Out 2010 - Associação Brasileira de Criadores de Ovino
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1 out/nov/10 ÓRGÃO INFORMATIVO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CRIADORES DE OVINOS / ARCO - ANO 4 - Nº 18 – OUTUBRO/NOVEMBRO 2010 out/nov/10 2 Editorial Ovinos são para todos os tamanhos O ARCO JORNAL é o veículo informativo da ASSOCIACÃO BRASILEIRA DE CRIADORES DE OVINOS – ARCO Av. 7 de Setembro, 1159 Caixa Postal 145 CEP 96400-901 – Bagé (RS) Telefone: 53 3242.8422 Fax: 53 3242.9522 e-mail: [email protected] home page: www.arcoovinos.com.br DIRETORIA EXECUTIVA Presidente: Paulo Afonso Schwab 1º Vice-presidente: Suetônio Villar Campos 2º Vice-presidente: Arnaldo Dos Santos Vieira Filho 1º Secretário: Carlos Ely Garcia Júnior 2º Secretário: Almir Lins Rocha Júnior 1º Tesoureiro: Paulo Sérgio Soares 2º Tesoureiro: Teófilo Pereira Garcia de Garcia CONSELHO FISCAL Titulares Wilfrido Augusto Marques Joel Rodrigues Bitar da Cunha Thiago Beda Aquino Inojosa de Andrade Suplentes José Teodorico de Araújo Filho Ricardo Altevio Lemos Francisco André Nerbass SUPERINTENDÊNCIA DO R.G.O. Superintendente Francisco José Perelló Medeiros Superintendente Substituto Edemundo Ferreira Gressler CONSELHO DELIBERATIVO TÉCNICO Presidente: Fabrício Wollmann Willke SUPERVISOR ADMINISTRATIVO Paulo Sérgio Soares GERENTE ADMINISTRATIVO Bismar Augusto Azevedo Soares ARCO JORNAL Coordenação Geral Agropress Agência de Comunicação Edição Eduardo Fehn Teixeira e Horst Knak Agência Ciranda Jornalista responsável Nelson Moreira - Reg. Prof. 5566/03 Diagramação/Redação Nicolau Balaszow Colaborador Luca Risi Fotografia Banco de Imagens ARCO e Divulgação Departamento Comercial Carolina von Poser Milego/Daniela Levandovski [email protected] Fone: 51 3231.6210 / 51 8116.9782 A ARCO não se responsabiliza por opiniões emitidas em artigos assinados. Reprodução autorizada, desde que citada a fonte. Colaborações, sugestões, informações, críticas: [email protected] Foto de Capa: Ricardo Stuckert - Agência Brasil T eóricos e praticantes da economia dizem que para se ter ganhos em uma atividade econômica é preciso ter escala de produção, ou seja, grande quantidade de produto, pois assim se reduzem os custos e o negócio se torna competitivo dentro do mercado que se está atuando. Já conhecia este conceito por conta da atividade profissional que desenvolvi por mais de 25 anos, mas recentemente, em um almoço ouvi uma pessoa se referir a este assunto relacionando-o à ovinocultura. Não tenho a pretensão de contestar este conceito econômico tão arraigado no saber das pessoas e que foi construído com certeza, à base de muitos estudos e por pessoas com renomado conhecimento de causa. Mas quero sim, propor um debate sobre como e se devemos enquadrar a ovinocultura neste conceito, sabendo que é uma atividade muitas vezes com forte ligação em pequenas propriedades familiares, mas com grande potencial de dar um sustento digno para quem vive nesta situação. E quando digo isto, penso principalmente no Nordeste, região que tem grande concentração de rebanho ovino e também, de pequenas propriedades. A atividade da ovinocultura tem entre seus “praticantes” criadores com variados tamanhos de terra e de rebanhos. Dentre estes existem aqueles com dedicação principalmente para a seleção genética, e outros para rebanhos comerciais. Existem aqueles que têm 10 ou 15 cabeças, para sua manutenção ou os que possuem 16mil, 20 mil cabeças para uma produção comercial de cordeiros. E em termos de Brasil, encontramos as mais variadas condições de clima, terra (solo) distâncias de grandes centros consumidores, etc. É por isto que me pergunto como aplicar este conceito dentro do agronegócio ovino de forma a que não expulsemos os que não se enquadram neste preceito e que eles não virem favelados em alguma cidade deste País. A ovinocultura tem sim uma função social, conforme tive a oportunidade de dizer ao Presidente da República, quando da sua visita à Expointer deste ano. Além de gerar emprego e renda, contribui para a manutenção de muitas famílias no campo, evitando o êxodo rural. Creio que para se enquadrar no processo de produção em escala um dos caminhos pode ser a união de produtores de menor porte em associações de criadores regionais, ou Alianças Mercadológicas, programas de governos que ajudem aos produtores a se organizarem para comprarem animais, produzirem e entregarem em escala. E nunca podem esquecer de que na montagem destes processos tenham o apoio de alguém com experiência em extensão rural, pois ele, com certeza, vai ajudar e muito no sentido de passar importantes conhecimentos sobre a atividade, principalmente em termos de melhorias sanitárias, nutricionais, de manejo e instalações. Não conheço pessoalmente projetos que acontecem no nordeste, mas sei que eles estão partindo desta premissa de reunir grupos e trabalharem em conjunto. E sei que os resultados têm sido muito positivos. E foi com este espírito que recentemente participei de uma reunião na Federação dos Trabalhadores da Agricultura, no Rio Grande do Sul, Fetag. A idéia é desenvolver um projeto de ovinocultura para pecuaristas com estrutura totalmente familiar. Em nosso encontro, pontuei que qualquer projeto necessita ter a visão de que a ovinocultura é um negócio como qualquer outro dentro da propriedade. Que gera renda se for bem trabalhada. Que permite a produção de lã, carne, leite e pele. Mas que para dar este resultado positivo é preciso ver as habilidades de cada propriedade para que dê certo. Colocar ovinos produtores de leite, em propriedades que já tenham esta atividade no bovino. E de corte com quem conhece as funções da criação de gado de corte. Qualquer projeto tem tudo para dar certo se respeitada as características de seus participantes, da região em que está implantado, da cultura, e se tiver voltado para atender ao mercado consumidor. A ovinocultura pode ser desenvolvida em qualquer tamanho de propriedade, desde que se adapte às condições e às exigências desta espécie. Por isto creio que ela pode se enquadrar no conceito de produção em escala, as vezes uma só propriedade, as vezes unindo várias para atingir este objetivo. O importante é produzir bem, com qualidade e respeito ao meio ambiente. Isto tem valor e isto a ovinocultura pode dar! Paulo A. Schwab - Presidente HUMOR 3 out/nov/10 Notícias da ARCO Foto: Ricardo Stuckert - Agência Brasil Presidente da ARCO entrega a Lula reivindicações do setor O presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Ovinos, ARCO, Paulo Schwab, fez a entrega de um documento ao Presidente Lula, durante sua visita à Expointer e sua passagem pelo pavilhão dos ovinos. Reivindicações para apoio ao agronegócio da ovinocultura são a base deste documento que pede recursos para os quatro principais negócios da ovinocultura, a lã, a pele, o leite e a carne. Schwab pode acompanhar o presidente explicando um pouco de cada raça que estava na feira. Segundo ele, Lula acompanhou atentamente e pediu para um assessor marcar um novo encontro com a ARCO para debater os assuntos listados nas reivindicações. Segue abaixo a íntegra do documento. Esteio, 3 de setembro de 2010 Excelentíssimo Senhor Presidente da República Federativa do Brasil Luis Inácio Lula da Silva Brasília, DF. Prezado Presidente de propriedades rurais no Brasil mobiliza mais de um milhão O Agronegócio da Ovinocultura no em empregos indiretos. triplo o regos diretos e, no mínimo, País, gerando pelo menos 500 mil emp que lutam diariamente s utore prod enos pequ e ios méd são de Grande parte destas propriedades ia para a pecuária rtânc impo ma extre de é er um setor que para se manter no negócio e mant de cabeças, tendo es milhõ 16 de ho brasileiro tem hoje cerca brasileira. Segundo o IBGE o reban ças. cabe de es sido há 20 anos atrás, de quase 24 milhõ r: a Produção de lã para quatro importantes negócios, a sabe Este setor está alicerçado hoje em em consumir a carne esse inter de nto o leite e a pele. O aume vestuário e uso industrial, a carne, de