COADJUTOR AVELINO GERARDI

Transcrição

COADJUTOR AVELINO GERARDI
COADJUTOR AVELINO GERARDI
*
04.10.1907
† 28.08.1983
São Paulo, 28 de outubro de 1983.
Prezados Irmãos Salesianos.
"Feliz aquele servo que o Senhor ao passar o encontra vigilante". O Senhor passou pela
nossa Casa, encontrou o nosso irmão Salesiano Coadjutor AVELINO GERARDI desperto e
vigilante e o levou para a festa eterna.
Natural de Pirassununga, Estado de São Paulo, ele nasceu no dia 4 de outubro de 1907.
No dia 15-07-19, entrou no Liceu Coração de Jesus, para o curso dos aprendizes de
alfaiataria. Logo após ter feito a primeira profissão no dia 28-01-35, é enviado ao
aspirantado de Lavrinhas (35-39. Em 1940 vai trabalhar por 6 meses na cidade do Rio de
Janeiro, donde retorna para Lavrinhas (40-43). Em 44 fica por 3 meses em Lorena,
retornando novamente a Lavrinhas (44-59). Finalmente depois de uma curta permanência
em Cruzeiro vem para esta Casa onde vive até os seus últimos dias.
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Passam os dias, passam os anos e passam também as pessoas que Deus, no seu plano
salvífico, nos manda, a fim de que sejam para nós, reflexos brilhantes e marcantes do seu
amor, da sua bondade e da sua existência.
Exatamente isto foi, para todos os que o conheceram, o nosso querido Sr. Avelino: uma
figura rica de tudo o que é importante diante de Deus.
Uma série de salesianos da Inspetoria enivaram depoimentos para a confecção desta
carta mortuária. E todos são unânimes em afirmar que passou para o Paraíso Salesiano um
irmão "trabalhador, observante e alegre" — como trazem expresso os diversos escrutínios
que se seguiram durante a sua caminhada em direção da sua entrega total e definitiva a
Deus na Profissão perpétua na Congregação Salesiana.
Quando moço, entrando no Aspirantado Salesiano de Lavrinhas, sentiu-se tão em casa,
tão feliz, que em certa circunstância, assim se expressou ao seu Pe. Diretor: "Posso trazer
para cá o meu pai também?"
A frugalidade da vida, a pobreza, o trabalho árduo que então se exigia não
apresentavam assim materialmente um paraíso na terra, não! O sentir-se tão bem e tão feliz
provinha da alegria que o invadia e o tomava por inteiro: tinha encontrado a razão do seu
viver: consagrar-se totalmente a Deus em favor da juventude, segundo o caminho salesiano!
— E absorveu profundamente o modo e o espírito de ser salesiano.
A sua qualidade mais marcante era a da alegria salesiana. Era contagiante, expressão
genuína do autêntico espírito de família. Alegrava nossas academias, nossos almoços íntimos
com sua bela voz baritonal e com seus gestos cômicos!
Para todos tinha uma brincadeira, um sorriso, uma acolhida cordial, agradável, fraterna.
Todos sentiam-se bem e á vontade perto dele; de um modo especial os aspirantes e os
salesianos jovens porque a todos distinguia dando-lhes uma atenção toda individualizada.
Esta alegria provinha do seu otimismo: sempre que alguém manifestasse um desagrado
pela situação difícil, decorrência da extrema pobreza, por causa da roupa demasiado pobre,
por causa da alimentação frugal, por causa da falta total de conforto (especialmente nos
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velhos tempos!), surgia lá o Sr. Avelino levando tudo em brincadeira e mostrando o lado
humorístico das coisas: — todos riam e passavam a considerar as coisas assim também e o
barco continuava.
Formou-se alfaiate nas Escolas Profissionais do Liceu Coração de Jesus. Tornou-se um
exímio profissional. Por meio de sua profissão ele exerceu heroicamente a virtude da
pobreza: pelo trabalho e pelo desapego.
Como ele nunca teve pretensões de nenhuma espécie, adaptava para si roupas
aproveitadas, ajustando-as de sorte que quase nunca usou roupas compradas ou novas.
A mesa procurava, com muito jeito, deixar de comer alguma fruta ou alimento que
julgasse ser um pouco mais caro.
Fiel à escola de Dom Bosco, tinha um espírito heróico de trabalho: — "fac totum",
comprador, alfaiate, ajudante de cozinha, despenseiro, matador de formigas, enfermeiro,
supervisor de funcionários, assistente de pátio. Estava sempre disponível.
Nos tempos mais difíceis da pobreza em Lavrínhas, quantas vezes passava a noite
fazendo uma batina para algum salesiano de outro colégio, correndo a despachá-la ao surgir
da aurora, conseguindo assim algum dinheirinho extra para o pão dos aspirantes.
Grande era o seu amor às coisas da Família Salesiana. Sentia-se desgostoso e aborrecido
quando tomava conhecimento de violações do regulamento ou do desleixo das nossas
tradições. Quantas vezes ele reclamava de que os nossos pátios não estavam sendo bem
assistidos, como manda a boa pedagogia salesiana. Reclamava e ficava assistindo!
Sempre foi muito caseiro. Só gostava de sair para visitar outras casas salesianas e ainda
se fosse junto com outros salesianos.
Fiel à consagração a Deus da sua capacidade de amar, a todos dedicava um afeto
fraterno muito sentido. Para ele era uma verdadeira festa encontrar-se com os salesianos.
Perguntava de todos, especialmente das jovens esperanças da Inspetoria.
Distinguiu-se de um modo todo seu, no cultivo da virtude da humildade. Soube bem
seguir o ensinamento de Jesus: — "Depois de cumprirdes a vossa tarefa dizei: — somos
servos inúteis, apenas fizemos o nosso dever!" Soube sempre ocupar o seu lugar, colocando
todos os seus dons a serviço dos outros.
