Gestão da Inovação, Performance e Agregação de Valor Um

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Gestão da Inovação, Performance e Agregação de Valor Um
Gestão da Inovação, Performance e Agregação de Valor: Um Estudo de Caso na Cadeia do
Agronegócio
Autoria: Pedro Luís Büttenbender, Luciano Zamberlan, Ariosto Sparemberger, Adriano Wagner
Resumo:
O presente artigo versa sobre gestão da inovação e a agregação de valor através de estudo
realizado numa indústria metal-mecânica, fabricante de máquinas agrícolas, integrante da cadeia
do agronegócio. Na primeira etapa, foi realizado diagnóstico e análise dos processos de
aprendizagem e das trajetórias de acumulação de competências tecnológicas, com base em
estruturas analíticas existentes na literatura, adaptadas para o tipo de indústria. As competências
tecnológicas foram estudadas nas funções de processos e organização da produção, produtos e
equipamentos. Na segunda etapa está sendo estudado o impacto da acumulação de competências
na performance de produção da indústria, avaliando: conformidade final do produto; performance
dos componentes do produto final; planejamento e execução mensal e anual; produtividade do
trabalho; tempo e recursos motivados pela entrega de produtos fora de prazo; segurança das
informações e giro de estoques; perdas por sucateamento de componentes; e implantação do
programa lean manufacturing. Os resultados sugerem que a gestão da inovação, a aquisição e
socialização de novos conhecimentos e a acumulação de competências tecnológicas jogam papel
importante e influenciam positivamente o aprimoramento da performance de produção.
1. Introdução
Os avanços e as transformações tecnológicas tem compelido as firmas a buscarem
alternativas de aprimoramento das suas competências tecnológicas e a competitividade crescente.
Para fazer frente os dirigentes dispensam atenção crescente para as estratégias inovadoras, por
um lado. Por outro, pesquisadores tem buscado melhor entendimento sobre o papel dos processos
de aprendizagem e da acumulação de competências tecnológicas e a suas implicações para a
performance tecnológica.
Na última década, estudos de estratégias corporativas reafirmam os papéis dos recursos
internos e externos às empresas e o papel das competências tecnológicas como fonte de inovação
e vantagem competitiva (Hamel & Prahalad, 1990; Teece & Pisano, 1994; Pavitt, 1991; Pisano,
1994). Esses estudos diferenciavam-se das perspectivas convencionais que buscavam explicar as
vantagens competitivas das empresas pela sua capacidade de posicionamento a certas forças do
ambiente externo (Porter, 1999). Muitos estudos na década de 90 enfatizaram a importância da
aquisição e disseminação de conhecimentos como estratégia para que as empresas criem e
mantenham suas competências tecnológicas, e competir em mercados de nível mundial (Nonaka
& Takeuchi, 1997; Leonard-Barton, 1998; Iansiti, 1998). No entanto, são recentes os estudos
empíricos, com base em estruturas analíticas, que explorem os processos de aprendizagem e as
implicações para a acumulação de competências tecnológicas, sobretudo no contexto das
empresas em industrialização. Agregado a estes estudos, as implicações no aprimoramento da
performance tecnológica. Por centrar-se em empresas em industrialização, o foco de análise deste
trabalho difere da maioria dos estudos anteriores sobre ‘conhecimento’ e ‘competências
tecnológicas’ em empresas industrializadas. Nestas, as competências tecnológicas inovadoras já
existem. Empresas em industrialização, no entanto, entram num ramo de negócios com base na
tecnologia que adquiriram de outras empresas, ou outras unidades da mesma empresa, em outros
1
países. Portanto, em seu estágio inicial, são limitadas as competências tecnológicas básicas para a
inovação. Para tornarem-se competitivas e alcançarem as empresas de tecnologia de fronteira,
elas necessitam primeiramente adquirir conhecimento para criar e acumular sua própria
capacitação tecnológica. Ao final avaliar e qualificar as implicações da acumulação de
competências tecnológicas no aprimoramento da performance tecnológica.
O termo ‘aprendizagem’ tecnológica é em geral compreendido em dois sentidos
alternativos. O primeiro refere-se à trajetória ou caminho ao longo do qual segue a acumulação
de capacitação tecnológica. A trajetória pode variar ao longo do tempo: a capacitação tecnológica
pode ser acumulada em direções e velocidades diferentes. O segundo sentido refere-se aos vários
processos pelos quais o conhecimento é adquirido pelos indivíduos e convertido para o nível
organizacional. Em outras palavras, os processos pelos quais o aprendizado individual se
converte em aprendizado organizacional. Neste trabalho, aborda-se o aprendizado no segundo
dos sentidos acima.
Em estudos recentes, Figueiredo (2001 e 2003) desenvolve e aplica estruturas e modelos
analíticos para estudar processos de aprendizagem e a sua influência na acumulação de
competências tecnológicas. Nestes, aborda também a influência e diferenças entre firmas em
termos de aprimoramento de performance. Em estudos recentes, estes modelos foram adaptados
para empresas de celulose e papel, metal-mecânica, móveis e outros, como por exemplo, os
estudos de Büttenbender (2001), Tacla (2002), Bem (2001), Marin (2001), Denicol (2001).
Porém estes estudos não analisam detalhadamente as implicações da acumulação de
competências tecnológicas para o aprimoramento de performance tecnológica. Estas limitações
são também expressas por Loures & Figueiredo (2006), quando oferecem uma reflexão crítica
quanto a mensuração de capacidade tecnológica, particularmente no contexto de industrialização
recente.
O presente estudo busca de maneira inovadora e diferenciada relacionar os processos de
aprendizagem e a acumulação de competências tecnológicas com o aprimoramento da
performance técnica e econômica. Este aprimoramento na performance, principalmente como
resultado dos investimentos nos processos de aprendizagem e na acumulação de competências
tecnológicas na indústria metal mecânica, fabricante de máquinas agrícolas, possibilitando,
inclusive, futuros estudos comparativos.
