Manual de Residente-DSTs

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Manual de Residente-DSTs
Série Manual do Médico Residente, do Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – HCFMUSP
Urologia
Doenças Sexualmente Transmissíveis
Dr. Chen Shan – Chefe do Grupo de DSTs da Divisão de Urologia da USP.
Dr. Conrado Alvarenga – Membro da Divisão de Urologia da USP.
Introdução
Doença sexualmente transmissível é um termo usado para referir às doenças
causadas pelos germes transmitidos através do contacto sexual. Outras formas
de transmissão destes patógenos são poucos comuns, podem ocorrer por
forma indireta tais como uso de utensílios pessoais ou públicos mal
higienizados. Podem ser divididos em: as DSTs que provocam doenças locais:
Uretrites, Úlceras genitais, Verrugas genitais e parasitas; e as que causam
doenças sistêmicas, sem manifestação clínica na porta de entrada: AIDS e
Hepatites.
URETRITE
A uretrite é um processo inflamatório da uretra, que pode ser resultado
de condições infecciosas ou não infecciosas. Neste, abordaremos somente a
parte infecciosa de transmissão sexual. A uretrite pode ser classificado como
Uretrite Gonocóccica (UG) quando o agente etiológico é a Neisséria
gonorrhoeae e Uretrite Não Gonocóccica (UNG) quando a bactéria N.
Gonorrhoeae não esta presente. Ele é caracterizado pela secreção uretral, que
pode variar de purulenta em grande quantidade até mucopurulenta, em mínima
quantidade e pode não apresentar sintoma, que podem chegar a 75% em
mulheres1. Quando vem acompanhado desintoma, pode ser desde leve prurido
uretral até dores fortes na micção ou continuamente
Quadro clínico
•
Uretrite Gonocóccica
Período de incubação de 1-2 semanas (12h - 3 meses)
Prurido uretral, disúria, dor uretral e secreção amarelada espessa em
quantidadeabundante
•
Uretrite Não Gonocóccica
Período de incubação de 2-3 semanas (1-5 semanas), Prurido uretral, disúria,
dor uretral e secreção uretral mais fluida em pequena quantidade. Em boa
parte dos pacientes são assintomáticos, principalmente em mulheres que
chegam a índice de 75 % dos casos1
Diagnóstico
O diagnóstico é baseado no encontro dos agentes, para isso deve solicitar:
1- Raspado uretral para exames de: gram a procura principalmente do N.
Gonorrea e que é um diplococo gram negativo intracelular. O Mycoplasmas
Homini e a Ureaplasma é feito pela cultura específica de rapado uretral
2- Exame de urina jato inicial matinal, ou pelo menos 2 horas após micção,
para: pesquisa de Chlamydia Trachomatis e Mycoplasma genitalium por PCR,
porém no nosso meio ainda não dispõe de kit comercial. Urina tipo I para
confirmar
o
processo
inflamatório
(>4
cel/campo)
e
urocultura
com
antibiograma, principalmente nos homossexuais.
O Trichomonas representa menos de 2 % das uretrites, seu diagnóstico pode
ser feito pela procura do agente pela gota fresca em SF ou Gram. O HSV pode
ser agente de UNG e sua presença deve ser lembrado quando tem quadro de
repetição principalmente quando associado a lesão herpética em outras partes
do corpo. Seu diagnóstico é feito por pesquisa de HSV por PCR na urina de
jato inicialmatinal. Para evitar que faça mais de um raspado uretral, que é
doloroso, a pesquisa de N. gonorrea pode ser feito por PCR.
Lembrar que no nosso meio ele custa 5 vezes o preço do Gram e ambos
métodos tem sensibilidade próximo, ao redor de 95%. Os mycoplasmas são os
principais agentes de falha de tratamento de uretrites porque são bastante
resistentes aos quinolonas de 1ª e 2ª geração, eritromicina e azitromicina2
Em meio que não tem recursos laboratoriais, o tratamento é baseado na
“abordagem sindrómica”: Secreção amarelada, espessa em grande quantidade
fala a favor de uretrite gonocóccica. Secreção em pequena quantidade, pode
ser até bem fluida com aparência de urina, fala a favor de uretrite não
gonococcica3.
