Textos sobre a interdisciplinaridade da ciência da
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Textos sobre a interdisciplinaridade da ciência da
Universidade de Brasília Pós Graduação Lato-Sensu Disciplina: Linhas Editoriais e produção para novos formatos Carga horária: Professor: José Antonio Machado PROGRAMA DA DISCIPLINA 1 – EMENTA Conceitos para a produção editorial em novos formatos: ergonomia, interação humano-computador, modelo mental e métodos e técnicas de avaliação de usabilidade. Estabelecendo linhas editoriais para ebooks. E-books e bibliotecas digitais. Mercado de e-books. Plano de marketing para e-books. Plataformas de distribuição e sistemas de gestão de conteúdo para e-books. 2 – OBJETIVO GERAL Propiciar aos participantes habilidades para o desenvolvimento de linhas editoriais e e-books em sistemas de gestão de conteúdo com usabilidade e design de interação de serviços virtuais de informação. 3 – OBJETIVOS ESPECÍFICOS Propiciar aos alunos integrantes do curso: Subsídios teóricos que permitam a percepção e a conscientização da importância das linhas editoriais para livros digitais no mercado da informação. Elementos teóricos que permitam aos participantes a assimilação do conhecimento em ergonomia, usabilidade e interação humano-computador. Aplicação prática do conhecimento adquirido sobre sistemas de gestão de conteúdo e plataformas de distribuição para livros digitais. Proporcionar aos alunos noções sobre formatos, aplicativos e o marketing de livros digitais, otimizando recursos tecnológicos, humanos e financeiros. 4 – PROGRAMA Unidade 1: Ergonomia, interação humano-computador, modelos mentais e métodos e técnicas de avaliação de usabilidade. Conceitos e história da ergonomia, evolução das interfaces gráficas e do webdesign, panorama da interação humano-computador, modelo mental e sistema humano de processamento de informações (percepção, atenção, memória, raciocínio e aprendizado), avaliação de usabilidade (contexto de uso, critérios ergonômicos e análise da organização da informação de livros digitais). Unidade 2 : E-books: mercado, linhas editoriais e bibliotecas digitais. Formatos e aplicativos de livros digitais, plano de marketing para linhas editoriais on-line, livros digitais e o mercado editorial brasileiro, bibliotecas e serviços virtuais de informação. Unidade 3: Sistemas de gestão de conteúdo para livros digitais. Plataformas de gerenciamento de conteúdo, tipos de sistemas de gestão de conteúdo, sistemas de gestão de conteúdo x software de webdesign para a produção de editoras virtuais. 5 - Metodologia Exposição dialogada com utilização de Datashow, quadro branco e demonstração através da internet de sistemas de gestão de conteúdo, editoras e livros digitais. Leitura dirigida: estudo e análise dos textos disponíveis no material de apoio do curso. Discussão em grupo: Equipes discutem os temas e apresentam suas percepções do tema para professor e participantes. 6 - Avaliação Projeto de uma editora virtual em um sistema de gestão de conteúdo com concepção de linha editorial e livros digitais. 7 - Bibliografia AMARAL, Sueli Angélica do. Marketing: abordagem em unidades de informação. Brasília: Thesauros, 1998. 245p. AMSTEL, Frederick Van. A contribuição do flash para a hipermídia. Webinsider, Rio de Janeiro, 18 out. 2003. Disponível em: <http://webinsider.uol.com.br/vernoticia.php/id/1938>. Acesso em: 1 fev. 2005. AMSTEL, Frederick Van. Card sorting é melhor que buraco. 20 nov. 2004. Disponível em: <http://www.usabilidoido.com.br/cardsorting_e_melhor_que_buraco.html>. Acesso em: 2 dez. 2004. ANGULO, Marcelo Junqueira. Porque gerenciar conteúdos. 2002. AQUINO, Renata. Pesquisa em HCI. Entrevista publicada no site Universia Brasil em 25 nov. 2004. Disponível em: <www.universia.com.br/html/materia/materia_fhdf.html>. Acesso em: 3 dez. 2004. ARAÚJO, E. A construção do livro: princípios da técnica de editoração. 1. ed. Rio de Janeiro: ASSOCIA TION OF AMERICAN PUBLISHERS Metadata Standards for Ebooks. Version 1.0. New York, 2000. BARTON, Jane. Digital librarians: boundary riders on the storm. Library Review, Glasgow, v.55, n.2, p. 85-90, 2006. BASTIEN, Christian; SCAPIN, Dominique. Critérios ergonômicos para avaliação de interfaces homem- computador. Artigo originalmente produzido em <http://www.labiutil.inf.ufsc.br/indice-1.html>. Acesso em: 2 fev. 2005. 1993. Disponível em: BELLAMY, C.; BURROWS, P.; COBURN, P.; LOI, D.; WILKINS, L. Creating a viable e-text market. In: COPE, B.; MASON, D. (ed.) Creator to Consumer in a Digital Age: Book production in transition. Alto na: Common Ground Publishing, 2001. BIDE, M; KAHN, D.; MAX-UNO, R.; POTTER, L. The Scale of Future Publishing in Digital and Conventional Formats. A report to British Library Policy Unit by Mark Bide & Associates, February 2000. BURROWS, P.; LOI, D.; WILKINS, L.; COBURN, P. Electronically mediated learning materiais. In: COPE, B.; KALANTZIS, D (ed.) Print and Electronic Text Covergence: Technology drivers across the book production supply chain, from creator to consumer. Altona: Common Ground Publishing, 200 I, p.183-221. BUSH, Vannevar. As we may think. The Atlantic Monthly, Boston, p. 101-108. jul. 1945. Disponível em: <http://www.theatlantic.com/doc/194507/bush>. Acesso em: 22 jun. 2005. CALDAS, Luiz Carlos Agner. Otimização do diálogo usuários-organizações na world wide web: estudo de caso e avaliação ergonômica de usabilidade de interfaces humano-computador. 2002. 513 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Artes e Design, Departamento de Artes e Design, Puc - Rio, Rio de Janeiro, 2002. Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1999. CERVONE, H. Frank. Usability training: an overlooked component in an on-going program of web assessment and development. OCLC Systems And Services, California, v. 3, n. 21, p.244-251, 2005. CHARTIER, R. A aventura do livro do leitor ao navegador. 1. ed. São Paulo: Unesp, 1998. Computing Strategies Report, YANKEE GROUP REPORT, Vol. 6, No. 2, May 2001. CONTENT MANAGEMENT. 2001. Disponível em <http://www.contentmanager.eu.com> Acesso em 27 mar. 2007. COPE, B. New Ways with Words: Print and Etext Convergence. In: COPE, B.; KALANTZIS, D (ed.) Print and Electronic Text Covergence: Technology drivers across the book production supply chain, from creator to consumer. Altona: Common Ground Publishing, 2001, p.l-15. CRUZ, Tadeu. Gerência do Conhecimento. Ed. Cobra, São Paulo, 2002. CUNHA, Murilo Bastos da. Produtos e serviços da biblioteca universitária na Internet. Palestra apresentada no XII Seminário de Bibliotecas Universitárias, Recife, 2002. Disponível em: <http://www.ufpe.br/snbu/murilo1.ppt.>. Acesso em: 14 dez. 2005. CYBIS, Walter de Abreu et al. Uma abordagem ergonômica para o desenvolvimento de sistemas interativos. Artigo originalmente produzido em 1999. Disponível em: <http://www.unicamp.br/~ihc99/Ihc99/AtasIHC99/AtasIHC98/Cybis.pdf.>. Acesso em: 10 maio 2004. CYBIS, Walter de Abreu. Engenharia de usabilidade: uma abordagem ergonômica. Disponível em: <http:www.labutil.inf.ufsc.br/apostila_nvVersao.pdf>. Acesso em: 10 maio 2004. DAVIS, R. The Digital Dilemma. Communications of the ACM, February 2001, Vol.44, n°2, p.80.23. DIAS, Claudia Augusto. Métodos de avaliação de usabilidade no contexto de portais corporativos: um estudo de caso no Senado Federal. 2001. 229 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Ciência da Informação e Documentação, Departamento de Ciência da Informação e Documentação, UnB, Brasília, 2001. DUNN, R.; HESTER, R.; READMAN, A. Printing goes Digital. In: COPE, B.; KALANTZIS, D (ed.) Print and Electronic Text Covergence: Technology drivers across the book production supply chain, from creator to consumer. Altona: Common Ground Publishing, 2001, p.109-123. GALLIGAN, A. It's a Dead Cert. Fact and Fiction in Electronic Publishing. International Journal of the Book (edited by Howard Dare and Mary Kalantzis), Volume 1, 2002, p.103-112. HILLESUND, T. Will E-books Change the World?. First Monday, volume 6, number 1 O, October 2001. Disponível em: <http://firstmonday.org/issues/issue6 1 0/hillesund/index.html>. Acesso em: 1 set. 2004. INFOIMAGEM. Gestão de quê, Documentos? Conteúdos? Conhecimento? Jornal da Gestão Janeiro: Record, 2002. JANSEN, B. The Future ofthe Book. Format & Technology. International Journal of the Book (edited by Howard Dare and Mary Kalantzis), Volume 1, 2002, p.411-421. JUHOLA, H. Print-on-demand: technologies at work (Background Paper). First European Workshop on Printon-demand: a Technological Revolution at the Service of Cultural Diversity. Strasbourg, Council ofEurope, 20-21 January 2000. LITMAN, J. Digital Copyright. Amherst: Prometheus Books, 2001. LYNCH, C. The Battle to Define the Future of the Book in the Digital World. First Monday, volume 6, number 6, 2001. Disponível em: <http://firstmonday.org/issues/issue6 6/lynch/index.html>. Acesso em: 1 set. 2004. MARK BIDE & ASSOCIATES Standards for Electronic Publishing: an overview. NEDLIB Report Series 3. The Hague, 2000. NASCIMENTO, J.A.M. AMARAL, S.A. Avaliação de usabilidade na internet. Brasília: 2009. 164p. José Antonio Machado do Nascimento Sueli Angélica do Amaral Avaliação de usabilidade de websites Universidade de Brasília Pós Graduação Lato-Sensu Disciplina: Linhas Editoriais e produção para novos formatos Carga horária: Professor: José Antonio Machado PROGRAMA DA DISCIPLINA 1 – EMENTA Conceitos para a produção editorial em novos formatos: ergonomia, interação humano-computador, modelo mental e métodos e técnicas de avaliação de usabilidade. Estabelecendo linhas editoriais para ebooks. E-books e bibliotecas digitais. Mercado de e-books. Plano de marketing para e-books. Plataformas de distribuição e sistemas de gestão de conteúdo para e-books. 2 – OBJETIVO GERAL Propiciar aos participantes habilidades para o desenvolvimento de linhas editoriais e e-books em sistemas de gestão de conteúdo com usabilidade e design de interação de serviços virtuais de informação. 3 – OBJETIVOS ESPECÍFICOS Propiciar aos alunos integrantes do curso: Subsídios teóricos que permitam a percepção e a conscientização da importância das linhas editoriais para livros digitais no mercado da informação. Elementos teóricos que permitam aos participantes a assimilação do conhecimento em ergonomia, usabilidade e interação humano-computador. Aplicação prática do conhecimento adquirido sobre sistemas de gestão de conteúdo e plataformas de distribuição para livros digitais. Proporcionar aos alunos noções sobre formatos, aplicativos e o marketing de livros digitais, otimizando recursos tecnológicos, humanos e financeiros. 4 – PROGRAMA Unidade 1: Ergonomia, interação humano-computador, modelos mentais e métodos e técnicas de avaliação de usabilidade. Conceitos e história da ergonomia, evolução das interfaces gráficas e do webdesign, panorama da interação humano-computador, modelo mental e sistema humano de processamento de informações (percepção, atenção, memória, raciocínio e aprendizado), avaliação de usabilidade (contexto de uso, critérios ergonômicos e análise da organização da informação de livros digitais). Unidade 2 : E-books: mercado, linhas editoriais e bibliotecas digitais. Formatos e aplicativos de livros digitais, plano de marketing para linhas editoriais on-line, livros digitais e o mercado editorial brasileiro, bibliotecas e serviços virtuais de informação. Unidade 3: Sistemas de gestão de conteúdo para livros digitais. Plataformas de gerenciamento de conteúdo, tipos de sistemas de gestão de conteúdo, sistemas de gestão de conteúdo x software de webdesign para a produção de editoras virtuais. 5 - Metodologia Exposição dialogada com utilização de Datashow, quadro branco e demonstração através da internet de sistemas de gestão de conteúdo, editoras e livros digitais. Leitura dirigida: estudo e análise dos textos disponíveis no material de apoio do curso. Discussão em grupo: Equipes discutem os temas e apresentam suas percepções do tema para professor e participantes. 6 - Avaliação Projeto de uma editora virtual em um sistema de gestão de conteúdo com concepção de linha editorial e livros digitais. 7 - Bibliografia AMARAL, Sueli Angélica do. Marketing: abordagem em unidades de informação. Brasília: Thesauros, 1998. 245p. AMSTEL, Frederick Van. A contribuição do flash para a hipermídia. Webinsider, Rio de Janeiro, 18 out. 2003. Disponível em: <http://webinsider.uol.com.br/vernoticia.php/id/1938>. Acesso em: 1 fev. 2005. AMSTEL, Frederick Van. Card sorting é melhor que buraco. 20 nov. 2004. Disponível em: <http://www.usabilidoido.com.br/cardsorting_e_melhor_que_buraco.html>. Acesso em: 2 dez. 2004. ANGULO, Marcelo Junqueira. Porque gerenciar conteúdos. 2002. AQUINO, Renata. Pesquisa em HCI. Entrevista publicada no site Universia Brasil em 25 nov. 2004. Disponível em: <www.universia.com.br/html/materia/materia_fhdf.html>. Acesso em: 3 dez. 2004. ARAÚJO, E. A construção do livro: princípios da técnica de editoração. 1. ed. Rio de Janeiro: ASSOCIA TION OF AMERICAN PUBLISHERS Metadata Standards for Ebooks. Version 1.0. New York, 2000. BARTON, Jane. Digital librarians: boundary riders on the storm. Library Review, Glasgow, v.55, n.2, p. 85-90, 2006. BASTIEN, Christian; SCAPIN, Dominique. Critérios ergonômicos para avaliação de interfaces homem- computador. Artigo originalmente produzido em <http://www.labiutil.inf.ufsc.br/indice-1.html>. Acesso em: 2 fev. 2005. 1993. Disponível em: BELLAMY, C.; BURROWS, P.; COBURN, P.; LOI, D.; WILKINS, L. Creating a viable e-text market. In: COPE, B.; MASON, D. (ed.) Creator to Consumer in a Digital Age: Book production in transition. Alto na: Common Ground Publishing, 2001. BIDE, M; KAHN, D.; MAX-UNO, R.; POTTER, L. The Scale of Future Publishing in Digital and Conventional Formats. A report to British Library Policy Unit by Mark Bide & Associates, February 2000. BURROWS, P.; LOI, D.; WILKINS, L.; COBURN, P. Electronically mediated learning materiais. In: COPE, B.; KALANTZIS, D (ed.) Print and Electronic Text Covergence: Technology drivers across the book production supply chain, from creator to consumer. Altona: Common Ground Publishing, 200 I, p.183-221. BUSH, Vannevar. As we may think. The Atlantic Monthly, Boston, p. 101-108. jul. 1945. Disponível em: <http://www.theatlantic.com/doc/194507/bush>. Acesso em: 22 jun. 2005. CALDAS, Luiz Carlos Agner. Otimização do diálogo usuários-organizações na world wide web: estudo de caso e avaliação ergonômica de usabilidade de interfaces humano-computador. 2002. 513 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Artes e Design, Departamento de Artes e Design, Puc - Rio, Rio de Janeiro, 2002. Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1999. CERVONE, H. Frank. Usability training: an overlooked component in an on-going program of web assessment and development. OCLC Systems And Services, California, v. 3, n. 21, p.244-251, 2005. CHARTIER, R. A aventura do livro do leitor ao navegador. 1. ed. São Paulo: Unesp, 1998. Computing Strategies Report, YANKEE GROUP REPORT, Vol. 6, No. 2, May 2001. CONTENT MANAGEMENT. 2001. Disponível em <http://www.contentmanager.eu.com> Acesso em 27 mar. 2007. COPE, B. New Ways with Words: Print and Etext Convergence. In: COPE, B.; KALANTZIS, D (ed.) Print and Electronic Text Covergence: Technology drivers across the book production supply chain, from creator to consumer. Altona: Common Ground Publishing, 2001, p.l-15. CRUZ, Tadeu. Gerência do Conhecimento. Ed. Cobra, São Paulo, 2002. CUNHA, Murilo Bastos da. Produtos e serviços da biblioteca universitária na Internet. Palestra apresentada no XII Seminário de Bibliotecas Universitárias, Recife, 2002. Disponível em: <http://www.ufpe.br/snbu/murilo1.ppt.>. Acesso em: 14 dez. 2005. CYBIS, Walter de Abreu et al. Uma abordagem ergonômica para o desenvolvimento de sistemas interativos. Artigo originalmente produzido em 1999. Disponível em: <http://www.unicamp.br/~ihc99/Ihc99/AtasIHC99/AtasIHC98/Cybis.pdf.>. Acesso em: 10 maio 2004. CYBIS, Walter de Abreu. Engenharia de usabilidade: uma abordagem ergonômica. Disponível em: <http:www.labutil.inf.ufsc.br/apostila_nvVersao.pdf>. Acesso em: 10 maio 2004. DAVIS, R. The Digital Dilemma. Communications of the ACM, February 2001, Vol.44, n°2, p.80.23. DIAS, Claudia Augusto. Métodos de avaliação de usabilidade no contexto de portais corporativos: um estudo de caso no Senado Federal. 2001. 229 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Ciência da Informação e Documentação, Departamento de Ciência da Informação e Documentação, UnB, Brasília, 2001. DUNN, R.; HESTER, R.; READMAN, A. Printing goes Digital. In: COPE, B.; KALANTZIS, D (ed.) Print and Electronic Text Covergence: Technology drivers across the book production supply chain, from creator to consumer. Altona: Common Ground Publishing, 2001, p.109-123. GALLIGAN, A. It's a Dead Cert. Fact and Fiction in Electronic Publishing. International Journal of the Book (edited by Howard Dare and Mary Kalantzis), Volume 1, 2002, p.103-112. HILLESUND, T. Will E-books Change the World?. First Monday, volume 6, number 1 O, October 2001. Disponível em: <http://firstmonday.org/issues/issue6 1 0/hillesund/index.html>. Acesso em: 1 set. 2004. INFOIMAGEM. Gestão de quê, Documentos? Conteúdos? Conhecimento? Jornal da Gestão Janeiro: Record, 2002. JANSEN, B. The Future ofthe Book. Format & Technology. International Journal of the Book (edited by Howard Dare and Mary Kalantzis), Volume 1, 2002, p.411-421. JUHOLA, H. Print-on-demand: technologies at work (Background Paper). First European Workshop on Printon-demand: a Technological Revolution at the Service of Cultural Diversity. Strasbourg, Council ofEurope, 20-21 January 2000. LITMAN, J. Digital Copyright. Amherst: Prometheus Books, 2001. LYNCH, C. The Battle to Define the Future of the Book in the Digital World. First Monday, volume 6, number 6, 2001. Disponível em: <http://firstmonday.org/issues/issue6 6/lynch/index.html>. Acesso em: 1 set. 2004. MARK BIDE & ASSOCIATES Standards for Electronic Publishing: an overview. NEDLIB Report Series 3. The Hague, 2000. NASCIMENTO, J.A.M. AMARAL, S.A. Avaliação de usabilidade na internet. Brasília: 2009. 164p. Copyrigth Brasília, 2009 Ficha técnica Arte da capa Revisão Editoração eletrônica Marconi Martins S586a Nascimento, José Machado do Amaral. Avaliação de usabilidade de websites / José Antonio Machado do Nascimento, Sueli Angélica do Amaral Brasília : Thesaurus, 2010. 124p. : il. ISBN: CDD 0 CDU 0 Todos os direitos em língua portuguesa, no Brasil, reservados de acordo com a lei. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou transmitida de qualquer forma ou por qualquer meio, incluindo fotocópia, gravação ou informação computadorizada, sem permissão por escrito das Autoras. THESAURUS EDITORA DE BRASÍLIA LTDA. SIG Quadra 8, lote 2356 - CEP 70610-400 - Brasília, DF. Fone: (61) 344-3738 - Fax: (61) 3442353 End. Eletrônico: [email protected] – Página na Internet: www.thesaurus.com.br Composto e impresso no Brasil Printed in Brazil Sumário Introdução___________________________________________ 11 Parte 1 Sobre usabilidade, ergonomia e interação humano-computador________________13 Usabilidade e ergonomia:___________________________ 13 Conceitos e um pouco da história____________________ 13 Evolução das interfaces gráficas e do webdesign________ 15 Interação humano-computador (IHC)________________ 20 Panorama da IHC no Brasil_______________________ 22 Sistema humano de processamento de informações___ 24 Percepção___________________________________ 25 Atenção_____________________________________ 28 Memória____________________________________ 31 Raciocínio___________________________________ 34 Aprendizado_________________________________ 36 Parte 2 Avaliação de usabilidade de websites____________39 Conhecendo e aplicando os métodos e técnicas de avaliação de usabilidade______________________________________ 39 Verificando a usabilidade de websites com gestores_______ 43 Análise do contexto de uso _______________________ 43 Verificando a usabilidade de websites com desenvolvedores_46 Inspeção ergonômica______________________________ 46 Lista de verificação, guia de recomendações e critérios heurísticos_____________________________________ 46 Elaboração e aplicação da lista de verificação, guia de ecomendações e critérios heurísticos_______________ 49 Análise dos dados coletados durante a inspeção ergonômica_ ___________________________________ 52 Verificando a usabilidade de websites com usuários_______ 54 Ensaios de interação_______________________________ 54 Card Sorting______________________________________ 55 Planejamento e realização da sessão de card sorting___ 57 Análise dos dados coletados durante a sessão de card sorting_________________________________________ 60 Análise da tarefa_ _________________________________ 62 Planejamento e realização da análise da tarefa_ ______ 64 Análise dos dados coletados durante a análise da tarefa__ 66 Parte 3 O relatório da avaliação de usabilidade____________69 Estudo de caso: website de uma biblioteca universitária___ 69 Análise do contexto de uso _________________________ 69 Concepção, desenvolvimento e atualização do website_ __________________________ 69 O reconhecimento das especificações do website_____ 72 Concepção, desenvolvimento e atualização do website, na perspectiva dos seus gestores _ ___________________ 73 Eixo temático 1: desenvolvimento do website_ __________74 Eixo temático 2: usuários, produtos e serviços__________74 Eixo temático 3: dificuldades gerenciais________________75 Eixo temático 4: conteúdo__________________________ 75 Eixo temático 5: usabilidade_ _______________________ 76 Considerações_________________________________ 76 Inspeção ergonômica das interfaces do website ________ 78 Aspectos positivos das interfaces do website ___________ 79 Problemas de usabilidade das interfaces _______________81 do website, de acordo com critérios heurísticos__________81 Considerações_____________________________________83 Modelo mental dos usuários relativo à árvore semântica do website _ _____________________ 84 Erros cometidos pelos usuários durante o uso do website ___________________________ 87 Considerações____________________________________ 90 Conclusão do estudo de caso________________________ 91 Parte 4 Modelos de instrumentos de coleta de dados_ ___93 1 - Ficha de observação para análise do contexto de uso de websites _____________________ 93 2 - Guia de entrevista com gestores para análise do contexto de uso de websites _____________________ 95 3 - Lista de verificação e guia de recomendações para a inspeção ergonômica de websites___________ 97 Referências_______________________________________ 113 Introdução Esse livro é didático e mostra, detalhadamente, métodos e técnicas de avaliação de usabilidade de websites. É conceitual, pois demonstra à luz da literatura os fundamentos da usabilidade. E abrangente, pois discorre sobre as questões que envolvem websites e usabilidade. Por esses motivos, é indicado para profissionais da informação, em especial bibliotecários, gestores de projetos e desenvolvedores web, envolvidos diretamente com tecnologias da informação. A estrutura adotada no livro privilegia a assimilação do conhecimento de forma progressiva. Na primeira parte, apresentamos os conceitos e a história da ergonomia e usabilidade, a evolução das interfaces gráficas e do webdesign, a Interação Humano-computador, seu panorama no Brasil e suas relações com o sistema humano de processamento de informações. Na segunda parte, explicamos os métodos e técnicas de avaliação de usabilidade, que podem ser empregados com gestores, desenvolvedores e usuários. Na terceira parte, apresentamos o estudo de caso, realizado em uma biblioteca universitária, que serve de modelo para a elaboração do relatório da avaliação de usabilidade. E na quarta parte, demonstramos os modelos dos instrumentos de coleta de dados dos métodos e técnicas apresentados. A usabilidade é um assunto fascinante e desafiador. Se você seguir o caminho lógico de raciocínio proposto nesse livro, com certeza, obterá sucesso, seja qual for o objetivo da sua avaliação. Boa Sorte! 11 12 Parte 1 Sobre usabilidade, ergonomia e interação humano-computador Usabilidade e ergonomia: Conceitos e um pouco da história As preocupações com a interação entre seres humanos e máquinas datam da Segunda Guerra Mundial. Nessa época, cientistas da Força Aérea Inglesa descobriram que as falhas ocorridas durante a operação de equipamentos militares não eram ocasionadas exclusivamente por falha humana, mas pela não adequação dos equipamentos às características físicas, psíquicas e cognitivas humanas. Nascia então, a Ergonomia, disciplina que estuda a correta adequação de produtos para o trabalho humano. Após a Segunda Guerra Mundial, os esforços dos estudiosos interessados em Ergonomia concentraram-se no aperfeiçoamento de eletrodomésticos e automóveis. Entretanto, a indústria de computadores, que mais tarde viria a revolucionar o seu campo de atuação, não sentia ainda seus benefícios, o que só ocorreu em meados da década de 1960, quando computadores deixaram de ser máquinas complexas. Nesse período, sedimenta13 se a International Ergonomics Association (IEA) e a definição que Ergonomia seria “o estudo científico da relação entre o homem e seus meios, métodos e espaços de trabalho, tendo por objetivo elaborar conhecimentos que devem resultar numa melhor adaptação ao homem dos meios tecnológicos e dos ambientes de trabalho e de vida” (STORCHI, 2004). Consolidada como área de estudo interdisciplinar na comunidade científica mundial, a partir da década de 1970, a Ergonomia também contribuiu para o desenvolvimento de sistemas interativos. Para reduzir custos de produção e manutenção, ergonomistas passaram a criar novas metodologias, que identificassem problemas relativos ao contexto de uso dos sistemas. Esse conjunto de métodos e técnicas estruturadas passou a ser conhecido como Engenharia de Usabilidade ou simplesmente Usabilidade, definida como “a extensão em que um produto pode ser usado por usuários específicos para alcançar objetivos específicos como efetividade, eficácia e satisfação num contexto específico de uso” (ISO 9241, 1996). Jokela et al. (2003, p. 56), em trabalho sobre a ISO 9241, descrevem os termos contidos na definição de usabilidade proposta na norma: A efetividade seria a exatidão com que os usuários alcançam seus objetivos no uso de sistemas interativos; A eficiência refere-se aos recursos gastos na exatidão com que os usuários alcançam os seus objetivos; A satisfação seria a atitude positiva do usuário em relação ao sistema ou produto em uso. Com o avanço das tecnologias de informação, os estudos de usabilidade passaram por profundas transformações na década de 1990. Antes restritos ao desenvolvimento de aplicativos de software, passaram a ser utilizados por indústrias de diversos 14 segmentos, com inúmeras finalidades. Em poucos anos, estudos de uso em projetos web como portais cooperativos e corporativos, comércio eletrônico, Internet banking, bibliotecas virtuais, entre outros, passaram a ser exigidos, revelando que a Usabilidade é “parte da metodologia ergonômica de adequação das interfaces tecnológicas às características e capacidades humanas” (MORAES, 2003) e reconhecidamente benéfica quando se trata de aliar a conquista de novos mercados e clientes à economia de recursos. Nesse sentido, o estudo das interfaces gráficas assume seu destaque no âmbito da usabilidade. Evolução das interfaces gráficas e do webdesign As interfaces atuam no registro e disseminação do conhecimento desde a Antigüidade. Da invenção da escrita à revolução dos computadores, têm permitido a manipulação da informação em vários ambientes. “Qualquer que seja o meio de comunicação: textual, visual, audiovisual ou eletrônico, há sempre uma interface que media a interação” (SILVA, 1998). Além disso, possibilitam a conexão das necessidades dos homens às funcionalidades das máquinas. Uma interface interativa ou interface gráfica com o usuário (em inglês, graphical user interface), ou apenas interface gráfica é a zona em que se realiza a interação entre usuário e programa. Nelas, estão contidas as mensagens compreensíveis pelos usuários (verbais, icônicas, pictóricas ou sonoras), as mensagens compreendidas pelos programas (verbais, gráficas, sinais elétricas, entre outras), os dispositivos de entrada e saída de dados (teclado, mouse, tela do monitor, etc.) e as zonas de comunicação habilitadas em cada dispositivo (teclas no teclado, 15 menus no monitor, barras de tarefas e área de trabalho). As interfaces interativas foram inventadas por pesquisadores do Instituto de Pesquisa Stansford, que chefiados por Douglas Engelbart e Ted Nelson, no final da década de 1950, trabalhavam no desenvolvimento de um sistema de informação baseado em hiperlinks denominado NLS (on-Line System). Nitidamente influenciados pela obra de Vannevar Bush, especialmente o famoso artigo As we may think, de 1945, no qual o autor sugeria a criação de um aparelho denominado Memex, capaz de armazenar, indexar e recuperar informações, Engelbart, Nelson e sua equipe dedicaram-se ao futuro da tecnologia da informação, concebendo não somente o hipertexto, mas também o monitor, o mouse, o teclado, o e-mail e o processador de texto. Na década de 1970, pesquisadores da Stansford que migraram para a Xerox PARC aperfeiçoaram os sistemas baseados em hiperlinks, desenvolvendo uma nova forma de interface, icônicas, que possibilitavam a visualização de documentos eletrônicos antes de serem impressos. Para Levacov (1999), esse foi o primeiro modelo de interface a utilizar janelas, ícones e menus, se tornando exemplo para muitos projetos posteriores. Embora desenvolvidas com os computadores Xerox Alto, só vieram a ser comercializadas com o sistema Xerox 8010, em 1981. Continuando o processo evolutivo das interfaces icônicas, os pesquisadores da Apple Computers, liderados por Jeff Raskin, conceberam o Macintosh, primeiro computador a utilizar comercialmente produtos baseados em interfaces gráficas. A possibilidade de apagar arquivos através da lixeira, diretórios em forma de pasta, calculadora, bloco de notas e despertador eram apenas algumas das funcionalidades do sistema que o usuário encontrava no desktop do Macintosh. Segundo Horn (1996), existem controvérsias a respeito das contribuições tecnológicas dos pesquisadores da Xerox Parc e da Apple Macintosh, pois o trabalho da Apple estendeu 16 o da Xerox Parc consideravelmente, adicionando janelas que poderiam ser sobrepostas, ícones perfeitamente manipuláveis e barras de menus fixas. “As modernas interfaces gráficas como conhecemos devem muito tanto a Parc quanto a Apple, parecendo improvável que a Apple tenha “copiado” o trabalho da Parc, afirma Horn (1996). O próximo passo na evolução das interfaces interativas foi dado pelo computador “Amiga”, desenvolvido pela empresa canadense Commodore e lançado comercialmente em 1985. O “Amiga” foi o “microcomputador que utilizou mais apropriadamente a técnica de interface iconográfica com o usuário, lançada pela Macintosh. Praticamente todos os programas que rodam no AMIGA utilizam o mouse, incluindo o workbench seu sistema operacional (VAZ, 1988). Também nos idos da década de 1980, a Digital Research produziu um gerenciador de ambiente gráfico, que funcionava nos computadores da IBM. Os gerenciadores de ambientes gráficos não alcançaram sucesso e, mesmo sendo aproveitados nos computadores da Atari St., sucumbiram perante o sucesso dos sistemas de interfaces Windows. A Microsoft lançou a primeira versão do Windows, em 1995. O Windows 1.0 atuava com sistema MS-DOS e foi a plataforma operacional dos PC’s da IBM, sendo também compatível com outros computadores. A explosão de popularidade do Windows só ocorreu com o lançamento do Windows 3.0. Desde então, as interfaces gráficas foram pouco redesenhadas, ressaltando a notável inclusão do “gerenciador de arquivos”, no Windows 95. O sistema de interfaces do Windows difere de outros ambientes gráficos por encorajar aplicações maximizadas, incomuns em outras interfaces. O design do Windows, nitidamente baseado nos projetos da Apple Computers, provocou inquietações na mídia e na comunidade tecnológica, quando a Apple decidiu processar a Microsoft por infringir os direitos autorais das suas interfaces. 17 O processo durou quase uma década, período em que o Windows alcançou notável uso. Após apelos subseqüentes da Apple, que foram negados pela justiça norte-americana, as duas empresas anunciaram, em 1997, um acordo mútuo de investimento e cooperação. Apesar da inigualável contribuição dos sistemas comentados, deve-se mencionar o desenvolvimento do ambiente operacional X Window System. Criado em meados da década de 1980, no Instituto de Tecnologia de Massachussets (M.I.T), sob o nome Projeto Athena, diferenciou-se dos outros sistemas por ser independente dos padrões vigentes à época. Suas aplicações foram definidas por um conjunto de entidades, o X Consortium, fundado em 1993, e não apenas por uma só. Ao ser extinto, o X Consortium transferiu todos os direitos do X Window System à Fundação de Software Livre (Open Software Foundation), que garantiu a sustentação do mesmo como um padrão aberto. O protocolo X do Window System tem por objetivo disponibilizar uma interface gráfica transparente, que exiba e gerencie as informações (Godoy, 2004). Enquanto o Windows preocupa-se em disponibilizar uma interface gráfica para a máquina local, o protocolo X do Window System preocupa-se em especificar uma relação cliente-servidor em nível de aplicação. Todavia, o protocolo X do sistema Window System somente se tornou conhecido na década de 1990, ao provocar uma grande revolução no mercado de interfaces, graças às campanhas em favor do uso de softwares livres e ambiente operacional Linux. Com enorme potencial para diminuir o abismo entre incluídos e excluídos na Sociedade da Informação, os ambientes operacionais e interfaces gráficas com padrões abertos permitem não somente maior acesso às funcionalidades dos sistemas, mas também a libertação dos usuários de computadores das amarras das gigantescas corporações como a Apple e a Microsoft num contexto futuro. 18 A evolução das interfaces gráficas contribuiu também no sentido de evidenciar a necessidade de atenção ao webdesign, cujo desenvolvimento ocorreu paralelamente à evolução do Hyper Text Marked Language (HTML), como linguagem de marcação. A princípio, considerado como uma linguagem que possuía apenas algumas opções de formato para conectar institutos de pesquisa através de redes eletrônicas, o HTML passou a atender as necessidades de diagramação de hipertexto e hipermídia de websites na Internet. O HTML foi o elo que possibilitou a conexão de usuários à mídias comunicacionais tecnológicas, provocando também uma revolução na forma de recuperar e disseminar informações. O HTML teve uma propagação bastante peculiar. Segundo Siegel (1993), restrições nas linguagens de marcação, como disposições de textos somente da esquerda para a direita, limitavam em muito a comunicação visual dos primeiros browsers, como o Mosaic. Com a evolução dos browsers, o HTML, se tornou mais complexo e flexível, passando a exercer dupla função: exibir o conteúdo adequadamente e incrementar a aparência visual das interfaces. Obviamente, a estilização das interfaces na web não se deu de forma simples. “Cada vez mais ficava evidente que a mistura de marcação com estilização, que maravilhou os projetistas web no início, tornara-se uma grande dor de cabeça” (SILVA, 2003). Dessa necessidade, surgiu o Cascading Style Sheet (CSS), em português “Folha de Estilo em Cascata”, criado por Hakon Wium Lie e Bert Bros, em meados da década de 1990. A partir desse momento, tem-se uma dissociação dos elementos do webdesign. Enquanto o HTML passou a ser utilizado para marcar e estruturar o conteúdo de um documento, o CSS passou a ser o responsável por definir cores, fontes e leiautes das interfaces, sendo oficialmente recomendado pelo World Wide Web Consortium. 19 O desenvolvimento de programas de webdesign, como o Dreamweaver, o Flash e o Fireworks da Macromedia trouxeram mais vitalidade à cena web da época. Ao valorizarem o uso de objetos de interação com coerência, esses programas de design gráfico se tornaram uma febre entre desenvolvedores e designers. Independentemente da utilização ou não de programas, a operacionalidade de uma interface também depende da experiência do designer, que deve contemplar o contexto, comercial ou não dos websites, nos quais elas estão inseridas, o conteúdo das informações nelas ofertadas e a comunidade a qual pretendem atingir. E para garantir dinamismo e visibilidade a um website, deverá levar em conta a Interação Humano-Computador (IHC). Interação humano-computador (IHC) A Interação humano-computador é uma disciplina que desperta cada vez mais o interesse de profissionais, como bibliotecários, programadores, designers, ergonomistas, jornalistas, psicólogos, entre outros que trabalham no desenvolvimento de interfaces e sistemas. Surgida no final da década de 1970 e início dos anos de 1980, representou uma aliança entre a Ciência da Computação e a Psicologia, agregando posteriormente a Ergonomia, tendo progredido concomitantemente ao aumento progressivo do número de usuários de computadores na web. Pela interdisciplinaridade de sua atuação, inúmeras são as definições encontradas na literatura que tentam abarcar todo o escopo de suas aplicações. Para Padovani (2002), “a Interação humano-computador é um campo de estudo interdisciplinar que tem como objetivo geral entender como as pessoas utilizam, ou não utilizam, a tecnologia da informação”. É um conjunto de métodos e 20 ações que observam como o homem interage com um sistema computadorizado, dedicando-se a implementar e avaliar o design de sistemas interativos e os fenômenos que dele fazem parte, como os atributos de usabilidade. Helander et al. (1997) salientam que o grande desafio da IHC é garantir a facilidade e a qualidade de uso em websites com diversas finalidades, uma vez que o desenvolvimento de aplicações em computador não pode ocorrer simplesmente por intuição ou tentativa e erro. Essa sistematização da IHC, segundo Winograd (2003), é o que garantirá a evolução da interação do ser-humano com o computador. De ferramentas de busca na web a processamento de palavras até a computação ubíqua, as possibilidades e mudanças tecnológicas derivam de caminhos onde o computador possa exercer uma função de enriquecer as formas de comunicação humana(WINOGRAD, 2003). Um modelo de sistema de interação humano-computador é composto pelo homem, pelo computador e pelos limites dos sistemas. A interseção visível entre homem e computador é representada pela interface, meio pelo qual um se comunica com o outro, sem, contudo, suprir o ambiente organizacional, o ambiente físico e o social, que também interferem nessa relação. Segundo Padovani (2002), um sistema de IHC se torna eficaz quando ocorre um revezamento no controle das tarefas realizadas, ora pelo usuário, ora pelo computador. Entretanto, para um sistema alcançar esse estado de excelência projetistas web e designers deverão ter a noção que o sistema não é uma unidade singular e sim uma unidade de um ambiente maior que engloba vários sistemas, subsistemas e usuários. Nesse contexto, Mayhew (1992) afirma que a criação de sistemas que envolvam 21 IHC deve privilegiar o conhecimento do macro sistema ao qual ele pertencerá, os objetivos da organização, do usuário e do trabalho que nele serão realizados. Panorama da IHC no Brasil Conforme demonstra Aquino (2004), as pesquisa em IHC no Brasil começaram na década de 1990. Inicialmente, congregando especialistas das áreas de Inteligência Artificial e Engenharia de Software das universidades e institutos de pesquisa brasileiros, foi, aos poucos, atraindo a atenção de profissionais de outras áreas como a Ciência da Informação e a Antropologia. Os primeiros a se estabelecerem como grupos de estudos em IHC foram o Laboratório de Pesquisa em Engenharia Semiótica da Pontifícia Universidade Católica, do Rio de Janeiro (PUC-RIO), também conhecido como SERG (Semiotic Engineering Research Group); a Comunidade de Interação Humano-Computador (COMUNIHC), da Universidade de Campinas (UNICAMP), em São Paulo e o LabIUtil, na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Em um curto espaço de tempo, a IHC no Brasil provou ser bastante expressiva. Em sete anos percorremos um caminho que iniciou com o I Workshop em Fatores Humanos em Sistemas Computacionais, em 1998 (IHC 98), como parte do Simpósio Brasileiro de Engenharia de Software, até a I Conferência LatinoAmericana de Interação HumanoComputador, em 2003 (CLIHC 2003). Ou seja, passamos de uma reunião de um subgrupo de uma comunidade para um evento em escala continental, onde 22 o Brasil tem a liderança. É um período bem curto de tempo para este tipo de evolução (SOUZA, 2004). A IHC também possui um vasto campo para a aplicação de pesquisas no Brasil, tal como tem sido demonstrado por iniciativas como o Programa Sociedade da Informação, que enfatiza aplicações de tecnologias de informação para solucionar problemas de inclusão digital. Tal desafio demanda profissionais capazes de compreender o perfil do usuário brasileiro na web, assim como diagnosticar problemas de interface mal adaptadas à nossa cultura. Para Souza (2004), é um equívoco pensar que podemos importar soluções de países mais adiantados. A Engenharia Eletrônica e a Ergonomia, por vocação, são as primeiras a entender este desafio e a promover geração de produtos e formação de profissionais em IHC. Mas, também precisamos de psicólogos, sociólogos, antropólogos, lingüistas, pesquisadores e educadores que se debrucem sobre o fenômeno de uso e apropriação de tecnologias de informação e comunicação pela sociedade e cultura brasileira. As pesquisas brasileiras em IHC têm alcançado boa visibilidade. O acesso instantâneo que a web fornece a projetos e pesquisas permite que a produção da literatura científica brasileira na área alcance bons resultados. A pesquisa em IHC no Brasil tende a focar cada vez mais na abordagem de pro23 jeto centrado no usuário, considerando a Usabilidade e a Engenharia Semiótica como fatores fundamentais para o desenvolvimento de sistemas e de interfaces. Isto implica conhecer não somente a tecnologia, mas, fundamentalmente, o uso contextualizado que o ser humano faz da tecnologia (SOUZA, 2004). A IHC ainda não tem um papel definido no mercado de trabalho, mas as organizações têm reconhecido sua importância quando o retorno financeiro dos projetos web encontra-se ameaçado. Por outro lado, a oferta de informação na web tornou-se abundante, sendo corriqueira a enorme sobrecarga de informação que o ser-humano lida no seu dia-a-dia. Essa sobrecarga de informação se traduz em grande desafio aos profissionais da IHC, que devem desenvolver sistemas de informação cada vez mais similares ao sistema humano de processamento de informações. Sistema humano de processamento de informações O sistema humano de processamento de informações é composto por modelos mentais da realidade em que o homem se insere e de modelos mentais da forma como ele age e pensa. Em IHC, são os modelos mentais que definem como um sistema de informação deverá funcionar. Para tal propósito, desenvolvem-se modelos conceituais de sistemas de informação que deverão simular os modelos mentais do ser-humano, já que não são observáveis. Nessas simulações, chamadas de modelos conceituais, revela-se o modo como o usuário interage com o sistema e percebe-se como a interface funciona. Podemos representar um modelo mental através de três tipos de modelos conceituais: 24 Modelo conceitual do sistema: baseado nas experiências anteriores dos usuários do sistema; Modelo conceitual do projeto: concebido pelo designer ou projetista que tem em mente o que o usuário pensa quando realiza tarefas no sistema; Modelo conceitual da imagem do sistema: descreve como o sistema espera que o usuário aja na realização de tarefas Pelo fato dos modelos mentais variarem consideravelmente de um ser humano para outro, os modelos conceituais são constantemente considerados incompletos e ineficazes. Em função disso, para se obter bons resultados com modelos conceituais, torna-se necessário um estudo aprofundado dos elementos de um sistema humano de processamento de informações: percepção, atenção, memória, raciocínio e aprendizado. Percepção A percepção pode ser definida como o processo decodificador de estímulos, no qual o homem processa as informações adquiridas em seu meio ambiente. Está relacionada ao significado que os órgãos perceptivos atribuem às sensações vividas. Em termos gerais, pode ser descrita “como o modo segundo o indivíduo constrói em si a representação e o conhecimento que possui das coisas, pessoas e situações, ainda que, por vezes, seja induzido em erro” (SERRANO, 2002). A percepção tem início com a captação de um estímulo, que é enviado ao cérebro, através dos órgãos perceptivos. Esse processo se decompõe em duas fases distintas: a sensação, mecanismo fisiológico, no qual os órgãos sensoriais registram e transmitem os estímulos externos e a interpretação, que permite organizar e dar um significado aos estímulos recebidos. Com base na experiência de Gagnè (1962), Cybis (2003), distingue três funções perceptivas na operação de uma máquina 25 ou dispositivo técnico: função de detecção, por meio da qual, após a constatação de um sinal, o homem confronta as informações contidas neste sinal com as informações armazenadas em sua memória, objetivando encontrar uma resposta ou solução; função de identificação, quando as informações obtidas no sinal são dispostas em categorias; e a função de interpretação, que diz respeito ao tratamento das informações adquiridas. As funções perceptivas descritas por Gagné (1962) possuem uma relação de dependência: a função de identificação de um sinal depende de sua detecção e a função de interpretação depende da detecção e identificação, respectivamente. Essas funções são observadas nos seres-humanos, com intensidades diferentes, de acordo com os seguintes sistemas perceptivos: percepção visual, percepção auditiva e percepção da fala. A percepção visual compreende a forma como estruturamos os elementos de uma imagem em nosso cérebro, a partir do ponto de vista do olho humano. Partindo dessa premissa, a Psicologia da Forma ou Gestalt demonstrou como o cérebro humano desmembra e organiza imagens para entender os significados nelas contidos. Esse processo se realiza através dos seguintes componentes: Similaridade: elemento que nos propicia entender como objetos semelhantes tendem a se agrupar em nossa mente; Proximidade: o cérebro agrupa os elementos de uma imagem de acordo com a distância em que se encontram uns dos outros, sendo que elementos diferentes, agrupados proximamente, tendem a ser percebidos como um grupo, mais do que os elementos similares que estão distantes na imagem; Continuidade: relacionada ao alinhamento dos elementos de uma imagem. Quanto mais harmônico o alinhamento dos elementos da imagem, maior será a compreensão dos 26 objetivos da imagem; Pregnância: quanto mais simples os elementos que compõem as imagens, menor será a necessidade de explicação destas; Clausura: relacionada à continuidade da imagem. Ocorre geralmente quando o desenho do elemento sugere alguma extensão lógica; Experiência passada: critério vital para a compreensão da forma, pois se conhecemos a imagem, não será problema reproduzi-la em sua completude. Esses componentes são válidos para qualquer tipo de imagem, pois imagens transmitem um número infinito de informações, dependendo exclusivamente da ordem e da intensidade que os componentes são configurados. Por conseguinte, a percepção visual é o que propicia ao cérebro decodificar uma imagem inserida em uma interface com o usuário. A percepção auditiva se refere à forma como recebemos e interpretamos o som. Envolve a recepção e a interpretação de estímulos sonoros, processo pelo qual o homem decodifica os sinais envolvidos nesse processo, transformando-o em informação. Dizemos que a informação sonora é útil quando não há um déficit na compreensão da informação através da audição. O nosso sistema auditivo recebe as informações de fontes sonoras de forma seletiva e representa as imagens auditivas em processos paralelos e seqüenciais. Nos processos paralelos, os eventos sonoros são organizados de acordo com sua amplitude, freqüência, forma espectral e posição. Nos processos seqüenciais, os eventos acústicos ocorrem na forma de fluxos, que apresentam uma continuidade determinada pela freqüência, cadência e intensidade das informações. A percepção da fala é determinada por meio de neurosensores, que extraem e armazenam informações em uma memória de curta duração, onde se realiza a análise da acústica relativa 27 à fonética de uma linguagem. Esse processo se realiza em dois estágios: em nível lexical ocorre a identificação de palavras e em nível sintático ocorre “a integração das informações lexicais e sintáticas com a interpretação em nível semântico” (CYBIS, 2003). Durante a percepção da fala, os ouvintes extraem as freqüências dos sinais falados, utilizando um processo de normalização do trato vocal, no qual, inconscientemente, estimam o padrão da voz do falante e, logo após, atribuem um padrão particular que emana um som na mesma freqüência do falante. Para Lieberman (1995, p. 134), a alta taxa de transmissão da fala é obtida pela geração de padrões heterogêneos de freqüência formante e de rápidas disposições temporais e espectrais através da singular passagem de ar supralaringeal (PAS) humana e seus mecanismos de controle. Dessa maneira, os ouvidos humanos identificam os sons, porque inconscientemente normalizam o que escutam, levando em consideração o comprimento provável do trato vocal supralaringeal do falante. Por conseguinte, a percepção da fala fornece uma vantagem seletiva para as pessoas que são capazes de produzi-la. Atenção Denomina-se atenção, “um fenômeno consciente de tensão, de esforço, de concentração, de interesse sobre alguns aspectos da realidade” (BALLONE, 1999). É através dela que ocorre a exibição ou inibição de determinados conteúdos considerados pertinentes e a organização de determinadas informações no sistema humano de processamento de informações. Para Stern (1935), “a atenção é a condição imediata para a produção de uma realização pessoal e suas características consistem num esclarecimento consciente, na concentração de uma força psíquica disponível para o esclarecimento da realidade”. Tanto a percepção visual quanto a percepção auditiva e a percepção da fala podem ser ativadas para produzir atenção sobre 28 determinada situação. Esse condicionamento da percepção humana gera uma espera proposital do cérebro humano, de maneira a analisar a importância de determinada informação que está sendo absorvida. Ao procurar determinada informação na Internet em um mecanismo de busca, por exemplo, analisamos, de modo geral, cada documento recuperado antes de decidirmos quais servem ao nosso propósito. Trata-se da espera pré-perceptiva, que em determinados casos dá origem a um estado de surpresa. A atenção pode ser classificada em três categorias: Atenção motora: caracterizada pela tensão estática dos músculos e pela hipervigilância da consciência, por exemplo, quando nos inclinamos para pegar determinado objeto; Atenção intelectual: ato de reflexão e racionalização de qualquer problema, conscientemente definido. Exemplo: a realização de uma prova, o estudo de uma disciplina etc.; Atenção afetiva ou sensorial: relativa ao estado de ânimo e interesse sobre determinado objetivo. Exemplo: a predileção que temos por determinadas atividades etc. Ao estudar a atenção no campo da IHC, considera-se relevante a compreensão dos objetos contidos na interface que auxiliam os usuários, pois durante a realização de uma tarefa, a atenção pode estar distribuída de várias maneiras: o usuário pode estar concentrado num único ícone, ao julgar que o hiperlink contido nele o levará à solução da tarefa, dando pouca atenção aos outros recursos disponíveis na interface; pode estar prolixamente dispersa em outros assuntos que não tenham a ver com a realização da tarefa, e muito menos com os mecanismos da interface; ou pode estar completamente integrada como todos os objetos contidos na interface, de forma a permitir a realização da tarefa rapidamente. 