Baseado em estudo de caso individual, este artigo enfoca os processos de aprendizagem, a
acumulação de competências tecnológicas e as implicações no aprimoramento da performance
tecnológica ao nível da empresa. Os indicadores de performance de produção utilizados no
estudo são: qualidade e conformidade final do produto global; performance total dos
componentes do produto final; planejamento e execução mensal e anual (delivery performance);
produtividade do trabalho (productivit); tempo e recursos motivadas pela entrega de produtos
fora de prazo (supply on time delivery/performance); conformidade por milhão de componentes
(supply PPM); segurança e confiabilidade das informações de estoques; giro de estoques
(inventory turns); perdas por sucateamento de componentes (supply and obsoleted/per unit); e
implantação do programa lean manufacturing.
Este relacionamento é examinado em uma indústria metal-mecânica, fabricante de
máquinas e equipamentos agrícolas, na trajetória cronológica, envolvendo dois períodos. O
primeiro, estudando os processos de aprendizagem e as trajetórias de acumulação de
competências tecnológicas, abrange o período de 1970 a 2000. O segundo, estuda as implicações
na performance tecnológica enfocando inicialmente o período de 2000 à 2006. Na seção dois é
apresentada uma breve revisão dos referenciais conceituais e de estudos anteriores. Na seção três
é detalhada metodologia. Na seção quatro, a descrição da acumulação de competências
2
tecnológicas e os processos de aprendizagem, abrangendo o período de 1970 à 2000. Na seção
cinco são abordadas as implicações para a performance tecnológica, no período de 2000 a 2004.
Na finalização do artigo, constam as considerações finais e os referenciais bibliográficos.
2. Referências conceituais e de estudos anteriores
Os primeiros estudos sobre acumulação de competências tecnológicas, que apareceram
sobre os anos 70, (Katz, 1986 e 2005; Dahlman & Fonseca, 1978; Lall, 1987; Bell et al., 1982)
mostraram não apenas a incidência de atividades inovadoras em empresas em industrialização,
mas também a importância de certos mecanismos de aprendizagem para o desenvolvimento de
competências tecnológicas. Porém, estes limitaram-se a descrever a trajetória de acumulação de
competências tecnológicas na empresa sem um exame sistemático do papel dos vários processos
de aprendizagem na trajetória de acumulação.
Durante os anos 80 verificou-se uma enorme escassez de estudos de acumulação de
competências tecnológicas e processos de aprendizagem. Somente a partir de meados da década
de 90 é que emergiram novos estudos sobre essas questões. Por exemplo, Kim (1995, 1997)
examinou experiências bem sucedidas na indústria automobilística e eletrônica da Coréia do Sul,
explorando o papel da liderança na construção do conhecimento através da criação de crises, úteis
para a coordenação dos esforços de aprendizagem. Dutrénit (2000) reconstruiu a trajetória de
acumulação de competências tecnológicas em uma grande empresa de vidro no México,
enfocando principalmente os problemas encontrados pela empresa para desenvolver uma base de
conhecimentos que possibilitasse a construção e a acumulação destas competências ao longo dos
anos. Movendo-se um passo a frente, Figueiredo (2001 e 2003) analisou as implicações dos
processos subjacentes de aprendizagem para as diferenças entre duas das maiores empresas de
aço do Brasil em termos da maneira e velocidade de acumulação de competências tecnológicas.
Estes estudos forneceram novas explicações sobre o papel das competências tecnológicas e dos
processos de aprendizagem na estratégia de empresas, particularmente naquelas que operam em
economias emergentes, como o Brasil.
A competência tecnológica é definida como os recursos necessários para gerar e gerenciar
a mudança tecnológica, e estes são incorporados em indivíduos e sistemas organizacionais (Bell
& Pavitt, 1995). A mudança tecnológica no nível da firma é definida como processo contínuo
para absorver ou criar conhecimento tecnológico, determinado por fatores externos à firma e pela
acumulação de habilidades e conhecimento intrafirma (Lall, 1992). Competências tecnológicas
foram conceituadas por Bell (1984), Katz (1986), Scott-Kemmis, (1988), Lall (1992),
Dahlman,Ross-Larson e Westphal (1987), Kim (1997), Pack (1987), Enos (1991) e Bell & Pavitt
(1995). Estas conceituações são discutidas em profundidade nos trabalhos de Dutrénit (2000) e
Figueiredo (2001 e 2003).
As competências tecnológicas são examinadas aqui à luz da estrutura desenvolvida
Figueiredo (2001), adaptada de Lall (1992) e Bell e Pavitt (1995). Para o estudo na indústria
metal-mecânica, fabricante de máquinas agrícolas, a estrutura analítica foi adaptada por
Büttenbender (2001). A estrutura analítica detalha as competências tecnológicas por funções e
por níveis de dificuldade. As funções tecnológicas examinadas são: ‘processos e organização da
produção’, ‘produtos’ e ‘equipamentos’, detalhadas em Büttenbender (2001).
Seguindo Bell & Pavitt (1995) e Figueiredo (2001 e 2003) esta estrutura distingue entre
competências de ‘rotina’ e ‘inovadoras’. As competências de rotina são definidas como os
recursos para produzir bens e serviços em determinado nível de eficiência, usando-se uma
combinação de fatores: habilidades, equipamentos, especificações de produtos e de produção,
sistemas e métodos organizacionais. Competências inovadoras incorporam recursos adicionais e
3
distintos para gerar e gerir atividades inovadoras. Nesta estrutura, as atividades referentes às
diferentes funções tecnológicas são dispostas em níveis crescentes de complexidade e de
competência tecnológica, distribuídas em sete níveis. Os dois primeiros níveis concentram
atividades de rotina e os demais cinco agregam atividades inovadoras.
