2.3. Custo de transporte do lodo de esgoto

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2.3. Custo de transporte do lodo de esgoto
ANÁLISE ECONÔMICA PARA A RECICLAGEM AGRÍCOLA DO
LODO DE ESGOTO DA ETE-BELÉM (*).
CANZIANI, J. R. F.; OSAKI, M.; MASSARDO, M.; PEGORINI, E.S. Análise Econômica
para a reciclagem agrícola do lodo de esgoto da ETE-Belém. SANARE, Curitiba, janeiro a
junho de 1999, v. 11, p. 51-58
(*) José Roberto F. Canziani – Engenheiro Agrônomo, Economista, Mestre em Economia
Rural, Doutorando em Economia Aplicada pela ESALQ/USP e Professor do Departamento de
Economia Rural e Extensão da Universidade Federal do Paraná
(*) Mauro Osaki - Acadêmico do Curso de Agronomia da UFPR e Bolsista do PIBIC/CNPQ.
(*) Marcelo Massardo e Eduardo Pegorini - Acadêmicos do Curso de Agronomia da UFPR.
RESUMO
O custo é um importante fator na escolha do método de processamento do lodo
de esgoto pela comunidade, mas não é o único a determinar a escolha. Existem uma
série de outras variáveis de ordem econômica e ambiental que devem ser analisadas
em conjunto pela comunidade, afim de selecionar o método de processamento mais
apropriado para a reutilização do lodo em uma determinada região.
Para as condições da ETE-Belém, a reciclagem do lodo de esgoto na agricultura
parece ser uma alternativa técnica e economicamente viável, desde que precedida de
um planejamento prévio e respeitado os parâmetros ambientais.
Sob o ponto de vista econômico, a viabilidade do uso agrícola do lodo de esgoto
está intimamente relacionada à política de comercialização do produto final. Neste
aspecto, a organização de uma estrutura centralizada de comercialização do lodo de
esgoto pela SANEPAR (notadamente, em termos de transporte e distribuição do
produto nas lavouras) certamente minimizará o custo total de disposição final do lodo
na agricultura.
ANÁLISE ECONÔMICA PARA A RECICLAGEM AGRÍCOLA DO
LODO DE ESGOTO DA ETE-BELÉM (*).
(*) José Roberto F. Canziani - Professor da Universidade Federal do Paraná
(*) Mauro Osaki - Acadêmico do Curso de Agronomia da UFPR e Bolsista do PIBIC/CNPQ.
(*) Marcelo Massardo e Eduardo Pegorini - Acadêmicos do Curso de Agronomia da UFPR.
1. INTRODUÇÃO
Nas estações de tratamento de esgoto urbano, o lodo geralmente é um subproduto de disposição final problemática. Entre as alternativas para a sua destinação
destacam-se: os aterros sanitários, as lagoas de armazenagem e o uso agrícola
(WEBER, 1984).
OUTWATER (1994) afirma que o custo é um importante fator na escolha do
método de processamento do lodo de esgoto pela comunidade, mas não é o único a
determinar a escolha. Existem uma série de variáveis que devem ser analisadas em
conjunto pela comunidade afim de selecionar o método de processamento mais
apropriado para a reutilização do lodo em uma determinada região.
Esses fatores precisam ser definidos e priorizados para que a comunidade
possa alcançar a melhor solução para o programa de reciclagem do lodo. Dentre eles
OUTWATER (1994) destaca os fatores de ordem econômica, ambiental e de confiança
e credibilidade do projeto.
Com relação aos fatores econômicos destaca a necessidade de se buscar a
minimização dos custos do produto final e a maximização do retorno financeiro do
investimento. Cita também, que os benefícios indiretos do uso do lodo, por exemplo na
agricultura, devem ser considerados pela comunidade.
Na questão geográfica o autor lembra sobre a necessidade de apoio dos
governantes e da comunidade na escolha do local do projeto. Destaca ainda, as
seguintes restrições geográficas: pouca disponibilidade e valor elevado das terras
próximo as cidades, problemas de odor e de tráfego rodoviário.
Na questão ambiental deve-se levar em consideração o impacto do projeto
sobre a qualidade da água, sobre a fauna e flora e sobre a saúde humana (diretamente
ou via cadeia alimentar).
