Revista (apenas texto) - Juventude Adventista Portuguesa

Transcrição

Revista (apenas texto) - Juventude Adventista Portuguesa
Sábado, 8 de março de 2014
O Reino de Deus, já começou
Kessia Reyne Bennett
Marcos 1:14-15
Vivemos num cosmos louco e conflituoso. O nosso mundo sofre e testemunha as terríveis
disputas que estão à nossa volta e dentro de nós. O poder do bem e do mal contendem pelos
corações humanos e pelos assuntos terrenos. Este mundo é um campo de batalha sangrento,
cheio de zonas de guerra e lares desfeitos, de controvérsias e terramotos, de pobreza e
ansiedade, de desflorestação e exploração humana.
Algo melhor está a chegar … e será em breve. Jesus voltará outra vez para fazer novas todas as
coisas. Como diz o hino, “Oh que esperança vibra em nosso ser, pois aguardamos o Senhor.”
No grande dia da volta de Jesus, Deus vai operar uma renovação e uma recreação que n enhum
poder será capaz de travar. Todo o caos será apaziguado, todos os conflitos serão sanados. O
céu, finalmente! Aleluia! Mas até lá … vivemos num “entretanto”, entre o Éden perfeito da
criação e o Éden restaurado da recreação. Entretanto, ainda que os nossos corações anseiem
pelo céu, os nossos pés estão firmemente implantados na poeira deste planeta louco e
conflituoso.
Se ao menos o céu pudesse começar agora… será que pode? Será possível Deus trazer o céu
para a terra apenas um pouco antes do previsto para que possamos desfrutar desse reino
agora? Imagina se o céu pudesse começar aqui. É isto que desejamos, não é verdade? É por
isso que, seguindo o exemplo do nosso Senhor, nós oramos: “Venha o teu reino e seja feita a
Tua vontade aqui na terra como no céu.” Se ao menos pudéssemos viver no céu agora …
As boas-novas são … bem, não as quero estragar. Vou deixar que seja o próprio Jesus a dizerte. Vê comigo Marcos 1:14, 15. Escuta as boas-novas de Deus: “Ora, depois que João foi
entregue, veio Jesus para a Galileia pregando o evangelho de Deus e dizendo: O tempo está
cumprido, e é chegado o reino de Deus. Arrependei-vos, e crede no evangelho ” (Marcos 1:14,
15). Jesus estava a proclamar, a pregar e a anunciar as boas-novas de Deus. E o que são essas
boas-novas? “O tempo está cumprido” e “é chegado o reino de Deus”. As boas-novas de Deus
que Jesus estava a proclamar são hoje ainda boas-novas! “O tempo está cumprido” e “é
chegado o reino de Deus”.
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Jesus disse que o tempo tinha chegado. Que relógio estava Ele a consultar? Um sofisticado
relógio de pulso do primeiro século? Talvez Ele tenha puxado do seu telemóvel para verificar o
tempo? Este não é o tipo de tempo que te diz que tens de ir para a próxima aula ou aquele que
te diz que tens mesmo, mesmo, mesmo que sair da cama por que já desligaste o despertador
três vezes e vais perder o autocarro. Não, a espécie de tempo de que Jesus está a falar é um
tempo que está envolto em esperança, a espécie de tempo que Deus determinou há muitos
anos atrás, o tempo que faz avançar o plano da redenção – é tempo profético.
E este relógio profético começou o seu tique-taque logo que Eva e Adão comeram daquele
fruto proibido e expuseram o mundo a uma escuridão inconcebível. Precisamente aí, no
Jardim do Éden profanado, o Senhor fez uma promessa, dizendo a Eva que os seus
descendentes poderiam esmagar o inimigo Satanás (Génesis 3:15). Quando Eva ficou grávida
pela primeira vez, ela teve a esperança de que o tempo tivesse chegado e de que Caim fosse O
prometido. Mas o tempo ainda não tinha chegado. E Deus manteve a esperança viva, manteve
essas incríveis promessas de uma criança que salvaria o mundo, promess as de um Deus
habitando com os homens e finalmente promessas do reinado de Deus: promessas de paz e
abundância, de cura e de uma vida sem fim!
Nos dias de Abraão, o tempo ainda não tinha chegado. Nos dias de Moisés, o tempo ainda não
tinha chegado. Nos dias de David, o tempo ainda não tinha chegado. Nos dias de Isaías, o
tempo ainda não tinha chegado, nos dias de Daniel, o tempo ainda não tinha chegado. Nos
dias de Malaquias, o tempo ainda não tinha chegado.
Mas, na plenitude dos tempos, Deus enviou o Seu Filho ao mundo. O tempo tinha chegado,
“Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido
debaixo de lei ” (Gálatas 4:4). Uma virgem concebeu, um menino nasceu – pobre, modesto e
perfeito, a criança cresceu, um homem apareceu, e esse homem, Jesus, começou a proclamar
em alta voz, “O tempo está cumprido!”. Chegou o tempo. A esperança das gerações, o
desejado das nações, o anseio de cada coração humano, desde Eva, até Maria, até ti – Ele veio.
Emanuel: “Deus connosco”. Jesus, “Salvação”. O tempo chegou. A sabedoria dos mestres e as
palavras dos profetas estão cumpridas. O tempo chegou! Em Jesus, Deus cumpriu cada
promessa feita à humanidade através da Sua presença, da Sua ação, da Sua soberania. A
excelsa beleza e a profunda bondade do reino de Deus tinham, até aqui, sido apenas
promessa. Mas agora, o tempo estava cumprido! Em Jesus, Deus e stá a passar da promessa ao
seu cumprimento. O reino de Deus tornou-se próximo, está ao nosso alcance.
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Sim, o reino de Deus aproximou-se. Satanás é conhecido nas Escrituras como o príncipe deste
mundo, o deus deste século. Ele usurpou a declaração de soberania feita por Jesus como
criador do planeta Terra, quando os nossos primeiros pais pecaram e se lhe submeteram. Mas
Deus, no Seu amor e compaixão, já tinha concebido o plano da salvação antes que os
fundamentos da Terra fossem estabelecidos. E quando o tempo se completou, Ele deu o passo
decisivo de entrar no nosso mundo para nos curar da nossa cegueira. Para abrir os nosso olhos
para a realidade do seu Reino Celeste e providenciar o meio pelo qual nós podemos entrar
nele. “Nos quais o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes
não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus” (II
Coríntios 4:4). Pela vinda de Jesus, um pedaço do céu irrompeu na Terra, a dimensão celestial
penetrou na nossa realidade terrestre. Em Jesus, o Reino de Deus chegou bem perto.
Quando ouvimos Jesus anunciar algo tão notável quanto o reino de Deus, queremos saber
mais alguns detalhes. O que é isto afinal? Com o que se parece? Marcos não nos fornece um
índice para conhecer este reino; ele não nos dá os ingredientes como se se tratasse de uma
receita. De forma magistral, em vez de nos dizer o que é o Reino de Deus, Marcos escreve o
seu evangelho para no-lo mostrar.
Vamos ver o que Jesus fez e assim vamos perceber o que é afinal o Reino.
No capítulo 1, versículos 16-20: Jesus chama Simão, André, Tiago e João. Ele começa por reunir
uma comunidade que, desde a primeira hora, está focada em evangelizar. “Vinde após mim, e
eu farei que vos torneis pescadores de homens. Então eles, deixando imediatamente as suas
redes, o seguiram ” (Marcos 1:17, 18).
 No versículo 20: Jesus ensina os que estavam reunidos na sinagoga.
 Nos versículos 21-26: Jesus expulsa um demónio.
 Nos versículos 29-31: Jesus cura a sogra de Pedro de uma terrível febre.
 Nos versículos 32-34: Jesus cura os doentes e os endemoninhados.
 No versículo 35: Jesus levanta-se de madrugada para estar em comunhão com Deus através da
oração. Depois Ele começava novamente, viajar, ensinar, pregar e curar.
 No capítulo 2, Jesus perdoa publicamente os pecados do paralítico e cura os seus m embros.
Ele vai ao encontro de um judeu menosprezado e que era cobrador de impostos e janta com
os pecadores na cidade. Depois reclama o sábado como tendo sido: “feito por causa do
homem, e não o homem por causa do sábado ”, e apresenta-se a si mesmo como Senhor “até
do sábado”.
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 No capítulo 3 Ele cura nesse dia, restaurando o sábado ao seu propósito de cura. A seguir
chamou doze apóstolos a fim de os enviar com o evangelho e com o poder de derrubar
demónios.
 No capítulo 4 Ele ensina vez após vez sobre o mistério do reino – que ele não é como os reinos
deste mundo, não é opressivo nem violento, como é que ele deve ser partilhado, como cresce
e funciona pelo poder de Deus, como ele começa pequeno mas se torna grande.
Depois, Marcos começa a demonstrar o poder do reino de maneiras ainda mais evidentes.
Primeiro, no capítulo 4, Jesus acalma a tempestade. Com apenas algumas palavras, Ele silencia
o vento e as forças tempestuosas. Jesus é o Senhor do mundo natural. A seguir, no capítulo 5,
Marcos torna a contar a maneira como Jesus traz salvação ao caso perdido do homem
possuído por uma legião de demónios. Pelo poder da Sua palavra, Ele liberta o lunático e
derruba o poder demoníaco. Jesus é o Senhor do mundo espiritual. Depois, Jesus cura uma
mulher vítima por mais de doze anos de uma doença incurável. Jesus é Senhor sobre a doença.
E depois – DEPOIS! – Ele ressuscita de entre os mortos uma jovem de doze anos, restaurando a
sua vida e a alegria dos seus pais. Jesus é Senhor sobre a morte.
E a história continua sem parar, Jesus revelando o reino de Deus no mundo. E o que é o Reino?
É comunidade, é evangelismo, é libertação do poder satânico, é cura física, é o perdão dos
pecados, é doutrina verdadeira, é experimentar o Sábado, é a libertação do temor é a
esperança para além da doença e da morte, é comungar com Deus e comer com pecadores.
Em Jesus, o reino de Deus ficou próximo. Um pouco de céu brilhando sobre a Terra, a
dimensão celeste invadindo a nossa realidade terrestre. O Céu começou aqui. “O tempo está
cumprido. É chegado o reino de Deus”.
Se tão somente pudéssemos viver no céu agora … e nós podemos! Porque em Jesus, o céu
começou aqui. Mas, como podemos viver no céu agora? Jesus também nos disse isso: “O
tempo está cumprido.” disse Ele. “É chegado o reino de Deus. Arrependei-vos, e crede no
evangelho ” (Marcos 1:15). Como podemos viver a vida do reino agora? Arrepende-te e
acredita nas boas-novas!
Deus tem sempre uma forma de nos falar no momento de necessidade. Quando as nossas
esperanças e sonhos nas coisas terrestres parecem desiludir-nos, Ele desafia-nos através da
impressões profundas do Espírito Santo a considerarmos o que Ele tem para nos ofe recer a fim
de abrirmos os olhos da cegueira onde “o deus deste século” nos prendeu. À luz da bondade
de Deus nós vemos a nossa maldade, e lançamo-nos nos braços da Sua misericórdia. Pedimos
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arrependimento e Ele concede: uma mudança de mentalidade, uma mudança de coração, uma
mudança de vida. Arrepender-se significa mudar de direção e abandonar o pecado, à medida
que nos agarramos ao Salvador. Não trilhamos mais os nossos próprios caminhos, mas os
caminhos do Senhor. Não somos mais senhores dos nossos planos, mas escolhemos Jesus
como nosso Senhor. Através do batismo da água para nos purificar e do batismo do Espírito
Santo para nos transformar e capacitar, somos conduzidos ao encontro de uma nova vida no
reino de Deus.
Às vezes temos a ideia errada de que temos de nos arrepender antes de ir a Jesus. Pensamos,
“PRIMEIRO, eu tenho de me entristecer pelo pecado e operar uma reforma”, ENTÃO eu vou a
Jesus e receberei a Sua graça.” Mas nada pode ser mais inútil do que isto! O arrependimento
não se interpõe entre o pecador e o Salvador. Não é um obstáculo que temos de transpor
antes de alcançarmos Jesus. Não! Não! É uma oferta que recebemos unicamente da Sua mão.
Temos de ir a Jesus para recebermos arrependimento! Ele diz: “Vinde a mim, todos os que
estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei ” (Mateus 11:28). Por isso vamos a Jesus,
cansados e oprimidos, e supliquemos-Lhe a oferta do arrependimento. “Faz-nos ver o nosso
pecado como Tu o vês, Jesus. Faz-nos ver a beleza da santidade como tu a viveste. Faz-nos
experimentar o arrependimento.”
Como é que entramos no céu que Jesus nos fez chegar? Façamos um retrato do reino de Deus
na Terra como uma rede de grandes e pequenos postos avançados dentro do território
inimigo. Dentro de cada um dos postos avançados estão as coisas mais maravilhosas: comida
deliciosa, companheirismo caloroso, cura e bem-estar, paz e alegria. Ao sabermos o que está
no seu interior, queremos entrar claro. Ansiosamente precipitamo-nos na sua direção ao
ouvirmos o som de risos e regozijo, tão perto de sentirmos o sabor daqueles deliciosos
croissants de amêndoas. Mas quando estamos mesmo a ponto de entrar, somo apanhados.
“Mas qual é o problema afinal? Porque é que não consigo entrar?”
“Amigo, antes de entrares neste lugar, tens de abandonar as tuas armas.”
Arrependimento é abandonarmos as nossas armas. Humilhar os nossos corações rebeldes
perante o Rei e desistir do que pensávamos serem os nossos direitos e recebermos, em vez
disso, o que sabemos ser a Sua melhor oferta.
“O tempo está cumprido”, disse Jesus. “É chegado o reino de Deus. Arrependei-vos, e crede no
evangelho.”
A segunda condição para experimentar o Céu na terra é crer nas boas-novas, confiar na
mensagem de Jesus. Crer e confiar. Soa demasiado simples não é? Mas é na verdade tão
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simples quanto isso! Crer e confiar na mensagem e experienciar o Céu na terra. Quando
depositamos a nossa confiança em Deus o Pai, Deus o Filho e Deus o Espírito, abrimos as
portas para que entrem nas nossas vidas de formas profundas e cheias de significado. Em lugar
de solidão, encontramos companheirismo. Em lugar de inquietude encontramos descanso. Em
vez de vazio, encontramos abundância. Em lugar de confusão, encontramos propósito. Em vez
de enfermidade, encontramos cura. Em lugar de erro, encontramos verd ade. Em lugar de
egoísmo, encontramos amor. Em lugar de desespero, encontramos esperança.
“O tempo está cumprido”, disse Jesus. “É chegado o reino de Deus. Arrependei-vos, e crede no
evangelho.” Em Jesus, o Céu já começou aqui. Nós deixamos o pecado para trás e agarramonos a Ele porque Ele é a porta para o Céu aqui e no que há-de vir, Ele é o caminho para o Céu
aqui e para o que há-de vir, Ele é a luz para o Céu aqui e para o que há-de vir. Em Jesus, o Céu
já começou aqui.
No livro O Desejado de Todas as Nações, a inspirada autora Ellen White explora muito bem
esta ideia: “Quando por meio de Jesus, entramos no repouso, o Céu começa aqui. Atendemos Lhe ao convite: Vinde, aprendei de Mim; e assim fazendo começamos a vida eterna. O Céu é
um contínuo aproximar-se de Deus por intermédio de Cristo. Quanto mais tempo estivermos
no céu da bem-aventurança, tanto mais e sempre mais de glória nos será manifestado; e
quanto mais conhecermos a Deus, tanto mais intensa será nossa felicidade. Ao andarmos com
Jesus nesta vida, podemos encher-nos de Seu amor, satisfazer-nos de Sua presença. Tudo
quanto a natureza humana é capaz de suportar, é-nos dado receber aqui ” (pg. 230).
Extraordinário! Para os que confiam na mensagem de Cristo, a vida eterna começa agora. E
apenas se tornará infinitamente melhor quando Jesus regressar e a Terra for recriada e Deus
fizer para sempre a Sua morada aqui e nos deleitarmos na luz da Sua presença. Nós não
podemos nem sequer imaginar as incríveis delícias da vida eterna na Nova Jerusalém. Nem
sequer conceber a maravilhosa excelência da vida na nova terra. O céu de eternidade vai ser
mais do que os nossos corações conseguem desejar! Mas não temos que esperar para
começarmos a desfrutar da experiência do céu agora. Podemos ter um vislumbre aqui.
Podemos, agora mesmo, uma boa “dentada” do que vai ser o céu. Conhecermos Jesus,
andando com Ele, confiando na Sua mensagem: o céu começa aqui.
Este sermão é longo, mas Jesus foi bem mais curto: “O tempo está cumprido”, disse Jesus. “É
chegado o reino de Deus. Arrependei-vos, e crede no evangelho.” É que vais fazer? Vais entrar
no Reino agora? Vais dizer sim, pousar as tuas armas e entrar na delícia da Sua companhia? Eu
oro para que o faças.
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E este mundo louco e conflituoso precisa que o faças. Este mundo está carregado de dor,
carregado de pessoas no erro e na confusão, carregado de pessoas quebradas pelo pecado e
abatidas pelo desespero. Está cheio de pessoas rodeadas pelo inimigo e cheio de pessoas
perdidas em solidão. Essas pessoas precisam que tu digas sim a Jesus e que te tornes um
agente para que este Reino se faça sentir, e que as ajudes a entrar no Céu que já começou
aqui. Vive como um agente do Reino para que quando outros testemunharem a tua vida, eles
vejam o Reino em ação. E o que é o Reino? É comunidade, é evangelismo, é libertação do
poder satânico, é cura física, é o perdão dos pecados, é doutrina verdadeira, é experimentar o
Sábado, é a libertação do temor é a esperança para além da doença e da morte, é comungar
com Deus e comer com pecadores.
Um dia, em breve, o que Jesus começou aqui Ele vai voltar para terminar. Ele romperá os céus
e surgirá com a trompeta do arcanjo. Ele vai ressuscitar os mortos que depositaram nEle a sua
fé e confiança, e juntamente com os crentes que estão vivos, eles vão subir ao Seu encontro
no ar. Ele vai amarrar Satanás na Terra durante mil anos, tempo durante o qual todos os
santos no Céu terão o privilégio de mergulhar na sabedoria de Deus e nos seus justos juízos.
Após os mil anos, Jesus descerá novamente a purificar a Terra e torná-la nova. À medida que
Jesus e os Seu santos anjos se aproximam da Terra, todos os que morreram em rejeição e em
provocação contra Deus vão voltar à vida e juntar-se a Satanás na sua última tentativa de
frustrar o último ato purificador de Deus. Mas eles serão consumidos no fogo purificador e
Deus fará desta terra renovada a nossa morada permanente.
Apocalipse 21:1-4 diz: “E vi um novo céu e uma nova terra. Porque já se foram o primeiro céu e
a primeira terra, e o mar já não existe. E vi a santa cidade, a nova Jerusalém, que descia do céu
da parte de Deus, adereçada como uma noiva ataviada para o seu noivo. E ouvi uma grande
voz, vinda do trono, que dizia: Eis que o tabernáculo de Deus está com os homens, pois com
eles habitará, e eles serão o seu povo, e Deus mesmo estará com eles. Ele enxugará de seus
olhos toda lágrima; e não haverá mais morte, nem haverá mais pranto, nem lamento, nem
dor; porque já as primeiras coisas são passadas.”
Que gozo o Céu será! Que excelsa alegria!
Mas entretanto, que nunca nos esqueçamos que, em Jesus, o Céu já começou aqui. Amigos,
não diremos sim a esta promessa, depositando as nossas armas e entrando? O tempo está
cumprido. É chegado o reino de Deus. Arrependei-vos, e crede no evangelho.
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Domingo, 9 de março de 2014
O Reino de Deus
Fábula, Conto de Fadas ou Realidade?
Padraic “Paddy” McCoy
Mateus 11:4, 5; Filipenses 3:4-8
Sabias que no final do mês de abril de 2011, ocorreu um dos maiores eventos da história? Na
verdade, é um momento que tenho a certeza que a maioria das pessoas no mundo se
recordam. É um daqueles momentos de que vamos falar daqui a vinte anos dizendo:
“Lembras-te onde estavas quando …?”