A aprendizagem aqui é definida como sendo os vários processos formais e informais
pelos quais indivíduos, e através destes as firmas, adquirem habilidades e conhecimentos técnicos
adicionais (Bell, 1984). A aprendizagem também é entendida como um conjunto de processos
que permite as empresas acumularem competências tecnológicas ao longo do tempo (Figueiredo,
2001 e 2003). Os processos de aprendizagem permitem às empresas acumularem as suas próprias
competências tecnológicas. O desafio das empresas em industrialização é administrar a
aprendizagem tecnológica, com vistas a alcançar os mesmos patamares de competitividades das
empresas em países de tecnologia de fronteira (Dosi, 2000).
A estrutura para a descrição dos processos de aprendizagem organiza e classifica-os em
quatro características e os distribui em quatro níveis diferentes (Figueiredo, 2001 e 2003). As
características-chave dos processos de aprendizagem são discriminadas como variedade,
intensidade, funcionamento e interação. Os níveis dos processos de aprendizagem são
organizados em aquisição interna, aquisição externa, socialização e codificação de
conhecimentos. Estes quatro níveis são estudados em dois grupos: O primeiro é formado pelos
processos e mecanismos de aquisição de conhecimentos, considerando o contexto individual. O
segundo grupo é formado pelos processos e mecanismos de conversão de conhecimentos,
considerando o contexto organizacional.
A performance tecnológica envolve um conjunto de variáveis de desempenho técnico, de
produção/produtividade da firma e pela adoção de práticas inovadoras de gestão, de segurança e
saúde, meio ambiente e responsabilidade social. Performance tecnológica neste estudo definida
pelo desempenho da empresa em relação a sua evolução histórica e em comparação com outras
firmas da indústria.
Este artigo reconhece, de um lado, que a acumulação de competências tecnológicas numa
empresa pode ser afetada por fatores externos à empresa, como políticas governamentais,
macroeconômicas, tecnológicas e industriais (Lall, 1987, 1992; Bell & Pavitt, 1995). De outro, o
artigo também reconhece que os processos de aprendizagem podem ser influenciados por
características da empresa, por exemplo, o comportamento da liderança e as crenças e normas e
cultura da empresa (Argyris e Schön, 1978; Senge 1990). Estes fatores estão além do escopo
deste estudo e, portanto, poderão ser objeto de outros e novos estudos.
3. Procedimentos metodológicos
Para examinar ‘se’ e ‘como’ ocorreu o desenvolvimento de competências tecnológicas
nesta indústria metal-mecânica, fabricante de máquinas e equipamentos agrícolas utilizou-se o
método de estudo de caso individual (Yin, 1994). A primeira parte do estudo foi estruturada para
examinar as seguintes questões: (i) desenvolvimento da acumulação de competências
tecnológicas nesta firma relativas às atividades de desenvolvimento, execução e implantação de
projetos industriais para a indústria metal mecânica (1970 a 2000) e (ii) o papel dos processos de
aprendizagem no modo e velocidade de acumulação de competências tecnológicas na empresa ao
longo do tempo. As estruturas analíticas foram adaptadas para a indústria metal-mecânica,
fabricante de máquinas agrícolas, e validadas por pesquisadores da área e por engenheiros e
técnicos de diversas firmas, de relevante impacto tecnológico e econômico nesta indústria.
A segunda parte do estudo tem por objetivo examinar as implicações dos processos de
aprendizagem, a acumulação de competências para o aprimoramento da performance tecnológica
4
no período de 2000 à 2006. O exame do aprimoramento da performance tecnológica é baseado
em um conjunto de indicadores, destacando: produção total de colheitadeiras, produtividade,
relação funcionários e produção total, níveis de conformidade e de perdas em relação a qualidade
dos componentes e do produto final, níveis de qualidade na produção, redução dos níveis de
impactos nocivos ao meio ambiente, entre outros. Para examinar essas questões, foram coletadas
evidências empíricas, qualitativas e quantitativas, no contexto da firma estudada, abrangendo
ambos os períodos (1970 à 2000 e 2000 à 2006). Essas evidências foram obtidas através de fontes
múltiplas, como: entrevistas formais com técnicos, engenheiros, gerentes e diretores da empresa
(inclusive ex-funcionários); reuniões; análise de documentos e relatórios (procedimentos, arquivo
técnico, dados históricos, etc) e observação direta.
4. A acumulação de competências tecnológicas e os processos de aprendizagem
Esta seção detalha, na primeira subseção, a acumulação de competências tecnológicas,
nas funções tecnológicas de organização da produção, produtos e equipamentos. Na segunda
subseção, detalha os processos de aprendizagem, observado o período de 1970 à 2000.
4.1. Acumulação de competências tecnológicas
A evolução da acumulação de competência tecnológica, para realizar atividades mais
complexas em cada uma nas três funções tecnológicas estudadas, ocorreu em diferentes taxas,
velocidades e períodos. O inicio da fabricação de colheitadeiras pela firma, no início da década
de 1970, ocorreu num período de pouca complexidade tecnológica, também identificada como
‘infância industrial’ (Bell, Ross-Larson, e Wesphal, 1984).
A empresa começou a operar em condições precárias, se comparadas com as atuais
referências tecnológicas para as três funções estudadas. O composto tecnológico, disponível na
época, acrescido da iniciativa, criatividade e visão empreendedora dos pioneiros gerou, no
entanto, as condições necessárias para criar e manter competências tecnológicas para a fabricação
de colheitadeiras, desde o início da década de 1970. A acumulação de competência tecnológica
seguiu o padrão ‘produção-investimentos-inovação’ (Figueiredo, 2001 e Dahlman, Ross-Larson,
e Wesphal, 1987).
