ii simpósio internacional de humanização da atenção obstétrica e
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ii simpósio internacional de humanização da atenção obstétrica e
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE GRUPO DE PESQUISA VIVER MULHER II SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA ATENÇÃO OBSTÉTRICA E NEONATAL II SIHATON RIO GRANDE/2014 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Simone M. Firme, CRB 10/2323 S612a Simpósio Internacional de Humanização da Atenção Obstétrica e Neonatal (2. : 2014 9. 12-15 : Rio Grande) Anais [recursos eletrônicos]: II Seminário Internacional da Atenção Obstétrica e Neonatal – SIHATON : 12 a 15 de novembro de 2014 / [Organizado pelo Grupo de Pesquisa Viver Mulher da Universidade Federal de Rio Grande]. – Dados Eletrônicos. – Rio Grande: Ed. da FURG, 2014. Organização do evento: Universidade Federal do Rio Grande Modo de Acesso: http://www.sinsc.furg.br/site/sihaton/ ISBN 978-85-7566-365-3 1. Obstetrícia – Congressos. I. Universidade Federal do Rio Grande. II. Título. CDU, 2. ed. : 618.2(062.552) Índice para o catálogo sistemático: 1.Obstetrícia- Congressos 618.2(062.552) COORDENADORA: Nalú Pereira da Costa Kerber EQUIPE ORGANIZADORA COMISSÃO DE SECRETARIA LUIZA ROCHA MÁRCIA MARCOS DE LARA VANESSA FRANCO DE CARVALHO JACKELINE DA SILVA VIANA FERNANDA RUAS MACHADO ALINE RODRIGUES DO MONTE JESSICA MEDEIROS MINASI FRANCIELLE GARCIA SENA CINTIA CAMILA SANTOS DE SOUZA COSTA DIEGO VASCONCELOS RAMOS ELOISA DA FONSECA RODRIGUES RÚBIA GABRIELA FERNANDES SALGADO COMISSÃO CIENTÍFICA CATHARINE SILVA DE SOUZA FLÁVIA CONCEIÇÃO POHLMANN JAMILA VASQUEZ ROCKEMBACH DAIANE BITTENCOURT DE LEMOS TAIMARA MARTINS PINHEIRO ALESSANDRA MENDES DE BARROS MARIZA CRISTINA PORTO GONÇALVES FABIANE FERREIRA FRANCIONI HEITOR SILVA BIONDI BRUNA GOULART GONÇALVES ELIANA PINHO DE AZAMBUJA COMISSÃO DE DIVULGAÇÃO CÍNTIA DE SOUZA SANTANA MARILICE MAGROSKI GOMES DA COSTA SILVANA MONTEIRO COSTA RICARDO CUNHA DOS SANTOS CARLA VITOLA GONÇALVES COMISSÃO DE INFRAESTRUTURA LULIE ROSANE ODEH SUSIN FRANCISCA PATRÍCIA FERREIRA GUELMO LIANE RODRIGUES BORGES CARMEN CARBALLO DOMINGUEZ BRUNA RUOSO DA SILVA CAROLINA COUTINHO COSTA JESSICA DE CASSIA MARQUES DE ALMEIDA JANAÍNA NEVES MACHADO 1. APRESENTAÇÃO O Grupo de Pesquisa Viver Mulher, da Universidade Federal do Rio Grande – FURG, pretendeu difundir os resultados de estudos da temática da atenção obstétrica e neonatal no âmbito científico, acadêmico e profissional, e trazer o tema à discussão de forma a contribuir com os serviços prestadores de assistência à saúde do Sistema Único de Saúde. Objetivou, também, disseminar a proposta do Ministério da Saúde sobre a humanização da atenção no pré-natal, parto e ao recém-nascido, auxiliando e incentivando os municípios a aderir plenamente à proposta do MS. A atenção humanizada envolve um conjunto de práticas e atitudes que visam à promoção do parto e nascimento saudável e a prevenção de morbimortalidade materna e perinatal. Uma atenção de qualidade e humanizada são essenciais para as ações de saúde na resolução de problemas, fortalecimento da capacidade da mulher em reconhecer as dificuldades a serem enfrentadas e reivindicar seus direitos, além de promover o autocuidado a fim de garantir a saúde integral e seu bem-estar. O II Simpósio Internacional de Humanização da Atenção Obstétrica e Neonatal é visualizado como importante instrumento de difusão do conhecimento específico. O evento se desenvolveu no período compreendido entre os dias 12 à 15 de novembro de 2014 na cidade do Rio Grande - RS. SUMÁRIO 1. APRESENTAÇÃO .......................................................................................... 4 2. TRABALHO COMPLETO ............................................................................. 14 1.2) ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM À GESTAÇÃO GEMELAR COM DIAGNÓSTICO DE SÍNDROME DA TRANSFUSÃO FETO- FETAL .................... 15 2.2) EXPERIÊNCIAS DE PROFISSIONAIS DE ESTRATÉGIAS DE SAÚDE DA FAMÍLIA NO ATENDIMENTO A FAMÍLIAS ENLUTADAS PELA PERDA FETAL . 29 3.2) UM OLHAR SOB A POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO: A APROXIMAÇÃO E O DISTANCIAMENTO NA ATENÇÃO PRÉ-NATAL (2014) .... 39 4.2) DESVELANDO SIGNIFICADOS: A HUMANIZAÇÃO NA ATENÇÃO PRÉNATAL NA VOZ DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE (2014) ................................. 53 5.2) ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA PERCEPÇÃO DE GESTANTES HOSPITALIZADAS COM PRÉ-ECLÂMPSIA ......................................................... 64 6.2) TRAJETÓRIA DAS QUESTÕES DE GÊNERO E INFLUÊNCIAS NA SAÚDE DA MULHER ............................................................................................. 79 7.2) PROTAGONISMO DA MULHER NO PROCESSO PARTURITIVO: VIVÊNCIAS DE PUÉRPERAS PRIMÍPARAS ........................................................ 87 8.2) EXPERIÊNCIAS DE PROFISSIONAIS DE ESTRATÉGIAS DE SAÚDE DA FAMÍLIA NO ATENDIMENTO A FAMÍLIAS ENLUTADAS PELA PERDA FETAL¹ 96 9.2) CUIDADO DE ENFERMAGEM NO TRABALHO DE PARTO E PARTO NA ÓTICA DE PUÉRPERAS PRIMÍPARAS .............................................................. 106 10.2) GRUPO FOCAL COMO TÉCNICA DE PRODUÇÃO DE DADOS QUALITATIVOS: A EXPERIÊNCIA COM MULHERES QUILOMBOLAS ............ 116 11.2) SENTIMENTOS DE MULHERES QUILOMBOLAS ACERCA DE SUA IDENTIDADE E VIDA NO QUILOMBO ................................................................ 128 12.2) MELHORIA DA ATENÇÃO AO PRÉ-NATAL E PUERPÉRIO NA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE NEWTON AZEVEDO, MUNICIPIO DE RIO GRANDE-RS . 138 13.2) A IMPORTÂNCIA DO COMPANHEIRO DURANTE O PROCESSO GESTACIONAL.................................................................................................... 143 14.2) RETRATO DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER NO MUNICÍPIO DO RIO GRANDE ............................................................................ 153 15.2) ASSOCIAÇÃO ENTRE O NASCIMENTO DE BEBÊS PRÉ-TERMOS E/OU COM BAIXO PESO E A DOENÇA PERIODONTAL MATERNA: UM ESTUDO CASO-CONTROLE NA CIDADE DE PELOTAS-RS. ........................... 166 16.2) MOTIVOS PARA O DESMAME PRECOCE IDENTIFICADOS PELOS ENFERMEIROS DA REDE BÁSICA DE SAÚDE NO EXTREMO SUL DO BRASIL.................................................................................................................178 17.2) ALEITAMENTO MATERNO: MANEJO DOS ENFERMEIROS NO EXTREMO SUL DO BRASIL1 .............................................................................. 186 18.2) ITINERÁRIO DE UMA USUÁRIA DE CRACK DA GESTAÇÃO AO TRATAMENTO E REINSERÇÃO SOCIAL (2014) ............................................... 195 19.2) PERCEPÇÕES DE PARTICIPANTES DE UM GRUPO DE PLANEJAMENTO FAMILIAR SOBRE OS MÉTODOS CONTRACEPTIVOS ...... 209 20.2) CUIDADO DE ENFERMAGEM À MULHER NO CLIMATÉRIO: UMA REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA ....................................................... 222 21.2) ESTUDO DE CASO: LACTAÇÃO ADOTIVA, PROPOSTA PARA O CUIDADO DA ENFERMAGEM MÃE-BEBÊ......................................................... 238 22.2) A ADAPTAÇÃO EXTRAUTERINA E A HIPOTERMIA EM RECÉMNASCIDOS: UM ESTUDO DE CASO .................................................................. 249 23.2) FATORES QUE INTERFEREM NA ESCOLHA DOS METODOS CONTRACEPTIVOS1........................................................................................... 260 24.2) IMPLEMENTAÇÃO DA CONSULTA PUERPERAL REALIZADA POR RESIDENTE EM ENFERMAGEM OBSTETRICA EM UMA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE..................................................................................................................272 25.2) PERCEPÇÃO DAS PARTURIENTES SOBRE O TRABALHO DE PARTO E PARTO SOB A ÓTICA DA HUMANIZAÇÃO (2014) ......................................... 286 26.2) A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS NA UTI NEONATAL: UMA COLABORAÇÃO NO CUIDADO DE ENFERMAGEM ......................................... 296 27.2) EMPODERAMENTO DA GESTANTE NO CENÁRIO DO PARTO POR MEIO DO CUIDADO HUMANIZADO DE ENFERMAGEM (2014)¹ ...................... 311 28.2) PÉ TORTO CONGÊNITO: UM ESTUDO DE CASO CLINICO ............... 320 29.2) A TEORIA DE OREM: CONTRIBUIÇÕES NA DESINTOXICAÇÃO QUÍMICA DA GESTANTE USUARIA DE CRACK ............................................... 330 30.2) PREVALÊNCIA DE TRANSTORNOS MENTAIS COMUNS EM GESTANTES EM ACOMPANHAMENTO NO PRÉ-NATAL DE BAIXO RISCO DE UM DISTRITO DOCENTE ASSISTENCIAL DE PORTO ALEGRE: dados preliminares.......................................................................................................... 340 3. RESUMOS ................................................................................................. 351 1.3) PARTICIPAÇÃO DA MULHER NA TOMADA DE DECISÃO DURANTE O PROCESSO DE PARTURIÇÃO: UMA REVISÃO INTEGRATIVA ....................... 352 2.3) INCENTIVO AO PARTO NORMAL EM GRUPOS DE GESTANTES E PUÉRPERAS: RELATO DE EXPERIÊNCIA ........................................................ 358 3.3) AÇÕES DE ENFERMAGEM NO PERÍODO GRAVÍDICO: UMA REVISÃO INTEGRATIVA ..................................................................................................... 363 4.3) AMBIENTE HUMANIZADOR COMO DESAFIO EM CENTRO OBSTÉTRICO TRADICIONAL: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA ....................... 369 5.3) PROMOÇÃO DO ALEITAMENTO MATERNO ATRAVÉS DA PRODUÇÃO DE UM VÍDEO: RELATO DE EXPERIÊNCIA ...................................................... 374 6.3) GRUPO DE BEBÊS: ARTICULAÇÃO MULTIPROFISSIONAL COMO ESTRATÉGIA DE PROMOÇÃO DA SAÚDE NA ATENÇÃO PRIMÁRIA ............ 379 7.3) A PARTICIPAÇÃO DE ENFERMEIRAS NO PRÉ-NATAL DE BAIXO RISCO E A QUALIDADE DESTE ATENDIMENTO ............................................. 385 8.3) PROTAGONISMO DA ENFERMAGEM NO INCENTIVO AO ALEITAMENTO MATERNO E A REPERCUÇÃO PARA UMA ASSISTÊNCIA HUMANIZADA ..................................................................................................... 390 9.3) A DOR NO RECEM NASCIDO PREMATURO: MANEJOS E CUIDADOS: UMA REVISÃO INTEGRATIVA ........................................................................... 395 10.3) CUIDADOS PRESTADOS PELOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE À FAMÍLIA DE UMA CRIANÇA QUE SOFREU ASFIXIA PERINATAL GRAVE...... 401 11.3) PRÁTICAS CLARAMENTE PREJUDICIAIS NA ASSITENCIA AO PARTO DE ADOLESCENTES .......................................................................................... 406 12.3) REVELAÇÃO DO DIAGNÓSTICO DE ASFIXIA PERINATAL GRAVE À FAMÍLIA ............................................................................................................... 412 13.3) REALIZAÇÃO DO PRÉ-NATAL E SUA IMPORTÂNCIA PARA A GESTANTE E O RECÉM-NASCIDO (2014) ........................................................ 418 14.3) CONSUMO DE ÁLCOOL NA GESTAÇÃO E OS EFEITOS NO RECÉMNASCIDO (2014) ................................................................................................. 423 15.3) CARACTERIZAÇÃO DO PRÉ-NATAL DE PUÉRPERAS EM UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO NO SUL DO BRASIL ............................................ 428 16.3) CUIDADO PRÉ-NATAL: TENDÊNCIAS DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA DA PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM NO BRASIL ........................................ 434 17.3) MULHERES EM GESTAÇÃO DE ALTO RISCO .................................... 439 18.3) GESTAÇÃO DE ALTO RISCO E ENFERMAGEM: REVISÃO INTEGRATIVA ..................................................................................................... 444 19.3) AVALIAÇÃO DO PROGRAMA PUERICULTURA: ALEITAMENTO MATERNO E ESTADO NUTRICIONAL DOS RECÉM-NASCIDOS DA EQUIPE DE SAÚDE DE UMA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE NO MUNICÍPIO DE PELOTAS, RS.........................................................................................................................450 20.3) MANEJO CLÍNICO DAS INTERCORRÊNCIAS MAMÁRIAS DURANTE O PROCESSO DE AMAMENTAÇÃO ...................................................................... 455 21.3) DIFICULDADES E FACILIDADES VIVENCIADAS PELO ENFERMEIRO NO TRABALHO COM AS MULHERESNA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA (2014)...................................................................................................................460 23.3) ATENÇÃO AO PRÉ- NATAL DE GESTANTES ADOLESCENTES: VIVÊNCIAS DE ACADÊMICOS DE ENFERMAGEM NO PET-SAÚDE DA FAMÍLIA (2014)...................................................................................................................466 24.3) A PREMATURIDADE E AS MORBIDADES GESTACIONAIS EVIDENCIADAS EM MATERNIDADES DE UM MUNICÍPIO DO SUL DO BRASIL.................................................................................................................472 25.3) TENDÊNCIAS DA PRODUÇÃO NACIONAL DA PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM ACERCA DO CLIMATÉRIO ...................................................... 478 26.3) A HUMANIZAÇÃO DO PARTO SOB A ÓTICA DE ENFERMEIRAS ...... 484 27.3) A PRÁTICA DO ACONSELHAMENTO EM AMAMENTAÇÃO EM UM GRUPO OPERATIVO DE GESTANTES ............................................................. 489 28.3) USO DAS DROGAS EM GESTANTES: AÇÕES EM SAÚDE (2014) ..... 494 29.3) INSTITUIÇÕES HOSPITALARES DO MUNICÍPIO DE PELOTAS/RS: CRESCIMENTO NA TAXA DE CESARIANAS – 2009 a 2013 ............................ 499 30.3) GRUPO DE MÃES: ASSISTÊNCIA A GESTANTES E PUÉRPERAS (2014)...................................................................................................................504 31.3) AÇÕES EDUCATIVAS E SUAS IMPLICAÇÕES NA SAÚDE DA MULHER...............................................................................................................509 32.3) CONHECIMENTO DE PUÉRPERAS DE UMA MATERNIDADE NO INTERIOR DO RIO GRANDE DO SUL SOBRE O TABAGISMO ........................ 515 33.3) TENDÊNCIAS DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA ACERCA DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA ATENÇÃO PRÉ-NATAL (2014) ..................................... 520 34.3) PRÁTICAS ASSISTÊNCIAS DESENVOLVIDAS PELO ENFERMEIRO NA ATENÇÃO PRÉ-NATAL: UMA REVISÃO DA LITERATURA (2014..................... 526 35.3) A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER NA GESTAÇÃO: DENÚNCIAS DE VIVIDOS EM UMA DELEGACIA DE POLICIA PARA A MULHER ....................... 532 36.3) PERCEPÇÕES DE MULHERES ACERCA DO EXAME CITOPATOLÓGICO ............................................................................................. 537 37.3) PERCEPÇÕES DE PUÉRPERAS ACERCA DAS ORIENTAÇÕES SOBRE ALEITAMENTO MATERNO ................................................................................. 542 38.3) A EVOLUÇÃO DAS POLÍTICAS DE SAÚDE DE PREVENÇÃO E CONTROLE DA MORBIMORTALIDADE MATERNA: SUBSÍDIOS PARA O ENFERMEIRO ..................................................................................................... 546 39.3) A INSERÇÃO DE DOULAS NA ASSISTÊNCIA AO TRABALHO DE PARTO E NASCIMENTO NO AMBIENTE HOSPITALAR ................................... 552 40.3) EDUCAÇÃO EM SAÚDE POR MEIO DE GRUPO DE GESTANTES: RELATO DE EXPERIÊNCIA ................................................................................ 558 41.3) ATUAÇÃO ACADÊMICA EM PRÉ-NATAL DE BAIXO RISCO: RELATO DE EXPERIÊNCIA ............................................................................................... 564 42.3) MORTE PERINATAL: PROFISSIONAIS E ACADÊMICOS DE ENFERMAGEM ESTÃO EMOCIONALMENTE PREPARADOS? ........................ 569 43.3) TRABALHO ELABORADO A PARTIR DO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO. IMPORTÂNCIA DAS ORIENTAÇÕES NO PRÉ-NATAL: CONHECENDO A VISÃO DAS PUÉRPERAS APRESENTADO AO DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS (UFPEL). PELOTAS-RS, BRASIL 2011¹ ............................................ 575 44.3) EDUCAÇÃO CONTINUADA EM UMA UNIDADE OBSTÉTRICA: CONTRIBUIÇÕES DO ENFERMEIRO ................................................................ 580 45.3) DADOS DE ENFERMAGEM PARA A PRÁTICA DO ALEITAMENTO MATERNO, RELATO DE EXPERIÊNCIA ............................................................ 585 46.3) VIVÊNCIAS DE ACADÊMICOS DE ENFERMAGEM À ESTRATÉGIA NACIONAL DE VACINAÇÃO CONTRA HPV (2014) ........................................... 590 47.3) A PRIMEIRA VISITA DOMICILIARIA AO RECÉM-NASCIDO E FAMÍLIA E AS POSSIBILIDADES DE CUIDADO DE ENFERMAGEM .................................. 596 48.3) A CONSULTA DE ENFERMAGEM COMO OPORTUNIDADE NA PREVENÇÃO DO CÂNCER DE COLO DE ÚTERO: RELATO DE EXPERIÊNCIA......................................................................................................601 49.3) EPIDEMIOLOGIA DA SÍFILIS CONGÊNITA: UMA REVISÃO NARRATIVA..........................................................................................................606 50.3) PRESERVATIVO FEMININO SOB A ÓTICA DA MULHER (2014)......... 612 51.3) A INFLUÊNCIA DO PARTO CIRÚRGICO NA PRÁTICA DA AMAMENTAÇÃO, UMA REVISÃO DA LITERATURA ......................................... 617 52.3) ABORDAGEM DAS MEDIDAS NÃO FARMACOLÓGICAS PARA ALIVIO DA DOR NO PARTO EM UM GRUPO DE GESTANTES E PUÉRPERAS ......... 622 53.3) PREVALÊNCIA DO ALEITAMENTO MATERNO EXCLUSIVO E SUA RELAÇÃO À SAÚDE MATERNO-INFANTIL (2014 ............................................. 627 54.3) ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM DURANTE O TRABALHO DE PARTO: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA ........................................................... 631 56.3) DIAGNÓSTICO DE CÂNCER DE MAMA EM PERÍODO GESTACIONAL: A IMPORTANCIA DA ENFERMAGEM NESTE CONTEXTO............................... 636 57.3) ATUAÇÃO DA ENFERMEIRA EM UM CENTRO OBSTÉTRICO: RELATO DE EXPERIÊNCIA ............................................................................................... 641 58.3) REFLEXÃO SOBRE O TRABALHO DA DOULA NA HUMANIZAÇÃO DO PARTO..................................................................................................................647 59.3) ACOMPANHAMENTO DE ENFERMAGEM AO RECÉM-NASCIDO NA ATENÇÃO PRIMÁRIA POR MEIO DA CONSULTA DE PUERICULTURA (2014)....................................................................................................................652 60.3) A IMPORTANCIA DO ALEITAMENTO MATERNO PARA O RECÉMNASCIDO: UMA VISÃO HISTÓRICA E ATUAL 2014........................................ 6527 61.3) PRÉ-NATAL DAS PARTURIENTES DE RISCO HABITUAL DO HOSPITAL CASA DE SAÚDE: NOTA PRÉVIA ................................................... 663 62.3) PUÉRPERAS: O QUE SABEM ELAS ACERCA DA EPISIOTOMIA? ..... 668 63.3) A VIVÊNCIA DA AMAMENTAÇÃO E A PARTICIPAÇÃO DO COMPANHEIRO: CONTRIBUIÇÕES PARA A ENFERMAGEM .......................... 674 64.3) A INFLUÊNCIA DO CICLO LUNAR NO PARTO E NASCIMENTO: NOTA PRÉVIA ................................................................................................................ 680 65.3) A PRIMEIRA VISITA DOMICILIARIA AO RECÉM-NASCIDO E FAMÍLIA E AS POSSIBILIDADES DE CUIDADO DE ENFERMAGEM .................................. 685 66.3) A CONSULTA DE ENFERMAGEM COMO OPORTUNIDADE NA PREVENÇÃO DO CÂNCER DE COLO DE ÚTERO: RELATO DE EXPERIÊNCIA......................................................................................................690 67.3) VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA: REFLEXÃO A PARTIR DE INTERVENÇÕES NO ESTÁGIO DE CONCLUSÃO DE CURSO (2014) .......................................... 695 69.3) CUIDADO INTEGRAL AO RECÉM–NASCIDO E A IMPORTÂNCIA DA AVALIAÇÃO CLÍNICA DO ENFERMEIRO .......................................................... 700 70.3) ATENÇÃO A SAÚDE DA MULHER: A ENFERMAGEM NA EDUCAÇÃO SOBRE O CÂNCER DE COLO DE ÚTERO ........................................................ 705 71.3) GESTANTE COM EXAME VDRL ALTERADO: UM ESTUDO DE CASO (2014)....................................................................................................................710 72.3) A GESTAÇÃO E O SEU IMPACTO NAS RELAÇÕES FAMILIARES (2014)....................................................................................................................716 73.3) ALOJAMENTO CONJUNTO: ESPAÇO OPORTUNO PARA O ESTÍMULO A AMAMENTAÇÃO E CUIDADOS COM O RECÉM-NASCIDO .......................... 721 74.3) O CUIDAR EM ENFERMAGEM OBSTÉTRICA POR MEIO DA HUMANIZAÇÃO DA ATENÇÃO A PARTURIENTE ............................................. 726 75.3) A PARTICIPAÇÃO PATERNA NA PRÁTICA DO ALEITAMENTO MATERNO ........................................................................................................... 732 76.3) FORTALECENDO O CUIDADO AO NEONATO NA ATENÇÃO PRIMÁRIA POR MEIO DA CONSULTA DE ENFERMAGEM (2014) ..................................... 738 77.3) HUMANIZAÇÃO NA ASSISTÊNCIA AO TRABALHO DE PARTO: Uma revisão narrativa................................................................................................... 743 78.3) CONSULTA DE PRÉ-NATAL: ENFERMAGEM COMO INSTRUMENTO BÁSICO ............................................................................................................... 749 79.3) ALEITAMENTO MATERNO: REFLEXÃO SOBRE VANTAGENS PARA MÃE - FILHO E O PAPEL DO ENFERMEIRO DE UMA ES ................................ 753 80.3) PROCESSO DO ALEITAMENTO MATERNO NO ÂMBITO DO 1 ALOJAMENTO CONJUNTO: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA ........................ 758 81.3) A SAÚDE DAS MULHERES BRASILEIRAS EM SITUAÇÃO DE PRIVAÇÃO DE LIBERDADE: UMA REVISÃO NARRATIVA ............................... 762 82.3) GESTANTES EM CENA ......................................................................... 768 83.3) CICLO GRAVIDICO PUERPERAL E O USO DE CRACK: DESAFIOS PARA A ENFERMAGEM OBSTÉTRICA ............................................................. 773 84.3) MANEJO CLÍNICO DA AMAMENTAÇÃO EM UNIDADE OBSTÉTRICA, UM ENSAIO TEÓRICO ........................................................................................ 778 85.3) ATENÇÃO À SAÚDE NO PERÍODO GRAVÍDICO-PUERPERAL: DISSERTAÇÕES DO PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS ................................................... 784 86.3) ACOMPANHANTE COMO PARTICIPANTE ATIVO E FACILITADOR NO TRABALHO DE PARTO E PARTO ...................................................................... 788 87.3) DOULAS NA ASSISTÊNCIA AO PARTO: UMA REVISÃO INTEGRATIVA......................................................................................................792 88.3) DOAÇÃO DE LEITE HUMANO: UMA REVISÃO INTEGRATIVA ........... 797 89.3) ATUAÇÃO DA DOULA NO CENÁRIO DE HUMANIZAÇÃO DO PARTO E NASCIMENTO (2014) .......................................................................................... 802 90.3) FOTOTERAPIA: NECESSIDADES E CUIDADOS COM ESTE TRATAMENTO .................................................................................................... 807 91.3) DEPRESSÃO PÓS-PARTO: MANIFESTAÇÕES E CONSEQUÊNCIAS...............................................................................................812 92.3) CONSULTA DE ENFERMAGEM NO PRÉ-NATAL: UM OLHAR DA SAÚDE COLETIVA (2014 .................................................................................... 817 94.3) EXAME PREVENTIVO DE CÂNCER DE COLO UTERINO – PERIODICIDADE E FREQUÊNCIA ..................................................................... 822 95.3) QUALIDADE DE VIDA PÓS MATERNIDADE NA ADOLESCÊNCIA ..... 827 96.3) IMPACTO DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROGRAMA DE RESIDÊNCIA EM ENFERMAGEM OBSTÉTRICA NA MATERNIDADE DO HOSPITAL CASA DE SAÚDE - SANTA MARIA/RS: OPINIÃO DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE QUE ATUAM NESTE CENÁRIO (2014) ....................................................................... 832 97.3) O PAPEL DO ENFERMEIRO ACERCA DAS DISFICULDADES NO PUERPÉRIO ........................................................................................................ 836 98.3) A IMPORTÂNCIA DAS BOAS PRÁTICAS NA HUMANIZAÇÃO DO NASCIMENTO ..................................................................................................... 842 99.3) VIVENCIAS DA FORMAÇÃO DE RESIDENTES EM ENFERMAGEM OBSTÉTRICA: RELATO DE CASO ..................................................................... 846 100.3) O CUIDADO DE ENFERMAGEM NA VISÃO DE MULHERES PUÉRPERAS EM UMA MATERNIDADE DA REGIÃO SUL DO BRASIL (2014) ...................... 851 101.3) PROMOÇÃO DA SAÚDE COM GESTANTES EM SALA DE ESPERA (2014)...................................................................................................................856 2. TRABALHO COMPLETO 1.2) ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM À GESTAÇÃO GEMELAR COM DIAGNÓSTICO DE SÍNDROME DA TRANSFUSÃO FETO- FETAL 1 DA ROCHA, Bruna Dedavid2; DONADUZZI, Daiany Saldanha da Silveira 3 ; MARCHIORI, Mara Regina CainoTeixeira4; MENEZES, Francislene Lopes5; BORDIGNON, Juliana da Silveira 6; GOMES, Iris Elizabete Messa7 RESUMO Introdução: A gestação é considerada um fenômeno fisiológico que envolve modificações fisiológicas, sociais e emocionais na mulher. Portanto, a assistência pré-natal, por meio principalmente da educação em saúde, é considerada primordial, pela carência de informações ou informações errôneas decorrentes dos mitos e crenças estabelecidos pela própria sociedade, em relação ao período gestacional. Em relação ao acompanhamento de gestações de alto risco no pré –natal, destacase neste relato a gestação gemelar com presença de Síndrome da Transfusão FetoFetal (STFF). Objetivo: Descrever a experiência vivenciada por enfermeira Residente em Enfermagem Obstétrica, diante de um caso de gestação gemelar com síndrome da transfusão feto – fetal. Metodologia: Relato de caso clínico, descritivo, realizado 1 Relato de caso clínico com aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa (parecer nº 758.677). Enfermeira. Residente do Programa de Residência em Enfermagem Obstétrica do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA).Membro do Núcleo de Estudos Mulheres, Gênero e Políticas Públicas da Universidade Federal de Santa Maria (NEMGeP/UFSM). Email: [email protected] 3 Enfermeira. Mestre em Enfermagem pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria (PPGEnf/UFSM). Enfermeira Concursada junto a Prefeitura Municipal de Santa Maria (PMSM). Preceptora no Programa de Residência em Enfermagem Obstétrica do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Email: [email protected] 4 Enfermeira. Mestre em Educação – Faculdades Franciscanas. Doutoranda DINTER Novas Fronteiras UNIFESP/UFRJ/UFSM. Tutora do programa de Residência em Enfermagem Obstétrica do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Email: [email protected] 5 Enfermeira. Mestre em Enfermagem pelo Programa de Pós- Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria (PPGEnf/UFSM). Residente do Programa de Residência em Enfermagem Obstétrica do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Email: [email protected] 6 Enfermeira. Residente do Programa de Residência em Enfermagem Obstétrica do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Email: [email protected] 7 Enfermeira. Residente do Programa de Residência em Enfermagem Obstétrica do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Email: [email protected] 2 após aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa (parecer nº 758.677), o qual tem como cenário uma Unidade Básica de Saúde (UBS) localizada na região centrooeste da cidade de Santa Maria, Rio Grande do Sul, na qual a Residência em Enfermagem Obstétrica do Centro Universitário Franciscano está inserida desde 2013. Resultados e Discussões: Relata-se um caso clínico de uma gestante GIIIPIIA0, 42 anos de idade, à qual foi diagnosticada gestação com STFF às 18 semanas e 4 dias de gestação. Foi submetido ao tratamento por cirurgia à laser de ablasão das anastomoses arteriovenosas em 26/06. Gestação interrompida em 25/07, parto cesariana, com posterior óbito de ambos os fetos. Ressalta-se a importância do acompanhamento pré-natal à gestante e sua família, realizado pelo enfermeiro bem como, conhecimento clínico desse profissional para identificar problemas e conduzir determinadas situações. Considerações finais: A enfermagem necessita ter conhecimento sobre as principais complicações que podem surgir a partir de uma gestação gemelar. Na STFF, mesmo o diagnóstico sendo essencialmente clínico e a conduta e acompanhamento se restringir a assistência médica, possui intervenções cabíveis à equipe de enfermagem. Eixo Temático: Eixo 2 – Atenção ao pré - natal Descritores: Assistência pré-natal; Enfermagem; Gravidez de Alto Risco; Gestação Gemelar. NURSING CARE WITH THE DIAGNOSIS OF PREGNANCY TWINTWIN TRANSFUSION SYNDROME ABSTRACT Introduction: Pregnancy is considered a physiological phenomenon involving physiological, social and emotional changes in women. Therefore, the prenatal care, mainly through health education, is considered paramount, by lack of information or misinformation arising from myths and beliefs established by society itself, in relation to the gestational period. In relation to the monitoring of high-risk pregnancies in the prenatal, stands out in this report gestation car with presence of twin-twin transfusion syndrome (TTTS). Purpose: Describe the experience lived by Resident Nurse in Obstetric Nursing, facing a case of pregnancy with twin-twin transfusion syndrome. Methodology: Reporting clinical, descriptive case, carried out after approval by the ethics and Research Committee (opinion No. 758,677), which is set in a basic health Unit (BHU) located in the Central-West region of the city of Santa Maria, Rio Grande do Sul, in which the Residence in Obstetric Nursing of Centro Universitário Franciscano is inserted from 2013. Results and discussions: Describes a clinical case of a pregnant woman, GIIIPIIA0, 42 years old, which was diagnosed pregnancy with TTTS, at 18 weeks and 4 days of gestation. Reference has been made to the treatament with laser surgery in 26/06. Gestation interrupted in 25/07, cesarean birth, with subsequent death of both fetuses. Emphasized the importance of prenatal care to the pregnant woman and her family, performed by a nurse as well as clinical knowledge of a trader to identify problems and conduct certain situations. Conclusions: Nursing needs to have knowledge about the major complications that can arise from a twin pregnancy. In the TTTS, even the clinical diagnosis being essentially and conduct and follow-up if restrict medical care, has reasonable interventions to nursing staff. Main theme: 2 – Prenatal Care Descriptors: Prenatal care; Nursing; High – risk pregnancy; Twin Pregnancy. 1. INTRODUÇÃO A gestação é considerada um fenômeno fisiológico que contempla uma experiência de vida saudável à mulher e sua família, na qual envolve modificações fisiológicas, emocionais e sociais, que influenciam no contexto de vida da mulher. Mas, ao mesmo tempo em que se caracteriza como um processo natural, pode também implicar riscos para a mãe e para o bebê, uma vez que algumas gestantes, por apresentarem determinadas características específicas, antes ou durante a gestação, podem ter uma evolução desfavorável e, portanto, são denominadas de “alto risco” (BRASIL, 2012). Nesse contexto, uma gestação ou trabalho de parto, que ocorre dentro dos limites da normalidade, pode em determinado momento, tornar-se de alto risco. Portanto salienta-se a importância das consultas de pré-natal, da reclassificação de risco a cada consulta e das orientações disponibilizadas à gestante. Destaca-se que mesmo o fato de a gestante não realizar o acompanhamento de pré-natal ou não fazê-lo de forma adequada, já caracteriza a gestação como de alto risco (BRASIL, 2012). O acompanhamento pré-natal de gestantes classificadas como de baixo risco, é realizado na Atenção Básica de saúde (AB), por meio de consultas que podem ser realizadas tanto pelo médico como pelo enfermeiro, ou ambos profissionais da rede básica de saúde. No momento em que a gestante é classificada como de alto risco, a mesma é encaminhada para o acompanhamento no hospital de referência. Contudo, salienta-se que a gestante, mesmo classificada como de alto risco, pode continuar seu pré-natal também na AB, se assim desejar. Com a implantação da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISM), o enfermeiro é estimulado a participar nas ações de saúde da mulher, com ênfase na assistência pré-natal (RIOS; VIEIRA, 2007). Principalmente porque, de acordo com a Lei do Exercício Profissional de Enfermagem, Decreto nº 94.406 de 1987, artigo 11, cabe ao enfermeiro, privativamente, a consulta de enfermagem bem como assistência à gestante, parturiente e puérpera (BRASIL, 1986). Por tratar-se de um processo de intensas modificações corporais e emocionais, no qual os pensamentos da mulher são permeados de dúvidas, medos e incertezas, a assistência de enfermagem no pré-natal é considerada primordial, principalmente pela carência de informações ou informações errôneas decorrentes dos mitos e crenças estabelecidos pela própria sociedade, que influenciam negativamente durante a gestação e o parto. Portanto, o acolhimento da gestante e sua família deve ser realizado na assistência pré-natal, inclusive por promover o início do vínculo afetivo entre mãe-bebê, que tem início na gestação (RIOS; VIEIRA, 2007). A educação em saúde direcionado à gestante durante o pré-natal, envolve a construção de conhecimento e modificação do comportamento em relação ao processo de saúde e doença vivenciado em uma gravidez de alto risco. Ao enfermeiro cabe, portanto, habilidade de ir além do simples ato de realizar orientações, mas instigar a gestante, companheiro e família a questionar e sair da zona de passividade, na qual geralmente os pacientes são colocados pelos profissionais (LUCIANO; SILVA; CECCHETTO, 2011). Algumas estratégias de educação e saúde, que podem auxiliar na troca de informações e experiências durante o pré-natal, são os grupos de gestantes, principalmente por possibilitar às gestantes se relacionarem com outras mulheres que também estão vivenciando o mesmo problema durante a gestação ou possuem as mesmas dúvidas, medos e incertezas. Em relação a uma determinada situação diagnosticada como de alto risco, em nível mundial, a incidência de gestações gemelares, por exemplo, encontra-se relativamente constante em diferentes países, por volta de 3,5 por 1.000 nascimentos. Portanto, corresponde a 1% das gestações, sendo que dois terços são do tipo dizigótico e um terço do tipo monozigótico. Gestações gemelares dizigóticas, resultam da fecundação de dois óvulos por dois espermatozoides, sendo dicoriônicos e diamnióticos, podem ser ou não do mesmo sexo e possuir características de irmãos não gêmeos (FREITAS, 2001; MARTINS, BARRA, FILHO, 2006). Alguns fatores que influenciam a ocorrência de gestações gemelares dizigóticas são: idade materna avançada, multiparidade, hereditariedade, raça, uso de drogas indutoras da ovulação e fertilização em vitro. Mulheres com gestação múltipla possuem maior risco de complicações durante a gravidez e parto, comparadas às mulheres com gestação simples (FREITAS, 2001; MARTINS, BARRA, FILHO, 2006;). As complicações de uma gestação gemelar incluem transtornos por compressão, aborto espontâneo, hiperêmese, anemia, pielonefrite, parto prematuro, Crescimento Intra Uterino Retardado, polidrâmnio, mal formações congênitas, síndrome da transfusão feto-fetal, apresentações anômalas (GAMA DA SILVA et al, 2003). Considerando somente gestações gemelares monocoriônicas, uma das complicações graves que podem ocorrer, é a síndrome da Transfusão feto-fetal (STFF), variando a ocorrência de 4 a 34% (FREITAS, 2001; MARTINS, BARRA, FILHO, 2006). Nesta condição clínica, existem anastomoses arteriovenosas entre a circulação do tecido placentário, interligando as duas circulações fetais, nutrindo cada um dos fetos. Isso tem por consequência a passagem desbalanceada de sangue de um dos fetos (doador), para o outro denominado receptor. (FREITAS, 2001). O feto receptor tende a apresentar sobrecarga circulatória o que pode causar insuficiência cardíaca e poliidrâmnio, causados pela hipovolemia. O gemelar receptor também pode apresentar aumento da osmolaridade plasmática, aumento da pressão oncótica e hidropsia (FREITAS, 2001; GAMA DA SILVA et. al, 2003) O diagnóstico da STFF é realizado pelo médico na consulta pré-natal, e pode ser clínico por meio da anamnese: inspeção da altura uterina maior (apresenta-se maior que a esperada), tensão e desconforto abdominal, secundários ao polidrâmnio. Também pode ser diagnosticado sequencialmente, por meio de ultrassonografia obstétrica, no primeiro trimestre de gravidez, a qual pode revelar presença de líquido amniótico discordante. A ecocardiografia fetal pode auxiliar pela possibilidade de detectar alterações cardiovasculares (GAMA DA SILVA et al, 2003). Portanto, para evitar complicações mais sérias e tratamento precoce, a ultrassonografia deve ser realizada preferencialmente no primeiro trimestre gestacional (BUONACORSO et al, 2006). Após ser diagnosticado a STFF, o acompanhamento da gestação deve ser mais rigoroso, principalmente pela avaliação da perda de líquido amniótico, o que pode acontecer principalmente de 16 a 26 semanas de gestação (LEWI et al, 2010). Sugere-se assim, que a paciente seja encaminhada ao pré-natal de alto risco e com a possibilidade de internação para melhor acompanhamento e controle de alterações. 2. OBJETIVOS Descrever a experiência vivenciada por enfermeira Residente em Enfermagem Obstétrica, diante de um caso de gestação gemelar com síndrome da transfusão feto – fetal. 3. METODOLOGIA Trata-se de um relato de caso descritivo, o qual tem como cenário uma Unidade Básica de Saúde (UBS) localizada na região centro-oeste da cidade de Santa Maria, Rio Grande do Sul, na qual a Residência em Enfermagem Obstétrica do Centro Universitário Franciscano está inserida desde 2013. Foi realizado no referido cenário após aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa (parecer nº 758.677). A UBS possui atendimento por demanda espontânea e por sua localização central, abrange usuários de todas as regiões da cidade. Na constituição do corpo de trabalho, possui os seguintes profissionais: dois médicos pediatras, dois médicos clínicos-geral, dois médicos ginecologista/obstetras, uma enfermeira e coordenadora da unidade, três recepcionistas, quatro técnicos de enfermagem, uma cirurgiã-dentista e uma Residente em Enfermagem Obstétrica. Em relação ao espaço físico, possui sala de espera, recepção, farmácia, sala de vacinas, sala de curativos, sala de materiais de limpeza, sala de procedimentos, sala de atuação dos ginecologistas/obstetras com banheiro, duas salas de pediatria, uma sala de atuação do clínico geral, sala de procedimentos odontológicos, sala da Residência em Enfermagem Obstétrica, sala da enfermeira/coordenadora, dois banheiros (feminino e masculino) localizados na sala de espera. Na referida UBS, a Residente em Enfermagem Obstétrica realiza a primeira consulta pré-natal das gestantes que acessam esse serviço de saúde, intercalando as consultas subsequentes com os médicos ginecologistas /obstetras da unidade. Quando a gestação é diagnosticada como de alto risco, a gestante é encaminhada para realização do pré-natal no hospital de referência da cidade, mas pode manter o acompanhamento também na UBS, com a enfermeira residente e com o médico, se assim desejar. No caso apresentado neste relato, a residente realizou apenas a primeira consulta pré-natal, mas acompanhou a gestante quando a mesma procurava esse serviço de saúde para a consulta médica e após o desfecho da gestação. 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES ET, 42 anos, G3P2A0, um parto normal e uma cesárea anterior, sem intercorrências no pré-natal e no parto, sem patologias prévias ou doenças sexualmente transmissíveis (DST’s). DUM:12/02/14; DPP:20/11/14.Iniciou o acompanhamento de pré-natal com 8 semanas de gestação, de acordo com a data da última menstruação. A primeira consulta de pré-natal foi realizada pela enfermeira residente em obstetrícia da UBS, na qual foram solicitados exames de rotina e ultrassonografia obstétrica. A paciente relatou alguns sinais e sintomas da gravidez tais como: atraso menstrual, náusea, dispneia, dor fraca em baixo ventre, dor lombar, urgência urinária. Negou perdas vaginais (corrimento ou sangramento). Referiu não fazer uso de álcool, cigarro ou drogas. Peso: 52.500; P.A: 90/60 mmhg; Altura: 1,53 cm. Realizou o primeiro ultrassom em 07/04 ( 7 semanas de gestação) e exames laboratoriais de 09/04 sem alterações. Segundo ultrassom em 10/06: apresentação córnica, movimentos fetais presentes, batimentos cardíacos fetais presentes, placenta grau zero, bolsão do 1º gemelar apresentando polidramnia, ILA 10, bexiga do 1º gemelar distendida; 2º gemelar oligodramnia, placenta dicoriônica, diamniótica, compatível com 18 semanas e 2 dias. STFF interrogado. Em 16/06, com 16 semanas de gestação, gestante começou a apresentar perda de líquido amniótico e contrações uterinas. Realizou ecografia obstétrica gemelar em 11/06: primeiro gemelar transverso, polo cefálico, dorso à esquerda; segundo gemelar transverso, polo à direita. Peso 1º gemelar: 291 gramas; Peso 2º gemelar: 209 gramas. Placenta grau zero.1º gemelar polidrâmnio e L.A ausente no segundo gemelar. Gestação compatível com 18 semanas e 4 dias. Síndrome da transfusão feto-fetal. Em 26/06, foi realizar no Rio de Janeiro, fazer tratamento a laser o qual tem por objetivo, interromper a troca sanguínea entre os dois bebês, em decorrência que um dos fetos não estava se alimentando e portanto não estava ganhando peso suficiente, pois havia uma única placenta para ambos os fetos. Na cirurgia foi colocado um pessário, utilizado para prevenir um parto prematuro e funciona diminuindo a pressão exercido pelo feto, à pelve da gestante. Depois de realizada a cirurgia no RJ, paciente ficou em acompanhamento no HUSM, internada, pois suas contrações só aumentavam. Foi orientada para fazer repouso absoluto no leito. Na avaliação obstétrica realizada no hospital: BCF’S normais, pressão arterial normal, realizado toque vaginal, logo após a placenta descolou e foi levada às pressas para a sala de cirurgia (em 25/07). 1º gemelar nasceu com 675 gramas e foi a óbito com 35 minutos de vida e 2º gemelar ficou internado três dias na UTI neonatal e logo após foi a óbito. Na avaliação anátomo-patológica: placenta monocoriônica, diamniótica, com diversos coágulos, com anastomoses vasculares profundas. Estudos demonstram que a gemelaridade por si só, é responsável por cerca de 10% dos Trabalhos de Parto Prematuro e 25% de todas as mortes pré -termo. A maior morbidade materna associada a gestações gemelares, é decorrente de situações patológicas mais decorrentes, a citar a STFF (GAMA DA SILVA et al, 2003). De acordo com estudo que objetivou avaliar a evolução de gestações gemelares monocoriônicas diamnióticas com e sem síndrome de transfusão, não houve diferença significativa de parto pré - termo entre os grupos com e sem STFF; mas, observou-se maior ocorrência de parto pré -termo extremo nos casos de STFF do que aqueles que não apresentavam a doença. Em relação ao óbito ao nascimento, de um dos gemelares, presença de comprometimento neurológico em pelo menos um dos neonatos e o comprometimento neurológico em ambos os neonatos, foram mais frequentes em mulheres que apresentaram STFF na gestação (PERALTA et al, 2009). De acordo com a literatura o diagnóstico mais precoce, por meio de ultrassonografia, se deu em 14 semanas de gestação. A partir de 14-16 semanas, já é possível visualizar alterações de volume aminiótico e a partir do 2º e 3º trimestres já pode ser detectada STFF instalada. Algumas características perceptíveis são a quantidade de líquido amniótico e tamanho dos fetos – polidrâmnio e volume vesical aumentado em um dos fetos, o outro com oligodrâmnio e bexiga vazia (BELDI; ROZAES; FILHO, 2005). O tratamento pode ser realizado por amniocentese seriada, rotura da membrana que separa as cavidades amnióticas e da ablasão das anastomoses vasculares com laser. A técnica que atualmente merece destaque por apresentar melhores resultados é a ablasão à laser das anastomoses arteriovenosas (CROMBLEHOME, 2003), método de escolha no caso clínico apresentado neste relato. Em relação à esse procedimento, o mesmo visa inativar as anastomoses que proporcionam o desenvolvimento e progressão da doença (PERALTA et al, 2009). Em relação à conduta expectante, os poucos casos encontrados na literatura os quais foram tratados conservadoramente, não se registraram fetos sobreviventes (DOMINGUES et al, 2007). Estudo demonstrou que conduta expectante, em gestação com STFF, gera maiores complicações perinatais, maior probabilidade de prematuridade extrema, óbito de um ou ambos os gêmeos e danos neurológicos em um ou ambos os fetos (PERALTA et al, 2009). Em 2013 o Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente- Fernandes Figueira (IFF/Fio Cruz) iniciou como proposta de tratamento para a STFF a coagulação a laser por fetoscopia das anastomoses vasculares. O Instituto Nacional de Saúde Fernandes Figueira é um centro de referência para tratamento de risco fetal e possibilita que gestantes com esse diagnóstico tenham acesso à esse tratamento (PORTAL FIOCRUZ, 2013). Porém, em estudo realizado por Funayama et al, foram acompanhadas em 6 anos, 14 gestações gemelares com óbito de um dos fetos, sendo que 5 destas apresentavam placenta monocoriônica; em todos estes casos a conduta foi conservadora até no mínimo 32 semanas completas de gestação. Apenas um feto apresentou distúrbio neurológico, relacionado à prematuridade (FUNAYAMA et al, 2002). Além de alterações fisiológicas e de comportamento em gestantes consideradas de alto risco, a família também vivencia modificações, principalmente no cotidiano familiar. A mesma necessita adaptar-se em relação às recomendações de cuidados à gestante como repouso no leito, mudança de hábitos alimentares, controle das atividades diárias, maior frequência de consultas pré-natal e realização de exames. Portanto, a família se insere cada vez mais no acompanhamento da gestação, principalmente por meio do apoio emocional à gestante e auxílio nas atividades diárias (PETRONI et al, 2012). Dessa maneira, a família merece atenção dois profissionais de saúde e deve participar ativamente das consultas de pré-natal. A consulta de enfermagem proporciona, portanto, um espaço de escuta qualificada do profissional enfermeiro, em relação às expectativas da gestante e de sua família no processo gestacional de alto risco. Em estudo que objetivou conhecer a percepção de acompanhantes sobre a gestação de alto risco, os resultados apontam que a família reconhece a necessidade de cuidados especiais à gestante e a importância do acompanhante durante a gestação. Porém a família desconhece o risco gestacional e as implicações para a mãe e para o feto. Cabe à enfermagem o compromisso de sensibilizar sobre a importância das consultas de pré-natal, bem como orientar a gestante e a família nas consultas (PETRONI et al, 2012). Além da perspectiva ampliada e de considerar a família nesse contexto, o conhecimento clínico de enfermagem sobre situações de risco gestacional, como a STFF, é de suma importância. O mesmo tem se tornado cada vez mais necessário na assistência pré-natal e deve ser cada vez mais estimulado, por possibilitar que o enfermeiro saiba identificar problemas, bem como, manejo adequado de situações como as de alto risco (PEREIRA; BACHION, 2005). Afinal, o acompanhamento da gestação de alto risco é identificado principalmente na atenção básica e referenciado para serviço hospitalar para gestações de alto risco, porém o acompanhamento pode acontecer concomitante em ambos os serviços de saúde. O que norteia a identificação de problemas, diagnóstico de enfermagem, intervenções a serem realizadas, bem como a tomada de decisão do enfermeiro, é a classificação de diagnósticos de enfermagem da North American Nursing Diagnosis Association –NANDA (NANDA, 2002). Muitos diagnósticos de enfermagem no prénatal são negligenciados ou sequer são realizados pelos profissionais, o que possibilitaria uma atenção pré-natal de qualidade, baseada em conhecimento clínico, identificação de possíveis riscos ou a prevenção dos mesmos. A prática de enfermagem deve ser valorizada, sendo que as consultas de pré-natal devem contemplar além orientações básicas, diagnóstico, prescrição, evolução de enfermagem, dentro das competências legais da profissão (PEREIRA; BACHION, 2005). 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS É de grande relevância que a enfermagem tenha conhecimento sobre as principais complicações que podem surgir a partir de uma gestação gemelar. Na STFF, mesmo o diagnóstico sendo essencialmente clínico e a conduta e acompanhamento se restringir a assistência médica, possui intervenções cabíveis à equipe de enfermagem. Para tanto, se faz necessária a captação precoce de gestantes nas áreas abrangentes à Atenção Básica de Saúde, realização da primeira consulta pré-natal precocemente, bem como, investigação de antecedentes familiares de patologias e gemelaridade, antecedentes obstétricos e possíveis fatores de risco gestacional. Ou seja, é necessária uma atenção pré - natal humanizada e de qualidade, a qual pode ser explorada pelos enfermeiros. À família que vivencia situação de gravidez gemelar com síndrome da transfusão feto – fetal, deve ser oferecido suporte de uma equipe multidisciplinar, principalmente para acompanhamento psicológico, pois se trata de uma situação de grande estresse, sofrimento, medo e ansiedade relacionado ao desfecho da gestação. É importante, portanto, atentar para alterações ultrassonográficas e considerar as queixas da gestante, bem como avaliar sempre a mulher nas consultas por meio do exame físico e ginecológico. Nesse sentido, a atuação de uma equipe multiprofissional na atenção básica, auxiliaria na qualificada da assistência em gestações de alto risco. A atuação multiprofissional se faz essencial, visto que, após a alta hospitalar, muitas vezes não tem-se uma continuidade no cuidado à mulher e sua família. REFERÊNCIAS BELDI, M.C.; ROZAES, A.; FILHO, N.P.B. Síndrome de Transfusão Feto-Fetal: relato de dois casos. Rev. Fac. Ciênc. Méd. Sorocaba, São Paulo, v.7, n.2. p. 17 – 19, 2005. BRASIL, M.S. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Gestação de alto risco: manual técnico. 5ª edição.Brasília, Distrito Federal, 2012. BUONACORSO, R.; et al. Gestação gemelar com óbito de um dos fetos: relato de caso. Arq. Med. Hosp. Fac Ciênc Med, Santa Casa São Paulo, v. 51, n. 3, p. 88-91, 2006. PORTAL FIOCRUZ. Fundação Osvaldo Cruz. Tratamento para Síndrome da Transfusão Feto-fetal começa a ser realizado no IFF. Notícia por Suely Amarante e Aline Câmera. 30 jan. 2013. Disponível em: < http://portal.fiocruz.br/ptbr/content/tratamento-para-s%C3%ADndrome-de-transfus%C3%A3o-feto-fetalcome%C3%A7a-ser-realizado-no-iff >. FREITAS, F. Rotinas em Obstetrícia. 4.ed. Porto Alegre: Artmed Editora, 2001. FUNAYAMA, C. A. R. et al. Gravidez Gemelar com Morte Fetal de Um dos Gêmeos: Avaliação Neurológica dos Gemelares Sobreviventes. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, v. 24, n. 2, 2002. GAMA DA SILVA, J.C.; et al Assistência à gestação e parto gemelar. Rev. Cienc. Med., Campinas. 12(2):173-183, abr./jun., 2003. MARTINS, W.P.; BARRA, D.A.; FILHO, F.M. Gestação Múltipla – aspectos clínicos. Femina, v. 34, n. 6, p. 423 – 431, jun. 2006. LEWI, L. et al. Monochorionic Diamniotic Twin Pregnancies: Natural History and Risk Stratification. Fetal Diagn Ther, v.27, p.121-33, abr. 2010 LUCIANO, M.P.; SILVA, E.V.; CECCHETTO, F.H. Orientações de Enfermagem na gestação de alto risco: percepções e perfil de gestantes. Rev Enferm UFPE online, v. 5, n. 5, p. 1261-266, jul. 2011. NANDA. North American Nursing Diagnosis Association. Diagnósticos de Enfermagem da NANDA: Definições e classificação- 2001/2002. Tradução de Jane Liliane M. Michel. Porto Alegre (RS): Artmed; 2002. PEREIRA, S.V.M.; BACHION, M.M. Diagnósticos de enfermagem identificados em gestantes durante o pré-natal. Rev Bras Enferm, v. 58, n. 6, p. 659-64, nov.- dez., 2005. RIOS, C.T.F.; VIEIRA, N.F.C. Ações educativas no pré-natal: reflexão sobre a consulta de enfermagem como um espaço para educação em saúde.Ciênc Saúde Coletiva, v.12, n. 2, p. 477- 486, 2007. PETRONI, L.M. et al. Convivendo com a gestante de alto risco: a percepção do familiar. 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Trata-se de um estudo descritivo, com abordagem qualitativa, desenvolvido em um município do Noroeste do Rio Grande do Sul adstrito à 17ª Coordenadoria Regional de Saúde, que conta com três equipes da ESF. Participaram doze profissionais (dois médicos, duas enfermeiras, quatro técnicas de enfermagem e quatro agentes comunitárias de saúde). Os dados foram coletados em agosto de 2010 por entrevista semiestruturada, gravadas e transcritas para fins de análise, segundo análise temática proposta por Minayo. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), mediante o processo 1 Trabalho oriundo de Trabalho de Conclusão de Curso para obtenção de grau de Enfermeira pela Universidade Federal de Santa Maria. 2 Enfermeira. Especialista em Saúde Pública. Mestranda em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Email: [email protected] 3 Enfermeira. Professora Assistente da Universidade Federal de Santa Maria. Doutora em Ciências. Email: [email protected] 23081.011801/2010-23.Sobre suas experiências profissionais, a maioria dos sujeitos mencionou ter experenciado para além do campo profissional, ou seja, relataram suas próprias vivências pessoais. Outro dado refere-se ao estresse representado pela necessidade de noticiar a morte fetal, devido a perda significar impotência e/ou fracasso profissional. Alguns sujeitos relataram situações de perda neonatal, salientando que essa representa uma experiência mais difícil para o profissional e para a mulher enlutada. Os dados permitem reafirmar a importância da educação permanente para que os profissionais tenham compreensão acerca da representação da gestação, maternidade, perda e luto. Eixo Temático: Atenção à Saúde da Mulher. Descritores: Gravidez; Morte Fetal; Saúde da Mulher; Estratégia Saúde da Família; Profissional da Saúde. ABSTRACT Pregnancy is considered a time of joy, where hopes and dreams are deposited in this life that is to come. When fetal loss occurs projects and expectations are broken along with pregnancy. This experience, feelings of helplessness and frustration take account of whom experience loss, requiring a sensitivity health professionals to assist in the preparation of the loss. It is necessary a social support network for women / bereaved family, which fall into professionals, especially members of the teams of the Family Health Strategy (FHS). The goal is to report the experience of professionals in FHS assistance to women and / or families bereaved by fetal loss. This is a descriptive study with a qualitative approach, developed in a municipality the Northwest Rio Grande do Sul attached to the 17th Regional Health, which has three FHS teams. Participated in twelve professionals (two doctors, two nurses, four nursing techniques and four community health workers). Data were collected in August 2010 by semistructured, recorded and transcribed for analysis interview, as proposed by Minayo thematic analysis. The project was approved by the Ethics Committee of the Federal University of Santa Maria (UFSM) through the process 23081.011801/2010-23. About their professional experiences, most participants mentioned having lightful beyond the professional field, or reported their own personal experiences. Another data refers to the stress posed by the need to report fetal death due to loss mean impotence and / or professional failure. Some subjects reported cases of neonatal loss, stressing that this is a more difficult experience for the professional and for the bereaved woman. The data allow reaffirm the importance of continuing education for professionals to have understanding about the representation of pregnancy, motherhood, loss and grief. Descriptors: Pregnancy; Fetal Death; Woman’s Health; Family Health Strategy; Health Professional. 1. INTRODUÇÃO A gestação é uma fase na vida da mulher que implica em diversas transformações relacionadas ao seu corpo, estilo de vida e seu novo papel social – o de ser mãe. Essas mudanças exigem adaptações principalmente na vida da mulher, mas também se estendem ao companheiro e à família que juntos vivenciam esse momento. Entretanto, cada mulher vive a gravidez de forma única e individual, dependendo do contexto cultural, social e familiar a qual está inserida, que vão influenciar fortemente os aspectos físicos, emocionais e sociais no seu exercício da maternidade. Para além dessas mudanças, novos papeis e responsabilidades devem ser assumidos pelos novos pais, que reconhecem o filho como um ser frágil que necessita de proteção e cuidado, o que requer uma construção ideológica de ser mãe e ser pai (SILVA et al., 2013). O nascimento de um bebê é considerado pela maioria das mães e suas famílias como um momento de felicidade, alegria e até a realização de um sonho. Desejos e expectativas são depositados nessa nova vida que está por vir. Ao saberse grávida, a mãe passa a imaginar como será o rostinho do bebê, seu nome e a idealizar projetos para seu filho. Quando ocorre uma perda fetal, seus sonhos e expectativas são rompidos junto com a gravidez (MONTERO et al., 2011). Dessa vivência, sentimentos de impotência, incapacidade, frustração e culpa tomam conta da mulher e família que experenciam a perda, o que demanda dos profissionais da saúde uma sensibilidade para o oferecimento de apoio e conforto. Este suporte é importante na elaboração da dor e sofrimento da perda, fazendo parte do processo de cuidar. Nele, prioriza-se a expressão das diferentes questões dessa gestante, buscando a satisfação de suas necessidades com base em sua própria ótica (RODRIGUES; HOGA, 2006). Nesse sentido, percebe-se a necessidade de uma rede social de apoio à mulher e à família enlutada, em que se insiram também os profissionais de saúde, destacando-se os integrantes de equipes da Estratégia de Saúde da Família (ESF). 2. OBJETIVOS O presente estudo, recorte de outro de maior envergadura, tem como objetivo relatar a experiência de profissionais da ESF no atendimento às mulheres e/ou famílias que vivenciam uma perda fetal. 3. METODOLOGIA Estudo descritivo, de natureza com abordagem qualitativa, desenvolvido em um município do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul adstrito à 17ª Coordenadoria Regional de Saúde, que conta com três equipes da ESF. Como critério de inclusão foi definido que o profissional deveria ter experenciado, no exercício de sua profissão, o atendimento à mulher e/ou família enlutada em decorrência da perda fetal. Participaram doze profissionais (dois médicos, duas enfermeiras, quatro técnicas de enfermagem e quatro agentes comunitárias de saúde), atuantes em uma das três equipes de ESF, prezando-se pela representatividade de todos os profissionais da equipe mínima de uma ESF. Os dados foram coletados por entrevista do tipo semiestruturada, gravadas e, posteriormente, transcritas para fins de análise e interpretação dos dados. As entrevistas aconteceram durante o mês de agosto de 2010, segundo o local e disponibilidade dos sujeitos do estudo. Foram respeitados os preceitos éticos de pesquisa com seres humanos, conforme a Resolução do Conselho Nacional de Saúde n° 196/96, com aprovação do projeto por meio de Parecer Consubstanciado, emitido pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Santa Maria (CEP/UFSM), mediante o processo 23081.011801/2010-23. Os dados foram analisados pela análise de conteúdo da modalidade temática, operacionalmente efetuada em três etapas: pré-análise, exploração do material e tratamento dos resultados obtidos e interpretação. Na pré-análise tomou-se contato com o material produzido na transcrição das entrevistas, por meio de leitura exaustiva, com vistas a uma impregnação das informações contidas; na exploração, realizou-se a categorização dos dados, organizando-se as unidades de registro a partir de suas afinidades temáticas; e na interpretação buscou-se a compreensão e interpretação dos dados à luz do referencial (BERTOLANI; OLIVEIRA, 2010; MINAYO, 2010). 4. RESULTADOS Ao serem questionados acerca das experiências profissionais na ESF, relativas à atenção a mulheres e/ou famílias enlutadas pela perda fetal, a maioria dos sujeitos mencionou ter tido alguma experiência para além do campo profissional, ou seja, relataram suas próprias vivências pessoais. Na medida em que descreviam suas experiências, atribuíram motivos que ocasionaram a perda fetal, relacionando-a há alguma situação e/ou ação por parte da mulher e/ou família. Outro dado que emerge da investigação refere-se ao estresse representado pela necessidade de noticiar à mulher/família a morte fetal, pois, além da dificuldade cultural de lidar com as questões relativas à morte e ao morrer, a perda pode ter um significado de impotência e/ou de fracasso profissional. Percebe-se que a perda significa dificuldades para todos que participam desse evento, incluindo a equipe que a acompanha. Destaca-se que, para os sujeitos do estudo, o profissional deve permanecer incólume ao sofrimento, visto que cabe a ele prestar o suporte a essa mulher e/ou família. Assim, para fazê-lo de modo eficiente, os sujeitos entendem que o profissional não pode se envolver emocionalmente com a situação vivida pela família. Por fim, alguns sujeitos do estudo relataram situações de perda neonatal, e de abortamento ou perda fetal, salientando, inclusive, que essa representa uma experiência mais difícil tanto para o profissional quanto para a mulher enlutada. Talvez o motivo para essa percepção esteja na materialidade possibilitada pelo nascimento de uma criança viva. 5. DISCUSSÃO Com base nos achados, considera-se pertinente trabalhar a questão da promoção da saúde para equipes de ESF, além de atividades de educação permanente que abordem por meio de metodologia crítico-reflexiva conteúdos voltados à multidimensionalidade do ser humano em situação de perda, ou seja, que considere os aspectos biopsicossociais e culturais relativos ao abortamento e perda fetal. Assim, de posse de um maior domínio e clareza sobre as causas de um abortamento ou de uma perda fetal, bem como de seus significados, os profissionais transformariam suas práticas, conforme prevê a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde, auxiliando as famílias no planejamento de suas gestações, respeitando suas decisões e dando o suporte necessário na situação de luto fetal (BRASIL, 2006). A equipe deve estar preparada para lidar com os sentimentos e as emoções das mulheres, além de saber a maneira mais adequada de abordá-las. Parte dos profissionais de saúde prestar um cuidado às mulheres e famílias enlutadas pela perda com responsabilidade e ética. Criar um espaço favorável para ofertar uma palavra de conforto, sabendo ouvir e que as mulheres possam expressar seus sentimentos, de modo que não se sintam culpadas pelo ocorrido faz parte do cuidado que deve ser ofertado pelos profissionais (BAZOTTI; STUMM; KIRCHNER, 2009). A comunicação das “más notícias” em saúde é outro fator a ser trabalhado com os profissionais de saúde, pois constitui-se numa das problemáticas mais difíceis e complexas no contexto das relações interpessoais. Ela representa uma situação que gera perturbação tanto na pessoa que recebe a notícia, como na que a transmite e, por isso, é uma tarefa penosa para quase todos os profissionais de saúde. Cabe ressaltar que isso decorre não só do receio de enfrentar as reações emocionais e físicas dos familiares, mas também pela dificuldade em administrar a situação (PEREIRA, 2005). Ainda, os principais protagonistas das “más notícias” são os prestadores de cuidados, que, para além de planejarem e gerenciarem estes momentos, têm também de gerir os seus próprios medos e estar preparados para aceitar as naturais hostilidades dos que recebem a notícia. Com frequência os profissionais tendem a evitar falar sobre a perda e o luto, passando a responsabilidade de suas atribuições, como orientar e dar suporte emocional para outras categorias profissionais, os quais consideram estar mais preparados para lidar com o assunto. Alguns profissionais, por sua vez, se restringem em focar apenas os aspectos biológicos e procedimentos técnicos, evitando abordar as questões emocionais e suas repercussões psicológicas que afetam as mulheres e suas famílias (SANTOS et al., 2012). Sofrer ao assistir o sofrimento do outro não é demérito, sendo, ao contrário, uma demonstração de empatia, atributo vital para o desenvolvimento de uma relação autêntica e terapêutica com o usuário (LUNARDI et al., 2001). No entanto, isso nem sempre é reconhecido pelos profissionais de saúde, o que ocorre em razão da falta de preparo para conviver com as manifestações somáticas e emocionais dos enlutados e/ou numa tentativa de autoproteção. Assim, acreditam que sua postura deva ser firme, fria ou indiferente diante do sofrimento, pois admitir que se sensibilizam com a dor do outro pode macular a imagem social do profissional, que, em razão da profissão escolhida, deve aceitar e viver sozinho essa dor (COSTA; LIMA, 2005). O processo da morte e o morrer encontram-se presentes em situações de perda e luto fetal. Muitas pessoas, aí incluem-se não só os profissionais de saúde, tem o pensamento de que este tipo de perda não provoca dor e sofrimento para aquele que a vive, por ocorrer no início da gravidez. Esse pode ser um motivo para que os profissionais da saúde tenham dificuldade em lidar com os sentimentos e as reações emocionais dessas mulheres (BAZOTTI; STUMM; KIRCHNER, 2009). A perda fetal se caracteriza como a mais solitária das perdas para a mãe que a vivencia. Isso ocorre porque ela foi a única a conhecer e manter o relacionamento com o bebê (AMPESE; PEROSA; HAAS, 2007). Nessa perspectiva, os profissionais têm dificuldade em reconhecer o feto como alguém concebido, aguardado e, por isso, existente para os pais, alguém que é sujeito de uma história. Por isso, muitas vezes, banalizam essa perda e parecem desconhecer que a construção de laços não depende do tempo ou do convívio do dia-a-dia para acontecer, pois os vínculos entre mãe e filho são produzidos, conforme estudos recentes, durante a gestação (ZIMERMAN, 2011). É importante que o profissional se dê conta que não é o tempo que determina a intensidade do amor e do afeto que liga o bebê à família, e sim os sonhos, as expectativas e o mundo criado na imaginação familiar para a chegada e participação em sua história. 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS A morte de um filho mesmo antes de seu nascimento representa uma perda marcada de muita dor e sofrimento na vida das mulheres e suas famílias que vivenciam a perda fetal. O suporte emocional para essas pessoas vem com o objetivo de aliviar um pouco do sofrimento vivido, de apoiar, confortar, escutar e ajudar na assimilação da perda e elaboração do luto. Tal apoio deve ser ofertado baseado no respeito, responsabilidade e confiança entre aqueles que cuidam e quem é cuidado. A equipe de saúde, ao ofertar a assistência à saúde, deve fazê-la sem julgamento de valor às mulheres que sofreram uma perda fetal, seja ela espontânea ou não. O cuidar do outro está presente na essência do ser humano e vai além de julgamento ou pré-conceitos. Para tanto, é necessário que os profissionais de saúde estejam na busca constante de conhecimento, qualificação e aprendizado. REFERÊNCIAS AMPESE, D; PEROSA, G.; HAAS, R. E. A influência da atuação da enfermagem aos pais que vivenciam a morte do feto viável. Centro Universitário São Camilo, v. 1, n. 2, p. 70-77, 2007. Disponível em: <https://www.scamilo.edu.br/pdf/bioethikos/57/A_influencia_da_atuacao_da_enferma gem.pdf> Acesso em 13 set.2014. BAZOTTI, K. D. V.; STUMM, E. M. F.; KIRCHNER, R. M. Ser cuidada por profissionais da saúde: percepções e sentimentos de mulheres que sofreram abortamento. Texto Contexto Enferm., Florianópolis, v. 18, n. 1, p. 147-154, 2009. BERTOLANI, G. B. M.; OLIVEIRA, E. M. Mulheres em situação de abortamento: estudo de caso. Saude Soc., v. 19, n. 2, p. 286-301, 2010. BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Educação Permanente em Saúde. Série Pactos pela Saúde. Departamento de Gestão da Educação em Saúde. Brasília, 2006. Disponível em: <http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/volume9.pdf> Acesso em: 13 set.2014. COSTA, J. C.; LIMA, R. A. G. Luto da equipe: revelações dos profissionais de enfermagem sobre o cuidado à criança/adolescente no processo de morte e morrer. Rev Latino-Am Enferm., v. 13, n. 2, p. 151-157, 2005. LUNARDI, W. D. Filho et al. Percepções e condutas dos profissionais de enfermagem frente ao processo de morte e morrer. Texto Contexto Enfermagem, Florianópolis, v. 10, n. 3, p. 60-81, 2001. Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 12ª ed. São Paulo: Hucitec; 2010. MONTERO, S. M. P. et al. A experiência da perda perinatal a partir da perspectiva dos profissionais de saúde. Rev Latino-Am Enferm., v. 19, n. 6, 08 telas, 2011. PEREIRA, M. A. G. Má notícia em saúde: um olhar sobre as representações dos profissionais de saúde e cidadãos. Texto Contexto Enferm., Florianópolis, v. 14, n. 1, p. 33-37, 2005. RODRIGUES, M. M. L.; HOGA, L. A. K. Homens e abortamento espontâneo: narrativas das experiências compartilhadas. Rev Esc Enferm USP, São Paulo, v. 39, n. 3, p. 258-267, 2005. SANTOS, C. S. et al. Percepções de enfermeiras sobre a assistência prestada a mulheres diante do óbito fetal. Esc Anna Nery, Rio de Janeiro, v. 16, n. 2, p. 277284, 2012. SILVA, M. R. C. et al. A percepção de gestantes de alto risco acerca do processo de hospitalização. Rev Enferm UERJ, Rio de Janeiro, v. 21, esp. 2, p. 792-797, 2013. ZIMERMAN, D. E. Os Quatro Vínculos: Amor, Ódio, Conhecimento e Reconhecimento na Psicanálise e em Nossas Vidas. Artmed: Porto Alegre, 2011 3.2) UM OLHAR SOB A POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO: A APROXIMAÇÃO E O DISTANCIAMENTO NA ATENÇÃO PRÉ-NATAL (2014)1 CASTIGLIONI, Críslen Malavolta2; BARRETO, Camila Nunes3 ; ALVES, Camila Neumaier4; SCARTON, Juliane5; BISOGNIN, Priscila6; RESSEL, Lúcia Beatriz7 RESUMO O estudo objetivou conhecer fatores/ações que promovem aproximação e distanciamento dos pressupostos de humanização das políticas públicas e programas de saúde propostos pelo Ministério da Saúde na atenção pré-natal de risco habitual. Trata-se de um estudo de campo, de caráter descritivo exploratório, com abordagem qualitativa e vertente antropológica. Participaram cinco enfermeiros e três médicos que realizavam pré-natal em Estratégias de Saúde da Família. Os dados foram coletados por meio das técnicas de observação participante e entrevista semiestruturada enquanto a análise baseou-se na proposta operativa. Os resultados indicaram como distanciamento da humanização no pré-natal: ambiência inadequada, baixo incentivo a capacitação profissional, comunicação fragilizada entre os serviços de saúde, demanda excessiva, dificuldades na comunicação e no trabalho em equipe, formação fragmentada, falta de recursos humanos, questões burocráticas e a supervalorização do ultrassom. Quanto à aproximação, relevou-se: 1 Trabalho de pesquisa derivado dos primeiros resultados de uma dissertação de Mestrado denominada Humanização da atenção pré-natal na práxis dos profissionais de saúde. 2 Acadêmica do 7º semestre de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Email: [email protected] 3 Enfermeira. Mestranda do Programa de Pós-graduação em Enfermagem da UFSM. E-mail: [email protected] 4 Enfermeira. Mestre em Enfermagem pela UFSM. Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas. E-mail: [email protected] 5 Enfermeira. Mestranda do Programa de Pós-graduação em Enfermagem da UFSM. E-mail: [email protected] 6 Enfermeira. Mestranda do Mestranda do Programa de Pós-graduação em Enfermagem da UFSM. E-mail: [email protected] 7 Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora do Departamento de Enfermagem e do Programa de Pós-graduação em Enfermagem da UFSM. E-mail: [email protected] aproximação com a gestante e seu contexto social, articulação de estratégias com os agentes comunitários de saúde, atuação da Residência Multiprofissional Integrada, adesão aos manuais do Ministério da Saúde, educação permanente por parte dos profissionais de saúde, estímulo à participação do companheiro, facilidade de acesso aos exames laboratoriais e preventivos, criação de vínculo entre a gestante e o profissional enfermeiro, promoção de atividades de educação em saúde e a utilização de tecnologias leves. Visualiza-se a necessidade de discutir prioridades na atenção e gestão dos cuidados à gestante, destacando a importância da corresponsabilização dos diferentes níveis de atenção e sujeitos na produção em saúde. Espera-se que estudos como este oportunizem um espaço de reflexão acerca da humanização, contribuindo na minimização/exclusão dos aspectos que distanciam a concretização de um atendimento humanizado à gestante e sua família. Eixo Temático: Atenção ao pré-natal Descritores: Cuidado pré-natal; Humanização da assistência; atenção primária à saúde; Enfermagem. RESUMEN El estudio tuvo como objetivo identificar factores/acciones que promuevan la proximidad y la distancia supuestos humanización de las políticas de salud pública y programas propuestos por el Ministerio de Salud en la atención prenatal de bajo riesgo. Estudio de campo de enfoque exploratorio, descriptivo y cualitativo y enfoque antropológico. Cinco enfermeras y tres médicos que realizaron estrategias prenatales en Salud de la Familia participaron. Los datos fueron recolectados por medio de las técnicas de la observación participante y la entrevista semiestructurada, el análisis se basó en la operativa propuesta. Los resultados indican la distancia como la humanización en la atención prenatal: ambiente inadecuado, pocos incentivos para la capacitación laboral, comunicación entre los servicios de salud debilitada, demanda excesiva, dificultades en la comunicación y el trabajo en equipo, formación fragmentada, falta de problemas de recursos humanos burocrático y la sobrevaluación de la ecografía. En cuanto al enfoque ha revelado a sí mismo: aproximación con la mujer embarazada y su contexto social, estrategias conjuntas con los trabajadores comunitarios de la salud, el desempeño de la gestión integrada multidisciplinaria Residency, adhesión a los manuales de la Secretaría de Salud, formación continua por parte de los profesionales de la salud, compañero de fomento de la participación, facilidad de acceso al laboratorio y exámenes preventivos, creación de un vínculo entre la madre y la enfermera, promoción de actividades de educación en salud y el uso de tecnologías de peso ligero. Visualiza la necesidad de discutir las prioridades en el cuidado y manejo de la atención a las mujeres embarazadas, destacando la importancia de la corresponsabilidad de los diferentes niveles de atención y los sujetos que producen salud. Se espera que estudios como este oportunizem un espacio de reflexión sobre la humanización, lo que contribuye a la minimización/exclusión de las cuestiones que separan a la implementación de la atención humanizada de las mujeres embarazadas y sus familias. Tema principal: La atención al prenatal Descriptores: Atención Prenatal; Humanización de la Atención; Atención Primaria de Salud; Enfermería. 1. INTRODUÇÃO A humanização durante o período gravídico puerperal está protagonizando debates no cenário atual, neles são reforçadas as discussões e reflexões acerca do tema a partir da contextualização dos pressupostos das políticas públicas e programas de saúde propostos pelo Ministério da Saúde. Uma atenção pré-natal e puerperal qualificada e humanizada se dá por meio da incorporação de condutas acolhedoras e sem intervenções desnecessárias, valorização dos sujeitos e sua cultura, do fácil acesso aos serviços de saúde, com ações que integrem todos os níveis da atenção: promoção, prevenção e assistência à saúde da gestante e do recém-nascido (BRASIL, 2006). Em contraponto, a realidade dos serviços de saúde brasileiros apresenta uma hegemonia biomédica, a qual prioriza que o cuidado à gestante seja pautado apenas em procedimentos técnicos e rotineiros, sem oportunidades para compartilhar os conhecimentos e experiências de vida da mulher (ZAMPIERI;ERDMANN, 2010). Observa-se, na práxis do profissionais um desencontro, em que os profissionais de saúde ditam as normas e regras, sem considerar o protagonismo e autonomia da usuária, especialmente nas questões que dizem respeito à herança cultural e a sua forma e percepção de cuidar (MULLER, ARAÚJO, BONILHA, 2007). Objetivando mudanças neste contexto de atenção, as políticas públicas e programas de saúde nacionais almejam transformações e renovações na assistência à mulher no período gravídico puerperal, buscando uma atenção mais humana e resolutiva. Destaca-se, no contexto deste estudo, o termo humanização da atenção. Este traça um novo olhar sobre o cuidado prestado e indica novas diretrizes na assistência em saúde. Com a finalidade de explanar a evolução destas propostas, as políticas e programas que se sobressaem com seus respectivos anos de criação são: Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM) em 1984, Programa de Humanização do Pré-natal e Nascimento (PHPN) em 2000, Política Nacional de Humanização (PNH) em 2003, Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISM) em 2004, Manual Técnico Pré-natal e Puerpério: atenção qualificada e humanizada atualizado em 2006 e finalmente em 2011 a criação da Rede Cegonha. Neste estudo foi utilizada como política norteadora dos pressupostos da humanização na assistência pré-natal a Política Nacional de Humanização, publicada em 2003, que define a humanização como a valorização dos diferentes sujeitos implicados no processo de produção de saúde: usuários, trabalhadores e gestores. Os valores que norteiam esta política são a autonomia e o protagonismo dos sujeitos, a corresponsabilidade entre eles, o estabelecimento de vínculos solidários e a participação coletiva no processo de gestão (BRASIL, 2003). O Ministério da Saúde reafirma a humanização com uma política transversal que percorre as distintas ações e instâncias do Sistema Único de Saúde, considerando os diferentes níveis e dimensões de atenção e gestão (BRASIL, 2009). Sendo o pré-natal o primeiro passo para a vivência de uma gestação saudável e a atenção primária em saúde a porta de entrada das mulheres, entende-se a essencialidade de conhecer a aproximação do que se preconiza na legislação com a realidade dos serviços de saúde de risco habitual. A práxis dos profissionais de saúde necessita de um olhar pautado nas propostas da humanização a fim de compreender o contexto e ao destacar fragilidades e potencialidades, possibilita-se compor estratégias para aproximação de um atendimento humanizado. Apresenta-se neste trabalho o resultado derivado de uma dissertação de mestrado, cuja questão norteadora compreende como ocorre a aproximação dos pressupostos de humanização das políticas públicas e programas de saúde propostos pelo Ministério da Saúde, na atenção pré-natal de risco habitual, na práxis dos profissionais de saúde de Estratégias de Saúde da Família de um município do Sul do Brasil? A partir desta linha norteadora, emanou-se o objetivo desta produção, sendo este: conhecer os fatores/ações que promovem a aproximação e o distanciamento dos pressupostos de humanização das políticas públicas e programas de saúde propostos pelo Ministério da Saúde na práxis da atenção prénatal de risco habitual. 2. METODOLOGIA Trata-se de um estudo de campo, de caráter descritivo exploratório, com abordagem qualitativa e vertente antropológica. O campo para realização do estudo foi composto por quatro Estratégias de Saúde da Família da rede básica de saúde de um município do Sul do Brasil. Destas, três apresentavam uma equipe de saúde da família e uma contava com equipe dupla. A escolha dos cenários ocorreu mediante sorteio. Conforme a ordem das ESF sorteadas realizou-se contato prévio por meio dos telefones disponíveis no site da prefeitura do município com os possíveis campos e participantes do estudo para apresentação da proposta do projeto. Posteriormente, de acordo com disponibilidade e interesse na participação do estudo, foi concordado em conjunto com os participantes o cronograma e organização das atividades. Os participantes do estudo foram cinco enfermeiros e três médicos que atuavam em Estratégias de Saúde da Família da atenção básica de saúde e desenvolviam ações na abrangência da atenção pré-natal. A atuação na assistência pré-natal compreendeu o acompanhamento de diferentes ações, como: consulta médica, consulta de enfermagem, reuniões de equipe e atividades educativas. Destaca-se que os enfermeiros (cinco) das quatro ESF participaram do estudo, sendo que uma destas contava com equipe dupla. Quanto aos profissionais médicos, num dos serviços de saúde da família a coleta de dados ocorreu concomitante a um processo de troca de profissional médico, respeitando o período de adaptação do mesmo a pesquisadora optou por não convidá-lo. Na ESF com equipe dupla um médico prestava o atendimento das duas equipes, correspondendo ao número final de três médicos participantes. A escolha dos participantes deste estudo baseou-se em orientações de Minayo (2010), que afirma que o critério norteador para a amostra em pesquisas qualitativas não é o numérico, pois uma amostra em estudo qualitativo, baliza-se numa proposta em que os colaboradores componham um conjunto diversificado, detenham os atributos que se pretende investigar e sejam em número suficiente que permita a reincidência das informações, o que ela chama de saturação de dados. Nesta direção, o número de participantes contemplou-se por meio da saturação de dados e ao atingir o objetivo deste estudo. Os critérios de inclusão dos sujeitos compreendem: profissionais enfermeiros e médicos que desenvolvessem ações referentes à atenção pré-natal nas Estratégias de Saúde da Família selecionadas para o estudo. Quanto aos critérios de exclusão: enfermeiros e médicos que estivessem afastados do serviço no momento da pesquisa. A coleta de dados percorreu o período de fevereiro a junho de 2014, durante as ações realizadas por enfermeiros e médicos nas ESF. Foram utilizadas as técnicas de observação participante e entrevista semiestruturada. A organização das ações de pré-natal variava entre os serviços selecionados, muitas vezes ocorriam em dias e horários diferenciados, o que possibilitou que a pesquisadora realizasse concomitantemente em mais de uma ESF. O tempo de realização da observação participante variou entre um mês a dois meses em cada serviço, totalizando 140 horas de observação, conforme eram acompanhadas as atividades a pesquisadora regastava o objetivo do estudo e confirmava o momento em que já poderia afastarse do campo. A observação participante percorreu três diferentes etapas, na primeira fase, ocorreu a aproximação com o cenário do estudo, a fim de atenuar a distância entre participantes e pesquisador, assim como aceitação da realização do estudo. A segunda fase, diz respeito a visão do conjunto da comunidade e dos diferentes fatores que compõem e influenciam as ações dos observados, a fim de compreender o contexto vivenciado. A última e terceira fase, considera a mais delicada, enfatizase a importância da sistematização e organização dos dados para posterior análise. Os dados devem garantir que na análise o pesquisador conheça a situação real do grupo e suas percepções na temática escolhida (QUEIROZ et al, 2007). A organização dos dados objetivou clarear aspectos relevantes e que caracterizavam as ações desenvolvidas na atenção pré-natal dentro das singularidades e realidade de cada serviço. O entendimento de cada contexto vivenciado instigava na pesquisadora momentos de reflexão ao colocar-se no lugar do outro, e questionar-se de como intervir frente às distintas possibilidades e impossibilidades nas ações de atenção pré-natal visando um atendimento humanizado. Ressalta-se que ao acompanhar as ações de atenção pré-natal, que os profissionais de saúde apresentavam às gestantes, a observadora reforçava a importância de realização do estudo para aprimoramento das ações prestadas na atenção pré-natal. A pesquisadora buscava aproximar-se das gestantes e realizava um primeiro contato já na sala de espera a fim de que se sentissem a vontade enquanto era realizada a observação durante as ações de pré-natal. Os dados observados foram registrados no diário de campo da pesquisadora que ocorriam no momento da observação e aprofundados posteriormente. Após a observação dos cenários de estudo, optou-se pela finalização com a entrevista semiestruturada com os profissionais de saúde observados, por meio de um instrumento previamente elaborado, a fim de complementar e enriquecer a coleta de dados. As entrevistas foram realizadas conforme disponibilidade dos entrevistados. As mesmas eram previamente agendadas, realizadas na ESF, em turnos de menor movimento escolhido pelos participantes. Os dados foram gravados, com autorização dos entrevistados, e após transcritos para análise e interpretação do pesquisador. A análise dos dados foi fundamentada na proposta operativa de Minayo (2010), caracterizada por dois níveis operacionais, exploratório e interpretativo. A análise dos dados esteve aliada ao período de coleta de dados, a qual foi alicerçada no diário de campo e nas entrevistas transcritas buscando um aprofundamento denso na temática da pesquisa. Toda a pesquisa amparou-se pela condução ética, sendo assegurado e valorizado os aspectos éticos e legais no decorrer do estudo, seguindo os preceitos da Resolução nº. 466/12 do Conselho Nacional de Saúde que dispõe sobre diretrizes e normas que regulamentam a pesquisa envolvendo a participação de seres humanos, foram seguidos durante todo o estudo (BRASIL, 2012). O estudo foi aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa da UFSM, conforme parecer nº 513.040, sob o número do CAAE 26467413.9.0000.5346. 3. RESULTADOS E DISCUSSÕES A população estudada apresentou a faixa etária entre 25 a 55 anos. A formação dos profissionais de saúde foi de 75% em instituições privadas. O tempo de formação variou entre 5 a 33 anos. Quanto ao tempo de atuação na área de saúde da mulher a variação foi entre 3 a 30 anos. Visualiza-se a busca por aprimoramento profissional por parte dos participantes, os cinco enfermeiros apresentavam especialização em saúde pública ou saúde da família. Os três profissionais médicos eram especialistas em áreas específicas, um destes também tinha especialização em saúde da família. Quanto à organização da atenção pré-natal nas quatro ESF cenários deste estudo, em três serviços as consultas de pré-natal eram centralizadas num único dia da semana, ressaltado pelos profissionais a flexibilidade do atendimento quando surge alguma demanda espontânea, sendo a gestante atendida independente do dia. Ainda, um dos serviços disponibilizava a agenda livre, possibilitando a marcação em qualquer dia da semana. O acompanhamento das marcações era registrado nas agendas, um para o enfermeiro e outra para o médico. Os serviços de saúde procuram intercalar as consultas entre estes profissionais. Além da consulta, duas ESF contavam em sua programação com ações de promoção em saúde e educativas, realizadas por meio de grupo de gestantes ou rodas de conversas. As demais unidades conforme relato dos profissionais de saúde quando questionadas sobre a realização de ações nesta linha, informaram estar trabalhando em estratégias para viabilidade destas iniciativas. Os profissionais consideram as mesmas importantes, porém revelam que a falta de recursos humanos, demanda excessiva e falta tempo são fatores que dificultam a efetivação das atividades educativas. Os resultados encontrados que promoveram o distanciamento da humanização da atenção pré-natal no estudo compreenderam: a ambiência inadequada, o baixo incentivo à capacitação profissional, a comunicação fragilizada entre os serviços de saúde, a demanda excessiva, as dificuldades na comunicação e no trabalho em equipe, a formação fragmentada, a falta de recursos humanos, as questões burocráticas e a supervalorização do ultrassom. O ambiente de trabalho influencia diretamente nas ações dos profissionais de saúde. Em estudo relaciona-se a interdependência entre o ambiente de trabalho e as práticas humanizadoras, sendo o ambiente fragilizado manifestam-se a insatisfação com as condições de trabalho e o desestímulo a incorporação de novas práticas em saúde (FONTANA, 2010). O baixo incentivo à capacitação profissional por parte da gestão municipal é ressaltado pelos profissionais como entrave, pois dificulta a atualização profissional e fragiliza o processo de educação continuada. Enfatiza-se a importância de proporcionar espaços de discussões e aprendizados acerca da humanização como política pautada na transversalidade e integralidade, uma vez que estes atributos irão orientar as práticas e as relações dos profissionais com os diferentes sujeitos envolvidos na produção em saúde (TREVIZAN et al, 2010). A fragmentação do cuidado durante a atenção pré-natal desvelou-se devido à quase inexistência de diálogo entre os profissionais, a dificuldade de trabalhar em equipe e a falta de comunicação entre os serviços de saúde. Estes aspectos somados à desvalorização profissional, às precariedades do sistema e a falta de corresponsabilização são consideradas limitações neste contexto de atenção (NARCHI, 2010). Ainda, a formação fragmentada dos profissionais de saúde focada na área hospitalar e com pouca ênfase nas diretrizes e princípios do SUS dificultam a compreensão da humanização como política e distanciam esta da práxis no prénatal. Reforça-se a necessidade do compromisso das universidades brasileiras na formação crítica e reflexiva dos profissionais de saúde, para que isto aconteça é imprescindível a revisão dos currículos, contemplando conteúdos que superem o campo biológico. Além disto, enfatiza-se a importância da inserção de estratégias que garantam a autonomia e participação ativa do aluno no processo de ensino e aprendizagem (CASATE; CORREA, 2012). Quanto aos aspectos que promoveram a aproximação dos pressupostos das legislações a práxis dos profissionais de saúde, destacaram-se: a aproximação com a gestante e seu contexto social, a articulação de estratégias com os agentes comunitários de saúde, a atuação da Residência Multiprofissional Integrada, a adesão aos manuais do Ministério da Saúde, a educação permanente por parte dos profissionais de saúde, o estímulo a participação do companheiro, a facilidade de acesso aos exames laboratoriais e preventivos, a criação de vínculo entre a gestante e o profissional enfermeiro, a promoção de atividades de educação em saúde e a utilização de tecnologias leves. Embora existam barreiras para efetivação do cuidado humanizado, é visível nas ações dos profissionais de saúde a aproximação com um atendimento alicerçado na humanização e nas necessidades das gestantes. A humanização alicerça-se na valorização de práticas relacionais e subjetivas no cuidado à gestante e sua família no período gravídico-puerperal. As tecnologias leves apresentam-se como fortes estratégias que podem contribuir positivamente na atenção, aproximando os serviços de saúde das pessoas, tornando-os mais acolhedores e resolutivos. O novo modelo de atenção preconizado busca romper com o paradigma biomédico perpetuado na práxis dos profissionais de saúde, transcendendo o saber clínico. Assim possibilita-se uma atenção integral pautada na escuta qualificada, na criação de vínculo e no acolhimento das gestantes (CABRAL et al, 2013). Ainda, o estudo reconheceu a importância de compreender as questões socioculturais que envolvem o contexto social de inserção da gestante. Visto que as significações acerca da gestação, sua adesão ao pré-natal e os cuidados realizados são influenciadas pela sua cultura e pessoas de sua referências, sendo destaque as seguintes figuras, o companheiro, as amigas, os familiares e os próprios profissionais de saúde (BARRETO et al, 2013). Em estudo, apontam-se alguns aspectos essenciais na busca de um atendimento qualificado e humanizado à gestante como, uma visão ampliada para as necessidades da mulher, agir segundo os princípios éticos, respeitar o outro e colocar-se no lugar do mesmo, garantir dignidade e autonomia, buscar estratégias para facilitar o acesso aos serviços de saúde e diminuir o tempo de espera destas usuárias (MARIN et al, 2010). 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao finalizar o estudo percebe-se a importância da corresponsabilização das diferentes esferas a nível municipal, estadual e federal para concretização da humanização na atenção pré-natal. Também reforça-se a participação ativa de todos os responsáveis pela produção em saúde, gestores, profissionais, usuários, instituições de formação na atenção e gestão dos serviços. Embora, seja possível reconhecer avanços na perspectiva da humanização, percebe-se o quanto a política ainda encontra-se obscura na práxis dos profissionais de saúde. Torna-se imprescindível a articulação das ações e o fortalecimento da comunicação entre os diferentes níveis de atenção para continuidade do cuidado durante o período gravídico puerperal. Visualiza-se o reconhecimento das tecnologias leves como potentes dispositivos para humanizar as ações, por meio de ações educativas que garantam o protagonismo da gestante. Além disto, ressalta-se que para humanizar os cuidados é necessário superar o modelo biomédico e reconhecer aspectos socioculturais que influenciam diretamente nas percepções acerca da gravidez e na adesão aos cuidados neste período singular da vida da mulher e sua família. O papel das instituições de formação no rompimento destas barreiras é necessário, uma vez que os currículos devem caminhar conjuntamente com as propostas do Ministério da Saúde. Ainda, reforça-se a continuidade da educação permanente para renovação das práticas assistenciais e na incorporação de novas abordagens em saúde, promovendo um processo reflexivo e crítico do profissional que atua diretamente no cuidado à gestante. Ademais, o cuidado com quem cuida da gestante é referenciado como essencial a um atendimento humanizado, destaca-se a importância do ambiente de trabalho adequado, visto que a valorização do trabalhador de saúde reflete na qualidade do atendimento pré-natal. Entende-se que esta transformação ocorre em longo prazo, espera-se que estudos como este oportunizem um espaço de reflexão e discussão frente à realidade dos serviços de saúde, neste caso em específico, a atenção pré-natal de risco habitual e possam contribuir na minimização/exclusão dos aspectos que distanciam a humanização durante o período do pré-natal. REFERÊNCIAS BARRETO, C.N. et al. Atenção pré-natal na voz das gestantes. Rev enferm UFPE on line. Pernambuco, v.7, n.5, p. 4354-63. jun. 2013. BRASIL. Ministério da Saúde. Resolução Nº466, de 12 de Dezembro de 2012. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil. Brasília, DF, 12 dez. 2012. ______. Ministério da Saúde. Caderno HumanizaSUS: atenção básica. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2009. ______. Ministério da Saúde. Manual Técnico Pré-natal e Puerpério: atenção qualificada e humanizada. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2006. ______. Ministério da Saúde. Política Nacional de Humanização. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2003. CABRAL, F.B. HIRT, L.M. VAN DER SAND, I.C.P. Atendimento pré-natal na ótica de puérperas da medicalização à fragmentação do cuidado. Rev Esc Enferm USP. São Paulo, v. 47, n.2, p. 281-7. abr. 2013. CASATE, J.C. CORRÊA, A.K. A humanização do cuidado na formação dos profissionais de saúde nos cursos de graduação. Rev Esc Enferm USP. São Paulo, v. 46, n.1, p. 219-26. fev. 2012. FONTANA, R.T. Humanização no processo de trabalho em enfermagem: uma reflexão. Rev Rene. Fortaleza, v.11 n.1, p. 200-7. jan-mar. 2010. MARIN, M.J.S, STORNILO, L.V, MORAVCIK, M.Y. A humanização do cuidado na ótica das equipes de saúde da família de um município do interior paulista, Brasil. Rev Latino-Am Enferm. Ribeirão Preto, v. 18, n.4, p. [7 telas]. jul-ago. 2010. MINAYO, M.C. de S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo: Hucitec-Abrasco, 2010. MÜLLER, C.P.; ARAUJO, V.E.; BONILHA, A.L. 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Recife, v. 10, n. 3, p. 359-367, jul-set. 2010 4.2) DESVELANDO SIGNIFICADOS: A HUMANIZAÇÃO NA ATENÇÃO PRÉNATAL NA VOZ DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE (2014)1 CASTIGLIONI, Críslen Malavolta2; BARRETO, Camila Nunes3; POSSATI, Andrêssa Batista4; BORTOLI, Cleunir De Fátima Cândido5; CREMONESE, Luiza6; RESSEL, Lúcia Beatriz7 RESUMO O objetivo do trabalho é conhecer os significados atribuídos à humanização da atenção pré-natal a partir das percepções dos profissionais de saúde que atuam em Estratégias de Saúde da Família. A trajetória metodológica percorreu um estudo de campo, de caráter descritivo exploratório, com abordagem qualitativa e vertente antropológica. Participaram da pesquisa cinco enfermeiros e três médicos. A etapa de coleta de dados percorreu a utilização das técnicas de observação participante e entrevista semiestruturada. A coleta compreendeu o período de fevereiro a junho de 2014. A análise dos dados foi fundamentada na proposta operativa. Os significados atribuídos a humanização da atenção pré-natal foram, a aproximação com a gestante, o cuidado ao acolher a usuária, o planejamento de ações resolutivas, a importância de atender as demandas expressas pela gestante, o cuidado com o trabalhador de saúde, a humanização compreendida como inerente ao ser humano e implícita na formação. São reforçados pelos profissionais a importância das 1 Trabalho de pesquisa derivado dos primeiros resultados de uma dissertação de Mestrado denominada Humanização da atenção pré-natal na práxis dos profissionais de saúde. 2 Acadêmica do 7º semestre de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Email: [email protected] 3 Enfermeira. Mestranda do Programa de Pós-graduação em Enfermagem da UFSM. E-mail: [email protected] 4 Acadêmica do 8º semestre de Enfermagem da UFSM. E-mail: [email protected] 5 Enfermeira. Mestranda do Programa de Pós-graduação em Enfermagem da UFSM. E-mail: [email protected] 6 Acadêmica do 8º semestre de Enfermagem da UFSM. E-mail: [email protected] 7 Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora do Departamento de Enfermagem e do Programa de Pós-graduação em Enfermagem da UFSM. E-mail: [email protected] tecnologias relacionais para aproximação do cuidado humanizado, pautadas na escuta qualificada e na criação de vínculo com a gestante. Embora, as ações e depoimentos dos participantes demonstrem aproximação com a Política Nacional de Humanização, visualiza-se a essencialidade de aprofundamento da temática para que realmente a política torna-se mais clara na práxis dos profissionais. Eixo Temático: Atenção ao pré-natal Descritores: Cuidado pré-natal; Humanização da assistência; atenção primária à saúde; Enfermagem. RESUMEN El objetivo es conocer los significados atribuidos a la humanización de la atención prenatal de las percepciones de los profesionales de la salud que trabajan en la Estrategia Salud de la Familia. La metodología ha llegado un estudio de campo de enfoque exploratorio, descriptivo y cualitativo y enfoque antropológico. Participó en la encuesta cinco enfermeras y tres médicos. La etapa de recolección de datos cubre el uso de la observación participante y la entrevista semi-estructurada. La colección abarcó desde febrero hasta junio, 2014 El análisis de datos se basa en la operativa propuesta. Los significados atribuidos humanización de la atención prenatal fueron el enfoque con el embarazo, el cuidado de acomodar el usuario, la resolución de las acciones de planificación, la importancia de satisfacer las demandas expresadas por la mujer embarazada, la atención del personal de salud, los humanización entendida como algo inherente al ser humano y la formación implícita. Son reforzados por los profesionales de la importancia de las tecnologías relacionales para acercarse a la atención humanizada, guiada por el escucha calificada y la creación de un vínculo con la madre. Aunque, las acciones y declaraciones de los participantes demuestran un acercamiento con la Política Nacional de Humanización, visualizamos la esencialidad de profundizar el tema que realmente la política se vuelve más claro en la práctica de los profesionales. Tema principal: La atención al prenatal Descriptores: Atención Prenatal; Humanización de la Atención; Atención Primaria de Salud; Enfermería. 1. INTRODUÇÃO A atenção pré-natal é uma experiência singular na vida da mulher, influenciada pelo conjunto familiar e social da gestante e também a partir da atuação dos profissionais de saúde. As referências e relações desta usuária não podem ser desconsideradas, pois refletem diretamente na adesão ao pré-natal e aos cuidados realizados durante a gestação (BARRETO et al, 2013). O cuidado prestado neste período tem merecido especial atenção na saúde materno-fetal, em vista da persistência de índices desfavoráveis, tais como os coeficientes de mortalidade materna e infantil. Devido a esses indicadores, emergem políticas para qualificação da assistência ao ciclo gestacional e puerperal (DUARTE, 2012). No Brasil, sobressaem-se algumas propostas por meio de políticas sociais e programas de saúde que visam modificar o cenário de atenção à saúde da mulher, buscando um cuidado integral, o qual supera uma visão verticalizada da atenção e considera a multidimensionalidade do ser humano. São destaques as seguintes iniciativas: Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM) em 1984, Programa de Humanização do Pré-natal e Nascimento (PHPN) em 2000, Política Nacional de Humanização (PNH) em 2003, Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISM) em 2004, Manual Técnico Pré-natal e Puerpério: atenção qualificada e humanizada atualizado em 2006 e finalmente em 2011 a criação da Rede Cegonha. Nesta direção, destaca-se a criação da Política Nacional de Humanização (PNH) em 2003, esta torna-se um marco histórico uma vez que a humanização da assistência, é pautada como uma política transversal, alicerçada nos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS), ou seja, corresponde as diferentes ações e instâncias gestoras do SUS (BRASIL, 2003). Conforme a PNH, a operacionalização da política ocorre por meio da troca e construção de saberes, do trabalho em rede com apoio de equipe multiprofissional, da identificação das necessidades, desejos e interesses dos diferentes sujeitos nos campos de saúde, pelo pacto de gestão entre as distintas esferas (federal, estadual e municipal), pacto entre as instâncias de atenção e gestão, assim como gestores, profissionais de saúde e usuários. Além disso, a humanização regasta as práticas de saúde do SUS reconhecendo os sujeitos como ativos e protagonistas nas ações em saúde, estes devem buscar construir redes solidárias e interativas que contribuam para a participação e protagonismo nas ações (BRASIL, 2003). Em contraponto, Andreucci e Cecatti (2011) apontam fragilidades na implementação destas estratégias revelando que a abrangência esperada está muito aquém do desejado. Reafirmam a existência de uma dicotomia entre as legislações e as ações dos profissionais de saúde, cuja práxis promove um distanciamento dos pressupostos das políticas e programas acerca da humanização do período gravídico-puerperal. Visualiza-se que o processo de humanização do cuidado pré-natal e o exercício do profissional de saúde estão intensamente associados, a fim de exercer tais princípios que irão proporcionar maior qualidade na assistência, sendo seu papel fundamental para implementação dessa perspectiva de cuidado. Soma-se a isto, a compreensão acerca da humanização da atenção, caracterizada por autores como polissêmica, pois há uma falta de consenso acerca da definição dos termos “humanização” e “cuidado humanizado”, são atribuídos aos mesmos diferentes significados (ZAMPIERI; ERDMANN, 2010). Ainda não há uma concordância quanto aos contornos teóricos e mesmo operacionais referentes à humanização, logo sua abrangência e aplicabilidade não estão demarcadas, dificultando a compreensão e a concretização na prática assistencial (DESLANDES, 2004). Alicerçado nestas reflexões, entende-se a importância de compreender as percepções dos profissionais de saúde acerca da humanização e como buscam aproximar esta política de sua práxis. Concorda-se com Deslandes (2004), que ao refletir a temática da humanização não objetiva-se produzir consensos, mas possibilitar um debate rico e intenso, contribuindo no fortalecimento de bases fortes que possam efetividade trazer resultados na práxis dos profissionais de saúde, a fim de promover cuidados dignos, atentos à intersubjetividade e comprometidos com a vida. A partir destas considerações, apresenta-se o resultado derivado de uma dissertação de mestrado, cuja questão norteadora compreende como ocorre a aproximação dos pressupostos de humanização das políticas públicas e programas de saúde propostos pelo Ministério da Saúde, na atenção pré-natal de risco habitual, na práxis dos profissionais de saúde de Estratégias de Saúde da Família de um município do Sul do Brasil? Sendo assim o objetivo deste artigo é conhecer os significados atribuídos à humanização da atenção pré-natal a partir das percepções dos profissionais de saúde que atuam em Estratégias de Saúde da Família. 2. METODOLOGIA A trajetória metodológica percorreu um estudo de campo, de caráter descritivo exploratório, com abordagem qualitativa e vertente antropológica. O cenário para realização do estudo foi composto por quatro Estratégias de Saúde da Família da rede básica de saúde de um município do Sul do Brasil. Destas, três apresentavam uma equipe de saúde da família e uma contava com equipe dupla. A seleção dos campos aconteceu por meio de um sorteio. Conforme a ordem das ESF sorteadas realizou-se contato prévio telefônico, após foi agendado encontro para a apresentação do projeto e finalmente com a confirmação da participação combinou-se as atividades que seriam acompanhadas pela pesquisadora. Nestes serviços os profissionais de saúde, enfermeiros e médicos, atuavam diretamente nas ações de abrangência da atenção pré-natal, a pesquisadora acompanhou a realização das seguintes atividades: consulta de enfermagem, consulta médica, reuniões de equipe e atividades educativas. Os participantes do estudo compreenderam cinco enfermeiros e três médicos, que atuavam nas Estratégias de Saúde da Família e desenvolviam ações na abrangência da atenção pré-natal. Para escolha dos participantes seguiu-se as orientações de Minayo (2010), as quais apontam como norteadores, o critério de saturação de dados e o momento em que a pesquisadora confirma que atingiu os objetivos propostos pelo estudo. Ressalta-se que os enfermeiros (cinco) das quatro ESF participaram do estudo, sendo que uma destas contava com equipe dupla. Quanto aos profissionais médicos, num dos serviços de saúde da família a coleta de dados ocorreu concomitante a um processo de troca de profissional médico, respeitando o período de adaptação do mesmo a pesquisadora optou por não convidá-lo. Na ESF com equipe dupla um médico prestava o atendimento das duas equipes, assim correspondendo ao número final de três médicos participantes. Quanto aos critérios de inclusão envolveram enfermeiros e médicos que desenvolvessem ações referentes à atenção pré-natal nas Estratégias de Saúde da Família selecionadas para o estudo. E como de exclusão, enfermeiros e médicos que estivessem afastados do serviço no momento da pesquisa. A coleta de dados ocorreu por meio das técnicas de observação participante e entrevista semiestruturada. O período percorreu fevereiro a junho de 2014, durante as atividades realizadas por enfermeiros e médicos nas ESF, totalizando 140 horas de observação. O tempo de realização da observação participante variou entre um mês a dois meses em cada serviço. A técnica de observação participante respeitou as recomendações dos autores que dividem o percurso trilhado em três etapas. No primeiro momento, ocorre a aproximação com o campo de estudo e a busca pela minimização do distanciamento entre participantes e pesquisador. A segunda fase, diz respeito a compreensão da visão do conjunto da comunidade e dos diferentes fatores que compõem e influenciam as ações dos participantes, a fim de conhecer o contexto observado. A última e terceira fase é considera a mais delicada e enfatiza-se a importância da sistematização e organização dos dados para posterior análise. Os dados devem garantir que na análise o pesquisador conheça a situação real do grupo e suas percepções na temática escolhida (QUEIROZ et al, 2007). Os dados observados foram registrados no diário de campo da pesquisadora, o registro ocorria no momento da observação e aprofundados posteriormente. O diário de campo possui como finalidade documentar os acontecimentos vivenciados de forma mais aprofundada. Segundo Minayo (2010), são descritas nesse espaço impressões pessoais que podem sofrer mudanças com o tempo, observação de comportamento, resultados de conversas informais, entre diferentes aspectos que podem enriquecer o estudo. Ainda, complementou-se a observação, a técnica da entrevista semiestruturada. As entrevistas foram realizadas conforme disponibilidade dos entrevistados. As mesmas eram previamente agendadas, realizadas na ESF. Os dados foram gravados, com autorização dos entrevistados, e após transcritos para análise e interpretação do pesquisador. A análise dos dados foi baseada na proposta operativa de Minayo (2010), caracterizada por dois níveis operacionais. O primeiro nível, denominado fase exploratória, é marcado pela compreensão do contexto sociocultural e histórico do grupo pesquisado. Em seguida, percorre-se o segundo nível operacional, denominado de interpretativo definido pela autora como o ponto de partida e de chegada de qualquer investigação, nesta etapa há o encontro com os fatos empíricos. Este ainda compreende duas outras etapas ordenação e classificação dos dados, seguidas rigorosamente para garantia da confiabilidade dos dados. Foram respeitados durante todo o estudo, os preceitos da Resolução nº. 466/12 do Conselho Nacional de Saúde, Ministério da Saúde, que dispõe sobre diretrizes e normas que regulamentam a pesquisa envolvendo a participação de seres humanos. O estudo foi aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa da UFSM, conforme parecer nº 513.040, sob o número do CAAE 26467413.9.0000.5346. 3. RESULTADOS E DISCUSSÕES Os participantes do estudo apresentavam entre 25 e 55 anos. As instituições de formação dos profissionais, na sua maioria eram privadas. Quanto ao tempo de atuação na área de saúde da mulher variou entre 3 a 30 anos. As ações de pré-natal eram realizadas pelos profissionais enfermeiros e médicos. O acompanhamento das marcações era registrado nas agendas, um para o enfermeiro e outra para o médico. Os serviços de saúde procuram intercalar as consultas entre estes profissionais. Além da realização de consultas individuais, duas ESF contavam em sua programação com ações de promoção em saúde e educativas. Por meio das observações e entrevistas com os profissionais de saúde desvelaram-se significações associadas à humanização da atenção prestada durante o pré-natal, destacam-se: a aproximação e a criação de vínculos solidários com a gestante; o acolhimento nos serviços de saúde; a importância da resolutividade e da atenção às demandas da gestante; o cuidar de quem cuida e a humanização implícita ao ser humano e na formação profissional. Os profissionais de saúde entendem o atendimento humanizado quando pautado na aproximação do contexto social da gestante e no reconhecimento de sua história de vida. A sensibilidade de valorizar a cultura e crença do outro, oportunizam a criação de vínculo entre profissional e gestante. Em estudo realizado com profissionais da enfermagem ao caracterizar o conceito de humanização reafirmam os achados deste estudo, ao referenciarem a relação existente entre usuário e profissional, pautada nas singularidades pessoais, no olhar para as necessidades, escuta ativa, visão holística, empatia, respeito aos valores morais e éticos (CHERNICHARO et al, 2014). Outro aspecto evidenciado, diz respeito à maneira de acolher as gestantes nos serviços de saúde, o acolhimento releva-se como importante estratégia de adesão ao pré-natal e continuidade no cuidado. Ressalta-se que este deve ser pautado no escuta qualificada e na facilidade de acesso aos serviços. A garantia de um acolhimento digno às gestantes apresenta resultados positivos na melhora do atendimento, visto que possibilita a criação de um laço entre usuária e serviço de saúde. Ainda, otimiza-se as ações voltadas a atenção pré-natal priorizando as necessidades da gestante e assegurando um atendimento de qualidade e contínuo (GONÇALVES et al, 2013). A compreensão de uma atenção humanizada no prénatal esteve aliada a ações resolutivas que venham ao encontro das demandas da gestante. A partir dos conhecimentos técnicos científicos dos profissionais avaliam- se situações que necessitam de cuidados, mas sem desconsiderar as demandas trazidas pela gestante. Busca-se compartilhar os saberes e oportunizar um espaço de trocas de conhecimentos. Sendo imprescindível, a comunicação por meio do diálogo e a escuta das mulheres e seus acompanhantes, buscando analisar a história da gestante e a partir disto, buscar aliar condutas e abordagens de saúde que contemplem as necessidades demandadas (HOFFMANN et al, 2010). Ainda relevado no estudo, a humanização com quem cuida da gestante, o trabalhador de saúde. O reconhecimento profissional, a valorização da voz dos profissionais nas diferentes esferas de gestão e a garantia de condições de trabalho adequadas devem ser priorizadas, uma vez que as condições recebidas pelos profissionais de saúde poderão ser reproduzidas aos usuários do serviço, sendo estas positivas ou negativas (ROSA; FONTANA, 2010). Percebe-se nos depoimentos dos profissionais a percepção da humanização como inerente ao ser humano e implícita na formação profissional, estas concepções podem minimizar a compreensão acerca da humanização. Torna-se essencial a compreensão desta como política transversal pelas instituições formadoras. Ainda, enfatiza-se que a formação não pode ser alicerçada apenas procedimentos e técnicas, mas numa construção reflexiva, ética e promotora de cidadania para que isto reflita diretamente humanização do ciclo gravídico puerperal. (CASATE; CORREA, 2012). 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS A compreensão dos profissionais de saúde acerca de uma atenção humanizada no pré-natal perpassa os seguintes aspectos: a aproximação com a gestante, o cuidado ao acolher a usuária, o planejamento de ações resolutivas, a importância de atender as demandas expressas pela gestante, o cuidado com o trabalhador de saúde, a humanização compreendida como inerente ao ser humano e implícita na formação. Observa-se nos resultados a associação das tecnologias leves com a humanização da atenção. O cuidado humanizado conforme as percepções dos profissionais pauta-se na escuta qualificada, na criação de vínculo e na interação com o contexto social da gestante. O reconhecimento dos aspectos socioculturais também é referenciado, ao transcender os aspectos clínicos e alicerçar o cuidado da gestante de maneira multidimensional, aproxima-se da humanização da atenção. O trabalhador de saúde relacionou o seu ambiente de trabalho com a qualificação do atendimento à gestante, destacam o quanto o ambiente de trabalho interfere nas ações realizadas. Outro compromisso evidenciado, diz respeito à formação dos profissionais de saúde, é necessário que desde a graduação exista aproximação com as políticas sociais e programas de saúde, a fim de que possam aplicar estes pressupostos na sua prática de forma crítica e reflexiva. Embora, as ações e depoimentos dos profissionais demonstrem aproximação com a Política Nacional de Humanização, visualiza-se a essencialidade de aprofundamento da temática para que realmente a política torna-se mais clara na práxis dos profissionais. A banalização do termo humanização deve ser evitada, e ao ser compreendida e aplicada como política transversal espera-se mudanças significativas quanto à qualificação do atendimento prestado a gestante nos serviços de saúde. REFERÊNCIAS ANDREUCCI, C.B; CECATTI J.G. Desempenho de indicadores de processo do programa de humanização do pré-natal e nascimento no Brasil: uma revisão sistemática. Cad. Saúde Pública. Rio de Janeiro, v. 27, n.6, p.1053-1064, jun. 2011. BARRETO, C.N. et al. Atenção pré-natal na voz das gestantes. Rev enferm UFPE on line. Pernambuco, v.7, n.5, p. 4354-63. jun. 2013. BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Humanização. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2003. CASATE, J.C, CORRÊA, A.K. A humanização do cuidado na formação dos profissionais de saúde nos cursos de graduação. Rev Esc Enferm USP. São Paulo. v. 46, n. 1, p. 219-26. feb. 2012 CHERNICHARO, I.M. SILVA, F.D. FERREIRA, M.A. Caracterização do termo humanização na assistência por profissionais de enfermagem. Esc Anna Nery. Rio de Janeiro. v. 18, n.1, p.156-62. jan-mar. 2014. DESLANDES, S.F. A análise do discurso oficial sobre humanização da assistência hospitalar. Ciência & Saúde Coletiva. [S.1], v. 9, n.1, p. 7-14, set. 2004. DUARTE, S.J.H. 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As informações originadas dos depoimentos foram transcritas e analisadas, conforme o método de análise de conteúdo, na modalidade de análise temática. Desse processo, emergiram as seguintes categorias: falta de conhecimento e ausência de informações referentes à patologia; percepção das especificidades do cuidado; e percepção do processo de interação e o vínculo com os profissionais de enfermagem. Os resultados evidenciaram que as gestantes detinham conhecimentos limitados acerca da patologia e que consideram ter um bom relacionamento com os profissionais de enfermagem no que diz respeito às suas necessidades biológicas. No entanto, sobre o processo de interação, as mesmas referiram tal processo como fragmentado, pois não ocorreu na sua efetividade, de 1 Trabalho Acadêmico de Conclusão de Curso, Graduação em Enfermagem, Universidade Federal de Pelotas. 2 Joice Ane Teixeira, Acadêmica de Enfermagem, Universidade Federal de Pelotas, [email protected] 3 Taiane Sampaio da Silva, Enfermeira, [email protected] 4 Tatiane Machado da Silva Soares, Mestre em Enfermagem, Enfermeira Técnicoadministrativa Universidade Federal de Pelotas, [email protected] 5 Maria Suelen Jacobsen, Acadêmica de Enfermagem, Universidade Federal de Pelotas, [email protected] acordo com os relatos, ficando condicionados ao momento da realização dos procedimentos. Além disso, com base nos resultados encontrados em relação ao conhecimento e informações prestadas às gestantes e à percepção da assistência de enfermagem prestada às mesmas, constatou-se a necessidade de os profissionais se envolverem na prestação de uma assistência integral e humanizada. Eixo Temático: Atenção à Saúde da Mulher Descritores: Enfermagem; Assistência de enfermagem; Pré-eclâmpsia. ABSTRACT This is an exploratory descriptive study with a qualitative approach aiming to know the nursing assistance under the pregnant with pre-eclampsia during the hospitalization period, and, this way, contribute to the assistance given to the pregnant during this period. The data collection was performed through a semistructured interview, being nine pre-eclampsia diagnosed pregnant interviewed. The information generated from them was transcript and analyzed, according to a content analysis method, on the thematic analysis model. From this process, the following categories have emerged: a knowledge lack and an information absence about the pathology; care specifications perception and the interaction and link with the nursing staff process. The results have shown that the pregnant women had limited knowledge about the pathology and considered to have a good relationship with the nursing professionals in relation to their biological needs. However, in relation to the interaction process, they accessed the process as fragmented once has not occurred on its effectiveness, according to heir reports, being hem closely related to the procedures. Furthermore, based on the results related to knowledge and information given to the pregnant and their perception about the nursing care given to them, it was noticed the necessity of a higher nursing staff evolvement aiming to an integral and humanized assistance. Thematic axis: Woman Health Attention Descriptors: Nursing; Nursing Assistance; Pre-eclampsia. 1. INTRODUÇÃO De acordo com o Ministério da Saúde, a gestação é um fenômeno fisiológico e, por isso, deve ser vista pela gestante e equipe de saúde como parte de uma experiência de vida saudável, que implica mudanças no comportamento social, emocional e transformações fisiológicas (BRASIL, 2010). Existem fatores diversos que podem induzir uma gestação de alto risco. As causas mais comuns estão classificadas em quatro grupos, que são: características individuais e condições sociodemográficas; história reprodutiva anterior; doenças obstétricas na gestação atual; e intercorrências clínicas. Assim sendo, a préeclâmpsia pode ser classificada como uma doença obstétrica da gravidez e pode estar ou não presente na gestação (BRASIL, 2006). Barros (2006) define a síndrome hipertensiva gestacional (SHG) através de manifestações persistentes dos níveis pressóricos iguais ou superiores de 140/60 mmHg para sistólica e/ou diastólica, como também é considerada hipertensão arterial a elevação no mínimo de 30 mmHg na pressão sistólica e/ou de 15 mmHg na diastólica, e para ser constatada devem ser realizadas duas aferições com intervalo de quatro horas. A pré-eclâmpsia, denominada também como Doença Hipertensiva Específica da Gestação (DHEG), ocorre em geral após a 20ª semana de gravidez, é definida pelo aumento da pressão arterial acima dos valores considerados normais, ou seja, 140/90 mmHg, associada à proteinúria e ao edema que não cede com repouso, e apresenta início súbito, ou ainda quando há um ganho de peso igual ou maior de 500 g por semana, sendo que tais valores caracterizam a pré-eclâmpsia leve (ZANOTTI; ZAMBOM; CRUZ, 2009). A pré-eclâmpsia grave, conforme Figueiredo (2005), é caracterizada pela pressão arterial igual ou maior que 160/110 mmHg, ou qualquer outro sinal, como proteinúria de 3 g ou mais nas 24 horas, edema pulmonar e outras manifestações como: dor epigástrica, torpor, cefaleia, diplopia e turvação. O Ministério da Saúde considera que gestantes com pré-eclâmpsia leve devem ser hospitalizadas preferencialmente, a fim de uma avaliação diagnóstica inicial e manter com dieta normossódica e repouso relativo. Na pré-eclâmpsia grave a internação é obrigatoriamente necessária, a gestante será monitorada com intuito de avaliar as condições materno-fetais, como também serão solicitados exames laboratoriais de rotina (BRASIL, 2010). Este trabalho teve como objetivo: Conhecer a assistência de enfermagem a partir da percepção de gestantes com pré-eclâmpsia durante o período de internação. 