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NOVOS DESAFIOS DA PESQUISA EM NUTRIÇÃO E PRODUÇÃO ANIMAL Edição 2013 Pirassununga – SP 2013 NOVOS DESAFIOS DA PESQUISA EM NUTRIÇÃO E PRODUÇÃO ANIMAL Edição 2013 Organizadores Prof. Dr. Luis Felipe Prada e Silva Prof. Dr. Marcos Veiga dos Santos Prof. Dr. Alexandre Augusto de Oliveira Gobesso Prof. Dr. Augusto Hauber Gameiro Programa de Pós-Graduação em Nutrição e Produção Animal ISBN: 978-85-60014-23-1 Edição 2013 Os organizadores autorizam a reprodução total ou parcial deste trabalho, para qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte. O conteúdo e revisão ortográfica são de inteira responsabilidade de seus autores. Edição Editora 5D Rua Siqueira Campos, 2.090 - 1º andar Pirassununga - SP - CEP: 13630-010 Tel.: 19 3562-1514 Email: [email protected] www.5dpublicidade.com.br Capa e Editoração Eletrônica Alexandre Rais Ana Rios Duran Paula Bertanha Izepom Karina Camacho Luiza Petruz DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO-NA-PUBLICAÇÃO (Biblioteca Virginie Buff D’Ápice da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo) SUMÁRIO APRESENTAÇÃO CAPÍTULO I 009 Utilização de óleos essenciais na dieta para equinos CAPÍTULO II 027 Avanços na manipulação da fermentação ruminal com óleos essenciais CAPÍTULO III 047 Qualidade sensorial da carne CAPÍTULO IV 063 Uso da glutamina na nutrição de suínos CAPÍTULO V 083 Simulação de eventos discretos como ferramenta de avaliação e planejamento da produção animal CAPÍTULO VI 105 Estratégias nutricionais na produção avícola CAPÍTULO VII 125 CAPÍTULO VIII 148 Utilização de glicerina bruta na alimentação de bovinos Qualidade de casca de ovos produzidos por aves acima de 50 semanas de vida CAPÍTULO IX 157 Uso de beta-agonistas na alimentação de bovinos de corte CAPÍTULO X 182 CAPÍTULO XI 199 Aditivos prebióticos e probióticos em alimentos para cães e gatos Qualidade do leite cru e práticas de manejo em fazendas leiteiras CAPÍTULO XII 224 Aminoácidos em dietas de suínos: metabolismo, funções e nutrição CAPÍTULO XIII 247 Estratégias de mitigação e metodologias para mensuração da emissão de metano em bovinos CAPÍTULO XIV 266 Efeito de fontes lipídicas e suas interações com aditivos melhoradores de desempenho na nutrição de frangos de corte CAPÍTULO XV Dogmas e paradigmas na análise de fibra 291 CAPÍTULO XVI 313 A interação homem-animal e sua dinâmica em sistemas de produção APRESENTAÇÃO A realização do VII Simpósio de Pós-Graduação e Pesquisa do Departamento de Nutrição e Produção Animal-VNP é uma iniciativa do VNP e do Programa de Pós-Graduação em Nutrição e Produção Animal (PPGNPA). O evento tem como objetivos divulgar e discutir os principais projetos de pesquisa desenvolvidos pelos orientadores e colaboradores do programa, e integrar os orientadores, alunos de graduação, pós-graduação e funcionários com as diversas atividades de pesquisas desenvolvidas VNP. Esta é uma oportunidade ímpar para o intercâmbio e a discussão de idéias e para ampliação dos horizontes da pesquisa e do ensino entre docentes, alunos e colaboradores. OS ORGANIZADORES CAPÍTULO I UTILIZAÇÃO DE ÓLEOS ESSENCIAIS NA DIETA PARA EQUINOS Iaçanã Valente Ferreira Gonzaga1, Kátia Feltre1, Mayara Angela Faga Palagi1, Alexandre Augusto de Oliveira Gobesso2 Pós-graduandos do Programa de Pós-graduação em Nutrição e Produção Animal – FMVZ/USP; 2 Professor Associado do Departamento de Nutrição e Produção Animal. 1 RESUMO O equilíbrio na microbiota intestinal, por meio de uma alimentação adequada, favorece o aproveitamento alimentar e o desenvolvimento animal. A extração de compostos secundários de plantas, tais como taninos, saponinas e óleos essenciais, fornece produtos que podem ser utilizados na alimentação animal e que potencializam o processo digestivo por apresentarem atividade antimicrobiana, antifúngica e antioxidante. Os óleos essenciais são produtos obtidos de partes de plantas por meio de destilação por arraste com vapor d’água, bem como pelo processamento mecânico dos pericarpos de frutos cítricos. De forma geral, são misturas complexas de substâncias voláteis, lipofílicas, normalmente odoríferas e líquidas. Os mecanismos que conferem aos óleos essenciais suas propriedades antimicrobianas ainda não são bem compreendidos, e na nutrição equina são pouco estudados. INTRODUÇÃO Com o crescimento da equideocultura, a nutrição equina obteve grande abertura na produção, uma vez que, através da alimentação adequada, o animal pode alcançar o seu potencial de desenvolvimento de acordo com sua finalidade e genética. Para tanto, deve-se conhecer o valor nutricional dos alimentos, suas limitações, os nutrientes requeridos pelo equino e a técnica para combinar essas informações em uma dieta balanceada, a fim de atender as exigências nutricionais durante os vários períodos da vida do animal (CUNHA, 1991). Os equinos são animais herbívoros não ruminantes, que possuem estômago simples e intestino grosso altamente desenvolvido, com câmara de fermentação comparada ao rúmen de bovinos, que possibilita utilização dos carboidratos estruturais presente nos alimentos volumosos para obtenção de energia, sendo os carboidratos não estruturais as fontes primárias de energia. As pastagens de boa qualidade são capazes de atender as exigências nutricionais de equinos em mantença, mas não suprem as exigências energéticas de animais 9 de alto desempenho, sendo necessário o uso de suplementos, como grãos de cereais. Estes suplementos concentrados grandes quantidades de açúcares e amido, fornecendo mais energia que as forragens (FRANÇOSO, 2012). Com relação às fontes de carboidratos utilizados nos concentrados, os equinos quando selvagens, não possuíam o hábito de ingerir grãos ou mesmo outras fontes de amido. Com a domesticação e o uso de animais em eventos esportivos, os carboidratos passaram a ser utilizados como a principal fonte para atender as exigências energéticas (RADICKE et al., 1994). Os carboidratos podem constituir cerca de 75% da ração na dieta dos equinos, no entanto, é necessário que haja equilíbrio entre carboidratos estruturais e não estruturais, pois a ingestão de quantidades elevadas de amido podem não ser totalmente digerida no intestino delgado, chegando ao ceco e cólon causando um desequilíbrio da microbiota intestinal (BRAGA, 2006). Essa mudança na microbiota pode ter como consequência o aumento da produção de ácido lático e queda do pH, podendo causar distúrbios gastrointestinais, e diversas enfermidades aos cavalos. Atualmente, algumas pesquisas estão sendo conduzidas para demonstrar a importância do equilíbrio na microbiota intestinal, através de uma alimentação adequada, favorecendo o crescimento de microrganismos desejáveis, para melhor aproveitamento alimentar e desenvolvimento do animal. Experimentos têm sido conduzidos em várias instituições para avaliar o potencial de componentes secundários de plantas como agentes naturais para manipular a fermentação ruminal em bovinos. As plantas produzem vários compostos secundários para se protegerem de insetos, animais, fungos ou bactérias. Estes compostos secundários são diversos em estrutura, sendo os mais investigados os taninos, saponinas e óleos essenciais. Esses são utilizados como manipuladores da fermentação ruminal, podendo ser benéficos ou prejudiciais para o ruminante, dependendo da concentração e estrutura dos mesmos. Entretanto, estudos envolvendo o uso de óleos essenciais na nutrição de equinos são raros e mostram-se como possíveis alvos de estudo. ASPECTOS GERAIS DA NUTRIÇÃO EQUINA A forragem, ou volumoso, sempre foi a base da alimentação do cavalo por conter grandes quantidades de fibra bruta em sua composição (MEYER, 1995). Contudo, apenas o seu fornecimento não supre as exigências energéticas necessárias a animais em atividade mais intensa, devido à baixa digestibilidade dos carboidratos da parede celular da forragem (JOUANY et al., 2008). Os concentrados, em sua maioria grãos de cereais, foram inclusos na dieta, substituindo parte do fornecimento de forragem, chegando a níveis de inclusão de até 80%. O equilíbrio entre os dois tipos de fontes alimentares deve 10 ser levado em consideração, pois o cavalo como herbívoro necessita ingerir fibra em quantidade suficiente para manter o equilíbrio da microbiota intestinal, evitando distúrbios gastrointestinais. Andriguetto et al. (1984) recomenda a divisão da dieta concentrada em pelo menos três refeições diárias, além do fornecimento de volumoso com boa qualidade. A digestão do amido pode ser influenciada por fatores como a forma física do alimento, granulação, recristalização, complexos amilose-lipídeo, inibidores nativos da alfa-amilase e por fatores extrínsecos como mastigação, tempo de trânsito, concentração de alfa-amilase no intestino, quantidade de amido ingerida e a presença de outros constituintes alimentares que podem retardar a hidrólise enzimática, podendo ser considerada também a existência de uma porção indigerível, resistente à ação da alfa-amilase, a qual escapa a digestão pré-cecal (ENGLYST et al., 1987). Digestível é considerada a parte do alimento que não é eliminada com as fezes, correspondendo, não totalmente, à porção do alimento que ganha o meio interno através da parede do trato digestivo (MEYER, 1995). Segundo relatos de Van Soest (1994), devido a digestão e absorção de carboidratos não-estruturais e da proteína ocorrerem antes do intestino grosso, pouco substrato além de material fibroso atinge o ceco do equino, podendo prejudicar a população de microrganismos, uma vez que necessitam de carboidratos, proteínas e minerais para metabolizarem os carboidratos estruturais. Segundo Gray (1992) a estrutura do amido (amilose+amilopectina) é clivada na cavidade duodenal pela enzima alfa-amilase secretada pelo pâncreas. Desse modo, originam-se dissacarídeos, trissacarídeos e alfa-dextrinas que, posteriormente, sofrem hidrólise pela ação complementar de três enzimas presentes na borda em escova da superfície intestinal. O monossacarídeo gerado como produto final, a glicose, é então co-transportado para o interior dos enterócitos com o auxílio do sódio (Na+), por uma proteína transportadora específica (75-KDA) presente na superfície da borda em escova, em uma taxa limitante de assimilação do amido. Devido a esta digestão sequencial luminal e membranosa, seguido pelo transporte de glicose, o amido é assimilado de maneira muito eficiente em animais não ruminantes. Apesar da digestibilidade total do amido ser alta, podendo variar de 87 a 100%, os equinos possuem baixa atividade da enzima alfa-amilase pancreática, o que pode comprometer a digestibilidade pré-cecal de dietas com altas quantidades ou fontes morfologicamente complexas deste nutriente (KIENZLE et al., 1994). A produção de ácidos graxos voláteis no intestino grosso dos equinos pode suprir em grande parte a necessidade energética de mantença através do consumo de forragens. Porém, para atingir a necessidade energética de cavalos 11 em atividade, se torna insuficiente, sendo suprida tradicionalmente pela adição de grãos e/ou subprodutos de grãos de cereais, que possuem grandes quantidades de amido que fornecem mais energia do que as forragens (NRC, 2007). Segundo Hoffman et al., (2001) carboidratos hidrolisáveis e de rápida fermentação são encontrados em grande quantidades em grãos de cereais e gramíneas jovens e uma ingestão excessiva de carboidratos hidrolisáveis pode ocorrer quando a pastagem em crescimento é suplementada com concentrado, mostrando que essa associação pode acarretar em desordens digestivas e metabólicas. A concentração de ácidos graxos voláteis é determinada no ceco e não no cólon, de acordo com a proporção entre concentrado e volumoso. O excesso de carboidratos hidrolisáveis e de rápida que fermentação atingem o ceco, podendo levar ao desenvolvimento excessivo dessa microbiota, causando queda na produção de acetato, redução do pH e aumentando a proporção de ácido propiônico e lático (MEYER, 1995). A eficiência de utilização da fibra dietética pelos equinos é associada a importantes fatores como a composição da dieta, especialmente a proporção entre volumoso e concentrado, a taxa de fermentação microbiana e a taxa de passagem da digesta pelo trato digestório, sendo que o aumento da digestibilidade da fibra geralmente está associado ao aumento do tempo de retenção da digesta (DROGOUL et al., 2001). Quando os carboidratos não estruturais como amido, monossacarídeos, dissacarídeos, oligossacarídeos e frutanas são consumidos em grandes quantidades escapam à hidrólise no intestino delgado e passam para o intestino grosso onde irão fermentar rapidamente produzindo excesso de gases e ácido lático. A alta concentração de ácido láctico retém água e reduz o pH luminal para valores inferiores a seis, aumentando o risco de desordens digestivas como diarréia osmótica e cólica associadas à distensão intestinal por gases e fluidos (COHEN et al., 1999). Estima-se que 90% da área do intestino de um animal adulto contenha mais de 400 espécies diferentes de microrganismos, o que representa 10 vezes mais bactérias no trato digestivo do que células no corpo do hospedeiro. Algumas alterações na microbiota intestinal, incluindo a perda da eficiência de fixação de certos microrganismos ao epitélio intestinal e o controle de bactérias causadoras de doenças não diagnosticáveis, podem reduzir a eficiência digestiva do animal (MENTEN, 2002), podendo gerar, por exemplo, um aumento na produção de ácido lático alterando o pH intestinal promovendo distúrbios gastrointestinais o que deixa o animal mais susceptível a cólica. Nesse sentido, novas técnicas são desenvolvidas na tentativa de manter uma adequada microbiota e como consequência melhor aproveitamento dos 12 nutrientes presentes na dieta e desenvolvimento do animal. A atividade bioquímica das bactérias entéricas produz um amplo leque de substâncias, muita das quais são extremamente tóxicas, requerendo, por parte do hospedeiro, uma constante desintoxicação. A neutralização adequada dessas substâncias exige um contínuo gasto de energia procedente da dieta. A eficiência desta neutralização, contudo, está relacionada à qualidade da ração, aos aditivos, principalmente aos antimicrobianos ou probióticos utilizados, à sanidade e ao manejo empregado no plantel (SILVA et al., 2007). Como alternativa, os antimicrobianos promotores do crescimento, responsáveis por gerar alterações na composição da microbiota intestinal, podem auxiliar melhorando o desenvolvimento e o desempenho dos animais. Os agentes antimicrobianos são utilizados tanto no tratamento das infecções bem como aplicados às rações para prevenir e melhorar o desempenho alimentar. Tais agentes, em concentrações subclínicas, são chamados de promotores de crescimento, pois atuam no controle profilático pela destruição dos patógenos além de inibirem microrganismos competidores e produtores de vitaminas (BARCELOS & SOBESTIANSKY, 1998). ÓLEOS ESSENCIAIS A utilização de extratos vegetais e plantas medicinais pelo homem datam de milhares de anos, sendo muito difundida no Egito Antigo, na China, na Índia e na Grécia. Os principais efeitos exercidos pelas plantas podem ser explicados pela presença e constituição de seu(s) principio(s) ativo(s) (BRUGALLI, 2003). Os óleos essenciais (OE) não são propriamente “essenciais”, porém receberam tal nome devido ao odor prazeroso que possuem (quinta essentia é o termo cunhado no século XVI por Paracelsus von Hohenheim para denominar o composto ativo de uma droga). Óleos essenciais, conforme a ISO 9235:1997 (International Standard Organization), são produtos obtidos de partes de plantas através de destilação por arraste com vapor d’água, e pelo processamento mecânico dos pericarpos de frutos cítricos. De forma geral, são misturas complexas de substâncias voláteis, lipofílicas, normalmente odoríferas e líquidas (BRASIL, 1978). Em temperatura ambiente apresentam aspecto oleoso tendo como principal característica a volatilidade. Isto os diferencia dos óleos fixos, que são misturas de substâncias lipídicas, geralmente provenientes de sementes (ex.: óleo de rícino, manteiga de cacau e óleo de linhaça). Apresentam-se geralmente incolores ou levemente amarelados, com sabor ácido e picante, pouco estáveis em presença de luz, calor e ar, além de serem pouco solúveis em água (SAITO & SCRAMIN, 2000). Vários são os óleos essenciais com potencial de comercialização, 13 como o timol (extraído do tomilho – Thymus vulgaris), carvacrol (extraído do orégano – Origanum sativum), alina e alicina (extraídos do alho – Allium sativum), citrol e citronolol (extraídos de diversas plantas cítricas), menthol (extraído da menta – Mentha piperita) e cinamaldeído (extraído da canela – Cinnamomum zeylanicum) já possuem sua funcionalidade conhecida, além dos métodos de extração serem de fácil operação (VELLUTI et al., 2003). O gênero Origanum é caracterizado, muitas vezes, pela existência de diferentes produtos químicos. Os fenóis de seus óleos essenciais variam em até 95% mesmo entre as plantas de mesma espécie. A preponderância de carvacrol ou timol nos óleos essenciais é responsável pela sua classificação comercial como orégano ou óleo de tomilho, respectivamente. Os extratos carvacrol e timol, que constituem 78-82% do óleo total, apresentam considerável atividade antimicrobiana e antifúngica. A atividade de outros constituintes principais como os dois hidrocarbonetos monoterpeno, g-Terpinene e pcymene, muitas vezes contribuem para cerca de 5% e 7% do óleo total (SIVROPOULOU et al., 1996). Os óleos essenciais derivados de plantas que são constituídas de diversos componentes com propriedades e funções orgânicas desenvolvem atividades antimicrobianas (BURT, 2004), antifúngicas (RASOOLI & ABYANEH, 2004; VELLUTI et al., 2003), antioxidantes e de proteção celular, principalmente em glóbulos vermelhos e glóbulos brancos (ASGARY et al., 2003; LIMA et al., 2004). Os óleos essenciais agem contra os microrganismos através de uma ação lipofílica na membrana celular, dispersando as cadeias de polipeptídeos que irão constituir a matriz da membrana celular (NOSTRO, 2004). Os óleos essenciais demonstraram atividade contra muitas espécies de bactérias: Aromonas hydrophila, Listeria monocytogenes, Clotridium botulinum, Enterococcus faecalis, Staphylococcus spp., Micrococcus spp., Bacillus spp., Enterobacteriaceae, Campylobacter jejuni, Vibrio parahaemolyticus, Pseudomonas spp, Bacillus cereus, Shigella spp., Salmonella spp, Escherichia coli e várias outras, Gram positivas ou negativas, aeróbias ou não (BAGAMBOULA et al., 2003). A maioria dos estudos corrobora que os óleos essenciais são ligeiramente mais ativos contra bactérias Gram-positivas (SHELEF, 1983; HARPAZ et al., 2003). As bactérias gram-negativas são menos susceptíveis a ação de antibióticos, pois possuem uma membrana externa que envolve a parede celular restringindo a difusão de compostos hidrofóbicos através da sua camada de lipopolissacarídeo (VAARA, 1992). Entretanto, nem todos os estudos concluíram que Gram-positivos são mais susceptíveis (WILKINSON et al., 2003). Timol e carvacrol possuem atividade antioxidante in vitro, sendo 14 demonstrado em aves com suplementação de orégano na dieta, mas isso não tem sido associado com qualquer efeito sobre o desempenho das aves. Segundo Sivropoulou et al. (1996) o timol foi mais ativo do que o carvacrol contra bactérias Gram-negativas. O efeito dos óleos essenciais sobre as bactérias dependem de uma série de fatores, dentre eles, a forma e a época de coleta da planta, podendo influenciar na composição dos constituintes que vão atuar sobre as bactérias e os microrganismos que se deseja combater, podendo ser uma ótima alternativa para substituir os antimicrobianos promotores de crescimento (SILVA et al., 2010). Os suplementos dietéticos para utilização em equinos estão amplamente disponíveis. O uso é particularmente atraente para proprietários que desejam manter os animais em melhor condicionamento para o exercício que lhe destinar ou para manutenção da saúde e tratamentos de afecções específicas. Estes suplementos são classificados como ‘’Nutracêuticos’’ pela Food and Drug Administration e o termo é uma união das palavras ‘’nutrição’’ e ‘’farmacêutica’’ podendo ser considerados como suplementos dietéticos com objetivo de tratar ou prevenir doenças, geralmente em forma concentrada destinada à ingestão oral (JONES, 1997). CARACTERIZAÇÃO DOS ÓLEOS ESSENCIAIS Compostos secundários são substâncias ausentes de função relacionada aos processos bioquímicos primários dos vegetais e seus principais exemplos são os óleos essenciais, as saponinas e os taninos. A finalidade dos mesmos é promover proteção contra predadores (por exemplo, insetos e animais herbívoros), microrganismos patogênicos e outros eventuais invasores. Também conferem odor e cor aos vegetais, atuando como mensageiros químicos entre a planta e o ambiente, de maneira a atrair insetos polinizadores e animais dispersores de sementes (TAIZ & ZIEGER, 2004). Seus compostos mais importantes são incluídos em dois grupos químicos: terpenóides (monoterpenos e sesquiterpenos) e fenilpropanóides. Terpenóides (terpenos contendo oxigênio como elemento adicional) formam um grupo variado de substâncias cuja estrutura básica deriva do isopreno (C5H8; Figura 2), e são classificados de acordo com o número de isoprenos em seu esqueleto (CALSAMIGLIA et al., 2007). Monoterpenos possuem duas unidades C5, sesquiterpenos possuem três unidades e os diterpenos quatro. Os maiores terpenos são os hemiterpenos (C25), triterpenos (C30), tetraterpenos (C40) e os politerpenos (C5)n, sendo “n” maior que oito (TAIZ & ZIEGER, 2004). Os óleos essenciais são uma mistura de terpenóides aromáticos, líquidos e lipofílicos (KOHLERT et al., 2000) obtidos a partir de diferentes 15 partes da planta, tais como folhas, raízes, caule ou demais partes, sendo que a melhor tecnologia para extração destes óleos essenciais é por destilação a vapor, quando comparadas pela extração com metanol ou hidroxi-acetona (BURT, 2004). Destilação a vapor é o método comumente usado para produção de óleo essencial em escala comercial e a extração ocorre por meio de dióxido de carbono líquido sob baixa temperatura e alta pressão produzindo um perfil organoléptico de alta qualidade. Considerando o grande número de diferentes grupos de compostos químicos presentes, é provável que sua atividade antibacteriana não seja atribuída a um mecanismo específico, mas existem vários alvos na célula. Uma característica importante é a hidrofobicidade, permitindo a partição dos lipídios na membrana celular bacteriana e mitocôndrias, desestabilizando as estruturas celulares (SIKKEMA et al., 1994). Várias são as formas químicas encontradas nos óleos essenciais, a exemplo do hidrocarboneto (apenas C e H), álcool (Csat-OH), aldeído (H-C=O), cetona [R-C(=O)-R’], éster (R-COOR’), éter (R-O-R’) e fenol (CaromáticoOH). Estima-se que 3000 tipos de óleos essenciais sejam conhecidos pela ciência, cerca de 300 deles com aplicações comerciais. Exemplos de utilização são a preservação e aromatização de alimentos, produção de perfumes, cosméticos e repelentes, produção de antimicrobianos e antiinflamatórios (CALSAMIGLIA et al., 2007). Figura 1 - Fórmula estrutural de alguns óleos essenciais. A: monoterpenos; B: sesquiterpenos; C: fenilpropanóides. Adaptado de Calsamiglia et al. (2007). 16 MECANISMO DE AÇÃO ANTIMICROBIANA DOS ÓLEOS ESSENCIAIS As ações estão em sua maioria associadas à membrana celular, como o transporte de elétrons e gradiente de íons, translocação de proteínas, fosforilação e outras reações enzimo-dependentes (DORMAN & DEANS, 2000). Os mecanismos que conferem aos óleos essenciais suas propriedades antimicrobianas ainda não são bem compreendidos (LAMBERT et al., 2001). Considerando a variada gama de substâncias químicas presentes nos óleos essenciais, é natural que a atividade antimicrobiana não seja mediada por um único mecanismo específico, havendo sinergismo entre os modos de ação encontrados nos diversos compostos. Como exemplo, a atividade antimicrobiana ruminal do óleo de alho é mais potente do que a atividade de seus componentes isolados. Da mesma forma, efeitos aditivos ou antagônicos são também possíveis de ocorrer (BURT, 2004). Óleos essenciais são substâncias hidrofóbicas, o que lhes confere a capacidade de interagir com lipídios da membrana celular e das mitocôndrias das bactérias. Isto ocorre quando o óleo encontra-se sob forma indissociada (mais hidrofóbica), o que nas condições ruminais é favorecido pelo baixo pH (CALSAMIGLIA et al., 2007). A interação óleo essencial/membrana celular altera a estrutura das mesmas, tornando-as mais fluidas e permeáveis, o que permite o extravasamento de íons e outros conteúdos citoplasmáticos. O carvacrol, um dos terpenos mais estudados no ambiente ruminal, é capaz de dissolver a dupla camada fosfolipídica da membrana celular, alinhando-se entre os ácidos graxos. Isto promove a formação de canais na membrana, já que os óleos essenciais são capazes de separar os ácidos graxos uns dos outros. Tais distorções na estrutura física da membrana causam expansão e desestabilização, aumentando a fluidez e a permeabilidade passiva (LAMBERT et al., 2001). Extravasamento de íons é outro mecanismo. Observou-se que o óleo essencial de orégano (basicamente composto por carvacrol e timol) promoveu o extravasamento de íons fosfato. Ultee et al. (1999) verificaram que o carvacrol causou perda de íons potássio, devido ao aumento na concentração externa e diminuição na concentração interna desse íon. O mecanismo de atuação do carvacrol é semelhante ao dos ionóforos. A célula bacteriana pode tolerar certa perda de íons do conteúdo celular sem comprometimento de sua viabilidade. Para tanto, há gasto de energia para acionar suas bombas iônicas. Entretanto, o extravasamento exagerado de íons e moléculas vitais pode levar a célula à morte. A estrutura química é a responsável pelo modo de ação e atividade antimicrobiana de cada óleo essencial. A presença do grupo hidroxila (-OH) 17 nos compostos fenólicos é fundamental para a existência da atividade antimicrobiana dos óleos essenciais. Todavia, a posição da hidroxila no anel fenólico parece ser menos importante, já que o timol e o carvacrol apresentaram atividades semelhantes frente a variadas bactérias. Contudo, já foram constatadas diferenças na ação do timol e carvacrol contra espécies Gram-positivas e Gram-negativas (DORMAN & DEANS, 2000). A presença do radical metil (-CH3) ou do acetato (CH3COO-), assim como o próprio anel fenólico per se, também afetam as propriedades antibacterianas de cada óleo essencial (BURT, 2004). É de consenso na literatura que os óleos essenciais são mais efetivos contra bactérias Gram-positivas do que Gram-negativo (BURT, 2004), o que infere a possibilidade de efeitos semelhantes aos dos ionóforos. Nas bactérias Gram-positivas, o óleo essencial pode interagir diretamente com a membrana celular. Em contrapartida, a parede celular externa que envolve a membrana das bactérias Gram-negativas é hidrofílica, o que impede a entrada de substâncias hidrofóbicas. Mesmo assim, a membrana externa das Gram-negativas confere apenas proteção parcial, pois não é totalmente impermeável a substâncias hidrofóbicas. Compostos de baixo peso molecular, a exemplo do carvacrol e timol, podem interagir com a água via pontes de hidrogênio. Assim, por meio da difusão, essas substâncias cruzam a parede externa através dos lipopolissacarídeos ou proteínas da membrana, chegando à dupla camada fosfolipídica da parede celular interna da bactéria Gram-negativa. Este é um dos principais fatores que conferem ao carvacrol uma potente atividade antimicrobiana. A verificação dos efeitos de alguns óleos essenciais sobre bactérias Gram-negativas constitui-se numa clara limitação, já que esta propriedade reduz a seletividade e aumenta a dificuldade de manipulação da fermentação ruminal (CALSAMIGLIA et al., 2007). Alguns outros mecanismos de ação também já foram verificados. Certas substâncias parecem atuar nas proteínas da membrana citoplasmática. Em geral, os compostos fenólicos interagem com as proteínas por meio de pontes de hidrogênio e interações iônicas ou hidrofóbicas. Outro mecanismo existente é a redução da concentração interna de ATP sem aumento proporcional na concentração externa, o que transparece a ideia de menor síntese ou maior hidrólise do mesmo (ULTEE et al., 1999). Enzimas como as ATPases são conhecidas por localizarem-se na membrana citoplasmática, rodeadas por moléculas de lipídios. Dois possíveis mecanismos de ação são sugeridos: a) hidrocarbonetos lipofílicos podem se acumular na dupla camada de lipídios da membrana celular, o que pode distorcer as interações entre proteínas e lipídios; b) é possível que óleos essenciais possam interagir diretamente com os sítios hidrofóbicos das 18 proteínas da membrana (JUVEN et al., 1994). Adicionalmente, crê-se que óleos essenciais atuem em enzimas envolvidas nos processos de regulação de energia e de síntese de componentes estruturais. Como exemplo, o óleo de canela (cinamaldeído ou 3-fenil2-propenal) e seus componentes foram eficientes em inibir as enzimas aminoácido-descarboxilases de Enterobacter aerogenes. Neste caso, substâncias fenólicas como o cinamaldeído não são capazes de desintegrar a membrana externa ou causar depleção de ATP. Imagina-se que o grupo funcional carbonil (R1-CO-R2) seja o responsável por se ligar às proteínas, inibindo a ação das aminoácido-descarboxilases. Também já se demonstrou que o eugenol [2- metoxi-4-(2-propenil)fenol] inibiu a produção de amilases e proteases por Bacillus cereus. Por fim, substâncias ativas presentes no óleo de alho podem inibir a síntese de RNA, DNA e proteínas celulares. O óleo de alho reduz a produção de metano (CH4) ruminal in vitro. Sugere-se que o efeito ocorra via ação direta sobre a metanogênese, diminuindo as populações de Archaea por inibição da enzima 3-hidroxi-3-metil-glutaril coenzima A redutase (HMGCoA). Compostos organossulfurados encontrados no óleo de alho são capazes de inibir esta enzima, essencial para a síntese das unidades isoprenóides formadoras da membrana lipídica das Archaea (THOROSKI et al., 1989). ESTUDOS EM ANIMAIS COM ÓLEOS ESSENCIAIS Vários estudos têm relatado efeitos sobre microflora intestinal com inclusão de óleos essenciais nas dietas de frangos de corte. A suplementação dietética com capsaicina, carvacrol e cinamaldeído, reduziu o número de Escherichia coli e Clostridium perfringens no conteúdo retal em frangos de corte, enquanto o número de Lactobacillus spp obteve aumento. Inibição seletiva no crescimento de Clostridium sticklandii e Anaerobius Peptostreptococcus foram observados com utilização de terpenos na dieta de ruminantes contendo timol, eugenol, vanilina e limoneno. Os terpenos se ligam a componentes da dieta não inibindo as bactérias e são absorvidos como componentes da dieta, sendo assim, o pH pode ser diminuído, impedindo assim o crescimento de bactérias patogênicas (TUCKER, 2002). O efeito dos óleos essências sobre as bactérias dependem de uma série de fatores, dentre eles, a forma e a época de coleta da planta, podendo influenciar na composição dos constituintes que vão atuar sobre as bactérias e os microrganismos que se deseja combater, podendo ser uma ótima alternativa para substituir os antimicrobianos promotores de crescimento (SILVA et al., 2010). Em ruminantes, a primeira visão da utilização de óleos essenciais na dieta é como uma alternativa de reutilização de subprodutos vegetais. Porém, as 19 recentes pesquisas no uso de óleos essenciais em dietas de ruminantes procura entender sua atuação sobre o ambiente ruminal, precisamente, seu mecanismo de ação sobre a microflora ruminal. Ao conduzirem trabalhos com novilhos da raça holandesa fistulados, utilizaram uma combinação de óleos essenciais e observaram uma depressão na concentração de amônia ruminal e do número de protozoários dos animais tratados (ANDO et al., 2003). Cardozo et al., (2004), ao trabalharem com digestibilidade in vitro em animais que recebiam, isoladamente, extrato de canela, orégano, anis e alho, obtiveram modificações nos padrões de fermentação ruminal e de população microbiana quando comparados aos animais do grupo controle. Molero et al. (2004) ao trabalharem com duas dietas com alto e baixo teor de concentrado, verificaram uma melhor atuação dos óleos essenciais sobre os parâmetros fermentativos e adaptação da flora microbiana, somente quando misturados à última dieta. Newbold et al., (2004) desenvolveram trabalhos com ovinos fistulados, onde ocorreu uma ação antimicrobiana seletiva dos óleos essenciais sobre a flora ruminal, observando alterações na degradação da proteína e no processo de deaminação no rúmen. EXPERIMENTO DESENVOLVIDO NO LABEQUI (FMVZ/USP) Em pesquisa desenvolvida no Labequi (Laboratório de Pesquisas em Alimentação e Fisiologia do Exercício em Equinos – pertencente ao Departamento de Nutrição e Produção Animal, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo), foram utilizados oito pôneis, da Raça Mini-Horse, machos, castrados, com idade de 42 ± 6 meses, e peso inicial de 135 ± 15 kg, suplementados com um composto de óleos essenciais. A dieta utilizada possuía alta proporção concentrado:volumoso, sendo constituída de 60% concentrado comercial peletizado e 40% de feno de gramínea; cuja variação foi a inclusão de um produto contendo 7% de carvacrol, de acordo com os tratamentos (controle, 100, 200 e 300 ppm). O delineamento experimental foi quadrado latino 4x4 duplo. Foram avaliados a digestibilidade dos nutrientes da dieta: matéria seca (MS), matéria orgânica (MO), proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE), fibra solúvel em detergente neutro (FDN), fibra solúvel em detergente ácido (FDA) e matéria mineral (MM); pH fecal; perfil plasmático de triglicerídeos, colesterol total, e suas frações: lipoproteína de alta densidade (HDL-C), lipoproteína de baixa densidade (LDL-C) e lipoproteína de muito baixa densidade (VLDL-C); além da resposta glicêmica e insulinêmica. 20 DIGESTIBILIDADE DOS NUTRIENTES DA DIETA Os coeficientes de digestibilidade aparente dos nutrientes da dieta foram estimados através do método da coleta total de fezes e por meio da equação descrita por Schneider e Flatt (1975). Para a avaliação da digestibilidade, foram utilizados quatro períodos de 23 dias cada, sendo 15 primeiros dias de adaptação à dieta, cinco dias para colheita total de fezes e três dias de intervalo entre os períodos. Os coeficientes de digestibilidade aparente da MS, MO, PB, EE, FDN, FDA e MM não apresentaram efeito de tratamento com a inclusão de diferentes níveis de óleo essencial (tabela 1). Tabela 1 – Médias (%) e erro padrão da média (EPM) para os coeficientes de digestibilidade aparente, para os diferentes níveis de inclusão diária de óleo essencial MS=matéria seca, MO=matéria orgânica, PB=proteína bruta, EE=extrato etéreo, FDN=fibra em detergente neutro, FDA=fibra em detergente ácido, MM=matéria mineral PH FECAL Em relação ao efeito da inclusão de óleos essenciais sobre o pH fecal, foram estabelecidas 4 faixas de horários, sendo 3 horas cada faixa totalizando 12 horas (07-10h), (10-13h), (13-16h) e (16-19h), onde as amostras de fezes para mensuração do pH foram coletadas nos momentos de defecação espontânea, e as aferições realizadas através do pHmetro. Apesar da diferença numérica, os valores de pH fecal não foram significativos para os níveis de inclusão do óleo essencial nos níveis 100mg, 200mg e 300mg (tabela 2). Tabela 2. Valores médios e desvio padrão (DP) do pH fecal para os diferentes tratamentos 21 LIPÍDEOS PLASMÁTICOS Para determinação dos níveis plasmáticos de triglicérides e colesterol total (e suas frações HDL-C, LDL-C, VLDL-C), foram colhidas amostras após o fornecimento da dieta do período da manhã, em tubos a vácuo sem anticoagulante, através de venopunsão da veia jugular. As amostras foram centrifugadas para separação de soro, e acondicionadas em microtubos de 2 ml até o momento da análise, que foi realizado pelo método de Lowry (1977). As concentrações plasmáticas de triglicérides, colesterol e suas frações se apresentaram dentro dos parâmetros fisiológicos descritos por Bruss (1980). Não foi observado efeito de tratamento para os valores de triglicerídeos e de colesterol e suas frações (tabela 3). Tabela 3. Médias e erro padrão da média (EPM) para os valores plasmáticos (mg/dL) de triglicérides e de colesterol total, e frações HDL-C, LDL-C, VLDL-C de acordo com os tratamentos (0, 100, 200 e 300 ppm). RESPOSTA GLICÊMICA E INSULINÊMICA As análises das respostas glicêmicas e insulinêmicas foram realizadas no primeiro dia da fase de coleta de cada período experimental. As amostras de sangue foram obtidas através de venopunção da veia jugular. Realizou-se a coleta 30 minutos antes, 30 minutos, 90 minutos, 150 minutos e 210 minutos após a dieta fornecida às 7h. As análises da resposta glicêmica e insulinêmica foram realizadas segundo STULL & RODIEK (1988). Não foi observado efeito de interação tratamento x tempo sobre a resposta glicêmica após a inclusão de óleo essencial na dieta. Porém, para a resposta insulinêmica, foi observado efeito de tratamento (p < 0,05) nos tempos 90, 150 e 210 minutos para os grupos controle e 300 ppm (figura 2), valores correspondentes também às maiores concentrações numéricas de glicose. Além disso, também foi verificado efeito quadrático para avaliação da área abaixo da curva (tabela 4). 22 Tabela 4 – Área abaixo da curva (AAC) das concentrações plasmáticas de insulina e glicose segundo os níveis de inclusão de óleo essencial (0, 100, 200 e 300 ppm), erro padrão da média (EPM) e valor de p. Figura 2 - Área abaixo da curva (AAC) para concentração plasmática de insulina (µU/dL) nos tempos (-30, 30, 90, 150 e 210 minutos), segundo os níveis de inclusão de óleo essencial (0, 100, 200 e 300 ppm). CONSIDERAÇÕES FINAIS A inclusão de novos e diferentes compostos na alimentação tanto de equinos quanto de outras espécies é uma alternativa interessante para melhorar a digestibilidade dos nutrientes e, consequentemente, o desempenho dos animais. É importante a continuidade desses estudos, principalmente aqueles que podem agregar benefícios para a saúde digestiva. AGRADECIMENTOS À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) pelo apoio financeiro. REFERÊNCIAS ANDO, S.; NISHIDA, T.; ISHIDA. Effect of peppermint feeding on the digestibility, ruminal fermentation and protozoa. Livestock Production Science, v. 82, p. 245-248, 2003. ANDRIGUETTO, J. M.; PERLY, L.; MINARDI, I.; GEMAEL, A.; FLEMMING, S. J.; SOUZA, A. G.; BONA FILHO, A. NutriçãoAnimal/Alimentação Animal. São Paulo: Nobel, 1984. v. 2, p. 299-307. BARCELLOS, D.; SOBESTIANSK, J. Uso de antimicrobianos em suinocultura. 1ed. Goiânia: 103p, 1998. BRAGA, A. C. Níveis de fibras na dieta total de equinos. 2006. 46 p. 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Alumas dessas ferramentas pode ser a manipulação da fermentação ruminal para melhorar o desempenho produtivo de bovinos e ruminantes em geral tem sido o sonho de alguns nutricionistas por décadas (DILORENZO, 2004). A manipulação da fermentação é um esforço que levou a extensa pesquisa na área de nutrição e microbiologia ruminal nas últimas décadas, com o objetivo de controlar algum processo metabólico no rúmen, atingindo assim uma utilização mais eficiente dos nutrientes (NAGARAJA, 2003). Como alguns dos objetivos de manipular a fermentação ruminal podemos citar a melhoria dos processos benéficos visando alterar ou eliminar os processos ineficientes tanto para os microrganismos do rumen quanto ao hospedeiro. (NAGARAJA et al., 1997). No entanto, a utilização de antibióticos na alimentação animal foi proibida na União Européia desde janeiro de 2006 (diretiva 1831/2003/CEE, Comissão Européia, 2003). Por esta razão, tem sido grande o interesse dos pesquisadores em avaliar alternativas em manipular a fermentação ruminal incluindo o uso de leveduras, ácidos orgânicos, extratos de plantas, probióticos e anticorpos (CALSAMIGLIA et al., 2007). 27 MECANISMO DE AÇÃO DOS ÓLEOS ESSENCIAIS Uma planta pode conter vários metabólitos secundários, porém, apenas compostos que estão em maior concentração são geralmente isolados e estudados pela fitoquímica e, analisar os compostos ativos, pode ser um trabalho mais complexo e duradouro. Os compostos minoritários estão entre os que apresentam melhores efeitos biológicos (CIRONE SILVA, 2010). A atuação dos óleos essenciais na célula bacteriana estão esquematizados na Figura 1. Estas ações estão em sua maioria ligadas ã membrana celular principalmente como transporte de elétrons e gradiente de íons (fluxo intra e extra celular da bomba de Sódio e Potássio), translocação de proteínas, fosforilação, e outras reações enzimo-dependentes (ULTE; KETS, 1999). Figura 1 – Mecanismos proposto de ação antimicrobiana dos óleos essenciais na célula bacteriana. Adaptado de Burt (2004). A grande variação (BAKKALI et al., 2008) nas substâncias químicas presentes nos óleos essenciais, conferem que em suas propriedades antimicrobianas ainda não estejam bem compreendidas e é natural que a atividade antimicrobiana não seja medida por um só mecanismo de ação específico e que pode haver sinergismo entre os modos de ação para os diversos compostos encontrados. A maioria das plantas possuem compostos que são antimicrobianos e que são capazes de protege-las de microrganismos maléficos. Torna-se então indispensável analisar a potência das frações e das substâncias puras em relação à sua concentração, em que a partir desta avaliação pode-se predizer se o principal componente químico responsável pela atividade biológica foi realmente determinado (CECHINEL FILHO & YUNES, 1998). 28 Na Figura 2 estão ilustradas fórmulas estruturais de alguns compostos antimicrobianos que podem ser encontrados em plantas. Figura 2 – Fórmulas estruturais de compostos antimicrobianos em plantas. Adaptado de Cowan, 1999. Os compostos ativos encontrados em algumas plantas, possuem ação antisséptica, sendo: timol, carvacrol, eugenol, isoeugenol e terpinenol-4 (KNOBLOCH et al., 1989). Geralmente, estes mecanismos de ação são regulados pela desintegração da membrana citoplasmática, desestabilização da força próton motriz (FPM), fluxo de elétrons, coagulação do conteúdo da célula e transporte ativo. Nem todos os mecanismos de ação agem em alvos específicos em que, alguns sítios podem ser afetados em consequência de outros mecanismos (BURT, 2004). Os componentes hidrofóbicos são uma característica importante responsável pela ação antimicrobiana que os óleos essenciais apresentam que permitem a partição de lipídeos da membrana celular bacteriana, desintegrando 29 as estruturas tornando-as mais permeável (SIKKEMMA, 1994). Os componentes dos óleos essenciais agem também em proteínas da membrana citoplasmática, em que hidrocarbonetos cíclicos podem agir sobre enzimas ATPases conhecidas por estarem localizadas na membrana citoplasmática e rodeadas por moléculas lipídicas. Hidrocarbonetos lipídicos poderiam distorcer a interação lipídio-proteína, interação direta dos compostos lipofílicos com parte hidrofóbicas das proteínas também são possíveis (SIKEMMA, 1995). O carvacrol e timol diferem pela localidade do grupo hidroxila sobre o anel fenólico. Estes compostos parecem tornar a membrana mais permeável (LAMBERT et al., 2001). Ambas estruturas desintegram a membrana externa de bactérias liberando lipopolissacarídeos aumentado assim, a permeabilidade da membrana citoplasmática ao ATP. Na forma indissociada o carvacrol se difunde pela membrana citoplasmática e atinge o interior da célula, ocorrendo dissociação e liberação de próton, em seguida o carvacrol liga-se ao K+ retornando ao meio extracelular e carregando consigo este íon ou outro qualquer. No exterior da membrana, ocorre nova dissociação com liberação de K+ e liberação de novo H+ . Borchers (1965) constatou que o timol inibiu a deaminação de proteínas observando redução na concentração de NH3 e acúmulo de aminoácidos. Cinamaldeído é bastante conhecido por ter ação inibitória sobre E. coli e Salmonella Typhimurium em concentrações próximas a do carvacrol e timol, mas não desintegra a membrana externa e nem diminui a produção de ATP intracelular (HELANDER et al., 1998). Para eugenol foi mostrado que o mesmo inibiu a produção de amilase e proteases por B. cereus , degradação e lise da parede celular também foram encontradas (THOROSKI et al., 1989). Um dos principais objetivos do uso de óleos essenciais na alimentação de ruminantes é realização de estudos que visam identificar substâncias capazes de melhorar os efeitos na concentração e produção de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) principalmente no que diz respeito a produção de C3 sem afetar ou diminuir a produção total de AGCC. Encontrar doses e/ou compostos capazes de manipular com efeito positivo a fermentação ruminal torna-se um grande desafio aos nutricionistas. Alguns estudos mostraram que os óleos essenciais podem apresentar efeitos semelhantes aos ionóforos. ÓLEOS ESSENCIAIS E PARÂMETROS DA FERMENTAÇÃO RUMINAL O conceito de que a produção de metano (CH4) gera perdas energéticas ao animal, variando entre 2 e 12% da energia bruta total consumida 30 é amplamente conhecido (VAN SOEST, 1994). Em contrapartida, a produção de CH4 pelas Archaea é vital ao equilíbrio ruminal. O rúmen é um ambiente extremamente redutor (potencial redox entre -250 e -450 mV) e, por esse motivo, produzir CH4 é a principal via de remoção de hidrogênio (H+). Caso haja acúmulo de H+, há alta inibição dos sistemas enzimáticos microbianos (RUSSELL, 2002). Alguns óleos essenciais possuem capacidade, à semelhança dos ionóforos, de atuar seletivamente sobre as populações microbianas do rúmen (Calsamiglia et al., 2007), alterando o padrão fermentativo, reduzindo a relação C2:C3 e a produção de metano, o que torna o rúmen energicamente mais eficiente. As vias metabólicas de produção de C3 servem de dreno de H+, além de não produzi-lo como observado para as rotas que levam à produção de C2 e butirato (Van Soest, 1994). Logo, maximizar a produção de propionato é competir com as metanogênicas por substrato. Equipes de pesquisa da área de microbiologia ruminal têm se dedicado em desenvolver alternativas eficientes para manipular a fermentação ruminal, tendo como objetivo principal, controlar alguns processos metabólicos no rúmen que possam refletir na eficiência de utilização dos nutrientes pelos animais (NAGARAJA, 2003). A manipulação da fermentação ruminal pode ser realizada com a inclusão de aditivos como ionóforos, enzimas fibrolíticas, leveduras, lipídeos e tampões nas dietas, visando otimizar as reações de fermentação dos principais componentes dietéticos (carboidratos e proteína). Alho (Allium sattivum) é usado como tempero e, tem sido utilizado por seres humanos como agente microbiano intestinal. Tem uma mistura complexa de vários compostos secundários incluindo allicina (C6H10S2O), composto este, que é capaz de manipular a fermentação ruminal com a redução na relação C2: C3 (BUSQUET et al., 2005b).` Óleos essenciais foram efetivos em manipular a fermentação ruminal (CASTILEJOS et al., 2006) in vitro. A dose de 1,5 mg/L de uma mistura de óleos essenciais foi capaz de aumentar a concentração total de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) em sistema in vitro, porém sem efeito na digestibilidade da matéria orgânica (CASTILEJOS et al., 2005). Trabalhando com bovinos de corte (Fadiño et al., 2008) verificaram que o óleo de anis apresentou efeitos sobre a concentração de AGCC semelhantes à monensina e que os óleos de zimbro e cinamaldeído provocaram aumento numérico na concentração de C3 e redução numérica na relação C2:C3 (CHAVES et al., 2008). Um estudo realizado com uma mistura de óleos comerciais de plantas (Biostar®) (Bach, 2007) também observou aumento na concentração de propionato e redução na relação C2:C3. 31 Em relação ao pH, os óleos essenciais podem ser modulados pelo pH do meio. Em dietas ricas em concentrados, com tendências ao abaixamento do pH ruminal, potencializam os efeitos dos óleos essenciais, isto ocorre devido aos óleos necessitarem estar em forma indissociada para interagir com os lipídeos da membrana celular o que é favorecido pela maior acidez do meio (CALSAMIGLIA et al., 2007). O óleo de canela e seu principal componente (cinamaldeído) foram eficientes em aumentar a relação C2 : C3 quando incubado em meio com pH 7,0 , já em incubação em meio com pH 5,5 observaram redução nesta relação (CARDOZO et al., 2005). Já que os ruminantes possuem baixa utilização de nitrogênio, alterando o metabolismo ruminal do nitrogênio seria uma ferramenta visando reduzir a poluição ambiental causada por ureia, podendo também melhorar e/ ou otimizar o aporte de aminoácidos para o intestino delgado e assim melhorar o desempenho animal (CALSAMIGLIA et al., 2007). Protozoários não são necessários para a fermentação ruminal sendo responsáveis pela reciclagem de proteína e, 60 a 80% da biomassa de protozoários não deixam o rúmen, permanecendo retidos neste compartimento devido ao processo de lise, o que pode aumentar (Russel, 2002) a retenção ruminal de proteína microbiana provocando acúmulo de amônia no rúmen A defaunação promove maior escape ruminal de proteína menor concentração de amônia e consequente melhor desempenho animal (HUNGATE, 1966). Novilhas que receberam óleo de anis em dietas com 90% de concentrado (Cardozo et al., 2006; Fadiño et al., 2008) observaram redução na população de protozoários totais, menor concentração de amônia ruminal e redução na relação C2:C3. Em relação aos principais efeitos dos óleos essenciais como manipuladores da fermentação ruminal está a diminuição da degradação da proteína no rúmen. Segundo (Calsamiglia et al., 2007; Benchaar et al., 2008a) os dados revelam que alguns óleos diminuem a taxa de desaminação, adesão e colonização de bactérias proteolíticas aos substratos. Observou-se in vitro que o óleo de alho e o di-alil-di-sulfeto (300 mg/L) reduziram a produção de CH4 em 74% e 69%, respectivamente, efeito este inclusive mais pronunciado do que o observado para a monensina (42% de redução; Busquet et al., 2005b). O mesmo grupo de pesquisadores verificou que estas substâncias aumentaram a proporção de C3 e reduziram a de C2 (Busquet et al., 2005a). Em estudo in vitro de mais longa duração, a adição de 20 μg/mL de alicina reduziu a produção de CH4 sem efeitos sobre o padrão de AGCC e concentração de NH3 (McALLISTER & NEWBOLD, 2008). O conhecimento dos efeitos dos óleos essenciais sobre a metanogênese é muito carente de experimentos in vivo, principalmente os de longa duração. 32 Os resultados existentes são bastante variados, com alguns trabalhos mostrando resultados promissores. Mohammed et al. (2004) trabalharam com óleo encapsulado de raizforte (20 g/kg de MS consumida) apresentou 19% de redução de CH4 em novilhos, sem efeitos sobre a população de protozoários ou a digestibilidade ruminal. Efeitos mais prolongados foram observados por Wang et al. (2009), em que 250 mg/d de mistura de óleos de orégano em ovinos reduziram em 12% o CH4 produzido do decorrer de 15 dias. Da mesma forma, 2 g/kg de MS consumida de di-alil-di-sulfeto reduziu em 11% a emissão de CH4 em ovinos, com efeitos que perduraram por 23 dias (KLEVENHUSEN et al., 2010). Folhas de orégano moídas (500 g/d) diminuíram em 40% a produção de CH4, com aumento na eficiência alimentar e na produção de leite corrigido para gordura (HRISTOV et al., 2010). Trabalho nacional demonstrou que 10 mL de óleo de eucalipto reduziu em 31% a emissão de CH4 em ovinos, novamente sem efeitos negativos sobre a digestibilidade (SALLAM et al., 2009). Por outro lado, há trabalhos com ausência de efeito, como ao usar 1 g/d de mistura de óleos essenciais para bovinos de corte (BEAUCHEMIN, 2006). A Manipulação do ecossistema microbiano ruminal visa melhorar a digestibilidade da fibra, reduzir a produção de metano e diminuir a excreção de nitrogênio pelos ruminantes e melhoria no desempenho são algumas metas mais importantes para os nutricionistas e microbiologistas (PATRA et al., 2006). Extratos de plantas com alguns compostos secundários (cinamaldeído, eugenol, carvacrol, timol, limoneno etc) são bons candidatos para obtenção de um ou mais destes objetivos (TEFEREDEGNE, 2000; WANAPAT et al., 2008a). Sarsaponinas são compostos secundários secundários de yucca (Yucca schidigera) e, trabalhos tem mostrado redução na concentração de amônia e alteração na relação C2: C3 no fluido ruminal(GROBNER et al., 1982; RYAN et al., 1997). Outros autores (Wang et al., 1997; Hristov et al. 1999) não encontraram efeito do extrato dessa planta na concentração de amônia ruminal. Timol é um composto secundário presente no orégano (Origanum vulgare), tomilho branco (46%) reduziu a concentração de C2 e C3 e aumentou a relação C2:C3 in vitro (EVANS & MARTIN, 2000). Evans & Martin (2000) reportaram que a dose de timol (400 mg/dL) foi capaz de modificar a proporção molar de C2 e C3 em 24 horas de incubação in vitro. Neste estudo a adição de orégano afetou somente a proporção C2 e C3, 33 desaparecendo os efeitos após os dias 5 e 6 de incubação, respectivamente. Estes resultados indicam que os microrganismos ruminal adiquiriram tolerância a dose utilizada do óleo de orégano e sugerem que resultados de experimentos a curto prazo devem ser avaliados com cuidado. Alterações semelhantes foram observadas para óleos essenciais de cinamaldeído, alho e anis porém não avaliaram o efeito desses aditivos na proporção individual dos AGCC no rúmen. Em cultura de fluxo contínuo com período de adaptação de seis dias parece ser suficiente para estudos a longo prazo para este tipo de substrato na fermentação microbiana ruminal. Ao trabalharem com óleo essencial de pimenta não encontraram efeito na concentração individual dos AGCC, somente para proporção de valerato no tratamento com óleo de pimenta. Efeito notável durante o período de adaptação foi observado par os óleos essenciais de cinamaldeído, alho, anis e orégano que afetaram a proporção molar de C2 e C3 e butirato entre os dias dois e seis de fermentação não havendo diferença após o dia seis. Estes resultados mostram que estes aditivos possuem efeito de curto prazo na fermentação microbiana ruminal e que a adaptação ocorreu após seis dias (CARDOZO et al., 2004). O pH ruminal é uma das mais importantes variáveis na fermentação ruminal. Quando este é reduzido abaixo de determinados valores, a digestão da fibra e apetite são também diminuídos (MOULD et al., 1983; BRITTON & STOCK., 1987). Russel & Dombrouski (1980) mostram que o pH é altamente correlacionado com a concentração de AGCC os quais são os principais produtos finais da fermentação e os mais importantes no metabolismo energético em ruminantes. Targer & Krause (2011) trabalharam com três óleos (cinamaldeído, eugenol e capsicum) não encontraram efeito para pH ruminal (média 5,72) e AGCC total (média 129,1 mmol/L). A inclusão de 750 mg/dia de óleos essenciais nas bases de timol, eugenol, vanilina, guaiacol e limoneno, os autores encontraram tendência em aumentar o AGCC total no rúmen para silagem de alfafa, o que não foi observado quando esta foi substituída pela silagem de milho (BENCHAAR et al., 2007b; BENCHAAR et al., 2008 b). Tekippe et al. (2011) utilizaram vacas em lactação e óleo essencial de orégano (Origanum vulgare L) na dose de 500 g/dia, não observaram efeito no pH ruminal e concentração de AGCC total. Em vacas Holandesas primíparas, ao testarem doses de orégano (0; 250; 500 e 750 mg/vaca/dia), não foi observado efeito de tratamento no pH ruminal (média 6,21), concentração de AGCC total (média 135,6 mM), acetato e propionato (médias 83,2 e 29,9 mM) respectivamente, porém, houve redução na concentração de butirato variando de 18,3 mM para o grupo controle a 34 17 mM para os grupos que foram suplementados com óleo de orégano (HRISTOV et al., 2013). Em trabalho realizado com vacas secas, cruzadas, Manh et al. (2012) testaram doses (0; 100 e 200 g/animal/dia) de óleo de eucalipto, não encontraram efeito no pH ruminal, porém, houve redução na concentração de AGCC total e acetato (C2). Houve aumento na concentração de propionato (C3) para dose mais alta. Também ocorreu redução na relação C2:C3 para o tratamento com dose mais alta do óleo. Em novilhas de corte, ao avaliarem doses de eugenol (0; 400; 800 e 1600 mg/animal/dia), os autores observaram redução linear na concentração de C2, porém, não houve diferença no pH ruminal (média 6,2) e na concentração de C3 (média 21,6 mmol/L), butirato e AGCC total (média 16,3 e 118,5 mmol/L) respectivamente. Houve tendência em aumentar a proporção molar de C3 (17,3 para 20,9 mol/100 mol) e a relação C2 : C3 tendeu a reduzir (4,3 para 3,2 mol/100 mol) quando a dose aumentou de 0 a 1600 mg/animal/ dia (YANG et al, 2010 a). A suplementação em bovinos de corte com monensina ou mistura de extratos de plantas (cinamaldeído, eugenol, capsaicina) nas doses de (46,7 mg/kg MS e mistura de extratos composto por 266 mg/novilho/dia com cinamaldeído (170 g/kg), eugenol (280 g/kg) e 133 mg/novilho/dia de óleo de capsaicina, os autores não verificaram efeito das doses no pH ruminal (média 5,8), concentrações de AGCC total e AGCC individual. Ao avaliarem três doses de cinamaldeído em novilhas de corte, Yang et al. (2010b) não observaram efeito na fermentação ruminal. Com três doses de cinamaldeído, não foi observado efeito para pH ruminal (média 6,2) e nas proporções de C2, C3 e C4, porém houve tendência em aumentar a concentração de AGCC total de 85 para 106 mmol/L (NEWBOLD et al., 2004). Anassori et al. (2011) realizou três experimentos para avaliar o efeito da suplementação do óleo de alho e monensina em ovinos machos com os seguintes tratamento: controle negativo (sem aditivos), com óleo de alho (75 g/kg MS), dieta com óleo de alho (500 mg/kg MS) experimento 1. No experimento 2 as doses foram semelhantes as do experimento 1 com a diferença de inclusão de óleo de alho nas doses de 100 g/kg da MS e 750 mg/ kg da MS respectivamente. No terceiro experimento quatro borregos foram alimentados com dieta base de óleo de alho na dose de 75 g/kg da MS, 100 g/ kg da MS, 500 mg/kg da MS e 750 mg/ kg da MS. Em todos os experimentos os autores não encontraram efeitos para os valores de pH ruminal com média de (6,43; 6,28 e 6,68 para os três experimentos, 1, 2 e 3 respectivamente), concentração de AGCC total com média de 97.04, 95.18, 96,02 mmol/L, respectivamente. Estes autores 35 concluíram que óleo de alho em geral reduz C2 e aumenta a concentração de C3, causando assim, redução na relação C2:C3 (ANASSORI et al., 2011). Ao trabalharem com dietas contendo alto teor de amido para borregos, foi observada redução marcante no pH ruminal e aumento na concentração total de AGCC quando carvacrol ou cinamaldeído foi ofertado aos mesmos (CHAVES et al., 2008a). Para ovelhas em lactação com doses de (0, 50, 100 e 150 mg/kg de concentrado) com mistura de (timol, eugenol, guaiacol, limoneno, e vanilina) não foi observado alteração no pH ruminal com média de 6,6 e aumentou a proporção molar de C3 de 19,6 para 24,9 mol/100mol. O aumento nas doses destes óleos houve tendência em aumentar a concentração de AGCC total de 115,2 para 126,2 mM e, houve tendência em reduzir a proporção molar de C2 de 67,4 para 62,7 mol/100 mol sem afetar a proporção molar de C4 com média de 9,8 mol/ 100 mol (GIANNENAS et al., 2011). Malecky et al. (2009) não observaram diferenças no pH ruminal e AGCC total em cabras em lactação tratadas com misturas de monoterpenos nas doses de (0, 0.043 e 0.43 g/kg da matéria seca). Aumento na concentração total de C3 foi observada por Wang et al. (2009), porém não observaram mudanças na relação C2 : C3 e no pH ruminal quando trabalhou com óleo essencial de orégano em ovelhas. Ao suplementar cabras em lactação com óleos essenciais nas doses de: 2mL de óleo de alho, 2 mL de cinamaldeído e 2 mL de óleo alho, Kholif et al. (2012) não observou efeito para pH (média de 5,92). Porém, houve aumento na concentração total de AGCC na proporção de C3 e butirato, redução na concentração de acetato e na relação C2:C3. Ao adicionar 2,2 mg/L de conteúdo ruminal de óleo de cade (Juniperus oxycedrus) houve redução na relação C2:C3 em sistema in vitro de fluxo contínuo (BUSQUET et al., 2005a). Em extenso trabalho realizado com bovinos de corte, Cardozo et al. (2005) encontraram redução na concentração total de AGCC, C2, butirato, ácido graxo de cadeia ramificada, relação C2 : C3 e concentração de nitrogênio amoniacal quando pH diminuiu de 7,0 para 5,5, porém houve aumento na concentração de C3. A adição de cinamaldeído não teve efeito (P = 0,68) no pH ruminal, (P = 0,60) na concentração total de AGCC e na proporção molar de C2. Houve tendência (P = 0,06) de interação para dia de amostragem e tratamento na proporção molar de C3. Houve aumento (P = 0,02) na proporção molar de butirato, o que não foi observado para isobutirato, valerato e isovalerato. Houve interação (P = 0,04) tratamento x dia de amostragem para relação C2 : C3 (FRASER et al., 2007). Em extenso trabalho realizado por Araújo (2010) in vitro com 36 óleos essenciais de plantas nas dosagens de 75 µL e 150 µL/mL de líquido ruminal em dietas de alto concentrado (80%) ou alta forragem (feno de Coast cross) sobre os parâmetros de fermentação ruminal e digestibilidade dos nutrientes. Observou-se que o óleo de Erva-baleeira não alterou os parâmetros de fermentação ruminal. Houve redução na produção de gás para óleos essenciais de aroeira frutos e aroeira folhas nas dosagens de 150 µL . Também observou que os óleos essenciais de aroeira (frutos ou folhas) apresentaram menor produção de CH4. Porém as concentrações de AGCC totais C2 não foram afetadas pelos óleos aroeira folhas com aroeira frutos nas dosagens de 75 µL e 150 µL comparadas ao controle (sem aditivo ou óleo) na dieta de alto concentrado (80%), já para o tratamento com alta forragem houve redução na produção de gás e CH4. A concentração de C3 e a relação C2: C3 não foi alterada pelos óleos de aroeira. Para o butirato, houve redução no tratamento com 150 µL de óleo essencial de aroeira folhas para dieta com alta forragem. A concentração de C4 foi menor para aroeira folhas na dose de 150 µL quando comparada ao controle (sem aditivo). Em relação aos isoácidos e valerato, somente o tratamento aroeira frutos 150 µL reduziu (P <0 ,05) a concentração de isobutirato para alta forragem (ARAÚJO, 2010). Já para a dieta com alto concentrado (80%) os tratamentos aroeira folhas 150 µL, aroeira frutos 75 µL e 150 µL reduziram (P < 0,05) a produção de gás. Comparando o tratamento controle e aroeira frutos 150 µL, observou-se redução (P < 0,05) na produção de gás e não observou efeito na concentração total de AGCC (ARAÚJO, 2010). A concentração de C3 foi maior (P < 0,05) para os tratamentos aroeira folhas 150 µL, aroeira frutos 150 µL e aroeira frutos 75 µL em relação ao tratamento controle que segundo o autor esta resposta foi causada devido a menor produção de gás para aroeira frutos 150 µL (ARAÚJO, 2010). Em comparação a dieta controle, o óleo essencial de aroeira frutos reduziu a produção de gás quando expressa por unidade de substrato degradado. Houve redução nas concentrações dos isoácidos para os tratamentos com 150 µL de óleo essencial de aroeira frutos ou folhas. Para os óleos de Capim cidreira (Cymbopogum citratus), Capim limão (Cymbopogum flexuosus) e Citronela (Cymbopogum winterianus) na dieta de alto volumoso houve redução na produção de gás para as duas dosagens 75 µL e 150 µL. Houve redução na produção de gás (mL/g MO degradada) para os óleos essenciais de Capim cidreira (Cymbopogum citratus), Capim limão (Cymbopogum flexuosus) e Citronela (Cymbopogum winterianus) na concentração de 150 µL. A produção de CH4 quando expressa em mL/g MO degradada foi reduzida apenas para o Capim cidreira na concentração de 150 µL. 37 A concentração de AGCC total e C3 foram menores para os tratamentos com Capim cidreira, Capim limão e Citronela na dose de 150 µL e, a concentração de C2 foi reduzida apenas para Capim cidreira e Capim limão na dose de 150 µL. Já para a dose de 75 µL para os três óleos (Capim cidreira (Cymbopogum citratus), Capim limão (Cymbopogum flexuosus) e Citronela (Cymbopogum winterianus) houve redução na concentração de C3 sem efeito na concentração de C2 no tratamento com dieta de alto volumoso (ARAÚJO, 2010). Para dieta de alto concentrado não foi observada diferença na concentração total de AGCC, porém capim cidreira e capim limão aumentaram (P < 0,05) a concentração de C2. Não houve efeito na concentração de C3 (ARAÚJO, 2010). REFERÊNCIAS ARAÚJO, R.C. óleos essenciais de plantas brasileiras como manipuladores da fermentação ruminal in vitro. Tese (Doutorado em Ciências)- Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz – Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2010. ANASSORI, E.; DALIR-NAGHADEH, B.; PIRMOHAMMADI, R.; TAGHIZADEH, A.; ASRREZAEI, S.; MAHAM, M.; FARAHMAND-AZAR, S.; FARHOOMAND, P. Garlic: a potential alternative for monensin as a rumen modifier. Livestock Science, v. 142, p. 276-287, 2011. BAKKALI, F.; AVERBECK, S.; AVERBECK, D.; IDAOMAR, M. Biological effects of essential oils - a review. Food and Chemical Toxicology, Amsterdam, v. 46, n. 2, p. 446 475, 2008. BENCHAAR, C.; BERTHIAUME, R.; PETIT, H.V.;OUELLET, D.R.; CHIQUETTE, J. 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A análise sensorial pode ser definida como uma disciplina científica utilizada para evocar, medir, analisar e interpretar reações das características dos alimentos e materiais da maneira como são percebidas pelos sentidos da visão, olfato, gosto, tato e audição, e pode ser realizada através de três tipos de testes: discriminativos, descritivos ou afetivos. Dentre as características avaliadas em análise sensorial, destacam-se: sabor, aroma, textura e cor. O sabor é uma das características decisivas na aceitação da carne, pois reúne tanto a percepção dos estímulos químicos recebidos pelo olfato e paladar, como dos estímulos físicos recebidos pela visão, audição e tato. O aroma da carne cozida é afetado por fatores, são eles: o método de cozimento, possíveis tratamentos pelos quais a carne foi submetida antes de ser processada tais como: adição de temperos, amaciamento ou tenderização química ou mecânica. Para a textura são importantes os atributos: a maciez, suculência e mastigabilidade. A cor da carne é considerada como característica de qualidade mais importante para a aquisição ou rejeição da carne pelo consumidor no momento da compra, sendo sempre associada à vida de prateleira na gôndola. Portanto, a realização de análises sensoriais é essencial para o bom desenvolvimento de produtos e obtenção de resultados satisfatórios para o consumidor e para as empresas processadoras de carne. Além disso, em pesquisas, com o uso da análise sensorial pode-se indicar qual a aceitação do produto final e determinar características intrínsecas e extrínsecas de produtos cárneos. As técnicas sensoriais destacam-se, portanto, por seu uso variado, podendo ser utilizadas no controle de qualidade, desenvolvimento de produtos e pesquisas. 