resumos - Instituto da Lingua Galega

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resumos - Instituto da Lingua Galega
RESUMOS
GALLÆCIA
III Congresso Internacional
de Linguística Histórica
Homenagem aos Professores
ORGANIZADORES
COLABORADORES
GALLÆCIA. III Congresso Internacional de Linguística Histórica
Ramón Lorenzo e Antón Santamarina
RESUMOS
Facultade de Filoloxía
Universidade de Santiago de Compostela
Santiago de Compostela, 27-30 de julho / xullo de 2015
Comitê Organizador | Comité Organizador
Presidência | Presidencia
Rosario Álvarez (Universidade de Santiago de Compostela)
Secretaria | Secretaría
Ernesto González Seoane (Universidade de Santiago de Compostela)
Secretaria adjunta | Secretaría adxunta
María Álvarez de la Granja (Universidade de Santiago de Compostela)
Valéria Gil Condé (Universidade de São Paulo)
Tânia Lobo (Universidade Federal da Bahia)
Secretaria técnica | Secretaría técnica
Marta Negro Romero (Universidade de Santiago de Compostela)
Hélen Cristina da Silva (Universidade Estadual de Londrina)
María Beatriz Domínguez Oroña (Universidade de Santiago de Compostela)
Raquel Vila Amado (Universidade de Santiago de Compostela)
Coord. Brasil e América Latina
Valéria Gil Condé (Universidade de São Paulo)
Coord. Galicia
Eduardo Moscoso (Universidade de Santiago de Compostela)
Coord. Portugal
João Veloso (Universidade do Porto)
Coord. Internacional
João Dionísio (Universidade de Lisboa)
Financiamento
Ana Boullón Agrelo (Universidade de Santiago de Compostela)
Filomena Gonçalves (Universidade de Évora)
Tânia Lobo (Universidade Federal da Bahia)
Logística | Loxística
Eduardo Moscoso (Universidade de Santiago de Compostela)
Relações institucionais e comunicação | Relacións institucionais e comunicación
Henrique Monteagudo (Universidade de Santiago de Compostela)
Aparecida Torres Morais (Universidade de São Paulo)
Teresa Brocardo (Universidade Nova de Lisboa)
Coordenação acadêmica | Coordinación académica
Xavier Varela Barreiro (Universidade de Santiago de Compostela)
Xoán Lagares Díaz (Universidade Federal Fluminense)
Comitê Científico | Comité Científico
Presidente de Honra
Ataliba Teixeira de Castilho
Abdelhak Razky (Universidade Federal do Pará)
Ana Maria Brito (Universidade do Porto)
Ana Maria Martins (Universidade de Lisboa)
Anabela Leal de Barros (Universidade do Minho)
Carlos Alberto Faraco (Universidade Federal do Paraná)
Carlos Assunção (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro)
Carsten Sinner (Universität Leipzig)
Clarinda de Azevedo Maia (Universidade de Coimbra)
Dante Lucchesi (Universidade Federal da Bahia)
Eva Gugenberger (Universität Leipzig)
Francisco Dubert García (Universidade de Santiago de Compostela)
Gabriel Rei-Doval (University of Wisconsin–Milwaukee)
Gilvan Müller de Oliveira (Instituto Internacional da Língua Portuguesa)
Gonzalo Navaza Blanco (Universidade de Vigo)
Harvey Sharrer (University of California, Santa Barbara)
Ivo Castro (Universidade de Lisboa)
Johannes Kabatek (Universität Zürich)
José del Valle (The City University of New York)
Juan Uriagereka (University of Maryland)
Jussara Abraçado (Universidade Federal Fluminense)
Manuel Ferreiro Fernández (Universidade da Coruña)
Maria Ana Ramos (Universität Zürich)
Maria Antónia Mota (Universidade de Lisboa)
Maria Célia Lima-Hernandes (Universidade de São Paulo)
Maria Francisca Xavier (Universidade Nova de Lisboa)
Mário Viaro (Universidade de São Paulo)
Martin Becker (Universität zu Köln)
Michael J. Ferreira (Georgetown University)
Ramón Mariño Paz (Universidade de Santiago de Compostela)
Sílvia Brandão (Universidade Federal do Rio de Janeiro)
Telmo Verdelho (Universidade de Aveiro)
Vanderci Aguilera (Universidade Estadual de Londrina)
RESUMOS
ÍNDICE
Conferências plenárias | Conferencias plenarias.......................................................................................................................7
Simpósios | Simposios................................................................................................................................................................................................ 11
Comunicações coordenadas | Comunicacións coordinadas............................................................................... 49
Comunicações livres | Comunicacións libres...................................................................................................................... 141
Pôsteres | Pósters............................................................................................................................................................................................................. 257
Minicursos................................................................................................................................................................................................................................ 271
CONFERÊNCIAS PLENÁRIAS |
CONFERENCIAS PLENARIAS
Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
A lingua no tempo, os tempos da lingua.
Gramática diacrónica e historia social
Henrique Monteagudo
(Instituto da Lingua Galega, Universidade de Santiago de Compostela)
Sistemas complexos e mudança linguística
Ataliba Teixeira de Castilho
(Universidade de São Paulo)
Novas visualizacións dos datos lingüísticos
Johannes Kabatek
(Universität Zürich)
Os de Vasconcellos
Ivo Castro
(Universidade de Lisboa)
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SIMPÓSIOS |
SIMPOSIOS
Edição de textos |
Edición de textos
Maria Ana Ramos (Universität Zürich), coord.
João Dionísio (Centro de Linguística, Universidade de Lisboa), coord.
Simpósios / Simposios
I. Tradições antológicas. Problemas editoriais
Um caso de absorção linguística, literária e social na Compilação Geral do
corpus lírico galego-português: as cantigas de Vidal, Judeu d’ Elvas
Yara Frateschi Vieira (Universidade Estadual de Campinas)
Entre as incorporações mais tardias ao Cancioneiro profano galego-português, destacam-se as duas cantigas fragmentárias de Vidal, judeu d’ Elvas. A identificação do autor como judeu, a rubrica que lhes foi
anteposta e o lugar onde foram copiadas as cantigas no Cancioneiro suscitam, antes de mais nada, questões
importantes sobre os critérios que teriam levado o compilador a incluir na recolha trovadoresca cantigas
reconhecidamente truncadas de um trovador pertencente a uma minoria religiosa e social. A fim de esclarecer as questões envolvidas, de natureza social, religiosa, poética e compilatória, pretendo examinar os
seguintes aspectos: dados referentes à biografia de Vidal; o contexto da cultura judaica na Península nos
séculos XIII-XIV; a produção poética de outros judeus peninsulares e occitanos da mesma época: língua
e gêneros; a (des)adequação das cantigas vidalianas ao «modelo» galego-português da cantiga de amor.
A edición dos trobadores: tradición plúrima vs. tradición única
Mariña Arbor (Universidade de Santiago de Compostela)
A metodoloxía da crítica textual establece unha diferenza nítida entre os principios que guían a edición
dun documentos enviado por varios testes e a edición dun texto transmitido por un único testemuño.
Durante a nosa exposición repasaremos brevemente estes principios metodolóxicos, ofrecendo exemplos tomados da nosa práctica ecdótica, que contempla tanto a edición de trobadores copiados en A, B e
V (Afonso Sanchez, Pai Gomez Charinho, Estevan Perez Froian, Fernan Rodriguez de Calheiros) como
aquela que versa sobre manuscritos únicos (os propios Charinho e Calheiros), incluíndo, neste último
caso, a edición «de cancioneiro» (edición do Cancioneiro da Ajuda).
Llengua poètica i criteris d’edició en la lírica catalana dels segles XIV-XV
Anna Alberni (ICREA, Universitat de Barcelona)
La major part de la lírica catalana anterior a Ausiàs March es conserva en manuscrits del segle xv, en
particular el cançoner VeAg (Barcelona, Biblioteca de Catalunya, mss. 7-8). En les edicions de poesia
posttrobadoresca, encara que sovint l’anàlisi estemmàtica ha portat a adoptar un testimoni de base tardà
(cas de L [Barcelona, BC, ms. 9] per a Sant Jordi i per a la meitat de les composicions de Pere March
transmeses per més d’un testimoni), s’ha tendit a «aspirar» a la lliçó del cançoner VeAg, el manuscrit més
antic i occitanitzant, considerant-lo idealment com el més proper al text volgut pels autors, almenys en la
forma lingüística. El fet de ser l’únic testimoni conservat de l’obra de dos poetes importants com Andreu
Febrer i Gilabert de Pròixida, hereus directes de la poesia dels trobadors, sens dubte ha ajudat a consolidar aquesta tendència. El pressupòsit de base és que els poetes catalans dels segles xiv-xv escriuen
en una llengua que vol ser el provençal trobadoresc, i que si de cas són els copistes (o els autors) menys
competents, i més tardans, els qui la catalanitzen, per desconeixement i laxitud en l’adopció de les regles
del gay saber. Subjau, en el rerefons, la idea d’una «progressiva descomposició» de la llengua híbrida
de la poesia, fins al català «pur» dels poetes de la generació d’Ausiàs March (segona meitat del segle xv).
Els estudis lingüístics i les notes al text de les edicions crítiques dels últims trenta anys han incidit
en el caràcter ambivalent de la llengua en què escriuen els poetes catalans dels segles xiv-xv, i en el
paper actiu de copistes i compiladors en la transmissió i la recepció del text. Darrerament, la lingüística
de contacte ha ajudat a fer veure fins a quin punt aquesta llengua occitanocatalana és una construcció
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literària on la selecció i distribució de trets gràfics i fonètics dels dos sistemes en joc respon a estímuls
que es poden explicar a partir de categories sociolingüístiques.
En aquesta comunicació es comenten alguns exemples extrets del cançoner VeAg que mostren
com aquests estímuls de canvi són en essència els mateixos per a copistes i autors, i depenen tant de la
pragmàtica com de la gramàtica del text, sovint associada a aspectes culturals i de prestigi del registre
poètic. La conclusió que se’n desprèn és que no hi ha una progressió unívoca en el suposat procés de
desprovençalització (o catalanització) del vehicle lingüístic de la lírica: que s’hi observen ruptures i salts
enrere, com en el cas del copista de VeAg, responsable de la primera transmissió manuscrita de Jordi de
Sant Jordi i de la transmissió única del text de bona part dels poetes catalans anteriors a Ausiàs March.
Això planteja problemes editorials de diversa mena: en la comunicació es proposen solucions concretes
i, quan és possible, criteris de tipus general que tinguin en compte aquest estat de coses.
II. Estemática
Vita Christi: exame de variantes e filiação de testemunhos
Sílvio Toledo Neto (Universidade de São Paulo)
O livro Vita Domini nostri Jesu Christi ex quatuor evangeliis, escrito por Ludolfo de Saxónia, na segunda metade do século xiv, teve uma enorme difusão; nos finais desse século e no começo do século
seguinte circulavam por toda a Europa inúmeros manuscritos, dos quais se conservam cerca de centena
e meia. Nos finais do século xv multiplicaram-se as impressões em cidades europeias. O sucesso do
tratado pode explicar-se pelos seus objetivos de edificação da vida espiritual e pela sua inspiração em
obras clássicas como De Contemplatione de Guido de Ponte, a Legenda Aurea de Voragine ou as Meditationes do pseudo-Boaventura. O seguimento da devotio moderna em Portugal terá favorecido a
tradução e divulgação da obra. No século xv e nos seguintes tornou-se leitura obrigatória, influenciou
profundamente figuras como Inácio de Loyola e Teresa de Ávila e viajou, pelas mãos dos navegantes
portugueses, para a Índia e Brasil.
Em Portugal, o texto latino foi traduzido no reinado de D. Duarte; levada para o mosteiro de Alcobaça, a tradução foi aí copiada pelos monges cistercienses; em finais do século XV, o tratado é impresso
por Valentim de Morávia e Nicolau da Saxónia. Entre o manuscrito mais antigo atualmente preservado
e o impresso, restam manuscritos incompletos que testemunham a ampla circulação da obra.
Neste trabalho, apresentamos a descrição dos testemunhos da tradição direta da obra; as variantes
substanciais recolhidas a partir da colação entre todos os testemunhos manuscritos da obra e o incunábulo; a classificação das variantes encontradas e as propostas para um estema da tradição direta da obra.
A edição de cancioneiros poéticos luso-brasileiros e relações entre crítica
textual e campo historiográfico
Marcello Moreira (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia)
Visa-se a apresentar uma análise de cancioneiros pertencentes à tradição de Gregório de Matos e Guerra, poeta luso-brasileiro do século XVII, com o objetivo de demonstrar as práticas escribais que deram
origem a essas coletâneas. Falar-se-á da circulação de folhas poéticas volantes, de sua coleção durante os
últimos anos do século XVII, na cidade da Bahia, por aficionados da poesia gregoriana ou que assim se
reputava, da ordenação das folhas segundo critérios genéricos e/ou político/estamentais, de sua posterior
inscrição em livros de mão e da dispositio dos textos no interior dos volumes. Demonstrar-se-á, outrossim, a dependência dos cancioneiros luso-brasileiros frente a matrizes ou modelos cancioneiris europeus,
como aqueles em que se reuniu a obra vulgar de Francesco Petrarca, ou a de poetas ibéricos, como Garcilaso e Góngora. A análise de cancioneiros europeus centrar-se-á naqueles que articulam paratextos do
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Simpósios / Simposios
tipo vita com o conjunto de textos poéticos que se lhes seguem. Demonstrar-se-á como essa articulação
doutrina a legibilidade dos poemas no interior dos cancioneiros e como a manutenção da estrutura cancioneiril, quando do preparo de edições críticas, é de fundamental importância para o resguardo e a inteligibilidade da historicidade de uma dada tradição textual e dos códices ou testemunhos que a compõem.
Por fim, demonstrar-se-á como os escritos de Joseph Bédier, que tratam do método filológico, apresentam
uma maior acuidade no que concerne à relação entre crítica de textos e reflexão historiográfica.
Estemática em português: termos, história, conceitos
Cristina Sobral (Centro de Linguística, Universidade de Lisboa)
Partindo da experiência da construção de um Dicionário Terminológico de Crítica Textual, propõese, nesta comunicação, reflectir sobre a ocorrência, desde 1951, em bibliografia de crítica textual em
português, de termos do campo da estemática e sobre o modo como eles são utilizados e definidos.
Pretende-se observar a progressiva formação de uma terminologia de crítica textual em português e a
sua correlação com práticas, conceptualizações e influências.
III. Materialidade e filologia digital
«Laurencius qui notuit»: análise material dos documentos escritos pelo
escriba da Notícia de torto
Susana Pedro (Centro de Histórica, Universidade de Lisboa)
Na sequência da identificação (em 2008) de dois documentos escritos pela mão de quem também escreveu
a Notícia de torto de Lourenço Fernandes da Cunha, faz-se uma análise comparativa e pormenorizada
dos aspectos materiais dos três textos e propõe-se uma nova datação para a notícia. Conclui-se com algumas notas acerca de opções editoriais anteriores influenciadas pelas condições físicas da matéria subjectiva.
À medida de um corpo: flexibilidade, rigor e condicionalismos do suporte
na edição de teatro e poesia do século XVI
José Camões (Centro de Estudos de Teatro, Universidade de Lisboa)
A experiência acumulada ao longo de vários anos na edição de corpora textuais de dimensões consideráveis (todo o teatro de autores portugueses dos séculos XVI e XVII, a poesia de Sá de Miranda, a
documentação para a história do teatro em Portugal, maioritariamente setecentista) e de tipologia de
transmissão variada (original ausente, testemunho apócrifo único, testemunhos apócrifos abundantes,
testemunho impresso único, lições de múltiplas variantes, lições de múltiplas versões, etc.) accionou
mecanismos de produção de que darei conta nesta comunicação. Prendem-se, sobretudo, com a escolha
de suportes que, por sua vez, ditam opções editoriais, não só na arquitectura da edição, mas também na
prática ecdótica, como a da escolha de lições, o estabelecimento de critérios de transcrição, a fixação de
texto, num processo de disponibilização do património textual.
Desafios da edição de textos: debates e horizonte
Maria Ana Ramos (Universität Zürich)
João Dionísio (Centro de Linguística, Universidade de Lisboa)
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Onomástica
Ana Boullón (Instituto da Lingua Galega,
Universidade de Santiago de Compostela), coord.
Gonzalo Navaza (Universidade de Vigo), coord.
Preténdese ofrecer por primeira vez unha descrición contrastiva dos principais sistemas
onomásticos (toponimia e antroponimia) en Galicia, Portugal e Brasil. Propúxoselle a
cada un dos participantes un esquema moi semellante para pór de relevo a evolución
en cada un dos territorios: por unha banda, o estado da cuestión no que atinxe á bibliografía (sesión 1) e, por outra, como, a partir da conformación da situación onomástica na alta Idade Media, a expansión cara ó sur, primeiro, e ultramarina, despois, se foi
configurando unha situación diferenciada en cada un dos territorios (sesións 2 e 3).
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Simpósios / Simposios
I. Panorámica dos estudos de onomástica nos últimos anos
Os estudos de onomástica en Galicia
Paulo Martínez Lema (Instituto da Lingua Galega,
Universidade de Santiago de Compostela)
Na nosa intervención tentaremos trazar unha visión panorámica da historia dos estudos onomásticos
galegos, tanto os centrados no estudo dos nomes de lugar (toponimia) como no dos nomes de persoa
(antroponomia). Para iso, e adoptando un criterio cronolóxico liñal, partiremos das achegas pioneiras
do padre Sarmiento, que consideraremos autor fundacional da disciplina toponomástica propiamente
dita en Galicia, e percorreremos os traballos realizados por diferentes investigadores que, con maior ou
menor fortuna e preparación filolóxica en cada caso (e case sempre cun interese centrado moi especificamente na vertente etimolóxica) foron contribuíndo para un mellor coñecemento do sistema toponímico e antroponímico galego. Finalmente, completaremos a nosa revisión coas achegas máis actuais,
tanto as de carácter individual como as encadradas en proxectos de investigación (institucionais ou de
calquera outro tipo).
Os estudos de onomástica em Portugal
João Paulo Silvestre (King’s College)
Os estudos de onomástica no âmbito de Portugal ainda não permitiram substituir, como obra de referência, o Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, de J.P. Machado (1984). Este facto
demonstra como ainda está incompleto um percurso de recolha de dados e consolidação metodológica.
Propõe-se um roteiro da bibliografia produzida nas últimas décadas, em que continua ser visível o quanto se deve aos estudos de Leite de Vasconcelos e Piel. Além dos trabalhos investigação em antroponímia
ou onomástica, interessa observar o tratamento dos nomes próprios em dicionários gerais e especializados. É justamente em áreas contíguas, como a lexicologia e a lexicografia, que se podem encontrar
contributos para a descrição dos antropónimos, epónimos e topónimos. Por fim, considerando o contínuo alargamento dos corpora textuais, apresentam-se algumas fontes documentais disponibilizadas em
formato digital.
Caminhos da onomástica no Brasil
Maria Cândida Trindade Costa de Seabra (Universidade Federal de Minas Gerais)
Nossa proposta é apresentar um panorama dos estudos onomásticos, Toponímia e Antroponímia, desenvolvidos no âmbito das universidades brasileiras, pontuando o que já foi feito e o que, ainda, está por
se fazer.
O sistema onomástico brasileiro tem suas raízes no mundo português, sobretudo, dos seiscentos
e setecentos, quando ocorreu a grande migração de habitantes desse território para a América portuguesa. Na Terra Brasilis, outros estratos se juntaram à língua portuguesa – os indígenas, os africanos
(em número bem menor) e os estrangeiros, que chegaram ao longo do povoamento e desenvolvimento
do país, vindos de diversas partes do mundo, sobretudo nos últimos duzentos anos, ora se fixando em
regiões específicas, ora se espalhando pela extensa área territorial do Brasil. Esse quadro histórico-social, construído ao longo do tempo, oferece um rico material de pesquisa aos estudiosos da Onomástica,
nas suas duas áreas, Toponímia e Antroponímia.
Calcado na vertente europeia, o estudo sistematizado da Toponímia no Brasil integrou-se, em um
primeiro momento, aos estudos linguísticos da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
(FFLCH) da Universidade de São Paulo, privilegiando, inicialmente, os nomes de origem indígena através das pesquisas de Drumond (1958, 1965, 1968) sobre o Tupi e a Toponímia Brasileira. Como professora e pesquisadora dessa área, Dick (1980, 1990) seguiu as orientações de Drumond e a teoria de Albert Dauzat (1928), enriquecendo a partir de uma visão física e antropocultural os estudos toponímicos
através dos seus Princípios Teóricos e Modelos Taxeonômicos (1980), aplicados aos nomes de lugares.
Em um segundo momento, seguindo orientações metodológicas de Dick e incentivados por ela, pesquisadores de outras universidades brasileiras, construíram corpora e desenvolveram no âmbito, sobretudo
da Pós-Graduação, Projetos de Pesquisa que, ao longo dos anos, tomaram rumos próprios.
No que se refere à Antroponímia, os estudos são mais pontuais em nossas universidades, contabilizando, ainda, menor número, se comparados aos estudos toponímicos. Merecem, também, destaque os
estudos antropotoponímicos (antropotopônimos = nomes de lugares motivados por nomes de pessoas)
que se caracterizam por resgatar a história sociocultural e por confirmar que as diferenças genéricas
que caracterizam o campo de estudos específicos da Onomástica – Toponímia e Antroponímia, não
impedem a aproximação dessas duas áreas.
II. A toponimia
Toponimia de Galicia
Gonzalo Navaza (Universidade de Vigo)
A intervención consistirá nunha descrición sucinta do sistema toponímico galego con atención a algúns
aspectos significativos.
—Os topónimos galegos. Algunhas cifras.
—O tesouro da microtoponimia.
—Toponimia e historia. Pervivencia dos topónimos. Retoponimizacións.
—Estratos da toponimia galega. Proporcións dos diferentes estratos.
—Topónimos prelatinos e topónimos que conteñen formas de orixe prelatina. A cuestión do substrato. O elemento celta.
—Topónimos latinos e latinorromances. Cronoloxía dos antropotopónimos. A pervivencia do uso
onomástico do xenitivo.
—Información cronolóxica na fonética e na morfoloxía dos topónimos (Sabucedo/Sabuguido, suf.
-elo, Souteliño, Acea, Pombal/Pombar)
—O elemento xermánico. O elemento árabe.
—As divisións da administración relixiosa e a xeografía toponímica. Algúns fenómenos dialectais.
Advocacións parroquiais e cronoloxía.
—Formás castelás, castelanizadas e deturpadas.
—O auxilio da documentación antiga, medieval e moderna. Fontes documentais e bibliografía.
—Situación legal da toponimia.
—A imprescindible documentación antiga e medieval.
Breve ensaio de toponímia portuguesa medieval
Esperança Cardeira (Universidade de Lisboa)
Maria Alice Fernandes (Universidade do Algarve)
O objetivo desta comunicação é traçar um esboço da paisagem linguística medieval, através da identificação das áreas de implantação toponímica das línguas faladas durante aquela época no atual território
português. Como enquadramento definimos os seguintes períodos linguístico-históricos, que refletem
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Simpósios / Simposios
os usos linguísticos das populações desse território entre os séculos VIII e XV: (i) andaluz; (ii) galego
-português; (iii) português. Para o período andaluz (que compreende o árabe e o moçárabe, em situação
de bilinguismo), além da distinção entre topónimos de origem árabe ou moçárabe, consideramos igualmente os híbridos resultantes do contacto linguístico. Para o período galego-português, procuramos
rastrear, através da toponímia, a sua transplantação desde a Galécia Magna ao Algarve. Para o período
português propriamente dito, que entendemos estar representado a partir do início do português médio,
distinguimos entre variantes toponímicas dialetais e estândares. Quanto à metodologia, seguimos uma
abordagem comparativa entre as línguas e variedades referidas, partindo quer de topónimos com a mesma etimologia, quer de topónimos com o mesmo significado, embora em línguas diferentes. Servimonos, como fonte, do Reportório Toponímico de Portugal Continental (1963), dos Serviços Cartográficos
do Exército, e, como principal ferramenta de trabalho, do NOTVS (Fraga da Silva 2002), um programa
de análise e georreferenciação toponímica.
Toponímia do Brasil. Achegas para a compreensão do sistema
toponomástico brasileiro
Aparecida Negri Isquerdo (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul)
Este trabalho tem como objetivo apresentar um panorama geral das pesquisas toponímicas em território brasileiro e discutir tendências gerais já documentadas por esses estudos. Para tanto, o trabalho foi
organizado a partir de três eixos: i) apresentação e discussão das fases da pesquisa toponímica no Brasil
proposta por Isquerdo (2012) que, tomando como parâmetro o conceito lato de historiografia (o trabalho de estudar e descrever a história – no caso, a dos estudos toponímicos em território brasileiro) e o
resgate de aspectos do processo histórico dos estudos toponímicos no Brasil, estabeleceu três sincronias
que marcaram o percurso desses estudos em território brasileiro; ii) discussão de fundamentos teóricometodológicos do modelo de Dick (1990; 1992; 1999; 2006) construído pela toponimista brasileira para
o estudo da toponímia das diferentes regiões administrativas do Brasil, com destaque para a importância desse constructo teórico para os estudos toponímicos no Brasil; iii) apresentação de considerações
gerais sobre pesquisas toponímicas realizadas no Brasil, apontando tendências gerais da matriz toponímica brasileira, como a questão das bases linguísticas, em especial os topônimos de etimologia indígena,
portuguesa e africana, estrutura dos topônimos e a questão da motivação toponímica. Para a abordagem
do tema segundo o terceiro eixo, o estudo vale-se de resultados de estudos realizados por Dick (1990;
2004) para o Atlas Toponímico do Brasil (ATB) e para o Atlas Toponímico do Estado de São Paulo
(ATESP) e pelas equipes de projetos estaduais como o Atlas Toponímico do Estado de Mato Grosso do
Sul (ATEMS), Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais (ATEMIG), Atlas Toponímico do Estado
do Paraná (ATEPAR), Atlas Toponímico do Tocantins (ATITO).
II. A antroponimia
Conformación e desenvolvemento do sistema antroponímico en Galicia
Ana Boullón (Instituto da Lingua Galega, Universidade de Santiago de Compostela)
A antroponimia de Galicia ten o seu período de conformación na Alta Idade Media. Nesa altura comezou a configurarse a dobre denominación, composta por un primeiro elemento e mais un segundo que
podía ser patronímico, ou sobrenome lexical ou toponímico. A finais da Idade Media o sistema patronímico deixou de ser produtivo e comezou a converterse en hereditario. O sistema foi fixado legalmente
no séc. XIX (contra 1857), e estipulou un nome propio, e dous apelidos hereditarios, un procedente do
pai e o outro da nai. Amais de explicar esta evolución, teranse en conta os compoñentes etimolóxicos.
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
Son máis cambiantes no caso dos prenomes, que van mudando de xeración en xeración, e están máis
suxeitos ás imposicións ou ás modas, e máis estables nos apelidos, polo seu carácter hereditario; estes
poden clasificarse en prerromanos, xermánicos e latinos.
Antroponímia de Portugal
Aurora Rego (Universidade do Porto)
Segundo a metodologia de Norberta Amorim (1991), é possível efetuar a reconstituição de comunidades
históricas em longa duração, seguindo o trajeto de vida de indivíduos e famílias onde se encontram inseridas. Com base nas paróquias por mim reconstituídas, foi encontrado um número apreciável de famílias
galegas que se fixaram em V. P. Âncora (concelho de Caminha) entre 1815 e 1924 e ainda de matrimónios
celebrados entre 1628 e 1831 em Monserrate (paróquia ribeirinha de Viana do Castelo) nos quais um
ou dois nubentes tinham origem galega. Entre outros aspetos, para além de uma abordagem acerca da
transmissão dos apelidos na legislação portuguesa, da contextualização histórica da recolha de dados, da
elencagem dos apelidos, naturalidade, profissões dos indivíduos galegos encontrados nas paróquias em
estudo, abordaremos as diferenças existentes entre os nomes e apelidos galegos e portugueses.
Antroponímia do Brasil
Mailson dos Santos Lopes (Universidade Federal da Bahia)
É um fato consabido a existência de intrincados processos que formatam a estruturação hodierna da
antroponímia brasileira, objeto de estudo altamente implexo, devido ao próprio caráter escorregadiço,
mutável e multidimensional dos nomes próprios. A constituição histórico-cultural da sociedade
brasileira, notavelmente dinâmica e multifacética, aliada a outros fatores intrínsecos e extrínsecos a
ela, conduzirá ao estabelecimento (e à reestruturação permanente) de um sistema de nomeação pessoal
altamente complexo, tanto no que concerne às suas distintas pautas etimológicas e à diversidade de
seus esquemas morfolexicais estruturantes, quanto no que se refere ao seu sistema legal de controle e
imposição. De uma prática altamente tradicional de atribuição de prenomes e sobrenomes (ainda que
com determinadas alterações temporo-espaciais), vigente no Brasil até ao menos a primeira quadra
do século XX, passa-se, em seguida, a um verdadeiro turbilhão de inovações, que configurará uma
espécie de revolução antroponímica, mas que altera especificamente os elementos iniciais do esquema
de nomeação pessoal (i.e., os prenomes), visto que não incide de forma recorrente nos elementos
mediais ou finais destes mesmos esquemas (i.e., os sobrenomes). Destarte, comparando-se o português
brasileiro com o galego ou o português peninsular, parece ser possível cogitar que a diversidade no
quadro antroponímico não deve ser mais expressiva nos sobrenomes (apelidos), mas, sim, nos
prenomes propriamente ditos. Por conseguinte, em comparação ao português europeu (e, certamente,
às outras línguas ibero-românicas), deve haver para o português brasileiro uma relativamente pequena
diversidade de sobrenomes, sobretudo por causa do apagamento dos traços aborígenes e africanos na
nomeação de indiodescendentes e afrodescendentes, a que eram atribuídos principalmente sobrenomes
de matiz religioso, devido à grande influência e poder do Catolicismo Romano em plagas americanas,
mormente nos períodos colonial e imperial. A proposta aqui sintetizada, que enxerga a onomástica
como manancial formidável para a compreensão da história social do Brasil, visa a estabelecer alguns
escólios sobre as questões cardeais acima apresentadas: o sistema legal e a história de transmissão desses
constituintes antroponímicos (sobrenomes / apelidos), suas pautas e componentes etimológicos fundamentais e, na medida do possível, a representatividade quantitativa de seus principais elementos.
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Historiografia linguística |
Historiografía lingüística
Ricardo Cavaliere (Universidade Federal Fluminense), coord.
O simpósio pretende discutir temas atinentes ao percurso dos estudos linguísticos na área
da romanística em todas as suas vertentes, seja a histórica, que cuida de fatos, modelos teóricos e produção científica decorrentes da atividade do filólogo ou do linguista no cenário
acadêmico nacional, a historiográfica, que se ocupa do estudo interdisciplinar da construção
do saber linguístico no percurso da atividade científica, ou a ideológica, que avalia a presença
do ideário filosófico e epistemológico norteador do pensamento linguístico ao longo dos
períodos evolutivos da Linguística como ciência. Na vertente histórica, incluem-se trabalhos
específicos sobre a obra e a biografia de filólogos e linguistas que exerceram papel proeminente na formação do pensamento linguístico nos países em que se falam as línguas românicas, bem como estudos específicos sobre gramáticas missionárias e seu papel no processo
de colonização e edificação do Novo Mundo, inclusive no tocante ao contato linguístico em
perspectiva diacrônica. A vertente historiográfica poderá abranger temas como o da gramatização das língua românicas, a construção do saber linguístico e temas pontuais atinentes
à influência doutrinária, às fontes canônicas e marginais e à metodologia estabelecida pela
meta-historiografia. A senda ideológica avança pelo terreno da política linguística e integra trabalhos que avaliam a produção linguística em face das forças axiológicas, do ideário
político e do inventário cultural em que está inscrita. O simpósio também abre oportunidade para a apresentação de textos em áreas conexas, referentes à reflexão sobre o papel
social do linguista, as estratégias de ensino do vernáculo e as políticas públicas referentes
ao desenvolvimento e aprimoramento do ensino na área da linguagem. Nessas linhas adjetivas, são bem-vindas contribuições que toquem questões como norma gramatical, conceito
de purismo, exemplaridade linguística, preconceito linguístico dentre outras congêneres.
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Simpósios / Simposios
Panorámica historiográfica da lingüística histórica galega segundo
os datos da Bibliografía Informatizada da Lingua Galega (BILEGA)
Francisco García Gondar (Universidade de Santiago de Compostela /
Centro Ramón Piñeiro para a Investigación en Humanidades)
A BILEGA: Bibliografía Informatizada da Lingua Galega é un recurso en liña (http://www.cirp.es/bdo/
bil) do Centro Ramón Piñeiro para a Investigación en Humanidades cuxa construción se iniciou en
1994. O seu obxectivo é ofrecer información bibliográfica exhaustiva e actualizada sobre os traballos de
investigación, divulgación ou opinión dedicados ao idioma galego –de forma exclusiva ou parcial– nas
diferentes fases do seu desenvolvemento histórico. Transcorridas dúas décadas de desenvolvemento,
a base de datos alberga arestora unha notable cantidade de información: preto de 45.000 referencias
bibliográficas organizadas en 19.300 rexistros, clasificados cuns 157.000 atributos; ademais, dado o seu
carácter de bibliografía analítica, os rexistros ofrecen unha sinopse do contido dos traballos referidos. O
eido da lingüística histórica –tendo en conta unicamente o ámbito da investigación e incluíndo tamén
a crítica textual– está representado neste intre por uns 5.300 traballos, entre os que figuran achegas
procedentes do ámbito da romanística e mais estudos relativos fundamentalmente ao galego-portugués
realizados en Portugal e no Brasil. O obxectivo desta comunicación é utilizar a información sobre os
mesmos para debuxar unha panorámica historiográfica actualizada do desenvolvemento desta parcela
de lingüística galega, concentrada, sobre todo, nos aspectos cuantitativos.
O tratamento dos pronomes pessoais átonos na gramaticografia
do português (séculos XVI-XVIII)
Rogelio Ponce de León Romeo (Universidade do Porto)
A comunicação tem por objetivo estudar a descrição que, nas obras metagramaticais do português –
publicadas no período cronológico indicado no título –, é realizada dos pronomes pessoais átonos,
também designados, na gramática contemporânea, como pronomes clíticos ou clíticos especiais (Brito,
Duarte & Matos 2003[1983]: 826-867). Partindo de trabalhos que, entre outros aspetos, abordam com
algum pormenor o pronome na tradição gramatical do português – entre os quais sobressai o de Schäfer-Priess (2000: 166-178) –, bem como outros estudos que se têm debruçado sobre esta classe de palavras – por exemplo o de Rumeu (2008: 129-159) –, é analisado o grau de gramatização das formas em
estudo, bem como, no caso de estas aparecerem registadas, o discurso gramatical acerca delas, tanto no
que se refere à descrição como à prescrição, e os paradigmas em que se integram. No âmbito destes dois
últimos aspetos, é estudada – dada a identidade formal entre os pronomes clíticos e as formas do artigo
(Nunes 1956: 250; Huber 2006[1933]) – a relação, no corpus de obras analisadas, dos pessoais átonos na
exposição gramatical sobre o artigo, bem como eventuais observações sobre a função sintática daqueles
e sobre a sua posição a respeito do verbo.
Referências
BRITO, Ana Maria, Inês Duarte & Gabriela MATOS (2003[1983]). «Tipologia e distribuição das expressões nominais». Gramática da Língua Portuguesa. Lisboa: Caminho (5ª ed., revista e aumentada). 795-867.
HUBER, Joseph (2006[1933]). Gramática do português antigo. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian
(2ª ed. da tradução portuguesa).
NUNES, José Joaquim (1956[1919]). Compêndio de gramática histórica portuguesa (fonética e morfologia). Lisboa: Livraria Clássica Editora (5ª ed.).
RUMEU, Márcia Cristina de Brito (2008). «A categoria «pronome» na construção da metalinguagem no
português», Revista da ABRALIN, 7.1. 129-159.
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
SCHÄFER-PRIESS, Barbara (2000). Die portugiesische Grammatikschreibung von 1540 bis
1822. Entstehungsbedingungen und Kategorisierungsverfahren vor dem Hintergrund der
lateinischen, spanischen und französischen Tradition. Tübingen: Max Niemeyer.
A Arte explicada (1728-1734) de João de Morais Madureira Feijó
e a sua importância para história da gramática alvaresiana
Rolf Kemmler (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro)
Graças a vários estudos publicados ao longo das últimas duas décadas (Winkelmann 1994; Gonçalves
1992; 2003; Kemmler 2001, 2007), é sobejamente conhecida a importância que a Orthografia, ou Arte
de Escrever, e Pronunciar com acerto a Lingua Portugueza do transmontano João de Morais Madureira
Feijó (1689-1741) tem para a história da ortografia portuguesa.
No entanto, convém recordar que qualquer abordagem desta monumental obra metaortográfica setecentista deverá tomar em consideração que «[...] a Orthographia de Feijó não é uma obra totalmente
autónoma [...]», uma vez que se trata «[...] do quarto volume de um comentário da obra De institutione
grammatica libri tres do jesuíta Manuel Álvares [...]» (Kemmler 2001: 207). É precisamente neste âmbito
que se devem encarar não somente as breves considerações que Gonçalves (1992: 41; 47, 48) tece a este
conjunto alvaresiano do mesmo autor que leva o título Arte explicada, mas também o subcapítulo mais
recente de Kemmler (2007: 17-28).
Numa altura em que tudo nos leva a crer que, apesar da realização de grandes esforços bibliográficos
ao longo destas últimas décadas, ainda não nos parece possível oferecermos as conclusões desejadas
sobre o que poderia ser a totalidade das edições e das tiragens da Arte explicada, a identificação de
alguns novos elementos permite-nos retomar o assunto, aprofundando-o. Assim, tendo em consideração a história da gramática alvaresiana até à expulsão da Companhia de Jesus de Portugal em 1759,
pretendemos oferecer e discutir a existência de novos elementos que nos permitam enquadrar melhor o
conjunto de livros dentro do universo editorial alvaresiano de expressão portuguesa.
Referências
GONÇALVES, Maria Filomena (1992): Madureira Feijó: Ortografista do século XVIII, Para uma
História da Ortografia Portuguesa, Lisboa: Ministério da Educação (Identidade Série Língua
Portuguesa).
GONÇALVES, Maria Filomena (2003): As Ideias ortográficas em Portugal: De Madureira Feijó
a Gonçalves Viana (1734-1911), Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian; Fundação para a
Ciência e a Tecnologia; Ministério da Ciência e do Ensino Superior (Textos Universitários de
Ciências Sociais e Humanas).
KEMMLER, Rolf (2001): «Para uma História da Ortografia Portuguesa: o texto metaortográfico e a
sua periodização do século XVI até à reforma ortográfica de 1911», em: Lusorama 47-48 (Oktober), págs. 128-319.
KEMMLER, Rolf (2007): A Academia Orthográfica Portugueza na Lisboa do Século das Luzes:
Vida, obras e actividades de João Pinheiro Freire da Cunha (1738-1811), Frankfurt am Main:
Domus Editoria Europaea (Beihefte zu Lusorama; 1. Reihe, 12. Band).
WINKELMANN, Otto (1994): «Portugiesisch: «Geschichte der Verschriftung», em: HOLTUS, Günter /
METZELTIN, Michael / SCHMITT, Christian (Hrsg.) (1994): Lexikon der Romanistischen Linguistik (LRL): Band VI, 2, Galegisch / Portugiesisch, Tübingen: Max Niemeyer Verlag, págs.
472-498.
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Simpósios / Simposios
Ainda sobre a Gramática Poliglota e o multilinguismo gramatical
em Oitocentos
Maria Filomena Gonçalves (Universidade de Évora)
O século XIX destaca-se, no que respeita ao ensino-aprendizagem de línguas estrangeiras, pela proliferação de materiais destinados a apoiar o contraste gramatical e lexical entre várias línguas. Embora este
exercício contrastivo fosse, como é sabido, uma prática antiga, no século XIX regista-se uma assinável
variedade de textos didácticos que, visando quatro ou mais línguas, ostentam no título o adjectivo «poliglota» (Rossebastiano, 2003; Rius Dalmau, 2009; Gonçalves, 2014). Ainda que despretensiosa quanto
à explanação teórica e ao desenvolvimento dos aspectos gramaticais confrontados, a produção destes
materiais em toda a Europa traduz a importância conferida aos rudimentos de idiomas estrangeiros
pertencentes a distintas famílias linguísticas, cujo conhecimento não só constituía manifestação de saber
humanístico e de cosmopolitismo como era útil às relações internacionais, aos negócios e às viagens.
A partir deste contexto, o objectivo desta comunicação é analisar os materiais didácticos plurilíngues – gramáticas, métodos, quadros sinópticos e tábuas, guias, etc. – que incluem mais de uma língua
românica (português, espanhol, francês, italiano). Dando continuação a um estudo preliminar sobre a
gramática poliglota como «género» ou «subgénero» gramatical, trabalho em que a nossa atenção incidiu
sobretudo na Grammaire Polyglotte de Jean-Noël Blondin (1753-1832), nesta ocasião estendemos a
análise a outros textos – Lindner (1827), Jost (1840), Michelsen (1860), por exemplo – e a outras línguas
românicas, com o propósito de analisar: i. os aspectos contrastados nas várias línguas (pronúncia, ortografia, classes de palavras e sua classificação, estruturas sintácticas, léxico e fraseologia); ii. as estratégias contrastivas aplicadas pelos autores dos manuais; iii. a existência (ou não) de uma moldura teórica
subjacente ao exercício comparativo.
Referências
BLONDIN, Jean-Noël (21826[1811]): Grammaire polyglotte française, latine, italienne, espagnole, portugaise et anglaise, dans laquelle ces diverses langues sont considérées sous le rapport du mécanisme et
de l’analogie propres à chacune d’elle. Paris: Chez Brianchon.
GONÇALVES, Maria Filomena (2014): «La gramática políglota: un eslabón en la historia de las gramaticografías portuguesa y española». In: María Luisa Calero, Alfonso Zamorano, F. Javier Perea,
Carmen García Manga e María Martínez-Atienza (eds.): Métodos y resultados actuales en Historiografía de la Lingüística. München: Nodus Publikationen (no prelo).
JOST, Simon (1840): Grammaire polyglotte ou tableaux synoptiques comparés des langues française, allemande, anglaise, italienne, espagnole et hébraïque accompagnés de la prononciation figurée et
d’annotations philologiques, exégétiques et archéologiques, à la portée de la jeunesse et des personnes
qui veulent, sans maître, s’initier dans ces langues. Paris: L’auteur-éditeur. MICHELSEN, E. H. (1860): The merchant’s polyglot manual in nine languages [...]. London: Longman,
Green, Longamn, and Roberts.
RIUS DALMAU, María Inmaculada (2009): «L’enseignement/apprentissage multilingue dans le contexte
culturel européen de la première moitié du XIXe siècle: à propos de la Grammaire polyglotte de
Simon Jost (1840)». Documents pour l’histoire du français langue étrangère ou seconde. 42: 127148. Disponível em : http://dhfles.revues.org/732 [Data da consulta 22/11/2014].
ROSSEBASTIANO, Alda (2003): «La tradition des manuels polyglottes dans l’enseignement des langues». History of Linguistics 1999: Selected Papers from the Eighth International Conference on the
History of the Language Sciences. Ed. por Sylvain Auroux. Amsterdam / New York: John Benjamins, 688-698.
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
Variação e mudança nas primeiras descrições da língua portuguesa
Carlos Assunção (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro)
Foi apenas no séc XVI, com a publicação dos textos de Oliveira e de Barros, que se criou uma verdadeira
consciência linguística da língua portuguesa, em Portugal. Pretende-se com esta comunicação fazer a
contextualização do aparecimento das primeiras gramáticas da língua portuguesa, procedendo-se a um
breve excurso sobre o quadro humanista europeu coevo desses textos metalinguísticos; num segundo
momento, apresentar-se-á uma sumária descrição de alguns aspetos das obras gramaticais de Fernão de
Oliveira, de João de Barros e de Amaro de Roboredo considerados relevantes dessa consciência linguística, pondo-se em destaque os conceitos de variação e mudança linguística. Tratar-se-ão os conceitos
de variação linguística diacrónica, de variação linguística sincrónica, mais especificamente de carácter
diatópico e diastrático, que posteriormente foram objeto de tratamento pelo alemão Hugo Schuchardt,
por Silva Neto e por Herculano de Carvalho, entre outos.
Referências
Barros, João de (1540): Grammatica da Lingua Portugueza. Olyssipone: apud Ludouicum Rotorigiu
Typographum.
Oliveira, Fernão de (2000 [1536]): Gramática da Linguagem Portuguesa. Edição Crítica, Semidiplomática e Anastática por Amadeu Torres e Carlos Assunção com Estudo Introdutório de Eugenio
Coseriu. Lisboa: Academia das Ciências de Lisboa.
Roboredo, Amaro de (2007 [1619]): Methodo Grammatical para todas as Linguas. Edição facsimilada.
Prefácio e Estudo Introdutório de Carlos Assunção e Gonçalo Fernandes. Vila Real: Centro de
Estudos em Letras, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Colecção Linguística, 1.
O celtismo lingüístico decimonónico en Portugal e en Galicia.
Xenio, evolución e mestura
Beatriz García Turnes (Instituto da Lingua Galega,
Universidade de Santiago de Compostela)
A influencia do iluminismo leva a certos eruditos portugueses da primeira metade do século XIX a
introduciren unha idea innovadora na reflexión lingüística do seu país e provocaren, con ela, unha polémica que se manterá, polo menos, ata a década dos 70. Trátase da defensa da orixe celta, e non latina,
do portugués. Tamén do outro lado da fronteira, as ideas sobre as orixes celtas do galego prenderon en
autores relevantes do nacente galeguismo. Detrás desa tese atópase, entre outras cousas, unha particular
concepción do que é o xenio dunha lingua e de como se produce a evolución desta no tempo. Comparten os celtistas galegos, nalgún caso coñecedores dos traballos dos portugueses, as mesmas concepcións?
Ou é diferente o celtismo ao norte e ao sur do Miño?
O passo inaugural da teoria linguística no Brasil oitocentista
Ricardo Cavaliere (Universidade Federal Fluminense)
O Brasil, à semelhança dos demais países sul-americanos, sempre caracterizou-se por desenvolver estudos linguísticos à luz de paradigmas importados dos grandes centros científicos mundiais, um fato epistemológico que se pode denominar «linguística de recepção». No século XIX, as teses da grammaire
raisonnée chegaram às páginas dos primeiros compêndios gramaticais brasileiros sobretudo pela obra de
César Dumarsais (1676-1756) Antoine de Tracy (1754-1836), Étienne de Condillac (1714-1780), Nicolas
Beauzée (1717-1789) e, mais diretamente, Jerônimo Soares Barbosa (1737-1816). Cuidava-se, então, ao
longo de mais de meio século, desde a publicação em 1806 do Epítome da gramática portuguesa, por
Antônio de Morais Silva (1755-1824), até a publicação, em 1875, da Gramática portuguesa, por Augusto
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Simpósios / Simposios
Freire da Silva (1836-?), de uma aplicação das teses racionalistas à descrição do português em textos prioritariamente destinados ao ensino da língua vernácula nas classes fundamentais e intermediárias. Com
a chegada do paradigma histórico-comparativo às páginas gramaticais brasileiras, cujo pioneirismo ordinariamente atribuído à Gramática portuguesa, de Júlio Ribeiro (1845-1890) põe-se hoje na pauta das
discussões mais prementes sobre a história da gramática no Brasil, o propósito eminentemente pedagógico
das gramáticas cede espaço para publicações de caráter científico-pedagógico, a par de outras obras que
se podem caracterizar como doutrinárias, ou exclusivamente científicas, visto que tinham o propósito de
difundir as novéis teses da linguística oitocentista no ambiente acadêmico brasileiro. Dentre esses textos
doutrinários destaca-se o opúsculo Traços gerais de linguística , publicado por Júlio Ribeiro em 1880, no
corpo de um movimento editorial voltado para a popularização da ciência em todas as áreas do conhecimento; este trabalho dedica-se à análise historiográfica dessa obra de Júlio Ribeiro, que bem se pode qualificar como o texto pioneiro da teorização sobre a linguagem humana na bibliografia linguística brasileira.
Primeiras descrições das línguas africanas em língua portuguesa
Gonçalo Fernandes (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro)
Nesta comunicação apresentaremos uma visão panorâmica das primeiras descrições gramaticais das
línguas africanas de Angola e Moçambique pelos missionários portugueses e/ou ao serviço do padroado
português. Merecem particular destaque as obras Gentio de Angola (Lisboa 1642; Roma 1661), Arte da
Lingua de Cafre (ca. 1745 [ca. 1680]) e Arte da Lingua de Angola (Lisboa 1697), de Francesco Pacconio S.J. (1589–1641), António do Couto, S.J. (1614–1666) e António Maria da Monte Prandone, O.F.M.
(1607–1687), anónimo (fl. ca. 1680) e Pedro Dias, S.J. (1621/1622–1700), respetivamente. Também apresentaremos a Obra nova da Lingoa geral de mina (Minas Gerais 1741) de António da Costa Peixoto
(1703–1763), que, sendo um leigo, descreve uma língua bantu da família Kwa, falada em Minas Gerais
por escravos oriundos do Golfo do Benim, na costa ocidental de África.
Referências. Fontes primárias
ÁLVARES, Manuel. De institutione grammatica libri tres. Olyssipone: Ioannes Barrerius, 1572. Online: http://purl.pt/23043 and http://purl.pt/23121 (National Library of Portugal).
_________. De institutione grammatica libri tres. Olyssipone: Ioannes Barrerius, 1573.
ANCHIETA, José de. Arte de Gramática da Língua mais usada na costa do Brasil. Fac-símile da edição
de 1595. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1933.
ANÓNIMO. Arte da Lingua de Cafre. Biblioteca da Ajuda, Lisboa, manuscrito, coleção «Jesuítas na
Ásia», ca. 1745 [ca. 1680] (Códice Ms. 49-v-18, f. 201-223).
DIAS, Pedro. Arte da Lingua de Angola, oeferecida a Virgem Senhora Nossa do Rosario, Mãy, e Senhora
dos mesmos Pretos. Lisboa: Officina de Miguel Deslandes, 1697.
JORGE, Marcos; MARTINS, Inácio; CARDOSO, Mateus. Doutrina Christaã. Composta Pelo P. Marcos
Jorge da Companhia de IESV Doutor em Theologia. Acrescentada pelo Padre Ignacio Martinz da
mesma Companhia Doutor Theologo. De nouo traduzida na lingoa do Reyno de Congo, por ordem do
P. Mattheus Cardoso Theologo, da Companhia de IESV. Lisboa: Geraldo da Vinha, 1624.
PACCONIO, Francisco & COUTO, António do. Gentio de Angola sufficientemente instruido nos mysterios de nossa sancta Fé. Obra posthuma, composta pello Padre Francisco Pacconio da Companhia
de Iesu. Redusida a methodo mais breve & accomodado á capacidade dos sogeitos, que se instruem
pello Padre Antonio do Couto da mesma Companhia. Lisboa: Domingos Lopes Rosa, 1642.
PACCONIO, Francesco; COUTO, António do; MONTE PRANDONE, Antonio Maria de. Gentilis Angollae fidei mysteriis Lusitano olim idiomate per R. P. Antonium de Coucto Soc. Iesv Theologum;
nunc autem Latino per Fr. Antonivm Mariam Prandomontanum, Concionatorem Capucinum, Admod. Rev. Patris Procuratoris Generalis Comissarij Socium, Instructus, atque locupletatus. Romæ:
Typis S. Congreg. de Propaganda Fide, 1661.
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
PEIXOTO, António da Costa. Alguns Apontamentos da Lingoa minna com as Palavras Portuguezas correspondentes. Manuscrito, Biblioteca Nacional de Lisboa, 1731 (F. 2355 códice 3052).
_________. Lingoa geral de mina, traduzida, ao nosso Igdioma por Antonio da Costa Peixoto, Naciognal
do Reino de Portugal, da Provincia de Entre Douro e Minho, do comcelho de Filgueiras. Manuscrito, Biblioteca Pública de Évora, 1741 (códice CXVI/1-14).
_________. Obra nova de língua geral de Mina de António da Costa Peixoto: Manuscrito da Biblioteca
Pública de Évora publicado e apresentado por Luís Silveira. Lisboa: Agência Geral das Colónias,
1944.
_________. Obra nova de língua geral de Mina de António da Costa Peixoto: Manuscrito da Biblioteca
Pública de Évora publicado e apresentado por Luís Silveira. Lisboa: Agência Geral das Colónias,
1945.
VETRALLA, Giacinto Brusciotto a. Doctrina Christiana ad profectum Missionis totius Regni Congi in
quatuor linguas per correlatiuas columnas distincta. Romæ: Typis, & sumptibus eiusdem Sac. Congreg., 1650.
_________. Regulae quaedam pro difficillimi Congensium idiomatis faciliori captu ad grammaticae normam redactae a F. Hyacintho Brusciotto a Vetralla Concionatore Capuccino Regni Congi Apostolicae Missionis Praefecto. Romæ: Typis S. Congr. de Prop. Fide, 1659.
O tempo e o aspecto verbais na tradição gramatical brasileira
André Crim Valente (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)
José Carlos Azeredo (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)
Uma tradição ocidental que remonta a Aristóteles vincula a categoria do verbo (rhéma) à expressão do
tempo, segmentado em presente, passado e futuro. Os estoicos, por sua vez, distinguiram nuances aspectuais – processo durativo X processo concluído – no presente, assim como no passado. São dois mil
e quinhentos anos de uma história que perdura nos nossos dias. A distinção entre tempo e aspecto fica
evidente já na caracterização que Soares Barbosa (1803) fez das «ideias acessórias» expressas pelo verbo,
mas as gramáticas da língua portuguesa produzidas ao longo dos séculos XIX e XX tendem a privilegiar
a categoria do tempo e a abordar a categoria do aspecto, quando o fazem, como uma variação subsidiária
do tempo. Este, como se sabe, sempre foi vinculado à correspondência entre as formas linguísticas de
presente, passado e futuro e as noções cronológicas de agora, antes e depois. Esta equivalência opera
bem em relação ao antes e ao depois, mas falha em relação ao agora, já que o momento do ato da enunciação não é o único ponto de referência das relações temporais. A insistência em manter no «ato da
palavra» o eixo único de todo o sistema criou algumas dificuldades descritivas, levando à adoção de uma
nomenclatura aparentemente paradoxal, como ‘futuro do pretérito’, e de outra que aponta para um traço
de sentido que se reduplica na mesma forma, como é o caso da designação ‘pretérito mais-que-perfeito’.
Por seu turno, a categoria do aspecto vez por outra sai da sombra do tempo, mas não chega a ganhar
foco próprio nas gramáticas. Na tradição brasileira, somente Claudio Brandão, autor da Sintaxe Clássica
(1963) lhe deu espaço e identidade terminológica. Nossa intervenção tem por propósito principal passar
em revista obras de autores brasileiros do final do século XIX e do período que se estende até os anos
1960, nas quais se revela uma compreensão mais consistente do que a atualmente disseminada nas obras
didáticas sobre as relações de tempo e de aspecto do verbo em português.
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Gramática, variação e mudança |
Gramática, variación e mudanza
Ernestina Carrilho (Centro de Linguística,
Universidade de Lisboa), coord.
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Simpósios / Simposios
I. Projetos e recursos
Projeto Perfil Sociolinguístico da Fala Bracarense
Pilar Barbosa (Universidade do Minho)
Nesta comunicação apresenta-se o corpus ‘Perfil Sociolinguístico da Fala Bracarense’, recolhido no âmbito do projeto com o mesmo nome sediado no Centro de Estudos Humanísticos da Universidade do
Minho e financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, Portugal (2010-2014). O projeto visou
dois objetivos:
1) a constituição de uma base de dados (digitalizada) representativa do português contemporâneo
falado na cidade de Braga, tomando como base de organização três variáveis de análise sociolinguística:
o género, a idade e a escolaridade;
2) a descrição e discussão dessa base de dados segundo diversos níveis de análise linguística.
Para além da descrição do corpus, serão apresentados alguns dos estudos já efetuados no âmbito do
projeto.
Corpus Dialetal para o Estudo da Sintaxe (Cordial-sin)
Ernestina Carrilho (Centro de Linguística, Universidade de Lisboa)
O Corpus Dialetal para o Estudo da Sintaxe (CORDIAL-SIN) foi constituído no âmbito de diferentes
projetos de investigação no domínio da sintaxe dialetal, desenvolvidos no Centro de Linguística da
Universidade de Lisboa. Este corpus foi concebido como um recurso para acesso sistemático a dados
morfossintáticos de variedades regionais do português europeu, tornando assim possível integrar na
investigação sintática do português, como em estudos de sintaxe comparativa em geral, um tipo de
evidência empírica normalmente menos acessível mas relevante para os estudos gramaticais. A relação
entre aspetos da variação sintática sincrónica e diacrónica constitui uma das vertentes dos estudos gramaticais desenvolvidos com base neste corpus.
Uma vez que os materiais do CORDIAL-SIN são provenientes de inquéritos dialetais realizados no
âmbito de diferentes projetos de geolinguística tradicional, o corpus permite também aceder a informação sobre a distribuição geográfica de dados linguísticos produzidos por falantes de perfil social homogéneo. Desta forma, como os atlas linguísticos tradicionais em relação a domínios como o léxico ou
a fonologia, o CORDIAL-SIN tem aberto novas vias de acesso ao estudo da sintaxe diacrónica, a partir
dos vestígios encontrados em variantes morfossintáticas regionais.
Nesta comunicação serão apresentados alguns dos trabalhos que, a partir do CORDIAL-SIN, consideram a articulação entre variação e mudança nos estudos morfossintáticos do português.
CV Words: dados orais de Cabo Verde
Fernanda Pratas (Centro de Linguística, Universidade de Lisboa)
O recurso CV Words consiste num conjunto alargado de frases extraídas de entrevistas com falantes de
cabo-verdiano, sendo o seu principal objetivo a disponibilização de dados orais desta língua crioula de
base portuguesa, ainda pouco estudada de um ponto de vista formal e à espera de vir a ser declarada
língua oficial no seu país.
As frases do corpus são sujeitas a transcrição ortográfica, seguindo genericamente as regras do ALUPEC, alfabeto oficial do cabo-verdiano, bem como a marcação morfológica e sintática, o que permite ao
utilizador dois tipos de pesquisa: (i) um básico, Google-like, através do qual podem ser obtidas todas as
construções disponíveis que contenham determinada palavra ou expressão da língua; (ii) uma pesquisa
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
avançada, que consiste na combinação de diversos elementos gramaticais, a fim de obter resultados precisos, de acordo com exigências mais específicas.
Para cada frase obtida, o CV Words disponibiliza ainda: uma glosa, de acordo com as Leipzig Glossing Rules; traduções em português e inglês; um ficheiro áudio; as informações relevantes sobre o falante
que a produziu.
O CV Words foi criado com tecnologias Open Source no âmbito do projecto ‘Eventos Subeventos
em Caboverdiano’ (com financiamento independente da FCT e desenvolvido entre 2010 e 2013, no
CLUNL-FCSH). Findo esse projeto, o CV Words continua a ser apoiado pela FCT mas agora através do
CLUL-FLUL.
Na presente comunicação, este recurso será apresentado e explicado, terminando com a demonstração de possíveis utilizações dos seus resultados, nomeadamente para os estudos sobre variação e
mudança. Esta vocação específica (que não é, no entanto, exclusiva) deve-se não só ao facto de a génese
do cabo-verdiano ter ocorrido em contexto de contacto linguístico, mas também às propriedades atuais
da língua no que respeita à variação dialetal (em sentido lato), bem como a complexas questões relacionadas com atitudes linguísticas.
II. Sujeito e ordem de palavras
Ordem de palavras em orações gerundivas do português
Maria Lobo (Universidade Nova de Lisboa)
Alexandra Fiéis (Universidade Nova de Lisboa)
Vários autores têm estabelecido uma correlação entre ordem de palavras em orações absolutas e Parâmetro do Sujeito Nulo (Roberts 1994, Barbosa 1995, 2002, Santos 1999): as línguas de sujeito obrigatório, como o francês e o inglês, teriam ordem Sujeito-Verbo, ao passo que as línguas de sujeito nulo, como
o português europeu, teriam ordem Verbo-Sujeito:
(1) a. Les enfants étant malades, nous sommes restés à la maison.
b. *Étant les enfants malades,…
(2) a. The children being sick, we stayed home.
b. *Being the children sick,…
(3) a. Estando as crianças doentes, ficámos em casa.
b. ??As crianças estando doentes, ficámos em casa.
Nesta comunicação, mostraremos que a correlação entre o Parâmetro do Sujeito Nulo e a obrigatoriedade de ordem Verbo-Sujeito em orações gerundivas é demasiado forte quando se consideram dados
do português antigo e de variedades dialetais do português europeu. Partindo de dados de dois corpora
(Corpus Informatizado do Português Medieval e CORDIAL-SIN - Corpus dialetal para o estudo da Sintaxe), mostraremos que, nestas variedades, podem encontrar-se quer ordens Sujeito-Verbo, quer ordens
Verbo-Sujeito em orações gerundivas:
(4) a. E, estando Elle em nós, reçebemos seus dões. (1504, Cat)
b. E, elle estando em sua oraçon (...), veeo subitamente sobre elle hu~u~ grande lume do ceeo
(...) (s. 14, CGE)
(5) a. Agora, em abalando a senhora ainda quero ter uma conversa, que ele falta-me aqui umas
peças do tear, quero saber onde elas estão. (MST16)
b. Agora em eu vindo para baixo, querem ir ver além os molhos (...) como é que são? (MST34)
Exploraremos a relevância de diferentes fatores na determinação das diferentes ordens de palavras
(tipo de verbo, tipo de sujeito, estatuto informacional do sujeito, presença de conectores, valor semânti- 33 -
Simpósios / Simposios
co da oração) e procuraremos dar conta da variação interlinguística através da especificação do domínio
funcional nas diferentes línguas.
A nossa hipótese é que as diferenças de ordem de palavras se relacionem antes com a especificação
de traços do domínio funcional periférico, o que explicaria diferenças na legitimação de sujeitos em
diferentes línguas (em francês não é possível ter sujeitos clíticos nestas orações) e nos possíveis valores
semânticos associados às orações gerundivas. Seguindo Costa (2010), assumiremos que a aparente opcionalidade pode ser explicada através de restrições de interface, estando as ordens Su-V e V-Su associadas ao diferente estatuto informacional do sujeito.
Construcións causativas e anticausativas no galego: o caso de aprender
María Beatriz Domínguez Oroña (Instituto da Lingua Galega,
Universidade de Santiago de Compostela)
No galego encontramos unha serie de pares verbais, como ensinar/aprender ou queimar/arder, que presentan unha alternancia causativa-anticausativa nos predicados que conforman. Prototipicamente, o
primeiro verbo de cada par constrúe predicados causativos –predicados nos que se presenta un evento
que causa un cambio de estado–, aínda que tamén pode formar predicados anticausativos –aqueles nos
que o cambio de estado se presenta como un proceso intrínseco do participante que o experimenta–,
a través dun proceso de derivación de predicados; pola súa banda, o outro verbo do par só constrúe
predicados anticausativos.
Non obstante, ao analizar os resultados que nos ofrece un corpus lingüístico do galego medieval,
como o TMILG (Tesouro Medieval Informatizado da Lingua Galega), ou do galego contemporáneo,
como o TILG (Tesouro Informatizado da Lingua Galega), encontramos construcións causativas do
membro anticausativo. Co obxectivo de coñecer mellor este tipo de alternancia, nesta comunicación
analizamos o caso concreto de aprender. Para iso definimos, desde unha perspectiva funcionalista, os
principais marcos predicativos que presenta este verbo nos predicados tirados dos córpora lingüísticos
mencionados, atendendo, principalmente, ao número de argumentos e as funcións semánticas e sintácticas que desenvolven. Tamén prestamos atención ao contexto deses predicados e ás características
dos textos aos que pertencen para poder achegar información sobre o tipo de variación que se dá nas
construcións causativas e anticausativas deste predicador léxico.
A posição do sujeito na história do português brasileiro:
sintaxe e estrutura informacional da sentença
Sílvia Cavalcante (Universidade Federal do Rio de Janeiro)
No Português Brasileiro (PB), a ordem Verbo-Sujeito é restrita a contextos de verbos inacusativos ou
construções apresentativas (Tarallo, 1993; Berlinck 1998; Kato, 1999; Kato, Duarte, Cyrino, Berlinck,
2006). Diversos estudos diacrônicos têm mostrado a diminuição da ordem VS ao longo tempo, não só
em relação à ordem SV, mas também em diversos contextos sintáticos: o trabalho de Berlinck (1993)
mostra uma mudança na influência de fatores condicionadores da ordem VS: de fatores discursivos para
fatores estritamente sintáticos. Cavalcante (2014), analisando a ordem SV/VS em um corpus constituído
de cartas familiares escritas entre os séculos XIX e XX que compõem o Corpus Compartilhado Diacrônico (http://www.letras.ufrj.br/laborhistorico) observou, além da diminuição da ordem VS ao longo
do tempo uma diferença de uso entre os missivistas (Homens vs. Mulheres). No geral, as mulheres desde
o fim do século XIX apresentam índices de VS menores do que os dos homens e um tipo de VS restrita
a contextos inacusativos; ao passo que os homens apresentam VS em contextos morfossintáticos mais
variados (sentenças interrogativas e subordinadas, por exemplo).
Neste trabalho, retomo os dados de pesquisa anterior (Cavalcante 2014) a fim de testar a relação
entre a diminuição da ordem VS e a estrutura informacional da sentença numa amostra constituída
- 34 -
Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
de cartas pessoais pertencentes a cinco famílias escritas no Brasil e que fazem parte do Corpus Compartilhado Diacrônico (http://www.letras.ufrj.br/laborhistorico/). Para tanto, foi considerado o estatuto
informacional do sujeito em sentenças VS levando em consideração a proposta de Duarte (2003). Os
dados foram analisados segundo a metodologia de pesquisa de trabalhos quantitativos: foram levantados e codificados para serem submetidos ao programa GoldVarbX (2005). Foram eliminados dos dados
os sujeitos pronominais, nulos, e os pronomes relativos que exercem função de sujeito em orações subordinadas relativas.
Os resultados iniciais com duas famílias revelam uma diferença entre a data de escrita da carta: o
índice de VS é maior em sentenças com sujeito focalizado ou novo nas cartas do Missivista Christiano
Ottoni (final do século XIX), o que não foi observado nas cartas escritas nos anos 1930’s.
Uma análise da realização do sujeito pronominal e da ordem VS
no português brasileiro ao longo dos séculos XIX e XX
Maria Eugênia Duarte (Universidade Federal do Rio de Janeiro)
Humberto Soares da Silva (Universidade Federal do Rio de Janeiro)
O português brasileiro (PB) tem sido considerado uma língua de sujeito nulo parcial, que licencia sujeitos nulos referenciais em contextos estruturais bastante restritos e mantém sujeitos não-referenciais
nulos. O objetivo do trabalho é mostrar que o PB não se revela como um sistema estável de língua
de sujeito nulo parcial, nem no que diz respeito aos sujeitos referenciais nem no que diz respeito aos
não- referenciais (ou expletivos) (cf. proposta em Roberts e Holmberg, 2010). Ambos os tipos de sujeito
apresentam competição entre sujeitos nulos e expressos. Enquanto os nulos referenciais se mostram em
competição com pronomes plenos, nos contextos de línguas de sujeito nulo parcial, os expletivos nulos
aparecem em competição com constituintes (genitivos, dativos, locativos) alçados ou elementos inseridos na posição estrutural do sujeito. Entre os casos de alçamento aqui enfocados estão os inacusativos,
que propiciam a chamada «inversão livre» em sentenças apresentativas. Os dados provêm de análises de
peças de teatro escritas e ambientadas no Rio de Janeiro ao longo dos séculos XIX e XX. Evidências adicionais vêm de análises sincrônicas da fala carioca. O trabalho associa o modelo de estudo da mudança
da Sociolinguística Variacionista com desenvolvimentos recentes da Teoria de Princípios e Parâmetros.
Nossos resultados confirmam a hipótese levantada por Biberauer (2010), para quem o rótulo parcial
pode abarcar sistemas muito desiguais, o que exige um exame rigoroso dos contextos que licenciam
sujeitos nulos e da sintaxe das sentenças impessoais.
Referências
BIBERAUER, T. 2010. Semi pro-drop languages, expletives and expletive pro reconsidered. In T. BIBERAUER et al.(eds) Parametric Variation: null subjects in Minimalist Theory. Cambridge: Cambridge University Press. 153-199.
ROBERTS, I.; HOLMBERG, A. 2010. Introduction: parameters in Minimalist theory. In T. BIBERAUER et al. (eds) Parametric Variation: null subjects in Minimalist Theory. Cambridge: Cambridge
University Press. 1-57.
A posição do sujeito no Português medieval
Esther Rinke (Goethe-Universität Frankfurt am Main)
Esta apresentaҫão investiga a relação entre a sintaxe e a estrutura informacional no Português antigo e
discute como explicar as mudanças ocorridas na ordem de palavras na história da língua portuguesa
com respeito à estrutura sintática. Proporei que estão disponíveis três diferentes posições sintácticas:
SpecvP, SpecTP e uma posição funcional (FP/TopP). Relativamente à evolução linguística, proporei que
se perde a posição estruturalmente mais baixa (SpecTP) e, em consequência, FP/TopP torna-se a posi- 35 -
Simpósios / Simposios
ção não-marcada do sujeito no Português moderno. Tomando como diagnóstico a posição do sujeito
vis-à-vis advérbios curtos, pronomes clíticos, advérbios proclisadores/negativos e a própria negação observam-se as seguintes ordens de palavras:
a.) os sujeitos pós-verbais aparecem à direita, o verbo finito à esquerda dos advérbios curtos:
(1) & esta grana sobredjta more senp(re) un nosso frade por jur do mosteyro;... (Lugo 1281,
Maia 1986)
Conclui-se que o verbo se desloca pelo menos para a posição T° (Martins 1994, 2002) enquanto que
o sujeito pós-verbal permanece no interior do sintagma verbal (SpecvP) e faz parte de uma frase que
expressa um juízo tético.
b.) os sujeitos pré-verbais ocorrem à direita assim como à esquerda do pronome clítico e do
elemento proclisador ou negativo:
(2)a. E nos, don abbade, & ffrey Jo(han) M(a)r(tins) & ffrey Ssaluador ... assy o outo(r)gamos
porlo conbento ... (Orense 1292, Maia 1986)
b. das q(ua)es h(er)dades lhy eu hej ff(ei)ta Doaçon ... (Estremadura 1294, Martins 2001)
Assumo com Martins (1994, 2002) que o clítico em (2a.-b.) é adjunto ao sintagma TP e marca a
fronteira entre o domínio da periferia esquerda e do campo médio («Mittelfeld») da frase. O sujeito
pode ou ocorrer à esquerda da categoria ΣP ou à direita do clítico dentro da categoria TP. No último
caso, observa-se interpolação do sujeito e de mais constituintes (IP-scrambling no sentido de Martins
2002). Assinalam-se as seguintes mudanças linguísticas: a) a perda de interpolação e b) a cliticização
progressiva dos pronomes objeto que se adjungem ao núcleo T°. Como consequência a posição mais alta
do sujeito torna-se a posição não marcada do sujeito. Outra consequência é o surgimento de uma nova
posição extra-frásica para os tópicos (Raposo 1996). Levando todos os diferentes aspetos em consideração conclui-se que as mudanças acima mencionadas refletem a reoganização da estructura sintáctica
do Latim para a estrutura SVO das línguas românicas modernas.
Uso variável de pretéritos fortes em português europeu
Pilar Barbosa (Universidade do Minho)
1. Goals
In the Minho region in Portugal, the 1st and 3rd person singular forms of strong preterites can be
leveled and the form used for leveling can vary:
(1) Pois ela estive lá três anos parada [68M3A]
Anyhow she was1P.SG there three years still
(2) Eu foi para a tropa em cinquenta e quatro [38H4B]
I went3P.SG to the troop in fifty and four
The goals of this paper are: (a) to determine which linguistic and social factors favor this variation,
and (c) to offer an explanatory account of this phenomenon.
2. Methodology
We examined 50 interviews from the stratified corpus ‘Sociolinguistics Profile of the Speech of Braga’. We selected speakers from three age groups (26-59 / 60 – 75 / > 75) and four different education
levels (without degree / 4-9 school years /10-12 school years / university degree). A total of 3595 tokens
were coded.
We ran a mixed effect binominal analysis using Rbrul (Johnson, 2009), with five independent factors:
‘age’, level of education; ‘verb’, ‘subject expression’ and ‘subject position’. The factor ‘verb’ included the
forms ‘estive/ esteve’ (1P/3P of to be-stative), ‘tive/ teve’ (1P/3P of to have), ‘fiz/ fez’ (1P/3P of to do) and
‘fui/ foi’ (1P/3P of to be and to go).
- 36 -
Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
3. Results
The regression analysis identified as main predictors the factors ‘speaker’ (a random effect), ‘subject
expression’, ‘verb’ and ‘age’. Variable leveling is almost insignificant in the younger group, thus probably
indicating a process of ongoing change. It rarely occurs with null subjects. Subject position does not have
a predictive effect.
There is a clear difference between ter/estar/fazer, on one hand, and ser/ir, on the other. While in the
former case leveling can be realized by either the form for the 1st or the form for 3rd person, in the case
of ser/ir only one form is used, namely the 3rd person form foi. There is also an individual tendency to
use only one form for leveling: a given speaker either uses the 3rd person or the 1st person, but not both
forms of one verb randomly. Thus, there is inter-linguistic variation in this regard.
4. Theoretical consequences
In our analysis, we follow the «late insertion» model of Distributed Morphology (Halle & Marantz
l993). We develop an account of these agreement leveling effects that is based on the interaction between
the internal syntax of the strong preterites and the late insertion of underspecified functional Vocabulary items. We propose a derivation of the different forms in the standard dialect and then we offer an
analysis of leveling where intra-speaker variation is tied to the probabilistic application of impoverishment rules along the lines of Nevins and Parrot 2010 and Oltra-Massuet 2013. Inter-speaker variation is
due to different choices as to which feature sets are subject to impoverishment: [+author; +participant]
(= 1st person) or T. In the case a verb such as ter, this yields /teve/ or /tive/, respectively. In the case of
ser or ir the resulting forms are homophonous, namely /foj/ in both cases.
References
HALLE, M. & MARANTZ, A. (1993). Distributed morphology and the pieces of inflection. In: Hale, K.,
Keyser, S.J. (Eds.), The View from Building 20: Essays in Linguistics in Honor of Sylvain Bromberger. MIT Press, Cambridge, MA, pp. 111–176.
JOHNSON, D. (2009). Getting off the GoldVarb Standard: Introducing Rbrul for Mixed Effects Variable
Rule Analysis. Language and Linguistics Compass 3/1, 359–383.
LABOV, W. (1972). Sociolinguistic patterns. Pennsylvania: University of Pennsylvania Press.
NEVINS, A. & PARROTT, J. K. (2010). Variable rules meet Impoverishment theory: Patterns of agreement leveling in English varieties. Lingua 120, 1135-1159.
OLTRA-MASSUET, Isabel (l999) On the notion of theme vowel: a new approach to Catalan verbal morphology. Masters thesis. Cambridge, MA: MIT Press.
OLTRA-MASSUET, Isabel and Karlos ARREGI (2005) Stress-by-Structure in Spanish. Linguistic Inquiry 36-1: 43-84.
OLTRA-MASSUET, Isabel (2013) Variability and allomorphy in the morphosyntax of Catalan past
perfective. In: Ora Matushanksy & Alec Marantz (eds.) Distributed Morphology Today – Morphemes for Morris Halle. Cambridge, MA: Mass: MIT Press. 1-20.
VIVAS, Vítor de Moura. (2010). A alternância vocálica no português: regularidade e sistematização.
Cadernos do NEMP, vol. 1, n. 1, 33-44.
WEINREICH, U., LABOV, W. & HERZOG, M. (1968). Empirical foundations for a theory of language
change. In: W. Lehmann and Y. Malkiel (eds.), Directions for Historical Linguistics. Austin: U.
of Texas Press.
TEIXEIRA, Gabriel Sanches (2012). As formas verbais regulares e simples do português brasileiro: uma
proposta à luz da morfologia distribuída. Doctorate dissertation: Universidade Federal de Santa
Catarina.
- 37 -
Simpósios / Simposios
Aproximación ó funcionamento do suxeito na construción dos verbos
de movemento: comportamento prototípico e singularidades construtivas
Soraya Domínguez Portela (IES Pazo da Mercé)
O suxeito é unha categoría da gramática tradicional que se pode definir como un sintagma ou frase
nominal que concorda co verbo en número e persoa. Adoita referir o axente da acción e situarse antes
do verbo. Mais o que semella unha caracterización pechada, non deixa de ser unha descrición moi superficial que deixa innúmeras portas abertas ó redor dun concepto máis descoñecido do que se podería
pensar nun primeiro momento.
Unha frase preposicional, unha oración de infinitivo, unha cláusula de relativo son algunhas outras
unidades que poden desenvolver o rol de axente da acción cunha plasmación no esquema sintáctico de
suxeito; pero o suxeito pode proxectarse no esquema semántico tamén como o paciente da acción; incluso
o suxeito pode non aparecer na oración, sexa por elisión ou por ser unha construción impersoal. Tamén
encontramos contextos en que a concordancia entre suxeito e verbo non deixa de provocar dúbidas na
falante, nun proceso de cambio lingüístico. Estas son só algunhas das cuestións que lle pode aparecer á
investigadora cando tenta afrontarse a unha definición da figura sintáctica que nos compete. E a pregunta
que se pode formular é: a que son debidas? Que pautas regulan cada unha das posibilidades descritas?
Deste modo, na nosa intervención, buscamos describir o funcionamento deste rol sintáctico dentro
do marco predicativo dos verbos de movemento. Precisamos acoutar a nosa análise a un ámbito semántico concreto; mais será a partir deste traballo e doutros parellos como se poderá propor un espazo que
oferte unha caracterización máis completa e xeral que aínda está por facer.
Dende a análise do corpus, atenderemos cinco parámetros que afectan a construción do suxeito: o tipo
de unidade que desenvolve esta figura sintáctica, a súa capacidade de elisión, a indeterminación do suxeito, a posición dentro da oración e a súa proxección no esquema semántico. A delimitación das diferentes
casuísticas axudaranos para propor unhas pautas de comportamento que nos leven a poder entender que
condicionantes ou contextos son máis propios de cada unha das posibilidades de construción desta figura.
Sujeitos não-nominativos no português brasileiro: distribuição e variação
Aroldo Leal de Andrade (Universidade Estadual de Campinas)
O português brasileiro apresenta sujeitos não-temáticos, que podem ter valor genitivo – cf. (1a) – ou
locativo – cf. (2a) -, e têm sido objeto de estudos desde o trabalho seminal de Pontes (1987). As construções em que ocorrem, identificadas em alguns trabalhos como de «tópico-sujeito» (Galves, 1998)
devido à combinação de anteposição de um constituinte mais encaixado - cf. as variantes em (1b) e (2b)
com a presença de concordância verbal, vieram a receber estudos específicos sobre sua distribuição nos
últimos anos, após algumas análises voltadas para a questão da concordância. Nessa comunicação retomo tais abordagens sobre estrutura argumental a fim de identificar as previsões que elas fazem para a
variação no uso dessa construção: uma de Munhoz & Naves (2012), que observa um contraste entre verbos alternantes e verbos não-alternantes; e outra que supõe a existência de uma predicação secundária
nos contextos relevantes (Andrade & Galves 2014). A partir disso, relaciono os sujeitos não-temáticos
como um caso tipologicamente parecido ao instanciado por sujeitos não-nominativos em várias línguas
do mundo, como o Hindi. No que respeita à variação intralinguística, buscarei demonstrar o caráter informacional dos sujeitos não-temáticos como tópicos de continuidade, a partir de dados de corpora do
português brasileiro. A partir desses resultados, apontarei que a mudança em causa adveio da erosão em
determinados usos de preposições funcionais, fato que vem sendo explorado em uma série de trabalhos
no âmbito dessa variedade do português. O português europeu não teria desenvolvido essa construção
por manter mecanismos que garantem a atribuição de caso (genitivo ou locativo).
(1) a. A mesa quebrou o pé.
b. O pé da mesa quebrou.
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
(2) a. Essas casas batem muito sol.
b.Bate muito sol nessas casas.
Referências
ANDRADE, Aroldo & Charlotte GALVES. 2014. A Unified Analysis for Subject Topics in Brazilian
Portuguese. Journal of Portuguese Linguistics 13:1, 117-147.
GALVES, Charlotte. 1998. Tópicos, sujeitos, pronomes e concordância no Português Brasileiro. Cadernos de Estudos Linguísticos, 34, 19–32.
MUNHOZ, Ana Terra & Rozana NAVES. 2012. Construções de Tópico-Sujeito: uma proposta em termos de estrutura argumental e de transferência de traços de C. Signum, 15, 245–265.
PONTES, Eunice. 1987. O tópico no português do Brasil. Campinas: Pontes.
Sujeitos oblíquos nos crioulos drávido-portugueses
Hugo Cardoso (Centro de Linguística, Universidade de Lisboa)
Na antiga costa do Malabar fundaram-se, no início do séc. XVI, os primeiros estabelecimentos portugueses na Ásia. Aí vieram a ser falados crioulos de base lexical portuguesa desenvolvidos em contacto
com o malaiala, a língua dravídica dominante na região, que chegaram a ser dados como extintos mas,
apesar da escassez de falantes, têm vindo a ser documentados. O trabalho de descrição assenta em dados
orais recolhidos em Vaipim (Cochim) e Cananor. Nesse processo, observa-se que os crioulos do Malabar
convergiram de forma notável com as estruturas gramaticais do malaiala. Aqui, exploraremos paralelismos na valência de certos verbos que atribuem aos seus sujeitos uma marcação casual não-prototípica
associada em geral a argumentos com a função de objecto. Ilustremo-lo com o verbo gostar:
(1) Crioulo do Malabar [Cananor]
tudə-pə mãgɑ tə-gostɑ
tudo-OBL manga PRS-gostar
‘Todos gostam de manga.’
(2) Português
todos gostam de manga
(3) Malaiala [Asher & Kumari 1997: 199]
ennikə avaɭe işʈam aaƞə
1s-DAT 3sf-AC gosto ser-PRS
‘Eu gosto dela.’
Como se pode notar, a forma verbal gostɑ no crioulo do Malabar (1) deriva do étimo português (2)
mas, quanto à atribuição de caso, trata os seus argumentos de forma muito semelhante ao malaiala (3).
A distinção na caracterização dos marcadores casuais associados ao primeiro argumento em (1) e (3)
deriva de uma diferença entre o crioulo do Malabar e o malaiala, que é a de o primeiro marcar de forma
indistinta objectos directos (animados) e indirectos.
Este padrão de marcação do sujeito manifesta-se não apenas com verbos psicológicos que tenham
na sua estrutura argumental um Experienciador mas também com verbos de posse, tal como acontece
no malaiala e demais línguas da Ásia Meridional. Com efeito, os chamados ‘sujeitos dativos’ constituem
uma das características mais robustas do Sprachbund indiano (v. Emeneau 1956; Subbarao 2012); ao
adoptarem estas estruturas argumentais, os crioulos do Malabar caminham pois para a integração tipológica na área linguística onde se inserem. A reconstituição diacrónica do processo não é fácil, dada
a escassez de dados linguísticos disponíveis; contudo, o curto corpus preservado no espólio de Hugo
Schuchardt (Universidade de Graz) que serviu de base às suas publicações sobre estas línguas sugere
que, no final do séc. XIX, sujeitos oblíquos coexistiam com sujeitos nominativos nos mesmos contextos,
o que poderá evidenciar uma estratificação sociolinguística dos falantes.
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Corpus linguísticos e gramática histórica |
Corpus lingüísticos e gramática histórica
Charlotte Galves (Universidade Estadual de Campinas), coord.
Xavier Gómez Guinovart (Universidade de Vigo), coord.
Neste Simposio sobre «Corpus lingüísticos e gramática histórica», un conxunto de
investigadores e investigadoras de prestixio nas áreas da filoloxía galego-portuguesa e da lingüística de corpus presentarán un panorama dos corpus históricos que
se están a desenvolver nos centros de investigación de Portugal, Brasil e Galiza e
das ferramentas e aplicacións utilizadas para o seu desenvolvemento e explotación.
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Simpósios / Simposios
I. Corpus do português
Apresentação do corpus Post Scriptum
Rita Marquilhas (Centro de Linguística, Universidade de Lisboa)
No projeto P.S. Post Scriptum, do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa, buscam-se, editamse e estudam-se documentos da interação privada na história. Trata-se de cartas particulares portuguesas e espanholas dos séculos XVI a XIX que têm a particularidade de se representarem, com muita
verosimilhança, a linguagem espontânea familiar da sua época. Endereçadas inicialmente a familiares,
amigos, amantes ou simples conhecidos, foram arquivadas como provas incriminatórias dentro de processos judiciais, acompanhadas de documentação que as contextualizava. Por essa razão, chega-se ao
perfil sociológico de muitos dos seus autores e destinatários, mesmo que de baixo estatuto. Em termos
de representatividade geográfica, têm-na também ampla, uma vez que é documentação que abrange
todas as regiões, europeias e extraeuropeias, dos impérios português e espanhol da Idade Moderna.
A equipa que estuda esta documentação começa por tentar encontrá-la nos arquivos nacionais e
regionais de Portugal e Espanha. Depois, tira proveito de todas as inovações conhecidas -- em termos
de filologia, de humanidades digitais e de linguística de corpus -- para a potenciar a captação do seu
significado cultural, social e linguístico.
A edição dos manuscritos originais parte de uma transcrição conservadora que dá origem, depois, a
uma edição crítica genética, reconstituidora do processo de escrita. Adota-se o formato mais universal
em termos de edição digital, ou seja, o XML-TEI, e alimenta-se uma base de dados biográfica de autores
e destinatários, bem como se regista notícia de cada situação comunicativa.
Usando uma sequência de ferramentas automáticas disponíveis no ambiente online TEITOK (Janssen 2014), procede-se à tokenização, estandardização ortográfica, anotação morfossintática e lematização do texto da transcrição, igualmente marcado com palavras-chave. Um poderoso sistema de busca torna possível obter listas de concordâncias e estatísticas instantâneas sobre a interrelação entre os
dados linguísticos, textuais, biográficos, geográficos e culturais recolhidos ao longo de todo o processo
de edição e constituição do mesmo corpus.
Em paralelo, faz-se a anotação sintática de uma amostra representativa das cartas, destinada a contribuir, juntamente com outros projetos, para a disponibilização de novos recursos destinados à investigação histórica da sintaxe do português e do espanhol.
Referências
JANSSEN, M. (2014) TEITOK (http://alfclul.clul.ul.pt/teitok/site/index.php).
O Corpus anotado do português histórico Tycho Brahe: uma ferramenta
para estudar a sintaxe do português no tempo e no espaço
Charlotte Galves (Universidade Estadual de Campinas)
O Corpus Tycho Brahe (CTB) foi inicialmente construído para estudar a evolução da colocação de
clíticos na história do português europeu depois do séc. 16. Desde os seus primórdios, ele segue a metodologia dos Corpora históricos anotados do inglês desenvolvidos na Universidade da Pensilvânia e na
Universidade de York. Em abril de 2015, ele contém 66 textos totalizando perto de 3 milhões de palavras,
de autores portugueses e brasileiros nascidos entre 1380 (Fernão Lopes) e o final do séc. 19. Desses textos, 34 têm anotação morfológica (classe de palavras e flexões) e 16 têm anotação sintática disponível. Na
sua fase mais recente, o Corpus tem crescido sob forma de sub-corpora de gêneros específicos. É o caso
por exemplo do sub-corpus de peças de teatro de autores nascidos do final do séc. 15 (Gil Vicente) até o
final do séc. 19 (André Brun). Está também em construção um sub-corpus de jornais, ainda não disponível na sua integralidade, cuja particularidade é ser representativo do gênero tanto no Brasil (a partir
do séc. 19) quanto em Portugal (a partir do séc. 17). Os textos brasileiros são ainda minoritários no CTB,
- 42 -
Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
mas tendem a crescer cada vez mais. O Corpus tem aproveitado o imenso empreendimento de edição de
textos realizado no Brasil nas duas últimas décadas, em grande parte em torno de projetos como o PHPB
ou o Prohpor, dos quais ele se tornou parceiro. Para a construção e exploração do CTB, foram usadas
e adaptadas ferramentas computacionais já existentes mas também foram desenvolvidas várias outras,
como o e-dictor (apresentado em outra sessão do simpósio), o etiquetador para o português, e um novo
sistema web que integra todos os níveis de anotação, ainda em fase inicial de implementação. A partir
dos textos anotados, tem sido possível aprofundar substancialmente o nosso conhecimento da sintaxe
do português clássico e a dinâmica das mudanças para a sintaxe do português europeu moderno, que
surge na geração de escritores nascidos na primeira metade do séc. 18. Esse conhecimento por sua vez
nos permite entender melhor a gênese do português brasileiro, que emerge a partir do português clássico mas recebe uma forte influência do português europeu, nos textos escritos, o que explica a imensa
variação sintática encontrada nos textos produzidos no Brasil no séc. 19.
O corpus Projeto Para a História do Português Brasileiro: a constituição
de corpora históricos baseada em critérios de tradições discursivas
José da Silva Simões (Universidade de São Paulo)
Iniciado em 1997, o Projeto História do Português Brasileiro (PHPB) conta hoje com 13 equipes regionais. O objetivo principal dos pesquisadores é investigar a história da Língua Portuguesa no Brasil e a
Sociolinguística do Português Brasileiro. As várias equipes regionais assumiram a tarefa de constituir um
corpus relativamente homogêneo tanto no que se refere a um equilíbrio quantitativos dos exemplares de
textos como do ponto de vista de sua distribuição por gêneros textuais. A coleta assim pensada leva em
conta aspectos associados a) à história social da língua portuguesa no Brasil; b) ao contato linguístico
entre o Português Europeu com o Espanhol Peninsular e também e, principalmente, com as línguas indígenas, com as línguas africanas e mais tardiamente com as comunidades de outras línguas, como o italiano e o alemão; c) às normas linguísticas em competição (p.ex. a tensão entre oralidade e escrita presente
nas normas escritas de sincronias passadas), e d) à importância dos conceitos de Tradições Discursivas
para a constituição dos corpora, levando em conta a importância da história dos gêneros textuais e de
sua circulação no Brasil ao longo da história do país, privilegiando assim as práticas de leitura e escrita
operadas em cada um dos séculos. Para isto, foram criadas três grandes categorias de famílias de textos:
A) um Corpus Comum Mínimo de Manuscritos (testamentos, processos-crime, atas da câmara, cartas
particulares, cartas de administração privada e cartas oficiais), B) um Corpus Comum Mínimo de Impressos (cartas de redatores, cartas de leitores, anúncios e notícias) e C) um Corpus Comum Diferencial
(memórias históricas, entremezes e peças de teatro, folhetins, editoriais e inquéritos orais).
Em nossa comunicação apresentaremos os conjuntos de materiais reunidos não só pela equipe de
São Paulo (Projeto História do Português Paulista, PHPP), como também os documentos reunidos pelas
demais equipes do PHPB.
II. Corpus do galego
Presente e futuro do Tesouro Informatizado da Lingua Galega
César Osorio Peláez (Instituto da Lingua Galega,
Universidade de Santiago de Compostela)
O Tesouro Informatizado da Lingua Galega naceu como un proxecto punteiro que participaba dos últimos avances en materia de lingüística de corpus e tecnoloxías da información. Non obstante, o avance
tecnolóxico experimentado desde entón torna necesario analizar o estado actual desta ferramenta para
adaptala ás novas necesidades dos investigadores e investigadoras.
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Simpósios / Simposios
Na presente comunicación, faremos un percorrido polas súas carencias máis significativas, entre as
que destacan tanto a grande variabilidade de criterios de edición como a ausencia de criterios preestabelecidos para novos termos incorporados á lingua ou para palabras con prefixos e sufixos. Alén diso, o
proceso de lematizado consta de demasiados procedementos manuais, tanto para a propia lematización
como para a desambiguación de formas formalmente coincidentes. Isto imposibilita que o TILG sexa
unha aplicación autónoma e fai que todos os cambios estean suxeitos aos criterios da persoa que supervisa.
Así mesmo, os textos almacenados no actual sistema de recuperación de información presentan
unha codificación moi particular que ao combinala co sistema xestor de base de datos, non permite a
realización de procuras complexas, nin a obtención de resultados extensos nun tempo aceptábel.
Esta situación esixe unha reformulación profunda tanto das formas de introducir os textos como das
ferramentas que se empregan para a súa manipulación e consulta. O resultado será o desenvolvemento
dun novo protocolo de edición de textos e un sistema de recuperación de datos máis eficiente e con
máis funcionalidades. Isto permitirá obter unha maior velocidade de busca, poder realizar operacións
complexas (colocacións, keywords, cálculo de frecuencias) ou diferentes tipos de buscas que combinen
elementos léxicos con etiquetas de categorías (amar + adverbio, soñar + preposición...), frases exactas ou
mesmo filtrado xeográfico e temporal de textos.
Referencias
SANTAMARINA, Antón: Tesouro informatizado da lingua galega. Santiago de Compostela: Instituto
da Lingua Galega.
Biblioteca Dixital da Galicia Medieval
Xavier Varela Barreiro (Instituto da Lingua Galega,
Universidade de Santiago de Compostela)
No ámbito universitario da Galiza das últimas décadas proliferaron rapidamente os esforzos para dotar
o mundo da investigación en humanidades, nomeadamente en filoloxía e historia, de recursos estruturais de investigación que lle permitisen á lingua galega andar un longo traxecto que outras linguas xa
percorreran centurias atrás e que o galego pode –e debe– cubrir en breve prazo nestes tempos de vertixinosos avances tecnolóxicos, convertidos no mellor aliado para ela, agora que está en xogo o seu porvir.
O proxecto e o recurso que presentamos sitúanse na liña das bibliotecas dixitais ou virtuais.
O marco tecnolóxico xeral no que se incardina a Biblioteca dixital da Galiza Medieval (BGM) é a
plataforma interuniversitaria RILG (Recursos Integrados da Lingua Galega), integrada na actualidade
por experimentados e nutridos equipos de investigación das Universidades de Vigo e de Santiago de
Compostela. No plano filolóxico, a BGM é unha aposta e un proxecto que nace desde o ámbito universitario, marco da investigación profesional institucionalizada nos países modernos, e para o conxunto da
sociedade. É de marcado e moi intencional carácter interuniversitario nunha Galiza pouco vertebrada
neste ámbito e tan necesitada dunha reordenación racional do destino e do reparto dos poucos recursos
públicos dedicados á investigación. Participan no seu desenvolvemento investigadores das tres universidades galegas (UDC, USC, UVigo).
A Biblioteca dixital da Galicia Medieval (BGM) naceu, dentro do Tesouro Medieval Galego-Portugués (ILG-USC) e co patrocinio da Secretaría Xeral de Política Lingüística da Xunta de Galicia, como a
correspondencia en forma de biblioteca textual –aberta e flexible– do conxunto das bases de datos textuais integradas no Xelmírez, para o territorio galego, e complementarias das correspondentes ao Dom
Dinis, para o territorio portugués. Está presente na internet, desde hai varios anos, no seguinte enderezo:
http://sli.uvigo.es/BGM/.
Como celeiro da BGM, o Xelmírez presenta un estado moi avanzado de desenvolvemento, pois contén a totalidade dos textos editados da Galiza medieval, e a BGM supón xa hoxe e vai supoñer en maior
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
medida no futuro a posibilidade de acceso libre e á integra ao corpus textual completo da Galiza medieval, algo do que poucas linguas poden fachendear hoxe para este período histórico.
Para facilitar a comprensión da contextualización e encaixe da BGM no Tesouro Medieval Galego-Portugués, presentamos un esquema no que se ve o seu carácter de biblioteca textual da Galiza
medieval, fronte á base de datos, representa nel polo Xelmírez:
Tesouro Medieval Galego-Portugués (TMGP)
Galiza
TMILG *
TMILL-P
TMILL-G *
-
TMILC-G *
(latín)
(gal-port)
(latín)
COTAGAL 1
(edicións propias)
BGM *
TMILP
(gal-port)
Galiza
Xelmírez *
Dom Dinís
Portugal
Bibliotecas textuais
COTAGAL 2 *
(edicións alleas)
Portugal
COTAPOR 1
(edicións propias)
COTAPOR 2
(edicións alleas)
BGP
Bases de datos
(castelán)
* Bases de datos accesibles na Internet
Na nosa intervención presentaremos o paquete de características do deseño e os protocolos operativos
de funcionamento da BGM, e explicaremos as súas conexións e interdependencias cos outros recursos
integrados no TMGP.
O proxecto GLOSSA: dificultades e resultados
Manuel Ferreiro (Universidade da Coruña)
O Glosario da poesía medieval profana galego-portuguesa [GLOSSA], que será finalizado en decembro
de 2015, é un proxecto desenvolvido ao abeiro de un proxecto de investigación bipartido e sucesivo, ao
longo de seis anos (2010-2015). O equipo de traballo está constituído na súa maioría por profesorado
da área de Filoloxías Galega e Portuguesa da Universidade da Coruña, no seo do grupo de investigación
ILLA (www.illa.udc.gal).
Este Glosario constitúe o primeiro repertorio lexical dicionarizado, contextualizado e exhaustivo
do corpus da lírica profana galego-portuguesa: cantigas de amor, cantigas de amigo e mais cantigas
de escarnho e de maldizer, para alén dalgúns textos doutros xéneros con menor representación. A súa
realización, a partir dunha textualidade sistematicamente revisada, inspírase na confección dos dicionarios convencionais, coas adaptacións e limitacións que un vocabulario deste tipo leva consigo (corpus
cerrado, problemas interpretativos, ambigüidade de tipo expresivo-literario etc.).
A publicación dos resultados do proxecto Glosario crítico da poesía medieval profana galego-portuguesa, que comezou en xuño de 2014 e finalizará previsibelmente en decembro de 2015, é feita a través
dunha páxina web pública, de libre acceso á comunidade investigadora e, en xeral, a todas as persoas
interesadas: http://glossa.gal/
Neste relatorio será exposto o proceso de realización do glosario en todas as súas fases, coas súas
dificultades e resultados, desde o proceso de revisión filolóxica inicial dos textos até a visualización do
glosario elaborado na páxina www.glossa.gal
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Simpósios / Simposios
III. Ferramentas e aplicações
Corpus linguísticos e gramática histórica
Maria Clara Paixão de Sousa (Universidade de São Paulo)
O «e-Dictor» (Paixão de Sousa, Kepler e Faria, 2013) é um editor de textos especialmente voltado ao
trabalho filológico e à análise lingüística automática. Combinando um editor de XML a um etiquetador
morfossintático, o software permite a geração automática de versões correspondentes a edições diplomáticas, semi-diplomáticas e modernizadas, e de versões com anotação morfossintática. Sua edição 1.0 beta
10 é atualmente utilizado por seis projetos e grupos de pesquisa, em diferentes universidades de diversos
países da lusofonia. Resultado de oito anos de trabalho de linguistas, filólogos e cientistas da computação,
o desenvolvimento da ferramenta tem sido orientado pela demanda dos usuários, como atestam Paixão
de Sousa (2014), Paixão de Sousa et ali (2010) e Paixão de Sousa et ali (2007), entre outros.
Entretanto, a partir de Veronesi (2014), uma proposta independente e inovadora está colocada para
o futuro desse desenvolvimento, em ambiente de rede, e em um formato que subverte em grande parte
o inicialmente concebido. Nesta comunicação, apresentaremos uma avaliação dessa nova proposta de
desenvolvimento, comparando-a conceitualmente à ferramenta original, e pesando suas vantagens e
desvantagens conforme observáveis já na fase inicial de sua implementação.
