eleições 2014
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eleições 2014
revistamineracao.com.br Setembro Julho. .Outubro Agosto de 2013 2014 . Especial Edição 12Edição 17 .. Ano 2 3 Comunidade Prêmio Reconhecer, da Vale, estimula projetos de desenvolvimento social Mercado Congresso Brasileiro do Aço discute dificuldades do setor eleições 2014 O que esperar daqueles que almejam ocupar o Palácio do Planalto? • Propostas dos candidatos decepcionam, enquanto setor apresenta várias demandas • Em entrevista, ex-ministro Paulo Haddad fala sobre vácuo de ideias e desafios da mineração clique Bron Worldpress Protagonista O Monte Roraima ficou famoso depois de figurar como cenário da novela Império, da Rede Globo, cuja trama tem como pano de fundo o garimpo de diamantes. O majestoso platô, localizado na tríplice fronteira entre Venezuela, Brasil e Guiana, apresenta um ambiente diferente da floresta tropical e da savana que se estendem na base. A flora e fauna locais se adaptaram a condições únicas, o que resulta em várias espécies encontradas apenas no ecossistema do monte, caso de plantas carnívoras, répteis e anfíbios. EXPEDIENTE Diretor Geral Wilian Leles [email protected] Diretor de relações institucionais Francisco Stehling Neto [email protected] Editor Geral Thobias Almeida REG. 12.937 JPMG [email protected] Redação Márcio Antunes Fransciny Alves Ívina Tomaz [email protected] Projeto Gráfico, Editoração e Design Leopoldo Vieira Anúncios / Comercial Natália Sousa + 55 (31) 3544 . 0040 [email protected] Distribuição e Assinaturas [email protected] Impressão Gráfica O Lutador Tiragem 8 mil exemplares Circulação Esta publicação é dirigida ao setor minerário, siderúrgico e ambiental, além de governos, fornecedores, entidades de classe, consultorias, instituições acadêmicas e assinantes. Foto da capa Palácio do Planalto - Roberto Stuckert Filho/PR On-line www.revistamineracao.com.br [email protected] Conselho Editorial Eduardo Costa Jornalista Rádio Itatiaia / Rede Record José Mendo Mizael de Souza Engenheiro de Minas e Metalurgista J. Mendo Consultoria Marcelo Mendo de Souza Advogado Mendo de Souza Advogados Associados Rua Guaicuí, 82 . Brasileia Betim . MG - 32.600.456 + 55 (31) 3544 . 0040 | 3544 . 0045 Acompanhe Não são de responsabilidade da revista os artigos de opinião e conteúdos de informes publicitários. 4 Revista Mineração & Sustentabilidade | Julho . Agosto de 2014 /RevistaMineracao @RevMineracao Estante CETEM 35 Anos Criatividade e Inovação Carmen Lúcia Branquinho Cetem Direito Ambiental Minerário: Mineração Juridicamente Sustentável José Ângelo Remédio Júnior Livraria e Editora Lumen Juris A obra apresenta a seleção dos principais projetos realizados pela instituição de pesquisa durante as décadas de 1980, 1990 e do Novo Milênio. Além disso, o livro mostra as novas tecnologias e soluções de gestão ambiental desenvolvidas para pequenas, médias e grandes empresas do setor mineral. Durante o período em que se discute o Novo Marco Regulatório da Mineração, o autor apresenta diversos textos que aprofundam o debate sobre as diferenças dos princípios que regem o direito ambiental e o direito minerário, e se há possibilidade de conciliá-los. • 302 p. • 1ª edição • ISBN: 978-858261-012-1 • R$ 90,00 • 376 p. • 1ª edição • ISBN: 978-853752-329-2 Ouro? Ouro! A construção do Brasil brasileiro Francisco de Paula Vasconcelos Bastos Resultado de uma pesquisa bibliográfica e geográfica sobre as regiões ricas em ouro no Brasil e em Portugal durante o século XVII, a publicação explica a história da mineração do metal nas montanhas mineiras e sobre a ligação inesperada que existe entre o Brasil Colonial e o Império Romano. • R$ 60 • 256 p. • 1ª edição • ISBN: 978-859067-651-5 Disponível para download: www.cetem.gov.br Revista Mineração & Sustentabilidade | Julho . Agosto de 2014 5 sumário revistamineracao.com.br Julho . Agosto de 2014 Edição 17 . Ano 3 14 10 Eleições 2014 Candidatos têm poucas propostas, enquanto setor tem várias demandas Entrevista Ex-ministro Paulo Haddad fala sobre o cenário da mineração brasileira 40 Produto Final Esmeralda, gema cobiçada há séculos 30 50 Mercado Produção de aço está em queda e setor passa por dificuldades 32 Comunidade Prêmio Reconhecer, da Vale, valoriza projetos sociais Seções 