permitir
ao cursista uma imersão no tema, com duração de aproximadamente quinze
minutos, que lhe possibilite compreender um contexto em que a inovação e
o empreendedorismo podem ser aplicados para agregar valor à prestação de
serviços. O objeto de aprendizagem é composto por 13 slides que integram
texto, imagens, vídeos e mediações do professor conteudista gravadas em
vídeo. Estes vídeos norteiam o estudo, remetem à reflexão, apresentam conceitos, servem de apoio e orientam a leitura de figuras e gráficos.
Uma amostra do processo de construção
Para demonstrar “o antes e o depois” do processo de elaboração do material
didático pela equipe de desenvolvimento, o QUADRO 1 apresenta na coluna
da esquerda, alguns slides entregues pelo professor conteudista, e na coluna
da direita, as respectivas interfaces (telas) construídas.
76
Quadro 1 - Comparativo entre Slides do Conteúdo e Respectivas Interfaces
Construídas
Slide 1
Tela 1
Slide 3
Tela 3
Fonte: os autores (2015).
Crescitelli e Campos (s.d. citados por Cavelluci et al, 2013, p. 15) chamam a
atenção para o fato de que o estabelecimento de uma relação pessoal entre
professor e cursista mediante uma conversação amigável facilita a compreensão
do conteúdo e torna o estudo mais prazeroso e estimulante. Assim, tal como
pode ser observado na Tela 1 (QUADRO 1), o professor conteudista procurou
dar as boas vindas ao curso e apresentar os conteúdos de forma coloquial, dirigindo-se aos cursistas como “você” e referindo-se a si mesmo como “eu”, tal
como recomenda Cavellluci (2009 ao citar Franco et al. (2003)).
Ainda segundo Crescitelli e Campos (s.d. citados por Cavelluci et al, 2013,
p. 15), dicas e sugestões auxiliam o cursista a se orientar sobre o que deve
ser feito ou evitado, em qual trecho ou ponto focar mais atenção, convites
para que ele questione, pense de modo diferente, compare diferentes argumentos e forme opinião, elementos estes de interação e interatividade, que
devem ser incorporados no material didático. Tais aspectos foram observados pelo professor conteudista na elaboração do seu material e dado ênfase
77
por parte da equipe na produção da Tela 3 (QUADRO 1), por exemplo,
onde um vídeo do professor comentando o gráfico foi inserido no canto
inferior direito da tela. Esta mesma estrutura (texto e vídeo combinados)
foi utilizada em outras interfaces do conteúdo.
Cavelluci et al (2013, p. 21), ao citarem Torrezan e Behar (2009) destacam
que o potencial da imagem junto à contextualização do conteúdo tem como
objetivo unir a teoria à prática e à realidade, porém de modo a instigar o
cursista a construir essa relação e não “fornecendo-a” gratuitamente, ou
seja, “[...] utilizar a imagem como uma linguagem que instiga a reflexão e
não simplesmente que comunica uma verdade.”
Para provocar a reflexão do cursista sobre “a importância dos serviços
para a sociedade”, a equipe da Agência de Comunicação do SEPT/UFPR
produziu o vídeo da Tela 5 (QUADRO 2), baseado nos termos indicados pelo autor no Slide 5 (QUADRO 2). A intencionalidade do vídeo ao
substituir textos (“manutenção de estradas”, “transporte público”, “água
potável”, “supermercados”) por imagens, é de levar o cursista a refletir
sobre a importância dos serviços.
Quadro 2 – Comparativo entre Slide do Conteúdo com Textos e Respectiva
Interface Desenvolvida Utilizando Vídeo
Slide 5
Tela 5
Fonte: os autores (2015).
Um material didático contextualizado é aquele que enfatiza a reflexão, o desenvolvimento da autonomia e a construção do conhecimento. Na EaD, deve
criar oportunidades de extrapolação, levando o leitor a pesquisar além do texto base, não se limitando a textos informativos simples e corridos (GATTI,
2005). Desta forma, o material didático da EaD é aquele que viabiliza a interação entre os participantes. Deve possibilitar o desdobramento através de
links, textos de apoio, glossário, entre outros. (MORAN, 2005). Nas propostas de múltiplas interações, o material didático deve ser pensado e produzido
para estimular no leitor a busca de informação além das fronteiras do Curso,
com ajudas intratextuais1 e/ou extratextuais2.
78
Assim, na tela 11 (QUADRO 3) o autor convida o cursista a se aprofundar
nos conceitos abordados, ao indicar o link de um trecho de palestra disponível na Internet relacionado ao assunto em questão. Da mesma forma, na tela
12 (QUADRO 3) há indicações de artigos científicos, reportagens de revistas,
blogs e sites disponíveis na Internet.
Quadro 3 – Interfaces com recursos diversos para estimular o cursista no
aprofundamento dos conteúdos apresentados
Slide 11
Tela 12
Fonte: os autores (2015).
Identidade Visual
Para o desenvolvimento de um bom texto para EaD, Salgado (2005) ressalta
a importância da utilização de recursos gráficos, como cores, tipografia e
ícones, com o objetivo de propiciar a interatividade do leitor com o texto
impresso, chamando a atenção para pontos-chave.
Segundo Cavellucci et al. (2013, p.7),
[...] é necessário garantir uma identidade visual e estrutural
para os materiais, de modo que o cursista sinta-se seguro ao
longo da formação, ao lidar com elementos já conhecidos. A
identificação de padrões associados à funcionalidade dos re-
1
Fiorentini (2005) destaca que um dos procedimentos para o autor promover a aprendizagem é
a inclusão de ajudas intratextuais como: questões de reflexão; apresentação de experiências e conhecimentos prévios; proposição de atividades concretas; visão panorâmica do material; indicação
da estrutura dos conhecimentos abordados; indicação de outros materiais; destaque da informação
relevante; e estimulo ao uso do que está sendo aprendido na prática profissional ou pedagógica.
Na construção do material didático podem ser utilizadas ajudas extratextuais como: capa contextualizada; fontes tipográficas variadas e sinalização gráfica para destaques; organização da página em
uma coluna; numeração de títulos e esquemas; inclusão de organizadores prévios como esquemas,
sumários, mapas conceituais, gráficos e quadros; uso de diagramas, tabelas, ilustrações, ícones; margens externas maiores para o aluno realizar as suas observações (FIORENTINI, 2005).
2
79
cursos didáticos contribui para a aprendizagem, [...] (CAVELLUCCI et al., 2013, p.7)
Ainda segundo Torrezzan e Behar (2009, citados por Cavellucci et al., 2013, p.23),
Considerando a importância da interatividade, outro elemento a ser ressaltado durante a criação e desenvolvimento de
um objeto de aprendizagem é a navegação, que se relaciona
com a trajetória que o cursista faz durante a interação com o
material digital. Neste sentido, quanto mais facilmente o cursista compreender a lógica de navegação, o funcionamento e
a relação entre links e hipertextos, mais liberdade e confiança
terá. (TORREZZAN; BEHAR, 2009).
A Interface com o Usuário (IU) é a parte do sistema informatizado visível
para o ser humano, o qual interage com o programa computacional através
de elementos como botões, ícones, janelas, entre outros (OLIVEIRA NETTO, 2010). É um sistema de comunicação composto de software e hardware
que atuam simultaneamente para possibilitar e descomplicar a comunicação
e interação entre usuário (cursista) e a aplicação (objeto de aprendizagem).
De acordo com Leite (1998), a IU possui dois objetivos fundamentais:
a)Determinar como o usuário pode interagir com o sistema, desenvolvendo
uma interface de acordo com o modelo conhecido pelo usuário no seu
cotidiano;
b)Mostrar para o usuário o que ele pode fazer, isto é, quais as funções da
aplicação o sistema oferece, e quais os comandos de funções e mensagens
auxiliares que compõem o modelo de interação.
Seguindo estas recomendações, a equipe de desenvolvimento procurou manter alguns padrões nas telas do OA “A importância dos serviços no Empreendedorismo Inovador”, como por exemplo:
• A identificação do Curso, na parte superior da tela e a logo do Fórum
Futuro 10 na parte inferior;
• O vídeo do professor conteudista na parte inferior direita das telas;
• Controle da imagem e do som, expansão do vídeo e retorno ao tamanho
original; e
• Avanço e retorno nas telas.
O funcionamento dos dois últimos recursos citados é orientado tão logo o
cursista acessa o material, no ambiente virtual de aprendizagem, conforme
FIGURA 1.
80
Figura 1: Recursos para Conferir Identidade Visual
Fonte: os autores (2015).
Assim organizado, de forma a permitir que o leitor vá percebendo o desenvolvimento das ideias e assimilando os conhecimentos em pequenas dosagens, com uma conveniente divisão e subdivisão de cada tópico, o material
didático garante a incorporação gradual do conteúdo pelo leitor.
Aspectos Tecnológicos
Quanto aos aspectos tecnológicos utilizados no desenvolvimento do Objeto
de Aprendizagem “A importância dos serviços no Empreendedorismo Inovador”, foram codificados segundo o padrão SCORM (do inglês Sharable
Content Object Reference Model), que é um conjunto unificado de padrões
para conteúdo, tecnologias e serviços para e-learning. Esse padrão facilita a
integração e a disponibilidade dos Objetos de Aprendizagem em diferentes
Sistemas de Gerenciamento de Conteúdo e Ambientes de e-learning.
Ainda dentro das diretrizes propostas pela equipe gestora do Fórum Permanente Futuro 10 Paraná, o conteúdo deveria estar desassociado de uma plataforma ou ambiente de aprendizado específica, facilitando a disponibilização
ou o compartilhamento desses conteúdos por diferentes meios. Nesse sentido, a equipe de EaD do SEPT confirmou a utilização da tecnologia SCORM,
já que os objetos de aprendizagem modelados nessa tecnologia podem facilmente ser compartilhados entre diferentes ambientes de gestão de conteúdo
e aprendizado, tais como MOODLE, por exemplo.
Tendo como opções para a reescrita dos slides o formato HTML e a tecnologia Flash, a equipe de EaD do SEPT optou pelo formato HTML. A escolha
do formato HTML deu-se em função da experiência, da equipe no uso da
tecnologia Flash em OA. A tecnologia Flash pode apresentar incompatibi-
81
lidade entre as plataformas, restringindo o acesso à plataforma por alguns
grupos de interessados que utilizam tablets, smartphones ou computadores
com sistemas operacionais da Apple©. Além disso, os volumes de dados dos
objetos desenvolvidos em Flash são de duas a três vezes maiores que a versão
em HTML. Proporcionalmente, o mesmo recurso de hardware disponível
nos servidores que hospedam esses objetos pode atender um público maior.
Finalmente, para melhor integração e aumento da interatividade do conteúdo, buscou-se utilizar a tecnologia JavaScript, em função de a mesma estar
prevista e ser requisito para o padrão SCORM. A integração do JavaScript
com HTML viabilizou o sincronismo dos vídeos com os demais objetos que
compõe os diferentes cenários.
O ambiente virtual de aprendizagem (avea) moodle
Mundialmente conhecido, o Modular Object-Oriented Dynamic Learning
Environment (MOODLE) é um software livre que permite a criação de
cursos online, páginas de disciplinas, grupos de trabalho e comunidades de
aprendizagem (MOODLE, 2015).
A plataforma Moodle vem sendo utilizada não só em cursos virtuais e como
apoio a cursos presenciais, mas também para treinamento profissional, desenvolvimento de projetos e formação de grupos de estudo.
Os pontos fortes do Moodle, quando utilizado para fins educacionais, são a
facilidade na produção e distribuição de conteúdos, a facilidade de gestão, o
controle de acessos, a possibilidade da avaliação da aprendizagem dos cursistas com atribuição de notas, entre outros.
Os recursos disponíveis no Moodle possibilitam a interação entre o professor
e os cursistas mediante ferramentas que promovem o apoio ao ensino e à
aprendizagem, a comunicação e a disponibilização de conteúdos.
Foram estes recursos acima citados que confirmaram a opção pelo Moodle
para abrigar os conteúdos dos cursos do Fórum Futuro 10 e mediar a aprendizagem dos mesmos. No espaço de cada uma de três principais instâncias de
ação do Moodle foram inseridas as ferramentas dos cursos:
• Na instância apoio o objeto de aprendizagem integrado ao ambiente Moodle possibilita o registro do acompanhamento dos cursistas ao longo do
desenvolvimento de seu estudo, possibilitando à equipe de gestão identificar eventuais pontos de descontinuidade ou de desmotivação;
• Na instância comunicação o ambiente foi preparado para ofertar um fórum específico para os cursistas de cada objeto de aprendizagem; esse
fórum possibilita a troca de informações entre os cursistas e destes com o
professor conteudista, bem como, com a equipe gestora e, visa identificar
experimentos de inovação e empreendedorismo emanados dos cursistas; e
82
• Na instância conteúdo são inseridos os objetos de aprendizagem que compõem o acervo do programa de cursos e um formulário com dez questões
a serem respondidas pelo cursista, para auto-avaliação da sua aprendizagem e que também servirá para expedição de uma declaração de participação e de aproveitamento.
Justificando a opção pela disponibilização dos cursos do Fórum Futuro 10
em um ambiente virtual de aprendizagem e não simplesmente em um site,
destacam-se as características do Moodle de propiciar a administração, a
orientação e o desenvolvimento de atividades de aprendizagem. As ferramentas de apoio, comunicação e disponibilização de conteúdos dão suporte
às ações de aprendizagem, na medida em que propiciam o registro das interações dos cursistas, os possíveis percursos, o desenvolvimento da autonomia e
o próprio processo de avaliação.
Considerações finais e perspectivas
O segundo OA construído pela equipe de EaD do SEPT para o elenco de
cursos do Fórum Futuro 10 teve como tema “Capitalismo consciente”. Nesta oportunidade, houve mais tempo para discussão com o professor conteudista e para organização de um “passo-a-passo” para a construção deste
segundo objeto de aprendizagem. Este “passo-a-passo” já se constituiu em
estratégia importante para organizar e facilitar o trabalho dos especialistas em
EaD e da equipe de produção de hipermídias e de vídeo, tendo como ponto
de partida as intencionalidades do texto base criado pelos autores.
A partir do desafio lançado pela Agência de Inovação da UFPR, a equipe do
Núcleo de EaD do SEPT já está envolvida na composição de uma equipe
com mais profissionais, na estruturação de estúdio próprio para gravação e
produção de vídeos, no estudo de softwares e ferramentas do Moodle para
melhorar os processos de produção e mediação dos materiais, entre outras
providências. Será interessante que, em trabalhos futuros, haja interação do
professor conteudista com os profissionais de produção de hipermídias e de
vídeos, desde o início da construção do texto base. Assim, o potencial interativo dos diversos suportes digitais poderá ser melhor aproveitado no próprio
processo de elaboração e desenvolvimento dos materiais. Outra intenção é
também integrar na construção destes objetos de aprendizagem, profissionais de diversas áreas técnicas, para trazer ao trabalho maior número e mais
diversas possibilidades pedagógicas e diferentes linguagens visuais e gráficas.
No encerramento deste relato, a equipe de EaD do SEPT leva como meta
para futuros trabalhos o estabelecimento de um planejamento mais detalhado
e uma maior pesquisa de mídias a serem integradas, a fim de que a forma e o
conteúdo dos objetos de aprendizagem a serem construídos possam convergir e integrar-se, desde a concepção até o produto final.
83
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das tecnologias na Educação Superior. Brasília: MEC/SEED, p.154-158, 2005.
84
RELAÇÃO UNIVERSIDADE – EMPRESA NO BRASIL:
UM ESTUDO EXPLORATÓRIO
5
Lívia Maria dos Santos
Walter Shima
Em virtude dos anos de atraso com desenvolvimento tecnológico, o Brasil,
desde 2003, vem tentando se lançar no seleto grupo de países que geram
conhecimento e tecnologia, encerrando a era em que quase toda a tecnologia desenvolvida no país era feita por multinacionais ou universidades públicas, para que a indústria nacional seja responsável pelas transformações
tecnológicas, ainda que institutos públicos e universidades trabalhem em
conjunto com as empresas.
Em todas as partes do mundo, universidades são expostas a uma pressão
crescente para mudar. Isto é causado pela emergência de novas relações entre
a dinâmica econômica e da produção de conhecimento, bem como por políticas e iniciativas administrativas que encontrem seu raciocínio nas interpretações dessas mudanças. Sob o título “a economia da aprendizagem” alterações
no âmbito das universidades são identificadas (LUNDVALL, 2002).
Nesse contexto, é possível identificar mudanças nas universidades que seguem com novas dinâmicas na esfera econômica. Elas se tornaram mais diretamente envolvidas nos processos orientados para o mercado e mais expostas
à concorrência de outros produtores de conhecimento. Sendo assim, ocorre
uma situação em que a produção do conhecimento é caracterizada por um
aumento no grau de internacionalização e networking (LUNDVALL, 2002).
Recentemente, muitas universidades desenvolveram uma terceira missão
pela promoção de ligações com os usuários de conhecimento e facilitação
na transferência de tecnologia. Entre os vários canais disponíveis para estabelecer essas ligações, no que se refere à comercialização de conhecimento
acadêmico, envolve-se o patenteamento e o licenciamento de invenções, bem
como empreendedorismo acadêmico, que tem atraído grande atenção tanto
na literatura acadêmica e comunidade política. A comercialização é considerada um excelente exemplo para a geração de impacto acadêmico porque
constitui imediata aceitação de mercado, mensuráveis para as saídas de pesquisa acadêmica (PERKMANN et al, 2013)
Essas mudanças no contexto colocam novas exigências sobre a contribuição
das universidades para desenvolvimento de competências na sociedade, o que
leva a um consenso geral entre os estudiosos de inovação de que deve ser um
processo interativo. Novos modelos enfatizam a interação entre produtores e
usuários (LUNDVALL, 1985) e que a interação entre o conhecimento científico e inovação técnica é caracterizada por um complexo ciclo de feedback
(KLINE; ROSENBERG, 1986).
Esse capítulo discute as motivações da colaboração das indústrias e da universidade, os fatores limitantes, bem como as vantagens que a cooperação
pode propiciar às instituições. O objetivo é relatar os avanços que a parceria
86
U-E vem promovendo no cenário inovativo do Brasil no período entre 2000
a 2010. Trata-se de uma investigação de caráter quantitativo e exploratório.
A importância do sistema nacional de inovação
e redes no que tange às relações U-E
A análise do Sistema Nacional de Inovações (SNI) discute a importância das
instituições em um sistema onde suas interações e outros fatores contextuais é
a chave para esse fluído de conhecimento. (HAAL et al, 2001). O Sistema Nacional de Inovação” (FREEMAN, 1987; LUNDVALL, 2002) pode ser descrito
também como o sistema ou redes de instituições do setor público e privado cuja
interação produz, difunde e usa economicamente o conhecimento útil. Os componentes do sistema e suas interações são determinados por normas definidas
culturalmente, desenvolvidos institucionalmente e determinado historicamente,
têm prioridades nacionais e são definidos pelas fronteiras geográficas e políticas
nacionais. Em economias onde tais sistemas de interação tenham sido envolvidos
com sucesso, a performance inovativa tem sido fortalecida e refletido em taxas
rápidas de crescimento econômico (FREEMAN, 1991; HALL et al, 2001).
Dessa forma, boa parte da literatura de instituições é sobre a interdependência de atores e instituições alinhados de modo a iniciar uma mudança tecnológica. Lundvall (1985), numa tentativa de divulgar a agenda política de SNI, se
refere como “engenharia crítica social, com ambições teóricas”, tornando-o
importante para a ciência, tecnologia e inovação (DELVENNE; TOUREAU,
2012). Essa abordagem tem sido muito influente nas políticas nacionais, bem
como em arenas políticas globais. Tanto a Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE) quanto a Unesco, desenvolveram
mapas de SNI e a revisão aborda desde os anos 1960.
Nos últimos anos, sociólogos e economistas têm mostrado que os modelos
padrão de desenvolvimento tecnológico são falhos, pois a tecnologia raramente cresce de uma forma previsível e linear dentro de um contexto social
e industrial relativamente estável (FORAY, 1989). Modelos que assumem isso
não podem explicar seu caráter radical e revolucionário. Em vez disso, sugerem que a ciência e a tecnologia são produto da interação entre um grande
número de diversos atores (CALON, 1990).
Evidências da literatura mostram que empresas que não cooperam e que não
fazem trocas de conhecimento, seja de modo formal ou informal, limitam
suas bases de conhecimento reduzindo suas habilidades de fazer parte das
relações de troca. É importante reconhecer que enquanto as redes desenvolvem um papel de promoção no desenvolvimento de inovação dentro e
através das empresas, também desenvolvem um papel chave na difusão de
inovação através e dentro dos setores.
Luke et al (2004) realizaram uma revisão ligando o comportamento da rede
de firmas e sua capacidade de inovação. Os principais benefícios incluem a
87
divisão de riscos, acesso a obtenção de novos mercados e tecnologias, velocidade de produtos no mercado, complementação de habilidade, salvaguarda
dos direitos de propriedade intelectual quando completos ou quando contratos contingenciais não são possíveis, e atuação como veículo chave para obter
acesso ao conhecimento externo.
No nível institucional, o SNI atua em um importante papel de difusão de inovação no modo em que se formam as atividades na rede. As redes de relacionamento com fornecedores, consumidores, e intermediários (profissionais e
associações de troca), são importantes fatores que afetam a performance de
inovação e produtividade. Pesquisas sobre SNI mostram que as inovações
ocorrem mais efetivamente onde há trocas de conhecimento entre sistemas,
como entre diferentes indústrias, regiões, entre ciência e indústrias (KAUFFMANN; TODTLING, 2001). O valor de diversos parceiros para inovação é
demonstrado em Kaufmann e Tödtling (2000), com pesquisa empírica de Perez e Sanches (2002). A inovação é influenciada por inúmeros atores, dentro e
fora da empresa, e os parceiros mais importantes são dos setores de negócios,
clientes (33,5%) e fornecedores (21,9%). No estudo de Kaufmann e Tödtling
(2000), a cooperação com as Universidades e empresas foi de 8,9%. Em contrapartida, na Alemanha, destacam-se as significativas diferenças nacionais no
que diz respeito ao envolvimento com institutos de pesquisa e universidades
e ilustra a importância de parceiros científicos em alguns setores da indústria
(RITTER; GEMÜNDEN, 2003 ,apud LUKE et al 2004).
Os tipos de empresas parceiras parecem estar relacionados com o tipo de inovação que ocorrem. Por exemplo, inovadores incrementais contam com mais
frequência com seus clientes como parceiros de inovação enquanto as empresas que têm produtos novos para o mercado são mais propensas a colaborar
com os fornecedores e consultores. Inovadores radicais tendem a exigir mais
interação com universidades (VERSPAGEN, 1999 apud LUKE et al 2004).
A importância da integração com os fornecedores pode promover os seguintes eventos:
a)Impacto nos custos, qualidade, tecnologia, velocidade e capacidade de resposta das empresas compradoras (RITTER; GERMÜNDEN, 2003).
b)Ajuda a manufatura identificar melhoramentos que são necessários para
permanecerem competitivos (PEREZ; SANCHES, 2002);
c)Permite a empresa fazer valer a experiência mais ampla no desenvolvimento do processo (ROMIJIN; ABU, 2002 apud LUKE et al 2004);
d)Ajuda a reduzir problemas com qualidade e tempo do ciclo de produto;
e)Eleva os níveis de produtividade e qualidade (PEREZ; SANCHES, 2002);
f)Melhorias no design do produto (CONWAY, 1995 apud LUKE et al
2004);
Quanto aos parceiros na esfera científica, o papel informal, também era evidente
(VERSPAGEN, 1999; KAUFMANN; TÖDTLING, 2001), bem como os be-
88
nefícios diretos de interação entre ciência e indústria, como nós da rede onde
a troca de conhecimento pode ocorrer (BOUGRAIN; HAUDEVILLE, 2002
apud LUKE et al, 2004). Eles contribuem para a inovação nas redes geralmente
através de modo pessoal (BOWER; KEOGH, 1996 apud LUKE et al, 2004).
Atuam como corretores, intermediários ou agentes neutros dentro de redes que
permitem diferentes sistemas de negócios de se comunicarem através da geração
de confiança entre as diferentes partes (HAUSLER; HOHN; LUTZ, 1994).
Em relação aos Mecanismos Institucionais, estes são designados especificamente para criar e facilitar redes de diversas formas. As mais comuns são os
clusters, incubadoras e centros de cooperação. Contudo, as análises desses
mecanismos não são suficientes para conclusões. Apesar da falta de evidência, é possível que políticas de inovação e infraestruturas regionais possam
apoiar as atividades de redes que conduzem a inovação. Onde existem aglomerados, mas a rede não acontece, a inovação ocorre com menos frequência
e é menos bem sucedida (STABER, 2001).
No que diz respeito às falhas, as evidências empíricas é que as redes podem
suportar e evoluir ao longo de muitos anos e, como consequência, eles vão
apresentar períodos de conflito entre parceiros, o que pode levar à falha da
rede. Do lado de fora de uma indústria, particularmente, a política do governo pode ter um efeito desproporcional levando a rede a falhar (BOWER;
CRABTREE; KEOGH, 1997 apud LUKE et al 2004). Padrões setoriais associados à mudança tecnológica também podem criar perturbações deslocando limites previamente aceitos entre as indústrias. Enquanto as redes podem
fazer e promover a inovação dentro de uma já existente, através da estrutura
tecnológica, eles estão sujeitos à desorganização e desintegração durante períodos de mudança tecnológica.
As evidências sobre laços fracos mostram que as redes podem existir, mas
não funcionar de forma eficaz por causa de relações fracas entre parceiros ou
porque as empresas são incapazes de extrair valor a partir de suas redes, que
pode ser causado pelo aumento da incerteza.
As redes também podem inibir a inovação ao incentivar um comportamento
anticompetitivo, o que sugere que o valor final de uma rede é dependente de
como ela é utilizada. Uma série de limitações da rede tem sido demonstrada
(LUKE et al 2004):
a)Love e Roper (2001) e Fischer e Varga (2002) consideram que inovação é
mais dependente de redes organizacionais internas;
b)Harris, Coles e Dickson (2000) entendem que a rede facilita o processo
inovativo, mas não lidera o sucesso da inovação;
c)Meyer-Stamer (1995) notou que rede pode ser um importante facilitador
no processo de inovação, mas outras coisas são mais fundamentais (base
de competências dos mercados de trabalho e regulamentação) e impulsionar a inovação e competitividade em geral; e
89
d)Tomas e Arias (1995) apontam que as redes estreitamente ligadas encontram desvantagens aumentando a complexidade do processo de inovação,
perdendo o controle acionário da inovação, e informações que os parceiros têm diferentes entendimentos sobre a natureza dos acordos.
As motivações que induzem a aproximação entre
U-E no desenvolvimento tecnológico
Nota-se que o primeiro motivo pelos quais as empresas escolhem cooperação entre P&D é o Custo de Transação. A transação de tecnologia
pode ter custo elevado, especialmente quando a tecnologia transacionada
tem componentes incertos e tácitos. Dentro de uma empresa há limites
para esses custos, o que pode impedi-la de acessar conhecimentos externos.
A aproximação permite acessar esses conhecimentos especializados, mas
é inerente a reciprocidade da relação e a comercialização entre parceiros
complementares minimizando o oportunismo.
As empresas de alta tecnologia enfrentam grandes desafios em sua busca para
a sobrevivência e lucratividade. Devido ao cenário competitivo e as regras de
rivalidade competitiva, que mudam constantemente, as empresas desenvolvem capacidade de absorção e a capacidade de reconfigurar continuamente suas competências para a criação de valor (ZAHRA; GEORGE, 2000).
Enquanto oportunidades de rentabilidade e crescimento abundam nestas
indústrias dinâmicas, os riscos de falha também são elevados (GEORGE;
ZAHRA; WOOD, 2002).
Empresas com vínculos universitários relataram ter mais alianças tecnológicas do que as empresas sem tais ligações, podendo ser mais proficientes
em sua indústria e, portanto, atraem alianças adicionais. Destaca-se ainda a
importância da qualidade da universidade com a qual a empresa interage.
Existe uma correlação significativa entre o financiamento da universidade
federal de P&D e os produtos em desenvolvimento (GEORGE; ZAHRA;
WOOD, 2002).