de novos investimentos ssida nece a ndo traze está utos prod ovina bem como destes outros potencial para gerar este É sabido que o Brasil tem terras e e programas de apoio à atividade. sos países, algo que não diver mais aos s o de exportá-lo alimento e todos os produtos a pont rebanho que temos. podemos fazer hoje pelo pequeno do governo a fim de sa de políticas mais pró ativas por parte preci setor o noss te, amen efetiv Mas hoje. os estam que do ente patamar difer alavancarmos a ovinocultura para um o sanitária para diminuir o mais breve izaçã fiscal de setor ao s nado desti Precisamos de recursos é abatido no Brasil. ização que hoje beira aos 90% do que possível o volume de abates sem fiscal utores, de todos os prod os r apoia de fim a l Rura são da Exten Recursos destinados a reestruturação ra. lhar com a ovinocultu tamanhos, a reaprenderem a traba nados ao consumo tivo à produção de leite ovino, desti A realização de programas de incen que serve diretamente à , ovina pele de ução prod de rama humano; A estruturação de um prog do divisas e empregos; exportados para diversos países, geran produção de calçados masculinos, vestuário e que hoje ente ipalm uto com usos diversos, princ A reativação da produção de lã, prod nal. nacio inter ado alcança valores significativos no merc r à população em geral, o rebanho de ovinos, para possibilita E a um programa de aumento do elha. consumo de mais uma proteína verm de o Brasil estar pronto e projetando também a necessidade Pensamos em tudo isto, Sr. President er à enorme demanda atend para iente sufic e tidad em quan para oferecer todos estes produtos, do. Queremos criar Mun do Copa a rá sedia , quando o País que teremos dentro de quatro anos as levarem na sua turist os s todo ra brasileira, a ponto de um movimento, dentro da ovinocultu l, é a melhor do mundo, e, Brasi no feita dos, oriun dela utos memória que a ovinocultura e os prod rtá-los. por consequência, começarem a impo apoio da Presidência samos unir esforços e precisamos do É por tudo isto, Sr. Presidente, que preci sensibilidade, pois sua da destes objetivos. E temos certeza para levarmos adiante a concretização ade. ativid esta para eis suráv imen os trarão ganh nossos pleitos são simples, mas que Atenciosamente, Paulo Afonso Schwab dos Criadores de Ovinos - ARCO Presidente da Associação Brasileira Ovinocultores reconduzem Paulo Schwab à presidência C om uma representação que tem componentes de várias partes do Brasil, como Bahia e Pará, por exemplo, a Associação Brasileira de Criadores de Ovinos, ARCO, realizou eleições para uma nova diretoria, que vai conduzir a entidade no Biênio 2010/12. O atual presidente, Paulo Schwab foi reconduzido ao cargo, uma vez que não houve inscrição de chapa de oposição. Com ele estarão Suetônio Villar, da Paraíba, na Schwab quer a evolução dos sistemas produtivos primeira Vice-Presidência e Arnaldo dos Santos Vieira Filho, de São Paulo, na segunda Vice-Presidência. A eleição aconteceu no dia 3 de setembro, na sede da ARCO, no parque de Exposições Assis Brasil, em Esteio. Schwab disse que uma das metas da atual gestão é concluir o projeto de melhoramento genético que está sendo elaborado pela Embrapa. “Precisamos também evoluir no processo de organização dos sistemas produtivos dos vários negócios da ovinocultura”, ressalta. Outras associações. Durante a Expointer 2010, outras associações de criadores mudaram a diretoria. A Asssociação Brasileira de Criadores de Ovinos Naturalmente Coloridos – ABCONC elegeu Carlos Luiz da Rosa Rodrigues para presidente. Na raça Suffolk João Augusto do Nascimento foi eleito presidente e na raça Texel, José Luiz Pereira Dias foi o escolhido para conduzir a entidade pelos próximos dois anos e, na Poll Dorset, Suzette Dzierwa foi a escolhida para a presidência. • out/nov/10 4 Notícias da ARCO Faturamento de ovinos na Expointer é recorde Ovinocultores planejam comercialização da próxima safra A Sebrae intermedia negociações combatida com um programa de qualidade que garante que aquele cordeiro que vai para a gôndola do supermercado, é criado dentro de um determinado sistema de produção”, afirma o coordenador. Na rodada de negociação, a safra é colocada de maneira organizada e estabelecida em parcerias com os frigoríficos. A Cooperativa de Lã Tejupá Ltda, de São Gabriel, cujos associados possuem cerca de 20% do criatório gaúcho de ovinos, já envolveu nesse processo um rebanho de aproximadamente 50 mil cordeiros. “A iniciativa é excelente para o produtor que está organizado em grupos ou cooperativas, para reforçar a ação em bloco, fortalecendo tanto a indústria como o criador”, afirma o presidente Carlos Cleber Dias Leal. comercialização de ovinos na Expointer 2010 foi superior à da raça Angus, superando também o faturamento de outras raças da feira. O valor arrecadado foi de R$ 836,438 mil com a venda total de 255 exemplares. A raça que obteve o maior faturamento foi a Texel, com R$ 352,740 mil com a venda de 90 animais e em segundo foi a Suffolk com R$ 178,470 mil para 49 exemplares. Para o presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Ovinos, ARCO, Paulo Schwab, este resultado é o reflexo do excelente momento que vive a ovinocultura no estado e em todo o País, onde os investimentos em genética continuam aquecidos. “Também embasados no fator preço do cordeiro que hoje está em R$ 11,00 kg/carcaça”, ressalta. Schwab afirma que esta edição da feira foi marcada por fatos importantes para a ARCO Fotos: Divulgação e os ovinos. Ele cita a reeleição da atual diretoria para um mandato de mais dois anos, a realização da rodada de negócios entre produtores, indústria de processamento de carne e varejo, a reunião da Câmara Setorial Nacional da Ovinocaprinocultura, o lançamento da unidade móvel, o Borregão, de atendimento aos criadores, e, principalmente a entrega de um documento para o Presidente Lula, contendo reivindicações do setor. “Não poderia ter sido melhor”, salienta.• Morre criador Glênio Prudente Ovinocultura perde um de seus grandes guerreiros Foto: Vilmar Rosa/Seagri/RS Criadores de ovinos e a indústria do setor, intermediados pelo Sebrae/RS, fizeram pela quarta vez uma aproximação para planejar a comercialização da próxima safra. Desta vez, a rodada foi feita na Expointer, em Esteio, na sede da Associação Brasileira de Criadores de Ovino (Arco), com a participação de seis grupos de produtores. “O cenário da maior feira internacional de animais da América Latina se mostra muito bom porque é a oportunidade única de encontro de todos os representantes da cadeia produtiva do Rio Grande do Sul”, ressalta o coordenador da carteira de ovinocultura do Sebrae/RS, Ângelo Aguinaga. Na rodada anual, os produtores são atendidos pelo projeto Polo de Ovinocultura do Pampa Gaúcho, do Sebrae/ RS, que resulta no Cordeiro Certificado Arco. “O programa faz uma série de ações voltadas à melhoria das cadeias produtivas visando a obtenção de um selo de qualidade, com orientação para o cooperativismo e gestão da propriedade, entre outros métodos”, diz Aguinaga. Anteriormente, a qualidade dos ovinos desses criadores não era suficiente para enfrentar a concorrência uruguaia. “Essa dificuldade de comercialização foi Prudente (centro) recebeu Medalha Assis Brasil durante a Expointer 2010 Quando falava em ovinos os olhos de Glênio João Prudente brilhavam. Era um assunto que sempre gostou de falar e dava muitas aulas sobre o assunto. Criador desde o final da década de 80 foi um dos importadores da raça Border Leicester e seu incentivador para que crescesse no cenário de ovinos carne. Por várias vezes capitaneou viagens à Austrália e Nova Zelândia para ajudar os criadores gaúchos a conhecerem bons rebanhos naqueles países onde por sinal, fez muitas amizades. Presidente da ARCO entre 1993 e 1996, Glênio Prudente foi empresário do setor de distribuição de produtos veterinários, primeiro da empresa Merk e depois como Merial. Ele é considerado por todos como um batalhador da ovinocultura. “Um guerreiro que vai fazer falta”, assinala o atual presidente da ARCO, Paulo Schwab. 