o ensino de espanhol num centro federal de educação tecnológica

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o ensino de espanhol num centro federal de educação tecnológica
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O ENSINO DE ESPANHOL NUM CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA:
ARTICULANDO SABERES
Antonio Ferreira da Silva Júnior
Centro Federal de Educação Tecnológica do Rio de Janeiro
Resumo: O presente trabalho tem como objetivo destacar o ensino da disciplina língua espanhola no
Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca, o CEFET/RJ, espaço criado
num primeiro momento para promover uma educação voltada para os saberes industriais. Para
alcançar nosso objetivo, traçamos a história desta instituição com o objetivo de ressaltar sua
identidade educacional e relatamos nossa prática com o ensino da língua estrangeira num curso
técnico dentro desta escola tecnológica. Esperamos com este estudo contribuir para uma reflexão
entre a necessidade de unir os saberes tecnológicos aos das ciências humanas na vida escolar e
social do aprendiz.
Palavras-chave: Escola tecnológica; Ensino de Língua Espanhola; Relato de experiência.
Introdução: contextualizando a educação tecnológica no país
O ano de 2009 marca um grande acontecimento na Rede Federal de Educação Profissional, Científica
e Tecnológica de Ensino do MEC, porque se constitui seu centenário. No dia 23 de setembro de 1909,
o então Presidente da República, Nilo Peçanha, através do decreto número 7.566, cria 19 Escolas de
Aprendizes e Artífices nas capitais dos Estados da confederação e com essas o desenvolvimento do
ensino profissional primário e gratuito. O objetivo inicial dessas escolas era formar operários e
contramestres a partir de um ensino focado nas habilidades necessárias e nas práticas para
desempenhar ofícios manuais, porque segundo o presidente:
Considerando que o augmento constante da população das cidades exige que se facilite às
classes proletárias os meios de vencer as dificuldades sempre crescentes da lucta pela
existência; que para isso se torna necessário, não só habilitar os filhos dos desfavorecidos
da fortuna com o indispensável preparo technico e intelectual, como fazel-os adquirir habitos
de trabalho proficuo, que os afastara da ociosidade ignorante, escola do vicio e do crime 1
Desde sua aprovação e expansão aos demais Estados da Federação, as escolas federais da rede de
educação profissional e tecnológica, passaram por diferentes nomenclaturas. Em 1937, são
conhecidas como Liceus Industriais e, em 1942, já se denominam Escolas Técnicas. Em 1959, essas
escolas são federalizadas. Em 1972 surgem os Colégios Agrícolas e, em 1979, as Escolas
Agrotécnicas Federais. No ano de 1978, as primeiras Escolas Técnicas Federais transformam-se em
1 Decreto nº 7.566, de 23 de setembro de 1909. As palavras do presidente estão com a ortografia da época e aparecem
logo no início do documento. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index.php>. Acesso em: 1 jul. 2010.
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Centros Federais de Educação Tecnológica (CEFET). Essa mudança representa mais um marco na
educação brasileira e será discutido mais adiante neste ensaio. Em 2005, o CEFET-PR transforma-se
na primeira Universidade Tecnológica Federal do país e, recentemente, em 2008, acompanhamos o
projeto de lei de transformação dos CEFET em Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia
(IFET).
O cenário da educação profissional no Brasil de 1909, momento em que as primeiras escolas surgem,
ao ano de 2002 era de uma realidade de 140 unidades educacionais, já no atual governo do Presidente
Luis Inácio Lula da Silva, até final de 2010, esse número será de 366 unidades 2. Tal medida política de
expansão retoma em certa medida ao desejo do decreto inicial de sua fundação: ampliar o acesso da
população brasileira à educação profissional e tecnológica gratuita e de qualidade, porém com um
ensino aberto a todas as classes da sociedade 3.