42 INTRODUÇÃO No Brasil, considerando-se a produção de carne bovina, suína e de aves, o país se encontra como grande produtor mundial de proteína animal, tendo o mercado interno o principal destino de sua produção. Em 2010, a estimativa de produção foi de 24,5 milhões de toneladas de carne (bovina, suína e aves) sendo 75% dessa produção consumida internamente (MAPA, 2013). Seguindo a tendência da produção de proteína animal vem consigo o consumo, neste ano, a população aumentou o consumo de carne per capita em relação ao ano anterior, sendo, 37,4 kg de carne bovina, 43,9 kg para carnes de aves e 14,1 kg de carne suína. (MAPA, 2013). De acordo com ANUALPEC (2004), o aumento na competição do mercado globalizado da carne tem levado alguns produtores e indústrias transformadoras de produtos cárneos a desenvolver produtos de alta qualidade nutricional, sanitária e sensorial, além de rastreáveis, para que estejam de acordo com as condições ambientais, manejo e a abate dos animais. Sendo assim, torna-se necessário o desenvolvimento e introdução de novas tecnologias na criação do animal, no abate, processamento e distribuição do produto final. Além disso, estratégias para avaliar a qualidade do produto final também se tornam cada vez mais importante para a cadeia da carne. Para a determinação do conceito de qualidade de carne envolvem diversos fatores, como manejo e genética dentre outros desde a concepção do animal até o seu preparo pelo consumidor (ANUALPEC, 2004). Segundo Bernard et al. (2007) a qualidade sensorial da carne depende de diversos fatores, como raça, genótipo, idade, alimentação peso ao abate e também de fatores tecnológicos (condições de abate, tempo de maturação e processo de cozimento). A qualidade da carne está relacionada com as características organolépticas, como cor, gordura, odor e sabor, firmeza e textura, maciez e suculência (ANUALPEC, 2004). Segundo Feijó (1999), um produto é considerado de qualidade quando atende às necessidades dos consumidores, como os conceitos de valor nutritivo, sanidade e características organolépticas (odor e sabor, suculência e maciez). A qualidade da carne pode ser dividida em qualidade visual (quando o consumidor observa no momento da compra, principalmente a cor da carne), qualidade gustativa (que determinam se o consumidor comprará novamente aquele produto, destacando para o atributo maciez), qualidade nutricional (nutrientes que são considerados importantes para a saúde) e a segurança (aspectos higiênico-sanitários e ausência de resíduos nocivos à saúde). A qualidade é avaliada somente após o consumo do alimento. Segundo Nassu et al. (2009), maciez e cor são atributos que podem 43 ser medidos por instrumentos, como texturômetros e colorímetros que avaliam a “shear force” (força de cisalhamento) e os parâmetros L, a*, b*, respectivamente. Porém, outros atributos como aroma e sabor, textura (maciez e suculência) podem ser determinados somente com a análise sensorial, devido à percepção humana ser mais completa, por meio de painel de provadores, pois estes atributos não podem ser medidos instrumentalmente (Nassu et al., 2010). Para definir a maciez da carne deve-se analisar a facilidade de mastigá-la, composta por três sensações pelo consumidor: inicial (facilidade de penetração e corte), secundária (resistência à ruptura ao longo da mastigação) e final (sensação de resíduo após a mastigação) (Maturano, 2003). A maciez da carne pode ser determinada por provadores (maciez sensorial), ou pode ser quantificada com o uso de aparelhos específicos, quando trata de medidas físicas da resistência da carne cozida, onde a carne é submetida à compressão ou cisalhamento, quanto maior a força, menor a maciez no corte (Felício, 1999). O sabor e o aroma devem ser discutidos juntos por se complementarem no momento do consumo. Flavor (denominação do conjunto odor e sabor) é a sensação final de uma combinação de estímulos olfativos e gustativos que abrangem as demais características organolépticas (Osório & Sañudo, 2009). Os compostos voláteis (da degradação dos lipídios) e as substâncias solúveis em água podem ser alterados por meio de armazenamento e cozimento (Calkins & Hodgen, 2007). A composição dos ácidos graxos determina os compostos produzidos pela oxidação durante o cozimento, produzindo aldeídos, principais componentes voláteis importantes para o aroma e sabor da carne de determinadas espécies (Mottram, 1998; Wood et al., 2003). A coloração do produto cárneo é por sua vez, um dos atributos de maior importância para mercado consumidor. Carnes que apresentam a coloração escura são associadas pelo consumidor como carne proveniente de animais mais velhos e uma possível deterioração da mesma, levando à inibição da compra e do consumo (Vaz & Restle, 2002; Brondani et al., 2006). REVISÃO DE LITERATURA ANÁLISE SENSORIAL De acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas, a ABNT, a análise sensorial pode ser definida como uma disciplina científica utilizada para evocar, medir, analisar e interpretar reações das características dos alimentos e materiais da maneira como são percebidas pelos sentidos da visão, olfato, gosto, tato e audição (ABNT, 1993). Ainda, refere-se a técnicas de medida, por meio da quantificação e interpretação das características dos alimentos, que são percebidas por todos os sentidos pertencentes ao homem 44 (PMSP, 2008). Segundo Nassu (2007), por se tratar de uma avaliação multidisciplinar, a análise sensorial envolve ainda outras características inerentes a diferentes disciplinas, como fisiologia, psicologia, estatística e ciência e tecnologia dos alimentos. As técnicas sensoriais destacam-se por seu uso variado, podendo ser utilizadas no controle de qualidade, desenvolvimento de produtos e pesquisas (Meilgaard et al., 1997). A análise sensorial pode ser realizada com auxílio de três tipos de testes: discriminativos, descritivos ou afetivos. TESTES DISCRIMINATIVOS Os testes sensoriais que utilizam os métodos discriminativos podem ser usados para direcionar alguns objetivos práticos. Neste tipo de teste podem ser detectadas diferenças ou similaridade entre as amostras, dependendo da necessidade da pesquisa realizada, ou seja, é possível perguntar aos provadores se, por exemplo, duas amostras apresentam alguma diferença, de modo a excluir um determinado tratamento de um sistema de criação, ou ainda se duas amostras apresentam similaridade sensorial, a fim de incluir uma nova metodologia de armazenamento para diferentes produtos, com a finalidade de deixá-los semelhantes (Meilgaard et al., 1997). Os testes discriminativos mais comumente empregados são: triangular, duo-trio, ordenação, comparação pareada, comparação múltipla, diferença do controle e sequencial (Meilgaard et al., 1997; Zenebon et al., 2008). TESTES DESCRITIVOS Os testes descritivos possuem a capacidade de descrever quantitativa ou qualitativamente as amostras de interesse, utilizando escala com intervalos ou proporções. Estes métodos envolvem a utilização de um painel treinado (grupo de pessoas treinadas para avaliar produtos de acordo com as características desejadas) para detectar e descrever os aspectos sensoriais qualitativos e quantitativos da amostra (Nassu, 2007). Os testes descritivos mais comumente utilizados são: perfil de sabor, perfil de textura e análise descritiva quantitativa. Nestes testes são verificados características ou componentes sensoriais como aparência, odor e sabor, textura manual, textura oral, sensações táteis e superficiais e sabor e gosto (Meilgaard et al., 1997; Zenebon et al., 2008). TESTES AFETIVOS Os testes sensoriais afetivos são aqueles nos quais prevalece a opinião do consumidor. Nesta modalidade de teste, uma série de amostras é apresentada 45 a um indivíduo, sem conhecimento prévio dos tipos de teste ou tratamentos, e que se encaixa em um perfil de um potencial consumidor ou consumidor já estabelecido para o produto em teste. É a forma mais simples e usual de medir a preferência do consumidor por algum produto determinado. Em testes afetivos objetiva-se avaliar a resposta pessoal (preferência e/ ou aceitação) pelos clientes atuais ou potenciais de um produto, uma ideia de produto ou características de um produto específico. As razões que levam à realização dos testes afetivos podem ser: manutenção de um produto no mercado, melhoramento ou otimização de um produto já existente, desenvolvimento de novos produtos, avaliação de potencial de mercado, revisão da categoria do produto e suporte para área de marketing (Meilgaard et al., 1997). De maneira geral, os testes afetivos podem ser classificados em duas diferentes categorias: teste de preferência ou escolha e teste de aceitação. Os testes afetivos mais comumente utilizados são: de preferência, de aceitação (podendo ser realizado por escala hedônica ou do produto ideal) e teste de intenção (realizado para avaliar a intenção de compra sobre determinados produtos) (Meilgaard et al., 1997; Zenebon et al., 2008). CARACTERÍSTICAS AVALIADAS AROMA E SABOR O odor é produto da passagem de substâncias voláteis passam pelas estruturas nasais e são percebidas por sistema olfativo. O aroma é caracterizado quando o odor dessas substâncias voláteis aspiradas de forma voluntária ou não, é oriunda dos alimentos, já as fragrâncias é o odor de um perfume ou cosmético. Sabor como um atributo de alimentos bebidas, e condimentos tem sido definido (Amerine et al., 1965) como a soma das percepções resultantes da estimulação das extremidades sensoriais que são agrupados na entrada do alimentar e vias respiratórias. Porém, para fins de análise sensorial prático, os autores preferem seguir Caul (1957) e restringir o termo às impressões percebidas por meio dos sentidos químicos de um produto na boca. Definido desta maneira, o sabor inclui: • Os compostos aromáticos, ou seja, percepções olfativas causadas por substâncias voláteis libertados a partir de um produto na boca através das narinas posteriores. • Os gostos, ou seja, percepções gustativas (salgado, doce, azedo, amargo) causadas por substâncias solúveis na boca. 46 • Os fatores de sentimento químicos, que estimulam terminações nervosas nas membranas suaves das cavidades bucal e nasal (adstringência, o calor de especiarias, de refrigeração, mordida, sabor metálico, sabor umami). O sabor é um dos atributos decisivos na aceitação da carne. A impressão deixada pelo sabor reúne tanto a percepção dos estímulos químicos recebidos pelo olfato e paladar, como dos estímulos físicos recebidos pela visão, audição e tato. Northcutt (1997) relatou que vários compostos, como aminoácidos, ácidos graxos e nucleotídeos contribuem para a formação do gosto e do odor da carne cozida. A textura tem raízes físicas e o sabor tem raízes químicas (Szczezniak, 1998). Segundo Ferreira (2000), o sabor é uma experiência mista, porém, unitária de sensações olfativas, gustativas e táteis percebidas durante a degustação. O sabor é influenciado pelos efeitos táteis, térmicos ou sinestésicos. A carne crua apresenta um aroma mais leve que a carne quando cozida, aroma este devido á presença do ácido lático. Existem variações no aroma da carne crua que estão relacionados ao sexo, idade e espécie do animal em questão. O aroma da carne cozida é afetado por fatores além daqueles que afetam a carne crua. São eles o método de cozimento e os possíveis tratamentos aos quais a carne foi submetida antes de ser processada tais como: adição de temperos, amaciamento ou tenderização química (Meilgaard et al., 1997). De acordo com estudo realizado por Yang e Jiang (2005), as aves que atingem a maturidade sexual apresentam um sabor diferenciado em sua carne, e por esse motivo, a carne de aves abatidas com mais de 75 dias é considerada mais saborosa por alguns consumidores. Os maiores precursores do sabor da carne podem ser divididos em duas categorias: os compostos solúveis em água e a fração lipídica. Os compostos solúveis em água são tiamina, glicogênio, nucleotídeos, açucares livres, aminoácidos e aminas (Mottram, 1998). Existem três principais interações entre gordura e sabor. Primeiramente, a gordura é capaz de absorver compostos de sabor hidrofóbicos, tanto os presentes em animal vivo como os formados durante o cozimento. Em segundo, a gordura é precursora de um grande número de compostos responsáveis pelo sabor, tais como aldeído, cetonas, ácidos graxos, alcoóis secundários, que podem contribuir para a formação de aromas e sabores, tanto os desejáveis como os indesejáveis (Goutefongea & Dumont, 1990). Segundo Mottram (1998), o aquecimento é capaz de produzir aromas e sabores em carnes muito distintos daqueles existentes na carne crua. De acordo com o autor, durante esse processo, ocorre uma série de reações termicamente induzidas entre os compostos não voláteis da carne e o tecido adiposo, resultando num grande número de produtos. 47 Segundo Mottram (1998), os precursores do sabor e aroma da carne são divididos em componentes solúveis em água (açúcares livres, nucleotídeos ligados aos açúcares, aminoácidos livres, peptídeos e outros compostos nitrogenados) e os lipídios. As principais reações que ocorrem durante o cozimento, resultando em aromas voláteis são as envolvidas na reação de Maillard entre aminoácidos, açúcares redutores e a degradação térmica de lipídios. O sabor e aroma de assado nos alimentos são usualmente associados à presença de compostos heterocíclicos, como pirazinas, tiazoles e oxazoles. Esses compostos aumentam com a severidade do tratamento térmico conferido à carne, podendo alterar o sabor e aroma. Noble (1996) informou que a interação entre sabor e aroma de um alimento na avaliação sensorial não pode ser removida nem com o painel rigorosamente treinado. Cada membro do painel sensorial avalia o alimento de forma diferente, em função da atenção seletiva dada aos diferentes atributos, preferências individuais e variações na sensibilidade individual. Isso explica, em parte, o alto coeficiente de variação observado para sabor e aroma das amostras avaliadas neste experimento. A influência dos ácidos graxos no sabor da carne foi estudada por Jenschke et al. (2008), os quais verificaram que ao aumentar a porcentagem de C18:2 n-6, o sabor desagradável diminuía, enquanto ao elevar a concentração de C18:2 cis 9 - trans 11 e C20:1 n-9, o sabor desagradável tornava-se mais evidente. Entretanto, da Costa (2009) não notou aumento da concentração destes ácidos e observou alterações no sabor e aroma da carne. Gibb et al. (2004) avaliaram os efeitos da inclusão de sementes de girassol ricas em ácido linoléico ou oléico, na proporção de 10,8% e 14% MS da dieta, sobre a palatabilidade do músculo Longissimus de bovinos alimentados com rolão de milho ou cevada. Os autores concluíram que a adição das sementes de girassol não alterou as propriedades organolépticas da carne dos animais alimentados com cevada, enquanto que nas dietas à base de rolão de milho, a adição de sementes ricas em ácido oléico melhorou a maciez e suculência da carne. Em relação ao uso de caroço de algodão integral e características organolépticas da carne, Medeiros et al. (2003) avaliaram o músculo Longissimus de bovinos mestiços de diferentes grupos genéticos recebendo dietas contendo ou não caroço de algodão, na proporção de 9,5% da MS e não observaram diferença significativa em relação ao sabor da carne. Shibuya (2004) utilizou painel não treinado e também não encontrou diferença entre as dietas, quanto ao sabor e a aceitação global do o músculo Longissimus (maturado por sete dias) de novilhos mestiços alimentados com dietas contendo gordura protegida ou caroço de algodão. Também, Trischitta et al. (2008) correlacionaram o “sabor estranho” da carne com a toxicidade do gossipol, 48 que gera uma sobrecarga metabólica no fígado, alterando as características organolépticas da carne. Da Costa (2009) relatou alterações no sabor e aroma da carne de novilhos Nelore alimentados com 34% de caroço de algodão durante 94 de confinamento. Sanders et al. (1997) avaliaram a preferência dos consumidores pela carne de bovinos suplementados com vitamina E concluíram que 91% dos consumidores preferiam a carne de bovinos suplementados, quando comparado a carne de animais do grupo controle. Isso se deveu ao fato de a vitamina E promover melhor estabilidade na coloração da carne, fato que proporciono uma maior aceitabilidade pelos provadores. Com relação ao aroma, Sarraga et al. (2007), em estudo realizado com suínos alimentados com três dietas diferentes (controle, 50ppm de α-tocoferol e 200ppm de α-tocoferol) observaram que a alta dosagem de vitamina E resultou em aroma mais suave após armazenagem, indicando a atuação do α-tocoferol sobre a redução da oxidação dos lipídios. Dal Bosco et al. (2004), em estudo com coelhos suplementados com diferentes doses de vitamina E (50mg/kg e 200mg/kg de acetato de α-tocoferol), observaram que a carne de animais suplementados com vitamina E possui maior maciez e melhor aceitabilidade geral, quando comparado ao tratamento controle. Outros métodos utilizados para aumentar o período de conservação das carnes podem alterar a aceitação sensorial da carne. Park et al. (2010), avaliaram sensorialmente hambúrgueres embalados a vácuo e irradiados com doses de 0, 5, 10, 15 e 20 kGy para uma estocagem acelerada a 30°C por 10 dias. Não foi observada diferença para cor, mastigabilidade, sabor, para as amostras irradiadas com raios gama para uma dose de 10,0 kGy e a qualidade global para a dose de 5kGy. De forma similar, Alves (2008) avaliou paleta e pernil de cordeiro irradiados com doses de 1,0,3,0 e 5,0 kGy e armazenados a 2°C por 30 dias e não relataram diferenças entre as amostras irradiadas e não irradiadas, para os atributos de aroma, sabor, cor e impressão global. TEXTURA Segundo Dransfield et al. (1994) a textura dos alimentos é uma característica sensorial que possui os atributos primários: maciez, coesividade, viscosidade e elasticidade; secundários, como: gomosidade, mastigabilidade, suculência, fraturabilidade e adesividade; e residuais como: velocidade de quebra, absorção de umidade e sensação de frio na boca. Os atributos mais importantes para a textura da carne são: a maciez, suculência e mastigabilidade (Shimokomaki, 1973). 49 MACIEZ Segundo Seuss & Honikel (1989) a maciez é talvez o fator mais importante para o consumidor, para julgar a qualidade da carne. Os fatores que podem afetar a maciez da carne apresentam duas origens: • Fatores ante-mortem: idade, sexo, nutrição, exercício, estresse antes do abate, presença de tecido conjuntivo, espessura e comprimento do sarcômero; • Fatores post-mortem: estimulação elétrica, rigor-mortis, resfriamento da carcaça, maturação, método de temperatura de cozimento e pH final. A maciez da carne é provavelmente a característica mais estudada quando a preocupação é o consumidor. O segundo atributo de importância parece ser a suculência (Chambers & Bowers, 1993). O consumidor utiliza os atributos de textura para determinar a qualidade e a aceitabilidade da carne, e a melhor qualidade é expressa em maior maciez e maior suculência (Borges et al., 2006). Maciez pode ser atribuída à percepção sensorial (paladar) que o consumidor tem da carne, como: resistência à língua, à pressão do dente, aderência e resíduo pós mastigatório, ou seja, uma variedade de fatores fortemente subjetivos (Belcher et al., 2007; Muchenje et al., 2009). A impressão geral da maciez para o paladar se deve, primeiramente, a facilidade de penetração da carne pelos dentes. Em segundo, a facilidade com a qual a carne se fragmenta e, em terceiro, a quantidade de resíduo que permanece após a mastigação (Price & Schweigert, 1971). A maciez da carne pode ser medida por meio subjetivo ou objetivo. O método subjetivo se utiliza de painel sensorial em que um grupo de pessoas treinadas classifica a carne em relação à maciez após ter provado as amostras. O método objetivo utiliza equipamento, como o texturômetro, que mede a força necessária para o cisalhamento de uma seção transversal de carne e, quanto maior a força dispensada, menor é a maciez apresentada pelo corte de carne (Alves et al., 2005; Ramos & Gomide, 2007). Pesquisas tem demonstrado que existem correlações de média a alta entre os resultados da mensuração física e da avaliação sensorial desse atributo, ou seja, uma carne considerada macia com base, por exemplo, na forca de cisalhamento, tem grande probabilidade de ser considerada macia por provadores treinados (Felício, 1999). A maturação consiste no amaciamento progressivo da carne fresca embalada a vácuo e mantida em refrigeração, Durante este período, as enzimas proteolíticas do músculo, notadamente as calpaínas, enzimas dependentes 50 de cálcio, agem produzindo degradação parcial da integridade estrutural do sarcômero (Cardoso et al., 2012). O processo de maturar a carne afeta diretamente a força de cisalhamento e melhora a maciez da carne ao corte sendo então uma alternativa eficiente para a resolução das diferenças individuais na maciez e entre grupos genéticos e idades dos animais, promovendo um produto mais homogêneo para o consumidor e aumentando seu valor no mercado (Monsón et al., 2004). De acordo com Smith (2001), as carcaças de animais bem acabados, com cobertura de gordura adequada e com bom grau de marmorização, tendem a apresentar carne mais macia quando avaliadas por técnicas laboratoriais ou painéis de degustação. O efeito da gordura de marmorização na maciez seria em função da diminuição da densidade da carne, com a menor tensão entre as camadas de tecido conjuntivo, propiciando maior “lubrificação” da proteína pelos lipídios e pela capacidade da gordura provocar maior salivação. A raça está altamente correlacionada com a maciez de carne (Alves et al.,2005;Muchenje et al., 2008). Historicamente, a carne dos zebuínos (Bos indicus) era identificada como dura, porque esses animais eram criados em pasto e abatidos mais velhos, se comparados com as raças precoces de bovinos americanos ou europeus. A menor maciez da carne dos zebuínos também era justificada pela alta correlação positiva entre a idade de abate dos animais e o número de ligações cruzadas termoestáveis do colágeno dos músculos, favorecendo a dureza da carne, e ainda pela menor deposição de gordura na carcaça e ao fato de não apresentar gordura intramuscular (marmorização), o que favorecia o resfriamento mais rápido das massas musculares, provocava o encurtamento dos sarcômeros (unidades contrácteis dos músculos) e, consequentemente, o endurecimento da carne. Wheeler et al. (1990) e Whipple et al. (1990) demonstraram que outro fator estaria relacionado às diferenças entre a maciez da carne de Bos taurus e Bos indicus. Estes autores observaram que animais zebuínos apresentam concentrações de calpastatina no músculo superiores aos taurinos. A calpastatina é o inibidor da ação da calpaína durante o processo de proteólise post mortem. Foi observada estreita relação entre este inibidor com a menor maciez da carne. Koohmaraie (1992) e Koohmaraie & Geesink (2006) atribuíram 15% da variabilidade na maciez da carne bovina às diferenças em marmorização e colágeno, e a maior parte dos 85% restantes às variações nas alterações post mortem, ou seja, no processo enzimático que leva ao amaciamento da carne, conhecido como maturação. A força de cisalhamento é utilizada para avaliar a maciez da carne. Uma força maior para o cisalhamento indica maior dureza da carne. Durante o aquecimento até 50-60ºC ocorre um aumento da força de cisalhamento. Em temperatura de 65ºC ocorre uma queda brusca desta força, que aumenta 51 novamente até chegar aos 80ºC, para em seguida diminuir novamente. Esta curva da força do cisalhamento durante o aquecimento pode variar conforme a idade do animal. Wheeler et al. (1994) relatam que novilhos de 18 meses apresentam curvas diferentes de novilhos de 6 meses, principalmente devido a presença de enlaces transversais termoestáveis de colágeno. Embora os estudos a respeito dos efeitos do tempo e da temperatura de cocção na maciez da carne sejam um tanto quanto contraditórios (Bouton & Harrys, 1972, Bailey, 1985), Visser et al. (1960) e Lawrie (1966) concluíram que a cocção atua na estrutura da carne, convertendo o tecido conjuntivo, mais especificamente o colágeno, em gelatina solúvel, enquanto que o seu aumento promove a coagulação das proteínas miofibrilares, favorecendo o endurecimento da carne. Temperaturas entre 57 - 60°C favorecem a solubilização do colágeno, sem ocasionar a coagulação das proteínas das miofibrilas. Paul et al. (1973) e Penfield & Meyer (1975) demonstraram que o grau de penetração do calor nas fibras musculares resulta em transformações significativas na estrutura proteica da carne. Assim, a partir das observações feitas, os autores concluíram que baixas temperaturas de cocção permitem um maior período de cozimento da carne, enquanto que elevadas temperaturas exigem tempos de cocção menores. Souza (2008) ao comparar os efeitos da temperatura de cocção na força de cisalhamento medida por meio de texturômetro em Longissimus verificou diferença na maciez de bifes assados em temperaturas de 71 e 74°C. Com base nestes resultados, pôde-se observar que uma pequena variação na temperatura já é suficiente pra causar alterações na maciez da carne. SUCULÊNCIA A capacidade de retenção de água (CRA)tem importante papel sob o ponto de vista sensorial, é um parâmetro bio-físico-químico que se poderia definir como o maior ou menor nível de fixação de água de composição do músculo nas cadeias de actino-miosina,sendo a característica determinante da suculência. A suculência da carne pode apresentar-se em duas formas de sensação: inicialmente de umidade (mastigação, pela rápida liberação de suco) e a causada pela liberação do soro e pelo efeito estimulante da gordura sobre o fluxo salivar. Esta última é responsável pela sensação final de secura nas carnes de animais jovens sem ou com pouca gordura. A carne de boa qualidade é mais suculenta devido, em parte, ao conteúdo de gordura intramuscular. A quantidade de gordura intramuscular da carne é dos fatores determinantes da suculência. Logo, conclui-se que esta sensação depende tanto da qualidade, como da quantidade do tecido adiposo e da CRA (Sañudo, 1992). A gordura intermuscular atua como uma barreira contra a perda do 52 suco muscular durante o cozimento, aumentando, portanto, a retenção de água pela carne e aumento da suculência. A gordura intramuscular aumenta a sensação de suculência na carne. A maturação da carne a 0ºC por 14 a 21 dias também aumenta a suculência da carne devido ao aumento da capacidade de retenção de água. O processo de maturação apresenta influência nas propriedades organolépticas da carne, em especial na sua maciez e odor, influindo significativamente em sua palatabilidade (Pardi et al., 2001). A suculência da carne depende também de perdas durante o cozimento. A utilização dos métodos apropriados de cozimento, como cozimento lento e/ ou com calor úmido, pode aumentar a suculência. O cozimento além da medida pode ressecar a carne. A melhor maneira de incrementar a suculência da carne é aprender o melhor método de cozimento. Temperaturas de 80ºC produzem maiores perdas no cozimento que temperaturas ao redor de 60ºC. A retenção de água e o conteúdo de gordura determinam a suculência. A marmorização e a gordura ao redor das bordas ajudam a manter a umidade. As perdas hídricas resultam da evaporação e exsudação. Segundo Kauffman & Marsh (1994), a quantidade de gordura intramuscular aumenta com a idade, estando positivamente correlacionada com o teor de gordura na carcaça. A gordura subcutânea (de cobertura) tem função protetora, evitando as perdas e melhorando a maciez da carne (Sañudo et al., 2000). A velocidade de queda do pH também está relacionada à alteração da qualidade da carne. A rápida acidificação causa a desnaturação das proteínas musculares, diminuindo sua capacidade de retenção de água (Lawrie, 2005). Por outro lado, o efeito do sexo do animal, é discutível. Touralle (1991) e Gularte et al. (2000) verificaram que a carne ovina das fêmeas é mais macia que a dos machos quando o animal tem a mesma idade.Porém, Sañudo (1991), em pesquisa com animais jovens, não encontrou diferença na maciez da carne de machos e fêmeas. MASTIGABILIDADE A mastigabilidade é um atributo secundário da textura que é avaliado pelo número de mastigadas necessário para deixar a carne em condições de deglutição e apresenta alta correlação positiva com a maciez (Roça, 2000). Segundo Sá et al. (2007), a carne da carcaça de ovinos que sem resfriamento (in natura) mostrou-se mais macia e de melhor mastigabilidade, sendo considerada mais fácil de deglutir do que a carne das carcaças resfriadas e congeladas que não diferiram entre si. Segundo Roça (1993) as condições de resfriamento e temperatura de armazenamento das carcaças de animais recémabatidos podem determinar alterações significativas na velocidade das reações químicas post mortem e, consequentemente, nas características sensoriais da carne. 53 COR Dentre os atributos sensoriais existentes, a cor é a de mais fácil percepção, além de ser o único atributo que o consumidor consegue avaliar antes de comprar o produto, ou seja, é o primeiro critério utilizado pelo consumidor no momento da compra (Muchenje et al., 2009). Um dos principais fatores que influenciam a cor da carne é a mioglobina (Mb), pigmento intrínseco do músculo e que depende de inúmeros fatores, como espécie, idade do animal, localização anatômica do músculo e sistemas de alimentação. Outras variáveis como condições pré-abate, estado de oxigenação e oxidação do músculo também interferem na coloração final da carne (Abril et al., 2001). Segundo Lawrie (2005), carnes de coloração vermelho-escura ou amarronzada são indicativas para os consumidores de carnes deterioradas ou oriundas de animais velhos. Carnes de coloração claramente anormal, como esverdeada, são de fato indicativas de deterioração microbiana. Ainda, a cor da carne está intimamente relacionada ao pH final. Após o abate, o glicogênio do músculo é transformado em ácido lático, sob ação de várias enzimas, levando à queda do pH. Esse processo chama-se glicogenólise (Souza, 2006). A velocidade de queda do pH, bem como o pH final da carne após 24 horas, é muito variável. A queda do pH é mais rápida nos suínos, intermediária nos ovinos e mais lenta nos bovinos. Para bovinos, normalmente a glicólise se desenvolve lentamente; o pH inicial (0 hora) em torno de 7,0 cai para 6,4-6,8 apos 5 horas e para 5,5 - 5,9 apos 24 horas (Roça, 2001). A reserva de glicogênio muscular pode ser parcial ou totalmente consumida durante o pré-abate, principalmente devido à fatores estressantes, como transporte, manejo e mistura de lotes. Consequentemente, há uma diferença no estabelecimento do rigor mortis, que ocorre logo na primeira hora, mesmo antes da carcaça ser encaminhada para a câmara fria, devido à falta de reserva energética para sustentar o metabolismo anaeróbio e produzir ácido lático que possibilite a queda de pH para 5,5 nas primeiras 24 horas post mortem. Desta maneira, a carne resultante terá um pH acima de 5,5, proporcionando uma alteração na capacidade de retenção de água e da coloração, dando origem à carne DFD (“dark, firm and dried”) (Felício, 1997). Quando há uma decomposição acelerada do glicogênio muscular, o pH tende a baixar rapidamente, geralmente inferior a 5,8, enquanto a temperatura do músculo ainda está próximo do estado fisiológico (>38ºC), acarretando um processo de desnaturação proteica e comprometendo as propriedades da carne, este é o principal problema nas indústrias de carne suína, conhecido como PSE (Pale, Soft, Exudative), que proporciona uma carne com baixa capacidade de retenção de água, textura flácida e cor pálida (D’Souza et al., 1998) . Carnes com pH entre 5,8 e 6,0 tendem a apresentar melhor estabilidade 54 da cor durante a preparação de cortes e bifes nos locais de comercialização, se comparadas a carnes com pH fora dessa faixa (Powell et al., 1996). A cor da carne pode ser medida por vários métodos dentre os quais, o uso de colorímetro. Existem algumas escalas para se medir cor, porém o método de espaço L* a* b* é o mais utilizado, também conhecido como CIELAB, foi desenvolvido pelo CIE em 1976 e é muito utilizado em todas as áreas onde a mensuração de cor é necessária. Neste espaço, L* indica luminosidade e a* e b* são as coordenadas de cromaticidade, nas quais o eixo –a*-----+a* vai de verde a vermelho, e –b*-----+b * vai de azul a amarelo. Em cada uma dessas direções (eixos a e b), quando se caminha para as extremidades tem-se maior saturação da cor (CIE, 1986). Wood & Enser (1997) relataram que a vitamina E é o principal antioxidante solúvel que atua nos tecidos animais post mortem, atrasando a deterioração oxidativa da carne. A vitamina E pode ser armazenada em todos os tecidos do corpo e tem maior volume de armazenamento no fígado (Maynard et al., 1979), já Machlin, (1984), incluiu os tecidos muscular e adiposo como principais depósitos desta vitamina, baseado na massa e na capacidade destes tecidos em armazenar vitaminas. A oxidação lipídica e o desenvolvimento da cor nas carnes de ruminantes são influenciados tanto pela composição de ácidos graxos como pela concentração de antioxidantes nos tecidos, a exemplo da vitamina E (Scollan et al., 2001). Ao comparar animais terminados a pasto e animais confinados com rações a base de grãos, Warren et al. (2002) verificaram que a carne oriunda dos animais alimentados a pasto apresentou uma coloração vermelha brilhante, diferentemente da carne dos animais confinados. Como a concentração total de ácidos graxos insaturados na carne (que poderiam influenciar na oxidação da carne) foi semelhante para os dois grupos (confinados ou não), concluiu-se que os antioxidantes presentes no pasto promoveram níveis mais elevados de vitamina E nos tecidos desses animais, consequentemente causando menor oxidação lipídica e, portanto, com maior conservação da cor vermelha brilhante da carne, sendo, desta forma, mais atrativa do ponto de vista comercial. Estes resultados corroboram com Sañudo et al. (1996) que observaram que o músculo de animais terminados a pasto é mais exigido e, consequentemente, apresentam maior quantidade de mioglobina, aumentando a proporção de fibras vermelhas entre as fibras brancas, prevalecendo a coloração vermelho brilhante. Entretanto, de acordo com Priolo et al. (2001), bovinos terminados em pastagens apresentam coloração de carne geralmente mais escura que animais terminados em confinamento. De acordo com estudos de Brondani et al. (2006), avaliando diferentes níveis de energia na dieta de bovinos Aberdeen Angus e Hereford, verificou-se 55 que o nível energético da dieta influenciou a cor da carne apenas nos animais Aberdeen Angus, que receberam o menor nível de energia e apresentaram carne com melhor coloração (vermelho viva). Em animais Hereford, não foi observada diferença entre os níveis de energia testados. Bonagurio et al. (2003) avaliaram a cor da carne de cordeiros machos e fêmeas Santa Inês e de cordeiros machos e fêmeas Texel x Santa Inês, observaram efeito do sexo na cor da carne, verificaram que a carne dos cordeiros machos apresentou coloração mais vermelha e menos luminosa em relação às fêmeas. Por outro lado, Gonçalves et al. (2004) não observaram diferença para a cor da carne, em relação ao sexo dos animais. Além da coloração da carne em si, o consumidor ainda avalia a cor da gordura e a relaciona com a idade dos animais, de modo que, para o consumidor, gordura com coloração branca é proveniente de animais jovens, enquanto a gordura amarelada é associada a carne de animais de maior idade (Briskey & Kauffman, 1971). Entretanto, essa coloração pode ser influenciada pela quantidade de pigmentos carotenóides que se depositam na gordura, e que podem ser oriundos dos diferentes tipos de terminação (Bressan et al., 2004). Por outro lado, animais mais velhos apresentam gordura mais amarelada, pois, com o aumento da idade, ocorre deficiência da enzima xantofila oxidase (Lawrie, 2005). CONSIDERAÇÕES Um dos maiores desafios da indústria da carne é tornar seus produtos competitivos no mercado. Porém, é necessário responder a algumas perguntas, tais como, “quem é o consumidor que se pretende conquistar”? “O que quer esse consumidor”? Como objetivo de verificar possíveis influências nos diferentes fatores produtivos ou tecnológicos sobre o produto final e sua aceitabilidade, a análise sensorial pode ser utilizada para diferentes fins como, por exemplo, a busca por um produto de melhor qualidade, procurando assim atender novos mercados consumidores, ou para a determinação e criação de normas técnicas ou referências, a fim de garantir a qualidade de todos os produtos envolvidos no processamento dos alimentos e, consequentemente, no produto final, que chegará ao consumidor. Ainda, esta ferramenta pode ser utilizada pela indústria como forma de buscar as características comerciais ideais do produto, atendendo às exigências dos consumidores, desempenhando, portanto, um papel de destaque no desenvolvimento ou melhoramento de novos produtos. Portanto, a realização de análises sensoriais é essencial para o bom desenvolvimento de produtos e obtenção de resultados satisfatórios para o consumidor e para as empresas processadoras de carne. Além disso, em 56 pesquisas, com o uso da análise sensorial pode-se indicar qual a aceitação do produto final e determinar características intrínsecas e extrínsecas de produtos cárneos. As técnicas sensoriais destacam-se, portanto, por seu uso variado, podendo ser utilizadas no controle de qualidade, desenvolvimento de produtos e pesquisas. REFERÊNCIAS ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Análise sensorial de alimentos e bebidas – NBR 12806. Rio de Janeiro: ABNT, 1993. 8 p. ABRIL, M.; CAMPO, M. M.; ÖNENÇ, A.; SAÑUDO, C.; ALBERTÍ, P.; NEGUERUELA, A. I. 2001. Beef Colour evolution as a function of ultimate pH.Meat Science, 58:69-78. ALVES, D. D.; GOES, R. H. T. B.; MANCIO, A. B. 2005. Maciez da carne bovina. Ciência Animal Brasileira, 6:(3)135-149. 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Na inter-relação nutrição e reprodução de fêmeas suínas, poucos estudos referem-se ao emprego de aminoácidos sintéticos nas dietas de marrãs pós-púberes e primíparas nas fases de gestação e lactação. A glutamina (Gln) é um aminoácido não essencial, mas em situações de estresse e catabolismo intenso torna-se “essencial”, uma vez que participa ativamente no metabolismo proteico. Por suas inúmeras funções e resultados encontrados na literatura, Wu et al. (2011) acreditam que a glutamina deveria constar no NRC, participando da formulação das dietas dos suínos. Estudos desenvolvidos no Laboratório de Pesquisas em Suínos (LPS) com a suplementação de L-glutamina e L- ácido glutâmico destacaram maior valor numérico de corpos lúteos no 5º dia de gestação e maior número de células vivas embrionárias e menor de mortas acompanhado da menor variabilidade. Nas primíparas, valores numéricos superiores foram constatados na condição corporal (peso e espessura de toucinho) no terço final da gestação, acompanhado da menor variabilidade, que repercutiu em ganho de peso na lactação. Diferenças numéricas também foram registradas particularmente quanto ao maior peso e uniformidade dos fetos aos 70 dias da segunda gestação. Diante dos achados descritos na literatura e os resultados encontrados no LPS, pesquisas mais aprofundadas e inter-relacionadas com a reprodução e a produtividade das fêmeas, no que diz respeito a condição corporal e metabólica devem ser investigadas. INTRODUÇÃO Na inter-relação nutrição e reprodução de fêmeas suínas, poucos estudos referem-se ao emprego de aminoácidos sintéticos nas dietas de 63 marrãs pós-púberes e primíparas nas fases de gestação e lactação. Apesar de a glutamina ser considerada um aminoácido não essencial, é precursora de vários aminoácidos essenciais que desempenham inúmeras funções biológicas, tornando-se ainda, em situações de estresse e de catabolismo intenso, em aminoácido essencial. Essa última condição, surge devido a sua ativa participação no metabolismo protéico, e desta feita, influencia não somente no período de lactação, mas na própria recuperação da fêmea após o desmame. Há evidências, neste particular, de que fêmeas com grande perda de peso na lactação, tendem a retardar a manifestação do cio pós-desmame, aumentando o intervalo desmame-estro (MANSO, 2006). Além disso, a glutamina é o α-aminoácido livre mais abundante no corpo dos mamíferos, e grandes quantidades são extraídas pelo feto durante a prenhez e pela glândula mamária durante a lactação (MANSO FILHO, et al., 2008). O objetivo do artigo é oferecer algumas informações sobre a utilização da glutamina para fêmeas suínas considerando os efeitos em marrãs e primíparas com reflexos nos embriões, fetos e leitões. Alguns dados são apresentados de metodologias experimentais desenvolvidas com essas classes de animais no Laboratório de Pesquisa em Suinos. PRODUTIVIDADE DA FÊMEA SUÍNA Para a produção do maior número de leitões/porca/ano, deve-se almejar na matriz, aliada a sua prolificidade, uma vida útil reprodutiva longa. Nesta condição, diversos fatores influenciam na eficiência da vida reprodutiva da fêmea, onde a multifatoriedade deve ser adequadamente investigada para que possam ser diagnosticados, na convergência da interação dos fatores, os aspectos que vão interferir diretamente na melhora da produtividade. Assim sendo, os diferentes programas para o rebanho, sanitário, reprodutivo, nutricional, manejo e outros se intercruzam na dinâmica do sistema de produção para o aperfeiçoamento de sua eficiência produtiva e reprodutiva. No manejo reprodutivo, como exemplo, a biotécnica da inseminação artificial vem possibilitar a introdução de reprodutores de alto valor genético, os quais influenciam no melhor controle da eficiência reprodutiva, havendo a mais acurada detecção de falhas reprodutivas tanto de machos, quanto de fêmeas (VIANNA et al., 2003), além de ser uma técnica fácil de ser realizada por pessoal treinado. Nesta linha de práticas de manejo, protocolos hormonais vêm sendo utilizados nas metodologias experimentais com sucesso na sincronização do estro à puberdade. Os estudos tem sido desenvolvidos com a aplicação da gonadotrofina coriônica equina (eCG), seguido do hormônio luteinizante (LH) suíno (Moretti et al., 2013). Aliada a essa prática, o acompanhamento da ciclicidade e da condição corporal e metabólica da fêmea tem sido investigados, 64 com o objetivo de melhor preparar a marrã a ser incorporada ao plantel de matrizes, possibilitando sua maior longevidade no plantel (CARBONE et al., 2002; GAMA et al., 2002; LAGO et al., 2003; VIANNA et al., 2003; PINESE, 2005, ECKHARDT, 2009). Considerando as linhagens hiperprolíficas atuais e o ciclo reprodutivo curto, a atenção deve estar voltada para a manutenção de um estado de saúde da fêmea que venha traduzir uma vida reprodutiva ideal. O preparo da fêmea jovem, neste particular, para enfrentar a primeira lactação, ou seja, o primeiro catabolismo tem sido um objetivo comum, principalmente voltado aos programas nutricionais e aprofundamentos das necessidades destas fêmeas atuais, pois, é conhecida a síndrome do segundo parto (Schenkel et al., 2010) que reflete bem o complexo multifatoriado e que acaba levando a índices de descarte de fêmeas elevado, justamente pela vida útil reprodutiva curta com baixa eficiência relacionada ao seu potencial genético e produtividade na vida reprodutiva. USO DE AMINOÁCIDOS SINTÉTICOS (GLUTAMINA) Considerando as novas linhagens de fêmeas híbridas hiperprolíficas, ganha interesse particular os conhecimentos mais aprofundados sobre metabolismo protéico, principalmente no tocante a conceituação de proteína ideal e a introdução de aminoácidos sintéticos na formulação de dietas para fêmeas suínas (KIM, et al., 2009). Paralelamente, muito há de ser investigado, sobre as exigências das reprodutoras nas diferentes fases do ciclo reprodutivo, a fim de se obter um melhor aproveitamento da proteína dietética ao menor custo e menor produção de resíduos no meio ambiente (BRUMANO, 2008; FIALHO et al., 2008). Muito embora, existam estudos sobre as exigências de aminoácidos na nutrição em suínos, envolvendo, lisina, metionina, treonina, triptofano e em menor escala a arginina, valina e glutamina, poucas são as informações específicas sobre os efeitos dos aminoácidos e a definição das exigências de inclusão na dieta para cada fase do ciclo reprodutivo da matriz. Essas fases merecem, no caso, atenção especial para que se estabeleçam metodologias experimentais interativas em separado e associativas que possam responder a curto, médio e longo prazo a ação específica dos aminoácidos no ciclo reprodutivo dos animais. Sendo um aminoácido não essencial, a glutamina é sintetizada pelo organismo de acordo com sua necessidade, sendo precursor de outros aminoácidos essenciais e possuindo inúmeras funções biológicas, que a tornam essencial em condições catabólicas (MANSO, 2006). Além disso, é o α-aminoácido livre mais abundante no corpo dos mamíferos, e, grandes quantidades são extraídas pelo feto durante a prenhez e da glândula mamária 65 durante a lactação (MANSO FILHO, et al., 2008). A glutamina é sintetizada primeiramente no músculo esquelético, a partir de amônia e glutamato, produto de transaminação de aminoácidos ramificados, como o α-cetoglutarato (WU, 2005), e nesse caso desempenha papel importante na precocidade dos suínos híbridos em ganho de massa muscular aliada a pouca reserva lipídica. Fluidos fisiológicos, como o plasma, músculo esquelético, leite de fêmeas suínas e fluído alantóide ovino, são abundantes em glutamina livre (WU et al., 2006). A glutamina regula as vias metabólicas vitais para a saúde, crescimento, desenvolvimento, reprodução e a homeostase dos animais, além de ser um precursor fundamental da síntese de diversas moléculas, sendo, portanto necessária na produção animal (WU, 2010). Possui algumas funções específicas como fonte de energia para a síntese dos nucleotídeos e para as células de crescimento rápido, como os enterócitos e as células do sistema imune, podendo ocorrer atrofia das vilosidades intestinais e diminuição nas defesas do organismo, quando há deficiência desse aminoácido (MANSO, 2006). Entre outras funções da glutamina, destacam-se: o controle da alcalinidade sanguínea e do volume de água nas células por ser transportada pelo sódio; regulação da expressão de certos genes na biossíntese do DNA e RNA; desenvolvimento muscular; fonte de energia sintetizada pelo fígado em glucose; fonte de energia para os enterócitos, sintetizada em CO2, alanina, prolina, lactato, citrulina e amônia; síntese de purinas e pirimidinas, importantes na proliferação celular; participação da síntese de glutationa, amino açúcares e da proteína muscular, ao mesmo tempo em que participa na inibição da degradação da proteína muscular dependente da ubiquitina; participação na formação da matriz celular, ajudando no crescimento e remodelagem dos tecidos; participação da síntese de aminoácidos, como alanina, citrulina, prolina e arginina no intestino delgado; participação da síntese de óxido nítrico a partir da arginina em células endoteliais, controlando o fluxo sanguíneo e a absorção de nutrientes; estimulação da secreção da insulina pelas células β do pâncreas; modulação da ação da insulina no tecido adiposo e musculatura esquelética através da detecção da glucosamina; estimulação do hormônio do crescimento e participação na produção das citoquinas (WATFORD1, 2004 apud MANSO, 2006, p.33; WU, 2010). No metabolismo, a glutamina sintetase e a glutaminase, são enzimas responsáveis diretas pela síntese de glutamina a partir do glutamato e por sua degradação em glutamato. A glutamina catalisa a hidrólise de glutamina em WATFORD, M. Keep your brain happy. Lecture Notes, Rutgers University, News Brunswick. USA, 81p., 2004. I 66 glutamato e íon amônio. A glutamina sintetase (GS), por sua vez, é essencial na regulação do metabolismo celular do nitrogênio, pois, catalisa a conversão de glutamato em glutamina usando amônia como fonte de nitrogênio, sendo necessária à vida de microorganismos, plantas e animais (FRANCISCO et al., 2002). No transporte de nitrogênio, aproximadamente 1/3 deste no plasma está na forma de glutamina, sendo assim importante no metabolismo (FRANCISCO et al., 2002), e desse modo tem ação nas células em crescimento rápido, no caso, os enterócitos, linfócitos, pois, pode ser completamente oxidada e formar CO2, ou convertida em vários metabólitos intermediários, doando um grupo amina em diversas reações de transaminação, inclusive síntese de nucleotídeos (purinas e pirimidinas) (FRANCISCO et al., 2002; CURI2, 2000, apud FRANCISCO et al., 2002, p.83). A glutamina é sintetizada diferentemente de acordo com o tipo de tecido e metabolizada por vários órgãos, sendo os enterócitos os principais. Os órgãos produtores de glutamina são os pulmões, fígado e os músculos esqueléticos (NEWSHOLME3 et al., 1989 apud FRANCISCO et al., 2002, p.83). EFEITOS DA GLUTAMINA NA NUTRIÇÃO DA FÊMEA REPRODUTORA Alguns parâmetros relacionados ao padrão de desenvolvimento do animal são considerados na seleção genética das fêmeas reprodutoras, os quais caracterizam o paralelismo que deve existir entre desenvolvimento corporal e a função reprodutiva, pois, na fêmea suína a maturidade corporal é atingida entre o 2º e 3o partos, até este momento o animal está em desenvolvimento, tendo que responder também aos requisitos das primeiras gestações. Estudos clássicos (BELTRANENA4, 1992, apud PATTERSON, 2001) envolvendo o crescimento de marrãs e a relação com idade à puberdade, evidenciaram efeito quadrático da relação ganho de peso no período pré-púbere e idade a puberdade, sendo estabelecido um ganho de peso na faixa de 630 a 700 gramas da marrã associado à menor idade a maturidade sexual, havendo os diferenciais de aumento da idade e a dependência da genética. CURI, R. Glutamina: metabolismo e aplicações clínicas e no esporte. 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Nesta busca, estudos relacionam a puberdade com alguns fatores, associando a maturidade sexual ao nível de gordura (GAUGHAN et al., 1997), ganho de peso (BELTRANENA6, 1992, apud PATTERSON, 2001, p.02), relação carne/gordura (KIRKWOOD and AHERNE, 1985), estado metabólico (KENNEDY AND MITRA, 1963) e massa protéica (CIA et al., 1999) peso, idade fisiológica, níveis de leptina, IGFI e número de ciclos estrais, antes do primeiro serviço (PATTERSON et al., 2010). Portanto, informações que relacionem a taxa de crescimento pré-púbere, ciclicidade pós-púbere e condição do animal na idade a primeira monta ou inseminação artificial, com o desempenho reprodutivo futuro precisam ser melhor identificados. Nessa tônica investigatória o nível nutricional utilizado na fase pré-ovulátoria do ciclo estral, prevendo-se efeitos na heterogeneidade do desenvolvimento folicular e consequentemente dos oócitos e ainda dependentes dos efeitos na concentração dos hormônios circulantes, como os de crescimento, leptina, e ainda insulina e IGF-1, reforçam, principalmente estas duas últimas, a importância dos elementos mediadores dos efeitos da nutrição sobre os ovários (SILVA, 2010), que na cadeia de reações acabam estimulando a secreção de LH e FSH. A interferência da nutrição no ambiente uterino durante a fase pré-ovulátoria pode alterar o tempo para alcançar o pico da progesterona, caracterizando-se como fator crucial, que afeta a sincronia entre o útero e o desenvolvimento embrionário, interferindo na sua viabilidade (JINDAL et al., 1997). Os autores consideram, que a condição corporal durante a fase de lactação também pode afetar o padrão de secreção da progesterona e sobrevivência embrionária durante a gestação seguinte. Isto leva a advertir que o controle nutricional mais apropriado para primíparas durante o início da gestação evita perdas embrionárias excessivas. FOXCROFT, G.R. and AHERNE, F.X. Rethinking management of the replacement gilt. In: Advances in Pork Production. Banff Pork Seminar. Vol. 12, p. 197. University of Alberta, Edmonton, Alberta, 2001. 6 BELTRANENA, E. Nutrition and reproductive development in gilts. Ph.D. Thesis. University of Alberta, Canada. p. 22-140. 5 68 Portanto, o desenvolvimento uterino, a síntese de nutrientes, a falha no reconhecimento da prenhez, a concorrência dos embriões, somado aos fatores genéticos são itens que contribuem para a perda embrionária (GEISERT e SCHMITT, 2002). A fêmea suína por possuir maior perda pré-natal (até 50%), comparada as outras espécies, possui um ambiente de qualidade intrauterino inferior (BAZER et al., 2009), representado pela insuficiência das secreções uterinas e nutrição inferior das mães em relação aos fetos (KIM et al., 2009). Embora ovulem de 20 a 30 oócitos, apenas 9 a 15 leitões nascem (Town et al., 2005), as maiores perdas embrionárias ocorrem durante os primeiros 30 dias de gestação (Ford et al., 2002). A glutamina, no caso, é importante nessa fase inicial da gestação, por ser precursora na síntese dos nucleotídeos purina e pirimidina, essenciais para a proliferação celular, que incluem as células embrionárias e trofloblastos, (Wu, 1998). Tem, portanto, ação específica sobre fases críticas do ciclo reprodutivo interferindo desse modo, na fertilidade da fêmea. A composição da dieta durante a gestação pode trazer prejuízos (SILVA, 2010) às nulíparas, pois, baixos níveis de proteína apresentam concentrações reduzidas de aminoácidos básicos como arginina, lisina e ornitina e de aminoácidos neutros como alanina, glutamina, glicina, prolina, serina, taurina e treonina na placenta e no endométrio ao nível de 16% a 30%, respectivamente. Assim, o crescimento fetal pode ser afetado, pois a falta principalmente de aminoácidos da família da arginina, altera a angiogênese e o crescimento da placenta e embrião (SILVA, 2010). Segundo Self et al., (2004) durante a gestação, a placenta é importante para a síntese de glutamina e mesmo sendo não essencial, em situações de estresse, doenças infecciosas e outras que levam ao catabolismo intenso, como pode acontecer na lactação, pelo fato de não ser produzida em quantidade suficiente, indica-se a suplementação nessa fase para manter equilíbrio do nível protéico (MANSO, 2006). Argumentam, Lobley et al. (2001), que em condições de alta degradação protéica, a glutamina pode atuar como um regulador metabólico para aumentar a síntese de proteína e reduzindo o catabolismo, nos casos de inflamação, lactação ou subnutrição. MANSO (2006) acrescenta ainda, que durante o catabolismo os níveis plasmáticos de glutamina tornam-se insuficientes para atender a demanda, comprometendo o sistema imunológico para a maior mobilização do nitrogênio muscular e manter assim a homeostase. Da mesma forma, a perda excessiva de massa muscular na primeira lactação das primíparas, requer níveis de suplementação de glutamina, dada sua importância nos processos catabólicos, podendo ser denominada como aminoácido condicionalmente essencial. A concentração de glutamina no sangue pode influenciar não só durante a lactação como também na recuperação pós-desmame. 69 Há evidências de que fêmeas com grande perda de peso na lactação tendem a retardar o cio pós-desmame, aumentando o intervalo desmameestro (MANSO, 2006), pois, estas mobilizam proteína e gordura corporal para suportar o desenvolvimento fetal, produção de leite e crescimento da leitegada (YANG et al., 2008). KIM et al., (2009) e SILVA (2010), reforçam o fato de que na primeira gestação, como a fêmea suína encontra-se ainda em fase de crescimento, aliado aos requerimentos de sustentação para desenvolvimento dos embriões e fetos, e ainda o desenvolvimento da glândula mamária, há necessidade do oferecimento de um nível adequado nutricional, tanto qualitativo como quantitativo. Na forma restrita, pode tornar-se um fator limitante para ingestão de proteína, levando a influências no terço final da gestação, quando há um desenvolvimento acelerado dos fetos e hipertrofia da glândula mamária no preparo para a lactação. As exigências de proteínas e/ou aminoácidos na gestação aumentam gradualmente devido à retenção de nitrogênio dos fetos e ao desenvolvimento da glândula mamária (OELKE, 2007), atendendo as exigências, principalmente das fêmeas hiperprolíficas de alto desempenho reprodutivo. Por outro lado, deve-se atentar para a dependência da ingestão de nutrientes na fase lactacional, a qual, pode resultar em prejuízos na atividade reprodutiva subsequente (Clowes et al., 2003), pois as perdas de massa muscular são mais comuns, particularmente nas primíparas. Neste particular, Manso (2006) encontrou melhor peso vivo de primíparas no parto para a dieta com 2,5% de L-glutamina e aos 21 dias de lactação para as dietas suplementadas com 2,5% de AminoGut® (L-Glutamina e o L-Ácido Glutâmico). A autora relata influência da suplementação de L-glutamina no aumento da espessura de toucinho no parto. Já em dietas com 1% de L-Glutamina e o L-Ácido Glutâmico suplementando no terço final da gestação, não foram encontradas diferenças significativas na evolução dos pesos corporais das matrizes (Tabela 3), apesar de haver sido constatada menor variabilidade e maior peso no parto (Parazzi, 2013, comunicação pessoal). A suplementação em fêmeas até os 70 dias da 2ª gestação, identificou peso maior dos fetos (Tabela 5), acompanhado da menor variabilidade em comparação ao grupo não suplementado (Parazzi, 2013, comunicação pessoal). Wu et al. (2011) encontraram melhores resultados com a suplementação de 1% da glutamina na dieta de primíparas durante a lactação e verificaram que as concentrações no plasma foram superiores aos 20 dias, em relação ao grupo controle, bem como a concentração no músculo esquelético aos 14 dias de lactação. A concentração de glutamina no leite das fêmeas também foram superiores em relação às fêmeas que não receberam a suplementação na dieta. Os efeitos se manifestam principalmente nessas fases, havendo a necessidade 70 de avaliar a condição metabólica e corporal. Pois, Eckhardt (2009) e Eckhardt et al., (2010) evidenciaram com a dieta de maior nível de energia para primíparas no terço final da gestação, concentrações no sangue mais elevadas de colesterol e suas frações, LDL, sugerindo o efeito indireto nos níveis hormonais que mesmo observando perdas de peso na lactação na faixa dos 9 quilos, o estado metabólico conferiu condições para resposta positiva quanto aos parâmetros reprodutivos analisados, não havendo diferença signigficativa com o tratamento que empregou menor valor energético, considerando o intervalo desmame-estro, tamanho da leitegada e características dos embriões com 5 dias na 2ª gestação. Por outro lado, em marrãs que receberam suplementação de 1% de L-glutamina e L- ácido glutâmico no ciclo estral anterior a primeira inseminação, na avaliação dos embriões aos 5 dias da gestação, foram obsevados maior número de celulas vivas e menor de mortas (Tabela 2), também acompanhado de menor variabilidade dessas características com possível efeito da suplementação, principalmente pelo fato de a glutamina ter ação em células de crescimento rápido, como também foi o efeito assinalado no caso do desenvolvimento dos fetos pela ação da glutamina no terço inicial e médio da gestação (Tabela 5) (Parazzi, 2013, comunicação pessoal). Manso Filho et al. (2008), trabalhando com éguas nos estudos do metabolismo da glutamina no músculo esquelético na fase de transição (final de gestação e lactação), observaram perda de massa muscular no terço final da gestação e durante a lactação. Essa perda é um indício de que a proteína do músculo esquelético foi mobilizada no início da lactação, pressupondo que haja fornecimento de precursores de aminoácidos para o leite e para a gliconeogênese necessária para a síntese de lactose. A alta expressão de glutamina sintetase no músculo esquelético juntamente com a redução da concentração de glutamina no início da lactação suporta a afirmação da mobilização da massa protéica das éguas em fase de lactação. Diminuições semelhantes na concentração de glutamina circulante também foram relatadas em vacas leiteiras em lactação (DOEPEL et al., 2006). Por outro lado, porcas que apresentam perda de peso corporal médio de 1,18 kg retornam ao estro em um período inferior a seis dias enquanto as que perdem em média 8,19 kg levam mais de seis dias para retornarem a ciclicidade (COTA et al., 2003). Considerando o parâmetro intervalo desmame estro (IDE) que é influenciado por diversos fatores: raça, ordem de parto, perda de peso da fêmea duração da lactação, alojamento, interação social e o manejo nutricional (FAHMY et al., 1979; VESSEUR, 1997), deve-se atentar para o fato de que primíparas apresentam maiores IDE, e isto vem associado necessariamente à condição corporal que a fêmea apresenta, que acaba tendo relação com todo o 71 evoluir do crescimento do animal desde o nascimento até as fases mais críticas pós-púbere. Por outro lado, porcas de ordem de parição maior que já estabilizaram sua condição corporal, dada a maturidade alcançada, normalizam seu padrão hormonal mais rapidamente, apresentando um IDE mais curto, e, consequentemente um estro mais longo (FAHMY et al., 1979). Segundo Ji et al. (2005), o ganho insuficiente de peso, durante a gestação, implica em um baixo peso ao desmame e atraso no retorno ao cio das fêmeas, por outro lado, um ganho excessivo de gordura corporal, diminui o consumo voluntário de ração durante a lactação, afetando a produção de leite da matriz. Há, portanto, muito que averiguar quando focamos nas fêmeas hiperprolíficas sensíveis em estágios anteriores a maturidade corporal. Kitt et al. (2004), estudaram o efeito da suplementação com 2,5 % de glutamina, na dieta de primíparas durante a fase de lactação, e observaram 17% e 36% a mais nas concentrações plasmáticas de glutamina no 7° e no 21° dia de lactação, respectivamente, quando comparados às fêmeas mantidas com dieta controle. No entanto, Manso (2006) não observou diferença significativa da glutamina suplementada (2,5% na dieta), sobre a concentração no plasma, aos 30 dias antes do parto, no parto e aos 7 e 21 dias de lactação. INTERFERÊNCIA DA GLUTAMINA NOS LEITÕES Nos períodos mais críticos, tanto para a matriz como para os leitões, as altas concentrações de glutamina podem aumentar a imunidade da leitegada e manutenção das vilosidades e criptas do intestino. A importância da glutamina nos períodos caracterizados como de estresse e catabolismo, fazem com que a glutamina seja utilizada de forma mais rápida e emergencial (MANSO, 2006). No desmame, os leitões podem apresentar situações de injúria intestinal, com consequente perda de peso e queda no desempenho. A glutamina é importante para manutenção do metabolismo, estrutura e função intestinal dos leitões durante esta fase de desenvolvimento (FOX et al., 1988), que por sua vez, poderia estar associado com a função da glutamina presente em maiores concentrações no leite, pois segundo Yoo et al. (1997), tem papel relevante no desenvolvimento e crescimento dos leitões jovens. Acresce-se que a glândula mamária possui altos níveis de utilização de glutamina, sendo secretado no leite como aminoácido livre (MANSO, 2006), ou seja, pronto para ser absorvido. A extração de glutamina pela glândula mamária durante a lactação é muito menor que sua concentração no leite e uma grande quantidade de glutamina (20 g/d) podem ser sintetizadas pelo tecido mamário para apoiar a produção de proteínas do leite (Li, et al., 2009). Uma glândula mamária individual ganha 11,2 g de proteína no parênquima, de zero a 80 dias de gestação (ou seja, 0,14 g de proteína/d) e 115,9 g de proteína 72 a partir dos 80 aos 114 dias (ou seja, 3,41 g de proteína/d) (KIM et al., 2009). Kitt et al. (2004), encontraram um aumento de 46% na concentração de glutamina no leite com setes dias de lactação e 265% aos 21 dias de lactação, quando suplementaram as matrizes suínas com 2,5% de glutamina. Já Manso (2006) em seu estudo, ressaltou que aos sete dias de lactação, a concentração de glutamina nas dietas suplementadas com AminoGut® aumentou de 0,5 µmol/mL de leite para 1,1 µmol/mL, aumento de 110% na concentração de glutamina no leite. Os leitões aos 3 dias de idade, provenientes de matrizes suplementadas com glutamina apresentaram altura das vilosidades duodenais 12% superiores quando comparados com leitões das fêmeas submetidas a uma dieta controle (KITT et al., 2004). Uma dieta proporcionando menores níveis de aminoácidos durante a gestação, podem não maximizar o crescimento dos leitões durante a lactação, talvez pelas reservas de proteínas inadequadas, pelo desenvolvimento limitado dos tecidos mamários, ou os danos causados aos fetos, prejudicando seu desempenho pós-parto (KUSINA et al., 1999). Carvalho et al., (2008) estudaram a suplementação de 0%, 2,5% com glutamina e 2,5% de suplementação com AminoGut® (L-Glutamina e L-Ácido Glutâmico) na dieta de primíparas a partir dos 30 dias antes da data prevista do parto até a lactação, e verificaram que as fêmeas que receberam o AminoGut® apresentaram 0,7% e 3% de leitões nascidos vivos e leitões nascidos totais, respectivamente, a mais no segundo parto quando comparado com o primeiro parto. Segundo os autores o intuito de suplementar a ração de porcas primíparas com glutamina é de atender a alta demanda desse aminoácido no período de gestação e lactação minimizando o decréscimo no número de leitões na segunda parição. Wu et al. (2011) encontraram melhores resultados com a suplementação de 1% da glutamina na dieta de primíparas durante a lactação e verificaram que o peso ao desmame e a sobrevivência dos leitões foram superiores, em relação aos leitões das fêmeas que não receberam glutamina na dieta. Outro estudo (Wu et al., 1996) utilizando diferentes níveis de glutamina (0,0; 0,2; 0,6 e 1%) na dieta de leitões desmamados aos 21 dias de idade, foi encontrado uma melhora na eficiência alimentar na segunda semana pós-desmame, com o nível de 1% em relação a dieta controle. Os níveis intermediários não diferiram nas duas semanas estudadas. Este mesmo estudo encontrou menor atrofia jejunal com 1 semana pós-desmame, apresentada pela maior altura de vilosidade nos leitões que receberam 1% de glutamina na dieta em comparação à dieta controle. Há que ser averiguado, portanto, em primeira instância, a relação desse aminoácido com o estresse do período que antecede a manifestação 73 do primeiro estro, a posterior ciclicidade até a manifestação do segundo estro, a ciclicidade posterior e no estro que antecede a primeira inseminação artificial juntamente com a aplicação do flushing nutricional. Num segundo instante, averiguar a relação do aminoácido com o estado metabólico e corporal da fêmea no momento do parto e lactação subsequente, tendo sido utilizada sua suplementação no terço final da gestação e lactação, preparando mais adequadamente a fêmea nas suas exigências para as fases de gestação e lactação, com reflexos na leitegada. Verificam-se ainda os efeitos no desempenho dos leitões, tanto no aleitamento, uma vez que, nesse período, estudos já demonstraram efeito da glutamina no leite, havendo a necessidade de se avaliar além dessa fase, as posteriores, creche, crescimento e terminação. Particularmente na creche, vários estudos têm demonstrado os efeitos da glutamina, por se tratar de um período estressante para os leitões. Essa ação na manutenção da homogeneidade de desempenho deve ser avaliada em idades mais avançadas, associando ainda aos possíveis diferenciais à imunidade conferida através de vacinas. RESULTADOS PARCIAIS DE PESQUISAS Diante das funções que a glutamina exerce, principalmente em células de proliferação rápida, dois estudos foram realizados, um com marrãs até a primeira inseminação artificial (Experimento I) e outro, com primíparas no terço final da gestação, lactação, estendendo-se até o terço médio da segunda gestação (Experimento II). No experimento I, um grupo das marrãs foi suplementado com 1% de L-glutamina e L-ácido glutâmico no primeiro ciclo estral e no flushing. Na metodologia utilizada procurou-se homogeneizar as fêmeas nos tratamentos, de modo a assegurar a qualidade da amostragem, como demonstra a tabela 1. Tabela 1 – Valores médios e desvios padrão do peso médio (kg) das fêmeas, ao início do experimento, primeiro, segundo e do terceiro estros, e aos 5 dias de gestação. 74 Na tabela 2 são observados os valores referentes ao peso do útero, número de corpos lúteos, percentual de células vivas e mortas, taxa de embriões recuperados, percentual de blastocistos, de blastocistos expandidos e eclodidos. Não foram detectadas diferenças entre os tratamentos em nenhuma das características analisadas (SAS, 2002). O resultado que vem merecer alguma atenção relaciona-se ao número maior de corpos lúteos do grupo tratado em comparação ao controle, que pode levar a consideração de que ao nascimento poderíamos ter 2 leitões a mais nascidos, valor esse que traz uma produtividade maior na produção total de leitões nos sistemas de criação. A menor variabilidade da evolução dos pesos das fêmeas no período experimental do grupo tratado poderia estar relacionada a tal diferença do número de corpos lúteos. Além dos corpos lúteos, a característica células vivas mostrou numericamente valor superior com menor variabilidade no grupo suplementado e menor valor de células mortas, acompanhado do maior valor na taxa de recuperação e mais homogeneidade quanto às estruturas em percentuais dos blastocistos, blastocistos expandidos e eclodidos, havendo assim a suspeita de que esses parâmetros em conjunto poderiam significar menor heterogeneidade de desenvolvimento dos oócitos com reflexo após fertilização, quanto ao desenvolvimento inicial dos embriões até fase de blastocisto. Nesse princípio, essa variabilidade sugere uma possível menor perda embrionária. Esse conjunto de observações abrem portas para futuros estudos, relacionados ao desenvolvimento acelerado dessas estruturas e que a glutamina poderia ter importante efeito. Tabela 2 - Médias e desvio padrão do peso do aparelho reprodutor (kg), número de corpos lúteos, percentagem de células vivas, de mortas, taxa de embriões recuperados, percentual de blastocistos, blastocistos expandidos e eclodidos. 75 Os resultados encontrados neste estudo refletem a importância da suplementação nessa fase inicial, onde o embrião se desenvolve rapidamente, merecendo pesquisas mais aprofundadas. No experimento II, as fêmeas também foram acompanhadas desde a fase pré-púbere até a aplicação dos tratamentos a partir dos 75 dias de gestação. Esse acompanhamento teve o objetivo de homogeneizar as fêmeas quanto ao estado corporal. Dessa forma, as fêmeas atingiram um peso médio de 144,36 ± 5,19 quilos, e ganho de peso médio diário de 0,709 ± 0,05 quilos desejáveis. Aos 75 dias de gestação foi iniciado o período experimental com formação de dois grupos de 12 fêmeas cada, distribuídas homogeneamente nos tratamentos, de acordo com o peso. Os pesos das fêmeas ao início do tratamento, durante a gestação, no parto, durante a lactação, no desmame e aos 70 dias da segunda gestação não diferiram estatisticamente entre os tratamentos, como mostra a tabela 3. As diferenças numéricas que poderiam ser mencionadas através dos valores da tabela entre os grupos se ligariam ao ganho de peso das fêmeas suplementadas, de 1,43kg e a perda de peso do grupo controle de 3,35 kg no catabolismo. Apesar desses valores não representarem grandes diferenças nessa fase que pudessem repercutir em algum efeito negativo na esfera reprodutiva, cabe destacar o nível de condição corporal das fêmeas representado pela baixa variabilidade dos valores, o que retrata a homogeneidade do material experimental. Há nesse evoluir com pequenas alterações de ganhos e perdas na lactação, o diferencial em peso das fêmeas aos 70 dias da segunda gestação, em que o grupo suplementado superou o controle em 5,69 quilos podendo suspeitar-se de alguma influência, embora sutil da suplementação. Tabela 3 – Valores médios e desvios padrão do peso em quilos, das fêmeas ao início do tratamento, aos 75, 83, 91, 99 e 107 dias de gestação; após o parto; aos 7 e 14 dias de lactação, ao desmame e aos 70 dias da segunda gestação. 76 A espessura de toucinho das fêmeas também não diferiu estatisticamente entre os tratamentos (p>0,05) nos mesmos períodos como mostra a tabela 4. Embora as diferenças sejam numéricas e em níveis baixos de perdas na espessura de toucinho entre os tratamentos, observa-se um ganho no grupo suplementado e menor perda durante a lactação, ocorrendo no controle perda na gestação e maior perda comparativamente na lactação. Tabela 4 - Valores médios e desvios padrão da espessura de toucinho (ET) em milímetros das fêmeas ao início do tratamento, durante o final da gestação, após o parto, durante a lactação e ao desmame e aos 70 dias da segunda gestação. Os parâmetros analisados aos 70 dias da 2ª gestação não diferiram estatisticamente (tabela 5). Alguns dados merecem ser destacados e relaciona-se a menor variabilidade quanto ao número de fetos e este valor pode ser associado ao maior peso médio numérico dos fetos do grupo suplementado, que registrou 26,63 gramas a mais do grupo suplementado, comparado com o controle, tendo também essa característica, menor variabilidade. Quando associamos as duas características, número médio de fetos dos dois grupos, multiplicado pelo peso médio dos fetos correspondente a cada grupo, numericamente há um valor total a mais no grupo suplementado de 167.97 gramas. Esses dados quantitativos aliados à variabilidade suscita a hipótese de que poderia ter havido alguma influência da glutamina sobre o desenvolvimento dos fetos provocando uma maior homogeneidade dos mesmos por influência de fatores ligados ao meio uterino. 