7 Editorial 8 Panorama 10 Entrevista 14 Especial 20 Artigo 22 Política Mineral 6 26 28 30 32 36 40 Surpreenda-se Eventos Mercado Internacional Cidades Minerárias Produto Final Revista Mineração & Sustentabilidade | Julho . Agosto de 2014 44 47 48 50 54 Sustentabilidade Artigo Cetem Comunidade Agenda Internacional A próspera mineração da Austrália 36 44 Cidades Minerárias Sustentabilidade Itabira, a cidade com alma de ferro Pesquisa busca explicações sobre mortandade de abelhas Editorial Marina seguirá propostas de Eduardo Às vésperas de uma eleição presidencial, a revista Mineração & Sustentabilidade foi atrás dos presidenciáveis para ouvir propostas para o setor. Dos três principais candidatos, Dilma Rousseff, Aécio Neves e Eduardo Campos, as respostas mais amplas e robustas foram a deste último! Com sua morte e a escolha da vice Marina Silva como cabeça de chapa, procuramos saber qual posição seria seguida. Marina, de público, prometeu respeitar e cumprir a linha programática apresentada pelo seu ex-companheiro de campanha. Quanto ao resultado das eleições, a disputa está apenas começando, mas Marina, pelas primeiras pesquisas, já disse a que veio, como mostrou o Datafolha. Resta lembrar uma observação do falecido deputado José Bonifácio, que foi líder do presidente Geisel na Câmara dos Deputados: “O fato novo em política pode ser arma mortal”. Marina virou fato novo, em meio a uma grande comoção nacional. As propostas dos candidatos para o setor mineral estão em reportagem especial de Márcio Antunes. no setor, contribuindo para a alta qualidade de vida naquele país. Pouco menor que o Brasil, a Austrália tem 447 minas e mineradoras líderes mundiais atuando por lá. É a maior produtora de bauxita do planeta e também de diamantes, e está entre os cincos maiores de minério de ferro, ouro, zinco, urânio, titânio, estanho, prata, manganês e carvão. Em menor escala tem cobre e níquel. A cidade minerária desta edição é Itabira, terra do poeta Carlos Drummond de Andrade e que, antes de Carajás, já ostentou o título de maior produtora de minério de ferro do Brasil. A economia local está ancorada na mineração, mas o município busca diminuir essa dependência e trabalha para consolidar novas indústrias e impulsionar o turismo, integrando o Circuito Estrada Real. Marina, pelas primeiras pesquisas, já disse a que veio Que a mineração brasileira está enfrentando dificuldades é sabido, mas o segmento da fabricação de aço está pedindo ao governo medidas de estímulo e culpa a concorrência da China e o fraco desempenho da economia brasileira, que este ano não deve crescer mais que 1%. Além disso, a Copa do Mundo e as eleições para presidente, governador, senador, deputado federal e estadual configuram um ano atípico que prejudica a atividade. Da expectativa de crescimento de 5,2% em relação a 2013, os números mais otimistas falam em 2,5%, conforme revela a editoria Mercado. Na editoria Sustentabilidade a redução das abelhas em todo mundo é particularizada no Brasil, onde a mineradora Vale vem estudando o fenômeno desde maio de 2014. Até outubro, 400 espécimes que habitam o Pará receberão microssensores no tórax para registrar seus hábitos e caminhos. Os estudos apontam que 70% das espécies vegetais do planeta se reproduzem graças à polinização feita pelas abelhas. Uma ONG americana informou que sem esses insetos, o mundo perderia 52% dos produtos hortifrutigranjeiros. A cargo da repórter Fransciny Alves, a matéria internacional mostra o lado minerário da Austrália, que investiu mais de US$ 125 bilhões nos últimos dez anos Nas páginas verdes o entrevistado pelo editor Thobias Almeida é o ex-ministro da Fazenda no governo Itamar Franco, Paulo Haddad, hoje presidente da PHORUM Francisco Stehling Neto Diretor de Relações Institucionais Com mais de 45 anos de experiência no jornalismo, atuou nas sucursais mineiras dos jornais Folha de S. Paulo e O Globo, além de 17 anos na editoria política do Estado de Minas. Foi também Secretário de Comunicação da Prefeitura de Belo Horizonte e Superintendente de Comunicação Empresarial da Cemig. Consultoria e para quem a mineração vem ocupando o segundo plano na pauta dos homens públicos do país. Para ele, o setor mineral brasileiro só começará a recuperar-se dos problemas internos e da crise