anna, a voz da russia
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anna, a voz da russia
ws n.ú LAURO MACHADO COELHO / ^ l/n í i da em priada A VOZ DA PRÚSSIA Vida e obra de Anna Akhmátova 'ellaria mobile racho ALGOL editora SAO PAULO 2008 SOBRE AS GRAVURAS Cada capítulo deste livro se abre com um fragmento de poema de Anna Akhmátova. As imagens que os acompanham não pretendem ilustrar esses poemas, que a plasticidade da obra parece dispensar. Procurei usar os recursos da gravura e das próprias matrizes para refletir sobre adensidade de sua matéria poética, e sobre a riqueza e multiplicidade das vozes que ela nos faz ouvir. KLARA KAISER MORI HOUVE UM TEMPO EM QUE SÓ SOMIAM OS MOBTOS, CONTENES DE PODEBTM REPOUSARA Zviózdy smiérti stoiáli nad námi i hiezuínnaia kórtchilas Rus.^ O clima repressivo da política cultural, já vigente durante o leninismo, agrava-se sensivelmente com a subida de Stálin ao poder; e é, natural mente, no campo da literatura que ele primeiro se manifesta com mais força. Em 1929, o Partidonão tinha dificuldade em usar os radicais das organizações bolcbeviques como instrumento para reprimir os escrito res não-comunistas, pois eles consideravam tabu a arte individualista. Poucos eram os intelectuais que protestavam, pois..a escravidão ainda era preferível ao túmulo: "Vamos acalmar osnervos e recomeçar, como sefaz em qualquer fábrica", disse o poeta lliáSelvínski - imagem não despro vida de sentido porque, com-a-su-per-industrialização e a proletarização em marcha, a sociedade soviética era cada vez mais concebida como uma vasta máquina, de queoscidadãos eram meras arruelas, sem significado emsi mesmos, e perfeitamente intercambiáveis. O que seesperava dos escritores era a celebração da auto-suficiência dessa máquina, relatos épicos de suaconstrução; manuais, emsuma, paraa suaoperação. Uma Metrópobs ondenão havia.mais lugares para "sonhadores" quefizessem as pessoas pensarem, ou de "bufões" que as fizessem divertir-se. 1 Eco bylo, kogdd ulyhálsa tolho miónvyi, spokôistmu rad noPrólogo do Réquiem, escrito entre 1^35 . 51940. 2 "As estrelas da morte pairavam sobre nós/ e a Rtíssia inocente torcia-se de dor", no Prólogo do Réquiem. 155 Como desvencilhar-se de sua individualidade sem cair na mais total Logo dep banalidade? "Andamos precisando de quem escreva mal", dizia em192.9 o crítico formalista Borís Éikhenbaum. Num país em que os literatos como dizia uma personagem do Suicídio^, a peça de Nikolái Érdman - Boicotadi "transformaram-se em escravos vermelhosno harém do povo", não é de seespantarque tenba-se desenvolvido a tendência ao masoquismo pois, na opinião do dramaturgo Vladímir Kirsbôn, "o Partido converteu-se numa corrente de ferro atada a nosso pescoço, que nos machuca, mas sem a qualjião_sabemos mais viver". Os doisjmmeirps escritores visados forain leyguêni lyáiiovitçh Zamiátin, que fizera uma caricatura da sociedade comunista em My (Nós), de 192.4; e Borís Andrêievitch Pilniák, cujo Krásnoie Diêrievo (O Pé de Mogno), publicado na Alemanha em .1929, critiçaya a desintegração dos ideais. socialistas..e a corrupção durante a NEP. Os agitadores das instituições bolcheviques precisavam de ajudaoficial para derrubá-los, e a conseguiram semdificuldade. Desde que Pilniákpublicara, em 1925, Póviest oNiepogashiênnoi Lúny (AHistória da Lua Inextinguível), Stálin o mente er Imprensa anos de 1 uin intelf hostilizai em 9 de último p tinha emsua alça de mira, pois essa novela dava a entender queo Líder mandara assassinar o comissário da Guerra, Mikbaíl Frúnze, fazendo submetê-lo a uma cirurgia perigosa e desnecessária, para colocar em seu lugar um pau-mandado, Klimént Vorosbílov"*. Do linchamento em regra promovido pela imprensa, Zamiátin es capou, pois conseguiu emigrar. Mas Pilniák foi humilhado de todas as rnaneiras, forçado a fazer abjetos pedidos públicos de desculpas, e foi escrevei finalmente preso e executado, no auge do Terror stalinista. Dejpouco virado j: adiantou Mikbaíl Bulgákov e Borís Pastemák terem_ renunciado, em protesto, à posição de membro da União dos Escritores (Akhmátova também escreveu a sua cartadeilemissão e encarregou Pável Luknítski de entregá-la; masele nunca o fez). O editoríaLdaXiríemtúrnaia Gaziêta. em 9 de setembro de 1929, denunciava violentamente o "pílniakismo, que está corroendo, coma ferrugem, a yontade de.construçãodcLsocia lismo". Poucos foramL-os-.que não viraram, as costas a Pilniák que, em viciosa, breve, transformara-se.numa verdadeira mina humana línski p lessiênin já se suicidara em 1924, desiludido com a Revolução. 3 Encpnada em 1928, Samouhílsa foi proibida pela censura e só publicada naRússia depois da dissolução da URSS. 4 ENadiéjda Mandelsbtám quem dá essa informação em Hope against Hope. L56 Em; todos os esse hoi Dui Maiakó' lieva, qi insanid; daKGB seus int foi ele condiçc ais total m 1929 eratos - dman lão é de no pois, írteu-se ca, mas Logo depois viriaa vez de Maiakóvski cujo Kjop_(0 Pmcevejo), soberbamente encenado por Meierkbôld em 1929, fora demolido pela crítica. Boicotado pela própria classe dos escritores, quando fez, na Casa da Imprensa, em fevereiro de 1930, a exposição retrospectiva de seus vinte anos de carreira —pois seus colegas temiam vejr seu norne associado a um intelectual que estava em processo de queda livre—, Maiakóvski foi hostilizado pelos estudantes que compareceram a um de seus recitais em 9 de abril. Pouco depois, no dia 14, ele se matoucom um tiro. Seu último poema, do dia 12, é um verdadeiro bilhete de suicida: itch Za- fy (nós), E como eles dizem. uma história que nao deu cena. !) Pé de ígração res^as O harco do amor esjãcelando-se lá-los, e ^925, contra a jtálin o vida. o Líder izendo existência. E assim acertamos contas Por isso, por que recnminarmo-nos uns aos outros com dores ejêridas? car em A quem fica —desejofelicidade. átin es- jdas as s, e foi pouco Io, em nátova oiítski jaziêta, Em seudiário, o escultor Aleksandr Ródtcbenko, que viu o cadáver, escreveu: "Ele estava deitado em seu quartinho, cobertocom um lençol, viradc^para a parede, num si]ênçiq mortal, que falava damediocridade viciosa„.da perseguição vil, da traição medíocre, dainveja e estupidez de todos osque foram responsáveis por esse atodesprezível. Quemdestruiu esse homem de_gênio.e^criou esse borríveLsiiêncio e vazio?". Durante muito tempo se especulou sobre a causa do suicídio de kismo, Maiakóvski. Falou-se em um caso de amor fnisrradn mm Tatiana Táknv- isocia- lieva, que ele conhecera em Paris. Foi sugerida a hipótese de.depre^ão e insanidade provocada pela sífilis. Mas, em 1995, quando Vitáli Shentalínskipublicou V Liríemtúrnikh Arkívakh KGB (Nos Arquivos Literários da KGB), havia lá a declaração do escritor Isaak Báhel, durante um de seus interrogatórios: "A ún^a explicação parag suicídio de Maiakóvski foi ele ter chegado à conclusão, de que era impossível trabalhar nas condições criadas pelo regime soviético". re, em )lução. epois da 157 Para a geração de Liev Gumilióv, a morte de Vladímir Maíakóvski teve omesmo significado simbólico que a de Aleksandr Blók tivera para a de Akhmátova: a idéia de que a chama da esperança revolucionária acadêmic se extinguira, mergulhando o país numa nova escuridão. Nada reflete pelofilhe despedir melhor esse clima do que um poema que Anna Andrêievna escreveu apresente dos Mani em X933. As imagens dos últimos versos - Pilatos e Lady Macheth ten Foram cc tando em vão lavar osangue que têm nas mãos - usam a "linguagem de da gola Esopo" para fazer uma alusão claríssima à tirania staUnista: apaixone Os c Privóliern pákhniet díkii miõd, pyl —sõnitchnym lutchôm, Jiálkoiu —divüdni rot, a zolotó - nitchõm. Vodóiu pákhniet reseãá, i idhlokom - liuhôu No my uználi navsigdá, shtô króviu pákhniet tólko krov. I naprásno namiéstnik Rima myl rúki príed vsiêm naródom, pod zloviéshtchie kríkii tchiérni; i shotlãndskaia koroliêva naprásno s úskikh ladônii stirála krásnyie hryzgui Vdúshnom mrákie tsárskovo dôma.. A liberdade tem o aroma do mel selvagem, Mandeis a poeira —o de um raio de sol, que Lier violetas —o da boca da donzela, e ouro .não cheira a nada. - era urr suficieni O resedá tem um aroma dejígua, e maçã é o aroma do amor. Mas nós sabemos para sempre que sangue só tem cheiro de sangue. poderia Em vão o representante de Roma lavava as mãos diante de todo o povo, misto d( ela o fa Univers As 1 mãe. N; sob os urros sinistros da multidão, anos; v: e a