2. METODOLOGIA Trata-se de um estudo exploratório descritivo com abordagem qualitativa. O estudo foi realizado em uma unidade obstétrica de um hospital de ensino no Município de Pelotas, sendo que tal instituição é referência para gestação de alto risco da Região Sul, conveniada apenas com o SUS. A maternidade possui 16 leitos, sendo, destes, oito destinados a intercorrências gestacionais. Os sujeitos do estudo foram as gestantes internadas por pré-eclâmpsia no mês de novembro de 2012, totalizando nove participantes. Os sujeitos foram identificados pela nomenclatura: G1, G2 e assim sucessivamente, seguida de idade. Os sujeitos escolhidos respeitaram os seguintes critérios: Ser gestante de alto risco com diagnóstico de pré-eclâmpsia; Manifestar interesse em participar do estudo e assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido; Ter idade igual ou superior a 18 anos; Concordar com o uso de gravador durante a entrevista; Permitir a divulgação e apresentação dos resultados obtidos, em publicações e meios científicos. Em atenção às normas da pesquisa envolvendo os seres humanos, o projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa para avaliação e aprovado pelo parecer nº 82/2012. Além disso, foi apresentado e entregue aos sujeitos do estudo o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, em duas vias, sendo o mesmo assinado pelos participantes, ficando uma cópia para o pesquisador e outra com o sujeito. Os dados foram coletados no ambiente hospitalar, em uma sala reservada. Utilizou-se um instrumento semiestruturado juntamente com gravador. O instrumento foi direcionado à entrevista entre a entrevistadora e o sujeito, constituído de temas que descrevem as percepções sobre a assistência de enfermagem prestada às participantes no período de hospitalização. Os dados obtidos nas entrevistas através do instrumento semiestruturado e das gravações foram transcritos e analisados após sucessivas leituras, sendo classificados e agrupados em diferentes temas, a fim de qualificar a análise das informações coletadas. 3. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Perante os dados analisados emergiram as seguintes temáticas: Falta de conhecimento e ausência de informações referente à patologia; Percepção das especificidades do cuidado; e Percepção do processo de interação e o vínculo com os profissionais de enfermagem. Participaram do estudo nove gestantes acometidas por pré-eclâmpsia, sendo que uma destas apresentava também diabetes gestacional. Em relação à idade, ela variou entre 20 e 39 anos, sendo que três tinham mais de 35 anos. Referindo-se à escolaridade, três respondentes possuíam o ensino fundamental incompleto; quatro, o ensino médio incompleto; e duas, o ensino médio completo. No que se referem ao estado civil, três das mulheres estavam solteiras, três encontravam-se em união estável e três eram casadas. Assim sendo, as solteiras e essas em união estável constituem um total de seis. A grande maioria das participantes residia na cidade de Pelotas, num total de seis, e três eram provenientes da cidade de Capão do Leão. Sobre a realização do pré-natal e o número de consultas na gestação atual, verificou-se que o número máximo de consultas realizadas pelas participantes foi de 10, e o mínimo foi de quatro consultas, sendo que três haviam realizado oito consultas, e duas, nove consultas. Quanto ao grau de paridade, três das nove entrevistadas eram primigestas e as demais variaram entre um a quatro filhos, sendo que duas tiveram um aborto e uma afirmou gestação anterior com pré-eclâmpsia. Sobre o tipo de parto das gestações anteriores, quatro foram partos cesáreos e uma teve parto vaginal. Referente à idade gestacional, as participantes encontravam-se entre a 21ª e 41ª semanas gestacionais, predominando aquelas com 37 e 38 semanas, confirmando assim o encontrado na literatura, conforme prevê o Manual de Gestação de Alto Risco, a sintomatologia da pré-eclâmpsia ocorre após a 20ª semana gestacional. No que se refere ao número de internações na gestação atual, três participantes haviam sido hospitalizadas por hipertensão gestacional anteriormente e seis participantes nunca haviam sido hospitalizadas. 3.1 FALTA DE CONHECIMENTO E AUSÊNCIA DE INFORMAÇÕES REFERENTES À PATOLOGIA As falas das depoentes demonstram a ausência de informações acerca da patologia que ocasionou a sua hospitalização: Porque eu tava inchada, com dor de cabeça, aí na consulta me falaram que a minha pressão tava alta e que eu tinha que ficar no hospital. (G4, 24 anos) Por causa da pressão [...] eu acho que a minha é emocional, eu já tinha cortado tudo isso, alimentação, cortando sal a maioria das coisas, fui na nutricionista pra alimentação. Sei que pode causar essas coisas o AVC. (G6, 22 anos) Por causa do inchaço das pernas aí fui ver o que era, aí eles falaram que era a minha pressão tava alta, que era uma gravidez de alto risco, que era pra mim baixar. (G9, 31 anos) Nota-se que as pacientes expressam a carência de conhecimento acerca do desenvolvimento da doença e a falta de informações que deveriam ser fornecidas pela equipe multiprofissional no momento do acolhimento/internação e no decorrer da hospitalização como demonstra o relato da G6, 22 anos: Eu fiquei braba, porque o fulano foi examinar agente ali, fez procedimento [...] só que ele deixou as estagiárias ali [...] eu perguntei se tinha previsão pra de tarde, eu fiz os exames e não tem resultado, eu até tinha ultrassom e não sabia [...] (G6, 22 anos) A partir desses relatos fica visível a falta de informações prestadas às gestantes por parte da equipe. Esse fato torna-se uma importante questão a ser repensada pela equipe em geral, pois, em se tratando de um hospital de ensino, existem estagiários dentro das equipes (médica, enfermagem, nutrição, assistente social), o que torna necessário o repasse e disponibilização das informações referentes ao pacientes entre os integrantes das equipes e de equipe para equipe de uma forma integral, a fim de que o profissional esteja ciente em relação ao tratamento dos pacientes, para assim prestar as informações adequadas quando exigidas por eles acerca de seu tratamento. Vale salientar que, através de uma explicação clara e concisa, em conformidade com a capacidade de entendimento da gestante, se pode minimizar o sofrimento emocional, oriundo da patologia e do processo de hospitalização, consequentemente contribuindo em seu tratamento (SILVA, 2008). Como pode ser observado nos relatos de G1, 35 anos e G5, 21 anos: São muito carinhosos, o que eles podem fazem pela gente eles fazem [...] eles chegam e conversam, explicam, tiram as dúvidas. (G1, 35 anos) São bastante atenciosos com a gente, sabe [...] assim, sempre que eu precisei ou perguntei algo, na mesma hora me respondiam, explicavam bem direitinho tudo. (G5, 21 anos) No entanto, alguns profissionais não informam corretamente as condições de saúde aos pacientes, como afirma Santos, Rosenburg e Buralli (2004); na maioria das vezes, esse fato acontece devido aos mesmos terem a concepção de que os pacientes, por terem baixa escolaridade ou pertenceram a uma classe de baixa renda, não são capazes de informar corretamente seus sintomas, como também não conseguirão entender os esclarecimentos quanto ao diagnóstico e ao tratamento. Esta falta de informação pode ser identificada nas falas a seguir: [...] é tem alguns que responde bem, mas tem outros que não. [...] eu pergunto e eles respondem, mas já tem uns que falam bem explicado, tem outros que falam o necessário e olhe lá. (G3, 39 anos) Bom, mas quando quero saber alguma coisa demora um pouquinho, tem resposta, mas às vezes tem que insistir. (G6, 22 anos) Pode-se perceber nestes relatos que as depoentes desejam estar envolvidas em seu tratamento, obter informações mais detalhadas. Isso leva-nos a crer que as explicações fornecidas são superficiais, além disso, demonstra que alguns profissionais desenvolvem apenas tarefas, quer dizer, cumprem com a sua obrigação de trabalho, como uma atividade remunerada, um meio de sobrevivência. Às vezes, os profissionais prestam cuidados eficientes, responsáveis, mas demonstram um comportamento indiferente, frio, interpessoal com os pacientes (WALDOW, 1998), como menciona G6, 22 anos: Bem. Mas tem a suas carrascas. É que tem umas estúpidas, mas quase todas são uns amores. Parecem que tão fazendo um favor pra ti, e outras não são maravilhosas. (Como assim?) Quando pergunta alguma coisa e elas não tão a fim de responder, vêm com quatro pedra na mão, eu acho que não deveria acontecer porque a gente não tá aqui porque quer, porque precisa. (G6, 22 anos) O depoimento anterior demonstra dois extremos: o profissional que realiza tarefas e o profissional que presta o cuidado humanizado. Considerando o contexto da humanização, existe a necessidade de que seja prestada uma assistência personalizada que focalize o ser humano na sua individualidade, através de informações, diálogo e interesse por parte dos profissionais (SILVA, 2008). Assim, enfatizamos a importância de que os pacientes devem ser tratados com equidade e qualidade, porém respeitando-se as diferenças individuais, no momento da internação e durante todo período de hospitalização. 1.2) PERCEPÇÃO DAS ESPECIFICIDADES DO CUIDADO No decorrer das entrevistas, ao serem questionadas sobre as necessidades de uma gestante hospitalizada por pré-eclâmpsia, notou-se nas falas das participantes a referência aos sintomas característicos da pré-eclâmpsia, conforme os relatos a seguir: Pelo que eu sei, tem que cuidar a alimentação, fazer repouso por causa do inchaço e ver a pressão quase todo o tempo, porque a minha tá sempre alta e depois baixa, tá sempre assim. (G5, 21 anos) Ter cuidado, tem que controlar a pressão diariamente, tem que ter o controle, tomar os medicamentos, fazer repouso e controlar a alimentação. (G7, 35 anos) Eu acho que tem que cuidar da pressão e fazer repouso. Ah[,] e também diminuir o sal. (G8, 20 anos) Pelos relatos acima, observa-se que as pacientes detectam os sinais da doença através dos cuidados mencionados. Entre os sintomas da tríade característica da pré-eclâmpsia estão a pressão arterial igual ou acima de 140/90 mmHg, acompanhada ou não de proteinúria e edema que não sede com repouso, e apresenta início súbito, ou ainda quando há um ganho de peso igual ou maior de 500 g por semana (CUNHA; OLIVEIRA; NERY, 2007). Constatou-se nas falas das participantes a referência às necessidades biológicas refletida nas ações dos profissionais de enfermagem, mediante indagação acerca das necessidades de uma gestante hospitalizada por pré-eclâmpsia, como expressam as falas de G1, 35 anos e G9, 31 anos: Mas cuidado né, tem que ficar monitorando, por exemplo, a minha pressão hoje de manhã tava 110/90 mmHg. Agora foi medir e tá 140/100 mmHg [...] e rapidinho assim, entendesse, então tem que tá de olho vivo, (e tu acha que tão fazendo isso?) Tão, tão sim, tanto que todos aqui estão em volta. (G1, 35 anos) Ah, eles chegam direito, perguntam, “Dá o bracinho aqui, vamos verificar a tua pressão pra ver se baixou...”. Quando a pressão tá alta demais verificam toda hora. (G9, 31 anos) Observa-se nesses depoimentos que, apesar dos profissionais estarem atentos ao quadro clínico das gestantes, não expressam atenção ao seu estado emocional. É indispensável que os profissionais, principalmente os de enfermagem, disponham não só de recursos técnicos, mas realizem um cuidado humanizado, sendo fundamental que ocorra um diálogo que propicie o bem-estar do paciente, como também o auxílio ao indivíduo e seus familiares na prevenção e no enfrentamento da doença (BELTRÁN, 2006). O sentimento de angústia pode ser visto nos seguintes depoimentos, quando questionadas sobre como elas se sentiam estando internadas: Eu me sinto bem, mas tô louca pra ir embora casa, tô ansiosa. (G3, 39 anos) Ninguém gosta de estar no hospital, tu sabe, né, mas é pro meu bem e do bebê [...] (G5, 21 anos) Eu não gosto muito, mas é melhor do que tá em casa, tem que tá internada por causa da pressão, né. (G7, 35 anos) Por isso o acolhimento no ambiente hospitalar também é indispensável, pois adquire um caráter especial, como Sá (2002) relata que a gestante de alto risco necessita de terapêutica e cuidados mais complexos, o que a torna vulnerável tanto ao nível físico quanto emocional. Nesse sentido, Cunha, Oliveira e Nery (2007) enfatizam que se faz necessário estabelecer traços de confiança entre o profissional e o paciente para a eficácia da terapêutica, pois, a partir do momento em que se estabeleça o vínculo, a gestante demonstra-se mais à vontade para expressar sentimento e queixas. Tal fato pode ser observado nas falas de G1, 35 anos e G4, 24 anos: Que tudo ocorra bem, com a minha gravidez, por eu tá aqui, eu acho que estou em boas mãos, né [...] todo mundo daqui é bom. (G1, 35 anos) O pessoal é muito querido, chegam no quarto brincando, são atenciosos, estão sempre dispostas a ajudar, sabe. Se tu pergunta, sempre te dizem qual é a medicação e pra que serve, gosto muito do jeito que eles atendem. (G4, 24 anos) Considerando o contexto da humanização, o depoimento de G6, 22 anos demonstra a necessidade de que as ações sejam mais focalizadas no ser humano na sua individualidade, através de informações, diálogo e o interesse por parte dos profissionais. São muito atenciosos [...] é, mas às vezes eu acho que poderiam falar mais, explicar o que acontece, a gente fica sem saber, sabe. (G6, 22 anos) Destacando a conversa, nota-se que o momento do diálogo, durante os cuidados prestados pela enfermagem, é a oportunidade ideal para os pacientes expressarem suas angústias, medos, preocupações e alegrias, estes itens são fundamentais para a interação entre a equipe e o paciente. Esses momentos de diálogo, via de regra, convertem-se em um foco de atenção nas reais necessidades do paciente, não só a terapêutica, mas também a emocional (FERREIRA, 2006). 2.2) PERCEPÇÃO DO PROCESSO DE INTERAÇÃO E O VÍNCULO COM OS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM Sobre esta temática, pode-se dizer que as participantes demonstraram reconhecer a atenção e o cuidado dos profissionais de enfermagem, entretanto sentiam falta do envolvimento pessoal, como pode ser observado nas falas a seguir, sobre as diversas atitudes dos profissionais percebidas como ações de interação pelas pacientes. Sempre fui bem tratada, sempre que eu pedi alguma coisa, eles sempre vieram. (G2, 23 anos) Acho que cuidam bem da gente, eles têm o maior cuidado, sempre pergunta se tá doendo a medicação, tão sempre entrando no quarto pra ver se a pressão baixou, quase toda hora tão aqui [...] são bastante atenciosos com a gente. (G5, 21 anos) Fazem muito bem os procedimentos, fui muito bem atendida pela equipe de enfermagem, até falei pro meus familiares que fui bem tratada aqui [...] não tem o que me queixar, sempre me informam direitinho, quando pergunto [...] eles conversam, não ficam só naquela parte de procedimento, até pra descontrair um pouco, passar o tempo. (G3, 39 anos) Nota-se nessas falas que as participantes salientam ações interativas, como, por exemplo, a conversa, as perguntas, as explicações, as brincadeiras, no entanto, observa-se que essas ações ocorrem prioritariamente durante a realização dos procedimentos. Isso induz a pensar que as ações interativas são propositais ao período de duração dos procedimentos e não uma ação que vise suscitar o conhecimento daquela mulher acerca de seu estado saúde e da terapêutica. Na perspectiva de compreender a percepção das depoentes, quanto ao processo interativo entre elas e a equipe de enfermagem, questionando-as acerca dos seus sentimentos em relação ao fato de estarem hospitalizadas e as expectativas em relação ao tratamento, obteve-se os seguintes depoimentos: Tem risco pra mãe e pro bebê, eu sei que pode causar até morte nos bebezinho [...] precisa ser cuidada pelos médicos, enfermeiros, pela equipe do hospital, sabe, porque eu acredito que não dá pra relaxar, tem que cuidar dos medicamentos, da pressão, o sal [...] tô me sentido melhor, que tudo dê certo. (G3, 39 anos) Sei que causa morte, me disseram que é uma gestação de risco [...] espero que tudo ocorra bem, com a minha gravidez, por eu tá aqui, eu acho que estou em boas mãos, né [...] (G1, 35 anos) Espero poder ganhar logo pra poder ir pra casa, pois já tá melhorando, tô menos inchada, as pernas, já a pressão tá sempre lonqueando, uma hora alta, outra baixa, aí fico preocupada. (G5, 21 anos) As falas anteriores expressam, de um modo em geral, que as mulheres possuem um sentimento do medo e preocupação pelo fato de estarem hospitalizadas em um setor de alto risco, relacionando-o ao agravamento do seu estado de saúde e à possibilidade da morte. Dentre os sentimentos relatados pelas pacientes, o mais evidenciado por elas foi o medo, o que lhes causou um certo grau de ansiedade, pois, diante da necessidade da hospitalização, veio consigo a confirmação do agravamento do quadro e o risco de morte sua e do seu filho. Em vista disso, se faz necessário por parte dos profissionais de enfermagem a capacidade de perceber a fragilidade em que esta paciente se encontra, buscando interagir, com o intuito de proporcionar o conforto emocional, através do olhar, de gestos, da escuta e de alguma palavra que aponte as potencialidades com responsabilidade, tentar abranger de uma forma geral as necessidades física e emocional da maneira que esta mulher necessita (SILVA, 2008). Em síntese, os depoimentos levam-nos a conceber que houve interação entre as gestantes e os profissionais de enfermagem, no entanto essa interação ficou condicionada à realização dos procedimentos. Entretanto, de acordo com os relatos das gestantes, elas consideraram ter um bom relacionamento com os profissionais no que diz respeito ao atendimento de suas necessidades, através dos cuidados prestados as elas. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Perante os depoimentos das participantes deste estudo e na análise de suas falas observou que as mesmas detinham conhecimentos limitados acerca da patologia, porém consideravam um bom relacionamento com os profissionais de enfermagem no que diz respeito às suas necessidades, através do cuidado com as condições clínicas e o tratamento dos sintomas apresentados. Não obstante, expressaram haver pouco envolvimento pessoal, demonstrando que deveria existir mais interesse pela sua situação. Referente ao modo como as gestantes perceberam a interação com a equipe de enfermagem, os resultados demonstram que elas estavam cientes de que clinicamente estavam assistidas, porém expressaram que sentiam falta de informações acerca da patologia. Ademais, vivenciavam sentimento de medo e insegurança, como também perceberam a carência no processo de interação com os profissionais. Dessa forma, enfatizamos que uma boa interação entre a equipe de enfermagem e a gestante possibilita ao profissional se inteirar das reais necessidades desta mulher, ao vivenciar uma gestação de alto risco. Por isso, salientamos a importância de uma assistência de enfermagem humanizada e qualificada, livre de intervenções desnecessárias, coerente com os preceitos normatizados pelos programas atuais direcionados à saúde da mulher, nos quais a integralidade é referenciada como a grande aliada na qualidade da assistência prestada, tanto no nível hospitalar quanto na atenção básica. REFERÊNCIAS BARROS, Sônia Maria Oliveira de. Enfermagem no ciclo gravídico-puerperal. Série Enfermagem / Coordenadora Tamara Cianciarullo. São Paulo: Manole, 2006. 259p. BELTRÁN. Ó. A. S. Factores que influyen en la interaccion humana del cuidado de enfermeria. Investigación y Educación en Enfermería, Medellín, v. 24, n. 2, p. 144150, Jul./Dec., 2006. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Gestação de alto risco: manual técnico. 5.ed. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2010. 301p. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Área Técnica da Saúde da Mulher. Pré-natal e puerpério: atenção qualificada e humanizada - manual técnico. 3.ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. 163p CUNHA. K. J. B.; OLIVEIRA. J. O.; NERY. I. S. Assistência e enfermagem na opinião das mulheres com pré-eclâmpsia. Escola Ana Nery Revista de Enfermagem, v.11, n. 2, p. 254-260, Junho, 2007. FERREIRA. M. A. A comunicação no cuidado: uma questão fundamental na enfermagem. Revista Brasileira de Enfermagem. v. 59, n. 3, p. 327-330, Maio/Jun., 2006. FIGUEIREDO, Nébia Maria Almeida de. Ensinando a cuidar da mulher, do homem e do recém-nascido. 1.ed. São Caetano de Sul - SP: Yendis, 2005. 522p. PINHO, L. B.; SANTOS, S. M. A. O relacionamento interpessoal como instrumento de cuidado no hospital geral. Cogitare Enfermagem. v. 12, n. 3, p. 377-385, Jul./Set. 2007. SÁ, M. C. N. Um estudo sobre os cuidadores familiares de pacientes internados com doenças hematológicas. Psicologia. v. 3, n. 1, p.124-141, 2002. SANTOS, A. L. D.; ROSENBURG, C. P.; BURALLI, K. O. Historia de perdas fetais contadas por mulheres: estudo de análise qualitativa. Revista de Saúde Publica, v. 38, n. 2, p. 268-276, 2004. SILVA, Maria de Lourdes Costa da. 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Jul./Dez., 1998. 6.2) TRAJETÓRIA DAS QUESTÕES DE GÊNERO E INFLUÊNCIAS NA SAÚDE DA MULHER DINIZ EBLING, Sandra Beatris1; ZANINI MARIN, Fabiana 2; OLIVEIRA SILVA, Silvana3; MACHADO PIESZAK, Greice4; MOREIRA DA SILVA, Marciele5; MARCHESAN JÚNIOR, Antonio Carlos6 RESUMO Este artigo objetiva refletir quanto à trajetória do movimento feminista, bem como das questões de gênero e suas implicações na saúde da mulher. Trata-se de uma reflexão teórica fundamentada em referenciais de saúde e gênero. Na qual, verificase a relevância em amenizar ações em saúde da mulher focadas no biológico. Contudo, faz-se necessário considerar o contexto de gênero como um dos determinantes do processo saúde-doença da mulher, sendo imprescindível fortalecer o debate na formação e suas implicações na saúde da mulher. 1 Enfermeira. Mestre em Educação pela UNIJUÍ. Docente na Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões URI Campus de Santiago/RS. Endereço: Silveira Martins n° 2391. Fone: (55) 9631-3931. E-mail: [email protected] 2 Graduanda em Enfermagem pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – Campus Santiago, RS, Brasil. Bolsista do projeto de extensão intitulado Mulheres em ação pela saúde e cidadania: um espaço delas. Integrante do GEPSE (Grupo de Estudo e Pesquisa em Saúde e Enfermagem) E-mail: [email protected]. 3 Enfermeira. Mestre em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Maria. Coordenadora do Curso de Graduação em Enfermagem da URI-Santiago. Endereço:Rua Mário Fáveron° - 118 Fone:99359297. E-mail: [email protected]. 4 Enfermeira. Mestre em Enfermagem pelo Programa de pós-graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria. Docente do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões - URI - Campus Santiago, RS. Email: [email protected]. 5 Enfermeira. Mestre em Enfermagem do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (PPGEnf) da UFSM. Docente na Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões URI Campus de Santiago/RS. Membro do Grupo de Pesquisa Cuidado, Saúde e Enfermagem da UFSM. Endereço: Rua vinte de setembro 2410 Centro. Fone: 99285986. E-mail: [email protected]. 6 Enfermeiro supervisor de estágio da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões URI Campus de Santiago/RS. Eixo Temático: Atenção à Saúde da Mulher Descritores: Gênero e saúde; Saúde da mulher; Identidade de gênero; Feminismo. 1. INTRODUÇÃO A reflexão sobre as questões de gênero aqui esboçadas principia por um sobrevôo histórico sobre o Movimento Feminista, no qual, teve e continua tendo amplos objetivos, mas fundada, com maior ênfase, no desejo de “tornar visível aquelas (as mulheres) que foram ocultadas”(LOURO,2010). Frente a essas considerações, surge a necessidade de refletir acerca da história do movimento feminista, bem como das questões de gênero e suas implicações na saúde da mulher. Nesse anseio recorremos a alguns referenciais e interrogamos: Como entender essa invisibilidade e como tudo isso iniciou? Olhando para a história da humanidade a partir de alguns autores, compreendemos que as relações entre homens e mulheres nem sempre foram relações de domínio de um sujeito para com o outro. Ainda que muito pouco da história seja conhecida e contada, pode-se dizer que, no período denominado “comunismo primitivo” as relações não eram marcadas pelo domínio dos homens sobre as mulheres, o que prevalecia era a “solidariedade e o poder era um serviço”, não um privilégio (LOPES; MEYER; WALDOW, 1996). Assim, a trajetória da constituição das relações desiguais, desde a sociedade escravista, passando pelo sistema feudal, até chegar à sociedade capitalista dos dias atuais. Em todos esses períodos históricos, as relações de poder subjugaram a mulher, colocando-a sob a tutela dos pais e, depois, dos esposos(PALUDO E DARON, 2001). Em se tratando das relações de poder, cabe mencionar que as características que apresentam historicamente são móveis, hierárquicas e assimétricas, situando a mulher em uma posição de subalternidade, como se esta fosse menos capaz, menos competente emenos relevante que o homem. Seu saber e sua participação são considerados menos significativos do que os de seus companheiros e progenitores(PAECHTER,2009). Diferentes perspectivas reforçam isso: a religiosa, identificando a mulher como subproduto do homem, “já que foi construída da costela de Adão”; a biológica, definindo a mulher como inferior ao homem do ponto de vista da força física e das diferenças sexuais; a econômica, que confere ao homem o espaço da produção e o papel de responsável pela sustentação da família (provedor) e à mulher o espaço familiar com o papel de reprodução cultural, biológica e da força de trabalho; e a cultural, definindo características e hábitos, costumes e valores próprios das mulheres e dos homens (LOPES; MEYER; WALDOW, 1996). Assim, (Scott,1995) enfatizavasua preocupação, frente à falta de consistência dos estudos sobre mulheres, em geral realizados de maneira estreita e separados, posicionamento reforçado por Natalie Davis, que afirma: “penso que deveríamos nos interessar pela história tanto dos homens como das mulheres, e que não deveríamos tratar somente do sexo sujeitado”, tendo por objetivo compreender a importância dos sexos e a configuração cultural dos grupos de gênero no passado histórico. É imprescindível que as pesquisas e estudos possibilitem descobrir o leque de posições e de simbolismos sexuais nas diferentes sociedades e períodos, procurando identificar sentidos e significados e distinguir formas de funcionamento da ordem social e dos movimentos voltados à transformação das relações estabelecidas. No entanto, em meio a essa trajetória, pensamos ser conveniente explicitar que o movimento social organizado, que se configura como feminismo, caminha em uma diversidade de vertentes. Então, se para algumas as teorizações marxistas representarão uma referência fundamental, para outras as expectativas construídas a partir da psicanálise poderão parecer mais produtivas. Existirão também aquelas que alegarão a impossibilidade de ancorar tais análises em mapas teóricos organizados e que buscarão produzir explicações e teorias propriamente feministas, originando o “feminismo radical” ( LOURO,2010). Em cada uma dessas vertentes, podemos constatar que é sugerido um “princípio”, um “motivo”, que encobre a visibilidade, norteando, de maneira obscura e tácita, a mulher enquanto presença no trabalho, na família, na saúde e na sociedade. Contudo, no coletivo de tais vertentes, independente do ponto de vista orientador das diferentes linhas do movimento feminista, há objetivos que pouco se diferenciam, sendo que todas as linhas almejam um propósito: a desconstrução de condições que levam à invisibilidade das mulheres. No todo há, portanto, aproximações e distanciamentos. As diferentes vertentes, com um olhar na história, procuram caminhos para amenizar fatores que sustentam a invisibilidade das mulheres, porém pensam e agem de formas diferentes; possuem diferentes leituras do processo, mas existe clareza nos aspectos relacionados aos principais objetivos: o desejo e a motivação em torno de um ideal em comum: a libertação e a emancipação da mulher. Freire indica caminhos para a emancipação em que cada ser humano aprende a dizer a sua palavra, a exercitar sua capacidade de expressar-se, de dialogar, movimentos individuais e coletivos essenciais à humanização. A multiplicidade de expressões possibilita a construção intersubjetiva de uma sociedade em que objetivos e vivências sejam conjugados e se estabeleçam relações igualitárias (FREIRE,2003). Dessa forma, a luta, enfatizando a temática de gênero, necessita envolver ações direcionadas aos sujeitos, tanto mulheres como homens, buscando-se a construção de um projeto de sociedade em que prevaleça a igualdade entre homens e mulheres, possibilitando-lhes o exercício “de palavras e ação”, em constante processo de emancipação e humanização (LOPES; MEYER; WALDOW, 1996). 2. OBJETIVO Este estudo visa aprofundar o entendimento sobre a questão de gênero, reconhecendo as conquistas obtidas até o presente e problematizando as relações vigentes em nossa sociedade, indicando ações a serem empreendidas para que possamos avançar ainda mais em termos de racionalidade, respeito, saúde e solidariedade. 3. METODOLOGIA Trata-se de um estudo descritivo, do tipo reflexão, balizado nas questões de gênero e sua relação com a saúde da mulher. A discussão baseia-se na revisão de literatura. 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES Inicialmente, no século XIX, as manifestações tomaram rumo contra a discriminação feminina, adquirindo visibilidade e expressividade acentuadas no chamado “sufragismo”, ou seja, movimento voltado para estender o direito de voto às mulheres, oportunidades de estudo e acesso a determinadas profissões (LOPES,2010). No período denominado de “segunda onda”, contemplado pelo fervor de acontecimentos em meados de 1960, os estudos feministas, “além das preocupações sociais e políticas, se voltaram para as construções propriamente teóricas” (LOPES,2010). Nesse âmbito de acontecimentos, nascem as discussões acerca de gênero. As questões de gênero possibilitam uma compreensão aprofundada do ser humano, desmistificando a ênfase ao biologicismo, dirigindo um olhar sobre o sujeito muito além das diferenças sexuais, mas sim a partir de suas vivências sociais, culturais e linguísticas, transcendendo o “biológico (sexo) para o gênero (social)” (SAFFIOTI, 1992). Gênero articula-se a partir da trama de quatro elementos que clarificam o efeito do gênero nas relações sociais e institucionais. Tal enfoque permite conceber as questões de gênero para além das identidades subjetivas e, igualmente, compreendê-las como imersas e impregnadas por toda a ordem social na qual se inserem (PALUDO,2001). Com base nos posicionamentos, constatamos que, em sua constituição, o conceito de gênero é constituído por quatro elementos – símbolos, conceitos normativos, instituições e organizações sociais e, ainda, identidade subjetiva – que, embora distinguíveis, entrelaçam-se entre si, e atuam inter-relacionados uns com os outros de forma complementar e integrante, porém não ao mesmo tempo (SCOTT,1995). Primeiramente, em se tratando do elemento denominado de símbolos,cabe destacar que estes são evidenciados pelas questões culturais que invocam representações simbólicas frequentemente distorcidas – ex: Eva e Maria como simbologia da mulher – mitos de luz e escuridão, purificação e poluição, inocência e corrupção (SCOTT.1995). Quanto ao segundo elemento apontado pela autora, temos os conceitos normativos,os quais determinam a ordem social depositando de forma intensa os limites dos sentidos dos símbolos, sendo expressos nas doutrinas religiosas, educativas, científicas e políticas. Eles são articulados de maneira fixa: puro-impuro; inocente-pecador; forte-delicado; dentre outros. Essas oposições desenham de forma categórica o que significa o ser homem, o ser mulher, assim como o masculino e o feminino ( SCOTT,1995). O terceiro elemento envolve as instituições e organizações sociais, relacionando-se às “comunidades de prática”, tais como a família, o trabalho, a política, a educação e o sistema de saúde, uma vez que essas são fundamentais na constituição do conceito de gênero, posto que este não está apartado das especificidades dos distintos grupos que configuram a trama social em que tal conceito é produzido (SCOTT,1995). Nesse sentido, é relevante compreendermos que as diferentes instituições e práticas sociais são constituídas pelos gêneros.Estas práticas e instituições “fabricam” os sujeitos. Dessa forma busca-se compreender que a justiça, a igreja, as práticas educativas ou de governo, a política, etc. são atravessadas pelos gêneros “engendram-se”, a partir das relações de gênero (LOURO,2010). Por último, é pertinente dialogar sobre identidade subjetiva. Esse componente refere-se ao próprio sujeito, homem ou mulher, que está em um processo contínuo de construção, a partir das “comunidades de prática”. A questão central aqui é como os homens e mulheres em construção reagem ao que lhes é apresentado como roteiro de vida, a partir das comunidades (SCOTT,1995). Desse modo, contribui para o esclarecimento do significado de gênero, definindo-o como maneiras de nos “fazermos” homem ou mulher e implica dizer que não é algo dado de vez ou pré-determinado, mas algo que é constantemente mostrado, ou encenado, pelo social (PAECHTER,2009). Constatamos, assim, a “urgência” de atenuarmos a centralidade no biológico que envolve a saúde da mulher, referindo-nos às ações em saúde, as quais tradicionalmente enfatizam a questão da reprodução, do parir e do gestar, enquanto o contexto de gênero fica “esquecido”. Todavia, não temos a pretensão de negar radicalmente o biológico. Pelo contrário, o que privilegiamos e almejamos é a pluralidade do todo, mais especificamente na saúde da mulher. Nesse sentido, adverte-se que “o discurso normativo encerra as mulheres na condição de mãe, seus destinos estavam ligados às amarras biológicas de um corpo”. É partindo desse olhar que queremos avançar no sentido de que a saúde da mulher não pode ser resumidamente concentrada no estado de parir e gestar e, sim, precisa ser analisada, também na perspectiva de gênero (SCHWENGBER,2006). 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Por fim acredita-se ser indispensável essas reflexões acerca de gênero e saúde para uma visão clara e profunda, que nos permita compreender a questão da saúde da mulher para além do aspecto biológico. Isso porque, quando tratamos de saúde – cuidado (enfermagem), estão implicados os fatores sociais, mentais, afetivos e culturais, dentre outros. Portanto, é imprescindível um olhar global que envolve a saúde da mulher e fortalecer o debate na formação em saúde acerca das questões de gênero e suas implicações na saúde da mulher. REFERÊNCIAS Freire P. Pedagogia do Oprimido. 36. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra; 2003. Lopes M.J.M, Meyer D.E,Waldow V.R. Gênero e Saúde.Porto Alegre: Editora: Artes Médicas; 1996. Louro G.L. Gênero, Sexualidade e Educação: estruturalista. 11. ed. Petrópolis (RJ): Vozes; 2010. Paechter C. Meninos e meninas:aprendendo feminilidades. Porto Alegre: Artmed; 2009. Uma sobre perspectiva pós- masculinidades e Paludo C,Daron V.L.P. Gênero, classe e projeto popular. Passo Fundo (RS): Gráfica Batistel; 2001. Saffioti H.I.B. Rearticulando gênero e classe social. In: Costa AO,Bruschini C. Uma questão de gênero. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos; 1992. Schwengber M.S.V. Dona de Si? A educação de corpos grávidos no contexto dos Pais e Filhos [tese]. Porto Alegre (RS): Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 2006. Scott J.W. Gênero:uma categoria útil de análise histórica.Educação e Realidade.1995; 20 (2), 1995. 7.2) PROTAGONISMO DA MULHER NO PROCESSO PARTURITIVO: VIVÊNCIAS DE PUÉRPERAS PRIMÍPARAS1 SCARTON, Juliane2; PRATES, Lisie Alende3; BARRETO, Camila Nunes4; CASTIGLIONI, Críslen Malavolta5; POMPEU, Kelen da Costa6; RESSEL, Lúcia Beatriz7 RESUMO Objetivo: Conhecer as vivências de puérperas primíparas em relação ao cuidado de enfermagem prestado no trabalho de parto e parto. Método: Pesquisa de abordagem qualitativa, com enfoque descritivo-exploratório, tendo como cenário de estudo a maternidade de um hospital do interior do Estado do Rio Grande do Sul, e como participantes dez puérperas primíparas. Os dados foram coletados por meio de entrevista individual semiestruturada gravada em MP3 e após transcritas e analisadas por meio da proposta operativa de Minayo. O projeto de pesquisa que culminou nesse estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa, da Universidade 1 Federal de Santa Maria sob CAEE 26452313.8.0000.5346. Trabalho oriundo da dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (PPGEnf) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), intitulado “o cuidado de enfermagem no trabalho de parto e parto: Vivências de puérperas primíparas”. 2 Relatora. Enfermeira. Mestranda em Enfermagem do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (PPGEnf) da (UFSM). Bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Membro do Grupo de Pesquisa Cuidado, Saúde e Enfermagem/UFSM. Santa Maria, RS, Brasil. E-mail: [email protected] 3 Enfermeira. Mestranda em Enfermagem do PPGEnf da UFSM. Bolsista CAPES. Membro do Grupo de Pesquisa Cuidado, Saúde e Enfermagem/UFSM. Santa Maria, RS, Brasil. E-mail: [email protected] 4 Enfermeira. Mestranda em Enfermagem do PPGEnf da UFSM. Bolsista CAPES. Membro do Grupo de Pesquisa Cuidado, Saúde e Enfermagem/UFSM. Santa Maria, RS, Brasil. E-mail: [email protected] 5 Acadêmica de enfermagem da UFSM. Bolsista PIBIC. Membro do Grupo e Pesquisa Cuidado, Saúde e Enfermagem/UFSM. Santa Maria, RS, Brasil. E-mail: [email protected] 6 Enfermeira. Egressa da UFSM. Santa Maria, RS, Brasil. E-mail: [email protected] 7 Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora do Curso de Graduação em Enfermagem e do PPGEnf da UFSM. Líder do Grupo de Pesquisa Cuidado, Saúde e Enfermagem. Santa Maria, RS, Brasil. E-mail: [email protected] Resultados: O profissional acolhe a parturiente, fornece orientações, esclarece dúvidas, se coloca à disposição, promove uma escuta ativa, inclui o companheiro no cuidado e demonstra interesse pela usuária. Considerações finais: Por meio do cuidado centrado na parturiente que vise o relacionamento interpessoal, ético e que respeite os direitos da mulher de ser cuidada digna e individualmente, é possivel ir ao encontro do que preconiza a política de humanização no parto e nascimento demontrastrando mudanças do contexto atual da assistência ao parto. ABSTRAT Objective: To learn the experiences of primiparous postpartum women in relation to nursing care provided during labor and childbirth. Method: This was a qualitative approach with descriptive exploratory approach, and the study of a maternity hospital in the state of Rio Grande do Sul scenario, and how participants ten primiparous postpartum women. Data were collected through semi-structured individual interviews recorded in MP3 and after transcribed and analyzed using the proposed operative Minayo. The research project that culminated in this study was approved by the Research Ethics Committee of the Federal University of Santa Maria in CAEE 26452313.8.0000.5346. Results: The professional hosts the mother, provides guidance, answers questions, make themselves available, promotes active listening, includes companion care and demonstrates the interest by the user. Final considerations: Through the laboring woman centered care aimed at the interpersonal, and ethical relationship that respects the rights of women to be cared for and worthy individual, it is possible to meet the policy that advocates the humanization of labor and birth demonstrating changes current context of childbirth care. Eixo Temático: Eixo 4: Atenção ao Parto. Descritores: Cuidados de Enfermagem; Parto; Trabalho de Parto; Enfermagem. 1. INTRODUÇÃO O parto é uma experiência única no universo da mulher e de seus familiares. Esse evento, na maioria das vezes, é motivo de alegria para a futura mãe e para família. Ao mesmo tempo, é uma fase cercada de dúvidas e insegurança (ALVEZ, 2007), especialmente quando se tratam de mulheres primíparas, pelo fato de estarem vivenciando essa experiência pela primeira vez. Os profissionais de enfermagem desempenham um papel fundamental no cuidado a essas mulheres, devendo prestar orientações, esclarecer dúvidas, bem como acolher e auxiliar em todo esse processo (MERIGHI; CARVALHO; SULETRONI, 2007). Nesse contexto, o cuidado de enfermagem é compreendido no sentido de acolher o ser humano como um ser único, envolvendo este em um cuidado integral, humanizado e diferenciado, colocando-o no centro da atenção (GRAÇA; SANTOS, 2009). O cuidado de enfermagem dispensado à mulher no processo parturitivo configura-se na busca de um relacionamento mais humano e próximo à parturiente. Além disso, deve possibilitar que a mulher detenha o controle sobre seu corpo, de modo a compreender o que acontece em cada fase do processo parturitivo. Também deve oportunizar a escolha pela posição no parto e pelo uso de métodos para o alívio da dor. Ademais, entende-se que o cuidado deve ocorrer de forma a respeitar a dignidade, autonomia e tomada de decisão das mulheres (SEIBERT et al, 2005), a partir de um relacionamento mais humano e integral, que considere a singularidade de cada mulher. Nesse sentido, é fundamental a garantia de um local adequado para que as mulheres e seus familiares sejam acolhidos, ouvidos, orientados, respeitados e livres para se manifestarem (VELHO et al, 2012). Sendo assim, as mulheres devem ter o direito de escolha, de escuta e de orientações para que possam conduzir o seu trabalho de parto, pois as mesmas são peças primordiais do processo de parturição (MACEDO et al, 2008). Para isso, é necessário que os profissionais de saúde que atuam durante o trabalho de parto e parto estejam sensibilizados quanto ao seu papel nesse processo, pois a mulher e o bebê devem ser o principal foco de atenção (SEIBERT et al, 2005) e não as técnicas. Desse modo, tem-se como questão norteadora do estudo: “como foi a vivência de puérperas primíparas em relação ao cuidado de enfermagem prestado no trabalho de parto e parto em uma instituição hospitalar do interior do Estado do Rio Grande do Sul?” 2. OBJETIVO Conhecer as vivências de puérperas primíparas em relação ao cuidado de enfermagem prestado no trabalho de parto e parto. 3. METODOLOGIA Estudo de abordagem qualitativa, com enfoque descritivo-exploratório. O cenário para realização do estudo foi a maternidade de um hospital localizado no interior do Estado do Rio Grande do Sul. As participantes do estudo foram 10 puérperas primíparas. Elencaram-se como critérios de inclusão: puérperas primíparas que realizaram o parto vaginal nesta instituição, internadas na maternidade no período da coleta de dados; que apresentavam condições psíquico-cognitivas para participar do estudo; puérperas primíparas que foram submetidas ao parto com idade gestacional equivalente a termo, e com recémnascidos vivos. Entre os critérios de exclusão: puérperas primíparas que tiveram o parto em outra instituição ou domiciliar. A coleta de dados foi realizada por meio de entrevista individual semiestruturada, nos meses de fevereiro, março e abril de 2014. O tamanho da amostra foi definido quando foram atingidos os objetivos propostos na pesquisa e também pela saturação dos dados. Os dados foram analisados por meio da proposta operativa (MINAYO, 2010). Os cuidados éticos foram observados, conforme Resolução nº 466/2012, do Conselho Nacional da Saúde (BRASIL, 2012). Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa/UFSM em 14 de janeiro de 2014, sob o número do processo CAEE 26452313.8.0000.5346. 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES Este estudo encontra-se na fase inicial de análise e interpretação dos dados, sendo assim, neste trabalho serão apresentados os resultados parciais do estudo. Logo, a partir da ordenação dos dados, criação do mapa horizontal das descobertas no trabalho em campo e classificação dos dados, foram identificadas algumas unidades de sentido, das quais uma delas deu origem a este trabalho e foi denominada como “o protagonismo da mulher no processo parturitivo: vivências de puérperas primíparas”. Nessa perspectiva, sabe-se que a assistência ao parto vem sofrendo modificações, desde que este deixou de ser realizado no domicílio por parteiras, em um ambiente calmo e aconchegante, junto ao convívio da família. Nesse contexto, as mulheres sentiam-se seguras e eram tratadas com respeito, sendo as principais protagonistas no processo. Contudo, com o passar dos anos, o parto passou a configurar-se em um evento institucionalizado e hospitalocêntrico, em que a mulher deixou de ser um sujeito ativo e participante, passando a tornarse uma mera espectadora, não participando na maioria das vezes das decisões que envolvem seu corpo. Apesar dessas mudanças no cenário no partejar, acredita-se que o protagonismo da mulher deve ser estimulado, utilizando de dispositivos como o diálogo, em linguagem compatível com o nível de escolaridade, visando garantir o direito da parturiente em ouvir e ser ouvida (FREIRE et al, 2011). Nesse sentido, as participantes deste estudo destacaram, ao longo das entrevistas, que o protagonismo da mulher pode e deve ser reforçado pelo profissional de saúde, e que este deve utilizar de ferramentas, como a atenção, escuta atenta, orientação e deve incluir o acompanhante no cuidado, pois este é o cuidado idealizado por elas, conforme evidenciam-se as falas a seguir: “sempre foram bem atenciosas comigo, com meu marido, qualquer dúvida que nós tinha, elas vinham atenciosamente atender” [E5]. “Perguntaram se eu tinha alguma dúvida, pra elas explicar se eu quisesse saber alguma coisa” [E3]. Dessa forma, reconhece-se que as parturientes, durante o trabalho de parto e parto, necessitam de uma atenção contínua e qualificada, que atenda as suas demandas de cuidados e de informações sobre todo o processo parturitivo (FREIRE et al, 2011). As participantes também revelaram que diante de uma postura de cuidado, atenção e acolhimento dos profissionais de enfermagem, elas sentem-se mais confiantes e seguras, pois, na percepção destas, os profissionais compreendem o momento único que estão vivenciando, momento esse de alegria, mas também cercado de insegurança e medo pelo desconhecido: “Eu cheguei aqui apavorada [...] achei que não iria aguentar [...] dai elas conversaram comigo, me aconselharam [...] eu estava ansiosa, nervosa, preocupada, tudo misturado sabe, dai teve duas (técnicas de enfermagem) que sentaram e conversaram comigo, disseram: não é normal, toda mulher que tem o primeiro filho passa por isso! [...]” [E3]. Tanto o trabalho de parto como o parto são fenômenos que envolvem um conjunto de incertezas e preocupações. Essas preocupações permanecem latentes, aflorando-se no momento do parto. No entanto, quando os profissionais se mostram sensibilizados com a situação e se solidarizam com as expressões de dor, medo, insegurança a mulher reage com segurança, compreendendo o momento vivenciado e sua capacidade fisiológica de parir (OLIVEIRA et al, 2010). A fim de tornar a mulher protagonista na cena do parto, percebe-se, nas falas das participantes, que os profissionais de saúde que as assistiram desempenharam um cuidado pautado nas explicações e orientações de como proceder no momento da dor e na fase expulsiva do parto, demonstrando, assim, a importância na colaboração da parturiente para a boa evolução do parto e o próprio conhecimento do seu corpo. “Me explicar tipo ali, quando o nenê vai nascer, as contrações que irão vir das costas, que a barriga vai começar endurecer [...] essas são as dores da contração” [E5]. “Falavam pra respirar para aproveitar as contrações e fazer força bem forte para o nenê vir, não ficar nervosa [...]” [E10]. Neste sentido, verifica-se que o simples fato de ouvi-las, orientá-las e encorajá-las é o diferencial nesse momento. As mulheres podem resgatar sua autonomia e protagonismo no contexto parturitivo, quando compreendem o que ocorre com seus corpos. Logo, ao prestar o cuidado à parturiente, o profissional de saúde deve propor ações criativas que auxiliem na distração, que reduzam a ansiedade e forneçam informações sobre a evolução do parto (SILVA; BARBIERI; FUSTINONI, 2011). Portanto, para que a mulher desempenhe seu papel ativamente com autonomia e protagonismo, é necessário que o profissional de saúde, inicialmente, respeite a fisiologia do parto, a privacidade, singularidade e particularidades de cada mulher, forneça orientações que contribuam para que esta possa atuar nesse processo. Mais do que isso, é fundamental considerar e respeitar as necessidades, os desejos, as expectativas e as escolhas da mulher. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os resultados deste estudo, embora ainda preliminares, já permitem perceber que os profissionais de enfermagem, que assistiram as mulheres entrevistadas, desempenharam um cuidado centrado no bem estar da parturiente. Desse modo, quando o profissional acolhe a parturiente, fornece orientações, esclarece dúvidas, se coloca à disposição, promove uma escuta ativa, inclui o companheiro no cuidado e demonstra interesse pela usuária, esses aspectos auxiliam na minimização de sentimentos, como o medo, a angústia e a insegurança. Logo, entende-se que o cuidado centrado na parturiente vai ao encontro do que preconiza a política de humanização do parto, tão idealizada pelas mulheres. Para isso, é imprescindível uma postura profissional atenta e preocupada com o bem estar da parturiente, por meio de um relacionamento interpessoal ético, que respeite os direitos da mulher de ser cuidada digna e individualmente, de acordo com suas necessidades. REFERÊNCIAS ALVES, A.M.; Et al. A enfermagem e puérperas primigestas: desvendando o processo de transição ao papel materno. Cogitare Enfermagem, v. 12, n. 4, p. 41627, 2007. BRASIL. Ministério da Saúde. Resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012, do Conselho Nacional de Saúde. Dispõe sobre pesquisa envolvendo seres humanos. Brasília (DF): Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP); 2012 FREIRE, N.C.; Et al. Parto normal ou cesárea? a decisão na voz das mulheres. Revista Baiana de Enfermagem, v. 25, n. 3, p. 237-47, 2011 GRAÇA, E.M.; SANTOS, G.F. Metodologia do cuidar em enfermagem na abordagem fenomenológica. Revista da Escola de Enfermagem da USP, v. 43, n. 1, p. 200-7, 2009. MACEDO, P.O.; Et al. As tecnologias de cuidado de enfermagem obstétrica fundamentadas pela teoria ambientalista de Florence Nightingale. Escola Anna Nery Revista de Enfermagem, v.12, n. 2, p. 341-7, 2008. MERIGHI, M.A.B.; CARVALHO, G.M.; SULETRONI, V.P. O processo de parto e nascimento: visão das mulheres que possuem convênio de saúde na perspectiva da fenomenologia social. Acta Paulista de Enfermagem, v. 20, n. 4, p. 434-40, 2007. MINAYO, M.C.S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo: Hucitec, 2010. OLIVEIRA, A.S.S.; Et al. Percepção de mulheres sobre a vivência do trabalho de parto e parto. Revista da Rede de Enfermagem do Nordeste, v. 11, n. esp.,p. 3241, 2010. SEIBERT, S.L. Et al. Medicalização x humanização: o cuidado ao parto na história. Revista de Enfermagem da UERJ, v. 13, p. 245-51, 2005. SILVA, L.M.; BARBIERI, M.; FUSTINONI, S.M. Vivenciando a experiência da parturição em um modelo assistencial humanizado. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 64, n. 1, p. 60-5, 2011. VELHO, M.B.; Et al. Vivência do parto normal ou cesáreo: revisão integrativa sobre a percepção de mulheres. Texto & Contexto - Enfermagem, v. 21, n. 2, p. 458-66, 8.2) EXPERIÊNCIAS DE PROFISSIONAIS DE ESTRATÉGIAS DE SAÚDE DA FAMÍLIA NO ATENDIMENTO A FAMÍLIAS ENLUTADAS PELA PERDA FETAL¹ AMTHAUER, Camila² VAN DER SAND, Isabel Cristina Pacheco³ RESUMO A gestação é considerada um momento de alegria, onde sonhos e expectativas são depositados nessa vida que está por vir. Quando ocorre uma perda fetal, projetos e expectativas são rompidos junto com a gravidez. Dessa vivência, sentimentos de impotência e frustração tomam conta de quem experencia a perda, exigindo dos profissionais de saúde uma sensibilidade para ajudar na elaboração da perda. Fazse necessário uma rede social de apoio à mulher/família enlutada, em que se insiram os profissionais, destacando-se os integrantes de equipes da Estratégia de Saúde da Família (ESF). O objetivo é relatar a experiência de profissionais da ESF no atendimento às mulheres e/ou famílias enlutadas pela perda fetal. Trata-se de um estudo descritivo, com abordagem qualitativa, desenvolvido em um município do Noroeste do Rio Grande do Sul adstrito à 17ª Coordenadoria Regional de Saúde, que conta com três equipes da ESF. Participaram doze profissionais (dois médicos, duas enfermeiras, quatro técnicas de enfermagem e quatro agentes comunitárias de saúde). Os dados foram coletados em agosto de 2010 por entrevista semiestruturada, gravadas e transcritas para fins de análise, segundo análise temática proposta por Minayo. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), mediante o processo 23081.011801/2010-23.Sobre suas experiências profissionais, a maioria dos sujeitos __________________________ ¹ Trabalho oriundo de Trabalho de Conclusão de Curso para obtenção de grau de Enfermeira pela Universidade Federal de Santa Maria. ² Enfermeira. Especialista em Saúde Pública. Mestranda em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Email: [email protected] ³ Enfermeira. Professora Assistente da Universidade Federal de Santa Maria. Doutora em Ciências. Email: [email protected] 96 mencionou ter experenciado para além do campo profissional, ou seja, relataram suas próprias vivências pessoais. Outro dado refere-se ao estresse representado pela necessidade de noticiar a morte fetal, devido a perda significar impotência e/ou fracasso profissional. Alguns sujeitos relataram situações de perda neonatal, salientando que essa representa uma experiência mais difícil para o profissional e para a mulher enlutada. Os dados permitem reafirmar a importância da educação permanente para que os profissionais tenham compreensão acerca da representação da gestação, maternidade, perda e luto. Eixo Temático: Atenção à Saúde da Mulher. Descritores: Gravidez; Morte Fetal; Saúde da Mulher; Estratégia Saúde da Família; Profissional da Saúde. ABSTRACT Pregnancy is considered a time of joy, where hopes and dreams are deposited in this life that is to come. When fetal loss occurs projects and expectations are broken along with pregnancy. This experience, feelings of helplessness and frustration take account of whom experience loss, requiring a sensitivity health professionals to assist in the preparation of the loss. It is necessary a social support network for women / bereaved family, which fall into professionals, especially members of the teams of the Family Health Strategy (FHS). The goal is to report the experience of professionals in FHS assistance to women and / or families bereaved by fetal loss. This is a descriptive study with a qualitative approach, developed in a municipality the Northwest Rio Grande do Sul attached to the 17th Regional Health, which has three FHS teams. Participated in twelve professionals (two doctors, two nurses, four nursing techniques and four community health workers). Data were collected in August 2010 by semistructured, recorded and transcribed for analysis interview, as proposed by Minayo thematic analysis. The project was approved by the Ethics Committee of the Federal University of Santa Maria (UFSM) through the process 23081.011801/2010-23. About their professional experiences, most participants 97 mentioned having lightful beyond the professional field, or reported their own personal experiences. Another data refers to the stress posed by the need to report fetal death due to loss mean impotence and / or professional failure. Some subjects reported cases of neonatal loss, stressing that this is a more difficult experience for the professional and for the bereaved woman. The data allow reaffirm the importance of continuing education for professionals to have understanding about the representation of pregnancy, motherhood, loss and grief. Descriptors: Pregnancy; Fetal Death; Woman’s Health; Family Health Strategy; Health Professional. 1. INTRODUÇÃO A gestação é uma fase na vida da mulher que implica em diversas transformações relacionadas ao seu corpo, estilo de vida e seu novo papel social – o de ser mãe. Essas mudanças exigem adaptações principalmente na vida da mulher, mas também se estendem ao companheiro e à família que juntos vivenciam esse momento. Entretanto, cada mulher vive a gravidez de forma única e individual, dependendo do contexto cultural, social e familiar a qual está inserida, que vão influenciar fortemente os aspectos físicos, emocionais e sociais no seu exercício da maternidade. Para além dessas mudanças, novos papeis e responsabilidades devem ser assumidos pelos novos pais, que reconhecem o filho como um ser frágil que necessita de proteção e cuidado, o que requer uma construção ideológica de ser mãe e ser pai (SILVA et al., 2013). O nascimento de um bebê é considerado pela maioria das mães e suas famílias como um momento de felicidade, alegria e até a realização de um sonho. Desejos e expectativas são depositados nessa nova vida que está por vir. Ao saberse grávida, a mãe passa a imaginar como será o rostinho do bebê, seu nome e a idealizar projetos para seu filho. Quando ocorre uma perda fetal, seus sonhos e expectativas são rompidos junto com a gravidez (MONTERO et al., 2011). 98 Dessa vivência, sentimentos de impotência, incapacidade, frustração e culpa tomam conta da mulher e família que experenciam a perda, o que demanda dos profissionais da saúde uma sensibilidade para o oferecimento de apoio e conforto. Este suporte é importante na elaboração da dor e sofrimento da perda, fazendo parte do processo de cuidar. Nele, prioriza-se a expressão das diferentes questões dessa gestante, buscando a satisfação de suas necessidades com base em sua própria ótica (RODRIGUES; HOGA, 2006). Nesse sentido, percebe-se a necessidade de uma rede social de apoio à mulher e à família enlutada, em que se insiram também os profissionais de saúde, destacando-se os integrantes de equipes da Estratégia de Saúde da Família (ESF). 2. OBJETIVOS O presente estudo, recorte de outro de maior envergadura, tem como objetivo relatar a experiência de profissionais da ESF no atendimento às mulheres e/ou famílias que vivenciam uma perda fetal. 3. METODOLOGIA Estudo descritivo, de natureza com abordagem qualitativa, desenvolvido em um município do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul adstrito à 17ª Coordenadoria Regional de Saúde, que conta com três equipes da ESF. Como critério de inclusão foi definido que o profissional deveria ter experenciado, no exercício de sua profissão, o atendimento à mulher e/ou família enlutada em decorrência da perda fetal. Participaram doze profissionais (dois médicos, duas enfermeiras, quatro técnicas de enfermagem e quatro agentes comunitárias de saúde), atuantes em uma das três equipes de ESF, prezando-se pela representatividade de todos os profissionais da equipe mínima de uma ESF. Os dados foram coletados por entrevista do tipo semiestruturada, gravadas e, posteriormente, transcritas para fins de análise e interpretação dos dados. As 99 entrevistas aconteceram durante o mês de agosto de 2010, segundo o local e disponibilidade dos sujeitos do estudo. Foram respeitados os preceitos éticos de pesquisa com seres humanos, conforme a Resolução do Conselho Nacional de Saúde n° 196/96, com aprovação do projeto por meio de Parecer Consubstanciado, emitido pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Santa Maria (CEP/UFSM), mediante o processo 23081.011801/2010-23. Os dados foram analisados pela análise de conteúdo da modalidade temática, operacionalmente efetuada em três etapas: pré-análise, exploração do material e tratamento dos resultados obtidos e interpretação. Na pré-análise tomou-se contato com o material produzido na transcrição das entrevistas, por meio de leitura exaustiva, com vistas a uma impregnação das informações contidas; na exploração, realizou-se a categorização dos dados, organizando-se as unidades de registro a partir de suas afinidades temáticas; e na interpretação buscou-se a compreensão e interpretação dos dados à luz do referencial (BERTOLANI; OLIVEIRA, 2010; MINAYO, 2010). 4. RESULTADOS Ao serem questionados acerca das experiências profissionais na ESF, relativas à atenção a mulheres e/ou famílias enlutadas pela perda fetal, a maioria dos sujeitos mencionou ter tido alguma experiência para além do campo profissional, ou seja, relataram suas próprias vivências pessoais. Na medida em que descreviam suas experiências, atribuíram motivos que ocasionaram a perda fetal, relacionando-a há alguma situação e/ou ação por parte da mulher e/ou família. Outro dado que emerge da investigação refere-se ao estresse representado pela necessidade de noticiar à mulher/família a morte fetal, pois, além da dificuldade cultural de lidar com as questões relativas à morte e ao morrer, a perda pode ter um significado de impotência e/ou de fracasso profissional. Percebe-se que a perda significa dificuldades para todos que participam desse evento, incluindo a equipe 100 que a acompanha. Destaca-se que, para os sujeitos do estudo, o profissional deve permanecer incólume ao sofrimento, visto que cabe a ele prestar o suporte a essa mulher e/ou família. Assim, para fazê-lo de modo eficiente, os sujeitos entendem que o profissional não pode se envolver emocionalmente com a situação vivida pela família. Por fim, alguns sujeitos do estudo relataram situações de perda neonatal, e de abortamento ou perda fetal, salientando, inclusive, que essa representa uma experiência mais difícil tanto para o profissional quanto para a mulher enlutada. Talvez o motivo para essa percepção esteja na materialidade possibilitada pelo nascimento de uma criança viva. 5. DISCUSSÃO Com base nos achados, considera-se pertinente trabalhar a questão da promoção da saúde para equipes de ESF, além de atividades de educação permanente que abordem por meio de metodologia crítico-reflexiva conteúdos voltados à multidimensionalidade do ser humano em situação de perda, ou seja, que considere os aspectos biopsicossociais e culturais relativos ao abortamento e perda fetal. Assim, de posse de um maior domínio e clareza sobre as causas de um abortamento ou de uma perda fetal, bem como de seus significados, os profissionais transformariam suas práticas, conforme prevê a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde, auxiliando as famílias no planejamento de suas gestações, respeitando suas decisões e dando o suporte necessário na situação de luto fetal (BRASIL, 2006). A equipe deve estar preparada para lidar com os sentimentos e as emoções das mulheres, além de saber a maneira mais adequada de abordá-las. Parte dos profissionais de saúde prestar um cuidado às mulheres e famílias enlutadas pela perda com responsabilidade e ética. Criar um espaço favorável para ofertar uma palavra de conforto, sabendo ouvir e que as mulheres possam expressar seus sentimentos, de modo que não se sintam culpadas pelo ocorrido faz parte do 101 cuidado que deve ser ofertado pelos profissionais (BAZOTTI; STUMM; KIRCHNER, 2009). A comunicação das “más notícias” em saúde é outro fator a ser trabalhado com os profissionais de saúde, pois constitui-se numa das problemáticas mais difíceis e complexas no contexto das relações interpessoais. Ela representa uma situação que gera perturbação tanto na pessoa que recebe a notícia, como na que a transmite e, por isso, é uma tarefa penosa para quase todos os profissionais de saúde. Cabe ressaltar que isso decorre não só do receio de enfrentar as reações emocionais e físicas dos familiares, mas também pela dificuldade em administrar a situação (PEREIRA, 2005). Ainda, os principais protagonistas das “más notícias” são os prestadores de cuidados, que, para além de planejarem e gerenciarem estes momentos, têm também de gerir os seus próprios medos e estar preparados para aceitar as naturais hostilidades dos que recebem a notícia. Com frequência os profissionais tendem a evitar falar sobre a perda e o luto, passando a responsabilidade de suas atribuições, como orientar e dar suporte emocional para outras categorias profissionais, os quais consideram estar mais preparados para lidar com o assunto. Alguns profissionais, por sua vez, se restringem em focar apenas os aspectos biológicos e procedimentos técnicos, evitando abordar as questões emocionais e suas repercussões psicológicas que afetam as mulheres e suas famílias (SANTOS et al., 2012). Sofrer ao assistir o sofrimento do outro não é demérito, sendo, ao contrário, uma demonstração de empatia, atributo vital para o desenvolvimento de uma relação autêntica e terapêutica com o usuário (LUNARDI et al., 2001). No entanto, isso nem sempre é reconhecido pelos profissionais de saúde, o que ocorre em razão da falta de preparo para conviver com as manifestações somáticas e emocionais dos enlutados e/ou numa tentativa de autoproteção. Assim, acreditam que sua postura deva ser firme, fria ou indiferente diante do sofrimento, pois admitir que se sensibilizam com a dor do outro pode macular a imagem social do profissional, que, em razão da profissão escolhida, deve aceitar e viver sozinho essa dor (COSTA; LIMA, 2005). 102 O processo da morte e o morrer encontram-se presentes em situações de perda e luto fetal. Muitas pessoas, aí incluem-se não só os profissionais de saúde, tem o pensamento de que este tipo de perda não provoca dor e sofrimento para aquele que a vive, por ocorrer no início da gravidez. Esse pode ser um motivo para que os profissionais da saúde tenham dificuldade em lidar com os sentimentos e as reações emocionais dessas mulheres (BAZOTTI; STUMM; KIRCHNER, 2009). A perda fetal se caracteriza como a mais solitária das perdas para a mãe que a vivencia. Isso ocorre porque ela foi a única a conhecer e manter o relacionamento com o bebê (AMPESE; PEROSA; HAAS, 2007). Nessa perspectiva, os profissionais têm dificuldade em reconhecer o feto como alguém concebido, aguardado e, por isso, existente para os pais, alguém que é sujeito de uma história. Por isso, muitas vezes, banalizam essa perda e parecem desconhecer que a construção de laços não depende do tempo ou do convívio do dia-a-dia para acontecer, pois os vínculos entre mãe e filho são produzidos, conforme estudos recentes, durante a gestação (ZIMERMAN, 2011). É importante que o profissional se dê conta que não é o tempo que determina a intensidade do amor e do afeto que liga o bebê à família, e sim os sonhos, as expectativas e o mundo criado na imaginação familiar para a chegada e participação em sua história. 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS A morte de um filho mesmo antes de seu nascimento representa uma perda marcada de muita dor e sofrimento na vida das mulheres e suas famílias que vivenciam a perda fetal. O suporte emocional para essas pessoas vem com o objetivo de aliviar um pouco do sofrimento vivido, de apoiar, confortar, escutar e ajudar na assimilação da perda e elaboração do luto. Tal apoio deve ser ofertado baseado no respeito, responsabilidade e confiança entre aqueles que cuidam e quem é cuidado. A equipe de saúde, ao ofertar a assistência à saúde, deve fazê-la sem julgamento de valor às mulheres que sofreram uma perda fetal, seja ela espontânea ou não. O cuidar do outro está 103 presente na essência do ser humano e vai além de julgamento ou pré-conceitos. Para tanto, é necessário que os profissionais de saúde estejam na busca constante de conhecimento, qualificação e aprendizado. REFERÊNCIAS AMPESE, D; PEROSA, G.; HAAS, R. E. A influência da atuação da enfermagem aos pais que vivenciam a morte do feto viável. Centro Universitário São Camilo, v. 1, n. 2, p. 70-77, 2007. Disponível em: <https://www.scamilo.edu.br/pdf/bioethikos/57/A_influencia_da_atuacao_da_enferma gem.pdf> Acesso em 13 set.2014. BAZOTTI, K. D. V.; STUMM, E. M. F.; KIRCHNER, R. M. Ser cuidada por profissionais da saúde: percepções e sentimentos de mulheres que sofreram abortamento. Texto Contexto Enferm., Florianópolis, v. 18, n. 1, p. 147-154, 2009. BERTOLANI, G. B. M.; OLIVEIRA, E. M. Mulheres em situação de abortamento: estudo de caso. Saude Soc., v. 19, n. 2, p. 286-301, 2010. BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Educação Permanente em Saúde. Série Pactos pela Saúde. Departamento de Gestão da Educação em Saúde. Brasília, 2006. Disponível em: <http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/volume9.pdf> Acesso em: 13 set.2014. COSTA, J. C.; LIMA, R. A. G. Luto da equipe: revelações dos profissionais de enfermagem sobre o cuidado à criança/adolescente no processo de morte e morrer. Rev Latino-Am Enferm., v. 13, n. 2, p. 151-157, 2005. LUNARDI, W. D. Filho et al. 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O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa, sob o CAEE 26452313.8.0000.5346. Resultados: entre as práticas desenvolvidas pela equipe de enfermagem durante o trabalho de parto e parto, prevaleceu o uso de métodos não farmacológicos e a presença de acompanhante no momento do parto. Entretanto, 1 Trabalho oriundo da dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (PPGEnf) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), intitulado “o cuidado de enfermagem no trabalho de parto e parto: Vivências de puérperas primíparas”. 2 Relatora. Enfermeira. Mestranda em Enfermagem do PPGEnf da UFSM. Bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Membro do Grupo de Pesquisa Cuidado, Saúde e Enfermagem/UFSM. Santa Maria, RS, Brasil. E-mail: [email protected] 3 Acadêmica de enfermagem da UFSM. Bolsista PIBIC. Membro do Grupo e Pesquisa Cuidado, Saúde e Enfermagem/UFSM. Santa Maria, RS, Brasil. E-mail: [email protected] 4 Acadêmica de enfermagem da UFSM. Bolsista do Programa de Educação Tutorial- PET. Membro do Grupo e Pesquisa Cuidado, Saúde e Enfermagem/UFSM. Santa Maria, RS, Brasil. E-mail: [email protected] 5 Doutoranda do PPGEnf da Universidade Federal de Pelotas/RS. Membro do Grupo e Pesquisa Cuidado, Saúde e Enfermagem/UFSM. Pelotas, RS, Brasil. E-mail: [email protected] 6 Enfermeira. Doutoranda do PPGEnf da UFSM. Bolsista CAPES. Membro do Grupo e Pesquisa Cuidado, Saúde e Enfermagem/UFSM. Santa Maria, RS, Brasil. E-mail: [email protected] 7 Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora do curso de graduação em Enfermagem e do PPGEnf da UFSM. Tutora do PET Enfermagem da UFSM. Líder do Grupo de Pesquisa em Cuidado, Saúde e Enfermagem da UFSM. E-mail: [email protected] 106 ainda verificou-se a realização de um cuidado centrado em práticas rotineiras e desnecessárias. Considerações finais: evidencia-se a necessidade de rever o uso rotineiro e indevido de algumas práticas de cuidado que não trazem benefícios maternos e neonatais e, ao mesmo tempo, estimular a adoção de práticas que contribuam para o protagonismo da parturiente. ABSTRACT Objective: to know the experiences of mothers who have recently given birth in relation to the nursing care provided in labour and delivery. Method: qualitative research, with descriptive-exploratory approach, developed with ten mothers who have recently given birth. The study scenario was a maternity hospital in the State of Rio Grande do Sul. The data were collected through semi-structured interview and analyzed by means of operative proposal. The research project has been approved by the Research Ethics Committee, under the CAEE 26452313.8.0000.5346. Results: among the practices developed by the nursing staff during labour and delivery, prevailed not pharmacological methods and the presence of an escort at time of delivery. However, still there was the realization of a care routine practicescentric and unnecessary. Conclusion: shows if the need to revise the routine use and misuse of some practices of care that doesn't benefit maternal and neonatal diseases and, at the same time, encourage the adoption of practices that contribute to the leading role of parturient. Eixo Temático: Eixo 4: Atenção ao Parto Descritores: Cuidados de Enfermagem; Parto; Trabalho de Parto; Enfermagem. 1. INTRODUÇÃO O parto representa um acontecimento transcendental na vida das mulheres e o tipo de atenção prestada pelos profissionais tem efeitos importantes, tanto físicos quanto emocionais, em curto e a longo prazo (OPAS, 2013). Além disso, o parto 107 também constitui uma fase cercada de dúvidas e insegurança (ALVES, 2007), especialmente quando se tratam de mulheres primíparas, ou seja, mulheres que vivenciam o parto pela primeira vez, pelo fato de estarem passando por uma experiência que até então era desconhecida. Nesse contexto, os profissionais de enfermagem desempenham um papel fundamental no cuidado a essas mulheres, devendo prestar orientações, esclarecer dúvidas, bem como acolher e auxiliar no processo parturitivo (MERIGHI; CARVALHO; SULETRONI, 2007). O cuidado de enfermagem é compreendido no sentido de acolher o ser humano como um ser único, envolvendo este em um cuidado integral, humanizado e diferenciado, colocando-o no centro da atenção. Sendo assim, o enfermeiro deve oferecer informações amplas e detalhadas, garantir o bem-estar físico e emocional, mostrar-se disponível, demonstrar compreensão, apoio e respeito, para poder contribuir decisivamente para uma experiência positiva no parto (OPAS, 2013). O cuidado de enfermagem também deve envolver a elucidação sobre as práticas cabíveis em cada caso, as condutas prejudiciais e ineficazes e uma escuta atenta e sensível, com vistas a auxiliar à parturiente nesse processo (FRELLO; CARRARO; BERNARDI, 2011). No entanto, com a hospitalização do parto, esses cuidados acabaram ocupando um segundo plano, prevalecendo o abuso de intervenções desnecessárias com a perda do protagonismo da mulher (FREIRE et al, 2011). Além disso, o contexto atual tem revelado lacunas no atendimento prestado às mulheres durante o partejar. A parturiente está cada vez mais longe de ser a personagem principal na cena do parto, uma vez que se sente insegura, amedrontada e, muitas vezes, se submete a ordens sem ao menos compreender o que está acontecendo. Assim, ao invés da mulher ser a protagonista desse evento, esta passa a mera espectadora (BRASI, 2001). Nesse modelo de atenção ao parto, prevalece o uso rotineiro e inadequado de técnicas, como tricotomia, enema (enteroclisma), episiotomia, medicalização e o alto índice de partos cesáreos. Procedimentos esses, que são realizados de forma 108 indevida, sem justificativas plausíveis e, muitas vezes, sem a conscientização e consentimento da parturiente, ferindo os preceitos éticos (OMS, 1996; BRASIL, 2001). Nesse sentido, a vigência desse modelo de atenção à saúde excessivamente medicalizado e tecnicista no parto, vem sendo criticado mundialmente, tendo em vista os riscos e malefícios atribuídos ao uso indiscriminado de tais técnicas no cuidado à mulher (GOMES; MOURA; SOUZA, 2013). Com isso e com o objetivo de estabelecer práticas adequadas e seguras para a assistência ao parto, a Organização Mundial de Saúde (OMS), em 1996, elaborou um guia prático com recomendações fundamentadas em evidências científicas de práticas no parto normal. Entre elas, estão as práticas comprovadamente benéficas que devem ser estimuladas, métodos prejudiciais ou ineficazes que devem ser eliminados, procedimentos que não possuem evidências científicas que apoiem sua prática e que, portanto, devem ser utilizadas com cautela até que sejam realizadas novas pesquisas e, por fim, condutas frequentemente utilizadas de modo inadequado (OMS,1996). Nesse intuito, o Ministério da Saúde (MS) passou a incorporar essas práticas criadas pela OMS em programas de atenção em saúde voltadas para o processo de parturição. Entre esses, o Programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento (PHPN), cujo objetivo principal é reorganizar a assistência, vinculando formalmente todo o ciclo gravídico-puerperal, ampliando o acesso das mulheres e garantindo a qualidade da assistência (BRASIL, 2001). O cuidado prestado à parturiente deve ir ao encontro de práticas humanizadas que atendam as reais necessidades desse público, incluindo a presença de um acompanhante como um suporte emocional, a qualidade na relação entre os profissionais e as mulheres, o fornecimento de informações durante a assistência, a maior participação das mulheres no controle decisório sobre os cuidados que envolvem seu corpo e, uma assistência voltada à mulher e sua família, 109 visando à humanização da atenção ao parto e condições seguras no parto e nascimento (VELHO, 2012). Sendo assim, é necessário o envolvimento e a sensibilização dos profissionais de saúde, especialmente a enfermagem, como mediadores na mudança das rotinas institucionais, com vistas ao atendimento das necessidades da mulher e de sua família, propiciando um ambiente favorável às condutas educativas e humanizadas baseadas no diálogo, acolhimento e da comunicação com a parturiente (FRELLO; CARRARO; BERNARDI, 2011; MATOS et al, 2013). Desse modo, a questão que norteou este estudo foi “como foi a vivência de puérperas primíparas em relação ao cuidado de enfermagem prestado no trabalho de parto e parto em uma instituição hospitalar do interior do Estado do Rio Grande do Sul?”. 2. OBJETIVO Conhecer as vivências de puérperas primíparas em relação ao cuidado de enfermagem prestado no trabalho de parto e parto. 3. METODOLOGIA Desenvolveu-se um estudo de abordagem qualitativa com enfoque descritivoexploratório. O cenário para realização do presente estudo foi a unidade da maternidade de um hospital localizado no interior do Estado do Rio Grande do Sul e teve como participantes dez puérperas primíparas. Elencaram-se como critérios de inclusão, puérperas primíparas que realizaram parto vaginal nesta instituição e que estivessem internadas na maternidade no período da coleta de dados; que apresentassem condições psíquico-cognitivas para participar do estudo; puérperas primíparas que foram submetidas ao parto com idade gestacional equivalente a termo e com recémnascidos vivos. Entre os critérios de exclusão, puérperas primíparas que tiveram o parto em outra instituição ou domiciliar. 110 A coleta de dados foi realizada, nos meses de fevereiro, março e abril de 2014, por meio de entrevista individual semiestruturada, gravada em MP3 e, após, transcrita na íntegra. Os dados foram analisados por meio da proposta operativa de Minayo (2010). Os cuidados éticos foram observados, conforme os preceitos estabelecidos na Resolução nº 466/2012, do Conselho Nacional da Saúde, que estabelece parâmetros para pesquisas que envolvem seres humanos (BRASIL, 2012). Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa, da UFSM, em 14 de janeiro de 2014, sob o número do processo CAEE 26452313.8.0000.5346. 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES As participantes do estudo constituíram-se de dez puérperas primíparas, que se situavam na faixa etária entre 15 a 29 anos de idade. A maioria das mulheres vivia com o companheiro em regime de união consensual. O nível de escolaridade predominante foi ensino médio completo. A maioria informou ter renda familiar igual a um salário mínimo, sendo que a maior parte trabalhava no comércio lojista. O tempo de permanência em trabalho de parto, após admissão na maternidade, variou entre 1 hora e 30 minutos a 13 horas. Em relação aos cuidados prestados no trabalho de parto e no parto, em mais da metade das participantes foi indicado algum tipo de método não farmacológico para alívio da dor, prevalecendo a caminhada e o banho morno. A maioria teve a presença de um acompanhante no trabalho de parto, parto e período pós-parto. Ainda, prevaleceu o uso de medicamentos para indução no parto como ocitocina e a prática de procedimentos como tricotomia, enema e episiotomia. Concernente aos resultados encontrados neste estudo, destaca-se que a enfermagem assume grande importância na prestação de cuidado à parturiente e aos familiares envolvidos nesse evento. Sendo assim, práticas humanizadas no parto, como a presença do acompanhante, consistem em um direito garantido por lei e de livre escolha da parturiente durante todo o período de trabalho de parto, parto e 111 pós-parto imediato, nos serviços de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS), rede própria ou conveniada (BRASIL, 2005). Nesse sentido, é necessário que as mulheres conheçam tanto a importância do papel do acompanhante, assim como, sentirem-se livres para a escolha desse (OPAS, 2013). No momento do parto, o acompanhante vive essa experiência juntamente com a parturiente. Sendo esta experiência cercada de alegria pelo companheiro ou qualquer outra pessoa que possui vínculo afetivo com a mulher, pelo fato de participar dos primeiros minutos de vida do recém-nascido. Ainda, no mesmo sentido, ao que se referem às boas práticas no parto, os cuidados não farmacológicos tornam-se uma opção adequada, capaz de diminuir a dor e substituir, na medida do possível, a medicalização e intervenções durante o trabalho de parto e parto. A dor no parto pode ser interpretada de diferentes formas pelas mulheres, sendo influenciada por fatores, como cultura, historia familiar, ansiedade, medo. Assim, uma importante contribuição que a equipe de saúde pode garantir à parturiente é a promoção de condições para que esta possa suportar a dor e o desconforto gerado pelas contrações uterinas durante o processo da parturição (BARBIERI et al, 2013). Nesse sentido, os métodos não farmacológicos são essenciais e devem ser incentivados, por representarem alternativas seguras e acarretarem em menores intervenções. Os cuidados não farmacológicos para alívio da dor no parto representam também uma prática necessária nos dias atuais, devido aos altos índices de intervenções que, na maioria das vezes, são desnecessárias (SESCATO; SOUZA; WALL, 2008). Ainda, percebe-se nos resultados encontrados nesse estudo, que práticas rotineiras e desnecessárias continuam sendo implementadas nas maternidades, mesmo diante de estudos que apontam que tais práticas são obsoletas e que precisam ser reformuladas nos serviços de saúde. Desse modo, procedimentos como enema, tricotomia e episiotomia são realizados de forma indevida, rotineira, sem justificativas plausíveis e, muitas vezes, sem a conscientização e consentimento da parturiente (OMS, 1996; BRASIL, 2001; SEIBERT et al, 2005). 112 Além disso, destaca-se que estes procedimentos aumentam a dor durante o trabalho de parto, a carga de trabalho da equipe, os custos e tem pouca probabilidade de proporcionar benefícios maternos ou neonatais. Portanto, seu uso sistemático não é recomendado e deve ser desestimulado nas maternidades (OPAS, 2013). No processo de nascimento atual, o uso de tecnologias e o crescente número de intervenções não favorecem a evolução fisiológica do parto. Esses recursos só devem ser utilizados quando há real necessidade e, portanto, a banalização das intervenções deve ser evitada (FRELO; CARRARO; BERNARDI, 2010). 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Práticas de cuidado que favorecem e respeitam a fisiologia do parto, como o uso de métodos não farmacológicos para alívio da dor, bem como práticas que se aproximam dos pressupostos das políticas de humanização do parto, como a presença do acompanhante no parto, são consideradas boas práticas de cuidado. Visto que respeitam as expectativas, necessidades e desejos das mulheres, sendo percebidas de forma positiva pelas protagonistas desse evento e, portanto, devem ser estimuladas nas maternidades de forma continuada. De modo contrário, práticas de cuidado desenvolvidas de maneira desnecessária e sem evidências científicas, como a realização de tricotomia e enema, precisam ser repensadas quanto a sua utilização rotineira, da mesma forma como o uso indevido e desnecessário de ocitocina exógena e a prática da episiotomia em partos vaginais que progridam normalmente. A literatura tem demonstrado que tais práticas não acarretam em melhorias e necessitam ser reconsideradas, de modo a serem usadas a partir das necessidades individuais de cada mulher, levando em consideração a usuária, dona do seu corpo, do direito da escolha, pautada no esclarecimento e diálogo com os profissionais, os quais devem esclarecer os benefícios e riscos de cada intervenção e em que momento essas se tornam necessárias ou não. 113 REFERÊNCIAS ALVES, A.M.; Et al. A enfermagem e puérperas primigestas: desvendando o processo de transição ao papel materno. Cogitare Enfermagem, v. 12, n. 4, p. 41627, 2007. BARBIERI, M.; Et al. Banho quente de aspersão, exercícios perineais com bola suíça e dor no trabalho de parto. Acta Paulista de Enfermagem, v.26, n. 5, p.47884, 2013. BRASIL. Lei nº 11.108, de 7 de abril de 2005. 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Método: estudo de campo qualitativo descritivo, desenvolvido com treze mulheres de uma comunidade quilombola, localizada no interior do Estado do Rio Grande do Sul. Resultados: a técnica de grupo focal proporcionou um clima agradável e de integração entre as participantes e os pesquisadores. As mulheres puderam manifestar seus sentimentos, opiniões, saberes e experiências. Considera-se que, com a técnica, as participantes sentiram-se valorizadas e ouvidas em todas as suas necessidades, particularidades e singularidades. Conclusão: a técnica constituiu-se 1 Trabalho oriundo da dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (PPGEnf) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), intitulado “O olhar feminino sobre o cuidado à saúde da mulher quilombola”. 2 Mestranda em Enfermagem pelo PPGEnf da UFSM. Pós-graduanda do Curso de Especialização em Enfermagem em cuidado pré-natal pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Integrante do Grupo de Pesquisa em Cuidado, Saúde e Enfermagem da UFSM. E-mail: [email protected] 3 Acadêmica do curso de Enfermagem da UFSM. Bolsista do Programa de Educação Tutorial (PET). Integrante do Grupo de Pesquisa em Cuidado, Saúde e Enfermagem da UFSM. E-mail: [email protected] 4 Mestranda em Enfermagem pelo PPGEnf da UFSM. Integrante do Grupo de Pesquisa em Cuidado, Saúde e Enfermagem da UFSM. E-mail: [email protected] 5 Acadêmica do curso de Enfermagem da UFSM. Bolsista do PET. Integrante do Grupo de Pesquisa em Cuidado, Saúde e Enfermagem da UFSM. E-mail: [email protected] 6 Doutoranda em Enfermagem pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Pós-graduanda do Curso de Especialização em Enfermagem em cuidado pré-natal pela UNIFESP. Integrante do Grupo de Pesquisa em Cuidado, Saúde e Enfermagem da UFSM. E-mail: [email protected] 7 Doutora em Enfermagem. Professora do curso de graduação em Enfermagem e do PPGEnf da UFSM. Tutora do PET Enfermagem da UFSM. Líder do Grupo de Pesquisa em Cuidado, Saúde e Enfermagem da UFSM. E-mail: [email protected] 116 em uma estratégia de intervenção, que propiciou o debate, a reflexão e a transformação do contexto de vida dos sujeitos, contribuindo não só cientificamente, mas também social e politicamente com a população estudada. ABSTRACT Objective: reflect on the experience of use of the focal group technique of production of qualitative data in a study with quilombola women. Method: descriptive qualitative field study, developed with thirteen women in a maroon community, located within the State of Rio Grande do Sul. Results: the focal group technique provided a pleasant climate and integration among the participants and researchers. Women were able to express their feelings, opinions, knowledge and experiences. It is considered that, with the technique, the participants felt valued and heard in all their needs, particularities and singularities. Conclusion: the technique consisted in an intervention strategy, that prompted the debate, reflection and transformation of life context of the subjects, contributing not only scientifically but also socially and politically with the population studied. Eixo Temático: eixo 1 – Atenção à Saúde da Mulher. Descritores: enfermagem; saúde da mulher; grupo com ancestrais do continente africano. 1. INTRODUÇÃO Apesar do grande progresso e da ampliação da assistência à saúde da mulher, trazidos pela Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher, fazse necessário questionar a real implementação dos princípios e diretrizes estabelecidos por esta Política, visto que ainda persistem lacunas no atendimento a alguns grupos populacionais, tais como as mulheres negras, as quais representam um grupo extremamente vulnerável a várias doenças e agravos. Nesse contexto, o universo feminino negro vivencia desigualdades no acesso 117 aos serviços de saúde frente a um racismo velado de instituições e profissionais de saúde. Ao longo da história, a mulher negra foi discriminada na sociedade brasileira, devido ao seu gênero, sua raça e condição financeira (RISCADO; OLIVEIRA; BRITO, 2010). Ademais, quando estas mulheres pertencem a grupos populacionais minoritários, localizados em regiões de difícil acesso aos serviços de saúde, como as comunidades quilombolas, as iniquidades intensificam-se, revelando a complexidade e a gravidade das condições de saúde desses sujeitos (BRASIL, 2010; BEZERRA et al, 2014). As comunidades quilombolas consistem em grupos étnico-raciais, com presunção de ancestralidade negra, dotados de relações territoriais específicas. Estas comunidades situam-se em quase todos os estados do Brasil e, nestas, a cultura foi perpetuada de maneira intergeracional, influenciando no cotidiano dos indivíduos e na forma como desenvolvem os cuidados com a saúde (INCRA, 2013; BEZERRA et al, 2014). Nestes espaços, assim como em outros, a mulher assumiu a função de cuidadora principal da família (SCHIER; GONÇALVES; LIMA, 2003; ANDRADE et al, 2009). Com isso, a maior parte do conhecimento científico produzido em relação ao cuidado envolve a mulher na perspectiva de cuidadora de familiares e demais membros da comunidade. Em contraponto, são escassos os estudos envolvendo a ótica da mulher enquanto cuidadoras de si, especialmente, quando estas mulheres são quilombolas. Nesse ínterim, destaca-se também a expressiva invisibilidade da população quilombola nos estudos acadêmicos, especialmente na área da saúde e, consequentemente, a escassa informação sobre as condições de saúde deste grupo (BEZERRA et al, 2014). Assim, evidencia-se a importância de realização de estudos desenvolvidos a partir do olhar de mulheres quilombolas em relação aos cuidados com a própria saúde, visando subsidiar a implantação de um cuidado construído e validado por estas (HOGA, 2004), assim como a elaboração de políticas públicas de saúde que respondam às reais necessidades desse segmento (BRASIL, 2004). Ressalta-se também que ao não considerar as mulheres negras quilombolas 118 nos estudos científicos, perde-se a possibilidade de torná-las visíveis aos olhos dos próprios profissionais de saúde, contribuindo, assim para o comprometimento da saúde desses sujeitos, ao desconsiderar que compõem um grupo com suas particularidades e condições socioculturais específicas, que precisam ser valorizadas (XAVIER, 2012). 2. OBJETIVO Refletir sobre a experiência de utilização do grupo focal como técnica de produção de dados qualitativos em um estudo com mulheres quilombolas. 3. METODOLOGIA Pesquisa de campo, com abordagem qualitativa, do tipo descritiva. O estudo de campo geralmente é desenvolvido no próprio local, no qual ocorrem os fenômenos, como em grupos ou comunidades, buscando entender profundamente determinadas práticas, comportamentos, crenças e atitudes (GIL, 2010). Da mesma forma, as pesquisas descritivas também tem o intuito de identificar opiniões, atitudes e crenças grupais, além de descrever as principais características dos sujeitos estudados (GIL, 2010). Pode-se, também, observar, registrar, analisar e correlacionar fatos ou fenômenos existentes na comunidade, grupo ou realidade estudada (CERVO, 2007). Optou-se pela abordagem qualitativa por considerar que ela privilegia os valores e crenças dos indivíduos, em seus contextos históricocultural, explicando as causas, relações e consequências dos fenômenos estudados (MINAYO, 2010). A pesquisa foi realizada com treze mulheres, residentes em uma comunidade quilombola do interior do estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Como critérios de inclusão no estudo, elencaram-se as mulheres quilombolas, que residiam no cenário de estudo, com idade mínima de 12 anos (idade considerada como início da adolescência) (BRASIL, 1990). Como critérios de exclusão estavam as mulheres 119 com limitações psicocognitivas, que as impossibilitassem de compreender e participar do estudo. A produção dos dados foi realizada em fevereiro de 2014, por meio da técnica de produção dos dados denominada Grupo Focal (GF). Essa técnica permite o aprofundamento acerca do significado de tópicos específicos e diretivos determinados pelo pesquisador, assim como a manifestação de uma multiplicidade de pontos de vista e processos emocionais, por meio da aproximação, integração e envolvimento com grupos pequenos e homogêneos (IERVOLINO; PELICIONI, 2001; GATTI, 2005; MINAYO, 2009). Para operacionalizar a técnica, foi elaborado um roteiro com um guia de temas, o qual norteou e sistematizou as questões e os objetivos de cada um dos três encontros. Nesse sentido, no primeiro encontro, o tema foco foi o “cuidado”, na tentativa de investigar e interpretar os símbolos, percepções e significados sobre o cuidado; discutir a construção cultural do cuidado de cada mulher; e construir coletivamente um conceito de cuidado. No segundo encontro, o tema foco foi o “ser mulher quilombola: sentimentos e práticas de cuidado”, com os objetivos de investigar a prática de cuidados de saúde de mulheres quilombolas; e desvelar os sentimentos que emergem em relação à condição de quilombola no seu cuidado. No terceiro e último dia de encontro, focouse nas “percepções de cuidado à mulher nos diversos contextos”, com o intuito de identificar as percepções de cuidado que envolvem o contexto de vida das mulheres quilombolas; e investigar como se construiu, socioculturalmente, a prática do cuidado na comunidade quilombola. Os encontros foram realizados em cinco momentos, os quais incluíram: apresentação individual das participantes no primeiro encontro (nos demais encontros, foram retomadas as ideias do último encontro); apresentação dos objetivos do encontro; desenvolvimento de dinâmica para estimular o debate; debate propriamente dito; e apresentação da síntese e validação coletiva do encontro. O tempo médio de cada encontro foi de uma hora e trinta minutos, e todos foram gravados. Complementarmente à técnica de GF, também foi utilizado o diário 120 de campo e uma entrevista semiestruturada, com cada uma das participantes, para caracterização de dados socioculturais e de saúde. As falas das participantes durante os encontros foram transcritas e estão sendo analisadas a partir da proposta operativa (MINAYO, 2010). Para realização desta técnica, inicialmente, realizou-se o conhecimento do contexto sócio histórico do grupo de mulheres estudado. Para tanto, buscou-se compreender a história do grupo, a comunidade, as condições socioeconômicas das participantes, a participação e inserção na sociedade, entre outros. A seguir, passou-se para a interpretação das falas das participantes. Essa fase dividiu-se em duas etapas: na primeira, foi feita a ordenação dos dados, o que envolveu a transcrição e organização dos depoimentos através de um mapa horizontal. No presente momento, está sendo realizada a segunda fase, a qual denomina-se classificação dos dados, e abrange a leitura horizontal e exaustiva dos textos, a leitura transversal, a análise final e o relatório de apresentação dos resultados. Foram respeitados os dispositivos legais da Resolução 466/2012 (BRASIL, 2012), sendo o estudo aprovado pela Secretaria Municipal de Saúde, do município em que foi desenvolvido o estudo, e pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Santa Maria, sob o número do processo 25345113.7.0000.5346. As participantes maiores de 18 anos, que aceitaram participar do estudo, assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). As menores de 18 anos assinaram o Termo de Assentimento, e suas responsáveis assinaram o TCLE. 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES As treze participantes do estudo apresentavam faixa etária entre os 14 e 56 anos de idade. Quanto à situação conjugal, cinco afirmaram que eram solteiras, cinco casadas, duas possuíam relação consensual e uma era divorciada. Em relação ao nível de escolaridade, predominou o ensino fundamental incompleto. A maior 121 parte se declarou como católica. Entre as profissões/ocupações desenvolvidas, prevaleceram as atividades “do lar”, sendo que apenas duas realizavam atividade remunerada na própria comunidade quilombola (atividades artesanais e trabalho na padaria da comunidade). A renda familiar das participantes variou entre R$ 70,00 e R$ 800,00 reais. Reconhece-se que a coordenação de um grupo nem sempre é uma tarefa fácil, visto que em sua composição, ele pode abranger indivíduos com inúmeras singularidades e particularidades, que apresentam uma multiplicidade de concepções, atitudes, crenças, valores e experiências, que, geralmente, se desvelam durante a utilização do GF (CARDOSO, DALL’AGNOL, 2011; DAMICO, 2006). Portanto, no tocante à utilização da técnica de GF, pode-se verificar que, inicialmente, as participantes apresentavam-se introvertidas. Entretanto, na medida em que se desenvolviam as dinâmicas, elas começavam a interagir e manifestar suas percepções em relação à temática proposta. Dessa forma, enquanto, no primeiro dia, apresentavam timidez e, até mesmo, desconfiança. No segundo e terceiro encontros, pronunciavam-se quase que ao mesmo tempo, exigindo da moderadora e do observador do GF, uma atenção redobrada aos relatos e manifestações. Considera-se que o comportamento inicial das mulheres pode ser explicado pela posição reprimida assumida pela mulher na sociedade, especialmente àquela que vive no meio rural, que culturalmente tem como valores, a simplicidade, o conformismo, a passividade e a obediência (RISCADO, OLIVEIRA, BRITO, 2010; CAMBRUZZI; RUBIM, 2012). Nesse sentido, muitas vezes, estas mulheres possuem uma trajetória marcada por uma dominação simbólica, devendo apresentar comportamentos de submissão, subserviência ou repressão (COSTA, 2012; GREGOLETI, MACEDO, 2011). Com isso, suas vidas, geralmente, têm como elementos centrais basicamente o trabalho doméstico e o cuidado dos filhos (BONOMO et al, 2008). 122 Além disso, considera-se que o comportamento das mulheres também possa estar ligado ao fato de que nunca haviam tido oportunidade de ponderar sobre as temáticas propostas nos encontros. Logo, diante da possibilidade de refletirem e serem ouvidas, elas necessitavam de tempo para organizar suas ideias e, portanto, mostravam-se mais silenciosas e introvertidas. Em relação às dinâmicas, percebeu-se que estas apresentaram boa aceitação entre as participantes e foram ao encontro dos objetivos de cada encontro. Destaca-se que, na operacionalização do GF, a utilização de dinâmicas visa provocar e sustentar debates grupais, que possibilitem o intercâmbio de conhecimentos e vivências entre os participantes (BARBOUR, 2009; RESSEL et al., 2010; RESSEL et al., 2008). Nesse sentido, a escolha da dinâmica deve ser feita considerando o propósito da pesquisa e deve possibilitar, entre outros aspectos, a expressão de diferenças e semelhanças entre os participantes (GATTI, 2005). A partir do desenvolvimento das dinâmicas e debates, as mulheres podiam se expressar livremente, sentiam-se ouvidas e participavam como protagonistas, pois podiam dialogar, refletir, aprender e participar da construção dos resultados do estudo. Desse modo, considera-se que o GF ultrapassou a condição de técnica de produção de dados qualitativos, constituindo-se em uma estratégia de intervenção, que permitiu o debate e a reflexão das mulheres envolvidas. Contudo, ressalta-se que, para realização da técnica, algumas adaptações precisaram ser feitas, tendo em vista as possibilidades das participantes e do próprio cenário de estudo. Dentre elas, destacam-se a mudança na data dos encontros previamente agendados com as participantes; a escolha do local para realização da técnica; a inclusão de mulheres que não fariam parte da população do estudo, mas que se excluídas explicitamente, poderiam comprometer a participação das demais; entre outros aspectos, que não estavam previstos, mas que foram resolvidos pelos coordenadores da técnica com sensibilidade e flexibilidade. Apesar destas adaptações, foi possível verificar que o GF permitiu as mulheres momentos de interação, nos quais estas puderam manifestar seus sentimentos, opiniões e saberes. Além disso, ao final do último encontro, foi 123 questionada a opinião das participantes quanto à metodologia, dinâmicas e debates. Na ocasião, as mulheres relevaram-se satisfeitas em participar do estudo, destacando que não haviam participado de nenhuma atividade semelhante na comunidade. Ademais, considera-se que a utilização desta técnica possibilitou às participantes a sensação de valorização e de que podiam ser ouvidas em todas as suas necessidades e singularidades. Diante dessas considerações, depreende-se que a utilização da técnica de GF proporcionou um espaço integrador e de compartilhamento de concepções, sentimentos e significados sobre o tema em foco (RESSEL et al, 2008). Diferentemente de outras técnicas convencionais de produção dos dados, o GF permite a reflexão dos envolvidos e a manifestação de dimensões de entendimento pouco exploradas em outras opções metodológicas (BACKES et al, 2011). Com isso, é uma técnica que propicia a compreensão sobre como são construídos os contextos de vida, práticas de cuidado, ações, reações e comportamentos diante de determinadas situações, entre outros (GATTI, 2005). Mais do que isso, o GF auxilia no autoconhecimento, na reflexão acerca de comportamentos, percepções, práticas e políticas sociais, na potencialização, revisão, reformulação ou substituição de conceitos, bem como na elaboração de novas modalidades de cuidado e de autocuidado, que podem interferir na saúde e na qualidade de vida dos indivíduos (SEVERO, FONSECA, GOMES, 2007; RESSEL et al, 2008; BACKES et al, 2011). 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Por meio de um ambiente diferenciado, estimulante e facilitador para a interação e o intercâmbio de ideias, a técnica de GF permitiu revelar todas as singularidades e particularidades das participantes. Neste estudo, o GF mostrou-se como uma técnica dinâmica, dialógica e reflexiva, que possibilitou as mulheres reverem seus pontos de vista, práticas e ações, e também refletirem sobre as políticas públicas de saúde que envolvem os grupos quilombolas. 124 Entretanto, destaca-se que àqueles que pretendem utilizar essa técnica em estudos qualitativos, devem possuir criatividade para planejar e organizar os encontros; sensibilidade, atenção e respeito para escutar todos os relatos e manifestações do público-alvo; flexibilidade para adaptar-se às demandas e possibilidades dos participantes; além de conhecimento da técnica e dos temas para conduzir os encontros. Se considerados estes aspectos, o GF pode permitir a interação, o debate e a reflexão, bem como pode auxiliar na identificação das necessidades dos indivíduos e contribuir não só cientificamente, mas também social e politicamente com a população estudada. REFERÊNCIAS ANDRADE, L. M. et al. 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Utilizou-se o grupo focal como técnica principal para a produção dos dados. De forma complementar, foi realizada uma entrevista semiestruturada. Para registro dos dados, utilizou-se gravadores digitais e diários de campo. Os dados foram analisados por meio da análise de conteúdo da proposta operativa. Resultados: foram identificados os sentimentos de felicidade e orgulho, mesclados 1 Trabalho originado da dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (PPGEnf) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) intitulado “O olhar feminino sobre o cuidado à saúde da mulher quilombola”. 2 Mestranda em Enfermagem pelo PPGEnf da UFSM. Pós-graduanda do Curso de Especialização em Enfermagem em cuidado pré-natal pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Integrante do Grupo de Pesquisa em Cuidado, Saúde e Enfermagem da UFSM. E-mail: [email protected] 3 Mestranda em Enfermagem pelo PPGEnf da UFSM. Bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Integrante do Grupo de Pesquisa em Cuidado, Saúde e Enfermagem da UFSM. E-mail: [email protected] 4 Enfermeira. Integrante do Grupo de Pesquisa em Cuidado, Saúde e Enfermagem da UFSM. E-mail: [email protected] 5 Doutoranda em Enfermagem pelo PPGEnf da UFSM. Pós-graduanda do Curso de Especialização em Enfermagem em cuidado pré-natal pela UNIFESP. Bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Integrante do Grupo de Pesquisa em Cuidado, Saúde e Enfermagem da UFSM. E-mail: [email protected] 6 Acadêmica do curso de Enfermagem da UFSM. Bolsista do Programa de Educação Tutorial (PET). Integrante do Grupo de Pesquisa em Cuidado, Saúde e Enfermagem da UFSM. E-mail: [email protected] 7 Doutora em Enfermagem. Professora do curso de graduação em Enfermagem e do PPGEnf da UFSM. Tutora do PET Enfermagem da UFSM. Líder do Grupo de Pesquisa em Cuidado, Saúde e Enfermagem da UFSM. E-mail: [email protected] 128 com as sensações de impotência, frustação, insegurança e esperança. Conclusão: espera-se que os dados produzidos possam contribuir para a reflexão da sociedade, como também na elaboração de estratégias, que produzam transformações no contexto de vida destas mulheres. ABSTRACT Objective: to unveiling the feelings that emerge, in a group of women, regarding the quilombola identity and their life in the quilombo. Method: it is a descriptive qualitative research. The scenario of the study was a remnant quilombola community and the participants were thirteen women residing in this community. Focal group was used as main technique for the production of the data. Supplementary shaped, was conducted a semi-structured interview. To record the data, we used digital recorders and field journals. Data were analyzed by means of the analysis of operative content of the proposal. Results: were identified the feelings of happiness and pride, merged with the feelings of helplessness, frustration, insecurity and hope. Conclusion: it is expected that the data produced may contribute to the reflection of society, as well as in the elaboration of strategies, producing transformations in the context of life of these women. Eixo Temático: eixo 1 – Atenção à Saúde da Mulher. Descritores: enfermagem; saúde da mulher; grupo com ancestrais do continente africano. 1. INTRODUÇÃO No Brasil, historicamente, as mulheres negras sempre foram triplamente discriminadas pelo fato de serem mulheres, serem negras e também devido a sua condição financeira (RISCADO, OLIVEIRA, BRITO, 2010). Estas mulheres trazem, em sua trajetória, marcas de uma construção social do que é ser mulher, como sendo alguém subordinado, associado ao mito da inferioridade de sua raça, 129 condições que se acentuam quando estas apresentam uma situação econômica vulnerável (FERREIRA, CAMARGO, 2011). Nessa perspectiva, o significado de ser mulher negra abrange aspectos como a discriminação, o racismo e o sexismo (WERNECK, 2010). Visto que as construções históricas, sociais e culturais em torno da mulher negra têm reproduzido, ao longo dos tempos, preconceitos e estereótipos negativos relacionados a esta. Ademais, destaca-se que estas construções são internalizadas nos indivíduos, desde a sua infância, a partir da socialização primária, podendo ser capazes de interferir na identidade, personalidade e autoestima da menina-mulher negra (BASTOS, 2010). Por conseguinte, quando estas mulheres pertencem a grupos, tais como as comunidades quilombolas, a história de luta e resistência de seus antepassados também pode contribuir para a construção de identidades pessoais e coletivas entre as mulheres negras (BASTOS, 2009). Frente ao exposto, apresenta-se nesse trabalho um recorte da dissertação de mestrado, intitulada: “O olhar feminino sobre o cuidado à saúde da mulher quilombola”. 2. OBJETIVO Desvelar os sentimentos que emergem, em grupo de mulheres, em relação à identidade quilombola e a sua vida no quilombo. 3. METODOLOGIA Trata-se de uma pesquisa qualitativa, do tipo descritiva. O cenário para realização do estudo foi uma comunidade remanescente quilombola no interior do Estado do Rio Grande do Sul. As comunidades quilombolas consistem em espaços organizados por sujeitos que, ao longo dos tempos, resistiram a exclusão social e lutaram pela liberdade e pela vida. Mais do que isso, representa um grupo que busca pela expressão de sua cultura, com base na ancestralidade escrava e africana (SANTOS et al, 2014). 130 As participantes do estudo foram treze mulheres quilombolas. Foram incluídas somente as mulheres quilombolas, que residiam na comunidade supracitada, que possuíam idade mínima de 12 anos. Destaca-se que esta faixa etária foi determinada por representar o início da adolescência (BRASIL, 1990). Ademais, não foi elencada uma faixa etária máxima para o estudo. Dessa forma, buscou-se abranger entre as participantes do estudo, mulheres que estivessem vivenciando períodos de vida entre a adolescência até a velhice. Considera-se que ao abranger esses períodos, a pesquisa poderia permitir o aprofundamento, a abrangência e a diversidade no processo de compressão dessa comunidade, já que estas mulheres possuíam, ao mesmo tempo, características homogêneas por pertencerem a um mesmo grupo e também poderiam apresentar opiniões divergentes por se encontrarem em fases distintas de vida, enriquecendo, assim, o estudo (DALL´AGNOL; TRENCH, 1999; RESSEL et al, 2008; MINAYO, 2010). Por conseguinte, como critérios de exclusão, elencou-se as mulheres que apresentavam limitações psicocognitivas, que pudessem interferir em sua participação na pesquisa. Destaca-se que, a partir desse critério, foi identificado que uma participante não poderia compor a população de estudo. Entretanto, permitiu-se sua presença, durante o período de produção de dados, pois esta pouco comunicava-se e as vezes que o fez foram desconsideradas durante o processo de análise dos dados. Como técnica principal para produção dos dados foi utilizado o Grupo Focal (GF). Complementarmente, foi realizada uma entrevista semiestruturada para caracterização dos dados socioculturais e de saúde e, por fim, para registro dos dados foram utilizados, além de gravadores digitais, diários de campo. Foram desenvolvidos três encontros, utilizando a técnica de GF, sendo que estes ocorreram durante o mês de fevereiro de 2014. Cada encontro foi planejado a partir de uma temática específica e, para incitar o debate sobre a mesma, foram propostas algumas dinâmicas. Sendo assim, no primeiro encontro, foram debatidas questões vinculadas aos cuidados na saúde da mulher. No segundo, foram 131 discutidos os sentimentos relacionados ao ser mulher quilombola e viver em uma comunidade quilombola, e no terceiro encontro discutiu-se as percepções das participantes sobre o cuidado à mulher, em diferentes contextos. Os dados produzidos no estudo estão sendo analisadas por meio da análise de conteúdo temática da proposta operativa (MINAYO, 2010). Assim, ressalta-se que este trabalho foi construído a partir das primeiras análises acerca dos dados produzidos no segundo encontro. Frente a isso, destaca-se que o segundo encontro do GF foi desenvolvido em cinco etapas: 1) revisão acerca dos principais pontos discutidos no primeiro encontro; 2) apresentação dos objetivos do segundo encontro; 3) desenvolvimento de dinâmica para estimular o debate; 4) debate e; 5) apresentação da síntese e validação coletiva do encontro. Assim, o objetivo do segundo encontro foi desvelar os sentimentos que emergem, entre as participantes, em relação à condição de quilombola. Para tanto, foi proposta a realização da técnica de desenho, a partir do seguinte questionamento: “Como você se sente mulher quilombola vivendo nessa comunidade?”. Após a realização da técnica, as participantes apresentaram seus desenhos e expressaram a partir de demonstrações verbais ou não verbais como se sentiam enquanto quilombolas e como se sentiam vivendo na comunidade. Alguns trechos das falas das participantes foram extraídos, a fim de exemplificar os depoimentos mais significativos e evidenciar as interpretações feitas. Para identificar as participantes, utilizou-se o sistema alfanumérico na sequência, por meio da letra “Q” (de quilombola), seguida de um número, ou seja, Q1, Q2, Q3, e assim, sucessivamente. Além do anonimato das participantes, foram respeitados os demais aspectos éticos, a que se refere à Resolução Resolução 466/2012, do Conselho Nacional de Saúde do Brasil (BRASIL, 2012). Também ressalta-se que o estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa, da Universidade Federal de Santa Maria, sob o número do processo 25345113.7.0000.5346. 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES 132 Mediante a apresentação dos desenhos produzidos pelas participantes, foram identificados os sentimentos de felicidade e orgulho, mesclados com as sensações de impotência, frustação, insegurança e esperança. O sentimento de felicidade emanou em várias respostas, visto que as mulheres relataram que se sentiam felizes por sua identidade ou por viver no local, como confirmam as falas a seguir. “Eu sou muito feliz aqui”. (Q1). “Me sinto feliz. [...]. Agradeço a Deus, por a gente tá aqui. Aqui é bom”. (Q2) “Eu sou feliz aqui nos quilombos. Agradeço a Deus por morar aqui, com minha família”. (Q3). “Aqui [no desenho] é eu, feliz [...]”. (Q4) “Sou feliz sendo uma mulher quilombola. Muito feliz”. (Q5) Estas falas demonstram que “ser quilombola” e viver neste espaço possui um significado positivo. Dentro dessa mesma perspectiva, em seu estudo, Santos e Chaves (2007) também identificaram representações positivas acerca da identidade quilombola e da vida na comunidade. Os mesmos autores ainda destacaram que os participantes de seu estudo consideravam a comunidade como um lugar maravilhoso e tranquilo, onde conviviam com seus familiares e a união manifestava-se em todas as relações interpessoais. Destaca-se que as mesmas características foram observadas nas falas das mulheres quilombolas do presente estudo. “Eu gosto da comunidade, porque aqui todo mundo é parente”. (Q6) “Aqui a gente não se sente isolada, porque a gente tem uns aos outros, a gente tá bem pertinho sempre um do outro”. (Q7) Ser quilombola, para as participantes, também foi associado ao sentimento de orgulho. A partir dos depoimentos, foi possível verificar que as mulheres têm consciência do que é pertencer a este grupo, como se observa a seguir. “Eu acho que aqui, para nós, é um orgulho. Eu me sinto orgulhosa”. (Q8) “Gosto de ser dos quilombolas”. (Q3) 133 Foi possível perceber que ser quilombola possui um significado especial na trajetória dessas mulheres, e isto se justifica pelo fato de que o quilombo representa a liberdade conquistada pelos antepassados (FREITAS et al, 2011). Assim, o termo “quilombo” pode ser entendido como uma das formas encontradas pelos escravos para resistir à escravidão e à opressão, representando, atualmente, a luta pela desigualdade racial, preconceito e discriminação (SOUZA, GUSMÃO, 2011). O sentimento de orgulho também foi manifestado no estudo de Santos e Chaves (2007), no qual os participantes vincularam este sentimento à raça negra e o lugar onde moravam. No estudo de Santos et al (2014), a identidade quilombola também foi destacada com orgulho. Em relação à comunidade, destaca-se que as participantes do presente estudo ainda referiram o orgulho pelo reconhecimento do local, visto que sabiam que outras localidades ainda não haviam recebido a titulação e o reconhecimento como comunidade quilombola. Tal aspecto gerava muita satisfação entre as entrevistadas. De maneira geral, foi possível constatar que os sentimentos positivos em relação à identidade e à vida na comunidade predominaram sobre os negativos. Entretanto, uma das participantes desvelou alguns aspectos negativos em relação à vida na comunidade. Ela declarou-se como feliz e orgulhosa por sua identidade quilombola, porém, afirmou que a localização da comunidade acarretava em diversas dificuldades, dentre as quais, predominava as queixas em relação ao difícil acesso à saúde e educação, assim como, falta de oportunidades de emprego. Frente a esse contexto, desvelaram-se as sensações de impotência, frustação e insegurança. Estas sensações associaram-se, principalmente, à ausência de perspectivas para o futuro, à falta de oportunidades, à inexistência de capacitações/cursos de aperfeiçoamento voltados para a população quilombola, entre outros. Dessa forma, uma das mulheres manifestou como acreditava que, principalmente, as jovens sentiam-se frente a essas problemáticas: “[...] Ela não tem o sonho de dizer assim: ‘daqui um ano, eu vou montar a minha casa, vou sair da casa dos meus pais’. [...] Ela não vai poder fazer isso.” (Q7) 134 Diante disso, a solução encontrada pela maioria dos jovens quilombolas é abandonar a comunidade em busca de oportunidades na zona urbana, conforme declara a participante. “Muitos jovens a gente tá perdendo daqui, porque tão indo para lá [zona urbana]. E aí, a comunidade vai terminando, né?”. (Q1) Corroborando com isso, Santos e Chaves (2007) também identificaram que os jovens participantes de seu estudo preocupavam-se com o futuro, visto que apresentavam poucas oportunidades de emprego e de profissionalização dentro da comunidade. Para modificar essa situação, estes jovens também se afastaram do quilombo. As mulheres que não optam por esta alternativa, passam a depender dos pais ou do companheiro e não têm expectativas positivas quanto ao futuro. Além disso, uma das participantes que fez considerações negativas a respeito da vida no quilombo justificou sua percepção: “Eu acho que deixa um pouco a gente, sei lá... não sei como explicar... desanimada também. Porque, tipo, tu passa o dia inteiro ali, tu, se tu tem outras coisas para ti fazer, tu faz, tu para, depois tu não tem mais o que fazer. [...] Eu mesmo, ali em casa, eu não nego, eu fico, vou na casa da minha vó, vou na casa da minha mãe, vou na casa dela. [risos] Eu passo o dia inteiro assim. Então, isso te deixa um pouco desanimada, sabe? Porque tu pensa assim: ‘ah, tô perdendo praticamente um tempo que tu poderia tá praticamente fazendo uma coisa útil para a tua vida, né?’”. (Q9) Apesar disso, ainda foi possível constatar, em algumas participantes, o sentimento de esperança, movido pela fé de um amanhã, que possa ser melhor. “Tudo vai melhorar para nós todos, se Deus quiser. Eu tenho certeza disso”. (Q10) Nesse sentido, apesar das adversidades enfrentadas no presente, as mulheres ainda acreditam que, no futuro, suas condições de vida podem melhorar e procuram despertar essa esperança nos jovens. 135 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Percebe-se que a identidade quilombola desvela-se, entre as mulheres, como algo especial, que gera sentimentos positivos, entre eles, o orgulho por pertencer a este grupo e viver em uma comunidade quilombola. Considera-se que os sentimentos manifestados são influenciados por fatores psicológicos, sociais e culturais construídos historicamente nesta comunidade. Em contraponto, as condições adversas de vida, manifestadas pelas mulheres, também apontaram sensações negativas, como a frustação, insegurança e impotência. Diante disso, a fé e a religião sobressaem como estratégias para auxiliar as mulheres a superarem os obstáculos encontrados. Frente aos resultados encontrados, neste estudo, percebe-se a importância de dar voz, ouvir e divulgar a percepção destas mulheres que, historicamente, não tiveram chance para tal. Com isso, espera-se que os dados produzidos possam contribuir para a reflexão da sociedade, como também na elaboração de estratégias, que produzam transformações no contexto de vida destas mulheres. REFERÊNCIAS BASTOS, P. C. Entre o quilombo e a cidade: trajetórias de individuação de jovens mulheres negras [dissertação de mestrado]. Universidade Federal Fluminense, Faculdade de Educação. Niterói, 2009. _____. Jovem mulher negra quilombola: identidades e trajetórias. Anais do Fazendo Gênero 9 – Diásporas, Diversidades, Deslocamentos. Universidade Federal de Santa Catarina, 2010. BRASIL. Ministério da Saúde. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm>. Acesso em: jul. 2013. _____. Ministério da Saúde. Resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/cns/2013/res0466_12_12_2012.html>. Acesso em: jun. 2013. 136 DALL’AGNOL, C. M.; TRENCH, M. H. Grupos focais como estratégia metodológica em pesquisas na enfermagem. Revista Gaúcha de Enfermagem, v. 20, n. 1, p. 525, 1999. FERREIRA, R. F.; CAMARGO, A. C. As Relações Cotidianas e a Construção da Identidade Negra. Psicologia: ciência e profissão, v. 31, n. 2, p. 374-389, 2011. FREITAS, D. A. et al. O. Saúde e comunidades quilombolas: uma revisão da literatura. Revista CEFAC, v. 13, n. 5, p. 937-43, 2011. MINAYO, M. C. S. O desafio do conhecimento científico: pesquisa qualitativa em saúde. 