econômica mundial de 2008 a partir de 2016, pois ainda no ano que vem haverá choro e ranger de dentes. Que na próxima edição tenhamos melhores notícias e que os brasileiros tenham escolhido candidatos verdadeiramente comprometidos com a solução para os grandes problemas nacionais. Vale lembrar que não basta escolher o melhor candidato a presidente ou governador. Precisamos também de bons senadores, deputados federais e estaduais. Revista Mineração & Sustentabilidade | Julho . Agosto de 2014 7 panorama Conforto sobre trilhos Os novos trens de passageiros da Estrada de Ferro Vitória a Minas Gerais começaram a circular em agosto. A Vale comprou 56 novos carros, sendo dez executivos e 30 econômicos, todos construídos na Romênia ao custo de US$ 80,2 milhões. Os vagões obedecem a padrões europeus de qualidade. Os trens da classe econômica têm capacidade para transportar 75 passageiros, enquanto os executivos contam com 57 assentos. Ambas as classes dispõem de ar-condicionado, tomadas elétricas individuais nas poltronas e monitores de vídeo. O trem é o único no Brasil a realizar viagens diárias, entre Cariacica, na Região Metropolitana de Vitória (ES), e Belo Horizonte (MG). O trajeto tem duração total de 13 horas e percorre 664 quilômetros, com 30 pontos de embarque e desembarque. Gerdau pisa no freio Devido à queda da produção de aço e às incertezas que pairam sobre a economia global, o Grupo Gerdau diminui o pacote de investimentos no Brasil. O plano, que previa inicialmente aporte de R$ 2,9 bilhões em 2014, foi reajustado para R$ 2,4 bilhões. Segundo a empresa, nenhum projeto será cancelado, mas a velocidade de alguns, como a expansão das operações no Complexo Minerário em Miguel Burnier, no Campo das Vertentes (MG), serão afetados. O cenário foi amenizado devido à estratégia de diversificação geográfica da multinacional. O relatório do segundo trimestre de 2014 apontou que a receita líquida da empresa chegou a R$ 10,4 bilhões, representando melhora de 5,7% se comparado ao mesmo período de 2013. O crescimento se dá, especialmente, à continuidade do crescimento da demanda por aço na América do Norte. Portal do Comércio Exterior Com o intuito de facilitar as negociações internacionais, o governo brasileiro lançou o site BrasilExport - Guia de Comércio Exterior e Investimento. Por meio de dados que indicam a situação econômica do país, a página eletrônica disponibilizará várias informações sobre o comércio brasileiro. Além de esclarecer dúvidas sobre exportações, importações e investimentos, o site pretende incentivar as trocas comerciais entre o Brasil e outros países, ajudando a atrair novos investimentos estrangeiros. De acordo com o Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio, atualmente o comércio exterior brasileiro soma cerca de US$ 500 bilhões – quatro vezes mais do que no começo da década de 2000. Mineração Jundu iniciará atividades em 2015 Com investimento de R$ 15 milhões, a Mineração Jundu, controlada pelo grupo belga SCR-SIBELCO, planeja iniciar as operações na cidade de Estância, Sergipe, em julho de 2015. A companhia especializada em minerais não-metálicos, como areias base e especiais, sílica moída, calcário e dolomita, pretende fornecer, inicialmente, matéria prima para a Saint-Gobain em Sergipe. A companhia aproveitará o declive do terreno em que será instalada para utilizar a água em circuito fechado. Atualmente, a Mineração Jundu atua em quatros estados brasileiros: São Paulo, Minas Gerais, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. 8 Revista Mineração & Sustentabilidade | Julho . Agosto de 2014 Morre ambientalista pioneiro Gabriel Lordêllo/ Mosaico Imagem/ Vale Morreu em 31 de julho, aos 90 anos, aquele que é reconhecido como um dos primeiros ambientalistas do Brasil, almirante Ibsen de Gusmão Câmara. O oficial da Marinha, que nasceu no Rio de Janeiro em 19 de dezembro de 1923, criou e apoiou diversas ONGs que atuam na preservação do meio ambiente. Câmara contribuiu diretamente para a aprovação da lei que proíbe a caça às baleias no Brasil, além de ter atuado para criação de unidades de conservação de cetáceos no país, como o Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha e a Reserva Biológica Atol das Rocas. Em dezembro de 2013, o almirante foi