Referências
PAIXÃO DE SOUSA, M. C. e-Dictor – uma ferramenta para as humanidades digitais. Palestra, Semana
do Libolo, Centro de Estudos Africanos, Universidade de São Paulo, 2014.
PAIXÃO DE SOUSA, M.C.; KEPLER, F.N; FARIA, P.P.F. de. e-Dictor (Version 1.0 Beta 10), 2013. http://edictor.net/download.
PAIXÃO DE SOUSA, M.C.; KEPLER, F.N; FARIA, P.P.F. de. e-Dictor: Novas perspectivas na codificação e edição de corpora de textos históricos. In: T. Shepherd; T. B. Sardinha; M.V. Pinto.
(Orgs.). Caminhos da linguística de corpus. Campinas: Mercado de Letras, 2010.
PAIXÃO DE SOUSA, M.C.; KEPLER, F.N. e-Dictor: Uma ferramenta integrada para a anotação de
edição e classe de palavras. VI Encontro de Lingüística de Corpus, São Paulo, 2007.
VERONESI, L.H.L. e-Dictor: da plataforma para a nuvem. Dissertação de Mestrado em Filologia e Língua Portuguesa, Universidade de São Paulo, 2014.
Na demanda da anotação sintática:
Sem aventura achar que de contar seja?
Sandra Pereira (Centro de Linguística, Universidade de Lisboa)
Um dos objetivos da equipa do projeto WOChWEL (Martins 2012-2015) é estudar vários aspetos da
sintaxe do português antigo (PA). Com esse intuito, estabeleceu-se como prioridade a anotação morfológica (ou POS, Part-of-Speech) e sintática de textos medievais.
Adotaram-se os sistemas de anotação desenvolvidos pela equipa do projeto Tycho Brahe (Galves &
Faria 2010), altamente inspirados na anotação dos Penn corpora (cf. Santorini 2010).
A anotação sintática, que é feita a partir da anotação POS obtida através da ferramenta Edictor,
pretende ser teoricamente descomprometida. Além de serem marcadas fronteiras de constituintes e
dependências estruturais, é também fornecida informação oracional, na medida em que se identifica o
tipo de oração envolvida. Para além disso, as etiquetas sintáticas providenciam igualmente informação
sobre a natureza categorial (se é um sintagma nominal - NP, um sintagma preposicional - PP, etc.) e
gramatical (se se trata de um sujeito - SBJ, ou de um complemento direto - ACC, entre outros). Alguns
constituintes nulos (como os sujeitos ou vestígios) e alguns movimentos (como extraposição, deslocação
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
à esquerda, subida do clítico, etc.) são também codificados neste tipo de anotação. A edição e a pesquisa
é feita recorrendo ao programa CorpusSearch (Randall 2005-2007).
Serão dados alguns exemplos concretos mostrando a anotação e a pesquisa de fenómenos sintáticos
específicos, como é o caso da extraposição (em (1)) e da deslocação à esquerda (em (2)):
(1) Em esto fallando, caualgarom todo aquelle dia [PP sem [IP-INF [NP-ACC aventura CP-REL
*ICH*-1 achar [CP-REL-1 que de contar seja. DSG151,1.13/ID
(2) Entã começarom as donas [NP-LFD-1 seu doo tã grande [PP a [IP-INF fazer NP-ACC *ICH*1 que era marauilha DSG29,1.4/ID
Uma vez que esta anotação é aplicada por vários projetos do português (WOchWEL, Tycho Brahe,
Post Scriptum e CORDIAL-SIN) que cobrem diferentes períodos e registos, os mesmos fenómenos podem ser pesquisados nos diferentes corpora usando as mesmas ferramentas.
Referências
GALVES, Charlotte & Pablo FARIA 2010. Tycho Brahe Parsed Corpus of Historical Portuguese. [disponível em:http://www.tycho.iel.unicamp.br/~tycho/corpus/en/index.html]
MARTINS, Ana Maria (coord.) 2012-2015. Word Order and Word Order Change in Western European
Languages, CLUL/FCT. [disponível em: http://alfclul.clul.ul.pt/wochwel/index.html]
SANTORINI, Beatrice 2010. Penn Historical Corpora [disponível em: http://www.ling.upenn.edu/
hist-corpora/annotation/index.htm]
Recursos integrados da lingua galega para a investigación lingüística
Xavier Gómez Guinovart (Universidade de VigoI)
Nesta comunicación revisaremos as principais características dos recursos textuais e léxicos máis importantes incluídos na plataforma RILG (Recursos Integrados da Lingua Galega), que ten como obxectivo
a integración, explotación conxunta e difusión dos recursos textuais e léxicos de tecnoloxía lingüística
da lingua galega xerados en distintos proxectos realizados polo Instituto da Lingua Galega da Universidade de Santiago de Compostela e polo Grupo TALG (Tecnoloxías e Aplicacións da Lingua Galega) da
Universidade de Vigo.
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COMUNICAÇÕES COORDENADAS |
COMUNICACIÓNS COORDINADAS
Linguística Textual e Gêneros do discurso
Dinéa Maria Sobral Muniz (Universidade Federal da Bahia), coord.
A presente sessão de comunicação objetiva discutir pesquisas que tomem como ponto de partida a relação entre os gêneros do discurso e as sequências tipológicas trazidas pelo campo da
Linguística Textual, tendo em vista o funcionamento dessa relação nas práticas de leitura, de
produção escrita e oral e de análise linguística no processo de ensino-aprendizagem. Abriga
trabalhos que discutem as seguintes temáticas: formação dos conceitos de tipologia e gêneros
elaborados por professores de língua; a proeminência do tipo narrativo na constituição do sujeito leitor considerando a leitura dos gêneros literários nesse processo. A teoria dos gêneros do
discurso ganhou notoriedade, no cenário ocidental, a partir da ampla tradução dos estudos de
Mikhail Bakhtin. No Brasil, além disso, a partir de 1995, ocorreu uma divulgação desse conceito devido à publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa (PCNs
-LP) para o Ensino Fundamental. Segundo a Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa
em Letras e Linguística (ANPOLL), a base teórica dos gêneros, entre os anos de 1995 a 2000,
estava presente em 63 trabalhos de pesquisas que se dedicaram ao campo da linguística-educação, reforçando a pressuposição do impacto dos PCNs-LP nesses trabalhos. A obra «Estética
da criação verbal» de Mikhail Bakhtin constitui-se como ponto de partida para se considerar
os gêneros como unidade de ensino de modo que os textos pudessem se configurar tendo em
vista características de natureza temática, composicional e estilística, que os particularizam e
os diferenciam na sua diversidade. Chama-se a atenção que o conceito de gênero se estabeleceu
levando em conta que a perspectiva da Linguística Textual, na década de 1980, divulgada no
Brasil, já trazia o texto como aparato teórico-metodológico nas atividades de produção, compreensão e numa base tipológica e estrutural dividida em narração, descrição e dissertação.
PALAVRAS-CHAVE: Tipologia textual; gênero discursivo; ensino e aprendizagem.
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Comunicações coordenadas / Comunicacións coordinadas
Tipologias e gêneros textuais no processo de formação docente
Elane Nardotto (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia)
Dinéa Maria Sobral Muniz (Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia da Bahia)
Este estudo faz parte da sessão coordenada «Linguística Textual e gêneros do discurso» e objetiva apresentar dados de pesquisa realizada com professores de Língua Portuguesa em que se verificou como tais
profissionais concebem e praticam os conceitos de tipo e gêneros textuais e o modo como os relacionam,
considerando o processo formativo em pesquisa. A investigação tomou como ponto de partida estudos
do campo da Linguística, em especial, quando mostram que não só há diferenças entre os referidos conceitos como também há uma relação. Os gêneros de textos se caracterizam por ter uma especificidade
composicional, temática; e os tipos são sequências linguísticas mais abrangentes, como o argumentar, o
narrar, entre outras. A pressuposição é que ambos se relacionam porque um gênero textual pode materializar diferentes tipologias e uma tipologia pode abrigar diferentes gêneros. Pautou-se na pesquisa de
natureza qualitativa com abordagem metodológica colaborativa, levando em conta que o propósito do
estudo foi dialogar com as docentes desencadeando reflexões através da relação entre estudo teórico e
prática pedagógica. Com tais princípios, constatou-se, mediante entrevistas e sessões de reflexão e estudo, como as professoras concebem e praticam esses conceitos na sua atividade docente. Infere-se que,
ainda, há uma distância entre as indicações teóricas do campo da Linguística e os saberes proferidos
pelos docentes; e que somente no processo formativo em pesquisa há uma possibilidade de superar essa
distância. A perspectiva é que outros estudos continuem tomando essa temática como ponto de partida
para que a ciência linguística possa subsidiar a prática pedagógica dos professores.
PALAVRAS-CHAVE: Tipologia textual; gênero textual; formação docente.
Leitura e literatura
Rosemary Lapa de Oliveira (Universidade do Estado da Bahia)
Pensar a leitura em relação direta com a literatura, mediando a constituição do sujeito leitor na escola
é pensar a literatura como fio condutor do ensino-aprendizagem, conforme nos ensina Coelho, provocando ações pedagógicas através de atividades lúdicas, seja na forma de contação de histórias ou
narração, considerando essa uma atividade multidisciplinar que provoca a interdisciplinaridade. Tudo
isso, considerando o texto literário como gênero que circula socialmente, portanto capaz de produzir, às
vezes reproduzir e, sempre, tencionar a cultura. Segundo Piaget, na multidisciplinaridade, recorremos
a informações de várias matérias para estudar um determinado elemento, condição essencial de ser da
literatura que, ao mesmo tempo precisa e dispensa estudos em várias áreas para provocar interpretações.
Isso ocorre, pois, naturalmente, muitos elementos estão presentes nas atribuições de sentido do sujeito
da leitura, assujeitado que é, mas nem sempre os conhecimentos teóricos das diversas áreas dos conhecimentos precisam ser acionados para provocar interpretações. Para que a leitura se encontre com a
literatura na constituição do sujeito leitor, o currículo escolar precisa ser repensado, conforme Macedo,
como atos de currículo, tendo na leitura literária, segundo Bettelheim, um componente interdisciplinar,
transversal e cultural, por exercer a função de agente de transformação, uma vez que contribui para sua
formação integral, provocando inúmeras emoções e sensações, dando prazer e divertindo, fazendo com
que esse sujeito se constitua em leitor capaz de ver o mundo em várias perspectivas. Assim agindo, a
escola cumpre seu papel precípuo de formação cidadã.
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
A leitura literária no espaço da biblioteca escolar:
o papel dos Círculos de Leitura
Rita de Cássia Brêda Mascarenhas Lima (Universidade Federal da Bahia)
Os estudos sobre a contribuição da Biblioteca Escolar para a formação de leitores vêm se avolumando
nos últimos tempos em virtude das crescentes demandas pela reconceptualização do próprio papel que
a biblioteca pode assumir nas práticas pedagógicas. Sendo a formação de leitores proficientes uma responsabilidade da escola, enquanto principal agência de letramento carece, nos dias atuais, dar uma centralidade ao debate sobre o modo e sobre as práticas de letramentos que tanto o espaço da sala de aula
como a biblioteca precisam assumir com vistas a ressignificar a aproximação dos jovens ao texto literário
como objeto cultural. Integrar a Sessão Coordenada Linguística Textual e Gêneros do Discurso sob a
coordenação da profa. Dra. Dinéa Maria Sobral Muniz, é uma tentativa de trazer para o seio do debate
o espaço da biblioteca como oportunidade de aproximação dos alunos à leitura literária, especialmente,
dos gêneros discursivos de tipologias narrativas, por meio dos Círculos de Leitura. Quando tratamos de
leitura e do desafio de formação leitores, precisamos estender a compreensão do que é ser leitor e dos
espaços constitutivos de promoção e acesso as práticas culturais de leitura considerando, sobretudo, o
encontro do leitor com os gêneros narrativos. A prática dos Círculos de Leitura com textos literários
parte do princípio de que o acesso à literatura é um direito dos cidadãos como defende Antonio Candido. Esta é uma metodologia simples, de fácil aplicação, que remonta as experiências dos povos mais
antigos e a nossa própria experiência em muitos ambientes. Os Círculos de Leitura se configuram como
uma prática cultural de leitura em que há um leitor guia, este faz a seleção previamente de um texto,
no nosso caso específico, texto literário, e ler para os demais presentes. Após a leitura, a palavra é franqueada e os presentes são convidados a socializarem suas impressões, suas aprendizagens, suas relações
tecidas a partir da provocação do texto lido. A articulação do trinômio biblioteca escolar, leitura literária
e círculos de leitura se configuram como ricos espaços de diálogo, de reflexão sobre suas próprias escolhas, seus modos de ler, suas itinerâncias, suas derivas.
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Variação e mudança no português popular do Estado da
Bahia, Brasil
Dante Lucchesi (Universidade Federal da Bahia), coord.
Com o enquadramento teórico e metodológico da Sociolinguística laboviana, as comunicações apresentadas nesta sessão analisarão fenômenos linguísticos variáveis, envolvendo variedades do português popular no Estado da Bahia, Brasil. Destaque especial é
dado ao problema da avaliação, com aplicação de testes empíricos para revelar como com
os falantes avaliam as variantes linguísticas, na representação da 2ª pessoa e na expressão
do modo imperativo. Também é analisado a forma como uma mudança relativa à concordância verbal se propaga pelas diversas variedades do português popular do Estado.
Todas as análises se baseiam na visão da polarização sociolinguística do Brasil, com uma
clara oposição entre a norma sociolinguística da elite letrada, a chamada norma culta, e
a norma sociolinguística, dos segmentos da base da pirâmide social, a norma popular.
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Comunicações coordenadas / Comunicacións coordinadas
A variação na concordância verbal no português popular do Estado
da Bahia no contexto da polarização sociolinguística do Brasil
Dante Lucchesi (Universidade Federal da Bahia)
A concordância verbal é uma aspecto da gramática da língua portuguesa que divide a sociedade brasileira, pois, enquanto a elite letrada usa a regra numa frequência quase categórica, observa-se uma maciça
variação na norma popular. Essa diferença é a base para um disseminado processo de discriminação linguística que joga um pesado estigma social sobre a fala popular. Tal clivagem está na base do algoritmo
da polarização sociolinguística, que busca dar conta da relação entre língua e sociedade no Brasil. Vamos
apresentar os resultados de análises da variação no uso da regra de concordância verbal em variedades
do português popular do Estado da Bahia, que adotam o enquadramento teórico e metodológico da Sociolinguística laboviana. As análises têm como base empírica amostras de fala vernácula de indivíduos
adultos, como pouca ou nenhuma escolaridade, das seguintes localidades: bairros populares da capital
do Estado da Bahia, no Nordeste do Brasil, cidades de médio e pequeno porte do interior do Estado, da
zona rural dessas cidades do interior e de comunidades rurais mais isoladas formadas por descendentes
diretos de escravos africanos. Os resultados revelaram um continuum, em que a frequência de aplicação
da regra de concordância cai progressivamente, quando se passa da capital do Estado para as demais
variedades até as comunidades rurais afro-brasileiras, que exibem a mais baixa frequência de uso da
regra. Esse continuum reflete, por sua vez, um processo de nivelamento linguístico desencadeado pela
industrialização e urbanização da sociedade que se inicia efetivamente, com a chamada Revolução de
1930. Nesse nivelamento linguístico, as formas linguística de prestígio nas grandes cidades se difundem
para todas as regiões do país, em função da ação de diversos fatores, como os meios de comunicação
de massa, a escolarização e o deslocamento populacional, percolando da norma culta para as normas
linguísticas dos segmentos sociais mais baixos. Na capital, a assimilação dos modelos de prestígio ocorre
mais nos bairros mais recentes com mais mobilidade social do que nos bairros mais tradicionais, que
têm uma rede de relações sociais mais fechada.
A variação na representação do objeto de segunda pessoa
em Santo Antônio Jesus: uso e avaliação social das formas
Gilce Almeida (Universidade do Estado da Bahia)
Vivian Antonino (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia)
Na fala de Santo Antônio de Jesus, município do Recôncavo Baiano, vigora o subsistema de tratamento
com o uso alternante das formas tu e você, às quais estão associados, respectivamente, valores de intimidade/informalidade e respeito/cortesia/formalidade. As pesquisas realizadas sobre o emprego de tu
na localidade indicam, ainda, que esta forma de tratamento recebe, em certos contextos, uma avaliação
negativa. A partir dessas considerações, objetiva-se descrever e analisar, neste trabalho, a variação entre
as formas de representação do objeto direto de segunda pessoa, observando os valores sociais e psicológicos que lhes são atribuídos na avaliação do falante. Para a análise aqui empreendida foram constituídas
duas amostras. A primeira delas foi organizada a partir da aplicação de testes de produção linguística
a 12 falantes de ambos os sexos, distribuídos em três faixas etárias (25 a 35, 45 a 55 e 65 a 85 anos) e
dois níveis de escolaridade (superior e fundamental). A segunda consta de respostas de 12 falantes,
estratificados a partir dos mesmos critérios, a testes de percepção que visam detectar os valores sociais
e psicológicos hostilidade, distanciamento, cortesia, respeito, afeto etc.) atribuídos às formas. Os dados
foram submetidos à análise com base nos princípios da Teoria da Variacionista (LABOV), da Teoria das
relações simétricas, que discute as relações de poder e solidariedade (BROWN; GILMAN, 1960) e da
Teoria da Polidez (BROWN; LEVINSON, 1987) e receberam tratamento estatístico pelo programa computacional Goldvarb (2001). Dentre os resultados observados, destacamos a conservação de lhe entre
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
os falantes mais velhos sem uma distinção pragmática evidente, de modo que pode ocorrer no trato que
envolve menos solidariedade ou mais solidariedade. Na faixa etária mais jovem, desenha-se uma diferenciação mais clara na medida em que os falantes desse grupo revelam predileção por lhe nas relações
assimétricas ascendentes e por te em relações simétricas e assimétricas descendentes.
Usos e avaliação do modo imperativo no português de Salvador
Lanuza Lima Santos (Universidade Federal da Bahia / Instituto Federal da Bahia)
O modo imperativo, embora não seja um aspecto linguístico que revele tensões sociais evidentes, uma
vez que não parece denotar uma avaliação linguística de caráter social explícita entre os falantes, revelase um aspecto interessante de estudo, seja pelo seu caráter dialetal (uso das formas conforme a região
geográfica do Brasil), seja pelo aparente desconhecimento por parte dos utentes da língua das prescrições gramaticais a respeito deste item. A realização variável entre formas do indicativo (canta/não canta)
e do subjuntivo (cante/ não cante) distingue, por exemplo, falares da região nordeste (predominância
do subjuntivo) das regiões sul e sudeste, onde as formas do indicativo são mais utilizadas. Na Bahia, o
quadro de variação ganha especial relevo, haja vista a oposição dos padrões das zonas rurais em relação aos usos presentes na capital do estado, a cidade de Salvador. Pesquisas sociolinguísticas revelaram
que, enquanto Salvador é reconhecida como um território de uso das formas subjuntivas (SAMPAIO,
2001, SANTOS, 2014), nas comunidades do interior do estado, sobretudo comunidades afro-brasileiras
isoladas, predomina o emprego das formas indicativas (SANTOS, 2006, 2007). Para a compreensão do
quadro heterogêneo que se configura no português falado na Bahia e de suas tendências de mudança,
fez necessário observar como as formas são percebidas e avaliadas pelos usuários da língua, ainda que de
modo irrefletido. Para tanto, foram aplicados testes de avaliação a fim de identificar os juízos a cerca das
variantes do imperativo em distintos contextos entre os falantes de Salvador. Os testes aplicados foram
compostos por três etapas. A primeira etapa propôs a criação de sentenças que evocaram o emprego de
formas imperativas em situações sociais diversas e observando o efeito de valores semântico-pragmáticos. A segunda etapa foi formada por sentenças com formas imperativas em variados contextos linguísticos (correlação com formas pronominais, afirmação ou negação...), solicitando ao falante o julgamento
de correção. A terceira etapa do teste buscou identificar valores pragmáticos e sociais associados às
formas (maior ou menor formalidade, mais ou menos intimidade, nível de polidez...). Os resultados
apresentados foram contrastados com os dados obtidos a partir da pesquisa sociolinguística de falantes
populares de Salvador (falantes de bairros populares) e revelaram importantes contribuições para a
compreensão do fenômeno.
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Arquivo do Galego Oral
Francisco Fernández Rei (Instituto da Lingua Galega, Universidade de
Santiago de Compostela), coord.
O Arquivo do Galego Oral (AGO) do Instituto da Lingua Galega da USC é un proxecto co que se pretende construír un corpus de interese multidisciplinar para estudar a
situación da lingua oral e asemade contribuír a un mellor coñecemento da sociedade galega a través de etnotextos e doutras mostras do rico patrimonio inmaterial. Os
obxectivos inmediatos son a posta en rede dun banco de textos orais, co que configurar
unha especie de atlas temático da oralidade de todo o dominio lingüístico e a realización do Tesouro Oral Informatizado da Lingua Galega (TOILG), un corpus para o
estudo, fundamentalmente, léxico e gramatical.
Na 1ª sesión Francisco Fernández Rei tratará a xénese e o contido do AGO, con
particular atención ó estado do subarquivo de textos de 1992 á actualidade, que contén
o maior volume de gravacións e é a base dos audios do sitio web http://ilg.usc.es/ago/.
Carme Hermida recompilará textos orais do Concello de Teo depositados no AGO
e analizará a súa importancia como fontes documentais para o estudo da variación
lingüística e, atendendo á temática, a importancia para investigacións en ciencias sociais. Análise semellante fará Ana García García cos textos do Concello de Taboada,
ademais dunha caracterización lingüística do Concello.
Na 2ª sesión, Mª Concepción Álvarez Pousa, sobre un amplo corpus de etnotextos
que recolleu no Concello de Viana do Bolo, e co concurso do material do AGO, fará
unha aproximación ás bases constitutivas do galego oral de Viana e tratará a relevancia
do material no eido da variación lingüística. Xosé Henrique Costas González presentará unha escolma de textos orais das tres variedades esencialmente galegas do Val do
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Comunicações coordenadas / Comunicacións coordinadas
Ellas (Cáceres) que forman parte do AGO e analizará a súa importancia lingüística e
sociolingüística, así como a especial situación desas falas no conxunto das variedades
galegas e portuguesas. Xavier Varela Barreiro centrarase no Tesouro Oral Informatizado da Lingua Galega (TOILG), versión de base de datos do AGO, en forma de
corpus clásico que posibilita a recuperación masiva de información codificada. Especificaranse as características do corpus e presentarase a aplicación na Internet que permitirá esta nova forma de consulta, como peza da rede de córpora do ILG integrada na
plataforma interuniversitaria RILG; e darase noticia da estrutura organizativa de cada
texto e do conxunto do corpus (DTD) e dos procesos de lematización e etiquetación
gramatical das unidades textuais.
O Arquivo do Galego Oral do ILG: xénese e situación actual
Francisco Fernández Rei (Instituto da Lingua Galega,
Universidade de Santiago de Compostela)
O Arquivo do Galego Oral (AGO) do Instituto da Lingua Galega é un proxecto co que se pretende
construír un corpus de interese multidisciplinar para estudar a situación da lingua oral e asemade contribuír a un mellor coñecemento da sociedade galega a través de etnotextos e doutras mostras do rico
patrimonio inmaterial. A primeira publicación na que se explotaba ese material foi o audio-libro A Nosa
Fala. Bloques e áreas lingüísticas do galego (1996), preparado por Francisco Fernández Rei e Carme
Hermida Gulías, que desde o 2004 pode consultarse no sitio web www.consellodacultura.org/arquivos/
asg/anosafala.php.
Os obxectivos inmediatos do AGO son a posta en rede dun banco de textos orais, co que configurar
unha especie atlas temático da oralidade de todo o dominio lingüístico galego, incluídas as falas esencialmente galegas de Cáceres, e a realización do Tesouro Oral Informatizado da Lingua Galega (TOILG),
un corpus para o estudo, fundamentalmente, léxico e gramatical, que será unha peza máis da rede de
córpora do Instituto da Lingua Galega integrable na plataforma interuniversitaria de Recursos integrados para o desenvolvemento de tecnoloxías da lingua galega (RILG).
Nesta comunicación tratarase a xénese e contido do AGO, con particular atención ó estado do subarquivo de textos de 1992 á actualidade (datos xerais e procedencia do material), por ser o que contén
o maior volume de gravacións e por ser a base dos audios que desde maio do 2011 figuran no sitio
web http://ilg.usc.es/ago/. Tratarase tamén a tipoloxía temática dos textos pendurados neste sitio web
e os criterios da dobre transcrición deses audios (semifonolóxica e estandarizada), con mostra dalgún
texto da rede como ilustración.
Os textos orais do Concello de Teo e a súa importancia para o galego
e para outras disciplinas
Carme Hermida (Instituto da Lingua Galega,
Universidade de Santiago de Compostela)
Nesta comunicación farase unha recompilación dos textos orais do Concello de Teo depositados no
AGO do ILG e analizarase a súa importancia como fontes documentais. Pola súa forma, incidirase na
información relevante para o estudo da variación da lingua. Pola súa temática, sinalarase a súa importancia para documentar con testemuñas aspectos significativos para as ciencias sociais.
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
Unha viaxe á Ribeira Sacra a través da oralidade:
a fala do Concello de Taboada no Arquivo do Galego Oral
Ana García García (Instituto da Lingua Galega,
Universidade de Santiago de Compostela)
Nos fondos do Arquivo do Galego Oral están depositados textos orais do Concello de Taboada, recollidos desde a década de 1980 á actualidade, que van constituír o corpus principal desta comunicación.
Analizarase a temática desas gravacións para ver a súa importancia como material de investigación
para as ciencias sociais; e a seguir analizarase o material que fornecen os textos para estudar a variación
lingüística (a nivel xeográfico, diacrónico e etáreo) e tamén para dar unha aproximación das bases constitutivas do galego oral de Taboada.
En relación coa análise lingüística vanse ter en conta, fundamentalmente, os trazos con que hai 25
anos Francisco Fernández Rei caracterizou a área lucu-auriense (E) e, particularmente, a subárea lucense (E1), en que se inclúe o devandito concello da Ribeira Sacra.
O Tesouro Oral Informatizado da Lingua Galega (TOILG):
caracterización do corpus
Xavier Varela Barreiro (Instituto da Lingua Galega,
Universidade de Santiago de Compostela)
O Arquivo do Galego Oral representa o maior banco de datos textuais de carácter oral da Galicia contemporánea. É o resultado do esforzo realizado por varias xeracións de investigadores para rexistrar e
deixar constancia dunha realidade lingüística que ía desaparecendo.
O TOILG é a versión de base de datos do Arquivo, en forma de corpus clásico que posibilita a recuperación masiva de información convenientemente codificada. É complementario do AGO (http://
ilg.usc.es/ago/), a outra cara do proxecto que permite a audición e lectura dos textos transcritos. A
finalidade do TOILG é a realización dun corpus informatizado do galego oral para o estudo, fundamentalmente, léxico e gramatical, que se construirá a partir de materiais textuais informatizados que teñen
unha tripla procedencia:
- Textos consultables en <http://ilg.usc.es/ago/>
- Textos transcritos do AGO non pendurados (aínda) na rede
- Coleccións de textos orais éditos ou inéditos.
No relatorio especificaranse as características do corpus e farase presentación da aplicación na Internet que permitirá esta nova forma de consulta, como peza da rede de córpora do ILG (TMILG, TILG,
TOILG), integrada na plataforma interuniversitaria RILG. Darase noticia da estrutura organizativa de
cada texto e do conxunto do corpus (DTD), do proceso de lematización e do procso de etiquetación
gramatical das unidades textuais.
A variación lingüística galega en textos orais do Concello de Viana do Bolo
María Concepción Álvarez Pousa (Universidade de Santiago de Compostela)
No ano 2007 defendín na Universidade de Vigo o Traballo de Investigación Tutelado (TIT) «Consideracións sobre a fala do Concello de Viana do Bolo. Descrición e textos», dentro da liña de investigación
de «Variación lingüística», do programa de Doutoramento Estudos de Lingüística Galega e Portuguesa.
Este traballo baseouse no material oral que recollín en oito aldeas do Concello, que conta con 52 aldeas
distribuídas en 35 parroquias, nas que existe un continuo éxodo das diferentes xeracións e un avellenta- 61 -
Comunicações coordenadas / Comunicacións coordinadas
mento progresivo da poboación, perceptible sobre todo nas aldeas máis distantes do núcleo do municipio, algunha delas con moi poucos veciños.
A partir dun corpus oral formado por etnotextos desa investigación do 2007 e por outros máis recentes para unha investigación en fase inicial, e co concurso do material oral do Arquivo do Galego Oral
pertencente ao ILG, nesta comunicación pretendo facer unha aproximación ás bases constitutivas do
galego oral da Terra de Viana do Bolo e dar conta da súa relevancia no campo da variación lingüística
no dominio galego.
Baseareime en fenómenos fonéticos relevantes do galego da zona de Viana do Bolo, como a ausencia do ditongo ui en «muto, escutar» fronte á súa presenza en «muito, escuitar», a alternancia oi/ou en
«noite-noute», o mantemento do grupo cua-, gua- en casos como «cuando» e «guardar», entre outros;
en fenómenos morfolóxicos, como a convivencia de plurais en –l como en «papeles» e «papeis», o mantemento dos plurais tradicionais «pais» ou «cais» (sg. pan, can) ou a concorrencia de radicais verbais
do tema de perfecto como fiz- / fix- etc. e nalgún fenómeno morfosintáctico (a presenza do teísmo ou a
distinción no uso de te e che). Asemade, farase referencia á posible variación interxeracional que poida
fornecer o devandito corpus.
Cos resultados da análise dos fenómenos fonéticos e morfolóxicos tratarei de perfilar as principais
características da variedade lingüística da microsubárea O Bolo-Viana da Dialectoloxía da Lingua Galega (1990) de Fernández Rei.
Os textos orais do Val do Río Ellas e a súa importancia para a dialectoloxía
galega e portuguesa
Xosé Henrique Costas González (Universidade de Vigo / Instituto da Lingua Galega)
Presentaremos unha escolma de textos orais das tres variedades lingüísitcas do Val do Ellas (valverdeiro,
lagarteiro e mañego) que forman parte do AGO do ILG e analizaremos a súa importancia desde o punto
de vista lingüístico e sociolingüístico, tanto polo aproveitamento dos materiais puramente dialectais
coma dos elementos de interese social contidos neles. Asemade, desde unha óptica comparativa, poremos en relevo a súa especial importancia no conxunto das variedades galegas e portuguesas.
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Mantemento e cambio lingüístico no galego actual
Xosé Luís Regueira (Instituto da Lingua Galega, Universidade
de Santiago de Compostela), coord.
Esta sesión coordinada pretende mostrar algúns aspectos relevantes, mais pouco tratados, da situación de cambio lingüístico que se está a producir no galego actual, e que
constitúen algúns dos resultados do proxecto de investigación en curso «Cambio lingüístico no galego actual», que se leva a cabo no Instituto da Lingua Galega.
Nos últimos decenios a lingua galega experimentou cambios relevantes, debidos
á transformación das estruturas socieconómicas, á urbanización da sociedade e aos
cambios culturais. Xunto con isto, prodúcese o proceso de estandarización e a difusión
social da lingua a través dos medios de comunicación e do sistema escolar, ao tempo
que o contacto co español se fai máis intenso. Mais paralelamente tamén se producen
cambios que non parecen ter relación con factores externos (Regueira 2008).
A sección componse de tres comunicacións que se complementan para cubrir o
obxectivo xeral.
En primeiro lugar, Francisco Cidrás estuda un cambio gramatical: a evolución dos
valores evidenciais asociados ao marcador epistémico seica, cara ao significado propio
de disque. Trátase dun cambio que se produce aceleradamente no último século, nun
ritmo que se acompasa no corpus analizado (escrito e oral) cos momentos clave de
transformación social da lingua galega: anos 20/30 e posteriormente anos 80 do séc. XX.
Na segunda comunicación, Xosé Manuel Dopazo Entenza estuda os cambios lingüísticos producidos entre os falantes da Illa de Ons, que constituían unha comunidade de fala
diferenciada, mais que se foi diluíndo ao marcharen os habitantes da illa e integrárense
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Comunicações coordenadas / Comunicacións coordinadas
en diferentes lugares do Salnés e do Morrazo. Por medio dos cambios producidos no
subsistema de sibilantes a través de tres xeracións de falantes orixinarios da Illa, o autor
mostra a converxencia coa fala das comunidades en que se integran, ou o mantemento
de características diferenciais, así como a relación con factores sociais e culturais.
Finalmente, Xosé Luís Regueira estuda una variedade que trazos considerados conservadores (-e paragóxico, seseo laminodental, aspiración de /s/, etc) en falantes relativamente novos. A través da gravación de dúas conversacións con dous falantes de
Mazaricos, defende que eses falantes desenvolven unha variedade de lingua altamente
diferencial, mais asemade con influencias da lingua estándar e da lingua culta, e desta
maneira están a construír unha identidade local, de maneira alternativa ás identidades
hexemónicas.
Valores pragmáticos en competencia: usos evidenciais do marcador
epistémico seica
Francisco Cidrás (Instituto da Lingua Galega,
Universidade de Santiago de Compostela)
Na miña achega analizo a evolución dos usos do marcador epistémico seica no galego ao longo do
último século. Neste período apréciase un transvasamento dos valores pragmáticos de evidencia inferida, dominantes ata entón, aos de evidencia reportada, confluíndo así co valor gramatical doutro marcador: disque. Trátase dun caso de variación sintáctica que presenta asemade variables diacrónicas –nun
curto período temporal aínda en curso– e socio-funcionais.
Seica é un marcador epistémico, moi usado en galego, que expresa distanciamento ou ausencia de
compromiso activo do falante cara á súa mensaxe. Xorde dun curioso proceso de gramaticalización subxectivadora a partir dunha construción –(eu) sei que– que tiña orixinariamente (e segue a ter no discurso
libre) un significado epistémico antagónico, de alto compromiso cara á mensaxe. Inexistente en español e
portugués, a gramaticalización de seica verifícase no galego moderno, nos chamados «séculos escuros»,
nun contexto mal documentado de arrequentamento pragmático intersubxectivo, con múltiples valores
semánticos que emerxen no proceso de negociación da mensaxe entre os parceiros do acto comunicativo.
Trátase de valores evidenciais (de evidencia indirecta), mirativos (de sorpresa, enfado…) ou de encarecemento ponderativo, todos moi dependentes do contexto, que se engaden ao significado básico epistémico
gramaticalizado. De entre eses valores pragmáticos era inicialmente maioritario o evidencial de inferencia
(‘eu deduzo que’). Porén, nos anos 20/30 do século pasado toma pulo, primeiramente en determinados
estilos ou rexistros e en determinados medios, un valor epistémico reportativo (‘eu sei, polo que se di,
que’), marxinal nos séculos XVIII e XIX, pero que acaba por converterse en maioritario.
Como soporte empírico, analizo os valores de seica nun corpus documental de textos galegos tanto
escritos (extraídos do TILGA e referidos aos últimos cen anos) como orais (do CORILGA, máis breve,
con gravacións que se remontan á década dos 60).
A prevalencia inicial do valor evidencial inferido explica mellor a gramaticalización dunha construción que, significando ‘eu sei’, pasa a significar ‘eu realmente non sei’. O predominio actual do valor
reportativo explica a asociación, moi asentada nos falantes, entre os marcadores seica e disque, unha
asociación que historicamente non se daba. A pesar desa asociación, sosteño que seica e disque seguen
sendo actualmente, na gramática do galego, marcadores modais de distinto tipo.
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
Mantemento e mudanza lingüística nos falantes da illa de Ons:
as sibilantes
José Manuel Dopazo Entenza (Instituto da Lingua Galega,
Universidade de Santiago de Compostela)
Os habitantes da illa de Ons constituían unha comunidade lingüística con trazos diferenciais. A partir
da década de 1960 foron abandonando a illa e instalándose en poboacións próximas das península do
Salnés e do Morrazo. Nesta comunicación preséntanse os resultados dun estudo descritivo do subsistema de sibilantes en tres xeracións de falantes orixinarios da Illa: a primeira está constituída polas persoas
nadas antes da década de 1960, que parecen partir do Sistema de Transición descrito por González González (2005) con progresiva desfonoloxización cara á fricativa laminal; a segunda comprende as persoas
nadas entre 1960 e 1980 e presenta unha alternancia considerable entre usos seseantes (eminentemente
apicais) e usos non seseantes; a terceira está formada polas persoas nadas despois de 1980 e presentan un
maior uso da fricativa interdental (sobre todo os neofalantes, pero tamén os falantes seseantes ó trataren
de ocultalo). A partir das gravacións e dos datos tirados delas, mostrarase como o abandono progresivo
dos trazos lingüísticos orixinarios está ligada á asimilación ás comunidades de fala en que se integran,
e de maneira particular ao contacto co castelán nos residentes en vilas como Cangas; ademais do nivel
sociocultural, que é determinante á hora de empregar ou non o seseo.
«Como na casa en ningún lado»: mantemento, cambio e identidade nunha
fala rural
Xosé Luís Regueira (Instituto da Lingua Galega,
Universidade de Santiago de Compostela)
Esta comunicación é a terceira e última da sesión coordinada sobre «Mantemento e cambio lingüístico
no galego actual», e pretende establecer un certo contrapunto ás dúas comunicacións anteriores, xa
que aquelas estan centradas nos cambios gramaticais e fonolóxicos que se producen xunto cos cambios
sociais e económicos, mentres que nesta faise fincapé no mantemento de trazos considerados conservadores e no desenvolvemento dunha variedade diverxente co estándar en aspectos significativos.
A partir da análise de dúas conversacións con dous falantes de 33 e 37 anos do concello de Mazaricos,
e por medio da comparación con outros falantes tanto novos coma de maior idade de Mazaricos e de
concellos veciños, pretendemos mostrar como algúns falantes constrúen variedades de lingua altamente
diferenciadas, que combinan trazos considerados conservadores (-e paragóxico, seseo laminodental,
aspiración de /s/ en certos contextos, /h/ larínxeo, entre outros) con elementos da lingua estándar e da
lingua culta, especialmente no léxico e no uso de marcadores.
Partindo dos traballos da terceira vaga dos estudos de variación (Eckert 2012), así como da concepción da identidade como produto de prácticas lingüísticas e semióticas (Bucholtz e Hall 2005), defendemos que algúns estes falantes non son elementos conservadores e resistentes ao cambio, senón que
están a construír unha identidade local e social alternativa ás identidades hexemónicas, de maneira
principal a través de trazos lingüísticos indexicais.
Referencias
ECKERT, Penelope (2012): «Three waves of variation studies: the emergence of meaning in the study of
sociolinguistic variation». Annual Review of Anthropology 41, 87-100.
BUCHOLTZ, Mary; Kira HALL (2005): «Identity in interaction: a sociocultural linguistic approach».
Discourse Studies 7, 585-614.
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Arredor do hibridismo lingüístico en textos medievais
centro-occidentais
Harvey L. Sharrer (University of California, Santa Barbara), coord.
Hibridismo sintáctico latinorromance: la expresión de las relaciones
espaciales en la documentación norteña centro-occidental
Jaime González (Universidad de Sevilla)
Los documentos notariales latinos procedentes de los territorios cristianos peninsulares y redactados en
fechas anteriores a la reforma carolingia del último tercio del s. XI, según la cronología establecida por
Menéndez Pidal en Orígenes del español, presentan aún hoy no pocas dificultades de estudio. El latín
deturpado que los caracteriza y que, en el caso del reino de León, dio lugar a la conocida teoría pidaliana
del latín vulgar leonés, ha seguido siendo objeto de debate; la frontera entre oralidad y escritura adquiere en estos textos una dimensión adicional al confrontarla con los diferentes registros del latín empleado.
La hibridación lingüística entre latín y romance alcanza sus cotas más altas en este tipo de documentos en los fragmentos en los que la más o menos rígida formulística notarial deja paso a referencias concretas a la vida cotidiana, especialmente cuando se deben describir y ubicar tierras, propiedades y otras
realidades espaciales; esto los convierte en una herramienta valiosísima para el estudio de la expresión
gramatical de las relaciones espaciales, tanto de preposiciones como de adverbios, y del léxico espacial,
así como en un ejemplo sin igual del grado de hibridación al que podían llegar el latín diplomático y las
lenguas romances.
Me propongo aquí, por tanto, estudiar en documentación privada latina con rasgos de hibridación
de entre los siglos IX y XII del norte peninsular, desde Burgos hasta Galicia, los mecanismos gramaticales que permiten la expresión de las relaciones espaciales, en qué medida el grado de hibridación entre
latín y romance varía en función de las necesidades expresivas y la variación existente dentro de este
continuum dialectal norteño.
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Comunicações coordenadas / Comunicacións coordinadas
Entre galego-português e castelhano: sobre a marginalia da tradução
dos Salmos na General Estoria III (ms. R)
Mariana Leite (École Normale Supérieure de Lyon)
Um dos mais antigos testemunhos da General Estoria de Afonso X, o manuscritoCXXV/2-3 da Biblioteca Pública Municipal de Évora, designado pela crítica como R, apenas preserva a matéria bíblica da
história universal alfonsina. Este códice , que continua no volume I.I. 2 da Real Biblioteca de San Lorenzo del Escorial, datará do início do século XIV, sendo por isso interessante constantar que tão pouco
tempo após a morte do monarca castelhano, se levou a cabo um projecto de cópia selectiva da General
Estoria.
No testemunho em questão, os capítulos reservados à tradução do Saltério, em castelhano, apresentam abundantes comentários marginais, em letra gótica librária de uma cronologia próxima da do corpo
do texto. Estes comentários, que visam sobretudo corrigir o texto castelhano, surpreendem sobretudo
pela ambiguidade linguística que apresentam: algumas palavras em castelhano grafadas conforme hábitos portugueses e vice-versa, estruturas sintáticas bilingues, e uma interessante ausência de correcção a
partir do latim.
Esta comunicação visa apresentar estes comentários de cariz linguisticamente compósito, observando como e de que modo se aproximam ou afastam da Vulgata latina, para tentar compreender em que
circunstâncias foi elaborada a marginalia bilingue de R.
Toponimia romance e estratexias de latinización na documentación
medieval galega
Paulo Martínez Lema (Instituto da Lingua Galega,
Universidade de Santiago de Compostela)
A nosa contribución pretende exemplificar, a partir dalgúns casos concretos que temos estudado de
xeito exhaustivo, algunhas das estratexias de (re)latinización formal implementadas na documentación
medieval galega e, máis en concreto, no rexistro toponímico que nela se plasma. Aínda que os ítems
toponímicos en cuestión son xestionados como elementos lingüísticos normais (e, por tanto, participan das mesmas tensións entre prácticas escriturarias vigorantes e novas necesidades de representación
gráfica), comprobaremos como existen problemáticas até certo punto específicas deste ámbito, e que
xeraron unha serie de mecanismos de repristinación que analizaremos en detalle.
A linguaxe híbrida do Códice López Ferreiro: nova valoración filolóxica
e lingüística
Ricardo Pichel Gotérrez (Instituto da Lingua Galega,
Universidade de Santiago de Compostela)
O Códice López Ferreiro, custodiado no Museo do Pobo Galego de Santiago de Compostela, consta de
dous bifolios bilingües latino-romances, conservados como capas de antigos protocolos, que reproducen algunhas leis do Fuero juzgo contidas no libro VII (De los furtos e de los engaños), títulos I, II e V.
Foron editados por López Ferreiro en 1895, xunto cun terceiro bifolio, hoxe en paradeiro descoñecido,
que incluía dúas ilustracións de de grande valor artístico. Aínda que apenas foi estudado desde finais do
século XIX, a datación (ca. 1230) e caracterización lingüística que o erudito compostelán lle asignara ao
dito fragmento converteron este manuscrito nun obxecto de estudo potencialmente moi valioso tanto
para a historia do Fuero juzgo como para o das letras iberorromances, particularmente para o galego.
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
Tras un estudo realizado pola profª. Mónica Castillo Lluch (Université de Lausanne) e eu mesmo, do
punto de vista arqueolóxico, filolóxico e lingüístico, este relatorio pretende ofrecer as conclusións máis
relevantes deste estudo para unha revaloración cronolóxica e idiomática máis afinada destes folios. Alén
dunha breve descrición codicolóxica e paleográfica, centrarémonos na análise escriptolóxica do texto
co obxectivo de dilucidar, na medida do posíbel, a natureza lingüística das seccións romances (híbridas) copiadas no Códice López Ferreiro, así como da variedade occidental detectábel nas interferencias
de base galego-portuguesa intercaladas na tradución do texto e do posíbel estatuto idiomático do seu
antígrafo.
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Sociogeolinguística e Projeto Tesouro do Léxico: convergências e contribuições
Rita de Cássia da Silva Soares (Universidade de São Paulo / Universidade
Federal de Uberlândia), coord.
Yuko Takano (Universidade de Brasília), coord.
Pretende-se nessa comunicação coordenada abordar a importância da pesquisa desenvolvida para a construção dos Atlas Linguísticos e discutir a relevância social,
cultural e linguística desse léxico para o Projeto Tesouro do Léxico Patrimonial Galego e Português, porém, e mais especificamente, a Língua Portuguesa será o foco
do grupo. O léxico coletado por meio de entrevistas realizadas em diversas regiões
brasileiras será analisado à luz da Sociogeolinguística, cuja abordagem vem sendo
realizada pelo grupos de pesquisa, a saber o Grupo de Pesquisa em Dialetologia e
Geolinguística-GPDG, com sede na USP/SP; e Grupo de Pesquisa e Sociogeolinguística-GPS/UFU, cuja sede é na UFU/MG. A seguir, estão elencados os títulos dos resumos e os respectivos autores: Atlas Linguístico e Projeto Tesouro numa abordagem
Sociogeolinguística: um diálogo possível, de Rita de Cássia da Silva Soares; Sobre a
variedade caipira paulista no médio Tietê, de Manoel Mourivaldo Santiago Almeida;
Atlas Linguístico e a herança linguística da comunidade nipo-brasileira do Distrito
Federal: múltiplos olhares, de Yuko Takano; Contribuições dos atlas linguísticos do
Brasil: da pesquisa ao ensino da Língua Portuguesa, de Vera Lúcia Dias dos Santos Augusto; Sociogeolinguística e memória discursiva: aspectos sociais, históricos
e culturais como validação das escolhas lexicais, de Selma Sueli Santos Guimarães.
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Comunicações coordenadas / Comunicacións coordinadas
Atlas Linguístico e Projeto Tesouro numa abordagem Sociogeolinguística:
um diálogo possível
Rita de Cássia da Silva Soares (Universidade de São Paulo /
Universidade Federal de Uberlândia)
Esta comunicação refere-se à apresentação dos resultados da pesquisa que culminou no Atlas Semântico-Lexical da Região Norte do Alto Tietê (ReNAT) - São Paulo (2012), Pretende-se demonstrar a importância da coleta de dados dessa pesquisa, mais especificamente dos itens lexicais contidos no atlas, como
material linguístico que denota a identidade linguística de uma determinada região. Numa abordagem
Sociogeolinguística, discutir-se-á que o léxico coletado durante as entrevistas é um importante material
linguístico que reflete a história, os aspectos sociais e culturais dos sujeitos de uma comunidade linguística e, ainda, mostrar como esses itens lexicais registrados nos atlas podem ser utilizados de modo a
contribuir para o Projeto Tesouro do Léxico Patrimonial Galego e Português.
Sobre a variedade caipira paulista no médio Tietê
Manoel Mourivaldo Santiago Almeida (Universidade de São Paulo)
A comunicação trata das pesquisas realizadas sobre a variedade caipira paulista realizadas na região
do Médio Tietê que têm por objetivo compreender os processos de manutenção e mudança da língua
portuguesa que se expandiu para as regiões sudeste, sul e centro-oeste do Brasil, pelos caminhos das
águas do rio Tietê, antigo Anhembi, dentre outras vias fluviais e terrestres. Para tanto, toma por base
aspectos linguísticos materiais de seu funcionamento, bem como de sua história e de seu contexto social,
pressupondo que os fenômenos linguísticos são indissociáveis da cultura e do funcionamento social
(incluindo aspectos etnográficos e do imaginário) nos quais estão integrados.
Atlas linguístico e a herança linguística da comunidade nipo-brasileira
do Distrito Federal: múltiplos olhares
Yuko Takano (Universidade de Brasília)
Nesta comunicação apresentaremos os resultados da pesquisa realizada sobre a variedade linguística da
comunidade nipo-brasileira da capital do Brasil - Distrito Federal. As comunidades contempladas são:
Brasília; Brazlândia, Núcleo Bandeirantes, Taguatinga e Vargem Bonita, das quais Brazlândia e Vargem
Bonita são consideradas regiões não urbanas. A imigração japonesa comemora, neste ano, os 120 anos
em solo brasileiro e no contato tiveram seu repertório linguístico modificado. Os valores culturais e
linguísticos do país de origem foram se transformando e criando seu próprio universo linguístico/cultural, sustentado pela situação de uma comunidade bilíngue. Consideramos, neste estudo, as referências
geográficas e históricas da região em que a comunidade de estudo se encontra, visto que esses aspectos
podem justificar as ocorrências linguísticas do nosso objeto de estudo. A fundamentação teórica está
ancorada na Geolinguística e na Sociolinguística sob perspectiva semântico-lexical para registrar e descrever o objeto de estudo, como pressupostos ressalta-se estudos, entre outros, Coseriu (1982), Grosjean
(1982) e Chambers e Trudgill (1984).
PALAVRAS-CHAVE: Variedade nipo-brasileira; bilinguismo; Geolinguística; Distrito Federal.
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
Contribuições dos atlas linguísticos do Brasil: da pesquisa
ao ensino da língua portuguesa
Vera Lúcia Dias Dos Santos Augusto (Universidade Estadual de Goiás /
Universidade de São Paulo / Universidade Federal de Uberlândia)
A presente comunicação objetiva pontuar a possibilidade de imbricar o ensino da Língua Portuguesa
aos trabalhos voltados para a Dialetologia e para a Geolinguística, que direcionam seus estudos para a
descrição das diferentes e diversas formas da modalidade oral da língua. Hoje em dia, é muito grande o
interesse em estudar as variações linguísticas regionais, analisando-as a partir de um viés dialetológico
e geolinguístico. Essa junção aparece como uma ideia primeira de valorizar os estudos da heterogeneidade linguística, que acontece na dimensão diatópica (espacial, geográfica) e está distribuída no espaço
territorial de uma nação ou região. É sabido que a língua não se apresenta uniforme. Na verdade, a
língua apresenta certas regularidades, mas como é um sistema aberto, oferece inúmeras possibilidades
de variação de uso. Assim, ao lado de regras sistemáticas que todos os falantes devem seguir, aparecem as variações linguísticas, que podem referir-se ao uso de um grupo, ou ao uso de cada sujeito no
momento específico de sua interação. Ao registrar as variações linguísticas regionais em uso, o Atlas
Semântico-Lexical do Estado de Goiás (ASLEG) assim como os demais atlas linguísticos de diferentes
áreas do país vêm propiciando a pesquisadores, professores, gramáticos, autores de livros didáticos e
demais interessados nos estudos dialetológicos e geolinguísticos um material amplo, coletado a partir de
critérios metodológicos precisos. Desse modo, educadores conscientes da variação linguística brasileira
podem trabalhar a partir dessa realidade diversificada, sem estigmatizar a variação dialetal de seus alunos. Para aqueles que reconhecem a diversidade linguística brasileira como um ponto de partida para o
ensino da língua materna no Brasil se veem diante de um vasto material quer seja fonético-fonológico,
semântico-lexical, morfossintático ou discursivo proporcionado pelos atlas linguísticos já publicados ou
em desenvolvimento no território nacional. Sob esse aspecto, as contribuições linguísticas são nítidas e
é possível refletir sobre a atuação de ensino-aprendizagem dos professores de Língua Portuguesa.
PALAVRAS-CHAVE: Dialetologia; Geolinguística; variação linguística; ensino; língua portuguesa.
Sociogeolinguística e memória discursiva: aspectos sociais, históricos
e culturais como validação das escolhas lexicais
Selma Sueli Santos Guimarães (Universidade Federal de Uberlândia)
É possível dizer que as características culturais de uma sociedade são, normalmente, armazenadas e acumuladas por meio do sistema linguístico, sobretudo por meio do léxico. Assim, investigar uma língua
e suas variações implica investigar também a cultura. No Brasil, a língua falada é o Português. Apesar
disso, verifica-se, em todo o país, uma grande diversidade no emprego de palavras, isto é, na escolha
lexical feita pelo sujeito para nomear a realidade à sua volta. Portanto, estudos voltados para essa diversidade linguística brasileira se tornam necessários e produtivos. Os estudos geolinguísticos e os atlas
linguísticos são conhecidos como instrumentos de documentação da variação diatópica observada em
comunidades linguísticas, num determinado espaço de tempo sócio-histórico. Essas variações linguísticas são registradas, nos atlas linguísticos, por meio de cartogramas, cujo registro é obtido pela aplicação
do Questionário Semântico-Lexical. A partir da observação atenta das respostas dadas pelos sujeitos a
esse questionário e das notas referentes aos cartogramas, é possível identificar registros da memória discursiva na qual esses sujeitos estão inscritos e da qual eles se apropriam em suas interações. O presente
estudo tem o objetivo de depreender e identificar a produção de sentidos e os registros da memória discursiva subjacente aos elementos textuais-discursivos presentes nas respostas dos sujeitos a uma questão
do Questionário Semântico-Lexical, utilizado no Atlas Linguístico do Paraná, elaborado por Aguilera
em 1994, qual seja, «Em noite bem estrelada, como se chama aquele espaço cheio de estrelas, até esbran- 73 -
Comunicações coordenadas / Comunicacións coordinadas
quiçado, que fica bem no meio do céu?». Essa questão está incluída no domínio «Natureza, fenômenos
atmosféricos, astros, tempo, etc.» e deu origem a dois cartogramas: o cartograma 16 «Caminho de São
Tiago (via-láctea)» e o cartograma 17 «Via-Láctea (outras designações)». Para a análise, foram examinados os itens lexicais utilizados pelos sujeitos em suas respostas, as notas relativas aos cartogramas e as
observações da autora do atlas. A análise permitiu observar que as diversas escolhas lexicais, ao produzir novos efeitos de sentido, constituem-se no registro da memória discursiva na qual se inscrevem os
sujeitos e da qual eles se apropriam em suas interações, sustentando a ideia de que o sentido se produz
em um espaço social diretamente ligado à inscrição ideológica do sujeito, pois sua voz revela esse espaço
social no qual ele se inscreve.
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Diáspora africana e constituição histórica do português
brasileiro: o testemunho das atas de reuniões da
Sociedade Protetora dos Desvalidos (Bahia, século XIX)
Charlotte Galves (Universidade Estadual de Campinas), coord.
Tânia Lobo (Universidade Federal da Bahia), coord.
Quando se indagam as razões de o português ter se tornado língua nacional hegemônica no Brasil, autores como Yeda Pessoa de Castro (1980), Darcy Ribeiro (1995) e Rosa
Virgínia Mattos e Silva (2000) defendem a tese de que foram os africanos e seus descendentes os principais responsáveis não só pela difusão da língua no território americano, como também pela formatação da sua variante social majoritária, o chamado
português popular brasileiro. Distanciam-se, assim, da tradição que imputa às políticas
gestadas por Pombal em meados dos Setecentos a responsabilidade maior pela «vitória» da língua do colonizador sobre línguas indígenas e línguas africanas transplantadas com o tráfico de escravizados. Nos anos 2000, as investigações empreendidas por
Klebson Oliveira na Sociedade Protetora dos Desvalidos – irmandade negra, fundada
em Salvador em 1832 – desvelaram um rico acervo documental escrito por africanos
e afrodescendentes, o que possibilitou que a reconstrução do processo de constituição
histórica das variantes estigmatizadas do português brasileiro tenha, desde então, ultrapassado os limites de uma reconstrução de tipo «arqueológico», semelhante à que,
segundo Mattos e Silva (2002) e guardadas as devidas proporções, se teria configurado
para o chamado «latim vulgar». Nesta sessão de comunicações coordenadas, propõe-se
a análise de 4 aspectos morfossintáticos de um corpus constituído por 290 documentos
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Comunicações coordenadas / Comunicacións coordinadas
– sobretudo atas de reuniões – escritos e preservados na referida Sociedade Protetora
dos Desvalidos, confrontando-se os dados extraídos das atas escritas em português
como segunda língua por africanos, e já divulgados na coletânea África à vista, organizada por Tânia Lobo e Klebson Oliveira (2009), com os dados extraídos das atas escritas por crioulos – negros nascidos no Brasil –, já falantes nativos do português brasileiro. As 4 comunicações que integram esta sessão intitulam-se «O português escrito por
africanos e afro-brasileiros no século XIX: uma língua de sujeito nulo parcial?» (Eliana
Pitombo Teixeira e Norma Almeida), «Estratégias de relativização no português escrito
por africanos e afro-brasileiros no século XIX» (Ilza Ribeiro, Josane Oliveira e Maria
Cristina Figueiredo), «Variação na marcação de número em NPs no português escrito
por africanos e afro-brasileiros no século XIX» (Zenaide Carneiro e Juanito Avelar) e
«A ordem dos clíticos no português escrito por africanos e afro-brasileiros no século
XIX» (Charlotte Galves e Tânia Lobo).
O português popular no século XIX: uma língua de sujeito nulo parcial?
Eliana Sandra Pitombo Teixeira (Universidade Estadual de Feira de Santana)
Norma Lucia Fernandes de Almeida (Universidade Estadual de Feira de Santana)
O objetivo deste trabalho é apresentar uma descrição da documentação escrita por negros brasileiros,
na Bahia do século XIX no que se refere ao Parâmetro do Sujeito Nulo (PSN). São 233 atas da Sociedade
Protetora dos Desvalidos (SPD). Essas atas são muito importantes para as investigações sobre o português brasileiro devido à importância da população africana e dos seus descendentes no processo de
contato linguístico no Brasil (Mattos e Silva, 2001). Estudo similar foi realizado por Almeida e Carneiro
(2008) com atas escritas por africanos pertencentes à mesma Sociedade, no início do século, mostrando
um padrão no uso do sujeito nulo, com percentuais próximos aos encontrados por Duarte (1993) em
estudo realizado a partir de peças de teatro escritas na mesma época das atas. Os resultados referentes às
atas escritas por brasileiros demonstram haver maior variação entre sujeito nulo sujeito expresso do que
a variação encontrada nos textos dos africanos. Essa variação é maior na primeira pessoa, tanto do singular como do plural. Na terceira pessoa, há, ainda, altos índices de categoria vazia na posição de sujeito,
o que evidencia uma grande aproximação ao PB contemporâneo. Para a análise dos dados utilizamos o
aporte teórico-metodológico da Sociolinguistica Quantitativa (LABOV, 1972) ao lado de novas propostas concernentes ao PSN advindas da Teoria Minimalista (CHOMSKY, 1995) e refinadas por Holmberg,
(2005). Estabelecemos as seguintes variáveis extralinguisticas: o redator e a década em que foram escritas e como vairáveis linguisticas, a pessoa do discurso, o tipo de oração, a relação morfologia e pessoa
do discurso, animacidade ou não do referente e tipo de discurso, formular ou não-formular. Á exceção
da década e da animacidade todas as demais variáveis foram selecionadas pelo programa GoldVarb,
mostrando que apesar do natureza dos documentos propiciar o uso de sujeitos nulos, a probabilidade de
uso de categorias vazias só é alta na terceira pessoa, o que nos leva a considerar o português usado nas
atas uma língua de sujeito nulo parcial (KATO & DUARTE, 2014 ).
PALAVRAS-CHAVE: Contato linguístico; português brasileiro; representação do sujeito.
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
Estratégias de relativização no português escrito por africanos
e afro-brasileiros do século XIX
Ilza Maria de Oliveira Ribeiro (Universidade Federal da Bahia)
Josane Moreira de Oliveira (Universidade Estadual de Feira de Santana)
Maria Cristina Figueiredo (Universidade Federal da Bahia)
Estudos comparativos têm apontado particularidades na sintaxe do português do Brasil (PB) que o distanciam do português de Portugal (PP), dentre as quais o uso inovador das estratégias de relativização,
uma das mudanças que, segundo Tarallo (1993), emergiram no PB no final do séc. XIX. Observa-se no
PB uma tendência ao uso de relativas cortadoras, de relativas com pronome lembrete, além da perda de
alguns pronomes, como o cujo (TARALLO, 1993; CORRÊA, 1999; RIBEIRO, 2009), e da ampliação do
uso do onde (SOUZA, 2003). Considerando o contexto sócio-histórico em que o português foi implantado no Brasil, é relevante verificar a sintaxe da relativização em corpora que guardem vestígios do séc.
XIX, quando se atestou o contato do português com línguas indígenas e africanas. Exemplo dessa fonte
de dados é o material desta pesquisa: textos escritos por africanos e afro-brasileiros, que integram as
Atas da Sociedade Protetora dos Desvalidos. Nesta comunicação, apresentam-se os resultados da análise
das sentenças relativas nessas atas, objetivando: a) verificar se as estratégias inovadoras do PB já estão
presentes em textos do séc. XIX; e b) comparar o comportamento linguístico de africanos (RIBEIRO
e FIGUEIREDO, 2008) e de afro-brasileiros (OLIVEIRA e RIBEIRO, 2011), tendo em vista processos
diferentes de aquisição (L2 e L1, respectivamente). Justifica-se a escolha do corpus, considerando que
esses documentos podem apresentar um comportamento linguístico em que transparecem marcas de
um processo de aquisição resultante do contato do português com as línguas africanas que foram trazidas ao Brasil durante o processo de colonização. Foram coletados 945 dados, sendo 22% referentes à
primeira metade do séc. XIX e 78% referentes à segunda. A distribuição das ocorrências de acordo com
as estratégias consideradas aponta para um comportamento linguístico mais próximo do PP. Dentre as
relativas não preposicionadas (81%), verificou-se apenas uma ocorrência de pronome lembrete. Quanto
às sentenças em que há o requerimento de estratégia preposicionada (182 dados), verificou-se um comportamento variável entre a estratégia pied piping e a cortadora (73% e 27%, respectivamente) nas atas
escritas pelos afro-brasileiros, um comportamento diferenciado em relação às atas dos africanos, em
que não se observou essa variação. Corroborando os resultados apontados por Tarallo (1993), o uso da
estratégia cortadora é mais frequente na segunda metade do séc. XIX (33%) do que na primeira (21%).
Variação na marcação de número em NPs no português escrito
por africanos e afro-brasileiros no século XIX
Juanito Ornelas Avelar (Universidade Estadual de Campinas)
Zenaide de Oliveira Novais Carneiro (Universidade Estadual de Feira de Santana)
A redução flexional no português brasileiro (PB) vem sendo exaustivamente estudada. A variação na
aplicação da regra de concordância que ocorre no interior de sintagmas nominais (NPs), o tipo a ser tratado neste trabalho, é bastante conhecida, sobretudo as análises em variedades orais, com base em concepções da Sociolinguística Variacionista, a partir de Scherre (1988). Entretanto, as possíveis razões da
ocorrência desse fenômeno, característico sobretudo da vertente popular do PB, são discutidas desde o
século XIX. É comumente aceito que essa variação resultou do contato complexo e intenso do português
com línguas indígenas e africanas, ocorrido durante o seu período de gestação no Brasil Colonial (GUY,
1981a e b, 2005; HOLM, 1987, 1992; BAXTER, 1998; BAXTER; LUCCHESI, 1999, entre outros). Nesse
processo de variação, o nível que tem sido considerado o mais afetado pelo contato do português com
outras línguas no Brasil é o NPs/DPs. O fato de que esse português popular não tenha deixado muitos
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Comunicações coordenadas / Comunicacións coordinadas
registros escritos que tragam indícios desse processo sob a perspectiva diacrônica mostra a importância
do material analisado para o estudo do PB popular: uma edição de atas escritas por africanos – que teriam o português como L2 – e afrodescentes, já falantes do português como L1, da Sociedade Protetora
dos Desvalidos, na Salvador do Séc. XIX (OLIVEIRA, 2006). Trata-se de uma amostra rara de um dos
agentes desse processo de contato, os africanos e seus descendentes, maioria da população brasileira já
no século XIX (MUSSA, 1991). Este trabalho traz uma análise contrastiva da variação de número no
NPs/DPs de duas amostras dessa população. No primeiro conjunto de dados, a base será formada de
documentos escritos em português por mão africana, a partir da análise mórfica da variação de número
no NP (OLIVEIRA, SOLEDADE E SANTOS, 2010), cujos resultados mostraram que há perda de morfologia de número, na grande maioria dos dados, em algum dos elementos do NP, como, por exemplo:
a. as grandes forçaØ; b. os conhecimentoØ e c. esteØ deveres. Na descrição do segundo conjunto de
documentos, vamos mostrar que uma análise mais completa desse fenômeno requer uma associação
entre uma análise mórfica e uma análise sintática, para uma definição mais completa da gramática do
PB popular.
A ordem dos clíticos no português escrito por africanos e afro-brasileiros
do século XIX
Charlotte Galves (Universidade Estadual de Campinas)
Tânia Lobo (Universidade Federal da Bahia)
A morfossintaxe dos clíticos é um dos assuntos mais interessantes e estudados da sincronia e da diacronia da língua portuguesa, tanto em Portugal, quanto no Brasil. Nesta comunicação, descreveremos
e analisaremos a colocação de clíticos em atas da Sociedade Protetora dos Desvalidos (Oliveira, 2006)
escritas por negros nascidos no Brasil, comparando os resultados com o que observamos em atas escritas por africanos que eram membros da mesma Sociedade (Galves e Lobo, 2009). Mostraremos que
encontramos nas primeiras um uso mais frequente dos pronomes clíticos do que nas segundas, e menos
restrito às fórmulas que tipificam o gênero textual atas, apontando para uma competência sintática mais
produtiva. Ao mesmo tempo, notamos claramente a influência da sintaxe do português europeu, em particular no uso recorrente da ênclise, frequentemente atestada nos contextos de variação. Isso não é um
fato isolado nos documentos brasileiros do séc. XIX, como já apontado por vários estudos sobre diversos
gêneros textuais. Pagotto (1992), Lobo (2001) e Carneiro (2005), baseados em corpora diferentes, mostram o aumento da frequência da ênclise ao longo desse século, paralela ao que constatamos na evolução
do português europeu (Carneiro e Galves, 2010). Nos textos dos menos escolarizados, esse aumento
entra em contradição com a emergência de propriedades específicas do português brasileiro moderno,
que privilegia a próclise, inclusive em início absoluto de sentença, caracterizando o que Kroch (2001)
chama de ‘competição de gramáticas’. Em relação a isso, as atas dos negros brasileiros se comportam
mais como os textos dos letrados do séc. XIX, embora apresentem próclise em primeira posição. Observam-se até alguns casos de subida de clíticos. Contudo, essa sintaxe com claras interferências de um
padrão normativo, como já observado por Galves e Lobo (2009), ainda entra em contradição com uma
grafia não padrão, típica da grande maioria das atas, representativa do que Marquilhas (2001) chama
de «mãos inábeis», bem como alguns fenômenos específicos ao uso dos clíticos, que apontam para uma
contradição entre a gramática embutida na competência discursiva dos escribas, e a sua competência
gramatical propriamente dita. Podemos ver nisso uma forma particular de competição de gramáticas.
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El contacto de lenguas
Dorotea Frank Kersch (Universidade do Vale do Rio dos Sinos), coord.
Roland Terborg (Universidad Nacional Autónoma de México), coord.
El propósito de esta sesión coordinada es discutir y aproximar investigaciones actuales llevadas a cabo en Alemania, España, México y Brasil las cuales tienen la sociolingüística como línea temática. Se centrará en situaciones de contacto donde una
minoría lingüística – autóctona o de migración – se ve expuesta a la presión de la
lengua mayoritaria, y se propone de indagar en la interacción entre procesos lingüísticos y condiciones sociolingüísticas y políticas. Así, son aceptadas propuestas
relacionadas con el contacto lingüístico, el bilingüismo y las políticas lingüísticas
de estos países para acoger la diversidad cultural y lingüística que los caracteriza.
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Comunicações coordenadas / Comunicacións coordinadas
I. El contacto de lenguas - aspectos sociolingüísticos y políticos
Dorotea Frank Kersch (Universidade do Vale do Rio dos Sinos), coord.
«Ich kann net mo Daitsch peta» – el valor social del Hunsrückisch entre
descendientes de inmigrantes alemanes en el dominio familiar
Dorotea Frank Kersch (Universidade do Vale do Rio dos Sinos)
La diversidad lingüística es parte de la rutina de las poblaciones y sociedades en general. No es distinto
en Brasil, cuya sociolingüística es marcada por el contacto lingüístico del portugués con otras lenguas,
sea a lo largo de su frontera, sea con las lenguas indígenas, sea con las lenguas de señas, o aún con las
de inmigración, que tratamos aquí. El objetivo de este trabajo es identificar el uso y valor social del
Hunsrückisch en una familia de descendientes de inmigrantes alemanes, así como los factores que favorecen su utilización en la interacción cotidiana con el portugués. Se han registrado interacciones que
se pasaron en la casa de una familia que vive en el área urbana de Nova Petrópolis, Río Grande del Sur,
en un barrio ocupado, en su mayoría, por descendientes de inmigrantes alemanes los cuales han venido
de diferentes partes de Río Grande do Sul y Santa Catarina. Se trata de familias de origen rural, de bajo
nivel de estudios que buscaron las ciudades para lograr mejores condiciones de vida. Los resultados
muestran que, en el entorno familiar, la elección del idioma se hace por los participantes, las condiciones
ecológicas locales y el tema de conversación (BLOOM; Gumperz, 2002). Aunque evalúan la variedad
que usan en la vida cotidiana de forma negativa y consideran los hablantes de portugués como el grupo
de referencia, utilizan el Hunsrückisch cuando identifican un origen étnico común, quieren expresar
solidaridad o marcar identidad. Fuera del hogar, como en la iglesia, por ejemplo, el uso del portugués es
lo más común. En este sentido, la oración para bendecir la mesa y los alimentos que se van a comer se
hace todo en portugués, sin interferencia del alemán. Con los más jóvenes, las interacciones también se
realizan en portugués, lo que nos lleva a pensar en la sustitución gradual del alemán por el portugués.
Bilingüismo en el sur de Brasil: la identidad étnica y social de un grupo
descendiente de polaco
Sílvia Regina Delong (Universidade do Vale do Rio dos Sinos)
Este trabajo hace parte de mis estudios de doctorado, en la Universidad do Vale do Rio dos Sinos, Rio
Grande do Sul, Brasil. Es una investigación cualitativa, de carácter etnográfico, que nace con el propósito de analizar la construcción de la identidad étnica y social (HALL, 2005), (GEE, 2000) de un grupo
de descendientes de inmigrantes polacos que, además de hablar el portugués (lengua oficial de Brasil),
aún preservan la cultura y la lengua polaca en algunas situaciones cotidianas. El grupo elegido vive en
una comunidad rural, en el interior de la provincia del Paraná, en el Sur de Brasil. Para llevar a cabo
esta investigación es imprescindible también identificar los eventos de alfabetismo (en inglés, literacy)
STREET (1984) tanto en el ámbito escolar como en los diversos contextos sociales y observar cuándo,
dónde y para qué la lengua polaca es utilizada. Así, los primeros resultados obtenidos indican que la
vitalidad puede estar relacionada a las prácticas religiosas, ya que muchas familias aún preservan la
tradición de recitar el Rosario en polaco, bien como hay en la iglesia local algunas misas celebradas en
la referida lengua.
PALABRAS-CLAVE: Identidad étnica y social; descendientes polacos; alfabetismo; bilingüismo.
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
Estudio de la vitalidad de la lengua pemón en Venezuela: las comunidades
de San Antonio del Morichal y Waramasén
Julia Kuhn (Institut für Romanistik, Friedrich Schiller Universität)
Rafael Matos (Institut für Romanistik, Friedrich Schiller Universität)
El presente trabajo estudia la vitalidad de la lengua pemón, una lengua indígena del sureste de Venezuela, en particular en las comunidades de San Antonio del Morichal y Waramasén. Para ello se elaboró y
aplicó un cuestionario siguiendo la metodología de Terborg y García Landa, 2011. Se encontró un alto
porcentaje de uso de la lengua indígena, aún entre los jóvenes, privilegiando los dominios de la esfera
privada, el bilingüismo predomina en la escuela y el español domina en los intercambios con el comercio
y con los miembros del Estado.
II. El contacto de lenguas. El caso de México
Roland Terborg (Universidad Nacional Autónoma de México), coord.
Una propuesta de cómo medir el avance del proceso de desplazamiento de
una lengua indígena por el español dentro de una comunidad pequeña
Roland Terborg (Universidad Nacional Autónoma de México)
Virna Velázquez (Universidad Autónoma del Estado de México)
Lourdes Neri (Universidad Nacional Autónoma de México)
Tamara Sánchez (Universidad Autónoma del Estado de México)
Carlos Manuel Hernández (Universidad Nacional Autónoma de México)
Hay muchas comunidades indígenas que dejan de hablar su lengua materna y se comunican en español.
Sin embargo, también hay comunidades que conservan su lengua materna aunque la mayoría de las
circunstancias sean adversas a su mantenimiento.
Para explicar los diferentes procesos en cada comunidad nosotros partimos de que todas las acciones, y considerando que hablar también es una acción, dependen de presiones que emergen de los
deseos de la/s persona/s y del contexto que llamamos «estado del mundo». Es decir, la presión emerge
entre lo que ‘quiero hacer’ y lo que ‘puedo hacer’. Nosotros proponemos a clasificar las presiones para un
análisis específico de las comunidades donde se habla aún una lengua indígena..
Vitalidad de las lenguas indígenas en el occidente de México:
hacia el desarrollo de competencia funcional
Saúl Santos García (Universidad Autónoma de Nayarit)
En la región cultural conocida como El Gran Nayar, en el occidente de México, habitan cuatro etnias
indígenas: coras, huicholes, tepehuanos y mexicaneros. De acuerdo con versiones oficiales, tres de las
lenguas habladas por estos pueblos se encuentran en expansión lenta, mientras que la cuarta se encuentra en desplazamiento. Esta clasificación de la vitalidad lingüística se llevó a cabo a partir de criterios
cuantitativos. Sin embargo, el trabajo de investigación que realizamos desde la Universidad Autónoma
de Nayarit en comunidades de esta región nos indica que la situación sociolingüística de estas comunidades no es tan alentadora. Sabemos que tanto la vitalidad como el desplazamiento lingüístico dependen, en gran medida, de las circunstancias específicas de las comunidades en donde se habla la lengua;
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Comunicações coordenadas / Comunicacións coordinadas
es decir, los procesos de desplazamiento no son uniformes en las comunidades en donde se habla una
determinada lengua. Consecuentemente, cualquier acción encaminada a promover el mantenimiento
de una lengua debe basarse en el conocimiento detallado del contexto socio-cultural en el que se dan
esos procesos. Con esta premisa, un grupo de investigadores iniciamos un proyecto de investigación en
el año 2010 para evaluar la vitalidad de las lenguas originarias de El Gran Nayar. El objetivo del proyecto
era identificar las presiones que han llevado a la población a la situación de desplazamiento-mantenimiento en que se encuentra. La recolección de datos incluyó la aplicación de una encuesta en todos
los hogares y la administración de entrevistas a profundidad a miembros de la comunidad de distintas
edades.
Durante el proceso de recolección de datos, los entrevistados despertaron consciencia de la situación
lingüística de su comunidad y de sus implicaciones para el futuro de la lengua originaria. Esto preparó
el terreno para el establecimiento de un proyecto de revitalización participativo (e.g. entre la comunidad
y el grupo de investigación).
En esta presentación planteo compartir las estrategias de revitalización que se han adoptado en los
pasados tres años. La presentación iniciará con una breve descripción de la situación sociolingüística de
las comunidades estudiadas, seguida de un análisis de los factores que han llevado a su actual situación
de desplazamiento, y concluye con la descripción de las distintas acciones de revitalización que se han
tomado y el proceso en el que se ha intentado construir un modelo de investigación acción participativa.
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Aspectos da sintaxe do português: revisitando cliticos e
resumptivos
Cristiane Namiuti-Temponi (Universidade Estadual do Sudoeste
da Bahia), coord.
A sessão coordenada que propomos aqui almeja discutir aspectos da sintaxe dos pronomes acusativos, dativos, se e resumptivos para a compreensão das gramáticas do
português em perspectiva gerativista. Com a apresentação intitulada «Revisitando a
sintaxe dos clíticos: elementos para a descrição das gramáticas do português no tempo e no espaço», Cristiane Namiuti Temponi abordará questões relacionadas à sintaxe
dos clíticos na Língua Portuguesa, propondo uma reflexão sobre as gramáticas que
subjazem aos dados representativos do português antigo, do português clássico e das
variantes modernas da língua – português europeu e português brasileiro. Seguindo
Namiuti e Mioto (2014), a autora argumenta que as diferenças sintáticas percebidas
na sintaxe dos clíticos no tempo e no espaço da língua estão relacionadas à natureza
da posição pré-verbal e às diferentes possibilidades de alçamento do pronome clítico
na história do português. Para a diferença entre Português Europeu (PE) e Português
Brasileiro (PB) atuais, defende a hipótese de que o clítico em PB está associado ao
verbo lexical e não a um núcleo funcional da flexão verbal, como parece ser o caso do
PE. A apresentação intitulada «Função e posição do clítico se: um estudo diacrônico», de Eloísa Maiane Barbosa Lopes, parte da hipótese de que existe uma relação
entre a posição do clítico e a sua função sintática na sentença, e que essa relação pode
evidenciar aspectos importantes da(s) gramática(s) do português, o trabalho apresentado tem por objetivo descrever o uso do clítico se em orações finitas nos contextos
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Comunicações coordenadas / Comunicacións coordinadas
de variação ênclise e próclise, observando a possível existência de uma relação entre
a posição e a função deste clítico em textos de autores portugueses nascidos entre os
séculos 16, 17 e 18, período que compreende a gramática do Português Clássico. Com
a comunicação «Sobre resumptivos que fazem mais que «salvar» sentenças», Sinval
Araújo Medeiros Júnior revisita as estruturas com resumpção em português brasileiro
e atesta a ocorrência de resumptivos em contextos diferentes daqueles verificados por
teóricos gerativistas para o licenciamento destas estruturas como estratégia de último
recurso. Partindo de sentenças como «Qual autor ELE trata melhor desse assunto?» e
«Que livro que você precisa dELE?», as quais não correspondem a estrutura de ilhas
e que, portanto, não proíbem a operação de movimento, o autor levanta a hipótese de
que, ao menos em alguns contextos, o resumptivo faz mais do que «salvar» sentenças.
Função e posição do clítico se: um estudo diacrônico
Eloísa Maiane Barbosa Lopes (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia)
Cristiane Namiuti Temponi (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia)
Os clíticos pronominais são importantes objetos de estudo para se entender as mudanças ou se levantar
hipóteses a respeito da gramática de uma língua. No Português, conforme Galves et al. (2006), dois
aspectos da sintaxe dos clíticos são relevantes para se entender as mudanças na diacronia dessa língua:
a interpolação e a variação ênclise e próclise. A sintaxe dos pronomes átonos, conforme as autoras, corrobora a hipótese da existência de uma gramática intermediária entre o período antigo e o moderno da
língua portuguesa na Europa, a qual denominaram de Português Médio. Tal gramática subjaz aos textos
do Português Clássico (PCl). Nesta apresentação, pretendemos descrever e discutir o uso do pronome
clítico se, o qual possui um comportamento diferente dos demais tipos de clíticos, pois enquanto estes
são exclusivos da função objeto, a forma se, além de variar quanto a sua posição (enclítica e proclítica),
como os demais clíticos da função objeto, varia, também, quanto a sua função sintática, podendo estar
associado ao sujeito da sentença. O clítico se difere-se dos demais clíticos dativos e acusativos, pois é
o único com estatuto anafórico. Sobre a função sintática do se, amparados nos estudos de Cavalcante
(2006 e 2010) e na abordagem gerativa de Mateus et al. (2003), três são os tipos de se associados a função
sujeito e objeto: o se passivo nas sentenças como «Vendem-se casas» em que o argumento interno concorda com o verbo transitivo direto e recebe o caso nominativo, enquanto o se recebe o papel temático
externo do verbo e se posiciona no especificador de IP sendo um morfema apassivador relacionado ao
sujeito; o se nominativo ou indeterminado nas construções com outros tipos de verbos ou que o verbo
não concorda com o seu argumento interno como em «Precisa-se de empregadas» em que o se recebe
o caso nominativo, sendo a representação de um sujeito arbitrário ou indeterminado e se acusativo ou
reflexivo em que o se recebe o caso acusativo do verbo transitivo direto como em «Maria se olhou». Destarte, partindo da hipótese de que existe uma relação entre a posição do clítico e a sua função sintática
na sentença, esse trabalho tem por objetivo descrever o uso do clítico se em orações finitas nos contextos
de variação ênclise e próclise, observando a possível existência de uma relação entre a posição e a função
deste clítico em textos de autores portugueses nascidos no período que compreende a gramática do PCl
que serão extraídos do corpus Tycho Brahe.
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
Sobre resumptivos que fazem mais que «salvar» sentenças
Sinval Araújo de Medeiros Júnior (Instituto Federal de Educação, Ciência
e Tecnologia da Bahia / Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia)
Pronomes resumptivos costumam ser vistos, na literatura, como uma estratégia para salvar sentenças
que, sem tal recurso, seriam mal formadas (SUÑER: 1998, p.335). Trata-se, assim, de uma estratégia de
último recurso. Boeckx (2003, p.27) destaca que as análises acerca do tema concentram-se em duas perspectivas principais. Na primeira perspectiva, o resumptivo existe na sintaxe estrita («narrow syntax»;
portanto previsto na numeração), e seu antecedente é introduzido na posição em que é pronunciado
(uma posição A-barra), da qual o antecedente liga («binds») o pronome. Isso ocorre por a operação de
movimento, em tais contextos, ser proibida devido à presença de ilhas sintáticas. Na segunda perspectiva, o antecedente do resumptivo é introduzido no interior da sentença, de onde se move para a posição
A-barra, em contexto de ilha sintática. Isso constitui uma violação de regras de movimento e, para a
derivação convergir, o resumptivo é pronunciado no lugar do vestígio (o pronome só existe, então, na
forma fonética). Todavia, sentenças do Português Brasileiro (PB) como «Qual autor ELE trata melhor
desse assunto?» e «Que livro que você precisa dELE?» apontam para a ocorrência de resumptivos em
contextos que não são apontados como ilhas e que, assim, não proíbem a operação de movimento. A
submissão de tais orações ao juízo de gramaticalidade de falantes do PB revelou uma possibilidade de
diferença de interpretação entre as sentenças acima com o resumptivo e em versões sem esse elemento.
Em uma sentença como «Que livro que você precisa?», a interpretação é que se interroga sobre um livro
dentro de um universo amplo, aberto dos livros. Já em uma sentença como «Que livro que você precisa
dELE?», a interpretação é que se interroga sobre um livro dentro de um universo conhecido, restrito de
livros. Essa diferença reflete uma ambiguidade já apontada por Chomsky (1995, p. 203), pois «Que livro
que você precisa?» pode corresponder a uma interpretação do tipo [que x, x um livro] [você precisa de
x] ou uma interpretação do tipo [que x] [você precisa de [livro x]] ─ esta última equivalente à da estrutura com resumpção. Tal distinção reforça a ideia de que, ao menos em alguns contextos, o resumptivo
faz mais do que «salvar» uma sentença cuja derivação não converge sem a presença desse elemento.
Há implicações na forma lógica da sentença e, desse modo, parece estar adequada a análise em que o
resumptivo já esteja prevista na numeração.
Revisitando a sintaxe dos clíticos: elementos para a descrição
das gramáticas do português no tempo e no espaço
Cristiane Namiuti Temponi (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia)
Nesta comunicação pretendemos revisitar questões relacionadas à sintaxe dos clíticos na Língua Portuguesa, propondo uma reflexão sobre as gramáticas que subjazem aos dados representativos do português antigo, do português clássico e das variantes modernas da língua – português europeu e português
brasileiro. Seguindo Namiuti e Mioto (2014), argumentamos que as diferenças sintáticas percebidas na
sintaxe dos clíticos no tempo e no espaço da língua estão relacionadas à natureza da posição pré-verbal
e às diferentes possibilidades de alçamento do pronome clítico na história do português. Para a diferença
entre português europeu (PE) e português brasileiro (PB) atuais, defendemos a hipótese de que o clítico
em PB está associado ao verbo lexical e não a um núcleo funcional da flexão verbal, como parece ser o
caso do PE. Para defender tal hipótese buscamos pistas em domínios sentenciais negativos. Destacamos,
seguindo Namiuti (2008), que, diferentemente dos demais itens adverbiais, nada, a não ser um pronome
clítico, pode interromper a adjacência entre o operador de negação – não – e o verbo. Tal característica
do operador de negação sentencial, em português, é bastante antiga, remonta ao português antigo e
perdura nas variantes atuais do português na Europa e na América. De acordo com Namiuti (2008), a
gramática do português antigo teria um pronome clítico capaz de se hospedar no núcleo mais alto da
estrutura frasal (C°). A estrutura com interpolação, mantendo o complementizador e o clítico adjacen- 85 -
Comunicações coordenadas / Comunicacións coordinadas
tes, nas orações encaixadas, como em (01) isto que lhes eu mando... (NO, 1295, apud Martins 1994); e a
ênclise ao verbo nas orações raízes, como em (02) E eu outrossi semelhauilmente obligome ... (Lx: 1291;
Martins, 1994); estariam relacionadas com a obrigatoriedade da inversão prosódica do clítico em relação ao item lexical presente em C°. A gramática intermediária se caracterizaria pela perda da propriedade de subida do clítico e do verbo a C°, perdendo-se assim a possibilidade de interpolar constituintes e
gerando um padrão proclítico nas orações raízes com verbos em segunda posição. Quanto às variantes
atuais do português europeu (PE) e do português brasileiro (PB) há diferenças relacionadas aos clíticos
pronominais percebidas claramente em construções com predicado complexo: (03) Ela não me está
respeitando (PE) / (04) Ela não está me respeitando (PB).
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Historiografía lingüística e historia da lingua:
saber, ideoloxía e identidade
Marcos Bagno (Universidade de Brasília), coord.
Xoán Lagares (Universidade Federal Fluminense), coord.
Desde distintas perspectivas críticas e con diversas perspectivas, os relatores avogarán
pola necesidade de revisión do paradigma histórico-lingüístico, con atención especial
á (re)colocación do galego e do portugués brasileiro.
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Comunicações coordenadas / Comunicacións coordinadas
I. Por unha nova visión da historia do diasistema lingüístico
galego-luso-brasileiro
Xoán Lagares (Universidade Federal Fluminense), coord.
Portugalego: uma nova classificação para uma nova família de línguas
Marcos Bagno (Universidade de Brasília)
Por razões de ordem exclusivamente político-ideológica, a classificação das línguas em «famílias» se
detém até hoje nas propostas feitas no século XIX, no auge da filologia comparada. No entanto, já é
perfeitamente possível elencar novas famílias, formadas a partir das línguas que as potências coloniais
modernas implantaram fora da Europa. Uma dessas seria a família «portugalega», formada pelo galego,
pelo português europeu, pelo português brasileiro e pelas diversas línguas que, sob o rótulo enganador
de «crioulas», se constituíram mundo afora nesse último meio milênio de história. É claro que semelhante proposta também se faz sob o prisma político-ideológico, mas de vertente distinta daquele que
pretende manter intacta a classificação tradicional.
Entre o latín e o portugués: galego, galego-portugués, português arcaico?
Henrique Monteagudo (Instituto da Lingua Galega,
Universidade de Santiago de Compostela)
A comunicación ten como obxecto de análise as distintas denominacións da fase medieval, común e orixinaria, do galego e o portugués (na fala: aprox. séculos X- XIV; na escrita: séculos XIII-XIV). Poremos
o foco sobre o proceso de apagamento do galego na historiografía lingüística producida en portugués,
co progresivo abandono do neoloxismo decimonónico ‘galego-portugués’ e a difusión da nova denominación ‘português arcaico’. Mostraremos que a cuestión en foco ten unha trascendencia que vai alén
dunha disputa nominal, pois está asociada á imposición de determinadas visións da historia lingüística,
derivadas da asociación da lingua ao estado dinástico e imperial portugués e mais da impregnación da
ideoloxía nacionalista da filoloxía portuguesa desde a súa emerxencia como saber nacional impulsado
polo Estado a través da Universidade.
Ideologia, política e história: do galego-português ao portugalego
Xoán Lagares (Universidade Federal Fluminense)
As representações sobre a língua, ligadas a outras representações sociais sobre a ideia de nação, comunidade, unidade ou correção, permeiam toda abordagem, científica ou não, em torno das relações linguísticas. Nesse sentido, podemos afirmar que não existe uma história da língua, mas sim relatos históricos
que privilegiam alguns fatos e ocultam outros, que contam a história de uma ou de outra maneira, de
acordo com determinadas posições ideológicas, mesmo que elas não sejam assumidas explicitamente.
O reconhecimento da relativa unidade galego-portuguesa medieval é um ponto pacífico e não provoca
especial polêmica na historiografia do português, embora sejam feitas leituras diversas sobre como era
essa unidade e sobre o processo de «separação» das línguas. Nesta comunicação faremos uma análise
das ideologias envolvidas nos relatos históricos sobre a diversidade linguística gerada a partir do antigo
romance galaico, mostrando como partindo dos mesmos dados históricos é possível elaborar interpretações muito diferentes do passado e do presente.
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
II. Da lingua á norma, da norma á lingua: o galego e o português brasileiro
Marcos Bagno (Universidade de Brasília), coord.
Lingua(s) e norma(s): polielaboración, pluricentricidade,
polinomía / autonomía, sinonomía, heteronomía
Henrique Monteagudo (Instituto da Lingua Galega,
Universidade de Santiago de Compostela)
Nesta comunicación tentaremos testar a validez e rendibilidade das nocións nomeadas no título para a
análise da arquitectura do diasistema lingüístico galego-portugués. De camiño, e sempre reflexionando
no marco deste diasistema, exporemos a nosa crítica á concepción tradicionalmente monolítica e monocéntrica da(s) lingua(s) e da relación entre esta(s) e a norma, entendido este último termo non no
senso coseriuano (que consideramos inaplicable ao caso), senón no estrito senso que se lle outorga nos
estudos de estandardoloxía. Ao noso entender, no caso do galego achámonos perante unha instancia
de poli-elaboración, mentres que no caso do portugués brasileiro se trataría máis ben dun exemplo
de pluricentricidade. Pero en ambos os casos, a emerxencia de normas autónomas está vencellada ás
distintas condicións socioculturais de partida e responde a cadanseu proceso de (re)creación dunha
identidade colectiva específica. Entre as opcións extremas de imposición de normas heteronómicas e de
elaboración de normas desligadas, defenderemos a opción de normas coordinadas ou asociadas entre si,
ben que en distintos graos, tendo en conta as respectivas peculiaridades.
Quando nasce uma língua nova?
Marcos Bagno (Universidade de Brasília)
Quinhentos anos depois do desmoronamento do Império Romano já temos registros escritos em novas variedades linguísticas que já não têm nenhuma das características próprias do latim, nem sequer
do latim vulgar. Essas variedades evoluirão mais tarde até receberem os nomes de línguas nacionais,
tais como os conhecemos hoje. Por que, passados mais de quinhentos anos do início da colonização
portuguesa no Brasil, ainda se reluta tanto em conferir ao português brasileiro um nome próprio e um
estatuto próprio de «língua»? A discussão se concentrará nos aspectos sociais, políticos e ideológicos
implicados nesse fenômeno.
Normas e identidades linguísticas na Galiza e no Brasil
Xoán Lagares (Universidade Federal Fluminense)
Em princípio, uma língua não é apenas uma norma padrão, mas enquanto instituição social a língua é
identificada fundamentalmente pela sua norma. Os limites entre as línguas não são claros, e o exercício
de identificá-las responde a complexos processos de criação de identidade linguística, com a elaboração
de instrumentos gramaticais e a produção de certas ideologias associadas a identidades políticas e sociais. Nesta comunicação tentamos analisar as noções de unidade e de diferença presentes em discursos
normativos galegos e brasileiros: em torno de um galego autônomo ou identificado com o português, e
sobre um português brasileiro enquadrado na tradição normativa lusitana ou resultado da elaboração
de um padrão próprio. Comparando esses processos, muito diferentes em sua gênese e com desenvolvimentos históricos próprios, exploramos também os limites do que pode ser denominado «língua
portuguesa».
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Léxico dispoñible do galego
María Álvarez de la Granja (Instituto da Lingua Galega,
Universidade de Santiago de Compostela), coord.
O obxectivo desta sesión coordinada, vinculada coa liña temática «Lexicoloxía, lexicografía e semántica», é dar a coñecer a metodoloxía empregada na elaboración do
Léxico dispoñible do galego (López Meirama / Álvarez de la Granja 2014), así como
ofrecer unha mostra de aplicación práctica dos resultados do traballo.
Despois dunha presentación da coordinadora da sesión na que fará unha breve introdución ao concepto de léxico dispoñible e ao marco en que se xerou o Léxico dispoñible do galego, darase paso á primeira comunicación das tres que conforman a
sesión. Nela, Belén López Meirama abordará cuestións metodolóxicas relativas á elaboración da enquisa, á selección dos diferentes centros de interese e á conformación da
mostra de enquisados de acordo cunha serie de variables de estratificación social. Así
mesmo amosará as posibilidades de extracción de información que ofrece Dispogal,
o programa informático desenvolvido no proxecto. Na seguinte comunicación, María
Álvarez de la Granja completará a abordaxe metodolóxica presentando os principais
criterios de edición dos materiais recolleitos, tanto os relativos á supresión de formas
como á lematización das palabras recollidas nas enquisas.
Finalmente, Raquel Vila Amado ofrecerá unha análise dos resultados obtidos, estudando concretamente o centro de interese «A roupa». O obxectivo é amosar diferentes
abordaxes posibles dos traballos de léxico dispoñible: por un lado, a autora presentará
unha análise de carácter sociolingüístico, centrada nas diferenzas máis salientables
entre os resultados dos distintos grupos de poboación que conforman a mostra; por
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Comunicações coordenadas / Comunicacións coordinadas
outro lado, Vila Amado ofrecerá unha análise de carácter máis estritamente lingüístico,
centrada no estudo das variantes recollidas nas listaxes.
O léxico dispoñible do galego: a mostra, a enquisa e a análise de resultados
Belén López Meirama (Universidade de Santiago de Compostela)
Na presente comunicación propóñome explicar algúns dos aspectos metodolóxicos máis relevantes do
proxecto de investigación levado a cabo sobre o léxico dispoñible do galego. En primeiro lugar, describirei a composición da mostra, que consta de 800 enquisas realizadas no ano 2006 a estudantes galegos
de nivel preuniversitario, na procura dunha poboación homoxénea tanto en idade coma en formación.
Explicarei como conseguimos a súa representatividade no que atinxe a unha serie de factores sociolóxicos que constitúen as denominadas ‘variables de estratificación social’, empregadas habitualmente nos
estudos de dispoñibilidade léxica, e así mesmo no que atinxe a algunhas especificacións do proxecto
galego: así, ademais do sexo dos informantes, o nivel sociocultural dos pais, a situación do centro de
ensino, o lugar de residencia dos pais e o tipo de ensino (público ou privado), dado que Galicia é unha
comunidade bilingüe, os informantes tamén están caracterizados segundo a súa lingua inicial e segundo
a súa lingua de uso habitual.
En segundo lugar, referireime ao instrumento que nos permitiu obter o corpus que constitúe o léxico
dispoñible do galego, que consiste nunha enquisa dividida en dúas partes ben diferenciadas: a primeira
recolle diferentes datos relativos ás variables de estratificación social e a segunda reúne as respostas dos
estudantes a unha serie de estímulos temáticos, denominados ‘centros de interese’, a partir dos cales se
confeccionan, de maneira escrita e por tempo limitado, listaxes ilimitadas de palabras relacionadas coas
diferentes áreas temáticas.
En terceiro e último lugar, mostrarei as posibilidades de extracción de información que ofrece o programa informático desenvolvido no proxecto de investigación (Dispogal): dun lado, proporciona datos
relativos á dispoñibilidade xeral e a de cada centro de interese, como o índice de dispoñibilidade ou
diversos tipos de frecuencias (absoluta, relativa, acumulada); doutro, permite realizar buscas seleccionando subgrupos específicos da mostra constituídos a través dos factores sociolóxicos que se consideren;
finalmente, posibilita comparar os datos de produción de palabras dos distintos grupos sociais e así
detectar o grao de (in)compatibilidade léxica que existe entre eles.
A edición dos materiais no léxico dispoñible do galego
María Álvarez de la Granja (Instituto da Lingua Galega,
Universidade de Santiago de Compostela)
O obxectivo desta comunicación é presentar os principais criterios de edición dos materiais colectados
para o léxico dispoñible do galego. As listaxes de palabras obtidas a través de enquisas son sometidas a
un proceso de edición que conduce, por un lado, á supresión dalgunhas formas e por outro, á lematización dos materiais. A finalidade deste último proceso é a de unificar variantes de moi diferente tipo,
de tal xeito que formas como abductor, abdutores, abduptor ou adutor aparezan recollidas baixo un
mesmo lema unificador (abdutor), forma normalizada sobre a que se realizan os cálculos de dispoñibilidade léxica, frecuencia etc.
Na comunicación abordaremos os criterios relativos é eliminación de formas rexistradas (esencialmente voces repetidas nunha mesma listaxe e formas con contidos alleos ao centro de interese co que
se está traballando), así como os criterios de lematización empregados. En relación con estes últimos,
presentaremos aspectos relativos á escolla da forma canónica nas palabras con flexión (por exemplo,
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
administrativo e administrativa lematizados como administrativo-a), os criterios empregados á hora de
determinar as formas que posúen lemas diferenciados fronte a aquelas que se unifican baixo un mesmo
lema, así como, neste último caso, as pautas seguidas á hora de seleccionar o lema unificador. Nesta explicación, daremos conta do tratamento de variantes ortográficas (embigo, envigo), fónicas (abelleiro,
abilleiro) e morfolóxicas (ensilar, silar). Dedicaremos especial atención, ademais, ás dificultades que
xurdiron no proceso de lematización dada a presenza de numerosas voces do castelán nas listaxes dos
enquisados (párpado, flequillo, rojo...), así como aos criterios adoptados á hora de asignar un lema a
tales formas. Finamente, presentaremos o sistema informático empregado para a introdución dos lemas
e para a obtención de listaxes de lemas e variantes.
Un exemplo de aplicación práctica do léxico dispoñible do galego:
o centro de interese «A roupa»
Raquel Vila Amado (Instituto da Lingua Galega,
Universidade de Santiago de Compostela)
Nesta comunicación pretendemos ofrecer unha pequena mostra dos estudos que se poden realizar partindo do léxico dispoñible do galego, polo que faremos un percorrido por distintas abordaxes. Centrarémonos no centro de interese (CI) «A roupa», no cal se agrupan sobre todo substantivos (nomes de
pezas de roupa para vestir, de tipos de calzado e, en menor medida, de accesorios e complementos e de
roupa do fogar).
En primeiro lugar, presentaremos as voces máis dispoñibles, isto é, as que presentan un maior grao
de frecuencia e que ocupan postos máis altos nas listaxes. A seguir realizaremos unha análise das diferentes variantes recollidas nas listaxes, na que trataremos a adaptación de estranxeirismos, a presenza de
castelanismos e a variación ortográfica. A través desta análise tamén poderemos comprobar a normativización da lingua neste campo, é dicir, se as formas que se intentan estandarizar están presentes e, de
estalo, en que medida están recollidas.
