DISSERTAÇÃO Paulo R R B Nogueira
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DISSERTAÇÃO Paulo R R B Nogueira
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO CIÊNCIA E TECNOLOGIA FLUMINENSE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA AMBIENTAL MESTRADO EM ENGENHARIA AMBIENTAL MODALIDADE PROFISSIONAL IMOBILIZAÇÃO DE ACETILCOLINESTERASE PARA CONSTRUÇÃO DE BIOSSENSORES DE PESTICIDAS. PAULO ROBERTO RODRIGUES BRANDÃO NOGUEIRA CABO FRIO/RJ 2015 ii PAULO ROBERTO RODRIGUES BRANDÃO NOGUEIRA IMOBILIZAÇÃO DE ACETILCOLINESTERASE PARA CONSTRUÇÃO DE BIOSSENSORES DE PESTICIDAS. Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Engenharia Ambiental, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense, Campus Cabo Frio, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Engenharia Ambiental, modalidade profissional na área de concentração desenvolvimento regional, linha de pesquisa Avaliação e Gestão Ambiental. Orientador: Dr. Manildo Marcião de Oliveira CABO FRIO/ RJ 2015 iii iv DEDICATÓRIA À minha família, que está sempre ao meu lado nos momentos difíceis. v AGRADECIMENTOS Ao meu Orientador Prof. D.Sc Manildo Marcião Oliveira, que é um exemplo de humildade e um profissional de extrema qualidade. À Universidade Estácio de Sá, por me proporcionar através de incentivos a possibilidade de crescimento profissional. vi RESUMO O crescimento populacional vem aumentando de forma exponencial e a demanda por alimentos segue o mesmo patamar. Neste contexto, a produção agrícola mundial é afetada drasticamente pela ação de insetos e outras pragas. Para minimizar essa perda, os agrotóxicos, que constituem defensivos agrícolas físicos, químicos ou biológicos, têm sido rotineiramente utilizados em ampla escala no mundo e sobretudo no Brasil, em função de suas dimensões territoriais. Dentre os pesticidas mais utilizados atualmente no Brasil, os organofosforados e carbamatos ganham destaque por apresentarem alta toxicidade aos insetos e outras pragas.E causando, em pequenas concentrações, toxicidade também a seres humanos. Estas substâncias tóxicas vêm sendo introduzidas anualmente nos ecossistemas aquáticos, causando rápida diminuição na qualidade dos corpos hídricos, exigindo, assim, estratégias de proteção. Atualmente, biossensores com a enzima acetilcolinesterase (AChE) imobilizadas estão sendo construídos e utilizados, com o propósito de identificar, através da inibição enzimática, a presença dos pesticidas organofosforados e carbamatos. Porém, o processo de imobilização em determinados suportes (sílica mesoporosa e quitosana com glutaraldeído), dentre outras, é a fase mais crítica para a estabilidade da enzima, pois um bom processo de imobilização melhora o desempenho e a reprodutibilidade do sinal analítico, levando à obtenção de resultados fidedignos. Os objetivos deste estudo foram: realizar primeiramente uma revisão bibliográfica sobre biossensores com AChE, para posteriormente realizar o processo de imobilização enzimática de AChE encontrada no extrato enzimático bruto retirado de cérebro de camundongos suíços, em dois suportes (Sílica mesoporosa e quitosana com glutaraldeído), analisando a atividade enzimática pós-imobilização e avaliando o tempo de reutilização da enzima. Um dos principais resultados obtidos pela pesquisa foi a constatação da ocorrência de imobilização de AChE em sílica mesoporosa e em quitosana com glutaraldeído, apresentando um tempo de reutilização nas amostras de sílica mesoporosa de 8 meses, e em quitosana com glutaraldeído de 23 dias. Também observou-se que a sílica mesoporosa mostrou-se uma matriz mais efetiva do que a quitosana com acetilcolinesterase. glutaraldeído. Palavras-chave: Sílica mesoporosa, quitosana, vii ABSTRACT Population growth is increasing exponentially and the demand for food follows the same baseline. In this context, the world's agricultural production is affected dramatically by the action of insects and other pests. To minimize this loss, pesticides, agrochemicals which are physical, chemical or biological, have been routinely used in large scale in the world and especially in Brazil, due to its territorial dimensions. Among the pesticides most widely used in Brazil, organophosphates and carbamates are highlighted because they have high toxicity to insects and other pests. And causing, at low concentrations, also toxicity to humans.. These toxic substances are being introduced annually in aquatic ecosystems, causing rapid decline in the quality of hydrous organisms therefore requiring protection strategies. Currently, biosensors with acetylcholinesterase enzyme (AChE) immobilized are being built and used, with the purpose of identifying by enzyme inhibition, the presence of organophosphates and carbamates pesticides. However, the process of immobilization on certain supports (mesoporous silica with glutaraldehyde and chitosan), among others, is over criticalphase for the stability of the enzyme AChE, as a good immobilization process improves the performance and reliability of the analytical signal, leading to obtaining reliable results. The goals of this study were first to perform a bibliographic review of biosensors with AChE, later to carry out the enzyme immobilization process of AChE enzyme found in raw enzyme extract taken from the brain of Swiss mice in two supports (mesoporous silica and chitosan with glutaraldehyde), analyzing enzyme activity after immobilization and assessing the time of reuse of the enzyme. One of the main results of the research, was verified the occurrence of AChE immobilization on mesoporous silica and chitosan with glutaraldehyde, with a reuse time of the mesoporous silica samples of eight months, and chitosan with glutaraldehyde of 23 days. It was also observed that the mesoporous silica was found to be more effective than the chitosan matrix with glutaraldehyde. Key-words: Mesoporous silica, chitosan, acetylcholinesterase. viii LISTA DE FIGURAS FIGURA 1: Princípio de funcionamento de um biossensor. Biomaterial aderido à superfície de um transdutor, que converte o sinal para medição. FIGURA 2: Hidrólise da acetilcolina. FIGURA 3: Biossensores para identificação de pesticidas. FIGURA 4: Esquema representativo dos principais processos de imobilização de enzimas sobre suportes sólidos: A) adsorção, B) encapsulação, C) ligação covalente e D) covalente cruzada. FIGURA 5: Curva de substrato de iodeto de acetiltiocolina, (A) para obtenção dos parâmetros cinéticos (VMax e KM) da AChE livre. (B) Gráfico do duplo reciproco (LineweaverBurk). FIGURA 6: Atividade enzimática de AChE imobilizada em sílica mesoporosa. FIGURA 7: Leitura da absorvância da atividade enzimática realizada durante o processo de imobilização em quitosana com glutaraldeído após coleta do sobrenadante em 1 hora. FIGURA 8: Leitura da absorvância da atividade enzimática realizada durante o processo de imobilização em quitosana com glutaraldeído após coleta do sobrenadante em 3 horas. FIGURA 9: Ensaio da atividade enzimática em sílica nova imobilizada com AChE e sílica de reuso, armazenada por 22 dias. FIGURA 10: Ensaio da atividade enzimática em sílica nova imobilizada com AChE e sílica de reuso, armazenada por 56 dias. FIGURA 11: Ensaio da atividade enzimática em sílica nova imobilizada com AChE e sílica de reuso, armazenada por 63 dias. ix FIGURA 12: Ensaio da atividade enzimática em sílica de reuso imobilizada com AChE, após 128 dias de armazenamento. FIGURA 13: Ensaio da atividade enzimática em sílica de reuso imobilizada com AChE, após 312 dias de armazenamento. FIGURA 14: Absorvância da atividade enzimática de AChE imobilizada em quitosana-glutaraldeído de reuso após 23 dias de armazenamento. FIGURA 15: Absorvância da atividade enzimática de AChE imobilizada em quitosana-glutaraldeído de reuso após 112 dias de armazenamento. FIGURA 16: Comparação das absorvâncias das atividades enzimáticas em matriz de reuso sílica mesoporosa e quitosana-glutaraldeído imobilizadas com AChE. x LISTA DE TABELAS TABELA 1: Dosagem de proteínas, realizadas durante o processo de imobilização enzimática em quitosana com glutaraldeído e sílica mesoporosa. xi LISTAS DE ABREVIATURAS E SIGLAS AChE: acetilcolinesterase. AOH: Ácido acético APTS: Aminopropiltrimetóxisilano BhE: Butirilcolinesterase BSA: Albumina sérica bovina CG: Cromatrografia Gasosa CL: Cromatrografia Liquida ChE: Colinesterase DDT: Diclorodifeniltricloretano DNA: Ácido desoxirribonucleico DTNB: ácido 5,5’-ditiobis-2-nitrobenzoico EA: Enzima acetilada EH: Enzima livre EHAX: Complexo enzima substrato FAO: Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura. GMBS: éster de N-(γ-maleimidobutiriloxi)-succinimida HX: Molécula de colina MPTS: mercaptopropiltrimetóxisilano OMS: Organização mundial da saúde PVA-SbQ: glutaraldeído e álcool polivinílico PX: Pesticidas organofosforados RPM: Rotações por minuto SBA 15: Sílica mesoporosa com poros de 5 a 13 nanometros SMA: Estireno-Anidrido Maleico TNB: ácido tionitrobenzóico xii LISTAS DE SÍMBOLOS AgCl: Cloreto de prata g: Grama KM: Constante de Michaelis-Menten M: Mol μL: Microlitros mL: mililitros Mol/L: Mol por litro m2/g: Metro quadrado por grama NaOH: Hidróxido de sódio nm: nanometro pH: Potencial de Hidrogênio U/mL: Unidades por mililitros Vmax: Velocidade máxima V/V: volume por volume xiii SUMÁRIO 1. APRESENTAÇÃO.................................................................................................... 