Empresas que atuam com ciência de base encontram sérios desafios no
acesso aos recursos necessários para construir fortes capacidades, portanto,
precisam desenvolver relações benéficas com os fornecedores. Estes fornecedores, por sua vez, tendem a responder favoravelmente às necessidades
da empresa se for apoiado por um terceiro. As relações estabelecidas com
organizações tais como universidades, líderes em pesquisa, pode aumentar a
legitimidade de uma empresa aos olhos dos outros intervenientes poderosos
(MIAN, 1994). Essas relações também dão a empresa acesso a diversos recursos, por vezes preços mais baixos do que as taxas de mercado. (GEISLER,
1995; MATKIN, 1990 apud GEORGE; ZAHRA; WOOD, 2002). Assim,
essas motivações são também estratégicas e amplamente utilizadas em indústrias de ciência de base, que consiste em desenvolver ligações estreitas com
universidades (BOWIE, 1994; PETERS et al, 1998).
90
Outro aspecto que funciona como motivador na cooperação é que a tecnologia
moderna exige o domínio da ciência multifacetada. Universidades que dedicam
seu tempo para a realização de pesquisas em tecnologias existentes e emergentes, e pesquisadores normalmente líderes em suas áreas, também se beneficiam
de suas pesquisas em P&D. As universidades conduzem cerca de 60% de toda
a pesquisa básica nos EUA (LEWIS, 1990). Com 12.324 descobertas relatadas
em 1999 (um aumento de 5% em relação a 1998) e o número de patentes arquivadas em 5.545 (15% ao longo de 1998), as universidades podem ser uma valiosa fonte de conhecimento e de inovação (GEORGE; ZAHRA; WOOD, 2002).
Alianças U-E, portanto, podem ser uma situação win-win, em que os objetivos da empresa e da universidade são alcançados (BOLTON, 1995; BOWIE,
1994). Um relatório da Fundação Nacional de Ciências (NSF, 1998) concluiu
que há uma tendência de aumento da cooperação entre as universidades e indústria em pesquisa de ciência de base. Esta interação torna-se explícita com
as agendas de investigação comum, financiamento de pesquisa da indústria e
coautoria em trabalhos de pesquisa que aparecem em investigação de domínio público (GEORGE; ZAHRA; WOOD, 2002).
Outras variáveis que aproximam essas duas organizações é que programas de
pesquisa sozinhos são insuficientes para o desenvolvimento de expertise dentro de empresas para utilizar os resultados de pesquisa de performance externa. Compreende-se que há uma nítida necessidade de cooperação quando se
deseja utilizar conhecimentos externos. O conhecimento, como já discutido,
pode ser tácito, e dessa forma, a interação se faz necessária (VEUGELERS;
CASSIMAN, 2005).
A colaboração acadêmica representa casos de colaboração inter organizacional, geralmente, envolvendo interações tácitas (COHEN et al, 2002). Entre
os parceiros, o interesse pode ser puramente financeiro, ou pode consistir de
benefícios não pecuniários como o acesso a materiais ou dados para projetos
de pesquisa acadêmica (PERKMANN et al, 2013).
As empresas com links com as universidades apresentam um volume significativamente maior de patentes do que as empresas que não têm nenhuma
interação. Podem surgir estas eficiências combinadas de partilha de custos em
equipamentos (LEWIS, 1990), de talentos científicos, e de informações através de redes, especialmente onde o conhecimento é mais provável que seja
tácito (COHEN; LEVINTHAL, 1990; GEORGE; ZAHRA; WOOD, 2002).
Geralmente os parceiros perseguem objetivos divergentes dos acadêmicos,
por exemplo, experiência para fornecer novas ideias sobre questões orientadas para a aplicação, resolver problemas e sugerir soluções para organizações
colaboradoras (PERKMANN, et al, 2013). Enquanto engajamento acadêmico representa colaboração, comercialização, ou transferência de tecnologia,
que pode ocorrer através do empreendedorismo acadêmico, fundando uma
empresa com o objetivo de explorar comercialmente uma invenção patente-
91
ada, ou, em alguns casos, um corpo de conhecimentos não protegidos por
patente. Alternativamente, uma invenção patenteada ou não protegida pode
ser licenciada para o recebimento contratado de royalties (JENSEN; THURSBY, 2001 apud PERKMANN, et al, 2013).
Outro ponto motivacional, quando se trata da colaboração pelo viés público,
o argumento original para o financiamento da pesquisa, é a saída da produção
do conhecimento como informação, ou seja, facilmente copiado e reproduzido por outros. (NELSON, 1959). Portanto, uma empresa privada não teria
qualquer incentivo. O resultado seria falta de investimento em pesquisa e a
taxa de retorno social no investimento em pesquisa seria acima da taxa de
retorno privada. A avaliação desses benefícios indica que a pesquisa social
normalmente excede os benefícios privados de investimentos em pesquisa e
desenvolvimento de forma substancial (LUNDVALL, 2002).
À medida que a empresa aprende as habilidades necessárias para desenvolver e organizar alianças, aumenta a capacidade de absorção (ZAHRA; GEORGE, 2000). Por sua vez, a empresa torna-se mais proficiente em atrair e
identificar parceiros de aliança competentes, podendo reter mais parceiros
de aliança de base tecnológica. Juntamente com a crescente experiência na
avaliação e gestão de alianças, uma empresa com ligações a uma universidade pode atrair mais e melhores parceiros de base tecnológica (LEONARD;
BARTON, 1995 apud GEORGE; ZAHRA; WOOD, 2002).
Ao cooperar com as universidades, as empresas podem compartilhar o risco de
um resultado incerto, ou seja, melhorar a criação de valor, e ao mesmo tempo reduzir o risco de expropriação de valor. As empresas podem, portanto, ser relutantes em expor-se ao risco de comportamento oportunista por parte de potenciais e
competitivos parceiros temendo que as forças competitivas pudessem prevalecer
sobre as cooperativas (CASSIMAN; DI GUARDO; VALENTIN, 2009).
O ponto é que trabalhando juntos, os avanços tecnológicos, a globalização e os
processos políticos de desregulamentação levaram a uma aceleração da velocidade da mudança técnica e econômica. Consequentemente, o acesso a uma determinada base de conhecimento é menos importante para o sucesso econômico
das empresas e dos indivíduos do que a sua capacidade de adquirir rapidamente
novas competências à medida que se confrontam com novos tipos de problemas.
Novos conhecimentos são criados a uma taxa crescente, mas a quantidade de conhecimento relevante do negócio também está sendo reduzida, o conhecimento
torna-se obsoleto em um ritmo mais rápido do que antes (LUNDVALL, 2002).
Assim, há algumas sugestões sobre o que as universidades podem fazer para
apoiar a economia da aprendizagem:
• Promover valores básicos explícitos e reflexões sobre como fazer esses
valores trabalharem no contexto do trabalho científico e do ensino;
• Especificação da divisão do trabalho e alianças com outras instituições;
92
• Posicionar as atividades em redes nacionais e internacionais e cientistas
regionais;
• Diferenciação da organização e da universidade;
• Definição de funções-chave combinadas com outsourcing de atividades
periféricas e, particularmente, aquelas atividades que têm um impacto negativo sobre a principal tarefa das universidades, ou seja, para educar candidatos qualificados;
• Análises de rotinas internas e da organização micro;
• Introdução de uma estrutura de incentivos e princípios de avaliação que
garanta o equilíbrio entre o envolvimento do ensino, o trabalho científico
e de interação com o mundo exterior;
• Renovação pedagógica, a fim de preparar os alunos para a economia da
aprendizagem, onde conhecimento interdisciplinar, resolução de problemas, cooperação e a comunicação são enfatizados; e
• Desenvolvimento de um sistema sistemático de aprendizagem ao longo da
vida para os seus próprios graduandos e para outros que precisam de um
reforço das suas competências.
É de importância vital que tanto o sistema público quanto o privado de investigação forneça a jovens pesquisadores oportunidade de adquirir habilidades
em resolver esse problema sistemático aplicáveis na prática. O financiamento
público para investigação também desempenha um papel importante no desenvolvimento científico e de novas normas. Finalmente, é vital para as empresas encontrar apoio de competência de pesquisa altamente desenvolvida,
uma vez que esta é necessária para ter acesso aos resultados da investigação
externa e tecnologias (LUNDVALL, 2002).
Para grupos de pesquisadores, como em empresas, é cada vez mais indispensável fazer parte de redes. No entanto, é essencial observar se a rede está funcionando. Laços estreitos são escassos para cada agente e para estruturar e reestruturá-los de tal maneira que eles suportem produção de conhecimento. É
uma tarefa importante e difícil para a gestão e política (LUNDVALL, 2002).
Barreiras que impedem a interação entre instituições
Muitos estudos indicam a importância da pesquisa científica e básica para
tecnologia e inovação em prol do crescimento econômico das nações. Estudos empíricos têm tentado quantificar essa transferência de tecnologia da
pesquisa acadêmica para a inovação da empresa. Entretanto, a maior parte
dos estudos tem concentrado a pesquisa em colaboração como um importante mecanismo para as empresas promoverem a relação entre empresas e
institutos de pesquisa (VEUGELERS; CASSIMAN; 2005).
As evidências sugerem um efeito positivo na transferência de conhecimento
da ciência para a indústria. No entanto, existe uma forte indicação da escala
inadequada e intensidade de tais transferências. A alta incerteza e a natureza não
confiável dos resultados de know how no alto custo da transação e falhas sis-
93
têmicas no mercado para este conhecimento explica a dificuldade de organizar
as interações entre Ciência e Indústria. Além disso, é dificultada pelos objetivos
divergentes entre os participantes e pelos conflitos com estruturas dentro da
academia para promoção da interação (VEUGELERS; CASSIMAN; 2005).
Em geral, os resultados parecem sugerir que a baixa frequência de acordos de
cooperação com as universidades pode estar relacionada com uma estrutura
industrial que é focada em indústrias não baseada em ciência, caracterizadas
por uma elevada proporção de empresas de pequeno e médio porte, cuja
carteira de estratégias de P&D é limitada. Sugerem-se novos caminhos para
a política de C&T que visem melhorar links entre Indústria e Ciência pela
perspectiva industrial. Além dos subsídios clássicos de cooperação em P&D
com universidades, a fim de reduzir os riscos financeiros para as empresas,
os decisores políticos devem também considerar garantir condições de enquadramento para as empresas para desenvolver um portfólio mais amplo de
atividades de inovação, tais como outras estratégias de fontes públicas, tendo
em vista complementar, que estimulem as empresas a envolver-se em cooperação com universidades (VEUGELERS; CASSIMAN; 2005).
Quando uma empresa terceiriza algumas de suas atividades, ela dá um pouco
de autoridade, independente do contratante ter objetivos e prioridades que
não coincidem com a companhia. Objetivos diferentes e delegação de poder
geram diferenças fundamentais entre atividades de pesquisa. Este é particularmente o caso quando a pesquisa é terceirizada para organizações acadêmicas, que têm como objetivo produzir e difundir o conhecimento científico,
independentemente do retorno econômico.
Quando o conhecimento de um projeto é facilmente transferível para a fabricação, pode ser mais fácil “roubar” a ideia. A importância estratégica do
projeto é um motor essencial para a compreensão da organização do projeto
de P&D. Os projetos que proporcionam conhecimento de valor estratégico
para os parceiros incentivam a se comportar de forma oportunista, participando de uma corrida de aprendizado e evitar compartilhar o conhecimento
desenvolvido. Além disso, os projetos de importância estratégica são mais
propensos a compromissos e investimentos específicos. Portanto, desenvolvimento interno deve ser preferido à cooperação com um concorrente. No
entanto, em projetos altamente estratégicos torna-se evidente que nenhuma
empresa tem todas as capacidades necessárias para sucesso, e como é importante a adoção de uma estratégia de coopetição (CASSIMAN; DI GUARDO;
VALENTINI, 2009).
Em projeto com elevado grau de novidade, a subcontratação preferencialmente envolve universidades em vez de outras empresas. A contratação de
atividades específicas para a universidade permite controlar os aspectos competitivos desse conhecimento e as universidades são muito mais focadas na
criação de valor, menos ameaçadoras. Já projetos que se concentram apenas
em menor medida em pesquisa básica, a forma de organização preferida é a
94
colaboração com outras empresas. No entanto, dada a importância estratégica dos resultados do projeto, colaboração com empresas é altamente indesejável. Há um trade-off entre o custo de aquisição de informações externas
e o tempo necessário para desenvolver internamente. Dada a ampla gama de
aplicabilidade de tais capacidades, o desenvolvimento interno constitui um
valioso investimento a longo prazo. Há aqueles projetos focados na criação
de valor, de pesquisa básica que são frequentemente realizadas em colaboração com o centro de equipes de P&D. Colaboração tecnológica envolve frequentemente a transferência de conhecimento tácito para resolver problemas
complexos (CASSIMAN; DI GUARDO; VALENTINI, 2009).
Outra questão refere-se ao impacto do envolvimento externo na pesquisa
dos cientistas acadêmico. Alguns observadores temem que o envolvimento
com a indústria mude agendas dos pesquisadores no sentido de mais aplicação a temas em detrimento dos benefícios de longo prazo da ciência básica.
Blumenthal et al. (1996) em seu estudo nos EUA, na faculdade de ciências
da vida, mostrou que os acadêmicos com apoio da indústria são mais propensos a relatar que a sua escolha de tema de pesquisa é influenciado por um
projeto comercial potencial. Evidências indicam que a pesquisa financiada
pela indústria é mais aplicada, mas também há mais colaboração, tanto com
parceiros privados quanto públicos (PERKMANN, et al 2013).
Outro elemento que cabe na discussão sobre barreiras, é quanto à autoridade.
Uma situação relevante ao desenvolver uma inovação sem parcerias é a maior
discrição por meio de sua autoridade formal superior. Um programa de pesquisa está sujeito a incertezas: melhores oportunidades podem surgir para a
parte patrocinadora e os pesquisadores podem não concordar. Assim, uma
empresa pode querer manter maior controle sobre a agenda de pesquisa. Outra situação é que as empresas vão estar mais dispostas a delegar o controle
sobre a conduta dos pesquisadores quando a pesquisa tem uma aplicabilidade
mais ampla (LACETERA, 2009).
As interações entre universidades e empresas têm sido criticadas por várias
razões. Parcerias de negócios do setor podem ser problemáticas em termos
de controle de qualidade, tempo de coordenação, crédito compartilhado, e
problemas de comunicação. Jasso (1996) e Slaughter (1990) observam que
os líderes de negócios lidam com cooperação e cooptação com diversas instituições e, portanto, podem ter várias agendas quando se formam parcerias
com universidades. Powers et al. (1988) também alertam que essas parcerias podem fazer com que o corpo docente gaste menos tempo de trabalho dentro de seus departamentos, tornando-os menos produtivos e coesos.
Incompatibilidades entre culturas, como sigilo versus livre disseminação do
conhecimento podem ser um obstáculo para a alianças (BOWER, 1992 apud
GEORGE; ZAHRA; WOOD, 2002).
Cientistas da universidade muitas vezes têm prioridades que conflitam com
os estritos horários da indústria e podem causar tensão em atividades co-
95
laborativas (BOWER, 1992; EISENBERG, 1996). Alianças bem sucedidas
podem resultar na formação de uma universidade onde os pesquisadores se
tornam empresários e os conflitos de interesse podem se desenvolver entre
suas funções acadêmicas e corporativas (PIERCEY, 1998). Laços estreitos
com a indústria também podem pressionar a faculdade para prosseguir com
os projetos com fortes orientações aplicadas quee são de benefício imediato
para as empresas parceiras (CUKOR, 1992), mas podem enfraquecer pesquisa básica (LEE, 1996 apud GEORGE; ZAHRA; WOOD, 2002).
Algumas alianças podem gerar vantagem competitiva à empresa e criar problemas administrativos e de coordenação complexos. Eles também podem
elevar a sobrecarga da empresa e outros custos, exigindo sistemas de gestão e
controle cuidadoso. Das alianças podem vazar informações sobre novas tecnologias da empresa, permitindo que os concorrentes imitem estas inovações
rapidamente. Pouco se sabe sobre as contribuições líquidas de alianças da
universidade para negócios da inovação da empresa e desempenho financeiro
(GEORGE; ZAHRA; WOOD, 2002).
As dificuldades da cooperação do ponto de vista das universidades também
são relevantes. Estas estão enfrentando um dilema difícil na economia da
aprendizagem, e não há nenhuma resposta simples para esse dilema. Por um
lado, não são sustentáveis as mudanças reais a negligência e mensagens políticas, indicando que existe uma necessidade de uma interação crescente no
mundo que muda mais rapidamente. Há uma real necessidade de reforçar
a interação com o resto da sociedade. Por outro lado, há uma necessidade
de garantir, a longo prazo, a pesquisa universitária crítica. Este nó, eventualmente, deve ser cortado ao longo com “diferenciação institucional” entre
as instituições envolvidas com o conhecimento de produção e difusão do
conhecimento (LUNDVALL, 2002).
Esta diferenciação não deve ter o objetivo de separar as instituições de elite
do resto. Elas visam, sobretudo, uma diferenciação de funções. Além disso,
tal diferenciação não significa que não deve ser estabelecida uma nítida divisão de trabalho entre pesquisa, ensino e interação com usuários. Tendo em
conta que a produção de pós-graduação continua a ser a forma mais eficaz
de difusão do conhecimento, é importante que o ensino e a pesquisa não se
separem (LUNDVALL, 2002).
A interação bastante limitada entre universidades e indústria pode ser ilustrada, tanto a partir do lado de empresas quanto do lado de universidades. No
projeto Disko mapeou-se o padrão de interação para ver em que medida as
empresas industriais dinamarquesas cooperam com parceiros externos quando envolvidas no desenvolvimento de produtos. A análise demonstrou que
ela é apenas uma pequena parte de todas as empresas que coopera com as
universidades (LUNDVALL, 1985). Enquanto 60% do produto em desenvolvimento as empresas cooperam com os clientes dinamarqueses e fornecedores, apenas 10% cooperam com universidades dinamarquesas. Parte da
96
indústria que atualmente tem documentado interesse em cooperar com as
universidades, parece ser muito pequena (LUNDVALL, 2002).
Ao olhar para a cooperação, do ponto de vista das universidades, é impressionante que ela seja tão desigualmente distribuída entre diferentes tipos de
instituições e áreas profissionais. Um interessante mapeamento dos recursos
financeiros utilizados pelo sistema universitário finlandês mostra que as universidades técnicas têm a maior parte de seu financiamento de empresas privadas,
e esta parte é de cerca de 10 -12%. A contribuição para a universidade é baixa, 0
-3 %. Se verificar as disciplinas e a parte da pesquisa com financiamento externo que emana de empresas privadas (1998) a distribuição é mais uma vez desigual, cerca de 20 % para a investigação de engenharia e pesquisa médica, cerca
de 10% para ciências naturais e sociais, e apenas cerca de 1% para humanidades
(NIEMINEN; KAUKONEN, 2000 apud LUNDVALL, 1985).
Lundvall (2002), em um estudo sobre o baixo índice de interação UE na Dinamarca, questiona em que medida a relativa baixa taxa de empresas dinamarquesas que cooperam com instituições de pesquisa constitui um problema.
Até certo ponto reflete um modo típico dinamarquês de inovação diferente
do que se encontra em outros países. É só depois de olhar para o sistema de
inovação dinamarquês como um todo que pode se definir o que é mais apropriado das universidades vis-a- vis da sociedade e da economia.
A importância das institucionalidades na interação U-E
A complexa relação entre a criação de valor e valor de captura é relevante
para a organização também dentro de um único projeto: parceiros diferentes
e diferentes capacidades, juntamente com diferentes estruturas organizacionais são procurados em diferentes fases (CASSIMAN; DI GUARDO; VALENTINI, 2009).
Um cientista pode ser mais motivado para fornecer esforço produtivo para
um projeto se for mais confiável que o projeto não vai mudar de direção ou
ser finalizado antes da conclusão por razões não relacionadas com o valor
científico da pesquisa. Tal motivação é valiosa para a empresa se ela também aumenta a probabilidade de um retorno econômico positivo a partir de
um determinado projeto, portanto, contrabalançando a incerteza em torno à
atratividade econômica do potencial de invenção (LACETERA, 2009).
Em troca de aderência para a denominada difusão de conhecimentos cientificamente valiosos, universidades concedem liberdade de inquérito para suas
afiliadas. Merton (1973) apud Lacetera (2009) vê as universidades como repositórios e guardiões institucionais das normas CUDOS: comunitarismo,
universalismo, desinteresse e ceticismo organizado. Ben-David (1977) destaca como a liberdade de investigação é o próprio fundamento da pesquisa
moderna na universidade. Masten (2006) fornece evidências de que as instituições acadêmicas são organizações diferentes das indústrias, por exemplo,
97
a partir de uma distância na hierarquia de comando, são aqueles em que a
promoção da investigação de ponta é uma prioridade. Estas características
das organizações acadêmicas colocam universidades em contraste marcante
com as empresas com fins lucrativos, em termos de suas missões e prioridades. Uma empresa pode ser capaz de fornecer sistemas de alta potência
de incentivo, potencialmente consistentes com os da comunidade científica,
de seus pesquisadores. No entanto, a empresa não pode, por sua natureza,
se comprometer com os objetivos institucionais da comunidade científica.
A busca pelo conhecimento pode entrar em conflito com a busca de lucros
econômicos (LACETERA, 2009).
O sistema dos EUA é altamente descentralizado, mesmo universidades públicas
contam com diversas fontes de financiamento, incluindo governos estaduais e
nacionais, fundações e apoiadores corporativos, as receitas da taxa de matrícula
e ex-alunos. As universidades privadas, especialmente as de elite, são também
apoiadas por doações generosas, o financiamento é consideravelmente mais
centralizado dentro de nações Europeia, e essa centralização implica em maior
controle hierárquico. Os membros da faculdade nos Estados Unidos tem muito mais independência na investigação nas fases mais precoces da sua carreira, e
os cientistas acadêmicos frequentemente movem-se entre as universidades, em
um esforço para melhorar sua posição no mercado de trabalho.
Na França e em outros lugares na Europa, há muito menos autonomia e mobilidade para os cientistas mais jovens. Além disso, há fronteiras entre pesquisa
básica orientada para os objetivos de aumento da concorrência para suporte de
pesquisa e financiamento, para permitir uma maior abrangência de disciplinas
nos Estados Unidos (GALAMBOMS; STURCHIO, 1998; MORANGE, 1998
apud OWEN-SMITH; RICCABONI; PAMMOLI; POWELL, 2002). Na Alemanha, um número dos prestigiados institutos Max Planck são organizados
em torno de um único campo, como bioquímica, genética, ou imunologia. Institutos de pesquisa de elite dos Estados Unidos, como o Cold Spring Harbor,
Salk, ou Scripps, rotineiramente reúnem professores multidisciplinares. Neste
contexto, analisa-se a comparação das ligações entre universidades de pesquisa,
institutos de pesquisa públicos e do setor privado no campo das ciências da
vida e analisa-se como as diferenças no padrão dessas relações moldaram o
desenvolvimento da biotecnologia nos Estados Unidos e na Europa (OWEN-SMITH; RICCABONI; PAMMOLI; POWELL, 2002).
Central para o sistema dos EUA foram dois fatores: capacidade relacional
e integrativa. Uma grande diversidade de organizações dos EUA estabeleceu protocolos para fomentar a colaboração em pesquisa. Além disso, essas
alianças abrangem organizações com diferentes missões e servem para ligar
a investigação básica com pesquisas de desenvolvimento (OWEN-SMITH;
RICCABONI; PAMMOLI; POWELL, 2002).
Outros caminhos diferentes no desenvolvimento de centros locais de excelência nos Estados Unidos e Europa podem ser observados. No primeiro caso,
98
polos regionais desenvolvidos em torno da investigação pública promovida na
comercialização generalizada com origem em pesquisa, em grande parte através da fundação da pequenas empresas de biotecnologia e organizações que
integraram a inovação e desenvolvimento. Esses aglomerados plantaram as sementes da vantagem acumulativa, sendo as regiões que atraíram pesquisadores,
estudantes de alta qualidade, e ações de financiamento de P&D, além de fins
lucrativos dedicados à comercialização de novas tecnologias. O foco disciplinar
desses institutos, combinado com os efeitos centralizadores de Infraestruturas
de financiamento de P&D e contextos regulatórios servem para limitar a participação das universidades orientadas a P&D e concentrar-se em redes de P&D
em clusters nacionais especializados (OWEN-SMITH et al, 2002).
Nos Estados Unidos, as organizações públicas de pesquisa e pequenas empresas realizam atividades de P&D em diversas áreas terapêuticas. Laços dentro e
entre essas pequenas empresas e diversas instituições públicas contribuem para
o desenvolvimento de uma rede nacional robusta. Em contraste, a história europeia é de especialização regional com um grupo menos diversificado de organismos públicos de investigação que trabalham em um menor número de áreas.
Institutos europeus desenvolvem ligações locais com pequenas empresas que
trabalham com problemas científicos semelhantes, enquanto as ligações entre
os países de polos regionais europeus normalmente envolvem grandes corporações farmacêuticas. Os papéis de grandes e pequenas empresas são diferentes
nos Estados Unidos e na Europa argumentando que a maior heterogeneidade
do sistema dos EUA é baseada na integração muito mais próxima da ciência
básica e desenvolvimento clínico (OWEN-SMITH et al, 2002).
A explicação para as diferenças na taxa de desenvolvimento de EUA e Europa
é simples, enfatizando a vantagem no crescimento das pequenas empresas intensivas em pesquisa dos EUA. Junto com o boom da biotecnologia, a ênfase
foi colocada sobre a evolução de apoio às instituições - que vão desde a iniciativa de políticas federais (por exemplo, a Lei Bayh-Dole, 1980) para a capacidade
do capital de risco, a propriedade intelectual (IP), escritórios de advocacia, e
transferência de tecnologia da universidade. Ressalta-se a importância subjacente da ciência e da diversidade das organizações envolvidas em atividades de
P&D. Usando dados sobre parcerias público-privadas em P&D, demonstra-se
que não são muito diferentes na Europa e Estados Unidos, e que estes estão
envolvidos em diferentes tipos de pesquisa e atividades clínicas. Os Estados
Unidos são caracterizados por relações entre organizações de pesquisa pública
e empresas localizadas nos densos polos regionais que abrangem várias fases
do processo de desenvolvimento, e envolvem diversos colaboradores. Em contraste, na Europa, redes de inovação são caracterizadas por serem mais escassas,
relações mais especializadas entre um mais limitado conjunto de participantes
organizacionais localizados no cluster nacional. Ambas as redes norte-americanas e europeias estão geograficamente em clusters. A partir desses pontos
de partida, redes de inovação europeia e dos Estados Unidos se ramificam em
divergentes maneiras (OWEN-SMITH et al 2002).
99
Metodologia
Nessa seção do capítulo definem-se os parâmetros metodológicos que visam atender ao objetivo dessa pesquisa. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica e documental. Ou seja, faz-se uso do referencial teórico para as conclusões da análise dos dados. Quanto ao aspecto documental, coletaram-se
dados secundários sobre aspectos da inovação no Brasil, fazendo uso de
dados do governo, como Pesquisa de Inovação (PINTEC) de 2011, Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq, e Instituto Nacional de Pesquisa
Industrial (INPI) de 2011.
A pesquisa também se caracteriza por ser quantitativa, sendo a análise realizada estritamente sob a valoração numérica dos dados coletados. Para a
análise dos dados utilizaram-se informações da PINTEC das duas formas
que são disponibilizadas, tanto por CNAE, quanto por porte da indústria
(número de funcionários). A PINTEC oferece dados sobre as características de inovação das empresas. Há dados sobre quais tipos de inovações
foram feitas, se houve cooperação com alguma instituição, o quanto foi
investido em inovações. O objetivo foi verificar qual o perfil das empresas
que fizeram inovação, e qual tem sido o comportamento das empresas que
realizam inovação.
Outra base de dados consultada foi o Diretório de Grupos de Pesquisa
do CNPq. Essa base de dados oferece informações sobre a evolução de
grupos de pesquisa em parceria com as universidades e entre universidades
e empresas. A base de dados foi utilizada para obter informações que indicassem quais as trajetórias sendo traçadas no Brasil quanto à formalização
de interações entre Universidades e Empresas.