Por último, achegarémonos ó campo da sociolingüística para tentar ofrecer unha breve panorámica
das diferenzas máis salientables observadas entre os grupos de poboación (homes vs. mulleres e habitantes do rural vs. do urbano, principalmente).
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Córpora lingüísticos medievais de Galiza e Portugal
Xavier Varela Barreiro (Instituto da Lingua Galega,
Universidade de Santiago de Compostela), coord.
Para o período medieval Galiza e Portugal contan, no ámbito das Humanidades, con
córpora lingüísticos que se complementan nos eixos xeográfico e glotolóxico.
No eixo glotolóxico, latín e romance dispoñen de corpus ao norte e ao sur do Miño.
Por parte galega teñen xa un amplo percorrido como proxectos de investigación con
recurso correspondente de libre acceso na Internet:
a) Para o latín: o Corpus Documentale Latinum Gallaeciae (CODOLGA), realizado no Centro Ramón Piñeiro para a Investigación en Humanidades (http://corpus.
cirp.es/codolga/).
b) Para o romance de Galiza: o Tesouro Medieval Informatizado da Lingua Galega
(TMILG), realizado no Instituto da Lingua Galega (https://ilg.usc.es/tmilg/).
c) Para o romance castelán en Galiza: o Tesouro Medieval Informatizado da Lingua Castelá-Galiza (TMILC-G), realizado no Instituto da Lingua Galega (https://ilg.
usc.es/tmilg/).
Por parte portuguesa existe desde 1992, tamén con acceso libre na Internet, o Corpus
Informatizado do Português Medieval (CIPM), realizado polo equipo da Faculdade
de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa que integra a Linha de
Investigação 1 - Linguística Comparada - do CLUNL (http://cipm.fcsh.unl.pt/).
Na sesión presentarase o estado actual de dous destes recursos en Galiza, o CODOLGA (José Manuel Díaz de Bustamante) e o TMILC-G (Eduardo Moscoso), e presentarase a primeira versión dun novo recurso, o Corpus Informatizado do Galego-Por- 95 -
Comunicações coordenadas / Comunicacións coordinadas
tugués Medieval (CIGPM), resultante da fusión do CIPM portugués e do TMILG
galego (Maria Francisca Xavier e Xavier Varela).
O proxecto CODOLGA como ferramenta de amplo espectro
José Manuel Díaz de Bustamante (Universidade de Santiago de Compostela)
A cantidade de documentos dispoñible permite xogar ás curiosidades: ó buscar «dominissim*» en Codolga, para que aparezan tódalas formas declinadas deste termo (titulación rexia que ten a súa orixe na
chancelería imperial tardo romana), os resultados da consulta ofrécense ou baixo a forma de sendos
cadros estatísticos de exemplos e de documentos: en primeiro lugar, hai só uns 18 exemplos en 14 documentos; destes, 8 están en códices ou fragmentos de códices, hai un só pergameo solto, 3 nos teñen
chegado en edición impresa, e dous non se atopan especificados; 8 dos documentos son reais, 2 son episcopais e 4 son particulares. O máis curioso é que 8 están ou pretenden estar datados no século IX, 5 no X
e, cousa moi sospeitosa, 1 no XII. Se nos atemos á estatística de exemplos, a información resulta tamén
moi interesante, porque dos 18 casos, 10 pertencen ao IX e 7 ao X, o que denota un uso máis constante
no século carolinxio. Tendo conta, sobre todo, dos textos nos que se dan os exemplos atopados, é curioso
que na súa práctica totalidade refírense a reis asturianos.
A interfaz de busca dá numerosas posibilidades de combinación dos datos (outorgante, soporte etc.),
pero unha das máis interesantes, xunto á de ámbito temporal, é a de procedencia, que permite restrinxir
a investigación a un foco emisor ou lugar de redacción concreto, dentro ou fóra de Galicia, dentro ou
fóra da Península. Un corpus informatizado, fronte a unha colección impresa pode dar indicios significativos de cómo hanse valorar os datos de determinadas edicións: hai un documento particular de
Ourense, de arredor de 1185, no que Vázquez Núñez edita «et incambeo mea ratione, et in Abrocinos
mea ratione de ipsa ecclesia. in Toronio uno casale». Pero sucede que atopamos outros dous exemplos
interesantes a propósito tamén de «Abrocinos», nos que hai variacións toponímicas: o primeiro nun
documento particular de San Pedro de Lobanes do mesmo ano: «et in Cambeo mea ratione; et in Abrocinos mea ratione de ipsa ecclesia; in Toronio uno casale» e, ademais, noutro do mosteiro de San Pedro
de Rocas, de arredor de 1175 «in Cambeo mea racione de ipsa ecclesia; sic et in Abrocinos mea racione
de ipsa ecclesia; in Toronio uno kasale». Sucedeu que un mellor coñecimento do entorno permitiu a
Duro Peña editar «Cambeo» como termo de lugar e non como unha fórmula de permuta.
Tesouro Medieval Informatizado da Lingua Castelá (Galiza) (TMILC-G)
Eduardo Moscoso Mato (Instituto da Lingua Galega,
Universidade de Santiago de Compostela)
A presenza do castelán nos textos medievais de Galiza é moi escasa se se compara coa do galego e
mesmo tamén coa do latín. En xeral, prodúcese en textos notariais redactados por escribáns de fóra de
Galiza e na maior parte dos casos redactados extraterritorialmente. Só despois do terceiro cuartel do
século XV é apreciable o emprego do castelán por notarios galegos e en territorio galego. Para nos referir
á lingua dos textos anteriores a esta data podería valer, en xeral, a denominación «castelán en Galiza»,
mentres que para os posteriores xa se podería utilizar a de «castelán de Galiza». Nas tipoloxías textuais
distintas da documental Galiza fixo uso sistemático da lingua propia no terreo da creación e mostrou
clara preferencia pola tradución das obras alleas relevantes antes que «consumilas» directamente, na súa
lingua orixinaria.
O conxunto destas obras e documentos redactados en castelán na Galiza medieval ou fóra dela con
finalidade de uso galaico constitúe a carga textual do Tesouro Medieval Informatizado da Lingua Castelá
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
(Galiza) (TMILC-G). Con el, o equipo do Xelmírez foi dixitalizando e codificando estes textos para eles
serviren de complemento lingüístico ao corpus central da Galiza medieval: o TMILG.
Aínda que unha boa parte das obras e coleccións contidas neste corpus xa son consultables, en modo
concordancias ‒mínimas ou ampliadas‒, a través do corpus Xelmírez (http://sli.uvigo.es/xelmirez/index.
html), a procura da comodidade de quen, nas súas investigacións, estea interesado exclusivamente nas
obras en castelán, levounos a preparar unha aplicación específica desde a que poder traballar doadamente contra datos textuais casteláns. O sistema de codificación e as características de consulta non
difiren das do TMILG, o que lle dá ao conxunto un valor engadido de homoxeneización nos procesos
seguidos na obtención de información.
No relatorio daremos noticia do elenco das obras introducidas, describiremos detalladamente as
súas particularidades de ‒entre outras‒ autoría, data, tipoloxía textual e transmisión, e presentaremos a
aplicación en rede coa que queremos darlle ao TMILC-G carta de natureza entidade propia na rede de
córpora da Galiza medieval na internet.
Corpus Informatizado do Galego-Portugués Medieval (CIGPM)
Maria Francisca Xavier (Centro de Linguística, Universidade Nova de Lisboa)
Xavier Varela Barreiro (Instituto da Lingua Galega,
Universidade de Santiago de Compostela)
A construción de córpora medievais de Galiza e Portugal conta con varias décadas de traballo e acumulación de experiencia por separado. Os córpora e proxectos que aquí concorren iniciaron a súa actividade no mesmo ano, 1993, e desde ese momento foron arrenquentando permanentemente as súas bases
textuais. A existencia de relacións entre os equipos a partir do ano 2006 facilitou un clima favorable á
aproximación nos propósitos e na metodoloxía e puxo no seu horizonte como novo obxectivo común
responder á imperiosa necesidade, sentida desde sempre no mundo da investigación, de facer área de
estudo indivisible a cultura lingüística medieval de Galiza e Portugal. Un novo horizonte que, na súa
perspectiva máis práctica e concreta, non obrigue a procurar por separado a información textual de
Galiza e Portugal.
A parte portuguesa está representada polo Corpus Informatizado do Português Medieval (CIPM),
cuxo equipo está constituído por investigadores da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa que integram a Linha de Investigação 1 - Linguística Comparada - do CLUNL,
so a dirección de Maria Francisca Xavier. O proxecto conta co financiamento do FCT-MCES e está
dispoñible na rede no seguinte site:
http://cipm.fcsh.unl.pt/gencontent.jsp?id=2.
A parte galega está representada polo Tesouro Medieval Informatizado da Lingua Galega (TMILG).
O equipo de investigación realiza a súa actividade no Instituto da Lingua Galega (ILG) da Universidade
de Santiago de Compostela (USC) co financiamento da Xunta de Galicia (a través da súa Secretaría Xeral
de Política Lingüística). Realízase como unha das pezas ou subprodutos doutro corpus galego medieval
máis amplo, o Xelmírez, tamén do mesmo equipo, no que se recolle a totalidade dos textos conservados
da Galiza medieval, incluídos aqueles que non están redactados en galego-portugués (fundamentalmente en latín e castelán). Os córpora TMILG e Xelmírez están dispoñibles na rede nos seguintes sites:
https://ilg.usc.es/tmilg/
http://sli.uvigo.es/xelmirez/index.html
No relatorio presentaranse as características do novo corpus medieval galego-portugués e a páxina
web a través da cal se poderá acceder conxuntamente á información textual medieval de Galiza e Portugal.
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Perspectivas plurais dos textos medievais
galego-portugueses
Ricardo Pichel Gotérrez (Instituto da Lingua Galega,
Universidade de Santiago de Compostela), coord.
Con esta sesión coordenada preténdese expor e fomentar o intercambio científico
en relación a un conxunto de ferramentas humanísticas (corpus, bibliotecas textuais
e bases de datos) que nos permiten acceder aos textos medievais galego-portugueses desde unha perspectiva plural: lingüística, filolóxica, historiográfica, bibliográfica
etc. En primeiro lugar, a cargo do prof. Harvey L. Sharrer, presentaranse as novidades
relativas á base de datos bio-bibliográfica PhiloBiblon, particularmente no que ten a
ver coa Bibliografía de Textos Galegos e Portugueses (BITAGAP). En segundo lugar,
o prof. Francisco García Gondar fará unha panorámica historiográfica actualizada
dos estudos relativos á lingüística histórica galega tomando como referencia a Bibliografía Informatizada da Lingua Galega (BILEGA). En terceiro lugar, os investigadores Lucía Doval Iglesias e Gonzalo Hermo González, farán unha descrición das
principais achegas do Inventario Toponímico da Galicia Medieval (ITGM) desde a
súa posta en marcha até a actualidade, alén das liñas de traballo proxectadas para o
futuro. Por último, o prof. Ricardo Pichel Gotérrez presentará a nova páxina web do
Corpus de Textos Antigos da Galiza (COTAGAL) e os seus principais resultados en
materia de edición múltipla de textos producidos na Galiza medieval e moderna.
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Comunicações coordenadas / Comunicacións coordinadas
A Bibliografía de Textos Galegos e Portugueses (BITAGAP) hoje em dia
Harvey L. Sharrer (University of California, Santa Barbara)
A BITAGAP (Bibliografia de Textos Galegos e Portugueses) é uma base de dados na Internet em curso
desde 1988 que faz parte do projecto PhiloBiblon que tem a sua sede na Bancroft Library da Universidade de Califórnia em Berkeley: . Com a participaçao actual de uma equipa de três professores norteamericanos, três professores e investigadores portugueses e uma galega a BITAGAP incorpora dados
bibliográficos detalhados sobre textos vernáculos não notariais de origem medieval em manuscritos e
livros impressos juntamente com uma vasta bibliografia de referências secundárias. Há actualizações
trimestrais com novedades e descobertas anunciadas em um blog e no Facebook.
Prestando atenção a uma gama de géneros –história, direito e legislação, medicina, religião, poesia,
obras de ficção em prosa, etc. –em textos integrais e fragmentos, sejam originais autógrafos ou cópias
posteriores e também textos perdidos e apócrifos, a BITAGAP é um recurso fundamental para estudiosos de uma variedade de disciplinas. O corpus de dados está a expandir-se constantemente e baseado
em grande parte na análise in loco das fontes primárias em bibliotecas e arquivos em Portugal, Espanha
e outro países. O motor de pesquisa de PhiloBiblon oferece ao utilizador todo um leque de opções e
uma página de ajuda da BITAGAP, apresentada em três línguas, galego, português e inglês, facilita a sua
consulta.
O eido da lingüística histórica na Bibliografía Informatizada da Lingua
Galega (BILEGA): Algunhas estratexias de recuperación de información
Francisco García Gondar (Universidade de Santiago de Compostela /
Centro Ramón Piñeiro para a Investigación en Humanidades)
A BILEGA: Bibliografía Informatizada da Lingua Galega é un recurso en liña (http://www.cirp.es/bdo/
bil) do Centro Ramón Piñeiro para a Investigación en Humanidades cuxa construción se iniciou en
1994. O seu obxectivo é ofrecer información bibliográfica exhaustiva e actualizada dos traballos de investigación, divulgación ou opinión dedicados ao idioma galego –de forma exclusiva ou parcial– nas diferentes fases do seu desenvolvemento histórico. Os rexistros da base de datos intentan achegar os datos
da historia editorial completa de cada documento referido, así como información sobre o seu contido e,
de ser o caso, sobre as recensións e notas de publicación a que deu lugar; por outra banda, desde o ano
2004, ademais dos datos correspondentes a edicións impresas, ofrécense tamén os das edicións dixitais,
nomeadamente as publicadas en liña. A implementación da estrutura da BILEGA cun amplo abano de
atributos clasificatorios e a información que achegan as sinopses sobre o contido dos documentos permítenlles aos usuarios levar a cabo pescudas de moi diversos tipos e graos de especificidade. O obxectivo
desta comunicación é amosar algunhas das estratexias de busca que poden poñerse en práctica no eido
da lingüística histórica para recuperar da base de datos información bibliográfica non só exhaustiva,
senón tamén cunha alta taxa de relevancia.
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
O Inventario Toponímico da Galicia Medieval (ITGM): pasado, presente
e futuro dun proxecto para o estudo da toponimia medieval
Lucía Doval Iglesias (Instituto da Lingua Galega,
Universidade de Santiago de Compostela)
Gonzalo Hermo González (Instituto da Lingua Galega,
Universidade de Santiago de Compostela)
O ITGM nace aproximadamente a finais do ano 2005 co obxetivo fundamental de concentrar nunha
única aplicación informática toda a toponimia atestada nos fondos documentais galegos da época medieval. A información sustraída da documentación atópase sometida a un proceso de organización e
codificación conforme a unha serie de criterios estruturados en dúas vertentes: unha eminentemente
lingüística e outra xeográfico-administrativa.
Na súa primeira versión, no ano 2008, o ITGM permite consultar a totalidade das formas toponímicas presentes en case 1.250 documentos repartidos entre sete coleccións documentais multilingües
(latín, galego e castelá). A súa proxección xeográfica no territorio galego debuxa dúas grandes áreas da
metade septentrional de Galicia: A costa máis occidental de Galicia e a zona septentrional das provincias
de Lugo e da Coruña.
Entre os anos 2009 e 2010 son estudadas A Colección Diplomática do mosteiro de San Salvador de
Celanova (SS. XIII-XV) e os documentos editados por José António Souto Cabo (2008, Documentos
Galego-Portugueses dos Séculos XII e XIII), identificando e etiquetando as formas toponímicas presentes, axudando a aumentar o número de topónimos recollidos e a zona xeográfica estudada.
As sete primeiras coleccións documentais forman parte da actual versión en liña do ITGM, mentres
que os resultados dos outros dous traballos están en proceso de inclusión na aplicación. Desta maneira,
conseguimos datos dunha maior diversificación xeográfica, así como un arrequecemento cuantitativo
do corpus.
En 2013 realizouse a extracción, identificación e etiquetación dos topónimos presentes no 2º volume
da colección diplomática do mosteiro de Celanova. Como complemento posmedieval do ITGM, iniciouse a recolla e codificación das formas toponímicas do Catastro de Ensenada. Concretamente fíxose
a correspondente a tres coutos da Terra da Barcala e a do couto de San Cristovo das Viñas.
No ano 2014 continuouse coa etiquetación dos topónimos presentes no 2º volume da colección
diplomática do mosteiro de Celanova e iniciouse a elaboración do inventario toponímico desta subcolección de documentación monástica. Na complementación posmedieval do ITGM, púxose a andar a
informatización das Memorias do arzobispo de Santiago Jerónimo del Hoyo (1607). Nunha fase durante
este ano 2015, realizarase a identificación e etiquetación dos topónimos e, finalmente, elaborarase o seu
inventario toponímico.
O Corpus de Textos Antigos da Galiza (COTAGAL): unha nova biblioteca
dixital para a edición múltipla de textos medievais e modernos
Ricardo Pichel Gotérrez (Instituto da Lingua Galega,
Universidade de Santiago de Compostela)
O COTAGAL é un dos proxectos integrados no Tesouro Medieval Galego-Portugués, do Instituto da
Lingua Galega (USC), nomeadamente na sección textual correspondente a Galiza (Biblioteca Dixital da
Galiza Medieval - BGM), e dentro dela contén as obras e coleccións editadas polo equipo de investigación. O actual equipo do COTAGAL herda os obxectivos sostidos nos últimos dez anos pola anterior
versión do proxecto, denominado «Transcrición paleográfica de obras medievais», mais con novos materiais de traballo e cunha metodoloxía renovada e axeitada aos novos tempos e ás novas ferramentas
informáticas dispoñíbeis.
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Comunicações coordenadas / Comunicacións coordinadas
O obxectivo principal do COTAGAL é a edición múltipla de obras literarias e prosa documental producidos na Galiza medieval (sécs. IX-XV) e moderna (sécs. XVI-XVIII). O COTAGAL non só aborda a
edición de obras e textos galego(-portugueses) no período cronolóxico sinalado, mais tamén de textos
casteláns e latinos facturados na Galiza medieval e moderna. A metodoloxía empregada supón necesariamente un triplo acceso ao texto: (a) transcrición paleográfica (TP), coa posibilidade de reflectir a variación (alo)gráfica do texto e de incluír ou non o desenvolvemento dos símbolos abreviativos; (b) presentación crítica do texto (PC) –ou, dito doutra forma, edición interpretativa–, que supón a regularización
–nivelación e redistribución– das unidades gráficas irrelevantes do punto de vista escriptolingüístico, a
aplicación de criterios estandarizados de ordenación do texto (segmentación gráfica, puntuación etc.) e
a representación diacrítica dalgúns valores suprasegmentais (acentuación); (c) reprodución facsimilar
do manuscrito. Desta maneira, o aproveitamento dos textos é múltiplo, segundo o nivel de presentación
ao que se accede: (a) estudos paleográficos e grafemáticos; (b) estudos lingüísticos, literarios ou históricos; (c) estudos pictográficos e comprobación das lecturas. O obxectivo último do proxecto é ofrecer
acceso en rede a todos estes materiais: nunha primeira etapa presentando o texto plano (TP e PC) e,
posteriormente, tras a súa etiquetaxe en XML-TEI, despregando un corpus textual pensado para a consulta simultánea das diferentes instancias de transcrición/edición dispoñíbeis.
Nesta intervención presentarase a nova páxina web do COTAGAL así como os os seus principais resultados en materia de edición múltipla de textos e relativos aos criterios de transcrición e presentación
gráfica dos mesmos.
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A expressão fonética da terceira pessoa do plural em
variedades urbanas do português
Silvia Figueiredo Brandão (Universidade Federal do Rio de Janeiro), coord.
Esta sessão coordenada tem como tema a expressão fonética de terceira pessoa do
plural no Português do Brasil (PB), no Português Europeu (PE) – continental e insular (Funchal) – e no Português de São Tomé (PST) como base para uma melhor
compreensão dos fatores que concorrem para a (não)implementação da concordância
verbo-sujeito em algumas de suas variedades urbanas. Parte-se da hipótese de que as
diferentes variantes obtidas são motivadas pela atuação não só da saliência fônica e da
configuração modo-temporal do verbo, mas também de fenômenos de natureza fonossintática, como a possibilidade de ocorrência de sândi. Para discutir a questão, revisitam-se os estudos de Pontes (1972), Lemle & Naro (1977), Naro (1981) e Guy (1981),
para o Português do Brasil (PB), e de Mota; Miguel & Mendes (2012), Soalheiro (2002)
e Barreto (2014), para o Português Europeu. As formas que constituem as amostras
analisadas foram eliciadas, no que se refere ao PB e ao PE, de entrevistas pertencentes
ao Corpus do Projeto 21, da ALFAL, Estudo comparado dos padrões de concordância
em variedades africanas, brasileiras e europeias (c.f.www.concordancia.letras.ufrj.br/),
bem como, no caso de São Tomé, de entrevistas pertencentes ao Corpus VARPOR, do
Centro de Linguística da Universidade de Lisboa. Os dois corpora, de perfil sociolinguístico, foram organizados entre 2008 e 2010, o que garante a comparabilidade dos
dados. Os resultados das análises, expostos em quatro comunicações, permitirão avaliar se há, no que respeita ao verbo, diferentes escalas de saliência fônica em Português
e poderão, ainda, concorrer para aperfeiçoar as análises sobre a concordância verbal e
melhor determinar os diferentes estatutos de suas variedades.
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Comunicações coordenadas / Comunicacións coordinadas
Referências
BARRETO, F. V. V. A concordância verbal de 3ª pessoa plural no Português Europeu.
Dissertação (Mestrado em Língua Portuguesa) – Universidade Federal do Rio de
Janeiro, Rio de Janeiro, 2014.
GUY, G. R. Linguistic variation in Brazilian Portuguese: aspects of phonology, syntax
and language history. Tese (Doutorado em Linguística). University of Pennsylvania, Pennsylvania, 1981.
LEMLE, M.; NARO, A. J. Competências básicas do português. Relatório final de pesquisa apresentado às instituições patrocinadoras Fundação Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL) e Fundação Ford. Rio de Janeiro, 1977. 151p
MOTA, M. A; MIGUEL, M.; MENDES, A. A concordância de P6 em português falado.
Os traços pronominais e os traços de concordância. PAPIA 22(1), p. 161-187,
2012.
NARO, Anthony Julius. The social and structural dimensions of a syntactic change.
Language, 57: 63-98, 1981.
PONTES, Eunice. Estrutura do verbo no português coloquial. 2.ed. Petrópolis: Vozes,
1973.
SOALHEIRO, Elisabete. Padrões flexionais no português falado no Norte de Portugal
com elementos de comparação com o galego. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Universidade de Lisboa, Lisboa, 2002.
A expressão fonética da terceira pessoa do plural em variedades urbanas
do Português: a grande-Lisboa em contraste com outras zonas de Portugal
Maria Antónia Mota (Universidade de Lisboa)
A concordância sintáctica entre sujeito e verbo tem interessado muitos linguistas, nomeadamente no
Brasil mas também em Portugal (Martins 2012), e tem sido, desde 2008, um dos objectos de estudo de
um projecto sobre concordância em variedades do português .
Sobre o português do Brasil (PB), Lemle & Naro (1977), Naro & Scherre (1993) e Scherre & Naro
(1997), por exemplo, abriram a possibilidade de se considerar que o contraste estritamente fonético
entre formas de 3ª pessoa do verbo (P3 e P6) é uma condicionante determinante para que os falantes
explicitem, ou não, a relação de concordância em causa, sendo que quanto mais diferenciadas entre si
forem P3 e P6, dentro de um mesmo paradigma flexional, mais possibilidade existe de a forma produzida ser aquela que, à luz da gramática do português padrão, explicita a partilha de traços com o sujeito.
Nesta apresentação, discute-se a relevância dessa hipótese (Mota, Miguel & Mendes 2012; Mota
2013), com base no corpus da zona da grande-Lisboa recolhido para o projecto acima mencionado, para
concluir que, nas poucas evidências de concordância ‘não canónica’ presentes nesse corpus, o contraste
entre formas fonéticas não tem poder explicativo.
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
Considerando que a interface entre morfologia, fonologia e sintaxe permite encarar o conjunto das
questões implicadas na concordância entre sujeito e verbo, mas deixando de parte as questões sintácticas, visamos mostrar, a fim de contrastar as conclusões obtidas sobre a grande-Lisboa com outras
variedades do português, (i) que interessa tratar, tendo em conta o conjunto dos paradigmas verbais, o
referido contraste fonético como o material visível que decorre de diferentes estruturas fonológicas da
P3 e da P6 (associadas a diferentes estruturas morfológicas, em estreita interface), (ii) que essas estruturas podem ser diferentemente interpretadas, consoante as gramáticas do português, dando origem
a diferentes formas de realização (e a diferentes tipos de contraste fonético entre P3 e P6), e, logo, que
explicações convincentes não podem situar-se apenas no nível da Língua-E (Galves 2012).
Para estabelecer uma ponte entre a zona da grande-Lisboa e o Funchal, objecto de outra apresentação nesta mesma sessão coordenada, consideram-se dados de variedades dialectais de PE continental
que revelam o referido em (ii), no parágrafo anterior.
Referências
LEMLE, Miriam & Anthony J. NARO (1977) Competências básicas do português. Relatório final de
pesquisa apresentado às instituições patrocinadoras. Fundação Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL) e Fundação Ford. Rio de Janeiro, 151 pp.
MARTINS, Ana Maria (2012) Aparente variação na concordância sujeito-verbo no português europeu:
ambiguidade quanto ao carácter singular ou plural do sujeito frásico. LOBO, Tânia et al. (eds.)
Rosa Rosae. Linguística história, história das línguas e outras histórias. Salvador: EDUFA, 191-219.
MOTA, Maria Antónia (2013) Variant patterns of Subject-Verb agreement in Portuguese: morphological and phonological issues. Journal of Portuguese Linguistics, 12 (2), 211-236.
MOTA, Maria Antónia, MIGUEL, Matilde & MENDES, Amália (2012) «A concordância de P6 em português falado. Os traços pronominais e os traços de concordância», Papia 22.1, 161-188.
NARO, Anthony J. & Marta SCHERRE (1993) Sobre as origens do português popular do Brasil. DELTA,
Vol. 9, Nº Especial, 443-454.
SCHERRE, Marta & Anthony J. NARO (1997) A concordância de número no português do Brasil: um
caso típico de variação inerente. Hora, Demerval da (org.) Diversidade Lingüística no Brasil.
João Pessoa: Idéia, 93 – 114.
A expressão fonética da terceira pessoa do plural numa variedade urbana
(Funchal) do Português Europeu insular
Aline Maria Bazenga (Universidade da Madeira / Centro de Linguística,
Universidade de Lisboa)
Nesta comunicação, procura-se, a partir de uma amostra da variedade urbana (Funchal) do Português
Europeu insular (PEI), no âmbito do projeto Estudo comparado dos padrões de concordância em variedades africanas, brasileiras e europeia (www.concordancia.letras.ufrj.br/), aprofundar a questão do
condicionamento morfofonológico (Mota, Miguel & Mendes, 2012; Mota, 2013), em contexto sintático
de concordância de 3ª pessoa do plural, em variedades do português, e analisar a relevância explicativa
da expressão fonética do verbo nessa relação entre sujeito e verbo (Galves 2012).
Considerando em particular a interface fonética/sintaxe, esta apresentação centra-se nos padrões de
concordância verbal de P6 já atestados nesta variedade do PEI (Vieira & Bazenga, 2013), que contemplam, para além da forma P6 padrão, em ditongo nasal - ou - , conforme a classe temática do verbo, as
seguintes variantes nãopadrão:
(i) em vogal oral, com forma isomórfica de P3 (elas é que chegava à escola; os outros tinha as costas quentes; as laranjas caía no chão); (ii) em - , uniformizadora de classes temáticas verbais (eles não
usavem nada disso; quando elas vinhem à nossa casa; eles mandarem fazer uns sapatos); e (iii) com a
realização oral - ou nasal - (eles estavo a saltar à corda e à pilhagem; que eles lá curtio para cabedal).
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Comunicações coordenadas / Comunicacións coordinadas
A presença destas variantes flexionais não-padrão só parece encontrar paralelo em subvariedades
rurais ou semirrurais de Portugal continental, facto que singulariza a variedade do português falado no
Funchal, no conjunto de variedades do PE, pelo que, este estudo poderá contribuir, através de argumentos de natureza linguística associados aos de carácter geolinguístico e social, para um melhor entendimento deste fenómeno variável do português falado.
Referências
GALVES, Charlotte (2012) Concordância e origens do português brasileiro. Sedrins, Adeilson et al.
(orgs.) Por Amor à Linguística. Miscelânea de Estudos Linguísticos dedicados à Maria Denilda
Moura. Maceió, UFAL: 123-149.
MOTA, Maria Antónia (2013) Variant patterns of Subject-Verb agreement in Portuguese: morphological and phonological issues. Journal of Portuguese Linguistics, 12 (2): 211-236.
MOTA, Maria Antónia, MIGUEL, Matilde & MENDES, Amália (2012) A concordância de P6 em português falado. Os traços pronominais e os traços de concordância, Papia 22.1: 161-188.
VIEIRA, Sílvia Rodrigues & BAZENGA, Aline (2013) Patterns of third person verbal agreement, Journal of Portuguese Linguistics,
A expressão fonética da terceira pessoal do plural em variedade urbana
do Português do Brasil
Silvia Rodrigues Vieira (Universidade Federal do Rio de Janeiro)
Embora a concordância verbal com sujeitos de terceira pessoa plural (P6) constitua tema amplamente
discutido, sobretudo nas investigações sociolinguísticas que versam sobre as origens do Português do
Brasil, a expressão morfofonética das desinências número-pessoais efetivamente concretizadas na fala
dos diversos estratos sociais ainda carece de aprofundada caracterização. Dentre os condicionamentos
da regra variável de concordância de P6, é sem dúvida a saliência fônica (cf. Lemle; Naro, 1977) – variável que avalia o efeito da diferença entre as formas singular e plural dos verbos – aquela apontada
como de maior relevância nos estudos variacionistas brasileiros. Tomando como ponto de partida, além
do texto já citado, as propostas de Pontes (1972), Guy (1981) e Naro (1981), objetiva-se (i) atestar as
realizações fonéticas de cada forma verbal, atentando, ainda, para o tempo-modo verbal em questão
e o contexto subsequente, de modo a detectar o possível efeito de sândi; (ii) refletir sobre a interface
fonética-morfologia-sintaxe na implementação das marcas de número, e (iii) verificar o efeito de fatores
sociais como, por exemplo, idade e escolaridade do indivíduo. Para tanto, a análise conta com dados
coletados de entrevistas realizadas entre 2008 e 2010 e que constituem o Corpus do Projeto Estudo
comparado dos padrões de concordância em variedades africanas, brasileiras e europeias (hoje Projeto
ALFAL 21), de perfil sociolinguístico e acessível em www.concordancia.letras.ufrj.br/. Com base nos
resultados da investigação, espera-se oferecer contribuições ao conhecimento do tema que permitam,
em última instância, o estabelecimento do estatuto da variedade brasileira, a ser comparado com o das
demais variedades do Português.
Referências
GUY, Gregory Riordan. Linguistic Variation in Brazilian portuguese: aspects of the Phonology, Syntax,
and Language History. 1981. 391 fls. Ph.D. Dissertation (Linguistics) - University of Pennsylvania.
LEMLE, Miriam; NARO, Anthony Julius. Competências básicas do português. Relatório final de pesquisa apresentado às instituições patrocinadoras Fundação Movimento Brasileiro de Alfabetização
(MOBRAL) e Fundação Ford. Rio de Janeiro, 1977. 151p.
NARO, Anthony Julius. The social and structural dimensions of a syntactic change. Language, 57: 63-98,
1981.
PONTES, Eunice. Estrutura do verbo no português coloquial. 2.ed. Petrópolis: Vozes, 1973.
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
A expressão fonética da terceira pessoa do plural na variedade urbana
do Português de São Tomé
Silvia Figueiredo Brandão (Universidade Federal do Rio de Janeiro)
Danielle Kelly Gomes (Universidade Federal do Rio de Janeiro)
Embora questões relativas à concordância verbal há muito venham sendo discutidas no âmbito do Português do Brasil (doravante PB), poucos são os estudos que contemplam esse tema em variedades não
europeias do Português, dentre eles destacando-se, entre outros, Vieira & Brandão (2012a, 2012b) e Vieira & Bazenga (2013), vinculados ao Projeto 21, da ALFAL, Estudo comparado dos padrões de concordância em variedades africanas, brasileiras e europeias (cf. www.concordancia.letras.ufrj.br/). Com base
nos pressupostos teórico-metodológicos da Teoria da Variação e Mudança (Weinreich, Labov & Herzog,
1968), as autoras buscaram determinar os fatores que concorrem para a (não)aplicação da marca de número de terceira pessoa plural no Português de São Tomé (PST). Nesses estudos, verifica-se que entre o
PST e o PB há convergências quanto às variáveis estruturais e sociais que determinam a (não)concordância verbo-sujeito, dentre elas a atuação do princípio de saliência fônica, proposto por Lemle & Naro
(1977) em estudo pioneiro sobre o PB. Para melhor compreender a questão, neste trabalho, focalizam-se
as formas de expressão fonética da terceira pessoa do plural (P6) na variedade urbana do PST com base
em amostra de perfil sociolinguístico, selecionada de entrevistas realizadas em 2009 e pertencentes ao
Corpus VARPOR, do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa. Parte-se da hipótese de que as
variantes fonéticas registradas são condicionadas não apenas pela saliência fônica e a configuração modotemporal do verbo, mas também pela ação de fenômenos de cunho fonossintático, como a possibilidade
ou não de ocorrência de sândi. Tendo em vista que a norma de referência do PST é a do PE, busca-se,
ainda, com apoio em Mota; Miguel & Mendes (2012), Soalheiro (2002) e Barreto (2014), verificar se as variantes obtidas no PST coincidem ou não com as que se observam no PE. Com os resultados da pesquisa,
espera-se contribuir não só para um mais amplo conhecimento do PST, mas também para uma melhor
aferição dos fatores que concorrem para a variação na esfera da concordância verbal.
Referências
BARRETO, F. V. V. A concordância verbal de 3ª pessoa plural no Português Europeu. Dissertação (Mestrado em Língua Portuguesa) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014.
BRANDÃO, S. F.; VIEIRA, S. R. A concordância nominal e verbal no Português do Brasil e no Português
de São Tomé: uma abordagem sociolinguística. PAPIA: Revista Brasileira de Estudos Crioulos e
Similares, v. 22, n. 1: 7-39, 2012a
BRANDÃO, S. F.; VIEIRA, S. R. Concordância nominal e verbal: contribuições para o debate sobre o
estatuto da variação em três variedades urbanas do português. Alfa: Revista de Linguística, v. 56,
n. 3: 1035-1064, 2012b.
LEMLE, M.; NARO, A. J. Competências básicas do português. Relatório final de pesquisa apresentado
às instituições patrocinadoras Fundação Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL) e
Fundação Ford. Rio de Janeiro, 1977. 151p
MOTA, M. A; MIGUEL, M.; MENDES, A. A concordância de P6 em português falado. Os traços pronominais e os traços de concordância. PAPIA 22(1), p. 161-187, 2012.
SOALHEIRO, E.. Padrões flexionais no português falado no Norte de Portugal com elementos de comparação com o galego. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Universidade de Lisboa, Lisboa,
2002.
VIEIRA S.R.; BAZENGA, A. Patterns of 3rd person verbal agreement. Journal of Portuguese Linguistics,
12 (2): 7-50
WEINREICH, U.; LABOV,W. HERZOG, M. Empirical foundations for a theory of linguistic change. In:
LEHMANN, W.; MALKIEL, Y. (Org.) Directions for historical linguistics. Austin: University of
Texas Press, 1968. p. 97-195.
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Contacto galego-español e cambio lingüístico no galego
actual
Elisa Fernández Rei (Instituto da Lingua Galega,
Universidade de Santiago de Compostela), coord.
A situación de contacto lingüístico en Galicia vénse producindo dende hai séculos,
pero, curiosamente, son moi poucos os estudos feitos sobre o contacto entre español
e galego en Galicia que traten de maneira abranxente o fenómeno e que transcendan
a perspectiva dunha análise baseada nos conceptos clásicos da lingüística de contacto
(interferencia, préstamo etc.). Así mesmo, tamén non se ten habitualmente en conta
a aparición nas últimas décadas de novas variedades, como o estándar do galego ou
como as variedades urbanas, que tamén se atopan en contacto co galego tradicional
ou popular.
Os tres investigadores que presentarán as súas comunicacións nesta mesa coordinada forman parte do proxecto de investigación, coordinado por Xosé Luís Regueira,
Cambio lingüístico no galego actual (Ministerio de Economía e Competitividade FFI2012-33845). Trátase, pois, dunha contribución que forma parte dun proxecto máis
amplo que pretende identificar e estudar as dinámicas de cambio lingüístico que se están a producir no galego nas últimas décadas. No caso desta mesa coordinada, presentaremos un conxunto de traballos no ámbito da fonoloxía, da entoación e da gramática
e centraremos o noso interese nas motivacións externas dos cambios que se están a
producir nesas compoñentes da lingua. A nosa intención é levar a cabo unha análise
que tome en consideración o contacto do galego co español de Galicia, pero tamén co
galego e español estándares, así como coas novas variedades urbanas do galego.
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Comunicações coordenadas / Comunicacións coordinadas
Entoación e contacto entre variedades lingüísticas en Galicia
Elisa Fernández Rei (Instituto da Lingua Galega,
Universidade de Santiago de Compostela)
A prosodia e a entoación veñen gozando de moita atención nos últimos anos, especialmente no ámbito
da fonoloxía e da fonética, pero tamén no da dialectoloxía. É menor a atención que se lles prestou aos
cambios inducidos por contacto lingüístico, se ben tamén hai interesantes traballos neste sentido (vid.
por exemplo Colantoni & Gurlekian 2004, Simonet 2011).
No caso do galego, os poucos traballos existentes tratan a entoación do español de Galicia e compárana co español estándar e co galego (Castro 2003, Pérez Castillejo 2012). Os resultados aí presentados, así como moitas apreciacións impresionistas que se poden atopar noutros estudos, consideran que
se produce unha transferencia da entoación do galego ao español de Galicia.
Porén, as variedades lingüísticas que entran en contacto non son só a do español estándar, o español
de Galicia e o «galego». Os cambios que se veñen producindo desde os anos oitenta, como consecuencia
da chegada do galego a ámbitos de uso antes descoñecidos para el (escola, administración, medios de
comunicación...) fan que o panorama do contacto sexa máis rico e variado ca o que poderiamos encontrar probablemente trinta anos atrás. Deste xeito, hai que incluír novas variedades urbanas, o «estándar»
oral que transmiten os medios de comunicación e mesmo novas situacións de contacto entre variedades
dialectais diversas, como consecuencia do aumento da mobilidade da poboación.
A nosa atención céntrase en determinar se o contacto lingüístico entre todas esas variedades do
español e do galego está a provocar cambios na entoación deste último. Así mesmo, interésanos determinar se existe, tal e como recolle a literatura sobre o tema, unha transferencia da entoación do galego
cara ao español, ou ben se estamos ante un proceso de converxencia entre ambas as dúas entoacións.
Referencias
CASTRO, Obdulia. 2003. Pitch accent in Galician Spanish. In L. SAYAHI (ed.), Selected Proceedings of
the First Workshop on Spanish Sociolinguistics, 43-52. Somerville, MA: Cascadilla P.P.
COLANTONI, L. & J. GURLEKIAN. 2004. Convergence and intonation: Historical evidence from Buenos Aires Spanish. Bilingualism: Language and Cognition 7, 107–119.
PÉREZ CASTILLEJO, S. 2012. Estudio sociofonético de los tonemas de las interrogativas absolutas en el
castellano de Galicia. ELUA 26, 235-268.
SIMONET, Miquel. 2011. Intonational convergence in language contact: Utterance-final F0 contours in
Catalan-Spanish bilinguals. JIPA 41, 157-184.
Procesos de simplificación e de complicación da gramática galega
asociados ó contacto co castelán
Francisco Dubert García (Instituto da Lingua Galega,
Universidade de Santiago de Compostela)
Na lingüística galega é continua a preocupación polas consecuencias do contacto lingüístico galego-castelán. Ora ben, esta preocupación centrouse sobre todo en dúas vertentes: dun lado, na castelanización
do léxico galego, i.e., a penetración de castelanismos que acabaron por eliminar léxico galego tradicional
(Dios por Deus, güevo por ovo, rodilla por xeonllo, xeollo, xonllo, etc.); doutro lado, na presión sobre a
compoñente fonolóxica segmental galega que o castelán exerce a través do contacto, pois, por exemplo,
moitos falantes novos son hoxe incapaces de distinguir as vogais medias e contan cun sistema vocálico
tónico de só tres alturas.
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
Nesta comunicación pretendo reflexionar sobre as consecuencias gramaticais, morfosintácticas, que
o contacto galego/castelán están a ter no galego actual. En casos coma o galego, en que se dá o contacto
entre unha lingua de prestixio alto (o castelán) e outra de prestixio baixo (o galego), adoitan darse casos
de obsolescencia ou atrición lingüística, polos que a lingua minorizada «gradually loses vocabulary,
grammatical constructions, alternations, irregular forms, marked segment-types» (Trask 2000, s.v. linguistic obsolescence) etc. En efecto, o contacto produce unha simplificación da gramática, e diso darei
mostras. Con todo, por outra parte, a penetración de castelanismos morfosintácticos está tamén a supor
unha complicación da gramática, como penso demostrar: exemplos son a complicación de padróns
morfolóxicos verbais ou a aparición de formas verbais compostas con haber.
Referencias
TRASK, R. L. (2000): A dictionary of Historical and Comparative Linguistics. Edinburgh: Edinburgh
University Press.
Variación e contacto lingüístico no vocalismo galego
Alba Aguete Cajiao (Instituto da Lingua Galega,
Universidade de Santiago de Compostela)
Nas últimas décadas asistimos á aparición de novos grupos de falantes de galego en ambientes urbanos
(Ramallo 2013, González 2008), que se caracterizan por ter un modelo lingüístico que polo xeral é percibido como pouco auténtico, distante dos patróns da lingua histórica galega (Regueira 2012).
Por outra banda, os últimos traballos centrados no estudo do vocalismo galego falan da existencia
dunha certa inestabilidade no vocalismo galego tradicional, que polo xeral se atribúe á non distinción de
vogais medias abertas e medias pechadas por estes novos falantes e ó contacto co español (Regueira 2012).
Pese ó crecente número de traballos que abordan a cuestión do contacto de linguas no territorio
galego, carecemos de datos empíricos que mostren as diferenzas de produción entre os diferentes grupos
de falantes.
Estes feitos leváronnos a preguntarnos se esa inestabilidade da que falan algúns autores é atribuíble
unicamente a realizacións características dos novos falantes de galego, de orixe fundamentalmente urbana, que non conservarían a oposición entre vogais medias abertas e pechadas, ou se, pola contra,
podemos observar que a devandita inestabilidade tamén aparece en falantes nativos de galego, fundamentalmente de procedencia non urbana.
Trataremos de achegarnos a estas cuestións analizando a produción das vogais de estudantes universitarios galegos pertencentes a diferentes perfís lingüísticos, tanto galegofalantes como castelanfalantes,
e con diferentes características sociais. Este traballo permitiranos realizar unha primeira aproximación
á influencia que ten o contacto de linguas en Galicia nos procesos de cambio lingüístico en galego, e trataremos de delimitar os principais factores sociolingüísticos que interveñen e contribúen ó asentamento
deses cambios.
Referencias
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palabra medía. Homenaxe a Antón Santamarina. Santiago: USC, pp. 363-374.
RAMALLO, F. (2013) Neofalantismo. In GUGENBERGER, E. et al. (eds). Contacto de linguas, hibridade, cambio: contextos, procesos e consecuencias. Santiago: CCG & ILG, pp. 247-258.
REGUEIRA. X. L. (2008) Cambios fonéticos e fonolóxicos no galego contemporáneo. ELG 1: 147-167.
REGUEIRA, X. L. (2012) Autenticidade e calidade da lingua: purismo e planificación lingüística no
galego actual. ELG 4: 187-201.
O’ROURKE, B. & RAMALLO, F. (2013) A miña variedade é defectuosa: a lexitimidade social das neofalas. ELG 5: 89-103.
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Tesouro do léxico patrimonial galego e português: a
vertente maranhense para registro e preservação das
variedades regionais
Conceição de Maria de Araujo Ramos (Universidade Federal
do Maranhão), coord.
O Projeto Tesouro do Léxico Patrimonial Galego e Português foi proposto como uma
das ações que congrega centros de pesquisa e pesquisadores galegos, portugueses e
brasileiros, com o objetivo de contribuir para um conhecimento melhor e mais amplo
do espaço histórico-linguístico galego-português. O Atlas Linguístico do MaranhãoALiMA vem respondendo a esse desiderato, por meio da inclusão no banco de dados
informatizado do Projeto Tesouro, do acervo maranhense de estudos lexicais de natureza dialetológica resultante de dados coletados in loco e organizados em glossários
das diferentes vertentes do projeto ALiMA. Os glossários têm como foco atividades humanas, laborais e culturais, relevantes para o Estado, quer seja do ponto de vista cultural
e histórico, quer seja do ponto de vista socioeconômico. Com o objetivo de apresentar
o ALiMA para o projeto Tesouro, selecionamos, para esta sessão coordenada, trabalhos
de pesquisadores do ALiMA que integram o banco de dados do Tesouro. No primeiro
trabalho, intitulado O glossário da festa do divino espírito santo em Alcântara e São
Luís: contribuição do Atlas linguístico do Maranhão para o Projeto Tesouro do Léxico
Patrimonial Galego e Português, os pesquisadores Conceição Ramos, José Mendes e
Fátima Rocha examinam uma amostra de onze termos da terminologia do universo da
Festa do Divino Espírito Santo no Maranhão, extraída de A Festa do Divino Espírito
Santo no Maranhão: uma proposta de glossário (ROCHA, 2008), com foco em aspectos
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Comunicações coordenadas / Comunicacións coordinadas
como a originalidade etimológica, a polissemia e a decorrente presença em campos conceituais diferentes ou a presença em festas de outras localidades, com valores semânticos
idênticos ou diferentes. No segundo trabalho, A variedade lexical do reggae maranhense
na constituição do patrimônio galego-português, também na área da socioterminologia,
Georgiana Santos analisa um corpus de língua falada, extraído do glossário socioterminológico do reggae ludovicense, considerando os mesmos critérios adotados por Rocha
(2008). No terceiro trabalho, As metáforas conceituais nas denominações de jogos e
brincadeiras do universo infantil no Maranhão, Theciana Silveira, Flávia Serra e Luís
Henrique Serra, com base na noção de metáfora conceitual, examinam o processo de
metaforização na variação denominativa do universo infantil no Maranhão.
O glossário da Festa do Divino Espírito Santo em Alcântara e São Luís: contribuição do Atlas Linguístico do Maranhão para o Projeto Tesouro
do Léxico Patrimonial Galego e Português
Conceição de Maria de Araujo Ramos (Universidade Federal do Maranhão)
José de Ribamar Mendes Bezerra (Universidade Federal do Maranhão)
Maria de Fátima Sopas Rocha (Universidade Federal do Maranhão)
Este estudo dá continuidade ao trabalho de exame da contribuição dos atlas linguísticos, em especial do
Atlas Linguístico do Maranhão (ALiMA), para a composição do corpus do Projeto Tesouro do Léxico
Patrimonial Galego e Português. No estudo Os glossários do ALiMA: uma contribuição do Maranhão
para o Projeto Tesouro do Léxico Patrimonial Galego e Português (RAMOS; BEZERRA, 2014), examinou-se uma amostra de termos referentes à cultura do arroz, no Maranhão, extraída do trabalho
Do campo à mesa: nem sempre o arroz é doce (ROCHA, 2005). No trabalho que ora se propõe sobre
mais uma das obras maranhenses que foi incorporada ao inventário de fontes do léxico dialetal do
Projeto Tesouro, o foco é a terminologia do universo da Festa do Divino Espírito Santo no Maranhão.
A dissertação de mestrado A Festa do Divino Espírito Santo no Maranhão: uma proposta de glossário
(ROCHA, 2008) apresenta 159 termos, distribuídos em cinco campos conceituais: ciclo da festa, personagens, símbolos e insígnias, cânticos e outros. Para este trabalho foram selecionados onze termos, com
suas variantes ou derivados: Alfenim, Alvorada, Doce de espécie, Ciganagem, Escoteiro, Folia, Império,
Mastro, Passarinho, Pelouro, Vicente. Para a seleção dos termos foram levados em consideração e analisados aspectos como a originalidade etimológica, a polissemia e a decorrente presença em campos
conceituais diferentes, a presença em festas de outras localidades, com valores semânticos idênticos ou
diferentes, entre outros. Espera-se contribuir, desta forma, para o conhecimento e registro dos falares
maranhenses e, paralelamente, para os estudos que, comparando as variantes portuguesa e brasileira da
língua portuguesa, atestam sua relação de diversidade e unidade.
A variedade lexical do reggae maranhense na constituição do patrimônio
galego-português
Georgiana Márcia Oliveira Santos (Secretaria de Estado da Educação do Maranhão)
O presente trabalho – recorte da dissertação de Mestrado em Linguística/UFC, intitulada A terminologia do reggae ludovicense: uma abordagem socioterminológica (SANTOS, 2009) – mais uma das obras
maranhenses produzidas por pesquisadores do Atlas Linguístico do Maranhão e incorporada ao in- 114 -
Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
ventário de fontes do léxico dialetal do Projeto Tesouro, descreve e analisa, sob uma perspectiva socioterminológica, o léxico do reggae enquanto gênero musical, movimento artístico-cultural e atividade
socioeconômica maranhense. Por registrar as especificidades do léxico de um grupo com a importância
sociocultural que o reggae representa para o Maranhão e por ter resultado na elaboração de um glossário
socioterminológico do reggae ludovicense, com vistas a contribuir para a visibilidade, valorização e preservação dessa variedade regional maranhense, este trabalho está entre as obras do acervo maranhense
de estudos lexicais de natureza dialetológica que integram o corpus do Tesouro, projeto realizado em
regime de colaboração entre a Universidade de Santiago de Compostela e universidades brasileiras,
dentre as quais a Universidade Federal do Maranhão. Na dissertação, analisamos um corpus de língua
falada, constituído de 22 (vinte e duas) entrevistas realizadas com pessoas pertencentes a segmentos que
compõem a estrutura do reggae, atualmente, na capital maranhense. O glossário socioterminológico
do reggae ludovicense é composto por 115 unidades terminológicas distribuídas nos seguintes campos
conceituais: música, tratamento, equipamento, processo e/ou ação, dança vestuário, penteado, espaço,
evento, alucinógeno. Para este trabalho, foram selecionados dez termos, com suas variantes. Adotou-se
como critérios para a seleção dos termos, a originalidade semântica, a polissemia e a presença em campos conceituais diferentes, observando-se, ainda, valores semânticos idênticos ou diferentes em outros
contextos culturais. Dessa forma, este estudo visa contribuir tanto para a ampliação da base informatizada do Tesouro quanto para uma visibilidade de maior alcance dessa variedade maranhense, o que poderá desencadear, entre outros, estudos valiosos feitos a partir da comparação lexical entre diversas áreas.
As metáforas conceituais nas denominações de jogos e brincadeiras
do universo infantil no Maranhão
Theciana Silva Silveira (Universidade Federal do Maranhão)
Flávia Pereira Serra (Universidade Federal do Maranhão)
Luís Henrique Serra (Universidade Federal do Maranhão)
Os estudos em Linguística Cognitiva têm mostrado que a metáfora, mais do que um recurso de embelezamento do discurso ou elemento desencadeador de sentidos no discurso literário, é um recurso
cognitivo com o qual o homem concebe a realidade e age no mundo. Ainda segundo esses estudos, a
metáfora pode ser vista não apenas em textos poéticos e de especialistas em retórica, mas também na
fala cotidiana, em expressões cristalizadas, gestos e outras formas de expressão. De acordo com Kövecses, em seu trabalho Metaphor: a pratical introduction (2010), a metáfora é usada de forma espontânea
no dia a dia por pessoas comuns, e não só por aquelas com talentos especiais: a metáfora, longe de ser
supérflua ou agradável ornamento linguístico, é um importante recurso cognitivo. Desse modo, a metáfora é um recurso utilizado nos processos regulares de comunicação. O léxico, nesse contexto, é um
importante modo de se observar como a metáfora está presente no pensamento e no comportamento
humano: é por meio das denominações (ou expressões metafóricas) que se pode observar esse recurso
cognitivo. Partindo desses pressupostos, este estudo é uma investigação das denominações das brincadeiras infantis no Maranhão. Presume-se que as pessoas desse estado, ao denominarem as brincadeiras
infantis de sua localidade, utilizam-se desse recurso linguístico-cognitivo. Nesse sentido, objetiva-se
também saber quais as metáforas mais recorrentes nesse universo. A amostra deste estudo foi extraída
do corpus do Projeto Atlas Linguístico do Maranhão, concernentes ao universo das brincadeiras infantis. Os dados mostram que o falante da região faz um uso significativo do processo de metaforização ao
denominar muitas brincadeiras, concebendo os brinquedos como animais (papagaio, jamanta, curica,
bode, coruja, periquito), como meio de transporte (avião), sendo alguns deles flexionados em grau (macacão, ratinho). Com o estudo, foi possível perceber que a metáfora é um recurso muito recorrente no
universo das brincadeiras infantis, no Maranhão. Os resultados corroboram os estudos da metáfora no
pensamento e na linguagem.
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Estudos sincrônicos e diacrônicos comparados
Manuele Masini (Instituto de Estudos de Literatura Tradicional,
Universidade Nova de Lisboa), coord.
A nossa sessão irá começar por um estudo de linguística história de Bruno Maroneze especialmente centrado na formação do vocabulário médico nas línguas europeias e no português a partir do latim dos séculos XVII e XVIII e da obra De Motu
Cordis, publicada em 1628, e marcante pelo desenvolvimento da terminologia médica por vir. Passaremos logo, com as comunicações de Valéria Gil Condé e Manuele
Masini, a uma análise do uso criativo do património lexical histórico do português
brasileiro, marcado pela matriz do galego-português arcáico, num escritor da importância de Guimarães Rosa, e à mesma análise em relação à obra do galego Eduardo Blanco-Amor, relacionando esse uso também a sua própria teroia linguística.
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Comunicações coordenadas / Comunicacións coordinadas
Um estudo da formação do vocabulário da Medicina em latim e português
Bruno Maroneze (Universidade Federal da Grande Dourados)
Este trabalho tem por objetivo estudar a formação do vocabulário da Medicina no latim científico dos
séculos XVII-XVIII e sua difusão nas línguas europeias modernas, em especial o português. Para tanto,
foi escolhido como recorte inicial a obra de William Harvey intitulada «Exercitatio anatomica de motu
cordis et sanguinis in animalibus» (Exercício anatômico sobre o movimento do coração e do sangue nos
animais), publicada em 1628 e conhecida pelo título reduzido «De motu cordis». Trata-se de um marco
no desenvolvimento da Medicina moderna e, por essa razão, possibilita a observação da terminologia
médica em uso na época. Verificaram-se os termos latinos que já eram empregados na Antiguidade e
também os termos latinos criados posteriormente (os «neologismos»). Para essa verificação, adotou-se o
«Oxford Latin Dictionary», de 1968, por ser um dos mais completos dicionários da língua latina e incluir
apenas vocábulos atestados até o século IV d.C., embora se saiba que possa haver termos da Antiguidade
não registrados nessa obra. Assim, observou-se que termos como arteria, vena cava e ventriculus, entre
outros, já estão presentes no latim clássico, enquanto aneurisma, autopsia, diastole e systole, entre outros, são de criação pós-clássica. Para observar a difusão desses termos na língua portuguesa, buscou-se
a sua datação e informações etimológicas no Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Posteriormente,
este estudo será ampliado com a análise de outras obras do mesmo período. Espera-se com este estudo
contribuir para a ampliação e correção de informações histórico-etimológicas nos dicionários de língua
portuguesa, bem como para a história da terminologia médica em geral.
Conexões culturais e linguísticas em habitat rural entre dois espaços
de matriz galego-portuguesa
Valéria Gil Condé (Universidade de São Paulo)
Ainda na atualidade, as similitudes linguísticas entre o português brasileiro e o galego, duas culturas de
matriz galego-portuguesa, podem fornecer um retrato de estágios pretéritos de um passado linguístico
comum, formado por histórias que se assemelham e se entrecruzam. Seguindo os passos de Paz-Andrade na obra ‘A galecidade na obra de Guimarães Rosa’ (1978), pretendemos identificar evidências lexicais
na obra de Guimarães Rosa às quais encontram ressonância na língua galega moderna. A interseção
desse encontro se deve à origem minhota, um legado lexical encontrado no português do Brasil e que
nesse contexto, repercute no falar de Minas Gerais. Além disso, sabemos que G. Rosa, provém de uma
região de forte imigração minhota, o que nos confere alguma segurança para explorar o assunto. A proposta do presente trabalho é a de analisar esta herança minhota, passando em revista o que historiadores
disseram a respeito desta herança cultural e que se reflete na obra de G. Rosa.
A teoria linguística en Eduardo Blanco Amor
Manuele Masini (Instituto de Estudos de Literatura Tradicional,
Universidade Nova de Lisboa)
Conhecido sobretudo como narrador e poeta, Eduardo Blanco Amor produziu no interior da sua obra
uma profunda teoria linguística que foi funcional à sua poética e estética e à produção da sua narrativa,
onde a experimentação e invenção da linguagem, tendo sempre por base um profundo conhecimento
da realidade socio-linguística do galego em todas as suas projecções gergais e dialectais (dentro e fora da
Galiza), desenvolve um papel fundamental. A relação entre a teoria política, a política cultural e os estudos de linguística histórica, por um lado, e a (re)descoberta do galego nas comunidades ultramarinas,
a sua comparação e uso contrastivo em relação ao castelhano (uso criativo da diglossia), e a valorização
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
expressiva do idioma em função da sua obra, por outro lado, são os eixos fundamentais da reflexão de
Blanco Amor, numa perspectiva partilhada com alguns companheiros de geração, e com uma relação
evidente ao então pioneiro, para além de todas as limitações, «Seminário de Estudos Galegos». Na nossa comunicação queremos recuperar os textos em que essa reflexão melhor se define (considerando
também a escrita «marginal» dos prefácios à sua obra), comparando-a com a teoria linguística que se
espalhava nessa altura na Galiza, no resto de Espanha e em Portugal, e tratar de evidenciar a vertente
poética e a projecção dessa mesma teoria na narrativa e no idiolecto do próprio Eduardo Blanco Amor.
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Abordagem construcional da gramática
Mariangela Rios de Oliveira (Universidade Federal Fluminense), coord.
Com base nos pressupostos teóricos da Linguística Centrada no Uso, nos termos de
Bybee (2010), Traugott e Trousdale (2013), Diewald (2013), entre outros, esta sessão se
dedica à descrição e à análise de mudanças construcionais que têm impactado a gramática do português, em sua trajetória histórica. Tais mudanças, ocorridas fundamentalmente no nível sintático e morfológico, deram e têm dado origem a novos pareamentos
de função e forma, ou seja, a novas configurações categoriais ou a novos membros de
categorias já existentes, nesses níveis de organização da língua. Essas mudanças são
investigadas aqui a partir do entendimento de que a língua é uma rede de construções
(Goldberg, 2006; Croft e Cruse, 2004). De acordo com a referida concepção, os usos
linguísticos resultam da regularização e convencionalização de padrões que se forjam
e se fixam no meio social, por intermédio de pressões atinentes à cognição, ao contexto
sócio-histórico e à própria arquitetura da gramática. Nessa linha, as construções linguísticas são concebidas como esquemas cognitivos do mesmo tipo que encontramos
em outras habilidades não linguísticas, ou seja, como procedimentos relativamente automatizados que se utilizam para realizar seus objetivos comunicativamente. O falante
adquire esse conhecimento à medida que aprende a usar a sua língua. Assim exposto,
a partir de levantamento empírico e de metodologia eminentemente qualitativa, esta
sessão tem como tema a abordagem construcional da gramática a partir dos seguintes trabalhos e seus respectivos autores: Pronomes locativos e mudança construcional
– uma abordagem histórica, de Mariangela Rios de Oliveira (UFF/CNPq); Formação
da construção [Xque]CONEC no português, de Maria Maura Cezario (UFRJ/CNPq);
Motivações semântico-pragmáticas para a ordenação dos argumentos na construção
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Comunicações coordenadas / Comunicacións coordinadas
ditransitiva, de Maria Angélica Furtado da Cunha (UFRN/CNPq); Análise diacrônica
da construção VS no português, de Priscilla Mouta Marques (UFRJ). Essas pesquisas
são desenvolvidas no Grupo de Estudos Discurso & Gramática, em suas três sedes no
Brasil, e estão alinhadas à tendência mais recente e inovadora da investigação de cunho
funcionalista internacional.
Pronomes locativos e mudança construcional – uma abordagem histórica
Mariangela Rios de Oliveira (Universidade Federal Fluminense)
Fundamentados na perspectiva da abordagem construcional da gramática, conforme exposto em Traugott e Trousdale (2013), investigamos mudanças construcionais que envolveram pronomes locativos e
que afetaram a estrutura e o sentido das formas linguísticas na trajetória do português. Tais mudanças,
que derivaram em construcionalização, foram responsáveis pela inclusão de novos itens em categorias morfossintáticas da língua, como membros marginais ou não-prototípicos. Para esta apresentação,
trazemos resultados de duas das pesquisas desenvolvidas no contexto do Grupo de Estudos Discurso
& Gramática – UFF, que se encontram publicadas em recentes teses de doutoramento. Em ambas, as
mudanças construcionais que resultaram em construcionalização gramatical foram captadas em contextos específicos do português, nos termos de Diewald (2013), com base no continuum atípico > crítico > isolado, ao longo dos séculos. Assim, de acordo com Arena (2015), o conector daí que resulta
da mudança construcional (daí) V (que) > V (daí) (que) > (daí que), na qual arranjos de referência
anafórica textual são o ponto de partida para se chegar a um novo membro da gramática, pertencente
à categoria dos conectores. Na segunda pesquisa, Teixeira (2015) investiga os contextos que derivaram
a construção marcadora discursiva formada por verbo e locativo (VLocMD), como em sei lá, vamos lá,
vem cá, escuta aqui, entre outras; nos referidos contextos, verbo e locativo passam a crescentes níveis de
integração semântico-sintática, com maior esquematicidade e produtividade e, de outra parte, menor
composicionalidade.
Motivações semântico-pragmáticas para a ordenação dos argumentos na
construção ditransitiva
Maria Angélica Furtado da Cunha (Universidade Federal do Rio Grande do Norte)
Ao examinar as construções de estrutura argumental do inglês, Goldberg (1995) formula o Princípio
da Não Sinonímia de Formas Gramaticais, o qual estabelece que se duas construções são sintaticamente
distintas, tais construções devem ser também distintas semântica ou pragmaticamente. A linguista esclarece que os aspectos pragmáticos das construções envolvem peculiaridades relativas à estrutura da
informação, como tópico e foco, e fatores estilísticos, como registro. Este trabalho tem como objeto de
estudo a construção ditransitiva e os padrões que a instanciam no português do Brasil. O objetivo é demonstrar que, embora essa construção possa ser instanciada por dois padrões sintáticos que expressam
o mesmo conteúdo, eles diferem em termos pragmáticos. Nesse sentido, esses padrões constituem diferentes possibilidades de instanciação da mesma construção, e não duas construções distintas. Há, então,
duas estruturas diferentes codificando o mesmo domínio funcional, a saber, a expressão do significado
de um evento de transferência. A construção ditransitiva é definida como uma construção que consiste
de um verbo que denota a transferência de uma entidade (T) de um agente (A) para um recipiente (R).
Essa definição leva em conta o significado da construção, sendo irrelevante a manifestação formal de
seus argumentos. A análise segue os pressupostos teórico-metodológicos da Linguística Funcional Centrada no Uso (FURTADO DA CUNHA, BISPO e SILVA, 2013) e da Gramática de Construções (GOL- 122 -
Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
DBERG, 1995; CROFT, 2001; TRAUGOTT e TROUSDALE, 2013). Em termos de metodologia, a análise conjuga elementos quantitativos e qualitativos na investigação da construção ditransitiva. A fonte
dos dados é o Corpus Discurso & Gramática – a língua falada e escrita na cidade do Natal (FURTADO
DA CUNHA, 1998), do Rio de Janeiro (VOTRE e OLIVEIRA, 1998a) e de Niterói (VOTRE e OLIVEIRA, 1998b). Foram examinados dois tipos textuais, a saber, narrativas e relatos de procedimento, nas
modalidades falada e escrita, produzidos por estudantes do terceiro ano do ensino médio e estudantes
universitários do último semestre.
Formação da construção [x que]conec no português
Maria Maura da Conceição Cezario (Universidade Federal do Rio de Janeiro)
Apresentarei partes dos resultados da minha pesquisa sobre formação da construção com valor conectivo X que, como sempre que, toda vez que, ainda que, dentre outras, na história do português. Utilizo
os pressupostos teóricos e metodológicos da Linguística Centrada no Uso ou Linguística Funcionalista
Centrada no Uso, que é um corrente que concentra linguistas provenientes principalmente de duas
áreas da linguística – a linguística funcionalista norte-americana e a linguística cognitivista – mas que,
embora tendo certas diferenças teórico-metodológicas, concordam com o pressuposto de que a língua
serve aos fins comunicativos dos falantes nas experiências sócio-comunicativas. Os pesquisadores de
modelos centrados no uso compartilham o pressuposto de que a sintaxe não é autônoma e que diferentes domínios, como sintaxe, semântica e pragmática, são inter-relacionados e interdependentes.
Mais recentemente – sobretudo a partir das publicações dos trabalhos de Traugott (2010), Traugott
e Trousdale (2013), com a contribuição da linguística cognitiva, sobretudo o modelo da Gramática de
construções (cf. Golberg, 1995) – os estudos têm se voltado para a construcionalização (nome dado
por Traugott, 2008; Traugott e Trousdale, inédito) e as mudanças construcionais. A construcionalização
refere-se a um conjunto de processos responsáveis pela criação de uma construção, enquanto as mudanças construcionais referem-se às mudanças na forma e no conteúdo que podem ocorrer com uma
construção.
Os objetivos principais da pesquisa acerca da formação de conectivos [X que] são: verificar até que
ponto podemos dizer que o estudo é de construcionalização (formação de um nova construção – pareamento forma-função) ou se se trata de uma ampliação das microconstruções com a forma X que, já que
no latim já havia três microconstruções (post(a)quam, antequam e priusquam); verificar as mudanças
morfossintáticas, semânticas e pragmático-discursivas que ocorreram na história do português com a
passagem de construções com papel de modificadores de verbos para construções com valor de conectivo de orações; verificar a relação entre as microconstruções (ainda que, já que, sempre que, etc.) na
rede construcional; e verificar o aumento de elementos no paradigma dos conectivos do português ao
longo dos séculos; Os textos que servem como corpus são obtidos de diferentes fontes sobretudo o que
há disponibilizado em www.ime.usp.br/~tycho e www.letras.ufrj.br/phpb-rj/ .
Análise diacrônica da construção VS no português
Priscilla Mouta Marques (Universidade Federal do Rio de Janeiro)
Com o aporte teórico da Linguística Centrada no Uso, este trabalho tem como objetivo analisar diacronicamente a ordenação do sujeito em relação ao verbo no português, apontando quais fatores influenciam o posicionamento de tal termo na sentença em cada um dos séculos sob investigação – do XIV
ao XX. A hipótese principal que permeou este estudo foi a de que o uso do sujeito em posição pré ou
pós-verbal é motivado primordialmente por aspectos discursivo-pragmáticos, pela negociação ocorrida
a todo o momento entre falante/escritor e ouvinte/leitor no ato comunicativo. Os resultados de nossa
análise corroboram esta afirmativa, uma vez que apontam para um caráter essencialmente funcional da
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Comunicações coordenadas / Comunicacións coordinadas
ordenação do sujeito no português em todos os séculos. Inclusive em casos em que aparentemente se
verificava influência de um fator estrutural, observamos que atuavam aspectos discursivo-pragmáticos.
Nos séculos XVII e XIX especificamente, embora fatores gramaticais tenham sido observados como os
explanatoriamente mais fortes, subjazia ao fenômeno da ordenação a influência do estatuto informacional em um segundo momento. A ocorrência de sujeitos novos antepostos ao verbo está relacionada ao
grau de prototipicidade destes referentes e ao nível de gramaticalização da cláusula em que esses itens
estão inseridos. No caso de sujeitos evocados em configurações pós-verbais, verificamos que, em geral,
esses sujeitos caracterizam-se pelo fato de deixarem de ser tópico e passarem a ser o foco da oração. Ao
analisarmos o papel da frequência do item verbal da construção VS especificamente, análise esta feita
com base, sobretudo, em Bybee (2010) e Nöel (2001), observamos que construções VS com verbos mais
frequentes tenderam a permanecer por mais tempo e a se configurar como os contextos restritos em que
os sujeitos pospostos ocorrem no português atual.
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Desenvolvimento do projeto Tesouro
do Léxico Patrimonial Galego Português no Brasil
Vanderci de Andrade Aguilera (Universidade Estadual de Londrina),
coord.
Hélen Cristina da Silva (Universidade Estadual de Londrina), coord.
O léxico tradicional galego e português que compõe o nosso patrimônio imaterial corre o risco de cair no esquecimento como consequência do abandono das formas de
vida do mundo tradicional. Ao longo do século XX, na Galiza, em Portugal e no Brasil,
foram realizados trabalhos dialetais pouco difundidos. Diante disso, o projeto Tesouro
do Léxico Patrimonial Galego Português (TLPGP) apresenta-se como uma rica fonte
para o estudo da língua e da cultura nos três territórios, bem como para a lexicografia e lexicologia românicas. Objetivando discutir questões relativas ao trabalho de
constituição do acervo do Tesouro, reunimos, nesta sessão, reflexões de pesquisadores
brasileiros do TLPGP sobre questões relativas à metodologia aplicada; às dificuldades
encontradas; às utilidades e à importância do projeto para a comunidade científica. As
pesquisadoras Mariana Spagnolo Martins e Fabiane Altino, da Universidade Estadual
de Londrina, com a proposta O projeto Tesouro do Léxico Patrimonial no Paraná BR: estágio atual dos trabalhos apresentam o andamento das 19 obras que integram
o inventário de estudos dialetais e lexicográficos do sul do Brasil. Vanderci Aguilera
e Hélen da Silva, dessa instituição, discutem, em Projeto Tesouro Patrimonial Galego
-Português: dificuldades metodológicas e propostas de solução, questões referentes ao
tratamento dos itens lexicais da obra de Muricy (1975), apontando algumas soluções
práticas para auxiliar o trabalho das equipes. Com o mesmo objetivo, Conceição Ra- 125 -
Comunicações coordenadas / Comunicacións coordinadas
mos, José Mendes Bezerra e Maria de Fátima Rocha, da Universidade Federal do Maranhão, com o Projeto Tesouro do Léxico Patrimonial Galego e Português – a inclusão da
obra A linguagem popular do Maranhão (VIEIRA FILHO, 1979): desafios e soluções,
consideram que a transferência de dados dessa obra para a tabela do TLPGP temse constituído em desafios para os pesquisadores maranhenses, devido a dificuldades
distintas. Dessa forma, pretendem discutir, nesse fórum, possíveis soluções para concluir a etapa de processamento da obra e oferecer uma contribuição a outros pesquisadores do Tesouro. Finalmente, Socorro Aragão, Maria Elias Soares e Mirna Gurgel,
das Universidades Federal e Estadual do Ceará, na comunicação A importância dos
atlas linguísticos para a constituição do Tesouro do Léxico Galego-português, tratam
da relevância do Atlas Linguístico do Brasil para o TLPGP no que tange ao resgate
e à preservação das variantes dialetais dos falares regionais do português brasileiro.
Projeto Tesouro do Léxico Patrimonial Galego-Português:
dificuldades metodológicas e propostas de solução
Vanderci de Andrade Aguilera (Universidade Estadual de Londrina)
Hélen Cristina da Silva (Universidade Estadual de Londrina)
A equipe paranaense, tendo enviado nove das 19 obras dialetológicas elaboradas com dados coletados
no Estado do Paraná, para inserção no site do projeto Tesouro do Léxico Patrimonial Galego e Português (http://ilg.usc.es/Tesouro), elencou uma série de dificuldades metodológicas no que se refere ao
tratamento dos itens lexicais a serem incluídos como entradas no projeto Dentre as obras finalizadas,
trazemos para discussão a Viagem ao país dos jesuítas (MURICY, 1975), relato feito pelo General José
Cândido da Silva Muricy de uma viagem realizada em fins do século XIX, cheia de peripécias e acidentes, verdadeira odisséia, à longínqua região Oéste do Paraná, que denominei «País dos Jesuítas», e onde
existiu a lendária «República Teocrática do Guaíra», ali fundada pelos incríveis esforços dos Padres da
poderosa Companhia de Jesús (MURICY, 1975, p. 5). Trata-se de um relato, posteriormente, compilado
e publicado por seu filho, José Cândido Andrade Muricy, do qual consta a história da viagem e, ao final
da obra, um capítulo de Botanografia e um Vocabulário, composto por 278 entradas. Do Vocabulário
foram extraídos os dados para o TLPGP. No decorrer desse trabalho, surgiram dificuldades de diversa
natureza, tais como dúvidas sobre: a lematização; o significado; a categoria gramatical, a classificação
semântica, dentre outras. Este trabalho tem, pois, como objetivo apresentar algumas dessas dificuldades
e, consequentemente, possíveis soluções que auxiliem as demais equipes brasileiras no que tange ao
tratamento lexicográfico das obras que constituem o inventário do projeto.
Projeto Tesouro do léxico patrimonial galego e português – a inclusão da
obra A linguagem popular do Maranhão: desafios e soluções
Conceição de Maria de Araujo Ramos (Universidade Federal do Maranhão)
José de Ribamar Mendes Bezerra (Universidade Federal do Maranhão)
Maria de Fátima Sopas Rocha (Universidade Federal do Maranhão)
A linguagem popular do Maranhão, com mais de mil entradas em sua terceira edição (1979), compõe
o conjunto de estudos dos primeiros registros sistemáticos da língua falada no Maranhão. Embora falte
à obra a contribuição da linguística, da filologia, da etimologia e da lexicografia, este trabalho de Do- 126 -
Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
mingos Vieira Filho representa um marco no âmbito dos estudos que, frutos de um esforço pessoal, de
trabalho obstinado, paciente e rigoroso, buscaram, no Maranhão, salvar do esquecimento parte de nosso
rico patrimônio linguístico-cultural. É uma obra que explora a relação entre a língua falada, ouvida da
boco do povo, e a língua escrita, que registra o uso e fornece pistas sobre o tempo em que se deu esse uso.
Dada a relevância desta obra para o trabalho de pesquisa e consulta de quantos tenham interesse por conhecer a língua falada no Estado, a equipe do Projeto Tesouro – Maranhão decidiu incluí-la no segundo
conjunto de obras do acervo maranhense para o Projeto. O processamento da obra, isto é, a transferência de seus dados para a tabela de dados do Projeto Tesouro tem-se constituído um grande desafio para
a equipe de pesquisadores do Maranhão, tendo em vista, entre outros fatores: a natureza mista da fonte
de ilustração do glossário regionalista; a classificação semântica; a atribuição do código geográfico às
formas registradas; a lematização; a classe e a categoria ligadas ao lema. Assim, com este trabalho, fruto
do processamento da obra em questão, busca-se discutir, em um fórum mais amplo, possíveis soluções
que, por um lado, viabilizem concluir a etapa de processamento da obra, para sua consequente inserção
no corpus do Projeto, e, por outro lado, possam oferecer uma contribuição a outros grupos de pesquisadores em seu trabalho de preparação das obras para o Tesouro.
O projeto Tesouro do Léxico Patrimonial no Paraná - BR:
estágio atual dos trabalhos
Fabiane Cristina Altino (Universidade Estadual de Londrina)
Mariana Spagnolo (Universidade Estadual de Londrina)
O projeto Tesouro do Léxico Patrimonial Galego e Português, desenvolvido na Universidade Estadual
de Londrina, insere-se em um projeto internacional – Brasil, Portugal e Galícia e pretende catalogar pesquisas de caráter dialetológico, que culminaram em obras de várias naturezas, monografias, dissertações,
teses e publicações de livros, contribuindo para o conhecimento do acervo lexical da língua. Referências
nacionais e internacionais para as pesquisas nesta área do conhecimento, o acervo da equipe paranaense
engloba obras como Viagem ao país dos jesuítas (MURICY, 1975), o Léxico da Pesca em Guaraqueçaba
(MERCER, 1979), Vocabulário de Tibagi (TONIOLO, 1981), o Atlas Linguístico do Paraná (AGUILERA, 1994), O vocabulário da cultura do café (CASTRO, 2000), O léxico da cachaça em Morretes-PR:
resgate e memória (LAMBACH, 2002), o Atlas Linguístico do Paraná II (ALTINO, 2007), entre outros.
Ao todo, a equipe do Paraná selecionou 19 obras de cunho dialetológico, assim distribuídas: quatro
livros publicados entre os anos de 1975 e 2012; duas monografias de especialização; 11 dissertações e
duas teses. Até o presente momento, nove obras já estão disponíveis no site do projeto, possibilitando o
acesso, tanto de interessados da área quanto da comunidade em geral, aos registros dialetais importantes
para a história da língua portuguesa, sobretudo, nesse caso, para o dialeto paranaense. Projeto é uma
fonte para o estudo da difusão da língua e da cultura da Galega, Portuguesa e Brasileira. Do ponto de
vista lexicográfico, constitui em obra de vulto que viabilizará pesquisas diversas, uma vez que o projeto
possibilita a cartografia automática das variantes e dos lemas selecionados, oferecendo um grande acervo lexical aos interessados no assunto.
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Comunicações coordenadas / Comunicacións coordinadas
A importância dos atlas linguísticos para a constituição do Tesouro
do léxico galego-portugués
Maria do Socorro Silva de Aragão (Universidade Federal do Ceará)
Maria Elias Soares (Universidade Federal do Ceará)
Mirna Gurgel (Universidade Federal do Ceará)
Neste trabalho, discutiremos a importância do Atlas Linguístico do Brasil para o Projeto Tesouro do
Léxico Patrimonial Galego e Português no resgate e na preservação das variantes regionais da língua
portuguesa, especialmente quanto aos falares regionais do português brasileiro. No caso do português
do Brasil, de modo geral, dicionários da língua não registram a maior parte das variações linguísticas
que ocorrem nos falares regionais de todo o país. Por conseguinte, dificultam, muitas vezes, a comunicação e a integração linguística de nossos falantes. Considerando a relevância histórica, linguística e social
do Tesouro do Léxico Patrimonial Galego e Português, o dicionário linguístico em construção, e que
abrigará essas duas línguas, terá maior amplitude e complexidade, passando então a assumir um caráter
enciclopédico e de grande abrangência. No corpus já registrado do Tesouro do Léxico Patrimonial Galego e Português, encontram-se diversos exemplos extraídos de alguns Atlas Regionais do Brasil. Dentre
esses, merecem destaque o Atlas Linguístico da Paraíba (1984) e o Atlas Linguístico do Estado do Ceará
(2010). Para este trabalho, o corpus analisado faz parte do material do Atlas Linguístico do Brasil. Na
categorização do corpus, foram considerados dados de 72 informantes de nove capitais brasileiras do
Nordeste, sendo oito para cada localidade, apresentando as seguintes características: - Faixa etária: de 18
a 30 e de 45 a 60 anos; Gênero: Masculino e Feminino; Escolaridade: até a 8ª série do Ensino Fundamental e Ensino Superior; Origem: nascidos na localidade, de pais também nascidos na localidade. Os itens
lexicais selecionados foram os relacionados com Convívio e Comportamento Social, do Questionário
Semântico-Lexical do ALiB: pessoa sovina, marido enganado, prostituta e bêbado.
O item lexical Sovina, apresenta 33 variantes léxicas, com 179 ocorrências. O item lexical Marido
enganado, apresenta 30 variantes léxicas, com 155 ocorrências. O item lexical Prostituta, apresenta 37
variantes léxicas, com 220 ocorrências. O item lexical Bêbado, apresenta 31 variantes léxicas, com 170
ocorrências. Nossa hipótese é a de que o registro dessas formas no Tesouro do Léxico Galego-Português,
será importância no resgate e preservação dessas formas específicas do Português.
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Gramáticos, Lexicógrafos e Profissionais da Escrita:
testemunhos na história da língua portuguesa
Soélis Teixeira do Prado Mendes (Universidade Federal de Ouro Preto),
coord.
A pesquisa na área da linguística diacrônica tem sido realizada por meio de textos,
dando-se destaque para as fontes primárias, como é o caso dos manuscritos, considerados como representativos de um estágio da língua. As fontes secundárias, em geral, são
pouco acionadas como testemunhas, sejam como abonadoras de um uso linguístico,
sejam como críticas desse uso. Nessa sessão coordenada, nosso objetivo é apresentar
dados linguísticos que constituem a história da língua portuguesa e que têm como
testemunhos esses dois tipos de fonte. Para as do tipo primário, o Prof. Dr. Phablo
Roberto M. Fachin, da Universidade de São Paulo, discutirá a «Escrita setecentista em
diferentes perspectivas: notícia prática e carta administrativa» cujo objetivo é a apresentação do cotejo da edição semidiplomática de três testemunhos manuscritos setecentistas, procurando «demonstrar como os profissionais de escrita (...) testemunham
graficamente o português setecentista em diferentes perspectivas e espécies documentais.» Para as do tipo secundário, serão três comunicações: a Profa. Dra. Maria Antonieta A. Mendonça Cohen, da Universidade Federal de Minas Gerais, na comunicação
«João de Barros: sua língua e sua gramática» pretende «desvelar» as características da
língua portuguesa quinhentista presentes na obra do gramático, tais como o alçamento
da pretônica e-i: Minino, sintimos, difinçam»; o rotacismo do –l-, como em plurar,
com R, não plural com L; dentre outros aspectos. Ainda sobre essa mesma gramática,
a Profa. Dra. Soélis T. do Prado Mendes, da Universidade Federal de Ouro Preto, com
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Comunicações coordenadas / Comunicacións coordinadas
a comunicação «Das cousas que aquecem a construição: a sintaxe na obra de Barros»,
pretende discutir quais os casos latinos servem para instituir regras e de que maneira
isso é feito, já que Barros afirma que usará «os termos da Gramatica latina», mas quer
dela se afastar. Os trabalhos dessas duas autoras estão relacionados à proposta de uma
nova edição da gramática de João de Barros. Finalmente, e não menos importante, o
Prof. Dr. Eduardo Tadeu Roque Amaral, da Universidade Federal de Minas Gerais,
apresentará uma discussão sobre «Nomes gerais para humanos em dicionários de português e de espanhol do século XVIII ao século XXI», em que pretende «analisar o
tratamento lexicográfico dispensado a um conjunto de nomes gerais em dicionários
português e de espanhol dos séculos XVIII, XIX, XX e XXI.»
Escrita setecentista em diferentes perspectivas:
notícia prática e carta administrativa
Phablo Roberto Marchis Fachin (Universidade de São Paulo)
O objetivo desta comunicação é a apresentação do cotejo da edição semidiplomática de três testemunhos manuscritos setecentistas. Trata-se de estudo filológico que busca contextualizar a produção e
circulação de manuscritos no Brasil colonial na esfera administrativa, com o objetivo de contribuir
concretamente para os estudos sobre a História da Língua Portuguesa. Dois dos documentos estudados
referem-se a versões copiadas da Notícia Sexta Prática, datadas de Cuiabá, em 1.º de fevereiro de 1727,
escritas por punhos diferentes, mas atribuídas intelectualmente ao Governador e Capitão General da
Capitania de São Paulo, Rodrigo César de Menezes, e materialmente, na versão original, a Gervásio Leite
Rebelo, seu secretário. Localizam-se em códice eborense português, constante da Biblioteca Pública de
Évora. O códice CXVI 2-15 da Biblioteca Pública de Évora preserva oito documentos manuscritos do
século XVIII, sob a epígrafe de Notícias Práticas das viagens para as minas de Goiás e do Cuiabá. À medida que se lê cada um deles, a impressão antecipada sugerida pelo título de se tratar de oito documentos
originais e independentes se desfaz. De fato, o códice não contém apenas Notícias Práticas das viagens
para as minas de Goiás e do Cuiabá, embora as oito do Cuiabá em questão compareçam duas vezes, por
módulo de grafia e punhos diferentes. A notícia prática sexta é a relação oficial da expedição do Excelentíssimo Senhor Rodrigo Cezar de Menezes às minas de Cuiabá, descobertas no tempo do seu governo, e
durante ele estabelecidas. O terceiro documento é uma carta enviada a D. João V, com a mesma matéria
e atribuição de autoria da notícia prática sexta. Localiza-se no Arquivo Histórico Ultramarino, constante
do catálogo do Projeto Resgate Barão do Rio Branco. Com o cotejo, objetiva-se demonstrar como profissionais de escrita, no caso o secretário do governador e os copistas da notícias, testemunhavam graficamente o português setecentista em diferentes perspectivas e espécies documentais. Assim compor, com
os dados identificados e investigados, mais uma lacuna da nossa história linguística.
João de Barros: sua língua e sua gramática
Maria Antonieta Amarante de Mendonça Cohen
(Universidade Federal de Minas Gerais)
Em trabalhos anteriores vimos discutindo sobre o valor das gramáticas antigas do português para a
pesquisa diacrônica, que, dentro de uma metodologia tradicional, envolve necessariamente o conhecimento e descrição de estados sincrônicos pretéritos.Tal proposta considera que os gramáticos antigos
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
têm sido pouco explorados nos estudos diacrônicos e que seu testemunho seja um dado complementar
para validar hipóteses linguísticas.
A semente lançada pelo Simpósio Fernão de Oliveira em 2007, na Universidade Estadual de Campinas/SP, Brasil, e posterior publicação de Abaurre; Pfeiffer;Avelar (2009) incitaram-nos a essa busca e
após os estudos iniciais sobre Fernão de Oliveira e Duarte Nunes de Leão iniciamos um estudo sobre a
gramática de João de Barros.
A própria língua utilizada por João de Barros de início já demanda atenção e assim o objetivo dos
trabalhos duplica-se: não somente o que a gramática descreve é objeto de estudo, como também a
própria língua do autor.
O próprio texto da gramática nos revela características da língua portuguesa coetânea: o alçamento
da pretônica e-i leva-nos a buscar mais detalhes de uma regra que aparentemente é típica do português
brasileiro.Vejam-se: Minino, sintimos, intendim᷈eto; e surpreendentemente difinçam, para definição, o
rotacismo do –l-, como em plurar, com R, não plural com L ; em 13 v lê-se: «Da formaçam dos Nomes
em o plurar!» A cliticização das partículas átonas prepostase e pospostas é também típica do documento.
Vejam-se: doendose della (33v); acartinha, aprender aler, adiuseridade, decuio, todallas. Observe-se que
este aspecto não é abordado em nenhum dos comentários existentes sobre a Grammatica. Leite (2007),
por exemplo, debruça-se sobre os exemplos utilizados por João de barros, mas não observa sobre o uso
da língua do próprio autor.
Dentro desta perspectiva encaixamos a presente proposta que, como um todo, envolve também uma
nova edição da gramática com a finalidade da pesquisa linguística.
Das cousas que aquecem a construição: a sintaxe na obra de Barros
Soélis Teixeira do Prado Mendes ((Universidade Federal de Ouro Preto)
João de Barros define a gramática como o «vocabulo Grego: quer dizer, çiençia de leteras. Mais adiante
acrescenta: « E por q amais pequena destas pártes é aletera, dõde se todalas dições cõpõem:veiamos primeiro dellas (...). Nam segudo conve a órde da Gramatica especulativa, mas como requere a preçeitiva:
usando dos termos da Gramatica latina cuios filhos nós fomos, por não degenerar della.» (p-1) (grifos
nossos). O fragmento destacado, segundo Leite (2007), é «paradoxal» em Barros, pois, «se, de um lado,
[João de Barros], quer afirmar a importância do português como língua, de outro, quer vê-la o mais
possível «afiliada» à latina, para mostrar sua eficácia e perfeição.» (p.232). Buescu (1984), no entanto,
apresenta algumas considerações acerca dessa «filiação» do autor aos moldes latino. Segundo ela, nas
primeiras gramáticas da língua portuguesa, a «questão linguística» foi marcada, pelos binômios: latim/
vulgar e português/castelhano. O primeiro estabelecia uma relação de proximidade do vulgar com o
latim, embora essa aproximação não realçasse apenas as semelhanças, já que se pretendia, também,
explicitar as diferenças entre as duas línguas. O segundo caracterizou-se como confronto competitivo
entre Portugal e Espanha, rivalidade que já existia tanto na política interna, quanto na externa. Assim,
conforme Buescu (1984), enfatizar o binômio latim/vulgar poderia enfraquecer ou neutralizar o confronto português/castelhano. A autora também defende que a «A latinização de Barros, é pois, segundo parece, mais formal do que essencial, preocupando-se ele mais em demonstrar diferenças do que
em apontar identidades» (BUESCU, 1971, p.44). Nesta sessão coordenada, pretende-se discutir quais
casos latinos serviram para instituição de regras da construiçãm ou da sintaxe e de que maneira isso é
feito, já que, segundo ele, «por sermos filhos da Língua Latina, temos tanta conformidade com éla, que
convém usármos dos seus termos, prinçipalmente em cousas que tem seus próprios nomes, dos quáes
nam devemos fogir.» A questão que subjaz esta proposta de discussão é: se a língua portuguesa não é
uma língua de casos, como Barros utilizou-se dos casos latinos para explicar sua sintaxe? Acrescentese, ainda, que a discussão aqui colocada está relacionada à proposta de uma nova edição da gramática
de João de Barros.
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Comunicações coordenadas / Comunicacións coordinadas
Nomes gerais para humanos em dicionários de português e de espanhol
do século XVIII ao século XXI
Eduardo Tadeu Roque Amaral (Universidade Federal de Minas Gerais)
Este trabalho tem como objetivo analisar o tratamento lexicográfico dispensado a um conjunto de nomes gerais em dicionários de português e de espanhol dos séculos XVIII, XIX, XX e XXI. Consideram-se como nomes gerais certas unidades linguísticas cuja definição é composta apenas por traços
semânticos muito genéricos, tais como [+/- humano] ou [+/- contável] (MIHATSCH, 2006) e, desse
modo, são elementos dotados de uma intensão mínima e uma extensão máxima (AMARAL e RAMOS,
2014; KOCH e OESTERREICHER, 2007; MIHATSCH, 2015; SCHNEDECKER, 2015). Para este trabalho, foram selecionados os seguintes nomes do português e seus equivalentes em espanhol: «humano/
humano», «indivíduo/indivíduo», «pessoa/persona», «ser humano/ser humano»; e «sujeito/sujeto». As
obras analisadas incluem, no caso do português, dicionários publicados em Portugal e no Brasil, como
Bluteau (1728), Silva (1789), Pinto (1832), Houaiss (2009), entre outros. No caso do espanhol, serão
consideradas as diferentes versões do DRAE, de 1780 a 2001, bem como Moliner (2008). Com o fim de
verificar a frequência de uso desses nomes nos séculos anteriores, recorre-se também ao «Corpus do
Português» e ao «Corpus del Español» (DAVIES, 2002; DAVIES e FERREIRA, 2006). Entre os resultados obtidos, observa-se que, no séc. XIX, as acepções de pessoa / persona começam a excluir o traço
de [+intelectual], que estava presente nas obras do século anterior. Além disso, entre os séculos XVIII e
XIX, o verbete «indivíduo/individuo» começa receber uma definição que o aproxima a um nome geral
para humano, fato que pode ser associado ao aumento da frequência de seu uso nos corpora daquele
período. De modo geral, a análise deste trabalho possibilita verificar não somente as simetrias e assimetrias desse conjunto de nomes no português e no espanhol, mas permite também observar que, embora
os dicionários contemporâneos registrem uma relação sinonímica entre essas unidades linguísticas, as
diferenças de uso que apresentam podem ser compreendidas com base no estudo da evolução histórica
dos seus significados.
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Caminhos da geolinguística no Brasil
Jacyra Andrade Mota (Universidade Federal da Bahia), coord.
A sessão de comunicações coordenadas intitulada Caminhos da geolinguística no
Brasil agrega três comunicações de pesquisadores da Universidade Federal da Bahia
(UFBA) - Brasil, vinculados ao Projeto Atlas Linguístico do Brasil (Projeto ALiB) e tem
por objetivo apresentar resultados da pesquisa linguística e das atividades interdisciplinares realizadas no âmbito desse Projeto na UFBA. Integram a sessão trabalhos (i)
relacionados à análise de dados linguísticos e (ii) associados às atividades interdisciplinares realizadas entre as áreas de Letras e da Ciência da Computação, como, a seguir, se
descreve: (a) fatos fonéticos relacionados às vogais médias pretônicas, na região Norte
(Os «subfalares do Norte» e o traçado das vogais médias pretônicas, de autoria de Paulo Henrique de Souza Lopes e Jacyra Andrade Mota); (b) fatos lexicais circunscritos
ao campo semântico fenômenos atmosféricos (Outros caminhos de Santiago... os da
Bahia-Brasil, de autoria de Suzana Alice Marcelino Cardoso e Ana Regina Torres Ferreira Teles); (c) desenvolvimento de sistema web e sua aplicação à área da dialetologia e
geolinguística com uso direcionado para o Projeto Atlas Linguístico do Brasil (Desafios
do Desenvolvimento do ALiBWeb: um sistema web para o ALiB, de autoria de Daniela Barreiro Claro, Ana Regina Torres Ferreira Teles e Silvana Soares Costa Ribeiro).
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Comunicações coordenadas / Comunicacións coordinadas
Outros caminhos de Santiago...os da Bahia
Suzana Alice Marcelino Cardoso (Universidade Federal da Bahia)
Ana Regina Torres Ferreira Teles (Universidade Federal da Bahia)
O firmamento, o espaço sideral, tudo o que nos envolve com um sabor de impenetrável, infinito, exerce sobre o homem um grande fascínio e lhe povoa a mente sobretudo na busca de denominações que
respondam ao seu imaginário. Com esse entendimento, busca-se, nesta comunicação, examinar as denominações para via láctea ocorrentes no estado da Bahia (Brasil), partindo dos dados recolhidos na
pesquisa de campo efetuada para a elaboração do Atlas prévio dos falares baianos (ROSSI, 1963), desenvolvida em 50 localidades do estado da Bahia, no curso dos anos 1961-1962, reunindo dados coletados a 100 informantes. Recorre-se a informações que, embora não tenham gerado carta linguística no
referido atlas, como se esclarece nos comentários registrados no volume de Introdução (ROSSI, 1965),
integram os arquivos da pesquisa e apresentam as respostas à pergunta 2-CONSTELAÇÕES do Extrato
de Questionário do APFB, permitindo, assim, a sua utilização. São variantes como caminho de Santiago,
caminho de São Felipe, caminho de São José, caminho de São Pedro, caminho de Deus, entre outras, as
que se encontram documentadas. Com base nos princípios da Geolinguística Pluridimensional, buscase examinar o referencial do APFB numa perspectiva léxico-semântica. Ao percorrer os caminhos do
APFB, objetiva-se (i) identificar a variedade de nomes registrados nos dados do APFB e encontrar as
raízes da motivação para as denominações dadas à via láctea; (ii) confrontar esses dados com os que,
50 anos depois, se registram no corpus do ALiB; (iii) verificar o caráter areal de que podem se revestir
algumas das variantes documentadas; (iv) buscar elementos que permitam qualificar, do ponto de vista
diageracional e diassexual, as preferências de uso e (v) relacionar, na medida do possível, os resultados
da Bahia a outros alcançados pela Geolinguística no Brasil e no mundo românico.
Os «subfalares do norte» e o traçado das vogais médias pretônicas.
Jacyra Andrade Mota (Universidade Federal da Bahia)
Paulo Henrique de Souza Lopes (Universidade Federal da Bahia)
Discute-se, nesta comunicação, a proposta de divisão dialetal de Nascentes (1953) com relação às vogais
médias pretônicas nos «subfalares do Norte», com base nas cartas fonéticas F01V1, F01V2, F01V3E,
F01V3G, F01V3S,F01V4E, F01V4G eF01V4S que constam do primeiro volume de cartas do Atlas Linguístico do Brasil(ALiB), referentes às capitais (CARDOSO et al., 2014, p. 70-79). Retoma-se, assim,
como o fizeram outros pesquisadores (CARDOSO, 1986; NOLL, 2008), alguns aspectos divergentes e
convergentes entre a proposta de Nascentes e os dados atuais de língua falada revelados por meio de
pesquisa dialetal. Para a análise das vogais médias pretônicas, consideraram-se as respostas previstas e
válidas que se registraram, de acordo com a metodologiado ALiB, através da aplicação dos questionários
Fonético-Fonológico (QFF) e Semântico-Lexical (QSL), taiscomo: terreno, televisão, borboleta, colegas,
advogado, inocente, pecado, coração, perfume, neblina, novembro, adotado, prostituta, medalha. Para
tanto, analisou-se um total de 120 informantes, oito por localidade, distribuídos pelas seis capitais da
região Norte (Macapá, Boa Vista, Manaus, Belém, Rio Branco e Porto Velho) e pelas nove capitais da
região Nordeste (São Luís, Teresina, Fortaleza, Natal, João Pessoa, Recife, Maceió, Aracaju e Salvador),
estratificados quanto a faixa etária, sexo e nível de escolaridade. Após a audição e transcrição dos dados
pertinentes ao fenômeno, constituiu-se uma amostra, considerando os dados conjuntamente das duas
regiões, contendo 12.120 ocorrências válidas (7.186 dados para a série das anteriores; 4.934, para as
posteriores). Essas, por sua vez, foram codificadas e submetidas à análise estatística (GOLDVARB 2001),
que forneceu os elementos necessários ao exame de fatores linguísticos (posição da pretônica no item
observado, fonema vocálico da sílaba tônica,contexto consonântico precedente e seguinte), sociolinguísticos (variáveis diageracionais, diagenéricas e diastráticas)e geolinguísticos (variável diatópica).Os
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
variados testes estatísticos possibilitaram averiguar que a distribuição diatópica é um dos fatores mais
importantes para a apreciação deste fenômeno. Ademais, a análise revelou a predominância das vogais
médias abertas, sobretudo na região Nordeste brasileira, apontando diferenças significativas quanto aos
contextos inibidores ou favorecedores do abaixamento em cada uma das regiões em questão e regras
variáveis e/ou categóricas de usos.
Desafios do desenvolvimento do ALiBWeb: um sistema web para o ALiB
Daniela Barreiro Claro (Universidade Federal da Bahia)
Ana Regina Torres Ferreira Teles (Universidade Federal da Bahia)
Silvana Soares Costa Ribeiro (Universidade Federal da Bahia)
O Projeto Atlas Linguístico do Brasil (ALiB), como projeto geolinguístico contempla a documentação
de um acervo de grandes proporções, uma vez que abarca registros sonoros da fala de 1.100 informantes,
com duração de cerca de 3 horas cada um deles, distribuídos em 250 localidades brasileiras, pressupõe
um tratamento eficiente dos dados obtidos que a transcrição apenas não pode alcançar. Neste sentido,
o desenvolvimento de um Sistema Web, doravante denominado ALiBWeb, foi proposto com o intuito
de gerenciar as informações obtidas fisicamente nas localidades por meio dos inquéritos realizados.
