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PROGRESSO OU RETROCESSO: UMA REFLEXÃO SOBRE O CONSTRUTIVISMO E
O MÉTODO FÔNICO NOS DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM
SILMARA MADALENA ANGÉLICO1
TANIA MARIA GARRIDO DE SOUZA2
RENATA BIEM HENRIQUE 3
RESUMO: O presente artigo tem por finalidade refletir sobre a teoria construtivista e o
método fônico na alfabetização e letramento de alunos com distúrbios de aprendizagem.
A trajetória educacional brasileira foi influenciada por métodos pedagógicos
determinantes para a aprendizagem, sendo atualmente o Construtivismo uma das
principais teorias utilizadas no processo de alfabetização. O método fônico é bastante
criticado pelos construtivistas, entretanto é necessária uma breve reflexão sobre sua
eficácia para alunos que apresentam necessidades educativas especiais. O objetivo
principal é identificar alunos com dificuldades de aprendizagem e/ou deficiência
intelectual no processo de alfabetização, analisar sua escrita inicial e após intervenção do
método fônico. Na metodologia, inicialmente foram escolhidos 05 alunos com a idade
entre 9 a 17 anos que não conseguiram adquirir a leitura e a escrita. Primeiramente foi
aplicada avaliação diagnóstica da escrita baseada na psicogênese de Ferreiro (1986). Os
instrumentos utilizados foram o Software Alfabetização Fônica e o Livro Alfabetização
Fônica: construindo competência de leitura e da escrita, autoria de Seabra e Capovilla
(2005) e portfólio do processo da aprendizagem. Verificou-se nos resultados por meio de
avaliação diagnóstica que os alunos alcançaram os objetivos propostos pelo método
fônico. Concluímos que o método fônico serve de instrumento de apoio para alunos que
apresentam dificuldade de aprendizagem e/ou deficiência intelectual e ressaltando que
consciência fonológica é uma habilidade de suma importância no processo da
alfabetização e do letramento.
Palavras-chave: Construtivismo. Método fônico. Dificuldade de aprendizagem.
ABSTRACT: This article aims to reflect on the constructivist theory and the phonic
method in literacy and literacy of students with learning disabilities. The Brazilian
educational path was influenced by determinants teaching methods for learning,
Constructivism currently being one of the main theories used in the literacy process. The
phonic method is widely criticized by constructivists, however a brief reflection on its
effectiveness for students with special educational needs is required. The main objective
1
Aluna do Curso de Especialização em Práticas de Alfabetização e Letramento. Pedagoga na área da educação fundamental há 10 anos.
Aluna do Curso de Especialização em Práticas de Alfabetização e Letramento. Pedagoga na área da educação especial há 7 anos.
3
Professora Orientadora. Mestranda em Educação, Pedagoga.
2
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is to identify students with learning difficulties and / or intellectual disabilities in the
literacy process, analyze its initial and after the intervention of the phonic method writing.
In the methodology, we were initially chosen 05 students between the ages of 9-17 years
failed to acquire reading and writing. It was first applied diagnostic assessment based on
written Psychogenesis Smith (1986). The instruments used were the Literacy Software
phonics and the Book Literacy Phonics: building competencies in reading and writing,
authoring Seabra and Capovilla (2005) and portfolio learning process. It was found in the
results through diagnostic evaluation that students have achieved the objectives proposed
by phonics. We conclude that the phonic method serves as a support tool for students
with learning difficulties and / or intellectual disabilities and pointing out that
phonological awareness is a skill of great importance in the process of literacy and
literacy.
Keywords: Constructivism. Phonics. Learning difficulty.
1 INTRODUÇÃO
A
tualmente uma das maiores dificuldades que encontramos nas escolas brasileiras, são
alunos que chegam no 3º ano do Ensino Fundamental sem saber ler, compreender ou
interpretar um texto de forma correta. A Alfabetização é a base para a continuação dos anos seguintes e sem
a aquisição da leitura e da escrita, o aluno encontrará barreiras para prosseguir na sua aprendizagem.
O modelo teórico adotado na educação brasileira é o construtivismo. O Construtivismo desde 1970
vem se intensificando e sendo a principal abordagem teórica no contexto educacional. Inspirada nas ideias
da teoria do desenvolvimento de Jean Piaget orientou a nova tendência de modelo da aprendizagem,
tornando-se alvo de discussões sobre seu uso e eficácia no processo de alfabetização.