1 2. ARTIGO CIENTÍFICO I........................................................................................... 3 RESUMO......................................................................................................................... 3 ABSTRACT..................................................................................................................... 3 INTRODUÇÃO................................................................................................................ 4 I. II. III. Biossensores................................................................................................... 5 Biossensores para detecção de pesticidas....................................................... 6 Estudo de imobilização de enzimas................................................................ 7 CONCLUSÃO................................................................................................................ 10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................... 11 3. ARTIGO CIENTÍFICO II........................................................................................ 14 RESUMO....................................................................................................................... 14 ABSTRACT................................................................................................................... 15 INTRODUÇÃO...............................................................................................................16 METODOLOGIA............................................................................................................17 Delineamento experimental.............................................................................................18 Extração de acetilcolinesterase de cérebro de camundongos suíços...............................18 Ensaios da acetilcolinesterase..........................................................................................18 Parâmetros cinéticos da acetilcolinesterase.....................................................................19 Ensaio da atividade enzimática das alíquotas de proteínas retiradas do sobrenadante durante o processo de imobilização em quitosana com glutaraldeído e sílica mesoporosa pelo método de peterson (1977)......................................................................................19 Imobilização enzimática em sílica mesoporosa...............................................................19 Ensaio da atividade enzimática da AChE imobilizada em sílica mesoporosa...............19 Imobilização enzimática em quitosana............................................................................20 Confecção de esferas de quitosana..................................................................................20 Ativação com glutaraldeído.............................................................................................20 Imobilização da acetilcolinesterase em quitosana com glutaraldeído............................20 xiv Ensaio da atividade enzimática da AChE imobilizada em quitosana com glutaraldeído....................................................................................................................20 Ensaio da atividade enzimática nos testes de reutilização da AChE imobilizada em sílica mesoporosa e quitosana com glutaraldeído.....................................................................21 RESULTADOS...............................................................................................................21 DISCUSSÃO...................................................................................................................27 CONCLUSÕES...............................................................................................................28 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................29 2 APRESENTAÇÃO Os pesticidas utilizados no Brasil têm como composição uma grande variedade de substâncias químicas. Aproximadamente 600 ingredientes ativos são registrados e utilizados na agricultura, como organofosforados, carbamatos, organoclorados, piretróides, derivados de uréia, bipiridílio e nitrocompostos que, consequentemente, têm diferentes modos de ação, biotransformação e eliminação. Dentre estes destacam-se pelo alto grau de toxicidade, os organofosforados e carbamatos que são comercializados e utilizados em grande escala. Nos últimos anos, o Brasil tem avançado consistentemente no desenvolvimento de ações importantes na Ciência, Tecnologia e Inovação, com resultados concretos na produção científica e tecnológica, particularmente em determinados campos como os da nanotecnologia e da nanociência. Inseridos neste contexto encontram-se os biossensores com acetilcolinesterase (AChE), associados a nanoparticulas de sílica mesoporosa, nanofios, nanocavidades e quitosana com glutaraldeído, que estão sendo cada vez mais utilizados para detecção de pesticidas. As pesquisas atuais tentam aumentar a robustez dos testes de pesticidas com biossensores. Porém, as enzimas são materiais caros e ainda não se sabe, com precisão, qual a durabilidade destes biossensores, o que muitas vezes inviabiliza sua comercialização. Recentemente pesquisadores criaram um biossensor com AChE que detecta em minutos, na água, no solo e em alimentos, a presença de um pesticida altamente tóxico que está sendo banido no Brasil, mas que ainda é usado em diversas lavouras no país: o metamidofós (organofosforado). Porém, a enzima AChE purificada tem um alto custo. Para este custo ser minimizado, necessita-se de mais estudos realizados com extratos enzimáticos brutos de AChE, que podem ser retirados de cérebros de camundongos suíços e posteriormente imobilizados em diversos tipos de nanoestruturas. Esta pesquisa foi realizada no Laboratório de Ecotoxicologia e Microbiologia Ambiental (LEMAN) do IFFluminese campus Cabo Frio, RJ, pois este processo mostra-se inovador na construção de biossensores para detecção de pesticidas organofosforados e carbamatos, uma vez que estudos sobre extratos enzimáticos brutos de AChE são escassos. O objetivo deste trabalho foi imobilizar a enzima AChE encontrada no extrato enzimático bruto em dois suportes que são sílica mesoporosa e quitosana reticulada. 3 Como objetivos específicos deste trabalho, incluem-se: i) dosar a concentração de proteínas durante o processo de imobilização enzimática. ii) realizar testes de imobilização enzimática da AChE retirados de cérebros de camundongos suíços; iii) avaliar o tempo de reutilização da enzima, pós-imobilização, nas duas matrizes; No artigo científico 1, foi realizada uma revisão bibliográfica referente a biossensores eletroquímicos, biossensores baseados em AChE e imobilização de AChE, com o objetivo de servir de base de referências para o desenvolvimento prático da pesquisa. No artigo científico 2, foram realizados testes de bancada de dosagens de proteínas coletadas do sobrenadante, durante o processo de imobilização enzimática em dois suportes (sílica mesoporosa e quitosana com glutaraldeído), testes de imobilização e reutilização de AChE encontradas no extrato enzimático bruto e também avaliação da atividade enzimática nos suportes sílica mesoporosa e quitosana com glutaraldeído pós processo de imobilização. Os resultados obtidos mostraram a ocorrência de imobilização de AChE nos dois suportes testados revelando que as enzimas imobilizadas estão ativas mesmo depois do processo. A sílica mesoporosa apresentou melhor resposta em relação à quitosana com glutaraldeído em todos os parâmetros testados: dosagem de proteínas, atividade enzimática durante a imobilização e atividade da enzima após períodos de estocagem e reutilização (reuso) mesmo após 100 dias de armazenamento. 4 ARTIGO CIENTÍFICO 1 (Publicado na revista eletrônica transdisciplinar Logos e Veritas – UNESA) Biossensores para detecção de pesticidas: processos de imobilização da enzima acetilcolinesterase1 Paulo Roberto Rodrigues Brandão Nogueira Maurilio Geraldete Pereira Murilo Costa Moraes João André Duarte Silva Paulo Roberto Brasil de Oliveira Marques Victor Barbosa Saraiva Manildo Marcião Oliveira Resumo: O Brasil é o primeiro no ranking em consumo de pesticidas, sendo estes amplamente utilizados na agricultura(FAO, 2013). Desse modo, existe um consenso a respeito da necessidade de se monitorar continuamente o teor destes contaminantes químicos nos cursos das águas naturais e nos efluentes industriais liberados nestes recursos hídricos. Este monitoramento pode ser realizado através de biossensores. A acetilcolinesterase é uma enzima que é inibida por pesticidas organofosforados e carbamatos. Nos últimos anos, o desenvolvimento de metodologias mais seguras e baratas vem sendo empregadas no monitoramento ambiental destes contaminantes químicos. Assim sendo, surge a necessidade de utilização de alternativas viáveis para o monitoramento de pesticidas. A construção de biossensores utilizando matrizes biológicas mais baratas é um caminho promissor a utilização deste método no monitoramento de poluentes, sendo que a etapa de imobilização do material biológico necessita de atenção para o melhor desempenho e reprodutibilidade de sinal analítico. Palavras-chave: Acetilcolinesterase; Biossensores, Pesticidas; Monitoramento Ambiental Abstract: Brazil is the first in the ranking of pesticide consumption, which are widely used in agriculture (FAO, 2013). Thus, there is a consensus on the need to continuously monitor the content of these chemical contaminants in the courses of natural water and industrial effluents released on these