Segundo a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (USEPA), para
o planejamento de um programa de utilização de lodo de esgoto várias etapas devem
ser consideradas. Antes da implantação definitiva de um programa, a USEPA sugere,
uma avaliação detalhada acerca de várias considerações legais, sociais, técnicas e
econômicas.
Quanto às questões legais, a USEPA sugere que sejam estabelecidos pelo
órgão competente limitações a aplicação do lodo ao solo. Estes limites devem ser
identificados em detalhes, incluindo fatores como: áreas em que pode ser aplicado;
taxas nas quais o material pode ser aplicado; distância mínima de residências, poços,
etc.; níveis máximos de substâncias específicas como N, P, Cl e metais pesados.
No aspecto social, o programa deve avaliar quais são seus benefícios potenciais
para a comunidade como por exemplo: melhorar a qualidade da água recebida; ampliar
oportunidades recreativas; reduzir o custo de tratamento cobrado da comunidade;
aumentar a produção agrícola, entre outros.
Quanto aos aspectos técnicos várias questões devem ser consideradas, tais
como: se a qualidade do produto tratado é aceitável e atende a legislação; se há
disponibilidade de terras para a aplicação do produto; se o sistema de transporte é
adequado e econômico; se a estrutura de estocagem está de acordo com o período de
aplicação no solo; se a técnica de aplicação é adequada, entre outras.
Quanto aos aspectos econômicos a USEPA sugere que sejam elaboradas
estimativas detalhadas dos custos de capital (investimentos) e de operação do projeto.
Aos custos operacionais devem ser incluídos as despesas de transporte e aplicação do
produto ao solo. Por fim, todo o empreendimento deve ser analisado vis a vis outras
alternativas possíveis.
Segundo ANDREOLI (1988), dentre as alternativas de disposição final do lodo
de esgoto, a reciclagem na agricultura se destaca pela sua economicidade e pela
adequação sanitária e ambiental, desde que observadas as limitações estabelecidas
pelo conteúdo de metais pesados e pela sua sanidade.
Neste sentido, uma vez superada estas exigências e normas legais para a sua
utilização o lodo de esgoto tem, no uso agrícola, uma importante opção de destino, seja
através do uso do lodo calado e submetido a prensa desaguadora (que eleva o teor de
sólidos para aproximadamente 13 %) ou através da utilização do composto de lodo de
esgoto com material carbonáceo.
Na Região Metrolitana de Curitiba estudos anteriores, como o de SOUZA et alli,
mostram a viabilidade agronômica do uso do lodo na silvicultura, floricultura, fruticultura,
culturas anuais e produção de grama, entre outras, dada a capacidade de uso do solo
nesta região. Segundo MENDES (1981), o composto obtido a partir do lodo de esgoto é
de alta qualidade agronômica além de possuir transporte e manejo fáceis.
Para se analisar a viabilidade econômica da utilização agrícola do lodo de esgoto
produzido na ETE-Belém-Curitiba há que se analisar cenários afim de identificar a
melhor decisão gerencial da atual Companhia de Saneamento do Paraná - SANEPAR
que detêm a concessão para executar os serviços de coleta e tratamento de esgotos
na Região.
Segundo ANDREOLI, o volume útil das lagoas de armazenagem do lodo,
atualmente utilizadas pela SANEPAR estão se esgotando e não se pode perder a
perspectiva de soluções definitivas para uma disposição final adequada do lodo gerado
na cidade, sem o que a operação da ETE-Belém pode ficar comprometida.
2. CUSTOS DOS PROCESSOS DE SECAGEM, TRATAMENTO E APLICAÇÃO
DO LODO DE ESGOTO NA AGRICULTURA.
As estimativas de custos dos processos de secagem, tratamento e aplicação
do lodo de esgoto na agricultura, apresentadas a seguir, baseiam-se em estudos
relacionados às instalações da Estação de Tratamento de Esgoto Belém (ETEBelém) situada na região metropolitana de Curitiba.
Atualmente, a produção de lodo de esgoto digerido ou úmido (pós-prensa
desaguadora) na ETE-Belém tem se situado na faixa de 80 toneladas por dia. Como o
teor de sólidos secos do produto final oscila ao redor dos 13 %, a produção diária de
lodo, expressa em sólidos secos, é de aproximadamente 10,4 toneladas por dia.