Por fim, baseando-se nas informações obtidas na revisão bibliográfica, um
estudo referente às patentes pode apontar se as interações geram mais patentes às empresas ou não. Portanto, o INPI foi consultado para verificar se
a literatura corresponde à realidade observada no Brasil.
Análise dos dados
O objetivo dessa seção é realizar a análise quantitativa de dados secundários, observando o perfil da trajetória de cooperação entre indústria e
universidade. Os dados utilizados são do Diretório de Grupos de Pesquisa
do CNPq, PINTEC e INPI.
Foi possível fazer uma análise da evolução 2000-2011, através da avaliação
dos dois períodos. Primeiramente, analisando o ano de 2011, a PINTEC
de 2011 mostra 114.212 indústrias de transformação que implementaram
inovações de produto e processo, projetos inacabados ou abandonados e
inovações organizacionais ou de marketing. Entre essas 114.212 empresas,
apenas 41.012 realizaram inovação de produto ou processo, aproximada-
100
mente 35% das empresas, sendo que a mesma empresa pode realizar os
dois tipos de inovação. Assim, apenas 19.991 realizam inovação de produto,
sendo que 16.733 eram novos apenas para a empresa, e 4.157 realizaram
inovação nova no mercado nacional. Comparando com os dados do ano
2000, temos a seguinte evolução: Empresas da indústria de transformação
que implementaram inovações cresceu 83%. Inovações voltadas para produtos aumentaram 62%, enquanto inovação de processo aumentou 109%.
Produtos novos no mercado nacional tiveram um aumento de 41%, e processos novos no mercado nacional, aumentaram 25%, como expostas na
Tabela 1 (PINTEC, 2000, 2011). Observa-se que há um esforço de trazer
inovações para o mercado nacional. Ainda que os processos desenvolvidos
não sejam nacionais, há uma tendência no avanço produtivo, quando as
empresas importam modelos de produção, atendendo as novas exigências,
nacionais ou estrangeiras.
Tabela 1: Evolução das Implementações de Inovações no Brasil. 2000-2011
2000
2008
2011
Crescimento
Inovação de Produto ou Processo
22.401
37.808
41.012
83%
Produto Novo para a Empresa
10.287
19.838
16.733
62%
Processo Novo para a empresa
16.499
30.534
34.545
109%
Produto Novo no mercado Nacional
2.947
4.101
4.157
41%
Processo Novo no Mercado Nacional
1.964
2.271
2.462
25%
Fonte: PINTEC, 2000, 2008,2011.
Novamente, entre 114.212 empresas que realizaram inovações em 2011,
relacionadas a processos, apenas 36.497 inovaram, sendo que novas para
o mercado nacional, foram apenas 2.462 empresas, e na empresa foram
34,545, considerando ainda que em relação à inovação para o mundo, a
contribuição foi de apenas 100 empresas (Tabela 1). Foram apontados
como as principais responsáveis pelo desenvolvimento na inovação de processo, na seguinte ordem de importância: outras empresas ou institutos;
a empresa; a empresa em cooperação com outras empresas e institutos e
outra empresa do grupo.
No ano de 2011, apenas 280 empresas criaram um produto inovador no
mundo, dentre as 114 mil empresas da indústria de transformação que implementaram inovações, para processos, foram 100 empresas que realizaram inovações de impacto mundial. Os responsáveis pelo desenvolvimento
de produto inovador, entre as 16.733 empresas, são apontados por ordem
de importância: a empresa; outra empresa ou institutos; a empresa em cooperação com outras empresas e institutos; outra empresa do grupo. Quanto
101
à análise da evolução, 2000-2011, em relação ao principal responsável pela
inovação de produtos, diminuiu muito a importância das empresas do grupo no processo inovativo ou outras empresas ou institutos, queda de cerca
de 25%, mas aumentou com empresas com cooperação com outras empresas ou institutos (+14%) e na própria empresa (+85%) (PINTEC, 2000;
2011). Isso mostra que as empresas aumentaram sua capacidade inovativa,
com desenvolvimento endógeno, ou através da cooperação, diminuindo a
dependência da tecnologia desenvolvida exogenamente. Esses dados revelam novas características no processo inovativo brasileiro, mostrando que
as empresas, nesse período, investiram em mais pesquisadores em suas infraestruturas ou na cooperação, mas de forma a absorver o conhecimento
desenvolvido, abandonando aos poucos a prática do desenvolvimento externo a sua estrutura.
Considerando a evolução de inovação de produto desenvolvida no Brasil de
2008 até 2011, é possível identificar que houve aumento nas taxas de inovação de produto e processo em praticamente todos os portes de empresas
industriais. Por exemplo, empresas de pequeno, médio e grande porte, respectivamente, nas faixas de 10 a 100 (pequena e médias empresas) e acima
de cem pessoas ocupadas (grande porte), os percentuais das que realmente
realizaram inovação (de produto ou processo), de acordo com a PINTEC
2008, foram, respectivamente, de 80% e 20%, enquanto que na edição atual
(2011), estes valores perfizeram 88% e 12%, respectivamente. Contudo,
as inovações de produtos novas para o mundo são realizadas metade por
empresas de pequeno e médio porte, e a outra metade por empresas de
grande porte. No caso de processos, há uma leve vantagem na quantidade
produzida por empresas de pequeno e médio porte.
A respeito da evolução da inovação de produto e processo, observa-se que
houve crescimento em todos os portes de indústria de transformação, mas
a evidência é que o aumento foi mais significativo em empresas de menor porte. A evolução foi indiretamente proporcional ao tamanho, ou seja,
quanto maior a empresa, menor foi a evolução de inovação, quanto menor
o porte, maior foi o volume de inovação de produto ou processo produzido, conforme os dados da Tabela 2 (PINTEC, 2008, 2011).
Esse perfil é muito semelhante aos modelos observados no EUA, onde as
inovações acontecem com mais frequência em empresas menores. Permanece como uma característica no Brasil a inovação, ao menos no caso de
inovações incrementais, que ocorram com maior frequência em empresas
de menor porte. É importante verificar com mais detalhes qual tem sido
o incentivo à empresas de pequeno porte e sua real contribuição para o
desenvolvimento de tecnologias brasileiras
102
Tabela 2: Evolução de Empresas que Implementaram Inovação de Produto
ou Processo no Brasil por Porte, 2000-2011.
Inovação de Produto ou Processo
2000
2011
Evolução percentual
22 698
45 950
102
10 a 29
11.909
28 391
358
De 30 a 49
3.177
6 526
267,51
De 50 a 99
3.253
5 655
205,37
De 100 a 249
2.294
3 048
118,28
De 250 a 499
1.035
1 082
72,48
Com 500 e mais
1.029
1 249
54,55
Fonte: PINTEC, 2000, 2011.
Outra observação foi que houve mais inovação de produto que de processo, sendo que essa ordem se repete para o completamente novo em
termos mundiais. Contudo, o local onde ocorre o desenvolvimento dessas
inovações tem uma diferença significativa. No caso de produtos, a empresa desenvolve a maior parte dos casos apresentados, já em processos, o
desenvolvimento é feito por outras empresas e institutos. As inovações de
produto, de acordo com a base de dados, acontecem com maior frequência em empresas com menos de 99 funcionários, e na mesma proporção
quando se fala em inovações no mercado nacional, ou completamente
novas no mundo. No Brasil, há um perfil de empresas inovadoras de pequeno porte, o que se assemelha ao modelo americano, como exposto por
Owen- Smith et al (2002)
Quanto ao número de pesquisadores na empresa, é importante destacar
que esse tipo de vínculos é de fundamental importância para as relações que se estabelecem entre as instituições de pesquisa e indústria de
transformação. Entre as 114.212 empresas, o número de pessoas que
trabalharam no departamento de P&D era de 70.800, lembrando que
apenas 41.012 realizam inovações de produto e processo, dentre essas
pessoas, o número de pós-graduados era de 5.632 pessoas. Ou seja, uma
parcela pequena de pesquisadores atuou no setor de P&D das indústrias
de transformação.
No que diz respeito às fontes de informação empregadas e sua localização, entre as 41.012, as mais importantes, nacionais, são na sequência:
rede de informações informatizadas; clientes ou consumidores; fornece-
103
dores; concorrentes; feiras e exposições; conferências, encontros e publicações; centros de capacitação profissional e assistência técnica; empresas
de consultoria e consultores independentes; instituições de testes, ensaios
e certificações; institutos de pesquisa ou centros tecnológicos; universidades ou outros centros de ensino superior; outra empresa do grupo. Esse
dado mostra a relevância que a formação de redes impacta no desenvolvimento tecnológico, ainda que o papel das universidades e institutos de
pesquisa sejam menos relevantes, isso pode reforçar que as inovações
produzidas sejam mais incrementais, onde o apoio de clientes e fornecedores é mais relevante, e as radicais, onde a parceria com universidades,
ainda mostra-se incipiente.
O que ficou patente com a análise desses dados é o que a literatura já
expôs, com a revisão feita por Luke et al (2004) e Lundvall (2002), que
inovações são influenciadas de maneira contundente por clientes, fornecedores, concorrentes e rede de informações. Universidades e centros de
pesquisa foram apontados como as instituições que menos contribuíram
para as indústrias no seu grau de inovação no papel de difundir fontes de
informação, caracterizando que as inovações no Brasil são incrementais,
isso é reforçado com os dados sobre inovações realizadas aqui que são
novas para o mundo, que são poucas, como já exposto.
Quanto a cooperação, entre as 41.012 empresas que inovaram, a maioria
também foi realizada por empresas com menos de 20 funcionários. Embora a maioria das indústrias de transformação do Brasil seja de micro e
pequeno porte, chama a atenção que são elas também que promovem a
maior parte das inovações de processo e produto, e que mais interagem
com outras instituições.
Entre as empresas que implementaram inovações, houve um aumento de
mais de 100% no período 2000-2011. As principais fontes de informação,
aquelas que mais colaboraram, observando a evolução, foram: clientes,
fornecedores e concorrentes. Contudo a colaboração de instituições de
testes e ensaios aumentou significativamente (788%), bem como a importância das redes (aumento de 290%) e universidades (170%). Esses dados
mostram que embora haja muita participação de clientes e fornecedores,
ou seja, cooperação de inovações incrementais, tem aumentado significativamente as cooperações que contribuem para inovações radicais, com
institutos de pesquisa e universidades,
Na pesquisa, de acordo com os dados da PINTEC, a cooperação pode
ser alta, média ou baixa, os dados são apresentados do Quadro 1, por ordem de importância, de acordo com as classificações da pesquisa.
104
Quadro 1: Níveis de Cooperação com os Principais Parceiros, Brasil, 2011.
Cooperação Alta
Cooperação Média
Cooperação Baixa
Fornecedores
Fornecedores
Concorrentes
Clientes ou consumidores
Clientes ou
Consumidores
Empresas de consultoria
Universidades e Institutos
de Pesquisa
Instituições de testes,
ensaios e certificações
Universidades e
institutos de pesquisa
Centro de Capacitação
profissional e assistência
técnica
Centro de Capacitação
profissional e assistência
técnica
Centro de capacitação
profissional e assistência
técnica
Instituições de testes,
ensaios e certificações
Empresas de consultoria
Instituições de testes,
ensaios e certificações
Empresas de Consultoria
Universidades e
institutos de pesquisa
Clientes ou
consumidores
Concorrentes
Concorrentes
Fornecedores
Outra empresa do grupo
Outra empresa do grupo
Outras empresas do
grupo
Fonte: Adaptado PINTEC (2011).
De acordo com os dados da PINTEC, em 2011, 27.387 casos de cooperação foram relatados com grau de importância como baixo, 12.024 casos
foram classificados com alta importância, e 7.742 casos foram considerados
de importância média. Mais uma vez, os dados empíricos corroboram com
a literatura (LUKE et al, 2004), mostrando que entre as relações de alta e
média importância, as principais foram as que ocorreram com fornecedores
e clientes. Isso pode denotar, como afirmado por Gemünden , Heydebreck e
Herden (1992), que trata-se mais de inovações incrementais, e poucas inovações radicais, devido ao padrão de parcerias que as empresas fazem, se é mais
com clientes e fornecedores, tendem a ser inovações incrementais.
A PINTEC (2011) mostrou a baixa interação entre empresas e concorrentes,
apontando que essa interação ainda é muito incipiente, isso comprova o que
está exposto na literatura, com Cassiman, Di Guardo e Valentini (2009) que
afirmam que em projetos estratégicos, as empresas evitam parceiros que possam ser oportunistas e evitam compartilhar o conhecimento desenvolvido. Assim, o desenvolvimento interno é preferido à cooperação com um concorrente.
Quanto às universidades e institutos de pesquisa, foram classificados como a
terceira instituição em que foram feitas cooperação de importância alta.
105
Aprofundando a investigação sobre a relação entre instituições de pesquisa e empresas, o Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq fornece dados para verificar a evolução da relação U-E no Brasil. No Gráfico 1 evidenciam-se os grupos de pesquisa, em que há envolvimento de empresas.
As áreas onde há maior interação em grupos de pesquisa são engenharia
e ciências agrárias. O crescimento percentual das áreas foi o seguinte:
Ciências Sociais Aplicadas teve um aumento de 437% de grupos de pesquisa com empresas; Ciências Humanas teve um aumento de 398% no
número de grupos de pesquisa envolvendo empresas; Ciências da Saúde
apresentou um crescimento de número de grupos de pesquisa de 370%,
Ciências Biológicas indicou o aumento de 295% de grupos de pesquisa na
área com empresas; nas ciências Agrárias, o aumento de grupos de pesquisa foi de 258%, engenharias teve um crescimento de 232 % de grupos
de pesquisa que interagem com empresas, e por fim, ciências exatas e da
terra, com um aumento de 211%.
Embora o crescimento das áreas de engenharias e ciências agrárias tenha
evoluído num ritmo menor, ainda permanecem como as áreas onde há o
maior volume de interações, e onde se pode inferir que ocorrem as principais inovações radicais no Brasil (Gráfico 1).
Gáfico 1: Evolução da quantidade de grupos de pesquisa que
se relacionam com empresas por área, Brasil, 2010
Fonte: CNPq, 2012.
Embora o número de grupos tenha aumentado de forma geral, como visto no Diretório do CNPq, o que está claro, é que em todas as áreas houve
um crescimento pujante do número de grupos de pesquisa que interagem
com as empresas. O diretório também oferece a evolução de empresas
que passaram a procurar parcerias com universidades e institutos de pesquisa. Novamente, as engenharias e ciências agrárias superam muito o
106
número de grupos de pesquisa em que as universidades se relacionam
com empresas, comparado às outras áreas (Gráfico 2).
Gáfico 2: Evolução da quantidade de empresas que buscaram
interação com universidades em grupos de pesquisa, Brasil, 2010.
Fonte: CNPq, 2014.
Entre os motivos pelos quais a interação com universidade ainda não é
tão preponderante, busca-se suporte na literatura, que afirma que objetivos diferentes entre as instituições universitárias e empresas podem
apresentar um impedimento nessa aproximação, ou seja, há incompatibilidades entre culturas. Contudo, há ainda questões referentes à produção
de propriedade de direitos intelectuais.
A Tabela 3 mostra as instituições mais proeminentes quanto ao depósito
de patentes no INPI. A intenção foi verificar se há entre essas instituições alguma universidade e se entre essas universidades há interações com
empresas. O que se observou é que no período entre 2004-2008, algumas
universidades se configuram entre as principais depositantes de patentes:
UNICAMP, USP, UFMG e UFRJ.
107
Tabela 3: Principais depositantes nacionais. 2004-2008
Entidade
2004
2005
2006
2007
2008
PETROBRÁS S.A
OCT
80
91
77
63
77
UNICAMP
OCT
53
67
55
46
51
USP
OCT
33
41
35
79
76
Empresa Privada
10
20
31
50
63
UFPMG
OCT
23
18
32
40
41
UFRJ
OCT
31
26
18
32
34
FAPESP
OCT
32
28
21
17
31
Empresa Privada
49
27
15
7
16
CNEN
OCT
13
17
14
26
13
FAPEMIG
OCT
13
12
8
22
13
Empresa Privada
22
14
23
2
4
WHIRPOOL
SEMEATOS
VALE DO
RIO DOCE S.A.
Fonte: INPI, 2014.
O quadro 2 apresenta as instituições que mais possuem grupos de pesquisa
com relacionamento com empresas, nas áreas de engenharia e agronomia, de
acordo com o Diretório de Grupos de Pesquisa (2011).
Quadro 2: Instituições com maior número de grupos de
Engenharia
Elétrica
Engenharia
Civil
Engenharia de
Materiais e Metalúrgica
USP
USP
UFSCAR
Embrapa
UTFPR
UNICAMP
UFRGS
USP
UNESP
UNESP
CNEN
UFV
UNICAMP
UFRJ
UFRJ
UNESP
UFMG
UNB
USP
UFLA
Fonte: Adaptado PINTEC (2011).
108
Agronomia
Analisando as Tabelas 3 e o Quadro 2, observa-se que as 3 universidades que
mais depositaram patentes no INPI, também se apresentam como as que possuem maior volume de grupos de pesquisa que interagem com empresas.
Mais uma vez os dados empíricos corroboram com as informações registradas na
revisão de literatura, de que as empresas com links com as universidades possuem
significativamente mais patentes do que as empresas que não tinham nenhuma
interação e que gastam uma quantidade significativamente menor em P&D do
que as empresas sem esses vínculos, conforme afirmado por George, Zahra e
Wood (2002) e Cohen e Levinthal (1990).
Sendo assim, é importante que sejam estimuladas as interações, uma vez que a
literatura e os dados empíricos mostram que inovações ocorrem com maior frequência em universidades que buscam a interação.
Há uma real necessidade de reforçar a interação com o resto da sociedade. Se por
um lado, há uma necessidade de garantir a longo prazo, a pesquisa universitária
crítica, como Lundvall (2002) se atentou, há também a necessidade do progresso
tecnológico que busque atenuar as limitações da vida humana e do meio ambiente.
Considerações finais
O objetivo desse capítulo foi relatar os avanços que a parceria U-E vem promovendo no cenário inovativo do Brasil no período entre 2000 e 2010. Sendo assim,
consultaram-se dados do INPI, Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq e
PINTEC, no período descrito, para responder ao objetivo.
O desenvolvimento inovativo foi apontado como um dos principais pilares
para o desenvolvimento econômico. Para isso, a importância do trabalho em
cooperação da empresa com outras instituições ficou evidente na revisão bibliográfica, apontando que empresas que cooperam tendem a ter maiores
chances de produzirem inovação, portanto, o trabalho em rede tem sido recomendado, com participação de clientes, fornecedores, institutos públicos
de pesquisa e outras instituições.
No Brasil, de acordo com os dados coletados, houve um crescimento significativo de empresas que passaram a compor grupos de pesquisa com universidade,
e um crescimento expressivo desses grupos, em 10 anos. As áreas que mais se
destacaram foram engenharias e ciências agrárias. Observou-se ainda que as universidades onde mais há interações com empresas em grupos de pesquisa, figuram-se também entre as principais instituições que depositam patentes nos INPI.
Observa-se que a tendência do crescimento do número de pesquisas em cooperação vem ganhando importância entre as indústrias, principalmente de pequeno porte. Contudo, evidenciou-se que as relações com as universidades, embora
crescente, ainda não são consideradas as mais importantes.
109
Como pronunciado na literatura, as inovações incrementais dependem de parcerias entre clientes e fornecedores, já a cooperação com universidades, visa à
produção de inovações de caráter radical. Ambas devem ser estimuladas, uma vez
que trazem avanços inovativos nos setores industriais. Ficam patentes os avanços
conquistados no estímulo a cooperação intra-institucionais, e que devem continuar a serem encorajadas, mediante a preservação do papel da universidade em
promover o conhecimento, mas avançando nos novos papeis que ela passa a ter,
em razão da emergência de novas relações entre a dinâmica econômica e da produção de conhecimento como discutido por Lundvall (2002).
Conforme os questionamentos de Lundvall (2002), atribui-se a questão do Brasil,
em até que ponto reflete um modo típico brasileiro de inovação diferente do que
se encontra em outros países. É só depois de olhar para o sistema de inovação
brasileiro como um todo que pode se definir o que é mais apropriado das universidades vis-à-vis a sociedade e a economia. O Brasil tem recebido estímulos para
a interação, mas vale a pena verificar se ele tem uma estrutura cultural que permite
avanços através desse modelo. Por vezes, sua história e seus hábitos podem ter
sucesso com diferentes modelos de propulsão de inovação, sendo o de cooperação entre instituições apenas um entre eles.
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CAPACIDADES RELACIONAIS E INOVAÇÃO:
UM CASO DE ALIANÇA INTERSETORIAL
6
Fernanda Salvador Alves
Andréa Paula Segatto
A capacidade é um termo relacionado na literatura à diferenciação empresarial. Pode-se defini-la como procedimentos organizacionais e ações intencionais, baseadas em conhecimento, experiências e habilidades. As capacidades
fazem a empresa sobreviver e superar os competidores, a partir do melhor
arranjo de seus recursos e do estabelecimento de repertório de atividades e
processamento de informações (ALVES, 2015).
Já o termo competência pode ser definido como a capacidade da empresa para combinar, mobilizar, interagir, integrar e transferir conhecimentos,
aprendizagens, qualificações, habilidades, comportamentos e atitudes (biografia, socialização, formação educacional e profissional), que devem ser
construídos pela experiência, por serem dificilmente obtidos no mercado.
Com competência, adquire-se um melhor desempenho de um trabalho e o
sucesso de uma organização, a partir da adaptação às novas situações (ALVES, 2015). Assim, considera-se que as competências são capacidades da
organização em combinar, misturar e integrar recursos, para realizar atividades necessárias ao sucesso da empresa, em detrimento de seus concorrentes.
Dentre os vários tipos de capacidades, estão as relacionais, compreendidas
como: criação proposital e a combinação, a partir de recursos comuns, de estruturas intra e interfirmas, tais como conhecimentos, rotinas, procedimentos
e políticas, para o desenvolvimento de atividades em conjunto, o gerenciamento de conflitos, a promoção de confiança e a transferência de conhecimentos e informação, a fim de gerar valor e aprendizagem entre as empresas
e alcançar melhorias conjuntas de processo, adaptações e/ou inovações em
cooperações interorganizacionais (ALVES, 2015). Elas ocorrem entre duas
ou mais organizações, que, ao se relacionarem, transferem entre si recursos
críticos, conhecimentos e capacidades, integrando rotinas e processos, a fim
de melhorar suas eficiências organizacionais.
O relacionamento entre organizações, também definido como cooperações
interorganizacionais, pode ser conceituado como relações entre empresas,
com o intuito de obter recursos críticos, transferir conhecimento e tecnologia, com redução de custo, mas sem que os parceiros percam autonomia. È
um conceito mais amplo que aliança, ao se caracterizar pela troca de ativos,
tangíveis e intangíveis, que resultam em sinergias e na geração de competências inéditas (PAGNUSSATT, 2010). Nas cooperações, há obrigações recíprocas para a aquisição de recursos e conhecimentos, que permitirão que as
empresas concorram entre si, para alcançar benefícios mútuos em um mercado competitivo (YAN, ZHANG, ZENG, 2010). Assim, as alianças entre
empresas podem ser formadas por competidores, fornecedores, clientes e
complementadores. Além disso, as empresas podem ocupar simultaneamente
mais de um papel em uma parceria, sendo, ao mesmo tempo, complementadoras e competidoras.
116
Spekman et al (1998) definem aliança estratégica como relação de longo
prazo, mutuamente benéfica entre mais de dois parceiros, com partilha de
recursos, conhecimentos e capacidades, para melhorar a competitividade
individual dos participantes. Da mesma forma, Jones, Chonko e Roberts
(2003) afirmam que as alianças estratégicas focalizam nas ações de longo
prazo, exigem relações de confiança, atração interpessoal e laços sociais. As
cooperações, particularmente importantes para as empresas de mercados em
transição (CISZEWSKA-MLINARIČ, OBŁÓJ, MLINARIČ, 2012), devem ser
percebidas como ‘alianças estratégicas’, pois são relevantes na obtenção de
vantagem competitiva (DYER; SINGH, 1998).
Assim, cooperações entre organizações podem ser definidas como relações
verticais ou horizontais, de curto ou longo prazo, entre duas ou mais organizações, que decidem conjugar esforços e recursos para perseguir um objetivo
estratégico comum (CUNHA; MELO, 2006; TINOCO, MACEDO-SOARES,
VAN, 2008; EIRIZ, 2001; CISZEWSKA-MLINARIČ, OBŁÓJ, MLINARIČ,
2012). Para Diaz e Munõz (2003), alianças podem ser a forma das empresas
superarem a escassez de recursos, sem reduzir seu controle político e sua posse de ativos ou sem gerar grandes despesas ou investimentos. Lima e Campos
Filho (2009) concordam com esse argumento, ao afirmarem que esse tipo de
relação colaborativa gera economia de especialização, acesso a capacidades
complementares e diminuição no tempo de desenvolvimento de produtos
com menor investimento. Além de compreender o conceito das cooperações
interorganizações, é fundamental o entendimento das vantagens e dos objetivos para uma organização participar destas alianças.
Estas relações de colaboração entre empresas competidoras apresentam diversos objetivos. Entre eles, destacam-se: complementaridade vantajosa, melhoramento do padrão de compra (BRAGA, 2010), aumento das atividades
de P&D, geração de conhecimento e capacidades específicas (BRAGA, 2010;
VAIDYA, 2011). Para Czakon (2009), outros objetivos percebidos na formação de alianças estratégicas são: fortalecimentos da posição competitiva,
aprendizagem, redução de incerteza, minimização dos custos de transação e
compartilhamento de riscos. De acordo com Vyas, Shelburn e Rogers (1995),
se as organizações podem compartilhar os custos de desenvolvimento de
novas tecnologias, podem simultaneamente reduzir os riscos e aumentar a
sua renda. Para os autores (1995), a possibilidade de diversificar os riscos nos
grandes projetos é uma das maiores recompensas das alianças estratégicas.
Outros objetivos das cooperações interorganizacionais são compartilhamento de recursos, acesso a mercados (LIMA; CAMPOS FILHO, 2009; VAIDYA, 2011), proteção à posição de mercado, redução de potencial de competição e elevação das barreiras de entrada de concorrentes e uso eficiente de
recursos (CZAKON, 2009; VAIDYA, 2011).
Para Doz e Hamel (1998), os objetivos na formação de alianças estratégicas
são: construir massa crítica com cooptação, atingir novos mercados, ganhar
novas competências pela aprendizagem organizacional e criar vantagens pela
117
redução do custo de transação e diversificação do risco. Outros objetivos
são: possibilidade de maior especialização das organizações, criação e transferência de conhecimento e aumento da diversidade de serviços oferecidos
(COWAN, JONARD, ZIMMERMANN, 2007; SALGE; VERA, 2009).
As alianças, com laços fortes e de longa duração, reduzem custos, riscos e
conflitos, ampliam benefícios, gerando mais confiança e cooperação (CERRUTI, 2012). Relacionamentos fortes com empresas diferentes promovem a
exposição a novas ideias, oportunidades e recursos, propiciando maior aquisição de capacidades (MAHMOOD, ZHU, ZAJAC, 2011).
As trocas de recursos que ocorrem nas cooperações interorganizacionais
fazem com que as organizações interajam mais frequentemente, aumentando as chances de difusão de práticas inovadoras. Cooperações interorganizacionais podem fornecer informações sobre novas abordagens,
serviços e ideias ou sobre necessidades não satisfeitas. As parcerias são
ainda formas de adquirir recursos para encontrar um desenvolvimento
inovador, criar um ambiente favorável para o crescimento da inovação e
facilitar a sua implementação.
Quando se fala em benefícios das capacidades relacionais, Nicolaou
(2010) cita que as empresas desenvolvem as capacidades relacionais com
a intenção de melhorar o desempenho mútuo a partir da colaboração.
Também pela busca de bons resultados, Dyer e Singh (1998) afirmam que
as empresas investem em ativos específicos de relações, trocam conhecimentos entre parceiros, combinam recursos escassos e complementares e
regulam suas relações.