Este gerenciamento contempla o cadastro dos inquéritos, as transcrições (grafemáticas e fonéticas), as
revisões realizadas, as consultas e os relatórios, incluindo as cartas linguísticas e o mapa falante. O desenvolvimento do ALiBWeb requereu uma análise e modelagem de um Banco de Dados. A principal
preocupação no desenvolvimento deste Banco de Dados foi referente ao atendimento por completo do
gerenciamento dos inquéritos realizados em campo e ao potencial crescimento do ALiB, contemplando
novas localidades e novos informantes. Uma vez concluído o desenvolvimento do Banco de Dados do
ALiBWeb, foi proposto o desenvolvimento do ALiBWeb para Internet. Devido à grande utilização da
Internet como meio de comunicação, o ALiBWeb deveria ser acessível pela grande rede e principalmente gerenciado remotamente. Neste sentido, a utilização da linguagem Java para Internet através de
frameworks, tais como JSF (Java Server Faces), Hibernate, iReport foram essenciais para o desenvolvimento e socialização do ALiBWeb. Em relação à transcrição fonética, foi realizado um estudo de viabilidade para incorporação de um teclado virtual e utilização de uma fonte fonética Unicode que pudesse
ser visível na Internet, independente do browser ou de tecnologia utilizada. Para tal, a fonte DoulosSil
foi utilizada no desenvolvimento do ALiBWeb e consequentemente será incorporada nos mapas geolinguísticos e mapas falantes. Em se tratando de trabalhos futuros, pretende-se desenvolver o módulo
das cartas linguísticas e do mapa falante com o intuito de melhor socializar as informações adquiridas
ao longo dos anos.Assim, este trabalho propõe apresentar o desenvolvimento do ALiBWeb, incluindo
aspectos referentes à caracterização do Sistema e do Banco de Dados, à implementação das ferramentas
estabelecidas e às tecnologias utilizadas durante o seu desenvolvimento.
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Estudos sobre o verbo em português - valores, marcas,
construções
Maria Teresa Brocardo (Centro de Linguística,
Universidade Nova de Lisboa), coord.
Esta comunicação coordenada pretende apresentar e propiciar a discussão de alguns
estudos sobre ‘o verbo’ em português. Aqui se incluem trabalhos incidindo em diferentes vertentes (sobre aspetos semânticos, sintático-semânticos e morfológicos), a partir
de diversas abordagens teóricas, e também a partir de perspetivas quer sincrónicas
quer diacrónicas.
Centrando-se na análise do português, os dados analisados respeitam não só, naturalmente, a diferentes sincronias, mas incluem também, além da variedade europeia
do português de Portugal, a variedade brasileira.
Dentro da temática geral – o verbo - que une as diferentes contribuições, serão
focados em particular os seguintes tópicos: valores temporais, aspetuais e modais associados a vários ‘tempos’ gramaticais (pretérito perfeito simples e futuro do passado / condicional); valores aspetuais e modais associados a construções com diferentes
classes verbais com SPs direcionais; marcas de pessoa-número do pretérito perfeito
simples; usos e valores de ‘bater’ em construções lexicais complexas.
Espera-se que a diversidade dos objetos e das abordagens seja geradora de discussões estimulantes e de enriquecimentos mútuos no trabalho de investigação em
linguística do português.
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Comunicações coordenadas / Comunicacións coordinadas
O futuro do passado / condicional em textos portugueses
dos séculos XIII-XV
Maria Teresa Brocardo (Centro de Linguística, Universidade Nova de Lisboa)
Numa perspetiva diacrónica, e num contexto geral românico, a emergência do condicional / futuro do
passado (doravante COND) é geralmente apontada como decorrendo da evolução de perífrases com
HABERE, a partir do modelo que originou o futuro do presente (CANTARE HABET > cantará), cujas
correspondentes, no passado (CANTARE HABEBAT), passaram a ser usadas como um futuro do passado no discurso indireto (cantaria). A relação entre o desenvolvimento dos novos futuro do presente e
futuro do passado é, no entanto, uma questão muito discutida na literatura, com posições divergentes de
vários autores (cf. Parkinson 2009: 38). O uso do COND em construções condicionais, na apódose, veio
tomar o lugar de usos do conjuntivo em latim, passando também a exprimir valores modais. Vários autores sublinham o caráter inovador deste paradigma, referindo que «Latin had no single grammatical category corresponding to what was to become the Romance conditional mood.» (Alkire & Rosen 2010: 168).
No que respeita mais especificamente ao português, várias descrições tomam como objeto o COND
em português europeu contemporâneo, referindo, entre outros aspetos, a possibilidade de o mesmo poder
exprimir um valor temporal ou diferentes tipos de valores modais (cf. Peres, Móia e Marques 1999, e.o.).
O trabalho que aqui se propõe tem como objetivo contribuir para uma caraterização dos valores
expressos pelo COND em fases passadas do português. Pretende-se aduzir e descrever dados recolhidos
em textos dos séculos XIII a XV, visando obter uma descrição do COND que incorpore aspetos da diacronia da língua. Concentrar-me-ei na descrição dos diferentes contextos e valores do COND, dando
atenção em particular à complementaridade / competição de formas eventualmente observável em fases
anteriores da língua. Pretendo aferir a relação / contraste entre o COND e o pretérito mais-que-perfeito
simples, que, como descrito em vários trabalhos, podia em fases antigas do português assumir também,
em certos contextos, um valor modal. Em algumas descrições do português contemporâneo são referidos usos ‘literários’ em que se assinala o emprego do pretérito mais-que-perfeito simples ‘em lugar do
futuro do pretérito’ (Cunha & Cintra 1984: 456). Assumindo, como hipótese, que tais usos atestam a
preservação marginal de usos antigos, pretendo procurar esclarecer como se relacionam, na diacronia,
as duas formas, à partida temporalmente localizadoras, de passado ou futuro, em relação a um passado.
O verbo bater em contexto de construções lexicais complexas no PB
Alvanira Lucia de Barros (Universidade Federal da Paraíba)
Este estudo apresenta uma análise do verbo bater, considerando os contextos nos quais o verbo se insere, bem como as funções por ele desempenhadas na sua forma mais abstrata, presentes em construções
constituídas a partir de um verbo + nome ou variações, por nós denominadas de construções lexicais
complexas com o verbo bater, no sentido quase sempre metafórico. Em tais construções, o primeiro de
seus elementos, o verbo suporte, conserva o seu valor externo e mantém a forma, variando ou abandonando o seu significado de base, qual seja a noção de atrito, enquanto o outro elemento, pertencente
à classe dos nomes, é livre, embora seu valor seja atribuído a partir da combinação com o outro. O resultado dessa composição revela outros sentidos, por exemplo, naqueles usos específicos com a forma
verbal bater mais um nome, como em bater-boca, bater com a língua nos dentes, bater de frente,
entre outros. Nosso objetivo é contribuir para o movimento interdisciplinar entre a Teoria Funcionalista
com a Teoria Conceptual da Metáfora. Ao tratar dos usos de bater adotamos a linguística cognitiva de
base experiencialista de Lakoff e Johnson (2002, p. 68), pela interface que essa área de estudo estabelece
com a linguística funcional, considerando que Lakoff e Johnson (2002) introduziram uma importante
contribuição para o redirecionamento dos estudos linguísticos, ao constatarem que grande parte dos
enunciados da linguagem cotidiana são metafóricos. Sendo assim, acreditamos que compreender as
relações sintático-semântico-pragmáticas que estão por trás de verbo, implica em ver e pensar a língua
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
em uso de forma reflexiva, contribuindo para o processo de construção dinâmico realizado por e entre
sujeitos falantes inseridos em contextos socioculturais. Esses usos desse verbo objeto de nossa pesquisa
foram investigados no corpus Folha de S. Paulo, referentes aos anos de 1998, 1999, 2007 e 2008.
PALAVRAS-CHAVE: Verbo bater e uso; construções lexicais complexas.
A marcação de pessoa-número em português europeu – o caso
do pretérito perfeito simples numa perspetiva diacrónica
Ana Guilherme (Centro de Linguística, Universidade Nova de Lisboa)
A transição do latim para os diferentes romances não afetou profundamente a marcação de pessoa-número e em razão disso a flexão verbal das diferentes línguas românicas permanece, em termos morfológicos, relativamente ‘rica’ (Brocardo 2014:76, e.o.), não obstante a existência de algumas irregularidades
paradigmáticas.
Em traços gerais, o português manteve, salvo determinadas execeções, a distinção de pessoas existente em latim clássico (Williams 1994 [1961]). Por conseguinte, as desinências número-pessoais do
pretérito perfeito simples em português europeu são as herdadas do latim. No entanto, aquelas desinências eram, mesmo em latim, distintas das dos demais tempos verbais, tornando o pretérito perfeito
simples um tempo com especificidades próprias. De acordo com vários autores, o perfeito latino é de
algum modo uma inovação porque resulta de uma fusão entre o aoristo proto-indo-europeu e o perfeito
em latim (Clackson and Geoffrey 2007, Pierre 1992, Mason 1976, Piel 1944, e. o.). A terminação da 2ª
pessoa do singular constitui um exemplo claro da natureza ‘irregular’ e inovadora do pretérito perfeito simples em relação aos restantes tempos. Assim, a terminação latina –stī que o português europeu
herdou como –ste não apresenta o –s final, morfema caracterizador das segundas pessoas do singular
dos tempos verbais (excepto no imperativo). Em português contemporâneo, assiste-se à ocorrência de
inovações morfológicas relacionadas com este morfema, nomeadamente inovações como tu cantasteS,
tu fosteS, que são reputadas como formas ‘marginais’ da língua. Este fenómeno não é recente uma vez
que se atesta, por exemplo, em documentos privados do século XVIII. A ocorrência destas inovações
gramaticais em épocas mais antigas da língua assinala precisamente o valor morfológico muito particular que os morfemas de pessoa-número do pretérito prefeito simples têm face aos demais, e constituem
por isso um aspeto linguístico que necessita de ser observado e analisado.
É por isso objetivo desta comunicação refletir sobre a marca de pessoa-número no pretérito perfeito
simples, nomeadamente sobre as inovações morfológicas descritas antes, e por conseguinte contribuir
para um maior esclarecimento sobre aquele tempo verbal e sobre os processos de mudança que afetam
as pessoas verbais daquele tempo.
Uma leitura aspetual do pretérito perfeito simples (pps)
em Português Europeu
Clara Nunes Correia (Centro de Linguística, Universidade Nova de Lisboa)
Na análise gramatical do Português, o pps é considerado o tempo gramatical responsável pela localização temporal de anterioridade das sequências linguísticas, sendo essa localização temporal realizada
sem que haja necessidade de qualquer recurso a outros localizadores temporais. Exemplos como «O J.
leu os Maias» / «O J. telefonou» / «O J. caiu» ilustram o que se afirmou anteriormente.
No entanto, sob o ponto de vista aspetual, o pps em Português manifesta valores diferenciados no
que diz respeito às propriedades de perfetividade ou de não perfetividade. Estas características, (quase)
consensuais foram amplamente discutidas na literatura, (Campos 1982, Peres 1995, Oliveira 2003, e.o.).
As diferentes interpretações atribuíadass a «O J. leu os Maias em 2 semanas» e «O J. leu os Maias
durante 2 semanas» resultam da coocorrência de formas verbais no pps com adverbiais aspetuais (de
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Comunicações coordenadas / Comunicacións coordinadas
realização e de duração). No entanto, quando se cruzam situações não eventivas com estes mesmos adverbiais, geram-se ou novas interpretações «O J. leu em 2 meses» - mudança de estado, i.e., ‘aprendeu a
ler’ - ou situações estranhas ou agramaticais, quer com culminações, quer com estados, como se vê em
«O J. leu / telefonou durante duas semanas /?? O J. caiu em dois segundos (o tempo que levou até cair) /
# durante dois segundos / O J. esteve constipado #em dois dias / durante dois dias.
Se se aceitar que os adverbiais aspetuais se constituem como estabilizadores do que é (ou pode ser)
interpretado como categorialmente relevante em termos de definição de classes aspetuais nas línguas
como o português, e se se aceitar que o pps pode ser analisado independentemente do seu valor temporal, partilhando alguns valores definidos para o os perfeitos das línguas (Comrie 1976, Ritz 2001),
julga-se relevante discutir alguns dos limites, quer terminológicos, quer conceptuais, que permitem que
o pps em português possa desencadear uma dualidade de valores.
Deste modo, e nesta comunicação, visando-se contribuir para uma estabilização do conceito de ‘perfeito’, defende-se que o pps em português sobrepõe aos valores de tempo (pretérito) valores aspetuais
diferentes que resultam quer da classe do predicado (mais ou menos télico), quer da natureza da predicação em que ocorre.
Impacto aspetual e modal dos SP direcionais: a construção
V+preposição para
Manuel Luís Costa (Centro de Linguística, Universidade Nova de Lisboa)
Na literatura é relativamente consensual o tratamento das preposições como unidades tipicamente polissémicas (Zelinsky-Wibbelt 1993, e.o.). Porém, dificilmente esse consenso vai para além do reconhecimento da polissemia enquanto propriedade universal, seja pela definição do conceito, seja pela perspetiva sobre a estrutura do complexo polissémico.
De acordo com Culioli (1990), a identidade de um termo define-se relacionalmente. Deste modo,
importa determinar com precisão o significado das unidades linguísticas, no decurso de um cálculo
sobre o significado do enunciado. Uma vez que as propriedades das preposições (R) são ativadas e estabilizadas na sua relação com outros termos (na relação X R Y), os procedimentos metodológicos devem
revestir-se de grande rigor, tendo em vista a descrição da polissemia das noções gramaticais.
Assim, num primeiro momento, proceder-se-á ao estudo do impacto aspetual dos SP direcionais
em combinatória com verbos de deslocação e verbos de maneira de movimento (Morimoto 2001, e.o. ).
Assumindo o estatuto relacional da preposição, considera-se que a função desta não se reduz à introdução de um argumento do verbo. Defende-se, assim, a vantagem do tratamento da preposição como operador de predicação. Através da combinatória de dois predicados (verbo e preposição), o enunciador recorta
duas interpretações possíveis: deslocação (directed motion) e maneira de movimento (manner of motion).
(1) O Luís foi para casa. (deslocação)
(2) O Luís caminhou para a praia. (deslocação ou maneira de movimento)
A combinatória V+P produz ainda efeitos variáveis no que respeita à transicionalidade aspetual e à
telicidade e delimitação (boundedness) das Situações. Também no que respeita à delimitação das Trajetórias (Paths) se pode observar efeitos semânticos distintos.
(3) a. O Luís empurrou o carro *em dez minutos / durante dez minutos. (processo)
(4) a. O Luís empurrou o carro para a garagem. (processo ou processo culminado)
(5) a. O Luís empurrou o carro para a garagem em dez minutos (processo culminado) / durante
dez minutos. (processo)
Num segundo momento, procede-se à análise da combinatória da preposição com verbos estativos,
verbos percetivos e verbos de porção de movimento (Bonami 1999), a qual recorta valores modais.
(6) A — Onde está a Ana?
B — Sei lá! Está para o jardim.
Por fim, procede-se à sistematização de algumas conclusões, no que respeita à relevância do estudo
das preposições para uma teoria da polissemia.
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COMUNICAÇÕES LIVRES |
COMUNICACIÓNS LIBRES
Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
A variação da ordem de realização do sujeito nos contextos de formação
do acusativo preposicionado no Português Clássico
Alba Verôna Brito Gibrail (Universidade Estadual de Campinas)
O objetivo desta comunicação é a apresentação dos contextos de formação do acusativo preposicionado
no Português Clássico (doravante, PCl). Os dados foram levantados junto ao Corpus Tycho Brahe, de 16
textos com anotação sintática de autores nascidos entre o séc. 16 e meados do séc. 19. A pesquisa mostra
que o Português dos séc. 16-17 licencia o acusativo preposicionado em contextos com verbos finitos e
não finitos, havendo restrição da frequência de seu uso em todos os contextos a partir do séc. 18. No
português dos séc. 16-17, o acusativo preposicionado é formado em sentenças finitas de ordens variantes com objetos diretos que contêm conjuntamente os traços [+animado + específico] e/ou contendo
apenas um desses dois traços. Embora o acusativo preposicionado seja formado com o objeto direto
realizado em posições variantes na estrutura da frase, a frequência maior de seu uso é atestada nas ordens superficiais (X)VSO/(X)VO, confirmando a propriedade do Português desse período de fazer uso
da inversão VS como ordem não marcada (GALVES 2003, 2009; GALVES & GIBRAIL 2012; PAIXÃO
DE SOUSA, 2004).
(1) Seguia a Corte aos seus Príncipes (A. de Barros, séc. 17)
Ainda que a ordem VS seja a ordem canônica do sujeito, as ocorrências de acusativo preposicionado
apresentam tanto o sujeito quanto o objeto direto em posições variantes na oração.
(2) E este esfarrapadinho inocente ensina a Frei Bertolameu a ser arcebispo. (L. de Sousa, séc. 16)
(3) Destinado este socorro ao Pará, reservou o Padre VIEIRA para a Cidade aos Padres Thomé
Ribeiro, e Manoel de Lima (A. de Barros, séc. 17)
Uma mudança ocorre nos textos dos séc. 18-19: diminui o uso de acusativo preposicionado em todos os contextos, evoluindo o uso de sentenças de ordem SVO. Nessas sentenças, objetos diretos com os
traços [+ animado, + específico] deixam de ser preposicionados.
(4) Ainda ontem vi José Diogo pela primeira vez, (M. de Alorna, séc. 18)
A evolução da ordem SVO reflete uma mudança gramatical em curso no Português a partir do séc.
18 (PAIXÃO DE SOUSA 204). Nessa nova gramática, a ordem SVO passa a ser a ordem não marcada.
A restrição de uso de acusativo preposicionado concomitantemente à restrição das ordens variantes de
realização do sujeito nessa nova gramática permite a assunção de que o acusativo preposicionado é formado no Português dos séc. 16-17 quando o objeto direto com os traços [+animado + específico] ocupa
uma posição que poderia também ser ocupada pelo sujeito na estrutura da frase.
O purismo polémico de Juan Valera
Álex Alonso Nogueira (Brooklyn College, City University of NewYork)
En 1869, na súa contestación ao discurso de entrada na RAE de F.deP. Canalejas, Juan Valera reflexiona
sobre a tarefa do letrado: analizando o ensaio de Canalejas, adicado aos progresos da ciencia da linguaxe e aos estudos de filoloxía comparativa en Europa, Valera, o académico con máis coñecementos
da disciplina e o único que era quen de ler nas diferentes linguas orixinais, acouta os límites políticos
dos estudos lingüísticos e en concreto, do discurso positivista sobre a linguaxe que, inserido nunha
rede académica transnacional, establecía un espazo discursivo autónomo, separado da tradicional autoridade que o estado, a través da Academia e da ensinanza secundaria e superior establecera sobre a
lingua estatal. Ao intentar disciplinar as prácticas letradas, lembrándolle non só as feblezas do método
positivo, senón, e sobre todo, a subordinación de calquera coñecemento á lóxica política e en última
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Comunicações livres / Comunicacións libres
instancia o deber moderno de calquera traballo intelectual de ser orgánico respecto á súa comunidade,
Valera sinala cal é o papel das institucións culturais da Restauración tiñan que xogar nese momento de
crise política: un mediador entre as lóxicas autónomas que íanse constituíndo nos diferentes dominios
sociais e a autoridade, en última instancia política, do estado. Deste xeito, o papel da Academia, e o de
Valera en particular, consistíu en marcar certas lindes fronte ás propostas que puidesen apuntar cara a
unha disgregación ou fragmentación política, e propor certos marcos de análise histórica e filolóxica,
que garantisen a autoridade da Academia, sinécdoque do estado, sobre os diferentes campos sociais,
do literario ao académico, que tenderon a se definir cada vez máis como autónomos e a contrafío desa
autoridade heterónoma que representaban os aparellos do estado.
Esta comunicación estuda as súas intervencións públicas dende o seu discurso de entrada na RAE,
de 1862, e as estratexias que os epistolarios privados revelan: as polémicas que foi mantendo, primeiro,
nos anos 60, con F d P. Canalejas e con R de Campoamor, a súa contestación ao discurso de entrada
na Academia de F. Commelerán, en 1890 e, xa ao final do século, o seu enfrontamento público con R.J.
Cuervo. A través da súa contextualización crítica tentarase deliñar a inacabada autonomización dos estudos filolóxicos e o papel que Valera xogou en moi diferentes contextos, dende a frustrada refundación
do estado no Sexenio ao melancólico recoñecemento da perda do Imperio no abrente do século XX.
Aproximación á función sintáctica de suxeito en galego medieval
Alexandre Rodríguez Guerra (Universidade de Vigo)
A partir do estudo dun corpus propio de cláusulas procedentes de diversos textos galegos medievais
dos séculos XIII, XIV e XV (cfr. infra), describirase a función sintáctica de suxeito. O presente traballo
centrarase nas principais características das distintas unidades que en galego medieval podían ser suxeito, mais tamén se terán en conta outros parámetros importantes como os esquemas sintácticos en
que interveñen, a posición que esta función ocupa no seo da cláusula ou, cando for pertinente, as orixes
latinas das estruturas. Tamén merecerán a nosa atención a función de suxeito na pasiva, a indeterminación do axente ou os esquemas impersoais. Reflexionaremos, igualmente, sobre a problemática dos
denominados ‘suxeitos preposicionais’ en galego medieval. En todas as ocasións forneceranse, ademais,
datos concretos sobre a rendibilidade das distintas construcións analizadas.
Todos estes aspectos ilustraranse con exemplos extraídos do corpus. Este está constituído por unha
escolma de obras galegas medievais, tanto da lírica trobadoresca (profana e relixiosa), coma da prosa
literaria (Crónica troiana, Historia troiana e fragmento do Livro de Tristán), histórica (Crónica Xeral
e Crónica de Castela e Xeral Historia), relixiosa (Crónica de Santa María de Iria e Miragres de Santiago) ou notarial.
En resumo, a presente comunicación persegue proporcionar as chaves que permitan enxergar as
principais características da función sintáctica de suxeito en galego medieval.
A ordem VS na diacronia do português brasileiro e do português europeu:
proposta de derivação
Aline Peixoto Gravina (Universidade Federal da Fronteira Sul)
Este trabalho é um estudo comparativo-diacrônico da inversão do sujeito (ordem VS) no português
brasileiro (PB) e no português europeu (PE), a partir de um corpus composto por jornais que circularam nesses países na primeira e segunda metade do século 19 e na primeira metade do século 20. Para
realizar as análises dos dados, o estudo pautou-se na teoria da gramática gerativa, mais especificamente,
nos pressupostos do programa minimalista. Em relação à tipologia dos verbos, as inversões com verbos
inacusativos mostraram-se bem produtivas em ambas línguas. No PB, a ordem XVS, ou seja, o verbo em
segunda posição, apresentou maior ocorrência, evidenciando a necessidade de se ter algum elemento
em posição inicial que possa satisfazer o EPP nesse contexto, mesmo que este elemento não seja o sujeito
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
verdadeiro da sentença. Em outras palavras, na derivação de sujeitos pospostos com verbos monoargumentais, em PB, propomos que, preferencialmente, algum elemento lexicalmente realizado ocupe
a posição de SpecTp com o propósito de satisfazer o EPP da sentença. Caso esse elemento não exista,
propomos que um locativo ou expletivo nulo ocupe essa posição, satisfazendo o EPP (cf. AMBAR, 1992;
SHEEHAN, 2010). Nos resultados de inversão com verbos transitivos, a ordem VOS destacou-se nos dados do PB; já no PE, a ordem preponderante na diacronia foi a ordem XOVS. As análises mostraram que
a interpretação de VOS, nos dados do PB, é de focalização de todo o enunciado da sentença, assim, postulamos que o sujeito ocupa uma posição alta na oração não associada a foco. Assim, depois da subida
do sujeito para SpecTP onde satisfaz EPP, a posição de tópico baixa, associada à interpretação de tópico
familiar, é ocupada (Frascarelli e Hinterholz 2007) e o TP se move em seguida para uma posição de foco
marcado. No PE tais derivações não ocorrem, pois, apenas o sujeito é o foco da sentença, ou seja, apenas
o sujeito é a informação nova. Portanto se a interpretação é diferente, a derivação dessa ordem também
é diferente da que propomos para o PB. Para derivar essa ordem corroboramos a hipótese de Costa
(2004): em ordens VOS, o sujeito tem valor de foco, portanto sua posição é mais baixa na derivação. Para
Costa (2004) e I. Duarte (2010), o sujeito fica in situ na posição de SpecvP e o objeto faz um movimento
de scrambling para uma posição intermediária dentro do TP, originando a ordem VOS no PE.
O apagamento de /d/ no morfema de gerúndio
no Projeto Atlas Linguístico do Brasil
Aluiza Alves de Araújo (Universidade Estadual do Ceará)
Maria do Socorro Silva de Aragão (Universidade Federal do Ceará)
Esta investigação trata da supressão da consoante /d/ no morfema indicativo de gerúndio na língua
portuguesa, a partir dos dados do Projeto Atlas Lingüístico do Brasil (ALiB), sob o prisma da Sociolingüística Variacionista. Este fenômeno, que consiste na assimilação do fonema /d/ pelo fonema /n/,
como em dormindo ~ dormino, teve origem no latim vulgar e ainda hoje permanece vivo no português
brasileiro, segundo registram estudos de natureza diversa. No Brasil, frequentemente, professor e aluno
vivenciam situações de heterogeneidade linguística na sala de aula e isso ocorre porque temos um país
com grande extensão territorial e também com grandes contradições sociais, o que mostra a necessidade
de estudarmos, pelo menos, os fenômenos variáveis mais freqüentes na língua, como o que abordamos
aqui. Nesta pesquisa, foram controlados os seguintes fatores: sexo, faixa etária, escolaridade e localidade
com o objetivo de verificar a atuação de cada uma destas variáveis sobre o apagamento de /d/ no morfema /ndo/. Do Questionário Fonético-Fonológico (QFF) do ALiB, foram selecionados, para análise,
os itens lexicais que apareciam nas respostas a 03 questões, a saber: questão 27 - fervendo, questão 52remando e questão 148- dormindo. A amostra é constituída por 104 informantes, provenientes de 13
capitais brasileiras, sendo 09 pertencentes à região nordeste (Aracaju, Fortaleza, João Pessoa, Maceió,
Natal, Recife, Salvador, São Luís e Teresina) e 04 são da região sudeste (São Paulo, Rio de Janeiro, Vitória
e Belo Horizonte). Os informantes pertencem a uma das duas faixas etárias: I - 18 a 30 anos e II- 45 a
60 anos; são do sexo masculino ou feminino; apresentam escolaridade até a 8ª série do fundamental ou
o ensino superior completo; são nascidos na localidade e possuem pais também nascidos na localidade.
Os resultados revelaram que o sexo, a escolaridade e a faixa etária, nesta ordem de relevância, favorecem
a regra em estudo. O sexo masculino e a pouca escolaridade dos informantes beneficiam, acentuadamente, a variante desprestigiada, que é a supressão de /d/, assim como os jovens, mas estes o fazem de
forma menos acentuada.
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Comunicações livres / Comunicacións libres
O estudo das variações metaplasmáticas na sequência /sc/
dos falantes da língua portuguesa falada em Belém (Pa)
Amanda Malato Santos (Universidade Federal do Pará)
Jéssica Gama de Castro (Universidade Federal do Pará)
Regina Célia Fernandes Cruz (Universidade Federal do Pará)
O presente trabalho consiste no estudo diacrônico voltado para a investigação de alterações fonéticas, ou
metaplasmáticas, na estrutura morfológica ou morfossintática na passagem de algumas palavras iniciadas com a sequência /SC/ na evolução do latim ao português. O corpus utilizado para tal observação faz
parte do banco de dados do projeto Norte Vogais, vinculado ao PROBRAVO, que estuda as variedades
do português falado em Belém (PA). Este corpus contém amostra de fala lida de 6 informantes nativos
de Belém (PA), estratificados em sexo, faixa etária e escolaridade, que produziram 87 vocábulos contendo as vogais-alvo pretônicas. Mais precisamente, nosso estudo volta-se para a variante do desvozeamento da vogal inicial de vocábulo. Ao se proceder à análise de 23 vocábulos (escada, esmalte, espaço,
estrela; a título de ilustração), foi verificado que alguns deles, na passagem do latim para o português,
sofreram o processo de Prótese, o acréscimo de um fonema no início da palavra, entretanto, atualmente,
na fala dos falantes do português da capital paraense, percebe-se a ocorrência do desvozeamento da
vogal inicial, que pode futuramente transforma-se no processo de Aférese, que é a supressão do fonema
que, outrora, havia sido acrescentado na passagem para o português.
PALAVRAS-CHAVE: Metaplasmos; vogais desvozeadas; Linguística Histórica.
O Tratado de Medicina do Reytor Antonio Dias: um contributo
para o estudo da variação fonética na língua do Minho setecentista
Ana João Herdeiro (Universidade do Minho)
Nesta comunicação, propomo-nos apresentar o «Tratado de Medicina» incluído no Manuscrito 608 do
Arquivo Distrital de Braga, cujo autor assina pelo nome de «Reytor Antonio Dias». A partir de algumas
datas mencionadas ao longo do manuscrito, foi possível verificar que este eclesiástico terá produzido
todos ou, pelo menos, uma parte dos textos do códice por volta da década de 60 do século XVIII. Além
disso, pudemos apurar que o autor era natural do Minho, mais concretamente, de uma freguesia de Terras de Bouro (Braga). Deste modo, o facto de nos encontrarmos perante um códice datado e com autor
explícito revela-se linguisticamente valioso, uma vez que permite associar, com maior segurança, as suas
caraterísticas linguísticas a um determinado estádio de língua numa região delimitada.
Tendo por base a edição conservadora do referido tratado, pretendemos, então, analisar determinados traços fonéticos (espelhados na grafia) que são reconhecíveis como típicos da época em questão ou
dos dialetos setentrionais – e, em específico, do dialeto minhoto. Entre os diversos fenómenos fonéticos que mais avultam ao longo do texto, destacaremos, sobretudo, a elevação e centralização de vogais
átonas, as assimilações, dissimilações, labializações, síncopes, próteses e metáteses, além da neutralização da oposição entre os fonemas /v/ e /b/.
A variação linguística encontrada no manuscrito torna-se ainda mais expressiva quando se estabelece uma comparação entre este documento e o documento impresso que serviu de fonte bibliográfica ao autor do códice. De facto, o tratado de medicina em estudo constitui uma síntese da extensa e
portentosa Medicina Lusitana (1710) do médico Francisco da Fonseca Henriques (1665-1731). É, por
isso, curioso verificar que, mesmo tendo sido consultada uma obra com uma escrita mais cuidada e
padronizada do português, com pouca variação gráfica e fonética, o manuscrito apresente uma significativa variação desses aspetos.
Assim, uma vez que o autor do manuscrito se nos revela um homem culto, embora registando informalmente apontamentos para seu próprio uso, consideramos que a variação presente no seu texto
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
e as diferenças encontradas relativamente à obra consultada espelham uma ampla mudança de formas
gráficas e fonéticas que não será de todo inadvertida ou involuntária, e muito menos fruto de falta de
conhecimento das normas gráficas.
Posto isto, acreditamos que o manuscrito aqui apresentado constitui um precioso testemunho da
língua minhota setecentista.
Tradição discursiva dos anúncios de fuga de escravos nos jornais
do Recife do século XIX
Ana Karine Pereira de Holanda Bastos (Universidade Federal De Pernambuco)
Os estudos sobre tradições discursivas em textos históricos em Pernambuco são escassos, por isso o
objetivo central deste trabalho é identificar as tradições discursivas (TD) constitutivas do anúncio de
fuga de escravos do século XIX e compará-los com os anúncios de procurados da atualidade, além de
apontar as TD que desapareceram e as que permaneceram, emergindo em outro gênero. Para isso, é necessário verificar a trajetória de ambos os anúncios, apontar os modos de enunciação, elegendo aspectos
retóricos, textuais e discursivos que sejam possíveis de indicar especificidades caraterísticas das tradições discursivas que os constituem. O anúncio de escravo se configura como uma complexa TD formada
por aspectos composicionais que em grande parte desapareceram dos jornais como reflexo da extinção
da prática social vigente que o sustentava à época, a escravidão, porém alguns traços estruturais (a localização no suporte e organização retórica) e linguístico-discursivos (conteúdo temático, ordem sintática
e fórmulas fixas etc.) migraram para os anúncios de procurados publicados nos jornais atuais. Os textos
de uma língua estão propensos à contínua transformação, assim as TD são fenômenos historicamente
instáveis e modificáveis em decorrência das mudanças políticas, históricos, socioculturais e das novas
necessidades comunicativas. A fundamentação teórica está pautada em Bakhtin (2003), Bathia (2009) e
Bazerman (2011), procurando compreender a constituição e o funcionamento do gênero na sociedade
e do seu papel de ressignificar as diversas situações de interação; no paradigma teórico metodológico
das tradições discursivas que relacionam a história da língua à história social com Peter Koch (1997,
2008), Kabatek (2003, 2005, 2004) e Oesterreicher (2002); e na história da imprensa no Brasil com Sodré
(1999), Pessoa (2002, 2006) e Barbosa (2010). Os corporas são constituídos de 100 anúncios de escravos
publicados nos jornais do século XIX e 20 anúncios de procurados publicados no século XXI, sendo
submetidos a uma análise descritiva e interpretativa, pautadas nas dimensões estruturais e linguísticodiscursivas do texto. As reflexões que emergiram desta pesquisa ampliam as discussões acerca dos usos
do português brasileiro no século XIX e acrescem a noção das tradições discursivas na linguística histórica estabelecendo uma visão integral da história da língua.
PALAVRAS-CHAVE: Anúncios de fuga de escravo; anúncios de procurados; jornal impresso; tradições
discursivas.
Crenças e atitudes: um estudo sociolinguístico do contato linguístico
em Guaíra e Santo Antônio do Sudoeste
Ana Maria Bonk Massarolo (Instituto Federal de Santa Catarina)
Na região do Sul do Brasil o contato entre culturas e línguas deu origem a áreas que podem ser reconhecidas pela homogeneidade e pelo contato linguístico. Línguas e culturas são preservadas pelos grupos e
transformadas a partir do contato e da convivência com outras. A região tem uma grande área situada
na fronteira com Argentina, Paraguai e Uruguai em um ambiente multilíngue, complexo em que falantes de dialetos do português, do espanhol, do guarani, de dialetos de alemão e do italiano convivem e
interagem cotidianamente. Essa realidade pode gerar duas situações, de um lado uma atitude de preservação da língua e da cultura e reafirmação de atitudes, e de outro a interação e aceitação do outro, com
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Comunicações livres / Comunicacións libres
a incorporação de elementos da língua e da cultura. Esse contato conduz a pesquisa de como os falantes
das cidades de Guaíra e Santo Antônio do Sudoeste, localizadas na fronteira do Brasil com o Paraguai e
a Argentina, se portam diante dos outros falares na região de fronteira. O objetivo é identificar, descrever
e analisar nas crenças e atitudes linguísticas dos entrevistados a respeito das línguas faladas nestas duas
localidades. A partir dos dados sobre crenças e atitudes linguísticas, coletados pelo Projeto Crenças e
Atitudes Linguísticas: um estudo da relação do português com línguas em contato (AGUILERA; SELLA,
2009), foram selecionados apenas 12 questões de um total de 48, produzidas no inquérito das cidades. Acredita-se que as questões selecionadas apresentam conteúdos que possibilitam a visualização das
crenças produzidas pelos informantes quanto ao posicionamento dos falantes do Português diante da
sua própria língua e das línguas e culturas em contato faladas nos dois municípios. As respostas e os comentários foram analisados no interior das dimensões diassexual, diagenérica e diastrática, observando
quais fatores podem ser descritos como condicionadores dos fenômenos linguísticos e em que direção
os componentes cognoscitivos, afetivos e conativos são tomados como categorias que orientam os fenômenos de conservação e inovação linguística da fala. Os dados indicam perspectivas diferenciadas da
relação entre o Brasil, o Paraguai e a Argentina. Com relação ao Paraguai, prevalece a relação comercial,
enquanto com a Argentina, na localidade de Santo Antonio do Sudoeste, a relação de amizade supera a
comercial. Espera-se, demonstrar como os entrevistados se portam diante das línguas faladas em cada
região de fronteira.
Próclise e Ênclise em Padre António Vieira
Ana Paula Banza (Universidade de Évora)
A sintaxe dos clíticos tem vindo a ser estudada, numa perspectiva diacrónica, por vários autores. Tais
estudos têm demonstrado que a posição dos clíticos em português, nas orações principais afirmativas
sem proclisadores, teve uma evolução que se pode esquematizar como evoluindo de uma alternância
entre ênclise e próclise com predomínio da ênclise no Português antigo, para uma progressiva afirmação
da próclise no Português médio e clássico, seguida de uma inversão desta tendência em favor da ênclise
no Português moderno, a qual não se verificou no Brasil, constituindo hoje um importante traço diferenciador entre as duas variedades.
No final do período clássico da língua (séc. XVII), autores que funcionam como auctoritas na época,
em matéria de usos linguísticos, como D. Francisco Manuel de Melo e Pe. António Vieira, apresentam,
no entanto, tendências muito diferentes quanto à posição dos clíticos. Segundo Martins (1994), enquanto D. Francisco Manuel de Melo continua a manifestar uma preferência quase absoluta pela próclise,
Vieira, nos seus sermões, revela já uma preferência muito acentuada pela ênclise, dados contestados
pelos obtidos por Galves (2003) nas cartas do mesmo autor, onde a próclise é dominante.
Partindo do princípio de que a análise destes dados, no que se refere ao Padre António Vieira, dependerá seguramente da época em que o texto foi escrito (Vieira viveu quase 90 anos: 1608 1697) e da
sua natureza, procurar-se-á aqui, usando o longo texto da Representação – escrito entre 1665 e 1666,
data da morte de D. Francisco Manuel de Melo – em confronto com os dados dos sermões e das cartas
da mesma época, apurar qual a tendência dominante em Vieira e qual a sua relação com a data e género
dos textos.
PALAVRAS-CHAVE: Clíticos; Vieira; português clássico; diacronia.
Referências
GALVES, Charlotte, Helena BRITTO e Maria Clara P. SOUSA (2003), «The Change in Clitic Placement
from Classical to Modern European Portuguese: results from the Tycho Brahe Corpus», Campinas.
MARTINS, Ana Maria (1994), Clíticos na História do Português, Lisboa: Universidade de Lisboa, Faculdade de Letras. Dissertação de Doutoramento.
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
MARTINS, Ana Maria (2002), «Mudança sintáctica e História da Língua Portuguesa», in HEAD, Brian
F. et alii (eds.), História da Língua e História da Gramática: Actas do Encontro, Braga: Universidade do Minho/ILCH, pp.251-297.
Hagiotoponímia no Brasil: resultados de pesquisa
Ana Paula Mendes Alves de Carvalho (Instituto Federal de Minas Gerais)
Maria Cândida Trindade Costa de Seabra (Universidade Federal de Minas Gerais)
O costume de dar aos lugares o nome de um santo é muito antigo, remonta à segunda metade do século
VI, quando as igrejas particulares, basílicas e oratórios eram normalmente erigidas em honra de um
santo, que passava a ser o símbolo do templo religioso e a lhe dar o nome e, posteriormente, era atribuído também às terras e a freguesia que iam se organizando nos seus arredores. No Brasil, esse costume,
que teve início na antiguidade cristã, veio, ao longo dos séculos, sendo perpetuado pelas gerações e
pode ser observado, com nitidez, ainda nos dias atuais. Desse modo, partindo do pressuposto de que os
nomes de lugar formados por nomes de santos – os hagiotopônimos – constituem um grupo especial de
topônimos em que se percebe com clareza a comunhão de aspectos psicológicos do ser humano com a
geografia e a paisagem, em nossa pesquisa de doutoramento, realizamos um estudo descritivo do léxico
hagiotoponímico brasileiro, focalizando os 853 municípios do estado de Minas Gerais. Adotando o
conceito de cultura de Duranti (2000) e os pressupostos teórico-metodológicos da ciência onomástica – Dauzat (1926) e Dick (1990a, 1990b, 2004 e 2006) –, apoiamo-nos em Labov (1974) para verificar
como se dá o processo de variação e mudança nos topônimos analisados. O nosso estudo vinculou-se
ao Projeto ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais, projeto em desenvolvimento, desde
2005, na Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais. Em sua primeira etapa, o ATEMIG fez o levantamento e a classificação toponímica de todos os acidentes físicos e humanos dos 853
municípios do estado, documentados em cartas geográficas – fontes do IBGE, com escalas que variam
de 1: 50.000 a 1: 250.000, perfazendo até o presente momento um total de 85.391 topônimos. Desse total
de dados, os que constituem nosso corpus contemporâneo, totalizam 5.649 hagiotopônimos. Além dos
dados contemporâneos, através da consulta a mapas dos séculos XVIII e XIX, construímos um segundo
corpus de dados históricos, composto de 647 topônimos. A análise comparativa dos corpora permitiu
perceber como o processo designativo a partir de hagiotopônimos se deu diacronicamente no estado.
Este trabalho levou-nos, ainda, à construção de um glossário hagiotoponímico, composto por verbetes
que mostram a identificação do tipo de acidente, o número de ocorrências e a localização geográfica de
cada topônimo, sendo que os mais produtivos também podem ser visualizados em cartas toponímicas.
Variação e mudança fonéticas num dicionário manuscrito
português-chinês do século XVIII
Anabela Leal de Barros (Universidade do Minho)
A análise sistemática do conteúdo das obras lexicográficas bilingues e multilingues com participação
do português oferece-nos uma faceta enriquecedora para o conhecimento da história da língua portuguesa (em particular do seu léxico diatopicamente marcado, da respectiva realização fonética e de
alguns traços morfossintácticos), e complementar da que nos faculta o estudo das obras lexicográficas
monolingues, já que as primeiras se revelam, naturalmente, menos preocupadas com o discurso em
língua portuguesa, e mais centradas no objetivo pragmático de fornecer os traços e elementos das línguas estrangeiras que se pretendem descrever, deixando-nos observar lemas, definições e equivalentes
com grafias que denunciam aspectos de mudança fonética, para além de aspectos de natureza lexical,
semântica, morfológica, morfossintáctica, pragmática e cultural. Se é verdade que a variação gráfica e
fonética também surge espelhada no próprio discurso das gramáticas antigas, e sobretudo em lemas
diferentes na antiga lexicografia portuguesa monolingue, essa variação, e notas de mudança, atingem
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Comunicações livres / Comunicacións libres
um nível muito superior na lexicografia e gramaticografia bilingues e multilingues, não somente porque
os autores se achavam frequentemente fora do meio académico português e mais despreocupados em
relação ao mesmo, em pontos longínquos do império, não revelando tanta preocupação em normalizar
na escrita o português real e quotidiano, mas também porque, em muitos casos, utilizavam diariamente
um português já com alguma variação, que não era, ou nem sempre era, eliminada ou conscientemente
incluída na escrita e nas publicações, não somente devido à variação diatópica habitual em português
europeu, que cada autor deixava plasmada com mais liberdade no seu manuscrito, e mesmo nos impressos, mas também devido ao contacto com as línguas locais. Apresentar-se-ão neste trabalho alguns dos
principais aspectos de variação e mudança, essencialmente fonética, observados sistematicamente em
todo o códice setecentista 3306 da Biblioteca Nacional de Portugal, que alberga um dicionário de português e chinês, acompanhado da romanização dos caracteres chineses e de esporádicas significações
literais dos seus elementos, em português e latim. A edição do dicionário, anónimo, mas seguramente da
mão de um ou mais clérigos, permitiu observar e sistematizar os principais traços característicos de um
português setecentista aparentemente marcado em termos diatópicos mas também diacrónicos.
O paralelismo sintático em Othon Moacyr Garcia
André Conforte (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)
O conceito de «paralelismo sintático» foi apresentado no Brasil, pela primeira vez, consoante nossas
pesquisas, no livro «Comunicação em Prosa Moderna», de Othon Moacyr Garcia (1911-2001), obra
cuja primeira edição foi publicada em 1967, pela Editora da Fundação Getúlio Vargas. Embora o autor
nos tenha ainda apresentado duas outras formas de paralelismo, a saber, o semântico e o rítmico, foi sem
dúvida o sintático que constituiu uma das grandes contribuições de Garcia ao ensino de Língua Portuguesa em terras brasileiras. Garcia fazia questão de frisar que o princípio do paralelismo sintático não
constituía, de modo algum, «uma norma rígida», mas sim, «uma diretriz, mas diretriz extremamente
eficaz, que muitas vezes saneia a frase, evitando construções incorretas, algumas, inadequadas, outras»
(GARCIA, 2010: 53 [27. ed.]). Ele, no entanto, acreditava tão piamente nessa diretriz que chegou a se
apoiar na autoridade que constituíam então as teorias de base gerativa (a partir da 7ª edição, de 1978)
para justificar seu emprego, uma vez que, segundo palavras que tomaria do próprio Noam Chomsky,
«não se podem coordenar frases que não comportem constituintes do mesmo tipo» (Garcia, 2010: 53).
O objetivo de nossa comunicação é demonstrar o pioneirismo do autor de «Comunicação em prosa
moderna», em terras brasileiras, na introdução deste princípio, intimamente ligado aos processos de
coordenação e de correlação, sendo, por isso, um fator que aproxima ambos. O conceito também provoca reflexões sobre o papel sintático-semântico das conjunções, em especial da chamada coordenativa
aditiva «e», promotora, por excelência, de paralelismo sintático e semântico. Pretendemos, com base nas
considerações anteriores, demonstrar que o conhecimento do princípio do paralelismo e de sua aplicação vai muito além da mera observação de uma diretriz estilística, uma vez que entender o princípio
implica igualmente entender em essência os processos de coordenação e de correlação, e, por contraste,
o de subordinação. Pretendemos, ainda, demonstrar como o estudo de Garcia sobre o tema influenciou
trabalhos posteriormente publicados de produção textual, estilística e sintaxe no Brasil, sendo muitos
desses trabalhos mera paráfrase textual das considerações feitas pelo autor de «Comunicação em prosa
moderna». Também demonstraremos as possíveis fontes, em compêndios de língua inglesa e francesa,
onde Garcia teria ido buscar o conceito de paralelismo para adaptá-lo aos objetivos propostos em sua
obra capital.
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
Colocação pronominal e padrão culto em colégio jesuítico no início
do século XX no Brasil
Andrea Colsato (Universidade de São Paulo)
No caldeirão de transformações sociais, políticas e econômicas que caracterizaram o início do século
XX no Brasil, outra mudança se impõe: a reorganização do português culto falado que se distancia tanto
da variedade portuguesa, como da língua vernácula. Essa «reorganização» nos leva a refletir sobre as
«normas cultas» difundidas pelos grupos mais escolarizados da sociedade e sobre a distinção social feita
a partir da identidade linguística.
Numa perspectiva que envolve pressupostos linguísticos e sociais para uma História Social da Língua, este trabalho investiga o modelo de colocação pronominal adotado por uma instituição escolar
jesuítica de grande expressão no cenário paulista no começo do século XX, compreendendo a escola
como instituição difusora não só do conhecimento linguístico, mas também de valores e saberes compartilhados socialmente.
Para tanto, procedemos a uma análise de um fenômeno aparentemente pouco controlado normativamente à epoca, dada a escassez de descrição em gramáticas, que é o da colocação pronominal em
contextos de verbos infinitivos introduzidos por preposição. O corpus é constituído de panegíricos e
discursos produzidos na instituição, no intuito de avaliarmos a concreta realização da variedade.
Dialogamos com alguns estudos para uma ampla visualização do fenômeno através do tempo. Primeiramente, o estudo de Godoy (2006) sobre o português europeu, que organiza dados do século XVI
ao XIX, com o objetivo de descrever o comportamento dos pronomes em relação aos verbos nas infinitivas introduzidas por diferentes preposições e detectar tendências proclíticas e enclíticas ou variação desses posicionamentos ao longo do período estudado. Em seguida, comparamos nossos dados com outros
que mapeiam a mudança desse fato linguístico em textos do final do século XIX e começo do século XX
e estabelecem um olhar atento para os fatores não-linguísticos e os condicionamentos linguísticos. Entre
eles, os estudos de Pagotto (1998,2011), Santos Silva (2012), Oliveira (2011, 2013, 2014). Esses estudos
norteiam as discussões feitas sobre nossos dados, que demonstram a ênclise como escolha categórica.
Assim, para a análise de dados, tomamos o modelo teórico-metodológico de Labov (2008), a fim de
verificar, dentro dos padrões sociolinguísticos de quantificação de dados, os fatores condicionadores da
variação.
A ausência e/ou presença de artigo definido diante de antropônimos na
fala dos moradores das cidades de Abre Campo e Matipó.
Um estudo sociolinguístico
Andréia Almeida Mendes (Universidade Federal de Minas Gerais)
A variação sintática da presença ou ausência de artigo definido diante de antropônimos na fala dos
moradores das cidades de Abre Campo e Matipó foi analisada através de um estudo sociolingüístico.
Este estudo analisa por que duas localidades tão próximas possuem padrões divergentes no que diz
respeito à ausência ou presença de artigo definido diante de antropônimos e verifica se os falantes das
distintas localidades possuem percepção quanto ao fenômeno da ausência ou presença de artigo definido no contexto de antropônimo. Avança-se um pouco mais na pesquisa realizada em 2009, durante
o mestrado; para tanto, a fala atual dos moradores da zona urbana bem como dados de língua pretérita
foram analisados. Cumpre lembrar que a escolha destas duas localidades ocorreu devido ao fato das
cidades exibirem padrão linguístico diferenciado no que diz respeito ao uso do artigo definido diante de
antropônimos: apesar de serem vizinhas limítrofes, Abre Campo apresenta mais ausência e Matipó mais
presença de artigo definido no contexto de antropônimos. Por serem localidades pequenas, esperou-se
que o padrão de variação comprovado em Almeida Mendes (2009), registrado na fala rural, também
se comprovasse na fala dos moradores da zona urbana; para tanto, nesta nova pesquisa, foram realiza- 151 -
Comunicações livres / Comunicacións libres
das entrevistas orais semi-estruturadas com os moradores da zona urbana. Concomitantemente, foram
examinadas atas, escrituras e testamentos das referidas cidades em três intervalos de tempo datando de
1875 a 1950, com o intuito de levantar hipóteses acerca da origem do padrão de cada localidade. Para
tanto, adotam-se os pressupostos teóricos de Bynon (1977) e Labov (1994), segundo os quais a Linguística História deve investigar e descrever como as mudanças ocorrem ou como o sistema linguístico
preserva uma estrutura.
PALAVRAS-CHAVE: Artigo definido; antropônimo; Matipó; Abre Campo.
Construções com se + SN plural: cancelamento da marca de pluralidade
no Português Europeu e de São Tomé e Príncipe
Angela Marina Bravin dos Santos (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro)
Esta pesquisa Sociolinguística Variacionista focalizou, nas variedades europeia e santomense do português, o uso ou não do elemento flexional de 3ª pessoa do plural nas construções com se combinado
a verbos transitivos diretos seguidos de SN plural: (1) eu digo isso muitas vezes e acho em todos os
aspectos desde a construção_ criou-se novas oportunidades _ (Português de Portugal); (2) Em Nigéria
vê-se pessoas (Português de São Tomé e Príncipe). A ideia foi a de estabelecer um contraponto entre
os resultados obtidos para essas duas variedades, partindo da hipótese de que, no português europeu
(PE), a regra para o uso da flexão é variável, enquanto no português de São Tomé e Príncipe (PST) o
cancelamento é categórico. A expectativa que guiou esta pesquisa foi a de que a ausência da flexão de 3ª
pessoa de plural não recebe valor negativo como ocorre se o apagamento se realizar em sentenças ativas,
com SNs no plural antepostos ao verbo. Para testar essa hipótese, foram estabelecidas comparações com
trabalhos variacionistas sobre concordância verbal de 3ª pessoa do plural no PE, PB (português brasileiro) e PST. Em relação ao banco de dados utilizado, recorre-se a três amostras para a fala europeia: 54
entrevistas, de orientação sociolinguística, do Projeto Estudo comparado dos padrões de concordância
em variedades africanas, brasileiras e europeias do Português, coordenado por Sílvia Brandão e Sílvia
Rodrigues Vieira e disponível em www.letras.ufrj.br/concordância, 18 referentes a Cacém, 18 a Oeiras,
ambas as comunidades situadas na Região Metropolitana de Lisboa, e 18 a Funchal, capital da Ilha da
Madeira. No tocante à variedade de São Tomé e Príncipe, as entrevistas que constituem a amostra foram
realizadas, em 2009, por Tjerk Hagemeijer e compõem o Corpus VARPOR, do Centro de Linguística
da Universidade de Lisboa. Para a análise das construções com se, os resultados sugerem que, no PE,
apagamento e realização do elemento flexional de 3ª pessoa competem entre si, tratando-se, portanto, de
uma regra variável, diferentemente do seu uso nas sentenças ativas no PE, em que a presença da marca
de plural é semicategórica. Da comparação estabelecida com base nas análises do PB e do PST, atesta-se
o mesmo comportamento: variação entre ausência e presença da flexão também nos demais contextos.
O estudo do gênero Memórias Literárias através da Teoria da Avaliatividade
Angelane Faustino Firmo (Universidade Federal do Ceará)
Mônica de Souza Serafim (Universidade Federal do Ceará)
O estudo aqui proposto se baseia no modelo de análise desenvolvido por Martin e White (2005), intitulado de Teoria da Avaliatividade. Segundo esse modelo de análise, é possível encontrarmos marcas das
emoções, das ideologias e dos julgamentos do autor nos enunciados por ele produzidos. Martin e White
(2005) propõem a divisão do modelo avaliativo em três subsistemas, a saber, Atitude, Gradação e Engajamento. Para este trabalho, deter-nos-emos nos dois primeiros subsistemas que tratam da intensificação
ou da redução da emoção do autor. Sendo assim, esta pesquisa tem por objetivo analisar a construção da
emoção do autor, por meio do sistema avaliativo, no gênero Memórias Literárias. Além da base teórica
apresentada anteriormente, nosso estudo se embasará na noção de dialogismo e de potencial significa- 152 -
Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
tivo da língua de Bakhtin (2009); na noção de língua e significado de Halliday e Matthiessen (2006); na
gramática funcional descrita por Halliday (2004) e na conceituação de emoção de Charaudeau ( 2011).
Nosso objeto de estudo são 15 textos finalistas das Olimpíadas de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro, do ano de 2010, pertencentes ao gênero Memórias Literárias e selecionados diretamente do portal do
referido programa. Os textos analisados foram produzidos por alunos de escolas públicas brasileiras.Os
resultados nos revelaram que quanto mais descritivo é o relato das vivências do narrador, mais marcas
atitudinais e graduais podem ser encontradas no gênero. Tal resultado nos mostra a importância dessas
marcas para a construção de sentido e para a caracterização deste gênero textual, ajudando, por exemplo, no compartilhamento da emoção do narrador do gênero Memórias Literárias com o seu leitor. O
estudo do gênero Memórias Literárias por meio do sistema avaliativo pode ser utilizado por professores
e alunos porque não trata de uma simples categorização de estruturas, mas da análise de mecanismos
linguísticos que garantem toda a expressividade do gênero.
Contribuição de mais um elemento linguístico para ilustrar a irmandade
entre Galicia, Portugal e Brasil
Anna Maria Nolasco de Macedo (Instituto de Letras, Universidade Federal da Bahia)
Traz-se a lume nesta comunicação a ocorrência de item lexical bastante polissêmico. A palavra osga é de
origem controversa para uns e para outros vem do árabe. Não faz parte do rol de palavras relacionadas
no Atlas Linguistico Brasileiro – ALIB e somente consta no Dicionário dos Dicionários da Língua Galega um significado popular de osga [odio, rabia, mala vonluntad], referendado por Filgueira Valverde
et al. (1926) no Vocabulario castelán-galego. Apesar da osga ser um pequeno e inofensivo lagarto, existe
um medo atávico a ela relacionado por associação à figura emblemática do dragão. É réptil da ordem
dos escamados, de cor acinzentada com variações e que se alimenta de insetos, sendo capaz de se mover
em superfícies verticais e de ser identificada pelo padrão dos olhos. O nome osga é usado no campo da
Biologia no Brasil, em Portugal e na Galicia. No Brasil este animal é conhecido de norte a sul e o seu
nome mais difundido é lagartixa. Na Amazonia e em boa parte do nordeste é osga; no Espírito Santo é
taruíra (do tupi taraguira); há, ainda, quem a conheça como bibra (ou biba), uma possível alteração de
víbora. Há estudos que indicam haver pouca incidência do animal na Galicia, sendo localizado apenas
na comarca de Verín, com o nome local de ladra, conforme aponta Constantino Garcia (Glossário de
Voces Galegas de Hoxe. Anexo 27 de Verba, 1985), e em Valdeorras. Trata-se da animal encontrado em
toda a Espanha, exceto na cornija cantábrica. Em Portugal as osgas são abundantes no centro e no sul
do país, sendo muito raras no norte. Foram encontrados diversos significados populares para a palavra
osga como ‘nada’, ‘gorgeta’, ‘velha feia’, ‘sujidade’, ‘ ovelha que conduz o rebanho’, entre outros. Pode-se
comprovar, assim, que a tradição oral fez chegar até hoje, acumulado por milhares de anos, um investimento cultural de inúmeros povos.
A composição de palavras no Foro Real, de Afonso X
Antonia Vieira dos Santos (Universidade Federal da Bahia)
No âmbito dos estudos relativos à formação de palavras em perspectiva histórica, a composição tem
recebido pouca atenção, comparativamente aos estudos que versam sobre a derivação, em especial os
processos sufixativos. Além disso, o estudo linguístico que geralmente acompanha as edições filológicas
de textos medievais não contempla, de forma mais aprofundada, a composição de palavras, por vezes
reduzida à apresentação de alguns exemplos. Pretende-se com este trabalho, portanto, evidenciar a composição de palavras como um mecanismo presente no período arcaico, em especial na sincronia galego
-portuguesa. O corpus utilizado é o Foro Real, de Afonso X (edição de José de Azevedo Ferreira), cuja
datação é remetida para a segunda metade do século XIII. Na descrição e análise dos compostos, será utilizada a classificação proposta por Ribeiro e Rio-Torto (2013) para as palavras compostas do português
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Comunicações livres / Comunicacións libres
contemporâneo. Apresentam-se no corpus, preliminarmente, os seguintes padrões de composição: NA
(Nome + Adjetivo) como porco montes, AN (Adjetivo + Nome), como rico homẽ, e NprepN (Nome +
preposição + Nome, como molher d’ordin, modelos presentes no português e no galego contemporâneos.
O emprego de macar na lírica profana galego-portuguesa
Antonio Augusto Domínguez Carregal (Universidade de Santiago de Compostela)
Dentro do elenco das partículas que introducen estruturas subordinadas concesivas, aparece a partícula
‘macar’, de orixe incerta e de emprego estendido en varias linguas románicas durante a idade media,
desaparecendo na maioría delas antes do final do século XV.
Esta comunicación pretende analizar os exemplos de estruturas concesivas na lírica profana galego-portuguesa, con especial interese na partícula ‘macar’, contrastando cos datos de traballos publicados
anteriormente sobre o tema e co seu emprego noutros textos coetáneos.
Traços do português e do mirandês setecentistas em códices notariais
de Miranda do Douro
António Bárbolo Alves (Centro de Estudos em Letras,
Universidade de Trás-os-Montes e Alto-Douro)
Anabela Leal de Barros (Universidade do Minho)
A edição do livro de assento dos testamentos do Lugar de Picote, em Miranda do Douro, de finais do século XVIII, tem revelado curiosa informação relativa ao mirandês, e ainda ao português setecentista de
Trás-os-Montes. Embora se achem redigidos na língua oficial e de escolarização, o português, e supostamente em português formal, seguindo fórmulas conhecidas, apresentam frequentemente elementos
lexicais, e alguns traços morfossintácticos, exclusivos do mirandês, enquanto as formas do português,
ou comuns a ambas as línguas, evidenciam com ampla variação grafias fonéticas que deixam notícia
dos aspectos mais característicos daquela língua. Na pena de escrivães provavelmente citadinos, tão
frequentes interferências no português formal fazem prova de que o mirandês esteve em tempos bem
mais disseminado, e de que as normas ortográficas do português tinham pouca força na documentação
oficial de um lugar tão afastado dos grandes centros académicos e administrativos do reino. Apresentarse-á neste trabalho uma caracterização geral do códice e sistematizar-se-ão as principais características
do português em que se acha escrito cada um dos testamentos, da autoria de escrivães distintos, e do
conjunto dos mesmos. Para além de documentarem amplamente a tradição ortográfica local para aspectos relativos ao dialecto transmontano e peculiares à língua mirandesa (contribuindo para aclarar a sua
realização fonética no século XVIII), são repositórios únicos de algum léxico próprio do mirandês que
não se acha em textos notariais de outras localidades da Terra de Miranda (cuja edição contrastiva faz
parte do projeto em curso), incluindo ainda léxico comum ao português mas em acepções diversas, que
apontam para traços peculiares da cultura mirandesa.
Emergência de palavras e sentidos em português por ação de processos
de blend
Antônio Suárez Abreu (Universidade Estadual Paulista «Júlio de Mersquita Filho»)
Tem este trabalho o objetivo de descrever o mecanismo de «blend» (cf. TURNER, 2014), no surgimento,
em português, de palavras e de novos sentidos de palavras.
Em muitos processos de «blend», ao mesmo tempo em que integramos atributos de um domínio
de origem a um domínio alvo, «desintegramos» alguns atributos do domínio de origem (cf. BACHE,
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
2005:17). É o que acontece ao dizermos metaforicamente: Minha mãe é uma rocha. O único atributo de
rocha conferido à mãe é resistência. Outros, como mineral e inanimado são desabilitados.
Pretendo tratar de três processos de «blend». O primeiro deles é a transposição, por metonímia, do
sentido de palavras que designam artefatos para designar seus efeitos. Uma palavra como batom, por
exemplo, designa um artefato, mas designa também seu efeito em: Seu batom está borrado; Você está
com batom no colarinho.
O segundo processo é a mudança de sentido de prefixos ou radicais por ação de chunking – adjacência e repetição (cf. BYBEE, 2010:34). Em telefone ou televisão, tele significa longe. Mas, em telenovela ou
telejornal, tele significa televisão, pois o prefixo te-le, por chunking, assimilou o sentido de televisão. O
mesmo ocorre em telemarketing, em que o prefixo tele assimilou o sentido de telefone.
O terceiro processo é o surgimento de outras palavras com sentidos diferentes do original, pelo efeito
do primeiro e segundo processos. Um exemplo é o adjetivo estereo-fônico. O radical stereos, em grego,
significa duro. Ora, estereofônico não significa som duro! De acordo com o primeiro processo, houve
a formação, originalmente em francês, da palavra stéreótype, composta por stereos (= duro) + typos
(= molde). Stéreótype, significava, portanto, um molde duro que produzia cópias repetidas, também
chamadas stéreótypes, tal qual batom pode significar um artefato ou seu efeito. Esse último sentido
de estereótipo é usado como metáfora, em: Esse personagem é um estereótipo. O radical stereo usado
em estereótipo (repetido) acabou assimilando, por chunking, esse último sentido e produzindo palavras como estereofônico, estereoscópico, em que stereo, agora, não significa duro, mas igual, repetido.
Concluindo, na primeira etapa, pelo efeito do «blend» da metonímia, estereótipo adquiriu o sentido
de cópia repetida, com desintegração do sentido de duro de stereos. Na segunda, também por «blend»
(chunking), esse radical formou novas palavras, significando agora repetição: estereofônico, som repetido; estereoscópio, ver imagem repetida.
Percorrendo traços linguísticos nos caminhos do ouro e do gado:
breve estudo comparativo de falares rurais de Minas Gerais
Arabie Bezri Hermont (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais)
Ev’Angela Batista Rodrigues de Barros (Pontifícia Universidade Católica
de Minas Gerais)
É recente a preocupação em descrever e analisar o «falar mineiro», que, na verdade, compreende muitos subfalares se considerarmos a grande extensão territorial de Minas Gerais e a dicotomia rural x
urbano (e, na visão sociolinguística, há ainda uma zona - não espacial, mas sociocultural - denominada
«rurbana»-, que condensa traços das duas primeiras - cf. Bortoni-Ricardo, 2004?). Dada a constituição
histórica do Brasil, considerando a forma de ocupação e a relação sujeito/espaço/atividade econômica, o
país foi dividido em 10 zonas culturais (cf. Diégues Júnior, 1960). Por esta abordagem, o estado de Minas
inscreve-se quase totalmente na zona cultural brasileira denominada de «mineração». Não obstante, as
atividades agropastoris desde sempre foram muito importantes e ambas as atividades implicaram adaptações da língua, que assumiu feições específicas conforme a região e os modos peculiares de lidar com
a vida e com o mundo (considerando aspectos culturais como a concepção religiosa, os aspectos folclóricos, as danças e ritmos musicais, a culinária, as percepções das patogenias e seus respectivos modos de
cura, os remédios naturais, etc).
Este estudo pretende trazer à luz uma análise comparativa do léxico rural de duas regiões de Minas
Gerais - a saber, a região sudoeste, dos «Sertões do Jacuhy» (cidade de Passos/MG, cf. Ribeiro, 2010)
e uma região fronteiriça à capital mineira, compreendida por dois municípios que se inscrevem na reserva nacional da Serra do Cipó (Jaboticatubas e Santana do Riacho - cf. Freitas, 2012). A comparação
do léxico rural destas duas áreas evidencia tanto traços semânticos e processos fonológicos comuns
de criação de itens e de prosódia, quanto aspectos idiossincráticos, relacionados a fatores pragmáticos
relativos às vivências dos falantes (todos idosos, analfabetos ou com mínima escolaridade). Analisamos
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Comunicações livres / Comunicacións libres
a constituição de nomes (com amplo espectro de atribuição - nomeação de vegetais, animais, superstições, doenças, alimentos, instrumentos de trabalho ou de lida doméstica, etc.), verbos (processos fonológicos em operação), além de uma gama de expressões idiomáticas - ou fraseologias (sob estrutura de
sintagma preposicional ou constituição com um elemento fixo + outro variante), tentando iluminar o
espelhamento na/pela linguagem das relações homem/mundo.
Contrastive Left Dislocation in Middle and Modern Portuguese
Aroldo Leal de Andrade (Universidade Estadual de Campinas)
In the explorations on noncanonical syntactic constructions in Romance languages, researchers distinguish Clitic Left Dislocation (CLLD) from Hanging Topic Left Dislocation (HTLD). However, we argue
that Old and Middle Portuguese (until the end of the XVII century) showed a third dislocation construction, Contrastive Left Dislocation, where the resumptive element occupies a prominent position itself, as shown in (1). The resumptive form occurs usually as a demonstrative or a quantifier, usually with
universal semantics. With the help of data retrieved by means of queries applied to 16 parsed texts from
the Tycho Brahe Corpus of Historical Portuguese, a number of dislocation constructions were selected
from texts ranging from the XVI until the XIX century, and subsequently classified. We have observed
that the usage of sentences with CLD drops considerably with time, both in the XVIII and in the XIX
centuries. Nowadays the construction is still possible, but with an archaic flavour, except when the fronted constituent is connected to subject position. This picture suggests that the loss of such a construction may be related to the loss of verb movement to the left periphery, a fact that frequently triggers V2
word order in the texts (Galves, Britto & Paixão de Sousa 2005). By means of a formal approach to the
availability of noncanonical constructions, partly based on work by Gallego (2007), we consider that the
information packaging once expressed by CLD was mapped into clefts or into verum focus preposing
(Leonetti & Escandell-Vidal 2009). In order to give support to this proposal, we describe the context of
use of some examples, showing that they may express either type of packaging.
(1) ... porque o que fazemos e o que não fazemos, tudo pende de obediência.
‘because what we do and what we do not do, everything comes from obedience.’
(Luís Sousa, A vida de D. Frei Bertolameu dos Mártires, born : XVI century)
References
GALLEGO, Ángel. 2007. Phase Theory and Parametric Variation. Doctoral dissertation, UAB.
GALVES, Charlotte; Helena BRITTO & Maria Clara PAIXÃO DE SOUSA. 2005. The Change in Clitic
Placement from Classical to Modern European Portuguese: Results from the Tycho Brahe Corpus. Journal of Portuguese Linguistics 4: 1, p. 39-67.
LEONETTI, Manuel & Maria Victoria ESCANDELL VIDAL. 2009. Fronting and Verum Focus in Spanish. In Focus and Background in Romance Languages, Andreas DUFTER & Daniel JACOB
(eds.). Amsterdam: John Benjamins, 155-204.
Estudo acústico das fricativas do Português Brasileiro
Audinéia Ferreira-Silva (Universidade Estadual Paulista «Júlio de Mesquita Filho»)
O objetivo deste trabalho é descrever do ponto de vista acústico as fricativas labiodentais, alveolares e
palatoalveolares surdas e sonoras do Português Brasileiro em posição de onset e coda silábica. Para este
estudo, foi montado um corpus composto por palavras dissílabas (reais e logatomas). As palavras do
corpus possuíam as seguintes estruturas silábicas: CV.CV; CVC.CV; CV.CVC. Assim, a posição de onset
foi ocupada pelas fricativas labiodentais, alveolares e palatoalveolares e pela oclusiva bilabial surda. A
posição de coda silábica foi ocupada sempre pelas fricativas alveolares. O núcleo silábico, por sua vez,
foi ocupado pelas vogais /a/, /i/ e /u/ com o objetivo de verificar se o contexto vocálico interfere nas
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
características das fricativas. As palavras do corpus foram inseridas na frase veículo «Digo palavra-alvo
baixinho», com o objetivo de homogeneizar o ambiente fonético. O corpus deste estudo foi gravado por
cinco informantes (três homens e duas mulheres) naturais de Vitória da Conquista – BA, universitários
com idade entre 18 e 27 anos. Os parâmetros acústicos adotados para caracterizar as fricativas foram a
duração segmental e a frequência do espectro. Como se sabe, a duração segmental pode variar de acordo com vários fatores, por isso, optamos por analisar a duração relativa das fricativas, e não a duração
absoluta. Para a análise da taxa de frequência em que são realizadas as fricativas, utilizamos a análise
dos quatro momentos espectrais, proposta por Forrest et al. (1988). Nossos resultados evidenciam que a
duração relativa foi eficaz para distinguir as fricativas com relação ao ponto de articulação, à sonoridade,
ao contexto vocálico e à posição silábica. No que refere-se à frequência das fricativas, nossos resultados indicam um efeito significativo do ponto de articulação e contexto vocálico nos valores dos quatro
momentos espectrais das fricativas do português Brasileiro. Os resultados indicam que os momentos
espectrais centroide e variância foram mais eficazes para diferenciar as fricativas do que os outros dois
momentos, assimetria e curtose. Os resultados obtidos neste estudo sobre as fricativas do Português
Brasileiro indicam que as características acústicas desses segmentos estão diretamente ligadas a fatores
como ponto de articulação, vozeamento, posição dentro da palavra e contexto vocálico.
O projeto CONDIV – Convergência e Divergência entre PE e PB
no contexto do pluricentrismo linguístico
Augusto Soares da Silva (Universidade Católica Portuguesa - Braga)
O português é uma língua pluricêntrica no sentido de que possui diferentes variedades nacionais (Clyne
1992): PE, PB e variedades africanas em desenvolvimento. Sabemos que há diferenças entre PE e PB a
todos os níveis da estrutura linguística, mas pouco sabemos sobre a relação evolutiva entre PE e PB nos
últimos anos. O projeto CONDIV pretende saber se e como PE e PB convergem ou divergem ao longo dos últimos 60 anos nos domínios lexical, construcional e atitudinal. A nossa investigação anterior
(AAA 2010) envolvendo conceitos de futebol e vestuário mostra que a hipótese da divergência se confirma. A fase atual do projeto procura saber até que ponto variáveis lexicais, construcionais e atitudinais
se correlacionam como indicadores de divergência entre PE e PB.
No contexto de investigação sobre o pluricentrismo linguístico (Clyne 1992, Soares da Silva 2014),
a especificidade do projeto reside em dois aspetos. Primeiro, centramo-nos na inter-relação entre as
dimensões conceptuais e as dimensões sociais da variação pluricêntrica. Assim, o projeto inscreve-se
no quadro da Sociolinguística Cognitiva (Kristiansen & Dirven 2008, Geeraerts et al 2010), uma extensão emergente da Linguística Cognitiva. Segundo, utilizamos métodos socioletométricos que permitem medir distâncias linguísticas e correlacioná-las com todos os tipos de variáveis sociolinguísticas.
Especificamente, aplicaremos a socioletometria baseada em perfis onomasiológicos de conceitos, sendo
perfil o conjunto de palavras/construções usadas para designar determinada categoria conceptual, juntamente com as suas frequências relativas no corpus.
O projeto incide na variação onomasiológica entre expressões semanticamente equivalentes (sinónimos denotacionais). Assumimos o método onomasiológico, porque a escolha entre sinónimos denotacionais revela diferenças sociolinguísticas e, assim, a competição entre variedades linguísticas. Além
disso, trabalhar com expressões alternativas de conceitos permite um mecanismo de controlo capaz de
evitar os perigos temáticos e estatísticos. Medidas de uniformidade, de traços e atitudinais, baseadas em
perfis onomasiológicos, quantificam convergência e divergência entre PE e PB. Os materiais são extraídos de um vasto corpus de textos do PE e PB das décadas de 50, 70 e 2000, da internet e da oralidade.
São analisados vários conceitos de diversos campos lexicais e um conjunto de variáveis morfológicas e
sintáticas, referenciadas ou não na literatura.
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Comunicações livres / Comunicacións libres
Plano sobre a civilização dos índios do Brasil. Um estudo sócio-histórico
Bruna Trindade Lima Santos (Universidade Nova de Lisboa)
Zenaide de Oliveira Novais Carneiro (Universidade Estadual de Feira de Santana)
A documentação é condição sine qua non para o estudo das línguas, seja como material de análise direto, como representativo de um estado de língua, um corpus, seja como fontes indiretas; oferecendo
indícios da constituição de uma língua, sob a perspectiva histórica (Ginzburg, 2011), na medida em
que busca valorizar as especificidades de cada objeto, reconhecer o caráter indireto do conhecimento
e, sobretudo, inferir as causas a partir dos efeitos, exercitando a conjectura e a imaginação criativa durante a análise e a pesquisa. Neste trabalho, em particular, a documentação setecentista, o «Plano Sobre
a Civilização dos Índios do Brasil», de Domingos B. M. Barreto, será analisada com base no paradigma
indiciário, em que se busca resgatar um vetor importante do processo de formação do português brasileiro (doravante, PB)– a vertente indígena – superando a questão das influências de línguas indígenas
no processo do PB, buscando analisá-la como parte constitutiva desse processo, podendo também o
documento servir como fonte direta da língua culta, o que não se constitui como propósito aqui, já que
o seu autor, Domingos B. M. Barreto, é um intelectual do seu tempo, bastante culto. Mattos e Silva (2001,
p. 298-299), a partir de fontes e estudos sobre a configuração social brasileira, ao tratar sobre a formação
do PB no período colonial, defende que os atores fundamentais no contexto de multilinguismo/multidialetalismo foram o português europeu, as línguas gerais indígenas e o português geral brasileiro. Por
falta de fontes diretas, busca-se contribuir com a situação descrita por Mattos e Silva, em que as línguas
gerais se confundiam com o português brasileiro geral, usando a metodologia da análise do paradigma
indiciário, e da filologia para edição do documento. É importante salientar que, no processo de formação do português popular brasileiro, alvo da nossa análise, via a vertente indígena, pouquíssimo estudada, ainda mais em momento tão importante, do limite entre as duas fases proposta por Lobo (2003)
para periodização do PB (quando da saída da Companhia de Jesus do Brasil), vai marcar profundamente
a política de implantação da língua portuguesa no Brasil, com repercussões importantes no processo
de constituição do PB, a partir de 1758, na chamada «Vitória da Língua Portuguesa». A preservação e
edição de manuscritos desse nível contribuem não apenas com a preservação documental, mas também
com a preservação da memória cultural de um povo.
Os parâmetros prosódicos favorecedores da redução do item não
no português brasileiro
Caio Cesar Castro da Silva (Universidade Federal do Rio de Janeiro)
A redução dos ditongos nasais é um fenômeno variável que ocorre no português desde a sua formação.
No português brasileiro (PB), atinge, sobretudo, as sílabas átonas finais de verbos e nomes. Além desses
casos, pode ocorrer no advérbio não, que pode se realizar como num, dependendo de fatores fonológicos.
Investigam-se, neste trabalho, os condicionamentos prosódicos que favorecem a realização variável
do ditongo nasal no item não quando em primeira posição do enunciado. A observação dos dados de
fala espontânea permitiu discriminar o comportamento do advérbio em função da localização no enunciado: a aplicação da regra variável de redução é categoricamente bloqueada em fim de sintagma entoacional, mas possível em posição inicial ou intermediária desse domínio. Os exemplos abaixo revelam seu
caráter variável: no início (exemplo 1) ou no meio do enunciado (exemplo 2) pode ter variação, enquanto no fim (exemplo 3) deve sempre ocorrer em sua forma plena, como nos casos das duplas negativas.
(1) Não/ num apareceu ninguém aqui hoje.
(2) João não/ num apareceu aqui hoje.
(3) João não/ num apareceu aqui hoje não/ *num.
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
Levantou-se a hipótese de que o não funcione como um clítico quando adjunto a um verbo (RAMOS, 2003), o elemento hospedeiro (essa configuração não ocorre no fim do enunciado). O processo
de cliticização de um elemento envolve a perda do acento, que, no português, só é atribuído a palavras
prosódicas (VIGÁRIO, 2003). Sendo assim, espera-se que, ao sofrer cliticização, o advérbio perca o
acento e deixe de ser associado a um evento tonal que marca a primeira posição do enunciado no PB.
Objetiva-se analisar os dados de redução na primeira posição, que apresenta a proeminência associada a um acento tonal, o que caracteriza o contorno pré-nuclear. Da mesma forma, o parâmetro da duração será observado, a fim de identificar se a elementos reduzidos corresponde menor duração em ms.
Serão analisados os dados de dez informantes, entre homens e mulheres com ensino fundamental,
moradores de Nova Iguaçu. Essas entrevistas fazem parte do Projeto Concordância. Para a análise estatística, será utilizado o programa Goldvarb X e, para a análise acústica, o programa PRAAT. A base
teórica é a da Fonologia Prosódica e da Teoria Autossegmental e Métrica.
Os resultados preliminares confirmaram as hipóteses levantadas, porque os itens com redução tem
menor duração e os dados de ‘num’ são menos associados a um acento tonal, com aproximadamente
77% de redução.
A tradução no ensino da língua portuguesa: léxico, semântica, morfologia
e conhecimento histórico-cultural - o caso do ensino de português para
ítalo-falantes
Carla Marisa da Silva Valente (Universidade de Florença)
Partindo de um estudo de reflexões críticas em context os luso-italianos relativamente à prática da
tradução de textos autênticos e didáticos no ensino das línguas estrangeiras, apresentaremos as vastas
aceções do conceito de tradução considerando determinados ângulos de estudo da linguística na era
da comunicação cibernética. Concentrar-nos-emos inicialmente num estudo fundamentalmente metodológico. Posteriormente proporemos uma análise de aspetos lexicais, semânticos, morfológicos e
de conhecimento histórico-cultural da tradução de textos autênticos como instrumento de ensino das
línguas estrangeiras. De seguida refletiremos e averiguaremos que no caso da tradução de Português –
Italiano e vice-versa a tradução resultará muitas vezes improfícua,na medida em que a origem neolatina
que une o idioma português ao italiano também os separa assiduamente e diacronicamente. Finalmente,
demonstraremos a importância de uma ligação cada vez mais coesa entre o âmbito do ensino das línguas
estrangeiras e o âmbito dos estudos tradulógicos.
PALAVRAS-CHAVE: Língua portuguesa; tradução e ensino; ítalo-falantes; estudos tradulógicos.
A voz nas letras da imprensa nacional: uma análise de discursos sobre
a voz na mídia brasileira
Carlos Piovezani (Universidade Federal de São Carlos)
A exposição pretende apresentar os resultados obtidos pelo projeto de pesquisa «Discursos sobre a voz
na mídia brasileira contemporânea» (FAPESP 2014/09947-3), que desenvolvemos no Departamento de
Letras e no Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade Federal de São Carlos, desde
agosto do ano passado. Consoante com os objetivos de nosso projeto e fundamentados nos postulados,
noções e procedimentos da Análise do discurso, derivada de Michel Pêcheux, aos quais incorporamos
as contribuições de Michel Foucault, em nossa intervenção interessa-nos divulgar as descrições e interpretações que realizamos sobre os discursos que tematizam a voz humana e que foram produzidos e/
ou veiculados pela mídia brasileira contemporânea, considerando i) as formações discursivas e as condições de produção que determinaram o que se pôde e deveu ali ser dito a seu propósito; ii) as distintas
modalidades enunciativas, formas remissivas, escolhas lexicais e articulações sintáticas empregadas nas
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Comunicações livres / Comunicacións libres
formulações dos enunciados midiáticos acerca da voz; iii) as diversas memórias, conservações e apropriações desses discursos (Foucault, 2010, p. 10); e iv) as semelhanças e diferenças na abordagem da voz,
quando tratada nas esferas política, tecnológica e cultural por veículos da mídia nacional concebidos
como progressistas ou conservadores. Em resumo, nosso propósito consiste em responder a questões
como as seguintes: o que, como e por que se fala da voz na mídia brasileira? Quais são e de quais campos
provêm os enunciados retomados, reformulados e apagados, quando ali se fala da voz? Fala-se igualmente da voz na mídia, a despeito de sua utilização mais ou menos distinta em diferentes setores, tais
como na política, na tecnologia e no entretenimento? Há variações no tratamento que lhe é dispensado,
tal como, por exemplo, maior ou menor alusão a elementos prosódicos, em termos mais ou menos leigos
ou especializados, da melodia, da dinâmica e da qualidade da voz, na medida em que ela é tematizada
nas seções de política, tecnologia e cultura, em veículos mais ou menos progressistas ou mais ou menos conservadores? Para que pudéssemos formular respostas a essas questões, analisamos uma série de
textos dos jornais Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo e Brasil de Fato e das revistas Veja e Carta
Capital, publicados entre janeiro de 2010 e dezembro de 2013.
Marcas de uso em um dicionário dialetológico: as marcas de tecnoleto
Carolina Antunes (Universidade Estadual de Montes Claros)
Maria José Francisco de Souza (Universidade Estadual de Montes Claros)
As marcas de tecnoleto, como as demais marcas de uso, são pistas ou traços observados no item lexical
ou na sequência de itens lexicais que assinalam seu espaço e tempo de ocorrência. Denotam o envolvimento histórico e sociocultural do usuário sob o qual e a partir do qual ocorre a (re)criação vocabular,
portadora de aspectos linguístico-culturais que evidenciam visões de mundo e valores da sociedade.
A análise das marcas de uso, feita a partir da aferição de sua ocorrência nos corpora do Dicionário do
dialeto rural no Vale do Jequitinhonha, possibilitou a identificação de 1142 marcas que foram organizadas em quatro categorias: temporais, espaciais, sociais e tecnoletais. Neste trabalho, são apresentadas
e analisadas as marcas tecnoletais. Essas marcas integram o que se pode denominar a língua de especialidade e são caracterizadas por uma peculiaridade que as define: designam conceitos que revelam o
desenvolvimento da ciência e da técnica no espaço e no tempo. Na obra analisada foram identificadas
apenas oito ocorrências de marcas tecnoletais, ou seja, 7% em relação a todas as marcas. Considera-se
que o estudo das marcas de uso em geral e das tecnoletais, em particular, é de suma importância para
os atuais estudos lexicais, uma vez que, no mundo contemporâneo, o léxico das línguas modernas em
geral e, dentre elas, o da Língua Portuguesa, tem tido um aumento vertiginoso. Isso vem ocorrendo em
decorrência das grandes mudanças sociais e da atuação dos meios de comunicação de massa e das telecomunicações, cuja frequência e intensidade vêm estimulando a integração das culturas e dos povos, a
adoção de novos hábitos, costumes, comportamentos sociais e, consequentemente, propiciando o abandono gradativo de outros e do léxico que os designavam.
Pereiroa, Pereiroá, Pereirúa e Pereiró. O sufixo diminutivo
ŎLUS / -ŎLA na toponimia galega
Carolina Pérez Capelo (Instituto da Lingua Galega,
Universidade de Santiago de Compostela)
O sufixo diminutivo latino -ŎLUS / -ŎLA deixou de ser produtivo en galego desde época ben temperá
(Alonso Núñez 2004: 13), ficando cristalizado nunha pequena manchea de voces comúns coma avó
(< *ĂVĬŎLU), filloa (< *FŎLĬŎLA) ou teiroa (< *TELARĬŎLA) e tamén nunha boa presada de topónimos coma Pereiroa, Pereiroá, Pereirúa e Pereiró. Son estes nomes de lugar, formados a través da adición
do devandito sufixo, o obxecto de estudo deste traballo.
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
No tocante ao seu significante, son particularmente interesantes as evolucións diverxentes que seguiu a forma feminina na lingua galega, así coma o seu reparto dialectal ao longo do territorio. Rexistramos, cando menos, catro solucións diferentes para -ŎLA(S), cunha distribución dialectal ben definida
que se remonta á época medieval (Álvarez Blanco 2007: 53, 54): -oa(s) é a variante maioritaria; -oá(s)
rexístrase principalmente na área mindoniense; -úa(s) aparece no nordeste lucense e, finalmente, -ó(s)
recóllese maioritariamente ao longo da costa pontevedresa.
Semanticamente un grande número dos nomes estudados teñen como base un fitónimo (cerdeira
→ Cerdeiroa); noutros casos, tamén abundantes, o sufixo é engadido a un apelativo que fai referencia
ao tipo de terreo (gándara → Gandaroa). De especial interese resultan aqueles nomes nos que o sufixo
se aplicou a unha forma toponímica preexistente; é o caso, p.ex., do topónimo Olveiroa que dá nome a
unha parroquia do concello de Dumbría (A Coruña), derivado diminutivo doutro topónimo, Olveira,
que dá nome á freguesía veciña (Martínez Lema 2010: 262).
Referencias
ÁLVAREZ BLANCO, R. (2007): «Ayroa, Riazón, Lagosteiras, Oiteiro. Algúns procesos de cambio lingüístico testemuñados en apuntamentos onomásticos de Martín Sarmiento», en L. Méndez e
G. Navaza (eds.): Actas do I Congreso Internacional de Onomástica «Frei Martín Sarmiento».
Santiago de Compostela: Asociación Galega de Onomástica, pp. 49-67.
ALONSO NÚÑEZ, A. (2004): «Aproximación á sufixación diminutiva non verbal a través dun corpus
textual medieval», en R. Álvarez / A. Santamarina (eds.): (Dis)cursos da escrita. Estudos de filoloxía galega ofrecidos en memoria de Fernando R. Tato Plaza. A Coruña: Fundación Pedro Barrié
de la Maza, pp. 9 - 34.
MARTÍNEZ LEMA, P. (2010): A toponimia das comarcas de Bergantiños, Fisterra, Soneira e Xallas na
documentación do Tombo de Toxos Outos (séculos XII-XIV). Santiago de Compostela: Universidade.
O pronome dativo galego: levantamento de usos a partir de corpora
informatizados
Cecilia Farias de Souza (Universidade de São Paulo)
Este trabalho integra pesquisa de mestrado e se insere nos estudos dos pronomes dativos com funções
diferentes da prevista pela estrutura argumental do verbo. Em galego, algumas formas do pronome dativo assumem, além da função de objeto indireto («Deiche un regalo»), um uso de caráter pragmático
(«Quen che me dera!», «O neno non che me come a comida»); a esse uso do pronome dativo como
elemento extra, não requerido pela estrutura do verbo, chamarei ‘dativo de empatia’ (cf. Fried, 2011).
Com o objetivo de estudar a semântica do pronome dativo galego de 1ª e 2ª pessoas (‘me’ e ‘che’) e o seu
uso como pronome de empatia, levantei em corpora dados quantitativos, fazendo uma tipificação do
dativo galego em diversos contextos, do uso prototípico (objeto indireto) ao pragmático (de empatia).
O caminho escolhido para estudar esse pronome consiste em: 1) caracterizar a semântica do caso dativo
de acordo com as propostas da gramática cognitiva (cf., entre outros, Janda (1988)); 2) estabelecer o
protótipo da relação conceitualizada pelo verbo e marcada com o caso dativo; e 3) definir como, a partir
do protótipo, o dativo se estende à relação de empatia do pronome galego.
Apresentarei neste trabalho o levantamento feito em dois corpora informatizados sobre o pronome de 2ª pessoa ‘che’. No Tesouro Medieval Informatizado da Lingua Galega – TMILG (http://ilg.usc.
es/tmilg/), reunião de 82 textos escritos em romance galego antes de 1600, foi encontrada uma única
ocorrência do uso de empatia do pronome dativo de 2ª pessoa; e no Tesouro Informatizado da Lingua
Galega – TILG (http://www.ti.usc.es/TILG/), que contém textos escritos em galego desde 1600, onde
foram encontradas mais de 33 mil ocorrências do pronome ‘che’ até 2013. Esse estudo permite delinear
a distribuição temporal das ocorrências encontradas, o contexto em que ocorrem e o documento de origem. Com dados de diferentes períodos da língua, busco mapear o percurso histórico desses diferentes
usos do pronome dativo.
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Comunicações livres / Comunicacións libres
Gramática e ensino de língua materna e estrangeira
Célia Maria Medeiros Barbosa da Silva (Universidade Potiguar)
Maria Fabíola Vasconcelos Lopes (Universidade Federal do Ceará)
A fim de perceber como a gramática funciona dentro de um contexto, seja ele de língua materna ou estrangeira, torna-se necessário considerar as unidades de gramática e de texto, tendo em vista a inter-relação dos componentes semânticos, sintáticos e pragmático-discursivos da língua em seu funcionamento. Por ora, voltamo-nos para as categorias gramaticais de língua materna, isto é, de língua portuguesa,
que podem servir de âncora para aproximar estudos teóricos à prática pedagógica, numa inter-relação
entre o saber e o fazer. Especificamente, objetivamos trabalhar uma compreensão mais ampla dos mecanismos por trás das vertentes que compreendem a gramática em diferentes situações de interação de
ensino, as quais envolvam gêneros distintos como ação reflexiva na formação de professores e contexto
de sala de aula, com enfoque para a discussão dessas questões atreladas a iniciativas para a promoção de melhorias no ensino de língua materna e estrangeira. Tal compreensão tem por fundamento
teórico-metodológico o Funcionalismo linguístico (HALLIDAY; MATTHIESEN, 2004), dentre outros
relevantes, como em Neves (1994) e Pezzati (2009), que entende a língua como um sistema mutável,
passível de variações e influenciável pelo contexto (DIK, 1997), no que concerne aos postulados gerais
sobre interação verbal e o uso real da língua em contextos de interação comunicativa. Fundamenta-se
ainda em aportes da linguística textual (KOCH, 2004, entre outros) e da análise textual dos discursos
(ADAM, 2008), além de aparatos teóricos que situam o texto como unidade de ensino no ensino de
língua materna e estrangeira (ANTUNES, 2009 e 2003; GERALDI, 2005, 2003 e 1996; SCHNEUWLY e
DOLZ, 2010), considerando também encaminhamentos didático-pedagógicos sobre o ensino de língua
materna e estrangeiras nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN): Ensino Fundamental e Ensino
Médio. Dessa forma, o embasamento teórico escolhido passa a oferecer um suporte adequado de análise
linguística, textual e de gênero na análise de diferentes discursos.
Os judeus na implantação do português em São Paulo:
dos guetos portugueses para as planícies de Piratininga
Célia Maria Moraes de Castilho (Universidade de São Paulo)
Este trabalho integra a agenda do Projeto para a História do Português Brasileiro, grupo de São Paulo.
Depois de historiar brevemente a presença de judeus em Portugal e no Brasil, relaciono inicialmente os
autores judeus de Inventários e Testamentos escritos na Vila de São Paulo, nos séculos XVI e XVII. Em
seguida, concentrando-me na produção de Manoel de Soveral, estudo aí as seguintes questões: (i) gramática dos pronomes, (ii) concordância verbal, (iii) sentenças relativas. Nas conclusões, aponto para um
choque entre duas gramáticas em Soveral: uma gramática conservadora, explicável pelo dialeto vernacular dos judeus, praticado nos guetos, e uma gramática inovadora, explicável pelo dialeto veicular dos
judeus, praticado em suas interações com a sociedade maior. Na continuação desta pesquisa, ampliarei
minha casuística, comparando a gramática de cristãos novos, portugueses e paulistas, sempre com base
nos Inventários e Testamentos.
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
Os efeitos sociais e linguísticos na formação do sistema de tratamento
de segunda pessoa do PB: análise de cartas pessoais (1870-1989)
Célia Regina dos Santos Lopes (Universidade Federal do Rio de Janeiro)
Leonardo Lennertz Marcotulio (Universidade Federal do Rio de Janeiro)
Thiago Laurentino de Oliveira (Universidade Federal do Rio de Janeiro)
O objetivo do trabalho é acompanhar diacronicamente a formação do (sub)sistema de tratamento de
segunda pessoa (2P), na posição de sujeito, com base em uma amostra de cartas oitocentistas e novecentistas. O corpus é constituído por cartas pessoais trocadas entre membros da mesma família ou entre
casais que foram produzidas por brasileiros, oriundos do Rio de Janeiro, no período de 1870 a 1989.
Além de mapear o comportamento linguístico das formas variantes de 2ª pessoa ao longo do período
proposto, serão levados em conta no trabalho: i) o controle de questões relativas às relações de poder e
solidariedade; iii) os graus de parentesco e (iv) os papeis sociais assumidos pelo remetente e destinatário das cartas. Considerando que as sociedades se organizam e reorganizam também estimuladas pela
dinâmica do Poder e da Solidariedade (cf. BROWN e GILMAN, 1968, entre outros), acreditamos ser
possível discutir, com base na análise das estratégias de referência ao sujeito de 2P, se as relações sociais
assimétricas (ascendentes e descendentes) e simétricas evidenciam uma sociedade orientada para uma
hierarquização ou para a solidariedade. Partimos assim de duas hipóteses norteadoras nesse estudo:
(i) o inovador você era, desde o século XIX, uma estratégia híbrida e ambígua transitando por espaços
discursivo-pragmáticos distintos, uma vez que resguardou propriedades do antigo tratamento nominal
abstrato (Vossa Mercê) com traços de distanciamento, ao mesmo tempo em que passou a concorrer gradativamente com o solidário pronome tu; (ii) o caráter polifuncional de você não se perdeu completamente ao longo do século XX, embora tenha passado a funcionar recorrentemente como estratégia empregada nas relações mais simétricas e igualitárias, . Como aparato teórico-metodológico, conciliamos a
sociolinguística variacionista laboviana (WEINREICH, LABOV & HERZOG, 1968; LABOV, 1994) com
a sociolinguística histórica (ROMAINE, 1982; CONDE SILVESTRE, 2007; HERNÀNDEX-CAMPOY
& CONDE SILVESTRE, 2012) para o tratamento dos dados e a interpretação dos resultados obtidos. O
programa estatístico GOLDVARB-X será a ferramenta utilizada para a análise quantitativa dos dados.
A palavra onde em textos escolares: a gramática da língua Çe a gramática
da norma
César Augusto González (Universidade do Vale do Rio dos Sinos)
Ana Maria Stahl Zilles (Universidade do Vale do Rio dos Sinos)
A palavra «onde» tem sido analisada de diferentes maneiras pela tradição gramatical. Apesar das incoerências de classificação, os usos de «onde» como conector foram reconhecidos por esta tradição.
De fato, «onde» pode ser utilizado como pronome relativo ou conjunção. Quanto aos usos de «onde»
como pronome relativo, a tradição gramatical fixou uma norma que insiste sobre a categorização de seu
antecedente exclusivamente como um lugar físico, contrariando e estigmatizando o uso amplamente
difundido na fala e na escrita. Por outro lado, quanto aos usos de «onde» como conjunção, raramente
a tradição gramatical reconhece este fato, que, no entanto, está registrado por reconhecidos filólogos
e gramáticos do Português. Esses usos são proscritos. Recorrendo à história da língua, verifica-se um
processo de convergência das formas latinas «ubi» (lugar onde) e «unde» (lugar de onde) para o atual
«onde», que carregaria ambos os núcleos semânticos: o de «lugar em que» e o de «lugar de origem».
Essas considerações ajudam a explicar os usos de «onde» constatados em um corpus de textos escritos em contexto escolar por alunos de Ensino Técnico Integrado ao Médio de um Instituto Federal da
região metropolitana de Porto Alegre, capital estadual mais ao sul do Brasil. Os 208 textos que constituem o corpus de 122.138 tokens e de 106.423 palavras foram elaborados durante aulas de Português.
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Comunicações livres / Comunicacións libres
Com auxílio da ferramenta SketchEngine, disponível on-line, levantamos o total de 187 ocorrências de
«onde» e as analisamos individualmente. 19 casos de advérbios foram descartados. Das 168 ocorrências
de «onde» relevantes para este estudo, encontramos 156 pronomes relativos, cujos antecedentes, em
ordem decrescente de frequência, correspondem às seguintes categorias: espaço físico, espaço nocional,
tempo, posse («onde» em lugar de «cujo») e eventos. Também identificamos 12 ocorrências de «onde»
em função de conjunção conclusiva ou explicativa. De uma perspectiva pedagógica, uma visão pouco
informada sobre os usos de «onde» levaria a uma avaliação negativa dos textos de nosso corpus, devido
à gramática da norma. Porém, um professor informado por teorias linguísticas é capaz de ler os usos de
«onde» nos textos analisados de modo a priorizar o sentido construído pelo aluno. Essa abertura para
a construção de sentidos demanda uma compreensão mais aprofundada do sistema linguístico usado
pelos alunos, a gramática da língua.
Considerações sobre a consoante nasal velar, travadora de sílaba
Christiane Lima da Camara Monteiro (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)
Nosso trabalho se propõe a investigar a ‘nasal’ em posição final de sílaba ou de palavra, assim como o
desenvolvimento da consoante nasal palatal, fonema românico que não existia em latim.
De acordo com nossas observações, como professora tanto de História da Língua Portuguesa, quanto
de Fonética e Fonologia, a desconsideração da existência de uma consoante nasal travadora de sílaba é
desconcertante. Por um lado, em fonética histórica, como explicar a passagem de vĩo (< vinu) > vinho, por
exemplo, sem considerar uma consoante nasal velar que, em posição intervocálica, se palataliza? Por outro
lado, nas aulas de fonética, ensinar ao aluno que a transcrição da palavra ‘campo’, por exemplo, é [’kãpo]
nos causa desconforto, pois nenhum aluno, ao ler esta transcrição, pronuncia a palavra ‘campo’, de fato.
Uma vez que não se dispõe de registros fonográficos que demonstrem a(s) pronúncia(s) do português arcaico, e que, diante desse fato, só nos reste fazer conjecturas quanto à descrição das consoantes
e vogais naquela fase de nossa língua, parece-nos coerente considerar que pode ter havido, em vez da
síncope do [n] intervocálico latino, uma velarização desse [n] (paralelamente a uma ‘desdentalização’
do mesmo ). Pelo menos podemos considerar essa possibilidade em alguns casos. Observar esses casos
é o objetivo deste trabalho.