CEFET/RJ: um pouco de sua história
Tendo em vista nossa atuação como docente de Língua Espanhola no Centro Federal de Educação
Tecnológica Celso Suckow da Fonseca, resolvemos contextualizar sua história para melhor
entendimento de nossa prática didática. O CEFET/RJ, criado em 11 de agosto de 1917, através do
decreto de lei número 1.880, recebeu primeiramente o nome de Escola Normal de Artes e Ofícios
Wenceslau Brás, escola essa vinculada naquele momento à Prefeitura do Distrito Federal, e iniciou
suas atividades com o objetivo de formar professores, mestres e contramestres para os institutos e as
escolas profissionais do então Distrito Federal. Além disso, também, habilitava professores no
desenvolvimento de trabalhos manuais para as escolas primárias municipais. A escola inicia suas
atividades em março de 1920, oferecendo cursos de Trabalho em Madeira e em Metal, de Mecânica e
Eletricidade, Atividades Comerciais, Prendas e Economia Domésticas, de Bordado, de Costura e de
Flores Artificiais, tais cursos abrem um espaço considerável da presença feminina em seu corpo de
alunos. Segundo Fonseca (1961), essa maciça presença feminina foi questionada, porque a escola não
estaria exercendo a missão de sua inauguração: “formar homens que pudessem fazer de seus alunos
verdadeiros artífices para a industrial nacional”.
Em 1924, o regimento interno da instituição é alterado e a escola deixa de assumir a tarefa de formar
professores de trabalhos manuais e contramestres, e começa a atuar, somente, na formação de
professores para as escolas profissionais da União. Nesse momento da história interna da instituição,
aliado às disciplinas de formação técnica, os alunos começam a estudar matérias mais voltadas para o
campo das Humanidades, entre elas, Educação Cívica, Língua Portuguesa, Língua Francesa,
Psicologia, Música, Noções de Direito, entre outras. Dessa forma, a formação dava-se uma forma mais
abrangente na interação entre disciplinas voltadas para a educação profissional e cultura geral.
Estabelecendo um paralelo com a realidade atual e aproveitando o momento para lançar uma crítica,
observamos que muitos são os docentes contrários a essa articulação, porque não conseguem
2 Número de acordo com as informações do Plano de Expansão da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica
de ensino presente no sitio do Ministério da Educação (MEC).
3 Conforme as fontes consultadas, observamos que até meados de 1960, as escolas técnicas não conseguiam atrair
alunos da classe média, já que essas instituições eram vistas como espaço de formação da classe operária e destinada aos
miseráveis, aos órfãos, aos abandonados e aos delinquentes. O trabalho técnico (artesanal, manufatureiro e industrial) era
entendido como algo menor e essa imagem perpetuou-se desde os tempos da colônia, do império e deu-se até a
Constituição de 1937.
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visualizar tal necessidade na formação do sujeito como ser social. Nesse cenário de muitas mudanças,
em 1930, o Ministério da Educação e Saúde Pública é criado e promove uma reforma na educação,
priorizando a escola como o espaço de formação crítica do cidadão e da força de trabalho necessárias
para o avanço da sociedade de uma forma geral.
Em abril de 1937, a Escola Normal de Artes e Ofícios é fechada para converte-se em um liceu focado
no ensino profissional de todos os graus e ramos, semelhante às Escolas de Aprendizes Artífices,
mantidas pela União. Por meio da Lei Orgânica do Ensino Industrial 4, promulgada em 30 de janeiro de
1942, antes mesmo de ser inaugurada transforma-se em Escola Técnica Nacional (ETN). Em fevereiro
do mesmo ano, por deliberação do decreto-lei 4.127, que padroniza as bases de organização da rede
federal de educação industrial, a escola começa a ministrar cursos em dois níveis: 1º ciclo – industriais
básicos (equivalente ao atual ensino fundamental de 6º ao 9º ano) e de 2º ciclo – cursos industriais
técnicos, ofertados àqueles que possuíam o antigo ginasial ou cursos industriais básicos. Além de
continuar formando artífices, mestres e técnicos para a indústria, a ETN, de acordo com a citada lei,
continua responsável pela função de formar professores e profissionais administrativos para atuação
no ensino industrial. Essa formação de professores denominava-se Ensino Pedagógico com cursos de
Didática do Ensino Industrial e Administração do Ensino Industrial, incluindo em seu currículo
disciplinas como História da Indústria e do Ensino Industrial, Psicologia Educacional, Orientação e
Seleção Profissional e Metodologia.