homenageado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), durante evento no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, em reconhecimento à sua trajetória de luta e preservação da região amazônica e da fauna e flora brasileiras. Novo Mapa Geológico da América do Sul Mais de 40 especialistas estiveram no início de agosto em Villa de Leyva, na Colômbia, para discutir a atualização do Mapa Geológico da América do Sul, na escala 1:5.000.000, e do Mapa Geológico e de Recursos Minerais do continente, na escala 1:1.000.000. A comissão técnico-científica foi composta por profissionais do Brasil, Colômbia, Bolívia, Argentina, Chile, Equador, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela. Estes mapas garantem a visão de locais onde possam ser executados novos projetos minerários, respeitando áreas ambientais. De acordo com o vice-presidente da Comissão da Carta Geológica do Mundo (CGMW) para a América do Sul, Carlos Schobbenhaus, os documentos também servirão de subsídio para a criação de mapas hidrológicos. Os documentos deverão ficar prontos em 2016. Sinal verde para a mineração submarina A Autoridade Internacional de Fundos Marinhos (Isba), órgão vinculado à Organização das Nações Unidas (ONU), autorizou o Brasil a explorar recursos minerais em águas internacionais do Oceano Atlântico. A mineração submarina objetiva extrair metais como manganês, cobre e ouro. O país terá direito de atuar por 15 anos em uma área de três mil quilômetros quadrados na região conhecida como Elevação do Rio Grande, a cerca de 1,5 mil quilômetros da costa do Rio de Janeiro. Após entregar em dezembro de 2013 um estudo sobre o potencial geológico da área, que custou R$ 90 milhões, o Brasil se tornou o primeiro país da América Latina a conseguir a permissão. Com isso, entrou no grupo de nações que realizam esse tipo de exploração, como Japão, Estados Unidos e China. Atualmente existem 26 permissões de exploração científica, que cobrem área de 1,2 milhão de quilômetros quadrados do leito oceânico. Revista Mineração & Sustentabilidade | Julho . Agosto de 2014 9 entrevista Divulgação Paulo Haddad Sinal Vermelho Ex-ministro da Fazenda alerta para o cenário de crise que se avizinha e a falta de propostas das lideranças políticas para o setor minerário Thobias Almeida 10 Revista Mineração & Sustentabilidade | Julho . Agosto de 2014 Pode-se concordar ou não com as ideias do economista Paulo Roberto Haddad, porém, ignorá-las é um erro primário. Homem que ocupou cargos públicos de alto escalão, como secretário de Planejamento e da Fazenda de Minas Gerais e ministro da Fazenda e Planejamento do governo Itamar Franco, Haddad refresca as análises sobre a mineração e a economia brasileiras de forma original, passando ao largo do lugar-comum que costuma inundar páginas de jornais país afora. Na entrevista à Mineração & Sustentabilidade, o ex-ministro, hoje diretor-presidente da PHORUM Consultoria, puxa o fio do novelo que envolve os desafios do setor minerário. De maneira crítica, analisa porque a pauta da mineração é, eleição após eleição, colocada em segundo plano pelos candidatos à presidência, fruto da “prevalência na estrutura mental de muitos líderes políticos e intelectuais da ideia de que ainda estamos num modelo de crescimento econômico do tipo primário-exportador”. Haddad reconhece avanços do setor no que se refere à adoção de um modelo de negócio mais sustentável, mas, ao mesmo tempo, dispara um alerta: “Constata-se, em geral, que a preocupação com as questões da sustentabilidade ambiental somente ganha prioridade em períodos de prosperidade recorrente”. A afirmação merece profunda reflexão. Além disso, o economista mineiro desfere sentenças sobre a competitividade da mineração brasileira, afirma que o país vive em 2014 e viverá em 2015 os piores reflexos da crise econômica iniciado em 2008 e discorre sobre os anseios dos municípios mineradores por maiores compensações, dentre outros temas. Mineração & Sustentabilidade A mineração representa cerca de 5% do PIB brasileiro, porém, o setor sempre foi tratado pontualmente nas plataformas dos candidatos a presidente. A impressão é a de que falar sobre mineração não rende votos, não interessa ao eleitor. O senhor concorda? Paulo Haddad O preconceito quanto à contribuição da mineração, assim