11. ed. São Paulo: Hucitec, 2010. RESSEL, L. B. et al. O uso do grupo focal em pesquisa qualitativa. Texto & Contexto Enfermagem, v. 17, n. 4, p. 779-86, 2008. RISCADO, J. L. S.; OLIVEIRA, M. A. B.; BRITO, Â. M. B. B. Vivenciando o racismo e a violência: um estudo sobre as vulnerabilidades da mulher negra e a busca de prevenção do HIV/aids em comunidades remanescentes de Quilombos, em Alagoas. Saúde & Sociedade, v. 19, n. 2, p. 96-108, 2010. SANTOS, G. L. dos; CHAVES, A. M. Ser quilombola: representações sociais de habitantes de uma comunidade negra. Estudos de Psicologia, v. 24, n. 3, p. 35361, 2007. SANTOS, V. et al. Condições de saúde e qualidade de vida do idoso negro quilombola. Revista de Enfermagem UFPE on line, v. 8, n. 8, p. 2603-10, 2014. SOUZA, M. L. 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Uma atenção pré-natal e puerperal qualificada e humanizada requer condutas acolhedoras e sem intervenções desnecessárias; fácil acesso a serviços de saúde de qualidade, com ações em todos os níveis da atenção. Essa ação programática é importante a fim de diminuir a mortalidade materna por causas obstétricas e prevenir doenças durante a gestação. No contexto da Atenção Primária à Saúde, pensar no pré-natal como uma ação programática prioritária é fundamental, tendo em vista a proximidade deste nível de atenção com a comunidade, além da possibilidade de abordagem integral e resolutiva. A escolha da intervenção com foco no pré-natal e puerpério deveu-se ao aumento do número de gestantes na área e à necessidade de ampliar a cobertura, com garantia da qualidade do acompanhamento prestado. 2. OBJETIVO 138 2.1. OBJETIVO GERAL Melhorar a atenção ao pré-natal e puerpério no Centro de Saúde Newton Azevedo. 2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS Ampliar a cobertura do pré-natal na área de abrangência da unidade, favorecer a adesão das gestantes ao programa de pré-natal e puerpério, melhorar a qualidade do acompanhamento prestado, realizar mapeamento das gestantes de risco, melhorar a qualidade dos registros e promover a saúde no pré-natal. 3. METODOLOGIA O presente trabalho se trata de uma intervenção desenvolvida nos meses de outubro de 2013 a janeiro de 2014, como uma das unidades do curso de especialização em Saúde da Família modalidade à distância da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) /Universidade Aberta do SUS (UNASUS), com a participação das gestantes e puérperas pertencentes à área de abrangência do Centro de Saúde Newton Azevedo, cadastradas na unidade. Para nortear a organização do programa de pré-natal e puerpério na unidade, a intervenção baseou-se no Protocolo de atenção à Saúde da Mulher, criado em 2007, no município de Rio Grande. Para sistematização dos registros, avaliação e monitoramento das ações, utilizou-se fichas-espelho e planilha eletrônica de coleta de dados. Foram planejadas ações em quatro eixos – Organização e Gestão do Serviço, Avaliação e Monitoramento, Engajamento Público e Qualificação da Prática Clínica. As ações desenvolvidas na intervenção já faziam parte da ação programática "pré-natal e puerpério" desenvolvida na unidade, sendo que a intervenção buscou sistematizá-las e qualificar o processo de trabalho. Assim, sendo ações que fazem parte da rotina do serviço e sendo uma ação típica da equipe, os dados foram coletados apenas com finalidade de organização, monitoramento e 139 avaliação do próprio serviço. Trabalhou-se basicamente com a sistematização de ações de rotina, não sendo necessária, portanto, aprovação por comitê de ética. Ainda assim, há um projeto que cobre as questões éticas dos projetos de intervenção relacionadas com o curso da UFPel/UNASUS. 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO Ao final de quatro meses, a cobertura do pré-natal foi ampliada de 3,2% (13 gestantes) para 15, 2% (61 gestantes), atingindo a meta estimada inicialmente para esse período. Para alcançarmos esse resultado, tivemos a colaboração de toda a equipe da unidade de saúde, desde a recepcionista, que agendava as primeiras consultas; técnicos de enfermagem, que realizaram as orientações necessárias a esse grupo; dentista, que participava tanto na orientação à equipe como também às gestantes, além de realizar o tratamento das doenças bucais; médicos clínicos gerais, que nos auxiliaram várias vezes em tratamentos e encaminhamentos das gestantes aos hospitais; obstetra, que, sempre otimista, realizava suas consultas e colaborava ativamente; e também pela motivação da gestão, que sempre depositou confiança na equipe e nos forneceu materiais necessários para atuarmos. Houve melhoria significativa na qualidade do acompanhamento das gestantes e puérperas, incluindo a adesão das usuárias ao programa, adequação e melhora nos registros (100%). Foram encontrados inicialmente alguns obstáculos visto que não tínhamos o hábito da realização dos registros de enfermagem. Como enfermeiras, realizávamos os sinais vitais da gestante, registrávamos no SIASUS e na folha de evolução e o médico realizava o restante. Na verdade, não existia o trabalho em equipe. Hoje, conseguimos trabalhar em conjunto, organizando nossos registros e deixando mais completos possíveis. Começamos a utilizar também um caderno para o registro das imunizações realizadas. A princípio, das quarenta e oito gestantes, dezessete (35,4%) tiveram os registros em dia. Muitas vezes, tivemos que entrar em contato telefônico para nos fornecerem as informações que faltavam nos prontuários e outras fomos registrando conforme as consultas. No mês seguinte, das quarenta e 140 cinco, para três houve pendência nos registros em ficha-espelho, e no terceiro mês, uma delas estavam sem registros adequados. No último mês, conseguimos completar o registro de todas as gestantes acompanhadas, chegando a 100%. Durante a intervenção, realizamos os acompanhamentos das fichas-espelho das gestantes avaliando o número de atualizações como os registros de batimentos cardíacos fetais (BCF), altura uterina, pressão arterial, vacinas, medicamentos e exames laboratoriais assim como os registros das vacinas. Esclarecemos a todas as gestantes sobre o seu direito de manutenção dos registros de saúde no serviço, inclusive sobre a possibilidade de solicitação de segunda via se necessário. Em relação à ficha-espelho da carteira da gestante, essa não foi implantada devido à falta de carteiras no município. Todos os registros das gestantes (ficha-espelho e folha de evolução) são agrupadas em um arquivo somente para as gestantes e puérperas separados por letra e mantidas durante esse período atualizadas e de fácil acesso para os profissionais. Também, foi realizado o mapeamento das gestantes de risco (100%). Felizmente, tivemos poucas com alto risco gestacional. Antes da intervenção, realizávamos o registro nas folhas de evolução e com a implantação das fichas-espelho ficou mais fácil a identificação das gestantes de alto risco, pois realizávamos sinalizações em vermelho e também o motivo dessa classificação. Em cada trimestre, revisamos a ficha-espelho e de evolução para verificar se estava sendo realizada a avaliação do risco gestacional, assim nos organizamos mais e mantemos os registros atuais. No final tínhamos somente 05 gestantes de alto risco e todas as consultas foram realizadas na unidade pelo obstetra. Procuramos nesse período manter um bom vínculo e sempre tivemos o acesso facilitado com o hospital de referência e todas as gestantes que encaminhamos, realizamos contato telefônico para facilitar o processo de trabalho (uma de alto risco e as outras em trabalho de parto). Ainda, foi realizada a promoção da saúde no pré-natal (100%), solicitação de exames de rotina e atualização de vacinas (100%), ampliação da cobertura da primeira consulta odontológica, com plano de tratamento para 47,5%, realização da busca ativa para as gestantes faltosas as consultas de pré-natal e odontológicas (100%). 141 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS As principais dificuldades vivenciadas foram o caráter misto da unidade, que também atua como Pronto Atendimento (PA), a falta de Agentes Comunitários de Saúde (ACS) e a inexistência de um espaço próprio na unidade para a realização de atividades educativas coletivas. Por outro lado, contamos com apoio da gestão, motivação dos profissionais envolvidos e reconhecimento da comunidade pelo trabalho que estava sendo desenvolvido. Alguns avanços foram muito significativos, como a ampliação dos turnos de atendimento pré-natal e a expansão de algumas ações incorporadas na rotina de pré-natal para o cuidado a outros grupos assistidos na unidade. REFERÊNCIAS BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Manual técnico Pré-natal e puerpério Atenção qualificada e humanizada. 3. ed. Brasília-DF: Caderno número 5, 2006.163p 142 13.2) A IMPORTÂNCIA DO COMPANHEIRO DURANTE O PROCESSO GESTACIONAL 1 CREMONESE, Luiza 2; MARTELLO, Naiashy Vanuzzi 3 ; WILHELM, Laís Antunes 4; CASTIGLIONI, Críslen Malavolta5; BISOGNIN, Priscila6; RESSEL, Lúcia Beatriz7 RESUMO O presente estudo trata-se de um recorte de uma pesquisa intitulada “A participação do companheiro na gestação: percepções de gestantes”. Objetiva-se apresentar a importância do companheiro durante o processo gestacional. É caracterizado como uma pesquisa de campo do tipo descritiva com abordagem qualitativa. A coleta de dados se deu por meio uso da técnica de entrevista semiestruturada e a análise dos mesmos foi feita através da análise de conteúdo temática de Minayo. Os resultados apontam que a gestação é um evento fisiológico, porém envolve uma infinidade de sentimos, que são vivenciados de maneira distinta pelas gestantes. No enfrentando desse processo a família e principalmente o companheiro, se fazem essencial, devendo ser estimulada a participação do segundo, uma vez que ainda possuem ideias pré-concebidas da gestação ser uma vivencia da mulher. A participação do companheiro durante a gestação contribui para que a mulher vivencie a mesma de maneira positiva, promove a saúde materna, e ainda permite a aproximação e interação pai-filho antes do nascimento. Concluiu-se a partir do estudo que a gestação muitas vezes é desafiadora, principalmente para a mulher, fazendo com 1 Recorte do trabalho de conclusão de curso: A participação do companheiro na gestação: percepções de gestantes. 2 Autora. Acadêmica do 8º semestre de Enfermagem. Bolsista do Programa de Educação Tutorial (PET). Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). [email protected] 3 Coautora. Enfermeira. Residente em Enfermagem. UFSM. [email protected] 4 Coautora. Mestre em Enfermagem. Doutoranda em Enfermagem. UFSM. [email protected] 5 Coautora. Acadêmica do 7º semestre de Enfermagem. Bolsista de iniciação Científica PIBIC/CNPq. UFSM. [email protected] 6 Coautora. Enfermeira. Mestranda em Enfermagem. UFSM. [email protected] 7 Coautora. Doutora em Enfermagem. Docente. UFSM. [email protected] 143 que seja necessária uma rede de apoio para a mesma, sobretudo do companheiro. O pré-natal é um momento ideal para que os profissionais de saúde ofereçam um suporte emocional para as gestantes nesse período de transições, onde deve-se estimular a participação do companheiro. A inclusão do companheiro durante a gestação permite que ela seja vivenciada pela mulher de maneira mais positiva, uma vez que se sente amparada, tranquila e segura. Desta maneira, cabe aos profissionais de saúde promover a aproximação destes companheiros ao processo gestacional. ABSTRACT The present study is a part of a study entitled "The participation of the companion in pregnancy: perceptions of pregnant women". Aims to present the importance of companion during the gestational process. It is characterized as a field research of descriptive type with a qualitative approach. The data collection took place through use of the technique of semi-structured interviews and the analysis of the data was done through the thematic content analysis of Minayo. The results indicate that the pregnancy is a physiological event, but involves a multitude of felt that are experienced differently by pregnant women. In experiencing this process the family and especially the companion, are essential, and should be encouraged to participate in the second report, which still have preconceived ideas of pregnancy be a experience of women. The participation of the companion during pregnancy contributes to that women experience the same positive manner, promotes maternal health, and still allows the approximation and interaction parent-child before birth. It was concluded from the study that the pregnancy is often challenging, especially for the woman, making it required a support network for the same, especially the companion. The prenatal care is an ideal time for health professionals to provide emotional support for pregnant women in this period of transition, where you should stimulate the participation of the companion. The inclusion of the companion during pregnancy allows it to be experienced by the woman more positively, a time that feels supported, quiet and safe. In this way, health-care professionals should promote the approximation of these companions to gestational process. 144 Eixo Temático: Eixo 1: Atenção à Saúde da Mulher. Descritores: Gravidez; Paternidade; Bem-Estar Materno. 1. INTRODUÇÃO A gestação é um evento natural e fisiológico que comumente ocorre sem intercorrências, no entanto trata-se de uma experiência repleta de desafios e mudanças que envolvem a mulher e a sua família (STUMM, 2013). O pré-natal se faz muito importante durante todo o período gestacional, tendo como objetivo principal acolher e acompanhar a mulher durante esta fase caracterizada por mudanças físicas e emocionais, vivenciada de forma distinta pelas gestantes (BRASIL, 2001). Apesar de a gestação ser um processo vivenciado fisicamente pela mulher, ela necessita da participação do companheiro e demais familiares (BRASIL, 2006). Segundo White, Small, Frederic et al. (2006) a inclusão da família é fundamental, principalmente para que a gestante possa adquirir mais segurança e conhecimentos para praticar o autocuidado e o cuidado ao recém-nascido. Pesamosca, Fonseca e Gomes (2008) trazem que a mulher precisa do apoio de todas as pessoas que a rodeiam, mas que o companheiro aparece como destaque, devendo este ser incentivado a compartilhar com a mulher todo o processo gestacional e toda a assistência recebida pela mesma. Um estudo de Brito (2001) revela o quanto é importante à participação do companheiro, desde o início da gravidez frequentando as consultas de pré-natal, uma vez que isso contribui de forma positiva na gestação, parto, puerpério e também no sucesso do aleitamento materno. A participação ativa do pai no ciclo gravídico também contribui para a interação pai-filho, onde o primeiro deve ser inserido na gravidez também para que construa vínculos de afeto e sinta-se pai antes da chegada do novo ser, estando mais preparado para interagir com o filho logo após o nascimento. O relacionamento afetuoso do bebê com a mãe e/ou com o pai é fundamental para que todos encontrem prazer e satisfação (BARBOSA, MACHADO, SOUZA et 145 al., 2010). A gestante que é apoiada pelo parceiro, torna-se mais confiante, promovendo assim atitudes de apoio e cuidados mútuos na relação (SILVA e BRITO, 2011). Desta maneira, conforme um estudo de Piccinini, Silva, Gonçalves et al. (2004) entende-se que os profissionais de saúde apresentam um papel muito importante, onde devem trabalhar para desenvolver a interação entre os serviços de saúde, a família, e as gestantes, promovendo a participação do companheiro nas consultas conforme preconiza o Ministério da Saúde em seu manual de atenção prénatal (BRASIL, 2012). 2. OBJETIVO Apresentar a importância do companheiro durante o processo gestacional. 3. METODOLOGIA Trata-se do recorte de um trabalho de conclusão de curso (MARTELLO, 2013) intitulado “A participação do companheiro na gestação: percepções de gestantes”, apresentado ao Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria – UFSM, sendo este uma pesquisa de campo do tipo descritiva com abordagem qualitativa. A pesquisa teve como cenário uma Estratégia de Saúde da Família (ESF), localizada na região leste do município de Santa Maria/RS. Os sujeitos do estudo foram treze gestantes, que estavam realizando o pré-natal na ESF. Os critérios de inclusão foram gestantes que realizaram acompanhamento pré-natal na ESF, que tiveram vontade e disponibilidade para participar da pesquisa, que estivessem convivendo com seus companheiros, e que possuíssem condições cognitivas de participar do estudo. O critério de exclusão foram mulheres caracterizadas como gestantes de alto risco. A coleta de dados aconteceu entre os meses de abril e maio de 2013, por meio do uso da técnica de entrevista semiestruturada. A análise dos dados foi feita através da análise de conteúdo temática de Minayo (2010). O projeto foi 146 implementado somente após autorização da Secretaria Municipal de Saúde do Município de Santa Maria, foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFSM (CEP) CAAE: 14351413.0.0000.5346, via plataforma Brasil Online, e seguiu as recomendações da Resolução 196/96 do Ministério da Saúde, referente à pesquisa com seres humanos (BRASIL, 1996). 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES A descoberta da gravidez normalmente gera diversos tipos de sentimentos, tais como surpresa, alegria e até medo. Ela envolve também fatores como o planejamento pessoal e o desejo, ou não, da mulher em relação à maternidade. Quando a gestação é desejada ela contribui para a vivência de sentimentos positivos, no entanto quando ocorre o contrário, o apoio do companheiro ou da família se faz necessário para evitar a insegurança e o sentimento de solidão (SHIMIZU e LIMA, 2009). Os lugares pré-concebidos para homens e mulheres, envolvendo questões socioculturais de gênero, influenciam a participação dos pais no período gravídico de suas companheiras. Segundo Brito (2001), as compreensões sobre a paternidade giram em torno de ser o pai o responsável e provedor da família. Justificando assim as dificuldades de interação que alguns homens possuem. Eles acreditam ainda que a gestação é um período vivenciado pela mulher e não associam os familiares neste processo. O conjunto de ações realizadas durante o período gestacional, deve visar um atendimento global, individualizado, procurando qualidade e resolubilidade, além de promover um resgate do potencial feminino na compreensão do processo de gestação, respeitando os limites, valorizando o momento da gravidez, e conscientizando a mulher da importância da participação ativa do companheiro no mesmo (BRASIL, 2001). A gestação é um processo de viver tanto da mulher quanto do homem e o envolvimento do pai no período gestacional, é importante não só 147 como apoio emocional à gestante, mas também para a criação de vínculo afetivo com o bebê (PESAMOSCA, FONSECA e GOMES, 2008). A participação do companheiro pode se dar durante todo o processo com atividades relativas às gestantes, com os preparativos para a chegada do bebê, com apoio emocional proporcionado à mãe, com busca de contato com o bebê, e também com as preocupações e ansiedades destes pais (PICCININI, SILVA, GONÇALVES et al., 2004). Martello (2013) também destaca o quanto é importante para as mulheres poder contar com a presença do pai durante o período gestacional, principalmente por que passam a ter mais tranquilidade e segurança, além de poder compartilhar as informações referentes ao pré-natal, e a rotina nas consultas, sendo incentivadas a realizar o acompanhamento. Desta maneira faz-se importante orientação do homem/pai quanto ao seu direito de acompanhar a gestante/companheira nas consultas pré-natal, no momento do parto e pós-parto, favorecendo um maior vínculo dessa paternidade, proporcionando a ele condições de entender as mudanças que acontecem nesse período, atreladas ao seu papel na sociedade e na família (OLIVEIRA, FERREIRA E SILVA et al., 2009). Neste sentido os profissionais que realizam o pré-natal precisam estar preparados para promover a inclusão da família nas ações voltadas ao cuidado com a gestante estando cientes da importância do acolhimento e do vínculo, envolvendo a gestante e o companheiro, consolidando as ações de educação em saúde neste período (STUMM, SANTOS e RESSEL, 2012). Incluir os homens nas consultas pode ser uma maneira de colaborar com uma melhor aceitação da gestação. A participação paterna durante todo o processo gestacional rompe barreiras nas dificuldades de adaptação e nos cuidados ao filho e à puérpera, contribuindo no manejo da amamentação, evitando o desmame precoce, motivado inclusive por desconforto materno e falta de incentivo às mães (PAULA, SARTORI e MARTINS, 2010). Quando conseguem acompanhar o crescimento e desenvolvimento fetal, escutar o coração do nenê bater e recebem informações sobre os cuidados com a gestante, eles se sentem corresponsáveis com o processo gestacional (FREITAS, SILVA, COELHO et al., 2009). 148 Entende-se assim que os profissionais de saúde precisam fortalecer o envolvimento dos homens durante o pré-natal, incluindo-os e fazendo com que participem ativamente, fortalecendo vínculo de paternidade (FERREIRA, ALMEIDA, BRITO et al., 2014). 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS O processo gestacional envolve muitas mudanças, entre essas, físicas, sociais e emocionais, que refletem no comportamento e na vida da gestante e de sua família. Muitas vezes estar frente ao nascimento de um novo membro é uma tarefa desafiadora para quem está vivenciando este processo, principalmente para a mulher. Neste sentido a mulher gestante precisa de uma atenção especial e de uma rede apoio, incluindo principalmente o companheiro e familiares. A assistência pré-natal além de acompanhar a evolução da gestação e identificar riscos gestacionais, também é o momento ideal para acolher, escutar e orientar as gestantes, oferecendo suporte emocional e apoio nesse período de transições. O cuidado às gestantes deve se dar de maneira singular, e deve priorizar o envolvimento do companheiro nas atividades de cuidado de saúde. A gestação deve ser considerada do casal, e não somente da mulher como se tem préestabelecido. Incluir o companheiro no cuidado à gestante facilita o entendimento do período gestacional e preparar o casal conjuntamente, para futuramente receberem o bebê. A participação e a inclusão do companheiro durante a gestação permite que ela seja vivenciada pela mulher de maneira mais positiva, uma vez que se sente amparada, tranquila e segura. O cuidado focalizado na família, mais precisamente no companheiro, deve ser assumido pelos enfermeiros e demais profissionais da saúde. As pessoas que recebem nossos cuidados, neste caso, se tratando de gestantes, não podem ser vistas como isoladas, desagregadas de sua família, pois elas são dependentes e interligadas a uma dinâmica familiar. 149 Desta forma conclui-se que os profissionais da saúde que realizam o pré-natal precisam deixar de focar somente no útero da gestante e no feto, entendendo que, além disso, elas possuem sentimentos, e dinâmicas sociais e culturais envolvidos. O companheiro deve ser instigado pelos profissionais, e principalmente pela mulher gestante, a participar junto com ela de todo o processo gestacional. Essa participação fará com que se sinta melhor preparado para compartilhar saberes e cuidados com a gestante, repercutindo diretamente no bem-estar materno, fetal e na ligação pai-filho. REFERÊNCIAS BARBOSA, F.A. MACHADO, L. F. V.; SOUZA, L. V.; COMIN, F. S. Significados do cuidado materno em mães de crianças pequenas. Barbarói, Santa Cruz do Sul, n. 33, p. 28-49, dez. 2010. BRASIL. 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Para a realização do estudo foi pedida autorização verbal ao diretor do Jornal. As matérias foram coletados, entre setembro/2013 e janeiro/2014, diretamente dos arquivos guardados no acervo do jornal. Incluiram-se todas as publicadas entre 2006 e 2013, cujas vítimas eram mulheres com mais de 18 anos de idade. Foram excluídas as notícias em que não constava o parentesco do agressor com a vítima ou que deixavam dúvidas sobre a identificação da violência doméstica contra a mulher. Percebe-se que no município a violência doméstica contra a mulher apresenta um perfil semelhante ao restante do país. Os casos revelam a gravidade do fenômeno e a associação de diferentes expressões da violência. O principal agressor é o próprio parceiro íntimo, que exerce o poder por meio da humilhação, ameaças, do cárcere privado, da agressão física e sexual. Familiares das vítimas também são atingidas direta ou indiretamente. Diante disso, há necessidade de uma equipe de saúde preparada e capacitada para acolher as vítimas, uma rede de apoio coesa, para garantir a proteção e acompanhamento dessa população. Além disso, de modo geral, suscita-se a necessidade de problematizar as questões de gênero na sociedade com foco na igualdade e respeito entre homens e mulheres. 9 Acadêmica de Enfermagem da Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande(FURG). Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Enfermagem, Gênero e Sociedade GEPEGS. Email: [email protected] 10 Enfermeira. Doutoranda em Enfermagem do Programa de Pós-graduação em Enfermagem da FURG.– Membro do GEPEGS. Bolsista Fapergs. Email: [email protected] 11 Acadêmica de Medicina da Faculdade de Medicina da Universidade Católica de Pelotas. Email: [email protected] 4 Doutora em Enfermagem. Professora Titular da Escola de Enfermagem da FURG. Líder do GEPEGS. Email: [email protected] 153 Eixo Temático: Atenção à Saúde da Mulher Descritores: violência doméstica contra a mulher; saúde da mulher; assistência à saúde; equipe interdisciplinar de saúde. ABSTRACT This is a documentary study with the aim of presenting the public face of domestic violence against women, in Rio Grande, through the news from a newspaper of local circulation. To conduct the study was sought verbal permission to the director of the Journal. The materials were collected between September / 2013 and January / 2014 directly from the files stored in the collection of the newspaper. Included is all published between 2006 and 2013, whose victims were women over 18 years old. The news that did not include the kinship of the perpetrator to the victim or that left no doubt about the identification of domestic violence against women were excluded. It is noticed that the municipality domestic violence against women shows a similar profile to the rest of the country. The cases reveal the severity of the phenomenon and the association of different expressions of violence. The main offender is an intimate partner himself, who wields power through humiliation, threats of false imprisonment, physical and sexual assault. Relatives of the victims are also affected directly or indirectly. Therefore, there is need for a health team prepared and able to accommodate the victims, a network of cohesive support to ensure the protection and monitoring of this population. Moreover, in general, raises the need to problematize gender issues in society focused on equality and respect between men and women. Descriptors: violence against women ; women's health ; delivery of health care ; patient care team. 1. INTRODUÇÃO A violência contra a mulher está presente na sociedade há longo tempo. Apresenta uma trajetória marcada pelas esferas histórico-cultural, econômica e religiosa. O fenômeno atinge mulheres de diferentes raças, idade, escolaridade, classe econômica, porém mantém uma característica muito semelhante. A literatura mostra que, quando se trata da violencia doméstica contra a mulher, o principal agressor é o parceiro íntimo. Mundialmente cerca de um terço das mulheres já sofreu violência ou abuso sexual do namorado, marido ou companheiro (WHO, 2013). 154 Essa problemática ganhou visibilidade, no Brasil, em meados dos anos oitenta através de protestos feministas que expressavam a conscientização da sociedade sobre o papel da mulher, seus direitos ou espaços de atuação, bem como sobre o descaso do poder judiciário frente a essa forma de violência. Naquela época, foi adotado o slogan “Quem Ama não Mata” perante os assassinatos de mulheres, geralmente, praticados por companheiros ou ex-companheiros, absolvidos pelos tribunais com a justificativa de “legítima defesa da honra” (MEDEIROS, 2011). Somente em 2006, com a Lei nº 11.340, conhecida como Lei Maria da Penha (LMP), a violência doméstica contra a mulher foi reconhecida. Configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial. Com a lei houve aumento do rigor na punição dos agressores e a implementação de medidas protetivas de urgência à vítima (BRASIL, 2006). A LMP é reconhecida pela Organização Mundial da Saúde como uma das três melhores legislações do mundo no enfrentamento à violência contra as mulheres. No entanto, sua promulgação não causou impacto significativo no número de feminicídios no país. Antes da promulgação da LMP, ou seja, de 2001 a 2006 esse índice foi de 5,28 por 100 mil mulheres e de 2007 a 2011 foi de 5,22, o que representa uma redução de apenas 0,06 por cem mil mulheres. (IPEA, 2013). No Rio Grande do Sul, em 2013, 93 mulheres perderam a vida, vitimadas por companheiros ou ex-companheiros. Porto Alegre e Rio Grande apresentaram os maiores índices, com 32 e 11 casos respectivamente. Já as tentativas de homicídio somaram 241 casos (RIO GRANDE DO SUL, 2013). No mesmo ano, 402.683 gaúchas foram beneficiadas com a LMP. Na cidade do Rio Grande estudo realizado na Delegacia Especializada revelou a revitimização de mulheres por meio da reincidência de denúncias realizadas pela mesma vítima. Na referida pesquisa também foi observado o descumprimento de ordem judicial, caracterizando uma nova forma de violência (ACOSTA, GOMES, BARLEM, 2013). 155 O ônus da violência doméstica contra a mulher se expressa por faltas ao trabalho, perdas salariais devido a essa abstenção, além de tempo e dinheiro gastos com divórcios, medicamentos e meios suplementares de diagnóstico, consultas de saúde e internações (MANUEL; BARROS; CEREJO, 2008). Essas constatações revelam a gravidade do fenômeno e incitam a necessidade de problematizá-lo entre os diversos setores da sociedade. Assim, não basta a existência de leis que coibam as agressões, é necessário que os profissionais dos campos jurídicos e policiais estejam preparados para as implementarem com eficácia. É preciso que a legislaçao seja divulgada na mídia e que sirva de ferramenta para as mulheres romperem o ciclo da violência. Aos profissionais da saúde cabe a identificação dos sinais e sintomas da violência, o acolhimento das vítimas, a orientação, a escuta ativa, o acompanhamento e encaminhamento para a rede de apoio. Reconhecendo que os serviços de saúde constituem a porta de entrada das mulheres vitimadas é preciso que os profissionais encarem o fenômeno, não somente como um problema social, mas também como um problema que afeta o processo de saúde-doença das mulheres e suas famílias. Nesse sentido, objetivase, neste trabalho, apresentar a face pública da violência doméstica contra a mulher, em Rio Grande, por meio de noticiários de um jornal de circulação local. 3. METODOLOGIA Trata-se de um estudo documental realizado por meio do levantamento de casos de violência doméstica contra a mulher, noticiados no Agora, jornal de circulação local. Para a realização do estudo foi pedida autorização verbal ao diretor do Jornal. As matérias foram coletados diretamente dos arquivos guardados no acervo do jornal. Incluiram-se todas aquelas publicadas entre 2006 e 2013, cujas as vítimas eram mulheres com mais de 18 anos de idade. Escolheu-se essa data com base na implementação da LMP. Foram excluídas as notícias que não constavam o 156 parentesco do agressor com a vítima ou que deixavam dúvidas sobre a identificação da violência doméstica contra a mulher. Todas as reportagens referentes à VDCM foram xerografadas, para posterior análise de conteúdo. A análise de documentos é considerada importante na pesquisa qualitativa, seja complementando informações obtidas por outros métodos, seja desvelando aspectos novos de um tema ou problema (CELLARD, 2008). 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES Foram noticiados 82 casos de violência doméstica contra a mulher. A maioria referia-se a violência cometida por parceiro íntimo. Desses, 31 foram praticados pelo cônjuge e 28 por ex-parceiros. Entre aqueles houve predomínio da violência física e entre os últimos a violência psicológica. Também houve associação de mais de um tipo de violência, como descrito na tabela 1. Destacam-se, ainda, 14 tentativas de homicídio, classificadas como violência física, além de sete casos de homicídio consumado. Em dois casos, as agressões foram cometidas pelo cunhado e pelo irmão da vítima (Tab 1). Tab. 1. Descrição dos casos de violência doméstica contra a mulher noticiados no Jornal Agora, entre 2006 e 2013. Rio Grande/RS. 2014. Tipo de violência Violência Física Violência Física e Psicológica Violência Física e Patrimonial Violência Física e Sexual Violência Psicológica Violência Psicológica e Sexual Tipo de Violência Violência Física Parceiro (n) 16 08 02 01 03 01 Ex-Parceiro (n) 10 03 00 00 14 01 Cunhado 1 Irmão 1 Tab. 2. Descrição dos casos de homicídio praticados por parceiro íntimo noticiados no Jornal Agora, entre 2006 e 2013. Rio Grande/RS. 2014. 157 Homicídio Tentativa de homicídio Parceiro 06 04 Ex-Parceiro 01 10 Para retratar o cenário da violência doméstica contra a mulher na cidade do Rio Grande, escolheram-se, propositalmente, quatro casos que exemplificam diferentes expressões desse fenômeno bem como chamam atenção dos profissionais da saúde diante da gravidade dos traumas às vítimas. Embora a Lei Maria da Penha tenha uma definição para as diversas formas de violência; sabe-se que elas se entrelaçam de várias maneiras, repercutindo na saúde das mulheres e na sua qualidade de vida (BRASIL, 2006; ANDRADE E FONSCECA, 2008). Tais notícias mostram relações baseadas na força, na opressão e dominação de homens em relação às mulheres. Fig 1. Violência física A violência física, segundo a LMP, é entendida como qualquer conduta que cause dano na integridade ou saúde corporal da vítima. Esta forma de violência tem sido apontada como a principal agressão exercida contra a mulher. Nas agressões 158 os socos, tapas, chutes, espancamentos, queimaduras, estrangulamentos e ferimentos com armas brancas fazem com que as vítimas procurem com maior frequência os serviços de saúde (ANDRADE E FONSECA, 2008; SANTOS E MORÉ, 2011). Estudo de Silva et al (2012) que buscou descrever as formas de enfrentamento à violência física adotados por mulheres vitimadas, revelou que 78,8% das mulheres entrevistadas já haviam sofrido essa forma de agressão. A violência doméstica contra as mulheres ocorre também com frequência durante a gestação, tal como evidenciado na figura 1. Dados mostram que de 4 a 25% das gestantes já sofreram algum tipo de violência. De acordo com a litaratura, a gravidez pode funcionar como agravante ou como fator de proteção contra a violência. Naqueles casos, o ciúme do agressor, em relação ao concepto e mesmo a recusa da gestante em manter relação sexual, podem tornar-se desencadeadores da violência. Além dos danos diretos à vítima, outros podem ser decorrentes como o abortamento e natimortalidade, o baixo peso ao nascer, o trabalho de parto prematuro, hemorragias e morte materna (ANDRADE E FONSECA, 2008; BOMFIM, LOPES E PERETTO, 2010). Diante desse e de outros achados é preciso que os profissionais da saúde estejam atentos para queixas vagas durante o pré-natal. O alerta para essa problemática pode ser lançado frente as queixas de dor baixo ventre, sangramentos sem explicação, solicitação de prescrição para a recusa da relação sexual, entre outros (WHO, 2013). Fig 2. Violência Física 159 Na figura 2 observa-se que a violência doméstica contra a mulher atinge, também, a família da vítima e as pessoas com quem busca refúgio. Segundo Silva et al (2012) a reduzida busca das mulheres por serviços sugere que a VPI seja resolvida na esfera privada. Indica também a falta de credibilidade nos serviços de apoio às mulheres (SILVA et al, 2012). Muitos casos de violência ocorrem por que o agressor não aceita a separação, tal como evidenciado; por ciúmes ou pelo uso de álcool e outras drogas. As questões de gênero buscam explicar essa forma de violência. Com base nas diferenças entre os sexos foi legitimado ao homem o poder e a força. Assim, o homem acredita ter o direito de dominar a mulher, muitas vezes, como forma de demostrar a sua “masculinidade”. Fig. 3 Violência sexual 160 A violência sexual é entendida como qualquer ato que obrigue a mulher a participar, presenciar ou manter relações sexuais não desejadas (BRASIL, 2006). Geralmente é a menos relatada, porém, na maioria das vezes, está conjugada a outro tipo de violência. Normalmente, os agressores usam a força física para manter relações sexuais e por medo do que possa acontecer, as vítimas submetem-se ao companheiro (SANTOS et al, 2014). Cabe destacar, que a violência sexual dentro das relações estáveis é de difícil reconhecimento e delimitação. Isso ocorre associado ao fato da prática sexual não consensual ser considerada, por muitas mulheres, como dever da esposa (SCHRAIBER et al, 2007). Esta pode acarretar diversos problemas à saúde da mulher, dentre eles, queixas físicas ou sintomas psicológicos e comportamentais. Tais sintomas são manifestados pela disfunção sexual, ansiedade, depressão, 161 transtornos alimentares e uso abusivo de drogas (VILELLA E LAGO, 2007; WHO, 2013). Essas queixas vagas, dificultam a identificação do fenômeno da violência, pois os profissionais de saúde ainda estão muito voltados para o modelo biomédico, ou seja, o tratamento de sinais e sintomas. Geralmente, os profissionais não questionam e as vítimas não revelam a violência sofrida, por vergonha, medo ou por dependerem do agressor, criando um impasse comunicacional e, assim, abertura para a revitimização. No caso acima percebe-se a associação de diferentes expressões da violência: a sexual junto à psicologica. O cárcere privado é uma forma de tortura mental que inclui a privação do direito de ir e vir, de comunicação com outras pessoas, o que também acaba reforçando o ciclo da violência. Fig 4. Violência psicológica A LMP define violência psicológica como qualquer conduta que cause dano emocional e diminuição da auto-estima ou que prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento; que vise degradar ou controlar ações, comportamentos e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante e limitação do direito de ir e vir (BRASIL, 2006). Este tipo de violência é considerado pelas mulheres tão grave quanto a violência física, pelas ofensas constantes, tirania e pelo abalo que causa na autoestima, confiança e segurança. Conviver com a tortura mental, o medo e o terror tornam esse tipo de volência um agravo à saúde (SILVA, COELHO E CAPONI, 162 2007). Segundo dados empíricos a saída do lar está associada a casos graves como diante de ameça de morte pelo parceiro, do espancamento extremo ou como forma de proteger os filhos (SILVA et al, 2012) Essa expressão da violência é velada, pois geralmente o reconhecimento dos atos agressivos ocorre diante das marcas físicas. É uma violência silenciosa, que se manifesta no choro contido, na depressão, no isolamento, na ilusão de que não irá acontecer outra vez e que o agressor irá mudar. Considera-se que essa seja a primeira forma de violência entre parceiros íntimos tendendo a outras expressões da violência (SILVA, COELHO E CAPONI, 2007; FERREIRA E PIMENTEL, 2008). 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante desses dados, percebe-se que, no município do Rio Grande, o cenário não é diferente do resto do país. Portanto, revela-se a necessidade do preparo dos profissionais de saúde para acolher as vítimas bem como para encaminhar para a rede de apoio da cidade. A violência contra mulher ainda é um fenômeno expressivo, apesar da existência de medidas para o seu controle. A problematização sobre a temática, a quebra de preconceitos por parte dos profissionais da saúde bem como o desenvolvimento de educação permanente a todos os setores que integram a rede de apoio, são fundamentais tanto para dar visibilidade ao fenômeno, quanto para solucioná-lo. Geralmente, as vítimas buscam serviços de saúde quando são violentadas, mesmo que não verbalizem o ocorrido. Portanto, o enfermeiro que, frequentemente, acolhe os sujeitos, precisa estar apto para o reconhecimento de sinais que podem indicar a ocorrência da violência. Para isso, é necessário qualificação, por meio do embasamento teórico para que essa forma de violência seja enfrentada como um problema de saúde complexo, que requer abordagem multidisciplinar e intersetorial. Além da identificação da violência, tratamento e reabilitação, é preciso enfocar na prevenção do fenômeno. É importante acolher as mulheres e oferecer meios para que consigam romper com ciclo da violência. A orientação sobre os 163 direitos, sobre a rede de apoio permitem que a vítima faça as escolhas de forma consciente. Além disso, de modo geral, suscita-se a necessidade de problematizar as questões de gênero na sociedade com foco na igualdade e respeito entre homens e mulheres. REFERÊNCIAS ACOSTA, D. F.; GOMES, V. L. O.; BARLEM, E. L. D. Perfil das ocorrências policiais de violência contra a mulher. Acta Paul. Enferm., v, 26, n. 6, p. 547-53, 2013. ANDRADE, C. J. M; FONSECA, R. M. G. S. Considerações sobre violência doméstica, gênero e o trabalho das equipes de saúde da família. Rev. Esc. Enferm USP., v.42, n.3, p. 591-595, 2008. BONFIM, E. G.; LOPES, M. J. M.; PERETTO, M. Os registros profissionais do atendimento pré-natal Os registros profissionais do atendimento pré-natal. Esc Anna Nery Rev Enferm, v.14, n. 1, p. 97-104, 2010. BRASIL. Lei n. 11.340 de 7 de agosto de 2006. 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Acesso em: 5 set. 2014. 165 15.2) ASSOCIAÇÃO ENTRE O NASCIMENTO DE BEBÊS PRÉ-TERMOS E/OU COM BAIXO PESO E A DOENÇA PERIODONTAL MATERNA: UM ESTUDO CASO-CONTROLE NA CIDADE DE PELOTAS-RS.1 KRÜGER, Marta Silveira da Mota2; CASARIN, Renata Picanço3 ; PINTO, Gabriela dos Santos4; CORRÊA, Fernanda de Oliveira Bello5; ROMANO, Ana Regina6. RESUMO A associação entre doença periodontal materna e desfechos perinatais adversos mantêm-se controversa. O objetivo desse trabalho foi avaliar, a partir de estudo caso-controle, conduzido em três hospitais da cidade de Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil, a associação entre o nascimento pré-termo e/ou com baixo peso (NPT e/ou BP) e os parâmetros clínicos da doença periodontal materna. Os dados foram colhidos através do prontuário médico (identificação, medicação, nascimento do bebê), de entrevista (idade, cor da pele, escolaridade, renda, situação conjugal, ocupação, peso e altura antes da gestação, tabagismo, alcoolismo, número de consultas pré-natal, hábitos de higiene bucal), e do exame clínico (lesão de cárie ativa, índice de placa bacteriana-simplificado, profundidade de sondagem (PS), nível de inserção (NI)). Foi realizada análise bivariada para avaliar a proporção de NPT e/ou BP com relação às variáveis independentes e análise de regressão logística múltipla para avaliar a associação entre desfechos perinatais adversos e variáveis independentes. A amostra foi composta por 140 casos e 276 controles. A presença de periodontite generalizada não esteve associada a nenhum dos desfechos perinatais adversos. O NPT e/ou BP esteve associado, significativamente, com renda entre 1,5-2,9 e ≥ 3 salários mínimos (OR=1,84(1,09 – 3,09); OR=1,89(1,07 – 3,35), respectivamente), adequado número de consultas pré-natal (OR=0,26(0,13 – 0,50)), antecedente de NPT e/ou BP (OR=2,16(1,27 – 3,65)), doença sistêmica (OR=1,70(0,88 – 3,29)), parto do tipo cesárea (OR=1,83(1,20 – 2,77)) e com préeclâmpsia (OR= 5,26 (2,43 – 11,4)). As puérperas com maior renda, mais velhas e com antecedente de NPT e/ou BP tiveram maior risco a NPT. A presença de doença sistêmica prévia esteve associada com NPT e/ou BP, NPT e com NPTBP. Concluise que, nessa amostra, os parâmetros clínicos da periodontite não foram considerados fatores de risco para os desfechos perinatais adversos estudados. Descritores: parto pré-termo; baixo peso ao nascer; doença periodontal; periodontite. 2 Doutoranda em Odontopediatria, Universidade Federal de Pelotas, [email protected] Mestranda em Odontopediatria, Universidade Federal de Pelotas 4 Doutoranda em Odontopediatria, Universidade Federal de Pelotas 5 Profa. Doutora em Periodontia, Univeridade Federal de Juiz de Fora 6 Profa. Doutora em Odontopediatria, Universidade Federal de Pelotas, [email protected] 3 166 ABSTRACT The association between maternal periodontal disease and adverse perinatal outcomes remain controversial. The aim of this study was to evaluate, from a casecontrol study, conducted in three hospitals in Pelotas, Rio Grande do Sul, Brazil, the association between preterm birth and/or low birth weight (PTB and/or LBW) and clinical parameters of maternal periodontal disease. Data were collected through medical record (identification, medication, baby birth), interview (age, ethnicity, education, income, marital status, occupation, height and weight before pregnancy, smoking, alcohol consumption, number of prenatal care appointments, oral hygiene habits) and clinical examination (caries active, simplified bacterial plaque index, probing depth (PD), attachment level (NI)). Bivariate analysis was performed to evaluate the proportion of PTB and/or LBW with the independent variables and multivariate logistic regression to assess the association between adverse perinatal outcomes and independent variables. The sample consisted of 140 cases and 276 controls. The presence of generalized periodontitis was not associated with any adverse perinatal outcomes. The PTB and/or LBW was associated significantly with income between 1.5-2.9 and ≥ 3 minimum wage (OR = 1.84 (1.09 to 3.09), OR = 1.89 (1, 07 to 3.35), respectively), adequate number of prenatal visits (OR = 0.26 (0.13 to 0.50)), history of PTB and/or LBW (OR = 2.16 (1, 27 to 3.65)), systemic disease (OR = 1.70 (0.88 to 3.29)), cesarean delivery (OR = 1.83 (1.20 to 2.77)) and pre-eclâmpsia (OR = 5.26 (2.43 to 11.4)). Postpartum women with larger income, older and with a history of PTB and/or LBW had higher risk PTB. A history of systemic disease was associated with PTB and/or LBW, NPT and PTBLBW. We conclude that, in this sample, the clinical parameters of periodontitis were not considered risk factors for adverse perinatal outcomes studied. KEYWORDS: preterm birth; low birth weight; periodontal disease; periodontitis. 1. INTRODUÇÃO Desfechos perinatais adversos é um termo amplo que abrange implicações distintas como o nascimento de bebês pré-termos e/ou com baixo, pré-eclâmpsia, aborto ou bebê natimorto (IDE; PAPAPANOU, 2013). Por definição o nascimento pré-termo é aquele que ocorre antes da 37ª semana gestacional, e bebê com baixo peso ao nascer é aquele com peso inferior a 2.500 gramas (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1977). Estima-se que, no ano de 2010, cerca de 14,9 milhões (11,1%) de bebês, entre os nascidos vivos de todo o mundo, nasceram pré-termo, resultando em mais do que um em cada dez nascimentos (BLENCOWE et al., 2012). No Brasil, ano de 167 2011, os nascidos vivos com menos de 37 semanas gestacionais foram 9,8% (285.592) e os com peso ao nascer inferior a 2.500g foram 8,5% (248.217) do total (BRASIL, 2014). Na cidade Pelotas, os dados oficiais de 2012, mostraram que 14,0% (596) dos nascidos vivos foram pré-termo e 10,8% (463) portadores de baixo peso (RIO GRANDE DO SUL, 2013). Em relação ao baixo peso ao nascimento, a estatística mundial evidencia que mais de 20,0 milhões (15,5%) de bebês sofrem com esse importante indicador de saúde pública (WARDLAW et al., 2004). McGraw (2002) estudando a etiologia da prematuridade e do baixo peso ao nascimento descreveu que em 25% dos casos a causa permanecia desconhecida. Buscando ampliar o conhecimento sobre as causas dos desfechos perinatais adversos, desde o início dos anos 90 tem sido proposto que infecções bucais, tais como a periodontite, devido à similaridade na patogênese das infecções à distância causadas por microrganismos gram-negativos, poderiam atuar como um reservatório infeccioso e, à distância, interferir nos resultados gestacionais (NABET et al., 2010). Dessa forma, o objetivo desse trabalho foi avaliar, a partir de estudo de casocontrole dos nascimentos na cidade de Pelotas-RS, a associação entre o nascimento pré-termo e/ou com baixo peso e os parâmetros clínicos da doença periodontal materna, considerando ajuste para fatores demográficos, socioeconômicos, físicos e ambientais. 2. METODOLOGIA Foi conduzido um estudo caso-controle retrospectivo de base hospitalar, pareado pelo local de nascimento, no setor de ginecologia e obstetrícia de três hospitais (Hospital Escola da Universidade Federal de Pelotas, Santa Casa de Misericórdia e São Francisco de Paula) na cidade de Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil, no período de abril a dezembro de 2013. Este estudo foi avaliado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pelotas, parecer n° 80/2012. 168 Os registros hospitalares foram examinados três vezes por semana. No grupo caso foram incluídas puérperas que deram à luz a um recém-nascido vivo, único, pré-termo (entre 22 e 37 semanas gestacionais) e/ou com baixo peso (< 2.500g). No grupo controle foram incluídas as puérperas, na mesma maternidade, que tivessem dado à luz a um recém-nascido vivo, único, a termo (≥ 37 semanas) e com peso ≥ 2.500g. A inclusão das puérperas na amostra foi orientada pelos seguintes critérios de elegibilidade: idade entre 18 e 35 anos; presença de, no mínimo, seis dentes em boca; não infectada por HIV; não diabética; sem necessidade de profilaxia antibiótica; e bebê sem malformação congênita severa. Os dados foram colhidos através do prontuário médico (identificação, medicação, nascimento do bebê), de entrevista (idade, cor da pele, escolaridade, renda, situação conjugal, ocupação, peso e altura antes da gestação, tabagismo, alcoolismo, número de consultas pré-natal, hábitos de higiene bucal), e do exame clínico (lesão de cárie ativa, índice de placa bacteriana-simplificado, profundidade de sondagem (PS), nível de inserção (NI)). Foi realizada análise bivariada para avaliar a proporção de nascimentos prétermo e/ou baixo peso (NPT e/ou BP) com relação às variáveis independentes e análise de regressão logística múltipla para avaliar a associação entre desfechos perinatais adversos e variáveis independentes. 3. RESULTADOS E DISCUSSÕES 3.1 Distribuição da amostra Um total de 637 puérperas foram convidadas a participar do estudo, dessas 71 se recusaram e 146 foram excluídas por não atenderem a algum dos critérios de inclusão. A tabela 1 mostra a frequência de distribuição de diferentes variáveis demográficas e socioeconômicas dos grupos de caso e controle, evidenciando uma paridade entre os grupos, exceto para renda familiar (P=0,042). Tabela 1 - Distribuição de frequência de diferentes variáveis demográficas e socioeconômicas dos grupos caso e controle, Pelotas, RS, 2014. (n= 416) 169 Variável (n) Grupo (%) Caso Valor de P* Controle Idade (anos) 18 a 24 25 a 35 56 (40,0) 84 (60,0) 133 (48,2) 143 (51,8) 0,113 Cor da pele Branca Preta/parda 100 (71,4) 40 (28,6) 188 (68,1) 88 (31,9) Escolaridade ≤ 8 anos de estudo > 8 anos de estudo 57 (40,7) 83 (59,3) 132 (47,8) 144 (52,2) Renda (salários mínimos) (409#) ≤1 1,5- 2,9 ≥3 28 (20,3) 68 (49,3) 42 (30,4) 87 (32,1) 115 (42,4) 69 (25,5) Ocupação Do lar Trabalha fora 72 (51,4) 68 (48,6) 143 (51,8) 133 (48,2) Situação conjugal Casada ou união estável Solteira/separada # n menor por ausência do dado 104 (74,3) 204 (73,9) 36 (25,7) 72 (26,1) *Teste Qui-quadrado 0,489 0,168 0,042 0,941 0,935 1.2) Desfechos perinatais adversos: fatores associados A tabela 3 mostra a análise de regressão logística múltipla da associação dos diferentes desfechos perinatais adversos: nascimento pré-termo e/ou baixo peso (NPT e/ou BP), nascimento pré-termo (NPT), baixo peso ao nascer (BPN) e nascimento pré-termo e baixo peso ao nascer (NPTBP), com diferentes variáveis e níveis. Dados da Organização Mundial da Saúde evidenciam que a baixa renda familiar é um fator de risco para desfechos perinatais adversos na população mundial (HOWSON; KINNEY; LAWN, 2012). Na cidade de Pelotas, estudos como o de Horta et al. (1996), de base populacional, mostraram uma associação inversa entre a renda familiar e BPN, porém não com NPT, entretanto, Silveira et al. (2010) investigando fatores de risco para prematuridade na coorte de nascimentos de 2004 de Pelotas, mostraram associação entre baixa renda e NPT, no entanto os fatores de risco não variaram entre nos diferentes tercis socioeconômicos. 170 Os achados contrários desse estudo, em que a maior renda esteve associada com os desfechos NPT e/o BPN e NPT e sem qualquer associação com BPN e NPTBP, podem ser devido a maior idade também estar associada NPT. Embora, tenham sido previamente excluídas da amostra as puérperas com idades reconhecidamente de risco para o nascimento pré-termo e/ou com baixo peso, a idade materna de 25 a 35 anos esteve associada com NPT. De acordo com Assunção et al. (2012), a maior renda per capita está nas famílias cujas mães são mais velhas, e portanto tem melhores condições de vida, ou em outros termos, renda maior. Conforme demonstrado por outros estudos (BASSANI et al., 2007; IAMS et al., 2008; GUIMARÃES et al., 2010; SILVEIRA et al. 2010), estes achados reforçam a importância de receber assistência pré-natal na redução da incidência de desfechos perinatais adversos. A gravidez e o parto representam uma janela crítica de oportunidade para a prestação de intervenções eficazes para prevenir nascimentos pré-termos e/ou com baixo peso. Os serviços prestados visam gerenciar o trabalho de parto prematuro e fornecer informações para a melhoria dos comportamentos de risco e do conhecimento acerca dos sinais de alerta para o início de complicações na gravidez (HOWSON; KINNEY; LAWN, 2012). Embora Silveira et al. (2010), estudando os dados da coorte de nascimentos do ano de 2004 de Pelotas, não tenham encontrado associação entre o parto cesáreo e prematuridade, neste estudo, conduzido nove anos após, houve uma associação entre o parto cesariano com todos os desfechos estudados. Capra et al. (2013) buscando verificou que nos Estados Unidos da América dentre os fatores mais importantes para as elevadas taxas de nascimento pré-termo estão a indução do trabalho de parto e o parto cesárea sem indicação médica. Também, Hirano et al. (2012), em estudo caso-controle, verificaram que as gestantes com pré-eclâmpsia realizaram significativamente mais parto cesariano. Uma explicação para estes dados pode estar relacionada à situação de risco tanto para a mãe quanto para o bebê. Entretanto, não existem evidências que demonstrem as vantagens do 171 planejamento de um parto cesariano em relação ao parto normal para o nascimento de bebês pré-termos e/ou com baixo peso (ALFIREVIC; MILAN; LIVIO, 2013). Embora Alfirevic, Milan e Livio (2013) não descartem que a cesariana planejada para gestantes em trabalho de parto pré-termo possa ter uma função protetora para o bebê, evitando uma cirurgia de emergência durante o parto e suas complicações, entendem também que essa pode ser traumática para a mãe e para o bebê. No entanto, uma cesariana planejada pode não acontecer porque o trabalho progride muito rapidamente e, outras vezes, mesmo que o parto vaginal tenha sido planejado, surgem complicações que podem fazer necessário uma cesariana. Na maioria das vezes, as gestantes em trabalho de parto prematuro programavam o nascimento para mais tarde, muitas vezes a termo. Há, portanto, uma possibilidade real de que uma política de cesariana planejada possa aumentar o número de bebês nascidos pré-termo (ALFIREVIC et al., 2013). A história materna de nascimento pré-termo e/ou com baixo peso ao nascer foi um fator de risco para NPT e/ou BP (OR= 2,16 (IC=1,27-3,65) e para NPT (OR=2,17 (IC=1,27-3,72)) assim como estudos prévios (CONDE-AGUDELO; ROSAS-BERMÚDEZ; KAFURY-GOETA, 2006; SILVEIRA et al., 2010). Provavelmente, impulsionada pela interação de risco genéticos, epigenéticos e fatores ambientais (PLUNKETT; MUGLIA, 2008). O BPN e o NPTBP embora não tenham mostrado associação nesse estudo, em outro de caso-controle conduzido por Bassani et al. (2007) em Porto Alegre evidenciou OR=1,97 (IC=1,35-2,87) e OR=2,30 (IC=1,43- 3,71), respectivamente. Considerando a presença de doenças sistêmicas pré-existentes, pode-se inferir que a associação dessas com NPT e/ou BP e com NPT advêm do fato de que, muitas vezes, esse resultado gestacional se dá por indicação médica devido às complicações maternas. Desordens sistêmicas, tais como doenças da tireóide, asma, diabetes, hipertensão e depressão são associados com aumento dos nascimento pré-termos (HOLMES et al., 2001; ERTEL et al., 2010; BASKARADOSS; GEEVARGHESE; AL DOSARI, 2012; CAPRA et al., 2013). A depressão, segundo Capra et al. (2013) também está associada com um aumento no hábito de fumar, 172 consumir bebidas alcoólicas e utilizar drogas, portanto, a relação entre depressão e nascimento pode ser mediada por estes comportamentos. Além da história prévia, os problemas durante a gestação, anemia e préeclâmpsia estiveram fortemente associados com desfechos perinatais adversos. A maior presença de anemia materna nas puérperas do grupo controle pode ser explicada pela maior idade gestacional, devido a ligeira variação que os níveis férricos podem sofrer ao longo da gestação, com o aumento da demanda de ferro, a fim de cobrir os requisitos do aumento dos glóbulos vermelhos em massa, da expansão do volume de plasma e para permitir o crescimento da unidade fetoplacentária (SCHOLL, 2005). É necessário esclarecer que a anemia não representa um fator de proteção para desfechos perinatais adversos e deve ser investigada e tratada durante todas as fases da gravidez, pois a deficiência de ferro e a hipóxia resultantes da anemia podem induzir estresse materno e fetal (ALLEN, 2001). O risco relativo, no mínimo, maior que 4 vezes das puérperas com préeclâmpsia terem desfechos perinatais adversos foi também determinado em outros estudos caso-controle (NABET et al., 2010; HIRANO et al., 2013). Durante a gravidez, a pressão arterial da gestante diminui nas primeiras semanas, em seguida, sobe lentamente em torno da metade da gravidez. As gestantes com pressão arterial muito alta (sistólica superior a 160 mmHg, diastólica de 110 mmHg ou mais) estão em risco de desenvolver pré-eclâmpsia (LEEMAN; FONTAINE, 2008). Esta é uma doença vascular materna multissistêmica com disfunção endotelial, que causa hipertensão, proteinúria e disfunções de órgãos principais (LEEMAN; FONTAINE, 2008), como insuficiência renal e está associada ao risco de parto prematuro e acidente vascular cerebral (DULEY; MEHER; JONE, 2013). Durante a gravidez, com a elevação dos níveis de estrógeno e progesterona, há um aumento na permeabilidade vascular, facilitando a entrada de patógenos periodontais e/ou seus subprodutos na corrente sanguínea e a translocação (deslocamento de bactérias e/ou subprodutos para sítios estéreis) para a placenta (MADIANOS; BOBETSIS; OFFENBACHER, 2013). Provavelmente, a via biológica mais importante em determinar um resultado gestacional negativo a partir da 173 presença de doença periodontal materna é o estabelecimento de infecção na unidade feto placentária por patógenos periodontais e/ou seus subprodutos (MADIANOS; BOBETSIS; OFFENBACHER, 2013). Offenbacher (2013), Para Madianos, Bobetsis e apesar de reconhecida a importância da bacteremia nesse processo, ainda não há clareza sobre quais são as condições e os parâmetros clínicos que permitem que periodontopatógenos tenham acesso sistêmico e exponham a unidade feto placentária. Possivelmente, os parâmetros clínicos que determinam a severidade da doença periodontal, como profundidade de sondagem e nível clínico de inserção não, necessariamente, correspondem a um incremento linear na bacteremia. Os dados da análise bruta da tabela 3 mostraram, ausência de associação exceto para BPN que evidenciou uma relação de “proteção” com a periodontite localizada. Na análise ajustada para todas as variáveis, embora sem significância, houve um maior valor OR para gengivite no desfecho NPT e/ou BP e NPT, sendo de 1,69 e 1,86, respectivamente. No entanto, houve uma contradição entre os valores de P e o intervalo de confiança para os desfechos BPN e NPTBP, provavelmente devido ao baixo número de casos dos mesmos, 93 e 72, respectivamente. Cabe salientar que dos 140 casos de NPT e/ou BP, 119 eram de NPT, valor superior ao cálculo amostral inicial que era de 116 casos. Estes achados apontam para que novos estudos, além do descrito por Ide e Papapanou (2013) de que empreguem avaliações contínuas e categóricas de condição periodontal e não trabalhem com desfecho composto (NPT e/ou e BP), incluam a condição de gengivite nos parâmetros clínicos. Além disso, parece importante incluir abordagens sobre o potencial de virulência sistêmica da microbiota oral e da resposta imune individual nos desfechos perinatais adversos (MADIANOS; BOBETSIS; OFFENBACHER, 2013). 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Com base na metodologia utilizada neste estudo caso-controle, conclui-se que: 174 4.1 Os parâmetros clínicos da periodontite não foram considerados fatores de risco para os desfechos perinatais adversos estudados; 4.2 As puérperas mais velhas tiveram maior risco relativo a NPT, enquanto a maior renda e o antecedente de parto pré-termo e/ou baixo peso estiveram associadas tanto com o NPT com o NPT e/ou BP; 4.3 A presença de doença sistêmica prévia esteve associada com NPT e/ou BP, NPT e com NPTBP; 4.5 O número inadequado de consultas pré-natal, parto do tipo cesárea e a pré-eclâmpsia estiveram associados a todos os desfechos perinatais adversos. REFERÊNCIAS ALFIREVIC, Z.; MILAN, S.J.; LIVIO, S. 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A falta de desejo da mãe em amamentar (19,2%), a falta de apoio da família (15,2%) e o relato das mães de que o leite é fraco (13%) foram os motivos mais citados. Os resultados deste estudo indicam que os motivos das mães para o desmame precoce, identificados pelos profissionais, diferem, na sua maioria, dos referidos pelas próprias lactantes conforme demonstra a literatura. Por isso, é importante atentarmos para esses achados com o intuito de contemplarmos todos os aspectos relacionados ao desmame precoce, somente dessa forma, as ações programadas para a promoção do aleitamento materno terão mais êxito. ABSTRACT This study aimed to ascertain the reasons for early weaning identified by nurses in primary health care in a city in southern Brazil. Cross-sectional study, conducted in 2012, with all the nurses of Basic Health Units urban area, totaling 46 professionals. Was applied to the subjects semistructured questionnaire by trained interviewers. Outcome were considered as the reasons for early weaning identified by nurses in their daily practice. About 60% of professionals reported some reason for early weaning. The lack of the mother's desire to breastfeed (19.2%), lack of family support (15.2%) and mothers reporting that milk is weak (13%) were the most cited reasons. The results of this study indicate that the reasons for mothers to early weaning, identified by professionals differ, mostly referred to by the lactating own as shown in the literature. Therefore, it is important to pay attention to these findings in order to contemplate all aspects related to early weaning, only in this way, scheduled for breastfeeding promotion actions will be more successful. 178 Eixo Temático: Eixo 5 - Formação e qualificação profissional na atenção à Saúde da Mulher e ao Recém-nascido. DECS: aleitamento materno; avaliação em saúde; atenção primária à saúde; enfermagem em saúde comunitária; desmame. 1. INTRODUÇÃO A lactação é uma das maneiras mais eficientes de atender aos aspectos nutricionais, imunológicos e psicológicos relativos ao desenvolvimento de uma criança no seu primeiro ano de vida (ICHIATO; SHIMO, 2001; RAMOS; ALMEIDA, 2003). Considera-se o aleitamento o primeiro cuidado prestado pela mãe ao recémnascido e seguramente um fator fundamental para a formação de vínculo entre mãe e filho. Além de ser o mais completo alimento para o bebê, o leite materno atua como agente imunizador, prevenindo várias doenças como a obesidade infantil, enterocolite, problemas respiratórios e diminui a chance de alergias, além de acalentar a criança no aspecto psicológico, influenciar positivamente o desenvolvimento das crianças e reduzir a mortalidade infantil. Tem a vantagem técnica de ser operacionalmente simples, é de baixo custo financeiro, protege a mulher contra câncer mamário e ovariano, auxilia na involução uterina, contribui para o retorno ao peso normal, reduz o risco de hemorragia, retarda a volta da fertilidade e proporciona confiança a mulher em seu papel de mãe (BRASIL, 2012a; HALPERN; FIGUEIRAS, 2004; RICCO, 1995; SIMON; SOUZA; SOUZA, 2009). Apesar das abundantes evidências científicas da superioridade do leite materno sobre outros tipos de leite, ainda é baixo o número de mulheres que amamentam os seus filhos de acordo com as atuais recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), que é amamentação exclusiva até o sexto mês e aleitamento materno (AM) com alimentos complementares até dois anos ou mais de idade (BRASIL, 2009). Como fatores associados ao desmame precoce, estudos apontam o uso de chupeta pelos lactentes, a presença de fissura mamilar nas 179 lactantes (VIEIRA et al., 2010), práticas hospitalares inadequadas, mudança da estrutura social acarretando o trabalho materno fora do lar (VENANCIO, 2003; VIANNA et al., 2007), ausência da mulher ao pré-natal (DEMETRIO; PINTO; AMO, 2012), além do nível de escolaridade da mãe que influencia na obtenção de esclarecimentos sobre a amamentação (PEREIRA et al., 2010). A rede básica de saúde (RBS) é a principal responsável pela assistência antes e depois do parto. As informações oferecidas no pré-natal, assim como o apoio à amamentação depois da saída da maternidade, dependem da atuação da RBS. Mesmo que um hospital seja Amigo da Criança, sua atuação é limitada, uma vez que a maioria das mulheres permanece pouco tempo internada depois do parto. Dessa forma, a RBS é indispensável na estratégia de promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno exclusivo (AME) até seis meses e continuado até os dois anos ou mais (IBFAN, 2007). Estimativas recentes quanto a diversas formas de ação e suas consequências para a saúde da criança mostraram que a promoção do AME é a intervenção na área da saúde pública que isoladamente tem o maior potencial para diminuir a mortalidade infantil (TOMA; REA, 2008). Para melhoria destes índices, faz-se necessário a adoção de medidas preventivas ou curativas evitando sofrimento físico e psíquico às puéperas com futuro abandono da amamentação. Para isso, o profissional de saúde deve estar preparado tanto em relação aos aspectos técnicos da lactação quanto à promoção e ao apoio ao AM com olhar abrangente que contemple os aspectos emocionais, culturais e a rede social de apoio à mulher. O profissional necessita encorajar a mulher nesse ato, valorizando-a, escutando-a e reconhecendo-a como protagonista desse processo. Avaliar o conhecimento desses profissionais representa uma estratégia de reconhecimento do cenário de apoio à prática da amamentação (BRASIL, 2009). Há que se destacar a importância de identificar e compreender os fatores determinantes da interrupção do AM na percepção dos profissionais, tendo em vista o importante papel que esses desenvolvem na promoção do AM. 180 2. OBJETIVO Conhecer os motivos para o desmame precoce identificados pelos enfermeiros da RBS em uma cidade no extremo sul do Brasil. 3. MÉTODOS Trata-se de um estudo transversal, desenvolvido em Rio Grande, cidade localizada no extremo sul do Rio Grande do Sul, cuja RBS é constituída de 24 unidades básicas de saúde (UBS), das quais 13 com estratégia saúde da família (ESF). Foram convidados a participar do estudo todos os enfermeiros da RBS da zona urbana do Rio Grande, sendo excluídos os profissionais em licença maternidade ou licença saúde. Foi realizada uma visita em cada uma das unidades com o escopo de explicar aos responsáveis os objetivos da pesquisa e agendar as entrevistas, que consistiam na aplicação de um questionário semiestruturado. As entrevistas foram realizadas de junho a outubro de 2012 por entrevistadores previamente treinados. Como desfecho foram considerados os motivos para o desmame precoce identificados pelos enfermeiros na sua prática diária. Os dados foram duplamente digitados no Programa Epi Info, versão 6.04 e as análises estatísticas realizadas no Stata, versão 11.0. O protocolo de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa na Área da Saúde da Universidade Federal do Rio Grande, conforme parecer nº 184/2011 e pelo Núcleo Municipal de Educação Permanente em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde do Rio Grande. 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES Do total de 46 enfermeiros, todos aceitaram participar da pesquisa. Observouse que os principais motivos das mães para o desmame precoce, identificados pelos enfermeiros em sua prática cotidiana são a falta de desejo da mãe em amamentar 181 (19,6%), falta de apoio da família (15,2%) e o relato das mães de que o é leite fraco (13,0%). Também foram mencionados como causas: a introdução precoce de outros alimentos (6,5%), relato das mães de pouco leite (4,3%) e impaciência materna (2,2%) (Tabela 1). Pouco mais de um terço dos enfermeiros (39,2%) relatou que não identificaram nenhum motivo para o desmame precoce na sua prática diária. Tabela 1 - Principais dificuldades no manejo do aleitamento materno identificadas pelos enfermeiros da rede básica de saúde da cidade do Rio Grande, 2012 (n=46). Principais Dificuldades Enfermeiros n (%) Mãe não quer amamentar 9 (19,6) Falta de apoio da família 7 (15,2) Mãe acha que o leite é fraco 6 (13,0) Introdução precoce de outros alimentos 3 (6,5) Relato de pouco leite 2 (4,3) Impaciência materna 1 (2,2) De acordo com os profissionais que participaram deste estudo muitos são os fatores que contribuem para o desmame precoce. A falta de desejo das mães em amamentar relatada pelos profissionais demonstra que é momento de transcendermos nossas ações educativas até agora voltadas para as vantagens que a amamentação traz, principalmente para a criança, e atentarmo-nos para a realidade da experiência vivida pela mulher, que se constitui também de momentos negativos, possibilitando, assim, uma outra dimensão no ato de educar. É necessário abandonarmos o ideal e contemplarmos o real na abordagem com a mulher (ARANTES, 1995). A falta de desejo das mulheres em amamentar não é um momento isolado, pois fundamenta- se na história de vida de cada uma. A opção de amamentar ou não amamentar é da mulher, mas é determinada por momentos pelos quais passam o seu biológico, o seu psicológico e o seu contexto social (ARANTES, 1995). Quando os profissionais percebem a falta de desejo da mãe em iniciar ou manter a lactação, devem buscar compartilhar esses momentos com a mulher, 182 ajudando-as a lidar com possíveis conflitos inerentes desse processo. Evidentemente os bebês expressam, através do choro, a necessidade de alimentarse, porém sabemos que a criança chora por inúmeros outros motivos. Diante do choro, muitas mães e familiares acreditam que o leite materno está sendo insuficiente para o bebê. Estudo realizado em Porto Alegre, em 2005 (SUSIN; GIUGLIANI; KUMMER, 2005) demonstrou que as avós podem influenciar negativamente tanto na sua duração quanto na sua exclusividade, já que em alguns momentos aconselham o uso de água, chás ou outros tipos de leite. E necessário que os profissionais estejam atentos desde o pré-natal, com o objetivo de conhecer a rede de apoio da mulher visando identificar possíveis influencias que venham a dificultar o sucesso da amamentação. Os relatos de “leite fraco” pelas lactantes também foram bastante citados pelos enfermeiros como motivos para o desmame precoce. Essa queixa deve ser acolhida com atenção. O profissional deve ser perspicaz ao ouvir os argumentos da mãe e verificar as condições da criança, avaliando, durante toda a mamada, pega, sucção, ingesta, quantidade e coloração de urina e fezes. Normalmente, essa queixa é reflexo de insegurança materna quanto a sua capacidade de nutrir plenamente o seu bebê. A suplementação com leite artificial é bastante comum nesses casos afetando negativamente a produção de leite materno, pois a criança passa a sugar menos o peito. A má pega é a principal causa de remoção ineficiente do leite, uma vez que, não há o esvaziamento completo da mama, assim, o bebê perde principalmente o leite posterior, mais rico em energia. Ao lidarmos com mães preocupadas e inseguras, é necessário ressaltar que se o bebê está ganhando peso e crescendo é porque está recebendo leite em quantidade e qualidade adequada (BRASIL, 2009; GIUGLIANI, 2004). 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os resultados deste estudo indicam que os motivos das mães para o desmame precoce, identificados pelos profissionais, diferem, na sua maioria, dos 183 referidos pelas próprias lactantes conforme demonstra a literatura. Diante disso, se as práticas realizadas por profissionais da atenção básica, com o intuito de promoção da amamentação, estiverem baseadas apenas nos motivos evidenciados por estudos realizados com lactantes, os demais aspectos, por eles percebidos, não serão contemplados, diminuindo dessa forma a chance de êxito do AM, conforme as recomendações do Ministério da Saúde. REFERÊNCIAS ARANTES, C. I. S. Amamentação - visão das mulheres que amamentam. J. Pediatr, Rio de Janeiro, v. 71, n. 4, p. 195-202, dez. 1995. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde da criança: nutrição infantil, aleitamento materno e nutrição complementar. Brasília, DF, 2009. 112 p. BRASIL. Ministério da Saúde. Atenção ao Pré Natal de Baixo Risco. Brasília: Ministério da Saúde, 2012. 318p. (Série A. Normas e Manuais Técnicos) (Cadernos de Atenção Básica, n 32) DEMETRIO, F.; PINTO, E. J.; ASSIS, A. M. O. 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Os enfermeiros da Estratégia Saúde da Família apresentaram melhores desempenhos quando comparados aos profissionais do modelo tradicional. Conclui-se que a expansão dessa estratégia permitiria maior incentivo, apoio e promoção da amamentação. ABSTRACT This study aimed to evaluate the management of breastfeeding nurses the primary health care of Rio Grande in Rio Grande do Sul, comparing with the traditional model of the Family Health Strategy. A Cross-sectional study, conducted in 2012, with all the nurses of Basic Health Units urban area, totaling 46 professionals. Was applied to the subjects a questionnaire, based on the Guide to Children's Nutrition of the Ministry of Health to evaluate the management of breastfeeding through a score. The nurses of the Family Health Strategy presented better performances when compared to the traditional model professional. We conclude that the expansion of this strategy would allow greater encouragement, support and promotion of breastfeeding. Eixo Temático: Eixo 5 - Formação e qualificação profissional na atenção à Saúde da Mulher e ao Recém-nascido. DECS: aleitamento materno; avaliação em saúde; atenção primária à saúde; enfermagem em saúde comunitária. 186 1. INTRODUÇÃO O leite materno é considerado o alimento mais completo para o bebê, pois possui inúmeras vantagens psicológicas, nutricionais e imunológicas, além de ser apontado como a intervenção na área da saúde pública que isoladamente tem o maior potencial para diminuir a mortalidade infantil (TOMA; REA, 2008; ICHIATO; SHIMO, 2001; RAMOS; ALMEIDA, 2003). Apesar das abundantes evidências científicas da superioridade do leite materno sobre outros tipos de leite, ainda é baixo o número de mulheres que amamentam os seus filhos de acordo com as atuais recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), que é amamentação exclusiva até o sexto mês e aleitamento materno (AM) com alimentos complementares até dois anos ou mais de idade (BRASIL, 2009). Para melhoria destes índices, faz-se necessário a adoção de medidas preventivas ou curativas evitando sofrimento físico e psíquico às puéperas com futuro abandono da amamentação. Para isso, o profissional de saúde deve estar preparado tanto em relação aos aspectos técnicos da lactação quanto à promoção e ao apoio ao AM com olhar abrangente que contemple os aspectos emocionais, culturais e a rede social de apoio à mulher. O profissional necessita encorajar a mulher nesse ato, valorizando-a, escutando-a e reconhecendo-a como protagonista desse processo. Avaliar o conhecimento desses profissionais representa uma estratégia de reconhecimento do cenário de apoio à prática da amamentação (BRASIL, 2009). Há que se destacar a importância de identificar e compreender os fatores determinantes da interrupção do AM na percepção dos profissionais, tendo em vista o importante papel que esses desenvolvem na promoção do AM. É necessário que os profissionais que atuam na Estratégia Saúde da Família se capacitem para orientar as gestantes e puérperas em relação ao AM. Os profissionais devem ajudar a mulher a tomar decisões de forma empática, saber ouvir e aprender, desenvolver a confiança e dar apoio. É importante que as mães sintam o interesse do enfermeiro e dos demais profissionais para adquirirem confiança e se sentirem apoiadas (GIUGLIANI, 2000). 187 2. OBJETIVO Avaliar e comparar o manejo em AM dos profissionais das Unidades Básicas de Saúde (UBS) com ESF e sem ESF do município do Rio Grande. 3. MÉTODOS Trata-se de um estudo transversal, desenvolvido em Rio Grande, cidade localizada no extremo sul do Rio Grande do Sul, cuja rede básica de saúde (RBS) é constituída de 24 unidades básicas de saúde, das quais 13 com ESF. Foram convidados a participar do estudo todos os enfermeiros da RBS da zona urbana do Rio Grande, sendo excluídos os profissionais em licença maternidade ou licença saúde. Foi realizada uma visita em cada uma das unidades com o escopo de explicar aos responsáveis os objetivos da pesquisa e agendar as entrevistas, que consistiam na aplicação de um questionário semiestruturado baseado no Manual do Ministério da Saúde que aborda o AM (BRASIL, 2009). As entrevistas foram realizadas de junho a outubro de 2012 por entrevistadores previamente treinados. Os profissionais foram caracterizados quanto à idade (média/desvio padrão), sexo, ter filhos (sim/não), se os filhos foram amamentados (sim/não), tempo de profissão (em anos completos), modelo de atenção em que trabalhavam (tradicional/ESF), tempo de atuação na atenção básica e na ESF (em anos completos), capacitação em AM (sim/não) e leitura do Guia de Nutrição Infantil do Ministério da Saúde que aborda o AM (sim/não) (BRASIL, 2009). O desfecho manejo do AM foi medido através de questões abertas e fechadas, que permitiram a construção de um escore baseado nas recomendações do Guia de Nutrição Infantil (BRASIL, 2009). Nas questões objetivas, a codificação foi feita da seguinte forma: dois (resposta correta) ou zero (resposta incorreta). Nas perguntas abertas, a codificação foi: dois (resposta correta), um (resposta parcialmente correta) ou zero (resposta incorreta). Foi considerado manejo 188 satisfatório escores acima de 80%, regular entre 79,9% e 50% e insatisfatório escores abaixo de 50% (SILVESTRE et al., 2009). Foi utilizado o Programa Epi Info, versão 6.04, para dupla digitação dos questionários. Após, os dados foram transferidos ao pacote estatístico Stata, versão 11.0, onde foram realizadas as análises. As perguntas abertas foram transformadas em variáveis categóricas. A comparação das proporções foi realizada através do teste exato de Fisher. Na interpretação dos resultados do escore de manejo, foi utilizado o teste t de Student para comparação das médias. Foi realizada uma análise de mediação controlando o efeito do modelo de atenção para a realização de capacitação em AM e a leitura do manual do MS. Além disso, testou-se se havia interação entre as variáveis analisadas com o modelo de atenção, não sendo verificado modificação significativa (p<0,10) nos resultados. Em vista disso, as análises não foram estratificadas pelo modelo de atenção. O nível de significância adotado foi de 5% para testes bicaudais. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa na Área da Saúde da Universidade Federal do Rio Grande, conforme parecer nº 184/2011, em conformidade com as recomendações para pesquisa envolvendo seres humanos, além de ser aprovado no Núcleo Municipal de Educação Permanente em Saúde (NEPES) da Secretaria Municipal de Saúde para autorização da coleta de dados na RBS do Rio Grande. Foi garantido a todos os profissionais confidencialidade dos dados coletados, participação voluntária e possibilidade de deixar o estudo quando desejassem, sem necessidade de justificativa. Esta pesquisa não recebeu nenhum tipo de financiamento para sua realização. 4. RESULTADOS Do total de 46 enfermeiros, todos aceitaram participar da pesquisa. A maioria dos enfermeiros era do sexo feminino (93,5%), tinha filhos (69,6%) e experiência com aleitamento materno (93,8%). Houve predomínio de tempo de profissão entre 10 e 20 anos (52,2%), vínculo com o modelo tradicional (60,9%), 189 tempo de trabalho na atenção básica entre 10 e 20 anos (47,8%) e de 5 a 10 anos de trabalho na ESF (60%). A maior parte (52,2%) realizou capacitação em AM e metade leu o Manual. A média de idade foi de 43 anos (DP 9,0). Na tabela 1 verifica-se que a metade dos enfermeiros apresentou desempenho regular no manejo do AM. Ao analisarmos o desempenho de acordo com o modelo de atenção em que trabalhavam observou-se que nenhum profissional da ESF apresentou desempenho insatisfatório, enquanto (72,2%) apresentou desempenho regular e 28,6% teve desempenho satisfatório. Em relação ao modelo tradicional a maior parte (39,3%) obteve desempenho insatisfatório, enquanto 35,7% apresentou desempenho regular e 25% satisfatório. A tabela 2 demontra que a diferença entre as médias do escore de manejo em AM foram significativamente associadas ao sexo, ao modelo de atenção, à realização de capacitação em AM e à leitura do Manual do MS que aborda o AM. Para este escore, o efeito do modelo de atenção foi mediado pela realização de capacitação em AM. Tabela 1 - Escores de manejo em aleitamento materno dos enfermeiros, segundo modelo de atenção, da rede básica de saúde da cidade do Rio Grande/RS, 2012 (n=46). MODELO DE ATENÇÃO Enfermeiro ESF Tradicional MANEJO Valor p Insatisfatório n(%) Regular n (%) Satisfatório n (%) 11 (23,9) 0 (0,0) 11 (39,3) 23 (50,0) 13 (72,2) 10 (35,7) 12 (26,1) 5 (27,8) 7 (25,0) 190 0,004 Tabelas 2 - Médias do escore de manejo em aleitamento materno de acordo com as características dos enfermeiros das unidades básicas de saúde da cidade do Rio Grande/RS, 2012 (n=46). ESCORE DE VARIÁVEIS n (%) MANEJO Valor p (DP) Sexo Masculino Feminino Filhos Não Sim Experiência com aleitamento materno dos filhos Não Sim Modelo de atenção UBS com ESF UBS Tradicional Realização de capacitação em aleitamento materno Não Sim Leitura do Manual do Ministério da Saúde sobre Nutrição Infantil que aborda o aleitamento materno Não Sim 0,01 3 (6,5) 43 (93,5) 31,5 (8,9) 65,1 (20,6) 14 (30,4) 32 (69,6) 55 (23,8) 66,2 (21,0) 0,11 0,75 2 (6,3) 30 (93,8) 70,8 (2,0) 65,9 (20,8) 18 (39,1) 28 (60,9) 73,9 (10,3) 55,8 (24,1) 22 (47,8) 24 (52,2) 49,7 (22,5) 74,9 (11,9) 0,001 <0,001 0,02 23 (50,0) 23 (50,0) 55,4 (24,0) 70,3 (16,4) 5. DISCUSSÃO A análise de desempenho no teste de manejo do AM demonstra que os profissionais em sua maioria obtiveram desempenho regular. A baixa porcentagem de profissionais com desempenho adequado é preocupante. Considerando que esses profissionais atendem gestantes e puérperas oferecendo orientações e esclarecimentos quanto à técnica correta da amamentação, bem como a resolução de problemas que podem ocorrer durante a lactação, esta porcentagem está aquém do esperado. Ao interpretar os dados deste estudo, é preciso destacar que se trata de um estudo transversal, logo os resultados aqui apresentados refletem estritamente o período em que os dados foram coletados. Os enfermeiros que atuam na ESF apresentaram melhores escores de manejo do AM quando comparados aos profissionais do modelo tradicional. Estudo transversal realizado por Cruz et al. (2010) observou que todas as proporções de orientações sobre amamentação foram 191 significativamente mais referidas por moradoras de áreas de ESF do que por moradoras de áreas de UBS tradicional, demonstrando que o modelo de atenção tem forte associação com as informações fornecidas pelos profissionais. É relevante salientar que o crescimento dos recursos financeiros destinados à Atenção Básica, tem enfatizado o crescimento de recursos para a ESF, já que o governo federal considera essa estratégia a alternativa ideal para a conversão do modelo tradicional ainda existente (MARQUES; MENDES, 2003). O sexo feminino demonstrou médias maiores que o sexo masculino no escore de manejo do AM. Este resultado vai ao encontro dos achados de Ciconi et al. (2004), em estudo realizado em Francisco Morato, SP, cujo objetivo foi avaliar os conhecimentos e a capacitação de equipes do Programa de Saúde da Família para o desenvolvimento de ações de incentivo Ter filhos ou a experiência prévia dos profissionais com a amamentação destes não se associaram significativamente com o escore de manejo do AM. Os enfermeiros que não tiveram experiência prévia com a amamentação dos filhos demonstraram médias mais elevadas do que aqueles que tiveram experiência. Isso demontra a importância do conhecimento técnico para manejar adequadamente a amamentação, bem como resolver os problemas advindos dessa prática. Os profissionais que realizaram capacitação em AM obtiveram as maiores médias de acertos comparados com aqueles que não realizaram. Averiguou-se que a realização de capacitação em AM tem forte efeito sobre o modelo de atenção, ou seja, o efeito do modelo de atenção perpassa pela realização de capacitação em AM. O Manual do MS sobre nutrição infantil que aborda o AM é uma excelente ferramenta que proporciona conhecimento amplo sobre a teoria e a prática da amamentação. A leitura do manual proporcionou diferenças entre as médias de manejo do AM sendo esta diferença estatisticamente significativa com médias mais elevadas para os profissionais que realizaram a leitura. 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS 192 Os resultados deste estudo indicam que o melhor desempenho dos profissionais da ESF quando comparados aos enfermeiros do modelo tradicional, no manejo do AM, está relacionado à realização de capacitação em aleitamento materno. Este novo modelo promove a ampliação e a qualificação da atenção básica através da realização de diversas atividades incluindo a educação continuada. Conclui-se que a expansão dessa estratégia permitiria maior incentivo, apoio e promoção da amamentação, devendo-se buscar isso junto aos gestores de saúde. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde da criança: nutrição infantil, aleitamento materno e nutrição complementar. Brasília, DF, 2009. 112 p. CICONI, Rita de Cassia Veríssimo, VENANCIO, Sonia Isoyama, ESCUDER, Maria Mercedes L. Avaliação dos conhecimentos de equipes do Programa de Saúde da Família sobre o manejo do aleitamento materno em um município da região metropolitana de São Paulo. Rev Bras Saúde Matern Infant. Recife, v. 4, n. 2, p. 193-202, abr./jun., 2004. CRUZ, Suélen Henriques; GERMANO, Juliana de Araújo; TOMASI, Elaine; FACCHINI, Luiz Augusto; PICCINI, Roberto Xavier; THUMÉ, Elaine. Orientações sobre amamentação: vantagem do Programa de Saúde da Família em municípios gaúchos com mais de 100.000 habitantes no âmbito do PROESF. Rev Bras Epidemiol. v.13, n.2, p. 259-267, jun. 2010. GIUGLIANI, Elsa R. J. O aleitamento materno na prática clínica. J. Pediatr., Rio de Janeiro, v. 76, supl. 3, p. 238-252, 2000. ICHISATO, Sueli Mutsumi Tsukuda; SHIMO, Antonieta Keiko Kakuda. Aleitamento materno e as crenças alimentares. Rev. Latino-Am. Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 9, n. 5, p. 70-76, set. 2001. MARQUES, Rosa Maria; MENDES, Áquilas. Atenção Básica e Programa de Saúde da Família (PSF): novos rumos para a política de saúde e seu financiamento? Ciênc. Saúde Coletiva. Rio de Janeiro, v. 8, n. 2, 2003. RAMOS, C. V.; ALMEIDA, J. A. G. Alegações maternas para o desmame: um estudo qualitativo. J. Pediatr., Rio de Janeiro, v. 79, n. 5, p. 395-90, 2003. 193 SILVESTRE, Patrícia Kelly; CARVALHAES, Maria Antonieta de Barros Leite; VENÂNCIO, Sônia Isoyama; TONETE, Vera Lúcia Pamplona; PARADA, Cristina Maria Garcia de Lima. Conhecimentos e práticas de profissionais de saúde sobre aleitamento materno em serviços públicos de saúde. Rev. Latino-Am Enfermagem. v. 17, n. 6, p. 953-960, nov. 2009. TOMA, Tereza Setsuko; REA, Marina Ferreira. Benefícios da amamentação para a saúde da mulher e da criança: um ensaio sobre as evidências. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 24, p.235-246, 2008. 194 18.2) ITINERÁRIO DE UMA USUÁRIA DE CRACK DA GESTAÇÃO AO TRATAMENTO E REINSERÇÃO SOCIAL (2014)1 PEREIRA , Simone Barbosa2; BACKES, Dirce Stein3; MELO, Andressa A. 4; REIS, Thamiza L. da Rosa dos5 QUADROS, Jacqueline Silveira de6 GRASEL, Jéssica T.7 RESUMO A presente pesquisa teve como metodologia a pesquisa etnográfica, a qual permite a leitura de determinado cenário sem preocupar-se com julgamentos, pré-conceitos ou busca de certezas. Esta pesquisa ocorreu em um hospital de médio porte de uma cidade do interior do RS entre o mês de setembro do ano de 2010 a novembro do ano de 2012. O objetivo do estudo foi acompanhar o itinerário da internação para dependência química pelo uso do crack a reinserção social de uma mulher com 25 anos de idade gestando seu quinto filho. Esta foi internada primeiramente na maternidade do hospital e posteriormente internada compulsoriamente em uma unidade de desintoxicação química. Ocorreram sucessões de acompanhamentos e encaminhamentos com vistas a transcender o cuidado estritamente pontual para a singularidade e subjetividade que envolve o ser humano. Com os resultados apresentados foi possível observar que necessita-se de maior conhecimento acerca 1 Trabalho Final de Graduação de Bacharel em Enfermagem-Centro Universitário FranciscanoUNIFRA- Santa Maria. RS 2 Enfermeira Residente do Programa de Residência em Enfermagem Obstétrica. Centro Universitário Franciscano.Email: [email protected] 3 Professora Ms, Dra. Centro Universitário Franciscano. Email: [email protected] 4 Estudante de Graduação em Enfermagem do Centro Universitário Franciscano. Email: [email protected] 5 Enfermeira Residente do Programa de Residência em Enfermagem Obstétrica. Centro Universitário Franciscano.Email: [email protected] 6 Enfermeira Residente do Programa de Residência em Enfermagem Obstétrica. Centro Universitário Franciscano. Email: [email protected] 7 Enfermeira Residente do Programa de Residência em Enfermagem Obstétrica. Centro Universitário Franciscano. Email: [email protected] 195 do “fenômeno” do uso do crack por parte dos profissionais que atuam nos cenários de desintoxicação química, além de políticas públicas efetivas e legislações específicas que favoreçam e estimulem a reinserção social de dependentes químicos após o tratamento. Esse estudo foi aprovado pelo comitê de ética e pesquisa do Centro Universitário Franciscano sob o nº 279/2009. ABSTRACT This research was ethnographic research methodology, which allows the reading of a particular scenario without worrying about judgments, preconceptions or search for certainty. This research took place in a medium-sized hospital in a city in the RS between September of 2010 and November of 2012. The aim of the study was to follow the route of admission to drug addiction by the use of crack social reintegration of a woman with 25 years old pregnant with her fifth child. This was first admitted in the maternity ward of the hospital and subsequently admitted compulsorily in a chemical detoxification unit. Occurred successions of accompaniments and referrals in order to transcend the strictly punctual care for uniqueness and subjectivity that involves humans. With the presented results it was observed that will need more knowledge about the "phenomenon" of crack use by professionals who work in chemical detoxification scenarios and effective public policies and specific laws that favor and encourage social reintegration after treatment chemical addicts. This study was approved by the Ethics Committee of Franciscan University and Research Centre under No. 279/2009. Eixo Temático 1: Atenção à Saúde da Mulher Descritores: Políticas Públicas; Equipe de enfermagem, Usuários de drogas. 1. INTRODUÇÃO No atual contexto, mesmo em um mundo globalizado, com acesso à Internet e informações chegando a todo instante, por meios de comunicação, torna-se 196 perceptível que adultos, jovens e crianças vêm se envolvendo cada vez mais com o uso de drogas, na maioria das vezes de forma impulsiva, por prazer ou até mesmo para desafiar as suas próprias forças. O uso de drogas vem sendo palco de discussões por várias décadas. No entanto, se agravou com o surgimento das drogas mais potentes e altamente devastadoras, destacando-se aí o crack, foco deste trabalho. Para melhor compreender a entrada desta droga no Brasil e seus efeitos será realizada uma breve retomada histórica. O crack entrou no país em meados de 1988, mais especificamente nas periferias da cidade de São Paulo. Essa droga, um subproduto da cocaína, disseminou-se rapidamente em vista de seu baixo custo, além de produzir efeitos mais intensos do que a cocaína (RIBEIRO, SANCHEZ; NAPPO, 2010). Em 1989 houve o primeiro relato de uso do crack no Brasil, mas somente em1991 ocorreu sua primeira apreensão, com a disseminação dessa droga surgiram as cracolândias em vários estados brasileiros. Em 2005, uma pesquisa revelou que pelo menos 0,7% dos adultos já havia usado crack, em 2006 foi publicada a lei sancionando o uso e o tráfico de drogas ilícitas, penalizando de forma mais efetiva os traficantes destas drogas ilícitas. Em 2010, o crack tornou-se alvo de discussões dos candidatos à presidência da república em suas campanhas eleitorais e em 2011, surge a polêmica da internação compulsória de dependentes químicos (SANCHES; PAGGI, 2011). O crack é um forte estimulante em nível de sistema nervoso central (SNC), visto que a sua ação está em bloquear a ação dos neurotransmissores ou tentar impedi-las, entre eles estão a norepinefrina, dopamina, serotonina, acetilcolina e o gaba (TIBA, 1999). As consequências do uso do crack estão atreladas a dificuldades respiratórias, desmaios, emagrecimento, dilatação das pupilas, bem como queimaduras nos lábios, dedos e face devido à proximidade da chama do isqueiro quando é queimada a pedra de crack. Este nome é advindo da mistura de 197 bicarbonato de sódio e pasta de cocaína, o qual endurece formando as chamadas “pedras”. Com essa mistura, a droga leva de cinco a dez segundos para atingir pulmões e o SNC, neste último agindo diretamente nos neurônios, tendo seu pico máximo de ação entre dois e três minutos (TIBA, 1999). Essa forte relação com os neurotransmissores está atrelada à dependência química (DQ), a qual é caracterizada como o impulso pelo uso da droga em busca da sensação de prazer e até o alívio de sensações desagradáveis e/ou medo (CEBRID). Vale lembrar, também, que o uso de drogas normalmente está associado às atividades ilícitas, como: furtos, roubos, tráfico, latrocínios, atitudes violentas e vulnerabilidade social (RIBEIRO, SANCHEZ; NAPPO, 2010). Uma vez identificada a dependência química, faz-se necessária a intervenção em busca de tratamento dentre eles tem-se clínicas de reabilitação e fazendas terapêuticas, ainda observa-se nesse processo, a importância do apoio familiar visto que em grande parte a DQ está atrelada a fatores psicológicos, sociais e espirituais (ARAGÃO; MILAGRES; FRIGLIE, 2009). Frente a essa problemática e com toda a informação que atualmente se tem a respeito das drogas, observa-se que as opiniões divergem quanto ao tipo de tratamento: de um lado questiona-se a liberdade de ir e vir, negando a internação compulsória, por outro lado, encontra-se a ansiedade por solucionar esta problemática, hoje caracterizada como problema de saúde pública. Com tudo, a internação compulsória irá depender da efetividade do acompanhamento após o tratamento, bem como a reinserção social dessas pessoas. Entre os depoimentos de dependentes químicos à revista Época, um deles chama atenção ao afirmar que a voluntariedade é o primeiro “passo” a efetividade do tratamento (SANCHES; PAGGI, 2011). Sob esta ótica observa-se que aliado ao tratamento do dependente químico, atitudes de inclusão social precisam estar atreladas, entendendo-se esta por reconhecimento e dignidade humana, deslocando o foco exclusivo da doença, trazendo-o para condição de cidadão (SARACENO, 2001). Objetiva-se com este 198 estudo etnografar o itinerário e as intervenções realizadas com uma gestante, usuária de crack desde o processo de desintoxicação química a reinserção social. 2. METODOLOGIA Para a presente pesquisa foi utilizada a etnografia, por esta ter como característica permitir ao autor descrever e interpretar determinada realidade, sem que com isso haja a pretensão de revelar verdades, mas procurar desvelar significados de determinados sujeitos e/ou relações vivenciadas (GEERTZ, 1989). Aliada à etnografia foi utilizada a pesquisa exploratória ou ensaística. Esse tipo de pesquisa permite a investigação de situações complexas pouco conhecidas, podendo ser em caráter teórico, histórico, cultural, etc. Para a realização desse estudo tornam-se necessários prazos mais longos e caminhos incertos, e isso se justifica por ele envolver a subjetividade, que possui em sua essência forte caráter descritivo (VASCONCELOS, 2007). A fim de atender os critérios éticos, foram respeitadas rigorosamente as recomendações da Resolução do Conselho Nacional de Saúde (CNS) nº 196/96, a qual preconiza a ética na pesquisa com seres humanos, levando em consideração o desenvolvimento da pesquisa e solicitação de autorização ao Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário Franciscano - UNIFRA, sob o número 279/2009. O estudo trata-se do itinerário de uma usuária de crack, gestante de aproximadamente 20 semanas, desde a internação em um hospital de médio porte em uma cidade do interior do RS até a reinserção social. Este itinerário ocorreu do mês de setembro do ano de 2010 ao mês de novembro do ano de 2012. A fim de preservar sua identidade foi utilizado o pseudônimo Pérola. A participante da pesquisa foi devidamente esclarecida quanto aos objetivos e o método do estudo, bem como teve assegurado o direito de livre acesso aos seus dados e à desistência de participação a qualquer momento, sem lhe acarretar danos ou prejuízos. O consentimento para este estudo foi por meio da leitura detalhada e, 199 posteriormente, a assinatura de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) garantido o sigilo quanto sua identidade. 3. DA INFÂNCIA AO USO DE CRACK Para melhor entendimento de algumas situações descritas torna-se válido conhecer parte da infância de Pérola, seus caminhos e descaminhos desde a infância, adolescência, juventude a vida adulta. Pérola nasceu na cidade de Porto Alegre/RS. Foi abandonada por sua mãe, nos primeiros anos de vida, sem possuir explicações, sendo criada por seu pai até os 7 anos de idade. Referiu que, por vezes, seu pai ficava ausente de casa por dias, sobrecaindo sobre seus ombros a responsabilidade por seus irmãos menores, os quais segundo Pérola requeriam cuidados especiais. Pérola aos poucos foi crescendo e muitas perguntas a inquietavam, começou a questionar seu pai quanto ao paradeiro de sua mãe, e ele sempre desconversava, porém dizia que um dia iriam se encontrar. O tempo foi passando e com ele se aproximando a fase escolar, Pérola lembra que seus colegas não interagiam com ela, pois não raras vezes estava com escabiose, se vestia “diferente” dos outros colegas. Seus calçados eram utilizados até o momento em que os dedos dos pés começavam a desacomodar-se dentro do sapato, consequentemente, criando lesões às quais a impossibilitavam de caminhar. “as crianças não brincavam comigo, ficavam no canto assim, eu brincava sozinha, pra mim foi bem difícil, sabe, mas eu era criança, né. Criança é criança,esquece, né, as coisas. Meu pai não comprava tênis, até hoje eu tenho marcas, porque meu pai não comprava calçado pra mim, então eu usava um calçado no meus pé, e ia pro colégio assim, oh! Depois, quando não aguentava mais de dor nos pés, ele abriu assim a ponta dos calçado, então, ah, no colégio eles riam de mim, me chamavam de piolhenta, de pobretona, aí faziam horrores comigo!” (Pérola) Aos 07 anos de idade Pérola foi levada para morar com sua mãe, esta já com filhos oriundos de outros relacionamentos. Em seguida sua mãe iniciou um novo relacionamento, que segundo Pérola, se tratava de um homem violento e agressivo, 200 tanto com ela quanto com sua mãe, quanto com seus irmãos. Pérola em algumas ocasiões refere que tentava intervir na violência que ocorria dentro de casa porém, nada que fizesse diminuia a violência física sofrida . “ele era ruim, ruim mesmo... ele bebia e chegava em casa e quebrava tudo, sabe....e minha mãe fazia tudo por ele” (Pérola) Dentre idas e vindas, em torno dos 13 e 14 anos de idade Pérola engravidou de seu primo, o qual não assumiu a paternidade, a criança nasceu com problemas de saúde sendo necessário internação em terapia intensiva. Pérola lembra que nessa época, conheceu uma amiga e começaram a sair juntas, faziam uso de “loló” e maconha. Em uma dessas saídas em grupos de interesse, Pérola começou a se envolver com um rapaz do grupo, o qual, até a época deste estudo, faz parte de sua vida. “... e eu comecei a cheirar loló junto com ela... tudo que ela fazia eu fazia... tudo que ela fazia pra mim era bom... nós saía tudo pra rua.” (Pérola) O rapaz que Pérola se envolveu também tinha uma infância marcada por violência e além disto o uso de drogas na família, drogas estas que também utilizava. Entre separações e reconciliações tiveram três filhos, Pérola salienta que utilizava drogas com seu companheiro, deixavam seus filhos em casa para consumir drogas. A partir de então iniciaram os furtos do casal, a fim de sustentar o vício, conforme relato a seguir: “no beco eu fumava direto, direto com ele, eu grávida do... Tinha um caminhão chamado... porque todo mundo que ia pra lá saía chapadão, né. E eu me enfiava naquele carro para fumar com o (companheiro). Foi quando o... me ensinou a roubar nos mercados... só que ele me ensinou isso no intuito de me usar, isso nunca me passou pela cabeça, hoje passa.” (Pérola) Passado alguns anos, o casal e dois filhos vieram morar na cidade onde ocorreu a pesquisa, segundo Pérola devido a promessas de melhoria de vida, a filha mais velha ficou com uma tia materna. A tão esperada mudança não ocorreu, seus filhos foram retirados de sua tutela pelo Conselho Tutelar local após denúncias. “eu nunca me esqueço, pareciam uns bichinhos, os pobrezinho, parecia uns bichinho, botava eles num canto, botava um pano no chão, botava eles num 201 canto e botava tudo as comida ali, sabe? Eles comiam ali felizes da vida.” (Pérola). “eles (CT) se apavoraram, até hoje eles dizem que nunca viram coisa parecida com aquilo. Quando eles entraram pela janelinha, meu filhos me viram e vieram correndo, porque eles sabiam que eu ia levar comida né.Vieram correndo assim na janela. E eles viram a situação, né. Minha filha tava pelada, sem roupa, o... todo sujo sabe? Eu dava banho nos meus filho numa torneira, eu botava eles embaixo ali e dava banho neles... Bah!, tudo uma sujeira, comida pelo chão, bem coisa assim, sub-humana.” (Pérola) Pérola na época da pesquisa, com 25 anos de idade, gestando seu quinto filho, com uma intensa ficha criminal por pequenos delitos, chegou ao hospital bastante debilitada, sua aparência enfraquecida apontava para a necessidade de cuidados específicos. Primeiamente foi encaminhada a maternidade onde permaneceu por cerca de 5 dias, após esse período foi encaminhada a unidade de desintoxicação química. No primeiro instante houve certa resistência à internação, logo chegou via judicial a internação compulsória, mas aos poucos Pérola foi compreendendo a proposta e consequentemente aceitando melhor o tratamento. 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES Com intuito de acolher Pérola, a equipe de colaboradores do hospital exerceu com seriedade o acolhimento, conforme preconiza a Política Nacional de Humanização (PNH). Com escuta atentiva a equipe interveio sabiamente, articulando redes internas e externas, garantindo-lhe a atenção integralizada (POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO, 2003). O cuidado de enfermagem deve estar atrelado às necessidades do ser humano, como ser integral, imbuído de crenças, valores e culturas, deslocando o foco exclusivo da doença, para o ser humano que a abriga (LEOPARDI, 1999). Com este pensamento foram realizadas algumas ações em prol do resgate da importância do autocuidado, da autonomia e do ser cidadão . Foi realizado um chá de bebê onde toda equipe e as pessoas internadas na unidade de desintoxicação se envolveram no evento, Pérola parecia não acreditar no que estava acontecendo. Por 202 sua inciativa começou participar de oficinas de espiritualidade onde fazia questão de participar em todos momentos, sempre articulava-se muito bem com toda equipe de colaboradores e pessoas internadas na unidade. Durante sua internação soube que tão logo nascesse seu filho este seria entregue a adoção, mesmo assim Pérola acreditava que conseguiria sua guarda, era o que manifestava em suas falas e a equipe acreditou e começou buscar formas de tentar resgatar o que ela havia perdido no decorrer de sua vida, quem sabe uma chance de cuidar deste filho. Foram sucessões de audiências afim de considerar a possibilidade de deixar Pérola cuidar deste filho, até a concessão da guarda. “A Pérola, ela... esse foi o quarto filho, se não me engano, terceiro ou quarto filho, e os outros filhos... os outros filhos dela,eles já haviam sido destituídos do poder familiar, retirados dos pais em função de uma série de negligências e violências que os filhos sofriam com a mãe e o pai, visto que também eram dependentes químicos, né. Tanto a Pérola como o... eram de dependentes químicos. Neste caso dessa criança que nasceu, com certeza foi determinante para que eu deferisse a guarda para que o bebê permanecesse com ela, foi o fato de ela ter se submetido ao tratamento de desintoxicação química na unidade... durante ao período de gestação ainda, né. Ela não aceitava, foi internada compulsoriamente, mas ela acabou ficando e foi de fundamental importância a preparação que os profissionais da casa de saúde realizaram no intuito de programar, planejar o futuro da Pérola, com o bebê, após a saída dela do tratamento. ...poderia resumir dizendo que o fato dos dois terem se submetido ao tratamento pra dependência química foi de crucial importância pro deferimento da guarda.” (Juíza da Infância e Adolescência) Deu-se início em outra fase, o resgate dos documentos de Pérola primeiramente, a certidão de nascimento, o que ocorreu por via judicial e posteriormente, foi encaminhada sua carteira de identidade. Conforme o relato a seguir, é possível observar a percepção do “ser cidadão” sob a ótica de Pérola. “Eu achei muito engraçado um dia, porque ela não tinha documento nenhum, não tinha certidão de nascimento, não tinha nada. E aí, quando a gente conseguiu a certidão de nascimento dela, via judicial, lá em Porto Alegre, e a gente foi fazer a documentação dela, ela ria e beijava o documento, e dizia ‘Agora eu existo... agora tenho identidade, tenho 203 certidão, tenho CPF, agora eu existo, até carteira de trabalho...”. Eu digo: sim, agora tu existe, porque antes eu não existia. Aí eu digo, não no papel,tu não existia. Interessante isso da forma como...’ Tu nem pensa nisso de que a pessoa tenha aquela questão de entender que não é formal perante a lei a existência dela, né? E foi bem bacana assim.” (Assistente Social) Em meio ao que ocorria, seu companheiro veio a procura de Pérola na unidade de internação para DQ, por vezes chegava nas visitas exalando álcool, a equipe mais uma vez interveio, por diversas vezes conversaram sobre uma possível internação, após várias tentativas foi possível interná-lo em uma Fazenda Terapêutica, pois compreendia-se o quanto Pérola e seu companheiro ainda estavam ligados. Em 23 de janeiro de 2011, Pérola deu a luz, mas as incertezas assolavam os pensamentos da equipe. Onde Pérola e seu filho iriam morar? Quem ofereceria a chance de Pérola se reinserir na sociedade? Após conversas com a administração do hospital, Pérola e seu filho foram autorizados a permanecer no local até conseguir moradia. Ficaram por 03 meses neste local, Pérola encaminhou sua carteira de trabalho e título eleitoral, documentos que ainda lhe faltavam. Sua primeira moradia foi no albergue municipal e a partir daí foram sucessões de mudanças de residências, até conseguir locar algumas peças onde foram morar. Por meio da subjetividade do ser humano torna-se possível perceber que o profissional enfermeiro deve aguçar não somente e exclusivamente a rotina do “fazer por fazer”, mas entender que o cuidado que é prestado permeia a técnica das relações interpessoais, as quais envolvem acolhimento e vínculo (PIRES; LEOPARDI, 1999). Percebendo a vontade de mudança de vida dessa família, a administração do hospital ofereceu uma oportunidade de emprego a Pérola em outro estabelecimento, também sob a sua administração. “bom, a Pérola ficou praticamente oito meses internada, né? E eu relutei muito com a atenção que estavam dando a ela, porque eu sabia que estava chegando a hora de dar alta e ela não teria para onde ir. Então me senti 204 corresponsável nesse momento, de achar uma forma dessa criatura poder sobreviver, e a forma que eu encontrei foi dar a oportunidade de emprego, tinha essa possibilidade então a gente apostou...” (Administradora do hospital) Observa-se, portanto, que a administração hospitalar agiu responsavelmente no sentido de promover a cidadania de Pérola. Vale lembrar, ainda, que empreender socialmente significa trazer a possibilidade de mudança na vida das pessoas, trazendo-as à condição de atores principais de sua história (MELO NETO; FROES, 2001). “A Pérola foi uma que... ela não tinha família, ela não tinha meio, porque ela tava totalmente perdida assim de apoio, né. E aí, quem foi o apoio dela? Foram as pessoas aqui de dentro. Se tu tem uma família desestruturada, mas tem uma pessoa que tem essa vontade que vai se esforçar, eu acredito que tenha chance de se recuperar. Agora, a maioria dos casos o que impede a recuperação é a posição da família, é uma coisa que eu acredito.” (enfermeira, responsável técnica do hospital) Morin (2000), salienta que conhecer determinada situação não traz nenhuma verdade com veemência, apenas dialoga-se com as incertezas. E mais uma vez as incertezas traziam desassossego, não havia a direção certa a seguir, apenas na desorganização dos pensamentos buscava-se uma nova organização. Era perceptível a vontade de mudança de vida que Pérola buscava, mas sabia que haviam situações com a justiça as quais deveria enfrentar. Entra-se portanto em um novo dilena: de um lado o Estado oferta o tratamento, de outro o mesmo pode levar o dependente ao cárcere tão logo complete seu tempo de internação. Sob essa ótica seria premente avaliar caso a caso, uma vez que se trata de seres humanos e, como tais, são únicos, dentro de uma esfera onde parece não haver distinção entre eles. ”Assim, oh! dependentes químicos eventualmente se envolvem com crime,né. Pra manter o vício, por uma série de situações, ou até em função de cometerem delitos, se envolverem em brigas no período que eles estão sobre efeito do crack, ficarem um pouco mais agressivos.Em algumas ocasiões, quando eles se envolvem com esse tipo de delito, eles precisam pagar uma pena para depois se submeterem a um tratamento. É super 205 complexo essa questão porque, nossa legislação, ela não entende que o dependente químico é incapaz de compreender o ilícito dos atos que ele pratica. Então ela não autoriza, por exemplo, que um dependente químico com um laudo médico nos autos dizendo que ele é dependente químico, que por isso ele deixe de, por exemplo, de cumprir uma pena de prisão né. Então ele terá que cumprir uma pena de prisão. Não acho que essa é a melhor forma, né. Até porque se sabe que nos presídios do mundo, do Brasil mais especialmente, em muitos casos as pessoas continuam consumindo drogas dentro do presídio, como nós sabemos que é o caso aqui de Santa Maria, né. Então o dependente químico entra no presídio e ele continua usando drogas, não está tratando o foco do problema, que é a dependência química. Ele vai sair, ele vai continuar estando dependente químico e muito provavelmente. se ele não se submeter a um tratamento, ele vai praticar novos delitos. Então eu acho que há um despreparo, assim, por parte da nossa legislação,e de modo geral há um despreparo no Brasil pra o atendimentos de dependentes químicos, né. Se pensa sempre que a repressão sozinha vai resolver o problema, mas são três eixos de trabalho e eles não podem se separar nunca. A repressão ao tráfico, ao tráfico, e não dos usuários. né. O tratamento pra os usuários e pra suas famílias, que ficam doentes junto com eles, e a prevenção, que é o antes de entrar no consumo. Se não tiver um trabalho intenso, no mesmo nível de intensidade nos três eixos, não me parece que vá haver uma solução adequada.” (Juíza da Infância e Juventude). No intuito de mudar uma cultura, torna-se necessário que instituições formadoras possam estimular seus acadêmicos a mudar essa realidade da “hiperespecialização”. Caso contrário, corre-se o risco de fragmentar o saber, ao invés de articulá-lo, compreendendo que o todo faz parte do indivíduo, assim como o indivíduo faz parte de um todo (MORIN, 2007). Com isso faz-se necessário uma reforma em nível de legislação assim como no preparo profissional para que o tratamento e a reinserção social possam andar juntos. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 206 Existe alguma certeza em relação aos métodos utilizados no que diz respeito a dependência química? Que tipo de tratamento é o ideal? Como essas pessoas poderão se reinserir na sociedade? Quem haverá de oportunizar o primeiro ou a volta ao emprego? Em relação a formação profissional, o que pensam nossos formadores, nossas universidades e escolas a respeito da temática? E ainda, o que estão fazendo concretamente para avançar na formação de profissionais capazes de fazer frente a tamanha complexidade social? Abordar a complexidade do “fenônemo do crack” significa transcorrer em redes de interseções e mergulhar no mais profundo desconhecido em busca de compreensão, sem com isso buscar verdades absolutas, significa transcender o cuidado pontual com foco exclusivo na doença e visualizar o ser humano dentro de um contexto, trazendo-o como co-responsável tanto pelo tatamento quanto pela sua reinserção social. Para tanto torna-se imprescindível, qualificação profissional além de legislação e políticas públicas efetivas que possam abranger a complexidade deste fenômeno. REFERÊNCIAS A Política do Ministério da Saúde para Atenção Integral a Usuários de Álcool e Outras Drogas/Ministério da Saúde. Secretaria Executiva, secretaria de Atenção a Saúde, CN-DST/AIDS. – Brasília,1º ed. –: Ministério da Saúde, 2003. ARAGAO, AntonioTeulberto Mesquita; MILAGRES, Elizabete; FIGLIE, NelianaBuzi. Qualidade de vida e desesperança em familiares de dependentes químicos.Itatiba, v. 14, n. 1,Apr. 2009. 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Trata-se de um recorte de caráter exploratório-descritivo da pesquisa qualitativa intitulada “fatores que interferem na escolha e no uso dos métodos contraceptivos”. Participaram do estudo 14 Mulheres do município de Rio Grande encaminhadas das Redes Básicas de Saúde de origem para o acompanhamento no grupo de planejamento familiar de um hospital dosul do Rio Grande do Sul. A coleta dos dados foi realizada através de entrevistasgravadas, guiadas através de um roteiro contendo perguntas abertas divididas em três focos. Para análise dos dados foi utilizado o software N Vivo 10. Após a inserção e codificação dos dados no software, estes foram agrupados em quatro categorias: métodos contraceptivos utilizados; determinantes na escolha e uso do método contraceptivo atual; métodos contraceptivos almejados e determinantes na escolha do método contraceptivo almejado. Grande parte das entrevistadas utilizavam adepoprovera® como contraceptivo atual. Os principais determinantes da escolha e uso foram a forma e as dificuldades de obtenção; forma de uso, orientações sobre o método, vantagens e desvantagens encontradas no uso. ________________ 1 Recorte do trabalho de conclusão do curso de enfermagem: Fatores que interferem na escolha e no uso dos métodos contraceptivos 2 Acadêmica de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande. Bolsista PET Enfermagem. Email: [email protected] 3 Enfermeira formada pela Universidade Federal do Rio Grande. E-mail: [email protected] 4 Acadêmica de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande. Bolsista PET Enfermagem. Email: [email protected] 209 5 Acadêmica de Enfermagem da Universade Federal do Rio Grande. Bolsista PET Enfermagem. Email: [email protected] 6 Acadêmica de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande. Bolsista PET Enfermagem. Email: [email protected] 7 Doutora em Enfermagem. Professora Titular da Escola de Enfermagem da FURG. Tutora PET Enfermagem. Líder do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Enfermagem, Gênero e Sociedade (GEPEGS). Email: [email protected] Os resultados evidenciaram que os fatores relacionados ao preço, a disponibilidade e as características dos métodos contraceptivos foram as principais influencias na escolha e no uso dos métodos. Portanto, é importante que os profissionais das Unidades Básicas de Saúde discutam com as usuárias as peculiaridades de cada método oferecido pelo sistema de saúde para que assim, realizem escolhas conscientes. Eixo Temático: Atenção à Saúde da Mulher Descritores: Planejamento familiar; Anticoncepção; Enfermagem. SUMMARY The study aimed to identify the contraceptive method most frequently used and evaluate the difficulties in obtaining and using the same. This is a clipping from exploratory-descriptive nature of qualitative research entitled Factors that interfere in the choice and use of contraceptive methods. The study included 14 women of Rio Grande forwarded the Basic Health Networks of origin for monitoring family planning group in a hospital in southern Rio Grande do Sul. Data collection was conducted through recorded interviews, guided by a script containing open questions divided into three focus. For data analysis, the 10 N Vivo software was used. After insertion, and encoding the data in software, these were grouped into four categories: used contraceptive methods; determinants in the choice and use of current contraceptive method; the desired contraceptive methods; determinants in choosing the desired method of contraception. Much of the participants used the depoprovera® as their current contraceptive. The main determinants in the choice and use were the way of obtainment, the difficulties of obtaining, the advantages, how to use, the guidance on the method, of use and the disadvantages encountered in use. The results showed that the factors related to price, availability and characteristics of contraceptive methods were the main influences in the choice and use of methods. Therefore, it is 210 important that the Basic Health Units provide explanations to users about the methods offered by the health system to that provided with information, accomplish conscious choices. Main Topic: Attention to Women's Health. Keywords: Family Planning; Contraception; Nursing. 1. INTRODUÇÃO O planejamento familiar contempla o conjunto de ações preventivas e educativas e a garantia do acesso igualitário às informações, meios, métodos e técnicas disponíveis para regulação da fecundidade (Lei 9.263/96). Esse tem como finalidade contribuir para a saúde da mulher, do homem e da criança tendo como princípio a paternidade responsável e o direito de livre escolha dos indivíduos e/ou casais de ter ou não filhos (BRASIL, 2002). Faz parte das ações da Política de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAINS) preconizada pelo Ministério da Saúde. Essa ação do PAINS torna acessível os meios de anticoncepção nos serviços públicos de saúde e regulamenta essas práticas na rede privada, sob o controle do Sistema Único de Saúde (SUS), sendo que, a assistência pública é a mais atuante no país (BRASIL, 2002). O Sistema Único de Saúde (SUS) é o órgão responsável pela distribuição dos métodos contraceptivos nas unidades básicas e hospitalares de saúde no Brasil. Atualmente as ações de anticoncepção do planejamento familiar são mais difundidas através das Unidades de Saúde da Família (USF). As USF têm um modelo de política pública de saúde que traz a proposta de trabalho da equipe multiprofissional, junto à comunidade e corresponde a uma das sete áreas prioritárias de intervenção na atenção básica (MOURA, et al., 2007; BRASIL, 2010). Para tornar mais eficiente o atendimento à população foi criado nas USF o grupo de Planejamento Familiar, no qual profissionais orientam mulheres e homens sobre a importância do mesmo e seus benefícios para a vida pessoal, social e 211 econômica do casal. A assistência à anticoncepção é uma das estratégias do SUS ofertada na Rede Básica. Através do grupo de Planejamento Familiar a população recebe os métodos contraceptivos disponíveis na unidade e a informação sobre as características e o uso. No entanto, nem todos estão disponíveis na Rede Básica de Saúde, por isso são encaminhadas as mulheres que desejam outros métodos contraceptivos para unidades de maior complexidade como hospitais e policlínicas públicas que possuem grupos de Planejamento Familiar e contemplam as ações do programa. 2. OBJETIVOS Identificar o método contraceptivo usado com maior freqüência por mulheres que freqüentam o grupo de planejamento familiar de um hospital do sul do Rio Grande do Sul. Conhecer as vantagens e desvantagens referidas por elas sobre o uso dos métodos contraceptivos usados e almejados. 