O benefício principal das capacidades relacionais, de acordo com Carlson,
Frankwick e Cumiskey (2011), é utilitarista: o uso de recursos críticos para
a empresa, o aumento da produção, o avanço sobre mercados e o melhor
desempenho da empresa. Mas, além desses, são benefícios complementares
obtidos com as capacidades relacionais: a ampliação da base de recursos da
empresa para além de suas fronteiras (CZAKON, 2009; COSTA; PORTO;
SILVA, 2012) e a melhoria do processo de integração entre parceiros, eliminando a duplicação de recursos e fazendo uso eficaz deles (ESPINO-RODRIGUEZ; RODRIGUEZ-DIAZ, 2008).
Desta forma, percebe-se que benfeitorias das capacidades relacionais mostram-se similares aos objetivos das cooperações interorganizacionais: melhoria do desempenho mútuo, complementaridade vantajosa, geração de conhecimento e capacidades específicas, compartilhamento de riscos e recursos,
acesso a mercados, uso eficiente de recursos, buscando melhorar o desempenho a partir da cooperação.
A partir de análise de outros estudos que abordavam o constructo ‘Capacidade Relacional’, Alves (2015) estabeleceu cinco dimensões constituintes da Ca-
118
pacidade Relacional (de coordenação, cultural, de conhecimento, tecnológica
e de coadaptação), bem como os componentes dessas dimensões.
A dimensão de coordenação relaciona-se com a capacidade de gerenciar os
recursos da parceria, tornando-os eficientes, rentáveis e produtivos. Além de
coordenar alianças, é necessário, identificar interdependências, evitar duplicação de ações e produzir sinergias entre as alianças individuais. Para o sucesso
de uma parceria, é fundamental que as empresas se percebam pertencentes a
um grupo. Assim, há redução de conflitos e a aliança é utilizada como uma
estratégia de ação. Essa dimensão da capacidade relacional pode ser explicada
pelos componentes; ‘Ações formalizadas’, ‘Integração e sinergia’ e ‘Benefícios da coordenação’.
A dimensão cultural pode ser definida como a capacidade da empresa em
lidar com a diversidade cultural, com valores inimitáveis, e com as ligações
emocionais e sociais entre os indivíduos envolvidos na troca. Aprender a
relacionar-se com a cultura e os valores de parceiros influenciam na forma de
lidar com conflitos nesses relacionamentos. Da mesma forma, ter cultura e
valores comuns pode propiciar interações mais profundas e gerar oportunidades de co-criação de valor para melhorar o relacionamento. Seus componentes são: ‘Confiança’, ‘Valores e cultura comuns’, ‘Diversidade cultural’ e
‘Normas de comportamento’.
A dimensão de conhecimento é a capacidade de criar, integrar, utilizar e controlar o conhecimento gerado na parceria. Ela aborda as rotinas e os processos utilizados para facilitar a transferência de conhecimento e as habilidades e
aprendizagens traduzidas em conhecimento, bens e tecnologias, seja de funcionários, fornecedores ou clientes. Essa dimensão é composta pelos componentes ‘Obtenção de conhecimento’, ‘Comunicação’ e ‘Recompensas e incentivos’.
A dimensão tecnológica explora os recursos tecnológicos e humanos das
parcerias, definindo normas à competência e ao desenvolvimento tecnológico, tais como integração de sistemas e procedimentos técnicos, expansão
da visão de sistemas técnicos e de inovação tecnológica, colaboração com
novas tecnologias e absorção de lições tecnológicas dos parceiros. Fazem
parte desta dimensão os componentes: ‘Transferência de tecnologia’, ‘Inovação colaborativa’ e ‘Rotinas técnicas’.
Por fim, a dimensão de coadaptação refere-se à capacidade de adaptar recursos ou modos de funcionamento, para aumentar os benefícios da parceria.
Investimentos mútuos e adaptações dos parceiros podem gerar novos produtos, soluções mais eficazes ou melhoramentos no relacionamento. Seus componentes são: ‘Alterações e soluções’, ‘Experiências anteriores’, ‘Avaliação’ e
‘Relações estreitas’.
Nesse contexto, este capítulo descreve os resultados de estudo feito em uma
organização sem fins lucrativos visando a identificação das capacidades rela-
119
cionais presentes na sua ação de desenvolvimento de tecnologia em cooperação com outras organizações.
Capacidades relacionais da tec: articulando o público
e o privado no desenvolvimento de tecnologias
A organização analisada, denominada neste capítulo como Tec, é uma associação privada sem fins lucrativos, com dez anos de fundação e sede na cidade de Dois Vizinhos (PR). Trabalha com incubação tecnológica, capacitação
de jovens e inclusão digital, a fim de contribuir para o aperfeiçoamento e o
progresso da sociedade por meio da tecnologia.
Em sua atuação, teve parceria com diversas organizações públicas e privadas,
como prefeitura municipal e outros órgãos do primeiro setor, instituições de
ensino (universidades públicas e privadas), de cooperativa de crédito, empresas da área de tecnologia e associações de desenvolvimento tecnológico.
Alguns dos parceiros fizeram aporte financeiro, enquanto que outras alianças
tiveram cunho técnico (de aprendizado). Sua missão é promover o desenvolvimento econômico e social por meio do uso inovador da tecnologia. Para
isso, pauta-se nos seguintes valores: ética, transparência, compromisso, qualidade, responsabilidade, inovação e parceria.
Para obter as informações aqui apresentadas, foi realizada uma entrevista em
profundidade com duas funcionárias da organização citada. Com base nas
respostas obtidas, descreveu-se como ocorria cada uma das dimensões das
capacidades relacionais da entidade, baseando-se na identificação dos componentes anteriormente citados. Para permitir maior compreensão sobre o
assunto, utilizaram-se também os mapas associativos de ideias (ou mapas
conceituais ou mapas cognitivos). Assim, utilizando também as dimensões e
componentes da capacidade relacional, foram transformadas as informações
do caso estudado em imagens que as associavam e relacionavam.
Avaliando a dimensão de coordenação das capacidades relacionais, as entrevistadas afirmaram que havia um termo de cooperação assinado entre parceiros, no qual se estabelecia o papel de cada entidade. Além disso, eram
realizadas reuniões de acordo com as atividades desenvolvidas na parceria.
Também eram ações de coordenação, assim como de comunicação, as prestações de contas, com relatórios formais e frequentes, tanto para a sociedade quanto individualmente aos parceiros. Além disso, nas assembleias
da entidade eram apresentadas todas as ações, seus resultados e o balanço
financeiro da entidade.
Para as entrevistadas, as atividades de coordenação e o estabelecimento das
responsabilidades e as contribuições de cada um, nas diferentes atividades
realizadas na parceria, auxiliavam na integração e aproximação dos parceiros.
120
Segundo uma das entrevistadas: “No evento que realizamos, nós tínhamos
neste rol de parceiros três universidades (concorrentes entre si), mas que
eram parceiros no projeto”.
Para conseguir essa integração entre os parceiros, a Tec estabeleceu, desde sua
fundação, uma postura neutra ao coordenar as atividades, sem decisões tendenciosas e buscando o consenso nas soluções de problemas. Por isso, havia
incentivo ao convívio e ao compartilhamento de situações, para a busca de
resoluções adequadas para todos os envolvidos. Uma demonstração disso foi
a capacidade de articulação da entidade tanto com o setor público quanto com
o privado, a fim de estimular o melhor de cada um em benefício da sociedade.
Entre os benefícios das ações de coordenação, estava, segundo uma das entrevistadas, a “network, porque você aumenta tua chance de sucesso, porque
nós não temos como atender todas as pessoas que nos procuram. Teríamos
que ser uns gênios para atender tudo que chega”. Assim, mesmo sem expertise específica, ao reconhecer que necessitava de parceiros, a entidade conseguia atuar em vários campos. Outro benefício da coordenação era a troca
de experiências e o envolvimento de várias instituições para o alcance de um
objetivo comum. A dimensão de coordenação da Tec pode ser representada
pelo mapa mental da ilustração 1:
Ilustração 1: Mapa Mental da Dimensão de Coordenação de Tec
Fonte: Autoras (2015).
A dimensão de coordenação possuía três componentes: ‘Formalização’, ‘Integração dos parceiros’ (conexão com as dimensões de conhecimento e coadaptação) e ‘Benefícios’ (conexão com a dimensão de coadaptação).
Quando se avaliou a dimensão cultural, das capacidades relacionais, percebeu-se que a confiança entre os parceiros foi estabelecida a partir das ações
desenvolvidas e dos resultados gerados. A entidade, historicamente, tinha o
objetivo de desenvolver a cidade, o que auxiliou na sua credibilidade e no
interesse dos parceiros em construir conjuntamente o conhecimento.
Além disso, as pessoas que representavam a entidade geraram credibilidade
entre os parceiros. Segundo uma das entrevistadas: “As atitudes são condi-
121
zentes com o que a gente fala. É o falar e fazer e não o falar e fazer diferente.
(...) Eu acho que é isso. É o conjunto, os profissionais, as lideranças, que
foram construindo esse time, baseado nos valores”.
Não havia uma ação para estabelecer valores ou culturas comuns, pois a forma de agir da entidade fez com que organizações com valores e cultura semelhantes propusessem parcerias. Para outra entrevistada: “Por ser uma cidade
pequena, por a gente conhecer quem são as pessoas, então a gente tem uma
cultura de engajamento mesmo. As pessoas se engajam, [para articular ações
benéficas para o município]”. Mesmo quando ocorria diversidade cultural, ela
não era percebida como um dificultador nas atividades, mas uma possibilidade de contribuir para o crescimento da parceria.
Ao abordar os problemas relacionados às normas de comportamento, foram apontados os problemas relacionados à “burocracia no serviço público”,
como uma possibilidade de atrapalhar o relacionamento com empresas privadas. Mas as regras eram explicadas e deveriam ser aceitas pelos parceiros.
Caso eles não entendessem, não haveria alteração das regras, e sim extinção
da parceria. A dimensão cultural da Tec pode ser representada pelo mapa
mental da ilustração 2:
Ilustração 2: Mapa Mental da Dimensão Cultural de Tec
Fonte: Autoras (2015).
A dimensão cultural possuía quatro componentes: ‘Confiança’, ‘Valores e
cultura comuns’, ‘Diversidade cultural’ e ‘Normas de comportamento’ (conexão com a dimensão de coadaptação).
A terceira dimensão das capacidades relacionais é a de conhecimento, sendo este criado por meio de metodologias, que foram identificadas como
aderentes às realidades vivenciadas pela entidade. Além disso, pelas características de neutralidade, aglutinação e conhecimento das metodologias, a
Tec geralmente era a responsável por gerenciar os projetos com parceiros,
distribuindo as responsabilidades entre eles. Para a consolidação das informações, eram organizadas reuniões e discussões dos resultados já obtidos e
das atividades a serem realizadas.
122
A integração do conhecimento informal (diário ou cotidiano) era estimulada pela complementaridade de informações, podendo ser iniciada em
atividades ou reuniões com os parceiros que tinham ou não relação com
os projetos desenvolvidos. De acordo com uma entrevistada: “Quando eu
estava saindo da banca [de TCC], eu encontrei o presidente da agência de
desenvolvimento, e já começamos a falar de ações para a [Tec]”.
De acordo com as entrevistadas, as maiores dependências entre a entidade
e seus parceiros estavam na questão financeira. Em relação à dependência
de conhecimento, entendia-se que era importante e estratégico ter parceiros
com conhecimentos diversos.
A forma de comunicação dependia do tipo de informação e seu destinatário. Assim como auxiliavam na coordenação da parceria, as prestações de
contas, os relatórios e as assembleias contribuíam na comunicação formal
com os parceiros. Já as informações rotineiras, de desenvolvimento das
atividades ou relacionadas com um parceiro específico eram repassadas informalmente (conversas, correio eletrônico, telefonemas) ou se o parceiro
exigisse, com características formais.
Um dos maiores aprendizados nas parcerias consistia em ajustar a forma de
comunicação (formal ou informal, frequente ou esporádica), com a preferência da entidade parceira. Dos parceiros para com a Tec, não havia obrigatoriedade de formalização, mas preferiam-se comunicações por escrito
pela possibilidade de seu registro.
Por fim, quando os interesses dos parceiros não estavam alinhados, a recompensa e o incentivo ofertados para que os benefícios da aliança fossem
percebidos eram demonstrações da importância em fazer parte de um projeto maior: “A gente precisa motivar e fazer com que os parceiros percebam
esse benefício em fazer parte desta parceria”. A dimensão de conhecimento
da Tec pode ser representada pelo mapa mental da ilustração 3:
Ilustração 3: Mapa Mental da Dimensão de Conhecimento de Tec
Fonte: Autoras (2015).
123
A dimensão de conhecimento possuía três componentes: ‘Criação de conhecimento’ (conexão com a dimensão de coordenação), ‘Comunicação’(conexão com a dimensão de coadaptação) e ‘Alinhamento de interesses’.
Na dimensão tecnológica, percebeu-se que os conhecimentos tecnológicos eram facilmente aprendidos e compartilhados na aliança, pois havia
o interesse de todos os parceiros em qualificar mão de obra para a área
de tecnologia (incentivada). Poderiam ocorrer em reuniões formais ou
discussões informais (comunicação), com vários parceiros ou com um em
específico, de acordo com as necessidades apresentadas.
As entrevistadas identificaram vários momentos de inovação colaborativa. Era comum o debate entre parceiros em cada etapa do processo, em
reuniões para construção de algo de interesse de todos. De acordo com
uma das entrevistadas:
A gente desenvolveu um site, para receber as inscrições [de
um evento]. Como foi desenvolvido esse site? Sentaram
todos os parceiros, e cada um foi dando pitaco e foi construindo. Eu mesma achava que não precisava desenvolver,
que a gente deveria pegar algo que já estivesse pronto. Mas
os parceiros queriam que ficasse com a nossa cara. A gente
sofreu mais, mas no final foi feito. Esse é um exemplo. O
site foi concebido por essa equipe de parceiros. Desde a escolha de logo... eu dizia para pegar pronto. Mas os parceiros
queriam do jeito deles.
Dentre os aspectos necessários para a inovação colaborativa, as entrevistadas citaram ter uma experiência anterior de trabalho com os outros
parceiros, bem como demonstração de envolvimento e engajamento no
projeto comum. Além disso, era necessária uma razão (ou uma entidade,
como era o caso da Tec) aglutinadora para unir diferentes visões e interesses por um objetivo comum.
Dentre as rotinas e sistemas técnicos criados ou existentes para gerenciar
o conhecimento tecnológico, as entrevistadas citaram modificações, com
base nas experiências dos parceiros, na forma de prestação de contas,
na padronização de atividades e na criação de rotinas. Segundo uma das
entrevistadas:
‘Escuta, você não tem um template assim? Pode me mandar? Posso usar ele? Posso adaptar?’ A gente tem que ter
esse cuidado. Mas isso é natural. Eu busco muito modelos que já existem, porque eu tenho a premissa de que
existe muita coisa pronta e, às vezes, eu perco muito tempo
tentando criar alguma coisa que já existe.
124
Dentre os problemas relacionados com as rotinas e os sistemas técnicos,
as entrevistadas citaram que havia a necessidade de formalização de alguns itens. Mas de acordo com uma delas:
(...) esse pessoal da tecnologia não gosta muito de papel,
de preencher templates. Mas nós temos um processo formal. Eu preciso atender aos nossos parceiros, prestadores
de serviço. Então eles têm que escrever a ideia, não é só
falar para mim. Então tem que entrar no site, e preencher
o formulário. A gente ainda tem uma parte que é muito
burocrática e eles reclamam. E a gente tem tentado deixar
isso de uma forma mais dinâmica. Mas mesmo assim é um
ponto que eles não gostam.
A dimensão tecnológica da Tec pode ser representada pelo mapa mental
da ilustração 4:
Ilustração 4: Mapa Mental da Dimensão Tecnológica de Tec
Fonte: Autoras (2015).
A dimensão tecnológica possuía três componentes: ‘Transferência’ (conexão com as dimensões de coordenação e conhecimento), ‘Inovação
colaborativa’ (conexão com as dimensões de coadaptação, conhecimento
e cultural) e ‘Rotinas e sistemas técnicos’ (conexão com as dimensões de
coordenação e coadaptação).
A última dimensão das capacidades relacionais é a de coadaptação. De
acordo com as entrevistadas, era possível alterar um processo nas parcerias, para gerar mais benefícios e manter sua eficiência. As soluções
desenvolvidas objetivavam o melhor resultado para a aliança.
Mesmo em casos que os parceiros tivessem expectativas diferentes entre
si, havia uma extensa discussão das necessidades de cada um, com uma
intermediação neutra e transparente por parte da Tec para que a solução
fosse a mais benéfica para todos, principalmente para o beneficiário final
(jovem que participa dos cursos ofertados pelaTec). Como a demanda de
125
trabalho da entidade vinha das necessidades dos parceiros, era fundamental que a solução oferecida estivesse adequada às suas expectativas.
Dentre as aprendizagens obtidas, a partir de parcerias anteriores, citou-se:
maior transparência das ações para a sociedade, para gerar mais credibilidade e compreensão dos objetivos, ações e funções da entidade. Assim,
era possível a consolidação da entidade no desenvolvimento da sociedade
e a redução de suas dependências (principalmente política, mas também
financeira).
As parcerias não possuíam uma avaliação pré-definida, formal e quantitativa, apenas documentos e declarações que demonstravam o sucesso da
relação e dos projetos. De acordo com uma das entrevistadas: “O que a
gente tem são documentos, atestados, declarações feitas dos parceiros,
das atividades desenvolvidas. Eu acho que isso é um tipo de avaliação
deles, mas não tem uma pontuação”.
O fortalecimento dos laços entre os parceiros era feito pela divulgação
das atividades em comum (gerando marketing direto e gratuito), reconhecendo as ações (às vezes voluntárias) que as empresas aliadas faziam em
benefício da entidade ou de um projeto específico. De acordo com outra
entrevistada:
A gente precisa do apoio deles, para determinadas coisas,
assim como eles solicitam a gente para outras. Então a
gente faz esse gancho. Essa é a forma de continuar estreitando [os laços]. A gente divulga. Uma ação nossa, para
fortalecer a imagem, a gente faz divulgações. Algumas atividades (como, por exemplo, uma tradução que a gente ganhou) são atividades voluntárias. O que eu vou fazer com o
cara? Fiz uma nota de agradecimento e coloquei no site.
É uma forma de reconhecimento, porque as pessoas vão
ver isso, que eles estão colaborando conosco, que a gente
tem esse viés, que a gente tá envolvido com isso e que os
parceiros estão ali, de uma forma ou de outra contribuindo
com isso. (...) E porque a gente procurou esse parceiro específico para fazer a tradução? Por uma questão de valores,
ele está mais próximo, as pessoas fazem cursos lá. A gente
percebeu valores neles que convergem com os nossos.
A dimensão de coadaptação da Tec pode ser representada pelo mapa
mental da ilustração 5:
126
Ilustração 5: Mapa Mental da Dimensão de Coadaptação de Tec
Fonte: Autoras (2015).
A dimensão de coadaptação possuía quatro componentes: ‘Alterações
e soluções’ (conexão com a dimensão de conhecimento), ‘Avaliações’,
‘Experiências’ (conexão com a dimensão de coordenação) e ‘Laços fortes’(conexão com a dimensão de conhecimento).
Considerações finais
Este capítulo descreveu os resultados de estudo feito em uma organização sem fins lucrativos visando a identificação das capacidades relacionais
presentes na sua ação de desenvolvimento de tecnologia em cooperação
com outras organizações.
Percebeu-se que a organização Tec possuía todas as cinco dimensões das
capacidades relacionais: de coordenação, cultural, de conhecimento, tecnológica e de coadaptação. Porém, nem todos os componentes definidos
a priori neste estudo foram identificados no caso analisado. Para a coordenação das parcerias, Tec identificou a necessidade de comunicação
frequente entre os parceiros, a fim de propor soluções benéficas a todos
as organizações aliadas. Como as alianças eram realizadas com parceiros
que possuíam valores e cultura convergentes, a confiança foi obtida pelos
objetivos comuns e pelos resultados gerados. Mesmo assim, havia a necessidade de adaptação dos parceiros às normas e regras arraigadas, para
a manutenção das alianças.
As etapas de criação, integração e controle do conhecimento, bem como
a forma de comunicação entre os parceiros eram adaptáveis as necessidades e exigências dos parceiros. Já o alinhamento de interesses era obtido
pela demonstração dos benefícios da aliança. Ações de coordenação, tais
como reuniões, além de comunicação freqüente foram apontadas como
necessárias para que ocorresse a transferência de tecnologia. A inovação colaborativa baseava-se nas experiências anteriores, era influenciada
por questões culturais e precisava de comunicação entre as organizações
aliadas. A comunicação entre parceiros também era necessária para que
127
ocorressem alterações e busca de soluções benéficas, bem como fortalecimento dos laços entre as organizações.
Assim, foi possível, para a organização estudada, gerenciar os recursos
da parceria, identificando interdependências, produzindo sinergias e reduzindo conflitos. Também foi possível lidar com a diversidade cultural,
relacionar-se com a cultura e os valores de parceiros, para propiciar interações mais profundas e gerar oportunidades de co-criação de valor. A facilitação na criação, integração e transferência de conhecimento e de tecnologia permitiam a expansão da visão de sistemas técnicos e de inovação
tecnológica, colaboração e absorção de lições tecnológicas dos parceiros.
Mas para isso, foi necessário possuir a capacidade de se adaptar aos recursos existentes, para aumentar os benefícios da parceria, gerar novos
produtos, soluções mais eficazes ou melhoramentos no relacionamento.
Percebeu-se que a organização social analisada desenvolvia e integrava
suas dimensões da capacidade relacional de forma a obter e transferir
conhecimentos, gerenciar conflitos, promover confiança, a fim de proporcionar mais vantagens e benefícios para as parcerias, gerar valor e
aprendizagem e alcançar melhorias conjuntas de processo, adaptações e/
ou inovações em cooperações interorganizacionais.
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130
INTERAÇÃO UNIVERSIDADE-EMPRESA PARA
TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA: O CASO
DA AGÊNCIA DE INOVAÇÃO UFPR
7
Fernando Antonio Prado Gimenez
Emerson Carneiro Camargo
Alexandre Donizete Lopes de Moraes
Franciele Klosowski
Robert Adonias Costa Gomes
Em dezembro de 2004, o Brasil ganhou sua lei da Inovação (Lei 10.973/2004)
que estabeleceu, conforme seu artigo 1º., “medidas de incentivo à inovação
e à pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo, com vistas à
capacitação e ao alcance da autonomia tecnológica e ao desenvolvimento
industrial do País”.
Entre os diferentes quesitos dispostos na Lei da Inovação, um dos principais
é o conjunto de estímulos previstos nos capítulos 1 e 2 da lei que tratam
da construção de ambientes especializados e cooperativos de inovação e da
participação das instituições de ciência e tecnologia (ICT) no processo de
inovação. Quanto ao primeiro capítulo, o objetivo principal está localizado
na atuação dos governos e agências de fomento no apoio à constituição de
alianças intersetoriais (empresas, ICTs e organizações sem fins lucrativos)
para a geração de produtos e processos inovadores. Em relação ao segundo,
a legislação passou a permitir às ICTs a celebração de contratos de transferência de tecnologia e licenciamento de direito de uso ou exploração de
criações desenvolvidas em seu âmbito. Além disso, as ICTs foram autorizadas
a prestar serviços em atividades voltadas à inovação e à pesquisa científica e
tecnológica realizadas por empresas e outros tipos de organizações.
Para a consecução destas ações, a lei determinou que as ICTs devessem dispor de núcleo de inovação tecnológica (NIT), próprio ou em parceria com
outras ICTs, cuja função essencial seria a execução da política de inovação
da ICT. É nesse contexto institucional que as ICTs começaram a estruturar
ações voltadas ao aperfeiçoamento das relações Universidade-Empresa, em
especial no que diz respeito ao desenvolvimento conjunto de projetos de pesquisa científica com potencial de geração de produtos e/ou processos inovadores para imediata aplicação pelo setor produtivo, bem como a disseminação e transferência de tecnologias resultantes de seus esforços de pesquisa.
Esta legislação insere-se em um contexto global onde a inovação é considerada uma das molas propulsoras do desenvolvimento econômicos das
nações. A inovação é um fator essencial para a melhoria da competitividade das empresas e das nações. No entanto, do ponto de vista das organizações empresariais, o esforço de inovação pode ser altamente custoso,
o que torna mais difícil uma ação inovadora independente. Disso decorre
a necessidade de ações colaborativas entre empresas e instituições de ciência e tecnologia. Costa e Cunha (2001, p. 63) sintetizam os benefícios
mútuos desse tipo de cooperação apontando que: “a universidade tem a
possibilidade de captar recursos adicionais para o desenvolvimento das
132
pesquisas básica e aplicada, oferecendo um ensino vinculado aos avanços
tecnológicos; e a empresa pode desenvolver tecnologia com menor investimento financeiro, em menos tempo e risco”.
Outro aspecto que justifica a interação universidade-empresa é que, como
apontado por Vasconcelos e Ferreira (2002, p. 167), “inovação é um processo interativo realizado com a contribuição de vários agentes econômicos e sociais, que possuem diferentes tipos de informação e conhecimento”. Ora, as ICTs são um campo fértil de criação de novos conhecimentos
que podem ser aplicados em produtos ou processos empresariais, mas
é preciso fazer com que esse conhecimento chegue ao setor produtivo.
Essa é uma das funções dos NITs.
Embora a cooperação entre universidade e empresas não se restrinja à transferência de tecnologia, como bem apontado por Marcovitch (1999), esta ação
tem sido o foco de atuação principal dos NITs que foram criados a partir da
vigência da Lei de Inovação. Assim, o propósito deste capítulo é descrever
os esforços que a Agência de Inovação UFPR tem feito nesta direção e apresentar uma ferramenta que está sendo desenvolvida para tornar mais rápida,
simples e efetiva a cooperação universidade-empresa. Para cumprir essa finalidade, o capítulo contém mais quatro seções. Na próxima, apresenta-se um
panorama da atuação dos Núcleos de Inovação Tecnológica no Brasil a partir
de dados publicados em 2013 e 2014 pelo Ministério da Ciência Tecnologia
e Informação (MCTI). Em seguida, são apresentadas informações sobre a
Agência de Inovação UFPR, suas ações e resultados no que diz respeito
à interação universidade-empresa. A penúltima seção descreve um sistema
informatizado desenvolvido pela equipe da Agência de Inovação UFPR cujo
objetivo é superar alguns entraves que dificultam a interação universidade-empresa. No encerramento do capítulo, fazem-se considerações finais apontando as expectativas com a implantação desse sistema.
Núcleos de inovação tecnológica no brasil
A Lei de Inovação atribuiu ao MCTI a função de coletar, analisar e publicar,
periodicamente, informações sobre a atuação das ICTs no campo da inovação. Em 2013 e 2014, dados referentes à execução da política de propriedade
intelectual das ICTs do Brasil vieram a público nos Relatórios Formict (Brasil,
2013, 2014). Enquanto que em 2013, 193 ICTs preencheram o formulário de
coleta de dados disponibilizado pela Secretaria de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do MCTI, em 2014 este número chegou a 261 instituições.
Nos dois anos, as informações prestadas provieram, em sua vasta maioria de
ICTs públicas. Em 2012 eram 160 e em 2013, 194, correspondendo a 82,9%
e 74,3%, respectivamente, das ICTs que participaram do levantamento.
No relatório de 2012, as ICTS se distribuíram praticamente por todo o país,
com exceção de Acre e Rondônia que não tiveram informações prestadas
por nenhuma ICT. Já em 2013, todos os estados brasileiros tiveram pelo
133
uma ICT prestando informações sobre sua política de propriedade intelectual para o MCTI. A distribuição das IVCTS pelo Brasil foi semelhante nos
dois anos. Em 2012, a região sudeste concentrou 40,9% das ICTs, seguida
pela região sul com 22,8%. Em 2013, houve pouca variação nos números,
ficando o Sudeste com 39,5 % das ICTS e o Sul com 23,0%. Nesse período,
as outras regiões brasileiras responderam por aproximadamente um terço
das ICTs. A posição relativa entre Centro-oeste e Norte alterou-se de 2012
para 2013, com um decréscimo da participação do Nordeste e aumento
da participação das ICTs localizadas na região norte do país. Estes dados
podem ser visualizados na tabela 1.
