É próprio da natureza do amor dar tudo para

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É próprio da natureza do amor dar tudo para
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www.fundacao-ais.pt
ISSN 0873-3317
“Todas as riquezas
da Igreja, todos os
triunfos da civilização
cristã, até a ciência, a
fé, o dom da profecia
e o martírio são
completamente
desprovidos de valor
enquanto negarmos a
Deus o amor que Ele,
nos mais pequeninos,
espera de nós.”
Ensinar o amor, levar a reconciliação – sempre com o apoio do Papa
Queridos amigos,
Um mês antes da abertura do Concílio Vaticano II, o Papa João XXIII afirmou, numa
comunicação radiofónica, que a Igreja teria
que se ver como “Igreja dos pobres”. Dos
pobres no sentido do Evangelho e não simplesmente num sentido sociológico. Este
pensamento aponta, antes de mais, para
uma verdade profunda sobre o
próprio Deus, cujo corpo é a
Igreja. Cristo, verdadeiro Deus
e verdadeiro homem, despojouse de Si mesmo, assumindo a
condição de servo. Dessa
forma, Jesus revelou-nos que a
pobreza faz parte do mistério de Deus e
constitui o cerne da Igreja. É próprio da natureza do amor dar tudo para presentear o
outro. Presentear não apenas com um objecto ou com algum tempo, mas consigo
mesmo, por amor a Deus. É nesta perspectiva que temos de compreender o matrimónio cristão e a castidade celibatária dos
padres e religiosos, bem como a doação
total de muitos leigos, homens e mulheres,
ao serviço do Evangelho.
Esta verdade sobre a Igreja, que não exclui
ninguém e zela por todos os pobres, socor-
rendo-os em todas as necessidades, marcou
também a vida do Padre Werenfried van
Straaten. Ele via o serviço aos pobres como
um “acto sacramental”. De facto, a festa da
Eucaristia é continuada no serviço ao próximo. O “altar dos pobres” não é feito de
pedra, mas de almas, nas quais está presente o próprio Senhor que sofre. O amor a
Deus e ao próximo são duas faces da
Werenfried van Straaten (1913-2003)
Este ano recordamos o centenário do
nascimento e o décimo aniversário do falecimento do P. Werenfried. Ele queria
concretizar o grande plano de amor do
servo de Deus, Pio XII, que, como pai de
todos, ficou profundamente abalado perante o sofrimento de tantas pessoas devido à guerra e à crueldade da nefasta
ideologia nova. O P. Werenfried queria
consolar os que sofriam, curar
as suas feridas. A sua gratidão
é a gratidão do próprio Cristo
e a única garantia da bênção de
Deus sobre a obra que prosseguimos e queremos levar a
cabo em Seu nome.
“É próprio da natureza
do amor dar tudo para
presentear o outro.”
mesma moeda. O esplendor da Eucaristia
pressupõe o esplendor do amor. Com as
suas homilias, o P. Werenfried perturbava a
falsa serenidade de alma daquelas pessoas
que julgavam poder salvar-se sem se preocuparem com os outros. Via a missão da
AIS no anúncio integral da lei do amor ao
próximo. Neste sentido, temos que nos tornar mais “pobres”, mais altruístas e mais
convincentes nas nossas palavras e nos nossos pensamentos, sentimentos e acções,
para que Deus encontre lugar em nós e
possa realizar as Suas obras através de nós.
Abençoo-vos de todo o coração e desejovos um Bom Ano Novo. Que, sob a protecção da Mãe Suprema do Redentor,
possais experimentar a felicidade de ver a
alegria radiosa nos olhos do próximo.
Cardeal Mauro Piacenza
Presidente da AIS
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ED/7/1/86
Nr.º 1 • Janeiro de 2013
Oito edições anuais
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Padre
Os projectos do Padre Toucinho
Um milagre de amor sem fim
Foi como na multiplicação dos pães:
no início havia apenas uma dúzia de
projectos, mas ficavam saciadas
centenas de milhares de pessoas.