29 Quanto maior a divisão da atenção, menor será a sua amplitude. Por conseguinte, quando algumas partes da interface são organizadas em todos maiores (exemplo: poucos hiperlinks que conduzem a uma gama considerável de assuntos), a atenção necessária para o seu uso será menor do que uma interface muito detalhada (exemplo: excesso de hiperlinks que conduzem a um número pequeno de informações). Durante a realização de qualquer tarefa, a atenção pode ser voluntária ou involuntária. A voluntária diz respeito à liberdade de escolha sobre em que e como prestar atenção. A involuntária refere-se aos casos em que o usuário é obrigado a atentar para determinada situação, como a solução de um problema que faz parte do seu cotidiano de trabalho ou estudo. Alguns determinantes da atenção involuntária estão relacionados aos sentimentos despendidos para o objeto, como é o caso da supressão de uma necessidade de informação. Outros determinantes da atenção involuntária, de acordo com Ballone (1999), foram muito estudados por técnicas de propaganda. Esses fatores determinantes do estimulo à atenção (a intensidade, a repetição, o isolamento, movimento e mudança, novidade e incongruência), aliados à totalidade da apreensão da percepção, representam a soma de todos os elementos isolados captados pelos órgãos sensoriais e podem ser aplicados no estudo de avaliação de usabilidade de interfaces. Bleuler (1950), em trabalho sobre esquizofrenia e demência precoce, destacou duas qualidades na atenção: a tenacidade e a vigilância. A tenacidade é a propriedade que possibilita manter a orientação da atenção em um único sentido. A vigilância é a propriedade que permite o desvio de atenção para um novo foco, um estímulo do meio exterior que subitamente aparece no caminho do usuário. Para Ballone (1999), essas duas qualidades da atenção se comportam de maneira antagônica. “Quanto mais tenacidade sobre um determinado objeto está se dedicando, menos vigilante estamos em relação à eventuais 30 estímulos a serem apreendidos” (BALLONE, 1999). Quando esse antagonismo prevalece, é impossível o estabelecimento de uma unidade em termos de atenção. Na IHC, essa situação pode ser exemplificada da seguinte forma: uma interface que apresenta objetos contraditórios, como, por exemplo, hiperlinks mal elaborados, que não atendem às necessidades dos usuários, acabam por transmitir informações irrelevantes, impedindo que o usuário acesse os conteúdos que são do seu interesse. Nesse caso, o usuário se encontra em uma situação insustentável, não podendo tomar nenhuma atitude independente, pois ele é apenas um elemento que, de modo geral, não participa das decisões sobre a interface, mas é a vítima dos erros encontrados na sua interação com o computador. O fato de não saber, temporariamente, o que fazer, gera cisão da atenção e expectativas contraditórias quanto à solução de problemas, que podem impedir a realização da tarefa. Memória Define-se memória como um conjunto de fenômenos que determinam o armazenamento seletivo da informação, após certo período de absorção da informação pelo cérebro. Mesmo desconhecendo a forma como esse processo é desencadeado, a memória está relacionada ao desenvolvimento de nossas habilidades intelectuais, mantendo conexões com a sensibilidade do ser humano e o estoque de informações por ele armazenado. A memória humana se desenvolve por intermédio dos seguintes processos: Reconhecimento: aptidão que o homem possui para acionar através da sua percepção informações memorizadas anteriormente, como por exemplo, reconhecer na interface, um determinado elemento gráfico responsável pela realização de uma ação; Reconstrução: capacidade que o ser humano tem 31 de reorganizar as informações memorizadas, como reconstruir um texto sem clareza e coerência; Lembrança: modo como o homem recupera, integralmente, uma situação vivida sem a presença de nenhum dos elementos necessários, como por exemplo, relembrar uma pessoa já falecida. Embora o atual estágio de evolução da ciência não permita compreender os gastos fisiológicos relativos aos processos de memorização, é sabido que fatores como o número de informações armazenadas e tratadas, a semelhança entre as informações, a velocidade de aprendizado das informações e os prazos para elaboração de respostas motoras em relação à percepção das informações influenciam a lógica dessas operações, pois o armazenamento e a recuperação das informações se realizam a partir de atividades neuro-fisiológicas e cognitivas. Na literatura sobre memória, encontram-se diversas tipologias que abrangem da neuro-fisiologia do cérebro à questões semânticas do armazenamento da informação. No modelo cognitivo de memória, diferem-se três tipos de sistemas de armazenamento de informações: o registro sensorial de informações (RS), a memória de curta duração (MCD) e a memória de longa duração (MLD). Segundo Cybis (2003), “a informação que é liberada pelo sistema perceptivo, é armazenada em um registro sensorial de capacidade limitada e altamente volátil”. Esse registro se conserva por apenas alguns décimos de segundo, sem possibilidade de armazenamento. O material relevante desse registro é enviado à memória de curta duração. Para Zilse (2004, p. 43), a memória de curta duração “é aquela que se refere às lembranças imediatas de acontecimentos instantâneos que ocorreram há alguns minutos ou há uma ou duas horas”. No processamento da memória de curta duração, a informação recebida deixa uma pista que continua a circular com 32 um estímulo dentro de uma rede de neurônios e “através de um feedback, pode ser recuperada na esfera da consciência a qualquer momento, num prazo de algumas horas” (GRANDJEAN, 1998 citado por ZILSE, 2004, p. 44). Sob uma nova perspectiva, pode-se comparar a memória com o processador central de um computador - a memória RAM, pois armazena informações advindas de fontes diversas e sua capacidade torna-se reduzida rapidamente. Por esse motivo, a memória de curta duração é considerada degradável. A memória de longa duração pode ser definida como a biblioteca interior do ser humano. Como a ciência ainda não conseguiu definir o limite de armazenamento da memória humana, supõe-se que esta capacidade seja infinita, pois não está sujeita a limitações de ordem temporal. Deve-se ressaltar que falhas na memória (esquecimento) “parecem ser mais um problema de resgate do que já está armazenado, do que registro de memória” (ZILSE, 2004, p. 44). Por isso, “os projetistas de sistemas de IHC devem investir na organização, categorização, diferenciação e discriminação das informações apresentadas sobre estas interfaces” (CYBIS, 2003). Analogamente, podemos considerar a memória de longa duração como uma imensa rede de bases de dados com links de acesso à informação. Conforme nos tornamos mais conhecedores de determinado conteúdo, maior a facilidade de conexão a conteúdos similares. Isso demonstra que a memória de longa duração atua nos dois subsistemas de memórias que se interrelacionam: a memória episódica e a memória semântica. “A memória episódica é o conjunto de informações que representa um sentimento ligado a uma imagem no espaço e no tempo, como por exemplo, a lembrança do primeiro beijo, vitórias esportivas pessoais e outros” (LARA, 2004). Quando se diz que estamos desmemoriados, significa que estamos perdendo algumas memórias episódicas, pela razão de não considerarmos memórias fatos corriqueiros do dia-a-dia, como se conectar a 33 Internet. Entretanto, a formação e o detalhamento da memória episódica “requer muita interatividade entre todas as memórias anteriores e recebe influência do estado emocional, sendo tão mais perfeita e detalhada quanto mais emocionante o evento tenha sido” (LARA, 2004). “A memória semântica armazena conhecimentos declarativos organizados, segundo redes de proposições conceituais” (CYBIS, 2003). O acesso a uma enorme variedade de informações que a memória semântica permite independe do contexto em que o homem se encontra em determinado momento e ocorre pela ativação de um dos pontos dessa rede a pontos vizinhos que armazenam informações semelhantes. De maneira antagônica, Cybis (2003) observa que entre a memória de curta duração e a memória de longa duração existe a memória de trabalho, que funciona como um centro de tratamento de informação, baseado na audição e na visão “com capacidade, volatilidade, e acessibilidade diferentes, variando para tipos de indivíduos”. Para muitos indivíduos, “a memória de trabalho visual é maior e menos volátil, ao contrário da memória de trabalho sonora, mais volátil e com menor capacidade”. A partir da memória de trabalho a informação é armazenada perpetuamente na memória de longa duração. Raciocínio O raciocínio é definido como uma atividade mental que desencadeia a concepção de novas informações, a partir de argumentos pré-existentes. Essa atividade busca atingir coerência entre diversas informações armazenadas, que culminam no aparecimento de novas deduções e inferências, estimulando a inteligência humana a produzir resultados eficazes ou ineficazes. Pode ser compreendido também como uma aplicação das informações contidas na memória, que pode ser determinada a partir da lógica formal (quando o ser34 humano possui um extenso conhecimento sobre a informação) ou a partir de regras heurísticas (quando o conhecimento sobre a informação é pequeno). O raciocínio é dedutivo, quando a partir de uma ou mais preposições verdadeiras se chega a uma conclusão seguramente verdadeira. “Raciocínios dedutivos começam com afirmações e descobrem novos fatos pela examinação lógica do relacionamento entre as propriedades que as afirmativas descrevem” (ZILSE, 2004, p. 71). Em IHC, o raciocínio dedutivo é realizado por programas que correspondem a procedimentos pré-determinados. O raciocínio indutivo ocorre, quando a partir de informações verossímeis, chega-se a resultados generalizados, nem sempre verdadeiros, baseando-se em informações armazenadas na memória para compreender uma situação singular, desconhecida, que estabelece uma relação de parentesco entre duas informações distintas. Em IHC, os desenvolvedores partem do princípio que os seres humanos têm dificuldades no raciocínio indutivo, atingindo melhores resultados em analogias e deduções (CYBIS, 2003). Independentemente de o raciocínio ser dedutivo ou indutivo, o ser humano comete erros, porque sempre procura encontrar uma informação verdadeira. A busca pela certeza absoluta nos faz ignorar evidências contraditórias, fazendo com que ao observarmos com menos precisão as associações negativas advindas com o pensamento, surjam problemas. Suttcliffe (1995) determinou um modelo de raciocínio para a solução de problemas composto de quatro etapas, a saber: Formulação: definição das informações necessárias à solução de problemas; Desenvolvimento: soluções prévias são testadas e rejeitadas, de modo a determinar as hipóteses que mais se adequam à solução de problemas; 35 Implementação: a solução correta para os problemas são aplicadas; Verificação: avaliação da solução correta de modo a conferir se esta alcançou os resultados esperados foram alcançados. Ao observar as etapas de raciocínio para a solução de problemas de Suttcliffe (1995), conclui-se que o uso de estratégias originais de raciocínio, como a visualização espacial e matemática de informações, propicia um ambiente para a solução de problemas, no qual a correta manipulação de resultados, positivos ou negativos, corroborará para a maximização das tarefas realizadas pelo homem. Isso porque quanto menos necessitar raciocinar sobre atividades corriqueiras, mais facilmente o homem utilizará todas as funcionalidades disponíveis em um tipo de sistema, como os sistemas de informação, por exemplo. Aprendizado O aprendizado define o nível de competência do ser humano sobre determinado conteúdo e ocorre pelo acúmulo de conhecimento e supressão de suposições falsas e inoportunas. Constitui um processo freqüente que, “engloba uma grande variedade de fenômenos, desde a simples memorização até o complexo aprendizado de regras para aquisição de habilidades mentais e motoras” (MAYHEW, 1999). O aprendizado é o meio pelo qual uma informação se relaciona à estrutura cognitiva do ser humano. Nesse contexto, serve como suporte para que o indivíduo atribua significado a idéias e conceitos relevantes já aprendidos, que passam a estar disponíveis para auxiliar na absorção de novas informações. A experiência cognitiva no aprendizado não está restrita à influência das idéias e conceitos relevantes, 36 abrangendo também mudanças significativas na interação entre informações já assimiladas e informações novas. Essa assimilação possibilita mudança na estrutura cognitiva do ser humano, servindo de base para a incorporação de novas informações, que servirão de base para a aquisição de mais informações e assim sucessivamente. Para aprender algo, o ser humano constrói modelos de similaridade com base nas suas experiências armazenadas na memória. Durante o aprendizado, buscam-se na memória situações ou fatos semelhantes ao que se quer aprender, que possam oferecer alguma sustentação intelectual. Caso seja impossível resgatá-los, cabe ao indivíduo construir uma representação do fato através do raciocínio e assim alcançar o resultado que deseja. 37 38 Parte 2 Avaliação de usabilidade de websites Conhecendo e aplicando os métodos e técnicas de avaliação de usabilidade Os métodos e técnicas de avaliação de usabilidade permitem determinar o ponto de equilíbrio entre os objetivos de um website e as necessidades dos usuários, através da identificação de problemas de usabilidade. Podem ser aplicados num período de tempo relativamente pequeno, a um custo baixo, possibilitando resultados satisfatórios, desde que adequados ao contexto de uso. Por ser grande a variedade de métodos e técnicas existentes, que podem ser aplicados nas pesquisas de usabilidade, a terminologia nesse assunto não é padronizada, podendo ocorrer problemas de interpretação relativos à aplicação desses métodos. Isso exige um estudo acurado das vantagens e desvantagens de cada método ou técnica para avaliar a possibilidade da sua aplicação em cada tipo de pesquisa de usabilidade que se pretenda desenvolver. O quadro 1 demonstra a diversidade terminológica dos métodos e técnicas utilizados em pesquisas de usabilidade. 39 Quadro 1 - terminologia adotada na área de usabilidade relativa aos métodos e técnicas de avaliação Dias (2001) Cybis(2003) Nascimento (2006) Avaliação heurística Avaliação heurística Critérios heurísticos Métodos de testes com usuários Técnicas prospectivas de avaliação de Usabilidade Métodos prospectivos de avaliação de usabilidade Inspeção baseada em guia de recomendações e guias de estilo Inspeção ergonômica via checklist Inspeção ergonômica com lista de verificação, guia de recomendações e critérios heurísticos Método de medida de desempenho Sistemas de monitoramento Análise da tarefa Testes empíricos de usabilidade Ensaios de interação Ensaios de interação Fonte: Nascimento (2006) Pelo caráter exploratório das pesquisas sobre usabilidade, a verificação desses problemas assume um caráter exploratório. Portanto, a adoção da abordagem de estudo de caso permite que sejam estudadas questões referentes à usabilidade, considerando os contextos organizacionais específicos onde ocorrem os fenômenos em estudo. 40 Embora seja considerado por Bressan (2002) como abordagem insuficiente em relação à precisão e objetividade e na opinião de Goode & Hatt (1969) apenas um tipo de análise quantitativa, o estudo de caso mostra-se vantajoso em avaliações de usabilidade, por permitir a aplicação de métodos e técnicas heterogêneas, ter capacidade para “lidar com uma complexa variedade de evidências” (YIN, 1989, p. 19) e por possibilitar que comportamentos relevantes não sejam manipulados durante a pesquisa. Definido o website a ser avaliado, será necessário estudálo, sob a ótica de gestores, desenvolvedores e usuários. Por isso, combine métodos objetivos e subjetivos, que possibilitem a obtenção de dados quantitativos e qualitativos (heterogêneos). O meio mais fácil para alcançar esse resultado é realizar um levantamento bibliográfico que identifique quais métodos e técnicas de avaliações de usabilidade estão sendo utilizados em contextos similares ao do seu website, pois de posse dos resultados de pesquisas anteriores, ficará mais fácil identificar quais métodos e técnicas servem ao seu propósito. Por exemplo, se o website trata de temas relacionados à saúde, será necessário verificar quais métodos e técnicas de avaliação de usabilidade estão sendo empregados nessa área. Outra vantagem do levantamento bibliográfico está em possibilitar o conhecimento de novas metodologias, agregando valores e criatividade ao seu relatório de usabilidade. O levantamento bibliográfico também pode identificar através do período de cobertura, quais tipos de websites estão sendo mais avaliados. De posse dos resultados do levantamento bibliográfico, caberá ao avaliador, verificar se há necessidade de testar a confiabilidade dos métodos e técnicas em universo semelhante ao do seu website. Se for uma avaliação mais prolongada, o teste de confiabilidade garantirá uma boa possibilidade de acerto na escolha dos métodos e técnicas. Por outro lado, se houver necessidade de realizar uma avaliação em um curto período de 41 tempo, existem excelentes medidas de confiabilidade já testadas por outros engenheiros de usabilidade, como Dias (2001). Após verificação minuciosa dos métodos e técnicas que estão sendo aplicados em contextos similares, desenvolva um primeiro modelo adequado ao seu universo, lembrando sempre que os melhores resultados são provenientes da união de métodos quantitativos e qualitativos. Caso não haja um equilíbrio entre os métodos e técnicas, teste o seu modelo novamente, até adequá-lo aos seus propósitos. Os métodos e técnicas podem ser trabalhados sob três óticas distintas: a visão dos gestores, a dos desenvolvedores e a dos usuários. Todas convergem para um único objetivo: identificar problemas de usabilidade. Se a intenção for trabalhar a usabilidade apenas sob a visão dos gestores, concentre-se na metodologia análise do contexto de uso e nas técnicas observação, análise documental e entrevista semi-estruturada. Caso seja desenvolvedor e o seu objetivo for verificar quesitos de interface e leiaute, concentre-se na inspeção ergonômica por meio de lista de verificação, guia de recomendações e critérios heurísticos. Ou se for medir o grau de usabilidade do website em relação aos usuários, nas técnicas análise da tarefa e card sorting. Todavia, ressaltamos que a proposta metodológica de integrar os pontos de vista de gestores, desenvolvedores e usuários, não impede a inserção de outras técnicas à avaliação de usabilidade a ser realizada. Entretanto, se você possui pouca ou nenhuma experiência com avaliações de usabilidade, o melhor a fazer é seguir o passo-a-passo de elaboração da avaliação que são propostos, já que os métodos e técnicas são descritos de forma prática, permitindo sua aplicação, desde que adaptados, ao contexto do website. Para o melhor aproveitamento da avaliação a ser realizada, recomenda-se recorrer, sempre que necessário, aos modelos dos instrumentos de coleta de dados, que deverão ser estudados intensivamente. 42 Verificando a usabilidade de websites com gestores Análise do contexto de uso Mesmo sendo considerada por alguns autores (CYBIS, 2003; DIAS, 2001) como apenas uma etapa que precede a avaliação de usabilidade, a análise do contexto de uso não proporciona somente às gerências recursos oportunos e eficazes para a tomada de decisões, mas também o aprimoramento das interfaces, incrementando a qualidade e a produtividade de serviços virtuais e a aquisição de conhecimento sobre o usuário e sua relação com as tecnologias da informação. Realizar análises de contexto de uso requer perseverança do avaliador, já que trabalhará com três técnicas de coleta de dados: análise documental, observação do website e entrevista semi-estruturada. A análise documental identificará dados sobre a história da instituição, sua missão e, principalmente, as diretrizes e o planejamento do website. Como também se constitui em indispensável referência para a atualização de websites, alguns passos devem ser seguidos para garantir farta coleta de dados na sua aplicação: Obtenha a autorização da direção do website ou da instituição a qual pertence, para a análise de documentos, inclusive os oficiais; Selecione a amostra de documentos a ser analisada, que deve ser aumentada ou diminuída em função do tempo da avaliação; 43 Classifique os documentos em: primários – documentos oficiais (ex.: memorandos, ofícios etc.) ou secundários, que expressam opiniões, estando sujeito a vieses interpretativos (ex.: e-mails, notícias e artigos). A segunda técnica a ser aplicada é a observação do website, através de um checklist a ser preenchido pelo avaliador, que registrará, entre outros quesitos, suas especificações técnicas, seus produtos e serviços e requisitos de segurança. A observação, apesar de simples, requer atenção do avaliador, que também navegará nas páginas do website para verificar sua estrutura de navegação e a organização da informação. Para analisar a concepção, desenvolvimento ou atualização do website, sob a perspectiva dos seus gestores, a entrevista semiestruturada é uma técnica indicada para avaliações de usabilidade por partir de “certos questionamentos básicos, apoiada em teorias e hipóteses que interessam à pesquisa, e que, em seguida, oferecem amplo campo de prerrogativas, fruto de novas hipóteses que vão surgindo a medida que se revelem as respostas dos informantes”(TRIVINOS, 1990, p. 146). Para obter sucesso na realização de uma entrevista semiestruturada, durante uma avaliação de usabilidade: Conceba o roteiro da entrevista à luz dos resultados obtidos na observação e na análise documental; Agrupe as perguntas do roteiro da entrevista em eixos temáticos, para evitar que determinados questionamentos não sejam abordados; Tente garantir que, durante a entrevista, nenhuma pergunta fique sem respostas; Crie um esquema de interpretação das respostas, sistematizando as informações fornecidas pelos entrevistados; Evite perguntas cujas respostas resvalem apenas no sim e no não; 44 Valide sempre o roteiro da entrevista com gestores de um website similar ao que você avaliará; Entreviste sempre os colaboradores ativos do website; Contate os entrevistados com antecedência, explicandolhes o(s) motivo(s) da avaliação, estimulando-lhes sobre os possíveis resultados que possam ser obtidos; Durante as entrevistas, verbalize estimuladamente para obter várias opiniões; e Verifique sempre se os dispositivos de gravação estão devidamente conectados de modo a dirimir possíveis perda de dados. De posse dos resultados das entrevistas, o próximo desafio será interpretá-los. Nas Ciências Sociais existem vários métodos para a análise de entrevistas, mas no universo da usabilidade, a técnica que tem se mostrado mais profícua é a condensação, que permite a transcrição das entrevistas em sua forma literal e, logo após, a edição para eliminação de respostas sem relevância para o contexto da avaliação. Assim, garante-se que o corpus das opiniões seja resguardado, tornando fácil verificá-los, de acordo com os eixos temáticos previamente estabelecidos. Ao unir os dados obtidos durante a análise do contexto de uso através das técnicas análise documental, entrevista semiestruturada e observação, você terá uma visão macro do website, ao conhecer melhor e mais detalhadamente o contexto em que o website se insere. Isto o capacitará a identificar possíveis problemas de usabilidade que possam ter ocorrido na versão inicial do sistema. Se a sua avaliação for realizada somente com gestores, você terá um relatório consistente embasado na evolução do website. Mas lembre-se que verificar questões de usabilidade, limitando-se apenas a perspectiva dos gestores é apenas um passo de uma avaliação mais intensiva. Ao final dessa etapa, você notará que o trabalho está apenas no começo! 45 Verificando a usabilidade de websites com desenvolvedores Inspeção ergonômica Para trabalhar a usabilidade sob o ponto de vista de desenvolvedores normalmente trabalha-se com a inspeção ergonômica por meio de listas de verificação, guia de recomendações e critérios heurísticos. Procedemos à explicação detalhada de cada uma dessas técnicas. Lista de verificação, guia de recomendações e critérios heurísticos A lista de verificação e o guia de recomendações são técnicas que permitem diagnosticar problemas gerais da interface por especialistas em usabilidade, através da análise da conformidade dos objetos de interação. Por meio de uma grade de análise ou lista de questões, os inspetores respondem sobre a ergonomia do projeto, gerando resultados que proporcionam vantagens em termos de rapidez de aprendizagem e facilidade de uso aos usuários. Alguns autores fazem distinção entre guias de recomendação e listas de verificação (CYBIS, 2003; DIAS, 2001; HOM, 1996; MELCHIOR et al., 1996). Entretanto, a inspeção ergonômica por meio de listas de verificação, guia de recomendações e critérios heurísticos é um método que se constitui da aplicação conjunta dessas técnicas. A inspeção é o método e a lista de verificação, o guia de recomendações e os 46 critérios heurísticos são os instrumentos utilizados para viabilizar a coleta de dados. Algumas vantagens deste método são: Sistematização da avaliação, garantindo resultados mais estáveis, mesmo quando aplicado separadamente por diferentes avaliadores; Facilidade na identificação de problemas de usabilidade, devido à especificidade das questões e heurísticas; Aumento da eficácia da avaliação, devido à redução da subjetividade normalmente associada a outros processos de avaliação; Uma desvantagem segundo Bevan & Macleod (1994) citado por Dias (2001, p. 53) diz respeito às modificações que uma interface pode sofrer após a aplicação desse método, pois do ponto de vista de outras listas de verificação e guias de recomendações, as alterações realizadas podem gerar novos problemas para a interface. Um exemplo do método de inspeção baseado em lista de verificação, guia de recomendações e critérios heurísticos ão é o Ergo List, desenvolvido pelo Laboratório de Utilizabilidade da Universidade Federal de Santa Catarina. O Ergo List tem sua lista de verificação desenvolvida a partir das recomendações expressas nos “critérios ergonômicos para a avaliação de interfaces homem computador”, elaborados em 1993, pelos pesquisadores Bastien & Scapin do Instituto Nacional de Pesquisa em Informática e Automação da França. O estudo foi precursor na área, contribuindo para aperfeiçoar o diagnóstico da interface e sua padronização. Para Cybis et al. (1999), a adoção ou adaptação dos critérios ergonômicos de Bastien & Scapin ajuda a conceber não só sistemas adequados às reais necessidades dos usuários, como também testar a usabilidade do sistema que foi desenvolvido. 47 Os oito critérios ergonômicos de Bastien & Scapin (1993) podem aprimorar o conhecimento sobre o método de inspeção baseado em listas de verificação, guia de recomendações e critérios heurísticos. Os critérios ergonômicos são: 1º) Condução: critério que possibilita ao usuário se localizar durante a execução de uma tarefa, podendo ser avaliado pela presteza e feedback imediato. 2º) Carga de trabalho: critério que impacta diretamente na dinâmica do trabalho, pois quanto menor for a carga de trabalho cognitiva do usuário menor será a probabilidade de cometer erros durante a realização de uma tarefa. 3º) Controle explícito: critério que avalia qual o nível de controle que o usuário tem sobre o sistema, como se processa a relação existente entre o processamento de dados pela máquina e as ações dos usuários necessárias a esse processamento. 4º) Adaptabilidade: critério que analisa a adaptação de um sistema ao ambiente no qual se realizam tarefas. Um sistema é flexível quando proporciona ao usuário diferentes procedimentos e opções de executar uma tarefa. 5º) Gestão de erros: tem por objetivo a análise de todos os mecanismos do sistema que evitam, previnem e corrigem erros como entrada de dados incompletos e entrada de comandos inadequados. 6º) Coerência: é a relação harmônica entre os elementos de uma interface. Esse nexo entre os elementos deve ser conservado em todas as telas do sistema, proporcionando excelente identificação visual para o usuário. 7º) Significado dos códigos e das denominações: é a relação entre a informação solicitada ou apresentada e a sua menção. 8º) Compatibilidade: refere-se ao acordo que possa existir entre as características do usuário (memória, percepção, hábitos etc.) e das tarefas, de uma parte, e a organização das saídas, das entradas e do diálogo de uma dada aplicação, de outra. 48 Os critérios heurísticos, associados à lista de verificação e o guia de recomendações, possibilitam a análise dos objetos de interação de um sistema em qualquer fase do seu estágio de desenvolvimento. Para a aplicação dos critérios, Nielsen (2003) sugere a participação de três a cinco especialistas em usabilidade. Entretanto, Dias (2001, p. 54) observa que para a definição do número de avaliadores é necessário “realizar tanto a análise de contexto de uso do sistema quanto à análise do custo benefício”. Embora Nielsen (1993) ressalte que a adoção de critérios heurísticos é mais eficaz quando realizada por especialistas em usabilidade, o autor afirma que pessoas com ou sem nenhuma experiência podem tirar proveito de suas funcionalidades. Elaboração e aplicação da lista de verificação, guia de recomendações e critérios heurísticos Após conhecer um pouco mais das três técnicas, é preciso saber como elaborar os instrumentos de coleta de dados da lista de verificação, do guia de recomendações e dos critérios heurísticos. O guia de recomendações é uma lista explicativa dos itens a serem observados pelo avaliador, que constam da lista de verificação. Ela serve para orientar sobre o que significa cada item no contexto do website em avaliação. O processo de elaboração da lista de verificação e guia de recomendações é concomitante, pois ambos englobam requisitos que devem ser divididos em grupos. A divisão clássica da engenharia de usabilidade contempla quatro grandes áreas do webdesign: design da página, design do conteúdo, design do website e acessibilidade e flexibilidade de uso para usuários de websites. A partir do momento em que o engenheiro de usabilidade concebe as divisões principais de uma avaliação ergonômica, começa o trabalho de planejamento dos quesitos da lista 49 de verificação e do guia de recomendações. Para isso, tente desenvolver listas de verificação e guias de recomendações de acordo com as especificidades do contexto do website a ser analisado. São úteis como referência os trabalhos de Nielsen (2000), os critérios ergonômicos de Bastien & Scapin (1993), a Ergo List do Laboratório de Utilizabilidade da Universidade Federal de Santa Catarina, o guia de estilos para serviços de informação via web de Parizotto (1997) e o índice de usabilidade de sites web, desenvolvido por Dias (2001). Ao final da composição da lista de verificação, verifique se todos os quesitos possuem equivalência com o guia de recomendações. Por exemplo: se a pergunta na lista de verificação é sobre cores, o especialista que participar da metodologia terá condições de verificar sua conformidade com a descrição para a mesma pergunta no guia de recomendações. Ao final, você poderá proceder a ajustes no seu instrumento mais facilmente. Para a definição dos critérios heurísticos caberá ao engenheiro de usabilidade predeterminar quais parâmetros deverão ser verificados na avaliação, como por exemplo, a organização visual e estética da página e a orientação ao usuário. Durante o planejamento dos critérios heurísticos, o engenheiro de usabilidade poderá criar novos parâmetros. Entretanto, se o prazo da avaliação for pequeno, o melhor é adaptar as heurísticas de usabilidade para a web de Nielsen (1994) ou as heurísticas para avaliação de portais corporativos desenvolvidas por Dias (2001). Após a elaboração dos instrumentos, desenvolva questionários demográficos sobre os participantes e manuais de preenchimento sobre as avaliações. Dessa maneira, o especialista ficará a vontade para analisar melhor o website e você terá mais dados para garantir a confiabilidade da avaliação. Identifique também especialistas em usabilidade para participar da avaliação ergonômica e da avaliação heurística, de acordo com os seguintes critérios: familiaridade com os métodos e técnicas utilizados e experiência com interação homem-computador e 50 design de interfaces. Dias (2001, p. 224) sugere a participação de, no mínimo, dois especialistas em usabilidade, em cada etapa da avaliação. Primeiramente, dois especialistas aplicarão a lista de verificação com o auxílio do guia de recomendações. Os especialistas identificarão os aspectos positivos (itens que estão de acordo com o guia de recomendações) e os aspectos negativos (itens que não estão de acordo com o guia de recomendações) da interface. Observe que alguns itens da lista de verificação não poderão ser aplicados no website a ser analisado. Entretanto, se observados sob outro ponto de vista, os itens não aplicáveis também determinam a eficácia dos instrumentos, já que se o número de itens não aplicáveis, ou seja, não respondidos, for maior que o respondido, é sinal que os instrumentos não estão adequados ao contexto do website avaliado, problema que ocorre normalmente com listas de verificação e guias de recomendação que não sofreram nenhuma adaptação. Ainda nessa fase, logo após o preenchimento da lista de verificação, com o auxílio do guia de recomendações, os especialistas relacionarão os aspectos negativos (problemas de usabilidade) com as heurísticas estabelecidas. Por exemplo: se a interface do website não possui um manual de instrução para auxiliar usuários, isso significa que ocorre um erro de orientação ao usuário. Então, o especialista deverá relacioná-lo a essa heurística. Entretanto, um problema de usabilidade pode estar relacionado a mais de uma heurística, o que enriquece a avaliação com pontos de vistas diferenciados sobre o mesmo problema. Após o recebimento da lista de verificação, do guia de recomendações e dos critérios heurísticos com os problemas de usabilidade relacionados, o engenheiro de usabilidade repassará os problemas identificados, de acordo com os critérios heurísticos para outros dois especialistas, que os avaliarão de acordo com graus de severidade. Para facilitar o trabalho, estabeleça graus 51 de severidade de acordo com uma escala, como por exemplo, os graus de severidade propostos por Nielsen (2000) (Tabela 1): Tabela 1 – Graus de severidade propostos por Nielsen (2003) Grau de Severidade Descrição 0 Não concordo que seja um problema de usabilidade 1 Problema de usabilidade com baixa prioridade de correção 2 Problema de usabilidade com media prioridade de correção 3 Problema de usabilidade com alta prioridade de correção Análise dos dados coletados durante a inspeção ergonômica A análise dos graus de severidade garantirá a análise imparcial dos resultados, já que o engenheiro de usabilidade verificará qual o critério heurístico com o maior número de problemas. Salienta-se que não é uma regra a correção prioritária dos problemas classificados no critério heurístico com mais incidência, já que problemas com alta prioridade de correção, quando sanados, garantem melhorias à usabilidade das interfaces do website. Procedimento relevante também é a verificação da coerência nas respostas de ambos os avaliadores, pois certa homo52 geneidade de respostas confirma suas experiências em avaliações de usabilidade e utilização de listas de verificação e guia de recomendações, elaborados de acordo com normas e instrumentos vigentes da área. A verificação de problemas de usabilidade por meio de critérios heurísticos também deve ser analisada sob o viés da estatística descritiva. Através da percentagem acumulada dos graus de severidade é possível identificar qual problema, dentre os de maior prioridade, resultará em maior impacto no uso do website. Por meio da verificação das medidas de variabilidade (moda, mediana, média aritmética, variância e desvio-padrão) é possível certificar-se da ocorrência mais comum entre os problemas. Ao final dessa etapa, você perceberá que a combinação de métodos e técnicas de avaliação ergonômica detecta um maior número de problemas do que os detectados quando se utiliza apenas uma técnica. Ao relacionar os resultados obtidos na lista de verificação e guia de recomendações aos critérios heurísticos, será possível detalhar as particularidades dos problemas e suas possíveis correções de forma mais abrangente. Então, como saber se uma avaliação ergonômica gerará resultados satisfatórios? Por ser um trabalho que exige atenção redobrada concentre-se nos passos a seguir para não deixar passar detalhes que podem fazer toda a diferença na identificação de problemas: 1. Trabalhe sempre com três técnicas de avaliação durante a inspeção das interfaces do website. A lista de verificação acompanhada do guia de recomendações identifica os problemas e os critérios heurísticos permitem a classificação dos problemas detectados conforme seus graus de severidade. 2. Durante a inspeção ergonômica, trabalhe sempre com especialistas capazes de aplicar as técnicas de maneira correta, poupando tempo e garantindo resultados mais confiáveis. “É indispensável que os avaliadores sejam especialistas em 53 ergonomia, para que não haja perda de tempo na busca por conhecimento ergonômico e técnico dos componentes de interação de uma interface” (REITZ, 20040. 3. Sempre adapte os instrumentos ao contexto de uso do website. Listas de verificação, guia de recomendações e heurísticas pré-determinadas, que avaliam qualquer tipo de página independente do seu contexto, acabam gerando um grande número de itens não aplicáveis. 4. Não determine em seu relatório da avaliação ergonômica como deve ser processada a correção dos erros. O especialista em usabilidade apenas sugere a correção do problema, que deve ser repassado à equipe de desenvolvimento para análise, garantindo à imparcialidade das correções, que não serão realizadas sob a ótica de quem as identificou. 5. Não desenvolva, não utilize ou adapte listas de verificação que não estejam acompanhadas de guias de recomendações. Existe uma relação simbiótica entre as duas técnicas, pois uma sem a outra não gera resultados plausíveis. Verificando a usabilidade de websites com usuários Ensaios de interação Os ensaios de interação são testes que permitem a coleta de dados quantitativos e/ou qualitativos, a partir da observação de como o usuário realiza uma tarefa em seu ambiente operacional. Podem ser utilizados em qualquer fase do desenvolvimento do sistema e sua preparação “requer um trabalho detalhado de 54 reconhecimento do usuário alvo e de sua tarefa típica para a composição dos cenários que serão aplicados durante a realização dos testes” (CYBIS, 2003). Em avaliações de usabilidade, as técnicas mais utilizadas nos ensaios de interação são: o card sorting e a análise da tarefa. Card Sorting O card sorting é uma técnica de usabilidade que verifica como usuários agrupam informações de forma que sejam úteis para eles, possibilitando a criação de estruturas de informação otimizadas e adequadas aos seus modelos mentais. Para Van Amstel (2004), o card sorting “é uma técnica usada por arquitetos da informação para descobrir como o usuário classifica uma determinada informação em sua mente”, uma vez que a taxonomia é o cerne da organização da informação, guiando o usuário durante o uso de um menu de navegação. A técnica card sorting possui inúmeras vantagens como: Permitir avaliar a qualidade da organização da informação vigente e suas respectivas categorias; Permitir verificar como usuários com ou sem experiência acessam um determinado conteúdo; Permitir verificar como usuários agrupam conteúdos, o que possibilita a reformulação da organização da informação de forma mais adequada ao que o modelo mental dos usuários sugere; Perceber como os usuários nomeiam as informações do website; Identificar os itens que são difíceis de serem organizados e que possam pertencer a mais de uma categoria de conteúdo; Identificar a terminologia que é mais adequada aos usuários; 55 O método é simples e fácil de ser aplicado; O custo é mínimo; Sua aplicação é rápida; Segundo Rosenfeld & Morville (2000), a técnica pode ser utilizada tanto na definição da arquitetura da informação de um website, como para validar esta arquitetura depois de terminada. Em ambos os casos, a técnica pode ser utilizada de forma aberta ou fechada, permitindo ou não que o usuário apresente novas sugestões. Na técnica aberta, os usuários sugerem seu modelo mental em cartões e o organizam posteriormente. Na técnica fechada, os usuários sugerem seu modelo mental em cartões e categorias previamente rotulados, cabendo-lhe apenas organizá-los. O card sorting obedece a seguinte seqüência de ações: Mapeamento do conteúdo; Criação dos cartões para a aplicação da técnica; Teste de validação dos cartões e respectivas nomenclaturas; Recrutamento e seleção dos usuários; Treinamento dos usuários; Aplicação da técnica Análise quantitativa e qualitativa: uso de um algoritmo de clustering para determinar as semelhanças e diferenças existentes entre os agrupamentos de nomes criados pelos usuários e uso de técnicas de verbalização para a coleta de opiniões acerca dos ensaios. Para a análise dos dados qualitativos durante uma sessão de card sorting utilize técnicas de verbalização para a coleta de opiniões e impressões dos usuários acerca dos ensaios e para os dados quantitativos utilize um conjunto de software que faça uso de um algoritmo de clustering para determinar as semelhanças e diferenças existentes entre os agrupamentos de nomes criados e 56 verificar todas as possíveis relações entre o modelo mental dos usuários e a organização da informação do website. No mercado, são encontrados diversos programas para a análise do card sorting. Todos funcionam basicamente da seguinte maneira: os itens descritos pelos usuários nos cartões são armazenados para que uma matriz distância/agrupamento faça o cálculo levando em conta a porcentagem de vezes que um item descrito pelo usuário não foi utilizado. Essa porcentagem é expressa entre 0 (itens agrupados 100%) e 1 (itens não agrupados em 100%). Os programas também apresentam os resultados através de diagramas em forma de árvore, que representam a ramificação e a conexão dos itens. No diagrama em árvore, são traçadas linhas de um item para outro e uma barra vertical identifica grupos de itens relacionados. Planejamento e realização da sessão de card sorting Enquanto na análise do contexto de uso a observação permite ao engenheiro de usabilidade conhecer o website a ser avaliado, no ensaio de interação quando se aplica a técnica card sorting o monitoramento do website gera um inventário de conteúdo. O monitoramento do website antes do card sorting serve para revelar a independência ou dependência de alguns links, os grupos prioritários de conteúdo e a ausência ou permanência de conteúdos para visualizar as estruturas de navegação. Não despreze o inventário de conteúdo! Ele será a base para a aplicação do card sorting. Após a verificação de conformidade do inventário de conteúdo com o website, inicie o processo de criação dos cartões, que representarão links, grupos de conteúdos majoritários e minoritários. Utilize programas de apresentação, como o Power Point e imprima os cartões em papel espesso, que possua uma estrutura adequada para o manejo de cartões. Após o término da elaboração dos cartões, comece a preparar o kit para a aplicação do card sorting, que deverá 57 ser composto de: instruções preliminares acerca da técnica; questionário para avaliação do ensaio de interação; artigos científicos e notícias sobre o card sorting; um lápis com borracha; uma caneta; três ligas de borracha; um envelope contendo os cartões com a nomenclatura dos links a serem organizados; dez cartões em branco para a sugestão de novos links e agrupamentos e um envelope com as categorias previamente determinadas. Concluída essa etapa, comece a delinear o processo de seleção dos usuários. Escolha-os, preferencialmente, no ambiente da instituição que o website pertence, através de questionário demográfico, que deverá destacar a faixa etária do participante, sua freqüência de utilização do website, quais os seus objetivos durante a utilização do website e seu grau de conhecimento sobre o tipo de avaliação a ser realizada. Nos dias que precederem à aplicação entre em contato com os possíveis participantes para que confirmem sua presença no ensaio de interação. Caso não ocorra nenhum impedimento, processe a impressão de todo o material de apoio e verifique o equipamento operacional a ser utilizado para prevenir possíveis problemas que possam influenciar a coleta de dados. Realize o ensaio de interação com a técnica card sorting em uma sala que possua as especificações necessárias (iluminação adequada, mesa (s) larga (s), cadeiras, tela de projeção e aparelhos de gravação etc.). Antes do início da aplicação do card sorting, os participantes devem estar acomodados em seus lugares para que a pessoa que conduzirá os trabalhos como mediador ou facilitador explique os objetivos da técnica, sua história, os tipos de card sorting existentes e como se propõe uma nova árvore semântica do website a ser avaliado, de acordo com modelos mentais. Nessa fase, os usuários são avisados que todas as suas impressões serão gravadas e que podem sugerir novas nomenclaturas de links e descartar aqueles cartões que não 58 fazem sentido em sua opinião. Por fim, elimine dúvidas acerca do preenchimento do questionário de avaliação sobre a metodologia proposta. Normalmente, os ensaios de interação, duram em média uma hora e trinta minutos e durante esse período de tempo, os usuários são instigados, através de verbalização estimulada, a expressarem suas opiniões e colaborarem uns com os outros. Nos primeiros quinze minutos, é comum o participante concentrar-se na verificação do material para a aplicação do card sorting e logo após, começar a organizar os cartões. Caso haja necessidade de verificação do material em tempo maior que quinze minutos, o mediador deverá se concentrar um pouco mais nesse participante, para que os dados fornecidos possam ser aproveitados. Decorridos trinta minutos, os participantes começam a interagir com os cartões, tranqüilamente. Caso isso não ocorra, relate os possíveis problemas ocorridos no relatório de usabilidade. Se você notar que todos os participantes estão completamente integrados e trocando experiências entre si, lembre-os que deverão analisar atentamente a ordem dos cartões que representam o seu modelo mental. Mediante intervenção do mediador, devem ser avisados para manter o foco naquilo que consideram relevantes. Ao final da aplicação da técnica card sorting é vital, além da entrega dos cartões, a devolução do questionário para a avaliação, sugestões e críticas do ensaio de interação. Também é relevante conhecer o grau de satisfação dos participantes quanto aos materiais de apoio e do ambiente em que foi realizado o ensaio, pois as opiniões deles permitirão verificar se o card sorting enfatizou, de fato, a estrutura de organização da informação, e se gerou resultados significativos para o website avaliado. 59 Análise dos dados coletados durante a sessão de card sorting Transporte os resultados dos agrupamentos de informações para um programa de análise de card sorting, de acordo com a disposição determinada pelos participantes. Nesse momento, identifique os cartões que foram descartados, os que foram sugeridos e a ordem definida pelos participantes. No programa, cada participante deverá ser identificado pelo seu nome e com o auxílio do inventário de conteúdo verifique se todos utilizaram os cartões distribuídos, de acordo com as categorias pré-definidas. Caso a sua avaliação seja realizada na etapa de definição da arquitetura da informação, não haverá necessidade dessa verificação. Logo após, verifique a associação dos agrupamentos. Os grupos são sempre identificados a partir de percentuais prédefinidos e os programas normalmente estabelecem uma margem de até 0,3 pontos (70%) para considerar associações diretas como relevantes. Os resultados obtidos fora desta margem revelam que as associações são baixas, não demonstrando uma relação direta entre os itens estipulados para o card sorting. Nos diagramas em árvore que os programas de card sorting geram, as linhas horizontais interligam elementos até as linhas verticais e as linhas verticais unem os elementos no ponto do índice de relação correspondente. Faixas de cores diferentes demonstram as associações de alto nível e as associações de baixo nível, que podem ser descartadas. Convém salientar que os programas de card sorting disponíveis no mercado apresentam apenas as associações de alta e baixo nível, de acordo com as matrizes distância-agrupamento, cabendo ao pesquisador verificar as verossimilhanças existentes, comprovando-as em consonância com as opiniões e impressões dos usuários coletadas a partir das observações feitas durante o ensaio de interação. 60 Após a identificação das associações reveladas pelo modelo mental dos usuários no ensaio de interação com a técnica card sorting, será possível gerar duas propostas de árvores semânticas para o website avaliado. A primeira, não contemplará as sugestões de novos links e correlações, sendo fidedigna a atual estrutura da informação disponibilizada. E a segunda, englobará as sugestões de novos links e as correlações sugeridas pelos usuários. Note que as árvores semânticas são meramente ilustrativas, não devendo ser seguidas à risca pelos gestores e desenvolvedores do website, mesmo por que a sua concepção é relativa apenas ao modelo mental dos usuários, sem a representação dos fluxos de tarefas. Recapitulando, o card sorting mostra-se efetivo para verificar os modelos mentais dos usuários em relação à organização, nomenclatura dos links e estrutura das informações de um website. No entanto, para a implantação das modificações sugeridas pelos participantes, as árvores semânticas precisam ser submetidas a outros tipos de análises e testes, conforme recomendam Zilse (2004, p. 132), ao sugerir a avaliação cooperativa, e Myer (2003), quando sugere estudos etnográficos e pesquisas de satisfação como técnica posterior de verificação. Mas, de nada adianta a realização de um ensaio de interação com a técnica card sorting se não houver um conhecimento preciso das funções que o website desempenha e do cenário em que atua e se insere. No caso de websites que se encontram em fase de planejamento, o card sorting minimiza a ocorrência de erros relativos à organização da informação, cabendo a equipe de prototipação a determinação das nomenclaturas para que não haja desperdícios de resultados. Outro ponto a ser mencionado é a utilização, no ensaio de interação, de cartões de papel pelos participantes em vez do preenchimento dos cartões virtuais, que pode ser feito nos programas para análise do card sorting. Assim, evita-se perda de resultados, já que é comum o desconhecimento das 61 funcionalidades dos programas para a análise de clustering, o que demanda tempo para o treinamento adequado dos participantes. Além disso, a organização por meio de cartões em papel possibilita uma interação que resulta em um extenso volume de impressões registradas através de sugestões, críticas e observações dos participantes. Portanto, apesar de rápida, a aplicação do card sorting requer cuidado na análise dos dados, não funcionando em avaliações em que o ensaio de interação não seja planejado em minúcias e com participantes que desconhecem o website avaliado. Para evitar digressões, a escolha dos usuários deve privilegiar indivíduos com diferentes formações profissionais que pertençam ao universo do website avaliado, conforme recomendado por Nielsen (1993), pois um número maior de usuários só se faz necessário quanto mais numerosos forem os links e as categorias do website. Salienta-se também o cuidado durante a elaboração do ensaio de interação, pois mais participantes requerem laboratórios de usabilidade e instalações adequadas que eliminem possíveis interveniências na coleta de dados. Análise da tarefa Também conhecida como método de medida de desempenho, a análise da tarefa permite a coleta de dados através da observação da interação entre usuários e sistemas em avaliação, podendo ser utilizada durante a fase inicial do desenvolvimento do sistema (análise da tarefa formativa), ou durante a reformulação de um sistema em uso (análise da tarefa somativa). O foco deste método está em descrever como os usuários realizam suas tarefas, quais seus objetivos e o que de fato fazem para alcançá-los. Na literatura científica encontramos diversas metodologias ou formalismos que foram propostos com esses intuitos. As mais recorrentes são o Méthode Analytique de Description (MAD), proposto por Scapin e Pierre Golkbreich, em 1989, e 62 o Task Knowledge Structure (TKS), proposto por Johnson et al., em 1989. Essas metodologias, segundo Heeman (1997) e Markopoulos & Gikas (1997, p. 4) constituem um notável apoio às ações do projetista na especificação das funcionalidades do sistema, na concepção de interfaces ergonômicas e na elaboração de manuais de treinamento. Para que os resultados da análise da tarefa sejam satisfatórios, parâmetros devem ser estabelecidos como: a análise das operações efetuadas, a ordem de execução, as dificuldades do operador em realizá-las, assim como os tipos, freqüências e causas de incidentes; uma visão geral da utilização da informação, isto é, conhecer as informações realmente utilizadas, as informações que faltam, as inúteis e as que induzem a erros; o relacionamento dos usuários com as informações e as operações por ele realizadas, as denominações e a forma como o operador as transmite. Como a observação em IHC envolve, no mínimo, um usuário e um computador, faz-se necessário para a análise da tarefa, o uso de dispositivos para registrar toda a ação realizada no cenário. Dentre os dispositivos mais conhecidos, destacam-se as gravações de vídeo e os sistemas de monitoramento, também conhecidos como espiões. Quando instalados no computador do usuário ou no servidor de aplicativos, os sistemas de monitoramento capturam toda a interação, com a vantagem de não possibilitar o constrangimento do usuário, que apesar de não se sentir observado, deve ser informado que está sendo monitorado. Entretanto, os sistemas de monitoramento “apresentam limitações de ordem técnica relacionadas principalmente à portabilidade das ferramentas de espionagem face à diversidade de ambientes de programação existentes” (Cybis, 2003). 63 Nesse contexto, Dias (2001, p. 70) observa que “a dificuldade desta técnica de monitoramento é determinar que tipos de informações são úteis e como devem ser analisadas, dada a enorme quantidade de dados coletados”. No mercado, existem diversos sistemas de monitoramento com aplicações específicas, que podem ser utilizados em estudos de usabilidade como o MS Camcorder, o Lotus Screen, o Screen Movie Studio e o ACA Recorder. Durante um ensaio de interação, também são utilizadas técnicas de verbalização para intensificar a obtenção de dados qualitativos. Nessa técnica, usuários são estimulados a verbalizar suas opiniões, enquanto realizam tarefas no sistema em avaliação. Conforme descreve Lima (2003. p. 79), a verbalização pode ocorrer concomitantemente durante a realização da tarefa (verbalização simultânea), ou logo após a realização da tarefa, em forma de entrevista (verbalização consecutiva). Dias (2001, p. 67), observa que a variação dessa técnica, conhecida como verbalização estimulada, na qual em vez de aguardar o pronunciamento do usuário, o avaliador o estimula com perguntas diretas “pode indicar partes do sistema que estão bem claras, óbvias para o usuário e outras confusas ou inexistentes”. Outra técnica utilizada em ensaios de interação é a codescoberta, na qual apenas dois usuários realizam conjuntamente as tarefas, verbalizando suas opiniões. A diferença entre a codescoberta e a verbalização reside na atuação em conjunto dos usuários que convergem os seus esforços para a resolução das tarefas propostas. Planejamento e realização da análise da tarefa A análise da tarefa deve ser concebida à luz dos resultados obtidos nas etapas anteriores da avaliação de usabilidade, para contemplar atividades que perpassam pelos principais objetos de interação das interfaces do website a ser analisado. Por isso, tente 64 elaborar tarefas que contemplem todas as categorias de informação, assim como uma boa parte dos links que se encontram dispostos isoladamente. Como? Por meio do inventário de conteúdo e das árvores semânticas resultantes da aplicação do card sorting. Num primeiro momento, desenvolva um plano de avaliação que indique quais passos devem ser seguidos durante a análise. Nesse estágio, teste as tarefas elaboradas e, logo após, agrupe-as em uma lista, com no mínimo, dez questões. Depois, com o auxílio de um questionário demográfico selecione os possíveis participantes da pesquisa que se adequam ao contexto da avaliação. O melhor é escolher usuários que realizam tarefas constantes nas interfaces, como por exemplo: no caso de uma biblioteca universitária, estudantes, professores e funcionários que costumam utilizar laboratórios digitais são potencialmente excelentes fontes de dados. Após, a seleção de, no mínimo, 21 participantes, agrupeos homogeneamente. Vamos utilizar como exemplo uma amostra composta de estudantes e ex-estudantes de uma universidade, que assim comporiam grupos para uma análise da tarefa Grupo 1: sete alunos de pós-graduação; Grupo 2: sete estudantes de graduação; Grupo 3 : sete egressos da universidade. Os cuidados relativos à pré-aplicação da análise da tarefa apresentam certa coerência com os passos para a elaboração do card sorting: Programe a data certa para a aplicação da técnica e contate os usuários selecionados com antecedência. Prepare o local onde será realizado o ensaio. Como a observação em IHC envolve no mínimo um computador e um usuário, opte por realizar os ensaios com cada participante separadamente, em uma estação de trabalho, 65 preparada para a captação de vídeos. Faça sempre o pré-teste das tarefas, de forma a evitar possíveis interferências durante a aplicação da análise da tarefa. Antes da realização dos ensaios, instrua cada participante sobre como proceder e notifique-o que todas as suas ações serão monitoradas e gravadas. Não se esqueça de elaborar questionários para a avaliação da metodologia. A partir das respostas das questões pelos participantes, você poderá saber se eles ficaram satisfeitos com o trabalho realizado e se houve alguma falha que poderá ser evitada em realizações futuras. Como os ensaios de interação em IHC visam analisar como o usuário interage com a máquina, o mediador deverá utilizar recursos de verbalização simultânea para coletar as opiniões e impressões dos participantes sobre o método, as tarefas e possíveis dúvidas sobre as questões. Análise dos dados coletados durante a análise da tarefa De posse dos resultados, analise primeiramente os dados quantitativos. Verifique a variação do tempo de realização do teste de todos os participantes e logo após, calcule a média e o desviopadrão em relação ao grupo de participantes. Dessa maneira você estabelecerá um padrão de controle que identificará qual o tempo hábil para a realização das tarefas propostas. Na análise da tarefa, a verificação da diferença entre os tempos de realização da tarefa é essencial, uma vez que auxilia a identificação de problemas passíveis de correção daqueles que não se consistem em um problema ou apenas um erro de interpretação da tarefa. Após o término do preenchimento dessa planilha, construa gráficos de controle. 66 Segundo Levine et al. (2005, p. 698) gráficos de controle ajudam a evitar dois tipos de erros. “O primeiro tipo de erro envolve acreditar que um valor observado resulta de uma variação de causa especial quando, na verdade, se dá em função de uma variável decorrente de causa comum do sistema” e o segundo tipo de erro envolve “tratar a causa especial de variação como se fosse uma causa comum de variação e, dessa maneira, não adotar medidas corretivas imediatas, quando essas se fazem necessárias”. Cabe ressaltar, que embora a utilização de gráficos de controle não elimine por completo vieses interpretativos equivocados, propicia uma análise mais detalhada, tornando-os menos prováveis. Concluída essa etapa, verifique o passo-a-passo dos usuários, identificando quantos links foram necessários para finalizar ou não a tarefa. Compare os resultados com os obtidos no pré-teste realizado, para verificar se a média de acesso dos links é, no mínimo, aproximada ao gabarito de resposta do teste. Anote os percalços de realização da tarefa, por exemplo: se uma resposta está na página inicial e o usuário a procurou em outra página. Nessa etapa, os erros cometidos pelos usuários começam a ser identificados e você terá uma lista de problemas, que preferencialmente, deverão ser analisados por, no mínimo, dois especialistas em usabilidade. Forneça aos especialistas que analisarão os resultados obtidos: Gráficos que representam o tempo de realização das tarefas pelos usuários para que os especialistas possam verificar se as médias dos tempos de realização das tarefas estão fora dos limites de controle estabelecidos ou se as médias dos tempos de realização das tarefas estão acima ou abaixo da média; Vídeos que mostram a realização da tarefa pelos usuários, contendo a identificação do problema e a hora em que ocorre; 67 Impressões coletadas durante os ensaios com os participantes, para que os especialistas possam identificar problemas, opiniões e sugestões que impactem na verificação dos problemas de usabilidade. Caberá aos especialistas, dentre os problemas ocorridos, identificarem aqueles que são derivados de causas especiais, sendo passíveis de correção, daqueles que são derivados de causas comuns, como a forma que o usuário realiza a tarefa, que não se constitui em um problema de usabilidade propriamente dito. Assim, garante-se a imparcialidade da análise dos erros. Quando tiver em mãos os resultados da avaliação realizada por especialistas, caberá ao responsável pela avaliação relacionar os problemas de usabilidade às categorias de informações, links e estruturas de navegação do website, já que a meta da análise da tarefa é reestruturar o website para tornar mais fácil o seu uso. Lembre-se sempre que a análise da tarefa oferece melhores resultados quando não é realizada isoladamente, sendo precedida por outros métodos e técnicas, como a avaliação ergonômica e o card sorting. 68 Referências ASSOCIATION OF COLLEGE & RESEARCH LIBRARIES. Environmental scan 2007. Disponível em: < http://www.acrl.org/ala/acrl/acrlpubs/whitepapers/Environmental_ Scan_2.pdf> Acesso em: 03 abr. 2008 AMARAL, S.A. Marketing: abordagem em unidades de informação. Brasília: Thesaurus, 1998. AMSTEL, F.V. A contribuição do flash para a hipermídia. Webinsider, 18/10/2003. 