Vigilância das Doenças Crônicas não Transmissíveis – Hipertensão

Transcrição

Vigilância das Doenças Crônicas não Transmissíveis – Hipertensão
Vigilância das Doenças Crônicas não Transmissíveis – Hipertensão e Diabetes – no
contexto do Sistema Único de Saúde e o enfoque para a promoção da saúde
Flávia Alline de Queiroz Scarano1, Maykon Anderson Pires de Novais2, Thiago Fernandes3
RESUMO
Objetivo: Estudo descritivo que quantificou as internações por complicações (de acordo
com os CID-10) de HAS e DM no município de São José do Rio Preto entre os anos de
2010 e 2012 comparando-se os gastos dessas internações para o município e os
investimentos destinados à Promoção da Saúde. Métodos: Este estudo se caracterizou
como sendo uma Pesquisa Bibliográfica do tipo Retrospectivo-Descritivo, no qual a
coleta de dados foi realizada por meio de fontes secundárias, sendo que todas as
informações fora referentes ao período de 2010 a 2012.A investigação se baseou nos
dados disponibilizados pelo SIH/SUS/DATASUS no período considerado, comparandose os custos quanto às internações por complicações decorrentes de Hipertensão Arterial
Sistêmica e Diabetes mellitus, tabulando-se os códigos de Diagnósticos pela
Classificação Internacional de Doenças - CIDs 10, I20 ao I25 e I60 ao I69 e os CIDs
E10 ao E14, para estas Doenças Crônicas não Transmissíveis, com os investimentos em
promoção da saúde na Atenção Básica do município de São José do Rio Preto.Os dados
referentes às Internações por complicações de Hipertensão Arterial Sistêmica e Diabetes
mellitus, são referentes às internações ocorridas no âmbito do SUS, no município de
São José do Rio Preto, Estado de São Paulo. Resultados: evidenciou-se que os gastos
em reais com as internações no SUS, considerando as DCNT são em média 10 vezes
maior do que os investimentos em Promoção da Saúde. Conclusões: conclui-se por este
estudo que o papel da atenção primária na prevenção de Doenças Crônicas Não
Transmissíveis e nas estratégias de controle pode se dar através da prevenção primária
dos fatores de risco através da promoção da atividade física, ações de desencorajamento
ao início do tabagismo, da prevenção secundária de complicações decorrentes de fatores
de riscos existentes e da prevenção terciária reabilitando e prevenindo futuras
complicações resultantes de HAS e/ou DM não controlados, porém os investimentos
financeiros devem ser maiores.
1
Aluna do Curso de Especialização à Distância em Gestão em Saúde na modalidade à distância UAB-
UNIFESP.
2
Mestre Professor Orientador
3
Mestre Tutor Orientador
INTRODUÇÃO
2010),
consequentemente
geram
impactos econômicos relacionados não
As
Doenças
Crônicas
não
Transmissíveis (DCNT) destacando-se
aqui
especialmente
a
Hipertensão
Arterial Sistêmica (HAS) e o Diabetes
mellitus (DM) são consideradas como
principais causas de morte no Brasil.
Ambas são responsáveis por elevados
custos
com
incapacidades
hospitalizações,
temporárias
e
ou
permanentes e invalidez.
às doenças crônicas, o Brasil tem se
pela
demográfica,
transformação
epidemiológica
e
nutricional desde a década de 60, e com
o conseqüente aumento da expectativa
de
vida, experiência
um
aumento
significativo da prevalência das DCNT,
e , estas por se caracterizarem por curso
clínico, que pode alterar-se ao longo do
tempo, causa
aos seus portadores
agravos agudos ou crônicos (IBGE,
2013; MS, 2012).
pelo
elevado
absenteísmo,
da
aposentadoria precoce por invalidez ou
morte
prematura
da
população
economicamente ativa (SHIMIDT et al,
2011).
Importante salientar que, hoje, o
país que deveria promover a saúde
das praticas sanitárias (MS, 2005a), já
que dos gastos do SUS 43,8% são para
investimentos na área hospitalar e
ambulatorial, 19,6% pára a atenção
primaria
à
procedimentos
saúde,
4,1%
para
profiláticos
e
terapêuticos e 1,8% à Vigilância em
Saúde (BRASIL, 2006).