As instituições de ensino o interpretam como método, abolindo tudo o que faz lembrar-se do
método tradicional, método alfabético silábico ou método fônico. As famosas sílabas pregadas na parede das
salas de aulas que serviam de pistas visuais passam a ser proibidas por algumas instituições de ensino. A
leitura das famílias silábicas é vista como repetitiva e exaustiva, como era utilizada no método tradicional.
Alguns apoiam a teoria construtivista, acreditando que o aluno desenvolverá a habilidade para aprender a ler
e a escrever com mais autonomia, pois os levam a pensar partindo daquilo que já sabem. Em contrapartida,
há críticas pela demora no processo de alfabetização e consequentemente, o fracasso escolar, pois nesta
teoria compreende que a criança aprende sozinha.
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Os Parâmetros Curriculares Nacionais Brasileiros (PCNs) aconselham que o processo de
alfabetização inicie partindo de textos como função social da escrita e aprendizagem significativa
articulados com a concepção de letramento. Entretanto, livro Pró-Letramento: Programa de Formação
Continuada de Professores dos Anos/Séries Iniciais do Ensino Fundamental: alfabetização e linguagem
(2008) faz uma crítica à forma reducionista quando se despreza no processo inicial de alfabetização, os
aspectos psicomotores ou grafomotores, imprescindíveis para quem inicia a leitura e a escrita.
Há críticas também ao Método Fônico, pois muitos entendem como retrocesso ao comparar com o
método alfabético silábico, mas os métodos apresentam propostas diferentes embora trabalhem com ênfase
no som da fala. Vale ressaltar a necessidade da estimulação da consciência fonológica para o
desenvolvimento da habilidade de perceber os sons da fala e os professores devem compreender que a
consciência fonológica como sendo um processo em que o aluno toma consciência dos sons que compõem a
fala, como afirma Martins (2008).
Ainda o programa Pró-Letramento (2008) considera alfabetização e letramento como processos
diferentes, cada um com suas especificidades, mas complementares e inseparáveis, ambos indispensáveis, ou
seja, não há como escolher, mas alfabetizar letrando.
Dados do Censo (2012), 15% dos alunos ainda não estão alfabetizados aos 8 anos. O governo
realizou medidas e projetos para a alfabetização na idade certa e capacitação para os professores, mesmo
assim o índice continua crescendo.
Soares (2006), afirma que o educador enquanto mediador deverá ser o protagonista na resolução
de problemas das dificuldades de aprendizagem, obter orientações específicas e desenvolver um trabalho
que promova sucesso com todos os envolvidos. Cada criança aprende de um jeito, tem seu próprio estilo de
aprendizagem, desenvolvendo suas habilidades e competências. Entretanto, alguns alunos não alcançam
progresso na alfabetização e não conseguem aprender os princípios da alfabetização por associação entre as
palavras e seus significados como determina o método global.
Diante da proposta do construtivismo o maior desafio é ensinar a ler e escrever crianças que
apresentam dificuldades de aprendizagem. Desta forma, como se alfabetizam as crianças que apresentam
distúrbios de aprendizagem?
Alguns teóricos acreditam que o método fônico, poderá ser utilizado como recurso metodológico
que auxilie alunos que apresentam dificuldades na associação de fonemas e grafemas no processo de
alfabetização, visto que a grande maioria apresentam dificuldades relacionadas à consciência fonológica.
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Justifica-se a relevância do presente trabalho para uma breve reflexão sobre a contribuição do
método fônico como apoio no desenvolvimento da consciência fonológica presente no sistema alfabético
escrito, para alunos que apresentam dificuldades ou distúrbios de aprendizagem.
A presente pesquisa tem como objetivo principal, identificar alunos que apresentam dificuldades de
aprendizagem no processo de alfabetização e analisar sua escrita após intervenção do método fônico.
O estudo abordará os principais autores que discutem sobre o construtivismo, suas contribuições e
principais discussões no processo de alfabetização, principalmente alunos que apresentam dificuldade e
distúrbios de aprendizagem.
2 O CONSTRUTIVISMO E SUA PRÁTICA NA SALA DE AULA REGULAR
Como se define uma educação de qualidade? Pelos resultados dos alunos? Pelos recursos ou pela
organização cujo planejamento proporciona um currículo para os alunos de modo diversificado para que
aprendam?