No ano de 1959, a ETN, por meio da autonomia conseguida com a lei 3.552 regulamentada pelo
decreto 47.038/59, atende à demanda da sociedade pela formação de profissionais técnicos e deixa de
ministrar gradativamente os cursos industriais básicos. Em 1965 e 1967, a ETN altera seu nome sendo
reconhecida, respectivamente, como Escola Técnica Federal de Guanabara, por conta da mudança da
capital para Brasília, e Escola Técnica Federal Celso Suckow da Fonseca (ETFCSF), nome do primeiro
diretor eleito pela comunidade interna funcionando como uma homenagem póstuma. No decorrer da
década de 1970, o ensino industrial técnico começa a ser reconhecido pelas famílias de classe média,
devido à necessidade de mão de obra qualificada exigida pelas empresas multinacionais estabelecidas
no país e a presença de uma indústria brasileira consolidada.
Em 1966, em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), no que diz respeito à
colaboração entre docentes e emissão de diplomas, são oferecidos os primeiros cursos superiores de
curta duração em Engenharia de Operação. Já em 1971, com o advento da lei número 5.692 5,
novamente há a exigência legal de formação de professores para as disciplinas do currículo dos cursos
técnicos de nível médio e dos cursos de Engenharia, portanto a ETFCSF cria o Centro de Treinamento
de Professores mediante convênio entre o Centro de Treinamento do Estado da Guanabara (CETEG) e
o Centro Nacional de Formação Profissional (CENFOR). Por meio da portaria número 432 de 19 de
julho de 1971, o Ministério da Educação e o antigo Conselho Federal de Educação, tendo em vista a
dificuldade de encontrar professores para as disciplinas técnicas, autoriza as escolas técnicas a formar
docentes para tal finalidade. No final da década de setenta, no ano de 1978, a escola técnica
transforma-se graças à lei número 6.545, de 30 de junho, no Centro Federal de Educação Tecnológica
4 O governo do Presidente Vargas, desde os anos de 1930, implementa e reforma a educação brasileira. De 1942 a 1946,
Gustavo Capanema é Ministro da Educação e Saúde e promulga vários decretos, leis e reformas, entre eles as
denominadas Leis Orgânicas de Ensino. Cabe ressaltar que a inauguração oficial da Escola Técnica Nacional, em 7 de
outubro de 1944, contou com a presença do então Presidente da República Getúlio Vargas e do ministro Capanema
5 Cabe ressaltar que as instituições promovedoras de educação técnica sempre se depararam com a dificuldade de
encontrar profissionais para as atividades docentes.
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Celso Suckow da Fonseca, nome que mantém até a atualidade.
O ano de 1978, no âmbito do ensino profissionalizante brasileiro, representa um importante marco
histórico na consolidação da educação tecnológica no Brasil, porque, por meio da referida lei
mencionada no parágrafo anterior, as escolas técnicas de Minas Gerais (Belo Horizonte), Celso
Suckow da Fonseca (Rio de Janeiro) e Paraná (Curitiba) são reconhecidas como centros tecnológicos 6,
assumindo status de instituição de ensino superior e habilitadas a ofertar cursos de graduação e de
pós-graduação. A definição de CEFET passa a ser:
Instituições de ensino subordinadas ao Ministério da Educação, dotadas de autonomia
administrativa, didática e financeira – por tratarem-se de autarquias federais. São
responsáveis por ofertar educação profissional, através de seus diferentes cursos e
programas, inclusive cursos superiores vinculados à área tecnológica e mesmo cursos de
pós-graduação lato e stricto sensu, além do ensino médio7
A lei de criação dos CEFET permitiu além da construção de uma identidade para cada centro, já que a
proposta difere a das universidades federais do país, permitiu a verticalização e complementação do
saber, pois os alunos de diferentes níveis circulam dentro do espaço da mesma instituição, inclusive, os
professores podem atuar em todos os âmbitos e níveis.
No ano de 1990, o CEFET/RJ, atendendo à portaria de 19 de julho de 1971, oferece pela quarta vez
em sua história curso de formação de professores em caráter emergencial, conhecidos como Esquema
I e Esquema II, para os portadores de diploma de curso superior e de cursos técnicos de nível médio.
O ensino do Espanhol no CEFET/RJ: articulando saberes
Esperamos nesta parte do artigo será tecer comentários sobre o trabalho desenvolvido com a disciplina
Espanhol no Curso Técnico de Turismo e Entretenimento do CEFET/RJ. Porém antes, relataremos um
pouco a história de criação do curso, seus objetivos e a presença das línguas estrangeiras na grade
curricular. A escola também oferece a oferta da língua no ensino médio, mas resolvemos, por limite de
páginas, centrar nossa discussão na educação tecnológica.