77 Tabela 5 - Valores médios e desvios padrão do peso do útero em quilos, número de corpos lúteos nos ovários direito (CL dir) e esquerdo (CL esq), totais (CL totais), taxa de ovulação (Tx ov), número de fetos encontrados nos cornos uterinos direito (N fetos dir) e esquerdo (N fetos esq), totais (N fetos totais), peso placenta (PLA) em quilos, peso médio dos fetos (Peso fetos) em quilos e a medida média (Medida fetos) dos fetos em centímetros. CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante da literatura citada e dos resultados parciais encontrados com a suplementação em fêmeas suínas de glutamina nas diferentes fases do ciclo reprodutivo, detecta-se alguns aspectos interessantes combinando as várias propriedades desse aminoácido, considerado não essencial, com parâmetros produtivos e reprodutivos. Sua ação em células de crescimento rápido pode ser notada em parâmetros reprodutivos específicos ligados ao desenvolvimento embrionário e fetal além da evolução da dinâmica do desenvolvimento folicular. A ação nas células do endométrio secretando o complexo substrato para nutrir os embriões e fetos deve merecer a atenção em metodologias específicas, bem como as ligadas aos enterócitos e do sistema imune, para poder detectar diferenças significativas de efeitos positivos. A manutenção de um estado corporal e metabólico homogêneo no material experimental é prioritária nessas metodologias, pois, as inúmeras atuações da glutamina direta ou indireta no metabolismo devem ser destacadas nos parâmetros que envolvem o aspecto produtivo dos animais. Os dados analisados, coloca a hipótese de que a suplementação poderia apresentar efeitos positivos sobre a dinâmica do desenvolvimento folicular particularmente funcionando como flushing alimentar anterior a fetitilização e 78 agindo no desenvolvimento dos embriões e fetos nos estágios inicial e médio da gestação. No terço final da gestação e lactação, sua suplementação seria no caso, para evitar deficiências quanto à manutenção do melhor estado corporal e metabólico dos animais. Baseados na literatura, os autores preconizam o uso da suplementação com glutamina para os leitões, com sua inclusão nos estágios iniciais pós desmame, pois tem relação com o desempenho posterior nas fases subsequentes, recria e terminação. É importante salientar que os dados podem direcionam para que num futuro próximo este aminoácido seja incluído nas tabelas de exigências nutricionais. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem a FAPESP pela bolsa concedida e a Ajinomoto pela contribuição nas análises. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BAZER F.W., SPENCER T.E., JOHNSON G.A., BURGHARDT R.C., WU G. Comparative aspects of implantation. Reproduction. 2009;138:195, 2009. BRUMANO, G. Fatores que influenciam as exigências de metionina mais cistina para aves e suínos. Revista Eletrônica Nutritime, v. 5, n° 6, p. 749-761, 2008. CARBONE, A. Emprego de gonadotrofinas exógenas na indução e sincronização da puberdade em marrãs. 2002. Dissertação (Mestre em Reprodução Animal) – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2002. CARVALHO, L.E.; Manso, H.E.C.C.C.; Nepomuceno, R.C.; Aquino, T.M.F.; Ribeiro, J.C. 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Pirassununga, São Paulo. 1 RESUMO A simulação de eventos discretos é, atualmente, uma das mais poderosas ferramentas de análise disponível para o planejamento, projeto e controle de sistemas complexos, e vem sendo cada vez mais utilizada e difundida principalmente devido ao surgimento de softwares específicos. Na literatura é possível encontrar diversos trabalhos que validem a aplicabilidade da técnica, em especial nas áreas de engenharia de produção e gestão. Dentro do setor agropecuário as publicações são recentes, mas se encontram em desenvolvimento nas universidades pelo mundo. Ao se tratar da produção pecuária nacional propriamente dita, os trabalhos são raros. Definir padrões tecnológicos que melhor se encaixem ao perfil do produtor, à aptidão da fazenda, a uma região é importante e o uso de simuladores de eventos discretos poderá contribuir no sentido de conhecer os resultados possíveis e a viabilidade econômico-financeira das diferentes combinações tecnológicas disponíveis para cada realidade. Consequentemente, o desenvolvimento de um simulador para pecuária também se justifica pelo fato de poder dar suporte às pesquisas, principalmente no sentido de estimar o impacto socioeconômico dos mesmos na atividade e/ou na sociedade. INTRODUÇÃO A técnica de simulação tem sido utilizada há mais de trinta anos nos processos industriais. Segundo Shannon (1992) simulação é uma ferramenta que permite projetar o modelo de um sistema real e realizar experimentos com o mesmo, a fim de entender seu comportamento e avaliar estratégias para sua operação. Simular compreende a elaboração de um método de experimentação que procura descrever comportamentos, construir teorias ou hipóteses por meio do observado e predizer comportamentos futuros por meio dos modelos elaborados. Segundo Silva (2006) um modelo de simulação caracteriza matematicamente um sistema, cujo estado pode ser descrito, em um determinado instante, por um conjunto de variáveis estocásticas e determinísticas, 83 conhecidas como variáveis de estado. Os modelos podem ser classificados como discretos ou contínuos. Nos modelos discretos, as variáveis de estado mantêm-se inalteradas ao longo de intervalos de tempo e mudam seus valores somente em pontos bem definidos; já nos modelos contínuos, as variáveis de estados podem mudar seus valores continuamente ao longo do tempo (Freitas Filho, 2001). A metodologia da simulação de eventos discretos vem sendo cada vez mais utilizada e difundida, principalmente devido ao aporte tecnológico (surgimento de softwares específicos) ocorrido nos últimos anos. A técnica da simulação de eventos discretos pode ser aplicada nas mais diversas áreas do conhecimento e sua finalidade é avaliar o desempenho dos sistemas de produção, principalmente aqueles mais complexos, onde vários eventos, dependentes entre si, ocorrem ao mesmo tempo. A técnica tem por objetivo avaliar teorias por meio da experimentação, antecipar resultados experimentais e ainda realizar experiências que de outro modo seriam inacessíveis à realidade ou muito onerosas. Pode-se então dizer que as empresas que utilizam esta metodologia obtêm vantagens competitivas em relação aos seus concorrentes. A aplicabilidade da técnica nas engenharias é consagrada entre os pesquisadores. Entretanto, na produção animal as linhas de pesquisas nas universidades pelo mundo são modestas. Trabalhos publicados na literatura estrangeira indicam o início do uso de modelos de simulação computacional na pecuária há, aproximadamente, 30 anos. No âmbito da pesquisa nacional, os primeiros trabalhos científicos utilizaram do método da simulação de eventos discretos aplicados à gestão e produção animal e foram os realizados por Barioni et al. (1999), da Universidade de São Paulo, Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, em conjunto com a Massey University (Nova Zelândia); e por Guimarães et al. (2009), da Universidade de Viçosa, em parceria com a Texas A&M University (Estados Unidos). Realizar a análise econômica de uma produção agropecuária não é algo trivial, seja pela enorme heterogeneidade entre cada unidade produtiva, seja porque utiliza muitos recursos naturais (solo, pasto, água, plantas, animais etc.), que são de difícil valoração pelo homem (Gameiro, 2009). Há diversos métodos disponíveis para o cálculo do custo de produção, que é o indicador chave para a análise da viabilidade de um empreendimento. Todavia, a utilização desses métodos na produção agropecuária ainda é passível de diversos questionamentos tanto técnicos, por exemplo, a dificuldade de levantamento constante de dados do campo; quanto científicos, como a dificuldade em identificar e mensurar certos itens passíveis de custeio, como a mão de obra própria e familiar, como a apropriação dos custos de bens de capital, estes comuns normalmente a mais de uma atividade, são alguns exemplos. Outro desafio importante é a projeção da atividade no horizonte 84 produtivo o mais real possível, possibilitando analisar o impacto futuro das novas tecnologias e suas combinações dentro da atividade. Essa projeção, inclusive, pode ser realizada para o médio e longo prazo. Para que a projeção esteja o mais próximo da realidade é necessário incorporar aos modelos os riscos e a probabilidade de ocorrência dos eventos pertinentes ao processo produtivo. Para que ocorra a profissionalização na atividade pecuária é preciso aprimorar o processo de gestão na produção dos animais. Definir padrões tecnológicos que melhor se encaixem ao perfil do produtor, à aptidão da fazenda, a uma região é importante e o uso de simuladores de eventos discretos poderá contribuir no sentido de conhecer os resultados possíveis e a viabilidade econômico-financeira das diferentes combinações tecnológicas disponíveis para cada realidade (Stivari, 2012). Além da necessidade de se conhecer a viabilidade da produção, é fundamental que o sistema seja capaz de permitir a avaliação de eventuais ganhos propiciados pelo desenvolvimento científico e tecnológico. Sob o ponto de vista do desenvolvimento científico, há uma grande dificuldade por parte dos pesquisadores de avaliarem o quanto – se efetivamente – suas tecnologias desenvolvidas agregam valor à sociedade, representada por produtores e consumidores. E isso pode ser possível com os modelos de simulação de eventos discretos. Portanto, a existência de um sistema de simulação de eventos discretos aplicados à pecuária pode contribuir como ferramenta de orientação aos cientistas, no intuito de auxiliá-los a direcionar seus esforços de pesquisa. Dessa forma, o modelo pode contribuir tanto para a tomada de decisão dos agentes (produtores) quanto para a comunidade técnica e científica, uma vez que permitirá avaliar o impacto prático de novas tecnologias. SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL Nos processos de tomada de decisão gerenciais, nem sempre a intuição e as experiências prévias são suficientes. Para esses tipos de situação, são necessárias análises mais elaboradas para a solução do problema. Essas análises podem ser realizadas pela Pesquisa Operacional1, já que seu objetivo principal, segundo Machline (1975), é a criação de modelos adequados à tomada racional de decisão. De acordo com Hillier & Lieberman (2006) desde a Revolução Industrial o mundo presencia um crescimento em tamanho e complexidade das organizações, resultantes do expressivo aumento na divisão do trabalho e na segmentação das responsabilidades gerenciais. As conquistas geradas por Pesquisa Operacional é o conjunto de técnicas quantitativas com o intuito de auxiliar o processo de decisão dentro de uma filosofia de modelagem e, preferencialmente, de otimização (Ehrlich, 1985). 1 85 estas mudanças foram excelentes, porém acarretou novos problemas. Dentre eles encontram-se a perda da visão do objetivo organizacional e de como as atividades das organizações deve interagir para atingi-lo. É a perda da visão do todo. Os autores salientam que um problema relativo a isso é aquele no qual, à medida que as organizações aumentam em complexidade e especialização, torna-se mais difícil alocar os recursos disponíveis de modo efetivo. Segundo Andrade (2002) a expressão “Pesquisa Operacional” (PO) foi utilizada pela primeira vez durante os primórdios da Segunda Guerra Mundial. De acordo com Hillier & Lieberman (2006) durante o período de guerra, havia uma necessidade permanente de se alocar de forma eficiente os escassos recursos militares. Para isso foram convocados cientistas e equipes de pesquisadores, das mais diversas áreas de atuação – fisiologistas, físicomatemáticos, astrofísicos, topógrafos, físicos gerais, entre outros - no intuito de proporcionar uma abordagem científica para a solução de problemas logísticos, táticos e de estratégia militar. Esses cientistas não fizeram mais do que aplicar o método científico, que já conheciam, aos problemas que lhes foram sendo colocados. Desenvolveram então a ideia de criar modelos matemáticos, apoiados em dados e fatos, que lhes permitissem perceber os problemas em estudo e simular e avaliar o resultado hipotético de estratégias ou decisões alternativas. O sucesso da aplicação da PO nas operações militares foi observado no desenvolvimento e emprego eficiente da nova ferramenta, gerando conquistas tanto nos céus quanto na água e na terra. Os êxitos das equipes influenciaram a expansão do método para outros países e para outras áreas que não as militares. Apesar dos importantes resultados obtidos durante a segunda guerra mundial, eles foram limitados pela complexidade dos cálculos envolvidos. Somente após a disponibilização de métodos computacionais, o potencial da PO foi mais bem aproveitado. O maior desenvolvimento da Pesquisa Operacional se deu efetivamente com a “avalanche da revolução computacional” na década de 50; e sua consolidação ocorreu nos anos 80 com o desenvolvimento de computadores pessoais cada vez mais poderosos e munidos de softwares específicos (Hillier & Lieberman, 2006). Dentre as técnicas de Pesquisa Operacional que mais se desenvolveram com o avanço dos métodos computacionais, está a simulação. Segundo Gavira (2003) para alguns tipos de modelos, a matemática clássica fornece instrumentos perfeitamente adequados para a determinação dos melhores valores das variáveis controladas, desde que as restrições não sejam numerosas. Em situações onde é necessário trabalhar com inúmeras restrições, não passíveis de tratamento pelos métodos clássicos, pode ser utilizadas de outras técnicas para a resolução dos problemas. Entre essas técnicas destacam-se a Programação Linear, Programação Não-linear, 86 Programação Inteira, Programação Dinâmica, Teoria das Filas, Teoria dos Jogos, a própria Simulação, entre outras. A técnica de simulação se destaca entre essas técnicas, por ser uma ferramenta flexível, poderosa e intuitiva; e é a mais usada entre as técnicas ganhando contínua e rápida popularidade entre os pesquisadores (Hillier & Lieberman, 2006). A simulação é um termo geral utilizado em várias áreas do conhecimento. De acordo com Schriber (1974), conforme pode ser visto em Simulation Using GPSS2, “simulação implica na modelagem de um processo ou sistema, de tal forma que o modelo imite as respostas do sistema real numa sucessão de eventos que ocorrem ao longo do tempo”. Em sua definição o autor não especifica que o modelo deva ser computacional, pois no período ainda era comum utilizar de modelos analógicos e físicos para se estudar e analisar o comportamento de sistemas. Atualmente o termo simulação é praticamente sinônimo de simulação computacional digital. Shannon (1975) definiu: “um modelo computacional é um programa de computador cujas variáveis apresentam o mesmo comportamento dinâmico e estocástico do sistema real que representa”. Mosef (1997) por sua vez apresentou uma definição que se tornou clássica: “a simulação é o processo de elaborar um modelo de um sistema real e conduzir experimentos com este, com o propósito de compreender o comportamento do sistema, ou avaliar estratégias para a operação do mesmo”. Law & Kelton (1999) complementaram ao formalizar que um sistema é definido como um conjunto de partes e entidades que, interagindo entre si, tentam atingir determinado objetivo comum. A simulação tem sido cada vez mais aceita e empregada como uma técnica que permite ao pesquisador ou analista dos mais diversos campos de atuação (economia, administração, engenharias, biologia, entre outros) averiguar soluções, com a profundidade desejada, aos problemas no qual lida diariamente; por causa da sua versatilidade de aplicações, torna-se impossível enumerar todas as áreas específicas nas quais a simulação vem sendo usada (Hillier & Lieberman, 2006; Freitas Filho, 2008). Freitas Filho (2008) avalia que esse crescimento significativo se deve, sobretudo, à atual facilidade de uso e sofisticação dos ambientes de desenvolvimento de modelos computacionais, aliada ao crescente poder de processamento das estações de trabalho. O autor ressalta que com as novas interfaces gráficas mais amigáveis e acessíveis a diversas plataformas, a simulação deixou para trás o estigma de ser utilizada apenas “quando tudo mais já havia sido tentado”. GPSS é uma linguagem de programação de simulação usado para construir modelos de computador para simulação de eventos discretos. Schriber, (General Purpose Simulation System), 1974. 2 87 “O que aconteceria se?” é a pergunta mais frequente para pesquisadores que trabalham com modelos de simulação. É a pergunta a ser respondida. O principal apelo ao uso dessa ferramenta é que tais questões possam ser respondidas sem que os sistemas em investigação sofram qualquer perturbação e a um custo e risco menor do que se fossem levadas a campos experimentais. Em contraste com modelos de otimização, Freitas Filho (2008) parafraseia que um modelo de simulação é executado ao invés resolvido, permitindo análises constantes, à medida que novas indagações sobre o comportamento do sistema modelado sejam feitas. Para Banks et al. (1996), a diferença entre simulação e otimização é que este é resolvido e retorna um resultado exato, ao contrário daquele – simulação – que é executado e seu resultado precisa ser interpretado pelo usuário. Normalmente os modelos de simulação são do tipo entrada-saída, ou seja, são modelos interativos que fornecem dados de entradas e respostas específicas para estes. O caráter dessas respostas costuma revelar o comportamento do sistema e não uma solução ótima para o mesmo. Para melhor compreensão é necessário discutir o que é um modelo. O modelo é uma representação física ou matemática de um sistema que visa à avaliação das alterações de comportamento em função de diversas variáveis e parâmetros envolvidos, ou mesmo a avaliação de modificações introduzidas no sistema em estudo. Os modelos devem ser tão simples quando possíveis e tão complexos quanto necessário para que ocorra um balanço ótimo entre os erros das estimativas e dos parâmetros modelados (Barioni, 2002). Outra característica interessante dos modelos é o respeito pela regra do GINGO (Garbage in, Garbage out), isto é, a interpretação dos resultados (saídas) do modelo deve ser realizada levando-se em consideração a exatidão e a representatividade dos dados de entrada e dos parâmetros utilizados, do conhecimento e experiência existentes sobre o sistema modelado, pois nem sempre os resultados do modelo são factíveis com a realidade (Caixeta Filho, 2001; Barret & Nearing, 1998). De acordo com Fialho (1999), os modelos podem ser classificados em três categorias: físicos, conceituais ou matemáticos. Os modelos físicos são aqueles que representam um objeto ou sistema em uma visão de menor escala, como, por exemplo, as maquetes. Já os conceituais, ou teóricos, descrevem o sistema e/ou seu comportamento por meio de teorias e ou representações gráficas, como, por exemplo, as inter-relações existentes em um ambiente de pastagens. E os modelos matemáticos utilizam de equações e inequações para representar e/ou descrever o sistema e estimando o seu comportamento. Gordon (1978) propôs a classificação dos tipos de modelos associados aos possíveis sistemas existentes conforme ilustra a Figura 1. 88 Figura 1 – Tipos de modelo segundo Gordon (1978) Para o autor, os modelos físicos são aqueles regidos pelas leis da física e servem para dar respostas a experimentos cujo equacionamento matemático não é totalmente conhecido. São exemplos: a construção de modelos em escala reduzida, ou seja, maquetes, que utilizam de analogias entre sistemas distintos, como o mecânico e o elétrico por exemplo. Já os matemáticos usam notação apropriada juntamente com equações matemáticas para representarem um sistema. As definições de modelos estáticos ou dinâmicos estão relacionadas com o comportamento de suas propriedades no tempo, sendo de caráter estático quando os valores das propriedades de interesse são determinados somente quando o sistema está em regime estacionário; e o dinâmico é o contrário, permite acompanhar as propriedades de interesse ao longo do tempo. Gordon (1978) afirma que quando um modelo matemático de natureza dinâmica é solucionado por um método numérico, ou seja, em que se aplicam diversos métodos computacionais, trata-se de uma simulação. A simulação desempenha o mesmo papel em muitos estudos da PO. Entretanto, sua aplicabilidade é mais notada em estudos que se preocupem com o desenvolvimento de um projeto ou procedimento operacional para algum sistema estocástico, ou seja, um sistema que evolui probabilisticamente ao longo do tempo, usando-se distribuições de probabilidades para gerar aleatoriamente componente por componente, evento por evento, que existam ou ocorram no sistema (Hillier & Lieberman, 2006). Normalmente a simulação é usada quando o sistema estocástico envolvido for muito complexo para ser resolvido pelos tipos de modelos matemáticos. Um problema frequentemente enfrentado pelos analistas em geral é identificar a técnica que melhor se ajuste ou que deva ser utilizada para resolver um sistema. Pidd (1996) sugere que a simulação seja utilizada em sistemas que sejam: 89 • Dinâmicos: onde a variação temporal esteja associada a fatores que não podem ser controlados, mas podem ser determinados por análise estatística; • Interativos: sistemas que possuam componentes que interagem entre si e esta interação afeta o comportamento do sistema; • Complicados: existem inúmeras variáveis que interagem no sistema em questão e sua dinâmica precisa ser considerada e analisada. A classificação dos modelos não é uma atividade precisa, visto que os comportamentos dos sistemas podem ser combinados, ou seja, nem sempre se tem modelos com características puras, pertencentes a uma única classificação. Law & Kelton (1999) classificaram os modelos de simulação em três grupos distintos: i) a simulação de eventos discretos x simulação de sistemas contínuos; ii) a simulação de sistemas estáticos x simulação de sistemas dinâmicos; e iii) simulação de sistemas determinísticos x simulação de sistemas probabilísticos. A simulação de sistemas discretos é aquela em que as variáveis de estado mudam somente quando ocorre um evento em determinado período, ou seja, ocorre um “salto” no tempo ao se avançar para o evento seguinte. Hillier & Lieberman (2006) exemplificaram a simulação por eventos discretos como um sistema de filas, no qual o estado do sistema é o número de clientes em fila e em atendimento. Os eventos discretos seriam a chegada de clientes no guichê de atendimento e a saída dos mesmos ao finalizar o atendimento. Assim, ocorre uma mudança de estado do sistema de acordo com a velocidade de atendimento no guichê, por exemplo. Já a simulação de sistemas contínuos é aquela em que as variáveis de estado podem assumir quaisquer valores dentro de um intervalo real ao longo do tempo da simulação, em outras palavras, “é aquela na qual as mudanças no estado do sistema ocorrem continuamente ao longo do tempo” (Hillier & Lieberman, 2006). Por exemplo, se o sistema de interesse for um avião em voo e seu estado for definido como a posição atual da aeronave, então o estado está mudando continuamente ao longo do tempo. Esse tipo de simulação normalmente exige o emprego de equações diferenciais para descrever a taxa de mudança das variáveis de estado (Hillier & Lieberman, 2006). Os modelos estáticos não levam em consideração o tempo quando for executado. O tempo não é considerado como fator essencial para a execução do modelo, caso fosse seria considerado um modelo dinâmico. Para Pidd (2004) as simulações de Monte Carlo podem ser consideradas como exemplos de modelos estáticos, pois ao trabalhar com situações de risco não há certeza 90 de quando as mesmas irão ocorrer. Desse modo, constrói-se uma distribuição de probabilidades, as quais não apresentam formas objetivas de construir uma distribuição de ocorrência. Na simulação de sistemas determinísticos, os valores das variáveis são constantes. Já na simulação de sistemas probabilísticos - também chamados estocásticos - as variáveis podem assumir quaisquer valores dentro de intervalos definidos por distribuições de probabilidade. Em outras palavras, os modelos probabilísticos incorporam o risco e/ou a probabilidade associadas à decisão, o que não ocorre nos modelos deterministas onde toda a vez que o modelo é rodado, sem a alteração dos dados de entrada, são obtidos os mesmos dados de saída. A simulação de eventos discretos, na prática, é a mais utilizada, entretanto, pode haver sistemas mistos ou combinados, que possuam eventos discretos e contínuos. Neste trabalho propôs-se desenvolver um modelo de simulação computacional de eventos discretos, dinâmicos e probabilísticos, uma vez que a produção animal incorpora de eventos marcados no tempo (estação de monta, gestação, parição, desmame, engorda, abate, entre outras), características de sistemas discretos, que podem ser alterados tanto no tempo (dinâmicos), quanto em resposta à ocorrência ou não das variáveis ligadas a eles (probabilísticos). Apesar da ferramenta da simulação apresentar-se útil, é necessário ressaltar algumas vantagens e limitações desse método. Os parágrafos seguintes foram baseados nos trabalhos de Saliby (1989), Banks et al. (1996) e Law & Kelton (1999 ). Como benefícios, o uso da simulação permite a elaboração de modelos mais realistas, conferindo maior liberdade na construção do mesmo. Por ser um processo de modelagem evolutivo, começa-se com um modelo relativamente simples e aumenta-se sua complexidade aos poucos, permitindo assim, a identificação de maneira mais clara as peculiaridades do problema em estudo. Em situações onde os problemas são mal estruturados, ou seja, onde as informações a respeito do que se pretende estudar são incompletas, parciais, a simulação apresenta-se como uma das poucas ferramentas disponíveis para se aproximar de uma solução. Como mencionado, perguntas do tipo “what if?” (“ e se?”) muitas vezes são o que faz um estudo ser requisitado. Quando a busca por uma solução ótima não é o pretendido, e sim onde o objetivo do estudo resume-se em tomar mais claras as possíveis consequências de um conjunto de decisões, a simulação é a ferramenta de escolha. Assim, por exemplo, é possível ter uma visão sistêmica do efeito que alterações locais terão sobre o desempenho global, examinar o comportamento do sistema. Além de permitir o teste de muitos aspectos de uma mudança, sem comprometer recursos. 91 Uma vez desenvolvido um modelo de simulação válido, pode-se explorar novas estratégias, procedimentos operacionais, arranjos físicos ou métodos sem perturbar o sistema real. Como um modelo de simulação é, em geral, mais fácil de compreender do que um conjunto de complicadas equações matemáticas, é possível de utilizá-lo para treinamento de equipes, por exemplo. Como limitações, os autores relatam que a construção de modelos requer treinamento especial, o que demanda tempo e, quando o analista não é experiente o suficiente, os resultados da simulação podem ser difíceis de interpretar. Os resultados da simulação podem ser de difícil implementação, pois a baixa precisão dos seus resultados é geralmente consequência do uso da amostragem inadequada para o estudo. SIMULAÇÃO DE EVENTOS DISCRETOS Como mencionado anteriormente, a simulação de eventos discretos baseia-se na técnica de geração de eventos. Uma vez que o sistema estiver descrito e modelado, serão conhecidas todas as atividades e entidades envolvidas. Cada evento significa o início ou fim de uma atividade, podendo ser perfeitamente caracterizado, e uma lista cronológica de todos os eventos pode ser elaborada. Nance (1983) mostra que na década de 70 começou a ocorrer uma mudança de foco na aplicação da simulação de eventos discretos de uma abordagem centrada em “programa de simulação” para uma abordagem em “modelo de simulação”, em que a importância principal é o entendimento humano do problema e sua modelagem, e não o aspecto de codificação dos modelos no computador. Pedgen (1995), criador da linguagem SIMAN, mostra que a simulação discreta tem que ter como objetivo a descrição do comportamento de sistemas; a construção de teorias ou hipóteses que explicam o comportamento observado e, finalmente, o uso do modelo para prever um comportamento futuro. Para isso a modelagem de sistemas de eventos discretos depende da caracterização prévia do problema em estudo. A definição dos limites do sistema que se pretende modelar, de seus parâmetros e propriedades de interesse são igualmente importantes. A estrutura de formulação de um estudo que utilize o processo de modelagem e simulação está representada na Figura 2. 92 Figura 2 – Passos em um estudo envolvendo simulação, adaptado de Freitas Filho (2008). Além de seguir as etapas do processo de modelagem é necessário estar familiarizado como vocabulário e terminologias utilizadas. A seguir são apresentadas as terminologias baseadas nos estudos de Freitas Filho (2008), Botter (2008) e Sena (2010). i. Entidade: é o objeto de interesse dentro do sistema. Requer clara e explícita definição, podendo ser permanente, ou seja, são criadas no começo da simulação e persistem enquanto essa estiver executando; e as temporárias que podem ser criadas no começo ou ao longo da simulação e serem eliminadas antes mesmo do fim, tem caráter dinâmico dentro do sistema; ii. Recurso: é considerada uma entidade estática. Fornece serviços às entidades dinâmicas. São elementos pertencentes ao modelo, mas não possuem características individuais. São tratados como itens quantitativos em que os seus procedimentos não são rastreados pelo computador; 93 iii. Atributos: é uma característica que define uma entidade. iv. v. vi. vii. viii. Um conjunto de atributos que possuem valores definidos e distintos faz a identificação da entidade no sistema; Variável: propriedade da entidade que pode receber qualquer valor dentro de um intervalo especificado; Atividades: são ocorrências, durante um intervalo de tempo, que mudam o estado do sistema. As atividades endógenas são partes integrantes do sistema, enquanto as atividades exógenas correspondem aos eventos de ambiente que podem influenciá-lo; Espera: período que não possui comprimento de tempo especificado, também chamado de espera condicional. É necessária a confirmação de uma condição para que ocorra o fim da espera. Por exemplo, um cliente em uma fila de banco só será atendido se e quando um atendente estiver livre; Estado do sistema: é número de entidades dentro do sistema. Em outras palavras, coleção de variáveis necessárias para descrever um sistema em um momento do tempo específico. Analogamente, seriam os clientes que estivessem seja em “fila” ou em “atendimento”. Evento: é todo início ou fim de uma atividade, programados ou não, os quais, quando ocorrem, provocam uma mudança de estado. Geralmente, uma atividade é limitada por dois eventos: um para o seu início e um para seu final. SOFTWARE DE SIMULAÇÃO O uso do computador é parte integrante para se chegar aos resultados da simulação. Desenvolvido na década de 40, o computador passou a ser usado comercialmente em 1951. Inicialmente, os sistemas de simulação foram desenvolvidos sobre linguagens de programação de propósito geral, tais como: FORTRAN, BASIC, PASCAL, etc. Porém, exigia um grande esforço para construção de modelos, além de profissionais com conhecimentos avançados de programação de computadores. Diante dessa dificuldade começaram a surgir linguagens de programação, dedicadas à simulação, que superassem essa barreira. As linguagens de simulação compõem os recursos computacionais pelos quais o projetista constrói os modelos de simulação no computador. Dentre as linguagens surgidas na década de 60, destaca-se a GPSS, criada em 1961 pela IBM em trabalho conjunto com os laboratórios BELL. A GPPS, ou linguagem de simulação de propósito especial, é uma linguagem altamente estruturada e utilizada na abordagem de interação de processo e orientada por um sistema de fila. Ela descreve o sistema por meio da técnica de diagramação de blocos, onde as entidades, chamadas de transações, 94 podem ser vistas como fluindo por meio do diagrama de bloco. Esta linguagem se tornou um ícone da simulação e, por muito tempo, foi a mais utilizada em todo mundo em virtude de seu poderio e facilidade de uso (Prado, 2010). Na década de 70, chamada de “década de ouro” da simulação devido a expressiva divulgação da técnica, novas linguagens surgiram como o GASP, SIMSCRIPT e EXELSIM. Os computadores de 2 Mb eram as “supermáquinas” que facilitaram a sua difusão. Mas foi na década de 80 que a simulação aproveitou do potencial dos computadores pessoais e fez surgir a “simulação visual”, que continua predominante até os dias de hoje. Segundo Prado (2010) cada software de simulação possui uma característica básica que o diferencia dos outros: a visão do mundo. Este termo significa a forma como o software foi concebido, ou como ele vê um sistema a ser simulado. Isto tem como consequência que a maneira como os dados serão fornecidos a cada software é diferente dos outros e os relatórios gerados também possuem suas características específicas. Atualmente há no mercado inúmeros softwares de simulação, como por exemplo: ProModel®, @Risk®2, Arena®, entre outros. Dentre eles destaca-se o Arena®, construído sobre linguagem SIMAN (Simulation Modeling and Analysis), que possui uma interface gráfica de fácil construção de modelos, além da capacidade de trabalhar com modelos baseados em interação de processos, agendamento de eventos e simulação continua, ou uma combinação destas. Lançado pela Systems Modeling em 1993, o Arena® sendo um dos mais utilizados no mundo, tanto por empresas como por universidades (Prado, 2004; Seabra, 2006). Em evento realizado em 2005, o Winter Simulation Conference, cerca de 45% dos trabalhos apresentados mostraram aplicações baseadas no software Arena® (Mejia et al., 2008). Além da sua aplicabilidade no cenário acadêmico, o Arena® possui consolidada disseminação entre empresas de diversos segmentos como manufatura, transbordo de portos, aeroportos entre outro. A Tabela 1 exemplifica de modo simplificado a aplicabilidade comercial do Arena®, apresentando o segmento abrangido, a empresa interessada e os objetivos com a simulação. Palisade Corporation. 1987. @RISK - a DecisionTools Suite. Estados Unidos. 2 95 Tabela 1 – Aplicabilidade comercial da técnica de simulação computacional usando Arena® Fonte: adaptado de Paragon (2012). O Arena® possui um conjunto de blocos que são utilizados para se descrever uma aplicação real, e que funcionam como comandos de uma linguagem de programação como o Fortran, Cobol, Delphy, etc. Para simplificar o processo de construção de modelos, o Arena® usa uma interface gráfica para o usuário (ou GUI – Graphical User Interface), que automatiza o processo e reduz a necessidade do teclado, pois o mouse é a ferramenta utilizada (Prado, 2010). Além de permitir a construção de modelos de simulação, Prado (2010) reforça que o software possui duas ferramentas muito úteis o Input Analyser – Analisador de dados de entrada e o Output Analyser – analisador de resultados. O primeiro permite analisar dados reais do funcionamento do processo e escolher a melhor distribuição estatística que se aplica a eles. Já o segundo, é uma ferramenta com diversos recursos que permite analisar dados coletados durante a simulação, sendo que esta análise pode ser gráfica, e tem ainda recursos para efetuar importantes comparações estatísticas. APLICAÇÕES DE SIMULAÇÃO DE EVENTOS DISCRETOS Diversos são os trabalhos científicos encontrados na literatura internacional referente ao uso de simulação de eventos discretos nas áreas de engenharia de produção e gestão. Segundo Harrel et al. (1997), provavelmente, as indústrias de manufatura foram as maiores usuárias da simulação, principalmente devido à facilidade de uso e à pressão competitiva pela eficiência operacional. Shannon (1992), Banks et al. (1996), Harrel 96 et al. (1997), Banks (1998), Law e Kelton (1999), Ören (2002), apresentaram aplicação da simulação em diversas áreas, como sistemas de manuseio de materiais, engenharia civil, indústria automobilística, transportes, saúde, área militar, serviços, sistemas de comunicação e de computação, programação de atividades, alocação de pessoal, reengenharia de processos de negócios, sistemas humanos, entre outras. Nos estudos internacionais pode-se citar os trabalhos realizados por Ekren & Heragu (2008) e por Syberfeldt et al. (2008). Como exemplificação da aplicabilidade da técnica de simulação, Ekren & Heragu (2008) utilizaram o software Arena®4 10.0 e o OptQuest®5 para avaliar o transbordo, ou seja, a circulação de materiais entre localizações. Estes autores simularam cinco cenários diferentes visando relacionar o cenário que apresentasse o menor custo de transportes. Já Syberfeldt et al. (2008) demonstraram a utilidade do uso da simulação de eventos discretos para os serviços de entregas postais na Suécia. Eles averiguaram necessidade de melhoria no serviço de transporte das correspondências entre os postos de processamento de correspondências. Para isso, o modelo de simulação elaborado necessitava simular o transporte de uma série de pacotes do correio, de diferentes destinos e por uma frota de veículos heterogêneos (caminhões, caminhões de reboque, carros, trens e aviões), de modo com que os prazos estipulados fossem cumpridos, fossem de baixo custo e de baixa emissão de carbono. Os autores concluíram que a utilização da técnica de simulação é muito promissora uma vez que observaram soluções na utilização de simulação na ordem de 10% a 12% com menor custo, 20% a 25% menos atraso e 3% a 4% na redução da emissão de dióxido de carbono devido à otimização no serviço de transporte. No âmbito nacional Montevechi et al. (2003) objetivaram demonstrar a aplicação da ferramenta de simulação em um caso real de uma fábrica de componentes automotivos. Assim, compararam a melhoria de uma célula de manufatura real de anéis automotivos para o uso em pistões, tanto pela maneira tradicional quanto pelo uso da simulação. Para realizar esta simulação utilizou o software ProModel®6. Propuseram uma alteração no layout de operacionalização (melhorar a produtividade, ser economicamente viável e respeitar a área disponível) da célula de manufatura para reduzir os custos de produção, concluindo que houveram ganhos relevantes na performance da célula além de uma expressiva redução de custos. Rockwell Automation, 2000. Arena simulation software. Milwaukee, Wisconsin. OptTek Systems, Inc. 1992. OptQuest – Optimization Technology. Jim Kelly, Manuel Laguna and Fred Glover. Denver, Colorado. 6 ProModel Corporation. 1988. The ProModel Optimization Suite. Orem, Utah. 4 5 97 Brito et al. (2010) objetivando o desenvolvimento e o emprego de uma ferramenta computacional para apoiar decisões estratégicas sobre o planejamento e dimensionamento da logística e elementos de produção de uma fábrica de aço (currais, frota de transporte, etc.), utilizaram o software Arena® juntamente com a técnica de Modelagem e Análise Decisão por Multicritérios. Os autores realizaram simulações quanto ao dimensionamento da empresa frente a frota de navios próprios (dedicada ao fornecimento de minério de ferro para a usina) e para determinar a área de armazenamento atribuído a dois tipos de minério de ferro (SE e NE - devido às suas características devem ser armazenados separadamente), a fim de evitar qualquer tipo de restrição ou interrupção na fábrica de aço. A partir deste ponto, a análise de multi-critérios dos resultados obtidos no modelo de simulação de cada alternativa proposta foi realizada. Por meio desta análise, foi possível determinar o tamanho da frota de fornecimento de minério de ferro do navio, necessária para atender a demanda de transporte de carga planejada do projeto; e avaliar a capacidade dos tribunais de ações metros para os dois tipos de minério de ferro (SE e NE). A aplicabilidade da técnica de simulação de eventos discretos nas engenharias é consagrada entre os pesquisadores e amplamente utilizada, entretanto, na produção animal as linhas de pesquisas se encontram em desenvolvimento nas universidades pelo mundo. Trabalhos publicados na literatura estrangeira indicam o início do uso de modelos de simulação na pecuária há aproximadamente 30 anos. Congleton (1984), estudando bovinos de leite, propôs um modelo dinâmico combinando informações sobre as características biológicas e econômicas da vaca leiteira para estudar as estratégias de gestão de produtos lácteos, principalmente em situações onde a coleta de dados empíricos é difícil. O autor utilizou o pacote GASP7 versão IV como ferramenta de simulação que permite simular processos de eventos discretos, reprodução, por exemplo, e contínuos, produção de leite, por exemplo. O autor procurou em seu trabalho estudar a relação entre rebanho e a rentabilidade por vaca, detalhando as relações entre idade, produção e os custos de produção. Semelhantemente, Dijkhuizen et al. (1986) e Sørensen et al. (1992) propuseram um modelo de simulação estocástica para estudar as decisões de gestão em rebanhos leiteiros. Dijkhuizen et al. (1986) com o objetivo principal de quantificar os efeitos econômicos de diferentes políticas de abate no que diz respeito ao fracasso produtivo e reprodutivo, conseguiram identificar a importância da ampliação do conteúdo dos programas de saúde do rebanho e concluíram que a criação estratégica, tendo em conta a capacidade produtiva das vacas, seria a política mais rentável. Pritsker, A.A.B. 1974. The GASP IV simulation language. John Wiley and Sons, New York, NY. 7 98 A oportunidade de aplicabilidade da técnica da simulação de eventos discretos é significativa dentro da pecuária. Cournut & Dedieu (2004) utilizaram dessa técnica para avaliar a viabilidade de sistemas intensivos de produção de ovinos obtendo-se três partos em dois anos. O sistema intensivo de produção “três partos em dois anos” é um sistema complexo de reprodução em ovinos, que combina alto nível de metas de produtividade e vendas regulares ao longo do ano. Nesse trabalho os autores avaliaram os efeitos de: i) decisões em relação ao manejo reprodutivo e seleção de animais para descarte; ii) dos parâmetros de fertilidade do rebanho (número de cordeiros nascidos vivos por ano), na distribuição ao longo do ano, na produção de longo prazo e na estabilidade demográfica. Os autores concluíram que nesse tipo de sistema de produção intensivo de cordeiros é necessário estar atento ao tempo e ao cronograma de excussão das atividades devido a estacionalidade reprodutiva dos ovinos, bem como estar atento a variação de desempenho no médio e longo prazo, tanto individual da matriz como do rebanho como um todo. Os autores ainda ressaltam da importância na pesquisa exploratória da ferramenta ao invés de uma ferramenta de suporte de tomada de decisão. O uso de simuladores não necessariamente precisa trabalhar com rebanhos e não somente podem ser utilizados para predizer desempenho ou impactos econômicos. Force et al. (2002) propôs a construção de uma ferramenta de simulação discreta baseado no indivíduo, no animal, com o objetivo principal de estudar e prever as consequências da ocorrências de mastite em rebanhos leiteiros tendo em conta as características individuais dos animais, parâmetros sazonais e pecuária. O modelo foi elaborado com a colaboração entre epidemiologistas da área e profissionais que trabalhavam com simulação. O programa de simulação desenvolvido obteve resultados satisfatórios frente aos especialistas de ambas as áreas. Os resultados individuais, que são gerados pelo simulador, podem ser usados para entender o comportamento peculiar da mastite em nível de rebanho. Outro estudo que utilizou de bases epidemiológicas foi o realizado por Andraud (2009) que avaliou a influência de práticas de manejo de terminação dentro de uma fazenda em animais com idade suscetível a infecção por PCV-2 e o impacto da vacinação contra PCV-2, com diferentes regimes de vacinação, sobre a dinâmica da infecção. O modelo foi baseado em uma análise detalhada da dinâmica dos animais e na estrutura de contato da ninhada e apresentou-se como ferramenta útil para descrever a dinâmica de um agente infeccioso em um rebanho suíno. Em outro trabalho, desta vez com ovinos no Brasil, Barioni et al. (1999) utilizaram da simulação de eventos discretos para simular o pastejo rotacionado de ovinos para avaliar diferentes níveis de oferta de forragem em relação a massa de forragem pré e pós-pastejo, tempo de rotação, qualidade da 99 dieta, desempenho animal e a margem bruta da empresa. O modelo proposto foi validado junto a dados experimentais a campo e utilizando então para calcular a taxa de lotação ideal e a oferta mensal de forragem, aplicações de nitrogênio, a suplementação de inverno, e a estimativa do peso do cordeiro nos 12 meses subsequentes. Os autores concluiram que a oferta de pastagem sugerida foi condizente com as recomendações fornecidas por criadores de ovelhas, enquanto as aplicações de nitrogênio foram maiores do que o esperado, refletindo a alta dos preços de cordeiro. Trabalhos mais recentemente publicados que envolvem o uso de simulação de eventos discretos na pecuária incluem os desenvolvidos por Guimarães et al. (2009), Puillet et al. (2010), Dono et al. (2010), Martin et al. (2011), Finneran et al. (2012) e Dono et al. (2013). Entre estes, vale destacar o realizado por Guimarães et al. (2009), na Universidade de Viçosa em parceria com a Texas A&M University (Estados Unidos). Utilizando dados de um rebanho de cabras leiteiras no Brasil, os autores propuseram um modelo de simulação que identificasse as políticas de gestão que afetassem o comportamento do rebanho após 10 anos de simulação. Os autores avaliaram o impacto da reprodução e taxas de mortalidade, um ou dois ciclos reprodutivos anuais sobre a produção e saúde econômica sobre mudanças na dinâmica do rebanho. Com o trabalho os autores concluíram que o modelo foi capaz de prever os impactos em políticas de gestão sobre a dinâmica do rebanho e sensibilidade para apoiar a atividade de cabra leiteira mostrando sua viabilidade como uma atividade agrícola que pode contribuir para a produção e renda nas pequenas propriedades. A aplicabilidade de simuladores de eventos discretos na produção animal tem ganhado espaço no cenário acadêmico. Entretanto, é necessária a realização de trabalhos multidiciplinares para que a técnica se consolide como ferramenta de aplicabilidade prática para pesquisadores e técnicos. CONSIDERAÇÕES Nos processos de tomada de decisão gerenciais, nem sempre a intuição e as experiências prévias são suficientes. Para esses tipos de situação, são necessárias análises mais elaboradas para a solução do problema. Essas análises podem ser realizadas pela Pesquisa Operacional, já que seu objetivo principal é a criação de modelos adequados à tomada racional de decisão. Dentre as técnicas de Pesquisa Operacional que mais se desenvolveram com o avanço dos métodos computacionais, está a simulação. A simulação é uma técnica utilizada há mais de vinte anos nos processos industriais, por ser uma ferramenta que permite projetar o modelo de um sistema real e realizar experimentos com o mesmo, a fim de entender seu comportamento e avaliar estratégias para sua operação. A simulação de 100 eventos discretos é, atualmente, uma das mais poderosas ferramentas de análise disponível para o planejamento, projeto e controle de sistemas complexos. Essa metodologia vem sendo cada vez mais utilizada e difundida principalmente devido ao aporte tecnológico (surgimento de softwares específicos) ocorrido nos últimos anos. Além da otimização de investimentos, pode-se destacar também a utilização da simulação para realizar melhorias em processos produtivos apenas com a reorganização do layout de uma unidade fabril, por exemplo, como também auxiliar uma organização a identificar os seus gargalos produtivos e, consequentemente, melhorar o seu processo. A aplicabilidade da técnica de simulação de eventos discretos nas engenharias é uma técnica já consagrada entre os pesquisadores e amplamente utilizada, entretanto, na produção animal as linhas de pesquisas se encontram em desenvolvimento nas universidades pelo mundo. A simulação tem sido cada vez mais aceita e empregada como uma técnica que permite ao pesquisador ou analista dos mais diversos campos de atuação (economia, administração, engenharias, biologia, entre outros) averiguar soluções, com a profundidade desejada, aos problemas no qual lida diariamente; por causa da sua versatilidade de aplicações, torna-se impossível enumerar todas as áreas específicas nas quais a simulação vem sendo usada. Na pecuária nacional tal ferramenta poderia ser utilizada com o mesmo objetivo por gestores que se preocupam em melhor compreender o sistema, elucidar gargalos e aprimorar técnicas produtivas, a fim de tornar seu produto competitivo no mercado. REFERÊNCIAS ANDRADE, E. L. 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Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1996. 104 CAPÍTULO VI ESTRATÉGIAS NUTRICIONAIS NA PRODUÇÃO AVÍCOLA Jéssica de Souza Vilela¹; Natália Thaís Gonçalves Koiyama²; Bárbara Volpi de Freitas²; Joyce de Jesus Mangini Furlan3; Raphael Fortes de Oliveira¹; Cristiane Soares Silva Araújo4; Lúcio Francelino Araújo5 ¹Alunos de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Nutrição e Produção Animal - FMVZ/USP. ²Alunas de Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia - FZEA/USP. 3 Mestre em Ciência Animal - FMVZ/USP. 4 Docente do Departamento de Nutrição e Produção Animal - FMVZ/USP. 5 Docente do Departamento de Zootecnia - FZEA/USP. RESUMO A nutrição de matrizes e frangos de corte deve atender as exigências das aves para alcançar melhores resultados correspondentes aos respectivos objetivos, como maior ganho de peso e melhor conversão alimentar para frangos e maximizar a produção de ovos, embriões e pintos de qualidade em se tratando de matrizes pesadas. Recentemente, pesquisas têm sido realizadas com o objetivo de relacionar da nutrição de matrizes sobre o desempenho da progênie. Já para frangos de corte, o conceito de proteína ideal com a suplementação de aminoácidos sintéticos e a inclusão de aditivos nas dietas vêm sendo cada dia mais discutidos e aplicados em pesquisas e formulações a campo, já que estes possibilitam minimizar custos, aumentar a produtividade e reduzir a excreção de nitrogênio. Nesse sentido, foram realizados dois experimentos no laboratório de pesquisas em nutrição e produção de aves da FMVZ – USP, para avaliar o efeito da inclusão de levedura na dieta de frangos de corte oriundos de matrizes que também receberam dietas contendo levedura e; o segundo com intuito de avaliar a atualização da proteína ideal com inclusão de valina e isoleucina sintéticas para frangos de corte no período de 22 a 42 dias. A utilização de levedura na dieta das matrizes melhorou significativamente a conversão alimentar da progênie aos 42 dias de idade. Por outro lado a presença da levedura nas dietas dos frangos contribuiu para o acúmulo de gordura abdominal. A suplementação dos aminoácidos ramificados (valina e isoleucina) evidenciou o antagonismo entre os mesmos, decorrente de estruturas moleculares parecidas e que competem pelo mesmo sítio de absorção, de modo que o excesso de isoleucina prejudicou a valina no desempenho dos animais. 105 INTRODUÇÃO A avicultura apresenta um forte impacto sobre a economia do Brasil, empregando mais de 3,6 milhões de pessoas, direta e indiretamente, e responde por quase 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional. O setor é representado por dezenas de milhares de produtores integrados, centenas de empresas beneficiadoras e dezenas de empresas exportadoras. A importância social da avicultura no Brasil se verifica também pela presença maciça no interior do país, principalmente nos estados do Sul e Sudeste. Em muitas cidades a produção de frangos é a principal atividade econômica (UBABEF, 2013). A evolução da ciência avícola juntamente com as exigências do mercado, tem contribuído para a transformação da atividade de produção de aves e ovos em uma grande indústria de alimentos (Honma, 1992). Isso tem implicado grandes mudanças nos padrões de produção. Particularmente, são notórios os aumentos da pressão por parte dos produtores para tornar a produção mais eficiente, com menor custo e melhor desempenho dos animais, e da demanda dos consumidores que estão cada vez mais preocupados com a qualidade dos produtos, exigindo alimentos saudáveis, com ausência de antibióticos e resíduos (Sartory et al., 2003). Visando atender às exigências do mercado, o enfoque dos estudos tem sido a busca por aditivos que, ao serem suplementados às dietas, atuem melhorando a qualidade dos produtos sem afetar a eficiência alimentar. As pesquisas tem demonstrado bons resultados proporcionados por eles dentro da produção animal, como exemplo de aditivos utilizados na avicultura temos os aminoácidos sintéticos, que permitem que os animais expressem seu potencial genético, com efeitos positivos nos parâmetros zootécnicos, econômicos e ambientais da produção; e as leveduras, em substituição de antibióticos na dieta de frangos de corte, proporcionam uma alternativa viável e econômica no desempenho desses animais (Ribeiro et al., 2008). LEVEDURAS As leveduras vêm sendo utilizadas na alimentação animal como um alimento alternativo que, ao serem suplementadas às dietas, atuam melhorando a qualidade dos produtos sem afetar a eficiência alimentar do animal (Nunes et al., 2010). Por volta da década de 80, as leveduras eram apenas vistas como uma fonte protéica alternativa, mas hoje com os avanços em seu processamento tornaram-se um ingrediente valioso na nutrição animal. Os produtos da levedura são efetivos em melhorar o desempenho e atuarem como imunoestimulantes (Yalçin et al., 2012). São fungos unicelulares que se reproduzem assexuadamente por brotamento, largamente utilizados pela indústria de panificação, cervejaria, 106 farmacêutica e destilação de álcool. A principal espécie empregada na alimentação animal é a Saccharomyces cerevisiae, subproduto da indústria de fermentação de destilarias de álcool e de fabricação de cerveja. Essas leveduras podem ser comercializadas com diferentes características, como a levedura íntegra, levedura autolisada, levedura hidrolisada, extrato de levedura, parede celular de levedura, resultantes de determinados processos de produção. O extrato hidrolisado da levedura (S. cerevisiae) é obtido após a extração da parede celular da levedura pelo processamento com enzimas proteolíticas. Segundo a revisão realizada por Nunes et al. (2010), o extrato de levedura, além de ter um alto conteúdo protéico, é rico em inositol, componente das membranas celulares necessário para o funcionamento dos nervos, cérebro e músculos; glutamato, que é importante para o metabolismo; nucleotídeos, que são nutrientes essenciais envolvidos no desenvolvimento do músculo esquelético, na função cardíaca, no aumento da resistência imunológica e na melhoria da integridade intestinal e da biota microbiana do trato gastrointestinal com o desenvolvimento de microrganismos benéficos; e peptídeos, que promovem melhoria no desempenho dos animais. Já a parede celular de leveduras são carboidratos não digestíveis, classificados como oligossacarídeos complexos e representados por mananoligossacarídeos (MOS) e frutoligossacarídeos (FOS) (Ribeiro et al., 2008), mas principalmente por MOS em concentração de 25% a 50% na parede celular das leveduras (Moran, 2004). Estes componentes parecem ter impacto no sistema imunológico e habilidade em prevenir a colonização de microrganismos indesejáveis no trato gastrointestinal, funcionando como sítios alternativos para a ligação de bactérias gram negativas, dessa forma impedindo à fixação de patógenos nos enterócitos e subsequentemente a infecção entérica (Ferket et al., 2002). O principal mecanismo se dá pela modificação do ecossistema bacteriano com aumento no número de Bifidobacterium e Lactobacillus (Sun, 2004), que suprimem a atividade de bactérias putrefativas e reduzem a formação de produtos tóxicos da fermentação, tais como amônia, aminas e nitrosaminas (Flickinger et al., 2003). Além disso, a fermentação no intestino grosso aumenta a produção de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) e reduz o pH da digesta. Essas ações são, provavelmente, responsáveis pela proliferação de bactérias benéficas (Juskiewicz et al., 2004). O baixo pH favorece o crescimento de bactérias benéficas como os lactobacilos, e reduz a habilidade de patógenos entéricos colonizar o intestino, pois patógenos como E. coli e salmonelas são favorecidas pelo pH neutro (Mathew, 2001). Por isso, são também conhecidos como prebióticos, muito empregado na indústria de rações, podendo ser utilizados como nutrientes pelas bactérias eutróficas promovendo a saúde da biota intestinal (Flemming & Freitas, 2005). Os MOS derivados de parede celular de leveduras apresentam uma 107 alta afinidade ligante, oferecendo um sítio ligante competitivo para bactérias patogênicas gram negativas, que apresentam a fímbria tipo 1 específica para oligossacarídeos como os MOS. Estas bactérias ao se ligarem aos MOS não se ligam a sítios de ligação dos enterócitos, movendo-se com o bolo fecal e não colonizando o trato intestinal (Oyofo et al., 1989; Newmann, 1994; Moran, 2004). A suplementação de 1, 2 e 3% de extrato de levedura em dietas para poedeiras em pico de produção demonstraram resultados equivalentes ao de uma dieta basal para peso do ovo, gravidade específica, cor da gema, altura do albúmen, unidade Haugh, pesos da gema e do albúmen e peso e espessura da casca dos ovos (Silva et al., 2007). Leveduras do gênero Saccharomyces boulardi, utilizadas na dieta de frangos de corte, provocam uma redução do nível de salmonelas de 53,3% para 40,0% quando em condições de estresse no transporte das aves para o abate (Line et al., 1998), assim como leveduras do gênero Saccharomyces cerevisae, atuam favorecendo a ação de microrganismos fermentadores da celulose com aumento de até 25% no número de bactérias digestoras da celulose, melhorando a concentração total de ácidos graxos voláteis, e baixando o pH do meio intestinal (Reig & Anesto, 2002). Nesse caso ocorre um incremento na produção de ácido acético e outros ácidos graxos voláteis (AGV) no intestino, favorecendo uma situação de eubiose com diminuição da ação de bactérias indesejáveis como as do gênero Clostridium. Estudos de Pelicia et al. (2004) demonstraram que a suplementação com culturas de Saccharomyces cerevisae aumentam o valor nutricional da proteína da dieta através do aumento da digestibilidade, resultando no dobro da percentagem de nitrogênio digerido e retido no organismo. NUTRIÇÃO DE MATRIZES PESADAS E SEUS EFEITOS NA PROGÊNIE Segundo Wilson (1997), os efeitos da deficiência de nutrientes na dieta das matrizes sobre a progênie apontam a importância das inter-relações nutricionais. Deficiência energética e alto nível protéico na mesma dieta podem ocasionar aumento da mortalidade embrionária. A nutrição da progenitora esta diretamente relacionada a aspectos do embrião e ao ovo, que por sua vez influenciam no processo de incubação, nascimento e obtenção do pintinho de corte. A finalidade de um ovo fértil é produzir um pintainho viável e saudável (Fairchild, 2003). Para tanto destaca-se a importância do manejo sanitário, ambiental e nutricional dos reprodutores. O status nutricional das matrizes influencia a qualidade interna e externa do ovo, de modo que independente de seu peso, cada constituinte do ovo exerce funções para que o embrião se desenvolva de maneira adequada. A nutrição materna é transferida ao ovo e 108 este por sua vez é a origem dos nutrientes para o embrião. A transferência de nutrientes da reprodutora ocorre através de sínteses e exportação de proteínas específicas em nível de ovário e oviduto. O embrião desenvolve mecanismos específicos de mobilização de vitaminas e minerais armazenados no ovo, de modo que a obtenção de nutrientes também é modificada pelo metabolismo do próprio embrião. As diferenças existentes entre absorção, metabolismo e deposição de nutrientes dependem também da genética (Lillie et al. 1951). Deficiências marginais podem afetar mais pronunciadamente algumas aves dentro de um lote assim como também provocar mortalidade embrionária até o final da incubação (Wilson, 1997). De acordo com Leeson et al. (1979), mortalidades embrionárias na segunda semana de incubação sugerem deficiências nutricionais na dieta das mães, pois normalmente a mortalidade é muito baixa neste período. Segundo Wilson (1997), à medida que as deficiências ou os excessos nutricionais se tornam mais severos progressivamente, os efeitos sobre o desempenho do embrião se apresentam em momentos anteriores do seu desenvolvimento. Atualmente espera-se que não ocorram deficiências graves nas dietas de reprodutoras. Entretanto, existem fatores envolvidos na produção de pintinhos que podem afetar a maximização da produção das mães e o desempenho da progênie. Um conceito já concretizado na formulação de alimentos para reprodutoras é a não utilização de subprodutos de origem animal com a finalidade de reduzir riscos microbiológicos. O impacto destas dietas exclusivamente vegetais potencialmente reduz a disponibilidade de vários nutrientes. Por outro lado abre espaço para inclusão de aditivos como minerais orgânicos e inorgânicos, leveduras e fita se com intuito de aperfeiçoar a absorção de nutrientes e/ou promover a saúde intestinal das aves e incremento imunológico. Em relação às vitaminas, a vitamina B12 é crítica nas dietas maternas produzidas exclusivamente com vegetais, pois está ausente nos mesmos, sendo essencial para a eclosão de embriões normais. A niacina tem baixa disponibilidade em vegetais, especialmente no milho e apresenta diferenças importantes na sua utilização dependendo da genética (Leeson et al., 1979). O ácido fólico é uma das vitaminas mais críticas para os animais em reprodução, pois seu requerimento é maior para a eclodibilidade quando comparado a produção de ovos para consumo. As deficiências de minerais são observadas na redução da produção de ovos, desenvolvimento anormal de órgão e até mesmo mortalidade de embriões. Zinco, ferro e cobre presentes na gema estão primariamente ligados à expressão gênica. Os minerais são depositados na gema e em quantidades menores no albúmen e na casca. Desta forma, a transferência de micro minerais da mãe para o ovo envolve duas possibilidades: a partir do ovário para a gema 109 e a partir do oviduto para o albúmen, membranas e casca (Richards, 1997). Segundo Whiteread et al. (1985), o conteúdo vitamínico mineral do ovo é dependente do seu fornecimento na dieta das matrizes e deficiência ou excesso afetam o posterior desempenho da progênie. Outro fator que afeta a nutrição na produção de pintinhos é a idade da matriz, ao passo que ao avaliar o conteúdo lipídico do saco vitelino se observou que houve uma quantidade superior, cerca de 50% dos lipídeos restantes no saco vitelino de embriões originários de reprodutoras jovens, enquanto embriões provenientes de reprodutoras mais maduras possuíam níveis superiores de lipídeos no plasma e fígado aos 19 dias de incubação (Yafei & Noble, 1990). Esta diferença demonstra a efetividade reduzida na absorção destas substâncias com aves mais jovens. AVALIAÇÃO DO EFEITO DA LEVEDURA HIDROLISADA NA DIETA DE MATRIZES PESADAS SOBRE A PROGÊNIE Foram realizados experimentos no Laboratório de Pesquisa em Aves da FMVZ – USP para avaliação dos efeitos da utilização de levedura hidrolisada na dieta de matrizes e seu impacto sobre a progênie. O primeiro experimento ocorreu com as matrizes pesadas, foram utilizadas 64 matrizes de corte da linhagem Cobb 500 que receberam dietas com e sem adição de levedura hidrolisada (5 kg/tonelada). Na 35a e 45a semana, as aves foram inseminadas e os ovos foram incubados. Um segundo experimento foi realizado com as progênies oriundas dessas matrizes durante o período de 1 a 42 dias de idade. Os 128 pintos de corte machos e fêmeas foram alojados em galpão experimental distribuídos em delineamento inteiramente casualizado e arranjo fatorial 2 x 2 com os fatores: dieta das matrizes (com e sem inclusão de levedura hidrolisada) e dieta da progênie (com e sem levedura hidrolisada), com quatro tratamentos e oito repetições. O peso inicial da progênie originada de matrizes alimentadas ou não com levedura hidrolisada estão apresentadas na tabela 1. Tabela 1. Peso médio (g) dos pintos ao primeiro dia de vida. Nenhuma diferença significativa entre as médias pelo teste F (P<0,05). De acordo com os resultados encontrados, não houve diferença significativa entre as médias da variável de peso inicial das aves nascidas de matrizes que não receberam ou receberam levedura hidrolisada na dieta. 110 Os resultados de desempenho aos 42 dias da progênie estão apresentados na tabela 2. Tabela 2. Desempenho de frangos de corte aos 42 dias. Médias seguidas de mesma letra (minúsculas na mesma linha e maiúsculas na mesma coluna) não diferem estatisticamente pelo teste F (P<0,05). Não houve efeito significativo da interação entre os fatores para variáveis de desempenho analisadas (P<0,05). Observou-se efeito significativo da inclusão de levedura na dieta das matrizes o que proporcionou melhora no desempenho das aves. Deste modo o tratamento proporcionou aumento no ganho de peso, diminuiu o consumo, o que consequentemente melhorou a conversão alimentar (Tabela 2). Não foi observado efeito significativo das dietas oferecidas à progênie para mesma variáveis de desempenho citadas acima. Tais resultados que demonstram o efeito significativo da nutrição das progenitoras sobre a prole discordam de Brake (1991), que relatou que a inclusão de levedura na dieta de matrizes pesadas não influenciou o desempenho zootécnico da progênie. A melhora das variáveis de consumo de ração, ganho de peso médio diário e conversão alimentar da progênie, em relação ao efeito de nutrição das matrizes, pode ser explicada pelos efeitos benéficos que a levedura promove na saúde intestinal das matrizes, melhorando o desempenho reprodutivo das mesmas e, desta forma, resultando em melhora do desempenho zootécnico 111 da progênie. De acordo com Safnews (2001), a parede celular de leveduras Saccharomyces cerevisae possui a particularidade de impedir cepas de bactérias patogênicas de se estabelecerem no intestino. A superfície das leveduras possuem carboidratos complexos, mananoligossacarídeos (MOS), que dificultam e impedem as bactérias de se aderirem à parede do intestino e, por meio de um processo de exclusão competitiva, impedem que estes organismos permaneçam no trato intestinal (Grigoletti et al., 2002). Outro fator que pode explicar a melhora no desempenho é a presença de β-glucanos (β-1,3 e β-1,6-glucana) na parede celular da levedura, que possuem capacidade de ativar componentes humoral e celular do sistema imune (Tzianabos, 2000), proporcionando melhora no sistema imune das matrizes. Acredita-se que matrizes que receberam dieta com levedura podem ter originado pintainhos de melhor qualidade, os quais apresentaram melhor desempenho zootécnico durante o período de criação. De modo geral, no período de 1 a 42 dias, o desempenho zootécnico das aves não sofreu efeito da suplementação de levedura hidrolisada na dieta da dos frangos de corte. Estes resultados estão de acordo com Subrata et al. (1996), que verificaram que a utilização de vários tipos de levedura na nutrição de frangos de corte não exerceu efeito sobre as variáveis de desempenho. Resultados diferentes foram encontrados por Onifade & Babatunde (1996), que verificaram que frangos de corte alimentados com levedura seca (Saccharomyces cerevisae) em dietas com alto teor de fibra apresentaram melhora no ganho de peso corporal e conversão alimentar. Estes resultados também discordam de Barbalho et al. (2009), que verificaram melhora no desempenho de frangos de corte alimentados com levedura hidrolisada. Zhang et al. (2005) avaliaram a suplementação de levedura integral, extrato de levedura e parede celular de levedura (Saccharomyces cerevisae) na dieta de frangos de corte até as cinco semanas de idade e verificaram que frangos de corte 0 a 3 semanas alimentados com parede celular de levedura apresentaram os menores índices de conversão alimentar, enquanto que no período de 4 a 5 semanas, aves que receberam levedura integral apresentaram melhora na conversão alimentar em comparação ao grupo controle. Já no período total, aves alimentadas com levedura integral e parede celular de levedura apresentaram maior ganho de peso em relação ao grupo controle. Os resultados de características de carcaça e avaliação de gordura abdominal são apresentados na tabela 3. 