Nos 65 anos seguintes – durante os quais a
Obra fundada pelo Padre Werenfried, graças à vossa generosidade, distribuiu abundantemente a Boa Nova, sob a forma de
mais de 50 milhões de Bíblias para Crianças ou dezenas de milhares de programas
de formação para catequistas e seminaristas; durante os quais se propagou o Evangelho em todos os cinco continentes
providenciando milhares de bicicletas e
carros para padres e religiosas; e durante os
quais foram criados espaços de oração e de
Levar Deus
aos homens:
missão das
capelas-rolantes,
1951.
louvor a Deus através da ajuda de subsistência a ordens contemplativas ou da ajuda
à construção de capelas, igrejas e catedrais
– durante todos esses anos, a nossa Obra esteve estreitamente ligada ao Papa.
O primeiro impulso veio de Pio XII. Este
perguntou ao superior dos premonstratenses se ele não saberia como ajudar os deslocados e refugiados alemães; o Abade
lembrou-se do jovem Padre Werenfried e
do seu comentário na edição de Natal da revista da Ordem: “Sem lugar na hospedaria”. Em nome do Santo Padre, incumbiu-o
da tarefa de ajudar os refugiados. Mais
tarde, foram os próprios Papas a interpelar
Werenfried. João XXIII chamou a atenção
do Padre Werenfried para as carências na
América Latina e na Índia; Paulo VI falou
com ele sobre as possibilidades de reconciliação na Palestina, no Líbano e em Israel,
bem como sobre a ajuda aos cristãos que aí
passavam dificuldades; João Paulo II pediulhe ajuda para a África, a China e depois
também para a Rússia. Estes impulsos dos
Papas foram sementes na terra áspera, mas
profunda, do monge premonstratense.
Cresceram rapidamente e, por vezes, bem
alto, mas ajudaram sempre a minorar o sofrimento da Igreja. Com a morte do fundador, há dez anos, começou necessariamente
uma fase de reconstrução e de reorganização. O resultado foi uma fundação pontifícia, mais uma vez por sugestão de Roma,
desta feita do Papa Bento XVI. Novos tempos exigem novas formas de caridade. O
Foto: Andrzej Polec
Muros da reconciliação: restaurar
igrejas na Bósnia
e construir seminários na Ucrânia
– pela “civilização
do amor”
(Paulo VI).
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Hoje ajudais a missão com estipêndios
de missa. Muitos padres vivem só disso.
Foto: Evilazio Bezerra
Levar Deus aos homens: missão fluvial
na Amazónia, em 2012.
Mais de 50
milhões de
Bíblias para
Crianças: Deus
fala aos Seus
filhos” em 172
línguas.
“Pulmões da Igreja”: 50 anos de ajuda
de subsistência para religiosas
contemplativas.
“Não tenho outro capital senão
os vossos bons corações.”
Werenfried van Straaten
impulso original é o mesmo: ajudar a Igreja
perseguida que sofre, pregar o perdão e O Padre Werenfried na Palestina
levar a reconciliação.
A ajuda aos seminaristas deu origem a seminários – por exemplo, em Lviv, para a
Igreja greco-católica, perseguida durante
décadas. Os primeiros materiais didácticos
deram origem à Bíblia para Crianças, ao
pequeno catecismo, ao apoio a programas
da Igreja na rádio, em África e na Ásia. O
restauro de igrejas destruídas e em ruínas
deu origem a novas construções em países,
nos quais muros e torres demonstram agora
a presença do Deus de amor, como, por
exemplo, no Kosovo muçulmano, onde actualmente está a surgir, com a vossa ajuda,
Nova Evangelização: o Padre Werenfried nas JMJ em Denver, em 1993.
e refugiados sírios
oriundos de
Homs: guerra,
fuga, expulsão –
então, como hoje.
a Catedral em honra da Beata Madre Teresa. O toucinho para os refugiados alemães deu origem à ajuda de emergência
para cristãos refugiados no mundo inteiro hoje, por exemplo, para os cristãos no
Iraque ou em Aleppo, na Síria. E o Padre
Werenfried deu também resposta aos problemas dos tempos modernos. Desde os
anos 90, apoiais as “fazendas da esperança”, quintas onde toxicodependentes
descobrem um novo sentido para a sua
vida, trabalhando duramente e tentando
viver o Evangelho – com uma taxa extraordinariamente baixa de recaídas de apenas
15%, pelo que existem já réplicas em mais
de uma dúzia de países no mundo.
comunidade religiosa mais perseguida do
mundo inteiro. Nunca a Fundação Pontifícia da AIS foi tão necessária como hoje.