Tabela 1: Distribuição de ICTs por Região
REGIÃO
ICTs PÚBLICAS ICTs PRIVADAS
N
%
2012
2013
2012
2013
2012 2013 2012 2013
Sudoeste
69
79
10
24
79
103
40,9
39,5
Sul
28
33
16
27
44
60
22,8
23,0
Nordeste
35
42
2
9
37
51
19,2
19,5
Centrooeste
16
17
1
2
17
19
8,8
7,3
Norte
12
23
4
5
16
28
8,3
10,7
Fonte: Brasil (2013, p. 13; 2014, p. 10).
Embora a Lei de Inovação tenha estabelecido que a finalidade dos NITs é
gerir a política de inovação das ICTS, as informações coletadas revelaram
uma situação curiosa. Em 2012, entre as 193 ICTs, 31,1% delas ainda não tinham implementado um política de inovação. Essa situação se mostrou mais
acentuada entre as ICTs públicas que reportaram a inexistência de política de
inovação implementada em 52 delas, ou seja, 32,5%. No caso das privadas,
esta proporção foi de 24,2% das ICTs sem política de inovação implementada (Brasil, 2013, p. 16). Apesar do aumento das ICTs participantes do levantamento, essas proporções mantiveram-se praticamente as mesmas em 2013
para o conjunto das ICTs, conforme pode ser visto na tabela 2.
134
Tabela 2: Implementação da Política de Inovação pelas ICTs
Política
de
Inovação
Implementada
ICTs PÚBLICAS ICTs PRIVADAS
N
%
2012
2013
2012
2013
2012 2013 2012 2013
Sim
108
133
25
48
133
181
68,9
69,3
Não
52
61
8
19
60
80
31,1
30,7
Fonte: Brasil (2013, p. 16; 2014, p. 12).
Situação semelhante foi revelada pelos números que dizem respeito ao estágio de
implementação dos NITs. Nesse caso, em 2012, as instituições públicas revelaram que os NITs estavam efetivamente implementados em 76,2% delas, enquanto que em implementação ou não criados foram, respectivamente, 20,0% e 3,8%.
Para as privadas, os números de NIts em implantação ou não criados foram ainda
maiores, com 21,2% das ICTs em cada situação. Ou seja, pouco mais da metade
das ICTs privadas tinham, em 2012, NITs atuantes. No cômputo geral, 73,1%
das ICTs informaram que os NITs estavam implementados (Brasil, 2013, p. 1920). Para 2013, com o crescimento dos NITs, a proporção de ICTS que informaram NIts implementados caiu para 72,2% (Brasil , 2014, p. 15)
No que diz respeito à proteção de propriedade intelectual, pouco mais de dois
terços (69,4%) dos NITS registraram pedidos de proteção intelectual em 2012.
O total de pedidos de proteção solicitados em 2012 foi de 1.769, dos quais
65,5% foram de patente de invenção. Outros tipos de pedidos foram menos
frequentes. Por exemplo, programas de computador representaram 13,5% do
total e registros de marca totalizaram 12,5% (Brasil, 2013, p. 33). Por outro
lado, em 2013, esse indicador caiu 13 pontos percentuais, ou seja, 56,7% dos
NITs informaram atividades relacionadas a pedidos de proteção intelectual
(Brasil, 2014, p. 23). Nesse ano foram depositados 1.901 pedidos de proteção,
dos quais 1.198 (63,0%) foram patentes de invenção, revelando uma pequena
queda desse tipo de pedido em relação ao total. Programas de computador e
registros de marca, em termos proporcionais, mantiveram-se praticamente na
mesma situação com 13,6% e 13,0%, respectivamente (Brasil, 2014, p. 26).
Uma tarefa importante dos NITs é o gerenciamento dos contratos de transferência de tecnologia. Mas, essa é uma atividade executada por um pequeno número dos NITS. Os dados parecem evidenciar que não é fácil fazer
com que produtos e processos inovadores com origem nas ICTs tenham
uma aplicação efetiva no mercado ou na sociedade. Os dados referentes a
2012 demonstram que apenas 45 ICTs, ou seja, 23,3% das participantes no
levantamento. A situação em 2013 foi um pouco pior. Nesse ano, 46 ICTS
tiveram contratados firmados, o que equivale a menos de 20% das que
prestaram informações ao MCTI. O montante desses contratos passou de
R$ 285,2 milhões em 2012 para R$ 302,7 milhões em 2013.
135
A agência de inovação ufpr
A Universidade Federal do Paraná é possuidora de grande potencial para o
desenvolvimento tecnológico. Para que esse conhecimento pudesse ser transmitido ao setor produtivo foi criada a Agência de Inovação UFPR que busca
contribuir para o aumento da competitividade e da relevância das pesquisas
desenvolvidas na instituição, fomentando a inovação e o desenvolvimento
científico, tecnológico, social e econômico da sociedade brasileira.
Para a consolidação da Agência de Inovação UFPR foram necessárias mudanças na sua organização. Inicialmente as políticas de propriedade intelectual e inovação na UFPR eram executadas por três órgãos: o NPI (Núcleo
de Propriedade Intelectual), o Portal de Relacionamento e o NEMPS (Núcleo de Empreendedorismo e Projetos Multidisciplinares). Posteriormente,
em 28 de maio de 2008, por meio da Resolução nº 16/08 – COPLAD, foi
instituída a AGITEC – Agência de Inovação Tecnológica pela qual tais
órgãos foram substituídos, respectivamente, pela Coordenação de Propriedade Intelectual, pela Coordenação de Transferência de Tecnologia e pela
Coordenação de Empreendedorismo e Incubação de Empresas.
Em 2009, a Agência de Inovação Tecnológica (AGITEC) passou a ser
denominada Agência de Inovação UFPR. A razão dessa mudança foi a
abrangência das questões não só tecnológicas, mas também à sua pertinência em incubar empresas, preocupação com a implementação da
cultura do empreendedorismo, economia criativa, além do registro da
propriedade intelectual e transferência de tecnologias geradas na UFPR.
Nesse ano foi criada a marca com a logo e nome Agência de Inovação
UFPR, oficialmente registrada no Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI).
Desde que foi fundada, a missão da Agência de Inovação UFPR é a de promover a articulação da UFPR com a sociedade civil, aproximando de um
lado a produção científica realizada pela comunidade acadêmica e de outro,
as aplicações práticas deste conhecimento por meio da colaboração entre
academia, empresas, governos e Estado. Especificamente os objetivos da
Agência de Inovação UFPR, elencados no seu ato de criação, são:
• Zelar pela política de inovação tecnológica da UFPR para estar em consonância com a legislação em vigor;
• Valorizar a pesquisa aplicada e que resulta em inovação tecnológica capaz de
agregar valor econômico e melhoria da qualidade de vida da sociedade;
• Articular parcerias estratégicas entre a UFPR e os setores empresarial, governamental e não governamental para atuar em projetos cooperativos de
desenvolvimento científico-tecnológico;
• Estimular o processo de pré-incubação e incubação de empresas inovadoras
de base tecnológica e social no âmbito da Universidade;
• Difundir a cultura de proteção da propriedade intelectual na Universi-
136
dade para estimular o registro, o licenciamento e a comercialização dos
ativos intangíveis; e
• Disseminar a cultura empreendedora para toda a comunidade universitária.
No decorrer dos últimos três anos são claramente visualizados os resultados
quantitativos que demonstram a consolidação da Agência de Inovação UFPR
nas suas três áreas de atuação, estimulando a cultura da propriedade intelectual,
o número de patentes registradas, adotando práticas maduras na gestão de contratos de transferência de tecnologia e atuação mais abrangente na incubação
de empresas de base tecnológica e de economia criativa, disseminando a cultura
do empreendedorismo na instituição. Sua administração é orientada por princípios e diretrizes estabelecidos por um Conselho Diretor e executada por uma
Diretoria Executiva e três Coordenações: Empreendedorismo e Incubação de
Empresas; Propriedade Intelectual; e Transferência de Tecnologia.
A Coordenação de Empreendedorismo e Incubação de Empresas é a responsável pela supervisão das atividades de incubação de empresas na UFPR. A
incubação de empresas na Agência de Inovação UFPR acontece desde o início
de 2010. O processo de incubação é normatizado por editais de fluxo contínuo, voltados para empresas de base tecnológica e de economia criativa. Para
cada um dos tipos de empresas, há a possibilidade de incubação residente ou
não residente. Na modalidade residente, as incubadas ocupam espaços físicos
junto aos laboratórios setoriais ou departamentais da UFPR. Já na modalidade não residente, as incubadas têm suas sedes próprias. Para ambas, contudo,
é disponibilizada uma infraestrutura adequada para realização de reuniões de
acompanhamento, de negócios e de orientação contando com computadores
com acesso a internet, impressora, biblioteca própria e espaço climatizado para
reuniões com capacidade para quinze pessoas e apresentações digitais em áudio
e vídeo. Dentre os serviços prestados pela Coordenação de Empreendedorismo e Incubação de Empresas estão os seguintes:
• Acompanhamento do desenvolvimento da empresa incubada;
• Consultorias especializadas sobre gestão empresarial e temas correlatos à
atividade empreendedora;
• Consultoria na elaboração de projetos de captação de recursos junto às
agências de fomento;
• Realização da interface com a UFPR para integração com pesquisadores e
acesso a laboratórios;
• Realização da interface com outras incubadoras do estado do Paraná e demais regiões;
• Oferta de cursos, palestras e workshops;
• Orientação e organização de ações para apresentação de projetos a investidores em rodadas de negócio; e
• Orientação no registro de propriedade intelectual (em parceria com a Coordenação de Propriedade Intelectual).
137
A Coordenação de Propriedade Intelectual é responsável pela gestão da Propriedade Intelectual resultante das pesquisas científicas da UFPR. Oferece
orientação e apoio aos pesquisadores, além de administrar os processos de proteção frente ao INPI e demais instituições competentes. As principais atuações
da Coordenação de Propriedade Intelectual são:
•
•
•
•
•
Disseminação da cultura de propriedade intelectual;
Palestras e workshops;
Participação em eventos que envolvam tecnologia e inovação;
Orientação aos pesquisadores da UFPR nos processos de proteção;
Registro e acompanhamento dos processos de proteção junto aos órgãos
competentes;
• Atendimento a inventor independente, de acordo com o previsto no art. 22
da Lei de Inovação; e
• Colaboração para o desenvolvimento de Sistemas Regionais de Inovação.
A Coordenação de Transferência de Tecnologia tem como finalidade assegurar
que o conhecimento científico e tecnológico produzido na UFPR esteja ao
alcance do setor produtivo da sociedade, a fim de que sejam desenvolvidas
aplicações práticas a partir dos resultados das investigações científicas realizadas na Instituição. Da criação de uma nova tecnologia, a partir do processo de
produção do conhecimento, até o desenvolvimento de um produto comercial,
a Coordenação de Transferência de Tecnologia atua na divulgação e negociação
da propriedade intelectual da UFPR e no acompanhamento dos contratos. A
Coordenação de Transferência de Tecnologia realiza:
•
•
•
•
Rodadas de negócio;
Reuniões com empresas e pesquisadores;
Negociação de valores e percentuais dos contratos; e
Elaboração e abertura de editais de licenciamento para uso e exploração de
propriedade intelectual.
A partir de 2008, a Agência de Inovação UFPR acelerou os esforços de proteção intelectual e de transferência de tecnologia no âmbito da UFPR. Desde
2.000, já foram feitos 357 depósitos de patente. Antes da criação da Agência de
Inovação UFPR, haviam sido depositadas 58 patentes, ou seja, 16,2% do acumulado até esta data. Por outro lado, entre 2008 e 2015, esse número chegou a
299, representando 83,8% dos depósitos de patentes solicitados pela UFPR em
15 anos. Nessa série histórica, 2012 e 2014 foram os anos com maior número
de depósitos, 73 e 64 respectivamente. Devido à lentidão do processo de análise e concessão de patentes no Brasil, infelizmente, até o momento apenas três
patentes foram efetivamente concedidas.
138
Além de depósitos de patentes, a Agência de Inovação UFPR tem efetuado o
registro de outras formas de propriedade intelectual. No caso de programas de
computadores, estes começaram a ser depositados a partir de 2011, totalizando
11 até o momento. O primeiro pedido de proteção de desenho industrial foi
feito em 2012. No total, nos últimos três anos a Agência de Inovação UFPR
depositou oito pedidos de registro de desenhos industriais. Para essas duas modalidades, já foram concedidas as proteções de três programas de computadores e um desenho industrial.
Na outra ponta do processo, a transferência de tecnologia para o setor produtivo,
que começou timidamente em 2009, tem apresentado um crescimento contínuo
desde então. Entre as modalidades de transferência, as mais comuns têm sido
licenciamento sem exclusividade, co-titularidade com ICT co-titularidade com
empresa. Nos últimos seis anos, foram efetivados 44 contratos de transferência
de tecnologia. Esse esforço de transferência de tecnologia tem gerado resultados
financeiros para a UFPR. Nos últimos dois anos, foram captados 565,8 mil reais
em contratos de licenciamento negociados pela Agência de Inovação UFPR.
O sistema integrado de gerenciamento universidade empresa
O cenário contemporâneo, considerando principalmente o competitivo mercado global, leva as empresas a cada vez mais buscarem diferenciais competitivos de alto impacto para obter melhores resultados produtivos e comerciais.
A Inovação é essencial neste contexto para a manutenção ou crescimento
dentro de um mercado. Para isso são necessários altos investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento, o que pode limitar a atuação de muitas empresas,
principalmente as empresas nascentes ou aquelas em dificuldades que buscam recuperar seu espaço.
Uma alternativa para a sobrevivência em um cenário como este é a cooperação técnica por meio da contratações de serviços e licenças de exploração de
139
novas tecnologias desenvolvidas pelas ICTs. Não se faz necessária, seja parcialmente ou na totalidade, a pesquisa e desenvolvimento dentro da empresa
quando é possível se obter os resultados utilizando-se da estrutura e corpo
técnico das Universidades. Outro fato que deve ser considerado são os incentivos fiscais e financiamentos do Estado para empresas que investem em Inovação. Esta é uma oportunidade que não pode ser descartada pelas empresas.
Porém, a relação entre a Universidade e o Setor Produtivo não é tão simples
quanto parece. Para que essa proposta se realize, existe a necessidade de passar por todas as etapas burocráticas de formalização, respeitando todo um
arcabouço legal existente. Além disso, um alinhamento de objetivos precisa
acontecer entre o perfil acadêmico do corpo técnico das Universidades e as
necessidades estratégicas das empresas. Questões como tempo de respostas,
noção de escalas de produção e visão comercial necessariamente precisam
estar ajustadas na parceria.
No Brasil, muitas vezes ainda falta o básico: o primeiro contato entre as partes. O simples conhecimento da oferta e da demanda precisa existir. Foi pensando nesta problemática que a Agência de Inovação UFPR propôs como
solução a elaboração de uma plataforma específica que pudesse auxiliar a
aproximação entre o Setor Produtivo e a Universidade.
O SIGUE (Sistema Integrado de Gerenciamento Universidade Empresa)
é uma plataforma online que proporciona um ambiente de interação e comunicação entre empresas e a UFPR para ações cooperativas de pesquisa e
desenvolvimento, além da transferência de tecnologia, licenciamentos, e apresentação dos serviços dos laboratórios da UFPR. A ideia central do SIGUE é
apresentar pesquisadores e laboratórios de forma simples, objetiva e intuitiva
para a sociedade, permitindo que representantes do setor produtivo possam
conhecer e entrar em contato com o corpo técnico altamente qualificado da
UFPR para solucionar os desafios tecnológicos de suas empresas.
Ao entrar no sistema, o usuário é recepcionado com uma página inicial convidativa, que apresenta os três conceitos básicos que permeiam todas as interações do SIGUE:
• Cooperação Técnica: Mecanismo voltado à pesquisa científica, tecnológica e da inovação que define o papel das partes envolvidas para execução de
atividades em regime de mútua cooperação. É o instrumento que define a
realização de pesquisas conjuntas entre universidade e empresa.
• Prestação de Serviços: Compreende pesquisas, assessorias e consultorias financiadas por terceiros e se dá na forma de programas, projetos ou
ações. Permite que laboratórios realizem análises e solucionem problemas
pontuais da empresa contratante.
• Transferência de Tecnologia: Processo para disponibilizar uma tecnologia
inovadora para os setores produtivos da sociedade. Consiste nos licenciamentos das patentes e outras tecnologias protegidas pela UFPR.
140
Além disso, é feita uma breve apresentação dos bancos pesquisáveis pelo
SIGUE, sendo estes Pesquisadores, Laboratórios e Patentes. Cada um destes
bancos conta com página introdutória própria e página de busca dedicada,
que funciona em paralelo com a página de busca geral do SIGUE.
A página de busca do SIGUE foi desenvolvida pensando em uma experiência
mais visual, onde são apresentados até seis pesquisadores, seis laboratórios
e duas patentes por vez. Cada um destes itens conta com miniatura padrão,
que pode ser customizada para a imagem do currículo Lattes, no caso de
pesquisadores, ou alguma imagem específica fornecida pelos pesquisadores,
no caso de laboratórios e patentes.
A busca encontra as palavras digitadas nos seguintes campos:
• Para pesquisador: nome do pesquisador ou linha de pesquisa;
• Para laboratório: nome do laboratório ou serviço prestado;
• Para patente: número da patente, título da patente, nome de inventor.
Por exemplo, esta dinâmica de pesquisa permite que um usuário entre com a
pesquisa “água” e obtenha como resultado, laboratórios que realizam análise
de água, pesquisadores cuja linha de pesquisa envolva qualidade da água e
patentes sobre tratamento de água.
Ao clicar em um resultado de pesquisador, é aberta a página pessoal deste
pesquisador, onde constam:
•
•
•
•
•
•
Link para currículo Lattes;
Setor a que está vinculado na UFPR;
Departamento a que está vinculado na UFPR;
Breve resumo - importável do Lattes;
Laboratórios cadastrados no SIGUE a que está vinculado;
Linhas de pesquisa cadastradas no SIGUE.
Além destes itens, a página de pesquisador conta com um botão de destaque
na cor verde com a inscrição “Desejo trabalhar com este pesquisador”. Ao
clicar neste botão, uma caixa de diálogo é aberta que permite ao visitante
registrar seu interesse na cooperação técnica. O conteúdo deste formulário
é enviado para tanto para o pesquisador quanto para a Agência de Inovação
UFPR, permitindo o início das conversas para formalização e realização do
pretendido.
Quando o usuário clica em um resultado de laboratório, é aberta a página
deste laboratório, onde constam:
• Pesquisador coordenador (com link para página pessoal do SIGUE);
• Setor a que está vinculado na UFPR;
• Departamento a que está vinculado na UFPR;
141
• Descrição do laboratório;
• Lista de pesquisadores que formam a equipe do laboratório (com links
para páginas do SIGUE);
• Lista de equipamentos disponíveis no laborátorio (com caixa de informação apresentando as informações cruciais);
• Lista de serviços disponíveis;
• Link para o site do laboratório.
Tal como os pesquisadores, a página de laboratório conta com um botão de
destaque na cor verde com a inscrição “Desejo trabalhar com este laboratório”. O funcionamento deste botão é similar ao da página de pesquisador.
Outro contato disponível na página de laboratório trata-se da lista de serviços disponíveis. Cada item é clicável, ressaltado pela inscrição “Clique
em um serviço para mais detalhes”, e abriga uma caixa de diálogo que
apresenta maior detalhamento do serviço. A caixa também conta com
um botão de destaque na cor verde com a inscrição “Tenho interesse
neste serviço”. Quando clicado, o botão revela um formulário similar ao
de contato apresentado pelos outros botões e permite registrar interesse
na contratação do serviço. Esta função, apesar de não tratar do início
de nova pesquisa ou licenciamento de tecnologia, foi implementada para
consolidar o SIGUE como o caminho para a realização de negócios e
interação Universidade-Empresa.
Ao clicar em um resultado de patente, é aberta a página de busca dedicada a
patentes. Tal comportamento foi assim projetado para separar melhor possibilidades de novas pesquisas e o licenciamento de tecnologias já desenvolvidas, além de reduzir a quantidade de informação na página de busca geral.
Os itens da página de busca dedicada a patentes são apresentados em página
própria, contendo as seguintes informações:
• Número do pedido de patente;
• Data de depósito da patente (indicando a data limite de proteção, quando
já concedida);
• Relação de inventores;
• Resumo da patente (o mesmo submetido ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial - INPI).
Tal como os outros itens, a página de patente conta com um botão de destaque na cor verde com a inscrição “Desejo licenciar esta tecnologia”. O
funcionamento deste botão é similar aos encontrados nas páginas de pesquisador e laboratório.
Além da funcionalidade apresentada para o público externo, o SIGUE também foi pensado para facilitar a participação do público interno. Na própria
página inicial, há um link para a área exclusiva do pesquisador, onde pode
ser realizado o login e o cadastro. Este último, para evitar retrabalho, pode
142
aproveitar as informações já digitadas no currículo Lattes, através do upload
deste no formato XML.
O cadastro de pesquisador contém, além das informações apresentadas na
página pessoal, campos de contato, como telefone, site e e-mail, que só estão
disponíveis para a própria Agência de Inovação UFPR. O cadastro de laboratório também solicita essas informações, porém, só pode ser realizado por
um pesquisador já cadastrado no sistema, a fim de evitar que laboratórios não
tenham nenhum pesquisador em sua equipe.
A manutenção do conteúdo é de responsabilidade de pesquisadores e laboratórios, através da área do usuário. A exceção à regra se dá quando se
trata do cadastro e atualização das patentes, que são realizados pela própria
Agência de Inovação.
Apesar da área do usuário também listar todas as demandas por pesquisa
conjunta e prestação de serviços, a principal via de comunicação é o e-mail,
ferramenta já utilizada por praticamente todos os pesquisadores. Este meio
de comunicação permite que não haja curva de aprendizado ou criação de
novos hábitos, uma vez que a notificação de contatos ocorre em uma ferramenta usada diariamente pelos pesquisadores.
O site foi programado usando frameworks como Bootstrap e Laravel, o que
permite que ele apresente o conteúdo de forma dinâmica, isto é, adequando-se ao tamanho de tela/navegador em que está acessando e melhorando a
usabilidade em dispositivos móveis.
Iniciativas semelhantes a esta podem ser vistas em outras universidades,
como a plataforma SOMOS, usada por UFMG e Unicamp. No entanto, o
foco destas é comumente acadêmico e a experiência fica prejudicada, pelo
excesso de informação. Ademais, o SIGUE desponta com o diferencial de
ser uma plataforma acionável, não apenas apresentando os pesquisadores e
laboratórios, mas também permitindo contato direto com estes para concretização de possíveis parcerias.
Considerações finais
A aliança entre o setor produtivo e as ICTs é um elemento essencial para a
Inovação. É de alta importância levar o conhecimento gerado na Universidade para a sociedade, promovendo o desenvolvimento socioeconômico. Para
tanto, é essencial a facilitação da relação Universidade-Empresa, refletindo
em um maior número de contratos de parcerias e transferência de tecnologia
e um maior volume de recursos oriundos destas parcerias para pesquisa.
A criação de uma ferramenta que facilite esta relação, tornando-a mais rápida,
simples e objetiva, reflete um esforço na busca da excelência na divulgação e
negociação da propriedade intelectual e competências da UFPR.
143
Atualmente, a Agência de Inovação UFPR está trabalhando para finalizar a
implantação desta plataforma e avaliando funcionalidades a serem adicionadas a esta no futuro. Esperamos que o resultado seja positivo e facilite o
contato entre pesquisadores e empresas para pesquisa e licenciamento de
tecnologia, dois dos maiores desafios encontrados hoje pela Universidade.
Referências
BRASIL. Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Secretaria de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação Política de Propriedade Intelecutal
das Instituições científicas e Tecnológicas do Brasil: Relatório Formict 2012.
Brasília: Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, 2013. 58p.
BRASIL. Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Secretaria de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação Política de Propriedade Intelecutal
das Instituições científicas e Tecnológicas do Brasil: Relatório Formict 2013.
Brasília: Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, 2014. 54p.
COSTA, V. M. G.; CUNHA, J. C. A universidade e a capacitação tecnológica das empresas. Revista de Administração Contemporânea, v. 5, n. 1, p.
61-81, 2001.
MARCOVITCH, J. A cooperação da universidade moderna com o setor empresarial. Revista de Administração, v. 34, n. 4, p. 13-17, 1999.
VASCONCELOS. M. C. R. L. de; FERREIRA. M. A. T. A contribuição
da cooperação universidade/empresa para o conhecimento tecnológico da
indústria. Perspectivas em Ciência da Informação, v. 5, n. 2, p. 167-182, 2000.
144
ECOSSISTEMAS DE INOVAÇÃO: UMA META-SÍNTESE
8
Marcos Ferasso
Adriana Roseli Wünsch Takahashi
Fernando Antonio Prado Gimenez
A inovação ocupa lugar de destaque em pesquisas relacionadas à Administração de empresas, notadamente por ser esta um dos elementos-chave de
sustentabilidade de qualquer negócio em qualquer setor da economia. No entanto, à medida que a concorrência se torna mais veloz e voraz, as empresas
necessitam de um constante investimento em atividades que favoreçam, nos
seus níveis internos, a descoberta constante de inovações, o que permite que
estas sobrevivam no mercado.
Porém, ao passo que os mercados consumidores passaram a exigir cada vez
mais destas empresas, viu-se surgirem problemas de ordem tecnológica no nível interno destas empresas: por vezes estas não possuem todos os recursos
de que necessitam para inovar, o que requer novos modelos organizacionais
para ultrapassar tais obstáculos. Na literatura sobre estratégia, as empresas
buscam em diversas formas de parcerias a possibilidade de co-criar produtos e colocá-los no mercado, tais como visto em arranjos produtivos locais
(ou clusters industriais (MARSHALL, 1920; LUNDWALL, 1985; PORTER,
1990), alianças estratégicas (DEVLIN e BLEACKLEY, 1988; EISENHARDT
e SCHOONHOVEN, 1996; PARKHE, 1993) e redes (GRANDORI e SODA,
1995; HITE e HESTERLY, 2001; LECHNER e DOWLING, 2003), dentre
outras, principalmente devido à não disponibilidade dos recursos (WERNERFELT, 1984; BARNEY, 1991) ou visando economia dos custos de transação
(COASE, 1937). Em geral, os recursos são transacionados mediante contratos
(WILLIAMSON, 2002) entre as empresas para a manufatura de um produto,
dado que sozinhas não teriam condições de criá-lo. De igual forma, essas parcerias surgem quando as empresas não detêm, de forma isolada, o conhecimento
total necessário para criar o mesmo produto (FOSS, 1996; GRANT, 1996).
À medida que os produtos se tornam complexos, tanto em termos de componentes como quanto ao processo de fabricação dos mesmos, arranjos mais complexos de organizações são necessários, principalmente em setores onde a demanda
de recursos especializados e a mão-de-obra altamente especializada são fatores
essenciais. Estes laços criam interdependências entre estas empresas, indo além
de algum tipo de parceria momentânea, para algo mais permanente em termos
de relações e de longo prazo, a exemplo do surgimento dos clusters industriais de
alta intensidade tecnológica (ou high-tech clusters), prevendo uma territorialidade e interdependência em seus conceitos (BRESNAHAN e GAMBARDELLA,
2004; FOSFURI e RØNDE, 2004; MAGGIONI, 1999; REES, 2005).
No entanto, os setores em que há maior potencial de oportunidades de negócios - tais como nanotecnologia, biotecnologia, aeroespacial - requerem
recursos e conhecimentos que estão dispersos não apenas em uma região
geograficamente delimitada. Uma empresa pode co-criar um produto com
parceiros de países diferentes, o que pode ser facilitado pela proximidade
146
cognitiva (LAGENDIJK e LORENTZEN, 2007; MOLINA-MORALES,
GARCÍA-VILLAVERDE e PARRA-REQUENA, 2014). Assim, a literatura dos clusters industriais e das cadeias produtivas (THOMAS e GRIFFIN,
1996; FISHER, 1997; LAMBERT e COOPER, 2000; CHRISTOPHER,
2000) não é mais suficiente para explicar o fenômeno observado modernamente em setores de alta intensidade tecnológica. Dessa forma, surge o novo
conceito de ecossistemas de inovação.