3. METODOLOGIA Este trabalho é um recorte da pesquisa qualitativa intitulada “fatores que interferem na escolha e no uso dos métodos contraceptivos”. Trata-se de um estudo qualitativo com caráter exploratório-descritivo. Participaram 14 mulheres residentes no município do Rio Grande encaminhadas pelas Unidades Básicas de Saúde de origem para o acompanhamento no grupo de planejamento familiar de um hospital do extremo sul do Rio Grande do Sul. A coleta dos dados foi realizada entre os meses de maio e junho de 2014, após a aprovação do projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande (CEPAS/FURG) sob o parecer 032/2014. As entrevistas foram gravadas, guiadas através de um roteiro contendo perguntas abertas divididas em três focos. O primeiro investigou os dados demográficos, o segundo abordou os fatores que interferiram na escolha e no uso do 212 método contraceptivo atual e o terceiro enfocou nos fatores que interferiram na escolha do método contraceptivo almejado pela cliente. Adotou-se a técnica de análise de conteúdo para o tratamento dos dados , a qual foi efetuada com a utilização do software N Vivo 10. Esse trabalha com os chamados de nós que se igualam às mensagens extraídas das fontes de informação/ emissores, assim são gerados durante o processo de análise as categorias de informações que são armazenadas em um banco de dados (BRINGER; JOHNSTON; BRACKNRIDGE, 2006). 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES Os resultados foram apresentados em duas etapas. Na primeira, procurouse caracterizar as participantes a partir dos atributos; idade, ocupação, situação conjugal, renda familiar e a Unidade Básica de Saúde de origem. Na segunda etapa, as categorias analíticas foram construídas a partir dessa análise, sendo estas: “Métodos contraceptivos utilizados”; “Determinantes da escolha e uso do método contraceptivo atual”; “Métodos contraceptivos almejados” e “Determinantes da escolha do método contraceptivo almejado”. Para a identificação das entrevistadas, com vistas a manter o anonimato, optou-se por atribuir para cada uma delas as letras “UBS” e “USF” seguido do número referente à ordem cronológica da entrevista. A partir da codificação das respostas foram construídas categorias prévias denominadas Free nós, após isso estes foram reagrupados dando origem às categorias analíticas os Tree nós. A primeira categoria referiu-se ao método atualmente utilizado pelas entrevistadas. A segunda foi formada através dos Free nós; a forma de obtenção do método contraceptivo atual, dificuldades enfrentadas no acesso ao método contraceptivo atual, vantagens e desvantagens do método contraceptivo atual. Nesse trabalho foram apresentadas as categorias relacionadas aos métodos contraceptivos utilizados 213 Um dos recursos do software NVivo 10 é a apresentação dos resultados sob forma de nuvem. Essa dimensiona a palavra de acordo com sua frequência. Assim, quanto maior o desenho gráfico da palavra, mais vezes ela foi citada. A nuvem a seguir evidencia que o método mais citado foi a depoprovera. Figura 1: Métodos contraceptivos utilizados pelas participantes deste estudo Fonte: Pesquisa sobre fatores que interferem na escolha e no uso dos métodos contraceptivos. 2014. O termo “Depoprovera®” apareceu em maior destaque na nuvem de palavras em virtude de sua frequência apresentada pelo programa, que foi de (07) 50,00%. Observa-se, em menor destaque os termos pílula (contraceptivo hormonal oral) com (04) 28,57% e o preservativo masculino com (03) 21,42% de escolha, sendo que apenas (02) 14,30% das participantes utilizavam o preservativo masculino em associação com outro método. Diferentemente do resultado deste estudo, o Relatório Sociodemográfico feminino que buscou investigar informações acerca da saúde social e reprodutiva feminina, realizado no ano de 2011 com 195,2 milhões de pessoas, das quais 100 milhões eram mulheres, revelou que das 67,8% mulheres que utilizaram algum método contraceptivo, 22,1% optaram pela pílula e apenas 7,7% preferiram o contraceptivo hormonal injetável. Este estudo também revelou que o uso do preservativo masculino teve apenas 13% de aceitabilidade, sendo considerado um percentual baixo, tendo em vista que este evita gestações não-planejadas e previne a transmissão de doenças sexualmente transmissíveis (BRASIL, 2013). 214 Em relação aos determinantes da escolha e uso do método contraceptivo atual, foram mencionados a forma de obtenção, incluindo as dificuldades encontradas para obtê-lo, as vantagens do mesmo, a orientação sobre o método e as desvantagens encontradas no uso. Quando indagadas acerca das vantagens oferecidas pelo método contraceptivo atualmente utilizado, elas mencionaram desde a praticidade até a proteção contra doenças sexualmente transmissíveis. A visualização pode ser feita no esquema abaixo. Figura 3: Vantagens do método contraceptivo atual Fonte: Pesquisa sobre fatores que interferem na escolha e no uso dos métodos contraceptivos. 2014. Quanto às vantagens proporcionadas pelo método contraceptivo atual, cinco mencionaram que o injetável lhes trouxe maior segurança, por ser trimestral, o que diminuiu o risco de esquecimento, além de produzir menos efeitos colaterais. Para três participantes a facilidade do uso foi considerada uma vantagem. “(...) tenho outro filho pequeno ficou mais fácil, porque eu sempre acabo esquecendo de tomar a pílula, por isso eu engravidei tomando a pílula.” (USF05) 215 “O que me motivou a usar a depoprovera® é que ela não causa dor de estomago nem dor de cabeça, eu tomava a pílula e vomitava, me sentia muito mal.” (UBS10) Outras quatro 28, 54% entrevistadas referiram que os contraceptivos orais lhes causaram menos efeitos colaterais. “A outra pílula que eu tomava me fazia mal. A que eu tomo agora não me causa mal-estar” (USF04) Em relação à proteção contra doenças sexualmente transmissíveis, apenas uma participante mencionou-a como vantagem conferida pelo preservativo masculino. “(...) a camisinha eu uso às vezes (...), acho que protege contra as doenças” (USF 06) A característica mais marcante dos métodos contraceptivos hormonais orais é a facilidade de uso, embora o maior problema seja a necessidade de ingestão diária que resulta em esquecimento freqüente, com aumento da taxa de falha contraceptiva. Dessa forma o contraceptivo hormonal injetável torna-se mais vantajoso, pois não necessita de uma rotina diária de aplicação, e sim mensal ou trimestral ( BRASIL, 2010; OSIS, 2006). A análise dos relatos das participantes revelou que aquelas que faziam uso de contraceptivos injetáveis mencionaram menores efeitos adversos. O contraceptivo hormonal injetável é constituído apenas de progestagenos, por isso os efeitos colaterais são reduzidos. Os contraceptivos hormonais tanto de uso oral quanto na injetável são constituídos de estrogênio e progestogênio, podendo provocar maiores efeitos colaterais na usuárias(TRUSSELL, 2007). Em relação ao preservativo masculino e a proteção contra DST’s, Madureira, Marques e Jardim (2010) referem que é fundamental o conhecimento sobre os métodos contraceptivos e os riscos advindos de relações sexuais desprotegidas. A informação possibilita o exercício da sexualidade, de forma consciente, prevenindo uma gravidez não-planejada bem como doenças sexualmente transmissíveis (BRASIL, 2013). 216 Quanto às desvantagens dos métodos contraceptivos atuais, foram citados desde problemas de ordem pessoal até as escolhas do parceiro, como se pode observar no esquema a seguir. Figura 4: Desvantagens do método contraceptivo atual Fonte: Pesquisa sobre fatores que interferem na escolha e no uso dos métodos contraceptivos 2014. Dentre as desvantagens citadas, quatro participantes 28,57% referiram dores de cabeça, mal-estar, náusea e vômito ao usarem a pílula, o que resultou em inúmeras trocas de vezes o anticoncepcional. Percebe-se que, mais uma vez, os efeitos colaterais constituíram fatores que dificultaram o uso e adaptação aos contraceptivos. “(...) É, não me faz bem. Quando eu vou engolir, parece que não desce...” (USF02) “(...) me adaptei super bem a esse anticoncepcional, mas de uns meses pra cá começou a me dar muito enjoo, me disseram também que o cigarro junto ao anticoncepcional podia me dar um derrame ou infarto”. (USF01) 217 A ausência de quaisquer efeitos secundários adversos seria a condição ideal, mas ainda não é uma realidade comum a todos contraceptivos até os dias atuais. No entanto, é também verdade que determinados métodos ocasionam mais efeitos secundários adversos que outros, sendo direito das usuárias serem corretamente informadas a respeito dessas diferenças. Nesse caso, os contraceptivos hormonais orais, são os que resultam em mais efeitos colaterais. (LUBIANCA e WANNMACHER, 2011). Em uma investigação realizada nos Estados Unidos foi encontrado que 37% das usuárias de contraceptivos orais descontinuaram o uso, referindo como motivo os efeitos adversos; mudanças menstruais, cefaléia, náusea e mal-estar (CARVALHO; SCHOR (2005). Outro estudo desenvolvido em diversos países mostrou que entre as usuárias de anticoncepcionais orais, as taxas de abandono ou troca por outro método, no ano anterior à entrevista, foi de 81% e troca de método por eventos adversos foi de 57% (PIERRE; CLAPIS, 2010). Dados similares foram observados no Brasil onde 45% das usuárias de anticoncepcionais hormonais orais descontinuaram o uso nos primeiros 12 meses, sendo 12% por eventos adversos. Esta proporção é maior para injetáveis (64%) (PIERRE; CLAPIS, 2010). Os anticoncepcionais orais com menor dose de estrogênio foram desenvolvidos com o intuito de minimizar os efeitos adversos e aumentar as taxas de continuidade no entanto, dados epidemiológicos recentes evidenciam que isso não ocorreu (YAMAMOTTO, 2012). O esquecimento da ingestão da pílula foi mencionado por outras duas mulheres, fato este que as incomodava e dificultava o uso. Por esse motivo optaram pela troca de contraceptivo. Outro fator que influenciou negativamente no uso do contraceptivo foi a aversão do parceiro sexual ao preservativo masculino que foi referida por duas participantes, o que ocasionou o não uso desse método. “(...) meu marido tem um problema com a camisinha, ele não gosta porque é ruim de colocar e já estourou uma vês.” (USF06) 218 Segundo Schall, (2000) os casais geralmente não negociam o uso do preservativo, já que isto estaria pondo em dúvida a fidelidade de ambos, além disso, a mulher ainda está na posição reprimida e jamais deverá portar o preservativo consigo, mantendo-se calada para não provocar desconfiança do companheiro. Segundo Gilliam e McCarthy (2004) a rotina diária de ingestão do contraceptivo hormonal oral exige atenção por parte da mulher que deve adotar um esquema que, nas pílulas monofásicas, em geral é de 21 pílulas seguidas de sete dias de descanso, devendo evitar o esquecimento da ingestão e também o dia de reinício do ciclo de pílulas. Isto tem levado a taxas de falha maiores que as esperadas, chegando a quase 8%, ao ano. Estudo transversal realizado em diversos países, evidenciou que 67% das mulheres entrevistadas admitiram ter esquecido alguma pílula ou usado o ciclo de forma errada nos três meses anteriores. “Eu tentei tomar sempre no mesmo horário, mas nunca deu certo. Sempre esqueço de tomar. As vezes tomo mais cedo ou mais tarde é bem complicado, porque me confundo até com os remédios da pressão e me dá dor de estômago também...” (USF 06) “Tenho dificuldade para usar, porque já engravidei duas vezes com a pílula, esqueço de tomar e tenho dor de cabeça.” (USF 13) As dificuldades que as mulheres enfrentaram para o correto uso refletiu na eficácia e na efetividade dos métodos contraceptivos., o que pode resultar por sua vez em baixas taxas de continuação a longo prazo. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Através do estudo pode-se observar que o método contraceptivo usado com maior frequência é o Depoprovera®, seguido pelo anticoncepcional oral e camisinha masculina. No entanto, foram relatadas dificuldades na obtenção de alguns métodos, como o anticoncepcional oral e o injetável, o primeiro devido à exigência de prescrição médica para adquiri-lo principalmente nas UBS e o segundo pela não disponibilidade na unidade. Outras desvantagens citadas pelas participantes foram 219 os efeitos colaterais causados pela pílula, levando à escolha do contraceptivo injetável. Ressalta-se a importância do grupo de planejamento familiar nas USF, pois através dele podem ser discutidas as indicações, contra-indicações, vantagens, desvantagens e efeitos colaterais de cada método, para assim, direcionar à escolha consciente das usuárias. Faz-se ainda necessária uma melhor estruturação nas Unidades de Saúde, para que seja ampliada a disponibilização de métodos contraceptivos e dos grupos de discussão, tornando as mulheres mais seguras na escolha e uso dos mesmos, visando não só a prevenção de doenças como o bemestar da comunidade. 6. REFERÊNCIAS BARDIN, L. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70,2011, 229p BRASIL. Ministério da Saúde. Assistência em Planejamento Familiar: Manual Técnico/Secretaria de Políticas de Saúde, Área Técnica de Saúde da Mulher – 4a edição – Brasília: Ministério da Saúde, 2002. Disponível em <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/0102assistencia1.pdf >, acesso em 03/01/2014. ________.Ministério da Saúde. Direitos Sexuais e Direitos reprodutivos: uma prioridade do governo. Brasília, DF, 2010. Disponível em <"http://189.28.128.100/dab/docs/publicacoes/cadernos_ab/abcad26.pdf"189.28.128. 100 >, acesso em 03/01/2014. _______. Relatório anual socioeconômico da mulher. 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Os dados foram coletados em setembro de 2014 utilizando as bases de dados LILACS e BDEnf, em conformidade com critérios de inclusão previamente estabelecidos. RESULTADOS: a amostra final foi constituída por dez estudos, que mostraram de forma geral dificuldades na assistência de enfermagem a mulher climatérica nas diferentes alterações vivenciadas. CONCLUSÃO: Há necessidade de realizar novas pesquisas acerca do climatério que servirão como base científica para a assistência a ser prestada. Eixo Temático: Atenção à Saúde da Mulher Descritores: Climatério; Cuidados de enfermagem; Saúde da mulher. 1 Acadêmica de Enfermagem da sétima série do Curso de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande - FURG. E-mail: [email protected] 2 Acadêmica de Enfermagem da sétima série do Curso de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande - FURG. E-mail: [email protected]@hotmail.com 3 Acadêmica de Enfermagem da sétima série do Curso de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande - FURG. E-mail: [email protected] 4 Acadêmica de Enfermagem da sétima série do Curso de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande - FURG. E-mail: [email protected] 5 Professora Doutora Enfermeira da Universidade Federal do Rio Grande - FURG. E-mail: [email protected] 6 Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora da Universidade Federal do Rio Grande - FURG. E-mail: [email protected] 222 ABSTRACT OBJECTIVE: Analyze the national scientific production of nursing about the women in menopause. METHOD: bibliographic, descriptive study using the method of integrative literature review. Data were collected in September 2014 using the LILACS and BDEnf data in accordance with previously established inclusion criteria. RESULTS: The final sample consisted of ten studies, which showed generally difficulties in nursing care in climacteric women experienced different changes. CONCLUSION: There is a need to conduct further research about the menopause to serve as scientific basis for the assistance to be provided. Main Topic: Health Care of Women Keywords: Climacteric; Nursing care; Women's health. 1. INTRODUÇÃO A saúde da mulher, no Brasil, foi incorporada às políticas nacionais no início do século XX e a atenção à saúde deste grupo populacional vem seguindo um processo de evolução no qual os antecedentes podem ser considerados a partir da década de 70. Neste período, o Ministério da Saúde adotava uma concepção mais restrita da saúde da mulher, que se limitava à saúde materna ou à ausência de agravos associados à reprodução biológica (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2008). Na década de 1980 ocorreu o lançamento do documento “Assistência Integral à Saúde da Mulher: bases de ação programática”, que serviu de apoio para o Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher, o PAISM, elaborado pelo Ministério da Saúde em 1983 e publicado em 1984. Dentro dessa perspectiva passaram a ser desenvolvidas, em diversos estados da federação, atividades de capacitação em atenção integral à saúde da mulher e em alguns deles, ações de saúde específicas direcionadas às mulheres no climatério. Nesse contexto, em 1994, 223 foi lançada pelo Ministério da Saúde a Norma de Assistência ao Climatério (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2008). O climatério é definido pela Organização Mundial da Saúde como uma fase biológica da vida e não um processo patológico, que compreende a transição entre o período reprodutivo e o não reprodutivo da vida da mulher. A menopausa é um marco dessa fase, correspondendo ao último ciclo menstrual, somente reconhecida depois de passados 12 meses da sua ocorrência e acontece geralmente em torno dos 48 aos 50 anos de idade (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2008). Este período é caracterizado pelas mudanças hormonais (diminuição de estrogênio e progesterona), alterações vaginais e pela menopausa. Há também repercussões clínicas como a síndrome climatérica, que é o conjunto de sinais e sintomas que provocam fogachos, suores, sufocações, vaginite atrófica, prurido vulvar, dor na penetração peniana, alterações na libido, “nervosismo”, fadiga, choro e medo, pele seca e pouco elástica, problemas com os cabelos, sensação de bexiga cheia, alterações de memória, problemas osteomusculares e cardiovasculares (SOUSA et al., 2011). O climatério não é uma doença e sim uma fase natural da vida da mulher e muitas passam por ela sem queixas ou necessidade de medicamentos. Outras têm sintomas que variam na sua diversidade e intensidade. No entanto, em ambos os casos, é fundamental que haja, nessa fase da vida, um acompanhamento sistemático visando à promoção da saúde, o diagnóstico precoce, o tratamento imediato dos agravos e a prevenção de danos (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2008). Por esta razão é imprescindível que os profissionais tenham conhecimento suficiente para lidar com esta clientela e auxiliá-las a passar por esse momento da melhor forma possível. Uma das intervenções consideradas como necessárias para orientar as mulheres sobre essa nova etapa de suas vidas é a educação em saúde pensada como sendo um dispositivo essencial para a promoção da saúde e a prevenção de doenças (SILVA et al., 2012). 224 Nesse sentido, é imprescindível que a enfermagem, que tem sido considerada ao longo de sua história, como uma arte e uma ciência (ORSHAN, 2010) domine essa temática do climatério de forma a desenvolver educação em saúde com as mulheres nesse período. O enfermeiro necessita de domínio científico para embasar suas práticas e atuar como educador de saúde junto à mulher e aos seus familiares e/ou cuidadores. Precisa estar atento à necessidade de cada uma e seu contexto, a fim de manter e melhorar a sua saúde, pautado no conhecimento acerca das transformações do ciclo de vida das mulheres para um atendimento de enfermagem com competência e excelência. Nesse contexto, se insere este estudo, que se justifica pela necessidade dos profissionais estarem em atualização constante e construção de conhecimentos visando prestar um melhor atendimento às mulheres, de acordo com os princípios e diretrizes do Ministério da Saúde. A relevância do estudo para a enfermagem diz respeito à capacidade de se conhecer melhor a temática proposta bem como prestar uma melhor assistência com cuidados específicos voltados para o público estudado. 2. OBJETIVO Analisar a produção científica nacional da enfermagem acerca da mulher no climatério. 3. METODOLOGIA Estudo bibliográfico de caráter descritivo utilizando o método da revisão integrativa da literatura para coleta e análise dos dados. A revisão integrativa da literatura tem a finalidade de reunir e sintetizar resultados de pesquisas sobre um delimitado tema ou questão, de maneira sistemática e ordenada, contribuindo para o aprofundamento do conhecimento do tema investigado. Desde 1980 a revisão integrativa é relatada na literatura como método de pesquisa (ROMAN, FRIEDLANDER, 1998). Para tanto, foram observadas as seguintes etapas: 225 elaboração da pergunta norteadora; busca ou amostragem na literatura; coleta de dados; análise crítica dos estudos incluídos; discussão dos resultados e apresentação da revisão/síntese do conhecimento (SOUZA, SILVA, CARVALHO, 2010). Os dados foram coletados em setembro de 2014 e para o levantamento dos mesmos foi utilizada como bases de dados a base de dados Literatura LatinoAmericana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Bases de Dados de Enfermagem (BDENF). Como estratégias de busca, foram utilizados descritores de assunto contidos nos Descritores em Ciências da Saúde – DeCS, a saber: Climatério, Cuidados de Enfermagem, Saúde da mulher. Os descritores foram combinados nas seguintes formas: Climatério AND Cuidados de Enfermagem; Climatério AND Saúde da mulher; Cuidados de Enfermagem AND Saúde da mulher. Delineou-se como critérios de elegibilidade: estudos completos publicados em português, nos últimos dez anos, apresentando o cuidado de enfermagem direto e/ou indireto à mulher no climatério como objeto de estudo. Foi excluída, automaticamente, toda produção duplicada e não relacionada com o propósito do estudo. Buscando alcançar uma adequada captação e organização dos dados foi elaborado um instrumento contendo as seguintes variáveis: ano, base de dados, título, categoria profissional dos autores, tipo de estudo/abordagem, objetivo, resultados e conclusão. Os estudos foram analisados criticamente por meio de leitura na íntegra. 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES O presente estudo foi constituído por dez estudos que atenderam aos critérios de inclusão previamente estabelecidos, sendo sete da BDENF e três da LILACS. A apresentação dos dados e discussão dos resultados é feita de forma descritiva embasada na literatura adequada ao assunto almejando atender ao objetivo do estudo. A maioria das publicações é de autoria de enfermeiros e graduandos de 226 enfermagem posto que o objetivo do estudo esteja voltado à área da enfermagem. Considera-se de suma importância o incentivo aos graduandos acerca da realização de pesquisa na área e da ligação direta entre pesquisa e assistência. Quanto ao ano de publicação, três estudos foram publicados no ano de 2008, quatro estudos foram publicados em 2009, um em 2010, um em 2011 e, mais um em 2012. A maioria foi de abordagem qualitativa, mas encontraram-se duas publicações com abordagem quantitativa e uma de caráter quanti-qualitativo. Entre os artigos estudados, há dados sobre a mortalidade em mulheres brasileiras no climatério. O artigo foi construído através da coleta de dados de mortalidade do Sistema de Informações de Mortalidade do Datasus, Ministério da Saúde, no período de 1979 a 2004. Até o ano de 1995 as causas de morte foram registradas de acordo com a 9ª. Revisão da Classificação Internacional das Doenças - CID 9. A partir do ano de 1996, os dados foram registrados seguindo a 10ª. Revisão da Classificação Internacional das Doenças - CID 10.10. As dez primeiras causas de morte, segundo os capítulos da CID 9 e 10 no Brasil, para as mulheres estudadas de 1979 a 2004 foram em ordem decrescente: doenças do aparelho circulatório, neoplasias, afecções mal definidas, doenças do aparelho respiratório, causas externas, doenças do aparelho digestivo, doenças infecciosas e parasitárias, doenças endócrinas nutricionais e metabólicas, doenças do aparelho geniturinário e sistema nervoso. Ao analisar os coeficientes de mortalidade segundo cada década do climatério, todas as causas de morte aumentaram com o acréscimo de idade, com maior evidência para as neoplasias e doenças do aparelho circulatório (LEITE et al. 2012). Através da leitura dos artigos foi possível encontrar fatores comuns e correlacionados no que tange ao climatério e à assistência de enfermagem voltada para as mulheres que vivenciam este período. O desconhecimento do conceito verdadeiro de climatério se mostrou expressivo. O climatério é uma fase ancorada em tabus e enigmas, sendo temida e estigmatizada pela sociedade e é escassa a produção de conhecimento sobre as ações desenvolvidas por profissionais em unidades básicas de saúde no que se refere ao tema. 227 Percebe-se, ainda, o desconhecimento sobre o assunto com deficiência de informações – algumas mulheres relacionam climatério à menopausa e outras nunca ouviram falar neste termo. Cefaléia, estresse, cansaço, secura vaginal e com ela a dispaneuria, ondas de calor insuportáveis, tristeza e depressão podem ser observados nessas mulheres. Mesmo com todas essas mudanças, a maioria das mulheres aceita a fase do climatério como um processo natural, dispensando, desta forma a medicalização. Segundo Lima et al. (2001), mesmo com esse conformismo, a população feminina mostra-se desinformada em relação ao climatério, sendo que as mesmas demonstram interesse em conhecer mais sobre esse novo momento na fase de suas vidas para buscarem soluções e estratégias para seus problemas potenciais, de saúde e o resgate da qualidade de vida. O reconhecimento dos sintomas do climatério é presente na maioria das falas de mulheres climatéricas, relacionando-os com este período da vida, entretanto, a percepção da relação dos sintomas com as mudanças na qualidade de vida nem sempre é percebida e compreendida. O climatério é, portanto, um processo de mudanças físicas e emocionais para a mulher, que ainda recebe a influência de múltiplos fatores: sua história de vida pessoal e familiar, seu ambiente, cultura, costumes, as particularidades pessoais, psiquismo, dentre outros. Assim, o climatério afeta cada uma das mulheres de modo diferente, repercutindo nos seus sentimentos e na sua qualidade de vida (FREITAS, SILVA, SILVA, 2004). A maioria dos sintomas causa sensações negativas e que contribuem para o declínio da autoestima. Dentre as alterações que trazem incômodo, foi possível destacar: a irregularidade menstrual; diminuição da libido; insônia; irritabilidade; sensibilidade; envelhecimento; depressão; incompreensão; ondas de calor (fogachos) (PEREIRA, SIQUEIRA, 2009). Entretanto, também foram identificados fatores positivos presentes na vida das mulheres climatéricas. No período que se segue à menopausa, em consequência da finitude natural do período fértil, muitas mulheres afirmam ter muito mais prazer em sua vida sexual, porque não mais se preocupam com a possibilidade de engravidar. O aumento da libido em algumas climatéricas pode ser atribuído ao fato de se sentirem livres e valorizadas para 228 manter relações sexuais somente por prazer, pois a atividade sexual, nessa fase, envolve exclusivamente a relação intima, e não mais a dimensão reprodutora (LOUREIRO, 2004). As mudanças fisiológicas do climatério trazem consigo alterações psicológicas não compreendidas e menosprezadas pelas mulheres, reduzindo a busca por ajuda. No climatério, as mulheres tendem a atribuir indiscriminadamente à menopausa tanto os sintomas relacionados à carência estrogênica, como as queixas físicas ou emocionais decorrentes de eventuais estados mórbidos prévios, confundindo-as (HUNTER,1993). As mulheres necessitam, além de esclarecimento sobre o que acontece com o corpo em mudança, de oportunidades para discutir a ambiguidade entre os estereótipos culturais da mulher climatérica e suas experiências pessoais. (BERNI, LUZ, KOHLRAUSCH, 2007). Nesse contexto, a sexualidade merece particular atenção no climatério. Esta é reconhecida como um dos pilares da qualidade de vida, porém, a sua abordagem nem sempre é feita adequadamente por constrangimento das mulheres ou despreparo dos próprios profissionais de saúde em lidar com essa questão. Além disso, conforme lembrado por Favarato (2000), a sexualidade teria um caráter multidimensional, sendo influenciada por fatores psicossociais e culturais, em especial por relacionamentos interpessoais e experiências de vida, não se restringindo a fatores anatômicos e hormonais. Entre 25% e 33% das mulheres entre 35 e 59 anos apresentam disfunções sexuais, podendo chegar a 75% entre os 60 e 65 anos. Além das dificuldades decorrentes da atrofia urogenital, a mulher climatérica tem de lidar com as mudanças físicas decorrentes do envelhecimento simbolizadas pela menopausa, que podem comprometer a percepção da sua autoimagem corporal, diminuindo a sua autoestima e interferindo negativamente na sua libido. Entre as mulheres que vivenciam mais positivamente o climatério, as repercussões na esfera sexual parecem ser menos intensas (FAVARATO et al, 2000). Outro fator de destaque é o aumento das comorbidades no período de climatério e na posterior menopausa. O ganho ponderal excessivo é frequentemente 229 relatado pelas mulheres após a menopausa, o que merece atenção não apenas pela questão estética, mas sim pelas implicações no risco cardiovascular e na gênese do câncer de mama, endométrio e cólon. No climatério, o ganho ponderal chega a 0,8 Kg/ano; porém, após a menopausa, pode haver um aumento de 20% na gordura corporal. A carência estrogênica contribuiria principalmente para o acúmulo de gordura abdominal (DE LORENZI et al. 2005). Das comorbidades associadas ao hipoestrogenismo climatérico, merece destaque a osteoporose e a maior incidência de doenças cardiovasculares. Após a menopausa, a velocidade de perda óssea pode chegar a 2% ao ano. Após a menopausa, com a queda dos níveis de estradiol, o risco cardiovascular feminino aumenta progressivamente (BASSAN, 1999). No Brasil, no ano de 2000, a doença cardiovascular isquêmica levou ao óbito 32.936 mulheres, enquanto que o câncer de mama foi responsável por 8.308 óbitos (DE LORENZI, BARACAT, 2005). Cabe ressaltar que a presença de fatores de risco como tabagismo, etilismo, sobrepeso, sedentarismo e também doenças crônicas, contribui para o aumento das comorbidades. O exercício físico atuaria estimulando a secreção de substâncias que promovem a sensação de bem estar e contribuem para a estabilização da termorregulação hipotalâmica (LIAO, HUNTER 1998). De acordo com Ueda et. al. (2000), a atividade física regular contribui também para a preservação da mobilidade articular e o fortalecimento muscular, melhorando a coordenação motora. Além disso, aumenta a densidade mineral óssea, melhora a capacidade respiratória e o perfil lipídico, diminui a frequência cardíaca de repouso e a gordura corporal, além de normalizar a pressão arterial, contribuindo assim para uma menor incidência de comorbidades ósseas e cardiovasculares. Ademais, melhora a imagem corporal da mulher, aumentando a sua autoestima e a disponibilidade para o exercício afetivosexual (DE LORENZI, BARACAT, 2005). O tabagismo, em especial, tem se mostrado extremamente nocivo à mulher climatérica, contribuindo para uma maior deterioração da sua qualidade de vida, devendo ser combatido nessa fase. Os seus malefícios incluem a doença broncopulmonar obstrutiva crônica, o câncer de pulmão e o maior risco cardiovascular. 230 Corrêa et al. (2003), referem que a nicotina estimula ainda a secreção de serotina e de dopamina, causando ansiedade e até euforia, além de interferir na globulina carreadora de estrogênio, agravando os sintomas climatéricos e o risco de osteoporose. A Terapia de Reposição Hormonal (TRH) é um tema fundamental trazido na maioria dos artigos. As estimativas indicavam aumento do risco de doença cardiovascular e de câncer de mama entre as usuárias de estrógenos com progestágenos. Atualmente, existem diversas formulações de TRH que variam em relação ao tipo de composto e via de administração. A escolha do composto mais adequado deve ser individualizada, objetivando minimizar os possíveis riscos associados à administração hormonal exógena. Em relação às contra indicações absolutas, a TRH oral e transdérmica apresentam as mesmas características: câncer de mama, ovário e endométrio; antecedentes de trombose arterial e venosa; sangramento de origem uterina de causa desconhecida; hepatopatia em atividade; lúpus eritematoso sistêmico em atividade; Diabetes melitus 2 (DM2) e Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) descompensados (GRINGS, 2009). Segundo De Lorenzi e Baracat (2009), até recentemente, a assistência à mulher climatérica centrava-se principalmente na terapia hormonal. Entretanto, a partir de 2002, a publicação dos resultados dos estudos conhecidos por WHI (Women’s Health Initiative), houve uma sensível redução na sua prescrição (DE LORENZI, BARACAT, 2005). Os achados do estudo WHI apontaram para um risco significativo maior para eventos tromboembólicos e câncer de mama, respectivamente, no final do primeiro e após o quinto ano do uso contínuo de estrógenos conjugados equinos associados a acetato de medroxiprogesterona, quando comparado com um grupo controle sem qualquer medicação hormonal. As indicações da terapia hormonal tornaram-se restritas ao alívio dos sintomas vasomotores e da atrofia urogenital e na prevenção da osteoporose. Uma revisão do próprio estudo WHI demonstrou que a terapia hormonal teria um efeito de proteção cardiovascular quando iniciada nos primeiros dez anos após a menopausa, quando o processo de aterosclerose ainda é inicial (MEHDELSOHN, KARAS, 2007). 231 No entanto, a despeito destes estudos, até o momento a prescrição ampla de estrógenos no climatério permanece não recomendada (SOBRAC, 2003). Para as mulheres, a mudança de comportamento em relação à prescrição da terapia hormonal tem sido difícil de compreender, gerando indagações e até desconfianças acerca dos seus motivos. Anteriormente, a terapia hormonal representava uma resposta aos anseios das mulheres em promover a sua saúde nos anos que se seguiam a menopausa. Vale lembrar que nessa fase, são muitas as fantasias e dúvidas femininas em relação às implicações da menopausa para a saúde. O consenso atual é que a qualidade de vida seja o norteador de qualquer intervenção no climatério (DE LORENZI, BARACAT, 2005). A assistência à mulher climatérica demanda de conhecimentos sobre essa fase, suas características, alterações e, fundamentalmente, é preciso haver sensibilização por parte do profissional de enfermagem para realização do cuidado de forma humanizada e integral, priorizando a educação em saúde para prevenção de agravos e comorbidades. O material utilizado no estudo mostra que ainda há carência de profissionais e de políticas com o foco na atenção à mulher na fase de climatério. O principal objetivo na assistência, fundamentalmente, consiste na manutenção das condições de saúde e na melhora na qualidade de vida das mulheres no período climatérico (FERNANDES, MARQUES NETO, 2007). Os profissionais de saúde podem encorajar as mulheres climatéricas a refletir e questionar criticamente (BERNI, LUZ, KOHLRAUSCH, 2007). Esses profissionais, em especial os que atuam nos programas de saúde da mulher, precisam ser mais incentivados para atender as mulheres climatéricas porque é necessário desenvolver ações de saúde que visem à socialização de informações e do bem-estar. Desta forma, poderão contribuir para que elas possam lançar mão de mecanismos de enfrentamento eficazes, a fim de superar as modificações e os conflitos causados pela fase climatérica, porque a chegada do climatério traz consigo inúmeras modificações e sintomas que ainda são desconhecidos pela maioria da população feminina. 232 Portanto, o enfermeiro deve atuar, como membro de uma equipe multidisciplinar, de forma a estabelecer uma relação autêntica, para que possa compartilhar saberes, anseios, dúvidas, sentimentos e emoções, num processo de coexistência que se dá numa relação horizontal em que o indivíduo é valorizado e motivado a refletir sobre seu modo de vida e seus limites, permitindo, assim, que as mulheres reflitam sobre as alternativas de novos caminhos em busca de uma convivência melhor consigo mesmas e com seus pares. A prática assistencial do enfermeiro pode ser vivenciada na consulta de enfermagem, em que pode identificar as necessidades basais afetadas pela mulher e, também, implementar medidas de enfermagem que visem à promoção e reabilitação das mulheres no climatério. As pessoas que estão envolvidas intimamente com a mulher podem participar também deste processo para que assim contribua com a equipe para um bem-estar biopsicossocial da mulher. É muito importante a transmissão de conhecimentos, pois há necessidade de discutir sobre o assunto com as mulheres, permitindo-lhes manifestar suas percepções em relação a essa etapa da vida, conhecer o próprio corpo e os aspectos culturais que envolvem o tema, revelar suas necessidades de saúde e buscar caminhos que possibilitem satisfazê-las (GONÇALVES, MERIGUI, 2005). Entende-se que, se para os profissionais de saúde há uma carência acerca de conhecimentos do climatério, para a população essa carência é ainda maior, percebendo-se a necessidade de diálogos mais inclusivos, que possibilitem a fala aberta e a busca por esclarecimentos. A carência de serviços e ações de saúde que contemplem essa fase do processo de viver feminino é sentida pelas usuárias. É preciso refletir sobre essa situação, criar uma consciência crítica, a fim de conseguir mobilizar as usuárias climatéricas para reivindicar esse direito que possuem, e assim conquistar a implementação de uma política social e de saúde capaz de atender as suas necessidades. Devido ao pouco conhecimento e informações acerca do climatério e menopausa, torna-se difícil diferenciar um do outro, assim como também procurar atendimento quando necessário. O pouco conhecimento acerca do assunto 233 influencia diretamente na vida das mulheres nessa fase, principalmente na qualidade de vida. Dessa forma, é de suma importância um atendimento direcionado às mulheres climatéricas, assim como também apoio e educação continuada, para que as mesmas possam viver de forma mais saudável e adaptar-se a essa fase que estão vivenciando (GONÇALVES, MERIGUI, 2005). Com uma assistência mais específica, as mulheres climatéricas compreenderão as alterações trazidas pela queda dos níveis de estrogênio, podendo assim aprimorar o autocuidado. Mulheres esclarecidas tem melhores condições de enfrentamento das diferentes mudanças vivenciadas. A leitura dos artigos possibilitou a compreensão da necessidade de desenvolvimento de um modelo de atenção às mulheres em fase de climatério, baseado em políticas de assistência a saúde da mulher e no conhecimento científico acerca das diferentes fases de vida das mulheres, considerando os fatores fisiológicos, psicológicos, sociais e econômicos das mulheres no climatério. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS É evidente a necessidade de realização e publicação de novos estudos acerca do cuidado de enfermagem com foco na mulher climatérica, posto que há pouca produção científica e que as publicações mostram desconhecimento e falta de informação acerca do tema tanto para profissionais quanto para o público alvo, porém há interesse no assunto por parte das mulheres. Tratam ainda sobre as mudanças físicas e emocionais do período, bem como as comorbidades adivinda do climatério e da menopausa. Outro assunto ressaltado é sobre a sexualidade das mulheres neste período e por fim referencias em relação a terapia de reposição hormonal que atualmente vem modificando e sendo substituida por hábitos de vida saudável. REFERÊNCIAS 234 BASSAN, R. Alterações cardiovasculares e cardiomorbidade da menopausa. Efeitos da terapia de reposição hormonal. Arq Bras Cardiol, v. 72, n. 1, p. 85-98, 1999. BERNI, N.I.; LUZ, M.H.; KOHLRAUSCH, S.C. 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Trata-se de um estudo descritivo, na modalidade estudo de caso, o qual tem como cenário uma Estratégia da Saúde da Família – ESF localizada na cidade de Santa Maria, Rio Grande do Sul, na qual a Residência em Enfermagem Obstétrica do Centro Universitário Franciscano está inserida. A proposta da lactação adotiva para o cuidado de enfermagem mãe-bebê proporciona vínculo, afeto, e favorece o gostoso desafio a mãe de amamentar o filho adotivo. Na lactação adotiva necessita-se de medicamentos, massagem das mamas, movimentos de ordenha manual, sucção da boca do bebê, mas acima de tudo a 1 Estudo de caso proveniente do projeto de pesquisa “Ações de Cuidado Proporcionado Por Enfermeiras, Residentes em Obstetrícia, nos Diferentes Cenários de Atuação”, autorizado pelo Comitê de Ética e Pesquisa CEP/UNIFRA sob o nº 34098014.3.0000.5306. 2 Enfermeira. Cursando o primeiro ano de Residência em Enfermagem Obstétrica pelo Centro Universitário Franciscano. E-mail: [email protected] 3 Enfermeira de ESF da Prefeitura Municipal de Santa Maria. Especialização em Residência Integrada em saúde pelo Grupo Hospitalar Conceição. 4 Docente do Curso de Enfermagem do Centro Universitário Franciscano - UNIFRA. Doutoranda pelo DINTER UNIFESP/UFRJ/UFSM. E-mail: [email protected] 238 vontade de amamentar, pois por vezes esse processo é demorado, demandando tempo e paciência. Acredita-se que mesmo não obtendo total êxito nas ações prestadas, a experiência fora de grande valia, principalmente no que diz respeito a formação profissional. Desta forma, ações a cerca da lactação adotiva devem ser divulgadas, uma vez que estudos sobre a temática são necessários para aprofundar as reflexões e melhorar a conduta profissional. ABSTRACT Breastfeeding is more than the most appropriate way to meet the nutritional needs, as it creates more intense emotional ties between mother and son. Although commonly act performed between birth mother and child, breastfeeding can occur between mother and baby, known as foster lactation. Breastfeeding is an act that is learned, being essential for professionals who deal with women who wish to breastfeed have adequate knowledge to guide them and assist them, mainly the nurse as it is who coexists in the early stages and often decisive in this process. This study aimed to report the case of a proposal for lactation nursing care foster motherbaby. This is a descriptive study, case study mode, which is set in a family health strategy – FSE located in the city of Santa Maria, Rio Grande do Sul, in which the Residence in Obstetric Nursing of Centro Universitário Franciscano is inserted. The proposal of lactation for adoptive care nursing mother-infant bond provides, affection, and favors the tasty challenge the mother to breastfeed the adopted child. In adoptive breastfeeding needs are medicinal products, breast massage, milking, suction manual movements of the baby's mouth, but most of all the desire to breastfeed, because sometimes this process is time-consuming, requiring time and patience. It is believed that even not getting total success in the actions provided the out-of-body experience of great value, especially with regard to vocational training. In this way, actions within lactation should be disclosed foster, since studies on the subject are necessary to deepen the reflections and improve professional conduct. 239 Eixo 5: Formação e qualificação profissional na atenção à Saúde da Mulher e ao Recém-nascido. Descritores: Amamentação; Enfermagem; Lactação, 1. INTRODUÇÃO No Brasil, ações de promoção para o aleitamento materno foram implementadas desde os primórdios do Sistema Único de Saúde com o intuíto que os índices de prevalência aumentassem, orienatado pela Rede Amamenta e Alimenta Brasil, inserida na Rede Cegonha (BRASIL, 2012). O Ministério da Saúde do Brasil recomenda o leite materno como alimento exclusivo nos primeiros seis meses de vida da criança (BRASIL, 2009), uma vez que é de extrema importância para que se obtenham bons resultados na saúde e desenvolvimento dos lactentes (SILVA & SOUZA, 2005). O aleitamento materno (AM) proporciona melhor qualidade de vida e proteção à saúde da mãe e da criança (TOMA; REA, 2008). Contudo, a amamentação é mais do que a forma mais adequada de suprir as necessidades nutricionais, pois acima de tudo, cria laços afetivos mais intensos entre mãe e filho, crucial para a formação de uma personalidade ajustada socialmente (REGO, 2006). Apesar de comumente ser ato realizado entre mãe biológica e filho, a amamentação pode ocorrer entre mãe adotiva e bebê, conhecida como lactação adotiva. Esta, pode ser instaurada, mesmo sem o estímulo prévio da gestação, no qual a mulher pode produzir leite por meio da técnina da relactação (CAIRES et al, 2011). A relactação, que é a frequente sucção do peito pelo bebê, visa o aumento da produção da prolactina e pode ser um método utilizado por mães adotivas que desejam amamentar. Nesse processo, é necessário dar suporte emocional extra por parte da equipe e familiares, para que caso insucesso, não traga frustrações à mãe e à família (TERUYA & BUENO, 2004). Embora muitos acreditem que a amamentação é um instinto de todos os animais, amamentar é um ato que se aprende (REGO, 2006). Nesse sentido, é 240 fundamental que os profissionais que lidam com mulheres que desejam amamentar tenham conhecimentos adequados para orientá-las e auxiliá-las. Acredita-se que o sucesso das alternativas de fomento à amamentação é reservado aos profissionais envolvidos, principalmente ao enfermeiro, pois é quem convive nos momentos iniciais e muitas vezes decisivos do processo de amamentar. O profissional de saúde deve ter conhecimentos e habilidades suficientes para manejar adequadamente as inúmeras situações que podem servir de obstáculo à amamentação bem-sucedida (GIUGLIANI & LAMOUNIER, 2004). Desta forma, este estudo justifica-se pelo dever de ampliar os estudos na temática da lactação adotiva, no sentido de divulgar os conhecimentos sobre o assunto e refletir sobre possíveis condutas, pontualmente realizadas por enfermeiros. 2. OBJETIVOS Relatar o caso de uma proposta de lactação adotiva para o cuidado de enfermagem mãe-bebê. 3. METODOLOGIA Trata-se de um estudo descritivo, na modalidade estudo de caso, o qual tem como cenário uma Estratégia da Saúde da Família – ESF localizada na cidade de Santa Maria, Rio Grande do Sul, na qual a Residência em Enfermagem Obstétrica do Centro Universitário Franciscano está inserida desde 2013 durante 40 horas semanais. Este estudo fora aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa CEP/UNIFRA sob o nº 34098014.3.0000.5306. A ESF até o momento do estudo encontrava-se com apenas 03 Agentes Comunitários de Saúde - ACS, em que muitas áreas estavam desassistidas. A equipe é composta por uma enfermeira, uma médica, uma odontóloga, uma auxiliar bucal, uma técnica de enfermagem. 241 O caso fora acompanhado ela enfermeira responsável da ESF e pela residente atuante na unidade. A residente realiza consultas de pré-natal, puericultura, puerpério, coleta de preventivo, consulta de enfermagem e consulta da mulher. Durante o atendimento dialogaram residente e mãe adotiva sobre a possibilidade da lactação adotiva, convidando-a para participar do estudo. 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES A.M.D, 18 anos, negra, em união estável há 03 anos, vem à ESF com RN de 10 dias para orientações. Mora em região descoberta por agentes comunitários de saúde. Paciente refere que adotou a criança, filho biológico da sua prima, usuária de crack. Após primeiro contato foram dadas orientações, sanadas dúvidas e agendado retorno para consulta de 30 dias. Nesse primeiro encontro com a mãe já poderia ter sido informado e incentivado o aleitamento, pois o leite materno, além de ser considerado o melhor alimento para os bebês, é reconhecido por oferecer vantagens no fortalecimento do vínculo mãe-filho (BECHE et al, 2009). Essa vinculação não é inata e a amamentação é uma oportunidade de se instalar esse vínculo ou de aprofundá-lo. Após 30 dias A.M.D. trouxe o bebê acompanhado de seus avós. Nesta consulta conseguiu-se aprofundar o histórico. Seus pais adotaram os outros 4 filhos dessa mesma mãe e quando ela internou em trabalho de parto da quinta gestação, a assistente social telefonou colocando-os a parte da situação e perguntando se não teriam interesse em adotar também o recém-nascido. Como eles já são responsáveis pelos outros, sendo a mais nova com menos de 2 anos, negaram a possibilidade preocupados com suas condições. Diante desta situação, A.M.D. conversou com seu marido e decidiram adotar. A criança apresentava-se em ótimo estado geral, com ganho de peso adequado, em uso de fórmula infantil alternada com leite integral diluído na mamadeira (conforme orientado previamente). Durante a consulta a paciente perguntou da possibilidade dela produzir leite e amamentar a criança, pois sabia dos 242 benefícios que traria ao bebê. Motivada pela sua mãe, disse que já havia posto o bebê para sugar a mama algumas vezes. Ao discutirmos a possibilidade, o pai de A.M.D, que acompanhava a consulta, surpreendeu-se com a ideia. A enfermeira da ESF que conhecia histórias de sucesso na tentativa de amamentação adotiva, explicou como se dá a produção de leite na mulher, motivando a família junto a residente. É possível perceber a dualidade da influência de familiares na amamentação e que na maioria das vezes, são os mais velhos que influenciam na hora da amamentação, onde o cuidado do filho é um ensinamento que passa de geração para geração (FROTA et al, 2009). Nesse sentido, os familiares também são peças importantes nesta construção, repassando saberes, podendo exercer grande influência sobre a amamentação nas mulheres. Por isso é importante ter uma aproximação entre a mulher que vai amamentar, os familiares e os profissionais de saúde, no qual essa inter-relaçãoé um fator consideravel para o sucesso do aleitamento materno (FALEIROS, 2006). A Lactação induzida não puerperal é a produção de leite na mulher que nunca esteve grávida ( WALETSKY & HERMAN, 1976) e deve ser tratada em conjunto com a técnica da relactação, por serem ambos processos induzidos. A produção inicial do leite é endócrino, isto é, depende da presença de hormônios. A partir disso, a sucção do bebê no peito, estimula as terminações nervosas do mamilo e aréola, enviando impulsos via neuronal reflexa aferente para o hipotálamo, estimulando a hipófise anterior a secretar o hormônio prolactina e a hipófise posterior, ocitocina (NEME, 2000). No entanto, para estimular a lactação numa mulher que nunca teve o seu corpo preparado para uma gravidez é necessário maior empenho pessoal e profissional, normalmente com ajuda medicamentosa (BROWN, 1978). A partir deste momento formularam-se estratégias junto a família, como uso de seringa para auxiliar a protusão do mamilo (possuí mamilo falso invertido) e técnica da relactação para iniciar o processo o quanto antes. Elencaram algumas 243 mudanças que deveriam ser seguidas, tais como, a troca do anticoncepcional injetável mensal por medroxiprogesterona 150mg, pois por ser a base de progesterona, não influencia na produção de leite (ANVISA, 2013), suspender o uso de mamadeira e se necessário ofertar leite por seringa, suspender a oferta de chupeta, fazer uso da ocitocina spray nasal antes da relactação e contato pele a pele sempre que possível, principalmente no momento da técnica. Solicitaram que a paciente retornasse à ESF com leite diluído e toalha. A ocitocina tem a função de ejeção do leite produzido pela prolactina. Cada mL de solução spray nasal contém 40 UI de ocitocina sintética e é indicado para a estimulação da secreção de leite em mulheres com dificuldades para amamentar ou extrair o leite (NOVARTIS, 2014). Assim que A.M.D. retornou, as enfermeiras buscaram na ESF os seguintes materiais: Duas seringas de 20ml, um cateter buterfly, tesoura e esparadrapo. Iniciaram a técnica: Material pronto, bebê e mãe em posição confortável, contato pele a pele, mamilo umedecido e sonda bem posicionada. A mãe pegava sua mama em “C”, enquanto uma enfermeira auxiliava no posicionamento do bebê e pega correta e a residente controlava a saída de leite na sonda. Durante todo o processo, as enfermeiras foram ensinando a técnica para a mãe do bebê, para que tentassem repetir em casa. Nas primeiras tentativas o bebê acabava buscando a sonda para fazer sucção, talvez pela textura semelhante ao bico da mamadeira, contudo, quando isso acontecia, a sonda era clampeada e solta apenas quando o bebê sugava o peito, isso se repetiu até o bebê cansar e adormecer. Segundo autores, a principal dificuldade da relactação é fazer o bebê que já está acostumado com outros bicos, voltar a sugar no peito, nesse caso, a mãe precisa ter paciência e apoio da equipe de saúde e familiares (PROENÇA, 1994 & REGO, 2006). Um dos fatores determinantes, não é diretamente relacionado a idade da criança e sim o tempo que ela permaneceu sem contato com o seio materno. Quanto 244 mais tempo o infante passa a sugar o seio materno, maiores são as chances de readaptação (MARIANO, 2011). A.M.D demonstrou confiança, segurança com a equipe e estar muito feliz frente a possibilidade de amamentar. As enfermeiras a encorajaram e solicitaram que a mãe retornasse na unidade todos os dias, para auxiliar na sucção em ambas as mamas, corrigir técnica e acompanhar o processo. Foi solicitado que trouxesse um acompanhante para que aprendesse e se sentisse confortável para ajudá-la em casa. Durante a relactação encontrou-se algumas dificuldades como a mama muito volumosa, o mamilo falso invertido e a falta de adaptação do bebê à textura da pele da mãe adotiva. Contudo, buscou-se contornar a situação, como por exemplo antes da técnica da relactação o mamilo falso invertido era estimulado via pressão com a seringa de 20ml, no momento da oferta ao bebê a mama volumosa era manejada pela mãe buscando pegá-la em “C”, além disso o contato pele a pele e o cessar do uso de bicos e mamadeiras foram orientações reforçadas ao longo de todo o processo. Apesar do pedido ter partido de A.M.D, da felicidade frente a possibilidade de amamentar, ela não retornou mais à ESF. Tentou-se fazer o acompanhamento via telefone, mas AMD informava que o marido e sua mãe auxiliavam, mas que estava com dificuldades. Foi realizada uma visita domiciliar para acompanhar o processo de perto, mas não a encontramos em sua residência. Em um dos últimos contatos, A.M.D. referiu que não conseguiu produzir leite e se desmotivou a tentar, e que atualmente, ofertava leite em mamadeira. Neste caso, sabe-se que para o objetivo ser alcançado, a mãe deveria estar motivada, orientada e acompanhada por um profissional com dedicação suficiente para que as dificuldades diárias sejam minimizadas de modo a potencializar seu desejo materno (MARIANO, 2011). Infelizmente, o acompanhamento profissional não pode se dar veementemente, uma vez que a falta de recursos humanos é consideravelmente influenciador na cobertura da assistência a população. 245 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS A prática do aleitamento materno deve ser amplamente difundida entre as mulheres e famílias, pois conhecemos o quanto fortalece o sistema imunológico e trás benefícios as crianças. Porém, no caso de mães adotivas, as quais não produzem o hormônio prolactina (induz a produção do leite e precisa ser estimulado) faz-se necessário que os profissionais que compõem a equipe de saúde estejam preparados tecnicamente e cientificamente para auxiliar nesse processo mãe-bebê. A proposta da lactação adotiva para o cuidado de enfermagem mãe-bebê proporciona vínculo, afeto, e favorece o gostoso desafio a mãe de amamentar o filho adotivo. Na lactação adotiva necessita-se de medicamentos, massagem das mamas, movimentos de ordenha manual, sucção da boca do bebê, mas acima de tudo a vontade de amamentar, pois por vezes esse processo é demorado, demandando tempo e paciência. Além disso, é importante ter um monitoramento do bebê quanto ao crescimento para observar se a criança não esta perdendo peso. No estudo de caso foi possível perceber que além da enfermagem estar prontamente disposta e preparada para orientações é necessário que mãe e familiares estejam disponíveis para ajudar essa mãe a enfrentar as dificuldades e frustrações que fazem parte das demora na produção do leite. Acredita-se que mesmo não obtendo total êxito nas ações prestadas, a experiência fora de grande valia, principalmente no que diz respeito a formação profissional. Desta forma, ações a cerca da lactação adotiva devem ser divulgadas, uma vez que estudos sobre a temática são necessários para aprofundar as reflexões e melhorar a conduta profissional. Portanto, a cultura do aleitamento materno deve ser amplamente difundido entre as mulheres e famílias, para isso faz-se necessário maiores campanhas e que abordem as dificuldades da amamentação, esclarecendo dúvidas e reforçando orientações, também aos profissionais. 246 REFERÊNCIAS ANVISA, Agência Nacional de Vigilância Sanitária. União Química Farmacêutica Nacional S.A. DEMEDROX® (acetato de medroxiprogesterona) Suspensão Injetável 150 mg/mL (2014). Internet: < http://www.anvisa.gov.br/datavisa/fila_bula/frmVisualizarBula.asp?pNuTransacao=99 30372013&pIdAnexo=1877610>. Acessado em 28/08/2014. BECHE, N.; HALPERN, R.; STEIN, A.T. Prevalência do aleitamento materno exclusive em um município serrano do Rio Grande do Sul, Brasil. Revista da AMRIGS. Vol 53 nº4 p.345-353, 2009. 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A coleta de dados procedeu por meio de consulta ao prontuário do cliente, após esclarecimentos à mãe do RN quanto à finalidade da pesquisa e obtenção de sua anuência. Houve uma correlação dos indicativos diagnósticos com os dados encontrados, utilizando raciocínio clínico e definições elucidadas na NANDA, para elaboração dos Diagnósticos de Enfermagem (DE). 1 Estudo de caso desenvolvido durante disciplina ministrada na Residência em Enfermagem Obstétrica. 2 Enfermeira Residente em Enfermagem Obstétrica, Centro Universitário Franciscano, e-mail: [email protected] 3 Enfermeira Residente em Enfermagem Obstétrica, Centro Universitário Franciscano, e-mail: [email protected] 4 Enfermeira Residente em Enfermagem Obstétrica, Centro Universitário Franciscano, e-mail: [email protected] 5 Enfermeira Residente em Enfermagem Obstétrica, Centro Universitário Franciscano, e-mail: [email protected] 6 Enfermeira Residente em Enfermagem Obstétrica, Centro Universitário Franciscano, e-mail: [email protected] 7 Orientador: Enfermeira Professora Doutora em Enfermagem, Centro Universitário Franciscano, email: [email protected] 249 Com esta pesquisa tornou-se evidente a importância dos diagnósticos de enfermagem bem como a função do profissional enfermeiro junto com sua equipe no que tange o cuidado ao RN. ABSTRACT This study aims to identify the nursing diagnoses more frequent among newborns with thermoregulation and glucose alterations hospitalized at a maternity hospital in order to guide the work of the nursing team that provides assistance to these neonates. This is a descriptive study with a qualitative approach, the case study type, it was conducted in a maternity hospital, a city in the interior of Rio Grande do Sul. Research subject consisted of a newborn (RN), whose birth occurred in that institution. Data collection proceeded through consulting the records of the client, after the mother of the newborns clarification as to the purpose of the research and obtaining their consent. There was a correlation with diagnoses indicative of the data found using clinical reasoning and definitions elucidated in NANDA, for elaboration of Nursing Diagnoses (DE). With this research it became evident the importance of nursing diagnoses and the role of the professional nurse with his team regarding the care of the newborn. Eixo Temático: Atenção à Saúde do recém-nascido. Descritores: Saúde da criança; Recém-nascido; Diagnóstico de enfermagem; Hipotermia; Hipoglicemia. 1. INTRODUÇÃO A adaptação extrauterina envolve uma série de transformações anatômicas e principalmente fisiológicas que, quando bem sucedidas, garantem a automanutenção do neonato ao término do período de suporte placentário. O recémnascido (RN) apresenta instabilidade importante em diversos sistemas de controles hormonais e neurogênicos em função da imaturidade de diversos órgãos e em resposta a transição da vida fetal à neonatal (VIVANCOS et al., 2010). 250 Dentre as adaptações ocorridas, destaca-se a termorregulação corporal. O neonato é homeotérmico imperfeito, superaquecendo-se e esfriando-se com facilidade. Ao nascimento, sua temperatura é idêntica à materna, havendo a seguir uma diminuição de 1ºC a 3º C, voltando a subir logo em seguida, atingindo cerca de 37º C em 6 a 8 horas, se os cuidados forem adequados (BRASIL, 2011). O cuidado à temperatura corporal do RN deve-se iniciar desde o nascimento, ainda em sala de parto, estendendo-se a todos os ambientes que envolvem sua permanência (BALBINO et al., 2013). Quando não controlado, o estresse provocado pela exposição do RN ao frio ocasiona o aumento do metabolismo e uma maior utilização de glicose, tornando o recém-nascido propenso à hipoglicemia, definida como nível plasmático de glicose abaixo de 40 mg/dl (FREITAS; MATOS; KIMURA, 2009). A hipoglicemia neonatal é uma anormalidade metabólica comum, que ocorre no período pós-natal precoce, afetando 3% a 43% das gravidezes (OLIVEIRA; SOUZA; SILVA, 2013). No entanto, o período neonatal é marcado por intensa atividade metabólica, o cérebro do neonato se torna bastante sensível às reduções glicêmicas, que podem ocasionar danos cerebrais graves. É importante atentar precocemente, portanto, à hipoglicemia, avaliando os sintomas ou fatores de risco e revertendo o quadro, a fim de evitar sequelas neurológicas no recém-nascido (SANTOS; JORNADA JUNIOR, 2014). Neste contexto, a Sistematização da Assistência em Enfermagem (SAE) surge como um meio norteador das ações a serem executadas para o paciente, de forma dinâmica e objetiva, contribuindo com a melhoria da assistência de enfermagem e redução da morbidade e mortalidade dos neonatos com distúrbios metabólicos, além de tornar possível a implementação do Processo de Enfermagem (PE) (OLIVEIRA; SOUZA; SILVA, 2013). O PE é um instrumento metodológico de prestação de cuidado constituído por um conjunto de etapas que permitem identificar situações de saúde/doença do indivíduo. As etapas realizadas sequencialmente embasam a seleção e a prática de ações e o acompanhamento de seus resultados. É instituído pelas seguintes fases: 251 histórico (investigação), diagnóstico de enfermagem (DE), planejamento, implementação e avaliação (COFEN, 2009). Os cuidados relacionados à adaptação extrauterina do RN são um desafio constante aos profissionais e requerem atenção especial da enfermagem por predisporem a danos neurológicos, dependendo da sua gravidade. Baseado nisso, este estudotem como objetivo identificar os Diagnósticos de Enfermagem mais frequentes entre recém-nascidos com alterações termorreguladoras e glicêmicas internados em uma maternidade-escola a fim de nortear o trabalho da equipe de enfermagem que presta assistência a esses neonatos. 2. METODOLOGIA Estudo descritivo com uma abordagem qualitativa, do tipo estudo de caso, objetivando capturar as circunstâncias e condições de uma situação do dia-a-dia, utilizando o processo de enfermagem nas suas fases de histórico, diagnóstico de enfermagem, planejamento, intervenção e avaliação dos resultados. Foram utilizados a teoria NHB e o processo de enfermagem. O estudo de caso pode ser definido como um estudo delimitado com a exploração de um sistema, obtido a partir de uma coleta de dados detalhada. Estes são apropriados para serem aplicados na assistência direta de enfermagem, com a finalidade de realizar um estudo profundo dos problemas e necessidades do paciente, família e comunidade, com a possibilidade de elaborar estratégias para solucionar ou reverter os problemas encontrados (GALDEANO; ROSSI; ZAGO, 2003). O mesmo foi realizado em uma maternidade-escola, de uma cidade do interior do Rio Grande do Sul. A escolha dessa instituição deveu-se ao fato de ser um campo de ensino universitário especializado no atendimento ao binômio mãe-bebê, por ser um hospital de referência da região em atendimento de partos de risco habitual e por apresentar o principal campo de prática da Residência em Enfermagem Obstétrica. 252 A população de pesquisa foi constituída por um recém-nascido (RN), cujo parto ocorreu na referida instituição, escolhido aleatoriamente por ser uma situação cotidiana ocorrida na presença de um dos autores do estudo. A coleta de dados procedeu por meio de consulta ao prontuário do cliente, através de leitura minuciosa, após esclarecimentos à mãe do RN quanto à finalidade da pesquisa e obtenção de sua anuência. Após concluída a fase de coleta de dados, foi iniciado o trabalho de análise das informações coletadas. Houve uma correlação dos indicativos diagnósticos com os dados encontrados, utilizando raciocínio clínico e definições elucidadas na NANDA, para elaboração dos Diagnósticos de Enfermagem (DE). Os DE se baseiam no agrupamento de dados coletados para instituição de uma informação diagnóstica sobre o paciente para o cuidado; contribuem para base do conhecimento da profissão e o estabelecimento de cuidados específicos a uma determinada situação ou indivíduo. Os DE permitem que o enfermeiro estabeleça intervenções priorizando as situações de agravamento, risco ou predisponentes ao comprometimento da saúde do paciente (NANDA, 2010). Previamente à coleta, foi solicitada a assinatura de uma carta de consentimento da mãe do RN autorizando sua participação no estudo, obedecendo, assim, os preceitos éticos e legais para menores de 18 anos. Tornamos evidente à participante do estudo, que lhe seria assegurado o anonimato. Foram cumpridas todas as especificações da resolução 196/96, do Ministério da Saúde, sobre pesquisas em seres humanos, sendo a pesquisa aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa do Centro Universitário Franciscano, sob o número 758677/19.08.2014. 3. APRESENTAÇÃO DO ESTUDO DE CASO Recém-nascido do sexo feminino; peso ao nascer: 2,930 gramas; Apgar no 1º minuto: 9 e no 5º minuto: 10; Temperatura ao nascer: 36 graus; Perímetro cefálico: 253 33 centímetros; Perímetro torácico: 34 centímetros; Comprimento: 49 centímetros. Filho de J.S.M., 31 anos, secudigesta, idade gestacional 40 semanas e 4 dias. Parturiente foi admitida na maternidade para acompanhamento de trabalho de parto no dia 20 de agosto de 2014, às 04 horas, apresentando dinâmica uterina moderada, 4 cm de dilatação do colo uterino, apresentação cefálica, plano de De Lee +2, bolsa amniótica íntegra. Trabalho de parto acompanhado pelas enfermeiras residentes em enfermagem obstétrica. Parto vaginal com laceração grau I, ocorrido 7 horas após admissão na unidade, com período expulsivo de aproximadamente 27 minutos. Após o parto, RN foi encaminhado ao alojamento conjunto juntamente com sua mãe, apresentando temperatura de 36,9 graus. Após duas horas, puérpera refere que RN encontra-se sonolento e não aceita aleitamento materno. Observou-se que a criança encontrava-se com vestimentas inadequadas ao clima. Ao exame físico RN encontrava-se hipoativo, apresentando temperatura axilar: 35,7 graus e glicemia capilar: 38 mg/dL. Conduta da equipe de enfermagem: O recém-nascido foi mantido em berço aquecido até atingir a temperatura de 36,9º. Após normalização da temperatura axilar foi oferecido fórmula infantil com média aceitação. Após 30 minutos foi realizado novamente glicemia capilar: 65 mg/dL. Realizadas orientações à puérpera quanto a adaptação extrauterina e termorregulação do RN com boa compreensão. Os Diagnósticos de enfermagem encontrados foram: Hipotermia; Termorregulação ineficaz; Risco de desequilíbrio na temperatura corporal; Nutrição desequilibrada menos que as necessidades corporais; Risco de glicemia instável; Padrão ineficaz de alimentação do bebê; Risco de crescimento desproporcional; Maternidade ou paternidade prejudicada; Amamentação ineficaz; Amamentação interrompida; e risco de infecção (NANDA 2010). 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES A termorregulação é definida como o processo de manutenção da temperatura corporal que compreende a relação entre a perda de calor e a produção 254 de calor é essenciais para os neonatos, uma vez que estes são vulneráveis tanto ao calor excessivo quanto ao déficit de calor (RICCI, 2013). Dentro do período neonatal, este compreendido como sendo os primeiros 28 dias de vida, inicia um processo de adaptação do RN para vida extrauterina, o que ainda se torna mais marcante logo nas primeiras horas de vida. Normalmente esse período de transição ocorre entre 6 a 10 horas do nascimento, este é um dos fatores que torna imprescindível o acompanhamento da equipe de saúde a fim de acompanhar essas adaptações para que se necessário possa intervir o mais breve possível (RICCI, 2013). A Organização Mundial da Saúde (OMS) salienta que a faixa de temperatura axilar (TA) adequada ao RN aquela entre 36,5ºC e 37ºC, e ainda classifica como hipotermia leve: a TA entre 36,0 e 36,4°C, sendo esta associada ao estresse pelo frio, hipotermia moderada: TA entre 32,0°C e 35,9°C e hipotermia grave TA menor que 32,0°C.(BRASIL, 2011). Para a manutenção da temperatura corporal do RN é necessário que o ambiente esteja com a temperatura adequada para sua recepção, esta deve ser em torno de 23,8 a 26,1 graus a fim de proporcionar uma transição adequada entre a vida intrauterina para extrauterina, já que a primeira proporciona uma temperatura em torno de 37,5 graus, o que imediatamente após o parto pode reduzir em 0,3°C por minuto se acaso não houver medidas preventivas para perda de calor. Para que o RN tenha menores riscos de apresentar hipotermia logo após o parto, torna-se premente que ao final dos cuidados em sala de parto a TA do RN esteja em torno de 36,5ºC (BRASIL, 2011). Para tanto existem alguns cuidados preventivos na perda de calor, como o uso de gorro de algodão, uso de colchão térmico, contato pele a pele sendo que este promove liberação de ocitocina materna a qual aumenta a temperatura da pele da mãe, desta forma servindo como fonte de calor ao RN, além de estabelecer vinculo para o binômio mãe-bebê e facilitar a amamentação (BRASIL, 2011). Nesse sentido, um estudo desenvolvido em Guiné Bissau com objetivo de examinar os efeitos em longo prazo da hipotermia neonatal, mostrou que a 255 hipotermia está associada à mortalidade para além do período perinatal, havendo relação até dois meses de idade (BALBINO et al., 2013). Ciente dos cuidados de enfermagem, a equipe, a qual presta o cuidado ao RN precisa estar atenta ao quadro clínico da hipotermia que dentre os sintomas estão: letargia, choro fraco, hipotonia, hipoglicemia, acidose metabólica, extremidades frias, mudança na coloração da pele e outros (TAMEZ, 2013). Os cuidados da equipe de enfermagem são realizados por meio da verificação dos sinais vitais, e a manutenção da temperatura corporal e mantendo um ambiente térmico adequadros. Dessa forma o enfermeiro precisa ter conhecimento científico para identificação de alterações e tomada de decisão adequada para cada situação. A termorregulação insatisfatória e a dispensação das reservas de glicose existentes ocasionam a hipoglicemia, comprometendo o desenvolvimento adequado dos neonatos. No ambiente intrauterino, a glicose fetal é fornecida pela circulação materna, que mantém a concentração de glicose fetal, aproximadamente, dois terços da glicemia materna. No nascimento, após a ligadura do cordão umbilical, a fonte de glicose materna é interrompida. Para manter os níveis adequados de glicose, o organismo do recém-nascido movimenta o processo de glicogenólise das reservas hepáticas, induzindo à neoglicogênese, utilizando nutrientes provenientes da dieta (FREITAS; MATOS; KIMURA, 2009). Observa-se que concentrações de glicose no sangue próximas a 30mg/dl são comuns em neonatos saudáveis de 1 a 2 horas após o nascimento, geralmente essas concentrações são transitórias e assintomáticas, devendo ser consideradas como parte da adaptação fisiológica para a vida extrauterina. Esses níveis tendem a aumentar, acima de 45 mg/dl, 12 horas após o nascimento (SANTOS; JORNADA JUNIOR, 2014). Entretanto, durante a hipotermia aguda, ocorre vasoconstrição periférica, causando aumento da necessidade de oxigênio (hipóxia dos tecidos), além disso, o corpo tenta compensar, aumentando as taxas de metabolismo basal, sendo ativado o mecanismo de termogênese química sem tremor, por meio da metabolização de 256 gordura marrom, levando a hipoglicemia e consequentemente acidose metabólica, o que se não for revertido pode levar o RN a óbito (ARAUJO, 2012). Nesse sentido, precisa-se que a equipe de enfermagem esteja preparada para a realização de cuidados para prevenção da hipotermia aguda e consequentemente hipoglicemia. Algumas intervenções como: adequação da temperatura da sala de parto, aquecimento de campos para recepção do RN, não realização de higiene corporal e retirada de vérnix precocemente, salvo em algumas situações quando indicado. Além disso, monitorização dos sinais vitais, balanço hídrico e quando necessário mater o RN em jejum até a normalização da temperatura (ARAUJO, 2012). Assim passa a existir a necessidade de um contínuo processso de aprendizagem e reflexão sobre a assistência ao RN, pois o cuidar da enfermagem é uma prática complexa e por isso não pode ser pensado como domínio de técnicas, mas como um ato que envolve outro ser humano e precisa do conhecimento científico do enfermeiro para prevenção de agravos. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS O desenvolvimento desta pesquisa favoreceu a identificação das necessidades de cuidados aos RN com distúrbios glicêmicos e a atribuição diagnóstica. O estudo mostrou que muitos fatores podem estar associados a distúrbios metabólicos em neonatos. Desse modo, os DE devem atender às necessidades de cuidado e intervenções voltadas ao estabelecimento e manutenção dos padrões termorreguladores e glicêmicos bem como controlar as complicações resultantes dos padrões alterados em RN. Os diagnósticos: Amamentação interrompida, Amamentação ineficaz, Padrão ineficaz de alimentação do bebê e Nutrição desequilibrada menos que as necessidades corporais se fizeram presentes em muitos dos casos e indicam a necessidade de atuação da enfermagem frente a orientações nutricionais e vigilância no ato de amamentar. Neste ínterim os dados obtidos remetem à 257 importância da utilização da SAE nos serviços de saúde a ser utilizada pelo enfermeiro com o intuito de planejar o cuidado e a assistência de enfermagem ao RN. REFERÊNCIAS ARAUJO, Luciane de Almeida. Enfermagem na prática materno-neonatal. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012. BALBINO, Aldiania Carlos et al. Termorregulação do recém-nascido: cuidados na admissão em unidade de emergência pediátrica. Rev. Rene, v. 14, n. 2, 2013. Disponível em: <http://www.revistarene.ufc.br/revista/index.php/revista/article/view/424>. Acessado em: 24 de agosto de 2014. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas. Atenção à saúde do recém-nascido: guia para os profissionais de saúde. Brasília, 2011. Conselho Federal de Enfermagem. Resolução n. 385, de 15 de outubro de 2009. Dispõe sobre a Sistematização da Assistência de Enfermagem e a implementação do Processo de Enfermagem em ambientes, públicos ou privados, em que ocorre o cuidado profissional de Enfermagem, e dá outras providências. Brasília: COFEN; 2009. Diagnóstico de enfermagem da NANDA: DEFINIÇÕES E CLASSIFICAÇÃO 2009/2011. NANDA International; tradução Regina Machado Gracez. Porto Alegre: Artmed, 2010. FREITAS, Patrícia de; MATOS, Caroline Valichelli de; KIMURA, Amélia Fumiko. Perfil das mães de neonatos com controle glicêmico nas primeiras horas de vida. Rev. esc. enferm. USP, São Paulo, v. 44, n. 3, 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S008062342010000300012&lng=en&nrm=iso>. Acessado em: 27 de agosto de 2014. GALDEANO, Luzia Elaine; ROSSI Lídia Aparecida; ZAGO, Márcia Maria Fontão. Roteiro instrucional para elaboração de um estudo de caso clínico. Rev Latino-am Enfermagem, n. 11, v. 3, 2003. Disponível em: Acesso em: 15 de setembro de 2014. 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Nesse sentido, objetivou-se conhecer os fatores que interferem na escolha e no uso dos métodos contraceptivos. Trata-se de uma pesquisa exploratório-descritiva, com abordagem qualitativa. Participaram do estudo 14 mulheres do grupo de planejamento familiar de um hospital do extremo sul do Rio Grande do Sul, que compareceram aos encontros realizados entre os meses de maio e junho de 2014. Após aprovação do projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade, sob o parecer 032/2014, os dados foram coletados por meio de entrevista semi-estruturada que foram gravadas, transcritas, inseridas no software Nvivo 10 e analisadas a partir da análise de conteúdo de Bardin. Os resultados do presente estudo evidenciaram que os fatores relacionados ao custo, a disponibilidade e as características dos métodos contraceptivos foram as principais influências na escolha dos métodos contraceptivos. Acredita-se ser de fundamental importância que as Unidades Básicas de Saúde proporcionem às usuárias momentos de esclarecimentos acerca dos métodos oferecidos pelo sistema de saúde para que, munidas de informações, possam realizar escolhas conscientes. Eixo 1 : Atenção à Saúde da Mulher Descritores: Planejamento familiar. Anticoncepção. Enfermagem. ABSTRACT 260 Women face serious difficulties with regard to reproductive health, access to contraception and strategies for adaptation to contraceptive methods that are offered to them. In this sense, it was aimed to know the factors that interfere in the choice and use of contraceptive methods. This is an exploratory-descriptive study with a qualitative approach. Agreed to participate in the study 14 women's family planning group of a hospital's southernmost Rio Grande do Sul between the months of May and June 2014 data were collected after approval of the project by the University Research Ethics Committee, under the opinion 032/2014 through semi-structure interviews taped and transcribed. Data analysis was performed using the software NVivo 10 The results of this study showed that the factors related to price, availability and characteristics of contraceptive methods were the main influences on the choice of contraceptive methods. Believed to be of fundamental importance that the Basic Health Units provide users the moments clarification on the methods offered by the health system to that provided with information, can make conscious choices. Keywords: Family Planning. Contraception. Nursing. Main Topic: Attention to Women's Health. 1. INTRODUÇÃO O planejamento familiar contempla o conjunto de ações que têm como finalidade contribuir para a saúde da mulher, do homem e da criança, que permitem escolher quando ter filhos, quantos ter e o intervalo de tempo entre o nascimento destes. O Planejamento Familiar faz parte das ações da Política de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAINS) preconizada pelo Ministério da Saúde. Essa ação do PAINS democratiza o acesso aos meios de anticoncepção nos serviços públicos de saúde, ao mesmo tempo em que regulamenta essas práticas na rede privada, sob o controle do Sistema Único de Saúde (SUS). Neste sentido, o planejamento familiar deve ser tratado dentro do contexto dos direitos reprodutivos, 261 tendo como principal objetivo garantir às mulheres e homens o direito previsto na Constituição Brasileira de ter filhos ou não (BRASIL, 2002, 2004). A assistência para a anticoncepção no planejamento familiar é ofertada nas redes privada e pública de saúde, sendo que, a segunda é mais atuante no país. O Sistema Único de Saúde (SUS) é o órgão responsável pela distribuição dos métodos contraceptivos nas unidades básicas públicas de saúde no Brasil. Atualmente as ações de contracepção do planejamento familiar são mais atuantes através das Unidades Básicas de Saúde da Família (UBSF). As UBSF têm um modelo de política pública de saúde que traz a proposta de trabalho da equipe multiprofissional, junto à comunidade e corresponde a uma das sete áreas prioritárias de intervenção na atenção básica (MOURA, et al., 2007; BRASIL, 2010). O município de Rio Grande conta com 32 Unidades Básicas de Saúde, sendo que destas 19 fazem parte da Estratégia de Saúde da Família (ESF). Compõe o plano de assistência das UBSF’s a criação de grupos específicos para tornar mais eficiente o atendimento prestado à população. Dentre esses grupos está o de Planejamento Familiar no qual os profissionais orientam mulheres e homens sobre a realização do mesmo e seus benefícios para a vida pessoal, social e econômica do casal. A assistência a anticoncepção é uma das estratégias do programa através da qual a população recebe os métodos contraceptivos disponíveis na unidade e a informação sobre as características e uso. Para facilitar e rastrear a distribuição dos métodos disponibilizados pelo SUS, eles são oferecidos nos grupos de Planejamento Familiar. No entanto, nem todos os métodos estão disponíveis na Rede Básica de Saúde, por isso as mulheres que desejam outros métodos contraceptivos são encaminhadas para unidades de maior complexidade como hospitais e policlínicas públicos que possuem grupos de planejamento familiar e contemplam as demais ações do programa. Através de um projeto de extensão promovido pela Universidade Federal do Rio Grande, pude participar de um grupo de planejamento familiar de uma UBSF do município do Rio Grande. Com isso foi possível perceber o grande desconhecimento das mulheres acerca dos métodos contraceptivos. A maioria apresentava dúvidas 262 sobre a utilização do método, além do desconhecimento dos que não eram ofertados pela Unidade. Diante desta realidade é notório que as mulheres continuam enfrentando sérias dificuldades em relação à sua saúde reprodutiva. Quanto ao planejamento familiar, as dificuldades não se limitam à falta de acesso aos meios para regular a fertilidade, faltam-lhes também o saber sobre o seu corpo, sobre os seus desejos e suas possibilidades para intervir no processo reprodutivo, para que possam escolher, conscientemente, entre os diferentes métodos. 2. OBJETIVOS Analisar os fatores que interferem na escolha dos métodos. Identificar o método contraceptivo almejado pela cliente. Conhecer as vantagens e desvantagens do método contraceptivo almejado. 3. METODOLOGIA Este trabalho trata-se de um recorte da pesquisa qualitativa intitulada Fatores que interferem na escolha e no uso dos métodos contraceptivos. A mesma teve caráter exploratório-descritivo. Participaram do estudo 14 Mulheres residentes no município do Rio Grande encaminhadas pela Rede Básica de Saúde de origem para realizarem acompanhamento no grupo de planejamento familiar de um hospital do extremo sul do Rio Grande do Sul. A coleta dos dados ocorreu entre os meses de maio e junho de 2014, após a aprovação do projeto sob o parecer 032/2014, pelo Comitê de Ética em pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal do Rio Grande (CEPAS/FURG). As entrevistas foram gravadas, guiadas através de um roteiro contendo perguntas abertas divididas em três focos. O primeiro investigou os dados demográficos, o segundo abordou os fatores que interferiram na escolha e no uso do método contraceptivo atual e o terceiro enfocou nos fatores que interferem na 263 escolha do método contraceptivo almejado pela cliente. Nesse trabalho foram abordadas as questões relacionadas ao terceiro foco. Para análise dos dados utilizou-se o software NVivo 10, com base na técnica de análise de conteúdo de Bardin (2011). O software NVivo trabalha com mensagens extraídas das fontes de informação. Nele estas são chamadas de nós gerados durante o processo de análise as categorias de informações que são armazenadas em um banco de dados do programa (BRINGER; JOHNSTON; BRACKNRIDGE, 2006). 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES Os fatores determinantes na escolha do método contraceptivo almejado relacionaram-se às vantagens, às desvantagens e às dificuldades na adesão ao método. Em relação à percepção das vantagens que o método contraceptivo almejado poderá proporcionar às mulheres que escolheram a laqueadura (05) 35,71% referiram à segurança e a irreversibilidade da mesma como principal vantagem, seguida pela diminuição ou a ausência de efeitos colaterais. Em relação ao DIU (03) 21,42% das entrevistadas citaram como vantagem a não realização de procedimento cirúrgico. Já o contraceptivo hormonal injetável foi considerado por (03) 21,42% mulheres, como vantajoso pela maior facilidade de uso e menor risco de esquecimento, isso pode ser evidenciado no esquema e nos relatos a seguir. Figura 1: Vantagens do método contraceptivo almejado. 264 Fonte: Pesquisa sobre fatores que interferem na escolha e no uso dos métodos contraceptivos. 2014. “A vantagem da depoprovera é que tu fica segura por três meses, (...)” (UBSF09) “A vantagem da pílula (...) é tu pode saber se está ou não grávida, porque eu sei quando eu vou ficar menstruada.” (UBSF03) “Eu não vejo desvantagem, só vejo vantagem na laqueadura, porque não vou me preocupar pelo resto da vida, é irreversível”.(UBSF04) Segundo o ministério da saúde nenhum método contraceptivo pode ser considerado 100% eficaz, porém a laqueadura tubária tem um maior nível de eficácia do que os demais métodos. Sua irreversibilidade a torna mais segura tornando-se uma forma permanente de controle da natalidade. Além disso, após sua realização não há necessidade de qualquer interferência química contraceptiva no organismo das mulheres. Assim, há uma redução da preocupação sobre uma gravidez-não-planejada (BRASIL, YAMAMOTTO, 2012). De acordo com Halpern e colaboradores (2011) a utilização de anticoncepcional oral e/ou injetável tem suas vantagens, pois são de fácil ingestão ou aplicação sendo totalmente reversíveis após a interrupção do uso. Outro 265 contraceptivo considerado pelo Ministério da Saúde como sendo um dos métodos que apresenta eficácia significativa é o DIU, por não necessitar de procedimento cirúrgico para sua colocação, reduzindo os temores das mulheres sobre a realização de cirurgia (BRASIL, 2010). As participantes, ainda, foram questionadas acerca das desvantagens que o método poderia apresentar. O efeitos colaterais do contraceptivo hormonal injetável, a inserção do DIU e a recuperação do pós operatório da laqueadura, foram os mencionados com maior freqüência, seguidos do medo do período peri-operatório da laqueadura e o arrependimento por não poder ter mais filhos após a realização do procedimento. “Para mim pessoalmente eu nunca quis ter filho era uma opção minha. Mas fiquei por acidente agora estou com medo de engravidar de novo e a laqueadura é irreversível e segura posso ate me arrepender, mas vou ficar tranqüila.” (UBSF 05) “(...) tenho medo de tomar anestesia, que é na espinha.” (UBSF 02) “(...) Já tenho duas cesáreas não quero fazer laqueadura, o DIU é mais seguro e não preciso fazer uma 3° 4 ° cirurgia.” (UBSF 06) “(...) a desvantagem do DIU é que da hemorragia no útero se não for colocado direito.” (UBSF13) “(...) a minha pílula engorda (...) também tenho enjôo.” (UBS14) Em relação às desvantagens dos métodos hormonais os autores versam que apesar da reversibilidade e facilidade no uso, a ação no organismo proporciona alguns efeitos que podem prejudicar as atividade das mulheres (RAMOS; YAMAMOTTO, 2012). Segundo Minella (2005) a laqueadura também pode ter suas desvantagens deixando consequências físicas e psíquicas nas mulheres usuárias do procedimento. Como consequências físicas, a autora enumera alterações no ciclo menstrual, alterações hormonais, dores em virtude da aderência, dores de cabeça e abdominais, dores nos seios, síndrome pós-esterilização, que se caracteriza por sintomas dolorosos endopélvicos, hemorragia genital uterina e sintomas de ordem psíquica. O DIU é considerado muito eficaz, porém seu uso pode acarretar efeitos 266 bastante indesejáveis em algumas mulheres (BRASIL, 2010). Barros (2006) cita que os efeitos que podem ser apresentados consistem em perdas sanguíneas cíclicas, menstruações prolongadas e profusas, corrimento e cólicas uterinas. As participantes da pesquisa foram questionadas sobre as dificuldades de adesão ao método contraceptivo almejado. As explanações versaram desde sentimentos pessoais à demora da realização do procedimento, que podem ser observados no esquema a seguir. Figura 2: Dificuldades na adesão ao método contraceptivo almejado. Fonte: Pesquisa sobre fatores que interferem na escolha e no uso dos métodos contraceptivos. 2014. Metade das participantes (50,00 %) culpou a burocracia dos encaminhamentos realizados nas UBSs, tanto para a consulta ginecológica quanto para a colocação do DIU e realização da laqueadura. Os efeitos colaterais causados pelos contraceptivos hormonais injetáveis e orais foram considerados fatores que dificultaram a utilização dos mesmos. Além disso, a pouca informação atuou como barreira entre o desejo das mulheres de utilizar o método e concretização do uso. “O que me impede de fazer a laqueadura é a espera do SUS, a demora dos encaminhamentos para essa palestra de planejamento familiar.”(UBSF12) 267 “Fui encaminhada, para fazer a laqueadura, mas demorou cinco meses, só para a consulta, eu não tinha dois filhos, por isso não quiseram fazer, eu engravidei do segundo agora me encaminharam de novo, vamos ver se vou poder fazer agora.” (UBSF05) “Tenho medo de ter hemorragia e minha colega disse que não é bom”. (UBS09) “(...) nunca tinham me falado nada eu nem sabia o que era laqueadura e que podia me ajudar, isso me impediu de fazer, porque era uma coisa que lá no posto deviam ter falado.” (UBSF06) A principal dificuldade na adesão a realização da laqueadura e a colocação do DIU, é que estes métodos não estão disponíveis nas UBS, por isso são realizados encaminhamentos das mulheres interessadas às unidades de saúde referência nos municípios. Em Rio Grande, as mulheres que desejam utilizar tais métodos são encaminhadas a Policlínica de Assistência Medica (PAM) Rio Grande e/ou ao grupo de planejamento familiar do hospital universitário. Os encaminhamentos podem demorar até dois anos para serem efetivados nas unidades de saúde referentes e, assim, as mulheres poderem ter acesso aos métodos desejados. A causa da demora na realização destes serviços é consequência da quantidade insuficiente de insumos destinados ao programa de planejamento família, além da má distribuição dos mesmos (YAMAMOTTO, 2012). 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os resultados do presente estudo evidenciaram que o custo, a disponibilidade e às características dos métodos contraceptivos, foram os principais fatores que influenciaram na escolha e no uso dos métodos contraceptivos. A disponibilidade e a facilidade de uso encontravam-se intimamente ligadas, pois ambas dependeram da distribuição de insumos e de informação. O acesso gratuito 268 aos métodos anticoncepcionais apareceu como um ponto positivo para a continuidade no uso. Outro principal fator foi à dificuldade de adaptação a alguns contraceptivos, o uso incorreto e a falta de informação sobre os mesmos. Por isso, o profissional de saúde deve estar capacitado para informar as clientes acerca dos distintos métodos e seus efeitos bem como a utilização correta destes. Torna-se imprescindível desenvolver uma semiótica apropriada para avaliar a existência de aspectos clínicos ou afecções presentes nas clientes que possam atuar como fatores impeditivos ou dificultadores do uso de determinados métodos contraceptivos. Se estes existirem, o profissional de saúde deve colocar os demais métodos possíveis à disposição da pessoa interessada, explicando-lhe as suas características, modo de uso, riscos e benefícios, bem como a eficácia. Dessa forma, possibilitará à cliente condições de fazer novas opções e comprometer-se com a escolha. Por isso é de extrema importância que as UBS’s proporcionem às usuárias momentos de esclarecimentos acerca dos métodos oferecidos pelo sistema de saúde para que, munidas de informações, possam realizar escolhas conscientes 6. REFERÊNCIAS BARDIN, L. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70,2011, 229p BARROS, S. M. O; MARINHO, H. F; ABRÃO, A. C. F. V. Enfermagem Obstetrícia e Ginecológica: Guia para Prática Assistencial. 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A esterilização cirúrgica feminina no Brasil; controvérsias na interpretação e desafios na aplicação da Lei 9263. 2012. 202f. Tese. Pós graduação em saúde pública. 271 São Paulo. 24.2) IMPLEMENTAÇÃO DA CONSULTA PUERPERAL REALIZADA POR RESIDENTE EM ENFERMAGEM OBSTETRICA EM UMA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE1 DA ROCHA, Bruna Dedavid2; DONADUZZI, Daiany Saldanha da Silveira 3; MARCHIORI, Mara Regina Caino Teixeira4; CORREA, Aline Medianeira Gomes5; PERLIN, Ana Paula Bicca6; BORDIGNON, Juliana da Silveira 7 RESUMO Introdução: A atenção à saúde da mulher e do neonato vem se constituindo em estratégia prioritária. A qualificação do acolhimento da gestante no pré-natal, parto e puerpério, se fazem extremamente necessária, com a forma de reduzir os índices de mortalidade materna. A consulta puerperal, em especial se faz necessária, pois no período pós-parto, a mulher também se depara com modificações fisiológicas, físicas e psicológicas. A Consulta de Enfermagem Puerperal, respaldada por lei, deve ser 1 Relato de experiência com aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa (parecer nº 758.677). Enfermeira. Residente do Programa de Residência em Enfermagem Obstétrica do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Membro do Núcleo de Estudos Mulheres, Gênero e Políticas Públicas da Universidade Federal de Santa Maria (NEMGeP/UFSM). Email: [email protected] 3 Enfermeira. Mestre em Enfermagem pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria (PPGEnf/UFSM). Enfermeira Concursada junto a Prefeitura Municipal de Santa Maria (PMSM). Preceptora no Programa de Residência em Enfermagem Obstétrica do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Email: [email protected] 4 Enfermeira. Mestre em Educação. Doutoranda do DINTER Novas Fronteiras UNIFESP/UFRJ/UFSM. Docente do Centro Universitário Franciscano. Tutora no Programa de Residência em Enfermagem Obstétrica do Centro Universitário Franciscano. Integrante do Grupo e Estudos e Pesquisa sobre Ensino de Enfermagem da EEAN/UFRJ. Integrante do Grupo de Estudos e Pesquisa em Empreendedorismo Social na Enfermagem/Saúde (GEPESES). E-mail: [email protected] 5 Enfermeira. Residente do Programa de Residência em Enfermagem Obstétrica do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Email: [email protected] 6 Enfermeira. Residente do Programa de Residência em Enfermagem Obstétrica do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Email:[email protected] 7 Enfermeira. Residente do Programa de Residência em Enfermagem Obstétrica do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Email: [email protected] 2 272 implementada por se constituir em um cuidado ampliado e humanizado à mulher e sua família. Portanto, deve ser realizada pela educação em saúde, por meio da troca de saberes e experiências entre profissional de saúde e a mulher e sua família. Objetivo: Socializar a experiência da implementação da consulta puerperal de Enfermagem, realizada por Residente em Enfermagem Obstétrica, em uma Unidade Básica de Saúde localizada no interior do Rio Grande do Sul. Metodologia: Estudo descritivo, na modalidade relato de experiência, o qual tem como cenário uma Unidade Básica na qual a Residência em Enfermagem Obstétrica do Centro Universitário Franciscano está inserida desde 2013. Resultados e discussão: Por meio da criação de vínculo, desenvolvido nas consultas de pré-natal, as mulheres aderiram à consulta puerperal com a enfermeira residente. A consulta puerperal de enfermagem também possibilitou uma primeira avaliação do recém-nascido, bem como o retorno de alguns para a consulta de puericultura. Conclusão: A inserção da Residência em Enfermagem Obstétrica na Atenção Básica de Saúde, proporcionou grandes mudanças na assistência à saúde da mulher no pré –natal, parto e puerpério. Além disso, tem possibilitado grandes movimentações na atenção obstétrica e neonatal, visando a qualidade e humanização do cuidado. Eixo Temático: Eixo 1: Atenção à Saúde da Mulher; Descritores: Saúde da Mulher; Período pós-parto; Educação em Saúde; Enfermagem Obstétrica. IMPLEMENTATION OF PUERPERAL QUERY PERFORMED BY RESIDENT IN NURSING OBSTETRICA IN A BASIC HEALTH UNIT ABSTRACT Introduction: Attention to women's health and the neonate has been forming in priority strategy. The qualification of the host of pregnant women in prenatal care, childbirth and the puerperium, are extremely necessary, as a way to reduce the rates 273 of maternal mortality. The puerperal consultation, especially if is necessary, because in the post-partum period, the woman also stumbles upon physiological, physical and psychological changes. The Puerperal nursing Consultation, backed by law, must be implemented by become extended care and humanized to the woman and her Family. Therefore, must be carried out by health education, through the exchange of knowledge and experiences between health professional and the woman and her family. Objective: Socialize the experience of implementation of puerperal nursing consultation, held by Resident in Obstetric Nursing in a basic health Unit located in the interior of Rio Grande do Sul. Methodology: Descriptive study, in case studies, which is set in a basic unit in which the Residence in Obstetric Nursing of Centro Universitário Franciscano is inserted from 2013. Results and discussions: Through the creation of bond, developed in prenatal consultations, women joined the puerperal consultation with nurse residente. Puerperal nursing consultation also enabled a first evaluation of the newborn, as well as the return of some childcare for the query. Conclusions: The insertion of the Residence in Obstetric Nursing in basic health Attention, resulted in major changes in the health care of women in prenatal, childbirth and the puerperium. In addition, has allowed a large obstetric and neonatal care, aiming at quality and humanization of care. Mainda theme: 1 – Prenatal Care Descritptors: Womens Health; Postpartum Period; Heath Education; Obstetric Nursing. 1. INTRODUÇÃO A atenção à saúde da mulher e do neonato, ao longo dos anos, vem se constituindo em uma estratégia prioritária, e tem como principal característica, a qualidade e a humanização da assistência prestada. Portanto, o acolhimento da gestante no pré-natal, parto e puerpério, constitui um cuidado humanizado e integral para a mãe e seu bebê (BRASIL, 2005). 274 Ao encontro da qualificação da assistência, em 2002, o Ministério da Saúde (MS) instituiu o Programa de Humanização do Pré – Natal e Nascimento (PHPN), o qual preconiza atendimento digno à mulher e ao recém-nascido, fazendo valer de seus direitos, por meio do acesso e acolhimento no pré - natal, parto e puerpério, bem como a incorporação de boas práticas no decorrer desse processo. A assistência pré-natal se constitui de um conjunto de ações, que visam realizar o acompanhamento da gestante, identificando possíveis fatores de risco gestacionais. Trata-se de um momento de educação em saúde, no qual a mulher e sua família recebem orientações sobre as mudanças fisiológicas na gestação bem como preparo psicológico para o momento do trabalho de parto e parto, e para o período pós - parto (LOPES et al, 2011). Portanto, possibilita uma atenção integralizada, visando uma assistência de qualidade e o empoderamento da mulher no momento do parto. A atenção integral bem como o acesso e a qualidade do pré-natal, se caracterizam como ações importantes para o controle da mortalidade materna, principalmente em se tratando do parto e puerpério. A mortalidade materna é considerada um importante indicativo de saúde da população feminina e as políticas públicas de atenção à saúde da mulher estão voltadas para a diminuição dos elevados índices que se apresentam. Para uma significativa redução, os esforços devem se voltar às medidas de prevenção, planejamento familiar, assistência pré-natal adequada, equipe qualificada, principalmente para atendimento imediato às intercorrências obstétricas e vigilância da mulher no período puerperal (VIANA; NOVAES; CALDERON, 2011). De acordo com dados recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil reduziu a taxa de mortalidade materna em 43% de 1999 a 2013. Ainda assim, está longe de alcançar a quinta meta dos Objetivos do Milênio, a qual preconiza a redução de 75% na taxa de mortalidade materna até o ano de 2015. Ainda, de acordo com o Segundo Relatório da OMS, aparece como a primeira causa de morte materna, a hemorragia grave, principalmente durante e depois do parto (SAY et al, 2014). 275 Portanto, a consulta puerperal se faz necessária pois no período pós-parto, a mulher se depara com algumas dificuldades, relacionadas à amamentação, aos cuidados com o recém-nascido e às alterações fisiológicas, como as que podem ocorrer nas mamas (ingurgitamento mamário, fissura mamilar), a eliminação dos lóquios (secreção sanguinolenta), a involução uterina. Além disso, a mulher se depara com grandes desafios e dificuldades, ao ter de conciliar o papel de ser mãe e mulher, o qual necessita de apoio familiar e principalmente dos profissionais da saúde. Atualmente, existe grande preocupação em acolher não somente a mulher, mas incluir também seu companheiro no processo gestacional e puerperal, o que proporciona a construção da identidade paterna e materna. A consulta puerperal de enfermagem permite esse acolhimento, uma vez que a assistência de enfermagem contempla o cuidado à família em todo o seu ciclo de vida, sendo a participação de todos os integrantes, fundamental para o bem estar de cada um nesse processo (OLIVEIRA; BRITO, 2009). De acordo com a Lei do exercício Profissional de Enfermagem,7498/86, no seu artigo 11, cabe ao enfermeiro, privativamente, a consulta de enfermagem bem como assistência à gestante, parturiente e puérpera (BRASIL, 1986). Portanto, ao profissional de enfermagem é garantida por lei, a realização de consulta de enfermagem, incluindo a consulta puerperal de enfermagem. A consulta puerperal de enfermagem deve ser implementada, por possibilitar a participação da puérpera, de sua família e do profissional, por meio da troca de informações e experiências. Nesse sentido, a educação em saúde é considerada uma prática que deve ser estimulada no contexto da enfermagem (RAVELLI, 2008). Principalmente, por possibilitar orientação e esclarecimento à puérpera, valorizando a experiência prévia da mulher e o contexto de vida em que está inserida. Estudo demonstra que as puérperas valorizam a consulta realizada pela enfermeira, principalmente se esta acontecer por meio de visitas domiciliares, as quais são realizadas principalmente pelas Estratégias de Saúde da Família. As mulheres se sentem valorizadas e importantes ao receber a visita do enfermeiro, e 276 se torna uma estratégia que possibilita continuidade do vínculo com o profissional enfermeiro (PEREIRA; GRADIM, 2014). Nesse sentido, por meio da Residência em enfermagem obstétrica do Centro Universitário Franciscano, localizada na cidade de Santa Maria, Rio grande do Sul, as consultas de pré-natal, puerpério, planejamento familiar e puericultura, foram aperfeiçoadas em algumas Unidades Básicas de saúde e Estratégias de Saúde da Família da cidade. Este relato terá como foco uma Unidade Básica de Saúde, localizada na região central da cidade, campo de atuação em que uma das Residentes em enfermagem obstétrica está inserida. 2. OBJETIVO Este estudo tem por objetivo socializar a experiência da implementação da consulta puerperal de enfermagem, realizada por Residente em enfermagem obstétrica, em uma Unidade Básica de Saúde localizada no interior do Rio Grande do Sul. 3. METODOLOGIA Trata-se de um estudo descritivo, na modalidade relato de experiência, o qual tem como cenário uma Unidade Básica de Saúde localizada na cidade de Santa Maria, Rio Grande do Sul, na qual a Residência em enfermagem obstétrica do Centro Universitário Franciscano está inserida desde 2013. A residência em enfermagem obstétrica faz parte do Programa Nacional de Residência em Enfermagem Obstétrica (PRONAENF) do Ministério da Saúde, que objetiva promover a formação de enfermeiros obstetras para serem inseridos e atuarem no Sistema único de Saúde (SUS). A residência possui como campos de atuação as Unidades Básicas de Saúde (UBS), Estratégias de Saúde da Família, bem como a maternidade de um hospital de médio porte da cidade de Santa Maria. Inicialmente, as residentes em enfermagem obstétrica, tem um primeiro contato com a atenção básica de saúde, onde irão permanecer atuando no período de um ano. As práticas ocorrem com foco na atenção à saúde da mulher e do recém 277 - nascido. Na atenção básica, a atuação acontece por meio da realização de consultas de pré-natal, puerpério, puericultura e planejamento familiar. O presente relato tem como foco principal, a consulta puerperal de enfermagem, realizada pela enfermeira residente em enfermagem obstétrica, no período de março a agosto de 2014. O processo de trabalho da referida UBS ocorre por meio do atendimento à demanda espontânea, na qual pacientes de diferentes regiões sanitárias da cidade, podem utilizar esse serviço de saúde. A demanda de gestantes atendidas nesse serviço é elevada, principalmente pela procura por um acompanhamento de qualidade e por ser uma unidade com localização central. Todas as mulheres que procuram a Unidade de Saúde, com suspeita ou certeza de gravidez são acolhidas, sendo que a primeira consulta de pré-natal já é realizada nesse momento. As consultas de pré – natal possibilitam a criação de vínculo com essas pacientes, o qual se perpetua até o retorno da mulher ao serviço de saúde para a consulta puerperal e de puericultura. O acompanhamento puerperal realizado por enfermeira residente em obstetrícia, iniciou em março de 2014, sendo que anteriormente, as pacientes eram atendidas apenas pelos médicos da unidade. Percebeu-se, a partir da inserção da segunda turma de residentes, nesse espaço, a importância da implementação da consulta puerperal para que se tenha uma continuidade do cuidado à mulher e seu bebê. Também se faz de extrema relevância, por oportunizar que a mulher receba as orientações necessárias sobre amamentação, cuidados com o bebê e planejamento familiar. As consultas, bem como as orientações de enfermagem, seguem um instrumento previamente elaborado pelas residentes, baseado nos Cadernos de Atenção Básica nº 32 – Atenção ao Pré-Natal de Baixo Risco e nº 26 – Saúde Sexual e Saúde Reprodutiva. As consultas são baseadas em orientações sobre amamentação, cuidados com o recém – nascido, autocuidado, participação do companheiro e da família no cuidado à criança, utilização de métodos contraceptivos e relação sexual. 278 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO Durante a consulta puerperal de enfermagem desenvolvida por residente em enfermagem obstétrica, a puérpera é acolhida juntamente com seu bebê, companheiro e ou familiares que estiverem juntos. Em um primeiro momento da consulta, são conferidos os dados de identificação da mulher (se a mesma realizou acompanhamento na Unidade Básica) ou são coletados esses dados. Em seguida, é realizada entrevista com a puérpera, com questionamentos sobre o pré-natal, se apresentou intercorrências, quantas consultas foram realizadas, quais as condutas realizadas. Além disso, são indagadas sobre a maternidade, data do parto, tipo de parto, tempo de gestação em semanas intercorrências durante o trabalho de parto e parto, intervenções da equipe de saúde no pré-parto, parto e pós-parto, uso de medicações e tempo de internação. Outros dados sobre a realização das vacinas preconizadas à gestante; o ambiente familiar; aspectos emocionais; alimentação; sono e repouso; atividades; uso de medicamentos. Em um segundo momento, é realizado o exame físico da puérpera, onde a mesma é avaliada em relação à coloração da pele/presença de anemia; avaliação das mamas; avaliação da involução uterina; avaliação dos lóquios; se parto cesáreo, avaliação da ferida operatória; se realizada episiotomia ou na ocorrência de laceração no parto vaginal; É aferida a pressão arterial; controle do peso; presença de edema. Em um último momento, são realizadas orientações e troca de conhecimentos relacionados ao aleitamento materno e/ou uso de leite artificial; higiene íntima; eliminações fisiológicas, relação sexual; exames; planejamento familiar e método de contracepção. Aproveita-se o momento da consulta puerperal para uma primeira avaliação do recém - nascido, bem como agendamento da primeira consulta de puericultura quando o bebê completar um mês de vida. ( orienta-se a primeira consulta na 1º semana de vida, sendo a segunda ao completar 30 dias). 279 Percebeu-se que, por meio da criação de vínculo iniciada nas consultas de pré-natal, as mulheres aderiram à consulta puerperal com a enfermeira residente, visto que anteriormente estava muito atrelada ao profissional médico, principalmente pela necessidade da prescrição do método contraceptivo. Notava-se que a grande demanda de gestantes nas consultas médicas impossibilitava a realização de orientações primordiais à puérpera e seu companheiro. Portanto, as consultas acabavam por restringirem-se à prescrição medicamentosa. Além disso, percebeu-se a inexistência de registros sobre a realização da consulta puerperal no prontuário das mulheres, bem como o não preenchimento do controle diário das gestantes e puérperas. A criação de um instrumento de coleta de dados possibilitou que a consulta puerperal fosse anexada pela enfermagem no prontuário, tendo assim um registro de que a consulta realmente aconteceu e o prontuário pode ser arquivado. A consulta puerperal de enfermagem também possibilitou uma primeira avaliação do recém-nascido, bem como o retorno de alguns para a consulta de puericultura. Ainda se apresenta como um desafio, visto que a presença de dois pediatras na referida unidade, faz com que as mulheres acabem por procurar mais esse profissional para a realização das consultas de puericultura. Embora necessite de muitos avanços para que as mulheres procurem pela assistência realizada por enfermeiros, muito já se conquistou na área maternoinfantil, sendo que todas as primeiras consultas de pré-natal são realizadas pela enfermeira residente e as gestantes já procuram por esse atendimento. Em relação às orientações realizadas, percebe-se nas consultas, que as puérperas possuem dúvidas referentes principalmente à amamentação e métodos contraceptivos. A importância da troca de saberes e experiências, da escuta qualificada, possibilita que as mulheres exteriorizem duas dúvidas e dificuldades, uma vez que se essa troca não acontece no momento em que apenas o profissional expõe seu conhecimento. Percebe-se também, que apesar das orientações realizadas no pré-natal, as mulheres demonstram muitas dificuldades no pós-parto e 280 necessitam de acompanhamento contínuo, principalmente em relação ao estímulo à amamentação, que deve ser perpetuado nas consultas de puericultura. A presença de familiar e/ou companheiro da puérpera na consulta também se faz necessário e possibilita que o mesmo também se sinta como parte integrante, principalmente da criação de seu filho. O que acontece, na maioria das vezes, é que os pais não associam a paternidade aos cuidados com o recém-nascido, auxílio na amamentação e contracepção. Isso ocorre desde o pré-natal, no qual muitos pais não participam por não sentirem-se parte desse momento, já que é a mulher que apresenta as modificações fisiológicas. A importância da criação de vínculo durante a assistência pré-natal é evidenciada em estudo que objetivou identificar motivos que favorecem o retorno das mulheres à consulta de pós-parto com a enfermagem. Identificou-se que as mulheres retornam ao serviço de saúde para a consulta puerperal por sentirem-se acolhidas pelos profissionais e pelo acompanhamento iniciado desde o pré-natal. Também destacam a preocupação com o bem estar do recém-nascido, o qual também pode ser avaliado juntamente com a mãe na consulta (ANGELO; BRITO, 2012). Reflexões acerca do preenchimento de dados, convergem com estudo realizado em 5 Unidades Básicas de Saúde de Pelotas, Rio Grande do Sul, que avaliou a qualidade dos registros no programa de pré-natal e da consulta puerperal. O registro das atividades realizadas durante o pré-natal e consulta puerperal apresentaram deficiência de dados, pois de 392 registros, 60% estavam sem informação alguma. Portanto, faz-se necessário garantir o retorno da gestante ao serviço de saúde, por meio de estratégias de captação como qualificação e integração da equipe (LOPES et al, 2011). Sobre as orientações realizadas pelo enfermeiro durante as consultas, só é possível a troca de saberes e vivências, por meio de relação de confiança e diálogo entre os sujeitos. Ao ouvir o outro e partindo de seus saberes e práticas, qualquer processo educativo e de produção de conhecimentos pode acontecer. Portanto, para adesão de mulheres às consultas, faz-se necessária estratégia e práticas de 281 educação e saúde, as quais devem ser baseadas na interação entre os sujeitos que possuem diferentes saberes, em um processo de construção e desconstrução de saberes e práticas (ACIOLI, 2007). O puerpério é um momento em que a mulher vivencia alterações fisiológicas e adaptações, principalmente referentes aos cuidados com o recém- nascido e a uma nova rotina de vida que tem início. Portanto, trata-se de um momento em que a mulher mais necessitará de apoio e, de acordo com estudo, as mulheres apontam a família, amigos, companheiro e profissional da saúde, como fontes de suporte. Destacam principalmente o apoio familiar financeiro e relacionado às adaptações do papel de mãe (BARBOSA et al, 2005). Em estudo que objetivou conhecer a visão de púerperas e enfermeiros sobre a consulta puerperal, as falas das participantes demonstraram deficiência de orientações sobre o cuidado integral à mulher que vivencia o período pós – parto. O cuidado realizado durante todo o processo parturitivo não garante autoconfiança as mulheres para que realizem o autocuidado. Questões relacionadas à sexualidade também merecem atenção na consulta puerperal. Este mesmo estudo demosntrou também, dificuldades e insegurança no retorno à vida sexual do casal, devido as modificações fisiológicas, psicológicas e relacionadas aos cuidados ao recémnascido (PEREIRA; GRADIM, 2014). Em relação à participação e ao papel do pai no período puerperal, destaca-se que o mesmo volta-se para o auxílio nos cuidados, principalmente contribuindo financeiramente. Essa questão advém de uma identidade de gênero, na qual o homem, detentor do poder social que exerce a mulher, é considerado o provedor do lar; À mulher cabe o papel de subalternidade, detendo-se ao espaço privado, aos cuidados da casa e dos filhos. No entanto, percebe-se que o homem se encaminha para uma mudança de papel, no momento em que se interessa pelos cuidados ao recém-nascido, às tarefas domésticas e ao perceber que sua família precisa de auxílio no período puerperal (OLIVEIRA; BRITO, 2009). Esse apoio deve ser estimulado pelos profissionais da saúde na consulta puerperal. 282 Portanto, o papel do enfermeiro na realização da consulta puerperal tem se mostrado eficaz e merece destaque no cenário da atenção ao ciclo gravídico puerperal. A presença de residente em enfermagem obstétrica nesse cenário deve ser vista como uma estratégia inovadora, que traz possibilidades no que tange à educação em saúde no período puerperal. O conhecimento específico na área obstétrica, possibilita um melhor acolhimento e acompanhamento a essas mulheres, principalmente pela disponibilidade de tempo que pode ser investido nas dúvidas, medos e inseguranças apresentados por essas mulheres. Além disso, o acompanhamento acontece desde o pré-natal, o que possibilita a integralidade e continuidade da assistência. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS A inserção da Residência em Enfermagem Obstétrica na Atenção Básica de Saúde, proporcionou grandes mudanças na assistência à saúde da mulher no pré – natal, parto e puerpério. Isso pode ser visualizado na crescente demanda de gestantes que procuram por esse serviço de saúde, e o retorno das mesmas nas consultas de puerpério e também na consulta de acompanhamento do crescimento e desenvolvimento infantil (puericultura). A humanização da assistência obstétrica é um desafio diária dos profissionais de enfermagem que atuam na área, e tem por objetivo a qualidade da assistência a mulheres no período gravídico puerperal. As consultas de pré – natal realizadas pela residência, possibilitaram a criação de vínculo entre profissional e paciente, o qual se perpetua até a consulta puerperal e ao planejamento reprodutivo, permitindo uma continuidade no cuidado. Além disso, a participação da família também deve ser estimulada pelos profissionais de enfermagem nas consultas. Principalmente pois o contexto de vida dos indivíduos, influencia diretamente no processo de saúde. Incluir a família como participante desse processo, requer profissionais qualificados e preparados para atender a essa demanda. 283 Também ressalta-se a importância do companheiro em toda a gestação e puerpério, de maneira a fazê-lo sentir-se participante ativo de todo o processo. Isso pode ser influenciado nas consultas de pré-natal, no auxílio aos cuidados relacionados a gestante, cuidados com o recém-nascido, apoio a mulher no trabalho de parto e parto e participação no planejamento reprodutivo. Percebe-se que a inserção da residência, tem possibilitado grandes movimentações na atenção obstétrica e neonatal, estimulando o empoderamento da mulher e seu protagonismo no processo parturitivo, bem como, fazendo valer seus de seus direitos sexuais e reprodutivos. Afinal, toda a mulher tem direito à assistência ao pré-natal, parto e puerpério de qualidade e humanizada, de acordo com o preconizado pelas políticas públicas em saúde da mulher. REFERÊNCIAS ACIOLI, S. A prática educativa como expressão do cuidado em saúde pública. Rev Bras Enferm, Brasília, v. 61, n. 1, p. 117-21, 2007. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/reben/v61n1/19.pdf>. Acesso em 28 ago. 2014. ANGELO, B.H.B.; BRITO, R.S. Consulta puerperal: o que leva as mulheres a buscarem essa assistência?. 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Participaram deste estudo, 10 puérperas internadas na maternidade de um hospital público municipal, da cidade de Santa Maria - RS, no período de outubro de 2013. A coleta dos dados ocorreu por meio de um questionário. A partir dos depoimentos, foi realizada a leitura minuciosa e a discussão teórica com a bibliografia sobre o assunto. Como resultado constatou-se que as participantes do estudo, puérperas, com idade entre 17 e 28 anos, a maioria casada, com número de gestações variando entre 1 e 7, que tiveram partos cesárea e normal, com no mínimo 4 consultas pré-natal. Concluiu-se a necessidade de uma educação continuada a fim de entender a essência do parto humanizado, sua 1 Pesquisa acadêmica realizada no decorrer da disciplina de Desenvolvimento Profissional V, Centro Universitário Franciscano. 2 Estudante de Graduação em Enfermagem do Centro Universitário Franciscano ([email protected]). 3 Estudante de Graduação em Enfermagem do Centro Universitário Franciscano ([email protected]). 4 Estudante de Graduação em Enfermagem do Centro Universitário Franciscano ([email protected]). 5 Enfermeira Residente de Enfermagem Obstétrica do Centro Universitário Franciscano ([email protected]). 6 Estudante de Graduação em Enfermagem do Centro Universitário Franciscano ([email protected]). 7 Doutoranda, docente do Curso de Graduação em Enfermagem, Centro Universitário Franciscano ([email protected]). 286 importância e o cuidado humanizado, bem como as orientações, que fazem parte da integralidade e do cuidar em sua essência. ABSTRACT This is qualitative research, descriptive- exploratory, that aims to meet the perception of parturient women about the labor from the perspective of humanization. Participated in this study, 10 recent mothers hospitalized in a hospital maternity public hall, the city of Santa Maria- RS, in October 2013. The data collection realized through a questionnaire. From the interviews, was through reading and discussion with the theoretical literature about the theme. The result it was found that the participants, who have recently given birth, aged between 17 and 28 years, mostly married, with number of pregnancies ranging between 1 and 7, who had cesarean births and normal, with at least 4 prenatal care. It was concluded the need for continuing education in order to understand the essence of humanized delivery, its importance and the humanized care, as well as the guidelines, which are part of the completeness in its essence. Eixo Temático: Eixo 4: Atenção ao Parto. Descritores: Enfermagem; Parto Humanizado; Humanização na assistência. Descriptors: Nursing; Humanizing Delivery; Humanization of assistance 1. INTRODUÇÃO O nascimento é o momento único que pode determinar algumas das mais profundas características da nossa existência. Dar a luz é o que designa o ato de parir, um momento sagrado e transcendental que pertence à mulher e ao seu filho. O decorrer do parto por ser um momento único revelador, no sentido de que cada mulher deveria ter a possibilidade de parir da maneira mais próxima daquilo que ela é em essência, acolhendo suas expectativas e respeitando o seu tempo e do bebê, tudo é um processo que requer respeito e apoio. 