Qual foi o acontecimento? Foi o dia em que o princípe William, duque de Cambridge, se uniu
em matrimónio com Catherine Elizabeth Middleton. O casamento real foi o acontecimento
mais visto da história, tal como tinha acontecido com o casamento do pai de William, em 1980.
De acordo com as estatísticas, o casamento real foi visto por aproximadamente 2,5 biliões de
pessoas, ou seja, aproximadamente 35% da população mundial. Estamos a falar de qualquer
coisa como 1 em cada 3 pessoas no planeta.
Como observador da vida sinto-me forçado a perguntar, o que é que este evento tem para
atrair a atenção de tantas pessoas? Pensei nisto durante várias semanas e cheguei à conclusão
de que nós, os seres humanos, desejamos viver o nosso próprio conto de fadas. Temos inscrito
no nosso interior, talvez no nosso ADN, o desejo pofundo de fazer parte de uma outra história.
Todos nós, num ou noutro momento, desejamos fazer parte destas histórias fantásticas. C. S.
Lewis disse: “Se existem anseios nos nossos corações que nada neste mundo consegue
satisfazer, isso só pode querer dizer uma coisa. Nós fomos pensados para outro mundo.”
Quando éramos crianças, acreditávamos nesse outro mundo, nessa outra história, que nos
soava mesmo a conto de fadas. O dicionário Webster define conto de fadas como: “histórias
(para crianças) que envolvem seres e forças fantásticas – uma história na qual eventos
improváveis conduzem a um final feliz.”
Eu costumava acreditar em todo o tipo de contos de fadas: no pai natal, no coelho da páscoa,
e até na fada do dentinho. Mas depois cresci e deixei de acreditar nesses contos de fadas. Eu
sei muito mais agora. Estudei. Dois diplomas na parede do meu escritório e anos de
experiência no currículo dizem-me que os contos de fadas são, tão simplesmente, bons demais
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para serem verdade. Ninguém vive feliz para sempre – quinze minutos a ver notícias chegam
para o perceber – fome, doença, tráfego sexual, catástrofes naturais, terrorismo, divórcio. O
mundo é um lugar horrível e os contos de fadas da minha juventude todos se desvaneceram.
Mas curiosamente, eu ainda leio as histórias da Bíblia aos meus filhos. Não quero que eles
percam a oportunidade de terem sonhos reais e de aprenderem sobre heróis verdadeiros. E
quando lhes leio estas histórias, a minha mente divaga, tenho desejos, esperanças e até
temores. Dou por mim a desejar que fosse certo que a vida terminasse com toda a gente a
viver feliz para sempre. Mas também dou comigo temendo que os meus filhos um dia deixem
de ser crentes.
Vou contar-vos duas histórias. A primeira é sobre a realidade deste mundo - a vida que
enfrentamos diariamente - uma vida de rotinas, incrivelmente estressada, cheia de desilusões
e de situações dolorosas que preenchem os nossos dias. Mas depois temos esta outra
possibilidade, outra história, talvez até uma outra realidade – uma que se parece para todos os
efeitos a um conto de fadas, mas em que vale a pena acreditar porque é verdade. A minha
esperança, o meu desejo e a minha oração é que ao contar estas duas histórias, os teus olhos
se abram e que escolhas viver esta outra história, a que vamos chamar o “Conto do Reino”.
Acontece inevitavelmente com todos nós, chega o dia em que os contos de fadas morrem.
Alguma coisa acontece para nos tirar essa ilusão: os nossos pais divorciam-se, um amigo
morre, um professor bem-intencionado diz-nos que não podemos trabalhar como artistas
porque não conseguiremos sobreviver. Talvez nos seja diagnosticada uma depressão ou uma
outra doença mental. Ou talvez tenhamos simplesmente crescido. Seja o que for, isso
acontece a quase todos. Tanto quanto vos posso dizer, respondemos a esta grande perda
esforçando-nos e dando o nosso melhor para fazer desta vida alguma coisa. Trocamos os
castelos e os cavalos do passado por carros desportivos, por um escritório situado na melhor
zona da cidade e uma casa de campo. Lutamos por obter diplomas para nos sentirmos
importantes, compramos outro tipo de brinquedos para nos ajudarem a esquecer o vazio que
existe dentro de nós. Alguns procuram os bares para entorpecer as suas “almas” ou vão atrás
de relacionamentos sem grande significado, reais e/ou virtuais, para pelo menos terem a
ilusão de intimidade. Ou então, atiramo-nos à religião em busca de uma vida “perfeita”, ou
pelo menos da aparência disso. Procuramos a esposa perfeita, que completamos com 2 ou 3
filhos, e somos iludidos a pensar que se ao menos tentarmos com força suficiente, se nos
portarmos como deve ser, e se trabalhamos tempo suficiente, um sentido para a vida há-de
surgir.
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Num estudo realizado pelo Institute of Higher Education em 2012, chegaram à conclusão de
que para 78,1% dos caloiros da universidade ser financeiramente bem sucedido era a coisa
mais importante na vida.
Agora, não estou a dizer que ser bem sucedido e possuir bens materiais, é em si mesmo o que
está errado. NÓS somos o que está errado. Nós é que deixamos de acreditar no conto do Reino
e portanto perdemos o sentido do que é mais importante na vida. Nós é que procuramos
sentido para a vida em lugares destituídos de qualquer sentido. Nós fazemos perguntas
importantes, tais como: “Quem sou eu? Qual é o meu objetivo? Qual é o significado da vida?”
Mas as respostas que encontramos na realidade deste mundo continuam a deixar-nos vazios.
Reparem, e se conseguíssemos obter tudo o que alguma vez sonhámos, para depois nos
apercebermos que esse caminho não nos conduz a lado a nenhum?
Tom Brandy, defesa do New England Patriots, um dos jogadores mais bem pagos do futbeol
americano, disse uma vez numa entrevista: “Por que é que eu tenho três anéis do SuperBowl
(prémio individual ganho pelos jogadores da equipa vencedora da liga nacional d e futebol
americano) e continuo a pensar que há algures algo melhor para mim? Quero dizer, uma
grande parte das pessoas pode dizer: ‘Ó homem, tu tens tudo o que interessa’. Alcancei o meu
objetivo, o meu sonho, a vida que sempre quis. Eu? Eu penso ‘Tem que haver algo mais do que
isto.’ O que eu quero dizer é que isto não é, não pode ser, tudo o que há para viver.” (CBS TV
entrevista)
Quando perguntaram ao ator Brad Pitt se tinha conseguido alcançar o “sonho americano”, ele
respondeu: “Eu conheço todas as coisas que são supostas ser importantes para nós – carros,
casas, a nossa versão de sucesso – mas se isso é verdade, por que razão o sentimento
generalizado nos mostra mais impotência e isolamento, desespero e solidão? Se me
perguntarem, eu digo-vos: deixem tudo isso – temos que encontrar outra coisa. Porque tudo o
que eu sei, é que neste momento da história estamos a caminhar para um beco sem saída, um
entorpecimento da alma, uma completa atrofia do ser espiritual. E eu não quero isso ” (Rolling
Stone magazine).
E se a realidade que vemos com os nossos olhos, a fome, a doença, a falta de sentido, o
sofrimento… e se esta não for a história verdadeira? E se a vida que muitos estão a viver não
passa de uma fábula… uma farsa, uma mentira, o resultado de um engano? E se a resposta
para a nossa procura por sentido e propósito depender da nossa capacidade de acreditar no
conto do Reino?
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A fim de explorarmos esta outra realidade, este outro Reino, temos de recorrer a um livro
antigo. Ele é, no mínimo, um dos mais controversos livros alguma vez escritos. Alguns na
verdade seriam capazes de o rotular como um conto de fadas: cheio de “histórias do outro
mundo”, e de lições improváveis. Alguns diriam simplesmente que são demasiado inteligentes
e instruídos para acreditarem em ideias tão ridículas. O agnóstico do século XIX, Robert
Ingersoll, disse uma vez a propósito deste livro, que era: “uma fábula, uma obscenidade, um
embuste, uma farsa e uma mentira.” O famoso ator Sir Ian McKellan disse: “Sempre pensei
que (este livro) devia trazer no início um aviso alertar o leitor que se trata de ficção e não de
factos.” Mas verdade seja dita, centenas de milhares de pessoas morreram para garantir que
este livro e estas histórias fossem transmitidas de geração em geração ao longo de milhares de
anos. Nenhum outro livro foi tão cuidadosamente preservado e tão “exaustivamente”
reproduzido. E muitos ao redor do mundo, acreditam que este livro é muito mais do que um
simples conto de fadas. Creem, em vez disso, que ele contém os segredos para dar sentido à
existência.
Vou dar-vos a verdadeira versão condensada da história:
Era uma vez, numa terra de trevas, um Criador cheio de amor para dar veio e criou luz e vida.
Ele trouxe o mundo à existência pela Sua palavra. Criou depois as Suas criaturas mais amadas,
à Sua própria imagem os criou, macho e fêmea, e deu-lhes o mais extraordinário, ainda que
arriscado, presente. Deu-lhes o presente do livre arbítrio: a capacidade de fazerem as suas
próprias escolhas e de escolherem seguir o Criador ou rejeitá-Lo. Era a única forma de O
poderem amar livremente. Tudo era magnífico e a vida era cheia de amor, propósito e
significado, até que uma serpente falante entrou em cena. Ele mentiu aos seres criados e fê los questionar as intenções do Criador. Eles duvidaram da bondade do Criador e assim
morderam o fruto, doce no exterior mas amargo no interior, e assim trouxeram uma tremenda
maldição sobre eles e sobre este mundo. A maldição trouxe com ela, dor, fadiga, lutas, doença,
rejeição e morte. Foi perdida a possibilidade de comunicar com o Criador no jardim ao
entardecer. O paraíso foi perdido. Muita coisa aconteceu no caminho, mas o Criador nunca
abandonou a Sua criação, nunca. O Seu amor por eles nunca o permitiria. Na verdade o Criador
fez algo ainda mais extraordinário do que ao conceder o primeiro presente do livre arbítrio. No
momento certo, enquanto a criação ainda era impotente para se libertar da maldição, o
Criador veio a este planeta e tornou-se uma das Suas criaturas. Deixou o paraíso, sacrificou a
Sua própria vida para entrar no mundo amaldiçoado a fim de nos conduzir a uma nova
história.
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“Quando Deus deu Seu Filho ao nosso mundo, dotou os seres humanos com riquezas
imperecíveis — riquezas diante das quais as entesouradas fortunas dos homens desde o
princípio do mundo nada são. Cristo veio à Terra e esteve perante os filhos dos homens com o
acumulado amor da eternidade, e esse é o tesouro que, mediante nossa ligação com Ele,
devemos receber, revelar e comunicar ” - Ellen White, A Ciência do Bom Viver, pg. 37.
Todos os teólogos parecem concordar que nos quatro Evangelhos o tema central em todo o
ensino de Jesus é a proclamação da vinda do Reino de Deus, uma nova realidade. Esse reino é
mencionado mais de 120 vezes no Novo Testamento, a maioria pe lo próprio Jesus. Ele falou
sobre três reinos, o primeiro era o reino deste mundo, o segundo era o reino que está ao
nosso alcance, perto, dentro de nós, e o terceiro é o reino que há-de vir. Já falámos sobre o
reino deste mundo e o que ele tem para oferecer, e para irmos diretos ao assunto, vamos falar
do reino que já está entre nós, porque ele é um antegozo do reino que está para vir.
Que reino é este? Em primeiro lugar, não é aquilo que estarias à espera, nunca é. Deus revelase muitas vezes de formas que nunca esperarias: um arbusto a arder, um sussurro, um
jumento que fala, um rapaz com uma funda, um bebé numa manjedoura, um carpinteiro, uma
cruz. Deus gosta de surpresas. E portanto para se estar aberto à realidade deste reino, uma
mudança prévia tem de acontecer. Temos, como Jesus disse, de nos arrepender.
Jesus iniciou o seu ministério com estas palavras: “Arrependei -vos porque o Reino dos Céus,
ou de Deus, está próximo.” Alguns de nós já ouvimos dizer que a palavra arrependimento
significa desviar-se, mudar de direção, e associamo-la a nos desviarmos do pecado. Se
pecámos, necessitamos de nos arrependermos ou de nos afastarmos dele. Isto é verdade, mas
a palavra arrependimento em grego é a palavra metanoeõ, e como muitas outras palavras
gregas, metanoeõ tem vários significados. Metanoeõ também pode significar pensar de
maneira diferente. Por outras palavras, Jesus está a anunciar que é tempo de começar a
pensar de maneira diferente porque o reino de Deus está aqui.
Arrependimento está associado à fé e é enfatizado nos evangelhos como essencial para a
salvação. Paulo pregou o arrependimento. Ele disse: “como não me esquivei de vos anunciar
coisa alguma que útil seja, ensinando-vos publicamente e de casa em casa, testificando, tanto
a judeus como a gregos, o arrependimento para com Deus e a fé em nosso Senhor Jesus ”
(Atos 20:20, 21). “Não existe salvação sem arrependimento ” - Ellen G. White, Testemunhos
Selectos, Vol. I, pg. 365.
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Pensar de maneira diferente é uma ideia poderosa. Na realidade, há uma empresa que utilizou
este slogan para reverter a sua situação de quase bancarrota e tornar-se numa das mais bem
sucedidas empresas de todos os tempos, e a única que nos mercados mundiais não perdeu
valor durante a recessão. De que companhia estou a falar? Apple.
Portanto para estarmos abertos à realidade do reino de Deus, precisamos de pensar de
maneira diferente, mas como? Pensa, como fazê-lo? Felizmente, Jesus também nos deu essa
resposta. Cercado por um grupo de homens instruídos e de discípulos que os buscavam com
sinceridade, Jesus disse: “Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos
tornardes como crianças; de modo algum entrareis no reino dos céus.” Porque é que temos de
nos tornar como crianças? Quer dizer, não gastámos nós tanto te mpo e dinheiro para
crescermos e deixarmos as nossas atitudes infantis? Permitam-me sugerir-vos que a razão pela
qual Jesus disse que necessitamos de nos tornar como crianças está relacionada com a
capacidade que as crianças têm de sonhar, de imaginar, e de acreditar no impossível. Acreditar
que contos de fadas existem mesmo.
Então vamos usar este contexto, o desafio de pensarmos de maneira diferente, como uma
criança, acerca da realidade do Reino de Deus. Vamos explorar o que Jesus descreve como
sendo este reino.
A mais clara descrição do reino de Deus foi dada por Jesus em resposta aos discípulos de João
Batista, enquanto o seu mestre se encontrava na prisão. Até João Batista, aquele que veio para
anunciar a vinda do Messias, aquele que identificou Jesus como o Messias, aquele que ouviu a
voz de Deus declarar que Jesus era o Filho de Deus, foi apanhado nesta outra realidade. Vendo
bem as coisas, se o Messias veio estabelecer o Seu reino, porque é que João estava a
apodrecer atrás das grades?
Jesus respondeu às dúvidas de João dizendo-lhe que espécie de coisas acontecem no reino.
Lê Mateus 11:4-5.
Jesus avançou, através do Evangelho, para explicar o reino como um lugar onde os
quebrantados seriam restaurados, onde os piores pecadores seriam os primeiros a entrar, um
lugar que invade cada aspeto das nossas vidas e que pode fazer sobressair o que de m elhor há
em cada um. Um lugar tão maravilhoso que quando o descobrimos, estamos dispostos a
perder tudo o que temos para nos mantermos nele. É um lugar que está aberto a todas as
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pessoas que o queiram aceitar. É um reino que não pode ser medido pelos títul os que
antecedem o teu nome ou o número de vírgulas na tua conta bancária, ou pelos teus belos
olhos, mas na medida em que és amado e amas os outros. É um reino generoso, um reino de
graça abundante, um reino que dá um sentido à vida, um reino que te enche de esperança, um
reino orientado pelo amor, e um reino acessível para que entres nele aqui e agora. Não o
deixes escapar.
“Lembrai que Cristo tudo arriscou! Para a nossa redenção o próprio Céu esteve em jogo.
Meditando junto à cruz, que Cristo teria dado Sua vida por um único pecador, podeis apreciar
o valor de uma pessoa ” - Ellen White, Parábolas de Jesus, pg.100.
Jesus arriscou tudo para vir e trazer-nos uma nova história. Orígenes, o teólogo do terceiro
século, descreveu o Reino de Deus dizendo que Je sus é o auto basilia, o que significa que Jesus
Ele mesmo é o Reino de Deus. Onde quer que a presença de Jesus esteja nesta Terra, a
maldição do Jardim de Éden começa a ser revertida. O surdo pode ouvir, o cego pode ver, o
coxo pode andar, os mortos são ressuscitados, os desesperados encontram esperança, os
perdidos encontram direção, e os inúteis pecadores, como eu, percebemos que somos mais
valiosos para Deus do que alguma vez poderíamos imaginar.
UMA HISTÓRIA PESSOAL
Há alguns anos atrás, passei por uma crise de ansiedade que tomou conta de mim durante
vários meses. No meio dessa crise, eu criei uma realidade alternativa, uma história diferente
da que Jesus estava a tentar oferecer-me. Na forma como eu contava a história, eu tinha a
certeza que ia falhar. Uma certa manhã, a minha querida esposa entrou no quarto onde me
encontrava enroscado e deitado sobre um travesseiro encharcado pelas minhas lágrimas, e
corajosamente ela segurou-me pela mão e conduziu-me do conto de fadas que eu próprio
tinha criado para o conto de fadas do Reino de Deus. Ela disse-me, como se fosse o próprio
Deus a dar-me aquela mensagem, o quanto eu era amado e que o Pai nunca me tinha deixado
e que nunca o faria. Ela traçou diante de mim um quadro do Reino, onde o que era realmente
importante era o quanto eu era amado e que aqu’Ele que me amava, chamava-me e estaria
comigo para sempre.
Eu não conseguia ver esta história por mim mesmo. Com a sua ajuda comecei a ver essa
realidade nos meses seguintes. Comecei lentamente a caminhar para fora do reino deste
mundo e dos elementos da história que eu tinha criado, e comecei a viver no reino de Deus e
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na história pela qual Ele veio, viveu e morreu. Em I Coríntios 2:9 lemos: “As coisas que o olho
não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem, são as que Deus preparou
para os que o amam.” E por isso eu começo a ver com o meu novo olhar, a ouvir com novos
ouvidos e há certas ocasiões onde me podem ver até aos saltos. Mas para começar a aceitar
esta versão da história e a afastar-me da fábula e a aproximar-me do verdadeiro “conto de
fadas”, eu tive de pensar de maneira diferente, mais como uma criança, para que conseguisse
voltar a acreditar no impossível.
O apóstolo Paulo aprendeu a viver no reino deste mundo. Antes de Jesus o cegar na estrada de
Damasco , Paulo tinha tudo: autoestima, poder, riqueza, influência e instrução. Ele tinha uma
posição elevada neste reino. Mas depois de Jesus, Paulo chegou ao ponto de escrever estas
palavras:
“O que para mim era lucro passei a considerá-lo como perda por amor de Cristo; sim, na
verdade, tenho também como perda todas as coisas pela excelência do conhecimento de
Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como
refugo, para que possa ganhar a Cristo ” - Filipenses 3:7, 8.
A tradução The Message (em inglês), di-lo de forma ainda mais enfática: “Sim, todas as coisas
que outrora pensei serem tão importantes desapareceram da minha vida. Comparado com o
alto privilégio de conhecer Jesus Cristo como meu Mestre, tudo o que antes achava que queria
para mim tornou-se insignificante – como estrume de cão. Deitei tudo isso para o lixo para
poder acolher Cristo na minha vida e ser por Ele acolhido.”
Paulo aprendeu que as coisas deste mundo, sem Jesus, não têm qualquer significado. Ele
aprendeu que a coisa mais importante é conhecer Jesus Cristo e que todo o resto, sem Ele, é
lixo. Educação, riqueza, poder, conforto e o “sonho americano” … nada disso tem sentido sem
conhecer a Jesus. Foi acreditar nisto que permitiu a Paulo cantar louvores a Deus na prisão,
escrever cartas de alegria e encorajamento enquanto definhava preso às correntes, ou mesmo
ir para a morte cantando hinos de louvor, porque a realidade na qual vivia não era deste
mundo. A realidade de Paulo era o Reino de Deus, e isso, nada nem ninguém lho poderia tirar.