O construtivismo preza pela análise de conhecimentos prévios dos alunos que determinam a
importância do professor levar em consideração tais conhecimentos para a elaboração do seu planejamento
e as atividades propostas (COLL e outros, 1998).
Os alunos na perspectiva construtivista demonstram ao construírem o próprio conhecimento uma
reflexão constante de seu aprendizado para que sejam no futuro plenamente capazes de refletir em todos os
aspectos no contexto social. Deste modo, o professor cria situações para que o aluno possa compreender,
inventar, construir e reconstruir, conhecer, enfim respeitar o desenvolvimento cognitivo do aluno.
Aprender na proposta construtivista é antes de tudo uma conceituação que valoriza a construção
do conhecimento a partir do pensamento que permite orientar, organizar e reorganizar a todo o momento a
interação com o objeto de estudo.
Ferreiro (1986) prioriza que os alunos busquem por si mesmos sobre o sistema de alfabético, ou
seja, “não deveria ser o de dar inicialmente todas as chaves secretas do sistema alfabético, mas o de criar
condições para que a criança as descubra por si mesmas” (FERREIRO, 1986, p. 60).
Ao analisar as concepções teóricas percebe-se a negação sobre o papel da mediação direta no
processo de aprendizagem, se tratando das dificuldades de aprendizagem, esta ação pedagógica é ineficaz.
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3 O MÉTODO FÔNICO E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA O ENSINO E APRENDIZAGEM
Nos anos 80, toda a bibliografia científica publicada sobre alfabetização, demonstrou claramente a
superioridade do método fônico, motivo pelo qual foi recomendado para o Instituto Nacional de Saúde
Infantil e Desenvolvimento Humano dos Estados Unidos, o Observatório Nacional de leitura na França, o
Departamento de Educação de base de Portugal, entre outros.
Por ocasião da edição do método fônico no Brasil na década de 1980, os autores narram
que o Brasil estava vivenciando o fracasso escolar no ensino fundamental em nossas
escolas, em especial das classes sociais menos favorecidas. Apontam que segundo
pesquisas do Censo Educacional 2001-2002, “mais de um quarto de todas as crianças que
ingressam na primeira série do ensino fundamental fracassa e não chega à segunda série”
(CAPOVILLA & SEABRA, 2010, p. 14)
O método fônico foi adotado oficialmente pelos governos de países que são conhecidos
mundialmente pela qualidade de sua alfabetização, entre eles: Finlândia, Canadá, Austrália, Irlanda,
Inglaterra, Escócia, Suécia, Bélgica, Noruega, França, Estados Unidos, Dinamarca, Espanha, Itália,
Alemanha, Cuba, Israel e Portugal. (CAPOVILLA & SEABRA, 2010)
Sobre fracasso escolar brasileiro, alguns autores buscaram compreender a falha do processo de
alfabetização dos alunos.
Só em 2001, dos 5,98 milhões de crianças matriculadas na primeira série, 26,2% não
conseguiram aprender e fracassaram antes de chegar à segunda série. Ou seja, só em 2001,
a alfabetização brasileira falhou com 1,57 milhões de crianças já em seu primeiro ano de
ingresso na escola (CAPOVILLA & SEABRA, 2010, p. 13).
Podemos definir a dificuldade de aprendizagem, de acordo com (GRIGORENKO,
STERNEMBERG, 2003, p.29) como:
Dificuldade de aprendizagem significa um distúrbio em um ou mais dos processos
psicológicos básicos envolvidos no entendimento ou no uso da linguagem, falada ou
escrita, que pode se manifestar em uma aptidão imperfeita para ouvir, pensar, falar, ler,
escrever, soletrar ou realizar cálculos matemáticos.
A criança com deficiência intelectual nem sempre alcança a adequação do currículo funcional ou
individual. As necessidades exigem meios adicionais muito distintos dos que devem ser providenciados aos
alunos sem exceção. O professor não vai simplesmente ensinar a traçar letras ou decodificar palavras, é
necessário que o compreenda todo o processo de alfabetização, utilizando um método compatível aprender a
ler e escrever e pensar sobre o que a leitura e a escrita representam para os mesmos.
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O método fônico pode ser uma alternativa para a alfabetização de alunos com deficiência
intelectual e/ou dificuldades de aprendizagem. O método consiste em atividades de associação entre
fonemas e grafemas através de atividades lúdicas que leva a criança a aprender a codificar a fala em escrita
e a decodificar a escrita no fluxo da fala e do pensamento.