Entre os anos de 2002 e 2012
tivemos no município de São José do
Rio Preto, um total de 8.769 internações
por doenças endócrinas nutricionais e
metabólicas (Capítulo IV da CID 10) e,
As DCNT são responsáveis por 72%
das causas de mortes no nosso país, os
gastos com as DCNT giram em torno de
60% do que se gasta com doenças por
todas as causas no mundo (MS, 2011).
No Brasil, a HAS e o DM são
considerados
único de Saúde (SUS), mas também
individual e coletiva tem perdido o foco
Vale destacar que em consonância
destacado
só como os gastos no âmbito do Sistema
como
agravos
representantes das primeiras causas de
morte e de hospitalizações (OPAS,
45.690 internações por doenças do
aparelho circulatório (Capítulo IX da
CID 10), totalizando R$ 105.433.241,20
em gastos com internações com doenças
crônicas, observa-se que entre 2002 e
2012 os gastos com doenças crônicas no
município quase que triplicou, já que no
ano de 2002 os gastos ficaram em torno
de R$5.845.909,50, enquanto que no
ano de 2012 esses gastos foram de R$
procedimentos e serviços de saúde
13.736.583,02 (DATASUS, 2013).
(BRASIL, 2011).
De acordo com o Sistema de
No ano de 2006 o Brasil investiu
Informação sobre Orçamentos Públicos
3,7 bilhões em internações com as
em Saúde, o município de São José do
DCNT, destacando-se que os repasses
Rio Preto, no ano de 2002 apresentava
de estados e municípios estão fora dessa
despesas total de saúde/habitante/ano de
contabilização (MALTA et al, 2006).
R$183,52 saltando para R$ 540,60 em
Levando
2012. Isso começa a revelar que o
informações, pode-se inferir que as
envelhecimento da população deve
ações de prevenção de DCNT e de
aumentar os gastos com saúde nos
promoção
próximos anos e, consequentemente,
atividade
gastos com as doenças crônicas (SIOPS,
vigilância, partindo do monitoramento
2013).
contínuo da ocorrência dessas doenças,
em
consideração
da
saúde
primordial
essas
constituem
da
área
de
aqui em específico a HAS e DM,
PROBLEMA
ressaltando que as DCNT também
incluem as neoplasias e as causas
Na década de 1930, as doenças
infecciosas foram responsáveis por 46%
das mortes e em 2003 essa estatística
ficou próxima dos 5%, enquanto que a
epidemia das DCNT, no mesmo período
externas, na população e do impacto
econômico de social que elas provocam,
é
que a própria mudança demográfica tem
colaborado
para
comportamento
este
das
padrão
de
doenças,
impactando na expectativa de vida ao
nascer, que por sua vez traz para o
sistema único de saúde – SUS uma
demanda importante no que se refere
aos cuidados de saúde, pois as DCNT
são geralmente de longa duração,
demandando
mais
ações
e
argumentar
sobre
a
necessidade de se prevenir HAS e DM
(MALTA et al, 2006).
ganhou forças, em especial as doenças
cardiovasculares. Temos que considerar
possível
De acordo com Barceló (2003),
o
atendimento
aos
portadores
de
diabetes mellitus (DM), apresenta uma
variação dos custos diretos de 2,5% a
15% dos investimentos nacionais em
saúde, com isso observa-se que os
portadores de DM consomem pelo
menos duas vezes mais recursos para o
cuidado
com
a
saúde,
quando
comparado aos não-diabéticos.
A freqüência e a severidade das
complicações tanto de DM quanto de
HAS não controladas têm exigido
apresentam custo elevado para o SUS e
investimentos cada vez maiores dos
quando não prevenidas e gerenciadas
sistemas de saúde, deixando clara a
adequadamente
necessidade urgente que os nossos
assistência médica de custo crescente,
governantes contemplem as DCNT na
em razão da permanente e necessária
agenda de prioridades, pois as DCNT
incorporação tecnológica.