rainha escocesa Akhmá em vão das palmas esguias que ela esfiegava os-borrifiis. vermelhos, naprojünda escuridão do palácio real. hretudc que foi Akhmá No início de 1933, Emma Gershtéin, a amiga dos Mandelshtám, não é V empregou-se, em Moscou, no Escritório Gentral do Departamento de Pesquisadores, ligado ao Sindicato dos Educadores. Quando Ossip e Nadiêjda vinham à.capital, ela os hospedava em seu aparp^ento. Depois nos car Lie teresse' que eles obtiveram a autorização para vir morar em Moscou, Emma de Akl ajudou-os a se instalar em um apartamento da Alameda Nashtchókin, onde a primeira visitante que eles receberam foi Akhmátova. Ali Ger to citad shtéin travou conhecimento com a poeta, pela qual tivera grande ad miração a vida inteira. Em seu diário, ela conta como, em outribro de 1933, "um rapaz distraído e de ar independente, com uma mochila nas costas", a procu rou em seu escritório, pedindo ajuda para encaminhar a sua carreira L58 5 Mikhaíl Olshiévs quando. No fim d para o se a Elaine era para acadêmica. "Ckamando-me formalmente de Emma Grigórlevna, ele se apresentou: 'Liev Gumilióv." Dias depois, ela o reencontrou em casa :ionária dos Mandelshtám, e se deu conta do enorme carinho que Óssip tinha a reflete pelo filho de Nikolái e Anna, seus amigos da juventude. Quando ela se despediu, Liev se ofereceu para acompanhá-la de volta até a sua casa. Foram conversando e Emma diz; "Olhei para o pescoço esguio, saindo da gola de pele, e para a cabeça inclinada, coberta por um boné, e akóvski :screveu )etli ten- igem de apaixonei-me por ele". Os dois envolveram-se entusiasticamente, o que Akhmátova e os Mandelshtám desaprovavam, pois Emma era nove anos mais velha do que Liev. Ela não era bonita, mas possuía uma inteligência muito aguda - era uma grande especialista na obra de Liérmontov - e sinceridade suficiente para desaconselhá-lo de seguir carreira como poeta, pois poderia prestar melhores serviços como historiador. Deve-se muito a ela o fato de Liev ter conseguido entrar na Faculdade de História da Universidade de Leningrado. As meinórias de Gershtéin contêm preciosas informações sobre o misto de admiração e ressentimento que Liev Nikoláievitch tinha pela mãe. Não lhe perdoava tê-lo deixado em mãos da avó durante tantos anos; visivelmente não aprovava a ciranda das relações amorosas de Akhmátova com seus maridos e namorados; esentia ciúmes daatenção que ela dava a Irina Púnina ou aos filhos de Tatiana Smimõva. Mas so- bretudo, "e nisso foi profundamente injusto" - comenta Mikhaíl Árdov^, que foi um de seus melhores amigos no fim da vida —"ele achava_ que Akhmátova não se esforçou para tirá-lo da prisão, ojjueabsolutamente Ishtám, ;nto de ip e NaDepois não é verdade, como todo mundo^sabe". Liev incomodavarxe até com o tom lacônico das mensagens-da mãe, nos cartõespostaisque ela lhe mandava. Via como um sinal de seu desin Emma teresse por ele oque, na realidade, não passava de uma característica típica de Akhmátova aquem, como observou Vladímir Veidlé, num depoimen :hókin, to citado anteriormente, cansava o ato físico de escrever. Nas memórias de ^li Gerrde ad- 5 Mikhaíl era o filho mais novo do satirista Víktor Árdov e de sua mulher, a bela atriz Nina Olshiévskaia. Eles moravam nomesmo prédio dos Mandelshtám, ealojavam Liev em sua casa, . rapaz procuarreira quando Akhmátova estava em Moscou. Relações muitoamistosas estabeleceram-se entre eles. No fim da vida de Liev, Mikhaíl Árdov foi um deseus amigos mais chegados. Entrando tarde ' para o seminário, eletinha-se ordenado pope daigreja russa ortodoxa. Essa declaração foi dada a Elaine Feinstein, numa entrevista que ele lhe concedeu em São Petersburgo, em 2003. 159 Gershtéin, encontramos várias passagens em que ele faz amesma queixa. Portanto, é compreensível ele sentir-se emotivamente compensado ao Foi lado dessa mulher madura, que ocercava de carinho. As circunstâncias, Nadiêjda Desde qu porém, não permitiriam que essa vida a dois tivesse futuro. maticame compulsc quanto fc Durante a década de 1930, intensificaram-se muito os vínculos entre dos com ( Akhmátova e Mandelshtám. Em suas memórias, Nadiêjda relata o co mentário do marido; Arma_Andrêievna-émma mulfier para aamizade, cúpula di não para o amor"; e observa: de 1932, escandah "Fora; Eclaro que o amor desempenhava papel muito importante na vida de de uma d Akhmátova mas, à prirneira crise, todos os seus relacionamentos desmo "Houve q ronavam àsua volta, como um castelo de cartas. E, no entanto, com Óssip, motivaçc a relação ardente e intensamente pessoal que ela tinha resistiu a todos os veterano; testes. [...] AAkhmátova que eu conhecia era uma amiga altiva eapaixo tinha-mc nada, que sempre ficou ao lado de Mandelshtám, com inabalável lealdade, familiar perpétua aliada no mundo selvagein em que vivíamos, uma abadessa que ferente - estava sempre pronta a ir para a fogueira pelas suas crenças. veio com Numa carta que lhe escreveu da Criméia, em 25 de agosto de 1928, na época em que fora obrigado a sair de Moscou, Óssip já dissera; Você sabe que só há duas pessoas no mundo com quem consigo man ter uma conversa imaginária; Nikolái Stepánovitch® e você". O amor pela literatura era, naturalmente, ocimento que os ligava. Akhmátova lembrava-se de uma época em que Mandelshtám esteve em Leningrado Nadiéjds de terroí tamente, Akh tinha ide foi _detid ele ficou para duasjioites dedicadas à sua poesia; "Es^a estudando italiano e lestado. andava doido por Dante. Comecei a ler para ele um trecho do Canto acredito; XXX, aquele em que surge a aparição de Beatriz. Èle começou a chorar. sido víti Fiquei assustada; Oque foi?. Não,_.não.é nada. São essas palavras... e d ^ intelectual errL.que_Óssip._fcaya em sua pre Na < que se f sença era enorme. Emma Gershtéin se lembra que, um dia, quando Liev saiu para acompanhar a mãe até a estação, onde ela pegaria o trem de volta para Leningrado, Mandelshtám desabafou; "Que bom que Anna foi embora. Gom elaaqui, a casa fica cheia de eletricidade!". 6 Gumilióv. 7 Nas lembranças deAkhmátova a respeito deMandelshtám. 160 í A_polLCÍa..sf ria para Cc na Diretori (OGPU). E: Internos (N gurança dc Segurança queixa. ;ado ao itâncias. is entre ta o co- mizade. vida de ; desmo- n Ossip, ;odos os : apaixo- ealdade, ;ssa que Foi Akhmátova a única pessoa que Óssip quis ter a seu lado, e de Nadiêjda, quando chegou a sua hora de confrontação com o regime. Desde que Stálin assumira o poder, a repressão vinha crescendo siste maticamente, em especial diante dasreações à política de coletivização compulsória. Os efeitos, dentro do Partido, tinham sido tão grandes quanto fora dele. MuitosMpparátchiki tinham ficado seriamente penurhados com oshorrores que tiiiham sjdcLohrigados ajníligirà população. Na cúpula do governo, houvera alguns constrangedores suicídios, e o mais escandaloso deles tinha sido, na madrugada de 8 para 9 de novembro de 1932, o de Nadiêjda Allilúieva, a jovem segunda mulher de Stálin. "Foram feitas tentativas de apresentar o fato como a conseqüência de uma doença trágica e inesperada", escreveu Gershtéin emseu diário. "Houve quem pensasse que o gesto desesperado de Allilúieva tivesse motivações políticas, pois elavinha de umafamília de revolucionários veteranos. Outrossugeriram razões puramentepessoais. 'Pohre mulher, tinha-me dito um conhecido, tempos antes, referindo-se à sua vida familiar difícil. [...] Como toda economia estava tomando um rumo di ferente —estávamos a poucos meses da epidemia de fome —o suicídio veio como um dramático lembrete da vulnerabilidade do Líder." Terá 50 man- Nadiêjda se matado, destruída pelo sentimento de culpa com a onda de terror desencadeada por seu marido? Esta é uma pergunta que, cer tamente, nunca poderá ser respondida. Akhmátova já ficara muito assustada, em 1933, quando Liev, que D amor tinha idovisitar um colega do curso de História - um certo Éberman - e1928, dissera: mátova ngrado liano e 1 Canto chorar, 'ras... e ;ua pre- do Liev rem de ; Anna fokdetida junto com.ele pelos agentes da NKVD®. Mas, nessa ocasião, ele ficou apenasnove dias na prisão, e foi solto semque o tivessem mo lestado. Como Éberman desapareceu, e não se teve mais notícias dele, acreditou-se que fosse o colega a pessoa visada pela batida, tendo Liev sido vítima apenas da coincidência de estarem sua companhia. Na época, dentre os intelectuais, um dos poucos a ter idéia do • que se passava no campo era Mandelshtáin. Expulso de Leningrado, i A polícia.secreta.soviécica foi fundada após a Revolução de,1917 como^J^oiSissãçLExxiaordmáriaparaCombater a Contra Revolução e a Sabotagem (aTchekd). Em-xgaa. ela^seuransformara na Diretoria Política do Estado (GPU) e, mais tarde, na Diretoria Política do Estado Unificada (OGPU). Entre 1933 a 1945, passou a chamar-se de Comissariado do Povo para os Assuntos Internos (NKVD). Depois da II Guerra Mundial, haveria de se transformar no Comitê de Se' gurança do Estado (KGB). Após o colapso da URSS, em1991, foi criado o Serviço Federal de Segurança (FSB) da República da Rússia. 