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NÚMERO 3/4 ANO 2010 DIRECÇÃO NOTIZIE: Jorge Arévalo + Pablo Torres. DIRECÇÃO DE ARTE: Jorge Arévalo. CORDENAÇÃO E MODA: Ana Moya EDIÇÃO: Fedrigoni España e Entreplanta Comunicación CONSELHO DE REDACÇÃO: Roberto Mancini / Nino Murcia / Sylvia García CORDENAÇÃO PORTUGAL: Ana Isabel Antão. NOTIZIE MAGAZINE / Antonio Maura 8, 28014 Madrid www.notiziemagazine.com / [email protected] Publicidade: (+34 91 522 59 50). Depósito legal: B-40137-2009 Capa, Fedrigoni Sirio Pearl Merida White de 220g. Interior, Fedrigoni Marcate Nettuno Pesca de 140g e Oikos Extra White de 150g. Os anos SETENTA nunca terminaram. Outras décadas caducam, mas esses anos entre 70 e 79 regressam com incómoda frequência às tendências. Talvez seja porque foram tempos especialmente criativos, livres e desenfadados (com as manifestações hippies e o Maio francês), que contrastavam com a elegância sóbria e aborrecida dos anos sessenta. Ou apenas porque em comparação com os terríveis anos oitenta qualquer outra época parece melhor. Muitos de nós não os vivemos, mas aprendemos a reconhecê-los quando os vemos chegar camuflados numa nova moda, tendência ou movimento. Não importa que se disfarcem com cabeleiras revoltas e patilhas compridas, de rock progressivo ou óculos de massa, de revivals de drogas ou papéis pintados na parede, de calças à boca-desino ou objectos de decoração de plástico brilhante. Por isso, neste número de NOTIZIE, com a simpática capa do BROSMIND STUDIO, queremos levar-vos a passear por alguns dos nossos favoritos dessa década e, de passagem, revelar-vos outras coisas que os levam escondidos lá dentro. O Outono tem também a feia mania de voltar todos os anos e, por isso, a Fedrigoni escolheu para este número uma selecção de papéis apropriados para a estação, quentes ao tacto e, sobretudo, muito naturais: Sirio Pearl Merida, Marcate Nettuno Pesca e o novo Oikos Extra White. Uma pequena homenagem da Fedrigoni a todos os movimentos ecologistas que nasceram na década que nos ocupa: produzidos com fibras recicladas e com a certificação FSC. Saboreie a revista. Nós ficaremos vigilantes, à espera do próximo regresso dos anos setenta. Ci vediamo a Natale! 3 BROSMIND 8 MILTON GLASER 10 JAYRO LANTIGUA 12 DAVID MANN 14 SHINYA KIMURA 16 SWINGING LONDON 24 GAINSBOURG & BIRKIN 28 CELENTANO 30 LO SIENTO A NOSSA CAPA BROSMIND Desenhando a quatro mãos Os 70’ por Brosmind. Entrar uma noite nas cabeças dos irmãos Mingarro enquanto dormem (porque seguramente partilham sonhos) deve ser um autêntico cocktail de anos setenta. Uma viagem psicotrópica por um mundo de cores, curvas e delicadezas, abarrotado de protagonistas lisérgicos mas amigáveis. E tudo num ambiente tão festivo e simpático que não quererá que acordem, para poder ficar ali dentro. A partir do seu estúdio Brosmind em Barcelona, estes dois irmãos ganham há quatro anos todos os prémios imagináveis (Leões, Laus, El Sol, etc.), reclamados como ilustradores pelas principais agências do mundo e referenciados por Taschen ou Luerzers Archive. Para lá do seu particular imaginário popular e do seu estilo de traço claro e humorista, a sua melhor qualidade é a de conseguirem encher de desenfado e humor as mensagens de qualquer cliente, por muito sérias que pareçam, para que nos afeiçoemos e aproximemos. FotografIa: Meritxell Arjalaguer. Buon giorno, fratelli Mingarro! 03 BROSMIND A primeira pergunta típica que vos fazem sempre é como lidam com isso de serem irmãos e par criativo. E respondem sempre que é só vantagens. Algum inconveniente devem ter, não? Para nós é perfeito. De facto, não nos importávamos de ter um terceiro irmão para nos ajudar. Outra das perguntas que normalmente ouvem: Como é que se organizam durante o processo criativo? Quem é que segura o prego e quem é que dá a martelada? Tomamos sempre em conjunto todas as decisões criativas. Depois, no momento da execução, também fazemos os dois o esboço a lápis. Nesta parte do processo, a folha de papel vai passando indistintamente de um para o outro. Só dividimos o trabalho quando já decidimos que o esboço a lápis está perfeito. Nessa altura, o Juan passa o desenho a tinta e o Alejandro digitalizao e pinta-o no computador. O optimismo e humor das vossas ilustrações representam a atitude que têm perante a vida? Não é uma atitude que adoptemos conscientemente... suponho que essa é a nossa maneira de ser, que se reflecte de forma natural no nosso trabalho. Transmitem a invejável impressão de que se divertem e apreciam muito o que fazem. Digam-nos que é mentira, por favor. A verdade é que adoramos o que fazemos …excepto quando temos que trabalhar durante toda a noite, ou quando o cliente pede alterações de última hora, ou quando tentam regatear um orçamento, ou quando ficamos sem folhas… Nesta edição de Notizie metemo-nos em cheio nos anos setenta. Há algum tópico dessa época pelo qual tenham um carinho especial? A verdade é que não somos grandes peritos nessa década… gostamos mais dos anos oitenta. No que se refere à ilustração ou à arte, têm algum favorito desses anos que vos tenha influenciado? Muitos dos autores que consideramos influências no nosso trabalho já publicavam nos anos setenta, embora tenham continuado (ou continuam) a trabalhar e não se identificam exclusivamente com essa década. Sobretudo são influências que vêm do mundo das bandas desenhadas publicadas nesses anos, de autores espanhóis como Ibáñez, Raf, Jan, Miguel Calatayud, Escobar, os irmãos Fresno… europeus como Herge, Uderzo, Franquin… ou americanos como Robert Crumb e, claro qualquer banda desenhada de super heróis. Regressemos ao futuro: gente do panorama nacional espanhol que vos pareça especialmente interessante? Alex Trochut, Hey Studio, Home de Caramel… Que tal foi a experiência da Brosmind Army? Estão a gostar mais dos projectos de estúdio do que da ilustração comercial? Foi uma experiência muito enriquecedora, onde pudemos expandir a nossa criatividade para além das duas dimensões e que nos permitiu conhecer como funciona o processo da cerâmica. Como criativos, é lógico que preferimos um projecto pessoal a um comercial e adoraríamos poder viver apenas da nossa vertente mais artística. Temos sorte porque os nossos clientes nos dão muita liberdade na elaboração dos projectos, mas, apesar disso, na ilustração comercial há sem- pre alguns requisitos aos quais nos temos que adaptar. Ao contrário, nos nossos projectos pessoais podemos fazer o que queremos, é muito mais gratificante e é quase uma obrigação para os dois. Uma pergunta obrigatória na Notizie: Como é a vossa relação com o papel como base para as vossas ilustrações? Embora o resultado final das nossas ilustrações seja habitualmente um ficheiro digital, ainda temos um vínculo importante com o papel na fase do esboço e de pintura. Para o lápis usamos folhas offset normais, e para a pintura usamos papéis acetinados especiais para tinta. Conservamos estes originais a tinta como relíquias, até que algum dia nos atrevamos a vendê-los. Refiram-nos um par de trabalhos pelos quais estejam especialmente orgulhosos. Há dois trabalhos que tiveram muito significado, pois foram pontos de viragem na nossa carreira. Um é o The Power of Dreams para a HONDA (Agencia Villarrosas). Foi um dos nossos primeiros trabalhos e durante a sua realização consolidaram-se as bases daquilo que viria a ser o estilo BROSMIND. Além disso, foi premiado em Cannes e colocou o nosso estúdio na mira de agências de todo o mundo. O outro, For all the Headaches Along the way para a EXCEDRIN. Foi o nosso primeiro trabalho para os Estados Unidos (Agência Saatchi & Saatchi NY) e um dos mais complexos que já fizemos. Projectos futuros? Temos vários projectos em mente. Haverá ilustrações, esculturas... Stay tuned! 