Podiam tirar-lhe as suas vestes, mas nunca poderiam tocar no seu título como filho do Deus
vivo. Podiam bater-lhe sem explicação com varas de madeira, mas nunca poderiam apagar o
fogo nos seus olhos. Podiam cuspir no seu rosto, mas a única maneira de o impedirem de
proclamar as boas-novas do Reino de Deus era tirarem-lhe a vida, da qual abdicou de bom
grado para estar com Jesus.
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E foi com este tipo de paixão que as boas-novas do Reino de Deus se espalharam como um
incêndio no mundo antigo. Comerciantes e escravos, jovens e adultos, os enfermos, os pobres
e os excluídos, aceitaram as boas-novas e anunciaram-nas em alta voz desde as montanhas até
aos becos nas cidades. Cresceram de doze para milhões de crentes, no que pareceram apenas
instantes nas páginas da história.
O que atraiu tantas pessoas tão rapidamente? Foi a história, que é na verdade tão boa que só
pode ser verdadeira, a história que supera todas as histórias, o lugar onde a maldição é
invertida: a história do Reino de Deus. Foi esta história que permitiu a centenas de milhares de
crentes na igreja primitiva caminharem corajosamente para a morte, porque eles não podiam
imaginar-se a retroceder para às limitações da sua história anterior. Eles acreditavam e sabiam
que o “conto de fadas” que estavam a viver era a única história verdadeira e estavam
dispostos a morrer por ela.
Tens alguma coisa na tua vida pela qual valha a pena viver? Pela qual valha a pena morrer?
Posso sugerir-te uma nova realidade? O reino do Deus vivo. Não se trata de uma fábula. É o
Caminho, e a Verdade, e a Vida, e o Seu líder estende as Suas mãos cravejadas para ti, e pede te, implora … que acredites. Fábula ou conto de fadas? A escolha é tua.
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Segunda feira, 10 de março de 2014
O Reino de Deus, transformando o nosso mundo
Tim Gillespie
Lucas 5
O espetáculo de fogo de artifício de San Diego na Califórnia, nos EUA, está entre os mais
impressionantes do mundo e atrai milhares de pessoas. O espetáculo do ano passado (2012)
foi descrito por muitos como tendo sido épico. Eu vi um vídeo com imagens desse momento e
se vocês não viram vale a pena procurarem. Foi, aparentemente, uma falha informática que
fez explodir três dos quatro barcos cheios de fogo de artifício em apenas nove segundos. O
vídeo é impressionante: três barcos carregados com fogo de artifício a explodir de uma só vez!
Para mim, talvez ainda mais interessante que a explosão, foi o facto de a multidão ter ficado a
deambular cerca de 45 minutos até que uma voz soou num altifalante para dizer basicamente:
“Bom, é isto pessoal, desculpem.” As pessoas estavam à espera de mais. Esperavam ver aquele
fogo brilhante em tons de roxo transformar-se em prateado. Elas estavam à espera do fogo de
artifício vermelho, branco e azul que as faria recordar a sua infância e criar memórias nos seus
filhos. Elas estavam na expetativa de um final em apoteose. Aqueles que viveram essa
experiência sabem como é quando somos miúdos. Estamos sempre a perguntar se já é o final
e os pais a responder: "ainda não, espera mais um pouco." E nós ali sem paciência para
esperar mais, queremos é ver o grande final. Mas quando ele chega, percebemos logo do que
se trata. Sabíamos que ia ser qualquer coisa de diferente, que isto sim ia valer a pena, que era
mesmo aquilo que estávamos à espera.
Mas aquelas “pobres” pessoas em San Diego, experimentaram o começo, o meio e o fim do
seu fogo de artifício em apenas nove curtos segundos! E depois ficaram à espera do grande
final que nunca viria. Elas foram simplesmente deixadas ali na expetativa de ver o fim. A
imprensa cobriu a história com palavras como “desapontados” ou “aborrecidos” na espera
pelo final que afinal já tinha acontecido. Foi realmente uma pena que não tivessem podido
usar aquele tempo para outra coisa. O conjunto de todos aqueles minutos e segundos de todas
aquelas pessoas poderiam ter mudado o mundo se tivessem sido bem usados. Mas eles
estavam à espera do grande final.
Regressámos há bem pouco tempo do encontro campal da Igreja Adventista do Sétimo Dia na
Federação Norte de New England. Um ótimo lugar, com excelentes pessoas. Foi uma
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experiência magnífica em que quatro jovens foram batizados e onde pudemos estar num dos
mais antigos lugares da história da nossa Igreja. Foi muito bom e eu estou grato pela
oportunidade. Mas ao chegarmos ao aeroporto em Boston recebemos uma notícia de cortar o
coração: o nosso voo estava atrasado! Bom, para muitas pessoas isto talvez não fosse assim
tão aborrecido, mas eu tenho três crianças e os seus vários dispositivos eletrónicos estavam
mesmo a ficar sem bateria. Tempos difíceis aproximavam-se. Os rapazes insistiam em fazer
asneiras e meterem-se com tudo o que os rodeava. As coisas não lhes estavam a correr bem e
por conseguinte, a mim também não. Parecia que nunca mais íamos embora. Por cada cinco
minutos que o avião estava atrasado, tínhamos a sensação de ter esperado mais uma hora. Os
meus filhos estavam chateados e arranjavam problemas, e eu e aminha mulher a perdermos a
cabeça. O ponto é este, quando esperamos por alguma coisa isso não apenas faz com que o
tempo passe bem devagar mas também nos deixa com muito tempo para nos metermos em
sarilhos.
Porque estou a falar deste assunto? Porque nós somos um povo que experimentou um grande
desapontamento. No entanto os nossos corações ainda ansei am por essa bem-aventurada
esperança que arde dentro de nós. Esperança na vinda do Senhor! E neste período de espera
tentamos passar o mais tranquilos possível. Alguns de entre nós têm esta ideia de que Jesus
veio a esta Terra simplesmente para nos salvar e, no momento certo, vir buscar-nos para o
céu. No entanto, vamos ver as palavras de Jesus e perceber o que Ele acreditava ser a razão
para a Sua vinda:
“Chegando a Nazaré, onde fora criado; entrou na sinagoga no dia de sábado, segundo o seu
costume, e levantou-se para ler. Foi-lhe entregue o livro do profeta Isaías; e abrindo-o, achou
o lugar em que estava escrito: O Espírito do Senhor está sobre mim, porquanto me ungiu para
anunciar boas-novas aos pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos, e
restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, e para proclamar o ano
aceitável do Senhor. E fechando o livro, devolveu-o ao assistente e sentou-se; e os olhos de
todos na sinagoga estavam fitos nele. Então começou a dizer-lhes: Hoje se cumpriu esta
escritura aos vossos ouvidos ” - Lucas 4:16-21, negrito adicionado.
O que estava Jesus a dizer? Será possível que Ele estivesse a afirmar que justiça, paz e retidão
estavam prestes a ser estabelecidos para sempre? A Sua foi resposta: SIM! E nós sabemos que
com Jesus não há forma de contornar uma declaração clara que Ele faça. Não há lacunas ou
caminhos alternativos. Se fores como eu, gostas de fazer uma argumentação sólida mas depois
certificaste que deixas uma saída, uma brecha, no fundo uma pequena porta de escape, para
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que se alguém tiver um argumento melhor, então haja sempre uma maneira de “ficar bem na
fotografia”. Jesus, no entanto, não deixou espaço para que isto acontecesse. O tempo de
justiça, paz e reconciliação estava agora diante de nós, na medida em que Ele o inaugurou com
Sua vida, morte e ressurreição. Ficava assim claro que este não seria um tempo simplesmente
ou apenas para nos salvar pessoalmente, mas também para declarar as boas-novas aos
pobres.
Mas vamos parar por um momento e colocar a pergunta: “O que são boas-novas aos pobres?”
Serão “boas-novas aos pobres” o facto de que assim que deixamos esta vida miserável a
próxima coisa que vemos é Jesus Cristo e depois subimos ao Céu? Com ce rteza! Isso será
sempre uma boa-nova, para os ricos, pobres, ultra pobres, ultra ricos, e para a classe média
também. Sabes o que mais é uma “boa-nova aos pobres”? Alimentos, roupas, bebida, abrigo.
Estas coisas criam em nós a capacidade de prosseguirmos. Às vezes “boas-novas” é tudo o que
pode aliviar no imediato uma situação difícil. São as nossas “boas-novas aos pobres” algo que
mude a sua condição de vida? Ajuda-os a viver a vida no presente reino de Deus? São as
nossas “boas-novas aos pobres” apenas as novas do futuro, ou são boas-novas para hoje
também?
“O governo sob que Jesus viveu era corrupto e opressivo; clamavam de todo lado os abusos —
extorsões, intolerância e abusiva crueldade. Não obstante, o Salvador não tentou nenhuma
reforma civil. Não atacou nenhum abuso nacional, nem condenou os inimigos da nação. Não
interferiu com a autoridade nem com a administração dos que se achavam no poder. Aquele
que foi o nosso exemplo, conservou-Se afastado dos governos terrestres. Não porque fosse
indiferente às misérias do homem, mas porque o remédio não residia em medidas meramente
humanas e externas. Para ser eficiente, a cura deve atingir o próprio homem, individualmente,
e regenerar o coração ” - Ellen G. White: O Desejado de Todas as Nações, pg. 358.
Será que as nossas boas-novas têm apenas a forma de um folheto ou de um livro, ou podem
assumir a forma de roupas ou pão? Porque eu sei do que preciso quando tenho fome – e
refiro-me a fome física – e tu também sabes.
Ao ajoelhar-se com uma bacia e uma toalha, Jesus redefiniu o conceito de grandeza.
Ao proclamar as boas-novas e depois torná-las práticas, Ele reivindicou as boas-novas para o
presente reino de Deus e nós precisamos dessa redefinição desesperadamente. “Porque o
reino de Deus não consiste no comer e no beber, mas na justiça, na paz, e na alegria no
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Espírito Santo ” (Romanos 14:17) Os filhos de Israel tinham-se tornado uma fraca amostra
reino de Deus vindouro.
Na televisão e nos órgãos de comunicação social fazemos escolhas baseando-nos nos previews
que vemos de um programa, de uma série ou um qualquer evento multimédia. Se forem aos
trailers da Apple podem ver o que está a ser preparado e o que está atualmente a acontecer
nas experiencias e produções multimédia. Mas por vezes os previews tornam-nos
completamente desinteressados em perder o nosso tempo a ver o que está a ser oferecido.
Outras vezes acontece o inverso, ou seja, o preview excede em muito a experiência completa.
Nós assistimos por exemplo a um preview de uma nova série e os dois minutos que vemos
criam-nos uma expetativa muito positiva, mas depois quando a vemos realmente percebemos
que na verdade aqueles dois minutos eram a única coisa que valia a pena ser vista.
Até Jesus vir à Terra, o preview do Reino de Deus era bem fraco. Os filhos de Israel não tinham
dado ao mundo uma expressão do carácter de Deus que pudesse interessar a muitos. O trailer
não estava a fazer ninguém querer ver o “filme” completo, porque a sua definição de grandeza
baseava-se apenas no facto de serem o povo escolhido e na “lei”, nas suas tradições e herança.
Pobreza e aflição eram sinais da desaprovação divina, e isto dificilmente eram boas-novas para
os pobres e aflitos. Nem mesmo a lei era uma boa nova para aqueles que se esforçavam por
cumpri-la sem recurso a um Salvador, porque a lei convence e revela o pecado.
E assim tínhamos um mundo que precisava desesperadamente de boas-novas no qual Jesus
que se apressou em fazer dessas boas-novas mais do que simples palavras. As boas-novas de
Cristo iam para além de meros argumentos teológicos. Elas foram feitas carne. As Suas boasnovas estavam revestidas de pele, e tinham pão, roupas e saciavam a sede. As boas-novas
tornaram-se cura física e tornaram-se também numa comunidade que partilhava tudo o que
possuía e que se assegurava que à sua volta ninguém tinha fome, frio ou qualquer outra
aflição. As boas-novas do céu tornaram-se as boas-novas de aqui e agora, nas suas vidas, no
seu, dia a dia ao acordarem e ao andarem. Não eram apenas um projeto para o reino de "um
dia em breve", eram para HOJE. Hoje era o dia em que as boas-novas de justiça, paz e
liberdade eram proclamadas. "Um dia em breve," nós vamos experimentar o culminar de
todas as nossas esperanças e sonhos no estabelecimento do reino glorioso e eterno de Deus,
mas o “Céu” começa aqui e agora.
Esta é uma verdade que me deixa cheio de entusiasmo porque quando as boas-novas são algo
real e presente é impossível não ficar empolgado. Eu penso que esta é uma das razões pelas
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quais os discípulos não jejuavam quando estavam perto de Jesus. Eles sabiam que as Suas
boas-novas eram boas demais para terem de aparentar um pesar estoico.
Mas estas boas-novas eram duras para os “bons velhos” religiosos dos quatro custados. Era
demais e parecia muito estranho. Era demasiado inclusivo e significava que tinham de amar os
que não mereciam amor.
Podemos perceber portanto que Deus estava farto dos seus atos de j ustiça. As suas reuniões
tinham-se tornado meros desfiles de aparato e os seus cultos eram algo que Deus não
suportava mais. Isto já tinha acontecido. Vamos ler Isaías 1:10-17 (apesar de não parecer ele
está a falar com Jerusalém!):
“Ouvi a palavra do Senhor, governadores de Sodoma; dai ouvidos à lei do nosso Deus, ó povo
de Gomorra. De que me serve a mim a multidão de vossos sacrifícios? diz o Senhor. Estou farto
dos holocaustos de carneiros, e da gordura de animais cevados; e não me agrado do sangue de
novilhos, nem de cordeiros, nem de bodes. Quando vindes para comparecerdes perante mim,
quem requereu de vós isto, que viésseis pisar os meus átrios? Não continueis a trazer ofertas
vãs; o incenso é para mim abominação. As luas novas, os sábados, e a convocação de
assembleias... não posso suportar a iniquidade e o ajuntamento solene! As vossas luas novas, e
as vossas festas fixas, a minha alma as aborrece; já me são pesadas; estou cansado de as
sofrer. Quando estenderdes as vossas mãos, esconderei de vós os meus olhos; e ainda que
multipliqueis as vossas orações, não as ouvirei; porque as vossas mãos estão cheias de sangue.
Lavai-vos, purificai-vos; tirai de diante dos meus olhos a maldade dos vossos atos; cessai de
fazer o mal; aprendei a fazer o bem; buscai a justiça, acabai com a opressão, fazei justiça ao
órfão, defendei a causa da viúva.”
E outra vez Isaías 58:1-10:
“Clama em alta voz, não te detenhas, levanta a tua voz como a trombeta e anuncia ao meu
povo a sua transgressão, e à casa de Jacó os seus pecados. Todavia me procuram cada dia,
tomam prazer em saber os meus caminhos; como se fossem um povo que praticasse a justiça
e não tivesse abandonado a ordenança do seu Deus, pedem-me juízos retos, têm prazer em se
chegar a Deus! Por que temos nós jejuado, dizem eles, e tu não atentas para isso? por que
temos afligido as nossas almas, e tu não o sabes? Eis que no dia em que jejuais, prosseguis nas
vossas empresas, e exigis que se façam todos os vossos trabalhos. Eis que para contendas e
rixas jejuais, e para ferirdes com punho iníquo! Jejuando vós assim como hoje, a vossa voz não
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se fará ouvir no alto. Seria esse o jejum que eu escolhi? O dia em que o homem aflija a sua
alma? Consiste porventura, em inclinar o homem a cabeça como junco e em estender debaixo
de si saco e cinza? Chamarias tu a isso jejum e dia aceitável ao Senhor? Acaso não é este o
jejum que escolhi? Que soltes as ligaduras da impiedade, que desfaças as ataduras do jugo? E
que deixes ir livres os oprimidos, e despedaces todo jugo? Porventura não é também que
repartas o teu pão com o faminto, e recolhas em casa os pobres desamparados? Que vendo o
nu, o cubras, e não te escondas da tua carne? Então romperá a tua luz como a alva, e a tua
cura apressadamente brotará. E a tua justiça irá adiante de ti; e a glória do Senhor será a tua
retaguarda. Então clamarás, e o Senhor te responderá; gritarás, e ele dirá: Eis -me aqui. Se
tirares do meio de ti o jugo, o estender do dedo, e o falar iniquamente, e se abrires a tua alma
ao faminto, e fartares o aflito; então a tua luz nascerá nas trevas, e a tua escuridão será como
o meio-dia.”
Isto é Deus a chamar bons membros de igreja para fora. Ele queria mais do que as suas
liturgias, as suas ofertas, os seus hinos e o seu louvor. Ele queria que as suas vidas reflet issem
o Seu amor de foram tangível, com pele, com compaixão, de formas reais e poderosas. AMEM
MAIS é constantemente o grito de Deus ao Seu povo. Ele não pretende outra coisa. Podemos
ver a função da igreja em 1 João 3:16-18:
“Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por nós; e nós devemos dar a vida pelos
irmãos. Quem, pois, tiver bens do mundo, e, vendo o seu irmão necessitando, lhe fechar o seu
coração, como permanece nele o amor de Deus? Filhinhos, não amemos de palavra, nem de
língua, mas por obras e em verdade.”
É sempre difícil quando Jesus define alguma coisa, porque Ele fá-lo de forma tão diferente.
Com frequência pensamos que sabemos o que Jesus diria, mas a verdade é que Ele raramente
disse os que as pessoas pensavam que Ele ia dizer. Basicamente, Jesus estava a dizer que
seguir a Cristo é estar disponível para perder estatuto num mundo que nos seduz com o sonho
de um estatuto cada vez mais elevado. As boas-novas são um novo conjunto de valores, uma
nova trajetória, um novo foco, uma nova orientação e um novo estilo de vida. Quando o Reino
de Deus é algo real e palpável as boas-novas não são uma disciplina espiritual que praticamos,
mas uma nova forma de orientar a vida por completo.
Usando o universo da orientação como ilustração, pensa na ideia de encontrar os pontos
cardeais na vida de alguém. Quando fazes surf, tens um ponto de referência na praia. Quando
navegas tens um ponto no horizonte. Numa pista de orientação tens um ponto no mapa. Qual
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é o teu ponto cardeal quando se trata da tua caminhada de fé? É importante que o teu ponto
de referência, no que diz respeito ao Reino de Deus, seja algo de concreto, algo que se possa
ver e tocar. É por isso que o serviço cristão, ou a capacidade de servir os outros sem esperar
nada em troca, é tão fundamental para uma experiencia de fé saudável no Reino de Deus.
Ignorar o valor das obras de compaixão é perder literalmente o caminho, é ver o reino de Deus
como aquele espetáculo de fogo de artifício onde tudo acontece nos primeiros nove segundos,
e depois ficas apenas à espera do final. É tornar o Reino de Deus fastidioso e isso não faz
sentido.
As boas-novas significam que nós acreditamos de facto que há um reino e que esse reino tem
um rei. Deixem-me explicar o que quero dizer. Muitos cristãos parecem ter a falsa perceção de
que a vinda de Jesus a esta Terra foi simplesmente para salvar-nos. Mas, como vemos nos
textos que já citámos, Ele veio não apenas para oferecer salvação espiritual, mas também para
criar uma nova sociedade baseada nos princípios do Reino de Deus. Ellen White descreve o
arranque do ministério terreno de Jesus registado em Lucas 4:18-21 da seguinte forma:
“Jesus Se postou diante do povo como vivo expositor das profecias conce rnentes a Si próprio.
Explicando as palavras que lera, falou do Messias, como de um libertador dos oprimidos e dos
cativos, médico dos aflitos, restaurador de vista aos cegos e revelador da luz da verdade ao
mundo. Sua maneira impressiva e a maravilhosa significação de Suas palavras arrebataram os
ouvintes com um poder nunca antes por eles experimentado. A corrente de influência divina
derribou todas as barreiras; viram, qual Moisés, o Invisível. Sendo seu coração movido pelo
Espírito Santo, respondiam com fervorosos améns e louvores ao Senhor.” - O Desejado de
Todas as Nações, pg. 158.