2.1. Custo de secagem
Para avaliar o custo de secagem (desidratação) do esgoto gerado na ETEBelém foram considerados, tanto os custos variáveis existentes durante o processo
de produção, como também os custos fixos decorrentes da infra-estrutura utilizada.
No cálculo do custo fixo da secagem foram considerados os investimentos
existentes nesta etapa do processo, composto por duas prensas desaguadoras,
avaliadas no conjunto em R$ 210.000,00, e pelas obras civis do galpão de 300 m2 que
abriga o sistema, avaliado em R$ 50.000,00, sendo destes R$ 37.500,00 apropriados
para os custos de secagem e R$ 12.500,00 para o custo de tratamento por calagem.
No cálculo dos custos fixos de uso de bens de capital destacam-se os seguintes
itens: depreciação do capital fixo, seguro ou taxa de risco sobre o capital fixo e juro ou
custo de oportunidade do capital fixo.
Assim, considerando o método linear de cálculo da depreciação, um valor
residual de 20% ao final da vida útil, uma taxa de seguro de 0,35 % ao ano para
instalações e 0,75 % ao ano para equipamentos e uma taxa de juros sobre o capital fixo
de 6 % ano; o custo fixo total de uso dos equipamentos e instalações do processo de
secagem do lodo de esgoto na ETE-Belém-Curitiba é da ordem de R$ 22,133,75/ano
ou o equivalente a R$ 0,76 por tonelada de lodo tratado, se considerarmos uma
produção anual de 29.200 toneladas.
Para o cálculo do custo variável do processo de secagem do lodo de esgoto
gerado na ETE-Belém-Curitiba, foram levantados os coeficientes técnicos e os
preços dos fatores utilizados nesta etapa, quais sejam: polímero, mão-de-obra,
energia elétrica e pagamento por serviços de terceiros (no caso, a locação de um
caminhão).
Segundo MANFREDINI (1996) o uso de polímero utilizado para a floculação do
lodo de esgoto na ETE-Belém é de aproximadamente 35 Kg/dia para uma produção
diária de 80 toneladas de lodo bruto. Isso resulta numa proporção de cerca de 0,44 Kg
de polímero por tonelada do produto final. No mercado local o polímero pode,
atualmente, ser adquirido por um preço médio de R$ 6,50/Kg, resultando num custo
desse insumo de R$ 2,86 por tonelada de lodo.
Segundo GERÔNIMO (1997), o setor da prensa desaguadora da ETE-Belém
possui os seguintes desembolsos mensais: R$ 2.550,00//mês de energia elétrica
(sendo 90 % desse total apropriado para a secagem e 10 % para o tratamento por
calagem), R$ 3.620,00/mês no aluguel de um caminhão com motorista e a
remuneração proporcional de 66 horas/mês de técnico especializado e 1.800
horas/mês de funcionários para operar o sistema, cujos custos são, respectivamente,
de R$ 16,50/hora e R$ 7,22/hora.
Os custos variáveis para a secagem do lodo de esgoto na ETE-Belém-Curitiba
totalizam R$ 11,20/tonelada.
Desta forma, o custo total (variável mais fixo) para a secagem das 80
toneladas/dia de lodo de esgoto atualmente processadas na ETE-Belém-Curitiba é
estimado em R$11,96/tonelada.
2.2. Custos de tratamento por calagem
HARRY (1995) propõe, que ao lodo de esgoto da ETE-Belém-Curitiba para uso
agrícola, seja incorporado cal virgem na proporção mínima de 50 % do peso seco,
podendo chegar a 70 %, caso se deseje, em sua utilização agrícola, uma maior
redução de cheiros e uma maior segurança do ponto de vista sanitário.
Para o tratamento de 80 toneladas de lodo por dia (com dosagem de 50 % do
peso seco) o consumo de cal virgem na ETE-Belém seria de 5,2 toneladas/dia. Já
existe no local silo para depósito de cal virgem com capacidade estática de 40
toneladas do produto e sistema de mistura de cal. Segundo MANFREDINI (1996) o
custo do silo (incluindo despesas de instalação) é de aproximadamente R$ 15.000,00 e
do sistema de mistura de cal cerca de R$ 35.000,00.