Como base para a nossa hipótese, apoiamo-nos em Mattoso Câmara, que considera a existência da
consoante nasal travadora de sílaba, e também no conceito de ‘agma’ , já observado pelos antigos gregos
e romanos: «O segundo caso diz respeito ao chamado n palatal ou velar, denominado ‘agma’, isto é, o n
antes das oclusivas velares g e c, percebido pelos gramáticos latinos como um som peculiar, distinto do
n linguodental.» (FARIA: 100)
Em uma pesquisa sobre a segmentação mórfica dos verbos com infinitivo monossilábico (MONTEIRO, 2013), percebemos que, em virtude da flexão e das diversas desinências que compõem a morfologia
verbal, são os verbos um bom campo para a observação e a análise de fenômenos fonéticos. Utilizamos,
pois, alguns verbos (portugueses e de outras línguas românicas) como ‘corpus’ desta investigação inicial.
Fragmentos do texto das Partidas de Afonso X em português:
análise de estruturas discursivas
Clara Barros (Universidade do Porto)
Pretendo analisar, nesta comunicação, a estrutura discursiva de diversos fragmentos das Partidas ─ editados por Askins et al. (Fragmentos de textos medievais portugueses da Torre do Tombo, 2002) e Dias
(«As Partidas de Afonso X: novos fragmentos», Revista Portuguesa de Filologia,1994) ─ que abarcam
mais de meia centena de leis de diferentes Partidas, pertencentes a diferentes códices. O facto de continuarem a ser editados fragmentos desta obra revela a existência de diversas cópias, confirmando a sua
grande circulação em tradução/versão portuguesa.
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
Dando sequência a um extenso estudo que fiz sobre a estruturação discursiva do texto da Primeyra
Partida (Barros, Versões Portuguesas da Legislação de Afonso X, Estudo Linguístico-discursivo, 2010) e
a uma tentativa de confronto desse texto com fragmentos da Segunda e Terceira Partidas a que procedi
em trabalho mais recente (Barros, «Tradição, normatividade e especificidade: estruturação discursiva
de textos legislativos medievais», XXVII ENAPL, 2012), proponho-me agora prosseguir essa pesquisa,
analisando alguns fragmentos de outras Partidas no sentido de verificar se neles se mantêm aspetos que
venho tentando estabelecer como marcantes na estrutura discursiva deste texto legislativo.
Dentro da linha de investigação que tenho adotado, analisarei as estratégias discursivas características da redação desta obra, começando por aspetos definidores da coesão macroestrutural dos textos
─ organização sequencial, planificação e composição. Analisarei em seguida a relação que se estabelece
entre dois tipos de discurso: o discurso deôntico, que expõe a lei, e um discurso assertivo-argumentativo
com pendor de justificação. Procurarei detetar estratégias típicas da argumentação justificativa baseadas
em raciocínios analógicos, em raciocínios causais-conclusivos ou em argumentos de autoridade, com
marcas intertextuais, em que a invocação de autoridades surja em citação direta ou parafraseada.
O objetivo desta comunicação é, portanto, verificar se os fragmentos em análise apresentam afinidades com o texto da Primeyra Partida e, em caso afirmativo, sublinhar os traços concordantes que os
filiam numa mesma tradição discursiva, demonstrando que existe uma unidade de estruturação discursiva no conjunto das versões portuguesas desta obra da legislação de Afonso X.
Indefinidos negativos na diacronia do português: O caso de nemigalha
Clara Pinto (Centro de Linguística, Universidade de Lisboa)
Nesta comunicação mostraremos que, além dos indefinidos nada, nenhum e ninguém, o Português Antigo dispunha também do indefinido nemigalha e que este segue um percurso de evolução semelhante
ao de nada e nenhum (de item de polaridade negativa fraca a item de polaridade negativa forte, na classificação de Martins (1997, 2000)), até ao século XVI, altura em que desaparece da língua.
Partindo da proposta de Garzonio e Poletto (2008, 2009) para a gramaticalização de minimizadores,
verificamos que nemigalha atinge a útima fase de gramaticalização, exibindo propriedades típicas de
um marcador de negação autónomo. Por um lado, não há registos de nemigalha como núcleo nominal
dentro de um sintagma determinante complexo. Por outro, nemigalha não exibe traços de flexão, nem
tem complemento preposicional (embora admita um modificador preposicional). Além disso, nemigalha já não expressa significado referencial, ocorrendo com verbos de qualquer campo semântico e sem
desempenhar função argumental, como em (1).
(1) E, a cabo de dous ãnos que nom chovera, sayo a Espanha o ryo de Barbat e comprio muyta
terra, tam grande foy a chea, pero que nõ chovera nemigalha. (CGE)
Verifica-se que, sobretudo a partir do século XV, nemigalha começa a surgir como único elemento
negativo em três tipos de contexto: em posição pré-verbal, como em (2), em posição pós-verbal, como
em (3), e como free standing n-word (cf. Progovac, 2005), com verbos copulativos e sintagmas preposicionais, como em (4) e (5), respetivamente.
(2) eu Em myl vergonhas me vy/ cõ omĕs que mapartaram/ & de quanto me contaram/ nemigalha lhes ouvy. (Cancioneiro, Garcia de Resende)
(3) Velha: E tu fazes nemigalha/senão comer e folgar/ e palrares como gralha. (Auto das Regateiras, António Chiado)
(4) O bem nunca se consome, /pecados são nemigalha, /quem com vícios presume /faz alicerces
de palha. (Cancioneiro, Garcia de Resende)
(5) Ai Deos, como oje é abaixada e tornada a nemigalha a cavallaria! (DSG)
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Dados do século XVI, como o que se exemplifica em (6), sugerem que nemigalha se terá tornado um
elemento funcional, podendo operar como único elemento negativo em contextos pressuposicionais (cf.
Larrivée, 2010 e Hansen, 2013).
(6) Oh quantas lendens vi nela/ e pentear nemigalha e por dá-me aquela palha/ é maior o riso
qu’ela. (Tragicomédia da Serra da Estrela, Gil Vicente)
A comparação entre nemigalha e o indefinido nada sugere que terá existido competição entre ambos, como mostraremos nesta comunicação.
entrante aa noite - O particípio presente no português antigo
Cláudia Martins (Universidade Nova de Lisboa)
Esta apresentação pretende, a partir da análise de textos do português antigo (PA) incluídos no Corpus Informatizado do Português Medieval (CLUNL/FCSH-UNL), descrever a distribuição sintática e as
propriedades do particípio presente no PA, verificando semelhanças e diferenças com outras formas não
finitas. Procurou-se averiguar o que caracteriza as formas -nte no PA e do português europeu contemporâneo (PEC) e o que as distingue de outras formas não finitas, no que diz respeito aos contextos em
que ocorrem, mas também quanto ao seu funcionamento. Analisando mais detalhadamente as orações
em que estes particípios ocorrem com função verbal, investigaram-se algumas das suas propriedades
internas, de modo a poder explicar o seu funcionamento e estrutura.
No PA, as formas de particípio presente tinham características distintas das do PEC. No português
de hoje, as formas terminadas em -nte subsistem apenas como nomes (estudante, presidente, pedinte) e
adjetivos (minguante, cadente, seguinte). O uso verbal destas formas desapareceu, tendo sido substituído por outras formas não finitas, nomeadamente o gerúndio e o infinitivo. Em estádios anteriores, no
entanto, era possível encontrar ocorrências destas formas não só como nomes (cf. (1)) e adjetivos (cf.
(2)), mas também com funcionamento típico de um verbo (cf. (3)):
(1) fazerem sombra aos caminhantes [séc. XVI, CRB]
(2) desobediẽtes ssom os hom(ẽ)s [séc. XIV,PP]
(3) descendiste do ceeo dante vida p(er)durav(e)l a(os) que te receben dignam(en)t(e) [séc. XIII/
XIV, VS]
Quando ainda mantinha o seu funcionamento verbal, o particípio presente ocorria nos mesmos
contextos sintáticos em que encontramos outras formas não finitas, principalmente o gerúndio. Estas
duas formas pareciam funcionar como variantes livres, tendo depois o gerúndio substituído a forma
participial na maioria dos contextos.
A análise dos dados e a comparação efetuada com as formas de gerúndio que ocorrem no mesmo
contexto (adjunção adverbial) permitiram concluir que as estruturas com particípio do português se
mostram mais defetivas (ocorrem sem conector, não há casos de negação própria e não há particípios
presentes compostos) do que as gerundivas. No entanto, essa defetividade não parece dever-se à própria
forma de particípio, pois foi possível encontrar particípios presentes como predicados principais.
Emergência de clíticos sujeitos na gramática do português brasileiro:
uma comparação com o Kriyol
Cláudia Roberta Tavares Silva (Universidade Federal Rural de Pernambuco)
Marcelo Amorim Sibaldo (Universidade Federal Rural de Pernambuco)
Construções com duplicação do sujeito (DS) no português brasileiro contemporâneo (PBC) são muito
frequentes (ex: O João, ele pulou.) (DUARTE, 2000; BRITTO, 2000; SILVA, 2004), à semelhança do que
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
ocorre no Kriyol (ex. José, el mora na Rio) (CASTRO, 2013), crioulo falado em Guiné-Bissau. Estudos
apontam que a produtividade dessas construções em PB deve-se a um processo de mudança na marcação do valor do Parâmetro do Sujeito Nulo, resultando na alta frequência de sujeitos plenos na posição
pré-verbal do sujeito (DUARTE, 1995, 2000). Em geral, tem-se defendido que essas construções nas
duas línguas são casos de deslocamento à esquerda (do inglês Left Dislocation (LD)), à semelhança do
francês (DE CAT, 2003) e do Kryiol (CASTRO, 2013), sendo o sujeito, portanto, um tópico tal como
defendido por Morais de Castilho (2013) ao analisar textos medievais portugueses cujas construções são
muito produtivas. Não obstante, Costa, Duarte & Silva (2004) apresentam evidências de que construções
com SDs em PBC nem sempre correspondem a casos de LD. Dessa forma, erguem-se duas questões: a)
que posição sintática é ocupada pelo sujeito e pelo pronome resumptivo em casos de não haver LD? e b)
de que natureza é esse pronome (fraco (XP) ou clítico (Xº))? Neste estudo, serão apresentadas evidências
de que esses dois pronomes estão disponíveis no PB e que há restrições para o uso de clíticos sujeitos em
alguns ambientes sintáticos, a exemplo das estruturas copulativas. Será defendido ainda que, sendo XP,
o pronome fraco ocupa a posição-A, Spec, TP e, sendo clítico (Xº), duas posições lhe estão reservadas
no PBC: ou no núcleo D formando um complexo com o DP sujeito que se encontra no Spec, DP (SILVA,
2004) ou adjungido a T (KATO; DUARTE, 2014). Para tanto, fundamentando-se no Programa Minimalista (CHOMSKY, 1995 e seguintes), este estudo discutirá os mecanismos de checagem do EPP nas duas
línguas em frases declarativas e evidenciará que os clíticos nessas línguas são sintáticos e não fonológicos
funcionando como elementos de concordância, ou seja, «cópias» dos traços do DP sujeito. Ademais,
argumentaremos a) que a emergência de um sistema de clíticos sujeitos em PB resulta do processo de
enfraquecimento de sua morfologia flexional, b) que não são «quase-clíticos», mas, de fato, clíticos, diferentemente de Nunes (1990) e c) que sua posição nem sempre será em adjunção ao verbo (ex: Eu, eu
ô sempre vou.), o que não está previsto em Kato & Duarte (2014) e Castilho (2010) ({noi-}: noivamo).
PALAVRAS-CHAVE: Português; kriyol; sujeito; clítico; EPP
Questões teórico-metodológicas para a abordagem diacrônica do texto
Clemilton Lopes Pinheiro (Universidade Federal do Rio Grande do Norte)
Os estudos linguísticos contemporâneos têm apontado uma forte tendência para a abordagem diacrônica das línguas, que foi relegada a segundo plano pela abordagem sincrônica, instalada a partir
dos estudos estruturalistas do começo do século XX. No Brasil, por exemplo, desenvolve-se o Projeto
Para a História do Português Brasileiro (PHPB), que, em linhas gerais, objetiva descrever o processo de
formação histórica do português brasileiro. Uma das novidades do PHPB é a inclusão de estudos sobre
texto em um projeto de natureza diacrônica. Essa novidade aponta para a necessidade de uma discussão
acerca da teoria da mudança, já que, para os fenômenos textuais, algumas particularidades se colocam,
relativamente aos fenômenos circunscritos ao nível da palavra e da frase. É indiscutível que os diferentes
componentes do sistema da língua estão em constante mudança. No entanto, é menos reconhecida a
mudança no que diz respeito a noções textuais. A textualidade pode ser concebida como um conjunto
de dados imutáveis e, de alguma maneira, atemporais, já que obedece a fatores de ordem cognitiva, relacionados à competência textual do usuário. Por outro lado, na medida em que se concebe que a competência textual se modifica com o tempo, é preciso considerar quais os componentes dessa competência
podem ser objeto de mudança. Considerando esse contexto, nesta comunicação, objetivamos discutir
as condições teórico-metodológicas necessárias para o tratamento diacrônico de fenômenos textuais. A
discussão parte dos estudos já desenvolvidos dentro do projeto do PHPB sobre a diacronia dos processos constitutivos do texto.
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O vocabulário dos tecidos no banco de textos do Dicionário Histórico do
Português do Brasil – séculos XVI, XVII e XVIII: um recorte lexicográfico
Clotilde de Almeida Azevedo Murakawa (Universidade Estadual Paulista
«Júlio de Mersquita Filho»)
A Lexicografia contemporânea, em especial a brasileira e portuguesa, vem se apoiando nos fundamentos
propostos pela Linguística de Corpus para a construção de bancos de dados ou bases textuais. Biderman
(2001, p. 134), considera este recurso um suporte imprescindível para a elaboração de dicionários quer
sejam gerais ou de especialidades. Um corpus, na opinião de Sardinha (2004, p. 17) pode ser considerado «uma coletânea de porções de linguagem que são selecionadas e organizadas de acordo com critérios
linguísticos explícitos, a fim de serem usados como uma amostra de linguagem.»
Foi com base nesses fundamentos que o banco de dados do Dicionário Histórico do Português do
Brasil – séculos XVI, XVII e XVIII (DHPB) foi concebido e organizado. Uma base textual constituída de
documentos da mais variada natureza e gênero de 3 séculos do período colonial brasileiro.
Com aproximadamente 9.500.000 ocorrências, o banco permitiu a elaboração do dicionário histórico com uma nomenclatura de 10.470 verbetes. Este banco, entretanto, permanece como fonte de
dados linguísticos que permite ao pesquisador buscar informações em todos os níveis de linguagem. O
programa Philologic que deu suporte informático ao banco textual do DHPB auxilia na busca quer por
unidades lexicais, quer por sintagmas ou ainda por porções de frases.
Usando dessa ferramenta, fez-se uma busca das unidades lexicais referentes a tecidos com o objetivo
de organizar um vocabulário, onde tais unidades estão contextualizadas em documentos dos séculos
XVI, XVII, XVIII e começo do XIX. Além de se obter o conteúdo semântico delas na época, obtêm-se
também a informação histórica e cultural que elas veiculam através dos contextos.
Esta apresentação busca mostrar quais são essas unidades especializadas, a definição lexicográfica
que a elas é dada nos dicionários de língua portuguesa dos séculos XVIII e XIX e o relacionamento delas
com a época em que estão documentadas.
Referências
BIDERMAN, M.T.C «Os dicionários na contemporaneidade: arquitetura, métodos e técnicas». In: As
ciências do léxico: lexicologia, lexicografia, terminologia. 2a Ed. Campo Grande, MS: Ed. UFMS,
2001. 268 p.
SARDINHA, T.B. Linguística de Corpus. Barueri: Editora Manole, 2004.
E era acusado de quê? Perguntas prefaciadas por E em sala de audiências
Conceição Carapinha (Universidade de Coimbra)
Na sala de audiências, grande parte das atividades diárias dos profissionais judiciários realiza-se sob o
formato de pergunta-resposta.
São bem conhecidos os estudos sobre perguntas em contexto judiciário (Atkinson e Drew, 1979;
Danet e Bogoch, 1980; Harris, 1984; Woodbury, 1984; Philips, 1984; Levinson, 1992; Luchjenbroers,
1997; Gnisci e Pontecorvo, 2004; Pascual; 2009; Sidnell, 2010; Brodsky et al., 2012); no entanto, escassa
atenção se tem dado a um tipo particular de pergunta frequente no contexto judiciário: a pergunta prefaciada por e. Os estudos existentes (Matsumoto, 1999; Johnson, 2001) apenas enfatizam a componente
anafórica veiculada pelo e prefaciador, ao ligar a pergunta seguinte ao discurso anterior, e analisam o
papel das perguntas prefaciadas por e na construção de uma sequência narrativa.
Este trabalho pretende realçar outras funções do e prefaciador e investiga os seus padrões de ocorrência e as suas funções em contexto de interrogatório judiciário. Partindo de um corpus de audiências,
de natureza penal, gravadas com fins académicos, e apoiando-nos no quadro teórico da Análise Conversacional, bem como em trabalhos de investigação no âmbito dos marcadores discursivos, este estudo
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
propõe a existência de duas outras funções específicas do e prefaciador neste contexto, para além das
assinaladas por Matsumoto e Johnson. Para além do seu valor aditivo, já atestado, os dados analisados
revelam que o item desempenha: (i) a função de organizador de um movimento argumentativo decorrente de uma sequência de pares adjacentes; (ii) a função de prefaciador de uma sequência iniciadora de
um novo tópico. Os resultados da investigação sugerem que estas duas funções, aparentemente distintas
e até díspares, podem ser utilizadas para criar coesão ao nível local (e prefaciador como marcador de
continuidade tópica) e ao nível global (e prefaciador como marcador de continuidade intertópicos),
tendo em consideração a organização tópica de um interrogatório judicial (Jubran et alii, 1992).
PALAVRAS-CHAVE: E prefaciador de pergunta; interrogatório judicial; organização tópica.
Sobre pessoa e referencialidade no português
Danniel da Silva Carvalho (Universidade Federal da Bahia /
Mary University of London)
Dorothy Bezerra Silva de Brito (Universidade Federal Rural de Pernambuco)
O objetivo deste trabalho é discutir o comportamento da 1ª pessoa do singular no português a partir
de dados de primeira pessoa do singular não marcada no português brasileiro (PB) encontradas em
dados do português afro-brasileiro coletados na comunidade de Helvécia, Bahia e Muquém, Alagoas. O
trabalho parte da análise de Brito e Carvalho (2014), que relacionam a estrutura de pro ao mecanismo
de licenciamento que torna possível que, ainda que a morfologia de primeira pessoa do singular não
esteja presente na flexão verbal, esta seja a referência recuperada por pro, uma vez que, segundo Rizzi
(1986), pro deve ser identificado e, para tanto, herda os traços phi do licenciador. Esta análise é, então,
reinterpretada a partir da noção de relativização de traços, proposta inicialmente por Preminger (2014),
assumindo-se um mecanismo de concordância também relativizado.
Léxico e edición das tenzóns galego-portuguesas. Algunhas hipóteses
Déborah González Martínez (Universidade de Santiago de Compostela)
O xénero poético-musical tenzón ofrécese explicado nos tratados poéticos medievais como unha composición entre dous trobadores que debaten ou dialogan por quendas estróficas. Na tradición medieval
galega aprécianse 33 tenzóns transmitidas polo Cancioneiro da Biblioteca Nacional (códice 10991), da
BNP, e o Cancioneiro da Biblioteca Vaticana (Vat.Lat. 4803), da Biblioteca Apostólica Vaticana, aos que
se engaden as copias tardías P e M para o diálogo de Afonso Sanchez e Vasco Martinz de Resende. Aínda
que a tenzón pode desenvolver temas tipicamente amorosos, a maior parte dos debates conservados presentan un notable carácter satírico ou burlesco, a miúdo ofrecéndose unha carnavalización do cotián e
a explotación da comicidade a través da crítica mordaz. Estas características aparellan certa diversidade
expresiva que, ocasionalmente, xunto aos problemas de transcrición ou aos erros de copia reproducidos
nos apógrafos, poden dificultar en distinta medida a tarefa do editor. Con esta comunicación, convídase
ao auditorio a visitar a produción debatística galego-portuguesa, chamando a atención sobre certas pasaxes merecentes de novas conxecturas.
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Comunicações livres / Comunicacións libres
Um olhar discursivo sobre as representações do teatro no campo político
e midiático durante a ditadura militar no Brasil
Denise Aparecida de Paulo Ribeiro Leppos (Universidade Federal de São Carlos /
Sorbonne Nouvelle-Paris III)
O objetivo desta exposição consiste em apresentar uma série de análises sobre os discursos que as mídias
brasileiras produziram acerca do teatro nacional contemporâneo durante as décadas de 1960/1970. O
teatro surge no contexto das representações religiosas das antigas civilizações e configura-se rapidamente em seguida num domínio particularmente suscetível à prática da censura, tendo em vista as frequentes críticas sociais de seus textos. No entanto, é no decorrer da segunda metade do século XX que se
criará no Brasil uma nova conjuntura política e social censora para o controle das produções artísticas, a
saber, a ditadura militar. A análise se centrará em um primeiro momento nos aspectos históricos em que
a relação teatro/política se sobressaía, dado que a dramaturgia passou a ser considerada um instrumento
privilegiado de crítica social. Nesta investigação, pretendemos analisar a revista «Extra realidade brasileira», de 1977, que publicou uma lista com os nomes dos escritores brasileiros considerados ‘malditos’
pelos agentes da censura federal do Brasil. Porém, não deteremos nossas análises apenas na listagem,
pois nos interessa, sobretudo, os textos da mesma edição que tenha abordando esta notícia, e ainda
outras edições de outros jornais e revistas que se tenham dedicado ao mesmo fato. Ali, entre os principais dramaturgos mencionados, consta o nome de Plínio Marcos, cujo trabalho foi, em grande parte,
proibido por ter sido considerado subversivo e vulgar. Por seu turno, o dramaturgo criticava os critérios
que a censura utilizava para avaliar as obras e afirmava que «um povo que não ama e não preserva suas
formas de expressão mais autênticas jamais será um povo livre». Exposto isto, analisaremos os processos
de interdição e controle do dizer na produção artística brasileira contemporânea, mais especificamente nos trabalhos de Plínio Marcos, pois é sabido «que não se tem o direito de dizer tudo, que não se
pode falar de tudo em qualquer circunstância, que qualquer um, enfim, não pode falar qualquer coisa»
(FOUCAULT, 2008, p. 9).
Redução do hiato no português brasileiro com apagamento da primeira
vogal: uma manutenção de formas arcaicas?
Dermeval da Hora (Universidade Federal da Paraíba)
Quando falamos de variação entre ditongos no Português do Brasil, de um lado, temos aqueles classificados como decrescentes, a exemplo de ¨cadeira¨, ¨touro¨, ¨caixa¨, e, de outro, aqueles denominados
de crescentes, como em ¨série¨, ¨edifício¨, ¨paciência¨, que entendemos serem muito mais hiatos propriamente ditos. Estudos relacionados aos primeiros se estenderam por várias regiões brasileiras e dão
conta de sua quase categoricidade, com pouca influência de fatores sociais aliados a seu uso. No que diz
respeito aos últimos, poucos são os estudos já realizados, e o que podemos observar é que a correlação
entre variáveis estruturais e variáveis sociais ainda é muito determinante na escolha de uma ou outra
variante, se ¨edifício¨ ou ¨edifiço¨ , se ¨paciência¨ ou ¨paciença¨, as formas com a redução do hiato são
atribuídas a falantes com pouca escolaridade. Nosso objetivo nesse trabalho é avaliar os dois tipos de
realizações envolvendo os segmentos mencionados e os processos relacionados. De um lado, usaremos
dados do Projeto Variação Linguística no Estado da Paraíba, sem perder de vista outras informações
relativas a outros projetos, de outro lado, utilizaremos os dados do Projeto de Tejucupapo, voltado para
a zona rural. Todo o trabalho tem como foco a abordagem variacionista na perspectiva laboviana. O
tratamento estatístico dos dados faz-nos correlacionar formas como ¨paciença e ausença¨ a falantes
de baixa escolaridade. Observando dados do português arcaico, entretanto, não é raro encontrarmos
itens como ¨Bonifaço¨para ¨Bonifácio¨. Além disso, encontramos no Português itens como ¨presença¨
cuja origem latina foi ¨presentia¨. Temos duas hipóteses a respeito dessas duas últimas colocações: (a)
na verdade, a redução do hiato não deve associar-se à baixa escolaridade, mas seu uso está relacionado
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
ao uso de arcaísmos na comunidade; (b) formas que entraram na língua pela erudição não são estigmatizadas, diferente daquelas que entram pela via popular, como ¨ausença¨ e ¨edifiço¨ para ¨ausência¨
e ¨edifício¨. Além dos dados sincrônicos serão avaliados documentos do português que remontam a
séculos anteriores.
O /R/ em coda silábica em algumas localidades do interior de Goiás
Dircel Aparecida Kailer (Universidade Estadual de Londrina)
Édina de Fátima Almeida (Universidade Estadual de Londrina)
O fonema /r/ pode realizar-se, em coda silábica, no falar brasileiro como glotal [ɦ, h],velar [ɤ,x], tepe
[ɾ], vibrante múltipla [r], retroflexo [ɽ], ou apenas não se realizar [ø] (CALLOU, MORAES e LEITE,
1997, BRESCANCINI e MONARETTO, 2008, AGUILERA e KAILER, 2012, entre outros). Além de
delimitar regiões, algumas dessas variantes podem ter mais prestígio ([ɦ, h], [ɤ,x] e [ɾ]), ou ser estigmatizadas ([ɽ]) ([r]) como um dos traços do falar de pessoas menos escolarizadas, do interior e mais
humildes (AMARAL, 1920; BOTASSINI, 2012; ALMEIDA e KAILER, 2015). Esses alofones do /r/ em
coda silábica, às vezes com modo e ponto de articulação bastante distintos como é o caso da retroflexa,
glotal e tepe, podem, também, coexistir na mesma localidade ou, até, no falar de um mesmo informante,
conforme observaram Almeida eKailer (2015) sobre o uso dos róticos em coda silábica em Goiás (Goiânia, Jataí e Quirinópolis). Diante disso, e dando continuidade a um dos subprojetos do Atlas Linguístico
do Brasil (CARDOSO et al., 2014), que é descrever as variantes dos róticos em coda silábica no falar
brasileiro, objetivamos, neste estudo, investigar o uso do /r/ em coda silábica em outras três cidades de
Goiás, Região Centro Oeste do Brasil (Catalão, Aruanã, São Domingos). Para tanto, tomamos como
base os pressupostos teórico-metodológicos da Sociolinguística Variacionista (LABOV, 1972) no intuito
de, também, identificar quais contextos linguísticos e extralinguísticos podem influenciar no uso dos róticos em coda silábica nessas localidades, bem como se o estilo de fala, avaliado a partir do questionário
(QFF- Questionário Fonético-Fonológico), dos relatos e da leitura de texto apresentam relevância para
a escolha de uma ou de outra variante desse fonema.
PALAVRAS-CHAVE: Róticos; ALiB; Goiás
Polivalência da conjunção que / che em português e italiano
Dmitry Gurevich (Universidade Estatal de Moscovo Lomonossov)
Liubov Zholudeva (Universidade Estatal de Moscovo Lomonossov)
Nas línguas românicas (em particular, em potruguês e italiano) a conjunção que / che é caracterizada
pelas funções polivalentes que implicam seu amplo uso. No processo da diferenciação estilística e da
normalização dessas duas línguas têm-se desenvolvido conjunções complexas com a base de que / che
ao mesmo tempo que muitos usos da conjunção que / che propriamente dita ficam marcadas como coloquiais e quase desaparecem dos gêneros literários. A comparação dos textos dramáticos das peças do
séc. XVI com os textos coloquiais actuais revela coincidências.
A conjunção que / che em português e italiano pertence às unidades lingüísticas que, no decorrer do
tempo, mudavam seu estatuto estilístico. Actualmente múltiplos usos do que / che são marcados como
coloquias ou mesmo são característicos da linguagem popular (it. Tu vai avanti che sai la strada; port. Dá
um pontapé que ela abre logo). Usos parecidos do que / che já se encontram nos textos escritos do séc.
XVI como marcas do coloquialismo (principalmente nos textos dramáticos).
No paradigma de usos de que / che podem ser detectadas duas funções diferentes: função conjuncional e função de conector sintáctico (mas não conjunção), ou de marcador discursivo, quando o factor
pragmático que assegura a unidade informativa da enunciação prevalece sobre o factor lógico. Os va- 171 -
Comunicações livres / Comunicacións libres
lores mais freqüentes de que / che como conjunção são a) causal; b) final; c) relativo; d) valor complexo
que inclui valor causal e relativo juntos.
Além disso, em certos exemplos o estatuto de que / che parece ambíguo: do ponto de vista da sintaxe
formal a presença desse elemento na frase não é obrigatória, no entanto a sua omissão deixa a frase sem
nenhum nexo pragmático (it. Fermati, Moro, ch’io ti voglio parlare; port. Vai diante, que eu te seguirei).
Usos de que / che acima mencionados podem ser encontrados em português ou italiano coloquial
moderno. Esses usos, que são característicos da linguagem informal, nem sempre são recomendados
pelas gramáticas normativas tradicionais como possíveis na língua padrão. Ao mesmo tempo a atenção
dos estudiosos da língua para as particularidades típicas da línguagem coloquial e a tentativa de inclui
-las na problemática da descrição gramatical mostram uma reavaliação dos critérios da normatividade
lingüística e a abrangência descriptivista e não normativista dos fatos da linguagem.
A evolução da posição do sujeito nas orações interrogativas
do português europeu
Domitila Maria Danielius de Oliveira David (Universidade Estadual de Campinas)
Entre os séculos XVI e XIX, a língua portuguesa passou por inúmeras mudanças sintáticas, principalmente no que diz respeito à ordem de palavras. Autores como Paixão de Sousa (2004), Galves e Gibrail
(2012), Galves e Paixão de Sousa (2012) estudaram as mudanças que ocorreram no português europeu
(doravante PE), no que diz respeito à ordem sujeito-verbo nas orações afirmativas. Segundo Paixão de
Sousa, que analisou as diversas ocorrências do sujeito nas orações afirmativas não dependentes enclíticas e proclíticas, o sujeito se encontra cada vez mais na posição pré-verbal ao decorrer dos séculos.
Entretanto, diferente das orações afirmativas, o português europeu moderno apresenta restrições em
relação à ordem de palavras nas orações interrogativas, como mostra o estudo de Ambar (1992), no qual
é possível concluir que a inversão sujeito-verbo é obrigatória nas interrogativas diretas, desde que o elemento qu- não seja acompanhado de um nome foneticamente realizado. Além disso, a ordem SV tornase possível, e obrigatória, se o elemento «-é que» for introduzida. Já nas orações interrogativas indiretas,
a inversão sujeito-verbo passa a ser facultativa (exceto no uso dos pronomes «que» ou de «porque»).
O uso de «-é que» também é possível, sendo a agramaticalidade que ocorre com o uso dos pronomes
«que» e «porque» resolvida. Ademais, assim como nas orações diretas, os constituintes com nome foneticamente realizado também não exigem a inversão nas orações encaixadas de interrogativas indiretas.
Isso posto, o objetivo geral deste trabalho é descrever o uso de orações interrogativas em textos de
autores portugueses nascidos entre os séculos XVI e XIX, no intuito de observar se houve mudanças na
ordem sujeito-verbo em interrogativas do PE. Para a realização dessa análise, foram utilizados 16 textos
anotados sintaticamente do Corpus Tycho Brahe, disponíveis para fazer buscas automáticas a partir da
ferramenta computacional Corpus Search.
A partir de buscas no corpus foi possível observar um aumento de orações interrogativas encaixadas de ordem SV no PE a partir de textos do século XVIII, sendo no século XIX o número de orações
interrogativas encaixadas de ordem SV maior que o número de orações interrogativas VS. Assim sendo,
podemos concluir a partir desses dados que ao longo dos séculos, a ordem de preferência nas interrogativas encaixadas é a SV, acompanhando a mudança que ocorreu nas orações afirmativas.
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
A oralidade popular presente em jornais da cidade brasileira de Recife
no início do século XX
Douglas da Silva Tavares (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
de Pernambuco)
A relação entre o oral e o escrito tem sido objeto de reflexões as mais diferentes. O presente trabalho
é o resultado de um estudo dos impressos recifenses dos trinta primeiros anos do século XX onde foi
observada tal relação entre Oralidade e escrita. Para tanto, foram tomados como referencial teórico os
estudos de Oesterreicher (1994), Oesterreicher (1996), Pessoa (1997) e Marcuschi (2007) para os quais
esta relação entre oral e escrito não se opera em termos de dicotomia, mas sim que estas duas modalidades estão em um continuum, resultando no fenômeno da presença de aspectos conceptuais tanto de
oralidade em textos escritos quanto de escrita em textos orais. Também, temos Zumthor (1985) para
uma abordagem dos índices de oralidade no texto escrito. Ainda, tomamos Souza Barros (1985), Moura
(1991) e Burke (2009) para a realização de uma história social do fenômeno aqui estudado. Assim, esta
pesquisa, um dos trabalhos desenvolvidos pelo Grupo de Estudos em História Social do Português de
Pernambuco – IFPE Campus Recife – Brasil, apresenta-se como mais uma contribuição nos estudos
históricos sobre a natureza das modalidades da língua e como estas têm sido realizadas em seus planos
mediais em diferentes épocas da história da humanidade.
Adentro das produções textuais: a noção de tecnologia em textos
de alunos do ensino fundamental
Duane Valentim (Universidade Federal de São Carlos / Universidade Nova de Lisboa)
Solange Christiane Gonzalez Barros (Universidade Federal de São Carlos /
Universidade Nova de Lisboa)
Nesta comunicação, temos como intuito analisar as relações léxico-gramaticais no processo de geração de
significação em produções textuais realizadas por alunos do 8º Ano do Ensino Fundamental II. Os textos
em análise são oriundos da «Avaliação da Aprendizagem em Processo» – avaliação aplicada semestralmente pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo que, neste ano, teve como tema o lançamento
de novos produtos tecnológicos no Brasil. Pudemos constatar que, quando abordado esse tema, há nas
composições dos alunos uma seleção do léxico remetendo para noções que destacam elementos relacionados com a lógica do consumo. As representações cognitivas, deste modo, veiculadas de tecnologia estão
ligadas às experiências de mundo dos alunos e são mediadas por fatores físico-culturais, além de dialogarem com noções socialmente já construídas. Dessa maneira, os alunos, valendo-se de marcas léxico-gramaticais, traduzem textualmente as relações psicossociológicas que caracterizam o processo de linguagem.
Pautamo-nos, para a análise das produções textuais, nos postulados da Teoria das Operações Predicativas
e Enunciativas. Esse referencial teórico nos propicia uma metodologia baseada na observação dos textos,
de suas formas lexicalizadas e construções gramaticais, para, por meio de uma análise metalinguística,
alcançar e reconstituir as representações psicossociológicas que são de natureza cognitiva e abstrata.
Referências
CULIOLI, A. Transcription du seminaire de D.E.A. de A. Culioli: recherches en linguistique: théorie des
opérations enonciatives. Paris: Departement de Recherches Linguistiques: Université de Paris
VII, 1976. 262 p.
CULIOLI, A. Pour une linguistique de l’enónciation: operations ET representations. Paris: Ophrys, 1990,
v.1.
REZENDE, L. M. Atividade Epilinguística e o Ensino de Língua Portuguesa. Revista Gel, S. J. do Rio
Preto, v.5, n. 1, p. 95 – 108, 2008.
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Comunicações livres / Comunicacións libres
Cenários históricos para o português: pluricentrismo, normatização
convergente e ensino de língua
Edleise Mendes (Universidade Federal da Bahia, Sociedade Internacional
de Português Língua Estrangeira)
As línguas pluricêntricas, por apresentarem variadas normas de uso, que se distribuem mais ou menos
em espaços geográficos regionais ou nacionais delimitados, são naturalmente marcadas por aspectos
históricos, culturais e identitários de um determinado grupo social e, por isso mesmo, apresentam muitos desafios para as políticas linguísticas que se desenvolvem na contemporaneidade, principalmente as
relacionadas à educação de modo geral e, mais especificamente, à educação linguística. Tomando como
referência a língua portuguesa, uma língua presente em quatro continentes e que abarca tanta diversidade quanto são os povos que a falam, a questão principal que orienta esta reflexão diz respeito aos modos
como devemos planejar as ações para o seu ensino e para a formação de professores, ressaltando-se a necessidade de que professores, pesquisadores e agentes desencadeadores das políticas educacionais para
as línguas possam compreender a necessidade de construção de uma nova gestão para o português, baseada na cooperação e no desenvolvimento de ações partilhadas, de âmbito transnacional, e que inclua
as variedades não centrais, que estão fora do eixo Portugal-Brasil. Para compreender as relações e tensões entre diferentes normas de uma língua pluricêntrica, descreverei alguns cenários históricos sobre o
ensino de português como LE/L2, com o enfoque nas ações políticas e institucionais desenvolvidas para
a promoção da língua não apenas a partir das normas centrais, como as portuguesa e brasileira, mas
sobretudo das outras normas que emergem no espaço da grande comunidade lusófona, inclusive nas
diásporas. Como implicações dessa discussão, destacarei perspectivas para o desenvolvimento de ações
de gestão conjunta da língua portuguesa, no âmbito da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa
(CPLP) e com enfoque no ensino e na formação de professores de português LE/L2, as quais contribuam
para o desenvolvimento de uma relação entre normas que seja convergente e cooperativa, contribuindo
para projetar o português como língua de comunicação global.
Enfraquecimento do /S/ em coda silábica em dados do sul
do Amazonas - Brasil
Edson Galvão Maia (Universidade Estadual de Londrina, Instituto Federal
de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas)
Estudos variacionistas apontam que o fonema /S/ em coda silábica apresenta uma grande variação no
português brasileiro. A variante alveolar é realizada na maioria das regiões do país, ao lado da variante
alveopalatal, também bastante difundida em algumas regiões como as capitais fluminense, catarinense e
paraense. No entanto, registram-se ainda o enfraquecimento da consoante, que passa a se realizar como
glotal, e até mesmo o apagamento da coda. Tais variantes são geralmente atribuídas à fala de pessoas
com pouca instrução, de classes mais baixas ou de regiões menos desenvolvidas. Em pesquisa dialetológica realizada em três municípios do sul do Amazonas – Boca do Acre, Lábrea e Tapauá – observou-se
a variante glotal em mais de 12% dos dados coletados, porém notou-se que o enfraquecimento se dá
em determinados contextos, principalmente anterior a uma consoante lateral, nasal ou africada (de[h]
ligar, me[h]mo e le[h]te). Essa pesquisa considerou as respostas ao Questionário Fonético-fonológico
(QFF) que tratam exclusivamente do fonema /S/ em coda silábica. Foram investigados 18 informantes
de ambos os sexos e de três faixas etárias diferentes. Quanto ao enfraquecimento do fonema pesquisado,
notou-se que está relacionado aos estudos da sonoridade e encontrou-se explicação na escala proposta
por Jaspersen (1904, apud HOOPER, 1976). Percebeu-se que quanto mais sonoro o segmento seguinte,
mais enfraquecido se torna o fonema em estudo, tendendo à realização glotal (aspirada), quanto menos
sonoro o segmento seguinte, mais aparente o fonema em estudo, privilegiando, para este caso, a variante
alveopalatal. As variáveis sociais consideradas mostraram-se irrelevantes para a investigação deste fe- 174 -
Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
nômeno. Todavia, é notória a relevância da variável linguística contexto posterior para a realização do
/S/ em coda silábica. Atualmente coletam-se dados para a elaboração do Atlas Linguístico do Sul Amazonense – ALSAM – nos municípios de Humaitá, Manicoré, Borba e Apuí, além dos três municípios
investigados anteriormente. Esses dados possibilitarão uma investigação acerca do enfraquecimento do
/S/ em posição de coda, considerando também o fator escolaridade. Nesta comunicação, apontam-se,
assim, alguns resultados obtidos a partir de corpus constituído para o atlas nos municípios de Humaitá
e Lábrea que podem ajudar tanto na compreensão desse fenômeno como indicar possíveis tendências de
sua realização no Sul do Amazonas, a serem confirmadas com a publicação do ALSAM.
Um olhar sobre as Politicas Linguísticas em África, em particular em Angola
Eduardo David Tulo Ndombele (Instituto Superior de Ciências de Educação-Uije)
Esta comunicação descreve situação panorâmica sobre as politicas linguísticas em Angola , em particular e em África em geral, e o estatuto do português no contexto plurilingue em Angola.
Pretende-se problematizar o modelo monolinguista de educação a partir de uma língua oficial, o
português no caso de Angola e do francês , inglês e espanhol no caso de África. Em geral estas línguas
supra não são as línguas maioritárias da população africana. Diante disso, questionamos : é possível
adaptar as propostas de planificação linguística de administraçâo colonial em África ?
A oficialização das línguas ex-coloniais em muitos países africanos, que é frequentemente acompanhada por uma falta de medidas para permitir, à maioria dos cidadãos, o acesso a elas ou para promover
as línguas nativas, é, até certo ponto, um exemplo dessa estratégia.
O sistema escolar é determinante no prestígio de que goza uma língua em determinada comunidade
de fala, além de ser o responsável pela produção, reprodução e recepção dos usos linguísticos (BOURDIEU, 1998). Assim, a planificação linguística é decisiva tanto para a nacionalização do português em
Angola ou a co-oficializaçâo das línguas bantu de Angola. A gestão dessa diversidade implica intervir
nas práticas e nas representações linguísticas e garantir os direitos linguísticos básicos para os falantes
plurilingues, como por exemplo, serem alfabetizados em suas línguas maternas.
PALAVRAS-CHAVE: Politica linguística; Angola.
Variación na morfoloxía verbal das falas da comarca do Ribeiro
Eduardo Louredo Rodríguez (Instituto da Lingua Galega,
Universidade de Santiago de Compostela)
Desde o comezo da lingüística galega, o verbo foi un dos temas que máis atraeu o interese dos lingüistas.
Un exemplo sobranceiro é a obra El verbo gallego de Antón Santamarina, na que describe o sistema
verbal da variedade do Val de Suarna e fai un estudo sincrónico e diacrónico do verbo que aínda hoxe
serve de referencia para a descrición e interpretación do sistema verbal do galego.
Esta comunicación pretende abordar algúns aspectos da morfoloxía verbal do galego falado na comarca do Ribeiro. A pesar da súa pequena extensión, esta comarca mostra unha interesante riqueza dialectal.
A morfoloxía verbal é un ámbito especialmente interesante para analizar esta riqueza. Esta investigación
tenta demostrar que non só o factor territorial condiciona a aparición dunhas variantes ou outras, senón
que a idade tamén se mostra como determinante.. Non se debe esquecer, a este respecto, que as xeracións
máis novas, a diferenza das anteriores, tiveron un contacto directo coa lingua estándar a través da escola.
O corpus de estudo está constituído polas respostas de trinta informantes da comarca a un cuestionario verbal dunhas setenta preguntas en total. A base de datos coas respostas ao cuestionario arrequeceuse tamén coa transcrición dunhas trinta horas de entrevistas semidirixidas aos mesmos informantes
procedentes de dez poboacións diferentes da comarca e que pertencen a tres grupos de idade diferentes
(mozos, adultos, maiores).
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Comunicações livres / Comunicacións libres
Neste traballo estúdanse varios fenómenos que presentan variación territorial e social (etaria) e que
afectan ao radical do verbo: a alternancia /u/ ~ /ɔ/ como VR na P2, P3 e P6 dos verbos tipo durmir e a
variación vallo/valgo, oucir/ouvir/oír, pór/poñer e facer/faguer. Ademais, estúdase tamén, cuantitativa e
cualitativamente, a variación na acentuación dalgunhas formas verbais: cantabamos/cantábamos, cantaramos/cantáramos e collamos/cóllamos.
Os obxectivos desta comunicación son, primeiramente, determinar as variables sociolingüísticas ou
doutro tipo que determinan a aparición das diferentes variantes. En segundo lugar, preténdese determinar os factores que inciden na dirección do cambio lingüístico que afecta á área. A hipótese coa que
traballamos é que se está a producir, nas xeracións novas, unha perda de riqueza dialectal na morfoloxía
verbal motivada por varios factores. Para isto, examínase, e trátase de medir, a influenza da lingua estándar, do castelán e das propias variedades que conviven na zona obxecto de estudo.
Estrangeirismos na língua portuguesa – do passado até aos nossos dias:
uma visão geral
Edyta Jablonka (Universidade Maria Curie-Sklodowska)
O objetivo principal deste estudo será o de apresentar a influência das línguas estrangeiras na língua
portuguesa através dos séculos. Pretendemos lembrar os processos de integração de diferentes palavras
de origem estrangeira durante a formação do português e os processos de enriquecimento do léxico pelos elementos provenientes das línguas modernas para chegar até à época atual e observar a dinamicidade com a qual se adaptam novas palavras, sobretudo nos meios de comunicação eletrónicos. Estes novos
lexemas permetem atualizar a lingua e aparecem não somente em português. O uso dos estrangeirismos
permite-nos observar que estamos em busca das formas mais simples possível, procuramos novas formas de expressão para determinar fenómenos cujo aparecimento às vezes é momentâneo, como o da
palavra belfie – derivada da selfie.
Como base do nosso estudo, tomaremos em consideração os trabalhos de vários linguistas portugueses e brasileiros (Alves 1994, 2004; Castro 1991, 2004; Silva Neto 1952, Mattoso Câmara Jr. 1977,
entre outros). Lembraremos também a definição de P. Lerat (1987), que trata os estrangeirismos como
„um subconjunto constituído pelas importações alógenas, isto é, as unidades que violam o sistema linguístico de acolhimento, seja do ponto de vista fonológico, morfológico (derivacional ou flexional) e/ou
mesmo sintáctico.» O linguista polaco B. Walczak (1987) sublinha o valor comunicativo como critério
mais importante para o emprego dos estrangeirismos, assim como a possibilidade do enriquecimento
do léxico da língua importadora. Daí resulta o caráter internacional de muitas palavras e a criação dos
neologismos que contribuem para a renovação do vocabulário vernáculo.
Pretendemos ver os estrangeirismos de maneira geral não como um elemento nocivo, uma ameaça
contra a integridade da língua, mas como um elemento enriquecedor, um fenómeno natural que encontramos em cada língua. Apesar de existirem vozes negativas quanto ao uso das palavras estrangeiras, na
nossa época parece impossível não usar certos termos.
«É impressionante como a música caiu o nível hoje em dia»:
O tópico sujeito, um caso de mudança na expressão de posse externa no PB
Elaine Alves Santos Melo (Universidade Federal do Rio de Janeiro)
Este trabalho tem como objeto de estudo construções de tópico sujeito, como «É impressionante como
a música caiu o nível hoje em dia. (Peça de teatro: Cabra Cega, Aloísio Villar, 1977)». O objetivo é fazer
uma análise diacrônica que busca traçar a origem dessas sentenças no Português Brasileiro (doravante
PB). A amostra é constituída por 20 peças de teatros escritas por brasileiros, nascidos nos séculos XIX
e XX. Utilizo os pressupostos teóricos gerativistas (CHOMSKY, 1995) e a proposta de competição de
gramáticas (KROCH, 1989) para o tratamento da mudança linguística. Segundo Pontes (1987), as cons- 176 -
Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
truções de tópico sujeito se caracterizam por haver um verbo inacusativo e a concordância entre o DP
[+possuidor], na posição do sujeito, e o verbo finito. Além dessas propriedades a análise dos dados das
peças de teatro mostrou que nessas construções o DP [+possuidor] está sintaticamente ligado ao verbo, mas semanticamente ao DP [+possuído] que ocupa a posição pós-verbal. Assim, no tópico sujeito,
há posse externa. Na diacronia do PB, a posse externa foi expressa, ao longo do século XIX, por meio
do dativo de posse, em sentenças como «Bendito cheque que lhei restituiu a razão [-]i (Peça de teatro:
Tudo isto e o céu também, Azis Bajur, 1938)». A hipótese do trabalho é a de que o tópico sujeito tenha
emergido no PB como uma mudança encaixada (WEIREINCH, LABOV e HERZOG, 1968) naquela
que reorganizou o paradigma pronominal, diminuiu a frequência de clíticos, tendo como consequência
a emergência de uma nova forma de expressar a posse externa: o tópico sujeito. Os resultados quantitativos revelam que na primeira metade do século XIX só há uma estratégia para expressar a posse externa:
o clítico dativo «lhe», independente de haver posse alienável ou inalienável. Entretanto, ao longo do
tempo, a posse inalienável quando expressa por meio da posse externa ocorre preferencialmente com o
tópico sujeito. Se por um lado, na primeira metade do século XIX, não havia tópico sujeito, por outro
na segunda metade do século XX, a frequência da posse externa com um DP na posição de sujeito, na
posse inalienável, é de 80%. Nas construções em que há posse alienável, a mudança não é verificada, pois
o tópico sujeito é uma construção restrita às posses inalienável e meronímica. Nesse sentido é possível
afirmar que o tópico sujeito revela um quadro de competição de gramáticas.
Gramática tradicional e ensino de Língua Portuguesa no Brasil
Elane Nardotto (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia)
Dinéa Maria Sobral Muniz (Universidade Federal da Bahia)
Este estudo objetiva apresentar a trajetória da Gramática Normativa Tradicional em articulação com o
processo de ensino-aprendizagem de Língua Portuguesa (LP) no Brasil. Aborda a história da tradição
gramatical no Ocidente, percorrendo um caminho iniciado nas pesquisas empreendidas por Filósofos
Gregos como Platão, Aristóteles, os Estóicos e os Sofistas, passando pelos filólogos de Alexandria, da
Idade Média e do Renascimento. Ainda discute sobre a tradição gramatical no Brasil, remontando um
percurso a partir do processo de colonização brasileira. Reflete sobre como a referida tradição gramatical foi se tornando paradigma para o ensino de Língua Portuguesa. Toma as contribuições de estudiosos
que discutem a gramática tradicional, como Brito (1997), Ribeiro (2001), Gnerre (2003) e Neves (2004),
com destaque para Rosa Mattos e Silva. Esses autores chamam a atenção, principalmente, para o fato de
essa tradição ter-se pautado, no decorrer dos séculos, por uma concepção de língua normativo-purista
em que as regras de bom uso devem ser seguidas. O presente estudo é parte de uma pesquisa em andamento sobre a formação de conceito de gramática por docentes de LP. Adota a ideia de que conhecer a
história da gramática tradicional é, acima de tudo, inventariar dados a respeito de como, no decorrer dos
séculos, esse tipo de gramática veio se constituindo como modelo para o ensino de LP no Brasil.
O Sumario de todas as cousas acontecidas em Berberia: edição e estudo
de uma crônica anônima do século XVI
Elena Lombardo (Universidade de São Paulo)
Neste trabalho apresenta-se o resultado de um estudo filológico conduzido sobre um manuscrito do século XVI contido no COD. 13282 da BNP - o «Sumario de todas as cousas succedidas em Berberia desde
o tempo que começou a reinar o Xarife Mulei Mahamet no anno de 1573 te o fim do anno de sua morte
1578 no dia da batalha d’Alcaçer Quibir, em que se perdeo Dom Sebastiam Rey de Portugal». Além
do manuscrito em questão, há outro que contém este mesmo texto – o Ms. Nº 41, Série 2422 da BNE,
editado em 1987 por Loureiro com o título «Crónica do Xarife Mulei Mahamet e del-Rey D. Sebastião
1573-1578». O «Sumario» é um relato anônimo da campanha de África do rei D. Sebastião redigido por
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Comunicações livres / Comunicacións libres
um homem de armas português que participou diretamente dos fatos narrados. O posicionamento do
autor, que privilegia a figura do xarife mouro em detrimento de D. Sebastião, torna a crônica extremamente relevante para os estudos sobre este período. Apesar disso, o texto não foi divulgado ao longo dos
séculos, permanecendo ainda hoje de difícil acesso: dos dois manuscritos, apenas o da BNE está disponível em formato digital, e a edição de Loureiro, por sua vez, não parece ser imediatamente utilizável em
âmbito acadêmico. Além de tratar-se de uma edição de divulgação, a transcrição é baseada apenas no
manuscrito da BNE, desconsiderando – ou até mesmo desconhecendo – o da BNP. O contexto de publicação – uma coletânea de estudos de História Sebástica que tinham como objetivo resgatar a memória
do monarca – também contribui para levantar dúvidas sobre sua fidedignidade. Posto isto, o presente
trabalho se faz necessário por levantar a problemática ligada ao «Sumário», propondo uma descrição
codicológica do manuscrito da BNP e sua edição semi-diplomática. Guiou nosso estudo principalmente
a proposta teórica de Castro e Ramos (1981), que distinguem entre estratégias e táticas de transcrição,
introduzindo o conceito de «campo bibliográfico». Em conclusão, o estudo filológico do «Sumario»
teve duas vertentes principais. Por um lado, encarregou-se de disponibilizar ao público acadêmico um
texto esquecido ao longo dos séculos, estudando suas características materiais e possibilitando futuras
análises de seus aspectos linguísticos; por outro, ao debruçar-se sobre as vicissitudes de sua transmissão
manuscrita e editorial, encaminhou um questionamento a respeito da constituição do discurso historiográfico sobre a ocupação portuguesa do Marrocos.
A expressão da modalidade deôntica no Corpus Brasileiro
de Língua Espanhola (Sécs. XVI-XVII)
Eliabe dos Santos Procópio (Universidade Federal de Roraima)
Fabricio Paiva Mota (Universidade Federal de Roraima)
Objetivamos analisar a expressão da Modalidade Deôntica (MD) no Corpus Brasileiro de Língua Espanhola (CBRASLE), composto de textos dos séculos XVI e XVII. Para tal, orientamo-nos a uma abordagem funcional da língua, fundamentando-nos na Linguística Tipológico-Funcional (GIVÓN, 2001;
1995 etc) e nos conceitos de Gramática Emergente (HOPPER, 1987) e Frequência Token/Type (BYBEE;
HOPPER, 2001). Como metodologia, adotamos três posições: a primeira, relacionada à Filologia e à
Linguística de Corpus, permitiu-nos editar, tratar e organizar o CBRASLE. O segundo procedimento foi
o linguístico, a partir do qual estabelecemos os níveis de análise (textual, semântico-discursivo e morfossintático); e o terceiro consistiu na análise estatística (Goldvarb). Dada a relativa extensão metodológica,
nossa análise apresentou vários resultados, dentre os quais citamos os mais importantes. Filologicamente, como resultado principal, temos a edição fac-similar, semipaleográfica e anotada, acompanhada de
um glossário de notas e abreviaturas. Linguisticamente, constatamos que o nível textual do CBRASLE
caracteriza-se pelo uso recorrente da sequência narrativa, seguida da injuntiva e descritiva, já que nosso corpus compõe-se basicamente por missivas. No nível semântico-discursivo, os valores deônticos
mais comuns foram Manipulação e Obrigação, condicionados principalmente pela relação fonte e alvo
deônticos, estabelecida significativamente entre indivíduos. É por isso que se mostrou baixa a presença
de atenuadores epistêmicos na expressão deôntica. O último nível analisado foi o morfossintático, no
qual despontou o uso do verbo/perífrase como expressão deôntica. Quanto às construções perifrásticas,
destacou-se o emprego dos verbos auxiliares poder e haber, parecendo refletir a recorrência dos valores
deônticos supracitados. A intrínseca relação entre a MD e a Modalidade Realis, manifestou-se no uso
considerável do Modo Indicativo. Além disso, há os tempos verbais Presente e Pretérito Perfecto Simple,
utilizados simetricamente à sequência textual: no séc. XVI desponta o uso da Injunção paralelo ao Presente, no séc. seguinte, surge o uso da Narração ao lado do Pretérito, todos delineados pela Futuridade
inerente à Deonticidade. É importante notar como o Espanhol responde às necessidades comunicativas
de seus usuários, codificando a expressão deôntica e manifestando as relações sociais assimétricas entre
seus interlocutores.
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
Contrastando o português brasileiro e o europeu:
alteamento e cancelamento pretônicos
Eliete Figueira Batista da Silveira (Universidade Federal do Rio de Janeiro)
O Português Brasileiro (PB) e o Português Europeu (PE) distanciam-se quanto ao comportamento do
vocalismo pretônico, indo o primeiro na direção de manutenção da média alta anterior [e], e o segundo,
no caminho da implementação da variante nula [Ø]: in[e]ficaz versus in[Ø]ficaz, r[e]flexos versus r[Ø]
flexos. Com base em estudo de orientação sociolinguística laboviana, empreendeu-se pesquisa, a fim de
observar, entre outros, i) se os fatores condicionadores do cancelamento no PE seriam os mesmos que
coordenam o alteamento pretônico no PB; ii)o estágio do processo de apagamento das médias pretônicas
no Português Europeu; iii) evidênciasde diferenças no padrão rítmico que expliquem o distanciamento
entre PB e PE. Para tanto, examinaram-se dados coletados em três diferentes localidades: Cacém, Oeiras
e Funchal (Ilha da Madeira), do acervo do Projeto Estudo Comparado dos Padrões de Concordância
em Variedades Africanas, Brasileiras e Europeias (<http://www.concordancia.letras.ufrj.br/>), cujos
resultados foram comparados ao estudo de pretônicas do Rio de Janeiro (AVELHEDA, 2013). A análise
possibilitou observar que tanto o alteamento quanto o cancelamento ocorrem em contextos fonológicos
específicos, parecendo haver influência da presença da vogal alta na sílaba seguinte como propulsora
dos fenômenos. Em relação ao PE, o cancelamento na posição medial condiciona o cancelamento da
vogal pré-pretônica (r[e]v[e]lar ~ r[ɨ]v[ɨ]lar ~ r[ɨ]v[Ø]lar ~ r[Ø]v[Ø]lar), indicandoque o apagamento
parece ter se iniciado na posição medial e está atingindo os contextos pretônicos mais à esquerda. Em
termos percentuais, PB e PE apresentam predomínio do padrão silábico (CC)V –sílaba aberta-, o que
indicia característica de língua de ritmo silábico. No entanto, o português europeu avança no processo
de alteamento pelo cancelamento de pretônicas, fazendo com que haja mais palavras de uma (revelar~
rvlar, feliz~ fliz) e duas sílabas (formações~ frma-ções) e poucas com três sílabas (determinada~ dtrmi-na-da; telefonaram–tlfo-naram), criando sequências consonânticas que não costumam existir em
línguas de cadência silábica (Cf. MIGUEL, 1993). Essa pesquisa pretende, ainda, aprofundar os estudos
acerca das motivações para a distinção entre essas duas variedades.
Estudo da motivação onomástica na nomeação das Repúblicas Estudantis
da Universidade Federal de Ouro Preto
Elisabeth Maria de Souza Camilo (Universidade Federal de Ouro Preto)
As repúblicas estudantis da Universidade Federal de Ouro Preto recebem nomeações em seus atos de
fundação e, por meio de um questionário, descobriu-se que moradores das casas desconhecem a motivação que batizaram tanto as casas em que moram quanto a de seus colegas universitários. Esse estudo,
situado na área da toponímia, campo da onomástica que estuda a nomeação de lugares, busca avaliar as
possíveis motivações que foram e ainda são as gêneses do batismo das casas estudantis, percebendo-se
uma relevância para temas religiosos, políticos, linguísticos, sexuais, de lazer e de homenagens, além de
registrar as possíveis ideologias que muitos fundadores dessas casas imprimem ao se escolher um nome
para a residência estudantil. Em estudo mais profundo, consegue-se perceber que há, mesmo inconscientemente, uma proposta de nomeação que busca identificar os objetivos dos estudantes, mesmo que
não claros para a população, diante dos moradores da cidade monumento mundial, que, historicamente,
foram contra a sua presença quando na fundação dos primeiros cursos dessa universidade através da
Escola de Minas e da Escola de Farmácia, ainda no século XIX. Foram avaliados os nomes das casas
masculinas, femininas e mistas , particulares e federais, através de um questionário veiculado em rede
social às residências dos estudantes, e, em alguns casos, através de visitas presenciais a elas. de forma a
obtermos uma visão ampla das motivações toponímicas buscadas nesse estudo. Podemos afirmar que
nosso objetivo é o de comprovar que, no caso citado, há motivações explícitas que levaram e ainda levam alunos fundadores das repúblicas a escolherem os nomes das casas, mesmo que as populações da
cidade e acadêmica as desconheçam total ou parcialmente, avaliando-as apenas como «divertidas» ou
«sem lógica».
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Comunicações livres / Comunicacións libres
Os espaços da prostituição: discurso, direito, corpo
Elizete de Souza Bernardes (Universidade Federal de São Carlos)
Inserido nos quadros da análise do discurso de orientação francesa (AD), a comunicação segue no sentido de refletir como se dá a criação de espaços destinados às prostitutas, no Brasil, durante o início do
século XX. Para tanto, as materialidades discursivas a serem consideradas serão a legislação penal do período a respeito destas «práticas divisoras» (FOUCAULT, 2005) que objetivam as prostitutas. Com efeito,
tomamos como pressuposto o exercício do poder através da ciência jurídica como «criador» de sujeitos;
há, ao que parece, uma reciprocidade entre a produção desses espaços e a produção das subjetividades
das prostitutas. O poder jurídico, universalizante, disciplina as normas do corpo, individualizando-o. O
olhar panóptico e clínico que se lança a esses corpos, discursiviza-os. Os questionamentos que se põem
são: como as prostitutas foram objetivadas a partir dessas zonas de meretrício? Como o saber jurídico
discursiviza o corpo da prostituta a partir desse espaço à margem? Dessa maneira, o objetivo da escrita é
refletir como o saber jurídico diz sobre sobre a sexualidade a partir dos dois vetores: o espaço à margem,
como corpo coletivo, e os corpos das prostitutas. A sexualidade, como uma das áreas onde o discurso se
exerce de forma mais incisiva (FOUCAULT, 1981), no início do século XX, põe em circulação discursos
(médicos, morais, por exemplo) que se engendram na construção do saber jurídico a respeito da temática. O aporte teórico será Michel Pêcheux (2012) com considerações a respeito da «língua de madeira»;
e as propriedades discursivas apontadas por Michel Foucault (2013) sobre o enunciado. Esses espaços e
casas de prostituição, portanto, estão implicados em condições históricas que possibilitam a emergência de certos enunciados legislativos. Pretendemos, assim, refletir as práticas linguageiras a respeito de
como se nomeiam as prostitutas e os locais destinados a elas, construindo-se mutuamente.
PALAVRAS-CHAVE: Análise do discurso; ´direito; corpo; prostituição.
Manuais didáticos de aprendizagem da leitura e da escrita na Província
da Bahia no século XIX
Emília Helena Portella Monteiro de Souza (Universidade Federal da Bahia)
Este trabalho se insere num projeto de pesquisa sobre a língua portuguesa e a escolarização em perspectiva histórica. Através desse viés, dialoga-se com os estudos da história da cultura escrita no Brasil
e sobre a constituição histórica do português brasileiro na formação das normas cultas. Galvão (2010)
propõe cinco «entradas» para se estudar a cultura escrita em uma perspectiva histórica, dentre essas,
está a história dos objetos que lhe dão suporte, como seja, a história do livro, dos manuais didáticos, das
cartilhas, das revistas, dos jornais, dos catecismos etc. Também esses escritos são reveladores da língua
que se ensinava, seja pelo testemunho dos próprios textos, seja pela perspectiva metalingüística de abordagem da língua. Tem-se como objetivos gerais tratar dos manuais que circularam nas escolas baianas,
em especial nas primárias, no século XIX, entre livros de leitura, ortografia, caligrafia, gramáticas etc.,
e proceder a considerações sobre duas gramáticas dirigidas à escola primária, na Bahia: a de Bernardino Martagão, «Compendio Rudimental de Grammatica da Lingua Portugueza» (1880), e a de Hilário
Ribeiro (1907 [1882]), «Grammatica Elementar e Lições Progressivas de Composição». Ademais, faz-se
uma incursão em sincronias passadas, verificando relações entre esses manuais e os usados para a aprendizagem da leitura e da escrita. Do ponto de vista metodológico, parte-se de um corpus já constituído,
como parte do projeto de pesquisa. Os manuais didáticos, objeto de investigação, foram inventariados
em bibliotecas de Salvador-Ba; também foram levantados os que são referidos em documentos da época.
Ressalte-se que os livros didáticos usados no século XIX pouco se assemelham ao que se conhece hoje
como livro didático voltado para crianças. Na primeira metade desse século, em geral, os materiais didáticos usados para aprendizagem da leitura e da escrita se circunscreviam a abecedários, cartilhas, papéis
de cartórios, cartas manuscritas e mesmo a constituição do Império; eram ainda usados os clássicos da
literatura internacional (VALDEZ, 2004). Na segunda metade do século, ainda muito desses materiais
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
têm uso nas escolas, mas já se verifica a existência de obras voltadas especificamente para o ensino. Muitos desses materiais estão atrelados aos métodos de ensino. Como referido, além da apresentação dos
materiais, serão tomadas duas gramáticas, para se verificar como a escola se relacionou com os padrões
normativos em voga no século XIX.
Artigos em revista: os colaboradores salesianos e a colocação pronominal
em contextos de infinitivas
Érica Bertolon (Universidade de São Paulo)
Nessa comunicação são apresentados os resultados de uma pesquisa que investiga, em textos produzidos
na recém-nascida República brasileira, a colocação pronominal em contextos de verbos infinitivos precedidos de preposição, procurando traçar o perfil do registro culto da modalidade escrita que vinha se
impor no âmbito dos intelectuais paulistas. Para isso, tem-se como objeto de estudo artigos publicados
na Revista Santa Cruz, periódico salesiano, tipografado pela Editora Salesiana em São Paulo.
A revista católica apresentava um quadro de colaboradores das mais diversas áreas do conhecimento,
tais como o barachel paulista e redator da revista, o dr. Brasílio Machado, o arquiteto, formado pela escola Politécnica, o dr. Theodoro Sampaio, os literatos Coelho Neto, Antonio Baptista Pereira e Saturnino
da Veiga, dentre outros. Importante canal de difusão do catolicismo romano no Brasil, o periódico era
espaço de amplas discussões nas artes, letras, saúde, educação, política, sempre vincadas pela moralidade e ética religiosas.
Tomando como corpus as constituições do Império e da República, Pagotto (1998) verificou forte
incidência no segundo documento, em discordância da tendência observada para o vernáculo (Pagotto,
1993). O emprego da ênclise na constituição republicana foi interpretado como uma atitude por parte
da elite de adotar o Português Europeu como modelo linguístico. Centrando a atenção nas infinitivas
precedidas de preposição, Oliveira (2011), ao comparar cartas pessoais de escritores portugueses e brasileiros, observou que os portugueses usam categoricamente a ênclise na presença da preposição «a» e
tendem a usar a próclise para as demais preposições. Os escritores brasileiros da metade do século XIX
privilegiam a ênclise com todas as preposições e os do final do século tendem para o uso da próclise. Este
trabalho procurará observar se os intelectuais do periódico adotavam o padrão do Português Europeu
ou o padrão vernacular brasileiro de meados do século ou do final do século. Os dados foram analisados
em função do tipo de preposição e da pessoa pronominal. Quanto aos fatores extralinguísticos, analisamos a formação acadêmica e a origem dos colaboradores que assinaram os artigos.
A alternância do imperativo de 2ª pessoa em cartas baianas e cariocas
do século XX
Érica Nascimento Silva (Universidade Federal do Rio de Janeiro)
O presente trabalho tem por objetivo fazer um estudo sociolinguística qualitativo acerca da expressão
gramatical do imperativo no português brasileiro relacionado à segunda pessoa do singular tu (indicativa) e você (subjuntiva) em cartas baianas e cariocas da década de 1920 a 1940. Partindo de trabalhos,
como Paredes (2003) e Cardoso (2007), que apontam a predominância de formas relacionadas ao imperativo indicativo no sudeste/sul e subjuntiva no nordeste, pretende-se fazer um comparativo entre missivas provenientes desses dois polos regionais. Para tanto, será utilizado um aporte teórico que permita
observar os fatores linguísticos, extralinguísticos (LABOV, 1994), e discursivo-pragmáticos relativo às
tradições discursivas (KABATEK, 2006) que determinam o uso ora de um pronome ora de outro.
Para análise da variação das formas imperativas, parte-se dos estudos de Scherre (2005, 2007) que
demonstram que, no paradigma regular da primeira conjugação, o menor número de sílabas e a vogal
precedente mais aberta favoreceriam o imperativo
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Comunicações livres / Comunicacións libres
indicativo e o maior número de sílabas e vogal precedente menos aberta, a presença de negação
antes ao verbo, o imperativo subjuntivo. Com base na breve análise feita com parte do corpus, – cartas
cariocas trocadas por um casal de noivos – podemos perceber que os verbos de segunda conjugação e
com uma oposição mais saliente/marcada favorecem a forma subjuntiva, como foi constatado nas cartas
do noivo. Podemos perceber que das 25 ocorrências de imperativo indicativo nas cartas do noivo, 18 são
de verbos de primeira conjugação, confirmando a hipótese de Scherre de que tal terminação favorece à
forma relacionada a tu. Tanto nas cartas do noivo quanto da noiva as formas [-] marcadas favoreceram
ao indicativo. A frequência do subjuntiva que foge à hipótese, parece ter sido influenciada pelo contexto
discursivo-pragmático, pois ocorre sempre com tom de ordem e ao final da carta.
Formação de um glossário de palavras sufixadas em -mento no Português
Érica Santos Soares de Freitas (Universidade de São Paulo)
Em Freitas, (2008), fizemos um levantamento bibliográfico de grande proporção sobre o sufixo -mento,
apontando como diversos dicionários de língua portuguesa abordam o assunto; além disso, pesquisamos em várias gramáticas e obras sobre morfologia o percurso histórico deste sufixo, a fim de apresentarmos um panorama sobre o tema. Na pesquisa atual (2015), identificamos os significados do sufixo
-mento nas palavras encontradas, com o objetivo de confirmarmos a hipótese de todas serem originadas
de uma base verbal, com sentido de substantivo, apresentando para cada palavra uma paráfrase (análise
semântica). Além disso, indicamos a datação para as palavras sem essa informação, retroagimos a data
de muitas outras e inserimos verbetes não encontrados nas obras lexicográficas de língua portuguesa
utilizadas nesta pesquisa. Após todas essas alterações no corpus original, apresentaremos previamente
o glossário em elaboração, com o objetivo de mostrar quão produtivo foram os séculos XIX e XX para a
língua portuguesa, épocas em que quase não há palavras em -mento indicadas em diversas obras lexicográficas, provavelmente por não haver estudo aprofundado e direcionado a tais séculos e, portanto, não
existirem muitas palavras datadas nestes.
Os mecanismos de escrita abreviada no discurso electrónico galego:
innovación ou tradición?
Estefanía Mosquera Castro (Universidade da Coruña)
As tecnoloxías e nomeadamente a Internet revolucionaron moitos ámbitos da sociedade, incluída a esfera lingüística, en que este fenómeno tivo importantes repercusións. Así, para alén de xerar comunidades
virtuais, novos xéneros discursivos e formas de textualidade pluridimensional, multiplicou e hibridizou os códigos e os usos especiais da lingua, creando tamén novas xirias (Borràs Castanyer 2005:121).
Neste sentido, as prazas telemáticas desenvolven na actualidade o papel de grandes contentores abertos
onde se mestura a oralidade e a escrita, estilos coloquiais e experimentacións lingüísticas e formas de
interacción que crean intimidade e diversión, ademais de posuíren unha función comunicativa de uso
fundamental que, ás veces, consegue tamén conter aspectos imprevistos de infuncionalidade (Mosquera
Castro 2013).
Con todo, as características que presenta a modalidade gráfica galega utilizada nestes medios non
son todo o revolucionarias que parecen, mais ao contrario contan con moitos antecedentes na historia
da lingua, nomeadamente escrita (Crystal 2008). Por esta razón, analizaremos a adopción e a conseguinte adaptación de moitos dos mecanismos de escrita abreviada procedentes de estadios lingüísticos anteriores para verificarmos o grao de innovación e de débeda lingüística da variedade electrónica
galega. Esta análise lingüística tamén nos permitirá estabelecermos puntos de conexión a respecto dos
condicionamentos que motivan estes recursos e da súa consideración social.
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
O tratamento da variación lingüística no CORGA
Eva Domínguez Noya (Universidade de Santiago de Compostela)
María Sol López Martínez (Instituto da Lingua Galega,
Universidade de Santiago de Compostela)
Unha das decisións máis complexas que se deben tomar cando se constrúe ou etiqueta un corpus é como
actuar ante as distintas desviacións da norma e os erros que se rexistran nos documentos orixinarios.
En xeral, é inevitable no ser humano, cando este escribe, cometer distintas transgresións contra a
lingua. Por moito que revisemos o texto escrito sempre se nos escapará algunha gralla nalgún aspecto
morfosintáctico. Se ademais imos tratar, como é o noso caso, con textos escritos nunha lingua que aínda
está en proceso de normalización os problemas acrecéntanse.
A decisión que tomamos cando comezamos a construír o CORGA determinamos mantela no corpus de adestramento: non manipulamos os documentos. Etiquetamos o que neles se nos presente, sen
ningún tipo de marcas, independentemente de que as unidades sexan normativas ou non, aparezan no
VOLGa e no DRAG ou non. O noso obxectivo é etiquetar un corpus real descritivo da lingua galega
actual e non inventar ou construír un corpus ideal. Así, as variacións dialectais, os castelanismos, os hiperenxebrismos, os lusismos, o cheísmo, o teísmo ou calquera outro fenómeno lingüístico terán cabida
no corpus etiquetado como entidades propias que nalgún momento poderemos conectar coas variantes
normativas a través dun hiperlema.
O sistema debe ser flexible para satisfacer as demandas dos distintos usuarios do CORGA etiquetado, pois haberá quen necesite abstraerse de toda esa variedade gráfica reflectida tamén na lematización
e traballar só coas invariantes, mentres que outros usuarios precisarán poder acceder ás variantes. A
solución pola que optamos inicialmente foi reflectir na etiquetaxe toda a heteroxeneidade ortográfica
amosada nos documentos de traballo para nun segundo momento, obxectivo deste relatorio, poder tratala coa introdución no sistema XIADA dun hiperlema que agrupe as posibles variantes.
O obxectivo será, pois, analizar os distintos tipos de variación existentes no CORGA e establecer
un criterio claro para definir que variantes se agrupan nun hiperlema dado. Trataremos, polo menos,
as variacións no vocalismo, tipo fociño ~fuciño, mesmo~mismo, apuntar~apontar, etc; as flutuacións
b/v (móbil~móvil; marabilla~maravilla; vulto~bulto, etc); a acentuación dos adverbios en –mente e a
aparición de variantes en –mentes; a simplificación de grupos consonánticos cultos, etc.
Memória colonial do Ceará: uma contribuição para a ecdótica no Brasil
Expedito Eloísio Ximenes (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
do Rio Grande do Norte / Universidade Estadual do Ceará)
O projeto Memória Colonial do Ceará tem o objetivo de preparar a edição de documentos manuscritos do estado do Ceará, referentes ao período da colonização portuguesa no Brasil. Já foram editadas
4.361 páginas de documentos e publicados em 06 volumes com dois tomos cada, tornados públicos em
2012, pela Kapa Editoral. A coletânea é composta por vários gêneros textuais da administração pública
escritos no período de 1618 a 1754. Para a publicação adotou-se dois modelos de edição: a fac-similar
e a interpretativa. Optou-se por esse modelo, tendo em vista o atendimento ao grande público não
especializado. Os testemunhos que serviram de base para a edição interpretativa foram os fac-símiles
do Arquivo Histórico Ultramarino (AHU) de Lisboa, trazidos para o Brasil, no ano de 1986, por meio
do Projeto Resgate Barão do Rio Branco. A documentação pertencente à antiga capitania do Ceará está
contida em três CD rom, constituindo um montante de 1436 documentos, conforme consta no índice
elaborado por Jucá (1999). O projeto Memória Colonial do Ceará até o presente tornou público 06 dos
21 volumes previstos. A equipe responsável pela leitura dos textos manuscritos é composta por três
filólogos do Rio de Janeiro e Ceará, dois digitadores e um técnico de tratamento de imagens e ainda a
supervisão de dois funcionários do AHU que fazem o cotejamento com os originais. É um trabalho aus- 183 -
Comunicações livres / Comunicacións libres
tero, porém gratificante por trazer tanta informação da sociedade luso-brasileira que repousa nas caixas
e prateleiras do arquivo português. O projeto é de grande relevância por oferecer um rico material de
pesquisa para várias áreas do conhecimento, sobretudo, para a história social do Ceará e do Brasil e para
o estudo da língua portuguesa. No que tange à Ecdótica é inegável a relevância que essa ciência presta à
sociedade por sua função de tornar público os textos, especificamente, os textos mais antigos da história
do Ceará, pelo tratamento dado a esses textos, pela leitura cuidadosa e responsável e a culminância da
edição dupla. Nosso objetivo com essa comunicação é apresentar o projeto Memória Colonial do Ceará
e sua contribuição para a Ecdótica o Brasil. Abordaremos também alguns trabalhos já realizados ou em
desenvolvimento a partir da publicação os documentos, no campo da lexicologia/lexicografia e refletir
sobre a importância da crítica textual para o estudo das ciências afins.
O que dizem os alunos de Ensino Médio de escolas públicas do Brasil sobre
si como leitores: entre práticas e representações
Fabrícia Migliorato Corsi (Universidade Federal de São Carlos /
Universidade do Minho)
A presente pesquisa vincula-se ao projeto de doutorado em desenvolvimento na Universidade Federal
de São Carlos, São Paulo, Brasil (UFSCar), sob a orientação da Professora Doutora Luzmara Curcino
Ferreira, junto ao Programa de Pós-graduação em Linguística e sob coorientação e supervisão da Professora Doutora Maria Aldina de Bessa Ferreira Rodrigues Marques – Uminho-PT. Inscrita no quadro de
pesquisa da linha de Ensino e Aprendizagem com ênfase em Língua Materna, atrelada à linha francesa
da Análise do Discurso, a pesquisa sobre as práticas de leitura que sustentam o imaginário dos alunos
de ensino médio sustenta-se na necessidade que se instaura de conhecermos as práticas de leitura dos
alunos na contemporaneidade, bem como identificar os discursos que sustentam essas práticas. O corpus da pesquisa encontra-se constituído pelas respostas dadas pelos alunos do primeiro ano do Ensino
Médio a um questionário com questões objetivas que visam investigar as práticas de leitura. Constitui-se ainda de gravações de áudio que registram entrevistas com grupo focal de alunos. Três escolas
públicas de Ensino Médio do Estado de Minas participam da pesquisa que investiga um corpus pouco
explorado por outros pesquisadores (entrevistas com alunos sobre suas práticas de leitura) articulando
duas teorias: uma teoria da interpretação, a Análise de discurso de base foulcautiana e uma teoria da
história, em especial a perspectiva adotada pela História Cultural da leitura, tal como empreendida por
Chartier. Buscamos levantar as coerções que atuam sobre o dizer do leitor (o que o leitor assume como
prática de leitura). Pretendemos ainda compreender como a leitura, assim como a análise do discurso,
não enfocadas como «ferramentas pedagógicas», podem contribuir para a estruturação dos discursos
dos jovens adolescentes que cursam o Ensino Médio em seus dizeres e representações sobre as práticas
de leitura. Embasados nos preceitos foucaultianos analisaremos os discursos instaurados pelos alunos
como leitores e buscaremos indícios no discurso proferido durante as entrevistas gravadas de como
legitimam a prática de leitura partindo do posicionamento discursivo assumido, investigando os dados
obtidos partindo do universo escolar para o sociocultural no qual estão inseridos.
PALAVRAS-CHAVE: Discurso; Foucault; representação de leitura; representação de leitores; escola.
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
Eu creio com firmeza que todo profissional debe estar actualizado:
alternancia de código en textos escritos por venezolanos
Fabricio Paiva Mota (Universidade Federal de Roraima)
Eliabe dos Santos Procópio (Universidade Federal de Roraima)
El fenómeno de las lenguas en contacto no es algo reciente. Desde la Antigüedad, los pueblos giran por
el planeta estableciendo conexiones con otros pueblos. En el contexto brasileño, el contacto entre hablantes de lenguas distintas es un fenómeno intenso, sobre todo en las zonas fronterizas con los países de
Sudamérica. En el escenario roraimense, extremo norte de Brasil, lugar de nuestra investigación, hay dos
fronteras: al norte con Venezuela y al este con Guyana. Por la proximidad geográfica, el estado Roraima
es uno de los pocos en el país con fronteras trilingües, cuyas lenguas oficiales son el Portugués, el Inglés
y el Español. Este trabajo tiene por objetivo analizar la Alternancia de Código a través de producciones
textuales de venezolanos aprendices de Portugués como Lengua Extranjera (PLE) y caracterizar sociolinguisticamente el venezolano aprendiz de Portugués como Lengua Extranjera. Para lograr los objetivos propuestos analizamos veinte producciones textuales de venezolanos, basándonos en la siguiente
categoría lingüística: Alternancia de Código. Desde el punto de vista lingüístico, los resultados apuntan
para una Alternancia de Código intraoracional, concentrándose en el final de la misma oración. Desde
el punto de vista sociolingüístico, nuestro informante es del sexo femenino entre los 20 y 54 años, posee
nivel superior, vive en Venezuela y estudia portugués a unos 04 años para fines académico-profesionales. Llevando en cuenta el escenario multilingüe, Brasil/Venezuela, en que las fronteras geográficas
ni siempre corresponden a las lingüísticas, concluimos que la Lengua Portuguesa está ocupando una
posición de prestigio en el extremo norte brasileño en los últimos años, un ejemplo es el curso de PLE
en Pacaraima. Entre los fenómenos del contacto lingüístico, la Alternancia de Código fue productiva en
las producciones textuales de los alumnos, lo que muestra la proximidad entre el Portugués y el Español.
O léxico indígena no jornal escolar O Aprendiz (1944-1947)
Fátima de Araújo Góes Santiago (Universidade Federal da Bahia)
Maria Cecília de Paula Silva (Instituto Federal de Educação, Ciência
e Tecnologia da Bahia)
A comunicação versará sobre a valorização do léxico indígena num jornal escolar de Salvador, Bahia, no
contexto da Nova República, período em que se buscava uma identidade cultural para a nação brasileira
com base nos valores patrióticos, positivistas e nacionalistas difundidos pelo Estado Novo (1930-1945).
O objeto de estudo é o jornal O Aprendiz, da antiga Escola Técnica de Salvador, produzido por alunos, professores e funcionários desta instituição de 1944 a 1947. A comunicação examina a modalidade
de língua usada nesse jornal, levando-se em conta o contexto educacional, social e histórico no qual ele
foi escrito, editado e produzido, e oferece mostras do uso intencionado do léxico indígena por motivos
ideológicos ou patrióticos, assim como artigos escritos pelos estudantes em que se propõe de maneira
explícita o uso desse léxico como forma de afirmação da própria identidade nacional brasileira e da
valorização dos costumes nacionais em detrimento dos estrangeiros.
As fórmulas textuais das Cartas Oficiais Norte-rio-grandenses (1713-1931)
Felipe Morais de Melo (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio
Grande do Norte / Universidade Federal do Rio Grande do Norte)
As «cartas oficiais norte-rio-grandenses» (cartas oficiais relacionadas ao estado do Rio Grande do Norte,
ao nordeste do Brasil) são o resultado de nossa dissertação de mestrado (Melo, 2012) e estão relacionadas a dois programas de pesquisa: i) a organização de um corpus diacrônico e ii) a diacronia do texto e
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Comunicações livres / Comunicacións libres
do discurso. No que respeita ao primeiro programa, constituímos um conjunto de 107 documentos que
circularam na administração pública brasileira. A mais antiga, a carta C1, data de 1713; a mais recente, C107, de 1931. Nossa escolha por cartas burocráticas se deu por elas representarem uma categoria
textual bastante produtiva em momentos históricos, como os séculos XVIII e XIX, em que era mínimo
o domínio da escrita no Brasil, e também por trazerem, quase sempre explicitamente, informações do
tipo onde, quando, para quem e por quem, conforme relembra Fonseca (2003). Quanto ao segundo programa, apresentamos – nesta comunicação, que se alinha às tradições discursivas (TD) – a análise das
fórmulas textuais que compõem o tecido dessas cartas. Para tanto, partimos das ideias de base coseriana
tomadas das TD (Koch, 1997; Kabatek, 2006), dentre as quais está a de que os textos se configuram de
modo a obedecerem a suas próprias tradições (Coseriu, 2007). Atentamos, sempre que possível, para a
dinâmica entre conservadorismo e inovação que se deu, ao longo desses três séculos, na atualização dessas estruturas, a exemplo dos fechos de despedida, das expressões «suplicantes» e das de requerimento,
alguns dos tipos de expressões formulaicas examinados neste trabalho. Desta maneira, tentamos contribuir com as investigações concernentes à linguística histórica brasileira, de modo mais pontual com as
que se interessam pela constituição de corpora diacrônicos e pelas TD, e trazer conclusões válidas para
os estudos acerca dos documentos oficiais, categoria textual sobre a qual, segundo Silveira (2007), não
existem ainda muitas pesquisas.
Formação continuada, discursos e alteridade
Fernanda Izidro Monteiro (Universidade Federal do Rio de Janeiro)
Esta pesquisa objetiva contribuir com as discussões da área de formação continuada de professores,
tendo como cerne a análise das marcas identitárias dos docentes alfabetizadores em seu discurso sobre
a prática. Partimos da hipótese de alteração das identidades docentes por meio da formação continuada,
considerando que esse espaço, quando constituído dialogicamente, é fomentador de reflexão a respeito
da práxis, das concepções ideológicas e metodológicas. A partir da hipótese exposta, o trabalho tem
como campo empírico uma formação continuada oferecida pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
a professoras da rede pública de ensino. Esse estudo intencionou verificar como as marcas identitárias
dos professores alfabetizadores em formação continuada são afetadas por esse processo formativo, ao
possibilitar interações com pares, formadores, concepções e discussões permeadas de ideias buriladas
ao longo da trajetória dos sujeitos envolvidos. O processo de formação continuada, ao considerar a
interação enquanto acontecimento, fomenta a produção de novos discursos e significados no processo
dialógico e polifônico que o constitui. Assim, a expressão da subjetividade docente no ambiente de
interação interdiscursiva da formação continuada nos permite perceber uma relação de alteridade tensionada por palavras carregadas de conteúdo que permitem o contato com o outro, o revelando em seu
discurso, aqui analisado. Foram selecionadas duas professoras alfabetizadoras para o trabalho de análise
discursiva que contou com entrevistas semiestruturadas de análise de apresentação de prática feita no
espaço de formação continuada. A análise do discurso tem viés bakhtiniano, entrelaçada a conceitos
como identidade, alteridade, dialogismo, polifonia e formação continuada de professores.
PALAVRAS-CHAVE: Análise do discurso, identidade docente, formação continuada.
Proposta de reformulação da caracterização dialectal
do Noroeste português
Fernando Brissos (Centro de Linguística, Universidade de Lisboa)
Os dados do Atlas Acústico do Vocalismo Tónico Português (AVOC; http://www.clul.ul.pt/en/researchteams/538-avoc-acoustic-atlas-of-portuguese-stressed-vowels) apontam para a revisão de vários pontos
fundamentais da caracterização estabelecida da variedade dialectal muito idiossincrática do Noroeste
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
português, a que Cintra chamou variedade do Baixo-Minho e Douro Litoral [Autor & Autor (2015):
«Vocalismo acentuado do Noroeste português - descrição acústica, variação dialectal e representação
fonológica», em Revue Romane, no prelo (disponível para consulta mediante requisição)]:
1. as ditongações do NO (o traço utilizado tradicionalmente para definir a variedade) verificam-se
não só nas vogais médias-fechadas mas também nas médias-abertas (port. padrão [ɛ ɔ]) e, em menor
grau, na alta anterior ([i]);
2. as ditongações das vogais médias do NO dividem-se em dois subtipos, e não em apenas um; esses
subtipos são (i) a ditongação dentro do eixo articulatório da vogal, anterior (tipicamente [i̯e i̯ɛ]) ou posterior ([u̯o u̯ɔ]), e (ii) a ditongação em direcção ao eixo central, sendo anterior → central (tipicamente [eɐ
ɛɐ]) ou posterior → central ([oɐ ɔɐ]). A ditongação de [i] tem como resultado [ej]/[ɘj];
3. o extremo Norte do NO não fica fora da variedade; a metade Norte do NO parece ser, aliás, onde
os fenómenos típicos da mesma se exponenciam.
Adicionalmente, os dados indicam que a variedade pode ser subdividida em duas áreas: uma, mais
a Norte, em que às vogais tónicas do padrão [e ɛ] corresponde apenas uma qualidade fonética (com ou
sem ditongação), [e]/[e̞], e outra, a Sul, que conserva três qualidades no eixo anterior ([i e ɛ]).
As teses proporcionadas pelos dados acústicos do AVOC necessitam do confronto com uma rede
de inquéritos densa; é esse confronto que se leva a cabo na presente comunicação. Colaremos os dados
do AVOC com os de toda a rede do ALEPG respeitantes ao Noroeste do país, testando aquelas teses e
apresentando dados quantitativos e qualitativos que permitem de facto redefinir e recaracterizar a variedade dialectal do Noroeste. Essa colação é feita a partir da base de dados informatizada do ALEPG,
onde se podem consultar metodicamente (com a faculdade de recurso a chaves de pesquisa fonéticas)
as transcrições de todos os inquéritos.
O resultado da exposição será a primeira revisão concreta da «Nova Proposta» de Cintra, revisão
particularmente robusta por assentar não apenas em dados perceptivos mas também (e sobretudo) em
dados acústicos.
Variação lexical açoriana: estudo dialectométrico do
Atlas Linguístico-Etnográfico dos Açores
Fernando Brissos (Centro de Linguística, Universidade de Lisboa)
João Saramago (Centro de Linguística, Universidade de Lisboa)
Raïssa Gillier (Centro de Linguística, Universidade de Lisboa)
Apesar dos bons resultados atingidos no estudo de várias línguas [1], a análise dialetométrica tem uma
tradição diminuta no caso português; no que toca à dialetometria pós-clássica, i.e. a dialetometria
desenvolvida a partir dos anos 1990’ com recurso a ferramentas informáticas criadas para o efeito, a
tradição é mesmo inexistente. O presente trabalho utilizará uma abordagem dialetométrica atual para
estudar a variação lexical de um dos grupos dialetais mais destacados do português europeu: o sistema dialetal açoriano. Este sistema, apesar do seu caráter idiossincrático ― reconhecido unanimemente
pelos falantes do português, sejam ou não linguistas ―, encontra-se ainda muito insuficientemente
descrito, sobretudo no que à variação não fonética diz respeito. Trataremos de dois objetivos específicos: a) a identificação dos principais subgrupos dialetais açorianos no âmbito da variação lexical; b) a
comparação desses resultados com os da proposta de classificação dialetal dos Açores estabelecida na
dialetologia portuguesa [2], que se baseia em traços fonéticos e na abordagem da dialetologia tradicional. Para tal, utilizaremos como corpus o Atlas Linguístico-Etnográfico dos Açores [3] na sua totalidade
(que gera 257 conceitos não-mononímicos com resposta em todos os pontos de inquérito), analisado
de acordo com as bases teórico-metodológicas da escola dialetométrica de Salzburgo (SED) [4], tal
como concretizadas na ferramenta informática Diatech [5]. Esta ferramenta introduz a possibilidade
(não contemplada na metodologia tradicional da SED) de consideração de respostas múltiplas por localidade, aspeto que não deixamos de explorar na nossa análise. Apesar dos bons resultados atingidos
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Comunicações livres / Comunicacións libres
no estudo de várias línguas [1], a análise dialetométrica tem uma tradição diminuta no caso português;
no que toca à dialetometria pós-clássica, i.e. a dialetometria desenvolvida a partir dos anos 1990’ com
recurso a ferramentas informáticas criadas para o efeito, a tradição é mesmo inexistente. O presente
trabalho utilizará uma abordagem dialetométrica atual para estudar a variação lexical de um dos grupos dialetais mais destacados do português europeu: o sistema dialetal açoriano. Este sistema, apesar
do seu caráter idiossincrático ― reconhecido unanimemente pelos falantes do português, sejam ou
não linguistas ―, encontra-se ainda muito insuficientemente descrito, sobretudo no que à variação
não fonética diz respeito. Trataremos de dois objetivos específicos:a)a identificação dos principais subgrupos dialetais açorianos no âmbito da variação lexical; b)acomparação desses resultados com os da
proposta de classificação dialetal dos Açores estabelecida na dialetologia portuguesa [2], que se baseia
em traços fonéticos e na abordagem da dialetologia tradicional.Para tal,utilizaremos comocorpuso Atlas
Linguístico-Etnográfico dos Açores [3] na sua totalidade (que gera 257conceitos não-mononímicos com
resposta em todos os pontos de inquérito), analisado de acordo com as bases teórico-metodológicasda
escola dialetométrica de Salzburgo(SED)[4], tal como concretizadas na ferramenta informática Diatech
[5]. Esta ferramenta introduz a possibilidade (não contemplada nametodologia tradicional da SED) de
consideração de respostas múltiplas por localidade, aspeto que não deixamos de explorarna nossa análise. [1-E.g.: Goebl, H. (2006): «Recent advances in Salzburg dialectometry», em Literary and Linguistic
Computing 21-4, 411-435.] [2-E.g. Segura, L. (2013): «Variedades dialetais do português europeu», em
Raposo, E. et al.: Gramática do português, I. Lisboa,85-142.] [3 -http://www.culturacores.azores.gov.
pt/alea/.][4-E.g. Goebl, op. cit., e Goebl, H. (2010): «Introducción a los problemas y métodos según los
principios de la Escuela Dialectométrica de Salzburgo (con ejemplos sacados del «Atlante Italo-Svizzero», AIS)», em Aurrekoetxea, G. & Ormaetxea, J. (eds.): Tools for linguistic variation. Universidad
del País Vasco, 3-39.] [5-http://eudia.ehu.es/diatech/index/; Aurrekoetxea, G.et al. (2013): «‘DiaTech’: A
new tool for dialectology», em Literary and Linguistic Computing28-1, 23-30.]
Verbos exclusivos do Galego-Português moderno: história e metodologia
Fernando Venâncio (Universidade de Amsterdam)
O Galego-Português desenvolveu e conservou um considerável número de verbos exclusivos, isto é,
únicos no contexto românico e particularmente no contexto dos romances centro-ocidentais peninsulares. Proponho aqui ‘Galego-Português’ como conceito operativo, demarcando-se por ele, não um idioma com tal designação, mas os espaços gramatical e lexical em que Galego e Português se sobrepõem,
tanto no passado como na actualidade.
Esta comunicação apresenta vários conjuntos, de que os principais são: A. cerca de 60 verbos derivados do latim, exclusivos em sentido absoluto, B. 27 verbos derivados dum étimo latino que originou
forma divergente castelhana ou cultismo compartilhado com o castelhano, C. cerca de 140 verbos exclusivos, derivados de materiais predominantemente galego-portugueses, e D. 16 verbos exclusivos de
origem desconhecida ou controversa.
A quase totalidade destes verbos é de uso corrente em contexto português e brasileiro, sendo-o menos em contexto galego, onde alguns deles têm actualmente um uso reduzido ou mesmo uma existência
‘lexicográfica’.
São estudadas as primeiras datações conhecidas e, quanto a documentação o permite, também o
percurso textual das formas e a semântica envolvida. Alguns casos exemplares recebem mais detida
exposição histórica, semântica e também derivacional, especialmente de tipo regressivo.
A atenção centra-se nas implicações metodológicas da pesquisa, em particular da utilização das
bases de dados, de que aqui se elencam as principais:
Referências
CENTRO DE LINGUÍSTICA DA UNIVERSIDADE DE LISBOA: Corpus de referência do português
contemporâneo (CRPC). alfclul.clul.ul.pt/CQPnet
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
CENTRO DE LINGUÍSTICA DA UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA: Corpus informatizado do
português medieval (CIPM). cipm.fcsh.unl.pt
CUNHA, Antônio Geraldo da: Vocabulário histórico-cronológico do português medieval. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa (cd-rom).
DAVIES, Mark / Michael J. FERREIRA: O corpus do português. www.corpusdoportugues.org/x.asp
GONZÁLEZ SEOANE, Ernesto / María ÁLVAREZ DE LA GRANJA / Ana Isabel BOULLÓN AGRELO: Dicionario de dicionarios do galego medieval. Santiago de Compostela: Instituto da Lingua
Galega (cd-rom).
HOUAISS, António / Mauro DE SALLES VILLAR: Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de
Janeiro (cd-rom).
INSTITUTO DA LINGUA GALEGA: Tesouro medieval Informatizado da lingua galega (TMILG). ilg.
usc.es/tmilg
INSTITUTO DA LINGUA GALEGA: Tesouro informatizado da lingua galega (TILG). ilg.usc.es/TILG
SANTAMARINA, Antón: Dicionario de dicionarios. Santiago de Compostela: Biblioteca Filolóxica Galega (cd-rom).
UNIVERSIDADE DE AVEIRO / CENTRO DE LINGUÍSTICA DA UNIVERSIDADE DE LISBOA:
Corpus Lexicográfico do Português (DICI). clp.dlc.ua.pt/DICIweb
Texto, gramática e ensino do Português, um projeto de investigação ação
Filomena Viegas (Universidade do Porto)
Luís Filipe Redes (Associação de Professores de Português)
Sofia Reis (Confederação Nacional de Educação e Formação)
Maria Vitória de Sousa (Associação de Professores de Português)
João Pedro Aido (Associação de Professores de Português)
O projeto Texto, gramática e ensino do Português, da APP, foi desenhado em 2014, no contexto de um
pedido concreto de formação de professores, lidando com uma situação de insucesso escolar de alunos
dos 4.º, 6.º e 9.º anos do Ensino Básico, nas provas finais de avaliação externa de Português. Nessas provas, os critérios de classificação da expressão escrita incidem explicitamente sobre questões de coesão e
coerência textuais, mas os estudos têm provado que estes parâmetros da textualidade, enquanto propriedades configuradoras dos textos-discursos nos modos oral e escrito, não são objeto de ensino explícito
na prática pedagógica de muitos professores.
Com base nestes dados, o objeto de trabalho do projeto é a produção e validação de instrumentos de avaliação iterados, e de sequências didáticas (Dolz & Schneuwly, 1998), perspetivadas enquanto
experiências de aprendizagem, treino e avaliação da oralidade, da leitura, da escrita e da gramática. A
conceção e produção dos materiais didáticos tem o foco em aspetos específicos da coesão e coerência
textuais, nomeadamente nos processos de retoma anafórica e de uso de conectores interfrásicos e textuais (Figueiredo, O. 2006; Lopes & Carapinha, 2013), de expressão do tempo (Lopes, A. C. 1995; Móia
& Alves, 2013) e de questões relacionadas com os princípios da não-contradição, da não tautologia e da
relevância, associados ao conceito de coerência (Fonseca, J. 1992; Lopes, A. C. 2005). Trata-se de abordar estas propriedades no que podem relevar das regras de uso do português padrão.
O projeto desenvolve-se ao longo do ano letivo de 2014-2015, contemplando uma oficina com 38 horas de formação presencial, 38 horas de trabalho autónomo e supervisão em sala de aula com vista a uma
experimentação de metodologias inovadoras de trabalho (Roldão, M. C. 2003, 2010). Recebe financiamento da Fundação C. Gulbenkian, colaborando como parceiros a Casa Pia de Lisboa, a Confederação
Nacional de Educação e Formação e o Centro de Linguística da Universidade do Porto.
A avaliação do projeto assenta na aplicação de instrumentos de natureza quantitativa e qualitativa,
pensados em torno dos atores, do processo e dos resultados e produtos. Pretende-se que os materiais
produzidos possam ser replicados no Ensino Básico de forma alargada.
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Comunicações livres / Comunicacións libres
A comunicação proposta tem o objetivo de divulgar os primeiros resultados da investigação ação em
que o projeto se constitui.
PALAVRAS-CHAVE: Linguística aplicada, semântica, linguística textual.