04 Gi Da US Gig Poster David Gray & Ray Lamontagne, USA 2010 Brosmind RV: carro a pedais construído com quadros / Projecto pessoal. Fotografias: Meritxell Arjalaguer. Espanha 2010. Gig Poster Dave Matthews Band, USA 2009 Fedrigoni España Caricaturas para comunicações online Espanha 2010. Meatman Capa para a revista. Cliente: Étapes. Espanha 2008. Brosmind Army Série limitada de esculturas de cerâmica. Projecto pessoal. Fotografias: Meritxell Arjalaguer. España 2010. 05 COLABORADORES ilustradora NATALIA MIRAPEIX Natalia (ou Ene13, que é como se esconde no 2.0) tem, apesar da sua insultuosa juventude, uma grande bagagem adquirida como directora de arte em estúdios e agências de Madrid. A sua cabeça está cheia de traços e aguarelas e papelitos recortados. Ilustrou alguns poemários, desenha capas para netlabels e colabora periodicamente com revistas como a Yorokobu, a Neo2 ou a Fanzine Fetiche. E agora para a Notizie Magazine. Vai trabalhar para Pequim durante um ano, mas podem acompanhá-la em www.ene13.net. designer de interiores “PATRI” FERNÁNDEZ CASTRO A designer de interiores Patricia Fernández Castro, depois do seu êxito profissional no mundo da decoração na sua Pontevedra natal, com as lojas ”La Moderna“ e “La Antigua”, abriu um novo espaço em Madrid. IN DIETRO, em pleno bairro de Salamanca, tornou-se na loja de decoração de referência da cidade em menos de um ano. Na IN DIETRO podem comprar-se artigos para oferta, móveis, velas, candeeiros ou pode solicitar-se a realização de projectos de obras. Também se pode encontrar uma infinidade de telas e papéis das melhores marcas estrangeiras. designer e consultor de marca SERGIO GUTIÉRREZ O Sergio tem fome. Quando o design não sacia a sua curiosidade, Sergio reparte as suas energias como professor de Fashion Marketing Communications na Universidade de Barcelona, escrevendo (como neste número) e ajudando os seus clientes a potenciarem os seus negócios através de projectos de inovação baseados na marca. É todo vosso através do endereço de email [email protected] ORRES estilista ELENA TORRES Elena acaba de regressar de New York com baús cheios de roupa para encher a sua nova loja, a BLUMA, no Paseo de la Habana de Madrid, caracterizada pelas suas colecções eclécticas e muito pessoais. Além disso, Elena desenha a sua própria colecção de roupa. Para a sessão de fotografias “Swinging London”, emprestou-nos algumas peças da colecção de bijutaria. 06 OLDSCHOOL SKATE No Verão de 76, a seca na Califórnia lança a miudagem para as piscinas vazias com os seus skates. As novas rodas de poliuretano têm maior aderência e são mais rápidas. As pranchas de polipropileno são mais flexíveis e largas. Começam a personaliza-las com pinturas e motivos gráficos. E tudo isso permite que os miúdos inventem truques cada vez mais vistosos e arriscados. Aparece o skate vertical, uma nova forma de patinar muito mais espectacular, rápida e agressiva. . Estilo..ONI IG FEDR ow Plain R Savile rk Grey. Da lixa” “Pura O skate deixa de ser apenas um desporto em decadência para se converter num movimento contracultural e estético que arrasa. Os Z-BOYS de Alva e Peralta, Bruce Logan, Bobby Piercy, Kevin Reed: os skaters tornam-se estrelas e convertemse noutro dos símbolos inegáveis da década. O ilustrador Jorge Arévalo personaliza para a NOTIZIE MAGAZINE a sua própria prancha, uma Sector 9 longa para surfar nos passeios, com rodas Tunel moles, de 75 e com eixos especialmente largos. Uma combinação de peças pouco purista que junta as cores italianas com os motivos de Rock Psicadélico dos Anos Setenta faz deste skate uma obra de arte. 07 FROM MILTON WITH LOVE Sergio Gutiérrez Se o termo “castiço” se pudesse aplicar a um newyorker, essa seria a definição perfeita de Milton Glaser, o designer nascido em 1929 e criado nas ruas (de perigosas tendências comunistas) de Little Moscow no Bronx. Mas o que mais liga Glaser à cidade que o viu trabalhar durante 50 anos, é a criação de um ícone que, indiscutivelmente, se converteu no principal símbolo da urbe, mais do que inclusivamente os quiosques de pretzels ou o vapor saindo das condutas. O seu I LOVE NEW YORK teve tanto impacto cultural (basta dar-se uma volta por qualquer cidade do mundo para o comprovar) que passou a ser também seu sinónimo. No princípio, esta sincera declaração de amor escrita numa American Typewriter iria ser um trabalho menor (do ponto de vista "artístico"), uma campanha de meados dos anos 70 para levantar o turismo e a moral dos habitantes de uma cidade que nessa altura sofria uma grande degradação estética e civil. No entanto, acabou por ensombrar outros feitos mais importantes da sua carreira, como a criação do New York Magazine em 1968 ou de uma das imagens míticas da pop nos anos setenta, o Dylan de cabelo multicolor devido aos efeitos da psicodelia e dos lisérgicos. Glaser também teve impacto na profissão trabalhando a partir de dentro: representa essas pessoas suficientemente generosas para dedicarem parte de seu tempo a formar novos designers, para que entendam a sua posição e o seu valor no contexto da sociedade. No seu caso, o seu nome está ligado à School of Visual Arts de forma muito íntima, onde ainda participa em workshops dedicados a estudar o impacto social do design. Entrando no seu perfil mais pessoal, e nas palavras do antigo Director 08 Adjunto de Arte da Vanguardia, Carlos Pérez de Rozas, Milton Glaser é, sobretudo, alguém “entranhável”. No mesmo qualificativo coincide o catedrático de jornalismo da UPF Josep María Cassasús. Eles tiveram a oportunidade de colaborar com Glaser no inovador redesign da Vanguardia lançado em 1989. Outra palavra usada para definir Glaser é “europeu”, inclusivamente para os padrões de uma cidade como Nova Iorque. Juan Botas, ilustrador asturiano falecido em 1992, que