Tratamento
A N. Gonorrhoeae era tratado com Penicilina até 1980,Cipro até 2005,
Ceftriaxona 125 mg até 2010 e desde então passou a usar Ceftriaxona 250 mg,
dose única4 . Pode usar também como dose única: Cefixima 400 mg VO,
Tianfenicol 5 gr VO, Espectinomicina 2 gr IM, Ceftriaxona 250 mg +
Azitromicina 1 gr ou Cefixima 800 mg+ Azitromicina 1 gr5. A resistência da N.
Gonorrhoeaea tetraciclina é de 95%, penicilina é de 80% e ciprofloxacina é de
60% 6. As uretrites não gonocócicas são tratados com a vibramicina na dose de
100mg vo de 12/12h por 7 dias ou Azitromocina 1000 mg vo dose única, visase principalmente a Chlamydia Trachomatis, que é bastante sensível a esses
dois antibióticos. Para os casos resistentes deve fazer pesquisa para
Mycoplasmas, trichomonas, fungos e herpes e medica-los conforme o agente.
Quando o agente não foi possível ser evidenciado, pode usar as quinolonas
principalmente as de 3ª geração, a Moxifloxacina 400 mgvo/dia / 7 dias7.
É importante tratar as parceiras e evitar contato por 60 dias e fazer controle pós
tratamento com urina tipo I do jato inicial de urina matinal para certificar da cura
de uretrite. < 5 leucócitos /campo.
Conduta prática para uretrite
1- Anamnese e examinar o paciente
2– Solicitar : Urina jato inicial matinal: para urina tipo I e urocultura com ATB
principalmente para os homossexuais e para pesquisa de Clamydiatrachomatis
por PCR. Além disso: exame do raspado uretral: para Gram-pesquisa
principalmente de N. Gonorroeae, também para Trichomonas, Leveduras e
corpúsculos virais para cultura específica para Ureaplasma urealiticum
e
Mycoplasma homini e exame de sangue para: hemograma, glicemia,
creatinina, anti HIV, Anti HCV, AntiHBs, AgHBS e RSS.
3- Opções de tratamento:
•
Secreção uretral abundante, espessa e amarelada- Ceftriaxona 500 mg
IM.
•
Secreção uretral escassa e fluida – Azitromicina 1 grama VO, ou
Doxiciclina 100 mg VO de 12/12h por 7 dias.
4- Reorientar o tratamento com o resultado dos exames laboratoriais .
Figura 1 e 2 – uretrite gonocócica.
ULCERAS GENITAIS
São lesões ulceradas, localizada na região genital, causadas por
agentes adquiridos pelos contatos sexuais. Classicamente são ulceras de:
Herpes simples, cancroide, sífilis, linfogranuloma venéreo e granuloma inguinal.
Lembrar das úlceras não venéreas tais como os causados por fungos, aftas,
carcinomas, drogas, traumas e Crohn . Em uma úlcera pode ter mais de um
agente e sua incidência varia de uma região para outra. No nosso meio, cidade
de São Paulo, é raro os casos de úlcera de linfogranuloma venéreo e
granuloma inguinal. As úlceras genitais são fatores de risco para transmissão
de HIV8. O diagnóstico é baseado no histórico do paciente, exame físico e
identificação do agente através dos exames laboratoriais. Para todos os
pacientes devem ser pedidos exames de sangues para DSTs
Cancróide
São úlceras causadas pelo Haemophilus ducreyi que é um bacilo gramnegativo intracelular de transmissão exclusivamente sexual. É causa comum
de úlceras genitais em todo o mundo, principalmente em países não
desenvolvidos. É raro em países desenvolvidos como EUA9. É também
conhecida como “cavalo”, cancro mole, cancro venéreo, cancro de Ducreyi.