como da agricultura, para o processo de desenvolvimento do Brasil decorre da prevalência na estrutura mental de muitos líderes políticos e intelectuais da ideia de que ainda estamos num modelo de crescimento econômico do tipo primário-exportador. Um modelo que caracterizou nossa economia no período colonial antes do bem sucedido processo de substituição de importações que acelerou a nossa industrialização nos anos JK, e sem considerar o atual modelo de integração competitiva decorrente da inserção da economia brasileira no processo de globalização desde os anos 1990. Neste novo cenário da economia brasileira, uma das contribuições da mineração empresarial globalizada para o desenvolvimento é a de ser o elo articulador de setores-chave da nossa economia (siderurgia, metalurgia, material de transporte, bens de capital, etc.) que têm a capacidade de potencializar ciclos de expansão de maior grandiosidade para a geração de renda, de emprego, de tributos e de excedentes exportáveis no país. No nível macroeconômico, mais de US$ 150 bilhões das reservas brasileiras vem sendo acumuladas pelos superávits comerciais do setor de “minérios e seus concentrados”, durante o Século XXI. Assim, se considerarmos a cadeia de valor da mineração, a sua contribuição é muito mais significativa do que os 5% do PIB, quando se leva em consideração os efeitos diretos, indiretos e induzidos dos investimentos do setor. M&S Mas é possível que o Brasil possa se desenvolver com base em seus recursos naturais, com destaque para os investimentos em mineração? Não se trata de uma volta ao passado, quando éramos apenas exportadores de matérias-primas e alimentos? PH O Brasil dispõe de uma base de recursos naturais renováveis e não renováveis ampla e diversificada, que lhe dá vantagens comparativas e competitivas para um crescimento econômico mais acelerado. Quando se contabilizam a biodiversidade da Amazônia, a fertilidade dos solos dos Cerrados para a produção de grãos e de proteína animal, as grandes bacias hidrográficas, as reservas minerais, etc., não se pode deixar de destacar o quanto a base de recursos naturais tem diferenciado o Brasil num contexto de economia. É verdade que os recursos naturais já tiveram, no passado, um papel mais relevante na formação dos ciclos de crescimento entre diferentes países e regiões. Atualmente, este papel perdeu posição relativa. Novos materiais têm substituído os recursos naturais tradicionais na composição dos modernos processos produtivos. Tecnologias mais avançadas têm causado maior economia de recursos naturais, através da redução dos coeficientes técnicos de produção e das taxas de desperdício de materiais. A miniaturização dos bens de consumo duráveis reduz a intensidade de recursos naturais por unidade produzida. A biotecnologia e a engenharia genética redefinem a potencialidade econômica dos recursos naturais. Michael Porter tem destacado em seus estudos sobre a vantagem competitiva que os países e regiões que estruturam as suas economias na produção de bens e serviços intensivos em fatores básicos ou não especializados (clima, posição geográfica, abundância de mão de obra não qualificada, etc.), são incapazes de gerar os fundamentos Paulo Roberto Haddad Diretor-presidente da PHORUM Consultoria. Formou-se em economia na Universidade Federal de Minas Gerais, instituição onde também atuou como professor. Autor de diversos livros, foi professor convidado de universidades no exterior. Exerceu o cargo de Secretário de Planejamento de Minas Gerais entre 1979 e 1982 e Secretário da Fazenda do mesmo estado entre 1982 e 1983. Foi Ministro da Fazenda entre 1992 e 1993, durante o governo de Itamar Franco. Revista Mineração & Sustentabilidade | Julho . Agosto de 2014 11 de uma competitividade sustentável, assim como prover de melhores condições de vida aos seus habitantes. Entretanto, é preciso reconsiderar múltiplos aspectos dos impactos do processo de globalização econômica e financeira sobre as economias nacionais e regionais que têm, por base de crescimento, a exploração de seus recursos naturais. Em primeiro lugar, a complexidade da demanda global por certas especificações de qualidade dos produtos de origem primária (zoosanidade, fitosanidade, manejo sustentável, logística, engenharia