112 Tabela 3. Características de carcaça e porcentagem de gordura abdominal de frangos de corte abatidos aos 42 dias de idade. Médias seguidas de mesma letra (minúsculas na mesma linha e maiúsculas na mesma coluna) não diferem estatisticamente pelo teste F (P<0,05). Não houve efeito significativo da interação entre os fatores para variáveis de características de carcaça (P<0,05). De acordo com a análise dos resultados, houve efeito da alimentação da progênie sobre o rendimento de carcaça, uma vez que aves alimentadas com levedura hidrolisada apresentaram menor rendimento de carcaça. Resultados de desempenho em relação ao fator dieta da progênie, demonstram que aves alimentadas com dieta com inclusão de levedura apresentaram menor ganho de peso final em relação ao grupo controle, consequentemente o rendimento de carcaça seria menor. Para as demais variáveis, não houve diferença estatística significativa. Já para gordura abdominal observou-se efeito significativo da dieta da progênie de modo que a presença de levedura na dieta aumentou a porcentagem de gordura. Os resultados encontrados para rendimento de carcaça contrastam com Subrata et al. (1996), que concluíram que não houve efeito da adição de levedura hidrolisada sobre o rendimento de carcaça de frangos de corte. Os resultados encontrados de porcentagem de gordura abdominal discordam de Barroso et al. (2013), que não observaram efeito da suplementação de níveis de 0,1%, 0,2% e 0,3% de parede celular de Saccharomyces cerevisiae sobre a porcentagem de gordura abdominal dieta de frangos de corte de 40 dias de idade. A maior porcentagem de gordura abdominal de frangos de corte alimentados com levedura pode ter sido resultante da composição da parede celular de Saccharomyces cerevisiae que, segundo Klis et al. (2002), possui 113 os polissacarídeos mananos e glucanos. A presença de polissacarídeos em quantidade relativamente excessiva na dieta pode ter favorecido a conversão de carboidratos em lipídeos no organismo, efeito que pode ter acarretado em maior deposição de lipídios no tecido adiposo abdominal. Conclui-se que apesar da importância da nutrição da progenitora a obtenção de bons resultados de desempenho para frangos são dependentes do manejo nutricional, sanitário e ambiental adotado na criação das aves. A utilização de levedura na dieta de frangos de corte influenciou negativamente o desempenho e contribuiu para o acúmulo de gordura abdominal. AMINOÁCIDOS SINTÉTICOS O contínuo progresso e a melhora do desempenho da indústria avícola são produtos da contribuição científica e tecnológica de diferentes áreas, dentre elas o melhoramento genético, sanidade e nutrição, que por sua vez, corresponde em aproximadamente 70% de todo o custo de produção (Taverna, 2010). Com o surgimento de aminoácidos sintéticos, produzidos em escala comercial e a preços compatíveis, tornou-se possível formular rações com níveis de aminoácidos mais próximos das necessidades do animal, reduzindo os custos das rações e a quantidade de nitrogênio excretado (Narváez-Solarte, 1996). O conceito de proteína ideal foi definido por Mitchell (1964) como sendo uma mistura de aminoácidos ou de proteínas, cuja composição atende às exigências dos animais para os processos de mantença e de crescimento. Em outras palavras a proteína ideal apresenta total disponibilidade de digestão e de metabolismo, capaz de fornecer sem excessos nem deficiências as necessidades absolutas de todos os aminoácidos requeridos para manutenção e produção (Parsons & Baker, 1994). É importante salientar que a dieta pode fornecer aos animais os 20 aminoácidos, entretanto, cerca da metade deles pode ser formado pelo próprio organismo, sendo assim chamados de aminoácidos não essenciais. Os demais, os aminoácidos essenciais, são necessários para diversas funções no organismo, e para tanto, são obrigatoriamente obtidos pelas dietas. Dependendo do estado fisiológico, da fase e da espécie animal um aminoácido não essencial pode ser utilizado pelo organismo mais rapidamente do que é produzido se tornando um aminoácido condicionalmente essencial (D’Mello, 2003). Além de prejuízos no desempenho produtivo das aves, dietas com desbalanço ou deficiência de aminoácidos podem afetar a resposta imune das aves (Hale et al., 2004). 114 REDUÇÃO PROTÉICA EM DIETAS PARA FRANGOS DE CORTE A redução proteica tem sido vista como uma das vias de possível melhoria dos custos de produção e o nível de PB da ração passou a ser definido como o nível ótimo para responder às necessidades da ave em aminoácidos, considerando o custo dos ingredientes usados na formulação e o valor das carnes produzidas (Sabino et al., 2004). Nas dietas para frangos de corte, a quantidade mínima de proteína bruta (PB) depende da natureza e da qualidade dos alimentos disponíveis e do conhecimento da digestibilidade das fontes proteicas, além das exigências dos animais. Os preços dos ingredientes completam as informações para a decisão dos níveis a serem usados para otimizar um determinado parâmetro de produção. As alternâncias que se observam nos preços dos ingredientes podem fazer com que os níveis de proteína também flutuem na dieta (Fraiha, 2002). Algumas vezes, rações com um preço relativo mais alto podem gerar maior rentabilidade por quilograma de carne de frango produzida, em função do melhor desempenho das aves. Cabe, então, ao nutricionista tomar a decisão sobre quais aspectos têm efeito positivo na produção (Rostagno et al., 1996). A suplementação de aminoácidos industriais nas rações, principalmente lisina e metionina, é uma prática incorporada na rotina das fábricas de rações para aves, com a finalidade de reduzir os níveis proteicos das dietas. Essa diminuição traz como benefícios a redução dos custos por quilograma de carne produzido, evita os excessos de aminoácidos e leva à menor poluição ambiental, pela melhor eficiência na utilização e menor excreção de N pelas aves (Aletor et al., 2000). Na pesquisa realizada por Gomide et al. (2007) os autores concluíram, que é possível reduzir o nível proteico da ração de frangos de corte, na fase de crescimento (22 a 42 dias de idade), em até 16% de PB, suplementada com aminoácidos e fitase, desde que a ração da fase inicial (1 a 21 dias de idade) seja formulada com níveis nutricionais recomendados pela literatura brasileira, sem afetar o desempenho dos animais. A progressiva redução na PB da dieta pode levar a uma situação em que outros aminoácidos, como valina e isoleucina, que são geralmente supridos por dietas com alta PB, tornem-se limitantes ao melhor desempenho (Peganova & Eder, 2002). Desta forma, para se alcançar o aumento no desempenho das aves submetidas a dietas com maiores reduções proteicas, deve-se ter a preocupação de fornecer níveis mínimos de outros aminoácidos limitantes, como isoleucina, valina, arginina e triptofano, bem como adequar o nível energético da dieta para se obter melhor eficiência de deposição da proteína sem prejudicar a qualidade da carcaça. 115 VALINA E ISOLEUCINA A valina e a isoleucina são similares em sua estrutura, sendo comumente chamados de aminoácidos de cadeia ramificada e podem se tornar limitantes para o desempenho de frangos de corte quando os níveis de PB da dieta são reduzidos (Thornton et al., 2006). Os aminoácidos alifáticos de cadeia ramificada – leucina, isoleucina e valina - popularmente conhecida como ACR, são classificados como aminoácidos essenciais ou indispensáveis, e apresentam uma ocorrência em proteínas musculares de aproximadamente 19%. Os aminoácidos ramificados atuam como precursores para a síntese de glutamina e alanina. A degradação é iniciada pela transaminação de BCAA para o α-cetoácido, formando o glutamato. Posteriormente, ocorre a descarboxilação dos cetoácidos de cadeia ramificada pela enzima cetoácido desidrogenase de cadeia ramificada. A valina é similar à leucina e à isoleucina em estrutura e função. Estes aminoácidos são muito hidrofóbicos e se encontram quase sempre no interior das proteínas. A farinha de soja, pescados e carnes, são fontes de valina. Os ACR são encontrados em todas as fontes de proteína animal. Os produtos derivados do leite contêm grandes quantidades deles e atualmente a proteína isolada do soro do leite é uma das fontes mais ricas. As proteínas animais e o soro do leite contêm, respectivamente, 15 e 30% de aminoácidos de cadeia ramificada. A leucina tem um papel de ativação do crescimento muscular, não porque faz parte das proteínas construtoras, mas porque estimula a síntese, além de estimular a liberação de insulina pelo pâncreas. A leucina, também auxilia o hormônio insulina a iniciar a síntese proteica sendo um ativador para a síntese. A quantidade relativamente baixa de valina e isoleucina na proteína do milho são acompanhadas pelo elevado nível de leucina. O alto conteúdo de leucina nas dietas parece aumentar as exigências para valina e isoleucina em frangos em crescimento e perus (Tutle & Balloun, 1976). O nível inadequado de valina pode promover redução no ganho de peso e piora na conversão alimentar e também o aparecimento de anormalidade de penas e pés (Farran & Thomas, 1992). A deficiência de valina pode ainda provocar uma depressão no sistema imunológico das aves, principalmente nos órgão linfóides primários, podendo dessa maneira provocar uma queda no desempenho dessas aves, por limitar o suplemento de nutrientes aos demais sistemas fisiológicos, no caso de uma resposta imune ativa (NAKAGAWA, et al. 2009). 116 SUPLEMENTAÇÃO DE VALINA E ISOLEUCINA NA DIETA DE FRANGOS DE CORTE Com o objetivo de avaliar os efeitos de diferentes níveis de inclusão de valina e isoleucina isolados ou associados nas rações isonutritivas e peletizadas sobre o desempenho produtivo e rendimento de carcaça e cortes durante o período de 22 a 42 dias de idade de frangos de corte, um experimento foi realizado no laboratório de pesquisa em aves da FMVZ – USP. Foram utilizados 700 pintos machos da linhagem Cobb distribuídos em um delineamento inteiramente ao acaso em esquema fatorial 3x3, totalizando 9 tratamentos experimentais com 5 repetições cada: T1 – inclusão de 0,67% de isoleucina e 0,75% de valina; T2 – com 0,67% de isoleucina e 0,79% de valina; T3 – com 0,67% de isoleucina e 0,83% de valina. T4 – com 0,71% de valina e 0,75% de isoleucina. T5 – 0,71% de valina e 0,79% de isoleucina. T6 – 0,71% de inclusão de valina e 0,83% de isoleucina. T7 – 0,75% de valina e 0,75% de isoleucina. T8 – 0,75% de valina e 0,79% de isoleucina. T9 – 0,75% de valina e 0,83% de isoleucina. Os dados de desempenho foram obtidos aos 22, 28 e 42 dias de idade das aves. Aos 42 dias de idade, foram abatidas duas aves por repetição para determinação do rendimento de carcaça e cortes (peito e pernas – coxa/ sobrecoxa). Resultados de ganho de peso estão apresentados na tabela 1, estes diferiram estatisticamente entre os níveis de isoleucina e para os níveis de valina (P<0,05). Tabela 1. Ganho de peso (Kg) de frangos de corte machos de 22 a 42 dias suplementados com valina e isoleucina. Médias seguidas de mesma letra (minúsculas na mesma linha e maiúsculas na mesma coluna) diferem estatisticamente pelo teste de Tukey (P<0,05). Houve efeito significativo da interação entre os fatores (P<0,05). Observou-se melhores resultados de ganho de peso para os níveis menores de isoleucina e maiores de valina. Tal fato pode ser explicado pelo efeito dos aminoácidos no desempenho das aves conhecido com antagonismo. Segundo D’Mello, antagonismo é um imbalanço de aminoácidos que ocorre na competição pelo mesmo sítio de absorção na borda em escova intersticial entre os aminoácidos de cadeias de estruturas semelhantes. Isso pode ocorrer entre os aminoácidos estudados por serem de cadeia ramificada. 117 Na tabela 2 está apresentada a análise dos resultados de conversão alimentar. Tabela 2. Conversão alimentar (Kg:Kg) de frangos de corte machos de 22 a 42 dias alimentados com valina e isoleucina. Médias seguidas de mesma letra (minúsculas na mesma linha e maiúsculas na mesma coluna) diferem estatisticamente pelo teste de Tukey (0,05). Houve efeito significativo da interação entre os fatores (P<0,05). De mesmo modo, houve efeito significativo dos fatores isoleucina e valina, de modo que menor inclusão de isoleucina proporcionou melhor conversão alimentar. Já para valina tratamentos com maior inclusão deste aminoácido resultaram em melhor conversão. A valina é um aminoácido essencial potencialmente limitante em dietas compostas principalmente por milho e farelo de soja para frangos de corte (THRONTON et al., 2006). O excesso de isoleucina pode deprimir as concentrações plasmáticas de valina e prejudicar o desempenho, como observado, quando há maiores inclusões dos dois aminoácidos há piora nos resultados de conversão alimentar (tabela 2). A análise dos resultados de rendimento de carcaça está apresentada na tabela 3. Tabela 3. Rendimento de carcaça (%) de frangos de corte machos abatidos aos 42 dias de idade suplementados com valina e isoleucina. Médias seguidas de mesma letra (minúsculas na mesma linha e maiúsculas na mesma coluna) diferem estatisticamente pelo teste de Tukey (P<0,05). Houve efeito significativo da interação entre os fatores avaliados (P<0,05). Aves que receberam o nível de 0,75% de isoleucina apresentaram maior rendimento de carcaça (63,75%) em relação aos níveis de 0,71 e 0,67% de isoleucina. Frangos que receberam o nível de 0,83% de valina apresentaram maior rendimento, em geral para esta variável, aves que receberam tratamentos 118 com maiores níveis dos dois aminoácidos apresentaram o maior rendimento médio (68.30%). O mesmo ocorreu para o rendimento de peito como esta apresentada na tabela 4. Tabela 4. Rendimento de peito (%) de frangos de corte machos abatidos aos 42 dias de idade suplementados com valina e isoleucina. Médias seguidas de mesma letra (minúsculas na mesma linha e maiúsculas na mesma coluna) diferem estatisticamente pelo teste de Tukey (0,05). Observou-se que o maior rendimento de peito ocorreu quando da utilização dos maiores níveis de inclusão dos dois aminoácidos (23,42%). No caso dos resultados de rendimento de pernas (coxa-sobrecoxa), observouse a mesma tendência. O resultado da análise do rendimento de pernas esta apresentado na tabela 5. Tabela 5. Rendimento de pernas (%) de frangos de corte machos de 42 dias de idade alimentados com valina e isoleucina. Médias seguidas de mesma letra (minúsculas na mesma linha e maiúsculas na mesma coluna) diferem estatisticamente pelo teste de Tukey (0,05). Os níveis de 0,83% de valina e 0,75% de isoleucina isolados e combinados também foram melhores para o rendimento de pernas. Estudos sobre exigências de isoleucina e valina ainda são escassos no meio científico, ainda não há dados de autores que avaliaram a interação dos mesmos aminoácidos deste estudo. Alguns estudos sobre antagonismo entre valina, leucina e isoleucina foram realizados com perus. A especificidade do antagonismo entre valina, leucina e isoleucina foi estudada em perus por D’Mello, 1975. O autor utilizou dietas com suplementação de leucina e valina. O desbalanceamento entre aminoácidos de cadeia ramificada na dieta (leucina, isoleucina e valina) 119 ainda pode gerar penas de formato côncavo anormal, que dobram-se para fora do corpo da ave, neste caso o quadro geralmente está associado à redução de peso e pior conversão alimentar, o que foi observado neste estudo. FARRAN & THOMAS (1992) utilizando dieta deficiente em valina, à base de trigo, farelo de amendoim e glucose observaram este efeito. Deficiência de valina na dieta causa redução no conteúdo de proteína das penas. Para o resultado de rendimento de carcaça acredita-se que a suplementação dos aminoácidos estudados, os maiores níveis de inclusão foram suficientes para obter bons resultados, uma vez que tais aminoácidos não estão relacionados com deposição proteica na carcaça. Conclui-se que a formulação das dietas com base no relacionamento dos aminoácidos tem sua importância, ao passo que ainda não é amplamente praticada, pois geralmente tabelas de exigências nutricionais utilizadas em formulações são obtidas de forma isolada, portanto, podem não ser tão eficientes na otimização do desempenho das aves quanto aquelas estimadas com base na relação dos aminoácidos. CONSIDERAÇÕES FINAIS É de extrema importância que a nutrição acompanhe o avanço genético avícola, que por sua vez sofre constantes mudanças e apresenta aves cada dia mais produtivas e nutricionalmente mais exigentes. A redução da proteína da dieta com suplementação de aminoácidos sintéticos e a utilização de aditivos, como a levedura pode levar a benefícios econômicos, ambientais e de bem estar animal, porém estes benefícios somente são alcançados se todas as exigências nutricionais, manejo e sanidade dos animais forem supridos adequadamente. Para que a suplementação seja adequada é de extrema importância que haja conhecimento dos reais e melhores níveis a praticar e dessa forma se aproximar ao máximo do conceito de proteína ideal, tornando assim a avicultura mais produtiva, eficiente, econômica e sustentável. Do mesmo modo as leveduras têm demonstrado benefícios em relação a sua utilização quanto a manutenção da saúde intestinal das aves e melhora na absorção de nutrientes. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALETOR, V.A.; HAMID, I.I.; NIEB, E. Low-protein amino acid-supplemented diets in broiler chickens: effects on performance, carcass characteristics, whole-body composition and efficiencies of nutrient utilization. Journal of the Science of Food and Agriculture, v.80, p.547-554, 2000. BARBALHO, R.; ARAÚJO, L.F.; ARAÚJO, C.S.S. 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Os biocombustíveis tem se destacado como fonte energética complementar ou substitutiva, entre as quais o biodiesel assume grande relevância, pois além de fonte renovável é considerado ecológico, biodegradável, atóxico, livre de enxofre e compostos aromáticos. Contudo, para que a produção de biodiesel seja biológica e economicamente viável é necessário dar destino adequado aos coprodutos gerados durante sua obtenção. A glicerina, principal coproduto gerado durante a produção de biodiesel tem sido considerada potencial fonte energética na alimentação animal, principalmente em substituição ao milho. No entanto, sua influência sobre o consumo tem sido o principal fator limitante a sua inclusão como macroingrediente nas dietas. Assim, buscou-se nessa revisão apresentar informações disponíveis na literatura quanto à utilização de glicerina na alimentação e seu efeito sobre o desemprenho de bovinos de corte e leite. Palavras Chave: biodiesel, coprodutos, desempenho, glicerol INTRODUÇÃO O crescimento da população mundial aliado ao aumento no poder aquisitivo, desenvolvimento industrial e agrário de muitas regiões, estimulou o aumento no consumo de energia, representado principalmente pelo petróleo. 125 No entanto, esta matriz energética é fonte esgotável e altamente poluente. A utilização de biocombustíveis vem se mostrando como potencial fonte energética complementar ou substitutiva, entre as quais o biodiesel vem ganhando destaque, pois além de ser fonte renovável de energia, é considerado ecológico, biodegradável, atóxico, livre de enxofre e compostos aromáticos (Abdalla et al., 2008), características que possibilitam a redução substancial das emissões de hidrocarbonetos e monóxidos de carbono, minimizando o impacto ambiental. Contudo, para que a produção de biodiesel seja biológica e economicamente viável, é necessário dar destino adequado aos coprodutos gerados durante a obtenção do biodiesel. A partir de grãos de oleaginosos como a soja, algodão, girassol, entre outros, a agroindústria obtém além do biodiesel, coprodutos de qualidade nutricional que podem ser utilizados na alimentação de bovinos. Esses alimentos são as tortas e a glicerina, sendo esta última, o principal coproduto obtido a partir da produção do biodiesel. A glicerina tem sido considerada potencial ingrediente energético, podendo ser incluída na alimentação de bovinos em substituição ao milho (Donkin et al., 2009; Parsons et al., 2009; Terré et al., 2011). Uma característica importante da glicerina é a capacidade do glicerol em ser transformado a ácidos graxos de cadeia curta no rúmen, principalmente em ácido propiônico (Bergner et al., 1995), promovendo melhor aporte energético aos animais. Porém, como a composição e qualidade das glicerinas disponíveis no mercado variam em função da presença de possíveis contaminantes, especialmente em função do processo de sua obtenção (transesterificação), podem haver inconveniências quanto ao seu uso na alimentação de bovinos, principalmente quando utilizada como macroingrediente nas dietas. Como os custos com alimentação em sistemas intensivos de produção de bovinos (corte ou leite) chegam a mais de 60% do custo total da atividade, a busca por alimentos alternativos que possibilitem redução nos custos com alimentação e mantenham os índices produtivos faz se necessária. Assim buscou-se nessa revisão apresentar informações disponíveis na literatura quanto à utilização de glicerina na alimentação e seu efeito sobre o desempenho de bovinos de corte e leite. BIODIESEL E GLICERINA O biodiesel pode ser definido como produto obtido através da transformação química de ácidos graxos de cadeia longa, oriundo de lipídios orgânicos renováveis, óleo ou gordura (vegetal ou animal) por adição de álcool (metanol ou etanol) na presença de catalisador (NaOH ou KOH), para utilização em motores diesel (Universidade de Açores, 2008). No Brasil, diversas fontes são utilizadas para produção de biodiesel 126 (Figura 1), dentre as quais se destacam o óleo de soja e a gordura bovina, que respondem, respectivamente por 80,37 e 16,02 da produção (ANP, 2013). Segundo a mesma agência, o Brasil é o terceiro maior produtor mundial de biodiesel (13% da participação), com produção de 2,8 mil m3 em 2012, e capacidade instalada para 22.6 mil m3/dia. Desde janeiro de 2010, todo óleo diesel comercializado no país deve conter 5% de biodiesel (ANP, 2011), acarretando em aumento na produção de biodiesel e, consequentemente, aumento na oferta de glicerina, principal coproduto da produção de biodiesel. O glicerol (1, 2, 3 propanotriol ou glicerina) foi descoberto por Scheele em 1979 durante o processo de saponificação do azeite de oliva. Pauster, em 1858, também observou sua formação como subproduto da fermentação alcoólica, em concentrações de 2,5 – 3,6% do conteúdo de etanol, podendo ser o glicerol o segundo maior produto formado durante a fermentação alcoólica (Tosetto & Andrietta, 2003). O termo glicerol é aplicado ao composto puro 1,2,3 propanotriol, enquanto o termo glicerina é usado para descrever os compostos comerciais obtidos e que contém glicerol. Diversos tipos e designações de glicerina estão disponíveis comercialmente, diferindo quanto ao teor de glicerol, álcool, catalizadores, ácidos graxos, sabões, cor e odor (Motta et al., 2009). Figura 1. Perfil nacional das fontes utilizadas na produção de biodiesel Fonte: ANP (2013). A glicerina apresenta diversos destinos conhecidos, sendo utilizada na confecção de produtos na indústria cosmética, farmacêutica, têxtil e alimentícia, no entanto, sua principal função na maioria dos casos é como umectante (substância para reter umidade). A glicerina possui ainda como característica ser altamente estável sob condições típicas de armazenamento, compatível com muitos outros materiais químicos, não tóxica e não irritante em seus mais variados usos, além de não ter efeitos ambientais negativos (Arruda et al., 2007). 127 A glicerina é obtida durante a produção de biodiesel através da reação de óleo vegetal ou gordura animal com álcool anidro (geralmente metanol, e ou às vezes etanol) (Donkin, 2008). Durante o processo de transesterificação (Figura 2), o óleo vegetal reage com álcool (metanol ou etanol) na presença de catalisador (hidróxido de sódio ou potássio), resultando em éster monoalquilado (biodiesel) e seu principal coproduto, a glicerina (Plá, 2002). Em seguida, por diferença de densidade, ocorre a decantação, permitindo assim a separação do biodiesel (Souza, 2006), e que com a remoção da glicerina, permite que o óleo torne-se mais fluido pela redução da viscosidade (Viscardi, 2005). O rendimento do processo de biodiesel é afetado pela temperatura de reação, tipo e concentração do catalisador e razão molar álcool/óleo vegetal (Encimar et al., 2002). De acordo com Dasari et al. (2005), para cada 90 m3 de biodiesel produzidos durante o processo de transesterificação de óleos vegetais, 10 m3 de glicerina são gerados. Figura 2. Modelo ilustrativo da reação geral de transesterificação Fonte: Ferreira (2009). De acordo com Oliveira et al. (2011), na indústria podem ser obtidas quatro tipos de glicerina: 1- Glicerina bruta: contém baixos níveis de glicerol (40 a 70%) e elevados níveis de catalizadores, álcool, água, ácidos graxos e sabões, com pH normalmente elevado (12), sendo obtida após separação do biodiesel; 2- Glicerina bruta “loira”: atualmente é o principal tipo de glicerina obtida na indústria do biodiesel e possui de 75 a 90% de glicerol. É a glicerina bruta após sofrer tratamento ácido, seguido da remoção dos ácidos graxos e sabões, sendo o restante composto por água, sais e metanol, apresentando pH entre 5 e 6; 3- Glicerina grau farmacêutico (grau USP): contém mais que 99% de glicerol é amplamente utilizada nos setores de cosméticos, higiene pessoal, medicamentos e fumo. É obtida da glicerina bruta loira após ser submetida à bidestilação a vácuo e tratamento com absorventes; e 4- Glicerina grau alimentício (food grade): é completamente isenta de metanol. 128 Mesmo a glicerina purificada sendo composto de alto valor comercial do ponto de vista industrial, o processo de purificação pode ser inviável economicamente, considerando a elevada quantidade de glicerina produzida atualmente no Brasil. Assim, o uso da glicerina bruta na alimentação animal, particularmente para os animais ruminantes, pode ser maneira de aumentar a eficiência biológica e econômica da produção de biodiesel (Zacaroni, 2010). GLICERINA E ALIMENTAÇÃO ANIMAL Glicerina é o nome comercial de um líquido viscoso, incolor, inodoro, higroscópico e com sabor adocicado, quimicamente definido como glicerol (1,2,3 propanotriol) (Arruda et al., 2007). A glicerina tem seu uso reconhecido e é tido como alimento seguro, mas atenção deve ser dada aos contaminantes presentes na forma bruta, principalmente aos níveis de metanol, que segundo o FDA (2006) não devem ultrapassar 150 mg/kg. Em função, do aumento na oferta de glicerina, e do seu potencial como macroingrediente na dieta de animais, Oliveira et al. (2011) destacaram que no Brasil o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) regularizou em outubro de 2010 o uso da glicerina bruta. De acordo com o MAPA (2010), o produto deve atender um padrão mínimo de qualidade para utilização na alimentação animal com no mínimo 80% de glicerol; máximo 13% umidade; máximo 150 mg/kg de metanol; sódio e matéria mineral com valor máximo garantido pelo fabricante, o que pode variar em função do processo produtivo. Destaca-se ainda estar proibido o uso de glicerina proveniente da gordura animal na alimentação de ruminantes em vista ao risco de ocorrência de doenças priônicas. As glicerinas oriundas de óleos de mamona e de pinhão manso também estão desautorizadas em função do risco da presença de contaminantes. Mesmo com padronização mínima que deve ser atendida para utilização da glicerina na alimentação animal, ainda é grande a variação principalmente quanto ao teor de glicerol, umidade, teor de sódio e lipídios totais na glicerina oriunda de diferentes regiões do país (Tabela 1). 129 Tabela 1. Composição da glicerina de indústrias de biodiesel no Brasil. 1 Número de amostras analisadas (glicerina a base de óleo de soja ou algodão); Fonte: Adaptado de Oliveira et al. (2013). METABOLISMO DE GLICEROL NO RÚMEN Estudos in vivo, avaliando os efeitos da glicerina bruta sobre os parâmetros ruminais de em bovinos são escassos. A literatura nos traz, no entanto, relatos dos efeitos ruminais da utilização de glicerol, seu principal componente, responsável por 80 a 90% da sua composição (Kerr et al., 2009). O glicerol é importante precursor glicogênico amplamente conhecido por seu poder de atuar em diferentes etapas do metabolismo da glicose (Leng, 1970). Segundo Krehbiel (2008), do glicerol consumido, 13% desaparece do rúmen por passagem com a digesta, 44% pela fermentação e 43% pela absorção através da parede ruminal. O glicerol pode ser convertido em propionato, no rúmen, através da fermentação microbiana e utilizada na gliconeogênese hepática (Krebs & Lund, 1966). O glicerol absorvido na parede ruminal, no fígado, pela ação da enzima glicerol quinase, juntamente com ATP, é convertido em glicerol-3-fosfato e ADP, para ser utilizado na glicólise ou na gliconeogênese, dependendo da condição metabólica do animal (Krehbiel, 2008). Rémond et al. (1993) afirmam que do glicerol ingerido, 39 a 69% é fermentado a ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) no rúmen de animais adaptados. No rúmen, o glicerol é rapidamente fermentado, levando a aumento da produção total de AGCC, com alteração da relação acetato:propionato, quando este é suplementado (Abughazaleh et al., 2010). Trabue et al. (2007), sugerem que 80% do glicerol desaparece após 24 horas de incubação in vitro. Segundo Bergner et al. (1995) em seis horas mais de 90% do glicerol desaparece do rúmen, quando este está sendo utilizado em substituição de 15 a 25% do amido da dieta. 130 Usando radioisótopos, Bergner et al. (1995) constataram que a maior parte do carbono oriundo do glicerol é utilizada na síntese de propionato, apenas 11% na síntese de CO2, enquanto que a presença deste como metano, acido lático e acético produzidos é muito baixa, que inclusive nem chegaram a ser identificadas neste estudo. Os autores relatam ainda redução da incorporação de N na proteína microbiana com o a maior suplementação de glicerol. Quanto à alteração da proporção dos AGCC produzidos, pode-se dizer que a suplementação com glicerol leva a aumento da proporção molar de propionato e butirato, com redução da proporção de acetato (Wang et al., 2009). Mach et al. (2009), entretanto, relataram que a utilização de 12% da matéria seca de glicerina bruta (86% de glicerol) na dieta de bovinos de corte não alterou a proporção dos AGCC produzidos no rúmen. Rico et al. (2012), em estudo in vitro, avaliaram a substituição de milho por glicerol desidratado, e observaram uma melhora da digestibilidade aparente da fibra em detergente neutro, sem alteração da síntese de proteína microbiana. Os autores recomendaram que uma inclusão de até 8% da matéria seca pode ser utilizada, sem prejudicar a fermentação ruminal e a digestibilidade da matéria seca e nutrientes. Boyd et al. (2013), trabalharam com vacas no terço inicial de lactação e produção de leite de 38.0 kg/dia, suplementadas com 0, 200 e 400 gramas de glicerol por dia, observaram efeitos no rúmen semelhantes aos relatados por Wang et al. (2009). Não foram observadas diferenças no pH e na concentração de amônia ruminais. As proporções molares de acetato, e a relação acetato:propionato reduziram, enquanto a concentração de propionato, butirato e valerato aumentaram, de acordo com o aumento da suplementação de glicerol. Não foram observados efeito da suplementação sobre o consumo nem sobre a digestibilidade da matéria seca e de nutrientes. Lee et al. (2011), em estudos in vitro, relataram que a adição de glicerol ao milho ou alfafa, aumentou a produção de propionato e reduziu a relação acetato: propionato, sem afetar a produção de butirato e AGCC em 24 horas de incubação. A suplementação de glicerol leva ainda a uma redução da produção de metano por unidade de energia digestível, o que indica melhoria da eficiência energética. Em vacas em lactação Carvalho et al. (2011), trabalhando com inclusão de 10,8% da matéria seca, de glicerol não encontraram diferenças no consumo de matéria seca e observaram aumentos nas proporções de propionato (22,7 e 28,6%) e butirato ( 11,5 e 15,3%) ruminal, e consequente redução na relação acetato:propionato (2,76 e 1,88) para dietas controle e glicerol, respectivamente. Wang et al. (2009) observaram que a suplementação com doses crescentes de glicerina (0, 100, 200 e 300 g/dia; 99% de glicerol) alterou o padrão de fermentação ruminal, com aumento linear na produção total de 131 AGCC (93,40 a 99,61 mM), seguido de aumento linear na proporção molar de propionato (16,31 a 19,08 mol/100 mol) e butirato (8,27 a 11,35 mol/100 mol), refletindo em redução da relação acetato:propionato (4,56 à 3,64) a medida em que se incluiu glicerina às dieta. O glicerol pode atuar ainda sobre a degradabilidade da fração proteica. Paggi et al. (1999) relatam inibição de 20% da atividade proteolítica quando o glicerol foi utilizado, em diferentes dietas basais. Segundo Ling & Armstead (1995), isso pode acarretar em efeitos positivos, uma vez que a degradação proteica ruminal reduz a eficiência da utilização de proteínas em ruminantes. A aceleração do processo fermentativo pode estar diretamente relacionada à alteração das populações microbianas do rúmen. Roger et al. (1992) relatam que a adição de 5% de glicerol inibe o crescimento e a atividade celulolítica de bactérias e fungos in vitro. Paggi et al. (2004) também relataram redução da atividade celulolítica quando a concentração de glicerol sobe de 50 para 300 mM. Roger et al. (1992) associam esta redução da atividade celulolítica à redução no crescimento, adesão e à inibição das populações microbianas. O mecanismo pelo qual esta inibição ocorre ainda não está completamente elucidado. Abughazaleh et al. (2010) avaliaram a substituição de milho por glicerol em experimento in vitro. A concentração de acetato foi reduzida a partir de 30% de substituição. O propionato aumentou apenas na dieta com 45% de substituição. As concentrações de DNA de Butyrivibrio fibrisolvens e Selenomonas ruminantium foram reduzidas nas dietas com 30 e 45% de substituição. Ruminococcus albus e Succinivibrio dextrinosolvens não foram alterados pelas dietas experimentais. Das quatro bactérias testadas neste trabalho, duas têm importante atividade celulolítica (Butyrivibrio fibrisolvens, Ruminococcus albus) enquanto outras duas são importantes na degradação de amido (Selenomonas ruminantium, Succinivibrio dextrinosolvens) no rúmen (Tajima et al., 2001; Russell, 2002). De acordo com Hobson & Mann (1961), as bactérias do gênero Selenomonas são as mais importantes no metabolismo do glicerol. Abughazaleh et al. (2010) concluíram que dietas com substituição de até 15% não tem efeito sobre a fermentação ruminal. Altas concentrações de glicerol, no entanto, levam a efeitos adversos sobre as bactérias ruminais e produção de acetato. Segundo Roger et al. (1992), em baixas concentrações (0,1 a 1%), o glicerol não tem efeito sobre o crescimento, adesão e atividade celulolítica de duas populações microbianas (R. flavefaciens e F. succinogenes). No entanto, numa concentração de 5% há maior inibição do crescimento e da atividade celulolítica, sem afeitos sobre a adesão. No processo de obtenção da glicerina são utilizadas algumas substâncias que podem comprometer a saúde e o desempenho animal. O metanol, 132 talvez a mais importante dessas substâncias, tem recebido grande atenção especialmente pela produção de acido fórmico, durante sua metabolização hepática. Leão et al. (2013), estudaram alterações anatomopatológicas, não conseguiram estabelecer qualquer relação de lesões hepáticas, ruminais, renais ou intestinais, com a suplementação de glicerina até o teor de 24% da matéria seca da dieta. A produção de metano, assim como as estratégias nutricionais de mitigação da sua emissão tem recebido especial atenção da pesquisa em nutrição de animal, nos últimos anos. Os efeitos ambientais da emissão e a ineficiência energética decorrente da produção ruminal de metano, justificam essa busca (Johnson & Johnson, 1995). Existem muitos fatores nutricionais e do animal que podem interferir na produção de metano. A ingestão de matéria seca, o tipo de carboidrato utilizado, a adição de lipídeos, o processamento da forragem e a manipulação da fermentação ruminal são, segundo Johnson & Johnson (1995), os fatores mais importantes. A produção de metano é, no entanto, fisiologicamente importante para a manutenção da pressão de H2 reduzida, permitindo a reoxidação do NADH e maior rendimento de acetato e ATP. De acordo com Stradiotti Júnior et al. (2004), no ecossistema ruminal há relação inversa entre a produção de metano e de propionato. O mecanismo pelo qual se justifica essa relação consiste no direcionamento dos hidrogênios e carbonos (coprodutos da produção de acetato) para produção de propionato, que não estariam disponíveis para metanogênese. Johnson & Johnson (1995) afirmam que especialmente a relação acetato:propionato é importante na produção de metano. Segundo estes autores, uma relação menor que 0,5 inibe a produção de metano por redução do substrato para o crescimento das bactérias metanogênicas. Por outro lado, se o carboidrato é fermentado a acetato e não a propionato, até 33% da energia pode ser perdida na forma de metano. Como a relação acetato:propionato no rúmen tende a variar de 0,9 a 4,0, in vivo, a produção de metano é sempre presente e importante. Conforme discutido anteriormente neste capítulo, considerando a capacidade da glicerina de alterar o perfil dos AGCC produzidos no rúmen, com redução da relação acetato:propionato (Wang et al., 2009; Boyd et al., 2013; Lee et al., 2011; Carvalho et al., 2011), o efeito mitigador da glicerina é promissor. Os trabalhos atuais, no entanto, utilizam-se de técnicas ainda pouco sensíveis, dificultando o estabelecimento dos reais efeitos dos diferentes níveis de suplementação de glicerina bruta sobre a produção de metano ruminal. Ávila et al. (2011), estudaram o efeito de teores crescentes de glicerina purificada (0, 7, 14 e 21% MS) sobre a fermentação ruminal e produção de metano, e observaram que, apesar da redução das proporções molares de acetato e butirato, e do aumento da concentração de propionato, a produção de 133 metano não foi afetada. A taxa de fermentação ruminal in vitro e a produção de metano originada do glicerol foi objetivo do estudo de Lee et al. (2011). Estes autores usaram os tempos de coleta do líquido ruminal de 0, 3, 6, 12, 24 e 48 horas e obtiveram taxa de produção de gás de 0,051/hora. A adição de glicerol reduziu a produção de metano e não alterou a produção total de AGCC, em 24 horas. Estes resultados sugerem aumento na eficiência do uso da energia quando as dietas foram suplementadas com glicerol. Diferentemente Silva (2011), também avaliou a produção de metano in vitro, em dietas suplementadas com 0, 15 e 30% de glicerina bruta na matéria seca. A produção de metano aumentou linearmente com o aumento da suplementação de glicerina. Os autores citam, assim como Santos et al. (2011), que altas concentrações de glicerina, substituindo até 75% do amido da dieta, tem grande capacidade de aumentar a produção de metano. Paschoaloto (2012) avaliou a inclusão da glicerina em dietas contendo silagem de milho, feno de Tifton 85 e cana-de-açúcar hidrolisada na alimentação de bovinos de corte confinados e seus efeitos sobre os parâmetros ruminais e a produção de gases. Não foi detectado efeito para a produção metano entre as dietas, apenas a produção de CO2 foi maior para o tratamento cana-de-açúcar hidrolisada com glicerina (51,18 mL/g MS). Já Van Cleef (2012) avaliou a produção de CH4 e CO2, além das bactérias aderidas a fração sólida, em dietas suplementadas com diferentes teores de glicerina bruta. A inclusão de 30% de glicerina deprimiu a digestibilidade e degradabilidade da fibra, reduziu a produção de CH4 e CO2 e interferiu negativamente na produção de bactérias sólido-aderidas, não alterando as variáveis de desempenho e características da carcaça avaliadas. DESEMPENHO DE BOVINOS ALIMENTADOS COM GLICERINA Inicialmente o uso de glicerol em ruminantes foi proposto como tratamento a cetose em vacas leiteiras. Johnson et al. (1954) relataram que a utilização de glicerol via oral foi mais eficiente no tratamento da cetose que a mesma quantidade de propilenoglicol. Mais tarde a glicerina passou a ser utilizada na prevenção e não apenas no tratamento da cetose. Vacas da raça Holandês recebendo 374 g/dia de glicerol perderam menos peso e permaneceram mais tempo em balanço energético positivo que aquelas recebendo 0 ou 174 g de glicerol, ou 174 g de propilenoglicol, durante as oito primeiras semanas de lactação (Fisher et al., 1973). Atualmente, em ruminantes devido à presença do glicerol, a glicerina tem se caracterizado como potencial e promissora fonte energética, principalmente em substituição a fontes ricas em amido (Donkin, 2008; Donkin et al., 2009; Terré et al., 2011). Em dietas de alto concentrado, o intervalo para inclusão da glicerina estaria entre 10 a 15% na matéria seca (MS) da dieta (Donkin et al., 134 2009; Mach et al., 2009; Carvalho et al., 2011; Terré et al., 2011). Schroder & Sudekum (1999) avaliaram a inclusão de 15% de glicerina de diferentes purezas (63,3; 85,3 e 99,8% de glicerol) em substituição ao amido na dieta de novilhos, e não observaram efeitos sobre consumo de matéria seca (13,4 kgdia) e digestibilidade dos nutrientes. A inclusão de glicerina a dieta de novilhas (0, 2, 4, 8, 12 e 16% MS) em dietas a base de milho de floculado e 6% feno de alfafa reduziu linearmente o consumo de matéria seca (CMS), propiciou efeito quadrático para ganho de peso diário, sendo maior ganho (1,34 kg) alcançado com 2% de glicerina na dieta (Parsons et al., 2009). Porém, estes autores destacaram que a inclusão de glicerina a dieta de terminação melhora o ganho de peso e eficiência alimentar, principalmente quando incluída até 8% da matéria seca. Mach et al. (2009) avaliaram a inclusão de glicerina em até 12% da MS (86% de glicerol) em dietas de alto concentrado para tourinhos, e não observaram efeito sobre consumo de matéria seca e ganho de peso diário, com média de 8,27 e 1,35 kg/dia, respectivamente. Os autores ainda estimaram a concentração de energia metabolizável da glicerina em tourinhos da raça Holandês sendo de 3,47 Mcal/kg de MS. Gunn et al. (2011) trabalharam com animais F1 Angus desmamados precocemente, e não observaram diferença no consumo de matéria seca, e relataram maior ganho de peso diário (1,33 kg) e área de olho de lombo em animais recebendo 15% de glicerina (90 % de glicerol) mais 30% de grãos secos de destilaria em substituição ao milho. No Brasil alguns trabalhos recentes também tem avaliado a inclusão de glicerina na dieta de bovinos em terminação. A Tabela 2 apresenta uma compilação dos diferentes trabalhos com inclusão de glicerina à dieta de bovinos em terminação. D’Aurea (2010) utilizando inclusões de 0, 10 e 20% de glicerina (83% de glicerol) a dietas de alto concentrado (70% concentrado na MS) para novilhas Nelore em terminação, relatou redução no consumo matéria seca com inclusão de 20% de glicerina a dieta, porém, sem alterar o ganho de peso diário, que foi maior com uso de glicerina (1,33 kg/dia) comparado a dieta controle (1,23 kg/dia). Carvalho (2011) avaliou a inclusão crescente de glicerina (0, 6, 12 e 18% de glicerina na MS; 83% glicerol) em substituição ao milho em dietas de alto concentrado, e não observou diferença no ganho de peso diário (1,82 kg/dia), tendência de aumento na área de olho de lombo e aumento linear no rendimento de carcaça quente. Van Cleef (2012) com inclusões de 0, 7.5, 15, 22.5 e 30% de glicerina (86% de glicerol) a dieta de novilhos Nelore terminados com dietas de alto concentrado, e não encontrou diferença no consumo de matéria seca e ganho de peso diário, que apresentaram médias de 8,36 e 1,62 kg/dia, respectivamente. Fávaro (2010) também não observou diferença no consumo de matéria seca, com média de 10,6 kg/dia, em dietas com inclusões de 0, 5, 10, 15 e 135 20% de glicerina na MS da dieta (83% de glicerol) em dietas com relação volumoso:concentrado de 40:60. Tabela 2. Consumo de matéria seca (CMS), ganho médio diário (GMD) e eficiência alimentar (EA) de bovinos de corte terminados em confinamento, com inclusão de glicerina as dietas, no Brasil. *Difere dos demais tratamentos; Fonte: D’Aurea (2010); Carvalho (2011); Van Cleef (2012); Paschoaloto (2012). Ao avaliar a inclusão ou não de 10% glicerina (83% glicerol) na dieta de bovinos associada a diferentes volumosos, em relação volumoso:concentrado 50:50. Paschoaloto (2012) relatou redução no consumo de matéria seca para os tratamentos cana-de-açúcar hidrolisada, cana-de-açúcar hidrolisada+glicerina, feno de Tifton 85 e feno de Tifton 85+glicerina, quando comparados à silagem de milho ou silagem de milho+glicerina, com medias de 9,06 e 8,67 kg/dia, respectivamente. Segundo o autor este resultado pode ser explicado pelo alto teor de FDN nas dietas a base de cana-açúcar hidrolisada e feno de Tifton 85, implicando maior tempo de retenção do material no rúmen, pois a degradação da matéria seca foi menor quando comparados às dietas com silagem de milho e silagem de milho+glicerina, levando ao maior tempo para sua degradação. 136 Em bovinos de leite a utilização de glicerina na alimentação tem sido avaliada em diferentes estudos. Donkin et al. (2009) avaliaram quantidades crescentes de glicerina 0, 5, 10 e 15% na MS da dieta (99.5% glicerol) e não observaram diferença para consumo de matéria seca e produção de leite, com média de 24,3 e 36,9 kg/dia, respectivamente. Ainda, de acordo com esses autores, vacas alimentadas com dietas contendo 10 e 15% de glicerol ganharam mais peso que aquelas sem ou com 5% de glicerol. Assim, a glicerina pode ser incluída a dieta em substituição a milho em até 15% da MS sem efeitos adversos sobre a produção e composição do leite. Berry (2007) utilizou a glicerina em dietas para vacas leiteiras, sem glicerina+37% de carboidratos não fibrosos (CNF), 5% de glicerina+37% de CNF, 10% de glicerina+37% de CNF e 10% de glicerina+42% de CNF, e não encontrou diferença no consumo de matéria seca e produção de leite, com médias de 23,9 e 39,5 kg/dia, respectivamente. Ainda assim, de acordo com autor, a inclusão de glicerina as dietas aumentou o consumo, sendo o mesmo 2 kg superior com 10% de glicerina+42% de CNF comparado ao controle (0% de glicerina+37% CNF). De Frain et al. (2004) avaliaram dietas controle (860 g/dia de amido), baixo glicerol (430 g de amido+430 g de glicerol) e alto glicerol (860 g/dia de glicerol) para vacas da raça Holandês no período de transição, e observaram redução no consumo de matéria seca no pré-parto (13,3; 10,8 e 11,3; respectivamente), no entanto, sem efeito no consumo pós-parto (17,0 kg/dia) e na produção de leite (37,2; 35,7 e 34,0 ; respectivamente). Os autores concluem que embasados no consumo de matéria seca pré-parto, e nas concentrações de glicose (66,0; 63,1 e 58,4 mg/dL, respectivamente) e ß hidroxibutirato (4,31; 6,18 e 5,43 mg/dL respectivamente) no pós-parto, que vacas alimentadas com níveis de glicerol utilizados neste estudo estão mais susceptíveis a cetose. A inclusão de glicerina em 11,5% e 10.8% no período pré e pós-parto em dietas para vacas leiteiras no período de transição, não alterou o consumo de matéria seca no pré (14,9 e 14,6 kg/dia) e pós-parto (19,8 e 20,7 kg/dia), e a produção de leite (35,6 e 37 kg/dia), respectivamente, para dieta controle (0% de glicerol) e glicerina (99,5% glicerol) (Carvalho et al. 2011). De acordo com estes autores também não se verificaram diferenças nas concentrações de ácidos graxos não esterificados e balanço de energia, podendo a glicerina substituir o milho em dietas para vacas em período de transição. Boyd et al. (2013) com utilização de glicerina (80-85% glicerol) em dietas para vacas leiteiras em início de lactação (56 ± 18 d DEL), com 0 g/dia (controle), 200 g/dia de glicerol e 400 g/dia de glicerol, relataram redução no consumo de matéria seca, com médias de 24,3; 23,1 e 23,4 kg/dia a medida que se incluiu glicerina à dieta e redução na produção de leite com inclusão de 400 g/dia de glicerol (37,9; 37,3 e 35.5 kg/dia, respectivamente para controle, 137 200 e 400 g/dia de glicerol). Este resultado contraria os observados por Boyd et al. (2011), que não verificaram diferença no consumo de matéria seca (23,0 kg/dia) para vacas suplementadas com 400 g/dia de glicerina (99% de glicerol). No Brasil, em função dos altos custos com alimentação em rebanhos leiteiros, diversos estudos tem buscado avaliar os efeitos da inclusão de glicerina em substituição ao milho na dieta de vacas leiteiras (Tabela 3). Zacaroni (2010) relatou redução na produção de leite de 23,4 para 21,3 kg/ dia (controle vs glicerina), quando se incluiu 12,3% de glicerina bruta (76 % glicerol) em substituição ao milho a dieta de vacas leiteiras, sem alterar o consumo de matéria seca (16,7 kg/dia), resultando em queda na eficiência alimentar. San Vito (2010) avaliando a inclusão de glicerina em substituição ao milho (0; 33,3; 66,6 e 100%) relatou redução no consumo de matéria seca a partir de 33,3% de substituição (21,58 à 20,29 kg/dia), e redução na produção de leite quando utilizou 66,6% de substituição (31,14 à 28,14 kg/dia), podendo esta resposta estar relacionado a composição da glicerina utilizada (84% glicerol e 8,64% metanol), que associados a outros componentes da dieta (fontes proteicas e carboidratos) utilizadas nestas dietas podem ter reduzido o CMS e a síntese de proteína microbiana, não sendo possível isolar o efeito somente da glicerina neste estudo. Costa (2011) relatou que quantidades crescentes de glicerina (0, 4, 8 e 12%) em dietas utilizando cana-de-açúcar como volumoso (80:20 volumoso:concentrado) promoveu aumento na produção de leite (12,27 à 15,30 kg/dia) sem afetar o consumo de matéria seca (16,23 kg/dia). Silva (2011) avaliou quantidades crescentes de glicerina 0, 15 e 30% da MS da dieta; (86% glicerol), e relatou tendência de redução linear no consumo de matéria seca (17,0; 16,8 e 15,8 kg/dia, respectivamente) e na produção de leite com médias de 19,8; 16,7 e 15,4 kg/dia, respectivamente. No entanto, Wilbert (2012) ao avaliar a inclusão de glicerina (0, 4, 8 e 12% da MS; 81,4% glicerol) em dietas para vacas Jersey (85 DEL) não observou efeito sobre o consumo de matéria seca (18,6 kg/dia) e produção de leite (20,06 kg/dia), podendo a glicerina substituir parcialmente o milho na dieta de vacas leiteiras sem efeitos sobre a produção e composição do leite. 138 Tabela 3. Consumo de matéria seca (CMS), produção de leite (PL) e eficiência alimentar (EA) em vacas leiteiras alimentadas com dietas contendo glicerina no Brasil. *Difere dos demais tratamentos; Fonte: Zacaroni (2010); San Vito (2010); Silva (2011); Costa (2011); Wilbert (2012). No entanto, a influência da glicerina sobre o consumo, tem sido o principal fator limitante a sua utilização como macroingrediente, pois considerando que o desempenho é função direta do consumo, sua restrição pode ser desfavorável ao uso da glicerina em quantidades elevadas na dieta de bovinos, especialmente em vacas leiteiras de alta produção que demandam dietas com alta energia. Assim, desenvolveu-se estudo no Laboratório de Pesquisa em Bovinos de Leite do Departamento de Nutrição e Produção Animal (FMVZ-USP, Pirassununga) com objetivo de avaliar o efeito da inclusão de glicerina na dieta de vacas leiteiras sobre a produção e metabolismo. Foram utilizadas 24 vacas multíparas da raça Holandesa (184±50 dias em lactação), distribuídas em 6 quadrados latinos 4x4, balanceados e contemporâneos. Os animais foram alojados em estabulo “Free stall” com acesso irrestrito a bebedouro e comedouro. Cada período experimental teve duração de 21 dias, sendo 14 dias de adaptação e sete de coleta de dados. 139 As dietas foram formuladas para serem isoproteícas (NRC, 2001) e continham silagem de milho, farelo de soja, milho moído, ureia e núcleo mineral/ vitamínico com presença ou ausência de glicerina bruta (80,6% de glicerol; 0,026% de metanol; e 6,3 de minerais; ADM do Brasil Ltda), em relação volumoso:concentrado 50:50. Os animais foram distribuídos para receberem as seguintes dietas: 1) controle (sem a inclusão de glicerina), 2) 7% glicerina (7% de glicerina na MS), 3) 14% Glicerina (14% de glicerina na MS) e 4) 21% glicerina (21% de glicerina na MS) em substituição ao milho moído nas dietas. Tabela 4. Consumo de matéria seca, produção e composição do leite de vacas da raça Holandês recebendo dietas com diferentes concentrações de glicerina *Médias seguidas de letras diferentes na linha, diferem a 5% pelo teste de Tukey; Fonte: Paiva (2013; Dados parciais não publicados). A inclusão de glicerina nas dietas reduziu linearmente o consumo de matéria seca (P<0,05; Tabela 4), a produção de leite e leite corrigido (P<0,01), refletindo também nas produções de gordura, proteína e lactose (P<0,01). A inclusão de glicerina nas dietas não alterou o teor de gordura, proteína e lactose (P>0,05). Considerando que o desempenho animal depende entre 60 e 90% do consumo de matéria seca, e que variações na digestibilidade são menos impactantes sobre o desempenho (Mertens, 1994), as respostas quanto à redução na produção de leite e leite corrigido podem ser explicadas pela redução linear no CMS, levando a menor disponibilidade de energia para produção de leite. Quanto à produção de gordura, proteína e lactose, como não houve diferença quanto aos seus teores, os mesmos estão diretamente ligados ao volume de leite produzido. Com relação aos efeitos da inclusão de glicerina sobre o CMS, este pode em parte ser explicado por dois fatores, sendo um de qualidade e 140 outro de metabolismo. O primeiro estaria relacionado à ampla variação na composição das glicerinas disponíveis no mercado. Gomes (2009) e Fávaro (2010), utilizando glicerina com aproximadamente 83% de glicerol, 0,01% de metanol e 7% de minerais, não observaram diferenças no consumo de matéria seca (CMS). Gunn et al. (2010) suplementando cordeiros com até 45% de glicerina (89,5 % de glicerol; <0,005 de metanol; e 5,65 de minerais) relataram comportamento quadrático, com máximo CMS (1,19 kg/dia) com 15% de inclusão de glicerina a dieta. No entanto, Lage et al. (2010) com inclusão de até 12% de glicerina (36,20% de glicerol; 8,66% de metanol; 45,48% extrato etéreo e 2,05% de minerais) na dieta de cordeiros em terminação, relataram redução linear no consumo, com diminuição de 29,68 g a cada 1% de inclusão de glicerina a dieta. Outra provável explicação para os efeitos da glicerina sobre consumo baseia-se na teoria da oxidação hepática como mecanismo de regulação do consumo. Duas características importantes relacionadas ao glicerol dizem respeito a sua rápida fermentação a AGCC, especialmente a ácido propiônico (Rémond et al., 1993; Trabue et al., 2007; Wang et al., 2009; Abughazaleh et al., 2010; Lee et al., 2011) e sua capacidade de ser absorvido através do epitélio ruminal para oxidação no fígado. Dentre os AGCC, o propionato é extensamente metabolizado no fígado, uma vez que a atividade de propionil-CoA sintetase é elevada nos hepatócitos, tornando-o precursor primário da glicose. Adicionalmente, o propionato pode também tomar destinos diferentes, como ser oxidado no ciclo de Krebs, ou mesmo estimular a oxidação do acetil-CoA derivado de outros intermediários (Aiello & Armentano, 1987; Steinhour & Bauman, 1988; Knapp et al., 1992; Allen, 2000). Assim, a oxidação hepática do propionato ao longo da refeição aumenta o status energético dos hepatócitos, desencadeando sinais que determinam o fim da alimentação (Rémond et al., 1993; Bergner et al., 1995; Allen et al., 2009). Considerando a velocidade e quantidade de ácido propiônico formado e absorvido em relação aos demais AGCC, é provável que ao longo da alimentação, e poucas horas após, o fluxo e o perfil do absorvido pode ser modificado, e como consequência, haveria influencia nas reações de oxidação e seus intermediários no ciclo de Krebs, estimulando a saciedade (Benson et al., 2002; Trabue et al., 2007; Donkin, 2008; Allen et al., 2009). CONSIDERAÇÕES FINAIS Mesmo que o principal limitante a inclusão de glicerina como macroingrediente nas dietas seja seu possível efeito negativo sobre o CMS, de forma geral os resultados produtivos tem demonstrado que este é um alimento promissor. Assim, a glicerina apresenta-se como boa alternativa alimentar, com 141 potencial nutricional, especialmente em substituição ao milho moído da dieta. Seu nível de inclusão deverá então ser pautado principalmente em função da qualidade da mesma, e de uma analise econômica detalhada de sua inclusão ou não na dieta. Ainda, em função da qualidade variável da glicerina disponível no mercado, o que acaba conferindo os diferentes resultados disponíveis na literatura quanto a sua utilização, é necessário além da padronização da glicerina para utilização na alimentação animal, maior entendimento acerca do metabolismo ruminal da glicerina, pois só assim será possível entender por quais mecanismos a glicerina realmente pode interferir no CMS. 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A produção brasileira de ovos em 2010 foi superior a 28 bilhões de unidades (UBABEF, 2010/2011), sendo que os estados de São Paulo, Minas Gerais e Paraná são responsáveis por mais de 50% deste montante. No Brasil, estima-se que as perdas de ovos devido a problemas relacionados à qualidade da casca são da ordem de 7,4%, o que gera, aproximadamente, uma perda anual de 2,1 bilhões de ovos. A maioria das perdas está relacionada com a baixa qualidade de casca produzida na fase final de produção. Isto pode ser comprovado através de diversos estudos científicos. Al-Batshan et al. (1994) observaram que a porcentagem de casca diminuiu de 9,8% para 8,9% e a sua espessura diminuiu de 0,403 mm para 0,373 mm da 22a para 57a semanas de idade. Em outro estudo, Grobas et al. (1999) relataram que a porcentagem de ovos quebrados aumentou de 0,43% na 22a semana para 1,81% na 74a semana. Estes autores relatam que poedeiras mais velhas são menos eficientes em absorver cálcio que poedeiras jovens. Além disso, foi observado que em poedeiras mais velhas, o aumento no tamanho do ovo elevou a deposição da casca, mas este aumento não foi suficiente para evitar um declínio na qualidade devido a diminuição na sua espessura (Roland, 1980). Para que se possa reduzir este problema, recomenda-se efetuar periodicamente avaliação da qualidade da casca, e havendo necessidade, adotar medidas corretivas para minimização das perdas. Quais seriam, então, estas medidas e quais as mais apropriadas? A literatura cita estudos que demonstraram estratégias nutricionais com o intuito de atenuar a perda da 148 qualidade externa do ovo. Neste contexto, quando pensamos em qualidade de casca, nem sempre nos preocupamos com os níveis protéicos ou aminoacídicos da dieta, pois, teoricamente os nutrientes mais importantes a serem considerados são os minerais e vitaminas. A resistência da casca diminui com o aumento de idade da ave, sendo que a força necessária para a quebra do ovo no pico de produção é de 4 kgf, no entanto, somente 2.8 kgf é necessário para a quebra de um ovo de poedeira com 78 semanas (Hamilton et al., 1978). Como existe uma forte correlação entre a resistência da casca e resistência da membrana do ovo (Essary et al., 1977) níveis mais elevados de aminoácidos na dieta podem melhorar a resistência da casca dos ovos. Desta maneira, é pertinente considerar outros nutrientes como estratégia nutricional com o objetivo de melhorar a resistência da casca. A treonina é o terceiro aminoácido limitante para aves e participa de diferentes processos metabólicos como a síntese protéica e formação do ácido úrico. Niemeyer (2005) avaliou a suplementação de diferentes níveis de treonina na dieta de poedeiras no período de 61 a 77 semanas, o qual observou uma melhora na resistência e espessura da casca com a suplementação de uma dieta com 0,96% de treonina (Tabela 1). Tabela 1 – Impacto da suplementação de treonina na qualidade de casca de poedeiras no período de 61 a 77 semanas de idade Niemeyer, 2005 Certamente as vitaminas têm papel extremamente relevante no assunto em questão. É sabido, por exemplo, que a vitamina D (Vit D) desempenha um papel nutricional muito importante na produção de aves, seja através do processo de mineralização óssea, seja através da melhoria da qualidade da casca dos ovos. Antes de exercer sua atividade fisiológica facilitando a absorção de cálcio no intestino e a mobilização do cálcio ósseo, a Vit D3 é hidroxilada no carbono 25 no fígado (Ponchon et al., 1969), se convertendo em 25,Hidroxicolecalciferol (25 (OH)D3 e no carbono 1, nos rins (Frazer & Kodicek, 1970), se transformando no metabólito biologicamente ativo conhecido como 1,25,Diidroxicolecalciferol (1,25(OH)2D3). Além disso, a Vit D estimula a síntese da proteína transportadora de cálcio(calbidina) no 149 intestino e no útero de poedeiras (Bar & Hurwitz, 1987). As aves podem obter vitamina D através do suplemento vitamínico, da produção endógena e de subprodutos de origem animal (Atencio et al., 2006). Existem diferentes metabólitos de Vit D que podem ser utilizados na dieta para a suplementação das aves, sendo o mais comum o Colecalciferol, também conhecido como Vit D3. Ambas as formas são absorvidas no intestino, entretanto, a 1-a-OHD3 é 7 a 10 vezes mais ativa que a Vit D3 como pode ser observado em estudos de absorção de Ca intestinal, mobilização de Ca ósseo, e cinzas ósseas em tíbias (McNutt & Haussler, 1973; Fritts & Waldroup, 2003). Isto se deve principalmente ao mecanismo fisiológico singular da 1-α-OHD3, pois a mesma precisa somente do metabolismo hepático para se tornar fisiologicamente ativa. Vários trabalhos foram publicados comparando a eficiência de utilização da –1-αOHD3 na dieta de poedeiras comerciais (Roland and Harms, 1976; Charles et aI., 1978; Abdulrahim et a1. 1979; Keshavarz, 2003). Contudo, existe pouca informação disponível avaliando o uso deste metabólito na dieta de matrizes pesadas. Atencio et al (2005) avaliaram o uso de 1-α- OHD3 na dieta de reprodutoras e obervaram melhor atividade deste metabólito quando comparado com a Vit D3. Araújo et al. (2012) avaliaram o uso do alfacalcidol na dieta de matrizes no período de 52 a 62 semanas. Ocorreu efeito significativo dos tratamentos avaliados sobre a produção de ovos, porém não houve diferenças para o peso dos ovos (Tabela 2). O grupo que recebeu a dieta sem a suplementação de Vit D apresentou menor produção de ovos do que os demais tratamentos (P<0.05). Estes resultados indicam que a ave utiliza sua reserva corporal de Vit D e se torna deficiente em Vit D até o ponto de influenciar a taxa de postura e de acordo com Atencio et al. (2006) este efeito é mais pronunciado principalmente após a 50ª. semana, como foi o caso do período de avaliação deste experimento. Tabela 2 – Produção de ovos de matrizes alimentadas com diferentes fontes de Vit D no período de 52 a 62 semanas. * T1 – Controle negativo; T2 – Controle positivo Araujo et al., 2012 A espessura de casca e a gravidade específica foram influenciadas pelos diferentes tratamentos (Tabela 3). A deficiência de Vit D resultou em 150 pior qualidade de casca quando comparado com os demais tratamentos. Por outro lado, a suplementação de duas vezes a dose normal de Vit D não promoveu a melhora da qualidade da casca quando comparado com os ovos do tratamento onde ocorreu a suplementação da 1-α-OHD3, a qual demonstrou melhor qualidade de casca na 57a e 62a semanas (P<0.05). Estes resultados demonstraram que não somente a suplementação de Vit D é importante para o metabolismo da ave, mas também a forma do metabólito que será administrado. Isto porque estes metabólitos possuem uma ação fisiológica diferente no organismo da ave e o simples aumento do nível de Vit D na dieta, como o que foi estudado no tratamento 3, não foi o suficiente para melhorar a qualidade de casca dos ovos. Tabela 3 – Efeito da suplementação de diferentes fontes de Vit D na dieta de matrizes pesadas no período de 52 a 62 semanas, sobre a espessura de casca (mm) e gravidade específica dos ovos. * T1 – Controle negativo; T2 – Controle positivo Araujo et al., 2012 Estes resultados demonstram a importância do papel da Vit D na melhora do desempenho da reprodutora, os quais estão de acordo com Bethke et al. (1936 a,b), Couch et al. (1947), Abdulrahim et al. (1979) e Atencio et al. (2006) que observaram melhor produção de ovos, eclodibilidade e qualidade de pintinhos em aves alimentadas com dietas suplementadas com Vit D. As aves que não foram suplementadas com Vit D apresentaram uma queda na produção de ovos, mas os mesmos ainda eram incubáveis. Quando quebrados, a casca apresentava-se extremamente fina quando comparados com a casca dos ovos dos demais tratamentos, o que demonstra o efeito sobre a espessura da casca e a gravidade específica. Estes estudos suportam a importância da Vit D no processo de produção das matrizes e demonstram que a 1-α- OHD3 é um metabólito importante que pode melhorar o desempenho dos animais sem apresentar efeitos negativos. Matrizes na fase final de produção perdem a habilidade de modular o metabolismo da Vit D3 para compensar uma inadequada ingestão de Ca (Bar & Hurwitz, 1987). Desta forma, a suplementação da α 1-α- OHD3 é uma alternativa importante para mantermos a qualidade da casca dos ovos e, assim, também melhorarmos o desempenho das matrizes, principalmente na 151 fase final de produção. Outro nutriente que desempenha papel importante sobre a qualidade da casca do ovo é o cálcio. A poedeira possui a habilidade de armazenar cálcio no esqueleto para utilizá-lo durante o processo de formação da casca. Este cálcio extra, na forma de osso medular, é depositado nas cavidades interiores dos ossos, em respostas às mudanças hormonais oriundas dos estímulos luminosos e da maturação sexual. O cálcio necessário para a máxima produção de ovos é menor do que a necessidade para a formação da casca, sendo que as necessidades de aves jovens são inferiores do que as de aves mais velhas ou de segundo ciclo. Além disso, os níveis de cálcio, associados à sua fonte podem influenciar a qualidade da casca. Safaa et al. (2008) avaliaram o efeito do nível e da fonte de cálcio sobre o desempenho e qualidade de ovos de poedeiras no período de 58 a 73 semanas de idade. Os autores observaram que à medida que a ave tornavase mais velha, ocorria uma diminuição da qualidade da casca, sendo que este efeito foi mais acentuado para aves recebendo dietas formuladas com 3,5% de cálcio (Figuras 1 e 2) e as fontes utilizadas afetaram somente a densidade da casca (Tabela 5). Figura 1 – Efeito do nível de cálcio para poedeiras sobre o peso da casca no período de 58 a 73 semanas Safaa et al., 2008 152 Figura 2 – Efeito do nível de cálcio para poedeiras sobre a densidade da casca no período de 58 a 73 semanas Safaa et al., 2008 Tabela 5 – Efeito das fontes de cálcio sobre a qualidade de casca no período de 58 a 73 semanas. Safaa et al., 2008 Além de aminoácidos, vitaminas e minerais alguns aditivos podem ter efeito benéfico na melhoria da qualidade da casca. Neste sentido, podemos destacar as enzimas exógenas. O uso destas enzimas desenvolvidas com finalidades específicas de auxiliar no processo de aproveitamento de nutrientes pelos animais monogástricos, devido à ausência ou à produção ineficiente de algumas enzimas endógenas capazes de atuar na digestão de certos componentes encontrados nos alimentos de origem vegetal, tem sido alvo de estudos na área de nutrição animal nos últimos anos. A enzima mais estudada e que tem demonstrado maior eficácia é a fitase, produzida principalmente por microorganismos do gênero Aspergillus, com capacidade de hidrolisar o fitato, uma molécula de baixa disponibilidade biológica para aves e suínos (Souza & Lopez, 1994) disponibilizando fósforo (P), alguns cátions, aminoácidos e energia. A suplementação do fósforo nas rações geralmente é realizada com o fosfato bicálcico, que tem um custo elevado, 2,5 a 3,0% do custo total de uma ração (Borges, 1997). A suplementação de fósforo representa o terceiro maior custo nas rações de aves, ficando atrás apenas da proteína e energia (Teichmann 153 et al. 1998). Além disso, o fósforo é um mineral não renovável na natureza e, em longo prazo, as fontes de fósforo inorgânico disponíveis estarão esgotadas se continuar sua utilização extensiva na produção agropecuária (Penz Jr., 1998). Hassanien and Sanaa & Elnagar (2011) avaliaram a suplementação de diferentes níveis de fitase na dieta de poedeiras comerciais tendo observado uma melhora na qualidade da casca de ovos de aves suplementadas com a enzima (Tabela 4). Tabela 4 – Efeito da suplementação de fitase sobre a qualidade de casca de poedeiras comerciais Hassanien and Sanaa & Elnagar (2011) CONCLUSÕES A qualidade da casca do ovo é um parâmetro multifatorial em que a nutrição representa uma grande influência sobre os seus resultados. Em se tratando de poedeiras com idade mais avançada, uma atenção especial deve ser requerida para que possamos atender suas exigências sem comprometer a viabilidade do produto final: o ovo. REFERÊNCIAS Abdulrahim, S. M., M. B. Patel, and J. McGinnis. 1979. Effects of vitamin D and metabolites on production parameters and hatchability of eggs. Poult. Sci. 58:858-863. Al-Batshan, H.A., S.E. Sceideler, B.L. Black, J.D. Garlichand K.E. Anderson, 1994. 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Efeito da fitase na biodisponibilidade do fósforo em dietas com farelo de arroz integral para frangos de corte. Revista da Sociedade Brasileira de Zootecnia, 27: 338-344. 155 UBABEF – Relatório anual 2010/2011. http://www.abef.com.br/ubabef/exibenoticiaubabef. php?notcodigo=2761. Acessado em fevereiro/2012. 