Quadro Clínico
Tem período de incubação de 1 a 15 dias, em média de 3 a 5 dias.
Inicia-se como uma lesão eritemato-papular, que evolui para pústula, e
finalmente forma úlcera que são lesões dolorosas, geralmente múltiplas devido
à auto-inoculação, frequentemente formam “ulceras em imagem de espelho”. A
borda é irregular, apresentando contornos eritemato - edematosos e fundo
recoberto por exsudato necrótico, amarelado, com odor fétido que, quando
removido, revela tecido de granulação com sangramento fácil. Em 50% formam
adenopatia inguinal dolorosa, habitualmente unilateral, que posteriormente
drena-se espontaneamente formando fístula.
Figura – Cancroide peniano
Diagnóstico
O diagnóstico definitivo do cancroide requere a identificação do H. ducreyi que
pode ser feito através do exame de Gram. O material deve ser colhido da base
da úlcera ou do aspirado do bubão inguinal. A cultura tem sensibilidade de 7080 % 10, porém é de difícil realização e resultado demorado. O PCR é o método
diagnóstico “padrão ouro”11, porém é mais caro e pouco disponível em nosso
meio.
Um diagnóstico provável de cancroide pode ser feito se tem os seguintes
dados: 1- Tem uma ou mais úlceras, dolorosas, irregulares, múltiplas, “sujas”.
2- Tem adenomegalia dolorosa. 3- Não encontrar T. pallidum no campo escuro
e 4- Teste para HSV negativo9.
Tratamento
A Azitromicina 1 grama VO em dose única ou Ceftriaxona 250 mg
intramuscular em dose única são os medicamentos de escolha. Também pode
ser usado a Ciprofloxacina 500 mg VO 2 vezes por dia por 3 dias. Tem relatos
de casos isolados resistentes a ciprofloxacina, porém não tem comprovação
em cultura com antibiograma devido à dificuldade da H. ducreyi crescer em
meio de cultura9.
Sífilis
Sífilis é uma doença sistêmica causado por Treponema Pallidum adquirido
através de contacto sexual.
A porta de entrada transforma-se emúlcera e
quando não tratada,a doença apresenta evolução lenta com fases de latência e
agudização, levando destruição de órgão profundos. Estima-se aumento de
600% nos casos diagnosticados se sífilis nos últimos 5 anos na cidade de São
Paulo. A sífilis é classificada em recente, tardia e terciária. Recente, quando é
infectada a menos de 1 ano e tardia, quando tem mais de um ano de evolução.
O sífilis recente é dividido em primária que tem a presença da úlcera com ou
sem
adenomegalia;
em
secundária,
a
fase
sistêmica
incluindo
as
manifestações cutâneas que na sua maioria apresenta linfadenopatia e latente,
quando não tem nenhuma manifestação clínica. Quando não tratado ao redor
de 30 % evoluem para fase tardia com comprometimento do sistema vascular
central, sistema osteo-articular e sistema neurológico central12.
Quadro clínico
Ao redor de 21 dias após contacto, no local da entrada surge uma pápula que
evolui para ferida, chamado de cancro duro, caracterizado porlesão ulcerada
em geral únicacom bordas duras e bem delimitadas, fundo da úlcera é limpa
que pode ter pequena secreção serosa e é indolor (exceto se infecção
secundária ou mista). Quando surge no local de dobra, pode apresentar ulcera
em espelho. Esta úlcera, mesmo não tratada, cicatriza em algumas semanas.
Frequentemente pode apresentar adenomegalia inguinal em 70-90%, uni ou
bilateral, móvel, pouco doloroso, que não fistuliza13.