O Curso Técnico de Turismo do CEFET/RJ abre sua primeira turma no ano de 2002 com o objetivo de
atender a demanda por profissionais gabaritados, já que segundo pesquisas elaboradas pelo próprio
centro, a Região Sudeste oferecia um mercado promissor na área turística e cultural, porém por outra
parte, nossa realidade não dispunha de mão de obra qualificada para explorar adequadamente o
enorme potencial turístico da região.
Como o objetivo da instituição sempre foi o de verificar a carência por profissionais em distintas áreas
do conhecimento, principalmente, da área tecnológica, resolve oferecer o curso técnico de Turismo
com a intenção de proporcionar aos seus alunos condições culturais e técnicas necessárias, tratando a
6 Somente em 1994, com a lei número 8.948, de 8 de dezembro, estabeleceu a transformação gradativa das Escolas
Técnicas e Agrotécnicas Federais em Centros Federais de Educação Tecnológica, por meio de decreto específico para cada
instituição levando em conta critérios estabelecidos pelo Ministério da Educação, entre eles, citamos as instalações físicas,
os laboratórios, a qualidade e manutenção dos equipamentos, as condições técnico-pedagógicas e administrativas, os
recursos financeiros de cada unidade escolar, entre outros.
7 In: Oliveira; Leszczynski (2008).
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educação profissional sob um enfoque pedagógico capaz de atender aos desafios que uma clientela
em expansão.
Na história do CEFET/RJ, o curso Técnico de Turismo representa um importante marco na estrutura
interna da instituição, porque constitui o primeiro curso da área de humanas a ser oferecido pelo
centro. Com isso, a oferta de disciplinas 8 voltadas para a formação do aluno como sujeito crítico na
sociedade começa a encontrar espaço dentro da instituição, apesar do preconceito por grande parte do
colegiado de professores, que ainda defendiam o Centro como uma escola técnica direcionada para a
formação de profissionais das áreas industriais. Não podemos esquecer que a tecnologia está presente
em todas as áreas, em algumas em maior proporção que em outras.
A grade curricular do curso foi proposta pela Coordenadoria de Língua Inglesa, já que até aquele
momento a escola não contava com nenhum professor da área de Turismo e de Língua Espanhola. O
curso começa suas atividades com professores substitutos das duas áreas. Naquela época, as línguas
estrangeiras eram ofertadas como disciplinas obrigatórias desde o primeiro período do curso 9. Algumas
discrepâncias entre as duas línguas estrangeiras são notórias desde o momento da confecção da
estrutura do curso, pois a disciplina de Espanhol constava de dois períodos com carga horária de 36h/a
cada, totalizando 72h/a da grade do curso, em contraposição ao Inglês com quatro períodos somando
uma carga horária de 144h/a. A diferença de carga horária não se explica somente pela falta de
professores qualificados para ministrar tal disciplina, mas sim pelo monopólio que o Inglês representava
no ensino de línguas estrangeiras modernas na escola. A partir disso, podemos levantar algumas
questões: que critérios foram adotados para tomar essa decisão? Seria, realmente, o Inglês mais
importante para o futuro profissional de Turismo que o Espanhol? Dois períodos em comparação aos
quatro ofertados de Inglês são suficientes para um aluno desenvolver as destrezas linguísticas para
atuar na área do Turismo?
Muitas são as perguntas e respostas levantadas por essas interrogantes, porém sabemos que num
curso que exigirá do seu futuro profissional um contato com indivíduos de diferentes culturas e povos,
reduzir o conhecimento do Espanhol, segunda língua de comunicação internacional e utilizada nos
países vizinhos, é um ponto falho. Não podemos deixar de levar em consideração a importância da
Língua Espanhola para nossos alunos com o advento do MERCOSUL, que além de proporcionar
alianças políticas e econômicas entre alguns países vizinhos, gera um maior interesse turístico e
cultural entre as culturas envolvidas. Além disso, políticas linguísticas também são adotadas entre
Brasil, os países da América Hispânica e Espanha, a partir do momento em que a língua espanhola
passa a ser ensinada mediante a lei 11.161/2005 nas escolas de Ensino Médio do país e, a língua
portuguesa também tem seu ensino obrigatório decretado nas escolas argentinas, por exemplo. Da
mesma maneira que para nós levar a aprendizagem do espanhol para nossos alunos é importante e
essencial na sociedade globalizada que vivemos, para os demais latino-americanos, conhecer a língua
portuguesa significa aumentar os horizontes culturais e linguísticos.