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This spring, with great fanfare, Simon & Schuster brought out a novella by Stephen King called Riding the Bullet-the first work by a best-selling author released exclusively for electronic publication, to be read only on computerized screens, not paper. King's stunt made headlines and magazine covers, and the tsunami of demand for downloads of this e-book crashed Web sites and traditional publishing assumptions. But the future of e-books may have less to do with Stephen King than with Eric Rowe and other less well-known authors. Rowe is a British potter who lives in the South of France, drawn there by the region's clays and minerals, which have been mined for stoneware since Roman times. To help ceramists in other areas unearth their own raw materials, he wrote A Potter's Geology. But he couldn't find a book publisher in England for his manuscript. This was just too specialized a topic for a publisher in any one country. Still, Rowe was certain that there would be interest in his book from potters everywhere. Half a world away, in Medicine Hat, Alberta, Tony Hansen read about A Potter's Geology from a posting by Rowe in a ceramists' online discussion group. Hansen owns Digitalfire, a company specializing in software for calculations in ceramic chemistry. Hansen offered to publish Rowe's book electronically, selling the text on the Web as digital files in the Portable Document Format (PDF). PDF files are displayable on any Windows, DOS, Mac or Unix computer screen (and easily printed out) using the Acrobat reader software, downloadable free from Adobe Systems. "I said I'd rather have my manuscript printed first," Rowe recalls. But Hansen won him over by pointing out that e-publication would produce immediate worldwide distribution. Now the book can be downloaded from the Web and viewed on any personal computer. Readers of the e-book can search the entire book and zoom in on high-resolution photos-even contact the author via an online hyperlink. The economics look good too: E-books require no printing, binding, inventory or shipping costs, allowing these savings to be passed on to the author in the form of higher royalties. A Potter's Geology has sold only a few dozen copies, but Rowe is optimistic: "It won't be something that sells fast, but over a long time. It's not a subject that will go out of date. Even so, in digital format it's easy to update or improve." Rubber and Glue The most general-purpose hardware boxes of all are personal computers. Yet despite hundreds of millions of PCs in use around the world, only a few hundred thousand of their users have downloaded e-books. The slow start is partly due to the perception that an ebook doesn't fully replicate the book-reading experience. More importantly, the download culture-first evident with browser plug-ins, then with software upgrades and MP3 music fileshas only taken hold recently with the non-geek public. Ads by Microsoft would have us believe that what the e-book world has been waiting for is the company's Reader program, which will be given away with every new copy of Windows. Microsoft Reader features ClearType software that evens out type edges on the screen. The reality is, however, that ClearType is warmed-over technology that failed to save handheld Windows CE devices from oblivion. To people accustomed to reading text on a computer for hours at a time, e-book screen clarity is a nonissue. Microsoft Reader also provides copy protection for authors and booksellers. But while e-books rights management may be important to intellectual property holders, it could be a futile quest. Any PC-based copy protection scheme can be cracked, as happened within two days of Stephen King's first epublication. With more than 100 million Acrobat readers already downloaded onto computers, PDF is the de facto standard for e-book publication. PDF was specifically designed for preserving professional-quality documents across computer platforms and printers. And PDF technology offers a ready solution for those reluctant to read off a screen; simply print out the files. To counter Microsoft Reader, Adobe has recently beefed up its offerings with e-commerce encryption software called PDF Merchant, allowing rights to an electronic copy of a book to be assigned to a single computer. In addition, Adobe has challenged Microsoft's ClearType with screen-enhancement routines of its own, which it calls CoolType; the competing technologies are similar enough in performance to make screen clarity even less of a concern. This year PDF will face a worthy challenger in the e-book format battle, as a consortium of e-book hardware makers, traditional publishers, and Microsoft push the new Open eBook (OEB) standard. The difference between OEB and PDF is like the child's rhyme that begins: "I'm rubber, you're glue." PDF is glue, locking in a book's formatting so it can be preserved intact across output devices; once created, it is not meant to be modified in any way. This can be a drawback if an author or publisher wants to access parts of the text for excerpting or reconfiguring for a customized e-book, or for sampling or sale in smaller increments than book length. OEB is rubber: It allows an e-book's content to be reformatted on the fly, using a markup language that is essentially an extension of HTML. OEB also makes it easy for dedicated reading devices to reformat text to fit their proprietary display configurations. The first published spec for OEB addresses neither security nor e-commerce protocols, leaving it to individual vendors to come up with their own approaches. This omission raises the possibility that the proposed standard could splinter into a variety of incompatible implementations. Ultimately, both OEB and PDF could survive, with the rival formats used for different output stages of the same e-book-OEB in the intermediate stages of massaging editorial content, and PDF for final versions. (For all the flexibility of digital books, scholarship will probably demand that different editions of a work remain available in permanent form.) Rewriting Business Models E-books are shaking up publishing business models that have remained unchanged since the days of Dickens, much as MP3 compression technology has rocked the music industry. For the moment, even the most forward-looking print publishers are pricing their initial e-book offerings almost identically with paper editions, as if there were no difference in their underlying atoms versus bits economics. At St. Martin's Press, the first major publisher to simultaneously issue a hardcover and e-book edition of the same title (Monica's Story in March 1999), senior vice president for finance administration Steve Cohen explains: "Our prices on new titles are at the hardcover level because there's a high start-up cost for e-book editions." Kate Tentler, publisher of Simon & Schuster Online, was responsible for Web distribution of Stephen King's Riding the Bullet (priced at $2.50, the 66 pages of the e-novella averaged out to the retail per-page cost of a King hardcover novel). Says Tentler, "We think of an e-book as just another book." As a few traditional publishers defensively convert to digital files for downloads, the independent e-publishing industry has seen countless business models bloom. On the same March day that the Stephen King brand name sold 400,000 paperless copies of Riding the Bullet, Frank Weyer received a grand total of two requests for his serialized e-mystery, MIT Can Be Murder, on his own site (e-bookpress.com). Despite such paltry numbers, efforts by Weyer and other e-book authors are already undermining the influence of blockbusterminded agents and trend-driven book editors. Weyer, for example, had sent the manuscript for his first murder mystery to 10 literary agents, all of whom declined to submit it to book publishers. "They said the mystery field is difficult for a newcomer," Weyer recalls. "But how do you become a published mystery author if you can't get published?" Self-publishing on paper, a solution for some, seemed prohibitive for this patent and trademark attorney and small-scale Internet entrepreneur (he holds exclusive right to sell Web domain names registered in the nation of Moldova-ending in .md-to doctors in California and New York). Rather than letting his manuscript molder in a drawer, Weyer decided to publish it via e-mail. The first four chapters of the whodunnit, inspired by the year he spent at MIT studying for a PhD in ocean engineering, were offered first to 3,000 MIT alumni, and then to 15,000 names on other university alumni lists. He released the rest of the 210-page book in 12 monthly installments. Some 1,400 readers have downloaded the entire e-novel. Weyer's novel-by-subscription might seem like an innovation made possible by the digital era. In fact, it is a throwback to the early days of 19th-century book publishing, when books were sold by subscription before publication, to raise revenue to pay the printing costs up front. With no printing to worry about, the frictionless economy lets Weyer distribute his work for free. Now that he has successfully bypassed print publishers to get his words read, he has begun subscription-publishing the work of other writers. The first addition is The Butcher's Cleaver, a spy thriller by W. Patrick Lang. Soon Weyer plans to generate income by selling print-on-demand versions of both his and Lang's books. Nonetheless, he would like MIT Can Be Murder to be picked up by a mainstream publisher. "I just wanted to build word of mouth," he says of his e-book. "I would like to see it in as many forms as possible." Giving away complete works to help an author build a following is still anathema to most traditional publishers, who must absorb the cost to produce, store and ship the physical books. But giving away paperless e-books is a no-brainer, following the time-tested freeware and shareware models in computer software. Independently published e-books may not be as polished or as slick as store-bought commercial offerings, but they can hold their own in user appreciation. And Frank Weyer's writing is certainly on par with that in much of today's mass-produced paperback fiction. Traditional publishers' understandable fear that e-books may cannibalize sales of print editions seems to be overblown, at least judging from the experience of one of their more adventurous colleagues. Last September, veteran science-fiction publisher Jim Baen initiated what he calls eWebScriptions; for $10 a month, visitors to Baen.com may download quarterof-a-book-sized installments of four titles about to appear in print. Even after receiving the full text in HTML, "more of our subscribers buy the finished book than don't buy it," says Baen. By March, the added promotion had already helped propel one of the earliest eWebScriptions titles, Ashes of Victory by David Weber, onto hardcover best-seller lists. In addition to alternative marketing strategies, e-publishers can tap into income streams legally denied to traditional publishers. For instance, the U.S. Postal Service disallows low book-mailing rates for printed material that contains advertising. No such restriction inhibits the sales of ads for e-books. Bartleby.com, for example, offers free, ad-supported classics and reference works online. At BiblioBytes.com, books can be read on ad banner-sponsored Web pages, with some popular titles downloadable for a fee; authors get a cut of the ad revenue. Abroad, the alternatives are just as dramatic; in France, pioneer e-publisher Zero Hour is able to offer less-expensive editions of current books because digital files cannot be taxed as print books are. Embracing the E The power of e-books as a promotional medium has probably best been demonstrated by Melisse Shapiro, who writes under the nom de plume M.J. Rose. Her first novel, Lip Service, an erotically charged thriller, was rejected by a dozen book publishers for being too steamy for the chain bookstores. She opted to publish from her own Web site, offering digital downloads for $10 or photocopies of the manuscript for $20. Even when the password for her e-book was stolen and posted online, resulting in 1,000 pirated downloads, she managed to receive 150 paid orders for e-books and 500 orders for photocopies. She invested in printing 3,000 copies to help create buzz; at one point, it was the 123rd best-selling title on Amazon.com. Following her online blitz, Doubleday Direct picked up Lip Service for its mail-order book clubs and soon after, Pocket Books signed up print rights in hardcover and paperback. Building on her success, Shapiro has become a leading advocate of e-books, with her frequent reports to Wired News online providing the most comprehensive ongoing coverage of e-publishing. "Everything in my life would be different if not for e-books," she says. On the same day in March that Stephen King generated 400,000 orders, Leta Childers' comic romance e-novel, The Best Laid Plans, was downloaded 200 times from her publisher's Web site, DiskUspublishing.com. Childers is King's peer in one respect: Hers is the best-selling work released to date among digital-format-only publishers, according to the best-seller list compiled by eBook Connections. With some 20,000 copies of her e-book issued (at $3.50 for a downloaded copy, $6.50 on diskette), the rural South Dakota-based Childers has helped establish DiskUs Publishing of Albany, Ind., as one of the most successful digital-only publishers. In the still largely New York-based traditional publishing world, Childers says, "submission envelopes with Midwest return addresses are easy to ignore." Then in a familiar refrain for e-book authors, she adds: "I would love to be traditionally published." DiskUs is a publisher in the traditional sense of having editors who help prepare manuscripts for publication. Other e-publishers disseminate authors' works for a fee, without exercising editorial control. Such "vanity presses" have long been the Rodney Dangerfields of publishing, but vanity e-publishers are proving attractive to mainstream book firms exploring new publishing paradigms. Following a recent investment by Random House, Xlibris.com now provides a no-fee, no-frills e-publishing package. Barnes & Noble is backing iUniverse.com, which offers new authors a basic $99 e-publishing service; it reserves free publication for authors submitting out-of-print works, a program originally developed with The Authors Guild. For authors who've already been in print, one of the greatest benefits that e-books can offer is the resurrection of their old hard-to-find titles. As publishing companies have consolidated, worthy works have been relegated to the limbo of out-of-print. E-publishing provides an inexpensive way to restore the availability of these lapsed works. Among the most innovative of e-publishers, Alexandria Digital Literature has revived hundreds of out-of-print stories and poems, typically priced from 30 cents to $1.25. Buyers are asked to send in their ratings; when enough ratings accumulate, they can be compared to others' ratings and other reading recommendations are offered. Also being revived are questions about traditional publishers' exclusivity over their authors' works. When Simon & Schuster made Stephen King's Riding the Bullet available through online booksellers and e-book hardware and software firms, one site was pointedly excluded: Fatbrain.com. Since last fall, Fatbrain has been posting works it brands as "eMatter": original fiction and nonfiction ranging from 10 to 100 pages (lengths that many people will be willing to print out). Subsequently designating the site for such pieces MightyWords.com, Fatbrain has targeted a segment of publishing that falls between magazines and books, where the modern economics of print have all but shut out a once-thriving sector of short stories and novellas. Simon & Schuster saw Fatbrain as a rival. Fatbrain's brief history shows how quickly e-book business plans and branding can change. A mere six months after launching the eMatter trademark and drawing attention to the similarly named Web site, Fatbrain decided to let its trademark lapse. "MightyWords was a name that could ring through to our professional audience, while eMatter is a generic term for the range of electronic documents we are publishing," explains Judy Kirkpatrick, executive vice president and general manager of MightyWords. Already the eMatter 10-to-100-page category encompasses many of e-book publishing's early milestones, including King's Riding the Bullet. Simon & Schuster may not like it, but Fatbrain's publication of an eMatter essay by science fiction author Arthur C. Clarke was the inspiration for King to test the digital publishing waters. Also fitting the eMatter designation: Eric Rowe's 91-page A Potter's Geology. King and Rowe have something else in common: an abiding belief in the importance of traditional books. King has been widely quoted as stating: "I don't think anything will replace the printed word and the bound book. Not in my lifetime, at least." For Rowe, too, it's not a question of digital books supplanting analog ones. "For some kinds of book," he says, "the aesthetic pleasure of having the object in the hand will be difficult to replace." It should come as no surprise that proponents of e-books are not out to eliminate paper publishing. After all, most e-books attempt to replicate traditional books' content and appearance. For the most part, e-books can be printed out with only minimal loss of information (primarily broken hypertext links). And for all their seeming differences, print and electronic publishers are putting out similar content. Eventually, digital downloads seem destined to become just one more format for readers, one more step on the convenience/cost continuum from hardcover to paperback to e-book. At some point in the future, however, e-books and print are bound to diverge. Lurking amidst e-publishing today is the notion of multimedia books that seamlessly incorporate hypertext, sound and animation. A hypertext branching narrative in a novel or a history book, for instance, would be impossible to reproduce in a book. A glimmer of tomorrow's multimedia books, or m-books, may be discerned in a dark-horse contender among e-publishing file formats called TK3. Introduced by Night Kitchen-a New York startup headed by Voyager Co. co-founder Bob Stein-TK3 is the basis for a sophisticated literary software environment. The Night Kitchen TK3 Reader offers the most booklike reading experience on a desktop or laptop computer screen-complete with highlighting, corner-folding bookmarks, even Post-it-like "stickie notes." And TK3's easy-touse multimedia authoring tools are meant, according to Stein, "to empower a new generation of authors who want to express themselves in the new media." Using this hyperlink-soundand-motion superset of traditional books to express themselves, such a new generation of authors would hasten Stein's prediction that "the locus of intellectual discourse will shift from the print medium to the electronic medium." For now, the advent of e-books means not replacing print, but supplementing it-redefining publishing economics and opening the way for authors whose work has been kept from appearing between book covers. If e-books do nothing more, regardless of the success or lack thereof of new gadgetry to display them, this technology will have a profound effect on what we read and what we think. Copyright Technology Review 2012. NOVOS MEIOS DE MEMÓRIA: LIVROS E LEITURA NA ÉPOCA DOS WEBLOGS NEW MEMORY MEDIA: BOOKS AND READING IN THE AGE OF WEBLOGS Vera Dodebei Doutora em Comunicação e Cultura (ECO/UFRJ) Professora Associada I no PPGMS/UNIRIO Líder do Grupo de Pesquisa CNPq “Memória Social, Tecnologia e Informação” Pesquisadora em Produtividade e Pesquisa do CNPq [email protected] Resumo A memória é construída a partir do presente por uma tensão entre duas ações: lembrar e esquecer, e está sempre dialogando com os objetos que recortamos para analisar a condição do conhecimento na contemporaneidade. O texto deste artigo está organizado em três partes. Na primeira parte, enfrentamos o objeto “livro”, seu surgimento na sociedade, sua importância para a transmissão dos saberes, o poder de controle de atitudes, como os homens– memórias criados por Bradbury em Fahrenheit 451 e seu possível ocaso face às tecnologias de suporte da informação. A segunda parte desatrela a ação de ler de seu suporte mais tradicional e trata a “leitura” como objeto independente, sugerindo-se, a partir das reflexões de Regina Zilberman, Alberto Manguel e Paulo Freire que somos constituídos para ler o mundo, não importam os mecanismos que nos valemos para alcançar esse objetivo. Na terceira e última parte, apresentamos alguns indicadores de modos possíveis de existência de meios de memória no ambiente virtual, com comentários sobre o papel dos blogs e websites em relação à escrita firmada em papel. Palavras-chave: Memória virtual. Livro. Leitura. Blogs. Patrimônio digital. O bicho alfabeto O bicho alfabeto tem vinte e três patas ou quase por onde ele passa nascem palavras e frases como frases se fazem asas palavras o vento leve o bicho alfabeto passa fica o que não se escreve Paulo Leminski Enc. Bibli: R. Eletr. Bibliotecon. Ci. Inf., ISSN 1518-2924, Florianópolis n. esp., 1. sem. 2009. 129 1 A CONSTRUÇÃO DA MEMÓRIA: O LIVRO, A LEITURA, A ESCRITA DIGITAL O poema de Leminski nos convida a pensar a relação entre meios de memória, particularmente o que diz respeito à informação escrita, e a condição de permanência daquilo que se acumula ao longo do tempo, como a História nos sinaliza. Ao contrário do ditado popular “vale o escrito”, o bicho alfabeto passa, fica o que não se escreve. O medo da perda de informações visuais com as quais nos habituamos a conviver, sejam livros, fotografias, manuscritos, nos colocou a partir da década de 90 do século XX no mundo “memorioso”, em que a obsessão pela memória, como afirma Andréas Huyssen (2000), poderá levar a uma possível paralisação do processo de criação. O convite a voltar ao passado poderia ir mais longe à linha do tempo e nos conduzir à época anterior ao surgimento da era da tecnologia da escrita, quando a transmissão dos saberes era feita de forma oral, sem a preocupação com registros em suportes materiais, a não ser nossa memória individual. Esses dois meios de memória (a oralidade e a escrita) coexistem nos dias atuais e entram em disputa com uma nova mídia virtual do mundo digitalizado. À memória individual que ao invés de acumular processa para produzir novas informações, e à memória auxiliar criada pela sociedade da escrita representada por arquivos, bibliotecas e museus, juntam-se a memória informática que transforma o visual e o oral em números. O livro nos parece, neste cenário de conflitos que envolvem a produção de subjetividades e a constituição de memórias, o objeto adequado para investigar como a sociedade pensa o processo de transmissão de conhecimentos para o futuro. Os meios de memória do futuro serão cumulativos ou seletivos? Ao reunir autores que pudessem contribuir para um artigo sobre a aventura do livro como pensou Chartier (1998), desde sua criação até sua transformação como parece ocorrer nestes dias de virtualidade e digitalização, organizamos uma pequena biblioteca circunstancial para esse fim, e nela incluímos além dos autores já citados, Regina Zilberman com a obra Fim do livro, fim dos leitores? (ZILBERMAN, 2001); o número 142 da revista Tempo Brasileiro, intitulada O lugar do livro hoje (O lugar, 2000) que representa a coletânea de textos apresentados no colóquio internacional O lugar do livro: entre a nação e o mundo, realizado na Academia Brasileira de Letras entre 28 e 31 de agosto de 2000; a obra ficcional de Ray Bradbury (2003) – Fahrenheit 451, filmada em 1966 por François Truffaut; a obra clássica de Wilson Martins, A palavra escrita (MARTINS, 1957) e a obra de Alberto Manguel neste momento representada por três ensaios: A biblioteca à noite Enc. Bibli: R. Eletr. Bibliotecon. Ci. Inf., ISSN 1518-2924, Florianópolis n. esp., 1. sem. 2009. 130 (MANGUEL, 2006), No bosque do espelho: ensaios sobre as palavras e o mundo (MANGUEL, 2000), e Uma história da leitura (MANGUEL, 1997). A conversa que se seguirá possivelmente não esgotará esse tema complexo sobre a memória do mundo e muitos autores certamente poderão ser adicionados pelos próprios leitores, que assim, darão continuidade à discussão. A memória se constitui, quer seja ela individual ou coletiva, a partir do presente, por uma tensão entre duas ações: lembrar e esquecer, e estará sempre dialogando com os objetos que recortamos para analisar a condição do conhecimento na contemporaneidade. O texto deste artigo está organizado em três partes. Na primeira parte, enfrentaremos o objeto “livro”, seu surgimento na sociedade, sua importância para a transmissão dos saberes, o poder de controle de atitudes, como os homens–memórias criados por Bradbury em Fahrenheit 451 e seu possível ocaso face às tecnologias de suporte da informação. A segunda parte desatrelará a ação de ler de seu suporte mais tradicional e tratará a “leitura” como objeto independente, sugerindo-se, a partir das reflexões de Regina Zilberman, Alberto Manguel, Paulo Freire que somos constituídos para ler o mundo, não importa os mecanismos que nos valemos para alcançar esse objetivo. Na terceira e última parte, nos esforçamos para apresentar alguns indicadores de modos possíveis de existência de meios de memória no ambiente virtual, com comentários sobre o papel dos blogs e websites em relação à escrita firmada em papel. 2 O LIVRO “A valorização do leitor e da leitura parece chegar tarde demais: anuncia-se o final da era do livro, sua substituição por multimídias interativas, a metamorfose do consumidor de obras escritas no nerd internauta, aventureiro que percorre até agora desconhecidos universos virtuais” (ZILBERMAN, 2001, p. 105). Estas palavras de Zilberman serviriam também para questionar a existência das bibliotecas sem livros, a leitura dissociada do livro e a influência da tecnologia nos processos de ler, de transmitir e de acumular saberes. Ao enfrentarmos a difícil história do livro, compreendemos que conceituar esse objeto apenas por sua forma ou por seu conteúdo não nos ajudaria a estabelecer as importantes relações que ele trava com a sociedade, a influência que exerce para o regime de liberdade de idéias e para a formação política e econômica do ocidente. Mas, certamente, não podemos nos furtar ao Enc. Bibli: R. Eletr. Bibliotecon. Ci. Inf., ISSN 1518-2924, Florianópolis n. esp., 1. sem. 2009. 131 diálogo necessário entre a linguagem, a escrita e os meios de comunicação do pensamento. Segundo Spirkin (1972), a escrita constituiu a forma visual de fixar a linguagem, surgindo quando a sociedade já havia alcançado um nível elevado de desenvolvimento. Portanto, um produto normal da ampliação dos meios de intercomunicação das pessoas, que são estimuladas pelas necessidades práticas da vida social. A escrita é o resultado da atividade criadora e consciente dos seres humanos. Como linguagem articulada, adquire um caráter até certo ponto independente e constitui uma forma de atividade extremamente abstrata. A escritura pictográfica evoluiu gradativamente no sentido da significação. Da representação completa do objeto, o homem passou à representação esquemática. Por sua vez, a escrita ideográfica ou hieroglífica constituiu um sistema de signos e regras acerca de seu emprego que serviu para comunicar um pensamento qualquer. Do ponto de vista do desenvolvimento do pensamento, o aparecimento do alfabeto significou que o homem chegou a ter a idéia de que a palavra consta de elementos particulares. O sistema alfabético, portanto, surgiu no estágio em que a linguagem fonética e o pensamento abstrato haviam alcançado seu pleno desenvolvimento. A escrita fonética, através da linguagem, se converteu em realidade material do pensamento. Então, ao proporcionar ao pensamento um caráter de certo modo independente (da realidade física dos objetos), a linguagem foi uma das forças que contribuíram para criar não somente uma cultura espiritual, como para desenvolver a cultura material. O pensamento humano, que opera com conteúdos dependentes da palavra, implica sempre uma influência recíproca entre o sujeito pensante e o conteúdo que a palavra encerra e a linguagem é vista como o instrumento do pensar, sua realidade imediata, tanto para o ouvinte quanto para o falante. Merleau Ponty (1992, p. 22) amplia esse conceito e afirma que “a palavra não é a tradução de um sentido mudo, mas criação de sentido. A linguagem não ‘veste’ idéias: ela encarna significações, estabelece a mediação entre o eu e o outro e sedimenta os significados” que constituem a cultura. O pensamento, ainda em Spirkin, nasce junto com a linguagem e constitui a atividade cognoscitiva do sujeito feita imediatamente por meio da palavra. A linguagem cumpre, então, dois papéis: um como fator de comunicação (objeto - relação do sujeito com o objeto - relação existente entre sujeitos), outro como organizador do pensamento. Gorsky (1966, p. 68-105) confirma o discurso de Spirkin, dizendo que a linguagem está vinculada ao pensamento direta e indissoluvelmente e é essa conexão essencial que determina o papel que a linguagem desempenha na esfera do conhecimento. Richaudeau (1972) adiciona ênfase à tese, Enc. Bibli: R. Eletr. Bibliotecon. Ci. Inf., ISSN 1518-2924, Florianópolis n. esp., 1. sem. 2009. 132 considerando que a riqueza do aparelho lingüístico permitiu a transcendência da sua função inicial e a linguagem se transformou em suporte do conhecimento, da imaginação, do sonho, dos prazeres. A linguagem não exprime somente o pensamento humano pré-existente, mas se constitui no próprio pensamento. 1 Ainda em Gorsky, a linguagem não só constitui uma condição necessária para a formação de nossos pensamentos, como também permite consolidar os êxitos da atividade cognoscitiva do indivíduo, fixar a experiência adquirida por uma geração e transmitida às gerações futuras. Portanto, o papel da linguagem para o conhecimento se revela a partir da transmissão dos conhecimentos adquiridos, na passagem do nível sensorial para o racional e no processo de formação de conceitos, tanto do discurso da ontogênese, como da filogênese. Martins (1957, p. 25) afirma que são problemas até agora não resolvidos o momento e o processo em que a linguagem se diversificou em idiomas, e a linguagem auditiva se diversificou em linguagem visual, com a invenção dos primeiros sistemas de escrita. A escrita seria apenas um sistema de linguagem visual mais perfeito ou menos obscuro dentre inúmeros outros como: os desenhos, a mímica, os códigos de sinais marinhos e terrestres, luminosos ou não, os gestos. Usando a cronologia organizada por Zilberman (2001p. 121-123), temos que: 2300 a.C. 750 a.C. Séc.V. a.C. Séc. IV a.C. 310 a.C. Séc. II a.C. 105 a.C. Séc. I a.C. Sécs. II e III d.C. 793 Séc. XII 1270 Sécs. XIII e XIV 1450 Os egípcios usam o papiro para fixar matéria escrita. Invenção do alfabeto grego, adaptado da escrita fenícia e acrescido de signos que representam vogais. Apogeu da cultura ateniense, com o desenvolvimento da tragédia, da comédia e da filosofia. Comercialização de obras escritas por meio de livreiros. Escolarização da juventude e expansão da aprendizagem da leitura escrita. Fundação em Alexandria, por Ptolomeu I, de uma biblioteca para acolher e estudar a produção escrita da Antiguidade Ascensão de Pérgamo como centro cultural; desenvolvimento do pergaminho para a fixação material do escrito. Invenção do papel na China, creditada a Tse’ai Lun. Expansão da leitura silenciosa em Roma, onde se encontravam livrarias administradas por libertos Expansão do uso do códice, em lugar do rolo; o pergaminho torna-se o material preferido para fixação de textos escritos, substituindo o papiro. Introdução do uso do papel no mundo árabe. Consolidação da escrita em palavras separadas. Predomínio da leitura silenciosa sobre a leitura oral. Construção, na Itália, do primeiro moinho de fabricação de Papel. Aparecimento das primeiras universidades européias. Desenvolvimento do comércio de obras escritas, produzidas manualmente por copistas. Produção de papel na Europa. Apresentação, por Gutenberg, do primeiro exemplar impresso da Bíblia, inaugurando a era do livro manufaturado industrialmente. 1 Alguns linguistas e psicólogos contestam essa tese, principalmente os discípulos de Piaget, que deduziram de seus trabalhos experimentais a pré-existência do pensamento sobre a linguagem. Cf. Richaudeau, 1972, p. 208. No entanto, vale a pena investigar se os experimentos piagetianos são da ordem da ontogênese apenas, ou se estendem também à filogênese. Enc. Bibli: R. Eletr. Bibliotecon. Ci. Inf., ISSN 1518-2924, Florianópolis n. esp., 1. sem. 2009. 133 1476 Séc. XVI 1564 1605 Séc. XVIII Início séc. XIX 1857 Sécs XIX e XX Final séc. XX e início do XXI Fundação por William Caxton, da primeira tipografia na Inglaterra. Expansão da indústria tipográfica por toda a Europa. Até 1550, fixação da forma do livro, incluindo capa, título, nome do autor e demais características gráficas. Publicação em Roma, do Index Librorium Prohibitorum, pelo Papa Pio IV, estabelecendo a censura religiosa. Publicação de O Engenhoso fidalgo Dom Quixote de la Mancha, de Miguel de Cervantes, tematizando a febre da leitura na Europa moderna, onde então funcionam mais de 250 tipografias. Expansão da alfabetização e da imprensa entre a população. Crescimento do público leitor, sobretudo entre a classe burguesa ascendente. Expansão do romance. Barateamento do custo da produção do livro e dos jornais, graças à industrialização do papel. Expansão da imprensa e do romance folhetim. Consolidação do público feminino. Publicação de Madame Bovary, de Gustave Flaubert, cuja protagonista é iludida pelos enredos folhetinescos das novelas lidas na adolescência. Escolarização obrigatória da população infantil. Expansão da literatura de massa. Pesquisas no âmbito da Sociologia da Leitura. Propostas teóricas e aplicadas de alfabetização popular. Difusão das teorias sobre o efeito da leitura e a emancipação do leitor. Expansão da tecnologia digital e das redes de comunicação virtual via computador. Aparecimento de multimídias, CD-ROM, E-Books. Discussões sobre o futuro do livro, da leitura e da literatura. Um rápido olhar nessa linha do tempo da evolução dos modos e meios de transmissão do saber pode nos dar uma explicação sobre a angústia em que vivemos na era atual que ameaça extinguir um objeto, com o qual travamos relação afetiva por quinhentos anos. O que significa também afirmar que acumulamos esses objetos quer fossem eles produzidos com a estética com a qual costumamos nomear “livro”, quer com as estéticas anteriores e posteriores que mudavam em função das tecnologias de produção do objeto. Quer nos parecer que o foco da questão é a possibilidade de perda de memória auxiliar acumulada, proporcionada por fatores de preservação do objeto. Os livros são objetos que se conservaram muito bem ao longo do tempo e as bibliotecas demonstram isto em suas seções de obras raras. Eles foram guardados, mantendo a integridade do saber ali registrado, estabelecendo a maior rede de pensamento que a sociedade jamais experimentou. Na obra de Ray Bradbury, Fahrenheit 451, o tema do fim do livro é sugerido na trama futurista em que um grupo de pessoas resistentes ao sistema de controle social imposto pelo regime das mídias televisivas que queimava livros, resolve criar uma sociedade secreta em defesa da literatura, onde cada pessoa se compromete a decorar uma ou mais obras da literatura e se responsabilizar por sua transmissão oral. Os livros eram lidos, decorados e imediatamente queimados à temperatura de 451 graus fahrenheit. Quero que conheça Jonathan Swift, autor daquele pernicioso livro político, As viagens de Gulliver! E esse sujeito aqui é Charles Darvin, e esse aqui é Schopenhauer, esse outro é Einstein, e este aqui ao meu lado é o Senhor Albert Schweitzer, um filósofo realmente muito gentil.[...] E também somos queimadores de livros. Lemos e os queimamos, por medo que sejam encontrados.[...] Tudo o que queremos fazer é Enc. Bibli: R. Eletr. Bibliotecon. Ci. Inf., ISSN 1518-2924, Florianópolis n. esp., 1. sem. 2009. 134 manter o conhecimento que, pensamos, precisamos manter intacto e seguro. [...] Passaremos os livros adiante a nossos filhos, de boca em boca, e deixaremos que nossos filhos, por sua vez, sirvam a outras pessoas. É claro que muito se perderá dessa maneira.(BRADBURY, 2003, p.186-188) Fahrenheit 451 estabelece uma nova relação da memória com a oralidade, quando verifica que a sociedade da escrita está ameaçada de desaparecer. A rede de pensamento organizada pelos livros seria humanizada, protegida pela disseminação oral do conhecimento. Embora os “homens-livros” se preocupassem com a integridade da obra e do autor, sabiam também que o processo de transmissão oral não garantiria essa integridade. Somente a acumulação de itens individuais preservados em sua originalidade pode nos dar essa garantia. A memória individual e, ao mesmo tempo, coletiva é representada na obra de Bradbury pelos heterônimos que habitam cada um dos personagens. Por essa obra de ficção podemos entender que a leitura sobrevive ao livro e, como assinala Zilberman, na época atual “a leitura e a escrita antecedem e sucedem os meios utilizados para sua gravação num dado tipo de material, de modo que a troca desse por outro – disco rígido, CD ou site na internet – representam tão somente um outro passo (ou vários) na direção do progresso e do aperfeiçoamento tecnológico.” (ZILBERMAN, 2001, p. 106). O e-book, ou livro eletrônico, já disputa o mercado editorial mundial. Na feira de Frankfurt deste ano mais de 30% dos itens expostos eram digitais 2. As editoras investem somas incalculáveis para ampliar o universo de livros digitais e aperfeiçoar os aparelhos de leitura (leitores). Copiando o aspecto do livro tradicional em formato e tecnologia de leitura – até as páginas podem ser “folheadas”, o e-book carrega em seu conceito dois atributos: é um dispositivo para leitura e uma biblioteca digital, pois a capacidade de armazenamento de textos digitalizados pode chegar, até este momento, a cerca de duzentos livros digitais. Parece-nos então que o livro em sua forma tradicional possa deixar de ser produzido, tendo em vista os benefícios que a tecnologia digital nos apresenta em relação à velocidade de acesso aos textos, à compressão de armazenamento de dados e, com os novos leitores digitais em formato de bolso, à portabilidade. Não há ainda indícios, a partir dessas novas tecnologias, de que se extinguirão a leitura e as bibliotecas. 3 A LEITURA 2 Páginas virtuais: editores se acotovelam em Frankfurt para entender como as novas tecnologias podem revolucionar a leitu ra. O Globo, sábado, 18 de out. 2008. (Prosa & Verso) Enc. Bibli: R. Eletr. Bibliotecon. Ci. Inf., ISSN 1518-2924, Florianópolis n. esp., 1. sem. 2009. 135 Meu primeiro livro era de pano, e foi-me presenteado por meu pai quando eu fiz dois anos. Portanto, comecei a ler um livro com essa idade, embora aos dois anos fosse incapaz de compreender a escrita e de reproduzi-la com minha mão. “Tic-tac vai à escola com seus livros na sacola” foi inteiramente decorado por repetição oral e fixação das imagens. Ler, portanto, independe do livro e da escrita. O ato de ler é visual e nisto permanecemos atuais face à cultura contemporânea. Lemos um texto, um quadro, uma fotografia, um filme. Lemos o mundo. Na antiguidade, a passagem da leitura oral, compartilhada, para a leitura individual, silenciosa, inaugura uma nova experiência humana de criação de mundos íntimos. Da leitura pública, a partir do método escolástico (lectio – sensus – exegese) à leitura de mundo, confere-se ao ato de ler a liberdade de criação. Como comenta Manguel, “[...] os produtos dessas escolas, os novos humanistas, abandonaram a sala de aula e o fórum público e, como Rhenanus, retiram-se para o espaço fechado do gabinete ou da biblioteca, para ler e pensar isolados.”(MANGUEL, 1997, p. 42). A leitura começa com os olhos. Manguel se pergunta por meio de qual alquimia as letras se tornam palavras inteligíveis; o que acontece dentro de nós quando nos defrontamos com um texto; de que forma as coisas, substâncias - sejam elas cores, formas dos objetos -, tornam-se legíveis; finalmente, o que significa ler. Essa é a questão que percorre toda a sua obra Uma história da leitura da qual nos valemos neste momento para dialogar, sabendo que não estamos dialogando com apenas um autor, mas com uma rede de fontes intelectuais que expressam a memória – mundo de Alberto Manguel. Paulo Freire (2005) discute a leitura do mundo em palestra sobre a importância do ato de ler e as relações da biblioteca popular com a alfabetização de adultos, e no artigo em que expõe a experiência de alfabetização de adultos desenvolvida por ele e sua equipe nas ilhas da costa africana São Tomé e Príncipe. Diz Freire que a leitura de mundo precede a leitura da palavra, que linguagem e realidade se prendem mutuamente. O autor apresenta a tese de que o ato de ler se funde, em certo sentido, com a memória. Ao ir escrevendo este texto, ia “tomando distância” dos diferentes momentos em que o ato de ler se veio dando na minha experiência existencial. Primeiro, a leitura do mundo, do pequeno mundo em que me movia; depois, a leitura da palavra que nem sempre, ao longo de minha escolarização, foi a leitura da “palavramundo”. A retomada da infância distante, buscando a compreensão do meu ato de ler o mundo particular em que me movia – e até onde não sou traído pela memória-, me é absolutamente significativa. Nesse esforço a que me vou entregando, re-crio, e re-vivo, no texto que escrevo, a experiência Enc. Bibli: R. Eletr. Bibliotecon. Ci. Inf., ISSN 1518-2924, Florianópolis n. esp., 1. sem. 2009. 136 vivida no momento em que ainda não lia a palavra. Me vejo então na casa mediana em que nasci, no Recife [...] (FREIRE, 2005, p. 12). A importância do contexto como antecedente ao texto da leitura é fundamental para a teoria de alfabetização de Paulo Freire. O contexto, ou mundo imediato, é representado pela experiência vivida do leitor, como aquela indicada pelo autor na citação acima. Mais adiante em sua fala, Freire explicita sua tese ao afirmar que “a leitura da palavra não é apenas precedida da leitura de mundo, mas por uma certa forma de “escrevê-lo” ou de “reescrevê-lo”, quer dizer, de transformá-lo através de nossa prática consciente” (FREIRE, 2005, p. 20). A leitura de mundo do alfabetizando deveria sempre prevalecer à leitura de mundo do alfabetizador, pois só assim o processo de conhecimento poderia ocorrer, no sentido transformador. A leitura é, assim, o processo que nos permite interagir com o mundo, armazenar lembranças, produzir novos conhecimentos. Nesse sentido, o ato de ler é vital e não se prende apenas a um dispositivo de leitura, como, por exemplo, o livro. A leitura alimenta a imaginação e o começo desse processo se inicia com a vida e se encerra com a morte. Do mesmo modo que a linguagem, leitura e memória fixam a experiência adquirida por uma geração para ser transmitida às gerações futuras. Não foi apenas Paulo Freire que pensou a leitura como leitura-mundo ou memória-mundo. Kafka, citado por Manguel (1997, p. 111) ao comparar o livro com o mundo, ou a obsessão das pessoas pela posse do livro diz que: “Um livro não pode tomar o lugar do mundo. [...] Um homem não pode dominar sua própria experiência por meio de outra personalidade.[...] Tentamos aprisionar a vida num livro, como um pássaro canoro na gaiola, mas não funciona.” Sócrates também afirmava que somente o que o leitor já conhece pode ganhar vida com uma leitura, indicando, desta forma, que a experiência pessoal seria a base para a produção do conhecimento. A idéia de rede de informações ou de conhecimento está já delineada nessas discussões sobre o processo de criação, assim como a possibilidade de haver tantas leituras possíveis quanto fossem os leitores. É, portanto, no indivíduo que se dá o ato complexo de ler, muitas vezes igualado à dinâmica da memória. Ainda na História da leitura, Manguel comenta que o poeta americano Walt Whitman dizia que nossa tarefa é ler o mundo, pois esse livro colossal é a única fonte de conhecimento para os mortais. Dizer que lemos – o mundo, um livro, o corpo – não basta. A metáfora da leitura solicita por sua vez outra metáfora, exige ser explicada em imagens que estão fora da Enc. Bibli: R. Eletr. Bibliotecon. Ci. Inf., ISSN 1518-2924, Florianópolis n. esp., 1. sem. 2009. 137 biblioteca do leitor e, contudo, dentro do corpo dele, de tal forma que a função de ler é associada a outras funções corporais essenciais. Ler – como vimos – serve como um veículo metafórico, mas para ser compreendido precisa ele mesmo ser reconhecido por meio de metáforas. (1997, p. 198). Manguel, comentando o que Santo Agostinho argumenta sobre os modos de ler, sugere que não devemos usar o livro apenas como apoio para o pensamento, nem confiando nele como se confiaria na autoridade de um sábio; mas tomando dele uma idéia, uma frase, uma imagem, ligando-a a outra selecionada de um texto distante preservado na memória, amarrando o conjunto com reflexões próprias e produzindo, na verdade, um texto novo de autoria do leitor. Mangel, no ensaio O computador de Santo Agostinho (MANGUEL, 2000, p. 273-291) nos conta que Santo Agostinho sabia que todo leitor cria, ao ler, um espaço imaginário, feito da pessoa que lê e do reino das palavras lidas. Diz ainda o autor que “cada leitura prolonga outra, iniciada em alguma tarde de milhares de anos atrás e da qual não sabemos nada; cada leitura projeta sua sombra na página seguinte, emprestando-lhe conteúdo e contexto.” Não há conclusão para a leitura. A leitura é um processo sempre incompleto, não linear, mesmo que circunstancialmente a leitura da escrita nos force a uma determinada direção, da esquerda para a direita, como na cultura ocidental. 4 COMO LER O MUNDO ATUAL? Se a leitura é parte integrante do processo de conhecimento, independe do objeto a ser lido, e se é também inconclusa, como pensar a leitura, o leitor e o mundo a ser lido nessa era ubíqua, em que os objetos se fundem em escrituras digitais, em que o pensamento se constrói por redes de narrativas que nascem concomitantemente à produção dos objetos virtuais? Vimos anteriormente que os livros não desapareceram, apenas mudam seu formato, assim como no passado transformaram-se de rolos a códices. Muito menos as bibliotecas deixaram de existir. Cada vez mais se digitalizam obras para comporem as bibliotecas digitais e as bibliotecas dessas bibliotecas, às vezes com outras nomeações como, por exemplo, os repositórios digitais. O exemplo do uso de uma nova tecnologia para a transformação da sociedade é dado por Martinho Lutero, monge responsável pelo movimento da Reforma, que em 1521 utiliza as facilidades tecnológicas da impressão e publica a Bíblia em língua vernácula, o alemão, Enc. Bibli: R. Eletr. Bibliotecon. Ci. Inf., ISSN 1518-2924, Florianópolis n. esp., 1. sem. 2009. 138 possibilitando assim que se desse início, no ocidente, ao movimento de alfabetização. A revolução causada na Igreja romana, com o aparecimento do protestantismo, permitiu que a leitura da escrita, antes apenas em latim, absorvesse outras camadas da população, como crianças e mulheres. Segundo Manguel (1997, p. 89), “a criança, aprendendo a ler, é admitida na memória comunal por meio de livros, familiarizando-se assim com um passado comum que ela renova, em maior ou menor grau, a cada leitura.” Passados cinco séculos, a escrita digital que ocorre no mundo virtualizado da rede mundial de computadores pode ser compreendida por dois objetos: os blogs e os websites. De acordo com Lopes (2003), Blog é uma abreviatura de web log e significa uma página na web que se propõe a ser um diário pessoal com acesso público. Os blogs são, assim, publicações freqüentes, organizadas cronologicamente, de considerações pessoais e links para a web. Diferem dos websites por sua estrutura conversacional. Enquanto nos blogs as matérias são “postadas” (posts) por data e esses posts constituem toda a sua essência, os websites harmonizam uma rede de informações fixas, sobre um tema específico, que pode ter como autoria uma pessoa física ou uma pessoa jurídica. Tanto blogs, quanto websites são os depositários das narrativas da atualidade. Artigos acadêmicos, crônicas, fotografias, filmes, críticas literárias, artísticas, científicas, todas essas formas de divulgação da informação são publicadas nessas mídias. A interatividade dos blogs se faz pelas postagens tanto do autor quanto do leitor, aliada às salas de “bate-papo” que, normalmente, ficam em linha durante todo o tempo em que o internauta está “plugado”. A informação circula em rede ou vias de comunicação, sempre transformando outras e a si mesma, num processo de criação contínua, como ocorre com nossa memória individual. A descontinuidade da leitura nessas mídias informáticas não difere - a não ser pela velocidade - das formas de leitura do livro, quer seja em seu formato tradicional, quer seja no formato hipertextual. O hipertexto é um modo de pensar essencialmente em rede e por associação o que as notas de texto e as referências incluídas no livro em papel já proporcionavam ao leitor. A falta de linearidade característica da construção da escrita hipertextual impede a sua completude e a sua conclusão; mas sobre isto vimos, anteriormente, que essa é uma operação inerente à leitura e não à hiprtextualidade. O que a tecnologia da informação e da comunicação nos apresenta hoje são problemas de outra natureza; são questões mais ligadas à memória de mundo do que à leitura de mundo. Esses problemas dizem respeito à preservação da informação que, naturalmente, muda com uma nova tecnologia. Não é a leitura que nos preocupa. Enquanto seres humanos Enc. Bibli: R. Eletr. Bibliotecon. Ci. Inf., ISSN 1518-2924, Florianópolis n. esp., 1. sem. 2009. 139 continuaremos a ler o mundo do nosso presente, mesmo que para tal seja necessário estar “plugado” à máquina. O que aterroriza a sociedade contemporânea é abdicar de suas memórias auxiliares, de seus tesouros materiais. A “sociedade do menos” começa a se impor: menos poluição, menos desperdício de alimentação, menos consumo de água. E por que não, menos memórias auxiliares, arquivos, bibliotecas, menos museus? A memória pode ser construída e reconstruída, reciclando-se continuamente. Ainda há espaço para muitas tecnologias da informação. O mundo ainda é muito desigual em “letramento”, ou níveis de leitura. Muitas crianças nunca tiveram o prazer de ler um livro, nem em papel nem em formato digital. Mas é possível que venham a conhecêlo apenas na tela de seus celulares, ou na oralidade das histórias contadas. A leitura, assim como a memória, é inerente à humanidade. Não se pode dizer o mesmo da acumulação patrimonial que inicia sua corrida nos finais do século XIX, mas parece já desacelerar neste início do XXI. Imposta por uma tecnologia digital, a preservação dos saberes se dá mais por disseminação do que por proteção. Assim como o poema de Leminski, o bicho alfabeto passa, fica o que não se escreve. REFERÊNCIAS BRADBURY, R. Fahrenheit 451: a temperatura na qual o papel do livro pega fogo e quei ma... São Paulo Globo, 2003. CHARTIER, R. A aventura do livro: do leitor ao navegador. São Paulo: UNESP, 1998. FREIRE, P. A importância do ato de ler em três artigos que se completam. São Paulo: Cortez, 2005. GORSKY, D. P. Lengaje y conocimiento. In: ______. Pensamiento y lengaje. Mexico: Crijalbo, 1966. p. 68-105. HUYSSEN, A. Seduzidos pela memória. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2000. LEMINSKI, P. O bicho alfabeto. Poesia Sempre: China, Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, v. 27, n. 14, 2007. Enc. Bibli: R. Eletr. Bibliotecon. Ci. Inf., ISSN 1518-2924, Florianópolis n. esp., 1. sem. 2009. 140 LOPES, A. C. K. Da possibilidade de exercício de memória criativa: internet, blogs e blo ggers. 2003. 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The second part dissociates the act of reading from its most traditional support and deals with "reading" as an independent object, with the suggestion, based on Regina Zilberman's, Alberto Manguel's and Paulo Freire's proposals, that we are meant to read the world, irrespective of the mechanisms used in order to achieve this ultimate aim. In the third and last part, we present some signs of possible ways in which memory may exist in the cyber world, with comments on the role of blogs and websites in relation to the written word on paper. Keywords: Virtual memory. Book. Reading. Blogs. Digital heritage. Originais recebidos em: 05 de março de 2009 Aceitos para publicação em: 14 de maio de 2009 Enc. Bibli: R. Eletr. Bibliotecon. Ci. Inf., ISSN 1518-2924, Florianópolis n. esp., 1. sem. 2009. 142 O Digital e o Currículo LIVROS DIGITAIS: NOVAS OPORTUNIDADES PARA OS EDUCADORES NA ERA WEB 2.0 João Batista Bottentuit Junior Universidade do Minho [email protected] Eliana Santana Lisbôa Universidade do Minho [email protected] Clara Pereira Coutinho Universidade do Minho [email protected] Resumo Nesta comunicação vamos apresentar ferramentas da nova geração de Internet designada por Web 2.0, que possibilitam a criação e partilha de livros em formato digital e que, em contexto educativo, podem funcionar como estratégia inovadora na motivação para a produção de texto escrito e como instrumento de inclusão digital. Apresentam-se dois projectos concretos de utilização do livro digital nas duas modalidades escrito e falado. Esperamos desta forma contribuir para a promoção de estratégias pedagógicas mais centradas no aluno e vocacionadas para o desenvolvimento de competências de leitura e de escrita bem como da criatividade e espírito crítico essenciais a todo o cidadão do século XXI. Palavras Chaves: Livros Digitais, Web 2.0, Aprendizagem, Escrita Abstract In this communication we present tools of the new generation of Internet known as Web 2.0, enabling the creation and sharing of books in digital format and, in educational, innovative strategy can serve as the motivation for the development of written text and as an instrument of digital inclusion. There are two projects to use the digital book in both written and spoken modalities. We thus contribute to promete pedagogical strategies more focused on student and dedicated to the development of skills of reading and writing as well as creativity and criticai thinking essential to every citizen of the XXI century. Keywords: Digital Books, Web 2.0, Learning, Writing 433 VI Conferência Internacional de TIC na Educação INTRODUÇÃO Os livros electrónicos ou e-books são uma realidade no mundo actual, ou seja, é possível encontrar na Web uma gama muito variada de exemplares disponíveis para consulta e/ou aquisição. Estes recursos potencializam uma maior difusão do saber e possibilitam a acessibilidade ao conhecimento nas partes mais remotas do planeta. De facto, os livros digitais podem ser acedidos através de qualquer dispositivo electrónico como seja o computador, o PDA, o telemóvel, os smartphones, os lphones, etc. e possuem alta portabilidade já que podem ser armazenados num único dispositivo. Segundo Mesquita & Conde (2008: p.3) A facilidade de publicação e obtenção dos títulos digitais tem atraído vários autores e leitores ocasionando a formação de uma nova classe editorial. O novo editor surge com alguns papéis que permanecem em relação a edição do livro impresso e outros inteiramente novos. Com o advento da Internet, criou-se um repositório muito amplo de informações disponíveis a todos os indivíduos que têm acesso à rede. Neste sentido, o processo de busca de informações quebrou barreiras temporais e espaciais, permitindo que possamos aceder a dados que antes eram muito restritos. No entanto, a facilidade de acesso também fomenta a reprodução mecânica de conteúdos digitais (o tão conhecido copy & paste), o que, na opinião de muitos educadores, pode constituir um factor inibidor da produção escrita dos alunos. Trata-se de uma prática corrente que pode ser muito prejudicial ao não estimular o pensamento crítico e criativo bem como a produção de novos saberes. Para Medina & Freitas Filho (2004), a aprendizagem é significativa quando o estudante é capaz de relacionar os conhecimentos já adquiridos (ideias, conceitos e princípios) com a nova informação produzida, o que não acontece numa actividade de reprodução mecânica de conteúdos digitais disponíveis na Web. No entanto, existem hoje, nesse imenso espaço aberto para a partilha de informação que é a Internet, aplicativos que podem ajudar a colmatar a lacuna acima referida, ou seja, ferramentas que, para além da consulta, estimulam a produção da escrita e a construção do conhecimento. Com o aparecimento da geração de aplicativos Web 2.0, o utilizador deixou de assumir um mero papel passivo em relação às informações (apenas pesquisando e tirando proveito delas), para ter um papel mais activo e participativo, ou seja, no caso de que vimos falando, a possibilidade que hoje temos de assumir o status de "autor". Tal como referem Coutinho & Bottentuit Junior (2008: 1862), Hoje a filosofia é outra, pois com a introdução da Web 2.0 as pessoas passaram a produzir os seus próprios documentos e a publicá-los automaticamente na rede, sem a necessidade de grandes conhecimentos de programação e de ambientes sofisticados de informática. 