trabalhou para ele (e em cuja vida se baseia o filme Philadelphia), descreviao como um apaixonado pelo Mediterrâneo, para onde regressava todos anos para passar as férias na Costa Azul. Trabalhador incansável, apenas se permitia gozar férias durante uma semana, suficiente para adquirir uma percepção mironiana das cores e levá-la para o outro do Atlântico. Anos depois da sua criação, o seu I LOVE NY voltou a surgir quando a cidade mais necessitava dele. Alguns dias após os atentados do 11 de Setembro, Glaser retomou a obra (e com ela todo o valor e a omnipresença adquiridos) para a transformar num I LOV E N E W YO R K M O RE THAN EVER. Esta nova versão circulou massivamente graças ao New York Post – e aos estudantes da SVAe converteu-se numa acção de resgate para unir os nova-iorquinos em momentos tão duros. Esta “segunda vida” do símbolo permitiu que Glaser fizesse as pazes com uma peça que, embora represente o trabalho de maior impacto da sua carreira, lhe retirou o reconhecimento por outros projectos que estavam destinados a ocupar um lugar mais destacado no seu portfolio. aña lançou na A Fedrigoni Esp a sua nova era passada Primav ve Papers”, Lo e “W a campanh spirado na in a er cujo grafismo de Glaser. a os m fa s ai m criação Babyteeth (1968), uma das primeiras fontes geométricas. New York Magazine, fundada por Glaser e Clay Felker em 1968. Poster para a discográfica CBS, utilizado mais tarde como capa de um disco de grandes êxitos em 1966. 09 UNDERGROUND JAYRO LANTIGUA Em todas as classes há um. O puto típico que se deita sobre a mesa, alheio à lição, e que desenha e risca e que enche cadernos e livros e a própria mesa de bonecos. Que começa a reflectir a sua realidade através das bandas desenhadas que inventa, com essa mistura inocente de ideias feias e humor que apenas é possível na adolescência. JAYRO LANTIGUA (1985, embora de origem cubana e dominicana, foi criado em Miami, onde ainda vive) devia esse puto na sua turma. Cresceu agarrado a uma televisão onde, por magia e radiodifusão, se misturavam os velhos cartoons a preto e branco de Tex Avery ou Disney, com os seus filhos bastardos pós-modernos como Ren & Stimpy, Superjail ou Bob Esponja. E devorava com avidez qualquer livro de banda desenhada que caía nas suas mãos, fugindo das omnipresentes Marvel ou DC para se dedicar ao underground de “Odio” de Bagge, “Black Hole” de Burns ou de “Ghost World” de Clowes. E assim Jayro se transforma no PHANTOM SQUID, o pseudónimo com que cria e com o qual se tornou autor de renome. Não tem formação académica artística, mas trabalha em todos os suportes possíveis: ilustra, faz autocolantes, personaliza munnys (pequenos bonecos de vinil) e prossegue o seu projecto para publicar as suas tiras de banda desenhada. Nos seus desenhos há uma influência clara da caricatura clássica (o estilo e o traço recorda-nos muito o Popeye de 10 Segar), de forma que quando se vêem as suas ilustrações temos a estranha sensação de que as conhecemos desde sempre. Parece que são personagens da nossa infância reinterpretados de uma forma encantadoramente grotesca, com um cunho obscuro e retorcido e, sobretudo, humorístico. Mas Jayro merece estar neste número pela vontade que tem de fazer rir sem esconder as misérias, essa atmosfera suja, é uma herança da banda desenhada underground dos anos setenta. E recorda-nos inevitavelmente o pai do género nessa década, o neurótico e genial ROBERT CRUMB. Pode ver-se o seu trabalho em www.phantomsquid.com e acompanhar o seu percurso e a sua obra no Facebook. lo... I Esti IGON R anata D FE rgam tar Pe lden S Go olour C 11 EASY RIDERS & DAVID MANN Pablo Torres Curiosidade histórica. Os capacetes vikings não tinham cornos. Foram adicionados pelos pintores românticos do século XIX nos seus quadros, para os fazerem parecer mais ferozes. E assim ficaram no imaginário colectivo, até ao Vikie o Viking com seu pequeno capacete com corninhos. Bem. Passemos agora à nossa ideia do motard selvagem norte-americano montado na sua chopper. Barbas e melenas, lenço, óculos de sol, botas de cowboy, blusão de cabedal. Pois essa imagem deve-se, principalmente, ao tipo afável que posa na foto da direita, David Mann. Porque, durante trinta anos, Mann foi o ilustrador da revista de motas mais importante dos EUA, Easyriders (uma recordista de vendas, tendo em conta a afinidade com a leitura do público a que se dirige), afirmando as bases da ideia de motard que temos actualmente. Basicamente, o seu tema predilecto é o do par de motociclistas de expressão pomposa e atitude presunçosa, que queima pneus lado a lado ocupando a largura da estrada, como Voight e Hopper em EASY RIDER. Tudo com um toque new age californiano: natureza selvagem, céus psicotrópicos, cores saturadas. Fugas exageradas e perspectivas impossíveis. Pormenores nos motores e nos cromados. Quase se sente a falta dos arco-íris e dos unicórnios. Um dos seus recursos favoritos era acompanhar o motard com outras personagens com essa aura mítica: 12 cowboys, piratas, vikings (com cornos), cavaleiros andantes. Outro era escandalizar gente de bem. Mãe e filhos assustados no carro parado no semáforo ao lado do motard, enquanto o pai observa com inveja a mota e a ruiva jeitosa montada atrás. Talvez a nossa favorita seja a do motard que mostra raivoso o dedo do meio ao céu e a Deus com um fuckyou nos lábios porque começou a chover mesmo quando ele se monta na mota. Mas sempre estava subentendida a ideia de companheirismo e irmandade, de um estilo de vida romântico e nobre. O que não deixa de ser curioso, tendo em conta que o clube “El Forasteros”, ao qual Mann pertencia, se dedicava ao tráfico de anfetaminas e ao roubo. E isto multiplicado por mil suportes. Tatuagens. T-shirts. Posters. Emblemas para blusões. Pinturas em motas, em paredes de tascas ou de oficinas. A sua influência foi tanta que se diz que alguns engenheiros desenharam choppers baseando-se mais nas pinturas de Mann do que em modelos já existentes. Com o passar dos anos, os seus desenhos ganharam um toque naif, e acabam por ser ternos pela sua ingenuidade e a sua idealização do mundo das pandilhas de motards. Dão vontade de abraçar esses desgrenhados vestidos de cabedal, embora a intenção de Mann fosse apresentá-los como tipos duros e selvagens. As suas cinzas (morreu há cinco anos) repousam dentro do depósito de g a s o l i n a d e u m a H A R LEY SPORTSTER XLCH, decorado com uma das suas ilustrações. 