Deixou-nos, o bom Irmão, a certeza de que era um homem feliz: generoso no trabalho e
no sacrifício; alegre na expressão de quem se realiza no dar-se; amorosamente
comunicativo num cantar continuo, porque o seu interior sempre esteve em festa! Havia
nele motivos de felicidade!
Sempre presente às práticas de piedade: era o primeiro a chegar á meditação cotidiana.
Foi, na verdade, um presente que Deus nos deu por 76 anos!
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"Obrigado, Senhor, por este dom! Dai-nos ainda outros presentes assim."
Seus últimos dias.
Há mais de três anos tinha sido diagnosticada a sua doença: câncer na próstata.
Ele foi definhando aos poucos.
Nunca de nada reclamou nem pediu remédio algum! Se não fosse a fraternidade dos
irmãos salesianos nem sequer remédios tomaria! Precisávamos adivinhar os seus
problemas!
Em meados de julho ele quis passar umas noites no Hospital São José do Braz, dando
assistência ao Pe. José Del Mónaco que havia se submetido a uma intervenção cirúrgica. Em
uma das noites sentiu-se mal e desmaiou no corredor: — acabou ficando internado
juntamente com o seu assistido! Dias após retornou ao Liceu, mas não se sentiu mais bem. A
coisa se agravou no dia 29 de Julho. Tanto assim que no dia 1 de agosto foi internado no
mesmo Hospital São José. No mesmo dia deu sinais de uma perda acentuada da visão e
também dos movimentos do braço direito. E, apesar de todos os cuidados, a situação
começou a se agravar a cada instante. Em alguns dias parecia ter uma leve melhora.
Em nenhuma vez alguém o ouviu reclamar, ou mostrar revolta. "Eu estou bem", dizia a
todos. Só por duas vezes disse que sentia dores.
Suas lágrimas, porém, corriam grossas quando recebia visita de seus familiares, dos
funcionários do Liceu, ou de seus irmãos de congregação que numerosos acorriam à sua
cabeceira.
No seu leito de morte o Sr. Avelino tornou-se uma espécie de mestre: — fez dele uma
cátedra; ensinou-nos, calado, a paciência, a resignação, a conformidade, e até a alegria, na
serenidade de quem sabe que a doença, para quem a recebe de coração, é também um dom
de Deus.
Nos dias em que tinha alguma força acompanhava as muitas orações que se faziam em
seu quarto, bem como tentava, por vezes, cantar alguma das suas "clássicas" músicas que
centenas de vezes tinha cantado para alegrar as festas salesianas...
O desenlace aconteceu no dia 28 de agosto.
No centro inspetorial salesiano se encerrava a grande concentração vocacional
promovida pela Familia Salesiana.
O relógio e o pôr-do-sol marcavam a hora do Angelus.
As primeiras estrelas começavam a fazer notar a sua presença nos céus.
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E o nosso irmão, docemente, silenciosamente, fechou os olhos para esta vida.
abrindo-os para a terra dos nossos sonhos, dando um novo sentido para um dos seus cantos
preferidos:
"Le prime stelle in cielo brillano giá."
"Tra i bianchi spini
II vento mormora e vâ...
Sempra un'incanto il bosco sotto la luna
Favole apazzionate narran per te!
Vieni, c'è una strada nel bosco
II suo nome conosco
vuoi conoscerlo tu?
Vieni, è la strada dei cuore
Dove nasce 1'amore
Che non muore mai piu'
La giù tra gli alberi
intralciati coi rami in fior
ciè un nido semplice come
sogna il tuo cuor!
Vieni, c'è una strada nel bosco
il suo nome conosco
Vuoi conoscerlo tu?"
Ele cumpriu a missão. Foi receber o seu prêmio.
Nós continuamos na luta. Que de junto de Deus ele interceda por nós para que também
sejamos fiéis até a morte.
Resta-me expressar o nosso agradecimento muito sentido:
— ao Dr. Luiz Brunetti, que continua carinhosamente a dedicar-se aos salesianos
doentes como o fazia o sempre lembrado Dr. José Brunetti, seu progenitor: com desvelos de
pai!;
— às beneméritas Irmãs da Congregação de Nossa Senhora do Monte Calvário, que
dirigem o Hospital São José do Braz, que sacrificadamente porfiam em nos atender; aos
vários médicos que também atenderam o nosso irmão;
— ao corpo de enfermagem e de serviço do hospital que é sempre disponível e
atencioso;
— e ainda um agradecimento feito oração e comoção aos diversos salesianos,
funcionários do Liceu, estudantes de teologia e familiares" do Sr. Avelino, que com grande
sacrifício e dedicação ímpressíonante o assistiram nas longas noites de sua última doença.
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A Comunidade Salesiana do Liceu, comovida, agredece.
Creio, prezados irmãos, que nas entrelinhas desta carta deixamos transparecer o nosso
coração saudoso: — mais um dos nossos irmãos coadjutores que deixa um clarão nas fileiras
de nossa Inspetoria.
Deixo portanto, juntamente com o pedido de orações pelo Sr. Avelino, o incentivo para
a oração pelas vocações e por nós desta Casa, a fim de que sejamos fiéis a nossa missão.
Pela Comunidade do Liceu Coração de Jesus
Pe. Plínio Potsobom
Diretor
DADOS PARA O NECROLÓGIO:
Coadjutor Avelino Gerardo
*Pirassununga (SP) 04.10.1907
† São Paulo (SP) 28.08.1983 com
75 anos de idade
LICEU CORAÇÃO DE JESUS
Largo Coração de Jesus,140
012150020 São Paulo – Campos Elíseos
11-3225-5800
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