O desenvolvimento da consciência fonológica está associado ao desenvolvimento simbólico do
aluno. Ao perceber som das palavras (significante) e seu aspecto semântico (significado), estabelece um
processo cognitivo no sentido de compreender a correspondência entre fonemas e grafemas. Quando a
consciência fonológica não é estabelecida, o aluno apresenta dificuldades para aprender a ler e a escrever.
As pesquisas revelam que uma consciência fonológica mal desenvolvida é a principal
dificuldade para um grande número de crianças que apresentam problemas para aprender a
ler. Sendo assim, esses jogos de linguagem também podem ser úteis no programa de
Educação Especial. Em salas de aula de Educação Especial, o programa deve ser iniciado
no nível de dificuldade identificado para cada criança e seguindo deste ponto uma área
específica deve ser dominada antes que se introduzam atividades da próxima. (ADAMS,
2006, p.23)
Não importa a teoria ou o método, o importante é que a criança aprenda. O que define o sucesso
do ensino e a aprendizagem é a acessibilidade que o aluno tem referente ao currículo.
[...] o mais importante, porém, é que, numa escola transformadora, a articulação de
conhecimentos produzidos por diferentes teorias se faz a partir de uma concepção política
da escola, vista como espaço de atuação de forças que podem leva-la a contribuir na luta
por transformações sociais. (SOARES, 1997).
É fato que o alfabetizador tem de conhecer o aluno sobre o qual recai sua atenção pedagógica, mas
é no preparo e na coerência da prática docente é que se pode encontrar solução para grandes problemas.
4 METODOLOGIA
A pesquisa foi realizada por meio de estudo de caso de cunho qualitativo, que busca captar sua
essência. “[...] procurando explicar sua origem, suas relações, mudanças” (TRIVIÑOS, 1987, p.129).
Foram selecionados cinco alunos que frequentam a sala regular e foram encaminhados para a sala
multifuncional de uma Escola de Ensino Fundamental da Rede Municipal de Ensino. Os alunos apresentam
distúrbios de aprendizagem e/ou deficiência intelectuais, não adquiriram a aquisição da leitura e da escrita e
ainda apresentam grande defasagem acadêmica a idade e série/ano que se encontram.
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Os procedimentos e os registros foram realizados durante o ano de 2014. Os alunos serão
identificados por letras de A a E.
4.1 Dos participantes
Aluno A: (9 anos) matriculado no 3º ano e ouvinte no 1º ano, com dificuldade de aprendizagem,
classificado na hipótese diagnóstica da escrita como pré silábico. Identifica todas as letras do
alfabeto.
Aluno B: (9 anos) matriculado no 3º ano, com dificuldade na aprendizagem, classificado na
hipótese diagnóstica como silábico com valor sonoro. Identifica todas as letras do alfabeto.
Aluno C: (12 anos) matriculado no 6º ano, com diagnóstico de deficiência auditiva bilateral,
deficiência intelectual, distúrbio de aprendizagem e linguagem secundária a síndrome de Treacher
Collins e sequência de Pierre Robin, classificado na hipótese diagnóstica da escrita como présilábico. Identifica todas as letras do alfabeto.
Aluno D: (17 anos) matriculado no 7º ano, com deficiência intelectual, classificado na hipótese
diagnóstica da escrita como pré-silábica. Não identifica todas as letras do alfabeto.
Aluno E: (16 anos) matriculado na 8ª série, com distúrbio de aprendizagem sugestivo de desordem
de processamento auditivo central (PAC). Identifica todas as letras do alfabeto.
4.2 Procedimentos
Na primeira etapa foi aplicada avaliação diagnóstica da escrita individualmente, como instrumento
para verificar se a criança compreende o princípio alfabético que regula o sistema de escrita do português,
baseada na psicogênese de Ferreiro (1986). Os alunos foram classificados a partir do desempenho da
avaliação dos níveis: pré-silábico, silábico, silábico com valor sonoro, silábico-alfabético e alfabético.