hydrous resources. This monitoring can be performed by biosensors. Acetylcholinesterase is an enzyme that is inhibited by organophosphates and carbamates pesticides. In the last years, the development of safer and cheaper methods has been used in environmental monitoring of these chemical contaminants. Therefore, the need arises to use viable alternatives to pesticides monitoring. The construction of biosensors using cheaper biological matrices is a promising way to use this method in the monitoring of pollutants, given that the immobilization stage of the biological material needs attention for the best performance and analytical signal reproducibility. Keywords: Acetylcholinesterase; Biosensors, Pesticides; Environmental Monitoring 5 Introdução. Na história da humanidade a demanda por alimentos é sempre crescente, pois deve acompanhar o crescimento da população e essa ocorre de forma exponencial. Porém, a produção agrícola mundial é afetada drasticamente pela ação de insetos e outras pragas. Estima-se que cerca de US$ 250 bilhões são perdidos anualmente por esse motivo). Para minimizar essa perda, os agrotóxicos, que constituem defensivos agrícolas físicos, químicos ou biológicos, têm sido rotineiramente utilizados em ampla escala no mundo, particularmente em países da América do Sul que possuem grande extrato de sua economia baseados no agronegócio ,e sobretudo no Brasil, em função de suas dimensões territoriais. Dentre esses agrotóxicos, os denominados pesticidas, que são substâncias químicas ou misturas de substâncias capazes de controlar pragas, se destacam tanto na fabricação e comercialização, quanto no volume de uso como defensivo. Existem atualmente cerca de 600 ingredientes ativos registrados e usados em suas formulações pesticidas, destes, 350 contribuem com 98% dos pesticidas mais utilizados (GALLI et al, 2006). Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, 2013), o Brasil está entre os países que mais utilizam pesticidas em lavouras, superando em sete vezes a média mundial de 0,5 kg/hab. A utilização indiscriminada destes produtos tem impacto direto sobre a saúde e o meio ambiente. Não existem dados seguros acerca da quantidade exata de pessoas que apresentam intoxicações agudas por pesticidas. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima um número de 220 mil mortos/ano decorrentes destes processos de intoxicação, sendo 70% destes casos em países subdesenvolvidos, ou em desenvolvimento Esse dado fortalece e direciona as ações de monitoramento destes poluentes, principalmente em ambientes aquáticos, principal meio de disseminação destes e cuja importância é devida ao crescente número dessas substâncias potencialmente nocivas inseridas neste compartimento ambiental. Atualmente, os pesticidas mais utilizados compreendem grande variedade de substâncias químicas, com diferentes grupos funcionais tais como: piretróides, ditiocarbamatos, derivados de uréia (carbamidas), organofosforados, bipiridílio, formicidas, organoclorados e nitrocompostos, que consequentemente tem diferentes modos de ação, biotransformação e eliminação (UNNEVER et al, 1997). Alguns pesticidas da classe dos organoclorados e organofosforados, que estão entre as mais tóxicas existentes, tiveram seu uso proibido, devido à possibilidade de desenvolvimento de tumores cancerígenos, e vários outros problemas relacionados à saúde humana (GALLI et al, 2006; NUNES, 1999). A análise de resíduos de pesticidas por processos convencionais depara-se com problemas operacionais complexos devido à gama de substâncias existentes que devem ser determinadas em distintos produtos (BARCELÓ, 1993). Diversos métodos têm sido desenvolvidos nas últimas décadas, sendo que a maioria baseia-se em espectrofotometria e cromatografia líquida (CL) ou gasosa (CG). São métodos validados, muito sensíveis e cada vez mais utilizados em análises químicas (LARTIGES, 1995). Porém, os altos custos das análises e a dificuldade de serem realizadas in loco restringem o monitoramento de determinados poluentes, pois envolvem aquisição, preparação e análise de laboratório, impondo limitações no número de amostras que podem ser analisadas para um determinado projeto de monitoramento ambiental (KARUBE et al, 1995). _________________________ Parte da dissertação de mestrado do primeiro autor a ser apresentado ao Programa de PósGraduação Stricto sensu em Engenharia Ambiental, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense do Campus Macaé, na área de concentração de Gestão e Planejamento Ambiental, linha de pesquisa Avaliação e Gestão Ambiental, sob a orientação do Prof. Dr. Manildo Marcião de Oliveira. 6 Segundo Rosatto et al (2001), essa lacuna tem criado uma demanda por tecnologias analíticas que possam permitir um aumento no número destas análises num menor tempo e com custos acessíveis. Dentre as variadas propostas atuais para métodos alternativos de análises, destacam-se os imunoensaios e os biossensores, que vêm sendo continuamente exploradas pelos químicos, bioquímicos, biólogos e profissionais afins, sendo consideradas ótimas ferramentas de detecção e análise de poluentes orgânicos (FATIBELLO-FILHO, 1992). Os biossensores, que são sensores modificados com material biológico, são uma ferramenta promissora para suplementar as técnicas existentes, devido sua alta especificidade, seletividade, custo de construção e estocagem insignificante quando comparado às técnicas tradicionais, alto potencial para miniaturização, facilidade de automação e construção de equipamentos simples e portáteis para um monitoramento in loco rápido. Os biossensores têm encontrado aplicações em praticamente todas as áreas científicas como: engenharia genética, indústria alimentícia, biotecnologia, pecuária, na agricultura para o monitoramento de pesticidas e para detecção de patógenos (HANSEN, 2011, LIMA, et al 2007). Dentre as etapas de construção dos biossensores, o processo de imobilização do material biológico tem sido considerado um dos mais críticos, visto que pode alterar a desempenho deste material, sobretudo quando se faz uso de enzimas, pois estas têm limitações que devem ser respeitadas quando se trata de fixá-las em um suporte sólido. I – Biossensores. O conceito de biossensor diz respeito a um sensor que deve ser modificado com material biológico intimamente ligado a superfície de um transdutor, que deve monitorar uma reação biológica, traduzindo esta em sinal monitorável. O processo reacional é utilizado para reconhecimento de elementos e moléculas específicas que apresentam relação ou interação com a reação biológica, aliando-se seletividade biológica com sensibilidade analítica (FATIBELLOFILHO, 1992). O esquema a seguir apresenta o princípio de funcionamento de um biossensor. Fonte: Marques; Yamanaka, 2008. Dentre as várias classes de biossensores, os eletroquímicos têm sido muito estudados, dentre os quais se destacam os amperométricos, os potenciométricos e os condutimétricos. Os primeiros, mais relevantes, baseiam-se na medida de intensidade de corrente resultante dos processos oxidativos em uma superfície eletródica a qual se submete uma diferença de potencial. Como vantagem, tem-se uma relação direta entre a intensidade de corrente obtida do processo para com concentração da espécie eletroativa, de forma independente do volume (THÉVENOT et al, 2001; WANG et al, 2008). Já os potenciométricos são baseados na determinação da diferença do potencial entre o eletrodo indicador e o de referência (THÉVENOT et al, 2001) enquanto que os condutimétricos baseiam-se na medição de mudanças na condutância devido ao uso de materiais biológicos que produzem ou consomem espécies iônicas alterando a quantidade de portadores de carga móvel no eletrólito (WANG et al, 2008). Uma vez definido o transdutor, necessita-se escolher o procedimento de imobilização do material biológico, com posterior avaliação da manutenção da atividade biológica, seguido de estudo dos parâmetros de reprodutibilidade e aplicação na detecção de moléculas alvo. Como 7 mencionado, a etapa de imobilização é considerada crítica na construção dos biossensores, visto que as reações biológicas podem ser facilmente alteradas quando aderidas a superfícies, devido a mudanças conformacionais que alteram estruturas moleculares essenciais para a atividade do biomaterial. Alterações no pH do meio, bem como na salinidade, viscosidade e na temperatura podem acarretar na inativação ou perda parcial da atividade, sobretudo quando se trabalha com biossensores enzimáticos (MARQUES; YAMANAKA, 2008). Dentre as variadas aplicações, merecem destaque os estudos de detecção de substâncias potencialmente tóxicas no ambiente. Hansei (2008) apresenta uma revisão sobre biossensores e ecotoxicologia, apontando as principais substâncias tóxicas detectadas por biossensores na literatura, tais como, os pesticidas orgafosforados, microcistinas, disruptores endócrinos (DDT) e herbicidas, indicando os biossensores como futuros aliados em diagnósticos relativos à saúde humana. II - Biossensores para Detecção de Pesticidas. O aumento da atividade agrícola mundial elevou o número de casos de intoxicações por contaminações por pesticidas, direcionando vários estudos para as áreas de saúde e proteção ambiental (OMS). Biossensores para detecção de pesticidas são em geral construídos com enzimas colinesterases (ChE’s), pois estas são comercializadas com alta atividade específica, a qual pode ser facilmente monitorada por métodos eletroanalíticos. Elas são o sítio alvo dos inseticidas