13 SHINYA KIMURA & ZERO STYLE: BACK TO THE 70’s Pablo Torres “Nasci em 1962, na Velha Tóquio. Cresci rodeado pelo cheiro a óleo e aço, pelo barulho da maquinaria. Creio que é por isso que encaixo neste tipo de vida” Fotografia de Troy Critchlow/ Sideburn Mag. Quem conta isto é Shinya Kimura. É g r a v e e t í m i d o, c o m u m a r desorientado, mas tranquilo. Esfrega as mãos manchadas de gordura, distraído. Alguns pequenos tiques nos olhos dão-lhe um toque enternecedor. Há vinte anos abriu uma pequena loja de reparação de motos em Tóquio. Era a sua paixão. Já em criança fazia tunning à sua bicicleta para que não fosse igual às dos outros miúdos. Na sua oficina começou a utilizar peças velhas e descartadas para construir motas de acordo com o seu ideal. Ninguém tinha visto nada parecido. Este japonês introvertido é o responsável pelo “ZERO STYLE”, a nova tendência em design de motos. Uma viragem num estilo entre grunge e vintage, que se impôs nas personalizações. Minimalismo e funcionalidade com uma envolvente retro-futurista. “Tenho imagens na cabeça, mas não me inspiro em nada em concreto. Também não faço desenhos prévios. Corto o aço ou dobro o alumínio deixandome levar por como me sinto no momento. 14 Uso as minhas próprias mãos e dou cabo das costas a construir as minhas motas.” Creio que isso transmite algo que fala directamente com as emoções das pessoas, e faz com que queiram ter uma.” Wabi Sabi é um conceito do budismo zen que diz que a autêntica beleza é austera e imperfeita. A sua estética baseia-se no assimétrico, no áspero e no simples como formas de representar o modesto e o íntimo, sugerindo um processo natural. Como dizia Lloyd Wright: eliminar o insignificante. É o que faz Kimura. Constrói e molda as suas motas, desde a transmissão até ao motor, com peças de Harleys vintage ou de Triumphs dos anos setenta que resgata de ferros-velhos ou que consegue por troca. Desfazse das decorações e dos adornos. Desfaz-se do plástico substitui-o por metal moldado a golpes. Deixa os rebites à vista. Sem pintura, apenas metal nu ou envernizado. A beleza do material em bruto. O oposto dos modelos todos em plástico e cromados, com pintura de aerógrafo que se impunham até agora no mercado. O resultado final tem o aspecto de uma velha e castigada nave espacial, com um detalhe orgânico nos tubos dos motores arrefecidos com água, : Fotografia: Adam Wright entre gigeriano e steampunk. Motas mais pensadas para contemplar do que para montar. Se caíssemos com uma delas cortaríamos a perna. “Uma mota deve ser bonita por si mesma, mas está incompleta até que alguém a monte. Para mim uma mota é mais do que arte. É algo que liberta os meus instintos. O selvagem e o vulnerável que há em mim.” É o trabalho de amor de um génio ensopado em óleo com uma paixão que roça a loucura. Há algo cru e animal em tudo o que produz, como se puxasse cá para fora a personalidade oculta, a autêntica natureza, das peças que antes estavam cobertas com a pintura. Em doze anos criou duzentos modelos. Em cada mota investe cerca de quatro meses. Quatro anos em lista de espera para conseguir uma. Começaram a custar uns quarenta mil dólares, mas agora chegar aos seis zeros. George Clooney tem uma. Brad Pitt, três. Foi ele que conseguiu para Kimura a autorização de residência nos EUA. obras de arte e que agora quer sentirse assim, um artista. No branquíssimo deserto do Sonora o ar vibra todo quando a Aguja, uma das suas criações, o divide em dois deixando um rasto de pó. Kimura trava, desliga o motor, tira os óculos de aviador e olha para a câmara. E já não há tiques enternecedores. Apenas calma. Fotografias: Alexander Babic “Não é algo violento, como pode parecer de fora. É algo muito sereno. A terra e o céu são tão brancos que desaparecem os limites entre eles. Não vos posso explicar a calma que se sente.” Mudou-se para a Califórnia porque diz que no Japão não há estradas suficientemente longas para desfrutar as suas criações. Aí tem quilómetros de deserto para as experimentar. Parece sinceramente surpreendido de que no seu novo país as pessoas se aproximem para lhe dizer como são bonitas as suas criações. Que o elogiem e lhe tirem fotografias. Conta que só assim aprendeu a ver as suas motas como Estilo... NI GO D FE RI rl Black ea P io Sir ” “Asfalto 15 SWINGING LONDON Fotografia JORGE CUETO Textos GEMA FERNÁNDEZ ESTEBAN Antes do 16 Estilismo ANA MOYA 17 18 São anos sofisticados, psicadélicos, de festas chiques douradas. De observar escondidos atrás do copo e de rir a bandeiras despregadas. É tempo de voar, de viagens à Lua, de aviões que quebram a barreira do som e de modelos que suspiram em busca de sexo, drogas e rock & roll. Ela bebe, abana a cabeleira e grita bem alto o desejo que habita debaixo da sua saia. O desejo que dança debaixo do seu colete, debaixo da sua pele. Dentro dos seus ossos. Num exibicionismo hedonista que torna inevitável o voyeurismo. Ninguém pode deixar de olhar. Quando acaba a bebida, e o gelo derrete, ela esconde-se atrás da câmara. Para imortalizar outros corpos que bebem, que se agitam e gritam dentro de roupas tecnicolor extravagantes e complicadas. E cada disparo da câmara pede que namorem consigo até ao amanhecer. Ao ritmo da música de rádios pirata como a Swinging Radio England. love party Estilo... NI O FEDRIG ata Pergamaranle Natu s “Sutile as” nci transpare Colete militar LA CONDESA Saia de tule TERESA HELBIG Botins de camurça ASH Colar dourado BLUMA Pulseiras de brilhantes FUN & BASIC 19 Blow up Vai ser como se vivesses a rodagem de Blow up, cantam Los flechazos. Uma realidade de cores saturadas, violenta, que está a ponto de se desintegrar. A modelo que clama, que procura, que espera, que fuma. Sensual e sofisticada, numa encenação tão medida e calculada que assusta. Se se observar mais tempo do que o necessário, a realidade desloca-se e apagase. Sabemos que tudo é irreal, só que não sabemos como comprová-lo. E desespera-se por não se ser capaz de diferenciar a verdade da fantasia. Vais vir?, pergunta ela. Ele não vai porque está convencido de que se trata de um sonho. Esteve perto de apanhar a realidade, mas o momento passou. Ela dá brilho à sua maçã de ouro e adormece imaginando o paraíso. 