Maranhão X África: uma comparação lexical com base nos dados projeto
ALiMA
Flávia Pereira Serra (Universidade Federal do Maranhão)
Este trabalho consiste na segunda fase de uma pesquisa iniciada em 2013 – Atlas Linguístico do Maranhão: em busca do léxico de origem africana -, que teve por objetivo investigar as lexias de origem africana presentes no português maranhense. Neste segundo momento, após a coleta do corpus no banco
de dados do Projeto Atlas Linguístico do Maranhão (ALiMA), fez-se a verificação do reconhecimento
dessas lexias e de sua equivalência semântica, junto a estudantes falantes da língua portuguesa e de
nacionalidade africana que residem na capital do estado, São Luís. A pesquisa fundamenta-se nos princípios teórico-metodológicos da geolinguística e nos estudos sobre africanismos presentes no português
brasileiro, em particular os trabalhos de Castro (2001) e Fiorin e Petter (2009). Os dados foram obtidos
primeiramente por meio da aplicação do questionário semântico-lexical (QSL) do ALiMA, com foco
nas questões concernentes aos campos semânticos fauna, corpo humano, ciclos da vida, convívio e comportamento social, religião e crenças, jogos e diversões infantis, alimentação e cozinha, que possibilitam
investigar o uso de lexias oriundas de línguas africanas que contribuíram para a formação do léxico do
português brasileiro. Posteriormente, com base nos resultados da aplicação do QSL, fez-se em recorte
desse questionário, que privilegiou apenas as perguntas que, de fato, suscitaram a realização de lexias
de etimologia africana. Esse recorte, com 26 questões, foi aplicado a africanos nativos e, com base em
suas respostas, foi possível, por um lado, confrontar os dados obtidos na primeira e na segunda fases da
pesquisa, e, por outro lado, examinar a existência ou não de variáveis sociais condicionadoras do uso
das lexias. O corpus analisado evidencia o aparecimento de palavras como catinga, corcunda, macumba,
finado e caçula que foram realizadas tanto por africanos como por maranhenses.
Variação na concordância nominal de número na fala dos habitantes
do alto Solimões (Amazonas/Brasil)
Flávia Santos Martins (Universidade Federal do Amazonas /
Universidade Federal de Santa Catarina)
Esta pesquisa teve como objetivo geral investigar o fenômeno da concordância nominal de número no
falar dos habitantes do Alto Solimões a fim de contribuir para o conhecimento das áreas dialetais brasileiras através de um registro sistematizado do falar amazonense, à luz da Teoria da Variação e Mudança e
da Dialetologia Pluridimensional. A fim de entendermos o funcionamento do objeto em estudo controlamos, nesta pesquisa, as seguintes variáveis independentes linguísticas: posição em relação ao núcleo/
núcleo, posição linear, classe gramatical, processos morfofonológicos de formação de plural e tonicidade
dos itens lexicais, marcas precedentes, contexto fonético/fonológico subsequente e características dos
itens lexicais; e as seguintes variáveis independentes extralinguísticas: idade, escolaridade, sexo/gênero,
diatopia, ocupação, mobilidade e localismo. Quanto à amostra, foram entrevistados 57 informantes em
cinco das nove localidades pertencentes à microrregião do Alto Solimões (São Paulo de Olivença, Santo
Antônio do Içá, Tonantins, Jutaí e Fonte Boa). Foram transcritos das entrevistas 4.458 SNs plurais dos
cinco municípios investigados, resultando, após a devida categorização de cada elemento do SN, em um
total de 7.270 dados submetidos ao programa estatístico Goldvarb 2001. Desses dados, 4.264 foram da
variante «presença de marcas formais/informais de plural», correspondendo a 58% dos dados, e 3006
foram da variante «ausência de marcas formais/informais de plural», correspondendo a 42% dos dados.
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
Quanto às variáveis independentes linguísticas e extralinguísticas controladas, considerando a rodada
estatística sem a variável classe gramatical, todas se mostraram significativas na regra de funcionamento
da concordância nominal de número na microrregião do Alto Solimões. Esperamos com esta pesquisa
ter mostrado como é realizada a concordância nominal de número na fala dos amazonenses entrevistados, assim como ter evidenciado a partir da análise das variáveis independentes quais delas (linguísticas
e extralinguísticas) condicionam o uso da variante «presença de marcas formais/informais de plural».
Corenta anos de Atlas Lingüístico Galego (ALGa)
Francisco Fernández Rei (Instituto da Lingua Galega,
Universidade de Santiago de Compostela)
O Atlas Lingüístico Galego (ALGa) é un proxecto fundacional do Instituto da Lingua Galega da Universidade de Santiago de Compostela para describir a riqueza da variación xeográfica do galego moderno,
concibido e dirixido por Constantino García González e Antón Santamarina Fernández. Entre novembro do 1974 e outubro do 1976 Rosario Álvarez Blanco, Francisco Fernández Rei e Manuel González
González realizaron practicamente todo o traballo de campo.
O volume I Morfoloxía verbal editouse no verán do 1990, hai agora 25 anos, pero o seu material e
moito outro inédito do Atlas empregouse en traballos de codificación da lingua galega de finais dos anos
70 e comezos dos 80 e en moi diversas investigacións. No 1995 apareceu o II Morfoloxía non verbal e
no 1999 o III Fonética, mentres que a publicación da serie de volumes léxicos se iniciou no 2003 co IV
Tempo atmosférico e cronolóxico e continuou no 2005 co V O ser humano (I); e cando xa devalaba o
2014, corenta anos despois de iniciado o traballo de campo, imprimiuse o VI Terra, plantas e árbores.
Nestes momentos están en elaboración tres novos volumes, o VII O ser humano (II) case ultimado.
Na presente comunicación tratarase o contido e a evolución metodolóxica dos seis volumes editados
do ALGa, dos que son coordinador e corredactor de tres deles. Atenderase, fundamentalmente, á ordenación e tipoloxía dos mapas, á ordenación do material das lendas e á tipoloxía das notas, así como á
elaboración dos volumes, totalmente artesanal no I fronte á elaboración totalmente informatizada do III
e seguintes, para o que se empregou unha base de datos e un programa cartográfico.
Entre outros mapas, na exposición comentaranse algúns de fenómenos de morfoloxía nominal, pronominal e verbal, así como algúns léxicos (días da semana, meses do ano) cuxa información foi fundamental a finais dos anos 70 para escoller solucións para o estándar en casos de variedade de formas
galegas ou ben en casos de formas castelás que estaban a desprazar as galegas correspondentes.
O uso do dicionário escolar: ensino, dificuldades, hábitos e crenças
Francisco Iaci do Nascimento (Universidade Estadual do Ceará)
O Dicionário é um instrumento que tem um potencial didático enorme para uso em sala de aula, mas, às
vezes, tem sido negligenciado ou subutilizado na escola. Este trabalho tem o objetivo de investigar como
os dicionários escolares de língua materna são usados em sala de aula por alunos do ensino fundamental, buscando compreender que dificuldades, hábitos e crenças os alunos tem no uso desse tipo de obra,
que orientações eles recebem, bem como, examinar o impacto que o ensino do uso do dicionário tem sobre o desempenho dos estudantes. Está fundamentado teoricamente nos trabalhos e pesquisas de Biderman (2001), Porto Dapena (2002), Krieger & Finatto (2004), Welker (2004, 2006, 2008), Pontes (2009),
Tarp (2006), Damim & Peruzzo (2006), Duran & Xatara (2006), Martins (2007), Gomes (2007), Duran
(2008), Maldonado (2008), Zavaglia (2010, 2011), Krieger (2011, 2012), Leffa (2011), Silva (2011), Antunes (2012) entre outros. Trata-se de uma pesquisa de desenho misto em que coletamos dados quantitativos através de um questionário e um teste e dados qualitativos através de entrevistas com alunos de uma
turma de 5º ano do ensino fundamental. A análise dos dados revelou que em sala de aula é feito um uso
bem tradicional do dicionário com o objetivo de esclarecer dúvidas de significado ou de ortografia, não
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Comunicações livres / Comunicacións libres
se explora o potencial informativo e cognitivo do dicionário enquanto ferramenta didático-pedagógica.
Com base nos resultados dos testes, para esse grupo em estudo, podemos concluir com certa segurança
que o ensino do uso do dicionário melhorou o desempenho dos alunos na utilização desse tipo de obra,
confirmando assim nossa hipótese experimental.
PALAVRAS-CHAVE: Metalexicografia pedagógica; dicionário infantil; uso do dicionário; ensino do uso
do dicionário.
De romance peninsular a idioma global: uma proposta
para a história social do diassistema galego-português
Francisco Javier Calvo del Olmo (Universidade Federal do Paraná)
Este trabalho propõe-se contextualizar o desenvolvimento histórico do romance peninsular que deu origem à língua galega e portuguesa nas suas diferentes variedades; inscrevendo tais vicissitudes na esfera
das línguas neolatinas. Para tanto, sustentamos a nossa exposição na vasta produção bibliográfica que
as universidades brasileiras, galegas e portuguesas produziram nas últimas décadas e, igualmente, adotamos uma abordagem interdisciplinar que se vale de conceitos e métodos oriundos de outros campos
do saber como a História, a Geografia, a Sociologia e a Demografia. Partindo dessas bases, pretendemos
delinear o percurso histórico do diassistema galego-português vinculado às cisões e continuidades, à
expansão ou ao retrocesso social, comercial, político, econômico e cultural das comunidades que falaram ou falam alguma de suas variedades. Assim serão discutidos os efeitos que determinados marcos
tiveram nessas comunidades tais como a independência do Reino de Portugal em 1149, a expansão
mercantilista, os processos de colonização, a subalternização e isolamento da Galiza, a Independência
do Brasil, o impacto do Nacionalismo nos diferentes países lusófonos, o papel das academias, o desenvolvimento e implementação de sistemas educativos, a descolonização e o surgimento dos PALOPs, os
contatos linguísticos, os movimentos migratórios e das diásporas e, por fim, os processos de democratização e globalização que vêm se desenvolvendo nas últimas décadas. O alvo desse estudo não é aprofundar em uma determinada questão, mas sim realizar um mapeamento que permita alcançar uma visão
global e integradora da história social do citado diassistema. Mapeamento que se deve completar com
a projeção geográfica, ou seja, com a composição da cartografia que o domínio linguístico galego-português foi ganhando nas diferentes épocas. Desse modo, esperamos incentivar o debate que integre, de
forma cabal, os esforços que desde diferentes âmbitos vêm se fazendo para conhecer melhor o percurso
espaço-temporal desta língua, atrelado ao devir das suas comunidades de falantes. Pois, ao arguirmos
quem fomos, encontramos alicerces para entendermos quem somos; e, ao pesquisar qui eramus (ou
seja, quem éramos), ferramentas para construir qui erimus (quem seremos) em um momento em que
o entendimento reciproco no seio de uma Lusofonia plural se propõe como um projeto para o futuro.
Expressão fonológica da vogal temática no verbo do português arcaico:
uma análise otimalista
Gean Nunes Damulakis (Universidade Federal do Rio de Janeiro)
O português desenvolveu, (pelo menos) em verbos de terceira conjugação, o que tem sido descrito como
harmonia vocálica (HV) de altura, nas formas de primeira pessoa do indicativo e em todas as formas do
presente do subjuntivo (Harris, 1974; Wetzels, 1995; Schwindt, 2007, entre outros), como se pode ver
nos exemplos dormir – (eu) durmo, (que eu) durma; servir – sirvo, sirva; mentir – minto, minta. Assumimos que a harmonia resulta da resolução do conflito entre duas restrições, dominadas, em termos
otimalistas, no período arcaico: NoHiatus e Realize Morfema, considerando que a expressão dos traços
de abertura da vogal temática é capaz de satisfazer a última restrição. Esse fenômeno não era registrado
nos primeiros anos do português arcaico, apenas assumindo a regra variável na segunda metade do pe- 192 -
Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
ríodo considerado arcaico e se implementando como categórico no português moderno. Neste trabalho,
investigamos a origem desse fenômeno nos verbos de terceira conjugação no português, ao analisar a
expressão da vogal temática no português arcaico, período em que a harmonia ainda não era categórica,
mas constituía de maneira incipiente uma das possibilidades de expressão desse morfema. Há o intuito
de verificar quais eram os padrões de expressão desse morfema no período indicado, analisando as motivações para esses padrões e aquelas que levariam à harmonia. Foi realizada coleta em corpus representativo do português arcaico (Rodrigues e Damulakis, em preparação), durante o qual a harmonia vocálica
presente nos verbos de terceira conjugação ainda era um padrão marginal, sendo, portanto, uma das
possibilidades variáveis da expressão da vogal temática. Verificamos os seguintes padrões: I. feyro (para
‘ferir’), II. sérvio (para ‘servir’) e III. senço (para ‘sentir’). Além desses, foram registradas formas alternativas, muito menos frequentes, como aquelas sem expressão da VT (servo, dormo) e alguns casos de HV
(sirvo). Defendemos que uma única hierarquia de restrições conseguiria dar conta dos padrões, sendo a
restrição Realize Morfema assim como NoHiatus, que impeliriam à harmonia, dominadas nesse período.
Variação semântico-lexical entre dois estados brasileiros – Bahia e Paraná:
fenômenos atmosféricos nos dados do Atlas Linguístico do Brasil (ALiB)
Genivaldo da Conceição Oliveira (Universidade Federal do Recôncavo da Bahia)
Entendendo a importância dos estudos lexicais, este trabalho apresenta os resultados da análise das denominações registradas, nos estados da Bahia e do Paraná, na área fenômenos atmosféricos com o objetivo
geral de colaborar para um melhor conhecimento do Português Brasileiro, tal como se apresenta nas cidades que constituem a rede de pontos do Projeto Atlas Linguístico do Brasil (ALiB) nesses dois estados.
Está embasada nos princípios teóricos da Dialetologia, Sociolinguística, Lexicologia e Lexicografia. Este
estudo tem como corpus um extrato dos dados do Projeto ALiB, relativo aos estados da Bahia e do Paraná,
constituído das perguntas 17 à 20 do Questionário Semântico-Lexical (QSL), referentes à área semântica
fenômenos atmosféricos e utiliza-se do método da Geolinguística para a análise espacial dos dados. Damos ênfase ao aspecto diatópico, contudo recorremos, de maneira periférica, à análise de outras variáveis
como a diastrática e a diageracional. Os resultados são apresentados em quadros, gráficos e cartas. Cada
carta exibe os pontos do ALiB distribuídos em suas respectivas mesorregiões em ambos os estados estabelecendo assim um cotejo do aspecto semântico-lexical entre eles. Do total das lexias arroladas, constatamos a presença em sua maioria de substantivos, incluindo sintagmas nominais, com 68% das variantes
documentadas, 16% de verbos e 16% de adjetivos. Do total das variantes levantadas, três não apresentam
etimologia definida. As variantes que têm origem no latim representam 88% do total, ao passo que aquelas não registradas nos dicionários ou documentadas sem indicação da etimologia representam 12%. O
estudo comparativo entre os dados dos dois estados: (i) mostrou as coincidências entre as duas áreas, (ii)
apontou as divergências e, assim, caracterizou cada uma das áreas quanto às suas especificidades de uso e
(iii) forneceu elementos que possam contribuir para os estudos lexicológicos e lexicográficos, apontando
aos dicionários da língua portuguesa novos itens lexicais que venham a ampliar a sua informação.
PALAVRAS-CHAVE: Dialetologia; Geolinguística; português brasileiro; variação.
O léxico na construção da visão de mundo do quilombo Jamary dos Pretos,
Turiaçu/MA
Georgiana Márcia Oliveira Santos (Secretaria de Estado da Educação do Maranhão)
Esta pesquisa, de natureza empírica, descritiva e qualitativa - recorte da tese de doutorado da autora
- objetiva identificar e analisar especificidades denominativas e, principalmente, especificidades semântico-conceptuais no léxico do quilombo Jamary dos Pretos, situado no município de Turiaçu/MA, a fim
de identificar, especialmente, os traços semânticos atribuídos, ampliados ou suprimidos por esse grupo
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Comunicações livres / Comunicacións libres
para construir semioticamente sua singular visão de mundo. Mais especificamente, analisam-se as relações léxico-semânticas e, sobretudo, as semântico-conceptuais estabelecidas em 24 unidades lexicais
distribuídas nos campos semânticos territorialidade, tipo humano, ritual/espiritualidade, alimentação,
ação, doença, lazer, vestuário, modo. Para tanto, fundamenta-se nas orientações teórico-metodológicas da Semiótica, da Etnolinguística e, principalmente, da Etnoterminologia e baseia-se em um corpus
oral constituído por 24 entrevistas realizadas com quilombolas e com não quilombolas, esmiuçando-se,
mediante uso de fichas etnoterminológicas, as diferentes etapas do processo de conceptualização lato
sensu dessas unidades lexicais. Como resultado da análise etnoterminológica dos dados desta pesquisa,
apresentamos uma panorâmica da visão de mundo específica do quilombo Jamary dos Pretos, a qual
revela as particulares raízes étnico-culturais, históricas e organizacionais dos sistemas de significação
desse quilombo, atestando, por conseguinte, que as especificidades denominativas e conceituais do léxico desse grupo convertem-se em signos-símbolos de sua axiologia.
O léxico regional no romance Os Sertões e sua tradução para o espanhol
Geovanio Silva do Nascimento (Instituto Federal de Educação, Ciência
e Tecnologia Baiano)
Patrício Nunes Barreiros (Universidade Estadual de Feira de Santana)
O trabalho que ora apresentamos corresponde aos resultados preliminares da pesquisa que tem como
objetivo investigar a tradução do léxico regional da língua portuguesa do nordeste brasileiro tomando
como corpus o romance Os Sertões (CUNHA, 1904) e sua tradução para a língua espanhola (GARAY,
1938). Trata-se de uma investigação pautada nos princípios científicos da Lexicologia (BIDERMAN,
1998; IZQUERDO e OLIVEIRA, 2012, 2010, 2009) e pretende inventariar o vocabulário regional estruturando-o em campos lexicais (COSERIU, 1977) para em seguida analisar como esse mesmo vocabulário foi traduzido para a língua espanhola. Sabe-se que o léxico de uma língua pode ser difundido
de várias maneiras e que a literatura é uma delas. A obra de Euclides da Cunha utilizada como corpus
dessa pesquisa, ultrapassou as fronteiras do Brasil e da língua portuguesa, sendo traduzido para vários
idiomas e culturas, dando a conhecer a realidade sociocultural do nordeste por meio do léxico regional.
O estudo do vocabulário regional do nordeste brasileiro e a análise dessas lexias traduzidas para o espanhol contribuem para melhor compreender o português brasileiro e entender como a realidade social
do nordeste está sendo traduzido para outras culturas e contextos.
As formas de denominação na história do Português: aspectos sintáticos
e semânticos
Gilcélia de Menezes da Silva (Universidade de São Paulo)
Maria Clara Paixão de Sousa (Universidade de São Paulo)
Discutiremos aqui a evolução diacrônica do verbo chamar como principal predicador denominativo na
história do Português. Apresentaremos os resultados parciais de um estudo descritivo sobre as formas
de denominação na história do Português atestadas nas Crônicas Portuguesas, séculos XIV ao XVI.
Enfatizaremos os aspectos sintáticos e semânticos dos predicadores denominativos e suas implicações
nas mudanças gramaticais sofridas por chamar quando este se estabeleceu como principal predicador
das denominativas do Português.
Em Menezes da Silva (2010) e em Menezes da Silva e Paixão de Sousa (2009) mostrou-se que no
início do século XV o chamar transformava-se no principal predicador denominativo, substituindo os
outros predicadores. Ex.: dizer {aquelle a que dizen Terreno-CGE-1344}– transitivas; haver {E este avia
nome Ricaldo-CGE}-estativas. Esta mudança de predicador mostrou-se interessante para compreendermos a evolução nos padrões de ocorrência de chamar quanto à expressão argumental e à ordem relativa
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
entre seus argumentos. No século XVI, o principal padrão de ocorrência dos argumentos de chamar
nas denominativas acompanhava as características da gramática do Português Médio. Apontamos uma
alta incidência de sujeitos agentes nulos, com o argumento com papel temático de Designando (Y) ocupando a posição de proeminência discursiva, à esquerda do verbo e o argumento com papel temático
de Denominação (Z), em posição pós-verbal, resultando na ordem [YVZ]. Em relação a expressão dos
argumentos, notamos que, nas transitivas, o Designando (Y) ocorre pleno (SN e SP) com predomínio de
SN ou cliticizado (com predomínio do dativo), acarretando em dois tipos de construções: [X chama Y
(de)Z]; [X chama aY (de)Z]. Essa variação também foi atestada na expressão dos argumentos dos outros
verbos denominativos.
A partir do século XVI, com a supressão do agente, o chamar apresenta uma redução na sua valência,
emergindo a estativa característica do PB {Y chama Z}.
PALAVRAS-CHAVE: Crônicas portuguesas; predicadores denominativos; diacronia; valência verbal;
mudança gramatical.
Referências
MENEZES DA SILVA, G. A Valência do Predicador Chamar na Diacronia do Português. 2010. Dissertação (Mestre) – IEL – UNICAMP, Campinas, 2010.
PAIXÃO DE SOUSA, M. C.; MENEZES DA SILVA, G.. A diacronia do verbo Chamar e a proeminência
à esquerda no português. In: Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas. M. J.
Marçalo et. al. (Eds.), Évora, 2009.
Marcos para uma história das políticas linguísticas no mundo lusófono
Gilvan Müller de Oliveira (Universidade Federal de Santa Catarina /
Instituto de Investigação e Desenvolvimento em Política Linguística)
A escrita da história das línguas concentrou-se tradicionalmente na descrição da mudança linguística
e, secundariamente, no que poderia ser chamado, em uma concepção ampla, de «história externa» das
línguas, envolvendo em maior ou menor detalhe a sua expansão geográfica e demográfica e os marcos
das suas produções culturais. Muito mais raras são as histórias das políticas linguísticas de uma língua
ou de espaços multilíngues organizados a partir de uma língua hegemônica colonial/oficial/nacional.
A pesquisa aqui proposta tem por objetivo a escrita de uma história das políticas linguísticas nos
países de língua oficial portuguesa. Para tanto, concentrar-se-á em a) definir o que é uma história político-linguística e as suas categorias, b) proporá uma periodização complexa das políticas linguísticas nos
países de língua oficial portuguesa e, c) produzirá uma amostragem, por país, das políticas linguísticas
do século XXI, iniciando um caminho inverso do presente em direção ao passado.
Esta pesquisa contribuirá, a partir de um aporte historiográfico, para a planificação linguística do
português em um âmbito nacional e/ou multilateral, bem como para a gestão do multilinguismo interno
aos países de língua oficial portuguesa.
«Arquive» ou «Arquive-se»? Expressão do imperativo
em textos burocráticos na passagem do século XIX ao XX
Giovanna Ike Coan (Universidade de São Paulo)
Nos últimos anos, diversos estudos sobre o português brasileiro (PB) têm se voltado ao modo imperativo. Por um lado, pesquisas variacionistas analisam o uso das formas do chamado «imperativo verdadeiro» (o imperativo com morfologia e sintaxe próprias, e.g., «Canta, bebe») e do «imperativo supletivo»
(derivado do subjuntivo, e.g., «Cante, beba»), relacionando-as ao uso variável dos pronomes pessoais
«tu» e «você» (cf. SCHERRE, 2005; CARDOSO, 2006; SCHERRE et. al., 2007). Por outro, estudos fun- 195 -
Comunicações livres / Comunicacións libres
cionalistas examinam a opção por tais formas a partir de parâmetros como graus de imperatividade,
tipos de relações interpessoais e semântica verbal (cf. LIMA-HERNANDES et. al, 2009). No entanto, as
investigações linguísticas não têm enfocado um tipo de expressão muito comum na escrita e na fala do
PB: o imperativo seguido do pronome «se» – e.g., «Leia-se, veja-se, durma-se» –, fenômeno mencionado
por Hawad (2002).
Diante disso, este trabalho visa a analisar as construções imperativas presentes em textos ligados à
organização administrativo-burocrática da instrução pública paulista no período de 1896 a 1910. Especificamente, examinam-se ofícios recebidos e arquivados pela Secretaria de Estado dos Negócios do Interior, nos quais é possível notar a representação escrita de atos de comando, ou seja, de atos ilocutórios
diretivos (MATEUS et. al., 1983), que partiam do Secretário para serem cumpridos pelos subalternos.
Além de analisar o tipo de imperativo empregado (verdadeiro ou supletivo), os graus de imperatividade das construções e a ausência/presença de complementos verbais, intentamos buscar motivações
pragmáticas e sociohistóricas para a inserção do «se» nesse contexto e seus possíveis efeitos de sentido.
Assim, o valor semântico do «se» levaria a referência do destinatário – i.e., de quem é exortado a cumprir a ação verbal – a se expandir para a indeterminação, para um receptor genérico, como «qualquer
pessoa» daquele espaço de trabalho (COAN, 2011).
Sob o enfoque da História Social da Língua Portuguesa, o trabalho busca, pois, o diálogo entre os
resultados aqui obtidos e investigações anteriores sobre o fenômeno linguístico em questão e sobre a
instrução pública e a sociedade em São Paulo do final do século XIX ao início do XX.
O /r/ caipira em Minas Gerais e São Paulo
Hélen Cristina da Silva (Universidade Estadual de Londrina)
Vanderci de Andrade Aguilera (Universidade Estadual de Londrina)
No ano de 1920, Amadeu Amaral, em sua obra pioneira no campo da dialetologia no Brasil, O dialeto
caipira, descreve essa variedade falada na antiga província de São Paulo até o final do século XIX, apresentando dentre suas características o /r/ retroflexo, ou, por derivação de sua origem e propagação pelo
interior paulista, o /r/ caipira. As mudanças sociais da época levaram Amaral a afirmar que o dialeto
caipira, acantoado em pequenas localidades que não acompanharam de perto o movimento geral do
progresso (...), acha-se condenado a desaparecer em prazo mais ou menos breve. Pesquisas recentes
(AGUILERA e SILVA, 2011; 2014; BRANDÃO, 2007; CASTRO, 2006), entretanto tendem a contrariar
tal previsão, sobretudo no tocante à vitalidade do /r/ retroflexo, uma das marcas mais autênticas do
dialeto caipira, demonstrando que esse rótico, fruto do contato do português lusitano com o tupi e disseminado pelas bandeiras paulistas, encontra-se vivo e em expansão no português brasileiro (PB). Diante
do exposto, a presente pesquisa, situada no âmbito da Dialetologia Pluridimensional (THUN, 1998),
tem como objetivo central comprovar a hipótese da expansão e da manutenção do /r/ retroflexo no PB
e mapeá-lo em posição de coda silábica, no Sudeste brasileiro. Ademais, buscamos fornecer subsídios
para a delimitação de isófonas que possam contribuir para com a demarcação das áreas dialetais brasileiras, no que tange, especificamente, à região Sudeste do país, onde se localiza um dos maiores focos de
irradiação da variante caipira, isto é, São Paulo. Nesta oportunidade, pois, apresentamos dados parciais
da pesquisa no que concerne aos dados, coletados pelo Projeto Atlas Linguístico do Brasil (ALiB), em
38 localidades do estado de São Paulo e de 23 de Minas Gerais, incluindo as duas capitais e o interior.
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
Compostos nominais formados por verbo e nome em português e galego
Ildikó Szijj (Universidade Eötvös Loránd de Budapeste)
Na minha comunicação gostaria de falar sobre a origem do primeiro elemento dos compostos nominais
formados por verbo e nome em português e galego (p. ex. port. arranha em arranha-céus). Este tipo de
composto é geral nas línguas novilatinas, a questão da origem do primeiro elemento tem ampla literatura na linguística românica. Existem basicamente três hipóteses: é uma forma de imperativo, de presente
do indicativo ou de tema verbal. Também foi proposta a possibilidade de este elemento apresentar correspondência com os substantivos deverbais que expressam ação e resultado (p. ex. procura) ou com os
nomes com função de agente (p. ex. guia) e com os compostos formados por duas formas verbais (p. ex.
corre-corre).
Gostaria de observar especialmente os compostos galegos que apresentam estas estruturas, em primeiro lugar aqueles cujo primeiro elemento corresponde a um verbo da 2a ou da 3a conjugação, de
vogal radical e ou o/u, porque nestes verbos a forma da 3a pessoa do singular do presente do indicativo
tem uma vogal radical diferente da vogal da forma do imperativo singular (p. ex. ind. bebe com vogal
aberta, imp. bebe com vogal fechada). Interessam-me, pois, em primeiro lugar palavras como cuspe,
bulebule, etc.
Este tema é ao mesmo tempo sincrónico e diacrónico. Os compostos nominais formados por verbo
e nome apareceram já no século IX no latim tardio. Já foi observado (p. ex. Bourciez 1956) que no início
estes compostos continham uma forma de imperativo, mas mais tarde, por analogia criaram-se compostos novos, seguindo a mesma estrutura, com uma forma de indicativo (Lloyd 1968).
Na comunicação apresentaria o problema num marco geral românico, fazendo referência aos casos
doutras línguas em que há diferença entre a forma da 3a pessoa do singular do presente do indicativo e
o imperativo singular (p. ex. it. ind. batte, imp. batti, palavra composta: battipanni).
Orde dos clíticos pronominais en complexos verbais do galego:
da variación ao cambio
Irene Santos Raña (Instituto da Lingua Galega,
Universidade de Santiago de Compostela)
Esta investigación ten como obxectivo analizar os cambios na disposición dos clíticos en construcións
con máis dunha forma verbal en textos galegos dos dous últimos séculos. Algúns traballos previos mostraron que a variable tempo parece un desencadeante importante no cambio que se vén producindo na
lingua galega nestas construcións. Estes estudos baséanse fundamentalmente na comparación da lingua
medieval coa moderna. A nosa análise céntrase no estudo de textos escritos de tres períodos temporais
do galego moderno: 1875-1900, 1900-1936 e 1975-2000. Os datos obtivéronse do corpus de textos escritos do Tesouro Informatizado da Lingua Galega. Para completar a descrición e análise dos datos, ademais da variable tempo, teranse en conta factores relacionados coa gramaticalización das construcións
e a forma do clítico (persoa, caso, xénero, número). Os resultados desta análise preliminar permiten
avaliar o peso de cada unha das variables citadas no cambio que se está a producir no sistema gramatical
do galego.
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Comunicações livres / Comunicacións libres
Número e género nominais no desenvolvimento do português
de Timor-Leste
Isabel Pereira (Centro de Estudos de Linguística Geral e Aplicada,
Universidade de Coimbra)
Cristina Martins (Centro de Estudos de Linguística Geral e Aplicada,
Universidade de Coimbra)
Isabel Almeida Santos (Centro de Estudos de Linguística Geral e Aplicada,
Universidade de Coimbra)
No presente estudo, comparam-se os padrões variáveis de concordância nominal em número e em género revelados em produções escritas de adultos timorenses com formação universitária atualmente a
estudar e/ou a exercer profissões compatíveis em Timor Leste. Tratando-se de uma variedade nacional
não nativa do português em estado emergente, as particularidades que ganham atualmente formano
português de Timor-Leste,são,por um lado, ainda muito mal conhecidas, podendo, por outro, fornecer
pistas importantes sobre o próprio processo de formação histórica destas variedades.
No sentido de contribuir para a descrição do português de Timor-Leste, avaliando o grau de convergência/divergência das suas estruturas emergentescom o observadonoutras variedades não maternas do português, importa, portanto, observar até que ponto os dados empíricos disponíveisapresentamespecificidades ou, pelo contrário, afinidades, não só com outras variedades nacionais não nativas
do portuguêsem mais adiantado estado de desenvolvimento histórico, mas também com o português
aprendido enquanto língua estrangeira,fundamentalmente por via instrucional, por aprendentes com
diferentes níveis de proficiência.
Estudos anteriores, quer relativos a falantes de variedades não nativas do português em contextos em
que ele assume o estatuto sociopolítico de língua segunda (PLS), quer relativos a aprendentes de português língua estrangeira (PLE) têm consistentemente revelado a concordância nominal em número e em
género como áreas críticasespecialmente sujeitas à formação de padrões variáveis. Poucos destes estudos
permitem, contudo, uma comparação efetiva, na mesma amostra de sujeitos, dospadrões de concordância nominal em número vs.os padrões de atribuição de género ao nome e respetiva concordância.
No presente trabalho, e dando continuidade a uma investigação empírica anterior envolvendo uma
amostra de produções escritas de 90 sujeitos de 3 LM distintas (chinês, alemão e espanhol) e distribuídos
por diferentes níveis de proficiência, em que os padrões variáveis de concordância nominal em número
e em género são cotejados, proceder-se-á à comparação do comportamento observado em produções
escritas deuma amostra de aprendentes timorenses de PLS, convocando, sempre que disponíveis, os
resultados existentes sobre concordância nominal em número e em género nas variedades não nativas
do português desenvolvidas em diferentes partes do mundo.
Complementos dativos em atas escritas por escravos brasileiros
alforriados no século XIX
Isis Juliana Figueiredo de Barros (Universidade Federal da Bahia)
Maria Cristina Vieira de Figueiredo Silva (Universidade Federal da Bahia)
Rerisson Cavalcante de Araújo (Universidade Federal da Bahia)
Com base em atas (OLIVEIRA, 2006), escritas por brasileiros alforriados, o trabalho investiga a realização das construções dativas ditransitivas, assim como o uso das preposições que introduzem o dativo,
no Português Afro-Brasileiro (PB-afro) no período oitocentista. Partindo da ideia de que o PB teria se
distanciado do Português Europeu (PE) por razões sócio-históricas, sobretudo, pelo fato de o Brasil ter
sido por muitos anos um cenário de contato intenso entre línguas de indivíduos originados da África e
Europa, buscou-se verificar: i) se o processo de mudança na configuração sintática apontado por Morais
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
e Berlinck (2006) se reflete nas atas; e ii) delimitar os aspectos linguísticos que apontam para o (não) uso
das construções de duplo objeto no corpus investigado. Nas últimas décadas, pesquisas sobre história do
Português Brasileiro (PB) têm discutido os motivos que o levaram a ter adquirido propriedades linguísticas distintas das do PE. Algumas dessas consideram o contexto sócio-histórico do Brasil no período
colonial fundamental para as diferenças lingüísticas verificadas entre o PE e o PB, por ter propiciado o
contato entre as diferentes línguas durante esse período (MUSSA, 1991; MATTOS E SILVA, 2004). O resultado da análise apontou um uso expansivo dos dativos nulos (80%), e um percentual um pouco mais
elevado de nulos anafóricos que a estratégia realizada do dativo (54%). Observou-se também uma recorrência alta da preposição a em relação às outras observadas (87%), além do uso frequente da estratégia
clítica de terceira pessoa. Considerando a hipótese de Torres Morais (2007) de que o aumento do nulo
anafórico é decorrente da redução no uso dos clíticos dativos de terceira pessoa como principal estratégia de retomada e de que o aumento da preposição para no lugar de a teria sido resultado da reanálise
na expressão do dativo no PB atual, o resultado da análise das atas do século XIX demonstra um padrão
de uso muito semelhante ao PE: o uso ainda expandido do clítico dativo, sobretudo de terceira pessoa, a
ocorrência com redobro do clítico e as assimetrias encontradas. Além disso, fazemos uma comparação
com os dados do corpus escrito por africanos, registros de atas escritos pela mesma sociedade, no intuito
de se demonstrar as diferenças de uso dessas construções entre os diferentes indivíduos que adquiram a
língua em diferentes contextos.
PALAVRAS-CHAVE: Contruções ditransitivas; dativo; português afro-brasileiro; preposições.
Variabilidade estilística e semântica do artigo
em diferentes níveis da língua
Iva Svobodová (Instituto das Línguas e Literaturas Românicas,
Universidade de Masaryk)
Em nossa pesquisa temo-nos ocupado de um tema muito vasto e abstrato, que é a variabilidade estilística e semântica do artigo. No âmbito do nosso estudo propomos que o artigo seja percebido como
«estilema» que pode apresentar duas componentes: uma não marcada (informema) e a outra, marcada
(pragmema). Relembre-se que o conceito estilema constitui a pedra-base da Estilística no contexto da
linguística eslava, sendo definida como:
«um meio estilístico capaz de ativar ou desativar o perfil estilístico (ou pragmático) da enunciação
que tem duas componentes: a informativa denominada informema (estilisticamente passiva) e a pragmática, denominada pragmema (estilisticamente ativa).»
De facto, o artigo, devido ao seu carácter polifuncional e polivalente, também se apresenta como
pragmema e informema (o artigo como informema serve para atualizar ou determinar o nome em diferentes planos linguísticos e com diferentes tipos semânticos do substantivo, enquanto que como pragmema torna o texto estilisticamente ativo, entoa-lhe de um matiz mais ou menos expressivo e emotivo
e contribui para o carácter marcado do texto. Este carácter duplo, como veremos, ocorre nos planos de
fonética e fonologia, morfologia, sintaxe e lexicologia, níveis da língua em que também decorreu a nossa
análise. No que à semântica diz respeito, temos concentrado a nossa atenção, sobretudo, ao problema
da identificação do referente operada pelo artigo, o qual pode apresentar os seus valores pragmáticos ou
informáticos nos respetivos processos de determinação. Em cada secção, a análise é feita com base do
material linguístico que chegou a criar um corpus autóctone da língua portuguesa: Gramática da Língua
Portuguesa (2009), os corpora InterKorp e Linguateca, e ainda outros.
O nosso estudo tem ainda um outro objetivo, i.e. chamar a atenção para os problemas relativos a uma
insuficiente perceção das especificidades marginais e periféricas de fenómenos gramaticais por parte
dos alunos de PL2 ou de PLE.
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Comunicações livres / Comunicacións libres
Uso do artigo com os nomes dos dias da semana nos sintagmas
preposicionais e a sua variabilidade aspetual
Iva Svobodová (Instituto das Línguas e Literaturas Românicas,
Universidade de Masaryk)
O presente trabalho tem por objetivo apontar caminhos para possíveis análises dos diferentes comportamentos de expressões adverbiais de tempo quando estas se encontram em sintagmas preposicionados
onde o núcleo introduz o nome dos dias da semana. A referência temporal destas expressões adverbiais
é muitas vezes percebida pelos falantes não nativos apenas com base no subsistema verbal português,
prendendo-se, muitas vezes, com os valores aspetuais de duração ou de pontualidade.
O propósito da nossa pesquisa será, além de analisar os sintagmas preposicionais e dos seus valores
aspetuais, estudar também a ocorrência do artigo nestes mesmos sintagmas.
Dividimos o nosso trabalho em duas partes principais. A primeira parte aborda o problema dos
sintagmas preposicionais com os núcleos «em» e «a» do ponto de vista aspetual, sendo a segunda parte
dedicada à análise da ocorrência do artigo nos outros sintagmas preposicionais, o que como veremos, se
depreenderá de dois fatores relevantes: o primeiro será o núcleo do sintagma preposicional e o segundo
o número singular (sg.) versus plural (pl.) do nome do dia da semana. Ambos os fatores, como será possível verificar, serão decisivos na predeterminação da ocorrência ou não do artigo.
No presente estudo foram aplicados os princípios da metodologia tanto qualitativa como quantitativa. Na primeira parte, dedicada ao estudo qualitativo das possíveis interpretações aspetuais destas
construções, partimos de todas as gramáticas e manuais da língua portuguesa acessíveis «Gramática
do Português Contemporâneo» (Cunha, Cintra: 1999), «Moderna Gramática Portuguesa», (Evanildo
Bechara, 2000), «Portugalština» (Jindrová, 2001), «Gramática de Uso» (Neves: 2001).
Para conseguirmos obter o maior número de exemplos, recorremos a todos os possíveis corpora eletrónicos portugueses existentes (Linguateca, Corpus do Português, Interkorp) e também ao Dicionário
da Língua Portuguesa Contemporânea (Casteleiro et al.: 2001). Todas as construções encontradas foram
comparadas do ponto de vista aspetual e colocadas em oposições pontualidade versus duratividade. A
segunda parte do trabalho, dedicada à pesquisa relativa à ocorrência do artigo nos sintagmas preposicionais segundo o núcleo do sintagma preposicional e o número sg./pl. dos nomes dos dias da semana
consistiu, pelo contrário, num estudo quantitativo baseado na comparação de números exatos das ocorrências das expressões concretas.
Edição de manuscritos paulistas do séc. XIX e estudo dos grafemas <s>
e <z> na representação da sibilante sonora /z/
Ivan Douglas de Souza (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
de São Paulo)
Esta pesquisa, em linha com a Edótica, a Codicologia, a Paleografia e com a Linguística Histórica, apresenta as edições fac-similar e semidiplomática e o estudo de manuscritos de Botucatu-SP, datados de
1858 e 1859, pertencentes ao primeiro Livro de Atas da Câmara Municipal da referida localidade. Durante a leitura e a edição das atas, escritas por três punhos distintos, notamos que, em alguns vocábulos, a representação da sibilante sonora /z/, sobretudo em posição intervocálica, sofre grande variação
entre os grafemas <s> e <z>. Tabulamos os vocábulos comuns aos três escribas contendo tal fonema
posicionado entre duas vogais a fim de identificar as diferentes escolhas de cada autor nos documentos
editados. No intuito de solucionar possíveis dificuldades de leitura e estabelecer um corpus de alta fidedignidade para estudos linguísticos, investigam-se os alógrafos dos grafemas <s> e <z> intervocálicos. E
é justamente nesse ponto que se instrumentaliza a importância da Paleografia, pois esta ciência fundamenta o trabalho do pesquisador durante o estudo de alografia em textos manuscritos, direcionando-o
na busca de traços distintivos entre os alógrafos de um mesmo grafema e, em especial, na diferenciação
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
de grafemas. Assim, buscou-se um levantamento das principais características dos traçados de <s> e de
<z> intervocálicos. O primeiro autor varia entre os dois grafemas em 90% das palavras coletadas. O segundo escrevente usa o grafema <z> para o fonema /z/ intervocálico em 100% das ocorrências registradas. O terceiro autor efetua variação entre <s> e <z> em 10% dos itens analisados. A partir de reflexões
em Linguística Histórica, pautadas no estudo de gramáticos e ortógrafos portugueses e brasileiros do
século XVI ao século XX, chegamos à conclusão de que tal variação grafemática na representação de um
único fonema explica-se pelo processo evolutivo das consoantes sibilantes do Português ao longo de sua
história e pela ausência de uma «ortografia oficial» até 1911. Para corroborar com essa conclusão, verificamos o mesmo fenômeno de variação grafemática em edições de atas escritas em diferentes municípios
do estado de São Paulo já a partir do séc. XVII. Além disso, a análise paleográfica mostra-se fundamental durante a edição de documentos no sentido da preservação das características ortográficas do texto.
Escravidão e domínio linguístico em torno da Arte da Língua de Angola
(1697)
Ivana Stolze Lima (Fundação Casa de Rui Barbosa)
A comunicação trata da obra Arte da Língua de Angola, publicada em Lisboa, em 1697, e elaborada pelo
jesuíta Pedro Dias, que viveu no Brasil grande parte de sua vida. Considerada a primeira gramática do
quimbundo, a análise da obra permite refletir sobre a importância do domínio linguístico na construção
da ordem escravista, bem como sobre as possibilidades de formação de vínculos sociais e comunitários
em torno das línguas africanas no Brasil. A circulação do quimbundo no Brasil explica-se pelas redes e
rotas do tráfico de africanos (estima-se que entre 1650 e 1700 desembarcaram 690 mil africanos oriundos da região de Congo-Angola, uma média de 8 mil por ano). Mas mais do que uma mera dimensão
demográfica, a elaboração da obra supôs um determinado domínio dessa língua, construído nas várias
margens do Atlântico, domínio que colocou lado a lado falantes, peritos e intérpretes do quimbundo e os
missionários que circularam nessas áreas. Algumas obras precedentes mostram o esforço que se traduzia
na produção de catecismos nas línguas locais, além de vocabulários e gramáticas. Em 1642, havia sido
impresso o Gentio de Angola suficientemente instruido nos mysterios de nossa santa Fé, um catecismo
bilíngue português-quimbundo, do jesuíta Francisco Pacconio, que seria usado nos colégios jesuítas de
Angola e do Brasil.
Pedro Dias soma-se portanto a um grupo maior de padres que dominou o quimbundo. Há registros
dos séculos XVI e XVII de padres nascidos em Portugal e no Brasil que seriam peritos na então chamada língua de Angola. E há também informações sobre indivíduos nascidos em Luanda e adjacências,
possivelmente oriundos de famílias portuguesas, que atuaram em colégios jesuítas do Brasil, a exemplo
de Miguel Cardoso, Antonio Cardoso, Francisco de Lima e outros. Essa rede institucional atendia ao
objetivo, explicitado pelos missionários, de doutrinar os africanos escravizados. Pedro Dias, além de
ter tido cargos nos colégios jesuítas, como o de Reitor do Colégio de Olinda, dispensava atendimentos
médicos aos escravos, e foi procurador dos engenhos de açúcar de propriedade dos jesuítas. A Arte da
língua de Angola revela o esforço do autor em explicitar as formas de funcionamento da língua, as suas
sonoridades próprias, inclusive com uma atenção para as suas variações e distintos usos. Mas há uma
outra faceta que se depreende dessa. A gramática não teria existido se uma uma língua africana não
tivesse sido falada no Brasil, em diferentes localidades.
Letramento visual crítico
João Paulo Xavier (Universidade Federal de Minas Gerais)
O trabalho é parte da pesquisa, em fase de conclusão, intitulada «As imagens e representações do Brasil nos livros didáticos de inglês – um olhar através das lentes do Letramento Visual Crítico», que está
sendo desenvolvida na linha de pesquisa «Linguística Aplicada ao Ensino de Línguas Estrangeiras» no
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Comunicações livres / Comunicacións libres
Programa de Pós-graduação em Estudos Linguísticos da UFMG. A dissertação apresenta a análise das
ilustrações que compõem a coleção didática High Up, aprovada pelo PNLD 2015 e utilizada pela maioria das escolas estaduais de Belo Horizonte. Esse estudo foi realizado com o intuito de identificar como
as representações da diversidade étnica, cultural e social brasileira são feitas por meio imagético e, também, investigar se são propiciadas aos professores e alunos que utilizam a coleção, oportunidades para
debates críticos e construções de sentido que ultrapassem possíveis estereótipos. Para essa análise, são
retomados os conceitos de letramento crítico (LUKE e FREEBODY, 1997; CERVETTI, 2001), de multiletramentos (LANKSHEAR, SNYDER e GREEN, 2000; GEE, 2006), de letramento visual (BROWETT,
2002; BRAMFORD, 2009) e de letramento visual crítico para analisar e discutir os dados que emergiram.
O método misto e a adoção da estratégia sequencial exploratória (CRESWELL, 2003; DÖRNYEI, 2007)
foram utilizados, pois permitem coadunar dados quantitativos coletados paralelamente e triangulá-los
durante a fase de análise e interpretação. Nessa pesquisa, a sequência de fases é: 1) análise quantitativa:
contabilização do número geral de imagens na coleção e do percentual referente aos contextos brasileiros; 2) categorização e análise qualitativa das imagens, orientações pedagógicas e atividades propostas.
Os resultados mostram a necessidade do desenvolvimento de atividades e conteúdos específicos relacionados ao trabalho com imagens. O que poderia fomentar a criatividade dos alunos, enriquecer as aulas
de línguas, possibilitar debates que favoreçam a ampliação do capital cultural e da criticidade dos alunos,
levá-los a refletir sobre os temas das lições e desconstruir ideias equívocas e possíveis estereótipos.
PALAVRAS-CHAVE: LVC; livro-didático; imagem.
Metafonia histórica em português: uma análise baseada na fonologia
dos elementos
João Veloso (Universidade do Porto)
A perda histórica de consoantes intervocálicas no Galego-Português Antigo e em Português Medieval
deu origem, em Português Moderno, a um grande número de sequências não consonânticas (ditongos
e hiatos).
Muito frequentemente, quando uma vogal não colorida ([a]) precede um vocoide maximamente
distante ([i/j], [u/w]), os elementos de tonalidade {I} ou {U} espalham-se sobre [a] (Lat. lactem > *l[aj]
te > PModerno [e(j)]te; Lat. aurum > PModerno [o(w)]ro).
«Metafonia» é um dos termos tradicionais para descrever esta mudança fonética, que, nos termos de
Donegan (1973), pode ser classificada como um caso de «coloração».
Um fenómeno idêntico ocorreu em Francês, que, contudo, conheceu um passo suplementar, dado
que a monotongação se sucedeu à coloração, com a fusão total dos dois vocoides numa só vogal (Lat.
lactem > Fr. l[έ]; Lat. aurum > Fr. [ɔ]r). O mesmo fenómeno é atestado nos dialetos meridionais do
Português, bem como no Castelhano, onde aos ditongos do Português Moderno [ej] ( Numa versão
simplificada da formalização de Angoujard (2003) para o Francês e de Backley (2011) para algumas
variedades do Inglês, podemos propor a seguinte análise do fenómeno):
(1)
A,I-->[e]
A,U-->[o]
Nesta comunicação, propomos que a «metafonia» histórica do Português pode também ser descrita
em termos de interação dos elementos {I}, {A} e {U}. Relativamente aos dialetos («monotongados») do
Sul, falaremos de fusão total de elementos.
Esta explicação parece-nos especialmente adequada para uma análise conveniente das realizações
alomórficas da vogal temática verbal /A/, quando ela precede flexionalmente um morfema de modotempo ou pessoa-número cujo primeiro segmento é um /i/ ou um /u/:
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
[[cant]Radical +[a>e]VogalTemática+[i]MNP]Verbo --- ‘(eu) cantei’
[[cant]Radical +[a>o] VogalTemática +[u]MNP]Verbo --- ‘(ele/ela) cantou’
Referências
ANGOUJARD, J.-P. (2003) Phonologie et diachronie. In : J. P. Angouojard et al. (Eds.) Phonologie:
Champs et perspectives. Lyon: ENS Editions, 173-194.
BACKLEY, P. (2011) An Introduction to Element Theory. Edinburgh: Edinburgh University Press.
DONEGAN [Miller], P. (1973) Bleaching and Coloring. Papers from the Ninth Regional Meeting. Chicago Linguistic Society. Chicago IL: Chicago Linguistic Society, 386-397.
O funcionamento do operador argumentativo até no enunciado
«Liberdade é a vida, a honra, a pátria, a família e até Deus»
Jorge Viana Santos (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia)
Israela Geraldo Viana de Carvalho (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia)
Vanessa Oliveira Nogueira de Sant’Ana (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia)
O presente trabalho tem como objetivo analisar semanticamente o funcionamento do operador «até»
no enunciado «Liberdade é a vida, a honra, a pátria, a família e até Deus», enunciado que integra o texto
intitulado «A escravidão», publicado no jornal «O Asteroide», da cidade de Cachoeira na Bahia (Brasil),
no ano de 1887. Esse jornal, no qual se encontra o corpus desta pesquisa, está disponível na Hemeroteca
Digital da Biblioteca Nacional do Brasil. O periódico circulou durante o período de setembro de 1887 a
setembro de 1888, além de uma edição especial publicada em 1889, com o intuito de expor a população
cachoeirana às ideias abolicionistas que circulavam na sociedade, pois o Brasil vivia um período de
grande conflito entre os abolicionistas e os escravistas pelo fim da escravidão. Pretende-se destarte, neste
trabalho, verificar se o «até» funciona nesse enunciado como um operador argumentativo conforme a
teoria da Semântica Argumentativa. Para tanto, a metodologia empregada consistiu na análise argumentativa do enunciado «Liberdade é a vida, a honra, a pátria, a família e até Deus» a partir da Semântica
Argumentativa nas suas vertentes Teoria Padrão (DUCROT, 1973) e Teoria Polifônica da Enunciação
(DUCROT, 1989; 1984). Tal trabalho assume relevância na medida em que pretende contribuir para o
estudo da Semântica Argumentativa, bem como para a memória da escravidão brasileira.
Dicionário dos Primeiros Livros Impressos
em Língua Portuguesa (1488-1499)
José Barbosa Machado (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro)
A imprensa, que entrou em Portugal no reinado de D. João II, teve um papel fundamental na divulgação
de textos e no desenvolvimento e maturidade da Língua Portuguesa escrita.
A Língua Portuguesa deste período apresenta alguma estabilidade linguística, sobretudo no âmbito
morfológico e sintáctico, face à instabilidade dos séculos anteriores. A instabilidade gráfica mantém-se,
como facilmente se depreende pela profusão de formas de uma mesma palavra em obras da época. A
estabilidade morfológica e sintática permitirá que no século seguinte sejam redigidas obras como Os Lusíadas de Camões, Crónica do Felicíssimo Rei D. Manuel de Góis e Peregrinação de Fernão Mendes Pinto.
O Dicionário dos Primeiros Livros Impressos em Língua Portuguesa é um projeto em elaboração
e tem como corpus as seguintes obras impressas entre 1488 e 1499 em língua portuguesa: Sumário das
Graças (1488); Sacramental (1488); Tratado de Confissom (1489); Vita Christi (1495); História do Mui
Nobre Vespasiano Imperador de Roma (1496); Constituições de D. Diogo de Sousa (1497); Evangelhos
e Epístolas com suas Exposições em Romance (1497); Regimento Proveitoso Contra a Pestenença (c.
1495-1499).
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Comunicações livres / Comunicacións libres
O português brasileiro do séc. XVIII: evidências de uma norma
em construção
José da Silva Simões (Universidade de São Paulo)
Patrícia Simone Ferucio Manoel (Universidade de São Paulo)
Estudos mais recentes de manuscritos produzidos no Brasil ao longo do séc. XVIII têm demonstrado
que uma variante brasileira do português já podia ser identificada àquela altura. Esta comunicação tem
como objetivo principal a análise de fenômenos de gramaticalização do português em contraste, entre
o PE e o PB do séc. XVIII. Para este trabalho serão utilizadas como corpora as memórias históricas
redigidas pelo religioso brasileiro, Frei Gaspar da Madre de Deus, (Códice 11107 da Biblioteca Nacional de Lisboa, de 1780 e o códice Códice 9, Avulsos, 3-9 do Arquivo Nacional da Torre do Tombo de
Lisboa, de 1780, e também a versão impressa de 1797) e a versão da mesma memória autografada pelo
magistrado régio português, Marcelino Pereira Cleto, (Códice 13 MF 1997, da Coleção Papéis do Brasil
do ANTT). Parte-se do princípio de que o texto do português Marcelino Pereira Cleto (178?) é uma
tentativa de retextualização dos textos do religioso brasileiro (Madre de Deus 1780a e 1780b) para a variante do português europeu daquela época. Através da análise de ocorrências coletadas nesses corpora,
pretende-se demonstrar que fenômenos emergentes da variante brasileira do português, tais como as
estratégias de apagamento ou preenchimento de especificadores, de objetos indiretos e de sujeitos, de
advérbios e de referentes; bem como a escolha por uma determinada posição dos adjetivos (anteposição
ou posposição) em sintagmas, o uso de técnicas de junção através de orações reduzidas de infinitivo e
gerúndio, a preferência pelo uso de preposições complexas e até mesmo a variação da posição de clíticos
em relação à norma europeia, atestada mais tardiamente em estudos anteriores, já eram identificáveis no
português brasileiro setecentista. Este trabalho toma como referencial teórico-metodológico os pressupostos das Tradições Discursivas (COSERIU 1994, KOCH 1997, OESTERREICHER 1997, KABATEK
2006) e representa uma ampliação dos estudos que tiveram desdobramentos para a constituição dos
corpora do Projeto Para a História do Português Brasileiro e do Projeto História do Português Paulista
(SIMÕES/KEWITZ 2005, 2006, 2009 e SIMÕES 2007, 2010 e 2012). Nesta pesquisa, parto da hipótese
de que tradições discursivas ligadas ao universo discursivo da História (SCHLIEBEN-LANGE 1983)
contribuíram para a circulação e habitualização (KOCH 2008) de rotinas textuais que serviram como
suporte para a gramaticalização de fenômenos do português brasileiro em sua variante culta da época.
A neutralização dos dêiticos de espaço ali e lá na Comunidade Quilombola
de Cipoal dos Pretos
José Haroldo Bandeira Sousa (Universidade Estadual do Maranhão)
Bruma Ramos Leão (Universidade Estadual do Maranhão)
INTRODUÇÃO - Faz-se a análise dos dêiticos ali e lá na Comunidade Quilombola de Cipoal dos Pretos com base na hipótese de que não apenas questões de distância métrica convergem para a produção
dos dêiticos, mas, a dependência do contexto constitui-se fator primordial. A pesquisa Uso da dêixis
espacial pelo gênero feminino em Cipoal dos Pretos está vinculada ao PIBIC-UEMA. O suporte teórico
pauta-se nos estudos de Levinson (2007), Fiorin (1996, 2011), Roncaratti (1996), Labov (2008) e Tarallo
(1997). OBJETIVOS: 1) Geral: investigar a configuração de uso dos dêiticos espaciais na Comunidade
Quilombola Cipoal dos Pretos, a partir do discurso oral não monitorado. 2) Específicos: a) identificar
quais dêiticos espaciais têm maior prevalência, b) verificar como os dêiticos espaciais são realizados; c)
estabelecer contextos a partir da disposição espacial da comunidade. METODOLOGIA - Os informantes narraram experiências pessoais e, sobretudo, suas relações cotidianas dentro da comunidade. Utilizou-se, discretamente, gravador e filmadora digitais para minimizar o paradoxo do observador na coleta
de dados. Observou-se a neutralização entre os espaços da enunciação, a partir do uso dos dêiticos ali
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
e lá. RESULTADOS – Das 109 ocorrências de uso da forma lá e 77 ocorrências da forma ali analisadas,
houve 19 casos de neutralização das formas ali e lá. Nem sempre a forma lá é considerada um local mais
distante do que ali. Quanto à ordem dos dêiticos, percebeu-se que a forma ali se antepõe à forma lá no
contínuo da fala. Os fatores locais são como ponto de referência e base para a produção dêitica, a partir
de espaços físicos específicos da comunidade.
Relatos de alunos recém formados sobre suas práticas de escrita
na universidade
José Hipólito Ximenes de Sousa (Universidade Estadual do Ceará)
As abordagens recentes sobre os estudos do(s) letramento(s), principalmente aquelas advindas dos
Novos Estudos do Letramento (STREET, 1984; GEE, 1996; LEA E STREET, 1998) consideram que as
pessoas têm e fazem uso de múltiplos letramentos associados a diferentes contextos. Tomando o letramento como práticas sociais especificas (GEE, 2001), reconhece-se na universidade o contexto no qual
é possível estudar um tipo de letramento, nesse caso, o letramento acadêmico, principalmente quando
a escrita é uma das preocupações quanto à qualidade de textos em gêneros acadêmicos. O objetivo
deste trabalho é compreender como os alunos recém egressos de Cursos de Letras se reconhecem como
leitores e produtores de textos em gêneros acadêmicos e observar quais dificuldades com as práticas
de letramento acadêmico foram percebidas por eles durante a trajetória do Curso. O método utilizado
nesse estudo foi de natureza qualitativa, de caráter exploratório, mediante aplicação de um questionário
semiestruturado com questões em aberto, realizado em formulário do Google drive via e-mail. Os sujeitos foram alunos recém egressos, no ano de 2014, de Cursos de Letras de três universidades públicas:
duas estaduais e uma federal. A análise preliminar dos dados é reveladora de suas crenças sobre o que
é escrever na universidade, sendo a disciplina de Leitura e Produção de Textos Acadêmicos, umas das
norteadoras do processo de construção da escrita na academia. Nesse contexto, os gêneros textuais acadêmicos mais recorrentes, durante a trajetória deles no curso de Letras, foram o resumo, a resenha e o
TCC. No entanto, ao final do Curso, eles ainda não se sentem seguros ao produzirem textos escritos em
gêneros acadêmicos.
PALAVRAS-CHAVE: Escrita; letramento; letramento acadêmico; gêneros acadêmicos.
Participio de poñer/poner+que. Análise contrastiva da documentación
notarial galega e castelá do século XV
José Ricardo Carrete Montaña (Universidade de Santiago de Compostela)
Un dos principais procedementos das linguas romances para a creación de novos elementos gramaticais é a formación de elementos complexos, é dicir, unidades formadas por máis dunha palabra ainda
que o seu comportamento é unitario (non se poden separar os seus compoñentes, significado total ou
parcialmente componencial, etc). Desde as orixes da lingua tanto o castelán coma o galego escolleron
este procedemento en diversos paradigmas morfolóxicos, ainda que preposición e conxunción son sen
dúbida as categorías nas que o devandito procedemento foi máis productivo.
O obxectivos da presente proposta de comunicación son fundamentalmente dous. O primeiro é
amosar o interese e a dificultade de pescudar nas orixes da lingua o momento no que os formantes da
unidade complexa comezan a actuar como bloque unitario fronte a casos nos que é todavía un encontro
textual entre varios elementos con funcións e valores diferentes. Neste senso hai que ter en conta as testemuñas nas que é sinxela algunha das duas interpretacións, mais tamén os exemplos nos que a lectura
unitaria ou de encontro textual ofrece moitísimas dúbidas, xa que son estas dificultades hermenéuticas
as que mellor evidencian a existencia dun proceso de cambio.
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Comunicações livres / Comunicacións libres
Por outra banda, deféndese o interese dos traballos de tipo contrastivo entre as linguas, neste caso
entre o galego e o castelán, para observar que os camiños que unha mesma unidade pode recorrer son
moi diversos aínda que ambalas dúas linguas estén en contacto xeográfica e socialmente. O rastreo da
situación galega pode aportar datos interesantes para o mellor coñecemento da lingua española e viceversa en cuestións tan diversas como a cronoloxía da unidade, a sua evolución ou mesmo a existencia
de interferencias entre unha e outra.
Coma exemplo destas intencións, proponse o estudo do participio latino positum, que ambos romances herdaron como posto/puesto respectivamente, e que foi a base da locución conxuntiva posto
que/puesto que, viva hoxe nas duas linguas e cunha traxectoria caracterizada polo paso da concesividade á causalidad. Co estudo de documentación notarial galega (no Tesouro Medieval Informatizado
da Lingua Galega) e castelán (no Corpus Diacrónico del Español Actual) do século XV co obxectivo de
comprobar se neste xénero discursivo posto que/puesto que amosa rasgos de ser locución, é todavía un
encontro textual ou está precisamente nun punto intermedio entre ambos valores.
Arabismos no galego?
Juan A. Thomas (Utica College)
O árabe falado na Península Ibérica chámase aquí o árabe andalusí e a lingua románica falada nos territorios ocupados polos árabes chámase o romandalusí (Frías Conde 2000, 2002). O obxectivo deste estudo é elaborar unha lista de empréstimos léxicos exclusivos do galego para botar luz sobre unhas posibles
situacións de contacto lingüístico entre galegofalantes e falantes do árabe andalusí ou do romandalusí.
Esta metodoloxía axudará a identificar procesos de contacto únicos entre o galego e as linguas faladas en
Al-Andalus. Por outra banda, cómpre comparar os empréstimos cos seus equivalentes no castelán e no
portugués. A partir do dicionario de arabismos de Corriente (1999), atopáronse 17 vocábulos exclusivos
do galego: alcroque, aldroga, alfiestra, androlla, chuchamel, desaxacado, tarabito, alcouve, alferga,
alfóndega, amboa, brico, cáceres, ceibe, nezcre, ñácaras e túzaro. Con todo, a exclusividade non é
perfecta: alfóndega e alcroque teñen reflexos no castelán e ceibe ten vocábulos irmáns no portugués.
Discútense o significado, a etimoloxía, a relación coas demáis linguas peninsulares, a actualidade de uso
e a evolución semántica de cada vocábulo. Consúltanse estas obras lexicais para contrastar e comparar
significados e etimoloxías: Dicionario dos dicionarios, Dicionario da Real Academia Galega, Diccionario de la Real Academia Española e Dicionário Priberam da língua portugesa. Ante unha lista de
vocábulos que ninguén ou pouca xente usa, estes vocábulos son coma fósiles que dan testemuño dunha
situación histórica de contacto entre linguas. Aínda que os 17 están recollidos no dicionario de Corriente, os primeiros sete son romandalusismos, xa que o étimo romandalusí aseméllase máis á adaptación
galega, sendo mais probable que fosen transmitidos polo romandalusí. Os demáis posiblemente son arabismos (ou, no caso de túzaro, un berberismo) porque teñen étimos documentados no árabe andalusí e
non no romandalusí. Malia a pouca duración do dominio musulmán no territorio da Galiza actual, non
se pode descartar contacto entre o galego e o árabe andalusí, porque existen eventos históricos que testemuñan a presenza de falantes de árabe no territorio da Galiza actual, propiciando a introdución deste
vocabulario no galego. Resulta chamativo que moitas destas palabras non só teñen prefixos e sufixos
románicos, senón tamén raíces latinas, o que suxire unha viaxe dos empréstimos dunha lingua a outra,
coas súas correspondentes adaptacións de forma e de significado.
Referencias
CORRIENTE, F. (1999) Diccionario de arabismos y voces afines en iberorromance. Madrid: Gredos.
FRÍAS CONDE, X.F. (2000) «O elemento árabe en galego (I)», Revista galega de filoloxía, 1: 157-171.
FRÍAS CONDE, X.F. (2002) «O elemento árabe en galego (II)», Revista galega de filoloxía, 3: 65-80.
SANTAMARINA, A. (coord.) (2013) Dicionario de dicionarios Seminario de lingüística informática.
http://sli.uvigo.es/DdD/
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
A expansão de perífrases de gerúndio no português brasileiro
Jucilene Oliveira Sousa Basílio (Universidade Federal do Espírito Santo)
Maria Marta Pereira Scherre (Universidade Federal do Espírito Santo /
Universidade Brasília)
Nosso objetivo é discutir usos de perífrases de gerúndio em construções com (1) ir+infinitivo (aqui vai
dar quatro horas), (2) com infinitivo (não tem hábito de escutar mesmo) e (3) com presente frequentativo/habitual (ele sempre pergunta por você), que formam ir+estar+gerúndio (aqui vai tá dando quatro
horas) e estar+gerúndio (não tem hábito de tá escutando mesmo; ele sempre tá perguntando por você).
À luz da Sociolinguística Variacionista (Labov, 1972; 1994; 2001), analisamos 26 amostras com 17
horas de gravações de fala natural em ambientes formais. Identificamos 716 dados variáveis, com os
seguintes percentuais de gerúndio: 22% (34/154) com ir+infinitivo; 23% (94/417), com infinitivo; 21%
(30/145) com presente. Os resultados obtidos evidenciam a existência de heterogeneidade ordenada.
As perífrases estar+gerúndio com ir+infinitivo emergem mais com aspecto durativo (37%), mas
ocorrem também com verbos pontuais (22%), o que exacerba o estigma atribuído ao gerúndio em perífrases de futuro.
As perífrases estar+gerúndio com infinitivo emergem mais em contextos de subordinação (52%
com completivas nominais; 36% com subjetivas e adjetivas) e em relatos de procedimento (25%) e de
opinião (28%). Trata-se de configurações sintáticas e discursivas que indicam dimensões estilísticas de
mais formalidade, funcionando como selecionador do modelo comunicativo adequado a cada situação.
As perífrases estar+gerúndio com presente frequentativo emergem mais no campo do irrealis (50%),
da modalidade, que assinala a atitude do falante em relação à proposição (Givón, 1995: 112), fato que
justifica ausência de estranhamento aos usos de gerúndio nestes casos.
A expansão se observa também no cenário social. As perífrases de gerúndio foram percebidas no
telemarketing, por ser o ambiente interacional mais propício a seus usos, e dele herdaram o estigma negativo (Santos, 2008), mas ocorrem também na fala de políticos, motoristas, jornalistas, assistentes técnicos, pedreiros, secretárias, radialistas, pedintes, vendedores, enfermeiras, assistentes sociais, oradores,
designers, professores, diretoras de escolas, funcionários de empresas estatais, enfim, na fala brasileira,
em situações interacionais propícias.
Assim, a expansão do gerúndio no português brasileiro sai do campo do aspecto e atinge o campo
da modalidade, adequada ao contexto em que a interação social recebe uma dimensão mais subjetiva,
capaz de, no âmbito comunicativo, direcionar o modo de produção do ato da fala.
Vesgo, zarolho ou estrábico? O que dizem os dados do ALiB das regiões
Norte e Sul do Brasil
Juliany Fraide Nunes (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul)
Aparecida Negri Isquerdo (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul)
Os estudos dialetais registram a língua em uso em um espaço geográfico e, assim, fornecem dados
linguísticos que refletem condicionantes históricos relativos a uma sociedade. Dentre esses dados, situa-se o léxico, acervo vocabular que os falantes utilizam para nomear referentes relacionados ao seu
meio. Nesse sentido, os estudos sobre o léxico acabam por se configurarem como uma rica fonte sobre
a cultura, a identidade e as tradições de uma comunidade de falantes. Este trabalho discute resultados
parciais de estudo em andamento sobre o vocabulário dialetal relacionado à área semântica do corpo
humano com base em dados do ALiB (Atlas Linguístico do Brasil). Para este trabalho foi selecionada a
pergunta 092 do QSL – Questionário Semântico-Lexical do Projeto ALiB que busca designações para a
«pessoa que tem os olhos voltados para direções diferentes». Foram analisadas as respostas fornecidas
pelos informantes do ALiB pertencentes a 59 localidades da rede de pontos das regiões Norte e Sul do
Brasil (interior), coletadas in loco junto a 286 informantes. As regiões selecionadas possuem caracterís- 207 -
Comunicações livres / Comunicacións libres
ticas distintas em termo de localização e de processo de formação da população. A região Norte, a maior
do Brasil em termos de extensão geográfica abriga a Amazônia, lugar que concentra a maior população
indígena do Brasil. Esse território ficou conhecido, sobretudo, pelo comércio do látex da seringueira,
que atraiu, para a região Norte, brasileiros de diferentes regiões brasileiras, sobretudo, dos Estados do
Nordeste, final do século XIX e início do século XX, no cognominado ciclo da borracha. Já a região Sul
foi povoada, principalmente, por grupos europeus (italianos, alemães, poloneses, holandeses, dentre
outros) que imigraram para o Brasil a partir do século XVIII. Assim, situadas nos dois extremos do
território brasileiro, essas regiões se individualizam em termos de formação étnica da população, de
características físicas e de economia. O exame dos dados objeto de estudo deste trabalho considerou
três perspectivas: i) produtividade das variantes documentadas em suas dimensões diatópica e social
(idade, escolaridade...); ii) cotejo entre os dados documentados das duas regiões, com vistas a identificar
possíveis traços de norma regional; iii) análise semântica das variantes, com ênfase para para a questão
dos tabus linguísticos. O estudo pautou-se em princípios teóricos da Dialetologia/Geolinguística, da
Lexicologia e da Semântica.
Gramaticalização e subjetificação no estudo do futuro perifrástico
no português brasileiro e no português europeu
Jussara Abraçado (Universidade Federal Fluminense)
Como se sabe, diferentemente do passado e do presente, o futuro não faz parte de nossas experiências.
Qualquer alusão que façamos ao futuro vem sempre intermediada de expectativas, suposições ou desejos. Tal particularidade indica que há sempre um valor modal ligado à concepção de futuro e que, por
conseguinte, inerentemente a tal concepção, está o fenômeno de subjetificação. Entretanto, conforme
demonstram diversos estudos, o valor modal tende a dar lugar, via gramaticalização, ao valor temporal
e, assim sendo, novas formas podem emergir, trazendo valores modais consigo. No português brasileiro
(PB) e no português europeu (PE), as formas mais comuns de expressar o tempo futuro são: (a) verbo ir
no presente + infinitivo (vou fazer isso amanhã); b) futuro simples (Farei isso amanhã); e (c) presente
do indicativo (Faço isso amanhã). Interessa-nos, particularmente, o futuro perifrástico, que melhor
se encaixa na proposta desse trabalho: focalizar a relação entre gramaticalização e subjetividade, sob a
perspectiva da Linguística Cognitiva. Para Langacker (1990), subjetividade e subjetificação se referem
à maneira como um elemento de uma conceptualização é perspectivamente construído, ou seja, se objetiva ou subjetivamente. Nesse viés, o termo subjetificação refere-se a um aumento na perspectivação
conceptual de alguma noção, o que corresponde a um realinhamento de uma dada relação do eixo
objetivo para o eixo subjetivo (LANGACKER 1990). Com base nos estudos de Langacker (2008, 1990,
entre outros), e a partir de análise de manchetes e notícias de primeira página de jornais online brasileiros (Jornal do Brasil, O Globo, Extra e O Dia) e portugueses (Correio da Manhã, Jornal de notícias,
Público e Diário de notícias), pretendemos demonstrar que fenômeno semelhante ocorre com o futuro
perifrástico (verbo ir no presente + infinitivo) no PB e no PE.
Referências
LANGACKER, Ronald W. Cognitive Grammar. A Basic Introduction. Oxford: Oxford University Press,
2008.
_____. Subjectification. Cognitive Linguistics 1(1), 1990, p.5-38.
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
Intertextualidade: dispersão e convergência
Kennedy Cabral Nobre (Universidade da Integração Internacional
da Lusofonia Afro-Brasileira)
Nosso objetivo nesta comunicação é apresentar algumas das reflexões realizadas em nossa tese, a qual
versou a respeito do(s) conceito(s) e das diversas categorias que se conhecem das relações intertextuais.
Conjeturamos que as distintas tipologias existentes acerca da intertextualidade, abrigadas não só no escopo da teoria literária, mas também da linguística de texto e das análises do discurso, podem ser tomadas de uma perspectiva integral, tanto que organizamos um quadro teórico no qual estão sistematizados
os variados tipos de intertextualidade dispostos em estado de dispersão. Valendo-nos do método hipotético-dedutivo, por meio do qual elaborávamos hipóteses as quais eram falseadas e/ou corroboradas,
empreendemos uma pesquisa descritivo-explicativa, quanto aos objetivos; e bibliográfica, quanto aos
procedimentos. Discutimos algumas das principais abordagens do fenômeno, a saber, a transtextualidade de Genette ([1982] 2010); a copresença e a derivação de Piègay-Gros ([1996] 2010), vistas também
sob a ótica ampliada de Cavalcante (2012); os eixos parafrástico e parodístico de Sant’Anna (2007); e as
tipologias de Koch (2004). Cotejadas todas essas abordagens, ficou patente que a grande variedade tipológica existente revelava, mais que uma mera questão de flutuação terminológica, a consideração de distintos parâmetros subjacentes e, na maioria das vezes, simultâneos aos recursos intertextuais, de modo
que a construção do quadro teórico se pautou pelo reconhecimento e pela organização desses parâmetros. Como resultado das reflexões, asseveramos a existência de dois parâmetros essenciais a qualquer
fenômeno intertextual: um funcional, em que se avalia o grau de desvio (captação ou subversão) do
intertexto em relação ao texto original; e um constitucional, em que se observa se o intertexto resulta de
recursos de um texto único ou de vários. A depender da natureza constitucional da intertextualidade,
verifica-se a ocorrência de mais três parâmetros: o composicional, que distingue a intertextualidade presente em fragmentos ou no texto integral; o referencial, que avalia o grau de explicitude ou implicitude
do intertexto; e o formal, que abaliza o modo como os textos originais são retomados em novos textos,
se por reprodução, adaptação ou menção. Consideramos os resultados importantes para uma melhor
compreensão deste recurso textual tão recorrente nas interações.
Colocação dos pronomes oblíquos átonos na Carta a El-Rei Dom Manuel
sobre o achamento do Brasil - Pêro Vaz de Caminha
Laila Hamdan (Fundação Pedro Leopoldo)
A carta de Pêro Vaz de Caminha, escrivão da frota de Pedro Álvares Cabral, ao rei de Portugal, Dom
Manuel, sobre o achamento de terras , é a primeira descrição do Brasil, com gosto de reportagem, com
peso de certidão de nascimento. Testemunha presencial do descobrimento, o documento é objeto deste
estudo, uma vez que, indubitavelmente, um relato importante sobre o retrato da nova nação e a originalidade da velha língua comprovam as amplas possibilidades de estudos científicos embasados no texto.
Especificamente, a ocorrência e colocação pronominal, a posição dos oblíquos átonos foi analisada em
confronto com o que se tem hoje como orientação acerca do tema. Observou-se que os elementos linguísticos estudados têm bastante produtividade, portanto, justificando o trabalho, uma vez que a questão é problema nas análises linguísticas da atualidade devido à divergência flagrante ente o normativo e
o realizado no Português Brasileiro. As ocorrências mais significativas relacionam-se aos casos em que
o pronome oblíquo átono vem antes da partícula negativa; ao pronome e à palavra «que» antecedente
ao verbo; ao pronome e à conjunção «e» ; à relação entre o pronome e a negação; ao posicionamento
do pronome no início de frases; às locuções verbais; à palavra «asy». Assim, o estudo dos pronomes
oblíquos átonos em sua colocação no texto de Caminha foi construído. Muitas hipóteses foram aventadas, podendo, depois de maiores estudos, serem anuladas ou referendadas. Muito se fez, muito há de se
fazer para o melhor entendimento e maior valorização da Língua Portuguesa. Língua que é expressão
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Comunicações livres / Comunicacións libres
testemunhal de todo o acontecido há mais de 500 anos, fazendo-se descobrir ainda em suas ocorrências
plenas de informações linguísticas instigantes e pertinentes pesquisas.
Minidicionários de Língua Portuguesa: questões estruturais
e léxico-vocabulares
Laila Hamdan (Fundação Pedro Leopoldo)
Neste estudo observou-se a confecção de minidicionários de Língua Portuguesa relativamente à elaboração de dicionários normais. Sua estrutura, praticidade e real utilidade considerados a partir de análise
do processo de elaboração de entradas e de sua seleção em referência à abrangência e complexidade
dos estudos lexicais, vocabulares em perspectiva histórica. Assim, pretendeu-se analisar os chamados
minidicionários de Língua Portuguesa e o processo pelo qual passaram antes de chegarem às mãos dos
consumidores, ou seja, como acontece a criação ou a redução desses textos destinados a consulentes que
necessitam tê-los sempre à mão, favorecendo-se de seu volume reduzido. Encontraram-se inúmeros
títulos no mercado editorial, supostamente dedicados à solução imediata de problemas relacionados
com a ortografia e significados das palavras, mas que, percebeu-se por sua elaboração desvinculada da
prática ou do conhecimento do usuário deste tipo de obra, o sucesso não é alcançado. Portanto, conclui-se que os minidicionários não atendem às reais necessidades do público, apesar de terem isso como
seu primeiro e principal compromisso. Para se chegar aos resultados, inicialmente, foram levantados os
títulos disponíveis para a aquisição do interessados. Eles foram analisados segundo a apresentação física,
a estrutura interna, o conteúdo informativo a respeito da elaboração da obra, o número de verbetes e
como eles são apresentados aos usuários. Houve suporte teórico de bases lexicológicas e lexicográficas,
não se desconsiderando o processo de elaboração dos textos e das definições, especificamente, em perspectiva diacrônica. Percebeu-se, então, que os procedimentos gerais e específicos em lexicografia mostraram-se superficiais pelo pouco suporte teórico acessível ao estudioso e supôs-se certo «amadorismo»
e «inconsequência». Dessa feita, o campo estudado, como muitos outros relacionados ao estudo léxicovocabular mostrou-se inacabado esperando mais disponibilidade para estudos e pesquisa.
Percurso e história do passado em espanhol
Leandro Silveira de Araujo (Universidade Estadual Paulista
«Júlio de Mesquita Filho» / Universidade Federal de Uberlândia)
Sob o ponto de vista da gramaticalização, este estudo permite-nos aproximar do pretérito perfeito simples (PS) e composto (PC) respeitando a complexidade que rodeia suas origens e desenvolvimentos
na expressão dos sentidos de passado absoluto e antepresente. Ao agirmos dessa maneira, esperamos
encontrar na história da língua razões que auxiliem no esclarecimento do atual estado de uso dos pretéritos em variedades diatópicas do espanhol. Aliados à abordagem da gramaticalização, verificamos que
o desenvolvimento do perfeito composto nas línguas românicas e, mais especificamente, no espanhol,
caracteriza-se por uma gradual e progressiva mudança em direção a um estágio maior de abstração.
Desse modo, os traços aspectuais (de resultado e persistência) próprios da origem da construção vão
se desbotando à medida que a forma composta vai se apropriando de valores mais temporais, o que lhe
permite expressar valores como o de antepresente e, até mesmo, de passado absoluto. Essa evolução
funcional sofrida pelo perfeito composto colocou-o em condição de competição com a forma simples
na expressão dos respectivos valores. Frente à construção desta variável, vimos que as línguas românicas
apresentaram diferentes ajustes. O francês e o italiano, por exemplo, restringiram o uso do perfeito simples a registros muito específicos e generalizou o uso do perfeito composto à expressão dos valores de
passado. O espanhol, por sua vez, parece ter permitido diferentes acomodações das formas do perfeito
nos dialetos da língua – apesar da existência de uma norma que afirma a generalização de PC na expres- 210 -
Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
são do antepresente e do PS na expressão do passado absoluto. Por fim, a consciência da existência de
um processo de gramaticalização por detrás do uso aparentemente divergente e variável dos pretéritos
nas variedades do espanhol conduz-nos à percepção de que a variação no uso (estratificação), a polissemia (persistência) ou, ainda, a especificação funcional das formas verbais são comportamentos que,
na verdade, apontam para uma macromudança que aparentemente ainda está em construção na língua.
Nesta comunicação, apresentaremos mais extensivamente os resultados dessa discussão, bem como estabeleceremos relações com os usos dos pretéritos em variedades da Espanha e Argentina.
De-possessivos no galego-português medieval
Leonardo Lennertz Marcotulio (Universidade Federal do Rio de Janeiro)
Cláudio Santos (Universidade Federal do Rio de Janeiro)
Na história do galego e do português, ao lado dos possessivos simples oriundos do latim vulgar, novas
construções perifrásticas passam a fazer parte do quadro de possessivos: sintagmas preposicionais genitivos, também chamados de de-possessivos. Diferentemente das gramáticas modernas, em que somente são possíveis de-possessivos correlacionados às novas formas gramaticalizadas (del(es), dela(s),
de vostede(s), para o galego; e dele(s), dela(s), de vocês, da gente, para o português), textos dos séculos
XIII e XIV escritos em galego-português (Tesouro Medieval Informatizado da Lingua Galega; Corpus
Informatizado do Português Medieval) fornecem evidências de que a gramática medieval é capaz de
licenciar de-possessivos com todas as pessoas gramaticais (de mim, de ti, de nós, de vós, dele(s), dela(s)).
Esses dados medievais, no entanto, levantam um problema teórico, que diz respeito à própria estrutura interna dos de-possessivos: como explicar a presença de formas perifrásticas com pronomes
morfologicamente marcados para o caso oblíquo, tendo em vista a impossibilidade de atribuição de caso
pela preposição «de» (dummy preposition) pertencente a sintagmas preposicionais genitivos? Diante
desse quadro, como entender essas construções presentes na gramática do galego-português medieval?
Que propriedades gramaticais são responsáveis por seu licenciamento? Nesse sentido, a partir de um
quadro teórico formal (Chomsky 1995; Lightfoot 1979; Giorgi e Longobardi, 1991; Müller, 1996; Castro,
2006), o objetivo deste trabalho é investigar como funciona a gramática dos de-possessivos no período
medieval do galego-português.
Como proposta de trabalho, argumentamos que os de-possessivos do período medieval são sintaticamente distintos dos de-possessivos das gramáticas modernas. No período medieval, os de-possessivos
são constituintes PPs não-genitivos, projetados em adjunção ao NP, sendo a preposição «de» capaz de
atribuir caso oblíquo ao seu complemento. Na história do galego e do português, tais formas teriam sido
reanalisadas, em estágios posteriores da língua, em GenPs, projetados como complemento de N, deixando a preposição «de» de ser capaz de atribuir caso oblíquo, firmando-se como um marcador de caso
genitivo. Essa análise é capaz de dar conta do desaparecimento das formas de 1P e 2P e a manutenção
exclusiva das formas de 3P, assim como da presença, durante o período medieval, de construções de
redobramento sintático de possessivos simples do tipo «seu N dele».
Nas páginas do jornal: escrita de um afrodescendente brasileiro
no século XIX
Lilian do Rocio Borba (Universidade Estadual de Campinas)
A presente comunicação tem como objetivo focalizar os artigos de Cândido da Fonseca Galvão (18451890), o Dom Obá, como fontes para a sócio-história do português brasileiro do século XIX. Galvão,
brasileiro de primeira geração, filho de africano forro de origem iorubá, publicou uma série de artigos
em jornais cariocas no fim do século XIX, dos quais cerca de 60 veiculados no jornal ‘O Carbonário’
compõem nosso corpus. A pesquisa, um estudo de caso, cujo lugar teórico é a sociolinguística histórica,
tem como objetivo analisar a dupla competência linguística que a escrita de D Obá evidencia: a apren- 211 -
Comunicações livres / Comunicacións libres
dizagem do vernáculo popular e a aprendizagem de uma sintaxe escrita convencional. Apoiando-se
em tais características da escrita, no âmbito da sintaxe, pretende-se 1) destacar fenômenos de variação
linguística que evidenciem a dupla competência linguística do sujeito em foco e 2) analisar a variação na
concordância nominal – muitas vezes apontada como um dos efeitos do contato linguístico. A justificativa para a elaboração da pesquisa é a escassa produção de trabalhos de cunho linguístico sobre a escrita
de afrodescendentes no período em questão. Considerando as discussões em torno da apropriação da
língua portuguesa escrita por africanos e seus descendentes no século XIX, nossa pesquisa busca contribuir com os estudos sobre a sociohistória do português escrito desse período.
A fala do vaqueiro de sertão baiano: análise semântico-lexical
Lílian Marilac Cornélio de Freitas Peixoto (Universidade do Estado Da Bahia)
Esta dissertação presenta uma análise semântico-lexical de alguns aspectos da fala de uma comunidade
específica, como essa utiliza o léxico de sua língua, aqui considerado um conjunto de formas linguísticas
que os falantes compreendem, empregam e modificam para a sua comunicação. Para tal, tornou-se necessário o apoio nos arcabouços teóricos da Dialetologia, Semântica e Lexicologia, prioritariamente passando pelos caminhos da Sociologia e da Etnolinguística, entendido o léxico como ponto de encontro
destes estudos. O corpus desta pesquisa constituiu-se de uma comunidade de vaqueiros do município
de Teofilândia, região do sertão do estado da Bahia, Brasil. Para a efetivação deste estudo, conforme se
relata no capítulo referente à metodologia, foram obedecidos os passos da pesquisa de campo relativos à
coleta de dados, por meio de gravação de entrevistas, narrativas e cantigas, com a utilização de questionário específico, organizado em quatro subcampos semânticos, buscando-se contemplar os conteúdos
O gado e O vaqueiro, transcrição grafemática, seguida de detalhada descrição das formas lexicais recolhidas, com base na consulta a dicionários de sinônimos e etimológico, aos atlas linguísticos ALS e APFB
e à literatura regional acerca do léxico do vaqueiro. Os informantes são todos residentes no município de
Teofilândia, serem terem se afastado da localidade mais de 100 km, nos últimos três anos, sendo profissionalmente ativos. Os dados recolhidos mostram alguns aspectos referentes ao gado, motivo maior do
trabalho do vaqueiro, como características físicas, raças etc., à vida do vaqueiro, suas atividades diárias,
dificuldades, suas alegrias e perspectivas para o futuro da profissão.É decorrência natural deste estudo
o conhecimento da realidade sociocultural dos informantes, cuja fala deixa transparecer as relações que
mantêm entre si e com o meio. Assim sendo, a documentação e descrição do léxico dessa comunidade
específica permitem a sua preservação e, consequentemente, fornecem subsídio para o conhecimento
do português do interior do Brasil, no resguardo de sua sobrevivência e de nossa identidade sociolinguística e cultural.
Mudança no sistema de negação no Português Brasileiro
Lílian Teixeira de Sousa (Universidade Federal da Bahia)
O Português Brasileiro (PB), como já bastante conhecido na literatura linguística, apresenta uma alternância entre estruturas negativas – Neg1, [NEG VP]; Neg2, [NEG VP NEG]; e Neg3, [VP NEG].
Segundo Teixeira de Sousa (2012), cada uma das estruturas negativas nessa língua corresponde a um
tipo diferente de negação: Neg1, negação de evento; Neg2, negação do proposição; e Neg3, negação metalinguística. De acordo com essa proposta, Neg1 e Neg2, em oposição a Neg3, são negações semânticas
com diferentes interpretações. Essa diferenciação estrutural entre negação de evento e de proposição é
bastante rara nas línguas naturais e não ocorre em outras variedades do português, sendo, por isso, tratada como uma inovação do PB. Por esse motivo, buscamos analisar a origem e evolução dessas formas
na língua. Para tanto, recorremos ao trabalho desenvolvido por Alkmim (2001). Essa autora realizou
estudo diacrônico envolvendo negativas sentenciais canônicas (Neg1) e inovadoras (Neg2) e (Neg3)
com o objetivo de verificar um possível perfil de mudança envolvendo as construções negativas, através
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
de peças de teatro em quatro recortes temporais: 1ª metade do século XIX (T1), 2ª metade do século XIX
(T2), 1ª metade do século XX (T3) e 2ª metade do século XX (T4). Todas as formas da negação foram
observadas nos quatro tempos. Conforme os resultados apontaram, houve um aumento na frequência
de uso das formas inovadoras seguido pela diminuição da negação canônica ao longo do tempo. A autora observa, em pelo menos um dos períodos analisados, um perfil de mudança em progresso. Considerando as diferentes interpretações das estruturas negativas no período sincrônico da língua (Teixeira de
Sousa, 2012), reanalisamos os dados apresentado por Alkmim (2001), como indicativo de um processo
de mudança envolvendo a diferenciação funcional das estruturas estruturas negativas inovadoras. A
proposta é que Neg1 e Neg2 teriam tido, no passado, a mesma função e, obedecendo ao princípio evite
dublês (Kroch, 1989), teriam passado por um processo de especialização funcional.
Referências
ALKMIM, Mônica G.R. de. (2001) As Negativas Sentenciais no Dialeto Mineiro: uma AbordagemVariacionista. Tese (doutorado em estudos linguísticos). Belo Horizonte: UFMG.
TEIXEIRA DE SOUSA, Lílian. (2012) Sintaxe e interpretação de negativas sentenciais no Português
Brasileiro. Tese (doutorado em estudos linguísticos). Campinas: IEL/UNICAMP.
ExtraDev: um sistema de extração semiautomático de deverbais
em corpus do português histórico e contemporâneo
Livia Aluisi Cucatto (Universidade Estadual de Campinas, Universidade de São Paulo)
Nos últimos anos, têm-se desenvolvido trabalhos que visam à descrição dos mecanismos de construção
de nomes deverbais, isto é, nomes derivados de verbos, numa perspectiva sincrônica. As razões para esse
interesse podem encontrar-se na produtividade dos mecanismos de construção deste tipo de nomes.
Faltam, no entanto, estudos que nos permitam conhecer, por um lado, o Português do Brasil (PB) em
nível destes mecanismos e, por outro, ter uma perspectiva diacrônica deles. A realização do projeto Dicionário Histórico do Português do Brasil (DHPB) dos séculos XVI a XVIII, associada à construção do
corpus constituem ao mesmo tempo um desafio e uma oportunidade para o aprofundamento do conhecimento sobre este aspecto da língua portuguesa. Por um lado, a análise do corpus dá-nos a oportunidade de verificar como se processou a evolução destes mecanismos de construção no português. Porém (e
este é o desafio), não existem ainda ferramentas para realizar tais pesquisas de forma (semi-) automática,
que permitam aos morfologistas obter os dados necessários para o seu trabalho com agilidade e eficiência. Propomos, então, descrever os diferentes mecanismos de construção de nomes deverbais em PB de
acordo com o modelo de morfologia construcional SILEX (cf. Corbin 1987, 1991, 1997, Correia 1999,
Rio-Torto (org.) 2004 e Rodrigues 2006) e, em segundo, desenvolver um sistema computacional denominado EXTRADEV que permitiu um acesso fácil aos seguintes dados: (a) nomes deverbais de ação
históricos com as mais diversas estruturas morfológicas; e (b) variantes gráficas desses nomes deverbais
(históricos), que facilitem o trabalho de recuperação de informação relativa aos mesmos. A metodologia para a construção deste sistema se embasa: (i) na descrição dos deverbais e na construção de regras;
(ii) no conhecimento da linguagem de programação Python e expressões regulares; e (iii) no uso de
recursos criados no projeto DHPB, como o sistema de geração de variantes gráficas SIACONF (Giusti
et al., 2007). Com este trabalho pretendemos contribuir para um melhor conhecimento da variação
diacrônica na construção de nomes deverbais através dos dados que foram encontrados, mas, sobretudo, motivar a aliança entre linguística e a ciência da computação, particularmente o processamento de
língua natural, de modo a potencializar estudos futuros sobre a língua portuguesa.
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Comunicações livres / Comunicacións libres
Negociação de sentidos e práticas translingues nas aulas
de língua espanhola de alunos brasileiros
Lorene Fernández Dall Negro Ferrari (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul)
Ruberval Franco Maciel (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul)
O ensino de línguas estrangerias tem tradicionalmente se pautado em teorias que enfatizam a visão monolíngue de língua e cultura (Canagarajah, 2013, Pennycook, 2010, Garcia, 2010). O presente trabalho
tem por objetivo discutir uma pesquisa qualitativa de cunho exploratório e interpretativo para o ensino
de espanhol que valoriza práticas translíngues como prática de justiça e prática social (Garcia, 2011),
como resultado de práticas colaborativas na construção da aprendizagem e desenvolvimento de práticas
de letramentos. A análise apresentada tomará como base os momentos de interação de alunos brasileiros estudantes da língua espanhola em produções oral e escrita. O trabalho se fundamenta ainda, em
Rocha e Maciel (2015) que defendem a orientação translíngue como uma forma de repensar contextos
pedagógicos que problematizem o papel do professor de línguas estrangeiras. Busca-se, nessa visão, um
redirecionamento e ressignificação de focos e objetivos ligados ao ensino de línguas estrangeiras como
ênfase na padronização. Defende, portanto, a compressão do processo de ensino e aprendizagem e sua
relação mais ampla com as questões de negociação de sentidos nas aulas de línguas em zonas de contato
e a inclusão de diversas semioses.
PALAVRAS-CHAVE: Práticas translíngues; língua espanhola; ensino e aprendizagem.
Gramaticalização e ressemantização: dois fenómenos envolvidos
em um processo de formação de novas palavras
Lucas Santos Campos (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia)
Este trabalho se insere no projeto de pesquisa «A gramaticalização dos prefixos na história da língua
portuguesa» que vem sendo desenvolvido na UESB - Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Brasil. Tem o objetivo de lançar uma nova luz sobre o processo de formação de palavras, denominado
recomposição. De acordo com Duarte (1999), Monteiro (2002), Bechara (2010), entre outros autores
que tratam do assunto, na gênese de novas palavras por recomposição, entra um elemento que já faz
parte de um termo, formado pelo processo de composição. Esse elemento absorve o significado total
do composto que integra e, com essa nova carga semântica, se associa a outros itens para formar uma
nova expressão. Diz-se que esse novo vocábulo, por sua vez, é formado pelo processo da recomposição.
Monteiro (2002, p. 191) exemplifica o fenômeno com a palavra autódromo, em que entra o elemento
prefixal «auto», não com o sentido de ‘por si só’, com que se apresenta na palavra automóvel, mas com
a acepção total desse vocábulo, ou seja, com o significado de ‘automóvel’. Em abordagens anteriores
(CAMPOS, 2010 e 2011), demonstramos que elementos prefixais, comumente denominados prefixoides ou psudoprefixos, categoria em que se inserem termos como auto, têm caráter diverso e podem ser
considerados oriundos de diferentes processos de gramaticalização. No presente trabalho, assinalamos
que, no processo de recomposição, entram dois outros fenômenos linguísticos: a gramaticalização e a
ressemantização. A título de exemplo, retomamos a palavra autódromo. Na nossa análise, classificamos
o elemento auto como um item em processo de gramaticalização (Cf. estudo citado anteriormente).
Nessa mesma formação, auto experimenta a ressemantização, à medida que deixa de significar ‘por si só’
e assume a acepção de ‘automóvel’, item composto do qual faz parte como um dos elementos. Com esse
valor semântico, o de ‘automóvel’, ao se adjungir à base dromo, do grego drómos, ‘terrenos destinados a
corridas e outras práticas olímpicas’, gera o novo item pelo processo de recomposição. Assim, na interpretação desse processo de gênese de palavras à luz do Funcionalismo linguístico, apontamos que, no
processo da recomposição, entram dois fenômenos: a gramaticalização e a ressemantização.
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
O galego no léxico de Rosa
Lucio Valentim (Universidade Federal do Rio de Janeiro / Universidade Estácio de Sá)
A prosa de João Guimarães Rosa (1908-1967), especialmente no Grande Sertão: Veredas, reflete coordenadas históricas, geográficas e - sobretudo - linguísticas de um «fundo galego» que habita o sertão:
nomes de lugares e de pessoas; refrões e provérbios numa correspondência de hábitos e tradições que se
repetem no Verbo, cronotopicamente - dos prolongamentos do Minho português Espanha adentro até
os confins dos Sertões de Rosa.
Levantamento de estruturas de relativização em um jornal brasileiro
do limiar do século XX
Luís Henrique Alves Gomes (Instituto Federal de Educação, Ciência
e Tecnologia Baiano)
A escrita do português brasileiro culto no século XIX, em oposição à difusão generalizada da língua
portuguesa em solo brasileiro no mesmo período, é alvo de investigação de diversos pesquisadores.
Esses estudiosos trabalham arduamente na constituição de corpora de diversificados gêneros textuais e
de diferentes perfis de produtores de textos, para o levantamento de características que permitam delinear, formar um simulacro, da norma culta escrita no século XIX no Brasil, focalizando não somente a
história social de tais produtores de textos, mas também descortinar aspectos linguísticos presentes em
diferentes níveis de análise, sobretudo na sintaxe. Nesse cenário, se insere o periódico jornalístico Foia
dos Rocêro. Tal folhetim foi um periódico de cunho jornalístico que circulou na Bahia/Brasil entre fins
do século XIX e meados do século XX, e era escrito em linguagem bastante original. O redator utiliza,
em todo o periódico, uma linguagem rural estereotipada, com a finalidade de camuflar suas intenções
políticas. Tal camuflagem possibilita a utilização frequente de metáforas e pseudônimos, para apresentar
críticas aos governantes da Bahia de 1900 e, também, às condições pelas quais o Estado da Bahia estava
passando. Na tese de doutoramento de Gomes (2014), propõe-se, a partir do estudo da escrita etimologizante em textos de diferentes gêneros na Foia, o enquadramento do seu redator como representante
de uma norma culta brasileira do século XIX, mesmo quando o texto estudado apresenta tal linguagem
estereotipada. Tendo em vista diversos estudos sobre a utilização de estruturas relativas, sobretudo os
estudos de Souza e Barreto (2009), que retrataram o uso de estruturas relativas em textos de escritores
brasileiros dos séculos XIX e XX, o presente trabalho pretende mapear tais usos nas cartas, bilhetes e
recados publicados nas edições da Foia dos Rocêro no ano de 1900, editadas em Gomes (2014). Assim,
diante do exposto, objetiva-se verificar o quanto o redator da Foia, durante esse período, se utilizou de
estruturas de orações relativas mais ligadas ao padrão da época ou o quanto se utilizou de formas inovadoras, com o uso de relativas cortadoras ou copiadoras, mais presentes no português moderno. Desse
modo, apresenta-se então mais um estudo para traçar os contornos de uma Norma Culta Brasileira.