E ao longo do tempo, com muita frequência os crentes perderam este sentido de missão e
caíram numa expressão de Jesus que é baseada em crenças intelectuais mais do que em
compaixão. No entanto, o Reino de Deus é um reino de compaixão. Sempre o foi e sempre
será. O apóstolo Tiago disse-o claramente: “A religião pura e imaculada diante de nosso Deus e
Pai é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas aflições e guardar-se isento da corrupção do
mundo ” (Tiago 1:27). Um reino de compaixão é o que somos chamados a experimentar e a
expressar. Fazê-lo, implica abraçarmos a “economia” deste reino, o estilo de vida deste reino,
e isto é algo maravilhoso.
Há muitos que acreditam num reino de compaixão e trabalham nele ativamente, mas muitos
destes recusam aceitar que este reino tem um Rei. E é aqui que o Cristianismo tem a
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oportunidade de se revelar mais do que apenas uma maneira bondosa de viver ou um sistema
de compaixão para com o mundo. No ideal, nós acreditamos neste reino e reconhecemos e
adoramos o Seu Rei. O contrário no entanto é muito frequente, ou seja, que os Cristãos
comecem a sua jornada de fé aceitando o Rei, mas que se recusem a participar de forma ativa
no Seu Reino. Aceitam a abundância de Graça nas suas vidas, mas não estão disponíveis para
tornar a sua fé em algo concreto e visível. Aceitaram Jesus como Salvador mas negam-no como
Senhor. São batizados na água para perdão dos seus pecados, morrendo para o seu passado,
mas não ressuscitaram pelo poder do Espírito Santo para uma nova vida no Reino em Cristo.
Aceitar Jesus como Salvador e negá-lo como Senhor deixa muitos Cristãos sem nada para
fazer, nenhum lugar para ir, e assim eles usam o seu tempo tratando dos pecados dos outros
dentro da igreja. Ó se tão somente pudéssemos colocar essa energia em nos tornarmos as
mãos tangíveis de Cristo neste mundo.
Uma das formas mais poderosas de superar uma religião que não passa da esfera filosófica é
envolver-se numa religião prática que é tangível. Duas histórias podem ilustrar bem este
ponto. Li há uns tempos uma história num email sobre um grupo de vendedores que se
deslocaram a uma convenção fora da sua cidade, há alguns anos atrás. Enquanto corriam pelo
terminal para não perderem o avião de regresso a casa, um deles bateu acidentalmente numa
mesa que estava cheia de maçãs expostas. Eles continuaram a correr para o avião mas voaram
maçãs para todo o lado, e assim chegaram mesmo em cima da hora para o embarque. Mas um
deles sentiu realmente compaixão da jovem que tomava conta da banca de maçãs que eles
abalroaram e disse aos colegas que fossem sem ele e que dissessem à esposa que ele iria no
voo seguinte.
Ele voltou então ao terminal onde o chão estava coberto de maçãs e ficou satisfeito pela sua
decisão. A menina das maçãs era uma jovem de 16 anos e invisual. Ela chorava, desesperada,
enquanto tateava impotente para apanhar a fruta caída sem que ninguém parasse para a
ajudar. O vendedor ajoelhou-se então ao seu lado enquanto apanhava as maçãs, as colocava
na mesa e ajudava a organizar a banca. Enquanto o fazia, reparou que muitas das maçãs
tinham ficado pisadas e por isso foi separando-as para outro cesto. Quando terminaram de
arranjar tudo ele pegou na carteira e disse à jovem: “Toma, aceita por favor estes 40 dólares
pelos estragos que fizemos. Estás bem?”. A rapariga acenou com a cabeça que sim, enquanto
secava as lágrimas, e ele disse-lhe: “Espero não termos estragado o teu dia completamente”. E
quando o homem começava a caminhar, ainda meio desnorteada a jovem cega chamou por
ele: “Senhor …”. Ele parou e olhou para trás, quando ela perguntou “Você é Jesus?” A
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pergunta deixou-o meio perdido. Então, lentamente, ele voltou ao seu caminho para procurar
o voo seguinte, mas aquela pergunta ardia ainda no seu interior: "Você é Jesus?"
OUTRA HISTÓRIA
Abraham Lincoln foi uma vez a um mercado de escravos e movido de compaixão fez uma
licitação por uma jovem negra. Ele ganhou o leilão e por isso abandonou o local com a sua
nova “propriedade”. Na face daquela jovem havia uma expressão de raiva e
descontentamento porque sabia que diante dela estava mais um homem branco que a tinha
comprado e que abusaria dela. Mas enquanto caminhavam para longe do mercado de
escravos, Lincoln disse para a menina: "Agora estás livre."
“O que significa isso” perguntou ela.
“Significa que estás livre”
“Isso significa que posso ser o que quiser?”
“Sim, tu podes ser exatamente o que quiseres.”
“Isso significa que posso dizer o que quiser?”
“Sim, tu podes dizer o que bem entenderes.”
“Isso significa que posso ir onde quiser?”
“Sim, tu poder ir onde quiseres.”
“Então …” disse ela “Eu vou consigo.”
Esta história pode ilustrar um outro ponto importante. Quando tu encontras Jesus, tu queres
ficar com Ele.
Muitas vezes pensamos que a nossa ortodoxia (a crença correta) será já de alguma forma viver
no Reino de Deus. Mas, muitas vezes também, esquecemos que a nossa ortopraxia (a ação
correta) é o que fazemos no reino de Deus. Será que a nossa fé se tornou como aquelas
pessoas em San Diego – simplesmente à espera do final, aborrecidos, dececionados e parados,
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enquanto esperamos pela Segunda Vinda, sem pensarmos que os que nos rodeiam que estão a
sofrer?
Para os Adventistas do Sétimo Dia, há um Rei e Ele tem um Reino. A tarefa da igreja não é
fazer o serviço por ti, mas criar oportunidades para que tu te envolvas. Independentemente da
tua paixão, a tua igreja deve ajudar-te a vivê-la. Ministrar com a tua paixão é uma parte muito
significativa do que é viver no Reino de Deus. O serviço de Culto deve ser o tempo de vir e
celebrar os momentos que vivemos com Deus enquanto testemunhamos e servimos a
comunidade que nos envolve. Mas com tanta frequência a vi nda à igreja é o único momento
alto da semana na nossa vida espiritual - ouvem-se palavras maravilhosas, boa música faz-nos
sentir a presença de Deus - mas parece ser raro haver tempo para expressarmos a nossa
gratidão pelo que Deus nos tem ajudado a descobrir e a fazer no “reino” em que vivemos cada
semana, mês e ano, cada segundo do nosso dia a dia. Se apenas nos sentarmos e nada
fizermos, Deus vai ficar cansado dos nossos encontros.
O filósofo espanhol Unamuno fala acerca do aqueduto Romano da cidade de Segóvia na sua
nativa Espanha. Foi construído em 109 D.C. e por 1800 anos transportou água fresca das
montanhas para a cidade quente e sedenta. Quase sessenta gerações de Homens beberam do
seu fluxo. Depois veio outra geração, uma mais recente, que disse: "Este aqueduto é uma
maravilha tão grande, que deve ser preservado para os nossos filhos como uma peça de
museu. Vamos aliviá-lo de seu trabalho de séculos. E foi isso que fizeram! Colocaram tubos de
ferro modernos e deram aos tijolos e à argamassa tão antigos, um descanso reverente. E foi
assim que o aqueduto começou a desmoronar. O sol ardente a bater na argamassa seca fê -lo
desmoronar. Os tijolos e a pedra cederam e ameaçavam cair. O que eras de serviço não
conseguiram destruir, o ócio desintegrou. E é isto o que pode acontecer a uma igreja que não
se investe no serviço aos outros.
"O grande violinista Nicolo Paganini quis que o seu maravilhoso violino fosse levado para
Génova - a sua cidade natal - mas apenas sob a condição de que o instrumento nunca mai s
fosse tocado. Foi na verdade uma condição lamentável, porque umas das particularidades da
madeira é a de ter pouco desgaste enquanto for usada e manipulada, mas assim que é
abandonada começa o seu processo de decadência. O requintado violino de tonalidad e suave,
começou então a ser corroído pelo bicho da madeira dentro do seu belo estojo, tornando -se
sem qualquer valor exceto como relíquia. O instrumento apodrecido é um lembrete de que a
vida afastada do serviço aos outros perde o seu significado " (Bits & Pieces, 25 de junho de
1992).
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Esta é a verdade: há um reino, e este Reino tem um Rei. Esse Rei, em Lucas capítulo 4, deixou
muito claro ao que vinha. Faz sentido portanto que abracemos os valores que Jesus abraçou:
misericórdia, justiça, compaixão, graça e cura. Se as nossas comunidades de fé mostrarem
essas características, elas não estarão apenas cheias, elas vão transbordar!
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Terça feira, 11 de março de 2014
O Reino de Deus: Valores Contra Cultura
Alex Bryan
Mateus 5:1-16
O Reino do Céu era, e é, um assunto muito importante para Jesus.
Na verdade, alguns dizem que enquanto Ele esteve na Terra falou mais do Reino do Céu do
que de qualquer outro assunto. O Reino, aparentemente, era a realidade mais importante.
Jesus contou muitas parábolas acerca do Reino (Mateus 13). Contrastou o Reino do Céu (o
Reino de Seu Pai) com os reinos inferiores deste mundo (Mateus 4:8-10). Também descreveu a
Sua missão como sendo a de trazer, Ele próprio, o Reino do Céu à terra (Mateus 4:17). A
oração de Jesus: “Venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu”,
(Mateus 6:10) mostra-nos que Deus deseja que os meios e as formas do Seu reino conquistar
os meios e as formas dos reinos deste mundo.
O Reino do Céu era, e é, um assunto muito importante para Jesus.
Um reino, claro está, tem um rei. Deus é o rei do Seu reino – Pai, Filho e Espírito Santo estão
no trono. São Eles que comandam e ditam as regras. A vida de Jesus retrata o que é afinal esse
reino. Encontramos na Sua vida compaixão, santidade, propósito, verdade e amor. Vemos na
Sua interação com é que os habitantes do reino devem viver. Desde os Seus milagres de cura,
até aos Seus ensinos práticos sobre dinheiro ou à Sua morte sacrificial na cru z,
compreendemos os valores do reino. Jesus veio revelar Deus, mostrar-nos como Deus quer
que o mundo funcione. Cristo trouxe-nos a Sua “legislação” que está fundada sobre a lei do
amor - Mateus 22:37.
O nosso objetivo neste texto não é identificar o rei, nem as regras e regulamentos do seu
reino. Em vez disso vamos explorar o conceito de cidadania o reino. Quem faz parte do reino?
Numa tentativa de responder a esta questão iremos analisar Mateus 5:1-14, que é o início do
famoso “Sermão da Montanha”. É provável que saibam que este é o grande discurso sobre
ética de vida segundo Jesus – a vida vivida em harmonia com o Reino de Deus. Mas nestes
primeiros versículos, Jesus deseja, em primeiro lugar, explorar a questão “quem” realmente
está habilitado para ser membro do reino.
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Comecemos por ler Mateus 5:1-2
“Jesus, pois, vendo as multidões, subiu ao monte; e, tendo se assentado, aproximaram -se os
seus discípulos, e ele se pôs a ensiná-los.”
Uma leitura rápida e superficial destes versículos pode deixar-nos com a sensação de que não
há muita coisa para refletirmos para além de alguns factos básicos e sem grande interesse.
“Jesus estava a ensinar a multidão na encosta da montanha:” Mas a história é muito mais do
que isso! Sim, Jesus está a ensinar. Ele era um rabi, um professor. Sim, ele sentou -se e essa era
uma posição comum para rabis ensinarem. E sim, a palavra discípulo significa “aquele que está
a aprender com o rabi”, e as grandes paisagens ao ar livre eram locais comuns para ensinar, e
aquele declive deve ter dado um grande ambiente de sala de aula. Tudo isto faz sentido. Só
uma coisa não faz sentido: Jesus ensinava multidões.
O problema é este: os rabis eram normalmente muito seletivos sobre quem deveriam ensinar.
Apenas os melhores e mais brilhantes podiam entrar nas suas aulas. Apenas os políticos bem
relacionados tinham assento nos seus anfiteatros. Somente os que fossem santos, justos, da
linhagem certa, apenas os que fossem Judeus e rapazes eram autorizados a matricularem-se
nas suas escolas. Se fossem meninas, não tinham direito a aprender. Se fosse o filho de um
homem pobre, não tinha direito a aprender. Um doente, também não tinha direito a aprender.
Se fosse um gentio, definitivamente não tinha direito a aprender. Se não se atingisse aquele
seletivo nível preestabelecido, não se tinha hipótese.
Jesus no entanto ensina multidões. Jesus fala às massas como se fossem parte do grupo que
tem direito a aprender. Não há nenhum detetor de fervor para testar o mérito espiritual dos
que o queiram ouvir. Esta multidão é diversificada: ricos, pobres, homens, mulheres, jovens,
adultos, altos e baixos QI’s, os que conhecem as doutrinas e os não sabem nada acerca delas.
A decisão de Jesus de ensinar as multidões, apresenta uma nova e surpreendente visão do que
significa ser cidadão do reino. Os portões que protegem o condomínio fechado da
comunidade, estão a ser derrubados. A ideia de que apenas alguns são os escolhidos de Deus os Seus especiais - está a desmoronar-se. É um conceito que Jesus está a desafiar. Então que
espécie de pessoas querem Jesus ver na encosta da montanha?
Versículo 3: “bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus.”
Nunca foste “humilde de espírito”? Já te sentiste de espírito abatido? Já te sentiste em baixo e
deprimido? As trevas já te cercaram a ponto de te sentires desesperado? Já alguma vez
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duvidaste se a vida é boa? Já alguma vez te questionaste: “Deus, será que existes mesmo”? Já
alguma vez te sentiste vazio e pobre de espírito?
Jesus diz: “bem-aventurado és.” O que é que Ele quer dizer com isso? Foste escolhido por
Deus. Deus sorri para ti. Deus ama-te. Deus está feliz contigo. Tem bom ânimo. Tu podes
experimentar uma forma de alegria mesmo no meio de uma grande dor. Só porque estás no
“fundo do poço” não significa que foste de alguma forma afastado de Deus.
Vivemos num mundo onde as doenças mentais são olhadas com desconfiança. Ainda hoje
olhamos de lado para aqueles que necessitam de aconselhamento, para os que precisam de
falar com um profissional de saúde mental. Às vezes assumimos que uma depressão significa,
“Esta pessoa não está bem com Deus, nem com a vida”. Dizemos de alguém que está instável
na sua capacidade de ter fé em Deus: Estes são agnósticos, ateus, céticos… têm problemas
com Deus. Muitas vezes associamos estados de mau humor e escuridão mental, a uma
inaptidão para ser parte do Reino. Mas esquecemo-nos até das palavras de Jesus “Deus meu,
Deus meu, por que me desamparaste?” (Mateus 27:46). Mesmo Jesus, que permaneceu sem
pecado, sentiu o peso das trevas. Até mesmo Jesus se questionou se Deus o tinha
abandonado. Uma experiência tão extrema teria levado qualquer um de nós a duvidar, e até
mesmo a rejeitar a realidade de Deus. No entanto, a experiência de Jesus mostra-nos que
sermos confrontados com experiências extremas, não é prova da ausência de Deus. Podemos
ser pobres de espírito. Podemos viver com a “alma” perturbada por vezes. E isso não faz de
nós seres amaldiçoados! Ao contrário, somos abençoados, amados. Somos convidados a nos
tornarmos cidadãos do reino dos céus, do reino de Jesus. Se hoje te sentes em baixo, lembra te, tu és bem-aventurado, és amado.
Jesus olha novamente para a multidão (versículo 4): “Bem-aventurados os que choram, porque
eles serão consolados.” Pesar e mágoa não são pecado. Até mesmo Jesus chorou com a família
de Lázaro (João 11:35).
“Não foi só pela simpatia humana para com Maria e Marta, que Jesus chorou. Havia em Suas
lágrimas uma dor acima da simples mágoa humana, como o Céu se acha acima da Terra.
Cristo não chorou por Lázaro; pois estava prestes a chamá-lo do sepulcro. Chorou porque
muitos dos que pranteavam a Lázaro iriam em breve arquitetar a morte dAquele que era a
ressurreição e a vida. Mas quão incapazes eram para interpreter as Suas lágrimas! Alguns, que
não conseguiam ver senão as circunstâncias exteriores da cena que perante Ele estava, como
causa de Sua tristeza, disseram baixinho: "Vede como o amava!" Outros, procurando lançar a
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semente da incredulidade no coração dos presentes, disseram, irónicos: "Não podia Ele, que
abriu os olhos ao cego, fazer também com que este não morresse?" João 11:36 e 37. Se estava
no poder de Cristo salvar a Lázaro, por que, então, o deixou morrer?” - Ellen White, O
Desejado de Todas as Nações, pg. 533, 534
Ser membro do Reino não requer uma felicidade perpétua. Podemos estar tristes e mesmo
assim estar em harmonia com o Salvador. Podemos chorar – ainda que com sentimentos de
cólera. A angústia implica muitas vezes sentir raiva: de nós mesmos, das circunstâncias, de
outros seres humanos, até mesmo raiva de Deus. Emoções muito fortes no contexto da
deceção e da perda, não são necessariamente contrárias a ser um seguidor de Jesus.
Fidelidade a Deus não significa eliminação dos sentimentos humanos. Estás a sofrer? Não estás
amaldiçoado. Acredita que és bem-aventurado, que és amado por Deus.
Jesus continua (versículo 5): “Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra.”
O nosso mundo não tem admiração pelos mansos. A fragilidade é vista com uma falha.
Admiramos aqueles que são financeiramente fortes, atleticamente fortes, fortes dentro do
apertado conceito de beleza que os media promovem. Gostamos de pessoas extrovertidas.
Gostamos de pessoas autoconfiantes e astutas. Aqueles que são lentos, feios, pobres ou
enfadonhos … não somos grandes fãs desses infelizes. E claro está, estes valores distorcidos
podem ser muitas vezes encontrados na Igreja. Gostamos de grandes pregadores, de grandes
líderes, de cristãos fortes que sejam muito eficientes. E os mansos? E os fracos? Aqueles que
vivem muitas vezes nas “fendas” da vida? Mas depois aparece Jesus e diz que não são os
evangelistas cativantes, os doadores abastados ou os sopranos de voz perfeita e afinada que
têm acesso ao Reino dos Céus: “Bem-aventurados os mansos”.
E Jesus olha novamente para a multidão (versículo 6): “Bem-aventurados os que têm fome e
sede de justiça, porque eles serão fartos”. Uau! Na comunidade cristã celebramos aqueles que
estão cheios de justiça. Amamos os homens santos e as mulheres dignas. Amamos os
guerreiros da oração e os campeões do estudo da Bíblia. Amamos aqueles que dão os dízimos
até ao último cêntimo e aqueles que não comem queijo. Aqueles que estão bem nutridos – o
remanescente, do remanescente, do remanescente – esses são os verdadeiros filhos de Deus!
Mas aqui Jesus anuncia uma bênção, uma confirmação do favor de Deus para com aqueles que
têm fome e sede. Jesus refere-se àqueles que não têm tomado as suas vitaminas sagradas e
que não têm tomado “pratadas” de piedade todos os dias. Jesus diz: “Bem-vindos ao reino
todos os que estão espiritualmente famintos. Há espaço suficiente para os que não são “super
santos”.
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E Jesus continua (versículos 7-9): “Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles
alcançarão misericórdia. Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus.
Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus.”
Misericórdia significa não andar à procura de justiça quando ela é merecida. É graça. Pureza de
coração não implica perfeição, mas antes confissão honesta e transparente. Uma pessoa pura
de coração admite os seus erros, clama pelo dom da graça de Deus e almeja ser como Jesus. E
os pacificadores? Os que procuram a paz estão menos interessados em alcançar o que é justo
e mais interessados em trabalhar para o bem comum – uma comunidade de graça. Estas três
qualidades podem ser atrativas para nós, mas com demasiada frequência admiramos
exatamente o oposto na religião: gostamos daqueles que disciplinam os caídos, gostamos dos
que têm uma aparência de santidade, gostamos dos que são vencedores. Misericórdia, pureza
de coração, e ser pacificador, são muitas vezes deixados de fora, ao frio. Mas Jesus diz à Sua
multidão de discípulos, “tragam-nos para dentro, para o aconchego da sala de estar da vossa
vida”.