156 CAPÍTULO IX USO DE BETA-AGONISTAS NA ALIMENTAÇÃO DE BOVINOS DE CORTE Luis Felipe Prada e Silva, Nara Regina Brandão Cônsolo, Frederich Diaz Rodrigues, Matheus Orlandin Frasseto, Johnny Maciel de Souza, Rafael Teixeira de Sousa, Viviane Borba Ferrari, Dannylo Oliveira de Sousa Departamento de Nutrição e Produção Animal (VNP) da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da Universidade de São Paulo (USP). A necessidade de aumento da eficiência nos sistemas de produção animal vem gerando grande busca por tecnologias que proporcionem uma produção mais sustentável. Nesse contexto, a fim de aumentar a eficiência da produção de bovinos de corte, o uso de beta-agonistas vem se destacando. Os beta-agonistas são moléculas orgânicas cujos principais efeitos são hipertrofia muscular e diminuição na deposição do tecido adiposo, sendo o cloridrato de zilpaterol e a ractopamina os mais utilizados. O efeito do betaagonista já é bem conhecido em animais Bos taurus, no entanto para animais Bos indicus a ação desse produto é pouco relatada. Recentemente em 2004, o órgão regulatório norte-americano FDA (Food and Drug Administration) aprovou o uso da ractopamina, um beta-agonista, na dieta de bovinos de corte e em 2006 aprovou o uso do zilpaterol, pertencente à mesma classe, também como promotor de crescimento de bovinos, alegando que ambos os produtos são seguros para consumo humano, uma vez que respeitando o tempo de carência dos produtos, não deixam resíduos nos tecidos. No Brasil o uso desses promotores de crescimento foram aprovados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) mediante registro e licenciamento prévio no Ministério. Para tanto esse capítulo esclarece alguns conceitos a respeito do crescimento de bovinos de corte e a influência dos beta-agonistas no crescimento e qualidade da carne desses animais. INTRODUÇÃO Há grande necessidade de aumento da eficiência nos sistemas de produção, de modo a tornar mais sustentável a produção de alimentos de origem animal. A sustentabilidade dos sistemas significa tecnologia, produtividade, melhoria e aproveitamento do solo e, acima de tudo, responsabilidade. Na pecuária de corte o aumento da produtividade e, consequentemente, sustentabilidade do sistema, pode ser alcançado pelo aumento da produção de carne por animal, ou seja, busca-se aumentar a deposição de proteína no tecido 157 muscular esquelético, aumentando o peso de carcaça quente, proporcionando maior rentabilidade ao produtor e diminuindo a emissão de gases e uso de recursos naturais por kg de carne produzida, tornando a atividade mais sustentável. No entanto, para atingir esses objetivos, devem-se conhecer os processos de crescimento e desenvolvimento dos animais (Grant & Helferich, 1991). Os beta-agonistas são moléculas orgânicas que se ligam a receptores presentes na maioria das células de mamíferos, desencadeando uma serie de reações celulares que culminam no aumento do tecido muscular e conteúdo de proteína através da hipertrofia muscular e, em alguns casos, reduz a deposição de gordura (Yang & McElligott, 1989). O uso de beta-agonistas na dieta de bovinos foi proibido durante muito tempo, pois alguns desses não foram considerados seguros por deixarem resíduos nos tecidos e levarem a diversos problemas de saúde aos consumidores, como foi o caso do uso do clenbuterol, pela alta fixação nos tecidos. No entanto, recentemente em 2004, o órgão regulatório norte-americano FDA (Food and Drug Administration) aprovou o uso da ractopamina, um beta-agonista, na dieta de bovinos de corte e em 2006 aprovou o uso do zilpaterol, pertencente à mesma classe, também como promotor de crescimento de bovinos, alegando que ambos os produtos são seguros para consumo humano, uma vez que respeitando o tempo de carência dos produtos, não deixam resíduos nos tecidos. Nesse contexto, em 2011, a Associação Brasileira de Confinadores (Assocon), a Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ) e a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (ABIEC) solicitaram a mudança na legislação para que os beta-agonistas pudessem ser aplicados na bovinocultura de maneira segura e responsável. Para atender a demanda, o Mapa excluiu da IN nº 10 o trecho relativo às substâncias anabolizantes, que representava obstáculo à liberação dos beta-agonistas, e publicou, em dezembro de 2011, a IN nº 55, que garante o acesso da pecuária bovina ao produto. Com a publicação da Instrução Normativa nº 55, de 1º de dezembro de 2011, a proibição de melhoradores de desempenho em bovinos ficou restrita apenas às substâncias hormonais naturais ou artificiais com atividade anabolizante. A partir do mencionado ato está autorizado o uso em bovinos de substâncias sem caráter hormonal, a exemplo das substâncias beta-agonistas, mediante registro e licenciamento prévio no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Dessa forma, essa revisão de literatura busca esclarecer alguns conceitos a respeito do crescimento de bovinos de corte e a influência dos beta-agonistas no crescimento e qualidade da carne desses animais. 158 CRESCIMENTO DE BOVINOS DE CORTE Crescimento é definido pelo acréscimo de osso, proteína e gordura e é mensurado pela mudança no peso vivo (Owens et al., 1995). O crescimento contínuo, sem interrupção, é uma concepção teórica e expressa por uma curva sigmóide (Figura 1). A eficiência do crescimento de bovinos depende de fatores como peso, idade, tamanho adulto, raça, genética, nutrição e sexo (Koch et al., 1982; Oltjen & Garret, 1988; Owens et al., 1993). Figura 1. Crescimento de bovinos de corte. a) concepção; b) nascimento; c) fase de crescimento acelerado; d) puberdade; e) fase de crescimento retardado; f) maturidade (Adaptado Owens et al., 1993) A demanda pelo aumento da eficiência dos sistemas vem buscando soluções para aumentar a produtividade da pecuária. Para tanto o uso de aditivos promotores de crescimento, tais como os beta-agonistas vem apresentando resultados satisfatórios no que diz respeito ao aumento do crescimento dos animais e mudanças na composição do ganho, sendo que na fase de crescimento lento tem como finalidade aumentar o ganho médio diário pelo maior crescimento muscular. DESENVOLVIMENTO MUSCULAR O desenvolvimento muscular dos bovinos ocorre em duas etapas, durante a fase embrionária e fetal, quando o crescimento ocorre por hiperplasia e na fase pós-natal, cujo crescimento ocorre por hipertrofia. Inicialmente durante o crescimento embrionário e parte do crescimento fetal, quando todos os tecidos crescem por hiperplasia (aumento no número de células), logo após o nascimento as células especializadas (nervos e células da musculatura esquelética) perdem sua habilidade de se replicar, e crescem somente por hipertrofia (aumento no tamanho das células) e incorporação de células satélites (Hossner, 2005; Owens et al., 1993), enquanto outros tecidos, como 159 os precursores de células sanguíneas, folículos pilosos, epitélio gastrintestinal, órgãos do trato digestivo e ectoderme, continuam a crescem por hiperplasia durante toda a vida (Owens et al., 1993). A miogênese é o crescimento muscular que se inicia na fase pré-natal. A fase de hiperplasia (multiplicação das fibras musculares) nos mamíferos ocorre na fase de gestação e o número de fibras é fixado por ocasião do parto, ou rapidamente após este. Estudos de programação fetal vêm sendo desenvolvidos visando aumentar o número de células musculares no embrião acreditando que isso possa aumentar a musculatura do animal adulto (Du et al., 2009) Durante o período de crescimento pós-natal do animal, o crescimento muscular ocorre somente por hipertrofia (aumento do tamanho da célula) principalmente pelo acréscimo de proteína e de núcleos originados da proliferação e fusão das células satélites a célula muscular (Junqueira & Carneiro, 2004). A hipertrofia ocorre primeiramente no sentido longitudinal da fibra pelo aumento do número de sarcômeros e, posteriormente, ocorre um aumento do diâmetro pela deposição de proteínas miofibrilares. No entanto, o crescimento muscular não é simples assim, a taxa de crescimento dos músculos depende do turnover protéico, ou seja, da relação entre o anabolismo e catabolismo. O aumento de peso (crescimento) ocorre quando a síntese dos tecidos (anabolismo) excede a degradação dos mesmos (catabolismo), estando as respectivas taxas de síntese e degradação tecidual em função do balanço energético do animal (Gonzalez & da Silva, 2006). Alguns autores relatam que a supressão da degradação proteica parece ser o mecanismo que realmente possibilita diferenças nas taxas de ganho (Bohorov, et al., 1987; Koohmaraie, et al., 1995; Maruyama, et al., 1978; Reeds, et al., 1986), no entanto, os mecanismos envolvidos para esse evento podem prejudicar a qualidade da carne. Um exemplo interessante nesse sentido é a utilização de beta-agonistas na dieta de bovinos de corte que se mostra bastante eficiente no aumento da musculatura desses animais, com aumento na atividade da calpastatina, redução da proteólise no animal vivo, e também no post mortem, e consequentemente, queda na maciez da carne (Lorenzen et al., 2000; Koohmaraie, et al., 1995; Koohmaraie, et al., 1991; Koohmaraie, et al., 1996; Kretchmar, et al., 1990). Goll et al. (1989) demonstraram que é de grande importância a manipulação metabólica que confere mudanças na síntese e degradação proteica para aumento da massa muscular, sendo que uma queda de 10% na taxa de degradação proteica (de 3% para 2,7% por dia) pode acarretar o dobro da taxa de ganho. Diversos são os fatores que influenciam na síntese e degradação do tecido muscular, tais como fatores genéticos, sexo, estágio de crescimento do animal, nutrição, exercício e hormônios (Owens et al., 1993). Ao alterar o 160 processo de crescimento muscular, não interferem somente no peso da carcaça e rendimento dos cortes, mas também na qualidade da carne, especialmente no atributo de maciez. Mudanças na síntese proteica aparentemente não interferem na maciez da carne, no entanto, a degradação muscular está completamente envolvida com este atributo (Koohmaraie et al., 2002). Um exemplo clássico que sustenta essa teoria são os animais de dupla musculatura, cuja síntese muscular é a justificativa para que eles apresentem maior massa muscular sem interferência na maciez, uma vez que o processo de anabolismo é maior que em animais de musculatura simples, e esses não apresentam carne menos macia devido a maior síntese proteica. (Koohmaraie et al., 2002). O músculo consiste em três frações proteicas, proteínas do tecido conectivo, sarcoplasmáticas e miofibrilares. Dentre as quais a maior fração proteica é constituída pelas proteínas miofibrilares, fato que as confere maior interferência na maciez das carnes. As proteínas sarcoplasmáticas não são proteínas estruturais, não tendo interferência na maciez (Koohmaraie et al., 2002). As proteases responsáveis pelo turnover no tecido esquelético são as calpaínas, proteossomas e lisossomas (catepsina). Koohmaraie et al. (1992) relatam que as calpaínas são as únicas responsáveis por clivagens especificas para a liberação de miofilamentos a partir das miofibrilas (primeiro e mais importante passo para que o turnover se inicie). A partir daí, as demais enzimas degradam os miofilamentos em proteínas e aminoácidos (Goll et al., 1998). TRANSFORMAÇÃO DO MÚSCULO EM CARNE Em diversas pesquisas, Koohmaraie et al. (1992, 1994, 1996) demonstraram que logo após o abate, a carne tem intermediaria força de cisalhamento. No decorrer de 24 horas (tempo para estabelecimento do rigor mortis), devido ao processo de transformação do músculo em carne, envolvendo pH, temperatura e consequentemente alterações metabólicas do tecido, a força de cisalhamento tende a aumentar devido a diminuição do comprimento do sarcômero (rigidez cadavérica). Os sarcômeros são constituintes das miofibrilas, como demonstrado na Figura 3. O encurtamento do sarcômero ocorre durante a contração muscular e logo após o abate para estabelecimento do rigor mortis (transformação do músculo em carne) (Figura 4). 161 Figura 3. Sarcômero como constituinte das miofibrilas (Fonte: Luchiari Filho, 2000). Figura 4. Processo de contração muscular, ou estabelecimento do rigor mortis (Fonte: Adaptado Du e McCormick, 2009) Antes do abate, o sangue circulante é responsável pelo suprimento de nutrientes e energia para os tecidos, deixando-os ativos. No entanto, logo após o abate, o aporte de energia é cessado. Assim, os tecidos continuam ativos (com contrações musculares) até que a energia em suas células seja exaurida, fazendo com que o tecido fique estático, sem nenhum movimento das fibras. O rigor mortis se instala quando não existe mais ATP suficiente para reverter o processo de contração muscular, formando um complexo irreversível, que leva 162 ao enrijecimento muscular. Durante esse processo, pela falta de energia para contração e relaxamento muscular, o comprimento de sarcômero é diminuído, conferindo maior força de cisalhamento as carnes. Do ponto de vista fisiológico, é considerado carne o músculo que passou pelo processo de rigor mortis (Ouali et al. 1992). No decorrer do processo de maturação a força de cisalhamento volta a diminuir, pela atividade das calpaínas, enzimas responsáveis pela degradação das miofibrilas (Figura 5). Figura 5. Efeito do tempo post mortem na força de cisalhamento do músculo Longíssimos de cordeiros (Koohmaraie et al. 2002). O amaciamento da carne durante a maturação depende da alteração de componentes estruturais do músculo e associação de proteínas durante e após o rigor mortis. Durante a maturação, vários fatores como temperatura e cálcio sarcoplasmático influenciam na atividade das enzimas proteolíticas, cuja finalidade é a degradação das miofibrilas. A degradação de proteínas miofibrilares causa um enfraquecimento da estrutura muscular, levando ao amaciamento da carne e são resultantes da ativação de um sistema proteolítico enzimático (Koohmaraie et al. 2002). Como citado anteriormente, as enzimas que iniciam o processo de degradação muscular são as calpaínas. Todas as células de mamíferos contêm um sistema proteolítico dependente de cálcio, composto pela protease endógena calpaína e seu inibidor, a calpastatina. Existem duas isoformas de calpaínas mais conhecidas, denominadas microcalpaína e mili-calpaína (μ - Calpaína e m - Calpaína), sendo a definição dada pela quantidade de cálcio necessária para sua ativação (Goll et al. 1992). A calpastatina é inibidor específico da calpaína. A isoforma predominante nos músculos esqueléticos é a que possui quatro domínios, capaz de inibir quatro calpaínas. A calpastatina requer cálcio, é um substrato para as calpaínas e pode ser degradada na presença de cálcio (Koohmaraie, 1988). Sua degradação não conduz a perda total de atividade 163 inibitória e até mesmo depois de uma proteólise intensa, alguma atividade ainda permanece. A quantidade de cálcio requerido pelas calpastatinas para formar o complexo calpaína-calpastatina é aproximadamente a mesma requerida pela μ-calpaína. Embora a ação das calpastatinas também seja dependente de cálcio, não existem evidências de que elas se liguem efetivamente a esses íons (Hopkins & Taylor, 2004). Tem sido demonstrado que a calpastatina é degradada pela calpaína, entretanto a significância fisiológica desta degradação é ainda obscura, embora isto possa ser considerado como uma parte do processo regulatório do sistema proteolítico (Hopkins & Taylor, 2004). Diante do exposto, pode-se observar que a proporção entre as atividades das calpastatina e calpaínas determina a velocidade da ativação proteolítica post mortem, e consequentemente, a velocidade de maturação da carne. Koohmaraie (1994) relatou que é a atividade das calpastatinas determinada 24 horas após o abate que se relaciona com a maciez da carne, e animais com elevada atividade de calpastatina, usualmente produzem carne menos macias, mesmo após um período de maturação de 14 dias. DESENVOLVIMENTO DO TECIDO ADIPOSO O estudo do desenvolvimento do tecido adiposo é muito importante, já que as proporções de cada depósito de gordura afeta o valor comercial das carcaças. Prova disso é que os principais sistemas de classificação de carcaças utilizam medições sobre o tecido adiposo, e os programas de seleção genética, estão baseados em medições da gordura subcutânea (Huidobro & Cañeque, 1994). O tecido adiposo é o de maior variabilidade no animal, seja do ponto vista quantitativo, seja por sua distribuição e função biológica. A deposição do tecido adiposo varia de acordo com grupo genético, idade, tamanho da raça, sexo e nutrição. O tecido adiposo tem papel fundamental nas diferenças de composição corporal entre touros, machos castrados e fêmeas, sendo que essas iniciam a deposição de gordura com pesos menores do que os machos castrados e touros, e os machos castrados em pesos menores que os machos inteiros (Hafez, 1972). A precocidade é- a rapidez com que os bovinos alcançam a puberdade. Quanto menor for o tamanho do animal adulto, mais precoces eles atingem uma quantidade de gordura adequada na carcaça para o abate. A principal causa de uma raça ser mais precoce que outra ocorre em função do tamanho à maturidade (idade adulta) que pode ser de grande, médio ou pequeno porte. Berg & Butterfield et al. (1976) mostram em seu estudo, que a gordura é um tecido de formação tardia em relação aos outros, com isso animais de maior porte respondem tardiamente à deposição de gordura, pois o processo 164 metabólico é voltado primeiramente para as necessidades energéticas de crescimento muscular e estrutural. Justificando assim a maior deposição de gordura em raças de frame pequeno, seguido por médio e grande. A influência das raças na quantidade de armazenamento de lipídios tem sido descrita por muitos pesquisadores (Marshall, 1994; Zembayashi & Lunt, 1995; Chambaz et al, 2002). Os animais Bos taurus, especialmente os britânicos, vem por muitos anos sofrendo grande processo de seleção para menor tamanho corporal e maior teor de lipídios na carcaça, ou seja, esses animais tem acabamento precoce com maior teor de marmoreio e gordura subcutânea em relação aos animais Bos indicus. Essa diferença na seleção dos animas faz com que os taurinos britânicos apresente carne mais macie e com maior teor de gordura comparado a animais zebuínos, caracterizando crescimento e composição de carcaça bastantes distintos um do outro (Moreira et al., 2003). De qualquer forma, para todos os casos, a síntese de tecido adiposo aumenta a medida que a o crescimento do tecido muscular diminui, ou seja, após a puberdade ou maturidade, quando o crescimento muscular é diminuído, chega-se ao ponto onde o ganho de peso é composto, basicamente, por tecido adiposo (Owens et al., 1995; Figura 6), e é nesse ponto que se recomenda o uso de beta-agonistas a fim de incrementar o crescimento do tecido muscular por mais um período. Figura 6– Deposição de gordura em função do peso vivo de animais Canchim (Pereira et al., 2007). A manipulação nutricional é uma das maneiras de mudar a deposição de tecido adiposo no animal. Estudos vêm revelando que o uso de betaagonistas diminui a deposição de gordura, no entanto, de modo geral não se sabe ao certo em que tipo de gordura isso ocorre (abdominal, renal-inguinal e pélvica, subcutânea e intramuscular) (Avedaño-Reyes et al., 2006; Scramlin et al., 2010; Kellermeier et al., 2009; Montgomery et al., 2009). No entanto, os 165 trabalhos com beta-agonistas são com animais de origem genética Bos taurus, com escasses de resultados para Bos indicus, desconhecendo dessa forma o efeito desse produto na deposiçao do tecido adipose em animais zebuínos. BETA-AGONISTAS Os beta-agonistas são moléculas orgânicas que se ligam a receptores presentes na maioria das células de mamíferos, desencadeando uma serie de reações celulares que culminam no aumento do tecido muscular e conteúdo de proteína através da hipertrofia muscular e reduz o acréscimo de gordura (Yang & McElligott, 1989). A ação dos beta-agonista é dependente dos receptores celulares, que são proteínas presentes na membrana plasmática capaz de reconhecer e interagir com beta-agonista e, após esta interação, gerar sinal capaz de iniciar uma cadeia de eventos que resulta em resposta biológica (Yangand McElligott, 1989). Dentre os beta-agonistas utilizados para alimentação animal podemos citar o Cimaterol, Ractopamina, L664969, Salbutamol e o Zilpaterol. Sendo que nos dias de hoje, a Ractopamina e o Zilpaterol são as moléculas mais utilizadas na produção animal. Ambos são beta-agonistas do grupo das fenetanolaminas, tratando-se de análogos sintéticos oralmente ativos das catecolaminas, hormônios que regulam vários processos fisiológicos pela ativação de receptores adrenérgicos específicos (Ramos & Silveira, 2001). Os receptores adrenérgicos (o termo “adrenérgico” reflete o nome alternativo da epinefrina: adrenalina) são de quatro tipos gerais, definidos por sutis diferenças nas suas afinidades e respostas a um grupo de agonistas e antagonistas. Os quatro tipos (α1, α2, β1 e β2) são encontrados em tecidosalvos diferentes e modulam respostas diferentes à epinefrina. A subdivisão dos receptores β em β1 (prevalente no miocárdio e responsável pelo inotropismo e cronotropismo positivos) e β2 (prevalente nos músculos lisos e esqueléticos, responsável pelo relaxamento muscular) foi baseada em diferenças na potência dos agonistas adrenalina e noradrenalina. Em certos tecidos, como o adiposo e muscular, receptores do tipo β1 e β2 podem estar presentes quase que na mesma proporção. Esses receptores estão acoplados a proteínas G e ao se ligar, os beta-agonista fazem com que os sinais extracelulares sejam convertidos em sinais intracelulares segundo mensagens via proteína G, ativando a enzima adenil ciclase, promovendo o aumento do AMPc (Mersmann, 1998). O AMPc pode atuar ligando-se diretamente e ativando canais iônicos na membrana plasmática. Porém, o principal mecanismo de ação do AMPc é via ativação da proteína quinase A (PKA), capaz de fosforilar inúmeros substratos (Hanks & Hunter, 1995). Essa cascata de efeitos faz com que as enzimas intracelulares sejam fosforiladas e, em seguida, outras enzimas são ativadas ou inativadas 166 diante da fosforilação, mediando o efeito do beta-agonista nos tecidos (Moody et al., 2000; McGraw & Liggett, 2005) (Figura 7). Figura 7. Modo de açao dos beta-agonistas (Fonte: Mersmann, 1998) No entanto, sob ação contínua (28 dias) do agonista beta-adrenérgico, o AMPc ativa uma proteína quinase, a beta-adreno-receptor quinase (beta-ARK) que, ao fosforilar o receptor, o torna inativo e desacopla o complexo receptor-Gs-adenilato ciclase (Lundberg et al., 1987). O efetor desacoplado passa para o espaço intracitoplasmático, o que diminui o número de receptores disponíveis na membrana. Essa redução no número de receptores é denominada dessensibilização e causa diminuição da resposta a estimulação do beta-agonista (Mills et al., 2003). Além disso, no espaço intracitoplasmático, o receptor betaadrenérgico pode ser consumido, fenômeno este chamado de sequestro, o que acarreta diminuição do número de receptores celulares (Benovic et al., 1988). A redução do número de receptores por unidade de sarcolema é denominada “down-regulation” (Barros et al., 1999). Tanto os receptores β1como os β2 podem sofrer os processos de dessensibilização e down-regulation (Mills et al., 2003) Bridge et al. (1998) mostraram uma redução significativa do número de sítios de ligação do agonista depois de 14 dias de tratamento de cultura de tecido muscular esquelético de bovinos com cimaterol. Isso pode sugerir que deve existir um período refratário do receptor após determinado tempo de tratamento com os Beta-agonistas. Constatou-se que, quando utilizado em tratamento por 42 dias, o aumento do ganho de peso começa a entrar em um platô, ou seja, passa a ser constante. Isso ocorre por causa do fenômeno 167 de dessensibilização dos receptores Beta-adrenérgicos quando estes são cronicamente expostos aos Beta-agonistas (Rutz & Xavier, 1998). Dessa forma, o uso dos beta-agonistas deve ocorrer ao fim do confinamento, período ao redor de 30 dias antes do abate, momento em que o ganho médio diário dos animais é normalmente diminuído pelo aumento da deposição da gordura na carcaça. Nesse momento, o uso do beta-agonista faz com que a musculatura tenha um ganho adicional, produzindo mais carne por boi confinado (Avendaño-Reyes et al. 2006), confirmando assim um aumento na eficiência do sistema. EFEITO DO BETA-AGONISTA NO TECIDO MUSCULAR O crescimento muscular é determinado pelo balanço entre a intensidade de síntese e degradação muscular, quando o incremento anabólico superar as perdas catabólicas (Owens et al., 1993; Koohmaraie et al., 2002). O aumento de peso (crescimento) ocorre quando a síntese dos tecidos (anabolismo) excede a degradação dos mesmos (catabolismo), estando as respectivas taxas de síntese e degradação tecidual em função do balanço energético do animal (Gonzalez & da Silva, 2006). Bergen et al. (1989) encontraram maior síntese proteica na musculatura de animais suplementados com ractopamina, os autores acreditam que houve um incremento na concentração de RNAm da α-actina no músculo. Outro mecanismo de ação no tecido muscular é por meio das enzimas calpaína e calpastatina. Sendo que as enzimas calpaínas são responsáveis pela degradação das miofibrilas e as calpastatinas são enzimas responsáveis pela inativação das calpaínas. A calpastatina possui sítios de fosforilação e sua fosforilação e expressão são dependentes de estímulo beta-adrenérgico (Cong et al., 1998). Assim, animais suplementados com beta-agonistas induzem profundas mudanças no sistema das calpaínas. De acordo com diversos autores, a supressão da degradação proteica parece ser o mecanismo que realmente possibilita diferenças nas taxas de ganho (Bohorov, et al., 1987; Koohmaraie, et al., 1995; Maruyama, et al., 1978; Reeds, et al., 1986). Diante da fosforização, as calpastatinas são ativadas, tendo sua ação aumentada sobre as calpaínas, dessa forma, a degradação do tecido muscular é inibida, promovendo aumento da massa muscular. Em bovinos, o aumento de 36% na massa muscular em animais tratados com beta-agonistas foi seguido de um aumento de 96% nos níveis de calpastatina e 76% de aumento na sua atividade (Doumit & Koohmaraie, 1999). No entanto, a atividade da calpastatina está relacionada a força de cisalhamento (maciez) dos cortes cárneos (Rubensam et al., 1998). Afinal, no post mortem a calpastatina ainda tem como função inibir as calpaínas, que 168 são responsáveis pelo amaciamento dos cortes por meio da degradação das miofibrilas. Dessa forma, o tratamento com beta-agonistas pode aumentar a força de cisalhamento das carnes. DESEMPENHO Diversos autores relatam que o uso de beta-agonistas da dieta de bovinos de corte aumentam o desempenho animal, ou seja, aumenta o ganho médio diário (GMD) e consequentemente o peso vivo final (PF). O que poderia aumentar o peso de carcaça quente (PCQ) e por sua vez a rentabilidade do produtor, produzindo mais carne por animal confinado. Na Tabela 1 está apresentado um resumo do efeito dos beta-agonistas sobre GMD, PF, consumo de matéria seca (CMS), eficiência alimentar (EA), rendimento de carcaça (RC) e PCQ em diversos trabalhos. Suplementando bovinos de corte nos últimos 33 dias de confinamento com ractopamina ou zilpaterol, Avendaño-Reyes et al. (2006), verificaram um aumento no GMD de 26 e 24% respectivamente. Ainda os animais consumindo beta-agonistas apresentaram menor consumo em relação ao grupo controle, demonstrando grande aumento na eficiência de produção de carcaça por animal confinado. Em reflexo disso, houve um incremento no peso de carcaça quente e rendimento de carcaça para os grupos tratados. Da mesma forma, Leheska et al. (2009) suplementando novilhas e garrotes com cloridrato de zilpaterol por 30 ou 40 dias reportaram acréscimo de 28% no peso vivo final devido ao tratamento, não havendo diferença no GMD de acordo com o tempo de suplementação. Em outro estudo, Schroeder et al. (2005) demonstraram melhora de 20 e 21% no GMD e conversão alimentar (CA) respectivamente, em novilhos em terminação recebendo beta-agonistas na fase final de terminação. 169 Tabela 1. Resultados de diversos trabalhos em função do uso de beta-agonista para bovinos de corte Variáveis: GMD: ganho médio diário; PF: peso vivo final; CMS: consumo de matéria seca; EA: eficiência alimentar; RC: rendimento de carcaça e PCQ peso de carcaça quente Da mesma forma, Beckett et al. (2009) avaliando tempos de suplementação de bovinos de corte com zilpaterol, encontraram aumento no GMD, EA, menor CMS comparado ao grupo controle. Em experimento parecido, Montgomery et al. (2009) tratando novilhas e garrotes com zilpaterol durante 20 ou 40 dias encontraram aumento no GMD, EA, peso vivo final e PCQ, tanto nos machos quanto nas fêmeas, em relação ao controle. Já Loe et al. (2005) trataram novilhos mestiços com 200mg de ractopamina/animal/ dia durante 29 dias antecedentes ao abate e reportaram aumento de 17,9% no GMD e 14% na EA. Rathmann et al. (2012) suplementaram novilhas por 20 dias antes do abate e encontraram aumento de 9,5% no GMD e 12,5% na EA. Diversos são os estudos que comprovam aumento no desempenho, PCQ de novilhas e garrotes suplementados com ractopamina ou zilpaterol em relação a grupos controle (Moloney et al., 1990; Beckett et al., 2009; McEvers et al., 2012). De modo geral, todos os artigos revisados apresentam aumento na taxa de ganho pela maior deposição muscular, sendo que o crescimento muscular varia entre um mínimo de 5% e um máximo de 25%. 170 CARACTERÍSTICAS DE CARCAÇA E QUALIDADE DA CARNE Em virtude da ampla exigência do mercado consumidor, maior atenção está sendo dada ao produto final da pecuária de corte, a carne. As informações das características de carcaça são parâmetros fundamentais, como a rentabilidade na produção da porção comestível, e os cortes de importância comercial. Sabe-se que estes padrões podem ser alterados pelo melhoramento genético, alimentação e manejo (Cundiff et al., 1993). Dentre as características de carcaça mais importantes encontramse o rendimento da carcaça (RC), peso de carcaça quente (PCQ), área de olho de lombo (AOL) espessura de gordura subcutânea (EGS), por serem características diretamente relacionadas à porção comestível e por variarem de acordo com fatores intrínsecos e/ou extrínsecos ao animal (Urano et al. 2006). Tais fatores que alteram as características da carcaça são: idade, sexo, raça, cruzamento, peso ao nascer e peso ao abate, além da nutrição animal. Parr et al. (2011) suplementaram garrotes com cloridrato de zilpaterol por 20 dias no período final de confinamento e encontraram aumento na AOL, nenhuma mudança na EGS e marmoreio. Já Vasconcelos et al. (2008) também trabalhando com garrotes alimentados com zilpaterol encontraram aumento de 10% na AOL, menor EGS e escore de marmoreio. Montgomery et al. (2009) utilizaram novilhas e garrotes suplementados com o mesmo beta-agonista e encontraram para os garrotes aumento de 10% na AOL, nenhuma mudança na EGS, e queda no escore de marmoreio. Já em novilhas, o aumento na AOL foi de 7%, sem diferença na EGS e escore de marmoreio. Baxa et al. (2010) em estudo com mais de dois mil garrotes suplementados com cloridrato de zilpaterol ao fim do período de confinamento, encontraram 12% de aumento na AOL, 8% de decréscimo da EGS e queda de 10% no escore de marmoreio. Estudos vêm mostrando que os beta-gonistas promovem o aumento da lipólise e diminuição da lipogênese, eventos relacionados com a estimulação ou inibição, por fosforilação, de enzimas responsáveis por esses processos (Mersmann, 1998), tais como ácido graxo sintase, acetil-CoA carboxilase (lipogênese), lipoproteína lipase e carnitina palmitoil transferase (lipólise) (Moody et al., 2000). Como resultado da ação de beta-agonistas, ocorre aumento na taxa de lipólise, diminuindo a deposição do tecido adiposo, e aumentando os ácidos graxos não esterificados no plasma (Hermsdorff & Monteiro, 2004). Diversos são os autores que relatam aumento na área de olho de lombo (AOL), medida que indica maior crescimento da musculatura de animais alimentados com beta-agonista, e muitas vezes menor espessura de gordura (EGS), apesar dos dados sobre a EGS serem bastante contraditórios (Wheeler & Koohmaraie, 1992; Baxa et al, 2010; Vasconcelos et al., 2008; Parr et al., 2011; Montgomery et al., 2008). A AOL é um preditor de musculosidade do 171 animal, como já foi dito anteriormente, através de mecanismos metabólicos, ocorre um aumento considerável da musculatura de animais suplementados, podemos notar isso pelo PCQ e AOL. Diversos são os estudos que reportam aumento nessas características comprovando a hipertrofia muscular causada pelo uso de beta-agonistas (Tabela 2). Outro fator importante na qualidade da carne é a maciez, que tem se mostrado o mais variável e mais importante componente sensorial que afeta a satisfação dos consumidores (Miller et al., 2001). Em 1995, a National Beef Quality Audit americana listou a maciez como o maior problema de qualidade de carne e o segundo maior no que diz respeito à indústria. Visto que o uso dos beta-agonistas pode diminuir a degradação proteica no músculo especialmente pela maior atividade da calpastatina, mudanças na proteólise post-mortem podem prejudicar a maciez da carne. Nesse contexto, Avendaño-Reyes et al. (2006), suplementando bovinos de corte nos últimos 33 dias de confinamento com ractopamina ou zilpaterol, encontraram aumento na força de cisalhamento das carnes devido o uso dos aditivos. Da mesma forma, Leheska et al. (2009) suplementando novilhas e garrotes com cloridrato de zilpaterol por 30 ou 40 dias, encontraram menor maciez das carnes de animais tratados, mensurada pelo WarnerBratzler Shear Force e pelo teste sensorial, além disso, os autores relatam que a intensidade do sabor também foi afetada negativamente pelo tratamento com zilpaterol. Em adição, Kellermeier et al. (2009) suplementando novilhos cruzados com zilpaterol encontraram aumento na força de cisalhamento para as carnes de animais tratados, sendo 60% de aumento em 7 dias de maturação, 59% para14 dias e 67% para 21 dias de maturação. 172 Tabela 2. Resultados de diversos trabalhos em função do uso de beta-agonista para bovinos de corte Variáveis: EGS: espessura de gordura subcutânea; FC: força de cisalhamento; AOL: área de olho de lombo. Outro fator importante na qualidade da carne é a maciez, que tem se mostrado o mais variável e mais importante componente sensorial que afeta a satisfação dos consumidores (Miller et al., 2001). Em 1995, a National Beef Quality Audit americana listou a maciez como o maior problema de qualidade de carne e o segundo maior no que diz respeito à indústria. Visto que o uso dos beta-agonistas pode diminuir a degradação proteica no músculo especialmente pela maior atividade da calpastatina, mudanças na proteólise post-mortem podem prejudicar a maciez da carne. Nesse contexto, Avendaño-Reyes et al. (2006), suplementando bovinos de corte nos últimos 33 dias de confinamento com ractopamina ou zilpaterol, encontraram aumento na força de cisalhamento das carnes devido o uso dos aditivos. Da mesma forma, Leheska et al. (2009) suplementando 173 novilhas e garrotes com cloridrato de zilpaterol por 30 ou 40 dias, encontraram menor maciez das carnes de animais tratados, mensurada pelo WarnerBratzler Shear Force e pelo teste sensorial, além disso, os autores relatam que a intensidade do sabor também foi afetada negativamente pelo tratamento com zilpaterol. Em adição, Kellermeier et al. (2009) suplementando novilhos cruzados com zilpaterol encontraram aumento na força de cisalhamento para as carnes de animais tratados, sendo 60% de aumento em 7 dias de maturação, 59% para14 dias e 67% para 21 dias de maturação. Para os cortes da carcaça, Plascencia et al. (1999) concordam que o uso do zilpaterol, além de aumentar o peso de carcaça quente e AOL, incrementam o peso dos cortes, especialmente do traseiro especial, e diminui a deposição de gordura na carcaça, ocasionando dessa forma um aumento expressivo de carne magra na carcaça. Moloney et al. (1990) suplementaram bovinos com o beta-agonista L644,969, e encontraram maior rendimento de costela, alcatra e contra-file, para os animais suplementados em relação ao grupo que não recebeu suplementação. Plascencia et al. (1999) suplementando bovinos por 42 dias com zilpaterol, encontraram que o traramento aumenteou o rendimento dos cortes, do traseiro. Comprovando dessa maneira que o uso de beta-agonistas na dieta de bovinos de corte aumenta consideravelmente o rendimento dos cortes das carcass de animais suplementados. Em resumo, diversos são os estudos que mostram os efeitos bem estabelecidos do uso de beta-agonista na AOL, mostrando que o uso do desse aditivo aumenta significativamente a produção de carne/animal alimentado, e assim ocorre um aumento na eficiência do sistema de produção de bovinos de corte. Entretanto, o incremento na massa muscular ocorre devido a queda na degradação muscular, fato que vem prejudicando a maciez da carne. Os resultados de deposição do tecido adiposo ainda são bem controversos, dependendo não apenas da suplementação com o beta-agonista, mas também tempo de suplementação, tempo de confinamento e do tipo da dieta. RESÍDUOS NOS TECIDOS As diferenças estruturais dos beta-agonistas é o que determina sua capacidade de ação, distribuição e permanencia no organismo (Sumano et al. 2002). Ractopamina e zilpaterol tem sua remoção muito rápida, devido à ausência de cloreto do grupo cíclico, que facilita sua biotransformação e excreção. A biotransformação ocorre a partir do processor “hepatic glucuronidation”, que é a adição de um açúcar na molécula tornando-a mais hidrofílica e de mais fácil remoção pela urina (Sumano et al. 2002). Para o FDA (Food and Drug Administration) o tempo de carência para a ractopamina é de 0h e para o zilpaterol de 72h. Tempo suficiente para que o produto seja 174 eliminado, sem deixar resíduos toxicos a carne, sendo segura para o consumo. EXPRESSÃO GÊNICA Os mecanismos de ação dos beta-agonistas baseiam-se no aumento da síntese muscular, diminuição da degradação, aumento da lipólise de diminuição da lipogênese, eventos relacionados com a estimulação ou inibição de enzimas responsáveis por esses processos (Mersmann, 1998). A expressão gênica de enzimas chave no processo de síntese e degradação do tecido muscular e adiposo pode ser o grande segredo de todo processo. No entanto, são escassos na literatura artigos que investigam essas enzimas. Assim se faz necessário o estudo da expressão gênica das enzimas para o entendimento da forma pela qual o beta-agonista age na nutrição e metabolismo de ruminantes (Dunshea et al., 2005). Em um estudo com cordeiros tratados com beta-agonistas, Pringle et al. (1993) puderam observar maior musculatura para o grupo tratado em relação ao controle, correlacionando esse efeito com o aumento da atividade da calpastatina e menor atividade da calpaína (diminuindo a proteólise, aumentando dessa forma o acumulo/crescimento muscular) no músculo Semitendinoso em relação ao controle. Wheeler e Koohmaraie (1992), suplementando bovinos ao fim do período de confinamento com beta-agonista observaram um aumento na atividade da enzima calpastatina em 0 e 7 dias de maturação. Por outro lado, Pringle et al. (1993) não observaram queda na atividade da calpaína em função da suplementação com beta-agonista. CONSIDERAÇÕES FINAIS O efeito dos beta-agonistas em aumentar a deposição do tecido muscular está bem claro na literatura, no entanto a forma pela qual esse evento ocorre ainda precisa ser melhor investigada. O aumento da massa muscular em bovinos de corte chama a atenção devido a necessidade de incrementar a produtividade, fazendo com que a pecuária de corte se torne uma atividade mais sustentável, deixando de ser alvo de crítica. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AVENDANO-REYES, L.; TORRES-RODRIGUEZ, V.; MERAZ-MURILO, F.J.; PÉREZLINRES, C.; FIGUEROA-SAAVEDRA, F.; ROBINSON, P.H. Effects of two beta-adrenergic agonists on finishing performance carcass characteristics, and meat quality of feedlot steers. Journal Animal Science, v. 84, p. 3259-3265, 2006. BARROS, R. D. A.; OKOSHI, M. P.; CICOGNA, A. C. Via beta-adrenérgica em corações normais e hipertrofiados. 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Neste sentido, os prebióticos e probióticos merecem destaque, os quais estão diretamente relacionados à modulação da microbiota intestinal com redução da concentração de bactérias potencialmente patogênicas, por diversos mecanismos, como: exclusão competitiva, produção de ácidos graxos de cadeia curta e ácido lático, bacteriocinas, competição por nutrientes, bem como ativação do sistema imunológico. Diversas substâncias são relatadas na literatura como prebióticos, da mesma forma numerosas espécies bacterianas são utilizadas como probióticos. Novas ações têm sido atribuídas aos moduladores da microbiota intestinal, como: ação antimicrobiana, anticarcinogênica, antidiarreica e antialérgica, redução da glicemia e da lipemia e regulação do sistema imunológico, além de sua relação com a obesidade. Contudo quando se avalia o número de pesquisas com cães e gatos é possível verificar que estas ainda são muito escassas no que se refere a fontes e dosagens, principalmente em felinos. INTRODUÇÃO Em diferentes regiões do trato gastrointestinal (TGI) estão presentes grupos específicos de microrganismos capazes de produzir grande diversidade de compostos com variados efeitos tanto na fisiologia intestinal quanto sistêmica. Estes também produzem enzimas capazes de atuar metabolicamente 182 no intestino, na catalização de substâncias em compostos que podem ser benéficos ou nocivos ao hospedeiro. Tais compostos podem afetar a nutrição, fisiologia, eficácia de fármacos, carcinogênese e o processo de envelhecimento, assim como a resistência do hospedeiro à infecção (TESHIMA, 2003). Em cães e gatos, o TGI apresenta padrão de colonização de microrganismos semelhante ao de outros mamíferos. Ao nascimento, a mucosa intestinal é estéril, mas é rapidamente colonizada por bactérias ambientais. O processo de colonização acompanha mudanças sucessivas de populações influenciadas pela idade, estado de saúde, dieta e ambiente (BUDDINGTON & PAULSEN, 1998; FAHEY et al. 2008). A microbiota intestinal normal desempenha papel importante no mecanismo de defesa natural contra a invasão de patógenos (NRC, 2006). De acordo com LU & WALKER (2000) tal processo trata-se de interação complexa que inclui diversos mecanismos de ação. Neste sentido, os nutrientes desempenham papel de grande importância, sendo que dentre as matérias primas utilizados nas dietas comerciais, os prebióticos e probióticos merecem destaque. Dentre as funções dos prebióticos e probióticos para seres humanos, SEKHON & JAIRATH (2011) citam a ação antimicrobiana, anticarcinogênica, antidiarreica e antialérgica, prevenção da osteoporose, colite ulcerativa, redução da glicemia e da lipemia, regulação do sistema imunológico e na encefalopatia hepática, além de importantes funções sobre diversas alterações gastrintestinais. Desta forma, este material tem como objetivo caracterizar os prebióticos e probióticos utilizados em alimentos comerciais para cães e gatos, revisar as principais pesquisas na área, evidenciando as potencialidades dos ingredientes, e por fim apresentar informações da suplementação dos aditivos em novas abordagens clínicas, como pacientes obesos e com diarréia associada à antibioticoterapia. ADITIVOS NUTRICIONAIS: DEFINIÇÃO DE PROBIÓTICOS E PREBIÓTICOS O termo probiótico deriva do grego, e significa “pró-vida”. A definição mais aceita atualmente é a de microrganismos vivos, administrados em quantidades adequadas, que conferem benefícios à saúde do hospedeiro (FAO/WHO, 2001). Já os prebióticos são definidos como compostos não digeridos pelo organismo animal, mas que são seletivamente fermentados pelos microrganismos do trato gastrintestinal, estimulando o crescimento e/ou a atividade de alguns destes microrganismos capazes de prover benefícios ao hospedeiro (GIBSON & ROBERFROID, 1995). Dentre as características para as substâncias serem classificadas como prebióticas, CRITTENDEN 183 & PLAYNE (2009) citam: incapacidade de digestibilidade pelo hospedeiro (ou parcialmente digerido), não absorvível no intestino delgado, fracamente fermentável pelas bactérias da microbiota oral e por bactérias patogênicas do TGI e possibilidade de fermentação pelos microrganismos benéficos do TGI. Na Tabela 1 são listadas as vantagens do uso de prebióticos sobre os probióticos e antibióticos na nutrição animal. Tabela 1. Vantagens dos prebióticos em relação aos probióticos e antibióticos. Fonte: Adaptado de CRITTENDEN & PLAYNE (2009). Contudo os prebióticos também podem apresentar efeitos negativos sobre o hospedeiro, como: ao contrário de probióticos, em altas doses podem causar flatulência, ou diarréia, além de não ser tão potente como antibióticos na eliminação de patógenos específicos (CRITTENDEN & PLAYNE, 2009), portanto seu uso deve ser realizado com critério. Dentre os mecanismos de ação das substâncias sobre a saúde intestinal, O´TOOLE & COONEY (2008) citam que os probióticos agem sobre a microbiota patogênica pela competição por nutrientes; produção de produtos da fermentação com propostas inibitórias; produção de vitaminas e substratos de crescimento para outras bactérias benéficas; produção de bacteriocinas; exclusão competitiva pelos sítios de ligação; o que estimula a funcionalidade da mucosa; reduz a inflamação, desfavorece a colonização e persistência de bactérias patogênicas; e serve de estimulo ao sistema imune inato. LU & WALKER (2000) citam que as alterações na funcionalidade da mucosa intestinal induzida por probióticos requerem comunicação bioquímica entre os 184 microrganismos e os enterócitos aderentes, por exemplo, as cepas probióticas induzem a transdução de sinal, que fortalece as junções intercelulares e desse modo, reduz o transporte paracelular de antígenos que causam inflamação. Da mesma forma, ao estimular a microbiota benéfica, com produção de ácido lático e ácidos graxos de cadeia (AGCC), os prebióticos atuariam sobre a saúde intestinal. Dentre os AGCC (acético, propiônico e butírico), destaca-se o ácido butírico, o qual tem sido apontado como responsável por importantes mudanças fisiológicas, tais como a capacidade de reverter alterações neoplásicas, efeitos nutritivos exercidos no epitélio do cólon e indução de apoptose em células danificadas (MENTSCHEL & CLAUS, 2003), capacidade de modulação demonstrada também por PRASAD & SINHA (1976) que citam que o butirato é capaz de promover alterações morfológicas reversíveis na razão de crescimento e na atividade enzimática de diversos tipos de culturas celulares de mamíferos. Com relação às principais fontes probióticas utilizadas em nutrição animal destacam-se: Bacillus subtilis, Bifidobacterium thermophilum, pseudolongum e bifidum, Lactobacillus acidophilus, latis e plantarium, Saccharomyces cerevisiae, Streptococcus faecium e Enterococcus faecium. Já dentre os prebióticos, os principais são: frutoligossacarídeos (FOS), mananoligossacarídeos (MOS), inulina e polpa de beterraba, além destes, pesquisas nacionais e internacionais com cães e gatos foram e estão sendo conduzidas com outras fontes prebióticas, como: xiloligossacarídeos (XOS), galactoligossacarídeos (GOS), galactoglucomanana (GGMO), transgalactoligossacarídeo (TGOS) e amido resistente. A inulina, a oligofrutose a os FOS são entidades quimicamente similares, com as mesmas propriedades nutricionais. A inulina é um carboidrato constituído de subunidades de frutose (2 a 150), ligadas entre si e a uma glicose terminal, apresentando grau médio de polimerização de 10 ou mais. A oligofrutose e os FOS são termos sinônimos utilizados para designar frutanos do tipo inulina com grau de polimerização menor que 10. Na literatura o termo oligofrutose é mais frequentemente empregado para descrever inulinas de cadeia curta, obtidas por hidrólise parcial da inulina da chicória, e o termo FOS tende a descrever misturas de frutanos do tipo inulina de cadeia curta, sintetizados a partir da sacarose. (SAAD, 2006). Os MOS são constituintes da parede celular da levedura (PCL) Saccharomyces cerevisiae. A parede celular de Saccharomyces cerevisiae representa aproximadamente 15-30% do peso seco da célula, e consiste principalmente em mananoproteínas, ß-glucanos, e quitina (N-acetilglicosamina), unidos por ligações covalentes (KOLLÁR et al., 1997). O GOS consiste em um grupo de oligossacarídeos compostos por moléculas de galactose ligada à lactose (SANTOS et al., 2009) e o GGM 185 são açucares obtidos a partir da madeira, composto por xilooligossacarídeos, glucoligossacarídeos e mananoligossacarídeos (FABER et al., 2011). O XOS consistem em oligômeros formados por unidades de xilose, que ocorrem naturalmente em frutos, vegetais, leite e mel, contudo sua produção industrial concentra-se na extração de materiais lignocelulósicos, principalmente de resíduos florestais e agroindustriais (MENEZES & DURRANT, 2007). Trabalhos recentes têm sugerido o potencial do amido resistente em agir como substância prebiótica. Durante o processo de extrusão, o amido recebe a adição de água e aplicação de calor na forma de vapor, etapas que são responsáveis pelo seu cozimento e por transformá-lo em um alimento com textura adequada. Com o progressivo aumento da temperatura e umidade, os grânulos absorvem água e perdem sua birrefringência, ocorrendo aumento da sua viscosidade (RATNAYAKE & JACKSON, 2009). Essa mudança estrutural é denominada gelatinização. Amostras de amido gelatinizado são mais susceptíveis à degradação pela α-amilase que amostras de amido cru (DONA et al., 2010). Durante o resfriamento e armazenamento de amostras de amido gelatinizado pode ocorrer a retrogradação, que é a associação das moléculas de amilose e amilopectina em uma estrutura cristalina. Essa estrutura pode resistir à hidrólise pela amilase (BROWN, 2004), formando uma porção do amido que passa intacta pelo intestino delgado, denominada de amido resistente. Em situações onde ocorre a proteção física oferecida ao amido no grão ou semente, no caso de grãos inteiros ou moídos grosseiramente, classifica-se também como amido resistente (BROWN, 2004). Em ratos, SHEN et al. (2011) observaram que o consumo de amido resistente elevou a concentração fecal de ácido acético, propiônico, butírico, Bacteroides, Bifidobacterium spp., Lactobacillus spp. e Clostridium cluster IV, além de GLP-1 sérica e tendência na UCP-1 do tecido adiposo, o que estaria relacionado ao aumento no sensibilidade insulínica e gasto energético. Da mesma forma, BIRD et al. (2010) cita a potencialidade do amido resistente como fonte prebiótica, com favorecimento da produção de ácido butírico. Neste sentido, LIU & XU (2008) avaliaram a relação entre a inclusão de amido resistente na dieta de ratos e a carcinogênese. Os autores observaram que o ingrediente pode retardar o crescimento e/ou desenvolvimento de lesões neoplásicas no cólon, evidenciando sua ação preventiva. Contudo, observaram que na fase de pré-iniciação, ou seja, quando o evento já havia iniciado, a utilização de amido resistente aumentou o aparecimento de foco de cripta aberrante, o que pode estar relacionado ao aumento da absorção de substâncias cancerígenas durante a iniciação do evento. Na Tabela 2 estão apresentados os principais resultados de pesquisas nacionais e internacionais, com diferentes prebióticos e probióticos empregados em dietas para cães e gatos. 186 Tabela 2. Principais resultados de estudos com prebióticos e probióticas em cães e gatos. 187 188 189 Pelos dados apresentados na tabela 2 pode-se verificar que as pesquisas com cães e gatos não são tão vastas como em animais de produção, sendo publicado apenas recentemente um trabalho que avaliou os efeitos dos prebióticos em cães através de meta-análise. Neste estudo PATRA (2011) verificou que os prebióticos não interferem na ingestão de nutrientes, bem como na digestibilidade aparente, com exceção da proteína bruta, que apresentou tendência a redução quadrática na digestibilidade, já com relação aos produtos da fermentação intestinal (ácido acético, propiônico e butírico) o autor 190 verificou aumento quadrático, comportamento similar a Bifidobacterium spp., e aumento linear para a Lactobacillus spp. Foi relatado ainda que a inclusão de 1,40% de prebióticos parece ser efetiva em modular a concentração fecal de Bifidobacterium spp., Lactobacillus spp. e produtos da fermentação intestinal. É importante salientar que o autor utilizou em sua avaliação trabalhos com diferentes fontes prebióticos (FOS, Inulina, IMO, PCL, XOS, MOS e Arabinogalactana), e é sabido que as inclusões mínimas para efetividade são diferente entre as fontes, além disso, são requeridos mais trabalhos com os aditivos para que avalições através de meta-análise sejam realizadas com as fontes em separado. Neste sentido, GIBSON et al. (2010) citam que várias avaliações separadas de diferentes pesquisadores são requeridas para definir efeito prebiótico de um de determinado composto. Com este objetivo, na Tabela 3 estão apresentados os dados da PCL sobre produtos da fermentação e microbiota intestinal de gatos adultos saudáveis em estudo conduzido pelo grupo de Pesquisas em Nutrição de Cães e Gatos do Departamento de Nutrição e Produção Animal da FMVZ-USP. Tabela 3. Microbiota e produtos da fermentação intestinal de gatos alimentados com níveis crescentes de PCL. Parte da Tese de SANTOS, J. P. F. (Dados não publicados) Pelos dados apresentados na Tabela 3 é possível verificar que a inclusão de PCL na dieta de gatos repercutiu em aumento linear na concentração fecal de Bifidobacterium spp. (R2=30,59%), Lactobacillus spp. (R2=42,60%), ácido butírico (R2=39,51%) e total de aminas biogênicas (R2=40,76). ANTIBIOTICOTERAPIA E PROBIÓTICOS Em muitos países da Europa, os probióticos são considerados como medicamentos, e são prescritos juntamente com antibióticos com objetivo de reduzir a diarréia associada à antibioticoterapia (D´SOUZA et al. 2004), neste sentido, os efeitos de tal associação tem sido bastante estudada em seres humanos. Através de meta-análise, HEMPEL et al. (2012) citam que a utilização de probiótico como terapia adjuvante parece reduzir a diarréia nos pacientes. Da mesma forma, D´SOUZA et al. (2004) também citam efeitos positivos 191 dos probióticos sobre a diarréia em pacientes que recebem antibiótico, com potencial efeito da Saccharomyces bourladii e do Lactobacillus. Entretanto, FARIA et al. (2009) citam que dependendo do antibiótico utilizado as cepas probióticas podem ou não apresentar efeito. Os autores observaram em frangos que virginiamicina pode comprometer a colonização de Streptococcus faecium, Lactobacillus acidophilus e Bacilus subtilis, ao contrário de avilamicina. Neste sentido, são necessários trabalhos que avaliem os efeitos do uso associado de antibióticos e probióticos em cães e gatos, já que a nutrição e a modulação da microbiota intestinal apresentam papel de grande importância em indivíduos saudáveis e enfermos, da mesma forma, com seres humanos D´SOUZA et al. (2004) e HEMPEL et al. (2012) enfatizam que mais pesquisas são necessárias, principalmente em relação as doses a serem administradas, em pacientes de diferentes fases fisiológicas e enfermidades, bem como com definição dos antibióticos e das cepas probióticas. Além disso, D´SOUZA et al. (2004) ressaltam que em pacientes imunossuprimidos e com predisposição a infecções severas, o uso de probióticos deve ser evitado, já que poderiam repercutir no desenvolvimento de septicemia. OBESIDADE, MICROBIOTA INTESTINAL E ADITIVOS PARA MODULAÇÃO DA MICROBIOTA INTESTINAL Pesquisas recentes têm demonstrado relação direta entre a obesidade, resistência insulínica e a microbiota intestinal em pacientes humanos (MUSSO et al. 2010; SCHWIERTZ et al. 2010; BERESWILL et al. 2011; CARICILLI et al., 2011; FEI & ZHAO, 2012; HARRIS et al., 2012; PATIL et al. 2012; LÓPEZ et al. 2012; HANDL et al. 2013). De acordo com HARRIS et al. (2012) indivíduos obesos apresentam microbiota fecal diferenciada em comparação a indivíduos saudáveis, entretanto sua relação com a obesidade não está completamente elucidada. Grande parte dos trabalhos que avaliam a relação existente entre microbiota fecal e obesidade concentra-se em ratos. Em cães, o único trabalho localizado na literatura foi o de HANDL et al. (2013), que observaram que o gênero Roseburia spp. apresentou diferença, bem como o filo Actinobacterias, que estiveram elevadas nos animais obesos em comparação aos animais em escore de condição corporal ideal. De acordo com MILLION et al. (2013) tanto os gêneros bacterianos presentes em probióticos, como o hospedeiro são determinantes para o desenvolvimento ou não da obesidade, sendo possível que probióticos e/ou suplementação com prebiótico atuem à favor da obesidade como anti-obesidade, dentre os gêneros bacterianos os autores sugerem que Firmicutes, Enterobacteriaceae, Staphylococcus aureus, Faecalibacterium prausnitzii, Lactobacillus reuteri, Lactobacillus acidophilus, Lactobacillus fermentum e Lactobacillus ingluviei estão associados a obesidade, enquanto 192 Bacteroidetes, Bacteroides, Lactobacillus plantarum, Lactobacillus animalis, Lactobacillus gasseri, Bifidobacterium animalis, Akkermansia muciniphila e Methanobrevibacter estariam presentes em maior proporção em indivíduos magros. Neste sentido, MILLION et al. (2012) demonstraram que dentro do gênero de Lactobacillus, as espécies L. ingluviei, L. acidophilus e L. fermentum apresentam potencial ao ganho de peso em animais, estando as duas últimas associadas ao aumento da eficiência energética, em contrapartida as espécies L. gasseri e L. plantarum estiveram associadas a um efeito anti-obesidade, com perda de peso. Sugerindo, portanto, uma nova preocupação na manutenção, perda ou ganho de peso corporal, o prebiótico e/ou espécies probióticas a serem suplementadas, os quais devem ser cuidadosamente avaliados, considerando as espécies de bactérias que serão moduladas pelos aditivos. Os probióticos e prebióticos estão associados à ampla gama de possibilidades preventivas e terapêuticas, entretanto a prescrição de qualquer probiótico não assegura que será obtido efeito favorável em todos os aspectos da saúde, neste sentido, é possível que a ampla definição atual de probióticos deva ser mais detalhada, no sentido de que se proceda a escolha do probiótico para cada situação clínica de prevenção ou tratamento (MORAIS & JACOB, 2006), sendo este o caminho pelo qual as linhas de pesquisa com microbiota intestinal de cães e gatos devam seguir nos próximos anos. CONCLUSÕES A microbiota intestinal apresenta importante papel sobre aspectos metabólicos e imunológicos de cães e gatos, com relevante papel sobre os produtos da fermentação intestinal. Dentre os objetivos de nutricionistas de cães e gatos a qualidade de vida e o bem estar dos animais trata-se de grandes preocupações, neste sentido a utilização de prebióticos e probióticos são ferramentas nutricionais que merecem destaque. Contudo mais pesquisas são necessários para verificar as potencialidades das diferentes fontes, bem como as dosagens. Além disso, tais aditivos parecem apresentar importante impacto sobre áreas até então não exploradas, como na obesidade, neste sentido pesquisas que aliem nutrição básica à nutrologia fazem-se necessárias. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS APANAVICIUS, C. J.; POWELL, K. L.; VESTER, B. M.; KARR-LILIENTHAL, L. K.; POPE, L. L.; FASTINGER, N. D.; WALLIG, M. A.; TAPPENDEN, K. A.; SWANSON, K. S. Fructan supplementation and infection affect food intake, fever, and epithelial sloughing from Samnonella challenge in weanling puppies. Journal of Nutrition, v. 137, p. 1923-1930, 2007. AQUINO, A. A. 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Professor Doutor do Departamento de Nutrição e Produção Animal – FMVZ-USP 1 2 RESUMO O aumento da exigência do mercado consumidor tem elevado a necessidade de produção de leite de melhor qualidade. E para que os produtos lácteos atinjam níveis satisfatórios de qualidade, é imprescindível a adoção de programas de boas práticas de manejo e de controle da mastite. Nestes programas, são realizadas análises periódicas do leite de tanque para identificação das principais fontes de contaminação do leite. Essas análises, aliadas com a avaliação dos fatores de risco, possibilitam a elaboração de um plano de ação para o controle da qualidade do leite produzido. Nessa revisão objetivou-se apresentar resultados recentes de pesquisas sobre o efeito da mastite subclínica bovina na composição e na qualidade higiênica do leite de tanque, contribuição relativa dos patógenos causadores de mastite subclínica sobre a qualidade do leite, avaliação dos fatores de risco para a baixa qualidade do leite e avaliação do nível de conhecimento e opiniões sobre mastite e qualidade do leite. Palavras-chave: leite de tanque, mastite subclínica, cultura microbiológica, fatores de risco INTRODUÇÃO A produção de matérias primas de alta qualidade é um dos principais desafios para o aumento da competitividade do sistema agroindustrial do leite. Dentro deste contexto, a qualidade do leite cru é um dos principais critérios para o processamento, rendimento e aceitabilidade dos derivados lácteos. A mastite, inflamação da glândula mamária, exerce influência negativa sobre a composição e as características físicas e químicas do leite, e é responsável por grandes perdas econômicas na atividade. O estabelecimento de medidas de prevenção e controle da mastite é realizado com base na cultura microbiológica e na contagem de células somáticas (CCS) da vaca e do leite 199 de tanque. A CCS aumenta quando ocorre a invasão da glândula mamária por micro-organismos, o que desencadeia resposta imunológica, que culmina num processo inflamatório denominado mastite. O aumento da CCS depende da intensidade da resposta inflamatória que, por sua vez, é determinada pelo tipo de micro-organismo causador (Bradley, 2002). Durante episódios de mastite, dependendo da etiologia, os patógenos causadores são eliminados no leite e podem aumentar a contagem bacteriana total (CBT) do leite de tanque (Rysanek et al., 2009b; a). Um dos pontos críticos para implantação de programas de melhoria da qualidade do leite é a avaliação do nível de conhecimento técnico e das opiniões dos produtores de leite sobre as causas, prejuízos e medidas de controle da mastite bovina e para a melhoria da qualidade do leite. Este tipo de avaliação deve ser regionalizada para auxiliar na determinação da forma que novos conhecimentos podem ser apresentados aos produtores, buscando um referencial de avaliação de mudanças no conhecimento e sensibilização dos produtores frente a novos conceitos. No entanto, ainda são escassas informações sobre conhecimentos dos produtores sobre as causas da mastite e sobre protocolos de prevenção e tratamento mais adequados (Mcleod, 2008). Além disso, a produção de leite cru com baixa contagem bacteriana depende de diversos fatores, tais como: a saúde e higiene da vaca, a higiene dos equipamentos de ordenha, o tempo e a temperatura de armazenamento do leite. Para monitorar a qualidade higiênica do leite é possível utilizar análises microbiológicas do leite coletado diretamente do tanque de expansão. Estas análises indicam, quando realizadas rotineiramente, e interpretadas em associação com as práticas de manejo utilizadas na fazenda, a saúde do rebanho e as condições ambientais de produção e armazenamento do leite (Jayarao; Wolfgang, 2003). Para avaliação da qualidade do leite de tanque utilizadas: contagem bacteriana total (CBT), contagem no leite com incubação preliminar (CIP), contagem de leite pasteurizado (CLP) e contagem de coliformes (CC). A CBT é a mais utilizada e mais indicada para avaliação da condição higiênica geral durante a produção do leite (Elmoslemany et al., 2009a). No Brasil, os critérios mínimos de qualidade do leite foram estabelecidos pelo Programa Nacional de Melhoria da Qualidade do Leite (PNQL), cuja base legal foi instituída pela Instrução Normativa nº 51 (IN 51), alterada pela Instrução Normativa nº 62 (IN 62) para aprovar o regulamento técnico de produção, identidade e qualidade do leite comercializado no Brasil (Brasil, 2002; 2011; Oliveira et al., 2011). O aumento da exigência dos consumidores por produtos de melhor qualidade interfere na cadeia produtiva do leite, de modo que se torna necessária a melhoria da qualidade higiênica e da composição do leite. A análise da qualidade microbiológica do leite de tanque é uma ferramenta que pode ser 200 utilizada pelos produtores e pela indústria para a identificação de problemas e a busca por possíveis soluções. Dessa forma, na presente revisão objetivou-se apresentar resultados recentes de pesquisas sobre o efeito da mastite subclínica bovina sobre a composição, qualidade higiênica do leite de tanque, assim como a contribuição relativa dos patógenos causadores de mastite subclínica sobre a qualidade do leite, avaliação dos fatores de risco para a baixa qualidade do leite e avaliação do nível de conhecimento e opiniões sobre mastite e qualidade do leite. CONCEITOS GERAIS SOBRE MASTITE E CONTAGEM DE CÉLULAS SOMÁTICAS (CCS) A mastite é uma inflamação da glândula mamária e causa de enormes perdas econômicas ao agronegócio do leite. Para a indústria de lácteos, é a doença que causa os maiores prejuízos, devidos principalmente ao menor rendimento de fabricação de derivados lácteos em decorrência de alteração na composição do leite e pela menor vida de prateleira do leite pasteurizado e seus derivados (Åkerstedt et al., 2012). Para o produtor, as perdas se devem à redução da produção e descarte do leite, ao trabalho e custo extra para tratamento e aplicação de antibióticos e ao aumento do risco de doenças subsequentes, além de ser uma das principais causas de descarte de animais em rebanhos leiteiros (Groenendaal et al., 2004). As infecções intramamárias são causadas por micro-organismos classificados em dois grupos: contagiosos e ambientais. O primeiro grupo é adaptado a sobreviver dentro da glândula mamária e é transmitido entre vacas ou quartos infectados para vacas ou quartos sadios. São também caracterizados pela baixa incidência da forma clínica da doença e alta incidência dos casos subclínicos, com consequente aumento da CCS. Os patógenos classificados como ambientais não são bem adaptados para sobreviver no interior da glândula mamária, porém, podem entrar pelo canal do teto, causando resposta inflamatória aguda (Freitas et al., 2005; Santos; Fonseca, 2007). As infecções da glândula mamária podem ser causadas por diversos micro-organismos, porém, a maior parte das infecções é causada por bactérias, principalmente dos gêneros Staphylococcus e Streptococcus e do grupo dos coliformes (Freitas et al., 2005; Langoni et al., 2009). O início da infecção intramamária ocorre quando micro-organismos entram pelo canal do teto e se multiplicam nas cisternas do teto e da glândula, atingindo os tecidos secretores. Estes micro-organismos causadores de mastite podem ser transmitidos a glândula mamária durante a ordenha, por meio do equipamento de ordenha ou pela colonização da pele do teto. (Akers; Nickerson, 2011). A mastite pode se manifestar de duas formas: clínica e subclínica. Na forma clínica, a mastite apresenta sintomas visíveis, com alterações na 201 vaca (edema, sensibilidade aumentada do úbere, febre) e no leite (presença de grumos, pus ou sangue). A mastite subclínica pode ultrapassar os 70% dos casos totais de mastite (Bradley, 2002), enquanto que a forma clínica da doença tem incidência média de 25 a 30% dos casos totais do rebanho. Além disso, as perdas causadas pela mastite subclínica podem representar até dois terços do custo total da mastite em uma propriedade leiteira. (Cavero et al., 2008). Para o monitoramento da saúde da glândula mamária, os índices mais frequentemente analisados são a incidência de mastite clínica e a CCS, e com menor frequência devido ao custo mais elevado, a identificação de patógenos específicos. A CCS é a principal variável para mensurar a prevalência e a incidência de infecções intramamárias. Além disso, a CCS pode ser analisada em amostras de leite individuais ou do leite total da propriedade. No leite oriundo de vacas saudáveis, a CCS é inferior a 200.000 células/mL, sendo que a maioria é de células epiteliais de descamação e leucócitos. Com o início de uma inflamação, ocorre um aumento da CCS, devido à elevação da quantidade de leucócitos na glândula mamária (Akers; Nickerson, 2011; Dufour et al., 2011). CONCEITOS GERAIS SOBRE INDICADORES DE QUALIDADE HIGIÊNICA DO LEITE Os métodos de referência utilizados para a determinação da qualidade do leite cru são a CBT e a CCS. Com a CBT é possível estimar a quantidade de bactérias que estão presentes no leite produzido na propriedade e a CCS é um indicativo de saúde da glândula mamária. Quando estes índices estão dentro dos valores de normalidade, a pasteurização é altamente efetiva para destruir os micro-organismos patogênicos que poderiam ameaçar a saúde humana (Pantoja et al., 2009). A CBT em amostras de leite de tanque é um indicativo do estado de saúde do rebanho, das condições sanitárias da propriedade e dos equipamentos de ordenha, das condições higiênicas e da temperatura de estocagem do leite. É utilizada para determinar a qualidade do leite produzido, porém tem baixo valor para a identificação da fonte de contaminação. O aumento da CBT pode ser causado pela proliferação de bactérias no equipamento de ordenha não adequadamente higienizado, pela contaminação de tetos e úberes sujos, pelo resfriamento inadequado do leite e pela presença de patógenos causadores de mastite (Berry et al., 2006; Pantoja et al., 2009; Bava et al., 2011). A CBT é determinada pela inoculação de alíquotas de leite em placas que são incubadas em ambiente aeróbico e temperatura de 32±1° C por 48±3 horas (American Public Health Association, 2004). Sob esta temperatura, alguns grupos de micro-organismos não se proliferam e, portanto, há necessidade de outras análises para a correta identificação da fonte de contaminação do leite 202 de tanque. Para isso, geralmente são determinadas as contagens de microorganismos psicrotróficos, que se multiplicam em baixas temperaturas, de termodúricas, que sobrevivem à temperatura de pasteurização, e de coliformes, usado internacionalmente como indicador de higiene em leite de tanque (Marth; Steele, 2001). A análise da qualidade microbiológica do leite cru é importante tanto para os produtores quanto para a indústria de lácteos, pois é uma forma de garantir a qualidade do leite pasteurizado e seus derivados (Marth; Steele, 2001). No Brasil, a IN 62/2011 estabeleceu um limite de CBT calculado pela média geométrica de ao menos uma análise mensal da CBT do leite de tanque de cada propriedade por um período de três meses. Para as regiões Sul, Sudeste e Centro Oeste brasileiras até junho de 2014 a CBT máxima estabelecida é de 600.000 UFC/mL e a partir de julho de 2014 deverá ser de no máximo 300.000 UFC/mL (Brasil, 2011). Para a redução da CBT é necessária a adoção de técnicas adequadas de higiene na ordenha e manejo dos animais, uso de água limpa, correta higienização dos equipamentos de ordenha e resfriamento adequado do leite. Quando o processo de limpeza e desinfecção não é adequado, restam resíduos de leite na superfície do equipamento de ordenha que favorecem a proliferação de diversos micro-organismos. Com a passagem do leite da ordenha subsequente, ocorre a contaminação do leite, que se não for resfriado adequadamente, favorecerá a