organofosforados e carbamatos, que são estudados quase sempre em conjunto, devido ao mesmo mecanismo de ação e sítio alvo em organismos vivos. As enzimas ChE’s classificam-se em dois tipos: acetilcolinesterases (AChE’s) e butirilcolinesterases (BChE’s), estas últimas também conhecidas como pseudocolinesterases. As colinesterases atuam no sistema nervoso controlando impulsos e transmissões dos estímulos nervosos (NUNES, 1996). A acetilcolina, que é o substrato destas enzimas, em condições normais, é hidrolisada e convertida a colina e ácido acético, conforme a reação que segue demonstrado na figura 2. HX A a EH + AX EHAX EA EH + AOH HX EH + PX EHPX EP B b Inicialmente, forma-se o complexo enzima substrato (EHAX); a molécula de colina (HX) é liberada, sendo formada uma enzima acetilada (EA), que é imediatamente hidrolisada, formando o ácido acético (AOH), e liberando a enzima livre (EH)(figura 2a). Os pesticidas organofosforados (PX) atuam sobre o centro esteárico da enzima colinesterase, inibindo a sua ação, provocando acúmulo de acetilcolina, e levando a respostas repetidas e descontroladas nas células nervosas estimuladas (sinápses), que podem, por fim, levar à convulsão, seguida de morte. A reação de inibição enzimática é similar à do substrato, porém a enzima fosforilada (EP) é bem mais estável que a acetilada, acarretando na inibição que pode ser irreversível (aging). A figura 2b mostra o mecanismo de inibição por um inseticida organofosforado, onde o grupo de partida é liberado e o resíduo do centro ativo da enzima é substituído, sendo formada a enzima fosforilada (EP), que é inativada. 8 Este processo pode ser monitorado de várias formas, dependendo do transdutor. Quando se utilizam eletrodos em conjunto com métodos amperométricos, pode se efetuar a leitura dos processos de oxidação da tiocolina produzida na reação. Esta molécula oxida a potenciais elevados o que pode acarretar em sinais passíveis de interferentes, assim, faz-se uso de mediadores eletroanalíticos que baixam o potencial para regiões mais confiáveis. Os sinais de corrente obtidos são proporcionais a catálise, então, a ação dos pesticidas sobre as enzimas AChE leva à diminuição desta catálise e, consequentemente, à diminuição do sinal de corrente, de forma proporcional à concentração do inibidor no meio de análise. Plota-se então uma curva analítica relacionando a porcentagem de inibição com a concentração do pesticida inibidor (NUNES, 1996). Os biossensores que utilizam a acetilcolinesterase são sistemas rápidos, seletivos, sensíveis, de fácil uso, com tempo de resposta bastante curto e necessitando de mínimo tratamento da amostra, além das possibilidades de efetuar análises quantitativas e qualitativas em tempo real. A facilidade de obtenção das enzimas na forma comercial torna-se um grande atrativo para sua construção, haja vista, que é uma enzima útil para monitoramento de pesticidas organofosforados e carbamatos estando estes, entre os compostos potencialmente tóxicos mais estudados por estes sistemas de biodetecção, merecendo atenção por parte da comunidade científica (MARQUES; YAMANAKA, 2008; Liu, et al, 2008). Fonte: Agência Fapesp (2013). III – Estudos de Imobilização de Enzimas. Imobilização é um termo genérico empregado para descrever a retenção de uma biomolécula no interior de um reator ou de um sistema analítico, ou seja, uma fixação de enzimas ou células em um ambiente, de maneira que sua atividade catalítica não seja afetada negativamente (CARDOSO et al, 2009). A imobilização de enzimas tem se mostrado, nos últimos tempos, uma poderosa ferramenta para melhorar quase todas as propriedades enzimáticas, como a alta atividade e seletividade. Este processo visa substitui a utilização da enzima na forma solúvel, evitando a necessidade de remoção do meio da reação para posterior aplicação, diminuindo assim, o custo da análise e aumentando a rapidez e a exatidão do processo. O desempenho dos biossensores baseados em enzimas depende da atividade enzimática e da utilização de uma técnica adequada para a imobilização de enzimas. A imobilização não deve desnaturar o centro ativo das enzimas utilizadas, devendo ser realizada através de grupos que não possuam atividade catalítica. O tipo de imobilização afeta de forma considerável a estabilidade do biossensor. Um sensor biológico com enzima em solução é menos estável do que um sensor com enzima imobilizada fisicamente, e menos ainda que os com enzima imobilizada quimicamente (MARQUES; YAMANAKA, 2008). 9 As técnicas mais utilizadas para imobilizar enzimas são: ligação covalente (no suporte ou por ligação cruzada entre a enzima e o suporte), adsorção (física e ou iônica em nanopartículas de sílica e filmes de polianilina contendo nanopartículas de prata, dentre outras) e encapsulamento (matriz ou em membranas), como apresentado na Figura 4 (ABEL; ASLAN, 2014). Fonte: Marques; Yamanaka (2008). O método de adsorção é considerado o mais simples e rápido, podendo ser utilizado com diversos materiais e substratos eletródicos. Para ligação covalente, destaca-se a estabilidade por conta da ligação através de grupos funcionais específicos entre a molécula alvo e o suporte sólido. Os processos de encapsulação são rápidos, porém, têm desvantagens de retenção de produtos enzimáticos dentro do material de imobilização (processos de transferência de massa). A ligação covalente cruzada se destaca pela maior estabilidade do material biológico e poucos processos de lixiviação. Destacam-se, também, os métodos com base na incorporação do biomaterial no interior de pastas eletródicas, como em pasta de carbono e eletrodos compósitos. Os filmes poliméricos ampliam o sinal analítico quando associados a processos biológicos em biossensores amperométricos (ALFAYA; KUBOTA, 2002) Andreescu e Marty (2006) publicaram uma revisão sobre as pesquisas em biossensores de colinesterase nas ultimas décadas. Estes autores mencionaram os processos de imobilização mais frequentes aplicados à construção destes biossensores. Com relação aos processos de adsorção física, foi mencionado que são os que menos desnaturam as enzimas AChE, mantendo uma atividade elevada da catálise, porém, o sinal analítico não se apresenta repetitivo por perda de material biológico a cada lavagem. Para a técnica de ligação covalente, o glutaradeido tem sido expressivamente utilizado, visto que é um agente homobifuncional que tem como função realizar ligações cruzadas entre moléculas, tornando-as mais unidas e suscetíveis a ligações peptídicas com a enzima elevando a reprodutibilidade de sinal analítico. Processo sol-gel foi citado para encapsulação de AChE, pois é uma técnica amplamente utilizada na síntese de materiais para obtenção de estruturas inorgânicas ou híbridos orgânico-inorgânicos. Outro método de destaque foi o uso de monocamadas auto-organizadas de tiol sobre eletrodos de ouro, sendo a enzima depositada sobre a monocamada, por ligações com os resíduos de aminoácidos. 10 Materiais à base de sílica, filmes poliméricos, filmes de náfion, glutaraldeído, álcool polivinílico e gel de poliacrilamida são exemplos comuns de agentes utilizados para fixar as enzimas sobre eletrodos para construção de biossensores. Com relação aos chamados novos materiais, merecem destaque aqueles com base em nanoestruturas, como nanopartículas (ouro, magnéticas, prata, etc), nanotubos e grafeno. Abel e Aslan (2012), demonstraram que nanopartículas de ouro foram utilizadas para melhorar a adsorção e a estabilidade da acetilcolinesterase na construção de biossensores, colaborando com a sensibilidade e a seletividade do método para detecção de tiocolina em concentrações baixas, mantendo ao mesmo tempo o desempenho da enzima mediante a imobilização, por até uma semana. Stoilova et al (2010), imobilizaram acetilcolinesterase através de ligações covalentes em copolímeros de Estireno-Anidrido Maleico (SMA), usando glutaraldeído como agente de ligação. Para que ocorresse a imobilização os copolímeros foram imersos em solução aquosa de glutaraldeído 10% (v/v) durante 1 h a 4oC, seguido de enxague com água destilada. Posteriormente, foram imersos em uma solução de 0,5 mg mL-1 de acetilcolinesterase em tampão de fosfato de sódio 0,1 mol L-1 (pH 7,0) durante 20 h a 4oC. Finalmente, os mesmos foram lavados cuidadosamente com tampão fosfato de sódio 0,1 M para remover qualquer molécula de acetilcolinesterase não imobilizada. Em um estudo realizado por Vamvakaki e Chaniotakis (2007), a imobilização de enzimas em sílica mesoporosa foi realizada por adição de 0,5 g de sílica com nanoporos de 10 nm em 500 μl da enzima acetilcolinesterase. A adsorção foi realizada a 4oC por 24 h e, em seguida, a suspensão foi filtrada através de filtros de 0,2 nm. Os grânulos com a enzima imobilizada foram cuidadosamente lavados com tampão, à temperatura ambiente e manteve-se a -20 oC para posterior utilização. Singh et al (1999) imobilizaram AChE em sílicas porosas a partir de dois ligantes covalentes diferentes, o glutaraldeído – previamente imobilizado à sílica por um composto amino-sililado (aminopropiltrimetóxisilano – APTS) , e o éster de N-(γ-maleimidobutiriloxi)succinimida (GMBS) – previamente imobilizado à sílica por um composto sulfo-sililado (mercaptopropiltrimetóxisilano – MPTS) . Na imobilização da enzima em sílica contendo glutaraldeído 10% (v/v) os grânulos de sílica foram embebidos em água deionizada (80 ° C, 3 h); pH foi ajustado para 7,0. Depois de enxaguar, as amostras foram colocadas em uma solução de aquosa de