E então, Jesus diz (versículos 10-12): “Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça,
porque deles é o reino dos céus. Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos
injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo o mal contra vós. Regozijai-vos e
exultai porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que
viveram antes de vós.”
Jesus disse aos homens e às mulheres que se encontravam sentados na encosta para estarem
atentos. Entrar no Reino não vai ser fácil. Serão perseguidos. Zombarão de vós. Serão
torturados e talvez até mortos. A vida no Reino não acontece numa espécie de redoma de
vidro protetora. Ser cidadão na comunidade de Jesus tem um custo. Seremos perseguidos
como os profetas do passado. Quem fará essa perseguição? Sim algumas vezes foram forças
seculares, profanas e maldosas – tal como o Faraó, Acabe ou Nabucodonosor. Mas os profetas
foram também perseguidos por aqueles que diziam estar a fazer o trabalho de Deus. Em
Mateus 21:33-46 Jesus conta uma parábola para ilustrar a longa história das perseguições – às
mãos dos líderes religiosos. No final da parábola os publicanos e os fariseus perceberam que
Jesus tinha estado a falar deles. Que ironia! As pessoas que podiam reivindicar um estatuto
especial no reino de Deus, são exatamente as que fazem guerra a esse mesmo reino.
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É um pensamento inquietante, que aqueles que se apresentavam a si mesmos como os mais
santos, os mais justos, os mais religiosos, os que levavam mais a sério a necessidade de
purificação da sinagoga – fossem exatamente os líderes religiosos que estavam a causar os
maiores prejuízos à Igreja. Os seus corações não eram puros. Estavam prontos a atar fardos
pesados sobre os outros, mas eles mesmos nem com um dedo queriam carregá-los (Mateus
23:4). E por isso Jesus disse aos que entre a multidão já sentiam esta perseguição “Só porque a
liderança religiosa vos persegue, não significa que estejam no caminho errado. Na verdade,
são esses homens que se chamam de líderes religiosos, os meus opositores.” Uau! Quão audaz
é Jesus em esclarecer o que é de facto ser membro do Seu reino!
É então que Jesus muda o sentido do Seu sermão. Ao longo destes versículos Ele abriu as
portas de par em par - aos deprimidos, aos tristes, aos pobres, aos marginais espirituais, aos
humildes, aos que são vistos com desdém pelos sistemas religiosos. E agora, Ele convida a
multidão para algo grandioso (Mateus 5:13-16).
“Vós sois o sal da terra; mas se o sal se tornar insípido, com que se há de restaurar-lhe o
sabor? Para nada mais presta, senão para ser lançado fora, e ser pisado pelos homens. Vós sois
a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte; nem os que
acendem uma candeia a colocam debaixo do alqueire, mas no velador, e assim ilumina a todos
que estão na casa. Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas
boas obras, e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus.”
Imagina como estas palavras devem ter sido sentidas por aqueles que acreditavam que as suas
vidas eram inúteis. Jesus está a dizer: “Tu podes fazer a diferença. Tu podes fazer o meu
trabalho. Podes fazer do mundo um lugar melhor. Podes dar sabor e cor ao mundo. Podes
virar o mundo ao contrário e virá-lo para o lado certo!”. A mensagem de Jesus é não apenas de
aceitação: és amado por Deus e podes fazer parte do Seu reino), mas é também uma
mensagem de confiança: com a tua vida pode és capaz de fazer grandes coisas por Deus. “Eu
amo-te e espero de ti coisas fantásticas.” E a multidão, que nunca tinha ouvido falar nem da
ternura de Deus nem da confiança que Ele depositava neles, ficou maravilhada.
P ARA CONCLUIR
Há alguns anos, eu e a minha esposa planeamos uma festa para a nossa filha, Audrey, quando
ela ainda frequentava o ensino pré-escolar. Para que uma coisa destas corra bem é preciso
realmente preparar-se muito bem. Planeámos a comida que iríamos servir, a decoração, os
jogos e as atividades que deviam ser divertidas (e não demasiado aborrecidas) para crianças de
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5 anos de idade. A noite da festa chegou e tudo estava a correr excecionalmente bem. As
crianças estavam a divertir-se e os outros pais, acho que o podemos dizer, também estavam
muito agradados. A determinada altura durante a festa, convidámos todos os pais e crianças a
descerem à cave, onde tínhamos um piano vertical, e onde tínhamos preparado o jogo da
“dança das cadeiras”. Colocámos dez cadeiras em círculo, viradas para o exterior, a minha
esposa explicou as regras do jogo e as crianças ocuparam os seus lugares. Comecei a tocar
piano e, de acordo com as regras do jogo, as crianças começaram a correr à volta do círculo. A
minha esposa retirou uma cadeira e eu continuei a tocar durante mais alguns segundos até
que de repente parei. Dez rapazes e raparigas precipitaram-se para as nove cadeiras que
restavam, e todos eles conseguiram ocupar uma cadeira à excepção de um menino.
Imediatamente, o rapazinho de cinco anos de idade, e sem cadeira, olhou para os pais e
começou a chorar, soluçando enquanto correu na direção deles. A minha esposa e eu
trocámos um olhar preocupado - não estava a correr como tínhamos planeado. Então comecei
novamente a tocar, e os nove rapazes e raparigas começaram a correr outra vez à volta do
círculo. A minha esposa retirou mais uma cadeira, eu toquei durantes alguns segundos, e de
repente a música parou. Desta vez, os nove rapazes e raparigas corre ram na direção das oito
cadeiras. Oito conseguiram ocupar o seu lugar, deixando desta vez uma menina de fora.
Imediatamente ela olhou para a mãe e para o pai, desatou a chorar, e correu para os seus
braços. Eu e a minha esposa trocamos novamente um olhar que ambos compreendemos bem:
Temos de fazer alguma coisa o mais depressa possível para que a situação não piore. E assim
convencemos as (abaladas) crianças que tinham saído a tentarem mais uma vez. A minha
esposa colocou as duas cadeiras que faltavam e as crianças tomaram os seus lugares. Comecei
a tocar o piano e … nenhuma cadeira foi retirada. Toquei durante mais alguns segundos e de
repente a música parou. Cada um dos dez meninos e meninas encontraram um lugar nas
cadeiras disponíveis. As crianças gritavam e pediam-me “Pastor Alex, podemos jogar outra vez!
Pastor Alex, toque novamente!”. Jogámos até todas as crianças (e os meus dedos) estarem
exaustas.
O Reino dos Céus tem uma cadeira para cada pessoa. Há espaço suficiente para todos os
rapazes e raparigas, para cada um dos filhos de Deus. A música do céu convida-nos todos a nos
juntarmos num “jogo celestial” cheio de risos, alegria e a oportunidade de atrairmos outros
para este jogo. Não importa a tua posição na vida. Não importam as circunstâncias. Não
interessa o teu passado. Deus tem um lugar para ti. Vais entrar no jogo e ocupar o teu lugar?
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Quarta feira, 12 de março de 2014
O Reino de Deus: Uma mesa na Terra, Uma mesa no Céu
Eddie Hypolite
Marcos 2:13-17
Como defines quem pode entrar no teu círculo de amizades e quem fica excluído? Tens algum
tipo de “teste mental de merecimento” ao qual os sujeitas? É baseado nas suas convicções
religiosas ou sociais? Têm de ser cristãos ou especificamente Adventistas? Têm de ser bons e
constantes amigos do Facebook, ou és um pouco mais flexível do que isso?
Tomem alguns minutos em grupos e respondam à seguinte questão: Como defines quem faz e
quem não faz parte do teu grupo de amigos?
Se havia uma coisa acerca de Jesus que aborrecia mais do que tudo os líderes do seu tempo e
confundia até mesmo os seus discípulos, era a forma como ele tratava aqueles que eram
excluídos socialmente. Todos acreditavam que quando viesse o Messias, Ele iria restaurar de
novo a glória de Israel, mas ninguém esperava que o reino fosse constituído por toda e
qualquer pessoa da sociedade.
A inclusão dos “excluídos sociais” no reino e no favor de Deus, nunca foi algo que alguém
esperaria que acontecesse. E no entanto, é isso que torna a vida e o ministério de Jesus tão
belo quanto lemos nos evangelhos. Marcos 2:13-17 pinta um quadro do reino que Jesus veio
estabelecer, não somente na sociedade de Israel, mas também no coração dos Seus discípulos.
Levi, também conhecido como Mateus, é um cobrador de impostos. Ele é odiado por Judeus e
Gentios porque cobra o Imposto Romano. O Imposto Romano foi estabelecido pelos Romanos,
mas ninguém sabia na realidade o objetivo desse imposto, a não ser os próprios cobradores de
impostos. Por isso, era prática comum que os cobradores aumentassem o valor do imposto e
ficassem com uma parcela pessoal. Levi era o mais odiado porque se tratava de um Judeu que
cobrava o Imposto Romano, tornando-o assim pior que um Gentio. De todas as maneiras ele
não estava apto para ser cidadão do reino, nem discípulo. Como Judeu, cresceu num ambiente
religioso, foi aos tições, desbravadores, reuniões de jovens e escola sabatina do seu tempo.
Mas algures no seu percurso, distraiu-se com o brilho do mundo tal como o filho pródigo, e
pensou que ter um dinheirito extra e fácil iria fazê-lo mais feliz. É curioso o que uma pessoa é
capaz de fazer de forma a encurtar o caminho para a felicidade. Ele passou para terreno
“inimigo” e começou a trabalhar contra o seu próprio povo.
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Muitos jovens que andam no mesmo caminho que andou Levi, cedo ou tarde acabam por
perceber que a procura da felicidade sem Deus, é como descascar uma cebola - no fim do dia
descobrem que não tem nada no interior. Levi não sabia exatamente como lidar com a sua
angústia … não podia ir à sinagoga, pois provavelmente ia sentir a rejeição por parte do se u
povo e por isso decidiu guardá-la para si, até que Jesus - que tem a arte de aparecer no
momento certo - apareceu.
No versículo 14 é dito que Jesus passou pelo posto de cobrança de impostos onde Levi estava
sentado a trabalhar e intencionalmente dirige-lhe as palavras “Segue-me!” Há aqui algo
profundamente simples que não nos pode passar ao lado. Jesus não espera que as pessoas o
encontrem, Ele encontra-as primeiro. Não somos chamados a esperar que as pessoas nos
encontrem, o reino de Deus está ativamente à procura dos perdidos onde eles estão. O convite
“Segue-me!” é feito para declarar o amor de Deus por Levi, apesar de ele ser um excluído
social.
Se as pessoas souberem que são amadas e aceites, mesmo estando sentadas no “posto de
cobrança de impostos” da vida - o que os torna socialmente desprezados- encontrarão o poder
de Deus que permite que se levantem de onde estão e vão para onde Ele está. O mundo não
se vai importar com o que sabemos, até que saiba que nos importamos!
Três rápidas lições são apresentadas nos versículos 13 e 14:
1. Vidas capacitam vidas! Os ensinos de Jesus que terão mais impacto na maioria das pessoas
da nossa sociedade são os que se referem à nossa vida quotidiana. As palavras, ações e vida de
Jesus, estavam em consonância. O que Ele ensinou, viveu e disse refletem quem Ele era
verdadeiramente. Isto é o que vai fazer com que as pessoas saiam de onde estão e nos sigam
enquanto nós seguimos a Cristo!
2. É impossível ignorar um amor consistente. A consistência é o resultado de sentir o valor
que Deus coloca nas pessoas que nos envia. Os atos de Jesus para com os perdidos
permaneceram consistentes durante toda a sua vida e ministério. Jesus não amou por acaso,
pelo que nós também não devemos fazê-lo. O amor é a dádiva mais intencional na experiência
humana, que não acontece por acaso e por isso é que é tão transformador.
3. Jesus relaciona-se com os rejeitados. Jesus disse a Nicodemos em João 3:17 que Deus não
tinha enviado o seu Filho para condenar o mundo, mas para salvá-lo. Então Ele mostra o seu
compromisso para com este ideal ao passar mais tempo com os excluídos da sociedade e ao
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trazer-lhes a verdade acerca do reino de Deus. E o que é essa verdade? É o facto de que Deus
associa o seu amor e a sua vida aos rejeitados, e fá-lo sem desculpas.
Marcos relembra que Levi se levanta e deixa o seu local de cobrança de impostos. Ele deixou
tudo! Ele nunca mais pode voltar àquele lugar e escolhe mesmo não fazê-lo. O seu novo rumo
supera em muito a sua realidade passada. Qual é o resultado desta mudança de direção? Ele
estende a Jesus e aos outros do amor que lhe foi oferecido. Ele passou a sua vida de trabalho a
preparar uma mesa de cobrança de impostos para fazer aquilo que o tornou num
marginalizado da sociedade, mas agora prepara uma mesa em sua casa para Jesus.
Marcos 2:15 diz que Levi dá uma festa, um banquete, para o qual convida Jesus, o seu
convidado de honra. Repara nos restantes convidados: à mesa com Jesus estão cobradores de
impostos, pecadores e outros marginalizados. Nenhuma diferença é mencionada entre estes e
os discípulos. Marcos 2:15 apenas assinala que “eram muitos os que O seguiam.”
O banquete que Mateus organiza para os seus amigos “marginalizados” faz lembrar o
banquete de casamento que Jesus refere numa das suas parábolas relativas ao reino do tempo
do fim em Mateus 22. O banquete estava cheio de todo o tipo de convidados, “bons e maus.”
O facto estranho em relação a esta parábola é que os que apareceram na festa não foram os
convidados originais. Os que foram convidados inicialmente nunca apareceram. Tudo estava
pronto, a mesa estava posta, e a orquestra estava pronta para tocar a marcha nupcial; o rei
estava à porta e o filho estava à espera da sua noiva, a igreja, mas ninguém apareceu. O rei
pediu aos servos que lembrassem aos convidados que tinham recebido um convite, mas estes
estavam muito ocupados com os seus assuntos pessoais, que não tinham tempo para o rei ou
o seu filho; alguns até ficaram aborrecidos a tal ponto com a insistência do Rei, maltrataram e
até mataram os servos inocentes.
Pergunto-me a quem se referia Jesus nesta parábola? É fácil apontar rapidamente o dedo aos
Judeus que rejeitaram o Filho do Rei? Mas… e quanto às pessoas religiosas de hoje? E quanto a
mim? Estou eu tão ocupado com as minhas atividades pessoais que desprezo o maior
chamado da minha vida, o convite do Rei? Pergunto-me se fico impaciente com aqueles que o
Rei enviou para me lembrar do seu convite?
Então o Rei acaba por enviar os seus servos a estender o convite às pessoas que passam na
rua, a qualquer um que encontrem e que queira vir à festa, e sem demora a sala estava cheia
de convidados. Que bela imagem do amor inclusivo que Jesus tem pela humanidade perdida.
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Voltando a Levi, o convite que fez aos seus amigos “marginalizados” foi um testemunho
poderoso de uma vida mudada por este amor e esta aceitação. Jesus chamou Levi de uma
mesa que o separava da humanidade e da salvação e Levi põe uma mesa para Jesus que traz
humanidade e salvação tornando o espaço glorioso.
Como sempre, havia aqueles que não gostavam da ideia que o reino de Deus pudesse ser um
lugar onde Jesus não tem favoritos, onde todos são igualmente amados. Como resultado, os
versículos 16 e 17 dizem que se queixavam, mas Jesus deixa bem claro que os doentes
necessitam de ajuda e que essa é a razão pela qual os chama.
O gesto de Levi ao abrir a sua casa não somente a Jesus, mas a todas as pessoas com quem
costumava sentar-se, mostra-nos quatro perspetivas acerca do reino de Deus e de Jesus que
não podemos perder:
1. À mesa de Jesus não se sentam sempre os mais óbvios.
Nunca devemos pretender saber quem Jesus quer salvar e quem não. Quando nas escrituras
Jesus diz “todo aquele que crer” Ele está falando literalmente. Não tenhamos a presunção de
julgar saber quem pode e quem não pode ser salvo. Não sejamos uma igreja que põe a mesa
do amor e da amizade apenas para os que parece ser óbvio.
2. A mesa de Jesus é uma mesa aberta.
Muitos ainda hoje têm medo da ideia de abrir as portas da igreja a todo e qualquer um, mas o
reino de Deus salva toda e qualquer pessoa a cada dia, todos os dias. Não temos uma palavra a
dizer acerca daquele em cujo coração o Espirito de Deus escolhe trabalhar. Nós só
conseguimos ver os resultados e recebemo-los na família para que possam crescer também
em amor e graça. Façamos da nossa mesa uma mesa aberta, sabendo que Jesus senta-se
especialmente nessas mesas.
3. À mesa de Jesus lembramo-nos dos que se costumavam sentar à nossa mesa.
Levi nunca esqueceu de onde veio e quem costumava sentar-se à sua mesa antes de Jesus o
chamar. É tão fácil para nós como cristãos, esquecer onde Jesus nos encontrou e quão longe
nos trouxe. Jesus deseja que nos lembremos das pessoas que deixamos para trás quando o
encontramos. Ele quer que no lembremos quem costumava sentar-se à mesa connosco e ter
um lugar para estas pessoas na nossa nova mesa. Devemos ser cuidadosos para não nos
tornarmos ‘hiper-salvos.’ Uma pessoa ‘hiper-salva’ olha com desprezo para os seus antigos
conhecidos porque tem uma vida diferente da que tinha anteriormente. Tal como Levi, quando
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encontramos esta nova vida em Jesus, devemos lembrar-nos daqueles que deixámos para trás
e reservar um lugar à mesa também para eles.
4. A mesa de Jesus não tem de apresentar desculpas pelos que se sentam, mas defende -os.
Jesus nunca se desculpou pelas pessoas que se sentaram à sua mesa. Ele sempre defendeu a
presença destas pessoas e a razão pelas quais estavam à mesa com Ele. Ele veio para mostrar
primeiro por ações e depois por palavras, que Deus estava mesmo connosco. Ele não se
distanciou daqueles que eram segundo os líderes do seu tempo, indignos de receber a
salvação ou de receber ajuda.
Vivemos numa sociedade que não ouve mais o que dizemos, mas vê o que fazemos. É
verdadeiro o velho ditado “Atos falam mais alto do que palavras!”. A vida e o amor de Jesus
em nós serão sempre revelados na forma como nós defendemos aqueles que não são amados
e não possuem nada. Jesus fez questão de fazer isto para que soubéssemos como viver com os
outros e uns pelos outros.
Finalmente, Jesus é o único caminho que leva à mesa.
Voltando à parábola das bodas, o rei tinha preparado roupas especiais de casamento para
cada convidado. No entanto, alguns convidados vieram mas recusaram-se a vestir a roupa que
tinha sido feita especialmente para eles. O nosso único meio de acesso ao banquete do reino
eterno, é o manto da justiça que Jesus proveu de graça a cada um de nós, através do seu
precioso sangue derramado no calvário. Neste manto de justiça, não há um único fio de
origem humana, nossa é apenas a possibilidade de o aceitar.
Que bom é sabermos que apenas Deus é que decide quem tem acesso ao seu reino, porque
nós não temos acesso ao coração das pessoas. A nossa função é sermos generosos no convite
a todos os homens e deixar a separação entre o bom e o mau para Deus, que é o único que
conhece os verdadeiros motivos e intenções do coração humano. Cada um de nós é uma
“mesa de Jesus”: nossas casas, igrejas, salas de aula, mesmo o Facebook, Instagram, Twitter,
blogs e páginas de internet podem ser mesas de Jesus, se fizermos a escolha de utilizá-las de
maneira que O glorifiquem.
Será que, para uma Igreja que luta em conseguir que o evangelho tenha um impacto real nas
nossas sociedades seculares ocidentais, Jesus o tenha tornado tão simples como abrir nossas
casas? Será que o verdadeiro evangelho do reino que Jesus nos está pedir que partilhemos é a
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nossa vida transformada e que partilhemos mesas abertas? Será possível que Jesus nos esteja
a pedir que partilhemos as nossas vidas transformadas, porque elas falam mais alto do que
qualquer sermão o fará? Enquanto estamos ocupados a tentar encontrar outra grande ideia,
talvez a grande ideia seja simplesmente encontrar alguém que seja uma “mesa de Jesus”.