287 Existem hoje grandes discussões em relação à humanização do parto, e como torná-lo um evento fisiologicamente normal com as mínimas intervenções possíveis. A humanização nesta passagem de discussões, aceitações e alguns paradigmas, vêm adquirindo espaços e se torna sinônimo de cuidar bem do outro, de carinho e de atenção especial no momento do parto. Humanizar o parto não significa fazer ou não o parto normal, realizar ou não procedimentos intervencionistas, mas sim tornar a mulher protagonista desse evento e não mera espectadora, dando-lhe liberdade de escolha nos processos decisórios (SEIBERT, 2005). Implica também em mudanças na atitude, filosofia de vida e percepção de si e do outro como ser humano. A sensibilidade, a informação, a comunicação, a decisão e a responsabilidade devem ser compartilhadas entre mãe-mulher, família e profissionais de saúde (SILVA, 2005). Largura (2000), afirma que humanizar o parto é respeitar e criar condições para que todas as dimensões do ser multidimensional sejam atendidas: espirituais, psicológicas e biológicas. Já Odent (2002) relata que a sua prática o fez entender que o nascimento, distante de ser uma “questão médica”, é de fato uma parte integral da vida sexual e emocional das mulheres, e assim a equipe deve ser mera facilitadora cuja tarefa é a de intervir o mínimo possível. Contudo, analisando os conceitos acima definidos e o contexto que permeia esta realidade, podemos questionar o porquê da assistência ainda ocorrer de modo contrário e desvinculada a estas propostas humanísticas. Durante as atividades práticas curriculares da disciplina de Enfermagem em Saúde Materna, desenvolvida em uma Maternidade, os acadêmicos vivenciaram experiências pouco aproximadas do conceito ideal de parto humanizado. Assim, identificando a necessidade de buscar respostas para este fato, entendendo e conhecendo a percepção que os profissionais envolvidos com a assistência direta ao parto têm sobre a humanização e o que isso poderá contribuir com a assistência à mulher neste momento, sentiu-se o interesse em realizar este estudo. 288 2. OBJETIVO Conhecer a percepção das parturientes sobre o trabalho de parto e parto sob a ótica da humanização. 3. METODOLOGIA Trata-se de um estudo descritivo exploratório, com abordagem qualitativa. A abordagem qualitativa proporciona ao pesquisador a possibilidade de tentar compreender a maneira como as pessoas pensam e reagem diante das questões focalizadas, auxilia o investigador a conhecer a dinâmica e a estrutura da situação estudada do ponto de vista de quem a vivencia (MERIGUI, PRAÇA, 2003). Fizeram parte da pesquisa, puérperas internadas na unidade 300 do Hospital Casa de Saúde (HCS) do município de Santa Maria, RS, e acadêmicos do curso de enfermagem do Centro Universitário Franciscano, em campo prático na unidade. Os critérios de inclusão foram: Ser puérpera, estar internada na unidade, aceitar participar do estudo. Foi garantido o sigilo dos dados fornecidos e informado que os resultados do estudo serão apresentados em eventos e publicados em revistas científicas. A identificação dos participantes será feita a partir das iniciais P (Puérpera) e do número de entrada na ordem do texto (P1, P2,..., P16). A coleta dos dados foi realizada no mês de outubro de 2013. A coleta de dados foi realizada mediante a técnica de entrevista com questões norteadoras, possibilitando a interação entre pesquisador e sujeitos favorecendo a contextualização de experiências, vivências, sentidos que contribuíram para esclarecer a problemática da investigação (MINAYO, 2012). A análise dos dados foi qualitativa, baseada nos dados coletados e na literatura pesquisada. Para a análise e interpretação dos significados, foi utilizada a Análise Temática que consiste em descobrir os núcleos de sentido que compõem 289 uma comunicação cuja presença ou frequência tenham significado para o objetivo proposto (MINAYO, 2012). O atendimento às exigências éticas em pesquisa foi valorizado, tratando todos os indivíduos envolvidos, independente de gênero, etnia ou faixa etária, com respeito e justiça, minimizando riscos e maximizando benefícios. Todos os dados pessoais fornecidos não foram divulgados. As questões éticas são relevantes para desenvolver esse estudo, visando não correr o risco de invalidar a pesquisa, com o consentimento dos indivíduos de estarem cientes de que se trata de uma pesquisa científica, assegurando o sigilo e o anonimato aos sujeitos, tomando cuidados para a não manipulação dos dados (BRASIL, 2012). O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética Centro Universitário Franciscano sob o nº: 0452010.2. 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES Participaram do estudo 10(dez) puérperas, com idade entre 17 e 28 anos, a maioria casada, entre 1 e 7 gestações, com partos cesárea e normal, que fizeram no mínimo 4 consultas pré-natal. A partir dos depoimentos, foi realizada leitura minuciosa dos dados e os temas que emergiram do estudo, contrapondo com a literatura existente sobre a temática. 4.1 Humanização do trabalho de parto e parto A assistência obstétrica centrada nas necessidades das mulheres caracterizase pelo direito à autonomia da parturiente, em que a informação é fator relevante. Tal autonomia é a base principal para que a mulher tenha a liberdade de escolher ou recusar qualquer procedimento relacionado ao seu próprio corpo, e que esta escolha seja pertinente e convergente ao seu bem-estar. Se não houver informação com qualidade, o direito de decidir adequadamente torna-se inexistente (MACHADO, 2013). 290 Quando as mulheres demonstram a sua opinião, detêm o poder sobre o seu próprio corpo, ressaltando o que sabem a respeito do processo de trabalho de parto e parto. As informações ou orientações empoderam as mulheres e deixam explícitos o seu desejo de serem protagonistas do seu próprio parto, conforme os relatos provenientes do cotidiano dessas parturientes: “Eu acho que quando a gente tem um parto normal... Claro que tá todo mundo assessorando pra ver como que estão as coisas, mas é a gente que faz todo o trabalho,... depois vem o médico “costurar”; a médica bem dizer segurou e deu os pontos” (P3). Essa apropriação do corpo feminino é evidenciada pela postura corporal de distanciamento, em que o toque se dá apenas de maneira instrumental, sem informação ou permissão prévia, e pela total exclusão da mulher como sujeito participante daqueles envolvidos no parto. Para amenizar esta situação o acolhimento tem sido considerado, nos serviços de saúde, como um processo de relações humanas, o qual deve ser realizado por todos os profissionais nos diversos setores de atendimento. Assim, o acolhimento não se limita ao ato de receber, mas também a uma sequência de ações e modos que compõem o processo de trabalho em saúde (TORRES, 2008). “A primeira vez que eu vim aqui a moça me levou em todos os locais que eu ia passar na salinha de avaliação onde a Maitê nasceu porque não deu pra esperar. Inclusive as salinhas, uma de parto normal, berçário, todos os locais a gente fez um passeio; depois na segunda vez, elas me deram exercícios para eu fazer em casa, para ajudar” (P3). 291 Uma vez que a mulher é percebida apenas como um corpo, ou melhor, um útero de onde deverá nascer um bebê saudável, não há necessidade de dialogar com ela. Dessa maneira, os profissionais sentem-se com liberdade para, durante o atendimento ao parto, conversar sobre assuntos pessoais e discutir sobre problemas alheios à situação de parto. A indiferença e a impessoalidade nas relações igualmente são percebidas no esforço dos profissionais em se manterem incógnitos, através de vestimentas de bloco cirúrgico, máscaras, toucas e não identificação pelo nome (ACIOLI, 2008). As práticas educativas apontadas por essa autora como expressão do cuidado referem-se ao diálogo, ao ouvir o outro, valorizar o saber anterior, acreditando que todas as pessoas têm um conhecimento advindo de suas experiências e vivências, e de suas condições concretas de existência. Nos registros a seguir, nota-se a negação do direito à informação e à participação da mulher. “Eu fui bem atendida por muitas enfermeiras né, e também alguns não sei assim, mais desinteressados pela área da saúde porque teve algumas informações que eu não recebi né... eu tive um complicaçãozinha depois do parto, que eu não recebi direito essas informações, daí né através de conhecidos que eu consegui umas informações melhores, porque eu estou no meu direito né, to aqui tomando sangue... Então, essa parte eu achei ruim, ninguém explicava nada direito pra gente” (P2). “Não recebi nenhuma orientação de como seria o trabalho de parto.” (P1). “Não lembro de orientação, acho que sim. Na hora do toque recebi orientação não sei de quem.” (P10). 292 A necessidade e a importância da troca de conhecimentos entre o saber técnico e o saber popular, pressupondo que os saberes são apenas diferentes e não hierarquizados, valorizando não somente a teoria, mas sim a prática construída no dia a dia (ACIOLI, 2008). Assim, mesmo a parturiente não tendo conhecimento técnico sobre os procedimentos a serem realizados, o profissional da saúde pode informar o passo a passo e tudo que ele irá realizar, se for tudo bem explicado será bem compreendido. “No posto que eu faço o pré-natal recebi as informações de como ia ser o meu trabalho de parto, nas reuniões que as meninas da enfermagem fazem, e aqui na hora que eu cheguei que me colocaram o soro, me disseram “ah, mãe isso aqui vai aumentar a tua dilatação, vai ajudar...” Deram essa informação pra mim.” (P2). “Orientaram como que eu posso me ajudar em casa, acho que eram enfermeiras não sei, e eu comecei a fazer os exercícios, fiz os exercícios em casa e tal e isso acho que deve ter ajudado”. (P3) Desse modo, mesmo a parturiente não tendo conhecimento técnico sobre os procedimentos a serem realizados, mas o profissional da saúde pode informar o passo a passo e tudo que ele irá realizar, pois explicando bem será compreendido.A utilização consciente por parte da equipe de saúde da comunicação verbal e não verbal possibilita maior qualidade à relação profissional-paciente, favorecendo um ambiente acolhedor e proporcionando que a mulher vivencie de maneira positiva o nascimento de seu filho. O Ministério da Saúde afirma que existe a necessidade de modificações profundas nas maternidades brasileiras, para prestar uma assistência mais humanizada e de qualidade ao parto. Este processo inclui a adequação da estrutura 293 física e equipamentos dos hospitais, capacitação dos profissionais e mudanças de postura e atitude dos profissionais de saúde e das gestantes (BRASIL, 2003). Os resultados do estudo contribuíram com uma visão mais aprofundada sobre a humanização do processo de nascimento e oferecem subsídios para esta assistência, tendo em vista que apontam elementos que podem subsidiar mudanças no cotidiano de trabalho dos profissionais, garantindo assim uma assistência segura e de qualidade para o binômio mãe-filho. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS A pesquisa possibilitou ampliar conhecimento cotidiano e identificar falhas que ainda necessitam de correções para que o parto humanizado possa ser praticado de forma correta, eficaz e rotineira. Além disso, contribuiu para instigar questões que podem nortear pesquisas, assim somando conhecimento e efetivando resultados. Constata-se a necessidade de uma educação continuada para com profissionais da área, a fim de entender a essência do parto humanizado e a sua importância para as mulheres, que cada dia mais exige seus direitos, propiciando autonomia e empoderamento. Evidencia-se que o cuidado humanizado, que inclui as ações educativas, a comunicação verbal e não verbal, que fazem parte da integralidade e do cuidar em sua essência, indispensável nas redes de atenções de todas as instâncias do SUS e da rede privada. REFERÊNCIAS ARAÚJO, M.M.T.; SILVA, M.J.P.; PUGGINA, A.C.G. A comunicação não verbal enquanto fator iatrogênico. Rev Esc Enferm USP, v.41, n.3,p.:419-25, 2007. BERRIDGE, E.J.; MACKINTOSH, N.J.; FREETH, D.S. Supporting patient safety: examining communication within delivery suite teams through contrasting approaches to research observation. Midwifery, v.26, p. 512-9, 2010. 294 BRASIL. Ministério da Saúde (BR). Conselho Nacional de Saúde. Comissão Nacional de Ética em Pesquisa.Resolução n° 466/12 de 12 de Dezembro de 2012.Aprova as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres humanos.Brasília:Ministério da Saúde;2012. _______. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Área Técnica de Saúde da Mulher. Parto, aborto e puerpério: assistência humanizada à mulher. Brasília: Ministério da Saúde; 2001. _______. Ministério da Saúde (BR). Parto, aborto e puerpério: assistência humanizada à saúde. 2ª ed. Brasília (DF); 2003. ODENT, Michel. A Cientificação do Amor. São Paulo, Terceira margem, 2000. DAVIN, Rejane Marie Barbosa; TORRES, Gilson de Vasconcelos. Acolhimento: opinião de puérperas em sistema de alojamento conjunto em uma maternidade pública de Natal/RN. Rev. Rene. Fortaleza, v. 9, n. 3, p. 37-43, jul./set.2008. GIL, A.C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4 ed. 12 reimpr. São Paulo: Atlas, 2009. MACHADO, Nilce Xavier de Souza; PRACA, Neide de Souza. Centro de parto normal, ea Assistência obstétrica centrada NAS Necessidades da parturiente. Rev. esc.enferm. USP, São Paulo, v 40, n. 2, junho de 2006. MERIGUI, M. B; PRAÇA, N.S. Abordagens teórico-metodológicas qualitativas. Rio de Janeiro (RJ): Guanabara Koogan; 2003. MINAYO, M. C. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 12º ed. Rio de Janeiro (RJ): HUCITEC; 2012. 295 26.2) A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS NA UTI NEONATAL: UMA COLABORAÇÃO NO CUIDADO DE ENFERMAGEM1 BORDIGNON, Juliana Silveira 2; GEHLEN, Maria Helena 3 ; GOMES, Iris E. Messa4; RIZZI, Rodrigo5; SCHIO, Flaviana6; ROCHA, Bruna D. da7 RESUMO O estudo teve por objetivo conhecer os saberes dos pais com os filhos recémnascidos internados em uma unidade de terapia intensiva neonatal de um hospital universitário no interior do Rio Grande do Sul, Brasil, a fim da melhoria da promoção do vínculo familiar e da participação no cuidado de enfermagem. Trata-se de uma pesquisa descritiva-exploratória, qualitativa, onde foi utilizada entrevista semiestruturada e observação. Participaram do estudo seis (6) mães de recém-nascidos internados. A análise dos dados revelou duas temáticas: “o cenário no ambiente de UTI neonatal”; “promoção do cuidado ao recém-nascido dialogando saberes como um estímulo à participação dos pais”. Concluiu-se, com este estudo, a extrema relevância do aprimoramento dos conhecimentos teórico-conceituais, o que, certamente, contribui à qualificação de profissionais de saúde frente à prestação de cuidados e informações aos pais com os filhos internados em UTI neonatal. 1 Trabalho de pesquisa e extensão do Curso de Enfermagem do Centro Universitário Franciscano e do Grupo de Estudos e Pesquisa em Empreendedorismo Social da Enfermagem e Saúde (GEPESES/CNPq) 2 Enfermeira. Residente do Programa de Residência em Enfermagem Obstétrica do Centro Universitário Franciscano. Relatora. Email: [email protected] 3 Enfermeira. Docente do curso de graduação em Enfermagem do Centro Universitário Franciscano. Mestre em Educação Brasileira. Pesquisadora GEPESES/CNPq. E-mail: [email protected] 4 Enfermeira. Residente do Programa de Residência em Enfermagem Obstétrica do Centro Universitário Franciscano. E-mail: [email protected] 5 Acadêmico do curso de enfermagem do Centro Universitário Franciscano. Membro do GEPESES/CNPq. E-mail: [email protected] 6 Acadêmico do curso de enfermagem do Centro Universitário Franciscano. Membro do GEPESES/CNPq. E-mail: [email protected] 7 Enfermeira. Residente do Programa de Residência em Enfermagem Obstétrica do Centro Universitário Franciscano. E-mail: [email protected] 296 Eixo Temático: Atenção à Saúde do recém-nascido Descritores: Unidade de Terapia Intensiva Neonatal; Recém-Nascido; Cuidados de Enfermagem; Relações Pais-Filho. RESÚMEN El objetivo del estudio fue conocer el conocimiento de los padres con recién nacidos ingresados en una unidad de cuidados intensivos neonatales de un hospital universitario de Rio Grande do Sul, Brasil, para la mejora de la promoción de los vínculos familiares y la participación en la atención de enfermería. Se trata de una investigación cualitativa descriptiva-exploratoria, que se utilizó entrevistas semiestructuradas y observación. Los participantes fueron seis (6) las madres de los recién nacidos admitidos. El análisis de datos reveló dos temas: "la escena en el ambiente de la UCIN"; "Avanzar en el cuidado de los conocimientos dialogante recién nacido como un estímulo a la participación de los padres." Se concluye de este estudio, de gran relevancia para la mejora del conocimiento teórico y conceptual, lo que sin duda contribuye a la capacitación de profesionales de la salud a través de la atención y la información a los padres con hijos en las UCI neonatal. 1. INTRODUÇÃO Conforme previsto pela Constituição Federal Brasileira de 1988, é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, protegendo-os de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão (BRASIL, 1988). Além disso, é assegurado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, que todos possuam os direitos fundamentais referentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral, assegurados por lei e por outros meios, de todas as oportunidades e 297 facilidades que lhe promovam o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, bem como as condições de liberdade e dignidade (BRASIL, 1990). A família assume junto ao recém nascido, a criança e o adolescente um vínculo de apoio e respeito de maneira a colaborar com o bem estar dos mesmos já que o cuidado nasce do interesse, responsabilidade, preocupação e afeto, o qual, em geral, implicitamente inclui o maternal o que, por sua vez, implica ajudar a crescer. Essa conotação de cuidado inclui prover, além da atenção e do afeto, o conforto e demais atividades que possibilitam o bem estar, a restauração do corpo e da alma e a dignidade da pessoa como um ser singular (THOMAS, CARVALHO; 1999). A assistência neonatal vem passando por muitas transformações e proporcionando novas tecnologias num universo mais amplo de cuidado aos recémnascidos (RNs) de alto risco. Estes avanços da área neonatológica têm possibilitado maior sobrevida aos RNs prematuros. Nos últimos anos, grandes mudanças vêm ocorrendo no ambiente das unidades neonatais no Brasil, de certa forma acompanhando a tendência mundial (COSTA, PADILHA, MONTICELLI; 2010). Houve um aumento significativo da tecnologia dura, sendo que a tecnologia leve não acompanhou de igual evolução, principalmente no que diz respeito ao manuseio individualizado dos recém-nascidos, interferindo, assim, nos cuidados dispensados a eles (RIBEIRO, 2007). A participação dos pais no cuidado ao recém-nascido de risco tem sido modificada em decorrência das transformações da assistência ao neonato. Em meados do século XX, foram surgindo novas formas de cuidado desenvolvidas em resposta aos questionamentos e estudos, abordando os prejuízos da separação do binômio mãe-filho para o desenvolvimento do neonato e das relações familiares. Apesar disso, o cuidado em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) ainda é visto como mecânico e impessoal, centrado em técnicas e procedimentos considerados capazes de garantir a sobrevivência do recém-nascido (DUARTE, 2012). Compreende-se a relevância do vínculo entre o profissional de enfermagem e 298 os pais de maneira colaborativa já que ambos proporcionam o bem estar e benefícios durante a internação do recém nascido (CONZ, 2008). Cabe ressaltar que mais da metade das mortes de menores de um ano ocorre nos primeiros seis dias, e isto pode ser evitado com uma assistência ao pré-natal e ao parto, acesso da mãe à informação e controle social dos serviços públicos. Porém, os cuidados não devem ser apenas durante a gestação. Após o nascimento, a mãe deve continuar tendo toda atenção necessária (FONSECA, SCOCHI; 2005). Os recém-nascidos de risco, separados abruptamente de suas famílias, perdem o laço de união que os liga às mesmas, comprometendo o seu crescimento e desenvolvimento, o que traz malefícios tanto ao bebê quanto aos pais, que pode ter a sensação de ter perdido o seu filho, quebrando o vínculo que deveria existir entre a eles e o recém-nascido (DANTAS, 2011). Fonseca e Schochi (2005), ressaltam também que quando um bebê prematuro nasce, a mãe pode se sentir culpada, angustiada e com medo por ser um bebê pequeno e dependente de cuidados especiais. Por conta disso, muitas vezes a mãe apresenta dificuldade de iniciar uma aproximação com seu filho prematuro. A mãe não sente que o bebê seja seu, mas, sim, que ele pertence à equipe da UTIN. Estes bebês precisam muitas vezes, de internação prolongada, acontecimento este que separa a família da criança, ocasionando grande estresse nos familiares, uma vez que o ambiente da UTI pode originar medo, angústia e inquietação aos pais, sendo a equipe de enfermagem promotora do vínculo para o entendimento desta vivência (CONZ, 2008). Com base no exposto, a pesquisa teve por objetivo conhecer os saberes dos pais dos recém-nascidos internados na UTI Neonatal de um hospital de grande porte na cidade de Santa Maria-RS, a fim da promoção do vínculo familiar e da participação no cuidado de enfermagem. 299 2. METODOLOGIA 2.1 CARACTERÍSTICAS DO ESTUDO Trata-se de uma pesquisa do tipo descritiva-exploratória, a qual segundo Marconi e Lakatos (2002) tem por objetivo descrever determinados fenômenos, como as informações detalhadas obtidas por intermédio da observação participante, na qual precede-se ao processo da sistematização. 2.2 LOCAL E SUJEITO DO ESTUDO O estudo foi realizado num Hospital Universitário de grande porte, referência para as pessoas residentes em Santa Maria e cidades abrangidas pela 4ª Coordenadoria Regional de Saúde. A equipe multidisciplinar de saúde que atua na referida unidade hospitalar é composta por enfermeiras, médicos, fonoaudiólogos, fisioterapeutas e técnicos de enfermagem. Além disso, a unidade conta também com a atuação de médicos residentes. Foram participantes do estudo seis mães dos recém nascidos internados na UTI Neonatal no período de Abril a Maio de 2010, sendo que o desenvolvimento deste estudo foi compreendido nos meses de Março a Junho de 2010. A escolha dos participantes foi realizada aleatoriamente, e identificado por codinomes de flores. Todas eram mães dos recém nascidos, no qual ao serem abordadas para participarem do estudo, o período de hospitalização do bebê foi compreendido entre dois dias a um mês e meio, no momento da entrevista. A média de idade dos sujeitos foi de 24 anos, variando de 15 anos à 33 anos. Das entrevistadas, quatro eram solteiras, e duas casadas. Quanto ao nível de escolaridade, duas possuíam ensino fundamental completo e quatro possuíam o ensino médio completo. Quatro das entrevistadas eram do lar, uma estudante e uma doméstica. A renda familiar de duas era de um salário mínimo, três com dois salários 300 mínimos e uma com quatro salários mínimos. Cinco realizaram pré-natal e apenas uma não realizou. 2.3 MÉTODO DE ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS Para analisar os dados da pesquisa, realizou-se em um primeiro momento uma análise frequencial dos depoimentos em que foi conhecido o saber dos pais com os filhos recém nascidos e internados na UTI Neonatal do Hospital Universitário de Santa Maria - HUSM, no intuito da sua participação no cuidado de enfermagem. O segundo momento implicou na identificação das temáticas, técnica proposta por Minayo (2004), onde surgiram os seguintes eixos: “O Cenário no ambiente de UTI Neonatal” e “Promoção do Cuidado ao Recém-Nascido dialogando saberes como um estímulo à participação dos pais”, que emergirão a partir dos dados obtidos. Enfim, a terceira e última etapa consistiu na discussão dos resultados da pesquisa. 2.4 TÉCNICA DE COLETA DE DADOS Os instrumentos usados para a coleta de dados foram: entrevista semi– estruturada e observação. Para Gil (1999), a entrevista é a técnica em que o investigador se apresenta frente ao investigado e lhe formula perguntas, com o objetivo de obtenção dos dados que interessam á investigação, portanto uma forma de interação social. Já a observação apresenta os fatos como percebidos diretamente, sem qualquer intermediação, desse modo, a subjetividade, que permeia todo o processo de investigação social, tende a ser reduzida. 2.5 ASPECTOS ÉTICOS Com base no que consta na Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 1996), referente à pesquisa envolvendo seres humanos, o presente 301 estudo foi encaminhado ao Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário Franciscano - CEP/UNIFRA, e para o Comitê de Ética e Pesquisa do Hospital Universitário de Santa Maria, para a análise e aprovação, sendo também solicitado autorização institucional. Foi disponibilizado aos participantes do estudo o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, o qual apresentado em duas vias, ficando uma com o participante e outra com a pesquisadora deste trabalho. 3. RESULTADOS E DISCUSSÕES 3.1 O cenário no ambiente da UTI Neonatal Todos os dias nascem crianças com problemas de saúde (prematuros, infecção neonatal, mal formações congênitas, distúrbios endócrinos, distúrbios hematológicos e outros), necessitando de atendimento em suas especificidades biológicas e emocionais, através do cuidado de qualidade e dos avanços tecnológicos (COSTENARO, 2001). O ambiente de uma UTI Neonatal proporciona um cenário que poderá ser compreendido como o mundo intra-uterino diferente, sendo distinto pela iluminação contínua, interrupção frequente dos períodos de sono e repouso com procedimentos e atividades diversas. O útero materno é o ideal para o crescimento e o desenvolvimento fetal, permitindo ao feto repouso e sono profundo, o que colabora para o crescimento cerebral, conforme as falas descritas: “[...] tem um deles que tem que tirar O2, dão medicação.” (Margarida) “[...] remédio, cuidando [pensou]” (Tulipa) “Dos procedimentos que tão fazendo aqui na UTI, ontem que eu cheguei elas ‘tavam’ aspirando, trocando os tubos, daí eu peguei ela no colo.” (Lírio) Durante a observação, pelas condições em que a mãe se encontrava, e os dias de internação, era impossível que realizasse os cuidados com seu filho, pelas condições em que o recém-nascido encontrava-se. Mas, mesmo assim, notou-se 302 que a mãe tinha muita atenção quanto aos cuidados em que a equipe de enfermagem prestava ao seu filho. Percebe-se, ao conhecer os saberes dos pais no ambiente da UTI, que os recém-nascidos são manuseados com frequência, apresentando um período de repouso diminuído por conta das interrupções. Após o nascimento e a admissão na UTI Neonatal, o sono do recém-nascido é interrompido uma média de 132 vezes em 24 horas, com períodos de descanso de 4 a 9 minutos consecutivos. Contudo, deve-se ter um cuidado maior com o recémnascido, diminuir ao máximo o manuseio, as interrupções do sono, a iluminação e principalmente o barulho. (TAMEZ 2002). No ambiente da UTI, os saberes dos pais promovem o vínculo com os cuidados prestados junto à equipe de enfermagem, pois os procedimentos necessários são realizados em comum acordo, de maneira participativa. Por outro viés, os pais durante o período da gravidez criam expectativas de um filho com características iguais às suas, com projeções e esperanças, de modo que com o nascimento, é considerada uma perda se o recém-nascido ficar internado em uma UTI Neonatal, desfazendo desta forma os sonhos, trazendo desapontamentos, sentimentos de incapacidade, culpa e medo da perda. “Perdi o chão, tinha a intenção de levar ele pra casa e não poder, é um sofrimento enorme.” (Rosa) “É difícil né [...]” (Tulipa) “É uma provação, um momento de superação, ela foi muito esperada, agora é só dar tempo ao tempo, um dia após o outro e ver ela melhorando [...]” (Lírio) Nesse sentido, as mães tem seu mundo mudado no momento em que “perdem” seus recém-nascidos, sentem-se culpadas, impotentes pelo fato de terem seus filhos internados na UTI Neonatal, sem ter o que fazer, apenas esperar para vê-los bem, indo para casa. Os pais devem compreender e saber sobre a situação de hospitalização do filho e encontrar maneiras de adaptar suas expectativas e seus planos de acordo 303 com a realidade do ambiente da UTI. A equipe de enfermagem deverá estimular a participação dos pais, aliviando o estresse, criando vínculo, desmistificando e permitindo a visita sempre que for possível. Na primeira visita, a equipe deve explicar todas as normas e rotinas da UTI, como é possível obter informações por telefone, uso de avental, higienização das mãos antes de entrar na UTI, os cuidados que se deve ter durante a visita, descrevendo os equipamentos envolvidos no cuidado com o recém-nascido, bem como orientar o estado em que se encontra no momento, o tratamento e as condições para a alta do recém-nascido (KENNER 2001). “[...] à pouco mesmo eu perguntei pra médica e ainda, que é muito bom, não tenho o que reclamar [...]” (Girassol) “Todos os procedimentos elas me passam né [...] eu pergunto, tiro as minhas dúvidas e elas me explicam.” (Lírio) “Pergunto para a enfermeira, residente, pediatra, os três juntos [...]” (Margarida) Compreende-se, ao conhecer os saberes dos pais que eles têm interesse em entender o que e como fazem os cuidados com seus filhos, sanando as suas dúvidas e orientando quanto aos procedimentos realizados. E o que ocorreu na observação foi a atenção e a preocupação em que as mães têm quanto ao cuidado e os procedimentos em que a equipe de enfermagem presta ao seu filho. Na UTI Neonatal, como em qualquer outra unidade de um hospital, o cuidado de enfermagem muitas vezes pode ser realizado sem levar em conta as necessidades do sujeito, o que pode ser denominado como cuidado democrático, pois mesmo que o cuidador manifeste a preocupação em não causar prejuízo ou mal-estar a quem se cuida, é sempre realizado a partir do ponto de vista do cuidador (KENNER, 2001). Para que ocorra a participação dos pais, a organização do cuidado de enfermagem deve permitir uma assistência voltada para as necessidades individuais dos bebês e das dívidas de seus pais, na qual os cuidados promovam o vínculo familiar, não vindo a causar danos na vida futura dessas crianças. 304 “[...] tiro as minhas dúvidas, e elas me explicam tudo” (Lírio) “Quando não posso vir, ligo pra saber como ela ta, normalmente falo com a médica, mas quando não dá falo com a enfermeira, [...] sempre me dão toda a atenção.” (Girassol) “Pergunto pra enfermeira e pro médico, sempre tiram minhas dúvidas, me ajudam [...]” (Tulipa) As mães têm seus medos e angústias tirados no momento em que perguntam para a equipe quanto aos cuidados, procedimentos realizados, pois na observação percebe-se a face aliviada, sem preocupação. Cabe salientar que a equipe de enfermagem no ambiente de UTI Neonatal deve conhecer além da tecnologia, mas a promoção do cuidado, de maneira participativa com o perfil dos pais e a família, zelando pelos sentimentos, dominando a ansiedade e as frustrações, se o objetivo for o de ajudar os recém-nascidos e seus pais (COSTENARO 2001). Notou-se que os pais tem o apoio da equipe de enfermagem, onde eles procuram ajudar da melhor forma possível, colocando-se a disposição dos pais, tirando suas dúvidas. “Eu fiquei apavorada [se emocionou, chorou] elas são muito atenciosas.. fiquei confusa, tudo eu queria saber, elas me explicando.” (Lírio) “[...] fico nervosa né, não sei como ele ta, mas elas me acalmam, sei que eles vão embora logo se Deus quiser [...]” (Margarida) Ao conhecer os saberes dos pais percebeu-se que eles fazem-se presentes em todos os momentos da internação dos recém-nascidos, da forma mais positiva possível. O papel gerencial do enfermeiro no ambiente de uma UTI Neonatal é muito específico e diversificado, é necessário conhecimento técnico-científico especializado em promover assistência, fundamentado em tecnologias de alta complexidade e em equipe de enfermagem qualificada, que o diálogo de saberes 305 com pais deve sustentar suas orientações de maneira a estimular a participação dos mesmos. 3.2 Promoção do cuidado ao recém-nascido dialogando saberes como um estímulo à participação dos pais A perspectiva da integralidade na promoção do cuidado com a participação dos pais faz-se necessário pensar em ações que além de recuperar a saúde do recém-nascido priorizem também o atendimento de suas diversas necessidades, dentre ela a convivência com os pais/família em uma UTI Neonatal. Os pais vêm sendo inseridos aos poucos na promoção do cuidado ao recémnascido no cotidiano da maioria das UTIs Neonatais (GAÍVA, 2009). Mas esta participação se relaciona com os seus saberes e muitas vezes são restringidas apenas à mãe, ao pai e a membros importantes da família, e que muitas vezes ainda há dificuldade de acesso a orientações, informações, e notícias quanto ao recémnascido. “ Todos os dias, venho de manhã e vou a tarde, fico o tempo que posso, é para o bem dele [...]” (Rosa) “ O meu marido e eu estamos sempre aqui, todos os dias [...] dependendo umas quatro ou cinco vezes, se pudesse ficaria toda hora.” (Cravo) “[...] Eu venho três vezes por semana, eu e o pai dele.” (Girassol) As mães ficam o tempo que julgam necessário para realizar os cuidados com seu filho, sem pressa ou preocupação. Observou-se também o interesse com a qualidade do tempo em que passam com eles. Considera-se a necessidade de promover o cuidado de enfermagem dialogando os saberes com os pais, pois não se restringe o “convívio” maior com o recém-nascido, embora se compreenda a dificuldade de acesso do restante da família, seja pela distância ou até mesmo a insegurança em ver o recém-nascido. 306 A inclusão e a participação da família no cotidiano nas UTIs Neonatais implicou considerá-la protagonista do cuidado, estimulando sua autonomia e o seu grau de responsabilização, já que a família ajuda de diversas formas, seja pelo saber, pela fé, otimismo ou perseverança. Durante a internação da criança na UTIN, a família, os amigos e os pai encontram-se confusos e com medo, necessitando de uma equipe de enfermagem que proporcione apoio, orientações, incentivo, pois a fé o amor que os mesmos dispensam ao recém nascido é incondicional, ou seja, a família unida, frente ao desconhecido aceita, compreende e assim colabora com o cuidado. “[...] sempre que dá o pai vem, a minha irmã veio aqui também, pra conhecer eles.” (Margarida) “[...] já veio as duas avós, o pai, a tia, prima, bisavó, uma amiga minha [...], ah, vem quem pode, quem quer ver ela.” (Tulipa)” Salienta-se que a visitação do sujeito que prevaleceu durante a realização do estudo foi a mãe, todavia os demais membros da família estão integrados aos cuidados prestados ao recém-nascido, apoiando e colaborando no momento da internação. Quando a condição do recém-nascido permitir a equipe de enfermagem deve estimular que os pais realizem os cuidados básicos, visitem sempre que possível, participando da alimentação, da troca de fraldas, da aplicação de cremes e pomadas obtendo um contato maior, sustentando o vinculo familiar ao conversarem com o recém-nascido. “Troco, dou mama, vejo a temperatura dela.” (Tulipa) “[...] dou mama, troco fralda, ajudo no banho, sempre que dá ajudo elas.” (Margarida) “Cuidados [pensou] troco fralda, do mama.” (Girassol) Nota-se que os cuidados prestados pelos pais é realizado com amor, atenção, cuidado, vontade de fazer a diferença perante o filho, se aproximando, criando um vinculo maior, para quando forem para casa não sentirem-se perdidos, sozinhos. 307 Apesar dos avanços obtidos em todas as áreas do cuidado junto ao recém nascido na UTI Neonatal, particularmente no que se refere em métodos, o cuidado dos pais junto ao recém nascido continua sendo um desafio, pois o fato de que os pais tem medo, insegurança perante os cuidados prestados ao recém nascido. No entanto, observou-se que as mães realizam cuidados com seus filhos, de forma que isso aproxima-os cada vez mais, desfazendo o medo, angustias, frustrações que elas possam ter tido em algum momento. “Hoje eu mudei ela (risada alegre) primeira vez que eu mudei ela, elas me ajudaram, explicaram” (Cravo) “[...] querer sempre perto e não poder, é um sofrimento enorme, cuidando dele eu fico mais perto.” (Rosa) A equipe de enfermagem ao dialogar saberes com os pais estimula o aleitamento materno observando a atitude perante o recém-nascido como uma maneira de estimular a capacidade dos pais em participar do cuidado do seu recémnascido. São várias as formas de aproximação da família no cuidado com o recémnascido, dentre elas, estão o alojamento conjunto materno, o método Mãe Canguru, a internação domiciliar, a liberação da visita de familiares e grupos de apoio (GAÍVA, 2009). Estas iniciativas ainda não estão inseridas na UTI Neonatal onde se desenvolveu o estudo, porem procura-se atender as necessidades dos neonatos as quais a equipe de enfermagem, ofereceu apoio para que os familiares adquirindo autonomia no cuidado do seu filho para o ambiente domiciliar. Observou-se que os pais lutavam diariamente para não desanimar e construir o vinculo com força e esperança; portanto, a participação dos pais significa inseri-los na realidade de cuidados da UTI, pois são necessários para nutrir a fé no viver saudável de seus filhos. Além disso, a participação dos pais no espaço da UTI Neonatal envolveu o compromisso da equipe de enfermagem na promoção do cuidado muito mais que o ato de cuidar da saúde em si, pois implicou vislumbrar e cuidar do recém-nascido em sua integralidade com um ser que pertence a uma família. 308 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao atender o objetivo do estudo, considerou-se que quando os pais e familiares passam a conviver e a participar ativamente perante ao processo de viver e de cura de seus filhos, e aceitam melhor todas as possibilidades de tratamento e de cuidado, o diálogo de saberes e a troca de experiência é, sem dúvida, fundamental perante as situações de crise nas quais os pais passam. A realização desta pesquisa foi de extrema relevância para o aprimoramento dos conhecimentos teórico-conceituais, e que, certamente contribui à qualificação de profissionais de saúde, frente à prestação de cuidados e informações aos pais com os filhos internados em UTI Neonatal. A relevância deste tema evidenciou-se devido a atividades realizadas por meio de bolsa acadêmica, o que foi muito importante, e o que pesa nesta questão é a lacuna de experiência oportunizada durante a graduação, na vivência dentro do ambiente de uma UTI Neonatal, com a equipe e com os pais. Esta pesquisa contribuirá para a enfermagem para possíveis consultas quanto à experiências do conhecimento dos pais para com a equipe de enfermagem. REFERÊNCIAS BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília-DF, 1988. BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 – Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente. Brasília-DF, 1990. CONZ, C. A. A vivência da enfermeira no cuidado ao recém-nascido e aos seus pais na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal: uma abordagem da fenomenologia social. São Paulo, 2008. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008. 309 COSTA, R.; PADILHA, M. I.; MONTICELLI, M. Produção de conhecimento sobre o cuidado ao recém-nascido em UTI Neonatal: contribuição da enfermagem brasileira. Rev. esc. enferm. USP vol.44 no.1 São Paulo Mar. 2010 COSTENARO, R. G. S. Ambiente Terapêutico de Cuidado ao Recém-Nascido em UTI Neonatal. Centro Universitário Franciscano. Santa Maria, RS. 2001. DANTAS, A. L. B. O sentido do cuidado para mães no Método Canguru. Teresina, 2011. 69 p. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) – Universidade Federal do Piauí, 2011. FONSECA, Luciana M. Monti; SCOCHI, Carmen G. Silvan. Cuidados com o Bebê Prematuro: Orientações para a Família. 2ª edição. Ribeirão Preto-SP: FIERP Fundação Instituto de Enfermagem de Ribeirão Preto, 2005. GAÍVA, Maria A. Munhoz, RIBEIRO, Mara Regina R., In: Gestão do Serviço de Enfermagem no Mundo Globalizado. Editora Rubio, Rio de Janeiro, 2009. GIL, Antônio Carlos. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 5ª ed. Editora Atlas. São Paulo, 1999. KENNER, Carole. Enfermagem Neonatal. 2º ed. Editora Reichmann e Affonso. Rio de Janeiro, 2001 MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Técnicas de Pesquisa. 5ª ed. Editora Atlas. São Paulo, 2002. RIBEIRO, J. M. Cuidado: experiência de um processo interativo-educativo com a equipe de enfermagem neonatal, fundamentado no interacionalismo simbólico. Florianópolis, 2007. 133 p. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2007. TAMEZ, Raquel N.; SILVA, Maria Jones P. Enfermagem na UTI Neonatal: Assistência ao Recém-nascido de Alto Risco. 2º ed. Editora Guanabara Koogan. Rio de Janeiro, 2002. THOMAS, Claricia; CARVALHO, Vivina L. O Cuidado ao Término de uma Caminhada. Editora Pallotti. Santa Maria – RS. 1999. 310 27.2) EMPODERAMENTO DA GESTANTE NO CENÁRIO DO PARTO POR MEIO DO CUIDADO HUMANIZADO DE ENFERMAGEM (2014)¹ CALEGARO, Joceane Patias1; DINIZ EBLING, Sandra Beatriz2; PIESZAK, Greice Machado3; RESUMO O processo do parto apresenta muitas transformações no corpo da mulher, envolvendo adaptações. O acompanhamento neste período possibilita o cuidado integral à mulher e a família, além de permitir à enfermagem a atuação nas ações de educação em saúde e o incentivo a autonomia da gestante para que a condução da gestação e processo de parturição transcorra de forma mais efetiva e participativa. Tem-se como objetivo Relatar a experiência de uma acadêmica de Enfermagem no cuidado humanizado à parturiente e refletir empoderamento da mulher no cenário do parto. acerca da importância do Trata-se de um relato de experiência de uma acadêmica do curso de Enfermagem da Universidade Regional Integrada do alto Uruguai e das Missões, Campus de Santiago, RS, acerca da vivência no cuidar de uma parturiente em uma maternidade do Hospital de Caridade de Santiago, durante o mês de junho de 2014. Nas aulas práticas da disciplina de saúde da Mulher. Onde foi desenvolvida a prática humanizada, o acolhimento e a escuta ativa, o que contribui muito para a criação do vínculo entre acadêmico e gestante, técnicas e exercícios de relaxamento o que favoreceu o processo do parto e o empoderamento da mulher. Deste modo, observou-se que estas medidas contribuíram muito para o parto ocorrer de forma mais tranquila, vivida e sentida 2 Autora. Acadêmica do curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI, Campus de Santiago, RS. Integrante do Grupo GEPSE (Grupo de Estudo e Pesquisa em Saúde e Enfermagem) E-mail: [email protected] E 3 Enfermeira. (Mestre em Enfermagem, Docente no curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Regional do Alto Uruguai e das Missões – URI, Campus de Santiago). Integrante do Grupo de Pesquisa GEPSE. E-mail: [email protected] 4 Orientadora. Enfermeira (Mestre em Enfermagem, Docente no curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Regional do Alto Uruguai e das Missões - URI, Campus de Santiago, RS). Integrante do Grupo de Pesquisa GEPSE. E-mail: [email protected] 311 profundamente a cada momento o que tornou a mulher sentir-se protagonista do seu parto. ABSTRACT The birthing process has many changes in a woman's body, involving adaptations. Monitoring this period allows comprehensive care to women and the family, and allow the nursing role in the actions of health education and encouraging the autonomy of the pregnant woman for the conduct of pregnancy and parturition process elapses more effectively and participatory. Has as objective to report the experience of an academic nursing in humanized care to laboring women and reflect on the importance of women's empowerment in the scene of childbirth. This is an experience report of an academic course of Nursing Regional Integrated University of High Uruguay and Missions, Campus de Santiago, RS, regarding their experience in caring for a woman in labor in a maternity Charity Hospital of Santiago, during the month of June 2014 during the practical lessons of the discipline of Women's health. Where was developed humanized practice, acceptance and active listening, which contributes greatly to the creation of the link between academic and pregnant, techniques and relaxation exercises whichfavors the process of childbirth and women's empowerment. Thus, it was observed that these measures contributed greatly to the course delivery more smoothly, deeply felt and lived every moment which makes the woman protagonist of his birth. Eixo Temático: Atenção à saúde da mulher Descritores: Saúde da Mulher; Parturiente; Enfermagem; Humanização do parto. 1. INTRODUÇÃO A gravidez não deve ser tratada como doença e sim como expressão de saúde, e o nascimento como processo fisiológico e natural. Intervenções 312 desnecessárias, sem embasamento científico, devem ser evitadas, já que existem às evidências científicas demonstrando as vantagens de medidas humanizadas no cenário de parto e nascimento. Sabe-se que o parto quando visualizado como um processo natural e quando conduzido sem intervenções desnecessárias, pode originar melhores resultados maternos e perinatais. (BRASIL, 2014). O processo do parto apresenta muitas transformações no corpo da mulher, envolvendo adaptações e cuidados, como por exemplo, mudanças fisiológicas incluindo hormonais e físicas, interpessoais, comportamentais, emocionais, culturais e sociais. Estas transformações ocorrem de forma gradativa indicando que esta gestante é capaz de transcender esse período de sua vida, da forma mais natural possível, tendo o apoio familiar e um bom suporte no Pré-Natal. O acompanhamento neste período demonstra o cuidado integral à mulher e família, possibilita ao profissional trabalhar com as ações de educações em saúde e o incentivo ao empoderamento da gestante para a condução da gestação e processo de parturição de forma mais efetiva e participativa (PIESZAK, et al, 2013). Com a escuta ativa das expressões verbais e não verbais da parturiente e valorização dos sentimentos, medos e suas inquietações é possível aos poucos realizar ações de encorajamento, no exercício da autonomia e do empoderamento da mulher no parto e nascimento (CAMACHO, et al, 2013) Possibilita “melhora nas orientações e segurança da mulher” por meio da disponibilização de uma significativa quantidade de informações, desenvolvendo orientações que tornam a mulher segura acerca das possibilidades de um parto mais adequado à sua escolha. Isso ocorre principalmente se a mulher estiver sendo acompanhada durante todo período gestacional, parto e puerpério (BRASIL, 2014). Isso faz com que os profissionais de saúde, em especial os enfermeiro, estejam capacitados para esta prática humanizadora voltadata ao respeito à mulher e a fisiologia do parto. Neste contexto, o cuidado de enfermagem deve resgatar a subjetividade, assegurar seus direitos e proporcionar a humanização no atendimento (PIESZAK, et al, 2013). Neste sentido, sabe-se que há inúmeras possibilidades de atuar da enfermagem, tornando o processo de hospitalização e parturição um 313 momento respeitoso e com a participação efetiva da mulher neste cenário, garantindo-lhe a preservação da sua privacidade, segurança e autonomia. 2. OBJETIVO Relatar a experiência de uma acadêmica de Enfermagem no cuidado humanizado à parturiente e refletir acerca da importância do empoderamento da mulher no cenário do parto. 3. METODOLOGIA Trata-se de um relato de experiência de uma acadêmica do curso de Enfermagem da Universidade Regional Integrada do alto Uruguai e das Missões, Campus de Santiago, RS, acerca da vivência ao cuidar de uma parturiente em uma maternidade do Hospital de Caridade de Santiago. A referida da vivência foi oportunizada pela disciplina de saúde da mulher, a qual é ministrada no sétimo semestre do curso, durante o mês de junho de 2014 durante as aulas práticas da disciplina de saúde da Mulher. A mesma tem como objetivo fazer com que os graduandos compreendam a mulher no seu ciclo vital, assim como planejar e emplementar ações de promoção e prevenção da saúde da mulher na rede hospitalar como também na atenção básica. O referido hospital é considerado referência para as cidades vizinnhas desta região. A maternidade do mesmo possui infraestrutura adequada para o processo de trabalho de parto, parto e recepção do Recém-Nascido (RN), além disso, possui três encubadoras e sinco berços aquecidos. 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES A realização desta vivência oportunizou a atuação no cuidado à gestante de forma integral, desde a internação da gestante até o pós parto. Na admissão da 314 gestante no centro obstétrico foi possível realizar a entrevista, permitindo a aproximação entre a mesma e a acadêmica, este primeiro contato tratou-se de um momento acolhedor e permitiu a construção de um vínculo com a gestante. A vinculação significa apoio e segurança para a mulher no momento do parto – apoio ao processo fisiológico do trabalho de parto: se não assegurada, o medo, a insegurança, a desinformação, as incertezas, as dúvida, a falta de apoio, as situações de estresse que interferem na liberação de hormônios importantes do processo do parto como a ocitocina endógena, ao contrário nessas situações há maior liberação de adrenalina, hormônio do medo, que compete com esta, dificultando todo o processo. (BRASIL, 2014). Em seguida, realizou-se a avalição da caderneta da gestante contendo informações importantes acerca do pré-natal e da gestanção. Na sequência, o exame físico preocupou-se com a preservação da sua privacidade e individualidade, respeitando a sua subjetividade, explicando os procedimentos que seriam realizados bem como é o processo de pré-parto, parto e pós-parto e os procedimentos inerentes à admissão da gestante na matermidade. Já na sala de pré-parto realizouse às orientações acerca da necessidade da realização dos testes de triagem para detectação de HIV. Além disso, explicou-se que a sua decisão seria respeitada do aceite da realização do mesmo, esclarecendo os benefícios da realização deste procedimento. Cabe destacar que a gestante aceitou a realização do teste e informou que havia recebido as orientações da sua importância ainda no pré-natal em acompanhamento na atenção primária pela enfermeira do serviço. O Ministério da Saúde (MS), assegura a vinculação da gestante à equipe de referência da Atenção Básica, garantindo o local para o parto, acolhimento da gestante, puérpera e RN nas práticas de produção de saúde nos diferentes níveis de atenção à saúde (BRASIL, 2009). Além disso, sabe-se que os profissionais de saúde que atendem a gestante devem classificar os riscos na gestação, realizar os encaminhamentos às maternidades e a garantia de acompanhante para a gestante durante a internação 315 para o parto. Ainda, após a internação da gestante foi possível realizar as medidas de conforto, diálogo, escuta constante sobre sua vida, família, medos e as espectativas para seu novo filho identificando e as necessidades tanto físicas quanto emocionais. Destaca-se a realização das massagens de conforto e relaxamento, musicoterapia proporcionando um ambiente calmo e agradável, exercícios na bola de pilates favorecendo o encaixe a e descida do feto, movimentação ativa da gestante entre a sala de pré-parto e a entrada da maternidade. Essas caminhadas oportunizaram a gestante conhecer a sala de parto e como ocorreria o processo de nascimento do seu bebê. Estas medidas de conforto proporcinam a gestante confiança e tranquilidade, pois relaxam a tensão, instrumentaliza a mulher sobre o processo do parto, tornando a vivência do parto mais intensa e desejada a cada etapa. Estudos científicos trazem que com a implementação das práticas pautadas nos princípios da humanização, como, por exemplo, o estímulo à presença do acompanhante no processo do nascimento, a liberdade de deambulação e a possibilidade de ingerir líquidos são resgatados aspectos fundamentais dos direitos reprodutivos e sexuais que favorecem o andamento do parto e nascimento sem intervenções (CAMACHO, et al, 2013). Além disso, o acompanhamento no trabalho de parto oportunizou a realização das orientações acerca da respiração adequada, movimentos corporais para o alívio da dor, técnicas de relaxamento durante o intervalo das contrações, incentivo à mulher para a condução do seu trabalho de parto. Está prática trouxe como resultado a confiança da gestante em sí própria e na sua capacidade de parir. Cabe destacar que o vínculo construído durante todo o processo de parturição, tornou-se fundamental para que a mulher conduzisse adequadameente o seu parto, por meio de um momento tranquilo e seguro. O parto quando realizado no cenário hospitalar deve oferecer a parturiente o cuidado humanizado que tenha como objetivo prestar uma assistência respeitosa, transmitindo segurança e confiança, pois o ambiente hospitalar pode deixar a 316 gestante insegura e o seu desejo é que de este momento transcorra da melhor maneira possível. Para isso, cabe aos profissionais atuarem neste contexto de valorização dos sujeitos envolvidos neste cenário. Além disso, a formação do vínculo entre a mulher e os profissionais do serviço, oportuniza o diálogo efetivo e a possibilidade de protagonismo do seu parto (NASCIMENTO,et al, 2010). De acordo com Nascimento e Progiant (2010), as medidas não farmacológicas e tecnologias não invasivas são práticas utilizadas pela equipe de enfermagem na valorização da parturiente e das suas necessidades. Dentro desse contexto de utilização de práticas humanizadas, destacam-se alguns cuidados desenvolvidos, como a oferta de livre movimentação corporal, o respeito às escolhas de posição durante o trabalho de parto, o acompanhamento ao banho de imerssão, a oferta de massagens e a realização de alguns exercícios físicos com o objetivo oferecer à mulher o protagonismo do parto e a possibilidade de vivenciar a experiência de parir como um evento fisiológico. A enfermagem obstétrica vem ao encontro da possibilidade de resgatar o parto fiológico como um fenômeno feminino onde a autonomia da mulher passa a ser respeitada. Além disso, pode aliar o saber científico e prático possibilitando o acontecimento do parto fisiológico e a mulher como protagonista neste momento tão importante de sua vida (VARGNS, et al, 2008). Destaca-se que no trabalho de parto ativo a parturiente apresentou-se sensível, por vezes cansada e referindo muita dor. Neste sentido, ofertou-se inúmeras medidas não farmacológicas para o alívio da dor, como, as massagens corporais na região lombar, orientações acerca das técnicas de respiração entre as contrações, o próprio toque e olhar carinhoso e a musicoterapia como estratégia de relaxamento e conforto. Estas ações de cuidado de enfermagem representam o respeito à individualidade de cada mulher e a preocupação em atender as suas necessidades. Sabe-se que a dor é subjetiva e deve ser valorizada de acordo com a sigularidade da cada mulher em trabalho de parto. 317 A percepção da dor sentida pela mulher em trabalho de parto pode ser influenciada por muitos fatores, incluindo suas expectativas, a complexidade do seu trabalho de parto e a intensidade da sua dor (BRASIL, 2014). Neste contexto, o enfermeiro deve garantir que a valorização das necessidades individuais da mulher, estas devem ser reconhecidas por meio do respeito, do apoio e do diálogo. Para que o cuidado seja efetivo e para que exista a comunicação efetiva, faz-se necessário a criação do vínculo entre profissional e parturiente. Portanto, a abordagem carinhosa reconhecida pode criar um vínculo entre o serviço e o usuário, o que atende a um dos princípios do acolhimento essa concepção está fundamentada na idéia de cuidado como um processo que envolve ações, atitudes e comportamentos que buscam a promoção, manutenção e/ou recuperação da saúde, dignidade e totalidade humana (NASCIMENTO, et al, 2010). Dentro deste contexto, estudos comprovam que para muitas mulheres o alívio da dor pode ser obtido apenas com um suporte físico e emocional adequado, transmitindo segurança à parturiente, orientando sobre a evolução do parto, sinalizando sobre seu direito ao acompanhante de sua escolha, contribuindo sobremaneira para a redução da intensidade dolorosa (PIESZAK, et al, 2013). Neste sentido, o trabalho da enfermagem passa a assumir uma importante função no atendimento à parturiente, por meio da garantia dos seus direitos pautados na humanização do parto e nascimento. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS A realização deste trabalho oportunizou uma reflexão acerca da importancia da atuação do enfermeiro no cenário do parto, em especial no cuidar à gestante de forma integral e respeitosa. A partir da descrição da vivência acadêmica acerca do cuidado de enfermagem emerge a necessidade de repensar a prática obstétrica e a necessidade de ações humanizadas pautadas em evidências científicas. Conclui-se que o parto e nascimento é condiderado especial tanto para a parturiente quando para sua família, portanto, a valorização dos profissionais de 318 enfermagem deste momento faz-se necessária. Além da necessidade das ações de educação em saúde, em busca do empoderamento da mulher neste cenário. Para isso, sabe-se da emergente necessidade de mudanças de paradigmas e adoção de práticas não invasívas, que ofereçam o cuidado humanizado e o respeito a fisiologia do parto e a singularidade da mulher. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Política Nacional de Humanização. Caderno HumanizaSUS. Humanização do parto e Nascimento. Brasília, Ministério da Saúde. 2014. BRUGGEMANN OM, Oliveira ME, Martins HEL, Alves MC, Gayeski ME. A inserção do acompanhante de parto nos serviços públicos de Santa Catarina, Brasil. Esc Anna Nery (impr.) 2013 jul - set; 17 (3):432 – 438. NASCIMENTO NM, Progianti JM, Novoa RL, Oliveira TR, Vargens OMC. Tecnologias não invasivas de cuidado no parto realizadas por enfermeiras: A percepção de mulheres. Esc Anna Nery (impr.)2010 jul-set; 14 (3):456-461. CAMACHO KG, Progianti JM. A transformação da prática obstétrica das enfermeiras na assistência ao parto humanizado. Rev. Eletr. Enf. [Internet]. 2013 jul/set;15(3):648-55. PIESZAK GM, Terra MG,Neves ET, Pimenta LF, Padoin SMM, Ressel LB. Percepção dos profissionais de enfermagem acerca do cuidado em Centro Obstétrico. Rev Rene. 2013; 14(3):568-78. PORFÍRIO AB, PROGIANTI JM, SOUZA DOM. As práticas humanizadas desenvolvidas por enfermeiras obstétricas na assistência ao parto hospitalar. Rev. Eletr. Enf. 2010; 12(2):331-6. VARGENS OMC,Progianti JM, Silveira ACF.O significado de desmedicalização da assistência ao parto no hospital: análise da concepção de enfermeiras obstétricas. Rev Esc Enferm USP 2008; 42(2):339-46. 319 28.2) PÉ TORTO CONGÊNITO: UM ESTUDO DE CASO CLINICO 1 GOMES, Iris Elizabete Messa2; BORDIGNON, Juliana Silveira 3 ; ROCHA, Bruna Dedavid da4; CORREA, Aline Medianeira Gomes5; MENEZES, Francislene Lopes6; BUENO, Patrícia Curti7 RESUMO A implementação da sistematização da assistência de enfermagem continua sendo no cotidiano da enfermagem um desafio, pois esta requer planejamento de ações e resgate de conteúdos relacionados à Fisiologia, O cotidiano do enfermeiro que atua na atenção básica de saúde o processo de enfermagem enseja caminhos, permitindo uma qualificação de cuidados, visto que ela planejara ações, priorizando as respostas humanas no processo saúde doença. Desta forma, o presente estudo, tem como objetivos estabelecer um plano de cuidados para o paciente portador de pé torto congênito, através do exame físico e de todo processo de enfermagem, além de estabelecer medidas de enfrentamento da doença para a família. Metodologicamente trata-se de um estudo de caso clinico que utilizou a sistematização da assistência de enfermagem nas etapas de histórico, planejamento, intervenção e avaliação. No preenchimento do histórico de enfermagem foi realizado o levantamento dos dados através de exame físico, 2 Enfermeira Residente do Programa de Residência em Enfermagem Obstétrica, Centro Universitário Franciscano, [email protected] 3 Enfermeira Residente do Programa de Residência em Enfermagem Obstétrica, Centro Universitário Franciscano, [email protected] 4 Enfermeira Residente do Programa de Residência em Enfermagem Obstétrica, Centro Universitário Franciscano, [email protected] 5 Enfermeira Residente do Programa de Residência em Enfermagem Obstétrica, Centro Universitário Franciscano, [email protected] 6 Enfermeira, Mestre em Enfermagem, Residente do Programa de Residência em Enfermagem Obstétrica, Centro Universitário Franciscano, [email protected] 7 Enfermeira, Especialista em Saúde Mental, Enfermeira na Prefeitura de Santa Maria, [email protected] 320 evoluções de enfermagem do prontuário familiar. Para a elaboração dos diagnósticos empregamos a North American Nursing Diagnosis Association (NANDA). Após conhecimento dos diagnósticos de enfermagem, foram elaboradas intervenções com o objetivo de auxiliar a família no cuidado ao paciente. O local de implementação do estudo se deu no domicilio do paciente, morador da região Oeste do Município de Santa Maria- RS. O sujeito da pesquisa é um RN, que em primeira consulta puerperal estava com de 5 dias de vida, portador de pé torto congênito (PTC). O presente estudo de caso foi aprovado pelo comitê de ética sob o numero 758.677, respeitando todos os preceitos éticos assim descritos na lei 466/2012. A partir do presente estudo podemos perceber o quão importante se faz as ações que a atenção primaria desenvolve, e ao mesmo tempo nos mostra a importância de se implementar com maior efetividade a sistematização da assistência de enfermagem. ABSTRACT The implementation of the systematization of nursing care remains in daily nursing a challenge, because it requires action planning and rescue related content Physiology, The routine of nurses who work in primary health care the nursing process entails paths, allowing a qualification in care since she planned actions, prioritizing human responses in health-disease process. Thus, the present study aims to establish a plan of care for the patient with clubfoot, through physical exam and the entire nursing process, and establish measures to combat the disease for the family. Methodologically it is a clinical case study that used the systematization of nursing care in the steps of history, planning, intervention and evaluation. Fill in the history of the nursing data collection was performed by physical examination, nursing evolutions of family records. For the preparation of diagnostic employ the North American Nursing Diagnosis Association (NANDA). After knowledge of nursing diagnoses, interventions aiming to support families in patient care were developed. Local implementation of the study took place in the home of the patient, a resident of 321 the western region of the municipality of Santa Maria-RS. The research subject is an RN who first puerperal visit was 5 days of life, bearer of clubfoot (PTC). This case study was approved by the ethics committee under the number 758 677, respecting all ethical precepts so prescribed by law 466/2012. From this study we can realize how important it is actions that develops primary care and simultaneously shows us the importance of implementing more effectively the systematization of nursing care. Eixo: Eixo 3: Atenção à Saúde do recém-nascido. Descritores: Pé torto, Enfermagem e Processo de Enfermagem. Descriptors: clubfoot, Nursing and Nursing Process. 1. INTRODUÇÃO A implementação da sistematização da assistência de enfermagem continua sendo no cotidiano da enfermagem um desafio, pois esta requer planejamento de ações e resgate de conteúdos relacionados à Fisiologia, Patologia e Farmacologia. Em alguma situação, na demanda do serviço, requer sua efetivação. Faz-se necessário a elaboração de um plano de cuidado que contemple as necessidades do paciente que se encontram afetadas. O enfermeiro ao pensar no processo, deve fazer uma abordagem centrada não apenas nas necessidades fisiológicas, mas nos aspectos biopsicossocial, espiritual e cultural (ALVES et. al. 2007). O cotidiano do enfermeiro que atua na atenção básica de saúde o processo de enfermagem enseja caminhos, permitindo uma qualificação de cuidados, visto que ela planejara ações, priorizando as respostas humanas no processo saúde doença. Ela considera o ser humano a partir das suas necessidades básicas, permitindo a elaboração de ações sistematizadas de enfermagem, fundamentando a assistência prestada. O PTC é definido como uma deformidade caracterizada por mau alinhamento complexo do pé que envolve partes moles e partes ósseas, com deformidade em 322 arquino e varo do retropé, cavo e adução do médio e antepé, com incidência aproximada de um para cada 1.000 nascidos vivos, predomina no gênero masculino, na proporção de 2:1, e tem acometimento bilateral em 50% dos casos (Maranho e Volpon, 2009) Neste sentido, o enfermeiro atua na saúde integral da mulher, saúde do idoso, saúde da criança e tantos outros aspectos da promoção e proteção da saúde. Desta forma, o presente estudo, tem como objetivos estabelecer um plano de cuidados para o paciente portador de pé torto congênito, através do exame físico e de todo processo de enfermagem, além de estabelecer medidas de enfrentamento da doença para a família. 2. METODOLOGIA Trata-se de um estudo de caso clinico que utilizou a sistematização da assistência de enfermagem nas etapas de histórico, planejamento, intervenção e avaliação. O estudo de caso pode ser definido como um estudo delimitado com a exploração de um sistema, obtido a partir de uma coleta de dados detalhada, envolvendo varias fontes de informação (LUDK, 1986). Estes são apropriados para serem aplicados na assistência direta de enfermagem, com a finalidade de realizar um estudo profundo dos problemas e necessidades do paciente, família e comunidade, com a possibilidade de elaborar estratégias para solucionar ou reverter os problemas encontrados. De acordo com Becker (1994) e Goldenberg (1997), o estudo de caso tem origem na pesquisa médica e na pesquisa psicológica, com a análise de modo detalhado de um caso individual que explica a dinâmica e a patologia. Com este procedimento se supõe que se pode adquirir conhecimento do fenômeno estudado a partir da exploração intensa de um único caso. No preenchimento do histórico de enfermagem foi realizado o levantamento dos dados através de exame físico, evoluções de enfermagem do prontuário familiar, 323 contra referência do pediatra que recepcionou e prestou os primeiros cuidados ao RN, além de entrevistas com a família, através de visita domiciliar. Para a elaboração dos diagnósticos empregamos a North American Nursing Diagnosis Association (NANDA, 2005), uma vez que estes representam a base para seleção de intervenções e resultados terapêuticos. Após conhecimento dos diagnósticos de enfermagem, foram elaboradas intervenções com o objetivo de auxiliar a família no cuidado ao paciente. O local de implementação do estudo se deu no domicilio do paciente, morador da região Oeste do Município de Santa Maria- RS. O sujeito da pesquisa é um RN, que em primeira consulta puerperal estava com de 5 dias de vida, portador de pé torto congênito (PTC). O presente estudo de caso foi aprovado pelo comitê de ética sob o numero 758.677, respeitando todos os preceitos éticos assim descritos na lei 466/2012. 3. APRESENTAÇÃO DO ESTUDO DE CASO Histórico RN L.C.V. do sexo masculino, nascido no dia 02/08/2014, de parto vaginal, em um hospital público da cidade de Santa Maria.. Filho de H.C.V. 15 anos, estudante e M.C.S.18 anos, Recepcionista. Reside em casa de alvenaria que possui 3 quartos, 1 sala, 1 cozinha e 1 área de serviço, juntamente com sua avó E.G.C. 36 anos, Auxiliar Administrativa, seu avô A.N.39anos encarregado administrativo, sua tia A.C.N, 1 ano e sua mãe H.C.V. HCV realizou sua 1° consulta de pré-natal no dia 17/04/2014 onde apresentou seu primeiro e único ultrassom obstétrico realizado no dia ???, onde constatou: IG: 22 semanas e 2 dias, feto único, pélvico, liquido amniótico normal, sem demais alterações. No total HCV realizou cinco consultas de pré-natal, onde no decorrer das consultas foram solicitados exames de rotina que não contataram alterações significativas. 324 Em primeira consulta de saúde da criança, realizada no dia 07/08/2014, RN apresentava-se calmo, sonolento e corado. Em sua carteirinha de nascimento apresentou os seguintes dados: PC: 34, Peso: 3.225, Apgar no 1° min. 09 e no 5° min. 10, manobra de Ortolani: negativo, Teste do reflexo vermelho:normal, Vacinas: Hepatite B e BCG: já administradas, estatura: 49. Ao exame físico, durante a consulta, apresentou fontanelas normotensas, mucosas coradas, pele integra, PC: 37, PT: 35, Peso: 3,250, estatura: 49, reflexo de Moro positivo, responsivo a estímulos, coto umbilical com bom aspecto de cicatrização, genitais íntegras, nasceu com pé torto congênito, ambos com reflexo de Babinsk positivo. Conforme contra referência recebida do Hospital de origem, RN apresenta pé torto congênito. O mesmo foi encaminhado ao Hospital Universitário da cidade para que seja realizada avaliação de especialista e inicie tratamento. Com etiologia ainda desconhecida, foram propostas várias teorias para explicar a origem do PTC, considerando-se causas intrínsecas ou extrínsecas, entre as quais: posição intrauterina do feto, compressão mecânica ou aumento da pressão hidráulica intrauterinas; parada no desenvolvimento fetal; infecções virais; deficiências vasculares; alterações musculares; alterações neurológicas; defeito no desenvolvimento das estruturas ósseas e defeitos genéticos. constatação da existência de tecido fibrótico nos músculos, fáscias, ligamentos e bainhas tendíneas da região posteromedial do tornozelo e retropé corroboram a hipótese de defeito primário de partes moles e unidades neuromusculares que levam às alterações ósseas. (Maranho e Volpon, 2009) Planejamento RN foi encaminhado ao Hospital Universitário desta cidade para que se inicie tratamento. O mesmo então iniciará tratamento com a técnica de Ponsett, a qual foi prescrita pelo pediatra. 325 O método de Ponsett, composto, basicamente, por manipulações e trocas gessadas seriadas, secção percutânea do tendão calcâneo e uso de órtese de abdução. Ponsett, após estudos aprofundados sobre a anatomia patológica e funcional do PTC, a partir da década de 40, desenvolveu e aprimorou método próprio de tratamento, em vista dos maus resultados obtidos com tratamentos cirúrgicos e não cirúrgicos, então em prática estabeleceu detalhes sobre as manobras de manipulação e de confecção do gesso, bem como o seguimento após secção do tendão calcâneo e estratégias de prevenção de recidivas, com base na idade da criança e na cooperação dos pais. Além disso, identificou e divulgou os erros mais comumente praticados. (Maranho e Volpon, 2009). LCV no dia 15/08/2014 realizou o procedimento de colocação da prótese gessada. Em visita domiciliar no dia 21/08/2014, onde foram até o domicilio a agente comunitária e a enfermeira residente da unidade, foi realizado junto a família uma entrevista, onde se objetivou conhecer o sentimentos da família frente a doença do RN e saber quais eram as dificuldades enfrentadas pela família no que diz respeito ao cuidado com o mesmo. Diante do que foi exposto pela família foi possível criar alguns diagnósticos de enfermagem e em concordância com os mesmos realizar um plano de cuidados que os auxilie no cuidado diário do RN. Intervenção Apresento a seguir os diagnósticos de enfermagem, bem como as intervenções propostas pelo NIC e os resultados de acordo com a codificação do NOC: Disposição para aumento da COMPETÊNCIA COMPORTAMENTAL DO BEBÊ evidenciado por respostas organizadas a estímulos sensoriais 326 Intervenção de enfermagem sugerida para a solução do problema -Realizar tarefas que estimulem a parte sensorial do bebê -Estimular e ensinar a família a realizar tarefas motoras com bebê Risco de COMPORTAMENTO desorganizado DO BEBÊ evidenciado por problemas motores; procedimentos dolorosos e procedimentos invasivos. Intervenção de enfermagem sugerida para a solução do problema -Controle do ambiente -Promoção da mecânica corporal -Posicionamento do bebê Disposição para CONHECIMENTO aumentado evidenciado por demonstração de conhecimento do tópico; interesse em aprender. Intervenção de enfermagem sugerida para a solução do problema -Proporcionar a família material interativo sobre o tema -Estimular família a buscar mais sobre o tópico. Risco de CRESCIMENTO desproporcional relacionado a distúrbio congênito . Intervenção de enfermagem sugerida para a solução do problema: -Aconselhamento -Apoio ao cuidador -Acompanhamento do crescimento e desenvolvimento. 327 Disposição para ENFRETAMENTO familiar aumentado relacionado a Indivíduo que expressa interesse em fazer contato com outra pessoa que tenha vivido situação similar; evidenciado por Tarefas de adaptação voltadas, com eficácia, a possibilitar o aforamento de metas de auto realização. Intervenção de enfermagem sugerida para a solução do problema -Orientação antecipada -Aconselhamento -Promoção do envolvimento familiar -Suporte à família Avaliação No dia 01/09/2014 realizou-se nova visita domiciliar ao LCV, o mesmo apresentava-se mamando em seio materno, corado, em bom estado geral, família relata que o mesmo já passou pelo primeiro procedimento de troca do gesso. HCV, mostrou-se confiante com o tratamento que esta sendo feito. A família mostrou-se receptiva com os cuidados propostos pela equipe de saúde da família. 4. CONCLUSÃO A partir do presente estudo podemos perceber o quão importante se faz as ações que a atenção primaria desenvolve, e ao mesmo tempo nos mostra a importância de se implementar com maior efetividade a sistematização da assistência de enfermagem nas estratégias de saúde da família para que assim possamos nos fortalecer fazendo com que nossa prática seja baseada em evidências sólidas, com o objetivo de aprimorar o nosso cotidiano de cuidado. Se faz necessário que ações como estas sejam incluídas no cotidiano de trabalho de enfermeiros, onde os mesmos se motivem a buscar sempre mais 328 conhecimento para atender integralmente todos os clientes da sua área de abrangência. REFERÊNCIAS ALVES, Albertisa Rodrigues et al . Aplicação do Processo de Enfermagem: estudo de caso com uma puérpera. Rev. bras. enferm., Brasília , v. 60, n. 3, June 2007 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S003471672007000300019&lng=en&nrm=iso>. access on 26 Aug. 2014. http://dx.doi.org/10.1590/S0034-71672007000300019. BECKER, H. S. Métodos de pesquisa em ciências sociais. 2ª ed. São Paulo: HUCITEC; 1994. GOLDENBERG, M. A arte de pesquisar. Rio de Janeiro: Record; 1997. Johnson M, Maas M, Moorhead S. Classificação de Resultados de Enfermagem. 2ª ed. Porto Alegre (RS): Artmed; 2004 Ludke M, André M. Pesquisa em educação - abordagens qualitativas. São Paulo (SP): EPU; 1986. McCloskey JC, Bulechek GM. 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Os critérios éticos e bióticos foram atendidos pela aprovação do estudo no comitê de ética. Foi realizada uma entrevista semiestruturada com perguntas que norteavam as gestantes, a analise delas emergem duas temáticas:A aplicabilidade da Teoria de Orem como um estímulo a aceitação da desintoxicação química das gestantes usuárias de crack. E, a aplicabilidade da Teoria de Orem um devir a ser operacionalizado pela equipe de 1 Trabalho de pesquisa e extensão do Curso de Enfermagem da UNIFRA e do Grupo de Estudos e Pesquisa em Empreendedorismo Social da Enfermagem e Saúde (GEPESES/CNPq), intitulado “Acolhimento: uma estratégia para o viver saudável na unidade de desintoxicação química, devido o uso do crack” 2 Enfermeira Residente do Programa de Residência em Enfermagem Obstétrica, Centro Universitário Franciscano, [email protected] 3 Enfermeira Residente do Programa de Residência em Enfermagem Obstétrica, Centro Universitário Franciscano, [email protected] 4 Enfermeira. Pós em enfermagem do trabalho na [email protected] 5 Orientadora. Enfermeira docente do curso de enfermagem. UNIFRA. [email protected] 6 Acadêmica de enfermagem. UNIFRA. [email protected] 7 Acadêmica de enfermagem . UNIFRA. [email protected] 330 enfermagem e saúde como um estimulo a aceitação da desintoxicação química e viver saudável no puerpério. ABSTRACT This study aimed to evaluate the contributions of Orem's Theory in self-care of pregnant women in the use of chemical detoxification crack.Trata is an exploratorydescriptive study with a qualitative approach. The subjects were five pregnant women admitted in a unit of chemical detoxification by using crack on a medium-sized hospital inside the RS from August 2012 to November 2013 Ethical and biotic criteria were met for the approval of the study the ethics committee. One semi-structured interview with questions that guided the pregnant women was conducted to analyze these two themes emerge: The applicability of Orem's Theory as an incentive to accept the chemical detoxification of pregnant users of crack. And the applicability of Orem's Theory a becoming to be operated by nurses and health staff as a stimulus acceptance of chemical detoxification and healthy living in the puerperium. Eixo Temático: Atenção ao Pré-Natal Descritores: Crack; Cuidados de Enfermagem; Gravidez Descriptors: Crack; Nursing; pregnancy 1. INTRODUÇÃO A gravidez é um evento complexo e uma experiência repleta de sentimentos intensos. É um momento em que ocorrem grandes alterações físicas e psicológicas na mulher, as quais podem gerar variadas reações emocionais (Piccini e Gomes 2004 ; Oliveira 2005). A associação da gravidez com o uso drogas é um fator que põe em risco a maternidade, e a preocupação com esse fenômeno vem aumentando à medida que temos o conhecimento sobre o aumento do uso de substancias psicoativas pela população nas últimas décadas. Todavia, a prevalência do uso da cocaína tem 331 aumentado drasticamente na população de mulheres grávidas durante as ultimas décadas (Yamaguchi ET. et al, 2008). Nesse sentido, é premente a utilização metodológica do processo de enfermagem no estímulo ao autocuidado dos indivíduos que buscam a promoção da saúde, tratamento, recuperação, reabilitação e reinserção social dentre eles as gestantes dependentes químicas devido ao uso do crack (Gehlen, 2012). Em relação ao seu efeito teratogênico, a cocaína/crack atravessa rapidamente a barreira placentária sem sofrer metabolização, agindo diretamente na vascularização fetal, podendo ocorrer malformação urogenitais, cardiovasculares e do sistema nervoso central (Yamaguchi ET. et al, 2012). Para tal, a Teoria do Autocuidado de Orem fornece uma estrutura para uma enfermagem com ampla visão nos aspectos relativos ao levantamento das necessidades particulares das gestantes em situação de desintoxicação química devido ao uso do crack. Além disso, é uma metodologia de processo de enfermagem que facilita o planejamento do cuidado de enfermagem a gestante em situação de desintoxicação química e mostra-se efetivo e eficaz, pois estimulado a participar de forma ativa na reabilitação encorajando o paciente ao autocuidado proporcionando a reinserção social e assim um viver saudável (Marriner-Tomey, 1994). No entanto, acredita-se que quando se trata de gestante em situação de drogadição, levando em conta a assistência à gestante, prestada pelo enfermeiro durante o pré-natal, deve-se dar ênfase não só à inclusão de ações educativas que se fazem sob forma de orientações, mas também à importância da desintoxicação química para estas gestantes. Assim, apresenta-se como questão da pesquisa: Quais as contribuições da Teoria de Orem para o autocuidado das gestantes na desintoxicação química pelo uso do Crack? Dessa forma, apresenta-se o objetivo da pesquisa:Conhecer as contribuições da Teoria de Orem para o autocuidado das gestantes na desintoxicação química pelo uso do crack. 332 2. METODOLOGIA Este estudo vincula-se ao projeto de extensão do Curso de Enfermagem do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA) e do Grupo de Estudos e Pesquisa em Empreendedorismo Social da Enfermagem e Saúde (GEPESES/CNPq), intitulado “Acolhimento: uma estratégia para o viver saudável na unidade de desintoxicação química, devido o uso do crack” e ao projeto de ensino, pesquisa e extensão intitulado “Cuidado lúdico: estratégia educativa inovadora na promoção da saúde integral”, aprovado no comitê de ética sob o número 72/2010/UNIFRA com renovação bianual. Trata-se de uma pesquisa exploratório-descritiva (Leopardi, 2002). A abordagem escolhida é qualitativa (Minayo, 2010). Foi realizado na unidade de desintoxicação química, localizada em um hospital de médio porte, na cidade de Santa Maria, RS, que destina, aproximadamente, 24 leitos, pelo Sistema Único de Saúde (SUS), para dependentes químicos. A amostra se constituiu de cinco sujeitos que estavam realizando desintoxicação química na unidade que integra a rede de atenção ao usuário do crack do ensino ao serviço de saúde, segundo descrição a seguir: gestantes usuárias de crack e drogas associadas em situação de desintoxicação química, entre 18 a 45 anos. Como critério de inclusão, adotou-se o desejo de participar da pesquisa e ser maior de idade, como critérios de exclusão na pesquisa consideraram-se: indivíduos que, durante a operacionalização da pesquisa, estivessem hipersexualizados, com risco de agressão, fuga, homicídio, suicídio, surtos psiquiátricos, mutilados, ou com agravos contagiosos como a tuberculose. Na garantia de seus anonimatos, denominaram-se os sujeitos por nome de flores. O período estabelecido foi de agosto de 2012 a novembro de 2013. Os dados foram coletados por meio de entrevista semiestruturada (Triviños, 1992). Individual com informações que emergiram durante uma conversa informal, com as seguintes questões norteadoras: Que cuidados você realiza no seu dia a dia para o seu bem estar aqui na unidade de desintoxicação? O que você sabe sobre os 333 efeitos do crack durante a sua gestação? Que cuidados você gostaria de receber ou aprender aqui na unidade? Descreva sua rotina de cuidados dentro da unidade. Não foi utilizado o método de gravação das respostas das depoentes, a escrita foi realizada pela pesquisadora durante a coleta de dados. Os dados após coletados foram transcritos, organizados e analisados por meio da análise temática de Minayo (Minayo, 2010). 3. RESULTADOS 3.1A aplicabilidade da Teoria de Orem como um estimulo a aceitação da desintoxicação química das gestantes usuárias de crack Para as entrevistadas, os cuidados realizados no dia a dia durante a desintoxicação no período de internação ajudam na reorganização da rotina de viver sem o crack, embora sintam o desejo de consumir a droga. “Eu costumo ler bastante para ocupar a cabeça, também faço bastante palavras cruzadas,pena que não podemos usar caneta aqui.” (Violeta) As gestantes alegaram que os efeitos do crack durante a gestação não é notório porque muitas desconheciam a sua condição de estarem grávidas durante o período que estavam na rua em situação de drogadição,e, portanto não haviam realizado o pré-natal.Todavia no período da desintoxicação após os quatro dias na unidade consideraram que a droga deva trazer algum malefício para o bebe. “Eu sei que não faz bem,não sei descrever quais os efeitos específicos, tentei diminuir o uso durante a gestação, mas não parei de usar...”(Azaleia) O autocuidado realizado pelas gestantes na unidade de desintoxicação química prepara para aceitação da condição de estar grávida bem como na formação do vinculo e afeto pelo bebê. Além disso, auxilia no desenvolvimento 334 cognitivo e mudança de comportamento para a nova rotina após a alta hospitalar de forma saudável. “Eu acordo e vou direto pro banho e é a hora que mais gosto, pois é a hora que ele se mexe bastante e depois do banho passo bastante creme na barriga e converso com ele e parece q ele me entende e dácada chute,coisa mais querida.”(Camélia) A aplicabilidade da Teoria de Orem pela equipe de enfermagem na unidade de desintoxicação química é promotora do autocuidado na aceitação da desintoxicação, estimula para o viver saudável e proteção do concepto, porém depende do indivíduo aceitar suas limitações com consciência de que sua reabilitação e reinserção social poderão levar torno de cinco anos. “Achei bom, aproveitei bastante, pois afinal a única coisa que tinha era as atividades que foram educativas, aprendi varias coisas sobre o que pode acontecer com meu filho e comigo, hoje sou mais consciente.”(Azaleia) Conferiu-se que o desejo de constituir família é despertado nas gestantes durante a desintoxicação após o quarto dia de internação, principalmente quando estas iniciam as atividades de autocuidado, embora haja muita dificuldade desconcentração para o cuidado próprio. Isso acontece porque o crack e as outras drogas como álcool e cocaína usadas anteriormente geram fissuras baixando assim a autoestima. “Quando cheguei aqui não queria nada com nada, nos primeiros dias só pensava em fugir, até que fui me acalmando, fui participando das atividades e conversando com o pessoal e parece que agora as coisas certas estão entrando na minha cabeça, quero fazer tudo certo para poder ter meu bebe e meu marido de volta.” (Azaleia) Percebe-se que estimular o autocuidado ajuda na aceitação da importância da desintoxicação química principalmente durante a gestação, a qual requer cuidado de enfermagem-saúde um manejo que valorize a essência e a história de vida do 335 indivíduo hospitalizado, para que o mesmo possa escolher conscientemente o viver saudável. 3.2 A aplicabilidade da Teoria de Orem um devir a ser operacionalizado pela equipe de enfermagem e saúde como um estimulo a aceitação da desintoxicação química e viver saudável no puerpério As pesquisadas consideraram que quando há ações desenvolvidas pela equipe enfermagem-saúde que valorizam as suas condições de estarem gravidas, sem atitudes preconceituosas, ajudam na melhor aceitação da desintoxicação. “Eu gosto e me sinto estimulada a querer largar a pedra pra sempre, quando tem atividades que tem a ver com meu bebe, aprendizados relacionados a esse serzinho que está se formando aqui dentro de mim, esses dias as gurias da enfermagem fizeram uma atividade onde mostrava todas as fases do desenvolvimento do feto do primeiro ao nono mês, foi muito emocionante.”(Camélia) Para os sujeitos da pesquisa é notório que o cenário da desintoxicação é também um espaço de aprendizagem no atendimento das necessidades educativas, pois algumas desconheciam os efeitos do crack durante o período gestacional. Também desconheciam os cuidados básicos do desenvolvimento para o desenvolvimento saudável de seus bebês. “Não sei muita coisa sobre isso, porque eu não queria engravidar afinal nem sei quem é o pai dessa criança, não gosto de estar gravida e não sou em quem vai cuidar dessa criança, vou dar pra doção.”(Orquídea) Vale destacar que para as gestantes há um imaginário sobre os efeitos do crack no organismo do feto, e o reconhecimento que, durante o período de internação o aprendizado sobre o autocuidado e o tratamento das lesões neurológicas respiratórias oriundas da drogadição,poderiam contribuir para que as mesmas pudessem vir a ter mais informações relacionadas ao feto e um puerpério mais saudável. 336 “Eu sei que o crack não faz bem pro meu bebe por isso eu quero parar, quero me tratar, sei que se eu continuasse usando ele podia ficar aleijado ou doente da cabeça.”(Violeta) Conferiu-se que as gestantes reconhecem que o cuidado de enfermagem fornece um apoio,porém muitas vezes realiza ações principalmente com relação ao manejo farmacológico. Considera-se, também, que o cuidado de enfermagem é incentivador para que a rotina de cuidados básicos de higiene alimentação convívio social seja reorganizada e cumprida. “Eu acho que o cuidado de enfermagem aqui nos ajuda muito, e incentiva porque muitas vezes só tenho vontade de dormir e daí precisa de ajuda ate para levantar, para termos uma rotina, poislá fora a minha rotina era só usar pedra.”(Azaleia) Para as gestantes, dependentes químicas, elegerem autocuidado e o viver saudável, durante a internação, e tornar isso como meta, após a hospitalização, a potencialização de aplicabilidade da teoria de orem é relevante. Isso porque considerados aspectos de valorização do ser humano como sendo capaz de novamente se inserir na sociedade e reconstruir sua vida. 4. DISCUSSÃO O profissional enfermeiro que atua na área de reabilitação e reinserção social pelo uso do crack deve ter, além do cuidado teórico-prático, uma atuação humanizada. Isso se inicia já no momento da desintoxicação química e está diretamente ligado ao paciente em um tratamento prolongado, onde o conhecimento de seu agravo interfere diretamente em sua vida na sociedade (Gehlen, 2012). A Teoria do autocuidado de Orem, utilizada na unidade de desintoxicação a gestantes usuárias de crack, engloba o autocuidado, a atividade de autocuidado e a exigência terapêutica de autocuidado. Nesse ínterim, relacionar a teoria do 337 autocuidado na situação de desintoxicação química à gestante é uma estratégia metodológica de cuidado que auxilia também no contexto global da epidemia do uso do crack. Esse fato contextualiza uma problemática que chama atenção tanto do poder público quanto dos órgãos de saúde, universidades e sociedade, na medida em que há tendência ao crescimento insustentável do consumo de crack, com significativas consequências educativas, físicas, emocionais, políticas, sanitárias e sociais (Backes, 2010). A assistência pré-natal não deve se restringir às ações clínico-obstétricas, mas incluir as ações de educação em saúde na rotina da assistência integral, assim como aspectos antropológicos, sociais, econômicos e culturais, que devem ser conhecidos pelos profissionais que assistem as mulheres grávidas, buscando entendê-las no contexto em que vivem, agem e regem. O principal objetivo da atenção pré-natal e puerperal é acolher a mulher desde o início da gravidez, assegurando, no fim da gestação, o nascimento de uma criança saudável e a garantia do bem-estar materno e neonatal. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Avaliar as contribuições da Teoria de Orem para o autocuidado das gestantes na desintoxicação química pelo uso do crack pode ajudar na descrição da relevância do cuidado de enfermagem no manejo das necessidades clinicas, educativas e humanas das mulheres. A Teoria de Orem quando operacionalizada e efetivada,estimula à aceitação da desintoxicação química e o viver saudável após a hospitalização. Reforçou-se o pressuposto de que os efeitos do crack na gestação poderão ser percebidos logo após o nascimento do bebê, ou poderão demorar anos para se manifestar, e de que a mulher e a criança devem ser assegurados por meio das políticas publicas de saúde e pela educação ate a puberdade de seus filhos, evitando assim as gravidez indesejadas. 338 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Backes D. Ações empreendedoras voltadas para o acompanhamento de crianças e adolescentes internados e egressos de Unidade de Tratamento de Desintoxicação de substâncias psicoativas. [Projeto]. Porto Alegre: FAPERGS; 2010. Gehlen M.H. et al . Acolhimento:um instrumento na promoção da educação sobre a saúde transformadora. In: Empreendedorismo social da enfermagem:rupturas e avanços. OrgBackes Dirce Stein., 2012 Leopardi MT. Metodologia da pesquisa na saúde. 2 ed. Florianópolis: UFSC/PósGraduação em Enfermagem, 2002. 290p Marriner-Tomey A. Modelos y teorías en enfermería.3a ed. Madrid (Es): HarcourtBrace; 1994. Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 12 ed. São Paulo: Hucitec, 2010. Oliveira DL. (Org). Enfermagem na gravidez, parto e puerpério:notas de aula. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2005, p.423 Yamaguchi ET. et al. Drogas de abuso e gravidez. Revista Psiquiátrica Clinica. 2008. Acesso em 30 de setembro de 2012. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttex&pid=S010160832008000700010&In g=en&nrm=iso Piccinni CA, Gomes AG, Moreira E, Lopes RS. Expectativas e Sentimentos da Gestante em Relação ao seu Bebê. Psicologia: teoria e pesquisa. Porto Alegre, v.20, n.3, p.223-232, 2004 Triviños A. Introdução à pesquisa em Ciências Sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas; 1992. 339 30.2) PREVALÊNCIA DE TRANSTORNOS MENTAIS COMUNS EM GESTANTES EM ACOMPANHAMENTO NO PRÉ-NATAL DE BAIXO RISCO DE UM DISTRITO DOCENTE ASSISTENCIAL DE PORTO ALEGRE: dados preliminares1 LOPES, Cristina Rita dos Santos 2; GONÇALVES, Lisiane Brum3; TIETZMANN, Daniela Cardoso 4; COELHO, Débora Fernandes5; RESUMO Introdução: transtornos mentais comuns (TMC) são um conjunto de sintomas depressivos e não-psicóticos. São frequentemente encontrados na comunidade e representam alto custo social e econômico. Também são mais frequentes em mulheres não brancas, população de baixo nível socioeconômico, nos indivíduos com pouco suporte social e em períodos vitais geradores de estresse. O processo de mudanças durante a gestação pode gerar estresse favorecendo o aumento de sintomatologias e até mesmo desenvolvimento de transtornos psiquiátricos. Objetivos geral e específico: identificar a prevalência de TMC em gestantes em acompanhamento no pré-natal de baixo risco e descrever características sociodemográficas e obstétricas destas gestantes. Metodologia: estudo transversal quantitativo realizado por meio de entrevistas com todas gestantes em atendimento pré-natal nas doze Unidades de Saúde da Família do Distrito Docente Assistencial Norte/Eixo Baltazar na cidade de Porto Alegre/RS. Critérios de inclusão: gestantes entre décima sétima e trigésima segunda semana de gestação e estar em acompanhamento pré-natal nas Unidades de Saúde da Família do distrito. Critérios de exclusão: menores de 18 anos e/ou gestantes com prejuízo cognitivo grave. Foi 1 Este trabalho faz parte estudo realizado como trabalho de conclusão de curso para a obtenção do título de bacharel em Enfermagem. Contou com recursos próprios e parte do financiamento do PRÓ/PET - Saúde Redes de Atenção I - UFCSPA. 2 Graduanda de Enfermagem do 8° semestre na Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), email: [email protected] 3 Graduanda de Psicologia do 4º semestre na UFCSPA, e-mail: [email protected] 4 Doutora em Epidemiologia, Professora adjunta UFCSPA, e-mail: [email protected] 5 Doutora em Enfermagem, Professora adjunta UFCSPA, e-mail: [email protected] 340 construído um instrumento semi-estruturado para os dados sociodemográficos e obstétricos. Para o rastreamento de TMC utilizou-se o instrumento Self-Reporting Questionnaire. Este projeto teve a aprovação dos comitês de ética em pesquisa. Resultados: a prevalência de TMC foi de 52,6% na população estudada. O principal achado foi que as mulheres sem companheiro apresentaram escores com maior possibilidade de ter TMC. Conclusões: a alta prevalência de positividade no SRQ20 indica maior probabilidade de TMC nessas gestantes. As mulheres sem companheiro apresentaram maiores escores no SRQ-20 demonstram a importância do apoio social na gestação. Os escores altos no SRQ-20 em mulheres não brancas corroboram que essa população está mais vulnerável. As limitações do estudo estão relacionadas ao baixo número de gestantes participantes e a homogeneidade dos dados das entrevistadas. Eixo Temático 2: Atenção ao Pré-natal Descritores: Cuidado pré-natal; Saúde mental; Gestantes. ABSTRACT Introduction: Common mental disorders (TMC) are a set of depressive symptoms and nonpsychotic. Are often found in the community and represent high social and economic cost. Are also more common in non-white women of low socioeconomic level in individuals with little social support and generators vital periods of stress. The process of changes during pregnancy can lead to stress favoring increased of symptomatology and even development of psychiatric disorders. General and specific objectives: to identify the prevalence of TMC in pregnant women in antenatal monitoring in low-risk and describe sociodemographic and obstetric characteristics of these pregnant women. Methodology: A quantitative cross-sectional study conducted through interviews with all pregnant women in prenatal care in the twelve units of the Family Health Care District Lecturer North / Baltazar Axis in Porto Alegre / RS. Inclusion criteria: pregnant women between the seventeenth and thirty-second 341 week of pregnancy and be in prenatal care in the Family Health Units in the district. Exclusion criteria: under 18 and / or pregnant women with severe cognitive impairment. A semi-structured for sociodemographic and obstetric data instrument was built. For tracking TMC used the instrument Self-Reporting Questionnaire. This project was approved by the research ethics committees. Results: The prevalence of TMCs was 52.6% in the population studied. The main finding was that women without partners had scores are most likely to have TMC. Conclusions: The high prevalence of positivity in SRQ-20 indicates greater likelihood of these TMC pregnant. Women without a partner had higher scores on the SRQ-20 demonstrate the importance of social support during pregnancy. The high scores on the SRQ-20 in non-white women corroborate that this population is more vulnerable. Limitations of this study are related to the low number of participants pregnant and homogeneity of the data of the intervieweer. 1. INTRODUÇÃO A expressão “Transtornos Mentais Comuns” foi criada por Golberg e Huxley (1992) para definir um conjunto de sintomas depressivos e não psicóticos como: insônia, fadiga, irritabilidade, dificuldade de concentração, esquecimento, além de outras queixas somáticas. Estes sintomas apesar de causarem grande sofrimento psíquico não se configuram como uma patologia psiquiátrica clássica. Os prejuízos oriundos de transtornos mentais afetam os indivíduos em várias dimensões. Além do sofrimento psíquico e somático os sujeitos são frequentemente isolados socialmente, discriminados, interrompem suas atividades laborais e acadêmicas. Entre os fatores associados aos transtornos mentais estão o uso abusivo de álcool e drogas, suicídios, homicídios, agressões, diminuição na qualidade de vida e aumento da mortalidade. (ALMEIDA, 2010). Os transtornos mentais são frequentemente encontrados na comunidade e representam um alto custo social e econômico, uma vez que são causa de inúmeros 342 dias de afastamento do trabalho, além de elevarem a demanda de serviços de saúde. (GOLBERG; HUXLEY, 1992). Os TMC são mais frequentes nas mulheres, na raça negra/parda, na população com baixo nível socioeconômico e nos indivíduos com pouco suporte social. Também é mais frequente em períodos vitais geradores de estresse. (COSTA; LUDERMIR, 2005). Durante a gestação a mulher passa por uma série de mudanças, tanto sociais, quanto familiares, psicológicas e hormonais. O processo de mudanças nesta fase do ciclo vital pode ser gerador de estresse, favorecendo para o aumento de sintomatologias e até mesmo para o desenvolvimento de transtornos psiquiátricos. Tais transtornos acabam influenciando negativamente a gestante, uma vez que interferem no processo de autocuidado e na adesão ao tratamento. (SARMENTO; SETÚBAL, 2003, FALCONE et al, 2005; BAPTISTA; BAPTISTA; TORRES, 2006). 2. OBJETIVOS 2.1 Objetivo geral Identificar a prevalência de transtornos mentais comuns em gestantes em acompanhamento no pré-natal de baixo risco de um Distrito Docente Assistencial de Porto Alegre/RS. 2.2 Objetivo específico Descrever características sociodemográficas e obstétricas das gestantes em acompanhamento no pré-natal de baixo risco de um Distrito Docente Assistencial de Porto Alegre/RS. 3. METODOLOGIA 343 Trata-se de um estudo transversal quantitativo realizado por meio de entrevistas com todas as gestantes em atendimento pré-natal nas doze Unidades de Saúde da Família do Distrito Docente Assistencial Norte Eixo Baltazar (DDA NEB) na cidade de Porto Alegre/RS. Os critérios de inclusão adotados foram: estar gestante entre a décima sétima e a trigésima segunda semana de gestação e estar em acompanhamento pré-natal nas Unidades de Saúde da Família (USF) do distrito. Como critérios de exclusão optou-se por não participarem do estudo gestantes com idade inferior a 18 anos e/ou gestantes com prejuízo cognitivo grave. Foi construído um instrumento semi-estruturado para coleta de dados sociodemográficos e obstétricos. Para o rastreamento de Trantornos Mentais Comuns optou-se utilizar o instrumento Self-Reporting Questionnaire (SRQ-20) já validado no Brasil. O SRQ-20 é composto por 20 questões onde se atribui valor zero para as respostas negativas e valor um para as afirmativas. Quanto mais respostas afirmativas, maior a probabilidade de que o sujeito tenha um TMC. O ponto de corte é 7/8, o que permite a divisão em dois grupos, ou seja, escores menores que oito tem menor probabilidade de apresentarem um TMC e escores iguais ou maiores do que oito tem maior probabilidade de ter um TMC. O SRQ-20 parece muito adequado a estudos de base populacional no nível de atenção primária à saúde, uma vez que nestes serviços há uma alta concentração de pacientes com transtornos desta natureza. (GONÇALVES et al, 2008). O projeto foi submetido à apreciação ética via Plataforma Brasil tendo a UFCSPA como instituição proponente e a Secretaria Municipal da Saúde de Porto Alegre como instituição co-participante. Obteve aprovações das instituições proponente e co-participante, conforme pareceres 621.028 e 672.039, respectivamente. Após a aprovação dos comitês de ética em pesquisa foram realizadas a seleção e capacitação dos entrevistadores. Antes do início das entrevistas o projeto foi apresentando aos coordenadores das USF durante reunião na Gerência Distrital. 344 Nesta ocasião foi solicitado aos coordenadores uma listagem atualizada das gestantes em acompanhamento pré-natal nas suas respectivas unidades para que fosse possível organizar a logística do estudo. As entrevistas ocorreram nas USF e quando necessário em visitas domiciliares. Antes de proceder as entrevistas os coletadores faziam o convite para participação no estudo, liam o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e esclareciam eventuais dúvidas. Somente após o aceite e assinatura do Termo, em duas vias, iniciavam as entrevistas. A coleta de dados ocorreu entre 22 de julho a 3 de setembro de 2014. Neste período haviam 259 gestantes em atendimento pré-natal nas doze USF do DDA NEB. Do total de gestantes apenas 63 atendiam os critérios de inclusão/exclusão, destas 57 foram entrevistadas e 6 delas foram as perdas. Foram realizadas ainda outras três entrevistas piloto com gestantes que não atendiam integralmente os critérios de inclusão/exclusão, sendo posteriomente excluídas do banco de dados. Foi construído um banco de dados no software EPIDATA 3.1 para armazenamento dos mesmos. Os questionários foram duplamente digitados para garantir a consistência das informações coletadas. Após a conclusão e limpeza do banco foi realizada a análise dos dados utilizando o software estatístico SPSS 18.0. Os dados serão armazenados por um período mínimo de cinco anos após o término do estudo. Neste estudo foram seguidas todas as normas éticas para o desenvolvimento de pesquisas envolvendo seres humanos de acordo com a Resolução do Conselho Nacional de Saúde n° 466/2012. 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES Das 63 gestantes que atendiam os critérios de inclusão/exclusão, foram entrevistadas 57 e 6 delas foram as perdas. Os motivos das perdas foram gestantes faltosas em consultas de pré-natal e/ou não encontradas em visitas domiciliares. Conforme dados da tabela 1, em relação a cor 45% (n= 24) se auto declararam como brancas. Negras pardas e indígenas representaram ao total 55% 345 (n= 33). As gestantes deste estudo informaram ter um companheiro representaram 82,5% (n= 47). Separadas/divorciadas, solteiras e viúvas representaram 17,5% (n= 10) desta população. Neste estudo 54,4% não trabalham fora. Trabalham com carteira assinada, sem carteira assinada, encostada/aposentada, recebe pensão representaram 45,6% das gestantes. A renda percapta menor ou igual a 400 reais representou 50,9% (n= 29) destas gestantes. A idade média das gestantes entrevistadas foi 24,72 (DP 5,077), a idade mínima foi 18 e a máxima 41 anos. A primeira relação sexual ocorreu em média com 15,41 anos (DP 2,214), sendo a idade mínima 9 e máxima 21 anos, uma das entrevistadas respondeu que não lembrava. A idade média da primeira gestação foi 19,23 anos (DP 3,168), sendo a idade mínima 15 e máxima 32 anos. Das 57 gestantes 21 eram primigestas, das 36 restantes 16 tinham história de 1 ou mais abortos. As participantes informaram ter tido em média 1,7 (DP 2,220) parceiros sexuais no último ano, sendo 1 o número mínimo de parceiros e 15 o número máximo. A média de idade gestacional na primeira consulta foi de 9,6 semanas (DP 3,770), sendo a mínima de 4 e a máxima 24 semanas. As gestantes entrevistadas tiveram em média 3,82 consultas de prénatal (DP 1,638), sendo a mínima de 1 e máxima de 9 consultas. Na população deste estudo a prevalência de escores iguais ou maiores a 8 pontos no SRQ-20, que indicam maior probabilidade de transtornos mentais comuns, foi de 52,6% (n= 30), sendo que o escore pontuado mínimo foi de 8 e o máximo 19. As gestantes que obtiveram escores abaixo de 8 pontos são 47,4% (n= 27), sendo que o escore mínimo foi de 0 e o máximo 7. 346 Tabela 1 - Dados descritivos das gestantes em acompanhamento pré-natal Cor N % Branco 33 57,9 Não branco 24 42,1 Estado civil N % Sem companheiro 10 17,5 Com companheiro 47 82,5 Escolaridade N % Igual ou menor que 8 anos 25 43,9 Maior que 8 anos 32 56,1 Renda per-capta N % Igual ou menos que 400 reais 29 50,9 Maior que 400 reais 28 49,1 Ocupação N % Não trabalha fora 31 54,4 Trabalha fora 26 45,6 Recebem bolsa família 7 12,3 N Média DP Mínimo Máximo Idade da gestante 57 24,72 5,077 18 41 Idade da primeira relação sexual 57 15,41 2,214 9 21 Idade da primeira gestação 57 19,23 3,168 15 32 Número de abortos* 16 1,13 0,342 1 2 Número de parceiros(as) sexuais no último ano 57 1,7 2,22 1 15 Idade gestacional na primeira consulta 57 9,6 3,77 4 24 Número de consultas pré-natal realizadas 57 3,82 1,638 1 9 Escore no SRQ-20** 57 8,12 4,555 0 19 * Das 57 gestantes, apenas 16 sofreram 1 ou mais abortos. ** Valores iguais ou maiores que 8 indicam maior probabilidade de TMC. Conforme tabela 2, as entrevistadas que referiram ter idade abaixo até 20 anos 12,3%(n= 7) tiveram escores igual ou maiores que 8 no SRQ-20 e 14 % (n= 8) obtiveram escores menores que 8. Já as que informaram ter acima de 20 anos de idade 40,4% (n=23) obtiveram escores igual ou maiores que 8 e 33,3% (n=19) tiveram escores menores que 8. As gestantes que se auto declararam brancas 26,3%(n= 15) tiveram escores igual ou maiores que 8 no SRQ-20 e 31,6 % (n= 18) obtiveram escores menores que 8. Já as que se declararam negras, pardas ou 347 indígenas representaram 26,3% (n=15) obtiveram escores igual ou maiores que 8 e 15,8% (n=9) tiveram escores menores que 8. As entrevistadas possuem até 8 anos de estudo 21,1%(n= 12) tiveram escores igual ou maiores que 8 no SRQ-20 e 22,8 % (n= 13) obtiveram escores menores que 8. Já as que possuem mais de que 8 anos de estudo 31,6% (n= 18) obtiveram escores igual ou maiores que 8 e 24,6% (n= 14) tiveram escores menores que 8. As participantes que referiram não ter companheiro 14%(n= 8) tiveram escores igual ou maiores que 8 no SRQ-20 e 3,5 % (n= 2) obtiveram escores menores que 8. Já as que informaram ter companheiro 38,6% (n=22) obtiveram escores igual ou maiores que 8 e 43,9% (n=25) tiveram escores menores que 8. As entrevistadas que possuem renda per capta até 400 reais 29,8%(n= 17) tiveram escores igual ou maiores que 8 no SRQ-20 e 21,1 % (n= 8) obtiveram escores menores que 8. Já as que possuem renda maior de 400 reais 22,8% (n=13) obtiveram escores igual ou maiores que 8 e 26,3% (n=15) tiveram escores menores que 8. Tabela 2 - Escores do SRQ-20 por variável Escore no SRQ-20 Igual ou maior que 8 Menor que 8 Variável N % N % p Estado civil Sem companheiro 8 14 2 3,5 Com companheiro 22 38,6 25 43,9 Total 30 52,6 27 47,4 0,812 Idade Menores de 20 anos 0,056 7 12,3 8 14 Igual ou maior de 20 anos 23 40,4 19 33,3 Total 30 52,6 27 47,3 0,512 Renda per capta Igual ou menor que 400 reais 17 29,8 12 21,1 Maior que 400 reais 13 22,8 15 26,3 Total 30 52,6 27 47,4 0,203 Cor Não Branco 15 26,3 9 15,8 Branco 15 26,3 18 31,6 Total 30 52,6 27 47,4 0,725 Escolaridade 348 Igual ou menor a 8 anos de estudo 12 21,1 13 22,8 Maior que 8 anos de estudo Total 18 30 31,6 52,6 14 27 24,6 47,4 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Por meio da aplicação do screening para TMC foi encontrada uma prevalência de 52,6% na população estudada, demonstrando um alto número de gestantes que podem estar sendo subdiagnosticadas, consequentemente, trazendo repercursões no seu auto cuidado e com o bebê. Esse resultado corrobora a alta prevalência de TMC encontrada em pesquisa semelhante realizada por Silva et al (2010) com gestantes onde scores altos foram encontrados em 41,4% das gestantes. Resultados como esses demonstram a necessidade de investimento em mais pesquisas nessa área para subsidiar programas de saúde pública nesta população. Ocorreram diferenças importantes nos escores dos SRQ-20 entre as que não possuem parceiros e das não brancas. As que não possuem parceiros e que obtiveram escores acima de 8 representam 14%(n= 8) SRQ-20 e 3,5 % (n= 2) obtiveram escores menores que 8. Esse dado indica que mulheres que relatam não ter parceiro possuem maior probabilidade de ter TMC. Portanto, os achados neste estudo corroboram com a associação de níveis elevados de suporte social, quer sejam eles ofertados pela família ou pelo parceiro, com ausência de transtornos mentais comuns encontrados em Rodrigues et al (2011). Em relação as que se declararam negras, pardas ou indígenas 26,3% (n=15) obtiveram escores igual ou maiores que 8 e 15,8% (n=9) tiveram escores menores que 8 demonstrando terem maior probabilidade de TMC. Esse achado também foi encontrado em Costa e Ludermir (2005). O presente estudo apresentou algumas limitações relacionadas ao baixo número de gestantes participantes e a homogeneidade dos dados das entrevistadas. 349 REFERÊNCIAS ALMEIDA, M.S; et al. Transtornos mentais em uma amostra de gestantes da rede de atenção básica de saúde no Sul do Brasil. Cadernos de Saúde Pública. Rio de Janeiro, v. 28, n. 2, fev., 2012 BAPTISTA, M. N.; BAPTISTA, A. S. D.; TORRES, E. C. R. Associação entre suporte social, depressão e ansiedade em gestantes. Revista de Psicologia da Vetor Editora, v. 7, n. 1, jan./jun., 2006. BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012d. [online]. Disponível em: http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/2012/Reso466.pdf Acesso em 23 jul 2013. COSTA, A.G.; LUDERMIR, A.B. Transtornos mentais comuns e apoio social: estudo em comunidade rural da Zona da Mata de Pernambuco, Brasil. Cadernos de Saúde Pública. Rio de Janeiro, v. 21, n. 1, Fev. 2005. FALCONE, V. M.; et al. Atuação multiprofissional e a saúde mental de gestantes. Revista de Saúde Pública. São Paulo, v. 39, n. 4, 2005. GOLBERG, D.; HUXLEY, P. Common mental disorders: a bio-social model. Londres: Tavistock, 1992. GONÇALVES, D.M; et al. Avaliação de desempenho do Self-Reporting Questionnaire como instrumento de rastreamento psiquiátrico: um estudo comparativo com o Structured Clinical Interview for DSM-IV-TR. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 24, n. 2. fev., 2008. RODRIGUES, S M S. et al. Suporte familiar e transtornos mentais comuns em adolescentes grávidas. Psicologia Argumento, Curitiba, v. 29, n. 64, jan./mar. 2011. SARMENTO, R.; SETÚBAL, M.S.V. Abordagem psicológica em obstetrícia: aspectos emocionais da gravidez, parto e puerpério. Revista de Ciências Médicas, Campinas, v.12, n. 3, jul./set., 2003. 350 3. RESUMOS 351 1.3) PARTICIPAÇÃO DA MULHER NA TOMADA DE DECISÃO DURANTE O PROCESSO DE PARTURIÇÃO: UMA REVISÃO INTEGRATIVA MATOS, Greice Carvalho de1; SOARES, Marilu Correa2; ESCOBAL, Ana Paula de Lima3; SANTOS, Carolina Carbonell4; BOETTCHER, Cassia Luíse5; Eixo Temático: Atenção à Saúde da Mulher. Descritores: Parto Normal; Parto Humanizado; Cesárea; Tomada de Decisões; Pesquisa Qualitativa. 1. INTRODUÇÃO O parto significa para a mulher um dos acontecimentos mais importantes de sua vida, uma experiência marcante, na qual os sentimentos vivenciados serão lembrados minuciosamente por toda sua vida. O processo de parturição é um evento histórico, em que o cuidado dispensado às mulheres em trabalho de parto e no parto ocorria no ambiente domiciliar, a parturiente era assistida por outra mulher, geralmente uma parteira de sua confiança e apoiada pelos seus familiares. No século XX, com o objetivo de reduzir as altas taxas de mortalidade materna e infantil, 1 Enfermeira. Mestranda do Programa de Pós Graduação da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas. Bolsista CAPES.Membro do Núcleo Pesquisa e Estudos com crianças, adolescentes, mulheres e famílias- NUPECAMF - UFPEL – [email protected] 2 Enfermeira Obstetra, Doutora em Enfermagem em Saúde Pública- EERP -USP -Profª Adjunta IV da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas. Coordenadora do Projeto de Extensão Prevenção e Promoção da saúde em grupos de gestantes e puérperas.- Líder do Núcleo Pesquisa e Estudos com crianças, adolescentes, mulheres e famílias- NUPECAMF - UFPEL – [email protected] 3 Enfermeira. Doutoranda do Programa de Pós Graduação da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas. Membro do Núcleo Pesquisa e Estudos com crianças, adolescentes, mulheres e famílias- NUPECAMF - UFPEL –[email protected] 4 Enfermeira. Doutoranda do Programa de Pós Graduação da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas. Membro do Núcleo Pesquisa e Estudos com crianças, adolescentes, mulheres e famílias- NUPECAMF - UFPEL – [email protected] 5 Enfermeira. Mestranda do Programa de Pós Graduação da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas. Bolsista CAPES.Membro do Núcleo Pesquisa e Estudos com crianças, adolescentes, mulheres e famílias- NUPECAMF - UFPEL – [email protected] 352 ocorreu a institucionalização do parto, o domicílio da mulher foi trocado pela hospitalização e consequente medicalização (LOPES et al.,2009). A institucionalização do parto trazia como pressuposto que os profissionais de saúde que estivessem junto às mulheres prestassem cuidados humanizados. Contudo estes avanços priorizaram a medicalização da parturiente durante o processo de parto, tornando o processo de parturição médico-cirúrgico, tecnicista e não humanista, resultando na quantidade excessiva de partos cesáreos e no abuso de intervenções tecnológicas (CARRARO et al.,2007). Compete ao profissional de saúde a responsabilidade de oferecer informações à parturiente referentes aos tipos de parto, valorizando os benefícios do parto normal como um processo fisiológico, bem como, esclarecer sobre as indicações do parto cesáreo, salientando que este tipo de parto não deve ser um evento rotineiro para as mulheres, pois pode tornar-se um procedimento de risco para mãe e para o recém-nascido. É também de importância instrumentalizar a mulher para a tomada de decisões referentes a vivencia de seu parto (MATOS,2013). Para isto é necessário valorizar as experiências prévias da mulher, seus valores, suas crenças, seus medos e checar as informações obtidas de outras fontes, pois estes fatores podem interferir na tomada de decisão da mulher (PINHEIRO; BITTAR, 2013). Nesta perspectiva este estudo apresenta a seguinte questão norteadora: Qual a participação da mulher na tomada de decisão sobre o tipo de parto vivenciado? 2. OBJETIVO Conhecer a participação da mulher na tomada de decisão sobre o tipo de parto vivenciado. 3. METODOLOGIA O presente estudo trata-se de uma revisão integrativa da literatura. A revisão integrativa contempla a sinopse de vários estudos publicados e propicia 353 considerações gerais com relação a uma área delimitada de estudo (POLIT; BECK; HUNGLER, 2004). Para realização do mesmo, foram percorridas as seguintes etapas: 1) estabelecimento da hipótese e objetivos da revisão integrativa; 2) estabelecimento de critérios de inclusão e exclusão de artigos (seleção da amostra); 3) definição das informações a serem extraídas dos artigos selecionados; 4) análise dos resultados; 5) discussão e apresentação dos resultados e 6) apresentação da revisão (MENDES; SILVEIRA; GALVÃO, 2008). Destaca-se que todo processo foi permeado pela discussão coletiva e validação por pares das etapas percorridas. Após a definição da temática, determinou-se como descritores Parto Normal (natural childbirth),Parto humanizado (humaizing delivery), Cesárea (cesarean section), Tomada de Decisões (decision making) e Pesquisa Qualitativa (qualitative research) consultados previamente no Decs (Descritores em Ciência e Saúde) e no Mesh (Medical Subject Headings) sendo utilizado os operadores boleanos AND e OR como ferramenta para o cruzamento destes. Utilizou-se a base de dados Lilacs (Centro Latino Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde), o portal Scielo (Scientific Eletronic Library Online) e o MEDLINE (Medical Literature Analysis and Retrieval Sistem on-line). Determinou-se como critério de seleção dos manuscritos nas línguas inglesa, português e espanhol que abordavam a participação da mulher na tomada de decisão sobre o tipo de parto vivenciado publicados nos últimos dez anos. A seleção da amostra foi realizada por meio de leitura flutuante dos títulos e resumos seguida da leitura dos artigos na íntegra. Para a análise e posterior síntese dos artigos que atenderam aos critérios de inclusão foi utilizado um quadro sinóptico especialmente construído para este fim, que contemplou os seguintes aspectos: identificação do estudo; autores; revista; objetivos; metodologia e resultados. 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO Na base de dados MEDLINE foram encontrados para o descritor Natural Childbirth 2047 publicações, com o descritor Humanizing Delivery surgiram 24 354 resultados, o descritor Cesarean section apresentou 34690 publicações, Decision making trouxe 180924 publicações, e Qualitative Research o resultado foi 86953 publicações. Após o cruzamento dos descritores foram encontradas 33 publicações, sendo que 14 publicações contemplaram o objetivo do estudo, as demais pontuavam aspectos que não se inseriam nos critérios de inclusão do estudo. Na base de dados LILACS foram encontrados 311 publicações para o descritor Parto normal, para o descritor Parto Humanizado 227 publicações, o descritor Cesárea apresentou 2732 publicações, Tomada de Decisões trouxe 657 publicações, e Pesquisa Qualitativa o resultado foi 2103 publicações. Após o cruzamento dos descritores foi encontrada uma publicação. No Portal Scielo foram encontrados 65 publicações para o descritor Parto Humanizado, para o descritor Parto Normal 70 publicações, o descritor Cesárea apresentou 300 publicações, Tomada de Decisões trouxe 25 publicações, e Pesquisa Qualitativa o resultado foi 498 publicações. Após o cruzamento dos descritores foi encontrada uma publicação. Ao final da etapa de seleção dos artigos, foram considerados relevantes à temática deste estudo 16 artigos. Durante a análise dos dados observou-se que em termos de evolução temporal no período de 2009 a 2013 concentraram mais da metade dos estudos que permeiam esta revisão. Quanto ao local de origem das publicações a Austrália apresentou o maior quantitativo, com cinco estudos, seguida do Reino Unido com quatro, enquanto o Brasil apresentou dois, e Canadá, Argentina, Suécia, Noruega, e Taiwan com um estudo cada. Após a leitura na íntegra das publicações desta revisão, foi realizado o agrupamento dos estudos em duas temáticas, considerando a similaridade de conteúdos, a saber: Parto normal pós cesárea e Cesárea: Decisão médica ou decisão materna? As publicações relacionadas à temática Parto normal pós cesárea permitiram pressupor que a maioria das mulheres, mesmo após vivenciarem uma cesariana anterior, demonstram interesse em experienciar o parto normal, no entanto não encontram informações durante a gestação à respeito deste tipo de parto, sendo assim acabaram sujeitando-se as cesarianas subsequentes, pois sentem medo em vivenciar VBAC. Já a temática Cesárea: Decisão médica ou decisão materna? evidenciou que as mulheres, muitas vezes desprovidas de 355 conhecimento prévio, acabam se submetendo à praticas medicalizadas e intervencionistas, vivenciam cesarianas sem indicações adequadas e o saber médico ainda possui domínio de decisão no processo de parturição. 5. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS Esta revisão integrativa possibilitou conhecer produções acerca da participação da mulher na tomada de decisão sobre o tipo de parto vivenciado. Evidenciou-se que o período de 2009 a 2013 concentrou o maior número de publicações sobre a temática, sendo a Austrália e o Reino Unido os países com maior número de pesquisas. Constatou-se a emergência dos profissionais de saúde se conscientizarem da necessidade de realizar ações de educação em saúde no decorrer da gestação em relação aos tipos de parto, seus benefícios e indicações. O pré-natal é um espaço para praticas em prol da humanização do nascimento, pois possibilita a troca de conhecimento entre a mulher e os profissionais de saúde, com intuito de empoderar a mesma na tomada de decisão sobre o processo de parturição. Nesta conjuntura salienta-se que os estudos analisados nesta revisão permitiram perceber que é preciso persistir na busca pela humanização do processo de parturição, pois o parto ainda continua alvo de ações padronizadas, intervenções tecnológicas e medicalizadoras que desconsideram a mulher como protagonista do processo de parturição. Diante deste cenário, acredita-se relevante a realização de outros estudos para efetivação e consolidação da participação da mulher na tomada de decisão sobre o parto, com o intuito de garantir a maternidade e o nascimento tranquilo e seguro de acordo com a vontade da parturiente. REFERÊNCIAS CARRARO, T.E. et al.Cuidado e conforto durante o trabalho de parto e parto:na busca pela opinião das mulheres.Texto Contexto Enferm,v.esp, n.15, p.97-104, 2007. 356 LOPES, C.V. et al. Experiências vivenciadas pela mulher no momento do parto e nascimento de seu filho. Cogitare Enferm, v.14, n.3, p.484-90,2009. MATOS, Greice Carvalho de. Grupos de gestantes: espaço de troca de saberes e práticas na atenção ao parto. 2013. 73f. Trabalho acadêmico(Graduação em Enfermagem)-Faculdade de Enfermagem, Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, 2013 MENDES, K.D.S.; SILVEIRA,R.C.C.P.; GALVÃO,C.M. Revisão integrativa: método de pesquisa para a Incorporação de evidências na saúde e na enfermagem. Texto & Contexto Enferm,v.17,n.4,p.758-64,2008. PINHEIRO,B.C.;BITTAR,C.M.L. Expectativas, percepções e experiências sobre o parto normal: relato de um grupo de mulheres. Rev. Psicol, v.25,n.3,p.585602,2013. POLIT,D.F.; BECK, C.T.; HUNGLER,B.P. Fundamentos de Pesquisa em Enfermagem: métodos, avaliação e utilização. 5.ed. Porto Alegre: Artmed, 2004. 357 2.3) INCENTIVO AO PARTO NORMAL EM GRUPOS DE GESTANTES E PUÉRPERAS: RELATO DE EXPERIÊNCIA OLIVEIRA, Thais Damasceno1; PIRES, Bruna Madruga2; BERGMANN, Martina Michaelis³ MATOS, Greice Carvalho4; SOARES, Marilu Correa5; BARBOZA, Rosana da Rosa6 Eixo temático: Eixo 2: Atenção ao Pré-natal. Descritores: Educação em Saúde; Gravidez; Parto Normal. 