434 O Digital e o Currículo Nesta comunicação vamos apresentar duas ferramentas da geração Web 2.0 que facilitam a construção de livros digitais como forma de estimulação à produção escrita: o issuu e o scribd. Apresentamos depois um exemplo de utilização pedagógica dessas ferramentas em actividades curriculares que visam o desenvolvimento de competências de leitura e de escrita, e ainda um exemplo de utilização de uma outra modalidade de livro digital - o audiobook como forma de promover a inclusão digital de pessoas invisuais. OS LIVROS DIGITAIS EM CONTEXTO EDUCATIVO Os livros electrónicos (Portugal), eletrônicos (Brasil), livros virtuais ou e-books (abreviação em língua inglesa) têm como principal objectivo a disponibilização de um livro no formato digital, de forma que este pode ser visualizado através de um computador ou um dispositivo móvel. Por estarem em formato digital, estes conteúdos podem ser facilmente disponibilizados através da Internet ou outros meios de armazenamentos como CD-ROM, disquetes ou pendrives (Bottentuit Junior & Coutinho, 2007). Segundo Paraguay, Spelta & Simofusa (2005) existem ainda outras terminologias encontradas que fazem referência aos livros digitais, tais como: o livro falado, o livro digitalizado, o livro fonado, o livro virtual, o livro electrónico, o open book, o digital Braille ou o digital áudio entre outros. Segundo Sáez (2000), Sotorres (2000) e ainda Fernández & Temifío e lllera (2003) as principais vantagens identificadas nos livros digitais são: • A facilidade para fazer o download dos livros através da Internet; • Poder transportar uma série de livros num único dispositivo; • A edição, divulgação e acesso aos livros digitais atinge esferas muito mais amplas; • Podem estar múltiplos utilizadores em simultâneo a consultar e manipular a mesma obra; • A busca de termos ou palavras-chave é mais rápida e eficaz através dos métodos de busca dos dispositivos; • Alguns exemplares permitem a interactividade e a utilização de recursos multimédia; • Permitem a utilização de hiperligações para sites externos e consultas a materiais; • Ajudam a fomentar o conhecimento livre na rede; De entre as principais desvantagens destacam-se: • Leitura mais lenta e cansativa; • Não permitem que sejam feitas anotações manuais; • Existência de grande quantidade de livros sem recursos multimédia; • Pouca divulgação dos exemplares disponíveis; 435 VI Conferência Internacional de TIC na Educação • Preço dos dispositivos ainda bastante elevado; • Informação muitas vezes mal estruturada; • Fontes e contrastes inadequados; • Pouca quantidade de exemplares em determinadas áreas do saber; • Crescente prática de crime contra os direitos de autor. 2.1 Ferramentas para a criação de livros digitais Na Web social encontramos diversas ferramentas que possibilitam a criação e partilha de livros electrónicos, mas vamos concentrar a nossa análise em duas delas: o ISSUU e o SCRIBD. 1 Através de uma interface simples e atractiva o aplicativo ISSUU permite que os utilizadores, após registo, façam o upload (envio) de ficheiros em formato PDF, DOC, RTF e PPT transformando-os em livros digitais. Pode-se ainda enviar um conjunto de documentos de uma única vez, mesmo que os ficheiros tenham sido criados diferentes formatos. Este recurso torna a leitura de textos no ecrã mais agradável e acessível, pois ao fazer o envio, é gerada automaticamente uma URL que pode ser disponibilizada para consultas online. A ferramenta é completamente gratuita, simples e intuitiva, além de possibilitar: • Facilidades de leitura tais como: a visão de todas as páginas em miniatura e uma lupa para aproximação das palavras e imagens; • Admite diferentes modos de visualização, ou seja, em uma ou duas páginas; • Permite coleccionar e compartilhar os documentos favoritos; • É capaz de criar bonitas publicações online; • Admite o download dos livros e documentos disponibilizados no site para os utilizadores registados; • Faculta a disponibilização dos livros em websites pessoais, blogs e nas redes sociais (através do código html gerado pela própria ferramenta); • Permite escolher o layout do livro a ser publicado; • Permite fazer a leitura dos documentos a partir da ferramenta sem haver necessidade de ter instalados os aplicativos (Word, Power Point e Acrobat Reader) Caracteriza-se também por ser uma ferramenta social, pois permite ao utilizador criar amigos e compartilhar os documentos com eles, podendo ainda escolher se a visualização dos documentos será pública ou privada. Para além disto, pode-se editar o documento online, definindo as palavras-chave para que possa ser facilmente identificado por outros utilizadores. 1 www.issuu.com 436 O Digital e o Currículo O site também possibilita o armazenamento dos documentos (cópia de segurança) de forma online. Admite também a organização de documentos electrónicos dentro da biblioteca da ferramenta das seguintes formas: por título, descrição, autor e data e ainda criar pastas para sua organização. Para além disto, o ISSUU também funciona como repositório de livros, revistas e documentos, já que os ficheiros enviados ficam à disposição para consulta, servindo também para seleccionar os livros e revistas predilectas. Na figura 1, pode observar-se um exemplo de revista digital. 'r:.J---.l.,. ___ .., • ,,~,...,.;_ -I •u1 -.~~- ,:.?-.J;..:~~~~-~~*-~;...~>.!J -~~~--.--~-~ ijp lir.' l:l ,.,.;::~-.~ ~~.:- ·-~ i;';:;;;,---------iiiiiiiiii~:3ill~ I •IWM Figura 1: Exemplo de livro disponível na ferramenta ISSUU. Outra ferramenta que faz praticamente as mesmas funções do ISSUU é o SCRIBD 2, também gratuita e com possibilidades de compartilhamento tanto de livros como de revistas. Contudo este aplicativo apresenta algumas peculiaridades, ou seja, permite fazer o download livre sem haver necessidade de registo, bem como o envio de links dos livros a partir da ferramenta desde que o utilizador tenha conta de correio electrónico no Yahoo no Gmail ou no Hotmail. Desta forma, à semelhança do ISSUU, a ferramenta permite criar lista de favoritos e disponibilizar os documentos criados em blogs, sites pessoais e redes sociais. 2 http://www.scribd.com 437 VI Conferência Internacional de TIC na Educação . i iPhone · .l!AUIOtl ~~,.."~ "'' ·" .,... ..,.,;;-'·;..'I . rr .......t ! Figura 2: Layout da Ferramenta Scrib 2.2 Audiobooks Outro tipo bastante interessante de livro digital é Audiobook (audiolivro) ou "Livro Falado", muito utilizado em diversas bibliotecas pela possibilidade de inclusão dos invisuais para o mundo da leitura. Para Paletta, Watanabe & Penilha (2008: p.2) Os arquivos de áudio geralmente são salvos em MP3, WMA, entre outros, podendo ser gratuitos ou pagos. As versões pagas contam com a vantagem de possuírem narradores profissionais contando a história, podendo haver ainda efeitos sonoros, que ajudam na interpretação do texto e evitam a monotonia na escuta. Já os gratuitos trazem uma grande variedade de obras para download, a maioria actualmente em domínio público, copyleft ou outra licença pública livre disponível, narradas por voluntários gratuitamente. Este recurso não constitui em si uma grande inovação, pois em certos países como, por exemplo, nos Estados Unidos já vem sendo empregado há bastante tempo. Segundo Aquino (2008: online), o audiobook é "uma opção eficiente e menos dispendiosa de promover o estudo académico e a inclusão dos deficientes visuais nos diferentes contextos informacionais". A utilização destes recursos não se limita apenas aos invisuais, pois constitui numa forma diferenciada e dinâmica de acesso a informação, podendo inclusivamente atrair aqueles leitores que, por motivos vários, não disponibilizam de tempo nem local apropriado para realizar a leitura de um livro físico, podendo desta forma ouvi-lo a partir de um dispositivo móvel. Aquino (2008:on/ine) ainda reforça que "aos poucos o audiolivro vem abrindo espaços e conquistando o público dos grandes centros urbanos que fica horas preso no trânsito". Graças às tecnologias de informação e comunicação, é hoje possível disponibilizar audiolivros de forma fácil e simples garantindo que um número cada vez maior de pessoas possa aceder 438 O Digital e o Currículo ao mundo letrado, propiciando uma democratização do saber junto de públicos, que, pelos mais variados motivos, não tem acesso ao livro impresso. Uma outra variante dos audiolivros na internet é a associação aos vídeos, criando uma nova terminologia denominada videoaudiolivro. Esse recurso ainda está pouco explorado, porém algumas experiências já realizadas merecem destaque, como é o caso do Projecto Mil Casmurros que será apresentado no tópico seguinte. EXPERIÊNCIAS EM CURSO Vamos agora apresentar dois projectos distintos em que o livro digital, nas modalidades falado e escrito, foram utilizados e que consideramos poderem ser transpostas com sucesso para contextos educativos. Projecto Mil Casmurros Em Dezembro de 2008, foi adaptado para o modelo de mini-série o romance do escritor brasileiro Machado de Assis, intitulado "Dom Casmurro". No final da mini-série foi criado um site denominado "Projeto Mil Casmurros" 3 que oferecia aos utilizadores o convite para a gravação de pequenos trechos da obra em vídeo, disponibilizando-os online para livre acesso (ver figura 3 e 4). t i J _! t !i :J ,,-,·\!i. ..•.. ·..,_"(!'"·,,._ iJ1 14 f -~~· --~--- h\ dk d I h- i ·------·- _ .•.. ___l ., "'L <Ir-.-· 11.--~-·''-· ---·----:--"-·- '---t)·+·ll·o ...-- <!'• ...... I:;• -:;~ l't.. ._._......~-. S?'~';r••,; 1 - - , - ·_ _ _ .J '"'"r~------· l"'. r..-·1'--~-- .;-,. --- M!bts,;lt,:fY.>SAkttura ,nkrr.~• <J,. H.b ~"'·Hk _..,..,, - "'''"' .. "' -· ' ·~&·p•· !111~ 'fi "~· ".__ ,,,, ", ,G;;t:::t:zlt'~,~,L~~;;~t;(","""' ·'OI •' ~·,,\~ Lt~1"':::.;.:::,~-.-·i'iffll5i\,;..__; · ', , ,,-,-:-:;·j):"' Figura 3: Layouts do Projecto Mil Casmurros 3 http://www.milcasmurros.eom.br/ 439 !. "'"i~~ VI Conferência Internacional de TIC na Educação Figura 4: Layouts do Projecto Mil Casmurros A nível educacional, esta ferramenta pode proporcionar diferentes situações de aprendizagem envolvendo o desenvolvimento cognitivo, bem como as competências e habilidades ao nível da oralidade, do trabalhado colaborativo e, acima de tudo, a capacidade de concentração e o interesse pela história de Dom Casmurro. Na perspectiva do utilizador, constitui-se como outro meio de acesso à informação atraindo até mesmo aqueles mais resistentes às leituras, tornando-a mais interessante, pois transforma o livro num filme de mil protagonistas, cada um narrando à sua maneira, num projecto online de leitura colectiva. No entanto, para concebê-lo como um recurso que possa garantir um maior poder de participação dos utilizadores, é necessário um conjunto de artefactos que garantam maior dinamismo à actividade possibilitada por uma especial atenção à entoação da voz, aos efeitos sonoros, entre outros. É importante salientar que estes factores são de suma importância para que o utilizador consiga desenvolver a imaginação e a emoção que uma leitura proporciona. O projecto Dom Casmurros, poderá ser utilizado através de diferentes estratégias, a primeira seria como uma nova forma para atrair leitores para o livro de Machado de Assis, pois possibilitaria um novo meio, através do vídeo e do som. Como o livro digital não foi construído numa ferramenta livre, os professores que por ventura desejem utilizar esta mesma metodologia, porém com outros livros didácticos, poderão utilizar a estratégia do podcast 4, no qual pode-se inserir pequenos posts com recurso ao áudio e desta forma transformar o livro num conjunto de histórias gravadas por cada componente da turma. Uma das ferramentas gratuitas que permitem esta actividade é o podomatic (http://www.podomatic.com). Contudo o Projecto do Casmuros serve como exemplo para criação de novas estratégias. O uso das ferramentas da Web 2.0 potencializa um estímulo adicional aos professores, no sentido de que os mesmos podem criar e desenvolver metodologias cada vez mais criativas para atrair seus 4 Para Bottentuit Junior e Coutinho (2007: 840) o termo podcast resulta da soma das palavras lpod (dispositivo de reprodução de áudio/ vídeo) e broadcast (método de transmissão ou distribuição de dados) 440 O Digital e o Currículo alunos para uma aprendizagem mais lúdica e em sintonia com as exigências da actual sociedade. Projecto Luso-Brasileiro O Projecto Luso-Brasileiro Um voa entre Brasil e França, com escala em Portugal, foi uma iniciativa da prof. Emilia Miranda, à qual se associaram outras professoras de Portugal, do Brasil e de França que utilizaram um blog5, entre outras ferramentas da Web 2.0, para estimular a escrita colaborativa e individual dos alunos em torno da obra de Cláudio Fragata. O título do projecto foi dado em homenagem ao aviador. Alberto Santos Dumont que era brasileiro e vivia na França, tendo passado por diversas vezes em Portugal. Os alunos realizaram vários trabalhos de produções (escrita e gráfica) que partilharam entre si (e todos os visitantes), através das publicações no blog. A ferramenta utilizada para a publicação da produção dos alunos foi a ISSUU, cujas potencialidades foram já referidas no tópico anterior. Na figura 5, podemos observar o livro criado com o intuito de reconstruir a visita de estudo realizada à cidade de Rio das Flores (cidade situada no interior do Estado do Rio de Janeiro). Nesta actividade, os alunos, através de fotografias, registaram todas as aventuras que vivenciaram in loco. Todo mundo IUI&rou. AIUDOJ. profes,_o;nre.o;, pait c fon~m lílmando seu5 luprn. 1..11 no tundo do On~. unw menina,; da Cscola Áh·nm Rocha fOft\V'UI\'IJTL O que estarinm diô'.tndo? At~ fim de af&um tempo as "'lwrlgas começamn • dar homs" c um.n. pamd.11 foi ·feila. pnm que o l\nibu'õ abow:tts~ assim oomo o lanche do Soln OWihml'le. da Mariana. da Drm:la. da Fabi.lna, dn MtriAnA v~prrguntn11 'Frelw e da Llrina fl.'õlmnos COt:IVersando sobrr o que lmttrK enrontl'lli m~ Rio dH Flol't':§7 Como IU6 a ~-ldn" f~~t todo, todll'lho. lgrrja onde Sanros-Dumont foi bat.b.ndo? Como smii'KK retmidos pclu ptlt&O~ com Mllri~~r quem nona profenora con~bínou tudo? 'Bran& m ' . Figura 5: Livro sobre a visita de estudos a cidade de Rio das Flores6 5 http://voobpf.blogspot.com 6 http ://issu u.com/emiliami randa/docs/microsoft_ word_-_rio-das-florespartela12?mode=embed&documentld=080728233228-2ada6231f44341babcc7bc3b4b7b715e&layout=grey 441 VI Conferência Internacional de TIC na Educação Na Figura 6, pode observar-se o livro escrito pelos alunos através da reconstrução da obra "Seis Tombos e um Pulinho" de autoria de Cláudio Fragata, que conta as aventuras de Santos Dumont até a invenção do avião 14-BIS. Nesta actividade, os alunos tiveram que, a partir da leitura da obra, recontar a história através de desenhos e produções textuais. Figura 6: Livro sobre a reconstrução do livro de Cláudio Fragata 7 Os sonhos, constituem o combustível para a realização concreta daquilo que almejamos. Partindo deste princípio, as professoras suscitaram nos alunos o gosto pela escrita, baseandose para isso no sonho de Santos Dumont. Dando asas à imaginação dos seus alunos, as docentes estimularam, desta forma, a produção textual relacionada com a temática dos sonhos e com as possibilidades de concretização dos mesmos. De uma certa forma esta actividade constituiu-se como uma estratégia de ensino que, para além de motivar ao desenvolvimento da competência de produção escrita, chamou a atenção dos alunos para a possibilidade de concretização de coisas que às vezes achamos serem impossíveis, como a ide ia de voar de Santos Dumont (ver figura 7). http ://issu u .com/ma rlidf/docs/voobpf/15 ?mode=embed&documentld=080703132134bdf97ea34a6e4695a2b68c2138be3b87&1ayout=grey 442 O Digital e o Currículo ~lo;IIOI'tr.r,-..-,....l'<lf>n,_~,.~ _ .. ..,•• tc..f..nlllll,•k .... ,....._ ~~--- ... •. ~~- ...........d..,.v.......... tv.omow. ~~ ,...,.-·~"'· ... o«:t"'*" ,_,..,.~,...,., ~~-p~l~. ...-•~~ttl~lo:oclu, El.o.......,Kr..,.P"""•~~·..,..., .......,.~""".....-~~-("'".-~lk<:lrll ... ,..,...-. -A~it'íintdl!~~t--· ......... • -.:l\ol .... 'l"''' ...... ~""""""t.t~~~. ~ Eat.w.,... . . . (i~i .... iof6.t,~ ~~·~lhlliup!rc;ut.*'~,;..~"' ,_t~t ....bl«H'i•""'; twN~a~dO.~ Figura 7: Livro nossos sonhos 8 CONCLUSÕES As ferramentas apresentadas nesta comunicação constituem uma mais-valia sempre que o objectivo pedagógico numa dada unidade curricular seja o estímulo à produção escrita e ao trabalho colaborativo. Podendo propiciar diferentes situações de aprendizagem, o limite estará apenas na criatividade do professor na forma de utilizar recursos tecnológicos que estão acessíveis, que são gratuitos e fáceis de usar. Uma das funções principais da escola é estimular o pensamento crítico e criativo dos alunos, favorecer a aprendizagem individual e também social e, a este nível, os diversos recursos oferecidos pela geração Web 2.0 podem oferecer uma fonte inesgotável de oportunidades de renovação das práticas educativas. Um exemplo concreto do que acabamos de referir é a experiência do Projecto Luso-Brasileiro acima referido em que os alunos mostraram enorme motivação para a aprendizagem aliada a um aumento significativo no índice de aproveitamento em muitas disciplinas. Trata-se de estratégias de ensino aprendizagem que nem sempre produzem resultados imediatos, porém, a longo prazo podem proporcionar mudanças significativas no desenvolvimento cognitivo e afectivo dos alunos. O importante é que o professor, em plena sociedade do conhecimento e da aprendizagem, não poupe esforços para que, a partir das tecnologias disponíveis de forma gratuita e online possa criar ambientes de aprendizagem construtivistas (UNESCO, 2008), pois, como tão bem defende Jonassen (2007), as tecnologias podem constituir-se como poderosas ferramentas 8 http ://issuu .com/marlidf/docs/sonhos/23 ?mode=em bed &documentld=080528034 7034d 3a4c8d Sbd7 4c9aad9f9084 72f18e07 &layout=grey 443 VI Conferência Internacional de TIC na Educação representação daquilo que sabem, ao invés de uma mera reprodução daquilo que alguém lhes diz. REFERÊNCIAS AQUINO, S. D. {2008). No Ar: O "Livro Falado". In XXXI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. lntercom. Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação. Natal, RN Disponível em: http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2008/resumos/R30759-l.pdf. Acedido a 07.02.2009 BOTTENTUIT JUNIOR, J. B., COUTINHO, C. P. {2007). 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PERIÓDICOS DIGITALIZADOS 8 Comentários Jose Antonio Machado Nascimento curtiu isso 1 pessoa curtiu isso Seja o primeiro PDF, DJVU, TXT, EPUB, MOBI, LIT, CHM, PRC, , RB, KML, ISILO, VBO, enfim, uma salada de letras que pode confundir muita gente e que alguns que chegam ao Bibliotecno neste momento podem não entender muito bem o que são. É claro que a primeira e a terceira sigla deixam a dica e sugerem que este tópico tem alguma coisa a ver com texto/leitura o que é verdade, aliás, estas são algumas das siglas que invadem a vida de alguns bibliotecários e podem se tornar preocupação para todos no futuro. No campo da produção de livros, editoras e ebookstores observam de perto a problemática dos formatos e por mais que o PDF seja o mais conhecido e que o EPUB tenha se tornado um tipo de padrão, o surgimento de novos leitores, e aqui estão os tablets, novos recursos e interesses de mercado só tem feito esta sopa de letrinhas crescerem, o que pode dificultar a vida de um usuário novato em livros eletrônicos. Mas se editoras, livrarias e até mesmo os leitores devem se preocupar com esta diversificação de formatos, por que bibliotecários deveriam estar de fora? Aliás, para onde seguiram, na teoria, todos estes livros no futuro? Para as bibliotecas. Com certeza este deveria ser um tema a ser analisado por bibliotecários e estudantes de biblioteconomia nas escolas que ministram os cursos da área. E os enfoques podem ser os mais variados: Qual o formato que apresenta o melhor desempenho para recuperação no texto completo?, qual permite melhores recursos de inclusão de metadados que poderão ser legíveis por sistemas de bibliotecas?, qual é compatível com a maioria dos leitores eletrônicos (e tipos de equipamentos que conseguem podem ser utilizados para a leitura de livros?, qual tem a melhor visualização?, qual apresenta a maior variedade de recursos?, como preserva-los? uma rica e enorme relação de questões a serem pensadas de forma a apoiar/escolher os melhores formatos para as bibliotecas e, principalmente, para os leitores. 3. O básico da tecnologia para bibliotecários. CDU online, Cutter, WordPress, Scriblio, Biblivre… 4. Acervo histórico digitalizado do Jornal do Brasil no Google Notícias. Analise dos recursos de pesquisa. 5. Biblioteca via rede social! O filtro para a informação [provocação] Buzz Twitter Facebook RSS Digg Delicious Linkedin Pinterest PUBLICIDADE Mas o tema deste artigo é específico para as bibliotecas digitais, pois com tantos formatos não adianta só pensar em quais escolher, mas em como apresentá-los, em outras palavras, quanto mais formatos forem adotados a biblioteca digital deverá pensar mais em usabilidade. A escolha do(s) formato(s) a serem escolhidos já não é uma tarefa fácil já que os dois mais conhecidos tem vantagens e desvantagens de acordo com o dispositivo utilizado. Enquanto o PDF pode apresentar cores, uma renderização melhor na leitura em uma tela de computador este poderá ser problemático em um e-reader com a tela eInk, sendo o EPUB ideal para este tipo de dispositivo, porém, o EPUB não chega a uma qualidade visual do PDF. Mas o que dizer então do formato proprietário da Amazon/Kindle e os livros somente publicados lá? E os livros ricos em recursos multimídias para Ipad? Ou seja, nunca será possível escolher apenas um ou dois formatos, mas e para os usuários em geral a escolha, pela biblioteca digital, por vários formatos é vantajosa? Isto não poderia confundir? Tudo dependerá da forma como for apresentado na tela, ou seja, da usabilidade. ÚLTIMAS DO BT Email A extensa imagem ao lado, que apresenta-se em tamanho reduzido, é um exemplo claro que como o uso de vários formatos, ou melhor, a forma com estes são apresentados, pode transformar a interface em um problema. Veja melhor esta barra lateral na página http://www.archive.org/details/gralha que trata-se da interface de acesso a um jornal digitalizado pelo Internet Archive. Em termos de avaliação heurística, um dos métodos de estudos de usabilidade, pode-se dizer que pelo menos 3 heurísticas são violadas: Consistência e padrões, Ajuda e documentação e Estética e design minimalista. A última heurística violada – estética e design minimalista - é decorrente do volume de formatos fornecidos e da forma com que eles são fornecidos. Além do uso de 8 formatos, também é exibido um link para cada data digitalizada o que logo remete a um problema relacionado a primeira heurística – consistência e padrões – pois vários links são apresentado indicando apenas o formato de leitura, mas sem a data da publicação que aquele link corresponde, sendo que neste ultimo caso também poderíamos falar de uma quarta heurística violada, a equivalência entre o sistema e o mundo real. Mas a violação da heurística estética e design minimalista acaba interferindo na heurística ajuda e documentação. Ocorre que a extensa lista torna a página demasiadamente longa e a ajuda sobre os formatos, necessária já que alguns serão desconhecidos dos leitores em geral, vem logo ao final da página, onde muitos usuários nem cherarão a perceber. Fora que a própria ajuda é confura, já que remete a todo o Internet Archive, que armazena websites, documentos textuais, áudio, vídeo, etc. O ideal seria a indicação clara de uma documentação de ajuda para cada formato. Outros exemplos podem ser verificados nas principais bibliotecas, porém, de forma um pouco decepcionante já que os problemas de usabilidade relativo ao acesso aos formatos são minimizados pelo fato de não se utilizar a maioria dos formatos. Porém, não deveremos negar que limitar o uso de formatos é uma saida interessante, desde que ofereça os formatos mais utilizados e compatíveis com a maioria dos dispositivos. Devemos lembrar que hoje um leitor poderá querer apreciar um documento em um ereader, no computador, num netbook, num smartfone e num tablet. Os formatos escolhidos devem ser escolhidos de forma a serem suportados pelos dispositivos – e neste caso é bom frisar que alguns como o DJVU necessitam de instalação de plugins que nem sempre são compatíveis com todos os dispositivos e mesmo navegadores da web – e não limitar o fornecimento de obras com recursos diferenciados, como os livros para o tablet Ipad que podem apresentar recursos multimídia. Mas no Historic American Newspapers da Library of Congress e no Arquivo Público Mineiro podemos verificar uma solução viável, apresentada na imagem abaixo. Trata-se da visualização prévia, onde o usuário poderá ver o documento, pelo menos uma versão deste, sem a necessidade de realizar download do mesmo, diretamente no website e após isto escolher o formato desejado. ALA lança “Modelos de Negócios Ebook para Bibliotecas Públicas” Wikipedia, colaboração e pouca confiabilidade? Quais são as fontes de informação da Wikipedia? Levy, Pierre. Cibercultura. São Paulo : Ed.34, 1999 Biblioteca Nacional lança sua hemeroteca digital – Tutorial parte 2 Biblioteca Nacional lança sua hemeroteca digital – Tutorial parte 1 BIBLIOTECONOMIA FEEDS – GOOGLE READER – ASSINE! A Informação BIBLIOTECNO Bibliotecários Sem Fronteiras Biblioteconomia Pop Blog do Gato Blog do Kuramoto Ciência da Informação eBook Reader Fabiano Caruso L. Inafuko ;} LEITURAS RELEITURAS E IDÉIAS Na Era da Informação Nepôsts - Rascunhos Compartilhados Poeira de Biblioteca Simplissimo Blog Web Librarian Inscrever-se Visualizar » Repare na barra acima da visualização a possibilidade de fazer download em PDF, TXT ou em formato de imagem Isto iria acabar com o problema da extensa lista apresentada pelo Internet Archive já que os links para os formatos seriam exibidos em uma página correspondente a edição que se estaria visualizando. Todavia, a visualização prévia poderia ser desagradável para alguns dispositivos, como os smarfones, obrigando o usuário a baixar o documento por um computador, sendo repassado depois para o dispositivo móvel. Fora os e-readers que tem navegadores web precários, devido a tela de eInk, e que teriam sérios problemas de acesso. Ou seja, não adiantaria apenas organizar o conteúdo, mas criar websites específicos para serem lidos em dispositivos de tela grande, de tela pequena e nos e-readers. A existência de variados formatos de e-books não é a unica que pode desencadear problemas de usabilidade, mas apenas uma e que deve ser considerada. E considerando problemáticas apontadas no inicio deste texto em relação aos formatos de e-books vemos que este é um assunto que deve ser debatido, não apenas com foco em usabilidade como foi apresentado neste texto, mas em relação a catalogação, recuperação, recursos de visualização e preservação. Enfim, o bibliotecário não pode ficar de fora deste tema. Jose Antonio Machado Nascimento curtiu isso.1 pessoa curtiu isso. Seja o primeiro Curtir 1 Tweet 1 Tags:avaliação heurística, Biblioteca digital, djvu, epub, formatos de e-books, Interface, kindle, pdf, Usabilidade Leia também: Novo livro de Rubem Fonseca sai para Kindle Análise do acervo histórico digital da revista Veja disponível na web O Google é o acervo, a biblioteca, a livraria e agora o suporte, com o Android Kindle adaptado para tablets com sistema Android em nova atualização Queríamos uma tecnologia que imitasse o papel. Agora não queremos mais? Amazon lança Kindle Fire, um... 8 Respostas para “Os formatos de e-books, as bibliotecas digitais e a usabilidade” Marco julho 18, 2010 http://en.wikipedia.org/wiki/Comparison_of_e-book_formats alexdasilveira julho 19, 2010 obrigado pela contribuição com o link que poderá ajudar ao leitores abrirem mais ainda seus horizontes William Okubo (@WillOk) (@WillOk) (@WillOk) Os formatos de e-books, as bibliotecas digitais e a usabilidade http://t.co/v3nZcCmP via @bibliotecno novembro 14, 2011 LIVRO TRADICIONAL X LIVRO ELETRÔNICO: a revolução do livro ou uma ruptura definitiva? Suzana Ferreira Paulino Universidade Federal de Pernambuco [email protected] RESUMO: O livro envolve um suporte de importância cultural única e está associado ao poder, devido ao saber que a ele é atribuído e ao valor simbólico que ele representa na sociedade do conhecimento. Ele ainda constituise em um elemento referencial no processo de ensinoaprendizagem. O seu uso, em sua forma tradicional, é recorrente, contudo, alguns acreditam que seu fim está próximo devido às transformações causadas pelo surgimento do livro eletrônico e à incorporação das novas tecnologias na nossa sociedade. Este trabalho visa a refletir sobre o processo evolutivo dos livros, desde quando esses eram tidos como objetos de arte, seu estágio atual e sobre as previsões a respeito do seu futuro. Traçaremos um panorama histórico da evolução do livro e observaremos se o livro eletrônico é a ruptura com os antigos padrões do livro impresso ou se é uma continuação do processo evolutivo deste. O tema será abordado teoricamente. Acreditamos que o livro impresso permanecerá e que o texto eletrônico não eliminará o livro impresso, nem a existência da leitura, mas haverá uma transformação nas formas de construir significados. Palavraschave: Livro Impresso, Livro Eletrônico, Hiperleitura ABSTRACT: The book has an enormous cultural importance and it’s related to power because of the knowledge it represents to the information society. The textbook is a reference element to the teachinglearning process. Its traditional form use is common in the classrooms; however, some say that it’s next to its end due to the electronic book, softwares and the incorporation of new technologies in education. This work aims at reflecting about the evolutionary process of the books, since they were considered objects of art, their present moment and about the positive and negative predictions about their future. It will be observed if the electronic book is a break in the old patterns of the press book or if it is a continuation of the process. We will theorize about this theme. We believe the press book will remain and the electronic text won’t stinguish it or the reading but the meaning construction process will be transformed. Keywords: Textbook, Electronic Book, Hypertextual reading Introdução Segundo o Dicionário Aurélio (1999), livro é uma "reunião de folhas ou cadernos, cosidos ou por qualquer outra forma presos por um dos lados, e enfeixados ou montados em capa flexível ou rígida". Para a Enciclopédia e Dicionário Ilustrado Koogan/Houaiss (1995) livro é "um conjunto de folhas impressas e reunidas em volume encadernado ou brochado". Percebese que o livro é definido apenas com uma noção de objeto material, com peso e volume determinados, que ocupa um lugar no espaço. Aldemario Castro (2004) afirma que “definir o livro pelo seu formato, pelo padrão tecnológico de sua confecção é um equívoco considerável”. Geralmente desconsiderase a essência da idéia de livro, o fato do livro ser um Hipertextus (www.hipertextus.net), n.3, Jun.2009 veículo para o armazenamento e a divulgação de um conjunto específico de dados, informações e conhecimentos, sua mais importante função. O livro indica sabedoria, status social e autoridade, decorrentes do saber que ele culturalmente possui. Sua história data de aproximadamente seis mil anos. Os vários povos utilizaram os mais diferentes tipos de materiais para registrar a sua passagem pelo mundo, aprimorar e difundir seus conhecimentos e experiências. Os sumérios guardavam suas informações em tijolos de barro. Os romanos escreviam em tábuas de madeira cobertas com cera. Os indianos faziam seus livros em folhas de palmeiras. Os maias e os astecas escreviam os livros em um material macio existente entre a casca das árvores e a madeira. No oriente, o livro era formado de tabulas de madeira ou de bambu atravessadas, reunidas por uma fivela. Os egípcios desenvolveram a tecnologia do papiro, uma planta encontrada às margens do rio Nilo, suas fibras unidas em tiras serviam como superfície para a escrita hieróglifa. A palavra papiryrus, em latim, deu origem à palavra papel. Nesse processo de evolução surgiu o pergaminho feito geralmente da pele de carneiro, que tornava os manuscritos enormes. Neste momento histórico o livro era considerado uma obra de arte, devido ao seu caráter artesanal, uma vez que era manuscrito página por página, produzido com material orgânico sem tratamento químico, trabalhado com figuras e ornamentações que valorizavam a obra. Não havia um processo de reprodução rápido e mecânico. A partir da segunda metade do século XV surge o livro impresso. Os livros que foram lançados até 1500 e no período anterior a este ano são chamados de incunábulos, do latim incunabulum, berço. O mais conhecido, e um dos primeiros é a Bíblia de Gutenberg, a B42, livro que inaugura, oficialmente, a fundação da imprensa no Ocidente. Uma página da Bíblia de Gutenberg Hipertextus (www.hipertextus.net), n.3, Jun.2009 A concepção de livro limitada à referência à sua tipografia, se cristalizou a partir do século XV com o surgimento da imprensa de Gutenberg. Esse equívoco gera conflitos e insatisfação conceitual com os avanços tecnológicos e a evolução do livro. Segundo Machado (1994), o livro como o conhecemos vem do modelo do códice cristão. “O códice foi um formato característico de manuscrito em que o pergaminho era retalhado em folhas soltas, reunidas por sua vez em cadernos costurados ou colados em um dos lados e muito comumente encapados com algum material mais duro”. Esse formato foi eleito no século IV, pelos cristãos, como padronização das escrituras sagradas. Inicialmente, livro (liber) referiase a qualquer elemento para registro do pensamento, como a inscrição em pedra ou madeira, a tabuleta de cera, o rolo de pergaminho etc. (ARNS, 1993, apud MACHADO). Posteriormente, o livro referese ao códice e não há mais um termo para designar outros elementos de registro de pensamento. Machado (1994) define o livro como “todo e qualquer dispositivo através do qual uma civilização grava, fixa, memoriza para si e para a posteridade o conjunto de seus conhecimentos, de suas descobertas, de seus sistemas de crenças e os vôos de sua imaginação”. O autor cita Lucien Febvre (apud Martin, 1992, 15), para quem o livro é um instrumento que uma civilização dispõe para reunir o pensamento dos seus componentes e para divulgálo na sociedade. As culturas literárias eram, geralmente, orais. Machado (1994) afirma que Platão define o livro, em sua obra Fedro, como logos gegrammenos (palavras escritas), entretanto o mesmo inseriase numa sociedade oral. Nessas sociedade, a história da comunidade é guardada e repassada pelos mais velhos. O autor cita a fábula de Ray Bradbury em Fahrenheit 451, que trata da guarda e da transmissão da memória literária de uma comunidade pelos mais velhos do grupo, que mais tarde foi transformada em filme por François Truffaut. O surgimento da imprensa transformou a realidade das sociedades, antes totalmente orais, nos âmbitos sociais, culturais, políticos e religiosos. Após a criação da imprensa, os eclesiásticos temiam que ela estimulasse a população comum a estudar textos religiosos por conta própria em vez de acatar o que era dito pelas autoridades. O Índice Católico dos Livros Proibidos, criado depois do Concílio de Trento, foi uma tentativa de lidar com esse problema. Outra possibilidade era, naturalmente, a igreja adotar o novo meio na tentativa de usálo para seus próprios objetivos. Todas essas soluções de problemas criaram outros problemas e provocaram grandes mudanças nos estilos de leitura, escrita e organização de informações. Os livros foram, então, perdendo seu status de obra de arte. A existência de livros impressos facilitou a tarefa de encontrar informações quando de posse do livro certo, apesar do acesso restrito a esses objetos pelas classes dominantes. Hipertextus (www.hipertextus.net), n.3, Jun.2009 Os livros impressos ficaram mais baratos, o que de certa forma tornouos mais acessíveis. Acreditavase que o impresso romperia a familiaridade entre o autor e os leitores. Entretanto, percebeuse com o tempo que este rompimento não se confirmara. A relação autor leitor permaneceu com características semelhantes às do tempo do manuscrito. Houve, então, uma continuação da cultura do manuscrito paro o impresso. O que posteriormente ocorreu com o livro impresso e o livro eletrônico. No contexto atual do livro impresso e com o surgimento do livro eletrônico, os mais pessimistas acreditam no fim do livro tradicional. A priori, essa questão é muito recente e necessita de mais reflexão e estudos, não existindo uma resposta final a respeito do fim do livro impresso. Contudo, o que se percebe é que as duas formas coexistem em harmonia com um público específico e fiel para cada formato. O escritor Roger Chartier, em seu livro A aventura do livro: do leitor ao navegador (1999), sobre o lamento de alguns pelo surgimento do livro eletrônico e o provável fim do livro tradicional, diz que o historiador não deve promover um discurso utópico ou nostálgico, e sim científico, integrando todos os atores e todos os processos que fazem com que um texto se torne um livro de qualquer formato. O surgimento e o aperfeiçoamento das tecnologias eletrônicas impuseram uma profunda modificação na apresentação ou forma de uma série de coisas tradicionalmente palpáveis ou materiais. Sobre isso percebemos que dentre os vários conceitos de livro existem aqueles em que a forma não é elemento essencial. Na Enciclopédia e Dicionário Ilustrado Koogan/Houaiss, citada anteriormente, aparece a seguinte definição para livro: "obra em prosa e verso, de qualquer extensão". No Dicionário Aurélio encontramos "obra literária, científica ou artística que compõe, em regra, um volume”. Neste sentido, concluímos que uma forma específica ou um padrão tecnológico não integra os elementos fundamentais e constituintes da idéia de livro. Assim, a definição de livro deve ser buscada ou formulada sem ligação direta com os formatos. O livro, então, pode ser entendido como o veículo ou suporte, tangível ou não, de um conjunto específico de dados, informações ou conhecimentos. O livro eletrônico seria justamente o veículo eletrônico de um conjunto específico de dados, informações ou conhecimentos. Atentese para o fato de que o Dicionário Aurélio já consigna a expressão "livro eletrônico" como sendo "versão de um livro publicada em mídia digital, como, p. ex., CDROM". Provavelmente, no que tange à temática do fim do livro, o que findará será a noção de livro como objeto impresso. Neste artigo discorreremos sobre o surgimento do livro, seu caráter de obra de arte, sua transformação em livro eletrônico e as implicações dessas mudanças para a leitura nos dois formatos. Hipertextus (www.hipertextus.net), n.3, Jun.2009 O Livro como Objeto de Arte Parte das artes gráficas que, compreendendo a judiciosa escolha de papéis e tintas, a tipografia, a ilustração e a encadernação, tem por fim a harmoniosa integração, no livro de sua dupla função, de objeto de estudo e de objeto de arte. Dicionário Aurélio O livro é visto, tradicionalmente, como um objeto de estudo. Contudo, além de objeto catalisador, fornecedor de informações, conhecimentos, criador de aprendizagem e cultura, ele pode ser considerado um objeto de arte. Desde seu surgimento, quando ainda era caligrafado por frades e freiras no enclausuramento, página por página, o livro possuía artifícios e características que lhe concediam o título de objeto de arte, a arte do livro impresso. Foi com William Morris que o renascimento da bela impressão se originou e o mesmo fez com que um livro impresso se tornasse uma obra de arte. Ele teve ajuda de Emery Walker. A partir do trabalho de ambos, o livro foi salvo da industrialização na Inglaterra, renovado nas suas qualidades artísticas e reavivado na beleza do livro medieval. Morris quis dar ao livro sua dignidade antiga de trabalho de arte. Segundo Walker (2000), as características inerentes a um belo livro no seu “aspecto material, conteúdo literário à parte, dependem de três coisas: primeiro, o papel; segundo, o tipo e sua disposição; e terceiro, suas ilustrações, se requeridas como suplemento do texto”. Sobre o papel, até a introdução das máquinas, este era de fibra vegetal. O uso do papel manufaturado, embranquecido por desgaste e lavagem aumentava o valor artístico da obra. Manuscrito medieval Hipertextus (www.hipertextus.net), n.3, Jun.2009 De acordo com o referido autor, um belo livro tem o tamanho do tipo adequado ao tamanho da página. A disposição das páginas deve obedecer a uma coerência em relação umas às outras e com a forma do livro. Ele também possui ilustrações que “devem ser reproduzidas e impressas pelo método mais apropriado à dignidade do livro, como cobres, esboços, fotogravuras, fototipos em preto e branco ou coloridos, todos devendo ser impressos em separado do texto ou, em alguns casos, dos desenhos a traço, que podem ser impressos junto aos tipos ou no próprio papel do livro”. No século dezoito, a impressão por cobres gravados era praticamente a única maneira de reproduzir ilustrações. A xilogravura, cujo uso foi popularizado no final do século, introduziu um método mais simples e barato e, em paralelo com a litografia, suplantou o processo mais antigo. Para Walker, os únicos métodos apropriados a um belo livro, além de cobres gravados ou litografia, são a fototipia e fotogravura, ou desenhos a traço impressos tipograficamente. Fazendo isso, as páginas tornamse agradáveis de olhar e o livro passará a ser admirado constituindose numa obra de arte. Além de considerar o valor do livro como obra de arte, é importante citar sua função educativa e mediadora da produção de conhecimento. Sobre o Livro Didático Ao longo da história, desde seu surgimento na Alemanha, em 1583, o livro didático sofreu várias transformações. A sua trajetória possibilitou a formação de seres pensantes, sobre isso Bittencourt (1993, p.346) afirma: “Os livros podem ser classificados em duas grandes categorias: livros de leitura seqüencial e obras de referência, de acordo com seu conteúdo. O livro didático é componente das obras de referência”. Na Idade Média, devido à excessiva efervescência religiosa na Europa, o livro passou a ser considerado como um objeto de salvação. Foi nesse contexto que pareceram, nessa época, os textos didáticos destinados à formação dos religiosos. Wander Soares (2002) informa que o livro didático surgiu como um complemento aos grandes livros clássicos. Era direcionado ao uso escolar e reforçava a aprendizagem baseada na memorização reproduzindo valores da sociedade, divulgando as ciências e a filosofia. O livro didático (LD), especificamente, constituise num elemento de referência para o processo de ensinoaprendizagem. Ele é um instrumento pedagógico que favorece o desenvolvimento intelectual e a formação sóciopolítica do aluno, além de transferir os conhecimentos orais à linguagem escrita. Em algumas situações, o livro didático acaba se tornando única fonte e meio de informação para alunos e professores. No estudo do texto escolar, apresentado como ocorre atualmente nos livros didáticos não existe ou há pouco espaço para negociações do significado, pois os limites de atuação do Hipertextus (www.hipertextus.net), n.3, Jun.2009 leitor na construção dos sentidos são previamente planejados pelos professores e/ou pelos autores das coleções didáticas. Não há uma relação dialógica entre autor, texto e leitor. Esse fato constituise numa desvantagem em relação ao texto virtual, sobre o qual discorreremos mais adiante. Do Livro ao NãoLivro O surgimento da Internet trouxe consigo um novo paradigma de livro (ou será de não livro?) e criou tensões a respeito do fim da cultura de livro impresso e digital. A mudança nos padrões tradicionais do livro impresso para o hiperlivro foi um processo que gerou temores aos que preferem e defendem a continuação do livro “tradicional”. Entende se por “hiperlivro” o livro eletrônico. Giselle Beiguelman (1999), em seu ensaio “O livro depois do livro” aborda as transformações ocorridas nos livros e no processo de leitura, abrangendo a nãolinearidade textual, além de englobar a dimensão estética das obras. Esse material ilustra bem as inquietações referentes ao tema e trás elementos científicos para reflexão e discussão acerca da temática abordada. Como objeto, o livro impresso não mudou muito com o tempo. A estabilidade dele é tanta que apesar das mudanças em sua disposição na internet, as telas mostram “páginas”, apresentando claramente elementos que abrangem relações entre as duas linguagens, a impressa e a tecnológica. No final do século XX surgiu o livro eletrônico que se apresenta num suporte eletrônico que o virtualiza, o computador. Não se pode definir, ainda, se o livro eletrônico é um continuador do livro tradicional ou uma ruptura total com os antigos padrões de leitura, mas é concesnso que é uma quebra com os antigos padrões materiais. Para Chartier (1999) referindose ao livro eletrônico, “a revolução do livro eletrônico é uma revolução nas estruturas do suporte material do escrito assim como nas maneiras de ler”. Este se caracteriza basicamente por ser um arquivo eletrônico estático onde os dados, informações e conhecimentos são armazenados para serem consultados pelo usuário (CASTRO, 2004). O referido autor afirma ainda que o livro eletrônico é essencialmente livro e o que modifica é somente a forma, o padrão tecnológico utilizado para a sua confecção. Este novo modelo de livro promovido por um suporte virtualizador transformou as relações sensoriais, elementos importantes no processo de leitura. O que antes era entendido como livro cede espaço para uma nova formatação que constitui o nãolivro. A tela não possibilita a sensação do toque, do manuseio, como o livro tradicional. Não há mais uma relação afetiva; os sentidos não são mais os mesmos aguçados como no livro tradicional, no qual se fazem presentes e bem marcantes o tato, o contato direto com o objeto, a visão, que é Hipertextus (www.hipertextus.net), n.3, Jun.2009 atraída pela cor, pelo formato e até o olfato que identifica se o livro tem cheirinho de novo, de velho, etc. No livro eletrônico apenas a visão atua extensivamente. Tratase de um processo que transcende o livro impresso, seu conteúdo, os conceitos de autoria, a noção de diálogo, alargando o conceito de leitura, uma vez que a interatividade é um elemento constante nesse novo formato, que permite o alargamento da noção de leitura e que vai além do livro como conhecemos. Leitura no Livro Impresso e no Livro Eletrônico Iniciaremos este tópico com um questionamento de Emilia Ferreiro (1994:41) “Diante da ação das novas tecnologias que estão chegando, qual vai ser o leitor do século XXI?” Este questionamento permeia as dimensões pedagógicas desde o surgimento das novas tecnologias e sua utilização para fins didáticos. As práticas da leitura sofreram influência da inclusão das novas tecnologias e seus suportes na sociedade. Em virtude disso, alguns pessimistas insistem em prever o fim do livro impresso. Apesar do pessimismo e da ameaça que as novas tecnologias possivelmente representam para este suporte visualizamos uma nova forma de apresentação do livro e interação deste com o leitor. A interação dos indivíduos com a tecnologia é o que tem transformado os próprios indivíduos, induzindoos a comportamentos e reações novas diante de situações já conhecidas. Esse processo vem ocorrendo na leitura do livro eletrônico. Vejamos a seguir como se processa a leitura. Inicialmente a leitura era entendida como um ato individual que focalizava o produto final. Segundo Pinto (2004) ela passou a ser visualizada como processo cognitivo quando Huey (1968, apud Pinto, 2004) integrou o significado nas sentenças com a memória, enfatizando a integração de fatores internos e externos, mas os estudos permaneceram como estavam, contemplando só o produto e não o processo. Na segunda metade do século XX a leitura recebeu contribuições da psicolingüística que aliada à teoria socioconstrutivista alegam que estão presentes nos três eixos que compõem a leitura: leitor, texto, contexto da aula. No contexto atual, com a incorporação de novas tecnologias na educação, podemos dizer que os eixos que compõem a “hiperleitura” são: hiperleitor, hipertexto e contexto hipertextual. Para Xavier (2002), hipertexto é uma forma de linguagem hibrida e dinâmica que interage com outras interfaces semióticas e acomoda em sua superfície várias formas de textualidade. A relação de interatividade entre leitura e hipertexto, aqui representado pelo livro eletrônico, favorece a aprendizagem baseada em pressupostos cognitivos, sociodiscursivos, uma vez que permite a ação do aluno sobre o conteúdo e possibilita um diálogo, mesmo que Hipertextus (www.hipertextus.net), n.3, Jun.2009 virtual, com o texto. Para nossa investigação, leitura é entendida como atividade de linguagem numa prática social, um processo sociointeracional. Xavier aborda a leitura enquanto processo de coprodução de sentido de textos e hipertextos. O autor considera as possibilidades de mudança nos processos de leitura com as novas tecnologias da educação, enfatizando o uso do hipertexto na Internet. Leitura pode ser então, compreendida como um processo complexo, que envolve aspectos cognitivos e de interatividade, no qual os conhecimentos prévios do leitor, suas experiências culturais, sociais e interativas, junto com as informações textuais são acionados para formarem o sentido e a compreensão da mensagem do texto. Portanto, o sentido do texto não está em suas palavras, nem na mente do leitor, mas está na interação textoleitorcontexto, unindo as informações que este já possui com as que o texto fornece para que ele infira significados e represente mentalmente o que o texto provoca ou descreve. Segundo Santaella (2004) o leitor virtual desenvolveu um outro (sexto) sentido nas pontas dos dedos, acionado ao clique de um mouse. A distribuição e organização do texto em uma tela não são a mesma dos livros do leitor medieval, moderno e contemporâneo do livro manuscrito ou impresso. Essa nova apresentação implica em mudanças no processo de leitura do texto em um novo suporte. A leitura de um texto seja ele impresso ou num suporte que o virtualiza, pode exigir do leitor diferentes estratégias de leitura e cada formato pode mudar a maneira de se ler o texto. As novas modalidades de leitura, escrita e organização da informação provocaram por sua vez suas próprias conseqüências imprevistas, tanto no campo social quanto no intelectual. Chartier (2002), citando Martin 2000, aponta a necessidade de compreensão de dois aspectos: dos textos que têm as significações modificadas ao mudarem suas formas de “feitura” ou de sua paginação e do público leitor, que tem a composição social e expectativas culturais mudadas ao se modificarem as possibilidades de acesso à cultura impressa. Todo leitor diante de uma obra a recebe em um momento, uma circunstancia, uma forma específica e, mesmo quando não tem consciência disso, o investimento afetivo ou intelectual que ele nela deposita está ligado a este objeto e a esta circunstância. A obra não é jamais a mesma quando inscrita em formas distintas, ela carrega, a cada vez, um outro significado, uma outra leitura. A leitura é sempre apropriação, invenção produção de significados [...] apreendido pela leitura, o texto não tem de modo algum – ou ao menos totalmente – o sentido que lhe atribui se autor, seu editor ou seus comentadores. Toda história da leitura supõe, em seu princípio, esta liberdade do leitor que desloca e subverte aquilo que o livro lhe pretende impor. Mas esta liberdade leitor não é jamais absoluta. Ela é cercada por limitações derivadas das capacidades, convenções e hábitos que caracterizam, em suas diferenças, as práticas de leitura. Os gestos mudam segundo os tempos e lugares, os objetos lidos e as rações de ler. Novas atitudes são Hipertextus (www.hipertextus.net), n.3, Jun.2009 inventadas, outras se extinguem. Do rolo antigo ao códex medieval, do livro impresso ao texto eletrônico, várias rupturas maiores dividem a longa história das maneiras de ler. Elas colocam em jogo a relação entre o corpo e o livro, os possíveis usos da escrita e as categorias intelectuais que asseguram sua compreensão. (Chartier, 1999:77) De acordo com Marcuschi (2001) sobre a atividade de produção de sentidos, para se compreender um texto é necessário ‘sair’ dele e de algum modo, o texto sempre monitora o seu leitor para além de si próprio. Ler compreensivamente é partir dos conhecimentos fornecidos pelo texto, dos conhecimentos de mundo e socioculturais para inferir um sentido para o texto que será produzido fora dele. Considerando que o hipertexto oferece uma multiplicidade de caminhos a seguir, podendo ainda o leitor incorporar seus caminhos e suas decisões como novos caminhos, inserindo informações novas, o leitornavegador passa a ter um papel mais ativo e uma oportunidade diferente da de um leitor de texto impresso (Marcuschi, 2007). Como já afirmamos, o processo de leitura no texto impresso não é o mesmo aplicado no texto eletrônico. Pesquisas indicam que a leitura num suporte de papel é cerca de 1,2 vez mais rápida do que em um suporte eletrônico, o que se constitui em uma desvantagem para o texto eletrônico, mas estudos visam a melhorar a percepção dos livros eletrônicos. O Fim do Livro ou Uma Continuação no Processo Evolutivo Sobre o fim do livro, Lucien Febvre (in MARTIN, 1992:14, apud MACHADO) afirma: "Na metade do século XX, não temos certeza de que [o livro] possa ainda por muito tempo continuar a desempenhar seu papel, ameaçado como está por tantas invenções baseadas em princípios totalmente diferentes''. Ainda sobre o referido tema, Benjamin, em 1929, com uma visão futurista (1978,7779), dizia que "o livro, na sua forma tradicional, encaminhase para o seu fim”. Marshall McLuhan afirmou que o fim do livro ocorreria na década de 80, do século passado. Entretanto, o livro impresso, apoiado na grande indústria do papel, continua a existir e movimentar grandes montantes em vendas anuais no mundo inteiro. Ele tem um público fiel que possivelmente vai resistir e existir concomitantemente ao acesso eletrônico. Quando McLuhan, na década de 60, previu o fim do pensamento linear introduzido pela escrita e aperfeiçoado na invenção da imprensa, profetizava o fim do livro. Entretanto, o fenômeno não se confirmaria, ao contrário, o livro está se apropriando dos avanços da tecnologia. Esse temor remete ao medo que surgiu com a chegada do cinema e da televisão nas artes. E apesar de tudo, todos resistiram e coexistem na sociedade. No processo de reflexão sobre o “fim” do livro é importante observarmos que sempre utilizamos o verbo “continuar”. Esta prática é um indício que revela a existência do Hipertextus (www.hipertextus.net), n.3, Jun.2009 reconhecimento por parte da sociedade da permanência do livro nos processos sócio educativos ao longo do tempo. Na tentativa de promover e proteger o livro didático, por exemplo, foi criado o Dia Nacional do Livro Didático, comemorado a 27 de fevereiro, como forma de reconhecer e valorizar esse livro que é um instrumento de trabalho para o ensino e a aprendizagem escolar, essencial na formação das novas gerações, e constituise num elemento que contribui para o trabalho do professor. Este que muitas vezes se sente a hegemonia do livro impresso ameaçada pelo livro eletrônico, Percebemos que apesar do surgimento do ebook, o fim do livro impresso está distante de ocorrer, pelo contrário, está acontecendo uma volta às origens, a busca pelo belo que dominava os exemplares antigos. Esta retomada foi iniciada por Morris. O retorno do livro como objeto de arte visa a atribuir valor e beleza a um objeto que agora retoma seu status de objeto de arte. Dessa forma ele está garantido como algo digno de apreciação e reconhecimento. Considerações Finais Adotamos uma abordagem teórica para investigar o fim, ou a continuação, do livro, desde sua concepção como objeto de arte até os dias atuais. Acreditamos que não é possível traçar uma conclusão definitiva que encerre esta questão. É preciso que haja mais pesquisas científicas analisando os aspectos constituintes do processo e as suas implicações, vantagens e desvantagens, para a leitura. Não podemos desconsiderar a relevância das novas tecnologias no atual contexto social e educativo da nossa sociedade globalizada. Nem podemos fechar os olhos ou ignorar as transformações e os avanços tecnológicos, ou mesmo, desprezar todo um construto histórico do livro tradicional. Percebemos que o livro eletrônico já é uma realidade, que devemos aproveitar seus benefícios sem ignorar a continuação do livro impresso. Este possivelmente permanecerá contribuindo conteudisticamente, metodologicamente e socialmente para a (r)evolução da sociedade humana como um todo. Assim como afirma Chartier “o mais provável para as próximas décadas é a coexistência, que não será forçosamente pacífica, entre as duas formas do livro e os três modos de inscrição e de comunicação dos textos: a escrita manuscrita, a publicação impressa, a textualidade eletrônica”. É importante revermos o conceito de livro para entendermos o processo evolutivo deste. O texto eletrônico não encerra a vida do livro impresso, nem a existência da leitura, mas abrange uma transformação nas formas de construir significados. À medida que o homem tiver necessidade de registrar sua história e seu pensamento, ele criará novos elementos que Hipertextus (www.hipertextus.net), n.3, Jun.2009 atendam às necessidades do seu tempo, permitindo uma leitura adequada aos objetivos de cada leitor. Referências BENJAMIN, Walter. Reflections: essays, aphorisms, autobiographical writings. New York, Helen & Kurt Wolff, 1978. CAMPOS, Haroldo de. Isto não é um livro de viagem (CD). Rio de Janeiro, Ed. 34,1992. 