A linguagem de representação nos estudos linguísticos – uma abordagem
epistemológica
Luisa Andrade Gomes Godoy (Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha
e Mucuri)
Este trabalho, de cunho epistemológico, propõe enfocar e discutir um componente fundamental da produção de conhecimento em Linguística: a linguagem de representação. Ela não equivale nem à hipótese
teórica da escola/corrente (hipótese «núcleo duro», nos termos de Lakatos) nem ao seu método procedimental (de coleta, mensuração e análise de dados). Trata-se de uma maneira de expressar determinados
conceitos analíticos acerca da língua natural, evitando a utilização da própria língua para fazê-lo, o que
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Comunicações livres / Comunicacións libres
resultaria em vaguezas e tautologias. Assim, elege-se ou cria-se uma linguagem diferente da língua, por
isso também chamada «metalinguagem». Todo tipo de pesquisa linguística faz uso de uma linguagem
de representação, como os caracteres fonéticos das áreas de Fonética e Fonologia, as fórmulas lógicas
da Semântica Formal, os esquemas gráficos das correntes Funcionalistas/Cognitivistas etc. A linguagem
de representação é uma espécie de assinatura de uma escola, como no caso das árvores sintáticas, que
remetem inequivocamente à escola gerativista. Porém, a teoria da escola não precisa daquela linguagem
para a sua existência. As hipóteses teóricas da corrente gerativista, tais como o inatismo e a G.U, e mesmo a centralidade da sintaxe mantêm-se intactas se não houvesse árvores sintáticas. O que os diagramas
arbóreos fazem é expressar essas relações de forma mais clara e precisa. Neste trabalho, proponho que
tenhamos bem separados esses componentes do fazer científico em Linguística – escola de um lado,
hipóteses teóricas de outro, a metalinguagem de outro, e de outro o componente metodológico. Assim, é
possível compreender melhor o processo de produção do conhecimento linguístico ao longo do tempo e
ainda sugerir idéias para uma ética da Linguística. Proponho retomar os acontecimentos históricos relativos à corrente outrora chamada de Semântica Gerativa. Essa corrente, tendo polarizado com a corrente
da Sintaxe Gerativa, foi «derrotada» em relação às suas hipóteses teóricas, e a teoria caiu em desuso.
Contudo, sua linguagem de representação – a decomposição de predicados – seguiu sendo utilizada,
muitas vezes sem menção à sua denominação e a seus proponentes originais. Parece tratar-se, então,
de uma identificação da teoria com a metalinguagem. Este trabalho visa elaborar mais detalhadamente
tal raciocínio epistemológico, seguindo idéias sobre a linguagem de representação enfocada e sobre a
moderna epistemologia da ciência, conforme, dentre outros, Latour (1987).
Expectativa e Comunicação
Luiz Carlos Cagliari (Universidade Estadual Paulista «Júlio de Mesquita Filho»)
Embora a palavra expectativa seja de uso antigo e comum, há poucos estudos semânticos sobre sua
natureza e função. Com as novas perspectivas da Semântica Cognitiva, criou-se uma teoria semântica
com uma metodologia própria (LAKOFF, FAUCONNIER) que permite uma abordagem não lexical, à
moda da semântica antiga (LYONS), na qual os fenômenos de significação são tratados como produtos
da mente. A linguagem reflete a mente e, assim, possibilita determinar a estrutura e o funcionamento da
mente. O presente estudo encaixa-se nessa perspectiva semântica.
O termo comunicação abrange inúmeros significados e matizes de significação. No presente estudo,
comunicação significa o conteúdo semântico de enunciados, ou seja, o que o falante quer transmitir em
termos linguísticos e o que o seu interlocutor entende do que ouve ou lê. O processo de comunicação
linguística estabelece-se mais tipicamente no discurso, ou seja, num texto. Palavras isoladas são interpretadas como parte de um contexto discursivo maior. Enunciados como provérbios e outros de curta
extensão prestam-se ao presente estudo enquanto fazem parte de um conhecimento de mundo compartilhado pelas pessoas.
Na linguagem há muitas informações ditas literalmente e muitas não ditas explicitamente, como as
pressuposições argumentativas, conotações estilísticas ou derivadas das atitudes do falante, declarações
de atos de fala, e outras informações pragmáticas e discursivas. Em grande parte, essas informações
dependem do conhecimento de mundo que os falantes têm. Todas essas informações declaram explicitamente ou indiretamente uma intenção do falante. Nesses casos, o falante espera que seu interlocutor
entenda o literal e o não literal do que ele diz.
A expectativa, objeto deste estudo, é um pensamento que é processado na mente do falante ou do ouvinte, acrescentando uma informação não literal. Toda comunicação vem uma expectativa explícita ou
não e cabe ao interlocutor reconhecer essa expectativa. Eventualmente, o interlocutor cria suas próprias
expectativas, a partir do que foi comunicado a ele. Nas línguas, há palavras que introduzem a ideia de
expectativa: eu acho que... eu penso que... minha expectativa é que... Deus queira que... A ideia de expectativa refere-se a algo do futuro ou do passado, nunca do presente da enunciação. A ideia de expectativa
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
é motivadora do pensamento e da fala. Pode ser um fato individual, de um grupo, da sociedade e da
história. Interpretamos tudo dentro de um quadro de expectativa.
A gramática e a linguística nos dicionários portugueses ao longo do tempo
Luiz Claudio Valente Walker de Medeiros (Universidade Federal Rural
do Rio de Janeiro)
Este trabalho objetiva analisar como os dicionários da língua portuguesa trataram, ao longo do tempo,
os termos próprios da gramática e da linguística. Assim, apresentam-se: (i) o primeiro registro dos termos gramaticais/linguísticos em um dicionário português; e (ii) a evolução das acepções desses termos.
Com essa análise, tenta-se recuperar o reconhecimento lexicográfico dos avanços que a gramática e a
linguística fizeram ao longo do tempo. Entre os termos analisados, encontram-se: sintaxe, morfologia,
morfossintaxe, fonologia, fonética; oração, período, sintagma, palavra, vocábulo, morfema, morfe, fonema, fone. Entre os dicionários pesquisados, encontram-se: o Vocabulario portuguez e latino de Raphael
Bluteau (1712-1728), o Novo diccionario critico e etymologico da lingua portugeza de Solano Constancio (1836), o Diccionario portuguez-latino de Pedro José da Fonseca (1879, 9ªed.), Diccionario da lingua
portuqueza de Antonio de Moraes Silva (1789 1ªed. e 1858 6ªed.) e o o Diccionario contemporaneo da
lingua portugueza de Caldas Aulete (1881?). A esses títulos somam-se dicionários dos século XX e XXI.
Espera-se com esse trabalho ofertar aos pesquisadores da lexicografia e da gramaticografia do português um valioso material descritivo da evolução dos estudos gramaticais e linguísticos de nossa língua.
Sufixo e vogal temática: uma visão construcional
sobre os verbos estativos latinos
Luiz Pedro da Silva Barbosa (Universidade Federal Fluminense)
Este trabalho dá continuidade aos estudos desenvolvidos durante o curso de Mestrado em Estudos da
Linguagem, no Instituto de Letras da UFF. O objeto enfocado é o morfema –ē, formador de verbos
com valor de estado – estativos – em Latim. O ponto de partida destes estudos é a aparente interseção
entre as categorias de sufixo derivacional e vogal temática em que se encontra o referido morfema, o
qual é tratado de modo bastante raso por boa parte das gramáticas: classificado como vogal temática, é
usado meramente para organizar a abordagem didática que separa os verbos latinos em quatro grupos,
chamados conjugações, de acordo com a vogal pré-desinencial de cada verbo. Estudos de Morfologia
Diacrônica do Latim mostram que esse sufixo tem uma trajetória relativamente complexa como desenvolvimento de um formador de temas aorísticos indoeuropeus. Como a permanência é inerente à
mudança, o Latim mostra diversos traços desse antigo paradigma flexional. Assim, em trabalhos anteriores já mostramos o papel do sufixo nas propriedades formais e na semântica das orações em que é
inserido; mostramos também que as principais variedades estão relacionadas ou à freqüência de uso ou
à ausência do morfema –ē. Deste modo, a presente amostragem vem apresentar o referencial teórico
em que se apóia – a perspectiva construcional de Traugott & Trousdale (2013) – bem como apresentar
uma proposta de abordagem para os verbos estativos, assumindo que o morfema estudado é um sufixo
derivacional. O corpus utilizado nos estudos em que serão mostrados estes verbos são as comédias de
Plauto, autor do período arcaico da Literatura Latina. A escolha do autor se deu pelo caráter «popular»
de sua obra e pelas numerosas marcas de oralidade de seus textos, o que leva a crer que eram próximos
do falar vernáculo da época.
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Comunicações livres / Comunicacións libres
Diga-me o que lês e direi quem tu és: os discursos sobre a leitura
seus usos na construção da imagem de atores políticos no Brasil
Luzmara Curcino (Universidade Federal de São Carlos)
Há certas competências que são esperadas de um ator político e são quase sempre reiteradas em processos eleitorais ou durante o exercício do cargo político quando se visa a construir (ou desconstruir) a
imagem de um sujeito na política. Outras, por sua vez, são menos comuns e ‘mais genéricas’, mas por sua
possibilidade de substituir ou de representar metonimicamente essas competências que tradicionalmente se esperam de um líder (honestidade, poder de decisão etc.), são evocadas e exploradas na promoção
ou na descredibilização de atores políticos. Uma dessas competências é a prática de leitura. Por meio da
análise de um heterogêneo conjunto de textos de origens e gêneros diversos, mas cujo objetivo comum é
construir (ou desconstruir) a imagem de líderes políticos explorando suas representações como leitores,
refletiremos sobre o funcionamento peculiar de discursos sobre a leitura no âmbito da política. Essa
análise inscreve-se em nossa pesquisa sobre as representações da leitura no Brasil, na atualidade, que
desenvolvemos junto ao Programa de pós-graduação em Linguística da UFSCar. Neste trabalho visamos
apresentar os resultados específicos dessa pesquisa mais ampla, concernentes ao levantamento e análise
de representações dos sujeitos políticos (Courtine, 1982) em relação ao exercício (ou não) dessa prática
cultural, tal como manifestos em textos de origem diversa (mídia tradicional impressa e virtual, blogs
institucionais ou individuais etc.), de modo a refletirmos sobre as formações discursivas e a força de
remanência e circulação desses discursos sobre a leitura (Foucault, 1969; Chartier, 1986; Abreu, 2005) e
sobre os atributos acessórios que agregam valor à construção da imagem de sujeitos políticos no Brasil.
Essa origem e força desses discursos não coincidem com sua enunciação, antes, estão intrinsecamente
ligadas a sua condição de dizer socio-histórico e culturalmente delimitado, ou seja, submetido a uma
ordem do discurso (Foucault, 1971) que, há muito e de forma variável de uma cultura a outra, sustenta
dizeres, crenças e práticas sobre o que é ser líder político e sobre o que é ser leitor. Para tanto, e subsidiados teoricamente pela Análise de Discurso de linha francesa e pela História Cultural da leitura,
analisaremos textos que articulam certas representações da leitura e do leitor à figura e às ações de três
políticos brasileiros, a saber, dos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luis Inácio Lula e da
atual presidente Dilma Rousseff.
O projeto Opera Omnia de Rosa Virgínia Mattos e Silva
Mailson dos Santos Lopes (Universidade Federal da Bahia)
Discorrer-se-á sobre o surgimento, a planificação e a paulatina concretização de um projeto recém-encetado que se debruça sobre a reunião e disponibilização da opera omnia da Profa. Dra. Rosa Virgínia
Mattos e Silva (1940-2012), uma das mais renomadas linguistas brasileiras da segunda metade do século
XX nos estudos de linguística histórica e também uma das grandes responsáveis pelo renascimento dessa «fênix» no domínio da língua portuguesa (CASTILHO, 2012). Além de extraordinária investigadora
sobre diversos temas apropinquados à ciência da linguagem — desde a aquisição do português como
segunda língua pelos kamayurá do Alto-Xingu, passando pela descrição e análise do português arcaico
e pela constituição sócio-histórica do português brasileiro, alcançando até questões ligadas ao ensino
de língua materna na realidade nacional —, Mattos e Silva, durante quase quatro décadas, atuou ininterruptamente no ensino universitário (na graduação e na pós-graduação), formando várias gerações
de docentes e pesquisadores e estruturando, em boa medida, a rede de acadêmicos que fizeram e fazem
da Universidade Federal da Bahia e das universidades estaduais baianas redutos intelectuais onde ainda
se trabalha criteriosa e proficuamente aspectos da linguística histórica ou da história da língua. Idealizadora e coordenadora do Programa para a História da Língua Portuguesa (PROHPOR), demonstrou
sempre seu carisma integrador, reunindo a seu redor um grupo intelectual de escol que promoveu o
reestabelecimento dos estudos históricos sobre a língua no seio da realidade acadêmica baiana e nacio- 218 -
Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
nal. As rotas cardeais do projeto aqui sinteticamente descrito fincam-se em dois aspectos primordiais: (i)
o processo de disponibilização do espólio bibliográfico dessa insigne cientista na nova página do grupo
PROHPOR, criando um repositório ou fundo digital a modo de homenagem pela sua trajetória profissional e intelectual na UFBA e também como recurso de consulta de fácil acesso para os estudiosos que
se dedicam à história da língua; (ii) pari passu, o desenvolvimento de estudos analíticos e críticos sobre
tal lastro bibliográfico, de grande monta para a historiografia linguística no país.
On two exclamative structures of Brazilian Portuguese
Marcelo Amorim Sibaldo (Universidade Federal Rural de Pernambuco)
In Brazilian Portuguese (henceforth BP), there is an exclamative construction, namely, Free Small Clauses (henceforth FSC), which is characterized by the juxtaposition of a predicate and its subject, in that
order, without any verb nor any tense information on the surface, like in (1):
(1) a. Muito lindo esse celular!
very beautiful this mobile
‘This mobile is very beautiful!’
b. Uma droga aquele show!
a drug that show
‘That show sucks!’
We can also find in BP an exclamative construction very similar to the FSCs, although different from
those ones in respect to the first element of the predicate which is always que ‘what’. Therefore, I will
name them que-Free Small Clauses (henceforth que-FSCs):
(2) a. Que lindo esse celular!
what beautiful this mobile
‘This mobile is very beautiful!’
b. Que droga aquele show!
what drug that show
‘That show sucks!’
As we can see, the difference on the surface between (1) and (2), a priori, seems to rest on the substitution of muito and uma in (1) for the particle que in both structures in (2).
Given the data above, this paper aims to describe and compare FSCs and que-FSCs of BP, since
very little attention has been paid for those structures in the relevant literature. In order to describe
these structures, firstly I show some syntactic-semantic restrictions on the subject and predicate on both
structures, highlighting their similarities and differences. Secondly, I try to outline an syntactic structure for (que-)FSCs, based on some traditional tests - namely, TP and VP adverbs, factivity, embedding
etc. As for achieving the goals proposed, I use the Minimalist Program framework (Chomsky 2001 et
passim) and the developments of Phase Theory made in Den Dikken (2006, 2007). Following the latter,
I adopt the dynamic phase theory as well as the concept of configurational and nondirectional Small
Clause structures.
References
CHOMSKY, Noam. 2001. Derivation by phase. In Michael Kenstowicz, (ed.). Ken Hale: A Life in Language, 1-52. Cambridge, Mass: MIT Press.
DIKKEN, M. den. 2006. Relators and Linkers: the Syntax of Predication, Predicate Inversion, and Copulas. Cambridge, Mass.: The MIT Press.
DIKKEN, Marcel den. 2007. Phase extension: Contours of a theory of the role of head movement in
phrasal extraction. Theoretical Linguistics 33(1). 1-41.
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Comunicações livres / Comunicacións libres
Africanias do Norte do Brasil. O campo semântico «corpo humano»
no Atlas Geossociolinguístico Quilombola do Nordeste do Pará
Marcelo Pires Dias (Universidade Federal do Pará / Instituto da Lingua Galega,
Universidade de Santiago de Compostela)
Este trabalho tem como objetivo apresentar a norma semântico-lexical observada em 16 itens lexicais
pertencentes ao campo semântico corpo humano do Atlas Geossociolinguístico Quilombola do Nordeste do Pará (AGQUINPA), considerando as dimensões diatópica, diagenérica e diageracional. O AGQUINPA busca mapear a variedade linguística do português falado nas comunidades quilombolas da
região Nordeste do Pará, por meio do inventário lexical e fonético, além da constituição de um banco
de dados a partir dos dados coletados. As comunidades consideradas neste trabalho estão situadas na
região Nordeste do Estado do Pará (Brasil) e são: a) Região de ilhas de Abaetetuba; b) Comunidade
do Cacau e c) Comunidade São Pedro. Para a pesquisa, utilizamos o Questionário Semântico-lexical
pertencente ao Atlas Linguístico do Brasil - ALiB (2001), assim como os pressupostos teóricos-metodológicos da geossociolinguística.
Construção com verbo suporte dar: dá uma variada
ou dá uma mudadinha?
Marcia dos Santos Machado Vieira (Universidade Federal do Rio de Janeiro)
Pretende-se expor, com base numa visão construcional de gramática, resultados de uma pesquisa do
Projeto PREDICAR (Formação e expressão de predicados complexos: gramaticalidade e lexicalização)
sobre predicadores complexos com o verbo suporte dar que opera sobre elementos nominais do tipo
X-ada e X-adinha: dar uma passada, dar uma passadinha; dar uma piscada, dar uma piscadinha; dar
uma entrada, dar uma entradinha. A leitura construcional de expressões como essas é função da relação
gradiente entre os parâmetros de composicionalidade, esquematicidade e produtividade.
Examinam-se instanciações de tais expressões com o intuito de: (i) tratar da configuração de aspectualidade nesses predicadores complexos, bem como da perspectiva de apreensão do estado de coisas
que evidenciam e (ii) descrever as propriedades desse tipo de expressão linguística e o nível de convencionalização delas na comunidade linguística brasileira, que podem indicar variação ou mudança construcional (TRAUGOTT & TROUSDALE, 2013). Observa-se, na comparação de alguns dados, que há
diferença aspectual entre instanciações dessas construções (por ex., (a) Eles deram entrada no hospital.
(b) Eles deram uma entradinha.), bem como similaridade em outros casos (por ex., (c) Ele deu uma olhada na tese. (d) Ele deu uma olhadinha no e-mail.). Entende-se que a língua propicia sistematicamente
recursos para diferentes tipos de enquadre de uma cena. E a variação X-ada e X-adinha pode ocorrer no
Português como um mecanismo funcional de marcação de aspectualidade e perspectivização.
Os resultados que serão expostos advêm de análise do comportamento observável em textos orais
e escritos do Português do Brasil e de análise experimental de enunciados desse corpus (GONZALEZ-MARQUEZ, M. et al., 2006). Parte-se da premissa de que a pesquisa centrada no uso e em experimentos psicolinguísticos quanto a esse uso permitirá explorar aspectos relativos ao pareamento
forma-função nesses predicadores complexos em duas modalidades expressivas, em diferentes espaços
comunicativos e com variados contornos pragmáticos, bem como aspectos relacionados à configuração
das construções de estrutura argumental com que se compatibilizam (GOLDBERG, 1995, 2006). A
investigação sobre tais construções norteia-se por conceitos e pressupostos teórico-metodológicos da
Linguística Funcional-Cognitiva, os quais, para o exame da alternância de formas, são considerados na
interface com orientações da Sociolinguística (LABOV, 1994 e 2010).
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
A delimitação de áreas dialetais no atlas prévio dos falares baianos
Márcia Verônica Ramos de Macêdo (Universidade Federal do Acre)
O presente trabalho tem por objetivos divulgar alguns resultados obtidos na Tese de doutorado em Letras e Linguística (UFBA), bem como apresentar a delimitação de algumas subáreas dialetais na região
do «falar da Bahia». Tem sua base teórica fundamentada nos princípios teóricos da Dialetologia, da
Sociolinguística, da Lexicologia e da Lexicografia. Utilizou-se como corpus o conjunto das 154 cartas
linguísticas do Atlas Prévio dos Falares Baianos – APFB (1963), como método a Geografia Linguística para a análise espacial e o programa computacional Arcgis para a elaboração das cartas lexicais. A
amostra deste trabalho é constituída de quarenta e quatro cartas léxicas de subáreas em diversos campos
semânticos (atividades agropastoris, corpo humano, fauna, vestuário e acessórios) a partir das quais
tornou-se possível o traçado de nove cartas de isoglossas delimitadoras de regiões linguisticamente marcadas. Para o estabelecimento das subáreas linguísticas, tomamos por base as mesorregiões geográficas
do estado da Bahia, embora reconhecendo que os limites linguísticos não correspondem aos limites
político-administrativo. Uma vez delimitadas as nove subáreas lexicais baianas, verificamos que, em
alguns casos, ocorreu concentração de formas em determinada região da subárea, o que poderia sinalizar a existência de uma região específica. Nada obstante atestarmos esse fato, deliberamos manter a
subárea assim configurada, tendo em vista os critérios estabelecidos. Nessa comunicação, apresentamos
um recorte utilizando 42 lexias para a elaboração das cartas com traçado de isoléxicas, e apresentamos
somente quatro delas (as de subárea A, D, E e I), analisando as formas e ocorrências do ponto de vista
linguístico e extralinguístico. Para a abordagem dos aspectos linguísticos foram considerados: a diversidade de uso, a classificação morfológica, a etimologia, o registro/não registro nos dicionários e o campo
semântico. No que concerne ao aspecto extralinguístico foi considerada apenas a variação diatópica. A
Subárea A abrange as mesorregiões Metropolitana de Salvador, Nordeste baiano, Centro Norte baiano,
Centro Sul baiano e Sul baiano) e as lexias encontradas foram: arco-da-velha, binga, cacumbu, califom,
gigo, neblina, ovo-de-peru, quipá, rodete, saqué e xambouqueiro. A Subárea D compreende as mesorregiões: Metropolitana de Salvador, Nordeste baiano e Centro Norte. As lexias encontradas foram:
(As) matinas, ginge e mazá. A Subárea E compreende as mesorregiões Centro Sul baiano e Sul baiano
e as lexias encontradas foram: macumbeiro, mandraqueiro e planeta e, por fim, a Subárea I abrange
as mesorregiões Centro Norte baiano, Vale São-Franciscano da Bahia e as lexias encontradas foram:
pataqueiro, moleque, somar e vassoura. O conjunto de itens lexicais presentes nas cartas selecionadas,
permite o reconhecimento de manifestações da cultura da área e de lexias próprias da região baiana.
PALAVRAS-CHAVE: Dialetologia; Geolinguística; subáreas dialetais.
A linguagem da pesca riobranquense: um estudo geolinguístico
Márcia Verônica Ramos de Macêdo (Universidade Federal do Acre)
Valéria Araújo de Freitas (Universidade Federal do Acre)
Jadiane Alina Carminatti Rodríguez (Universidade Federal do Acre)
Mayra Raelly da Costa Silva Saar (Universidade Federal do Acre)
O presente artigo descreve e analisa a linguagem da pesca na região riobranquense abordando três
campos semânticos: o pescador e a família, o pescador e o trabalho, o pescador e a natureza. A análise
está fundamentada nos princípios da Dialetologia, da Lexicologia e da Geografia Linguística. Para este
estudo o corpus constitui-se de 16 entrevistas com informantes do sexo masculino e feminino, em três
faixas etárias: 20 – 30 anos, 35 a 50 anos, 55 anos em diante e com diferentes graus de escolaridade.
Após a transcrição dos dados foi elaborado um Glossário da atividade pesqueira e cinco cartas semântico-lexicais com base no programa computacional ARCGIS: uma com a denominação dos peixes, outra
dos locais da pesca, uma dos instrumentos do trabalho, uma das atividades de lazer e, por fim, uma da
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Comunicações livres / Comunicacións libres
alimentação do pescador. No glossário registraram-se 104 verbetes, sendo: 35 denominando os peixes,
31 dos instrumentos de trabalho, 18 dos locais de pesca, 15 das atividades de lazer e 5 da alimentação,
estando a maior parte dicionarizados, outros não, uns apresentando variações e outros com acepções diferentes. No tocante à classificação morfológica, contatou-se que 100 são substantivos (70 masculinos e
30 femininos) e apenas 4 verbos. No que se refere à etimologia, 47 são de origem tupi, 23 do latim, 21 são
de origem desconhecidas, 5 do francês, 4 dos espanhol e uma do árabe, do inglês, do africano e do italiano. Os resultados apresentam-se em forma de gráficos, tabelas e cinco cartas linguísticas nos campos
descritos acima. O estudo mostra a riqueza vocabular na comunidade pesquisada, com apresentação de
formas novas ou de conservadorismos próprios da área.
A próclise em contextos neutros [XP]V na escrita brasileira
dos séculos XVIII, XIX e XX
Marco Antonio Martins (Universidade Federal do Rio Grande do Norte)
Em textos escritos no Brasil nos séculos XVIII, XIX e XX, os padrões de colocação dos pronomes clíticos
constituem um quadro complexo: (i) há próclise majoritária em sentenças com operadores de negação
predicativa, com quantificadores, com determinados advérbios em posição pré-verbal e em sentenças
iniciadas por constituintes focalizados; (ii) há um aumento progressivo da próclise em sentenças finitas
com o verbo em primeira posição; (iii) há significativa variação ênclise/próclise em sentenças finitas não
dependentes em «contextos neutros»; (iv) há cliticização ao verbo do qual o clítico depende sintática e
semanticamente em sentenças com complexos verbais e (v) há interpolação bastante residual – quase
sempre do marcador de negação frásica «não». Diante desse quadro e assumindo os pressupostos do
modelo de competição de gramáticas (KROCH, 1989, 2001) no quadro da teoria gerativa, tenho trabalhado com a hipótese de que os diferentes padrões empíricos atestados na escrita brasileira no curso
desses séculos refletem propriedades de três gramáticas do português: do Português Brasileiro (PB), do
Português Europeu (PE) e do Português Clássico (PC). Nesta comunicação, apresento resultados de um
projeto em curso desenvolvido no âmbito do Projeto de História do Português Brasileiro (PHPB) acerca
da sintaxe dos pronomes clíticos na escrita brasileira dos séculos XVIII, XIX e XX, tendo em vista um
corpus formado por textos da imprensa e cartas pessoais. Mais especificamente, retomo resultados referentes aos padrões de colocação em contextos neutros ou «contextos de variação diacrônica» – orações
finitas não dependentes iniciadas por (i) sujeitos [DPs] não focalizados, (ii) advérbios não modais e (iii)
PPs não focalizados (MARTINS, 1994) –, nos quais as taxas de próclise são bastante diferenciadas no
curso dos diferentes séculos: em textos dos séculos XVIII e XIX, há taxas já bastante elevadas de próclise
em contextos [XP]V com advérbios não modais e PPs, mas não em contextos [DP]V. A hipótese que
defendo é a de que as próclises nos contextos [XP]V na escrita brasileira desses séculos estão associadas
à gramática do PC, caracterizada pela possibilidade de fronteamento de constituintes – um sistema V2
– (PAIXÃO DE SOUSA, 2004). Nesse sentido, a evolução da próclise em «contextos neutros» gerada
pela gramática do PB está associada à rigidez de uma gramática sem fronteamento – sistema SV – instanciada pelas próclises em contextos [DP]V, em consonância com a evolução das taxas da ordem SV.
Posse externa no português brasileiro: a construção de tópico nominativo
Maria Aparecida Torres Morais (Universidade de São Paulo)
Na história do português brasileiro destaca-se a perda coloquial dos dativos de posse, realizados como
a-DP/lhe(s), com verbos dinâmicos, beijar, lavar, e verbos estativos, admirar, invejar. (cf. Torres Morais
2007; Torres Morais 2013).
(1) a. O José lavou o carro à vizinha / lavou-lhe o carro.
b. O José admira a beleza à vizinha / admira-lhe a beleza.
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
O mesmo movimento diacrônico afeta a posse inacusativa:
(2) a. Caíram as folhas à árvore / Caíram-lhe as folhas.
b. Nasceu o dente ao bebê / Nasceu-lhe o dente.
O relacionamento possessivo em (1a-b) e (2a-b) caracteriza a posse externa: um argumento é semanticamente interpretado como possuidor de outro argumento, embora se comporte sintaticamente como
um argumento do verbo no nível frasal. A construção de possuidor externo contrasta com outra, na qual
o possuidor não é um argumento do verbo, sendo realizado numa posição interna à frase nominal (3ad). (cf. Vergnaud & Zubizarreta 1992).
(3) a. O José lavou [as mãos do menino].
b. O José admira [a beleza da Maria].
c. Caíram [as folhas da árvore].
d. Nasceu [o dente do bebê ].
Pontes (1987) descreveu pioneiramente as propriedades da construção conhecida na literatura como
‘tópico sujeito’ (4a-b). (cf. Pontes 1987:90).
(4) a. Esse rádio estragou o ponteiro.
b. Meu carro furou o pneu.
O principal objetivo deste texto é propor a hipótese de que a construção de ‘tópico sujeito’ configura
uma estratégia inovadora para a expressão do possuidor externo nos contextos inacusativos. Tomando
como base o estatuto dos parâmetros de variação dentro da visão minimalista (cf. Chomsky 2005, 2006,
2008; Richards 2006), proponho que mudanças casuais no paradigma dos pronomes pessoais, ao lado
das mudanças nas relações entre tópico e concordância (cf. Martins & Nunes 2010; Avelar & Galves,
2011, 2012), tenham propiciado o aparecimento de uma nova construção possessiva na gramática do
PB. A análise propõe ainda: (i) A construção de ‘topico sujeito’ expressa sintática e semanticamente
tanto a relação possuidor-possuído, quanto a relação locativo-tema entre dois DPs; (ii) Trata-se de uma
estrutura de aplicativo baixo (AplP), na qual um núcleo aplicativo expressa uma relação semântica entre
dois DPs: o argumento interno do verbo inacusativo e o argumento aplicado, interpretado como o possuidor ‘envolvido’ no evento expresso pelo verbo.
Projeto Léxicos Regionais: resultados parciais
Maria Cândida Trindade Costa de Seabra (Universidade Federal de Minas Gerais)
Vander Lúcio de Souza (Universidade Federal de Minas Gerais)
Propõe-se apresentar resultados parciais do Projeto «Léxicos Regionais», em desenvolvimento, no Brasil, na Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais. Com o objetivo de estudar o vocabulário regional, nesta comunicação daremos enfoque ao vocabulário falado em algumas áreas que
integram o extenso território que constitui o Estado de Minas Gerais. A pesquisa fundamenta-se nos
pressupostos teórico-metodológicos da Antropologia Linguística, Sociolinguística, Lexicologia e Lexicografia, focalizando o léxico, sobretudo, numa perspectiva diatópica e diacrônica. Seguindo o modelo
laboviano, partimos do presente, ao coletar dados por meio de entrevistas orais realizadas em zonas
rurais, voltamos ao passado ao consultar dicionários dos séculos XVIII, XIX, primeira metade do século XX e retornamos ao presente para estabelecer comparações entre esses períodos. Após análise
dos dados, constatamos a existência de um vocabulário regional, com semelhanças e diferenças entre
as diversas áreas geográficas, além de casos de variação e retenção. Através dos resultados obtidos por
meio de nossa pesquisa, procuramos mostrar que os estudos lexicológicos possibilitam evidenciar além
de aspectos linguísticos, características históricas, sociais e culturais de cada região.
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Comunicações livres / Comunicacións libres
Aprendizagem da língua padrão a partir da linguagem informal
na sala de aula
Maria de Fátima Castro Amorim de Moraes (Universidade Estadual do Amazonas)
Fátima Cruz Souza (Universidad de Valladolid)
A comunicação apresentada destaca a importância da linguagem informal na sala de aula como instrumento de acesso à linguagem estândar. Analisa a linguagem utilizada pelos (as) estudantes e familiares e
professorado. A pesquisa de caráter qualitativa, com estudo de casos múltiplos em três escolas da cidade
de Tefé. Escolas estas situadas no centro e nos bairros periféricos. Foram analisadas duas turmas de cada
escola, no período matutino e vespertino, com o objetivo de obter um discurso diversificado, já que seu
alunado é muito diferenciado socioeconômica e culturalmente. São mini casos: o professorado titular
das turmas e 17 estudantes. Os dados foram coletados com observação participante, entrevista em profundidade aos mini casos, diretores (as), pedagogos (as) e professores de apoio e ainda alunos e alunas
externos (as). Foram analisadas as produções orais e escritas e os discursos dos (as) entrevistados (as).
Embasaram nossas análises: Vygotsky (2009); Bruner (2010), Bernstein (1989 I e II), Bourdieu (2007),
Bauman (2005) e outros (as), que consideram a linguagem como principal mecanismo de mediação
entre o ser humano e o contexto sociocultural. Comprovamos que a linguagem informal influencia no
processo de ensino e aprendizagem, podendo essa influência ser positiva ou negativa, dependendo da
classe socioeconômica e cultural do (a) estudante; a linguagem informal pode ser utilizada como instrumento didático para a aprendizagem da língua estândar; o Sistema em Ciclos pode ser positivo ou
negativo, dependendo de como atua a escola em relação ao apoio ao seu professorado e alunado.
PALAVRAS-CHAVE: Educação; linguagem; inclusão ensino e aprendizagem
Referências
BAUMAN, Z. Identidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.
BERNSTEIN, Basil. Clases, códigos y control II – Hacia una teoría de las transmisiones educativas.2ª ed.
Ediciones Akal, 1977, Madrid-España.Traducción: Rafael Feito Alonso, 1989.
BERNSTEIN, Basil. Clases, códigos y control I – Estudios teóricos para una sociología del lenguaje.
Ediciones Akal, Madrid-España, 1989.
BOURDIEU, Pierre. Razones prácticas sobre la teoría de la acción. Título de la edición original: Raisons
pratiques. Sur la théorie de l´action. París. Traducción de Thomas Kauf. Barcelona, cuarta edición, septiembre, 2007.
BRUNER, J. S. Actos de significado – más allá de la revolución cognitiva. Traducción de Juan Carlos
Gómez Crespo y José Luis Linaza. Alianza Editorial S.A, 2006 – Madrid.
Sintatização, semantização e discursivização do não obstante
na história do Português
Maria do Carmo Viegas (Universidade Federal de Minas Gerais)
Pâmella Alves Pereira (Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri)
Este trabalho objetiva apresentar uma análise da expressão não obstante na história do Português, tendo
em vista aspectos sintáticos, semânticos e discursivos. Observamos os pressupostos da Gramaticalização, conforme Hopper; Traugott (1993). Utilizamos o corpus Davies e Ferreira (2006) para a coleta dos
dados. Reali- zamos testes de qui-quadrado na análise estatística. Na descrição semântica, constatamos
que o não obstante apresenta dois sentidos ao longo da história da língua: concessão, em que é possível
paráfrase com «apesar de» ou «embora»; e adversidade, em que é possível paráfrase com «no entanto».
O sentido adversativo da expressão em análise é mais recente que o sentido concessivo. O não obstante
concessivo começou a diminuir sua frequência antes do sentido adversativo - a queda de um se iniciou
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
exatamente na época em que houve um aumento significativo do outro. No âmbito sintático, verificamos
que o não obstante aparece primeiramente, no corpus, analisado no século XVI com sentido concessivo
de «apesar de» e faz referência a um SN, apresentando, em certos casos, concordância de número com
esse SN. Após o século XVI, a expressão não obstante trilha caminhos distintos: em um ela adquire o
sentido adversativo ao englobar o SN a que se refere; em outro, num caminho paralelo, a expressão ocorre com sentido concessivo de «apesar de», precedendo oração com verbo em sua forma infinitiva. Mais
tarde, passa o não obstante a aparecer imediatamente seguido pelo elemento que e passa a iniciar uma
oração com verbo ora no modo indicativo ora no modo subjuntivo. No século XVIII, o não obstante
incorpora o QUE, funcionando como locução conjuntiva concessiva com o mesmo valor de «embora»,
e inicia uma oração com verbo flexionado exclusivamente no modo subjuntivo, determinando, assim,
uma locução concessiva com maior limitação sintática. A discursivização do não obstante pôde ser
observada nos casos em que a expressão apresenta sentido adversativo e mostra mobilidade na sentença.
Trata-se de um caminho trilhado pelo não obstante em direção a um valor adverbial que marca uma
relação textual.
Referências
DAVIES, M & FERREIRA, M J O corpus do Português [online] Disponível em www.corpusdoportugues.
org. (2006)
HOPPER, P; TRAUGOTT, E Grammaticalization, Cambridge: Cambridge University Press, 1993.
Monotongação e ditongação no português da Comunidade Quilombola
de Marobá dos Teixeiras – Almenara/MG
Maria do Socorro Vieira Coelho (Universidade Estadual de Montes Claros)
Neste trabalho, pretende-se apresentar resultados de uma pesquisa que integra o projeto «O Português
em Comunidades Quilombolas de Minas Gerais», cujo objetivo geral é trazer para a história do Português Brasileiro a realidade sociolinguística atual da língua portuguesa falada em comunidades quilombolas do Estado de Minas Gerais, principalmente, das comunidades situadas em áreas rurais. Esta
comunicação apresenta uma análise empírica da ditongação e monotongação na fala dos moradores
da Comunidade Quilombola Marobá dos Teixeiras, localizada na área rural da cidade de Almenara/
MG, descrevendo sistematicamente as escolhas linguísticas dos falantes. A investigação alicerçou-se nos
postulados teóricos da sociolinguística variacionista laboviana, descritos por Weireich, Labov e Herzog (2006 [1968]), pois visava ao estudo da variedade linguística portuguesa usada por esses cidadãos
para se comunicarem; a determinar aspectos da estrutura linguística de tal variedade, suas formas e sua
organização subjacente, e à melhor compreensão da relação entre os aspectos sociais e culturais da linguagem da comunidade marobense. Foi analisada amostra de fala vernácula constituída de entrevistas
realizadas na comunidade quilombola foco da investigação. Os dados foram submetidos a uma análise
quantitativa, cujos resultados constataram a formação de ditongos com a inserção das semivogais [y],
[w] e ditongação pela modificação de consoante. Em relação ao fenômeno da monotongação, os resultados apontaram a antiga tendência a se reduzirem ditongos, de [ey] para [e] e de [ow] a [o], na língua
portuguesa.
Norma, diversidade e ensino da língua portuguesa:
uma questão de política e de planejamento linguístico
Maria Elias Soares (Universidade Federal do Ceará)
O trabalho tem como objetivo discutir as noções de política linguística e de planejamento linguístico,
fundamentando-se nos trabalhos de Calvet (2007), Ricento (2006), García e Menken (2010). Para esses
autores, de um modo geral, Política Linguística refere-se às grandes escolhas na relação entre língua e
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Comunicações livres / Comunicacións libres
sociedade e Planejamento Linguístico corresponde à implementação prática dessas escolhas, que podem
ser efetivadas pelo estado, mas também por grupos e indivíduos. Com base nesses pressupostos teóricos,
serão problematizados temas relacionados à política linguística para a língua portuguesa, seja no que
diz respeito à questão da diversidade, seja no que se refere a questões vinculadas à norma e ao ensino da
língua. Compreende-se que a relação entre política linguística e ensino da língua portuguesa se explica,
por exemplo, pelo fato de que as políticas linguísticas, quer sejam explícitas ou implícitas, subsidiam o
ensino, a produção de materiais didáticos, o processo de formação de professores e o uso da língua nos
meios de comunicação de massa.
Gramática: registros e implicações em atividades no material didático
Maria Fabíola Vasconcelos Lopes (Universidade Federal do Ceará)
É sabido que muitos são os problemas enfrentados entre diversos professores no ensino de gramática
de língua portuguesa em particular, no ensino fundamental e médio. O problema se agrava ainda mais
no ensino de língua inglesa podendo se desenrolar de duas maneiras. A primeira, o ensino de gramática
pode se dar muitas vezes, sob uma perspectiva estrutural, em que o foco é a forma. Tal escolha pode
resultar no estabelecimento de regras fechadas que o aluno deve aplicar de forma mecânica, não havendo, portanto, contextualização da gramática ou ligação alguma da forma com o uso que dela se faz.
Conejo (2007) destaca que exercícios meramente estruturais e mecânicos não levam o aluno a produzir
linguagem espontaneamente, e que se faz necessária uma abordagem mais comunicativa, para que ele
saiba usar o que lhe foi apresentado em sala em situações reais. Assim, outra maneira que pode ser
adotada no ensino da gramática pode acontecer de forma contextualizada; sendo uma das formas aqui
apontadas, aquela que se respalda pela perspectiva funcional. Nesse âmbito, buscamos ilustrar o tratamento da gramática pelo viés das duas vertentes supracitadas e por meio das atividades em dois livros
do ensino médio da rede pública: English for all e English Log in verificando como os tipos de questões
são apresentados. Em ambos os livros, foi encontrado um total de 54% de atividades de preenchimento
de lacunas, 28% de compreensão literal, 12% de atividades de numeração de colunas e 6% de desembaralhamento de frases, as quais se caracterizam como estruturalistas. Os resultados obtidos apontam para
atividades de cunho mecanicista essencialmente. A base teórica da pesquisa encontra-se nos trabalhos
de Neves (1997), Halliday (1973), Conejo (2007), entre outros autores funcionalistas e estruturalistas.
Por fim, o estudo contribui sobremaneira para o entendimento da tipologia das atividades no ensino
da língua inglesa e consequentemente, para o desenvolvimento das mesmas sendo também possível a
aplicação da tipologia para melhorias no ensino do português.
Mudança e variação na realização de preposição introduzindo orações
finitas do Português
Maria Francisca Xavier (Centro de Linguística, Universidade Nova de Lisboa)
Tendo em consideração, por um lado, que tanto na diacronia do Português como nas suas variedades
linguísticas contemporâneas existem orações finitas introduzidas por preposição (ex. 1) e que estas nem
sempre são as mesmas em idênticos contextos estruturais dos seus estados históricos e das variedades
atuais e, por outro lado, que também a realização de preposição é obrigatória em determinados contextos (ex. 2) e opcional noutros, três questões motivaram a investigação cujos resultados serão aqui
apresentados: (i) O que mostram os dados dos textos antigos comparativamente aos das variedades
linguísticas contemporâneas do Português relativamente ao tema deste estudo? (ii) Em que contextos é
obrigatória ou facultativa a realização de preposição a introduzir orações finitas? (iii) Como se poderá
explicar tanto a variabilidade como a obrigatoriedade ou opcionalidade da realização de preposição a
introduzir orações finitas? Os factos linguísticos observados serão ilustrados com dados do Português
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
Contemporâneo de Portugal, do Brasil e de Moçambique e, ainda, com dados do Português Antigo.
Procurar-se-á apresentar explicações para as referidas variações e mudanças linguísticas tendo por base
quer pressupostos de natureza sintática quer relativos à maior ou menor importância semântica das preposições em diversos contextos frásicos. Demonstrar-se-á que a introduzir orações finitias apenas preposições semanticamente fracas podem ser omitidas (ex. 2a,b), ou ser realizadas em excesso. A omissão
destas é explicada por serem sintaticamente desnecessárias para a legitimação de orações, ao contrário
do que acontece relativamente aos nomes que, em contextos frásicos semelhantes, necessitam sempre
de uma preposição para os legitimar estruturalmente. Nestes termos, conclui-se que tanto no Português
Antigo como naquelas variedades nacionais apenas as preposições que são semanticamente fortes são
obrigatórias antes de orações finitas, porque contribuem para o seu significado, enquanto a inclusão
ou omissão de preposições semanticamente fracas, que não contribuem para o significado das orações,
nem têm justificação estrutural, só podem ser explicadas por resultarem de processos analógicos e/ou
idiossincráticos.
Exs: 1. Para que tudo corra bem, convencemo-los de que precisávamos do apoio de todos.
2. a) Para que tudo corra bem, convencemo-los Ø que precisávamos do apoio de todos.
b) *Ø Que tudo corra bem, convencemo-los (de) que precisávamos do apoio de todos.
Sentido figurado, sentido próprio e a sinonímia no programa semiológico
de F. de Saussure
Maria Hozanete Alves de Lima (Universidade Federal do Rio Grande do Norte)
O Curso de Linguística Geral (CLG), nas palavras de Claudine Normand (2009), produziu «efeitos imediatos» após sua publicação e, atualmente, tais efeitos continuam a modificar e a subsidiar os estudos
sobre a linguagem. Um dos efeitos imediatos, já notoriamente destacado na literatura, foi a construção
de um «programa semiológico» que caminhava em direção oposta aos programas de buscas dos estudos comparatistas que dominaram as pesquisas linguísticas no século XIX. Recentemente, no ano de
2002, Rudolf Engler e Simon Bouquet publicaram os Écrits de Linguistique Générale (ELG), tornando
pública uma série de manuscritos de Ferdinand de Saussure, para muitos, perdida ou inexistente. Os
efeitos desta publicação tem sido, deveras, significativo para a Historiografia Linguística, dada a potencialidade de questões inexistentes no CLG. Tais manuscritos nos foram ofertados pelo acaso; no ano de
1996, «durante os trabalhos de mudança da antiga casa da família Saussure em Genebra, os herdeiros
encontraram uma documentação contendo folhas manuscritas de seu ancestral, que até então haviam
escapado às minuciosas procuras anteriores» (MAURO, 2013, p. 34). Nas palavras de Tulio de Mauro
(2005, p. 32), os autores apresentaram «além dos textos fragmentários conhecidos até então, os esboços
consistentes de um livro sobre a linguística geral». Observamos, nos ELG (2002), uma interessante discussão sobre o fenômeno da «sinonímia», sob a qual as noções de «sentido figurado» e «sentido próprio»
são colocadas em discussão. Nossos objetivos, neste trabalho, são: 1. analisar o modo especial como o
linguista genebrino se coloca frente à sinonímia; 2. problematizar de que maneira as noções de contiguidade e similaridade (ou, se pudermos assim considerar, de metáfora e metonímia) estão implicadas na
discussão que Ferdinand de Saussure argumenta sobre a sinonímia na linguagem.
O Curso de Linguística Geral e os limites da relação associativa
Maria Hozanete Alves de Lima (Universidade Federal do Rio Grande do Norte)
Este trabalho investiga, através de um retorno à leitura do Curso de Linguística Geral (CLG), a especificidade das «relações associativas» que, interligada de maneira recíproca à «relação sintagmática»,
corresponde a uma das esferas de funcionamento do sistema linguístico. Nosso interesse é direcionado
por uma questão de ordem geral e outra questão de ordem mais pontual, quais sejam: 1. desenhar uma
possível historiografia dos conceitos de «relação associativa» e «relação sintagmática» apresentados no
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CLG; 2. visualizar os pontos de tensão que envolvem a relação associativa pela «simples comunidade
das imagens acústicas» (CLG, 2012, p, 174), os conflitos que este tipo de relação tem gerado em obras
críticas e filológicas e a maneira como ela é considerada por estudiosos contemporâneos da obra de Ferdinand de Saussure, a exemplo de: ARRIVÉ (1999), BOUQUET (1999), GADET & PÊCHEUX (1981),
MAURO (2005), MILNER (1987), NORMAND ( 2000), SUENAGA (2005) e JAKOBSON (1971).
Subsídios para a morfologia derivacional:
alguns produtos lexicais sufixados no português medieval
Maria José Carvalho (Centro de Estudos de Linguística Geral e Aplicada,
Universidade de Coimbra)
Como tem sido reconhecido, os estudos de morfologia derivacional do Português pouco têm beneficiado de uma investigação histórica em documentação cronologicamente seriada, particularmente nas
etapas mais recuadas da língua. Com esta comunicação, pretende-se fornecer dados (bem como algumas cronologias) que possam contribuir para uma Morfologia derivacional do Português assente numa
conceção de língua mais ampla e abrangente, que integre a diacronia na descrição das atuais variedades
funcionais. Com base num corpus medieval, descreve-se a evolução e a produtividade de alguns sufixos,
nomeadamente: -airo/-eiro, -doiro > -douro, -nte, -inho, -íssimo, -agem, -al, -ific-, entre outros. Apresentam-se, igualmente, algumas pistas para futuras investigações, particularmente as que dizem respeito
à interface morfologia derivacional/semântica ou, ainda, derivação e dialetologia.
Bibliografia geral
CARVALHO, Maria José S. PEREIRA DE (2006), Documentação medieval do mosteiro de Santa Maria
de Alcobaça (sécs. XIII-XVI). Edição e estudo linguístico. Coimbra: Faculdade de Letras da Universiadde de Coimbra [Dissertação de doutoramento inédita].
DUBERT GARCÍA, Francisco (2014), Recensão crítica a: Rio-Torto, Graça / Alexandra Rodrigues /
I. Pereira / Rui Pereira / Sílvia Ribeiro (2013), Gramática derivacional do Português. Coimbra:
Imprensa da Universidade de Coimbra, 512 pp. In: Estudos de Lingüística Galega 6, pp. 276-278.
FREITAS, Érica Santos Soares de e Nilsa AREÁN-GARCÍA (2010), Morfologia histórica do Português.
In: Revista Philologus, ano 16, nº 47. Rio de Janeiro: CiFEFiL, maio/ago 2010, pp. 109-118.
RIO-TORTO et alii (2013), Gramática Derivacional do Português. Coimbra: Imprensa da Universidade
de Coimbra, 512 pp.
RIO-TORTO, Graça Maria (1998), Morfologia Derivacional. Teoria e Aplicação ao Português. Porto:
Porto Editora, 252 pp.
VIARO, Mário Eduardo (2007), Estudo diacrônico da formação e da mudança semântica dos sufixos
-eiro/-eira na língua portuguesa, in: Gladis MASSINI-CAGLIARI et al. (eds.), Trilhas de Mattoso
Câmara e outras trilhas: fonologia, morfologia, sintaxe. São Paulo: Cultura Acadêmica, 45-84.
VIARO, Mário Eduardo (2010), Sobre a inclusão do elemento diacrônico na teoria morfológica: uma
abordagem epistemológica. In: Estudos de Lingüística Galega 2, 173-190.
A voz feminina no jornal brasileiro «A Família» (século XIX)
Maria Lúcia da Cunha Victório de Oliveira Andrade (Universidade de São Paulo)
Por meio de cartas da editora publicadas no jornal literário A Família e selecionadas entre as primeiras
edições do ano de 1888, analisamos a posição que as mulheres ocupavam na família e na sociedade brasileira, nesse final de século visando a resgatar os discursos que fundamentam e prescrevem o sentir, o
fazer e o saber do sujeito mulher na sociedade brasileira e que determinam suas formas de ser no desempenho de diferentes papeis, seja como esposa, como dona de casa ou mãe, e como mulher que agora tem
uma profissão e se projeta na sociedade por desempenhar mais essa função. Esse perfil feminino é dese- 228 -
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nhado através da escrita da fundadora e editora do jornal Josephina Alvares de Azevedo – professora e
escritora – que tinha como objetivo interagir com a mãe de família, visando à sua educação. Buscamos,
portanto, analisar as relações dialógicas estabelecidas entre enunciador e enunciatário nas cartas da editora, enquanto práticas discursivas ritualizadas que possuem um espaço específico na referida publicação. A partir dos pressupostos teóricos da Análise Crítica do Discurso elaborados por Fairclough (2003,
2013) e Van Dijk (2003, 2012), revelamos como o jornal concebe, metaforicamente, a interação com as
leitoras, criando um tipo particular de envolvimento, chegando mesmo à cumplicidade. Para construir
um perfil do enunciador (ethos) e como deseja transformar seu enunciatário (as leitoras), consideramos
não apenas as escolhas lexicais e as implicações sociais e ideológicas, mas também o contexto sociocultural em que o texto se instaura. Importa observar como esse gênero discursivo, a carta da editora, forma
e propaga um conceito de comportamento social feminino que perpassa toda a publicação, trabalhando
como a linguagem empregada constitui uma estratégia de persuasão que legitima os padrões ideológicos
existentes em nossa sociedade no final do século XIX.
Referências
FAIRCLOUGH, Norman. Analysing Discourse: textual analysis for social research. London: Routledge,
2003.
FAIRCLOUGH, Norman. Critical Discourse Analysis. 2.ed. New York: Rotlledge, 2013.
VAN DIJK, Teun A. Ideologia y discurso. Barcelona: Ariel, 2003.
VAN DIJK, Teun A Discurso e contexto: uma abordagem sociocognitiva. Trad. de Rodolgo Hilari. São
Paulo: Contexto, 2012
O pragmatismo das expressões idiomáticas em textos jornalísticos:
a ironia e o humor
Maria Luisa Ortiz Álvarez (Universidade de Brasília)
Este trabalho faz parte do projeto de pesquisa em nível de pós-doutorado que realizo atualmente na
Universidade de Santiago de Compostela sob a supervisão da Profa. Dra. Carmen Mellado e investiga
o pragmatismo de expressões idiomáticas do português brasileiro e do espanhol de Cuba, a partir do
levantamento de corpus dessas unidades fraseológicas que aparecem em textos jornalísticos de frequente circulação em ambos os países, neste caso Brasil e Cuba. Analisamos, pois, os aspectos semântico e
pragmático no seu contexto de uso. Para tanto, é estabelecida uma interface entre a teoria Pragmática,
a Teoria das Implicaturas e a Teoria dos Campos Semânticos. A pesquisa segue uma abordagem metodológica de natureza qualitativa interpretativista tomando como referência autores como Grice (1975;
1978; 1981), Sperber e Wilson (1986), Gurillo (2006), Mellado (2013), Montoro del Arco (2013), Piñol
(2012) Corpas (2003), Dominguez (2007) Trier (1931), os estudos de humor de Bergson (1978); Propp
(1992), Rasquin (1985), dentre outros.
PALAVRAS-CHAVE: Pragmática; expressão idiomática; ironia; humor; texto jornalístico.
A realização das vogais médias pretônicas no Amazonas:
Um recorte baseado no Atlas linguistico do Amazonas - ALAM
Maria Luiza de Carvalho Cruz-Cardoso (Universidade Federal do Amazonas)
Este trabalho faz parte da pesquisa desenvolvida para o Atlas Lingüístico do Amazonas – ALAM e visa
a apresentar o resultado dos dados referentes à realização das vogais médias pretônicas no Amazonas.
O ALAM foi desenvolvido como tese de Doutorado e apresentado em 2004, na Universidade Federal do
Rio de Janeiro - UFRJ. É um atlas que se encontra em fase de publicação e registra a fala de nove municípios representativos de nove microrregiões do Estado do Amazonas: Barcelos, Tefé, Benjamin Cons- 229 -
Comunicações livres / Comunicacións libres
tant, Eirunepé, Lábrea, Humaitá, Manacapuru, Itacoatiara e Parintins. Foi elaborado na perspectiva da
Geolingüística e da Sociolingüística Variacionista, em que apresenta o registro de forma sistemática das
variáveis gênero e faixa etária. No ALAM foram investigados 54 informantes, 06 em cada um dos 09
municípios, sendo 1 homem e 1 mulher, cobrindo rigorosamente as faixas etárias de 18 a 35 anos, de 36
a 55 anos e de 56 em diante, com nível de instrução até no máximo a 4ª. série do Ensino Fundamental
ou analfabetos. Dentre os vários fenômenos lingüisticos investigados no ALAM, apresenta-se neste trabalho um recorte sobre a realização das vogais médias pretônicas no Estado do Amazonas. De acordo
com a pesquisa, as vogais médias pretônicas tendem a ser realizadas como abertas, confirmando-se a característica apontada por Antenor Nascentes como tipificadora do falar do norte do Brasil. No entanto,
essas vogais abertas não foram realizadas de forma categórica na região, pois foram também registradas
variantes fechadas e altas, com significativos índices de frequência, inclusive categóricos, em alguns
vocábulos. A partir do desenvolvimento do atlas do Amazonas, outras pesquisas foram desenvolvidas,
apresentando os mesmos resultados do ALAM, inclusive com dados analisados em conversação livre.
Nós e a gente no português brasileiro: concordâncias e discordâncias
Maria Marta Pereira Scherre (Universidade Federal do Espírito Santo /
Universidade Brasília)
Lilian Coutinho Yacovenco (Universidade Federal do Espírito Santo)
Anthony Julius Naro (Universidade Federal do Rio de Janeiro)
Nosso objetivo é discutir o encaixamento linguístico da variação e mudança com os pronomes nós e a
gente no português brasileiro (PB). Analisamos três variantes: a gente sem o morfema –mos (a gente
morou/a gente mora/a gente morava), presença de concordância; nós com –mos (nós moramos/nós
morávamos), presença de concordância; nós sem –mos (nós mora/nós morava/nós morou), ausência de
concordância. Uma quarta variante sem concordância - a gente moramos – quase não ocorre em nossas amostras. A conjugação das três variantes com tempos verbais do indicativo nos permite entender
dinâmicas sociolinguísticas.
Partimos de ideias de Naro, Görski & Fernandes (1999), remodeladas por Scherre et al (2014), que
apontam três tendências na concordância variável com nós:
1) resolução da ambiguidade potencial entre pretérito perfeito e presente de forma igual (vendemos),
com uso preferencial de –mos para pretérito perfeito (nós vendemos) e de sua ausência para presente
(nós vende);
2) uso preferencial de –mos para pretérito e presente de formas diferentes (fomos/vamos), normalmente de oposição singular/plural saliente (foi/fomos; vai/vamos);
3) redução de proparoxítonas (nós ia).
Reanalisamos 1521 dados de Vitória/ES, Sudeste, sem traços claros de identificação da fala capixaba
(Yacovenco et al 2012); e 755 dados da Baixada Cuiabana, formada por 15 localidades do MT, Centro-Oeste, incluindo Cuiabá, com traços claros de identificação do falar cuiabano, como a africada em
chá [ʧa] (Almeida 2005).
Vitória privilegia a gente (69%); a Baixada Cuiabana, nós (55%). Ambas favorecem nós com concordância no pretérito perfeito (66%/67%). A Baixada Cuiabana se destaca por mais uso de nós sem
concordância com o imperfeito (47%) e com o presente com forma igual ao pretérito (36%). Para evitar
nós sem concordância, Vitória usa mais a gente no imperfeito (82%) e no presente (80%), majoritariamente com o verbo no singular.
Em síntese, o favorecimento em Vitória de a gente fala, a gente falava e nós falamos segue fluxos
atuais de mais concordância em grandes centros urbanos. O baixo uso de nós sem concordância (2%)
exibe igual tendência. Como nós fala, nós falávamos e a gente falamos ocorrem pouco em Vitória, a
implementação de a gente no presente e no imperfeito e a de nós, no pretérito perfeito, como registrado
em outros estudos, fortalecem a concordância, plural ou singular.
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Assim, os fatos apresentados resolvem conflitos sociolinguísticos de grupos que rejeitam a concordância variável.
CE-DOHS – Corpus Eletrônico de Documentos Históricos do Sertão:
contribuições para a história do português brasileiro
Mariana Fagundes de Oliveira (Universidade Estadual de Feira de Santana)
Zenaide de Oliveira Novais Carneiro (Universidade Estadual de Feira de Santana)
Este trabalho discute o processo de construção de corpora anotados e seus aspectos linguísticos e computacionais no âmbito do projeto Corpus Eletrônico de Documentos Históricos do Sertão – CE-DOHS
(www.uefs.br/cedohs). O CE-DOHS, com o objetivo de contribuir com o Projeto Para a História do
Português Brasileiro (PHPB), por meio de parceria tecnológica com o projeto Corpus Histórico do
Português Tycho Brahe (www.tycho.iel.unicamp.br), traz um conjunto de documentos originados sobretudo da grande área do semiárido baiano, editados em linguagem XML, com o uso do eDictor, desenvolvido por Kepler, Paixão de Sousa e Faria (2007), um editor de textos especialmente voltado ao
trabalho filológico e à análise linguística automática. Essa ferramenta combina um editor de XML e
um etiquetador morfossintático, e permite a geração automática de versões correspondentes a edições
diplomáticas, semidiplomáticas e modernizadas (em html), e de versões com anotação morfossintática
(em texto simples e xml). Modernizar edições diplomáticas e semidiplomáticas foi muito trabalhoso;
decidir o que modernizar e o que não modernizar nos textos custou bastante à equipe de pesquisadores.
A revisão das edições modernizadas foi exaustiva. E, como resultado da primeira fase de pesquisa, o
projeto CE-DOHS, conciliando a antiga Filologia e as mais recentes tecnologias, já disponibiliza diversos acervos, sobretudo de cartas manuscritas, organizando-as por grau de escolaridade e por grau de
habilidade com a escrita; são 1037 cartas particulares (1808-2000), escritas por 418 remetentes (nascidos entre 1724 e 1980), extraída a maior parte de CARNEIRO (2011). Na segunda fase do projeto, que
está em andamento, o número de documentos tem sido ampliado, tanto manuscritos como impressos,
com inserção, ainda, de amostras de fala, organizadas, no Banco, por comunidade, por tipo de contato
linguístico e por vertente (popular e culta). Todo material – representativo de variedades diacrônicas do
português brasileiro, de diferentes regiões do país, de graus de escolaridade e de graus de habilidade com
a escrita distintos – está sendo preparado para a anotação morfossintática, que manterá a maioria das
características do padrão de anotação existente e permitirá a busca automática de dados, o que facilitará
o estudo linguístico dos acervos, no que consiste o principal objetivo do CE-DOHS, trabalhando em
colaboração com o PHPB.
A Geometria de Traços na representação das fricativas sibilantes
nas Cantigas de Santa Maria
Mariana Moretto Gementi (Universidade Estadual Paulista «Júlio de Mesquita Filho»)
O presente trabalho tem como objetivo fazer um estudo das fricativas sibilantes nas Cantigas de Santa
Maria, que são cantigas religiosas medievais em galego-português, mandadas compilar pelo Rei Afonso
X de Castela, no último quartel do século XIII. Além disso, pretende-se observar seu comportamento
em relação à posição que ocupam na sílaba, observando se existem as oposições apontadas pelos estudiosos entre fricativas surdas e sonoras e entre dentais e alveolares, em todas as posições silábicas, ou se
essas oposições são condicionadas pela posição da consoante na sílaba.
A metodologia baseia-se na observação da possibilidade (ou não) de variação gráfica na representação das consoantes e na consideração da possibilidade (ou não) de rima entre essas palavras específicas para determinar sua possível realização fonética naquela época. A análise do sistema consonantal
do Português Arcaico, especificamente no que concerne às fricativas sibilantes, foi embasada, princi- 231 -
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palmente, na teoria fonológica não-linear, especialmente o modelo de Geometria de Traços (Clements;
Hume, 1995) e para o Português Brasileiro, Cagliari (1998).
Este trabalho investiga se, as palavras contendo consoantes grafadas com «s», «z» e «x», e também as
grafadas com «c», «ç», «sc», «ss» e demais grafemas representativos das fricativas sibilantes (se houver),
podiam alternar graficamente ou rimar entre si ou não, estabelecendo se, naquela época, havia ou não
oposição entre os fonemas representados por esses grafemas, nos contextos de início e de final de sílaba.
Em outras palavras, investiga se, naquele momento, os processos de neutralização das fricativas existiam
ou não no galego-português, para estabelecer se esses grafemas representavam sons de caráter distintivo
ou não no contexto de início e de travamento silábico.
A relevância deste trabalho reside, principalmente, na descrição da relação entre letras e sons com
relação às grafias possíveis da lírica medieval, tema inexplorado no que diz respeito à consideração da
posição da sílaba, em uma abordagem não-linear.
O fato de escolher as fricativas sibilantes dá-se primeiramente pela grande produtividade no corpus
das Cantigas de Santa Maria e, além disso, pelo fato de haver controvérsias quanto à consideração da
oposição entre fricativas entre os autores que vêm estudando o assunto.
A singularidade na disfluência comum e gaga
Mariane Carvalho Vischi (Universidade Estadual Paulista «Júlio de Mersquita Filho»)
A não ser por uma fala planejada, não existe uma fala comum completamente fluente. Os falantes são,
a todo o momento, interrompidos por alguma desorganização no discurso. Casos como esses são chamados de disfluência comum, pois não são exclusivos de um indivíduo especificamente. Por outro lado,
também há o que chamamos de disfluência gaga. Essa alteração de fala tem sido vista na literatura como
a parte desviante da fluência. A disfluência comum e a disfluência gaga caracterizam-se pelo não fluir
normal dos segmentos fonéticos da fala, ou seja, pela presença de hesitações e de interrupções durante
a dinâmica da fala. Esses dois tipos de disfluência apresentam diferenças comunicativas, não apenas
fonéticas, em graus diferentes.
O objetivo deste trabalho é fazer uma comparação entre os dois tipos de disfluência, a fim de mostrar
que, mesmo sendo fenômenos diferentes, é possível encontrar semelhanças dentro da singularidade que
cada disfluência possui.
Para isso, foi formado um corpus de fala semiespontânea com seis informantes de cada grupo (gagos e não gagos). Foi pedido a eles que narrassem um acontecimento que tivesse marcado suas vidas,
para que pudéssemos observar as disfluências no discurso. Os dados foram analisados acusticamente
por meio do programa PRAAT, e interpretados através do modelo teórico da fonologia autossegmental
(Pierrehumbert,1980).
A fala dos dois grupos apresentaram disfluências, bem como pausas, alongamentos e repetições. A
diferença observada, até o momento, está mais relacionada a questões fonéticas (intensidade, duração,
entre outros parâmetros), e à frequência de ocorrência desses eventos no enunciado. Quanto à análise
fonológica, os resultados ainda são parciais, mas mostram que, nas repetições, os padrões entoacionais
têm se mantido. Portanto, acreditamos que tratar as disfluências apenas como erros não é a atitude mais
adequada. Nos dois tipos de fala, o que temos são discursos em construção, que a qualquer momento
podem ser quebrados, ou por uma falha na articulação ou simplesmente por uma questão estilística.
Além disso, esses eventos não estão tão distantes. É claro que cada um deles apresenta a sua singularidade. Mas, parafraseando Carneiro e Scarpa (2012), podemos dizer que da diferença surge um igual.
Falar do que é contrário à estrutura cristalizada também gera uma forma de preconceito, que submete
o outro ao isolamento. O que é diferente deve ser visto como singular (Carneiro; Scarpa, 2012), pois é
algo incontrolável.
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
Variação de sequenciadores discursivos no Português Brasileiro
Marília Vieira (Universidade de São Paulo)
O presente trabalho parte da premissa de que aí, daí e então, enquanto sequenciadores discursivos de
causalidade, são variantes de uma mesma variável. Com base em uma amostra de 96 entrevistas, estratificadas em sexo/gênero, faixa etária e escolaridade, analisa-se o uso variável de tais termos em duas
comunidades de fala brasileiras: Campo Grande e São Paulo. Campo Grande é a capital do estado de
Mato Grosso do Sul e fica no centro-oeste do país. São Paulo, capital do estado homônimo, no sudeste do
Brasil, dista 1000 quilômetros de Campo Grande e é a maior metrópole da América Latina. Considerando-se os postulados de Heine, Claudi e Hϋnnemeyer (1991) acerca da gramaticalização de operadores
argumentativos, pressupõe-se que aí, daí e então tenham percorrido o trajeto espaço > (tempo) > texto.
Nesse último estágio, combinam orações, realçam a anaforicidade e reforçam, intra ou interoracionalmente, a noção de causa. É nesse sentido que esta apresentação pretende demonstrar, nos termos da
Sociolinguística Variacionista (Labov, 2001) e de teorias sobre gramaticalização (Givón, 1995), a intercambialidade de aí, daí e então em construções paratáticas, tais como: «eu fui o primeiro neto o primeiro
sobrinho... aí/daí/então eu fui o mais paparicado». A exemplo de Sweetser (1991), procede-se ao estudo
de tais sequenciadores nos domínios referencial, epistêmico e atos de fala, entendidos como um continuum de abstratização. As ocorrências da amostra campo-grandense e paulistana revelam, contudo,
que a regra variável constitui-se exclusivamente no domínio referencial. Assim, estaria havendo especialização de então nos domínios epistêmico e de atos de fala. No primeiro, tanto campo-grandenses
como paulistanos parecem utilizar maciçamente o sequenciador então. Quando se trata do domínio
dos atos de fala, a substituição de então por aí ou daí gera sentenças agramaticais («acho muito falta de
respeito dizer que a cidade é isso é aquilo lá não é bom? *aí/*daí/então vai pra onde veio fica lá»). Desse
modo, atentando para a existência de correlações entre os sequenciadores e fatores estruturais e sociais,
as análises quantitativas do R (Hornik, 2011) ajudarão a levantar evidências sobre o encaixamento social
das formas gramaticalizadas, identificando convergências e divergências no uso de tais elementos em
Campo Grande e São Paulo.
Aspecto comunicativo nas gramáticas portuguesas dos sécs. XVI – XVII
Marina Kossarik (Universidade Estatal de Moscovo Lomonossov)
O período inicial da tradição lingüística portuguesa é caracterizado pela elaboração de muitas teorias e
conceitos não distantes das ideias actuais e dos princípios modernos de descrição da língua. O objectivo
da pesquisa consiste em mostrar, na tradição lingüística portuguesa na época anterior à da Port-Royal,
o surgimento do interesse por certos problemas de discurso nas obras que descreviam os sistemas de
línguas (estrangeiras) vivas para os fins do ensino da comunicação. O interesse por este lado da língua é
mostrado, naturalmente ao nível puramente empírico, principalmente por autores das gramáticas missionárias da língua tupi [Anchieta 1595, Figueira 1621], concani [Estevão 1640]. Essa problemática é
também tratada na gramática didáctica da língua portuguesa para estrangeiros [Pereira 1672].
Os gramáticos selecionam grupos de palavras que têm funções discursivas e prestam atenção nas
particularidades de seu uso. A classificação de advérbios está relacionada, em Figueira, com a problemática discursiva; todos os advérbios selecionados por ele, com exceção de demonstrativos, estão relacionados ora com a organização do diálogo ora com outros aspectos pragmáticos. Estevão, ao examinar
o vocativo na descrição da declinação nominal, detem-se nas partículas vocativas, ou interjeições, estudando minuciosamente a sua posição sintáctica em relação ao nome, o uso independente / absoluto
delas, ressaltando diversos valores específicos e dando variantes posicionais. Aqui nós estamos perante
uma tendência de descrição que não parte de classes gramaticais de palavras mas do seu valor, das
funções aos meios de expressão. Anchieta descreve diferenças no uso dos possessivos nas frases apelativas de acordo com as relações familiares e sociais dos participantes da comunicação. Pereira ressalta
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Comunicações livres / Comunicacións libres
particularidades, relacionados com a etiqueta conversacional, que se detectam no uso de pronomes e
de substitutos pronominais que indicam o interlocutor, apresentando um sistema bastante completo de
formas de tratamento.
As gramáticas missionárias prestam atenção para a organização do discurso dialogal. Os autores salientam os meios da expressão de acordo, discordo, confirmação; dão exemplos de marcadores do final /
incitação da enunciação, marcadores que servem para manter o contacto, mostram a atitude para com o
interlocutor ou o tema; descrevem os meios de incentivar uma acção, de exprimir um pedido, mandato,
proibição, permissão, etc.
Intertextualidad y el hacer misivo en las partituras gráficas
Marina Maluli César (Université de Paris-Sorbonne / Universidade de Sao Paulo)
Cuando llevamos a cabo el análisis de una obra musical instrumental, tomamos con frecuencia como
punto de partida la lectura de su partitura. Sin embargo, en el caso del análisis interpretativo, tratamos
con el hecho de la enunciación, o la actuación del intérprete, presentará como resultados una performance musical. En este contexto, tomamos como punto de partida para esta comunicación la hipótesis
de que existen puntos de similitud y de variación entre el enunciado y la enunciación musical. En otras
palabras, el enunciado musical no se limita a la partitura (fuera del uso) y la enunciación no se limita
a la simples ejecución desta por el intérprete. La interpretación de una pieza musical (modos de tocar)
puede incluso cambiar el significado del enunciado y crear nuevas relaciones entre la expresión y el
contenido del texto músical. En este sentido, hemos observado la existencia de marcas del enunciado en
la interpretación, así como marcas de enunciación en la partitura. Asi, la interpretación y la ejecución
del texto musical resultan de la reunión de las características del intérprete y de las limitaciones del
enunciado presentes en la partitura. Se construye entonces otro texto (interpretación musical) que se
convierte en una reinterpretación de un texto anterior. Por esta razón, se concluye que existe un tipo de
relación de intertextualidad entre las ejecuciones de la misma obra en diferentes períodos de la historia
y los diferentes intérpretes o del mismo artista en diferentes períodos de su trayectoria artística. Un segundo punto que vamos a tratar en este trabajo es el hecho de que la partitura no se refiere únicamente a
la obra, sino también al estilo de su autor como sujeto de la enunciación que ha seleccionado una forma
particular de escribir la obra (enunciado). Así, si al principio el compositor es el sujeto de un hacer emisivo por otro lado el intérprete se convertirá también en sujeto de nuevos haceres en el momento en que
él actualiza los significados virtuales presentes en la obra. Estos aspectos que denominamos aquí como
virtuales son también aspectos intertextuales, debido al hecho de seren resultantes de referencias previas
adquiridas a través de la audición de otras composiciones musicales, así como de diferentes interpretaciones que estas presentan.
«Por ma mão propria escrevi»: Comentário grafemático de documentação
notarial portuguesa (1270-1285)
Marta Afonso (Universidade de Santiago de Compostela / Centro de Linguística,
Universidade do Porto)
Neste trabalho pretendemos descrever e analisar alguns aspetos da scripta de três notários medievais
portugueses, Estevão Mendes, Lourenço Anes, e Pero Pais, que exerceram a sua atividade em Lamego,
Seia, e Terras de Benviver e Sanfins, respetivamente. Para tal, partiremos da edição por nós realizada de
um corpus de documentos notariais, dos quais 41 são escritos «por mão» destes tabeliães. Os documentos analisados são oriundos de diferentes fundos do arquivo Nacional Torre do Tombo, e são datados
entre 1270 e 1285.
Este estudo nasce da constatação de que qualquer edição rigorosa deste tipo de textos depende de
um conhecimento profundo dos usos grafemáticos dos seus diferentes produtores. Por outro lado, uma
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
análise scriptológica pode iluminar o nosso entendimento sobre vários fenómenos do sistema fonético-fonológico medieval (sempre considerando as complexas relações e a independência entre a escrita e
a oralidade, já amplamente sublinhadas por vários autores).
Na apresentação, debruçar-nos-emos especialmente (dadas as limitações de tempo) sobre dois aspetos que têm sido considerados pertinentes na caracterização da scripta medieval portuguesa: a representação do vocalismo nasal e a representação do sistema de sibilantes.
O pretérito perfeito composto em diacronia - uma evolução perfeita?
Martin Becker (Universität zu Köln)
Em português contemporâneo, o Pretérito Perfeito Composto se distingue de maneira sistemática dos
perfeitos nas outras línguas românicas sob vários aspetos:
- Sob um ponto de vista morfológico, o PPC combina o auxiliar «ter» com o particípio, enquanto nas
outras línguas românicas prevalece o auxiliar «haver»;
- Em contraste com os típicos perfeitos de outras línguas, o PPC não admite uma leitura resultativa.
Para expressar o resultado de um evento, os falantes recorrem ao Pretérito Perfeito Simples. Compare-se
o exemplo contrastivo:
(1a) Esp.: Pedro se ha roto la pierna. Le duele mucho.
(1b) Ptg.: O Pedro *tem quebrado/quebrou a perna. Dói-lhe muito.
- Semanticamente, o PPC situa uma série indeterminada de eventos (ou sub-eventos) num intervalo temporal que se estende de um ponto no passado ao momento de fala. Esta semântica particular
se concretiza numa leitura iterativa com verbos dinâmicos e numa interpretação durativa com verbos
estáticos. Compare-se:
(2) Tenho comido neste restaurante (mais de uma vez)
(3) Tem estado muito calor
Contudo, o PPC começa sua trajetória gramatical como uma típica forma de perfeito que se refere
ao estágio resultativo de um evento, tal como no exemplo seguinte, que remonta à primeira metade do
século XV:
(4) (...) per huû estormento que desto tem feito Gonçallo perez taballiam que aqui esta. (CdP,
Fernão Lopes, Cronica de Dom Pedro )
Já no século XVI encontramos o PPC em contextos que impõem uma interpretação plural, ou seja,
as ocorrências de um tipo de evento são múltiplas, como no exemplo (5):
(5) pollos roubos que tem feitos (CdP, Enformação das cousas da China, 1520)
Esta tendência se reforça ainda mais no decurso dos séculos XVI e XVII. Por outro lado, restam, inclusive no século XIX, exemplos na literatura brasileira que atestam a sobrevivência da originária leitura
resultativa do PPC, como no exemplo trazido de Machado de Assis:
(35) (...) não tenho dado as cartas que o banqueiro tem trazido há um mês. (CdP, Machado de
Assis, Luís Soares)
Dadas essas tendências, – em parte díspares – o nosso estudo objetiva pesquisar, com base no Corpus de Ferreira e Davies (Corpus do Português, CdP) as etapas e os princípios de mudança semântica do
PPC entre o século XVI e XIX. Destacamos simultaneamente a relevância primordial de determinados
contextos característicos de de mudança, assim como o papel desempenhado pelos traços acionais (+/estático, +/- têlico e +/- durativo) em cada estágio da evolução linguística.
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Comunicações livres / Comunicacións libres
Descrição e análise sócio-histórica do sistema pronominal
de posse do português falado na Bahia
Matheus Santos Oliveira (Universidade Estadual de Feira de Santana)
Mariana Fagundes de Oliveira (Universidade Estadual de Feira de Santana)
Zenaide de Oliveira Novais Carneiro (Universidade Estadual de Feira de Santana)
Segundo Curtin (1968), 40% dos africanos escravizados (3,6 milhões deles) foram trazidos ao Brasil,
número que supera a quantidade de escravos levados a qualquer outro país das Américas. A importância
linguística desses dados numéricos reside no fato de que, em outros lugares nos quais houve uma história social semelhante, surgiram as chamadas línguas pidgins e crioulas, como no Caribe e no sul dos
Estados Unidos (Guy, 2005). Se, por um lado, não se pode comprovar que o português popular brasileiro
(PPB) seja uma língua crioula, na medida em que não houve, nas palavras de Rougé (2009), uma ruptura
tipológica, ou, nas palavras de Lucchesi (2012), a formação de uma nova gramática qualitativamente distinta da gramática da língua-alvo (português europeu), por outro, é ímprobo acreditar que as semelhanças fonológicas, lexicais e morfossintáticas compartilhadas entre o PPB e as variedades de português em
emergência em Angola e Moçambique, por exemplo, sejam apenas acaso ou resultados de uma deriva
secular (Petter, 2009). O objetivo deste trabalho é discutir em que medida o contato do português com
as línguas africanas e, mais especificamente, a transmissão linguística irregular (Baxter, 1992) foram
importantes para a reestruturação do sistema de expressão de posse no PPB falado em comunidades
rurais do semiárido baiano. Apresentar-se-á o quadro de pronomes possessivos dessas comunidades, em
que se encontram formas analíticas como «de eu», «de nós» e «da gente». Essas formas, provavelmente,
caracterizam-se como resquícios do contato massivo de línguas havido nos períodos colonial e imperial
do Brasil, já que, em línguas reestruturadas por contato, ou mesmo em línguas pidgins e crioulas, percebem-se a perda da morfologia flexional (inclusive a flexão de caso) e a primazia às formas analíticas em
detrimento das formas sintéticas. Ademais, apresentar-se-ão, na perspectiva da Sociolinguística Quantitativa (Weinreich, Labov e Herzog, 2006), os dados da variação «nosso» ~ «da gente», nas comunidades
supracitadas, comparativamente ao estudo do mesmo fenômeno na norma culta de Feira de Santana/
BA, que revelou que, de fato, entre as normas culta e popular, há uma polarização sociolinguística do
português brasileiro (Lucchesi, 2001). Espera-se, com este trabalho, contribuir uma das agendas do
PROHPOR (Programa Para a História do Português Brasileiro): a reconstrução da história do PPB.
Bando que se lançou a respeito dos índios Jucás: edição e contribuição
ao estudo da colonização do Ceará
Miguel Afonso Linhares (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
do Rio Grande do Norte / Universidade Estadual do Ceará)
Expedito Eloísio Ximenes (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
do Rio Grande do Norte / Universidade Estadual do Ceará)
Neste estudo, apresentamos uma edição semidiplomática de um bando que Antônio José Vitoriano
Borges da Fonseca, capitão-mor do Ceará, lançou em 28 de setembro de 1767, pelo qual anunciou que a
aldeia do Jucá, onde os índios jucás foram reduzidos em 1727, passasse a se chamar lugar de Arneiroz,
hoje município. Nele, o autor coloca que a mudança decorreu de uma política pela qual as vilas e lugares
novos não deviam ter «nomes bárbaros», ou seja, de origem indígena, mas nomes das vilas e lugares do
«reino», ou seja, de Portugal. A partir das referências ao contexto histórico que o próprio texto encerra,
empreendemos, então, uma pesquisa com o intuito de responder, ou ao menos discutir, duas perguntas:
qual é a origem desta política e como foi executada, especialmente na capitania do Ceará? Expusemos o
que pudemos apurar em três seções além das considerações iniciais e da edição do documento: considerações codicológicas, diplomáticas e textuais, que além de informarem sobre o estado e a localização
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
do documento, são relevantes por o gênero textual, o bando, estar obsoleto; e considerações históricas,
nas quais procuramos esmiuçar as referências ao contexto histórico contidas no próprio texto, como
subsídio para as respostas às perguntas norteadoras. Nas considerações finais, evidenciamos que compartilhamos do entendimento de que nomear um lugar não é simplesmente referenciar o espaço, mas é
um ato político, imbuído de poder e cultura, atravessado por ideologia(s), que no caso estudado perfez
o espólio do mundo indígena, que começou pela religião.
Infinitivo flexionado num corpus de Português Clássico
Miguel Magalhães (Centro de Linguística, Universidade Nova de Lisboa)
Este trabalho tem como objetivo contribuir para uma melhor compreensão do Infinitivo Flexionado
(InfFlex) em Português Clássico (PCl). Em trabalhos como Martins (2006) e Fiéis & Madeira (2014) observamos que a distribuição do InfFlex se alterou desde o Português Antigo (PA) até ao Português Europeu Contemporâneo (PEC). Algumas estruturas atestadas no PA (como as orações independentes com
valor imperativo/optativo e coordenadas com conjuntivo) desaparecem em PCl, enquanto outras emergem e se mantêm (ou não, por exemplo, construções com verbos aspetuais e de controlo de sujeito) até
ao PEC (orações complemento de verbos declarativos, epistémicos, percetivos e de controlo de objeto).
Para perceber a evolução destas formas, foi constituído um corpus com cerca de 10 textos notariais
(cartas de venda, prazo, doação, entre outros) da 2ª metade do séc. XVII (1650 a 1700). Os documentos
são provenientes de um arquivo e foram, na sua maioria, produzidos no distrito de Braga, no Norte de
Portugal.
Numa primeira análise, este corpus mostra-nos algumas ocorrências já atestadas em PA como as
orações de complemento e adverbiais introduzidas por preposição:
(i) as ditas (…) rogarã asinase por ellas por ellas serem mulheres e nã saberem asinar (CG-7;
1694)
Apesar de algumas construções que surgem em PCl, como a possibilidade de o InfFlex ser coordenado com um DP ou de ser introduzido por determinante, não serem comuns no corpus, observam-se
outras construções que não se encontram atestadas em PA, como as orações complemento de verbos
epistémicos:
(ii) e todas partes [+] testemunhas sam pesoas que [eu+]tabaliam conheco serem os mesmos e
elles reconhecidos hũns dos outros eu? estacio ca[ldei+]ra da ueiga taballiã que [o+] [es+]creuy
(CG-7; 1674).
A nossa análise irá descrever as construções do InfFlex neste corpus e posteriormente enquadrá-las
na diacronia do InfFlex, procurando mostrar as condições que permitiram o seu alargamento a um
maior número de contextos em PEC.
Referências
FIÉIS, A. & A. MADEIRA (2014) O infinitivo flexionado na diacronia do português. In João Veloso et al.
(orgs.) Textos selecionados. XXIX Encontro Nacional da Associação Portuguesa de Linguística,
Porto: APL, pp. 255-264.
MARTINS, A. M. (2006) Aspects of Infinitival Constructions in the History of Portuguese. In R. S. Gess
& D. Arteaga (eds.) Historical Romance Linguistics: Retrospective and Perspectives. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins, pp. 327-355.
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Comunicações livres / Comunicacións libres
A aquisição da escrita em língua portuguesa e suas implicações
na vida de sujeitos surdos
Miriam Maia de Araujo Pereira (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo)
Considerando-se a linguagem como atividade constitutiva do homem (FRANCHI, 2010) – imprescindível para a construção de sua identidade – e a noção de sujeito responsivo (BAKHTIN, 2006), este
trabalho tem como objetivo analisar as condições de letramento do sujeito surdo universitário e sua
relação com a escrita em língua portuguesa; considerando, em adendo, as implicações desse processo
em sua trajetória escolar e acadêmica. Esta pesquisa qualitativa, transversal e de cunho sócio-histórico
prevê estudo de caso de dez sujeitos surdos, graduandos do curso de Letras/Libras da Universidade Federal do Amapá. Para a geração dos dados, serão realizados os seguintes procedimentos: (i) aplicação de
questionários para análise das condições socioeducacionais dos surdos e seus familiares; (ii) realização
de entrevistas com os sujeitos e seus familiares, buscando conhecer a realidade sociocultural dos surdos
e sua inserção em práticas mediadas pela leitura e escrita; e (iii) avaliação da escrita dos surdos, por meio
de produção textual em diferentes gêneros discursivos. O estudo utilizará o método hipotético-dedutivo, no qual as hipóteses inventariadas, a partir da análise dos dados coletados in loco, serão testadas.
A abordagem utilizada para análise dos dados será norteada pelo dialogismo bakhtiniano (BAKHTIN,
2006); pela noção de letramentos múltiplos (ROJO, 2009); e pelo paradigma do bilinguismo (QUADROS, 2012; SACKS, 1998; BOTELHO, 2013), que orienta os estudos sobre língua de sinais como primeira língua para o sujeito surdo e a língua portuguesa, como segunda língua.
E a police prendeu o lobo mal: a influência da leitura midiática na produção
de narrativas infantis
Mônica de Souza Serafim (Universidade Federal do Ceará)
Os textos escritos das crianças representam certamente um rico material a ser estudado. No entanto,
esta riqueza, a fim de ser vista mais precisamente, leva-nos a fazer um recorte, necessário quando se
estuda certo objeto. Sendo assim, neste trabalho escolhe-se um aspecto, dentre tantos, para analisar as
produções textuais das crianças: mostrar a presença da leitura midiática na produção de textos narrativos infantis. Empreenderemos nosso trabalho tendo como aporte teórico as contribuições de Singer
e Singer (1981), Kearney (1988), Derdyk (1990; 2004), Girardello (1998) Gomes-Santos (2003), Greig
(2004) e Serafim (2008). Para realizar este trabalho, utilizaremos o corpus formado pela reescrita do
conto Chapeuzinho Vermelho, composto por vinte e quatro crianças de uma escola particular de classe média da capital cearense, sendo que cada uma produziu quatro versões da mesma história. Essas
crianças tinham, em média 5,9 anos. Quando participaram, no momento inicial da pesquisa, encontravam-se na alfabetização. A esse grupo chamamos Grupo da Alfabetização (GA). Nosso estudo acerca
dessas construções procurou focalizar o desenho e a escrita como um continuum, que não deve ser visto
de forma dicotômica. Esperamos que esta pesquisa tenha contribuído para incentivar os professores a
valorizarem a cultura midiática na constituição da imaginação infantil e nas suas diversas instâncias,
sejam elas escritas ou icônicas. Tais instâncias promovem, acreditamos, o uso de múltiplas linguagens na
escola, como forma de valorização de diversos modos de compreensão e produção textual das crianças.
Sobre a variação do objeto direto anafórico no português e no espanhol:
resultados de um estudo
Niguelme Cardoso Arruda (Instituto Federal de Santa Catarina)
O desenvolvimento de estudos de natureza empírica pressupõe a organização de um corpus representativo que possibilite ao pesquisador sustentar ou refutar suas hipóteses. No caso de um estudo linguístico,
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
essa amostra permitir que seja observado como se comportam linguisticamente os falantes de uma língua (ou de uma variedade linguística). Em estudos norteados pelo modelo teórico-metodológico da Sociolinguística Variacionista, proposto por Weinreich, Labov e Herzog (1968), Labov (1972, 1982,1994,
2001), a base empírica que garantirá ao pesquisador o desenvolvimento de sua investigação se organiza,
prioritariamente, a partir de amostras da língua em sua modalidade falada (principalmente nas já conhecidas entrevistas espontâneas), uma vez que, de acordo com esse modelo teórico-metodológico, é
nessa modalidade de língua que poderão ser observadas as primeiras variações linguísticas. Assim, dada
a natureza descritivo-analítico-comparativa deste estudo, posto que a proposta foi a de investigar um
fenômeno linguístico de natureza sintática (a realização do objeto direto anafórico) no português (brasileiro e europeu) e no espanhol (argentino e europeu), fez-se necessária a organização de corpora que
permitissem, sobretudo, o estabelecimento da comparação entre tais variedades. Por essa razão, a constituição dos corpora tomou como princípio o fato de que os falantes estariam sujeitos a situações semelhantes de produção de fala. Para tanto, foram utilizadas entrevistas dadas em programas de auditório
veiculados por emissoras de televisão de canal aberto, possibilitando o estabelecimento de comparação
entre as variedades linguísticas. Esse contexto de uso da língua em sua modalidade falada permitiu,
ainda, seguindo os passos de Duarte (1989, p. 20), verificar o uso linguístico em um registro de fala que
atinge os países de ponta a ponta, exercendo, simultaneamente, uma força inovadora e normalizadora.
Eu son micromachista: identidades femininas na encrucillada
dos discursos sobre a modernidade
Noemi Basanta Llanes (Instituto da Lingua Galega,
Universidade de Santiago de Compostela)
A finalidade desta comunicación é definir algúns dos procesos de construción das feminidades heterosexuais a través dos discursos que emerxen nun corpus de conversas espontáneas entre amigas. Tomamos como punto de partida os modelos teóricos da construción e da performance que nos permiten
explicar non só como os individuos presentan diferenzas intraxenéricas senón tamén identidades múltiples e contextualmente dependentes (Cameron 2013). Estes estudos argumentan que o xénero non actúa
sobre as persoas de xeito illado senón á par doutras categorías sociais como a raza, a sexualidade, etc.
Neste traballo, exploramos con profundidade os cruces que se estabelecen entre xénero e «modernidade» para amosar como se xeran identidades máis complexas nas que se combinan macro e microcategorías socioculturais. De acordo con Illouz (2012: 9), a construción das loitas de xénero en interacción
permítenos detectar a ambivalencia da modernidade que se reflicte en discursos como o da autenticidade, a autonomía, a igualdade, a liberdade, o compromiso ou a realización persoal.
Mostraremos como a construción dunha identidade de persoa «moderna» constitúe unha das claves
fundamentais para entendermos as identidades de xénero que mostran os individuos do noso corpus.
Analizaremos dúas conversas nas que participan dous grupos de rapazas que presentan perfís sociais
similares con respecto ao lugar de procedencia, nivel de estudos, sexualidade e idade.
Non obstante, aínda que os dous grupos presenten discursos sobre a modernidade nas súas conversas, as ideoloxías serán notabelmente diferentes. Exploramos como estas rapazas se posicionan arredor
dos roles cazador-cazada no esquema de ligue heterosexual para podermos comprender como as identidades femininas se crean e modifican arredor dun tema no que os discursos sociais dominantes son moi
variados e contraditorios, oscilando entre a liberación feminina e/ou novas formas de presión social.
Referencias
CAMERON, Deborah (2003): «Gender and language ideologies», en HOLMES, Janet. / MEYERHOFF,
Miriam (eds.): The handbook of language and gender. Oxford: Blackwell, pp. 447-467
ILLOUZ, Eva (2012): Why love hurts?: A sociological explanation. Cambridge: Polity Press
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Comunicações livres / Comunicacións libres
The historical parenthetical presence of Galician in the Orality-Literacy
Continuum: Cantigas, Sarmiento’s Coloquios and the relationship between
orality and literacy in Galician today.
Obdulia Castro (Regis University)
Ricardo Carballo Calero (1983-84, 13) refers to Galician as a language of jarchas, looking at written
Galician as a representation of orality. Antón Santamarina (2002, 191) talks about Martín Sarmiento’s
view of Galician as a more truthful representation of Latin forms than Portuguese and Spanish referring
to the fact that Galician was not a written language. Today, literacy in Galician seems to be increasing at
the same time the numbers of Galician speakers seem to be decreasing (Castro 2015). This presentation
will explore the historical evolution of the Orality-Literacy continuum in Galician from the Cantigas
seeing as written representation of orality within a standard version of Galician-Portuguese; to Father
Sarmiento’s Coloquios seeing as written representation of orality with the intention of re-creating a
Galician standard; to the not necessarily easy relationship between orality and literacy in contemporary
Galician as Galicians become (or not) bilingual and bi-literate.
References
CASTRO, Obdulia. 2015. «The Orality-Literacy Continuum in Galician: Language Choice, Cultural
Identity, and Language Policy at a Crossroads». Forthcoming in ‘Galiza alén do Atlántico: unha
perspectiva internacional dos Estudos Galegos’ (Galicia across the Atlantic: An International
Perspective of Galician Studies) co-edited by Olga CASTRO and María LIÑEIRA. Asociación
Internacional de Estudios Galegos (International Association of Galician Studies, and Consello
da Cultura Galega (Council of Galician Culture).
CARBALLO Calero, Ricardo. (1983-84). Diálogos gallegos de tradición renacentista (1810-1837). Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes, 2006. Anuario de la Sociedad Española de Literatura General y Comparada, Vol. V (Año 1983-84), pp.13-21
SANTAMARINA, Antón. 2002. Sarmiento e a lexicografía galega. Boletín Da Real Academia Galega
nº 363 - (pp.189-199) <http://academia.gal/boletins#http://academia.gal/imaxin-boletins-web/
paxinas.do?id=3344>
Hiperenunciador e graus de comprometimento em notícias de jornal
Otávia Marques de Farias (Universidade da Integração Internacional
da Lusofonia Afro-Brasileira)
Ricardo Lopes Leite (Universidade Federal do Ceará)
Neste trabalho, examinamos os diferentes níveis de comprometimento do enunciador com relação aos
conteúdos por ele enunciados. Para isso, tomamos como base o conceito de hiperenunciador, proposto
por Maingueneau (2006). O autor, em seu «Cenas da enunciação», define hiperenunciador como aquele
«cuja autoridade garante menos a verdade do enunciado [...] e mais amplamente sua ‘validade’, sua adequação aos valores, aos fundamentos de uma coletividade (MAINGUENEAU, 2006, p. 93). Analisamos
notícias de três jornais publicados no estado do Ceará, localizado na região nordeste do Brasil: «Jornal
O Povo», «Diário do Nordeste» e «Tribuna do Ceará», em edições dos anos de 2014 e 2015. As notícias
investigadas foram aquelas associadas a problemas da população que devem ser resolvidos pelo poder
público e também as que dizem respeito à corrupção na política. Focamos nossa atenção, então, nas falas
dos representantes do poder público, convocados a dar voz às instituições governamentais responsáveis.
O exame realizado pautou-se pela busca de relações entre as formulações utilizadas e os graus de comprometimento demonstrados pelo enunciador. Analisando tais enunciados, constatamos repetições e
regularidades nas estratégias enunciativas mobilizadas pelos vários enunciadores, de modo que, quanto
mais padronizadas as formulações, mais elas apontam para a existência de um hiperenunciador. Essas
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
formulações, por se constituírem como enunciados socialmente estereotipados, favorecem a isenção do
enunciador com relação ao que enuncia, ainda que sejam percebidos expedientes que buscam o parecer de um falar engajado. Nesse sentido, paradoxalmente, observamos que, quanto mais o enunciador
imprime determinadas marcas linguísticas tradicionalmente associadas à expressão de subjetividade no
enunciado, como, por exemplo, o uso da primeira pessoa do plural, menos se apresenta como responsável pela ação de interesse coletivo para a qual aponta.
Gallaeciae Monumenta Historica:
unha ferramenta de acceso ás fontes medievais
Paula Bouzas Rosende (Universidade Georg August - Göttingen)
Manuel Gago (Consello da Cultura Galega)
Gallaeciae Monumenta Historica (GMH, gmh.consellodacultura.gal) é un dos proxectos estratéxicos do
Consello da Cultura Galega para a posta en valor da lingua, a cultura e o patrimonio cultural de Galicia.
O obxectivo é prestar un servizo o máis amplo posible —cronolóxica, conceptual e territorialmente—
para quen queira investigar, desde diferentes puntos de vista e disciplinas, a historia medieval galega.
Este repositorio documental contén, nunha primeira fase, a dixitalización das publicacións de textos medievais realizadas polo CCG nas últimas décadas, que forman xa unha rica colección; en fases
posteriores irá incorporando anualmente máis materiais e fontes, xa editadas, aínda inéditas ou lidas
expresamente para o proxecto. A tal efecto, unha comisión técnica elaborou unhas orientacións para a
edición e transcrición de documentos, nun punto de encontro entre filólogos, historiadores e paleógrafos, que pretenden ser unha guía para os editores. A estrutura do repositorio GMH está organizada de
forma que se poida acceder ás fontes na súa integridade, mais estas son tratadas de acordo cunha serie de
normas que permiten caracterizar cada documento desde múltiples puntos de vista; xérase así un corpus
de metadatos que facilita a exploración horizontal dos documentos e o seguimento de materias, lugares
e persoas ao longo dunha ou varias coleccións dispersas no tempo.
Acompáñase dun centro de recursos de acceso libre, integrado por estudos particulares encargados
a especialistas na materia, por textos de referencia (de acceso directo sempre que sexa posible) e de
ligazóns a outros repositorios, bibliotecas dixitais, corpora e revistas científicas.
As glosas galegas do «Fuero Real» alfonsí contido
no ms. 710 da Biblioteca Nacional
Paula Bouzas Rosende (Universidade Georg August - Göttingen)
Ricardo Pichel Gotérrez (Instituto da Lingua Galega,
Universidade de Santiago de Compostela)
O ms. 710 da Biblioteca Nacional de España transmite un valioso testemuño para a historia da recepción
do dereito romano na Península Ibérica (Kabatek 2007). Trátase dun testemuño que contén unha versión do «Fuero Real» alfonsí no que tamén se integra un numeroso conxunto de glosas que o relacionan
con outros textos xurídicos como o «Fuero Juzgo» (unha das súas fontes), as «Partidas» ou o «Ordenamiento de Alcalá». As ditas glosas foron editadas, en parte, por Joaquín Cerdá a mediados do século
pasado e entre elas, como ben sinala Kabatek (id.), existe unha serie que foi redactada en galego e que
aparece castelanizada na versión publicada polo editor.
Este conxunto significativo de apuntamentos marxinais acrecentados no códice son da autoría dun
notario tudense chamado Vasco Lourenzo, quen demostra un gran coñecemento xurídico e, nomeadamente, da materia transmitida neste manuscrito, toda vez que a súas constantes intervencións como
marginalia teñen a función de metatexto orientador da lectura (id. 2007): na súa meirande parte trátase
de indicacións que comentan a lectura, introducen referencias a outros textos, resumen a modo de
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Comunicações livres / Comunicacións libres
epígrafe o contido máis relevante dalgunhas pasaxes e mesmo nalgúns casos vinculan algúns dos items
legais cos casos particulares coñecidos polo propio glosador. A súa función metatextual explica o feito
de que nelas se recollan algúns elementos gráficos ou lingüísticos do texto glosado e se manifesten, xa
que logo, interesantes fenómenos de interferencia. Estes fenómenos, no entanto, non deixan de ser esporádicos e dificilmente poden cuestionar o carácter lingüisticamente galego dos textos, entre os cales
se atopan exemplos coma os seguintes:
- Iten uayte ao teisto con sua grosa
- Como quando a moler de seu marido uende sua herdade
- O que se chama forçado ha de provar como era teedor e como foi forçado
- Delos que çaran as carreyras e los rios e las ortas
- Vaite ao outro meu foro das leys enno liuro iiiio e hi o falaras
- Con esta ley concorda o ordinamento d’Alcala enno postrumeiro coderno
Porén, non só se trata de intervencións consistentes en glosar o texto principal. O glosador, ademais,
introduce no corpo do texto novas seccións –aínda pouco estudadas e, en parte, descoñecidas– que o
completan. No presente traballo pretendemos realizar unha transcrición e estudo lingüístico tanto das
glosas metatextuais coma dos capítulos engadidos (sen esquecer os elementos referenciais do manuscrito: títulos, rúbricas, etc.). Na análise lingüística centrarémonos nos aspectos característicos que permitan situar os textos nun determinado estadio do proceso de cambio lingüístico, adicándolle especial
atención á aparición de posibles interferencias, co obxectivo de analizar o seu funcionamento e propor
algúns criterios de clasificación. Finalmente, alén de presentarmos a edición dos (para)textos, ofreceremos unha sucinta descrición do códice e apuntaremos algunhas hipóteses a respecto da identidade do
autor das glosas e as coordenadas espazo-temporais no que se sitúa.