multiplicação dos micro-organismos (Barbano et al., 2006; Bava et al., 2011). O rápido resfriamento do leite reduz a proliferação dos microorganismos contaminantes, e, embora favoreça a multiplicação de psicrotróficos, a maioria desses micro-organismos não resiste à temperatura de pasteurização. No entanto, esse grupo de bactérias produz enzimas proteolíticas e lipolíticas que resistem à temperatura de pasteurização e que são capazes de hidrolisar toda a caseína disponível em peptídeos solúveis, que deixam o leite com sabor amargo e diminuem a durabilidade do leite pasteurizado e seus derivados. O aumento do tempo de estocagem do leite associado à baixa temperatura favorece a proliferação deste grupo de micro-organismos, principalmente as Pseudomonas spp. Estas bactérias podem se multiplicar em ambientes de 0° a 20° C, independentemente do ponto ótimo de proliferação (Marth; Steele, 2001; Yagoub et al., 2008; Perko, 2011). Os micro-organismos psicrotróficos são amplamente distribuídos no ambiente, sendo encontrados na água não tratada, no solo, na vegetação e na pele dos tetos e úbere. Geralmente, estes micro-organismos entram em contato com o leite pela contaminação do equipamento de ordenha com água não tratada, ou contato com os tetos. Na maioria das propriedades leiteiras, a água utilizada na ordenha não é tratada. Embora somente o contato da água 203 com o leite não seja suficiente para elevar a CP do tanque, os resíduos de leite no equipamento de ordenha podem favorecer a rápida multiplicação destes micro-organismos, que entram em contato com o leite na ordenha subsequente, podendo elevar a contagem de psicrotróficos no leite do tanque (Santos; Fonseca, 2007; Elmoslemany et al., 2009b). O grupo dos coliformes compreende todas as bactérias aeróbicas e anaeróbicas facultativas, gram-negativas, não formadoras de esporos e que fermentam a lactose com produção de ácido e gás em temperatura entre 32 e 35° C. Os principais micro-organismos pertencentes ao grupo dos coliformes são dos gêneros Escherichia, Enterobacter e Klebsiella. A presença desses micro-organismos nos produtos lácteos indica falhas de higiene nas práticas adotadas na produção, processamento e estocagem do leite. A CC é utilizada para mensurar a qualidade sanitária do processamento do leite a fim de minimizar a contaminação bacteriana dos produtos lácteos (Davidson et al., 2004). Os coliformes estão presentes no trato intestinal das vacas e são comumente encontrados nas fezes, no material das camas, no solo e na água contaminada. Estes micro-organismos podem entrar em contato com o leite pela contaminação do equipamento de ordenha com a água, ou contato com os tetos não higienizados corretamente. Além disso, os coliformes podem permanecer incubados em filmes residuais dos equipamentos de ordenha com higiene imprópria. A elevada CC indica práticas de produção com deficiências de higiene e inadequada preparação da vaca para ordenha (Elmoslemany et al., 2009b; Pantoja et al., 2009; Elmoslemany et al., 2010). A CLP está diretamente relacionada à formação de biofilmes por falhas no processo de limpeza, como: temperatura e dureza inadequadas da água de limpeza dos equipamentos e tanque; agitação insuficiente; baixa concentração ou baixa qualidade dos detergentes e desinfetantes utilizados; partes de borracha do equipamento em más condições de conservação ou excessiva temperatura (Jones; Sumner, 1999; Jayarao; Wolfgang, 2003). O processamento térmico (62,8°C por 30 minutos) de amostras de leite, realizado antes dos procedimentos de contagem padrão em placas, permite a contagem de bactérias termodúricas e mesófilas, que sobrevivem ao processo de pasteurização (Jones; Sumner, 1999; Jayarao; Wolfgang, 2003; Bava et al., 2011). Este grupo de bactérias causa deterioração e reduz a vida de prateleira do leite, mesmo após os processos de pasteurização (Elmoslemany et al., 2010). A análise da produção e da composição do leite são ferramentas que devem ser utilizadas para o gerenciamento da propriedade leiteira. A qualidade dos produtos lácteos depende da qualidade do leite e de seus principais componentes: proteína e gordura. A análise periódica desses parâmetros traz 204 informações sobre problemas que podem afetar a produção e a qualidade do leite. Alterações na produção de leite podem ser reflexo de problemas na sanidade dos animais do rebanho (Forsbäck et al., 2010). Um estudo recente, realizado pelo Laboratório de Pesquisa em Qualidade do Leite (Qualileite) da FMVZ/USP, avaliou o efeito da CCS em tanque de rebanhos leiteiros comerciais sobre os teores de gordura, proteína, sólidos totais e extrato seco desengordurado e a CBT, CP e CC. Para tanto, foram selecionadas 204 propriedades leiteiras localizadas nas regiões oeste de São Paulo e sul de Minas Gerais, distribuídas em três grupos de acordo com a média geométrica da CCS de 5 amostras de tanque coletadas no mês anterior ao início das coletas: a) Baixa CCS (76 rebanhos com média de CCS <250.000 céls/mL); b) Média CCS (71 rebanhos com média de CCS entre 250.001 e 750.000 céls/mL); e c) Alta CCS (57 rebanhos com média de CCS >750.001 céls/mL). Os rebanhos foram amostrados duas vezes ao mês, durante três meses, totalizando seis coletas por rebanho. A CBT e a CC foram menores no grupo com CCS até 250.000 céls/ mL (Tabela 1). A CCS de tanque é um indicativo da incidência média de mastite no rebanho e a ocorrência de animais com mastite no rebanho pode causar elevação da CBT do tanque. Segundo Jayarao et al. (2004), há baixa correlação entre a CC e a presença de outras bactérias causadoras de mastite contagiosa. Os grupos com CCS abaixo de 750.000 céls/mL apresentaram maiores teores de ESD. Grupos com CCS acima de 250.001 céls/mL apresentaram os maiores teores de gordura e proteína e o maior teor de sólidos totais foi observado no grupo de média CCS (>250.001 e <750.000 céls/mL). Alta CCS no leite de tanque é um indicador de ocorrência de mastite no rebanho. Esta doença pode causar alterações na composição do leite, tais como diminuição dos teores de gordura, proteína e sólidos totais. Porém, se a redução da produção de leite for mais acentuada que a produção de gordura, ocorre aumento da concentração deste componente. O teor de gordura do leite também pode ser alterado pelo esvaziamento do úbere, pois a concentração de gordura no leite ao final da ordenha e no leite residual é maior do que no início. Falhas no controle do vácuo no equipamento de ordenha podem diminuir a eficiência da ordenha e ocasionar redução dos teores de gordura do leite (Machado et al., 2000; Forsbäck et al., 2010). O aumento dos teores de proteína total do leite quando há aumento da CCS pode ocorrer pelo aumento das proteínas do soro (albumina e imunoglobulina). Isto pode ocorrer devido à alteração do equilíbrio osmótico do leite em relação ao sangue nos animais com mastite. Como mecanismo de compensação para o restabelecimento do equilíbrio osmótico, ocorre a passagem de íons sódio e cloreto, resultando no aumento da condutividade 205 elétrica e no aparecimento de sabor salgado no leite (Santos; Fonseca, 2007; Forsbäck et al., 2009). Tabela 1. Médias geométricas da contagem bacteriana total (CBT), contagem de psicrotróficos (CP), contagem de coliformes (CC) e composição do leite dos grupos de baixa, média e alta CCS. EPM: Erro padrão da média; ESD: Extrato seco desengordurado; Letras iguais na mesma linha não diferem entre si pelo teste de Scheffé (α=5%). ASSOCIAÇÃO ENTRE PATÓGENOS CAUSADORES DE MASTITE, CONTAGEM DE CÉLULAS SOMÁTICAS E CONTAGEM BACTERIANA TOTAL O monitoramento de micro-organismos causadores de mastite em rebanhos pode ser realizado por meio de análises de quartos mamários ou por análises do leite de tanque (Brito et al., 1998). Se por um lado o processo de análise do leite por quarto mamário apresenta como inconveniente a necessidade de grande número de amostras, por outro lado, amostras do leite de tanque podem apresentar contaminação por diversos micro-organismos ambientais (Rysanek et al., 2009a). Ainda assim, a cultura do leite de tanque é uma boa opção para determinar os principais micro-organismos causadores de mastite em rebanhos, desde que interpretada de forma cautelosa e em associação com outras informações como o manejo do rebanho, a CCS e a CBT (Jayarao; Wolfgang, 2003). A relação entre CCS, CBT e a contagem de agentes causadores de mastite no leite de tanque foi descrita por alguns autores (Zadoks et al., 2004; Rysanek et al., 2009b; a). Zadoks et al. (2004) ao avaliar o leite de rebanhos leiteiros no estado de Nova Iorque, EUA, identificaram alta associação entre a contagem de bactérias do gênero estreptococos e a CBT em análises do leite de tanque com CCS acima de 750.000 céls/ml. Rysanek et al. (2009b) identificaram diferença na CCS do leite de tanque com altas contagens de Streptococcus agalactiae, Staphylcoccus aureus e Streptococcus dysgalactiae, 206 quando comparados com a CCS do leite com ausência destas bactérias. Jarayao et al. (2004) identificaram aumento de frequência de isolamento de Staphyococcus aureus e Streptococcus agalactiae com o aumento de CCS no leite de tanque. Ainda que alguns estudos avaliaram associações entre CCS, CBT e contagem de micro-organismos causadores de mastite, a dinâmica populacional destes agentes varia com a região ou país estudado e até de acordo com limites regulatórios impostos (Barkema et al., 1998). No Brasil, bactérias das espécies Staphylococcus aureus e Streptococcus agalactiae foram as mais prevalentes como causadores de mastite em estudos nas regiões de Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e São Paulo (Cruppe et al., 2008). Tanto Staphylococcus aureus quanto Streptococcus agalactiae são considerados patógenos contagiosos, os quais, adaptados a sobreviver e se multiplicar na glândula mamária, podem ser transmitidos entre as vacas no momento da ordenha, são de difícil controle e capazes de causar grande variação na CCS e na composição do leite (Harmon, 1994). Outros micro-organismos causadores de mastite como o Staphylococcus spp. coagulase negativo e o Corynebacterium bovis podem causar moderado processo inflamatório e menor variação na CCS (Harmon, 1994). Em estudo recente, realizado no Laboratório de Qualidade de Leite (Qualileite), na FMVZ/USP, foi avaliada a associação entre patógenos causadores de mastite, a CBT e a CCS do leite de tanque de rebanhos leiteiros. De um total de 454 produtores de leite, localizados no Sul de Minas Gerais e Oeste de São Paulo, foram selecionados 90 com base na CCS (média geométrica) de 10 amostras de leite coletadas durante os meses de junho e julho de 2012 (a cada 6 dias), os quais foram classificados em 3 grupos: a) até 250.000 céls/ml (30 rebanhos); b) entre 251.000 e 600.000 céls/ml (30 rebanhos); c) maior que 600.000 céls/ml (30 rebanhos). Foram coletadas 6 amostras do leite de tanque (a cada 15 dias) dos 90 produtores para as análises de contagem de células somáticas (CCS), contagem bacteriana total (CBT), contagem de Staphylococcus aureus (S. aureus), contagem de Streptococcus agalactiae (Strep. agalactiae), contagem de estafilococos coagulase negativos (ECN), contagem de estreptococos ambientais e contagem de Escherichia coli (E. coli). Foi observado que a contagem de Strep. agalactiae apresenta moderada correlação com a CCS e a CBT e, ainda, que este patógeno tem maior correlação com a CCS do que com a CBT (Figuras 1 e 2). 207 Figura 1. Correlação entre as contagens (em unidades logarítmicas) de células somáticas (CCS) e de Streptococcus agalactiae (R² = 0,41). Figura 2. Correlação entre as contagens (em unidades logarítmicas) bacteriana total (CBT) e de Streptococcus agalactiae (R² = 0,09). Zadoks et al. (2004) descreveram correlação entre a quantidade de vacas com Strep. agalactiae e a CBT, e concluíram que os estreptococos são os micro-organismos que mais contribuem para o aumento da CBT, em amostras do leite de tanque. Streptococcus agalactiae não tem a capacidade de se multiplicar em superfícies com acúmulo de matéria orgânica, como equipamentos de ordenha mal higienizados, ou em condições de deficiência no resfriamento do leite, por outro lado, têm alta capacidade de multiplicação na glândula mamária (Rysanek et al., 2007). No estágio inicial de infecção por Strep. agalactiae, uma vaca no pode eliminar mais de 100 x 106 bactérias/ml e, no leite de tanque, estas bactérias causam aumento significativo da CBT (Keefe, 1997). 208 PERFIL SOCIOECONÔMICO, ATITUDES E CONHECIMENTO DE PRODUTORES DE LEITE EM RELAÇÃO À MASTITE E À QUALIDADE DO LEITE A inserção de práticas de controle da mastite de forma eficiente em fazendas leiteiras é dependente do fator humano, do estilo de gestão do produtor e de como ele vai agir frente a diferentes formas de tratamento e prevenção de mastite (Jansen et al., 2009). Com relação à mastite, ainda existem lacunas quanto ao nível de conhecimento dos produtores de leite (Mcleod, 2008). Jansen et al. (2009) e Jansen et al. (2010) avaliaram como as atitudes específicas e os conhecimentos dos produtores interferem na CCS de rebanhos leiteiros, bem como sua relação com a incidência de mastite dentro ou fora de programas de controle. Jansen et al. (2009), em estudo realizado com rebanhos leiteiros na Holanda, relataram que o comportamento e atitudes dos produtores explicaram juntos 48% da variação na contagem de células somáticas do leite de tanque, 31% da incidência de mastite clínica e 23% da incidência de mastite subclínica. Em outro estudo, Jansen et al. (2010), com o objetivo de avaliar os efeitos da implantação de um programa nacional de controle da mastite sobre as atitudes, o comportamento e os conhecimentos dos produtores com relação à mastite, concluíram que houve diminuição de CCS no leite de tanque associada às mudanças nas percepções e determinadas práticas de manejo utilizadas pelos produtores. Apesar de estudos anteriores Jansen et al., (2009, 2010) terem relacionado atitudes e conhecimentos à CCS e à incidência de mastite em rebanhos com e sem a implantação de programas de controle da doença, há escassez de estudos que avaliam o conhecimento técnico e as opiniões dos produtores de leite sobre as causas, prejuízos e medidas de controle da mastite bovina em programas de pagamento por qualidade do leite. Este tipo de avaliação pode ser utilizado como um referencial de mudanças no conhecimento e sensibilização dos produtores frente a novos conceitos para controle e prevenção da mastite (Mcleod, 2008). Com os objetivos de avaliar a associação os conhecimentos técnicos dos produtores de leite sobre mastite e qualidade do leite e a ocorrência de mastite subclínica, 63 produtores localizados na região Sul de Minas Gerais e Oeste de São Paulo, e inseridos em programas de pagamento de leite por qualidade, foram visitados para aplicação de questionários com perguntas sobre mastite e qualidade do leite e, ainda, sobre as características socioeconômicas da propriedade e do entrevistado. Foram coletadas amostras de leite durante dois meses (agosto e setembro de 2011), uma vez por semana, para a realização de análises de CCS. Após a realização das análises, as propriedades foram organizadas para compor três grupos: a) baixa CCS: CCS < 250.000 céls/ml(n = 16); b) média CCS: entre 209 250.000 e 400.000 céls/ml (n = 24); c) alta CCS: > 400.000 céls/ml(n = 23). Os questionários previamente formulados com base em Olival et al. (2004); Jansen et al. (2009) e Oinara et al. (2009), adaptados para a região em estudo e testados por entrevista realizada em uma propriedade, e abordaram questões sobre os seguintes tópicos: a) socioeconômicas (8 questões que visaram estratificar os produtores com relação a sua renda, volume de produção e outros critérios); b) conhecimentos a respeito de células somáticas, contagem bacteriana e mastite (17 questões sobre controle, prevenção e tratamento); c) comportamentos dos produtores com relação a práticas de prevenção da mastite, higiene de ordenha e equipamentos (5 questões). Foram observadas associações entre a ordem de importância do leite como atividade remunerada na propriedade, o tipo de ordenha utilizado na propriedade, o conhecimento das exigências legais de CCS e CBT e o uso de métodos para detecção de mastite e a CCS (Tabela 2). Tabela 2. Características dos produtores e das propriedades estratificadas pela contagem de células somáticas (≤250.000 céls/mL, 250.000 ≤ 400.000, > 400.000). No presente estudo, a maior parte dos produtores com CCS até 400 x 103 tinham a pecuária leiteira como principal atividade remunerada, contra menos de 50% dos produtores com CCS > 400 x 103. Além disso, o leite tendeu 210 a ser a principal atividade para mais de 80% dos entrevistados do grupo com CCS até 400 x 103, em comparação com o grupo >400.000 céls/ml (47,8%). Estes resultados são diferentes dos encontrados por Oinara et al. (2009), que avaliaram 54 produtores quanto às percepções de qualidade, tomando como base os padrões da Instrução Normativa 51 do MAPA, e verificaram que a produção de leite foi a principal atividade em apenas 11,1% das propriedades estudadas. Para estes autores, apesar da ausência de avaliações dos critérios de qualidade do leite (principalmente CCS e CBT), o fato da produção de leite não ser a principal atividade na propriedade faz com que os produtores dediquem maior parte do seu tempo a outros afazeres e deixem de realizar práticas simples que não envolvem grande dispêndio de tempo e dinheiro, como hábitos de higiene pessoal e a eliminação dos primeiros jatos de leite. Segundo Botaro et al. (2013), existe associação entre a adoção de programas de pagamento por qualidade do leite e a redução tanto da CCS quanto da CBT no leite de tanque e, ainda, que o estabelecimento de um programa de qualidade desempenha papel fundamental na motivação de produtores de leite para concentrar seus esforços em práticas de gestão e controle da mastite. A maior parte (95%) dos produtores avaliados utilizava ordenha mecanizada, resultados diferentes dos descritos por Souza et al. (2005) que descreveram apenas metade dos rebanhos com ordenha mecanizada, na Zona da Mata Mineira, e com os de Barbosa et al. (2009), que descreveram 71% dos rebanhos com ordenha manual, na região do triângulo Mineiro. Além disso, todos os produtores avaliados com ordenha manual apresentaram CCS abaixo de 400.000 céls/ml, resultados que corroboram com os descritos por Barbosa et al. (2009) que observaram efeito do tipo de ordenha sobre a incidência de mastite. Por estar em contato direto com os tetos da vaca no momento de extração do leite, o equipamento de ordenha pode ser um fator de risco em potencial para a ocorrência de novas infecções intramamárias e este risco aumenta com deficiências na manutenção e uso inadequado destes equipamentos (Mein et al., 2004). Com relação ao conhecimento sobre os limites legais dos principais critérios de qualidade do leite, foi observado que a maior parte dos entrevistados com conhecimento das exigências para CCS e CBT eram responsáveis pelos rebanhos com maiores CCS (>400.000 céls/ml), sendo seguidos pelos responsáveis pelos rebanhos com CCS entre 250 e 400.000 céls/ ml e na sequência aqueles com menor CCS (<250.000 céls/ ml). Um fator que pode ter colaborado para a maior busca de conhecimentos sobre os limites legais de CCS e CBT, por parte dos responsáveis pelas propriedades com maior CCS, é a penalização recebida pelo leite entregue com CCS acima de 600.000 céls/ ml, limite que coincide com o da atual legislação vigente na região estudada. Desta forma, o conhecimento das exigências legais não garante 211 que atitudes sejam tomadas para reduzir a CCS. Além disso, a penalização recebida pelo litro de leite entregue com CCS acima de 600.000 céls/ml (CCS entre 600.000 e 750.000 céls/ml - R$ 0,010 /L e acima de 750.001 céls/ml R$ 0,020 /L), possivelmente não foi suficiente para estimular os responsáveis pelos rebanhos a implantar medidas para reduzir a CCS. Segundo Jansen et al. (2009), a variação de CCS do leite de tanque pode ser explicada pela formação de um quadro normativo como referência para mastite, pelas percepções dos produtores sobre a eficácia do controle de mastite e pela percepção dos efeitos da penalidade recebida pela CCS. O CMT (California Mastitis Test), método desenvolvido por Schalm et al. (1957), é uma maneira prática de se estimar de forma indireta a CCS do leite, cujo princípio consiste na interação de ácidos nucléicos com detergente lipolítico formando-se uma solução viscosa. No presente estudo, o uso do CMT foi 22,9% maior no grupo de produtores com CCS <250.000 céls/ml quando comparado com o grupo com CCS entre 250.000 e 400.000 céls/ml, e 33,9% maior do que no grupo de produtores com CCS acima de 400.000 céls/ml. No entanto, não foram observadas diferenças para o teste de CCS individual entre os três grupos avaliados. Tanto o CMT quanto a CCS são utilizados para detecção da mastite subclínica, porém, o CMT é um método indireto que tem a facilidade de ser realizado ao pé da vaca, é prático, tem baixo custo de resultado imediato, e a CCS tem maior custo e, devido à necessidade de envio das amostras ao laboratório, o resultado não é imediato. Independentemente de qual método foi utilizado, os resultados do presente estudo indicam que a falta de diagnóstico está associado com aumento de CCS no leite de tanque. Estes resultados diferem dos observados por Oliveira et al. (2011) que descreveram apenas 2% dos produtores com o uso de CMT, e não observaram alterações na CCS pelo uso do CMT, ao avaliar 50 rebanhos na Paraíba. Nero et al. (2009), ao relacionar práticas de manejo com a qualidade microbiológica do leite, observaram que 68,3% dos produtores não realizavam o CMT como teste de triagem para a detecção de mastite subclínica. A utilização do CMT permite a detecção da mastite subclínica, o que é fundamental para a tomada de decisões quanto a prevenção e o tratamento da mastite, apesar disso, no presente estudo não houve diferença com relação às outras medidas de prevenção para esta doença, entre os três grupos avaliados. PRÁTICAS DE MANEJO ASSOCIADAS À QUALIDADE HIGIÊNICA DO LEITE CRU EM REBANHOS LEITEIROS A contaminação bacteriana do leite pode ocorrer por três principais vias: superfície externa dos tetos e úberes, superfície dos equipamentos de ordenha e contaminação por micro-organismos causadores de mastite (Elmoslemany et al., 2010). A análise periódica do leite de tanque tem sido 212 utilizada há mais de três décadas para monitorar a qualidade do leite e o estado sanitário da glândula mamária, bem como para identificar possíveis fontes de contaminação (Jayarao; Wolfgang, 2003). Dentre as análises microbiológicas utilizadas no leite de tanque destacam-se: a contagem bacteriana total (CBT) - que estima o número total de colônias de bactérias aeróbias presentes no leite; a contagem com incubação preliminar (CIP) - utilizada para estimar o grupo de bactérias psicrotróficas; a contagem do leite pasteurizado (CLP) - que quantifica o grupo de bactérias termodúricas; e a contagem de coliformes (CC) - indicador de contaminação fecal (Bava et al., 2011). Estudos anteriores realizados por Elmoslemany et al. (2009a,b, 2010); Kelly et al. (2009); Nero et al. (2009); Bava et al. (2011) e Oliveira et al. (2011) avaliaram a relação entre as práticas de manejo e a qualidade do leite de tanque. Kelly et al. (2009) relataram que práticas de manejo como a utilização de água quente na sala de ordenha, o corte de pelos da cauda ao menos uma vez por ano e a limpeza frequente da sala de ordenha foram altamente associadas com a baixa contagem bacteriana, em rebanhos irlandeses mantidos a pasto. Elmoslemany et al (2009a,b) avaliaram os fatores de risco associados à alta CBT, CIP, CLP, e CC, na Ilha de príncipe Edward, Canadá. Elmoslemany et al. (2009a) identificaram a inadequada limpeza da extremidade dos tetos e a alta concentração da solução de detergente alcalino (>500 ppm), utilizada para limpeza dos equipamentos, como fatores de risco para a alta contagem bacteriana. A identificação de fatores de riscos específicos para a alta CBT, CIP, CLP e CC foi realizada por Elmoslemany et al. (2009b), na qual a alta CBT e CIP foram associados à limpeza dos tetos e à ausência de desinfetante pré-ordenha. A alta CLP e CC foram associadas à baixa temperatura da água de limpeza dos equipamentos de ordenha, com a dureza da água, e com a alta concentração da solução detergente alcalino. No Brasil, Nero et al. (2009) avaliaram a relação entre práticas higiênicas de ordenha e a qualidade higiênica do leite e relataram que a refrigeração do leite até 7º C foi o principal procedimento para manter baixa a CBT, em estudo conduzido na região de Viçosa (Minas Gerais). Oliveira et al. (2011) identificaram a ausência de desinfetante pré e pós-ordenha como potenciais fatores de risco para a alta contaminação do leite de tanque por bactérias mesófilas e Staphylococcus aureus, ao avaliarem rebanhos no estado da Paraíba. Embora estudos anteriores de Nero et al. (2009) e Oliveira et al. (2011) tenham avaliado práticas de manejo como fatores de risco para a qualidade do leite cru no Brasil, são escassos os estudos sobre práticas de manejo associadas com a qualidade do leite cru em rebanhos submetidos a programas de pagamento do leite por qualidade. Desta forma, Cortinhas (2013) realizou um estudo com os objetivos de identificar e analisar práticas de manejo associadas à contagem bacteriana do leite de tanque em rebanhos 213 submetidos a programas de pagamento por qualidade do leite no Sul de Minas Gerais e Oeste de São Paulo. Foram selecionados 120 produtores de leite, de acordo com a média geométrica da contagem bacteriana total (CBT) de dez amostras de leite coletadas em dez semanas consecutivas, para compor dois grupos: 60 produtores com alta CBT (1,1x104 UFC/ml) e 60 produtores com baixa CBT (4,4x103 UFC/ml). Oito amostras de leite do tanque de expansão de cada produtor foram coletadas durante dois meses, uma vez por semana, para a realização das análises de CBT, contagem do leite com incubação preliminar (CIP), contagem do leite pasteurizado (CLP), contagem de coliformes (CC), contagem de células somáticas (CCS) e concentrações de gordura, proteína e sólidos totais. Após a realização das analises laboratoriais, 63 produtores foram visitados para aplicação dos questionários sobre: a) aspectos gerais de manejo da fazenda; b) manejo de ordenha; c) procedimentos de limpeza de equipamento de ordenha e utensílios; d) controle da mastite; e) condições de limpeza da vaca. Durante as visitas, foi avaliada a adequação dos procedimentos de limpeza pela presença de filmes orgânicos em 4 diferentes pontos do equipamento de ordenha (teteira, unidade final ou balde ao pé, copo coletor da teteira e na saída do tanque de expansão) pela metodologia de bioluminescência de ATP (3M™ Clean-Trace™ Surface ATP), e a dureza da água pelo método titulométrico de complexação do EDTA. Para as análises estatísticas foram formados dois grupos em relação à CBT, CIP, CLP e CC (oito análises realizadas durante os meses de agosto e setembro): grupo com alta CBT (n=28), produtores com mais de quatro análises com valores de CBT > 1,0 x 104 UFC/mL, e grupo baixa CBT (n=35), produtores com quatro análises ou menos com valores CBT < 1,0 x 104 UFC/ml (Jayarao; Wolfgang, 2003); grupo com alta CIP (n=38), produtores com mais de quatro análises com valores de CIP > 50.000 UFC/ml, e grupo baixa CIP (n=25), produtores com quatro análises ou menos com valores CIP < 50.000 UFC/ml (Jayarao; Wolfgang, 2003); grupo com alta CLP (n=32), produtores com quatro análises ou mais com valores de CLP > 200 UFC/ml, e grupo baixa CLP (n=31), produtores com menos de quatro análises valores CLP < 200 UFC/ml (Jayarao; Wolfgang, 2003); grupo com alta CC (n=26), produtores com mais de quatro análises com CC > 50 UFC/ml, e baixa CC (n=37), produtores com valores de CC < 50 UFC/ml (Jayarao; Wolfgang, 2003) em quatro análises ou menos. O uso de desinfecção de tetos pré e pós-ordenha e a utilização do bezerro ao pé da vaca no momento da ordenha, para facilitar a extração do leite, foram práticas associadas à CBT. Com relação à presença de material orgânico no equipamento de ordenha após a limpeza, foi identificada diferença na quantidade de filme orgânico (ATP) na válvula de saída do tanque de expansão (Tabela 2). 214 A frequência de uso de desinfecção de tetos pré-ordenha foi 21,4% maior no grupo de produtores com baixa CBT do que no grupo com alta CBT. A utilização de desinfetantes de tetos pré-ordenha é uma prática de manejo utilizada com os objetivos principais de reduzir a contaminação bacteriana nos tetos, imediatamente antes da ordenha, e de reduzir o risco de mastite por bactérias ambientais (Jayarao et al., 2004). Os resultados deste estudo corroboram com os relatados por Jayarao et al. (2004) e Elmoslemany et al. (2009a) que descreveram relação entre a falta de uso do desinfetante de tetos pré-ordenha e a alta contagem de bactérias aeróbias totais. No Brasil, em estudo realizado na região nordeste da Paraíba, Oliveira et al. (2011) descreveram que apenas 32% das propriedades avaliadas utilizaram o desinfetante e que esta prática não estava associada à alta CBT; estes autores atribuíram a ausência de alguns efeitos ao reduzido número de rebanhos analisados (50) e reduzida variação entre eles. Adicionalmente, o uso de desinfecção de tetos pós-ordenha foi 35% maior no grupo de produtores com baixa CBT do que no grupo de produtores com alta CBT. O desinfetante de tetos pós-ordenha tem sido utilizado com o objetivo principal de prevenção de novos casos de mastite causada por microorganismos contagiosos, por reduzir e eliminar micro-organismos presentes na pele e orifício dos tetos após a ordenha (Wesen; Schultz, 1970). Segundo Zadoks et al. (2004), um dos fatores que podem contribuir para a alta CBT é a ocorrência de mastite, visto que espécies como Streptococcus agalactiae são altamente correlacionadas com a alta CBT. Os resultados do presente estudo corroboram com os relatados por Oliveira et al. (2011) que descreveram associação entre o uso de desinfetante de tetos pós-ordenha e a baixa CBT, pelo o teste exato de Fisher. A presença de bezerro ao pé da vaca durante a ordenha é prática utilizada para estimular a produção de ocitocina endógena, hormônio que estimula a ejeção do leite, comum em rebanhos com vacas mestiças provenientes do cruzamento da raça Holandesa com raças zebuínas (Araújo et al., 2012). Esta prática tem como inconvenientes o aumento da mão de obra, necessidade de adaptação da sala de ordenha (em caso de ordenha mecânica) e pode dificultar a execução de práticas higiênicas, tais ordenhar tetos limpos e secos (Brito et al., 2000; Araújo et al., 2012) Em estudo realizado por Brito et al. (2000), , foi observado que a mamada do bezerro aumentou em mais de dez vezes a carga microbiana na superfície dos tetos, mas que esta contaminação foi reduzida em 90% após o uso do desinfetante de tetos pré-ordenha. Segundo Jayarao e Wolfgand (2003) a alta CBT pode estar relacionada ao preparo ineficiente do úbere e tetos para a ordenha. Cortinhas (2013) observou associação entre a utilização do bezerro ao pé da vaca na ordenha e a CBT, na qual o número de produtores que faziam uso do bezerro ao pé da vaca foi maior no grupo de 215 produtores com alta CBT. De forma contrária, outros autores não observaram diferenças na associação entre a CBT e a presença do bezerro ao pé da vaca durante a ordenha (Araújo et al., 2012). Além das práticas de manejo avaliadas, o pH, a dureza, a temperatura e a quantidade de água utilizada para a limpeza dos equipamentos de ordenha, a utilização de detergentes apropriados, o bom funcionamento dos equipamentos com um sistema de turbilhonamento eficiente, são fatores que interferem na limpeza dos equipamentos de ordenha e que podem estar associados à alta CBT. Com os objetivos de avaliar a efetividade da limpeza dos equipamentos de ordenha utilizados, Cortinhas (2013) realizou a técnica da bioluminescência do ATP, cujo princípio é a conversão da energia química associada ao ATP pelo complexo de enzima-substrato em luz, em uma reação estequiométrica (MacLeod et al., 2001). Segundo Wu et al. (2011), a bioluminescência do ATP apresenta um tempo de resposta rápido, pode ser realizada em cinco minutos e é adequada para o monitoramento da higiene em programas de qualidade na indústria. Neste estudo, a quantidade de material orgânico na válvula de saída do tanque de expansão do grupo de produtores com alta CBT foi 6,9 vezes maior do que a do grupo de produtores com baixa CBT. Elmoslemany et al. (2009a) identificaram a quantidade de matéria orgânica presente no início e no final da linha do leite, obtida pelo método de ATP bioluminescência, como fatores associados à alta CBT. A metodologia de bioluminêscencia detecta não só a contaminação bacteriana como também e contaminação não bacteriana, por exemplo, o leite residual ou outro tipo de material orgânico, por este motivo, a bioluminescência é um método sensível na detecção da eficácia da limpeza dos equipamentos de ordenha (Vilar et al., 2008). Tabela 3. Frequências das variáveis qualitativas relacionadas aos procedimentos de manejo de ordenha e quantidade de filme orgânico (média geométrica de ATP) na saída do tanque de expansão nos produtores dos grupos de alta e baixa contagem bacteriana total (CBT). 216 A utilização do bezerro ao pé da vaca no momento da ordenha e o uso de desinfetantes de tetos pós-ordenha, foram práticas associadas à CIP. Da mesma forma com que ocorreu para a CBT, a utilização de desinfecção de tetos pós-ordenha foi maior (28,8%) no grupo com baixa CIP, quando comparado ao grupo com alta CIP. Quanto ao uso de desinfetante pré-ordenha, no presente estudo não foram observadas diferenças na frequência de utilização desta prática entre os dois grupos, no entanto, o uso de desinfetante de tetos pré-ordenha tendeu a ser maior (15,8%) para grupo de produtores com baixa CIP. Os resultados do presente estudo corroboram com os de Jayarao et al. (2004) que descrevem que o uso de desinfetantes de tetos pré e pós-ordenha reduzem tanto a CBT quanto a CIP. De forma similar ao observado com a CBT, o uso do bezerro ao pé da vaca no momento da ordenha foi maior no grupo de produtores com alta CIP, e a frequência de produtores com sistema de ordenha mecânica canalizada tendeu a ser maior no grupo com baixa CIP. A utilização de um sistema de ordenha mecânica tem como objetivos reduzir a mão de obra e o tempo de ordenha, mas não implica necessariamente em produção de leite com melhor qualidade, mas sim em mais um possível fator de contaminação microbiana (Guerreiro et al., 2005). Os resultados do presente estudo diferem dos descritos por Guerreiro et al. (2005) que, ao avaliar a influência da adoção de diferentes técnicas profiláticas de higiene e limpeza sobre a CIP, descreveram resultado inicial onze vezes maior em propriedades com ordenha mecânica do que em propriedades com ordenha manual. Tabela 4. Frequências das variáveis qualitativas relacionadas aos procedimentos de manejo de ordenha dos produtores dos grupos de alta e baixa contagem bacteriana do leite com incubação preliminar (CIP). A utilização do bezerro ao pé da vaca no momento da ordenha foi a única prática de manejo associada a CC, também foi identificada diferença na quantidade de filme orgânico (ATP) na válvula de saída do tanque de expansão (Tabela 6). A CC gera informações sobre o nível de contaminação por meio da matéria orgânica, que ocorre principalmente a partir do contato com o exterior do úbere e tetos dos animais e equipamentos de ordenha mal higienizados e de ocorrência de mastite por coliformes (Edmondson, 2005). Neste contexto, a prática de ordenha com o bezerro ao pé da vaca pode dificultar a execução de práticas de higiene pré-ordenha e resultar em contaminação por matéria 217 orgânica proveniente do úbere e tetos e, consequentemente, resulta em CC mais elevada. Cortinhas (2013) observaram que a frequência de produtores que ordenharam com o bezerro ao pé da vaca foi 28% maior no grupo de produtores com alta CC, quando comparado com o grupo com baixa CC. Fatores relacionados com a limpeza dos equipamentos de ordenha, como a dureza da água, alcalinidade e temperatura da solução de limpeza foram descritos por Elmoslemany et al. (2009b). Estes autores também avaliaram a quantidade de filme orgânico (ATP) nos equipamentos de ordenha após os procedimentos de limpeza, e concluíram que a válvula de saída do tanque de expansão é uma das maiores fontes de contaminação para o leite de tanque. Os resultados do presente estudo corroboram com os de Elmoslemany et al. (2009) que descreveram associação tanto da CC quanto da CBT e da CIP com a quantidade de ATP (bioluminescência) na válvula de saída do tanque de expansão. Tabela 5. Frequência da variável qualitativa relacionada ao procedimento de manejo de ordenha e quantidade de filme orgânico (média geométrica de ATP) na saída do tanque de expansão nos produtores dos grupos de alta e baixa contagem de coliformes (CC). Não foram observadas associações entre as práticas de manejo avaliadas e a CLP. CONSIDERAÇÕES FINAIS A avaliação periódica do leite de tanque aliada à adoção de boas práticas de manejo são fundamentais para a produção de leite de boa qualidade. Além disso, para a produção de leite com boa qualidade é necessário que produtores e funcionários tenham conhecimento sobre os principais microorganismos causadores de mastite as alterações que estes micro-organismos causam na CCS e composição do leite assim como diferentes formas de tratamento e prevenção da mastite causada por estes micro-organismos. AGRADECIMENTOS À FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo pelo auxílio financeiro. Aos técnicos do laboratório Qualileite FMVZ-USP que auxiliaram nas análises laboratoriais realizadas. Ao laticínio colaborador e aos 218 produtores de leite que participaram deste projeto. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AKERS, R. M.; NICKERSON, S. Mastitis and its Impact on Structure and Function in the Ruminant Mammary Gland. Journal of Mammary Gland Biology and Neoplasia, v. 16, n. 4, p. 275-289, 2011. ÅKERSTEDT, M.; WREDLE, E.; LAM, V.; JOHANSSON, M. Protein degradation in bovine milk caused by Streptococcus agalactiae. Journal of Dairy Research, v. 79, n. 3, p. 297-303, 2012. AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION. Standard Methods for the Examination of Dairy Products. Microbiological Count Methods. APHA, p. 153, 2004. ARAÚJO, W. A. G.; CARVALHO, C. G. V.; MARCONDES, M. I.; SACRAMENTO, J. R.; PAULINO, P. V. R. Ocitocina exógena e a presença do bezerro sobre a produção e qualidade do leite de vacas mestiças. 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As demandas de aminoácidos nas dietas de animais selecionados para máxima deposição proteica também foram modificadas e a busca por precocidade aliada a necessidade de carcaças mais magras aumentaram o interesse por estudos sobre ações mais amplas dos aminoácidos. As diferenças nutricionais apresentadas por animais, em suas diferentes etapas do desenvolvimento, ocorrem devido à disparidade entre as taxas de crescimento e eficiência alimentar. Em alguns casos, estímulos induzidos ao sistema imunológico implicam no aumento das concentrações de proteína de fase aguda. Tal indução, normalmente, imposta por alguma adversidade, faz com que alguns aminoácidos sejam direcionados, em parte, para o sistema imune, desencadeando uma série de reações metabólicas. Assim, pode-se identificar a degradação proteica, proveniente, de catabolismo muscular, aumentando-se o transporte de glicose e processos anabólicos nos hepatócitos. A presente revisão aborda aspectos relacionados ao metabolismo, nutrição e funções dos aminoácidos nas diferentes fases de vida dos suínos. INTRODUÇÃO Mamíferos jovens, incluindo leitões, requerem alta quantidade de aminoácidos (AA) na dieta, devido à correspondente demanda de nitrogênio dos tecidos e a alta deposição proteica nessa fase. A alta demanda de aminoácidos aliada ao baixo consumo, principalmente após o desmame, pode contribuir para as disfunções intestinais e debilitar o sistema imune, em detrimento à saúde e crescimento dos animais. A formulação de dietas com proteína de alta digestibilidade e elevado valor biológico previnem distúrbios no trato digestório e consequentes transtornos metabólicos que podem ter implicações nas fases subsequentes de vida dos suínos. 224 Concentrações ideais de aminoácidos e seus metabólitos (óxido nítrico, poliaminas, glutationa, taurina, hormônios tiroidianos e serotonina) na dieta, garantem a homeostase celular e mantém ativa todas as funções fisiológicas. No entanto, níveis elevados de aminoácidos e seus subprodutos (amônia, homocisteina...) podem ser patogênicos e causar desordens neurológicas, estresse oxidativo e doenças cardiovasculares (Wu, 2009). Diante disso, para garantir a homeostase entre órgãos e tecidos faz-se necessário um estudo mais abrangente da necessidade aminoacidica em dietas de suínos sob diferentes situações de criação. CRESCIMENTO DA FIBRA MUSCULAR Após o nascimento, leitões tem seu crescimento muscular aumentado pelo processo de hipertrofia (Samuelson, 2007), principalmente pela deposição de proteínas através da proliferação e fusão das células satélites às células musculares. Durante o crescimento, o ganho de músculo esquelético é de 36 a 46% do peso total do animal. O que determina esta eficiência são os fatores genéticos, nutricionais e a capacidade de sintetizar proteína muscular (Witte et al., 2000), ao contrário das células adiposas que não são previamente estabelecidas, sendo continuamente formadas durante a fase de crescimento (Mersmann, 2002). De acordo com a idade e maturidade do animal, a velocidade de crescimento dos diferentes tecidos do corpo é variável (Gomes et al., 2007). Após a deposição do tecido nervoso e ósseo, ocorre a deposição de tecido muscular e por último do tecido adiposo. Ao fim da puberdade, a taxa de crescimento torna-se linear, pois os hormônios do crescimento são substituídos pelos hormônios da reprodução e então o ganho de peso ocorre pela maior deposição de gordura (Lawrence & Fowler, 1998). Suínos com alta deposição de gordura apresentaram menor número de fibras musculares, indicandose que a deposição de gordura parece estar inversamente relacionada ao número total de fibras musculares. Segundo Puolanne et al. (1993), animais selecionados para máxima deposição proteica apresentam maior diâmetro de fibras musculares que animais inferiores e o crescimento é resultante da progressiva deposição de nutrientes e seus metabólitos, o que inicia desde a concepção e vai até a maturidade. O conhecimento da composição corporal dos diferentes genótipos suínos permite desenvolver e simular curvas de crescimento em diferentes grupos, possibilitando demonstrar a eficiência biológica em diversas condições de alimentação, ambiente e manejo (Lanna, 1995). Para maior entendimento da taxa global de crescimento do tecido magro é importante estudar os desvios no crescimento corporal e compreender suas causas (Hall et al., 1999). 225 DEPOSIÇÃO PROTEICA A deposição de tecido magro durante o crescimento dos leitões exige taxa de síntese acima do nível mínimo para manutenção, normalmente, isso é acompanhado pelo aumento no turnover proteico (Cabral et al., 2012). Assim, o crescimento muscular ocorre quando a taxa de síntese excede a taxa de degradação (Buttery, 1981). No processo de substituição (ciclo contínuo de síntese, degradação e ressíntese do metabolismo da proteína), a proteína muscular é a mais útil para explicar as necessidades do animal durante o crescimento. No entanto, a demanda dietética de proteína se baseia na exigência de energia metabolizável e as taxas de deposição proteica e de energia dependem da disponibilidade de nutrientes na dieta (Vargas et al., 2005). Reeds et al. (1980), estudaram a relação entre a deposição e síntese de proteína muscular e sugeriram que ambas são alteradas pela variação na ingestão diária de alimentos. Observaram que sob peso corporal fixo, cada unidade de aumento na deposição de proteína está associada com o aumento de 2,17% na síntese de proteína e, presumivelmente, um aumento de 1,17% na degradação de proteína corporal. Assim, existe relação fixa entre a síntese proteica e o peso metabólico. Se essa constância for assumida e a taxa de síntese para suínos de 30 kg for aplicada para animais de maior peso corporal, então, depois de atendidas as exigências de manutenção, a relação deposição: síntese cairia para 0,36 em 60 kg e 0,31 em 90 kg em comparação com o valor de 0,46 para 30 kg de peso corporal. Dentre os genótipos existentes, a ingestão voluntária dos animais se apresenta muito variável e, usualmente, animais de genótipos não melhorados apresentam consumo de energia acima de suas necessidades para máxima deposição proteica, tendendo a maior adiposidade; situação contrária dos animais de genótipos selecionados (Hall et al., 1999). Kim et al. (2000) demonstraram que existe diferenças na taxa de crescimento e eficiência alimentar entre os suínos com alta e baixa deposição de proteína e que essa eficiência torna-se mais evidente depois da fase de crescimento. Os suínos com alta taxa de deposição proteica têm maiores consumo e ganho de peso médio diário. De acordo com Mcphee et al. (1991), a máxima deposição de tecido magro é reflexo da seleção genética associada a ajustes nos níveis de energia e lisina. DEPOSIÇÃO PROTEICA x SEXO Visto a maior aptidão do macho inteiro para a deposição de tecido magro, comparado a fêmea e o macho castrado, constatou-se que as mudanças fisiológicas e hormonais relacionadas ao sexo são determinantes na exigência e aproveitamento da energia para mantença, retenção de proteína e gordura na carcaça (Mascarenhas et al., 2002). Entretanto, os efeitos de sexo parecem 226 ser mais evidentes depois da primeira fase de crescimento (Urynek & Burackzewska, 2003). Na regulação do crescimento dos suínos há a participação de um complexo hormonal, dentre os quais: hormônios da tireóide, glicocorticóides, adrenalina, fatores de crescimento ligados à insulina (IGF 1 e 2), andrógenos, estrógenos, etc. Os andrógenos e estrógenos exercem seus efeitos anabólicos por diferentes mecanismos. Os receptores específicos para andrógenos estão presentes no tecido muscular, enquanto as ações dos estrógenos são se relacionam ao estímulo na liberação do hormônio de crescimento e a fatores de crescimento ligados à insulina. Muitos dos hormônios envolvidos na promoção do crescimento são estimulados e mediados por IGFs, representando assim, a principal influência hormonal sobre o ganho de peso diário do tecido muscular e adiposo (Brumano & Gattás, 2009). A maior taxa de deposição proteica vista nos machos inteiros, corresponde a produção de carcaças mais magras e com maior concentração de proteína do que as fêmeas e machos castrados. Desta forma, a maior necessidade energética desses animais se explica com o aumento da retenção de N, uma vez que a síntese de proteína é menos eficiente que a síntese de gordura (Mascarenhas et al., 2002). Em trabalho realizado por Cromwell et al. (1993), machos castrados ganharam mais peso do que as fêmeas, no entanto, fêmeas consumiram menos alimento por unidade de ganho, apresentaram maior área de olho de lombo, menor espessura de toucinho e maior percentagem de músculo na carcaça do que machos castrados. Algumas divergências vistas entre as tabelas de formulação de dietas para animais de diferentes sexos ocorrem devido à disparidade entre as taxas de crescimento e eficiência alimentar (Webb, 2003). Lanna (1995) relatou que abaixo dos 45 kg de peso vivo não é preciso manejar diferenças entre sexos, mas acima desse peso é necessário considerar a superioridade dos machos inteiros em relação às fêmeas. PERFIL GERAL DOS AMINOÁCIDOS O uso de aminoácidos nas diferentes fases de vida dos suínos está relacionado à velocidade com que os mesmos são absorvidos durante o processo de digestão dos alimentos. De acordo com Moreira et al. (2002), as exigências de aminoácidos nas dietas destes animais se comportam como função quadrática, conforme aumenta o peso metabólico (kg0,75). Segundo Waterlow (2006), o processo de síntese das proteínas é por excelência um processo não aleatório, uma vez que os aminoácidos são selecionados para síntese, pelo código genético. O pool de aminoácidos livres é o elo entre o ambiente e as proteínas dos tecidos. Entre os aminoácidos utilizados na síntese de proteínas, pelo menos 60% são originados a partir da degradação de 227 proteínas corpóreas e o restante é fornecido através da dieta. Todo excesso de aminoácido da dieta é catabolizado para gerar energia (Moughan, 1994). Os aminoácidos na forma de di e tripeptídeos apresentam maiores taxas de absorção, pois seus sítios absortivos se diferem em característica e número quando comparados aos aminoácidos na forma livre. Sendo assim, se grandes quantidades de aminoácidos livres forem adicionadas à dieta, pode haver um prejuízo na absorção intestinal (Webb, 1990). A competição pelos sítios de absorção promovida pelos aminoácidos na forma livre pode fazer com que outros aminoácidos essenciais tornem-se limitantes, mesmo presentes em quantidades adequadas na dieta (De La Llata et al., 2002). Existe, portanto, uma relação ideal entre proteína bruta e níveis de inclusão de aminoácidos na dieta. De acordo com o NRC (1998), o uso dos aminoácidos nos sítios celulares de síntese proteica é o que determina às exigências dos diferentes nutrientes. Em revisão realizada por Beterchini (2006), o perfil de alguns aminoácidos pode ser alterado em função da fase de desenvolvimento dos animais. Essa alteração se deve especialmente a diferença existente entre as necessidades dos aminoácidos para mantença e biossíntese de tecido magro. A metionina e a treonina apresentam maiores exigências na mantença em relação à síntese proteica, sendo o inverso com a isoleucina, leucina e valina (NRC, 1998). Deste modo, com o crescimento, os animais aumentam as necessidades de mantença, refletindo em aumento das exigências de metionina e treonina, em relação à lisina. A eficiência da utilização da proteína bruta pelos suínos depende do equilíbrio e da disponibilidade de aminoácidos que compõem a mesma, e especificamente, a eficiência de utilização da lisina (Gasparotto et al., 2001). Tem-se observado que a eficiência da utilização deste aminoácido diminui quando a proporção dos outros aminoácidos essenciais também diminuiu. Sendo assim, é importante manter a proporção adequada de aminoácidos da dieta para assegurar a máxima deposição proteica e máximo crescimento muscular (Abreu et al., 2007). Reduzir os níveis de proteína total nas dietas também tem sido muito discutido em fóruns de nutrição, devido aos danos de ordem ambiental que o nitrogênio de empreendimentos suinícolas vem causando. PAPEL DE ALGUNS AMINOÁCIDOS LIMITANTES Como já tem sido amplamente estudado, os aminoácidos são unidades primordiais no crescimento e desenvolvimento dos diferentes órgãos e tecidos corporais. Alguns deles não podem ser sintetizados pelo organismo, e por isso são chamados de aminoácidos essenciais, enquanto outros podem ser sintetizados e ganham a denominação de aminoácidos não essenciais. Entretanto, um 228 mesmo aminoácido pode ser considerado essencial e não essencial dependendo das condições fisiológicas e de estresse a que os animais são submetidos. A habilidade dos aminoácidos em prevenir desordens metabólicas causadas por agentes estressores é que determina isso. A arginina e a glutamina são essenciais para quase todos os neonatos mamíferos, mas não essenciais para animais adultos; então, esses aminoácidos são considerados condicionalmente essenciais (Watford, 2011). Para os aminoácidos condicionalmente essenciais não se estabelece exigência nutricional fixa porque estas podem se modificar de acordo com a amplitude dos fatores que influenciam sua demanda (Ajinomoto, 2003). Considerado o primeiro aminoácido limitante em rações à base de milho e farelo de soja para suínos em crescimento, a lisina responde diretamente pelas respostas de desempenho e composição de carcaça. Isto se deve à sua alta constância na proteína corporal e seu destino metabólico preferencial para a deposição de tecido muscular. As exigências de lisina devem ser estabelecidas com base no ganho diário de proteína ou de tecido magro, pois existe uma dissociação importante entre o consumo de lisina e energia e seus efeitos sobre a deposição de proteína e lipídios. Dessa forma, o ajuste deste aminoácido na dieta é primordial para definir os padrões de alimentação dos leitões (Kessler, 1998). Como modelo para determinar as exigências de lisina para suínos, tem sido utilizada a curva sigmoide, que explica o ganho de peso em função da idade (figura 1). Fases de aceleração e desaceleração, unidas por um período de crescimento linear antecedem um platô à maturidade. A taxa de crescimento aumenta até cerca de 50 kg de peso corporal, se mantém praticamente entre 50 e 80 kg, passando a diminuir até próximo de zero quando o animal atinge o peso à maturidade. Este comportamento está relacionado à capacidade que o animal tem de depositar, principalmente proteína e gordura (De Lange et al., 2001). Com base em revisão de literatura, Xue et al. (1997) relataram que machos inteiros apresentam maiores exigências de proteína e lisina dietética, quando comparados a fêmeas e machos castrados. A exigência de lisina para fêmeas e machos castrados em g/dia está muito próxima, independente do peso (Rostagno et al., 2011). Porém a partir dos 30 kg, as fêmeas demandam maior percentagem de lisina que os machos castrados, possivelmente pela maior capacidade de consumo dos machos, o que demandaria maior quantidade de lisina por kg de ração para otimizar o acréscimo de proteína (Stahly et al., 1991). Suínos de linhagens selecionadas para máxima deposição proteica têm maior exigência de lisina disponível por kcal de energia metabolizável, comparados a linhagens inferiores. O genótipo não apenas afeta a capacidade de converter aminoácidos em massa magra, mas também influencia na eficiência com que o 229 animal atinge o platô de máxima deposição (Pupa et al., 2001). Figura 1. Ganho de peso corporal em função da idade (Whittemore, 1988). A partir da definição da exigência de lisina na dieta, são feitos os ajustes nos demais aminoácidos. Conforme citado anteriormente, aminoácidos mais limitantes, depois da lisina, podem variar de acordo com a fase e estado fisiológico dos animais. Desta forma, os próximos limitantes, não necessariamente nesta ordem, são: a treonina, metionina e o triptofano. A treonina apresenta-se pouco disponível em ingredientes convencionais, como o farelo de soja (Adeola et al., 1994). Exerce funções cruciais na síntese de proteína muscular e proteínas do leite, envolvendo-se em outras funções fisiológicas, como na digestão e imunidade. As secreções digestivas, como o muco, compostas principalmente de mucinas, que são glicoproteínas de alto peso molecular, são ricas em treonina. Da mesma forma, os anticorpos são glicoproteínas globulares que contêm alto nível de treonina, sendo, possivelmente, o primeiro aminoácido limitante na produção de imunoglobulinas G (Ajinomoto, 2003). Os teores de treonina necessários para a maior deposição de carne magra parecem ser superiores aos exigidos para maior taxa de ganho de peso (Rodrigues et al., 2001), de tal forma que as demandas para suínos desafiados podem ser superiores àquelas para máximo crescimento, visto que há maior porcentagem de treonina nas imunoproteínas do que em qualquer outra proteína. Determinar o melhor nível de treonina nas primeiras fases de vida dos leitões pode ser subjetivo em alguns casos, já que as principais fontes de referência para formulação de dietas têm disparidades nas informações fornecidas (Rostagno et al., 2011; NRC, 1998). A metionina é importante mediador em diversas funções metabólicas, sobretudo como “primer” na síntese proteica. É considerado um dos primeiros aminoácidos limitantes para aves e suínos em rações à base de milho e farelo de soja. Rações com déficit de metionina aumentam o catabolismo proteico 230 contribuindo para a deposição lipídica (Solberg et al., 1971). Na forma de S-adenosilmetionina, a metionina se torna importante doador de radicais metil, essencial para a biossíntese de substâncias importantes envolvidas no crescimento dos animais, como creatina, carnitina, poliaminas, epinefrina, colina e melatonina (Baker, 1991). Na célula, a metionina pode ser catabolizada à cistina, em um processo irreversível. Esse catabolismo, sob condições normais, tem função de remover o excesso de metionina do plasma e suprir a deficiência de cistina (Graber et al., 1971). Existem evidências na literatura que o ganho de peso de suínos ao final do período de creche, crescimento ou terminação é influenciado pelo peso corporal no início destas respectivas fases (Cole & Varley, 2000). Leitões recebendo dietas com baixa inclusão de metionina por quilo de ração (1,5g) na fase inicial de crescimento apresentam menor ganho de peso no período de 49 a 97 dias de idade comparados àqueles alimentados com alta metionina (2,3g), obtendo vantagem de 18 kg aos 97 dias de idade (Leibholz, 1984). Como já abordado anteriormente, alguns aminoácidos desempenham funções além da síntese proteica, como é o caso do triptofano, que além de ser indispensável no crescimento, desempenha importante função nas células de defesa e sistema imune. Este aminoácido tem em seus metabólitos os principais produtos envolvidos na regulação do consumo e do estresse (Henry et al., 1992). É precursor da serotonina, ácido nicotínico e melatonina. Estudos relatam que a serotonina é um metabólito importante na regulação do apetite. Este aminoácido estimula a produção do hormônio grelina no plasma e sua expressão no duodeno e estômago, ocasionando um aumento no consumo de ração (Zhang et al., 2006). Em processos inflamatórios, a exigência de triptofano aumenta, visto sua importância como intermediário no sistema de defesa do organismo. Duas hipóteses podem ser consideradas: a primeira é que o aumento do catabolismo do triptofano seja induzido pelas citocinas, em especial o interferón, e a segunda hipótese é que o fígado aumenta a demanda de triptofano para gluconeogênese e síntese de proteínas na fase aguda (Ajinomoto, 2003). Na literatura, as recomendações de triptofano podem ser variadas devido as diferentes linhagens existentes e constante evolução genética dos suínos selecionados para máxima deposição proteica. Segundo Le Floc’h et al., (1999), leitões desmamados, em condições sanitárias inadequadas, têm consumo depravado e menores concentrações plasmáticas de triptofano, enquanto os níveis de valina, isoleucina, leucina e fenilalanina não são alterados. A valina (codificado pelo código genético) é um aminoácido alifático de cadeia ramificada e semelhante à leucina e a isoleucina, tanto em estrutura 231 como em função. Seu papel é determinar a estrutura tridimensional das proteínas, representando cerca de 5% das proteínas do organismo (Lucia, 2010). De acordo com Rostagno et al. (2011), a relação lisina: valina digestível para leitões dos 15 aos 30 kg é de 100:69 ou 2,93 g/Mcal de energia metabolizável. Rações com L-valina têm a isoleucina como próximo aminoácido limitante, e por não haver disponibilidade comercial deste aminoácido, sua exigência tem que ser atendida pela proteína da dieta (Ajinomoto, 2003). A fenilalanina, segundo as características químicas de essencialidade e de direção no catabolismo, é classificada como aminoácido aromático de caráter hidrofóbico e com catabolismo tanto glicogênico como cetogênico. Atua como precursor na síntese da tirosina, a qual doa seu anel aromático para a síntese de adrenalina (epinefrina) e noradrenalina (norepinefrina), hormônios importantes no processo de adaptação de animais desafiados imunologicamente (Ferreira et al., 2007). Tais hormônios tiroideanos têm sido considerados os mais importantes no controle dos processos metabólicos dos animais, suporte no crescimento das diferentes estruturas corporais, melhora na eficiência alimentar e consumo de oxigênio, síntese e metabolismo das proteínas, carboidratos e lipídeos, termogênese e composição corporal. Segundo Luo et al. (1992), a tirosina assegura níveis adequados de norepinefrina em animais submetidos a situações de estresse, garantindo a síntese de cortisol via hormônio adrenocorticotrópico hipofisário. A histidina, assim como a fenilalanina, é constituinte de tecidos e estruturas protetoras, pele, plumas, matriz óssea, ligamentos, bem como órgãos e músculos (NRC, 1994). Esse aminoácido é conhecido como precursor do hormônio histamina que tem como função principal o desencadeamento dos sintomas alérgicos. Já foi muito estudada por seu papel no estímulo da resposta inflamatória da pele e das membranas mucosas, também serve de barreira em processos inflamatórios (Lehninger et al., 1995). Estimula a secreção digestiva de gastrina, hormônio que ativa a produção de ácido clorídrico e pepsinogênio, indispensáveis para a digestão da proteína da dieta e que é necessária para regular o uso de microminerais como cobre, zinco, ferro, manganês e molibdênio (Berdanier, 1998). Considerado um aminoácido glucogênico, a arginina tem papel estritamente importante em dietas de leitões principalmente dos 3 aos 20 dias de idade (Fuller, 1994). Este aminoácido é o mais abundante carreador de nitrogênio no tecido muscular, sendo regulador de crescimento em mamíferos jovens (Wu et al., 1999). Tem papel importante na divisão celular, acelera processos de cicatrização, remoção de amônia do organismo, sistema imune e produção hormonal (Lehninger et al., 1995). Baixos níveis de arginina são encontrados no leite de fêmeas, assim leitões lactentes tem como fator limitante de crescimento esse aminoácido (Wu et al., 2004b). 