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Pesquisado em 27/03/08. i www.uol.com.br/augustodecampos Refirome às já conhecidas categorias de Charles Sanders Peirce. ii Hipertextus (www.hipertextus.net), n.3, Jun.2009 INTERCOM – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXIV Congresso Brasileiro da Comunicação – Campo Grande /MS – setembro 2001 LIVRO ELETRÔNICO: A EVOLUÇÃO DE UMA IDÉIA. Giana Mara Seniski Silva, Leilah Santiago Bufrem Universidade Metodista de São Paulo Resumo: Analisa o livro eletrônico, descrevendo suas características e especificidades e conceituando-o em sua acepção de suporte da informação. Cita alguns sites que disponibilizam textos em formato eletrônico e descreve modelos de hardware atualmente disponíveis. Compara características do livro eletrônico com as do impresso, verificando que as possíveis vantagens e desvantagens do primeiro estão relacionadas a aspectos como custos, distribuição, armazenagem, portabilidade, facilidades de manuseio e padronização dos formatos de textos eletrônicos. Considera o livro eletrônico em relação ao processo de comunicação e conclui que sem disputar com o impresso, permite que se vislumbre o acesso praticamente infinito e irrestrito a toda e qualquer forma de conhecimento registrado. Palavras-chave: Livro eletrônico; E-book; Editoração eletrônica. 1 INTRODUÇÃO Se a revolução industrial, com a produção em grande escala, afetou os modos de agir e de pensar da sociedade, neste século assiste-se a uma nova revolução, cujos efeitos repercutem especialmente na comunicação e uso da informação. Aparatos eletrônicos vieram transformar as rotinas de trabalho nas diferentes áreas do conhecimento, e até mesmo as atividades de lazer. O livro, acompanhando as profundas transformações nos procedimentos de produção, sofreu mudanças, tanto na sua forma física, quanto na sua concepção e nos modos de uso. Entre os diferentes produtos criados com recursos da informática, o livro eletrônico, em língua inglesa e-book, vem afetando uma história de cinco séculos da hegemonia do impresso. Ainda pouco conhecido pois sua tecnologia não está disponível em larga escala, tem sido discutido e contraposto ao tradicional produto impresso. É certo que este não desaparecerá tão cedo, pois está profundamente arraigado à cultura da transmissão impressa e ao uso generalizado INTERCOM – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXIV Congresso Brasileiro da Comunicação – Campo Grande /MS – setembro 2001 de um amplo contingente de leitores. Sem nos aventurarmos em exercícios de futurologia, julgamos oportuno analisar o livro eletrônico, reunindo informações sobre suas peculiaridade, para interpretá-lo tanto sob seu aspecto cultural, ou valor simbólico, quanto sob suas características físicas, como suporte de textos no processo de comunicação. Preocupamo-nos inicialmente com a segunda acepção, sem prejuízo, entretanto, de considerações sobre os modos de leitura dela resultantes. Definido como um pequeno aparelho portátil, com capacidade para armazenar na memória uma expressiva quantidade de textos, o livro eletrônico pode também ser considerado como conteúdo disponibilizado na Internet para download em um computador. As possibilidades oferecidas pelos meios eletrônicos desdobram-se em aspectos como sua atualização em forma de hardware ou de software sugerindo novas maneiras de ler, ainda não suficientemente caracterizadas na literatura. Para melhor conhecer esse novo suporte da informação e suas especificidades, destacamos inicialmente os aspectos históricos da trajetória do livro eletrônico; para em seguida caracterizar o aparelho portátil que possibilita a leitura de textos escritos em formato digital, descrever modelos de hardware utilizados como livros eletrônicos, em seus principais aspectos como configuração e custos e identificar suas vantagens e desvantagens. Analisadas as várias definições, encontradas nas fontes consultadas, procuramos esclarecer o objeto de estudo, descrever as características do suporte ou aparelho de leitura, assim como, a título de ilustração, alguns programas para concretização de leitura, não só nos aparelhos denominados livros eletrônicos, mas em outros tipos de terminais. A descrição do conjunto de hardware fundamentou-se em exposições e catálogos dos produtores consultados, em artigos de periódicos e em sites da Internet, cujos resultados fornecem informações relativas a formatos, características gerais, condições de compra e especificações. As vantagens e desvantagens são identificadas com base nas informações coletadas, bem como nas opiniões dos autores dos textos consultados, estabelecendo-se uma comparação entre as características do livro impresso e do eletrônico. INTERCOM – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXIV Congresso Brasileiro da Comunicação – Campo Grande /MS – setembro 2001 2 EVOLUÇÃO DE UMA IDÉIA Como objeto cultural, o livro proporciona a difusão dos saberes construídos, inova padrões culturais e transmite normas do convívio social. Como suporte dos registros do conhecimento, é um meio de armazenar e conservar a memória e a história das civilizações. Embora considerado suporte, o texto lhe atribui significado a ser enriquecido a partir da interpretação ou das interpretações possíveis. O surgimento da Internet concretiza a possibilidade de distribuição quase instantânea e sem papel de qualquer tipo de informação. Entretanto, os meios que a transmitem ou sustentam são cada vez mais complexos, demonstrando que a virtualidade do texto não prescinde do suporte que o acolhe e que este deve adequar-se ao homem. Como ocorreu no passado, quando a imprensa de Gutenberg não erradicou o gosto pelo texto escrito à mão e a maioria dos incunabula tinha aparência de manuscrito1 , produtores do livro eletrônico tentam reproduzir as características físicas e os aspectos práticos do impresso, como a sua portabilidade. Procura-se imitar as velhas formas físicas. A mudança ocorre lentamente. “O livro eletrônico tenta impor os critérios e estruturas pertencentes ao livro impresso como a idéia de paginação, as notas ao pé da página e elementos que são imposições da antiga forma do texto em uma estrutura que permitiria mudá-la totalmente, sem pensar na relação entre texto e notas, sem utilizar a terminologia do livro impresso.”2 A forma, praticamente inalterada desde o surgimento do códice, comprova ser o livro um dos objetos mais aperfeiçoados e apreciados que a cultura ocidental criou. A possibilidade de concretizar um livro eletrônico como evolução desse aperfeiçoamento foi idealizada por Vannevar Bush, diretor do Escritório de Pesquisas e Desenvolvimento dos Estados Unidos, em 1945. Em seu ensaio, “As we may think”, descreveu o Memex, “artefato no qual um indivíduo armazenaria todos os seus livros, registros e comunicações”. A maior parte do conteúdo do Memex seria adquirida em microfilme, pronta para ser inserida no aparelho, precursor de formas inteiramente novas de enciclopédias, prontas para serem usadas ou percorridas por uma teia de trilhas associativas3 . Em 1968, Allan Kay, um cientista norte-americano da Xerox Corporation, previu o aparecimento, por volta de 1990, do que ele chamou de Dynabook, ou livro dinâmico, espécie de computador portátil, de baixo consumo de energia, com o tamanho e aspecto de um livro, com INTERCOM – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXIV Congresso Brasileiro da Comunicação – Campo Grande /MS – setembro 2001 duas telas em forma de páginas, com textos e ilustrações, em cores, e legibilidade perfeita, iguais às de um livro impresso. Pressionando-se uma tecla ou encostando o dedo nas páginas, o leitor provocaria um “virar de páginas” eletrônico, permitindo avançar ou recuar no texto. Uma gigantesca capacidade interna de memória, e pequenos cartuchos removíveis garantiriam, uma biblioteca eletrônica inesgotável, com milhares de livros à disposição do feliz possuidor de tal maravilha4 . Em 1986, a empresa japonesa Sony lançou mundialmente o Data Disc, um aparelho pouco maior do que um walkman, dotado de uma tela de cristal líquido e um pequeno teclado. Inserindo-se um disquete laser no aparelho, tem-se acesso ao texto completo e às ilustrações de um número muito grande de livros. Dentre as obras já disponíveis para o DataDisc, encontram-se uma edição da Bíblia, as obras completas de Shakespeare, entre outras. A forma de uso do DataDisc é exatamente igual à prevista para o Dynabook, com uma vantagem: existe um programa de busca, que permite especificar a palavra ou palavras que se deseja achar no texto, em qualquer combinação. Após um tempo muito curto, o Data Disc localiza os trechos exatos do livro ou enciclopédia onde essas palavras podem ser encontradas, e os mostra na tela 5 . O modelo desenvolvido pela empresa norte-americana Franklin tem formato de uma agenda eletrônica (12 x 7 cm), pesa alguns gramas e seus dois cartuchos de memória podem conter os livros (Book System Cards). Modelos mais sofisticados e de maior capacidade do que o Franklin surgiram a partir de 1998, como o Softbook, o Rocket e-Book e o Everybook 6 . 3 LIVRO ELETRÔNICO: ANÁLISE DE UMA IDÉIA EM EVOLUÇÃO Suporte da escrita, o livro eletrônico é um aparelho de leitura de textos em formato digital, que oferece as funcionalidades de um livro de papel, inclusive, a mais importante delas, a portabilidade. Esta característica leva-o a ser considerado um híbrido de Palm Pilot (organizador pessoal), livro de papel e Internet. O aparelho é uma espécie de computador reduzido, livre de todo o supérfluo, com ausência de teclado, de periféricos, mantendo apenas as funções úteis para INTERCOM – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXIV Congresso Brasileiro da Comunicação – Campo Grande /MS – setembro 2001 a leitura como virar páginas, sublinhar ou procurar palavras e equipado com tela retroiluminada que funciona em conjunto com um software de leitura de textos.7 As leitoras portáteis são utensílios inteiramente dedicados à leitura, cujas funções otimizam o conforto de uma tela, geralmente de cristal líquido, inserida num estojo de plástico, cujo formato varia de acordo com o modelo, permitindo o aparecimento do texto. O leitor dispõe, assim, de uma biblioteca que não ocupa muito espaço e pode ser consultada a todo instante. Além disso, pode utilizar botões para avançar ou retroceder o texto e a progressão da leitura é indicada através de porcentagens. Mesmo que não vire mais as páginas, ele pode conservar seus hábitos, ou seja, o jeito de ler é menos perturbado que com o princípio da barra (que mostra os dossiês), existente nas páginas da Web. Além destes botões, o leitor aciona as diversas funções do aparelho, a maioria das vezes diretamente na tela táctil, com a ajuda do dedo ou de uma caneta especial. Procura-se desse modo manter algumas características físicas que o aproximam do formato de livro impresso. Alguns modelos de leitoras portáteis utilizam-se dos computadores como intermediários no download do texto, outras podem ser conectadas diretamente à rede através de um modem interno para que o arquivo seja descarregado. O livro eletrônico pode também ser definido como um texto em formato digital, obtido online via Internet, através de download, ou até mesmo em CD-Rom. Nesta outra acepção, também é chamado de texto eletrônico pois pode ser lido na tela do computador, ou em leitoras portáteis. Sob essa ótica, tem como características o uso de computadores e leitoras portáteis para sua leitura ou compra; a produção e disseminação rápida; a fácil atualização e correção; seu potencial colaborativo e interativo, que possibilita ao leitor a interação com o escritor; a ausência de intermediários na produção e comercialização; a maior interação do autor com o consumidor final e o alcance ilimitado, através da Internet, eliminando-se existem barreiras de envio do material pois basta acessar o site pela rede e copiar o arquivo com o texto8 . Existem sites de editoras virtuais brasileiras e editoras de outros países que comercializam textos eletrônicos em português, enquanto outros distribuem gratuitamente obras de domínio público. Um exemplo no Brasil é a Biblioteca Virtual (www.bibvirt.futuro.usp.br), idealizada pelo professor Frederic Litto da USP. Para sua construção, colaborou a equipe da Escola do Futuro, formada por estudantes que atuam nas tarefas de programação, editoração e organização INTERCOM – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXIV Congresso Brasileiro da Comunicação – Campo Grande /MS – setembro 2001 do site. A digitação dos textos é feita por voluntários, normalmente estudantes, professores ou aposentados que gostam de literatura e aproveitam para ler as obras enquanto digitam. Por serem de domínio público, as obras são distribuídas gratuitamente. Atualmente 60 livros, entre romances, contos e poesias, além de material didático, paradidático e artigos sobre assuntos variados, estão disponíveis para pesquisas e download. O site recebe cerca de 2000 visitas por dia, a maioria de estudantes entre 14 e 17 anos. O conteúdo do site está armazenado em dois servidores Pentium Pro, ligados à rede da Universidade de São Paulo, que provê o conteúdo para o público. As máquinas com a base de dados rodam em Linux com SQL Server. Um dos títulos mais procurados é “O alienista” de Machado de Assis 9 . A Virtual Books (www.terra.com.br/virtualbooks/) disponibiliza, gratuitamente, livros em alemão, espanhol, francês, italiano e português, via e-mail, download ou on-line. Dentre os títulos em português, encontram-se obras de José de Alencar, Machado de Assis e Lima Barreto, além de uma coleção de livros infantis. Oferece também, gratuitamente, títulos para a leitora Rocket e-Book. Para quem não possui a leitora portátil, há a opção de download de um programa de leitura que simula o Rocket e-Book no computador. A editora Escreva.com (www.escreva.com.br) é especializada em temas esotéricos e místicos, embora publique em outras áreas. Oferece títulos para download gratuito nos formatos PDF, Microsoft Reader, Palm Pilot e Rocket e-Book. O site tem cerca de 50 obras em vários assuntos. A iEditora (www.ieditora.com.br/) fundada em abril de 2000, ano em que registrou 19 mil downloads de livros em seu site, publica autores desconhecidos e iniciantes em vários assuntos. Tem links para o site do Acrobat Reader e do Microsoft Reader. Disponibiliza obras de domínio público gratuitamente, entre elas “A legislação brasileira” e “A carta de Pero Vaz de Caminha”10 . A editora 00h00 (www.00h00.com/po/) oferece material mais erudito, editado em Paris, mas voltado para o público de Portugal. Comercializa, em formato PDF ou Rocket e-Book e impresso, cerca de 50 títulos disponíveis e as obras estão divididas em categorias. O site disponibiliza um dossiê sobre livro eletrônico com informações sobre hardware e software e explicações sobre o funcionamento do Acrobat Reader. Oferece ainda, gratuitamente, obras consideradas de domínio público. INTERCOM – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXIV Congresso Brasileiro da Comunicação – Campo Grande /MS – setembro 2001 4 UMA MÁQUINA DE LER Como evolução dos suportes da escrita, o e-book possibilita ler arquivos em formatos digitais funcionando como hardware, combinado ao conjunto de procedimentos, métodos de programação e programas compatíveis com suas especificações técnicas. São aqui discriminados aqueles que por suas características mais se assemelham a um livro impresso.. Primeiro livro eletrônico a ser comercializado nos Estados Unidos, desde outubro de 1998, o Rocket e-Book, medindo 19 por 12 cm, com peso de 627 gramas, somente um pouco mais volumoso que um livro de bolso, permite a seus usuários transportar facilmente uma pequena biblioteca, suportando entre 4.000 e 36.000 páginas de textos e de imagens. Apresenta também várias fontes e tamanho de caracteres, sublinhado, anotação, pesquisa, dicionário e caneta eletrônica. Sua apresentação foi concebida com o intuito de maximizar a simplicidade (dois botões para “virar” as páginas) e as condições de luminosidade (retro-iluminado). A capacidade de autonomia de sua bateria é de aproximadamente 40 horas, o que permite a leitura de maneira contínua. Enquanto um ícone dá acesso à biblioteca de livros estocados, outro mostra o menu dedicado ao livro que está sendo lido. Permite consulta ao dicionário integrado; colocação de notas pessoais na margem do texto; busca no texto integral, para saber, por exemplo, em que momento aparece pela primeira vez a menção a alguém ou alguma coisa; a inserção de um marcador e a consulta a notas explicativas. A leitora Rocket e-Book funciona em conjunto com o programa eRocket. Existe um outro modelo do eRocket desenvolvido para simular a leitora no computador, distribuído gratuitamente no endereço http://www.rocket-ebook.com/eRocket O Softbook, outra versão de e-book, quando fechado parece um livro encadernado em capa de couro. Mede 20 por 15 cm, pesa em torno de 1.400 gramas e é dotado de uma tela táctil em preto-e-branco. Sua memória permite estocar 5.000 páginas e o dobro com placa de memória opcional e sua bateria assegura 5 horas de autonomia. Possui ferramentas de leitura como símbolos, hiperlinks e sistemas de anotação com caneta. O Softbook apresenta a vantagem de possuir um modem interno que permite a teletransmissão do arquivo diretamente do site da livraria para a leitora sem a necessidade de um computador, descarregando cerca de 100 páginas por minuto (http://Softbook.com/). INTERCOM – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXIV Congresso Brasileiro da Comunicação – Campo Grande /MS – setembro 2001 O que diferencia o Everybook dos livros eletrônicos já comercializados são as suas duas telas tácteis e em cores, que lembram as duas páginas de um livro aberto, de 30 por 20 cm. Sua capacidade de memória é de até 500.000 páginas estocadas em cartões tipo smart cards, um tipo de placa de circuitos, propiciando a expansão de sua memória. Diferente de seus predecessores, o Everybook foi concebido para ler fichários PDF (portable document format), o padrão mais utilizado hoje para a transmissão de documentos. Um modem pode ser integrado para telecarregar diretamente as obras deste formato, conectando-se a Everybook Store, uma livraria on-line em três dimensões11 . O primeiro livro eletrônico europeu é francês, projeto da empresa Cytale (antes Cybook) apresentado no Salão do Livro de Paris, em março de 200012 . O Cytale tem tela colorida e táctil de 21 por 16 cm, pesa 800 gramas e tem autonomia de 5 horas. Sua visibilidade é apurada por possuir tela retroiluminada, com a possibilidade de escolha entre pelo menos cinco tipos e sete tamanhos de caracteres, conservando uma apresentação semelhante à impressa. Sua capacidade de memória comporta 15.000 páginas e a adição de cartões permite o estoque de centenas de obras. Os diferentes conteúdos propostos serão acessíveis para telecarregamento pela Internet, via tomada telefônica ou via sistema mundial de celular. Análogos aos livros eletrônicos, o Webpad e o Qubit são dois outros produtos, compostos basicamente de duas partes: uma base fixa munida de um teclado e de um modem interno e uma parte móvel, que se comunica por rádio com a base. Na tela táctil, em cor e grande formato, pode-se visualizar o que é possível em um computador. Da mesma maneira que um telefone sem fio, oferecem uma grande liberdade de movimentos ao seu usuário e são considerados, por seus fabricantes, protótipos do computador do futuro: uma base fixa muito possante e uma tela táctil móvel e comunicante13 . O @folio permite ler em qualquer lugar os textos obtidos na Internet. Seu suporte (pedestal) é ligado a um computador como uma impressora. A encadernação de @folio conserva as ligações hipertextuais, ou seja, possui tela táctil, otimizada para a leitura (contraste, energia, peso) e seus cristais líquidos particulares só consomem energia quando as páginas são viradas. Translúcida, a tela aproveita a luminosidade ambiente e pode ser lida em frente e verso. A interface não possui botão e contempla os gestos tradicionais de leitura: virar ou tocar a página 14 . O livro eletrônico Korea, desenvolvido pela companhia Korea eBook Inc., baseada em Seoul, tem tela de cristal líquido, retroiluminada, monocromática, e táctil e resolução de 480 por INTERCOM – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXIV Congresso Brasileiro da Comunicação – Campo Grande /MS – setembro 2001 320 pixel. Pesa 280 gramas e pode ter 16 ou 32 megas de memória, que pode ser expandida com cartões tipo Smart Cards. O Korea conecta-se a um computador para descarregar os arquivos e pode, inclusive, ser utilizado para verificar e-mails. Está incluída uma entrada periférica tanto para os formatos relacionados aos dados quanto para recarregar a bateria NiMH, de hidreto de níquel metálico, que tem melhor desempenho e maior vida útil que baterias similares de cádmio e níquel. O software que faz parte do aparelho inclui um sistema operacional e os textos eletrônicos serão lidos no formato hieBook Reader. A leitora tem uma aparência atraente, é de fácil manejo e capaz de muito mais do que um livro eletrônico. O aparelho pode reproduzir arquivos MP3, gravar áudio, armazenar jogos eletrônicos e permite aplicações de organizador pessoal, como agendas, distribuição de cartões entre outras possibilidades como calculadora e dicionário 15 . Já disponível na Amazon.com, o eBookman apresenta três modelos: dois com 8 megas de memória, sendo um com tela retroiluminada e um software extra e um terceiro com todos os acessórios e 16 megas de memória. Todos os modelos do eBookman têm tela de cristal líquido com resolução de 200 por 240 pixel. O aparelho também reproduz arquivos MP3 usando alto falantes ou fones de ouvido. Usando o microfone é possível gravar mensagens de voz. Pode ser conectado a um computador, através de um cabo, e inclui a função de agenda. O eBookman admite reconhecimento de manuscrito. Os e-books podem ser lidos usando o software Microsoft Reader, assim como outros software, conforme informações obtidas no site da empresa Franklin16 . A goReader introduziu novo nível de tecnologia de leitura eletrônica para estudantes e está trabalhando com editores para oferecer textos eletrônicos num hardware portátil de fácil utilização. Sua tela de cristal líquido é colorida e táctil, tem resolução de 800x600 pixel. Mede 32 por 26 cm, pesa menos de 2 kilos e tem memória de 32 megas. Por ser táctil, a tela permite tomada de anotações. O editor possui guias de estudo e informações suplementares como calculadoras, calendários e dicionários. Funciona com o software Sun Microsystems Java e lê arquivos no formato OEB 1.0 e XML. Com o goReader os estudantes poderão obter as informações e os conteúdos diretamente do Web site17 . Inicialmente concebidos para substituir as sobrecarregadas agendas de endereços e de compromissos dos homens de negócios, os organizadores pessoais representam um mercado em plena expansão e podem ser classificados em várias grandes famílias, segundo o sistema de INTERCOM – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXIV Congresso Brasileiro da Comunicação – Campo Grande /MS – setembro 2001 exploração que utilizam o sistema Windows CE (Hewlett Packard, Compaq), o sistema Palm OS (Palm Pilot da 3COM, Visor da Handsprings...) e o sistema Psion. Permitem ter em mãos o acesso a um grande número de serviços, como os jornais que se propõem a fornecer notícias e se multiplicam na Internet. Os PDA (portable digital assistant) servem de livro eletrônico e tendo em conta a leveza e seu pequeno tamanho, lembram o livro de bolso. 5 O LIVRO E AS PRÁTICAS DE LEITURA A transmissão eletrônica marca uma espécie de revolução da leitura, com vantagens específicas para o leitor. Ampliam-se as possibilidades ao seu alcance diante do texto eletrônico: pode indexá-lo, anotá-lo, copiá-lo, deslocá-lo, recompô-lo, ou ainda, tornar-se co-autor. Pode construir, conjuntos textuais originais, cuja existência, organização e aparência somente dependem de quem lê. Essa percepção conduz à hipótese formulada por CAVALLO e CHARTIER: “do codex à tela, o passo é tão importante quanto o que foi dado ao passar do rolo ao codex”.18 Uma nova geração de leitores aprendeu a ler na tela, a uma velocidade maior que a dos mais versados mestres educados no papel19 . Na verdade, o hipertexto, ao inaugurar a leitura nãolinear, aproxima o ler do pensar. O texto não precisa mais ser lido na seqüência em que foi desenvolvido, as ligações cruzadas permitem, por exemplo, verificar o significado de uma palavra apenas clicando sobre ela. O leitor passará a outro texto como se simplesmente trouxesse à memória o significado de tal palavra. A revolução do texto pode envolver a criação, o acesso e a intervenção sobre informações estratégicas, sejam de natureza econômica, política, científica ou ética, de qualquer forma, informações sobre a informação. O surgimento e a difusão do texto eletrônico contém, potencialmente, uma ruptura com os modos de leitura precedentes, razão pela qual a análise das formas de apresentação e uso do livro permite que se transcendam as interpretações possíveis numa dimensão tecnológica, para que possam ser avaliadas situações que caracterizam a nossa vida cotidiana. O livro concretizado eletronicamente pode influenciar a maneira pela qual leitores fazem dele uso, profissionais de informação cumprem suas práticas e editores realizam sua INTERCOM – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXIV Congresso Brasileiro da Comunicação – Campo Grande /MS – setembro 2001 missão. Repercute também nas tecnologias para sua perfeita utilização, de modo especial nos chamados software, ou programa do computador que dá as instruções de funcionamento que são executadas pela máquina. Alguns são desenvolvidos especialmente para as leitoras portáteis e outros, além de compatíveis com as leitoras, podem ser utilizados num computador. Os documentos desenvolvidos nestes software, geralmente são produzidos para serem comercializados, por isso são criptografados para permitir um controle maior por parte do autor e da editora, pois é pela liberação desses arquivos que os textos comercializados por editoras virtuais são cobrados. Os quatro software a seguir descritos são os mais citados na literatura e três deles são distribuídos gratuitamente pela Internet, razão pelas quais foram selecionados como exemplo para ilustração. Atualmente o Acrobat Reader ou formato PDF (portable document format) é considerado incontestável, básico e obrigatório para a transferência de arquivos. Este programa permite a leitura de todos os documentos no formato PDF, o mais utilizado para a transmissão de documentos formatados20 . Apresenta vantagens destacáveis como o volume dos fichários, e sua visualização com o programa gratuito Acrobat Reader; o formato numérico que garante uma apresentação fiel dos documentos originais; a diagramação profissional perfeita, tanto na tela como no papel; as funções de navegação e de zoom que permitem um aproveitamento melhor do texto e das imagens dos PDF entre outras. O programa Microsoft Reader (www.microsoft.com/reader/), distribuído gratuitamente, foi concebido para oferecer leitura análoga à do papel. Dispõe da tecnologia ClearType; inovação para a resolução dos caracteres nas telas em cores, e incorpora também as vantagens da tipografia e do desenho tradicionais, o que permite uma apresentação clara, com grandes margens, textos alinhados, com espaços equilibrados entre as palavras, assim como utensílios para anotar, sublinhar, selecionar passagens e marcar páginas. Apresenta ainda um dicionário integrado e uma biblioteca que pode conter e classificar um grande número de livros e outros documentos. Permite que se passe as páginas mais ou menos rapidamente; da mesma forma que se folheia um livro manualmente, para encontrar uma determinada ilustração ou um quadro. O Glassbook é o mais sofisticado software para livro eletrônico e computador, que reproduz as características do impresso. Para baixar gratuitamente a versão 2.0 é só acessar o INTERCOM – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXIV Congresso Brasileiro da Comunicação – Campo Grande /MS – setembro 2001 endereço www.Glassbook.com. No site existem títulos gratuitos e bem baratos que vão de Sherlock Holmes a quadrinhos japoneses. O Rockets (www.rocketbook.com/enter.html) é um software para ser usado numa leitora portátil, a Rocket e-Book.. Os arquivos são baixados e descarregados no aparelho por meio de um cabo. Para quem não possui o aparelho existe um programa gratuito, que simula o aparelho na tela do computador21 . 7 SUBSÍDIOS PARA UMA COMPARAÇÃO As especificações e informações a respeito dos hardware oferecem subsídios para uma comparação das qualidades e recursos dos aparelhos, embora alguns apresentem poucos detalhes enquanto outros informam mais amplamente. Com base nas informações levantadas, vantagens do livro eletrônico sobre o livro convencional podem ser identificadas pois tanto escritores, e editores, quanto leitores podem ser privilegiados com a tecnologia. Analisando aspectos de custo de edição de livros, o eletrônico elimina gastos com gráfica, distribuição e transporte. O editor não corre risco de encalhes de obras nas prateleiras e não necessita pagar distribuidores. O recebimento do livro, pelo comprador, é imediato. Porém, o preço da leitora portátil ainda é elevado. O editor tem a opção de lançar um livro em meio eletrônico, para testar a sua aceitação que, se favorável evitará o encalhe de obras no estoque. Em relação à armazenagem, o livro eletrônico soluciona o problema gerado pela grande quantidade de material informacional produzido, em relação ao pouco espaço disponível para guardá-lo. A famosa pergunta: “Que livro você levaria a uma ilha deserta?” atualmente permite uma resposta mais rica. Pode-se afirmar a intenção de levar uma pequena biblioteca armazenada num único exemplar de livro eletrônico, desde que se somem, para concretizar a idéia, baterias altamente duráveis ou com energia solar. Outra vantagem do livro em seu novo suporte é a possibilidade de armazenar inúmeros textos no computador e transferi-los de um aparelho para outro sem a necessidade de descartar nenhum. Além de uma pequena biblioteca portátil, outra maior fica armazenada em casa ou no trabalho. INTERCOM – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXIV Congresso Brasileiro da Comunicação – Campo Grande /MS – setembro 2001 Comparando as facilidades oferecidas pelo livro eletrônico e pelo impresso percebe-se que a tecnologia da informática garante alguns recursos impossíveis no exemplar de papel. O livro eletrônico dispõe de mecanismos de busca de palavras, hipertexto e anotações que permitem ver o texto na horizontal ou vertical e acomodá-lo numa posição confortável para canhotos, permitindo, ainda, ampliação do corpo das letras conforme desejado. Os aparelhos que possuem tela retroiluminada permitem, até mesmo, a leitura no escuro. Os leitores têm acesso a obras gratuitas visualizadas de imediato. A distribuição automática de direitos autorais através de software de criptografia garante o pagamento aos autores. Quando o arquivo é copiado do site, a porcentagem dos lucros de editores e escritores é calculada imediatamente. A possibilidade de cópia, como o xerox, diminui, pois os textos criptografados não permitem a reprodução do texto. As desvantagens do livro eletrônico, de um modo geral, estão relacionadas com a tecnologia. Para produzir e ler um livro eletrônico é preciso que tanto consumidores quanto produtores a dominem. O livro eletrônico consome mais energia que um livro convencional, pois precisa de eletricidade, de uma linha telefônica e bateria para as leitoras portáteis. Por enquanto, a desvantagem dos livros eletrônicos, especificamente para o público brasileiro, é a inexistência dos aparelhos no mercado interno. Para obter uma leitora portátil é preciso importá-la. 8 CONSIDERAÇOES FINAIS O livro impresso, herdeiro do manuscrito, quanto à organização e aos subsídios de leitura (índices, sumários e forma linear do texto), sofreu uma revolução com o advento do livro eletrônico, fundamentada na tentativa de, em espaços mínimos, armazenar grande quantidade de conhecimentos. Análogo ao livro impresso, desde a capa até o índice, o ebook desenvolveu-se graças ao aperfeiçoamento de programas que imitam a diagramação de um impresso. Como hardware, oferece a qualidade da portabilidade, armazenagem de vários textos ou livros em um único exemplar, facilitando o transporte e permitindo a leitura no escuro. INTERCOM – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXIV Congresso Brasileiro da Comunicação – Campo Grande /MS – setembro 2001 As editoras, por sua vez, adaptam e criam serviços e produtos compatíveis à evolução desse campo tecnológico, para atender à nova demanda que se coloca com o livro eletrônico, disponibilizando textos compatíveis com hardware e software. Os textos podem ser transferidos instantaneamente de uma livraria na Web para uma leitora portátil e as edições não se esgotarão. Enquanto os livros de papel são objetos isolados, os eletrônicos podem incluir links em hipertexto para outros conteúdos, que podem estar em outros textos. O leitor não se restringe à leitura linear pois é livre para usar os links e as imagens de maneiras diferentes. Mas se o livro eletrônico apresenta relativas vantagens sobre o impresso, no contexto brasileiro, como no de outros países periféricos, seu uso atinge uma camada restrita da sociedade. Além do preço, existe outro fator restritivo ao acesso representado pela necessidade de importação do hardware. Consideradas outras questões relativas à comodidade e aos estilos pessoais de leitura, pode-se afirmar que o livro impresso permanecerá por muito tempo incorporado ao acervo de bibliotecas e centros de documentação, convivendo com os novos. Deverá continuar, portanto, fazendo parte do nosso cotidiano como o fazem os instrumentos musicais e tantos outros aparatos que o homem criou para registrar e transmitir seu conhecimento e expressar sua sensibilidade. Para concluir, vale ressaltar, com CHARTIER22 , que o livro, enquanto objeto de leitura, vive uma pluralidade de existências, sendo a eletrônica apenas uma delas. É portanto, uma forma de convivência entre o tradicional e o revolucionário que percebemos neste cenário de profundas mudanças pelas quais têm passado nossos objetos de leitura. REFERÊNCIAS ALMEIDA, Rubens Queiroz de. A Internet e a informação. Disponível em: <http://www.dicas1unicamp.br/hotlinks/worldbeb/index.html> Acesso em: 20 maio 2000. CAVALLO, G.; CHARTIER, R. (Org.). História da leitura no mundo ocidental. São Paulo: Ática, 1998. v.1, 232 p. INTERCOM – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXIV Congresso Brasileiro da Comunicação – Campo Grande /MS – setembro 2001 CHARTIER, Roger. A aventura do livro: do leitor ao navegador. São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1998. 159 p. CHARTIER, Roger. Cultura escrita, literatura e história: conversas de Roger Chartier com Carlos Aguirre Anaya, Jesús Anaya Rosique, Daniel Goldin e Antonio Saborit. Porto Alegre: ARTMED Editora, 2000. 189 p. eBOOKAD. Disponível em: <http://www.ebookad.com> Acesso em: 5 fev. 2001. EDITORA 00H00. Disponível em: <http://www.00h00.com> Acesso em: 17 out. 2000. GATES, Bill. Depois de Gutenberg. Exame, São Paulo, n. 26, p. 46-47, dez. 1999. GONÇALVES, Luiz Roberto Mendes. A biblioteca portátil. 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Livros inteligentes. Disponível em: <http://www.epub.org.br/correio/corr48.htm> Acesso em: 06 jun. 2000 a. , Livros médicos virtuais. Disponível em: <http://nib.unicamp.br/papers/checkup-05htm> Acesso em: 06 jun. 2000 b. Home Arquivos Perfil Assine nosso RSS PublishNews « Simplissimo promove workshop sobre ePubs | Main | Publicando um e-book na Amazon, por José Luiz dos Santos* » SEARCH TURBINADO PELO 06/02/2011 Search Livros digitais e o mercado editorial brasileiro, por Alexandre Linares* E -BOOKSTORES Amazon Kindle Store “Tudo o que era sólido e estável se desmancha no ar, Gato Sabido tudo o que era sagrado é profanado.” Grioti Livraria Cultura Karl Marx & Friedrich Engels Ponto Frio Saraiva.com O texto A publicação no formato digital não é uma opção, é uma questão de sobrevivência Afinal, quando a Amazon chega ao Brasil? Microsoft e Barnes & Noble juntas na batalha pelo mercado digital Amazon divulga números amazônicos Publicando um e-book na Amazon, por José Luiz dos Santos* do editor e articulista editorial Carlo Carrenho abre um debate necessário. E polêmico. Ao contrário, todos os atores do mercado editorial devem entrar nesta discussão, internamente nas editoras e publicamente em todos os espaços do mercado. The ToC Perspective: A Call for a Unified E-book Market http://t.co/oZNGromd via @publisherswkly 207 days ago follow me on Twitter RSS Assine nosso RSS Ponto de partida Simplissimo promove workshop sobre ePubs Exatamente por isso tem dificuldades de ver e entender o processo em curso. iFlow permite ler e-books da Cultura no iPad (sem quebrar o DRM) Nada mais natural. Os copistas medievais devem ter passado por algo parecido quando mundo e mesmo da América, nossa indústria editorial já tem história e maturidade. ASSINE POR E -MAIL Digite seu e-mail: Assine Johannes Gutenberg colocou sua tipografia para funcionar. PUBLICIDADE Números indicam que e-books faturaram US$ 400 mi nos EUA durante o Natal A média de idade dos editores do mercado editorial é alta. Não estou falando de A publicação no formato digital não é uma opção, é uma questão de sobrevivência minha experiência de 12 anos trabalhando com livros, o mercado editorial brasileiro tem funcionários contratados, estou falando dos proprietários, daqueles que decidem. Pela uma média de idade entre 50 e 70 anos. É só lembrar dos jantares de final de ano da CBL, onde há inúmeros ganhadores das bodas de prata e ouro do mercado editorial. RECENT COMMENTS Esse dado é relevante para entender a dificuldade de viver as transformações em curso. Ann on A publicação no formato digital não é uma opção, é uma questão de sobrevivência Não é uma crítica, veja bem, é uma constatação. Amanda on Livros digitais e o mercado editorial brasileiro, por UK publishers' "concern" over Amazon e-book removals | The Bookseller http://t.co/wfqSBDk1 decidem no mercado. A iniciativa do blog Tipos Digitais não pode, nem deve ficar isolada. Qual o ponto de partida? Apesar de jovem, comparado com tantos outros lugares do Helena on A publicação no formato digital não é uma opção, é uma questão de sobrevivência 58 days ago Pensar sobre a questão do livro digital depende hoje de mais ousadia entre aqueles que Livros digitais e o mercado editorial brasileiro, por Alexandre Linares* De olho no mercado espanhol Afinal, quando a Amazon chega ao Brasil? http://t.co/I6zJGpeh 190 days ago Simplíssimo RECENT POSTS NOSSO TWITTER Essa geração não é dependente de internet. Não vive com ela. É diferente de toda a geração que nasceu com internet. Hoje, já temos uma geração de jovens que nunca pagou por música, diretamente. E escuta música o tempo todo com celulares, mp3 players e afins. Alexandre Linares* Sebastião Siqueira on Livros digitais e o mercado editorial brasileiro, por Alexandre Linares* NoBru on iFlow permite ler ebooks da Cultura no iPad (sem quebrar o DRM) Renata on Publicando um ebook na Amazon, por José Luiz dos Santos* Loro Martins on Publicando um e-book na Amazon, por José Luiz dos Santos* Jose eduardo on Publicando um e-book na Amazon, por José Luiz dos Santos* ROdrigo on Livros digitais e o mercado editorial brasileiro, por Alexandre Linares* Antonieta Bastos on Livros digitais e o mercado editorial brasileiro, por Alexandre Linares* Esse é o ponto de partida para entendermos o problema. Baixo livros desde que entrei na internet em 1996/1997 (eu tinha um HD de 1,7GB, tenho hoje mais do que isso no meu celular). Adorei ler o clássico Anarchy Cookbook e as linhas do fanzine brasileiro mais bacana do início da web, o Barata Elétrica. Mas isso é antiguidade da internet, afinal sou de uma geração pré banda larga, wi-fi, celular etc. Hoje as pessoas vivem com a internet 100% do tempo. Alguns minutos na TV mostram a publicidade sistemática das operadoras de telecomunicação incentivando você a viver 100% conectado. As crianças vão para escola com celulares permanentemente on-line. Por isso, acredito que o trem da história vai atropelar quem não for rápido. Essa esmagadora roda do progresso da tecnologia digital para os livros vai esmagar quem acreditar que dá para fazê-la rodar para trás. Não dá. Quando trabalhava na Conrad Editora no ano 2000, instalamos o falecido software Napster. Foi inacreditável: em 48 horas havíamos baixado algo como 600 músicas, na sua maioria temas de séries, trilhas de filmes e músicas obscuras. Ficamos nos divertindo por horas. Se naquele momento tivéssemos um iPod ou se um celular com MP3 player, nos fosse oferecido, pagaríamos o preço que fosse para ter os meios de escutar essas CONTATO ARCHIVES músicas com facilidade. Meu primeiro MP3 player (de 128MB) eu recebi como brinde de E-mail: tiposdigitais @ gmail.com julho 2012 uma assinatura de banda larga que fiz. Usei aquilo até queimar. Twitter: @ tiposdigitais abril 2012 maio 2011 Hoje, qualquer pessoa que anda de trem/metrô está com seu celular abarrotado de fevereiro 2011 música. Nunca se escutou tanta música na história da humanidade. E isso é bom. Muito janeiro 2011 bom. Discos obscuros de bandas punk rock da Iugoslávia, cantos tribais africanos, novembro 2010 música clássica soviética, samba paulista com Plínio Marcos como mestre de cerimônias, outubro 2010 discos da banda Fellini... tudo disponível a dois ou três cliques! Coisas que a indústria musical nem sabia que existia... Passam a ser escutadas. CATEGORIES Convidados Entender e começar a estudar destemidamente o que será do futuro do livro. Encarar e Cursos desbravar os caminhos deste futuro. Como uma “Corrida ao Oeste” ou uma “Bandeira de DRM Mineração”, por territórios desconhecidos, em busca do novo veio de riquezas do e-bookstores mercado editorial. COPIRRAITE Se você republicar um texto deste site, você deverá incluir a seguinte informação: © Tipos Digitais, por Carlo Carrenho. Usado com permissão. Originalmente publicado em www.tiposdigitais.com A imagem do alto deste blog foi criada por Leo Froes sobre foto de Leo Reynolds. e-readers Espanha O negócio vai mudar. Como mudou na música. Como mudou no cinema. A indústria do Estratégia digital cinema hoje, se perdeu dinheiro para a pirataria de DVDs, ganha dinheiro como nunca, Humor nas salas de cinemas boas. Ninguém mais consegue assistir filme nos finais de semana Mercado digital Pirataria Self-publishing Seminários sem fila. VRUMMMM Blog turbinado pelo PublishNews Site com tecnologia TypePad busk.com.br Como tornar viável uma editora com livros digitais? Esse é um problema que os editores precisam se desdobrar para resolver. Não existe resposta pronta. O que tenho a dizer são ideias e especulações. Pistas sobre o caminho e sobre os obstáculos. Algumas pistas sobre os obstáculos Faz um ano, fui chamado por um selo editorial de uma grande editora para uma consultoria para rascunhar um projeto de edições digitais. Comecei, desenvolvi uma parte do estudo levantando oportunidades, viabilidades e afins. Mas não havia segurança em investir no prosseguimento da pesquisa na editora. Entre o certo e o duvidoso, tive de optar por me dedicar a minha outra área profissional (como professor). Com raras exceções, é uma tendência do mercado em geral: esperar alguém ir na frente, bater a cabeça, errar, se machucar... para depois o restante seguir a trilha já traçada sem dificuldades. As exceções devem ser registradas como a Ediouro, com seu projeto Singular Digital e o Grupo Positivo que aposta em um e-reader próprio e possivelmente unificará suas estratégias de negócios editoriais e educacionais. O problema é que, no geral, isso está muito devagar. E ninguém está disposto a errar. Isso, numa empreitada nova, é um equívoco. Fica óbvio que o que leva as editoras a não investir nos livros digitais é insegurança, medo. Tratar livro como papel. E livro é conteúdo, não é forma. Mas qual a razão dessa decisão? Simples, optaram por seguir o mercado: fechar-se, colocar a cabeça na areia e rezar para o céu não cair em cima deles. Esperar que outros se arrisquem, que outros façam o novo para só seguirem a onda. O problema é que aqui não adianta rezar. Toda a fé do mundo não muda a realidade, se as pessoas ficarem de joelhos. É preciso agir. Recordando as palavras de Goethe: “No princípio era a ação”. O mundo editorial precisa renascer Vivemos uma nova transformação gutenberguiana. Aquilo que Gutenberg fez com seus tipo móveis, mudou o mundo. Mas mudou o mundo não pela técnica em si, mas porque essa técnica foi capaz de reduzir drasticamente os custos do acesso ao conhecimento e a novas ideias que antes estavam isoladas e fragmentadas. Socializou, assim, o conhecimento clássico e abriu as portas para novas ideias. Tornando possível mudanças na escala da Reforma Protestante, do Renascimento e do Iluminismo. Não há dúvidas, o mercado editorial precisa se reinventar. Renascer. “Necessário vos é nascer de novo” diria João (3:7). Claro, ainda tudo parece um balcão de apostas. E ninguém quer colocar as fichas sem saber onde é que elas vão ser jogadas. Nada de fazer como fez a AOL, quando distribuía CD-ROM ou outras loucuras torrando o dinheiro da falecida “nova economia”. Não é isso. Mas não dá para achar que as faixas de lucro vão ser as mesmas. A rentabilidade no novo negócio do livro ainda está para ser descoberta. E creio que ninguém duvida que o desenvolvimento do mercado vai depende de vários elementos, variáveis e fatores. Alguns elementos e fatores para o futuro do livro a) Hoje o público de vanguarda está comprando leitores (e-readers/tablets) e já consumindo no Brasil. O público é pequeno ainda. Mas é o público que consome mais e logo exigirá o que consumir. Seja ele professor universitário, leitor modista radical, pessoas da área de tecnologia ou advogado consumidor de livros jurídicos pesados que não quer carregar na mala entre um processo e outro (entre outros consumidores de mais de 80 livros por ano). b) Da capacidade de multiplicação de e-readers e de tablets eficientes e baratos (e barato, sem dúvida é na faixa de 150/200 reais no mercado brasileiro). No Compre direto da China já vendem um iTablet ching-ling por 249 reais usando o Google Android, que pode ser o primeiro tablet de muita gente. Outros vão vir. E logo mais cada universidade privada “presenteará” seus alunos (com o custo diluído nas mensalidades, claro) com um e-reader (como já faz a Faculdade COC, para o ensino a distância). c) Da ousadia das editoras de recalcular integralmente os custos dos livros a partir da nova realidade. De reduzir os esbanjamento e estudar drasticamente como produzir conteúdo para os novos formatos. De recuperar todos os livros dos seus catálogos. E de entender a cauda longa (o livro do Chris Anderson passa a ser leitura obrigatória). d) De novos modelos de contrato. Novas formas de repartir resultados. Com esse formato, fica sendo possível combinar direitos autorais para autores, tradutores, capistas e mesmo editores de edições críticas. Isso fará os custos de investimento caírem e possibilitará mais ousadia e apostas. E mesmo resgates de obras esquecidas e abandonadas. A possibilidade de ótimos resultados com livros de domínio públicos em edições críticas de alto nível. De definição de tempo menores para extensão dos contratos. De cálculos escalonados onde os resultados de vendas ampliam os resultados de royalties, tornando os autores vetores principais da divulgação e do marketing das obras. Tenho certeza que livros que façam sucesso originalmente em e-books vão se tornar versões impressas, muito mais legais para presentear (pois permitem dedicatórias, por exemplo) e para adornar as estantes de bibliófilos. Além disso, seguem essenciais para as noites de autógrafos. e) Esse processo ampliará drasticamente a base de leitores. O modelo digital vai ajudar, como a música digital fez. Mais consumidores consumindo e descobrindo. E o consumo de energia de um e-reader é tão baixo que um sistema de energia solar fará qualquer cidadão no meio do deserto capaz de ler um livro usando o sol como fonte de sustento de baterias... nem eletricidade vai necessitar. Programas públicos de acesso a internet como o Programa Nacional de Banda Larga que o governo federal desenvolve com a nova Telebras serão ferramentas importantes para ampliar o mercado leitor. f) Ao mesmo tempo, livros de luxo, de arte, de colecionadores, continuarão a ser do jeito que são. Uma obra em quadrinhos do Sandman (Neil Gaiman) segue sendo melhor lida no papel. Um livro de fotos do Sebastião Salgado a mesma coisa. Um outro elemento importante: a pirataria g) Como competir com a pirataria? Antes de tudo é preciso entender que ela existe e vai seguir existindo. Para concorrer com ela, é preciso em primeiro lugar, preços justos e competitivos. Como professor, incentivei meus alunos a comprar essa coleção de livros da Folha “Livros que mudaram o mundo”. Até a edição 14, pelo menos 30 dos meus 250 alunos compraram. Por um sistemático incentivo meu que a cada semana apresentava a importância de cada obra e comparava seu preço (15,90 reais) dela com as edições de livraria. Um resultado impressionante, pois sem dúvida, muitos jamais chegariam a obras como aquelas, se não fosse o preço. h) Vejo editoras vendendo livros digitais por preços praticamente iguais aos livros em papel. É uma afronta à inteligência do consumidor. É um empurrão para o consumo de livros por fora das editoras. Com a inesgotabilidade das obras, em alguns casos, as obras vão ser gratuitas e as pessoas vão contribuir livremente para ajudar projetos editoriais ousados. Um pouco como fez o Radiohead quando disponibilizou um disco no seu site para as pessoas pagarem o quanto quiserem. Recentemente, um blog especializado em digitalização de livros para uso de estudantes de uma grande universidade fez uma campanha para comprar um HD extra e arrecadaram 400 reais em poucos dias com doações voluntárias. i) É provável que uma das formas para o acesso a conteúdos esteja ligado a sistemas de assinatura. Isso possivelmente implicará que as editoras tenham de fazer acordos/negócios com operadoras de telecomunicação (Teles em geral) e portais de internet. Algo como um grande Círculo do Livro, mas agora digital. O sucesso das obras estará ligado à capacidade de dar visibilidade (sites, TV e afins). Mas também ao boca a boca, em torno das redes sociais. Nos EUA já há uma rede social dedicada só à leitura de livros: The Copia com grande convergência para e-books. j) Nas edições técnico-científicas – em todas as áreas – produzidas ou traduzidas nas universidades públicas com pesquisas de bolsistas de órgãos de fomento públicos, vão também mudar a forma de acesso ao conteúdo. Não se justifica – do ponto de vista do interesse da sociedade – que pesquisas e obras sustentadas com dinheiro público, com livros produzidos por professores e pesquisadores com estatuto de dedicação exclusiva, tenham livros restritos a versões impressas para serem vendidos a preços de mercado. Sendo obras de interesse social, possivelmente terão outra dinâmica. Parece que o modelo desenvolvido pelo portal Scielo para os periódicos científicos, tende a se generalizar no futuro numa espécie de Scielo Livros disponibilizando os acervos das editoras universitárias ao público leitor sem custo ou a custos próximos do simbólico (ou mesmo sistemas de assinaturas acessíveis). Essa questão da disponibilidade das publicações técnico-científicas é um problema central hoje para o mundo acadêmico, para a elaboração de políticas públicas e mesmo para a reforma da legislação de direitos autorais. Não é por acaso que um excelente grupo de professores e pesquisadores da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP liderado pelos professores Pablo Ortellado, Jorge Machado e Gisele Craveiro no Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas para o Acesso à Informação (Gpopai/USP) tem demonstrado a crise que existe na disponibilidade de livros nessa área no estudo “Relatório: O mercado de livros técnicos e científicos no Brasil”. Para dar um exemplo real deste problema, hoje, dos 11 livros exigidos no edital para a prova de mestrado em História Econômica na USP de 2010, cinco títulos estão fora de catálogo nas livrarias eletrônicas de edições novas (veja tabela de disponibilidade). Uma parte destes livros só está disponível em sebos e sites de downloads ou na biblioteca da própria USP. Outro elemento: Recuperar, resgatar e reeditar os antigos títulos e gerar novos negócios l) Uma vasta quantidade de obras traduzidas que já foram editadas e publicadas, mas que estão fora de disponibilidade do mercado, vão poder ser recolocadas no mercado graças ao formato digital. Os leitores digitais com toda a certeza vão fragmentar a edição. Não será necessário capacidade de investimento para publicar. Será necessário capital para contratar autores consagrados, isso é claro. Mas abrirá o caminho para uma ampliação da experimentação de novos autores, novas formas narrativas, novas ideias... m) Como lembrou um amigo, outro elemento que deve ser abraçado é a possibilidade de casar os novos formatos digitais com mecanismos de publicidade de marcas. Porque empresas que investem em prêmios literários e edições de livros via isenção fiscal (Rouanet) não vão investir em projetos editoriais digitais disponibilizando livros gratuitamente? É também um terreno aberto. Reformar os direitos autorais Hoje a resistência ao processo de modernização dos direitos autorais tende a se inverter. As editoras vão se tornar as maiores interessadas com uma ampla reforma ampliando as limitações (situações nas quais as obras podem ser copiadas). Isso porque com os tablets, os livros vão passar a ser obras de convergência de mídias. As editoras de livros didáticos terão de se transformar em canais de mídia, com publicitários, com departamentos de criação dinâmicos, com acordos de licenciamento em infintas formas de conteúdo. Os desafios e obstáculos que hoje documentaristas e cineastas vivem vão se tornar desafios para os editores que terão de utilizar todos os meios e mídias para projetos inovadores. Imagine um capítulo de um e-book produzido para tablets, num livro de história, para ensino médio sobre a Revolta da Chibata. Ele terá imagens, passeio pela planta dos navios, a reprodução da música do João Bosco cantada pela Elis Regina, terá imagens do ex-presidente Lula lançando ao mar o primeiro navio da Petrobras produzido nos estaleiros navais de Pernambuco, batizado de João Cândido. Também terá depoimento em vídeo do senador Paulo Paim, autor do projeto que propõe inscrever no Panteão dos Heróis da Pátria e da Liberdade o nome de João Cândido entre tantos outros recursos de multimídia. Para ficar apenas num exemplo. A produção de obras deste tipo vai exigir sem dúvida, uma reforma da legislação de direitos autorais. Sobre esse tema recomendo a leitura do e-book em quadrinhos Prisioneiros da Lei produzido e traduzido para o português pelo Center for Study of the Public Domain da Duke University School of Law. Uma transformação profunda e sem volta. O futuro está à nossa porta! O mercado editorial prepara-se para uma transformação profunda e sem passagem de volta. Temores sempre existem. Mas às vezes é preciso coragem para encarar o futuro. Mas diferente de décadas passadas, hoje o futuro dá medo. A ficção projeta atualmente a um futuro, em geral trágico. Como explicou o crítico Fredric Jameson no seu Archaeologies of the Future a tendência da projeção do futuro no terreno da ficção hoje, no capitalismo, é a hecatombe apocalíptica ou mais do mesmo que já vivemos. E essas duas opções, convenhamos, não são muito boas. O futuro pode ser melhor. Mas desde já trabalhemos para isso. Frente às opções de hecatombes ou mais do mesmo, prefiro um futuro melhor. Os livros digitais podem não resolver os problemas do mundo, mas vão ajudar. Devemos ir para o futuro “audaciosamente indo onde ninguém jamais esteve”. * Alexandre Linares ([email protected]) é editor, cientista social e professor. Foi coordenador editorial na Conrad Editora. Foi sócio-fundador da Amauta Editorial. Trabalhou na Boitempo Editorial e na Editora Nova Palavra e colaborou com várias outras editoras. Mantem o blog DataGramaZero - Revista de Ciência da Informação - v.9 n.5 out/08 ARTIGO 05 Conteúdos Digitais de Livros na Sociedade do Conhecimento Digital contents of the books in the Knowledge Society por Thiago Souza Araújo e Alessandra Galdo e Julíbio David Ardigo Resumo: Este artigo tem como objetivo analisar a contradição aparente entre os interesses da sociedade em relação à democratização da informação diante dos interesses do setor editorial de livros e sua (in) adequação à realidade tecnológica dos conteúdos digitais. Aborda quais as implicações das tecnologias de informação e comunicação para este setor e para o usuário de informações de livros técnicos e científicos. Faz-se um levantamento do contexto da economia digital e uma abordagem reflexiva a respeito das necessidades de acesso flexível e democrático à informação. Aborda-se a questão dos livros e dos conteúdos digitais assim como outras questões envolvidas na situação de impasse na qual se encontra o setor editorial no contexto apresentado. Conclui-se que há necessidade e possibilidade de adequação dos produtos informacionais editoriais aos interesses da sociedade no acesso à informação. Palavras-chave: Sociedade da informação; Sociedade do conhecimento; Livro; Economia digital; Conteúdo digital; Disseminação da informação. Abstract: This study analyzes the apparent contradiction between the society interests in the democratization of the information faced with the interests of the books publishers and their adjustment or not to the technological reality of the digital contents. It shows the problems of the information technologies and communication in this area and to the users of scientific and technical books. It does itself a hoist of the digital economy and a reflexive approach to the needs of democratic and flexible access to the information. The question of the books and the digital contents are presented as well as other questions involving the predicament in which the editorial sector in the context presented is found. This study concludes that there