Segundo recomendações de HARRY (1995), visando uma maior segurança do
uso agrícola do lodo de esgoto, com relação à sua sanidade e grau de
homogeneização, o produto calado deve ser armazenado em ambiente coberto por um
período de 45 a 60 dias antes de sua aplicação ao solo. Para tanto, sugere a
construção de no mínimo dois galpões (por facilidades de gestão operacional) para o
armazenamento do produto final com as seguintes características: piso de concreto,
cobertura com telhas de amianto, pé direito de no mínimo 4 metros, sem paredes
externas.
A metragem necessária do galpão para o armazenamento do lodo calado é de
aproximadamente 1 metro quadrado (de piso) para cada 2 toneladas de lodo
armazenado. Isso significa que para o armazenamento de toda a produção atual (80
t/dia de lodo tratado) da ETE-Belém por um período de 60 dias, seria necessário a
construção de dois galpões com aproximadamente 1.200 metros quadrados cada um,
avaliados no conjunto em R$ 240.000,00.
Adotando-se a mesma metodologia da secagem, o custo fixo do tratamento por
calagem do lodo de esgoto é da ordem de R$ 0,71/tonelada.
Dentre os custos variáveis para o tratamento com cal do lodo de esgoto
destacam-se: a cal, a energia elétrica e a contratação de serviços (aluguel de pá
carregadeira).
Segundo HARRY (1995), para cada tonelada de lodo de esgoto (com
aproximadamente 13 % de sólidos secos) deve ser adicionado de 65 Kg a 91 Kg de cal
virgem, conforme a percentagem de cal de 50 ou 70 % a ser utilizada no tratamento.
Considerando, então, o preço atual de R$ 78,00/tonelada de cal virgem, o custo desse
insumo no produto final oscilaria entre R$ 5,07/tonelada (no tratamento com 50 %) e R$
7,10/tonelada (no tratamento com 70 %).
Os gastos com energia são estimados em R$ 255,00/mês e os gastos para a
locação de pá-carregadeira (com operador) em R$ 3.620,00/mês. Os custos variáveis
para o tratamento com cal das 80 t/dia de lodo de esgoto totalizam R$ 6,69/tonelada.
Desta forma, o custo total (variável mais fixo) para o tratamento com cal das
80 toneladas/dia de lodo de esgoto atualmente processadas na ETE-Belém-Curitiba
é estimado em R$ 7,40/tonelada.
Assim, os custos totais (fixos e variáveis) para o tratamento com cal de 80t/dia
de lodo de esgoto na ETE-Belém-Curitiba, é atualmente estimado em R$ 7,40 por
tonelada.
2.3 Custo de transporte e aplicação
2.3.1. Custo de transporte do lodo de esgoto
Segundo HARRY (1995) o custo de transporte é um importante parâmetro para
a viabilidade econômica do uso agrícola do lodo de esgoto. Na Região Metropolitana de
Curitiba, os custos de transporte do lodo da ETE-Belém às propriedades agrícolas tem
oscilado em torno de 5 a 8 dólares por tonelada utilizando-se caminhões com caçamba
fixa de capacidade entre 10 a 16 metros cúbicos (ou aproximadamente 8 a 12,8
toneladas de lodo por viagem). O autor salienta que é inviável economicamente a
utilização de caminhões com caçamba móvel (tipo lixo) cuja capacidade por viagem
oscila em torno de 5 metros cúbicos. Da mesma forma, salienta que, se as condições
dos trajetos permitirem, é recomendado o uso de caminhões maiores (tipo semireboque) com capacidade de transporte entre 20 a 25 metros cúbicos por viagem, os
quais possibilitariam uma redução nos custos de transporte por tonelada.
Além do tipo de veículo, outro fator que altera significativamente o custo unitário
de transporte é a distância. Segundo levantamento da Confederação Nacional das
Empresas de Transporte - CONET, o custo médio de transporte de grandes massas,
utilizando-se de caminhões de 25 toneladas ou mais, varia de R$ 0,0444/t/Km para
distâncias (ida e volta) de até 50 Km, até R$ 0,0077/t/Km numa distância de 1000 Km.
Em outro levantamento realizado pelo Sistema de Informações de Fretes para
Cargas Agrícolas - SIFRECA, o preço do transporte (em R$/t/Km) segundo diversos
tipos de cargas varia entre um mínimo de 2 centavos e um máximo de 10 centavos
por tonelada por quilômetro. Tais dados, entretanto, devem ser analisados com as
devidas cautelas, uma vez que dizem respeito a um número de informações e faixas
de distâncias que variam de acordo com o produto transportado.