De 4 a 8 semanas após aparecimento da úlcera, aparece as lesões
secundárias, que são sintomas sistêmicas e em 80% tem as manifestações
cutâneas12.
Diagnóstico
Lesão ulcerada em geral única com bordas duras e bem delimitadas, fundo da
úlcera é limpa que pode ter pequena secreção serosa e é indolor.
Diagnóstico laboratorial
Microscopia em campo escuro para identificar o Treponema pallidum que é
uma bactérias gram-negativas com forma espiral do grupo das espiroquetas. É
o único exames que dispomos para diagnóstico na fase primária.
Deve-se limpar a lesão com solução salina, secar com gaze e apoiar uma
lâmina sobre a lesão. Não se deve usar solução bactericida ou sabão. Uma
lesão só é considerada negativa após 3 exames negativos.
Vale ressaltar que pesquisa de T. pallidum em campo escuro de lesões em
cavidade oral não são úteis, pois pode-se confundir com treponemas
comensais.
•
Teste
treponêmico:
absorbed)
FTA-Abs
(fluorescente
treponema
lantibody
Imunofluorescencia indireta; TP-PA (T. pallidum passive
particle agglutination )
•
Teste não treponêmico: VDRL (Venereal Disease Research Laboratory)
Floculação microscópica; RPR (Rapid Plasma Reagin)
Interpretação da sorologia .
FTA-Abs: em geral permanece por resto da vida, indica que teve contato
prévio, pode não ter relação com a úlcera atual( cicatriz sorológica)
VDRL: É um teste que correlaciona com atividade da doença. Considerado
positivo quando o título é > 1/8, principalmente quando tem aumento de 4
vezes em exames consecutivos14. Começa tornar positivo 1 semana após
surgimento do cancro, porém alguns só positivam em 6 semanas. Normaliza 12 anos depois do tratamento, alguns podem ficar com cicatriz sorológica
(VDRL< 1/8).
Diagnóstico diferencial:
Sífilis primária: cancro mole, herpes genital, donovanose, linfogranuloma
venéreo, câncer.
Causas de VDRL falso-positivo: Os falsos positivos em geral tem VDRL < 1/8
- Infecciosas: leptospirose, hanseníase, endocardite subaguda, malária,
hepatite (principalmente C), mononucleose, tuberculose, tripanossomíase,
pneumonia por pneumococo e por Mycoplasma sp.
- Não infecciosas: uso de drogas ilícitas intravenosas, doença autoimune,
gravidez, febre reumática, transfusão sanguínea, vacinação, doença hepática
crônica9, 15.
Tratamento
•
Sífilis primária
Penicilina Benzatina 2,4 milhões UI, IM dose única
•
Sífilis secundária e latente recente
Penicilina Benzatina 2,4 milhões UI, IM por semana por 2 semanas,
•
Latente tardia e sífilis terciária (exceto neurossífilis)
Penicilina Benzatina 2,4 milhões U I,IM por semana por 3 semanas
•
Neuro-sífilis
Penicilina Cristalina 3-4 milhões UI, IV 4/4 horas por 14 dias
Caso paciente seja alérgico a penicilina - Doxiciclina 100 mg vo de12/12h por
14 dias16,13, 9
Linfogranuloma venéreo
È uma doença de transmissão sexual causado pela bactéria gram negativa, a
Chlamydia Trachomatis soro tipo L1, L2 ou L3 que acomete
todo tecido
linfático. Tem sua incidência maior em regiões equatoriais. Ele é mais rara na
região sul e sudeste do nosso meio.
Quadro Clínico
Tem período de incubação de 2 a 3 semanas, pode variar de 3 a 40 dias.
Inicia-se geralmente como uma bolha no pênis, que evolui para pequena úlcera
em
geral
indolor,
que
cicatriza
espontaneamente
em
poucos
dias.