Referencias
CERDÁ, Joaquín (1951-2): «Las glosas de Arias de Balboa al Fuero Real de Castilla». In: Anuario de
Historia del Derecho Español 21-22, 731-739.
KABATEK, Johannes (2007): «Muyto he boa grosa: O Renacemento boloñés, a elaboración das linguas
románicas e a emerxencia do galego escrito». In: BOULLÓN AGRELO, Ana Isabel: Na nosa
lyngoage galega. A emerxencia do galego como lingua escrita na Idade Media, Santiago de
Compostela, Consello da Cultura / ILG, 21-36.
A comunicação dos portugueses com as populações africana, asiática(s)
e brasileira, aquando da época dos descobrimentos / «achamentos»
Paula Isabel Querido (Universidade de Vigo)
Neste ensaio, dá-se destaque à expansão da língua portuguesa a par com a descoberta de novos mundos,
enfatizando-se os tipos de comunicação adotados pelos mareantes, que desbravaram mares e continentes mal conhecidos dos europeus.
No ponto 1, numa pequena resenha, aborda-se o que e como foram os primeiros contactos linguísticos entre gentes, ou civilizações, que quase nada tinham em comum, mormente nas línguas faladas.
No ponto 2, para além da expansão da língua portuguesa, dá-se destaque a uma língua em formação
– ou meia-língua – a aljamia, base de entendimento entre cristãos e moiros, ao papel dos intérpretes, e
ao aparecimento dos pidgins.
No ponto 3, destaca-se a mudança brusca acontecida na comunicação verbal após a passagem do
cabo Bojador, a necessidade de ‘escolarização’ de intérpretes nativos das regiões encontradas, e, sobretudo, as dificuldades acontecidas na competição entre a língua portuguesa e as asiáticas.
No ponto 4, fala-se na posição, mais difícil, dos contactos entre os portugueses e os povos das terras
de Santa Cruz (Brasil), gentes de muitas línguas.
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
No ponto 5, dá-se ênfase à utilização dos línguas, cuja preparação cuidadosa, apoiada pela realeza,
supria as deficiências dos primeiros contactos com povos de outras crenças e de outras culturas, bem
como à atuação e ao apoio das ordens religiosas, com especial realce para a dos jesuítas, e, ainda, aos
simples contactos e intercomunicação com os mercadores entregues à vida de lucros, e aos aventureiros
à procura de emoções novas.
PALAVRAS-CHAVE: Descobertas; língua portuguesa; comunicação; línguas; contactos; intérpretes;
ensino; escolas; África; Ásia; Brasil.
Mulher de vida fácil, mulher baixa, mulher barata...: o tabu linguístico
e o processo de lexicalização referente ao conceito profissional
do sexo no português falado no Maranhão
Paulo Gabriel Calvet Ribeiro (Universidade Federal do Maranhão)
Um estudo preliminar sobre o tabu linguístico e o processo de lexicalização referente à lexia prostituta
no português falado no Maranhão. Ribeiro (2013) comprova a existência de um tabu linguístico que
perpassa o conceito ‘profissional do sexo’ nas cinco messorregiões que formam o estado do Maranhão.
Relaciona-se a existência desse tabu com o processo de criação de palavras, uma vez que os falantes
tendem a desenvolver mecanismos de fuga da utilização de palavras/ expressões tabuizadas, dos quais se
destaca o conceito de lexicalização proposto por Almeida e Correia (2012), que definem este processo
como o resultado da lexicalização de unidades discursivas. Para realização deste trabalho inicial, realizou-se, na primeira etapa, pesquisas bibliográficas em livros, dicionários especializados, teses, dissertações, artigos científicos, sobre os temas: prostituição, tabu linguístico, sexo, sexualidade, processo de
formação de palavras. A segunda etapa consistiu na delimitação e seleção do corpus, que foi extraído do
banco de dados do Projeto Atlas Linguístico do Maranhão (ALiMA), referente aos municípios que compõem a rede de pontos do Projeto. O corpus do ALiMA é obtido por meio de aplicação de questionários
a quatro informantes por localidade, exceto na capital do Estado, São Luís – em que foram considerados
oito informantes, dos quais quatro apresentam nível superior –, divididos igualmente pelos dois sexos
e por duas faixas etárias – 18 a 30 anos, faixa etária I, e 50 a 65 anos, faixa etária II –, sendo os informantes naturais das localidades investigadas. Foram selecionadas as respostas dadas pelos informantes
à pergunta de número 139 do questionário semântico-lexical do ALiMA – «como se chama a mulher
que se vende para qualquer homem?», que nos possibilita analisar a tabuização da palavra prostituta,
bem como os processos utilizados para a formação de novas palavras. Quando se analisam as respostas
fornecidas pelos informantes, nota-se que o processo de lexicalização representa um recurso recorrente
entre os falantes. A utilização desse recurso é norteada pela relação léxico-sociedade-cultura e demonstra a fluidez e dinamicidade do português falado no Maranhão.
Edición de coleccións diplomáticas: o caso dos documentos en pergamiño
de Santa Comba de Naves
Pedro Dono López (Universidade do Minho)
A responsabilidade pola edición de coleccións documentais, no contexto galego, recaiu historicamente
nos historiadores, que ao tempo que permitían o acceso a documentos de extraordinario valor para a
historia da lingua, tamén incorporaban eivas que non permitían o seu uso con fins lingüísticos (ou si
o permitían adoptando moitas cautelas). A incorporación máis ou menos recente de filólogos galegos
a estes labores implicaron que o foco do interesse se coloque sobre a dimensión lingüística dos documentos, desatendendo nalgunha medida outras dimensións do instrumento (diplomática, histórica,
arquivística,...). Atender a esas diferentes dimensións dos diplomas medievais foi o que nos propuxemos
ao abordar a edición da colección de pergamiños do mosteiro de Santa Comba de Naves como tese de
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Comunicações livres / Comunicacións libres
doutoramento, baixo a dirección do profesor Ramón Lorenzo. No momento de revisar e ampliar coa documentación non pergamiñácea a colección documental, propoñémonos reflexionar sobre a proposta
editorial coa que abordamos a edición dos documentos. Para unha cabal comprensión dos textos, non
se podería descoidar un coñecemento sólido da historia do mosteiro, das vicisitudes que experimentou
a súa colección documental, dos redactores dos pergamiños,... Tamén é o momento de volver sobre algunhas opcións editoriais que deben ser reconsiderads despois de ter analizado com máis vagar algúns
aspectos da escrita dos documentos.
Aglutinação e deglutinação do artigo como fonte
de neologismos em português
Przemysław Dębowiak (Universidade Jaguelónica de Cracóvia)
Na área da morfologia derivacional, a tradição gramatical portuguesa distingue alguns processos mais ou
menos produtivos tanto na diacronia, como na sincronia. Trata-se sobretudo de derivação afixal (sufixal
e prefixal), derivação regressiva, derivação imprópria e composição (por aglutinação e justaposição).
O processo que queríamos examinar mais detalhadamente na presente comunicação não foi estudado na literatura linguística portuguesa e não tem nome específico. Trata-se de uma reinterpretação, a
nível fonético, dos sintagmas nominais, constituídos por um substantivo ora precedido ora não de um
artigo. Dessa reinterpretação resulta uma nova segmentação das sequências em questão, dando assim
origem a neologismos.
Se calhar, o fenómeno mencionado consistiu mais frequentemente numa perda do a- ou do o- inicial
do substantivo, por serem consideradas essas vogais como artigos definidos (esquematicamente: substantivo 1 > artigo + substantivo 2), p.ex. abodega (do lat. apothēcam) > a bodega, avante (do advérbio
avante) > a vante.
No entanto, também é possível a direção inversa, ou seja, o artigo inteiro (ou uma parte dele, no
caso do artigo indefinido uma) junta-se ao substantivo (artigo + substantivo 1 > substantivo 2), p.ex. a
bóbada (do lat. vŏlvĭtam) > abóbada, a mora (do lat. mōram) > amora, uma teiró (diminutivo de teira)
> o mateiró.
Verificar-se-á qual das duas direções prevalece quantitativamente no corpus estudado, constituído
sobretudo a partir do Dicionário etimológico da língua portuguesa de Antônio Geraldo da Cunha.
Um dos objetivos da comunicação será também questionar-se sobre designações possíveis do processo estudado (aglutinação / deglutinação? falsa demarcação? segmentação errónea?).
Não se levarão em consideração as palavras de origem árabe com artigo incorporado aquando da
passagem para o português (açúcar, almofada, almofariz, arroio, etc.), sendo este um processo já investigado e comummente conhecido. Concentrar-nos-emos nas palavras do antigo fundo latino, bem como
no vocabulário de importação estrangeira que entrou no léxico português nas épocas posteriores, p.ex.
abadejo (do esp. abadejo) > *a badejo, o badejo, avanguarda (do fr. avant-garde) > a vanguarda.
A variação diacrônica e sincrônica das formas possessivas
de segunda pessoa do singular: teu/seu
Rachel de Oliveira Pereira (Universidade Federal do Rio de Janeiro)
O presente estudo objetiva analisar a variação existente entre as formas simples de pronomes possessivos
de segunda pessoa do singular, isto é, teu/tua/seu/sua, diacrônica e sincronicamente, no português brasileiro, buscando explicar o que motiva tal variação e observar se as duas formas possessivas de segunda
pessoa possuem comportamento diferenciado uma da outra.
Para a realização deste trabalho, pretende-se realizar duas etapas distintas de análise da variação
possessiva. Primeiro, será realizado um estudo de longa duração (1870 a 1980), com base em cartas pessoais, verificando os contextos linguísticos e extralinguísticos que influenciam na variação entre os pro- 244 -
Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
nomes possessivos referentes à segunda pessoa. Em um segundo momento, analisar-se-á a distribuição
das formas possessivas na atual sincronia a partir da análise de esquetes do canal «Porta dos Fundos».
Para tanto, a análise quantitativa e qualitativa dos dados baseia-se nos pressupostos da sociolinguística
variacionista (LABOV, 1994; WEINREICH, HERZOG & LABOV, 1968). Além disso, na análise dos
pronomes possessivos serão observadas também as situações comunicativas em que os pronomes estão
inseridos, observando as relações de poder na ótica da teoria de Poder e Solidariedade proposta por
Brown e Gilman (1960).
Assim sendo, o presente estudo possui duas hipóteses norteadoras. A primeira é a de que a forma
você é um fator condicionante para o emprego de seu como forma possessiva de segunda pessoa. Assim,
acredita-se que o pronome possessivo acompanhou a utilização do sujeito até ter seu uso generalizado.
A outra hipótese que orienta o estudo é a de que o pronome possessivo de segunda pessoa seu/sua
é extremamente dependente do contexto comunicativo em que ele está inserido. Desse modo, ora ele
pode ser usado como um pronome possessivo que denota intimidade entre os interlocutores; ora distanciamento entre os mesmos e ora pode ser uma estratégia que auxilia na indeterminação do sujeito.
Dessa forma, faz-se necessário um estudo mais aprofundado sobre a variação existente entre as formas
possessivas de segunda pessoa do singular.
Acredita-se que os resultados apontarão, diacronicamente, que o possessivo seu acompanha a entrada da forma você no sistema pronominal do português brasileiro. Na sincronia, acredita-se que o
emprego se seu será mais frequente, podendo-se observar que a forma possessiva possessiva possui
comportamento polifuncional, a depender do contexto comunicativo.
Temporalidade em Frases Completivas Infinitivas num corpus
de Português Medieval
Raquel Mendes da Silva Oliveira (Centro de Linguística,
Universidade Nova de Lisboa)
O objetivo deste trabalho é, partindo da análise da estrutura de Frases Completivas Infinitivas (FCIs)
em Português Medieval (PM), contribuir para o estudo comparativo das mesmas neste período relativamente ao que acontece em Português Europeu Contemporâneo (PEC).
Para o estudo dessas frases no PM (CIPM - séc. XII a XVI), partimos da análise de Silvano (2002)
para o PEC, selecionando para análise o mesmo conjunto de verbos introdutores: declarativos (afirmar,
dizer), epistémicos (considerar, pensar) e volitivos (desejar, querer).
O estudo das relações temporais presentes em FCIs constituirá o âmago desta análise, nomeadamente as relações temporais que se estabelecem entre o verbo da oração principal e o verbo da oração
subordinada.
Pretendemos ainda averiguar em que medida as relações temporais neste contexto são afetadas por
outros fatores, tais como o tipo de verbo principal e as suas propriedades de seleção, a possibilidade de
o infinitivo ser simples ou composto, flexionado ou não flexionado, o tempo e modo do verbo da oração
principal, tipo de sujeito da oração subordinada e, por fim, a existência ou não de correferência entre os
sujeitos das duas orações.
Importa referir que, num total de 1186 ocorrências nestes contextos, o verbo querer é o verbo principal mais frequente, sendo responsável por 96,46% das ocorrências destacando-se claramente de todos
os outros.
Também na distribuição dos tempos verbais é visível o desequilíbrio entre os tempos mais recorrentes (Futuro do Conjuntivo, com 455 ocorrências, e o Presente do Indicativo, com 394 ocorrências) e
todos os restantes, que totalizam 337 ocorrências.
Numa primeira análise aos dados obtidos, o Infinitivo da subordinada parece comportar alguns
traços de temporalidade, tanto de posterioridade como de simultaneidade, sem relação aparente com os
fatores referidos acima:
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Comunicações livres / Comunicacións libres
(1) Todo vassallo despoys que se espidir de seu senor e non lhy quis(er) tornar as armas nen os
caualos q(ue) del ouue, possao [o] senor retar polhas lorigas. [1280? FR]
(2) E porem com estas tres joyas se diz per razoada figura seermos tentados e muytos enganados
[LC 1437/1438]
Referências
CIPM – Corpus Informatizado do Português Medieval: http://cipm.fcsh.unl.pt/
SILVANO, P. 2002. Sobre a semântica da sequência de tempos em Português europeu. Análise das relações temporais em frases complexas com completivas, Dissertação de Mestrado, Universidade
do Minho
A necessidade de uma edição crítica das Memórias para a História
da Capitania de São Vicente», de Frei Gaspar da Madre de Deus
Renata Ferreira Costa (Universidade Federal de Sergipe)
Frei Gaspar da Madre de Deus trabalhou intensamente até avançada idade e possuía diversos manuscritos, mas até 1797 ainda não havia publicado nada, por isso, Diogo de Toledo Lara e Ordonhes, ouvidor
em Cuiabá e eleito, em 1795, sócio correspondente da Academia Real de Ciências de Lisboa, seu amigo,
apresentou, no mesmo ano de sua eleição, os manuscritos dos dois primeiros livros de «Fundação da Capitania de São Vicente e acçoens de Martim Affonso de Souza no Brazil» ao exame da Academia. A obra
foi aceita para a publicação e, após algumas modificações formais exigidas pela instituição, em especial
a alteração do seu título para «Memórias para a História da Capitania de São Vicente, hoje chamada de
São Paulo do Estado do Brasil», foi impressa em 1797, configurando-se como obra de referência para a
história colonial brasileira. Do exame do manuscrito original que serviu para a publicação das Memórias, depositado na Academia de Ciências de Lisboa, evidenciam-se supressões de palavras, enunciados
e até parágrafos inteiros, além de diversas emendas inseridas por outro punho, que se confirmou ser de
Diogo Ordonhes. Considerando que muito provavelmente Frei Gaspar não teve acesso a essas modificações, o que se conhece atualmente de suas Memórias não é exatamente o que o autor planejou levar
a público. Desta forma, justifica-se a necessidade de estudo da tradição manuscrita e impressa da obra,
com apurada análise do manuscrito de imprensa em contraste com sua edição princeps, obtendo como
resultado uma edição crítica, que, além da preservação de dados da história do Brasil, trará a pesquisadores e ao público em geral a genuinidade do texto de Frei Gaspar, permitindo, inclusive, conhecer
aspectos de nossa história alterados ou ocultados pelas emendas inseridas.
O léxico proibido na produção dramatúrgica baiana
nos bastidores da censura
Rosa Borges (Universidade Federal da Bahia)
No campo da Filologia, o texto, atualizado pela Crítica Textual, por meio das práticas editoriais adequadas a cada situação textual encontrada, é um produto cultural carregado de significação e, desta forma,
torna-se um caminho para estudar diferentes relações, como língua e cultura, língua e poder, língua e
ideologia. Os textos teatrais censurados, produzidos na Bahia (Brasil) no período da ditadura militar,
são nosso objeto de investigação e de edição. A censura, política, social, moral ou religiosa, baseia-se em
princípios enfeixados em uma ideologia que orienta a sua ação fiscalizadora e repressora e se evidencia
através dos gestos de leitura de seus técnicos nos textos submetidos ao exame censório. Conciliando os
estudos filológicos e lexicológicos, recortam-se, para estudo crítico, cortes em textos teatrais censurados
como chaves de leitura para o que representou a ditadura na Bahia (Brasil) naquele período de repressão. A produção dramatúrgica baiana, durante o regime militar, era encaminhada à Divisão de Censura
de Diversões Públicas (DCDP) do Departamento de Polícia Federal (DPF), em Brasília, de onde eram
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emitidos os pareceres e certificados de censura, conforme julgamento dos censores. Nesses documentos, textos (em três vias), pareceres e certificados de censura, vozes dos sujeitos censores se manifestam,
sobretudo a partir dos carimbos com a inscrição CORTE, COM CORTE ou CORTES e COM CORTES.
Informações relativas à prática censória são obtidas também em matérias veiculadas na imprensa baiana e em entrevistas concedidas aos integrantes do Grupo de Pesquisa. Logo, interessa considerar dois
processos, o da produção e o da recepção dos textos teatrais censurados, e os agentes envolvidos em tais
processos. Far-se-á, pois, nesta comunicação, breve incursão acerca do campo lexical da censura, com
destaque para palavras e expressões julgadas grosseiras, vulgares e obscenas, assim definidas em função
de uma cultura, de uma época e de um lugar.
As reformas ortográficas - um estudo sociolinguístico comparativo
Sabine Albrecht (Universidade Friedrich Schiller)
A pesquisa vai comentar e exemplificar a relação entre a mudança linguística e as reformas da norma
padrão sob as condições da sociedade da informação que avança de um modo acelerado em todas as
esferas. Um ponto de partida relevante desta comunicação é o processo da codificação do galego no qual
os dois pesquisadores homenageados, Ramón Lorenzo e Antón Santamarina, participaram ativamente
e com grandes méritos.
A norma padrão de consenso do galego reformada e aprovada em 2003, que substituiu a primeira
edição das Normas de 1982 (NOMIG), serve, neste contexto, de exemplo como uma língua pequena, e
até 1982 não codificada, tem de adaptar-se às condições atuais para otimizar o seu valor de uso devido
às questões político-linguísticas.
O galego não é um caso isolado, já que línguas universais como, por exemplo, o português, o espanhol ou o alemão levaram a cabo mudanças normativas, sobretudo, reformas ortográficas, transnacionais
num passado recente para adaptar e estandardizar o corpo linguístico às condições alteradas de comunicação.
O acordo, o reconhecimento e a realização de reformas linguísticas é um processo que depende
de diversos interesses. A tendência observada para adaptações e correções normativas, exemplifica, ao
mesmo tempo, a mudança linguística num mundo globalizado.
A mudança linguística introduzida pela normalização da língua escrita quer superar, através da
estandardização das grafias, a perspectiva local. Esta intenção deu resultado na Espanha em 1492 com
Antonio de Nebrija. De modo semelhante, o português conseguiu com êxito desenvolver a sua fixação normativa graças aos trabalhos de Fernão de Oliveira em 1536 e de João de Barros em 1540. Ao
contrário das duas línguas vizinhas, os esforços normativos para estandardizar o galego começaram
somente na segunda metade do século XIX.
No decorrer das últimas décadas pode se notar, simultaneamente, os esforços normativos tanto para
o galego entre 1995 e 2003 como também para o português (1995-2008), o espanhol (1999-2010) e assim
mesmo para o alemão (1996-2007). Embora estas reformas, que se dedicam especialmente, à ortografia,
mas também às questões morfológicas e lexicais nas línguas referidas sejam bem diferentes entre si,
esclarecem, no entanto, que mudou a importância cultural da grafia na comunicação internacional, e
portanto, a ortografia requer tratamento linguístico otimizado.
O tratamento entre pais e filhos em Salvador
Sandra Carneiro de Oliveira (Instituto Federal de Educação, Ciência
e Tecnologia da Bahia / Universidade Federal da Bahia)
Tem-se como objetivos identificar as formas de tratamento destinadas aos pais em Salvador, as atitudes
dos falantes e fatores determinantes. Para tal foi constituído um corpus com 49 entrevistas realizadas
com homens e mulheres soteropolitanos de 11 a 88 anos, representantes de 16 famílias residentes em
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Comunicações livres / Comunicacións libres
diferentes bairros da cidade, de diferentes níveis socioeconômicos. A metodologia empregada é descritivista e segue os pressupostos da Sociolinguística Interacional e Variacionista. Como principais resultados tem-se: As principais formas nominais dirigidas aos pais em Salvador atualmente são meu pai/
minha mãe e pai/mãe, alternadas, e painho/mainha. Outras formas, como paizinho, mãezinha, doutor +
nome ou apelido, seu + nome ou apelido, dona + nome ou apelido, coroa para pai e mãe, velho, véio, véa,
mamãe e apelidos diversos são utilizadas como «secundárias». Observou-se diferença significativa entre
as atitudes dos falantes em relação ao tratamento nominal e pronominal: a maioria dos pais se importa
muito com o pronome com que são tratados pelos filhos (especialmente nas famílias que concebem o
senhor/a senhora como tratamento respeitoso) e, geralmente, aceitam bem as escolhas dos filhos para os
tratamentos nominais. As atitudes mais comuns quanto às formas pronominais são: a) você é para «os
novos» e o senhor/a senhora para os mais velhos; b) Você aproxima as pessoas, é informal, impessoal,
simplifica a relação, iguala as pessoas, «quebra» barreiras, deixa o outro à vontade; é mais amigável; é tratamento de intimidade e amizade; c) O senhor/a senhora é muito formal; imprime respeito; impõe respeito e limite; demarca autoridade e hierarquia; denota e impõe distanciamento; impõe barreira entre as
pessoas. A maioria dos participantes prefere ouvir você de outras pessoas, por/para não se sentir velho,
e o senhor/a senhora dos filhos, por uma questão de respeito. Predomina o senhor/a senhora para tratar
os pais, ao lado de você, restrito a contextos específicos. A manutenção de o senhor/a senhora deve-se
à tradição passada de geração a geração, por conta de atitudes dos pais como: ensinar, orientar, corrigir,
exigir e impor o tratamento formal. São fatores que orientam as escolhas das formas de tratamento destinadas aos pais, sua manutenção ou mudança: as atitudes dos falantes, os contextos de uso/interação, as
convenções familiares, o (não)convívio entre gerações, gênero/sexo e gerações e fases da vida.
Diacronia valencial de verbos pronominais no português
dos séculos XVIII, XIX e XX
Shirley de Sousa Pereira (Universidade Federal do Rio Grande do Norte)
As mudanças da valência verbal em esquemas actanciais de transitividade, intransitividade e pronominalização encontram-se diretamente relacionadas entre si, na medida em que a passagem de um
esquema transitivo a outro intransitivo pressupõe invariavelmente um processo de pronominalização.
No entanto, observa-se que certos verbos em português não passam necessariamente de um esquema
transitivo a outro intransitivo pronominal de forma fixa, mas podem alternar entre um esquema intransitivo não pronominal e outro pronominal, chegando inclusive, a empregar-se mais frequentemente no
esquema não pronominal: casar(se), levantar(se), rir(se), sentar(se). Nesse sentido, este trabalho pretende identificar e classificar, em diferentes cortes diacrônicos, verbos que apresentam esquema actancial
alternante quanto ao seu emprego pronominal no português brasileiro em corpora históricos. Concretamente, utilizaremos textos escritos dos séculos XVIII, XIX e XX, com o intuito de traçar tendências do
seu percurso evolutivo. Para a análise das alternâncias dos esquemas de construção sintáctico-semânticos, utilizaremos, entre outros, o estudo sobre valências verbais proposto por Perini (2008), no qual as
diáteses assumem um papel central e bastante específico.
PALAVRAS-CHAVE: Verbo pronominal; português; diacronia; mudança valencial.
Concordância verbal, saliência fônica e formação do português brasileiro
Silvana Silva de Farias Araujo (Universidade Estadual de Feira de Santana)
Desde o pioneiro trabalho de Lemle e Naro (1977), as análises sociolinguísticas realizadas sobre a concordância verbal no português brasileiro (PB) vêm investigando os efeitos da saliência fônica no uso
variável das formas verbais. As postulações já feitas em torno do assunto vão desde as que sustentam
que as flexões de número no PB caminham para o desaparecimento, sendo os contextos de resistência
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
os mais salientes no nível fônico (a exemplo de: está~estão; veio~vieram; comeu~comeram; é~são), a
até as que asseveram que as marcas de plural preservam-se mais nos contextos mais salientes, por essas
serem adquiridas mais facilmente em variedades em processo de descrioulização (GUY, 1981, 1989). No
âmbito dessas discussões, este estudo focaliza os resultados quantitativos e qualitativos acerca da variável saliência fônica em formas verbais de primeira e terceira pessoa do plural. Tomou-se como dados
ocorrências levantadas em 48 entrevistas sociolinguísticas pertencentes ao banco de dados do Projeto A
língua portuguesa do semiárido baiano – Fase 3 (). Os resultados obtidos, após a investigação realizada
com subamostras com diferentes perfis gravadas no município de Feira de Santana-Ba, demonstraram
que as variedades linguísticas mais diretamente afetadas pelo contato entre línguas na sócio-história
brasileira, bem como pelo processo de exclusão social a que estiveram submetidos os seus usuários –
utentes da norma popular –, são as que mais evidenciam uma atuação proeminente da variável saliência
fônica. Já no que concerne ao corpus da fala culta, os resultados não evidenciaram uma relação entre o
uso da variante padrão e uma maior diferença fônica entre a forma no singular e no plural. Esses resultados foram interpretados como representativos de duas histórias sociolinguísticas distintas, a saber, a do
português popular brasileiro e a do português culto brasileiro. Para essa interpretação foi fundamental
considerar o conceito de estereótipo sociolinguístico (LABOV, 2008 [1972]), bem como alguns dados
sócio-históricos acerca da formação do PB.
O discurso literário no texto original e na tradução
Solange Peixe Pinheiro de Carvalho (Universidade Federal de São Carlos /
Universidade Nova de Lisboa)
Em «A questão da linguagem literária» (2006), Maingueneau apresenta a divisão do que se considera
convencionalmente como língua em polos opostos: o uso prestigioso, associado ao estudo e às normas vs.
a diversidade de usos de menor prestígio, e acrescenta que essa divisão não é um «lamentável acidente».
As obras literárias consideradas canônicas, consequentemente, teriam de ser escritas na forma de maior
prestígio, pois, na concepção geral, a linguagem literária se afasta de um uso mais corriqueiro, poder-seia dizer informal, característico da população que teve menos acesso aos estudos.
Embora essa concepção dicotômica da linguagem literária predomine na cultura ocidental, se encontram exceções nas literaturas europeias. Na Itália, país caracterizado pela diversidade linguística,
obras escritas em dialeto são publicadas desde o século XV (Coletti, 2000), tendo tido destaque no século XX com a produção de Gadda e D’Arrigo, entre outros. No final do século XX, houve um recrudescimento do interesse pelo assunto com a publicação dos romances de Andrea Camilleri. A obra do autor
se caracteriza pela mistura do siciliano ao italiano, uma língua híbrida de que ele lança mão para retratar
a diversidade social e cultural da Sicília nos últimos séculos. O uso dessa linguagem, encontrada não só
nos diálogos, mas também na voz do narrador, favorece a ideia da oralidade no texto literário: o coloquial elaborado (Preti, apud Urbano, 2000), ou seja, a introdução de certos elementos linguísticos que
levarão o leitor a sentir que está lendo uma língua bastante semelhante àquela utilizada pelas pessoas de
sua comunidade na vida quotidiana, bem como salienta a visão do Outro, o ser siciliano em oposição
a ser italiano, definido por Charaudeau (2014) como princípio da alteridade. Nos romances, regras de
interação social (hierarquia, pertencimento e exclusão) caracterizam os diálogos entre as personagens;
contudo, a relação de exclusão/inclusão se perde nas traduções brasileiras, baseadas principalmente na
norma considerada culta da língua, privando dessa maneira os leitores brasileiros do contato com a
característica mais marcante do autor. Tendo em mente essa diversidade, este trabalho apresenta uma
análise do discurso da personagem Salvo Montalbano em trechos de romances policiais de Camilleri,
em italiano e em português, com o intuito de examinar as diferenças causadas pela escolha da norma
culta como língua de tradução.
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Comunicações livres / Comunicacións libres
O jornal como fonte de pesquisa histórico-linguística
Tatiane Macedo Costa (Universidade Estadual de Campinas)
O presente trabalho faz parte do projeto Corpus Histórico do Português Tycho Brahe - um corpus eletrônico anotado, coordenado pela prof. Drª. Charlotte Galves -, e visa contribuir para a discussão sobre
a existência de diferentes possibilidades de fontes de pesquisa para os estudos históricos da língua, focalizando a questão da formalidade versus informalidade dessas fontes. Em geral, as pesquisas privilegiam
dados disponíveis em gêneros textuais que mais se aproximam do texto falado, por acreditarem que estes
apresentam uma maior transparência dos fenômenos de variação e mudança linguísticas. No entanto,
estudos diacrônicos desenvolvidos no âmbito do referido projeto que fizeram uso do jornal como fonte
de corpora constataram que os textos publicados neste tipo de veículo, apesar de possuírem um caráter conservador, exibem mudanças sintáticas pelas quais o Português Brasileiro passou, dentre elas, o
preenchimento do sujeito pronominal e o apagamento do objeto direto anafórico (cf. GRAVINA (2008),
(2014), MACEDO-COSTA (2012)). Dessa maneira, as referidas pesquisas não somente constataram que
mudanças sintáticas do Português são visíveis também nos textos formais, como contribuíram para a
ampliação do Corpus Tycho Brahe, expandindo a variedade de gêneros textuais dos textos disponíveis
para o estudo histórico do Português. Através de ambas as pesquisas, verificou-se ainda que, apesar de
apresentar alguns desafios ao pesquisador, o uso do jornal como fonte de pesquisa histórico-linguística proporciona o ganho de se trabalhar com um gênero textual que abrange diferentes tipos de textos
datados e localizados no espaço. Tal diversidade, todavia, poderia se tornar um problema caso o jornal
fosse considerado um todo homogêneo, uma vez que cada um dos subgêneros do jornal pode apresentar
dados linguísticos que lhe são peculiares. Diante disso, em ambas as pesquisas optou-se por documentar apenas os artigos assinados nos jornais sob investigação, com vistas à uniformização dos dados e à
confiabilidade acerca da nacionalidade dos autores dos textos. Assim, constatou-se que o jornal configura-se como uma rica fonte de dados, pois mediante uma seleção criteriosa, foi possível recuperar não
somente informações linguísticas, como também informações históricas de uma época, contribuindo
para ampliação dos gêneros textuais sob investigação na formação de grandes corpora e possibilitando
a investigação de outros aspectos sintáticos da gramática do Português.
O percurso do pronome tal na história da Língua Portuguesa.
Telma Regina Garrido de Araújo (Universidade Estadual de Feira de Santana)
Este trabalho consiste num produto parcial do subprojeto «O item lexical TAL em língua Portuguesa:
descrição e história, que faz parte do projeto maior «Vozes do Sertão em Dados», do Núcleo de Estudos
de Língua Portuguesa (NELP), do Departamento de Letras e Artes (DLA) da Universidade Estadual de
Feira de Santana (UEFS). Apresentam-se aqui elementos para uma discussão inicial sobre a multifuncionalidade sintático-semântica do item lexical TAL em língua portuguesa, que acredito, vem sofrendo
um processo de gramaticalização. É esse caráter diverso que esse trabalho aborda, contrapondo a realidade da língua à descrição da gramática tradicional (GT), que não conta com instrumentário teóricometodológico que dê conta da complexidade dos fenômenos linguísticos. O pronome TAL, de grande
uso na Língua Portuguesa, em linguagem tanto culta quanto popular e tanto na oralidade quanto na
escrita, apresenta-se em diversas categorias gramaticais com os mais diversos significados, chegando
a ser considerado como palavra de difícil classificação. O tema, no entanto, não está suficientemente
explorado, pelo que consideramos importante a descrição dos usos de TAL no português, analisando a
expansão de seu campo semântico e discursivo na história da língua, à luz da Teoria Funcionalista da
Gramaticalização, uma das teorias da mudança linguística.
Segundo Neves (1997), o estudo da gramaticalização é um meio de reconstruir a história de uma
língua ou determinado grupo de línguas e também de oferecer um parâmetro explanatório para a compreensão da gramática sincrônica.
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
Vendryes (apud REHFELDT, 1980), afirma que, quanto maior a frequência de emprego de uma
palavra em contextos diferentes, tanto maior é o risco de ser alterada a significação. Martelota, Votre e
Cesario (2000,p.64) dizem que, quanto mais frequente a forma linguística, mais probabilidade ela tem
de se gramaticalizar.
Desse modo, é objetivo desse trabalho registrar as mudanças linguísticas ocorridas com esse item
lexical, bem como fazer um breve histórico dessa forma linguística, devido a sua abundante riqueza
dentro da língua.
Uma abordagem pela Teoria da Complexidade para a ausência de marca
fonológica de plural nominal no Português Brasileiro
Thaïs Cristófaro Silva (Universidade Federal de Minas Gerais)
Uma das características do Português Brasileiro (PB) é a ausência da marca fonológica de plural que
pode ocorrer em formas nominais e verbais (SCHERRE e NARO 1998, DUARTE 1996). Este trabalho
tem por objetivo examinar a perda da marca fonológica de plural em formas nominais do PB. A literatura indica que uma vez que a marca fonológica de plural nominal seja expressa no primeiro item de
um sintagma nominal os demais itens, à direita, podem não apresentar qualquer marca fonológica de
plural. Por exemplo, em um sintagma nominal como ‘Os meninos bonitos e alegres’ a marca fonológica
de plural pode ser omitida nos demais constituintes se for expressa no artigo inicial: ‘Os menino bonito e
alegre’. Neste artigo sugerimos que a perda da marca fonológica de plural nominal decorre da relação entre diversos fatores gramaticais: pragmático, semântico, mofofonológico, sintático, fonológico e lexical.
Sugerimos que a Teoria da Complexidade (BECKNER et al., 2009; BYBEE, 2010; WANG, 2011) permite
expressar a relação entre os diversos níveis gramaticais na expectativa de explicar porque a ausência de
marca fonológica de plural nominal ocorre no PB. A proposta é que uma série de trajetórias linguísticas
são concatenadas e articuladas de maneira a preservar a natureza gramatical da noção de plural, mas, ao
mesmo tempo articular a natureza dinâmica que tem levado às várias mudanças linguísticas relacionadas com as marcas fonológicas de plural no PB. Sugere-se que a proposta apresentada poderá, oportunamente, ser expandida para a análise da ausência de marca fonológica de plural em formas verbais do PB.
Argumenta-se, portanto, que a Teoria da Complexidade oferece instrumentos para explicar o percurso
histórico que permite ao PB ter a ausência de marca fonológica de plural.
As relações hiperonímicas na terminologia do babaçu do Maranhão
Theciana Silva Silveira (Universidade Federal do Maranhão)
A Terminologia, como disciplina da Linguística, se ocupa da investigação e da descrição do conceito,
bem como das denominações dadas a ele, mostrando a relação entre esses elementos e o comportamento das unidades lexicais especializadas dentro da comunicação técnico-científica. O presente trabalho
objetiva analisar as relações meronímicas da terminologia do babaçu. Nesse sentido, entende-se meronímia como uma relação hierárquica em ter-um, fundada na relação é uma parte/um elemento de,
constituindo-se como uma inclusão dos conceitos e seus constituintes, também conhecida como uma
relação parte-todo, como destaca Tamba, na obra A Semântica (2006). O trabalho, baseado nas orientações teórico-metodológicas da Teoria Comunicativa da Terminologia, está estruturado em três partes:
(i) levantamento de expressões, termos e suas variantes, presentes na modalidade oral da terminologia
do babaçu do Maranhão; (ii) seleção do corpus linguístico por meio de programas de processamento
de corpora linguísticos e (iii) análise dos conceitos da terminologia do babaçu. O corpus desta pesquisa
é constituído com base no discurso oral das quebradeiras de coco de Buriti, Itapecuru, Viana, Vargem
Grande, Presidente Vargas, Cantanhede e São Bento, municípios do Maranhão. Para recolha dos termos,
foi aplicado o questionário semântico-lexical, elaborado pelo Projeto Atlas Linguístico do Maranhão
(ALiMA), que contém 54 questões. Na seleção dos termos, foram usados dois programas computacio- 251 -
Comunicações livres / Comunicacións libres
nais: o zExtractor e o Antconc. Os resultados mostram que os conceitos palmeira (i) e coco (ii) apresentam relações meronímicas com outros conceitos, como (i) coco, palha, haste, cacho, cachopa; (ii) casca
do coco, pele do coco, massa do coco e caroço. Esta pesquisa contribui para os estudos descritivistas
da terminologia em Língua Portuguesa e para o conhecimento do discurso especializado da cultura do
babaçu, produto importante para a economia e a cultura do Estado.
Os manuscritos judeu-portugueses do século XV
Valentina Cantori (Universidade de Macerata / Universidade Hebraica de Jerusalém)
A produção em português antigo em caracteres hebraicos constitui um ponto interessante da história
medieval da península ibérica, devido a aspectos linguístico e filológicos, a partir de um ponto de vista
cultural e científico. O judeu-português é uma realidade linguística debatida porque, com respeito às
outras línguas românicas escritas com alfabeto hebraico, conta com uma quantidade exígua de testemunhas.
A produção em português antigo e caracteres hebraicos refere-se sobretudo ao século XV e apresenta
textos de diversos assuntos, como arte e medicina.
O corpus é constituído principalmente por três manuscritos: o ms. Parma 1959, o Vat. Ebr. 372 e o
ms. Laud Or. 282. Outros extratos menores são também incluídos no corpus judeu-português.
O manuscrito1959 pertencente à Biblioteca de Parma é uma coletânea miscelânea que inclui O livro
de como se fazem as cores, tratado atribuído a Abraham Ibn Hayyim. Este texto revela-se importante
numa perspectiva linguística e também por uma razão técnico-artística, uma vez que é a única fonte
portuguesa medieval que explica como preparar pigmentos e tintas para a decoração de livros.
O Vat. ebr. 372 da Biblioteca Apostólica Vaticana contém um tratado composto pelo médico de
Córdoba Samuel Esperel endereçado ao Mestre David Serogano de Jaen; uma parte dos textos pode ser
encontrada no Fundo Azevedo, manuscrito 14 da Biblioteca Municipal do Porto. Na segunda parte do
mesmo manuscrito encontram-se remédios reportados pelo médico Joseph Catelan.
O códice Laud Or. 282 da Bodleian Library é conhecido como O libro de magika, uma cópia quatrocentista de um tratado de astrologia.
Outros três textos considerados parte do corpus judeu-português encontram-se nos ms. Can. Or. 109
(Bodleian Library), Roth ms. 71 (Brotherton Library) e ms. Add.639.5 (Cambridge University Library).
O idioma português, embora mostre suas características peculiares, aparece nestes textos largamente
influenciado pelo espanhol: podem-se notar, de fato, fortes semelhanças gráficas, lexicais e morfológicas.
A presença destes textos, como também aquela de outros manuscritos portugueses em língua e grafia
hebraica, mostram como o século XV apresenta uma notável atividade científica e cultural promovida
pelas comunidades judaicas e como estes centros culturais, através de migrações e deslocamentos, influenciaram não somente a área ibérica, mas a inteira Europa.
A indeterminação do sujeito na história: do português arcaico
ao português brasileiro contemporâneo
Valter de Carvalho Dias (Instituto Federal de Educação, Ciência
e Tecnologia da Bahia / Universidade Federal da Bahia)
Mattos e Silva (1989, p. 513), ao realizar um estudo do português arcaico, compreendendo-o como o
período que abarca os séculos XIII, XIV e XV, aponta o sujeito indeterminado como sendo o «sujeito
não-determinado» em «estruturas em que o sujeito é genérico, não-especificado.», podendo ele ocorrer
de três maneiras: (i) verbo na terceira pessoa do plural, (ii) uso de «homen», e (iii) passiva analítica sem
agente explícito. Ao se analisar gramáticas normativas do português publicadas no Brasil, percebe-se
que não houve praticamente alterações, a não ser pelo não emprego de «homem» como indeterminador,
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
desaparecido, conforme atesta Menon (2011), no século XVI. Em contrapartida, as gramáticas contemporâneas vêm mostrando que não só as estratégias vislumbradas anteriormente figuram no português
brasileiro, mas também outras de caráter inovador, como são os casos das formas pronominais gramaticalizadas «você» e «a gente», que passaram a incorporar o quadro pronominal a partir do final do século
XIX e início do século XX, conforme atestam Duarte, Mourão e Santos (2012). Diante desse quadro, o
presente trabalho busca, inicialmente, investigar de que forma a indeterminação do sujeito vem sendo
tratada nos compêndios gramaticais desde o português arcaico ao português contemporâneo; e, principalmente, verificar quais são as estratégias empregadas em textos produzidos no século XIX na Bahia,
em diferentes gêneros textuais, tais como cartas de leitores de jornais e peças teatrais. Esta pesquisa está
sendo desenvolvida à luz de duas perspectivas teóricas, a Sociolinguística Variacionista e o Funcionalismo. A primeira por compreender que «é comum que uma língua tenha diversas maneiras alternativas
de dizer ‘a mesma’ coisa» (LABOV, 2008 [1972]), e a segunda por se preocupar «em estudar a relação
entre a estrutura gramatical das línguas e os diferentes contextos comunicativos em que elas são usadas»
(CUNHA, 2008, p. 158).
Estudo do item segundo no português na abordagem multissistêmica
Verena Kewitz (Universidade de São Paulo)
Nayra da Silva Simões (Universidade de São Paulo)
Inserido num projeto mais amplo que tem como objetivo analisar mudanças sintáticas do Português
Paulista desde os primeiros séculos, esta pesquisa busca descrever o uso do item segundo a partir dos
textos portugueses e paulistas dos séculos XV a XX, quanto as suas propriedades sintáticas e semânticas.
Na literatura, observa-se a classificação de segundo no quadro das preposições acidentais, ou seja, pertencentes a outras classes, mas que funcionam como preposição, ou ainda, e na classe das conjunções,
especificamente em orações subordinadas adverbiais conformativas. No que diz respeito às propriedades semânticas de segundo na literatura, as divergências entre os autores consultados é ainda maior:
alguns atribuem o valor de «conformidade», geralmente ao lado de outras preposições acidentais como
conforme e consoante, outros afirmam que segundo tem valor de «causa», «modo», «comparação» e
«conveniência». Estes e outros aspectos serão discutidos e analisados com base em corpora formados
por textos portugueses dos séculos XV e XVI (Corpus Informatizado do Português Medieval) e textos
paulistas do projeto temático de que a presente pesquisa faz parte («História do Português Paulista»,
FAPESP, Processo N.º 11/51787-5). Adotando a perspectiva multissistêmica da língua (Castilho 2010),
nosso objetivo central é compreender o funcionamento de segundo em dados dos séculos XV a XX no
processo de sintaticização e semanticização de forma qualitativa. Dentre os aspectos a serem discutidos,
destacam-se (i) o estatuto categorial de segundo e (ii) as propriedades semânticas relacionadas à tipologia textual em cada século estudado.
A evolução do imperfeito do conjuntivo nas línguas ibero-românicas
no século XX
Víctor Lara Bermejo (Universidad Autónoma de Madrid)
Ana Rita Guilherme (Centro de Linguística, Universidade Nova de Lisboa)
El imperfecto de subjuntivo en español actual puede fluctuar entre la desinencia en –ra y –se. Aunque es
la forma en –se la etimológica, la reinterpretación del pluscuamperfecto de indicativo en –ra como valor
de imperfecto de subjuntivo (del siglo XIII para Veiga 1999, y del XV, para Cano 2004) se ha generalizado por completo en el español peninsular (Nowikow 1987, Pato 2003, Veiga 2009).
Con el fin de cartografiar la geografía de cada desinencia, hemos extraído los datos de seis preguntas
de los cuestionarios del Atlas lingüístico de la Península Ibérica. Este trabajo de corte dialectal pretendía
recoger las particularidades de las lenguas romances de la Península en informantes rurales, mayores
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Comunicações livres / Comunicacións libres
y sin estudios. En términos generales, la desinencia en –ra es la elegida en la zona castellana y gallega,
e incluso en la mitad sur del área valenciana, cuyos hablantes, a pesar de expresar el verbo en catalán,
han optado por una desinencia en –ra. El morfema –se es el preferido en el área catalana, portuguesa y
la zona castellana oriental, así como en algunos puntos del centro peninsular. Asimismo, encontramos
el condicional en zonas del norte peninsular y el imperfecto de indicativo en los extremos occidental y
nororiental de la Península.
El objetivo de esta comunicación, por tanto, es reflexionar sobre la distribución dialectal de las formas de imperfecto de subjuntivo, sobre todo en el caso del español. Asimismo, pretendemos que dicha
reflexión pase por una descripción de los datos (principalmente de los que se refieren a las áreas portuguesas, gallegas y castellanas) y por la descripción del recorrido diacrónico de este paradigma verbal, de
forma que podamos comprender mejor su evolución en la Península Ibérica.
Referencias
CANO, R. (2004), Historia de la lengua española, Barcelona: Ariel.
NOWIKOW, W. (1987), «El destino de las formas en –ra en las lenguas iberorromanas (con especial
atención al castellano), Lexique et grammaire des langues romanes. Actes du Colloque International de Linguistique Romane, Varsovia: Wydawnictwa Universytetu Warszawaskiego, pp. 97-106.
PATO, E. (2003), La sustitución del imperfecto de subjuntivo por el condicional simple y el imperfecto
de indicativo en el castellano septentrional peninsular, UAM, tesis doctoral.
VEIGA, A. (1999), «La tipología de las oraciones condicionales castellanas en publicaciones recientes:
el peso de una tradición en la investigación lingüística», Actas del I Congreso Internacional de
Historiografía Lingüística Española. A Coruña: Universidade, 685-698.
Relativas desgarradas e não desgarradas: interface sintaxe e prosódia
Violeta Virgínia Rodrígues (Universidade Federal do Rio de Janeiro)
Aline Ponciano Silvestre (Universidade Federal do Rio de Janeiro)
Partindo do princípio de que, no âmbito sintático, as cláusulas relativas restritivas são encaixadas a um
constituinte da cláusula nuclear apresentando, portanto, um grau maior de dependência em relação a
este, e de que as relativas não restritivas, embora se vinculem a um núcleo nominal, tem um grau menor
de encaixamento, propomos a associação do pressuposto prosódico ao sintático, a fim de analisarmos as
cláusulas relativas desgarradas, ou seja, aquelas que constituem SN soltos em cotejo com aquelas que
não o são.
Com base em Decat (2011), investigaremos, neste trabalho, o comportamento das cláusulas relativas
que ocorrem isoladas como enunciado independente ou de «maneira solta», sem vínculo com a cláusula
nuclear, fenômeno que a autora denominou de desgarramento. Segundo a autora, as orações relativas
apositivas, que se materializam de forma independente, ou desgarrada, constituem uma unidade informacional à parte — às vezes assemelhando-se a um adendo e tendo um caráter parentético. É o que se
pode notar no exemplo «Vamos subir agora e conhecer a engenharia. Onde se planeja os ciclos», retirado do Roteiro de Cinema, Não por Acaso.
Nossa hipótese, então, é que não haveria nenhum índice de segmentação na fronteira sintática entre
a restritiva posposta e a cláusula nuclear, ao passo que entre esta e a não restritiva (posposta ou intercalada à nuclear) haveria uma marca de ruptura, podendo ocorrer o mesmo com as desgarradas, ainda
não estudadas com relação a esse aspecto.
À luz dos pressupostos teóricos do Funcionalismo, encontrados nos trabalhos de Chafe (1980),
Souza (2009) e Decat (2011) e, ainda, utilizando os princípios da Fonologia Entoacional, encontrados
em Ladd (1996, 2008), e da Fonologia Prosódica, encontrados em Nespor e Vogel (1994) e Frota (2000),
pretendemos comparar o comportamento das relativas desgarradas com o das não desgarradas, propondo que estas, quando restritivas, formariam um único sintagma entoacional (I) com a cláusula nú- 254 -
Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
cleo, ao passo que as relativas desgarradas formariam um I à parte, assemelhando-se também prosodicamente às não restritivas.
Assim, analisam-se, no corpus Roteiro de Cinema, disponível no site www.roteirodecinema.com.br,
ocorrências de cláusulas relativas que se materializam linguisticamente na modalidade escrita do português do Brasil como estruturas de desgarramento, constituindo, por si mesmas, unidades de informação.
A análise instrumental será realizada no programa computacional PRAAT, a fim de que se verifique o
comportamento dos parâmetros prosódicos em toda a extensão dos sintagmas entoacionais (I) dos quais
as cláusulas fazem parte.
«Eu às vezes digo com as letras e outras vezes digo sem as letras, porque
eu sei escrever» - Evolución de trazos dialectais portugueses no século XX
Xosé Afonso Álvarez Pérez (Universidad de Alcalá)
Esta contribución examina os cambios na distribución xeográfica e na frecuencia de uso que sufriron
nas últimas décadas determinados fenómenos dialectais do portugués europeo.
Pola súa relevancia nos estudos dialectolóxicos portugueses, elixíronse para o confronto diacrónico
as cinco isoglosas «canonizadas» por Luís F. Lindley Cintra, na súa difundida «Nova proposta de classificação dos dialectos portugueses», como as liñas determinadoras e xerarquizadoras do panorama
dialectal de Portugal (outras dúas isoglosas separaban as falas portuguesas das galegas):
1. Ausencia / presenza de distinción fonolóxica entre /b/ e /v/.
2. Realización apical / predorsodental do fonema fricativo alveolar.
3. Conservación / redución do fonema africado postalveolar xordo [tʃ].
4. Conservación / redución do ditongo ou, realizado foneticamente como [ou̯] ou [au̯]
5. Conservación / redución do ditongo ou, realizado maioritariamente como [ei̯] / [ɐi̯].
Para acadar este obxectivo, examináronse os cuestionarios inéditos dos dous grandes atlas lingüísticos que acometeron a descrición de Portugal: o malogrado «Atlas Lingüístico de la Península Ibérica»
(ALPI) que explorou o territorio lusitano antes e despois da guerra civil española, en 1936 e 1953-1954,
e o «Atlas Lingüístico-Etnográfico de Portugal e da Galiza» (ALEPG), realizado tamén en dúas quendas,
1973-1984 e 1988-1997.
A perspectiva asumida foi a da análise cuantitativa. Isto é, non se escolleron palabras «representativas» dun determinado fenómeno, senón que foron contabilizadas todas as ocorrencias obtidas durante
as enquisas dos dous atlas; no total, tomáronse en consideración máis de 100.000 respostas no conxunto
das redes.
O exame cuantitativo das dúas fontes permitiu afinar a delimitación xeográfica de cada fenómeno en
cada época e obter resultados moito máis informativos sobre a súa vitalidade ca os transmitidos pola dialectoloxía clásica. En xeral, a comparación do ALPI e o ALEPG pon de manifesto un forte retroceso dos
marcadores dialectais nas últimas décadas, especialmente no que respecta a trazos como a realización
africada, moi mal considerada entre a comunidade lingüística. Aínda que esta caída sería significativamente maior en enquisas que se realizasen hoxe en día entre falantes novos, os propios resultados desta
comunicación deixan ver ás claras que as clasificacións tradicionais, amplamente utilizadas hoxe en día,
non describen a situación real da lingua.
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Comunicações livres / Comunicacións libres
Dámaso Alonso na historia da lingüística galega á luz
da súa correspondencia galega
Xosé Antonio Fernández Salgado (Universidade de Vigo)
Nesta comunicación damos a coñecer a correspondencia entre R. Otero Pedrayo e F. Fernández del
Riego con Dámaso Alonso (1898-1990), profesor, filólogo e no seu día director da Real Academia Española, madrileño de nacemento ben que de fondas raizames nas terras de Ribadeo. A luz dunha ducia
de cartas, datadas arredor de 1945 e 1969, evocamos o seu interese polo galego e as contribucións ó seu
estudo nun tempo en que o seu coñecemento era moi deficiente. A comunicación quere servir tamén de
recordación dos 25 anos do seu pasamento e, persoalmente, de homenaxe ós profesores ós que se dedica
este Congreso Gallaecia, R. Lorenzo e A. Santamarina, que no seu tempo estiveron vinculados directa
ou indirectamente co lingüista e investigador das terras do Eo que cuñou o termo de «galego exterior».
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PÔSTERES |
PÓSTERS
Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
Ter a cabeza chea de paxaros: competencia fraseolóxica en galego
Alba Cid Fernández (Universidade de Santiago de Compostela)
Para acadar unha competencia comunicativa avanzada nunha lingua, cómpre contar cun amplo dominio da súa fraseoloxía. Que estes contidos sexan preteridos ou, no mellor dos casos, adiados até niveis
superiores, só empobrece os procesos de ensino e aprendizaxe, á vez que invisibiliza estas formas. Esta
proposta pretende mostrar unha vía posíbel de desenvolvemento da competencia fraseolóxica en lingua
galega, organizando un abano de actividades prácticas que toman como material base unha escolla de
fraseoloxismos relacionados co carácter, entre os que se encontra aquel integrado no propio título, ter a
cabeza chea de paxaros.
Formulamos a proposta a partir de catro epígrafes: a primeira, de carácter introdutorio, estará dedicada á definición e á reflexión arredor da competencia fraseolóxica; a segunda presenta o grupo de
fraseoloxismos escollidos; a terceira perfila a tipoloxía dos exercicios (entendendo que un tratamento
didáctico rigoroso contempla unha sucesión de actividades de recoñecemento, compresión, análise e
reutilización destas formas); a cuarta sinala a pertinencia desta análise. Aproveitarase o potencial visual
do formato póster na medida do posíbel, e indicaranse algunhas referencias bibliográficas ao remate,
tras as epígrafes citadas.
SisCORP - Sistema Informativo de CORPORA do Português
Ana Beatriz Ribeiro de Carvalho (Centro de Linguística; Universidade Nova de Lisboa)
Nos últimos anos, os corpora eletrónicos têm tido um papel de destaque na investigação em linguística
(além de outras áreas em que o acesso a dados linguísticos é relevante), sendo construídos com diferentes propósitos e segundo diversos critérios (cf. Hunston 2006; McEnery 2003).
O projeto Sistema Informativo de Corpora do Português (SisCORP) surge da necessidade de criar uma ferramenta que congregue (num mesmo domínio) as principais informações de um número
considerável de corpora existentes para o português. Para tal, é criada a plataforma online, homónima
ao projeto, de acesso gratuito e a ser periodicamente atualizada. Este poster tem, assim, como objetivo
dar a conhecer a metodologia adotada para a organização dos dados (cf. Llamazares 2008; Torruella &
Llisterri 1999; Sinclair 1996) e o seu funcionamento em rede. O SisCORP – que conta, atualmente, com
informação respeitante a 128 corpora - apresenta-se como um recurso inovador de acesso à informação
de corpora do português, por ser uma aplicação Web disponível para todos, em qualquer dispositivo
com acesso à internet e sem a necessidade de softwares específicos.
A título de exemplo, o utilizador poderá realizar dois tipos de pesquisa, uma livre e outra avançada.
Desta farão parte campos de pesquisa específicos, tais como o «nome do corpus», a «variedade linguística» (p.e. Português do Brasil, Português Europeu) ou o «tratamento» (p.e. se o corpus se encontra
anotado ou, somente, codificado com metadados).
Por tudo isto, esta é uma plataforma que estará ao serviço de vários profissionais (da linguística
portuguesa e não só), economizando-lhes tempo e aumentando a qualidade das suas pesquisas, a qual
pretendemos dar a conhecer.
PALAVRAS-CHAVE: Corpora do português; linguística; gestão de informação; plataforma online.
Referências
HUNSTON, S. 2006. Corpus Linguistics. The Encyclopedia of Language and Linguistics. Elsevier, pp.
234-248
LLAMAZARES, M. V. 2008. Lingüistica com corpus (I). Estudios humanísticos: 329-349
MCENERY, A.M. 2003. Corpus linguistics. In R. Mitkov (ed) Handbook of Computational Linguistics.
Oxford: OUP, pp. 448-463
- 259 -
Pôsteres / Pósters
SINCLAIR, J. 1996. EAGLES: Preliminary recommendations on corpus typology. University of Birmingham.
TORRUELLA, J. & LLISTERRI, J. 1999. Diseño de corpus textuales y orales. In Blecua, Clavería, J.M.,
Sánchez, G., Torruella, J. (eds.) Filología e informática. Nuevas tecnologías en los estudios
filológicos. Barcelona: Editorial Milenio. pp. 45-47.
Filologia e prática de edição de textos manuscritos
Ana Carolina Rodrigues (Universidade Federal de Ouro Preto)
Fábio César Montanheiro (Universidade Federal de Ouro Preto)
O processo de edição de textos contribui para a difusão da memória de determinadas coletividades, ao
mesmo tempo em que age em favor da preservação do suporte material que contém o texto, na medida
em que pesquisadores de diversas áreas podem recorrer ao texto editado na busca de subsídios para suas
atividades, sem necessitar de acesso ao original. O projeto de pesquisa de Iniciação Científica «Prática
filológica de edição de textos: Manuscritos confrariais mineiros» está sendo desenvolvido desde Abril
de 2014. A fim de alcançar os objetivos delineados e em consonância com postulados filológicos e paleográficos, os textos lidos e discutidos atenderam a uma proposta interdisciplinar, que englobou os
campos da edição de textos, paleografia, filologia e história social das Minas setecentistas. Com isso,
visou-se problematizar, ainda que propedeuticamente, o trabalho de edição de manuscritos com vistas à
realização de edição e análises futuras de manuscritos confrariais do séc. XVIII da região de Ouro Preto
e Mariana. O resultado consistirá, já que o projeto está em andamento, em atividades de leitura de textos
e de sua discussão, assim como da execução de exercícios paleográficos.
As bases de datos do Arquivo Galicia Medieval
Antonio Augusto Domínguez Carregal (Universidade de Santiago de Compostela)
Diego Seoane Casás (Centro Ramón Piñeiro para a Investigación en Humanidades)
Buscamos presentar neste póster o Arquivo Galicia Medieval, que aglutina os proxectos desenvolvidos
no Centro Ramón Piñeiro para a Investigación en Humanidades no que concirne á literatura galega
medieval: a lírica profana, as Cantigas de Santa Maria e a prosa medieval.
Especialmente, o póster busca facer unha sucinta presentación das bases de datos desenvolvidas neses proxectos: a MedDB, base de datos da lírica profana galego-portuguesa, que leva xa máis de quince
anos en rede, e a BiRMED, a bibliografía de referencia do Arquivo Galicia Medieval, na que se poden
atopar obras relacionadas coas tres liñas de investigación do ArGaMed.
Estas ferramentas dixitais son de notable utilidade para os investigadores especializados na Idade
Media, principalmente nas súas vertentes lingüística e literaria, máis tamén para os demais estudiosos
de diferentes áreas das Humanidades e mesmo para o público máis xeral.
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
Edición e elaboración dos materiais galegos do ALPI
Carolina Pérez Capelo (Instituto da Lingua Galega,
Universidade de Santiago de Compostela)
Rosa Mouzo Villar (Instituto da Lingua Galega,
Universidade de Santiago de Compostela)
Soraya Suárez Quintas (Instituto da Lingua Galega,
Universidade de Santiago de Compostela)
O Atlas Lingüístico de la Península Ibérica (ALPI) foi concibido nos primeiros anos do século XX por
Ramón Menéndez Pidal para recoller información lingüística ao longo da Península Ibérica.
Aínda que o ALPI se ideou arredor de 1914, as circunstancias foron adiándoo e os cuestionarios non
foron redactados ata 1930. Un ano despois comezaron as enquisas e tres equipos de dous investigadores
cada un, dirixidos por Tomás Navarro Tomás, percorreron o territorio da Península Ibérica: Francesc de
Borja Moll e Manuel Sanchís Guarner ocupáronse da zona valenciano-catalá; Aurelio M. Espinosa (fillo)
e Lorenzo Rodríguez Castellano, da castelanfalante; Rodrigo de Sá Nogueira (substituído sucesivamente
por razóns de saúde por Armando Nobre de Gusmão e finalmente por Luís F. Lindley Cintra), da portuguesa; e Aníbal Otero (con colaboracións puntuais de Aurelio M. Espinosa), da galega. No tocante ás
preguntas que se realizaban, estas dividíanse en dous cadernos: un para estudar a fonética, a morfoloxía
e a sintaxe e outro para o léxico.
A maior parte das enquisas realizáronse entre 1931 e 1936. Cando estalou a Guerra Civil estaban
completadas arredor do 90% pero o proxecto viuse interrompido nese momento e Navarro Tomás tivo
que exiliarse levando consigo os materiais do ALPI. Os cuestionarios restantes completáronse arredor
de 1956. Como resultado de todo este traballo temos hoxe en día unha rede de enquisas integrada por
528 puntos, dos cales 53 son galegos.
Os materiais galegos do ALPI consérvanse no Instituto da Lingua Galega, onde na actualidade se
está traballando na súa edición, co obxectivo de poñelos á disposición da comunidade científica. Este
proxecto desenvólvese baixo a coordinación do Centro de Ciencias Humanas y Ciencias Sociales do
CSIC e coa colaboración de investigadores de varias universidades (Universidade de Lisboa, Universitat de Barcelona, Universidad Autónoma de Madrid, University of Western Ontario e Universidade de
Santiago de Compostela).
O propósito deste póster é ofrecer unha panorámica xeral da historia do ALPI e tamén mostrar o
traballo de edición que se leva feito ata o día de hoxe, así como os seus posibles aproveitamentos.
A anotação sintática de expressões temporais com «haver» e afins
Catarina Carvalheiro (Centro de Linguística, Universidade de Lisboa)
Catarina Magro (Centro de Linguística, Universidade de Lisboa)
Clara Pinto (Centro de Linguística, Universidade de Lisboa)
Sandra Pereira (Centro de Linguística, Universidade de Lisboa)
O sistema originalmente concebido para a anotação sintática dos Penn Corpora of Historical English
(Santorini 2010) tem sido adotado para a anotação de dados históricos e dialetais do português, no
âmbito dos projetos Tycho Brahe (Galves & Faria 2010), Post Scriptum (Marquilhas, Coord. 2012-17),
WOChWEL (Martins, Coord. 2012-15) e Cordial-Sin (Martins, Coord. 1999-). A adoção do sistema
dos Penn Corpora para anotação deste novo conjunto de dados coloca múltiplos desafios. Por um lado,
é necessário adaptar um sistema concebido para o inglês à anotação de uma língua com propriedades
gramaticais muito diferenciadas; por outro, há que harmonizar as soluções de anotação adotadas para
os vários corpora do português, que reúnem dados de épocas e de natureza discursiva distintas. Neste
segundo plano, é essencial adotar esquemas de anotação que permitam a codificar fenómenos de va- 261 -
Pôsteres / Pósters
riação sincrónica e diacrónica relativos a uma mesma construção ou família de construções. Só desta
forma se viabiliza uma pesquisa intercorpora produtiva, facilitando a busca do que aproxima e separa as
diferentes variedades do português representadas nos corpora em questão.
No póster que nos propomos apresentar discutiremos estas questões a propósito da anotação das
expressões temporais com haver e verbos afins, como as dos seguintes exemplos:
(1) Mas ja ha çinco annos que não vive i ninguem (Séc XIII)
(2) Vai dezoito anos que estou dentro duma galé (Séc XVII)
(3) Já faz hoje quinze que o não vejo (Séc XIX)
Concretamente, mostraremos que há uma disparidade, em português europeu contemporâneo, entre as expressões introduzidas por haver e por outros verbos, que se manifesta, por exemplo, nos seguintes contrastes:
Coocorrência com preposições
(4) a. Mas já desde há cinco anos que não vive aí ninguém
b. *Já desde faz hoje quinze dias que o não vejo
Coocorrência com ser
(5) a. Mas é já há cinco anos que não vive aí ninguém
b. *É já faz hoje quinze dias que o não vejo
Focalização contrastiva
(6) a. Mas já há cinco anos e não (há) quatro que não vive aí ninguém
b. Já faz hoje quinze dias e não (*faz) catorze que o não vejo
Estes contrastes, atribuíveis a um funcionamento preposicional da forma há (Móia 2010), são devidamente captados pelo esquema de anotação que propomos: o caráter adverbial de todas estas expressões
temporais é codificado pela categoria de topo ADVP-TMP, a qual domina alternativamente as categorias
PP ou IP, em função do estatuto preposicional ou verbal dos seus introdutores.
Essa pergunta... é galego ou português?
Elisa Fernández Rei (Instituto da Lingua Galega,
Universidade de Santiago de Compostela)
Lurdes de Castro Moutinho (Universidade de Aveiro)
Com este poster, pretendemos dar a conhecer a investigação que tem vindo a ser desenvolvida, há já
alguns anos, no âmbito da variação prosódia comparada entre o Galego e o Português, ancorada num
projeto mais vasto e de cariz internacional, o projeto AMPER (Atlas Multimédia Prosódico do Espaço
Românico). Recorrendo a metodologias diversas próprias da área da dialectologia, da geolinguística e
da fonética experimental, pretende-se com estas pesquisas, não só estudar e descrever a variação prosódica daquelas duas línguas, mas também validar esses estudos através de testes percetivos e, num futuro
próximo, cartografar as variedades estudadas.
Os testes centram-se na variação prosódica de interrogativas galegas e portuguesas, através da plataforma FOLERPA, e foram realizados entre maio e junho de 2013, em Santiago de Compostela, com juízes galegos; e em Aveiro, nas mesmas datas, com juízes portugueses. Os juízes ouviam cada enunciado e
tinham de responder à pergunta É galego?, no caso dos galegos; no caso dos portugueses, a pergunta era
É português? Em todos os casos sabiam que iam ouvir enunciados que correspondiam a interrogativas
absolutas galegas ou portuguesas.
Apresentaremos alguns resultados destes testes, podendo já adiantar, embora com alguma prudência, que se verifica uma diferença de comportamento em função da lingua materna no caso dos juízes
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
galego-falantes. Além disso, é interessante verificar que os portugueses apresentam resultados semelhantes aos galegos, quando se trata de identificar as variedades do Incio e Ribadeo, considerando-as
como não sendo claramente variedades portuguesas. Além disso destaca-se também a concordância em
ambos os juízes considerarem Vila do Bispo, vila do barlavento algarvio, como muito pouco portuguesa.
Quer dizer, os galegos identificaram essa variedade como sendo galega (não portuguesa) e os portugueses consideraram-na muito pouco portuguesa, mais próxima do galego
Estes resultados não deixam de ser encorajadores e neles encontramos motivação para dar continuidade a estas pesquisas conjuntas entre as duas instituções e vindo mesmo a abarcar um maior número
de investigadores, tanto da Universidade de Santiago de Compostela, como da Universidade de Aveiro,
de modo a que se torne possível cartografar as variedades prosódicas destas duas línguas e avançar no
estudo da diacronia da entoação.
Toponimia medieval. Cuestións teóricas e metodolóxicas
Gonzalo Hermo González (Instituto da Lingua Galega,
Universidade de Santiago de Compostela)
O noso obxectivo consiste en expoñer, de maneira sintética, algunhas achegas de orde teórica e metodolóxica derivadas do traballo coa toponimia do Libro II de tenzas (Arquivo Catedralicio de Santiago,
s. XIV). Os temas abordados constitúen algúns dos puntos centrais que afectan ao traballo lingüístico
co material toponímico contido nos manuscritos da Galicia medieval. Son consideracións, dúbidas e
problemas que tiveron que ser resoltos durante o percorrido que vai do inicio da investigación co Libro
II de tenzas e que veñen sistematizarse neste traballo co propósito de pólos ao dispor doutros lingüistas
interesados na cuestión. Deste xeito, constataremos algunhas deficiencias que presentan as edicións de
fontes documentais medievais para un uso lingüístico das mesmas, analizaremos a distinta fiabilidade
das secuencias gráficas que se refiren a topónimos en relación á lingua en que foi copiado o documento
e abordaremos cuestións problemáticas que xorden á hora de localizar os topónimos medievais.
Estudo do recoñecemento legal das linguas minorizadas en España e Brasil
Isabel Corral Pérez (Instituto da Lingua Galega,
Universidade de Santiago de Compostela)
O presente estudo pretende ser unha aproximación ao recoñecemento legal das linguas minorizadas en
dous países caracterizados pola súa diversidade cultural e lingüística: España e Brasil. As teses das que
partimos son a defensa do mantemento da diversidade lingüística a nivel global, o respecto aos dereitos
lingüísticos como parte dos dereitos fundamentais das persoas, o principio de igualdade de todas as
linguas e a superación da visión destas como meros instrumentos de comunicación, en consonancia coa
ecolingüística.
O obxectivo xeral do presente traballo é dar a coñecer a existencia de diferentes modelos para xestionar unha mesma realidade, neste caso a do multilingüismo, e presentar o status vixente das linguas e
os dereitos de uso existentes nos diferentes ámbitos vinculados cun rexistro formal e público da lingua,
facendo fincapé no ámbito educativo como primeiro punto de contacto lingüístico das nenas e nenos
fóra da familia. Neste sentido, presentaremos tamén un resumo das disposicións vixentes relacionadas
con este eido.
A metodoloxía empregada é a propia dun estudo descritivo-analítico, que recorre directamente ás
fontes primarias e establece unha comparativa entre estas, dende unha perspectiva sincrónica.
As conclusións obtidas achégannos uns coñecementos teóricos que resultan de gran utilidade para o
deseño e posterior implementación de políticas lingüísticas e proxectos encamiñados á revitalización e
mantemento das linguas minorizadas das rexións estudadas, así como doutras de similares características sociolingüísticas.
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Pôsteres / Pósters
Percepções da Língua Galega em um curso de Intercompreensão na UFPR
Karine Marielly Rocha da Cunha (Universidade Federal do Paraná)
A Intercompreensão em Línguas Românicas (ICLR) é uma disciplina optativa do currículo do Curso
de Letras oferecida na Universidade Federal do Paraná (Curitiba) desde o primeiro semestre de 2014.
Por ICRL entendemos a possibilidade de comunicar-se, no âmbito da fala ou da escrita, com falantes de
outras línguas da mesma família que a nossa expressando-nos sempre na nossa língua: eu falo ou escrevo na minha língua românica e entendo você falando ou escrevendo na sua língua também românica,
tendo, neste contexto todas as línguas a mesma importância.
Durante o curso, os alunos são expostos à leitura e insumos orais em galego, espanhol, catalão,
francês, italiano, romeno e alguns dialetos/variações das línguas já citadas. O objetivo é traçar um
quadro com as correspondências morfológicas, fonéticas e sintáticas com as outras línguas irmãs de
forma a identificar de uma maneira mais fácil e imediata sobretudo o léxico de uma língua em relação
à outra.
O que pretendemos nesta comunicação é o resultado do trabalho realizado com a língua galega no
primeiro semestre acadêmico de 2015. Para tanto, depois de uma aula em que predominou uma abordagem colaborativa, ou seja, os conceitos e «regras» foram construídos com a ajuda e participação de
praticamente todos os alunos, os mesmos eram capazes sobretudo de identificar as correspondências
morfo-fonéticas que uma palavra em galego tem com outra em português. Um exemplo clássico é a
correspondência do /x/ intervocálico o no início das palavras que pode resultar na grande maioria das
ocorrências o /j/ ou o /g/ em português do Brasil: dixestión, axuda, pasaxeiros, xa e xeito em galego por
digestão, ajuda, passageiros, já e jeito em português. O insumo para identificar não somente essa ocorrência é a leitura do livro O Principiño – O pequeno Príncipe – em galego. Durante a nossa apresentação
pretendemos mostrar com detalhes como o galego é abordado nesse curso e as «descobertas» e relações
que nossos alunos realizam não só do ponto de vista da língua galega em si, mas da sua história e importância para os estudos da língua portuguesa e também sua literatura.
Não obstante X a pesar de: variação e gramaticalização
Larissa Polyana de Meneses Ferreira (Universidade Federal
dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri)
Pâmella Alves Pereira (Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri)
Com base na perspectiva de gramaticalização (HOPPER & TRAGOTT, 1993), este trabalho tem como
objetivo identificar a trajetória de mudança que levou a estrutura formada pelo substantivo pesar (a
pesar de) a se consagrar no português hoje como apesar de - locução prepositiva com valor concessivo e,
ainda, como apesar de que - locução conjuntiva. Além disso, fizemos uma análise comparativa das construções apesar de e não obstante, de forma a verificar se o processo de mudança envolvendo a estrutura
apesar de interferiu na gramaticalização da expressão não obstante no português. Para isso, utilizamos o
Corpus do Português (DAVIES & FERREIRA, 2006) para coleta de dados de apesar de do século XIV ao
XIX, mesmo banco de dados utilizado por Pereira (2011; 2012) para análise da expressão não obstante.
Vimos que o processo de mudança do apesar de pode ser caracterizado como gramaticalização, já que o
substantivo pesar, um item lexical, mudou para uma locução prepositiva, apesar de, item gramatical e,
depois, para locução conjuntiva, apesar de que, item ainda mais gramatical. Entendemos a construção
apesar de que é mais gramatical por ser mais limitada sintaticamente ao sempre iniciar orações com
verbos flexionados e, ainda, por ser uma estrutura mais fixa: não encontramos exemplos que mostrem
algum elemento entre os itens apesar, de e que. Semanticamente, podemos dizer que houve mudança de
sentido mais concreto para mais abstrato na mudança do substantivo pesar para as construções apesar
de e apesar de que. O sentido de «remorso, arrependimento, tristeza», entendido aqui como mais concreto, passou ao sentido de concessão, mais abstrato, que se estabelece na relação entre dois segmentos
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
da sentença. Foi obedecida, portanto, a ordem da esquerda (+lexical) para a direita (+gramatical) típica
de um percurso de gramaticalização. Na comparação entre apesar de e não obstante, observamos que,
do século XV ao século XVII, tratava-se de duas formas diferentes usadas para expressar a mesma ideia
de concessão. Entre os séculos XVIII e XIX, o apesar de começa a ser mais usado que o não obstante
como locução concessiva, determinando, assim, uma queda significativa na frequência de ocorrência do
não obstante com sentido de apesar de no século XIX (cf. PEREIRA, 2011 e 2012).
Colección diplomática de documentos galegos medievais
Maka Pérez (Instituto da Lingua Galega, Universidade de Santiago de Compostela)
Este proxecto consiste na lectura e transcrición de diferentes documentos galegos medievais. Actualmente o proxecto céntrase na lectura e transcrición das fontes pertencentes ó mosteiro cisterciense de
Santa María de Oia (Pontevedra). Os fondos deste mosteiro abranguen desde 1113 ata 1698, aínda que
no proxecto se reducen á súa etapa medieval e, por tanto, a data final ponse en torno ó 1500.
O primeiro paso é a localización dos documentos. O groso do conxunto documental consérvase no
Arquivo Histórico Nacional, o conxunto ascende a uns 1288 documentos en pergamiños soltos, tamén
hai varios legaxos e algún documento conservado no arquivo da Catedral de Tui.
O segundo paso, no que agora estamos, é a lectura dos documentos en pergamiños soltos creando
unha base de datos extraídos dos mesmo coa información que a nós nos resulta interesante. Este proceso
é moi importante para permitirnos o control e estudo dos documentos segundo os diferentes criterios
necesarios para proseguir a nosa investigación e poder clasificar os documentos que son do mesmo
notario, do mesmo abade, do mesmo rei etc.
Logo realizaremos unha relectura de corrección para cotexar datos e estilos dos diversos notarios
e completar lecturas dubidosas. Esta relectura non é lineal, pois consiste nunha continua revisión dos
documentos xa transcritos utilizando os datos que van xurdindo ó transcribi-los novos. Para iso tamén
realizamos un tratamento informático das imaxes nos casos en que resulta necesario pola calidade da
foto ou por mor do estado de conservación para poder facer unha lectura fiable.
Ademais intentamos localizar todos os documentos pertencentes a este fondo publicados por diversos autores coa intención de completar as nosas lecturas e, ó mesmo tempo, de achegar a dita información na futura publicación deste corpus.
O estudos dos nomes nas gramáticas de João de Barros (1540)
e Reis Lobato (1770)
Marcus Vinícius Pereira das Dores (Universidade Federal de Ouro Preto)
Pretende-se com este trabalho fazer um cotejo entre duas gramáticas antigas da língua portuguesa –
Gramatica da Língua Portuguesa (BARROS, 1540) e A Arte da Grammatica da Língua Portuguesa (LOBATO, 1770) – no que tange os estudos acerca dos nomes. De um lado, a gramática de João de Barros,
que possui um caráter mais prescritivo, atrelado a uma carga religiosa e moralista; de outro, a gramática
de Reis Lobato que considera mais as necessidades educacionais da época.
Já no século XVI, João de Barros, conhecido como o mais «latino» dos gramáticos da língua portuguesa, dedica parte de sua gramática para essa classe de palavras. Ao discorrer sobre o nome, ele detalha
algumas características marcantes: a qualidade (comum ou próprio, substantivo ou adjetivo, relativo ou
antecedente); a espécie (primitivo ou derivado, este, por sua vez, desdobra-se em oito: patronímicos, possessivos, diminutivos, aumentativos, comparativos, denominativos, verbais, adverbiais); a figura (simples
ou composto); o gênero (masculino, feminino, neutro, comum a dois, comum a três, duvidoso, confuso);
o número (singular ou plural); as irregularidades de alguns nomes e, por fim, a declinação dos nomes.
Passados pouco mais de dois séculos, Reis Lobato propõe uma nova gramática – que segundo ZANON e FACCINA (2004) - ficou conhecida como a primeira gramática da língua portuguesa adotada
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Pôsteres / Pósters
no ensino e que, conforme VASCONCELOS (1926), serviu como mecanismo de dominação linguística
e educacional do Marquês de Pombal – na qual o foco não seria mais o latim, e sim a língua vernácula.
Logo na introdução, ele apresenta alguns equívocos da obra de João de Barros justamente para justificar
uma das necessidades da sua obra.
Contudo, em relação ao nome, ele não se distancia muito do que foi descrito por João Barros apenas
apresenta uma nova classe de nome substantivo, o substantivo coletivo, e dá maior ênfase para as declinações.
Tesouro do léxico patrimonial galego e portugués
María Beatriz Domínguez Oroña (Instituto da Lingua Galega,
Universidade de Santiago de Compostela)
Marta Negro Romero (Instituto da Lingua Galega,
Universidade de Santiago de Compostela)
Rosa Mouzo Villar (Instituto da Lingua Galega,
Universidade de Santiago de Compostela)
O «Tesouro do léxico patrimonial galego e portugués» é un recurso on-line que dá acceso rápido e cómodo á información contida en traballos de léxico dialectal galego e portugués (Portugal e Brasil). Participan nel investigadores de Galicia (USC), Portugal (UL, UC) e Brasil (20 universidades). Aínda que está
en permanente construción, desde febreiro de 2014 ofrécese en aberto en http://ilg.usc.es/Tesouro/gl.
O TLPGP permite consultar de xeito simple a información completa contida en obras lexicográficas
e dialectais que non sempre son de fácil acceso para os investigadores. A información das fontes orixinais ofrécese completa e organizada a partir de variantes, lemas, clasificación semántica e localización.
A información textual compleméntase cunha representación cartográfica da distribución xeográfica das
formas.
O póster concíbese desde o punto de vista do usuario. Nel mostraranse as utilidades e as diferentes
formas de busca, co tipo de resultados que é posible obter en cada caso.
Génétique textuelle et les graphismes
dans la notation musicale contemporaine
Marina Maluli César (Université de Paris-Sorbonne / Universidade de Sao Paulo)
Dans cet exposé nous présenterons les deux hypothèses principales et les premiers résultats de notre
recherche autour des graphismes dans la notation musicale contemporaine. La première hypothèse est
liée à la problématique de l’énonciation et part de la théorie de l’énonciation visuelle pour analyser des
aspects dynamiques dans l’énoncé visuel d’une oeuvre musicale et quelques possibilités de lecture de la
partition graphique. La deuxième ajoute à ces analyses la notion d’intersémioticité du visuel et du sonore
afin de comprendre les directions du sens propres à chaque langage. La méthodologie utilisée consiste à
analyser des esquisses, des manuscrits et de différentes éditions d’une même oeuvre selon le point de vue
de la génétique textuelle. Les premiers résultats de notre travail nous suggèrent l’existence d’une position
esthétique de la part des ces compositeurs qui invite les interprètes à reconstituer à partir de l’écriture
l’acte d’écrire; et à partir de cet acte expressif le propre compositeur et sa pensée musicale.
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
O uso do estándar como marcador identitario na conversa mediada
por novas tecnoloxías
Naír García Abelleira (Instituto da Lingua Galega,
Universidade de Santiago de Compostela)
Este traballo ten como obxectivo determinar en que medida é usado o estándar na comunicación mediada polas novas tecnoloxías, concretamente, na conversa múltiple establecida no seo da plataforma de
comunicación virtual Whats’app.
Intentarase determinar se o uso do estándar depende de factores extralingüísticos como a idade, o
nivel de estudos, ou se é o asunto en torno ao que se constitúe o grupo de conversa o que explica o emprego do estándar e as diferenzas entre os índices de uso dos catro grupos analizados.
Sostemos, como hipótese, que o uso do estándar depende, non só da idade media do grupo, do nivel
de estudos ou da familiaridade entre os participantes, senón tamén, e fundamentalmente, do asunto en
torno ao que se artella o grupo de conversa e o tema en torno ao que xira a conversa.
Resultados
Os resultados amosan que é o asunto en torno ao que se constitúen os grupos conversacionais estudados
o factor que permite explicar as diferenzas no nivel de uso do estándar por parte dos diferentes grupos.
Por isto, concluiremos que existe unha estreita relación entre a construción da identidade e o uso do
estándar.
Atlas Lingüístico Galego
Rosa Mouzo Villar (Instituto da Lingua Galega,
Universidade de Santiago de Compostela)
Irene Santos Raña (Instituto da Lingua Galega,
Universidade de Santiago de Compostela)
Raquel Vila Amado (Instituto da Lingua Galega,
Universidade de Santiago de Compostela)
O Atlas Lingüístico Galego é o proxecto fundacional do Instituto da Lingua Galega, unha investigación
de longo alcance centrada no estudo da variación xeográfica do galego moderno. O traballo de campo
realizárono entre 1974 e 1977 os investigadores Rosario Álvarez, Francisco Fernández Rei e Manuel
González baixo a dirección de Antón Santamarina e Constantino García.
O instrumento de recollida de datos foi un cuestionario con 2.711 preguntas enfocadas á recompilación de información fonética, morfolóxica, sintáctica, léxica e tamén antropolóxica. Esta enquisa
lingüística aplicouse nunha rede de puntos constituída por un total de 167 lugares distribuídos por Galicia (152) e mais os territorios lindeiros de Asturias (7), León (5) e Zamora (3). O perfil do informante
seleccionado atende ao de persoas con características lingüísticas conservadoras que funcionan como
representantes da fala popular de cada localidade.
O material recollido nos cuestionarios dixitalizouse e incorporouse a unha base de datos que conta
con case medio millón de rexistros. Toda a información reflíctese en lendas que contan con cadansúa
representación cartográfica realizada mediante un programa de xestión de información xeográfica. Os
datos das lendas complétanse cun aparato de notas en que se recolle información fonética, fraseolóxica
e sociolingüística.
Este proceso de elaboración dos materiais do ALGa conduciu á publicación de seis volumes: I Morfoloxía verbal (1990), II Morfoloxía non verbal (1995), III Fonética (1999), IV Léxico. Tempo atmosférico e cronolóxico (2003), V Léxico. O ser humano I (2005), VI Léxico. Terra, plantas e árbores (2014). Na
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Pôsteres / Pósters
actualidade estase a traballar na redacción doutros tres centrados no léxico referido ás relacións sociais
do ser humano, ás profesións e ás ferramentas, á agricultura e aos animais.
Este póster pretende dar a coñecer o proxecto do ALGa e a súa situación actual e tamén difundir os
seus resultados.
Gondomar. Corpus dixital de textos galegos da Idade Moderna
Rosario Álvarez (Instituto da Lingua Galega,
Universidade de Santiago de Compostela)
Ernesto Xosé González Seoane (Instituto da Lingua Galega,
Universidade de Santiago de Compostela)
César Osorio Peláez (Instituto da Lingua Galega,
Universidade de Santiago de Compostela)
Florentina Xoubanova Montero (Instituto da Lingua Galega,
Universidade de Santiago de Compostela)
O proxecto Gondomar. Corpus dixital de textos galegos da Idade Moderna nace co obxectivo de crear
un instrumento que permita establecer, sobre bases sólidas e con criterios filolóxicos esixentes e rigorosos, un corpus completo e fiable dos textos galegos da Idade Moderna. Para iso, o equipo investigador
está a traballar na elaboración dun catálogo depurado de falsificacións e de textos apócrifos, ao tempo
que procura completalo significativamente con novos textos.
O proxecto ofrecerá en liña, para cada texto, unha multiedición que combine a reprodución facsimilar, unha transcrición semipaleográfica —ou, en todo caso, marcadamente conservadora do texto
orixinal— e unha edición interpretativa. Este instrumento completarase coa implementación de diversas
ferramentas para a explotación do corpus de textos e para a extracción e análise dos datos lingüísticos
contidos neles (consultas de variantes e lemas, concordancias, glosarios, etc.). O desenvolvemento do
proxecto complétase coa elaboración dunha base de datos bibliográficos e de diversos estudos descritivos
e interpretativos acerca da historia e transmisión dos textos, do contexto en que foron producidos e da
lingua en que están escritos.
O póster ofrecerá unha mostra do esquema xeral do proxecto e das súas aplicacións e utilidades.
Proxecto Dicionario dos apelidos galegos
Sandra Beis Silva (Instituto da Lingua Galega,
Universidade de Santiago de Compostela)
O Dicionario dos apelidos galegos é un proxecto coordinado pola investigadora Ana Isabel Boullón e no
que ademais participan Gonzalo Navaza, Antón Palacio, Luz Méndez e Sandra Beis (técnica de apoio).
A obra está sendo elaborada a partir duns 6000 apelidos; inclúe formas cun número de ocorrencias superior a 30 segundo o censo proporcionado polo Instituto Nacional de Estadística do ano 2001.
Ó abeiro da elaboración do Dicionario, neste póster trataremos os criterios de elaboración máis relevantes da macroestrutura e microestrutura que poden ser de interese común:
Macroestrutura
- Criterios de ordenación dos lemas.
- Tratamento das variantes: dialectais, xenéricas…
Microestrutura
- Lemas e sublemas: a ordenación dentro da entrada.
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
- Clasificación tipolóxica e motivación: patronímicos, toponímicos, sobrenomes e gentilicios.
- Etimoloxía: lingua de procedencia e raíz.
- A importancia da localización xeográfica, chave para as variantes dialectais e os apelidos detoponímicos.
- As fontes documentais.
Gêneros textuais: teoria e aplicação às aulas de língua portuguesa
Wallace Dantas (Universidade Federal do Rio Grande do Norte)
A língua é um fenômeno social, portanto, é um elemento concreto e dialógico. O processo de ensino e
aprendizagem de língua materna, contudo, muitas vezes, se detém ao abstracionismo de manuais como
dicionários e gramáticas, ao passo que o trabalho com os gêneros textuais/discursivos, elementos concretamente linguísticos, isto é, que fogem das formas abstratas de aprendizado da língua, é deixado de
lado. É através dos gêneros que a língua se manifesta e, de maneira dialógica, exprime objetivos e relaciona diferentes interlocutores. Portanto, neste trabalho, busca-se destacar a importância dos gêneros
para o ensino de língua materna, no ensino médio, na medida em que realizar-se-á uma reflexão sobre
as atuais exigências dos PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais), levando em consideração a atual
situação da docência em Língua Portuguesa. Para isso, à luz das mais diferentes perspectivas teóricas,
será feito um levantamento consistente a respeito do que se entende por gênero, texto e discurso. Assim,
sem perder de vista as reais funções dos textos que são produzidos em grande quantidade no nosso dia a
dia. Objetiva-se, também, traçar um esquema das melhores possibilidades de trabalho, provenientes do
contato com o gênero, das quais o professor pode se valer em sala de aula, no nível médio.
«Acredito que eles falam dessa forma»: o indicativo na expressão
do modo subjuntivo
Wendel Silva dos Santos (Universidade de São Paulo)
Este trabalho, que se fundamenta nos pressupostos da sociolinguística variacionista (LABOV 1972;
1994; 2001), objetiva analisar os casos de orações subordinadas substantivas, em que o modo subjuntivo é variavelmente expresso – com morfologia de indicativo ou de subjuntivo – como em «acredito
que eles falam dessa forma» e «acredito que seja a melhor oportunidade». 589 ocorrências desse tipo
são quantitativamente analisadas com o GoldVarb X (SANKOFF; TAGLIAMONTE; SMITH, 2005) no
sentido de verificar que fatores se correlacionam à seleção dessas morfologias. Os dados são extraídos
de 36 entrevistas sociolinguísticas realizadas em São Paulo (São Paulo ) 36 em São Luís (Maranhão). os
informantes foram estratificados de acordo com seu sexo/gênero, três faixas etárias (18 a 35 anos; 36 a
59 anos e mais de 60) e dois níveis de escolaridade (ensino médio e superior).
A discussão dos dados parte da impressão, por parte de falantes nativos de PB, de que os paulistanos
em geral não empregam o subjuntivo e de que em São Luís é que se melhor fala a variedade do português
brasileiro. A análise comparativa permite verificar que o indicativo é mais frequente nesses casos de
subordinação em ambas as cidades, mas os paulistanos utilizam subjuntivo um pouco menos frequentemente do que os ludovicences. Os contextos de seleção dessas morfologias, contudo, se assemelham.
Entre outros grupos de fatores, analisam-se o tipo de verbo da oração principal, o tempo verbal da principal e da subordinada e a presença de negação. Os resultados também mostram que o indicativo é mais
frequente entre os sujeitos mais jovens.
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MINICURSOS
Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
Variação sintática
Ana Maria Martins (Centro de Linguística, Universidade de Lisboa)
É objetivo geral deste minicurso mostrar como a comparação entre diferentes estruturas linguísticas,
diferentes tipos de dados, diferentes línguas e diferentes variedades (dialectais ou históricas) da mesma
língua contribui de forma determinante para um melhor conhecimento de cada uma das unidades comparadas, assim como da própria variação linguística.
O curso desenvolve-se em torno da apresentação de diferentes casos ilustrativos da investigação em
variação sintática e deverá mostrar como a perspetiva comparativa esbate a fronteira tradicionalmente
estabelecida entre diacronia e sincronia ou entre relação genética e relação tipológica.
Os três temas seguintes serão tratados em cada uma das três sessões do curso:
1. Negação e palavras negativas nas línguas românicas (pondo a tónica na relação entre diacronia e
diferenciação linguística)
2. Construções com se (dando particular atenção às estruturas dialetais com se impessoal)
3. Construções de elipse do predicado (destacando as especificidades do português e do galego que
estão por detrás de sistemas responsivos diferentes dos da maior parte das línguas românicas, mas tipologicamente afins dos de outras famílias de línguas).
O contato entre línguas na formação do Português Brasileiro
Dante Lucchesi (Universidade Federal da Bahia)
O tema do curso é a história sociolinguística do Brasil, focalizando o contato maciço da língua portuguesa com centenas de línguas indígenas e africanas, e os reflexos estruturais desse contato nas atuais
variedades populares do português brasileiro.
Durante cerca de quatro séculos, a língua portuguesa foi imposta a mais de um milhão de índios
brasileiros, que falavam centenas de línguas muito diferenciadas, e a mais de quatro milhões de africanos, que falavam dezenas de línguas das famílias banto e kwa. Em função disso, é muito provável que o
contato entre línguas tenha produzido alterações estruturais, sobretudo, nas atuais variedades populares
do português brasileiro, já que mais da metade da população do Brasil é composta por descendentes de
índios e africanos.
A pesquisa linguística busca, com base nas teorias atuais sobre o contato linguístico maciço e radical, identificar os reflexos desse processo na fala popular brasileira, testando suas hipóteses por meio de
análises sociolinguísticas de comunidades rurais isoladas de descendentes diretos de escravos africanos.
Para abordar essa temática, o curso se organizará da seguinte maneira: na primeira sessão, será feita
uma introdução às teorias sobre as situações de contato linguístico radical em que ocorrem os processos de pidginização e crioulização; na segunda sessão, será feita uma exposição panorâmica sobre a
história sociolinguística do Brasil; na terceira sessão, serão analisados aspectos da fala popular brasileira que provavelmente derivam de mudanças induzidas pelo contato entre línguas.
Panorama sociolingüístico da Galicia actual
Fernando Ramallo (Universidade de Vigo)
1. Introdución. Áreas, temáticas e perspectivas teóricas
2. Lingua e cambio social en Galicia: de 1975 a 2015
3. Caracterización sociolingüística actual: dinámicas, procesos e desafíos
4. Sociolingüística e política lingüística nunha democracia liberal: ideoloxías, consensos e conflictos
Epílogo. Da sociolingüística da distribución á sociolingüística da mobilidade.
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Minicursos
Etimologia e morfologia histórica do português
Mário E. Viaro (Universidade de São Paulo)
Será apresentado o panorama atual dos pressupostos, da metodologia e da simbólica dos estudos diacrônicos em língua portuguesa.
Interrompida pelas guerras mundiais e pelo surgimento do novo paradigma da linguística moderna, a discussão etimológica só foi retomada no final do século passado e, juntamente com ela, ressurgiu
o problema dos símbolos etimológicos. Paralelamente a uma breve apresentação historiográfica, teórica
e epistemológica da etimologia como um ramo da ciência da linguagem, far-se-á uma aplicação dos seus
métodos no campo da morfologia histórica do português, mais precisamente, por meio de exemplos de
sufixações em variantes brasileiras:
(1) Reescrevendo as etimologias do português. A metalinguagem e os símbolos utilizados na linguística diacrônica com vistas ao entendimento dos problemas da morfologia histórica do português.
A questão do simbolismo linguístico e o fenômeno da poligênese do sufixo. O caso do sufixo -eiro e da
terminação -Vngo.
(2) A diferença entre étimo e origem. Sincronia atual e sincronias pretéritas. O conceito de sistema
linguístico: a fragmentação histórica do Noroeste Peninsular e suas consequências ao longo dos séculos.
A necessidade de um novo dicionário etimológico da língua portuguesa. O caso da palavra zebra.
(3) Pressupostos da linguística diacrônica em contraposição à linguística sincrônica. Os dados linguísticos enquanto objetos de investigação científica e enquanto elementos do código facultador da
comunicação. Dados reais e dados ideais em linguística. Sistema e compreensão.
Dados maus, dados bons
Rita Marquilhas (Centro de Linguística, Universidade de Lisboa)
O curso dividir-se-á em três possíveis abordagens do problema das fontes efémeras em linguística histórica. Tais abordagens serão a histórico-cultural, a filológica e a linguística. Cada sessão terá uma primeira parte expositiva e uma segunda parte, já de natureza prática.
1.ª sessão: A permanência do breve
Busca de vestígios da linguagem em registo familiar produzida durante a época Moderna (século
XVI a inícios do século XIX).
2.ª sessão: Papéis e letras
Edição e contextualização da escrita efémera do passado.
3.ª sessão: Letras e números
Ponte entre a linguística de corpus e a linguística histórica.
Galego e portugués. Caracterización contrastiva da lingua galega
Rosario Álvarez (Instituto da Lingua Galega, Universidade de Santiago de Compostela)
O obxectivo do curso é presentar unha breve descrición das principais características do galego contemporáneo, nos seus aspectos gráficos, fónicos e morfolóxicos, con algúns apuntes sintácticos e léxicos.
Vai dirixido de forma especial a persoas que teñen coñecemento da historia e gramática do portugués, en calquera das súas variedades. A presentación será feita de maneira comparada con esta
lingua, tomando como base a grande afinidade existente entre as dúas linguas e poñendo o foco nas
diferenzas.
Estrutúrase en tres sesións:
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Gallæcia - III Congresso Internacional de Linguística Histórica
a) Galego e portugués: base histórica para unha gran semellanza básica / base histórica para a diverxencia entre dúas linguas. As diferenzas graduais entre galego e portugués europeo desde o punto de vista
xeolingüístico: pervivencia de límites antigos vs. constitución dunha fronteira.
b) Caracterización do galego contrastiva co portugués: fónica e gráfica.
c) Caracterización do galego contrastiva co portugués: morfolóxica. Notas contrastivas sobre sintaxe
e léxico.
Xeolingüística e lingüística histórica
Xulio Sousa (Instituto da Lingua Galega, Universidade de Santiago de Compostela)
O uso de programas informáticos que permiten o manexo de datos lingüísticos e a súa integración sobre
fondos cartográficos (GIS – Geographic Information System) contribuíu moito ó desenvolvemento da
xeolingüística nas últimas décadas. O emprego destes sistemas facilitou o labor dos investigadores preocupados pola variación espacial das variedades lingüísticas e tamén favoreceu a integración de novas
perspectivas de análise dos datos. A pesar de que habitualmente a xeolingüística traballa sobre información sincrónica, os novos métodos e procedementos de análise poden ser utilizados sen dificultade para
o estudo de datos lingüísticos históricos e para observar a súa evolución espacial e diacrónica.
Este minicurso ten como obxectivo ofrecer unha introdución ó emprego destas ferramentas de
análise espacial para o deseño de mapas e para a visualización da variación espacial e temporal. Nas tres
sesións ofrecerase unha introdución ó manexo dos sistemas de información xeográfica, ó tratamento
dos datos para a súa representación e a algunha ferramenta de análise espacial. O programa que se empregará durante as sesións é un GIS libre e de código aberto (QGIS).
As persoas matriculadas recibirán instrucións por correo electrónico sobre os programas a usar.
Ademais, deberán traer os seus computadores portátiles, sempre que teñan conexión a internet (a rede
eduroam está dispoñible en toda a área do campus).
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RESUMOS
GALLÆCIA
III Congresso Internacional
de Linguística Histórica
Homenagem aos Professores
ORGANIZADORES
COLABORADORES
GALLÆCIA. III Congresso Internacional de Linguística Histórica
Ramón Lorenzo e Antón Santamarina
RESUMOS
Facultade de Filoloxía
Universidade de Santiago de Compostela
Santiago de Compostela, 27-30 de julho / xullo de 2015

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