20 Vestido de seda TERESA HELBIG Roupa interior OYSHO Colar prateado de BLUMA Pulseiras de brilhantes FUN & BASIC Maçã de bronze IDIETRO Estilo... NI O FEDRIG Emboss Sirio PeararlFusion Fiand nze Bro e luxe” “Bronze d 21 LOVE uk Colete com tachas BLUMA Calções de ganga TCN Maxi Carteira D-DUE Roupa interior OYSHO Colar com penas BLUMA Blusão militarLA CONDESA 22 A bandeira britânica converte-se num ícone, num símbolo da moda. Se Londres é o centro do universo, Carnaby street é o centro do centro do universo. O seu rei? John Stephen. O designer que revolucionou a moda masculina e que, com o seu sucesso, tornou Carnaby street no epicentro da moda. E ao fundo há música, música e mais música. Tocam os Kinks, os Who e os Small faces. Ser rocker ou ser mod. O que importa é ser. Ela será o que ele quiser que seja. Sonhará ser a miúda da Estrela Rock. Sonhará ser a Anita Pallenberg, capaz de enamorar Brian Jones, que depois abandona por Keith Richards, que filma com Mike Jagger e se torna má em Barbarella. Sonhará ser Pattie Boyd e que George Harrison crie Something para ela. Os Beatles não são tão bons rapazes como parecem. Os Rolling não são tão maus como os pintam. Sonhará ser a superstar Edie Sedgwick, e que Dylan lhe cante ao ouvido: “She takes just like a woman, yes she does / She makes love just like a woman, yes she does / And she aches just like a woman / But she breaks just like a little girl.” A mulher que converteu em arte a sua própria auto-destruição e que não chegou a conhecer o paraíso: Esse llove, love, love. Estilo... NI O FEDRIGr Colour Golden Sta& Cream Blue, Red n Jack” “Unio 23 À LA MANIÈRE DE GAINSBOURG & BIRKIN Pablo Torres GITANES BRUNE O dandy tinha sempre um cigarro na boca e chegava a dizer “Dieu est um fumeur de Gitanes”. A marca de tabaco francesa por excelência (que nos perdoem os Gauloises) tem um certo encanto boémio, especialmente fora das suas fronteiras. Os clássicos Gitane Brune são característicos porque o seu papel é feito de arroz e porque a secagem do seu tabaco é feita a lenha, o que confere um sabor forte e um aroma especialmente intenso. À venda com e sem filtro, dependendo de quão decadente se queira parecer. MONSIEUR GAINSBOURG, REVISITED Um disco de tributo ao génio com versões das suas canções interpretadas por Portishead, Franz Ferdinand, Jarvis Cocker ou Cat Power, apoiados pelas vozes das femmes gainsbourg originais: Birkin, Françoise Hardy ou Marianne Faithfull. Na redacção de NOTIZIE gostamos especialmente da versão de “La Chanson de Slogan” interpretada pelos The Kills. No seu refrão, a filosofia de vida de Gainsbourg: “Chama-lhe amor, chama-lhe ódio: eu chamo-lhe arte”. Na Virgin Records. 24 LOOK GAINSBOURG Blazer de risca “diplomática“+ Jeans justos + Óculos de sol + Pulseira de homem aberta + Camisa à cowboy desabotoada até meio do peito + eias Sapatos brancos, sem meias BIRKIN BAG O presidente da Hermès partilha o seu lugar com a jovem Birkin num avião. Observa como todos os pertences da Diva caem acidentalmente da carteira para o chão e ocorre-lhe desenhar uma à sua medida, que evite tal eventualidade. O resultado final, um dos designs de maior sucesso da casa francesa, foi baptizado como Hermès Birkin. Sempre em peles exóticas como a de crocodilo de água salgada e com forro de pele de cabra, tem uma lista de espera de três anos e custa cerca de oito mil euros. Dizem que é a carteira favorita de Victoria Beckham. Para compor a insignificância, a Hermès disponibiliza um tratamento de rejuvenescimento para estas carteiras que as deixa como novas por um par de (milhares de) dólares. L’AIR DE RIEN O “Ar de nada” de Miller Harris foi criado exclusivamente para Jane Birkin, de acordo com as suas preferências olfactivas. As suas indicações eram simples: “Quero que cheire ao cabelo do meu irmão, ao cachimbo do meu pai, a chão acabado de encerar, a gavetas de escritório vazias e a casas velhas esquecidas”. Nada de especial. E Miller reinterpretou-o com uma mistura de neroli tunisino, almíscar doce, âmbar, baunilha e musgo de carvalho francês. Terá apenas que gastar uns cem euros para poder cheirar como o cabelo do irmão da Birkin. REPETTO ZIZI JAZZ Nos pés de Serge nunca faltavam uns sapatos Repetto Jazz de pele branca. A casa francesa era especializada na criação de sapatilhas de ballet e quis manter essa comodidade na sua linha de sapatos para o homem dos anos setenta, mas ainda hoje se fabricam. Confortáveis e elegantemente intemporais. Um toque de classe retro que não faz distinção entre os pés de um rocker, os de um homem de negócios ou os de um fashionista. 25 SERGE (ELE) Ele, um sedutor. O principal responsável pela fama de galãs dos franceses. Um Don Juan feio, com uns olhos de besugo, um narigão impossível, umas orelhas exageradas. Mas a sua segunda esposa afirma: "quando olha para uma mulher, ela já caiu na sua armadilha". E todas as beldades da época vão passando pela sua cama até conseguir a mais desejada, Brigitte Bardot, que assegura que Serge é o melhor e o pior. Um príncipe encantador que perante ma contrariedade se transforma num Quasimodo terrível. Ele, um artista. De pianista de cabaret a músico de jazz protegido por Boris Vian. Daí a intérprete de chanson à moda de Brel ou Aznavour, e em seguida torna-se compositor yeyé para a divas da época. A sua Poupée de cire, poupée de son na voz de France Gall ganha o festival da Eurovisão e ele ganha fama definitiva. Ele, um visionário. Adapta-se a cada nova tendência. O seu Nazi Rock, injustificável para alguém que não teve que se esconder em criança para fugir da caça nazi aos judeus. A sua época reggae na Jamaica, com Peter Tosh e Rita Marley. Nos anos oitenta enche as pistas de dança de música disco ao 26 ritmo da sua Love on the Beat ou do seu rap “You are Under Arrest”. Ele, um provocador. Um individualista feroz. Um egocêntrico arrogante. Uma estrela mediática com todos os meios de comunicação à espera do seu próximo escândalo. Capaz de enfurecer toda a França com a sua versão irreverente da Marselhesa. No fim, um exagero de si próprio. Gainsbarre, mal barbeado, alcoólico, incontrolável, convertido em personagem polémica de uma tertúlia televisiva. Obrigado e afogado pela sua própria personagem. Whitney Houston, aos vinte anos, é convidada do programa estrela da televisão francesa. Gainsbourg, sessentão, diz, em directo, ao apresentador: “I want to fuck her”. Morre quatro anos depois. SERGE & JANE (ELA E ELE) Ela, a miúda pop do swinging London que escandaliza a Europa com a sua nudez frontal em Blow Up de Antonioni e que se lança à conquista de França fugindo de um casamento fracassado. Conhecem-se quando protagonizam em conjunto Slogan, no ano de sessenta e nove. Ela tem vinte e um, ele tem o dobro da sua idade. Ao princípio detestam-se, mas quando se solta a faísca, abanam os pilares da época. A combinação de sensibilidade dele com a sensualidade dela, o tom sujo e profundo juntamente com a voz frágil e evocadora, as letras poéticas mas provocativas. Artisticamente, é o período mais rico de ambos, com discos como a balada de Melody Nelson. E o seu “Je t'aime moi non plus”, o escândalo: "como uma onda interminável vou e venho entre as tuas ancas". Quatro minutos de respiração ofegante que terminam em êxtase. O single é condenado pela igreja e censurado na Europa Central, mas vende mais de um milhão de cópias. Tornam-se o par com quem todos querem estar, que todos os paparazzi perseguem. O Times chega a dizer que vê-los juntos é acreditar novamente em contos de fadas. A fotografia deles no festival de Cannes marca a tendência todos os anos. Consolidam a base do erotismo pós-hippie com cada capa dos seus discos. Representam a elegância decadente, a