rainha do luxo

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rainha do luxo
local
texto simone costa carvalho
fotos lamedia
rainha
do
luxo
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Assim como Paris tem a Avenue des
Champs Elysèes, Los Angeles a Rodeo
Drive e Nova Iorque a 5th Avenue, Lisboa
não escapa à regra. Por cá, a rainha
do luxo é a Avenida da Liberdade.
São 1500 m de puro prazer para
os amantes do melhor da vida.
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ara a esquerda ou para a
direita? Onde é que iniciamos o nosso roteiro? O Natal
está aí e ainda falta riscar
uma série interminável de
nomes na nossa lista de
prendas. Esta indecisão é a
gota de água num copo
cheio de ansiedade. Sábado,
10h00 e parece que 8 milhões de portugueses decidiram ir às compras – os
outros 2 milhões ficaram a
dormir (felizmente). O trânsito flui daquela forma “parada”
que testa os impacientes – ainda bem que viemos de Classe S.
É inegável: Lisboa está a fervilhar com os preparativos
para a quadra natalícia e nós começamos a fervilhar de desespero, porque não nos ocorre qual a zona em que podemos
encontrar o melhor de três mundos – moda, estética e restauração. É isso mesmo: combinámos uma ida às compras, mas
isso não quer dizer que o tenhamos de fazer desnutridas,
desgrenhadas ou sem direito a uma curta pausa no meio da
azáfama de S, M, L e XL, de 50 ou 100 ml, de preto ou branco,
liso ou com riscas. De repente, alguém na comitiva [as mulheres detestam ir sozinhas às compras], lembra-se de um
>
Louis Vuitton: qualidade e
exclusividade não precisam de saldos.
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< Prada:
o mais recente
reforço na oferta de
requinte da Avenida
da Liberdade.
estudo recente e sugere: “Porque não escapamos ao bulício e
vamos para a Avenida da Liberdade?” Esta rua é o paraíso dos
apreciadores das grandes marcas, leia-se os clientes que gostam de exclusividade. E, como esta tem um preço, regra geral
as lojas prime não oferecem grandes dificuldades à circulação.
Soa perfeito, tanto mais que ficámos animadas com a perspectiva de adquirir uns miminhos naquela que foi considerada
pela Excellence Mystery Shopping – organização que reúne
institutos de pesquisa de mercado de diversos países – a 10.ª
rua mais luxuosa do mundo. O ranking em causa, divulgado
em 2009, resulta da análise de critérios como arquitectura e
decoração das boutiques, cordialidade dos vendedores e o tipo
de pessoas que frequentam essa artéria. Nesta ponderação
A Avenida da Liberdade é a
10.º mais luxuosa do mundo.
evidenciaram-se os 1500 m da Avenida da Liberdade, morada
obrigatória para algumas das melhores marcas do planeta, que
estavam prestes a resolver os nossos problemas.
ercedes-Benz estacionado, um sol convidativo – coisa que
raramente se pode apreciar um centro comercial – e
eis-nos prontas a abrir as hostilidades. Vamos para cima ou
para baixo? É que quer de um lado quer do outro são mais do
que muitas as griffes cuja iluminação natalícia incentiva o
consumo. Optamos por descer a Avenida e rapidamente nos
apercebemos de que as marcas de luxo são quase imunes às
flutuações económicas. Em época de crise, porque não comprar
um cinto Dolce & Gabbana (258 B)? Até porque há fortes
probabilidades de darmos de cara com o Cristiano Ronado ou
o José Mourinho – a marca italiana é uma das favoritas das
estrelas do futebol. A próxima paragem ficou por conta da Ana,
que pretendia um vestido para o réveillon e não queria correr
o risco de encontrar um modelo igual na festa. Enquanto levava seis possibilidades para a cabina de prova, decidimos
avançar. Paragem obrigatória na Prada (216), marca que só está
presente em 12 países europeus e que decidiu inaugurar uma
loja em Portugal no passado mês de Junho. Trata-se da primei-
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ra flagship da casa italiana no nosso país e, nos seus 650 m2,
é um templo de requinte, onde sabe bem “orar” ao criador para
que ele continue a brindar-nos com pronto-a-vestir, acessórios
e calçado, para homem e senhora, incomparáveis. Ainda assim,
há que haver disciplina. “Mesmo os ricos, estão mais exigentes
na compra de objectos de luxo. É que o dinheiro gasto nesses
produtos não está a ser canalizado para outros investimentos”,
explica a autora da obra O Império do Luxo, Cristina de Azevedo Rosa. O livro, publicado em Novembro pela editora Lidel,
contempla outra das griffes por onde passámos: a mítica Louis
Vuitton (190). Se a Avenida da Liberdade é conhecida como a
mais luxuosa artéria do país deve-o grandemente à casa pariense. Num prédio de esquina, a boutique está envolvida num
halo de misticismo, pois quem sai de lá de saco na mão de
certeza que não comprou em saldos. O elitismo desta marca
explica-se facilmente – aqui a política comercial impede promoções. E quem compra gosta de estacionar em frente, que lhe
abram a porta e que o estraguem com atenções. Quem não
aprecia? “Os clientes do luxo são os ricos e todos os outros!”,
avança Cristina de Azevedo Rosa. Afinal, quem não quer
“distinguir-se da massa, pertencendo a ela”, questiona a investigadora. Por esta altura, o grupo já estava dividido – quase
>
< Longchamp:
as grandes marcas
fazem boa
vizinhança.
Logo ao lado
está a Louis Vuitton
tradição
Tivoli Forum:
um centro comercial
no meio da feroz
concorrência das
lojas de rua.
As grandes marcas têm
aficionados puros e duros.
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Dolce &
Gabbana:
a eleita dos
futebolistas.
Montblanc:
nem o facto de
o prédio estar em
obras afasta a
clientela selecta.
parecia um jogo de futebol entre solteiras e casadas. As primeiras sentiam-se a jogar em casa na Fashion Clinic (180) do
Tivoli Forum, as segundas já tinham consumido grande parte
do budget na Rosa & Teixeira (204), mas queriam surpreender
ainda mais a cara-metade. Resultado, estavam à espera do verde
para atravessar a passadeira. A meta? Não era uma, mas sim
três: Ermenegildo Zegna (151), Boss Store (141) e Montblanc
(107). Se esta é a garantia de um marido feliz por poder fazer
um brilharete na próxima reunião com uma sofisticada caneta
– talvez revestida a ouro ou com cristais incrustados –, a
Zegna e a Boss são referências incontornáveis em moda masculina. A escolha é sempre uma questão de estilo. Do outro
lado da Avenida, no meio-campo das solteiras, o tema também
era esse. Estávamos no n.º 150, a boutique da nova-iorquina
Carolina Herrera, e era impossível não recordar a recomendação da estilista venezuelana - “A mulher tem que vestir o que
lhe cai bem e combina com a sua personalidade, mesmo que
não esteja na moda”. Onde é que está o espelho? Ups… Este
look precisa de um jeitinho. O Eduardo Beauté (166) podia resolver, mas do outro lado da linha confirma-se o receio: “Já não
aceitamos mais marcações.” Resta saciar a fome, o que dá aso
a nova votação. Hard Rock Café (2), Terraço do Tivoli (185),
Brasserie Flo (185) ou Ad-Lib (127)? Era bom chegar a um
consenso antes que se acendessem a luzes de Natal. Ou talvez
não. É que assim a Avenida da Liberdade fica com um irresistível glamour.
Emporio Armani:
exclusividade a toda a prova.