O objetivo deste texto é apresentar a construção teórica, por meio de uma
meta-síntese (HOON, 2013), do conceito de ecossistema de inovação. Para
isso, foram observados os postulados de Hoon (2013) com relação à extração,
análise e síntese de evidências qualitativas para a construção de tal teoria por
meio de síntese interpretativa. A meta-síntese oportuniza uma criação prática
de teoria baseada por meio do refinamento das teorias geradas em estudos
de casos selecionados. Ao contrário da meta-análise de estudos quantitativos,
cujo caráter é agregador com ênfase em relações estatísticas, a meta-síntese
embasa-se em uma perspectiva interpretativa (WALSH e DOWNE, 2005).
Este capítulo está estruturado em quatro seções, além dessa introdução. A próxima seção apresenta o conceito de ecossistemas de inovação e seus antecedentes.
Na terceira seção estão descritos os procedimentos metodológicos adotados bem
como suas fases. Em seguida, a quarta seção descreve os artigos selecionados
acerca da temática e discute a contribuição dos textos para a construção teórica
sobre ecossistemas de inovação. Por fim, a última seção encerra o trabalho apresentando as principais conclusões e achados teóricos da pesquisa.
Evolução do conceito de ecossistemas de inovação
O termo cluster se deve ao surgimento do conceito de aglomeração em Marshall (1920), que se interessava pelos estudos das aglomerações produtivas de
empresas que se uniam em um determinado espaço geográfico e em setores
econômicos próximos e complementares cujos laços interdependentes as
permitiam produzir produtos que não conseguiriam de forma isolada. Ainda
na Economia, Schumpeter (1934) apontou que o caminho para o desenvolvimento econômico passaria necessariamente pelo empreendedorismo, função econômica diretamente relacionada à inovação, e dependente do estabelecimento de uma cultura voltada à inovação. Portanto, é a empresa que,
combinando os recursos em diferentes métodos de produção, promove o
desenvolvimento de novos produtos e inovações.
Dahmén (1950, apud LANDSTRÖEM e LOHRKE, 2010), em sua tese sustentou que o desenvolvimento econômico se daria em contexto de blocos de
desenvolvimento, dando ênfase às complementaridades, ou seja, as diferentes
partes que se combinam. E Perroux (1955) contribuiu com a teoria dos polos de crescimento a partir dos estudos da concentração industrial francesa.
Perroux descobriu que atividades econômicas conexas tendiam a se atrair
geograficamente e a formar concentrações em polos de crescimento.
147
Lundwall (1985), seguido mais tarde por Nelson (1993), analisaram o desenvolvimento a partir dos sistemas nacionais de inovação. Freeman (1987 apud
DORE, 1988), discípulo de Lundwall e seguindo os seus postulados, afirmou
que a inovação passou a ser o foco de estudo nos clusters industriais, notadamente no que se refere à formação dos sistemas nacionais de inovação, um
todo complexo formado por fatores de produção.
Nos estudos da área da Estratégia, viu-se surgir a partir de Porter (1990) a
aplicação do termo cluster para as aglomerações de empresas, a partir dos
estudos feitos em aglomerações de empresas italianas, tal como feito por
Putnam (2000). A perspectiva da concentração geográfica perdura nos postulados de McCann (2001) e Krugman (1991), dado que esta decorre de alguma
evidência de retornos crescentes que este tipo de produção proporciona.
Nas últimas duas décadas, o termo cluster industrial foi amplamente debatido, tais como nas pesquisas de Bathelt (2005), Dahl e Pedersen (2004), Krafft (2004), Iammarino e McCann (2006), Menzel e Fornahl (2007), Klink e
Langen (2001), Karlsson, Johansson e Stough (2005), Karlsson, Johansson
e Stough (2006), Bayliss (2007), Fleisher et al (2010), Chyi, Lai e Liu (2012),
Biggiero e Sammarra (2010), Braunerhjelm e Feldman (2008), Casanueva,
Castro e Galán (2013), e Kim e Jeong (2014). Em razão da evolução tecnológica e das novas formas de criação de novos produtos e de novas formas de
organizações restou evidente a necessidade de um novo termo conceitual que
considerasse a realidade atual.
O conceito de cluster industrial engloba, além da aglomeração de empresas
de setores próximos e complementares, da concentração geograficamente
delimitada, e do apoio de uma governança (PROPRIS, 2001; SUGDEN,
WEI e WILSON, 2006), uma estrutura maior que as empresas e que cumpre
o papel de aglutinar todos os esforços dos diversos atores deste lócus produtivo. Em setores de alta intensidade tecnológica esta lógica da territorialidade
parece fazer mais sentido quanto à produção em escala de um dado produto,
do que a sua criação ou (OCDE, 2011).
Assim, pela limitação conceitual do termo, presenciou-se o surgimento de um
novo conceito, que agora emerge da Biologia. Os aglomerados produtivos
são considerados como ecossistemas de inovação, o que em muito decorre
do conceito de cluster industrial pela integração dos mecanismos, cujas empresas coordenam seus recursos voltados à descoberta de inovações (ADNER, 2006). A consideração da inovação em um ambiente com a perspectiva
biológica também está presente em Luoma-aho e Halonen (2010) e Russell et
al (2011): o ecossistema é um sistema que apresenta-se favorável à captação
de recursos e facilita o crescimento dos negócios, uma vez que grandes inovações não surgem de forma isolada.
Revisitando a fonte do conceito de ecossistemas, a Biologia, este é entendido como o todo das relações conexas entre organismos vivos e o ambiente
148
(MORAN, 1990); uma unidade da ecologia formado por organismos, materiais não vivos, fluxos de energia que circulam dentro e fora do sistema, o que
formaria um microcosmo dependente de fatores externos e este ecossistema
é delineado por um limite difícil de ser definido, por vezes entrelaçado a
outros ecossistemas (BEYERS, 1964). E em se tratando da inovação, esta é
entendida neste artigo na perspectiva de Schumpeter (1934), no que tange ao
novo produto e ao novo processo pelo qual este é produzido.
Em Zahra e Nambisan (2011) encontra-se a máxima de que as empresas perceberam a necessidade de captar redes de conhecimento que se encontram
não mais localizadas geograficamente, mas dispersas globalmente, e que sejam necessárias à descoberta de inovações para melhor servir aos consumidores. Portanto, estes ecossistemas voltados à inovação permitem às empresas
gerenciarem seus recursos diversos para descobrirem as inovações necessárias à sustentabilidade de seus negócios.
Em virtude da novidade conceitual ainda pouco explorada na literatura, pretende-se construir teoria por meio de uma meta-síntese (Hoon, 2013) acerca
do conceito de ecossistema de inovação a partir da consulta da produção
científica indexada disponibilizada.
Procedimentos do estudo
Para atender ao objetivo desta pesquisa, foram consultadas as publicações
internacionais disponibilizadas no Brasil e indexadas em 242 bases de dados,
via acesso ao portal Periódicos CAPES. Este trabalho foi realizado entre outubro e dezembro de 2014.
Para a busca dos artigos, executou-se a primeira fase da meta-síntese segundo
os postulados de Hoon (2013), que teve início a partir da definição do conceito a ser melhor explorado, oriundo da evolução dos conceitos de clusters
industriais, neste caso o conceito de ecossistemas de inovação.
Na fase seguinte, decidiu-se fazer a primeira busca por termo-chave, com
o termo ‘innovation ecosystem’. A pesquisa inicial não necessitou de pesquisa booleana (com os termos ‘OR’, ‘AND’), pois se objetivava encontrar a maior quantidade possível de artigos que contivessem tais termos
em razão da novidade conceitual. Não houve restrição de período para
que se obtivesse a maior quantidade de publicações e esta fase inicial resultou em uma coleta de 77 artigos.
Como critérios de exclusão, analisou-se cada um dos 77 artigos, comparando-se os arquivos e descartando-se os artigos repetidos, dado que um mesmo
artigo poderia estar em duas ou mais bases diferentes. Assim, excluíram-se
12 artigos por estarem repetidos. Em nova seleção dos 65 artigos restantes,
excluíram-se 18 destes por serem considerados textos não acadêmicos (tais
como notícias de revistas, resenhas de livros). Em nova seleção, do total de
149
47 artigos a que se chegou, 18 foram retirados do banco de dados em função
de serem falsos positivos, ou seja, artigos que continham as duas palavras no
corpo do texto (innovation e ecosystem) mas que não estavam relacionadas
ao sentido conceitual que se buscou, critério adotado após o exame do texto
completo dos artigos. A partir desta nova exclusão, chegou-se a um total de
29 artigos válidos para análise.
Do total de 29 artigos selecionados, partiu-se para o seguinte critério de exclusão, o da seleção dos artigos que não contivessem o método do estudo de
caso, conforme orientações sobre meta-síntese de estudo de caso qualitativo
(Hoon, 2013). Após uma análise em cada um dos artigos, selecionou-se um
total de 13 artigos para fase posterior.
A partir de uma análise minuciosa no título, abstract, e corpo do artigo (principalmente na seção método), e com a presença do método do estudo de caso
como critério de inclusão, apenas 6 artigos foram considerados válidos para a
próxima etapa da pesquisa, que podem ser vistos no quadro 1.
Quadro 1 – Artigos Selecionados segundo Periódico e Ano de Publicação
Dados do artigo selecionado
150
Dados do periódico
Índice
H
SCImago
Journal
Rank
(SJR)
País
Pendente.
3
0,166
Reino
Unido
Technovation (ISSN
0166-4972)
2,704
62
4,076
Reino
Unido
Opening up
for competitive advantage:
R&D
Rohrbeck
how Deustsmanageet al
che Telekom ment (ISSN
(2009)
creates an
1467-9310)
open innovation ecosystem
1,266
56
1,441
Reino
Unido
Autores
e ano de
publicação
Título
Journal
JCR
– ISI
Impact
Factor
Engler e
Kusiak
(2011)
Modeling an
innovation
ecosystem
with adaptive agents
International journal
of innovation science
(ISSN
1757-2223)
Li e
Garnsey
(2014)
Policy-driven
ecosystem for
new vaccine
development
Rohrbeck
et al
(2009)
Opening up
for competitive advantage: how
Deustsche
Telekom creates an open
innovation
ecosystem
R&D management
(ISSN 14679310)
1,266
56
1,441
Reino
Unido
Saguy et
al. (2013)
Challenges
facing food
engineering
Journal of
food engineering (ISSN
0260—774)
2,576
92
1,357
Reino
Unido
A process
model of
technology
innovation in
Szajnfarber
Acta astrogovernae Weigel
náutica (ISSN
mental agen(2013)
0094-5765)
cies: insights
from NASA’s
science directorate
0,816
33
0,693
Reino
Unido
Pendente.
4
0,686
Holanda
Weil,
Sabhlok
e Cooney
(2014)
The dynamics of
innovation
ecosystems: a
case study of
the US biofuel Market
Energy strategy reviews
(ISSN 2211467X)
Fonte: Brasil (2013, p. 13; 2014, p. 10).
Tendo os critérios de inclusão acima descritos, partiu-se para a análise dos
casos em específico. Para a construção conceitual a partir dos casos selecionados, utilizou-se das seguintes fases:
a) A redução de dados dos estudos de caso: os elementos constituintes e considerados importantes para a construção conceitual do termo ecossistemas
de inovação foram separados a partir de uma atenta leitura de cada um dos
artigos, para posteriormente serem categorizados, priorizados e inter-relacionados conforme Collis e Hussey (2005). Para tanto, utilizou-se como guia o
formulário presente no quadro 2.
151
Quadro 2 – Formulário de Codificação dos Dados dos Artigos
Extração
Verificação
Seções
Itens observados
Identificação do artigo
Autoridades, título, periódico, data, tipo
de estudo, questão de pesquisa.
Referencial teórico
Aderência do referencial teórico aos conceitos de ecossistemas de inovação.
Campo de pesquisa
Contextualização (setor, regionalidade,
local de realização da pesquisa).
Método
Qualidade do estudo de caso, unidade de
análise, número de casos, amostragem,
técnicas de coleta e análise de dados,
fontes de dados, validação.
Análise e interpretação
dos dados
Principais contribuições encontradas,
identificação de elementos ou construtos,
identificação de frameworks.
Discussão
Contribuições para o avanço da teoria de
ecossistemas de inovação.
Conclusão
Contribuição teórica.
Sugestões de futuras
pesquisas
Contribuição teórica.
Avaliação geral do artigo
Relevância para o tema em estudo,
qualidade e confiabilidade do estudo.
Fonte: Brasil (2013, p. 13; 2014, p. 10).
As seções de identificação do artigo, referencial teórico, campo de pesquisa e método de pesquisa serviram de quesitos verificadores quanto à
aderência do artigo à temática em estudo (ecossistemas de inovação), o
que permitiu selecionar os artigos de acordo com as bases conceituais e
rigor e qualidade do estudo de caso. As seções análise e interpretação dos
dados, discussão, conclusão e sugestões de futuras pesquisas mereceram
maior atenção no sentido de identificar as principais contribuições teóricas dos autores, para que fosse possível construir a teoria a partir das
interpretações destes.
b) Os dados inter-relacionados foram sintetizados de forma a reunir conceitos em novos padrões integrados (COLLIS e HUSSEY, 2005), buscando as influências de um elemento no outro, buscando descobrir uma
coerência teórico-empírica que melhor representasse a rede de eventos e
elementos constitutivos. c) Os dados sintetizados foram utilizados para
a construção de uma exposição de dados (COLLIS e HUSSEY, 2005) ou
152
como chamam Miles e Huberman (1994) a técnica de redes causais, na
forma de rede representativa de um ecossistema de inovação hipotético.
Esta rede representa o fluxo de eventos, a partir da teoria e, principalmente, dos casos analisados. Em relação à validade da estudo, ressalta-se que
estas fases foram executadas pelo primeiro autor deste artigo, porém, todas as etapas foram acompanhadas e discutidas até o consenso com outra
pesquisadora que também produzia sua meta-síntese, no sentido de obter
validação quanto aos procedimentos adotados nesta pesquisa.
O quadro 3 sintetiza as fases da meta-síntese adotadas nesta pesquisa,
segundo Hoon (2013).
Quadro 3 – Formulário de Codificação dos Dados dos Artigos
Resultados para
Estratégia ou
a geração de uma
procedimento
contribuição
analítico utilizado
teórica
Fases da
meta-síntese
Objetivo analítico
Construindo
a questão de
pesquisa
Imersão conceitual
sobre ecossistemas de
inovação, especificamente em relação à
vinculação do termo
com empreendedorismo e setores produtivos de alta intensidade tecnológica.
Especificação a
priori a partir de
buscas livres acerca
do conceito disponíveis na internet
aberta ou em periódicos indexados
em bases de dados.
Identificação da
lacuna teórica
que permita a
identificação de
construtos.
Localizando
pesquisas
relevantes
Identificação das
publicações disponíveis sobre o tema.
Busca em periódicos
indexados em bases
de dados segundo
critérios próprios de
pesquisa.
Busca de
termos-chave previamente selecionados na etapa anterior (innovation
ecosystems).
Localização de
77 artigos; destes
47 aderentes aos
pressupostos da
pesquisa
Critérios de
inclusão
Dois critérios de
exclusão: a) artigos
repetidos e artigos
não acadêmicos; e b)
seleção de artigos cujo
método contivesse o
estudo de caso.
Desenvolvimento
de lista de critérios
de exclusão e
inclusão.
Dos 47 artigos, seis
se encaixaram nos
critérios.
153
154
Ordenação, codificação e categorização das evidências
de cada um dos
estudos; sensibilidade quanto
às considerações
contextuais de cada
artigo; formulário
de codificação válido; inter-relação
entre códigos dos
artigos.
Extraindo e
codificando
os dados
Leitura atenta do
texto completo dos
artigos selecionados.
Codificação das
características do
estudo e dos insights
dos artigos.
Analisando
em nível caso-específico
Identificação de uma
sequência de variáveis
encontradas em cada
Redes causais de
caso que pudessem
cada um dos casos
influenciar o conceito específicos.
e estruturação do ecossistema de inovação.
Identificação de
temas ou elementos, conceitos
centrais, padrões
ou relações entre
os casos.
Sintetizando
em nível
across-study
Transposição das
redes causais de casos
específicos de cada
um dos artigos em
uma rede meta-causal
(em forma de exposição de dados). Acu- Rede meta-causal
mulação de elementos (exposição de
constitutivos comple- dados).
mentares a partir do
cruzamento dos casos
para a geração de um
padrão geral entre as
variáveis ou elementos encontrados.
Identificação de
um padrão ou
estrutura, categorização e exposição
dos elementos para
garantir validade.
Construindo
teoria a partir
da meta-síntese
Identificação do
conceito de ecossistema de inovação
que explique os seus
elementos constitutivos, suas dinâmicas
e relações entre
participantes.
Identificação de
mudanças conceituais do termo
ecossistema de
inovação.
Desenvolvimento
e apresentação de
um formulário de
codificação); checagem de códigos
inter-relacionados.
Ligação entre os
resultados com
a literatura sobre
ecossistemas de
inovação do presente artigo.
Discussão
Discussão dos
resultados e explanação dos elementos constitutivos,
dinâmicas e relações
dos participantes do
ecossistema de inovação representados na
exposição de dados.
Rigor da discussão,
confiabilidade e
validade.
Legitimação da validade e confiabilidade do procedimento e atividades
utilizadas.
Fonte: Brasil (2013, p. 13; 2014, p. 10).
Ecossistema de inovação: construção da teoria
Em razão da novidade conceitual do termo ecossistemas de inovação, poucos
artigos foram considerados adequados aos critérios de seleção para este estudo. Os artigos conceituais ou de revisão teórica foram excluídos da análise,
pois se buscavam evidências práticas a partir de estudos de caso que permitissem a construção teórica (EISENHARDT, 1989; EISENHARDT, 2007) tais
como os postulados dos conceitos de ecossistemas de inovação presentes em
Adner (2006), Luoma-aho et al (2010), Russell et al (2011), Zahra e Nambisan
(2011).
A partir da leitura e análise dos seis artigos selecionados, identificou-se que
dois não apresentaram contribuições para a construção teórica que se pretendia e foram excluídos da análise. Os quatro artigos remanescentes deram
origem a quatro redes causais parcialmente construídas a partir dos elementos presentes em cada um deles. Isto se deve ao fato de que há diferentes
abordagens e níveis de análise em nos textos analisados: Weil et al (2014) se
dedicaram à uma modelagem por meio de software do comportamento do
ecossistema de inovação dos biocombustíveis nos EUA; Rohrbeck, Hölzle e
Gemünden (2009) enfocaram o mapeamento de um ecossistema de inovação, porém, enfocando open innovation; o enfoque de Szajnfarber e Weigel
(2013) centrou-se nos processos de inovação ocorridos no ecossistema de
inovação da NASA; e Li e Garnsey (2014) enfocaram o ecossistema de inovação e o modelo de negócio em um setor de alta intensidade tecnológica.
Nas análises em nível de casos específicos, os dados foram inter-relacionados
e sintetizados conforme quadro 4. A importância teórica no que tange a alteração da base de recursos para a construção de teoria acerca dos ecossistemas
de inovação foi sinalizada com o sinal ‘+’, onde: + (o artigo subsidia elementos importantes a serem considerados na construção teórica), ++ (o artigo
subsidia elementos novos se comparados com outros artigos selecionados),
e +++ (o artigo subsidia amplamente elementos a serem considerados na
estruturação esquemática do ecossistema de inovação).
155
Quadro 4 – Inter-relação e Sintetização dos dados
ARTIGO: ROHRBECK, HÖLZLE E GEMÜNDEN (2009)
Conceito de
ecossistema
de inovação
(referencial
teórico)
Business ecosystem considerado como open innovation
ecosystem
Elementos
constitutivos
do ecossistema de
inovação
- Quatro categorias do processo de inovação: 1) Geração de
ideias; 2) Pesquisa; 3) Desenvolvimento; 4) Comercialização
- Empresas de um open innovation ecosystem buscam compartilhar custos e riscos oriundos da pesquisa.
- As mesmas empresas captam conhecimento e tecnologia para o
desenvolvimento de novos produtos.
- Colaborações universidade-empresa se dão na fase de pesquisa
(transferência tecnológica).
- Pesquisadores são gatekeepers entre universidade-empresa (intercâmbio de informações científicas).
- Open innovation favorece as empresas a ampliar a base de recursos das mesmas através de redes de P&D.
- Fundadores das empresas promovem consórcios de projetos.
- Conhecimentos são compartilhados em eventos setoriais.
- Conhecimentos captados em eventos são mantidos em segredo
pelas empresas.
- Na comercialização, produtos e tecnologias são comercializados externamente.
Principais
contribuições
teóricas ao
conceito
Medianas: Oferece fases do processo de inovação no nível interno
das empresas de um ecossistema de inovação; enfoca a redução dos
custos de transação a exemplo do conceito dos clusters industriais;
reporta recursos intangíveis oriundos da Knowledge Based View
(KBV); relações interpessoais permitem o intercâmbio de conhecimentos; mercado consumidor externo ao ecossistema
Contribuição
conceitual
Média: Oferece elementos parciais para a construção de um ecossistema de inovação, dado que a maioria dos elementos constitutivos é explorada pela literatura dos clusters industriais (a exemplo
do que se constata em Ferasso, 2008).
Alteração
da base de
recursos
Sim (+): Subsidia elementos a serem considerados no nível interno
das empresas participantes de ecossistemas de inovação.
ARTIGO: SZAJNFARBER E WEIGEL (2013)
Conceito de
ecossistema
de inovação
(referencial
teórico)
156
Novos conceitos técnicos amadurecidos no ecossistema de inovação da NASA (Literatura do conceito inexistente).
Elementos
constitutivos do
ecossistema de
inovação
- Inovação é gerenciada por meio de pequeno número de estágios e
portais.
- Exploração tecnológica é feita por um pequeno time de especialistas
e colaboradores externos ad hoc dos parceiros externos.
- Exploração tecnológica é limitada por recursos disponíveis e número
de níveis componentes da inovação.
- Provar que a inovação funciona em ambiente de laboratório.
- Busca de recursos de múltiplas fontes de financiamento.
- Busca de inovações por meio de tentativas erro-acerto.
- Resolução de problemas por cientistas e múltiplos colaboradores ad
hoc e especialistas externos.
- Construção de protótipos e testes para solução de problemas.
- Inovação selecionada deve provar sua eficiência e confiabilidade de
uso (voos espaciais).
- Maior necessidade de recursos para execução da exploração arquitetural (construção do protótipo).
- Exploração tecnológica financiada por múltiplos níveis institucionais.
- Busca de tecnologias paralelas (modo de sobrevivência).
- Relacionamento entre os parceiros estabelecido em décadas de co-desenvolvimento.
- Novas colaborações trazem novas ideias e novos equipamentos.
- A alocação de recursos pode ser influenciada pela esfera política
Principais
contribuições
teóricas ao
conceito
Medianas: Oferece fases do processo de desenvolvimento de uma
inovação (ideia, testes laboratoriais, protótipo e testes, execução arquitetural), essencialmente baseada em especialistas internos e colaboradores
externos (pertencentes ao ecossistema); setor altamente dependente de
grande volume de recursos financeiros (alta intensidade tecnológica);
complexidade da inovação a ser desenvolvida é fator crítico; reporta o
relacionamento entre os parceiros para o co-desenvolvimento; setor dependente da esfera política para captação de recursos governamentais.
Contribuição
conceitual
Média: Oferece elementos parciais para a construção de um ecossistema de inovação em setor de alta intensidade tecnológica. A
maioria dos elementos constitutivos são igualmente explorados na
literatura de clusters industriais.
Alteração
da base de
recursos
Sim (+): Subsidia elementos a serem considerados no nível interno
de uma organização pertencente ao ecossistema, e suas relações e
dependências de instituições dispersas no ecossistema.
ARTIGO: WEIL, SABHLOK E COONEY (2014)
Conceito
de ecossistema de
inovação
(referencial
teórico)
Ecossistemas como redes de inovação, open innovation, inovação
terceirizada, dinâmicas do ecossistema (padrões dominantes, ampliação e variação das demandas de mercado, evolução das arquiteturas ecossistêmicas), relações com os consumidores-fornecedores,
ecossistema composto por cadeias de suprimentos e sistemas de
criação e captação de valor. Ecossistema como business ecosystem,
dinâmicas complexas que resultam na combinação de estruturas,
comportamentos dos componentes e mudanças do setor.
157
Elementos
constitutivos do
ecossistema de
inovação
158
- Relação dinâmica entre as partes do ecossistema.
- Plataforma aberta entre fornecedores do setor, que colaboram em
plantas para outras empresas do ecossistema.
- Plataforma aberta acelera a curva de aprendizado: melhora o desempenho, reduz custos de uma tecnologia, e melhora as capabilidades
organizacionais.
- Experiência ganha melhora as capacidades mais rápido que dos competidores.
- Progresso tecnológico acelera à medida que mais usuários adotam a
solução tecnológica integrada e aberta (open innovation).
- Investimentos em capacidades de produção em larga escala.
- Investimentos maiores são oportunidades para a introdução de novas
tecnologias.
- Dinâmicas do ecossistema de inovação mapeadas por cenários modelados.
- Ciclo de vida da tecnologia: a) fase fluida: diversas empresas trabalhando com uma gama de tecnologias; b) fase transicional: incerteza
reduzida, consolidação setorial, P&D focados na produção em escala;
c) fase de maturidade: tecnologia e infraestrutura se tornam commodities; nova geração tecnológica substitui a antiga; d) fase de descontinuidades: substituição da tecnologia antiga pela nova.
- Ciclo de vida da tecnologia é representado pelas capacidades de investimentos, utilização, preços e retorno dos investimentos (critérios
econômicos de viabilidade).
- A oportunidade de introdução de novas tecnologias depende do volume de investimentos no setor.
- As capacidades de investimentos dependem das mudanças das condições de mercado.
- A estrutura do ecossistema muda assim como a geração de tecnologias maduras (ecossistema dinâmico).
- Ecossistema formado por organizações externas complementares
múltiplas e complexas.
- Relações integrais interligam subsistemas coordenados.
- Ecossistema pode ser incentivado por empresa para criar tecnologias
e recursos necessários para sua estratégia.
- Competição influencia o ecossistema.
- Mercado: monitorar e avaliar o desenvolvimento tecnológico.
- Líder do ecossistema deve moldá-lo e criar opções de ativos tecnológicos de valor para gerenciar riscos e adoções tecnológicas.
- Ecossistema precisa ser diversificado e rico para criar opções tecnológicas.
- Ecossistema como sistema aberto com alto grau de dependência de
complementadores externos.
- Interações entre o ecossistema e ambiente são bidirecionais.
- Firmas devem ser modeladores sofisticados do ecossistema e de seus
participantes, precisam compreender a rede e suas dinâmicas.
- A estrutura e dinâmica do ecossistema dependem da geração de tecnologias maduras.
- A estratégia é atrair atenção e influenciar o ecossistema.
- Ecossistema é dinâmico se comparado com o ciclo de vida do
mercado.
- O tempo para seleção de tecnologia a ser usada é crucial.
- Adoção de tecnologias de trajetória é de menor risco tático, mas
de maior risco estratégico.
Principais
contribuições
teóricas ao
conceito
Medianas-altas: Oferece uma compreensão do ecossistema de inovação
a partir das relações dinâmicas entre seus componentes; colaborações
entre participantes permite ganhos intangíveis (aceleração da curva de
aprendizado); processo tecnológico adotado devido à open innovation; investimentos dependem do comportamento do mercado; novas
tecnologias são introduzidas e modelam as organizações complementares múltiplas e complexas que formam o ecossistema; ecossistema
composto por subsistemas coordenados interligados e diversificados;
surgimento do líder do ecossistema que o molda para gerenciar riscos
e adotar tecnologias novas; relações bidirecionais entre ecossistema e
ambiente externo; atração como estratégia das empresas participantes;
velocidade na adoção de tecnologias a serem usadas.
Contribuição
conceitual
Média-alta: Oferece elementos oriundos da estratégia empresarial para
compreensão do ecossistema como se fosse uma grande empresa
complexa, de relações dinâmicas, moldável conforme as necessidades
de mercado e os interesses dos líderes do ecossistema, dependente de
recursos externos, e que adota tecnologias de forma veloz.