Ao pensar na maneira como a língua espanhola deveria configurar no Curso Técnico de Turismo
levamos em conta o perfil profissional desejado para os futuros concluintes do curso, entre eles, que
constam no site da instituição, listamos:
8 Fazemos referência nesse momento a disciplinas como Filosofia, Sociologia, História da Arte, Cultura Brasileira e Línguas
Estrangeiras (Inglês e Espanhol).
9 Desde o ano de 2005, a disciplina de Língua Espanhola passa a ser oferecida no 5º período do curso.
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•
atuar na área de eventos e turismo receptivo;
•
apresentar uma visão ampla e de conjunto das atividades turísticas e áreas adjacentes, e atuar
cooperativamente nas destinações turísticas atendendo às novas tendências de comunicação
do mercado, regido pela globalização;
•
interagir na sociedade do conhecimento com base nas informações armazenadas em benefício
de novos negócios e organizações;
•
desenvolver censo crítico para trabalhar na busca da eficácia;
•
interagir com a comunidade, trabalhar com ela, mostrando-lhe resultados e caminhos já
percorridos pelo conhecimento;
•
atuar na língua internacional de turismo, na informatização dos sistemas de reservas e de
outros serviços;
•
estar envolvido em questões ou propostas que utilizem programas interdisciplinares nas suas
soluções. Nesse sentido, como o turismo se estrutura sobre uma série de disciplinas, a
abordagem de cada uma, dentro desse programa, deve considerar sua importância no
contexto da atividade, as possibilidades da sua atuação prática, o nível dos estudos nos quais
são ministrados, as técnicas pedagógicas a utilizar, além da qualificação e do envolvimento
técnico, acadêmico, ou empresarial na atividade turística;
Por meio do perfil desejado, notamos no campo de trabalho do profissional do Turismo um importante
diálogo com diferentes áreas do conhecimento, permitindo desenvolver um trabalho com a língua
estrangeira que pretendesse abarcar todas essas temáticas. Assim, buscamos com o nosso trabalho
com o ensino do espanhol atender às necessidades básicas do nosso aluno num período curto de dois
períodos letivos. A disciplina busca desenvolver a competência comunicativa em contextos básicos e
específicos da área do Turismo e da Hotelaria, bem como tópicos gramaticais fundamentais da Língua
Espanhola e o vocabulário básico da área do Turismo, pois acreditamos a importância do
conhecimento do léxico específico no mundo dos negócios dessa área. Em nossa prática pedagógica
cabe-nos também introduzir o aluno no estudo das culturas dos países de língua espanhola, porque
desse modo o aluno aprende que a língua de um povo não existe só na teoria ou imaginação. O aluno
deve ser levado a construir o significado da língua nas manifestações artísticas de um povo.
Como objetivos formulados e propostos para desenvolver a aprendizagem do Espanhol voltada para a
realidade dos futuros técnicos, pensamos trabalhar os seguintes objetivos:
•Desenvolver a competência comunicativa em nível básico, nas quatro habilidades: compreensão oral e
escrita; produção oral e escrita.
•Construir um conhecimento sistêmico da língua espanhola e conhecimento sobre tipos de textos
veiculados à área de hotelaria e às áreas afins, de modo a possibilitar aos alunos um nível de
compreensão geral.
•Conhecer e compreender aspectos culturais dos países falantes do Espanhol, ao mesmo tempo em
que o façam avaliar criticamente os aspectos de sua própria cultura.
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•Expressar-se oralmente e por escrito de modo a adequar, estrategicamente, os diferentes tipos de
texto às mais diferentes situações interativas;
•Desenvolver a expressão de funções comunicativas e ampliar o vocabulário;
•Consolidar e ampliar o vocabulário básico;
•Desenvolver estratégias para a compreensão de textos orais e escritos, a partir do contato com textos
originais de diversos gêneros;
•Aprimorar a pronúncia de sons do espanhol com ênfase nas áreas problemáticas para o aluno falante
do português.