5 out/nov/10 Especial Ovinocultura: futuro promissor em Rondônia Ana Esteves O estado de Rondônia tem hoje o segundo maior rebanho de ovinos da região Norte: do final de 2008 para cá, o plantel de 128 mil cabeças aumentou para 141 mil animais. O segredo do sucesso está no aumento de demanda por carne e derivados, atendida a partir da importação de animais melhoradores por parte dos produtores, o que tem contribuído para o crescimento da qualidade do rebanho do estado. Conforme levantamento da Embrapa Rondônia, a produtividade na fazenda tem aumentado pela adoção de novas tecnologias, entretanto a sobrevivência dentro da atividade depende de se saber quanto custa produzir e onde estão os obstáculos para produzir com custos menores. “O sistema de produção utilizado pelo produtor tem grande importância, sendo variável o que vai influenciar no produto final. A opção por fatores como raça e sexo pode contribuir para o benefício de toda a cadeia produtiva da carne”, disse o pesquisador da Embrapa Rondônia, Ricardo Gomes de Araújo Pereira. O especialista lembra que os primeiros ovinos trazidos para Rondônia eram animais sem raça definida, que tinham em sua grande maioria animais lanudos mestiços de raças européias. A partir dos anos 80 houve um incremento de ovinos deslanados oriundos do Nordeste, com destaque para as raças Santa Inês e Morada Nova, que foram inclusive utilizadas em trabalhos de pesquisa realizados pela Embrapa Rondônia. “Recentemente, tem-se observado a incorporação de reprodutores e matrizes das raças Dorper, importadas da África, e animais Santa Inês melhorados”, Fotos: Divulgação Ricardo Araújo Pereira disse Pereira. No entanto, a cadeia produtiva ainda carece de maior organização, com aponta o pesquisador. “Esse problema faz com que o consumidor não tenha constância na oferta dos produtos, na qualidade da carne, na higiene do que é ofertado e no preSanta Inês é a raça mais forte do Estado ço”, constata. Pereira lembra que a introdução das ovelhas nesta região agricultura familiar no Estado. O estudo revela, também, a deda Amazônia coincide com a chegada dos primeiros colonizadores. sorganização da cadeia produtiva No final do século XIX, centenas de carne ovina no Estado, dificulde brasileiros emigraram, princi- tando o avanço da atividade. Nos palmente do Nordeste, para tra- rebanhos, faltam animais com gebalhar com extração de látex. Nos nética superior, com alto desempebarcos, trouxeram alguns animais nho para a produção de carne. As para iniciar uma criação na nova ovelhas demoram para se desenvolterra. Pouco mais de um século ver, é alta a taxa de mortalidade e depois, a ovinocultura está presen- baixo o rendimento de carne por te em 4.397 propriedades. É o que carcaça. Também faltam estruturas mostra o “Diagnóstico da ovinocul- adequadas para transporte e abate. tura do Estado de Rondônia: resul- Não existem frigoríficos para ovitados e discussões”, um minucioso nos no Estado, o que dificulta a trabalho coordenado pelas médicas fiscalização sanitária. Os animais veterinárias Sandra Régia de Paula são abatidos tarde demais, de maCarvalho, da Seagri, e Emanuela neira desorganizada. A carne chega ao consumidor com preço elevado, Panini Souza, da Emater. mais cara que a carne bovina, e com baixa qualidade. Por outro lado, DIAGNÓSTICO 75% dos produtores entrevistados Apesar dos grandes avanços dos na pesquisa demonstraram interesse últimos anos em novas tecnologias, em expandir suas criações. Em uma sua incorporação ao sistema produ- mesma área é possível criar dez tivo é lenta. Além disso, o desen- vezes mais ovelhas do que vacas, volvimento de novas metodologias para efeito de comparação. Além de avaliação do mérito genético dos disso, a gestação ovina é mais curanimais, o melhor conhecimento ta que a bovina e é comum nascer das vantagens e desvantagens de mais de um filhote por vez, o que cada raça e os resultados já alcan- favorece o aumento do rebanho em çados com seleção e cruzamentos pouco tempo. Mesmo assim, a maindica que esta forma tradicional, temática mostra que a atividade é utilizando-se ou não de ferramentas lucrativa, se a cadeia produtiva esavançadas, continuará sendo, por tiver ajustada desde o produtor até um bom tempo, meio seguro de se o consumidor. Todos concordam que é preciso produzir animais mais produtivos e eficientes, no sistema de produção organizar os elos da cadeia produtiva para que a ovinocultura possa de ovinos. Entre as principais preocupações deslanchar. “A atividade tem um dos criadores que desejem avançar futuro promissor porque temos na atividade está a garantia de se- condições climáticas favoráveis leção, cuidados e manuseio ade- ao desenvolvimento do rebanho, a quados até o ponto de entrega dos carne de cordeiro tem boa aceitaanimais na propriedade ou se for ção e o mercado está em franca exo caso, no abatedouro. Conforme pansão. Porém, antes de qualquer o secretário estadual de Agricultu- coisa, precisamos melhorar vários ra Evaldo de Lima, a ovinocultura aspectos, entre eles o genético”, desponta como uma das atividades disse Jobel Beserra de Oliveira, dotadas de potencial suficiente para gerente da coordenadoria de Pecuproporcionar significativas con- ária da Seagri. Para Sandra Carvalho, os protribuições ao desenvolvimento da dutores precisam otimizar os meios que dispõem para melhorar a produtividade de seu sistema. “A Embrapa tem tecnologia específica sobre sistemas de produção adequados à nossa região, mas o pessoal busca fora, é preciso corrigir isso”, comentou, acrescentando que tudo isso associado às práticas rudimentares de manejo, a ausência de assistência técnica apropriada e ao baixo nível de organização e gestão dos sistemas de produção são os principais entraves à organização eficaz da cadeia produtiva. • CULINÁRIA Cordeiro Guartelá Um bom prato com carne ovina tem que ser bem acompanhado! Esta receita criada pelo proprietário do Hotel e Restaurante Itagy, Ivo Arnt Filho, de Tibagi, PR, utiliza especiarias que transformam este prato numa rica experiência de aromas e sabores, que precisa ser necessariamente acompanhado de um bom vinho. Harmonize este prato de cordeiro com o premiado vinho Cabernet Sauvignon Rastros do Pampa Premium, da Estância Guatambu, de Dom Pedrito, e tenha lembranças inesquecíveis. INGREDIENTES: (Porção para uma pessoa) 200g Pernil de Cordeiro sem Osso cortado 200g Mandioquinha Salsa fatiada na transversal 8 Unidades de Ervilha Torta Sal a gosto 5 Colheres de Sopa de Azeite de Oliva 2 Colheres de Sopa de Alecrim Fresco 1 Colher de Sopa de Cebolinha Picada 1/2 Dose de Cachaça 1/2 Cebola Picada 1 Colher de Sopa de Óleo PREPARO: Temperar a carne com sal, azeite e o alecrim. Cozinhar as ervilhas tortas em água, com 1 pitada de sal. Fritar a cebola no óleo e colocar as mandioquinhas já fatiadas. Cobrir com água para que cozinhe. Colocar uma pitada de sal Assim que estiverem macias, colocar a cebolinha. Colocar a carne em uma frigideira e fritar no próprio azeite do tempero. Quando estiver quase no ponto, colocar a cachaça e flambar. PARA SERVIR: Montar no prato grande a la carte e enfeitar com uma fatia de pimentão vermelho e um ramo de hortelã. out/nov/10 6 Artigo Consórcio André Carloto Vielmo A necessidade de aumentar a produtividade por área de modo econômico é algo tão importante quanto a redução de custos. O consórcio entre Lavoura e Pecuária neste sentido tem um grande beneficio, levando em consideração a utilização de resíduos oriundos do processamento de grãos e fibras dentro da Fazenda e a utilização de sua resteva. O incremento econômico é muito interessante desde que bem administrado. O aumento da renda é proveniente da maior eficiência produtiva que esta diretamente relacionada com a capacidade e habilidade do administrador/gestor das atividades em questão. (Aumento de renda/aumento de trabalho/maior exigência de conhecimentos/Maior capacidade de Gerir). Sistema Produtivo A Fazenda Della Rosa, no município