João Brigola O privado que se faz público – os viajantes visitam
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João Brigola O privado que se faz público – os viajantes visitam
João Brigola O privado que se faz público – os viajantes visitam museus e jardins botânicos (sécs. XVIII e XIX) I – Os livros de viajantes enquanto objeto de investigação Linhas de investigação tradicionais a)Literatura (inglesa, alemã, francesa): recolha de manuscritos em bibliotecas e arquivos estrangeiros; inventário de edições raras; estudos sobre viajantes ‘lusitanistas’. b)História da cultura – reformas pombalinas na cultura (sobretudo espanhóis); polémicas e controvérsias públicas (exp: Camilo Castelo Branco e a Princesa Contemporânea de Rattazzi; Portugal); Oliveira livros de Martins viajantes e a História considerados espiões (exp: José Cornide y Saavedra, 3 vols); viajantes escritores famosos (exp: William Beckford; Hans Christian Andersen e a família O’Neill); história militar (uma boa parte dos livros de viajantes são de militares ingleses); 1 Linhas de investigação mais recentes c) Museologia (coleções, gabinetes, museus e jardins botânicos – perto de 90 textos entre 1700-1900) d) Património Cultural [exp: Carla Costa, Património português visto pelos viajantes estrangeiros em Portugal na 2ª metade do séc. XVIII, Mestrado em Teorias da Arte, FBAL, 2004; Trabalhos de Maria João Neto sobre os textos do arquiteto irlandês James Murphy: Batalha, Évora, etc e a divulgação europeia do manuelinoA e) Estudos de urbanismo: 2 encontros da Casa de Fronteira – ‘Como viam os viajantes a cidade de Lisboa’ f) História da arte – Encontro Arte & Viagem (IHA/FCSH) g) Importância da iconografia inserta em muitos livros de viajantes: desenhos, esquissos, aguarelas, gravuras . Onde adquirir ou consultar: Edições contemporâneas Coleção BNP (Iniciada por Castelo Branco Chaves) Livraria Palavra de Viajante, Rua de S. Bento, nº 30 2 Consultar Fundo Geral da BNP Fundo Livraria Duarte de Sousa (Reservados BNP) - Palácio Foz Centro de Estudos em Literatura Comparada (FCSH/UNL) II – “Há livros e livros de viagens” – reflexões sobre a credibilidade dos testemunhos 1. O Grand Tour: da época isabelina (séc. XVI) à segunda metade do séc. XIX. . O século das Luzes é o período por excelência do Grand Tour – as elites do Norte descobrem os territórios, a história e o património dos povos do Sul. Lord Chesterfield (séc. XVIII): “O Grand Tour, com as suas amarguras e delícias é, afinal de contas, uma metáfora da ‘viagem’ da vida” . A partir da 2ª metade do séc. XIX, o caminho-de-ferro, com a agência de Thomas Cook, com os wagons-lits de Georges Nagelmackers, e com os guias Baedeker a viagem deixou de ser uma arte e uma aventura. O primeiro Guia Baedeker, em língua alemã, sobre Espanha e Portugal, foi editado em 1898 e uma segunda edição em 1900. 3 John Ruskin (séc. XIX) “Os homens não viram grande coisa do mundo andando lentamente, imagine-se se conseguirão ver mais andando depressa!”. 2. A Península Ibérica como destino: . Inventário de viajantes por Espanha e Portugal: R. FoulchéDelbosc1, Arturo Farinelli2, Rose Macaulay3 . Quem são os viajantes? Nacionalidade, profissão, objetivo da visita . Quanto tempo se demoram no país? . Que localidades visitaram? . Conheciam ou utilizavam a língua portuguesa? Paw (Holandês, 1770) "Podemos estabelecer como uma regra geral que, em cem viajantes, existem sessenta que mentem sem interesse, por imbecilidade; trinta que mentem por interesse, ou se se quiser, por malícia; e, enfim, dez 1 Bibliographie des voyages en Espagne et en Portugal, Paris, H. Welter, 1896. 2 Viajes por Espana y Portugal desde la Edad Media hasta el siglo XX, Roma, Reale Academia d'Italia, 1942-1944, 3 vols. 3 They went to Portugal, Penguin Books, 1985; e They went to Portugal too, Manchester, Carcanet Press Limited 1990. 4 que dizem a verdade. Nesta multidão importuna de viajantes que se metem a escrever encontramos poucos que mereçam ser lidos »4. Laurence Stern (Irlandês, séc. XVIII) “Não é fácil estabelecer a identidade, ou ao menos o carácter geral do viajante tipo. Há os ociosos, os curiosos, os mentirosos, os orgulhosos, os hipocondríacos, os criminosos, os miseráveis, os inocentes, além dos viajantes sentimentais… “ As mulheres: viajantes e escritoras Entre os viajantes do nosso repertório, encontram-se várias ‘mulheres-escritoras’, também este um dos frutos do século das Luzes, que se prolongará pelo Romantismo - Janet Schaw, Laura Permon, Clarissa Trant, Bertha Grey, Marianne Baillie, Julia Pardoe, Dora Quillinam Wordsworth, Emmeline Stuart-Wortley, Catherine Charlotte Lady Jackson, Maria Lettizia Rattazzi, Jane Leck. No conjunto dos voyageurs europeus, elas inserem-se com notável agilidade num género literário relativamente novo e, em muitos casos, fornecem os melhores e mais inovadores testemunhos, revelando-se viajantes sábias e lúcidas, como Madame Dubocage, Lady Mary Wortley Montagu e Hester Lynch Prozzi 4 Texto do holandês Paw, Recherches sur les Américains, 1770, t. III, p. 199, cit. in Numa Broca, "Voyages et géographie au XVIIIe siècle", Revue d'histoire des sciences et de leurs applications, t. XXII, n.º 2, 1969, p. 144. 5 Bons exemplos de trestemunhos (opiniões judiciosas e certeiras; rigor; conhecimento; ausência de preconceitos) 1. Carl Israel Ruders (sueco) 2. H F Link (alemão, berlinense) 3. Robert Southey (inglês) 4. Geoffroy Saint-Hilaire (francês) 5. Attilio Zuccagni Orlandini (italiano, florentino) 6. Louis François de Tollenare (francês) 7. Adrien Balbi (italiano, veneziano) 8. H.C. Anderson (dinamarquês) 6 III – Revisitação de um lugar de Lisboa recorrentemente citado – o primeiro e mais antigo espaço museológico nacional (Ajuda) Espaços Públicos. Vidas Privadas . A ‘desprivatização’ do espaço público no séc. XVIII (Philips Ariès) . Sociabilidade convívio. Espaço público : o local onde se desenvolve a discussão crítica conduzida pela opinião tida por pública (Roger Chartier) 7