161 em 1931, ele andara pela Críméia e Ucrânia, antes de ser autorizado avoltar para Moscou, epudera ver o"enorme Bergen-Belsen em que se transformara o interior russo® , onde cerca de quinze miliiões de pessoas tinham.morrido. Mandelshtám reagiu ao que presenciara no Poema a Stálín, de novembro de 1933' 9*^^ não chegou a escrever, mas memorizara e declamava para seus amigos^°; My jiviõm, poã sobôiu niê strany, esses ve Leonídc numa £ do siste: vitch d< conta b Vivemos sem sentir o chão em que pisamos. náshi riêtchi za àiesiát shagóv niê slyshny, Adez passos de nósjd não se ouve oquefalamos. a gdiê khvárit na polrazgovortsd — tam pripômniat kriemliêvskovo gonsá. Mas onde quer que haja meia-conversa que seja, levô tolstyie páltsy, kak tchiérvíjirní, a slôva, kak pudóvyie guíri, vierní. Em tava coi que pei ças do • ojnontanhês do Krêmliij há defcar sabendo dela. pelo Bu Os deJos desse assassino de camponeses própric são grossos como salsíchôes,' em des "" easpalavras lhe caem dos lábios pesadas como chumbo. Tarakány smiáútsa usíshtcha, i siidiut ievô golieníshtcha. Seus bigodes de barata vibram A vokrúg ieiv sbrod tonkóshiikh vojdiêi, Asua volta, há um rebanho de líderes de pescojofno, on ígráiet uslúgami poluliudiêi. com os quais ele brinca como sefossem animais de estimação. e disse: dedicai e o cano de suas botas é reluzente. za. Tal sht Kto svísrn, kto miautchít, feto khnytchit, on odín lish babatchú i tyshit. Rqsnqm, ronronam, uivam cada vez que elefala com eles ou lhes aponta odedo. la Kak podkóvy kúiet za ukazõm ukdz komú Vpakh, komú v lob, komú vbrov, komú Vglaz. Um _a um,forjam leis parajpiefoepois, ele os acerte com aferradura nacabeça,. no..olho, Shtó ni kazn u nievô —to malína Exadaj;.ez.que..eles-matamr-isso~é-um'pitéu i shirókaia grud osietína. obi sht no baixo-vmtre. Ka lá para aquele ossétio^^ de pescoço grosso. 9 Aexpressão édo historiador Robert Conquest, em Harvest ofSorrows: lhe Soviet Colleaimzation and the Terror Famine, Hutchinson, 1986, 10 Publicada pela primeira vez em Munique, em 1963, na revista Moslakh, edepois em Paris, na Rússkaia Mysl, em março de 1965, opoema, hoje, aparece na edição integral.da_poesia de Mandelshtám - ver Bibliografia - na seção Sükhotvoriénia niê Sohránie vKnígui Stikhóv Ávtora iKiepuhlíkovánnyie (Poemas Não Incluídos nos Livros de Versos do Autor eNão-publicados). 11 Stálin nasceu na Ossétia do Sul, república autônoma pertencente àGeórgia, 162 pe, Po pa torizado Em março de 1934, Óssip cruzou com Pastemák e disse para ele em que esses versos. "Não. te encontrei e não ouvi o teu poema", disse-lhe Bons hões de Leonídovitch, apavorado. No início de maio, Mandelshtám o repetiu numa festa a que estava presente o conde Aleksêi Tolstói, um homem do sistema. Quando Tolstói protestou, defendendo Stálin, Óssip) Emílievitch deu-lhe um sonoro tapa na cara. "Daquele níqmentq em djante , ciara no ver, mas conta Nadiêjda, sua mulher, em suas Memórias, eu sabia que Óssip es tava condenado". O próprio Mandelshtám tinha consciência da empada que pendia sobre sua cabeça, pois.Akhmátova conta, em suas lembran ças do poeta, que em fevereiro daquele ano estava passeando com ele pelo Bulvár Gógolia, e Óssip, parando de repente, tomou-a pelo braço e disse: "Estou pronto para morrer". Curnpriam-se as previsões que ele próprio fizera, em maio de 1931, de que estava próxima a sua queda em desgraça. Num perturbador poema escrito em Khmielnítskaia e humho. dedicado à sua amiga, Mandelshtám dissera: A.A. Akhmátovôi fino, e estimação. Sokhraní moiú rietch navsigdá za príohus nistchástia i cíynia, za smolú krugovôvo tierpiênia, zasóvies:nyi chôgot miãd. Tak vocld unovgoródskikli kolótsakh doljná hyt tchirnd i sladíma, shwhy Vniêi vRojdieswó otrazílas simiú plavníkami zviesdá. I za shtô, otiéts mói, mõi drug i pomóshtchnik grúbyi, lá - niepríznannyi brat, oishichiepiêniets vnaródnoi simiê ohieshtchdm posrróit takíe dnmútchie srúby, shtóhy Vnikh tatarvd opuskdla kniazm na badiê. Lish by tólko liubíli minid éti driévni pldkhil Kak natsiélias na smién gorodkí zashiháiut vsadú, lá za éio vsiújizn prokhojú khot vjiliéznoi rubákhi i dliá kdzni pietróvskoi uliesú toporíshtchi naidú. znmzanon _em fóris, po.esia de '-ÓV Avtora )licados). para Anna Aklimátova Preserva para sempre minha palavra, por seu gosto de infelicidade edefmaça, pela resina da paciência comum, pelo piche honesto do trabalho. Por isso, nos poços de Novgórod, a água deve ser escura eaçucarada, para que nela se reflitam, no Natal, as sete pontas da estrela. 163 Epara isso, meu pai, meu amigo, meufrustrado companheiro, eu, irmão mal conhecido, renegado nafamília do meu próprio povo, prometoJurar um poço de paredes tão estreitas, exílio, dl região dc que nele os tártaros poderiam até enfiar príncipes como sefossem halde. Ao n marido p Áh, se os caàafalsos de outrora pudessem me amar, do modo como, nojardim,jogamos etiquete, como se apontássemos para aprópria Morte, estqujíronto a passar oresto_ de minha vida numa camisola deferro e, como nos tempos de Pedro, oGrande, irei procurar, nafloresta, omachado do suplício. procura < foram tãi mulher d em sua b e o poeta Em suas memórias, Emma Gershtéin relembra as circunstâncias 4?- E?3são Hq poeta. Quando ela chegou ao apartamento da Alameda Nashtchókin, na manhã de 14 de maio, foi Akhmátova quem lhe abriu a porta. Ossip a tinha mandado chamar em Leningrado. Estara em prantos, com os cabelos desfeitos, e me disse que tinha uma enxaqueca terrível, coisa que nunca lhe acontecia. Foi ela quem me contqu tudo. O tradutor David Bródski tinha idp visitar os íylaiidelshtám aquela noite, e ficou até tarde. Ainda estava lá quando os homens da polícia política chegararn. [...] Nádia me contou que um dos responsáveis pela batida tinha buscado, no escritório dosíndico, um documento com o registro temporário deLiev Gumilióv corno hóspede dos Mandelshtám, e^erguntou ameaçadprainente aÓssip: 'O que isso significa?' [O simples fato de usar osobrenome de um poeta um dia executado,porjraícão já era motivo de suspeita]. Akhmátova e ela me disseram que eles vascuIharam o apartainento e examinararn todos os documentos... Durante dez dias, nós nos atormentamos com hipóteses. Por queqinham levado Mandelshtam? Por ter batido em Aleksêi Tolsmi? Ou pelos seus poemas? podia ser franca com Akhmátova, pois não sabia se ela tinha esperanç mas não ter esper encarcer; Óssi] o braço ; por inter se para e do mu do que e perdera; nessa ép^ a vida, ( restaure poesia são capa do que d em conhecimento do epigrama. Assimjque Óssip foi levado para aprisão da Luhiánka, Akhmátova e Pastemák correram ao Krêmlin parajpedira ajuda de um dos mem bros do Comitê Central, um georgiano chamado lunikídze. Consegui ram falar com ele porque Ruslânov, ator eamigo de Borís Leonídovitch, namorava a secretária do alto funcionário. Mas,de nada adiantou ten tara mobilizar pessoas influentes. Stálin não tinha pressa de se vingar do poeta que oridicularizara. Mandelshtám foi condenado apenas ao X64 Na époc; meiro C( Akhmát enviá-lo. tinha m( tar a mâ exílio.jdurante três anos, em Tcliérdyn', às margens do rio Káma,-na região dos Urais. Nadiêjda foi autorizada a acompanhá-lo. Ao receber a ligação da NKVD, perguntando se acompanharia o marido para o exílio, Nadiêjda saiu, em companhia de Akhmátova, à hao, itâncias lameda le abriu procura dos amigos, na tentativa de arrecadar algum dinheiro. Todos foram tão solidários quanto possível. leléna Serguêievna Bulgákova, a mulher do romancista e dramaturgo, deu-lhes todo o dinheiro quetinha em suabolsa. Akhmátova, o irmão de Óssip, Aleksandr Mandelshtám, e o poeta levguêni Kházin acompanharam Nadiêjda até a Liubiánka, na esperança de poderem despedir-se do amigo. Esperaram muito tempo, mas nãoconseguiram estar com ele. Akhmátova arrependeu-se de não teresperado