232 A arginina é o precursor imediato do óxido nítrico, uréia e ornitina. Também é necessária para a síntese de creatina e pode ser usada para a síntese de poliaminas, citrulina e glutamato (Lehninger et al., 1995). A formação de óxido nítrico a partir da arginina, no trato gastrointestinal, tem papel antiinflamatório, enquanto grandes quantidades de óxido nítrico produzidos pela óxido nítrico sintetase, a partir da arginina, é capaz de eliminar vários tipos de microorganismos patogênicos (Li et al., 2007). Importante vasodilatador, o óxido nítrico regula o metabolismo energético e, assim, a deposição de gordura (Jobgen et al., 2006). Através da síntese de poliaminas e proteína, a arginina promove a proliferação de monócitos e linfócitos, bem como a diferenciação de células T-helper (Suchner et al., 2002). Verificou-se que os efeitos protetores da arginina estão associados à redução da expressão gênica de citocinas intestinais pró-inflamatórias através da ativação da enzima PPARgamma (peroxisome proliferator-activated receptor gamma) (Liu et al., 2008). Segundo os mesmos autores, leitões recém-desmamados desafiados com lipopolissacarídeos (LPS) de E.Coli e suplementados com 0,5 e 1% de L-arginina tiveram, nos três segmentos intestinais (duodeno, jejuno e íleo), menor incidência de danos morfológicos induzidos por LPS. Avaliando os efeitos da adição de L-arginina sobre o desempenho e função imune em leitões recém-desmamados imunossuprimidos com ciclofosfamida, Han et al. (2009), verificaram que o uso da arginina melhorou o ganho de peso de leitões aos 21 e 28 dias de idade, além de promover aumento do percentual de linfócitos aos 21 dias e redução do número total de células brancas aos 28 dias. Reduziu o tempo de reação hipersensitiva, preveniu a redução no nível de anticorpos, elevou os níveis séricos de interleucina -2 e interferon-γ aos 28 dias e atenuou a diminuição do nível de interferon-γ aos 21 dias. AMINOÁCIDOS NÃO ESSENCIAIS PARA LEITÕES JOVENS Aminoácidos não essenciais tem suas estruturas de carbonos sintetizadas in vivo e desta forma não precisam ser suplementados via dieta (Bergen & Wu, 2009). A glutamina e o glutamato, liberados na circulação sanguínea a partir do músculo esquelético, tem nitrogênio derivado do α-amino de aminoácidos de cadeia ramificada, cujos esqueletos de carbono não podem ser formados no corpo. De acordo com Wu et al. (2010a), cerca de 10 a 40% dos AA essenciais e não essenciais (por exemplo, asparagina, cisteína, serina e tirosina), que entram na circulação porta, são degradados em tecidos extra intestinais. No entanto, apesar de estudos relatarem não haver a necessidade de suplementação de AANE, existem evidências que os leitões não sintetizam quantidade suficiente destes AA para manter o seu máximo crescimento 233 (Mateo et al., 2008). Os AANE, particularmente a glutamina, glutamato, arginina, glicina, cisteína e prolina regulam algumas funções fisiológicas através de vias de sinalização celular. Esses AA são considerados como condicionalmente essenciais, pois, são sintetizados pelos animais em quantidades insuficientes em determinadas fases do desenvolvimento (período neonatal) ou sob certas condições de alimentação (dietas à base de milho e farelo de soja para leitões recém-desmamados) (Rezaei et al., 2013). O glutamato participa ativamente nas reações de transaminação de aminoácidos e pode ser prontamente convertido em muitos outros aminoácidos no organismo animal (Wu, 2009). Atua como precursor imediato na síntese de glutamina no músculo esquelético, coração, fígado, tecido adiposo, e cérebro (Heger, 2003). Glutamato é catabolizado quase completamente no intestino delgado para produzir ATP, CO2, prolina, ornitina, citrulina e arginina (Wu, 1998) e juntamente com a Acetil-CoA é substrato para a síntese de N-acetilglutamato no fígado e nos enterócitos, regulando assim a desintoxicação de amônia e síntese de arginina (Meijer et al., 1990). O colostro e o leite da porca apresentam grandes concentrações deste AA (cerca de 20% dos aminoácidos totais), mas uma quantidade insignificante de ornitina e citrulina (Wu, 2009). A glutamina utilizada no intestino delgado é um importante substrato energético e pode contribuir com mais ATP para o enterócito do que a própria glicose e os ácidos graxos. Nos enterócitos, a glutamina é um substrato importante para a síntese de citrulina e arginina, visto que a síntese endógena de arginina é de suma importância na otimização do crescimento e desenvolvimento do leitão, principalmente durante os primeiros dias de vida, quando as exigências de arginina são muito maiores do que sua a disponibilidade no leite materno (Wu et al., 1995). A glutamina é também um substrato essencial para a síntese da glucosamina-6-fosfato, que é utilizada para a eliminação de todos os açúcares aminados e glicoproteínas das células. Além disso, este AA é necessário para as funções dos monócitos, macrófagos, linfócitos e neutrófilos (Alverdy, 1990). Assim, altas concentrações de glutamina no plasma dos leitões auxiliam na atividade normal dos órgãos linfóides e no sistema imune. Tomados em conjunto, estes resultados indicam que a glutamina é um aminoácido nutricionalmente essencial para leitões jovens (Wu, 2010a). A glicina participa diretamente do influxo de cálcio através de um canal fechado de glicina na membrana celular, além de desempenhar papel importante na síntese de purina, serina e porfirinas, neurotransmissor inibitório no sistema nervoso central, co-agonista para os receptores de glutamato, antioxidante e antiflamatório, além de participar no metabolismo de uma 234 unidade carbônica (Rezaei et al., 2013). A cisteína e a tirosina são aminoácidos condicionalmente essenciais para leitões recém-desmamados, especialmente sob condições de estresse. É gerada a partir do catabolismo da metionina pela via de transulfuração no fígado (Chung & Baker, 1992). Vários tecidos e células liberam cisteína sob condições catabólicas e a presença deste AA é importante para a síntese de glutationa em todos os tipos de células, incluindo imunócitos (Mosenthin & Rademacher, 2003). Síntese de tirosina depende da disponibilidade dietética de fenilalanina que não pode ser sintetizada pelo organismo animal. Claramente, suínos alimentados com dietas de baixa proteína não podem produzir quantidades suficientes de cisteína e tirosina (Rezai et al., 2013). AMINOÁCIDOS FUNCIONAIS O desmame em idade antecipada, imposto ao leitão, produz efeitos negativos sobre sua saúde. Tais prejuízos advêm de incompatibilidades fisiológicas, dentre as quais, a atrofia das vilosidades intestinais pode ter efeitos irreparáveis ao longo do crescimento do suíno. Vários fatores que envolvem desafio imunológico, estresse oxidativo, apoptose, inflamação e provisão insuficiente de energia, contribuem para as anormalidades do trato digestivo e perdas na produtividade. Os aminoácidos desempenham papéis cruciais na manutenção da função fisiológica normal e o estado nutricional do organismo (Jobgen et al., 2006). Acreditava-se que após a digestão, os aminoácidos da dieta eram absorvidos pelos enterócitos e entravam na veia portal intactos. No entanto, pesquisas desenvolvidas com leitões relatam que parte dos AA essenciais e não essenciais provenientes de uma dieta enteral, são degradados no intestino delgado e na primeira passagem, assim, menos de 20% dos aminoácidos extraídos são utilizados para síntese proteica na mucosa intestinal (Stoll & Burrin, 2006). Dai et al. (2012), relataram que o catabolismo de AA pelas bactérias do intestino delgado é o primeiro passo para o metabolismo de alguns AA (lisina, arginina e treonina). A descarboxilação oxidativa elimina o grupo carboxílico (-COOH) a partir do esqueleto de carbono de AA e assim inicia a modulação do pool de precursores para biossíntese das bactérias do intestino delgado e células das mucosas. Os aminoácidos chaves que regulam vias metabólicas essenciais para a sobrevivência das células, crescimento, desenvolvimento e reprodução dos animais foram recentemente propostos como “aminoácidos funcionais” (Wu, 2010a). Dentre estes, a arginina, cisteína, glutamina, glutamato, glicina, leucina, prolina e triptofano que são conhecidos por melhorar a eficiência de utilização de proteínas na dieta de suínos (Li et al., 2007; Wang et al., 2008) Estudos recentes têm mostrado que a deficiência de arginina 235 limita o crescimento de leitões jovens (Wu et al., 2004a). Suplementação dietética com 0,2 e 0,4% de L-arginina para leitões de 7 a 21 dias de idade aumentaram, respectivamente, as concentrações de arginina no plasma (30 e 61%), diminuíram os níveis de amônia (20 e 35%) e aumentaram o ganho de peso (28 e 66%) (Kim & Wu, 2004). Fornecimento de L-arginina, de N-carbamoylglutamato (ativador metabolicamente estável de síntese de arginina no intestino), ou de concentrado proteico de arroz (rico em arginina) para as fêmeas em lactação ou para leitões jovens, foi eficaz na melhoria do desempenho e função imune (Tan et al., 2009). A arginina é ativador alostérico da N-acetilglutamato sintetase, (enzima que converte o glutamato mitocondrial e acetil-CoA em carbamil fosfato sintetase I) (Wu & Morris, 1998). Assim, arginina e glutamato mantém o ciclo da uréia hepática e ativa o estado de desintoxicação por amônia. A arginina e a fenilalanina aumentam a expressão e atividade da enzima GTP ciclohidrolase (enzima responsável pela hidrólise da GTP em 7,8-dihidroneopterina 3’-trifosfato), aumentando assim a disponibilidade da tetrahidrobiopterina para síntese de óxido nítrico e hidroxilação de AA aromáticos (Shi et al., 2004). A arginina também aumenta a expressão de proteínas e enzimas-chave, como a proteína quinase ativada por AMPc e por proliferador de peroxissoma (receptor-c coativador-1a), responsável pela biogênese mitocondrial e oxidação de substratos energéticos como a glicose e os ácidos graxos (Fu et al., 2005). A prolina endógena é sintetizada a partir da arginina e glutamato, mas em mamíferos jovens a inadequação destas duas vias faz da prolina um AA essencial (Wu & Morris, 1998). O metabolismo da prolina em suínos difere com o estágio de desenvolvimento do animal (Bertolo & Burrin, 2008). Com o aumento na suplementação de L-prolina na dieta de zero para 2,1%, percebeu-se um acréscimo na retenção diária de nitrogênio de 1,27 para 1,53 g/kg de PV0,75, respectivamente, indicando que os leitões não puderam sintetizar prolina adequadamente (Rezaei et al., 2013). A glutamina também exerce papel importante na manutenção da saúde intestinal. Pesquisas indicam que a suplementação dietética com 1% de glutamina previne atrofia do jejuno durante a primeira semana pós-desmame e aumenta a eficiência alimentar em 25% durante a segunda semana pósdesmame (Wang et al., 2008). Leitões recém-desmamados alimentados com dietas à base de leite ou a base de milho e soja toleram até 1,12% de L-glutamina suplementar (calculado com base na matéria seca da dieta) durante pelo menos três meses, sem qualquer efeito adverso ou toxicidade (Wu et al., 2007). A glutamina assim como o glutamato e aspartato é extensivamente oxidada pelas células epiteliais absortivas (enterócitos) do intestino delgado de mamífero, de tal forma que numa dieta convencional, ela não entra na veia porta (Stoll et al., 1998). Produtos nitrogenados incluem ornitina, citrulina, 236 arginina e alanina. O intestino delgado utiliza glutamina a partir da circulação arterial ou do lúmen intestinal, mas converte glutamato e aspartato apenas a partir do lúmen intestinal. A glutamina circulante é sintetizada a partir AA de cadeia ramificada, e alfa-cetoglutarato (derivado principalmente a partir da glicose) no músculo esquelético, tecido adiposo, coração e placenta (Self et al., 2004). Glutamato é particularmente abundante no leite da porca e suporta o desenvolvimento e crescimento neonatal do leitão (Wu, 2010b). Por não haver nenhuma captação de glutamato arterial, via intestino, a dieta entérica torna-se fonte primária de glutamato somente para os enterócitos. Leitões recém-desmamados podem apresentar deficiência de glutamato circulante em virtude do baixo consumo nesta fase, seguido de atrofia intestinal, inflamação, má absorção, e apoptose (Rezaei et al., 2013). De acordo com o mesmo autor, a suplementação, via dieta, com 1%, 2% e 4% de glutamato monossódico, reduziu a incidência de diarreia em leitões nas três primeiras semanas pós desmame e aumentou as concentrações plasmáticas de glutamato, glutamina e outros aminoácidos (incluindo a lisina, metionina, fenilalanina e leucina), provavelmente devido à inibição do catabolismo destes aminoácidos no intestino delgado. Aos sete dias pós-desmame, a suplementação com 1% a 4% de GM também aumentou a altura de vilosidades do jejuno, conteúdo de DNA e a capacidade antioxidante. Segundo Brosnan (2001), o glutamato e aspartato mediam a transferência de equivalentes redutores através da membrana mitocondrial e, assim, regulam a glicólise e o estado redox celular. Durante os períodos de privação de alimento, a alanina inibe a piruvato quinase, regulando assim a gliconeogênese e glicólise para garantir a produção de glicose líquida pelos hepatócitos (Meijer, 2003). Já a metionina, glicina, serina, histidina participam ativamente no metabolismo de um carbono e, portanto, da metilação das proteínas e do DNA, regulando assim a expressão gênica e a atividade biológica das proteínas. A glutationa, que é formada a partir de cisteína, glutamato e glicina é o principal antioxidante nas células e regula a homeostase de radicais livres (Wu et al., 2004b). Atua no metabolismo celular (formação de leucotrienos, mercapturato, glutationilespermidina, glutationilproteinas), transdução de sinal, expressão gênica, apoptose, resposta imune e redox celular (Rezai et al., 2013). PAPEL DOS AMINOÁCIDOS NA IMUNOCOMPETÊNCIA DE LEITÕES Leitões são constantemente acometidos a estresse biológico, devido a desafios fisiológicos, ambientais e mudanças sociais, quando desmamados da fêmea suína (Campbell et al., 2013). No intestino, após o desmame, 237 ocorre redução das “brush-border” e atividade das enzimas digestivas (Pluske et al., 1997). Lalles et al. (2004) relataram reduções na atividade da lactase e da amino-peptidase de 2 a 15 dias pós-desmame, enquanto a maltase teve a atividade aumentada na segunda semana de vida. A fosfatase alcalina, enzima que desempenha papel importante na desintoxicação da endotoxina de bactérias patogênicas e que impacta na inflamação intestinal, foi reduzida em leitões com desmame antecipado. Tais alterações podem afetar diretamente a capacidade digestiva e absortiva no intestino delgado, capacidade de secreção e a função de proteção/barreira intestinal contra patógenos, o que contribui para as diarreias pós-desmame. Ao ativar o sistema imune de leitões, Williams et al. (1997) demonstraram que o crescimento, o consumo de ração, a eficiência alimentar e a deposição de tecido magro foram reduzidos, o que aumentou a suscetibilidade dos animais às doenças. Deficiência dietética de proteína diminui a disponibilidade de AA no plasma, particularmente glutamina, arginina, triptofano, metionina e cisteína que são os AA com funções imunológicas já bem estabelecidas (Li et al., 2007). A glutamina, por exemplo, é importante para a síntese de purina e dos nucleotídeos de pirimidina que são essenciais para a proliferação de células da mucosa intestinal e de linfócitos intra-epiteliais (Wu, 1998). Os mecanismos podem envolver a ativação de rapamicina, óxido nítrico e síntese de glutationa, sinalização de H2S e estado redox celular em mamíferos. A cisteína é o produto que mais limita a síntese de glutationa (Wu et al., 2004b) e a suplementação na dieta com N-acetilcisteína (precursor estável de cisteína) é altamente eficaz na elevação de glutationa no plasma e melhora da imunidade sob vários estados de doença. O óxido nítrico sintetizado a partir de arginina pela enzima óxido nítrico sintase também atua como agente citotóxico para microrganismos patogénicos e vírus (Bronte & Zanovello, 2005). A alanina é um importante substrato para a síntese hepática de glicose que atende também a demanda energética dos leucócitos. O mecanismo envolvido na função imune não é totalmente conhecido, mas acredita-se que possa envolver inibição da degradação proteica mediada por alanina em imunócitos, como foi relatado para os hepatócitos através de vias de sinalização celular (Meijer & Dubbelhuis, 2004). A glicina participa na síntese de muitas moléculas fisiologicamente importantes, incluindo nucleotídeos de purina, glutationa e heme (Kim et al., 2007). Além disso, a própria glicina é um potente antioxidante na eliminação de radicais livres (Fang et al., 2002). Assim, a glicina é essencial para a proliferação e defesa antioxidativa dos leucócitos. Existem evidências moleculares e farmacológicas de um canal de cloreto de glicina fechado nos leucócitos (Froh et al., 2002). A ativação deste canal suprime a abertura 238 induzida por agonista de voltagem dependente dos canais de cálcio do tipo L e assim, atenua concentrações de Ca++ intracelulares. Como resultado, a glicina inicia o papel de regulação da produção de citocinas por leucócitos e a função imune (Zhong et al., 2003). Tem havido interesse crescente nos últimos anos em se estudar o papel do triptofano e prolina nas funções imunológicas. Como relataram Melchior et al., 2003), as concentrações de triptofano diminuem, progressivamente, no plasma de suínos com inflamação pulmonar crônica, pois, o catabolismo desse aminoácido, através do indoleamina 2,3-dioxigenase (IDO), parece indispensável ao funcionamento dos macrófagos e linfócitos (Macchiarulo et al., 2009). Assim, o ácido antranílico (metabólito do triptofano pela via IDO) inibe a produção de citocinas auxiliares T-1 pró-inflamatórias e previne a neuro inflamação auto imune (Platten et al., 2005). A deficiência intestinal de prolina oxidase, pela falta de prolina na dieta, prejudica a imunidade do intestino (Ha et al. (2005). Um mediador importante da oxidação da prolina é o H2O2, que é citotóxico para bactérias patogênicas e é também uma molécula sinalizadora. A elevada atividade da prolina oxidase na placenta (Wu et al., 2008) pode desempenhar papel crucial na proteção desses órgãos contra infecções, durante os períodos críticos do desenvolvimento fetal e neonatal. De acordo com Sun et al. (2002), a prolina oxidase está presente no leite e pode desempenhar papel de proteção no intestino de neonatos contra agentes infecciosos. Isso pode explicar, em parte, porque neonatos alimentados com dieta sem leite apresentam maior susceptibilidade às disfunções intestinais, comparado aqueles lactentes. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os aminoácidos desempenham papel importante no metabolismo celular. Suas funções vão além da deposição proteica, pois participam de inúmeros processos ligados ao sistema imune e homeostase celular. A demanda metabólica de aminoácidos nas diferentes fases de vida dos suínos é dependente de vários fatores, como idade, sexo, genética e ambiente. Formular dietas que atendam as reais exigências para manutenção e o crescimento, portanto, sem excessos e deficiências, talvez seja o maior desafio na busca da máxima expressão genotípica e ou eficiência produtiva, visto que muitos fatores fisiológicos e ambientais podem interferir nos processos anabólicos da deposição de tecido magro. REFERÊNCIAS ABREU, M.L.T.; DONZELE, J.L.; OLIVEIRA, R.F.M.; OLIVEIRA, A.L.S.; HAESE, D.; PEREIRA, A.A. Níveis de lisina digestível em rações, utilizando-se o conceito de proteína ideal, para suínos machos castrados de alto potencial genético para deposição de carne magra na carcaça dos 60 aos 95 kg. Revista Brasileira de Zootecnia, v.36, n.1, p.54-61, 2007. 239 ADEOLA, O.; LAWRENCE, B.V.; CLINE, T.R. Availability of amino acids for 10 to 20 kilogram pigs: lysine and threonine in soybean meal. 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Duque de Caxias Norte, 225, CEP:13635-900, Campus de Pirassununga-SP. 4 Aluna de Doutorado da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos FZEA/ USP, Av. Duque de Caxias Norte, 225, CEP:13635-900, Campus de Pirassununga-SP 5 Aluno de Mestrado do Departamento de Nutrição e Produção Animal - FMVZ/USP, Av. Duque de Caxias Norte, 225, CEP:13635-900, Campus de Pirassununga-SP. 6 Médica Veterinária da Universidad Cooperativa de Colômbia – UCC, BucaramangaCOL 1 RESUMO A agropecuária é uma das principais atividades responsáveis pela emissão de metano na atmosfera. As emissões são consequências da fermentação ruminal e da degradação dos dejetos e são causadores das perdas de energia pelos ruminantes. De 2 a 12% da energia bruta ingerida é perdida na forma de metano entérico e observa-se que, do total da energia ingerida por bovinos, 33% é perdida através dos dejetos.O objetivo deste capítulo é fazer uma revisão bibliográfica a respeito das estratégias de redução e recuperação do metano entérico e dos dejetos, bem como dos métodos para mensuração deste gás. INTRODUÇÃO O aquecimento global é uma problemática mundial das últimas décadas, sendo a emissão de gases uma das principais causas. Dentre os principais gases de efeito estufa (GEE) causadores desse aquecimento, encontram-se o dióxido de carbono (CO2), o metano (CH4) e o óxido nitroso 247 (N2O) (Brasil, 2004). Apesar de as concentrações de CH4 e N2O na atmosfera serem menores que a de CO2, as mensurações de seus fluxos de emissão são importantes devido a esses gases apresentarem potencial de aquecimento global de 23 e 296 vezes maior em relação ao CO2, respectivamente (Snyder et al., 2008). A produção animal sustentável tem sido o foco de pesquisa em todo mundo, frente às mudanças climáticas globais. Segundo o INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE (2010), só a produção de metano oriunda de fermentação ruminal é responsável por 7,1% do total das emissões de GEE, contribuindo com 7,2 milhões de toneladas de metano por ano. Na pecuária, predominantemente os ruminantes são importantes produtores de CH4, representando cerca de um terço das emissões antropogênicas globais desse gás (US-EPA, 2006). As fezes são responsáveis por emissões dos GEE, como CH4 e N2O, podendo ocorrer emissões de CO2 em pequenas proporções sob condições ambientais e ambiente anaeróbio (Novak e Fiorelli, 2010). Assim, é concebível que os microrganismos, incluindo as arqueasmetanogênicas, sejam excretados e estejam presentes no material fecal acumulado, podendo assim continuar a fermentação e a produção de CH4 e N2O sob certas condições ambientais (altas temperatura, umidade e ambiente anaeróbio) (Soussanaet et al., 2010). A partir do exposto, objetivou-se com esta revisão apresentar estratégias de modificação da fermentação ruminal e mensuração da quantidade de metano resultante da pecuária, visando a redução da produção de metano em busca de uma produção animal sustentável. ESTRATÉGIAS DE MITIGAÇÃO DE METANO ENTÉRICO Diante da crescente preocupação e conscientização da importância da sustentabilidade e da melhoria de eficiência na pecuária, faz-se necessária a avaliação das melhores formas de atuação. Práticas para reduzir as emissões de CH4 e N2O na pecuária ganham importância devido ao aspecto produtivo, pois a emissão de metano representa perda de 5 a 8% da energia bruta ingerida, de acordo com Blaxter e Clapperton (1965), ou de 2 a 12%, como mencionado por Johnson e Johnson (1995). As estratégias para reduzir as emissões de metano entérico se dividem em três categorias gerais: melhores práticas de alimentação; o uso de agentes específicos ou aditivos alimentares; mudanças de gestão de criação a longo prazo (Monteny et al., 2006). Melhores práticas de alimentação: as emissões de metano podem ser reduzidas pela alimentação como por exemplo, aumentando a proporção da dieta com concentrados, normalmente substituindo forrageiras (Beauchemin; McGinn, 2005). Embora concentrados possam aumentar as emissões de 248 metano por animal por dia ,as emissões por kg de alimento ingerido e por kg de produto são quase invariavelmente reduzidas. A magnitude desta redução por kg de produto aumenta à medida que aumenta a produção. O benefício líquido de concentrados, no entanto, depende do número de animais em produção ou menor idade ao abate de animais de corte e, também de como esta afeta uso do solo, o teor de N do adubo e as emissões de produzir e transportar os alimentos (Lovett et al., 2006). Outra prática que pode reduzir as emissões de CH4 a adição de óleos e sementes oleaginosas na dieta, os quais podem melhorar a qualidade da dieta (Jordan et al., 2006) especialmente nas regiões menos desenvolvidas. Isso melhora a produtividade animal, reduz a proporção de energia perdida na forma de CH4 (Alcock; Hegarty, 2006), e otimiza o consumo de proteína, reduzindo a excreção de N e N2O (Clark et al., 2005). Beauchemin et al. (2006), trabalhando com fontes lipídicas (sebo, óleo de girassol e sementes de girassol), observaram que dietas contendo óleo de soja e sebo reduziram em 14% a emissão de metano, enquanto que a dieta contendo semente de girassol reduziu 33% a emissão do gás quando comparado à dieta controle. Agentes específicos e aditivos alimentares: uma vasta gama de agentes específicos, em sua maioria destinados a suprimir a metanogênese, tem sido propostos.São exemplos de aditivos alimentares para reduzir as emissões de CH4: - Ionóforos, como a monensina, podem reduzir a emissão de metano (Van Nevel; Demeyer, 1996), mas o seu efeito pode ser transitório (Rumpler et al., 1986.), além de terem usos proibidos pela União Europea. - Compostos halogenados inibem bactérias metanogênicas (Van Nevel; Demeyer, 1995), mas os seus efeitos, também, são frequentemente transitórios e podem ter efeitos secundários, tais como a redução da ingestão. - Fornecimento de nitrato por exercer ação deletéria sobre as metanogênicas e protozoários, além de consumir H2. De acordo com Leng e Preston (2010), a conversão de nitrato à amônia por microrganismos anaeróbios é altamente competitiva com a produção de metano, pelo fato de consumir 8 elétrons no processo, traduzindo-se em um potente inibidor da metanogênese nos sistemas de digestão fermentativa. - Novos compostos vegetais, como taninos condensados (Hess et al., 2006), saponinas (Lila et al., 2003) ou óleos essenciais (Kamra et al., 2006) podem ter mérito para reduzir as emissões de metano, mas essas respostas podem muitas vezes serem obtidas através da redução de digestibilidade do alimento. - Probióticos, tais como cultura de levedura, mostraram apenas um pequeno efeito significativo (McGinn et al., 2004), embora a seleção de estirpes específicas para reduzir a produção demetano poderiam melhorar os resultados (Newbold; Rode, 2006). 249 - Utilização de produtos biotecnológicos, destacando-se a suplementação com enzimas fibrolíticas compostas por celulases e hemicelulases. Estas enzimas, extraídas de fungos ou bactérias, em atuação conjunta com as enzimas produzidas pelos microrganismos ruminais, visam aumentar a eficiência do processo fermentativo, favorecendo a degradação dos polissacarídeos estruturais, aumentando a taxa de degradação da fibra e promovendo melhoria no desempenho produtivo, possivelmente em razão de seus efeitos nos processos digestivos, da degradação da parede celular, da manutenção de níveis adequados de amônia no rúmen e da estabilização do pH ruminal (Doreau et al., 2010). McAllister et al. (1999), avaliando o desempenho de novilhos em confinamento, observaram aumentos de 5,99 kg/ dia para 6,72 kg/dia na ingestão de MS e de 0,94 kg/dia para 1,16 kg/dia no ganho médio diário com a suplementação enzimática (celulase e xilanase). - Precursores do propionato, como fumarato ou malato, reduzem a formação de metano, agindo como alternativa para a captação de hidrogênio (Newbold et al., 2002). Mas, como a resposta é evidenciada apenas com doses elevadas, se torna uma alternatica muito cara (Newbold et al., 2005). - Vacinas contra bactérias metanogênicas estão sendo desenvolvidas, mas ainda não estão disponíveis comercialmente (Wright et al., 2004). - Somatotropina bovina (BST) e implantes hormonais de crescimento não suprimem especificamente a formação de CH4, mas, melhorando o desempenho dos animais (Schmidely, 1993), podem reduzir as emissões por kg de produto de origem animal (McCrabb, 2001). Mudanças de gestão da criação de animais a longo prazo: O aumento da produtividade através de práticas de criação e uma melhor gestão, tais como a redução no número de novilhas de reposição, muitas vezes reduz a produção de metano por unidade de produto de origem animal (Boadi et al., 2004). Embora a seleção genéticavisando diretamente a redução da produção de metano ser proposta (Kebreab et al., 2006), ainda é impraticável devido às dificuldades de medir com precisão as emissões de metano com uma grandeza apropriada para programas de melhoramento genético. Com o melhoramento da eficiência, animais produtores de carne podem chegar ao peso de abate em uma idade mais jovem, com emissões reduzidas durante sua vida (Lovett e O’Mara, 2002). No entanto, os efeitos de tais práticas nem sempre levam à redução das emissões. Por exemplo, em gado leiteiro, a seleção intensiva para maior rendimento pode reduzir a fertilidade, exigindo maior substituição de novilhas no rebanho (Lovett et al., 2006). 250 ESTRATÉGIAS DE MITIGAÇÃO DE METANO E RECUPERAÇÃO DE NUTRIENTES DOS DEJETOS Apesar dos grandes avanços em genética e nutrição animal, parte do alimento ingerido pelos bovinos não é totalmente aproveitado e acaba sendo descartado, em função da não digestão e/ou absorção. O alimento é descartado na forma de dejetos, tornando-se o principal resíduo do sistema de produção de bovinos. Esses dejetos são compostos orgânicos com macro e micronutrientes, com alto teor energético (Castrilillón et al., 2002). Na bovinocultura leiteira, Van Horn et al. (1994) observaram que, do total da energia ingerida pelas vacas, 33% é perdida através dos dejetos. Haynes e Williams (1993) afirmam que no caso do nitrogênio, fósforo e potássio, em média, 65% do que não é absorvido, é eliminado via urina e fezes. Uma vaca produtora de leite, com média de 24 meses e produzindo 15 kg de leite, produz aproximadamente 45 kg de dejetos por dia. Já uma vaca de corte produz aproximadamente 28 kg de dejetos por dia e, em média, ambas produzem no mínimo 13L de urina por dia (Fuentes Yague,1992). Van Horn et al. (1994) realizaram estimativas da produção de dejetos por vacas holandesas com 635 kg de peso corporal e estimaram uma dejeção anual de 22.805 kg de dejetos totais. Morse et al. (1992) estimaram que vacas leiteiras excretam por dia nos dejetos (fezes + urina) 54 g de P, 168 g de K, 119 g de Ca, 55 g de sódio e 46 g de Mg. Alguns estudos demonstraram que, quando os dejetos orgânicos são estocados nos currais de confinamento anaerobiamente, eles podem produzir de 7 a 27% das emissões totais de CH4 relacionadas aos ruminantes (Kreuzer e Hindrichsen, 2006). Segundo Santos & Lucas Júnior (2004), todo processo de produção gera resíduo e todo resíduo armazena alguma energia. Os sistemas de produção podem reverter esse resíduo em energia, baratear seu custo de produção e funcionar de forma energeticamente equilibrada. Sistemas sustentáveis de produção animal buscam o máximo de rendimento com o mínimo de desperdício, com o objetivo de reduzir os impactos ambientais e melhorar e eficiência. Uma alternativa para minimizar os impactos causados pela grande geração de resíduos são os processos biológicos de reciclagem de nutrientes. Estes processos utilizam os resíduos provenientes da produção animal, como matéria prima para a geração de subprodutos de valor agregado, tornando a atividade tecnicamente e economicamente viável. A biodigestão anaeróbia é um dos principais processos de reciclagem de nutrientes, no qual ocorre uma complexa interação de microrganismos, que degradam os diversos componentes orgânicos, até a forma final de biogás e biofertilizante. O biodigestor é uma câmara de fermentação fechada, que proporciona 251 as condições para que a biodigestão anaeróbia ocorra de maneira eficiente. O uso de biodigestores nos sistemas de produção animal é visto como uma ferramenta importante, pois estes promovem o tratamento do resíduo e retornam parte da energia que seria perdida de volta ao sistema produtivo, através da queima do gás e recuperação dos nutrientes contidos nos dejetos (Silva et al., 2005). O biogás é uma mistura gasosa (combustível), resultante da fermentação anaeróbia. O metano é o principal componente do biogás e, segundo Castanon (2002), o potencial energético do biogás está em função da sua quantidade de metano. Pecora (2006) afirma que a conversão energética do biogás é o processo de transformação da energia química das moléculas do biogás, por meio de uma combustão controlada, em energia mecânica, que por sua vez será convertida em energia elétrica. O potencial de produção diário de biogás, obtido por Nogueira et al. (2013), a partir de dejetos de bovinos de corte confinado foi de 0,056 m3 de biogás, com o teor médio de 79,6% de metano, resultando em um potencial de produção diário de metano de 0,043m3 deste gás por quilograma de dejeto in natura. Hardoin et al. (2004) afirmam que, em um confinamento de 100 vacas, um biodigestor pode produzir um volume de 118 m3 de biogás, volume suficiente para atender com energia elétrica a demanda da ordenhadeira, do resfriador de leite, do triturador, do desintegrador, do misturador de ração e da bomba d’água. A biomassa resultante do processo de biodigestão, conhecida como biofertilizante, possui alto poder fertilizante. Ainda, de acordo com Kiehl (1985), para o dejeto se tornar um fertilizante orgânico humificado deve sofrer um processo de fermentação microbiológica. Ao passar pelo biodigestor, segundo Kunz et al. (2005), o efluente perde carbono na forma de metano e CO2, o que melhora as condições do material para fins agrícolas, em função do aumento da mineralização de alguns nutrientes. Tabela 1. Composição química do dejeto fresco e do dejeto biodigerido. Fonte: Nogueira (1986). Malavolta et al. (2008) afirmam em que, em média, o biofertilizante contêm de 1,5 a 2,0% de nitrogênio (N), que é fácil de ser absorvido pelo solo, nutrindo rapidamente as plantas, 1,0 a 1,5% de fósforo (P) e 0,5 a 1,0% 252 de potássio (K), que são liberados no solo com a função de fazer a correção de acidez, por ter um pH (potencial de hidrogênio) em torno de 7,5. Dos Santos (2012), considerando todo rebanho brasileiro em 2009, estimou um potencial de geração de biogás, através do dejeto bovino, em 62,9 x 109 m3/ano, com valor energético estimado em 7,9 x 108 GJ/ano, uma possível geração de 117,1 TWh/ano de energia elétrica, o que corresponde a aproximadamente 27,5% do consumo de energia elétrica do brasil. Isso também corresponde a uma disponibilidade anual de 17,9 x 106 t de macronutrientes (N,P,K). Em relação às emissões de gases de efeito estufa evitadas, o manejo adequado do dejeto bovino proporciona, aproximadamente, a mitigação de 564,2 x 109 kg de CO2eq/ano, o que corresponde a cerca de 73% das emissões totais brasileiras de CH4 e N2O. METODOLOGIAS PARA MENSURAÇÃO DO METANO ENTÉRICO A busca por métodos acurados, simples e rápidos para mensurar a produção de metano e outros produtos da fermentação ruminal que vise à redução na emissão de gases do efeito estufa GEE tem sido objetos de pesquisas na nutrição de ruminantes. MÉTODO DO GÁS TRAÇADOR SF6 A quantificação da emissão de metano nos ruminantes pode ser efetuada usando a técnica de traçadores ou indicadores, que podem ser radioisótopos do metano (Murray et al., 1976) ou gases inertes, como o hexafluoreto de enxofre (SF6), cuja utilização foi descrita pela primeira vez por Johnson e Johnson (1995) e adaptada no Brasil por Primavesi et al. (2004a). Esta técnica possui a grande vantagem de permitir que os animais se desloquem e pastejem normalmente, eliminando a necessidade de confinar os animais em gaiolas barimétricas, permitindo, desta forma, um comportamento natural do animal (Primavesi et al., 2004a). A técnica do gás traçador hexafluoreto de enxofre (SF6) foi desenvolvida nos Estados Unidos e adaptada para as condições tropicais brasileiras por Primavesi et al. (2004a). Em animais criados em regime de pastagem, Johnson e Johnson (1995) desenvolveram a técnica, empregando o SF6 como gás traçador interno. Essa técnica consiste no uso de uma cápsula de permeação com SF6, previamente carregada e com uma taxa de liberação constante e conhecida, a qual é inserida no rúmen do animal. A seguir, os animais são equipados com um cabresto constituído com tubo capilar e conectado a uma canga amostradora submetida previamente a pressão negativa com ajuda de uma bomba de vácuo e um manômetro digital portátil. O sistema amostrador é calibrado para completar metade da capacidade de armazenamento da canga amostradora, 253 aproximadamente 51 kPa (0,5 atm.), após o período de coleta predeterminado (normalmente de 24 h). A regulagem do tempo de amostragem é realizada variando-se o comprimento ou o diâmetro do tubo capilar. Após a amostragem, a pressão na canga é medida com manômetro digital portátil e a canga é pressurizada com nitrogênio de alta pureza para uma pressão aproximada de 122 kPa (1,2 atm.). Essa pressurização é necessária para a diluição das amostras coletadas e sua injeção no equipamento de análise (Westberg et al., 1998). As concentrações de CH4 e de SF6 são determinadas por cromatografia gasosa. A taxa de emissão de CH4 é o produto da taxa de emissão da cápsula de permeação, localizada no rúmen, assim como, pela razão das concentrações de CH4 e de SF6 na amostra. O método do traçador utiliza SF6 para quantificar gases diluídos que saem da boca e das narinas do animal misturados ao ar ambiente. Pressupõe-se que a emissão de SF6 simula exatamente a emissão de CH4. Assim, as taxas de diluição de SF6 e de CH4 são idênticas. A mistura oriunda da difusão turbulenta é muito mais importante do que a difusão molecular na atmosfera. De maneira similar, o transporte de gás do rúmen para a atmosfera, através da boca, é dominada por contrações e eructações, de modo que a difusão molecular se torna componente pouco expressivo no processo de emissão (Primavesi et al., 2004). A taxa de emissão de CH4 (QCH4) pode ser calculada a partir das concentrações de CH4 e de SF6 medidas e da taxa conhecida de emissão de SF6 (QSF6): QCH4 = QSF6 x [CH4]/[SF6]. A determinação da emissão de metano determinada pela técnica do SF6 vem sendo utilizada por vários pesquisadores. Neto et al. (2009) avaliaram a produção de metano com suplementos de proteína e monensina em bovinos alimentados com forragem de baixa qualidade, onde observaram que a monensina reduziu a produção de metano em 44% em comparação com os tratamentos sem monensina. A redução na produção de metano, em g/kg de MS, causada pela monensina ingerida foi de 52% com a suplementação de proteína e de 17% sem suplementação de proteína. Possenti et al. (2008), utilizando a técnica, obtiveram emissões entre 127 a 156 g/animal/dia, em bovinos recebendo dieta com dois níveis de leucena (20% ou 50% MS), com ou sem levedura, sendo estes valores menores aos relatados por Johnson e Jonhson (1995) para gado de corte (164 a 194 g/animal/dia) e gado de leiteiro (298 a 345 g/animal/dia). Romero (2012), avaliando o efeito de diferentes fontes energéticas sobre a produção de metano em bovinos, encontrou emissões de CH4 de 286,22 a 344,22 g/d; 103,71 a 125,64 kg/ano; 17,41 a 22,03 g/kg de matéria 254 seca ingerida; 5,17 a 6,58% da EB perdida na forma de metano e 3,77 a 4,53 Mcal/Ani/d. Perna Jr. et al. (2012), avaliando também a produção de metano através da técnica do gás traçador SF6 em bovinos alimentados com os aditivos monensina e tanino, observaram emissões de CH4 em gramas por dia entre 282,97 a 373,97; de Megacalorias de metano por animal por dia entre 3,72 a 4,92, observando menores emissões, quando utilizada a monensina e o tanino. MÉTODO IN VITRO O método in vitro é de uso frequente por pesquisadores para a determinação da digestibilidade de matéria seca, além de ser utilizado para mensuração da produção de gases pela fermentação ruminal, na qual uma amostra do líquido ruminal simula as condições da fermentação neste órgão em frascos de vidro. Os métodos in vitro são geralmente escolhidos para “screening” de dietas e suas combinações, permitindo a avaliação de um grande número de aditivos e ingredientes alimentares sobre a metanogênese, pelo baixo custo com a manutenção dos animais em experimento e pela sua rapidez (Machado et al., 2011). Em experimento, Pereira et al. (2006), descreve uma metodologia in vitro para medir a produção de CH4 e CO2 em bovinos de diferentes categoriasque consiste em três etapas. 1. Preparo da amostra – Em uma garrafa de vidro de cor âmbar, com capacidade de 1000 mL, são acondicionados 10 g de MS de substrato, fonte de alimento para os microrganismos, 10 g de MS da dieta, de acordo com o animal doador e 800 mL de líquido ruminal, coletado com auxílio de bomba de vácuo, previamente filtrado. 2. Produção e armazenamento dos gases – O gás produzido é recolhido em garrafas pet de 2 litros depois de o recipiente com conteúdo tiver sido mantido por 12 horas em banho maria à temperatura de 39ºC. 3. Análise qualitativa e quantitativa do gás produzido – Em seguida os gases são transferidos para um recipiente com capacidade de aproximadamente 50 mL com auxílio de bomba de vácuo. Análise é feita em cromatógrafo de fase gasosa Finigan GC- 2001, equipado com as colunas Porapack Q e Peneira Molecular, bem como detector de condutividade térmica. A quantidade de gás é determinada pelo volume ocupado pelo gás produzido após 12 horas de fermentação. No experimento citado, Pereira et al. (2006) obtiveram que animais adultos, vacas e bois produziram menos CO2 que novilhos ao se alimentarem de silagem de milho, acontecendo o contrário com a produção de metano (Tabela 2). 255 Tabela 2. Percentual de gás carbônico (CO2%) e metano (CH4%) “in vitro” no líquido ruminal de bovinos de diferentes categorias. Médias seguidas de diferentes letras minúscula, dentro de cada linha, e de diferentes letras maiúsculas, dentro de cada coluna, diferem entre si pelo Teste de Tukey (P<0,05). Adaptado de Pereriraet al. (2006) Pereira et al. (2006) afirmam que tal observação demonstra que a diferença na emissão de metano pode, de acordo com a categoria, ser resultado das características de ingestão que acabam influenciando as inter-relações da microbiota ruminal. Este tipo de metodologia tem a desvantagem de necessitar de um substrato externo para a nutrição dos microrganismos presentes no líquido ruminal utilizado, tendo ainda a extração da parte sólida do conteúdo ruminal, que pode ter efeita sobre a fermentação. Outro ponto é a manutenção dos níveis favoráveis para a fermentação (como o pH de aproximadamente 6,9, poder tampão, temperatura de 39 º C, anaerobiose e presença de microrganismos). MÉTODO EX-SITU (MICRO-RÚMEM) A técnica ex-situ, micro-rúmem, é uma outra alternativa para mensurar os produtos da fermentação ruminal. Tal metodologia foi desenvolvida pelo grupo de pesquisadores do Departamento de Nutrição e Produção Animal da FMVZ-USP-Pirassununga, sob coordenado pelo Prof. Dr. Paulo Henrique Mazza Rodrigues (Rodrigues & Perna, 2012). O princípio dessa técnica consiste em deixaramostras de conteúdo ruminal dentro dos frascos de penicilina (micro-rúmen) incubados em banho termostático a 39°C, que simula as condições predominantes no rúmen dos animais. por período de apenas 30 minutos. Após o bloqueio da fermentação, as mensurações dos produtos finais da fermentação ruminal (CH4 e AGCC) são realizadas e as perdas energéticas do metano são expressas em relação aos demais produtos da fermentação. A vantagem deste método é a possibilidade da mensuração dos produtos finais da fermentação ruminal (CH4 e AGCC), sendo possível relacionar as perdas energéticas de produção de CH4 em relação à energia total produzida. Outra vantagem desta técnica é que permite avaliar o perfil fermentativo do ruminante ao longo do dia, através de coletas de conteúdo ruminal em diferentes tempos de amostragens. A metodologia consiste em colocar o conteúdo ruminal dentro de frascos de penicilina de 50 mL. Este conteúdo abrange10 mL de fase sólida, coletado manualmente através da fistula, e 20 mL de fase líquida, coletadas 256 com auxílio de bomba de vácuo. As fases líquida e sólida são retiradas de três pontos diferentes (porção frontal, mediana e caudal), para melhor representação do rúmen. O conteúdo coletado (30 mL) é pressionado através de um funil para dentro do frasco de penicilina de 50 mL, ajudado com o auxílio de um bastão fino de vidro. Após a alocação do conteúdo dentro dos frascos, eles são lacrados com rolha de borracha, lacre de alumínio, com a ajuda de um alicate de recrave, e identificados com selos de segurança. Em seguida, é realizada a substituição do ar atmosférico por dióxido de carbono (CO2), sendo logo após realizada a estabilização da pressão no interior do frasco. O processo de “lavagem” com CO2 tem por finalidade a expulsão de todo ar atmosférico contido dentro do frasco, a fim de se evitar prejuízo à população microbiana anaeróbia. São utilizados 4 frascos por animal e por tempo de amostragem, sendo dois denominados brancos (inativação imediata) e dois incubados (incubação por 30 minutos em banho termostático a 39ºC). Ao final, o processo fermentativo, é inativado por autoclavagem, sob pressão e temperatura, por 15 minutos. Após os frascos esfriarem, são levados ao Laboratório de Cromatografia, para a mensuração do volume de gases e concentrações de CH4 e AGCC, assim como para determinar o pH e a concentração de nitrogênio amoniacal. A leitura do volume do gás produzido pela amostra incubada em frascos tipo penicilina (micro-rúmen) é mensurada utilizando-se um transdutor (Datalogger universal - modelo logger AG5000) conectado a um leitor digital e a uma válvula de três saídas. Para a mensuração, a agulha acoplada à válvula de três saídas é introduzida através da tampa de borracha. Logo em seguida, o volume é mensurado, arrastando os gases acumulados na parte superior do frasco com o uso da seringa conectada na terceira saída do transdutor até chegar a uma leitura de pressão zero. Este procedimento é feito com cada uma das amostras em ambiente climatizado com temperatura controlada (25oC). O volume total gasoso é obtido pela soma daquele obtido na seringa mais o “headspace” do frasco. Após medição pelo transdutor, a determinação da concentração de CH4, tanto nos frascos incubados e não incubados, é realizada por cromatografia gasosa. A quantificação da produção de CH4 é obtida pela multiplicação entre o volume total dos gases (mL) e a concentração do CH4 na fase gasosa (mmol/ mL) obtido no frasco incubado, sendo este valor subtraído do que foi produzido no frasco sem incubação. Jáo volume do líquido do conteúdo ruminal dentro dos frascos (micro-rúmen) é calculado pela diferença entre o peso do frasco contendo a amostra após secagem em estufa a 105°C por 24 h e o peso do frasco contendo a amostra antes da secagem, sendo este volume corrigido pelo 257 volume líquido usado na amostragem para a determinação dos AGCC que é feita por cromatografia gasosa. Martins (2012) em experimento testando diferentes fontes energéticas (soja, polpa cítrica e dieta controle) mediu a produção de metano, ácido acético, propiônico e butírico e AGCC totais em vacas adultas, utilizando a técnica ex-situ. Os dados obtidos no experimento estão na Tabela 3. Figura1- Efeito de diferentes fontes energéticas sobre a produção (Mol/kg/dia) de AGCC e metano Letras diferentes na mesma linha diferem significativamente pelo teste de Tukey (p< 0,05). Adaptado de Martins, (2012). ab Ainda segundo Martins (2012), dietas contendo até 15% de inclusão de soja grão ou polpa cítrica como fontes energéticas afetaram a o perfil ou a extensão da fermentação ruminal, mas não foram capazes em alterar a perda de energia relativa referente ao metano, não alterando a eficiência da fermentação ruminal. RESPIROMETRIA DE CIRCUITO ABERTO Antes que estratégias de mitigação sejam desenvolvidas e aplicadas, faz-se necessário a quantificação das emissões de metano entérico de forma acurada. Neste sentido, a respirometria se torna uma ferramenta valiosa (Machado et al., 2011; Storn et al., 2012). O método in vivo, referência (Gold Standart), utilizado para mensuração de metano entérico envolve o uso de câmaras respirométricas, onde os animais são alojados e as trocas gasosas são coletadas para análises, como apresentado na Figura 1 (Rodríguez et al., 2007). Existem diversas técnicas de se medir as trocas gasosas na respiração e todas elas levam em consideração o consumo de oxigênio e a produção de dióxido de carbono por unidade de tempo, sendo que as câmaras podem ser de circuito aberto ou fechado (Resende et al., 2006). 258 Figura2- Diagrama esquemático de uma câmara respirométrica de circuito aberto (Adaptado de Rodríguez et al., 2007). Nas câmaras de circuito aberto, o ar externo passa através da câmara, sendo ele amostrado na entrada e a sua composição analisada. Conhecendose a quantidade de ar que passa através da câmara e a composição dos gases que saem, pode-se calcular as quantidades de dióxido de carbono (CO2) e metano (CH4) produzidas e a quantidade de oxigênio (O2) consumida (Resende et al., 2006). Uma tubulação de ar é acoplada a uma bomba, a qual realiza a renovação do ar no interior desta, em fluxo constante, durante todo período de mensuração. Neste caso, é possível a regulação deste fluxo por meio de um fluxômetro de massa, o qual corrige o fluxo de ar em função da temperatura, pressão e umidade. Alternativamente, a cada 5 minutos, as amostras de ar tanto externo como do interior da câmara são coletadas para a determinação das concentrações de O2, CO2 e CH4. Estas concentrações, multiplicadas pelo volume de ar que passou pela câmara durante o período de mensuração, permite calcular quanto de O2 foi consumido e quanto de CO2 e CH4 foram produzidos (Silva, 2011). Diariamente, antes de iniciar o período de mensuração de trocas gasosas pelo animal, é realizada a calibração dos analisadores de O2, CO2 e CH4, a fim de determinar a diferença entre os valores das concentrações dos gases detectados pelo equipamento e a concentração real destes no interior da câmara. Por ser o método mais preciso e por mensurar a emissão total de metano entérico (respiração, eructação e ejeção total), a técnica de respirometria é utilizada como padrão para validar e desenvolver fatores de correção para as demais técnicas in vivo. Entratanto, o uso de câmaras respirométricas tem 259 como limitações o alto investimento necessário em estrutura física, mão-deobra e equipamentos; a restrição à movimentação dos animais; e a limitação ao número de animais simultaneamente avaliados (Machado et al., 2011). Recentemente foi implantado o Complexo Experimental Multiusuário de Bioeficiência e Sustentabilidade da Pecuária que contempla um laboratório de bioenergética com quatro câmaras respirométricas no Campo Experimental de Coronel Pacheco-MG, da Embrapa Gado de Leite. A criação e consolidação de uma rede de pesquisa sobre o assunto, RumenGasesBrasil, envolvendo instituições de todo o Brasil e colaborações internacionais, pode servir de base para a conjunção de esforços para o avanço conceitual em diagnóstico e estratégias de mitigação de metano entérico. Isto permitirá a convergência de esforços e gerará informações que poderão ser utilizadas nos próximos inventários brasileiros de emissões antrópicas e no norteamento de políticas públicas em estratégias de mitigação de metano entérico no Brasil. CONSIDERAÇÕES FINAIS As emissões de metano pela bovinocultura são uma consequência indesejável do sistema de fermentação ruminal e do processo de degradação dos dejetos, o qual é responsável por perdas consideráveis da energia ingerida pelos animais, além de causar problemas ambientais relacionados a emissão de gases de efeito estufa e o aquecimento global. Cabe aos pesquisadores, técnicos, produtores rurais e à comunidade da pecuária bovina, como um todo, buscar alternativas para reduzir e/ou recuperar as perdas de energia na forma de metano e melhorar a eficiência do sistema de maneira sustentável. REFERÊNCIAS ALCOOK,D.;HEGARTY, R.S. Effects of pasture improvement on productivity, gross margin and methane emissions of a grazing sheep enterprise. In Greenhouse Gases and Animal Agriculture: AnUpdate.C.R. Soliva, J. Takahashi, and M. Kreuzer (eds.), International Congress Series No. 1293, Elsevier, The Netherlands, 103, p.106, 2006. BEAUCHEMIN, K.A.; MCGINN, S. 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Campus de Pirassununga – SP. 4 Bolsista FAPESP. 5 Bolsista CAPES. 1 RESUMO O desempenho das aves é altamente dependente do nível de energia da dieta. A inclusão de óleos e gorduras em rações para frangos de corte permite a formulação do nível adequado de energia, além de fornecer ácidos graxos essenciais e promover outros benefícios. O uso de emulsificantes tem despertado a atenção de pesquisadores por representar uma possibilidade de melhor aproveitar os lipídios dietéticos. Os lisofosfolipídios são emulsificantes que, de uma forma simplificada, possuem caraterísticas emulsificantes aumentadas. Os lisofosfolipídios também atuam na permeabilidade da membrana intestinal, aumentado a passagem de macromoléculas, além de apresentarem efeito antibacteriano. Os ácidos orgânicos, apesar de não agirem diretamente nos lipídios, atuam na microbiota intestinal beneficiando a digestão. A associação de lisofosfolipídios e ácidos orgânicos pode incrementar a digestão de lipídios, atuando de forma conjunta e complementar. Vale ressaltar ainda, que a composição da dieta e a disponibilidade de substrato não aproveitado no trato gastrintestinal, principalmente substratos fermentáveis, exercem influência direta na população de bactérias intestinais. No presente trabalho, o óleo de soja, independente da inclusão de aditivos, mostrou-se superior ao 266 sebo bovino no desempenho dos frangos. Os ácidos orgânicos melhoraram a conversão alimentar de aves alimentadas com dietas a base de milho e farelo de soja, e aumentaram o ganho de peso em dietas a base de trigo e farelo de soja. Já os lisofosfolipídios, acresceram o ganho de peso somente em dietas a base de milho e farelo de soja. A nutrição depende de uma série de interações estreitamente relacionadas, concebendo muitas possibilidades de utilização de aditivos melhoradores de desempenho, associados ou não. Palavras Chave: ácidos orgânicos, emulsificantes, lisofosfolipídios, óleo de soja, sebo bovino. INTRODUÇÃO A avicultura brasileira, nos últimos anos, vem apresentando intensos avanços, advindo, dentre outros fatores, da qualidade e da produtividade avícola, que é determinada pelos cinco pilares básicos da zootecnia: melhoramento genético, manejo, ambiência das instalações, sanidade e nutrição e alimentação. Na produção de frangos de corte a nutrição ocupa lugar de destaque, já que a alimentação é o fator que mais onera os custos de criação, representando em torno de 60 a 70% do capital despendido. Um dos pontos de grande relevância na formulação de dietas é relativo à energia, que é necessária para a exploração do máximo potencial genético das aves, influenciando o desempenho e as características de carcaça de frangos de corte (Leandro et al., 2003). Na prática, é imprescindível que o nutricionista utilize óleo vegetal e/ou gordura animal para atingir o nível adequado de energia nas dietas de frangos, principalmente nas fases finais de criação, onde a demanda é ainda maior. O emprego de gorduras e óleos é largamente discutido, pois tais ingredientes apresentam diversas características de interesse. Segundo Junqueira et al. (2005), os óleos e gorduras são grandes fornecedores de energia prontamente disponível, sendo utilizadas para aumentar a densidade energética das rações, além de contribuir com o fornecimento de ácidos graxos essenciais. Adicionalmente, Duarte et al. (2010) mencionam outros benefícios resultantes da adição de lipídios na dieta, classificando-os como efeitos extra calóricos, que são, dentre eles, a melhora na digestão e absorção dos nutrientes e a redução do incremento calórico. Em estudo, Andreotti et al. (2004) demonstraram melhora nos índices de desempenho das aves em função de níveis crescentes de óleo de soja na dieta durante as fases de crescimento (21 a 42 dias) e final (43 a 56 dias). No entanto, a inclusão e o nível de óleo na dieta não podem ser o único fator a ser considerado, já que a qualidade da fonte lipídica a ser empregada é um ponto extremamente importante e que necessita devida 267 atenção. A presença de ácidos graxos na forma de triglicerídeos ou na forma livre, bem como a estrutura química dos ácidos graxos são determinantes. A eficiência no processo de digestão dos lipídios depende da quantidade de ácidos graxos dietéticos que são fornecidos na forma de triglicerídeos, pois, se não houver a presença da molécula de glicerol juntamente com o ácido graxo, a absorção ficará prejudicada. Isso ocorre porque moléculas de monoglicerídeos são essenciais para a incorporação de ácidos graxos insolúveis no complexo micelar (Raber et al., 2008; 2009). Outro fator imprescindível à eficiência do processo de digestão e absorção de lipídios em aves refere-se ao grau de saturação e ao tamanho da cadeia carbônica dos ácidos graxos (Leeson & Summers, 1976; 2001). Um trabalho clássico no tema demonstra que a posição do ácido graxo na molécula de triglicerídeo também influencia o aproveitamento de lipídios (Renner & Hill, 1961). Ainda, é importante ressaltar a interação sinérgica existente entre ácidos graxos saturados e insaturados, refletindo no desempenho de frangos de corte (Gaiotto et al., 2000). Em paralelo, a busca pelo aumento da eficiência alimentar, frente à pressão imposta pela competitividade global, demanda pesquisas para investigar e elucidar o emprego de novas tecnologias. Alguns aditivos que antes eram inovadores são atualmente considerados consolidados, sendo largamente empregados nas dietas como micro-ingredientes indispensáveis para atingir índices zootécnicos satisfatórios e/ou para reduzir o custo das formulações. EMULSIFICANTES O aumento da eficiência alimentar proporcionada pela adição de óleos e gorduras pode ser aprimorada explorando algumas lacunas que existem na digestão, principalmente em aves jovens que possuem certa limitação fisiológica na absorção de nutrientes. A ave possui menor capacidade de retenção de lipídios dietéticos na primeira semana de vida, principalmente de gordura saturadas, aumentando o aproveitamento com o passar da idade (Sell et al., 1986). Sakomura et al. (2004) demonstraram em frangos de corte o aumento significativo que a atividade de lipase sofre com o passar do tempo nas primeiras semanas de vida, associando tais resultados ao crescimento alométrico do pâncreas que ocorre no mesmo período. Nesse contexto, o uso de emulsificantes sintéticos pode representar uma excelente estratégia nutricional que, no entanto, é uma prática relativamente recente em relação a outros aditivos alimentares. Apesar dos óleos e gorduras serem substâncias insolúveis em água, essas são digeridas e/ou transportadas em meio aquoso no lúmen intestinal, o que causa um desafio biofísico rigoroso e gera um paradoxo químico, pois, compostos lipossolúveis que não possuem afinidade com a água devem ser 268 digeridos em meio aquoso (Silva Júnior, 2009). Para que esse fenômeno ocorra, deve haver a emulsão dos lipídios no trato gastrintestinal (TGI), que é provocada naturalmente pela ação dos sais biliares produzidos no fígado. Nesse âmbito, pode-se dizer que a emulsão dos lipídios com consequente formação de micelas é uma etapa fundamental no procedimento digestivo. Alguns estudos mostram que a suplementação exógena com sais biliares aprimora a emulsão e a digestão de gorduras em aves (Polin et al., 1980; Kussaibati et al., 1982). A lecitina de soja é composta basicamente de fosfolipídios com característica emulsificante, com diversas aplicabilidades, a qual tem recebido atenção por parte de nutricionistas e pesquisadores, empregando-a como um aditivo alimentar com potencial para incrementar a energia da dieta. Entretanto, os resultados encontrados por alguns pesquisadores mostram-se inconsistentes. Azman & Ciftci (2004) concluíram que a substituição gradual do óleo de soja e do sebo bovino por lecitina não induz nenhum ganho no desempenho zootécnico de frangos de corte. Noutra pesquisa em que o óleo de soja foi gradualmente substituído por lecitina, os autores ratificam piores resultados de desempenho e de utilização de nutrientes quando este aditivo foi incluído em maiores quantidades (Huang et al., 2007). Os resultados com lecitina supramencionados podem ser explicados em função de algumas características químicas inerentes à molécula de lecitina de soja. Essa substância possui um balanço hidrofílico-lipofílico (BHL) em torno de 4, que é um número obtido por meio da relação existente entre os grupos hidrofílicos e lipofílicos da molécula. Segundo Bobbio & Bobbio (1995), moléculas com BHL inferior a 9 possuem caráter lipofílico, sendo excelentes emulsificantes de água em óleo. Por isso a lecitina é tão aplicada em processamento de alimentos, em que deseja-se emulsificar água em substância gordurosa. Já no TGI das aves, a situação é inversa, pois pretendese emulsificar gordura em meio aquoso. Os sais biliares, produzidos no organismo das aves, responsáveis pela emulsão dos lipídios no TGI, são compostos, entre outras substâncias, por fosfolipídios, os quais sofrem ação de uma enzima chamada fosfolipase A2. Essa enzima catalisa a hidrólise do ácido graxo na posição dois da molécula de glicerol, resultando numa mudança drástica na característica da molécula. Após os fosfolipídios serem clivados, tem-se a liberação de ácido graxos e lisofosfolipídios (Dubouix et al., 2003), que apresentam um HBL muito maior em relação ao fosfolipídio, tornando-se então excelentes emulsificantes de lipídio em água. Tal processo pode explicar os bons resultados encontrados por Huang et al. (2007) ao misturar óleo de soja e lecitina na proporção de 75/25, e a piora nos resultados quando aumentou-se a quantidade de lecitina na mistura. A hipótese é que os bons resultados possam ter sido decorrentes de uma ação suficiente da fosfolipase A2 sobre os fosfolipídios da lecitina na 269 proporção de 75/25, mas quando essa relação aumentou, é possível que não houve uma produção endógena suficiente dessa enzima para transformar os fosfolipídios em lisofosfolipídios, prejudicando a digestão. A lisofosfatidilcolina (LPC), produzida pela ação da fosfolipase A2 na fosfatidilcolina (PC) proveniente da bile e/ou dos alimentos, é um lisofosfolipídio biosurfactante utilizado como aditivo em rações animais, o qual possui a capacidade de alterar as propriedades superficiais dos lipídios e de formar micelas em baixíssimas concentrações, além de também atuarem sobre a permeabilidade das membranas. Em resumo, a LPC é um componente fundamental para o processo de hidrólise dos lipídios e posterior absorção de nutrientes pelo epitélio intestinal. Segundo Silva Júnior (2009), além da ação direta dos lisofosfolipídios sobre a absorção de gorduras e outros nutrientes, existe outro possível mecanismo de atuação destes compostos que pode estar relacionado com um efeito antibacteriano, sendo capazes de desestabilizar as membranas celulares das bactérias aumentando a permeabilidade para íons. Desse modo, os lisofosfolipídios são aptos em alterar o equilíbrio iônico entre o interior e o exterior das células, atuando pelo mesmo mecanismo de ação antibacteriana de diversos compostos, como dos antibióticos. Também é importante evidenciar o emprego de mais de um aditivo com ações que se complementam e, dessa forma, beneficiar a saúde intestinal incidindo diretamente na nutrição e na saúde das aves. A associação de aditivos que apresentam ação conjunta tem despertado a atenção de muitos profissionais da área, principalmente pela possibilidade de melhores resultados, sendo um tema bastante discutido em reuniões e congressos. Os ácidos orgânicos são adicionados à dieta para prevenir e minimizar infecções por bactérias, pois estes alteram o pH, passando a ter ação antibacteriana, particularmente contra bactérias Gram negativas (Bassan et al., 2008). A interação dos ácidos orgânicos com a biota intestinal pode auxiliar também na digestibilidade dos lipídios, já que a microflora no intestino tem a capacidade de desconjugar e destruir os sais biliares (Dänicke et al., 1997a; Mathlouthi et al., 2002), por atividade da coliltaurina hidrolase bacteriana (Feighner & Dashkevicz, 1987), provocando forte queda na digestibilidade de gorduras (Maisonnier et al., 2003), principalmente de gorduras saturadas (Dänicke et al., 1997b). Menos nutrientes disponíveis para as bactérias também favorecem o equilíbrio eubiótico intestinal, resultando em menos sais biliares perdidos, gerando um sistema retroativo benéfico que se sustenta (Silva Júnior, 2009). Portanto, a ação conjunta e potencialmente sinérgica de lisofosfolipídios e ácidos orgânicos pode afetar de forma positiva o equilíbrio da microflora bacteriana, melhorando o aproveitamento de lipídios e também de outros nutrientes provenientes da dieta. 270 LISOFOSFOLIPÍDIOS Os óleos e as gorduras são uma grande realidade dentro da avicultura moderna, que servem de subsídio na busca de artifícios para proporcionar uma nutrição adequada e melhor produzir proteína animal. Os benefícios dos lipídios nas rações para frangos de corte são muito conhecidos como já relatado por muitos pesquisadores (Pucci et al., 2003; Andreotti, et al. 2004; Lara et al., 2005; Duarte et al., 2010). O bom aproveitamento dos lipídios no intestino depende de uma série de etapas da digestão que envolve sucos digestivos que contêm enzimas para hidrolisar tais macromoléculas. A PC, presente na bile, atua nesse processo de emulsão de gorduras e formação de micelas. A mistura de PC, sais biliares e lipossolúveis do alimento é alvo da atividade da enzima fosfolipase A2 secretada pelo pâncreas, formando a LPC (Silva Júnior, 2009). Conforme brevemente citado anteriormente, a enzima fosfolipase A2 recebe esse nome porque catalisa a hidrólise do ácido graxo ligado ao carbono dois do glicerol dos fosfolipídios, liberando ácidos graxos e lisofosfolipídios (Dennis, 1994). Essa reação pode ocorrer sobre a PC proveniente do fígado e/ou sobre a lecitina (rica em fosfolipídios como a PC) contida na dieta. Ou seja, a produção de LPC (que é um lisofosfolipídio) advém de duas principais fontes: de lecitina encontrada na dieta e da PC secretada pelo fígado (Silva Júnior, 2009). A transformação em LPC exerce uma implicação enorme na característica da molécula, que passa a ter um lado hidrofílico muito mais significativo que a PC originária. Portanto, a LPC possui propriedades hidrofílicas desenvolvidas quando comparada à PC. Homan & Hamelehle (1998) demonstram a importância de transformar PC em LPC na absorção de substâncias lipossolúveis no intestino, como o colesterol. Sugawara et al. (2001) encontraram resultados interessantes investigando a absorção de carotenoides que são solubilizados na formação micelar. Esses autores relataram que a absorção de β-carotenos e de luteína foi muito suprimida dependendo da dose de PC presente no complexo micelar, ao passo que a LPC incrementou marcantemente a captação de β-carotenos e de luteína por células do epitélio intestinal. Ainda estudando a absorção de β-caroteno e de luteína, que são os carotenoides mais encontrados no plasma humano, foi mostrado que a PC micelar restringe a difusão de carotenoides da micela para as células. Porém, quando foi examinado o efeito da PC hidrolisada pela fosfolipase A2 pancreática, foi observada uma reversão nos resultados (Sugawara et al., 2001). É notório que a suplementação enzimática com a fosfolipase A2 traria benefícios na digestibilidade de lipídios e de componentes lipossolúveis no lúmen intestinal, no entanto, a inclusão direta de LPC pode acarretar benefícios relativos à termo-resistência da molécula, evitando problemas de estabilidade 271 e viabilizando, dessa maneira, sua incorporação em dietas peletizadas e extrusadas. Aliás, por se tratar de uma gordura e não de uma enzima, o produto final é imune a quaisquer alterações de pH, em eventuais associações com ácidos orgânicos, por exemplo. Simplificando o que foi dito, a suplementação de dietas com LPC pode ser comparada à uma suplementação com enzima exógena, só que já na forma do seu resultado final. A LPC promove emulsões mais eficientes com tamanho de gotículas menores, aumentando a superfície de contato das enzimas, havendo portanto, um coerente incremento nos métodos digestivos. Essa característica está atrelada até mesmo a micelas menores que se movem de forma mais rápida e fácil sobre barreiras naturais. A concentração micelar crítica também é menor em relação à lecitina, o que significa que é necessário menos LPC do que PC para iniciar a ocorrência de formação de micela. A concentração micelar crítica da LPC é de 0,02 – 0,2 mM/L, a qual é 20 – 200 vezes mais eficiente que a bile (4mM/L) e a lecitina (0,3 – 2 mM/L) (Langmuir, 2002 apud Zhang et al., 2011). Em trabalhos com frangos de corte, Raju et al. (2011) relatam que a lisolecitina (lisofosfolipídios provenientes da lecitina) derivada do arroz pode ser usada em dietas como uma forma de suplementação de energia. Zhang et al. (2010) mencionam que a LPC aumenta o ganho de peso de frangos de corte na fase inicial em função da maior digestibilidade de ácidos graxos. Em função de sua atuação na digestibilidade de gorduras, os lisofosfolipídios podem ser usados na dieta como um aditivo para melhorar o desempenho da ave, sendo adicionado na forma on top, ou seja, sem considerar o valor da matriz nutricional do produto. Uma segunda opção seria incluí-lo nas formulações com o intuito de reduzir o custo da dieta sem perdas no desempenho das aves, considerando a valorização da matriz nutricional proveniente dos lisofosfolipídios. Existem evidências utilizando intestino de ratos que a LPC aumenta a permeabilidade da membrana para macromoléculas (Tagesson et al., 1985; Bolin et al., 1986), o que sugere que essa substância pode também atuar no aproveitamento de outros nutrientes da dieta além das gorduras, como explicitado por Silva Júnior (2009). Karlqvist et al. (1986) citam que a LPC aumentou a permeabilidade gástrica, no entanto, observou-se que as estruturas dos microvilos foram danificadas. Essa ação sobre a permeabilidade da membrana precisa ser melhor estudada na avicultura, principalmente para fins de produção, elucidando seus efeitos sobre o desenvolvimento e a descamação da mucosa no TGI, como por exemplo sobre as vilosidades intestinais, que estão fortemente relacionadas à eficiência alimentar. Kume & Gimbrone Jr (1994) concluíram que a LPC pode induzir a expressão de gene relacionado ao fator de crescimento em culturas de células epiteliais humanas. Num cenário onde, atualmente, tem-se discutido muito sobre a proibição 272 dos antibiótico melhoradores de desempenho, os lisofosfolipídios, como a LPC, podem representar uma possibilidade, dentre outras, para circuncisar o problema. Foi demonstrado por Coonrod & Yoneda (1983) que surfactantes como os lisofosfolipídios possuem atividade antibacteriana. Kabarowski et al. (2001) demonstram a ligação da LPC no desenvolvimento do sistema autoimune. Adicionalmente, a enzima fosfolipase A2 foi intrinsecamente ligada à capacidade de causar o rompimento da integridade das bactérias, levando ao comprometimento da viabilidade bacteriana (Dubouix et al., 2003). O mecanismo de ação antibacteriano dos lisofosfolipídios está ligado a habilidade dos mesmos em desestabilizar as membranas celulares das bactérias aumentando a permeabilidade para íons, destruindo o equilíbrio iônico entre o interior e o exterior da célula (Silva Júnior, 2009). Conforme demonstrado por uma sequencia de pesquisas realizadas por Dänicke et al. (1997a; 1997b; 1999; 2000; 2003), a microflora intestinal possui forte influência na digestibilidade de gorduras, principalmente de gordura saturada. Esse efeito é evidente pela ação direta de enzimas exógenas sobre os polissacarídeos não-amiláceos solúveis encontrados na dieta, que podem aumentar a viscosidade intestinal quando não hidrolisados, propiciando condições para o desenvolvimento de bactérias indesejáveis. Mediante os efeitos antibacterianos dos lisofosfolipídios, pode-se dizer que esse aditivo atua também de maneira indireta na digestibilidade de gorduras, já que a flora bacteriana é capaz de desconjugar os sais biliares provenientes da bile. A desconjugação de sais biliares ocorre exclusivamente em função de enzimas bacterianas, como a coliltaurina hidrolase bacteriana, que provoca queda no ganho de peso e na conversão das aves, já que os sais biliares conjugados auxiliam na digestão, emulsificação e absorção dos lipídios e dos compostos lipossolúveis no intestino delgado (Feighner & Dashkevicz, 1987). ÁCIDOS ORGÂNICOS Os ácidos orgânicos possuem uma extensa história de utilização como aditivo para preservar alimentos e prevenir a deterioração, aumentando a vida útil de ingredientes perecíveis (Ricke, 2003). Os ácidos orgânicos também são denominados de ácidos carboxílicos ou de doadores de prótons. Na produção animal, são referidos como ácidos de cadeia curta com propriedades antimicrobianas. A inibição do crescimento microbiano pelos ácidos orgânicos é explicada pela habilidade desses ácidos em passar pela membrana, dissociandose no interior celular acidificando o citoplasma (Immerseel et al., 2006). A exportação excessiva de prótons por parte das bactérias para controlar o pH intracelular demanda consumo de adenosina trifosfato (ATP), o que resulta na 273 depressão de energia da célula (Ricke, 2003), podendo levar o microrganismo à morte. A falta de consistência nos resultados de trabalhos desenvolvidos com ácidos orgânicos é intrínseca a variáveis intervenientes, tais como: pH do trato digestivo, capacidade tampão dos ingredientes da dieta, condição higiênica do ambiente produtivo, heterogeneidade da flora intestinal e resistência inerente dos microrganismos (Salazar et al., 2008). Segundo Ribeiro et al. (2008), a quantidade de acidificante a ser adicionada à ração depende do pH e da capacidade tamponante da dieta. Rezende et al. (2008) observaram efeitos lineares positivos no ganho de peso e na conversão alimentar de frangos que consumiram níveis crescentes de ácido acético. Avaliando o ácido cítrico, Chowdhury et al. (2009) demonstraram melhora no desempenho corporal de frangos de corte, além de melhorar o estado imunológico contra patógenos entéricos e doenças infecciosas. Assim, foi verificado melhora no desempenho de aves que consumiram os ácidos lático, fórmico e acético fornecidos na dieta, e também no fornecimento desses ácidos associados ao ácido fosfórico na água de bebida (Viola et al., 2008). Compilando as informações expostas até o momento, é plausível que a associação de lisofosfolipídios e de ácidos orgânicos em dietas para aves possa apresentar resultados benéficos, e até possivelmente sinérgicos. A ação unida desses dois aditivos pode apresentar efeitos que se completam. O efeito conjunto desses dois aditivos estaria ligado principalmente a dois fatores: 1- Ação antibacteriana aditiva, sendo a ação dos ácidos orgânicos mais estudada e comprovada do que a dos lisofosfolipídios. 2- A melhora no aproveitamento de lipídios dietéticos causada pelos lisofosfolipídios resultaria em menos nutrientes disponíveis para as bactérias intestinais, que teriam menos substratos para se multiplicarem, favorecendo a atuação dos ácidos orgânicos no controle da microflora intestinal, que, por sua vez, evitaria a perda de sais biliares pela atividade bacteriana indesejada, beneficiando a digestibilidade de gorduras, gerando um círculo virtuoso que se retroalimenta. Uma segunda hipótese seria um complemento no modo de ação dos lisofosfolipídios e dos ácidos orgânicos, sendo que o aumento na permeabilidade da membrana ocasionado pelos lisofosfolipídios poderia atuar como um facilitador para os ácidos orgânicos dissociarem íons no interior das células bacterianas. Portanto, seja pelo efeito conjunto desses dois aditivos, ou pelo modo de ação complementar, surge a hipótese de haver alguma interação na combinação de lisofosfolipídios e de ácidos orgânicos em dietas para aves. Vale ainda ressaltar que os benefícios dessa associação podem estar ligados à qualidade das fontes lipídicas a serem utilizadas e à composição da dieta. 