de São Desidério no Oeste Baiano montou um modelo interessante de consórcio. Uma área de pastagem reservada para os animais durante o período de plantio até a colheita(de outubro a junho), Impacto da Uti no peso de desmama de onde estes animais são suplementados com volumoso de Silagem de milho – Categorias de Ovelhas no pré parto, paridas e em monta, sendo que as ovelhas cobertas tem apenas como fonte de alimento a pastagem e mistura mineral/proteica no cocho. E durante os meses de Junho a outubro todas as categorias permanecem na resteva. Os cordeiros são criados em sistema de mamada controlada. Próximo dos 75 dias são desmamados e tem seus pesos corrigidos para 90 dias. Neste momento é realizada a avaliação: 1-Peso dos borregos; 2-peso desmamado por ovelha; e 3-peso médio desmamado por Macho Reprodutor utilizado na monta. A partir deste momento são todos confinados ate atingir peso de abate e as fêmeas de reposição permanecem confinadas até os 150 dias onde é realizado outra seleção para definir as que realmente irão permanecer no plantel. Os animais criados nesta propriedade são todos registrados e da Raça Santa Inês. O criador vem realizando uma seleção séria desde o inicio de 2005. No último ano ele optou por não utilizar a resteva, por parte dos animais, mantendo cobertura vegetal para o plantio direto. Isto nos permitiu fazer uma avaliação bastante interessante do impacto causado nas taxas de peso de desmama e peso desmamado por ovelha em sua propriedade. Resultados obtidos e discussão A Fazenda Della Rosa foi acompanhada, para avaliação destes dados, de 01 de Outubro de 2008, primeira desmama no período em que os animais haviam acabado de sair da resteva a 31 de Agosto de 2009, última desmama no inicio do período em que se iniciam os trabalhos agrícolas. Durante todo período os animais foram avaliados em sistema de pastagem passado pela época de chuvas Outubro a Abril até meados do período seco. Foram realizadas 6 desmamas no período. Na fase de cria, quando os borregos recebiam o leite de suas mães em mamada controlada, no período em que as ovelhas estavam pastejando na resteva foi onde Foto: Divulgação O consórcio Lavoura Pecuária (CLP), vem sendo utilizado a muito tempo pelos proprietários rurais de nosso pais. Mas isto ocorre ainda de modo insignificante tendo em vista o potencial apresentado. A utilização deste resíduo agrícola a muito vem sendo utilizado pela bovinocultura, principalmente a de corte, entretanto temos pouco estudo deste consorcio com ovinos. Principalmente ovinos da Raça Santa Inês. Renda = eficiência administrativa se verificaram os maiores pesos individuais de desmama (23,9 kg) relacionado a quantidade de leite produzido por ovelha, e os maiores pesos desmamados por ovelhas; 33,29 kg foi obtido na desmama de Dezembro pois nesta desmama tivemos um índice de prolificidade superior ao da estação passada. Neste momento verificamos a grande importância da alimentação rica em energia para o aumento do peso individual a desmama assim como um grande incremento no índice de prolificidade da estação. Pois o período de estação de mon- Gráfico 2 - Taxas verificadas na Propriedade durante o período >>> 7 out/nov/10 Lavoura Pecuária lização da Resteva de Milho e Soja Borregos e peso desmamado por Ovelha ta deste grupo foi logo quando os animais foram soltos para resteva, após a colheita, no mês de Abril de 2008. A diferença entre peso médio individual na desmama teve variação de 5,8 kg. variou de 23,9 kg (maior peso) para 18,1 kg (menor peso). E o peso médio desmamado por ovelha variou 8,2 kg aproximadamente, de 33,29 kg (maior peso) para 24,87 kg (menor peso) sendo que a prolificidade variou muito pouco. O impacto que o tipo de manejo alimentar pode causar no sistema produtivo neste caso foi de 33% a mais quando utilizamos da resteva como fonte de alimento para os ovinos. Isto ficaria perdido na lavoura se os ovinos não o tivessem utilizado. A Taxa de natalidade baixou de 65% em duas desmamas tendo em vista a ocorrência da queda de um raio na propriedade que causou a morte de cerca de 140 fêmeas, incluindo animais que haviam saído das duas estações de monta anteriores. O restante dos índices apresentam pouca variação a não ser a mortalidade que chegou a 17,5% no período de Dezembro devido a quantidade de chuvas e Abril também relacionada ao período de aleitamento realizado durante o período de chuvas. O mês de fevereiro teve uma diminuição no índice de mortalidade relacionado a um período de veranico, estiagem na chuva no mês de janeiro (sidney confrontar os dados com os dados pluviométrico da Fazenda) . O índice importante é que em todos os casos tivemos uma taxa de desmama superior a 80% com índices de até 96,15% Entre os índices apresentados no período, o dado que mais chama a atenção é o peso médio desmamado por filho de cada carneiro e a taxa de nascimento relacionada a cada reprodutor. Claro que devemos levar em consideração a mortalidade das matrizes por um raio no período de avaliação. Alguns reprodutores desmamam seus filhos com até 8 kg a mais que os outros. O impacto destes dados, apenas na desmama, representa cerca de R$ 24,00 (vinte e quatro reais) produzidos a mais por um bom reprodutor, em cada produto demamado. Outros itens interessantes para criadores que se preocupam com o resultado econômico de sua atividade são as médias de peso a desmama – 21,14kg e peso médio desmamado por ovelha – 28,87kg, assim como o ponderal médio até a desmama de 235g. Estes dados devem ser verificados em todos os sistemas produtivos, e comparados com o custo por kg produzidos durante o ano. Dados como estes são imprescindíveis para que haja realmente uma seleção de animais produtivos e não uma coleção de bonitos animais. Conclusão Com pouco trabalho de campo podemos obter estes dados. A ARCO – Associação Brasileira dos Criadores de Ovinos já exige Notificação de Cobertura e Notificação de Nascimento. Bastaria que o Técnico ao realizar a Inspeção ao pé dos animais realizasse a Pesagem dos mesmos. Estes dados devem ser verifica- dos em todos os sistemas produtivos, e comparados com o custo por kg produzidos durante o ano. Informações como estas são imprescindíveis para que haja realmente uma seleção de animais produtivos e não uma coleção de bonitos animais. No meu ponto de vista, a ARCO deveria implementar algo neste sentido para contribuir com a exigência de exames de DNA que apenas verificam os pais e oneram o criador e o sistema produtivo. No meu modo de ver a melhor forma de educar o criador a não realizar trambiques relacionados a idades ou paternidades é fazer com que ele vislumbre o potencial da seleção realmente levada a serio com dados Zootécnicos. A Associação tem como emitir relatórios como os demonstrados anteriormente de cada propriedade ao menos uma vez ao ano, ou a cada estação de Gráfico 1- Pesos verificados no período PN = Peso ao Nascer / PM 90 = Peso médio dos borregos na desmama corrigido para 90 dias/ PM/Ovelha = Peso médio desmamado por ovelha monta e nascimento. Ficaria fácil verificar quais são os rebanhos que possuem animais com melhor ganho de peso (ponderal), prolificidade, onde podemos adquirir matrizes que desmamam mais ou propriedades onde temos melhores índices. Tendo elas como possíveis modelos para nosso sistema produtivo. • out/nov/10 8 Mercado Por muito tempo, o abate de animais era considerado uma operação tecnológica de baixo nível científico. O fato só ganhou importância quando se observou que os eventos que se sucedem desde a propriedade rural até o abate do animal tinham grande influência na qualidade da carne. Nos países europeus, por exemplo, cresce a exigência por processos de abate que utilizem as técnicas de bem estar animal, da criação ao abate. Paralelo a isso, existem dois sistemas de abate: Halal (muçulmano) e Kosher (judeu), já vêm sendo empregados há séculos, não só com a finalidade de evitar sofrimentos ao animal, como especialmente, seguir preceitos religiosos. E o mercado de ovinos para estes tipos