mais, pois Mandelshtám, perturbado pela experiência do encarceramento, convencera-se de que ela tinha morrido. me conehhtám Óssip estava muito deprimido, perseguido porpesadelos, e quebrou o braço ao tentar fugir do hospital, pulando pela janela. Finalmente, porinterferência de Bukhárin, foi-lhes dada a permissão de mudaremse para Vorônej. Ali ele estava tomlmeiite_lsolado de família, ^igos ha uma uens da e do muridp intelectual; mas as condições de vida eram menos duras )nsáveis ato com dshtám, simples aição já do que em Tchérdyn. Apesar de seus sofrimentos, Mandelshtám não perdera a fé em sua arte. "Não sei como é em outros lugares", escreveu nessa época, "mas aqui, neste país, a poesia é algo que cura e devolve a vida, e as pessoas não perderam o dom de beber nela p que lhes restaure a força interior. Aqui, pode-se matar as pessoas por causa da ' s vascu- poesia - um sinal de respeito sem paralelo - porque as pessoas ainda )urante levado (oemas? a tinha são capazes de viver por causa dela". Mas.Mandelshtám, ao contrário do que dissera a Akhmátova, não estava pronto para morrer, e o exílio,, as privações espirituais, mais do que as materiais, e o inedo cor^tante em que vivia quehrantaram-no, destruíram lentamente o ser humano vulnerável que ele era. nátova ^emnsegui- Na época em que Mandelshtám foi preso^ estava sendo preparado oprimeiro Congresso dos Escritores. Embora marginalizada..da-vida literária, ovitch, ou ten- Akhmátoyajrecebeu^tiin formulário para. participar; mas não chegou a enviá-lo. Em suas notas autobiográficas, ela explica; "A prisão de Óssip vingar > tinha me deixado tão arrasada que simplesmente não conseguia levan- nas ao tar a mão para preencher aquele questionário. Durante o Congresso, 165 Bukhárin declarou que Pastemák era onosso melhor poeta —oque dei xou Demián Biédny horrorizado foi muito rude em relação à minha obra e, naturalmente, nem ao menos mencionou Óssip". Ocasal de amigos fazia-lhe uma falta imensa, eelaJlcqu eufórica ao ser a primeira pessoa autorizada a visúá-los em Vorônej, nos primeiros dias de março de iq^6. Nadiêjda relata de modo comovente aalegria e aexcitação em que oreencontro os deixou; Óssip andava rapidamente, de um lado para ooutro, pelo quarto, declamando os poemas que tinha escrito. Queria fazer com ela um balanço de tudo o que produzira na queles últimos tempos, EAkhmátova leu para ele um poema que lhe tinha dedicado . Os vet^o^de Vorônej opõem, com a força de um soco nos dentes, a atmosfera festiva da cidade e a desolação do quarto em que o poeta degredado" vive ern companhia de suas três esquálidas companheiras, Nadiêjda, a Musa e o Medo: Igórod viés stoít olidiníélyí^ Kak pod stiklõm dinévia, stiény, sniég. Pod khrustalôm iáprokhojú niesmiélo. Uzórníkh ánok tak niviérien bieg. Anad Pietrôm vorõniejskim —vorôny, da topoUá, í svód smétlo-zieliõnyi, razmyiyi, mútnyi, v sõnietchnoí pylí, Tini desde qi depois d do Pani ascensãc poucos c o meu a: panhiac Doi onde fu roupa, ( que ten' próxim; mas, ho mandar Ea cidade inteira está trancada em gelo: estimad sob uma redoma de vidro, osmuros, a neve. outros 1 Ando sobre cristais timidamente. Deslizam os trenós de alegres cores. Acima da estátua de Pedro, em Vorônej, há os corvos, os choupos, a cúpula verde-claro esmaecida, desbotada à luz do sol verdade coletivi Num dl dissidêi VKulikôvskoi bítvoí viéiut sklôny ea batalha de Kulikõvo explode nas colinas Naúmo' mogútchiei, pobidínelnoi ziemlí. I topoliá, kak sdvínutyie tcháshí, nadnávni srázu zazviemát silniêi, kak búdto piút za likovdní náshí desta terra de vencedores^^. Kírov é na brátchnom pírí tysiatchi gostm. Epsçhoupo.SAaças.que_se_chocatnn]Am]ninãe, rugem. sobrenós com toda a forca, como se celebrassem npssp júbilo num jantar de bodas para cettuconvivas. An cadeartantes d acusadc A Vkômnatíe opálnovo poéta dijunát Strakh i Múza v svõi tchiriõd. Mas, no quarto do poeta degredado, o Medo e a Musa velam em rodízio, I notch idíot e uma noite cai de trab; que não traz esperança dealvorada. houve í kotóraía níè viêdáit rassviéta. se suspí em mas tinham 12 ABatalha de Kulikõvo ocorreu em 1380, perto de Vorônej. Nela. Dmítri Donskôi derrotou um dos pretendentes ao trono da Horda Dourada, que na época dominava aRússia. Dois anos depois, os tártaros vmgaram-se dessa derrota saqueando Moscou, Mas avitória em Kulikõvo demonstrou que os russos tinham condições de enfrentar militarmente os invasores tártaros. populai Res PCUS- Quândo opoema foi publicado pela primeira ygz, no jornal Lieningrád, em 1940, os quatro últimos versos foram censurados. 166 13 Líder- et que dei1 minha Tinham sido muito difíceis, para todo o país, todos os anos transcorridos desde que Stálin assumira opoder. Mas nada se compara ao que aconteceu depois do assassinato de Serguêi Mirônovitch Kírov, opopular secretário ójica ao do Partido na Federação da Rússia, cujo prestígio estava em vertiginosa imeiros ascensão. Para todos os efeitos, Kíroy era um dos favoritos de Stálin que, ilegría e poucos dias antes de sua morte, lhe dera um livro com adedicatória "Para izira na- o meu amigo e irmão". Na noite de29de novembro, ele assistira, em com panhia do Vójã^, a um espetáculo no Teatro das Artes, em Moscou. Dois dias depois, ao entrar no Smólny, o prédio de Leningrado que lhe onde funcionavam os escritórios do PCUS, Kírov foi morto a queima- amante, ae tinha im soco arto em uálidas roupa, com um tiro na nuca, porum desconhecido, Leoníd Nikoláíev, que tentou suicidar-se, em seguida, mas foi impedido poruma pessoa próxima. Ogoverno viu nisso um atentado contra o poder bolchevique mas, hoje em dia, não se tem mais dúvida de que o próprio Stálin foi o mandante da eliminação de um rival potencialmente perigoso, muito estimado pela população. Alémdisso, Kírov possuía - juntamente com outros líderes que o ditador precisava eliminar - informações sçbre o verdadeiro genocídio perpetrado no campo, durante a campanha de coletivização forçada, que não podiam, de forma alguma, transpirar. Num dos mais importantes romances publicados durante a fase da dissidêncJa-d.agovema-Bréjnev —Os Filhos ãa Rua Arbat, de Anatóly Naúmovitch Rybakóv - a responsabilidade do Vójd pela eliminação de Kírov é abertamente proclamada. derrocou Dois anos Kulikôvo A morte de Kírov erao pretexto de que Stálin precisava para desen cadear o Grande Terror. Nos dias que se seguiram, quarenta mil habi tantes deLeningrado foram deportados para os campos deconcentração, acusados deconspirar para matar Kírov. Quatrocentos outros, sabendose suspeitos, suicidaram-se antes que a NKVD pudessejietêrlos. Prisões emmassa, processos sumários, execuções, exílios, remoção paracampos de trabalhos forçados vieram em avalanche. Sóem dezembro de 1934, houve 6.501 fuzilamentos, incluindo 0-deQaniihares.de.peLssoas_que tinham sido presas. Calcula-se que, até 1938, cerca de dez porcento da população masculina da URSS tenham sido presos ou executados. Responsabilizando pela morte de Kírov a oposição dentro do PCUS - Zinóviev, Kámeniev, Bukhárin e a velha guarda que, no XVII ; cánaros. 3S quacro 13 Líder - eraesse o título que Stálin gostava de sedar. 167 Congresso, reagira mal às proporções faraônica^assumidas pelo_ culto da personalidade Stálin desencadeou expurgos de amplitude sem precedentes, em processos presididos por Andrêi Vyshínski". ^jn- de dar uri Aleksand a levou, c assistia a tudo impotente. À sua vizinhaNina Olshiévskaia, Akhmátova confessou, nessa época, que acreditava nunca mais ser capaz de escrever. Eentão, Liev voltou a ser preso. No início do ano, ao passar por Moscou, vindo de uma viagem de trabalho à região do Don, ele_dis- sera aEmma Gershtéin que talvez fosse preso, ao,yoltar aLeningmdo pois uma conversa ouvida em casa de Púnin fora entendida de modo equivocado. De fato, no outono, a tchiôrnaia Marússia - "MariaPreta", nome popular que se dava ao camburão dos agentes da NKVD - veio busc^q, junto a diversos outros alunos da Faculdade de História acu sados de pertencerem auma organização anti-soviética. Pouco depois, foi a vez de Púnin. Aparentemente, durante um jantar de família, em maio, Púnin tinha tirado fotografias usando, como ílasb, um novo produto químico que produzia um estampido muito alto. Fazendo uma brincadeira de gosto duvidoso, Nikolái dissera que aquele ruído era suficiente para abafar o próprio tiro que matara Kírov. Essa observação teria sido quyida por um certo Arkády, um