As evidências empíricas demonstram que a empresa mais rapidamente acumulou
competências para desenvolver atividades da função de processos e organização da produção,
comparativamente, as atividades das funções de produtos e equipamentos. Esta acumulação
resultou da combinação e seqüência de esforços tecnológicos internos e um conjunto de alianças
externas. A postura de priorizar produção, investimentos e inovação, sugere que os investimentos
contribuíram na aceleração da acumulação de competência tecnológica e a alcançar, após trinta
anos, elevados índices de competitividade.
O número de anos que a empresa levou para acumular os diferentes níveis de competência
em cada uma das três funções tecnológicas estudadas é detalhado na Tabela nº 01. Os níveis
básico (1) e renovado (2) são consideradas atividades de rotina, enquanto que os demais níveis
representam atividades inovadoras. A velocidade de acumulação de competências tecnológicas
foi avaliada pelo número de anos (n) que a empresa necessitou para conseguir realizar atividades
deste nível de competência e o respectivo período.
No decorrer dos trinta anos, a empresa acumulou competência tecnológica do nível
intermediário superior (nível 6) para a função de processos e organização da produção e a função
de produtos e do nível intermediário (nível 5) para a função de equipamentos. A empresa
conseguiu acumular competência tecnológica para realizar atividades inovadoras nas três funções
tecnológicas estudadas somente a partir da década de 1980. As evidências empíricas sugerem que
5
a empresa acumulou competência tecnológica para desenvolver algumas atividades do Nível
Avançado (7) nas funções de processos e organização da produção e de produtos.
Tabela 1 - Número de anos (n) de permanência nos níveis de competência tecnológica
e os períodos. 1970 a 2000.
Funções tecnológicas e atividades relacionadas
Níveis de Competência
Processos e OrganiProdutos
Equipamentos
Tecnológica
zação da produção
n = 4 (1970-1974)
n = 7 (1970-1977)
n = 3 (1970-1973)
(1) Básico
n = 3 (1974-1977)
n = 3 (1977-1980)
n = 5 (1973-1978)
(2) Renovado
n = 7 (1977-1984)
n = 10 (1980-1990)
n = 12 (1978-1990)
(3) Extra-básico
n = 6 (1984-1990)
n = 4 (1990-1994)
n = 6 (1990-1996)
(4) Pré-intermediário
n = 6 (1990-1996)
n = 3 (1994-1997)
n = 4 (1996-2000)
(5) Intermediário
n = 4 (1996-2000)
n = 3 (1997-2000)
Nível não alcançado
(6) Intermediário Superior
Nível não alcançado
Nível não alcançado Nível não alcançado
(7) Avançado
As evidências empíricas sugerem que a empresa, pela significativa interação com o centro
mundial de desenvolvimento de colheitadeiras da empresa (Dinamarca) gerou, a partir de 1996,
uma aceleração na velocidade e nas taxas de acumulação de competências nas três funções
tecnológicas estudadas, o que converge com as definições de Ariffin e Bell (1996). Demonstra a
capacidade da empresa para criar, manter e aprimorar atividades inovadoras e desenvolver
atividades mais complexas, sugerindo um estágio de ‘maturidade industrial’ (Figueiredo, 2001).
O detalhamento das velocidades e taxas de acumulação de competências para o
desempenho de funções tecnológicas mais complexas nas funções de processos e organização da
produção, de produtos e de equipamentos é descrito em Büttenbender (2001 e 2005). Neste são
sugeridos vículos e convergências com contribuições de Tremblay (1998), Kim (1997), Hobday
(1995).
4.2. Processos de Aprendizagem
Esta seção analisa as características-chave dos processos de aprendizagem e as suas
implicações nas trajetórias de acumulação de competências tecnológicas na firma no período de
1970 à 2000, à luz das estruturas analíticas e das evidências empíricas detalhadamente descritas
em Büttenbender (2001 e 2005). Os processos de aprendizagem são apresentados e analisados
nas três fases da evolução da empresa, ou seja, a 1ª fase é de 1970 à 1978 (8 anos-empresa X), a
2ª fase de 1978 à 1996 (18 anos-empresa Y) e a 3ª fase de 1996 à 2000 (4 anos-Z).
4.2.1. Variedade dos processos de aprendizagem
A variedade foi avaliada em termos de ausência ou presença dos processos de
aprendizagem. Os critérios definem a variedade como ausente quando nenhum processo de
aprendizagem aconteceu no período em avaliação. A variedade é definida como presença, quando
da existência de processos de aprendizagem no período e, quantitativamente, assim classificados:
‘limitado’ com um ou dois processos; ‘moderado’ com três a cinco; ou ‘diverso’ com seis ou
mais. Os processos de aprendizagem presentes em cada uma das três fases de evolução da
empresa são descritos detalhadamente em Büttenbender (2001 e 2005) e quantitativamente
demonstrados na Tabela 2.
Os processos de aquisição externa de conhecimento estavam concentrados em poucos
mecanismos de aquisição, resultaram em baixos níveis de competência tecnológica, ou seja,
níveis de rotina e renovado. O aumento na variedade dos processos de aquisição de conhecimento
resultou em atividades geradoras e difusoras de conhecimentos (Leonard-Barton, 1998). Os
processos de aquisição interna, de socialização e codificação de conhecimento são
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complementados por Nonaka e Takeuchi (1997) quando tratam do conhecimento ao nível do
indivíduo, do grupo e da organização, das formas de interação do conhecimento tácito e explícito
e os processos de transferência de conhecimento do nível individual para os níveis grupal e
organizacional.