de abates se amplia a cada ano. Nicolau Balaszow E m todo mundo vivem cerca de 2 bilhões de muçulmanos que consomem diariamente produtos halal e o mercado tende a crescer, pois, avalia-se que somente no setor alimentício as cifras cheguem a US$ 150 bilhões nos 112 países seguidores do islamismo, por exemplo. O mercado global de produtos Halal tem valor estimado de 2,1 trilhões de dólares, incluindo-se aí a demanda cada vez maior pelos ovinos. Para os representantes da Cdialhalal, as perspectivas são excelentes, principalmente pela busca dos exportadores por este mercado em ascensão e potencialização de marcas e produtos. Com sede em São Bernardo do Campo, SP, a Cdialhalal é responsável pela aplicação e fiscalização das regras islâmicas na produção e no processamento de produtos agropecuários, em especial de origem animal através de certificações emitidas para empresas brasileiras que exportam seus produtos para o Oriente Médio, Ásia e a todos os países que têm comunidades islâmicas representativas. “A característica principal da empresa é assessorar as exportadoras brasileiras interessadas em operar e comercializar seus produtos no mundo islâmico, certificando-as pela excelência em todos os aspectos desde a higienização, armazenamento, procedência, embalagens e claro, o abate Halal que deve ser de acordo com as leis islâmicas”, orienta Ali Saifi, vice-presidente e diretor executivo da empresa. A Cdialhalal tem como principal papel beneficiar produtos Halal, garantindo e suprindo mão-de-obra especializada para o processo de produção deste tipo de alimento, tornando-os saudáveis e lícitos para o consumo dos muçulmanos e não-muçulmanos. Sendo assim, o essencial é que o abate de animais seja realizado sem sofrimentos e que a sangria seja eficiente. “As condições humanitárias não devem prevalecer somente no ato Foto: Divulgação Cresce mercado de produtos halal e kosher para ovinos Ali Saifi da Cidialhalal de abater e sim nos momentos precedentes ao abate”, explica Saifi ao garantir que este mercado cresce em patamares de 16% ao ano. “Graças à política de acordos comerciais do Governo Federal com o mundo árabe, a perspectiva, hoje, para os produtores brasileiros é excepcional”, informa. Para os interessados em ingressar neste mercado, serão necessárias ações diretas junto ao Serviço e Inspeção Federal (SIF), do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), para a obtenção de licenciamento. Na sequência do processo, representantes da Cdialhalal fazem visita de inspeção e monitoramento para que haja a adaptação do pecuarista ao sistema. “O ideal é que o produtor busque de imediato se associar com COMUNICADO DO S.R.G.O. Aos Associados e Inspetores Técnicos O presente comunicado tem a finalidade de lembrar aos senhores associado e Inspetores Técnicos a necessidade da observância de algumas determinações do Regulamento do S.R.G.O. e de alguns procedimentos a serem observados por ocasião da aquisição de ovinos. LIMITES DE IDADE PARA CONFIRMAÇÃO: Idade mínima – 8 meses Idade máxima – 36 meses PRAZO PARA ENTREGA DE DOCUMENTOS RELATIVOS A: Notificação de Cobertura: até um mês após o termino do período de cobertura; Notificação de IA: até um mês após a data da inseminação; Transferência de Embriões: até um mês após a data do procedimento; Banco de Embriões e de Sêmen: até um mês após a data do procedimento; INSPEÇÃO AO PÉ DAS MÃES: tem que ser realizada durante o período de aleitamento, com o produto ao pé da mãe. Não serão aceitas inspeções de cordeiros com mais de 6 meses de idade. Na eventualidade dos produtos terem mais de 6 meses de idade, será exigida a comprovação de maternidade através de teste de DNA. DOCUMENTOS: Notificações de Cobertura, Notificações de Nascimento, Autorizações de Transferência, Autorizações de Uso Por Comodato, Formação de Condomínio, Solicitação de Exclusão, Morte, etc., Solicitação de Correção de Código de Inaptos: Devem ser originais e assinados pelo associado ou pessoa por ele autorizado perante a ARCO. RASURAS: não serão aceitos documentos e fichas de inspeção com rasuras. CORREÇÃO DE CÓDIGOS DE INAPTOS: devem ser solicitados à ARCO no prazo máximo de 60 dias após a data de emissão da Carta de Aptos e de Inconformidade. CUIDADOS A SEREM TOMADOS QUANDO DA COMPRA DE OVINOS: Quando o ovino tiver menos de 8 meses, observar se o mesmo esta Apto – não compre se não estiver apto; Quando tiver mais de 8 meses, preferentemente deve estar confirmado ou no mínimo apto; Quando tiver mais de 36 meses, só compre se já estiver confirmado; Quando comprar fêmeas em gestação, deve informar-se se a cobertura, IA ou transplante de embriões foi notificado para a ARCO; Sêmen – só pode ser comercializado o sêmen congelado e processado em centrais registrados no MAPA. Somente firmas registradas no MAPA para comercialização de material genético podem comercializar o mesmo. COMPROVAÇÃO DE PARENTESCO E GENOTIPAGEM POR DNA: em observância as normas do Regulamento do S.R.G.O. é obrigatório a comprovação de parentesco através do teste de DNA, de 100% dos produtos de embriões, 5% de IA e 3% de Monta Natural. É recomendável a genotipagem por DNA de todos os animais de plantel. CONTROLE DE TOSQUIA DE OVINOS LANADOS: é obrigatório que o controle de tosquia seja realizado no mês em que o ovino for tosquiado. algum frigorífico que já esteja vinculado, pois isto vai facilitar em muito a sua iniciativa”, sugere Saifi. Kosher Em linhas semelhantes, os judeus também seguem padrões de abate que devem ser obedecidos rigorosamente. O termo kosher ou kasher é utilizado para definir os alimentos preparados de acordo com as leis judaicas de alimentação. A proposta deste abate ritual é a degola do animal sem a prévia insensibilização através do corte entre o primeiro e segundo anel da traquéia, a pele, artérias carótidas, veias jugulares, com o objetivo de permitir a máxima remoção do sangue. O abate kosher é executado por um rabino especialmente treinado para essa função, que utiliza um instrumento cortante denominado Chalaf. Apesar do caráter menos técnico deste tipo de abate que além de não insensibilizar, também não utiliza as etapas de sangria automática, por exemplo, alguns frigoríficos brasileiros atendem de forma específica os consumidores da comida kosher e adequam suas atividades às exigências religiosas para a produção industrial de alimentos com essas características. O mercado Kosher também se mostra muito promissor. Para se ter uma ideia, esses produtos atingem mais de seis milhões de pessoas só nos Estados Unidos e representam naquele país um mercado de US$ 35 bilhões/ ano, incluindo mais de 38 mil alimentos certificados como kosher produzidos por 9.600 empresas. Os produtos kosher não são adquiridos somente por judeus, mas também por muçulmanos, adventistas, vegetarianos, pessoas com alergias a certos alimentos e ingredientes, além de outros consumidores que simplesmente consideram subjetivamente o alimento como sendo de alta qualidade. São alimentos kosher: a carne de ovinos, gado, frango, peixe com escamas, laticínios, frutas, legumes e produtos de confeitaria. Não são considerados kosher: a carne suína, misturas de carne e laticínios, camarão, lagosta e frutos do mar. São Paulo, outro exemplo, o maior mercado de consumo do Brasil, tem aproximadamente 60 mil judeus, só na capital e que ainda encontram dificuldades em adquirir esses alimentos. Para tentar solucionar esta questão e ainda estudar e fiscalizar a produção de alimentos, a Belt Din Kashrut (BDK) e o Vaad Rabanei Anash Brasil, são organizações compostas por um grupo de rabinos, com sede em SP, que emitem certificados a todas as empresas interessadas em fazer parte deste segmento de mercado. O Sabra, uma delicatessen em Porto Alegre (RS), oferece produtos importados, principalmente de Israel e uma grande gama de alimentos kosher. Trazidos do frigorífico paulista Mehadrin, especializado em cortes para culinária judaica, os 5 a 6 kg de carne de cordeiro vendidos mensalmente, podem ser encontrados crus ou preparados