is a need in the access to the information and the possibility of the editorial products to adapt to that is real. Keywords: Information society; Knowledge society; Book; Digital economy; Digital content; Dissemination of the information. Introdução Em decorrência do salto tecnológico das tecnologias de informação e comunicação por que passa a sociedade contemporânea algumas transformações econômicas e sociais mostram-se disruptivas e por vezes conflituosas. Tapscott (1997) traz a abordagem da economia digital e suas implicações nas relações produtivas. A sociedade em rede apresentada por Castells (1999) aponta o impacto que as novas possibilidades fornecidas pela tecnologia trouxe às relações sociais numa perspectiva mais agregada. Numa relação de causalidade bidirecional ao mesmo tempo em que a sociedade direciona a tecnologia esta também é direcionada por ela. Dutton (2004) afirma que é necessário diminuir as disparidades na exclusão digital. A exclusão digital não é apenas a exclusão ao contato com o meio digital ou o acesso à informação, mas principalmente a exclusão do acesso ao conhecimento. Nessa abordagem não estamos numa sociedade informacional globalizada, mas sim num conjunto de sociedades do conhecimento. No caso específico do produto gerado pelo conhecimento, os livros e trabalhos técnicos, sofrem diretamente o impacto dos avanços das tecnologias da Informação e Comunicação (TICs). Pois com a tecnologia digital cada vez mais convergente e com a sociedade cada vez mais adepta a dispositivos digitais em substituição do conhecimento no formato impresso resulta em uma pressão para a indústria tradicional da informação e de sua cadeia de distribuição. A revolução tecnológica e a disseminação da informação e suas formas se dá num cenário de rápidas transformações em ciclos de tempo cada vez menores. Nos mais diversos campos da atividade humana, uma inovação é suplantada por outra, antes mesmo que se tenha acomodado à anterior e, muitas vezes, sem que haja tempo para a reflexão a respeito do movimento de construção do novo modelo de sociedade, segundo Lévy (2007a), um movimento social espontâneo e imprevisível, um movimento sem nenhuma instância a dirigir o processo. Rover (2003) observa que a complexidade, instabilidades e riscos decorrentes dessa construção espontânea incitam à autoobservação: “a sociedade toma a si própria como tema de análise” (p.173).Tais reflexões têm como origem o próprio conceito de sociedade da informação e sociedade do conhecimento para aprofundar-se na questão do acesso à informação de livros na Internet e o conflito entre os interesses da indústria editorial e os da sociedade no acesso à informação. O objetivo do trabalho é, nesse sentido, analisar o setor editorial e sua (in)adequação à realidade tecnológica atual dos conteúdos digitais abordando quais as implicações das tecnologias de informação e comunicação para este setor e para a sociedade. A metodologia utilizada predominantemente é a da análise documental (com documentos digitais de fontes oficiais), cujos dados são trabalhados com o instrumental analítico proveniente das ciências econômicas. O artigo apresenta referencial teórico baseado em pesquisa bibliográfica a respeito dos movimentos pelo livre acesso à informação no contexto da sociedade da informação e análise do processo produtivo do livro e discussão da flexibilização dos suportes informacionais do meio físico para o digital, o que tende a ocorrer em relação ao livro. Referencial Teórico Ao discorrer a história da Sociedade da Informação, Mattelart (2002) analisa que a partir do século XVIII surge a tendência em batizar os períodos da História Universal em termos de “eras”, diferenciando a sociedade presente da do futuro. Assim fala-se em era Agrícola, era Industrial e era da Informação. O autor aponta que o conceito de Sociedade da Informação aparece pela primeira vez em 1973 na obra “The Coming of Post Industrial Society” do sociólogo de Harvard, Daniel Bell. Posteriormente Peter Drucker (2002) amplia o conceito para Sociedade do Conhecimento no livro “Post-capitalist Society” de 1993 e analisa que o recurso econômico básico não é mais o capital, a terra, ou a mão de obra, mas, o conhecimento. Barreto (2008) esclarece que enquanto a sociedade da informação é uma “utopia de realização tecnológica”, a sociedade do conhecimento é “uma esperança de realização do saber”. O papel central da informação e do conhecimento na sociedade contemporânea é amplamente reconhecido, porém Castells (1999) contribui para a compreensão da dimensão da informação ao afirmar que a não é a centralidade da informação e do conhecimento que caracterizam a era, mas aplicação de conhecimentos e informação para a geração de novos conhecimentos em ciclos de realimentação cumulativos que geram inovação. Barreto (2008) lembra que um processo de inovação não traz simplesmente uma nova tecnologia, mas um acréscimo de bem estar à sociedade. Assim, os ciclos contínuos de inovação parecem levar a sociedade a ciclos também crescentes de anseio pelo acesso livre à informação. O conhecimento e o saber sempre fizeram parte dos grandes anseios humanos, como ilustrado em dois clássicos da literatura universal. Fausto, mito e personagem na obra de Goethe, escrita entre 1773 e 1775, atormenta-se em sua ambição pelo conhecimento que julgava não conseguir alcançar em sua plenitude. Ansiava por desvendar a quintessência da indústria e da ciência. O conhecimento “encerrado” na biblioteca, “reserva do saber”, em um convento beneditino, é o centro do romance de Umberto Eco, O Nome da Rosa (1983). Um dos personagens reflete a respeito “do silêncio e da escuridão que circundam a biblioteca” como representação natural do conhecimento nela “escondido”, pois este saber “só pode permanecer intacto ao impedir que o conhecimento ali resguardado chegue a qualquer um”. (p. 217). Ao silêncio e escuridão da biblioteca na era medieval, contrapõe-se a imagem da rede onipresente de informações dinâmicas, brilhantes e acessíveis, descrita em Neuromancer (1984) romance de William Gibson que, segundo Saad (2003, p. 236), dá origem ao termo “cyberespaço”: “uma representação gráfica de dados abstraídos dos bancos de todos os computadores do sistema humano. Uma complexidade impensável. Linhas de luz abrangendo o não-espaço da mente; nebulosas e constelações infindáveis de dados. Como marés de luzes de cidade” (Gibson, 1984, p.67 ) A Internet pode ser imageticamente representada pelas “constelações infindáveis de dados” imaginadas por Gibson. Dados que levam à informação, que constrói o conhecimento, por sua vez o recurso fundamental da sociedade contemporânea (Drucker, 2002). Na busca por esse bem intangível, reconstroem-se ideais de acesso livre e irrestrito à informação. Barreto (2008) lembra que o ideal de acesso livre ao conhecimento não surge com a Internet, mas pode-se dizer que alavancado pela comunicação e revolução tecnológica, reestrutura-se com ferramentas de criação coletiva, o código aberto e os movimentos pelo software livre a partir da iniciativa liderada pelo ex-aluno do Massachusetts Institute of Technology (MIT) Richard Stallman. Em 1984 o programador idealista aspirava resgatar a filosofia de colaboração aberta, típica da comunidade científica, no desenvolvimento de um sistema operacional de livre distribuição. Vianna (2006) avalia que um novo paradigma da tutela jurídica do trabalho intelectual começa a ser disciplinado a partir da iniciativa de Stallman: “Esta iniciativa resultou na criação da Free Software Foundation — FSF (Fundação para o Software Livre) e, para fundamentar juridicamente o projeto, foi redigida a GNU General Public License - GPL (Licença Pública Geral do GNU) que rompia com a antiga tutela do direito de cópia (copyright). Garantia-se a livre distribuição e modificação das obras e, em contrapartida, as novas distribuições ficavam vinculadas às mesmas licenças [...] que garantiam o direito de distribuir e modificar livremente as obras intelectuais convencionou-se chamar de Copyleft, em uma nítida alusão de repúdio às licenças tradicionais de Copyright que garantiam o monopólio do direito de reprodução das obras intelectuais. [...] foi criada a GNU Free Documentation License (GFDL — Licença de Documentação Livre do GNU), aplicável a textos, imagens, músicas, filmes e outros documentos”. (Vianna, 2006, p. 938) E conclui o tema mostrando que o conceito de livre distribuição e alteração do software passa a ser aplicado a outras formas de criação intelectual, como música, filmes e livros, essa última, objeto de reflexão nesse artigo. Acesso à informação de livros na era digital A fim de avançar na discussão a respeito do conteúdo digital de livros e distribuição da informação na Internet, se faz necessária a compreensão a respeito da questão da propriedade intelectual, conceito que vem sendo utilizado para defender posições contrárias à livre distribuição da informação em geral e no caso específico do livro, para defender interesses comerciais das editoras, mais do que para defender os direitos do criador intelectual de uma obra. Comumente, o autor aliena, ou seja, transfere o domínio da obra à editora que passa a deter todo o processo desde a produção até a distribuição do livro. O trabalho de criação é remunerado através do pagamento de um percentual que gira em torno de 10% do valor da capa. A noção de Propriedade Intelectual, é questionada como defensora do direito do autor intelectual de uma obra, como explica Vianna (2006): “a reprodução em série, obrigou os autores a alienarem seu ‘trabalho intelectual’ aos detentores dos meios de produção que, em contrapartida, exigiram-lhes a concessão do monopólio da distribuição das obras. A natureza do trabalho intelectual, que poderia ser replicado ad infinitum, acabou por ser tomada como “propriedade intelectual”, mesmo contra toda as evidências de que, uma vez alienada, a propriedade não pode mais ser utilizada por quem um dia a possuiu. Firmou-se então a ideologia da “propriedade intelectual”, ocultando a venda do trabalho intelectual dos autores aos detentores dos meios de produção”. (Vianna, 2006, p.936) Segundo Rover (2003, p. 174), um dos principais objetivos da Propriedade Intelectual é o: “equilíbrio entre os interesses particulares dos produtores e o interesse público, da sociedade”. No entanto as contradições entre tais interesses vêm aparecendo mais fortemente na indústria do livro que parece resistir, ainda, à reconfiguração dos meios, se apegando ao suporte físico, apesar da inevitabilidade das transformações sociais e econômicas que se processa na sociedade contemporânea. No romance já citado de Umberto Eco (1983, p.217): “o livro, cujas páginas esfarelam-se, as tintas e os ouros se tornam opacos, se muitas mãos o tocam” deve permanecer “intacto”. Assim como os livros de hoje, as idéias não podem permanecer intactas. Rover (2003, p.173) lembra que é necessário “libertar-se das certezas” que soluções antigas impunham. “De átomos a bits”, a metáfora cunhada por Negroponte (1995) se adéqua à idéia de “conteúdos digitais de livros” expandindo a atual concepção do livro impresso ou do livro com páginas “escaneadas”. Escanear um livro e torná-lo disponível na internet não é ainda, o mesmo que conceber um livro como um produto digital que dê ao usuário autonomia e liberdade de adaptar a informação a suas necessidades, um dos fundamentos da GNU General Public License ou GPL - Licença Pública Geral do GNU. (Vianna, 2006, p. 938). Vale esclarecer que uma das abordagens presentes nesse trabalho é a do livro como produto informacional, uma vez que em seu formato tradicional requer um processo de produção com etapas definidas, como criação, produção e distribuição numa cadeia produtiva que envolve o(s) autor ou criador(es), revisores, revisores técnicos, tradutores, gráficas, editores, distribuidores e livreiros. Reconhece-se assim a utilidade de discutir uma das várias dimensões relacionadas ao livro, porém sem reduzir a obra intelectual a questões mercadológicas. O produto, o bem de consumo ou a mercadoria são um fator econômico além de qualquer interpretação simbólica. Ao imaginar uma nova dimensão antropológica, o Estado do Saber, “virtual na expectativa de nascer”, Lévy (2007b) reconhece que os outros três, dos quatro espaços antropológicos concebidos pelo autor, quais sejam, o espaço da Terra, do Território e o Espaço das Mercadorias, coexistem: “o capitalismo é irreversível. É daqui por diante a economia, e a instituiu como dimensão impossível de ser eliminada da existência humana. Sempre haverá o Espaço das Mercadorias, como sempre haverá a Terra e o Território”. (p.120) Justificada a escolha da abordagem, é preciso delimitar o tipo de informação tratada nesse artigo. O livro em seu formato tradicional, impresso, como reflete Bellei (2002), é um objeto simbólico, instituição cultural formadora de uma civilização. Sendo assim não perde sua dimensão própria, principalmente no caso da obra literária que é inspiradora de reflexão e prazer. Não é intenção sugerir que conteúdos digitais de livros substituiriam o livro em seu formato tradicional. O que este artigo trata é da finalidade informativa do conteúdo do livro e a democratização de acesso ao conhecimento que se dá, também, na concepção de produtos universalmente mais acessíveis apropriando-se da tecnologia como meio para a construção de uma sociedade mais igualitária. Considerações feitas, se pode retornar à questão do livro diante da desmaterialização do conhecimento. É possível imaginar uma reconfiguração desse produto informacional. De “livro” para “conteúdo digital de livro”. De “átomos a bits” (Negroponte, 1995). Na obra Sociedade pós capitalista de 2002, Peter Drucker demonstra que: “as indústrias que passaram para o centro da economia nos últimos quarenta anos se baseiam na produção de conhecimento e informação, ao invés de produção e distribuição de coisas.” (p.140) O modelo de conteúdos digitais de livros apresenta a flexibilidade de permitir ao leitor construir o conteúdo a partir de trechos de várias obras, o que acontece na prática, através da reprodução não autorizada de trechos de livros, principalmente, no segmento classificado pelas editoras como CTP, Científicos, Técnicos e Profissionais (CBL, 2004). O modelo de conteúdos digitais flexíveis leva a novas possibilidades de uso ao permitir que o leitor adquira trechos de seu interesse, reduzindo os custos de aquisição e contribuindo para maior liberdade no acesso à informação. O usuário desse tipo de informação é o estudante, o professor, o pesquisador, advogados, médicos e profissionais liberais em geral. Buscou-se identificar entre as maiores editoras com atuação no Brasil (CBL, 2004; Earp, 2005), iniciativas de apropriação da tecnologia digital que tragam ao consumidor individual de livros do segmento CTP, autonomia e liberdade de adaptação da informação às suas necessidades de uso, ou seja, formatos flexíveis para o livro. O objeto da consulta foram os portais das editoras que publicam textos em português (traduções ou autores nacionais) para o mercado brasileiro de livros técnicos e científicos. A metodologia adotada no levantamento das informações foi reproduzir o comportamento do usuário da internet ao buscar informação entre os portais que o permita adquirir trechos de obras de livros técnicos: Tabela 1: Síntese de busca de informações nos portais das editoras de obras técnicas e científicas para o mercado brasileiro. A pesquisa mostra que entre as editoras consultadas apenas uma oferece a venda on-line de trechos de livros. No entanto, a Revista Panorama Editorial de setembro de 2007, publicação da CBL - Câmara Brasileira do Livro informa que a principal estratégia da editora Forense “continua focada no suporte papel” e que o “livro integral no site tem o mesmo preço do da livraria” com a finalidade de “desestímulo à compra da versão eletrônica” (CBL, 2007, p.28). Poder-se-ia concluir, então, que as companhias editoriais não reconhecem a economia digital? Paradoxalmente, uma indústria cujo produto é a informação parece não estar pronta para a Sociedade da Informação. A Associação Brasileira de Direitos Reprográficos, entidade declarada como fiscalizadora e repressora da reprodução ilegal de livros, anuncia em seu portal uma ferramenta denominada “Pasta do Professor” que permitiria a compra do livro fracionado, porém a plataforma anunciada é restrita às instituições de ensino que aceitem se cadastrar ao sistema e ofereçam pontos de venda com copiadoras credenciadas pela Associação. O sistema anunciado é, portanto, restritivo. O objetivo da plataforma é o combate à pirataria e busca replicar o modelo da cópia reprográfica de trechos de livros e dessa forma oferecer concorrência às copiadoras de textos impressos. Em relação ao combate à cópia não autorizada de livros sob a alegação do direito à propriedade intelectual, Vianna explica que: “Sob o pretexto de se tutelar os “direitos de autor”, o combate à pirataria é tão somente um instrumento de reafirmação da velha ideologia da ‘propriedade intelectual’, única capaz de legitimar o monopólio do direito de cópia dos detentores dos meios de produção. O monopólio do direito de cópia (copyright), longe de tutelar os direitos do autor, é contrário a seu interesse de maior divulgação possível da obra. O que garante aos autores a remuneração por seu trabalho não é o monopólio do direito de cópia, mas a alienação deste trabalho aos detentores dos meios de produção que irão consubstanciá-lo em meio físico e vendê-lo no livre mercado”. (Vianna, 2006, p.940) No embate de interesses sob uma bandeira, no caso a da propriedade intelectual haverá vias criativas de responder ao problema? Drucker (2002, p. 21-22) analisa que “o conhecimento está hoje sendo aplicado ao conhecimento” e reflete que o conhecimento deve ser aplicado à “inovação sistemática”. A indústria da informação deve e pode perfeitamente integrar valores e interesses da sociedade, ao invés de, interagir com os usuários como se esses em conjunto com as possibilidades oferecidas pela Internet constituíssem uma entidade da qual precisa se defender. A gestão nas organizações do conhecimento tem como objetivo o cliente (usuário da informação) e não o produto (o livro em um formato imposto). O monopólio da informação, se é que se pode dizer que havia um, tende a perder cada vez mais espaço devido à Internet e outras tecnologias baseadas em rede. É inevitável que a indústria editorial venha a se reestruturar se quiser manter mercado. O setor editorial na era da informação digital A indústria tradicional continuará a vender livros, pois é um formato de transmissão do conhecimento que permite portabilidade, acesso rápido e imediato, não sujeito a falhas de outros sistemas digitais, e muitas pessoas por suas qualidades continuam a preferi-lo em detrimento do formato digital. O livro possui seu espaço no mercado, no entanto, cada vez mais perdem espaço para os formatos digitais, por uma série de benefícios que estes oferecem. É então um fenômeno mercadológico em seu sentido econômico: a preferência do consumidor está mudando. Para salvar o mercado dessa indústria torna-se necessário um reposicionamento dessas empresas. A análise da dinâmica desse mercado pode ser estruturada baseando-se nos determinantes econômicos da oferta e da demanda: Determinantes econômicos da oferta: 1. Custo de aquisição do conhecimento 2. Custo editorial a ser vendido/divulgado 3. Custo de produção da matriz da mídia 4. Custo de cada cópia da mídia. Determinantes econômicos da demanda: 1. Valor do conhecimento 2. preço do produto substituto O custo de aquisição do conhecimento é referente ao trabalho intelectual que foi realizada para a elaboração do livro, portanto é constituinte do valor final. Nesse ponto há que se refletir que existem diversas fontes de financiamento do livro, de forma que esse valor pode variar muito, podendo incluir custos de pesquisa e dificuldade de obtenção de financiamento. Os custos de edição correspondem ao custo de alocação de mão de obra especializada, revisores, tradutores, revisores técnicos, diagramadores, análise de conteúdo a ser publicado, esta ultima consistindo na função de maior agregação de valor das editoras, selecionando conteúdos de interesse do público. Os demais custos dizem respeito à confecção da mídia, ou seja, custos de produção e ainda a distribuição e comercialização do livro físico. Dentre estes custos propositadamente desmembrou-se o custo de produção da matriz e das mídias subseqüentes. No custo dessas etapas é aonde a lógica produtiva digital irá se diferenciar em maior grau do processo fabril tradicional. Em relação aos determinantes econômicos da demanda figuram o valor atribuído ao conhecimento: quanto vale um livro técnico específico de medicina? É um valor bastante subjetivo, apenas cada indivíduo está apto a sentenciar o quanto está disposto a pagar por cada tipo de conhecimento. Mas de forma geral pode-se afirmar com boa margem de segurança que há uma correlação positiva entre o grau de dificuldade da pesquisa com a propensão a investir mais do comprador, até mesmo porque a própria editora avalia essa questão e não publica livros para os quais não identifiquem demanda. O preço do produto substituto aqui neste estudo significa que o mesmo conhecimento fornecido em diferentes mídias (impressa e digital) consiste em produtos substitutos perfeitos, de forma que a preços semelhantes o que determinará a decisão de compra entre um ou outro será apenas a necessidade, disponibilidade e preferência individual do consumidor em relação ao formato. Por outro lado se a diferença de preço for acentuada, certamente a diferença pela demanda será muito grande. Supõe-se para fim de análise que o custo de aquisição de conhecimento pelos autores, como por exemplo, o custo de pesquisa é o mesmo para o livro no formato tradicional e no formato digital. Portanto este não interfere no preço final nas diferentes mídias e este valor aqui é abstraído, até mesmo pela possibilidade perfeitamente factível de as pesquisas serem completamente financiadas por outras instituições, como no caso de pesquisas científicas. Segundo Earp e Kornis (2005, p.24) em seu estudo da cadeia produtiva do livro, demonstram que do preço de capa do livro no Brasil, em média, 25% se referem aos custos editoriais, 15 % ao lucro da editora, 10% se referem à margem do distribuidor e 40% do livreiro. O trabalho de criação é remunerado por meio de pagamento de um percentual que gira em torno de 10%. Isso significa que, dentro da lógica tradicional um livro que custa R$100 reais, se for comercializado pelo canal on-line pela editora pode custar apenas R$ 45, se adicionarmos os custos da infra-estrutura tecnológica para e-commerce. Contudo, o ponto que se coloca aqui neste trabalho é que na economia digital querer vender o livro apenas no formato digital não é o suficiente para esse setor se adequar à nova lógica produtiva. É como querer fabricar máquinas de escrever elétricas e pensar que se está fornecendo um produto compatível com as inovações da eletrônica avançada, sem enxergar que o computador eletrônico deixará um espaço mínimo para esse tipo de equipamento, hoje soa óbvio, mas não à época que esse tipo de decisão precisou ser tomada. Assim como pode ser realizada a cópia do conteúdo digital também podem ser realizadas cópias do conteúdo de um livro por meio de máquinas fotocopiadoras presentes em qualquer gráfica ou papelaria. A questão da segurança da propriedade intelectual primeiramente possui um nome impróprio, o autor jamais deixa de ter os créditos pela sua produção técnica ou científica. Nem por isso deixa de ser um problema de fato. A questão é que no contexto tecnológico atual que deflagra novas possibilidades e necessidades informacionais não resta alternativa às editoras senão realizar um reposicionamento dos negócios ligados à formatação e publicação de informações e conhecimentos técnicos. Sob o ponto de vista da viabilidade econômica os produtos precisam ter valor agregado e um preço acessível para que o consumidor se disponha a pagar pelo produto. E o adequado uso das tecnologias existentes com novos serviços agregados, a estruturação de novos arranjos, patrocínios institucionais e outras estruturações podem permitir um baixo custo de produção com benefícios para a sociedade. O ajuste pela ação de mercado da oferta e demanda gera o efeito “long tail” (Anderson, 2006) na Internet: permite uma abordagem econômica muito diferente da realizada atualmente pelo setor editorial. Significa que ao reduzir-se o preço do conteúdo digital do livro, com um custo produtivo da ordem de 45% inferior ao custo tradicional, e ainda oferecer outros benefícios ao consumidor a chance de sucesso em termos de lucro é considerável não pelo alto preço de cada unidade, mas justamente pelo baixo preço estimular um aumento mais que proporcional da demanda elevando o lucro. Em relação à demanda de um livro ou material editorial com demanda média (nem muito popular, nem muito pouco procurado) implica que o consumidor poderia ao pagar menos por uma obra, ser estimulado a adquirir outras obras. Além disso, quando o preço se torna tão acessível quanto 5 reais acaba se tornando mais econômico pagar esse valor do que investir tempo procurando o material na rede. Uma estimativa empírica da elasticidade preço da demanda por conteúdos digitais (ou livros em formato digital) segue no gráfico 1: Gráfico 1: Elasticidade preço da demanda por conteúdo editorial Fonte: Elaborado pelos autores A desintermediação permite uma redução nos custos e um reposicionamento no sentido de agregar valor ao produto pode conduzir a uma posição de mercado mais confortável às organizações pertencentes ao setor editorial. Outra possibilidade, que caminha no sentido de conteúdo livre como as organizações científicas que tem corpo editorial e publicam gratuitamente conteúdos, mas sustentam-se financeiramente por outras vias. A noção de corpo editorial é importante para assegurar a continuidade da liberdade de informação e principalmente para validar o conhecimento divulgado. Realizadas estas explanações, torna-se mais fácil compreender que o uso da lei para buscar alguma proteção desse mercado no seu formato atual configura um protecionismo descabido. O único resultado provável de insistir em proteger a mídia, seja livro ou meio digital, é o enfraquecimento desse setor por não buscar uma forma de se atualizar na lógica de produção informacional atual. Com isso perderia a sociedade que teria menor grau de acesso à informação e o próprio setor que continuaria a perder espaço para outros investidores que percebendo as oportunidades de mercado correlatas investe no setor do conhecimento. Uma mostra disso são as bibliotecas digitais que, freqüentemente mediante o pagamento de uma pequena quantia se tem acesso a um conjunto de material bibliográfico. A agregação de valor pode ser fornecido por meio ao acesso a atualização de versão do livro, ou outros benefícios que associem o vinculo do consumidor pelo ato da compra ao fornecimento de outros serviços. Mas existem outras configurações possíveis. Basta o setor investir em pesquisa e desenvolvimento. Conclusão Os fenômenos relacionados à Sociedade da Informação e do conhecimento ainda não atingiram estabilidade e em meio ao turbilhão de transformações nenhuma conclusão pode ser considerada definitiva. A análise de uma era histórica exige distanciamento que só o passar do tempo traz. Entretanto, o registro da reflexão e discussão dos problemas (e soluções) na medida em que aparecem é relevante ao documentar um processo: o de construção de uma nova configuração de sociedade nos seus mais diversos aspectos, sejam eles sociais, culturais, econômicos, do direito, da produção, filosóficos ou ideológicos. Conclui-se também que a complexidade das transformações em curso exige uma discussão interdisciplinar agregando conceitos e valores de diferentes áreas de conhecimento. Em relação à democratização do acesso a informação, refletiu-se a respeito do conjunto de mecanismos legais para proteger os direitos à propriedade intelectual. Estes parecem não dar mais conta dos problemas e das necessidades surgidas a partir da revolução da informação. O conceito de propriedade intelectual vem sendo questionado. A produção em massa característica da era industrial levou os autores de obras intelectuais a alienarem sua criação aos detentores dos meios de produção e uma vez alienada a propriedade não pode mais ser utilizada, portanto os direitos defendidos são os dos meios de produção, no caso dos livros, as editoras. Como ficam, então, os interesses da sociedade que busca a democratização no acesso à informação? As necessidades e expectativas do usuário da informação se manifestam nos movimentos livres da era tecnológica alavancados pelo movimento do software livre. Os fundamentos desse ideal se estendem a outras obras de criação intelectual. O movimento se estrutura com a criação da Free Software Foundation , FSF (Fundação para o Software Livre) e se fundamenta juridicamente através da GNU General Public License ou GPL (Licença Pública Geral do GNU). As novas licenças que garantem o direito de distribuir e modificar livremente as obras intelectuais são chamadas de “copyleft”, numa crítica às licenças tradicionais de “copyright” que ao contemplar o “direito de cópia” garantem tão somente o monopólio do direito de reprodução das obras intelectuais. Tais discussões evidenciam conflito entre os interesses da sociedade e os interesses comerciais na produção do livro. Uma análise econômica do produto editorial aponta para a necessidade de reposicionamento mercadológico do setor editorial no sentido de uma nova postura frente à realidade tecnológica atual dos conteúdos digitais e às necessidades e expectativas do usuário da informação no contexto da Sociedade do Conhecimento. As conseqüências das tecnologias de informação e comunicação para este setor implicam que as tecnologias de replicação de conteúdos digitais estão disponíveis para todos, de forma que cada vez mais há mercado para serviços complementares à informação independentemente da mídia, seja livro ou formato digital. Reconhece-se a importância de democratização no acesso à informação para a sociedade tanto quanto a necessidade de incentivo econômico pelo trabalho. No entanto há várias formas de gerar o desenvolvimento de projetos de pesquisas ligados ao desenvolvimento de inovações: os trabalhos colaborativos em rede como os “wikis” são um bom exemplo, e outras formas de financiamentos de projetos de pesquisa. Isso não significa que os conteúdos de livros devam ser necessariamente completamente gratuitos. Sugere-se que isso implique em oferecer serviços que agreguem valor aos produtos que levem os usuários de informação a adquirir um produto editorial por um valor justo ou, aqueles que podem a optar quando sentem que obterão benefícios adicionais que não obteria se copiasse esse conteúdo de algum conhecido ou da própria Internet que inevitavelmente divulgará esse conteúdo na maioria dos casos, afinal facilitar o acesso à comunicação e informação é característica da Internet. As editoras parecem ainda não estarem preparadas para enfrentar a economia digital e em alguns casos parecem oferecer resistência em conceber produtos digitais inovadores, apesar do avanço tecnológico com potencial de viabilizar soluções capazes de conciliar interesses da indústria e necessidades da sociedade. Referências Bibliográficas Anderson, Chris. The Long Tail: Why The Future of Business Is Selling Less of More. New York, NY. Hyperion, 2006. Barreto, Aldo de Albuquerque. 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BIBLIOTECAS DIGITAIS E INTERNET: EM BUSCA DA PRODUÇÃO COLETIVA DE CONHECIMENTO Cristiana Serra* Nelson (De Luca) Pretto** ... começa aqui meu desespero de escritor.(...); como transmitir aos outros o infinito Aleph, que minha tímida memória mal e mal abarca? Os místicos, em transe semelhante, gastam os símbolos: para significar a divindade, um persa fala de um pássaro que, de algum modo, é todos os pássaros; Alanus de Insulis fala de uma esfera cujo centro está em todas as partes e a circunferência em nenhuma; Ezequiel fala de um anjo de quatro asas que, ao mesmo tempo, se dirige ao Oriente e ao Ocidente, ao Norte e ao Sul. (Não é em vão que rememoro essas inconcebíveis analogias; alguma relação elas têm com o Aleph.) Jorge Luis Borges, O Aleph Talvez nos dias de hoje Borges não tivesse tanta dificuldade em encontrar uma metáfora para descrever o Aleph. Todas as analogias sugeridas pelo escritor argentino nos remetem à configuração do ciberespaço, esse grande hipermídia planetário onde não existe gestão centralizada. Um espaço caótico, polidirecional e auto-organizante. Uma espécie de, raiz sem centro ou, quem sabe, de muitos centros, que se expande para todos os lados de forma complexa. Cada ponto da rede nos conecta a outros pontos que, por sua vez, também nos conectam indefinidamente a outros tantos. Navegar não é mais escolher um plano, programá-lo e simplesmente executá-lo. O ato de navegar é, em si mesmo, um ato impreciso. De múltiplas conexões e possibilidades. Fala-se em milhões de páginas na Internet. Até mesmo este número é difícil de precisar, em função da velocidade com que se pode colocar um conjunto de informações na rede, publicando-as imediatamente em diversos sítios públicos, gratuitamente. Nem mais conhecimento da linguagem denominada HTML (HyperText Markup Language) é necessário. Um sítio de muitas páginas pode ser construído quase que simplesmente como se estivéssemos escrevendo um artigo num computador, usando um processador de textos qualquer. Os sítios que abrigam páginas gratuitas proliferaram na rede nos últimos anos. São serviços disponibilizados para aqueles usuários que já têm acesso à rede através de algum computador e que desejam publicar suas páginas sem sofrer nenhum tipo de controle do dono do provedor, seja ele público ou privado. O pioneiro foi o Geocities <http:// www.geoçities.com> e hoje já encontramos tantos outros como o: Yahoo <http://www.yahoo.com>, Excite <http://www.excite.com>, TerraAvista <http://www.terravista.pt>, Cadê <http://www.cade.com.br>, ZipMail http://www.zipmail.com.br Mas, enfim, qual o número de páginas na rede? Chegar a este dado pode ser uma simples curiosidade, mas também é importante para provedores, usuários e pesquisadores que tenham o objetivo de entender um pouco mais o comportamento da Web. Mas a tarefa não é fácil. A organização W3C <http:/ /www.w3.org> desenvolve pesquisas, analisando o comportamento da parte gráfica da Internet, conhecida como World Wide Web ou simplesmente Web ou W3. Uma de suas pesquisas foi justamente verificar o crescimento do número de usuários da rede. Durante a primavera de 1998, dois grupos, Research Institute (NEC) e Systems Research Cenfer (DEC) trabalharam nessa pesquisa e empregaram a mesma base técnica, mas chegaram a diferentes números. Segundo a NEC, existem na rede 320 milhões de páginas, enquanto que, de acordo com a DEC, este número é de 275 milhões.1 A diferença encontrada é significativa e demonstra claramente a complexidade de análise do comportamento da Web. Para nós, no entanto, mais significativa é a análise da diversidade da WEB. Este mesmo grupo, pesquisando "onde nos levam os cliques na Internet ", chegou a uma conclusão que "pode surpreender você", como eles mesmos ressaltaram em seu relatório: "50% dos cliques levam apenas 1 % de sítios visitados e 80% dos cliques levam a apenas 26% dos sítios".2 O gráfico acima, extraído desse documento, apresenta o comportamento dos cumulativos "cliques" e o número de sítios encontrados nessa pesquisa, possibilitando uma melhor visualização do fenômeno. Mais do que surpreendente, tal resultado é preocupante. Preocupante porque a Internet tende a se tornar o maior repositório do conhecimento humano, embora ainda mantendo o mesmo estilo de concentração na produção do conhecimento e na divulgação de informações dos chamados tradicionais meios de comunicação de massa. Não chegamos a afirmar que temos o mesmo sistema de broadcasting, de distribuição de informações via meios centralizados, como vemos no caso dos sistemas de televisão. No entanto, nos parece um importante indicador para que possamos pensar na pouca diversidade de sítios sendo localizados por estas buscas, indicando-nos, consequentemente, a necessidade de um repensar a sistemática de produção e divulgação de sítios que expressem as diferentes culturas e valores locais. Mesmo assim, achamos na rede informações sobre um universo muito amplo de temas e assuntos. Encontramos, embora talvez não sendo os mais procurados e divulgados, desde sítios sobre massas de ar na Ásia meridional à teologia na Idade Média, de paleontologia à poesia concreta, da arte indiana às teorias anarquistas. Fica claro que esse crescimento vertiginoso de páginas e usuários gera ansiedade e nos leva a perguntar se não estaríamos nos afogando nesse oceano informacional. Ao mesmo tempo que nos leva a pensar sobre a pretensão iluminista de abarcar todos os saberes da humanidade na busca de grandes sínteses, pensamos também, como Pierry Lèvy, que "a emergência do ciberespaço não significa em absoluto que 'tudo' esteja enfim acessível, mas que tudo está definitivamente fora de alcance." (Lèvy, 1999). A Internet está muito longe da idéia de enciclopédia imaginada por Diderot e D'Alembert. Poderíamos até pensá-la como uma "enciclopédia aberta", apesar do evidente paradoxo ai presente. O caráter de abertura e não-totalização contradiz a etimologia desse termo, que surge do desejo de exaurir todo o conhecimento do mundo, encerrando-o em um círculo, em um mesmo espaço físico. Bilbioteca = [Do gr. bibliothéke, pelo lat. bibliotheca.] S. f. 1. Coleção pública ou privada de livros e documentos congêneres, organizada para estudo, leitura e consulta. 2. Edifício ou recinto onde se instala essa coleção. Novo Dicionário da Língua Portuguesa Aurélio Buarque de Holanda Ferreira. Exatamente por conta desse universo de informações que se amplia e se transforma a cada dia é que Lèvy questiona: "O que salvar do dilúvio? O que colocaremos na arca?". Imaginar que pudéssemos construir uma arca que contivesse o "essencial", segundo esse autor, seria justamente ceder à ilusão de totalidade. Ele diz: "à imagem da grande arca, devemos substituir a flotilha de pequenas arcas, botes ou sampanas, uma miríade de pequenas totalidades, diferentes, abertas e provisórias, segregadas por filtragem ativa, perpetuamente retomadas pelos coletivos inteligentes que se cruzam, se chamam, se chocam ou se misturam nas grandes águas do dilúvio informacional" (Lèvy, 1999). Dilúvio, urge que reiteremos, ainda centrado nos grandes e poucos produtores. Buscar informações espalhadas na rede era, até bem pouco tempo, um processo de tentativa e erro. Este processo de busca e acesso às informações foi denominado de navegação. Navegação por mares de poucos horizontes, onde pode não haver ponto de partida nem porto de chegada definidos a priori. Cada usuário, cada navegante, segue seu próprio rumo e toma diversos atalhos. Mas optar por permanecer à deriva não é uma tarefa fácil. Procura-se, então encontrar - e, na sua ausência, criar - faróis sinalizadores, mapas e bússolas, que possam servir de guia nesse oceano informacional. Como o: velhos marinheiros, aventureiros que saíam em busca do desconhecido, com informações imprecisa; sobre a rota a ser percorrida e o desejo do novo presente. Ao navegarem, ao descobrirem, criavam e alimentavam os mapas. O início das navegações do surfar na Internet, também era caracterizado pela absoluta imprecisão. Isso sem falar na inicial falta de informações em outra língua que não o inglês, uma vez que o que se via nos primórdios da Internet era praticamente, sítios somente em inglês. Desvendar, criar mapas, orientar as navegações, estas eram - e ainda são! - palavras-chave nos primórdios da Internet. Foram assim sendo desenvolvidos inúmeros instrumentos para auxilia esse processo. O objetivo, como sempre, era o de sistematizar dados. O primeiro passo foi a criação de ferramentas de busca automática, como o Yahoo! Cadê, Altavista, que cada vez mais se sofisticaram e passaram a dar origem a outros mecanismos para a localização de informações na Web. Mecanismos que usam as próprias ferramentas de busca como sua base, numa espécie de metabusca. Nesta categoria temos o pioneiro no Brasil, Metaminer (mineiro mesmo, mas que segundo os seus autores deve ser lido como se fosse em inglês!), o Start Point TM, 37.com, entre outros. Aqui, em um mesmo sítio, pode-se realizar a busca usando um conjunto de outros instrumentos de busca, simultaneamente. Yahoo: <http://www.yahoo.com> Cadê: <http://www.cade.com.br> AItaVista: <http://www.altavista.com/ > Metminer <http://miner.uol.com.br/ > Start Point: <http://www.stpt.com/ > 37.com: <http://37.com> Esses instrumentos de busca ajudam na descoberta dos sítios, mas também se constituem em elementos auxiliares para se perseguir o ideal de racionalização do conteúdo disponível na rede. As chamadas bibliotecas virtuais são criadas, então, como mais um passo na busca de facilitar essas navegações e podem ser identificadas como "a flotilha de pequenas arcas, botes ou sampanas" de que nos fala Lèvy. A partir de agora, passamos a examinar e caracterizar com um pouco mais de detalhes, essa miríade de pequenas totalidades que começam a surgir na superfície não-totalizável do ciberespaço. Cibercopistas e ciberbibliotecários Duas tendências vão marcar o aparecimento das bibliotecas virtuais. De um lado, a inicial catalogação do material existente nas bibliotecas, formando os bancos de dados que, em seguida, passam a ser disponibilizados na rede. De outro, o início da digitalização de livros e textos impressos já disponíveis nas bibliotecas tradicionais. O surgimento da imprensa, inventada por Gutemberg (1397-1468) no século XV, a partir de várias outras descobertas técnicas que estavam sendo feitas nesta área, foi "estimulando e incentivando a produção literária e científica, uma vez que aumentava a rapidez de impressão e, consequentemente, de circulação dessas informações" (Pretto, 1996, p. 55). Desde então, a informação passou a ser divulgada e, principalmente, produzida num ritmo exponencial que nos leva a imaginar que as bibliotecas tradicionais estão à beira do seu limite de saturação. "Estima-se que as maiores bibliotecas do mundo estão duplicando de tamanho a cada 14 anos, a uma taxa de 14.000 por cento a cada século. No início dos anos 1300, a Biblioteca da Sorbonne, em Paris, continha 1228 livros e era considerada a maior da Europa. Hoje, existem várias bibliotecas com um acervo bem superior a 8 milhões de livros cada uma." (Wurman. 1991. p.222) Cada dia que passa as bibliotecas deixam de ser lugares quase sacros para o depósito de materiais preciosos e passam a incorporar novas mídias, ampliando de forma considerável se acervo e acesso. A própria concepção espacial está sendo transformada. As bibliotecas vêm-se tornado espaços abertos, onde o(a) leitor(a) vive intimamente com os livros, discos, CDs, fitas, mapas slides. Umberto Eco, em O Nome da Rosa - o livro e depois o filme - descreve com detalhes a biblioteca de uma abadia no século XIII, onde os livros eram guardados a sete chaves. Os crimes temperam a descrição do ambiente. Malaquias, o bibliotecário, cuida do raro e valioso acervo. O velho cego, Jorge e Burgos, completa a cena. O monge Guilherme de Baskerville - no filme interpretado por Sean Connery - chega com o noviço Adson von Melk - no filme, interpretado por Christian Slater e encanta se com o que vê. É o acesso aos livros, o acesso ao saber, que estimula o noviço a refletir sobre a história de sua ordem e sobre o destino dos livros: Eis, eu me disse, as razões do silêncio e da escuridão que circundam a biblioteca, ela é reserva de saber, mas pode manter esse saber intacto somente se impedir que chegue a qualquer um, até aos próprios monges. O saber não é como a moeda, que permanece fisicamente íntegra mesmo através das mais infames trocas: ele é antes como um hábito belíssimo, que se consome através do uso e da ostentação. Não é assim de fato o próprio livro, cujas páginas esfarelam-se, as tintas e os ouros se tornam opacos, se muitas mãos o tocam? (Eco, 1983, p.217) Páginas que trazem emoções, informações, provocações e, até mesmo, veneno, como no caso do romance de Umberto Eco. Preciosas páginas que estimulam o curioso pensamento de Adson. Para ele, a preservação do saber estava condicionada à sua não-disseminação. E, hoje, com o recurso da digitalização, não só fica aumentada a possibilidade de circulação, como tende a desaparecer esse princípio de raridade. Cópia e original se confundem. Inverte-se portanto, o raciocínio do noviço: as obras são digitalizadas inicialmente por razões de conservação e, logo, passam a viabilizar a sua socialização. No entanto, isso não se dá de forma direta, linear e automática. O movimento é complexo aqui também e, inclusive, exige a presença de novos profissionais para trabalharem com este novo campo, encarregados agora da tarefa de transformar os "átomos em bits" e armazenar o conhecimento produzido para as próximas gerações: os cibercopistas. De um lado, as maiores bibliotecas do mundo estão tendo seus acervos digitalizados, como é o caso da Biblioteca do Congresso Americano, da Biblioteca Nacional da França e da Biblioteca do Vaticano. Biblioteca do Congresso Americano <http://www.lcweb.loc.gov/homepage/ Ichp.html> Biblioteca Nacional da França <http://www.bnf.fr> Biblioteca do Vaticano <http://www.vatican.va/biblioteca~vatic/ index.html>. Outras iniciativas locais vão aumentando este espectro. No caso da Bahia, podemos constatar que boa parte das principais universidades públicas baianas já está disponibilizando na Internet as referências de seu acervo bibliográfico tradicional. O processo de informatização do sistema de bibliotecas da Universidade Federal da Bahia demandou um trabalho coletivo, envolvendo a administração central, a biblioteca central e todas as demais bibliotecas descentralizadas. O processo teve início em 1995, ocorrendo paralelamente ao processo de informatização de toda a UFBA. Um dos primeiros e difíceis passos foi a definição da plataforma que seria utilizada, evitando-se com isso a repetição de alguns equívocos já identificados em outras universidades do país. Simultaneamente começaram a ocorrer a qualificação de pessoal e o repensar de práticas acadêmicas e administrativas no campo das bibliotecas. O acervo começou a ser cadastrado na nova base de dados e já pode ser acessado interna e externamente à UFBA, através da Biblioteca Central <http:// www.ufba.br/instituicoes/ufba/orgaos/ biblioteca central>, com links para as demais unidades, <http://www.bib.ufba.br/scripts/ odwp090c.dll?proflist>. Antes disso, o catálogo da Universidade Estadual de Feira de Santana <http:// www.uefs.br> já estava disponível para consulta em <http://200.223.167.3/scripts/ odwp000b.dll?DBLIST=uefs~por>e a Universidade do Estado da Bahia <http:// ' www.uneb.br> também providencia a disponibilização do seu banco de dados bibliográficos. De outro lado, merecem destaque alguns projetos internacionais que avançam na recuperação de livros históricos, paralelamente à grande discussão sobre o direito de autor (copyright. O Projeto Gutemberg é um destes e, talvez, o mais importante, com milhares de livros cadastrados e digitalizados <http://www.gutenberg.net>. Também nesta linha há o Bibliofind <www.bibliofind.com>, que, segundo a jornalista Maria Ercília, da Folha de São Paulo, "chega a dar vertigem, com seus nove milhões de livros usados e raros".3 Outros grandes bancos de dados começam a surgir ampliando o conceito de biblioteca. Podemos destacar o caso dos dicionários, que tem como grande exemplo o Web of Online Dictionaries, com links para 800 dicionários, em 160 línguas. Se ampliamos para outras mídias como filmes, CDs, vídeos, encontramos, por exemplo, o Internet Movie Database, o Humanities Media Center, Film and Video Library, entre uma infinidade de outros exemplos. Web of Online Dictionaries <http://www.facstaff.bucknell.edu/rbeard/ diction.html> Internet Movie Database <http://www.imdb.com> Humanities Media Center <http://128.59.207.236:591/video/filsearch> Film and Video Library <http://www.lib.umich.edu/libhome/FVL.Iib/ fvl.html> No entanto, esse conjunto de sítios até aqui mencionados ainda se constitui numa transposição e adaptação do que já está impresso e disponível, publicado nos chamados meios tradicionais. Outro importante aspecto desta questão é a grande quantidade de artigos e periódicos eletrônicos já produzidos exclusivamente para a rede. Assim, a atividade tipicamente gutemberguiana de catalogação, indexação e compilação, estende seus domínios e ganha novas possibilidades na Internet. Junto aos cibercopistas, teremos agora ciberbi-bliotecários. Bibliotecas? Assistimos, portanto, a uma sinfonia de vários movimentos, que vai ampliando de forma considerável a informação disponibilizada no mundo todo. Como já dito anteriormente, o primeiro movimento foi - e ainda está sendo! - o de simplesmente transpor o mundo não-digital para rede. Criaram-se cursos on-line, que reproduzem escolas reais, construindo-se sítios onde encontramos portarias, secretarias, auditórios, salas de aula e, claro, bibliotecas. Estas últimas, espaços onde os livros estão depositados. Só que agora os espaços são medidos em bytes e não em metros quadrados. E os livros não são mais as matérias e os átomos, mas elementos de informação, os números 0 e 1, on ou off, que compõem a unidade computacional binária. O segundo movimento - adagio? - já em andamento, embora de modo um tanto incipiente, é o da produção de novos textos, hipertextos, hipermídias, com uma lógica diferenciada, ainda em construção. Como uma espécie de submovimento, de intermezzo, surgiram as chamadas bibliotecas virtuais. Sem dúvida, um nome que precisa ser repensado neste novo contexto. O que entendemos por biblioteca virtual é algo diferente do que costumamos definir como biblioteca desde a Antigüidade. Esse termo não é o mais apropriado, mas terminou sendo adotado, quase que universalmente, como um nome fantasia para aquilo que entendemos ser mais adequadamente um centro de referência digital. No caso das bibliotecas tradicionais, o que prevalece é a idéia de coleção, ou seja, de acúmulo de informação, por acréscimo de novos exemplares. O conteúdo presente na rede, no entanto, está em constante mutação. É muito comum encontrar em vários sítios a expressão em construção, que, pela própria natureza da Internet, é uma expressão incoerente. Não faz sentido dizer que o sitio está em construção, uma vez que é absolutamente evidente que, por ser um sítio na rede, ele, potencialmente, estará sempre em construção. Um livro, depois de publicado e adquirido pelo leitor passa a ser sua propriedade. O autor nada mais pode fazer sobre o que nele está escrito. Na rede tudo é diferente. Hoje encontra-se um texto que amanhã pode estar modificado, no exato mesmo lugar. Algumas vezes, sem nem sequer uma referência da modificação. A dinâmica, portanto, não se dá somente por simples acréscimo, mas pela renovação contínua. O próprio ato de citar um documento lido na rede exige novas normatizações que estão em discussão permanente. Um dos aspectos fundamentais nestas normas, que estão em processo de elaboração, é o da necessidade de citar a data do download, da cópia do documento, quando sua origem é a Internet. A longo dos anos buscou-se estabelecer critérios acadêmicos e editoriais para o referenciamento e citação de obras em outros trabalhos. Várias normas internacionais são adotadas e, no caso do Brasil, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) <http://www.abnt.org.br/ > possui um sistema de referimento e orientação para a questão, com vários comitês técnicos trabalhando permanentemente no tema. Com a Internet e a quantidade cada vez maior de documentos que citam documentos da rede, alguns autores começam a buscar novos elementos e regras para estas citações. No texto A Internet como ambiente de pesquisa: problemas de validação e normalização de documentos online, Marcos Palácios ([email protected]) aponta alguns destes elementos. "A citação de arquivos disponíveis na WWW deve conter: Nome do autor; Título completo do documento, entre aspas; Título do trabalho no qual está inserido, em itálico (quando aplicável); Data (mês e ano) da disponibilização ou da última atualização (quando disponível); O endereço (URL) completo, entre parênteses angulares; A data de acesso, entre parênteses." (Palácios, 1996, p. 53) Tudo é apenas uma questão de tempo. Como em todo período de transição, tendemos a utilizar os conceitos antigos, mesmo que não correspondam propriamente às novas situações. Também assim aconteceu com o programa PROSSIGA do CNPq <http://www.prossiga.br/rei.html> ao criar as "bibliotecas virtuais" que, mesmo mantendo essa denominação, foram concebidas segundo uma perspectiva mais abrangente. Nos sítios do Prossiga encontramos informações sobre cursos, eventos, projetos realizados e em andamento, instituições de pesquisa e uma série de referências que não estariam normalmente disponíveis em uma biblioteca convencional. Mais do que isso, no projeto de uma das bibliotecas, a Biblioteca Virtual de Educação a Distância (BVEAD), coordenada pelo nosso grupo, buscou-se criar um espaço maior, que viabilizasse a produção e divulgação de documentos e informações de forma mais coletiva. Isso, potencialmente, é o objetivo das Polêmicas Contemporâneas. A Biblioteca Virtual de Educação a Distância (BVEAD) <http://www2.prossiga.br/edistancia/index.html> é um projeto integrado ao Programa PROSSIGA do CNPq em pareceria com a Universidade Federal da Bahia (UFBA), através da Faculdade de Educação e do Instituto de Ciências da Informação. Como parte da BVEAD, as Polêmicas Contemporâneas se constituem em um .espaço reservado para discussão de textos e questões relativos às diversas vertentes da temática da biblioteca. A discussão é encaminhada a partir de um texto escolhido previamente e ocorre em uma lista específica, a [email protected]. Para se inscrever na lista basta mandar uma mensagem para [email protected], sem subject, e no corpo da mensagem colocar apenas "SUBSCRIBE POLEMICAEAD Seu Nome" (sem as aspas). Cada usuário deve substituir "Seu Nome" pelo seu próprio nome. Espera-se, com isso, poder ter uma produção mais coletiva de conhecimento, uma vez que está no objetivo da BVEAD a sistematização destas discussões e a sua incorporação à própria biblioteca. Neste sentido é que dizemos que o conceito de biblioteca virtual é limitante, pois, de certo modo, imagina a utilização da Internet exclusivamente como uma fonte para a consulta a bancos de dados e listas bibliográficas. No entanto, imaginamos a Internet como sendo muito mais que apenas um meio de informação. Ela é - ou melhor, deveria ser! - um meio para a troca de informações, ou seja, um ambiente comunicacional. E é por isso que pensamos na possibilidade de ampliação deste conceito e na constituição de um espaço que não só permita o acesso ao material de pesquisa de uma determinada área, mas também que possibilite o intercâmbio de experiências, a ação conjunta e a produção coletiva do conhecimento. No caso específico do PROSSIGA, tenta-se avançar nesta dimensão comunicacional, através da criação de interfaces abertas que permitam a interação com e entre os usuários. Além do espaço já referido das Polêmicas Contemporâneas da BVEAD, todas as demais Bibliotecas trabalham com essas ferramentas, sendo a mais básica de todas o sistema de correio eletrônico, que pode se usado para enviar críticas, sugerir links e manter uma comunicação com a equipe responsável pela organização e atualização do sítio. Também estão disponibilizadas salas de chats e listas de discussão, buscando estimular as pessoas que compartilham os mesmos interesses - mesmo estando em espaços geográficos distantes - a formarem grupos e interagirem conjuntamente no ciberespaço, propondo novos textos e novas referências. Separar o joio do trigo? Na rede não há fronteiras. Nem reais, estabelecidas pelos limites físicos, nem virtuais. Um link acessado em uma biblioteca virtual nos leva instantaneamente a outro lugar, que, por sua vez, também é um não-lugar. O grande diferencial do hipertexto informatizado é justamente a velocidade e a perda da noção espacial. A passagem de um ponto a outro ocorre automaticamente ao clique do mouse. Ao contrário do que acontece quando consultamos os tradicionais índices remissivos, a referência é imediata e, em princípio, o texto vem até nós onde quer que estejamos. Como já dito, a Internet soluciona o problema do armazenamento de informação. No entanto, há muito o que se resolver no que se refere aos mecanismos de processamento. A criação de bibliotecas virtuais está sendo, em nossa perspectiva, um primeiro passo nesse sentido. Sem mapas que apontem para determinados caminhos, achar uma informação especifica na rede é tão difícil como encontrar uma agulha em um palheiro. Mesmo dividindo o grande palheiro informacional (a Internet) em pequenos palheiros (as bibliotecas virtuais), ainda assim não resolvemos o problema de como acharemos nossas agulhas. Palheiros à parte, a primeira tarefa é separar o joio do trigo, sem, obviamente, considerar que necessariamente todo joio é ruim e todo trigo é bom. A idéia básica de que todos possam disponibilizar e acessar o que desejarem leva a extremos, ou seja, significa termos um conjunto de informações que tende ao infinito. Dessa forma, essas bibliotecas virtuais podem ser utilizadas como um artificio para facilitar a navegação daqueles que não querem, a todo momento, percorrer tudo outra vez. Seguindo-se alguns percursos por outros já realizados, poupa-se energia e economiza-se tempo. Muitos autores consideram que existe na rede muito lixo informacional. O que é esse lixo informacional? Trata-se de uma discussão difícil, mas podemos fazer alguns exercícios de aproximação. Não resta dúvida, nos parece, que sítios que contém informações imprecisas, estáticas, que não são submetidas a uma freqüente atualização ou, ainda, aqueles que possuem informações simplesmente copiadas de outros mídias, talvez possam ser enquadrados nesta classificação. Poderíamos até afirmar que a função das bibliotecas virtuais seria justamente “garimpar’ este lixo informacional. Aí nos deparamos com um grande problema. Afinal, a filtragem de informações pode ser também um meio empregado para privilegiar determinados interesses, priorizar certos pontos de vista, confundindo-se em alguns casos com a censura. Não devemos reproduzir na rede os convencionais mecanismos de legitimação do conhecimento e muito menos estabelecer critérios de seleção que definam o que é bom ou ruim para o pesquisador ou para o simples usuário. O que se pretende é fornecer mais detalhes, de modo a possibilitar que o navegador saiba que tipo de informação encontrará pela frente. Assim ele pode evitar determinadas rotas e não perder tempo visitando ilhas ou continentes que não lhes pareçam interessantes”. Os recursos de busca por palavras-chave, há muito utilizados nos fichários das bibliotecas tradicionais, são extremamente necessários, mas não suficientes quando transpostos para a rede. O resultado de uma busca, através da palavra "computador", por exemplo, levará a um conjunto muito grande de informações que certamente não ajudará em nada o usuário. Criar categorias específicas pode ser útil para aqueles que não sabem exatamente o que querem procurar. Neste sentido, tomando como exemplo a Biblioteca Virtual de Educação a Distância, as informações foram classificadas e categorizadas. As categorias estão subdivididas por separadores e a todas, inclusive às subdivisões, são aplicáveis as chamadas palavras-chave. Na BVEAD podemos encontrar, por exemplo, as categorias artigos, cursos, dicas de financiamento, eventos, instituições de ensino e pesquisa, legislação, entre outras, Dentro destas categorias existem separadores, em diversos níveis, sendo o primeiro o que distingue sítios brasileiros e estrangeiros. Vejamos alguns exemplos: na categoria evento, o ano de realização funciona como um separador. Dentro de legislação temos as seguintes subdivisões: municipal, estadual ou federal. Dessa forma, o usuário pode, através da busca, chegar mais perto das referências necessárias para seguir seu próprio fluxo. Ao chegar à referência, uma breve descrição do sítio é apresentada, de tal forma que, mais uma vez, o usuário pode analisar se interessa ou não fazer a conexão com as páginas propostas. Pensamos que, com isso, amplia-se o espectro de acesso às informações e, assim, podemos contribuir para a construção de uma nova tipologia para a Internet. Quem sabe o ciberespaço realmente possa materializar a utopia da "inteligência coletiva" proposta por Lèvy. "Uma inteligência distribuída por toda parte, incessantemente valorizada, coordenada em tempo real, que resulta em uma mobilização efetiva das competências." (Lèvy, 1998, p.28). As bibliotecas virtuais podem dar sua parcela de contribuição a essa proposta, na medida em que se consolidem como centros de referência digital sobre aquilo que vem sendo produzido em determinada área de conhecimento. E, para isso, todo saber precisa ter o seu valor, seja ele o saber do especialista ou o do cidadão comum. A produção do conhecimento deve ser o resultado de um processo crítico, público e comunal, no qual todos tenham participação. A rede pode representar, portanto, a possibilidade concreta de otimização desse processo. Referências Bibliográficas: BORGES, Jorge Luis. U Aleph: Trad. Flávio José Cardoso. 