conhecido de Liev que vinha às vezes fazer pequenos reparos domésticos no apartamento da família, e ele a teiia relatado à se essa história procede, ou que motivação esse Arkády teria para incriminar Púnin: medo, cobiça, ou odesejo de Respe Conh societ dia 2ticas, que a palav mem o iní( ligad publ: ment em c sobrf passt me e serei volv se ai proteger-se apontando o dedo para outro, assim dando às autoridades uma impressão de lealdade. Entre os amigos que se prontificaram aajudar Akhmátova, estavam leléna Bulgákova, eaescritora Lídia Seifúllina, pois ambas tinham con tatos dentro do Partido eda NKVD. Anna.fQÍiniediatamente aMoscou procurá-las, bospedando-se em casa de Emma Gershtéin que, em suas memórias, adescreveu como "um pássaro ferido". Em de novembro, Seifúllina sugeriu que-ela escrevesse diretamente aStálin, pois haveriam 14 Acusador nos processos políticos de 1928, Vyshínskí foi nomeado, em 1931, procurador-geral da Repubhca Russa e, em seguida, da URSS, Recebeu oPrêmio Stálin por ter enunciado a doutrina de que as confissões dos acusados - mesmo quando obtidas sob tortura - podem ser a&itas como aprova definitiva de sua culpa. Nomeado ministro das Relações Exteriores em ^949' foi demitido em 1953. Tudo indica que se suicidou no ano seguinte. 168 No recusav; gem de Um mei tem nes 15 Citadapo 16 Pastemák por Mane elo culto de dar um jeito para que a carta lhe fosse entregue pessoalmente por ude sem Aleksandr Poskrióbyshev, oseu secretário. No dia seguinte, Bons Pllniák a levou, de carro, até o Krêmlin, onde foi entregue a carta: i". lha Nina vz nunca Respeitadíssimo lósif Vissariônovitch, Conhecendo a sua atitude sempre atenta às forças da cultura na nossa issar por sociedade e, em especial, aseus-escntpres, ouso dirigir-lhe esta carta. No 'If? putubro, Nikolái Nikoláievitch Púnin, Professor de Artes Plás ticas, emeu filho Liev, foram presos pela NKDV, em Leningrado. Não sei , ele_clislingrado, ie modo ia Preta", palavra de honra de que eles não são nem fascistas, nem espiões e nem D - veio membros de sociedades contra-revolucionárias. Moro na URSS desde ória acu- o início da Revolução. Nunca desejei deixar este paí^ ao qual sinto-me ligada pelo coração e a mente, embora os meus poemas não sejam mais 0 depois, que acusações há contra eles,lósif Vissariônovitch, masdou-lhe a minha publicados e as resenhas dos críticos façam-me passar por muitos mo lin tinha mentos amargos. Nunca mepermitificar deprimida; continuo a trabalhar lico que abafar o em condições morais e materiais muito difíceis e jápubliquei um ensaio sobre Púshkin. O segundo está noprelo. Em Leningrado, vivo solitária e passo boa parte do tempo doente. A prisão das duas únicas pessoas que 1por um me estão mais próximas acarreta para mim um golpe do qual não sei se equenos latado à serei capaz de me recuperar. Peço-lhe, lósif Vissariônovitch, queime de volva o meu marido e o meu filho. Tenho a certeza de que o senhor não ativação se arrependerá de fazê-lo. de gosto esejo de Anna Akhmátova iridades estavam lanpcon- Moscou 1- de novembro de 1935^^ No mesmo dia, também Bons Pastemák que, de um modo geral, recusava-se a escrever cartas pelos outros, enyiqu aq Líder uma mensa gem de tom inuito corajoso: em suas vembro, averiam Uma vez, o senhor me recriminou por ser indiferente quanto à sorte de meus companheiros". Independente do valorquea vida de Akhmátova •ador-geral nesta e difícil que ela leva, e da qual nunca se lamenta. Peço-lhe, lósif tem para nós e para a nossa cultura, sou testemunha da existência ho lundado a podem ser 15^ Citada por Serguêi Lavróv. eriores em 16 Pastemák refere-se a umtelefonema que recebeu deStálin, quando lheescreveu intercedendo por Mandelshtám. 169 Vissariônovitch, que ajude Akhmátova libertando seu marido e seu filho, A atitude dela em relação a eles é, para mim, a garantia categórica de oferece t sua honestidade. possível I pôde esc Dessa vez, o apelo à clemência foi ouvido. No papel da carta de Akhmátova, Stálinescreveu: "Ao camarada lágoda: libertar da detenção os camaradas Púnin e Gumilióv, e me informar quando isso tiver sido feito". Púnin ficou tão espantado, ao ser solto no meio da noite, que perguntou se poderia esperar até a hora em que os bondes começassem quer atit em uma Qs_procf partidári a circular, de manhã cedo. Embora o relacionamento de ambos tivesse atraído c se desintegrado por completo, Akhmátova ficou imensamente aliviada de apoio ao vêdo em liberdade. nece a st Era à intervenção de suimãe e aos contatos que ela tinha no mundo intelectual que Liev deviaa suasoltura. Mas ele sempre relutou em acre ditar nisso, duvidando do interesse da mãe por ele. A Serguêi Lavróv, ele declarou: "Sofri mais do que os outros, porque me expulsaram da universidade e fiquei na miséria, chegando até a passar fome, porque Púnin ficou com todos os cartões de racionamento da Mamãe, e a proi biu até mesmo de me convidar para almoçar, alegando que 'não podia alimentar a cidade inteira', dando assim a demonstração clara de que me via como um total estranho". Na realidade, Liev não fora aceito por Púnin no Fontánnyi Dom tiverade se ajeitarno alojamento universitário com um outro estudante, um certo Áksel —; mas tomava as refeições diariamente corn a mãe. Os tempos eram difíceis, e a experiência da prisão, quetomara Púnin ainda mais tacitumo e sarcástico, não facilitava as coisas, pois ele estava sem pre pronto a jogarna cara de Anna e Liev que ambosnão trabalhavam e viviam às suas custas. Isso, no dizer de Emma Gersbtéin, "deixava Entre as cada, est Gershtéi Tudo inc 1932, a I da Allih Em : so de Hi recomeç vez tom: pensão ] mente.di posição! ex-espos de arte f em sua ; essas altivas figuras paralisadas, como se tivessem sido amarradas por rando cc um fio invisível". Andrêie Por outro lado, o medo de perder o filho desenvolvera um lado muito possessivo nas relações de Anna com Liev. Ela via como uma Irina de: ameaça o desejo do filho de ir morarem Moscou com Emma, por acre ditar que ela teria condições melhores de ajudá-lo. Mais de uma vez Gersbtéin relata ter sido tratada por Akhmátova como se fosse uma rival. A publicação, em 1998, da seção de suas memórias intitulada Amor Inãesejado, escrita em 1993, causou indignação em Moscou, pois 170 reconhe a morar poema c mente o 17 Eles se tini em 1063. ieu filho, írica de oferece um retrato pouco lisonjeiro da mãe ciumenta, disposta aqual quer atitude para impedir uma ligação que vê com maus olhos. ÉJmpossível entender como uma mulher inteligente como Emma Gershtéin pôde escrever coisas assim sobre Akhmátova , disse Anatóly Náiman em uma entrevista de 2003 com Elaine Feinstein. arta de etenção 'er sido ;çassem Os processos políticos prosseguiam, vitimando os suspeitos de serem partidários de Trótski e, em janeiro de 193^' Maksím Górki, que fora tivesse atraído de volta à URSS, e se transformara num precioso instrumento te, que mundo de apoio ao regime, morreu em circunstâncias nunca elucidadas: perma nece asuspeita de que ele tenha sido envenenado por ordem de Stálin. Entre as pessoas que, nesse ano, desapareceram de maneira mal expli ;m acre- cada, estava a Dra. Aleksándra Kánel, acompanheira do pai de Emma iliviada ram da Gershtéin, que fora a médica de vários altos funcionários do Partido. Tudo indica que Stálin tinha velhas contas a acertar com ela pois, em porque 1932, aDra. Kánel se recusara aassinar ocertificado de óbito de Nadiêj- 5 a proi- da Allilúieva, dando como causa da morte uma crise de apendicite. 