em algum prato típico, sob encomenda. Já para as festividades da Páscoa Judaica, o consumo aumenta consideravelmente. Nessa época, o Sabra chega a vender 20kg, só para os dias da comemoração. • 9 out/nov/10 Manejo Fertilidade e produtividade são itens de primeira grandeza para o ovinocultor. Sem o primeiro, o segundo não existe. Ao perceber que muitas de suas ovelhas não manifestam cio, o produtor terá que buscar apoio especializado para entender o quê está acontecendo com o seu rebanho. O anestro pósparto é uma dessas preocupações que acometem muitos criadores, especialmente quando a situação se prolonga e os animais se tornam pouco férteis. U m rebanho produtivo é assim considerado quando há o aumento da eficiência reprodutiva, isto é, quanto menor a duração do anestro pós-parto menores serão os intervalos entre partos. Isso vai trazer um maior número de crias nascidas por ovelha/ano, proporcionado, no final das contas, maior lucratividade ao produtor. “Em ovelhas, a duração do anestro varia geralmente de acordo com o nível nutricional e a frequência de amamentação”, explica a pesquisadora da Embrapa Meio Norte, Tânia Maria Leal. Nesse sentido, ela informou que a Embrapa realizou pesquisas para avaliar o efeito da suplementação alimentar e da repetição de amamentação no retorno ao cio pós-parto em ovelhas da raça Santa Inês, por entender que a maioria dos rebanhos ovinos da região Nordeste apresenta um nível nutricional inadequado, mesmo àqueles menos exigentes do ponto de vista genético. No entendimento da pesquisadora, uma nutrição adequada torna-se essencial para o reinício da atividade ovariana pós-parto. As fêmeas devem estar bem nutridas no final da prenhez e no pós-parto - fases de maior demanda nutricional - para que possam reduzir o período de anestro. Quanto maior a perda de peso no início do pós-parto e quanto menor for a reserva corporal, mais tempo a ovelha levará para apresentar cio. Uma nutrição adequada, de forma que a ovelha consiga parir com uma boa condição corporal, e mantenha esta condição durante o pós-parto, permite mais leite para suas crias, oferecendo um melhor desempenho dos cordeiros e um retorno precoce à atividade re- produtiva. “O estímulo mamário decorrente da amamentação altera a função ovariana, o que vai levar a um atraso no restabelecimento da atividade reprodutiva, sendo que a intensidade e frequência de amamentação podem retardar o aparecimento do cio pós-parto”, descreve Tânia. Ela complementa dizendo que a amamentação leva a alteração em diversos hormônios e esses acabam por exercer efeitos inibidores sobre a atividade ovariana. Como estratégias para melhoria do desempenho dos sistemas de produção, as práticas associadas ao manejo reprodutivo são de fundamental importância. Quando a finalidade é de atender à demanda crescente do mercado por carne ovina é necessário aumentar o nascimento de cordeiros, o que pode ser conseguido através da redução do intervalo de partos. “Essa redução depende obviamente da utilização de técnicas apropriadas de manejo, como a amamentação controlada, que visa diminuir o efeito acumulado da repetição e intensidade da amamentação e a suplementação alimentar da ovelha no pós-parto, que objetiva suprir as exigências nutricionais aumentadas devido à lactação”, destaca. Após o parto acontece o crescimento na demanda nutricional da ovelha que, se não for atendida, o animal passa a usar as reservas corporais, ocasionando uma perda de peso e, como consequência, tem-se o restabelecimento da atividade reprodutiva retardada. Sendo assim, a suplementação alimentar é necessária para garantir um bom desempenho reprodutivo depois do parto. Práticas de manejo que contribuem para antecipar ou regular um rápido retorno ao cio pósparto: Amamentação controlada A amamentação controlada consiste em separar as crias das mães, a partir do 15º dia de vida do cordeiro, e colocá-los para mamar apenas duas vezes ao dia, pela manhã e a tarde, durante 30 minutos de cada vez. “Logo no início desta separação é importante oferecer forragem e uma pequena quantidade de concentrado para as crias, ou seja, 1% peso vivo. Isto tem a finalidade de promover o desenvolvimento ruminal e melhorar o desenvolvimento ponderal dos animais”, diz Tânia, pois, desta forma, a amamentação controlada proporciona às ovelhas um retorno ao cio mais precoce, melhorando a eficiência reprodutiva e produtiva dos ovinos. Suplementação alimentar no pós-parto Após o parto ocorre um aumento na demanda nutricional da ovelha e este fato ocasiona uma perda de peso e, como resultado, tem-se também retardado o estabelecimento da atividade reprodutiva. Existem diversas formas de diminuir as perdas verificadas no pós-parto e as que merecem destaque são: suplementação alimentar através do fornecimento de feno, silagem, concentrados protéicos e energéticos, além do cultivo de forragei- Foto: Murilo Goes/divulgação Antecipação do primeiro cio pós-parto em ovelhas Santa Inês Nutrição adequada é a solução ras que devem ser utilizadas como banco de proteína. “Assim, a suplementação alimentar no pós-parto e a substituição do sistema de amamentação contínua, pela amamentação controlada, favorecem a antecipação de uma nova concepção. O que faz reduzir o intervalo de partos, permitindo que a ovelha possa produzir um maior número de crias por ano e, em decorrência, melhorar a eficiência das fêmeas”, orienta a pesquisadora ao enfatizar que esse manejo deve ser adotado pelos produtores e, assim, garantir o desempenho do seu rebanho. • out/nov/10 10 Especial Uma visão da ovinocultura dos Estados Unidos Eduardo Amato O rebanho norte-americano atual é inferior a 6 milhões de cabeças, sendo formado predominantemente por raças e cruzamentos com aptidão para carne. Na tabela 1 apresentamos o ranking das 10 principais raças, cabendo especial destaque às raças Katahdin e Dorper, ambas deslanadas, que entraram mais recentemente no país e vem crescendo fortemente e a Rambouillet, única exceção da lista, com aptidão para lã. O número de raças existentes é superior a 70, se somada a grande quantidade de compostos e cruzamentos industriais. A carne de cordeiro, principal produto, é bastante apreciado na culinária local e está presente no cardápio de muitos restaurantes franceses, mexicanos, árabes e orientais, inclusive redes de fast food. Porém, assim como no Brasil, é difícil encontrar carne de cordeiro nas casas de carnes e supermercados e quando ela existe, normalmente é de origem neozelandeza ou uruguaia e o preço igualmente elevado. A lã, predominante de raças com aptidão de carne, possui pouco valor para a indústria, porém, move um grande mercado de artesanato, extremamente valorizado naquele país, com grande destaque às lãs naturalmente coloridas. O mercado de leite ovino vem crescendo no país, com a produção de queijos especiais, iogurtes e outros produtos, a partir de raças tradicionais para produção de leite e cruzamentos para este fim. Um interessante nicho de mercado americano são os chamados “Club Lambs”, que são propriedades especializadas na produção e comercialização de cordeiros em aleitamento para estudantes, que devem cuidar destes por um período que varia de 6 meses a 1 ano, como parte de um projeto pedagógico que envolve as regiões com economia predominantemente agropecuária. Os rebanhos de elite, para produção de matrizes e reprodutores, se utilizam de conceitos modernos de melhoramento animal e técnicas de avaliação como as DEPs (Diferença Esperada de Progênie), como armas de marketing e numa constante busca pelo aumento da produtividade do rebanho, com aumento Tabela 1. Ranking das 10 raças mais criadas nos EUA 1 º Suffolk 2 º Rambouillet 3 º Dorset 4 º Targhee 5 º Polypay 6 º Suffolk (cruzas) 7 º Hampshire 8 º Columbia 9 º Katahdin 10º Dorper Fonte: USDA/ASI Survey 2009 de prolificidade, redução de mortes neonatais e aumento das taxas de desmame. Atualmente os EUA importam 43% da carne ovina consumida no país, sendo que somente da Austrália importa 23% da carne