274 RELAÇÕES ENTRE A COMPOSIÇÃO DA DIETA E A MICROFLORA INTESTINAL NO APROVEITAMENTO DE LIPÍDIOS O processo de digestão dos alimentos é um sistema complexo que compreende uma série de interações, sensivelmente dependentes de um equilíbrio biológico da flora bacteriana ativa e de extrema importância (Silva Júnior, 2009). A composição da dieta e a disponibilidade de substrato não aproveitado no TGI, principalmente de substratos fermentáveis como a pectina, exercem influência direta na população de bactérias intestinais (Metzler et al., 2008). O farelo de soja é um ingrediente amplamente utilizado em dietas para aves como principal fonte de proteína. Em sua composição, há quantidade considerável de pectinas, hemicelulose e oligossacarídeos, que são carboidratos de baixíssima ou nenhuma disponibilidade, e que apresentam alguns fatores antinutricionais. Segundo Parsons et al. (2000), o farelo de soja contém frações de carboidratos de pobre digestibilidade como a rafinose e a estaquiose, que servem de substrato para o crescimento microbiano indesejável no íleo. Dentre os cereais utilizados, aqueles que têm maiores proporções de carboidratos não digestíveis são os denominados cereais de inverno, como o trigo, a cevada e o centeio (Campestrini et al., 2005). Nesse sentido, Jia et al. (2009) observaram maior número de Clostridium perfringens em dietas a base de trigo e farelo de soja comparadas à dietas a base de milho e farelo de soja. Esse relato reforça a afirmação de que a população microbiana no TGI das aves pode ser modulada pela dieta (Santos et al., 2007). O milho, cereal amplamente utilizado em rações avícolas no Brasil, não apresenta grandes frações de baixa digestibilidade como os cerais de inverno, contudo, alguns trabalhos demonstram resultados positivos com a aplicação de aditivos com ação antimicrobiana. Resultados positivos vêm sendo encontrados com a adição de ácidos orgânicos (Viola & Vieira, 2007), os quais reduzem o pH intestinal das aves controlando a microflora e proporcionando, consequentemente, melhor absorção de nutrientes (AO et al., 2009). Outra causa inerente às frações dietéticas indigestíveis é o aumento da viscosidade intestinal causada por elementos solúveis como as pentosanas e os β-glucanos. No trigo há a predominância de pentosanas solúveis, que causam aumento da viscosidade intestinal e interferem diretamente na digestão de lipídios, principalmente de gorduras provenientes de fonte animal, como o sebo bovino (Meng et al., 2004). Em outras palavras, a elevada taxa de umidade no intestino proporcionada por polissacarídeos não amiláceos solúveis acentua ainda mais o desafio biofísico da digestão de lipídios, que parece piorar na presença de fontes com predominância de ácidos graxos saturados. Vários estudos apontam que a emulsificação dos lipídios no TGI, com consequente ação da lipase e colipase, e posterior formação de micelas, ocorre 275 com maior facilidade nos ácidos graxos insaturados do que nos saturados, beneficiando a absorção (Bertechini, 2006; Smink et al., 2008). Segundo Dänicke et al. (1997a, 1999, 2000, 2003), os ácidos graxos saturados são mais sensíveis a qualquer inadequação dos fatores de digestão. Em dietas a base de milho e farelo de soja, raros são os trabalhos que relacionam o melhor aproveitamento de lipídios com aditivos que melhoram a saúde intestinal de frangos de corte. Apesar de bem documentado o efeito das frações indigestíveis de dietas a base de milho e farelo de soja (Barbosa et al., 2008; Francesch & Garaert, 2009; Tiwari et al., 2010), Pucci et al. (2003) não observaram interação da melhora da digestibilidade de dietas compostas por milho e farelo de soja com quatro níveis de inclusão de óleo de soja (0; 2,5; 5,0 e 7,5%). Contudo, os autores não avaliaram a interação com outras fontes lipídicas como o sebo bovino, que possui grande quantidade de ácidos graxos saturados de cadeia longa (Blanch et al., 1995). A interação entre os nutrientes (Furlan et al., 2004) e a capacidade tamponante (Silva Júnior, 2009) da dieta também podem ser destacados como fatores intrínsecos na assimilação de lipídios e de outros nutrientes, pois estão relacionados ao desenvolvimento intestinal das aves e a atividade de sucos e enzimas digestivas, respectivamente. Por sua vez, o estado do epitélio intestinal, principalmente quanto à espessura, está atrelado à microbiota bacteriana que coloniza o TGI (Oetting et al., 2006; Costa et al., 2007). Sob este contexto, a viabilização de aditivos como os lisofosfolipídios e os ácidos orgânicos é marco importante na nutrição de aves, abordando a tendente questão mundial da proibição de antimicrobianos e de anticoccidianos químicos, iniciada em 2006 pela Comunidade Europeia. Por fim, dietas mais eficientes originam menores taxas de excreções, atendendo aos movimentos ambientalistas que visam discutir formas de diminuir a eliminação de poluentes no ambiente, que podem ser excretados em maior ou menor quantidade dependendo da formulação. Esse fator contribui para tornar a produção animal mais sustentável e consciente, preservando os ecossistemas e os mananciais de água do planeta. DIETAS PARA FRANGOS DE CORTE CONTENDO DIFERENTES FONTES LIPÍDICAS SUPLEMENTADAS OU NÃO COM LISOFOSFOLIPÍDIOS E ÁCIDOS ORGÂNICOS Em um estudo no Laboratório de Avicultura da FMVZ – USP, foram realizados dois experimentos com o objetivo de avaliar o efeito do óleo de soja e do sebo bovino em dietas suplementadas com lisofosfolipídios e ácidos orgânicos. Em ambos os trabalhos foi utilizado um delineamento inteiramente casualizado em esquema fatorial 2 × 2 × 2, sendo duas fontes lipídicas (óleo de soja e sebo bovino) na presença ou ausência de lisofosfolipídios e 276 ácidos orgânicos, com oito repetições e 12 aves por unidade experimental. Os parâmetros analisados foram: ganho de peso, consumo de ração e conversão alimentar. Ao término da criação (42 dias de idade) avaliou-se também a viabilidade das aves e o fator de eficiência produtiva. O primeiro experimento foi conduzido utilizando-se dietas a base de milho moído e farelo de soja, que são os ingredientes largamente usados na avicultura brasileira. No segundo experimento foram utilizadas dietas a base de grão de trigo moído e farelo de soja, para aumentar o desafio biofísico da digestão de lipídios, pois, o grão de trigo, possui maiores quantidades de polissacarídeos não-amiláceos solúveis do que o milho, aumentando assim, a umidade intestinal. Esse tipo de dieta, com grão de trigo moído na composição, é bastante utilizada em países localizados no hemisfério norte do planeta, onde cultiva-se cereais de inverno em função do clima da região. Experimento 1- Dietas a base de milho e farelo de soja. Foram utilizados pintos de corte com um dia de idade, machos, da linhagem Cobb®. O peso médio inicial foi de 46,16g ± 0,61g (P>0,05). Aos 14 dias de idade das aves, não houve interação dos fatores estudados (Tabela 1). Foi observado efeito de fonte lipídica para o ganho de peso, que foi maior com a utilização do óleo de soja. O consumo de ração não foi influenciado pelos tratamentos. Já a conversão alimentar foi melhor com a utilização de óleo de soja e em rações com a presença de ácidos orgânicos. Nesse período não foi constatado nenhum efeito resultante da inclusão dos lisofosfolipídios. 277 Tabela 1. Desempenho de frangos de corte alimentados com dietas a base de milho e farelo de soja contendo diferentes fontes lipídicas suplementadas ou não com lisofosfolipídios e ácidos orgânicos, no período de 1 a 14 e 1 a 21 dias de idade. LF, lisofosfolipídios; AO, Ácidos Orgânicos. 2OS, óleo de soja; SB, sebo bovino; com, presença de lisofosfolipídios; sem, ausência de lisofosfolipídios; +, presença de ácidos orgânicos; -, ausência de ácidos orgânicos. 3GPM, ganho de peso médio (g); CRM, consumo de ração médio (g); CA, conversão alimentar. 4EPM, erro padrão da média. 1 278 Aos 21 dias de idade, o ganho de peso e o consumo de ração foram maiores com a inclusão de óleo de soja. Houve interação na conversão alimentar entre as fontes lipídicas e a inclusão de lisofosfolipídios (Figura 1), bem como também foi observada interação das fontes lipídicas com os ácidos orgânicos (Figura 2). Em ambas as interações pode-se observar que o óleo de soja apresentou melhor conversão alimentar que o sebo bovino, independente da inclusão ou não dos aditivos. Já nas dietas contendo sebo bovino, a conversão alimentar foi melhor com a adição de lisofosfolipídios ou de ácidos orgânicos. Figura 1. Desdobramento da interação das fontes lipídicas (OS, óleo de soja; SB, sebo bovino) com a inclusão de lisofosfolipídios (LF) em dietas para frangos de corte aos 21 dias de idade. Figura 2. Desdobramento da interação das fontes lipídicas (OS, óleo de soja; SB, sebo bovino) com a inclusão de ácidos orgânicos (AO) em dietas para frangos de corte com 21 dias de idade. 279 Tabela 2. Desempenho de frangos de corte alimentados com dietas a base de milho e farelo de soja contendo diferentes fontes lipídicas suplementadas ou não com lisofosfolipídios e ácidos orgânicos, no período de 1 a 42 dias de idade. LF, lisofosfolipídios; AO, ácidos orgânicos. 2OS, óleo de soja; SB, sebo bovino; com, presença de lisofosfolipídios; sem, ausência de lisofosfolipídios; +, presença de ácidos orgânicos; -, ausência de ácidos orgânicos. 3GPM, ganho de peso médio (g); CRM, consumo de ração médio (g); CA, conversão alimentar; VIAB, viabilidade (%), FEP, fator de eficiência produtiva (((GPM diário*VIAB)/CA)/10). 4Teste não-paramétrico de Kruskal-Wallis. 5EPM, erro padrão da média. 1 280 No período total de criação (1 a 42 dias), as aves alimentadas com óleo de soja mantiveram o maior ganho de peso em relação ao sebo bovino, conforme foi observado nas fases iniciais (Tabela 2). Adicionalmente, nesse período, verifica-se que o óleo de soja também melhorou a conversão alimentar. A inclusão de lisofosfolipídios proporcionou às aves maior ganho de peso, e os ácidos orgânicos, em contrapartida, melhoraram a conversão alimentar. No entanto, observa-se que esses efeitos ocorreram de forma isolada, não havendo interação entre os fatores avaliados. O consumo de ração, a viabilidade e o fator de eficiência produtiva não foram significativamente alterados pelos tratamentos. Experimento 2- Dietas a base de trigo e farelo de soja. No segundo experimento, o milho foi totalmente substituído pelo trigo na formulação, com o intuito de avaliar os mesmos tratamentos numa condição intestinal mais adversa. Isso porque foi claramente demonstrado por Dänicke et al. (1997a; 2000) que a hidrólise de polissacarídeos não-amiláceos solúveis da dieta, como por exemplo as pentosanas, interagem diretamente com a fonte lipídica, que pode ser melhor ou pior aproveitada dependendo de sua qualidade (grau de saturação). Já foi relatado em dietas a base de trigo, que o sebo bovino e o óleo de canola interagem com o uso de carboidrase sobre a digestibilidade de gordura, gerando mais uma evidencia do efeito que os polissacarídeos não-amiláceos solúveis do trigo podem exercer nas fontes lipídicas dietéticas (Meng et al., 2004). Portanto, este trabalho teve a finalidade de avaliar em dietas a base de trigo a eficiência de fontes lipídicas em função do grau de saturação (óleo de soja e sebo bovino), e seus efeitos e interações com lisofosfolipídios e ácidos orgânicos. Os pintos de corte, machos, da linhagem Cobb®, foram alojados com um dia de idade, apresentando peso médio inicial de 44,72g ± 0,44g (P>0,05). Refutando parcialmente a hipótese elaborada, não houve interação entre as fontes lipídicas e os aditivos, contudo, observou-se resultados decorrentes do efeito isolado (principal) dos fatores. Aos 14 e 21 dias, apenas as fontes lipídicas alteraram o desempenho, em que os frangos alimentados com óleo de soja apresentaram maior ganho de peso, maior consumo de ração e melhora na conversão alimentar (Tabela 3). Aos 42 dias de idade, os frangos alimentados com óleo de soja apresentaram maior ganho de peso e melhor conversão alimentar (Tabela 4). O consumo de ração não sofreu interferência das dietas. Tais resultados demonstram a superioridade do óleo de soja em relação ao sebo bovino, que não apresentou nenhum incremento nos resultados com a inclusão de aditivo(s). Os ácidos orgânicos beneficiaram o ganho de peso das aves, que foi 1,89% maior em relação às aves que consumiram ração sem ácidos orgânicos. A viabilidade 281 e o fator de eficiência produtiva não sofreram variações significativas. Tabela 3. Desempenho de frangos de corte alimentados com dietas a base de trigo e farelo de soja contendo diferentes fontes lipídicas suplementadas ou não com lisofosfolipídios e ácidos orgânicos, no período de 1 a 14 e 1 a 21 dias de idade. LF, lisofosfolipídios; AO, ácidos orgânicos. 2OS, óleo de soja; SB, sebo bovino; com, presença de lisofosfolipídios; sem, ausência de lisofosfolipídios; +, presença de ácidos orgânicos; -, ausência de ácidos orgânicos. 3GPM, ganho de peso médio (g); CRM, consumo de ração médio (g); CA, conversão alimentar. 4EPM, erro padrão da média. 1 282 CONSIDERAÇÕES FINAIS A inclusão de óleos e gorduras em dietas para frangos de corte é de suma importância para uma nutrição adequada, incidindo fortemente no desempenho das aves. Neste trabalho, confirma-se o efeito superior do óleo de soja em comparação ao sebo bovino, deixando nítido que a qualidade da fonte lipídica a ser empregada é um fator que deve ser levado em consideração. Todavia, não foi possível demonstrar que os aditivos melhoradores de desempenho, estudados no presente trabalho, interagem com as fontes lipídicas, com ressalva para os dados de conversão alimentar aos 21 dias em dietas a base de milho e farelo de soja, nas quais a inclusão de lisofosfolipídios ou de ácidos orgânicos proporcionam melhora nas dietas contendo sebo bovino. 283 Tabela 4. Desempenho de frangos de corte alimentados com dietas a base de trigo e farelo de soja contendo diferentes fontes lipídicas suplementadas ou não com lisofosfolipídios e ácidos orgânicos, no período de 1 a 42 dias de idade. LF, lisofosfolipídios; AO, ácidos orgânicos. 2OS, óleo de soja; SB, sebo bovino; com, presença de lisofosfolipídios; sem, ausência de lisofosfolipídios; +, presença de ácidos orgânicos; -, ausência de ácidos orgânicos. 3GPM, ganho de peso médio (g); CRM, consumo de ração médio (g); CA, conversão alimentar; VIAB, viabilidade (%), FEP, fator de eficiência produtiva (((GPM diário*VIAB)/CA)/10). 4Teste não-paramétrico de Kruskal-Wallis. 5EPM, erro padrão da média. 1 284 Conclui-se que os ácidos orgânicos aumentam o ganho de peso de frangos alimentados com dietas contendo trigo em sua composição. Já em dietas a base de milho, os ácidos orgânicos melhoram a conversão alimentar, ao passo que os lisofosfolipídios aumentam o ganho de peso. Tais resultados esclarecem que, apesar de não haver fortes interações com as fontes lipídicas, os ácidos orgânicos e os lisofosfolipídios representam uma alternativa para melhorar o desempenho das aves. As pesquisas que investigam associações de aditivos, apesar de ainda serem escassas, possuem alto potencial de aplicabilidade. Apesar de não ter sido explicitado neste trabalho, existem várias possibilidades de combinação de aditivos melhoradores de desempenho que podem atuar no equilíbrio e na saúde intestinal, beneficiando a nutrição e o desenvolvimento avícola. Ainda, é importante realizar novas pesquisas com o objetivo de melhor elucidar os efeitos dos lisofosfolipídios, associados ou não a outros aditivos, relacionando, principalmente, seus efeitos na permeabilidade das membranas e na microbiota intestinal com o aproveitamento de diferentes fontes lipídicas. AGRADECIMENTOS À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, FAPESP, pela concessão de bolsas de estudo e pelo auxílio ao desenvolvimento dos projetos de pesquisa. À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, CAPES, pela concessão de bolsas de estudo. 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FUKUSHIMA1 Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo 1 INTRODUÇÃO A necessidade de métodos mais sensíveis e precisos para a análise de fibra tem acompanhado a comunidade cientifica por mais de um século e meio. Desde 1860, quando foi estabelecida a Estação Experimental de Agricultura em Weende, na Alemanha, pesquisadores como Henneberg e Stohman já questionavam a função da fibra contida na parede celular vegetal e as propriedades nutritivas que esta poderia apresentar. Foi assim como, a partir da incorporação de uma técnica para análise química de alimentos, nasce o método de análise proximal, também conhecido como método de Weende, devido ao lugar aonde foi desenvolvido. A técnica foi proposta inicialmente pelo químico da Harvard University, Howard Harsford, que costumava ferver grãos em soluções ácida e alcalina sucessivamente para isolar a fibra. A partir desta técnica foi desenvolvida toda a análise de alimentos que conhecemos hoje, e que os divide em cinco componentes básicos: água (umidade), extrato etéreo (gordura), proteína bruta, fibra bruta e o extrato livre de nitrogênio, calculado pela diferença. A principal critica ao método Weende tem sido que, nem a fibra bruta (FB) nem a fração extrato livre de nitrogénio (ELN) representam entidades químicas definíveis. Também, as distinções biológicas entre a FB e o ELN não refletem a realidade, já que em alguns casos a digestibilidade é maior para o componente fibroso o que se sabe que não é verdade. Adicionalmente, neste método, a lignina aparece dentro do ELN o que não faz sentido nenhum sendo que esta fração supõe representar o conteúdo mais digestível. Apesar dos anos e das inúmeras pesquisas que se têm desenvolvido na área, este conceito ainda é amplamente utilizado, tendo sofrido algumas modificações menores ao longo do tempo. Entre as modificações propostas ao longo da segunda metade do século passado, as mais significativas foram as de Peter Van Soest, pesquisador americano da Universidade de Cornell em Ithaca, Nova York. Foi ele, que em 1963, publicou o primeiro trabalho sugerindo o uso de detergentes para extração de preparações fibrosas que tivessem baixo conteúdo de nitrogênio. Após analisar vários detergentes, sua recomendação foi a utilização de lauril sulfato de sódio em solução ligeiramente alcalina e cetil trimetilamonio 291 brometo em solução ácida. Estas soluções produziam dois tipos de fibra: a preparada com solução neutra representava basicamente a parede celular sem ter sofrido degradação, enquanto que o resíduo ácido constituía a fração não digestível. Van Soest acrescentava ainda que, esta última, a fibra ácida, seria um melhor substrato para as análises de lignina já que uma porção importante da hemicelulose teria sido removida pelo tratamento com o detergente. Concluía sugerindo que dependendo da análise que fosse a ser feita, deveria se empregar um ou outro tipo de fibra. FIBRA EM DETERGENTE ÁCIDO No mesmo ano de 1963, Van Soest publica outro manuscrito no qual propõe a fibra em detergente ácido (FDA) como substrato ideal para as análises de lignina. Esta afirmação é baseada no fato que, mesmo sem ser uma entidade com valor nutricional, este substrato ácido é praticamente livre de nitrogênio e contem só a celulose e a lignina. Ao utilizar o detergente ácido, pretendia-se evitar a perda de lignina por solubilização nas soluções alcalinas, o que comumente ocorre na preparação de fibra bruta. Ao empregar a solução de detergente ácido para obter uma preparação fibrosa, Van Soest (1963b), objetivava evitar a contaminação protéica no resíduo, principal crítica levantada contra o método lignina Klason (LK) (WHITEHEAD; QUICKE, 1964), especialmente quando utilizada para análise em leguminosas pelo alto teor de proteína nestas espécies (VAN SOEST, 1994). A lignina contida na FDA é denominada de lignina detergente ácido (LDA) e recebeu boa aceitação pela comunidade científica devido à facilidade de se preparar e ao pouco tempo que a análise leva. Os experimentos realizados pelo grupo de pesquisadores americanos mostrou que o detergente ácido deve estar numa concentração de 2% para garantir que o resíduo de nitrogênio seja efetivamente eliminado. Acima desta concentração, o efeito detergente sobre a quantidade e composição do resíduo nitrogenado é pouco. Estes experimentos também mostraram que não é necessário determinar a quantidade de extrato etéreo na FDA já que esta fração não interfere com os valores de fibra obtidos, nem com as análises posteriores. As analises realizadas pelo autor em 18 forragens temperadas, de 10 tipos diferentes entre gramíneas e leguminosas, mostraram valores entre 24.8 a 54% e entre 2 a 11.6% para FDA e LDA, respectivamente (Van Soest, 1963b). Os resultados de nosso laboratório, analisando amostras de 19 forragens tropicais, sendo 12 gramíneas e 7 leguminosas, mostraram uma variação entre 25.5 a 54.9% e entre 3.6 a 12.3% para FDA e LDA, respectivamente (dados não publicados). O autor determinou também que o conteúdo de nitrogênio e minerais na FDA não era constante e que, em forragens, isto poderia estar relacionado 292 à maturidade. Ao calcular que o nitrogênio da parede celular representava só ao redor de 7% do total de nitrogênio, Van Soest postula que a vantagem prática de poder determinar a lignina no mesmo resíduo em que se determina o conteúdo de fibra tira toda a importância dos questionamentos sobre a pureza da preparação fibrosa. Esta vantagem abre a possibilidade para que a lignina seja avaliada de forma rotineira nos laboratórios já que permitia a análise de grande número de amostras de forma rápida e conveniente. Isto foi aceito pela comunidade cientifica da época e desenvolveram-se inúmeras pesquisas utilizando a técnica nos 50 anos seguintes. O aporte destas descobertas foi de inestimável importância para começar a compreender a fibra contida nas plantas e seu potencial para a alimentação de ruminantes. Conforme a técnica dos detergentes foi sendo utilizada nas pesquisas ao redor do mundo, os resultados mostraram que a o nitrogênio residual contido nas amostras de FDA, ainda interferia sim na determinação da lignina causando valores ainda artificialmente elevados. Diante deste fato, as pesquisas se focaram no efeito do método de secagem das amostras sobre a recuperação de FDA e subsequente determinação da LDA. As amostras adquiriam uma coloração amarronzada com um característico cheiro de queimado, o que denominaram como “browning reaction” e que posteriormente passou a ser conhecida como reação de Maillard. Foram estudados os métodos de secagem por calor e por ar, o que permitiu identificar as alterações que as amostras sofriam a distintas temperaturas. Assim foi possível definir como ponto ideal temperatura não maior que 55°C, máximo 60°C. Isto devido a que acima desta temperatura ocorrem alterações nas proteínas da parede celular, complexando-as com a lignina na presença de agua, e tornando-as indigestíveis. Estufas equipadas com ventilação forçada de ar arranjam o problema, pois aumenta a velocidade da secagem. Em 1966, Van Soest publica outro manuscrito no qual finalmente propõe substituir o método da fibra bruta (Weende) pelo sistema detergente, baseado nos vários fatos que as pesquisas da época tinham mostrado. Ele alegava que, o conceito de fibra bruta está baseado na presunção de que o conteúdo de fibra esta relacionado à qualidade da mesma. Mesmo que isto seja geralmente verdadeiro, não é estatisticamente preciso (Sullivan, 1964) e por tanto torna o método insatisfatório. Os valores relativamente baixos de digestibilidade observados no ELN eram causados pela lignina contida nesta fração, o que da mesma forma contribuía para as altas digestibilidades da fração fibrosa, por conter menos lignina, o que não representava a realidade. Neste manuscrito, Van Soest analisou a composição da FB e do ELN em vários tipos de alimentos, tanto forragens quanto concentrados. Estes estudos mostraram que existe um resíduo não nutritivo (RNN) nos alimentos que pode ser quimicamente definido e não 293 pode ser totalmente digerido. No entanto, são poucos os componentes nos alimentos que não sofrem algum grau de degradação na passagem pelo trato digestivo. No mesmo estudo, o autor declara a existência de duas categorias de substâncias vegetais: aquelas contidas na parede celular vegetal e aquelas contidas na porção metabólica das células. Este conceito é de uma importância nutricional incalculável já que divide a nutrição de ruminantes em dois sistemas metabólicos diferentes, mas complementares. O primeiro sistema é aquele no qual são inclusos os carboidratos não fibrosos (CNF) e os açucares simples enquanto que o segundo sistema trata da digestão dos carboidratos fibrosos (CF) da parede celular. O segundo sistema é exclusivo dos ruminantes e dos animais com ceco funcional (equinos, capivaras, etc.) já que os monogástricos não secretam as enzimas necessárias para degradar a celulose e a hemicelulose. Desta forma os carboidratos associados a estas fibras serão indigestíveis. Os ruminantes, por meio da fermentação microbiana no rúmen, conseguem degradar estes carboidratos fibrosos. O conteúdo celular contem lipídios, proteínas e aminoácidos, açúcares, amido e outros carboidratos facilmente digeridos que não precisam ser fermentados. A disponibilidade destes compostos não é afetada pelo grau de lignificação do alimento. Já que em algumas espécies de plantas, em especial leguminosas, o conteúdo celular pode representar até 60% da matéria seca, e a inclusão da lignina no ELN, como proposto pelo sistema Weende, não faz sentido nenhum e poderia explicar as inconsistências nos valores de digestibilidade. Mesmo para os ruminantes, que contam com fermentação microbiana no rúmen, os carboidratos da parede celular não são totalmente digestíveis devido à lignificação, que causa queda na digestibilidade conforme a planta amadurece. Porém, não todos os componentes da parede celular são lignificados na mesma extensão. A pectina, por exemplo, é totalmente livre de lignina e por tanto é altamente solúvel e digestível, mesmo fazendo parte dos componentes da parede celular. Os componentes nitrogenados dos alimentos podem ser classificados em várias categorias. Até 33% do nitrogênio total pode ser não protéico (Ferguson e Terry, 1954), e 5-10% do N total pode estar complexado com a lignina na parede celular (Van Soest, 1965), fazendo-o indigestível. Desta forma, 60-80% do nitrogênio total contido nos alimentos tem potencial para ser digerido, porém, como já foi mencionado, os processos comercialmente aplicados a estes materiais para sua conservação (ex. fenação de material ainda úmido) ou manipulação podem induzir à reação não enzimática de Maillard o que pode tornar grande parte desta proteína indisponível ao animal. Este processo é mais acentuado em produtos de origem animal (por exemplo, farinha 294 de carne e ossos) que usualmente são oferecidos como suplementos protéicos de alta qualidade. O aminoácido essencial mais afetado pelo processamento a quente dos alimentos é a lisina e por tanto se deve prestar especial atenção aos seus níveis na dieta de animais, especialmente vacas de leite que tem alta demanda por este composto. Agora bem, nem sempre o tratamento de alimentos protéicos com calor tem efeitos negativos. Em algumas situações, o tratamento com calor pode exercer um efeito benéfico na nutrição de ruminantes ao reduzir a taxa de deaminação bacteriana no rúmen e a subsequente perda de uréia na urina. FIBRA EM DETERGENTE NEUTRO Em 1967, Van Soest e Wine publicam outro trabalho sobre o uso de detergentes na análise de fibra e na determinação dos constituintes da parede celular vegetal. Desta vez, o foco foi a preparação fibrosa obtida após o tratamento das amostras com detergente neutro e posterior pesagem. Esta fração contém celulose, hemicelulose e lignina, o que representa os componentes da parede celular, e foi denominada de fibra em detergente neutro (FDN). Os autores informaram que os valores de FDN não diferiram dos obtidos pelo procedimento enzimático geralmente utilizado (Van Soest e Wine, 1967). Devido ao menor tempo de análise e a simplicidade do procedimento, propuseram o uso rotineiro da FDN para determinar o conteúdo de fibra em amostras de alimentos. Quando utilizada em conjunto com a FDA a metodologia permite calcular os três componentes principais da parede celular de forma individual. Também em 1967, Van Soest publicou outro estudo que reúne as duas preparações fibrosas detergentes no intuito de desenvolver um sistema para análise de alimentos e demostrar sua aplicação para as forragens. E ele descreveu extensamente que existe alta correlação entre os teores de celulose e hemicelulose com as taxas de lignificação. A hemicelulose aparenta ter uma relação mais forte com a lignina por meio das ligações químicas com xylose e em menor medida com arabinose. O autor chama então a atenção sobre a importância da hemicelulose, devido às variações que apresenta tanto de suas quantidades quanto de sua composição dentro da mesma espécie. Desta forma, destaca a influencia da hemicelulose sobre o valor nutricional das forragens. Em 1973, Van Soest publica um novo trabalho sobre a uniformidade e o valor nutricional da celulose. O autor declara que a qualidade de toda a celulose não é igual. A combinação dela com os outros componentes da parede celular como a lignina, cutina, hemicelulose e sílica, causam variações na disponibilidade da celulose ao modificar suas características intrínsecas. Mesmo a celulose sendo um polímero formado exclusivamente por moléculas de glicose unidas por ligações β-1, 4, sua digestibilidade varia de 0-100% de 295 acordo com a maturidade da planta (Van Soest, 1973). O autor observa como a celulose das leguminosas é fermentada mais rapidamente do que a celulose das gramíneas. Portanto, os processos que apresentam taxas de passagem mais rápidas afetam em maior medida a digestibilidade de gramíneas quando comparada com a de leguminosas. Nas gramíneas, a taxa de digestão parece estar relacionada com a relação lignina:celulose. O certo é que a lignificação diminui a digestibilidade da celulose. Assim, para atender propósitos nutricionais práticos a celulose não deve ser considerada como uma substância única já que apresenta grandes variações entre plantas e dentro da mesma. LIGNINA A lignina é um polímero fenólico resistente à hidrólise química e enzimática no rúmen. Sua principal função é a de suporte e sustentação da planta. Ela age como substância cimentante dos polissacarídeos da parede celular, porém, também confere resistência mecânica e proteção contra agentes patógenos externos, tanto química quanto fisicamente (HIGUCHI, 1980). Depois da celulose, a lignina é o polímero orgânico mais abundante no planeta e por isto têm recebido especial interesse de grupos de pesquisa ao redor do mundo. Para atender a sua função de proteção contra ataques bacterianos, especialmente durante a fase de crescimento da planta, a molécula de lignina associa-se estreitamente com os carboidratos da parede celular formando um revestimento protetor sobre a estrutura de celulose-hemicelulose na célula vegetal (NUNES, 1998). Não apenas o teor de lignina aumenta com a maturidade, é possível que a lignina presente nas folhas seja diferente daquela presente no caule das plantas (SAVIOLI; FUKUSHIMA, 2000). Também existem indícios de que ocorrem modificações estruturais na molécula de lignina ao longo dos estádios de maturidade (FUKUSHIMA; DEHORITY, 2000). Tais eventos poderiam explicar as diferenças na digestibilidade entre as frações da planta bem como a influência do estádio de maturidade. As metodologias disponíveis para quantificar o teor de lignina em plantas forrageiras geralmente se dividem em dois grupos segundo sua natureza: os métodos gravimétricos e os métodos não gravimétricos. No grupo dos métodos gravimétricos está representado pelos procedimentos: lignina detergente ácido (LDA) preconizado por Van Soest (1963b), lignina permanganato de potássio (LPer) descrito por Van Soest e Wine (1968), e o método lignina Klason (LK) (THEANDER; WESTERLUND, 1986). Porém, estes métodos de natureza gravimétrica nem sempre refletem o real valor da lignina (FUKUSHIMA; HATFIELD, 2004). A determinação do valor real de lignina pode ser útil para estimar a extensão da digestão da fibra (BARTON; AKIN, 1977). Van Soest (1963b) 296 utilizou a solução de detergente ácido para obter a FDA, preparação ligninocelulósica isenta de proteína, com o objetivo de tratá-la com ácido sulfúrico 72% e hidrolisar os componentes da parede celular exceto a lignina. Denominou este método como lignina detergente ácido (LDA). O método LDA frequentemente subestima os teores de lignina devido à solubilização de até 50% dela na solução de detergente ácido (KONDO; MIZUNO; KATO, 1987), ou então na solução de ácido sulfúrico 72% (HATFIELD; JUNG; RALPH et al., 1994). Esta constatação é observada especialmente em gramíneas (LOWRY; CONLAN; SCHLINK et al., 1994). O método LK foi desenvolvido para ser utilizado na determinação do teor de lignina em madeiras. Este método utiliza a preparação fibrosa fibra dietética ou parede celular bruta como substrato a ser hidrolisado com ácido sulfúrico 72%. A fibra dietética é obtida segundo Theander e Westerlund (1986), após o tratamento sucessivo das amostras com as enzimas amilase e amilo-glicosidase em tampão fosfato e finalmente com álcool etílico 80%. Tanto o método LDA como o LK tem produzido resultados conflitantes para as mesmas amostras de plantas forrageiras, apesar de ambos se basearem no mesmo princípio da hidrólise ácida dos componentes da parede celular (HATFIELD; JUNG; RALPH et al., 1994). Além da perda de parte da lignina, os resultados destes métodos podem sofrer alterações em função de contaminantes insolúveis (FUKUSHIMA, 1989) e, portanto, não refletir a quantidade real do polímero presente nas amostras. A parede celular vegetal contém proteínas, geralmente chamada de extensinas, que tem função estrutural dentro da matriz da parede celular e tem sido sugerido que podem estar enlaçadas à lignina (WHITMORE, 1982). As extensinas são compostos ricos em hidroxiprolina, mas também apresentam elevado conteúdo de alanina, serina e treonina (DARVILL; MCNEIL; DARVILL et al., 1980). Esta composição característica de aminoácidos e a impossibilidade de extrair grande parte da proteína das paredes celulares, sob condições não degradáveis, indicam que esta proteína é um componente primário na estrutura da parede celular vegetal (ESCOLA SENAI, 1988). A parede celular de madeiras, e consequentemente sua lignina, é livre de proteínas (ESCOLA SENAI, 1988), porém, este não é o caso da parede celular de plantas forrageiras, especialmente de leguminosas que apresentam altos teores de proteína, o que representa um sério obstáculo ao método LK (VAN SOEST, 1994). Os autores (VAN SOEST; WINE, 1967; YOUNG; LAI, 1971) apontaram que a principal limitação ao uso do método LK em plantas forrageiras era a inclusão de proteínas no resíduo insolúvel. Algumas alternativas para contornar o problema foram propostas como, por exemplo, tratamento da amostra com enzimas proteolíticas que ajudassem a remover o material protéico (ARMITAGE; ASHWORTH; FERGUSON, 297 1948; SULLIVAN, 1959) ou mensuração do conteúdo protéico no resíduo para calcular as devidas correções (THOMAS; ARMSTRONG, 1949). Entretanto, a primeira alternativa não demostrou ser eficiente e a segunda pressupõe mais trabalho e tempo para as análises. Pelo apresentado anteriormente, a recomendação padrão para as análises de lignina que utilizam estas metodologias é quantificar proteína nos resíduos de LDA e LK (HATFIELD; JUNG; RALPH et al., 1994). Também é aconselhável que se quantifique teor de cinzas nestes resíduos (JUNG; MERTENS; PAYNE, 1997; JUNG; VAREL; WEIMER et al., 1999). Udén, Robinson e Wiseman (2005), reportaram que a presença de material mineral na LDA poderia ser explicada pelo fato de que a sílica é parcialmente solubilizada pela solução de detergente neutro, mas é quantitativamente recuperada na solução de detergente ácido e pode contribuir aumentando os teores de LDA. Outro possível contaminante nos resíduos de LDA e LK é a cutina (VAN SOEST, 1994; FUKUSHIMA, 1989). A cutina é composta por ésteres hidroxilados de ácidos graxos e álcoois de cadeia longa e permanece no resíduo de FDA. A cutina pode ser determinada tratando sequencialmente a FDA com ácido sulfúrico a 72% e depois com solução de permanganato de potássio (VANSOEST; WINE, 1968; VAN SOEST, 1994). A lignina detergente ácido (LDA) é a metodologia mais empregada atualmente no mundo nas áreas de Agronomia e Ciência Animal. Muito embora, vários estudos (FUKUSHIMA; SAVIOLI, 2001; FUKUSHIMA; HATFIELD, 2004; HATFIELD; FUKUSHIMA, 2005) tenham reportado que os valores obtidos por meio do emprego dela são inferiores e apresentam maior variabilidade do que os valores obtidos por metodologias espectrofotométricas mais recentemente desenvolvidas. Mudanças nos hábitos são normalmente lentas, particularmente na comunidade científica. O método lignina brometo de acetila foi inicialmente proposto por Johnson e Moore (1961), para ser usado em madeiras e posteriormente modificado por Morrison (1972) para seu uso em forragens. Este procedimento resulta na formação de derivados de acetil com grupos OH não substituídos dentro do polímero de lignina, e a substituição dos grupos OH nos carbono-α pelo brometo, desta forma, liberando a molécula de lignina solúvel em ácido acético (Figura 1). 298 Figura 1 - Estrutura da lignina natural e sua forma acetilada após o tratamento com solução de brometo de acetila a 25%. Fonte: Adaptado de: (Hatfield e Fukushima, 2005) O método é baseado na absorção da radiação ultravioleta pelo complexo de brometo acetil-lignina em valores de 280 nm e várias modificações têm sido sugeridas desde que foi proposto. Este método espectroscópico foi proposto como alternativa aos métodos disponíveis na época. Entretanto, o método carecia de um padrão de referência confiável para desenvolver as curvas de calibração, com as quais seriam comparadas as leituras de absorbância. Isto representava um sério entrave, pois todo método espectrofotométrico pressupõe a existência de um padrão (FENGEL; WEGENER, 1984). Diversos materiais já foram empregados como padrões por diversos autores: Indulina (BACON; CHESSON; GORDON, 1981), lignina “kraft” (BRILLOUET; RIOCHET, 1983), guaiacol (SHARMA; BRILLOVET; 1986), ácido ferúlico (AL-ANI e SMITH, 1988), lignina nativa (FUKUSHIMA; DEHORITY; LOERCH, 1991) e lignina brometo de acetila (FUKUSHIMA; DEHORITY, 2000), entre outros. A necessidade de uma curva de calibração impediu a adoção rotineira deste método (FUKUSHIMA; DEHORITY, 2000) o que levou Fukushima e Hatfield (2001, 2004) a proporem como padrão a lignina extraída com dioxano. Os autores demonstraram que a lignina extraída com solução ácida de dioxano continha teores menores de contaminantes, especialmente carboidratos e proteínas. O uso desta lignina como padrão de referência nas leituras espectrofotométricas resultou em concentrações de lignina mais consistentes para as plantas estudadas. Apesar do processo funcionar satisfatoriamente, este requer que a lignina seja extraída de cada amostra para a construção das curvas de calibração o que representava uma desvantagem pelo tempo e custo, limitando o uso da metodologia. Mais recentemente, procurando contornar esta desvantagem, os autores (FUKUSHIMA; KERLEY, 2011) propuseram uma equação de regressão, obtida a partir das curvas de calibração de várias plantas, que pode ser utilizada para determinar o conteúdo de lignina em qualquer espécie vegetal independentemente da sua origem botânica. 299 Os estudos de Ramos, Fukushima e Kerley et al. (2012), utilizando o método LBA, mostraram que as curvas entre a lignina e a digestibilidade são exatamente iguais para gramíneas e para leguminosas; e como a diferença na composição da lignina entre estes dois gêneros vegetais está amplamente reportada, a semelhança das curvas derruba a teoria de inibição diferenciada pela composição do polímero de lignina. Este método vem despertando o interesse de pesquisadores durante as últimas duas décadas e os estudos têm sido dirigidos a colher informações que validem e padronizem os resultados e permitam que o uso do método torne-se comum nos laboratórios ao redor do mundo. Outros procedimentos analíticos já foram utilizados para tentar melhor quantificar o teor de lignina em plantas forrageiras. Por exemplo, (IIYAMA; LAM; STONE, 1990; BILLA; TOLLIER; MONTIES, 1996) tentaram quantificar ácidos e aldeídos fenólicos individuais após oxidação alcalina com nitrobenzeno, mas este procedimento só estima parcialmente os monômeros e exige correções matemáticas para o total de fenóis que compõem a lignina (IIYAMA; WALLIS, 1989). Ao oxidarem a molécula de lignina com nitrobenzeno, Fukushima e Hatfield (2001), não obtiveram a totalidade da lignina medida através da somatória dos seus componentes principais. Lu e Ralph (1997, 1998), também não conseguiram hidrolisar a totalidade dos blocos consecutivos da lignina ao empregar o procedimento de clivagem com brometo de acetila. Outra técnica empregada é a de ressonância magnética nuclear, um instrumento analítico de alto valor já que fornece informações detalhadas e específicas sobre os componentes moleculares da lignina e possíveis substâncias contaminantes da mesma (RALPH; HATFIELD; GRABBER, 1998; FUKUSHIMA; HATFIELD, 2003). Entretanto, esta técnica é de caráter qualitativo e não permite fazer avaliações quantitativas. O grande obstáculo para avaliar a acurácia dos métodos analíticos é a falta de um material de referência com o qual o resultado de um determinado método possa ser comparado, o que exige o emprego de meios auxiliares. Possivelmente as melhores ferramentas coadjuvantes para auxiliar na determinação de um método analítico adequado, sejam os ensaios de digestibilidade (in vitro, in vivo ou in situ) através da correlação estatística (regressão) com os teores de lignina, medida pelos métodos analíticos a avaliar. Nossos estudos tem utilizado o procedimento de digestibilidade in vitro, devido ao elevado numero de amostras, facilidade de execução e grande fidelidade para expressar os fenômenos observados em estudos de digestibilidade in vivo (REINHART; SUNVOLD, 1996) 300 “CORNELL NET CARBOHYDRATE & PROTEIN SYSTEM” Devido à incapacidade do sistema detergente para reconhecer as diversas frações de carboidratos, com diferentes solubilidades e características de degradação distintas, foi proposto o “Cornell Net Carbohydrate & Protein System” (CNCPS) (FOX; SNIFFEN; O’CONNOR et al., 1992; RUSSELL; O’CONNOR; FOX et al., 1992; SNIFFEN; O’CONNOR; VAN SOEST et al., 1992). Este sistema utiliza equações para estimar a digestão e passagem das diversas frações de carboidratos e proteína considerando a dinâmica ruminal. As equações do CNCPS dividem o ecossistema ruminal em microrganismos que fermentam carboidratos estruturais (aqueles contidos na parede celular) e em microrganismos que fermentam carboidratos não estruturais (amido, pectina, açúcares, etc.). A concentração destes carboidratos afetará diretamente a produção de proteína microbiana (RUSSELL; OCONNOR; FOX et al., 1992). No nível dois do CNCPS, os carboidratos totais são fracionados em estruturais e não estruturais, e o conteúdo é calculado a partir de dados de FDN, corrigidos para teores de cinzas e proteína (FOX; SNIFFEN; O’CONNOR et al., 1992). O fracionamento de carboidratos e proteínas é uma das melhores ferramentas para maximizar a eficiência microbiana, já que as fontes de carboidratos aportam energia e esqueletos carbônicos para os microrganismos ruminais, enquanto a proteína é fonte de nitrogênio (COELHO DA SILVA; LEÃO, 1979). Segundo Nocek, Russell e Fallon et al. (1988), a taxa de digestão do alimento no rúmen e, particularmente, o sincronismo entre a taxa de digestão das proteínas e dos carboidratos pode ter importante efeito sobre os produtos finais da fermentação e, consequentemente, sobre a produção animal. Portanto, é de crucial importância a correta avaliação das frações de carboidratos e detalhada caraterização deles. Para estimar o conteúdo de carboidratos totais (CHO) utiliza-se a fórmula: CHO (MS%) = 100 – [PB (MS%) + EE (MS%) + MM (MS%) + Lig (MS%)] (Fukushima – informação pessoal) E dentro dos carboidratos totais, Sniffen e O`Connor et al. (1992) propuseram quatro frações de carboidratos com base na taxa de degradação ruminal e na disponibilidade dos nutrientes de cada fração. As frações, com base no teor de CHO, são: A, B1, B2 e C. A fração A, é composta principalmente pelos carboidratos solúveis e é rapidamente degradada no rúmen. A (CHO%) = [100 – amido (CNE%)] x [100 – B2 – C] / 100 301 O conteúdo de amido calcula-se em base nos carboidratos nãoestruturais (CNE), que são solúveis em solução de detergente neutro, e constituem principalmente as frações A e B1. CNE (MS%) = 100 – [PB (MS%) + FDNcp (MS%) + EE (MS%) + MM (MS%)] A fração B1 apresenta taxa de degradação maior que a sua taxa de passagem, e é composta por amido e pectina. B1 (CHO%) = amido (CNE%) x [100 – B2 – C] / 100 A fração B2 está ligada à parede celular vegetal e apresenta disponibilidade ruminal lenta, e portanto sua extensão e degradação pode ser afetada pela taxa de passagem. É composta pelos carboidratos estruturais da parede celular. B2 (CHO%) = 100 x [FDNcp (MS%) – PBFDN (PB%) x 0,01 x PB (MS%) – FDNcp (MS%) x 0,01 x lignina (FDNcp%) x 2,4] / CHO (MS%) A fração C é composta pela lignina e outros componentes indisponíveis da parede celular. C (CHO%) = 100 x [FDNcp (MS%) x 0,01 x lignina (FDNcp%) x 2,4] / CHO (MS%) Tanto a equação B2 como a equação C do CNCPS, expressa o conteúdo de lignina com base na FDN livre de cinzas e proteína (FDNcp), e este valor é multiplicado por um fator de correção de 2,4, originado a partir de um estudo de Chandler e Jewell et al. (1980). Neste estudo, foram fermentados alguns materiais lignocelulósicos (incluindo fezes de animais herbívoros) por 90 ou 120 dias, e após este longo período de incubação, observaram que o teor de carboidratos recalcitrantes à degradação foi de, na média, 2,4 vezes o teor de lignina. Queiroz e Fukushima et al. (2008), questionaram a inclusão da pectina e dos demais carboidratos solúveis da parede celular na fração B1 do CNCPS. Estes autores sugeriram que estes carboidratos, também denominados de fibra solúvel (FS), fossem alocados para uma fração exclusiva. Portanto, a fração B1 seria composta exclusivamente pelo amido. B1 (CHO%) = amido (MS%) / CHO 302 A sugestão da criação de uma nova equação para alojar a pectina e os demais oligossacarídeos solúveis na solução de detergente neutro, tais como β-glucanos, fructosanas, gomas, etc., origina uma equação que emprega os resultados dos métodos para determinar o teor de fibra. B2 (CHO%) = (PCcp – FDNcp) / CHO Neste mesmo trabalho, também propuseram uma equação simplificada da equação C do CNCPS, na qual o conteúdo de lignina é expresso com base na matéria seca, ao invés de FDN livre de cinzas e proteína (FDNcp), com os mesmos resultados. C (CHO%) = 100 x [lignina (MS%) x 2,4] / CHO (MS%) Como no CNCPS original a fração B2 é a dos carboidratos da parede celular, lentamente digestíveis, sustenta-se a seguinte proposta para estes carboidratos. B3 (CHO%) = 1000 x [PCcp – FS – lignina (MS) x 2,4] / CHO (MS) (Fukushima, informação pessoal). As três equações propostas pelos autores supracitados são menos laboriosas do que suas contrapartes do CNCPS, e a preparação fibrosa FDN é usada para se estimar o teor de FS. Uma questão que pode ser suscitada é, “qual é a relação entre as equações de Cornell que estimam os carboidratos com o teor de lignina?”. A implicação reside no fato das equações B3 e C terem a lignina como um dos seus elementos. Claramente os erros analíticos relevantes aos métodos tradicionais vão impactar substancialmente os resultados das estimativas de carboidratos e consequentemente afetar negativamente as estimativas de valor nutricional dos alimentos e a produção microbiana advinda da fermentação destes alimentos. Se esta premissa for verdadeira, então podese inferir que um método analítico para lignina com maior poder de acurácia e precisão (no presente caso, a sugestão da LBA) poderá resultar em maior força nas estimativas do valor nutritivo e produção microbiana. Outro aspecto igualmente importante e que se alinha ao argumento acima, é a equação dos CHO totais proposta pelos pesquisadores de Cornell: CHO (MS%) = 100 – [PB (MS%) + EE (MS%) + MM (MS%) Claramente esta equação falha ao excluir a lignina. Ou então, ela está subentendida como pertencente à fração dos CHO totais, o que origina 303 uma distorção ainda maior. Devido ao fato da lignina ser um componente numericamente expressivo, as consequências são assustadoras: todas as estimativas das frações de carboidratos, seja pelo CNCPS ou qualquer outro sistema que no passado utilizaram os CHO totais como indexador, estão enviesados. RESULTADOS RECENTES Um estudo recente realizado por Velásquez, (2012), utilizou 5 espécies forrageiras: Brachiaria brizantha cv. Marandú, Brachiaria brizantha cv. Xaraés (MG-5), Panicum maximum cv. Mombaça, Pennisetum purpureum cv. Cameroon e Pennisetum purpureum cv. Napier. As plantas foram colhidas em sete estádios de maturação, em intervalos de 15 dias entre cortes, sendo: pré-florescimento 1 (35 dias), pré-florescimento 2 (50 dias), início de florescimento (65 dias), florescimento total (80 dias), pós-florescimento 1 (95 dias), pós-florescimento 2 (110 dias) e pós-florescimento 3 (125 dias). A PC foi determinada segundo o protocolo proposto por (Fukushima e Hatfield, 2001), o qual utiliza solventes orgânicos, que por meio de um aparelho de Soxhlet fazem a lavagem das amostras para retirar o conteúdo celular e manter a parede celular intacta. As determinações de FDN e FDA realizaram-se segundo (VAN SOEST; ROBERTSON; LEWIS, 1991) num determinador de fibra TE-149 (TECNAL, São Paulo, Brasil). Nas amostras vegetais e nas FDN e PC, o conteúdo de cinzas (minerais) foi determinado por combustão em forno mufla (MARCONI, São Paulo, Brasil) a 450°C, e a proteína bruta (N x 6,25) foi medida utilizando um destilador de nitrogênio TE 036/1 (TECNAL, São Paulo, Brasil). Os teores de lignina permanganato de potássio foram determinados segundo (VANSOEST; WINE, 1968), e a determinação de lignina Klason foi realizada de acordo com (HATFIELD; JUNG; RALPH, et al., 1994). A quantificação de lignina brometo de acetila seguiu a técnica descrita por Fukushima e Kerley (2011), onde o padrão de referência foi representado por uma equação de regressão derivada da média de coeficientes de extinção de 17 amostras purificadas de lignina, oriundas de diversas plantas, variando de madeiras a gramíneas, passando por leguminosas, e incluindo-se 3 amostras de ligninas comerciais. O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado, com duas repetições para todas as análises. A análise de variância e as correlações entre os teores de lignina e a digestibilidade in vitro da matéria seca foram obtidos utilizando o PROC GLM e o PROC CORR, respectivamente, do software estatístico SAS (SAS, 2009), versão 9.1. As comparações entre as médias dos tratamentos foram realizadas pelo teste de Tukey, ao nível de 5% de probabilidade. Devido à existência de interação entre o método analítico versus espécie e versus corte decidiu-se comparar as metodologias entre 304 elas dentro de cada espécie, o que tinha maior relevância frente ao principal objetivo deste estudo. Cerca de 80% da MS foi composta por parede celular (PC). Portanto, é previsível que o aumento no teor de MS seja acompanhado por um aumento nos valores de PC. É de se esperar também, que os rendimentos de PC aumentem conforme avança o estádio de maturidade das plantas (SAVIOLI; FUKUSHIMA, 2000). Os valores observados estão próximos aos reportados por (SAVIOLI; FUKUSHIMA; LIMA et al., 2000) que observaram teores de PC entre 68% a 79%, no caule e nas folhas de diferentes gramíneas, em dois estádios de maturidade. Composição bromatológica média de 5 espécies de gramíneas tropicais em 7 estádios de maturidade matéria seca; 2parede celular; 3fibra em detergente neutro; 4fibra em detergente ácido; 5fibra solúvel 105°C; 6celulose; 7hemicelulose; 8fibra em detergente neutro corrigida para cinzas e proteína; 9parede celular corrigida para cinzas e proteína; 10digestibilidade in vitro da matéria seca. 1 Considerando que a preparação fibrosa PC preserva a totalidade dos componentes da parede celular enquanto que a solução de detergente neutro, utilizada para obter a FDN, solubiliza e remove substâncias pécticas e outros oligossacarídeos (como os β-glucanos, fructosanas, gomas, etc.), pode-se prever que os valores de PC sejam maiores que os valores registrados para os teores de FDN. Os valores observados na tabela 1 sustentam as afirmações de vários autores que reportaram perda da pectina e outros componentes da parede celular na solução de detergente neutro. A análise estatística realizada sobre estes dados mostrou que houve diferença significativa entre os valores de FDN e PC em todos os estádios de maturidade. As correções de cinzas e proteína nas preparações fibrosas FDN e PC são feitas simplesmente pelo fato de cinzas e proteína não serem consideradas fibras, no sentido dietético, muito embora a proteína tenha papel estrutural dentro da parede celular. Bacha (2006) e Queiroz, Fukushima e Gomide, (2008), substituíram 305 a fração FDNcp pela preparação PCcp nas equações de Cornell (CNCPS) que estimam as frações de carboidratos dos alimentos e verificaram que esta substituição é possível. Uma importante conclusão destes trabalhos foi a possibilidade de se estimar a fração carboidrato solúvel na solução de detergente neutro, a fibra solúvel (FS) que inclui a pectina, β-glucanos, fructosanas, gomas, etc., usando a relação FS = PCcp – FDNcp. O procedimento PC proposto por Fukushima e Hatfield (2001) mantém íntegra esta fração na matriz da parede celular. Da mesma forma, como a solução de detergente ácido remove a hemicelulose, é de esperar que os valores de FDA sejam inferiores aos valores de FDN e PC. A diferença observada entre FDN e FDA deve-se em maior parte à solubilização da hemicelulose, constituinte este que não está presente na fração FDA, mas sim na FDN (VANSOEST; ROBERTSON; LEWIS, 1991). Estas observações foram constatadas nas análises do presente estudo, onde o rendimento de PC foi superior aos valores obtidos para fibra em detergente neutro (FDN) e fibra em detergente ácido (FDA) (Tabela 1). Os teores de FDN e FDA observados correspondem com as observações de Malafaia, Valadares Filho e Vieira et al., (1998), as de Ribeiro, Pereira e Valadares Filho (2001) e as de Bacha (2006) que observou valores entre 58,9% a 80,6% para a FDN e 31% a 56% para a FDA, em diferentes gramíneas tropicais em dois estádios de maturação. Nas equações da Cornell Net Carbohydrate and Protein System, as frações FDN são inseridas livres de cinzas e proteína motivo pelo qual o mesmo procedimento foi adotado para PC neste estudo. Aderindo a este preceito, determinou-se o teor de cinzas e proteína na FDN e na PC, sendo possível calcular a fibra em detergente neutro livre de cinzas e proteína (FDNcp) e a parede celular livre de cinzas e proteína (PCcp) Ao subtrair estes valores de FDNcp e PCcp dos seus respectivos valores de FDN e PC, constatou-se que a concentração destes compostos orgânicos, em gramíneas, é pequena. No caso das gramíneas, a correção para cinzas e proteína parece não ser muito importante pelas quantidades relativamente pequenas presentes nas amostras de FDN e PC, porém em amostras de leguminosas, que são ricas em proteínas (UDÉN, 2006), correções são necessarias. Neste sentido, devido ao fato da proteína ser considerado um contaminante na fração fibrosa, Goering, Smith e Van Soest, (1973), propuseram o uso de sulfito de sódio com o intuito de remover a proteína da parede celular. No estudo de Velásquez (2012) anteriormente citado, o método LDA reportou os menores valores de lignina entre todas as espécies em todos os estádios de maturidade. Os valores de LBA foram os mais altos entre os métodos comparados, e apresentaram diferencia significativa em todas as espécies para todos os estádios de maturidade (Figura 1). 306 CONCLUSÕES Têm sido necessários muitos anos de pesquisa para chegar aos procedimentos disponíveis hoje para análise de fibra. Porém, ainda estamos longe de caracterizar fielmente a parede celular vegetal em todos seus componentes e todos os métodos utilizados atualmente apresentam falhas e/ ou limitações. Nunca se deve confiar em resultados de pesquisa cegamente, já que os resultados mais atuais tem permitido dilucidar que vários fatores que se tinham como realidades, hoje devem ser reavaliadas. O método LBA para quantificação de lignina em plantas forrageiras é uma alternativa interessante aos métodos gravimétricos tradicionais, LDA e LK, já que não sofre interferências causadas pela presença de cinzas e proteína ou pela perda de lignina durante a preparação das amostras para análise. A possível interferência por outros compostos contendo anéis fenólicos na análise de LBA é inexpressiva já que estes compostos são precipitados ou removidos pelo meio analítico. A utilização de uma curva de calibração possibilita o uso de este procedimento de forma rotineira no laboratório de forragens. Tanto a LK quanto a LDA utilizam-se de ácidos fortes que requerem adequada manipulação; além disso, recomenda-se medir proteína e cinzas nos resíduos de lignina, o que aumenta substancialmente o tempo de análise, e na LBA não é necessário realizar nenhum tipo de correção uma vez finalizado o procedimento. Recomendam-se maiores estudos, diversificando espécies forrageiras, particularmente a questão dos valores supostamente mais baixos de LBA nas leguminosas. O método LBA é conveniente para determinar a concentração total de lignina em plantas forrageiras e uma boa opção para uso rotineiro nas análises de laboratório. 307 LITERATURA CITADA AL-ANI, F.; SMITH, J. E. Effect of chemical pretreatments on the fermentation and ultimate digestibility of bagasse by Phanerochaete chrysosporium. Journal of the Science of Food and Agriculture, London, v. 42, n. 1, p. 19-28, 1988. ARMITAGE, E. R.; ASHWORTH, R. D.; FERGUSON, W. S. The determination of lignin in plant material of high protein content. 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Neste capítulo são discutidas as interações entre o animal e o ser humano, abordando especialmente os pontos de vista dos pesquisadores de ciência animal, pequenos e grandes produtores, peões de fazendas e população consumidora; a forma como vivenciam a ambiguidade de sentimentos nestas interações e os problemas éticos decorrentes da criação destes animais. INTRODUÇÃO Vivenciamos uma época onde, mais do que nunca, a interação entre o homem e o animal é expansiva e intensa, de modo que não seja uma exclusividade dos pets: tal interação tem sido constantemente detectada nos sistemas de produção. O Brasil, sendo uma das maiores potências mundiais no que diz respeito à criação e produção animal, ultrapassando a marca de 212, 8 milhões de cabeças de bovinos, 34,9 milhões de suínos e 12.863.000 toneladas de aves abatidos, e ocupando a 5ª posição na produção mundial de leite, além de contar com uma produção anual de 11 milhões de toneladas de lã, e também crescente potencial de produção de queijos finos de caprinos (IBGE, 2012), nos mostra que a tendência em produção animal aumenta exponencialmente, de modo que tal representatividade acarreta em maiores níveis de exigências quanto às praticas de produção, reprodução, nutrição, saúde e bem estar dos animais. A interação entre humanos e animais de produção sempre existiu, porém, com a evolução da era industrial, animais como aves, suínos e bovinos 313 de corte passaram a ser criados exclusivamente como máquinas geradoras de proteína animal. Superar o problema relacionado à eficiência de produção quanto às exigências de mercado, abordando o bem estar animal e um manejo adequado (quesitos cada vez mais importantes, à medida que o Brasil consolida números expressivos, como citados acima), torna-se um desafio, uma vez que questiona-se no momento em que o animal será transformado em comida, a dicotomia entre o sentimento afetivo e a produção, nessa relação que, inicialmente, é simbiótica, As questões éticas, morais e econômicas relacionadas ao tema, muitas vezes encontram-se dissociadas do bem estar, sugerindo a necessidade premente da aplicação de conhecimentos específicos, conscientizando todos aqueles que trabalham com a produção animal. Autores como Broom (1986) e Molento & Broom (2004), afirmam que este questionamento deixa de ser pontual e passa a ser mais abrangente, de modo que a sociedade clama por uma valorização do bem estar destes animais de forma efetiva e consistente, cabendo à Universidade o papel de formar indivíduos que tenham como objetivo não só produzir, mas também que entendam a sensciência de cada animal como um ser vivo, que como tal, merece respeito, assegurando que durante a sua vida, suas necessidades sejam atendidas. A INTERAÇÃO COM OS ANIMAIS EM SISTEMAS PRODUTIVOS Os produtores estão em íntima relação com os animais através de um contato constante, o que lhes traz uma compreensão de seus comportamentos, bem como de suas necessidades fisiológicas. Entretanto, é a preocupação em produzir alimentos que beneficiem sua saúde que leva os produtores rurais a justificarem o abate e enaltecer seus produtos. Avaliar um sistema de produção apenas baseado num critério de produtividade, ou mesmo de lucratividade, pode levar a equívocos, pois o mesmo pode não ser benéfico, nem eticamente aceitável para a vida animal. Para Hermsworth e colaboradores (1998), a atitude do produtor em relação aos animais está implicitamente relacionada ao bem estar, produtividade e reprodução dos mesmos, reforçando através de modelos a influencia do ser humano sobre as relações com a produção animal. Se buscamos viver e produzir, devemos primeiro entender o significado do comportamento dos nossos animais de produção, aceitar sua sensciência e correlacionar o seu bem estar como parâmetro essencial de qualidade ao alimento de origem animal que iremos consumir. Estamos, atualmente, em um contexto social no qual, ao que se costuma dizer, a sociedade apresenta uma consistência reforçada acerca de temas pertinentes ao meio ambiente e aos animais, incluindo-se nesse contexto o bem-estar dos mesmos; algumas das consequências mais notáveis 314 são o crescimento do vegetarianismo e do veganismo em tendência mundial, assim como maiores preocupações com o tema da sustentabilidade e o surgimento de novas exigências de mercado relativas à logística da produção (abate humanitário, por exemplo), algumas das quais representadas por selos de qualidade. Ainda, reforçado pela chamada “pandemia da obesidade” (Rassi, 2013), tem-se dado mais atenção à alimentação saudável, intimamente ligada com o consumo ou não de alimentos de origem animal, bem como com a exigência por uma produção mais orgânica dos mesmos. Imediatamente surge, neste panorama, questões acerca dos modos de produção, inevitavelmente chegando ao nível da relação homem-animal no estabelecimento produtor, já que uma maior organicidade produtiva aumenta o contato entre o produtor e animal, abrindo mão de maquinarias e outras soluções tecnológicas responsáveis por uma produção mais industrial e, ao mesmo tempo, o posicionamento dos animais como meros objetos, assim como dos tratadores como operadores tecnológicos. Em uma produção mais orgânica, muito representativa no Brasil, sobretudo na bovinocultura, onde a criação é majoritariamente em caráter extensivo, pode-se falar em um grande dilema sobre a relação entre um pequeno produtor rural e seus animais. Como conviver intimamente com um animal, tratando-o em todas as fases de sua vida e, muitas vezes, vivendo sobre o mesmo terreno, sabendo que este companheiro se tornará a comida? Parece restar tão somente a opção pelo sentimento de conformidade, assim como um cidadão qualquer, por mais que ame os animais, não pode simplesmente adotar a todos os que encontrar na rua, guardado o caráter relativo de cunho cultural – no Brasil, os cães ocupam uma posição de destaque entre os animais de estimação, enquanto que, na China, por exemplo, são tidos sem grandes restrições como alimento. Não cabe, portanto, prosseguir com tal análise sob a ótica que privilegia a produção: a mesma mais se aproxima à valorização da produção intensiva à medida em que se rotula um animal como alimento, deixando de lado a relação homem-animal. A questão, então, chega ao terreno do bemestar, procurando-se fornecer ao animal, enquanto em vida, condições adequadas às suas necessidades, dado que, na ocasião de seu abate, a adoção de procedimentos menos dolorosos é feita de acordo com o nível de sensibilidade dos responsáveis. É preciso, portanto, trabalhar tais aspectos, que acabam sendo dificultados pela existência de um limite entre o nível dos investimentos na qualidade de vida dos animais de produção e um devido retorno financeiro que os justifique, ao que se exige do consultor rural um amplo conhecimento sobre extensão e as correlações entre as aquisições em bem estar e o aumento no valor agregado do produto. Sabe-se, contudo, que na maioria das vezes tais correlações são positivas e, dessa forma, passa a ser tarefa dos profissionais 315 a difusão de noções gerais para que se alcance um modo de produção ótimo nesse aspecto e com um devido preparo emocional do produtor, para que hajam aplicações adequadas das inovações em questão. Estudos envolvendo também o lado emocional do tratador, como empatia uma ou outra espécie e a personalidade do tratador, foram desenvolvidos por Seabrook, (1984), English, (1991) e Lensink (2002), porém tais pesquisas não indicaram claramente qual a exata relação entre a personalidade do tratador e a empatia sobre a produção, ou se as mesmas estavam mais relacionadas às praticas de manejo e tecnologias empregadas. Entretanto, a relação do produtor rural com seus animais gera comportamentos intimamente correlacionados a fatores que interferem na produtividade (Figura 1). Figura 1: Modelo modificado, baseado em Hemsworth & Coleman, 1998, sobre a dinâmica da interação homem-animal em sistemas de produção. ASPECTOS CULTURAIS E SOCIAIS PRESENTES NA PRODUÇÃO ANIMAL Não é novidade que, ao redor do mundo, o sistema de produção animal, bem como suas matrizes, possui variações mediadas pelo caráter social e cultural vigente. As características da vida moderna têm levado à escolhas alimentares mais complexas, fazendo com que hábitos alimentares sejam pautados por questões éticas, espirituais ou ecológicas, fatores estes que têm estimulado cada vez mais pessoas a refletirem sobre sua dieta alimentar, 316 refletindo em suas decisões a respeito do uso da proteína animal em sua dieta (Franco & Rego, 2012). Assim como citado anteriormente, a respeito das diferentes abordagens do cachorro entre o Brasil e a China, outros países, povos e culturas têm suas particularidades. A carne do cachorro é um alimento consumido principalmente na Ásia Oriental, em alguns países da África, como a Nigéria, e também nas Filipinas, onde sua produção é feita na área rural, especificamente para o consumo humano (Murray, 2007) (Figura 2). Os escargots, especiarias da culinária francesa, não obtiveram o mesmo sucesso em nosso país, onde não são considerados alimento, mas sim uma praga, de acordo com o mito de que transmitem doenças, além de serem associados a moluscos de jardins (Figura 3). Figura 2: carne de cachorro sendo comercializada na China (fonte: http://asia4net.com/2009/12/carne-de-cachorro/) Figura 3: Escargots prontos para consumo (fonte: http://blogdopeco.blogspot.com.br/2010/03/escargot-molusco-pre-historico.html) 317 No Japão, cuja demografia não permite criações extensivas, desde os primórdios a população adaptou-se a obter proteína de origem animal oriunda dos peixes, que desempenham um papel essencial na dieta dos japoneses, aliado ao fato de ser um alimento de baixo valor calórico e alto valor nutricional (Oetterer, 2013). A Índia tem a maior população de bovinos e bubalinos do mundo, sendo 199 milhões de bovinos (15% da população mundial) e 105 milhões de búfalos (57%). Entretanto, ela representa um grande paradoxo em termos de alimentação oriunda de proteína animal devido a motivos religiosos, haja vista que o rebanho bovino existente neste país daria para alimentar toda a população durante 5 anos de acordo com as exigências nutricionais mínimas do ser humano, embora a população ainda sofra com a fome e desnutrição (Delgado, 1999) (Figuras 4 e 5). Também por motivos religiosos, a população judaica abdica do consumo da carne suína. Mesmo no Brasil, de acordo com a região, o consumo de algumas carnes, consideradas exóticas, como a de jacarés, quelônios e lagartos, é tão comum quanto o de um bovino qualquer, criado em uma pequena propriedade e em íntimo contato com o produtor, que foi concebido com a finalidade de ser convertido em alimento. (Ataídes et. al, 2010). Figura 4: Indiana amamentando bezerro (fonte: http://www.somdovialejo.com.br/das-vacas-deshiva/) Figura 5: Necessidades nutricionais X parâmetros culturais. (fonte:http://g1.globo.com/ Noticias/PlanetaBizarro/0,,MUL997465-6091,00-INDIA+PREPARA+REFRIGERANTE+DE+U RINA+DE+VACA.html) 318 Populações mais carentes tendem a ter menos proteína animal disponível em suas mesas quando comparadas ao resto da sociedade. Entretanto, com o barateamento da carne no Brasil, têm-se visto um grande aumento no seu consumo por estas pessoas, especialmente da carne de aves, que atualmente lidera o consumo interno (Gasques, 2013). A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO HUMANITÁRIA Domesticar animais para saciar a fome é uma atividade muito antiga e que ao longo dos anos conquistou grande relevância na economia mundial. Aos poucos, o homem foi aperfeiçoando os sistemas de criação, introduzindo o melhoramento genético, aliado à nutrição e ao manejo, que foram sendo aperfeiçoados para produzir alimentos em escala mundial. Neste contexto, questões extremamente polêmicas surgem como reflexos importantes. Assim, encontramos na educação humanitária o estabelecimento de conexões que sintetizem as ideias de Piaget quanto ao construtivismo do conhecimento cognitivo destinado a facilitar a adaptação dos seres vivos ao seu meio, podendo ser resumido na figura a seguir: Figura 06: Pilares da Educação Humanitária aplicados à Sistemas de Produção Animal A Educação Humanitária é fundada nos pilares da Empatia, Interdependência (percepção do ser humano sobre sua interação com o ecossistema), Conhecimento e Ética. Sua importância nos sistemas de produção enfoca-se na conscientização social sobre a necessidade de mudanças em 319 antigos paradigmas a respeito da interação com o animal, bem como sobre suas necessidades e percepção do meio, gerando diferentes abordagens para essa atividade econômica já tão consolidada nos hábitos alimentares da sociedade. CONSIDERAÇÕES FINAIS A interação homem-animal sob o aspecto produtivo carece de novas abordagens, ainda que esteja em constante evolução nos aspectos de criação, manejo, nutrição, genética, bem estar e sustentabilidade. É preciso considerar que tal interação é multifacetada, envolvendo questões complexas, como aspectos religiosos, culturais, socioeconômicos e políticos, de modo que não se possa julgá-los, embora haja a possibilidade de estudá-los e adaptá-los a um consenso que respeite tais diversidades. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BROOM, D.M. Indicators of poor welfare. British Veterinary Journal, London, v.142, p.524-526, 1986 BRAMBELL, F.W.R. Report of the Technical Committee to Enquire into the Welfare of Animals Kept Under Intensive Livestock Husbandry Systems. London: Her Majesty’s Stationery Office, 1965. DEN OUDEN, M.; NIJSING, J.T.; DIJKHUIZEN, D.; HUIRNE, R.B.M. Economic optimization of porkproduction-marketing chains: I model input on animal welfare and costs. 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