glutaraldeído 10% (v/v) em (temperatura ambiente, por 1 h). As amostras foram extensivamente lavadas após o tratamento para remover o glutaraldeído e qualquer agente de ligação cruzada adsorvido. Já na imobilização da enzima em sílica contendo GMBS, os grânulos de sílica foram embebidos em tolueno anidro (em temperatura ambiente por 5 min, sob vácuo). As amostras foram mantidas dentro de uma estrutura seca com umidade relativa do ar em 25%. Posteriormente as amostras foram lavadas sequencialmente com tolueno e etanol e novamente embebidas em GMBS (8 mM em etanol, temperatura ambiente, 1 h). As amostras foram lavadas sequencialmente com etanol, água e tampão fosfato de sódio. Ambos os suportes sililados apresentaram bons resultados na imobilização enzimática. A imobilização da AChE realizada por Domínguez-Renedo et al (2012), se deu pela técnica de ligação cruzada sobre a superfície de carbono, em que foram acrescidos 10 μL de soluções de acetilcolinesterase (0,1% v /v), 5 μL de albumina bovina (6% v /v) e 5 μL de glutaraldeído (2,5% v/v), preparados em 10 mmol L-1 de tampão fosfato pH 6,0. Posteriormente, 5 μL desta mistura foi gotejada sobre a superfície do eletrodo de trabalho, deixando em repouso por 90 min a 4 ° C. Nunes et al (2004) estudando processos de imobilização de acetilcolinesterases sobre eletrodos do tipo descartáveis impressos, avaliaram sete procedimentos distintos, com base nos agentes glutaraldeído e álcool polivinílico PVA-SbQ e na adição de soro albumina bovina, em diferentes valores de pH e tempos de imobilização. O método a partir de fotopolimerização de PVA-SbQ, em pH 8,0, com tempo de 3 h a 4 °C foi o que obteve melhor sinal analítico, mais que o dobro de sinal do segundo melhor método. A reprodutibilidade do sinal foi testada em 20 medidas efetuadas com 20 eletrodos diferentes, com desvio padrão variando entre 6,5 % a 18%, 11 entre medidas efetuadas no mesmo dia e em dias diferentes. O biossensor foi aplicado para detecção de pesticidas carbaril, carbofuran, metomil e aldilcarb. Gogol et al (2001) utilizando o mesmo sensor eletroquímico e imobilizando enzimas BChE’s em náfion (fluoropolímero-copolímero baseado em tetrafluoroetileno sulfonado) por ligação cruzada com vapores de glutaraldeído, trabalharam com potenciais em torno de +400 mV versus Ag/AgCl em determinações de inibidores de colinesterases. Ion et al (2010) imobilizaram a enzima AChE sobre material compósito de nanoplaquetas de grafite e quitosana, sendo que o aumento da área superficial elevou o sinal analítico para detecção de clorpirofós1. A quitosana também foi utilizada em conjunto com nanopartículas de ouro, para construção de biossensores de AChE sobre eletrodo de carbono vítreo. A caracterização foi efetuada por microscopia de varredura eletrônica e o sensor foi aplicado para detecção de monocrotofós2 (NOROUZI, 2010). Viswanathan et al (2009) utilizaram uma mescla de polianilina depositada verticalmente em nanotubos de carbono para imobilizar AChE. Os nanotubos foram acoplados ao DNA de forma vertical, sendo um filme de polianilina depositado sobre os nanotubos de carbono e a enzima ligada ao filme. O bloqueio da superfície não modificada foi efetuado com BSA e o biossensor foi testado para metil paration e clorpirifós. Diversas pesquisas demonstram que tem aumentado o interesse da aplicação de extratos enzimáticos brutos no lugar de enzimas purificadas, para imobilização em biossensores. Dentre estes extratos enzimáticos brutos, destaca-se a polifenol oxidase representada pelas lacases e tirosinases e as peroxidases, oriundos de diversos vegetais e frutas como batata (Solanum tuberosum), mandioca (Manihot ultilissima), inhame (Alocasia macrorhiza), pêssego (Prunus pérsica), banana nanica (Musa acuminata), pêra (Pirus communis) e banana prata (Musa parasidiaca) (SIGNORE; FATIBELO-FILHO, 1994; FATIBELLO-FILHO et al, 2002). Oliveira e Vieira (2006) avaliaram variados procedimentos de imobilização de extratos de peroxidase em quitosana, sendo que a melhor técnica foi baseada na conjugação entre epiclorohidrina/glutaraldeído. Foram otimizados parâmetros de reprodutibilidade, repetitividade, tempo de resposta e estabilidade do biossensor, sendo que o mesmo foi estável por mais de 180 dias. O processo de imobilização de uma enzima sobre um suporte pode influenciar ou até modificar as respostas do biossensor. Em nível microscópio, pode ocorrer de a enzima fixar-se ao substrato pela região da atividade, afetando a interação com o substrato. Podem ocorrer distúrbios de carga nas regiões de imobilização, como por exemplo: a região de engate pode ficar com carga oposta ao substrato e atraí-lo, dificultando o bioreconhecimento. O engate pode ficar carregado com mesma carga que o substrato e repeli-lo. Pode ocorrer também o superempacotamento da enzima, quando a carga enzimática é excessiva, e dificultar a interação enzima substrato. Todos estes fatores podem ocorrer quando se efetua uma imobilização e são de certa forma, independentes do método utilizado e do próprio analista (ZANG, 2000). O advento das enzimas imobilizadas abriu novos promissores campos de atuação. Como exemplos, os eletrodos enzimáticos que proporcionam um número muito maior de análises em curtos espaços de tempo e reutilização da enzima por tempos prolongados de processo, implicando numa grande redução de custo (BON et al.; 2008). O domínio dos processos de imobilização evidenciam um melhor nível de sinal analítico e consequentemente melhorias nos processos de detecção dos contaminantes orgânicos, como no caso dos pesticidas. Conclusão Nos últimos anos, o desenvolvimento de metodologias mais seguras vem sendo empregado no monitoramento ambiental de contaminantes químicos nos cursos das águas naturais e nos efluentes industriais descarregados nestes ambientes, sendo assim surge a 1 pesticida organofosforado 2 pesticida organofosforado 12 necessidade da busca de alternativas viáveis para o monitoramento de pesticidas, levando em consideração que o Brasil é um dos maiores consumidores de pesticidas do mundo. A construção de biossensores utilizando matrizes biológicas mais baratas é um caminho promissor a utilização deste método no monitoramento de poluentes. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABEL, B.; ASLAN, K. Immobilization of enzymes to silver island films for enhanced enzymatic activity. Journal of Colloid and Interface Science v. 415, p. 133–142, 2014. AGENCIA FAPESPE. Pesquisadores criam biossensor para detectar pesticidas. Ago. 2013. 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Manildo Marcião Oliveira é Doutor em Ciências – Área de concentração Biociências Nucleares pela UERJ. Possui graduação em Licenciatura em Biologia pela Faculdade da Região dos Lagos (1995), mestrado em Biologia (Biociências Nucleares) pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2000). Atualmente é professor de ensino básico, técnico e tecnológico e coordenador do Laboratório de Ecotoxicologia e Microbiologia Ambiental (LEMAM) do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense. João André Duarte Silva é Doutor em Química – Química Inorgânica pela Universidade Federal de Minas Gerais/University of Ottawa e leciona no Instituto Federal Fluminense – campus Cabo Frio. Atualmente desenvolve pesquisas na área de síntese de compostos híbridos orgânicosililados e aplicações. Paulo Roberto Brasil de Oliveira Marques é Pós Doutor pela Universidade Federal de São Carlos, Doutor em Química pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho em 2009. (2010). Atua como membro do corpo docente e pesquisador do Mestrado em Química da UFMA. É membro do grupo de pesquisa NARP e coordenador do grupo de pesquisa em ensino de ciências naturais-GPECN. Efetuou estudos de doutorado sanduíche com o grupo de sensores e biossensores da Universidade Autônoma de Barcelona, com a Profa. Dra Isabel Pividori, em Barcelona (2008). Victor Barbosa Saraiva é Pós doutor em Bioquímica de micro-organismos pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2010), doutor em Ciências (Biofísica) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2008), mestrado em Ciências Biológicas (Biofísica) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2004). Atualmente é professor do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia Fluminense (IF Fluminense-campus Cabo Frio). 