11 ed. São Paulo: Globo, 1997. ECO, Umberto. O nome da rosa. Trad. Aurora Bernadini e Hoemo Freitas de Andrade. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1983. LEVY, Pierre. A in·eligéncia coletiva. Por uma antropologia do ciberespaço. Trad. Luiz Paulo Rouanet. São Paulo: Loyola: 1998. Educação e Cibercultura. <http://portoweb.com.br/ PierreLevy/educaecyber.html> (01/O6/99). PRETTO, Nelson. Uma escola com/sem futuro. Campinas: Papirus, 1996. PALÁCIOS, Marcos. A Internet como ambiente de pesquisa: problemas de validação e normalização de documentos on-line. Revista da FAEEBA. Salvador: UNEB/Faculdade de Educação, v. 5, n. 6, jul./dez. 1996. SCHRAMM, Wilbur, PORTER, William apud WURMAN, Richard S. Ansiedade de informação. São Paulo: Cultura Editores Associados, 1991. * Cristiana Serra é Jornalista e Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas da UFBA. E-mail: [email protected] ; ** Nelson (De Luca) Pretto é professor da Faculdade de Educação da UFBA. Doutor em Ciências (Comunicação) pela USP. Pós-Doutoramento no Centre for Cultural Studies/ . Goldsmiths College (ago.98-ju199) <http://www.goldsmiths.ac.uk/cuttural-studies>. Bolsista do CNPq. Home-page <http://www,ufba.br/~pretto> E-mail: [email protected] NOTAS 1 Documento disponível em: <htto://www.w3.orglfR/1999/ NOTE-WCA-19990319>. (Download em 11/05/99). 2 3 <http://www.w3.orglTR/NOTE-WCA/> Tradução nossa. (Download em 11/05/99). Folha de 5. Paulo, Coluna Netvox: O fim do vendedor de enciclopédias. Maria Ercilia. 17/3/99 BAHIA Análise & Dados Salvador-BA SEI v.9 nº1 p. 14-19 julho 1999 Academia Brasileira de Letras Academia Acadêmicos Memória da ABL VOLP Nossa Língua Publicações ABL Responde Programação Cultural Consulta ao Acervo Bibliotecas Busca Matérias ARTIGOS VEJA TAMBÉM Artigos - 2012 Livro impresso X livro digital Artigos - 2011 Artigos - 2010 Arnaldo Niskier Artigos - 2009 Com mais de 700 inscrições, o Congresso Rio de Educação, realizado no Hotel Sofitel, foi um sucesso completo, para alegria do seu inspirador, o professor Victor Notrica, presidente do Sindicato das Escolas Particulares (Sinepe). Tive o ensejo de coordenar a primeira das suas mesas, que tratou de um tema atualíssimo: “Do livro de papel ao livro digital: uma reflexão sobre o exercício da leitura”. Artigos - 2008 Artigos - 2007 Artigos - 2006 Artigos - 2005 Artigos - 2004 Artigos - 2003 Artigos - 2002 Artigos - 2001 Artigos - 2000 O primeiro orador foi o engenheiro Sílvio Meira, da Universidade Federal de Pernambuco. Munido de um poderoso Fujitsu, encantou a plateia, dizendo coisas que nos fizeram pensar: “O principal inimigo do livro impresso não é livro digital, mas os games e as redes sociais que faturam hoje bilhões de dólares.” Mostrou que a procura por games dobrou de 2011 para cá, chegando a 142 horas por ano por pessoa. Afirmou ser decrescente o faturamento em livros impressos e que os digitais constituem um instrumento precioso de sustentação do fenômeno da leitura. O programa que mais cresce é o chamado “Angry birds”, com 30 milhões de jogadores por dia e o Facebook é um ambiente com 1 bilhão de usuários. São números extraordinários, que tendem a crescer quando for lançado, até o Natal, o Kindle da Amazon, um sistema inteiro que irá balançar o livro tradicional. Não terá propriedade intelectual e entrará livremente nas bibliotecas das escolas. A previsão de Sílvio Meira, que é doutor em ciência da computação, é de que muitas livrarias, a partir daí, poderão quebrar, embora os livros de conteúdos, com funcionalidade, devam ter uma grande sobrevida. Depois veio a fala do escritor Muniz Sodré, que foi presidente da Biblioteca Nacional. Especialista em comunicação, com domínio de vários idiomas, demonstrou que “do impresso nasceu uma nova economia do tempo de aprendizagem”. Quando a oralidade era predominante, não se precisava do livro para pensar e debater. Passou pelo conceito de hipertexto (é a complementaridade dos textos) e classificou a internet como a realização tecnológica do intertexto, “onde o leitor é incitado o tempo todo à livre navegação dos bytes, ao veloz nomadismo do hipertexto, sem contas a prestar ao autor.” Para ele, não se está assistindo ao fim da forma-livro, mas à sua continuidade em outro suporte material, como assinala Umberto Eco, para quem o livro é uma invenção definitiva. Com o digital abrem-se outras possibilidades para a interatividade. Muniz defende a existência de uma “ciberliteratura”, criticou os nossos escassos índices de leitura e revelou a existência, no Brasil, de um descompasso pedagógico frente à ascensão dos novos modos de ler, que incidem justamente sobre as práticas juvenis de interpretação de textos no âmbito de escrita digital. A seguir a plateia, muito mobilizada, discutiu as questões levantadas. Ficou no ar a convicção de que o livro não morrerá, mas ganhará novos e ampliados contornos. Salão Nobre do Petit Trianon Jornal do Commercio (RJ), 20/7/2012 Voltar | Imprimir | Topo Início > Matérias > Artigos > 2012 > Julho Academia Brasileira de Letras Av. Presidente Wilson 203, Castelo | CEP 20030-021 | Rio de Janeiro | RJ Tel: (21) 3974-2500 | E-mail: [email protected] Serviços Webmail Mapa do Site Direitos reservados | Política de privacidade Blog Corporativo, uma introdução. LÍGIA GABRIELA BUCHFINK INTRODUÇÃO Esse ensaio discutirá sobre o uso corporativo dos blogs, prática que tem se propagado no meio empresarial e cuja implementação necessita de planejamento, tanto no desenvolvimento quanto na manutenção da ferramenta de comunicação. A postura da empresa frente ao blog será a chave para o sucesso ou fracasso do projeto. O tema é ressente e a ferramenta está, aos poucos, sendo adota pelas empresas. Ainda não se encontra um modelo de estratégias e regras bem definidas, mas consegue-se extrair algumas informações que podem embasar o planejamento das empresas que querem disponibilizar o canal do blogs corporativo. VAZ (2008) trata do assunto blog dentro de um contexto de posicionamento digital das empresas, trata-se de um autor com uma vasta prática de mercado, este é o principal motivo para tê-lo como referência. TERRA (2006) foca a temática blog corporativo e trás conceitos acadêmicos da área de Relações Públicas para embasar sua dissertação que originou um livro sobre o assunto. Apresenta-se uma introdução sobre marketing digital seguida do conceito de blog e de algumas diretrizes da postura adotada pelos blogueiros.1 Eles possuem uma espécie de código próprio de conduta e comportamento na blogosfera2 que deve ser respeitado pelas companhias, visto que elas passam a estar presentes neste ambiente. Adiante fala-se sobre o blog aplicado às corporações e citam-se alguns pequenos exemplos. Finaliza-se com explanações sobre a postura que as empresas devem seguir ao adotar o blog como ferramenta de comunicação, servindo este ensaio como uma introdução ou um primeiro passo ao profissional que pretende implementar o blog dentro de sua estratégia digital. COMUNICAÇÃO E MARKETING DIGITAL Após a bolha da internet, que levou muitas empresas e investidores à falência, as empresas virtuais ressurgem com modelos de negócio mais adequados e baseados em lucros reais. Atualmente é mais seguro o investimento nas ditas empresas ponto com, assim o mundo virtual ganha força e as empresas passam a sentir a necessidade de fazer parte Autores dos blogs, também chamados de bloguistas ou blogger. Há ainda os profissionais chamados de problogger e caracterizados como pessoas cuja principal fonte de renda são seus blogs. 1 2 Espaço virtual que representa o “mundo dos blogs”. deste universo surgindo então o que está sendo chamado de marketing e comunicação digital. VAZ (2008) acredita que alguns profissionais ainda enxergam a internet de forma ultrapassada, sem entender onde ela pode levar uma marca e sem imaginar que a mesma pode servir para aumentar significativamente os lucros de uma empresa. TERRA (2006) concorda posicionando a web como uma “vitrine virtual de exposição institucional” onde todas as grandes corporações possuem um site e tendem a adotar uma postura cada vez mais interativa devido à competitividade e necessidade de relacionamento com o público. Outros fatores fazem sensatos os investimentos em internet e são levantados por diversos autores. TURBAN (2004) salienta a rapidez com que a internet se propaga, diz q a revolução digital foi a mais rápida e com maior alcance da história. FRIEDMAN (2005) completa reforçando com o argumento de que nunca na história tantas pessoas tiveram tanto alcance à informações das mais diversas a um custo baixíssimo. Trata-se da era da informação. Soma-se a isso fatores econômicos Brasileiros como o crescimento da classe “C”, que favoreceu também a compra de bens duráveis. (RESENDE, 2007) Em 2008, 86 milhões de brasileiros passaram a fazer parte da classe média, tendo a maioria emergido das classes “D” e “E”. (CHIARA, 2008) O crescimento foi atribuído à disponibilidade de crédito, prazos longos, juros menores e preços em queda. O acesso à conexão banda larga, embora ainda não atinja todos os lares, cresce anualmente no Brasil. Segundo a Folha On Line (2007), o acesso banda larga cresceu 40,01% de 2005 para 2006 atingindo, em 2006, 3% das residências no Brasil. O número é pequeno mas o acesso à web é crescente, seja domiciliar, no trabalho ou em lan houses. O reflexo é a crescente expansão virtual das empresas. Isso não significa o abandono do mundo físico, mas a extensão às mídias on line. Fala-se não apenas do comércio eletrônico, mas também do aumento da verba para propaganda on line, da inserção nas redes sociais interativas e de sites mais elaborados, funcionais e interativos. Desta forma a análise das ferramentas on line são fundamentais para que uma marca tenha resultados favoráveis ao fazer parte do mundo virtual. Trata-se de uma nova mídia, diferente das tradicionais. Para usufruir dela com sucesso é necessário estudo e planejamento. A internet passa por uma reestruturação, chamada, por alguns autores, de 2.0, onde passa a ser mais funcional, interativa e colaborativa. Dentre as inúmeras novas formas de interagir na internet estão os blogs. 2 OS BLOGS E A BLOGOSFERA Segundo a Wikipédia3, blog é uma página da web que permite o acréscimo rápido e facilitado de artigos (também chamados de post) que são organizados cronologicamente como um diário. A gama de assuntos abordados varia de acordo com os autores e a temática do Blog. Este pode assumir tanto o papel de diário pessoal quanto um espaço com cunho jornalístico ou social/solidário. Podem ter um ou vários autores, de acordo com suas propostas. Com o surgimento e o crescimento dos blogs estabeleceu-se uma espécie de rede colaborativa oriunda do hábito que os blogueiros4 criaram de colocar, em seus blogs, links para outros blogs que eles julgam interessantes. Assim essa gama de internautas passou a ter uma força virtual e tornaram-se referências e até mesmo formadores de opinião, tão importantes quanto os jornalistas das mídias tradicionais. A qualidade de alguns blogs e blogueiros é surpreendente permitindo que blogs sejam inclusive comparados às informações divulgadas pela mídia tradicional em termos de qualidade e credibilidade. O fundamental para ter sucesso com um blog é o conteúdo, acrescentar algo ao leitor, ou “tornar o mundo melhor porque você blogou”, como postou a autora do Blog www.blosque.com, um blog dedicado a ensinar novos blogueiros a blogar. . Há inclusive blogueiros profissionais, que vivem da monetização de seus blog, tamanha é a importância que essa ferramenta atingiu. A credibilidade do blog se dá de forma similar à dos veículos impressos. O consumidor confia muito mais em uma notícia de jornal que em uma propaganda, devido a isto surgem os informes publicitários e o trabalho de press releases divulgados pelas assessorias de imprensa. A tendência é de que o blog garanta mais confiabilidade ao leitor, visto que o blogueiro não depende de um editor, trata-se de um meio de comunicação independente o que garante maior imparcialidade. A interatividade e a troca também caracterizam a blogosfera. O blog possui abaixo de cada artigo um espaço disponível para comentários aberto aos leitores, desta forma há uma forte interação do leitor com o escritor. Há ainda o fator nicho oferecido pelos blogs e pela internet em si. Enquanto as mídias tradicionais permitem uma comunicação massiva, a internet permite a comunicação com nichos de público com foco bastante preciso. O blog permite a segmentação, anunciar em um blog é falar diretamente com o consumidor e abrir esse canal corporativo é aproximar-se do cliente e trocar informações com ele, sem intermediários. 3 www.wikipedia.com.br 4 3 O BLOG CORPORATIVO O blog corporativo nada mais é que o uso da ferramenta por parte das empresas. Porém essa inserção na blogosfera exige cuidados especiais para se atingir o sucesso e os objetivos. Ao usar o blog a empresa assume um papel dentro do ambiente de interação propiciado pela web. TERRA (2006) diz que tanto o blog como as demais mídias sociais proporcionam vantagens, mas também demonstram a vulnerabilidade da empresa frente à rede. O blog será um canal de interação para o consumidor que abrirá espaço tanto para notícias e conformidades quanto para problemas e críticas por parte dos internautas. Mesmo uma empresa que disponibilize um blog com mediador pode ser alvo de crítica através de outros blogs. É importante que a ação seja condizente com o meio de comunicação, é preciso fazer realmente parte da blogosfera. Para tanto não basta apenas criar um blog, é necessário conhecer as “políticas” da mídia e interagir com ela, para que o meio não se torne hipócrita e alvo de críticas que darão uma repercussão negativa. TERRA (2006) coloca que a tecnologia que populariza também faz com que a empresa fique vulnerável, visto que as manifestações e denúncias ganham forte repercussão na web. Ainda mais num momento em que blogueiros tornam-se formadores de opiniões e conquistam tanta credibilidade quanto os veículos tradicionais. Pesquisa realizada pela Backbone Media (APUD EDEKMAN & INTELISEEK, 2005) elegeu cinco motivos principais para se criar instrumentos como Blogs Corporativos: publicar conteúdos e idéias, construir uma comunidade, promover liderança ou pioneirismo, obter informações dos clientes e receber retorno rápido dos consumidores. TERRA (2006) acrescenta que os blogs podem favorecer empresas: ao torná-las especialistas em sua área de negócio (através de conteúdo); personalizar o relacionamento com o cliente; disponibilizar um canal público de comunicação que pode responder rapidamente às manifestações da própria rede, sejam boas ou ruins; oferecer informações para a mídia.; promover a comunicação interna oferecendo aos colaboradores uma forma de interação; promover a gestão do conhecimento; atrair talentos; e por fim, destacar-se no ranking dos buscadores de web. Definir o objetivo a ser alcançado, criar um planejamento e ter profissionais qualificados para desenvolver tanto a estratégia quanto alimentar o blog é fundamental para fazer parte deste mundo cheio de peculiaridades afirma TERRA (2006). Um exemplo é a Hershey’s que utiliza a blogosfera para pesquisar as opiniões sobre novos sabores de produtos à serem desenvolvidos. (VAZ, 2008) Algumas empresas já adotam o envio de press releases ou mesmo eventos exclusivos para blogueiros com o intuito de gerar repercussão de seus produtos na 4 blogosfera, não deixa de ser uma estratégia de assessoria de imprensa. O importante é conhecer o meio e ter um posicionamento coerente com as políticas das mídias colaborativas. A empresa deve adotar uma posição colaborativa e de proximidade com o público, não se impor unilateralmente. Os blogueiros, além de muito bem informados, tem uma postura bem radical quanto à imparcialidade, é preciso conquistá-los. Um exemplo divulgado pela BITES (2008) é a nova novela da Globo, “Caminho das Índias”, que terá o blog como uma de suas temáticas. Para se aproximar deste universo e gerar buzz na rede a autora Glória Peres reunirá, em 9/12/2008, em torno de 50 blogueiros para uma conversa sobre a novela e para se aprofundar mais da realidade dos blogs. Outros eventos do gênero já foram usados por parte de empresas e geraram o buzz desejado. Se já se usa essa estratégia para formadores de opinião das mídias tradicionais, por que deixaríamos de usá-la para os formadores de opinião virtuais? A adoção de blogs corporativos ainda é pouca no Brasil e a postura desses blogs também não está bem definida. Há blogs assinados pelos diretores das companhias como o do Jonathan Schartz - presidente da Microsystems - (http://blogs.sun.com/jonathan), de personalidades como a Glória Perez que mantém o “De tudo um pouco” (http://gloriafperez.blogspot.com/), a Construtora Tecnisa (http://www.blogtecnisa.com.br/) que tem o título do primeiro blog do setor imobiliário, o Google Brasil (http://googlebrasilblog.blogspot.com/) que segue a estrutura da matriz. Além do diretor, alguns blogs são assinados pelos funcionários da empresa ou por consumidores que são convidados a ter um blog dentro do site da companhia. Conforme forem aumentando os exemplos de ações será possível traçar um perfil de comportamento corporativo na blogosfera Brasileira. Segundo VAZ (2008) a Intel mantém um blog desde 2007 que é atualizado por sete executivos da empresa com o objetivo de comunicar-se com o cliente. Já a Localweb – hospedagem de sites – possui um blog mais técnico, voltado aos lançamentos de seus serviços e produtos. A Natura Cosméticos possui um Blog que foi criado por uma de suas consultoras e que devido à repercussão foi adotado oficialmente pela empresa. O objetivo não é venda de produtos, mas gerar conteúdo, privilegiando a Natura nos mecanismos de busca. A linguagem adotada é informal, cotidiana, direcionada ao consumidor final. Uma das posturas do marketing digital adequadas ao blog é estar onde o cliente está, saber o que eles pensa para agir no início das repercussões, impedindo que as informações negativas causem problemas e aproveitando as positivas. Isso se dá através dos comentários feitos no blog da empresa pelos consumidores e analisando o conteúdo publicado sobre a empresa em mídias sociais. A cultura da corporação deve condizer com o uso do blog, afirma TERRA (2006), deve existir uma cultura participativa, que suporte um veículo questionador, livre e altamente 5 expositivo. A empresa deve ter comprometimento e nunca esquecer o dinamismo necessário para a web. A política do blog corporativo que definirá as diretrizes que o mesmo seguirá, seu papel para a organização, seus objetivos, assim como um protocolo e posicionamento a ser adotado ao responder as mensagens e questões referente ao blog. Tanto TERRA (2006) quanto VAZ (2008) concordam que as empresas mais favoráveis para a adoção do blog corporativo são empresas ligadas à tecnologia. TERRA (2006) ainda complementa com as que geram informações em um fluxo constante através de eventos ou ações, as que necessitem de lembrança contínua por parte do consumidor e da opinião do público para formatar novos produtos, que tenham produtos ou serviços que geram discussões e debates, que tenham algo a dizer de forma informal, que possuem credibilidade e que atuem em nichos específicos de consumidores. Um dos fundamentos do Blog é ser um canal informal de comunicar o consumidor e servir para ouvi-lo. (TERRA, 2006) Segundo TERRA (2006) as dificuldades para adotar o blog tem a ver com o fato de as empresas não terem um profissional especialista para assumir a tarefa e pela dificuldade em ver os benefícios produzidos pela mídia. Para se defender das críticas e informações negativas oriundas das mídias sociais, a melhor defesa é valorizar e compreender essas mídias. É importante estar preparado tanto para comentários negativos quanto positivos. CIPRIANI, em seu blog chamado Blog Corporativo comenta que a empresa não deve criar blogs frios, os canais devem instigar o leitor para a colaboração, é uma forma de diálogo com o consumidor, nada além disso. Aos poucos vão se tendo exemplos e cases de sucesso, ou de fracasso, que poderão ser usados para traçar as estratégias mais adequadas para o uso do blog pelas corporações. CONSIDERAÇÕES FINAIS Torna-se claro a importância da presença digital das empresas assim como suas adequações às novas tecnologias e mídias. Essa adequação não tem nada de extraordinário e segue os conhecimentos básicos de planejamento estratégico, mercadológico e comunicação. As teorias já vigentes são reforçadas pelas novas mídias, sendo necessária apenas uma adequação de formatos e linguagens. A inserção na blogosfera para ter sucesso precisa usar a linguagem própria do meio, assim como adotar suas políticas de funcionamento. O mesmo que é necessário ao se criar um anúncio de massa em um jornal e um em uma revista segmentada. Cada meio ou 6 veículo possui linguagens e parâmetros específicos a serem seguidos. O mesmo acontece com o blog corporativo. O planejamento estratégico da empresa precisa comportar a inserção digital e servir como base para a escolha de como essa inserção será feita. Continua sendo fundamental se ter objetivos e postura corporativa definida para se planejar e estruturar a criação do blog. A blogosfera, assim como o marketing digital estão crescendo no Brasil, portanto ainda não temos condições de análises profundas que gerem regras ou padrões de comportamento dos blogs corporativos. É uma estratégia onde ainda há muitos campos de estudos. A adoção do blog também pode gerar uma imagem de pioneirismo às empresas que arriscarem nesta área. Além disso, é uma ferramenta relativamente barata e acessível tanto para as grandes corporações quanto às pequenas e médias empresas. Assim é preciso estar atento às mudanças da era da informação e preparar-se para os novos comportamentos que estão surgindo. Esta será a chave do sucesso corporativo nos próximos anos. REFERÊNCIAS Livros: FRIEDMAN, Thomas L. O Mundo é Plano: Uma breve história do século XXI. Rio de Janeiro : Objetiva, 2005. TURBAN, Efraim, MCLEAN, Ephraim, WETHERBE, James. Tecnologia da informação para Gestão:Transformando os negócios na economia digital. 3ª Edição. Porto Alegre: Bookman, 2004. VAZ, Conrado Adolpho. Google Marketing: O guia Definitivo de Marketing Digital. São Paulo: Novatec Editora, 2008. Dissertações: TERRA, Carolina. Comunicação Corporativa Digital: o futuro das relações públicas na rede. São Paulo – SP, 2006. (Dissertação de Mestrado – Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo). Web: BITES. São Paulo, 24 de novembro de 2008, edição 624. Acessado em 01/12/2008. Disponível em: http://w3editora.relazione.com.br/uploads/gloriaperez.pdf CHIARA, Márcia De. Com 86 milhões de pessoas, classe C já é maioria da população brasileira. O Estado de São Paulo. Publicado em 27/03/2008. Acessado em 01/12/2008. Disponível em: http://www.estado.com.br/editorias/2008/03/27/eco-1.93.4.20080327.31.1.xml CIPRINI, Fábio. Blog Corporativo. http://www.blogcorporativo.net . Acessado em 02/12/2008. Disponível em: 7 EDEKMAN and INTELISEEK (2005). Blogging from the inside out – the rise and effective management of employee bloggers. Acessado em 01/12/2008. Disponível em http://www.edelman.com.br/clientes/pesquisas/blog%20na%20academia%20-%20second.pdf. Folha On Line. Publicado em 28/02/2007. Acessado em http://www1.folha.uol.com.br/folha/informatica/ult124u21719.shtml 01/12/2008. Disponível em: RESENDE, Tatiana. Classe C puxa crescimento do consumo, aponta pesquisa. Folha On Line. Publicado em 30/06/2007. Acessado em 01/12/2008. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u308493.shtml Wikipédia. Weblog. Acessado em 01/12/2008. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Blog. 8 Os atributos das livrarias e as mudanças que ameaçam sua existência Joacy Machado Botelho (UNOPAR – Universidade Norte do Paraná) RESUMO A pesquisa origem deste artigo analisou as mudanças por que passam as livrarias cujo mercado tende a desaparecer diante da competição com empresas que vendem pela internet e que também passarão, nos próximos anos, por grandes modificações com a substituição dos livros em papel pelos produzidos no modo digital. A metodologia de pesquisa foi, na primeira fase, bibliográfica para levantar a situação atual assim como perspectivas do mercado. Na sequência foi feita uma pesquisa quantitativa junto a uma amostra de estudantes de graduação no nível superior ou já graduados uma vez que esse é o público que mais utiliza os serviços de livrarias e será também o mais afetado com possíveis mudanças. A pesquisa bibliográfica, enquadrada como exploratória, levantou muitos indícios de mudanças nessa área em processo de início que apontam para o desaparecimento das livrarias pequenas, substituídas por grandes lojas, e na sequência um aumento do mercado de livros pela internet. Posteriormente, haverá então uma transformação no suporte de leitura, saindo do livro em papel para livros digitais que necessitam equipamentos eletrônicos para a leitura. A pesquisa quantitativa, factual, do tipo descritiva, mostra que o público que é supostamente o ideal para o mercado digital ainda não aceita a leitura de livros em equipamentos eletrônicos apesar de já ler frequentemente por necessidade trechos de livros e artigos na internet. ABSTRACT The research origin of this article examined the changes that involve bookstores whose market tends to disappear in face of the competition from companies selling by internet and that will also under attack, in short period of time, by major modifications with the replacement of paper books by that produced in digital mode. The research methodology was a bibliographical survey in the first round to lift the current situation as well as market prospects. As a result, it was made a quantitative research with a sample of undergraduate university students or already graduated since this is the mean public that uses the services of bookstores and will also be the most affected with possible changes. The bibliographic research, framed as exploratory, raised many indications of changes in that area in the process of beginning that point the disappearance of small bookstores, replaced by large stores, following an increase in the market of books over the internet. Later, there will be a transformation in reading support, leaving the book in paper to electronic equipment. The quantitative research, factual, descriptive type, shows the public that is supposedly the ideal for the digital market still does not accept the reading of books in electronics although already read often on the internet. IX Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – adm.convibra.com.br Introdução De modo geral todos os produtos e todas as atividades econômicas passam por um ciclo de vida que, de maneira simplificada, pode ser uma sequência composta de início, evolução e fim. Essa sequência pode ser mais rápida ou mais lenta dependendo de várias circunstâncias como avanços técnicos, crises econômicas, novas descobertas e até mesmo moda. No presente artigo é feita uma análise das perspectivas de desaparecimento das livrarias tradicionais diante das mudanças que se apresentam no livro, atual suporte de comunicações de massa, e explora possíveis atitudes de um administrador ao enfrentar tal problema. A sequência deste artigo inicia com a evolução do livro em papel como chegou aos dias atuais e aborda os suportes mais modernos que iniciaram suas trajetórias há pouco mais de duas décadas. Faz a seguir uma relação de mudanças por que passam as livrarias atualmente. Continuando mostra os resultados de uma pesquisa junto a uma amostra de clientes ou possíveis clientes para livrarias em uma cidade de médio porte no Estado do Paraná. Por último faz considerações sobre a administração de uma loja de livros de tal modo que sejam atendidas as expectativas dos potenciais clientes. Sobre o conceito de atributos Atributos são “Todos os aspectos (tanto tangíveis como intangíveis) de um produto ou serviço que podem ser avaliados pelos clientes” (LOVELOCK; WRIGHT, 2001, p. 75). Se uma pessoa necessita pagar uma conta, não quer permanecer em uma fila de banco por muitos minutos e ser atendida demoradamente. O atributo ou qualidade mais importante, deste modo, em uma agência bancária, será a rapidez. Entretanto, caso esteja doente e procure um médico, o atributo será outro. Não desejará um clínico que o atenda em poucos minutos em uma consulta. Segundo Dutka (1995, p. 41-2) o desempenho esperado de alguns atributos são universais, como relação preço-valor, enquanto outros são específicos como aparência, consistência e variedade. Assim, o objetivo deste estudo foi levantar os atributos mais importantes em uma livraria que venham a atender ao segmento psicográfico dos clientes de um ponto de vendas de livros. A razão de uma pesquisa nesse sentido é que, uma vez estabelecido quais são as qualidades de um produto ou serviço, o administrador pode centralizar seus esforços de modo que esses atributos sejam adaptados aos desejos e necessidades dos clientes, o que é basicamente o fundamento do marketing. Sobre o assunto afirmam Gil e Campomar: A seleção eficaz do segmento alvo se faz necessária em mercados competitivos. A identificação de grupos mais homogêneos aumenta a probabilidade de se atender melhor esses segmentos. O processo de segmentação de mercado evoluiu ao longo do tempo, tornando-se cada vez mais sofisticado e também complexo. Dentre os tipos de segmentação, a psicográfica mostra-se uma boa alternativa. (GIL; CAMPOMAR, 2006) Pesquisas feitas há 10 anos mostraram que os gastos com livros no Brasil são poucos, de modo geral, mesmo entre as famílias que dispõem de recursos para isso. Portanto já havia perspectivas para a atuação dos administradores de livrarias no sentido de aumentar a clientela. Veja-se a seguir o que esclarecem Beltrão e Duchiade: IX Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – adm.convibra.com.br Se estes dados parecem desalentadores, por revelar que os gastos com Leitura não integram o orçamento da maior parte das famílias brasileiras, mesmo daquelas com poder aquisitivo para tal, ao mesmo tempo apontam para a existência de um mercado potencial importante e não explorado. Afinal, temos a conquistar 75% das famílias com renda acima de 15 salários mínimos, que poderiam comprar livros, se assim o quisessem, pois já compram jornais e revistas. (BELTRÃO; DUCHIADE, 2002) Pesquisas mais recentes efetuadas pela Câmara Brasileira do Livro e Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas levantou que “o número de exemplares [de livros] vendidos em 2010 cresceu mais de 8%, e o preço do livro caiu quase 5% em relação ao ano anterior” (apud TEIXEIRA; MARTHE; MENDES, 2012, p. 99) o que mostra um aspecto positivo e pressupõe um progresso na educação. Problema de pesquisa Uma pesquisa publicada em 30/05/2008 relatava os resultados sobre leitura no Brasil. Veja-se a seguir os dados levantados pelo IBOPE: Brasileiros lêem, em média, 4,7 livros por ano. Este foi um dos principais resultados da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil encomendada pelo Instituto Pró-Livro ao Ibope Inteligência. O estudo comprovou ainda que esse índice sobe entre os profissionais com maior escolaridade. Entre aqueles que possuem formação superior, a média passa para 8,3 livros/ano. O número é de 4,5 livros para quem tem Ensino Médio completo, 5 para quem cursou entre 5ª e 8ª série do Ensino Fundamental e 3,7 para quem tem até a 4ª série.(GIE, 2008) Essa noticia despertou um interesse no assunto para saber se o aumento no número de leitores no Brasil influencia na procura por livrarias ou se a leitura apenas se restringe aos livros acadêmicos que, normalmente, não são comprados mas apenas consultados em bibliotecas. Como não havia possibilidades para uma pesquisa ampla, restringiu-se a uma amostra de pessoas da cidade de Londrina. Tendo em vista o aumento no número de pessoas que procuram um nível superior e que, por hipótese, são os graduados e graduandos do nível superior de ensino os maiores clientes de livrarias o problema de pesquisa foi levantar qual é o número percentual de leitores de livros entre os universitários da cidade de Londrina, o que mais os atraem em uma livraria, se costumam visitar livrarias, se adquirem outros produtos quando vão pesquisar livros, qual é a espécie de livro que procuram e qual o valor que aceitam pagar. Também é de interesse na conjuntura atual saber se a leitura de livros digitais está se expandindo ou se apenas atende a necessidades eventuais, como consultar um livro na biblioteca digital disponibilizada aos alunos quando devem realizar trabalhos acadêmicos. Entretanto, durante a pesquisa ficou evidente que as livrarias tradicionais passam por problemas graves que ameaçam suas sobrevivências. Assim, o problema que se apresentou no início abriu espaço para outro. No lugar de apenas pesquisar as razões por que um estudante universitário vai, e se vai, a uma livraria, passou-se a pesquisar também a evolução atual no mercado de livros. Basicamente, o livro em papel e a livraria física vão sobreviver? Se não vão, é possível um cálculo aproximado do prazo para a substituição por outros meios de adquirir conhecimento ou se entreter com uma história? Como se verá na sequência, há juízos conflitantes quando se aborda ou se pesquisa as opiniões sobre o fim do livro impresso e, consequentemente, o apagar das luzes das livrarias tradicionais. IX Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – adm.convibra.com.br Caracterização do produto em estudo O livro é o produto fundamento deste estudo e o foco de interesse é a administração de uma livraria diante das mudanças nesse comércio. As livrarias, com suas estantes, bancadas e atendentes, foi durante muito tempo o local tradicional de venda. Entretanto, nos últimos tempos, têm ocorrido muitas mudanças e sérias ameaças pesam sobre a atividade. Assim, é útil começar definindo o que é livro e depois estabelecer o que se entende por livraria. A definição vem se alterando nas últimas décadas. Um dicionário português publicado na década de 1950 trazia a seguinte definição: LIVRO – Folhas impressas e reunidas em um volume encadernado ou brochado. Obra literária, em prosa ou em verso, de uma certa extensão: um livro interessante. [...] (JOSÉ LELLO; EDGAR LELLO, 1958). Nos dicionários mais modernos a definição inclui outros suportes além do papel. Em um dos dicionários encontra-se um verbete com 691 palavras dando a definição e vários outros sentidos figurados. No trecho transcrito a seguir está escrito: livro sm (lat libru) 1 Segundo a Unesco, publicação não periódica, impressa, contendo pelo menos 48 páginas, excluída a capa. [...] 4 Qualquer coisa que pode ser estudada e interpretada como um livro: O livro da natureza. [...] 9 Inform Qualquer aplicação multimídia; livro eletrônico. (Michaelis Moderno Dicionário da Língua Portuguesa, 1998-2007) No dicionário Caldas Aulete, edição digital, consta a definição: (li.vro) sm. 1 Reunião de cadernos manuscritos ou impressos, cosidos ou colados por uma das extremidades e brochados ou encadernados; 2 Obra literária, artística ou científica reunida em um ou mais volumes; 3 Essa obra em qualquer suporte (disquete, CD etc.) (CALDAS AULETE) As definições, diante das mudanças ocasionadas pela revolução digital, têm sofrido mudanças também em outros países mais antigos como a França. Lá as definições têm algumas características interessantes e, entre elas, classificar o livro digital como livro numérico: Un livre est un document écrit formant une unité et conçu comme tel, et dont les pages sont le plus souvent faites de papier ou de carton. Une telle définition est cependant aujourd'hui remise en cause, ne serait-ce que par l'apparition et le développement du livre audio ou du livre numérique. Un livre électronique (ou livre numérique), dit aussi livrel ou e-book (en anglais), est un fichier électronique contenant un texte sous forme numérique. Il ne doit pas être confondu avec la liseuse, l'appareil électronique spécialisé qui permet de le lire sans faire usage d'un ordinateur. (WIKIPEDIA) (Um livro é um documento escrito formando uma unidade e concebido como tal, e suas páginas são geralmente feitas de papel ou cartão. Essa definição no entanto hoje é questionada, pelo surgimento e desenvolvimento de livros áudio e digitais. Um livro eletrônico (ou livro digital), denominado também livrel ou e-book (em inglês), é um texto que contém arquivo eletrônico em formato digital. Não deve ser confundido com liseuse [leitor digital] (e-Reader em inglês), o dispositivo eletrônico especializado que permite a leitura sem uso de um computador. – tradução nossa) Já no Grande Dicionário Terminológico publicado em Quebec a definição é bastante simples: “LIVRE - Assemblage de feuillets qui a été relié et muni d'une couverture, IX Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – adm.convibra.com.br et qui constitue le support d'une oeuvre”. (Livro - montagem de folhas conectadas e providas com uma capa, e que constitui o suporte de um trabalho – tradução nossa) Na sequência há um parágrafo denominado NOTAS no qual faz várias considerações e esclarecimentos sobre a extensão do significado: Un livre peut servir de support à toute oeuvre susceptible d'être reproduite par un procédé d'impression quelconque. C'est le cas, entre autres, des oeuvres littéraires, picturales ou photographiques. Il peut par ailleurs être constitué de toute matière susceptible d'être imprimée et reliée; il existe, par exemple, des livres faits de carton, de tissu ou de plastique. (Um livro pode oferecer suporte para qualquer trabalho susceptível de ser reproduzido por um processo de impressão qualquer. Este é o caso, entre outros, de obras literárias, pictóricas ou fotográficas. Ele também pode ser composto de qualquer material susceptível de ser impresso e vinculadas; por exemplo, há livros feitos de papelão, tecido ou plástico. – tradução nossa) Telle que définie, la présente notion recouvre le sens le plus général du terme livre, soit son aspect physique. Ce terme peut toutefois comporter diverses variations de sens selon le contexte dans lequel il est employé. D'un point de vue légal, par exemple, un document doit, entre autres, comporter un certain nombre de pages pour être considéré comme un livre, et il doit être publié, et ce, de façon non périodique. En effet, selon la Loi sur le développement des entreprises québécoises dans le domaine du livre, seules les publications de quarante-huit pages ou plus sont considérées comme des livres. Ce nombre dépend toutefois du type d'ouvrage dont il est question. Par exemple, pour être considéré comme un livre, un recueil de poésie doit comporter au moins trente-deux pages, alors qu'un ouvrage destiné aux enfants doit en comporter au moins seize. Il faut cependant noter que toutes ces distinctions ne sont pas communément admises par les gouvernements fédéral et provinciaux et par l'ensemble des instances internationales. (Do modo como está definido, este conceito abrange o significado mais geral da palavra livro ou aparência física. No entanto, este termo pode incluir variações de sentido dependendo do contexto em que ela é usado. Do ponto de vista jurídico, por exemplo, um documento deve, entre outras coisas, conter um número de páginas a ser considerado como um livro, e ele deve ser publicado e não periodicamente. De acordo com a lei sobre o desenvolvimento das empresas de Quebec no domínio do livro, apenas publicações de quarenta e oito páginas ou mais são considerados livros. No entanto, esse número depende do tipo de trabalho em questão. Por exemplo, para ser considerado como um livro, uma coletânea de poesias deve conter, pelo menos, trinta e duas páginas, enquanto um livro dirigido às crianças deve conter, pelo menos, dezesseis. – tradução nossa) No primeiro parágrafo diz que o livro pode ser de qualquer material desde que possa ser impresso. Na sequência nota que a definição aborda o senso mais geral e que o conceito varia dependendo do contexto. Diz também que somente as publicações de 48 páginas são consideradas livros pela lei. Este nome depende, porém, do tipo de trabalho. Um conjunto de poesias para ser classificado como livro deve ter mais de 32 páginas, e um livro para crianças deve ter, pelo menos, 16 páginas. Como se viu na pesquisa, a definição já tem mudado em alguns dicionários em razão da evolução do suporte do conteúdo. Essa evolução tem levado a extremos que acabam por gerar expectativas do fim da existência do livro como existiu desde Johannes Gensfleisch zur Laden zum Gutenberg, conhecido como Johannes Gutenberg. Na verdade as notícias levantadas sobre o assunto são bastante contraditórias. Tanto se encontram vaticínios do fim do livro e, portanto, da livraria como é hoje, como também há notícias sobre o aumento do IX Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – adm.convibra.com.br número de leitores, da frequência com que a população brasileira lê e também registro de incremento na compra de livros. Diante dos problemas citados são relacionadas a seguir algumas notícias para comparação. Segundo a Pesquisa do Orçamento Familiar do IBGE (apud BELTRÃO; DUCHIADE) “Apenas 7,47% da população brasileira compra livros não didáticos e destinam à literatura o equivalente a 0,05% da renda familiar” (pesquisa realizada em 2002-2003). Para se avaliar esses dados é preciso ter em conta que a renda familiar brasileira é bastante restrita. Se fosse uma renda como a de países ricos a porcentagem de 0,05% poderia ser significativa, mas acontece o contrário. Esse índice sobre uma renda pequena torna-se ínfimo. Já Duarte, em artigo do jornal Globo, diz que: Como tem sido repetido por aí em outras áreas, o Brasil também se tornou a "bola da vez" nos livros. A última etapa desse movimento foi o anúncio, na última semana, de que a jornalista Luciana Villas-Boas deixará o poderoso cargo de diretora editorial do Grupo Record, um dos maiores do país, para se dedicar a uma nova agência literária, chamada Villas-Boas & Moss. Hoje, o mercado brasileiro conta apenas com uma agência de relevância para livros estrangeiros e nacionais, a Agência Riff, cujos autores incluem Ariano Suassuna, Carlos Drummond de Andrade, Rubem Fonseca, Luis Fernando Verissimo, Lya Luft e Zuenir Ventura. — Não fazia sentido o Brasil ainda estar desprovido de mais agências — afirma Lucia Riff, fundadora da Agência Riff. — O fato é que as editoras brasileiras estão mais sólidas, com expectativa de crescimento. (DUARTE, 2012) Nesse mesmo artigo o autor afirma “Venda de e-books ainda é insignificante”. A pesquisa não localizou um levantamento sobre o número de leitores utilizando e-books. Mas tudo indica que esse número está aumentando por diversos motivos. Não só os equipamentos estão diminuindo de preço, como são mais fáceis de encontrar para comprar e apresentam cada vez maiores facilidades. Como sempre o Brasil tende a acompanhar as modas dos Estados Unidos e segundo notícia da Reuters “O número de norte-americanos que possuem tablet ou leitor digital praticamente dobrou entre o fim do ano passado e o início de janeiro, de acordo com levantamento realizado pela consultoria Pew Internet” (REUTERS, 2012, Mercado). Isso faz com que se anteveja um aumento também no Brasil. Outras notícias entretanto indicam ainda percalços no caminho das produções digitais. Nelson de Sá relata que uma pesquisa da Universidade de Oregon nos EUA “levantou que um leitor de jornal em papel retém mais que um leitor on-line” (SÁ, 2012, p. B5). Mariana Barbosa em artigo informa que a circulação de jornais cresceu em 2011 impulsionada pela venda de jornais populares (BARBOSA, 2012, p. B4). Na mesma página outra notícia tinha o título de “Folha lança pacote de assinatura digital” que leva a considerar que seja com essa arma que os jornais maiores enfrentarão os jornais populares. O livro digital na prática Há notícias indicando que algumas universidades de ensino a distância estão optando por entregar aos alunos um tablet no lugar de livros em papel como é praxe nos cursos do EAD. Com isso, os estudantes podem baixar no aparelho os livros de seu curso dispensando a universidade de fornecer livros físicos. Isso elimina vários problemas, mas cria outros. Por exemplo, no lado positivo facilita muito a logística já que não há a impressão e distribuição de uma grande quantidade de livros todo semestre. Por outro lado, há que se IX Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – adm.convibra.com.br esperar dos alunos uma adaptação ao uso do equipamento leitor que deve ser pouco conhecido da maior parte e também requer maiores cuidados do que um livro de papel. Os aparelhos leitores que estão sendo distribuídos são recentes e ainda não se conhece o prazo médio da vida útil. No ensino público já há um movimento para aquisição e fornecimento aos alunos de tablets como é o caso do Estado de Pernambuco que “está licitando 170 mil tablets para serem usados por estudantes do ensino médio a partir de 2012” (MÁXIMO, 2011). Athanásio, referindo-se a uma defesa de dissertação sobre a permanência ou não do livro impresso nas universidades, registrou que: Durante a defesa, Daniel Pinsky salientou que, apesar das interferências e reflexos que a indústria de bens informáticos vem apresentando diante da digitalização e da internet, os livros impressos ainda não foram incluídos nesse panorama. Mesmo já havendo tecnologia desenvolvida e até comercializada do livro eletrônico, as editoras e os professores que participaram das pesquisas de Pinsky ainda não veem de que maneira ele possa ser adotado no país e, mais precisamente, nas universidades. (ATHANÁSIO, 2009) Não obstante o peso de sua pesquisa ter sido reconhecido pela banca da USP há que se convir que muitas universidades já colocam uma biblioteca digital à disposição de seus alunos, ou seja, enquanto Pinsky diz que as editoras e os professores não veem de que maneira o livro digital possa ser adotado a verdade é que isso já ocorre em diversas universidades. Gershenfeld diz que poucas tecnologias maduras se tornam obsoletas e que uma tecnologia nova não elimina uma madura. Neste sentido cita o caso dos jornais que poderiam ser substituídos pelas notícias de rádio. É interessante observar que, publicando o seu livro em 1999 (primeira edição), esse autor asseverava que o CD-ROM não causara tanto dano aos livros impressos. O que se vê hoje é que a situação de permanência dos CD, com a ameaça representada pelos pen-drivers, está mais duvidosa do que a dos livros. Esse autor escreveu o seguinte: Very few mature technologies become obsolete. Contrary to predictions, radio did not kill off newspapers, because it’s not possible to skim through a radio program and flip back and forth to parts of interest. Television similarly has not eliminated radio, because there are plenty of times when our ears are more available than our eyes. CD-ROMs have made little dent in book publishing because of the many virtues of a printed book. (GERSHENFELD, 2000, p.10). (Muito poucas tecnologias maduras tornam-se obsoletas. Contrariamente às previsões, o rádio não matou os jornais, porque não é possível percorrer um programa de rádio e virar e voltar para partes de interesse. A Televisão da mesma forma não eliminou o rádio, porque há muitas vezes em que os nossos ouvidos estão mais disponíveis do que nossos olhos. CD-ROMs fizeram pouco estrago na publicação de livro por causa das muitas virtudes de um livro impresso. – tradução nossa) Seguindo esse raciocínio o livro digital não deve destruir a produção de livros de papel ainda que, com o tempo, o aumento na produção de livros eletrônicos e evolução dos leitores digitais levará a uma diminuição do produto físico como se apresenta hoje. História do livro A designer de livros eletrônicos Stella Dauer cita um artigo do New York Times que fala sobre a história do livro, sua evolução e os pontos principais de cada forma adotada IX Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – adm.convibra.com.br para seu suporte como se vê na figura a seguir: Figura 1 - Do rolo à Tela FONTE: Sunday Book Review, September 4, 2011, page BR13 Segundo Dauer No início, os rolos eram a plataforma mais utilizada para guardar informação. Era um meio especial, usado somente para textos sagrados, documentos, história, literatura. Para escrever textos cotidianos, as pessoas dispunham de tábuas cobertas de cera, e usavam uma caneta para riscar o objeto. (DAUER, 2012) Para facilitar o uso e a leitura os pergaminhos começaram a ser unidos formando um bloco inaugurando o uso dos códices. As vantagens desse uso eram a portabilidade, serem baratos e fáceis de montar. Além disso, a experiência melhorou. Era possível alcançar qualquer parte do texto mais facilmente, não era preciso desenrolar tudo. Podia marcar uma passagem, comparar com outra. Os tipos móveis trouxeram a rapidez da produção, a rapidez da distribuição. Livros começaram a se tornar populares. Contra o gosto da igreja, que detinha o poder da produção. (DAUER, 2012) O autor citado por Dauer (Lev Grossman) escreveu também que a magnitude do que ocorre hoje se compara à invenção dos tipos móveis por Gutenberg. Diz ainda que no primeiro século da era cristã houve uma mudança da maior importância quando se passou a produzir códices no lugar de rolos ou pergaminhos enrolados. O texto desse autor diz que: The last time a change of this magnitude occurred was circa 1450, when Johannes Gutenberg invented movable type. But if you go back further there’s a more helpful precedent for what’s going on. Starting in the first century A.D., Western readers discarded the scroll in favor of the codex — the bound book as we know it today. (GROSSMAN, 2011) (A última vez que ocorreu uma alteração desta magnitude foi por volta de 1450, quando Johannes Gutenberg inventou os tipos móveis. Mas se você for mais atrás existe um precedente mais útil para o que está acontecendo. A partir do primeiro século A.D., leitores ocidentais descartaram o rolo em favor do códice — o livro brochado como nós conhecemos hoje. – tradução nossa) IX Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – adm.convibra.com.br Sobre a produção de livros digitais Na pesquisa foi explorado o endereço da empresa Simplíssimo que produz e comercializa livros digitais. Esse sítio alerta que os livros podem ser produzidos ou convertidos. Estes, apenas copiados, não causam trabalho mas o resultado não é bom. Veja-se o que contém nesse endereço sobre a conversão pura e simples de livros: Conversão é um processo automatizado, sem preocupação com o resultado final e pouca (ou nenhuma) qualidade. Qualquer pessoa pode converter livros, com os softwares gratuitos disponíveis na Internet. Os resultados mais comuns? E-books que não abrem e travam os aparelhos, visual descuidado, parágrafos perdidos, falhas sistemáticas no texto… um pesadelo para as equipes das editoras (SIMPLÍSSIMO) Já o processo de produção, atividade da empresa, tem outras características: Produção é um conceito diferenciado. Valoriza o trabalho cuidadoso, que busca a melhor diagramação, o visual mais agradável, a funcionalidade completa. A produção de ebooks da Simplíssimo é realizada por uma equipe experiente no formato ePub, comprometida com um resultado final de máxima qualidade e a satisfação do cliente. Podemos oferecer um serviço deste nível, por contarmos com 3 anos de experiência produzindo e-books em ePub, no Brasil. (SIMPLÍSSIMO) A campanha pela popularização dos Livros digitais Enquanto os editores e donos de livrarias lutam para conservar o público de livros de papel os criadores de livros digitais travam sua luta para se instalar no mercado. Já há um sítio denominado REB (Revolução E-Book) que se propõe discutir o livro digital. Entre suas atividades há uma campanha para a popularização do livro digital que tem 3 objetivos: 1 – Esclarecer a população em geral sobre as possibilidades da leitura digital. Muitas pessoas ainda ignoram os benefícios dos eBooks e eReaders. Queremos mudar isso. Quanto mais pessoas conhecerem as vantagens e lerem eBooks, mais eBooks serão oferecidos no mercado, com preços melhores. 2 – Conseguir mais opções de livros digitais com qualidade, incentivando editoras e autores a disponibilizar seus livros em formato digital – mostrar a eles que os leitores querem, sim, ler no formato digital! 