Frequentemente não é percebida pelo paciente. Duas a quatro semanas após,
surge linfadenomegalia inguinal dolorosa, frequentemente acompanhada de
febre, cefaléia, artralgia, leucocitose e hipergamaglobulinemia17. Pode levar a
elefantíase genital como complicação tardia. Em homossexuais, o quadro pode
ser de predominante processo inflamatório retal, que pode evoluir com
estenose e fístula.
Diagnóstico
O diagnóstico em nosso meio em geral é feita pela suspeita clínica, e exclusão
de outras causas de úlceras/ linfadenopatia. A cultura específica, imunofluorescência direta e PCR são métodos de identificação do agente17, 9, porém
não está disponível no nosso meio.
Tratamento Preconizado:
Doxicilina 100 mg VO 12/12h por 21 dias , ou
Eritromicina 500 mg VO, 12/12h por 21 dias, ou
Azitromicina 1gr VO por semana por 3 semanas
A linfadenopatia deve ser aspirado e se necessário drenado
Granuloma Inguinal (Donovanose)
É uma úlcera de lenta progressão, acomete pele e tecido subcutâneo da região
genital, inguinal e perineal. É causado por Klebsiella granulomatis, bactéria
gram
negativo
garanulomatis.
intracelular,
É
de
conhecido
transmissão
como
Calymmatobacterium
predominantemente
sexual.
Ocorre
principalmente em regiões equatoriais.
Quadro Clínico
Após um período de incubação de 45 (7-180) dias, inicia-se como um nódulo
subcutâneo que escarifica e transforma em úlcera que pode ser desde
superficial sem muita reação ate úlcera profunda purulenta e destrutiva. Em
geral tem crescimento lento indolor com fundo rico em tecido de granulação,
friável, que sangra facilmente, A adenomegalia regional não é frequente
Diagnóstico
O diagnóstico é feito pela identificação do Corpúsculo de Donovan no interior
dos monócitos em biopsia da úlcera pelo coloração de Giemsa. Não há
métodos específicos de identificação, pois não se desenvolve em culturas
específicas. Pode ter recorrência da doença 6-18 meses após tratamento
efetivo9, 18
Tratamento Preconizado:
Azitromicina 1gr VO por semana, ou 500 mg por dia por 3 semanas, ou até
cicatrização total da úlcera
Doxicilina 100 mg VO 12/12h por 3 semanas ou até cicatrização da úlcera.
Ciprofloxacina 750 mg VO 12/12h por 3 semanas ou até cicatrização da úlcera
Eritromicina 500 mg VO 6/6h por 3 semanas ou até cicatrização da úlcera
Herpes Genital
Herpes genital é causado pelo vírus herpes simplex (HSV), HSV-1 e HSV-2. É
a úlcera mais prevalente das DST19. Uma vez adquirido o vírus, ele permanece
pelo resto da vida no hospedeiro, reativando de tempos em tempos quando há
“redução de imunidade”. Estas crises de recorrência ocorrem principalmente
com o HSV-2.
Quadro Clínico
O período de incubação é desconhecido, pode variar de alguns dias até anos,
a sua prevalência chega a mais que 90% em prostitutas, enquanto é menor
que 6 % nos monogamicos20
Inicia-se com pápula que pode ser pruriginosa ou dolorosa que transforma em
pústula e rompem facilmente, formando a úlcera. Em geral formam
grupamentos de pequenas úlceras dolorosas com hiperemia ao redor que
duram 1-2 semanas e curam espontaneamente. Na primo infecção em geral é
acompanhado de mal esta, febre, cefaleia e adenomegalia dolorosa em mais
de 50 %. Nos episódios de recorrências, em geral só tem manifestação local
com período clínico mais curto.
Diagnóstico
O diagnóstico em geral é clínico pela presença de grupo(s) de pequenas
úlceras próximas bem sugestivas e pela história da recorrência. A pesquisa de
DNA viral por PCR é o método de escolha para diagnóstico laboratorial.