Pessoas com diabetes tipo 2 têm
maior
risco
para
desenvolver
demandam
uma
solidariedade, eqüidade, democracia,
cidadania,
desenvolvimento,
cardiopatia e doença cérebro-vasculares
participação e parceria, entre outros; e
e, normalmente, ocorre associada à
que estabelece ao indivíduo viver sem
hipertensão
AUBERT;
doença, ou bem; até mesmo “superar as
HERMAN,1998), bem como maior
dificuldades de superar os estados ou
probabilidade
condições de morbidez” de forma a
(KING;
de
dislipidemia
e
obesidade (OMS, 2003; ADA, 2008).
A presença de complicações ou
comorbidades tem sido associada com
satisfazer
suas
necessidades
fundamentais: materiais e espirituais
(MINAYO; HARTZ; BUSS, 2000).
depressão, ansiedade e prejuízos sobre
Diante disso justifica-se o estudo
as múltiplas dimensões da Qualidade de
para traçar os custos das internações, o
Vida Relacionada à Saúde (QVRS
município de São José do Rio Preto –
(CAMACHO et al., 2002; VISSER et
SP, por complicações de HAS e DM, no
al., 2002), já que socialmente, a relação
período de 2010 a 2012, comparando-se
com familiares e amigos pode ser
os investimentos para a promoção da
afetada
saúde e prevenção de agravos.
freqüentemente
imposições
da
doença;
pelas
restrições
dietéticas ou sexuais podem levar a
conflitos, contribuindo para a queda no
bem estar do paciente (WANDELL;
BRORSSON, 2001).
Em se tratando da área da saúde,
o fator mais relevante para QV é a
promoção da saúde, que de acordo com
a Carta de Ottawa (OMS, 1986), é um
termo associado a um conjunto de
valores: qualidade de vida, saúde,
Este
estudo
objetivou
em
levantar
específico
e
Diabetes
mellitus,
sobre
tabulando-se
os
internações por complicações de HAS e
Diagnósticos
pela
DM,
SIH/SUS/DATASUS,
Internacional de Doenças - CIDs 10,
evidenciar a importância da promoção
I20 ao I25 e I60 ao I69 e os CIDs E10
da saúde na construção de uma melhor
ao E14, para estas Doenças Crônicas
qualidade de vida tanto no âmbito
não
individual
coletivo,
investimentos em promoção da saúde na
comparando os gastos com internações
Atenção Básica do município de São
e os investimentos com a promoção da
José do Rio Preto.
no
dados
Sistêmica
como
no
códigos
de
Classificação
Transmissíveis,
com
os
saúde no município de São José do Rio
Justificou –se a utilização dos
Preto acessando o site de domínio
capítulos da CID 10, em vez da
público do DATASUS e com isso
condição específica de diagnóstico, pois
sugerir alterações nos atendimentos
um dos problemas de confiabilidade dos
prestados
e
dados do SIH/SUS estão relacionados
da
ao diagnóstico na internação, devido à
qualidade da assistência consiste numa
falta de informações no prontuário do
preocupação da saúde pública mundial.
paciente quando se trata de codificação
pelo
secundário,
setor
pois
a
primário
melhoria
de
MÉTODOS
(BITTENCOURT,
2006).
Este estudo se caracterizou como
sendo uma Pesquisa Bibliográfica do
tipo Retrospectivo-Descritivo, no qual a
coleta de dados será realizada por meio
de fontes secundárias, sendo que todas
as informações serão referentes ao
A investigação se baseou nos
disponibilizados
SIH/SUS/DATASUS
Com a finalidade de facilitar a
análise, foram criados instrumentos
específicos
no
pelo
período
considerado, comparando-se os custos
quanto às internações por complicações
decorrentes de Hipertensão Arterial
no
editor
de
Texto
Microsoft Office Word, onde os dados
coletados
foram
organizados
e
tabulados em um banco de dados no
Microsoft
período de 2010 a 2012.
dados
diagnósticos
realizados
Excel,
no
tratamento
qual
foram
estatístico
descritivo e apresentados através de
quadros.