16 3 ARTIGO CIENTÍFICO II (a ser submetido) IMOBILIZAÇÃO DE ACETILCOLINESTERASE (AChE) EM MATRIZES DE SILICA MESOPOROSA E QUITOSANA Paulo Roberto Rodrigues Brandão Nogueira Maurilio Geraldete Pereira Diego da Silva Palência João Andre Duarte Sílva José Carlos Amaral Jevu Manildo Marcião Oliveira RESUMO Uma vasta gama de substâncias tóxicas vem sendo introduzida, anualmente, nos ecossistemas aquáticos, causando rápida diminuição na qualidade dos corpos hídricos, exigindo, assim, estratégias de proteção. Inseridas neste contexto encontram-se os pesticidas organofosforados e carbamatos que apresentam alta toxicidade aos insetos e também podem intoxicar os seres humanos. Para detecção destes pesticidas, biossensores com acetilcolinesterase (AChE) purificada estão sendo construídos e vêm ganhando destaque no monitoramento ambiental. Entretanto, uma das etapas mais críticas nesse processo de construção relaciona-se à imobilização enzimática, processo esse que vem sendo empregado baseado nas ligações físicas e químicas entre a biomolécula e o suporte (dentre outros sílica mesoporosa e quitosana). Outra questão crítica é o alto custo da enzima AChE purificada, o que pode ser minimizado utilizando extrato enzimático bruto, sendo esta a motivação desta pesquisa, pois há poucos estudos realizados com extratos enzimáticos. Os objetivos desta pesquisa foram realizar testes de imobilização enzimática da AChE retiradas de cérebros de camundongos suíços, avaliando dois suportes: sílica mesoporosa e quitosana reticulada com glutaraldeído. E avaliar o tempo de reutilização da enzima baseado na atividade enzimática pós imobilização nos dois suportes citados anteriormente. Os resultados demonstraram que houve imobilização de AChE nas matrizes sílica mesoporosa e quitosana com glutaraldeído, pois a leitura da absorvância da AChE, aumentou discretamente nas duas matrizes, porém a sílica mesoporosa apresentou melhor resposta em todos os parâmetros testados: dosagem de proteínas na qual a leitura da absorvância durante o processo de imobilização decresceu sugerindo que, quanto menor for sua absorvância mais proteínas estão sendo imobilizadas nas matrizes. Observou-se, também, aumento na leitura da absorvância de AChE durante a imobilização e após períodos de estocagem e reutilização (reuso). Palavras-chave: Organofosforados, biossensores, Acetilcolinesterase. 17 ABSTRACT A wide range of toxic substances has been introduced annually in aquatic ecosystems, causing fast decline in the quality of hydrous organisms, thus requiring protection strategies. Inserted in this context organophosphate pesticides and carbamate are that exhibit high toxicity to insects and may also intoxicated humans. For detection of these pesticides, biosensors with acetylcholinesterase (AChE) purified are being built and have been gaining attention in environmental monitoring, but one of the most critical steps in this construction process relates to enzyme immobilization, a process that has been placed based on Physical and chemical links between the biomolecule and the support (among other mesoporous silica and chitosan). Another critical issueis the high cost of purified enzyme AChE, which can be minimized using raw enzyme extract, which is the motivation of this research, because there are a few studies of enzymatic extracts. The goals of this research were performing enzyme immobilization tests AChE taken from Swiss mice brains, evaluating two supports: mesoporous silica and chitosan cross linked with glutaraldehyde. And assess the reusage time of the enzyme based on the enzymatic activity after immobilization on the two carriers mentioned above. The results showed immobilization of AChE in the matrices mesoporous silica and chitosan with glutaraldehyde, as the absorbance reading of AChE, increased slightly in the two matrices, but the mesoporous silica showed better response in all tested parameters: protein dosage where reading absorbance during the immobilization process decreased suggesting that the smaller its absorbance, more proteins being immobilized on matrices also showed increase in the absorbance reading of AChE for the immobilization and after periods of storage and reuse. Key-words: Organophosphate, biosensors, acetylcholinesterase. 18 INTRODUÇÃO Durante as últimas décadas, o aumento da atividade agrícola associada à políticas impróprias de gestão de resíduos, levaram ao lançamento de uma vasta gama de substâncias tóxicas nos ecossistemas aquáticos, causando rápida diminuição na qualidade dos corpos hídricos, exigindo, assim, estratégias de proteção. Para isso, programas de monitoramento necessitam de métodos rápidos, confiáveis e de baixo custo para a avaliação do impacto toxicológico dos poluentes nas águas. Neste contexto, os biossensores com determinadas enzimas são excelentes alternativas para a detecção de pesticidas, sendo técnicas complementares para os métodos químicos convencionais. (LAGARDE; JAFFREZIC-RENAULT, 2011). Dentre estas substâncias tóxicas utilizadas na atividade agrícola ganham destaque os pesticidas organofosforados e carbamatos, que são amplamente utilizados devido à sua alta toxicidade para os insetos. Não obstante, baixos níveis destes pesticidas também são tóxicos para os seres humanos, pois têm a capacidade de modificar o sítio ativo da enzima Acetilcolinesterase (AChE), inibindo a hidrólise de acetilcolina, impedindo assim, a transmissão dos impulsos nervosos (VAKUROV et al, 2004). Para detecção dos pesticidas citados anteriormente, biossensores com AChE purificada vem ganhando destaque, porém uma das etapas mais críticas para construção destes biossensores é o processo de imobilização enzimática. Esse processo é baseado na retenção de uma biomolécula no interior de um reator ou de um sistema analítico aumentando o tempo de vida e estabilidade da biomolécula em relação à temperatura, ao pH e aos solventes orgânicos, utilizando pequenos volumes de amostras (CARDOSO et al, 2009). Marques e Yamanaka (2008) relatam que várias técnicas de imobilização são empregadas, baseadas nas ligações físicas e químicas entre a biomolécula e o suporte. Dentre as mais utilizadas estão: adsorção, encapsulação, ligação covalente e ligação covalente cruzada. A adsorção física da enzima é o modo mais simples e rápido de imobilização, pois a enzima fica retida na superfície do suporte insolúvel. A técnica de encapsulação é baseada no confinamento da enzima em uma membrana localizada na superfície do eletrodo. Esta membrana retém a enzima, apresentando porosidade controlada, de maneira a permitir a livre difusão do substrato e dos produtos da reação através da mesma. Já nas ligações covalentes, a retenção da enzima na superfície do suporte é efetuada por ligações entre os grupos funcionais da enzima e a superfície do suporte. E por fim a ligação covalente cruzada é livre de suporte, e as enzimas estão ligadas umas as outras, ou a proteínas inativas (albumina ou gelatina), formando uma estrutura tridimensional complexa. Além do processo de imobilização enzimática, outra lacuna existente é o alto custo da enzima purificada, que poderá ser minimizado utilizando-se extratos enzimáticos brutos de AChE, que por sua vez foi a motivação desta pesquisa, pois há poucos estudos relativos à imobilização realizada com extratos brutos de AChE. Este extrato bruto pode ser uma alternativa viável para a diminuição do custo efetivo desta enzima, tornando-a mais atrativa para a construção e comercialização de biossenssores de inibição enzimática identificadores de pesticidas. Estudos envolvendo imobilização enzimática vêm sendo amplamente explorados, pois trata-se de uma técnica vantajosa que envolve enzimas em solução, permitindo, assim, uma separação da enzima do meio reacional, e a possibilidade de reutilização da mesma (CARDOSO et al, 2009). Klein (2010) relata que existem várias técnicas de imobilização enzimática e com isso muitos suportes e ou matrizes vêm sendo desenvolvidas para este fim, pois não há uma matriz universal. Porém, existe uma classificação baseada em sua 19 morfologia. Nestas encontram-se os suportes não porosos, que geralmente apresentam área superficial muito baixa, limitando a área de imobilização à superfície externa. Os porosos apresentam uma grande área superficial por unidade de peso, aumentando sua capacidade de imobilização quando os poros excederem de 5 a 10 vezes o tamanho do glóbulo proteico. De acordo com Cabral et al (1991), as matrizes também podem ser classificadas como orgânicas e inorgânicas. As orgânicas são representadas pelos polímeros naturais ( celulose, quitosana, amido, ágar, agarose, dentre outras), polímeros sintéticos (poliestireno, poliamidas, etc) e proteínas como colágeno, albumina, gelatina, etc. As inorgânicas são representadas pelos minerais (bentonita, pedra pomes, areia, titânio, etc) e pelos manufaturados (vidros de porosidade controlada, cerâmicas, géis de sílica, etc). Atualmente, materiais mesoporosos como a sílica, vêm ganhando destaque nas pesquisas, justamente pela sua gama de aplicações, pois apresentam áreas de superfície elevada, acima de 1000 m2 /g e mesoporos que variam de 2,0 nm a várias dezenas de nanômetros, dependendo das condições de síntese (SOUSA; SOUSA, 2005). O desenvolvimento da sílica SBA-15 (tamanho dos poros: 5-13nm) resolveu um problema crítico na imobilização de enzimas de determinados tamanhos. Pequenas modificações na sua estrutura, como o alargamento dos poros, aceleram a adsorção destas enzimas (KIM et al, 2006). Cardoso 2009, observando estas características, imobilizou a AChE em capilares de sílica fundida, onde a enzima foi ligada covalentemente à parede do capilar, utilizando glutaraldeído como espaçador. Além do glutaraldeído, outro ligante químico, o éster de succinimida Ng-maleimidobutiriloxi (GMBS) pode ser usado para imobilização por ligação covalente cruzada de AChE em sílcas porosas e não porosas (SINGH et al, 1999). Segundo Vamvakaki e Chaniotakis (2007), a sílica mesoporosa tem provado ser muito útil na adsorção e na estabilização da AChE, justamente pela presença de mesoporos de determinados tamanhos que desempenham um papel importante e talvez essencial na estabilização da enzima. Outras matrizes também podem ser utilizadas para imobilização de AChE, como a quitosana, derivada da quitina, que é um polissacarídeo extremamente abundante na natureza, sendo o principal constituinte das cascas de camarão e das carapaças de caranguejo. A mesma se destaca por sua capacidade de agir como quelante, podendo se ligar seletivamente a substâncias como proteínas, células tumorais, íons metálicos e gorduras. No formato de esferas e microesferas, vem sendo amplamente empregada em diversas áreas da biotecnologia, principalmente, como veículo de transporte e liberação de drogas, pela sua alta capacidade de adsorção. Contudo, essa capacidade de adsorção pode ser elevada quando a quitosana for submetida ao entrecruzamento com o glutareladeído (GOY et al, 2004). O objetivo dessa pesquisa foi realizar testes de imobilização enzimática da AChE retirados de cérebros de camundongos suíços, avaliando a atividade enzimática e dosando as concentrações de proteínas nas alíquotas retiradas durante o processo realizado em dois suportes, sílica mesoporosa e quitosana reticulada com glutaraldeído e avaliar o tempo de reutilização da enzima baseado na atividade enzimática pós imobilização nos dois suportes citados anteriormente. 