Relatam os evangelistas: “Quando o Senhor
viu a multidão teve compaixão”. E disse
aos discípulos: “Dai-lhes de comer”. Eles
foram buscar o que tinham. O Padre Werenfried sentiu essa chamada, mas não tinha
nada. Recorreu a vós. E o Senhor abençoou
O sofrimento não diminuiu. Como Bento o que doastes. Este milagre do amor tem
XVI constatou já há anos, os cristãos são a que continuar.
•
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O Padre Ragheed Aziz Ganni estava
muito ligado a nós. A AIS tinha financiado o seu curso de Teologia em
Roma. Em 2003, regressou ao Iraque,
sua pátria, mas a ligação mantevese. A 30 de Maio de 2007 enviou um
e-mail para Königstein com esta fotografia antiga de um encontro em
Roma e escreveu: “Rezo sempre por
todos vós e peço ao Senhor que vos
proteja de todo o mal.” Três dias depois, foi assassinado por islamitas
perto da sua igreja, em Mossul. O seu
martírio obriga-nos ainda mais a ajudar a Igreja que sofre, pois ela é,
como o Padre Werenfried dizia, “a
verdadeira elite da Igreja”.
Necessidade, amor e gratidão – as vossas cartas
Em nome da Igreja na China
A bondade e a caridade do Padre Werenfried inspiraram certamente muitas pessoas a manifestar a sua compaixão para
com os pobres. A Ajuda à Igreja que
Sofre, obra que ele fundou, nasceu da
vontade de ajudar quem sofria, sobretudo aqueles que queriam viver a sua fé,
inclusive as pessoas na China. Precisamente em nome da Igreja na China,
quero exprimir a nossa gratidão por
todas as vossas orações e o vosso apoio
para a formação de padres, irmãs e religiosos, na China.
Cardeal John Tong, Hong Kong
Ele continua a dar-nos força
Agradecemos-vos do fundo do coração.
Por vezes, perguntamos-nos quanto
tempo ainda durará o sofrimento. Mas,
depois, lembramos-nos do que o Padre
Werenfried nos escreveu em 1996, há 16
anos: o diabo é de temer não por ser tão
forte no seu ódio, mas por a nossa caridade ser tão fraca; não por ele matar
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cristãos, mas por nós não vivermos como
cristãos.
Irmã Georgina das
Filhas da Ressurreição, Bukavu
Um dom de Deus
A vida é um dom de Deus. Algumas pessoas que têm consciência disso tornamse, elas mesmas, um dom para os outros.
Algumas, para a sua família; outras,
para um círculo mais alargado; outras
ainda para o mundo inteiro. Através
delas, os que sofrem sentem a misericórdia de Deus e, assim, elas servem-nos
como exemplo de colaboração na obra
de Deus. O Padre Werenfried era assim.
Era um enviado de Deus que via o mundo
“com os olhos de Deus”. Cumpramos
hoje o mandamento do amor dado por
Deus, dando continuidade à obra da misericórdia que o Padre Werenfried iniciou por nós.
Svyatoslav Shevchuk,
Arcebispo Primaz da Igreja
greco-católica ucrâniana, Kiev
Johannes
Freiherr
Heereman,
Presidente
Executivo
Desde que tenho o privilégio de
servir a AIS, quase que não passa
um dia sem um encontro com o
Padre Werenfried. Encontro-o a
cada passo em Königstein, mas,
além disso, surge constantemente
nos meus pensamentos.
Não sou historiador; pelo contrário, debato-me antes com o futuro
da AIS. Mas como é que se pode
cuidar do crescimento de uma árvore se não se conhecem as suas
raízes e o seu tronco? Estes são a
obra do Padre Werenfried. As suas
orientações espirituais são e permanecem determinantes. Não se
trata de o imitar ou de ficar parado junto a ele. Não seria esse o
seu desejo, já que, também ele,
nunca se deteve em coisas passadas, avançando antes, sem parar,
para ajudar a Igreja em todos os
lugares onde mais sofresse. Tratase, antes, de fidelidade criativa.
Admiro a determinação com que
teceu grandes planos e fez promessas que pareciam simplesmente impossíveis. Depositando
uma confiança ilimitada em Deus,
caros benfeitores, nunca foi em
vão que confiou na vossa generosidade. Gratos, permaneceremos
fiéis a este exemplo.

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