Os
dados
referentes
às
complicações
de
Internações
por
Hipertensão
Arterial
Sistêmica
e
Diabetes mellitus, são referentes às
internações ocorridas no âmbito do
de acordo com o Fundo Nacional de Saúde,
SUS, no município de São José do Rio
no ano de 2011.
Preto, Estado de São Paulo.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Observa-se que no ano de 2010
tivemos investimentos na Vigilância em
Saúde conforme quadro abaixo:
Quadro I – Investimentos Vigilância em
Saúde Município de São José do Rio Preto,
de acordo com o Fundo Nacional de Saúde,
no ano de 2010.
Piso fixo de vigilância sanitária –
PFVISA
Piso variável de vigilância e promoção
da saúde – PVVPS
Vigilância epidemiológica e ambiental
em saúde
Vigilância sanitária
TOTAL - Vigilância e promoção da
saúde
R$ 238.351,02
R$ 351.283,49
R$ 793.367,18
R$ 19.481,68
R$ 791.898,19
campanha nacional de
seguimento do sarampo e
rubéola/ monitoramento das
campanhas vacinais do sarampo
e rubéola
fórmula infantil às crianças
verticalmente expostas ao HIV
incentivo a política de promoção
da saúde e prevenção de doenças
e agravos
incentivo ao fortalecimento de
ações de práticas
corporais/atividade física
incentivo de qualificação das
ações de dengue
incentivo no âmbito do programa
nacional de HIV/AIDS e outras
DST
incentivo para realização do
inquérito de vigilância de
violências/acidentes
incentivo projetos vigilância e
prevenção de violências e
acidentes
TOTAL - Vigilância e promoção
da saúde
R$ 11.737,44
R$ 22.188,35
R$ 35.000,00
R$ 36.000,00
R$ 258.215,93
R$ 399.738,00
R$ 38.000,00
R$ 50.000,00
R$ 850.879,72
Fonte: Site – Fundo Nacional de Saúde -
Fonte: Site – Fundo Nacional de Saúde -
adaptado
adaptado
Tais
investimentos
foram
destinados conforme a necessidade aos
Diante desse quadro pode-se
setores de doenças crônicas, de doenças
observar que 18% dos investimentos em
transmissíveis, imunização, não sendo
saúde foram para Promoção da Saúde,
separados por linha de trabalho.
ou seja, (R$ 159.000,00), lembrando
Os gastos com promoção da
que deste total R$ 35.000,00 foram para
saúde em 2011 são evidenciados junto
a promoção da saúde de um modo geral
ao
sem especificar área de DCNT.
componente:
piso
variável
de
vigilância e promoção da saúde –
PVVPS, conforme quadro abaixo:
Para o ano de 2012, tivemos no
componente: piso variável de vigilância
e promoção da saúde – PVVPS, um
Quadro II – Investimentos Vigilância em
investimento de apenas R$36.000,00
Saúde Município de São José do Rio Preto,
(2%) do total, com as práticas corporais,
como trabalho de promoção da saúde
específico junto às DCNT, conforme
quadro abaixo:
INTERNAÇÕES/CID
Quadro III – Investimentos Vigilância em
Saúde Município de São José do Rio Preto,
2010 2011 2012 TOTAL
I20-I25
2.434 2.573 2.587 7.594
I60-69
E10-14
1.125 1.130 1.242 3.497
159 198 178 541
de acordo com o Fundo Nacional de Saúde,
no ano de 2012.
piso fixo de vigilância sanitária –
PFVISA
piso variável de vigilância e
promoção da saúde - PVVPS
vigilância epidemiológica e
ambiental em saúde
TOTAL - Vigilância e promoção da
saúde
Fonte: Site DATASUS
R$ 238.350,96
R$ 903.175,08
R$ 133.246,00
Quadro V - Valor total das internações
por CID, por ano processamento no
município de São José do Rio Preto
R$ 1.432.166,56
Fonte: Site – Fundo Nacional de Saúde -
considerando o período de 2010 a 2012.
adaptado
Analisando o site do DATASUS
as internações no município de São José
INTERN
AÇÕES/
CID
I20-I25
do Rio Preto apresentaram-se de acordo
com os quadros abaixo, considerando os
seguintes
CID
–
Classificação
I60-69
E10-14
Internacional das Doenças: I20-I25
(Infarto agudo do miocárdio, Outras
TOTAL
doenças isquêmicas do coração), I60-69
2010
2011
2012
9.483.