Alteração
da base de
recursos
Sim (++): Subsidia elementos novos se comparados com os dois
artigos anteriores, notadamente oriundos da área de estratégia, a
serem considerados no nível interno das empresas ou organizações
captadoras de recursos, suas relações dinâmicas com os participantes do ecossistema, capacidades de atração de investimentos para o
desenvolvimento tecnológico, e a elevada dependência das partes que
compõem os subsistemas interligados que formam o ecossistema.
ARTIGO: LI E GARNSEY (2014)
Conceito
de ecossistema de
inovação
(referencial
teórico)
Ecossistema formado por múltiplos participantes, com fluxos de
conhecimento, recursos necessários para as firmas. Ecossistema
como conceito enriquecido de open innovation, formado por
financiadores, provedores de recursos, órgãos normatizadores,
complementadores inovadores que geram valor conjuntamente.
Ecossistema como redutor de riscos. Criação de valor coletivamente
e individualmente. Considera conceito de ecossistema de inovação e
modelos de negócios das firmas.
Elementos
constitutivos do
ecossistema de
inovação
- Transferência de tecnologia universidade-empresa inglesa.
- Empresa americana é candidata a possível parceira-desenvolvedora.
- Consórcio entre entidade pública e privada (universidade e empresa) para o desenvolvimento de vacinas.
- Captação de recursos.
- Testes clínicos em universidade africana parceira do consórcio (fornecimento de infraestrutura para testes).
159
- Publicação de resultados clínicos.
- Fluxos de conhecimento e recursos ligam os parceiros e coordenam
as contribuições para o desenvolvimento de nova vacina, objetivo
compartilhado.
- Apresenta esquema de ecossistema com diversas instituições independentes e de diversos países, que fornecem apoio ao consórcio
em termos de recursos.
- Governo chinês busca atrair os melhores talentos dispersos no
planeta, através de políticas governamentais federais, provinciais e
municipais voltadas ao apoio de P&D.
- Especialista na criação de vacinas planeja os recursos necessários
para abertura de empresa na China.
- China possui meta governamental de construir um país orientado à
inovação.
- Macro políticas chinesas para repasse de recursos, recrutamento de
capital humano, financiamento e investimento em infraestrutura
das firmas.
- Colaborações entre empresas e institutos de pesquisa do governo
chinês.
- Ecossistema formado por múltiplas entidades governamentais com
as quais as empresas interagem.
- Operações de empresa são conduzidas por rede virtual com empresas colaboradoras contratadas.
- Setor altamente demandante de recursos financeiros.
- Empresa recebe apoio de financiamentos governamentais e colaborações para uso de infraestruturas laboratoriais públicas.
- Investimento governamental permite à empresa manter o gasto de
capitais próprios baixos e manter pessoal terceirizado (estudantes
universitários).
- Modelo de negócios baseado em compartilhamento de riscos e recompensas.
- Ecossistema apoiado por políticas públicas onde participantes
compartilham recursos.
- O país (China) se beneficia com o aumento das capacidades inovadoras nacionais.
- Empresa investe em produtos menos complexos (diagnósticos),
pois possuem comercialização mais rápida e permitem à empresa
sobreviver.
- Governo municipal oferece incentivos para trazer expatriados inovadores de volta à região.
- Ecossistema favorece novos modelos de negócio com base em parcerias público-privadas para a comercialização de novas tecnologias.
- Operar em nicho de mercado tecnológico requer gestão de riscos a
longo prazo, construção de conhecimento e criação de um ambiente de aprendizagem.
- A construção de parcerias entre empresas depende do contexto no
qual estão inseridas.
- Participantes do ecossistema se organizam para comercializar produtos e alinham os incentivos recebidos para tal.
160
- Empresas operam em redes de parcerias para alcançar objetivos
estratégicos de P&D.
- Infraestrutura laboratorial, especialistas das empresas, e a obtenção de recursos necessários permitem a produção de inovações.
- Empresa precisa de estratégia para identificar os parceiros do
ecossistema aos quais se associarão em projetos futuros.
- Empresa precisa construir parcerias domésticas ou internacionais.
- A estrutura das parcerias são globais, tais como o são os investimentos, pesquisa e operações de testes clínicos.
- Stakeholders são internacionais.
- Fundadores das empresas identificam uma oportunidade de mercado e a exploram (empreendem), ganham confiança dos parceiros do ecossistema pela demonstração de expertise, resultados
positivos em P&D e gestão efetiva do negócio.
- Políticas nacionais podem diferir de país para país quanto aos incentivos governamentais.
- Empresa chinesa assim como inglesa dependem de investimentos
do setor privado, que precisam ter retorno sobre o investido.
- Ecossistema robusto permite a criação de uma rede segura voltada à inovação.
- Modelo de negócio é ameaçado se a empresa não conseguir resultados clínicos satisfatórios.
- Inovação reversa pode ocorrer (mercados emergentes fazem surgir novas aplicações em economias avançadas), o que atrai recursos e serve de lobby em governos por parte da empresa.
- Ecossistema é delimitado pelas transações realizadas entre a firma
e seus parceiros e competidores.
- Empresa cujo negócio se embasa em pesquisa recebe apoio de
recursos financeiros externos.
- Reconhecimento da oportunidade de mercado (empreendedorismo), uso de conhecimentos anteriores para construção de capacidades, e parceria público-privada para obtenção de recursos financeiros governamentais formam a base deste modelo de negócio.
- Membros do consórcio praticam lobby com governos e com governos que vão além das próprias ‘fronteiras’ do ecossistema.
- Ecossistema inglês foi construído a partir de organizações que
buscavam criar valor coletivamente.
- Ecossistema permite a identificação de desafios em políticas públicas para investimento em setores inovadores privados.
- Quando há necessidade de ampliar a produção por meio de métodos de custo efetivo, as estratégias do ecossistema que ligam
políticas públicas e empreendedorismo do setor privado oferecem
resultados neste novo modelo de negócio para a geração e entrega
de valor compartilhado.
Principais
contribuições
teóricas ao
conceito
Altas: Oferece links teórico-empíricos acerca da transferência tecnológica; parcerias internacionais; captação de recursos; interações
entre membros regionais e internacionais para P&D; ecossistema
baseado em relações entre parceiros do mesmo; incentivos público-privados oriundos dos mais variados lugares; atração de especialista;
161
políticas públicas para o desenvolvimento setorial; heterogeneidade dos parceiros do ecossistema; redução de custos; novo modelo
de negócios em ecossistema; gestão de riscos; empreendedores
devem reconhecer a oportunidade de negócio, usar conhecimentos
existentes, e estabelecer parcerias público-privadas para obtenção de
recursos.
Contribuição
conceitual
Altas: Oferece links teórico-empíricos acerca da transferência tecnológica; parcerias internacionais; captação de recursos; interações
entre membros regionais e internacionais para P&D; ecossistema
baseado em relações entre parceiros do mesmo; incentivos público-privados oriundos dos mais variados lugares; atração de especialistas; políticas públicas para o desenvolvimento setorial; heterogeneidade dos parceiros do ecossistema; redução de custos; novo modelo
de negócios em ecossistema; gestão de riscos; empreendedores
devem reconhecer a oportunidade de negócio, usar conhecimentos
existentes, e estabelecer parcerias público-privadas para obtenção de
recursos.
Alteração
da base de
recursos
Alta: Oferece elementos consolidados e teórico-empíricos para a
construção de um ecossistema de inovação, além de contribuir para
com o conceito da estrutura do ecossistema que está embasado nas
relações com as quais uma empresa mantém com seus parceiros
locais ou internacionais. Reporta elementos oriundos da estratégia,
economia, inovação e gestão de empresas (modelos de negócios
de alta tecnologia) que devem ser considerados na estruturação do
ecossistema de inovação.
ARTIGO: ENGLER E KUSIAK (2011)
162
Conceito
de ecossistema de
inovação
(referencial
teórico)
Ecossistema como ambiente no qual agentes individuais (entidades
inovadoras) existem e interagem. Ambiente dinâmico onde as entidades inovadoras realizam a otimização dos recursos.
Elementos
constitutivos do
ecossistema de
inovação
- Interações entre entidades inovadoras relacionadas às mudanças
de mercado.
- Firmas do setor promovem parcerias com entidades inovadoras
que são de outros setores econômicos para produzir inovações.
Principais
contribuições
teóricas ao
conceito
Baixas: O estudo em questão se dedica à aplicação da teoria de
sistemas complexos por meio de modelagens computacionais. Referencial teórico com baixa contribuição. Não há menção ao rigor do
estudo de caso, restringindo-se à descrição de um setor econômico
(semicondutores).
Contribuição
conceitual
Baixa: O estudo reporta a modelagem computacional de um ecossistema de inovação, não trazendo nenhuma contribuição significativa para o conceito em questão.
Alteração
da base de
recursos
Não: Artigo excluído da análise em função de não apresentar
nenhuma contribuição ao conceito, não ter rigor de estudo de caso,
e não reportar nenhum elemento novo para consideração conceitual
posterior.
ARTIGO: SAGUY ET AL. (2013)
Conceito
de ecossistema de
inovação
(referencial
teórico)
Elementos
constitutivos do
ecossistema de
inovação
Ecossistema como ambiente no qual agentes individuais (entidades
inovadoras) existem e interagem. Ambiente dinâmico onde as entidades inovadoras realizam a otimização dos recursos.
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
Grandes centros de pesquisa na Suíça.
Grandes empresas parceiras em outros países europeus.
Emprego de especialistas altamente qualificados.
Criação de um ambiente europeu voltado à pesquisa de alimentos.
Lobby (influências políticas) para obtenção de recursos através de
políticas de investimentos de governos inglês e holandês.
Programa de pesquisa para ligar academia e indústrias.
Criação e gestão de um grande consórcio multi-país.
Bolsistas se especializam e criam experiência em diversos países.
Empresas que possuem o mesmo interesse e não diretamente
competem.
Os interesses dos financiadores é cross-sector e valorizam mais do
que um setor.
Integração de players importantes no ecossistema (setor privado,
pequenas empresas, bancos, venture capital, investidores anjos).
Principais
contribuições
teóricas ao
conceito
Baixas: O estudo em questão se dedica a transcrever relatos de seção
plenária de uma conferência sobre engenharia de alimentos nos
Estados Unidos. Para tanto, servem-se do caso europeu do setor de
alimentos. Não há menção ao rigor do estudo de caso, restringindo-se à descrição de um setor econômico (alimentício).
Contribuição
conceitual
Baixa: O estudo reporta o ecossistema de inovação a partir da
perspectiva de open innovation, além de se encontrar embasado
em seção plenária de congresso acadêmico, não trazendo nenhuma
contribuição significativa para o conceito em questão.
Alteração
da base de
recursos
Não: Artigo excluído da análise em função de não apresentar
nenhuma contribuição ao conceito, não ter rigor de estudo de caso,
e não reportar nenhum elemento novo para consideração conceitual
posterior.
163
A partir da análise dos casos específicos, os elementos identificados em cada
um dos artigos permitiram a elaboração de uma síntese de casos cruzados
(HOON, 2013), onde foram inter-relacionados os elementos encontrados
com o objetivo de ilustrar um ecossistema de inovação, suas relações e componentes em uma rede meta-causal inicial. Esta rede foi construída a partir
da comparação entre os elementos presentes nos diferentes casos, especificamente quanto à combinação dos mesmos elementos ou da identificação de
elementos emergentes que possibilitassem a melhor ilustração da estrutura
do ecossistema de inovação.
Para tanto, cada elemento foi retirado de cada um dos casos e os mesmos
foram comparados quanto a sua representação. De posse dos elementos essenciais, foi possível elaborar uma exposição de dados que ilustra o padrão
emergente dos casos (MILES e HUBERMAN, 1994; COLLIS e HUSSEY,
2005) acerca da estrutura hipotética de um ecossistema de inovação, conforme a figura 1. A validação dos elementos encontrados a partir dos casos foi
feita por meio da revisita aos conceitos citados na literatura acerca do ecossistema de inovação.
Figura 1: Representação esquemática de um ecossistema
de inovação a partir da síntese de casos cruzados
A figura ilustra as relações de uma empresa inovadora inserida em um ecossistema de inovação, sendo esta a principal alavanca de criação de valor. Isto
se dá porque os elementos e recursos do ecossistema estão à sua disposição
para a criação deste valor na forma de produtos ou serviços inovadores, voltados às necessidades do mercado.
Este ecossistema possui dinâmicas específicas, diferenciadas de um cluster
industrial. Notadamente, as relações da empresa com parceiros externos para
164
a troca de informações e conhecimentos, a captação de todo e qualquer tipo
de recurso (venture capital, especialistas qualificados, equipamentos, dentre
outros) pode ser feita pela empresa em qualquer lugar onde este parceiro ou
fornecedor esteja. O mais importante é encontrar um parceiro que tenha o
recurso específico necessário e que seja viável economicamente. A empresa
sempre buscará reduzir custos e riscos, quer seja por meio de obtenção de
incentivos público-privados, ou por meio de elaboração de pesquisas ou co-desenvolvimento com parceiros. Estas relações tenderão a ser regidas por
contratos ou termos de sigilo a fim de se evitar o oportunismo dentre as
partes. A empresa dependerá mais das universidades e centro de pesquisas ou
laboratórios na fase de criação (ou de pesquisa), ao passo que dependerá mais
de ganhos de escala na manufatura de seus produtos, a partir da identificação
de uma necessidade insatisfeita ou oportunidade no mercado.
Assim, a manufatura do produto encontra-se mais focada em aspectos econômicos (escala, redução de custos, acesso a recursos para produção) que
viabilizem a colocação do novo produto no mercado; ao passo que a geração
de ideias para a criação de um novo produto requer uma rede mais complexa
de interações e parcerias com organizações diversas (universidades, outras
empresas do setor ou setores próximos), dispersas globalmente e que possuem o conhecimento ou recurso específico de que a empresa necessita para
dar sequência à manufatura do seu próprio produto inovador. Estas duas
fases (pesquisa e desenvolvimento) no interior da empresa fazem com que
esta dependa de diferentes tipos de interações, parcerias e recursos para a
manufatura de uma inovação, que são próprias de cada produto.
Considerações finais
A partir do cruzamento dos casos e da exposição dos dados, é possível perceber as contribuições conceituais dos casos para a criação de teoria que, até
então, não se observava nos conceitos de ecossistemas de inovação.
Em primeiro lugar, ressalta-se a dispersão geográfica dos parceiros de uma
empresa, o que amplia o conceito de territorialidade dos parceiros de um
cluster industrial.
Em segundo lugar, destaca-se que o limite ou fronteiras do ecossistema de
inovação não se dá por delimitação geográfica (tais como nos clusters industriais), mas sim por meio das relações que as empresas do ecossistema mantêm com seus parceiros por vezes localizados em outros países.
Em terceiro lugar, observou-se que há uma dependência entre os parceiros
que formam redes dentro do ecossistema de inovação, mas que são mutáveis
conforme novas demandas do mercado surgem, fazendo com que este apresente uma representação amorfa e mutável, mas principalmente estruturada
em torno da rede de relacionamentos que as empresas mantêm para a consecução de seus objetivos econômico-inovadores.
165
Ressalta-se que na literatura de clusters industriais é recorrente a interdependência entre as empresas, em grande parte justificada pela escala econômica
de produção à qual esta produção está submetida entre as partes (o custo de
troca de um parceiro pode ser maior). Assim, a literatura acerca dos clusters
industriais aplica-se com melhor aderência quando se considera a aplicação
dos recursos diversos disponíveis às empresas deste para a escala de produção e aplicação dos princípios econômicos de produção.
Portanto, mais do que relações conexas entre organismos e o ambiente (MORAN, 1990), os ecossistemas de inovação resultam em um conjunto dinâmico de organizações que fornecem todo o tipo de apoio e recursos de que
empresas de setores de fronteira tecnológica necessitam para a criação de
seus produtos por meio de processos inovadores e manufatura de produtos
inovadores que atendam às demandas do mercado, estabelecidas ou emergentes. Os componentes do ecossistema de inovação oriundos de esferas
públicas possuem interesses supra-regionais que tratam do desenvolvimento
setorial e fortalecimento ou da região ou do país, o que é alcançado por meio
de políticas públicas de incentivos setoriais diversos, aplicados por meio do
ecossistema às empresas que se beneficiam, notadamente as que demandam
elevados recursos para P&D. Os componentes do ecossistema de inovação
oriundos dos investidores se beneficiam por meio de investimento de venture
capital e pela maximização de seus investimentos, correndo riscos calculados e que são divididos entre os parceiros-desenvolvedores de uma inovação.
Os parceiros do ecossistema de inovação oriundos da academia (tais como
universidades e centros de pesquisa) encontram possibilidades de aplicação
empírica de modelos de laboratório e investimentos para futuras pesquisas,
além das contribuições para o avanço da ciência. Os parceiros do ecossistema
de inovação oriundos do setor privado (notadamente empresas criadoras e
empresas parceiras) se beneficiam na captação de todo tipo de recurso de que
necessitam para a criação de inovações e a produção em escala de tais inovações, permitindo a sustentação técnica-mercadológica-financeira do modelo
de negócio, que tende a crescer à medida que os resultados bem sucedidos
começarem a surgir.
Desta feita, um ecossistema de inovação é representado pelas inter-relações
que uma dada empresa mantém com organizações externas diversas, as quais
possuem recursos que são indispensáveis para a criação de um produto inovador. Esta empresa busca recursos específicos disponibilizados por tais organizações, onde quer que estas estejam localizadas, contanto que proporcionem redução de riscos e custos à empresa. Em relação à manufatura do
produto, os fatores locais de produção (tais como recursos localizados geograficamente próximos) permitirão ganhos econômico-financeiros à empresa. Estas interações com outras organizações globalmente dispersas permite
a criação de produtos de forma mais veloz o que proporciona uma maior
velocidade na introdução deste novo produto no mercado o que garantirá
vantagens competitivas à empresa inovadora.
166
Assim, acredita-se que este conceito construído a partir das contribuições
teóricas dos estudos de casos qualitativos selecionados tenha contribuído
para a ampliação e melhor delimitação do conceito de ecossistemas de inovação, notadamente no que se refere à independência de questões geográficas ] criação de novos produtos, no acesso aos recursos específicos, e nas
parcerias com organizações globalmente dispersas; além de que a empresa
localizada em um ecossistema de inovação tenderá a utilizar-se mais de fatores geográficos (proximidade geográfica) quando os fatores econômicos
se fizerem mais necessários (tais como a redução de custos para a manufatura do dito produto).
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172
O DESENVOLVIMENTO DE PRÁTICAS DE GESTÃO
EM ATIVIDADES DE COLABORAÇÃO: UMA ANÁLISE
DA GESTÃO ESTRATÉGICA DE STARTUPS
9
Luciano Minghini
Pesquisadores da área de estudos organizacionais estão interessados em
compreender como as práticas de gestão se desenvolvem nas rotinas, nas
ações dos gestores e nas relações dos gestores com outros indivíduos de
dentro e de fora da organização. No Handbook de gestão da inovação,
Dodgson et al. (2014) argumentam que a pesquisa em gestão da inovação
possui lacunas nos estudos sobre processos organizacionais, infraestruturas
sociais dentro de e entre organizações. Os autores identificam e propõem
alguns desafios para os pesquisadores sobre inovação. Dentre eles está o esforço de entender a natureza da gestão da inovação como um fenômeno em
constante evolução. Outro desafio aborda a junção entre disciplinas, novos
níveis de análise e métodos de pesquisa que reforçam a contribuição prática
da pesquisa sobre gestão de inovação, a importância dos estudos de caso
em pequenas empresas para melhor entender o papel do empreendedor e
a importância das suas ações sobre a gestão da organização. Phillips (2014)
também propõe novas abordagens de estudo nesta área. Mostra que ainda
há pouca discussão sobre as rotinas internas e processos sociais envolvidos
na gestão da inovação, ou seja, ainda sabe-se pouco sobre como são desenvolvidas as práticas que influenciam na inovação e como elas contribuem
para o sucesso do negócio. Phillips (2014) acredita que a abordagem das
práticas pode promover maior entendimento sobre inovação. Ele traz a
discussão de como o desenvolvimento e a adoção de novas práticas são
considerados contextualizados e dinâmicos e, por isso, ainda são necessários mais estudos sobre como e quando as práticas são adotadas.
Por isso, neste texto propomos nos concentrar nas rotinas dos gestores
de novos empreendimentos inovadores (i.e. startups) para buscar mostrar
como a colaboração entre os gestores e atores externos à organização pode
contribuir para o aprendizado de instrumentos e conceitos, assim como,
para o desenvolvimento de práticas de gestão. Para tanto, será tomado
como base um estudo de casos ilustrativos realizado com empresas paranaenses incubadas pela Universidade Federal do Paraná, que demonstrou
como as relações colaborativas promoveram o aprendizado dos gestores e
o desenvolvimento da gestão estratégica de empreendimentos inovadores.
O estudo da estratégia enquanto atividade da rotina dos gestores é exemplo
destas novas abordagens para os estudos de práticas organizacionais presentes nas relações internas e externas dos gestores, nas ações administrativas, nos discursos episódicos ou diários.
O estudo da estratégia a partir das práticas sociais retoma a preocupação
com o que acontece no campo (VAARA; WHITTINGTON, 2012) e permite explicar como a prática constitui o processo estratégico, com um olhar
mais abrangente sobre a construção da Gestão Estratégica. Johnson, Langley,
Melin e Whittington (2007) acreditam que as rotinas do gestor, suas decisões
e práticas acontecem no dia-a-dia das microrrelações de trabalho, onde ele
negocia o que é considerado estratégico para a organização e influencia as
174
atividades dos outros indivíduos na direção dessa estratégia, indo além da
ação ‘mecânica’ em função de regras, normas, planos de ação e resultados. A
partir desta abordagem, a estratégia pode ser entendida como um fluxo de atividades situadas em um contexto, realizadas socialmente e derivadas de práticas consideradas estratégicas, para alcançar resultados como sobrevivência,
direções e vantagens competitivas para a organização (JARZABKOWSKI;
BALOGUN; SEIDL, 2007). Dessa forma, a estratégia da organização se dá
nas práticas organizacionais e outras práticas que envolvem tanto o ambiente interno como externo, processos e resultados estratégicos. Envolve proprietários, diretores do negócio (TMT), gerentes, líderes (MDM), ou ainda,
estrategistas de fora da organização que negociam a adoção, modificação ou
abandono de práticas deliberadas e emergentes. Este esforço foi denominado como strategy-making (MINTZBERG, 1972) ou strategizing (JARZABKOWSKI, 2004; WHITTINGTON, 1996). Sendo assim, a gestão da estratégia pode ser definida como um esforço de strategizing, no qual praticantes,
atividades e práticas influenciam os resultados estratégicos.
Nem todo indivíduo pode ser considerado praticante e nem toda atividade
organizacional pode ser considerada estratégica. É preciso que indivíduos e
atividades estejam interconectados por práticas específicas, significativas e
substantivas para a organização (JARZABKOWSKI; BALOGUN; SEIDL,
2007). Rouleau (2013) explica que, dentre as proposições teóricas adotadas
para a definição das práticas, a mais recente e frequentemente usada nas pesquisas de práticas estratégicas é a das práticas discursivas. O discurso é uma
forma de intervenção social carregada de significados e intencionalidade, podendo ser entendido como uma prática social que influencia os indivíduos,
suas atividades e as situações onde acontecem (SPEE; JARZABKOWSKI,
2011; WESTLING; LAAKSONEN; HUHTINEN, 2010). Contudo, isoladamente, os discursos não são suficientes para explicar o mundo onde
vivemos, sem considerar outras formas de atividade social e material (NICOLINI, 2013). A teoria da prática precisa buscar evitar reducionismos nas
escolhas das unidades, níveis e objetos de análise nos estudos sobre fenômenos organizacionais (CARTER; CLEGG; KORNBERGER, 2008). Por isso,
dentre as propostas identificadas por Rouleau (2013), Corradi, Gherardi e
Verzelloni (2010) e Nicolini (2013), a Teoria da Atividade foi escolhida para
embasar este estudo porque permite a análise de um conjunto mais amplo
de elementos envolvidos nas atividades sociais, balanceando a importância
do indivíduo e suas ações, com elementos situacionais (e.g. contextos, artefatos, outros atores e objetos) e elementos histórico-culturais (e.g. significados,
conceitos e experiências), envolvidos com o desenvolvimento da atividade
(JARZABKOWSKI, 2010; LEONTIEV, 1978; VYGOTSKY, 2009).
Esta abordagem permite uma análise de elementos já explorados pela academia (e.g. discurso e ações), e daqueles pouco explorados (e.g. conhecimento
tácito dos indivíduos, conceitos científicos e instrumentos), considerando
também as características do contexto escolhido e a influência de atores externos à organização. A Teoria da Atividade permite concentrarmos nossa
175
atenção na análise do objeto da atividade dos gestores (i.e. razões, motivações,
objetivos e resultados esperados), seja esse objeto a estratégia ou a inovação
organizacional. Este objeto é definido coletivamente e perseguido pelos gestores a partir do desenvolvimento de práticas de gestão originadas de atividades de colaboração com outros indivíduos. Em função disso, a abordagem da
atividade estimula a utilização de metodologias colaborativas de pesquisa sem
comprometer o rigor metodológico (CLOT; KOSTULSKI, 2011; ENGESTRÖM, 2011). Consequentemente, ela permitiu analisar o desenvolvimento
de práticas de gestão estratégica em novos empreendimentos inovadores incubados e geridos por empreendedores sem formação em Administração, a
partir das atividades de colaboração entre os gestores estudados e consultores, pesquisadores, clientes, parceiros e fornecedores, promovendo a introdução e o desenvolvimento de conceitos e instrumentos de gestão estratégica.
Caracterização dos casos ilustrativos
Este estudo foi viabilizado pela Agência de Inovação da Universidade Federal do Paraná (UFPR), instituição que administra os contratos de incubação, orienta e assessora os gestores de novos empreendimentos de base
tecnológica originados de projetos e pesquisas desenvolvidas por alunos e/
ou professores da UFPR.
Uma incubadora pode ser entendida como um arranjo de diferentes instituições com o objetivo de aproximar os empreendedores de uma infraestrutura
de apoio (e.g. universidade, SESI, SENAI e SEBRAE) e do seu mercado
(VEDOVELLO; FIGUEIREDO, 2005). O trabalho de uma incubadora tecnológica vinculada a uma universidade é oferecer infraestrutura e suporte aos
autores de pesquisa científica ou aplicada, para transformar suas descobertas
em produtos ou processos inovadores e seus projetos em empreendimentos
de sucesso (ANPROTEC, 2012; GARZA, 1993). A Agência de Inovação da
UFPR incuba novos empreendimentos tecnológicos com no máximo quatro
anos de vida, com potencial inovador que promova a modernização da indústria regional e que apresente grande possibilidade de crescimento, também
chamados de startups (HUDSON; SCHROEDER, 1984). A orientação dos
incubados sobre a gestão organizacional, estratégica ou de inovação é realizada por pesquisadores ou prestadores de serviços terceirizados. Em função
disso, os diretores da Agência de Inovação da UFPR nos propuseram organizar encontros mensais com os empreendedores incubados,entre setembro de
2013 e fevereiro de 2015, para discutir temas relacionados à gestão estratégica
de seus projetos inovadores e dar o suporte necessário para que os gestores
dos novos empreendimentos possam planejar seu crescimento e viabilizar a
saída – ou graduação – da incubação.
Dentre as empresas incubadas na Agência de Inovação, cinco delas foram
fundadas por gestores que não possuem formação em Administração. São
alunos ou professores de pós-graduação stricto sensu de áreas biológicas
ou tecnológicas (e.g. Biologia, Medicina Veterinária e Engenharias), que de-
176
cidiram transformar projetos de pesquisa em produtos ou serviços para
oferecer ao mercado. O contato destes gestores com alguns conceitos e
instrumentos de gestão e estratégia aconteceu em encontros anteriores com
professores, consultores e na participação em programas de apoio como o
programa NAGI3, organizado conjuntamente pelo Serviço Brasileiro de
Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) e pela Federação das
Indústrias do Estado do Paraná (FIEP). Dos gestores pesquisados, trouxemos para este estudo os exemplos referentes a sete gestores que atuam
em dois dos empreendimentos incubados. O primeiro empreendimento
(denominado aqui como E1) possui três sócios, onde um deles é doutor
e professor na UFPR, o outro é estudante de doutorado da UFPR e o
terceiro é bioquímico e funcionário dos laboratórios desta universidade. O
segundo empreendimento (E2) possui cinco sócios, dos quais quatro foram
pesquisados, sendo dois veterinários, um biólogo e um engenheiro de biotecnologia, todos eles estudantes de doutorado da UFPR.O quinto sócio
é professor do programa de doutorado em Microbiologia e Patologia da
mesma universidade. Os sete gestores estudados apresentaram, em maior
ou menor grau, as características empreendedoras mapeadas por Schmidt
e Bohnenberger (2009, p. 454), como assumir riscos calculados, detectar
oportunidades, ser persistente, inovar, liderar e ser sociável.