Após listar nossos objetivos com o ensino do espanhol nos dois períodos letivos dentro do Curso
Técnico de Turismo do CEFET/RJ, resta-nos elucidar um pouco o nosso trabalho para alcançar às
habilidades necessárias e possíveis de serem desenvolvidas num curto espaço de tempo.
Os alunos do Curso Técnico de Turismo em sua grande maioria nunca tiveram em sua formação
escolar o ensino de espanhol, porém sempre temos a presença de alguns alunos que estudaram a
língua em centros de idiomas. O ingresso dos alunos ao curso técnico do CEFET/RJ dá-se de duas
formas: concurso público para ensino médio concomitante (médio e técnico) e convênio com escolas
privadas e públicas (federais e estaduais) para o ensino técnico. Isso gera turmas completamente
heterogêneas e de faixa etária oscilante. O aluno de Turismo ao iniciar seus estudos verifica a
importância da interdisciplinaridade das disciplinas do curso. Exige-se desse futuro profissional um bom
nível de línguas estrangeiras e materna, história, artes, literatura, geografia, sociologia, contabilidade e,
claro, sua formação específica da área.
Durante nossas aulas de Língua Espanhola pretendemos levar o alunado a conhecer o universo e a
linguagem específica do mundo do Turismo, portanto esse trabalho exige do professor um contato mais
dinâmico, criativo e divertido. O papel do professor está em construir uma aprendizagem baseada na
troca de conhecimento entre os sujeitos do processo e em propor situações da vida diária, onde o
aluno necessitará o uso da língua estrangeira. Dessa forma, a aprendizagem da língua estrangeira não
se converte num elemento abstrato à realidade do aluno.
O ensino da língua para um uso específico – no nosso caso do profissional do turismo – pressupõe
também, por outra parte, um envolvimento e uma dedicação maior do professor, que em sua grande
maioria, não recebeu formação adequada em seus cursos de Letras para lidar com essa realidade de
alunos. Não queremos afirmar que haja um manual ideal que ensine como o professor de Espanhol
deve ministrar aulas para alunos de Turismo, mas sim que deva existir nas disciplinas de Prática de
Ensino das universidades uma maior e melhor atenção para os novos campos de atuação do
profissional de Espanhol. No mercado editorial brasileiro, encontramos poucos materiais de ensino
destinados ao ensino de Espanhol para profissionais de Turismo. Além da falta de recursos nas
escolas, o professor depara-se com materiais planejados que não atendem a nossa realidade
brasileira, ou melhor, latino-americana. Após analisar as atividades propostas por três 10 manuais de
ensino, observamos que todos focam o contexto cultural da Espanha. A realidade latino-americana só
10 São eles: Temas de Turismo, de Marisa de Prada, Carmen Rosa de Juan, Pila Marcé, Eloisa Nieto y Ana E. Gray;
Español para profesionales de Turismo y Hostelería, de Margarita Goded & Raquel Varela, Español por profesiones:
Servicios turísticos, de Blanca Aguirre Beltran.
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aparece no máximo em pequenos textos sobre pacotes turísticos ou como curiosidades. Ao adotar um
desses manuais, por exemplo, o aluno pode chegar ao final do curso, caso o professor não disponha
de outros suportes e recursos, conhecendo somente a variante fonética espanhola.
Portanto, levamos em consideração os seguintes pontos antes de preparar nossas aulas:
a) A dificuldade de encontrar um material didático de apoio adequado a realidade do aluno
brasileiro de Turismo.
b) O professor não pode somente limitar o seu trabalho aos materiais didáticos existentes, pois
sua prática se torna cansativa e improdutiva.
c) Os alunos acabam utilizando o espanhol, em sua grande maioria, somente no momento da
aula e na presença do professor.
d) Necessitamos atividades capazes de levar o aluno a praticar a linguagem técnica de sua área.
Desse modo, o trabalho desenvolvido com nossos alunos solicita do aluno um maior envolvimento com
a disciplina, cujo trabalho estimula-o e permite desenvolver sua competência comunicativa através de
inúmeras atividades como:
1. dramatizações de situações reais e próprias da área de atuação (na recepção de um hotel, num
aeroporto, numa agência de viagens, compra e venda de pacotes turísticos, num restaurante);
2. leitura e exposição de textos de diferentes gêneros textuais (folhetos, guias e formulários);
3. seminários (apresentação de cidades, países, pacotes e pontos turísticos);
4. jogos para fixar o léxico específico;
5. músicas, pois permitem conhecer um pouco da cultura da língua estrangeira;
6. produções escritas (elaboração de folhetos turísticos, pôsteres e guias);
7. uso de filmes, documentários e curtas, contribuindo para o aluno conhecer as inúmeras variantes
da língua espanhola, além de ser uma excelente mostra autêntica da língua de estudo;
8. uso da internet (chats e sites relacionados a temas de Turismo).