Além da distância e do tipo de veículo, as condições das estradas e do tipo de
produto (e seu modo de carregamento) também influenciam o custo do frete. Segundo
levantamento do Departamento de Economia Rural da Secretaria da Agricultura e
Abastecimento do Estado do Paraná - SEAB/DERAL, o custo médio de transporte de
produtos e insumos agrícolas em estradas não pavimentadas no interior do Estado do
Paraná oscila entre um mínimo de 4,7 e um máximo de 12,3 centavos por tonelada por
quilômetro.
Considerando um custo médio de R$ 0,10/t/Km para as condições de
trafegabilidade da ETE-Belém às propriedades rurais situadas na Região
Metropolitana de Curitiba e uma aplicação de lodo de esgoto na lavoura de 30
toneladas por hectare, o custo de transporte seria equivalente a R$ 150/ha para os
agricultores do município de Fazenda Rio Grande, R$ 180/ha para os de Araucária e
de R$ 300/ha para os produtores do município de Balsa Nova. Esses valores
correspondem, respectivamente, a um custo de R$ 5,00/tonelada, R$ 6,00/tonelada
e 10,00/tonelada para o transporte do lodo de esgoto da ETE-Belém aos municípios
citados.
2.4. Custos de distribuição do lodo de esgoto no solo.
No passado, os equipamentos utilizados na Região Metropolitana de Curitiba
para se espalhar o lodo de esgoto no solo possuíam baixa eficiência (HARRY, 1995). O
carregamento do produto era manual (com pá), sua capacidade estática de apenas
700-800 Kg de lodo e sua largura de espalhamento não ultrapassava 1,5 metros. Com
esse conjunto o rendimento da operação de aplicação do lodo ao solo era de apenas 1
a 1,5 hectares por dia.
Atualmente, já dispõe-se de equipamento mais eficiente (importado da França),
cujo rendimento operacional é aproximadamente 1,2 horas por hectare. O custo total de
uso desse equipamento (implemento) gira em torno de R$ 7,2/hora ou o equivalente a
R$ 8,64/hectare.
O trator de 90 CV, necessário para tracionar o equipamento de distribuição do
lodo de esgoto, tem um custo total de uso de aproximadamente R$ 13/hora ou o
equivalente a R$ 15,6/hectare na operação de distribuição do lodo.
A operação de distribuição do lodo de esgoto nas lavouras custa, portanto, o
equivalente a R$ 0,81/tonelada.
Quanto a incorporação do lodo no solo, HARRY (1995) afirma que não há
dificuldades operacionais a nível de culturas mecanizadas, pois este serviço pode ser
realizado por instrumentos agrários clássicos (arado) que permite a incorporação do
lodo a profundidade recomendada (10 a 15 centímetros). O custo operacional do
conjunto (trator + arado) é estimado em R$ 20/hectare, ou o equivalente a R$
0,67/tonelada.
Assim, o custo total para a distribuição e incorporação do lodo de esgoto no solo
é estimado em R$ 44,24/ha ou equivalente a R$ 1,48/ton.
3. Custo total para o uso agrícola do lodo de esgoto.
O custo total para a disposição final na agricultura do lodo de esgoto gerado
na ETE-Belém é da ordem de R$ 434.496,00 por ano ou o equivalente a R$ 14,88
por tonelada de lodo digerido. Desse total, os maiores custos são pela ordem:
tratamento por calagem R$ 7,40/t; transporte R$ 6/t; distribuição na lavoura R$
0,81/t e incorporação na lavoura R$ 0,67/tonelada (tabela 1)
Tabela 1: Custo total anual para a disposição final na agricultura do lodo de esgoto
gerado na ETE-Belém-Curitiba.
PROCESSO
TRATAMENTO (calagem)
TRANSPORTE (distância = 60 Km)
DISTRIBUIÇÃO NA LAVOURA
INCORPORAÇÃO NA LAVOURA
CUSTO TOTAL P/ DISPOSIÇÃO
FINAL DO LODO NA AGRICULTURA
Fonte: Cálculos do autor.