Oremos por estes três motivos:
1. Que possamos sentir agora necessidade do Salvador!
2. Que criemos espaços / mesas onde Jesus e a sociedade se encontrem.
3. Que eu nunca sinta vergonha de quem Jesus escolhe para se sentar e partilhar uma mesa.
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Quinta feira, 13 de março de 2014
O Reino de Deus: está dentro de vós
Brandy Kirstein
Lucas 17:21
A Universidade Adventista Southern está localizada na periferia de Chattanooga, Tennessee.
Chattanooga é uma linda e ecológica cidade, que está na moda, mas que tem uma história
muito rica. A maioria dos seus habitantes desfruta de uma grande variedade de desportos ao
ar livre e de deliciosos restaurantes locais, sem contudo saber o que está por debaixo dos seus
pés. Na verdade existem duas Chattanoogas: a que vemos e a que não vemos. A que não
vemos está debaixo das ruas – um labirinto de pedaços da história do comércio enterrado há
um século, mas visto apenas em vestígios encontrados em caves e passagens que já foram o
rés do chão da cidade. Não vemos a cidade que Chattanooga enterrou para poder sal var a que
temos hoje. Após uma série de inundações devastadoras no final do século XIX e início do
século XX, a cidade que começou como um posto de comércio fluvial em Ross’ Landing
reinventou-se a si mesma. Com o tempo, eles construíram uma área de quarenta quarteirões
da cidade cerca de um piso acima. Os segundos pisos tornaram-se primeiros pisos. Os
primeiros pisos tornaram-se caves. Imponentes arcadas de janelas tornaram-se decoração dos
alicerces ou respiradores. Estruturalmente, isto deixa a cidade em perigo uma vez que as vigas
ficam enferrujadas e os antigos edifícios estão a cair aos pedaços debaixo dos novos que
tomaram o seu lugar. No entanto, este enorme feito, o erguer de uma cidade, tem sido
largamente ignorado na história da cidade. Não há quase nenhuma documentação desta
realidade e a maioria da população de Chattanooga nem sequer sabe que existiu. E assim,
todos os dias eles vivem numa falsa segurança enquanto caminham em alicerces sob seus pés,
sem saber o que se encontra por baixo.
E se um dia, a divisão em que estão sentados desabasse mais de um metro? O que faria isso à
sua perceção da realidade? Mudaria a forma como eles caminham? Será que de repente se
sentiriam inseguros ao andar em Chattanooga? Nós colocamos muita fé nas coisas que
podemos ver, nas estruturas que estão construídas à nossa volta. Enquanto isso, há todo um
outro mundo a acontecer que nos passa completamente despercebido. Sabias que os nossos
olhos só veem algo em 1/24 de um segundo? A televisão é vista em 15 cadências por segundo,
logo vemos o que aparece como um lampejo, ou seja, há 15 instantes que o olho não está ver
ou não é capaz de processar. As galáxias movem-se a uma velocidade incrível, mas parecem
estar imóveis por causa do nosso ponto de vista. Uma mosca a voar a um centímetro da nossa
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cara é capaz de se mover mais rápido do que o olho humano pode acompanhar, o que significa
que um objeto parece tornar-se invisível quando se move mais rápido, a uma determinada
distância, do que o olho e o cérebro podem processar. Mas, será realmente invisível? É o
inseto à frente do nosso rosto invisível para o falcão (cuja visão é 3-4 vezes melhor que a
nossa)? Portanto, a invisibilidade é baseada na nossa perceção. Neste caso, a invisibilidade
nem sequer é real! Se algo existe então pode ser visto, podemos é não ser sempre nós. E no
entanto estamos obcecados com o que podemos ver, o que podemos tocar, o que podemos
ouvir, com o que os nossos próprios sentidos nos dizem como se tivessem autoridade
universal, quando, na verdade, o chão está prestes a cair debaixo de nós.
Abram por favor as vossas Bíblias em Lucas 17:20-21. Estou a ler a partir da versão Almeida
Atualizada (isto é importante). “Sendo Jesus interrogado pelos fariseus sobre quando viria o
reino de Deus, respondeu-lhes: O reino de Deus não vem com aparência exterior; nem dirão:
Ei-lo aqui! ou: Ei-lo ali! pois o reino de Deus está dentro de vós”.
Então, aqui temos os fariseus chegando-se até Jesus e, basicamente, desafindo-O de forma
sarcástica. João Batista, três anos antes, saiu do deserto proclamando que “o reino de Deus
está próximo”. E, desde então, Jesus tinha estado constantemente a falar sobre o reino de
Deus – “o reino dos céus é semelhante a uma pérola... como um grão de mostarda... como um
tesouro... está próximo". Por isso os fariseus eram do estilo “OK, Jesus, então onde está esse
reino de que estás há tanto tempo a falar? E quando vai chegar? Porque até agora, não o
VEMOS!” Eles tentavam minar completamente o ministério de Jesus e as Suas reivindicações
de autoridade da parte de Deus. A sua insinuação era de que a missão de Jesus falhou.
Existiam muitos judeus naquele tempo que estavam“ à espera do reino de Deus.” Mas quando
o Rei veio de facto, não se parecia com um rei. E quando Ele disse que o reino tinha chegado,
não se parecia com um reino. É por isso que os fariseus viam como ridículo que as pessoas
acreditassem n’Ele! Era tão irritante, uma vez que (nas suas mentes) Ele era uma fraude tão
óbvia. Mas … eles estavam à procura do lado de fora. Na Terra, Jesus não era um rei e não
tinha um reino. Hoje Ele teria sido considerado como demente devido às coisas que dizia
(Marcos 3:21). E por isso zombaram d’Ele na cruz, colocando por cima da sua cabeça “Este é
Jesus - Rei dos Judeus.”. Era uma inscrição sarcástica. Eles estavam a tentar mostrar quão
ridículo era as pessoas acreditarem n’Ele, numa tentativa de retirar qualquer esperança que
alguém ainda tivesse de que Ele se levantaria como um rei. Mas Ele levantou-se – não como
um rei desta Terra, mas um novo tipo de rei vindouro, para aqueles que pertencem a um novo
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tipo de reino, um reino invisível, porque ainda não é o tempo para que seja revelado.
Voltemos a Lucas 17:21.
Como é que Jesus respondeu? Ele diz: “O reino de Deus não vem através da observação...” O
reino de Deus NÃO é algo que tu VÊS. É por isso que ninguém será capaz de dizer: “Veja aqui!”
ou “Veja ali!” Porque o REINO de DEUS está dentro de TI! O quê? Isto é muito confuso. Não
apenas para os judeus, mas para os eruditos cristãos modernos. Vamos começar por aí, com
nossos eruditos modernos.
Dependendo da Bíblia que tenhas, a expressão será traduzida de forma diferente. Algumas
dirão “dentro de vós”, algumas dirão “entre vós”, e outro ainda dirão “no meio de vós.” Há
outras variações por aí? A palavra usada no grego é o advérbio ‘entos’, que se traduz
literalmente “dentro ou no interior.” Esta palavra aparece apenas mais uma vez no Novo
Testamento, em Mateus 23:26, onde é traduzida por “dentro”, falando do interior de um copo,
por isso a linguística só por si torna a tradução “dentro”, parecer mais precisa. A razão pela
qual algumas Bíblias e estudiosos têm problemas com esta palavra é porque eles não
acreditavam que Jesus pudesse ter dito aos fariseus que o reino de Deus estava dentro DELES,
porque obviamente não estava, de modo que os tradutores alteraram a formulação de acordo
com a sua interpretação. Mas, se olhares para o contexto do verso, Jesus está a contrastar o
exterior com o interior. Ele diz que o reino de Deus não é algo que possas ver, o que significa
que é algo que não vês, e portanto não podia ser algo “entre eles” ou “no meio deles”, porque
nesse caso eles poderiam vê-lo.
O Comentário Bíblico Adventista coloca-o da seguinte forma: “O reino de Deus não é algo que
possam estar à espera de ver através de observação cuidadosa com a vossa visão natural. Vão
descobri-lo, se o poderem alcançar, dentro dos vossos próprios corações.” Ellen White ajudanos a esclarecer esta passagem sugerindo: “O reino de Deus começa no coração. Não
busqueis, aqui e ali, manifestações de poder terrestre para assinalar-lhe a vinda” - O Desejado
de Todas as Nações, pg. 506.
E Jesus, ao dizer isto, estava a abordar diretamente a falsa concepção dos fariseus – de que o
Messias deveria vir e erguer a nação judaica acima de todas as outras nações do mundo
político. Os judeus tinham tornado todas as promessas espirituais de Deus em promessas de
poder e riqueza terrestres. Jesus então corrige-os e diz: “Eu não estou a falar de um reino feito
de tijolos e argamassa, estou a falar de um reino de carne e osso. Eu não estou a falar de quem
governa a Terra, estou a falar de quem governa o teu coração. Não estou a falar de coisas
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temporárias, estou a falar de coisas eternas. O reino de Deus não tem nada a ver com ambição
vã, direitos de nascimento, posição teocrática, rico ou pobre, bonito ou feio, carta de
condução ou bilhetes de autocarro, quadro de honra ou castigo, cortes de cabelo ou de barba,
caloiro ou veterano. Tem a ver com teu o coração.”
Mais alguém se sente confortado com isto? Deus não decide quem são os Seus com base no
que os outros veem de ti, porque a nossa visão é limitada pelo nosso ponto de vista. Ele
escolhe-te com base em quem tu és e no potencial que está dentro de ti. Tal como quando Ele
disse a Samuel para ir ungir o adolescente “zé-ninguém”, David. Ele disse: “O homem vê a
aparência exterior, mas Deus vê o coração.”
Sabes, os fariseus estavam a basear a sua perceção do reino de Deus naquilo que eles podiam
ver. O coração e a mente humana são invisíveis, para eles e para nós, mas Deus, como o falcão,
tem uma visão melhor que a nossa. Ele sabe o que realmente está por baixo dos nossos pés e
se estamos a caminhar firmemente ou prestes a cair. E Jesus está a dizer-lhes para terem fé,
que é a crença nas coisas que não vemos, porque Deus vê TUDO.
A realidade é que mesmo que os fariseus entendessem exatamente o que Jesus estava a dizer,
eles não estavam interessados neste tipo de reino. Eles queriam posição e poder na esfera
humana. Eles queriam um reino terreno. Eles queriam um reino visível. Em contraste, Jesus
muda o reino de Deus do mundo visível, para um mundo interno invisível que pode ou não ser
visto por outros, a não ser por Deus. Pode não haver benefícios terrenos neste tipo de reino. O
reino exterior tem as vantagens do prestígio, poder e popularidade. O interno apenas a s
vantagens da humildade e do amor – não muito atraente para os que estão focados nesta vida.
O que levanta a questão – que tipo de reino estás à procura? Porque o que quer que estiveres
a procurar é o que vais encontrar, e é que virá ao teu encontro. E quando chegar vai fazer de ti
um servo. Porque estes dois reinos não são aliados. Ou és um cidadão de um ou de outro. O
reino terreno tem muitas vezes gratificação instantânea e agrada mais aos teus sentidos,
deixando-te sentir o que tu quiseres sentir. Mas é enganosamente feito de estruturas que não
são seguras ou reais (como Chattanooga).
O reino terreno busca os seus próprios interesses, resultando em relações pobres, pessoas
feridas, desapontamento, morte, destruição, escravidão, prisão e ódio. O reino de Deus é
baseado em promessas que são certas, mesmo se a gratificação pode chegar mais tarde. O
reino de Deus é governado pelo Espírito Santo, dando-te a capacidade de ver e compreender o
domínio invisível do universo onde habita a vida, a criação, a libe rdade e o amor. As coisas
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espirituais discernem-se espiritualmente, razão pela qual o reino da Terra enviará o ladrão
para a prisão, mas o reino de Deus também lhe dará a tua camisa e os teus sapatos. O reino da
terra vai retaliar, o reino de Deus vai dar a outra face. O reino da terra está constantemente a
esforçar-se para se exaltar a si mesmo e o reino de Deus esforça-se para erguer os outros mais
do que a si mesmo. O reino da Terra vai usar-te e descartar-te quando não precisar mais de ti.
O reino de Deus vai amar-te incondicionalmente, valorizar-te e ajudar-te a crescer na plenitude
de tudo o que tu te podes tornar segundo o Seu poder.
Como é que o povo deste reino invisível se torna assim? Este é o mistério do reino de Deus.
Como é que algo tão grande cabe dentro de alguém tão pequeno? Como a água num copo,
muitas vezes o conteúdo molda-se para caber no recipiente, mas não é assim com Deus.
Quando o Espírito Santo enche os nossos corações, Ele, molda-nos então à Sua semelhança.
Assim, a física é invertida e o recipiente deve moldar-se para conter o conteúdo. Como os
outros te veem pode ou não ser alterado. As tuas circunstâncias podem permanecer as
mesmas, mas o teu ponto de vista, o lugar a partir do qual percebes o mundo, é alterado. Em
“Testimonies”, volume 7, Ellen White diz: “O reino de Deus não vem com aparência exterior.
Ele vem através da suavidade da inspiração da Sua Palavra, por meio da operação interior de
Seu Espírito, a comunhão da alma com Aquele que é a sua vida. A maior manifestação de seu
poder é visto na natureza humana levada à perfeição do caráter de Cristo.”
Por último, este versículo é tão importante porque é um dos poucos que coloca o reino no
presente. Já não é algo que estamos à espera, mas algo que podemos ter AGORA. Quando nos
decidimos juntar a este reino, experimentamos AGORA paz em vez de tumulto, alegria em vez
do desespero, amor em vez de solidão. E temos uma legião de anjos prontos para combater os
demónios em nosso lugar ao pegarmos na verdadeira armadura de Deus, porque no mundo
REAL não lutamos contra a carne e o sangue. Armas terrenas não irão funcionar no reino
invisível. Devemos ter a espada do Espírito, o escudo da fé, o capacete da salvação, o cinto da
verdade, a couraça da justiça, e os pés cobertos no evangelho da paz. Então, podemos
permanecer firmes qualquer que seja a luta. Então, temos um reino inteiro apoiando-nos em
oração, com os anjos, e com o próprio Deus. Quem pode ser contra nós? Estamos num reino
invisível, invencível!
Há muitas pessoas que escolhem Deus por causa do medo da vida após a morte. Eles querem
ir para o Céu. Mas como é que o Céu será um lugar melhor para ti nessa altura, se não é um
lugar em que gostarias de viver agora? A glória do Céu é estar com Jesus, e isso tu podes tê-lo
agora. O reino de Deus pode começar em ti agora – curando-te, mudando-te, governando-te,
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protegendo-te, servindo e amando através de ti, e preparando uma ete rnidade para passar
contigo. O Céu é a continuação do que está a acontecer agora – não começa na Segunda Vinda
– que será a manifestação externa do presente reino invisível. E vai ser uma festa que não vais
querer perder! Mas, até lá...
Uma história verdadeira: Jessica Eaves, de Guthrie, Oklahoma, viu recentemente a sua carteira
ser roubada por um homem enquanto fazia compras numa mercearia. A maioria das pessoas
nesta situação iria chamar imediatamente as autoridades, mas ela encontrou uma maneira de
resolver o seu problema. “Eu vi este senhor aproximar-se de mim no corredor”, partilha a
Jessica. “Ele passou por trás de mim, e alguns metros mais à frente percebi que a minha
carteira tinha desaparecido. Vi-o num outro corredor cheio de pessoas e abordei-o”, continua
ela. “Eu tenho uma personalidade um bocado forte mas senti -me calma e serena e disse-lhe:
‘Eu acho que o senhor tem algo meu. Vou dar-lhe uma escolha: pode dar-me a minha carteira
e eu vou perdoá-lo agora, e vou mesmo acompanhá-lo à caixa e pagar as suas compras.’ ”
A alternativa? A Jessica chamava a polícia.
“Ele meteu a mão no bolso do capuz e deu-me a minha carteira”, conta ela, acrescentando que
o homem estava extremamente grato pela sua ajuda e perdão. “Ele começou a chorar quando
seguimos para a caixa”, diz ela. “Ele disse que se arrependeu 20 vezes durante o tempo que
em que foi do corredor para a fila, mas que estava desesperado.”
A Jéssica gastou 27 dólares com as compras dele, que incluíam leite, pão, salsichas, biscoitos,
sopa e queijo. “A última coisa que ele disse foi: ‘Eu nunca vou esquecer esta noite. Estou
falido, tenho filhos, estou envergonhado e lamento.’ ”.
“Algumas pessoas criticam o facto de eu não o ter entregue às autoridades, mas às vezes tudo
o que precisamos é de uma segunda oportunidade”, ela acrescenta.
Este é um exemplo do reino presente – não apenas o que ela fez por ele, mas a mudança que
ocorreu no coração dele como resultado da sua graça. Num ápice transformou-se de ladrão
em amigo. Como seria então o mundo se o reino invisível se tornasse visível através do
derramamento do Espírito Santo nas nossas vidas? Não queres fazer parte desse tipo de reino?
O que vês e experimentas no mundo nunca se poderá comparar com o que Deus pode fazer a
partir do Seu ponto de vista omnisciente. Nada é invisível para Ele. Aliás, nada é realmente
invisível. Tudo é baseado na nossa perceção. Confias em Deus ou em ti? Vives no mundo
externo ou no mundo interno? Junta-te às fileiras hoje, pois o reino de Deus está aqui, agora e
acessível. Mas deixo-te com esta questão, o Reino de Deus está dentro de ti? E se está, o que
vais fazer com ele?
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Sexta feira, 14 de março de 2014
O Reino de Deus
Uma Parábola para Comunidade
Dilys Brooks
Marcos 4:30-34
SEMENTE DE MOSTARDA - UMA P ARÁBOLA PARA COMUNIDADE
Vivemos numa comunidade global. Com o uso da Internet e dos aparelhos móveis, estamos
sempre a poucos minutos de distância de saber as últimas notícias e tendências. Temos
mesmo um novo vocabulário para esta época da comunicação a tempo inteiro e das
comunidades virtuais e seguidores. "Twittar”, "Googlar”, "FaceTime" e "vídeos virais"
tornaram-se parte da nossa conversação diária. Num mundo acelerado em que as
necessidades são atendidas em segundos, não é de admirar que percamos de vista a intenção
de Deus para este planeta a que chamamos lar. Será possível que, apesar de parecer estarmos
sempre conectados, possamos na verdade estar mais sozinhos do que imaginamos? Não é
incomum ver pessoas juntas para o jantar ou numa saída e quase todas estão com um
dispositivo móvel conectando-se virtualmente com alguém, enquanto ignoram aqueles que
estão bem à sua frente. Longe vão os dias em que seria de esperar conheceres todas as
pessoas que vivem na tua rua, mas ainda assim podemos declarar amizade a pessoas que
vivem por todo o mundo e que nunca encontrámos face a face. Esta desconexão física afeta
todas os níveis da sociedade, não importa em que parte mundo vivamos e afeta
definitivamente a nossa comunidade de fé, a igreja.
Comunidade é definida pelo dicionário online Merriman-Webster como: "um grupo de pessoas
que vivem na mesma área (como uma cidade, vila ou bairro) ou um grupo de pessoas que têm
os mesmos interesses, religião, raça, etc., ou um grupo de nações”. Hoje muitos negligenciam
reunir-se para adorar, preferem "assistir online”, enquanto outros não criam raízes
permanentes com uma igreja porque gostam da flexibilidade de estar com seus amigos.
Ocorreu-me, ao ver este fenómeno ao longo dos últimos anos, que muitos de nós não
conseguimos reconhecer que este modo de vida não é um reflexo do que a Escritura nos diz
sobre a comunidade. Uma passagem que destaca a nossa necessidade de recalibrar e repensar
a nossa compreensão de comunidade é a que encontramos em Marcos 4:30-32:
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“E dizia: A que assemelharemos o reino de Deus? Ou com que parábola o representaremos? É
como um grão de mostarda, que, quando se semeia na terra, é a menor de todas as sementes
que há na terra; mas, tendo sido semeado, cresce; e faz-se a maior de todas as hortaliças, e
cria grandes ramos, de tal maneira que as aves do céu podem aninhar-se debaixo da sua
sombra.”