produzida anualmente. Isto se traduz em uma grande preocupação com um futuro desabastecimento, por conta da grande concorrência do Oriente Médio, que aumentou suas importações em 41% desde 2005, elevando também os preços internacionais. Além da Austrália, a Nova Zelândia, o Uruguai, o Chile e a Argentina são os principais fornecedores de carne ovina do país. As projeções para 2010 são um aumento de 10% nas importações em relação a 2009. As exportações do país para México, Canadá e outros países, representaram em 2009, 1,5 mil toneladas de carne de cordeiro e 5,9 mil toneladas de carne de ovelha, crescimentos de 9% e 39% respectivamente em comparação a 2008. A exportação de animais vivos teve uma redução de 8% no mesmo ano. O preço da carne de cordeiro começou 2010 em baixa, mas já mostra sinais de recuperação com preços médios de US$ 2,9 /kg vivo para animais até 35kg e US$ 3,22 para animais em torno de 45 kg em junho (USDA – Market Summary 25jun2010). Estes valores, embora superiores aos preços praticados no Brasil, são motivo de reclamação dos produtores norte-americanos, devido ao elevado custo de produção. Cabe ressaltar ainda, que em muitos estados são mais valorizadas as carcaças com peso acima de 18kg. Os valores de um reprodutor ou matriz ficam em patamares bastante semelhantes aos registrados no Brasil, com animais de excelente qualidade vendidos a US$ 600 e média geral de US$ 300,00 p/ machos e US$ 200,00 para fêmeas, preços em conformidade com a Fotos: Divulgação Para muitos brasileiros, a ovinocultura nos Estados Unidos é um importante referencial em diversos aspectos. Não é novidade que a qualidade de vida do povo norte-americano é superior a brasileira e existem importantes diferenciais e experiências que podem servir de exemplo para o Brasil. Porém, as condições do produtor de ovinos naquele país, na sua grande maioria, não diferem muito do que se vê por aqui. É interessante poder conversar com produtores e ouvir as histórias do que é e do que já foi um dia a ovinocultura norte-americana e o que representou comercialmente para a economia deles. Soa até irônico, mas se assemelha ao discurso de muitos ovinocultores brasileiros, só que em inglês. O que é certo é que a produção de cordeiros e lã nos Estados Unidos se mantém estagnada há vários anos, devido aos altos custos de produção que envolve a atividade, tornando-a pouco competitiva quando comparamos com países como o Uruguai, a Nova Zelândia e a Austrália. realidade do mercado, para a produção de cordeiros. Não existe um claro mercado de animais de pista, como aqui. A lã segue o mercado internacional, porém os valores variam entre si pela micronagem (finura) da mesma. Para este ano, os valores praticados para lãs acima de 28 micras não ultrapassaram US$ 1,6, enquanto lãs de 21 micras chegaram a US$ 3 (base limpa). O mercado de peles, devido ao clima frio em boa parte do país, abastece o mercado interno para roupas de inverno (casacos e calçados), com preço médio de US$ 6,5 em fevereiro de 2010. Contudo, é a existência de uma cadeia produtiva bastante organizada o que realmente faz a grande diferença naquele país. A Associação Americana da Indústria Ovina (ASI – American Sheep Industry Associaton –www.sheepusa.org), conta com a participação e colaboração de todos os elos envolvidos da cadeia, em todos os estados norte-americanos. A ASI, além de >>> 11 out/nov/10 Especial incentivar todas as iniciativas em relação a cadeia, promove ainda importantes programas marketing e de incentivo a produção de carne de cordeiro (Fresh American Lamb) e lã (American Wool), entre outros. Assim como ocorre em outros países, a ASI disponibiliza um programa de aumento de produtividade (LAMBPLAN), que auxilia o produtor nas tomadas de decisão quanto ao manejo reprodutivo do rebanho. Associado a isto, existe um programa sanitário oficial bastante rigoroso, coordenado pelo USDA (Departamento Federal de Agricultura), que mantém o país livre de muitas doenças e atua no controle e erradicação de outras, com principal preocupação no controle do Scrapie, doença semelhante a vaca louca, que além de um programa federal obrigatório de controle e certificação das propriedades, conta com programas próprios em vários estados e é alvo de campanhas em exposições e feiras, jornais e programas de TV locais. Por trás de tudo isso, ainda existe uma eficiente rede de diagnóstico e troca de informações, formada por veterinários credenciados e laboratórios especializados, que realizam necropsias e todos os tipos de exames diagnósticos, com excelente estrutura e muito bem equipados. Todo animal que morre na propriedade deve ser comunicado e, quando necessário, encaminhado a necropsia e exames laboratoriais. Toda a movimentação de animais ou rebanhos também é rigorosamente acompanhada e todas as informações são transmitidas em tempo real através uma rede interligada diretamente ao USDA. A verminose, o foot rot (podridão dos cascos) e o ectima, são outras doenças comuns aos rebanhos e que apresentam as Tabela 2. Dados da produção ovina dos EUA coletados no Censo realizado em 2009 Estratificação da produção Ovinocultura como receita principal Mão-de-obra exclusivamente Familiar Tamanho do Rebanho mesmas limitações existentes aqui no Brasil. Para o escoamento da produção, centenas de pequenos abatedouros estão distribuídos por todo o país. Estes seguem todas as normas da legislação sanitária vigente e funcionam como prestadores de serviços ou comercializam regionalmente suas produções. Muitos produtores optam por terceirizar o abate nestes locais e comercializam diretamente na fazenda ou para restaurantes e supermercados. O abate para consumo próprio é permitido sem a necessidade de encaminhar ao frigorífico, porém também possui limitações e devem ser comunicados. Existe ainda uma grande preocupação do governo federal na manutenção do homem no campo, de forma que o governo cobra menos impostos de quem produz e vive na propriedade e investe em programas de incentivo ao setor. Ao contrário do que muitos pensam, não existe um subsídio direto, como nos países europeus, e as taxas e impostos oneram bastante o setor primário norteamericano. Em 2009, a ASI realizou um grande censo nacional, publicado em abril de 2010, que é um raio X da ovinocultura americana. Os dados coletados mostram a importância desta na cultura e na economia do país e vão permitir que sejam tomadas as atitudes necessárias para uma possível correção de rumo desta atividade, atualmente em expansão. Algumas informações relevantes constam da tabela 2. Uso de cães para proteção e/ou manejo do rebanho Prolificidade do rebanho Nascimentos Desmame Peso médio ao desmame Assistência Veterinária 64% Produção comercial 22% Produção de genética 10% Club Lambs 04% Terminação de Cordeiros 0,4% Produção de leite 53% 75% 64% até 100 cabeças 24% 101 a 500 cabeças 12% acima de 500 cabeças 82% (sobre o total de ovelhas cobertas) 159% 146% 31,3 Kg 72% Fonte: USDA/ASI Survey 2009 Cabe salientar que normalmente nas estatísticas apresentadas, é considerado somente o número de matrizes em produção e de reposição, ou seja, se um criador diz que possui 200 animais, está se referindo exclusivamente a esta categoria animal, ficando de fora os cordeiros e carneiros do rebanho. A ovinocultura norte-americana não é um modelo perfeito, mas nos apresenta claramente algumas idéias que podem ser facilmente implementadas no Brasil, assim como alternativas e exemplos que podem e devem ser seguidos. Muitas dessas idéias já estão há muito tempo na cabeça dos envolvidos com a cadeia e muitas vezes já apareceram no papel e em constantes fóruns de discussão, faltando torná-las realidade. É importante lembrar que todo esse trabalho só é possível por que é realizado por pessoas sérias e baseados na confiança mútua, envolvendo diretamente todos os membros da cadeia produtiva, com participação ativa. • out/nov/10 Sanidade 12 Homeopatia: uso contínuo traz resultados Luciana Radicione A pesar de seu uso estar mais concentrado em