sofisticação casual, a boémia glamourosa dos anos setenta. A relação morre com a década. A sua principal herança, Charlotte Gainsbourg, que reúne a beleza da mãe, o encanto do pai, a arte dos dois. E O SEU ESTILO Quando se conheceram ele usava sempre fatos negros ajustados e impecáveis, camisas brancas de colarinhos mínimos engomados, gravatas asfixiantes. O uniforme oficial de crooner francês. Ela pede-lhe que não faça a barba todos os dias. Que deixe o cabelo um pouco mais comprido. Que deixe de usar gravata e que desabotoe a camisa. Que use jeans. Compra-lhe nuns saldos os seus primeiros sapatos brancos de jazz. Ele acrescenta o seu eterno cigarro e uns óculos de sol. E ficou favorecido com a mudança. Aprendeu a jogar com as regras de estilo para as saltar. Pareceu sempre sentir-se insultantemente confortável na sua roupa. Os seus coletes e camisas são um bom exemplo de sartorialismo, mas o encanto reside no descuido com que as apresenta. E ela descobre que não precisa de um vestido yeyé com o rabo meio à mostra para revelara a sua sensualidade. É das primeiras a pousar para as revistas com uns jeans e uma T-shirt branca, sem maquilhagem, procurando o encanto menos artificial e mais natural. No entanto, o complemento que sempre assentou melhor em ambos foi o outro de braço dado. NI ss lo... Esti DRIGO Glo y t FE oc Pat our” h m Ad ro gla “Pu 27 ADRIANO CELENTANO, IL RAGAZZO QUE CHEGA A SER UN MITO texto Gema Fernández Esteban Adriano Celentano nasce no nº 14 da rua Gluck, nos arredores de Milão, no dia de Reis. E talvez tenham sido os Reis Magos que se inclinaram sobre o seu berço, ao estilo das três fadas da Bela Adormecida, para lhe lançarem um feitiço mágico: “brilharás em tudo aquilo a que te proponhas. Serás um artista, uma lenda, um mito”. E Adriano começa por ser um aprendiz de relojoeiro que, quando chega a noite, actua como imitador e comediante nos cabarets de Milão imitando Jerry Lewis. Mas há momentos em que a vida faz um “clic” e muda de direcção: Adriano Celentano ouve o “Rock around the clock” de Bill Haley & The Comets e a vida faz-lhe um “clic”. Forma a banda The Rock Boys e, a partir daí, ninguém o pode parar. Actua no primeiro Festival de Rock & Roll de Itália. Celentano é dos primeiros a dar conta que a música está em mudança e encarrega-se de que toda a Itália o saiba. “Eu não percebia o inglês, mas o ritmo era tão extraordinário que, esse sim, eu agarravao bem”, declara em certa ocasião. Numa fantástica cena de “La Dolce Vita” (1960), uma espectacular Anita Ekberg deseja com voz de menina bonita mimada: “Rock & Roll, quero Rock & Roll”, e do nada aparece um Celentano muitíssimo jovem, dançando e cantando “Ready Teddy”, porque, quem podia dizer que não a Anita Ekberg? Anita era mulher demais e Celentano era tudo demais. Adriano contorciona-se numa dança ao estilo de Elvis, mas mais electrocutado e nervoso. Tem o corpo cheio de rock, de soul, de valsas e de tangos; experimenta tudo, tem de tudo. Tem o corpo tão cheio de música que, em pleno ano de 1972, interpreta uma canção surpreendente e hipnótica: 28 “Prisencolinensinainciusol”. Criada por ele num idioma que não existe, uma galimatias, uma espécie de inglês visto de fora. Celentano inventa o “celentanês”, tal como Cortazar inventou a linguagem gíglica para exprimir o inexprimível do amor em “Rayuela”. Ver a interpretação desta canção de nome impossível é um autêntico espectáculo: a coreografia de bailarinos e espelhos com os seus cânticos inquietantes em coro e Rafaella Carra mostrando-se uma perfeita showgirl, não tem desperdício. Embora haja mais opiniões que em “Prisencolinensinainciusol” reconhecem influências de James Brown em vez de som rap, a canção tem sido reivindicada na rede como sendo o primeiro rap da história, assim, Adriano Celentano seria rapper antes de o rap ser inventado. Foi necessário esperar que passassem quase quarenta anos para que o considerassem um precursor. Mas não teve que esperar para triunfar. Em 1961 apresenta-se no Festival de S an Remo com “Venticuatromilla baci” e fica em segundo lugar. Adriano Celentano está nessa altura a cumprir serviço militar e tem que pedir uma autorização especial para cantar em San Remo a qual, curiosidades da vida, foi assinada por Giulio Andreoti, que anos mais tarde seria Primeiro-ministro de Itália. A canção vende um milhão de cópias. Mas os Reis Magos prometeram-lhe que brilharia e uma segunda posição não lhe deveria parecer suficientemente brilhante. Assim, Celentano volta a apresentar-se no Festival de San Remo de 1970 e consegue o primeiro lugar com a sua canção “Chi non lavora, non fa’l amore”, desta vez cantando com a actriz e cantora Claudia Mori. Sua esposa, com quem ilustração Natalia Mirapeix se tinha casado seis anos antes em segredo, a meio da noite na igreja de San Francesco em Grosseto. Assim era a personalidade cinematográfica de Celentano. Teria sido um desperdício se não tivesse conseguido ter êxito no cinema. Filmou mais de uma trintena de filmes como actor, chegando a dirigir algumas delas. Porque não? E, já agora, também escreve um par de livros: um com as suas memórias, “Il paradiso è um Cavallo Biancho che non suda mai”, e outro baseado nas suas experiências televisivas, “Il profeta e il fariseo”. Não estamos no país de Leonardo da Vinci? Das mil caras de Celentano não devemos esquecer que era ainda um animal televisivo imbatível, um comunicador nato que batia recordes de audiência. Os telespectadores admiram o seu carácter libertino, irreverente e sempre polémico, que nunca cala o que pensa por muito politicamente incorrecto que seja. Um homem de ideias ecologistas, defensor dos animais e da natureza, ideias já referidas no seu tema de sucesso “Il ragazzo della vía Glück”, canção inspirada nele próprio, e que não deixou de repetir durante o seu meio século de carreira. O seu carácter indomável e contestatário chegou a desencadear a ira de Berlusconi, que conseguiu suspendê-lo, mas não conseguiu calá-lo. É difícil vencer um mito. Porque Adriano Celentano é uma autoridade intocável em Itália. A causa? Pode ser por ter conseguido vender 150 milhões de discos ao longo da sua vida, talvez porque participou em mais de trinta filmes, quem sabe porque o feitiço dos Reis Magos sobre o seu berço esteja certo. A verdade é que a Itália está há mais de meio século a admirá-lo em cena, considerando-o um mito inesgotável. O último? Será o protagonista de uma série de animação de 26 episódios, de argumento biográfico e ecologista, que se chamará “Il ragazzo della Vía Gluck”. Não é a primeira vez que Adriano Celentano é transformado em desenho, já no vídeo da canção “Che t’aggia di”, juntamente com a c antora Mina, ambos foram desenhados como patos. Desta vez teve a sorte de ser desenhado por Milo Manara, que o deixou tão atraente como a suas mulheres. Treme Corto Maltés, que chega Celentano! Um autêntico mito em Itália. 