Na segunda etapa foi traçado um plano de mediação e intervenção individual conforme a
necessidade, utilizando o Software Alfabetização Fônica (Capovilla, Capovilla, & Macedo, 2005) contendo
os seguintes menus:
 Consciência Fonológica: Integram atividades que visam desenvolver diferentes níveis da
consciência fonológica, palavras, aliterações, rimas e poemas;
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 Alfabeto: Contém atividades cujo objetivo é o ensino sistemático das correspondências entre
grafemas e fonemas. O menu é dividido entre Vogais e Consoantes e as letras são apresentadas
entre maiúscula e minúscula, letra de forma e cursiva. O aluno quando está realizando esta
atividade, utiliza fone de ouvido e ao passar o mouse sobre a letra, o software apresenta o seu
som, o que facilita a correspondência entre a letra e som.
Na terceira etapa, serão realizadas atividades do livro “Alfabetização Fônica: construindo
competência de leitura e escrita”, autoria de Alessandra G. Seabra e Fernando Capovilla (2010), que
constitui um programa completo de atividades fônicas, compatível com a interação verbal. As atividades
consistem em exercícios fônicos e metafonológicos que se concentram em desenvolver a consciência
fonológica, implementado de forma lúdica, sistemático e produtivo.
No livro, os autores orientam os professores ao aplicar as atividades, apresente aos alunos os sons
da letra como, por exemplo: diante da letra “F”, o mediador deverá pronunciar o som /f/; e, diante de F,
ele deverá pronunciar o nome éfe. O livro ainda oferece fichas de leitura para cada letra aprendida.
É importante ressaltar que os alunos só passavam para a próxima fase, quando conseguiam fazer a
correspondência grafofonêmica para e leitura e a escrita, de forma a avançar de modo progressivo das
atividades mais simples às mais complexas.
Enfim, na quarta e última etapa foram registrados os avanços obtidos através de portfólio para
verificar se o método fônico foi eficaz para adquirir os princípios da alfabetização e do letramento e que
domine, mesmo com erros, o princípio alfabético da escrita, ou seja, que o aluno saiba que nosso sistema de
escrita é representado pelo som do fonema.
5 DISCUSSÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
Os registros da avaliação diagnóstica da escrita foram realizados bimestralmente, a fim de verificar
o processo da aquisição da escrita conforme figuras a seguir:
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Figura 1 – Aluno A
20/04/2014
NÍVEL PRÉ-SILÁBICO
Fonte: Autoria própria
NÍVEL SILÁBICO COM VALOR
NÍVEL SILÁBICO ALFABÉTICO
NÍVEL SILÁBICO ALFABETICO
NÍVEL ALFABÉTICO
Figura 2 – Aluno B
NÍVEL SILÁBICO COM VALOR
Fonte: Autoria própria
Figura 3 – Aluno C
NÍVEL SILÁBICO
Fonte: Autoria própria
NÍVEL SILABICO COM VALOR
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NÍVEL ALFABÉTICO
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Figura 4– Aluno D
NÍVEL PRÉ-SILÁBICO
Fonte: Autoria própria
NÍVEL SILÁBICO COM VALOR
NÍVEL SILÁBICO ALFABÉTICO
NÍVEL SILÁBICO ALFABÉTICO
NÍVEL ALFABÉTICO
Figura 5– Aluno E
NÍVEL PRÉ-SILÁBICO
Fonte: Autoria própria
O aluno identificado como A, matriculado no 3º ano, ouvinte no 1º ano passou do nível silábico
para silábico alfabético. O aluno ainda continua sendo acompanhado pelo atendimento educacional
especializado. O aluno B que encontrava dificuldades para a aquisição da leitura e escrita passou do nível
silábico com valor sonoro para o nível alfabético, fazendo com que o aluno além de compreender o processo
da escrita e adotou a letra cursiva. Começou a se expressar espontaneamente através de bilhetes e cartinhas,
compreendendo a função social da escrita.
O aluno C, 12 anos, 6º ano com deficiência auditiva bilateral, deficiência intelectual, distúrbio de
aprendizagem e linguagem secundária a síndrome de Treacher Collins e sequência de Pierre Robin,
alcançou os objetivos através do método fônico, passando do nível silábico para o nível alfabético. O aluno
faz uso de Aparelho de Amplificação Sonora (AASI) e do sistema FM (transmissor de FM/receptor de FM).
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O sistema FM funciona, basicamente, como um microfone sem fio, que transmite o som diretamente para o
ouvido. Um microfone (utilizado pela fonte sonora) capta o sinal desejado e o envia para os receptores
(aparelho auditivo) que favorece uma participação efetiva da criança em todas as atividades porque separa
Sinal X Ruído e facilita a percepção da fala com qualidade evitando ruído e reverberação. A troca de alguns
sons do fonema x grafema se dá devido a deficiência auditiva.