384,3
0
3.805.
340,4
8
240.0
82,94
13.52
8.807,
72
10.56
1.127,
04
3.382.
802,3
4
219.8
74,96
14.16
3.804,
34
11.67
7.045,
83
3.343.
182,8
9
169.8
37,09
15.19
0.066
TOT
AL
31.72
1.557,
17
10.53
1.325,
71
629.7
94,99
42.88
2.677,
87
Fonte: Site DATASUS
(Acidente vascular cerebral isquêmico
transitório e síndrome correlacionada,
Hemorragia
intracraniana,
A literatura (BARCELÓ et al.,
Infarto
2001) tem apontado que o portador de
cerebral, Acidente vascular cerebral não
DM gera grande impacto econômico e
especificado hemorrágico ou isquêmico,
social, já que esta doença está associada
Outras doenças cerebrovasculares) e
à dor, ansiedade, inconveniência e
E10-14 ( Diabetes mellitus).
menor qualidade de vida dos pacientes e
familiares,
Quadro
IV
-
Internações
por
Ano
processamento no município de São José do
Rio Preto considerando o período de 2010 a
2012.
principalmente
descompensada
(QUEIROZ,
quando
2008).
Com isso temos que o mal controle da
doença
contribui
para
longa
permanência
hospitalar
às
devido a isso, cada vez mais nos
e
deparamos com a elevada prevalência
procedimentos
da doença, aumento da necessidade dos
demandados a partir disso, tanto que no
serviços médicos, e gravidade das
ano 2000 o SUS gastou com as
complicações.
conseqüentes
devido
complicações
complexidade
dos
internações referentes ao DM a ordem
Tais resultados continuam a
de R$ 39 milhões de acordo com o
apontar que os modelos atuais das
SIH/SUS (MS, 2003).
práticas sanitárias perderam seu foco
Numa análise econômica dos
principal, que deveriam estar voltadas
gastos do SUS, o MS (2006) aponta que
ao ato de promover a saúde individual e
43,8% dos gastos são destinados à
coletiva (MS, 2005a), entretanto vê-se
assistência hospitalar e ambulatorial
que a promoção do auto-cuidado, as
(ações de média e alta complexidade),
mudanças de hábitos de vida, tem
19,6% à atenção primária à saúde, 4,1%
cedido
para
hospitalocêntricas,
procedimentos
profiláticos
e
lugar
às
práticas
conseqüentemente,
terapêuticos e 1,8% à vigilância em
nos deparamos com um SUS deficitário,
saúde (Brasil, 2006), assim sendo
incapaz de garantir a resolutividade
observa-se
na
preconizada de acordo com a Lei
aplicação dos recursos nos diferentes
8080/90, mas isto não pode impedir os
níveis de atenção, necessitando, por
esforços de pensarmos que a gestão das
conseguinte, equilibrar as ações e os
DCNT é prioridade, mesmo sabendo
gastos do sistema de saúde na atenção
que escolher as estratégias adequadas
primária, secundária e terciária, já que a
constitui uma tarefa complexa, pois
porta de entrada dos usuários do SUS é
demandam coordenação multissetorial
a atenção primária.
das
um
desequilíbrio
DCNT,
bem
como
o
A qualidade de vida também
estabelecimento de ações imediatas
pode estar atrelada à questão de que o
associadas a medidas de alcance aos
portador de Diabetes mellitus também
indivíduos
convive com o fato de que sua
crônicas não transmissíveis, de acordo
expectativa de vida pode ser reduzida
com a classificação de risco.