20 METODOLOGIA Delineamento experimental Tendo como objetivo avaliar dois métodos de imobilização enzimática nos suportes sílica mesoporosa e quitosana com glutaraldeído, as estapas experimentais estão descritas no esquema abaixo: Extração de acetilcolinesterase de cérebro de camundongos suíços Após realização da eutanásia, os cérebros dos camundongos suíços foram utilizados para a extração da acetilcolinesterase do cérebro, que foram removidos e homogeneizados em 3 a 5 volumes de Tampão fosfato 0,1mol/L pH 7,5, através de 20 passagens em aparelho homogeneizador de tecidos . Em seguida, este material foi centrifugado a 20000 RPM por duas horas, a 5oC, descartando-se o sobrenadante. O sedimento foi ressuspenso em 3 a 5 volumes de Triton X-100 a 0,5% e passado cinco vezes no aparelho homogeneizador de tecidos. Após 30 minutos, sob agitação constante, este material foi centrifugado nas mesmas condições anteriores. O sobrenadante foi estocado para as análises de imobilização. Processo de Imobilização. Ensaio da acetilcolinesterase A atividade de colinesterase foi ensaiada pelo método de Ellman (1961) adaptado. Para um volume final de reação de 2000 μL acrescenta-se, para medir a atividade: 1890 μL de solução tampão de ensaio (fosfato de sódio 0,1mol/L, pH 7,5), 21 50μL de DTNB (6,4mol/L), 50 μL substrato de Iodeto de acetiltiocolina (Sigma) na concentração final de 1,875mol/L e 10 μL do substrato enzimático bruto. Em todos os casos a formação do produto foi medida pela absorção contínua em ensaio cinético, durante 180 s a 412 nm, em espectrofotômetro Biospectro SP-22. Para os cálculos da atividade enzimática foi usado o coeficiente de extinção molar de 14.150 M-1.cm-1 para o ácido tionitrobenzóico (TNB) formado. Parâmetros cinéticos da acetilcolinesterase Os parâmetros cinéticos da acetilcolinesterase foram ensaiados pelo método de Ellman (1961) adaptado. Para um volume final de reação de 2000 μL acrescentou-se, para medir os parâmetros: concentrações entre 1790 μL a 1930 μL de solução tampão de ensaio (fosfato de sódio 0,1mol/L, pH 7,5), 50 μL de DTNB (6,4mol/L), 0,005 μL a 200 μL substrato de Iodeto de acetiltiocolina na concentração final de 1,875mol/L e 10 μL do extrato enzimático bruto de AChE. Dosagens de proteínas retiradas do sobrenadante durante o processo de imobilização em quitosana com glutaraldeído e sílica mesoporosa pelo método de Peterson (1977). As dosagens de proteína das alíquotas retiradas do sobrenadante durante o processo de imobilização foram colocadas em tubos de ensaio, e dosadas pelo método de Peterson (1977). Para um volume final de reação de 2000 μL: 10 μL da alíquota imobilizada retirada do sobrenadante de 1 em 1 h, foi acrescentada em 790 μL de água deionizada, 800 μL do reativo A (solução de sulfato de cobre 0,1 %, tartarato de sódio e potássio 0,2 % e carbonato de sódio 10 % e uma solução de Hidróxido de sódio NaOH e dodecil sulfato de sódio SDS), agitando por 30 segundos em vortex (Lab dancer, marca IKA), deixando em repouso por 10 minutos, posteriormente adicionou-se 400 μL do reativo B (que é uma solução de Follin-Ciocalteau (Sigma-Aldrich) diluída cinco vezes com água deionizada), agitando em vortex, e deixando repousar por mais 20 minutos, realizando a leitura em espectrofotômetro (SP-22) a 750 nm. Realizamos ensaios padrão com amostras de albumina sérica bovina (BSA) com diferentes diluições (P 10 e P 100, 10 μl e 100 μl de albumina diluída 1:100, respectivamente). Imobilização enzimática em sílica mesoporosa Foram pesados 1,2 g de sílica mesoporosa (em balança de precisão modelo AW 220 da marca Marte), e colocadas em becker contendo 10 mL de solução tampão fosfato pH 7,0 0,1mol/L e 20 μL de extrato enzimático bruto. Sob agitação e temperatura ambiente durante 24 h, retirando-se alíquotas de 100 μL do sobrenadante de 1 em 1 h, durante as 4 primeiras horas, estas foram usadas nos testes de dosagens de proteínas e ensaio de atividade enzimática Ensaio da atividade enzimática da AChE imobilizada em sílica mesoporosa nova e de reuso. Atividade enzimática da AChE imobilizada em sílica mesoporosa foi ensaiada pelo método de Ellman (1961) adaptado. Para um volume final de reação de 2000 μL acrescenta-se, para medir a atividade: 1890 μL de solução tampão de ensaio (fosfato de 22 sódio 0,1mol/L, pH 7,5), 50μL de DTNB (6,4mol/L), 50μL substrato de Iodeto de acetiltiocolina para a concentração final de 1,875mol/L e 0,0205g de sílica mesoporosa imobilizada com AChE. Estes reagentes foram colocados em tubos tipo plástico de 2 mL, agitados no vortex por 10 minutos, sendo posteriormente centrifugados a 40C por 3 minutos à 5000 RPM. Depois o sobrenadante foi retirado e realizada a leitura em espectrofotômetro. Imobilização enzimática em quitosana Confecção de esferas de quitosana Foram dissolvidos 1,5 g de quitosana em 37,5mL de solução de ácido acético (5%mm). Esta solução ficou em homogeneização por 10 minutos. Posteriormente, foi gotejada com o auxílio de uma seringa de 1mL em uma solução NaOH 2,5mol/L para a formação das partículas esféricas de quitosana. Após recolher as esferas formadas as mesmas foram mantidas em solução alcalina por 16 h, filtradas e lavadas abundantemente com água deionizada. Após este tempo, as esferas foram mantidas em solução tampão fosfato de sódio (pH 7,5 a 1mol/L) até o inicio do processo de encapsulação e imobilização enzimática (ASSIS, 2004). Ativação com glutaraldeído As esferas de quitosana limpas foram colocadas em solução aquosa de glutaraldeído (3%m/m) e submetidas a agitação suave em um agitador eletromagnético (MOD: 30x30 LS 666 marca LOGEM) em temperatura ambiente durante 24 h. No final do processo as esferas foram lavadas com água deionizada para retirada do excesso de glutaraldeído. Algumas esferas ativadas foram mantidas em tampão (fosfato de sódio 0,1mol/L pH 7,5) (CHAVITA, 2010), e outras desidratadas e segregadas. Imobilização da acetilcolinesterase em quitosana com glutaraldeído Foram colocados 7,43 g de esferas de quitosana ativadas com glutaraldeído, em becker contendo 10 mL solução tampão (fosfato de sódio pH 0,1mol/L 7,5) e 20 μL de extrato enzimático bruto (atividade previamente estabelecida em U/mL). Esta mistura ficou em temperatura ambiente durante 24 h, sendo retirando alíquotas de 100 μL do sobrenadante de 1 em 1 h, durante as 3 primeiras horas, para realização de testes de dosagens de proteínas pelo método de Peterson (1977) e atividade enzimática. Ensaio da atividade enzimática da AChE imobilizada em quitosana com glutaraldeído nova e de reuso Atividade enzimática da AChE imobilizada em quitosana com glutaraldeído foi ensaiada pelo método de Ellman (1961) adaptado. Para um volume final de reação de 2000 μL acrescentou-se, para medir a atividade: 1890 μL de solução tampão (fosfato de sódio 0,1mol/L, pH 7,5), 50 μL de DTNB (6,4mol/L), 50 μL substrato de Iodeto de acetiltiocolina na concentração final de 1,875mol/L e 0,020 g de quitosana com glutaraldeído imobilizada com AChE. Estes reagentes foram colocados em tubos tipo plástico de 2 mL, agitados no vortex por 10 minutos, sendo posteriormente 23 centrifugados a 40C por 3 minutos a 5000 RPM. Depois o sobrenadante foi retirado para realização da leitura em espectrofotômetro a 412 nm. RESULTADOS Esta pesquisa foi desenvolvida no laboratório LEMAM do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do campus Cabo Frio, RJ. Curva de substrato de iodeto de acetiltiocolina A curva de substrato de iodeto de acetiltiocolina da enzima livre, determinando os parâmetros cinéticos da mesma, baseando-se na atividade enzimática do extrato enzimático bruto de AChE cerebral, retirados de camundongos suíços, está representada pela figura 5. Para os cálculos da atividade enzimática foram usado o coeficiente de extinção molar de 14.150 M-1.cm-1 para o ácido tionitrobenzóico (TNB) formado, o KM. e a VMAX. Figura 5. Curva de substrato de iodeto de acetiltiocolina(A) e obtenção dos parâmetros cinéticos (Vmax e Km) da ache livre. (B) gráfico do duplo recíproco (lineweaver-burk) Comparação das dosagens de proteínas coletadas durante o processo de imobilização enzimática A comparação das dosagens de proteínas (método de Peterson 1977) das alíquotas coletadas durante o processo de imobilização de AChE, em quitosana com glutaraldeído e sílica mesoporosa está representada na tabela 1. Foram realizados testes em intervalos de 1, 2, 3 e 4 h, sem repetições. 24 Tabela 1 – Dosagem de proteínas, realizadas durante o processo de imobilização enzimática em quitosana com glutaraldeido e sílica mesoporosa (Concentração em mg/mL). 