1. INTRODUÇÃO O processo de parturição representa um evento muito importante na vida das mulheres, sendo um momento único e especial, marcado por transformações, em que a mulher tem um novo papel, o de ser mãe (VELHO et al., 2012). No processo de parturição, o parto é uma experiência marcante para a mulher, podendo deixar lembranças positivas ou negativas desencadeadas pelo sofrimento, assistência desqualificada e o medo de engravidar novamente (SILVA; BARBIERI; FUSTINONI, 2011). A humanização do parto surge como alternativa para tornar a mulher protagonista do processo de parturição, reduzindo as experiências negativas que a assistência inadequada pode proporcionar. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) a humanização da assistência ao parto tem como objetivos promover 1 Aluna do Bacharelado em Enfermagem/UFPel, bolsista PROBEC/UFPel ([email protected]). 2 Aluna do Bacharelado em Enfermagem/UFPel, bolsista PROBEC/UFPel ([email protected]). ³ Aluna do Bacharelado em Enfermagem/UFPel, bolsista BIC. Projeto Redes de apoio à paternidade na adolescência ([email protected]). 4 Enfermeira. Mestranda do Programa de Pós Graduação da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas. Bolsista CAPES ([email protected]). 5 Enfermeira Obstetra, Doutora em Enfermagem em Saúde Pública- EERP -USP- Profª Adjunta IV da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas. Coordenadora do Projeto de Extensão Prevenção e Promoção da saúde em grupos de gestantes e puérperas ([email protected]). 6 Enfermeira da Secretaria Municipal de Saúde de Pelotas-Unidade Básica da Sanga Funda. 358 o parto e o nascimento saudáveis, prevenção da mortalidade materna e perinatal, menor nível de intervenção compatível com a segurança e utilização dos recursos tecnológicos disponíveis, evitando-se os excessos (OMS, 2009). Estudo comprova os benefícios físicos e psicológicos à mulher que o modelo assistencial humanizado proporciona. Humanizar o parto significa colocar a mulher no centro e no protagonismo de suas ações, participando ativamente das decisões sobre seu próprio corpo e cuidado (SILVA; BARBIERI; FUSTINONI, 2011). 2. OBJETIVO Relatar a experiência de acadêmicos da graduação da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas, que participam do projeto de extensão “Prevenção e promoção da saúde em grupos de gestantes e puérperas”. 3. METODOLOGIA O projeto “Prevenção e Promoção da Saúde em Grupos de Gestantes e Puérperas” conta com a participação dos docentes, discentes da Faculdade de Enfermagem da UFPEL e a Enfermeira da Unidade Básica de Saúde, localizada na zona norte de Pelotas. Participam do grupo, gestantes e puérperas de todas as faixas etárias, de diferentes estágios gestacionais e condições socioeconômicas. Os encontros com as gestantes e puérperas acontecem mensalmente e são desenvolvidas atividades sistematizadas voltadas para os interesses das participantes do grupo. Os assuntos são previamente acordados com as gestantes e puérperas e desenvolvidos por meio de materiais lúdicos e criativos em oficinas, rodas de conversa, treinamentos práticos. Após a apresentação do tema de cada encontro as discussões e troca de experiências acontecem em roda de conversa entre gestantes, puérperas e acadêmicas, as dúvidas são esclarecidas e o empoderamento das mulheres em relação a sua vivência no processo de parturição é estimulado. 359 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO O encontro sobre o tema “Tipos de Parto” foi realizado em agosto de 2014, estavam presentes nove gestantes, cujas faixas etárias variaram de 14 a 28 anos, a idade gestacional predominante foi de 37 semanas. O grupo começou com uma conversa descontraída a cerca do número de gestações de cada uma, quatro eram primigestas e cinco eram secundigestas, destas três experenciaram o parto cesáreo e duas o parto normal. Após foram feitas duas perguntas: Que tipo de parto você prefere e por quê? O que você entende sobre parto humanizado? No depoimento das participantes deste encontro, quatro gestantes preferiam o parto cesáreo, justificaram que era mais prático, já tinham experenciado anteriormente e por não sentirem dor durante o trabalho de parto. Cinco gestantes preferiram o parto normal, pois segundo elas a recuperação era mais rápida e por terem medo da anestesia. Sobre a segunda pergunta, cinco participantes não sabiam o que é o parto humanizado, duas disseram que era não sentir dor no parto, uma afirmou que considerava ser bem tratada durante o trabalho de parto e outra disse que parto humanizado era não agredir o bebê. Após esta conversa foi apresentado a temática do grupo “Tipos de parto”, explicando primeiramente que parto humanizado são práticas e atitudes que favorecem o parto e o nascimento saudável. Concedendo à mulher direitos à privacidade, escolha do acompanhante e da posição que deseja parir seu filho. A humanização da parturição é entendida pela participação da parturiente nas decisões sobre seu processo de parturição, está pautada no diálogo com a mulher, na inclusão do pai no parto e na presença das doulas, além da busca por melhoria na relação da instituição hospitalar e seus usuários (LONGO; ANDRAUS; BARBOSA, 2010). Neste encontro também foi esclarecido sobre as diferenças entre os tipos de parto, explicando que o parto vaginal é um processo natural que permite à natureza seguir seu rumo, deixando o bebê nascer no tempo certo, favorece a expulsão dos líquidos pulmonares do bebê, havendo menos risco de desconforto pulmonar após o parto, o útero volta mais rápido ao tamanho normal, diminui a possibilidade de hemorragias. A cesariana é um procedimento cirúrgico 360 realizado para salvar a vida da mãe e/ou da criança, quando ocorrem complicações durante a gravidez ou o parto (FREITAS et al., 2006). Pesquisa realizada pela Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), em parceria com instituições cientificas do Brasil, o total de partos realizados em todo o Brasil, entre fevereiro de 2011 e outubro de 2012, 52% foram cesarianas. No setor privado os índices chegam a 88% dos nascimentos. No setor público, envolvendo os serviços do SUS e os contratados do setor privado, o índice de cesarianas é de 46%, sendo que a OMS recomenda que o índice máximo não ultrapasse os 15% dos nascimentos (FIOCRUZ, 2014). 5. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS Conclui-se que os grupos de gestantes e puérperas são importante espaço para sanar dúvidas e incentivo ao parto vaginal. Serve também para empoderar as mulheres sobre a fisiologia de seu corpo incentivando-as a serem protagonistas do seu próprio trabalho de parto, tomando decisões em conjunto com familiares e equipe de saúde. REFERÊNCIAS LONGO, Cristiane Silva Mendonça; ANDRAUS, Lourdes Maria Silva; BARBOSA, Maria Alves. Participação do acompanhante na humanização do parto e sua relação com a equipe de saúde. Rev. Eletr. Enf. Goiânia, v. 12, n. 2, p. 387-391, 2010. Disponível em: <http://www.fen.ufg.br/fen_revista/v12/n2/pdf/v12n2a25.pdf> Acesso em: 15 Ago. 2014. OMS. Organização Mundial de Saúde. Maternidade Segura. Assistência ao Parto Normal- OMS. Disponível em <http://www.abcdoparto.com.br/Assistencia/AssistenciaPartoNormal-OMS.htm> Acesso em: 15 Ago. 2014. VELHO, Manuela Beatriz et AL. VIVÊNCIA DO PARTO NORMAL OU CESÁREO: REVISÃO INTEGRATIVA SOBRE A PERCEPÇÃO DE MULHERES. Texto Contexto Enferm. Florianópolis, v. 21, n. 2, p. 458-466, 2012. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/tce/v21n2/a26v21n2.pdf> Acesso em: 15 Ago. 2014. 361 SILVA, Larissa Mandarano da; BARBIERI, Márcia; FUSTINONI, Suzete Maria. Vivenciando a experiência da parturição em um modelo assistencial humanizado. Rev Bras Enferm, Brasília, v. 64, n. 1, p. 60-65, 2011. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/reben/v64n1/v64n1a09.pdf> Acesso em: 15 Ago. 2014. Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ). ENSP - ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA SERGIO AROUCA. Nascer é Normal. São Paulo, 2014. FREITAS, Fernando et al. Rotinas em Obstetrícia. 5ªed., Porto Alegre: Artmed, 2006. 680p. 362 3.3) AÇÕES DE ENFERMAGEM NO PERÍODO GRAVÍDICO: UMA REVISÃO INTEGRATIVA1 BERGMANN, Martina Michaelis2; ALVES, Camila Neumaier3; WILHELM, Laís Antunes 4 RESSEL, Lúcia Beatriz5; MEINCKE, Sonia Maria Konzgen6. Eixo Temático: Atenção à Saúde da Mulher Descritores: Gravidez; Cuidados de Enfermagem; Saúde da Mulher. 1. INTRODUÇÃO Durante muitos anos, os cuidados à saúde das mulheres foram voltados para o período compreendido entre a gravidez e o nascimento, destacando estes eventos como possibilidade de gerar uma população saudável com indivíduos aptos ao trabalho. Nesse contexto, o Ministério da Saúde oficializou em 1984 o Programa de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PAISM), objetivando a busca de uma assistência à saúde integral das mulheres. O PAISM foi um importante passo para melhora da qualidade da atenção à gestante. O marco diferencial para outros programas foi considerar o conhecimento prévio do sujeito, com o objetivo de proporcionar uma reflexão sobre saúde e desta maneira promovendo o autoconhecimento e a busca pela autoestima feminina, incorporando assim, a mulher como sujeito ativo no cuidado à saúde. O Programa destaca que um dos profissionais envolvido nos cuidados e ações educativas a essas mulheres é o Enfermeiro (BRASIL, 2007). Frente ao exposto a questão que norteou o estudo foi: 1 Trabalho proveniente da Dissertação de Mestrado “Cuidado da enfermeira à gestante na perspectiva cultural” apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria, no ano de 2014. 2 Discente de Enfermagem. Universidade Federal de Pelotas. E-mail: [email protected] 3 Mestre em Enfermagem. Universidade Federal de Pelotas. E-mail: [email protected] 4 Mestre em Enfermagem. Universidade Federal de Santa Maria. E-mail: [email protected] 5 Doutora em Enfermagem. Universidade Federal de Santa Maria. E-mail: [email protected] 6 Doutora em Enfermagem. Universidade Federal de Pelotas. E-mail: [email protected] 363 quais as ações de enfermagem realizadas durante o período gravídico e como elas repercutem na saúde das mulheres? 2. OBJETIVO Identificar as evidências científicas disponíveis na literatura sobre quais os cuidados de enfermagem desenvolvidos durante a gravidez e como eles repercutem na saúde das gestantes. 3. METODOLOGIA Trata-se de uma revisão integrativa da literatura (URSI; GALVÃO, 2006). A seleção dos artigos foi realizada por meio de uma busca na base de dados MEDLINE, LILACS e na BDENF. Os critérios de inclusão foram artigos com resumos completos; disponíveis online, na íntegra, provenientes de pesquisas originais; nos idiomas inglês, espanhol ou português; publicados entre 1984 e 2011; e artigos avaliados com nível de evidência seis (provenientes de um único estudo qualitativo ou descritivo). Os critérios de exclusão foram artigos que não se relacionassem a temática estudada e não respondessem ao objetivo. Definiram-se os descritores “gravidez” e “cuidados de enfermagem”. O marco temporal de 1984 foi escolhido devido à oficialização do PAISM. A busca foi realizada em maio de 2012. Para a coleta de dados, foi utilizado o instrumento proposto e validado por Ursi (2005), que contempla os itens: identificação do artigo original, características metodológicas do estudo, avaliação do rigor metodológico, das intervenções mensuradas e dos resultados encontrados. A análise das evidências foi baseada nos sete níveis apresentados na classificação de Melnyk e Fineout-Overholt (2005). Na busca realizada encontrou-se 371 estudos nas três bases de dados (196 na MEDLINE, 97 na LILACS e 88 na BDENF), dos quais aplicando os critérios de inclusão, finalizouse com 14 artigos para análise. A análise dos artigos foi realizada utilizando o quadro sinóptico proposto por Ursi e Galvão (2006), adaptado para este estudo, que 364 contemplou os seguintes aspectos: referência da pesquisa/código; intervenção estudada; resultados; recomendações e/ou conclusões. 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO Observou-se que as ações de enfermagem realizadas durante a gestação são pautadas na humanização da assistência e apontam a necessidade dos enfermeiros atuarem dessa forma (KENNEDY, 1995; CASTRO; CLAPIS, 2005; ROCHA; FONSECA, 2010; OLIVEIRA; RODRIGUES; GUEDES, 2011; AGUIAR et al., 2010; ALVES et al., 2007; RODRIGUES; SILVA; FERNANDES, 2006). Os cuidados de enfermagem identificados nos estudos avaliados relacionam-se a aspectos de educação em saúde (LIU; MOORE, 2000; CASTRO; CLAPIS, 2005; CARRARO et al., 2006), orientações quanto aos aspectos da gravidez (CASTRO; CLAPIS, 2005; OLIVEIRA; RODRIGUES; GUEDES, 2011; PÉREZ et al., 2009; ALVES et al., 2007), sendo que o estudo de Castro e Clapis (2005), apresentou como estratégia de cuidado os grupos com gestantes. Outros estudos elencaram o conforto (LIU; MOORE, 2000; CASTRO; CLAPIS, 2005; CARRARO et al., 2006), o apoio (CASTRO; CLAPIS, 2005; OLIVEIRA; RODRIGUES; GUEDES, 2011; ALVES et al., 2007; RODRIGUES et al., 2007; RODRIGUES; SILVA; FERNANDES, 2006), o ambiente calmo (CASTRO; CLAPIS, 2005), o toque (OLIVEIRA; RODRIGUES; GUEDES, 2011), o carinho (PÉREZ et al., 2009) e a escuta (RODRIGUES et al., 2007) como cuidados satisfatórios relatados pelas gestantes e que os enfermeiros balizam sua atenção. As ações desenvolvidas pelos enfermeiros para o desenvolvimento gestacional e para o parto, foram as relacionadas a inclusão da família no processo (KENNEDY, 1995; CASTRO; CLAPIS, 2005), incentivar o empoderamento dessas mulheres (KENNEDY, 1995; QUITETE; VARGENS, 2009), atender com alegria (CARRARO et al., 2006), além de realizar prescrições de enfermagem (AGUIAR et al., 2010), aplicando tecnologias de cuidado (ROCHA; FONSECA, 2010) e evitando intervenções (CASTRO; CLAPIS, 2005; FIGUEIRÊDO et al., 2004). A maioria dos resultados evidencia a importância do cuidado 365 humanizado e o engajamento dos profissionais da enfermagem que atuam na atenção a gestante, como evidenciado na maioria dos estudos, especialmente em Kennedy (1995) e Carraro et al. (2006), quando são demonstrados a satisfação no atendimento, o incentivo do autocuidado (KENNEDY, 1995) e a segurança proporcionada pelos profissionais no decorrer da gestação e trabalho de parto (CARRARO et al., 2006). Referente aos cuidados com patologias especificas da gestação, encontram-se dois estudos (PÉREZ et al., 2009; CUNHA; OLIVEIRA; NERY, 2007), nos quais os enfermeiros realizaram a verificação de pressão arterial, administração de medicação e orientações acerca dos cuidados com a saúde. Configurando uma assistência mínima na saúde da gestante, porém muito importante no que tange aos aspectos de prevenção e promoção da saúde frente as patologias específicas na gestação (PÉREZ et al., 2009). Evidenciou-se que os cuidados de enfermagem não foram considerados satisfatórios pela gestante quando relatam a falta de apoio, de atenção e diálogo (CUNHA; OLIVEIRA; NERY, 2007). Observa-se que o cuidado deve perpassar a equipe de saúde, com o resgate de ações humanísticas, de solidariedade, empatia e compromisso (ALVES et al., 2007). 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Evidencia-se que muitos são os cuidados de enfermagem desenvolvidos com a mulher no período gravídico-puerperal, salientando-se a importância da atuação do enfermeiro. Esta pesquisa permitiu identificar os estudos que tratam dos cuidados com a saúde da gestante estão determinados em ações humanizadas, de caráter integral, focando uma atenção às necessidades das mulheres, na busca de sua autonomia e autocuidado. REFERÊNCIAS 366 AGUIAR M.I.F.; FREIRE P.B.G.; CRUZ I.M.P.; LINARD A.G.; CHAVES E.S.; ROLIM I.L.T.P. Sistematização da assistência de enfermagem a paciente com síndrome hipertensiva específica da gestação. Rev. RENE, v.11, n.4, p.66-75, 2010. ALVES A.M.; GONÇALVES C.S.F.; MARTINS M.A.; SILVA S.T.; AUWERTER T.C.; ZAGONEL I.P.S. A enfermagem e puérperas primigestas: desvendando o processo de transição ao papel materno. Cogitare enferm, v.12, n.4, p.416-427, 2007. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Política nacional de atenção integral à saúde da mulher: princípios e diretrizes. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2007. CARRARO T.E. et al. Cuidado e conforto durante o trabalho de parto e parto: na busca pela opinião das Mulheres. Texto & contexto enferm, v.15, n.esp, p.97-104, 2006. CASTRO J.C.; CLAPIS M.J. Parto humanizado na percepção das enfermeiras obstétricas envolvidas com a assistência ao parto. Rev Lat Am Enfermagem; v.13, n.6, p.960-7, 2005. CUNHA K.J.B; OLIVEIRA J.O.; NERY I.S. Assistência de enfermagem na opinião das mulheres com pré-eclâmpsia. Esc. Anna Nery Rev. Enferm, v.11, n.2, p.254260, 2007. FIGUEIRÊDO N.M.A; TYRRELL M.A.R; CARVALHO V.; LEITE J.L. Indicadores de cuidados para o corpo que pro-cria: ações de enfermagem no pré-trans e pós-parto uma contribuição para a prática de enfermagem obstétrica. Rev. Latino-am. Enferm., v.12, n.6, p.905-912, 2004. KENNEDY H.P. The essence of nurse-midwifery care. The woman's story. 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ROCHA C.R.; FONSECA L.C. Assistência do enfermeiro obstetra à mulher parturiente: em busca do respeito à natureza. Rev. de Pesq.: cuidado é fundamental Online, v.2, n.2, p.807-816, 2010. RODRIGUES D.P.; FERNANDES A.F.C.; RODRIGUES M.S.P.; JORGE M.S.B.; SILVA R.M. Representações sociais de mulheres sobre o cuidado de enfermagem recebido no Puerpério. Rev. enferm. UERJ, v.15, n.2, p.197-204, 2007. RODRIGUES D.P.; SILVA R.M.; FERNANDES A.F.C. Ação interativa enfermeirocliente na assistência obstétrica. Rev. Enferm. UERJ, v.14, n.2, p.232-238, 2006. URSI E.S.; GALVÃO C.M. Prevenção de pele no perioperatório: revisão integrativa da literatura. Rev. Lat. Am. Enferm., v.14, n. 1, p. 124-31, 2006. URSI E.S. Prevenção de pele no perioperatório: revisão integrativa da literatura. 2005. 130 f. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) – Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2005. 368 4.3) AMBIENTE HUMANIZADOR COMO DESAFIO EM CENTRO OBSTÉTRICO TRADICIONAL: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA KIRST,Luiza Helena1 TELES,Jéssica Machado2 CAVALCANTI,Juliana Correia de Holanda3 Eixo temático 4: Atenção ao parto. Descritores: parto humanizado; enfermagem obstétrica; enfermagem maternoinfantil 1. INTRODUÇÃO A humanização do parto tem se mostrado um grande desafio no Brasil e no mundo. Desde o final do século XIV, a obstetrícia vem sendo encarada como disciplina técnica e científica e o nascimento comandado e dominado pelo homem, predominando-se, assim, a concepção de que parir sem a presença de um médico fora de um hospital é perigoso. Este paradigma perdura até a atualidade, o que favoreceu o surgimento e a consolidação, ao longo do tempo, de práticas intervencionistas, colocando a mulher como coadjuvante no cenário do nascimento. Em virtude disso, atualmente, diversas políticas de saúde têm o objetivo de tornar o nascimento um momento acolhedor, resgatando a individualidade e autonomia e contemplando as necessidades da parturiente e sua família. A Organização Mundial de Saúde (OMS), por meio de pesquisas com bases científicas, preconiza que a 1 Enfermeira graduada pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Aluna de Especialização em Enfermagem Obstétrica (UNISINOS). [email protected] 2 Enfermeira Obstétrica. Enfermeira Graduada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Mestranda do Programa de Pós-Graduação da Escola de Enfermagem da UFRGS. Bolsista CAPES/CNPQ. [email protected] 3 Enfermeira Graduada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Enfermeira assistencial do Instituto Municipal de Estratégia em Saúde da Família (IMESF). Aluna de Especialização em Enfermagem Obstétrica (UNISINOS). [email protected] 369 assistência ao parto deve promover o mínimo de intervenções com segurança, a fim de favorecer o processo fisiológico objetivando uma mãe e uma criança saudáveis. Nos centros obstétricos tradicionais a implementação de políticas e ações de humanização configuram-se como um desafio, principalmente para enfermagem obstétrica. 2. OBJETIVO Relatar as principais dificuldades em tornar o centro obstétrico tradicional um ambiente humanizado. 3. METODOLOGIA Trata-se de um relato de experiência realizado a partir das vivências de enfermeiras atuantes em centro obstétrico de hospital universitário da região sul do Brasil. 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os centros obstétricos tradicionais, em sua maioria, contam com a atuação de profissionais que desconhecem as políticas de humanização e por consequência não implementam estas ações no atendimento à gestante e parturiente. Em hospitais universitários, observa-se que a formação dos profissionais permanece em um modelo que pouco respeita as necessidades e desejos da parturiente e de sua família. Embora grande parte dos profissionais atuantes nos principais centros obstétricos do Rio Grande do Sul ainda não tenha adequado o seu atendimento às políticas de humanização, há as enfermeiras obstétricas e aquelas que estão procurando esta formação prestando assistência de enfermagem neste cenário. A atuação das enfermeiras obstétricas ainda não ocorre no atendimento ao parto, mesmo possuindo habilidades técnicas e que, conforme diversos estudos internacionais, é o profissional mais indicada para este momento. Contudo, a presença destas profissionais é um passo importante no desafio em implementar 370 práticas de humanização. Vale ressaltar que no Brasil, a consolidação da profissão de enfermeiro, enfermeira obstétrica e demais profissionais da classe, ocorreu com a Lei no 7.498/86, regulamentada pelo Decreto 94.406/87, que dispõe sobre o exercício da enfermagem e dá outras providências. Dentre as atividades de enfermagem descritas na Lei do Exercício Profissional, cabe ao enfermeiro obstetra o encargo de assistir à parturiente e ao parto normal; identificar distócias obstétricas e tomar providências até a chegada do médico; realizar episiotomia e episiorrafia e aplicar anestesia local, quando necessária. No contexto de humanização do parto, o Ministério da Saúde, na portaria 2.815 de 29 de maio de 1998, inclui na tabela do Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SUS) o procedimento “parto normal sem distócia realizado por enfermeiro obstetra”, com a finalidade de reconhecer e valorizar a assistência e o atendimento prestado por este profissional. Em contrapartida, os centros obstétricos tradicionais possuem rotinas que não contribuem para uma assistência voltada à mulher, sendo cenários, muitas vezes, de práticas desumanizadoras, caracterizadas como violência obstétrica, sobretudo por não se esclarecer as duvidas e entendimentos das parturientes. Neste sentido, a atuação das enfermeiras obstétricas torna-se um facilitador, para adequar tais rotinas para que se tornem menos rígidas e mais volúveis para atender cada parturiente e família de acordo com as suas particularidades. As boas práticas de atenção ao parto e nascimento (clampeamento tardio, contato pele a pele, amamentação na primeira hora de vida, banho após 6 horas de vida) são grandes desafios em centros obstétricos tradicionais. No caso do atendimento ao recémnascido imediatamente após o nascimento, a capacitação dos técnicos de enfermagem poderá auxiliar para que o bebê seja primeiro colocado em contato com a mãe (em casos de bebês vigorosos sem necessidade de manobras de reanimação) e não se realize procedimentos que o separem da mesma. Momentos de discussão e de reflexão com os profissionais médicos, tanto obstetras quanto pediatras, também são importantes para a implementação de ações humanizadoras. 5. CONCLUSÃO 371 Vários são os desafios em centros obstétricos tradicionais, contudo, ações de capacitação e de sensibilização das equipes são estratégias importantes neste processo. A formação de enfermeiras obstétricas e a atuação destas nestes locais é uma maneira de humanizar o atendimento ao parto e nascimento. Os enfermeiros (as) devem estar trabalhando juntamente com os gestores e chefes de serviço para que tais questões possam ser discutidas e repensadas. Deve-se pensar também em criação de sala de atendimento exclusivo ao parto normal (conhecidas como PPP – pré parto, parto e pós parto), para assim se dar uma atenção mais integral e focada à gestante e, posteriormente, ao bebê. Acredita-se que as políticas de humanização devem ser implementadas, pois essas contemplam as necessidades e particularidades das famílias, e os profissionais de saúde devem ser facilitadores no processo de nascimento. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Saúde. Além da sobrevivência: práticas integradas de atenção ao parto, benéficas para a nutrição e a saúde de mães e crianças. Secretaria de Atenção à Saúde. Área Técnica de Saúde da Criança e Aleitamento Materno. Brasília. 2011. BRASIL. Ministério da Saúde. Atenção à saúde do recém-nascido: guia para os profissionais de saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas. Brasília. 2011. BRASIL. Lei no 7.498 de 25 de junho de 1986. Dispõe sobre o exercício da enfermagem e dá outras providências. Brasília: Diário Oficial da União, 1986. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Mulher. Área Técnica de Saúde da Mulher. Pré-natal e puerpério: atenção qualificada e humanizada. Brasília: Ministério da Saúde. 2005. BRASIL. Portaria N.º 2.815, de 29 de maio de 1998. Dispõe sobre a inclusão na tabela do Sistema de Informações Hospitalares do SUS o procedimento "parto normal sem distócia realizado por enfermeiro obstetra". Brasília: Diário Oficial da União, 1998. OSAVA, Ruth Hitomi; MAMEDE, Marli Vilella. A assistência ao parto ontem e hoje: a representação social do parto. J Bras Ginecol, 1995; 05(1/2): 3-9. 372 SUÉCIA. Organização Mundial da Saúde. The World Health Report 1997: Conquering suffering, enrichng humanity. Genebra. 1997. 373 5.3) PROMOÇÃO DO ALEITAMENTO MATERNO ATRAVÉS DA PRODUÇÃO DE UM VÍDEO: RELATO DE EXPERIÊNCIA1 DALMOLIN, Indiara Sartori 2; LOPES, Christiny Regina3; PAES, Lucilene Gama 4; SOUZA, Karina Fatima Kremer de5; FRAGA, Mônica 6; SIMA, Diana Porto7. Eixo Temático: Eixo 3: Atenção à Saúde do recém-nascido. Descritores: Aleitamento Materno; Promoção da Saúde; Educação em Saúde; Saúde da Família; Enfermagem. 1. INTRODUÇÃO O aleitamento materno é um ato natural que proporciona afeto, nutrição e proteção para a criança, além de ser uma intervenção eficaz e econômica para reduzir a morbimortalidade infantil e promover a saúde integral do binômio mãe/bebê e da sociedade como um todo (BRASIL, 2009). Conforme recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS), a amamentação deve ser exclusiva até os seis meses de vida e complementada com alimentos de qualidade até dois anos ou mais. Embora haja vários esforços nacionais e internacionais para a promoção da 1 Relato de experiência sobre a produção de um vídeo para a promoção do Aleitamento Materno em um Centro de Saúde do município de Florianópolis, Estado de Santa Catarina, Brasil. 2 Enfermeira, Tutora da Estratégia Amamenta e Alimenta Brasil (EAAB), Residência Multiprofissional em Saúde da Família (REMULTISF), Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). E-mail: [email protected]. 3 Enfermeira, Tutora da EAAB, REMULTISF, UFSC. E-mail: [email protected]. 4 Enfermeira, Tutora da EAAB, Prefeitura Municipal de Florianópolis. E-mail: [email protected]. 5 Enfermeira, REMULTISF, UFSC. E-mail: [email protected]. 6 Técnica Administrativa, Prefeitura Municipal de Florianópolis. E-mail: [email protected]. 7 Técnica Administrativa, Prefeitura Municipal de Florianópolis, Acadêmica de Enfermagem, Estácio de Sá. E-mail: [email protected]. 374 amamentação e as evidências científicas apontem a sua superioridade em relação a outras maneiras de alimentar a criança pequena, as taxas de aleitamento materno no país estão muito aquém do preconizado, principalmente as de aleitamento materno exclusivo. Dessa forma, nos últimos trinta anos, as políticas nacionais referentes à amamentação incentivaram iniciativas de promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno no âmbito hospitalar, legal, e mais recentemente na atenção básica (BRASIL, 2009). Com o intuito de promover a reflexão acerca da atenção à saúde de crianças até dois anos de idade e a capacitação dos profissionais de saúde para a construção do conhecimento pautada na realidade local, foram criadas a Rede Amamenta Brasil e a Estratégia Nacional de Promoção da Alimentação Complementar Saudável (ENPACS) nos anos de 2008 e 2009, respectivamente. Em 2013, de modo a fortalecer essas ações complementares, houve a integração das mesmas que culminou na Estratégia Amamenta e Alimenta Brasil (EAAB), cujos objetivos gerais são: I - qualificar as ações de promoção do aleitamento materno e da alimentação complementar saudável para crianças menores de dois (2) anos de idade; II - aprimorar as competências e habilidades dos profissionais de saúde para a promoção do aleitamento materno e da alimentação complementar como atividade de rotina das Unidades Básicas de Saúde (UBS). (BRASIL, 2013, p. 6). Com essas iniciativas no âmbito da atenção básica, os profissionais podem ser atores de políticas públicas que promovam a prática do aleitamento materno, contando com o apoio da comunidade e articulação com diferentes setores da sociedade, considerando as especificidades regionais, locais e culturais (BRASIL, 2010). 2. OBJETIVO Descrever as contribuições para a promoção do Aleitamento Materno através da produção de um vídeo. 375 3. METODOLOGIA Trata-se de um relato de experiência dos atores envolvidos na elaboração e divulgação de um vídeo para a promoção do Aleitamento Materno, processo esse que passou por quatro etapas: 1. Concepção da Ideia – Em maio de 2014, houve o 1º Curso de Formação de Tutores da EAAB do município de Florianópolis, com carga horária de 32 horas, sendo oferecido para alguns profissionais de saúde de diferentes Centros de Saúde (CS) e Distritos Sanitários (DS), em que três das autoras desse trabalho participaram. Em seu decorrer foram realizadas atividades de sensibilização, atualização e capacitação acerca do Aleitamento Materno e Alimentação Complementar Saudável. No encerramento, as tutoras se reuniram por DS e pactuaram ações a serem implementadas para a promoção, proteção e apoio ao Aleitamento Materno e Alimentação Complementar Saudável. Dentre as ações previstas para o DS Centro, elencou-se a promoção do Aleitamento Materno durante o movimento “Agosto Dourado”, com cronograma a ser definido pelas equipes de saúde, estimulado e articulado pelas tutoras. Dessa forma, as tutoras do CS Agronômica passaram a pensar em uma estratégia inovadora que promovesse o Aleitamento Materno, então deu-se a concepção da ideia de produção de um vídeo que contasse com depoimentos de usuárias do referido CS que amamentaram/amamentam e com depoimentos das enfermeiras tutoras da EAAB e residentes acerca dos aspectos relacionados ao Aleitamento Materno; 2. Gravação dos Depoimentos – Para a realização dessa etapa, primeiramente, identificamos algumas usuárias que amamentaram/amamentam seus filhos, buscando características diferenciadas nesse processo. Em seguida, fizemos contato telefônico com essas mulheres para convidá-las a participar dessa ação por meio de depoimentos sobre a sua experiência com a amamentação e a partir do aceite das mesmas agendamos a data, horário e local da gravação. No momento da gravação dos depoimentos foi apresentado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de Áudio e Vídeo com duas vias às mulheres. Após a formalização da autorização foram iniciadas as gravações dos depoimentos, que contaram com um 376 roteiro de entrevista semi-estruturada. Posteriormente, também foram realizadas gravações de depoimentos das enfermeiras autoras do trabalho acerca do contexto histórico/atual e aspectos relacionados ao Aleitamento Materno que tiveram destaque na fala das usuárias; 3. Estruturação do Vídeo – Nessa etapa, as autoras assistiram a todos os depoimentos com vistas a organizar a ordem e complementação dos mesmos ao longo do vídeo. Logo após, obteve-se o auxílio de duas funcionárias do CS, igualmente autoras do trabalho, no que se refere à edição do vídeo; 4. Divulgação do Vídeo – Assim que o vídeo ficou pronto, agendamos o seu lançamento para as usuárias participantes e profissionais do CS e na semana seguinte, o reproduzimos na sala de espera do CS à comunidade. 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO Com a produção de um vídeo que trouxe depoimentos de usuárias do CS que amamentaram/amamentam seus filhos, bem como, depoimentos de algumas enfermeiras do serviço acerca do Aleitamento Materno, percebemos que o mesmo apresentou contribuições para a promoção do Aleitamento Materno ao considerar a educação popular em saúde, cuja prática é detentora da coerência política da participação social e dos recursos teórico-metodológicos para a transformação das tradicionais ações educativas em saúde em ações pedagógicas que promovam a superação das circunstâncias que restrinjam o viver com qualidade de vida (BRASIL, 2007). Os depoimentos das mulheres expressaram como foi o processo de amamentação para elas, seus filhos e suas famílias, que aspectos positivos e negativos estão envolvidos, que dificuldades surgiram e como elas foram enfrentadas, que informações consideram relevantes para serem compartilhadas com outras mulheres na mesma situação, etc. Enquanto os depoimentos das enfermeiras resgataram o contexto histórico e atual do aleitamento materno e para além disso, buscaram reforçar e/ou complementar os aspectos relacionados ao Aleitamento Materno que foram citados pelas participantes. Esse conjunto proporciona a valorização dessas mulheres, de seus conhecimentos e experiências, 377 servindo de incentivo e apoio às demais, valoriza e une o saber popular ao saber científico, o que por sua vez torna as falas significativas por estarem pautadas na realidade local e também fortalece o vínculo entre os profissionais do CS e a comunidade. São necessárias práticas de educação em saúde desenvolvidas com base na relação dialógica, participativa, libertadora e criativa, que oportunize a autonomia dos indivíduos, considerando a sua condição de sujeito com direitos e protagonistas de sua trajetória de saúde-doença; bem como, a emancipação dos profissionais em relação à reinvenção de modos de cuidar mais humanizados, integrais e compartilhados (BRASIL, 2007). Conclusão/considerações finais: A produção do referido vídeo favoreceu a presença de elementos da educação popular em saúde, como: valorização dos sujeitos, união do saber popular com o saber científico, abordagem baseada na realidade local, o que contribui de maneira positiva para a promoção do Aleitamento Materno pela própria comunidade e serviço. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Saúde. Caderno de Educação Popular e Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2007. BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde da Criança: nutrição infantil, aleitamento materno e alimentação complementar. Brasília: Ministério da Saúde, 2009. BRASIL. Ministério da Saúde. Estratégia Nacional Para Alimentação Complementar Saudável: Caderno do tutor. Brasília: Ministério da Saúde, 2010. BRASIL. CONASS. Nota Técnica 26/2013. Institui a Estratégia Nacional para Promoção do Aleitamento Materno e Alimentação Complementar Saudável no Sistema Único de Saúde (SUS) - Estratégia Amamenta e Alimenta Brasil. 378 6.3) GRUPO DE BEBÊS: ARTICULAÇÃO MULTIPROFISSIONAL COMO ESTRATÉGIA DE PROMOÇÃO DA SAÚDE NA ATENÇÃO PRIMÁRIA1 DALMOLIN, Indiara Sartori 2; LOPES, Christiny Regina3; EGUES, Nathaliê Moraes4; FUJII, Elisa da Cunha5; SOUZA, Marina Leite 6; PAES, Lucilene Gama 7 Eixo Temático: Eixo 3: Atenção à Saúde do recém-nascido. Descritores: Saúde da Família; Saúde da Criança; Promoção da Saúde; Cuidados de Enfermagem; Assistência Odontológica. 1. INTRODUÇÃO A atenção primária à saúde (APS) constitui a entrada no sistema para todas as novas necessidades e problemas, fornece atenção sobre a pessoa, não direcionada à enfermidade, no decorrer do tempo e coordena ou integra a atenção fornecida em algum outro lugar ou por terceiros (STARFIELD, 2002). Ainda, segundo Starfield (2002), as principais características da APS são: constituir a porta de entrada do serviço; proporcionar continuidade do cuidado; prestar cuidado de acordo com o referencial da integralidade; criação de vínculos com a comunidade; e 1 Relato de experiência das atividades grupais realizadas em um grupo de bebês com faixa etária de zero a seis meses em um Centro de Saúde do município de Florianópolis, Estado de Santa Catarina, Brasil. 2 Enfermeira, Tutora da Estratégia Amamenta e Alimenta Brasil (EAAB), Residência Multiprofissional em Saúde da Família (REMULTISF), Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). E-mail: [email protected]. 3 Enfermeira, Tutora da EAAB, REMULTISF, UFSC. E-mail: [email protected]. 4 Cirurgiã-Dentista, REMULTISF, UFSC. E-mail: [email protected]. 5 Cirurgiã-Dentista, REMULTISF, UFSC. E-mail: [email protected]. 6 Cirurgiã-Dentista, Prefeitura Municipal de Florianópolis. E-mail: [email protected]. 7 Enfermeira, Tutora da EAAB, Prefeitura Municipal de Florianópolis. E-mail: [email protected]. 379 coordenação do cuidado. Esse nível de atenção orienta-se pelos princípios da universalidade, acessibilidade, responsabilização, humanização, equidade e participação social. A APS considera o sujeito em sua singularidade e inserção sócio-cultural, buscando produzir uma atenção integral (BRASIL, 2006). Nesse contexto e com o objetivo de reorientar o modelo tecno-assistencial de saúde foi implantado em 1994 o Programa Saúde da Família (PSF), apostando na criação de vínculos e laços de compromisso e co-responsabilidade entre profissionais e população, como um facilitador para a concretização dos princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS). Posteriormente, o Programa passou a ser chamado de Estratégia Saúde da Família (ESF), por entender que a organização do trabalho dentro das unidades deve-se pautar em uma construção mais horizontal e menos prescritiva das ações de saúde (BRASIL, 2006). Na lógica da ESF há uma reorganização das ações em saúde, inserindo as práticas de educação e promoção da saúde (PS) visando a criticidade e reflexão nas abordagens (ALVES; AERTS, 2011). Assim, a Carta de Ottawa define essencialmente a PS como um processo que consiste em proporcionar às pessoas os meios necessários para melhorar sua saúde e exercer um maior controle sobre a mesma. Liss (2001) acrescenta que a PS engloba o conjunto de atividades desenvolvidas com o propósito de melhorar um estado de saúde positivo - cuidado ambiental, por exemplo. Nesse sentido, as atividades coletivas desenvolvidas com a comunidade constituem uma importante ferramenta de efetivação da ESF e reafirmação do SUS na APS. Compreende-se que o grupo, como recurso para a assistência em saúde, é uma estratégia que permite mudanças na maneira como o ser humano compreende e se responsabiliza por sua saúde, melhorando a qualidade de vida e ampliando as relações entre os usuários e os serviços de saúde (SILVA, et al; 2003). Um grupo pode ser descrito como um conjunto de pessoas movidas por necessidades semelhantes e que se reúne em torno de uma tarefa específica, com objetivo em comum, em que cada participante é diferente e exercita sua fala, sua opinião, seu silêncio, defendendo seu ponto de vista. Ainda, um grupo operativo se caracteriza pela relação que seus integrantes mantêm com a tarefa, de cura ou aquisição de conhecimentos. As 380 finalidades e propósitos dos grupos operativos centram-se na solução de situações estereotipadas, dificuldades de aprendizagem e comunicação, o que pode gerar ansiedade em função de mudança (PICHON-REVIÉRE, 2005). A técnica de grupo operativo consiste em um trabalho com grupos, cujo objetivo é promover um processo de aprendizagem para os sujeitos envolvidos. Aprender em grupo significa uma leitura crítica da realidade, uma atividade investigadora, uma abertura para as dúvidas e para as novas inquietações (ZIMERMAN, 2000). Diante dessa breve contextualização, destaca-se que esse trabalho visa ressaltar as potencialidades alcançadas com ações grupais de PS junto a crianças nos primeiros seis meses de vida, como estratégia de minimizar as angústias e dúvidas dos pais e estimular momentos de troca de experiências sob o enfoque do aleitamento materno e da saúde bucal. 2. OBJETIVO Relatar a vivência de profissionais enfermeiros e odontólogos com a criação e desenvolvimento de um grupo operativo de bebês. 3. METODOLOGIA Trata-se de um relato de experiência das atividades realizadas em um grupo de bebês com faixa etária de zero a seis meses e suas famílias em um Centro de Saúde (CS), do município de Florianópolis, Santa Catarina. Os encontros do grupo têm periodicidade mensal e não há limite de participantes. Acontecem no auditório do CS, às terças-feiras, no período vespertino, com duração aproximada de 1 hora e 30 minutos, contando o tempo de organização (30 minutos) e execução da ação (1 hora). Os encontros do grupo geralmente iniciam com uma roda de conversa entre as famílias e os profissionais, com temas norteadores como: amamentação, higiene, entre outros. No segundo momento, os bebês e seus responsáveis recebem atenção individual, com orientação sobre a higiene bucal, avaliação odontológica das 381 crianças e encaminhamento ao consultório caso necessário. Atualmente, o grupo é coordenado pelas cirurgiãs-dentistas do CS e da Residência Multiprofissional em Saúde da Família (REMULTISF) da Universidade Federal de Santa Catarina e conta com a participação de enfermeiras do CS e da REMULTISF. Todos os envolvidos participam ativamente no planejamento e organização dos encontros, o que possibilita a troca de saberes e a construção coletiva das propostas norteadoras. O grupo surgiu em 2012, em resposta à necessidade de realizar o primeiro atendimento odontológico dos bebês no CS, encaminhados diretamente da maternidade por meio do Programa Capital Criança. Ele foi criado a fim de orientar as famílias sobre saúde bucal e amamentação e, com a articulação multiprofissional, vem se efetivando como um espaço de promoção de saúde. 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO Pode-se dividir os resultados em dois eixos: a) Benefícios para a comunidade, famílias e criança; e b) Benefícios para o fortalecimento do trabalho multiprofissional em saúde. Em relação ao primeiro eixo, percebe-se pela fala dos pais/familiares e pela interação profissional que as ações desenvolvidas no grupo fortalecem e estimulam o aleitamento materno exclusivo até os seis meses e complementado até os dois anos de idade ou mais, bem como os cuidados e a importância da saúde/higiene bucal. Além disso, o grupo otimiza o acesso à avaliação bucal realizada pela odontologia, pois as crianças são examinadas individualmente ao final dos encontros, permitindo um acompanhamento mais próximo, efetivo e menos moroso. Quanto aos benefícios relacionados ao segundo eixo, ressalta-se que a articulação multiprofissional, aproxima as áreas profissionais, ampliando a dimensão da promoção da saúde e a rede interna da ESF. Os momentos grupais, em especial, fortalecem a ação-reflexão-ação, na busca pela práxis no cuidado interdisciplinar em saúde. Nessa perspectiva, Fortuna et al. (2005) julgam o trabalho de equipe como estratégia de “recomposição” das ações de saúde num outro caminho, o da interdisciplinaridade. Diante das experiências destacadas, percebe-se que há 382 ganhos positivos nas atividades grupais, porquanto que são espaços de construção coletiva agregando o saber popular ao saber científico, considerando o sujeito na sua integralidade e contexto. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS O referido grupo de bebês permite o desenvolvimento de atividades de promoção da saúde relacionadas à amamentação e à saúde bucal que aumentam a qualidade de vida das crianças e das famílias, além de oportunizar a interação entre os participantes, estimulando o desenvolvimento afetivo-social. Ademais, a estratégia de abordagem no grupo evolui a cada encontro, indo além de uma prática instrutiva, visando a participação dialógica e promoção da autonomia dos sujeitos envolvidos. REFERÊNCIAS ALVES, G. G.; AERTS, D. As práticas educativas em saúde e a Estratégia Saúde da Família. Ciência & Saúde Coletiva. v. 16, n. 1, p. 319-325, 2011. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/csc/v16n1/v16n1a34.pdf. Acesso em: 05 set. 2014. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Política nacional de atenção básica. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. FORTUNA, C. M.; MISHIMA, S. M.; MATUMOTO, S. PEREIRA, M. J. B. O trabalho de equipe no programa de saúde da família: reflexões a partir de conceitos do processo grupal e de grupos operativos. Rev Latino-am Enfermagem. v. 13, n. 2, p. 262-268, 2005. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/rlae/article/view/2023/2102. Acesso em: 06 set. 2014. LISS, P. Seminário: ética e saúde.Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2001. PICHON-REVIÉRE, E. O processo grupal. 7. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2005. 383 SILVA, A. L. A. C.; MUNARI, D. B.; LIMA, F. V.; SILVA, W. O. Atividades Grupais em Saúde Coletiva: Características, Possibilidades e Limites. Rev Enferm UERJ. v. 11, . 1, p. 18-24, 2003. Disponível em: http://www.revenf.bvs.br/scielo.php?script=sci_serial&pid=01043552&lng=pt&nrm=is o. Acesso em: 05 set. 2014. STARFIELD, B. Atenção primária: Equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia. Brasília: Unesco, Ministério da Saúde, 2002. Disponível em: http://unesdoc.unesco.org/ulis/cgibin/ulis.pl?catno=130805&set=4BBCA640_1_386& gp=1&mode=e&lin=1&ll=1. Acesso em: 05 set. 2014. ZIMERMAN, D. E. Fundamentos básicos das grupoterapias. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2000 384 7.3) A PARTICIPAÇÃO DE ENFERMEIRAS NO PRÉ-NATAL DE BAIXO RISCO E A QUALIDADE DESTE ATENDIMENTO1 ALVES, Camila Neumaier2 BISOGNIN, Priscila3 POSSATI, Andressa4 FERNANDES, Rita Fernanda Monteiro5 MEINCKE, Sonia Maria Konzgen6 RESSEL, Lúcia Beatriz7 Eixo Temático: Eixo 2: Atenção ao Pré-natal Descritores: Enfermagem; Cuidado Pré-natal; Gravidez. 1. INTRODUÇÃO A principal finalidade da atenção pré-natal é acolher a mulher desde o início da gravidez, assegurando, no fim da gestação, o nascimento de uma criança saudável e a garantia do bem-estar materno e neonatal (BRASIL, 2006). Além deste aspecto, o momento da atenção pré-natal permite a interação entre o profissional, a gestante e sua família, permeando a criação do vínculo ao serviço, reduzindo os riscos de intercorrências e caminhando para o nascimento humanizado (LANDERDAHL et al, 2007). Na busca de um pré-natal de qualidade, é importante que o serviço e os profissionais de saúde estejam preparados para receber as gestantes e fornecer um cuidado completo, atentando para uma diversidade de 1 Trabalho extraído da Dissertação de Mestrado “Cuidado da enfermeira à gestante na perspectiva cultural”, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria, no ano de 2014. 2 Autora/Apresentadora. Mestre. Universidade Federal de Pelotas. E-mail: [email protected] 3 Coautora. Mestranda em Enfermagem. Universidade Federal de Santa Maria. E-mail: [email protected] 4 Coautora. Acadêmica de Enfermagem. Universidade Federal de Santa Maria. E-mail: [email protected] 5 Coautora. Mestre. Universidade Federal de Pelotas. E-mail: [email protected] 6 Orientadora. Doutora. Universidade Federal de Pelotas. E-mail: [email protected] 7 Orientadora. Doutora. Universidade Federal de Santa Maria. E-mail: [email protected] 385 fatores biopsicossociais que podem influenciar na adesão da mulher ao acompanhamento pré-natal (PEIXOTO et al, 2011). Assim, ressalta-se a importância da participação dos enfermeiros, a fim de oferecer um atendimento qualificado na atenção pré-natal e na redução nos índices de morbimortalidade materna e neonatal. 2. OBJETIVO Discutir acerca da participação de enfermeiras no pré-natal de baixo risco e suas implicações para a qualidade deste atendimento. 3. MÉTODO Tratou-se de uma etnoenfermagem, realizada em duas Estratégias Saúde da Família e duas Unidades Básicas de Saúde, que pertencem à rede de Atenção Básica de Saúde de um Município do Rio Grande do Sul. As informantes do estudo foram cinco enfermeiras que atuavam nas unidades de saúde. Os critérios de inclusão foram enfermeiras que desenvolvessem ações sistematizadas com atendimento de enfermagem às gestantes, como consultas de pré-natal e grupos; e enfermeiras que atuassem nas unidades situadas na região urbana. E como critérios de exclusão enfermeiras que estivessem afastados do serviço no momento da pesquisa. A coleta de dados foi realizada no período de março a agosto de 2013. Como o estudo foi desenvolvido com base na proposta de etnoenfermagem de Leininger (2006), para consolidá-lo utilizaram-se os “guias habilitadores”, os quais auxiliam o pesquisador na entrada e permanência no campo de pesquisa, além de nortear a reflexão acerca dos fenômenos estudados, estilos de vida e o cuidado de enfermagem. Nessa direção, foi utilizado o modelo Observação-ParticipaçãoReflexão (O-P-R), e a entrevista semiestruturada. Para registrar as observações e com o objetivo de documentar os acontecimentos utilizou-se o diário de campo. A análise dos dados seguiu o guia de análise temática de padrões dos dados, o qual é 386 sugerido por Leininger (2006). Observaram-se as normas da Resolução nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde – Ministério da Saúde, que vigorava no período desta pesquisa e dispunha sobre diretrizes e normas regulamentares da pesquisa envolvendo a participação de seres humanos. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Federal de Santa Maria sob o registro de número CAAE 12161913.8.0000.5346. 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados desta pesquisa demonstraram que as enfermeiras estão envolvidas com o cuidado às gestantes e que sentem-se satisfeitas ao realizar esse trabalho, além de ressaltarem que é importante atuar nessa área na busca de melhoria na qualidade da atenção à gestante. As enfermeiras também destacaram o entendimento de ser a gestação muito especial e requerer, portanto, uma atenção especial. Entende-se, nessa linha de pensamento, que a participação de enfermeiros tem fundamental importância para o fortalecimento do cuidado pré-natal conforme (Cunha et al, (2009), uma vez que são eles os profissionais que estão diretamente envolvidos com a comunidade. Pondera-se que a enfermagem tem se tornado uma profissão empenhada em assistir o ser humano para além das práticas curativas, promovendo a saúde e buscando a criação de vínculo e a interação com o contexto do usuário. Assim, no contexto do cuidado à mulher no período gravídicopuerperal, pode colaborar com a redução dos índices de mortalidade materna e proporcionar maior qualidade de vida na experiência da gravidez à mulher. As enfermeiras deste estudo também consideraram que seu trabalho qualifica o prénatal, uma vez que o cuidado de enfermagem com as gestantes exige grande responsabilidade e precisa ser balizada pelo respeito. Tal situação repercute na geração de confiança e vínculo. O fato de a enfermagem ser reconhecida como a profissão que tem por essência o cuidado, o contato direto com o outro, a realização de consultas e grupos com orientações e criação de vínculo passou a ser reforçado por estas informantes. Pensa-se que, no cuidado pré-natal, é fundamental superar 387 condutas tecnicistas que priorizem os procedimentos técnicos e dicotomizem a integralidade da atenção (BARRETO et al, 2013). Para tanto, possibilitar espaços para diálogo, ambiente limpo, arejado e confortável para as gestantes aguardarem as consultas e serem atendidas, realizar atividades de cunho educativo e buscar a interação entre profissional-paciente podem se tornar estratégias de cuidado que permeiem as necessidades individuais de cada mulher e serem facilitadores para a aproximação da gestante e sua família no serviço. Portanto, a compreensão do que ele significa às enfermeiras corrobora para uma efetiva atuação junto a esta população. O estudo de Hoffmann, Ressel e Budó (2010) observou que os enfermeiros estão conquistando espaço no desenvolvimento de ações e autonomia para atuar durante o pré-natal de baixo risco, o que os leva a serem considerados como referência para as gestantes atendidas. O enfermeiro, ao receber a mulher assume importante papel ao desenvolver a promoção, prevenção, proteção e recuperação da saúde. Assim, pensa-se em consonância com Narchi (2010), acerca da necessidade de garantir a adesão das gestantes aos cuidados pré-natais, oferecidos por meio da consulta de enfermagem, principalmente valorizando seu próprio conhecimento, suas principais necessidades, seu modo de vida e sua cultura. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os resultados desta pesquisa permitem compreender que as enfermeiras, informantes deste estudo, estavam envolvidas na atenção pré-natal de baixo risco e sentiam-se responsáveis, bem como demonstraram satisfação em realizar esse trabalho, e, acima de tudo, reconheciam a importância de atuar na busca de melhoria na qualidade dos serviços. Pode-se perceber que as enfermeiras salientaram a importância da enfermagem atuar dessa forma, a qual é permeada por autonomia, responsabilidade e conhecimento científico. Espera-se, que o produto desta pesquisa, instigue reflexões acerca das contribuições investigativas na qualificação da atenção pré-natal. 388 REFERÊNCIAS BARRETO, C.N. et al. Atenção pré-natal na voz das gestantes. Rev enferm UFPE on line, v.7, n.5, p.4354-63, jun. 2013. BRASIL. Ministério da Saúde. Assistência pré-natal: manual técnico. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2006. CUNHA, M.A. et al. Cuidado pré-natal: competências essenciais desempenhadas por enfermeiros. Esc Anna Nery Rev Enferm, v.13, n.1, jan. 2009. HOFFMANN, I.C., RESSEL, L.B., BUDÓ, M.L.D. Women’s pathway in prenatal care at public sceneries. Rev enferm UFPE on line, v.4, n.3, p.1384-391, jul. 2010. LANDERDAHL, M.C et al. A percepção de mulheres sobre atenção pré-natal em uma unidade básica de saúde. Esc Anna Nery R Enferm, v.11, n.1, p.105-11, mar. 2007. LEININGER, M. Culture Care diversity and universality theory and evolution of the ethnonursing method. In: LEININGER, M.; MCFARLAND, M.R. Culture care diversity and universality: a worldwide nursing theory. 2Edition. Jones and Bartlett: Sudbury, 2006. NARCHI, N.Z. Atenção pré-natal por enfermeiros na Zona Leste da cidade de São Paulo - Brasil. Rev. esc. enferm. USP, v.44, n.2, p.266-273, jun. 2010. PEIXOTO, C.R. et al. O pré-natal na atenção primária: o ponto de partida para reorganização da assistência obstétrica. Rev. enferm. UERJ, v.19, n. 2, p.286-91, abr. 2011. 389 8.3) PROTAGONISMO DA ENFERMAGEM NO INCENTIVO AO ALEITAMENTO MATERNO E A REPERCUÇÃO PARA UMA ASSISTÊNCIA HUMANIZADA NASCIMENTO, Maria Licele1; ZANINI MARIN, Fabiana 2; DINIZ EBLING, Sandra Betriz 3; PIESZAK, Greice 4; Eixo Temático: Formação e qualificação profissional na atenção à Saúde da Mulher e ao Recém-nascido. Descritores: Recém-nascido; Enfermagem Obstétrica; Cuidados de Enfermagem. 1. INTRODUÇÃO O ciclo gravídico-puerperal é um momento único na vida da mulher, uma experiência singular, especial, não comparável a qualquer outra vivência (FRANCISQUINI, et al, 2010). Neste sentido, torna-se importante a garantia de uma assistência adequada desde o pré-natal, onde é possível atuar na prevenção, detecção e tratamento de eventos indesejáveis na gestação, visando ao bem-estar da gestante e de seu concepto, além de orientar sobre determinados cuidados ao Recém-Nascido (RN) (FRANCISQUINI, et al, 2010). Sendo assim, considera-se um momento propício para a Enfermagem estimular e fortalecer o vínculo entre binômios mãe e filho, uma vez que o pré-natal se entende pelo período adequado para o preparo físico e psicológico 1 para o parto, o nascimento e a Autora. Acadêmica (Acadêmica do curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Regional do Alto Uruguai e das Missões - URI, Campus de Santiago, RS). Integrante do GEPSE (Grupo de Estudo e Pesquisa em Saúde e Enfermagem) E-mail: [email protected] 2 Coautora. Acadêmica (Acadêmica do curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Regional do Alto Uruguai e das Missões - URI, Campus de Santiago, RS). Integrante do GEPSE (Grupo de Estudo e Pesquisa em Saúde e Enfermagem) E-mail: [email protected] 3 Orientadora. Enfermeira (Docente/Cordenadora no curso de graduação em Enfermagem da Universidade Regional do Alto Uruguai e das Missões - URI, Campus de Santiago, RS). Integrante do GEPSE (Grupo de Estudo e Pesquisa em Saúde e Enfermagem). E-mail: [email protected] 4 Orientadora. Enfermeira (Mestre em Enfermagem, Docente no curso de graduação em Enfermagem da Universidade Regional do Alto Uruguai e das Missões - URI, Campus de Santiago, RS). Integrante do GEPSE (Grupo de Estudo e Pesquisa em Saúde e Enfermagem). E-mail: [email protected] 390 maternidade/paternidade (OLIVEIRA, 2005). Neste contexto, vem ao encontro da proposta do Alojamento Conjunto que tem como objetivo proporcionando um espaço de cuidado integral e humanizado onde mãe e a criança fiquem juntos 24 horas por dia até a alta hospitalar, tornando-se o segundo lugar e momento que também pode ser estimulado o vínculo, pois mãe e bebê precisam de conforto e estarem junto um do outro, para que se conheçam e com isso se dê inicio a amamentação. O contato pele a pele imediatamente após o nascimento, em temperatura ambiente de 26ºC, reduz o risco de hipotermia no RN a termo com respiração espontânea, sem necessidade de ventilação, desde que cobertos com campos preaquecidos. Nesse momento, pode-se iniciar a amamentação (BRASIL, 2014). Facilitando o vínculo afetivo entre mãe e a criança. Neste contexto, o Enfermeiro atua como protagonista de cuidados, pois suas ações podem estar pautadas na humanização da assistência e na valorização da singularidade dos sujeitos envolvidos neste cuidado. O referido profissional, precisa estar capacitado e preparado para trabalhar com o empoderamento e o incentivo à criação da autonomia da puérpera ao realizar os cuidados à criança de forma integral e amorosa. 2. OBJETIVO Este trabalho tem como objetivo, relatar a vivência de uma acadêmica de enfermagem na humanização da assistência junto à puérpera e Recém-Nascido. 3. METODOLOGIA Trata-se de um relato de experiência acerca da vivência de uma graduanda de Enfermagem no Alojamento Conjunto junto à puérpera e RN no Hospital do Município de Sanatiago, RS. A mesma ocorreu no período de 17 a 26 de junho de 2014 durante as aulas práticas da disciplina de Saúde da Mulher durante o sétimo semestre do curso, da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI, Campus de Santiago, RS. Esta disciplina tem como objetivo fazer 391 com que os graduandos compreendam a mulher no seu ciclo vital, assim como planejar e implementar ações de promoção e prevenção da saúde da mulher na Rede hospitalar como também na Atenção básica. O graduando possui a oportunidade de atuar junto a gestante no trabalho de parto, parto e nascimento, após o nascimento da criança ainda é realizado o acompnhamento no AC do referido hospital. 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES A realização dessa prática oportunizou ver a importância do profissional de enfermagem no acompanhamento a puérpera e RN, no incentivo ao vínculo entre binômio mãe/filho e familiares. A atuação do Enfermeiro no Alojamento Conjunto se dá principalmente por meio do incentivo ao Aleitamento Materno Exclusivo (AME) e também na orientação a cerca dos primeiros cuidados com RN e que estes cuidados estejam permeados pela valorização da puérpera e do pai ou familiar que esteja acompanhando-a neste momento. Sabe-se que o leite materno é o alimento essencial e mais completo para a criança, pois é o único que oferece substâncias e nutrientes que esta precisa para crescer e se desenvolver com saúde. O tempo preconizado para o AME é de seis meses, podendo se prolongar até dois anos junto com outros alimentos (SILVA, et al, 2013). Neste sentido, o incentivo aamamentação precoce torna-se fundamental para estabelecimento do contato mãe-filho, especialmente porque nas primeiras horas de vida a maioria dos bebês está em estado de alerta e tem facilidade para encontrar o mamilo e iniciar a amamentação. Com tudo, ainda há um baixo índice de amamentação precoce no Brasil que reflete, em parte, a falta de preparo das equipes de saúde que conduzem o parto e promovem o afastamento entre mãe e bebê (MOURA, et al, 2014). Ainda assim, as puérperas devem ser membros ativos no processo de amamentar, devem ser incentivadas e informadas quanto à importância do aleitamento materno, desde o pré-natal. Para que assim, a mesma sinta-se apropriada dos conhecimentos relacionados a ação de amamentação e os inúmeros benefícios do mesmo, além do 392 vínculo entre mãe e filho. Em consonância com o exposto, o aleitamento materno, o qual é uma estratégia eficaz que proporciona vínculo, afeto, proteção e nutrição para a criança, além de ser econômica e reduzir a morbimortalidade infantil, permitindo intervenção na promoção da saúde integral da dupla mãe/bebê e satisfazendo toda a sociedade (SANTOS, et al, 2014). 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS A realização do acopanhamento de puérpera e RN no alojamento conjunto oportunizou a compreenção da atuação do profissional enfermeiro frente a criação de vínculo entre binomio mãe e filho no alojamento conjunto, e a importância do mesmo, pois torna-se um ambiente propício às ações educativas e também por ser um momento em que as puérperas estão mais sensibilizadas, apesar de algumas apresentarem um pouco de dificuldade de amamentar ainda no Alojamento Conjunto. Compreende-se que neste momento torna-se opotuno a implementação de ações humanizadas junto com essa puérpera e seus familiares, transmitindo segurança, confiança, e também se trata de um momento de valorização dos vínculos afetivos entre os membros da família. Conclui-se que cabe à Enfermagem incluir o pai ou familiar neste cenário de cuidado e oportunizar sua participação. E incentiar a puérpera neste momento, para que ela se torne protagonista no ato de amamentar seu filho, sentindo-se capaz e empoderada, são essas ações que tornam possível a criação e o fortalecimento do vínculo entre mãe e filho e familiares. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Saúde (BR). Cadernos HumanizaSUS. Humanização do parto e do nascimento. Brasília: Ministério da Saúde; 2014. Volume 4. FRANCISQUINI AR, et al. Orientações recebidas durante a gestação, parto e pós-parto. Cienc Cuid Saude 2010 Out/Dez; 9(4):743-751. 393 MOURA, KCC, et al. Percepções de puérperas sobre os benefícios da amamentação na primeira hora pós-parto. Cogitare Enferm. 2014 Jan/Mar; 19(1):123-8. OLIVEIRA, D. L. (Org.) Enfermagem na gravidez, Parto e Puerpério: notas de aula. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2005. SILVA EP, et al. Diagnósticos de enfermagem relacionados à amamentação em unidade de alojamento conjunto. Rev Bras Enferm, Brasília 2013 mar-abr; 66(2): 190-5. 394 9.3) A DOR NO RECEM NASCIDO PREMATURO: MANEJOS E CUIDADOS: UMA REVISÃO INTEGRATIVA1 FREITAG, Vera Lucia²; OLIVEIRA, Camila Madruga³; MILBRATH, Viviane Marten4; BARBOSA, Michele Cristiene Nachtigall5; Eixo Temático: Eixo 3: Atenção à Saúde do recém-nascido; Descritores: Prematuro; Dor; Enfermagem; 1. INTRODUÇÃO No mundo, nascem aproximadamente 15 milhões de prematuros a cada ano, o que equivale a, mais de 1 em cada 10 nascidos vivos, destes mais de 1 milhão morrem, devido a complicações relacionadas à prematuridade. Dos prematuros sobreviventes muitos enfrentam uma vida de necessidades especiais, incluindo dificuldades de aprendizagem e problemas visuais e auditivos (OMS, 2012). O Brasil está no décimo colocado com o maior número de partos prematuros no mundo (BLENCOWE et.al., 2010). Os bebês prematuros apresentam uma clínica que faz com que necessitem de uma série de intervenções, as quais podem provocar dor no neonato. Souza (2011) afirma que o desconforto desses procedimentos que variam entre 50 e 150 por dia pode ser diminuido com algumas medidas que merecem atenção especial 1 Trabalho de conclusão de curso. Faculdade de Enfermagem e Obstetrícia. Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Pelotas 2014. ² Enfermeira, egressa da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Campus de Palmeira das Missões/RS. Mestranda do Programa de Pós Graduação em Enfermagem (PPGEnf) da UFPel. Bolsista pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). E-mail: [email protected] ³ Enfermeira, egressa da UFPel. Email: [email protected] 4 Doutora em Enfermagem do Programa de Pós-graduação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Professora Adjunta da Faculdade de Enfermagem da UFPel. Rio Grande do Sul, Brasil. E-mail: [email protected] 5 Mestre em enfermagem pela FURG Fundação Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Professora Assistente da Faculdade de Enfermagem UFPel. E-mail: [email protected] 395 das equipes de saúde. A busca de meios para enfraquecer e até evitar os desconfortos é considerado um passo importante para a melhoria da qualidade de vida do RN internado em UTIN. Através de uma atenção mais humanizada durante os procedimentos dolorosos, pode-se passar a interferir de forma vigorosa, de modo a serenar esse sofrimento, minimizando as decorrências da dor (CORDEIRO, 2012). É vital a importância do reconhecimento e interpretação dos sinais oferecidos pelos recém-nascidos pré-termo, depois do estímulo estressante ou doloroso, já que é por demonstração de sinais como expressão facial, agitação corporal, choro e estado de consciência, entre outros, os processos que os bebês estabelecem uma comunicação interpessoal, que compõe a sua “linguagem” da dor (SOUZA, 2011). 2. OBJETIVO Investigar a produção científica no manejo não farmacológico da dor em prematuros, nos últimos onze anos. 3. METODOLOGIA O estudo baseou-se em uma revisão integrativa da literatura (FALCÃO et. al., 2012). Realizou-se busca on-line na biblioteca virtual em saúde (BVS) nas bases de dados: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da saúde (LILACS), Scientific Eletronic Library Online (SCIELO), Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE). Os descritores utilizados: “pain”, “premature”, “care”. Os critérios de inclusão foram: estudos que responderam à pergunta de pesquisa: Qual a produção científica referente ao manejo não farmacológico da dor em prematuros, nos últimos dez anos? Ser periódico e estar disponível na íntegra por meio on-line, nos idiomas português, inglês e espanhol, publicados entre os anos de 2003 a 2013. Os critérios de exclusão seguidos foram: não ter adesão ao objetivo do estudo, teses, dissertações, monografias e resumos Não estar disponível na íntegra, estar em outros idiomas com exceção português, inglês e espanhol. 396 Foram respeitados os preceitos do Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem, principalmente do capítulo IV, artigo 37. O levantamento dos dados foi realizado no mês de março a maio de 2014. Dentre as formas de análise de dados, optou-se por utilizar a análise de Conteúdo de Bardin (2008). Na base de dados do LILACS encontrou-se 34 artigos, destes, 27 foram excluídos por não serem compatíveis com o estudo e 1 não tinha acesso na íntegra, restando 6 com texto completo; na SCIELO, encontrou-se 25 artigos, 19 foram excluídos, 5 foram iguais aos encontrados no LILACS ficando 1 artigo; na MEDLINE encontrou-se 649, onde 497 foram excluídos pelo resumo por não serem compatíveis com o estudo, 1 foi excluído por não se encaixar nos critérios de inclusão e 42 não possuíam texto completo, 95 não se tinha acesso na íntegra sem antes efetuar o pagamento, 14 artigos inclusos por terem acesso na íntegra e que correspondiam com o procurado. Desta forma, somaram-se 21 artigos com texto completo que contemplavam objetivo da pesquisa, bem como, os critérios de inclusão. 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO O maior número de publicações foi encontrado na MEDLINE, 14 artigos. A maioria das pesquisas foram feitas por enfermeiros, total de 13, 6 por médicos, 1 por uma equipe multiprofissional e 1 por fisioterapeutas. O ano de maior publicações foi 2011 com 7 estudos, seguidos do ano de 2009 com 4. O método mais utilizado foi a escala Premature Infant Pain Profile (PIPP) 7, no que diz respeito a amostra a maioria é com prematuros, total de 20, sendo uma com profissionais de enfermagem. Quanto aos objetivos, 10 estudos, tinham como alvo verificar se método mãe canguru minimizava a dor, analisar e identificar o potencial de analgesia. Já os demais deteram-se a outros métodos não farmacológicos que por ordem decrescente de número de artigos foram: o uso da sacarose com 9 estudos, glicose 4, contenção facilitada 4, leite materno 4, sucção não nutritiva 3, toque suave 2, posição 1, massagem 1, fisioterapia aquática 1. Conforme os estudos apresentados pode-se perceber que o método mãe canguru pode auxiliar a 397 enfermagem e os profissionais na área de saúde a realizar procedimentos invasivos com diminuição da dor nos RNs através do contato pele a pele com a mãe e assim, se mantendo mais estáveis, diminuindo os níveis de stress sofridos pelos neonatos. Outra forma analisada Segundo Livingston et al. (2007), como manejo não farmacológico da dor em RNPT foi à massagem terapêutica, realizada pelos pais, ensinados por enfermeiros ou massagistas terapeutas, evidenciando níveis moderados a altos de satisfação para os pais e viabilidade de implementação no RN. O estudo de Herrington; Chiodo (2011) destaca a contenção facilitada como uma forma de promover uma recuperação mais rápida da dor proveniente da punção capilar em comparação a utilização do ninho. Além disso, o toque gentil também pode diminuir o efeito traumático dos movimentos bruscos e dolorosos causados por procedimentos. Também foi evidenciado que, proporcionar a sucção não nutritiva, (mão enluvada, chupeta, sacarose e glicose), sucção nutritiva (amamentação) no decurso do procedimento e posteriormente à manipulação (sugar a própria mão) bloqueia a perturbação, impede a hiperatividade, modula o desconforto e abranda a dor (SOUZA, 2011; BRASIL, 2013). A administração oral de sacarose ao RN reduz o período de choro e comportamentos, como expressão de caretas, porém, a utilização das soluções adocicadas no alívio da dor é contraindicada em RNPT que se encontra com a dieta suspensa, estabelecendo assim que a equipe deve avaliar a conduta não farmacológica a ser adotada. (ALVES et.al., 2011). 5. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS Foi apresentada uma revisão integrativa das intervenções não farmacológicas, como as abordagens táteis (contenção facilitada, toque parado), a posição canguru, massagens, soluções adocicadas (sacarose 24-25%, glicose 25%), sucção não nutritiva e banho enrolado e de imersão objetivam, principalmente, prevenir a intensificação de um processo doloroso, a desorganização do neonato, o estresse e a agitação, ou seja, minimizar as repercussões aversivas. Foi possível identificar que diversas áreas da saúde estão preocupadas no controle da dor em 398 prematuros, destacando-se a enfermagem, visto que, foram os profissionais que mais publicaram estudos sobre a temática. Além disso, pode-se destacar que os manejos não farmacológicos da dor no ambiente hospitalar ocorrem em sua maioria antes de realizar os procedimentos específicos, em especial os perfuro-cortantes, ou ainda durante os procedimentos dolorosos. Ressalta-se a importância e a relevância da realização de pesquisas que abordem o manejo não farmacológico da dor emprematuros, a fim de diminuir o estresse sofrido por estes pequenos seres. REFERÊNCIAS BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Tradução de Luís Antero Reto e Augusto Pinheiro.Lisboa/Portugal: Presses Universitaires de France, 2008. BLENCOWEl H, COUSENS S, OESTERGAARD M, CHOU D, MOLLER AB, NARWAL R, ADLER A, GARCIA CV, ROHDE S, SAY L, LAWN JE. National, regional and worldwide estimates of preterm birth. The Lancet, June 2012. 9;379(9832):2162-72. Estimates from 2010. Acesso dia: 13 11 2013. Disponível em: <http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs363/en/> BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. 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INTRODUÇÃO De acordo com Waldow (2004) o cuidado deve ser percebido como uma peculiaridade do ser humano, e, portanto condição primeira de sua existência. O cuidado é uma condição para a sobrevivência humana, devendo este ser integral, universal, existencial, relacional e sendo através do cuidado de si que surge a possibilidade de então realmente cuidarmos de outrem (WALDOW, 2004). Ao cuidarmos do outro não praticamos apenas uma ação técnica como também sensível, que envolve o contato entre humanos, sujeito-sujeito, através do toque, do olhar, do ouvir, do olfato, da fala. Esta ação envolve a sensibilidade própria dos sentidos e também a liberdade, a subjetividade, a intuição e a comunicação (FERREIRA, 2006). No que se refere ao cuidado à criança que sofreu uma asfixia perinatal grave e a sua família, Telford e Sawrey (1988) e Milbrath (2008) sinalizam que uma das funções dos profissionais de saúde é a de ajudar os pais a compreenderem o diagnóstico da criança, auxiliando-os no entendimento da 1 Recorte de um Trabalho de conclusão de curso. Faculdade de Enfermagem e Obstetrícia. Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Pelotas 2011. 2 Enfermeira, egressa da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Campus de Palmeira das Missões/RS. Mestranda do Programa de Pós Graduação em Enfermagem (PPGEnf) UFPel. Bolsista pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). E-mail: [email protected] 3 Enfermeira, egressa da UFPel. Email: [email protected] 4 Doutora em Enfermagem do Programa de Pós-graduação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Professora Adjunta da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Rio Grande do Sul, Brasil. E-mail: [email protected] 401 condição existencial da criança. Os autores salientam que os profissionais da saúde necessitam de sensibilidade para perceber o momento em que os pais estejam abertos para ouvir, respeitando seu período de sofrimento e negação. Faz parte de todas essas funções transmitirem as informações diagnósticas de acordo com a capacidade de compreensão e aceitação dos pais, sem utilizar linguagem técnica, incompreensíveis que asseguram a distância entre família e profissional. A aproximação entre ambos é de extrema importância para os pais sentirem-se apoiados e à vontade para esclarecerem dúvidas, o que diminui a ansiedade e impede que fiquem sobrecarregados pelos problemas da criança. Nesse sentido, é necessário que, além de obter informações diagnósticas claras, os pais sejam orientados quanto aos cuidados e procedimentos básicos em relação à criança e informados sobre as oportunidades educacionais, os recursos de assistência intelectual, emocional e financeira, bem como dos serviços de reabilitação disponíveis na comunidade (BUSCÁGLIA, 2006). 2. OBJETIVO Conhecer o cuidado dispensado pelos profissionais de saúde aos pais de uma criança que sofreu Asfixia Neonatal Grave ao fornecer a informação. 3. METODOLOGIA Trata-se de uma pesquisa descritiva exploratória Gil (2002), com abordagem qualitativa (MINAYO 2007). O estudo foi desenvolvido na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) e na Pediatria de um Hospital Universitário, de médio porte, localizado em uma cidade da região sul do Rio Grande do Sul. Os sujeitos da pesquisa foram os profissionais da equipe de saúde, cinco enfermeiros, cinco médicos pediatras e quatro técnicos de enfermagem que atuam nos locais do estudo. Perfazendo um total de quatorze sujeitos, que foram identificados por pseudônimos de E1...E5 para enfermeiro, M1...M5 para médico pediatra e TE1...TE4 402 para técnico de enfermagem, respectivamente conforme a ordem da entrevista. Os critérios de inclusão foram: ser profissional de saúde, enfermeiro, médico pediatra e técnico de enfermagem que trabalhassem num dos locais de estudo há no mínimo um ano, e que permitiram a gravação da entrevista e divulgação dos resultados, garantindo-se o anonimato. O estudo foi aprovado sob o nº 139/2011 pelo Comitê de Ética e Pesquisa com Seres Humanos da Sanda Casa de Misericórdia de Pelotas. As informações foram coletadas no período de abril à maio de 2011, utilizando-se uma entrevista semiestruturada, a qual foi gravada por meio de instrumento eletrônico (MINAYO 2007). De modo que contemplasse o objetivo, as falas foram transcritas para que fosse garantida a fidedignidade e, relação ao que os participantes da pesquisa pretendiam expressar. As informações foram interpretadas por meio da análise temática de Minayo (2007). 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO Ao dialogar com os participantes do estudo sobre as orientações de cuidado prestadas à família da criança, percebe-se que é focada a importância da equipe multidisciplinar e que a família deve comemorar a cada conquista, pois a criança é especial e única e terá o seu tempo para atingir as fazes de desenvolvimento de acordo com seu potencial e o estímulo que receba. Os profissionais afirmam que explicam aos pais que cada dia é um novo dia e que as conquistas devem ser comemoradas, os pais são orientados procurar um pediatra entre 6 e 10 dias e se for prematuro na mesma semana, além disso, devido a asfixia perinatal grave os RNs recebem alta hospitalar com o encaminhamento para uma neurologista. Os participantes destaram a importância de se focar as orientações, tendo em vista que a família deve saber o que fazer para prevenir possíveis intercorrências, além disso, foi destacado a importância de orientar os pais quanto a necessidade de valorização das conquistas diárias da criança, enfatiza para a família que essa criança é única e muito especial, que ela não deve ser comparada com as outras crianças, que ela só deve ser comparada consigo mesma, seus progressos diários devem ser 403 comemorados. Os profissionais também relataram explicar a família que a criança vai precisar ser estimulada, e ter alguns cuidados diferenciados quando comparada a uma outra criança que não sofreu asfixia perinatal grave. Foi salientado pelos participantes que a família deve saber as consequências de uma asfixia neonatal grave, que pode ter dificuldade na alimentação, deglutição, movimentação, atraso para falar, firmar-se, sentar e caminhar. Afirmam também que pelo curto período de internação fica difícil dar o apoio que que os pais necessitam e fornecer todas as informações. Percebe-se a importância da orientação a cerca do estímulo e que a família deve ser informada das implicações da não estimulação precoce. Quando a criança é estimulada precocemente, seu desenvolvimento pode ser muito maior do que o imaginável. Miranda (2003) afirma que a identificação e intervenção precoces são fundamentais para o prognóstico das crianças com distúrbios do desenvolvimento. 5. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS Constatou-se que cuidados básicos são passados à família, porém verificase a necessidade de que as crianças sejam acompanhadas em um local apropriado para o seguimento, pois de acordo com o extraído das falas dos profissionais de saúde, algumas informações a cerca do desenvolvimento devem ser pontuais, a mediada em que surgem as dificuldades e os problemas. Verifica-se também a necessidade da criação de um protocolo de alta, já que este possibilitaria aos profissionais atuarem de forma consciente das necessidades da família e da criança. Salienta-se que é responsabilidade dos profissionais de saúde orientar e informar a família sobre o desenvolvimento da criança e sobre a estimulação precoce, além da formação de vínculo como fator essencial para este desenvolvimento. A interdisciplinaridade aparece como fator determinante no que concerne o cuidado, onde profissionais de varias áreas de atuação trabalham em conjunto por um fim comum. 404 REFERÊNCIAS BUSCÁGLIA, LF. Os deficientes e seus pais: Um desafio ao aconselhamento. (Tradução Raquel Mendes). 5ª edição; Rio de Janeiro; Record, 2006. FERREIRA MA. A comunicação no cuidado: uma questão fundamental na enfermagem. Rev Bras Enferm 2006, maio/jun; 59(3):327-30. GIL, AC. Como elaborar projetos de pesquisa. 4 ed.São Paulo:Atlas.2002.171p. MINAYO MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 8ª ed. São Paulo: Hucitec; 2007. MIRANDA, LP et al. A criança e o adolescente com problemas do desenvolvimento no ambulatório de pediatria. J Pediatr. Rio de Janeiro. 2003;79 - Supl.1- S33-S42. TELFORD, CW; SAWREY, JM. O indivíduo excepcional. Livros Técnicos e Científicos. Editora Rio de Janeiro. 5ª Ed. 1988. WALDOW, VR. As peculiaridades e contradições do cuidar. In:____. O cuidado na saúde: as relações entre o eu, o outro e o cosmos. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004. P. 13058. 405 11.3) PRÁTICAS CLARAMENTE PREJUDICIAIS NA ASSITENCIA AO PARTO DE ADOLESCENTES ESCOBAL, Ana Paula de Lima1; SOARES, Marilu Correa2; MATOS, Greice Carvalho de3; KERBER, Nalú da Costa4; MOREIRA, Andressa da Silva 5; Eixo Temático: Atenção ao Parto. Descritores: Parto humanizado; Parto. 1. INTRODUÇÃO A adolescência é um período de mudanças e que exige adaptação daqueles que a vivenciam. A maternidade nesta fase torna-se mais complexa, pois, além da adolescente estar se deparando com alterações no âmbito social, comportamental e emocional, existem ainda os temores relacionados com o momento do parto. Nas últimas décadas, o parto tem sido alvo de muitas discussões, principalmente no que se refere à medicalização e à forma passiva como mulher tem vivenciado este momento (NAGAHAMA e SANTIAGO, 2008). Na busca pelo resgate do parto como um processo fisiológico e natural foi instituído pelo Ministério da Saúde, por meio da 1 Enfermaira.Doutoranda do Programa de Pós Graduação da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas. Membro do Núcleo Pesquisa e Estudos com crianças, adolescentes, mulheres e 2 Enfermeira Obstetra, Doutora em Enfermagem em Saúde Pública- EERP -USP -ProfªAdjunta IV da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas. Coordenadora do Projeto de Extensão Prevenção e Promoção da saúde em grupos de gestantes e puérperas.- Líder do Núcleo Pesquisa e Estudos com crianças, adolescentes, mulheres e famílias- NUPECAMF - UFPEL – [email protected] 3 Enfermeira. Mestranda do Programa de Pós Graduação da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas. Bolsista CAPES.Membro do Núcleo Pesquisa e Estudos com crianças, adolescentes, mulheres e famílias- NUPECAMF - UFPEL – [email protected] Enfermeira. 4 Enfermeira. Doutora em Enfermagem-UFSC -Profª Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande.–FURG [email protected] 5 Enfermeira. Aluna especial do Programa de Pós Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas, Membro do Núcleo Pesquisa e Estudos com crianças, adolescentes, mulheres e famílias- NUPECAMF - UFPEL – [email protected] Trabalho extraido da dissertação, Práticas de Humanização no parto na perspectiva de puérperas adolescentes apresentada em outubro de 2012, no Programa de Pós Graduação em Enfermaegem da UFPEL. 406 Portaria/GM no 569, de 1º de junho de/2000 a política de humanização do pré natal e nascimento que traz a proposta de substituir o modelo hegemônico focalizado nas intervenções médicas e no uso abusivo de tecnologias por um paradigma humanista, cujo foco é a mulher atendida por meio de ações que contemplem a multiplicidade de diferenças sociais e culturais da população feminina (BRASIL, 2000). No contexto do parto das adolescentes, estes ideais precisam estar presentes, pois, ao vivenciar o processo de parturição, a adolescente se depara com sentimentos de angústia, temor e medo, além daqueles específicos atribuídos à fase adolescente. Desta forma, o cuidado no contexto do processo de parturição, não está atrelado somente ao alívio da dor do parto, mas também a todas as ações que são realizadas em benefício do bem-estar da parturiente e do nascimento de seu filho (SESCATO, SOUZA E WALL, 2008). 2. OBJETIVO Descrever as práticas de atenção ao parto consideradas claramente prejudiciais ou ineficazes e que devem ser eliminadas no atendimento ao parto em adolescentes. 3. METODOLOGIA Trata-se de um estudo quantitativo, descritivo, recorte da pesquisa multicêntrica Atenção Humanizada ao Parto de Adolescentes (KERBER, 2007). Teve como contexto de investigação dois centros obstétricos de hospitais de ensino dos municípios de Pelotas e Rio Grande, no Rio Grande do Sul. A amostra foi composta por 414 puérperas adolescentes que tiveram seus partos nos referidos hospitais no período de novembro de 2008 a outubro de 2009. Este estudo observou a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde. Foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Área da Saúde da FURG com o Parecer 031/2008. As variáveis deste estudo estão baseadas no Manual de 407 Assistência ao Parto Normal da Organização Mundial da Saúde e incorporado pelo Ministério da Saúde(OMS,1996). Os dados foram digitados no Software Epi Info (versão 6.04), com dupla entrada, para análise da consistência interna. Realizou-se a estatística descritiva por meio de freqüências simples. 4. RESULTADOS Quanto às Práticas de Atenção ao Parto Normal Claramente Prejudiciais ou ineficazes e que devem ser eliminadas, o estudo apontou que para 98,7% das puérperas adolescentes a posição no parto foi a de litotomia, 92,8% das parturientes foram submetidas à infusão de ocitocina durante o trabalho de parto. O uso rotineiro da episiotomia mostrou-se presente na população estudada, quando 80,3% das entrevistadas mencionaram que sofreram esta prática em seus partos. A tricotomia foi realizada em 22,6% dos partos. A prática do enteroclisma não foi mencionada pelas puérperas adolescentes. 5. DISCUSSÃO A humanização do atendimento à parturiente implica em programar ações que propiciem a promoção do parto e nascimento saudáveis.Estas ações incluem o respeito ao processo fisiológico e à dinâmica de cada nascimento; intervenções cautelosas, evitando-se os excessos e utilizando-se criteriosamente os recursos tecnológicos disponíveis (BRASIL, 2000). Observou-se que algumas práticas consideradas claramente prejudiciais na atenção ao parto normal foram realizadas nas instituições pesquisadas. A episiotomia foi originalmente sugerida para auxiliar os partos vaginais complicados, porém com o passar do tempo tornou-se um dos procedimentos mais rotineiros em obstetrícia (BRASIL,2004). Pesquisa realizada no Estado de Minas Gerais para identificar a participação da mulher na decisão quanto à prática da episiotomia no parto identificou que 83% das puérperas responderam que não receberam qualquer tipo de informação em relação à intervenção durante 408 seu processo de parturição (SANTOS E SHIMO, 2008). Em consonância com os estudos apresentados, nesta pesquisa também se evidenciou um número excessivo de parturientes submetidas a prática da episiotomia. Outra prática contra-indiciada pela OMS é a realização do enteroclisma. Uma abordagem realizada com profissionais de um Centro Obstétrico na cidade de Rio Grande apontou que, apenas 4,3% dos profissionais realizaram essa prática e justificaram que ela acelera o trabalho de parto e promove o esvaziamento intestinal quando a mulher está constipada(CARVALHO ET AL, 2010). No presente estudo, observou-se a erradicação na utilização desta prática, pois nenhuma das mulheres referiu ter realizado este procedimento anterior ao parto, pode-se perceber que quaqnto ao uso do enteroclisma, as instituições têm atuado de acordo com o preconizado pela OMS. O uso rotineiro da posição da litotomia no parto também é considerado prejudicial para a parturiente. De acordo com OMS, a parturiente tem o direito de ser esclarecida sobre as diferentes posições para o parto e optar pela posição que julgar mais confortável (OMS,1996). No entanto, para a maior parte(98,7%) das puérperas deste estudo, a posição do parto foi a de litotomia. Resultado semelhante foi observado em pesquisa com trabalhadores de saúde que atuam nos mesmos Centros Obstétricos, na qual 100% mencionaram a escolha da posição de litotomia no parto (SILVA, 2011).O uso indiscriminado da ocitocina, além de interferir no curso natural do parto e na movimentação da parturiente, está relacionado a uma experiência mais dolorosa durante o trabalho de parto (OMS,1996). Em uma maternidade localizada em Natal/RN, verificou-se que em 85% das parturientes foi administrada alguma medicação durante a fase ativa do trabalho de parto, sendo a ocitocina utilizada em 81%, seguida da escopolamina 5% e 15% não receberam qualquer medicação durante o período de investigação (DAVIM, TORRES, DANTAS, 2009). Estes dados corroboram com os encontrados neste estudo que teve uma porcentagem de 92,8% das participantes receberam infusão de ocitocina. Na prática obstétrica é rotineiro o uso de ocitocina nas parturientes de forma desnecessária, levando esta conduta muitas vezes as distócias no trabalho de parto. 409 6. CONCLUSÃO O estudo pontuou que algumas práticas desconsideradas pela proposta do Ministério da saúde como realização da tricotomia, o uso indiscriminado da ocitocina e a posição da litotomia ainda fazem parte das rotinas das instituições pesquisadas (OMS,1996). A implantação da proposta de humanização ao parto e nascimento tem sido um processo lento e gradativo, pois exige mudança e sensibilização dos profissionais. O parto ainda tem sido alvo de intervenções tecnológicas e medicalizadoras que desconsideram a mulher como protagonista do processo de parturição. Portanto, olhar para a puérpera adolescente como sujeito singular, com vivências particulares e únicas, é compreender que cuidar deste universo requer a construção de um saber aprimorado, muito mais do que ações padronizadas.. Assim, a importância de conhecer as práticas de atenção às parturientes, sejam elas adolescentes ou não, e a maneira como elas vêm sendo efetivadas, no cotidiano das instituições, para a produção do cuidado, são de relevância para a consolidação de práticas de saúde pautadas na humanização e na busca da melhoria do cuidado à saúde dispensado às mulheres no processo de parturição. REFERÊNCIAS CARVALHO, V.F.; KERBER, N.P.C.; BUSANELLO, J.; COSTA, M.M.G.; GONÇALVEZ, B. G.; QUADROS, V.F. Práticas prejudiciais ao parto: relato dos trabalhadores de saúde do sul do Brasil. Rev Rene [online], v.13 n.11,p.92-98,2010. DAVIM, R. M. B.; TORRES, G. V.; DANTAS, J. C. Efetividade de estratégias não farmacológicas no alívio da dor de parturientes no trabalho de parto. Rev Esc Enferm USP, v.43, n.2,p. 438-45, 2009 KERBER, N.P.C. Projeto de Pesquisa. Atenção Humanizada ao Parto de Adolescentes. Pesquisa financiada pelo CNPq Processo Nº 551217/2007-3, 2007 Ministério da Saúde. 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Os pais ao serem notificados sobre a chegada de uma criança com uma síndrome ou um possível déficit no processo de crescimento e desenvolvimento, enfrenta um período difícil, especialmente no que tange às interações com o recém nascido (MILBRATH et.al; 2009). As reações dos pais ao serem notificados que o filho poderá não se desenvolver dentro dos padrões considerados “normais” são múltiplas e dependem de vários fatores. Os pais irão necessitar de apoio e orientação dos profissionais de saúde (HÖHER, WAGNER; 2006) para adaptarem-se a nova situação e para conseguirem cuidar da criança de forma que proporcionem a ela 1 Recorte de um Trabalho de Conclusão de Curso. Faculdade de Enfermagem e Obstetrícia. Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Pelotas 2011. ²Doutora em Enfermagem do Programa de Pós-graduação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Professora Adjunta da Faculdade de Enfermagem da UFPel. Rio Grande do Sul, Brasil. E-mail: [email protected] ³Enfermeira, egressa da UFPel. Email: [email protected] 4 Enfermeira, egressa da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Campus de Palmeira das Missões/RS. Mestranda do Programa de Pós Graduação em Enfermagem (PPGEnf) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Bolsista pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). E-mail: [email protected] 412 possibilidade de desenvolver todo o seu potencial. Tendo em vista, a complexidade que concerne o nascimento de uma criança com necessidades especiais salienta-se que a revelação do diagnóstico a família é um momento delicado, que necessita ser vislumbrado com cautela e por um profissional com preparo humano/emocional, o qual possibilite que a família ao receber esta notícia sinta-se amparada, sustentada, dessa forma a família criará um vínculo com esse profissional que lhe permita questionar mais, procurar mais sobre a patologia e a melhor maneira de fornecer o cuidado à criança, essa interação de confiança com o profissional da saúde também facilitará a criação do vínculo. No entanto, as pesquisas tem demonstrado que muitas vezes as famílias por não compreenderem o real significado, ou, até mesmo por desconhecerem o diagnóstico da asfixia perinatal, em muitos casos, acabam levando, tardiamente a criança para os serviços especializados, perdendo um precioso tempo de estimulação do sistema nervoso central (MANCINI et al, 2002; MILBRATH, 2008). Salienta-se que o sistema nervoso central apesar de não possuir capacidade de regeneração, quanto mais precocemente for estimulado maior será sua capacidade de adaptação, sendo assim, é fundamental a estimulação precoce nos casos das crianças que sofrem asfixia perinatal grave (ROTTA, 2002). Sendo assim, teve-se como 2. OBJETIVO Conhecer como a equipe de saúde revela a família que a criança sofreu uma asfixia perinatal grave. 3. METODOLOGIA Trata-se de uma pesquisa descritiva exploratória (GIL 2002), com abordagem qualitativa (MINAYO 2007). O estudo foi desenvolvido na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) e na Pediatria de um Hospital Universitário, de médio porte, localizado em uma cidade da região sul do Rio Grande do Sul. Os 413 sujeitos da pesquisa foram os profissionais da equipe de saúde, cinco enfermeiros, cinco médicos pediatras e quatro técnicos de enfermagem que atuam nos locais do estudo. Perfazendo um total de quatorze sujeitos, que foram identificados por pseudônimos de E1...E5 para enfermeiro, M1...M5 para médico pediatra e TE1...TE4 para técnico de enfermagem, respectivamente conforme a ordem da entrevista. Os critérios de inclusão foram ser profissional da saúde, enfermeiro, médico pediatra e técnico de enfermagem que trabalhassem num dos locais de estudo há no mínimo um ano, e que permitiram a gravação da entrevista e divulgação dos resultados, garantindo-se o anonimato. O estudo foi aprovado sob o nº 139/2011 pelo Comitê de Ética e Pesquisa com Seres Humanos da Sanda Casa de Misericórdia de Pelotas. As informações foram coletadas no período de abril à maio de 2011, utilizando-se uma entrevista semiestruturada, a qual foi gravada por meio de instrumento eletrônico (MINAYO 2007). De modo que contemplasse o objetivo, as falas foram transcritas para que fosse garantida a fidedignidade e, relação ao que os participantes da pesquisa pretendiam expressar. As informações foram interpretadas por meio da análise temática de Minayo (2007). 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO Diante da importância que engloba a revelação do diagnóstico à família dialogou-se com os participantes da pesquisa acerca da maneira como revelam às famílias das crianças que sofrem asfixia perinatal grave o diagnóstico, bem como, questionou-se a qual integrante da família era dada essa informação, os participantes da pesquisa referiram que explicam para à família que por problemas da gestação e parto houve uma intercorrência no nascimento, a qual levou a falta de oxigênio e que as consequências que a criança poderá apresentar são em função da deficiência de oxigênio nos tecidos. Os pais (mãe e pai) da recém-nascido foram elencados como as pessoas para as quais os profissionais relatam o acontecimento da asfixia perinatal grave. Entretanto, os participantes referiram que por vezes o momento do diagnóstico deixa os pais confusos e sem orientação adequada, influenciando na vinculação com o bebê e, sobretudo, no que diz respeito às falsas expectativas, 414 interferindo no processo de aceitação ou rejeição do filho real (HÖHER, WAGNER; 2006). Provavelmente resida nesta afirmativa à dificuldade de fornecer o diagnóstico de asfixia perinatal grave à família, pois o esperado é que uma criança a termo, no peso certo, e que a mãe tenha feito o pré-natal, nasça bem. A não assimilação de um diagnóstico, que acabará se tornando uma condição de vida, não é uma responsabilidade da família, cabe ao informante utilizar estratégias de comunicação capazes de serem compreendidas pelas pessoas que não compartilham da mesma linguagem técnica dos profissionais da saúde. Os participantes referiram a importância dos pais serem orientados sobre o acontecido desde o primeiro momento, mesmo que não se tenha claro o prognóstico. Desta forma, reafirma-se a dificuldade que os profissionais percebem na família para a compreensão do diagnóstico. Segundo Wernet (2007) isso pode estar acontecendo devido a utilização de uma linguagem muito técnica por parte dos profissionais da equipe de saúde que se torna de difícil compreensão para as pessoas que não estão habituadas com tal linguagem A família necessita passar por um processo de adaptação a nova situação vivenciada. Os participantes também referiram que pais ao receberem o diagnóstico passam um processo de negação, para depois começarem a compreender a situação clínica da criança. Dessa forma, percebe que a negação expressa pelos participantes faz parte do processo vivenciado pela família. Salienta-se que é de vital importância que os profissionais da saúde conheçam as fases do processo que a família se encontra para que assim possam prestar o cuidado mais direcionado (BUSCÁGLIA, 2006). 5. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS Salienta-se a importância da equipe como um todo na questão do diagnóstico, principalmente para a família. A enfermagem pela proximidade pode ajudar nesse processo de compreensão não apenas do diagnóstico como também do prognóstico. As orientações do enfermeiro devem fluir na acepção de que a família não apenas tome consciência de que algo aconteceu à criança, mas no 415 sentido de dirimir suas dúvidas e instigar que estas interrogações sejam expressas, para que realmente sejam sanadas. Por conseguinte, outros profissionais como assistente social, psicólogos e fisioterapeutas também se fazem importantes a partir do momento que conseguirem o entendimento da família para a importância do acompanhamento. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Resolução nº196/96 sobre pesquisa envolvendo seres humanos. Brasília: DF, 1996. BUSCÁGLIA, LF. Os deficientes e seus pais: Um desafio ao aconselhamento. (Tradução Raquel Mendes). 5ª edição; Rio de Janeiro; Record, 2006. GIL, AC. Como elaborar projetos de pesquisa. 4 ed.São Paulo:Atlas.2002.171p. HÖHER, SP; WAGNER, ADL. A transmissão do diagnóstico e de orientações a pais de crianças com necessidades especiais: a questão da formação profissional. Estudos de Psicologia, Campinas, 23(2): 113-125, abr/ jun. 2006. MANCINI, CM et al. Comparação do desenvolvimento de atividades funcionais em crianças com desenvolvimento normal e crianças com paralisia cerebral. Arq. Neuro-Psiquiatr., v.60, n.2, p.409-415, jun. 2002. MILBRATH, VM. Cuidado da família à criança portadora de paralisia cerebral nos três primeiros anos de vida [dissertação]. Rio Grande: Escola de Enfermagem, Fundação Universidade Federal de Rio Grande; 2008. MILBRATH, VM et al. Mães vivenciando o diagnóstico da paralisia cerebral em seus filhos. Rev Gaúcha Enferm., Porto Alegre (RS) 2009 set;30(3):437-44. MILBRATH, VM et al. Perfil dos recém-nascidos com asfixia perinatal grave na cidade do Rio Grande/RS, no período de 2005-2007. Anais do Simpósio Internacional de Humanização da Atenção Obstétrica e Neonatal. Rio Grande, Brasil. 2010. MINAYO MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 8ª ed. São Paulo: Hucitec; 2007. ROTTA NT. Aspectos da relação médico-paciente em neuropediatria. Neurobiol Recife 1983;46(3):301-8. 416 WERNET M. Experiência de tornar-se mãe na unidade de cuidados intensivos neonatais [tese]. São Paulo: Universidade de São Paulo; 2007. 417 14.3) REALIZAÇÃO DO PRÉ-NATAL E SUA IMPORTÂNCIA PARA A GESTANTE E O RECÉM-NASCIDO (2014)1 PREVEDELLO, Bruna Pivetta2; STOCHERO, Helena Moro3; CONRADO, Amanda4; BARCELOS, Louise Muniz5; TIER, William Oliveira6; RANGEL, Rosiane Filipin7; Eixo Temático: Eixo 2: Atenção ao Pré-natal. Descritores: Pré-natal; Recém-nascido; Gestante. 1. INTRODUÇÃO A assistência pré-natal tem sido foco de investigação no Brasil e no mundo (NETO et al., 2012). Desde a medicalização do parto no século XVIII, as políticas relacionadas à saúde materno-infantil intensificaram-se para abranger desfechos positivos em saúde, da concepção até a gestação e o puerpério, que são fenômenos fisiológicos naturalmente esperados no desenvolvimento da espécie humana, mas sujeitos a intercorrências desfavoráveis (THEODORO, et al., 2008). Estudos epidemiológicos permitem identificar que o cuidado com a saúde e possíveis intervenções médicas, nesses momentos específicos do ciclo da vida humana, podem minimizar as complicações e os óbitos do recém-nascido e da parturiente, 1 Pesquisa vinculada ao Grupo Interdisciplinar de Pesquisas em Saúde – GIPES. Acadêmica do Curso de Enfermagem do Centro Universitário Franciscano. Email: [email protected]. 3 Enfermeira, graduada pela Universidade Federal de Santa Maria. Email: [email protected] 4 Acadêmica do Curso de Enfermagem do Centro Universitário Franciscano. Email: [email protected] 5 Acadêmica do Curso de Enfermagem do Centro Universitário Franciscano. Email: [email protected] 6 Acadêmico do Curso de Enfermagem da Faculdade Integrada de Santa Maria – Fisma. Email: [email protected] 7 Enfermeira. Mestre em Enfermagem. Docente do Centro Universitário Franciscano. Email: [email protected] 2 418 além da redução de fatores de risco de mortalidade, como o baixo peso ao nascer e prematuridade (NETO, et al., 2012). Evidências revelam que em países de média e baixa renda o número reduzido de consultas de acompanhamento pré-natal é fator de risco significante para aumento da mortalidade perinatal (NETO, et al., 2012). Também, quando o pré-natal não é realizado adequadamente os riscos para o bebê são maiores, como por exemplo, a necessidade de internação em Unidade de Terapia Intensiva, tempo de permanência nessas e o uso de medicações com maior potencialiadade de efeitos colaterais para o recém-nascido. Ressalta-se que o prénatal bem feito e de qualidade não pode ser avaliado somente pela quantidade de consultas realizadas, mas sim, da qualidade dessas, das orientações dadas às mães, que envolvem desde o planejamento e preparação para a gravidez, o período de formação do feto, até os cuidados após o parto, em especial às primigestas. Frente a esse contexto, o Ministério da Saúde instituiu o Programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento (PHPN) por meio da Portaria/GM nº. 569, de 01/06/2000, com o intuito de reduzir as taxas de mortalidade materno-infantil. Esse programa define como condição indispensável da assistência a realização da primeira consulta de pré-natal até o quarto mês de gestação, bem como a realização de, no mínimo, seis consultas de pré-natal e de, pelo menos, uma no puerpério (BRASIL, 2000). Para isso, necessita-se de uma organização de rotinas com procedimentos benéficos para gestante, entre eles, o estabelecimento de uma rede de relações pautada em princípios éticos, os quais assegurem autonomia, privacidade, partilha de conhecimento com a gestante e sua família (BRASIL, 2005). 2. OBJETIVO Investigar na literatura a produção científica acerca da realização do pré-natal e sua importância para a gestante e o recém-nascido. 3. METODOLOGIA 419 Trata-se de uma revisão bibliográfica da literatura. A busca dos dados foi realizada no mês de Agosto de 2014, em periódicos, livros, teses e dissertações que abordavam a temática. Não foi estabelecido recorte temporal. 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO Observou-se a partir dos resultados encontrados que o pré-natal configura-se como um fator importante na redução da mortalidade materna e perinatal, visto que muitas patologias do período gravídico-puerperal podem ser tratadas e/ou controladas, evitando-se, assim, efeitos danosos a gestantes, puérperas e/ou ao recém-nascido (TREVISAN et al., 2002). A atenção pré-natal adequada é considerada uma das principais ações de promoção à saúde da gestante e do feto e prevenção de eventos adversos da gestação no âmbito da atenção primária à saúde. A melhoria do cuidado pré-natal pode ser considerada uma das mais importantes metas em termos de saúde pública devido à possibilidade de redução dos determinantes da morbimortalidade neonatal (VETTORE, DIAS, LEAL, 2013). Mesmo com os esforços para melhorar a assistência ao pré-natal, ocorreu uma tendência no aumento na prevalência da prematuridade no Brasil a partir da década de 1990, que atingiu até 15% nas Regiões Sul e Sudeste e 10% no Nordeste (SILVEIRA, et al., 2008). Sabe-se que a cobertura do pré-natal no país elevou-se, mas não foi acompanhado da melhoria da qualidade da assistência às gestantes. Um estudo evidenciou que 96% das puérperas haviam feito pré-natal, porém os índices inadequados ou intermediários foram predominantes, correspondendo a 57%. Sabe-se que os partos prematuros são, no Brasil e no mundo, a principal causa de morbimortalidade neonatal e pós-neonatal. Em função destes aspectos, possíveis fatores de risco para a sua ocorrência têm sido investigados, e incluem características demográficas e socioeconômicas, comportamentos inadequados relacionados à saúde, fatores emocionais, doenças durante a gravidez, gemelaridade, história obstétrica e cuidados pré-natais inadequados (VETTORE, DIAS, LEAL, 2013). 420 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Sabe-se que o cuidado à assistência pré-natal vem sendo discutido no Brasil e no mundo, frente a isso pode-se identificar redução nas complicações com o recém-nascido, a parturiente, a prematuridade entre outros. Quando o número de consultas de pré-natal é abaixo do preconizado, geralmente, evidencia-se um aumento da mortalidade perinatal, internação em unidades intensivas, entre outros. Sendo assim, reforça-se a importância do papel da enfermagem para a realização do pré-natal adequado e acompanhamento do recém-nascido após o parto, juntamente com a gestante, pai e familiares, pois isso promove à mãe e ao bebê, a prevenção de eventos adversos e uma melhoria na sua qualidade de vida, à medida que com a adoção de tais medidas, há uma maior propabilidade de se reduzir eventuais problemas, entre os quais, estão os principais causadores de aumento na taxa de morbimortalidade neonatal. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Saúde. Pré-natal e Puerpério: atenção qualificada e humanizada – manual técnico. Brasília, DF, 2005. BRASIL. Ministério da Saúde. Programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento (PHPN). Brasília: Secretaria de Políticas de Saúde, 2000a. NETO, E. T.S.; LEAL, M.C.; OLIVEIRA, A. E.; ZANDONADE, E.; GAMA, S.G.N. Concordância entre informações do Cartão da Gestante e da memória materna sobre assistência pré-natal, Cad. Saúde Pública.; v.28, n.2, p.256-266, 2012. SILVEIRA, M.F.; SANTOS, I.S.; BARROS, A.J.D, MATIJASEVICH, A.; BARROS, F.C.; VICTORA, C.G. Aumento da prematuridade no Brasil: revisão de estudo de base populacional. Rev Saúde Pública.; v.42, p.957-64, 2008. THEODORO, E.S.N.; ALVES, K.C.G.; ZORZAL, M.; LIMA, R.C.D. Políticas de saúde materna no Brasil: os nexos com indicadores de saúde materno-infantil. Saúde Soc.; v.17, p.107-19, 2008. 421 TREVISAN, M.R.; DELORENZI, D.R.; ARAÚJO, N.M.; ÊSBER, K. Perfi l da assistência pré natal entre usuárias do sistema único de saúde em Caxias do Sul. Rev. Bras. Ginecol Obstet.; v.24, n.5, p.239-299, 2002. VETTORE, M.V.; DIAS, M.; LEAL, M.C. Avaliação da qualidade da atenção pré-natal dentre gestantes com e sem história de prematuridade no Sistema Único de Saúde no Rio de Janeiro, Brasil. Rev. Bras. Saúde Matern. Infant., Recife.; v. 13, n.2, p.89-100, 2013. 422 15.3) CONSUMO DE ÁLCOOL NA GESTAÇÃO E OS EFEITOS NO RECÉMNASCIDO (2014)1 PREVEDELLO, Bruna Pivetta2; STOCHERO, Helena Moro3; CONRADO, Amanda4; BARCELOS, Louise Muniz5; TIER, William Oliveira6; RANGEL, Rosiane Filipin7 Eixo Temático: Eixo 3: Atenção à Saúde do recém-nascido. Descritores: Gravidez; Etanol. 1. INTRODUÇÃO O consumo do álcool durante a gestação é um tema que vem ganhando espaço, principalmente pelos efeitos que são causados ao recém-nascido (RN). Estima-se que aproximadamente 20% das mulheres façam uso de álcool durante a gravidez. Esse hábito tem aumentado significativamente nos últimos anos, apesar de ser uma causa evitável de defeitos congênitos e de alterações no desenvolvimento da criança (SANTOS, SANTOS, 2009). Tal fato é preocupante, principalmente quando se sabe que o consumo de álcool durante a gestação envolve grande risco, devido à embriotoxicidade e teratogenicidade fetal que a ele estão relacionadas, transformando-se em sério problema de saúde pública, com repercussões físicas, cognitivas e comportamentais. A síndrome pode manifestar-se por um quadro clínico 1 Pesquisa vinculada ao Grupo Interdisciplinar de Pesquisas em Saúde – GIPES. Acadêmica do Curso de Enfermagem do Centro Universitário Franciscano. Email: [email protected]. 3 Enfermeira, graduada pela Universidade Federal de Santa Maria. Email: [email protected] 4 Acadêmica do Curso de Enfermagem do Centro Universitário Franciscano. Email: [email protected] 5 Acadêmica do Curso de Enfermagem do Centro Universitário Franciscano. Email:[email protected] 6 Acadêmico do Curso de Enfermagem da Faculdade Integrada de Santa Maria – Fisma. Email: [email protected] 7 Enfermeira. Mestre em Enfermagem. Docente do Centro Universitário Franciscano. Email: [email protected] 2 423 completo, denominado Síndrome Alcoólica Fetal (SAF), ou um incompleto, conhecido como Efeito Alcoólico Fetal (EAF) (SANTOS, SANTOS, 2009). A SAF caracteriza-se por danos ao sistema nervoso central, que causam anomalias neurológicas, craniofaciais, deficiência no crescimento pré e pós-natal, disfunções comportamentais e malformações associadas (FREIRE, PADILHA, SAUNDERS, 2009). O risco é cada vez maior em cada gestação subsequente, uma vez que tende só aumentar esse vício, sendo que bebidas destiladas de alto teor alcóolico consumido elevam o número da SAF. Estudos apontam que a exposição ao álcool durante a gestação aumenta o risco de mortalidade e incidência de diferentes agravos à saúde da mulher, como doença coronariana, hipertensão arterial, neoplasia de mama, distúrbios neurológicos, depressão e outras desordens afetivas (MORAES, REICHENHEIM, 2007). O uso de álcool pela gestante parece contribuir também para o ganho de peso gestacional insuficiente, menor frequência aos serviços de pré-natal e maior utilização de outras drogas. As repercussões diretas do problema para o feto e recém-nascido também são variadas. A literatura mostra maior risco de malformações, aborto espontâneo, baixo peso ao nascer, prematuridade, asfixia e mortalidade perinatal, além de diversos problemas físicos e mentais decorrentes da SAF (MORAES, REICHENHEIM, 2007). Também, pode-se perceber que o consumo de drogas, como o álcool estão presentes em grande quantidade no leite materno, fazendo com que o mesmo não contenha mais as substâncias nutritivas adequadas para o bebê, causando assim, danos ao RN. 2. OBJETIVO Investigar na literatura a produção científica acerca do uso do álcool durante a gestação e os efeitos no recém-nascido. 3. METODOLOGIA 424 Trata-se de uma revisão bibliográfica da literatura. A busca dos dados foi realizada no mês de Julho a Agosto de 2014, em periódicos, livros, teses e dissertações que abordavam a temática. Não foi estabelecido recorte temporal. 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO A mortalidade infantil constitui um importante indicador de saúde de um país, já que é um reflexo da qualidade e acesso a serviços de saúde, das condições sócio-econômicas, das práticas de saúde pública, bem como da própria saúde da mulher. Analisando as causas de mortalidade infantil, observa-se, nos últimos anos, uma diminuição da taxa total de óbitos por causas infecciosas e, em contrapartida, aumento da proporção de mortes atribuíveis às malformações congênitas (ROCHA, et al., 2013). Entre os possíveis causadores dessas malformações, além de fatores ambientais, encontram-se algumas medicações e outras drogas como álcool e fumo. O peso ao nascer é um importante parâmetro relacionado com a morbimortalidade perinatal e infantil (MORAES, REICHENHEIM, 2007). O baixo peso ao nascer é definido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como todo nascido vivo com peso ao nascer inferior a 2.500 gramas, (SILVA, et al., 2011) sendo este um dos fatores determinantes da mortalidade neonatal, maior risco de infecções, maior propensão ao retardo de crescimento e déficit neuropsicológico pós-natal, podendo repercutir nas condições de saúde do adulto (GUIMARÃES, VELASQUEZMELÉNDEZ, 2002). As taxas são muito variáveis nas diversas regiões do mundo, com evidentes desvantagens para os países menos desenvolvidos, pois estão associadas a condições socioeconômicas desfavoráveis (SILVA, et al., 2011). Dentre os efeitos relacionados com hábitos maternos durante a gestação, e que afetam o recém-nascido, como a ingestão de álcool, estão: baixo peso, prematuridade, problemas neurológicos e mentais, déficit de atenção, entre outros. O álcool que a mãe ingere durante a gestação atravessa a barreira placentária e o feto fica exposto a essa substância presente no sangue materno. A exposição fetal é maior, devido ao seu metabolismo e sistema de eliminação mais lentos, de modo 425 que o líquido amniótico permaneça impregnado de álcool não modificado (etanol) e acetaldeído (metabólito do etanol) (FREIRE, et al., 2005). Entretanto, a suscetibilidade fetal ao álcool é modulada por quantidade ingerida, época da exposição, estado nutricional e capacidade de metabolização materna e fetal. A quantidade segura de álcool que uma gestante pode consumir não está definida na literatura, por isto recomenda-se abstinência total durante toda a gravidez. Estudos comprovam que o consumo de 20 gramas de álcool já é suficiente para provocar supressão da respiração e dos movimentos fetais, observados por meio de ultrasonografia (FREIRE, et al., 2005). Além disto, o consumo de álcool na gestação está relacionado ao aumento do número de abortos e a fatores comprometedores do parto, como risco de infecções, descolamento prematuro de placenta, hipertonia uterina, prematuridade do trabalho de parto e líquido amniótico meconial (FREIRE, et al., 2005). 5. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS O consumo do álcool durante a gestação vem sendo discutido pelos inúmeros problemas que são causados à mãe, mas, principalmente ao recém-nascido. É uma fator de muita preocupação pelos efeitos teratogênicos que são provocados ao RN, como, prematuridade, baixo peso ao nascer, retardo no crescimento, problemas neurológicos que possivelmente irão aparecer quando adultos, entre outros. Considera-se que, muitas vezes, à gestante acaba ingerindo a bebida alcóolica por desconhecer os efeitos que a mesma pode causar ao seu bebê, o que acontece com mães que não frequentam às consultas de pré-natal adequadamente e que apresentam condições socioeconômica desfavorável. Portanto, o papel da enfermagem é imprescindível desde o pré-natal até o momento do parto e puerpério, para dar um suporte para à mãe de como ela deve agir para ter uma melhor qualidade de vida. 426 REFERÊNCIAS FREIRE, K.; PADILHA, P.C.; SAUNDERS, C. Fatores associados ao uso de álcool e cigarro na gestação. Rev Bras Ginecol Obstet.; v.31, n.7, p.335-41, 2009. FREIRE, T.M.; MACHADO, J.C.; MELO, E.V.; MELO, D.G. Efeitos do consumo de bebida alcoólica sobre o feto. Rev Bras Ginecol Obstet.; v.27, n.7, p.376-81, 2005. GUIMARÃES, E.A.A.; VELASQUEZ-MELÉNDEZ, G. Determinantes do baixo peso ao nascer a partir do sistema de informação sobre nascidos vivos em Itaúna, Minas Gerais. Rev Bras Saude Matern Infant.; v.2, n.3, p.283-90, 2002. MORAES, C.L.; REICHENHEIM. Rastreamento de uso de álcool por gestantes de serviços públicos de saúde do Rio de Janeiro. Rev Saúde Pública.; v.41, n.5, p.695703, 2007. ROCHA, R.S.; BEZERRA, S.C.; LIMA, J.W.O.; COSTA, F.S. Consumo de medicamentos, álcool e fumo na gestação e avaliação dos riscos teratogênicos. Rev Gaúcha Enferm., v.34, n.2, p.37-45, 2013. SANTOS, E.S.; SANTOS, A.M.G. Síndrome Alcóolica Fetal – recorrência em duas gerações de uma família. Scientia Medica.; v.19, n. 4, p.182-185, 2009. SILVA, I.; QUEVEDO, L.A.; SILVA, R.A.; OLIVEIRA, S.S.; PINHEIRO, R.T. Associação entre abuso de álcool durante a gestação e o peso ao nascer. Rev Saúde Pública.; v.45, n.5, p.864-9, 2011. SANTOS, E.S.; SANTOS, A.M.G. Síndrome Alcóolica Fetal – recorrência em duas gerações de uma família. Scientia Medica.; v.19, n. 4, p.182-185, 2009. 427 16.3) CARACTERIZAÇÃO DO PRÉ-NATAL DE PUÉRPERAS EM UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO NO SUL DO BRASIL1; PILOTI, Dácio Franco Weiler2; ZUCATTI, Ana Regina Espindola3; ARMELLINI, Cláudia Junqueira 4; GONÇALVES, Annelise de Carvalho5; GOUVEIA, Helga Geremias6; MORETTO, Virgínia Leismann7 Eixo Temático: Eixo 2: Atenção ao Pré-natal Descritores: Cuidado Pré-Natal. Enfermagem Obstétrica. Gestantes. Saúde da Mulher. 1. INTRODUÇÃO O acompanhamento pré-natal objetiva assegurar o desenvolvimento gestacional abordando aspectos psicossociais e promovendo atividades educativas e preventivas que resulte em um parto de um recém-nascido saudável, sem prejuízos à saúde materna (BRASIL, 2012a). Segundo o Programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento, a mulher grávida tem direito ao acesso e atendimento digno, de qualidade, humanizado e seguro durante a gestação, parto e puerpério (BRASIL, 2002). 1 Pesquisa produzida a partir de Trabalho de Conclusão de Curso, apoio financeiro FIPE/HCPA. Acadêmico de Enfermagem, bolsista de iniciação científica BICI/UFRGS, relator. [email protected] 3 Enfermeira. [email protected]. 4 Dra. em Ciências. Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul/Brasil. [email protected] 5 Dra. em Saúde Pública. Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul/Brasil. [email protected] 6 Dra. em Ciências da Saúde. Escola de Enfermagem da Universidade FederaI do Rio Grande do Sul/Brasil. [email protected] 7 Dra. em Enfermagem. Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul/Brasil. [email protected] 2 428 2. OBJETIVOS Conhecer o acompanhamento pré-natal de mulheres que vivenciaram o processo de parturição em um hospital universitário da cidade de Porto Alegre/RS; caracterizar as mulheres quanto a: idade, escolaridade, situação marital, ocupação, número de gestações, paridade e tipo de parto; identificar o número de consultas de pré-natal, os profissionais que prestaram atendimento, as orientações recebidas no acompanhamento pré-natal; identificar a participação das mulheres em grupo de gestantes e as orientações recebidas durante esta atividade. 3. METODOLOGIA Trata-se de estudo quantitativo transversal, do tipo descritivo, realizado em um hospital universitário de Porto Alegre/RS, Brasil. Os dados do estudo foram obtidos a partir do banco de dados de um projeto de pesquisa maior intitulado “Práticas de atendimento implementadas no processo de parturição”, aprovado pela Comissão de Pesquisa da Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Instituição, sob o protocolo n° 66852. Todas as puérperas selecionadas para integrarem o estudo maior, após o aceite verbal, assinaram o Termo de Consentimento Livre Esclarecido em duas vias iguais. Os dados primários foram coletados por meio de entrevista semi-estruturada, consultas a prontuários maternos e neonatais, no período de agosto a novembro de 2012 e foram incluídas 385 puérperas e seus recém-nascidos com idade gestacional igual ou superior a 37 semanas, calculado pelo método de Capurro. Foram excluídas aquelas que foram submetidas à cesariana eletiva ou urgência, com óbito fetal ou malformação e com nascimento de gemelares. 