em até 15 anos para portadores de DM1
portadores
Conhecer
esta
de
doenças
realidade
é
e 7 anos para o DM2 (MS, 2006b),
deficitária já que não temos grandes
desestimulando o diabético a seguir
evidências quanto à eficiência das
com seu tratamento de forma adequada,
medidas e seu custo-eficácia, até o
momento. Dessa
forma, cabe
aos
de
linhas
de
cuidados
contínuos,
formuladores de políticas conhecerem
disponibilizar recursos para os sistemas
mais sobre intervenções individuais;
de saúde como um todo e para as DCNT
sobre as condições institucionais e
em particular, estabelecer sinergias
organizacionais que favoreçam a gestão
entre programas já existentes e o
das doenças crônicas e onde as lacunas
controle das DCNT.
de conhecimento precisam ser reduzidas
(OPAS-BRASIL, 2010).
CONCLUSÃO
Atualmente tem-se discutido a
proposta da OMS com a formação das
redes de atenção à saúde como melhor
opção
para
o
enfrentamento
das
condições crônicas, por “produzirem
respostas
mais
adequadas
às
necessidades em saúde, por meio da
integração sistêmica, rompendo, assim
com as tradicionais estruturas formais
de “referência e contra-referência”,
além de exigir, o que é de digno de
nota,
a
urgente
reformulação
e
reorientação do papel da Atenção
Primária em Saúde (APS)” esta com
caráter central e ordenador sobre os
Conclui-se por este estudo que o papel
da atenção primária na prevenção de
Doenças Crônicas Não Transmissíveis e
nas estratégias de controle pode se dar
através da prevenção primária dos
fatores de risco através da promoção da
atividade
desencorajamento
(SILVA,
2008;
MENDES,
ao
de
início
do
complicações decorrentes de fatores de
riscos
existentes
terciária
e
reabilitando
da
prevenção
e
prevenindo
futuras complicações resultantes de
HAS e/ou DM não controlados.
Nesta pesquisa observa-se que,
para que a atenção primária possa
potencializar a prevenção e controle de
2009).
O futuro da atenção à saúde,
atrelado ao trabalho em redes, deve
contribuir para estratégias abrangentes e
duradouras, como por exemplo, o
trabalho por ciclos de vida na prevenção
e no controle das DCNT, desenvolver
ações
ações
tabagismo, da prevenção secundária de
fluxos de pacientes e serviços dentro do
mesmo
física,
de
integração
intra
e
extrassetorial, incentivando a concepção
doenças crônicas, não basta só melhorar
acesso aos serviços de saúde, mas
também capacitar equipes de saúde e
ofertar instrumentos que as possibilitem
assistir
aos
pacientes
na
sua
integralidade, garantir monitoramento
dos
atendimentos
enquanto
prática
médica de qualidade, com respostas
rápidas
para
referência
e
contra-
gravidade dos problemas de saúde e
referência a serviços de diagnóstico
suas complicações através de atividades
especializados e cuidados necessários, e
de promoção, prevenção de lesões,
acompanhamento dos resultados ao
diagnóstico
longo do tempo, tudo isso acompanhado
gestão
de investimentos recursos financeiros e
acompanhamento adequado dos casos.
humanos.
e
tratamento
apropriada
de
precoce,
doenças
e
Recentemente no município de
Ressalta-se,
o
São José do Rio Preto, o setor de
cumprimento dessas condições não
Vigilância Epidemiológica das Doenças
depende apenas do prestador individual
Crônicas
de atenção primária, mas também do
trabalhado com a gestão dos casos
sistema ao qual ele presta a assistência à
clínicos de forma a identificar quem são
saúde, para tanto é necessário garantia
os pacientes que procuram as unidades
de recursos humanos e materiais para a
de
execução de um bom trabalho.
identificar
As
taxas
porém
de
que
Não
Transmissíveis
emergência,
na
algumas
tem
tentativa
das
de
condições
hospitalizações
crônicas (HAS e DM descompensados)
evitáveis baseiam-se na premissa de que
e o que motivou os usuários da rede
uma atenção primária oportuna e de
SUS
qualidade evita internações hospitalares,
emergência, a longo prazo objetiva-se
ou pelo menos, reduz a sua frequência
evidenciar que isto pode ser resultado
para alguns problemas de saúde que são
da falta de acesso à atenção primária,
considerados
que quando classificado como menos
sensíveis
à
atenção
primária como é o caso da HAS e DM.