Aluno D, 17 anos, 7º ano com deficiência intelectual, não identificava todas as letras do alfabeto e
após intervenção do método fônico, passou do nível pré-silábico para silábico alfabético. Identificou-se que
o método fônico desenvolveu as habilidades metalinguísticas com maior correspondência entre fonemas e
grafemas, componente fundamental para o sistema da escrita.
Aluno E, (16 anos) matriculado na 8ª série, com distúrbio de aprendizagem sugestivo de desordem
de Processamento Auditivo Central (PAC). O PAC caracterizado por afetar as vias centrais da audição
humana, ou seja, as áreas cerebrais relacionadas às habilidades auditivas e de interpretação das informações
sonoras. A principal consequência do distúrbio está no processamento das informações captadas pelas vias
auditivas. Assim, a pessoa ouvirá claramente a fala humana, mas terá dificuldades em decodificar e
interpretar a mensagem recebida. Após intervenção do método fônico, o aluno passou do nível pré-silábico
para alfabético.
A defasagem da idade/série dos alunos é notória. O método fônico e com sua abordagem lúdica no
processo de alfabetização serviram como instrumento que favoreceu ganhos significativos na aquisição da
leitura e da escrita. O conhecimento fonológico garantiu a capacidade de perceber os sons da fala, fator
determinante para o avanço do nível da hipótese da escrita.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através da proposta do método fônico e os resultados obtidos, podemos observar que o ensino
oferecido nas escolas está desvinculado das necessidades acadêmicas dos alunos com dificuldades de
aprendizagem e/ou deficiência intelectual.
A teoria reducionista do construtivismo pode ser destrutiva e seus resultados podem ser
questionáveis. É imperativo que as escolas e os educadores não sejam tão radicais para determinar a teoria
ou o método que, quando mal interpretadas pela escola, podem gerar grandes dificuldades no processo do
ensino e aprendizagem.
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Independente do uso do método fônico ou da teoria construtivista a escola deve não deve adotar
com um modelo ideológico de ensino inflexível, mas criar estratégias e apoio variados para que se efetive a
aprendizagem.
Não basta saber ler e escrever, é necessário compreender e saber fazer uso das práticas sociais da
leitura e da escrita. Para alunos com dificuldades de aprendizagem e/ou deficiência intelectual o processo de
alfabetização e letramento tão importante quanto o ato de saber ler e escrever, é fazer uso da função social
da escrita.
REFERÊNCIAS
ADAMS, M. J. et al. Consciência fonológica: em crianças pequenas. Porto Alegre: Artmed, 2006.
CAPOVILLA, F.; SEABRA, A. G. Alfabetização: método fônico. 5. ed. São Paulo: Memmon, 2010.
FERREIRO, E. Reflexões sobre alfabetização. São Paulo, Cortez, 1986.
GARCÍA, J. N.. Manual de dificuldades de aprendizagem: linguagem, leitura, escrita e matemática.
Tradução de Jussara Haubert Rodrigues. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.
GRIGORENKO, E. L. ; STERNBERG, R. J. Crianças rotuladas: o que é necessário saber sobre as
dificuldades de aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2003.
MARTINS, Vicente. Como a alfabetização carencial afeta a leitura. Disponível em: <http://www.epublicacoes.uerj.br/index.php/soletras/article/view/4889>.Acesso em: 25 fev. 2015.
NOVAES, M.H. Psicologia Escolar. 9 ed. Petrópolis: Vozes, 1986.
PRÓ-LETRAMENTO: Programa de Formação Continuada de Professores dos Anos/Séries Iniciais do
Ensino Fundamental: alfabetização e linguagem . ed. rev. e ampl. incluindo SAEB/Prova Brasil matriz de
referência/ Secretaria de Educação Básica – Brasília : Ministério da Educação, Secretaria de Educação
Básica, 2008.
SOARES, A. R. Dificuldades de Aprendizagem. Questão psicopedagógica? 2005. Disponível em http:
<//www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo.asp?entrID=634>. Acesso em 14 maio 2015.
SOARES, M. Linguagem e escola: uma perspectiva social. 15. ed. São Paulo: Ática, 1997.
TRIVINOS, A. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo:
Atlas, 1990.
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