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 429 Verificou-se que a média de idade das mulheres foi 24,94 anos. Observou-se percentual de 10,9% de mulheres incluídas na classificação de risco gestacional segundo a idade, ou seja, aquelas que conforme o Ministério da Saúde são menores de 15 anos e maiores de 35 anos (BRASIL, 2012a). Relativo à escolaridade, 57,9% possuíam nove ou mais anos de estudo. O Ministério da Saúde considera como fator de risco gestacional a baixa escolaridade, caracterizada por menos de cinco anos de estudo (BRASIL, 2012a), cujo percentual nesta amostra foi de 5,2%. Quanto à situação marital das mulheres, constatou-se que 90,1% tinham companheiro. Em relação à ocupação das mulheres, 47,0% possuiam ocupação remunerada, e 50,4% eram do lar ou estudantes. Referente à paridade, 52,9% eram primíparas, 53,1% teve no mínimo duas gestações prévias. Quando analisado o tipo de parto, verificouse que 79,0% das mulheres tiveram parto vaginal. Em relação ao número de consultas de pré-natal, a maioria das mulheres (70,0%) frequentou sete ou mais consultas, contemplando o número mínimo de seis consultas de pré-natal preconizado pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2012a). Esse percentual mostrou-se inferior a 71,9% encontrado na cidade de Porto Alegre e a 73,2%, no estado do Rio Grande do Sul, no ano de 2010, porém o percentual foi superior a 61,1% evidenciado no Brasil nesse mesmo ano (BRASIL, 2010). A média do número de consultas frequentado pelas mulheres foi de 8,06 (DP 3,08) consultas, enquanto o número mínimo foi de uma e o máximo de 30, sendo que 69,8% das mulheres consultaram apenas com médicos. O percentual de consultas compartilhadas entre médicos e enfermeiros foi de 29,4%. Esse percentual mostrou-se inferior a 45,4% encontrado por Costa et al. (2013). A consulta de enfermagem é garantida pela Lei do Exercício Profissional, regulamentada pelo Decreto nº 94.406/87 (BRASIL, 1987), podendo o enfermeiro acompanhar integralmente o pré-natal de baixo risco na rede básica de saúde. Nesse estudo, apenas 0,8% (n=2) das mulheres foram acompanhadas, exclusivamente, por enfermeiro, mas esse percentual aumenta quando o acompanhamento foi também compartilhado com o médico. No entanto, não foi possível identificar o número de consultas sob-responsabilidade de cada profissional quando as consultas foram compartilhadas. Observa-se que, na prática, 430 em alguns serviços públicos, a participação do enfermeiro nas consultas de pré-natal também se resume à realização da primeira consulta, com atividades burocráticas, fato que corrobora com o estudo de Moretto (2010). Referente às orientações recebidas pelas mulheres, durante as consultas de pré-natal, a média foi de 3,83 (DP 2,01), sendo que houve um percentual de 7,5% de mulheres que não recebeu nenhuma orientação. Entre as 29 mulheres que não receberam qualquer orientação, 55,2% (n=16) frequentaram seis ou mais consultas, verificando-se então, que embora o número adequado de consultas tenha sido respeitado, as orientações preconizadas não foram fornecidas. Quando analisado o número de orientações em relação aos profissionais que realizaram as consultas, verificou-se que a média de orientações foi maior quando o enfermeiro compartilhou as consultas de pré-natal com o médico. Portanto, caso o percentual de mulheres atendidas pelos profissionais médico e enfermeiro tivesse sido superior ao evidenciado, possivelmente o número de orientações recebidas pelas mulheres também seria maior ao encontrado. O percentual de mulheres que participou do grupo de gestantes foi de 11,7%, sendo 5,36 (DP 2,20) a média do número de orientações recebidas entre as mulheres que participaram dessa atividade. Os sinais de alerta foram orientados para 86,4% das mulheres, sendo essa orientação importante para que a gestante fique atenta às alterações que podem colocar em risco a sua gestação. O percentual de gestantes que recebeu orientações sobre o trabalho de parto foi de 69,3%. Cabe lembrar que mais da metade das gestantes estudadas (52,9%) era primípara, portanto, não possuía a experiência prévia de parturição. 5. CONCLUSÕES Embora o número de consultas de pré-natal tenha sido igual ou superior a sete para a maioria das mulheres, ainda é pequeno o número de orientações recebidas durante essas consultas. Percebe-se que um número adequado de consultas não está vinculado à qualidade da assistência pré-natal e às orientações fornecidas para a gestante. Salienta-se o baixo percentual de mulheres que 431 frequentou grupos de gestantes, contudo a média de orientações recebida por essas mulheres foi superior àquelas recebidas durante as consultas de pré-natal, demonstrando ser uma alternativa importante para complementar ações educativas. Anseia-se que os resultados desse estudo contribuam para que os profissionais da Instituição onde o estudo foi realizado conheçam a caracterização do acompanhamento pré-natal das mulheres a quem eles prestam a assistência ao parto, visando suprir de alguma forma as deficiências constatadas. Espera-se que os gestores proponham e implementem estratégias para melhor qualificação do acompanhamento pré-natal, com recomendações para a inclusão de atividades e ações educativas, além de propiciar maior inserção do enfermeiro no pré-natal. REFERÊNCIAS BRASIL. Decreto nº 94.406/87 regulamenta Lei nº 7.498 de 25 de junho de 1986, que dispõe sobre o exercício de enfermagem, e dá outras providências. Brasília, 08 de junho de 1987. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria Executiva. Programa humanização do parto: humanização no pré-natal e nascimento. Brasília: Ministério da Saúde, 2002. BRASIL. Ministério da Saúde. DATASUS. Informações de saúde [tabnet]. Indicadores e dados básicos – indicadores de cobertura. Cobertura das consultas de pré-natal. Brasília (DF): 2010. Disponível em: <http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/idb2011/Grupo_F.xlsx>. Acesso em: 02 nov. 2013. BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Atenção ao pré-natal de baixo risco. Brasília: Ministério da Saúde, 2012a. 318 p. (Série A. Normas e Manuais Técnicos) (Cadernos de Atenção Básica, n° 32). BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Análise de Situação de Saúde. Saúde Brasil 2011: uma análise da situação de saúde e a vigilância da saúde da mulher. Brasília: Ministério da Saúde, 2012b. 444 p. 432 COSTA, Christina Souto Cavalcante et al. Características do atendimento pré-natal na Rede Básica de Saúde. Rev. Eletr. Enf., v. 15, n. 2, p. 516-522, abr./jun. 2013. Disponível em: <http://www.fen.ufg.br/revista/v15/n2/pdf/v15n2a26.pdf>. Acesso em: 30 nov. 2013. MORETTO, Virgínia Leismann. A capacitação participativa de pré-natalistas em uma unidade básica de saúde: um estudo de caso. 2010. 104 f. Tese (Doutorado em Enfermagem)- Escola de Enfermagem, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2010. 433 16.3) CUIDADO PRÉ-NATAL: TENDÊNCIAS DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA DA PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM NO BRASIL1 CORRÊA, Ana Cândida Lopes2; ALVES, Camila Neumaier3; BORTOLLI, Cleunir4; ASTARITA, Kélen5; MEINCKE, Sonia Maria Konzgen6; RESSEL, Lúcia Beatriz7. Eixo Temático: Eixo 2: Atenção ao Pré-natal. Descritores: Enfermagem; Cuidado Pré-Natal; Saúde da Mulher. 1. INTRODUÇÃO A atenção no pré-natal é o conjunto de ações realizadas durante o período gestacional da mulher, visando um atendimento global da sua saúde, de maneira individualizada, procurando sempre qualidade e resolubilidade desse processo. Ainda, deve promover um resgate do potencial feminino na compreensão do processo da gestação, respeitando os limites e valorizando o momento da gravidez e a sensibilização da importância da participação ativa das famílias no mesmo (BRASIL, 2001). Além disso, permite a interação entre o profissional, a gestante e sua família, facilitando a manutenção do vínculo com o serviço de saúde ao longo de 1 Trabalho apresentado na Disciplina “Construção do Conhecimento em Saúde e Enfermagem”, do Mestrado em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria, no ano de 2012. 2 Apresentadora. Mestre. Universidade Federal de Pelotas. E-mail: [email protected] 3 Autora. Mestre. Universidade Federal de Pelotas. E-mail: [email protected] 4 Coautora. Mestranda em Enfermagem. Universidade Federal de Santa Maria. E-mail: [email protected] 5 Coautora. Acadêmica de enfermagem. Universidade Federal de Santa Maria. E-mail: [email protected] 6 Orientadora. Doutora. Universidade Federal de Pelotas. E-mail: [email protected] 7 Orientadora. Doutora. Universidade Federal de Santa Maria. E-mail: [email protected] 434 sua gestação, reduzindo os riscos de intercorrências, permeando, dessa maneira, o caminho para o nascimento humanizado (LANDERDAHL et al, 2007). Neste contexto, insere-se o enfermeiro, apto a realizar consulta de enfermagem em prénatal de baixo risco, visitas domiciliares e ações educativas individuais e coletivas, onde, além de realizar o acompanhamento da saúde da gestante, também exerce promoção de saúde e estimula sua autonomia, promovendo a atenção pré-natal. Assim, a assistência de enfermagem na atenção ao pré-natal busca estabelecer a prática da comunicação e a escuta ativa com as gestantes, promovendo o intercâmbio de informações e experiências, disponibilizando informações adequadas, democratizando o saber e estimulando a busca da autonomia nas mulheres envolvidas, uma vez que, ser informada sobre sua saúde e participar das decisões referentes à sua vida, é entendido como um direito da gestante (RESSEL et al, 2008). Dessa forma, como questão norteadora deste estudo vislumbra-se “quais as tendências das produções acadêmicas de teses e dissertações da enfermagem brasileira referente a temática do cuidado pré-natal?”. 2. OBJETIVO Identificar as tendências de teses e dissertações nacionais acerca da temática sobre cuidado pré-natal da enfermagem no Brasil. 3. MÉTODO Trata de uma pesquisa bibliográfica do tipo descritiva, acerca das tendências das pesquisas sobre o cuidado de enfermagem no pré-natal. Para a obtenção das publicações, foi realizada uma busca no Banco de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), no dia 06 de novembro de 2012. Utilizaram-se as palavras-chave: “cuidado pré-natal” e “enfermagem” com a opção de busca por “todas as palavras”. Foram encontradas no total 89 teses/dissertações. Para a escolha dos trabalhos, foi realizada uma leitura 435 do título e dos resumos. Como critérios de inclusão definiu-se que seriam apresentadas as produções acadêmicas nacionais, proveniente de Programas de Pós-graduação em Enfermagem, que tratem sobre a temática cuidados à saúde da gestante no pré-natal, em forma de dissertações e teses. Como critérios de exclusão foram retirados trabalhos que não respondessem à questão norteadora, sem resumos completos e que se tratavam de pesquisas de mestrados profissionalizantes. Assim, o corpus de análise foi composto por resumos de vinte (20) estudos, desses, dezessete (17) dissertações e três (3) teses. Para a organização dos dados foi elaborado um quadro sinóptico contendo: a referência da publicação, o ano de apresentação, o PPGEnf de origem da pesquisa, o nível acadêmico, os sujeitos, cenários, objetivos e resultados identificados a partir do resumo. 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados apresentados são provenientes do cálculo da frequência relativa, mediante leitura dos resumos dos vinte estudos selecionados. Relacionado ao tipo de produção observa-se que 17 (85%) são dissertações e três (15%) são teses. Quanto ao ano de publicação, obteve-se que nos anos de 1996, 2002, 2005, 2007 e 2010 foram uma (5%) publicação por cada ano; encontrou-se duas (10%) publicações por ano em 2001, 2006 e 2008; e três (15%) publicações nos anos de 2003, 2004 e 2011. Dessas pesquisas, 19 (95%) foram apresentadas em Programas de Pós-Graduação em Enfermagem de Universidades Federais, sendo respectivamente, 6 (30%) da Universidade Federal do Ceará, 3 (15%) da Universidade Federal de Santa Catarina, 2 (10%) da Universidade de São Paulo – Campus Ribeirão Preto e 1 (5%) das Universidade Federal do Rio de Janeiro, Universidade Federal da Paraíba, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Universidade de São Paulo, Universidade de Brasília, Universidade Federal da Bahia, Universidade Federal de Goiás, Universidade Federal de Pernambuco e 1 (5%) apresentada em Programa de Pós-Graduação da Universidade Estadual do Rio 436 de Janeiro. A respeito da abordagem das pesquisas encontradas, 17 (85%) são de natureza qualitativa, 2 (10%) quantitativas e 1 (5%) quali-quantitativa. Tratando-se dos sujeitos envolvidos nos estudos 8 (40%) eram gestantes, 4 (20%) profissionais da saúde e gestantes, 3 (15%) os profissionais da saúde, 2 (10%) mães, 1 (5%) a gestante e sua família, e 2 (10%) não apresentavam os sujeitos nos resumos. Quanto ao cenário de realização dos estudos, 6 (30%) foram realizados em Estratégias de Saúde, 6 (30%) em hospitais, 4 (20%) em Centros de Saúde, 2 (10%) em Centros de Parto, 1 (5%) em domicílio e em 2 (10%) não foi possível identificar o cenário. Ao observar os assuntos tratados nos resumos, com relação ao cuidado prénatal, pode-se inferir que os estudos abrangem diversificadas perspectivas de cuidado, tanto na visão dos profissionais da saúde, entre eles o enfermeiro, quanto as próprias gestantes e mães que experenciaram os cuidados durante a fase gestacional. Dessa forma, obteve-se 4 (20%) estudos que buscavam conhecer o atendimento de pré-natal e as ações desenvolvidas; 2 (10%) que desenvolveram um plano de cuidados à gestantes, baseados na Teoria do Autocuidado de Orem, para identificar a competência para autocuidado da gestante; 3 (15%) que tratam de cuidados de enfermagem à gestante soropositiva; 2 (10%) a respeito das percepções das gestantes sobre o atendimento recebido no pré-natal; 2 (10%) que buscavam verificar a eficácia do cuidado de enfermagem conforme o Modelo de Vida de Roger, Logan e Tierney; 2 (10%) tratam sobre o uso de tecnologias não invasivas no cuidado de enfermagem à gestante; 1 (5%) buscou conhecer quais as necessidades de cuidado das gestante para o pré-natal; 1 (5%) apresenta os significados do pré-natal conferidos pelas gestantes e por profissionais da saúde que atuam nessa área; 1 (5%) trata da aplicação de terapias complementares de cuidado durante o atendimento prénatal; 1(5%) sobre as representações sociais de gestantes a respeito das consultas de enfermagem no pré-natal; e o último (5%) sobre o cuidado nutricional na consulta de enfermagem. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 437 Percebe-se uma tendência na produção dos PPGEnf brasileiros sobre a temática do cuidado pré-natal de estudos provenientes de Dissertações de Mestrado, em que a maioria localiza-se na região nordeste. Quanto aos anos de publicação, pode-se notar que a partir de 2001 apenas em 2009 não foram encontradas publicações, nos demais ao menos um estudo foi realizado nessa área. Quanto a abordagem dos estudos a tendência refere-se a pesquisas qualitativas, realizadas em hospitais e estratégias saúde da família, tendo como os principais sujeitos dos estudos gestantes e profissionais da saúde, dentre os quais encontra-se o enfermeiro. Além disso, estudos que buscam conhecer a assistência pré-natal na perspectiva de gestantes destacam-se entre os demais. Para tanto, nota-se a importância das produções de enfermagem na área do cuidado pré-natal uma vez que elas permitem o reconhecimento das necessidades de saúde das mulheres e trazem reflexões acerca de diferentes cenários de atuação. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Área Técnica da Saúde da Mulher. Parto, aborto e puerpério: assistência humanizada à mulher. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2001. LANDERDAHL, M.C et al. A percepção de mulheres sobre atenção pré-natal em uma unidade básica de saúde. Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; v.11, n.1, p. 105-11, mar 2007. RESSEL, L.B et al. Consulta de enfermagem no pré-natal: perfil epidemiológico de mulheres assistidas numa unidade básica de saúde. 2008. Projeto de pesquisa – Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2008. 438 17.3) MULHERES EM GESTAÇÃO DE ALTO RISCO1 WILHELM, Laís Antunes2; SCARTON, Juliane3; CASTIGLIONI, Críslen Malavolta 4; BARRETO, Camila Nunes5; POSSATI, Andressa6; RESSEL, Lúcia Beatriz7 Eixo Temático: Eixo 1: Atenção à Saúde da Mulher. Descritores: Enfermagem; Cuidados de Enfermagem; Saúde da Mulher; Gravidez de Alto Risco. 1. INTRODUÇÃO A gestação consiste em um fenômeno fisiológico que acontece no corpo da mulher, e na maior parte dos casos tem sua evolução sem intercorrências. Porém, uma pequena parcela das gestações constitui o grupo denominado de gestação de alto risco, em que as gestantes são portadoras de alguma doença, sofreram algum agravo ou desenvolveram problemas durante a gestação, apresentando maiores probabilidades de uma evolução desfavorável ao binômio materno-fetal (BRASIL, 2010). Compreendem uma série ampla de condições clínicas ou clínico-obstétricas que complicam a gestação, consideradas como risco potencial, requerendo assim adaptações físicas e psicológicas e atenção especializada (BARROS, 2009). Os aspectos emocionais da gravidez, do parto e do puerpério são reconhecidos, e boa parte das pesquisas convergem para a opinião de que esse período é um tempo de 1 Recorte da dissertação intitulada como “Mulheres em gestação de alto risco: sentimentos, práticas de cuidado e superação das dificuldades enfrentadas” 2 Autora. Mestre em Enfermagem. Doutoranda em Enfermagem. Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). [email protected] 3 Coautora. Enfermeira. Mestranda em Enfermagem. UFSM. [email protected] 4 Coautora. Acadêmica Enfermagem. UFSM. [email protected] 5 Coautora. Enfermeira. Mestranda em Enfermagem. UFSM. [email protected] 6 Coautora. Acadêmica Enfermagem. UFSM. [email protected] 7 Coautora. Doutora em Enfermagem. Docente. UFSM. [email protected] 439 grandes transformações psíquicas (BRASIL, 2013), sendo, na maioria das vezes, intensificadas na gestação de alto risco. De acordo com o Ministério da Saúde - MS (2013) os aspectos emocionais, tais como a ansiedade, o medo, a preocupação e a mudança nos vínculos afetivos, são facilmente percebidos na gestação. Eles devem ser abordados no espaço de interação do profissional com a gestante, principalmente para aliviar os problemas mais emergentes. 2. OBJETIVO Conhecer a vivência de mulheres que experienciaram uma gestação de alto risco. 3. METODOLOGIA Trata-se de um estudo qualitativo de caráter descritivo realizado em um Hospital Universitário do Sul do Brasil. A seleção das participantes ocorreu a partir da relação de prontuários de mulheres atendidas no ambulatório de pré-natal de alto risco. Para a definição da população do estudo, considerou-se como critério de inclusão mulheres que tivessem idade superior a 18 anos, que tivessem sido consideradas gestantes de alto risco e que o parto tivesse ocorrido no máximo há dois anos. As participantes da pesquisa foram dez mulheres, as quais foram contatas por telefone, sendo convidadas a participar do estudo e agendado encontro em seus domicílios A coleta de dados deu-se por meio de entrevista semiestruturada, a qual possui questões fechadas, relativas à caracterização do grupo em estudo, e questões abertas, norteadoras da temática em questão. A entrevista é utilizada no processo de trabalho de campo, no sentido amplo de comunicação verbal, e no sentido restrito de coleta de informações sobre determinado tema científico (MINAYO, 2010). A análise de dados foi fundamentada na análise de conteúdo temática da proposta operativa de Minayo (2010), a qual se caracteriza por dois momentos operacionas. O primeiro abrange as determinações basais do estudo, sendo delineado na fase exploratória da investigação. Já o 440 segundo momento é a fase de interpretação, estando subdividida em mais duas fases, a de ordenação dos dados e a classificação dos dados. Esta última permite ao pesquisador entender as estruturas de relevância e as ideias centrais, com a elaboração de uma síntese para construção de um relatório final (MINAYO, 2010). A pesquisa atendeu os princípios éticos propostos pela Resolução nº 196/96, e seguiu aos trâmites necessários para o andamento de pesquisa com seres humanos (BRASIL, 1996). Foi registrada pelo Comitê de Ética da universidade vinculada ao projeto, sob Certificado de Apresentação para Apreciação Ética nº 13178713.3.0000.5346. 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os fatores que as caracterizaram como gestantes de alto risco foram: diabetes mellitus, hipertensão arterial sistêmica, obesidade, número elevado de cesáreas, pielonefrite, pré-eclâmpsia, deslocamento de placenta, placenta marginal, trabalho prematuro de parto, diabetes mellitus gestacional e aborto habitual. Destaca-se que os fatores de risco de maior ocorrência foram diabetes mellitus gestacional (três mulheres) e hipertensão arterial sistêmica (cinco mulheres). Além disso, pode-se perceber sobre a multiparidade que os números de gestações que predominaram foram cinco (três mulheres) e duas (três mulheres). No que se refere a abortamento, quatro mulheres vivenciaram esta situação, sendo que uma delas também vivenciou a ocorrência de um natimorto. Em relação à última gestação que as caracterizou como gestante de alto risco, oito mulheres conseguiram ter seus bebês com saúde; uma mulher teve uma criança prematura, a qual após 20 dias do seu nascimento foi a óbito com o diagnóstico de pneumonia e choque séptico e uma mulher teve um natimorto com 37 semanas de gestação. A realização desta pesquisa permitiu conhecer os sentimentos vivenciados por mulheres que experienciaram uma gestação de alto risco, sendo relatados o medo, a ansiedade, a tristeza e a felicidade. Na atenção pré-natal a avaliação de cada gestante deve observar sua individualidade, e o preparo físico e emocionalmente sendo condição 441 de excelência nos cuidados do profissional de saúde, exigindo deste uma visão integral que considere a história de vida, os sentimentos e o contexto sociocultural delas, e valorize cada gestante como única (BRASIL, 2012). Isso implica em uma abordagem não apenas dos conteúdos clínicos e obstétricos, como também dos aspectos emocionais envolvidos no processo reprodutivo, uma vez que as alterações físicas interferem no psiquismo e as emocionais podem interferir no curso fisiológico da gravidez (BRIQUET e GUARIENTO, 2011). Também foi possível conhecer como essas mulheres superaram as dificuldades enfrentadas durante a gestação de alto risco, por meio do apoio da família; dos profissionais de saúde; da religião e da fé; e da vivência com pensamento positivo. A gestação de alto risco é um processo fisiológico caracterizado por intensas transformações, onde cada gestante lida com essas mudanças de um modo muito particular. Entretanto, essas transformações, que geram mudanças físicas e emocionais, demandam um acompanhamento contínuo por parte dos profissionais de saúde, dentre eles o enfermeiro, e envolvem, também, o apoio dos familiares (REZENDE, 2012). 5. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS Destaca-se, que quando são considerados os valores e os sentimentos dessas mulheres, o cuidado caracteriza-se como humanizado e proporciona maior qualidade. Logo, espera-se que este estudo contribua para formação de profissionais de saúde, dentre eles o enfermeiro, e que os sensibilize e instigue-os a praticarem o diálogo e a escuta ativa, buscando compreender a perspectiva de superação de cada gestante de alto risco, suas possibilidades e realizações. Ademais, estes cuidados possibilitam a construção de uma relação horizontal, de apoio e motivação para com essas mulheres, de forma que se sintam seguras para vivenciar este período crítico em sua vida. REFERÊNCIAS 442 BARROS, S. M. O. de. Enfermagem Obstétrica e Ginecológica: guia para a prática assistencial. São Paulo: Roca, 2009. 464 p. BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Resolução nº 196/96: Sobre pesquisa envolvendo seres humanos. Brasília, 1996. ______.Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Área Técnica de Saúde da Mulher. Gestação de alto risco – manual técnico. Brasília: Ministério da Saúde, 2010. ______.Ministério da Saúde. Secretaria de Política de Saúde. Departamento de Gestão de Políticas Estratégicas. Área Técnica de Saúde da Mulher. Gestação de alto risco – manual técnico. Brasília: Ministério da Saúde, 2012. _______. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Atenção ao pré-natal de baixo risco. Brasília: Editora do Ministério da Saúde; 2013. BRIQUET R, GUARIENTO A. Obstetrícia Normal. São Paulo: Manole, 2011. MINAYO, M.C.S. O desafio do conhecimento pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo, Hucitec, 2010. REZENDE, C.L.; SOUZA, J.C. The quality of life of high-risk pregnant women assisted at a center for women assistance. Psicólogo in Formação. 2012; 16 (16). 443 18.3) GESTAÇÃO DE ALTO RISCO E ENFERMAGEM: REVISÃO INTEGRATIVA1 WILHELM, Laís Antunes 2; ASTARITA, Kelen3; CREMONESE, Luiza 4; POMPEU, Kelen5; PRATES, Lisie Alende6; RESSEL, Lúcia Beatriz7 Eixo Temático: Eixo 2: Atenção ao Pré-natal. Descritores: Gravidez de alto risco; Emoções. 1. INTRODUÇÃO Sabe-se que a vivência da gestação de alto risco caracteriza-se por um processo extremamente complexo, dinâmico, subjetivo e diversificado podendo ser individual e social. É uma experiência única, na qual toda família a vivencia juntamente com a gestante. A gestação de alto risco não deve ser reduzida apenas ao aspecto biológico, ao tratamento das intercorrências, centrando-se apenas nos riscos e na sobrevivência do bebê. A visão deve ser ampliada, não esquecendo que a mulher e familiares também estão vivenciando o processo da gravidez e as crises ligadas a ele (ZAMPIERI, 2001). Devido a toda a complexidade que envolve a gestação de alto risco faz-se necessário conhecer os aspectos emocionais presentes em estudos já realizados, os quais poderão auxiliar para um planejamento integral da assistência a gestante e seus familiares, buscando minimizar sentimentos negativos, como angústias, medo, tensão, ansiedade, preocupação, entre outros. 1 Revisão integrativa Autora. Mestre em Enfermagem. Doutoranda em Enfermagem. Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). [email protected] 3 Coautora. Acadêmica Enfermagem. UFSM [email protected] 4 Coautora. Acadêmica Enfermagem. UFSM [email protected] 5 Coautora. Enfermeira. UFSM. [email protected] 6 Coautora. Enfermeira. Mestranda em Enfermagem. UFSM. [email protected] 7 Coautora. Doutora em Enfermagem. Docente. UFSM. [email protected] 2 444 2. OBJETIVO Conhecer a tendência da produção bibliográfica dos programas de pósgraduação em enfermagem acerca da gestação de alto risco e enfermagem. 3. METODOLOGIA Foi realizada uma revisão integrativa para busca de estudos que abordam os aspectos emocionais na gestação de alto risco. A revisão integrativa da literatura possibilita a síntese e a análise do conhecimento científico já produzido sobre o tema investigado; permitindo aos profissionais de saúde o acesso a resultados relevantes de pesquisas para fundamentar a prática profissional a partir de um saber crítico (URSI, GALVÃO, 2006; MENDES; SILVEIRA; GALVÃO, 2008). Para a elaboração da revisão integrativa as seguintes fases foram percorridas: identificação do tema, estabelecimento da questão de pesquisa, estabelecimento de critérios de inclusão e exclusão de artigos, amostragem ou busca na literatura, categorização dos estudos, avaliação dos estudos, interpretação dos resultados e a síntese do conhecimento evidenciado nos artigos analisados ou apresentação da revisão integrativa (URSI; GALVÃO, 2006). Para guiar a pesquisa, formulou-se a seguinte questão: Qual a influência da gestação de alto risco nos aspectos emocionais das gestantes? A seleção dos artigos foi realizada por meio de uma busca na base de dados LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde) e na BDENF (Base de Dados de Enfermagem). Dessa forma, procurou-se expandir o âmbito da pesquisa, minimizando possíveis vieses nessa etapa do processo de elaboração da revisão integrativa (URSI; GALVÃO, 2006). Os critérios de inclusão para seleção dos artigos foram: artigos publicados em português, inglês ou espanhol; com resumos disponíveis nas bases de dados; artigos publicados no período de 1984 a 2011; que abordassem sobre gravidez de alto risco, adaptações psicológicas e sentimentos; provenientes de pesquisas originais; disponíveis online de forma gratuita; na íntegra e finalizando com artigos avaliados com nível de 445 evidência seis. Optou-se por utilizar os artigos desse nível (evidências provenientes de um único estudo descritivo ou qualitativo), por acreditar-se que respondem de maneira mais próxima aos objetivos desta pesquisa e por totalizarem a maioria dos achados. A análise das evidências determina a confiança no uso de seus resultados e fortalece as conclusões que geram o estado do conhecimento atual do tema investigado. A classificação foi realizada baseada nos sete níveis apresentados na classificação de Melnyk e Fineout-Overholt (2005). Os critérios de exclusão foram artigos que não se relacionassem a temática estudada e não respondessem à pergunta de pesquisa. Definiram-se os descritores “gravidez de alto risco”, “aspectos emocionais” e “sentimento” para realizar a busca. O marco temporal de 1984 foi escolhido devido à oficialização do PAISM. Para a coleta de dados dos artigos que foram incluídos na revisão integrativa, foi utilizado o instrumento proposto e validado por Ursi (2005), que contempla os seguintes itens: identificação do artigo original, características metodológicas do estudo, avaliação do rigor metodológico, das intervenções mensuradas e dos resultados encontrados. 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO A partir da busca realizada encontrou-se um total de 1109 estudos nas duas bases de dados (827 na LILACS e 282 na BDENF), dos quais dois não eram artigos; 1099 não respondiam à temática; dois estavam indisponíveis online na íntegra e um não era nível de evidência 6. Finalizando a busca com cinco artigos para análise. Dentre os artigos incluídos na revisão integrativa, três são de autoria de enfermeiros e dois não referiam autoria. Dos artigos avaliados, quatro tem origem no Brasil e um no México. Em relação ao tipo de revista nas quais foram publicados os artigos incluídos na revisão, três foram publicados em revistas de enfermagem, um em revista de psicologia e um em revista de saúde pública. Em relação ao ano, um foi publicado no ano de 2010, dois no ano de 2009, um no ano de 2004 e um no ano de 2001. Dos artigos avaliados, quatro foram desenvolvidos em hospitais e um não foi possível identificar o local. Quanto ao tipo de delineamento de pesquisa dos artigos 446 avaliados, evidenciou-se, na amostra: três estudos qualitativos e dois estudos descritivos, todos com nível de evidência 6. Referente ao objetivo desta revisão pode-se evidenciar no que concerne à influência da gestação de alto risco nos aspectos emocionais das gestantes que elas descreveram esta experiência como um período difícil, de muito sofrimento e medo de perder o filho. A mulher fica na expectativa, aguardando o desfecho da gravidez, da hospitalização de seu filho, numa espera quase sempre angustiante, fundada em suposições, probabilidades, promessas e esperanças. Percebem a gravidade e alguns riscos aos quais estão expostas, porém muitas vezes conhecem pouco sobre a patologia e suas consequências, uma vez que são pouco informadas pelos profissionais de saúde que as acompanham. Assim, vivencia nessa fase, uma situação de constante tensão e vulnerabilidade e, embora tenda a esperar pelo que deseja, sente medo do inesperado (morrer, perder o bebê). Outros temores da maternidade se expressaram, com frequência, em sonhos e fantasias. Situações de superação de todos os problemas emergem, morbidade materna grave é representada como algo que pode terminar bem (CARVALHEIRA, 2010; AZEVEDO, 2009). Pode-se notar quanto aos sentimentos, entre outros, que as gestantes sentiram medo, ansiedade, preocupação, tristeza, depressão, apavoramento, sofrimento e abalamento. Sentimentos em relação ao bebê relataram medo que o bebê nascesse com a doença ou com algum defeito físico (SALOMON, 2004; BEZERRA, 2001). Outro aspecto que emergiu foi o de que a gravidez de alto risco não só afeta o estado emocional da mulher, mas também a de seu parceiro. Portanto, muitas das preocupações e conflitos de mulheres grávidas giram em torno da relação com seu parceiro e do papel desta nova criança em seu conjunto dinâmico (LÓPES, 2009). 5. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS Conclui-se que a gestação de alto risco somada a pouca informação recebida intensifica os sentimentos de medo, preocupação, ansiedade entre outros. Também acarreta em um período de crise emocional 447 e insegurança devido ao desconhecimento e aos problemas que possam ocorrer neste período. A gravidez de alto risco também afeta a dinâmica de relacionamento do casal, o que pode causar conflitos na mesma. Uma vez que a possível perda na gravidez pode ser tão estressante, os pais podem não conseguir superar o pesar, adaptar-se a perda ou manter sua autoestima, o que também interfere em gestações subsequentes. Frente a tudo isso é importante dar atenção aos aspectos emocionais durante a gestação, uma vez que a gravidez pode ser vivenciada sem distúrbios emocionais. Nesta direção, o profissional de saúde que atua junto às gestantes de alto risco pode promover maior humanização do pré-natal de alto risco, em especial em relação com uma abordagem que considere a dimensão emocional das gestantes durante as consultas. REFERÊNCIAS AZEVEDO, D. V de; ARAÚJO, A. C. P F. de; COSTA, Í. C. C.; JÚNIOR, A.M. Percepções e Sentimentos de Gestantes e Puérperas sobre a Pré-Eclâmpsia. Rev. salud pública. v.11, n. 3, p. 347-358, 2009. BEZERRA, M. G. A.; CARVALHO, F. A. M.; SOBREIRA, T. T. Sentimentos das gestantes diabéticas. Rev. RENE. v. 2, n. 1, p. 95-100, Fortaleza, 2001. CARVALHEIRA, A.P.P.; TONETE, V.L.P.; PARADA, C.M.G. L. Sentimentos e percepções de mulheres no ciclo gravídico puerperal que sobreviveram à morbidade materna grave. Rev. Latino – am. Enfermagem. v. 18, n. 6: 8 telas, 2010. MELNYK B.M, Fineout-Overholt E. Making the case for evidence-based practice.In: Melnyk BM, Fineout-Overholt E. Evidencebased practice in nursing & healthcare. A guide to best practice. Philadelphia: Lippincot Williams & Wilkins; p.3-24, 2005. MENDES K.D.S.; SILVEIRA R.C.C.P.; GALVÃO C.M. Revisão Integrativa: método de pesquisa para a incorporação de evidências na saúde e na enfermagem. Texto Contexto Enferm, Florianópolis, v.17, n.4, p.758-64, 2008. SALOMON, I. M. M.; SOARES, S. M. Compreendendo o impacto do diagnóstico de diabetes gestacional.Rev. Min. Enf - REME, v. 8, n. 3, p. 349-357, Minas Gerais, 2004. URSI E.S.; GALVÃO C.M. Prevenção de pele no perioperatório: revisão integrativa da literatura. Rev. Lat. Am. Enferm., v.14, n. 1, p. 124-31, 2006. 448 ZAMPIERI, M. de F. M. Vivenciando o processo educativo em enfermagem com gestantes de alto risco e seus acompanhantes. Rev. gaúcha Enferm. v. 22, n. 1, p. 140-166, Porto Alegre, 2001 449 19.3) AVALIAÇÃO DO PROGRAMA PUERICULTURA: ALEITAMENTO MATERNO E ESTADO NUTRICIONAL DOS RECÉM-NASCIDOS DA EQUIPE DE SAÚDE DE UMA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE NO MUNICÍPIO DE PELOTAS, RS 1 SILVA, Itana2; CASTRO,Taiane3; BARRETO, Camila4; Eixo Temático: Eixo 3: Atenção à Saúde do recém-nascido; Descritores: aleitamento materno; saúde da criança, estado nutricional. 1. INTRODUÇÃO A puericultuta é um grande pilar para a promoção da saúde infantil, pois engloba um conjunto de ações preventivas através das suas atividades de promoção da saúde e do bem estar, alem de possibilitar a resolução de problemas que afetam as crianças (FRANCO et al; 2007). Tem por objetivo promover o crescimento e o desenvolvimento adequado no primeiro ano de vida. De forma contínua monitora o peso, perímeto cefálico e torácico da criança, além de atividades de promoção em aleitamento materno, imunização e dieta adequada (BRASIL, 2002). O Ministério da Saúde (MS), a partir de 1984, priorizou nos serviços de atenção à saúde da criança cinco ações básicas como a promoção do aleitamento materno, imunizações, prevenção e controle das doenças respiratórias e diarréicas, além do crescimento e desenvolvimento da criança (BRASIL, 2002). Para que tais ações básicas possam contemplar os resultados esperados, preconiza-se um número mínimo de 7 consultas no primeiro ano de vida, sendo a primeira até o 15º dia de vida da criança, após no 1º mês, 4º, 6º, 9º e 12º meses de idade (BRASIL, 2012). Dentre as ações 1 Resumo expandido sobre o Programa de Puericultura da equipe de saúde de uma Unidade Básica de Saúde 2 Acadêmica de Enfermagem do 10º semestre da Faculdade de Enfermagem (FEn) da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL) – [email protected] 3 Enfermeira da Unidade Básica de Saúde Dunas – [email protected] 4 Acadêmica de Enfermagem do 7º semestre da Faculdade de Enfermagem (FEn) da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL) – [email protected] 450 citadas à cima, a promoção do aleitamento materno é considerada uma estratégia de saúde com maior custo – benefício, pois proporciona a criança sobrevivência com qualidade de vida sob a perspectiva nutricional, imunológica, metabólica, afetiva, ortodôntica, fonoaudióloga, econômica e social (SANTIAGO et al, 2013). Essa qualidade de vida será vivenciada de forma plena se a prática da amamentação for estabelecida conforme o preconizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS, 2003) e o Ministério da Saúde (MS), os quais recomendam a amamentação exclusiva para os recém-nascidos até os seis meses de vida e complementada por dois anos ou mais. O leite materno é rico em células imunologicamente ativas, anticorpos e proteínas protetoras, que irão prevenir a criança de várias infecções e a ajudará no amadurecimento do sistema imunológico. Estudos mostram que as crianças amamentadas exclusivamente com o leite materno possuem menor chanches de internação por diarreias e doenças respiratórias (CESAR et al, 1999). Em relação aos benefícios nutricionais, o leite humano é essencial para o crescimento e desenvolvimento da criança, pois possui todos os nutrientes necessários, além de ser bem digerido, se comparado com outros leites (BRASIL,2009). 2. OBJETIVO Este trabalho tem como objetivo trazer os resultados da avaliação do Programa de Puericultura através da análise das fichas de acompanhamento dos recém-nascidos até a primeira consulta, com ênfase no estado nutricional do recémnascido e a relação com o tipo de aliementação do Programa de Puericultura da equipe de saúde de uma Unidade Básica de Saúde (UBS), localizada na zona urbana do município de Pelotas, RS. 3. METODOLOGIA 451 O trabalho foi realizado pela acadêmica da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), durante o estágio curricular obrigatório, supervisionado pela enfermeira responsável da equipe de saúde. Fizeram parte da amostra 48 crianças de 0 a 12 meses, nascidas entre agosto de 2013 e agosto de 2014 e registradas no Programa de Puericultura. Os dados foram abtidos através da análise das fichas de acompanhamento e depois foram transferidos para o programa Word. Levou-se em conta o estado nutricional da criança e a sua relação com o tipo de alimentação durante até a primeira consulta. 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO De todos recém-nascidos participantes do estudo 52% eram do sexo masculino. Em relação ao tipo de parto, teve-se uma prevalência de 56% no parto do tipo cesáreo em comparação ao parto vaginal. No que se refere as informações sobre o tipo de alimentação, o Aleitamento Materno Exclusivo teve uma prevalência de 63% entre os recém-nascidos na primeira consulta. O mesmo é definido quando a criança recebe somente o leite materno, sem adição de outros líquidos, sólidos, suplementos minerais ou medicamentos (BRASIL, 2009); Já o Leite Materno Predominante o qual é definido pela oferta do leite materno mais adição de água, sucos de frutas e fluidos rituais (BRASIL, 2009), obeve-se uma pravalência de 16%; A categoria dita como “Outro” é classificada pela não oferta do leite materno, sendo oferecido à criança outro tipo de alimentação, tal categoria obteve uma prevalência de 21% entre as participantes. Em relação ao estado nutricional, 67% obteve classifcação de “ótimo” estado nutricional e 29% se encontrava abaixo do peso ideal. Nenhuma criança apresentou índice de sobrepeso. Dentre as que apresentaram baixo peso (29%), 88% não eram alimentadas com o leite materno exclusivo. Diante do exposto, constata-se que a prática do aleitamento materno exclusivo até a realização da primeira consulta está presente em mais da metade das crianças acompanhadas pelo programa, tal dado é de grande relevância para indicadores positivos de saúde da criança e da mulher na área de abrangência. Nota-se também 452 a relação do baixo peso com a adição de outros alimentos à dieta da criança antes dos seis meses de vida. Assim, a não oferta do leite materno de forma exclusiva até os seis meses não traz nenhum benefício nutricional à criança, além de promover custos finaceiros desnecessários para a família. 5. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS O estudo proporcionou a visualização do Programa de Puericultura da equipe de saúde de uma UBS a qual tem como modelo de trabalho a Estratégia de Saúde da Família, dando ênfase à prática do aleitamento materno e ao estado nutricional dos recém-nascidos durante a primira consulta. Através dos resultados, espera-se que prática do aleitamento materno exclusivo continue a predominar na área de abragência, fazendo com que os seus benefícios possam ser identificados através de resultados positivos como o ótimo estado nutricional dos recém-nascidos. Espera-se também que atividades de educação em saúde com ênfase no aconselhamento em aleitamento materno e a sua relação com o desenvolvimento da criança sejam praticadas de forma assídua desde o pré-natal, promovendo assim, a prevenção de intercorrências com a mama puerperal que por muitas vezes são a principal razão para o desmame precoce; e o entendimento por parte das mães que o leite materno é o melhor alimento a ser ofertado à criança. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde da criança: nutrição infantil: aleitamento materno e alimentação complementar. Cadernos de Atenção Básica, n. 23. Brasília, DF, 2009. Disponível em: < http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_crianca_nutricao_aleitamento_ali mentacao.pdf >. Acessado em 20 de Agosto de 2014. 453 BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde da criança: acompanhamento do crescimento e desenvolvimento infantil. Brasília, DF, 2002. Disponível em: < http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/crescimento_desenvolvimento.pdf >. Acessado em 28 de Agosto de 2014. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde da criança: acompanhamento do crescimento e desenvolvimento infantil. Cadernos de Atenção Básica, n. 33. Brasília, DF, 2012. Disponível em: < http://189.28.128.100/dab/docs/publicacoes/cadernos_ab/caderno_33.pdf> . Acessado em 03 de Setembro de 2009. CESAR, J.A., VICTORA, C.G., BARROS, F.C.; SANTOS, I.S., FLORES, J.A., Impactof breast feeding on admission for pneumonia during post – neonatal period in brazil: nested cases - control study. Brmed J, 318: 1316 – 1320, 1999. SANTIGO et al, L. B. Manual de Aleitamento Materno. Sociedade Brasileira de Pediatria. Barueri, SP: Manole, 2013. Cap. 03, pags. 31-114 454 20.3) MANEJO CLÍNICO DAS INTERCORRÊNCIAS MAMÁRIAS DURANTE O PROCESSO DE AMAMENTAÇÃO 1 SILVA, Itana2; DARTORA, Denise Dalmora 3; VIEIRA, Ana Claúdia4; Eixo Temático: Eixo 1: Atenção à Saúde da Mulher Descritores: aleitamento materno; saúde da criança. 1. INTRODUÇÃO Os benefícios que o aleitamento materno oferece são de grande relevância para a saúde da criança e da mulher, pois proporciona sobrevivência a criança com qualidade de vida sob a perspectiva nutricional, imunológica, metabólica, afetiva, econômica e social. Além de prevenir, na mãe, o câncer de mama e ovário, a involução uterina ser mais rápida e de aumentar o espaçamento entre as gestações pelo efeito contraceptivo da lactação (GIUGLIANI, 2000). No Brasil as taxas de Aleitamento materno estão em ascensão, porém continuam abaixo do preconizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde (MS) (BRASIL, 2009). Ainda que pesquisas mostrem aumento na prevalência de aleitamento materno, o desmame precoce continua a ocorrer de forma predominante. Em muitos casos, as crianças são desmamadas precocemente por mães que queriam e poderiam amamentar (SANTIAGO, 2013). Um estudo qualitativo, desenvolvido por Ramos e Almeida (2003), mostrou que um dos principais fatores para a interrupção da amamentação foi a intercorrência com a mama puerperal durante o período de lactação. Outro estudo desenvolvido por NAKANO (2003), mostrou que dentre os problemas apontados com a mama puerperal, os traumas mamilares/fissuras 1 Relato de experiência da vivência do projeto de extensão Promotores do Aleitamento Materno Acadêmica de Enfermagem do 10º semestre da Faculdade de Enfermagem (FEn) da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL) – [email protected] 3 Enfermeira pela Faculdade de Enfermagem (FEn) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). 2 455 constituíram uma grande dificuldade que acaba sendo fator para o desmame precoce. Outros fatores acabam influenciando são o ingurgitamento mamário, infecções mamárias, o bloqueio dos ductos lactíferos com presença de nódulos nas mamas e a baixa produção de leite. Muitas vezes, esses fatores estão relacionados com outras dificuldades que impedem que o esvaziamento adequado das mamas ocorra (GIUGLIANI, 2004). Assim, os profissionais de saúde exercem uma função importante no que concerne a prevenção e manejo das intercorrências vivenciadas com as mamas durante o período puerperal, pois o ato de amamentar precisa ser aprendido entre a dupla mãe e bebê. 2. OBJETIVO O presente trabalho tem como objetivo descrever o manejo clínico das dificuldades iniciais decorrentes do processo de amamentação vivenciadas pelas puérperas na maternidade. 3. METODOLOGIA O trabalho foi realizado na unidade de internação obstétrica do Hospital de Ensino da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), por meio do desenvolvimento do projeto de extensão: Promotores do Aleitamento materno com aprovação no COCEPE número 53654023, coordenado pela Prof.ª Drª Ana Claudia Vieira. As puérperas com dificuldades em amamentação são acompanhadas pelas bolsistas do projeto e acadêmicas de enfermagem participantes do mesmo. É realizado aconselhamento em amamentação com escuta terapêutica, oferecimento de ajuda para dúvidas, bem como o manejo clínico adequado para cada tipo de situação. 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 456 Para o presente estudo foram escolhidas as intercorrências mamárias mais prevalentes em um período de 20 semanas. As puérperas são provenientes de Pelotas e toda a região sul do estado, uma vez que a unidade é referência de alto risco para Pelotas e todos os 22 municípios que compõe tal região. Possui 22 leitos de alojamento conjunto e conta com o suporte da UTI neonatal a qual também é referência para o alto risco. As intercorrências mamárias mais manejadas foram a fissura/trauma mamilar e o ingurgitamento mamário, sendo este, presente em puérperas cujo seus recém nascidos estavam internados na UTI neonatal. Os traumas mamilares, também traduzidos por fissuras, são lesões nos mamilos causadas principalmente pela técnica inadequada - posicionamento e pega do recém-nascido, causando dor extrema e desconforto ao amamentar ( GIUGLIANI, 2004). As puérperas foram orientadas a utilizarem o próprio leite materno no mamilo, pois o leite forma uma camada úmida que impede a desidratação das camadas mais profundas da derme, facilitando a cicatrização (GIUGLIANI, 2004). A mesma autora afirma que essa prática ajuda também na prevenção da mastite por suas propriedades anti-infecciosas, pois as fissuras acabam sendo porta de entrada para infecções. Já o ingurgitamento mamário é caracterizado pela estase láctea justificada pelo não esvaziamento das mamas, resultando em congestão vascular e/ou linfática, gerando edema, nódulos dolorosos, vermelhidão, mama de aspecto lustroso da mama, perda dos bordos das aréolas e dificuldade de sucção pela criança (SANTIAGO et al, 2013). Nesse grupo de mães a ordenha mamária foi realizada afim de prevenir o abcesso mamário e de garantir a produção adequada de leite. No momento que antecede a ordenha foi realizada massagem prévia das mamas em movimentos circulares e após, as mesmas foram sacudidas até que o leite viscoso saisse de forma líquida, para então, realizar a ordenha. Essa técnica promoveu alívio imediato do ingurgitamento e dor reduzida em relação a ordenha realizada de maneira direta. 5. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS 457 O empoderamento das mulheres frente as dificuldades vivenciadas durante o processo de amamentação pode ser promovida através da realização de atividades de prevenção e manejo clínico das intercorrências mamárias. Assim, espera-se que o estabelecimento da lactação seja realizada de forma plena no domicílido, fazendo com que os benefícios do aleitamento materno sejam aproveitados de forma plena pela dupla, promovendo incremento com qualidade de vida materno-infantil em todos os aspectos de saúde. Ressalta-se, portanto a necessidade dos profissionais de saúde em estarem capacitados para exercer as habilidades concernentes em aconselhamento e manejo clínico da lactação. Assim, espera-se que o desenvolvimento deste trabalho possa contribuir para o conhecimento dos profissionais de saúde que atuam nessa área, além de colaborar como fonte de novas pesquisas, formação de recursos humanos em aleitamento materno e na proteção e promoção ao aleitamento. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde da criança: nutrição infantil: aleitamento materno e alimentação complementar. Cadernos de Atenção Básica, n. 23. Brasília, DF, 2009. Disponível em: < http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_crianca_nutricao_aleitamento_ali mentacao.pdf >. Acessado em 20 de Agosto de 2014. GIUGLIANI, E.R.J, Problemas comuns na lactação e seu manejo. Jornal de Pediatria. Rio de Janeiro, RJ, 2004;80 (5 Supl). Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/jped/v80n5s0/v80n5s0a06.pdf >. Acessado em 20 de Agosto de 2014. 458 GIUGLIANI, E. R. J. O aleitamento materno na prática clínica. Jornal de Pediatria. Sociedade Brasileira de Pediatria. Rio de Janeiro, 2000. Disponível em: < http://www.jped.com.br/conteudo/00-76-s238/port.pdf >. Acessado em 20 de Agosto de 2014. NAKANO, M.A.S., As vivências a amamentação para um grupo de mulheres: nos limites de ser “corpo para o filho” e de ser “corpo para si”. Caderno de Saúde Pública. Rio de Janeiro, 2003. Vol 19 (sul 02). Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-311X2003000800017&script=sci_arttext >. Acessado em: 30 de maio de 2014. RAMOS, C.V., ALMEIDA, J.A.G., Alegações maternas para o desmame precoce: um estudo qualitativo. Jornal de Pediatria. Rio de Janeiro, 2003. Vol 75, n.5. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/jped/v79n5/v79n5a04.pdf >. Acessado em 25 de maio de 2014. SANTIGO et al, L. B. Manual de Aleitamento Materno. Sociedade Brasileira de Pediatria. Barueri, SP: Manole, 2013. 459 Cap. 03, pags. 31-114 21.3) DIFICULDADES E FACILIDADES VIVENCIADAS PELO ENFERMEIRO NO TRABALHO COM AS MULHERESNA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA (2014)1 MENEZES, Francislene Lopes2; LIMA, Suzinara Beatriz Soares de3; WEILLER, Teresinha Heck4; KERBER, Nalú Pereira da Costa5; GOMES, Iris Elizabete Messa6; BORDIGNON, Juliana Silveira 7 Eixo Temático:Atenção à Saúde da Mulher. Descritores:Saúde da Mulher; Enfermagem; Trabalho; Estratégia Saúde da Família. 1. INTRODUÇÃO O Sistema Único de Saúde (SUS) foi criado em 1988 pela Constituição Brasileira, para oferecer atendimento igualitário, cuidar e promover a saúde da população. O Sistema se materializa por meio de ações de promoção, prevenção e assistência à saúde dos brasileiros. Entre as ações mais reconhecidas doSUSestão à criação do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), Políticas Nacionais de Atenção Integral à Saúdeda Mulher, de Humanização doSUSe de Saúdedo Trabalhador, além deprogramas de vacinação em crianças e idososem todo o país eda realização de transplantes pela rede pública. Em 1994, foi implantado o Programa Saúde da Família (PSF) possuindo como seus principais propósitos a família e o indivíduo, e não mais a doença, substituindo o modelo tradicional assistencialista centrado no médico. O PSF nasceu por meio de uma parceria entre 1 Trabalho é uma parte da dissertação de mestrado intitulada “O Trabalho dos Enfermeiros com Mulheres na Estratégia Saúde da Família”, vinculada institucionalmente ao Programa de Pósgraduação em Enfermagem (PPGEnf-UFSM) 2 Mestre em Enfermagem; Centro Universitário Franciscano/ UNIFRA; [email protected] 3 Doutora em Enfermagem; Universidade Federal de Santa Maria/UFSM; [email protected] 4 Doutora em Enfermagem; Universidade Federal de Santa Maria/UFSM; [email protected] 5 Doutora em Enfermagem; Universidade Federal do Rio Grande/FURG; [email protected] 6 Enfermeira; Centro Universitário Franciscano/ UNIFRA; [email protected] 7 Enfermeira; Centro Universitário Franciscano/ UNIFRA; [email protected] 460 Ministério da Saúde (MS) e Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), atualmente é denominado Estratégia de Saúde da Família (ESF) (BRASIL, 1997). O termo programa aponta para uma atividade com início, desenvolvimento e finalização. O Programa Saúde da Família é uma estratégia de reorganização da atenção primária e não prevê um tempo para finalizar esta reorganização (COSTA; TRINDADE; PEREIRA, 2010). Em meio a diversas áreas de atuação do enfermeiro, a ESF, revela um local de diversas dificuldades normalmente expressadas em nível institucional e outros níveis, mas também demonstra mais autonomia ao enfermeiro, visibilidade e valorização no seu trabalho. Os enfermeiros da ESF devem desenvolver seu processo de trabalho, na unidade de saúde e na comunidade, junto com a equipe, supervisionando e ampliando o trabalho dos agentes comunitários de saúde (ACS) e auxiliares de enfermagem, realizando ações que promovam saúde, bem como assistindo às pessoas que necessitem de assistência de enfermagem, ampliando a atenção e o cuidado às famílias (SILVA; MOTTA; ZEITONE, 2010).Os enfermeiros têm sido estimulados a participar no cuidado às mulheres no período reprodutivo, por meio das políticas e ações do MS, as quais promovem a atenção básica e a mudança no modelo assistencial visando à humanização do pré-natal, parto e nascimento no âmbito do Sistema Único de Saúde. A Atenção à Saúde da Mulher é um dos principais programas da ESF, tendo como ações o pré-natal; o planejamento familiar; prevenção do câncer de colo do útero, e prevenção de problemas odontológicos. As políticas nacionais de atenção à Saúde da Mulher foram introduzidas nas primeiras décadas do século XX, determinando às demandas relativas à gravidez e ao parto. Em 1994, o MS elaborou a Política Nacional de Atenção Integral (PAISM) a qual possui o programa de “Assistência Integral à Saúde da Mulher: bases de ação programática”. O PAISM propõe que a assistência seja prestada em todas as fases da vida, clínica ginecológica, reprodução (planejamento reprodutivo, gestação, parto e puerpério) como nos casos de doenças crônicas ou agudas. Reconhece a assistência como cuidado médico e de toda a equipe de saúde, priorizando práticas educativas, que compreendem a capacidade crítica e a autonomia das mulheres (BRASIL, 2011a). Em 2011, instituí-seo programa nacional 461 intitulado Rede Cegonha, que tem por objetivo implementar um modelo pioneiro de atenção à saúde da mulher e à criança, focando na atenção ao pré-natal, parto e puérpério; nascimento e desenvolvimento até os dois anos de vida da criança. A saúde da mulher é prioridade no contexto da gestão federal do SUS, sendo que as mulheres são a maioria da população brasileira (50,77%) e as principais usuárias do SUS, elas buscam atendimento para si própria, mas especialmente, acompanham as crianças, companheiro e outros familiares (BRASIL, 2011b). 2. OBJETIVO Identificar as facilidades e dificuldades do trabalho dos enfermeiros com mulheres nas Unidades de ESF de Santa Maria/RS. 3. METODOLOGIA Trata-se de um estudo descritivo, com abordagem qualitativa do tipo relato de pesquisa de campo, realizada durante a realização do Mestrado Acadêmico em Enfermagem. Os sujeitos da pesquisa foram doze enfermeiros que trabalham nas Unidades de ESF, entre maio e julho de 2013. Para a coleta e anaílise dos dados, utilizou-se a entrevista semiestruturada e análise temática. Após aprovação de parecer favorável do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Santa Maria, sob parecer nº 250.564, sob a CAAE 14651313.9.0000.5346. 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO Durante este estudo, várias situações de dificuldades vivenciadas pelos enfermeiros, no que diz respeito ao trabalho direcionado às mulheres, foram relatadas: falta de materiais, especialmente de materiais de expediente; problemas de estrutura física e recursos financeiros;a dificuldade de acesso tem atingido o deslocamento tanto dos usuários até ao profissional de saúde, quanto do 462 profissional de saúde até aos usuários. A falta de transporte foi lembrada pelos enfermeiros, pois a sua ausência inviabiliza a adequada realização das atividades, por exemplo, atendimentos domiciliares, que requerem a sua utilização devido à distância das casas à Unidade. Já as dificuldades dos usuários estão associadas à dificuldade geográfica de localização da Unidade, a qual fica longe de suas residências, à precariedade de horários de ônibus e à infraestrutura das estradas, que impossibilitam de acessar os serviços.A baixa assiduidadedas mulheres na realização dos exames preventivos, falta de apoio da gestão e dos gestores, horário de funcionamento da Unidade incompatível para mulheres que trabalham; os tipos de anticoncepcionais oferecidos para as mulheres; famílias nômades; atendimento a áreas desterritorializadas e sem agentes de saúde; falta de medicamento (ácido fólico); mulheres faltosas nas consultas; dificuldade das mulheres entenderem o uso do anticoncepcional; também foram lembradas como situações dificultadoras do trabalho. Na realização de ações junto às mulheres, nas Unidades de ESF, os enfermeiros referiram algumas facilidades encontradas no trabalho, tais como: à consulta de enfermagem como uma atividade que facilita a construção do vínculo. A consulta de enfermagem é uma atividade privativa do enfermeiro, a qual faz parte de uma série de atribuições do profissional que atua nas Unidades de ESF. Ela está respaldada pela atual legislação do Exercício Profissional de Enfermagem (Lei nº 7498/86) e assegurada pelo Conselho Federal de Enfermagem (Resolução nº 358/2009), que dispõem sobre a sistematização da assistência de enfermagem e a implementação do processo de enfermagem, em ambientes públicos e privados, nos quais ocorre o cuidado profissional de enfermagem (BRASIL, 1986; BRASIL, 2009).O apoio prestado pelos ACS foi lembrado pelos enfermeiros como crucial para o desenvolvimento do trabalho, devido o contato com a comunidade; e a questão de gênero foi pontuada como aspecto facilitador na formação de vínculo e na realização dos exames preventivos, pois, muitas vezes, elas buscam não só a consulta, mas um profissional com o qual possam ficar mais à vontade, para relatarem suas dificuldades, dúvidas, problemas, entre outros. 463 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Desse modo, os enfermeiros apoderam-se de uma sériede estratégias para atender à saúde da mulher, sendo elas:busca ativa, atendimento em Grupo, acompanhamento, envolvimento, parcerias com as universidades, facilitação do acesso ao serviço, reunião de equipe, deixar a porta aberta do serviço para hora que for necessário e sala de espera. Acredita-se com isso, visar à promoção e prevenção de saúde com uma oferta de assistência melhor qualificada. Tendo assim, mulheres buscando o serviço e saindo mais satisfeitas com a qualidade do trabalho e atendimentos oferecidos. REFERÊNCIAS BRASIL. Lei n. 7.498, de 25 de junho de 1986. Dispõe sobre a regulamentação do exercício da enfermagem e dá outras providências.Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 25 jun. 1986. Disponível em: < http://www.planalt o.gov.br/ccivil_03/leis/L7498.htm>. Acesso em: 16 ago. 2014. ______. Portaria GM nº 1.186, de 18 de dezembro de 1997. Aprova as Normas e Di-retrizes do Programa de Agentes Comunitários de Saúde e do Programa de Saúde da Família. Ministério da Saúde, Brasília, DF, 18 dez. 1997. Disponível em: <http://189.28.128.100/dab/docs/legislacao/portaria1886_18_12_97.pdf>. Acesso em: 10jul. 2014. ______. Resolução número 358, de 15 de outubro de 2009. Dispõe sobre a Sistematização da Assistência de Enfermagem e a implementação do Processo de Enfermagem em ambientes públicos ou privados, em que ocorre o cuidado profissional de Enfermagem, e dá outras providências. Conselho Federal de Enfermagem. Brasília,2009. Disponível em: <http://novo.portalcofen.gov.br/resoluo-cofen3582009_4384. html>. Acesso em: 18 ago. 2014. ______. Rede Cegonha dará atendimento à mulher da gravidez até o segundo ano do bebê. Blog do Planalto. 2011a. Disponível em: <http://blog.planalto.gov.br/redecegonha-dara-atendimento-a-mulher-da-gravidez-ate-o-segundo-ano-do-bebe/>. Acesso em: 28 ago. 2014. ______. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Política Nacional de Atenção Integral à Saúde 464 da Mulher: Princípios e Diretrizes. 1. ed., 2. reimpr. Brasília: Ministério da Saúde. 2011b. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional _mulher_principios_diretrizes.pdf>. Acesso em: 9 ago. 2014. COSTA, F. B. da; TRINDADE, M. A. do N.; PEREIRA, M. L. A Inserção do Biomédico no Programa de Saúde da Família. Revista Eletrônica Novo Enfoque, v. 11, n. 11, p. 27-33, 2010. Disponível em: <http://www.castelobranco.br/sistema/novoenfoq ue/files/11/artigos/04.pdf>. Acesso em: 12 jul. 2014. SILVA, V.Z; MOTTA, M.C.S.; ZEITONE; R.C.G. A prática do enfermeiro na Estratégia Saúde da Família: o caso do município de Vitória/ES. Revista Eletrônica de Enfermagem,v. 12, n.3, p.441-448, 2010. Disponivel em: <http://www.fen.ufg.br/fen _revista/v12/n3/pdf/v12n3a04.pdf>. Acesso em: 29 jul. 2014. 465 23.3) ATENÇÃO AO PRÉ- NATAL DE GESTANTES ADOLESCENTES: VIVÊNCIAS DE ACADÊMICOS DE ENFERMAGEM NO PET-SAÚDE DA FAMÍLIA (2014)1 VAZ, Jessica2; BARRETO, Camila3; JUNG, Carmen4; CASARIN, Sidnéia 5; ZILLMER, Juliana 6. Eixo Temático: Atenção ao Pré-natal. Descritores: Pré- Natal; Adolescentes; Enfermagem. 1. INTRODUÇÃO A adolescência corresponde ao período entre os 10 e 19 anos, é caracterizada por mudanças comportamentais e sexuais. A gravidez neste grupo populacional é considerada em alguns países problema de saúde pública, uma vez que pode acarretar problemas de saúde para a mãe e o recém-nascido, bem como problemas psicossociais e econômicos (YAZLLE, 2006). A baixa escolaridade, abandono escolar, repetição do modelo familiar, início precoce da atividade sexual são alguns fatores predisponentes da gravidez na adolescência (RODRIGUES, 2010). O pré-natal busca acompanhar mãe e filho em todos os contextos, retirar dúvidas e trazer conforto durante a gestação até o parto. Conforme Trevisan; Lorenzi; Araújo; et al (2002) Apesar de ser um processo fisiológico a gestação produz alterações no organismo materno que o coloca no limite patológico, sendo assim se a gestante não for acompanhada adequadamente o processo reprodutivo 1 Relato de Experiência (Relacionado ao Programa de Educação pelo Trabalho – PET Saúde da Família). 2 Aluna de Enfermagem/UFPEL, voluntária do PET Saúde da Família/[email protected]; 3 Aluna de Enfermagem/UFPEL, bolsista do PET Saúde da Família/[email protected]; 4 Enfermeira da Prefeitura Municipal de Pelotas, preceptora do PET Saúde da Família/UFPEL 5 Tutora do Pet- Saúde da Família e do Pet- Gestão /UFPel – [email protected] 6 Tutora do Pet- Saúde da Família e do Pet- Gestão UFPel, Orientadora – [email protected] 466 transforma-se em situação de risco para a mãe e o feto. Objetivo: O objetivo é relatar as experiências de acadêmicos de enfermagem ao participar da assistência ao pré-natal de adolescentes em uma Unidade Básica de Saúde (UBS de Pelotas). 2. METODOLOGIA Trata-se de um relato de experiência resultante da participação de acadêmicos do Programa de Educação pelo Trabalho para a saúde “PET – Saúde da Família da UFPel”. No projeto estão inseridos acadêmicos de diferentes cursos de graduação. O PET Saúde da Família tem como objetivo ações intersetoriais direcionadas para o fortalecimento de áreas estratégicas para o Sistema Único de Saúde (SUS), de acordo com seus princípios e necessidades, sendo regulamentado pela Portaria Interministerial n° 421, de 03 de março de 2010, disponibilizando bolsas como incentivo ao estudo e produção científica (BRASIL, 2011). Diante disto, tem-se a oportunidade de vivenciar e realizar atividades no contexto da atenção primária a saúde com vistas à formação profissional voltada para os princípios do SUS. Faz parte da experiência das acadêmicas de enfermagem desenvolver atividades relacionadas ao programa saúde da mulher, com ênfase na assistência ao pré-natal das adolescentes. A Unidade básica, onde o estágio é realizado, está localizada em uma comunidade da periferia de Pelotas, com baixo nível socioeconômico e com registros elevados de violência. Nesta comunidade, o número de gravidez na adolescência é considerado alto, comparado a outros bairros, e no ano de 2013 foram atendidas 25 gestantes, sendo que 14 eram adolescentes. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO A assistência ao pré-natal às adolescentes na UBS é realizada às tardes, previamente agendada conforme a necessidade e o andamento da gestação. A primeira consulta é agendada pelo agente comuniário de saúde que informa a equipe sobre a data escolhida pela gestante. As gestantes são atendidas pela 467 equipe de enfermagem, em que é verificado os sinais vitais, e fornecida orientações quanto à gestação. Há a oportunidade de se analisar os exames realizados, assim como a necessidade de solicitação de outros. As gestantes são ouvidas e acolhidas de acordo com suas necessidades, é o momento em que podem se expressar e manifestar seu desejos, medos e anseios. Porém, é possível observar que algumas delas se sentem envergonhadas e com muitas dúvidas, mas com o passar do tempo a confiança entre elas e a equipe é estabelecida o que permite um atendimento integral. A consulta médica acontece posteriormente, de forma individual, pois as adolescentes vão ao serviço sem acompanhantes, mesmo que a ida dos mesmos seja permitida e estimulada para que se possa ter uma interação com a família. Caso o andamento da gestação esteja dentro da normalidade é programado o retorno conforme o período de gestação que ela se encontra, variando de 7, 15 ou 30 dias. As orientações proporcionadas às adolescentes: Geralmente as atividades de educações em saúde, ocorrem de forma coletiva, com a apresentação de vídeos educativos, sobre temas variados (trabalho de parto, cuidados com o bebê, alimentação...) e outros solicitados pelas próprias gestantes; além da entrega de material informativo como folderes sobre os temas. Os assuntos mais abordados são relacionados a amamentação, como dar o banho no bebê e a posição correta para dormir. Apesar disso, de alguma maneira parece que nem todas conseguem compreender as informações que recebem, pois há a ‘’timidez’’ que parece ser uma barreira que impede de tentarmos ter maior aproximação. Informações sobre as diferentes vivências devem ser trocadas entre as mulheres e os profissionais de saúde, este intercâmbio de experiências e conhecimentos é considerada a melhor forma de promover a compreensão da gestação. Dificuldades ao realizar a assistência: Percebe-se que muitas adolescentes não aparecem ao acompanhamento, pois sentem o preconceito da família, equipe e comunidade e isto dificulta ter êxito o pré-natal. Além disso, algumas delas, não percebem a importância que o acompanhamento profissional traz a ela e ao filho. Como a adolescência é uma fase em que a pessoa passa por transformações e no senso comum, é tida como uma fase de rebeldia, algumas das orientações fornecidas, 468 parecem serem rejeitadas. Outra dificuldade encontrada é a comunicação, não impor comportamentos (“mediar às palavras”) no discurso profissional, para elas não se sentirem ameaçadas, além de não utilizar termos técnicos ou vocabulário profissional, são estratégias utilizadas para garantir a proximidade. Facilitadores na assistência: A igreja que em parceria com a unidade de saúde disponibilizou neste semestre um enxoval para as gestantes. É notável que essa pequena ajuda as deixaram felizes e motivadas, uma vez que trata-se de uma comunidade pobre. Os acadêmicos de enfermagem, nutrição, odontologia, medicina também contribuem para que todo o suporte as gestantes sejam dados e realizam todas as avaliações cabíveis. Propostas futuras: com o objetivo de qualificar a assistência as gestantes adolescentes, considerando suas singularidades, tem-se como proposta a criação de um grupo de gestantes extramuros da UBS. O grupo poderia ser o elo entre as adolescentes, e a equipe de saúde, em que poderia haver trocas de experiências e de construção de seu espaço enquanto sujeitos constituintes de um território. Acredita-se que as gestantes se sentiriam mais a vontade por que além de terem idades aproximadas, também compartilham a experiência de vivenciar a gravidez na adolescência. Outros fatores a serem levados em consideração são as atividades de educação permanente. Esta seria uma forma de conduzir a abordagem aos usuários, e mostrar à equipe a importância de saber lidar com quaisquer situações sem interferir na decisão do mesmo para com o desejo de ser mãe. A realização do pré-natal representa papel fundamental em termos de prevenção e/ou detecção precoce de patologias tanto maternas quanto fetais, desta forma reduzindo os riscos da gestante e desenvolvimento saudável do bebê (BRASIL, 2005). Sendo o número de consultas, de no mínimo, seis e sempre que possível devem ser realizadas até 28ª semana de gestação sendo mensalmente; Da 28ª a 36ª semana sendo quinzenalmente; Da 36ª até a 41ª semana sendo semanalmente (BRASIL, 2012). Garantir o bom andamento das gestações de baixo risco e também o de identificar adequada e precocemente quais as pacientes com mais chance de apresentar uma evolução desfavorável (Machado, 2012). 469 4. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS Os acadêmicos de enfermagem, enquanto participantes do PET Saúde da Família, tem um papel importante frente à UBS, pois proporcionam promoção e prevenção a saúde. É possível observar o quanto a equipe de enfermagem se mobiliza para atender a demanda de adolescentes gestantes e realizar um atendimento de qualidade, mesmo com as dificuldades. Como acadêmicas inseridas na unidade, foi possível atuar junto as gestantes adolescentes e compreender o desafio que é para as adolescentes que vêm a serem mães nesta fase da vida. Esta experiência nos trouxe vivências singulares e nos preparou de modo significativo e importante para a vida profissional. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Saúde. Atenção ao Pré Natal de Baixo Risco. Cadernos de Atenção Básica. Brasília, 2012. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cadernos_atencao_basica_32_prenatal. pdf> Acesso em: 24 Jul. 2014. BRASIL. Ministério da Saúde. Importância do Pré- Natal. Brasília, 2005. Disponível em: < http://bvsms.saude.gov.br/bvs/dicas/90prenatal.html > Acesso em: 16 Jul. 2014. BRASIL. Pet-Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2011. Disponível em: <http://portal.saude.gov.br/portal/saude/profissional/visualizar_texto.cfm?idtxt=35306 >. Acessado em: 17 Jul. de 2014. MACHADO, L.M. Saúde Materno Infantil. Centro Universitário Franciscano. Santa Maria, 2012. RODRIGUES, R.M. Gravidez na Adolescência. Revista do Hospital de Crianças Maria Pia. v. 19, n.3, s.p. 2010. TREVISAN, M.R.; LORENZI, D.R.S.; ARAUJO, N.M.; ESBER, K. Perfil da Assistência Pré- Natal entre Usuárias do Sistema Único de Saúde em Caxias do Sul. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia. v. 24, n. 5, p. 293-299, 2002. 470 YAZLLE, M.E.H.D. Gravidez na Adolescência. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia. Rio de Janeiro, v. 28, n.8, s.p. 2006. 471 24.3) A PREMATURIDADE E AS MORBIDADES GESTACIONAIS EVIDENCIADAS EM MATERNIDADES DE UM MUNICÍPIO DO SUL DO BRASIL1 MACHADO, Fernanda Ruas 2 FRANCIONI, Fabiane Ferreira3 KERBER, Nalú Pereira da Costa4 CARVALHO, Vanessa Franco de5 POHLMANN, Flávia Conceição6 Eixo Temático: Eixo 1: Atenção à Saúde da Mulher. Descritores: Enfermagem; Trabalho de Parto Prematuro; Gestação de Alto Risco. 1. INTRODUÇÃO Trabalhar com a temática da prematuridade relacionada à ocorrência de morbidades gestacionais tem sido contribuído para a enfermagem qualificar sua assistência e prevenção à saúde da mulher, através de consultas do pré-natal de alto risco. O Ministério da Saúde (MS) conceitua gravidez pré-termo aquela cuja idade gestacional encontra-se entre 22 e 37 semanas. (BRASIL, 2010). Já para Montenegro (2008) a característica mais utilizada para classificar um nascimento pré-termo é de ordem cronológica, ou seja, nascimento antes de 37 semanas de gestação, contadas à partir do primeiro dia do último período menstrual. Sabe-se da multicausalidade que desencadeiam o trabalho de parto prematuro (TPP), entre elas: raça, idade da mãe, fumo, estado civil, tipo de ocupação são propulsores para a 1 Trabalho de Conclusão de Curso apresentado. Universidade Federal do Rio Grande. 2014. Trata-se de um recorte do macro projeto, financiado pelo CNPq, intitulado “Parto Prematuro: Estudo dos Fatores Associados para Construção de Estratégias de Prevenção”. 2 Enfermeira. Autora do Trabalho. Integrante do Grupo de Pesquisa Viver Mulher da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Rio Grande. EENF/FURG. E-mail: [email protected] 3 Doutora em Enfermagem. Orientadora do Trabalho. Integrante do Grupo de Pesquisa Viver Mulher da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Rio Grande. EENF/FURG. E-mail: [email protected] 4 Doutora em Enfermagem. Coordenadora do Grupo de Pesquisa Viver Mulher da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Rio Grande. EENF/FURG. E-mail: [email protected] 5 Doutoranda do Programa de Pós Graduação em Enfermagem. PPGENF/FURG. Integrante do Grupo de Pesquisa Viver Mulher da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Rio Grande. Enfermeira da Secretaria Municipal de Saúde de Rio Grande. SMS/PMRG. E-mail: [email protected] 6 Enfermeira Mestre em Enfermagem. Integrante do Grupo de Pesquisa Viver Mulher da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Rio Grande. EENF/FURG. Enfermeira da Santa Casa de Rio Grande/RS. E-mail: [email protected] 472 ocorrência do trabalho de parto prematuro. (CORRÊA; CORRÊA, 2005). Outras causas de ordem genética, exposição a substâncias tóxicas e assistência pré-natal ausente ou tardia são citadas por Cascaes et al (2008), coadunando com o estudo anterior. Dentro desse contexto, outras prováveis causas têm sido bastante pesquisadas, principalmente aquelas de origem ginecológica e obstétrica, como é o caso do sangramento vaginal persistente durante a gestação, prematuridade anterior, infecção urinária, vaginose bacteriana, mioma uterino, cirurgia ginecológica prévia, entre outras. (BEZERRA; OLIVEIRA; LATORRE, 2006). Conforme Ramos; Cuman (2009) apud Fonseca (2013), a prematuridade pode ser classificada, conforme sua evolução clínica, em eletiva ou espontânea. Na prematuridade eletiva, a gestação é interrompida em virtude de complicações maternas (doença hipertensiva, descolamento prematuro de placenta, placenta prévia, etc.) e/ou fetais (restrição do crescimento fetal ou sofrimento fetal), em que o fator de risco é, geralmente, conhecido e corresponde a 25% dos nascimentos prematuros. A prematuridade espontânea corresponde a 75% dos casos e decorre do trabalho de parto prematuro (TPP). Nesse grupo, a etiologia é complexa e multifatorial ou desconhecida. (FONSECA, 2013). (BITTAR; ZUGAIB, 2009). 2. OBJETIVO Associar morbidades ocorridas durante o período gestacional com a ocorrência de parto prematuro. 3. METODOLOGIA Pesquisa quantitativa, do tipo descritivo simples. Os dados foram analisados através de análise de frequências absoluta e relativa. Teve aprovação do CEPAS sob o Nº 134/2013, conforme a Resolução 466/2012 do CNS. 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 473 A situação de prematuridade é similar ao que ocorre em outras regiões do Brasil, tendo a Infecção do Trato Urinário como a intercorrência mais evidenciada na gestação. As maiores intercorrências gestacionais foram as infecções do trato urinário. Silva (2009) encontrou resultados parecidos ao realizar estudos no município catarinense de Tubarão demonstrando que gestantes com infecção urinária ou pielonefrite tiveram um risco aumentado prematuridade. No que tange a estas infecções, Duarte (2008) explica que o desenvolvimento de ITU se dá por meio de transformações anatômicas e fisiológicas que ocorrem no trato urinário durante a gravidez, propiciando a colonização e a contaminação da via urinária. Já o início do trabalho de parto prematuro ocorre em consequência à resposta inflamatória, ou pela colonização do fluido amniótico por bactérias do foco infeccioso que desencadearão a mesma resposta. Salcedo et al (2010) afirmam que a prematuridade está associada à ITU na gestação, por isso se torna importante discutir o tratamento mais adequado. Segundo o Ministério da Saúde (2012), o tratamento das pacientes grávidas com ITU é iniciado antes mesmo de se obter o resultado da cultura. A segunda intercorrência refere-se ao corrimento vaginal, convergindo nossos estudos aos achados de Silva et al (2009) que trouxe a vaginose bacteriana como patologia intimamente ligada ao parto pré-termo. Diante do exposto, entendemos ser necessário uma atenção mais voltada para as gestantes, visto que a infecção gonocócica na gestação pode estar associada à maior risco de prematuridade, ruptura prematura de membrana, perdas fetais, restrição de crescimento intrauterino e febre puerperal, tal como preconiza o Ministério da Saúde (2011). A terceira intercorrência refere-se ao sangramento vaginal (SV), que converge com um estudo em Imperatriz (MA) que revelou a ocorrência de sangramento vaginal está entre as principais intercorrências clínicas ocorridas durante a gestação de mulheres em situação de prematuridade, observando-se que a maior parte das mulheres não realizaram qualquer tratamento para sangramento vaginal, mesmo sabendo que toda gestante com algum tipo de sangramento vaginal no 1º trimestre de gestação deve ser submetida a exame 474 abdominal, exame especular e toque(ALMEIDA et al, 2012). Em caso de o colo estar fechado ou houver quaisquer duvida no diagnostico, indica-se a realização de uma ultrassonografia para avaliação das condições do saco gestacional e do bebê (BRASIL, 2010). Outra intercorrência evidenciada foi a Ameaça de Parto Prematuro (APP) e a maioria das mulheres apenas mantiveram repouso como tratamento para APP. Os dados apresentados por este estudo podem apontar a falta de conhecimento destas mulheres acerca do assunto fazendo-as equivocar-se em relação ao dignóstico (ameaça de parto prematuro versus falso trabalho de parto prematuro). Para isso cabe destacar que, segundo o Ministério da Saúde (2010), o falso trabalho de parto prematuro é caracterizado por contrações uterinas rítmicas e regulares, sem modificação cervical e a terapêutica de apenas o repouso; e a ameaça de parto prematuro com sintomatologia idêntica mas com alteração cervical e a terapêutica implementada inclui medicações inibidoras do trabalho de parto, internação hospitalar e observação da evolução do quadro. Outrossim, evidenciamos consonância com o que preconiza o Ministério da Saúde (2011), no que tange a assistência ao pré-natal de alto risco. Através deste estudo, novas ações contribuem na qualificação da assistência de enfermagem. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Constatou-se que as intercorrências que mais evidentem foram as do Trato Urinário, o Corrimento Vaginal e o Sangramento Vaginal contribuindo para a prematuridade. Observou-se um de internação hospitalar em mulheres hipertensas, assim como um grande número de tratamento medicamentoso domiciliar para Infecção do Trato Urinário e Corrimento Vaginal. Por meio destes dados, foi possível refletir acerca de estratégias que a enfermagem pode implementar na atenção à gestante, contribuindo para o conhecimento, prevenção e auto cuidado durante o período pré e trans gestacional. Acreditamos que uma boa estratégia de Enfermagem que contribui na qualificação da assistência gestacional sejam os trabalhos com grupos de gestantes e a consulta de enfermagem no pré-natal, 475 atuando de forma humanizada voltada para a promoção da saúde, disseminado o conhecimento científico e interagindo com o conhecimento leigo. Esclarecer as dúvidas destas mulheres e de seus parceiros, é também uma forma inteligente de orientar e incentivar a prevenção de intercorrências. Acreditamos que este trabalho coadune com estudos já realizados acerca da temática e possa ser propulsor no desenvolvimento de novas pesquisas, reforçando os conhecimentos de qualificação da assistência de enfermagem à saúde da mulher, propondo um olhar ainda mais humanizado. Este trabalho propõe um olhar diferenciado para as mulheres em situação de prematuridade. REFERÊNCIAS ALMEIDA, A.C. et al. Fatores de risco maternos para prematuridade em uma maternidade pública em Imperatriz-MA. Rev. Gaúcha Enferm. v. 33, n. 2. Porto Alegre. Jun/2012Duarte (2008) BRASIL. Ministério da Saúde. Manual Prático para Implementação da Rede Cegonha. Brasília, 2011. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher: Princípios e Diretrizes. MS, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. 1. ed., Brasília: Editora do Ministério da Saúde. 82 p., 2011. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Gestação de alto risco: manual técnico. Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. – 5. ed. – Brasília : Editora do Ministério da Saúde. 302 p., 2010. – (Série A. Normas e Manuais Técnicos). BRASIL. Departamento de Informações do SUS – DATASUS. Cobertura pré-natal. 2009. Disponível em < http://tabnet.datasus.gov.br/tabdata/cadernos/cadernosmap.htm>. Acesso em 28/01/2014. BITTAR, R.E.; ZUGAIB, M. Indicadores de risco para o parto prematuro. Rev. Bras. Ginecol. Obstet. v.31 n.4, pág. 203-209. Rio de Janeiro. Abr./2009. 476 CASCAES, A.M.et al. Prematuridade e fatores associados no Estado de Santa Catarina, Brasil, no ano de 2005: análise dos dados do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos. Cad. Saúde Pública; v. 24, n. 5, pág. 1024-1032, 2008 CORRÊA; CORRÊA, 2005). CORRÊA, M.D.; CORRÊA, Jr M.D. Parto pretermo. In: Rezende J. Obstetrícia. 10 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. pág. 929-944, 2005. FONSECA, E.S.V.B. Manual de perinatologia. São Paulo : Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, 2013. pág. 118. MONTENEGRO, R.F. Obstetrícia fundamental. 11ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2008. RAMOS, H.A.C.; CUMAN, R.K.N. Prematuridade e fatores de risco. Esc Anna Nery. Rev Enferm, v. 13, n. 2, pág. 297-304, 2009. SALCEDO, M.M.B.P., et al. Infecção urinária na gestação. RBM. v. 67, n. 8, pág. 270-273. Ago./2010. SILVA, J.C. et al. Relação entre vaginose bacteriana e prematuridade. FEMINA, v. 38, n. 2, Fev. 2010. SILVA, L.A. et al. Fatores de risco associados ao parto pré-termo em hospital de referência de Santa Catarina. Revista AMRIGS. v. 53, n. 4, pág. 354-360. Porto Alegre. Dez./2009. 477 25.3) TENDÊNCIAS DA PRODUÇÃO NACIONAL DA PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM ACERCA DO CLIMATÉRIO 1 POSSATI, Andrêssa Batista2; BISOGNIN, Priscila3; PRATES, Lisie Alende4; POMPEU, Kelen da Costa5; SCARTON, Juliane6; RESSEL, Lúcia Beatriz7 Eixo Temático: 1 - Atenção à Saúde da Mulher. Descritores: Climatério; Menopausa; Saúde da mulher; Cuidados de enfermagem 1. INTRODUÇÃO A longevidade é uma realidade mundial e tem apresentado como uma de suas características o quantitativo superior de mulheres em comparação ao número de homens. Dados do Departamento de Informática do SUS demonstram que a população feminina brasileira compreende mais de 98 milhões. Destas, aproximadamente 30 milhões se encontram na faixa etária em que ocorre o climatério (IBGE, 2004), o qual compreende o período que a mulher vivencia entre os seus 40 e 65 anos de idade (BRASIL, 2008), e é representado como uma 1 Pesquisa desenvolvida na disciplina de “Construção do Conhecimento em Saúde e Enfermagem” no Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (PPGEnf) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). 2 Acadêmica do curso de Enfermagem da UFSM. Bolsista do Programa de Educação Tutorial – PET Enfermagem – UFSM. Membro do Grupo de Pesquisa Cuidado, Saúde e Enfermagem. E-mail: [email protected] 3 Arte-Educadora. Enfermeira. Mestranda do PPGEnf da UFSM. Bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Membro do Grupo de Pesquisa Cuidado, Saúde e Enfermagem da UFSM. E-mail: [email protected] 4 Enfermeira. Mestranda do PPGEnf da UFSM. Bolsista CAPES. Membro do Grupo de Pesquisa Cuidado, Saúde e Enfermagem da UFSM. E-mail: [email protected] 5 Enfermeira. Doula. Membro do Grupo de Pesquisa Cuidado, Saúde e Enfermagem da UFSM. E-mail: [email protected] 6 Enfermeira. Mestranda do PPGEnf da UFSM. Bolsista CAPES. Membro do Grupo de Pesquisa Cuidado, Saúde e Enfermagem da UFSM. E-mail: [email protected] 7 Orientadora. Docente do curso de graduação em Enfermagem e do PPGEnf da UFSM. Líder do Grupo de Pesquisa Cuidado, Saúde e Enfermagem da UFSM. E-mail: [email protected] 478 experiência existencial no âmbito das relações sociais, vida conjugal, profissional e espiritual (ZANOTELLI, 2012). Neste período, também está presente a menopausa, a qual é caracterizada como a última menstruação (BRASIL, 2008). Durante essa fase, ocorrem muitas modificações e estas resultam tanto da deficiência hormonal, como dos fatores socioculturais e psicológicos decorrentes do processo de envelhecimento feminino (LEITE, et al 2012). Nesse contexto, apesar de o climatério ser uma fase fisiológica da vida da mulher, o mesmo vem sendo compreendido como um problema de saúde pública, que como tal necessita ser estudado, principalmente, pelas pesquisas biomédicas e farmacêuticas, as quais enfatizam a Síndrome Climatérica (ARAÚJO, et al 2013). Contudo, ressalta-se a necessidade de compreender o climatério em uma dimensão ampliada e enquanto estado natural do ciclo vital feminino. 2. OBJETIVO Conhecer a tendência da produção nacional da pós-graduação em enfermagem acerca do climatério. 3. METODOLOGIA Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, realizada no mês de maio de 2014, no banco de teses e dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e nos catálogos da Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn). A questão que norteou o estudo foi: quais as tendências da produção científica dos programas de Pós-Graduação em Enfermagem acerca do climatério? No portal da CAPES, elencaram-se duas estratégias de busca, a primeira estratégia consistia em utilizar a palavra “climatério” na opção de busca “resumo” e a palavra “enfermagem” na opção “área do conhecimento”. Já a segunda, envolveu a utilização da palavra “menopausa” na opção de busca “resumo” e a palavra “enfermagem” na opção “área do conhecimento”. Foram excluídos os resumos 479 repetidos e aqueles que não respondiam a questão de pesquisa. Ao reunir as buscas realizadas no portal da CAPES e nos catálogos da ABEn, foram selecionadas 26 publicações, das quais 23 eram dissertações e três eram teses. Os dados quantitativos foram submetidos à análise estatística de frequência absoluta e frequência relativa e os dados qualitativos à análise temática (MINAYO, 2013). Para organizar os dados, foi elaborado um roteiro sistematizado contendo: título, ano, instituição de origem, objetivo e principais resultados. 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO Prevaleceram os anos de 2012 e 2011, as regiões sudeste e nordeste e estudos qualitativos. Como sujeitos dos estudos predominaram as mulheres e como cenários identificou-se Estratégias de Saúde da Família, academias, Centro de Atenção Psicossocial, ambulatórios de ginecologia, clínica privada e Hospital Universitário. Identificaram-se quatro categorias: 1-Climatério/menopausa: manifestações sintomáticas. Embora, no Brasil, haja uma tendência pelas sociedades científicas em considerar o climatério como uma endocrinopatia, a Organização Mundial da Saúde define-o como uma fase biológica da vida da mulher e não como um processo patológico (BRASIL, 2008). Dessa forma, a depleção hormonal está inserida em um processo fisiológico, que possui uma gama de sintomas e sinais, que necessitam de adaptação. Em estudo (PITOMBEIRA, et al 2011), foram destacados sintomas, como fogachos, sudorese, palpitação, tontura, ansiedade, irritabilidade, cefaléia, depressão e insônia, os quais geram impactos na vida da mulher. As queixas são relatadas pelas mulheres como desagradáveis em função da intensidade como ocorrem e também por interferirem no seu cotidiano. Nesse sentido, é imprescindível conhecer a sintomatologia manifestada no período do climatério, a evolução dos diversos sintomas, as mudanças na rotina e o surgimento de outros transtornos, de modo que o profissional de saúde, especialmente o enfermeiro, possa oferecer um cuidado de qualidade à mulher, auxiliando-a no enfrentamento das adversidades que surgem neste período. 2- 480 Políticas públicas de atenção às mulheres no climatério e a atuação do enfermeiro. No contexto histórico de implantação das políticas públicas de atenção à saúde da mulher, percebe-se que sempre foi dada ênfase na área materno-infantil. Nesse sentido, autores (LOPES, et al 2013), salientam que a atenção à saúde da mulher somente é prioridade nas políticas públicas de saúde, quando esta se encontra na fase reprodutiva, perdendo essa atenção ao entrar no climatério. Entretanto, da mesma forma como em outras fases, no climatério a mulher também deve ser assistida em sua integralidade, de modo que ao acessar o serviço de saúde, a mesma possa receber orientações e/ou ações de promoção, prevenção e recuperação, de acordo com as suas necessidades. Nesse sentido, o enfermeiro, principalmente por se ocupar das ações de educação em saúde, deve construir um cuidado diferenciado, estimulando o autocuidado e considerando os conhecimentos obtidos não somente no meio social, mas também àqueles imbricados com outras fontes de saber (BELTRAMINI, et al 2010). 3-Influências socioculturais na vivência do climatério. Sabe-se que o climatério é um evento fisiológico, que envolve mudanças físicas e emocionais, mas que também abrange um período, no qual a vivência e a percepção da mulher sofrem a influência de múltiplos fatores, tais como a história de vida pessoal e familiar, o ambiente, a cultura, os costumes, as particularidades pessoais, o psiquismo, dentre outros (BELTRAMINI, et al 2010). Logo, ao acolher a mulher climatérica deve-se levar em consideração o contexto sociocultural, no qual a mesma está inserida, e os diversos aspectos que influenciam a sua forma de vivenciar esse período. É importante assegurar que o climatério seja encarado como um processo natural e não como doença. 4-Climatério: corpo e sexualidade. Reconhece-se que as principais fases ou momentos da vida da mulher, como a adolescência, a menarca, a gestação e o climatério, tendo como evento a menopausa, refletem no corpo da mulher. No que se refere ao climatério, pode-se observar transformações no seu corpo, com sintomas diversos, estranhos, incompreensíveis e, muitas vezes, difíceis de serem verbalizados, destacando-se as ondas de calor, suores “frios”, insônia, tristeza, instabilidade emocional, modificações nos hábitos sexuais, na pele e na distribuição da gordura corporal (BRASIL, 2008). 481 Nesse ínterim, a vivência sexual e a sexualidade são aspectos que repercutem no cotidiano destas mulheres, de modo que algumas destas expressam preocupação e desgosto com a falta de desejo sexual, referindo que esta mudança na vivência da sexualidade repercute na relação com o parceiro e consigo mesmas (ZANOTELLI, 2012).Corroborando com isso, ARAÚJO, et al 2013, referem que a vida sexual, nesta fase, assim como em todas as outras, precisa ser entendida, em um contexto amplo, que considere a vivência, o contexto histórico, social, econômico e cultural. Além disso, é preciso reconhecer que as transformações corporais previstas nessa fase podem causar impacto na autoimagem e na vida da mulher, podendo desencadear em sofrimento psíquico que repercutirá na vivência da sexualidade. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Este estudo possibilitou visualizar que há uma ênfase em relação à sintomatologia e suas repercussões na vida da mulher. Em contraponto, há poucas publicações voltadas para as práticas de cuidado que as mulheres realizam e as ações do enfermeiro na atenção à saúde destas. Nesse sentido, vislumbra-se que as mulheres climatéricas precisam ser acolhidas nos serviços de saúde, para que possam receber informações sobre esta fase, mas também para compartilhar conhecimentos e construir saberes a partir das trocas com outras mulheres e com os próprios profissionais de saúde. REFERÊNCIAS ARAÚJO, I.A. et al. Representações sociais da vida sexual de mulheres no climatério atendidas em serviços públicos de saúde. Texto & Contexto Enfermagem, v. 22, n. 1, p. 114-22, 2013. BRASIL. Ministério da Saúde. Manual da Assistência ao Climatério. Brasília: MS; 2008. 482 BELTRAMINI, A.C.S. et al. Atuação do enfermeiro diante da importância da assistência à saúde da mulher no climatério. Revista Mineira de Enfermagem, v. 14, n. 2, p. 166-174, 2010. IBGE-Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Tábua de vida: tábua completa de mortalidade – sexo feminino [online]. Brasília: IBGE; 2004 [acesso 2014 Maio 30]. Disponível emhttp://www.ibge.gov.br/ibge/estatistica/populacao/tabuadevida/ LEITE, E.S. et al. perspectivas de mulheres sobre o climatério: conceitos e impactos sobre a saúde na atenção básica. Revista de Pesquisa: Cuidado é Fundamental Online, v. 4, n. 4, p. 2942-52, 2012. LOPES, M.E.L. et al. Assistência à mulher no climatério: discurso de enfermeiras. Revista de Enfermagem UFPE online, v. 7, n. 3, p. 665-71, 2013. MINAYO, M.C.S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo: Hucitec, 2013. PITOMBEIRA, R. et al. Sintomatologia e modificações no cotidiano das mulheres no período do climatério. Cogitare Enfermagem, v. 16, n. 3, p. 517-23, 2011. ZANOTELLI, S.S. et al. Vivências de mulheres acerca do climatério em uma unidade de saúde da família. Revista de Pesquisa: Cuidado é Fundamental Online, v. 4, n. 1, p. 2800-11, 2012. 483 26.3) A HUMANIZAÇÃO DO PARTO SOB A ÓTICA DE ENFERMEIRAS1 POSSATI, Andrêssa Batista2; PRATES, Lisie Alende3; BORTOLI, Cleunir de Fátima Candido de4; POMPEU, Kelen da Costa 5; Wilhelm, Laís Antunes6; RESSEL, Lúcia Beatriz7 Eixo Temático: 4 - Atenção ao Parto Descritores: Parto; Parto humanizado; Enfermagem 1. INTRODUÇÃO Ao longo dos tempos, o cuidado à mulher durante o processo de parturição sofreu inúmeras modificações (SEIBERT et al, 2005). Inicialmente, o partejar era considerado uma atividade exclusivamente feminina, realizado pelas parteiras que, além de cuidar das mulheres, também cuidavam dos recém-nascidos (PROGIANTI; BARREIRA, 2001). Com o desenvolvimento da medicina como instituição social representativa de poder sobre a saúde das pessoas, as parteiras passaram a ser submetidas a determinadas exigências, entre elas, capacitações para se tornarem profissionais corporativas. Com isso, aos poucos, a figura masculina começou a 1 Projeto de Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação em Enfermagem - UFSM Acadêmica de enfermagem. Bolsista do Programa de Educação Tutorial – PET Enfermagem – UFSM. Membro do Grupo de Pesquisa Cuidado, Saúde e Enfermagem. E-mail: [email protected] 3 Enfermeira. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (PPGEnf) da Universidade Federal de Santa Maria. Bolsista CAPES. Membro do Grupo de Pesquisa Cuidado, Saúde e Enfermagem da UFSM. E-mail: [email protected] 4 Enfermeira. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (PPGEnf) da Universidade Federal de Santa Maria. Membro do Grupo de Pesquisa Cuidado, Saúde e Enfermagem da UFSM. Email: [email protected] 5 Enfermeira. Doula. Membro do Grupo de Pesquisa Cuidado, Saúde e Enfermagem da UFSM. E-mail: [email protected] 6 Enfermeira. Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Enfermagem da UFSM. Membro do Grupo de Pesquisa Cuidado, Saúde e Enfermagem da UFSM. E-mail: [email protected] 7 Orientadora. Docente do curso de graduação em Enfermagem e do PPGEnf da UFSM. Líder do Grupo de Pesquisa Cuidado, Saúde e Enfermagem da UFSM. E-mail: [email protected] 2 484 surgir no cenário de parturição, com a inserção de parteiros-sacerdotes, que auxiliavam as parteiras em partos mais difíceis (CARNEIRO, 2003). Nessa perspectiva, o parto doméstico foi sendo substituído pelo parto hospitalar, o qual envolvia a adoção de novos cuidados e rotinas na vida da mulher. Desse modo, passou-se a incentivar o uso de medicamentos, a realização de consultas com médicos obstetras e pediatras, e a institucionalização do cuidado, priorizando-se a realização de partos hospitalares (SEIBERT et al, 2005). Verifica-se que tais mudanças no cenário do processo de parturição culminaram com a medicalização excessiva do corpo feminino por meio do uso abusivo de procedimentos invasivos e a despersonificação da mulher durante o cuidado prestado (SEIBERT et al, 2005). Ademais, percebe-se a supremacia dos profissionais de saúde frente às decisões sobre a vida da mulher/bebê/família, influenciando em todas as etapas do processo de parturição e, até mesmo, no comportamento dos sujeitos envolvidos nesse processo (GAÍVA; TAVARES, 2002). Diante disso, a Organização Mundial de Saúde, o Ministério da Saúde e outros órgãos não governamentais, têm proposto mudanças no cuidado prestado durante o partejar, incluindo o resgate ao parto natural, com estímulo à atuação de uma equipe ética e tecnicamente qualificada e, se possível, especializada no cuidado à gestação e ao parto. Nessa direção, a humanização do cuidado à saúde tem ocupado um lugar de destaque nas atuais propostas de reconstrução das práticas de saúde no Brasil, objetivando alcançar maior integralidade, efetividade, acesso e qualidade nos serviços de saúde (GOULART; CHIARI, 2010). Nesse contexto, entre os profissionais envolvidos diretamente no processo de parturição, tem-se o enfermeiro, o qual, ao longo dos anos, tem enfrentado desafios para garantir a humanização do cuidado preconizada nas políticas públicas e programas de saúde. Conforme Rodrigues, Fernandes e Pereira (2006) o papel do enfermeiro, nesta perspectiva, consiste na prestação de cuidados necessários à saúde da mulher e da criança; realizando orientações de educação em saúde, dialogando sobre o parto, puerpério e puericultura e, assim, tornando o processo de parto mais tranquilo, menos duvidoso e promovendo um ambiente saudável para a mulher conforme sua condição de gestante para a nova condição 485 de puérpera. Contudo, ao longo dos anos, o enfermeiro tem enfrentado desafios para garantir a humanização, preconizada nas políticas públicas e programas de saúde, em seu cotidiano profissional. Portanto, conhecer a percepção de enfermeiras sobre as facilidades e dificuldades encontradas para garantir a humanização do parto é fundamental para assegurarmos um cuidado integral, com qualidade e respeito à mulher e sua família. Com base nessas considerações, a questão que norteará essa pesquisa será: “Quais as facilidades e as dificuldades encontradas pela enfermeira para garantir a humanização do parto?”, a qual direcionou ao objetivo que é conhecer as facilidades e as dificuldades encontradas por enfermeiras de um centro obstétrico para garantir a humanização do parto. 2. OBJETIVO Conhecer as facilidades e as dificuldades encontradas por enfermeiras de um centro obstétrico para garantir a humanização do parto. 3. METODOLOGIA Prevê-se a realização de um estudo de campo, do tipo exploratório-descritivo, com abordagem qualitativa. O estudo de campo consiste na focalização deum grupo, por meio de entrevistas com indivíduos informantes para captar suas explicações e interpretações do que ocorre no grupo (GIL, 2009). Quanto ao estudo descritivo, este permite conhecer as distintas relações que ocorrem na vida social, política, econômica e nos diferentes aspectos do comportamento humano, tanto isoladamente quanto em grupos e comunidades complexas (CERVO; BERVIAN; SILVA, 2007). A abordagem qualitativa foi escolhida como sendo a mais adequada para este estudo, pois dará mais sustentação ao estudo, já que considera o significado das ações, motivações, aspirações, crenças, valores, atitudes e relações humanas. Na pesquisa qualitativa, a ênfase está em compreender e analisar a dinâmica das relações sociais estabelecidas com a vivência e experiência no 486 cotidiano, compreendidas dentro de estruturas e instituições (MINAYO, 2010). Quanto ao cenário do estudo, o campo para a realização da pesquisa será o Centro Obstétrico (CO) de um hospital de ensino do sul do país. As participantes do estudo serão enfermeiras que atuam diretamente no atendimento às mulheres durante o trabalho de parto e parto. Os critérios de inclusão serão: profissionais que possuam curso de graduação em Enfermagem e que atuam no cenário de estudo. Como critérios de exclusão têm-se profissionais que estejam afastadas por licença médica, licença maternidade ou de férias no período da realização da coleta de dados. Como instrumento para a coleta dos dados, será utilizada uma entrevista semiestruturada (MINAYO, 2010). Os dados serão analisados por meio da proposta operativa (MINAYO, 2010). Serão respeitados os dispositivos legais da Resolução do Conselho Nacional de Saúde de nº 466/2012 (BRASIL, 2012). Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa, em 15 de julho de 2014, sob o número do CAAE 32803114.3.0000.5346. 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO Espera-se que este estudo possa promover a discussão e a reflexão sobre as facilidades e as dificuldades encontradas por enfermeiras atuantes em um centro obstétrico para garantir a humanização do parto e, com isso, oferecer subsídios para a qualificação da assistência prestada no processo parturitivo. Ademais, busca-se contribuir na construção de conhecimento na área da Enfermagem e nas demais profissões que assistem aos processos de trabalho de parto e parto, possibilitando a compreensão dos pressupostos preconizados pela humanização do parto e sua aplicação na prática. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Considera-se que este estudo permitirá o conhecimento acerca dos desafios enfrentados pelas enfermeiras para garantir a humanização, preconizada nas 487 políticas públicas e programas de saúde, em seu cotidiano profissional. Sendo que tal conhecimento é fundamental para assegurarmos um cuidado integral, com qualidade e respeito à mulher e sua família. REFERÊNCIAS CARNEIRO, M.N.F. Ajudar a nascer. Parteiras, Saberes obstétricos e modelos de formação (século XV – 1975) [tese]. Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação. Universidade do Porto. Porto, 2003. CERVO, A. L.; BERVIAN, P. A.; SILVA, R. Metodologia científica. São Paulo: Pearson Pratice Hall, 2007. GAÍVA, M.A.M; TAVARES, C.M.A. O nascimento: um ato de violência ao recémnascido? Revista gaúcha de enfermagem. 2002; 23(1): 132-45. GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2009. GOULART, B.M.G; CHIARI, B.M. Humanização das práticas do profissional de saúde - contribuições para reflexão. Ciência e saúde coletiva. 2010; 15(1): 255-68. MINAYO, M.C.S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 12. ed. São Paulo: Hucitec/ABRASCO; 2010. PROGIANTI, J.M.; BARREIRA, I.A. A obstetrícia, do saber feminino à medicalização: da época medieval ao século XX. Revista de enfermagem UERJ. 2001; 9(1): 91-7. RODRIGUES, D.P.; FERNANDES, A.F.C.; SILVA, R. M.; PEREIRA, M.S. O domicílio como espaço educativo para o autocuidado de puérperas: binômio mãefilho. Texto & contexto - Enfermagem. 2006; 15(2):277-86. SEIBERT, S.L; BARBOSA, J.L.S.; Santos, J.M.; Vargens, O.M.C. Medicalização X Humanização: o cuidado ao parto na história. Revista de enfermagem UERJ. 2005; 13(2): 245-51. 488 27.3) A PRÁTICA DO ACONSELHAMENTO EM AMAMENTAÇÃO EM UM GRUPO OPERATIVO DE GESTANTES 1 GOMES, Joseila Sonego2; DREHER, Daniela Zeni3; WIELENS, Tamires Nowaczyk4; STUMM, Eniva Miladi Fernandes5; BENETTI, Eliane Raquel Rieth6; CAMPOS, Iris Fátima Alves 7 Eixo Temático: Eixo 2: Atenção ao Pré-natal. Descritores: Pessoal de saúde. Aleitamento materno. Aconselhamento 1. INTRODUÇÃO Na década de 1970, os grupos denominados operativos ganharam a atenção dos profissionais de saúde pelo seu grande potencial de aplicabilidade e pela sistematização que traziam para o processo grupal (FERNANDES, 2006). Grupo é o contexto em que se pode reconstruir e criar significados, vivenciar e resignificar questões pela troca de informações, do insight, da identificação e outros processos, 1 Estudo realizado a partir de vivências no projeto de extensão universitária Grupo Operativo de Suporte a Gestantes e Familiares 2 Enfermeira. Mestre em Enfermagem pela EERP (USP). Docente da Universidade. Docente da Universidade Regional do Noroeste do estado do Rio Grande do Sul (UNIJUI). Email: [email protected] 3 Fisioterapeuta. Professora Adjunta do Curso de Fisioterapia da Universidade Regional do Noroeste de Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ). Mestre em Engenharia de Produção pela UFSM. E-mail: [email protected] 4 Acadêmica do nono semestre do Curso de Enfermagem da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ). Email: [email protected] 5 Enfermeira. Doutora em Ciências pela UNIFESP. Docente do curso de Enfermagem da Universidade Regional do Noroeste do estado do Rio Grande do Sul (UNIJUI). Email: [email protected] 6 Enfermeira. Mestre em enfermagem pela Universidade Federal de Santa Maria – UFSM. Docente da UNIJUI e enfermeira do HUSM. Email: [email protected] 7 Psicóloga. Docente assistente do Departamento de Humanidades e Educação da UNIJUI. Mestre em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). E-mail: [email protected] 489 funciona como um campo de referência cognitiva e afetiva, e o sujeito se integra e se reconhece, podendo tanto bloquear quanto estimular processos criativos e críticos (AFONSO; SILVA; ABADE, 2009). A partir desses pressupostos a metodologia de grupos operativos pode trazer inúmeros benefícios às gestantes, e configura-se em estratégia de trabalho com este público. Assim, operacionaliza-se o grupo operativo de suporte a gestantes e familiares da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul - UNIJUI. Dentre as temáticas tratadas no grupo está a amamentação que é abordada de forma singular para cada grupo a depender das especificidades do mesmo. Aconselhamento é uma forma de atuação do profissional com a mulher em que ele a escuta, procura compreendê-la e, com seus conhecimentos, oferece ajuda para propiciar que a mãe planeje, tome decisões e se fortaleça para lidar com pressões, aumentando sua autoconfiança e autoestima. O contato pessoal e o apoio contribuem para o sucesso do aleitamento materno. Profissionais da saúde, amigos, familiares e outras mulheres devem fazer parte dessa rede de apoio ao aleitamento natural (KING, 2001). Objetivo: descrever e discutir as técnicas de aconselhamento em amamentação empregadas em grupo operativo de suporte a gestantes e familiares. 2. METODOLOGIA O projeto Grupo operativo de suporte a gestantes e familiares configura-se em uma proposta interdisciplinar. Trabalha sistematicamente com gestantes, puérperas e seus familiares. É coordenado e implementado por professores e estudantes dos cursos de Enfermagem, Nutrição, Fisioterapia e Psicologia. Trabalha de forma a oferecer suporte as gestantes e promover sua autoconfiança preparando-as para a tomada de decisões. A base teórica do grupo de gestantes e familiares é fundamentada na atividade de grupo operativo que se caracteriza por ser um espaço onde se desenvolvem atitudes e comunicam-se conhecimentos, é interdisciplinar, cumulativa, interdepartamental e de ensino orientado, baseia-se na pré-experiência de cada indivíduo do grupo, constituindo-se numa estratégia para 490 assistir as pessoas (PICHON-RIVIÈRE, 2000). A atividade tem ação pela conexão de dois grupos diferentes: o grupo coordenador (G1) e o grupo com as gestantes e seus familiares (G2). O G1 composto por professores e acadêmicos, reúne-se visando organizar a logística para receber as gestantes e familiares, preocupa-se em escutar o resultando grupal procedente em cada encontro realizado com o G2, para intervir propriamente. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO O objetivo central dos encontros com o G2 é trabalhar operativamente com as gestantes e seus familiares. A amamentação, juntamente com as demandas manifestadas ou subentendidas de cada participante e do grupo como um todo são escutadas e devolvidas ao grupo. A intercessão juntamente ao G2 não tem por objetivo ensinar a ser mãe ser pai, ou ensinar o jeito certo de amamentar, mas sim que as pessoas trabalhem com as informações recebidas e percebam quais recursos possuem. Nessa visão a informação passa a ser fator que contribui para que o trabalho do grupo operativo tenha caráter terapêutico, de aprendizagem, para seus participantes. Para desenvolver o trabalho, a cada encontro realizado com o G2, a equipe de professores e estudantes (G1) lança mão de uma temática a partir de um disparador. Esse disparador é, na maioria das vezes, apresentado com jogos que tem a finalidade de permitir que circulem no grupo as questões geradoras de dúvidas para as famílias. Desta forma a atividade de extensão que busca no referencial pichoniano a metodologia empregada em um grupo, também faz uso das técnicas de aconselhamento, as mesmas são adaptadas para um grupo. É pertinente compreender as técnicas descritas por Giugliani (2000) quanto ao aconselhamento, o mesmo refere que é fundamental realizar a comunicação não verbal, mostrando interesse (balançando a cabeça em sinal afirmativo, sorrindo, dedicando tempo para ouvir), oferecer liberdade de expressão, demonstrar compreensão e não utilizar palavras que soem como julgamentos (certo, errado, bem e mal), aceitar sentimentos e opiniões, sem necessariamente concordar ou 491 discordar, reconhecer e elogiar as atitudes corretas, de modo a aumentar a confiança, encorajar práticas saudáveis, fornecer informações necessárias com uma linguagem simples, sem impor ordens. Na comunicação não verbal emerge comportamentos que o profissional precisa manter para demonstrar a gestante que tem interesse no que ela traz. Para Leite, Silva, Scochi (2004) deve-se manter a cabeça do profissional ao mesmo nível, manter contato visual prestando atenção no que ela esta falando, removendo barreiras que possam causar desinteresse das gestantes. A comunicação entre o profissional e a mulher pode ocorrer sem expressão verbal, mas por meio de expressão corporal que este é uma linguagem que não mente. Com forte convicção, de modo natural e por uma representação corporal, a seguinte mensagem deve ser passada para a mãe: eu estou interessado em recebê-la e em escutar o que você quer contar para mim (BUENO; TERUYA, 2004). Em situações de dúvidas sobre determinado assunto deixar que a gestante tome decisão e mostrar que ela é capaz de optar sobre o que é melhor para ela e seu filho, e cabe ao profissional dar sugestões e informações relevantes, com evidências científicas, numa linguagem simples e clara. A mulher sempre tem o seu saber, e o profissional compartilhar com ela seus conhecimentos (BUENO, TERUYA, 2004). 4. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS O grupo operativo tem dentre seus objetivos escutar as dúvidas das gestantes e ampará-las quanto aos receios. Neste processo, as técnicas de aconselhamento podem auxiliar na dinâmica grupal, pois implica em desenvolver a habilidade do profissional em escutar. Estas técnicas potencializam a compreensão dos profissionais e auxiliam os participantes no reconhecimento da autoconfiança e autoestima preparando-os para a tomada de decisões. Gestantes apoiadas por seus familiares podem fazer suas escolhas com base no aprendizado construído no grupo, de forma que eles sejam os protagonistas da sua história e o grupo seja efetivo em seu objetivo central que é oferecer suporte. 492 REFERÊNCIAS AFONSO, M.L.M; SILVA, M.V; ABADE, F.L. O processo grupal e a educação de jovens e adultos. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 14, n. 4, p. 707-715, out./dez. 2009. Disponível <em http://www.scielo.br/pdf/pe/v14n4/v14n4a11.pdf> acessado em 20 de junho de 2011. BUENO, L.G.S; TERUYA K.M. Aconselhamento em amamentação e sua prática. Jornal de Pediatria - Vol. 80, Nº5 (Supl), 2004. Disponível em < http://www.scielo.br/pdf/jped/v80n5s0/v80n5s0a03.pdf> acessado em 02 de julho de 2013. FERNANDES, M.T. O trabalho com grupos na Saúde da Família: concepções e estratégias para o cuidado transcultural. [dissertação de mestrado]. Belo Horizonte (MG): Escola de Enfermagem, Universidade Federal de Minas Gerais; 2006 GIUGLIANI, E.R. J. O aleitamento materno na prática clínica. Jornal de Pediatria, v. 76, n. 3 (supl), p.238-252, 2000. Disponível em <http://www.jped.com.br/conteudo/00-76-s238/port.pdf> acessado em 02 de julho de 2013. KING, F.S. Como ajudar as mães a amamentar. 4.ed. Brasília: MS, 2001. Disponível em < http://www.redeblh.fiocruz.br/media/cd03_13.pdf> acessado em 02 de julho de 2013. LEITE, A.M; SILVA, I.A; SCOCHI, C.G.S. Comunicação não-verbal: uma contribuição para o aconselhamento em amamentação. Revista latino americana de enfermagem 2004 março-abril; 12(2):258-64. Disponível em:<http://www.scielo.br/pdf/rlae/v12n2/v12n2a16.pdf> acessado em 02 de julho de 2013. PICHON-RIVIÈRE E. O processo grupal. 6ª ed. São Paulo: Martins Fontes; 2000. World Health Organization/UNICEF. Breastfeeding counselling: A training course. Geneva: World Health Organization/UNICEF; 1993. 493 28.3) USO DAS DROGAS EM GESTANTES: AÇÕES EM SAÚDE (2014) 1 MENEZES, Cleusa de F. de 2; BASSAN, Lissara3; RODRIGUES, Natacha E.4; GELHEN, Maria Helena 5; VENTURA, Jeferson6; Eixo Temático: Atenção ao Parto. Descritores: Cocaína; Crack; Gestação. 1. INTRODUÇÃO Atualmente o uso de drogas, é uma realidade no cenário da saúde, sendo uma preocupação crescente na saúde pública, a cada ano as estatísticas evidenciam que o uso indiscriminado destas substâncas, alêm de todo o mal que causa a saúde, vem causando conflitos familiares, envolvendo a violência verbal e física (BALLANI,OLIVEIRA, 2007). O consumo desenfreado das drogas psicoativas como álcool, cocaína, crack e merla, sendo que estas substâncias podem ser utilizadas de diversas formas, o crack é usado com auxilio de um cachimbo, além de atingir todos os sexos, as mulheres em idade fértil cada vez mais se tornam usuárias desta substância, sendo um dos desafios para as equipes de saúde realizar o atendimento, dos gravos à mãe, ao feto e à sua família (ZILBERMAN HOCHGRAF, ANDRADE 2003). As mulheres usuárias de drogas em especial o crack, podem vir a se prostituir para conseguir a droga e ter exposição ao sexo inseguro, que por vez ocorre à gravidez indesejada acompanhada ou não das doenças sexualmente 1 Gepeses/cnpq Acadêmica de Enfermagem (Centro Universitário Franciscano, [email protected] ) 3 Acadêmica de Enfermagem (Centro Universitário Franciscano, [email protected] ) 4 Acadêmica de Enfermagem (Centro Universitário Franciscano, [email protected] ) 5 Docente ( Mestre, Centro Universitário Franciscano, [email protected]) 6 Enfermeiro mestrando PPGEnf-FURG (Universidade Federal do Rio Grande, [email protected] ) 2 494 transmissíveis. E devido a isso o feto acaba se tornando um ser vulnerável a diversos problemas em sua formação e desenvolvimento podendo aumentar os riscos deproblemas neurológicos e/ou psicológicos (NAPPO, 2011). O consumo do crack na gestação pode levar ao abortamento espontâneo e deslocamento prematuro da placenta devido os efeitos vasoconstritores da droga (GOMELLA, 2006). A gestante ao inalar o crack pode ter diversas consequências psicológicas e sociais podendo levar ao suicídio, a ruptura traumática de relacionamentos, descumprimento de obrigações sociais, depressão pós-parto, descuidando da sua aparência e higiene, violência, abandono da criança e maus-tratos (RUOTI et al 2009). O uso do crack na gestação não acarreta problemas apenas à gestante, mas também ao concepto, pois a maioria dessas drogas ultrapassa a barreira placentária e hematoencefálica sem metabolização prévia, atuando principalmente sobre o sistema nervoso central do feto, causando má formação, déficit cognitivo e síndrome de abstinência (YAMAGUCHI, et al, 2008 ). A negação do uso das drogas na gestação tem sido um desafio, as gestantes apresentam medo de serem julgadas pelas atitudes, não relatando a família e equipes de saúde suas condições, resultando nas dificuldades no acolhimento e acompanhamento adequado as suas necessidades cognitivas, nutricionais, educativas, neurológicas e psiquiátricas na desintoxicação química, reabilitação e reinserção social. (ZILBERMAN HOCHGRAF, ANDRADE 2003). As dificuldades no acolhimento dessas pacientes gestantes usuárias de drogas, necessitam de mudanças, no contexto sociocultural no qual o individuo esta inserido, (MARANGONI, OLIVEIRA 2012), havendo assim necessidade de novas abordagens no cuidado da saúde da mulher gestantes usuárias de crack, principalmente no campo da educação em saúde. Isto se da pelo fato que as temáticas as quais os profissionais enfermeiros interferem apresentamse complexos, exigindo dos profissionais um maior esforço para evitarmos simplificações reducionistas (BRASIL, 2004). 2. OBJETIVO 495 Conhecer a importância do cuidado oferecido a usuárias de crack na gestação. 3. METODOLOGIA Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, que sintetiza estudos realizados sobre um tema especifico, com o objetivo de conhecer qual a importância do cuidado oferecido, a usuárias de drogas na gestação. A pesquisa foi realizada nas bases de dados Lilacs e Bireme, os critérios de inclusão foram artigos publicados em Periódicos nacionais, em português, disponível na integra. Os critérios de exclusão: pesquisas internacionais. 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO O uso de drogas, sendo elas lícitas ou ilícitas, na gestação pode ser percebido com o sentimento de culpa por parte das gestantes, que muitas vezes a equipe de enfermagem necessita estar apta para orientar e escutar essas gestantes, procurando encaminhar para os serviços de orientações, para que elas reconhecam a sua condição de drogadição e eleja viver sem o uso da droga. As gestantes com dependência química, muitas vezes tem a menor assistência ao pré-natal, participação aos grupos de gestantes, apresentam maior risco de intercorrência obstétricas e fetais. Muitas dessas gestações são de alto riscos, tendo também problemas emocionais sentindo-se culpadas e reprimidas pela sociedade (KASSADA, et al 2013). Nesse contexto, o acolhimento deve ser prioridade a essas gestantes, sendo de fundamental importância o foco voltado à atenção famíliar, destas usuárias de crack. Os profissionais da saúde são capazes de desenvolver métodos funcionais e traçar planos de ação em busca de resultados positivos na recuperação e reestruturação física e emocional destas gestantes amenizando os agravos recorrentes da gestação e garantindo um melhor parto a mãe e bebê (SILVA, 2002; MAGALHÂES, 2010). Vale ressaltar que o pré- natal é um meio 496 seguro do profissional da saúde identificar e interferir nos problemas que as drogas causam nas gestantes, buscando impedir ou minimizar os agravos (RODRIGUES E NAKNO 2007). E fundamental a criação de órgão que possam receber essas gestantes antes e pós parto, E para desenvolver ações de acompanhamento psicológicas, para que a mesma possa ser inserida em programas para desintoxicar visando a reabilitação por meio de terapias, que venha valorizar essa mulher que procurou assistência, que esse mesma ação desenvolva trabalhos com a família e que todos possam reatar os laços, e para que o tratamento seja mais eficaz. 5. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS Concluímos que a assistência aos altos índices de gestantes usuárias necessita receber atendimentos especializados para serem encaminhadas para receber atendimentos específicos, quanto antes começarem a receber o atendimento, mais informações estas gestantes recebem, evitando complicações para a mesma e para criança. A dedicação e acolhimento da equipe de saúde é de extrema importância para que haja a reabilitação dessas usuárias, e reinserção asociedade. REFERÊNCIAS BALLANI, T.D.S; OLIVEIRA, M.L.F.D. Uso de drogas de abuso e evento sentinela: construindo uma proposta para avaliação de políticas públicas. Texto & Contexto Enferm. 2007;16(3):488-94. BRASIL. Politica do ministério da saúde. A Atenção Integral a Usuários de Álcool e outras Drogas. 2° edição. Brasília – DF: 2004. GOMELLA, T.L. Neonatologia:manejo, procedimentos problemas no plantão, doenças e farmacologia neonatal. 5. ed.Artmed. V.1. Rio de Janeiro, RJ, 2006. KASSADA, S. D; MARCON; S.S; PAGLIARIN; M. A ; ROSSI, R.M. Prevalência do uso de drogas de abuso por gestantes Universidade Estadual de Maringá, Maringá, PR, Brasil, 2013. 497 MAGALHÂES; D. E;F; SILVA, M.R.S.D. Cuidados requeridos por usuários de crack internados em uma instituição hospitalar. Rev.Min. Enferm. V. 14(3), P. 408-415, jul./set.Minas Gerais, MG,2010. MARGANGONI,S.R; OLIVEIRA,M.L.F.D. Uso de crackpor multípara em vulnerabilidade social: historia de vida. Cienc Cuif Saúde. 2012; 11(1): 166-72. NAPPO, S. Mulheres e crack. Departamento de psicologia. Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Anais. Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas. São Paulo, SP,2011. RODRIGUES, D.; NAKANO; A. M. Violência e abuso de drogas na gestação. Revista Brasileira de Enfermagem. REBEn. V.60 (1), p. 77-80. Brasília, DF, 2007. Disponivelem:http://www.scielo.br/pdf/reben/v60n1/a 14v60n1.pdfAcesso em:13 set. 2014. RUOTI COSP, M. et al. Uso y abuso de drogas durante el embarazo.Mem.Inst.Investig. Cienc.Salud. Vol. 7(2), p.32-34. Assunção, Paraguai, 2009. YAMGUCHI, E. T; CARDOSO; M. M. Siaulys C; TORRES, M.L; Abramides; A.A, Guerra de. Drogas de abuso e gravidez. 35 Sup Rev Psiquiatr Clín. 2008l 1: 44-7. ZILBERMAN, M. L.; HOCHGRAF, P. B.; ANDRADE, A. G. Gender differences in treatment-seeking brazilian drug-dependent individuals. Substance Abuse. 2003; 24(1): 17-25. 498 29.3) INSTITUIÇÕES HOSPITALARES DO MUNICÍPIO DE PELOTAS/RS: CRESCIMENTO NA TAXA DE CESARIANAS – 2009 a 20131 MORAES, C. Fabrício2; SILVA, S. L. Vera3; AZEVEDO, L. S. Ana4; GUERREIRO, O. Patricia5; VETROMILA, T. Cristina6; PRIMO, S. Luciene7 Eixo Temático: Eixo 4: Atenção ao Parto. Descritores: Parto; Cesárea; Obstetrícia; Estatística & dados numéricos. 