29 LO SIENTO Falsas desculpas. Estúdio Lo Siento. www.losiento.net a equipa de LoSiento é que procura sempre uma aproximação física às soluções gráficas que planificam nos seus projectos de identidade. Os miúdos trabalham com elementos físicos: investigam e experimentam materiais, medem volumes, cortam e colam, modelam, retorcem e brincam até que finalmente fotografam. E sente um fascínio especial pelas tipografias construídas desta forma. O resultado produz identidades corporativas ou peças concretas onde convivem o design gráfico e o industrial, mas sempre com uma perspectiva artesanal que o humaniza. E assim desenharam capas para Macaco ou para os Pinkertones, construíram a identidade de Txoco, o restaurante de Martín Berasategui, ou criaram peças para o restaurante Bulli de Adriá. À equipa de Lo Siento pedimos algo à anos 70’ e fizeram-nos esta maravilha para a NOTIZIE. Muito op art. Não sabemos o que lamentam, porque têm que se desculpar Borja e Gerard e Roger e Rocio. Talvez peçam perdão com esse pequeno ponto de falsa modéstia de quem sabe que faz as coisas bem feitas. Os vencedores do Grand Laus 2010 estão a posicionar-se com um dos estúdios jovens de design de referência no panorama nacional espanhol. O projecto começou como iniciativa pessoal de Borja Martínez, que, depois de trabalhar em Londres e Barcelona, decidiu dar o passo em 2005 e fundar o seu próprio estúdio unipessoal, que se foi ampliando com o tempo até completar a equipa que o forma hoje. A principal característica que distingue 30 Mas o projecto que os fez ganhar o Grand Laus deste ano é a espectacular tipografia Empo. O que começou por ser uma identidade para uma escola de osteopatia baseada em interpretações em papel de partes do corpo humano, acabou por se tornar numa tipografia volumétrica feita em cartolina. Eles dizem que para a criarem aplicaram uma fórmula pitagórica que afirma que a distância real é igual à soma dos quadrados da diferença entre coordenadas correspondentes. E na Notizie não entendemos como algo tão complicado (a matemática não é o nosso forte) acabou por se concretizar num trabalho tão bonito. E se têm alguma certeza, é a de que o resultado final depende em grande parte dos materiais com os que trabalham. Por isso a Fedrigoni á a sua principal opção quando o suporte é o papel: as vastíssimas gamas da papelaria italiana não estabelecem limites à sua criatividade e garantem também um produto de qualidade. Esperamos que este prémio seja apenas o primeiro de uma longa carreira de sucesso. HOTEL PULITZER (Grupo Regina) Descrição / Cadeia de Hotéis Tipo / Agenda / Notebook Papel / Constellation snow INTRECCIO 280gr. EMPO BLACK BOX Descrição / Embalagem oferta de tipografia tridimensional Tipo / Packaging Papel / Constellation jade RASTER 215gr MARTINI + MARTIN BERSATEGUI Descrição / Welcome pack jantar Tipo / Packaging Papel / ISPIRA purezza+passione 300gr PARXET Descrição: Produção vinícola / Adega Tipo / Etiquetas de garrafa Papel / Constellation snow LASER SMILE Descrição / Agência de publicidade Tipo / Cartões-de-visita Papel / Constellation snow INTRECCIO 350gr 31 NEWS! 'Empapeladas', desenhando papel e luz. Estoril Fashionart Festival 2010 Entre 30 de Junho e 4 de Julho deste Verão, realizou-se, dividindo a localização entre Estoril e Cascais, a primeira edição do festival Estoril Fashionart. O objectivo do festival é mostrar as múltiplas visões que nascem da união entre o mundo da moda e outras disciplinas, especialmente as da indústria criativa. O evento reuniu exposições, desfiles de moda, projecções e apresentações de artistas e criadores de moda, da fotografia, do mundo editorial, da vídeo arte ou do cinema. O país convidado para esta primeira edição foi a Espanha. As actuações estrela deste país foram o desfile de Amaya Arzuaga e a exposição de fotógrafos espanhóis, com obras de Daniel Riera, David Urbano, Eugenio Recuenco e José Manuel Ferrater. A l é m d i s s o, a p r e s e n t o u u m a retrospectiva das colecções mais importantes de Paco Rabanne e o jornalista Roger Salas apresentou novamente a sua célebre exposição “Hombres em Falda”. Os melhores designers portugueses também estiveram presentes no show “Eternal is the night ”, no qual participaram nomes como Alexandra Moura, Ana Salazar, Dino Alves, Filipe Faísca ou Ricardo Preto. A Fedrigoni España foi a empresa colaboradora do festival. Toda a comunicação do evento, incluindo os convites para cada desfile, foram produzidos em papéis Fedrigoni, a escolha mais adequada se o que se pretende transmitir for classe, elegância, inovação e moda. 32 As designers valencianas Yolanda Herraiz e Kumi Furió apresentaram, por ocasião da celebração da Valencia Disseny week, uma inovadora instalação artística. Trata-se do projecto 'Empapeladas', cuja fórmula é simplesmente "papel e luz". E o resultado é um volume único de dezasseis metros quadrados e mais de três metros de altura, criado por meio de planos de papel em série e repetidos até desenharem entre a luz uma curiosa composição onde o espectador pode entrar para esquecer a barreira que separa a público e projecto. Yolanda Herraiz e Kumi Furió são duas profissionais que trabalham de forma independente no seu próprio estúdio. Ambas se formaram como designers industriais e se especializaram no design de espaços de exposição e de encenação, respectivamente. Receberam vários reconhecimentos pelo seu trabalho, entre os quais se deve destacar o prémio em interiores de stands da Feira de Valença, a selecção do III Certame de interiores de Porcelanosa, ou o Ouro nos prémios ADCV, na categoria de design de espaços. O projecto foi possível graças ao apoio e colaboração da Fedrigoni España, sempre disposta a apostar nas tendências artísticas mais inovadoras. FedrigoniClub: Lisboa Open Day Após a festa de inauguração do FedrigoniClub este Verão em Barcelona, esta sociedade refinada quis apresentarse aos seus membros em Portugal, convocando-os para um Open Day que se celebrou em Lisboa, no dia nove de Setembro. Fedrigoni, este Outubro em Luxe Pack 2010 É mais ano em que a Fedrigoni Cartiere participa como expositor na feira internacional de packaging de luxo, a Luxe Pack, que decorre no Principado de Mónaco nos dias 20, 21 e 22 de Outubro. A Fedrigoni dará as boas-vindas aos visitantes do Fórum Grimaldi entre as paredes de uma instalação realizadas com os papéis de suas gamas policromáticas. Nesta ocasião será oferecida aos assistentes a “LA CRÈME DES PAPIERS”, um atraente mostruário com uma selecção de papéis especiais para packaging. As novidades são muitas, tanto em design como em cores. Aida e Fluid são os nomes dos dois novos gofrados que passarão