A gestão dos casos clínicos de
a
procurar
o
serviço
de
grave, também representam o maior
volume
de
atendimentos
nestas
DCNT junto à atenção primária e
unidades sobrepondo-se àqueles que
secundária é de extrema importância
realmente necessitam de atendimento
nos serviços de saúde já que é uma
emergencial e/ou hospitalização. Até o
forma abrangente e eficaz de assistir aos
momento, aparentemente, a análise de
portadores de HAS e DM para que
indicadores de emergência tem sido
somente os pacientes sejam internados
menos
apenas em casos graves ou quando haja
hospitalizações evitáveis, pois ainda
complicações
estamos a identificar através de planilha
pois
este
(STARFIELD,
tipo
de
2002),
gestão
utilizada
que
a
de
ou
elaborada pelo setor de Vigilância de
acompanhamento de pacientes reduz a
Doenças Crônicas não Transmissíveis,
os casos de DCNT (HAS e DM) que
adequadas
constitui
procuram as unidades de emergência
complexa,
pois
que possam estar desassistidos pela
coordenação multissetorial das DCNT,
atenção primária e que necessitam de
bem como o estabelecimento de ações
uma busca ativa para retomada do
imediatas associadas a medidas de
tratamento ou até mesmo identificação
alcance aos indivíduos de alto risco,
de casos novos de HAS e DM.
porém
A atenção necessária voltada às
condições
crônicas
possui
conhecer
uma
estas
tarefa
envolvem
esta
realidade
é
deficitária já que não temos grandes
alta
evidências quanto à eficiência das
complexidade e abrangência, podendo
medidas e seu custo-eficácia. Dessa
variar desde a promoção da saúde, para
forma,
toda a população, até as intervenções de
políticas
prevenção das condições de saúde
intervenções
voltadas a população em risco, em
condições
prazo de ação curto, médio e longo
organizacionais que favoreçam a gestão
(BRASIL, 2011; GOULART, 2011).
das doenças crônicas e onde as lacunas
Diante do exposto conclui-se
que gestão das DCNT é prioridade, no
entanto,
escolher
as
cabe
aos
formuladores
conhecerem
mais
individuais;
sobre
sobre
institucionais
de
as
e
de conhecimento precisam ser reduzidas
(OPAS-BRASIL, 2010).
estratégias
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Hospitalar e sua aplicação na saúde
coletiva. Cad. Saúde pública, Rio de Janeiro,
AMERICAN DIABETES ASSOCIATION.
22(1):19-30, janeiro de 2006.
Diagnosis and Classification of diabetes
mellitus. Diabetes Care, v.31, p.S55-S60,
jan.2008. Supplement 1.
BRASIL. Conselho Nacional de Secretários de
Saúde. SUS: avanços e desafios. Brasilia,
2006. 164p.
BARCELÓ, A.; AEDO, C.; RAJPATHAK, S.;
ROBLES, S. The cost of diabetes in Latin
America and the Caribbean. Bull. World
Health Organ., v.81, n.1, p.19-27, 2003.
BRASIL. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de
1990. Dispõe sobre as condições para a
promoção, proteção e recuperação da saúde, a
organização e o funcionamento dos serviços
BITTENCOURT, S.A; CAMACHO, L.A.B;
LEAL, M.C. O Sistema de Informação
correspondentes e dá outras providências.
Diário Oficial da União. 20 de setembro de
1990; Seção 1:018055.
KING, H.; AUBERT, R.E.; HERMAN, W.H.
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de
Global burden of diabetes, 1995-2025.
Atenção à Saúde. Departamento de Atenção
Diabetes Care, v.21,n.9,p.1414-31,1998.