Tratamento
Deve manter a úlcera limpa com solução antiséptica ou agua e sabão. Uso
tópico de creme antiviral não é recomendado.
Não existe medicamento que erradique o vírus, os antivirais só reduzem o
período clínico. Três deles podem ser usados e tem efetividade semelhante.
Devem ser usado no inicio do quadro e manter na primo infecção por 7 a 10
dias e nas recorrência por 5 dias. Aciclovir 400mg, VO de 8/ 8h ; Famciclovir
250mg VO de 8/8h e Valaciclovir 1g VO de 12/12h9.
Figura – Herpes fase inicial
HPV/VERRUGAS GENITAIS
Papilomavirus humano é um “DNA vírus”–Vírus de uma molécula de
DNA de dupla fita, contendo 7900 pares de base nitrogenada . Tem identificado
> 150 tipos de HPV21, pelo menos 40 podem acometer região genital
9, 22
. São
classificadas de auto risco pela capacidade de levar desenvolvimento de
câncer no colo uterino(tipo 16,18) , e baixo risco que em geral não leva a
formação de câncer, mas formam a verruga(tipo 6, 11), estes são responsáveis
por 90% das verrugas genitais23. Sua transmissão se dá através de contato
íntimo, na relação sexual, é raro por outros meios. A maioria das pessoas
sexualmente ativas serão infectados pelo menos uma vez na vida. A incidência
significantemente associado com aumento do número de parceira e com
homossexualismo24, 25, 26, 27.
É uma doença auto limitada, a maioria cura-se espontaneamente em 8
meses pelo desenvolvimento de resistência do hospedeiro. Porém em 9% da
pessoas, o vírus pode permanecer por mais que 2 anos28.
Quadro Clínico
Após período de incubação de semanas até décadas, manifesta-se
como pápulas lisas ou rugosa, ou verrugas sesseis como tapetes até verrugas
espiculadas e pediculados de tamanho puntiforme até > 5 cm . Pode ter
coloração hipocrômica, normocrômica, avermelhada, hipercrômica ou melânica
(forma clínica). Alguns são tão minúsculos que só podem ser visto com
magnificação (forma subclínica). Em sua maioria evoluem sem sinal clínico ou
subclínica (forma latente), O vírus permanece latente junto ao DNA da célula
hospedeira, alguns só vem manifestar clinicamente década após. Localizam-se
preferencialmente no prepúcio, porém pode acometer toda região peniana,
escrotal, suprapúbica, região crural, anal e na uretra.
Figura – HPV meato uretral
Figura – HPV na haste peniana
Figura - HPV extenso genital
Diagnóstico
O diagnóstico é feito pela detecção de verrugas no exame físico. A
biopsia pode ser útil nos casos de dúvida diagnóstica, verruga ulcerada ou não
responsiva ao tratamento. Não é recomendado uso de teste de detecção de
DNA viral em homem, nem uso de ácido acético para identificar área acetobranca, porque não alteram a conduta9
Tratamento
O tratamento para HPV visa destruir as verrugas, porque ainda não tem
medicamentos ou meios de destruir o vírus. Pode usar tanto meio mecânico,
físico ou químico que tem resultados parecidos. Para verruga pequena em
pequeno número, pode usar crio(gases fluoretados) ou ácido bi ou
tricloroacético 80-90%, podofilina alcóolica a 20 %, que podem ser usados pelo
próprio paciente, alertando que aplique somente sobre a verruga, não pode
escorrer para tecido ao redor, manter a área aplicada em posição,
principalmente na região do prepúcio e lavar 30 minuto após em agua corrente.
Deve repetir semanalmente (1x/semana) até desaparecimento total da verruga.
A podofilotoxina a 0,5% em gel ou solução, deve ser aplicado sobre a lesão
2x/dia em ciclo de 3 dias consecutivos e pausa de 4 dias até desaparecimento
da verruga. Não deve exceder área de 10 cm2 ou 0,5 ml.