Custo total
em R$/ton
7,40
6,00
0,81
0,67
14,88
Lodo
produzido
ton/ano
29200
29200
29200
29200
-
Custo total
em R$/ano
216.080,00
175.200,00
23.652,00
19.564,00
434.496,00
4. Considerações Finais
A utilização agrícola do lodo de esgoto parece ser uma alternativa interessante
quando se repassa aos agricultores parte dos custos desse processo (distribuição e
incorporação do produto na lavoura).
Assim, os demais custos (tratamento e transporte) teriam que ser arcados pela
Companhia de Saneamento.
O custo de tratamento por calagem é de R$ 7,40/tonelada e o de transporte de
R$ 6/tonelada. Para uma produção anual de 29.200 toneladas de lodo o acréscimo de
custo para a Companhia de Saneamento seria da ordem de R$ 391.280,00 por ano.
Esse valor, entretanto, é pequeno se repassado aos consumidores através de
aumento no preço da tarifa de esgoto (ou da taxa de retorno que é atualmente de 80 %
sobre o volume de água consumida).
A tabela 2 apresenta a estimativa do montante arrecadado mediante tarifa
cobrada pelo uso da rede de esgoto sobre a área de influência da ETE-BelémCuritiba, que totaliza aproximadamente R$ 13,8 milhões por ano.
Tabela 2: Estimativa do montante arrecadado mediante tarifa cobrada pelo uso da
rede de esgoto sobre a área de influência da ETE-Belém, 1998.
Volume de esgoto tratado
Preço atual da
Valor arrecadado
Tarifa (mínima) do esgoto
na ETE-Belém-Curitiba
21.900,00 m3 /ano
0,63 R$/m3
13.797.000,00 R$/ano
Fonte: Dados de pesquisa.
1) A população atendida pela ETE-Belém é de 300.000 habitantes
2) O volume de esgoto recebido pela ETE-Belém é de 60.000 m3 /dia
3) O preço da tarifa de esgoto de R$ 0,63 /m3 representa 80% (taxa de retorno) da
tarifa de água.
4) Segundo (SANEPAR, 1998), a tarifa média do Estado do Paraná por volume
faturado (residencial e não residencial) é de R$ 1,09/ m3 para a água e de R$ 0,88/
m3 para o esgoto.
Assim, o acréscimo de custo (R$ 391.280,00 por ano) proporcionado pela
reciclagem do lodo de esgoto da ETE-Belém na agricultura, sobre o montante
arrecadado (R$ 13,8 milhões por ano) pela Estação, representaria um percentual de
apenas 2,84 %. Isso significa que, se a tarifa de esgoto fosse elevada em 1,8
centavos, de R$ 0,63 para R$ 0,648 por metro cúbico, as despesas com a
reciclagem agrícola do lodo de esgoto seriam cobertas (tabela 3).
Tabela 3: Demonstrativo da receita adicional necessária para cobrir o Custo Total da
Reciclagem Agrícola do lodo de esgoto da ETE-Belém, Curitiba, 1998.
Custo da reciclagem
agrícola (tratamento +
transporte)
R$ 391.280,00 /ano
Fonte: Dados de pesquisa.
Total arrecadado pela
ETE-Belém
R$ 13.797.000,00
Percentual de aumento na
tarifa de esgoto p/ cobrir
custo da reciclagem agrícola
2,84 %
Assim, para as condições da ETE-Belém, a reciclagem do lodo de esgoto na
agricultura parece ser uma alternativa técnica e economicamente viável, desde que
precedida de um planejamento prévio.
Sob o ponto de vista econômico, a viabilidade do uso agrícola do lodo de esgoto
está intimamente relacionada à política de comercialização do produto final. Neste
aspecto, a organização de uma estrutura centralizada de comercialização do lodo de
esgoto pela SANEPAR (notadamente, em termos de transporte e distribuição do
produto nas lavouras) certamente minimizará o custo total de disposição final do lodo
na agricultura.
O ganho social dessa alternativa de reciclagem do lodo de esgoto,
provavelmente, deverá superar os gastos à ela relacionados.
Para a Companhia de Saneamento, cabe analisar a viabilidade de repassar à
população os custos dessa alternativa de reciclagem, ou, alternativamente, absorvê-los
em troca da melhoria de sua imagem junto a sociedade como ocorre na maioria dos
países desenvolvidos.
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