A variedade dos processos de aprendizagem sugere a influência positiva dos processos de
aprendizagem na definição das trajetórias de acumulação de competência tecnológica. Estudos
desta natureza foram também realizados por Kim (1995 e 1997), explorando o papel e a
influência positiva da liderança corporativa (construir crises e gerar consensos). Os processos de
aprendizagem, implementados ao longo do tempo, auxiliaram em dominar e desenvolver
atividades mais complexas (Hobday, 1995; Kim, 1995 e Dutrénit, 2000), gerar recursos
necessários para alcançar melhores patamares de competitividade (Dosi, 2000), desenvolver
novas aptidões estratégicas e resultando em vantagem competitiva (Leonard-Barton, 1998) . Estas
competências tecnológicas dificilmente poderão ser imitadas, pois estão integradas no sistema de
atividades, nos sistemas físicos, nas bases de qualificações e de conhecimentos, nos sistemas
gerenciais de instrução e recompensa, entre outros (Leonard-Barton, 1998).
Tabela 2: Variedade (n) dos processos de aprendizagem. Período de 1970 a 2000.
Fases e Períodos da Trajetória da Empresa
Processos de
aprendizagem
1ª Fase: 1970 a 1978
2ª Fase: 1978 a 1996
3ª Fase: 1996 a 2000
n = 5 (Moderada)
n = 10 (Diversa)
n = 6 (Diversa)
Aquisição externa
n = 4 (Moderada)
n = 5 (Moderada)
n = 2 (Limitada)
Aquisição Interna
n = 3 (Moderada)
n = 4 (Moderada)
n = 3 (Moderada)
Socialização
n = 2 (Limitada)
n = 5 (Moderada)
n = 3 (Moderada)
Codificação
n = 14
n = 24
n = 14
Total
4.2.2. Intensidade dos processos de aprendizagem
A intensidade dos processos de aprendizagem, avaliada pela repetibilidade dos processos
de aprendizagem ao longo de cada período, foi assim classificada: ‘uma vez’ quando aconteceu
apenas uma vez; ‘intermitente’ quando aconteceu duas ou três vezes; ou ‘contínua’ quando
aconteceu quatro ou mais vezes. Na Tabela 3 é detalhada a análise da intensidade dos processos
de aprendizagem em cada uma das fases da empresa.
Os processos de aquisição externa demonstram influência na acumulação de competência
tecnológica para desenvolver novas e mais complexas atividades tecnológicas. Os dirigentes,
técnicos e engenheiros, participaram de cursos e treinamentos externos, o que contribuiu também
na intensidade os processos aquisição interna, socialização e codificação de conhecimento,
incorporando-se a rotina quase diária da empresa, a exemplo do estudo de Garvin (1993).
Tabela 3: Intensidade dos processos de aprendizagem. Período de 1970 a 2000.
Fases e Períodos da Trajetória da Empresa
Processos de
aprendizagem
1ª Fase:1970 a 1978
2ª Fase: 1978 a 1996
3ª Fase: 1996 a 2000
Intermitente
Contínua
Contínua
Aquisição externa
Uma vez
Intermitente
Intermitente
Aquisição Interna
Intermitente
Contínua
Contínua
Socialização
Uma vez
Intermitente
Contínua
Codificação
A intensidade dos processos de aprendizagem tem contribuído no entendimento, pelos
funcionários da importância e dos princípios envolvidos na tecnologia, e da necessidade de
inovação e aprimoramento. Tem contribuído também no fluxo de socialização e codificação de
conhecimento, qualificando os processos de conversão da aprendizagem individual para a
7
aprendizagem organizacional. O estudo sugere que os processos de aprendizagem estiveram
voltados à criação, manutenção e aprimoramento de conhecimentos. As prioridades voltaram-se
para o modo pelo qual a indústria passou a criar e fortalecer as suas próprias competências, a
exemplo das contribuições dos estudos de Hobday (1995), Kim (1995), Dutrénit (2000), LernardBarton (1998) e Nonaka e Takeuchi (1997).
4.2.3. Funcionamento dos processos de aprendizagem
O funcionamento foi avaliado em “como” e “modo” pelo qual a empresa organizou e
operou os seus processos de aprendizagem ao longo do tempo e as suas contribuições para a
variedade e intensidade. A avaliação do funcionamento, que é de natureza qualitativa e subjetiva,
construída durante as entrevistas, observações diretas e as constatações. O funcionamento foi
classificado em quatro parâmetros: ‘ruim’, ‘moderado’, ‘bom’, e ‘excelente’. A avaliação do
funcionamento é detalhada na Tabela 4.
Algumas características do funcionamento dos processos de aprendizagem influenciaram
positivamente a variedade e a intensidade, como por exemplo: a repetibilidade, a presença ao
longo do tempo e a interação dos processos de aprendizagem, conforme conforme Tabela 4.
Inicialmente voltado a resolver problemas técnico-operacionais (1970-1978), as prioridades
concentraram-se na aquisição de conhecimento de outras regiões e países, incorporando-o aos
processos e organização da produção, produtos e equipamentos. Na segunda e terceira fase, o
funcionamento foi bom, considerando, por exemplo, o total de 180.000 de cursos internos e
externos da empresa no período de 1992 a 2000. Os processos de aquisição interna de
conhecimento foram marcados mais pelo método ‘aprender-fazendo’ do que pelo ‘aprenderantes-de-fazer’. O modo pelo qual a empresa organizou os processos de aprendizagem foi
elemento crítico para a construção de competências, podendo ser disfuncionais e/ou se deteriorar
ao longo do tempo, a exemplo das contribuições Leonard-Barton (1998) e Figueiredo (2001 e
2003).
Tabela 4: Funcionamento dos processos de aprendizagem. Período de 1970 a 2000.