As multidões que seguiam o Messias não tinham a certeza do que era o "reino de Deus" e Ele
usou frequentemente histórias e parábolas para explicar o que queria dizer. A sua confusão
era compreensível, porque enquanto descendentes de Abraão, Isaque e Jacó, eram desafiados
pela ocupação e opressão dos romanos e esperavam salvação do Messias prometido. Estas
massas tinham ouvido e respondido à pregação de João Batista e estavam conscientes do
milagre no batismo de Jesus. Cada demónio expulso, cada pessoa curada ou alimentação
miraculosa de milhares, despertou neles a esperança de que talvez este fosse de facto O
prometido. Quando Jesus declarou que o reino de Deus estava ali, muitos esperavam que este
seria realmente o rei-guerreiro que iria libertá-los e reestabelecer Israel como reino. Havia
uma expetativa muito grande acerca do que a comunidade de Israel se tornari a. E tu, quais são
as tuas expetativas em relação a Jesus? São fundadas no que Ele fez na tua vida, ou apenas no
que tu gostavas que ele fizesse?
O QUE É O REINO DE DEUS?
Por que razão não temos pregado ou ensinando sobre isto antes, especialmente se esta foi a
mensagem de Jesus enquanto viajou durante três anos através das cidades poeirentas da
Galileia? A primeira mensagem de Jesus depois de seu batismo no Jordão foi: “Arrependei-vos,
porque é chegado o reino dos céus” (Mateus 4:17-18 e Marcos 1:15). Esta declaração revelou
que havia uma nova comunidade, sociedade e estilo de vida, que estava a ser firmemente
estabelecida por Jesus. Esta nova comunidade iria prosperar tendo Jesus como sua cabeça, seu
chefe, seu líder, seu rei.
O método de ensino de Jesus não era incomum. Os rabis, professores religiosos
contemporâneos do Seu tempo, usavam com frequência histórias e parábolas para explicar
ideias teológicas. As histórias favoritas de Jesus estava muitas vezes como que encapsuladas
numa parábola. Uma parábola é uma história simples com personagens familiares e atividades
que ilustram um princípio. Nem todos os que ouviam estas histórias poderiam facilmente
entendê-las. Na realidade, Jesus contou muitas vezes as parábolas para grandes audiências e
muitos ficaram sem a certeza do seu significado. Ele, no entanto, dizia aos Seus discípulos em
particular o que muitas deles significavam.
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À medida que procuramos entender o “reino de Deus”, devemos examinar esta história com
mais atenção. Aqueles que vinham para ver e ouvir Jesus nunca ficavam dececionados porque
muitas vezes usava as coisas comuns da sua experiência enquanto galileus para educá-los
acerca de Deus. Consegues imaginá-los em pé nas margens do rio Jordão, do Mar da Galileia
ou das ondulantes e empoeiradas colinas ouvindo Jesus durante horas? Alguma vez estiveste
entusiasmado para ir às aulas? Alguma vez quiseste ser o primeiro a chegar à sala de aula para
ficar com um bom lugar antes que o professor entrasse? Era assim que muitos dos que
seguiam Jesus se deviam sentir. Eles ficavam entusiasmados para saber de que coisas
interessantes Ele falaria naquele dia, a fim de lhes ensinar as Suas lições.
O cenário do texto coloca-nos com Jesus no meio de uma aula a partir da proa de um barco no
Mar da Galileia. Não temos a certeza de quanto tempo as pessoas terão passado ali reunidas
ou que hora do dia seria. O que sabemos é que as multidões vieram ouvir Jesus e Ele não as
dececionava. Algumas das histórias registadas em Marcos 4 têm um foco rural em “coisas que
crescem”: a parábola do semeador (Marcos 4:1-20) e a parábola da semente (Marcos 1:26-29).
Quando olhamos para esta curta passagem podemos ficar distraídos pela sua simpl icidade e
perder a importância da mensagem. Jesus diz ao público atento que o reino de Deus é como
uma semente de mostarda. Ele afirma que esta pequena semente cresce para se tornar maior
do que todas as outras ervas ou arbustos do jardim. Nas versões de Mateus e de Lucas, Jesus
refere-se à planta da mostarda madura como uma árvore.
“Outra parábola lhes propôs, dizendo: O reino dos céus é semelhante ao grão de mostarda que
o homem, pegando nele, semeou no seu campo; O qual é, realmente, a menor de todas as
sementes; mas, crescendo, é a maior das plantas, e faz-se uma árvore, de sorte que vêm as
aves
do
céu,
e
se
aninham
nos
seus
ramos”
(Mateus
13:31-32).
“E dizia: A que é semelhante o reino de Deus, e a que o compararei? É semelhante ao grão de
mostarda que um homem, tomando-o, lançou na sua horta; e cresceu, e fez-se grande árvore,
e
em
seus
ramos
se
aninharam
as
aves
do
céu.”
(Lucas
13:18-19).
É importante notar que a árvore da mostarda não era sempre a árvore mais alta que poderia
crescer num jardim, porque as oliveiras geralmente eram mais altas que as outras plantas.
Assim, o ponto para os ouvintes é que o reino de Deus não é determinado pelo tamanho da
semente. Por causa da ocupação Romana, aqueles que O ouviam estavam familiarizados com
o que significa ser deixado de fora da classe dominante. Ao escolher um grão de mostarda,
Jesus mostrava aos Seus ouvintes que estava mais preocupado com a forma como eles
terminariam do que como começaram. A semente de mostarda comum na zona da Palestina
49
era a mostarda preta, e era cultivada tanto em jardins como nos campos. As plantas podiam
crescer até três metros de altura, mas era de facto a menor das sementes entre as plantas
cultivadas na época. A semente de mostarda pode ser vista como uma metáfora para o
conceito de “ter potencial”. Havia grande potencial de crescimento nesta semente e há
igualmente um grande potencial naqueles que O ouvem. Esses precisam de aprender a
desbloquear esse potencial. Mas como podem tornar-se parte deste reino?
AGRICULTURA EM VEZ DE GUERRA
“É como um grão de mostarda, que, quando se semeia na terra, é a menor de todas as
sementes que há na terra” (Marcos 4:31). Ele diz simplesmente que o reino de Deus é como
uma semente de mostarda. Jesus era “contra-cultural”. Usou uma analogia agrícola para
demonstrar o plano de Deus para a humanidade, o que era a antítese da expetativa de uma
nação aguardava um rei-guerreiro. Ele usa esta história para criar uma mudança de paradigma
na mente dos seus ouvintes: de lutar para cultivar; da guerra para a adoração; de César para a
comunidade; de lutar com a lei para a graça.
O comentador bíblico R. P. Martin, afirma: “Tudo no ministério de Jesus contrariava a
compreensão que tinham do que seria o seu líder. Em vez disso, Jesus tentou incutir nas suas
mentes a perspetiva de que o caminho preparado para a Sua glória seria o da cruz, e a
consequente experiência de rejeição, sofrimento e humilhação”. Jesus declarou: “Eu sou o
caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim” (João 14:6-7). As sementes
encerram a vida dentro de si, mas para que produzam vida têm primeiro de morrer. Jesus diz
em João 12:24: “Na verdade, na verdade vos digo que, se o grão de trigo, caindo na terra, não
morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto” (João 12:24). O tamanho da semente não
determina o seu crescimento ou função. No entanto, sementes pequenas são mais rápidas a
amadurecer e podem ser espalhadas mais cedo. Esta “mais pequena entre as sementes”
cresce para ser uma árvore que é formidável no seu tamanho e na quantidade de sombra e
proteção que fornece a todos os que procuram abrigo nela. Deus fez-te semente para fazeres
parte do Seu reino eterno. Ele colocou dentro de ti tudo o que é necessário, não apenas para a
tua sobrevivência, mas para a propagação do evangelho. Estás disposto a morrer, morrer para
ti mesmo, para os teus desejos e planos, para que Deus possa obter a glória?
Como disse antes, o público de Jesus tinha uma experiência pessoal com a agricultura – mais
do que nós temos – o que significa que Ele não tinha de explicar as condições necessárias para
esta semente crescer. Embora seja verdade que todos nós poderíamos “googlar” esta
informação sobre agricultura e coisas que crescem, se nos falta a experiência podemos não
50
compreender plenamente as lições na analogia de Jesus. A semente passa por um processo
chamado de “germinação” a fim de desbloquear a nova vida dentro de si. Há três condições
principais que permitem à semente germinar: (1) o embrião deve estar vivo, chamado de
“vigor de semente”. (2) Todos os requisitos de dormência que impedem a germinação devem
ser superados. (3) As condições ambientais apropriadas devem existir para a germinação.
Uma vez reunidas as condições, a semente vai germinar e nova vida, uma planta imatura
chamada plântula, começa a crescer. As plântulas vão crescer até à idade adulta e formar uma
planta madura. Jesus salta da semente à planta madura sem descrever os processos que levam
a planta até à sua completa maturação. A seguir ele afirma no versículo 32, “Mas, te ndo sido
semeado, cresce; e faz-se a maior de todas as hortaliças, e cria grandes ramos, de tal maneira
que as aves do céu podem aninhar-se debaixo da sua sombra”.
No livro Parábolas de Jesus, lemos: “O embrião, contido na semente, cresce pelo
desenvolvimento do princípio vital que Deus nele implantou. Seu desenvolvimento não
depende de meios humanos. Assim é com o reino de Cristo. Há uma nova criação. Os
princípios de desenvolvimento são diretamente opostos aos que regem os reinos deste
mundo" - Ellen White, Parábolas de Jesus, pg. 77.
Vamos refletir mais uma vez no que foi escutado pelos galileus que ouviam a analogia da
plantação. Devemos também tentar perceber as pistas que estão escondidas na história. O
público galileu sabia a importância e o valor da semente de mostarda e que valia a pena a ser
cultivada. A declaração de Jesus significava que eles eram realmente os escolhidos de Deus e
que a sua tarefa era reproduzir o amor de Deus para o mundo. Jesus, Deus conosco, estava a
reformular o conceito que eles tinham de “reino”. Os jovens de hoje são também convidados a
viver em contracultura e a rejeitar as pseudo-comunidades e pseudo-amizades criadas no
ciberespaço, que querem atenção a cada toque e notificação nos dispositivos digitais. Jesus
está a chamar-te para algo melhor. Estás a ser chamado por Cristo para fazeres parte da
comunidade que tem como modelo o ideal de Deus para nós. As implicações para os ouvintes
desta mensagem – então e agora – são que somos convidados a mudar o nosso modo de
pensar e crescer. Para que a planta cresça desde a plântula até à maturidade, o jardineiro rega,
alimenta, limpa e poda as plantas a fim de manter um ambiente de crescimento ideal. As
sementes produzem plantas e as plantas produzem ainda mais sementes. A partir de uma
semente sabemos que haverá mais plantas de mostarda. Parece simples. Mas com o Messias
nada é tão simples assim.
51
REINO EM VEZ DE NACIONALISMO
Embora seja verdade que as parábolas eram histórias teológicas com ilustrações
contemporâneas, as histórias de Jesus deixavam muitas vezes os seus ouvintes envergonhados
e confusos. Marcos 4:33 diz: “E com muitas parábolas tais lhes dirigia a palavra, segundo o que
podiam compreender. E sem parábolas nunca lhes falava; porém, tudo declarava em parti cular
aos seus discípulos (Marcos 4:33-34). Devido ao nosso método de querer premiar todos e não
excluir ninguém, isto parece-nos injusto. No entanto, Jesus parecia muito à vontade com o
mistério
que
cercava
seu
ensinamento.
Uma informação pertinente sobre a qual falta refletir é a definição de “reino”. Um reino é uma
comunidade politicamente organizada ou uma unidade territorial principal que tem uma
forma de governo liderado por um rei ou por uma rainha. Lembra-te que aqueles que ouviram
a história de Jesus estavam acima de tudo à espera que este “reino”- a que Jesus se referia-,
subvertesse os romanos e restabelecesse Israel à sua antiga glória, semelhante ao reinado de
Salomão. Eles ansiavam também inaugurar um período de segurança e paz num mundo que
adorasse Jeová. Vamos ser francos. Pode ser usado o argumento de que Israel era mais
nacionalista, ou seja, que sentiam uma forte lealdade e tinham um enorme orgulhosos do seu
país. Israel pode ter acreditado que era melhor e mais importante do que outro país. Um reino
deve ter um governante, a quem as pessoas juram lealdade e que por sua vez promete cuidar
de seus súbditos. Mas Jesus oferecia-lhes a oportunidade de confiarem e dependerem do
Soberano Deus, em vez da sua herança. Também nós, como jovens e adultos, devemos estar
conscientes de que não vale a pena nos agarrarmos às nossas opiniões pessoais em
detrimento do crescimento do reino de Deus. Não podemos estar mais preocupados com
estarmos seguros ao “ornamento” do adventismo, e fazê -lo à custa do crescimento do reino
de
Deus.
Os reinos foram geralmente governados com poderio militar e com conselheiros que
proporcionavam sabedoria ao rei sobre como governar os seus súbditos. Jesus é mais uma vez
contracultural e cria um reino onde o Rei morre pelos seus súbditos, para que eles vivam. Ele
luta em nosso nome não para um reino terrestre, mas para um reino feito à imagem do reino
celestial de Deus, onde todos os súbditos juraram lealdade por que amam e estimam o Rei.
Quando cada um de nós aceita Jesus e se submete à Sua autoridade como Rei, a nossa fé
cresce e torna-se um lugar a que outros podem vir para encontrar descanso em Jesus.
52
IMPLICAÇÕES PARA NÓS HOJE
Estamos nós a refletir este reino de Deus na Terra? As principais condições já foram cumpridas
para que tu cresças como esta semente de mostarda? Para que isso aconteça: (1) Jesus tem de
estar vivo em ti, tornando assim a tua fé sustentável. (2) Não podes permitir que algo ou
alguém na tua vida force esta semente de fé a ficar dormente, estancando ou impedindo assim
o crescimento. (3) Tens de remover tudo o que à tua volta impeça o Espírito Santo de fazer
Jesus crescer plenamente no teu coração.
Assim como uma semente de mostarda não pode crescer no solo se as condições adequadas
não estiverem reunidas, esta semente de mostarda espiritual também não pode crescer,
reproduzir-se ou fornecer abrigo. É motivo de enorme gratidão saber que Jesus está disponível
para nos ajudar a obter o ambiente e as condições ideais para que possamos crescer e
amadurecer. E se não estão ainda reunidas, por que não pedir a Deus que te mostre hoje o que
deves deitar fora, cortar, limpar ou retirar da tua vida para garantir que o reino de Deus
comece a crescer à tua volta? Se estás entre os que podem afirmar que as condições
espirituais estão reunidas, não estás livre de perigo! Assim como a planta é cuidada pelo
jardineiro para garantir que atinge a maturidade, também nós – também tu – devemos
submeter-nos à mão do jardineiro. Jesus é o jardineiro. Devemos submeter-nos enquanto Ele,
através das circunstâncias da vida, cria as condições ideais para que possamos crescer. Ele vai
podar, limpar, alimentar e nutrir-nos. Infelizmente, não podemos ditar as condições e definir o
tempo exato. Estás a submeter diariamente os teus planos a Jesus? Aceitas quando Ele
permite que os outros consigam as “coisas que tu queres” antes que tu mesmo as consigas? És
capaz de ser grato não importa os desafios que experimentas?
O mundo precisa desesperadamente de uma comunidade autentique e capaz de co municar
vida. Como seguidores de Cristo temos de partilhar a boa nova de que Deus deseja
proporcionar esta bênção a cada pessoa neste planeta. O desafio que está diante de nós hoje é
sermos o grão de mostarda que cresce até uma planta da mostarda, a tal ponto que as pessoas
com que nos relacionamos nas nossas famílias, igrejas, escolas e comunidades venham e
encontrem descanso e abrigo.
53
P ERGUNTAS PARA REFLEXÃO
1.
Como é que a tua compreensão da frase “o reino de Deus” mudou?
2.
Quais são as barreiras para seres a semente de mostarda que cresce até uma planta da
mostarda madura na tua casa/igreja/comunidade?
3.
Discute com o teu grupo soluções práticas ou tangíveis para criar comunidade autêntica
em vez do mundo virtual do Facebook, Twitter, etc.
54
Sábado, 15 de março de 2014
O Reino de Deus
Somente pela graça
Gilbert Cangy
Mateus 20:1-16
Quando eu emigrei para a Austrália em setembro de 1981, recebi bons conselhos de alguns
amigos emigrantes bem-intencionados que chegaram ao país antes de mim. Eles sugeriram
que eu deveria encontrar imediatamente um trabalho – qualquer trabalho – e não ser
demasiado exigente ou difícil uma vez que a minha prioridade era conseguir rapidamente uma
forma de independência financeira. Eu recebi o consel ho e fiz saber aos meus amigos e
membros da igreja que de facto estava disponível para qualquer trabalho.
Pouco depois, o meu novo amigo Kevin aproximou-se de mim, a seguir aos serviços da igreja,
para me dizer que ele era um gerente de produção e que havia uma vaga onde ele trabalhava
e eu poderia ficar com o trabalho se o quisesse. Aceitei imediatamente e nem senti a
necessidade de perguntar sobre a natureza do trabalho, à luz do conselho que tinha recebido.
As únicas coisas que eu perguntei foram onde era o trabalho, quando eu poderia começar e a
que horas tinha de me apresentar. Ele respondeu imediatamente: "segunda-feira de manhã, às
5:00h". Eu pensei que era uma piada, e esperei que ele o dissesse, mas ele continuou e
perguntou-me se tinha um carro, o que eu não tinha. Como ele ia para o trabalho passando
pelo local onde eu morava, propôs levar-me. Disse-me que como gerente de produção tinha
de lá estar às 4:30h da manhã e por isso apanhava-me às 4:00h, que só tinha de trazer uma
muda de roupa. Eu senti-me encurralado, mas já era tarde demais para recuar.
Isto aconteceu em pleno inverno e eu embrulhei-me no meu casaco St Vincent de Paul de dez
dólares enquanto esperava ser apanhado por baixo de um semáforo. Rapidamente chegámos
ao local de trabalho: era o Mercado Flemington – um armazém de embalagem e distribuição
de frutas e legumes. Depois de chegarmos o Kevin informou-me acerca do meu trabalho: eu
era o novo embalador de batatas na linha de batatas.
Grandes caixas de batatas sujas eram viradas para uma correia transportadora, eram lavadas
ou escovadas, pesadas, embaladas em sacos de plástico de cinco quilos e seladas
55
automaticamente. Estas embalagens de cinco quilos iam até uma mesa giratória onde uma
senhora encaixava habilmente cinco delas em grandes sacos de papel castanho. Era aqui que
eu entrava em ação. Eu tinha de levantar o saco de batatas de 25 quilos e colocá-lo sobre uma
correia móvel conectada a uma máquina de costura. No momento certo, eu carregava um
pedal para coser os sacos e empilhar 40 deles numa palete. Eu tinha de usar um porta-paletes
para levar a palete para a parte de trás do armazém e voltar. Quando voltava, havia cerca de
15 sacos cheios que eu tinha de recuperar e não havia como parar a máquina (por vezes
orávamos para que ela avariasse). Este era o meu trabalho. Quando a sirene tocou às 10:00h
para um intervalo, eu mal podia andar ou mover meus braços – apenas coloquei a minha
cabeça na mesa do refeitório, suspirei e gemi.
Quando cheguei a casa naquela tarde, a minha esposa quase não me reconheceu e
imediatamente pediu que eu me demitisse. Mas eu não queria demitir-me, seria muito
vergonhoso desistir depois de gabar-me que eu faria qualquer coisa. Depois de um mês no
emprego, o meu amigo Kevin disse-me que o trabalho estava a crescer e perguntou se eu
estava disposto a fazer algumas horas extras – duas horas todos os dias. Eu estava com dores,
mas concordei. Novamente, duas semanas mais tarde, ele disse -me que o negócio estava a
andar muito bem e perguntou se eu poderia trabalhar aos domingos. Mais uma vez, eu disse
que sim. Nessa altura, o meu amigo Kevin já não me ia buscar, eu ia de comboio e nunca
chegava atrasado.