a enriquecer as gamas Snow e Jade de Constellation com novas superfícies: um rastro flutuante e sonhador para F luid, uma tela tecnológica para Aida. Esta última será também a nova trama para a gama Imitlin, um papel pensado para capas de livros, que oferece excelentes resultados como forro para embalagens de prestígio. Estas novidades atractivas não eclipsarão a presença dos grandes clássicos da Fedrigoni, como o elegante Splendorlux, o sofisticado Sirio Pearl, o liso e aveludado Ispira, a ampla gama Freelife ou o vivaz Sirio color. Benetton escolhe a colecção Freelife. A colecção Freelife propõe papéis de qualidade para projectos que se preocupam com o impacto ambiental: a colorida gama Mérida, a Vellum aveludada graças às fibras de algodão, a Cento com 100% de fibras recicladas, o Kendo com cânhamo italiano. Todas estas gamas dispõem de certificação FSC e possuem a marca Ecolabel. O ponto-chave da colecção reside no aspecto estético refinado e no óptimo resultado de impressão tal como demonstram as opções da Benetton. Quase uma centena de convidados reuniu-se no Chiado, famoso bairro cultural lisboeta, onde Ana Isabel Antão, responsável da Fedrigoni España para o território luso, lhes apresentou o Club, assim como as últimas novidades da Fedrigoni desta temporada, como o novo catálogo geral de papéis Imaginative Papers e o Catálogo de Preços 2010/2011. Sem dúvida uma jornada de celebração e trabalho entre amigos e profissionais que todos apreciaram. A revista Colors do grupo Benetton, dirigida a um vasto público juvenil em todo o mundo, aborda temas muito variados com um enfoque anticonvencional e criativo que pretende um impacto imediato. O número 77, publicado no passado mês de Maio, tinha como tema central o mar. Por coerência escolheram o Freelife Vellum para a capa e o suplemento, e o Freelife Cento para as páginas interiores 33 NEWS! Novo Relatório de Meio Ambiente da Fedrigoni O Grupo Fedrigoni publicou o oitavo Relatório de Meio Ambiente e Segurança, confirmando assim a atenção que dedica aos temas ambientais e de segurança no trabalho. Os resultados obtidos nos últimos anos destacam-se devido à política ambiental. Fedrigoni Nettuno: a classe é importante Fedrigoni Nettuno é um papel natural marcado a feltro em ambas as faces e com matizes muito variados. É fabricado com celulose pura, branqueada por processos que contêm pouco cloro, e é a escolha ideal para quem procura um resultado com impacto e ao mesmo tempo discreto, em que se destaque a sua elegância. Está disponível em dezasseis cores, entre as quais se destacam as mais ténues, como Nata, Cinza e Pêssego, e as mais fortes, como o Azul-marinho, Verde Bosque e Vermelho Fogo. Tem 5 gramagens diferentes. É ideal para trabalhos muito dúcteis, que podem incluir edições de nobres, identidades coordenadas, embalagens e sacos de compras elegantes. Para a elaboração de um saco, produziuse o mesmo modelo com dois tipos diferentes de papel. Desta forma é possível analisar melhor as características de cada papel: um em Fedrigoni Symbol Bags de 165 gramas impresso em vermelho e plastificado depois, e Nettuno Vermelho Fogo de 215, sem impressão nem plastificação. 34 Actualmente, a Fedrigoni pode afirmar com orgulho que todos os papéis das suas colecções se adequam aos padrões Forest Stewardship Council (FSC) e que 85% dos seus produtos obtiveram o certificado FSC Chain of Custody, enquanto os restantes 15% cumprem o F S C - C o n t ro l Wo o d ( m a d e i r a controlada). Tudo isto sem esquecer que a maioria dos papéis ecológicos Freelife também apresentam a marca europeia exclusiva Ecolabel. Para reduzir o impacto ambiental e os consumos energéticos, o Grupo instalou centrais de cogeração alimentadas a gás metano que permitem a autoprodução simultânea de energia eléctrica e térmica. O elemento mais significativo associado à produção de energia é a emissão de gases. Em concreto, as emissões de CO2 das nossas fábricas reduziram quase 50% durante os últimos 7 anos. THE PRIVATE SPACE EM BCN Recomendação Fedrigoni Nas velhas naves industriais de Poble Nou estão a concentrar-se, de há alguns anos para cá, estúdios de design, galerias, oficinas de artistas, clubes e salas de concertos que tornam o bairro histórico num dos centros da vida cultural de Barcelona. A Fedrigoni España quer apresentar-vos um dos seus projectos favoritos na zona: The Private Space. The Private Space é um ponto de encontro para os amantes da arte e do design. Um grande espaço com uma galeria para exposições, uma loja, uma marca editorial própria e uma sofisticada gráfica. Um espaço aberto à literatura, à fotografia, à música, à ilustração, ao design e à moda, aos audiovisuais e a qualquer proposta original. A inauguração do The Private Space (TPS) ocorreu em Fevereiro, embora o projecto estivesse a desenvolver-se há anos. A ideia ganhou forma num local privilegiado, o da antiga fábrica La Harinera La Asunción, que se transformou num espaço claro e diáfano, de cerca de 400 m2, em que se retroalimentam os seus três grandes pilares: gráfica, editora e galeria de exposições. Um trio magnífico pensado para oferecer tudo o que um artista ou comunicador possa necessitar, de forma próxima, fácil e económica. A essência é criar, propor, estimular ideias que se concretizem em projectos que cheguem ao público com qualidade, de forma atractiva e antielitista. Dá a sensação de que no TPS tudo está interligado. Por exemplo: um fotógrafo pode entrar no TPS com uns quantos negativos e sair com um projecto completo que vai desde uma exposição na Gallery (comunicação incluída), ao design e produção de um catálogo, e à venda deste na Shop. O que é certo é que a gráfica, de avançada tecnologia de ponta, é um filão; que a editora, não sujeita a tiragens fechadas, permite uma grande liberdade para publicar, e que a galeria é, para os jovens artistas, uma nova oportunidade. Nova e dupla, porque à sala de Poble Nou, focalizada nas esferas privadas que se ligam ao mundo contemporâneo, é adicionada a recém-estreada TPSBy..., outra sala no bairro de Gràcia que acolhe as propostas mais underground. Verdade seja dita, o TPS tem uma fraqueza pelos artistas emergentes, por isso participa nos prémios de fotografia El Pati de la Llotja que se realizam este Outubro dentro do Emergent (o Festival Internacional de Fotografia e Artes Visuais de Lleida). Mas que fique claro que o The Private Space não está focalizado apenas em artistas e comunicadores; os amantes da arte e do design podem apreciar as exposições gratuitas e os curiosos tesouros que depressa estarão à venda na Shop. Um festival completo de opções. 35 CLIPPER CRONO Caixa de aço com 13 diamantes, Mostrador de nacar natural, pulseira de borracha, Fabricado pelos relogeiros de Hermès na Suiça. www.hermes.com