Fases e Períodos da Trajetória da Empresa
Processos de
aprendizagem
1ª Fase: 1970 a 1978
2ª Fase: 1978 a 1996
3ª Fase: 1996 a 2000
Moderado
Bom
Bom
Aquisição externa
Ruim
Moderado
Moderado
Aquisição Interna
Ruim
Moderado
Bom
Socialização
Ruim
Moderado/Bom
Bom
Codificação
4.2.4. Interação dos processos de aprendizagem
A Interação foi avaliada pelo modo e como os processos de aprendizagem influenciam um
ao outro e como interagiram os processos de aquisição e de conversão de conhecimento. A
interação foi classificada nos critérios: ‘fraca’ quando a influência foi apenas sobre um outro
processo de aprendizagem; ‘moderada’ quando influenciou dois ou três outros processos de
aprendizagem; ou ‘forte’ quando influenciou quatro ou mais processos de aprendizagem. A
avaliação interação dos processos de aprendizagem é detalhada na Tabela 5.
Apesar de constituir-se em prioridade da empresa, na década de 1970, os processos de
aquisição externa apresentaram uma interação fraca. A partir da década de 1990 (segunda fase) os
processos de aquisição externa aprimoraram a interação com os demais processos de
aprendizagem, em especial, com os processos de socialização e codificação de conhecimento o
que sugerem a a classificação ‘moderada’ e ‘forte’ na segunda e terceira fases respectivamente. A
interação ‘forte’ dos processos de aprendizagem influenciou positivamente a velocidade e taxas
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de competências para desenvolver atividades mais complexas em cada uma das três funções
estudadas.
Tabela 5: Interação dos processos de aprendizagem. Período de 1970 a 2000.
Processos de
Fases e Períodos da Trajetória da Empresa
aprendizagem
1ª Fase: 1970 a 1978
2ª Fase: 1978 a 1996
3ª Fase: 1996 a 2000
Fraca
Moderada
Forte
Aquisição externa
Fraca
Moderada
Moderada
Aquisição Interna
Fraca
Moderada
Forte
Socialização
Fraca
Moderada
Forte
Codificação
5. Indicadores de performance e impactos no desenvolvimento
Esta seção tem por finalidade de identificar e relacionar algumas implicações na
Performance de produção da indústria metal-mecânica, considerando os dados relacionada a uma
das firmas líderes da indústria, relacionando montantes de produção e comercialização de
colheitadeiras. Por outro, relacionar alguns impactos no desenvolvimento da região.
5.1 – Indicadores de performance
No estudo abrangendo o período de 1970 à 2000 verifica-se que os mecanismos de
aquisição e de conversão de conhecimento jogaram papel importante para a acumulação de novas
competências tecnológicas na firma, envolvendo as funções de processos e organização da
produção, produtos e equipamentos. A velocidade com que a firma acumulou novas
competências, ocilou ao longo da trajetória. Nesta seção são detalhadas algumas evidências
empíricas das implicações da acumulação de competências tecnológicas para o aprimoramento da
Performance de produção , abrangendo o período de 2000 a 2006.
A produção da firma, a partir da segunda metade dos anos 1990, assumiu um crescimento
em dois sentidos. Um caracterizado pelo aumento da produção de colheitadeiras (Tabela 06).
Outro sentido, expresso pela complexidade tecnológica crescente dos produtos produzidos na
planta de colheitadeiras, bem como, a sua diversificação. Neste aspecto, a unidade da firma
estudada passou a produzir além de colheitadeiras, novos componentes para a fabricação de
tratores e componentes outros equipamentos agrícolas. Esta produção atendendo a demandas de
outras plantas de fabricação de máquinas e equipamentos da firma no Brasil e em outros países.
Passou a estabelecer uma relação business to business na sua cadeia produtiva. A produção
crescente da empresa no mercado é expressa pela participação, em 1997, de 10,17% do mercado
nacional de produção de colheitadeiras (378 unidades) para 23,5% em 2004 (2.460 unidades).
Este crescimento representa um aumento de 550,78% no volume produzido no período. A meta
da indústria apresentada para os próximos cinco anos é de alcançar 30% (trinta por cento) da
produção nacional de colheitadeiras. Nos anos de 2005 e 2006 constatou-se uma redução
significativa na produção nacional de máquinas e equipamentos agrícolas. Esta redução foi
ocasionada, entre outros, pela retração do mercado agrícola nacional, pela sobrevalorização da
moeda Real em comparação com o Dólar, gerando uma perda de competitividade externa, e pela
restrição dos créditos de ICMS aos exportadores e o aumento da alíquota do imposto em alguns
setores. A redução da produção foi gerada pela diminuição da demanda e conseqüente redução da
programação e planejamento da produção.
Considerando as oscilações na produção e comercialização de máquinas agrícolas, a
firma intensificou o desenvolvimento de novos mecanismos de acompanhamento e verificação de
performance no período de 2000 à 2006. Muitos destes desenvolvidos na firma e/ou transferidos
de outras unidades da empresa. Apesar da relevância dos mecanismos, produzem uma limitada
9
contribuição para o presente estudo, por não apresentarem uma série histórica das informações.
Assim possibilitam limitada análise comparativa ao longo do período.
Tabela 06 : Produção Anual de Colheitadeiras pela Industria brasileira , com as principais fabricantes, de
1995 à 2006.
Empresas
\
Anos
MASSEY FERGUSON
AGCO ALLIS
IDEAL
CNH CASE
CNH NEW HOLLAND
JOHN DEERE
TOTAL
1995
398
97
859
1.017
2.371
1996
415
137
897
1.082
2.531
1997
330
48
1.296
2.041
3.715
1998
492
21
90
45
1.380
2.035
4.063
1999
555
94
30
100
1.351
1.630
3.760
2000
814
29
13
1.692
1.748
4.296
2001
1.023
50
4
2.046
2.073
5.196
Fonte: Anuário da Indústria Automobilística Brasileira - ANFAVEA, 2006
2002
1.355
64
253
2.448
2.731
6.851
2003
1.906
256
532
3.112
3.389
9.195
2004
2.312
148
617
3.147
4.219
10.443
2005
892
164
296
811
2.066
4.229
2006
NI*
410
294
545
1.065
2.314
* NI – Ainda não informado .