Os empreendedores do E1 decidiram montar o empreendimento em função
da dificuldade encontrada para realizar testes e análises de diversidade florestal para pesquisas científicas ou projetos de reflorestamento de áreas degradadas. Inicialmente, o público-alvo definido pelos sócios era formado apenas
pelos pesquisadores de universidades e instituições públicas brasileiras. Com
a participação em eventos científicos e a aprovação de leis nacionais de proteção e recuperação de áreas de diversidade florestal, os gestores receberam
pedidos de estudos de diversidade florestal para projetos de reflorestamento,
oriundos de instituições governamentais e indústrias. Projetos como esses
são complexos e demorados, pois envolvem grandes áreas verdes e uma considerável variedade de plantas que precisam ser analisadas, consequentemente, exigindo coleta e testes de grande número de amostras; para cada tipo de
análise e conforme a variedade de plantas é preciso desenvolver diferentes
metodologias de testes, que precisam ser planejados, experimentados, operacionalizados e registrados. Esses serviços podem gerar receitas representativas, mas poucas entradas ao longo da execução do trabalho, comprometendo
o fluxo de caixa e o prazo de retorno sobre o serviço.
Em 2012 os sócios do E1 fecharam um contrato de análises para um
grande projeto de reflorestamento, finalizado apenas em 2014, sendo que
durante este período eles se envolveram com todas as atividades técnicas
NAGI ou Núcleo de Apoio à Gestão da Inovação é um programa organizado pela Confederação
Nacional da Indústria (CNI) e viabilizado no Paraná pela Federação das Indústrias do Estado do
Paraná (FIEP), SEBRAE-PR, CNPq e FINEP. “São núcleos de atendimento empresarial espalhados
pelo estado do Paraná com o objetivo de transferir ferramentas e conhecimentos aplicados à gestão
da Inovação às empresas participantes do Programa.”(CNI, 2013).
3
177
e administrativas da empresa. Além disso, o tempo de dedicação dos gestores ao trabalho no E1 foi comprometido pelas atividades já realizadas
anteriormente, como coordenação de cursos ou do laboratório de análises da UFPR. Por isso, os empreendedores do E1 contrataram estagiários
para a realização das atividades laboratoriais mais simples e revisaram
suas rotinas para organizar o trabalho realizado, conciliando as atividades do empreendimento com as atividades das carreiras individuais. Além
disso, eles estavam estudando novas possibilidades de atuação que proporcionassem mais clientes, projetos mais simples e um volume maior de
faturamento, viabilizando, assim, a contratação de mais funcionários ou,
ainda, maior dedicação dos sócios às atividades do E1. Para definir novos
serviços inovadores e uma nova estratégia de atuação junto ao mercado,
eles participaram de atividades de assessoria proporcionada pela Agência
de Inovação e seus parceiros.
Assim como o E1, o E2 surgiu em 2012. Com o apoio de um dos professores
– e atualmente sócio – os alunos adaptaram os testes e análises realizados em
pesquisas acadêmicas para desenvolver serviços que pudessem ser oferecidos
a empresas que precisam de análises sobre o efeito de substâncias presentes
em complementos alimentares e em medicamentos na saúde de frangos e
suínos. O E2 realiza experimentos, ou seja, são testes e análises específicos
realizados para atender a um projeto pontual dos seus clientes. Estes experimentos ocorrem, em média, duas ou três vezes ao ano e a remuneração
pelo trabalho é parcelada, ocorrendo ao início e ao fim do projeto. Os quatro
gestores pesquisados se envolvem diretamente com todas as atividades tecnológicas e administrativas da empresa.
Entre 2012 e 2013 os gestores do E2 se dividiam entre pesquisas de base
para seus estudos acadêmicos e contratos nos quais as atividades dos serviços prestados foram revisadas e adaptadas às necessidades e exigências
dos clientes durante a sua execução. Em decorrência dessas adaptações,
surgiram duas possibilidades para a prestação do mesmo serviço. A primeira seriam os experimentos de projetos pontuais com volumes e prazos
mais flexíveis e objetivos mais complexos. A segunda possibilidade seria um
trabalho de monitoria, com análises mais simples, regulares e frequentes,
contratos de longo prazo e grandes volumes de testes. Essas mudanças
e adaptações trouxeram dúvidas sobre a forma como o E2 deveria atuar
junto a seus clientes e parceiros. Por isso, a definição dos serviços, seus
preços e o desenvolvimento de novas soluções passou a ser questionada e
os gestores solicitaram à Agência de Inovação o apoio de consultores para
estudarem novas possibilidades de atendimento ao mercado.
Foi nesse momento que começou o acompanhamento dos empreendedores
e a análise do desenvolvimento da gestão estratégica dos dois empreendimentos, E1 e E2. Para esclarecer como este trabalho foi realizado, a seguir
apresentamos um resumo da metodologia de pesquisa adotada.
178
Método de pesquisa
Langley (2010) argumenta que, para construir um corpo teórico mais robusto para a estratégia é preciso adotar uma postura metodológica mais interpretativa e intervencionista com o apoio de métodos como a etnografia, a
pesquisa participativa e a pesquisa-ação.O estudo destes casos ilustrativos se
iniciou com a observação participativa das reuniões entre os empreendedores
e consultores contratados pela Agência de Inovação da UFPR, bem como
por meio de visitas e entrevistas com os gestores, durante seis meses, com o
objetivo de compreender: (a) o conhecimento e as práticas de gestão e de estratégia dos sócios de cada empreendimento; (b) o objeto identificado pelos
gestores que estimulou o desenvolvimento da atividade de gestão estratégica;
(c) as trocas de conhecimentos ocorridas durante estes episódios e atividades de colaboração. Encerradas as reuniões com consultores, durante os oito
meses seguintes foram realizadas entrevistas em profundidade, tanto coletivas quanto individuais, mediatizadas por atividades colaborativas e interventivas (CASSANDRE; QUEROL; BULGACOV, 2012; GHERARDI, 2012)
que promoveram: (a) a reflexão dos empreendedores sobre suas práticas de
gestão, seu conhecimento sobre gestão estratégica e os conflitos entre estes
elementos e o objeto da atividade; (b) o aprendizado destes gestores sobre
conceitos científicos e o desenvolvimento de práticas de gestão estratégica
nas atividades de colaboração e intervenção.
No próximo tópico deste estudo apresentamos a análise teórico-empírica de
como percebemos a colaboração entre empreendedores e outros indivíduos
promovendo o desenvolvimento de práticas de gestão estratégica de novos
empreendimentos inovadores.
O desenvolvimento de práticas em atividades de colaboração
A partir da Teoria da Atividade assume-se que a gestão é algo contínuo, dinâmico, em desenvolvimento e contextualizado. A Figura 1 mostra como
podemos perceber a gestão das startups pesquisadas nesta abordagem. A
relação entre os empreendedores e o objeto – seus interesses, necessidades
e objetivos – é mediada pelo sistema de conceitos sobre gestão – o conhecimento espontâneo e empírico ou abstrato e científico -, presentes nas práticas dos gestores e que são apreendidos no fluxo da atividade desempenhada
(ENGESTRÖM, 2000). Acompanhando as reuniões com os consultores
contratados pela incubadora, foi possível perceber que o contato dos empreendedores com o mercado, os clientes e parceiros que viabilizaram seus
primeiros trabalhos, provocaram mudanças no escopo inicial do negócio das
incubadas, nas características dos serviços prestados e nos preços cobrados
por esses serviços. As reuniões com os consultores contratados pela incubadora apontavam que os principais desafios a serem resolvidos pelos empreendedores seriam: estabelecer um planejamento estratégico, repensar a gestão
do empreendimento, redefinir a estratégia de comercialização e os preços
praticados. Ou seja, o modelo de negócios das incubadas (TEECE, 2010) foi
179
identificado como a maior preocupação ou objeto da atividade estratégica
dos sócios, envolvendo o interesse em definir novas formas de execução e
cobrança dos serviços oferecidos, o interesse em ampliar a variedade e volume de serviços, assim como, a necessidade de aumento e regularidade do
faturamento das empresas. A preocupação com o modelo de negócios se
origina em tensões, controvérsias, conflitos ou desafios presentes na relação
entre os empreendedores e o objeto da sua atividade (Figura 1), comumente
provocados por pressões externas (VYGOTSKY, 2009).
Figura 1: Relação e conflitos entre o sujeito, conceitos e objeto
Fonte: Autor, baseado no modelo de Leontiev (1978) e Vygotsky (2009).
Portanto, a interação dos empreendedores com outros grupos de indivíduos do seu ambiente de negócios provocou uma insatisfação dos gestores com relação ao modelo de negócio adotado. Essas pressões externas
provocam nos empreendedores uma fase sensível ao aprendizado de novos conceitos e instrumentos. Nesse momento, os sujeitos direcionam sua
atenção para os conceitos e instrumentos presentes na sua atividade atual.
Estes conceitos empíricos e espontâneos são insuficientes para alcançar
os objetivos definidos para o objeto da atividade (Figura 1). Por isso, os
gestores se predispõem a buscar conceitos não-espontâneos, abstratos ou
científicos (e.g. conselhos, normas, regras, teorias, instrumentos ou ferramentas) em interações sociais e atividades colaborativas que promovam o
aprendizado (Figura 2). Conceitos espontâneos são aqueles que surgem da
relação experiencial direta com o objeto e o sujeito não consegue percebê-los sem o objeto. Não permitem a sua utilização arbitrária. Conceitos
não-espontâneos, especificamente os científicos, são conceitos abstratos
distantemente vinculados ao objeto, por meio de outros conceitos, em uma
estrutura hierárquica de significados e em um sistema lógico de operações
funcionais. A abstração e sistematização dos conceitos espontâneos permitem a apreensão dos conceitos científicos; as atividades, carregadas com
os conceitos científicos, promovem a formação de um novo conjunto de
conceitos pelo sujeito (CLOT, 2010; VYGOTSKY, 2009).
180
Figura 2: Aprendizagem e formação de novos conceitos
Fonte: Autor, baseado no modelo de Leontiev (1978) e Vygotsky (2009).
Os empreendedores do E1 aproveitaram cada encontro com os consultores
para entender melhor o que é gestão estratégica e como eles poderiam criar
regras e práticas simples que pudessem reduzir os conflitos percebidos na
relação com o objeto. Ao final de cada encontro os sócios do E1 recebiam
dos consultores algumas atividades que deveriam ser realizadas até o próximo
encontro. Cada atividade proposta exigia dos gestores o aprendizado de conceitos e de instrumentos para a execução de tarefas que promoveriam a sua
reflexão sobre a gestão da empresa e o desenvolvimento de novas práticas.
Durante a interação com os consultores, os gestores do E1: revisaram a prioridade de divulgação e negociação dos cinco diferentes serviços demandados
pelo mercado; montaram um mapeamento do mercado identificando potenciais clientes de diversos setores industriais; listaram potenciais parceiros para
a execução de parte do trabalho de campo; identificaram os aspectos legais,
eventos acadêmicos ou técnicos que poderiam divulgar o serviço oferecido
ao mercado. Durante as entrevistas e atividades deste estudo, foram apresentados e discutidos os conceitos e práticas de gestão estratégica e da inovação,
promovendo a redefinição de prioridades e a definição de um plano de ação
para 2015. Como dois dos três sócios do E1 estão fora do Brasil concluindo
pesquisas acadêmicas, os três empreendedores montaram um plano e decidiram que a prioridade seria concentrar-se na finalização do atendimento
ao seu primeiro cliente, em seguida, vão se concentrar em reestruturar toda
a identidade visual da empresa para poder investir na divulgação dos seus
serviços. Assim que concluírem a confecção do novo material de divulgação,
os sócios retomarão seus papéis no E1 para contatar os potenciais clientes e
retomar as negociações de novos projetos.
No E2, os gestores aproveitaram as interações com seus clientes e parceiros, analisaram as exigências e sugestões sobre as rotinas operacionais (e.g.
elaboração dos relatórios) e comerciais (e.g. redefinição de preços propostos
e modelos de contratos) para revisar a sua lógica de formação dos preços, a
forma de negociação e a entrega dos resultados dos seus serviços. A partir
181
do contato com os assessores do programa NAGI, os empreendedores desenvolveram ferramentas para avaliar e controlar mais de dez projetos de
desenvolvimento de novos produtos e serviços. Durante as reuniões com os
consultores da incubadora, os gestores aproveitaram os conceitos e práticas
de marketing para conhecer ações e rotinas para divulgação das suas inovações. Nas entrevistas e atividades deste estudo, os empreendedores tiveram a
oportunidade de repensar seus papéis na empresa, suas prioridades na rotina
administrativa, comercial e operacional do E2. Redefiniram a prioridade dos
seus projetos para 2015 e decidiram concentrar seus esforços em projetos
que permitissem transformar seus experimentos semestrais em serviços de
rotina com volumes mensais de análises e faturamento. Definiram os clientes
que merecem maior atenção para o desenvolvimento desses projetos prioritários, assim como, definiram a prioridade das práticas voltadas para a gestão
dessas inovações e da estratégia do seu empreendimento. Em função disso,
decidiram que irão utilizar os conceitos do Balanced Scorecard (BSC)4 para melhor gerenciar a estratégia da empresa e os resultados alcançados.
A partir desses resumos sobre as ações realizadas ou estimuladas pela colaboração entre os empreendedores pesquisados e sujeitos externos, percebe-se que
cada empreendedor aproveitou essas interações diferentemente, confirmando
o fato de que as características coletivas dos sócios de cada empreendimento e
o estilo individual de cada empreendedor estão igualmente presentes na atividade e na relação com o objeto desta atividade (ODDONE; RE; BRIANTE,
2008). Isto é, os conceitos presentes na atividade estão imbuídos de um significado definido coletivamente (e.g. inovação e estratégia), assim como, de um
sentido atribuído pelo empreendedor. Por exemplo, para um dos sócios do
E1, estratégias são ações que levam a um resultado estratégico,enquanto que,
para um gestor do E2, estratégia é tanto o estado futuro da empresa como o
caminho para chegar lá. Como consequência, notamos que também existem
controvérsias entre os sócios, em função dos diferentes objetivos definidos individualmente. É preciso, então, que o processo de aprendizado e desenvolvimento seja promovido em atividades colaborativas que envolvam também os
participantes da gestão da organização, para que as diferentes interpretações sejam reconhecidas e alinhadas. O aprendizado nessas atividades de colaboração
precisa ser inédito e suficientemente coerente para estimular os empreendedores envolvidos na formação de novos conceitos e práticas comuns, em direção
aos objetivos de estratégia ou de inovação do empreendimento.
A formação de novos conceitos e práticas, como consequência das atividades colaborativas que realizamos com os sócios do E1 e do E2 promoveu
a criação de novos vínculos entre os empreendedores e o objeto definido
anteriormente (i.e. o modelo de negócios das incubadas). Indivíduos detentoO Balanced Scorecard (BSC) é uma proposta dos autores Kaplan e Norton (1992, 1996) para mensurar de forma mais inteligente e objetiva os ativos de uma organização com o objetivo de orientar
as decisões e ações dos gestores na direção dos objetivos estratégicos. A proposta tornou-se um
modelo e um sistema de gestão por objetivos, metas e indicadores para grupos de atividades e seus
resultados. Esse modelo é aceito e adotado em todo o mundo, em organizações públicas, privadas
e sem fins lucrativos.
4
182
res de conceitos não-espontâneos (i.e. professores) promovem a transmissão
desses conceitos para indivíduos que os desconhecem (i.e. alunos) pela atividade e pelo discurso. Com isso,a atividade se desenvolve a partir da formação
de novos conceitos e instrumentos, gerando um novo fluxo de atividades e,
consequentemente, desenvolvendo também as potencialidades dos gestores.
Isso permitiu que eles se apropriassem de novas possibilidades de ação sobre
o objeto (Figura 3) e estas novas possibilidades, neste estudo, estão relacionadas com a estratégia e a gestão estratégica das incubadas. Contudo, os empreendedores poderiam ter sido questionados e estimulados a desenvolver novos
conceitos e práticas de gestão da inovação de seus empreendimentos, como
proposto por Phillips (2014) e mencionado no início deste texto.
Uma vez desenvolvida a nova relação com o objeto, novas possibilidades de
interesses, de necessidades, de conflitos e de desafios podem surgir das interações dos gestores com o ambiente de negócios da organização, definindo
um processo cíclico evolutivo de desenvolvimento da gestão (Figura3), promovido pelas atividades de colaboração.
Figura 3: Desenvolvimento das práticas de gestão
Fonte: Autor, baseado no modelo de Leontiev (1978) e Vygotsky (2009).
Resumindo o processo ilustrado na Figura 3, podemos dizer que a relação entre
o desenvolvimento das práticas de gestão e as atividades de colaboração inicia-se com a percepção das controvérsias, originadas nas pressões de relações
externas. Essas controvérsias estimulam a definição de objetivos que atendam
a interesses e necessidades dos gestores, criando oportunidades para a aprendizagem, a introdução de conceitos e instrumentos de gestão estratégica e a
exploração da zona de desenvolvimento proximal dos gestores por meio de
atividades de colaboração entre os empreendedores e outros grupos externos.
O desenvolvimento da atividade (onde estão os conceitos e os instrumentos
mediatizantes da relação com o objeto da gestão) e das potencialidades dos
183
gestores proporcionará novas possibilidades de ação sobre o objeto, novas possibilidades de interesses e necessidades na relação com o objeto.
Conclusão
Em função das descobertas deste estudo, acreditamos que, se por um lado, o
desenvolvimento das práticas de gestão estratégica precisa de um objeto percebido pelos gestores como estratégico para a organização (JARZABKOWSKI;
BALOGUN; SEIDL, 2007), por outro lado, o desenvolvimento da gestão da
inovação, precisará da definição de um objeto carregado de significados de
inovação, assim como, dependerá de atividades colaborativas que promovam o
aprendizado de novos conceitos e práticas de inovação e, também, o desenvolvimento das potencialidades dos gestores sobre gestão da inovação.
Dessa forma é possível propor que o desenvolvimento da gestão da inovação
se iniciaria a partir das controvérsias percebidas pelos empreendedores na
relação com esse objeto e nos diferentes interesses, necessidades ou objetivos
definidos individualmente. Esses conflitos criam fases sensíveis ao aprendizado, que são entendidas como uma importante oportunidade para a busca
ou introdução de atividades de colaboração que promovam a formação dos
conceitos e instrumentos de gestão da inovação. Essas atividades de colaboração entre os gestores envolvidos na atividade e entre eles e outros grupos
de indivíduos (e.g. empresários, consultores e professores) vão promover o
alinhamento dos objetivos individuais dos gestores, durante o processo de
aprendizado, para melhor explorar o desenvolvimento das potencialidades de
cada empreendedor.
Os conceitos de gestão da inovação introduzidos durante as atividades de
aprendizado precisam ser inéditos e coerentes, o suficiente com as capacidades intelectuais dos sujeitos, para que eles possam formar novos conceitos
de inovação e apropriar-se deles para realizar seus objetivos de inovação. As
atividades colaborativas, que carregam os conceitos de gestão da inovação
introduzidos no processo de aprendizado, precisam ser inéditas e coerentes
o suficiente com os interesses e necessidades dos gestores para estimular o
comprometimento dos participantes para com o aprendizado.
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186
AUTORES
Admir Pancote é mestre em administração pela PUCPR em 2010, es-
pecialista em Gestão em Informática pela FESP em 1998, especialista em
Marketing em 1994 pela FAE/CDE, graduado em Administração pela
FESP em 1986. Atua na área de tecnologia com foco em sistemas de informação para vários segmentos. Participa de grupo de pesquisa focado em
Enterprise Architecture. Atualmente é diretor executivo da Vinces IT S.A.,
focada em inovação.
Alexandre Donizete Lopes de Moraes é Coordenador de Propriedade
Intelectual da Agência de Inovação UFPR desde outubro de 2011. Formado
em Administração e especialista em Gerência de Sistemas Logísticos pela
Universidade Federal do Paraná.
Adriana Roseli Wünsch Takahashi é Professora da Universidade Federal do Paraná. Possui Doutorado em Administração (2007/USP), Mestrado em Administração (2001/UFPR) e graduação em Ciências Econômicas
(1991/FAE). Desenvolve pesquisas em Administração, nas áreas de Estratégia e Organizações, atuando principalmente nos seguintes temas: capacidades
dinâmicas, aprendizagem organizacional, competências organizacionais, conhecimento, e pesquisa qualitativa.. Possui artigos nacionais e internacionais
publicados em eventos e periódicos, e capítulos de livros.
Andréa Paula Segatto é Professora associada no curso de Administra-
ção da Universidade Federal do Paraná - UFPR. Orientadora de mestrado
e doutorado no PPGADM/UFPR e coordenadora do Grupo de Estudos
em Gestão da Inovação, Tecnologia e Sustentabilidade – EGITS. Consultora
Ad-Hod de periódicos científicos do CNPq e da CAPES. Possui doutorado
(2001) e mestrado (1996) em Administração pela Universidade de São Paulo
e graduação em Administração (1991) e em Ciências Econômicas (1990) pela
Universidade Federal de Uberlândia. Desenvolve pesquisas em Administração, na área de Gestão da Inovação Tecnológica e Sustentabilidade, atuando
principalmente nos seguintes temas: Alianças, cooperações e parcerias tecnológicas, tecnologias sociais e transferência de tecnologia.
Dieval Guizelini é doutorando em Ciências-Bioquímica pela UFPR, mes-
tre em Bioinformática pela UFPR, graduado em Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistemas. Docente de informática do Setor de Educação
Profissional e Tecnológica da Universidade Federal do Paraná. Especializado
em Programação de Computadores, Banco de Dados, Aplicações WEB e
sistemas de gerenciamento de conteúdo.
Emerson Carneiro Camargo possui graduação em GEOLOGIA pela
Universidade Federal do Paraná(1976), Especialização para a Formação de
Professor em EAD. pela Universidade Federal do Paraná(2001), mestrado em
Ciências do Solo pela Universidade Federal do Paraná(1986) e doutorado em
Geociências (Recursos Minerais e Hidrogeologia) pela Universidade de São
Paulo(1995). Atualmente é Professor Associado IV da Universidade Federal
do Paraná e Diretor Executivo da Agência de Inovação UFPR.
188
Fernanda Salvador Alves é Professora Adjunta da Universidade Federal
do Paraná. Possui doutorado (2015/UFPR) e mestrado (2005/UFSC) em
Administração e graduação em Nutrição (2002/UFSC). Desenvolve pesquisas em Administração, nas áreas de Gestão da Inovação Tecnológica e
Sustentabilidade, atuando principalmente nos seguintes temas: cooperações
e parcerias e capacidades relacionais de organizações, com ênfase naquelas
sem finalidade lucrativa. Na ciência da Nutrição, suas pesquisas abrangem a
administração de restaurantes, principalmente nos temas de Planejamento e
Controle da Produção, Promoção de Saúde de Coletividades Sadias e Redução de Desperdícios.
Fernando Antonio Prado Gimenez possui graduação em Administra-
ção pela Universidade Estadual de Londrina (1981), mestrado em Administração pela Universidade de São Paulo (1983) e doutorado pela Manchester
Business School - University of Manchester (1995). Atualmente é professor
titular do Departamento de Administração Geral e Aplicada da Universidade
Federal do Paraná.
Franciele Klosowski possui graduação em Secretariado Executivo pela
Pontifícia Universidade Católica do Paraná (2007). Especialista em Gestão
Pública pela Universidade Federal do Paraná (2011). Atualmente é secretária
executiva da Agência de Inovação UFPR.
Lívia Maria dos Santos, graduada em Administração em 2008 e em
Economia em 2011 pela Universidade Estadual de Londrina, mestrado em
Administração pela Universidade Estadual de Londrina em 2012. Atualmente doutoranda em Políticas Públicas pela Universidade Federal do Paraná, e
professora no Instituto Federal do Paraná.
Luciano Minghini é formado em Administração pela Universidade Estadual de Londrina (1999), Mestre em Administração, Estratégia e Análise Organizacional pela Universidade Federal do Paraná (2011) e doutor em Administração pela mesma instituição (2015). Atualmente é professor do Mestrado
Profissional em Governança e Sustentabilidade e coordenador do Centro de
Pesquisa do Instituto Superior de Economia e Administração - ISAE.
Luiz Aurélio Virtuoso possui graduação em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Paraná (2001), especialização em Planejamento e Gestão de Negócios pela FAE Business School (2004) e mestrado em Administração Estratégica pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (2008).
Atualmente é professor assistente do Departamento de Transportes do curso
de Engenharia Civil da Universidade Federal do Paraná e Engenheiro Civil da
Urbanização de Curitiba S/A - URBS.
Marcos Ferasso é Professor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Possui Mestrado em Administração (2008/UFRGS), Especialização em
Desenvolvimento Local (2006/OIT-ONU), Especialização em Gestão Empresarial (2005/UNOESC) e Graduação em Administração (2002/UNOESC). Desenvolve pesquisas em Administração atuando principalmente nos
seguintes temas: administração geral, gestão do conhecimento, gestão da ino-
189
vação, clusters ou arranjos produtivos locais, empreendedorismo, estratégia e
pequenas e médias empresas. Possui artigos nacionais e internacionais publicados em eventos e periódicos, livros e capítulos de livros.
Paulo Renato Parreira possui graduação em Zootecnia pela Universidade de São Paulo (2000), mestrado em Zootecnia pela Universidade de São
Paulo (2003) e especialização em Gestão do Ensino Superior pela PUCPR
(2013). Atualmente é professor adjunto do curso de Medicina Veterinária
da PUCPR, Gerente de Projetos da Agência PUC de Inovação, responsável
pelo relacionamento e inovação no Agronegócio da Aceleradora HotMilk da
PUCPR e sócio na empresa AGIIR – Inteligência no Agronegócio.
Robert Adonias Costa Gomes é graduando do último período de Engenharia de Bioprocessos e Biotecnologia na Universidade Federal do Paraná e colaborador da Agência de Inovação da UFPR na área de Propriedade
Industrial.
Sandramara Scandelari Kusano de Paula Soares é Doutora em Clí-
nica Cirúrgica na área de Informática Médica pela UFPR. Mestre em Informática na área de Interfaces Ser-Humano Computador (IHC) pela UFPR.
Docente do Curso TADS/SEPT/UFPR desde 1998. Coordenadora do Núcleo EaD/SEPT/UFPR desde 2011, do Programa Proinfo Integrado/UFPR
desde 2012 e da Universidade Aberta do Brasil (UAB) na UFPR desde 2013.
Silvia Mara dos Santos Ramos possui graduação em Estudos Sociais
pela Faculdade de Ciências Humanas e Sociais de Curitiba (1990), em Educação e Gestão de Trânsito e Transporte pela Pontifícia Universidade Católica
do Paraná (2006) e pós-graduação MBA em Gestão de Cidades pelas Faculdades SPEI (2010). Atualmente é coordenadora da Unidade de Relações
Institucionais da URBS - Urbanização de Curitiba S/A.
Silvia Teresa Sparano Reich é Especialista em Educação a Distância
(EaD) pela UFPR (2001). Coordenadora técnico-pedagógica e responsável
por disciplinas de cursos à distância, de 1999 a 2010 no Núcleo de EaD da
UFPR (NEAD/UFPR) e desde 2011 no Núcleo de EaD do Setor de Educação Profissional e Tecnológica (SEPT/UFPR).
Walter Shima é graduado em Economia pela Universidade Federal do Parana em 1985, mestrado em Desenvolvimento Agricola pela Universidade
Federal Rural do Rio de Janeiro em 1991 e doutorado em Economia pela
UniversidadeFederal do Rio de Janeiro (1999). Atualmente é professor associado do Departamento de Economia e do Programa de Pos-graduacao em
Politicas Publicas da UFPR.
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