Básica. Documento de diretrizes para o
cuidado das pessoas com doenças crônicas
MALTA, D.C. et AL. Epidemiologia e
nas Redes de Atenção à Saúde e nas linhas
Serviços de Saúde ● Volume 15 - Nº 3 -
de cuidado prioritárias / Ministério da
jul/set de 2006.
Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde.
Departamento de Atenção Básica. – Brasília:
MENDES, E. V. As Redes de Atenção à
Ministério da Saúde, 2012.
Saúde. Ed. ESMIG. Belo Horizonte. 2009.
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de
OPAS-BRASIL.
Vigilância
em
Saúde.
Departamento
de
Análise de Situação de Saúde. Plano de ações
A
Atenção
à
Saúde
coordenada pela APS: construindo redes de
atenção no SUS. Brasília. Ed. OPAS/OMS. 2010.
estratégicas para o enfrentamento das
transmissíveis
MINAYO, M. C. S.; HARTZ, Z. M. A.;
(DCNT) no Brasil 2011-2022 / Ministério da
BUSS, P. M. Qualidade de vida e saúde: um
Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde.
debate necessário. Ciência & Saúde Coletiva,
Departamento de Análise de Situação de
v.5, n.1, p.p. 7-18, 2000.
doenças
crônicas
não
Saúde. – Brasília : Ministério da Saúde, 2011.
MS – MINISTÉRIO DA SAÚDE (Brasil).
CAMACHO, F.; ANDERSON, R.T.; BELL,
Secretaria
R.A.; GOFF, D.C.Jr.; DUREN-WINFIELD,
Departamento de Análise de Situação de
V.;
Saúde. A Vigilância, o controle e a
DOSS,
D.D.;
BALKRISHNAN,
R.
de
Department of Public Health Sciences,
prevenção
Wake
transmisíveis.
Forest
Medicine,
University
Medical
Center
School
of
Boulevard,
das
Vigilância
doenças
DCNT
no
em
Saúde.
crônicas
não
contexto
do
Sistema Único de Saúde Brasileiro –
Winston-Salem, NC 27157, USA, 2002.
situação e desafios atuais. Brasilia: OPAS,
DATASUS.<http://siopsasp.datasus.gov.br/C
2005ª. 80p.
GI/tabcgi.exe?SIOPS/serhist/municipio/indicS
P.def>. Acesso em 18 de setembro de 2013.
OPAS-BRASIL.
A
Atenção
à
Saúde
coordenada pela APS: construindo redes de
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e
atenção no SUS. Brasília. Ed. OPAS/OMS.
Estatística.
2010.
Disponível
em
<http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/pesq
uisas>. Acesso em 12 de setembro de 2013.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE.
WANDELL, P.E.; BRORSSON, B. Assessing
Carta de Ottawa. Primeira Conferência
sexual functioning in patients with chronic
Internacional sobre Promoção da Saúde,
disorders by using a generic health-related
novembro,
quality of life questionnaire. Quality of Life
1986.
Disponível
em:http://www.saude.gov.br. Acessado em: 30
de maio de 2013.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE.
Cuidados
inovadores
para
condições
crônicas: componentes estruturais de ação:
relatório mundial. OMS, Brasília, 2003.
QUEIROZ,
F.A.
Adaptação cultural
e
validação do instrumento diabetes – 39 (D39): versão para brasileiros com diabetes
mellitus tipo 2 – fase 1. 2008 Dissertação
(Mestrado em Enfermagem Fundamental) –
Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto,
Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto,
2008.
SCHMIDT, S.; BULLINGER, M. Current
issues in cross-cultural quality of life
instrument development. Arch. Phys. Med.
Rehabil., v84, p. S29-34, 2003. Supplement 2.
SILVA, S. F. Pacto pela Saúde e rede
regionalizadas
de
atenção:
diretrizes
operacionais para implantação. Redes de
Atenção à Saúde no SUS. Campinas, SP:
Idisa, Conasems, p. 151-201, 2008.
VINICOR, F. The public health burden of
diabetes and the reality of limits. Diabetes
Care, v.21, supl.3, p.C15-C18, 1998.
Research, V. 9, P.P.1081-1092, 2001.