Os mecanismos de acompanhamento da performance resultantes das funções tecnológicas
de processos e organização da produção, produtos e equipamentos, são caracterizados através de
diferentes instrumentos de acompanhamento: os níveis de qualidade e conformidade final do
produto global (colheitadeira) (RTF); performance total dos componentes do produto final (RFT);
relação entre o planejamento e a execução mensal e anual (Delivery Performance); Níveis de
produtividade do trabalho (productivit); níveis de falta de componentes por estação; níveis de
perda de tempo e recursos motivadas pela entrega de produtos fora de prazo (supply on time
dilevery/performance); níveis de não conformidade por milhão de componentes (Supply PPM);
níveis de segurança e confiabilidade das informações de estoques; níveis de giro de estoques
(inventory turns); níveis de perdas por sucateamento de componentes (Supply and obsoleted/per
unit); entre outros.
O aprimoramento da performance na gestão das pessoas são expressos por diversos
mecanismos desenvolvidos pela unidade ou adquiridos de outras unidades e adaptados a
realidade da empresa. Em complemento as práticas convencionais de gestão estratégica das
pessoas e das relações estabelecidas, a empresa vem adotando experiências inovadoras na gestão
das pessoas, onde se destacam:
a. Mecanismos de participação das pessoas, dos diversos níveis da organização, com os
dirigentes superiores. Destacam-se: “Fique por dentro” onde os dirigentes realizam reuniões
com todos os funcionários da unidade; “Café com os diretores”, através do qual funcionários
dos níveis operacionais participam de reuniões com os altos dirigentes; “Colhendo idéias”
onde funcionários podem sugerir melhorias e recebem participação nos resultados das idéias
implementadas; pesquisa periódica para verificar os níveis de satisfação dos sujeitos no
trabalho; entre outros.
b. Programa de identificação de novos talentos e apoio em programas de qualificação interna e
externa a empresa, como por exemplo: “Caça talentos” através da qual a empresa busca
identifica novos colaboradores, e/ou avaliar potenciais para funções de responsabilidade
adicional; “Programa auxílio escolar” através do qual a empresa incentiva educação formal
nos níveis médio, superior e pós-graduação; Programas traenee; entre outros.
c. Programas de qualidade de vida no trabalho e projetos de responsabilidade social, com amplo
reconhecimento externo, como por exemplo: Premiação por vários anos consecutivos do
“Top Ser Humano”, promovido pela ABRH; Premiação pelo certificado de
“Responsabilidade Social”, por vários anos, concedido pela Assembléia Legislativa do Estado
do RS; Troféu “Ouro” no Programa Gaúcho de Qualidade e Produtividade (PGQP);
Premiação por tempo de serviço (fidelidade) e de aniversariantes; Implantação do sistema
10
OHSAS (Occupational Health and Safety Assessment Series) 18000; “Projeto pescar”
destinado a capacitar jovens carentes, visando resgatar a cidadania e prepara-los para o
mercado de trabalho; “Brigada de Emergência” com equipe estrutura para atender
emergências internas e apoio na comunidade; “Projeto ISCA” que visa inserção de portadores
de necessidades especiais;
O aprimoramento da performance nos mecanismos de gestão, e seu acompanhamento, se
desenvolve através de diversos programas e ações. Alguns destes com envolvimento das equipes
de forma mais ampla, e outros programas, focados nas equipes diretivas, como principais
responsáveis pela sua implementação. São destacados alguns dos programas: Programa “Seis
Sigma”, implantação e certificação pelo Sistema ISO 9000 e ISO 14.000 (Primeira empresa
metal-mecânica brasileira, de máquinas e equipamentos agrícolas, certificada pela ISO 14000);
Implantação das “Sala de Inovação”, como espaço de socialização de experiências e práticas
inovadoras; Mecanismos de acompanhamento da evolução da capacitação e produtividade dos
recursos humanos, associado aos níveis de produção; Adoção de um conjunto de indicadores de
acompanhamento da produção, produtividade, qualidade e resultados das diversas áreas de
manufatura; entre outros.
No conjunto dos aprimoramentos revelados no período de 2000 à 2005, destacam-se a
implantação de novas tecnologias de equipamentos e processos e organização da produção. Estes
aprimoramentos com fortes impactos na melhoria da qualidade final do produto, racionalização
de estruturas de produção, padronização da qualidade, redução dos níveis de impactos nocivos ao
meio ambiente e melhoria da qualidade de vida. Pontualmente destaca-se a aquisição e
implantação de um equipamento de alta performance, com comando numérico, identificado com
“Sistema Viradeira CNC”, e a implantação do “Sistema de Pintura a Pó”.
O Programa mais recente e de elevado impacto na organização interna e performance
técnica, caracteriza-se pelo Projeto “Lean Manufacturing”. Através deste projeto objetiva
racionalizar os excessos de estoques e de movimentação, melhorar os níveis de risco ergonômico,
reduzir desperdício de tempo, e elevar os níveis de satisfação no trabalho. Através da implantação
do Projeto a firma busca a redução dos estoques, redução da área física de manufatura,
incrementar os fluxos contínuos de produção, reduzir os níveis de risco ergonômico, acionamento
da produção via Kanban, e elevação dos níveis de flexilidade (reduzir o lead-time).
As iniciativas empreendidas na região para a capacitação tecnológica e aporte de
conhecimentos em tecnologia são limitadas. O Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial –
SENAI/RS, através de Centros de Formação Profissional Instalados em Santa Rosa e
Horizontina, é responsável por desenvolver programas de qualificação de recursos humanos e
prestação de serviços tecnológicos. A Unijuí – Universidade Regional tem gerado um aporte
específico em programas de ciência e tecnologia na área metal-mecânica. O seu foco principal
(Zawislak, Lima, Ruffoni 2002), tem se concentrado nas áreas de desenvolvimento de projetos de
inovações em processos, materiais e alguns produtos. Iniciativas recentes, direcionadas a estudos
e aportes de inovação em gestão tecnológica tem gerado importantes resultados para a
acumulação de novas competências tecnológicas na indústria.