3 podia de que so de História da Universidade de Moscou, desde que concordasse em Lavróv, Em 1936, Víktor Árdov conseguiu que Liev fosse admitido no cur recomeçar no primeiro ano —o que ele recusou indignado. Mas cada . Dom — vez tomava-se mais difícil para eles a vida em Leningrado: a pequena ;udante, pensão paga a Akhmátova tinha sido cortada, e isso a deixara total aãe. Os mente dependente de Púnin eseus familiares. Gabin-lhe agora amesma iva sem- posição humilhante em que, antes, estivera aDra. Anna Ahrens —ade ex-esposa rejeitada —pois Nikolái arranjara nova amante, ahistoriadora Ihavam de arte Marfa Andrêievna Gólubieva^k Embora continuasse morando leixava em sua própria casa, Marfa estava sempre no Fontánnyi Dom, colabo n ainda das por rando com Nikolái em seus artigos - função que, antes, coubera aAnna m lado Andrêievna. Agora, ele virtualmente aignorava, sobretudo depois que Irina descobriu estar grávida de um namorado, Nikolái Kamínski, que reconheceu a paternidade do bebê, mas com o qual ela nunca chegou 10 uma lor acre- a morar. O isolamento em que Akhmátova se sentia reflete-se em um ma vez poema como Posliédnii Tost (O Último Brinde), que deixou Púnin seria se uma mente ofendido: itulada 17 Eles se tinham conhecido provavelmente em 1935' Marfa foi sua aluna, ela morreu )u, pois 171 Id piúza razonõnnyi dom, za zlúiujizn moiú, Bebo à casa arruinada, às dores de minha inda, levava c za odinótcheswo vdvoiõm à solidão lado a lado ao vê-lc i za tihiá iá piú ~ za loj miniá príeddvshikh gub, za míónvikh khólod glaz, za to, shto mirjistók i gnih, za to, shto Bog niêspas. e a ti também eubebo ~ aos lábios que me mentiram, aojrio mortal nos olhos, prazer e tamhén moranc Em ao mundo rude e brutal e a Deus que não nos salvou. de sair hreve e Para escapar dessa situação ingrata, Anna-reíugiav^a-se-em-easa de ainigos,. era.M.oscou —o que deixava Púnin inquieto e o fazia mandarIhequantias em dinheiroe telegramas dizendoque a amava e sentia sua falta. Da mesma forma queGumilióv, mesmo depois de seus sentimentos esfriarem, a idéiade perdê-la o incomodava. Mas era como uma exilada que Akhmátova se sentia, forçãdãTà sê afastar de sua cidade —e nada o expressa melhor do que umpoema de 17 de agosto de 1936, e^que ela fala do autor da Divina Comédia exilado de sua Florenca natal. comph na ohr; do cen interna com el Os ex] lejóvsh sos e DANTE DANTE t rogaló ll mio hei San Ciovanni Demiá Inferno, Canto XIX, 1.7 dos in que, p On i póslie smiérti niêvirhúlsa Vstdruiu Florêntsiiu svoiú. Étot, ukhodiá, niêoglinúlsa, étomu iá étu piésn poiú. Fákiel, notch, posliêdnieie obiátie, za porógom díkii vopl' sudby. On iz áda iêi posldl proklidtie i Vráiu niêmog ieiõ zabít— no bosõi, Vrubákhie pokaiánnoi, so smtchoi zajjiônoi nie proshiôl po svoiêi Florêntsiijielánnoi, vierolómnoi, nískoi, dolgojdánnoi. Nem morto eh voltou do na a sua antiga ,Flgrença. inferr Ao deixá-la, não olhou para trás. Épara ele que canto esta canção. Uma tocha. Noite. Ultimo abraço. Seu destino selvagem geme porta afora. Quando esteve no Inferno, amaldiçoou esta cidade, mas não se esqueceu dela ao chegar ao Paraíso. Mas nãofoi ele quem andou, com pés descalços, versid e era juntai interr que s vestido de saco e com uma vela acesa, discei pelas ruas da Florença bem-amada, mesquinha e infiel, que ele tanto desejou... desdt Emjaneiro de 1937, por interferência de Púnin, a Universidade de Leningrado aceitou que Liev voltasse a se matricular no terceiro ano. Isso lhe deu condições de recomeçar as viagens de pesquisa, nas quais 172 U possf 18 Emrus de um lião dc a fase levava como assistente omeio-irmão Orést Vissótski, que tivera enorme prazer em conhecer nessa época (Akhmátova também ficara comovida ao vê-lo, e comentara com Emma: "Ele tem as mãos de Nikolái ). Liev também pôde ir com mais freqüência aMoscou, onde os Árdov estavam morando em condições bastante confortáveis. Em maio, Óssip e Nadiêjda Mandelsbtám receberam a permissão de sair deJVorõnej, eAkbtrmtova os viu em Leningrado, durante uma breve estada de dois dias. Mas, agqra^ a comunidade literária aisolara completamente e, embora fosse uma das inaiores autoridades dn país asa de landartia sua nentos :xilada na obra de Púsbkin, sequer foi convidada para as celebrações oficiais do centenário de morte do poeta. Uma recaída da tuberculose afez ser internada durante alguns dias no hospital Obukbóv, oridqLiey veio ficar com ela, numa inesperada demonstração de cuidado com a mãe. e nada m que al. Os expurgos, continuavam e1937 foi oauge do período chamado de lejóvshtchina'', do nome de Nikolái lejóv, ochefe da NKVD. Qs .proces sos e execuções sumárias se intensificaram, a tortura durante os inter rogatórios era rotineira e intelectuais ligados ao sistema, como o poeta Demián Biédny, publicavam poemas no Pravda, pedindo que osangue dos inimigos da URSS fosse derramado. Bt^bárin não podia imaginar que, pouco tempo depois de proclamar existe algo_de grandioso eousa do na idéiafoemm expurgo geral", seria ele próprio vítima da máquina infernal que celebrara. Um dos alvos desses expurgos foi Mikbaíl Lasórkin, reitopda Uni versidade 4e_Leningrado. Conhecera os pais de Liev, admirava aambos, e era o maior apoio com que ojovem contava dentro da escola. Preso juntamente com sua mulher, Lasórkin morreu sob tortura, durante um interrogatório, efoi atirado por uma janela do prédio da NKVD, para que se pudesse alegar que ele se suicidara. Ainda havia quem tentasse discernir um motivo por trás dessas prisões eexecuções. Mas Aldamátova, desde oinício, lhes respondia: "Vocês têm de entender que, neste país, é possível ser preso por absolutamente motivo al^m .Eos fatos viriam lhe ade de 18 Em russo, osufixo -muna. (.shtcliina) designa um período profundamente ligado apersonalidade de um indivíduo; donde onome da ópera Khovãnshtchma, de Mússorgski, arespeito da lebe- ro ano. ' lião dos Khovânski contra Pedro, oGrande; da mesma forma, será chamada de jdánovshcàima ; quais afase da repressão aos artistas organizada pelo comissário da Cultura Andrêi Jdánov, 173 dar razão pois, em lo de março de 1938, Liev Nikoláievitch, que acabara de entrar no quarto ano do curso de História, voltou aser preso. Desta vez, ocorrera umincidente que pode explicar essa nova deten ção. Ele estava assistindo à aula de um certo Pudânski, professor de Literatura Russa Contemporânea. AgJ^r do Acmeísmo, esse profes sor começou a fazer pouco de Nikolái Gumilióv, referindo-se às suas aventuras em tom de zombaria; "Ele escreveu a respeito da Abissínia, inas nunca passou da Argélia . No depoimento dado a Serguéi Lavróv, Liev conta: "Não_ consegui tolerar isso e, erguendo-me do lugar onde estava, gritei, para que o professor pudesse me ouvir: 'Meu pai nunca do que fizera j bre de 1938, ( novam vez, pc reu em Vladiv foi jog; esteve na Argélia. Mas à Abissínia ele foi, sim.' Pudânski, num tomcon descendente, não levou em conta o meu comentário: 'Qpem entende mais desse assunto, você ou eu?' Não mecontive: 'Eu, é claro! Afinal de contas, ele era o meu pai' ". Essas eram palavras muito ousadas para o clima político da ^oca. Pudânski queixou-se de sua impertinência ao novo reitor, que não tinha por Liev a simpatia de Lasórkin. Épossível que, por esse motivo, ele te nha sido recolhido àprisão da Kriesty onde, desta vez, os interrogadores foram bem mais violentos.do que em 1935. "A torttrra tinha-se tornado lugar-comum ,disse ele aLavróv. "Tentavam fazer as pessoas confessarem eassinarem uma admissão de culpa que ointerrogador já tinha preparado. quis confessar nada, pois nada havia de que eu pudesse me culpar, continuaram a me.espancar durante oito noites seguidas." ^ processo sumário, que durou apenas cinqüenta minutos, e em que osacusaram de planejar o assassinato de membros do A essa No OU' skaia, tiróidf Dr. Vl sido a] profes, Leninj magnt sem a sua an bem -V com O N Partido, Liev etrês outros estudantes.foram condenados a ^z anos de trabalhos forçados emais quatro de suspensão de^seus direitos civis. Após modoi a pronúncia da sentença, em outubro, Akhmátova foi autorizada a rever vivia I ofilho, que tentou esconder dela todos os sinais de maus-tratos na cadeia, para não alarmá-la. Mas ela estava em pânico porque ouvira, em Moscou, rumores de que a sua sentença fora considerada demasiado leve, e ele de ale dos dc que ei ainda podia ser fuzilado. Ea..