bovinos de leite, algumas iniciativas bem-sucedidas servem de exemplo e contribuem para a sua evolução mais intensa. Para o médico veterinário especialista em Doenças Parasitárias pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Paulo Cruz, o crescimento entre o gado leiteiro se deve provavelmente à possibilidade de o tratamento ser individual que permite uma uniformidade nos resultados. “Mas em ovinos temos conseguido excelentes dados no controle de um dos principais problemas da atividade, a verminose”, atesta. Uma das formas de promover o avanço da técnica, segundo ele, seria a maior adoção dos princípios que regem a homeopatia pelos próprios veterinários, que na maioria das vezes, segundo ele, emergem do meio acadêmico com uma visão restrita e “preconceituosa” em relação à prática. “Quem usa a homeopatia passa a vê-la com outros olhos. E, ao contrário do que se pensa, os produtores, em sua maioria são totalmente abertos a novas experiências”, afirma. Há quem lembre as primeiras reações, quando a homeopatia começou a ser introduzida na região de Chapecó, em Santa Catarina. “Tinha quem falasse que vendíamos o produto durante o dia e voltávamos à noite para benzer os animais. Mas como os resultados eram surpreendentes e indiscutíveis, a aceitação foi au- Excelentes resultados com ovinos mentando e hoje quem usa não troca”, atesta o diretor-técnico e farmacêutico homeopático da Orgânica Homeopatia Veterinária, Adenei Mattana. A empresa, localizada em Chapecó, desenvolve e fabrica produtos para o ramo veterinário e carrega como lema o bem-estar animal, a preservação do meio ambiente e a redução dos custos para o criador. Utiliza matérias-primas aprovadas pela Farmacopéia Homeopática Brasileira e foi a primeira indústria deste segmento a se instalar no Sul do Brasil. Em ovinos, a maior procura entre os criadores é para uso da prática na prevenção e controle de verminose, mas, segundo Mattana, a técnica pode ser utilizada em diversos casos e em todo o ciclo produtivo, atuando de forma preventiva ou melhoradora de desempenho, tais como aumento da fertilidade, prevenção de mastites, maior eficiência na assimilação de nutrientes e redução de estresse. “Em algumas enfermidades específicas os produtos são utilizados de forma curativa, apenas ajustando-se a dose”, explica. A adoção na propriedade não requer alterações no manejo, o que precisa, segundo o farmacêutico, é um ajuste na mão de obra, já que os produtos são de fácil administração: são misturados à suplementação mineral ou concentrados. “Sua absorção se dá quando o animal estiver se alimentando”, completa. A homeopatia no longo prazo, além da redução de custos - consequência da menor operação de manejo e do uso de produtos alopáticos, contribui para elevar o valor de mercado da carne oriunda de animais tratados com homeopatia e evita o descarte de leite. “Para o meio ambiente os benefícios são ainda maiores, já que o método de fabricação dos produtos impede que provoque toxicidade mesmo em altas dosagens”, afirma Mattana. Uma informação preciosa para quem ainda tem dúvida sobre a extensão dos benefícios da homeopatia veterinária: a redução do uso de produtos químicos fornece maior equilíbrio à natureza, fazendo com que predadores naturais de muitos parasitas retornem ao ambiente e contribuam no controle de infestações. O diretor comercial da Orgânica Homeopatia, Jerson Reginatto, reforça que a prática vem ganhando adeptos em muitos Estados brasileiros, isto porque o consumidor final está cada vez mais exigente com a qualidade dos alimentos que coloca na mesa. “Estamos passando por uma nova etapa no processo de criação dentro das propriedades e um novo cenário se desenha para a homeopatia”, prevê. O crescimento vem se dando bem próximo à região de Chapecó, onde a Orgânica Homeopatia atende a um grupo de ovinocultores que está fazendo uso da técnica e que vem confirmando, na prática, os resultados do tratamento. “Entregamos nossos medicamentos através de distribuidores e prestamos assistência técnica às propriedades”, esclarece. • Experiências de sucesso Um dos grupos atendidos é o Conselho de Criadores de Cordeiro do Alto Uruguai, em Santa Catarina. Formado há 10 anos, os mais de 70 produtores começaram a fazer uso do tratamento alternativo há 3 anos no rebanho formado por mais de 4 mil matrizes. Tudo começou com muita informação, com a participação em palestras e apoio de profissionais de escolas agrotécnicas. “Fomos atrás para conhecer como funcionava e quais os resultados que podíamos obter”, afirma Flávio Fontana, um dos integrantes do conselho. No campo hoje a realidade é outra para esses criadores, que conseguiram domar praticamente 100% da infestação por verminose – a maior praga da ovinocultura. “Além disso, os animais estão sempre prontos para o abate, com boa condição corporal e com alta imunidade a doenças”, confirma Fontana. Se a cada 30 dias era necessário um controle com produtos convencionais, hoje o quadro é outro. “Não temos mais essa necessidade, já que os animais não apresentam vermes”, acrescenta o criador, que confirma um aumento de custos da ordem de 10% para quem vai ingressar na homeopatia. Os custos, no entanto, se diluem com o passar do tempo com a eliminação de tratamentos alopáticos. No longo prazo o volume de granulado misturado ao sal ou à ração vai reduzindo, até chegar a 3 gramas por animal/dia. O início do tratamento geralmente começa com uma dosagem maior, até que o animal vá criando resistência natural e se torne imune a doenças. “Os resultados surgem em média dois anos após a introdução da homeopatia”, confirma. Um outro exemplo vem do berço do Ile de France em Santa Catarina. Em Campo Alegre, a Cabanha Lomas Negras faz uso da técnica desde 2003, por uma opção pessoal da proprietária Lucía Boussès. O ponto de partida foi transformar a sua propriedade em local 100% orgânico em todos os produtos e processos utilizados. “Idealizei um produto diferenciado para um público diferenciado, que preza pela qualidade, se preocupa com o meio ambiente e não se importa em pagar um pouco mais”, afirma a empresária, cuja produção é comercializada em Fotos: Divulgação Prática milenar da medicina alternativa, a homeopatia ainda é uma novidade no segmento veterinário, mas sua aceitação caminha a passos firmes entre os criadores. No caso da ovinocultura, seu uso começa a ser explorado por grupos interessados em ampliar a sanidade do rebanho a partir da prevenção e regularidade na aplicação – palavras-chaves que caracterizam os tratamentos exitosos realizados por meio da técnica. Lucía Boussès estabelecimentos de alto nível. Ela iniciou a homeopatia com um lote de 17 ovelhas avaliadas e controladas; e, desde lá, em função do trabalho de seleção que faz com as 400 matrizes, todos os exemplares que se apresentam suscetíveis a enfermidades são descartados do rebanho, uma vez que a resistência é uma característica genética que pode se perpetuar. No manejo orgânico, diz, "o que mais exige é a mão-de-obra diferenciada. Em nossa cabanha predomina a força feminina no trato dos animais no preparo da alimentação, chás e infusões". O manejo da propriedade orgânica exige rotação de piquetes, boa qualidade de pastos e complementação com ração com alto teor de proteína. Mesmo com a resistência natural que a homeopatia confere aos ovinos da Lomas Negras, em alguns casos, especialmente por efeito da umidade, alguns animais da cabanha são tratados com produtos convencionais, mas, segundo Lucía, o índice de infestação é bem abaixo em relação à média de propriedades convencionais. Os animais infestados, já quando atingem índice famacha 2, retornam ao tratamento homeopático. Caso se recuperem totalmente, são novamente incorporados ao rebanho. “Não inventei a roda, faço uso do que já é conhecido no mercado e obtenho resultados”, afirma a criadora, que faz questão de ressaltar que a homeopatia veterinária deve ser focada sempre na continuidade e não na quantidade. •
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