5.2 – Impactos no Desenvolvimento
Os Impactos da indústria metal-mecânica, fabricante de máquinas agrícolas no
desenvolvimento da região, bem como na agregação de valor podem ser constatados diretamente
pela participação na geração de empregos e renda, no valor adicionado aos municípios, bem
como, as contribuições tributárias municipais, estaduais e federais.
11
O desenvolvimento dos estudos sobre os impactos no desenvolvimento e na agregação de
valor foram fortemente afetados pelas dificuldades vivenciadas pela indústria metal mecânica,
fabricante de máquinas agrícolas nos anos de 2005 e 2006. Os focos dos estudos e das atenções
voltaram-se mais para as contribuições e aportes do projeto de pesquisa na assessoria à
organização das firmas (empresas) e suas lideranças, na condução das mobilizações locais,
regionais, estaduais e nacionais, visando reverter as políticas públicas que afetavam
negativamente o setor.
A coordenação e equipe de pesquisa, no período de acomodação e redução dos fluxos de
produção, se envolveu diretamente em reuniões, eventos e mobilizações de lideranças
empresariais da indústria, e representantes políticos do setor e da comunidade, visando construir
alternativas produtivas, tecnológicas e mercadológicas para as dificuldades enfrentadas no
período. Felizmente, após algumas mudanças nos cenários dos mercados nacionais e
internacionais, os volumes de produção foram retomados, o que passou a apontar uma
perspectiva positiva para o ano de 2007.
Como é destacado por Dallabrida & Büttenbender (2006), as formas de mobilização e de
mediação societárias entre o público e o privado, constituem-se em estratégia histórica para a
região fazer frente aos seus desafios. A aglutinação das diversas lideranças, das esferas política,
econômica, acadêmca e social em torno de interesses comuns, tem gerado resultados positivos
para os problemas vivenciados. Diagnósstico apresentado nesta obra detalha a evolução sócioeconômica da história recente da região. Diretamente podem ser citados os movimentos
regionais, liderados pelo Conselho regional de Desenvolvimento Fronteira Noroeste – Corede
FN, com a assessoria das Instituições de ensino superior – IES, e particição da comunidade
regional, na definição do planejamento estratégico para o desenvolvimento da região.
6. Considerações finais
As evidências descritas e analisadas neste estudo sugerem e reconhecem que a
acumulação de competência tecnológica e o aprimoramento da performance técnica e econômica,
são também afetadas por fatores externos à empresa, como por exemplo: políticas
governamentais, macroeconômicas, tecnológicas e industriais (Lall, 1987; Bell & Pavitt, 1993).
Estudos subjacentes a este artigo (Büttenbender, 2001 e 2005) sugerem que os processos de
aprendizagem foram influenciados por características, como: comportamento da liderança e as
crenças, normas e cultura da empresa (Argyris e Schön, 1978; Senge, 1990). Destaca-se porém,
que estes fatores externos e o comportamento da liderança e as crenças e normas e cultura da
empresa estão além do escopo deste estudo, e que poderá motivar outros e novos estudos.
Verifica-se, a partir da análise dos dados que a firma ampliou as suas competências
tecnológicas e a sua capacidade produtiva e desenvolver atividades tecnologicamente mais
complexas. A análise comparativa dos dados entre os indicadores, e dos mesmos indicadores ao
longo do tempo, permitirão gerar informações e referências importantes para a qualificação da
performance tecnológica da indústria fabricante de máquinas agrícolas, e os seus impactos para a
cadeia do agronegócio.
A análise preliminar dos dados sugere uma relação positiva entre os processos de
aprendizagem, a acumulação de competências tecnológicas e o aprimoramento da performance
técnica e econômica. Esse tipo de estudo não só alinha-se a estudos que visam explorar o papel
cada vez mais significativo da ‘aprendizagem’ e do desenvolvimento de competências
tecnológicas na estratégia corporativa e empreendedora, mas também na implicação dos mesmos
no aprimoramento da performance econômica e técnica.
12
Estudos com estas características e questões contribuem para o entendimento de ‘como
empresas que operam no Brasil’ incorporam os processos de aprendizagem, a acumulação de
competências tecnológicas e aprimoram a performance técnica e econômica. Este aprimoramento
de performance como estratégia para adquirir vantagem competitiva em seu mercado. A
acumulação de novas competências tecnológicas e econômica e a prospectiva internacionalização
de competências tecnológicas, conforme sugerido por Ariffin e Figueiredo (2003), Maculan
(2005) e Katz (2005), poderão subsidiar a indústria, a cadeia do agronegócio, e também as
políticas governamentais, visando elevar os níveis de competitividade dos países emergentes.
Estas contribuições corroboram com estudos de Neves (2000) e Neves & Castro (2003).
Destaca-se importância de continuar os estudos nas firmas e na indústria, para verificar os
aportes efetivos na acumulação de novas competências, no aprimoramento da performance e os
impactos para o desenvolvimento e a agregação de valor a cadeia do agronegócio. O
aprofundamento e continuidade destes estudos, e a exploração de novos temas, à luz das
estruturas aqui referenciadas, poderão motivar estudos comparativos entre indústrias de diferentes
segmentos, a fim de aprofundar conhecimentos sobre processos de inovação em empresas
brasileiras. Sugere e destaca este estudo, a importância do estímulo a políticas públicas que
incentivem a maior autonomia na produção e exploração de tecnologias e fomento aos
investimentos nacionais em P&D altamente estratégicos para a aceleração da acumulação das
competências tecnológicas, quanto no aprimoramento da performance e a promoção do
desenvolvimento.
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