^sua angústia com a prisão do filho seria redobrada velho pela notícia de que Mandelshtám tinha sido novamente detido. vir m( Aconselhados pelo escritor Isaak Bábel - que, em breve, seria tam bém vítima da perseguição aos intelectuais - Óssip e Nadiêjda tinham ido instalar-se na cidade industrial de Kalínin, às margens do rio Tvier, onde as condições de vida para eles estavam um pouco menos precárias 174 El va sej por is; do esl ssor de do queem Moscou. Mas a autorização para queo casal saísse de Vorônej fizera parte da técnica perversa de Stálin de dar à sua vítima um vislum brede esperança, antes de lhe assestar o último golpe. Em 2 de maio de 1938, o Líder assinou a ordem n° 2817, determinando que o poeta fosse ; profes- novamente detido, acusado de atividades contra-revolucionárias. Desta às suas vez, porém, Óssip não resistiu; exaurido pela tortura eas privações, mor bissínia, reu em27de dezembro de 1938, no campo de trânsito n-3/10, perto de Vladivóstok, ao ser levado para ogúlag deKolyma, naSibéria. Seu corpo foi jogado em uma fossa comum. Mandelshtám tinha apenas 47 anos. acabara a deten- Lavróv, ir onde i nunca om con- ntende inal de A essa altura, personagens novas entraram na vida de AnnaAJchrnj.tqva. No outono de 1937, ela tinha sido mandada para o hospital Kúibíshevskaia, ao lado de sua casa, onde estava sendo tratada de um distúrbio na L^oca. o tinha ), ele te- jadores ornado ;ssarem parado. ;sse me qüenta 3ros do nos de Após a rever cadeia, loscou, !, e ele jbrada tiróide pelo endocrinologista Dr. V.G. Baránov. Ali se encontrou como Dr. Vladímir Gueórguievitch Gárshin a quem, anteriormente, já tinha sido apresentada em casa do historiador Mikhaíl Engelhardt. Brilhante professor de anatomia patológica na Academia Militar de Medicina de Leningrado, o Dr. Gárshin era um homem bem apessoado, de grande magnetismo pessoal, e seduziu Akhmátovapela maneira articulada e sem afetação como falava. Depois que ela voltou para Leningrado, a sua amizade aprofundou-se e eles se tomaram amantes —o que não foi bem visto pelo filho mais velho^dq inédico, lúri, que desentendeu-se com o pai e saiu de casa. NaLeningrado da década de 1930, afligida por crônicos problemas de alojamento, o Dr. Gárshin morava em um apartamento de três cô modos, nurn prédio comunitário do lado sul do cais do Fontanka. Ali vivia em companhia dp sua mulher, Tatiana Vladímirovna Gárshina, dos dois filhos, lúri e Aleksêi, da irmã, lúlia Grigórievna, e da filha desta, que era doente mental. E as condições de vida da família tomaram-se ainda mais espartanas depois que, em 1936, ao se casar, o irmão mais velho do médico, lúri Grigórievitch Gárshin, e sua esposa tiveram de vir morar com eles. ia tam- inham Tvier, ;cárias Embora ligada ao Dr. Gárshin, só em setembro de 1938 Akhmáto va separou-se definitivamente de Púnin. Mas não tinha para onde ir e, por isso, continuou morando no apartamento do Eontánnyi Dom. Sajiu do estúdio que.antes ocupara com Níkolái, e passou para um quarto 175 menor, onde as coisas se amontoavam com a desordem que semgre ca racterizava os lugares onde morou. Foi ali que, em novembro de 1938, recebeu pela primeira vez a visita de Lídia Komiêievna Tchpkôvskaia, destinada a se tomar uma de suas mais íntimas amigas. O se: di: de A filha dq crítico Komiêi Tchukóvski era uma atraente mulher de 31 anos, cujo marido, Matviêi Bronshtéin, fora condenado a dez anos le de de prisão (nunca se soube por que, mas a única explicação plausível é que ele tinha o mesmo nome de família de Liev Trótski). Durante os terríveis anos à frente, Lídia Tchukôvskaia seria a sua amiga mais leal m nl e a confidente a quem Akhmátova mais se abriu. Ê através do olhar se reno dessa mulherde aguda inteligência literária que teremos o retrato do ser humano e da escritora, traçado nos três preciosos volumes dos fora ji Zapíski oh Annie Ákhmátovoi (Anotações sobre AnnaAkhmátova^®), que tória I O devor cobrem de 1938 a 1966^°. afasta Lídia e o Dr. Gárshin revezaram-se em cuidar dn Akhmátova, prin cipalmente agora que, envolvido com Marfa Góluhieva e preocupado violer coma gravidez de Irina - ela teve uma menina, Anna Nikoláievna, em Supre dezembro de 1939 -, o ex-marido não lhe dava mais a menor atenção. Uma outra inesperada amiga^urgira; Olga Vissótskaia, que se preocu por L; pava com ela e vinha constantemente visitá-la. Laços muito afetuosos, Si criados a partir das lembranças comuns que tinham de Gumilióv, liga tudan so. M: máto\ ram-na à mãe de Orést Nikoláievitch. Lemos, no livro de Tchukôvskaia, que 11 a admissão de Anna; "Havia dias em que eu só me alimentava porque Lea, t( olga Nikoláievna estava lá para me fazer comer. De um modo ou de outro, ela sempre conseguia me convencer a cuidar de mim mesma". Frágil e vulnerável quando estava em Leningrado, a ponto de pre cisar que Lídia a acompanhasse de volta para casa, quando ia visitá-la. pois tinha medo deandar sozinha na rua, ànoite, Akhmátova recupera vaenergias iiisuspeitadas, cada vez que ia a Moscou e se hospedava em casa dos Árdov. Ela não perdia aesperança de fazep junto ao Kr^lin, contatos que a pudessem ajudar a libertar Liõva - ou, pelo menos, a atenuar as condições de seu cativeiro. Enquanto isso, Liev Nikoláievitch estava cada vez mais convencido de que a seusobrenome devia a nova estada na prisão. Ele contou a Serguêi Lavróv: 19 VerBibliografia. 20 Os dois primeiros volumes tinham sido publicados em Paris, pela YMCA Press, em 1976 e 1984; a edição russa integral saiu em Moscou, pela Soglásie, em 1997. 176 de Ih ainda mach vores, novo A procr sido ] perar pacot um d A son a voz usível é OJnterrogador, capitão Lódyshev, me disse que eu tinha sido preso por ser filho de meu pai, E acrescentou: "Não gostamos de você por causa disso", Era absurdo pois, em 1936, todos os participantes da conspiração de Tagántsev já tinham sido presos e fuzilados, Mas o interrogador não levou isso em conta e, depois de me espancarem durante oito noites, deram-me para assinar uma confissão que nem consegui ler, pois estava muitomachucado. Mais tarde me disseram que esse Lódyshev foi fuzilado, rante os não sei se em 1938 ou 1939, tngre ca- 1938. ôvskaia, illier de lez anos lais leal lava em O interrogador de Liev não tinha sido o único, A Revolução estava devorando seus próprios filhos, Genrikh lágoda, o ex-chefe da NKVD, fora julgado e executado. Seu sucessor, Nikolái lejóv, que passou à His tória por ter dado o seunome à fase mais negra do Terror, também foi afastado do cargo, e desapareceu, tudo levando a crer que teve morte violenta, Ein conseqüência da queda de lejóv, Liev, e os outros dois es tudantes julgados junto com ele, puderam enviar ao Colégio Militar da Suprema Corte da União Soviética um pedido de revisão de seuproces so, Mas o terreno se estreitava sobosseus pés, pois lejóv foi strbstituído por Lavrênti Béria, ainda rnaisimpiedoso. Sufocada pelo desespero de ver seu filho único encarcerado, Akhmátovarecebeucomouma marteladaa lacônica mensagem de um amigo que lhe telefonou nos primeiros dias de 1939; "Nossa amiga comum, Lea, teve um filho; e a nossa amiga^Nádia ficou vitiva", Essa foi a maneira de lhe avisarem que Mandelshtám tinha morrido, Isso a fez sentir-se ainda mais sozinha e desamparada. Nesse meio tempo, ferido por um machado que lhe caíra no pé, no.campo onde trabalhava cortando ár vores, Lievfora trazido de volta à Kriesty, em,Leningrado, para esperar novo julgamento. Ali, durante^meses^ a fio —às vezes acompanhada por Lídia, que Jêmlin, procurava notícias do marido, embora Bronshtéirra essa.altura já,tivesse olhar se1 retrato nes dos a^®), que va, prin- icupado vna, em atenção, preocu:etuosos, ióv, ligaôvskaia, porque 0 ou de ssma". 1de pre/isitá-la, ícupera- lenos, a íievitch . a nova sido fuzilado -, Anna esperou, na fila, ao lado,dasoutraa mães, na es perança de saber algo sobre Liev, ou de poder confiar a um guarda um pacote de alimentos para ele, Diante.^daqueles muros silenciosos na.sceu um dos maiores monumentos da literatura russa na fase negrado Terror, m 1976 e À sombra da penitenciária de Leningrado, Anna Andrêievna tomou-se a voz da Rússia, a porta-voz de todo um povo que sofria. 