3 – Melhorar a qualidade dos serviços existentes hoje. Garantir que editoras e livrarias recebam o feedback valioso de quem lê livros digitais. (DAUER, 2011) Livrarias digitais já em atividade Já há diversas livrarias digitais e outros pontos onde se pode ler com acesso livre ou pago. Entre os sítios pesquisados estão: Gato Sabido – esta firma cobra por livro que o cliente queira ler e pelo qual compra o direito. A pessoa entra no seu sítio, escolhe o livro, faz o pagamento e recebe uma confirmação dizendo que pode acessar o sítio: http://www.gatosabido.com/. Vivo – esta empresa de telefonia disponibiliza aos seus clientes um endereço onde podem ler uma grande quantidade de livros de várias áreas. Google – possui um endereço que indica livros de várias áreas os quais podem ter algumas páginas disponíveis para leitura e na margem esquerda da tela há um relação de livrarias que dispõem desses livros para venda pela internet. O endereço é: http://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&source=gbs_hp_logo. IX Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – adm.convibra.com.br Positivo Informática – essa empresa (Grupo Positivo) possui uma divisão especializada em vendas de livros digitais e na divisão de informática vende um aparelho leitor digital dotado de tela e-paper. Esse aparelho pode conter até cerca de 1500 livros (http://www.positivoalfa.com.br/). Livrus Negócios Editoriais Ltda. – empresa localizada em São Paulo, é bastante recente e já possui 26 livros editados. Folha de S.Paulo – esse jornal também criou um endereço para venda de livros: http://livraria.folha.com.br/lista/89e0780e (oferece no momento cerca de 335 títulos). Iba – sítio da Editora Abril que começou no mês de março e se destina a comercializar livros, revistas e jornais. Para acessar a loja virtual e adquirir produtos é necessário fazer o download de um aplicativo denominado IBA-Reader. Nele o cliente seleciona o tipo de equipamento e sistema que pretende utilizar: notebook, I-Pad ou Android. No momento ainda não está disponibilizado o acesso com Android. Na pesquisa ficou evidente que os dados estatísticos sobre livros digitais mudam a todo momento e, em qualquer caso, são sempre incompletos. A figura a seguir indica os números de livros digitais por editoras, no Brasil, em janeiro 2012: Figura 2 - eBooks em Português de livrarias no Brasil A Livraria Cultura não aparece neste gráfico (MELO, 2012), mas segundo Campassi (2012) essa livraria tem 5 mil e-books nacionais. Comparando-se com países desenvolvidos os números de livros digitais são muito poucos, mas países como Portugal também estão na mesma situação inicial. Entretanto, há um caso interessante da livraria LabCom, em Portugal, que atua na área de comunicação. Segundo o seu sítio o “Livros Labcom é um projecto editorial que disponibiliza em PDF todos os livros publicados pelo LabCom”. Esses livros foram produzidos no Adobe Acrobat® e o Adobe® Reader® é a ferramenta para abrir e usar Adobe PDFs. O Reader pode ser usado para visualizar, imprimir e gerenciar PDFs. Depois de abrir um PDF no Reader, ficam disponíveis várias ferramentas que ajudam a encontrar rapidamente informações ou ir diretamente para o início de capítulos. Discussões sobre o que é um livro Com o incremento da digitalização de textos já se questiona o que é um livro. A tendência é desvincular o conceito de livro da apresentação em papel. Segundo Procópio “O livro não vai perder suas características e deixar de ser livro só porque está mudando ou surgindo um novo suporte” (PROCÓPIO, 2010, p. 152-3). Na sequência esse autor diz que IX Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – adm.convibra.com.br “para ser considerado como tal, o livro deve ter determinado número de páginas ou capítulos e constituir uma unidade independente, o que é diferente e distinto das publicações periódicas da Internet e outras fontes como revistas e jornais impressos” (PROCÓPIO, 2010, p. 153). Um trabalho acadêmico, por exemplo, mesmo que tenha mais de 48 páginas, não é enquadrado como livro porque tem outros requisitos. Muitos trabalhos de origem em dissertações de mestrado e teses de doutorado terminam por servir de base a livros mas para isso altera-se o modo de apresentação. O direito à leitura Tendo em vista que o percentual de leitores no Brasil é muito pequeno já há várias ações, tanto do governo como de entidades privadas e até mesmo de particulares, no sentido de incentivar a leitura entre a população. Com a Lei No 10.753, de 30 de Outubro de 2003, o governo pretende “assegurar ao cidadão o pleno exercício do direito de acesso e uso do livro” (Art. 1o). No Art. 2o faz a descrição do que considera livro. No parágrafo único informa que são equiparados ao livro uma série de tipos de publicações e os textos “derivados de livro ou originais, produzidos por editores, mediante contrato de edição celebrado com o autor, com a utilização de qualquer suporte” (Art. 2º, § único, VI). Na prática essa lei classifica os suportes de informações e conhecimentos para uso da população e dá isenção de impostos. Esses suportes foram durante séculos o livro representado por um conjunto de folhas costuradas em blocos e protegidas por uma capa. Eram então agrupados em bibliotecas ou vendidos a poucas pessoas que se interessavam pelo conhecimento. Com o tempo e a evolução da indústria livreira os locais de venda de livros se expandiram extraordinariamente e também houve necessidade de se adaptar a legislação que regula a produção e venda dos livros. A pirataria no tempo digital A pirataria ou ato de produzir cópias de produtos sem autorização do proprietário dos direitos é muito antiga e apenas vem mudando seu foco. Fora o problema de cópias integrais ou piratas, que mantém o nome do autor, pode-se considerar também o plágio que é uma cópia em que alguém assume como sendo criação própria. Segundo Vieira: A noção de plágio já era praticada e conhecida na Grécia Antiga, porém somente com sanção moral de condenação pública, não havendo qualquer consequência penal ou civil para a violação dos direitos do autor (direitos esses ainda inexistentes) (VIEIRA, 2011) Sobre a pirataria veja-se o seguinte trecho: As cópias ilegais ou espúrias, feitas à revelia de autores ou dos donos dos direitos de publicação, ou mesmo para não pagar taxas ao governo, são muito antigas. Até mesmo a obra literária mais famosa e reconhecida da língua portuguesa, Os Lusíadas, teve sua primeira edição copiada ilegalmente. A primeira edição chamada "princeps", que possui na portada a imagem de um pelicano com o bico voltado para a esquerda do leitor, é de 1572. Há outra edição, dita apócrifa, que copiou a primeira, inclusive com a estampa do mesmo ano de publicação, mas com diversas pequenas diferenças. Destas variações ou erros, a mais facilmente reconhecida é a figura do pelicano com o bico voltado para a direita do leitor. A data provável desta edição seria 1585, [...] (BOTELHO; BELEZE; ALMEIDA, 2003) IX Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – adm.convibra.com.br Segundo Segantini, a pirataria de livros eletrônicos na Itália atinge 3 de cada 4 livros editados. Il libro elettronico, appena nato, si è già ammalato, colpito dal virus della pirateria informatica. Le cifre, fornite per la prima volta dall'Associazione Italiana Editori (Aie), sono impressionanti. Dai dati emerge che in Italia, su 19 mila ebook, ben 15 mila sono disponibili nella versione pirata. Non solo. In base all'ultima classifica Ibs.it, dei 25 titoli più venduti della scorsa settimana, 17 sono disponibili in formato elettronico e 19 sono, come si dice, taroccati. (SEGANTINI, 2012) (O livro eletrônico, apenas nascido, já está doente, atingido pelo vírus da pirataria. Os números, apresentados pela primeira vez pela associação de editores italianos (IEA), são impressionantes. Os dados mostram que, na Itália, de cerca de 19 mil eBooks, 15 mil estão disponíveis na versão pirata. Não só. De acordo com a classificação mais recente (Ibs.it,) dos 25 títulos mais vendidos na semana passada, 17 estão disponíveis em formato eletrônico e 19 são, como eles dizem, falsos. – tradução nossa) Nos últimos tempos a discussão sobre o ato de proteger o comércio legal dos atos de cópias ilegais tem-se acirrado. No caso dos livros digitais, que à primeira vista poderiam ser duplicados como é o caso dos CD, o que tem ocorrido é que as editoras têm vinculado o livro a um determinado aparelho leitor. Para isso usam o DRM (Digital Rights Management) que restringe os aparelhos, os programas e a quantidade de acessos que os leitores podem ter aos e-books (MELO, 3 maio 2010). Para esse efeito a Amazon criou e vende o Kindle, a Barnes & Noble vende o NOOK, que são aparelhos próprios para as produções dessas editoras. A Livraria Saraiva vende livros digitais e tablet além dos livros tradicionais. Os livros digitais vendidos por essa companhia estão no formato PDF ou no formato e-PUB. Para leitura o cliente necessita primeiramente fazer o download do programa Saraiva Digital Reader. Ainda que aparentemente o custo de um livro digital seja muito menor do que o do livro de papel, já que dispensa a impressão e distribuição, a diferença de preço ainda não é grande. O livro “O cemitério de Praga”, de Umberto Eco, na forma digital custa R$35,00. Em papel o preço era R$ 49,90, mas está sendo vendido por R$ 35,90. Na Livraria Porto, em Londrina, o volume está por R$44,90 (jan 2012). Pode acontecer de alguém necessitar um livro, por exemplo, sobre análise qualitativa. Caso pesquise na internet, encontrará um em português disponível em uma livraria de Portugal. Teria entre as desvantagens ser pago em outra moeda (Euro), demorar para ser transportado se for em papel, etc. Pode entretanto optar por comprar uma edição digital que será disponibilizado imediatamente após confirmação do pagamento. A WOOK pertence ao Grupo Porto Editora e, segundo seu sitio, é “a maior livraria portuguesa online. Vende para todo o mundo livros e eBooks portugueses, ingleses, espanhóis e franceses, livros escolares, [...]” (WOOK, 2012). Comparando-se o preço do livro “Pesquisa Qualitativa e Análise de Conteúdo”, de autoria de Isabel Carvalho Guerra, nota-se que a edição digital é 26,9% mais barata (e-book = 5,76€, em papel = 7,88€). Um livro muito em evidência atualmente, e objeto de um filme que estreou no Brasil em 27 de janeiro de 2012, “Os Homens que Não Amavam as Mulheres - Millennium 1”, de autoria de Larsson Stieg, custa na edição Digital, R$22,50, enquanto em papel R$26,80 (com desconto uma vez que o preço original era R$31,50). O mesmo livro é vendido pela Positivo Informática por R$18,00. Neste caso o livro está no formato EPUB (Livro Digital). IX Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – adm.convibra.com.br A análise SWOT do livro digital e seus revendedores Antes de fazer a análise, e a fim de possibilitar maior clareza, estão relacionados a seguir os dados sobre a venda pela internet de dois livros na Livraria Saraiva. Os dois livros estão em evidência neste período e tanto podem ser comprados impressos em papel e como no formato digital. Veja-se a seguir: Autor, livro Impresso Prazo para despachar Digital Disponibilização imediata Walter Isaacson, Steve Jobs – A Biografia R$ 49,90 Preço original Preço com desconto Porte Total com desconto R$ 34,80 R$ 8,64 R$ 43,40 R$ 32,50 4 dias (fora o tempo de transporte até a residência do comprador) R$ 28,90 0 Diferença de preço: 33,4% R$ 28,90 Larsson Stieg - Os Homens que Não Amavam as Mulheres - Millennium 1 R$ 42,00 R$ 37,80 Preço original 4 dias (fora o tempo de R$ 37,80 R$ 22,50 Preço com desconto Diferença de preço: transporte até a residência R$ 8,64 48,5% Porte 0 do comprador) R$ 46,4 Total com desconto R$ 22,50 Na sequência, e tendo em vista o que foi levantado, é feito um levantamento das Forças, Deficiências, Oportunidades e Ameaças do livro digital em uma adaptação da análise SWOT (ou PFOA). Quadro 1 – Análise SWOT ou PFOA das perspectivas do livro digital Forças Deficiências O custo para a editora é menor e poderá dar condições de baratear o preço Necessidade de leitor digital Fica disponível para o leitor assim que é confirmado o pagamento Normalmente um livro não é lido em aparelho de outra editora Não necessita reedições - não se esgota Ações de promoção ainda inexpressivas Fácil transporte e guarda de centenas de livros A retenção dos dados nas leituras não é tanta quanto em papel (SÁ, 2012) Oportunidades Ameaças Aumento do número de leitores e de estudantes do terceiro grau no Brasil Pirataria (cópias desautorizadas) Melhora no poder aquisitivo da população Atuação do governo no mercado tentando impor o uso de tablets a professores e alunos sem haver treinamento Barateamento dos equipamentos leitores Falta de disciplina na concorrência FONTE: Adaptado de Churchill e Peter (2000, p.91) Sobre o mercado na atualidade A seguir faz-se um levantamento de informações bibliográficas sobre o tema de modo a se estabelecer a situação atual do mercado livreiro no Brasil e na cidade de Londrina. Em 2009 a Associação Nacional de Livrarias (ANL), uma associação de classe IX Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – adm.convibra.com.br sem fins lucrativos que congrega livrarias de todo o país, promoveu um diagnóstico do setor livreiro. O objetivo desse diagnóstico era: [...] incentivar o Mercado Livreiro, subsidiando-o com dados que poderão ser de muita utilidade nas tomadas de decisões. Nesse sentido, cabe citar alguns exemplos: a) O livreiro poderá, por intermédio dos dados das regiões, saber onde existe maior carência de livrarias, abrindo novas lojas nestes locais. b) O livreiro poderá também saber os temas mais vendidos, e os menos vendidos viabilizando arriscar-se em projetos de livros pouco publicados ou manter-se com sua temática principal. c) Será possível perceber a tendência das livrarias na venda de outros produtos (que não os livros) e a oferta de serviços diferenciados. Além de ser útil no âmbito empresarial, os representantes da entidade poderão utilizar os resultados da pesquisa como instrumento para negociar junto às entidades governamentais e de classe a busca de benefícios ao comércio livreiro, bem como o incentivo à leitura e à cultura. (ANL, 2010) Segundo pesquisa da ANL, em 2009 havia no Brasil “um universo de 2980 livrarias” (ANL, 2010). Como a população era de 190.732.694 habitantes (dados do IBGE – Censo 2010) resulta em 1 livraria para cada grupo de 64.004 pessoas. Godoy escreveu em mensagem da CBN “O número de livrarias no país também decepciona. Se a Espanha possui uma para cada grupo de 10 mil habitantes e a Argentina uma para cada 20 mil, no Brasil a relação é de uma para cada 50 mil” (GODOY, 23 dez 2011). Tendo em vista as modificações que ocorreram ou que estão ocorrendo no mercado livreiro não há mais sentido de se fazer questionamentos sobre o número pequeno de livrarias para a população já que hoje as livrarias estão se concentrando e tem capacidade para atender um número muito maior de clientes. A história da concentração e de como as grandes livrarias levam as pequenas à falência foi magnificamente mostrada no filme Mensagem para Você (You've Got Mail, 1998). Nessa história a livraria “Fox & filhos”, do pai do personagem principal (Tom Hanks), abre uma grande livraria como são comuns hoje e que fica perto da pequena e tradicional Livraria da Esquina, que a personagem vivida pela atriz Meg Ryan havia herdado de sua mãe. Não havia como enfrentar a concorrência e a livraria pequena vai à falência. Pesquisa de campo A pesquisa foi realizada com uma amostra de 223 graduandos ou graduados no ensino superior. Dentre as questões uma inquiria sobre frequência de leitura. Do total 106 (47,5% de pesquisados) responderam que leem frequentemente livros, jornais e revistas e isso, considerando o nível de cultura dessas pessoas é muito pouco. É ainda pior o caso de 13 estudantes (5,8%) que informam ler raramente. Neste item importa referir o caso de 30 pesquisados (13,5%) que restringem a leitura apenas ao que está na internet. Entretanto, é bastante curiosa a resposta que indica alto índice dos que afirmam ir a livrarias (34% vão com frequência e 35% uma ou duas vezes no semestre). Portanto, apesar do baixo índice de leitura não há um distanciamento dos livros ou do que há nas livrarias. A pergunta sobre a razão da ida à livraria, que era de múltipla escolha, teve um total de 377 indicações das quais 130 (34,5%) como ida para pesquisar novos livros. Outro ponto importante na observação de tendências é o fato de 85% dos pesquisados já terem feito compras pela internet. Isso mostra que a compra de livros pela IX Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – adm.convibra.com.br internet pode ser um substituto da compra em livrarias. Outra pergunta seguinte se referia à confiança de compras pela internet. Uma porcentagem alta indicou confiar razoavelmente de onde se pode concluir que não há impedimento de substituir a compra na livraria por compras de livros pela internet. Questionados quanto ao valor dado ao atendimento, as respostas demonstram que é um campo a ser mais cuidadosamente explorado. Mais da metade indicou dar valor alto ou razoável ao modo como é feito o atendimento. Sobre o livro digital apenas 1% respondeu “essa moda não vai pegar” e somente 7% diz que nunca leu um livro assim e que não tem ideia de como será o futuro. O importante é que 27% assinalaram que as novas tecnologias tornam a leitura fácil como de um livro de papel. Na pergunta seguinte há um empate entre os que dizem ser necessário haver mais livrarias com aqueles que dispensam novas aberturas. Não obstante ter havido assinalamentos indicando confiança nas compras pela internet, na questão que pergunta sobre a possibilidade de substituição das livrarias atuais pelas livrarias virtuais, as respostas de 70% foram de que não haverá essa substituição porque as pessoas precisam ver para escolher. Na última pergunta foi questionado sobre o valor que aceitam pagar por um livro que seja bastante citado no momento. Os valores ficaram acima do valor normal de um livro como se viu na pesquisa e alguns casos que foram citados neste trabalho. Disso pode se concluir que não há tantas restrições quanto a preço de livro e que a falta de leitura não é justificada por isso. Conclusão A pesquisa mostrou sempre um confronto de dois lados, um que já tem como certo que o livro digital é o substituto do livro antigo e outro lado recusando aceitar uma tão drástica mudança. Na pesquisa bibliográfica deste trabalho assim como na pesquisa de campo pôdese constatar que livrarias antigas estão se transformando apenas em papelarias vendendo produtos para escritórios e para estudantes ou então fechando as portas. Normalmente o que acontece é que em um primeiro passo há uma absorção de livrarias pequenas por outras grandes. Ocorre que mesmo estas estão sendo ameaçadas pelas livrarias virtuais que não obedecem a limites físicos no atendimento. Assim a sequência é: livrarias pequenas são fechadas substituídas por grandes lojas de livros e outros produtos, e estas por sua vez são substituídas pelas revendas virtuais, que atendem pela internet. Estas, por sua vez, serão substituídas por sites de vendas de livros digitais. Deste modo os administradores devem agir no sentido de apropriar os locais de venda de livros para os usos modernos ou recentes. Entre eles está a inclusão de outros produtos nos locais de vendas de livros que ainda permanecerão por mais alguns anos. Uma das atividades que despertam a atenção do público é o lançamento de livros com noite de autógrafos. De outro lado as ameaças são várias e na pesquisa colheu-se a informação de que uma livraria tradicional, que atendia principalmente alunos de uma instituição de ensino superior, teve de fechar as portas por ficar com volumes encalhados uma vez que os alunos copiam livros no lugar de comprar. Esse costume de fotocópia também já está sendo superado pois as IES estão dando acesso a bibliotecas digitais que são muito mais fáceis de utilizar do que a física que nem sempre dispõe de volumes suficientes para atender, por exemplo, em período de provas. Já na biblioteca digital, ainda que ela não tenha capacidade infinita, tem, IX Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – adm.convibra.com.br contudo, uma capacidade muito maior para acesso de número expressivo de alunos. Tudo indica que o livro como conjunto de folhas de papel, que é o produto sob foco neste trabalho, tende a ser substituído em larga margem pelo produto digital, mas não em curto prazo. É preciso deixar claro que a pesquisa levou a essa conclusão desde que não haja novas descobertas científicas e técnicas o que pode disparar o processo de substituição. Dentro dessa perspectiva é de se supor que o livro didático irá diminuindo em demanda e ficando restrito a pequenos núcleos de interesse como livros sobre arte. Entretanto, a pesquisa factual (empírica) junto a uma amostra de pessoas com nível superior completo ou em curso indica que a leitura em suporte digital ainda é bastante restrita e pouco aceita, exceto como foi dito, para pesquisas destinadas a trabalhos acadêmicos. Entre as facilidades levantadas quanto a livrarias digitais as principais são: não há mais edições esgotadas nem reimpressão, há a facilidade de transporte e os preços dos livros para compra pela internet são, nos casos pesquisados, menores mesmo para o livro em papel e o preço dos livros digitais são menores em porcentagens acima de 30%. Portanto, a tendência é de que a história, mutatis mutandis, venha a se repetir. No final da Idade Média os copistas viram seu trabalho de produção de livros, assim como o produto dos artistas que produziam as iluminuras, serem substituídos pela imprensa. Do mesmo modo como o códice foi substituído pelo livro brochado em papel, agora este está em vias de ser substituído pela informação transmitida de modo digital. Afinal, Camões já escrevia há cerca de 500 anos “Mudam-se os tempos, mudamse as vontades, Muda-se o ser, muda-se a confiança; Todo o mundo é composto de mudança, [...] Por último, o mais importante é aceitar a mudança, buscar entendê-la e adaptar o estilo de administração aos novos tempos, de modo consciente e sem atropelos. REFERÊNCIAS ANL. Diagnóstico do Setor Livreiro 2009, São Paulo, p. 16, 2010. ATHANÁSIO, A. C. Mestrado - O futuro do livro impresso nas universidades.. Acesso em 25 de janeiro 2012., São Paulo, 2009. http://www.fea.usp.br/noticias.php?i=195. AULETE, CALDAS. Dicionário Caldas AULETE. http://aulete.uol.com.br/site.php?mdl=aulete_digital. BARBOSA, M. Circulação de jornais cresce 3,5% em 2011. Folha de S.Paulo, São Paulo, 25 jan 2012. B4. 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IX Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – adm.convibra.com.br eBook Reader Procurar neste Blog O LIVRO NA ERA DIGITAL início sobre o autor sobre o curso sobre o livro sobre o site sobre o resto Categorias dos posts Conteúdo (3203) « Flipsuite R Warren Ellis lança HQ gratuita on-line » Os Diversos Formatos dos Arquivos de Livros Eletrônicos Posted sábado | 1 | março | 2008 by eBook Reader in Software. Comentários desativados 1 avaliações Existem dezenas de formatos de arquivos eletrônicos que podem conter textos. Podem ser separados tecnicamente por títulos ou capítulos e, com isto, compor um livro. Mas um simples arquivo eletrônico com texto pode ser considerado um eBook? É o que o eBookBusiness tentará responder e explicar neste artigo. Entre os diversos formatos de arquivos digitais que podem conter um texto e compor um eBook, estão:Arquivos em formato ASCII, TXT, HTM, HTML, CHTML, XHTML, XML, OPF, LIT, PRC, PDB, PDF, WAP, x-doc, WML, DOC, DocPalm, RTF, RB, EXE, SWF, KML, HLP, TK3 etc. Para o leitor que quer apenas ler um livro, é realmente uma bagunça e uma confusão só isto tudo. Mas é como se um mesmo livro, se fosse em papel, estivesse disponível em vários tamanhos e qualidades diferentes [ em formato pocket, com capa dura, brochura, costurado, papel especial, ilustrado, com cores etc ]. Embora seja certo que, com o livro papel, o leitor repare menos nisto pois já está culturalmente acostumado, no caso dos eBooks isto é um indício de um problema. Alguns arquivos citados, no entanto, podem não ser necessariamente um eBook. Podem ser formatos de arquivos que foram criados a partir processadores de texto ou de programas diagramadores de páginas como o Publisher e o MS Word, o PageMaker, o InDesign, o QuarkXpress, o CorelVentura etc. Alguns desses programas são usados para diagramação de livros que serão impressos. Aumentando inda mais a bagunça de formatos. Entre alguns arquivos produzidos a partir de programas usados para fazer livros em papel, estão:RTF, DOC, PM5, P65, CDR, INN, TIF etc. Para quem apenas quer ler um livro, basta entender o seguinte: já existe uma tendência natural na padronização dos livros eletrônicos [ leia mais sobre a padronização dos eBooks ]. No geral, quando um website disponibiliza um título num determinado formato de arquivo, o próprio website já indica em qual software este arquivo deverá ser aberto [ na maioria das vezes arquivos em formatos compactos ]. O mais popular dos formatos de eBooks é, sem dúvida, o PDF. Acrônimo de Portable Document Format, criado pela empresa americana Adobe Systems. É necessário que se diga que arquivos de livros eletrônicos genuinos só começaram a aparecer a partir de 1998, quando foi lançado o Rocket eBook. Junto, a Nuvomedia colocou na Internet um simulador do aparelho que permitia a leitura de arquivos de livros eletrônicos especiais na tela do computador. O simulador do Rocket eBook chamava-se eRocket TM . Um pouco antes, a Adobe também já havia lançado uma versão compacta do seu leitor de arquivos de impressão, o Acrobat Reader . Quando alguém na Adobe percebeu que arquivos PDF cabiam num Hardware (1376) Software (634) Últimos posts StoryBundle Startup analisa dados de mídia social para o mercado editorial Defasado, Alfa [da Positivo] encalha mesmo com 50% de desconto Roberto Feith: ‘A pirataria online pode minar a produção do conhecimento’ 15121 Cadastro Nacional do Livro ganha espaço Pasta do Professor atinge a marca de meio bilhão de páginas Tecnologias como smartphones, geolocalização e games remodelam a arte de contar histórias Big Six dominam lista americana de eBooks mais vendidos Amazon descobre o caminho das Índias Paulo Coelho pede mais flexibilidade para conteúdos grátis na internet Para popularizar armazenamento em nuvem, Amazon lança serviço de US$ 0,01 por Gbyte Mercado editorial ganhará rede social Mundo Cristão lançará 60 eBooks em 2013 Barnes & Noble lança Nook no Reino Unido Fotos dos eReaders disquete, estava lançado a semente dos eBooks. De qualquer modo, consideramos arquivos de livros eletrônicos [ eBooks ] apenas aqueles passíveis de serem lidos em softwares especiais de leitura [ os eBook Reader's ], com ferramentas como bookmarks, procura, dicionários relacionados, hiperlinks etc, cujo título possa ser levado em aparelhos portáteis [ dedicados ou não ]. Os formatos considerados eBooks genuínos: More Photos eBook Pro [ Executável ] kml [ hiebook ] Libros em Red [ Executável ] Tags lit [ MS Reader ] Amazon Android NetLibrary Reader pdb [ MobiPocket Reader ] Aplicativos prc [ PalmReader ] Barnes & Noble PDF [ Acrobat eBook Reader ] Bibliotecas Digitais Congresso Internacional CBL do Livro Digital rb [ Rocket Edition ] [ SoftBook Edition ] ReB 1100 [ baseado em rb ] Conteúdo COOL-ER Direitos tk3 [ TK3 Reader ] Autorais Distribuidora de Livros Digitais DRM E-Ink ePub Eventos WineBook [ Executável ] GlassBook Reader [ baseado em PDF ] Não existe um formato de arquivo de livro eletrônico que seja melhor que o outro. É possível apenas indicar algumas qualidades em alguns softwares readers específicos para livros eletrônicos como é o caso do MobiPocket Reader que, de longe, é o melhor reader [ que lê arquivos no formato PRC, PDB, HTML e TXT ]. Mas o Acrobat eBook Reader [ que lê arquivos no formato PDF ] também tem suas peculiaridades diferentes do MS Reader, por exemplo. O leitor vai perceber que são tecnologias diferentes e com propósitos distintos. O leitor pode até se confundir no começo, mas no final das contas, é ele quem vai decidir qual deverá ser o formato de livro eletrônicos que deverá predominar. Para o autor que pretende editar um livro no formato eletrônico é necessário apenas que se saiba que com o Bloco de Notas é povíssel fazer um eBook da melhor qualidade, independe do software onde ele será lido. E, para terminar: na prática não existe um arquivo ou um formato na qual o leitor pode se apegar e esquecer do resto porque alguns livros estão disponíveis em um único formato. Alguns websites disponibilizam seus eBooks em diversos formatos diferente [ um mesmo título ]. Se o leitor abrir sua pesquisa para dois ou mais websites, a possibilidade do número de formatos aumentarem é ainda maior. E é até possível que ainda surjam outros formatos por aí [ esperamos que não, só os 33 contabilizados pelo eBookZine já bastam ]. Mas se quer uma dica, não comece pelo formato, comece com o software que vai le-lo: MS Reader, MobiPocket Reader ou Acrobat eBook Reader. Veja, abaixo, alguns dos formatos que não são considerados necessariamente de eBooks, embora alguns possam ser base para virar um livro eletrônico [ como é o caso dos arquivos com base em hipertexto ]: Apple App Store arquivos em formato ASCII Facebook Gato Sabido Google Google Books Google eBooks HarperCollins iBooks iPad iPhone iPod Kindle Kindle Fire iBookstore Kobo Livraria Cultura Livraria Saraiva Nook Números PDF Pirataria Positivo Alfa Redes Sociais Sony Sony Reader Tablets Twitter Wikipédia Xeriph Áudio Books Aplicativos & Softwares ABBYY FineReader Adobe Digital Editions Adobe Digital Publishing Adobe Digital Publishing Suite Adobe® Reader Mobile SDK Aldiko Alfa eBooks Manager All My Books arquivos EXE [ executáveis em geral ] Apps para Android doc [ MS Word ] Atheneum hlp [ arquivos Help do Windows ] INTRODUÇÃO À GESTÃO DE CONTEÚDOS Júlio C. I. Pereira Curso de Ciência da Computação, Faculdade de Pedro Leopoldo Marcello P. Bax Escola de Ciência da Informação, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Através de uma compilação de vários trabalhos relacionados, o artigo descreve a Gestão de Conteúdos em ambiente web, caracteriza os sistemas de Gestão de Conteúdos e apresenta as principais ferramentas disponíveis, assim como os benefícios e os riscos associados à sua implantação. Para fixar as idéias, levanta-se elementos para justificar o investimento financeiro em uma solução de Gestão de Conteúdos. Após introduzir o tema, propõe uma diferenciação clara entre informação, conhecimento e conteúdo, e sugere que a Gestão de Conteúdos permite a Gestão de Conhecimento na prática. Caracteriza as ferramentas de Gestão de Conteúdos denominadas CMS e apresenta vantagens e benefícios advindos de sua implementação nas organizações. Apresenta uma avaliação que permite determinar os retornos sobre investimentos nesse tipo de tecnologia. O artigo parte do pressuposto de que para acompanhar a evolução da Internet como um canal de comunicação interno e externo - de relacionamento com clientes, fornecedores e parceiros - as empresas precisam investir em tecnologias que permitem a distribuição e a publicação de informações de forma ágil, segura e confiável. Inerente à essa evolução, vem a sofisticação das informações que devem estar online, em páginas web com imagens, filmes, figuras etc. Alterando a forma de se criar e manter páginas web, estão sendo criadas ferramentas conhecidas como CMS Content Management System's - que conferem a agilidade, segurança e a confiabilidade requeridas para o tratamento da informação em um novo estágio da Internet. As ferramentas CMS incluem recursos que permitem o gerenciamento de conteúdos, vindos de todas as fontes e formas possíveis, com múltiplos esquemas de tratamento e fluxos de trabalho, podendo ser customizados e integrados, facilitando o uso de novos mecanismos de consultas e permitindo publicações nos mais diferenciados dispositivos. Os benefícios ligados a adoção de um CMS incluem desde a redução do custo de atualização dos conteúdos nos websites até o aumento da eficiência das equipes de TI. Como contribuição o artigo descreve benefícios ligados a adoção de um CMS pelas empresas que incluem desde a redução de custo de manutenção de websites até um aumento dos canais de publicação dos conteúdos, trazendo aumento de clientes e de negócios. Apresenta também os desafios associados que são a definição e padronização de regras para organizar informações em “repositórios” e a necessidade de se disponibilizar esse conteúdo informacional de forma padronizada, mas customizada para cada cliente e tipo de canal de comunicação. Considerando os benefícios advindos da possibilidade de criação, distribuição e a publicação de conteúdos de forma mais ágil, mais barata e confiável, espera-se que a Gestão de Conteúdos seja implementada nas corporações nos próximos anos através da adoção de alguma ferramenta CMS e de uma mudança comportamental que torne possível o uso desses novos recursos. Palavras-chave: Portais Corporativos, Gestão de Conteúdos, Content Management, Gestão de Informações, Zope Revista Gestão & Tecnologia, Pedro Leopoldo, v. 1, n. 1, p. , jan./jul. 2002. INTRODUCTION TO CONTENT MANAGEMENT. The article describes the Content Management in Web environment using a compilation of several related texts. It characterizes the CM systems, showing the main tools available and discussing the benefits and risks associated to its implementation. In order to fix the ideas, it joins elements do justify the investment in a CM solution. After the introduction, it proposes a distinction between information, knowledge and content, and suggests that the CM may permit the “Knowlegde Management” in practice. It characterizes the CM tools called CMS and shows the advantages and benefits brought by its implementation into the companies. It also shows an evaluation that permits to calculate the return of the investment (ROI) in a solution of the sort. To follow the Internet evolution as an internal or external communication channel – of relationship of clients, suppliers and partners – the companies need to invest in technologies that permit the distribution and publishing of information in a quick, safe and reliable way. Associated to this evolution, comes the sophistication of the information that must be online, in web pages with images, figures, films and so forth. Changing the way to create and keep web pages, tools called CMS – Content Management Systems – are being created to provide the aspects related above, required by the information treatment in a new stage of the Internet. The CMS tools have resources that permit the content management and these contents may come from different sources and may have different shapes, workflows and treatment schemes. They may be customized and integrated, making easy the use of new mechanisms of querying and permitting the publishing into different equipments like celulars and palms. The benefits brought by the adoption of CMS systems include the reduction of content update costs, the increase of the effectiveness of IT team and the growing of the channels of content publishing. Therefore, it brings new clients and business. Finally, the article shows the challenges such as the stablishment and the standardization of rules to organize contents into repository. Also, the necessity to offer these contents into a standard way, but customized to each client and communication channel. Considering the benefits brought to the possibility of creation, distribution and publishing of contents in a quick, cheap and reliable way, it is expected that the CM may be implemented into the companies in the next years, through the adoption of some CMS tool and behavior change that allow the use of these new resources. Keywords: : Corporated Portals; Content Management; Knowledge Management; Zope . INTRODUÇÃO O único tipo de conteúdo que existia até pouco tempo nas intranets das empresas em geral eram páginas HTML estáticas, gerenciadas por um webmaster que realizava alterações manuais sempre que necessário. Porém, hoje, os usuários é que ditam quais serão os conteúdos que serão disponibilizados e os tipos destes conteúdos variam muito. Os conteúdos passaram a se originar de fontes diversas, de tipos diversos, e a serem destinados a múltiplos dispositivos. As páginas HTML estáticas necessitavam de um webmaster e mais ninguém para mantê-las atualizadas no site, uma de cada vez, gerando um gasto de tempo considerável. Hoje, com a maioria dos sites dinâmicos, personalizados, com o conteúdo sendo atualizado diariamente e o grande número de autores produzindo informações dos mais variados tipos, a gerência do conteúdo alterou-se para uma esfera completamente diferente. As empresas passaram a contar com mais um canal de distribuição de informações para funcionários, clientes, fornecedores e todos os que se relacionam com as mesmas. Passou a ser possível disponibilizar, para toda essa gama de interessados, conteúdos que se sofisticam e crescem em complexidade a cada dia, integrando formatos mais convencionais (textos e figuras) e sons, vídeos, filmes, etc. Neste novo cenário, as empresas passaram a necessitar de ferramentas que permitam cuidar de seu conteúdo informacional de forma ágil. Segundo CONTENT MANAGEMENT [2001], “Conteúdo é, em essência, qualquer tipo ou unidade de informação digital que é utilizada nas páginas dos websites. Ele pode ser texto, imagem, gráficos, vídeo, som ou, em outras palavras, qualquer coisa que é possível de ser publicada em uma intra, inter ou extranet”. A Gestão de Conteúdos, ou “Content Management” apoia organizações na captação, organização e distribuição de conteúdos originários de várias fontes e destinados a diversos tipos de dispositivos de saída. Este artigo descreve a gestão de conteúdos em ambiente web, a partir do estudo de textos básicos e de informações obtidas em trabalhos relacionados. O artigo se estrutura como segue: a próxima Seção estabelece uma diferenciação entre informação, conhecimento e conteúdo, sugerindo que a Gestão de Conteúdos permite a Gestão do Conhecimento na prática organizacional. A Seção 3 caracteriza as ferramentas de Gestão de Conteúdos e apresenta vantagens e benefícios advindos de sua implementação nas organizações. Na Seção 4 apresenta-se uma avaliação que permite determinar os retornos sobre investimentos nesse tipo de tecnologia. A Seção 5 conclui fazendo algumas considerações finais. CONHECIMENTO, CONTEÚDO E INFORMAÇÃO Antes de abordar diretamente a Gestão de Conteúdos, é conveniente situá-la de um ponto de vista mais amplo, que permita enxergá-la como nova tecnologia dentro de um conjunto de estudos conhecido como Gestão do Conhecimento. Inicialmente, vejamos uma diferenciação entre os conceitos de informação, conhecimento e conteúdo. Segundo LEMOS [2001], “Conhecimento sempre significa algum tipo de agregação, algum tipo de adição de valor à informação existente. Um livro numa estante não tem valor até o momento em que alguém se dispõe a lê-lo, a transformar o amontoado de informação que o livro possui”. Ainda segundo LEMOS [2001], “talvez o termo conteúdo esteja mais próximo da idéia de conhecimento que a palavra informação”. Vale notar que, citando o mesmo autor, “o conteúdo de um website é um conjunto de informações, mas não de qualquer informação. Conteúdo tem um juízo de valor embutido, significa que a informação que o website oferece deve ter coerência, fundamentação, esforço intelectual e operacional dos profissionais que nele trabalham e que agregaram algum tipo de valor à informação”. O conhecimento, conforme CRUZ [2002], pode ser conceituado como “o entendimento obtido por meio da inferência realizada no contato com dados e informações que traduzam a essência de qualquer elemento. Em outras palavras, conhecimento é saber o quê é e porque é”. Segundo este mesmo autor, “a Gerência do Conhecimento, ou Knowledge Management (KM), é um conjunto formado por metodologias e tecnologias que têm por finalidade criar condições para identificar, integrar, capturar, recuperar e compartilhar conhecimento existente em qualquer tipo de organização”. Pode-se verificar que conhecimento, desse ponto de vista, pressupõe agregar valor através de um processo de transformação realizado sobre dados e informações. Nessa mesma linha, pode-se afirmar que “conteúdo não é conhecimento, mas pode vir a ser! Conteúdo é tudo que podemos gerenciar em termos de dados e informações e não necessariamente conhecimento” (CRUZ, [2002]). Na opinião de CRUZ [2002], as organizações precisam definir de forma clara e consistente o conhecimento que precisa ser considerado nos âmbitos operacional, estratégico, e emocional. Esses âmbitos se refletem nos componentes da Gerência do Conhecimento, que são comportamentais, informacionais e tecnológicos. Quando o conteúdo não tem ligação direta com a estratégia de negócios da corporação, ele pode ser classificado apenas como informação. Ao contrário, ao agregarmos valor à informação ou ao conteúdo, ele pode se tornar conhecimento. Nesse sentido, as ferramentas de CMS ou Gestão de Conteúdos, permitem operacionalizar a Gestão do Conhecimento, fornecendo os mecanismos efetivos de gerenciamento dos conteúdos dos websites para organizações de todo tipo. Finalmente, segundo CRUZ [2002], “no futuro, essas ferramentas terão capacidade de aprender também e espera-se que até lá já tenhamos aprendido como gerenciar conhecimento”. De forma sucinta, pode-se afirmar que as ferramentas de Gestão de Conteúdos são hoje as tecnologias que permitem a implementação da Gestão do Conhecimento na prática das organizações. A GESTÃO DE CONTEÚDOS Portais corporativos O Portal Corporativo é o elemento central para a Gestão de Conteúdos. Existe uma distinção entre os conceitos de site, home-page, portal, etc, principalmente em relação ao tamanho dos mesmos. O termo home-page foi o primeiro a ser utilizado na Web, no início dos anos 90. Através de homepages as pessoas (pesquisadores em universidades) disponibilizavam suas informações em documentos HTML, em geral, com fins pessoais. Um site, ou website, é um conjunto de documentos em linguagem HTML e outras linguagens de scripts, e um portal seria um conjunto maior de sites. O site, que anteriormente era encarado como apenas mais um canal de divulgação das organizações, com conteúdos meramente institucionais, sem atualizações sistemáticas e periódicas, tornou-se, no formato de portal corporativo, chave para a implementação da Gestão do Conhecimento nas organizações. Todo o conteúdo que será gerenciado pelas ferramentas CMS estará disponibilizado, através do portal, para empregados, clientes, parceiros e comunidade em geral. A relação entre a Gestão de Conteúdos e os portais corporativos permite estabelecer requisitos fundamentais que garantem a eficiência na sua implementação em uma organização. Alguns autores se esforçam em classificar os portais por tipos, de acordo com seu conteúdo e funcionalidades. Em geral tais classificações parecem quase sempre arbitrárias. Segundo CRUZ [2002], há cinco tipos de portais, vejamos os dois principais: – Portal Generalista ou Portal Horizontal. Caracteriza-se por possuir um grande volume de informações coletadas nas mais variadas fontes visando ao atendimento do maior número possível de interesses e necessidades. – Portal Vertical ou Vortal. Criar cadeias produtivas verticalizadas por tipos de indústria, podendo conter informações sobre os sistemas de produção, com seus diversos processos, desde a obtenção da matéria prima até o produto final. Hoje as empresas têm que lidar com uma grande quantidade de conteúdos. São informações geradas pelos diferentes departamentos, informações de pesquisa e desenvolvimento, procedimentos técnicos e gerenciais, políticas corporativas, catálogos de produtos e apresentações, press releases, etc. No apoio à implantação da Gestão do Conhecimento, os Sistemas de Gestão de Conteúdos permitem a criação de portais consistentes em apresentação e conteúdo, com navegação bem planejada, que permite aos autores a possibilidade de compartilhar conhecimento de forma segura e que garante ao usuário atualidade dos conteúdos. UM MERCADO EM EXPANSÃO Segundo pesquisa da ATKERNEY, citada por ANGULO [2001], a quantidade de páginas web publicadas passará de 5 bilhões em 2000 para 40 bilhões em 2003. A Forrester, em pesquisa feita junto a executivos de sites nos Estados Unidos, aponta que 80% deles irá crescer nos próximos anos, confirmando a previsão de expansão da ATKERNEY. Esta última consultoria estima que 750 milhões de dólares teriam sido desperdiçados em 2001 com ineficiências relacionadas ao atual processo de publicação web. Esse crescimento veloz e a constatação dos custos de manutenção de um website estático, têm levado organizações a investirem nos chamados CMS ou WCM – Content Management Systems ou Web Content Management. As estimativas de investimentos são da ordem de 1,75 bilhões de dólares em 2002, até 3 bilhões de dólares em 2003 (PERRY, [2001]). SISTEMAS DE GESTÃO DE CONTEÚDOS (CMS) A idéia básica por trás de um CMS é a de separar o gerenciamento do conteúdo do design gráfico das páginas que apresentam o conteúdo. O design das páginas que apresentam os conteúdos são colocados em arquivos chamados moldes (templates), enquanto o conteúdo é armazenado em banco de dados ou arquivos separados. Quando um usuário solicita uma página, as partes são combinadas para produzirem a página HTML padrão. A página resultante pode incluir conteúdos de diferentes fontes. De acordo com PERRY e INFOIMAGEM [2001], o processo de gestão de conteúdos, se divide em três etapas básicas: a criação, a gestão e a publicação. O CMS deve permitir que os próprios colaboradores, no papel de autores, criem seus conteúdos sem necessidade de intermediários, utilizando os diversos programas disponíveis. Em seguida, estes conteúdos são armazenados em repositórios centralizados para serem tratados (gerenciados, padronizados, formatados e publicados no website) através do CMS. O CMS deve gerir também as revisões, atualizações e o controle de acesso, garantindo confiabilidade ao que será publicado e segurança quanto à propriedade e a autoria dos conteúdos. Um aspecto importante do CMS é a possibilidade de serem configurados processos simples de controle de fluxos de trabalho, para distribuição dos conteúdos nos canais de comunicação. Ao gerenciar a forma como os conteúdos são publicados, o CMS estabelece fluxos padronizados de trabalho, que definem os ciclos de vida desses conteúdos. Por exemplo, a empresa que anuncia seus produtos na web deverá retirar do site as promoções quando os estoques terminarem, sob pena de se obrigar a continuar vendendo aqueles produtos por preços indevidos. A inclusão dos conteúdos é controlada pelo uso de marcas (tags) especiais. Estas marcas são em geral proprietárias e exclusivas do CMS usado. Em geral há suporte por linguagens tipo Python, Perl, ou Java para operações mais complexas. Um bom CMS deve tornar possível time ou colaborarem adicionar, editar e deletar conteúdos. Algumas das funcionalidades básicas cobertas são: esquemas de segurança baseados em papeis, sindicalização de conteúdo, suporte à criação de catálogos, indexação, busca e workflow. ALGUMAS FERRAMENTAS DISPONÍVEIS O termo CMS é usado por uma larga variedade de produtos, produtos comerciais como Vignette e Websphere ou produtos gratuitos como Zope e AOLServer. Tais produtos apresentam uma grande variedade de capacidades, más tendem a incluir os seguintes três componentes básicos: Templates de Documentos Uma linguagem de marcação e/ou de scripting Integração com uma base de dados Um incontável número de sistemas e plataformas se anunciam como CMS. CRUZ [2002] os classifica em “ferramentas generalistas” e “ferramentas especialistas”. As primeiras servem para coletar, organizar, publicar vários tipos de conteúdos e conhecimentos, permitindo a implantação da Gestão de Conteúdos e de Conhecimento da forma mais abrangente possível. Já as ferramentas especialistas dedicam-se a certos tipos de conteúdos e conhecimentos, como, por exemplo, o gerenciamento de mídias, de redes de computadores e de processos de negócio. A título meramente informativo e ilustrativo, aponta-se, a seguir, alguns desses sistemas. Zope, uma plataforma de código aberto O Zope é um servidor de aplicações1 construído por um conjunto de componentes que se integram em torno de um servidor web, um banco de dados e um interpretador que suporta a linguagem Python e scripts que podem ser embebidos em páginas HTML. Zope é escrito em sua maior parte em Python, mas suporta também Perl e uma linguagem de script específica denominada Document Template Markup Language (DTML). As funcionalidades do Zope podem ser oferecidas, tanto através do seu próprio serviço web, quanto como um processo CGI no Apache, IIS, ou outro servidor web. Isso é um aspecto positivo porque permite que websites pré-existentes possam continuar rodando em outros servidores já instalados que não o servidor web do Zope. Zope parece ser o servidor de aplicações de código aberto mais referenciado hoje.. Em Zope a atualização, manutenção e administração dos conteúdos nos websites podem ser feitas pela própria web com o navegador, através de uma interface similar a de um gerenciador de arquivos. A maior parte da interação feita com o Zope é realizada através dessa interface completamente baseada na Web. É possível configurar permissões de usuários dando a pessoas níveis de controle diferentes de administração de diferentes seções do site. Nesta interface estão também presentes os controles para se adicionar, deletar, editar páginas, imagens e outros objetos de forma bastante simples. Há também a possibilidade de desfazer (undo) qualquer ação que tenha sido realizada. Talvez a maior força do Zope seja o fato de tratar páginas web, banco de dados, imagens e quaisquer outros componentes como objetos que podem ser referenciados e reutilizados em todo o site. Zope adota de ponta-a-ponta o conceito de orientação a objetos, utilizando-o de forma a simplificar a gerência de conteúdos. Em Zope as informações são transformadas em objetos, podendo ser dotadas de propriedades e métodos (funções). As noções de modularização, herança e polimorfismo estão presentes. Exatamente como nas linguagens de programação de computadores, a orientação a objetos traz, também para a gestão de conteúdos, maior facilidade ao processo de modelagem de dados e informações, além de maior facilidade de evolução e manutenção dos itens informacionais no portal. Existe uma variedade enorme de componentes disponíveis desenvolvidos e oferecidos por terceiros no site da comunidade Zope em www.zope.org. Uma vez que os componentes tenham sido baixados e instalados localmente, estes ficam à disposição dos usuários que para utiliza-los simplesmente os adicionam em suas páginas. Outras plataformas proprietárias Vários outras plataformas proprietárias existem hoje no mercado, para citar apenas algumas: - Documentum, Filenet, Guass, Identitech, Intertech, Lotus Notes – Sistemas de gestão de documentos que começam a oferecer gestão de conteúdos e cujo ponto forte é a existência do “repositório” e na facilidade de acesso. - Broadvision, Intranet Solutions, Eprise, Vignette, Microsoft Content Management Server – criação, administração, manutenção e publicação de websites – foco especializado na publicação. - Bentley E-Image – focado nas necessidades especiais da gestão de conteúdos ligados à Engenharia, incluindo suporte a documentos complexos e grandes formatos. 1 Plataforma de software para construção e gerenciamento de aplicações web dinâmicas. - J.D. Edwards Content Manager – Utiliza o Microsoft Office para gerir e reutilizar documentos nas empresas, permitindo o compartilhamento de componentes de conteúdo em múltiplos formatos, facilitando o desenvolvimento e a publicação de novos conteúdos. BENEFÍCIOS DE UM CMS Um CMS oferece benefícios para ambos administradores e autores. Talvez o maior deles é a possibilidade de usar templates e elementos comuns de design que asseguram a consistência de apresentação do site como um todo. A responsabilidade pela aparência das páginas web é retirada dos autores e centralizada. Isso simplifica a manutenção do site. Autores incorporam os templates em seus documentos adicionando uma pequena quantidade de código extra. Assim eles podem se concentrar no conteúdo ao invés de terem que se preocupar também com a apresentação. Para alterar a aparência do site, os administradores precisam apenas modificar os templates e não cada uma das páginas individualmente. Um CMS simplifica também a delegação de responsabilidades pela provisão e manutenção do conteúdo do portal. Um CMS possibilita, em geral, níveis diferentes de acesso serem configurados para separar áreas do portal sem que o responsável pela configuração tenha que descer ao nível de controle de permissão do sistema operacional. Em geral essa operação pode ser feita através da interface do navegador. Funcionalidades extras, tais como mecanismos de busca, calendários, webmail, e outros componentes podem ser construídos no próprio ambiente, ou disponibilizados por terceiros como plug-ins. A provisão de funcionalidades economiza tempo que seria normalmente gasto no desenvolvimento ou tentativa de integrar tais componentes. CMS’s mais avançados oferecem benefícios adicionais de segurança, ferramentas de gerenciamento, facilitam a interação com a base de dados, além de ferramentas de indexação e catálogo. Estes benefícios reduzem o tempo de desenvolvimento de outros componentes do portal e garantem a sua evolução. PORQUE USAR UM CMS A implantação de um CMS ajuda as empresas a: padronizar as estruturas de conteúdo e manutenção do controle de apresentação e uso da marca em toda a organização; aumentar a eficiência das equipes: usuários (autores) publicam suas informações e técnicos (administradores) cuidam da infra-estrutura; agregar valor aos conteúdos web à partir do estabelecimento de fluxos de trabalho com processo de aprovação padronizado; reduzir custos de atualização de seus conteúdos e aumentar a velocidade e freqüência da publicação de novas informações; reduzir custos de criação/manutenção/evolução disponibilizando componentes préfabricados e processos pré-automatizados. Além disso, ao permitir que os próprios autores façam, de forma adequada e segura, a atualização de seus conteúdos, diminui-se a carga de trabalho da equipe de TI. Segundo MICROSOFT [2001], inúmeros custos relacionados à manutenção dos portais podem ser reduzidos com o uso de CMS, para citar alguns: Criação de conteúdos originais e conversão desses originais em conteúdo apropriado para publicação web; Revisão prévia do conteúdo antes da publicação; Correções relacionadas à publicações incorretas ou inadequadas, como preços errados ou falta de apoio para navegação ou para obtenção de novas informações; Desatualização dos conteúdos, prejudicando a tomada de decisões; Tempo gasto para filtragem de conteúdos irrelevantes, fazendo com que os clientes abandonem o portal; Falta de uma padronização no uso da marca e do estilo da organização; Manutenção geral do sistema, incluindo o gerenciamento da segurança, da escalabilidade e da política de direitos de usuários e regras de uso; Atualização das aplicações Web em todas as partes das organizações; Pode-se dizer que a chave para obtenção de retorno sobre o investimento em ferramentas para gestão de conteúdos inclui escolher a ferramenta adequada para as necessidades do negócio e assegurar-se da rápida implementação e desenvolvimento da ferramenta selecionada e adquirida. Para isso, o CMS deve ser de fácil assimilação e deve permitir às equipes de colaboração o seu rápido aprendizado. VALE A PENA INVESTIR EM GESTÃO DE CONTEÚDOS? Para se avaliar o retorno sobre o investimento em um CMS, as organizações devem avaliar as melhorias que podem ser fornecidas pelo sistema, discriminando todos os fatores possíveis, como tempo de resposta, atualização das informações e todos os demais parâmetros cuja melhoria representa ganho para a organização como um todo. Em seguida, a organização deve avaliar a chance de o sistema ser realmente adotado e utilizado. A idéia é apurar todos os ganhos trazidos pelo CMS, do ponto de vista operacional e estratégico, nos processos das organizações e compará-los com o custo do investimento, o qual leva em consideração, não apenas a compra da ferramenta, mas também os custos de treinamento de pessoal, o planejamento para implantação e a implementação em si. Assim, segundo MICROSOFT [2001], o retorno sobre o investimento em um CMS poderia ser definido como a soma das economias de custos (EC), do aumento do valor dos conteúdos (AVC) e da inovação (I), multiplicada pela probabilidade de adoção do CMS (PA): Retorno = ( EC + AVC + I ) * PA Onde, Economia de custos (EC) = padronização + utilização de recursos + custo de atualização + tempo de recuperação Aumento valor dos conteúdos (AVC) = valor da mensagem * relevância * oportunidade * precisão * flexibilidade + exposição da marca Inovação (I) = flexibilidade da ferramenta de desenvolvimento + compatibilidade para integração * redução do tempo para distribuição Probabilidade de adoção (PA) = compatibilidade da TI * flexibilidade para vários tipos de negócios / usuários * escalabilidade Investimento = número de usuários * (mudanças de processos + custos de treinamento ) + custo do sistema CMS + custo do projeto de implementação CONCLUSÕES A Gestão de Conteúdos é uma abordagem tecnológica que surge em função da explosão de conteúdos multimídia na web e em intranets e visa permitir a gerência de todas as etapas, desde a criação até a publicação de conteúdos, de forma padronizada, trazendo redução de custos e facilitando o intercâmbio de conteúdos entre portais. Há uma série de benefícios e desafios ligados a adoção de um CMS pelas empresas. Os benefícios incluem a redução de custos de manutenção de portais e o aumento dos canais de publicação dos conteúdos, trazendo clientes e negócios. Os desafios vão desde a definição e padronização de regras para colocação de informações em “repositórios” bem como no estabelecimento de possibilidades de consultas até a necessidade de se disponibilizar o conteúdo informacional de forma customizada para cada cliente e tipo de canal de publicação. Os aspectos mais importantes da Gestão de Conteúdos podem ser agrupados nas categorias técnica e comportamental. Do ponto de vista técnico, pode-se dizer que a Gestão de Conteúdos é uma tecnologia emergente que será utilizada pela maioria das corporações para dar conta do volume de informações e dados que precisarão ser contextualizados e compartilhados através dos mais diferentes dispositivos. Do ponto de vista comportamental ou cultural, ao abraçar todos os processos das organizações, disponibilizar seu “conhecimento” para os parceiros, incluir aspectos de gestão de documentos e de processos de trabalho, a Gestão de Conteúdos sugere uma mudança cultural profunda. Sem ela, toda a tecnologia não convergirá num conjunto que possa funcionar de forma integrada. Assim a implementação e os benefícios da Gestão de Conteúdos estão intimamente ligados ao aspecto humano, o que faz com que todo o planejamento estratégico da Gestão de Conteúdos não possa prescindir da mudança de comportamento das pessoas, criando um ambiente propício para o desenvolvimento, compartilhamento e uso de conhecimento dentro da organização. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANGULO, Marcelo Junqueira. Porque gerenciar conteúdos. <http://www.hiperlogica.com.br> Acesso em: 18 mar. 2002. 2002. Disponível em: CONTENT MANAGEMENT. 2001. Disponível em <http://www.contentmanager.eu.com> Acesso em: 18 mar. 2002. CRUZ, Tadeu. 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