Para verrugas
maiores ou numerosos, é mais efetivo usar eletrocauterização, laser ou
ressecção, nesses são feito pelo médico com anestesia local. Para condiloma
prepucial múltiplo ou volumoso recomenda-se postectomia.
Nos casos que não tem margem cirúrgica, quando compromete
extensamente sulco balanoprepucial e borda coronal, nesses devem ser feitos
a postotomia e fazer cauterização das verrugas. Para condiloma gigante a
eletrocoagulação com alta intensidade (eletrofulguração) é o mais efetivo.
Imiquimod a 5% em creme em noite alternada por 3-4 meses, tem o objetivo de
estimular a imunidade local, portanto reduzir as recidivas29.
Condiloma uretral
As verrugas próximas ao meato devem ser tratado como as da pele,
tomando cuidado de não cauterizar toda circunferência no mesmo ato para
evitar estenose, as da fossa navicular quando preciso pode fazer a meatotomia
para cauterização. Em 15-20 % das verrugas só são vistas com uretroscopia,
para esses a cauterização endoscópica com laser ou eletrocoagulação tem
resultado semelhante. Cuidado para não cauterizar demasiadamente, pelo
risco de estenose30, 31, 32.
Prevenção
Vacina anti-HPV
Existem várias vacinas para HPV liberada pelo FDA: a vacina bivalente
(Cervarix), é especifico para proteção de câncer do colo do útero, porque é
específico para HPV 16 e 18. A vacina quadrivalente ( Gardasil ) protege tanto
Ca de colo uterino em 66% quanto as verrugas genitais em 90%, porque tem
VLP (virus-like particle) 6, 11, 16 e 18.
A vacina 9-valente (Gardasil-9) cobre 6, 11, 16, 18, 31, 33, 45, 52 e 58,
aumenta em 15-20% de proteção contra Ca de colo uterino.
As vacinas devem ser aplicadas antes do inicio da atividade sexual e antes dos
14 anos de idade. Nas idades de 9-11 anos conseguem títulos maiores de
anticorpo. Devem usar 3 doses (0, 2 e 6 meses)33, 34, 35, 9, 36
O uso de preservativo é essencial para reduzir a transmissão de DST,
deve chamar a atenção para sua importância e deve ser usado desde o início
do ato, porém deve deixar claro que ele não é 100% seguro como o governo
divulga nas vésperas de carnaval. No HPV mesmo usando o preservativo, são
infectados em 37,7% das pessoas37.
Pediculose Pubiana
Chato (Pthirus pubis) é o parasita que causa pediculose pubiana ou ftiríase e
habita os pêlos da região pubiana, principalmente. No entanto pode ainda
ser encontrado em outras regiões do corpo. Aloja-se rotineiramente na base
dos pêlos, onde deposita seus ovos. O tempo de incubação entre a
contaminação e os sintomas varia entre 7 a 14 dias e a transmissão é feita
através do contato íntimo, ou de roupas de uso pessoal, roupas de cama e
toalhas. A principal queixa dos pacientes é prurido bastante desconfortável na
região pubiana.
Diagnóstico
O diagnóstico pode ser feito pela observação dos piolhos e das lêndeas
na base dos pelos e da presença de parasitas na pele da região afetada.
Tratamento
Os medicamentos usados para a combater a escabiose devem ser aplicados
nas áreas afetadas (púbis, coxas, tronco, axilas, etc.). Alguns exemplos são:
benzoato de benzila e loção de permetrina. A aplicação deve ser feita
localmente e repetida entre sete e dez dias após. O objetivo da primeira
aplicação é eliminar os insetos adultos; o da segunda é eliminar aqueles que
ainda não haviam eclodido após a primeira aplicação. Recomenda-se a troca
das roupas diariamente, tanto de cama e como de banho, de todos os
familiares.
HIV / Hepatites B e C
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