177 Éta jénshtchina holná, étajénshtchina oàná, muj Vmoguílie, syn v turmie época usado; Ei especi (Esta mulher está doente,/ esta mulher está sozinh^,/ o marido no túinulo, o filho na prisão); é assim queAkhmátova sedescreve, no poema que o e inte: em que evoca os longos dias passados diante da Kriesty. nos horários de. visita aos presos. image Rekviem: tzikl snkhotvoriênii (Réquiem: Um Ciclo de Poemas, 1935/ 1957}, durante muito tempo censurado na URSS, é uin dos rnais impres sionantes testemunhos literários dosofrimento individual sob a opressão política. Mais doque em qualquer outro deseus poemas, fica patente, nes ta obra magistral, como Akhmátova consegue efetuar o trânsito_entre o fora d imediatismo da experiência índhriduiL¥a eternidade de um sentimento universal. Do"eu", Akhmátova passa ao mundoexterior; e seus lamentos pelo filho aprisionado, sem nada perderem de sua qualidade essencial devas mãe d "tu" - ( e do s N a verc n a vo de sol mente pessoal, transformam-se no grito dedor detodos aqueles que foram uma i opriraidos e degradados duranteosanos da tirania stalinista. eram Ela teve de se calar quando Mandelshtám foi preso; teve de baixar a cabeça a ataques estúpidos de críticos medíocres,, de fazer traduções para sobreviver; de escrever poemas de circunstância louvando Stálin, numa tentativa desesperada deconseguir a libertação do filho ("Kidálas Vnógui palatchú", confessa no Réquiem: "eu me atirei aos pés de teu tinha carrasco"). Mas todas essas humilhações são resgatadas pela grandeza desse ciclo de poemas, em que a dor de todo um povo é transmudada em algo de eterno e universal, pelo próprio paralelo que ela esta^ece entre a dor individual de cada. mãe e a da Mater Dolorosa, ao pé da procl; sofrir quem tamb( dade. cruz um queseu Filho é martirizado, símbolo do sofrimento perene de todas as mães da Humanidade. Não égratuito ofato de.o ciclo ser formado poruma séri.ejie_pequenos poemas que poderiam ser facilmente memorizados e carregados, em segredo —de cor, dentro do coração —, por aqueles para quem tinham um sentido especial. Assim o poema foi preservado, por muito tempo, por Akhmátova, Tchukõvskaia esuas confidentes mais chegadas. Operi go de ser apanhado com essas palavras escritas em um papefera grande /lemais para que elas pudessem se arriscar. Nesse sentido, acomposição do Réquiem étípica da maneira como os russos se comunicavam, naquela 178 ("Nãc meu S nik (E uma lióv ' Citado éppcaj journadinguagem velada, sem-deixar. rastros que pudessem ser usados contra eles numa perseguição. Embora Réquiem seja um lamento por seupovo, num momento tão específico da história da URSS, Akhmátova o constrói de tal maneira que o ciclo transcende a sua era, e transforma-se.-nuirL.grito universal e intemporal contra qualquer tipo de perseguição ou intolerância. As io no túo poema horários imagens que o percorrem com a força brutal de um filme - os rostos, ^^rih935/ s impres- devastados pela dot e.o medo, das mulheres que esperam do lado de fora da prisão; a esposa que assiste impotente a prisão de seumarido; a mãe desolada que espera pelaMorte e conversa com ela chamando-a de opressão "tu" - conyertern-se em ícones, da universalidade da crueldade humana e do sofrimento-que-ela-provoca. NoRéquiem, explode a função do poetacomo aquele que ousa dizer a verdade. Uma das finalidades fundamentais da poesia é converter-se na voz do sofrimento e da redenção, é ser uma arma de resistência e de solidariedade. Eo poema celebra a importância da memória como uma força que nos ajudará a superar o mal. "A dor e o sofrimento não eram o que ela mais temia", escreve John Malchunik^^. "Akhmátova tinha muito mais medo de esquecer o que significavam essa dor e esse sofrimento, e de trair, assim, não só a si mesma, .mas a todas aquelas a quem emprestava a sua voz. Elafoi a cantora do amor e da ternura, mas também da força que se ergue contra o horror, com inabalável integri dade." A mesma mulher que, em 1917, já se recusara a deixar a URSS, proclama, na epígrafe do Réquiem: 2nce, nes- 3_entre o itimento amentos íssendal- ae foram e baixar aduções o Stálin, 'Kidálas s de teu randeza mudada tabelece "Niet, i niêpod tchújdym niehosvódom, (...) iá hylá togdá s moím naródom, tam, gdiê mõi národ, k niestchdstiu, byl". o pé da :rene de ("Não, não foi sob um céu.estrangeiro, (...) eu estava bem no meio de meu povo,/ lá onde o meu povo em desventuraestava."). Sóem 1999, ao ser publicado o primeironúmero da revista Istótchnik(Nascente), soube-se que em 17 de julho de 1939 tinha sido emitida uma resolução do Comitê Especial da NKVD, implicando Liev Gumilióv "numa organização de agitadores anti-soviéticos"; e que, durante epeque- idos, em tinham 3 tempo, :. O peri- .grande posição naquela 21 Citado por Robin Kemball num anigo para a Russian Reinew de julho de 1974. VerBibliografia. 179 -J onovo inquérito, uma das falsas acusações surgidas contra ele foi ade que sua mãe oincitara a assassinar Andrêi jdánov, que suBstituíra Kírov como líder do Partido em Lenirigrado. Apesar das esperanças de Akhmátova de que ofilho fosse libertado, ele foi novamenm condenado, em 18 de agosto, acinco anos de trabalkqs forçados, no campo de Nórilsk, ao norte dq país. Em 28 de agosto, mandaram lhe avisar que, ao ser mandado de volta para o norte, Liev precisaria urgentemente de vestimentas quentes. Lídia ajudou Akhmátova, inteiramente desnorteada, amobilizar os amigos, conseguindo daqui e dali botas, casaco, cachecol, luvas, suéteres. Depois que Tchukôvskaia aajudou a arrebanhar todas essas roupas, Anna lhe disse; "Não vou te agradecer. A gente não agradece por uma coisa dessas". Curiosamente, a atitude, em relação aos prisioneiros, nos campos siberianos, era menos rigorosa do que na Rússia européia. Em Nórilsk, permitiram aLiev estudar geologia e, no final de seus anos de pena, ele se tomara um hábil técnico de laboratório, capaz de trabalhar com o cobre, o níquel e a platina explorados ali. As condições de vida, po rém, não eram melhores no norte: "comparada com o campo, a frente de batalha era uma estação de veraneio", disse ele a Lavróv. O ressenti mento contra a mãe, todavia, nãodiminuíra pois, emcarta a Emma, ele reclama que Anna nunca lhe escreve e acrescenta, ironicamente: "Mas tenho a certeza de que está com muito boa saúde". Não estava. Aos ^problemas cardíacos, distúrbios da tiróide "e crises recorrentes de tuberculose, tinha vindo juntar-se a neurite traumática, do Fo é a ir poucc que, \ agora dgvjia DâClQ d L resultado das muitas horas que passara de pé, na fila, exposta ao frio. E a isso juntava-se um outro motivo de preocupação: Púnin, agora, a são, t estava pressionando para sair definitivamente de seu apartamento, eela não tinha para onde ir. Os dois poernas reunidos sobjp títulq^de RazIíu porqi capa: (Ruptura), escritos mais tarde, parecem fazer obalanço do que fqi essa outrc fase penosa em sua vida: Desd ^^ a 1. 1. Niê niãiéli, niê miétsiatsy —gódy rasstavális. I vot nakoniéts Nem semanas nem meses —anos levamos nos separando. Eis,finalmente, kholodõk nastpiáshtchei svobódy ogelo da liberdade verdadeira i siedôi nad uiskdmi umiéts. eas cinzentas guirlandas nafachada dos templos. 180 ser] nesse enco Não mais traições, nao mais enganos, e não me terás mais dejicar ouvindo atéo amanhecer, enquantojlui o riacho das provas Bólshíe met nié izmiên, ni pnedáielstv, i do sviéta nié siúshaiesh ty. da minha mais perfeita razão. niesravniênnoi moiêi pravoty. impo de 1940 1940 iado de E como sempre acontece nesses dias de ruptura, à nossa porta hateu p espectro dos primeiros dias e, pela janela, irrompeu o salgueiro prateado com toda a encanecidamagnifcência de seus ramos. I kak vsiegdá hyváiet v dni razríva, k nam postutchálsa prízrak piérvykh dniêi, ; foi a de tuíra Kí- inças de :ondena- as quen- ilizar os 15, suéte>roupas, )or uma E nós, perturbados, amargos mas altivos, não ousamos, erguer do chão osnossos olhos. Com voz exultante, o pássaro põs-se a cantar campos o quanto um do outro tínhamos gostado. Nórilsk, ena, ele 25Í9/1944 : com o ida, po1 frente ressenti- ma, ele e; "Mas e^crises imáúca, ao frio. •gora, a :o, e ela •Razlív foi essa Icak strúitsapotók dokazátelstv 1 vorvalds siriéhrinaia íva sidym velikoltépim vietviêi. Nam, isstupliônnym, górkim i nadmiênnym, niézmiéiushtchim glazá podmát s ziemlí, zapiéla ptitsa gólosom hlajiênnym o tõm, kak my drug drúga hiriglí. 25/9/1944 Era umafase da qual elasaía sem rancor. Qpando Tchukôvskaia se preocupou porque ela não tinha para onde ir, ao sair do apartamento do Fontánnyi Dom, Anna lhe respondeu: "Esta é a minha vida, assim é a minha biografia. Quem pode recusar viver a própria vida?". Aos poucos, ela tinha aprendido a aceitar essa biografia e, damesrna. forma que, um dia, Mandelshtám lhe d^sera: "Estou pronto para morrer", ela agora podia dizer: "Estou pronta para viver". A sua força estava na ca pacidade de encarar o que quer que estivesse à sua frente. Na realidade, quando o Terror mergulhou.todo o país ena confu são, Akhmátova não estava despreparada. Foi uma das poucas pessoas capazes de dizer aquilo que precisava ser dito: a vida tem deservivida, porque é__ainarga e difícil, mas não existe nada de melhor. Enquanto outros ficavam em estado de choque, totalmente desarvorados, ela, por estranho que isso possa parecer, encontrou-se_em terreno familiar. Desde 1921, quando Gumilióv fora executado, Anna sabia o que. era. a sensação de ver o mundo lentamente desmoronando à sua volta. E nesse momento em que o Terror fazia a noite baixar sobre todo o país, encontrara instintivamente, dentro de si mesma, a força para resistir. 181