Consegues adivinhar qual dia da semana que eu mais gostava? Sábado? Sim, de certa maneira
era o Sábado, porque eu podia descansar. Mas devo confessar que havia um o utro dia da
semana que era mesmo entusiasmante – era a quinta-feira – dia de pagamento. Por causa do
trabalho duro e as longas horas, era sempre entusiasmante ver qual a espessura do meu
salário. Eu estava disposto a fazer este trabalho de partir as costas por longas horas, e privar me de lazer e da família aos domingos por causa do molho de notas do meu salário.
É assim que a sociedade funciona – quanto mais trabalhas, mais recebes de pagamento.
Ganhas o que mereces. A vida, em geral, funciona desta mane ira. Há um sentido natural de
justiça e equidade. Existem leis que regem a nossa sociedade e se vives dentro dos limites
dessas leis estás geralmente bem. Fazes o que é certo e és recompensado , fazes o que é
errado e és responsabilizado. Aplicas-te e estudas muito, passas nos exames. Se não te
preparas, fazes algumas orações extra, mas ainda assim falhas. Se excederes o limite de
velocidade ou passares um sinal vermelho, tornas-te uma celebridade: és apanhado na
fotografia. Ganhas o que mereces! Isto é ser justo.
56
Quando se trata da vida religiosa, aplica-se o mesmo princípio. No hinduísmo, existem quatro
formas de "Moksha" ou salvação – quando a mente humana se liberta do ciclo de vida e morte
e se tornar uma com Deus:
1. O caminho da ação – observas cerimónias religiosas, deveres e ritos.
2. O caminho do conhecimento – adquires completa compreensão do universo
3. O caminho da devoção – os teus atos de adoração
4. 0 caminho real – a prática de técnicas de ioga e meditação
No budismo, o “bem-aventurado” estado de Nirvana é alcançado através do Nobre Caminho
Óctuplo:
1. Entendimento correto
2. Pensamento correto
3. Linguagem correta
4. Ação correta
5. Ocupação correta
6. Esforço correto
7. Contemplação correta
8. Meditação correta.
No Islão é um exercício de equilíbrio. A salvação é baseada numa combinação da graça de
Allah e das obras do muçulmano. No Dia do Juízo Final, se as boas obras de um muçulmano
superam as más e se Deus assim o quiser, ele pode ser perdoado de todos os seus pecados e
em seguida entrar no paraíso. O bem que fazes anula o mal que fizeste. Se vais a uma
peregrinação a Meca, acumulas um crédito enorme nos livros do Céu. Se morres como um
mártir defendendo a fé, tens acesso direto ao Céu.
E quanto ao cristianismo? O que tem Jesus a dizer sobre como podemos entrar no reino de
Deus? Como podemos herdar a vida eterna?
Um jovem veio a Jesus com essa preocupação. Ele veio a Jesus com a pergunta para um milhão
de dólares. É uma das mais famosas e mais pungentes histórias dos evangelhos.
“E eis que, aproximando-se dele um homem, disse-lhe: ‘Mestre, que bem farei para
conseguir a vida eterna?” - Mateus 19:16.
57
Ao juntarmos as narrativas de Mateus, Marcos e Lucas, descobrimos que e sse homem era
jovem, rico e bem-sucedido – ele era um governante em sua comunidade. Por que razão
alguém assim estaria interessado na vida eterna ou no reino de Deus? Ele tinha tudo, não
tinha? Marcos diz-nos que Jesus estava efetivamente a deixar um lugar específico quando este
jovem correu até Ele e caiu de joelhos diante d’Ele, publicamente. Quão desesperado estava?
“Que bem farei para conseguir a vida eterna?” - ver Marcos 10:17-27.
Sabes, a vida eterna não começa apenas quando Jesus vier pela segunda vez. O estilo de vida
eternal, aquela qualidade de vida com paz, satisfação, alegria, serenidade e serviço com
propósito começa hoje, no aqui e agora, em antecipação da gloriosa Segunda Vinda de Jesus.
Riqueza, posição e poder nunca podem trazer esta experiência, nem o poder a religião, pois
este homem também era religioso e professou ter observado a lei perfeitamente desde que
era criança.
O encontro deste jovem, rico, bem-sucedido e religioso estava cheio de promessas:
1. Ele tinha vindo com a pergunta certa.
2. Ele tinha vindo com a atitude certa.
3. Ele tinha vindo até à pessoa certa.
Tudo estava montado para um grande final da história.
“Que bem farei para conseguir a vida eterna?” “O que me falta ainda?” perguntou ele.
Abordando a vida eterna como o hindu, o budista e o muçulmano em termos de coisas a
serem feitas, ele estava à procura de mais uma coisa para fazer. "Jesus olhou para ele e amouo.
‘Só
mais
uma
coisa
te
falta’,
disse
Ele”
(Marcos
10:
21)
“CONFIA EM MIM!” A resposta de Jesus pode ser resumida num "Confia em mim". Coloca -me
em primeiro lugar na tua vida, eu não posso ser apenas "mais uma coisa" a fim de salvar-te.
Construíste a tua vida na busca de riqueza, posição e ações religiosas que agora definem a tua
existência e reconheceste que não está a satisfazer os anseios mais profundos do te u coração.
Agora vieste até mim apenas para acrescentar mais uma coisa à tua lista de coisas a fazer. Mas
precisas de buscar primeiro o reino de Deus. “Confia em mim.”
O jovem tirou a sua calculadora, fez um cálculo rápido, e quando olhou para o que podi a
entregar, a Bíblia diz que seu rosto caiu. Isto ia custar-lhe demasiado. Com todo o seu
desespero, com todo o seu observar dos mandamentos, com todo o amor que Jesus poderia
entregar-lhe, ele saiu triste e perdido. Ele não podia colocar Jesus em primeiro lugar. Ele não
58
podia colocar a sua vida nas mãos de Jesus. Ele não podia cantar o último hino ... "tudo a Ti
entrego".
Ele
saiu
triste
e
perdido.
Os discípulos que tinham testemunhado este encontro estavam confusos e envolveram Jesus
numa discussão. Se este rapaz que parecia ser o PRIMEIRO na fila para o reino de Deus não
poderia chegar lá, quem poderá? Eles não podiam deixar de fazer a pergunta:
"Quem pode ser salvo?”
“Jesus olhou para eles e disse: Aos homens é isso impossível, mas a Deus tudo é possível.”
E o comentário final de Jesus foi “muitos que são primeiros serão últimos, e muitos que são
últimos
serão
primeiros”.
Lembra-te
desta frase,
pois
vamos
voltar a ela.
Para estabelecer esta verdade, Jesus leva-nos de volta ao Mercado Flemington, de volta ao
armazém, de volta aos locais de trabalho, e dá-nos uma parábola agressiva onde a entrada
para o julgamento final no reino de Deus é comparado a uma cena de dia de pagamento onde
o princípio humano de “mais trabalho equivale a mais dinheiro” é completamente
desrespeitado, daí o título “A parábola do juiz iníquo”.
Lê Mateus 20:1-2
Aqui é o encontro do rico e do pobre. O rico fazendeiro sai de manhã cedo para o mercado,
onde as pessoas pobres estão reunidas à espera de ver se haverá naquele dia a comida para
eles e para as suas famílias. Eles são jornaleiros à espera que lhes seja oferecido um dia de
trabalho pelo salário de um dia. O rico proprietário é sábio. Ele sai cedo depois de ter feito o
seu trabalho de casa e já decidiu quantos trabalhadores precisa para fazer o trabalho do dia.
Ele recruta e, antes de se dirigirem para a vinha, eles entram numa espécie de negociação
salarial e ele “concorda” em pagar-lhes um denário pelo dia – que era um salário muito
generoso para a época. São 6:00 da manhã e está fresco quando eles chegam à vinha,
recolhem as cestas que amarram às suas costas – estilo mochila – e começam o dia. Três horas
depois, o mestre surpreende-nos.
Lê Mateus 20:3-5
É a terceira hora; são 9:00. O objetivo do mestre ao sair não é recrutar, ele tem um plano de
negócios e o recrutamento já foi tratado. O texto diz-nos apenas que ele saiu e, ao fazê-lo, ele
viu outros que estavam no mesmo sítio mas que não tinham sido contratados. Este mestre é
diferente, ele não é impulsionado por fins lucrativos, mas é tocado pela condição dos
necessitados que não têm trabalho. Bem, estes trabalhadores não têm direito ao salário de um
dia inteiro e eles sabem disso e portanto desta vez não há discussão sobre o salário. “Confia
59
em mim, vou pagar-te o que for justo”. Assim, o novo grupo parte para a vinha, sem regatear,
mas apenas confiando na justiça do Mestre.
Imagina que és um trabalhador árduo que negociou o seu salári o e começou a trabalhar às
6:00 da manhã. O sol está no alto e começaste a suar ao subir as colinas com a cesta a ficar
cada vez mais pesada. Agora vês um novo grupo de trabalhadores chegarem. O que pensas
deles? Provavelmente que eles não são tão empenhados como tu. É como na igreja, estás lá ao
começar a Escola Sabatina - sempre a horas.
Três horas mais tarde, o mestre surpreende-nos novamente.
Lê Mateus 20:5
Sexta hora: meio-dia
Nona hora: 15:00
Movido pela sua preocupação e compaixão para com as pessoas necessitadas, o mestre ainda
está a recrutar. Parece que a sua mente já não tem um plano de negócios, mas que ele é
impulsionado a considerar a situação das pessoas que não têm pão para colocar na mesa à
noite. Não há nenhuma menção de salários, nem por parte do mestre nem dos novos
trabalhadores. Este mestre é implacável no seu desejo de satisfazer as necessidades das
pessoas em detrimento de seu próprio bem-estar e ganho pessoal.
Lembra-te que tu ainda és das pessoas de trabalho duro que começaram às 6:00. O que pensas
daqueles que chegaram na hora do almoço e até mesmo às 15:00? Isso é ridículo, não é?
Aqueles que chegam ao meio-dia são aqueles que só vêm à igreja para a segunda parte – para
o Culto Solene. Os das 15:00 chegam mesmo em cima do começo do sermão, sem introduções.
O que achas tu dessas pessoas? Como se não tivéssemos tido surpresas suficientes!! Isto agora
está a ficar ridículo.
Lê Mateus 20:6, 7
Isto é absolutamente ridículo – a décima primeira hora – um recrutamento às 17:00 para
terminar às 18:00?
Agora o mestre incita-os numa conversa: ele quer saber por que eles estiveram ali "o dia todo"
sem fazer nada. O mestre deve tê-los visto logo pela manhã; e cada vez que ele voltou, eles
ainda estavam lá, e às 17:00 também. A resposta deles foi muito reveladora: "Ninguém nos
contratou". Eles não eram empregáveis, não valiam nada aos olhos de cada possível
empregador que veio ao mercado. Eles tinham uma coisa a seu favor: não desistiram, ainda
procuram as suas hipóteses àquela hora ridícula. Aquele foi o ce nário perfeito para este
60
mestre especial que tinha sido cheio de surpresas durante todo o dia. O mestre generoso tinha
um jeito de aparecer quando as pessoas mais dele precisavam, quando as coisas estavam
prestes a desmoronar, e assim o novo grupo de trabalhadores também é convidado a ir para a
vinha. Estes são aqueles que vêm para o último hino e para o almoço de confraternização. O
que pensas tu deles?
Quando chegam à vinha, são orientados e pegam nas suas cestas – mas é o final do dia e o sino
toca. É o fim do dia de trabalho e agora é hora de pagar.
MESMO AGORA, O MESTRE NÃO TERMINOU DE NOS SURPREENDER.
Lê Mateus 20:8
Todos estão alinhados, os trabalhadores mais duros à frente na fila, é claro. Mas o mestre
instrui o encarregado de reorganizar a fila. "Será que aqueles que começaram a trabalhar às
6:00 irão para a parte de trás da fila e aqueles que apenas chegaram agora virão para a
frente?". O mestre está a reorganizar a linha de tal forma que o que está prestes a acontecer
vai ser visível e evidente para todos. Esta distribuição de salários, este veredito, este juízo final
se quiserem, vão ficar claros para que todos os que testemunham e contemplam.
Obviamente as pessoas que trabalharam no duro não estão muito satisfeitas, mas elas
argumentam entre si que o mestre não quer constranger aqueles que acabaram de chegar,
pois eles só vão receber alguns trocados e ficarão invejosos quando virem os que trabalharam
no duro receberem o salário de um dia inteiro.
Mais surpresas do mestre.
Lê Mateus 20:9
Os trabalhadores que acabaram de chegar recebem o salário de um dia inteiro. Eles estão
confusos e provavelmente começam a desaparecer muito rapidamente, a pensar que o patrão
deve ter cometido um erro. As pessoas que trabalharam arduamente desde a manhã estão a
rir deles, pensando que eles estão a fugir do embaraço que é a insignificância do seu salário e
perguntam: "Quanto ganhaste?" O primeiro não se atreve a responder, o segundo mostra
apenas um dedo, os que trabalharam a sério estão a rir-se imenso e perguntam: "um
pondion?" (um pondion são doze avos de um denário), mas a resposta vem de volta: "Não, um
denário."
61
"Um denário? Um denário por uma hora de trabalho?" Imediatamente começam a recalcular
os seus salários. Se uma hora é igual a um denário, então 12 horas é igual a doze denários. A
festa já começou na vinha: eles estão a fazer planos para novas sandálias, novas túnicas e
férias em família.
Lê Mateus 20:10a
Mas o resto do versículo traz a primeira surpresa desagradável da história.
Lê Mateus 20:10b-12.
Não sei se estás a ver, mas quando o encarregado coloca um denário na mão do trabalhador
árduo e diz "Próximo", ninguém se mexe. Eles começam a resmungar que nem trovões e
chamam o mestre. Como o senhor ousa fazer uma coisa destas? Como ousa tratar as pessoas
que trabalharam arduamente como nós, da mesma maneira que tratou os preguiçosos que só
trabalharam durante uma hora. Isso é tão ofensivo e injusto.
Lê Mateus 20:13-16
“Mas ele, respondendo, disse a um deles: Amigo, não te faço injustiça; não ajus taste comigo
um denário? Toma o que é teu, e vai-te; eu quero dar a este último tanto como a ti. Não me é
lícito fazer o que quero do que é meu? Ou é mau o teu olho porque eu sou bom? Assim os
últimos serão primeiros, e os primeiros serão últimos.”
Lembras-te desta frase? O jovem príncipe viu-se como o PRIMEIRO, acaba EM ÚLTIMO. Os
trabalhadores das 17:00 viram-se como ÚLTIMOS, acabam em PRIMEIRO.
O que é isto? O que farias se fosses uma daquelas pessoas que trabalharam a sério na vinha
naquele dia? O que faria eu? O que eu fiz para no Mercado Flemington?
Esta história é uma pedra de tropeço para o nosso senso de justiça. É verdadeiramente
escandaloso.
Como regra geral nas parábolas, o rei, o mestre, o proprietário é sempre o próprio Jesus. Então
a pergunta é: "Deus é injusto?"
QUAL É A LIÇÃO DA HISTÓRIA?
A chave para a história é encontrada na introdução da parábola:
62
"Porque o reino dos céus é semelhante a..."
Esta história não é sobre trabalho real e pagamento real, é sobre a entrada no reino de Deus
hoje e o juízo de Deus no tempo do fim. A entrada no reino de Deus não é sobre o quão bom
tu és e quantas boas obras fizeste, porque ela é um dom de Deus. Esta é a forma de Deus
conceder vida eterna. A eternidade é um dom de Deus a todos os filhos indignos da raça
humana. A graça, a maravilhosa graça de Deus, é a lição desta história. Todos são igualmente
imerecedores de tão grande soma, como de um denário por dia. Ela é dada pela generosidade
do Mestre àqueles que percebem que não trazem nada à mesa de negociações da salvação,
exceto a sua profunda consciência da necessidade da graça de Deus. Isto é mais facilmente
aceite por aqueles que ainda estão no mercado às 17:00 e têm um noção muita clara da falta
de “empregabilidade”. Porque todos nós pecamos e estamos destituídos da glória de Deus.
Nesse sentido, Deus é injusto quando se trata de vida eterna.
Se ser justo significa dar-nos ou tratar-nos como merecemos, como seria se Deus lidasse
connosco de acordo com as nossas:
Promessas não cumpridas?
Dureza de coração?
Insensibilidade para com as necessidades dos outros?
O nosso preconceito? O nosso orgulho?
Pensamentos e motivos impuros?
A nossa inveja e ciúme?
SIM – Deus é injusto e devemos nos alegrar de que Ele é injusto! Pois Ele não nos trata como
nós merecemos.
Salmos 103:8-13
Misericordioso e piedoso é o Senhor;
longânimo e grande em benignidade.
Não nos tratou segundo os nossos pecados,
nem nos recompensou segundo as nossas iniquidades.
Pois assim como o céu está elevado acima da terra,
assim é grande a sua misericórdia para com os que o temem.
Assim como está longe o oriente do ocidente,
assim afasta de nós as nossas transgressões.
Assim como um pai se compadece de seus filhos,
assim o Senhor se compadece daqueles que o temem.
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Isaías 53:5, 6:
Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas
iniquidades;
o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados.
Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo seu caminho; mas
o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos.
Efésios 2:8-9:
Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus . Não vem
das obras, para que ninguém se glorie;
Desejado de Todas as Nações, página 25:
“Cristo foi tratado como nós merecíamos, para que pudéssemos receber o tratamento a que
Ele tinha direito. Foi condenado pelos nossos pecados, nos quais não tinha participação, para
que fôssemos justificados por Sua justiça, na qual não tínhamos parte. Sofreu a morte que nos
cabia, para que recebêssemos a vida que a Ele pertencia. "Pelas Suas pisaduras fomos
sarados."
Todos nós pecamos. Estamos espiritualmente falidos. Cristo morreu como nosso substituto.
Devemos acreditar, admitir isso; aceitar e confiar nele.
"Mas, a todos quantos o receberam, aos que creem no seu nome, deu-lhes o poder de serem
feitos filhos de Deus” - João 1:12-13.
O resultado é uma transformação espiritual pelo Espírito Santo.
"Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que
tudo se fez novo. E tudo isto provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por Jesus
Cristo, e nos deu o ministério da reconciliação” - II Coríntios 5:17-19.
"E dizendo: O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo. Arrependei-vos, e crede
no evangelho" - Marcos 1:14,15.
Conta-se da história de Blondin, o equilibrista francês que caminhava na corda bamba, que
anunciou que iria esticar um cabo através da cataratas do Niágara desde o lado canadiano até
ao lado dos Estados Unidos e atravessar. Grandes multidões e a imprensa juntaram -se em
ambos os lados. Quando Blondin terminou a sua primeira travessia a multidão aplaudiu e
gritou e declarou-o o maior. Então Blondin levou uma bicicleta de impulso especial com sulcos
nos pneus e pedalou através da corda. Mais uma vez a multidão ficou em êxtase e gritava pelo
seu nome. Então Blondin levou um carrinho de mão e empurrou-o por cima das cataratas, e
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desta vez a multidão foi à loucura e disse que não havia nada que ele não pudesse fazer. Então
Blondin silenciou a multidão e perguntou se eles achavam que ele poderia atravessar Niagara
com alguém sentado no carrinho de mão. Todos eles gritaram que não havia dúvida de que ele
poderia fazê-lo. Então Blondin pediu um voluntário. Houve silêncio no meio da multidão, mas
não houve quem quisesse.
Na pessoa de Jesus, o reino de Deus veio até nós e está ao alcance da mão. Jesus diz a cada um
de nós: "Ele está ao nosso alcance – arrepende-te e acredita – vou levar-te para o outro lado.
Eu ofereço-te graça, perdão e um novo tipo de vida com propósito no presente e, como teu
Advogado no julgamento final, um reino eterno glorioso quando eu voltar em breve para levar
o meu povo para o lar."
O QUE TRAVA O TEU CAMINHO? O QUE TE IMPEDE DE ENTRAR NO REINO DE DEUS HOJE?
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