1. INTRODUÇÃO A gravidez e o trabalho de parto são momentos únicos na vida de uma mulher, estão diretamente ligados a fertilidade, ao desenvolvimento de uma vida e a continuação ao cuidado de outro ser vivo. Essas são etapas de incertezas, dúvidas e inseguranças, principalmente para as primigestas que não tem experiência com essa nova fase (COSTA, 2014). A opção pelo tipo de parto é de total importância para a mulher e para o bebê, pois, todas as decisões têm influência no desenvolvimento do recém-nascido (RN) e na saúde da mulher. Frequentemente as mulheres não têm confirmados seus desejos prévios em virtude do seu estado de saúde ou do bebê, inerentes ao procedimento e a instituição hospitalar, ou aos profissionais de saúde (MANDARINO, 2009; DIAS, 2008). __________________________ 1 Pesquisa com dados finais realizada por docentes, acadêmicos da UCPel e profissionais da Secretaria Municipal de Saúde de Pelotas através do Programa de Ensino para o Trabalho, PET. 2 Fabrício da Cunha Moraes (Acadêmico de Enfermagem - Universidade Católica de Pelotas; E-mail: fabrí[email protected]) 3 Vera Lucia Schmidt da Silva (Enfermeira; Mestre em Saúde Pública Baseada em Evidências – Universidade Federal de Pelotas; Doutoranda em Epidemiologia - Universidade Federal de Pelotas; E-mail:[email protected] ) 4 Ana Lucia Soares de Azevedo (Enfermeira; Mestre em Saúde e Comportamento - Universidade Católica de Pelotas; E-mail: [email protected]) 5 Patricia Osório Guerreiro (Dentista; Mestre em Saúde em Comportamento pela Universidade Católica de Pelotas; E-mail: [email protected]) 499 6 Cristina Toledo Vetromilla (Assistente Social - Universidade Católica de Pelotas; E-mail: [email protected]) 7 Luciene Smiths Primo (Enfermeira; Mestre em Saúde e Comportamento - Universidade Católica de Pelotas; E-mail: [email protected]) Sabe-se da importância de informar os benefícios, riscos e complicações do tipo de parto. A cesariana quando comparada ao parto vaginal tem maior risco de morbidade materna. A cesariana intraparto e cesariana eletiva aumenta o risco de morbidade materna em 2,0 e 2,3 vezes respectivamente, além disso, está associada à maior morbidade e mortalidade após alta e aumento da permanência hospitalar (COSTA, 2014; REIS, 2014). Segundo Gonçalves (2014), há uma pressão crescente pelos profissionais médicos para o desencorajamento do parto por via vaginal, tornando-se melhor aos olhos destes profissionais um parto seguro igual a um parto instrumentado². A Organização Mundial da Saúde (OMS) preconiza uma taxa de cesariana de 15%, para o atendimento a gestante de alto risco aceita-se uma taxa de no máximo 25%. No entanto, uma taxa inferior a 5% pode estar refletindo uma dificuldade de acesso ao tratamento (ALMEIDA, 2008). Em Portugal, no período de 2007 a 2009, a taxa de cesariana foi de 41%, em virtude disso foi criado uma Comissão para a Redução da Proporção de Cesarianas da Administração Regional de Saúde (ARS) do Norte, propondo um conjunto de medidas a serem divulgadas e implementadas nos hospitais. Com estas medidas, as cesarianas eletivas passaram a ser discutidas em reuniões, com exceção daquelas com indicação por apresentação pélvica ou história de duas ou mais cesarianas prévias (GONÇALVES, 2014). Este aumento mundial de cesarianas afeta também o Brasil, que é líder nas estatísticas, em 2010 apresentou uma taxa de 52% (GONCALVES, 2014; REIS, 2014). Portanto, pesquisou-se as taxas de parto vaginal e parto cesárea no município de Pelotas/RS no período de 2009 a 2013. 2. OBJETIVO Analisar as taxas de partos cesárea e vaginal no município de Pelotas/RS no período de 2009 a 2013. 500 3. METODOLOGIA Trata-se de um estudo descritivo de abordagem quantitativa com dados obtidos através do sistema DATASUS/Ministério da Saúde. Os dados foram coletados de três instituições hospitalares de saúde que realizam partos pelo Sistema Único de Saúde no período de janeiro de 2009 a dezembro de 2013. O estudo foi realizado por acadêmico/bolsista do Programa de Educação pelo Trabalho (PET-Gestão) da Universidade Católica de Pelotas (UCPEL) junto à Secretaria Municipal de Saúde de Pelotas, no mês de agosto de 2014. 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO Observou-se que a instituição A nos anos de 2009 e 2013 teve uma taxa de cesariana de 48,3% e 50,5%, respectivamente, apresentando um aumento de 4,3% no período. Na instituição B, a taxa de cesariana no ano de 2009 foi de 41,0% e 52,8% no ano de 2013, demonstrando aumento de 22,3% na taxa de cesariana e a instituição C no mesmos anos, teve uma taxa de 37,9% e 54,1% e um aumento de 29,9% no período. As instituições A e B são hospitais de ensino referência para gestantes de alto risco, portanto aceitaria-se uma taxa maior de cesariana, porém, observou-se uma taxa 2 vezes maior do que a recomendação da OMS. Já na instituição C observou-se uma taxa 3,5 vezes maior que a recomendação preconizada. Ao realizar a pesquisa, encontrou-se dificuldades para a busca dos dados, pois, informações como raça/cor, escolaridade, nível socioeconômico entre outras, não estavam completas, impedindo uma avaliação mais consistente dos dados. 5. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS Constatou-se que houve um aumento gradativo nas taxas de cesariana no período estudado, e com isso uma redução inversamente proporcional das taxas de 501 parto vaginal. Dessa forma, é importante valorizar o ensino para a formação de profissionais voltados ao parto natural e atualizar os profissionais existentes para realizar um pré-natal qualificado com discussões de forma horizontal, expandindo a chance de escolhas da gestante, esclarecendo sobre os medos e dúvidas e auxiliando na melhor decisão do tipo de parto. Tem-se observado que a cesariana tornou-se uma decisão cultural, os medos e as incertezas não tem deixado o parto vaginal como uma decisão primária, tornado-se descartável durante a gestação (COSTA, 2014; GONÇALVES, 2014; PATAH, 2011). REFERÊNCIAS ALMEIDA, S., BETTIOL, H., BARBIERI, N. A., SILVA, A. A. M., RIBEIRO, V. S.. Diferenças significativas nas taxas de cesaria entre um particular e um hospital público no Brasil. Cad Saúde pública v. 24, nº 12, 2008. BARROS, A. J., SANTOS, I. S., MATIJASEVICH, A., DOMINGUES, M. R., SILVEIRA, M., BARROS, F. C., VICTORA, C. G.. Patterns of deliveries in a Brazilian birth cohort: almost universal cesarean sections for the better-off. Revista de saude publica, São Paulo, v. 45(4), p. 635-643, 2011. COSTA, S. P.; PRATES, R. D. C. G.; CAMPELO, B. Q. A.. Parto normal ou cesariana? Fatores que influenciam na escolha da gestante. Revista de Enfermagem da UFSM, Santa Maria v. 1(1), p. 1-9. 2014. DIAS, M. A. B., DOMINGUES, R. M. S. M., PEREIRA, A. P. E., FONSECA, S. C., GAMA, S. D., THEME, F. M. M.. Trajetória das mulheres na definição pelo parto cesáreo: estudo de caso em duas unidades do sistema de saúde suplementar do estado do Rio de Janeiro. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 13(5), p. 1521-1534, 2008. GONÇALVES, I. S.; LOPES, S.; CASANOVA, J. ; FORTUNA, J. ; SILVA, P. T. Impact of strategies in reducing cesarean section rate Impacto de estratégias com vista à redução da proporção de cesarianas. Acta Obstet Ginecol Port, Portugal v. 8(1), p. 29-35, 2014. MANDARINO, N. R., CHEIN, M. B. D. C., MONTEIRO JUNIOR, F. C. M., BRITO, L. M. O., LAMY, Z. C., NINA, V. J. D. S., FIGUEIREDO NETO, J. A. D.. Aspectos relacionados à escolha do tipo de parto: um estudo comparativo entre uma maternidade pública e outra privada em São Luís, Maranhão, Brasil. Cad Saúde pública, Rio de Janeiro, v. 25(7), p. 1587-96, 2009. 502 PATAH, L. E. M.; MALIK, A. M. Modelos de assistência ao parto e taxa de cesárea em diferentes países. Rev Saude Publica, São Paulo v. 45(1), p. 185-194, 2011. REIS, Z. S. N. et al. Associação entre risco gestacional e tipo de parto com as repercussões maternas e neonatais. Rev. Bras. Ginecol. Obstet., Rio de Janeiro [online], vol.36, n.2, pp. 65-71, 2014. 503 30.3) GRUPO DE MÃES: ASSISTÊNCIA A GESTANTES E PUÉRPERAS (2014)4 COSTA, Melissa1; FAZIO, Ihana 2; AQUINO, Deise3; Eixo Temático: Eixo 3: Atenção à Saúde do recém-nascido. Descritores: Enfermagem. Gestantes. Mães. 1. INTRODUÇÃO A maternidade é uma vivência humana que traz mudanças significativas no estado de saúde das pessoas. Para que essas adaptações não interfiram negativamente na qualidade de vida do bebê e sua família, precisam ser estabelecidas de forma orientada. O ato do nascimento de um novo ser exige muitos cuidados maternos e neonatais. Os primeiros são fundamentais à sua sobrevivência: aquecimento, oxigenação e alimentação do recém-nascido. Os demais cuidados como higiene, continuidade da amamentação, sono, conforto, entre outros são igualmente fundamentais. Entretanto sabe-se que muitas famílias não sabem como fazê-los ou fazem de forma instintiva e/ou empírica, sem o conhecimento científico desenvolvido ao longo de pesquisas. Assim, entende-se que as mulheres e suas famílias precisam ser potencializadas em relação aos cuidados com elas e o bebê. Isto pode ocorrer através de consultas individuais com orientação direcionada aos problemas evidenciados pelas mães ou por grupos de convivência. O grupo de mães proporciona às mesmas acolhimento em suas dificuldades diárias com o bebê, seja em relação ao choro, amamentação, sono ou qualquer outro assunto trazido 1 Graduanda em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio Grande – [email protected] 2 Graduanda em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio Grande – [email protected] 3 Orientadora, Coordenadora do Projeto, Professora da Graduação em Enfermagem Federal do Rio Grande – FURG, e-mail: [email protected] 4 Projeto de extensão universitária da FURG, com atividades iniciadas em junho número de incrição no Sigproj 135888.711.156992.23052013. 504 FURG. E-mail: FURG. E-mail: da Universidade de 2013, sob o pelo grupo. Ao perceberem que as suas dificuldades são comuns a outras mulheres, elas sentem-se confortadas e compreendidas, além de poder experienciar uma diversidade de soluções encontradas para o mesmo problema. Percebe-se que as mães tem pouca ou nenhuma informação, ou ainda informação errada acerca da amamentação, de como fazer o desmame do bebê, de como introduzir alimentos com qualidade na dieta do bebê durante o desmame. As mães não conhecem a importância da educação para o sono, usam cama compartilhada com a criança e ainda adotam mamadeiras e chupetas. Enfim uma gama de temas que já tem comprovação científica mas não são de conhecimento da maioria da população. Segundo Wall (2001) ajudar o ser humano a buscar experiências de aprendizagem em eventos transicionais de vida é uma forma de cuidar em enfermagem. Para a autora, a educação em saúde desenvolvida com o suporte das tecnologias educativas capacita o ser humano para vivenciar de forma mais saudável as fases da vida. Ao desenvolvermos educação em saúde tendo como suporte as tecnologias educativas com grupos de pessoas, devemos estar atentos para perceber o grupo, respeitando suas características. O Grupo de Mães reforça que as informações acerca do cuidado com o bebê são fatores determinantes para a qualidade de saúde das crianças. É comprovado que a falta ou inadequação desses cuidados geram sérios agravos à saúde do binômio mãe-filho. Sabe-se que as fontes de informação técnica das mulheres são muito limitadas, uma vez que no momento da alta existe um número muito grande de informações que as mães recebem. Após o parto a mãe pode buscar informações nas consultas de acompanhamento, porém normalmente tem um tempo limitado de discussão. A formação de um grupo é importante já que no momento da alta a maioria das mães ainda não está interessada em saber sobre os problemas que poderão acontecer. As mulheres precisam vivenciar as dificuldades e serem confrontadas com as diversas situações que surgem somente após o convívio com o bebê na sua adaptação em casa e na família. No dia do encontro grupal poderão trazer essas dúvidas e receberem orientação técnica, além do apoio das demais integrantes. 505 2. OBJETIVOS Orientar gestantes e puérperas sobre o cuidado com seus filhos; Esclarecer dúvidas e dificuldades do processo de vivência da maternidade, através de um grupo de convívio e discussão. 3. METODOLOGIA. Trata-se de um relato de experiência sobre o grupo de mães, um projeto de extensão universitária da FURG, que iniciou suas atividades em junho de 2013, sob o número de incrição no Sigproj 135888.711.156992.23052013. As puérperas e gestantes são convidadas pessoalmente na maternidade do Hospital Universitário da Universidade Federal do Rio Grande. Elas recebem um folder explicativo com a proposta. As equipes de saúde das unidades básicas e ambulatórios também são informadas sobre o projeto para que possam convidar as mulheres. Outra forma de divulgação usada é através da imprensa local, nos jornais escritos e sites. As interessadas inscrevem-se por telefone ou pessoalmente no Banco de Leite do referido hospital. São disponibilizadas até 10 vagas. Foram realizados dois ciclos de oito encontros cada. Cada encontro tem duração de até 120 minutos Os temas préestabelecidos são: amamentação, desmame, inclusão de alimentos na dieta do bebê, sono do bebê, choro, cuidados de higiene, segurança, cuidados de saúde e desenvolvimento psicomotor, imposição de limites na infância. Se houver algum problema de saúde que seja de competência de outros profissionais, a mãe é orientada sobre os serviços de saúde disponíveis para procurar atendimento. 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES Ao término do primeiro ciclo de encontros notou-se a participação e aceitação das mulheres que participaram. Elas relatam ter sido de suma importância para esta fase das suas vidas, pois muitas coisas mudam e ter alguém para conversar e sanar 506 as dúvidas foi algo que as ajudou bastante. Algumas declaram que nem se quer teriam conseguido amamentar o bebê sem as instruções. O Grupo de Mães trouxe para a comunidade Rio Grandinha mais um meio de comunicação, orientação e educação em saúde. Sem custos, o principal foco tornou-se a qualidade de vida das mulheres que passam por inúmeras transformações físicas e muito mais emocionais, além das crianças que recebem os cuidados adequados desde o início de suas vidas tendendo a ter mais saúde e bem estar. Durante a assistência dada às mães, ainda prevalece a falta de informação técnica acerca do cuidado do bebê. Muitos temas científicos são desconhecidos pelas gestantes e puérperas e cuidados continuam sendo de forma empírica ou oportuno à vivência prática no domicílio com a família e com os seus afazeres. Preferem utilizar outros métodos definidos por elas como eficientes, como a utilização de mamadeiras, sem reconhecer o dano causado à saúde dos seus filhos. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Sendo assim, o Grupo de Mães trouxe uma nova visão do ser mãe e da importância do manejo com a criança que, naquele momento, é completamente dependente de cuidados para ter uma vida saudável. Foi possível observar o interesse e disponibilidade das mães em querer uma maior qualidade de vida à elas e seus bebês. Elas prometem pôr em práticas as orientações fornecidas e mostramse ansiosas para os próximos encontros. As puérperas ficaram satisfeitas e conseguiram passar por todos os desafios da maternidade com tranquilidade e plena certeza que prestaram o melhor cuidado que puderam aos seus filhos. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde da criança - nutrição infantil: aleitamento materno e alimentação complementar. (Cadernos de Atenção Básica, n. 23) Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2009. 112 p. 507 ORSHAN, Susan A. Enfermagem na saúde das mulheres, das mães e dos recém-nascidos: o cuidado ao longo da vida. Porto Alegre: Artmed, 2010. 1152p. TENENBOJM, Eduardina Telles. Eficácia adaptativa, padrão de sono e depressão em mães de crianças de 3 a 24 meses com insônia. São Paulo. USP, 2008, 159 p. Tese (doutorado). Faculdade de Medicina. Universidade Federal de São Paulo, 2008. WALL, Marilene Loewen. Tecnologias educativas: subsídios para a assistência de enfermagem a grupos. Goiânia: AB, 2001. 508 31.3) AÇÕES EDUCATIVAS E SUAS IMPLICAÇÕES NA SAÚDE DA MULHER ZANINI MARIN, Fabiana1; NASCIMENTO, Maria Licele2; DINIZ EBLING, Sandra Betriz 3; Eixo Temático: Atenção à Saúde da Mulher Descritores: Saúde da Mulher; Educação em Saúde; Enfermagem 1. INTRODUÇÃO Historicamente as politicas publicas de saúde no Brasil limitavam-se as demandas relativas à reprodução e ao binômio mãe- filho, um modelo caracterizado no enfoque biomédico e\ou curativista de atenção, o qual apresentava aspectos reducionistas da assistência a saúde da mulher (FREITAS et al, 2009). Devido ao crescente desenvolvimento do perfil socioeconomico, da complexidade dos atendimentos destinados a saúde da população feminina, o modelo biomédico de assistência à saúde foi demonstrando sinais de fragilidade, assim na década de 60 o movimento feminista insatisfeito com as desigualdades de gênero e com o enfoque reducionista no qual a saúde da mulher era percebida, reivindicou a igualdade social entre homens e mulheres, tendo em vista a necessidade de praticas mais humanizadas, envolvendo aspectos como a qualidade de vida, promoção da saúde, e reconhecimento quanto aos seus direitos humanos, contribuindo desta forma para a garantia de bem-estar e saúde integral (BRASIL, 2011). Esse engajamento das mulheres na luta pelos seus direitos e por melhores condições de vida impulsionou a 1 Graduanda em Enfermagem pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – Campus Santiago, RS, Brasil. Bolsista do projeto de extensão intitulado Mulheres em ação pela saúde e cidadania: um espaço delas. Integrante do GEPSE (Grupo de Estudo e Pesquisa em Saúde e Enfermagem) E-mail: [email protected]. 2 Graduanda em Enfermagem pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – Campus Santiago, RS, Brasil. Bolsista do laboratório de praticas do curso de enfermagem. E-mail: [email protected] 3 Enfermeira Mestre em Educação nas ciências pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul- Uniijui. Docente do Curso de Enfermagem da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – Campus Santiago, RS, Brasil. E-mail: [email protected] 509 adoção das primeiras medidas oficiais do Ministério da Saúde, voltadas para a assistência integral à saúde da mulher. Neste sentido a educação em saúde vêm fomentando novos olhares acerca da promoção da saúde, sendo apontada como um importante instrumento de construção e veiculação de conhecimentos de forma conjunta, no qual acadêmicos, profissionais da saúde e comunidade articulam seus conhecimentos e trocam experiências, estimulando a co-responsabilização pela qualidade de vida (SOUZA et al, 2013). Sabe-se ainda que a aproximação e construção de vínculos com os sujeitos envolvidos nestas ações possibilitam identificar possíveis agravos a saúde, oferecendo subsídios para a observação e intervenção frente às reais necessidades dos sujeitos. Sendo assim, a educação em saúde às mulheres, pode ser compreendida como uma prática intencional e planejada, no qual as mesmas possam atuar e contribuir para o desenvolvimento de uma melhor qualidade de vida. 2. OBJETIVO Para tanto têm-se como objetivo deste estudo, relatar as ações de educação em saúde realizadas com mulheres a partir de atividades extensionistas universitária. 3. METODOLOGIA Trata-se de um relato de experiência dos acadêmicos do curso de Enfermagem do VIII e X semestre da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI), acerca das ações de educação em saúde às mulheres participantes de uma atividade extensionista. A referida universidade é pertencente ao campus de Santiago, Rio Grande do Sul e traz como missão formar pessoal ético e competente, inserido na comunidade regional, capaz de construir conhecimento, promover a cultura, o intercâmbio, a fim de desenvolver a consciência coletiva na busca contínua da valorização e solidariedade humana (PROJETO POLÍTICO 510 PEDAGÓGICO, 2013). Nestes espaços é possível articular as ações de Educação em Saúde entre docentes, discentes e trabalhadores de saúde, contribuindo para a mudança no perfil das práticas de saúde, tornando-as mais dinâmicas e efetivas quanto ao conceito ampliado de saúde. É nesse contexto de “saúde ampliado” que nasce a proposta do Projeto de Extensão intitulado “Mulheres em ação pela saúde e cidadania: um espaço delas, que teve como ponto de partida a aproximação com a comunidade do Distrito Geosanitário Itú/São Vicente do município de Santiago, a partir de atividades educativas desenvolvidas pelos docentes e discentes integrantes do Núcleo Interdisciplinar de Ensino, Pesquisa e Extensão (NIEPE). Nessas vivências, foi possível perceber os anseios das mulheres da referida comunidade em desejar um espaço “delas”, justificando assim o interesse em desenvolver atividades que possam instigar a cidadania, melhor qualidade de vida e emancipação desta população. As atividades de educação em saúde ocorrem no espaço do Núcleo Interdisciplinar de Ensino Pesquisa e Extensão (NIEPE), espaço este, de formação profissional e integração entre Universidade e Serviço de Saúde. Os encontros acontecem semanalmente, com duração de aproximadamente uma hora. Os sujeitos envolvidos são mulheres na faixa etária de 50 a 76 anos, as atividades e temáticas ocorrem de maneira diversificada, atendendo as necessidades das usuárias, de forma dialógica - reflexiva, em forma de rodas de conversas, permeadas pela escuta ativa no qual tem-se como intuito a transformação de saberes já existentes criando possibilidades para que as mulheres, através de suas próprias reflexões possam estar construindo estratégias apropriadas para promoção e recuperação da saúde promovendo ainda a troca de experiências entre as participantes.Nesse momento, apresentaremos a dinâmica intitulada “Como eu acredito ser vista como mulher perante a sociedade? E como eu gostaria de ser percebida? A dinâmica foi planejada com o propósito de sensibilizar as participantes quanto construção da identidade de homens e mulheres, valorizando a idéia das relações de gênero como estruturantes das relações humanas e sociais. A metodologia grupal empregada para o desenvolvimento da dinâmica com as participantes do projeto constituiu-se primeiramente de uma discussão no qual através dos relatos das próprias 511 participantes pode-se perceber o quanto o sujeito feminino é baseado em estereótipos de inferioridade, e fragilidades. Após este momento, utilizando de um quadro branco, e canecas coloridas, foi dividido o mesmo ao meio de um lado apresentava a pergunta “Como você percebe que a mulher é vista pela sociedade? e do outro lado “Como você gostaria de ser percebida?. Os depoimentos das participantes no transcorrer da dinâmica, evidenciaram o quanto à sociedade e família interfere no processo de construção dos sujeitos, vindo a intensificar a vulnerabilidade da mulher frente aos condicionantes de saúde e doença. Nos relatos as participantes descreveram ser vistas como mulheres frágeis, sem voz ativa, mãe, dona de casa, evidenciando um modelo tradicional. Quando questionadas como elas gostariam de ser vistas, quase que grande maioria respondeu como mulheres fortes, independentes, vaidosas, charmosas, mulheres de direitos e deveres, cidadãs que buscam a sua autonomia e que participam da sociedade na procura por uma maior igualdade de direitos. Ao termino da dinâmica foi evidenciado que a atividade possibilitou as mulheres aprendizado mutuo, instigando as mesmas quanto ao fortalecimento da auto-estima, e autonomia, ampliando conhecimentos e visão critica frente às relações de gênero. Esse tema representou um desafio a ser trabalhado, uma vez que representa a noção das participantes sobre os aspectos sociais relacionados a diferenças entre as relações de gênero acabando por abranger diversos significados que refletem experiências, saberes e valores dos sujeitos envolvidos. 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO As atividades com as mulheres participantes do projeto extensionista foram realizadas com o intuito de sensibilizá-las quanto à adesão aos hábitos saudáveis e quanto à promoção a saúde, buscando promover a emancipação dos sujeitos através da construção de conhecimentos sobre si mesmos e sobre aspectos relevantes da saúde. As praticas de educação em saúde foram fundamentadas na educação problematizadora que consiste na relação dialógica entre profissionais e 512 comunidade, ainda possibilita a ambos aprenderem juntos, socializar-se por meio de um processo emancipatório de trabalho na construção de conhecimentos a partir da vivência de experiências significativas .A partir da realização das atividades educativas evidenciou-se que as ações buscam romper com o modelo tradicional de atenção a saúde, valorizando os sujeitos na sua integralidade, incluindo-os como protagonistas de seu próprio auto cuidado, resgatando a independência e cidadania 5. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS Contudo, pode-se perceber que o espaço de educação em saúde proporcionado a estas mulheres através de modalidades grupais proporcionou relações de confiança, troca de experiências, alivio de ansiedades reflexão e aprendizado conjunto, reduzindo as situações de isolamento social sofridas, uma vez que este momento foi exclusivo para elas. Sendo assim, a contribuição das ações de educação em saúde, partem do principio da integralidade da assistência, criando espaços e possibilidades para atuação frente às principais necessidades destas participantes. Desse modo ao se pensar em saúde como qualidade de vida, destaca-se que as praticas de educação em saúde precisam englobar a visão integral do indivíduo, família e comunidade, respeitado suas especificidades e particularidades. REFERÊNCIAS ACIOLI, S. A prática educativa como expressão do cuidado em Saúde Pública. Rev Bras Enferm, Brasília. V.61, N.1, 2008. BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2011. FREITAS, G. L. et al. Discutindo a Politica de Atenção a Saúde da Mulher no contexto da promoção da saúde. Rev Eletrônica de Enferm. 2009. 513 SILVA, S.O et al. Projeto Político Pedagógico de Graduação no Curso de Enfermagem. Departamento de Ciências da Saúde. Santiago, 2013. SOUZA, I.V.B. et al. Educação em saúde e enfermagem: revisão integrativa da literatura. Rev. Ciênc. Saúde Nova Esperança, v.11, n.1, 2013. 514 32.3) CONHECIMENTO DE PUÉRPERAS DE UMA MATERNIDADE NO INTERIOR DO RIO GRANDE DO SUL SOBRE O TABAGISMO 1 ALDRIGUI, Laíne Bertinetti 1 PADILHA, Daniela da Silva 2 COSTA, Ana Paula Ferreira 3 SOARES, Tatiane Machado da Silva 4 Eixo Temático: Eixo 1: Atenção à Saúde da Mulher. Descritores: Gestação, Tabagismo, Pré-natal. 1. INTRODUÇÃO O hábito de fumar durante a gestação oferece sérios riscos para mãe e filho, podendo ocorrer: abortos espontâneos, nascimentos prematuros, bebês de baixo peso, mortes fetais e de recém-nascidos, complicações com a placenta e episódios de hemorragia (BRASIL, 2010). Essas consequências se devem, principalmente, aos efeitos do monóxido de carbono e da nicotina exercidos sobre o feto, após a absorção pelo organismo materno (BRASIL, 2005; GALÃO et al, 2009). É preciso dar importância ao sentimento expressado pelas fumantes ao decidirem acabar com o hábito ou vício de fumar, prestando assistência de forma integral. (ECKERDT E CORRADI-WEBSTER, 2010).Entende-se que o pré-natal é uma grande oportunidade para oferecer a essas mulheres orientações a respeito do fumo e proporcionar apoio às que demonstrarem desejo de parar. Diante de tantos fatos, penso que a gestante que for bem informada terá muitos motivos para pensar em abandonar o cigarro, sendo que os benefícios do abandono seriam inúmeros. Objetivo(s): Conhecer os motivos que levaram a puérpera a permanecer ou a parar de fumar durante a gestação. ___________________________ 1 Acadêmica de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Email: [email protected] 515 2 Enfermeira. Autora do trabalho de conclusão de curso “ O conhecimento de puérperas de uma maternidade no interior do rio grande do sul sobre o tabagismo”. Email: [email protected] 3 Acadêmica de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Email: [email protected] 4 Enfermeira. Mestre em Ciências pelo Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de Pelotas- UFPel. Membro do Núcleo Pesquisa e Estudos com crianças, adolescentes, mulheres e famílias- NUPECAMF, da Universidade Federal de Pelotas.Email: [email protected] 2. METODOLOGIA O estudo teve abordagem qualitativa de caráter descritivo e exploratório. A pesquisa foi realizada na unidade obstétrica de um hospital de ensino no interior do Rio Grande do Sul. Os sujeitos do estudo foram 3 puérperas tabagistas e 1 puérpera que abandonou o vício no momento em que descobriu que estava grávida. Todas estavam internadas no hospital de ensino citado anteriormente no período de setembro a outubro de 2011. O anonimato dos sujeitos foi garantido, sendo atribuído às participantes nomes de frutas escolhidos por elas, seguido da idade das mesmas. Para a seleção foram estabelecidos os seguintes critérios: Ser puérpera e tabagista ou ter parado de fumar durante a gestação; estar internada no período de setembro a outubro de 2011 na unidade escolhida para o estudo; aceitar que a entrevista seja gravada; permitir que os dados sejam divulgados em eventos científicos; solicitar autorização aos responsáveis no caso de puérpera menor de 18 anos idade. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do departamento de Enfermagem da UFPEL parecer nº 303/2011. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Após análise das falas os temas obtidos com o resultado de leitura das puérperas entrevistadas foram: A importância das orientações no pré-natal e o conhecimento das puérperas a respeito do tabagismo. Costa, Guilherme e Walter (2005) pensam que o vínculo estabelecido entre a mulher e o profissional é um fator importante para a humanização da atenção, para a adesão e a permanência das gestantes no serviço de pré-natal. Ao questionar a puérpera sobre a realização do 516 pré-natal e a relação com o profissional a mesma respondeu não ter se acertado muito com a médica que atendeu ela em todas as consultas. Acredita-se que não ocorreu vínculo visto que a puérpera compareceu apenas a duas consultas de prénatal. Porém, percebe-se que esta atenção não tem sido efetiva, já que mesmo as mulheres que freqüentam o pré-natal e passam por uma gestação sem complicações, chegam ao final da gravidez demonstrando ainda falta de conhecimentos sobre as modificações sofridas e despreparadas para vivenciar o parto (RIOS E VIEIRA, 2007). Em relação a falta de qualidade na consulta de prénatal em relato puérpera relata que não recebeu nenhuma orientação que era só pesar e medir. É difícil estimular a gestante a sair de sua casa para procurar o serviço de saúde com todas as dificuldades que o Sistema Único de Saúde (SUS) apresenta, a gestante muitas vezes enfrenta filas e falta de profissionais, e quando consegue atendimento, é apenas para pesar e medir. De acordo com Corleta et al (2008) e Brasil (2001) o tratamento eficaz contra o tabagismo inicia com uma importante avaliação por parte do profissional, determinando o nível de dependência, o grau de motivação para deixar de fumar, condições e tempo de exposição ao cigarro. A abordagem ao paciente deve seguir cinco passos: perguntar, avaliar, aconselhar, preparar e acompanhar. Maçã 19, diz ter começado a fumar escondido dos pais aos 12 anos de idade e que não conseguiu diminuir o consumo diário de cigarros na gestação. Uma puérpera ao ser questionada sobre a influência do cigarro em sua gestação relata que sua filha nasceu com problema, toda amarela, ter defecado e ingerido mecônio o que complicou ao nascer. Ainda informou que a médica disse que o amarelo era consequência do cigarro. O fumo na gestação aumenta os riscos de complicações como placenta prévia, descolamento prematuro da placenta, ruptura prematura das membranas, hemorragia pré-parto, parto prematuro, aborto espontâneo, gestação ectópica, crescimento uterino restrito, baixo peso ao nascer, morte súbita do recém nascido, além de comprometer o desenvolvimento físico da criança (ARAÚJO, 2004 e BRASIL, 2004). No estudo as entrevistadas foram unanimes ao declarar que a ansiedade ou o nervosismo são a principal causa que as levam a fumar. Morango 16, conta que parou de fumar no 517 início da gestação e diz que foi informada no pré-natal que o cigarro fazia mal para o bebê. Motta, Echer e Lucena (2010) pensam que o período gestacional é o momento ideal para a mulher deixar de fumar, que além de estar preocupada em proporcionar um ambiente seguro e saudável para o desenvolvimento de seu bebê, está diretamente ligada ao serviço de saúde pelo acompanhamento pré-natal. 4. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS Entende-se que a gestação é uma fase de intensas mudanças para a gestante, e por isso, o período gestacional é o momento ideal para adquirir conhecimentos que ajudem a gestante a viver este período de forma tranquila e saudável para ela e o filho. Por ser a gestação um período de inúmeras mudanças, acaba tornando a mulher fragilizada, susceptível ansiedade, e assim como relatado pela maioria das puérperas, o cigarro acaba tornando-se um aliado, um companheiro, o que acaba dificultando o abandono durante a gravidez. Pensa-se que falta muito para que o pré-natal seja considerado um aliado na luta contra o tabagismo e que o profissional de saúde ofereça informações específicas que estimule o abandono do vício. REFERÊNCIAS ARAÚJO, A.J. et al. Diretrizes para Cessação do Tabagismo. Jornal Brasileiro de Pneumologia, v. 30, n.2 , São Paulo, 2004. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/jbpneu/v30s2/a02v30s2.pdf>. Acesso em: 29 abr. 2011. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Assistência à Saúde. Gestação de alto risco. Manual, 5. ed, Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2010. 302 p. Acesso em: < http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/gestacao_alto_risco.pdf >. Acesso em: 23 abr. 2011. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretária de Assistência a saúde. Instituto Nacional do Câncer. Abordagem e tratamento do fumante:consenso 2001. Rio de Janeiro: INCA, 2001. Disponível em: < http://www.inca.gov.br/tabagismo/parar/tratamento_consenso.pdf>. Acesso em: 26 abr. 2011. 518 BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Instituto Nacional de Câncer. Coordenação de Prevenção e Vigilância. Estimativa 2006: Incidência de câncer no Brasil. Rio de Janeiro: INCA, 2005. Disponível em: http://www.inca.gov.br/tabagismo/frameset.asp?item=jovem&link=namira.htm Acesso em: 01 mai. 2011. BRASIL. Ministério da Saúde. Sistema de Informações sobre Mortalidade e Nascidos Vivos para os profissionais do Programa Saúde da Família.SINASC. Brasília, 2004. Disponível em:< http://189.28.128.100/dab/docs/publicacoes/geral/importancia_sim_sinasc.pdf>. Acesso em: 25 abr. 2011. CORLETA, H. E et al. Considerações sobre a abordagem da mulher fumante pelo profissional de saúde. Revista de Ciências Médicas, Campinas, v. 17, n. 6, p.193199, mai-dez, 2008. COSTA, A. M.; GUILHEM, D.; WALTER, M. I. M.T. Atendimento a gestantes no Sistema Único de Saúde. Revista Saúde Pública, v.39, n.5, p. 768-774,2005. Disponível em:< http://www.scielo.br/pdf/reben/v62n3/09.pdf> ECKERDT, N. S.; CORRADI-WEBSTER, C. M. Sentidos sobre o hábito de fumar para mulheres participantes de grupo de tabagistas. Revista Latino-Americana de Enfermagem, 2010. Disponível em:< http://www.scielo.br/pdf/rlae/v18nspe/a22v18nspe.pdf>. Acesso em: 15 abr. 2011. GALÃO, A. O. et al. Efeitos do Fumo Materno Durante a Gestação e complicações perinatais. 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Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/csc/v12n2/a24v12n2.pdf.Acesso em: 12 abr. 2011. 519 33.3) TENDÊNCIAS DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA ACERCA DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA ATENÇÃO PRÉ-NATAL (2014)1 DE BORTOLI, Cleunir de Fátima Candido2; RESSEL, Lúcia Beatriz3; BARRETO, Camila Nunes4; ASTARITA, Kelen 5; SCARTON, Juliane 6; CASTIGLIONI, Críslen Malavolta7 Eixo Temático: Eixo 2: Atenção ao Pré-natal; Descritores: Saúde da Mulher; Cuidado Pré-Natal; Enfermagem. 1. INTRODUÇÃO A saúde da mulher no Brasil passou a ser contemplada nas políticas nacionais de saúde em meados dos anos 30. Até os anos 70, limitava-se à assistência relacionada à gravidez e ao parto (BRASIL, 2004). Em 1984 teve a implantação do PAISM – Programa de Atenção Integral Saúde da Mulher e em 2000 o Ministério da Saúde instituiu Programa Nacional de Humanização do Parto e Nascimento (PHPN), garantindo o acesso das gestantes e recém-nascidos a atendimento digno e de qualidade no decorrer da gestação, parto, puerpério e período neonatal (BRASIL, 2000). Em 2011 o Ministério da Saúde instituiu a Rede Cegonha, visando a realização de pré-natal na Unidade Básica de Saúde, captando 1 Estudo de Tendência. Apresentadora. Enfermeira. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (PPGEnf) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Membro do Grupo de Pesquisa Cuidado, Saúde e Enfermagem/UFSM e-mail: [email protected] 3 Orientadora. Enfermeira. Doutora em Enfermagem pela Universidade de São Paulo (USP). Professora Associada do Curso de Graduação em Enfermagem e do PPGEnf da UFSM. Líder do Grupo de Pesquisa Cuidado, Saúde e Enfermagem. Email: [email protected] 4 Co-autora. Enfermeira. Mestranda do PPGEnf da UFSM. Membro do Grupo de Pesquisa Cuidado, Saúde e Enfermagem/UFSM. Email: [email protected] 5 Co-autora. Acadêmica do Curso de Enfermagem da UFSM. Membro do Grupo de Pesquisa Cuidado, Saúde e Enfermagem/UFSM. Email: [email protected] 6 Co-autora. Enfermeira. Mestranda do PPGEnf da UFSM. Membro do Grupo de Pesquisa Cuidado, Saúde e Enfermagem/UFSM. Email: [email protected] 7 Co-autora. Acadêmica do Curso de Enfermagem da UFSM. Membro do Grupo de Pesquisa Cuidado, Saúde e Enfermagem/UFSM. Email: [email protected] 2 520 precocemente a gestante com atenção qualificada ao pré-natal, com acolhimento às intercorrências e avaliação do risco gestacional e vulnerabilidade da gestante (BRASIL, 2011). O acompanhamento pré-natal tem por objetivo permitir o desenvolvimento gestacional e o nascimento do recém-nascido saudável. Prevê nenhum impacto na saúde da mulher, além de abordar aspectos psicossociais e atividades de educação em saúde (BRASIL, 2012). A atenção Pré-Natal não deve ser entendida somente pelo aspecto biológico da mulher, pois tal conduta torna-se uma barreira, impedindo o estabelecimento do vínculo de acolhimento, confiança e segurança na relação entre o Enfermeiro e a gestante (DUARTE, ANDRADE, 2006). 2. OBJETIVO Conhecer a tendência da produção cientifica dos Programas de PósGraduação em Enfermagem no Brasil, acerca da assistência de Enfermagem no Pré-Natal. 3. METODOLOGIA Caracterizou-se por uma pesquisa bibliográfica no banco de teses e dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), no dia 05 de junho de 2014, acerca da temática da assistência de Enfermagem no Pré-Natal. Para a busca das publicações foram utilizadas as palavras-chave: “cuidado pré-natal” e “Enfermagem”. No total foram encontradas 4 produções, sendo todas de origem de dissertações de mestrado acadêmicos. O período disponível no banco na data da busca, foram publicações realizadas nos anos de 2011 e 2012, em virtude disso realizou-se outra busca no catálogo da ABEN. A busca no Catálogo da ABEN foi realizada com a palavra “cuidado prénatal”, localizando 17 publicações, sendo 4 duplicadas. Inicialmente, procedeu-se a leitura atenta dos títulos e resumos e organizou-se os dados em um instrumento elaborado pela própria pesquisadora, contendo: título, ano de publicação, tipo de 521 produção, instituição de origem, abordagem metodológica, sujeitos da pesquisa, cenário, objetivo do estudo. Utilizou-se como critérios de inclusão estudos de teses e dissertações nacionais, que abordassem a temática da Assistência de Enfermagem no pré-natal e como critérios de exclusão, publicações com resumos incompletos ou que não respondessem a questão de pesquisa. Os dados quantitativos foram analisados pela frequência simples e apresentados na forma descritiva e os dados qualitativos foram analisados através da Proposta Operativa de Minayo (2014). 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES No total foram selecionados 17 publicações, sendo 13 dissertações e 4 teses. As publicações tiveram início em 2002, segundo ano após o Ministério da Saúde instituir o Programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento, visando subsidiar a assistência à gestante e ao recém-nascido (BRASIL, 2002). Ainda, quanto ao ano de publicação, destacam-se os anos de 2008 e 2012 com 4 publicações em cada ano, na sequencia os anos de 2003, 2011 2013 com 2 publicações em cada ano. Em relação aos cursos de Pós graduação, as publicações encontram-se em instituições públicas, a maioria delas nas Universidade federal do Rio de Janeiro e Universidade de São Paulo, totalizando quatro publicações cada. Na sequência, 2 publicações na Universidade Federal do Ceará. Com uma publicação estão, Universidade Federal de Santa Maria, Universidade Federal de Rio Grande do Norte, Universidade Estadual de Londrina, Universidade do Pará, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Universidade Federal da Bahia e um estudo publicado em conjunto com a Universidade Federal do Ceará e a Universidade Federal do Maranhã. Em relação a abordagem metodológica, há uma prevalência maior de estudos qualitativos, caracterizando 9 publicações, na sequencia os estudos quantitativos com 7 publicações e apenas um estudo caracterizado com quanti-qualitativo. Quanto aos participantes dos estudos, apresentou uma frequência maior nos profissionais Enfermeiros (as) com 7 publicações. Estudos pesquisando os profissionais de Enfermagem foram 4 publicações, Gestantes 4 publicações e como participante 522 Enfermeiros (as) e gestantes penas 2 estudos. Quanto aos cenários dos estudos, predominou o âmbito da Atenção Básica, sendo 11 estudos realizados em equipes de Estratégia Saúde da Família (ESF) e Unidades Básicas de Saúde (UBS), 2 estudos em Centros de Saúde, 1 estudo pesquisando ESF e Centros de Saúde, 1 estudo pesquisou ESF e Maternidade de atenção ao parto. Ainda, Ambulatório Hospitalar e Maternidade apenas 1 estudo em cada. A análise dos resumos emergiu as seguintes categorias: Perfil dos profissionais e avaliação das ações na assistência Pré-Natal: Nos estudos que obtiveram a caracterização do perfil dos profissionais, apresentam resultados referentes a idade dos profissionais, dados socioeconômicos, assim como a respeito da formação dos mesmos. Ainda, alguns estudos optaram por caracterizar a equipe de Enfermagem envolvida nas ações de assistência Pré-Natal. Quanto a avaliação das ações na assistência, identifica-se um grande desafio, tanto na estrutura física e de recursos humanos. Os resultados revelam que os profissionais possuem conhecimento, porém não na sua totalidade. As fragilidades encontram-se na estratificação de risco e exame físico obstétrico. Possuem participação discreta na assistência pré-natal e as competências necessárias são realizadas, no entanto com baixa frequência. As habilidades desenvolvidas emergem da própria atuação na Atenção Básica sem evidências de políticas de Educação continuada na formação dos profissionais. Entretanto, em uma minoria dos estudos estão as Necessidades, expectativas e percepção das gestantes: Propõe que a atenção à Saúde da Mulher ocorra além da abordagem clínica. Aponta a relevância do conhecimento do contexto cultural da gestante, como subsidio para a prática de assistência. Revelam a necessidade de uma atenção humanizada, compreendendo e atendendo as necessidades individuais. Ainda, as usuárias identificam as atividades de Enfermagem nas consultas mensais, ações de educação em Saúde em grupos e visitas domiciliares. Há uma valorização, por parte das gestantes, para com as ações de Enfermagem, expressando sentimentos de segurança, destacando a interação Enfermeira-Gestante e orientações sobre os cuidados em saúde. 523 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS A análise demonstra que a tendência dos estudos está mais direcionada as questões de avaliação da Assistência de Enfermagem no Pré-Natal. Faz-se necessário compreender as dificuldades enfrentadas pelos profissionais Enfermeiros na Assistência ao Pré-Natal. Ainda, identificou-se uma lacuna na produção cientifica na perspectiva da práxis dos profissionais na assistência ao Pré-Natal. REFERÊNCIAS BRASIL. Assistência integral à saúde da mulher: bases da ação programática. Brasília DF: Ministério da Saúde, 1984. BRASIL. Portaria GM/MS n.º 569, de 1 de junho de 2000. Programa Nacional de Humanização do Parto e Nascimento. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília DF: Ministério da Saúde, 2000. BRASIL. Portaria GM/MS n.º 569, de 1 de junho de 2000. Programa Nacional de Humanização do Parto e Nascimento. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília DF: Ministério da Saúde, 2000. BRASIL. Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. Humaniza SUS: acolhimento com avaliação e classificação de risco: um paradigma éticoestético no fazer em saúde. 1. Ed. Brasília DF: Ministério da Saúde, 2004. BRASIL. Portaria GM/MS n.º 1.459, de 24 de junho de 2011. Institui, no âmbito so Sistema Único de Saúde – SUS a Rede Cegonha. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília DF: Ministério da Saúde, 2011. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Atenção ao prénatal de baixo risco – manual técnico. Brasília: Ministério da Saúde, 2012. DUARTE, Sebastião Junior Henrique; ANDRADE, Sônia Maria Oliveira de. Assistência pré-natal no Programa Saúde da Família. Esc. Anna Nery. Rio de Janeiro , v. 10, n. 1, Apr. 2006 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S141481452006000100016&lng=en&nrm=iso>. access on 15 June 2014. http://dx.doi.org/10.1590/S1414-81452006000100016. 524 MINAYO, M.C.S. O desafio do conhecimento pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo, Hucitec, 2014. 525 34.3) PRÁTICAS ASSISTÊNCIAS DESENVOLVIDAS PELO ENFERMEIRO NA ATENÇÃO PRÉ-NATAL: UMA REVISÃO DA LITERATURA (2014)1 DE BORTOLI, Cleunir De Fátima Candido2; RESSEL, Lúcia Beatriz3; ALVES, Camila Neumaier 4; BISOGNIN, Priscila5; PRATES, Lisie Alende6; BARRETO, Camila Nunes7 Eixo Temático: Eixo 2: Atenção ao Pré-natal Descritores: Cuidado Pré-Natal; Cuidados de Enfermagem; Gravidez; 1. INTRODUÇÃO A atenção à saúde da mulher no Brasil, passou fazer parte das Políticas Nacionais em meados das primeiras décadas do século XX. Os programas de assistência materno-infantis, existentes nas décadas de 30, 50 e 70, contemplavam a mulher no seu aspecto biológico e papel social (BRASIL, 2004). A Atenção à Saúde da mulher, teve inicio com a implantação do Programa de Atenção Integral a Saúde da Mulher (PAISM), no período de 1984 a 1989. Na década de 1990 obteve maior amplitude em sua execução, sofrendo influências a partir da proposição do 1 Estado da Arte Apresentadora. Enfermeira. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (PPGEnf) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Membro do Grupo de Pesquisa Cuidado, Saúde e Enfermagem/UFSM e-mail: [email protected] 3 Orientadora. Enfermeira. Doutora em Enfermagem pela Universidade de São Paulo (USP). Professora Associada do Curso de Graduação em Enfermagem e do PPGEnf da UFSM. Líder do Grupo de Pesquisa Cuidado, Saúde e Enfermagem. Email: [email protected] 4 Co-autora. Enfermeira. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas/RS. Membro do Grupo de Pesquisa Cuidado, Saúde e Enfermagem/UFSM. Email: [email protected] 5 Co-autora. Enfermeira. Mestranda do PPGEnf da UFSM. Membro do Grupo de Pesquisa Cuidado, Saúde e Enfermagem/UFSM. Email: [email protected] 6 Co-autora. Enfermeira. Mestranda do PPGEnf da UFSM. Membro do Grupo de Pesquisa Cuidado, Saúde e Enfermagem/UFSM. Email: [email protected] 7 Co-autora. Enfermeira. Mestranda do PPGEnf da UFSM. Membro do Grupo de Pesquisa Cuidado, Saúde e Enfermagem/UFSM. Email: [email protected] 2 526 SUS. Apresentava características da nova política de saúde, pelo processo de municipalização e principalmente pela reorganização da atenção básica, por meio da Estratégia Programa preventivas, de Saúde diagnóstico, da Família. tratamento Contemplando e recuperação, ações educativas, compreendendo a assistência à mulher em clínica ginecológica, no pré-natal, parto e puerpério, no climatério, em planejamento familiar, DST, câncer de colo de útero e de mama, além de outras necessidades de acordo com o perfil populacional (BRASIL, 1984). O Ministério da Saúde, através da Portaria GM/MS n.º 569, de 1 de junho de 2000, instituiu o Programa Nacional de Humanização do Parto e Nascimento (PHPN), garantindo o acesso das gestantes e recém-nascidos a atendimento digno e de qualidade no decorrer da gestação, parto, puerpério e período neonatal (BRASIL, 2000). Em 2011 o Ministério da Saúde instituiu a Rede Cegonha, visando a reorganização da da rede de atenção à mulher, propondo a realização de pré-natal na Unidade Básica de Saúde, com a captanção precocemente a gestante e qualificação da Atenção Pré-Natal (BRASIL, 2011). 2. OBJETIVO Conhecer as ações desenvolvidas pelo Enfermeiro na atenção pré-natal. 3. METODOLOGIA Caracterizou-se por um estudo de revisão. No desenvolvimento do mesmo foram percorridas as seguintes etapas: estabelecimento da questão de pesquisa; estabelecimento de critérios de inclusão e exclusão de artigos; categorização dos estudos; avaliação dos estudos; interpretação dos resultados; e a síntese do conhecimento (MENDES; SILVEIRA; GALVÃO, 2008). Para orientar a busca dos estudos, utilizou-se da seguinte questão de pesquisa: quais as ações desenvolvidas pelos enfermeiros durante a assistência pré-natal e como elas refletem na saúde das mulheres? A seleção dos estudos foi realizada em junho de 2014. Utilizou-se como 527 critérios de inclusão, artigos que estivessem apresentados com resumos completos nas bases de dados; disponíveis online, na integra e de forma gratuita, sendo pesquisas originais; nos idiomas inglês, espanhol ou português; publicados entre 1984 e 2013. Os critérios de exclusão foram aqueles que não se relacionassem a temática estudada e não respondessem à pergunta de pesquisa. A busca dos artigos foi realizada na base de dados eletrônica Public Medline (PubMed) utilizando os MeSH Terms “prenatal care” and “nursing”, na base de dados MEDLINE (Medical Literature Analysis and Retrieval Sistem on-line) e LILACS (Literatura LatinoAmericana e do Caribe em Ciências da Saúde) com os descritores de assunto “cuidado pré-natal” e “enfermagem”. Determinou-se como recorte temporal o ano de 1984, quando ocorreu a implantação oficial do PAISM, marco importante nas políticas públicas em relação a assistência na saúde de mulher. Entretanto, este recorte possibilita 29 anos de publicações, não causando limitações na busca por estudos publicados em outros países e encontrados indexados na MEDLINE. A partir da busca encontrou-se um total de 430 estudos na PUBMED, sendo aplicado filtro de disponível gratuitamente resultando em 12 estudos, sendo que somente 5 responderam a temática. Na base de dados da LILACS foram encontrados 18 estudos, onde 1 estava indisponível, 12 não responderam a temática e 5 selecionados. Na MEDLINE, localizou-se 116 estudos, 113 estavam indisponíveis, 2 não responderam a temática e 1 selecionado, no entanto o mesmo estava repetido. Finalizando a busca com 10 artigos para análise. 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO Para a presente revisão, realizou-se a análise de dez artigos, todos atenderam aos critérios de inclusão estabelecidos para realização deste estudo. A seguir apresenta-se uma caracterização dos estudos selecionados e analisados na presente revisão. Quanto ao local do estudo, observou-se que oito foram realizados no Brasil, um em Portugal e um na Colômbia. Sobre a abordagem metodológica dos estudos, foram cinco quantitativos e cinco qualitativos. Quanto ao cenário, 528 predominou estudos desenvolvidos no âmbito da Atenção Básica totalizando seis estudos, em menor proporção, com dois estudos identificou-se Hospitais e maternidades. E na frequência de apenas um estudo cada, foram identificados: Hospital Universitário e Hospital e centro de saúde concomitante. Considerando os participantes do estudo foram realizados com enfermeiras um total de cinco artigos e usuárias, sendo gestantes e puérperas envolvendo também cinco estudos. Em relação aos anos de publicação dos estudos identificou-se: um artigo em 2004, 2007, 2008 e 2009; dois em 2006, 2010 e 2011. A seguir, apresenta-se a síntese dos artigos incluídos nesta revisão. Em relação aos resultados desses estudos, observa-se que existem dificuldades na prestação da assistência, onde as competências dos enfermeiros não são desenvolvidas na sua totalidade, comprometendo a qualificação das atividades desenvolvidas. As dificuldades mais frequentes são as que exigem saber e habilidades, o saber fazer. A graduação reflete na atenção pré-natal, tanto nos aspectos teóricos quanto atividades práticas (DOTTO, MOULIN, MAMEDE; 2006). Entre as ações desenvolvidas pelos enfermeiros no cuidado pré-natal, encontram-se as atividades de educação em saúde, consulta de pré-natal, preparação para o parto, assistências as intercorrências, acolhimento e humanização do cuidado prestado, sendo que um estudo apresentou indicadores de gênero e da assistência de enfermagem. A ação educativa é realizada de rotina pelo enfermeiro, durante a consulta de pré-natal, no entanto com pouca participação da mulher, sendo as questões estruturais e os modelos organizacionais os obstáculos da educação em saúde libertadora. Atividades como visitas domiciliares, possibilita a detecção e a prevenção de problemas frequentes na gestação, atividade essa nem sempre possível de ser realizada durante as consultas de pré-natal (NARCHI NZ, 2010). Os estudos evidenciam a necessidade de reorganizar a assistência de enfermagem no pré-natal, com revisão das políticas públicas e envolvimento dos profissionais, instituições e gestores. 5. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS 529 Conclui-se com o presente a amplitude da atuação dos profissionais de Enfermagem na assistência pré-natal. O cuidado se faz presente desde o início da gestação até o momento do parto. Possibilitou identificar que os estudos abordam o caráter avaliativo do cuidado pré-natal, assim como a qualidade e satisfação na perspectiva das usuárias assistidas pelo enfermeiro. Em relação a proposta desta revisão, observa-se uma lacuna no que concerne ao desenvolvimento de estudos com os profissionais enfermeiros, que enfoquem os limites e possibilidades do profissional nas ações de cuidado pré-natal. REFERÊNCIAS BRASIL. Assistência integral à saúde da mulher: bases da ação programática. Brasília DF: Ministério da Saúde, 1984. BRASIL. Portaria GM/MS n.º 569, de 1 de junho de 2000. Programa Nacional de Humanização do Parto e Nascimento. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília DF: Ministério da Saúde, 2000. BRASIL. Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. Humaniza SUS: acolhimento com avaliação e classificação de risco: um paradigma éticoestético no fazer em saúde. 1. Ed. Brasília DF: Ministério da Saúde, 2004. BRASIL. Portaria GM/MS n.º 1.459, de 24 de junho de 2011. Institui, no âmbito so Sistema Único de Saúde – SUS a Rede Cegonha. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília DF: Ministério da Saúde, 2011. DOTTO, Leila Maria Geromel; MOULIN, Nelly de Mendonça; MAMEDE, Marli Villela. Assistência pré-natal: dificuldades vivenciadas pelas enfermeiras. Rev. Latino-Am. Enfermagem, Ribeirão Preto , v. 14, n. 5, Oct. 2006 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010411692006000500007&lng=en&nrm=iso>. access on 05 Mai. 2014. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-11692006000500007. MENDES, Karina Dal Sasso; SILVEIRA, Renata Cristina de Campos Pereira; GALVAO, Cristina Maria. Revisão integrativa: método de pesquisa para a incorporação de evidências na saúde e na enfermagem. Texto contexto - enferm., 530 Florianópolis , v. 17, n. 4, Dec. 2008 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010407072008000400018&lng=en&nrm=iso>. access on 05 Mai. 2014. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-07072008000400018. NARCHI, Nádia Zanon. Atenção pré-natal por enfermeiros na Zona Leste da cidade de São Paulo - Brasil. Rev. esc. enferm. USP, São Paulo , v. 44, n. 2, June 2010 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S008062342010000200004&lng=en&nrm=iso>. access on 05 Mai. 2014. http://dx.doi.org/10.1590/S0080-62342010000200004. 531 35.3) A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER NA GESTAÇÃO: DENÚNCIAS DE VIVIDOS EM UMA DELEGACIA DE POLICIA PARA A MULHER 1 BECKER VIEIRA, Letícia2; DE MELLO PADOIN, Stela3; DE OLIVEIRA SOUZA, Ivis Emília 4; ROMIJN TOCANTINS, Florence5; LANDERDAHL, Maria Celeste6. Eixo Temático:: Eixo 1: Atenção à Saúde da Mulher. Descritores: Violência contra a mulher; Gravidez; Maus-Tratos Conjugais; Fatores de risco. 1. INTRODUÇÃO A violência contra a mulher é definida como qualquer ação ou comportamento baseado no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto no âmbito público como na esfera privada(BRASIL, 1994). A violência ocorre também em um período específico da vida das mulheres: o período gestacional. Durante a gestação a mulher enfrenta mudanças físicas e psicológicas que a tornam mais sensíveis ou fragilizadas merecendo, assim, uma maior atenção por parte do companheiro e da família. No entanto, a violência é uma realidade da vida de muitas dessas mulheres, desencadeando prejuízos, muitas vezes, irreparáveis ao binômio mãe-filho (SANTOS et al., 2010). Assim a gravidez é 1 Estudo qualitativo, que se constituiu de uma releitura em banco de dados da Dissertação de Mestrado: “Perspectivas de mulheres que denunciam o vivido da violência: cuidado de Enfermagem à luz de Alfred Schütz” e da Tese de Doutorado intitulada: “A mulher que vivencia a denúncia da violência e a relação com sua rede social: perspectivas para cuidar em saúde” cujos protocolos foram aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) sob os respectivos número: 0283.0.243.000-09 (2010) e nº19004/20012 (2012). 2 Doutora em Enfermagem, Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul EE/UFRGS. E-mail: [email protected] 3 Doutora em Enfermagem, Graduação e Pós Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria – UFSM. E-mail: [email protected] 4 Doutora em Enfermagem. Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro – EEAN/UFRJ. E-mail: [email protected] 5 Doutora em Enfermagem. Escola de Enfermagem Alfredo Pinto da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – EEAP/UNIRIO. 6 Doutoranda em Enfermagem. Curso de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria – UFSM. E-mail: [email protected] 532 configura-se como um fator de risco e também de proteção para a violência perpetrada contra o companheiro, alterando o padrão quanto à frequência e gravidade dessas agressões durante o período (DURAND, SCHRAIBER; 2007; MEDINA, PENNA, 2008). Segundo o Informe Mundial sobre a Violência e a Saúde a prevalência de violência física e sexual durante a gravidez oscila entre 1% e 20%, com índices altos nos primeiros seis meses após o parto (25%). Destaca-se ainda que a violência pode ser mais comum para a gestante do que a pré-eclâmpsia, o diabetes gestacional ou a placenta prévia (OMS, 2002). Nesse contexto, além dos danos resultantes da violência em si, nos diversos ciclos da vida, outros podem resultar da violência nessa fase, tais como: retardo em iniciar o pré-natal, abortamento e natimortalidade, baixo peso ao nascer, trabalho de parto prematuro, perdas fetais, infecções vaginais, uterinas, hemorragias, traumas abdominais, ruptura prematura de membranas e morte materna (BONFIM, LOPES, PERETTO, 2010). Assim, objetivou-se analisar o vivido de mulheres que denunciam situações de violência na gestação em uma Delegacia de Polícia para Mulher. 2. METODOLOGIA Trata-se de pesquisa qualitativa tendo como participantes 32 mulheres que realizaram o registro da violência na Delegacia de Polícia para a Mulher de um município do interior do Rio Grande do Sul das quais cinco relataram terem sido agredidas durante a gestação. As entrevistas semi estruturadas foram realizadas em março a abril de 2010, e posteriormente em maio a novembro de 2012. Desenvolveu-se a análise de conteúdo temática, composta pelas fases de préanálise, exploração do material e tratamento dos resultados obtidos. Os preceitos éticos foram observados conforme Resolução 466/12 (BRASIL, 2012). 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 533 A idade das mulheres entrevistadas foi entre 19 e 33 anos. O número de filhos variou de um a quatro filhos. Média de 02 denúncias realizadas contra o companheiro. No que diz respeito à situação marital predomínio de relação estável. A maioria das mulheres possui ensino médio incompleto. A literatura ressalta que o risco de agressão é significativamente maior para os níveis mais baixos de escolaridade. Observa-se também aumento do risco para as mulheres com união consensual, em relação às casadas (MENEZES et al., 2003). As falas abaixo ilustram a categoria empírica emergida no estudo: VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER NA GESTAÇÃO - DENÚNCIAS DE VIVIDOS: “Cada vez mais agressivo (companheiro), em todos os sentidos. Mas fisicamente, principalmente... e ai se tu esta nessa situação minha, grávida não é? Vai fazer o quê?” M3(D); “As pessoas não entendem essa situação da Maria da Penha, dizem: tu não tens vergonha e volta com ele (marido). Não é que tu queiras voltar com a pessoa, é a situação que não te deixa sair disso, sabe? No caso, grávida! Vai trabalhar? Não! Quem vai pegar uma grávida pra trabalhar! Tu vai pra onde grávida? Não é? As pessoas não entendem porque tu volta. Dizem: ah voltou! Muitas vezes dizem: ai retirou a denúncia! Julgam mas não sabe que a mágoa vai ficando M10 (D) “Ele (companheiro) sempre me bateu e me abandonou e ainda grávida de sete meses, me deixando naquela situação, sozinha com três filho e um na barriga. Foi difícil pedir ajuda, muita vergonha ... M3(T) “A primeira denúncia eu fiz quando estava grávida.... Agora é a segunda denúncia... Meu filho presencia isso tudo desde a gestação, desde quando estava na minha barriga, por isso esta assim agressivo, chorão, não fica na creche ...” M7(T). As mulheres descrevem que os episódios de agressões físicas, verbais, psicológicas, sexuais e ameaças de morte comentidas pelo companheiro/marido aconteciam anteriores a gestação, e que o fato de estarem gestando um filho do mesmo não se configurou como um fator de proteção ou cessação das agressões. Neste vivido revelam ainda que os filhos vivenciam tais situações desde sua concepção e que seguem a presenciá-la o que gera repercussões psicológicas e sociais nos mesmos. A gestação é marcada ora pelo abandono do companheiro, ora pelos questionamentos em seguir ou romper com a 534 relação conjugal. No entanto, o contexto social e econômico as imobiliza a romper com a relação violenta, aliado a isso expõe a fragilidade e a vulnerabilidade própria da fase gestacional. As mulheres manifestam que buscaram ajuda para enfrentar a situação principalmente nos membros de sua família, mas que a vergonha, preconceito e julgamento tornam a busca de ajuda limitada. Torna-se de fundamental importância associar ao cuidado à mulher em situação de violência e sua família, avaliando seu contexto sociocultural, envolvendo a abordagem das relações entre os seus integrantes e o entendimento de que a existência de condições particulares individuais, familiares e coletivas aumenta o risco de ocorrência da violência no âmbito doméstico (BRASIL, 2001). 4. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS Considera-se o importante papel dos profissionais da saúde e em especial da Enfermagem na detecção dos casos de violência contra a mulher na gestação, na proposição de ações de prevenção e combate deste vivido no atendimento e acompanhamento das situações de violência. Portanto, é de fundamental importância à abordagem do tema, no âmbito assistencial, seja na oportunidade de uma consulta pré- natal e até mesmo incorporando o tema nos currículos universitários e nas discussões no fazer cotidiano das unidades de saúde, voltadas para a análise e acompanhamento dos casos atendidos com vistas a sensibilização e a atenção para a temática da violência na gravidez. REFERÊNCIAS BRASIL. Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência Contra a Mulher, Belém do Pará. Brasil: 1994. BRASIL. Ministério da Saúde. Violência intrafamiliar: orientações para prática em serviço. 1ª ed. Brasília (DF); 2001 535 BONFIM E.G., LOPES M.J.M., PERETTO M. Os registros profissionais do atendimento pré-natal e a (in)visibilidade da violência doméstica contra a mulher. Esc Anna Nery Rev Enferm. 2010; 14(1):97-104. DURAND J.G., SCHRAIBER L.B. Violência na gestação entre usuárias de serviços públicos de saúde da Grande São Paulo: prevalência e fatores associados. Rev. bras. epidemiol. 2007; 10(3). MEDINA A.B.C., PENNA L.H.G. Violência na gestação: um estudo da produção científica de 2000 a 2005. Esc Anna Nery Rev Enferm 2008; 12 (4): 793-98. MENEZES T.C., AMORIM M.M.R., SANTOS L.C., FAGÚNDES A.L. Violência física doméstica e gestação: resultados de um inquérito no puerpério. Rev. Bras. Ginecol. Obstet. 2003; 25(5): 303- 316. MEDINA, A. B. C.; PENNA, L. H. G. A percepção de enfermeiras obstétricas acerca da violência intrafamiliar em mulheres grávidas. Texto Contexto Enfermagem, 2008; 17(3):466-73. SANTOS A.G., NERY I.S., RODRIGUES D.C., MELO A.S. Violência contra gestantes em delegacias especializadas no atendimento à mulher de Teresina-PI. Rev. Rene, 2010; 1 (Número Especial): 109-16. 536 36.3) PERCEPÇÕES DE MULHERES ACERCA DO EXAME CITOPATOLÓGICO1 BROCH, Daiane2; ZUGNO, Rochele Maria3; GODINHO, Maria Luzia4; BANDEIRA, Eliel de Oliveira5; LIMA, Juliana Piveta de6; GOMES, Vera Lúcia de Oliveira7 Eixo Temático: Eixo 1: Atenção à Saúde da Mulher Descritores: Enfermagem. Exame Papanicolau. Prevenção de câncer de colo uterino 1. INTRODUÇÃO O câncer do colo do útero é caracterizado pela replicação desordenada do epitélio de revestimento desse órgão, podendo comprometer o tecido subjacente e invadir estruturas e órgãos contíguos ou à distância. É uma doença de desenvolvimento lento, que pode evoluir sem sintomas em fase inicial e avançar para quadros de sangramento vaginal intermitente ou após a relação sexual, secreção vaginal anormal e dor abdominal associada a queixas urinárias ou intestinais nos casos mais avançados (BRASIL, 2011). O exame preventivo, também chamado de citopatológico ou Papanicolau, envolve uma avaliação morfológica celular decisiva para a detecção de uma pré-malignidade, que quando associada a 1 Trata-se do recorte de um projeto de pesquisa desenvolvido pelo grupo PET/Enfermagem. Acadêmica de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande. Bolsista PET Enfermagem. Email: [email protected] 3 Acadêmica de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande. Bolsista PET Enfermagem. Email: [email protected] 4 Acadêmica de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande. Bolsista PET Enfermagem. Email: [email protected] 5 Acadêmico de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande. Bolsista PET Enfermagem. Email: [email protected] 6 Acadêmica de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande. Bolsista CNPq. E-mail: [email protected] 7 Doutora em Enfermagem. Professora Titular da Universidade Federal do Rio Grande. Líder do Grupo GEPEGS. Tutora do Grupo PET Enfermagem. E-mail: [email protected] 2 537 um determinado quadro clínico, permite o direcionamento do tratamento específico. Trata-se de um exame rápido, de baixo custo operacional e, se realizado com técnicas adequadas e por profissionais devidamente treinados, é de grande confiabilidade (BRASIL, 2008). A realização do exame é vivenciada pelas mulheres de forma individualizada. Muitos dos sentimentos desencadeados decorrem da necessária exposição da intimidade feminina. O exame em si representa uma ameaça e causa medo, provocando reações que muitas vezes podem não ser expressas na fala. (FERREIRA, 2009). Cada mulher possui sua própria singularidade e compreensão sobre o contexto que envolve o exame citopatológico. Um procedimento, a princípio simples aos olhos do profissional, pode ser percebido pela mulher como uma experiência agressiva, tanto física quanto psicológicamente, pois a mulher que busca o serviço traz consigo uma bagagem sociail, cultural, familiar e religiosa (JORGE, 2011). Por isso é necessária a implementação de medidas que atraiam as mulheres às Unidades Básicas de Saúde, para a realização do exame preventivo, visando à obtenção do diagnóstico precoce de lesões precursoras do câncer do colo uterino. Sabe-se que na fase inicial da doença, as chances de cura podem chegar a 100% e, em grande número de vezes, a resolução ocorre em nível ambulatorial, diminuindo assim, os índices de morbimortalidade (BRASIL, 2008). 2. OBJETIVO Conhecer a percepção acerca do exame citopatológico, entre mulheres agendadas para a realização do mesmo em uma UBSF do município do Rio Grande. 3. METODOLOGIA Trata-se de um estudo exploratório-descritivo com abordagem qualitativa,realizado por meio de evocações. Para colhê-las se fez o seguinte questionamento: quais as três primeiras palavras ou expressões que você lembra ao 538 ouvir o termo “exame papanicolau”? Participaram como informantes mulheres, agendades para coleta de citopatológico nos meses novembro e dezembro de 2013, em uma USF da periferia do município do Rio Grande. Os dados foram coletados por meio de entrevista com registro manual, em sala destinada para essa finalidade, na própria unidade de saúde. Utilizou-se a análise de conteúdo de Bardin (2011), que se configura como um conjunto de técnicas de análise das comunicações, que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens. Cada palavra ou expressão citada constituiu uma unidade de registro que posteriomente foi categorizada. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética CEPAS/FURG sob o parecer nº 040/2013. 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES Participaram dessa pesquisa dez mulheres. Diante do termo indutor “exame papanicolau” evocaram 30 palavras. Analisando-se a conotação das palavras evocadas percebeu-se que algumas tinham a conotação negativa, outras positiva e raras neutra. Houve o predomínio de palavras com conotação negativa 17 (56,7%), sendo as mais citadas “doenças” 4 (13,3%), “desconforto” 4 (13,3%) e “vergonha” 4 (13,3%), seguidas por “câncer” 2 (6,7%), “medo” 2 (6,7%) e “desconhecimento” 1 (3,3%). Das 11 (36,7%) positivas a palavra predominante foi prevenção 7 (23,3%), seguida por saúde 2 (6,7%) e higiene 2 (6,7%) e as 2 (6,7%) palavras neutras citadas foram “privacidade” e “necessidade”. Esses achados podem demonstrar que as mulheres têm percepção negativa acerca do exame papanicolau, o que justificaria sua baixa adesão. Segundo os dados colhidos juntos às fichas cadastrais dos Agentes Comunitários de Saúde na UBSF pesquisada, em 2012 haviam 778 mulheres na faixa etária de 15 a 59 anos de idade, dessas apenas 108 realizaram o exame preventivo de câncer do colo do útero (DANTAS, 2014). Nesse sentido, Pelloso; Carvalho e Higashi (2004) mencionam que o sentimento de vergonha pode estar associado à impessoalidade da realização do exame. Além disso, relacionam a exposição do corpo, com a questão da sexualidade e dos tabus atrelados a esse 539 tema, da mesma forma que mencionam o fato da mulher perceber que seu corpo será visto e compreendido como objeto, o que deixa de lado sua condição humana. A palavra prevenção foi a mais evocada entre as com conotação positiva. Tal constatação pode ser justificada pelo fato das muheres reconhecerem a importância da realização do exame como medida preventiva. No entanto, Pelloso, Carvalho, e Higarashi (2004) advertem que embora as mulheres reconheçam a importância da realização do papanicolau, sua prática fica prejudicada em função do medo, da insegurança e da tensão. 5. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS Percebe-se que o exame Papanicolau é visto pela maioria das mulheres como algo negativo, assim, considera-se de extrema importância que os profissionais de saúde o problematizem junto às clientes, com informações qualificadas, que possibilitem tanto a desmitificação dos fatores negativos, quanto valorizem a aplicabilidade dos resultados na prevenção e tratamento de patologia quando detectadas. Considerando-se que dentre as palavras negativas “vergonha” foi uma das mais citadas, a equipe deve rever as rotinas de atendimento valorizando a privacidade da cliente, proporcionar o mínimo de desconforto possível e priorizar o atendimento por profissional do sexo feminino. Deve ainda, manter um controle acerca da periodicidade da realização do exame efetuando, sempre que possivel, busca ativa das mulheres faltosas. REFERÊNCIAS BARDIN, L. Análise de Conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011. BRASIL. Ministério da Saúde. Prevenção e Controle do Câncer do Colo do útero: protocolo de Atenção a saúde da mulher. Secretaria Municipal de Saúde. Belo Horizonte (BH): Ministério da saúde, 2008. BRASIL. Ministério da Saúde. Programa Nacional de Controle do Câncer do Colo do Útero. Brasília (DF): INCA 2011. 540 DANTAS, T. S. O exame citopatológico na percepção de usuárias da Unidade Básica da Estratégia de Saúde da Família Dr José Salomão. Trabalho de Conclusão de Curso. Curso de Enfermagem, Universidade Federal do Rio Grande, Rio Grande/RS, 2014. FERREIRA, M.L.S.M. Motivos que influenciam a não-realização do exame de papanicolaou segundo a percepção de mulheres. Esc Anna Nery Rev Enferm, abrjun; v13, n.2, p.378-84, 2009. JORGE, R.J.B. Exame Papanicolaou: sentimentos relatados por profissionais de enfermagem ao se submeterem a esse exame. Ciência & Saúde Coletiva, v.16, n.5, p.2443-2451, 2011. PELLOSO, S. M.; CARVALHO, M. D. B.; HIGARASHI, L. H. Conhecimento das mulheres sobre o câncer cérvico-uterino. Acta Scientiarum. Health Sciences, Maringá, v.26, n.2, p.319 - 324, nov. 2004. Disponível em: <http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/ActaSciHealthSci/article/viewFile/15 82/935>. Acesso em: 22 set. 2014. 541 37.3) PERCEPÇÕES DE PUÉRPERAS ACERCA DAS ORIENTAÇÕES SOBRE ALEITAMENTO MATERNO1 BATISTA, Marina Ramos2; VELEDA, Aline Alves 3 Eixo Temático: Atenção à Saúde da Mulher. Descritores: Aleitamento materno; Educação em Saúde; Saúde materno-infantil. 1. INTRODUÇÃO O aleitamento materno é uma prática de benefícios reconhecidos e amplamente recomendada. Recomenda-se o aleitamento materno exclusivo até os seis meses de vida da criança. Para tanto, considera-se aleitamento materno exclusivo a alimentação da criança apenas com leite humano, seja ele da própria mama materna, ordenhado ou de outra fonte (BRASIL, 2009a). No Brasil, com o intuito de promover a prática do aleitamento materno, existem diversas políticas e estratégias de incentivo à amamentação. Destas, é possível citar a Rede Cegonha, a Rede Amamenta Brasil, e a Iniciativa Hospital Amigo da Criança. Entretanto, apesar de um progresso no índice de aleitamento materno, esta prática ainda está longe do ideal, pois o aleitamento materno exclusivo é pouco frequente (BRASIL, 2009b; VENANCIO et al., 2010). 2. OBJETIVO Conhecer as percepções das puérperas em relação às orientações sobre aleitamento materno. 1 Trabalho de conclusão do curso de Bacharelado em Enfermagem apresentado ao Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre. 2 Acadêmica de Enfermagem da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre ([email protected]) 3 Professora Assistente do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (Mestre em Enfermagem pela Fundação Universidade Federal de Rio Grande, [email protected]) 542 3. METODOLOGIA Trara-se de um estudo qualitativo de caráter descritivo realizado nas Unidades de Saúde da Família do Distrito Docente Assistencial Norte/Eixo Baltazar do município de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil. Participaram do estudo puérperas, em puerpério tardio, residentes no município, cujos partos foram realizados em um Hospital Amigo da Criança e que já haviam realizado a primeira consulta de puericultura na sua unidade de saúde de referência. Foram excluídas mulheres cujos recém-nascidos permaneceram internados em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal por qualquer período de tempo, mulheres que permaneceram internadas em Unidade de Terapia Intensiva após o parto, aquelas cujos recémnascidos tivessem qualquer má formação congênita que dificultasse o processo de amamentação e aquelas com contra-indicação absoluta para amamentar. A coleta de dados se deu através de uma entrevista semi-estruturada, com roteiro norteador e ocorreu através do contato com as Unidade de Saúde da Família para indicação de uma puérpera e posterior visita domiciliar para realização da entrevista. O término da coleta deu-se pelo critério de saturação dos dados. Os dados foram analisados pela Análise Temática proposta por Minayo (2010). Conforme a resolução nº466 do Conselho Nacional de Saúde de 12 de dezembro de 2012, o projeto foi aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (parecer nº565.848) e pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Prefeitura Municipal de Porto Alegre (parecer nº638.224). 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram entrevistas um total de seis mulheres, puérperas, em seus domicilios, entre o 11º e o 42º dia após o parto. A partir de seus depoimentos podemos chegar a algumas conclusões preliminares deste estudo: 1) as orientações sobre aleitamento materno são fornecidas em forma de ensino-aprendizagem, onde a mulher escuta e o profissional ensina as técnicas mais adequadas, sem considerar a 543 questão sensível da amamentação; 2) as orientações são realizadas de maneira tecnicista e são focadas nos problemas que podem ocorrer durante o processo de amamentação; 3) as orientações foram fornecidas somente durante o puerpério, não sendo referidas nas consultas e encontros no pré-natal; 4) algumas mulheres não receberam apoio para amamentar logo após o parto, recebendo auxílio apenas quando percebeu-se alguma dificuldade; 5) na fala de algumas participantes é possível perceber a visão do aleitamento materno como uma obrigação da mulher e a responsabilidade em seguir as orientações dos profissionais da saúde; 6) mesmo recebendo poucas orientações ou elas sendo realizadas somente com foco em questões técnicas, quando receberam auxílio as mulherese consideraram importante para o período pós-parto. Estes resultados vem de encontro aos de outros autores (OLIVEIRA et al., 2010) que trazem que muitas mulheres referem não ter recebido apoio ao amamentar, ou que receberam apenas quando ocorreram problemas. E, ainda, que a prática de orientações sobre amamentação resume-se a questão biológica, refletindo o modelo biomédico e mecanicista, não atendendo às necessidades das mulheres (MARQUES et al., 2009), reforçando a necessidade de ouvi-las e abranger questões sociais e culturais nas orientações sobre aleitamento materno (OLIVEIRA et al., 2010; MARQUES et al., 2009). 5. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir das informações coletadas pudemos considerar que as mulheres estão sendo atendidas de maneira parcial em suas necessidades relativas à amamentação, visto que os profissionais que as estão assistindo continuam reproduzindo em seus cuidados a maneira tradicional, tecnicista e biomédica que prioriza o foco em problemas e não na prevenção e na educação em saúde. Além disso, nas falas das mulheres ficou evidente a necessidade de uma escuta qualificada, de um acolhimento e de um tempo maior para as orientações e ao apoio ao aleitamento materno. Acreditamos que a amamentação vai além de técnicas corretas, boa pega e posicionamento adequado, é um momento de encontro entre 544 mãe e filho regado não apenas por leite materno, mas por carinho, vínculo, contato, troca e sensibilidade e que precisa assim ser visto e cuidado pelos profissionais da saúde, em especial pelos profissionais da Enfermagem, profissão preocupada essencialmente com um cuidado de qualidade. REFERÊNCIAS BRASILa. Ministério da Saúde. Cadernos de Atenção Básica - Saúde da Criança: Nutrição infantil: aleitamento materno e alimentação complementar. Departamento de atenção básica – Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2009. BRASILb. Ministério da Saúde. Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher – PNDS 2006: dimensões do processo reprodutivo e da saúde da criança. Brasília, DF, 2009. BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Resolução nº 466 de 12 de dezembro de 2012. Diretrizes e normas regulamentadoras sobre pesquisa envolvendo seres humanos. Brasília: CNS; 2012. MARQUES, Emanuele Souza; COTTA et al. Práticas e percepções acerca do aleitamento materno: consensos e dissensos no cotidiano de cuidado numa Unidade de Saúde da Família. Rev. de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, n.19, v.2, 2009. MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde./ Maria Cecília de Souza Minayo. – 12 ed. – São Paulo: Hucitec, 2010. 407 p.; 21 cm. - (Saúde em Debate; 46). OLIVEIRA, Maria Inês Couto de et al. Avaliação do apoio recebido para amamentar: significado de mulheres usuárias de unidades básicas de saúde do Estado do Rio de Janeiro. Rev. Ciência e Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, n.15, v.2, 2010. VENANCIO, Sonia I et al. Breastfeeding practice in the Brazilian capital cities and the Federal District: current status and advances. Journal of Pediatrics, vol. 86, n. 4, 2010. 545 38.3) A EVOLUÇÃO DAS POLÍTICAS DE SAÚDE DE PREVENÇÃO E CONTROLE DA MORBIMORTALIDADE MATERNA: SUBSÍDIOS PARA O ENFERMEIRO VIEIRA, Letícia Becker1; AMORIM, Thaís Vasconselos2; SOUZA, Ívis Emília de Oliveira3; MOURA, Maria Aparecida Vasconcelos4; QUEIROZ, Ana Beatriz Azevedo5; SALIMENA, Anna Maria de Oliveira 6 Eixo Temático: Eixo 1: Atenção à Saúde da Mulher Descritores: Saúde da Mulher. Política de Saúde. Mortalidade Materna. 1. INTRODUÇÃO O contexto da assistência à saúde da mulher se revela ao longo da história em uma série de movimentos sociais, culturais e políticos. Atentos à questão do ciclo gravídico-puerperal, os responsáveis pelo desenvolvimento de políticas públicas tiveram de incrementar ações que contemplassem as necessidades integrais da mulher, especialmente após o ano 2000 em virtude do compromisso com a redução da morbimortalidade materna (BRASIL, 2009). 2. OBJETIVO 1 Enfermeira. Doutora em Enfermage. Professora Adjunta, Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS. [email protected] 2 Enfermeira. Doutoranda em Enfermagem pelo Programa de Pós Graduação da Escola de Enfermagem Anna Nery, Universidade Federal do Rio de Janeiro, [email protected] 3 Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora Titular, Escola de Enfermagem Anna Nery, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil. [email protected] 4 Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora Associada, Escola de Enfermagem Anna Nery, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil. [email protected] 5 Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora Associada, Escola de Enfermagem Anna Nery, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil. [email protected] 6 Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora Associada, Universidade Federal de Juiz de Fora, Brasil. [email protected] 546 Traçar um panorama das políticas de prevenção e controle da morbimortalidade materna. 3. METODOLOGIA Revisão de literatura com busca direcionada às portarias e programas do Ministério da Saúde em bases de dados virtuais ministeriais, BVS/BDENF/LILACS com recorte temporal de 1984-2013. Após leitura para aproximação temática conveniente, consideraram-se inerentes treze referências. 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO A partir de 1984, o Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher inaugura a valorização de novas diretrizes assistenciais por meio das atividades educativas que contemplavam o autoconhecimento do corpo feminino, bem como de outras questões relativas à sexualidade e a saúde da mulher (BRASIL, 1984). Nesta década, no âmbito dos investimentos políticos para a redução da morbimortalidade materna, merece destaque a criação dos Comitês de Mortalidade Materna. Estes contavam com o suporte ministerial no planejamento das ações, direção dos recursos orçamentários e disseminação dos preceitos de prevenção aos óbitos maternos junto às autoridades sanitárias. Dentre os representantes que os integravam à época e ainda nos dias atuais, estão o Conselho Regional de Enfermagem e a Enfermagem Obstétrica (BRASIL, 2007a). A razão de mortalidade materna permaneceu constante entre 1988-1997, com discreto aumento por causas obstétricas indiretas. Preocupado com tal questão, o Ministério da Saúde reforçou as políticas em torno dos processos investigativos das ocorrências letais, inserindo na declaração de óbito questões específicas da gravidez em mulheres de 10-49 anos (BRASIL, 2007a). Em paralelo, o acompanhamento pré-natal de qualidade levou, na década de 90, à elaboração dos manuais técnicos que normatizavam procedimentos de ordem clínica e educativa. Assim, com o intuito de regulamentar diversas ações, 547 a Portaria MS/GM 569 de 01 de junho de 2000, instituiu o Programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento, articulando o Ministério e as Secretarias de Saúde. Apoiada pelas Portarias 570-571-572, apresentava como escopo: o desenvolvimento de ações promocionais, preventivas e assistenciais, considerando o acesso ampliado e a capacitação profissional; a organização de recursos necessários e regulação no SUS ; e a sistematização de pagamento da assistência ao parto (BRASIL, 2000a; BRASIL, 2000b; BRASIL, 2000c; BRASIL 2000d). Dentre as prioridades elencadas pelo programa encontrava-se a valorização dos registros mínimos dos indicadores de processo e resultado nas esferas estaduais e municipais. Estas deveriam refletir a qualidade assistencial no ciclo gravídicopuerperal, o que já pôde ser notado entre 1999-2001, período em que as taxas de mortalidade materna apresentaram um declínio relacionado ao aumento da qualidade assistencial nos âmbitos obstétricos e de planejamento familiar (BRASIL, 2000; BRASIL, 2007). Dois anos mais tarde, em 2003, registrava-se a Razão de Mortalidade Materna de 51,7 com as maiores concentrações de óbitos nas regiões Nordeste e Centro-Oeste. Ademais, ainda observavam-se dificuldades no preenchimento correto da declaração de óbito, relacionando a causa de morte à gestação, parto, puerpério (subinformação), além da ausência de registro do óbito em cartório (sub-registro) (BRASIL, 2007). Face a isto, o Pacto Nacional pela Redução da Mortalidade Materna e Neonatal ocupou-se da qualificação dos profissionais na detecção precoce das gestações de risco, fornecendo para tal o apoio técnico e financeiro para a formação especializada em Enfermagem obstétrica (BRASIL, 2004). Já os Planos Nacionais de Políticas para as mulheres, reforçavam a motivação governamental e registravam o aumento das consultas pré-natal. O II Plano em especial, ratificou a inquietação quanto à falta de identificação das gestantes que manifestavam maior possibilidade de evolução desfavorável, o grupo cognominado de “gestantes de alto rico” (BRASIL, 2005; BRASIL, 2008c). Por conseguinte, foi regulamentada pela Portaria GM nº 1119 de 5 de junho de 2008, a Vigilância Epidemiológica da Morte Materna que instaurou fluxos e limites de tempo para a disponibilização das informações no Sistema de Informação sobre 548 Mortalidade, definindo a logística sobre a qual se apoiou o grupo técnico responsável pela investigação das mortes, envolvendo as secretarias municipais de saúde, a equipe da atenção básica, os comitês hospitalares e demais profissionais de saúde indicados pelas autoridades da referida vigilância nas três esferas governamentais. Pela Portaria, com base na análise da causa do óbito, poder-se-iam eleger critérios que evitassem novas ocorrências letais, dentre os quais se apontavam a negligência, imperícia e imprudência profissionais na detecção dos fatores de risco gestacionais (BRASIL, 2009a). O reforço desta situação foi abordado na Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher. Segundo as evidências ministeriais, apesar do quantitativo de consultas pré-natal atender ao preconizado, o mesmo não se pode dizer da qualidade assistencial, pois aumentaram os casos de sífilis congênita, hipertensão gestacional e de falhas na cobertura vacinal durante a gestação. Outro senão reside na alta incidência de cesariana e intensa medicalização durante o parto e nascimento. Relativo ao puerpério, também se revelam insatisfatórios os aspectos quantiqualitativos dos retornos por centrarem no recém-nascido os enfoques da consulta (BRASIL, 2009). Nesse contexto, a Rede Cegonha surge como um “programa-resposta” que objetivou estender os cuidados à mulher até os dois primeiros anos de vida do bebê. Sob esta ótica, adotou o acesso em menor tempo ao pré-natal de alto risco a fim de minimizar as possíveis intercorrências, dada a condição de vulnerabilidade materno-fetal (BRASIL, 2011). Alicerçado por todas as políticas instituídas, entre os anos de 2000 a 2010, o Ministério da Saúde registrou uma queda na razão de mortalidade materna (RMM) em cerca de 7%, número considerado ainda insuficiente para atingir a meta da OMS, que consiste em reduzi-la anualmente em 5,5% (BRASIL, 2012). 5. CONCLUSÃO Atualmente, em virtude dos avanços técnico-científicos na área da saúde, torna-se inaceitável o fato de ainda ocorrerem tantas mortes, que em sua grande maioria são passíveis de prevenção. Apesar do esforço governamental, os índices 549 de morbimortalidade materna ainda são crescentes em nosso país, apontando muitos desfechos preveníveis. A rede de atendimento às gestantes apresenta falhas estruturais importantes e falta capacitação aos recursos humanos que a compõem. No tocante ao enfermeiro, como partícipe ativo da equipe de saúde que assiste a mulher nos diversos níveis de atenção, cabe considerar que respostas têm conferido às políticas e programas instituídos, uma vez que deve ser capaz de arregimentar práticas mais complexas e interativas que incrementem e melhorem a qualidade assistencial. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Saúde. Assistência integral à saúde da mulher: bases de ação programática. Brasília: Centro de Documentação do Ministério da Saúde, 1984. 27p. _______, Ministério da Saúde. Programa de humanização no pré-natal e nascimento. 2000. Disponível em: http://dtr2001.saude.gov.br/sps/areastecnicas/mulher/Cartilha.htm. Acesso em: 14 de set. 2013. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria GM nº 569, de 01 de junho de 2000. Institui o Programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento no âmbito do Sistema Único de Saúde. Brasília: 2000a. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria GM nº 570, de 01 de junho de 2000. Institui o componente I do Programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento – incentivo a assistência pré-natal no âmbito do Sistema Único de Saúde. Brasília: 2000b. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria GM nº 571, de 01 de junho de 2000. Viabiliza a estruturação de Centrais de Regulação Obstétrica, a implantação de sistemas de atendimento móvel às gestantes, nas modalidades pré e interhospitalares e a capacitação de recursos humanos que irão operar estes dispositivos. Brasília: 2000c. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria GM nº 572, de 01 de junho de 2000. Estabelece novos mecanismos de custeio da assistência ao parto que permitam o incremento da qualidade do acompanhamento integral e integrado da gestante durante o pré-natal, o parto, o puerpério e a adequada assistência ao recém-nascido. Brasília: 2000d. 550 _______, Ministério da Saúde. Pacto nacional pela redução da mortalidade materna e neonatal, 2004. Disponível em: http://189.28.128.100/dab/docs/publicacoes/informes/psfinfo22.pdf . Acesso em: 14 de set. 2013. ______, Ministério da Saúde. Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres. Plano Nacional de Políticas para Mulheres. Brasília, 2005. 26p. _________, Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção em Saúde. Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas. Manual dos Comitês de Mortalidade Materna/ 3. ed. – Brasília: Editora do Ministério da Saúde (DF), 2007a. ______, Ministério da Saúde. Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres. II Plano Nacional de Políticas para Mulheres. Brasília, 2008c. 205p. _________, Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção em Saúde. Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas. Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher: princípios e diretrizes/ 1. ed. – Brasília: Editora do Ministério da Saúde (DF), 2009. _________, Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Análise de Situação em Saúde. Guia de Vigilância Epidemiológica do Óbito Materno / 1. ed. – Brasília: Editora do Ministério da Saúde (DF), 2009a. _______, Ministério da Saúde. Diretrizes gerais e operacionais da Rede Cegonha. 2011. Disponível em: http://portal.saude.gov.br/portal/saude/Gestor/visualizar_texto.cfm?idtxt=37082. Acesso em: 28 de fev. 2013. _______, Ministério da Saúde. Boletim 1/2012 – Mortalidade materna no Brasil, 2012. Disponível em: http://portalsaude.saude.gov.br/portalsaude/index.cfm?portal=pagina.visualizarTexto &codConteudo=6403&codModuloArea=783&chamada=boletim-1/2012-mortalidadematerna-no-%20%20brasil. Acesso em: 14 de set. 2013. 551 39.3) A INSERÇÃO DE DOULAS NA ASSISTÊNCIA AO TRABALHO DE PARTO E NASCIMENTO NO AMBIENTE HOSPITALAR 1 COELHO, Fabiula2; SILVA, Eduína3; DIAS, Jennifer 4; CARVALHO, Karen 5 Eixo Temático: Atenção ao Parto. Descritores: Trabalho de parto; Parto Obstétrico; Parto Humanizado; Enfermagem. 1. INTRODUÇÃO A história do parto e nascimento vem sendo transformada de maneira progressiva ao longo da história, o parto foi adquirindo outro significado e passou a ser considerado um procedimento cirúrgico, que deve ser realizado por médicos, em ambiente hospitalar (MALHEIROS, 2012). Conforme o parto foi passando para a esfera médica e as famílias foram ficando cada vez menores, o contato com as mulheres mais experientes foi se perdendo. Dentro de hospitais e maternidades, a assistência passou para as mãos de uma equipe especializada: o médico obstetra, a enfermeira obstétrica, a auxiliar de enfermagem, o pediatra. Cada um com sua função bastante definida no cenário do parto. Apesar de toda a especialização, ficou uma lacuna: quem cuida especificamente do bem estar físico e emocional daquela mãe que está dando à luz? Essa lacuna pode e deve ser preenchida pela Doula ou acompanhante do parto (DOULAS DO BRASIL, 2014). Um atendimento adequado às gestantes no momento do parto e puérperio é uma das prioridades do Programa 1 Revisão Bibliográfica Fabiula Ferreira Coelho (Acadêmica de Graduação em Enfermagem, Universidade Católica de Pelotas e [email protected]) 3 Eduína Fonseca da Silva (Acadêmica de Graduação em Enfermagem, Universidade Católica de Pelotas e [email protected]) 4 Jennifer Specht Dias (Enfermeira, Hospital Universitário São Francisco de Paula e [email protected]) 5 Karen Knopp de Carvalho (Doutora em Enfermagem, Universidade Católica de Pelotas e [email protected]) 2 552 de Humanização no Pré-natal e Nascimento (PHPN), do Ministério da Saúde, onde é fundamentada os preceitos de que a humanização da Assistência Obstétrica e Neonatal é condição primeira para o adequado acompanhamento do parto e do puerpério. O governo está discutindo cada vez mais as práticas obstetricas realizadas no Brasil, a fim de melhorar a qualidade do serviço (PHPN, 2002). Ações governamentais foram constituídas para que esse cenário mudasse, dentre essas, a lei do acompanhante, criada em 07 de abril de 2005 garante a parturiente o direito a um acompanhante durante o trabalho de parto, parto e pós-parto imediato. O acompanhante em questão é de livre escolha da mulher, podendo ser, por exemplo, o marido, um familiar, enfermeiros ou uma doula (LEI N° 11.108, 2005). A palavra "doula" vem do grego "mulher que serve". Nos dias de hoje, aplica-se às mulheres que dão suporte físico e emocional a outras mulheres antes, durante e após o parto. Qualquer mulher com mais de 18 anos pode ser doula, inclusive quem não é profissional da saúde. A experiência da maternidade com certeza traz um componente especial à relação doula-gestante, essas mulheres são capacitadas através de um curso para promover o conforto e alivio da dor com métodos não farmacológicos, empoderando a mulher no seu trabalho de parto. No Brasil quem realiza os cursos de formação é a Associação Nacional de Doulas (ANDO) ou o Grupo de Apoio a Maternidade Ativa (GAMA), os cursos são disponibilizados em todo território nacional (DOULAS DO BRASIL, 2014). É considerada uma ocupação complementar pela Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), sendo classificado conforme registro 3221-35 (CBO, ACESSO EM 11 SET. 2014). 2. OBJETIVO Devido à participação de acadêmicas do Curso de Graduação em Enfermagem em um projeto de extensão, Promoção da Amamentação: Uma iniciativa global, vinculado a Universidade Católica de Pelotas, que atua em uma maternidade e centro obstétrico do Sistema Único de Saúde (SUS) e Redes Conveniadas, objetivou-se analisar a produção científica brasileira acerca da 553 atuação das doulas, discutir o tema e aprofundar conhecimentos sobre a importância e o benefício das doulas no momento do nascimento. 3. METODOLOGIA Trata-se de uma revisão bibliografica, sendo a fonte de extração dos materiais de carater secundário. Optamos pela base de dados LILACS (Base de dados da literatura Latino Americana, em Ciencia da Saúde) e SCIELO (Biblioteca Eletrônica Científica Online) para busca de artigos, utilizando como critério de inclusão os descritores, o idioma Português/Brasil e período de 2001 a 2014. Foram encontrados 5 artigos. O processo de seleção dos materiais para a pesquisa sofreu limitações devido ao número reduzido de publicações no tema e idioma escolhidos. 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os dados encontrados mostraram que o papel da doula é realizado preferencialmente por mulheres, devido ser menos constrangedor compartilhar a intimidade do momento com uma pessoa do mesmo sexo, diante de outra mulher a parturiente inibi-se menos facilitando o seu trabalho de parto. Os estudos mostraram também a diferença de atuação da doula brasileira em comparação a atuação das doulas estrangeiras mostrando o deficit de interação da doula no Brasil com o restante da equipe multiprofissional. A carência de conhecimento sobre o papel da doula entre os profissionais de saúde acarreta a falta de acolhimento na inserção da mesma no ambiente hospitalar, sendo considerada uma espiã em busca de erros no momento do parto e nascimento, a doula é uma mulher mais experiente e resolvida com assuntos relacionados a maternidade, é diferente de um acompanhante, ela está ali para se somar a equipe. As Doulas têm sido associadas a diversos resultados positivos para a área Obstétrica, especialmente por meio de alterações na percepção do parto, estendendo-o e restituindo-o como evento social e não como doença, restituindo a dimensão social que envolve o processo de parir. Encontrou-se 554 também que as parturientes acompanhadas por doulas durante todo o processo de nascimento saem mais satisfeitas e realizadas com a experiência do parto, pois contam com o apoio físico, emocional e com a garantia de respeito por parte das doulas, que ás defendem de uma possível violência obstétrica, além disso, a incidência de parto por via vaginal e sem analgesias são maiores. Os benefícios ultrapassam a mulher chegando no Recém Nascido (RN) trazendo à ele um processo de nascimento natural, com menores chances de doenças respiratórias, início precoce do amamentação, melhores índices de vitalidade fetal e bons resultados no escore de apgar. 5. CONCLUSÃO Constatou-se em todas referências utilizadas que a presença da doula no trabalho de parto, parto e pós-parto é fundamental para o relaxamento, confiança, conforto físico, suporte psicosocial, diminuição do estresse e apoio a decisões da mulher. Assim, por meio do envolvimento da mulher na protagonização do parto e estando ela acompanhada pela equipe de saúde, mas também por seus familiares e comunidade, aumenta-se a sensação de sua segurança e dos seus familiares em relação ao processo gravídico. O Hospital Filantrópico Sofia Feldman se tornou referência nacional, devido ao seu projeto Doulas Comunitárias, onde oferece acompanhante para as parturientes que são atendidas no local e que estão sem acompanhante, os profissionais contam com as doulas voluntárias como parte da equipe, facilitando o trabalho multiprofissional. Apesar de nem todos hospitais do Brasil permitirem a presença das doulas seria significativo a inserção das mesmas para um atendimento mais acolhedor e humanizado. A limitação da inserção das doulas no ambiente hospitalar está claramente relacionada com a resistência dos profissionais, principalmente de enfermagem, que encontram dificuldades em acolhe-la na equipe juntamente com os demais profissionais. Uma questão que envolve não só os profissionais que atuam na assistência como também os profissionais da gerência materno-infantil, responsáveis pela educação dos mesmos, 555 com isso deve-se, se possível, realizar um plano de ação e políticas direcionadas a aceitação das doulas na equipe, explicando os benefícios e o papel dessa mulher que veio exclusivamente para auxiliar a parturiente e acrescentar na equipe, para que o trabalho seja efetuado de maneira a priorizar as necessidades da mulher e recém nascido do modo mais natural e humanizado que estiver ao alcance da equipe. REFERÊNCIAS Associação Nacional de Doulas. Disponível em: http://www.doulas.org.br/. Acesso em 04 set. 2014. BRASIL. Decreto-lei n° 11.108, de 7 de abril de 2005. Altera a Lei no 8.080, de 19 de setembro de 1990, para garantir às parturientes o direito à presença de acompanhante durante o trabalho de parto, parto e pós-parto imediato, no âmbito do Sistema Único de Saúde - SUS. 184o da Independência e 117o da República. Poder executivo, Brasília, 7abr. 2005. Brasil. Ministério da Saúde. Humanização do parto e do nascimento / Ministério da Saúde. Universidade Estadual do Ceará. – Brasília : Ministério da Saúde, 2014. 465 p. : il. – (Cadernos HumanizaSUS ; v. 4) Brasil. Ministério da Saúde. Programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento – Brasilia: Ministério da Saúde, 2002. Doulas do Brasil. Disponível em: http://doulas.com.br/index.php. Acesso em 02 set. 2014.Classificação Brasileira de Ocupação. Disponível em: http://www.mtecbo.gov.br/cbosite/pages/home.jsf. Acesso em 11 set. 2014. Doulas.org. Disponível em: http://www.doulas.org/. Acesso em 04 set. 2014. LEÃO, M. R. C; BASTOS, M. A. R. 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Rio de Janeiro, v.17, n.10, p.2783-2794, 2012. 557 40.3) EDUCAÇÃO EM SAÚDE POR MEIO DE GRUPO DE GESTANTES: RELATO DE EXPERIÊNCIA STOCHERO, Helena Moro1; PREVEDELLO, Bruna Pivetta2; LOPRESTI, Juliana Corrêa3; RESSEL ,Lúcia Beatriz4; CONRADO, Amanda5; RANGEL, Rosiane Filipin6 Eixo Temático: Eixo 2: Atenção ao Pré-natal Descritores: gestantes; educação em saúde; pré-natal 1. INTRODUÇÃO A educação em saúde é considerada um recurso por meio do qual o conhecimento científico na área da saúde atinge a vida cotidiana das pessoas, uma vez que a compreensão dos condicionantes do processo saúde-doença oferece subsídios para a adoção de novos hábitos e condutas de saúde (CANDEIAS 1997 apud RODRIGUES et al. 2012). Segundo Nora, Mânica e Germani (2009), além de promover espaços para a interação entre usuários e equipe de saúde, a educação em saúde relaciona-se intimamente com a promoção da saúde, pois a mesma se constitui em um instrumento de empoderamento dos indivíduos para aumentar o controle dos mesmos sobre suas vidas que, consequentemente, refletirão no processo saúde-doença. Nesse sentido, sabe-se que são competências do enfermeiro a promoção e prevenção da saúde, destacando-se assim, a importância da promoção do trabalho grupal como estratégia do processo educativo, por meio de 1 Enfermeira graduada pela Universidade Federal de Santa Maria. E-mail: [email protected] Acadêmica de Enfermagem do Centro Universitário Franciscano. E-mail: [email protected] 3 Enfermeira graduada pela Universidade Federal de Santa Maria. E-mail: [email protected] 4 Enfermeira. Doutora em enfermagem pela Universidade de São Paulo. Docente da Universidade Federal de Santa Maria. E-mail: [email protected] 5 Acadêmica de Enfermagem do Centro Universitário Franciscano. E-mail: [email protected] 6 Enfermeira. Mestre em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio Grande. Docente do Centro Universitário Franciscano. E-mail: [email protected] 2 558 espaços de troca de experiências, discussão, escuta e esclarecimento de dúvidas nos serviços de saúde que assistam as mulheres gestantes e as ajudem a entender e a viver de forma saudável este período (CREMONESE, 2012). De modo geral, os grupos são desenvolvidos com a finalidade de complementar o atendimento realizado nas consultas de pré-natal, promover o conhecimento de hábitos de saúde considerados mais adequados, diminuir a ansiedade e compreender os sentimentos que surgem neste período, além de permitirem maior aproximação entre os profissionais e as gestantes, contribuíndo assim, para o oferecimento de assistência humanizada (HOGA; REBERTE, 2007; COURTOIS, et al., 2008). 2. OBJETIVO Relatar a experiência de acadêmicos de enfermagem em um grupo de gestantes realizado numa Unidade Básica de Saúde no município de Santa Maria – RS. 3. METODOLOGIA Trata-se de um relato de experiência vivenciado por acadêmicos de enfermagem em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) do município de Santa MariaRS. Os acadêmicos frequentaram o grupo de gestantes, o qual se realiza nas quintas-feiras a tarde, juntamente com a presença de uma enfermeira docente. Além disso, para subsidiar conhecimentos téoricos acerca de aspectos relacionados com a saúde da gestante e do bebê, realizou-se uma revisão bibliográfica não sistemática na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), nas bases de dados LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), MEDLINE (Medical Literature Analysis and Retrieval System Online) e SCIELO (Scientific Electronic Library Online). 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 559 Os grupos de gestantes eram realizados em forma de roda de conversa, sendo abordados temas livres, onde cada acadêmico compartilhava seus conhecimentos específicos para determinado tema, levantando as principais dúvidas das mulheres e estimulando a participação ativa na conversa. Durante os grupos, por meio dos relatos de experiências das gestantes, foram identificados contextos de vida: envolvendo crenças, culturas, valores e costumes. Percebeu-se também que cada gestante vivencia essa nossa fase de forma diferente, com diferentes tempos para se adequar aos novos hábitos de vida e rotina, embora todas tenham o mesmo objetivo: a saúde do seu filho (OLIVEIRA, 2010). Segundo Brasil (2005), uma atenção pré-natal e puerperal humanizada e qualificada é aquela em que durante a gravidez e o pós-parto houve ações de prevenção e promoção da saúde, incluindo um diagnóstico e um tratamento adequado dos problemas que ocorreram neste período, além da incorporação de condutas acolhedoras. Segundo Oliveira (2010), o principal objetivo desse tipo de atenção é acolher a mulher desde o início da gravidez, assegurando, ao fim da gestação, o nascimento de uma criança saudável e a garantia do bem-estar materno e neonatal. Para Benigna, Nascimento e Martins (2004), uma assistência pré-natal adequada e sua interação com os serviços de assistência ao parto são fundamentais para obtenção de bons resultados da gestação. Ademais, a implementação de grupos de gestantes é fundamental para garantir uma abordagem integral e, ao mesmo tempo, específica à assistência no período gestacional (REBERTE; HOGA, 2005). Portanto, é importante que se estimule as mulheres a realizarem o pré-natal e a participarem de grupos de gestantes. Também, conforme Brasil (2005) a melhor forma de promover a compreensão do processo gestacional é por meio de ações educativas durante o pré-natal. O grupo de gestantes é uma complementação a atenção pré-natal com intuito de preparar a gestante para vivenciar o processo gestacional e promover o diálogo e a troca de informações entre as mesmas e os profissionais de saúde, na forma de um espaço para expressarem suas dúvidas, medos e angústias. Durante os grupos foram tratados temas e dúvidas relatadas pelas participantes, tais como: 560 desenvolvimento fetal, alterações fisiológicas e principais sintomas/queixas apresentadas durante a gestação, sinais e sintomas do trabalho de parto, os tipos de partos, importância do aleitamento materno, cuidados com o recém-nascido e os direitos humanos na gestação, parto e puerpério. Além disso, o período gestacional é uma fase em que a mulher, o companheiro e a família, passam por uma série de mudanças em suas vidas (CREMONESE, 2010), necessitando, às vezes, de preparo psicológico para receber o bebê. Dessa forma, também foram discutidos no encontro, fatores importantes relacionados aos cuidados com o recém-nascido e orientações sobre o puerpério. Além dos grupos de gestantes proporcionarem maior criação de vínculo entre as gestantes e seus familiares com a equipe de saúde, a participação no grupo permite à gestante ser multiplicadora de saúde no seu coletivo (DELFINO, 2003), compartilhando saberes e aprendizagens. 5. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS Os grupos de gestante tem um papel fundamental como estratégia de empoderamento e autonomia às gestantes e familiares, uma vez que oportuniza a troca de experiência entre os participantes, e a viabilização de possibilidades num contexto próprio onde os mesmos vivem. Deve-se considerar nesta atividade, como um elemento fundamental, o conhecimento prévio e as experiências de cada participante do grupo. Nesse sentido, acrescenta-se que os grupos de gestante, como instrumento de educação em saúde, são mais um espaço de informação a fim de prevenir danos nas diversas situações relacionadas com a gestação, e que podem levar a complicações obstétricas/neonatais para mãe e filho e, ainda aperfeiçoa o processo de trabalho na atenção pré-natal. Destaca-se, nesta direção a importância dos grupos de gestantes como ferramenta do processo educativo do enfermeiro. Em relação à experiência aqui relatada, pode-se observar que o trabalho com o grupo de gestantes atingiu bons resultados, servindo como uma forma de suporte assistencial ao pré-natal e como estratégia de maior aproximação entre profissionais da saúde e as gestantes, além de contribuírem para o oferecimento de 561 assistência humanizada, com apoio e atenção as necessidades básicas durante a gestação podendo assim, gerar uma maior segurança nesta fase de vida. REFERÊNCIAS BENIGNA, M. J. C.; NASCIMENTO, W. G.; MARTINS, J. L. Pré-natal no Programa Saúde da Família (PSF): com a palavra, os enfermeiros. Revista Cogitare Enfermagem. v.9, n. 2, p.23-31, jul-dez, 2004. BRASIL. Pré-natal e Puerpério: atenção qualificada e humanizada - manual técnico. Brasília, 2005. CANDEIAS, N.M.F. Conceitos de educação e de promoção em saúde: mudanças individuais e mudanças organizacionais. Rev. Saúde Pública [Internet]. v.31, n.2, p.209-213, 1997. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rsp/v31n2/2249.pdf>. CREMONESE, L.; RESSEL, L.B.; WILHELM, L.A.; RODRIGUES, B.O.C.; SCARAMUSSA, S.C.; BARRETO, C.N.; SILVA, S.C.; STUMM, K.E. Grupo de gestantes como estratégia para educação em saúde. Dissertação de mestrado. UNIFRA, Santa Maria (RS). 2012. COURTOIS, M.C., et al. Experiencia grupal de mujeres embarazadas y en etapa posparto, y su relación com la depresión y algunos factores sociales. Rev Perinatol Reprod Hum. v.22, n.4, p.270-278, 2008. DELFINO, M. R. R. O processo de cuidar participante com um grupo de gestantes: repercussões na saúde integral individual coletiva. 2003. Dissertação de mestrado. Universidade do Sul de Santa Catarina, Tubarão (SC). 2003. HOGA, L.A.K.; REBERTE, L.M.R. Pesquisa-ação como estratégia para desenvolver grupo de gestantes: a percepção dos participantes. Rev Esc da Enferm USP. v.41, n.4, p.559-66, 2007. NORA, C.R.D.; MÂNICA, F.; GERMANI, A.R.M. Sala de Espera uma ferramenta para efetivar a Educação em Saúde.Rev Saúde Pesquisa. v.2, n.3, p.397-402, 2009. OLIVEIRA, M.C. Grupo de gestante: relato de experiência. 2010. Monografia (Graduação em Enfermagem) – Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, Dourados (MS). 2010. 562 REBERTE L. M.; HOGA, L. A. K. O desenvolvimento de um grupo de gestantes com a utilização da abordagem corporal. Texto Contexto Enfermagem. São Paulo, v.14, n. 2, p. 186-92, mar/abr, 2005. RODRIGUES, B. C. et al. Educação em Saúde para a Prevenção do Câncer Cérvico-uterino. Revista Brasileira de Educação Médica. v.36, n.1, p.149-154, 2012. 563 41.3) ATUAÇÃO ACADÊMICA EM PRÉ-NATAL DE BAIXO RISCO: RELATO DE EXPERIÊNCIA1 LOPRESTI, Juliana Corrêa2; SANTOS, Juniara Dias3; STOCHERO, Helena Moro4; TIER, William Oliveira5; Eixo Temático 2: Atenção ao Pré-Natal Descritores: Cuidado pré-natal; Consulta de enfermagem; Aprendizado baseado na experiência. 1. INTRODUÇÃO A realização de um pré-natal humanizado e de qualidade é fundamental para a saúde materna e neonatal do bebê. Sendo assim, o enfermeiro tem um importante papel no pré-natal, pois deve oferecer à gestante e seus familiares suporte emocional e troca de experiências e de conhecimentos, a fim de proporcionar uma compreensão dessa nova vivência, que é o período gestacional (STUMM; SANTOS; RESSEL, 2012). Nessa perspectiva, a consulta de enfermagem, contemplada como atividade privativa do enfermeiro na lei do exercício profissional nº 7.498/862, é considerada um instrumento importante visto que tem como finalidade a garantia da extensão da cobertura e aprimoramento no atendimento à saúde. Esta ferramenta permite o favorecimento de medidas intervencionais, estruturando formas de cuidado eficazes e compatíveis com as necessidades dos sujeitos e da comunidade, a partir de ações de prevenção e promoção da saúde, possibilitando uma maior autonomia dos sujeitos (FONSECA; PARCIANELLO; ZAMBERLAN, 2011). Entende-se que a consulta de enfermagem no pré-natal consiste em um processo metodológico de sistematização de conhecimentos configurado em método aplicado na perspectiva educativa e assistencial, e que, deve ser um espaço em que a mulher possa 1 Relato de experiência. Enfermeira. Apresentadora. Email: [email protected] 3 Enfermeira. Email: [email protected] 4 Enfermeira. Email: [email protected] 5 Enfermeiro. Email: [email protected] 2 564 compartilhar as suas percepções em relação à gestação, compreender as transformações fisiológicas, da saúde e sexualidade, e adquirir maior autonomia sobre o seu corpo (BEUTER et. al, 2009). Partindo destas premissas, este trabalho tem como objetivo relatar a vivência acadêmica, de quatro alunos, durante as consultas de enfermagem em pré-natal de baixo risco desenvolvidas em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) do município de Santa Maria-RS, por meio das aulas teórico-práticas da disciplina Enfermagem no Cuidado à Saúde da Mulher, do Adolescente e da Criança do 6º semestre do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). 2. OBJETIVO Relatar a experiência de quatro acadêmicos do curso de enfermagem a cerca da realização da consulta de enfermagem em pré-natal de baixo risco. 3. METODOLOGIA Trata-se de um estudo do tipo relato de experiência, oportunizado por meio da aulas práticas de quatro graduandos do Curso de Enfermagem da UFSM em uma UBS do município de Santa Maria-RS. Esta experiência pôde ser desenvolvida por meio das aulas práticas da disciplina Enfermagem no Cuidado à Saúde da Mulher, do Adolescente e da Criança, o qual objetiva ofertar vivências aos acadêmicos no intuito de promover competências e desenvolver habilidades técnicas, científicas, éticas, políticas, sociais e educativas do profissional enfermeiro, por meio da troca de experiências entre ensino e serviços de saúde (BEUTER et. al, 2009) As atividades foram realizadas no mês de maio de 2013, três dias por semana em turnos alternados. Os alunos foram acompanhadas, em tempo integral, por duas mestrandas do PPGENF UFSM e, ainda com a supervisão de uma enfermeira docente do Curso de Graduação em Enfermagem da UFSM. 565 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO Através da trajetória vivenciada, evidenciou-se que profissionais da saúde devem acolher a gestante e a sua família de maneira integral, considerando o ambiente sociocultural e físico em que vivem. Na tentativa de possibilitar essa atenção diferenciada o Ministério da Saúde criou, em junho de 2000, o Programa de Humanização do Pré-natal e Nascimento (PHPN), que apresenta como um de seus fundamentos a humanização da assistência obstétrica e neonatal. O enfermeiro, por sua vez, deve qualificar a atenção à saúde da gestante a fim de obter maior adesão ao pré-natal, garantindo qualidade na assistência e melhores resultados obstétricos e perinatais tanto para a mãe quanto para o recém-nascido (STUMM; SANTOS; RESSEL, 2012). Na primeira consulta de pré-natal, realizava-se o levantamento da história clínica da gestante, verificação dos antecedentes familiares, ginecológicos e obstétricos, dados sobre sexualidade, levantamento de informações da gestação atual, exame físico geral e específico, e solicitação dos exames laboratoriais preconizados. Nesse sentido, as ações convergiam para a criação de vínculo entre os acadêmicos e a gestante, inferindo-se, ainda, que havia a preocupação das mesmas em relação às ações educativas, com vistas a buscar uma comunicação efetiva como meio de contribuir para o entendimento da mulher sobre sua condição de saúde, ao mesmo tempo em que buscou-se identificar suas potencialidades, limitações e possibilidades de mudanças. Destaca-se que, no decorrer das consultas de enfermagem, os acadêmicos questionavam as gestantes quanto a existência do planejamento, ou não, da gravidez atual, o que permitia um diálogo sobre a importância do planejamento familiar. Esse momento ocorreu de maneira a permitir um diálogo franco e escuta aberta, livre de julgamentos ou preconceitos. Ainda, em relação ao atendimento oferecido à gestante, incluiu-se revisão da ficha pré-natal, realização da anamnese sucinta e verificação do calendário de vacina. Além disso, era realizado o controle materno: cálculo da idade gestacional, verificação da pressão arterial, palpação obstétrica para medir altura uterina, e avaliação dos resultados dos exames laboratoriais. Os alunos puderam ainda realizar controle 566 fetal, como por exemplo: ausculta de batimentos cardíacos e avaliação dos movimentos fetais. É valido salientar que toda a assistência prestada às gestantes esteve sob supervisão de uma enfermeira docente, como forma de avaliação da disciplina. Partindo das vivências acadêmicas durante as consultas de enfermagem na UBS, observa-se que há necessidade de compreender os múltiplos fatores que influenciam a consulta de enfermagem a fim de se superar os aspectos limitantes, bem como valorizar os aspectos facilitadores. Consequentemente, tal fato ampliará a visibilidade do trabalho deste profissional (BARBOSA; GOMES; DIAS, 2011). Assim sendo, infere-se conhecimentos, que atitudes, a consulta habilidades de e enfermagem requer responsabilidade, competências, condições estas necessárias para conferir credibilidade e visibilidade social ao trabalho do enfermeiro. 5. CONCLUSÃO Em síntese, destaca-se que as aulas práticas realizadas nas consultas de enfermagem de pré-natal de baixo risco contribuíram para a formação profissional e pessoal dos acadêmicos e oportunizaram a interação ensino-serviço, possibilitando aos acadêmicos relacionar a teoria e a prática em um mesmo eixo, fortalecendo o aprendizado em sala de aula e aprimorando a visão crítico-reflexiva diante da realidade vivenciada. Além disso, foi possível compreender a consulta de enfermagem como um subsídio para a conquista da autonomia do enfermeiro. REFERÊNCIAS BARBOSA, T.L.A.; GOMES, L.M.X.; DIAS, O.V. O pré-natal realizado pelo enfermeiro: a satisfação das gestantes. Cogitare Enfermagem (UFPR). 2011; 16:2935. BEUTER, M.; NEVES, E.T.; MAGNAGO, T.S.B.S.; WEILLER, T.H. Programa de Formação Complementar em Enfermagem-PROFCEN. Universidade Federal de Santa Maria. Santa Maria; 2009. BRASIL. Lei n. 7498 de 25 de julho de 1986. Dispõe sobre a regulamentação do exercício da enfermagem e da outras providências. [internet]. 1986 jul 25.. 5 p. 567 Disponível em: http://site.portalcofen.gov.br/leis. Acessado em 20 de setembro de 2014. FONSECA, G.P.G.P.; PARCIANELLO, M.K.; ZAMBERLAN, C. O enfermeiro conquistando autonomia por meio da consulta de enfermagem. In: I Jornada Internacional de Enfermagem da Unifra; 2011; Santa Maria; Unifra; 2011. Disponível em: http://www.unifra.br/eventos/ enfermagem2011/Trabalhos/518.pdf. SHIMIZU, H.E.; LIMA, M.G.. As dimensões do cuidado pré-natal na consulta de enfermagem. Rev Bras Enferm. 2009 maio-jun; 62(3):387-92. STUMM, K.E.; SANTOS, C.C. dos; RESSEL, L.B. Tendência de estudos a cerca do cuidado pré-natal na enfermagem no Brasil. Rev Enferm UFSM 2012 Jan/Abr;2(1):165-173 568 42.3) MORTE PERINATAL: PROFISSIONAIS E ACADÊMICOS DE ENFERMAGEM ESTÃO EMOCIONALMENTE PREPARADOS? Fernanda Hannah da Silva Copelli1 Alessandra Mendes de Barros2 Tiago Jorge Anderson3 Eixo temático: 5 - Formação e qualificação profissional na atenção à Saúde da Mulher e ao Recém-nascido. Descritores: Neonatologia; Enfermagem Neonatal; Atitude Frente à Morte. 1. INTRODUÇÃO O nascimento, assim como a morte, perfazem o processo de vida do ser humano. Portanto, é algo extremamente natural do ponto de vista biológico. Entretanto, o ser humano se caracteriza também, pelos aspectos simbólicos, ou seja, pelo significado ou pelos valores que ele imprime aos acontecimentos. Por isso, o significado da morte varia necessariamente no decorrer da história e entre as diferentes culturas humanas (SILVA; ALVES; CONCEIÇÃO; et al, 2013). Para o homem ocidental moderno, a morte passou a ser sinônimo de fracasso, impotência e vergonha (SILVA; ALVES; CONCEIÇÃO; et al, 2013). Tenta-se vencê-la a qualquer custo e, quando tal êxito não é atingido, é escondida e negada. A morte perinatal é um evento indesejável em saúde pública, pois é precoce, geralmente pode ser evitada e