Por meio dessas atividades, verificamos que outras como a repetição de diálogos, exercícios escritos
em sala ou em casa e a leitura sem um determinado objetivo estabelecido não favorecem o
desenvolvimento das quatro habilidades (compreensão leitora, expressão oral e escrita e audição) da
língua estrangeira nos alunos. O professor não pode estar preocupado somente se atenderá o
conteúdo programático do curso e as datas de provas, nem pode trabalhar de uma forma mecânica se
prendendo ao quadro e ao livro texto, porque assim afasta o aluno da riqueza da língua e da realidade
futura do aprendiz. O docente deve estimular a participação do aluno e transformar a sala de aula num
cenário turístico.
No ensino de espanhol com fins específicos, o docente não tem a obrigação de ensinar a profissão
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escolhida pelos alunos, logo os alunos, na maioria dos casos, sabem mais da área de atuação que o
professor da língua estrangeira. Dessa forma, a aprendizagem pode ser muito mais significante para
ambos. Entretanto, o trabalho do professor está em buscar conhecimentos da área do aluno para poder
contextualizar as atividades, entender os materiais levados à sala, resolver possíveis dúvidas dos
alunos e a linguagem empregada. A presença de uma linguagem específica é um ponto importante
nesse tipo de curso, porque ao abordar áreas de interesse do aluno, o professor aumenta sua
competência comunicativa. O léxico ensinado num curso de espanhol dependerá do tipo de curso e de
seus objetivos (IRUELA, 2001, p. 219). O léxico ensinado num curso de língua geral será diferente do
de um curso de fins específicos, apesar de que no vocabulário de um curso para profissionais de
Turismo encontramos um léxico básico comum a textos orais ou escritos de qualquer área do saber.
Considerações finais
Na tentativa de responder a pergunta originária deste estudo, traçamos um histórico da rede federal de
Educação Profissional e Tecnológica, mas especificamente do CEFET/RJ para poder contextualizar
nosso trabalho com o ensino de espanhol no curso técnico de Turismo, primeiro curso de Humanas do
Centro.
Destacamos que desde sua primeira constituição, as escolas da rede, além de desempenhar um
importante papel na formação de mão de obra para diferentes setores da indústria, aos poucos
começaram a dialogar com outras áreas do saber que diferem dos industriais, das exatas e dos
puramente tecnológicos, como é o caso do curso técnico de Turismo e a inserção de disciplinas de
Humanidades, como de línguas estrangeiras, no currículo escolar.
Nosso trabalho no CEFET/RJ busca criar situações comunicativas reais nas quais os alunos participem
e se interessem pela língua estudada e, principalmente, pela cultura, pensando e desenvolvendo um
trabalho onde o aluno seja capaz de guiar grupos de turistas, convencê-los a realizar uma viagem ou
retornar ao nosso país e demais situações discursivas. O professor atua nesse processo como um
elemento importante, tendo que estar preparado para adaptar-se a diferentes realidades, mesmo
porque cada grupo é único e as relações sociais e afetivas estabelecidas distinguem-se.
Desde o primeiro dia de aulas do curso, os alunos se preocupam em saber se aprenderão totalmente
falar a língua estrangeira, como se essa fosse um produto comprado num mercado. Eles acabam
esquecendo-se de refletir sobre a importância de aprender uma língua estrangeira em sua área de
atuação. Muitos porque se preocupam somente com a parte teórica/ específica de seu curso e outros
porque querem resultados imediatos. Isso acaba por prejudica a aprendizagem. Nesse ponto está o
constante trabalho do professor de língua estrangeira: levar o aluno a construir significado, pensar
mecanismos para ensinar o idioma e, principalmente, sentir que o aluno é capaz de empregar em sua
vida social e produtiva, o conhecido adquirido na escola. Ao obter esses resultados nosso trabalho
como professor só tem a ser cada vez mais gratificante.
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Referências:
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