1h 2h 3h 4h Quitosana com glutaraldeido 0,163 0,160 0,131 0,152 Sílica mesoporosa 0,072 0,056 0,032 0,022 Atividade enzimática de AChE imobilizada em sílica mesoporosa A atividade enzimática de AChE imobilizada na matriz sílica mesoporosa foi ensaiada durante 90 minutos conforme figura 6. Figura 6. Atividade enzimática de ache imobilizada em sílica mesoporosa. Fonte: Próprio autor (2015). Leitura da atividade enzimática de AChE imobilizada em quitosana com glutaraldeído. As leituras da absorvância da atividade enzimática de AChE após 1 e 3 horas do início do processo de imobilização em quitosana com glutaraldeído estão ilustradas nas figuras 7 e 8. 25 Figura 7. Leitura da absorvância da atividade enzimática realizada durante o processo de imobilização em quitosana com glutaraldeído após coleta do sobrenadante em 1 hora. 0.07 Absorvância (DO) 0.06 0.058 0.06 61 83 0.05 0.04 0.035 0.03 0.02 0.01 0.005 0.002 0 0 15 37 tempo (min) Fonte: Próprio autor (2015). Figura 8. Leitura da absorvância da atividade enzimática realizada durante o processo de imobilização em quitosana com glutaraldeído após coleta do sobrenadante em 3 horas. 0.06 0.053 Absorvância (DO) 0.05 0.04 0.03 0.017 0.02 0.01 0.01 0 0 15 37 tempo (min) Fonte: Próprio autor (2105). Leitura da atividade enzimática de AChE imobilizada em sílica mesoporosa nova e de reuso Os ensaios das atividades enzimáticas em sílica mesoporosa nova e em sílica de reuso com 22, 56 e 63 dias de armazenamento todas imobilizadas com AChE estão demonstrados nas figuras 9, 10 e 11. 26 Figura 9. Ensaio da atividade enzimática em sílica nova imobilizada com ache e sílica de reuso, armazenada por 22 dias. 1.6 1.39 Absorvância (DO) 1.4 1.2 1.192 1.24 1.184 1 0.8 0.538 0.6 Abs. Sílica Nova 0.352 0.4 Abs. Sílica reuso 0.227 0.108 0.2 0 10 20 30 45 tempo (min) Fonte: Próprio autor (2015). Figura 10. Ensaio da atividade enzimática em sílica nova imobilizada com ache e sílica de reuso, armazenada por 56 dias. 0.4 0.362 Absorvância (DO) 0.35 0.286 0.3 0.23 0.25 0.308 0.254 0.2 Abs. Sílica reuso 0.15 0.101 0.104 30 45 0.128 0.113 0.1 0.05 0 0 15 tempo (min) Fonte: Próprio autor (2015). 60 75 Abs. Sílica Nova 27 Figura 11. Ensaio da atividade enzimática em sílica nova imobilizada com ache e sílica de reuso, armazenada por 63 dias. 0.25 0.206 Absorvância (DO) 0.2 0.156 0.152 0.15 0.134 0.107 0.125 0.105 Abs. Silica reuso 0.1 Abs. Silica Nova 0.065 0.05 0 41 56 69 86 Tempo (min) Fonte: Próprio autor (2015). Leitura da atividade enzimática de AChE imobilizada em sílica mesoporosa de reuso Os ensaios da atividade enzimática realizados em sílica mesoporosa de reuso imobilizada com AChE após armazenamento de 128 e 312 dias estão ilustrados nas figura 12 e 13. Figura 12. Ensaio da atividade enzimática em sílica de reuso imobilizada com ache, após 128 dias de armazenamento. 0.4 0.39 Absorvância (DO) 0.39 0.378 0.38 0.37 0.358 0.36 0.358 Abs. Silica reuso (128 dias) 0.35 0.35 0.34 0.33 30 43 53 Tempo (min) Fonte: Próprio autor (2015). 63 73 28 Figura 13. Ensaio da atividade enzimática em sílica de reuso imobilizada com ache, após 312 dias de armazenamento 0.4 0.364 Absorvância (DO) 0.35 0.3 0.252 0.25 0.276 0.234 0.2 Abs. Sílica reuso (312 dias) 0.15 0.1 0.05 0 20 40 60 80 Tempo (min) Fonte: Próprio autor (2015). Leitura da absorvância da atividade enzimática de AChE imobilizada em quitosana com glutaraldeído. Os ensaios da atividade enzimática realizados em quitosana com glutaraldeído imobilizado com AChE, armazenada por 23 e 112 dias estão representadas nas figuras 14 e 15. Figura 14. Absorvância da atividade enzimática de ache imobilizada em quitosanaglutaraldeído de reuso, após 23 dias de armazenamento 0.14 Absorvância (DO) 0.12 0.126 0.111 0.1 0.08 0.063 0.06 Abs. Quitosana glutaraldeido reuso após 23 dias 0.04 0.02 0 30 45 Tempo (min) Fonte: Próprio autor (2015). 60 29 Absorvância (DO) Figura 15. Absorvância da atividade enzimática de ache imobilizada em quitosanaglutaraldeído de reuso, após 112 dias de armazenamento 0.5 0.45 0.4 0.35 0.3 0.25 0.2 0.15 0.1 0.05 0 0.444 0.373 0.364 0.113 20 40 60 Abs. Quitosana glutaraldeido reuso (112 dias) 80 Tempo (min) Fonte: Próprio autor (2015). Comparação das leituras das atividades enzimáticas de AChE de reuso imobilizadas em sílica mesoporosa e quitosana com glutaraldeído. A comparação das atividades enzimáticas de AChE imobilizada na matriz de reuso quitosana com glutaraldeído após 112 dias de imobilização e sílica mesoporosa após 128 dias esta ilustrada na figura 16. Figura 16. Comparação das absorvâncias das atividades enzimáticas em matriz de reuso sílica mesoporosa e quitosana-glutaraldeído imobilizadas com AChE Fonte: Próprio autor (2015). 30 DISCUSSÃO Após análises dos parâmetros cinéticos, foi determinada que a velocidade máxima enzimática da AChE livre, foi de 21,93 U.mL-1 em uma concentração de 0,125 mmol/L-1 de substrato como a Constante de Michaellis Menten . Com estes parâmetros foi estabelecida a concentração de substrato utilizada nos ensaios enzimáticos realizados no experimento (1,785 mmol.L-1, aproximadamente 10 vezes o valor da KM). Matrizes inorgânicas e orgânicas são utilizadas na imobilização de acetilcolinesterase, sendo as primeiras mais empregadas (DOMINGUES-RENEDO et al., 2012; STOYLOVA et al., 2010; MILKANE et al. 2010). Após análises das dosagens de proteínas coletadas durante o processo de imobilização, verificou-se uma diminuição progressiva na dosagem, indicando que, quanto menor for a dosagem, melhor será o processo de imobilização enzimática nos suportes sílica mesoporosa e quitosana com glutaraldeído, pois demonstra que as proteínas deixaram o sobrenadante e foram imobilizadas nos suportes. Entretanto, a sílica mesoporosa foi a matriz mais eficaz do que a quitosana com glutaraldeído, pois apresentou uma maior diminuição em sua dosagem. Embora não tenha apresentado o mesmo resultado que a sílica mesoporosa a quitosana com glutaraldeído vem se destacando na área da biotecnologia, aplicada como microesferas para liberação controlada de drogas (GOY et al, 2004). Constatou-se no processo de imobilização de AChE no suporte sílica mesoporosa, um aumento progressivo da atividade enzimática, o que faz dessa matriz um bom suporte para imobilização de AChE, sendo estável nos testes de atividade catalítica, estando de acordo com Cardoso et al (2009), que imobilizou AChE em capilar de sílica fundida em que a mesma mostrou boa estabilidade e atividade enzimática. Kim et al (2006) consideram a sílica mesoporosa um eficiente método de adsorção de enzimas para fins de imobilização e estabilização. Os ensaios da atividade enzimática realizados durante a primeira e a terceira hora do processo de imobilização de AChE em quitosana com glutaraldeído, demonstraram um aumento linear na leitura da absorvância, indicando que quanto maior for o tempo do processo, melhor será o encapsulamento da AChE. Em relação à comparação dos ensaios das atividades enzimáticas de AChE imobilizadas em sílica mesoporosa nova e reuso armazenada durante 22, 56, 63 dias, merece destaque a sílica mesoporosa de reuso que apresentou uma atividade enzimática consistente e progressiva. Porém, seus altos valores na leitura das absorvâncias foram resultados do armazenamento da amostra contendo pequena quantidade de sobrenadante que continuou reagindo. Sendo assim, a sílica mostrou ser uma boa matriz para imobilização e estabilização enzimática, o que vai ao encontro com estudos realizados por Stoilova et al (2010), que mediram semanalmente a atividade enzimática de AChE livre e imobilizada em microfibra armazenadas em tampão fosfato a 40C durante um período de 60 dias, concluindo que a AChE imobilizada obteve maior atividade enzimática do que a enzima livre durante todo o período. Ficou demonstrado pelos ensaios, que as atividades enzimáticas de AChE de reuso armazenadas durante 128 e 312 dias, persistiu ao longo do tempo, sendo a sílica mesoporosa uma matriz eficiente para realização de imobilização e estabilização enzimática, corroborando os estudos realizados por Singh et al (1999) que mediram a atividade enzimática de AChE imobilizado em sílica mesoporosa durante um período de 1 ano, observando pouca perda da atividade enzimática ao longo do tempo. Nos ensaios realizados na matriz de reuso de AChE imobilizada em quitosana com glutaraldeído após armazenamento por 23 dias, constatou-se a ocorrência de uma pequena variação não linear na atividade enzimática, porém após 112 dias de 31 armazenamento houve queda progressiva na atividade, sugerindo que a mesma não mostrou ser uma boa matriz para reutilização prolongada das enzimas. Na comparação das atividades enzimáticas de AChE de reuso imobilizadas na matriz quitosana com glutaraldeído, após 112 dias de armazenamento e sílica mesoporosa após 128 dias, ficou explícito que a sílica mesoporosa demonstrou ser uma matriz mais eficiente para imobilização, estabilização e reutilização da AChE. CONCLUSÕES Após as análises realizadas concluiu-se que: 1. A sílica mesoporosa apresentou melhor resposta em todos os parâmetros testados: dosagem de proteínas, atividade da enzima durante a imobilização e atividade da enzima após períodos de estocagem e reutilização (reuso); 2. A sílica mesoporosa de reuso imobilizada com AChE é uma matriz mais eficaz, pois apresentou aumento progressivo na leitura da absorvância da atividade enzimática mesmo depois de 300 dias, o que não aconteceu com a quitosana com glutaraldeído que apresentou queda na absorvância da atividade enzimática após 112 dias; 32 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CABRAL, J.M.S; KENNEDY, J.F. 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