financeira, certificação, etc.) leva a que estes produtos tenham maior intensidade de capitais intangíveis (humano, conhecimento tecnológico, institucional, etc.) do que um grande número de produtos industrializados tradicionais, reproduzidos em regime de economia informal. Ou seja, os produtos primários, que chegam à ponta da demanda final, carregam um elevado conteúdo de fatores especializados do tipo man-made. Mesmo que por unidade do PIB haja uma menor intensidade de recursos naturais nas economias modernas, tende a crescer o volume da demanda global por bens e serviços direta e indiretamente relacionados com a base de recursos naturais. Este crescimento pode ocorrer de forma acelerada e sustentada, a partir de expressiva entrada de países como a China e a Índia no mercado mundial de bens e serviços; dos novos ciclos de prosperidade nos países industrializados; da melhoria da distribuição da renda em muitos países em desenvolvimento. Neste caso, mesmo considerando a ocorrência de alguns anos de volatilidade nos seus mercados, com implicações adversas em seus preços relativos no curto prazo, como está ocorrendo atualmente desde a crise de 2008, é possível pensar até na atenuação da tradicional tendência de uma deterioração nas relações de troca desses bens e serviços, ao longo dos próximos lustros. M&S Hoje, como o senhor enxerga o setor no Brasil? O cenário ruim desencadeado pela crise de 2008 já ficou para trás? 12 Revista Mineração & Sustentabilidade | Julho . Agosto de 2014 PH Ao contrário do que parece estar acontecendo com a recuperação da economia dos Estados Unidos, o Brasil está vivenciando em 2014, e certamente vivenciará em 2015, o pior momento das consequências sociais e econômicas da crise de 2008. Poderemos estar caminhando para uma conjuntura economia de estagflação. Ou seja, uma conjuntura em que o crescimento econômico é inexpressivo para nossos padrões históricos e para as nossas potencialidades, acompanhado de uma inflação muito elevada e destrutiva. Entre as estratégias antirrecessão, destaca-se a situação peculiar da economia brasileira entre todos os países emergentes. Uma radiografia da nossa economia, antes das turbulências mais explícitas da crise mundial, mostraria o Brasil com um conjunto único e magnificente de grandes projetos de investimentos em implantação ou em fase final de decisão para serem executados. Esse conjunto se estende para diferentes setores e atividades assim como para diversas regiões do país, sinalizando um novo ciclo de expansão. Somente no segmento de minérios e seus concentrados, o IBRAM destacava grandes projetos de investimento no valor total superior a US$ 60 bilhões, sem contar os projetos da cadeia produtiva do setor petrolífero. “Uma das contribuições da mineração para o desenvolvimento é a de ser o elo articulador de setores-chave da economia” São grandes projetos de investimento que se orientam pelo comportamento dos mercados no médio e no longo prazo, onde novos patamares de demanda foram alavancados de forma sustentada pela China e por outros países emergentes como mega consumidores de produtos intensivos direta e indiretamente de recursos naturais, onde esses projetos brasileiros se posicionam com- petitivamente em nível global. Cabe ao governo negociar com as organizações que controlam esses projetos os mecanismos e instrumentos que possam tornar irreversíveis o seu processo de implantação. A não ser que o governo continue acreditando que a atual crise econômica mundial não será longa, profunda e cadenciada. M&S Tratando-se das políticas públicas, o que os governantes nas três esferas de poder precisam ter em mente para fortalecer a atividade minerária? PH Há um elevado grau de consenso político entre os candidatos de oposição à presidência da República quanto à agenda de mudanças da economia brasileira: uma reforma tributária, uma nova legislação trabalhista, o equacionamento da sustentabilidade financeira da previdência oficial, o avanço dos processos de privatização, etc. Entretanto, é preciso também construir um novo ciclo de expansão da economia brasileira a partir dos fundamentos conceituais e ideológicos de uma Nova Política Econômica. Do ponto de vista conceitual, trata-se de encontrar o caminho de um novo paradigma para a dinâmica de desenvolvimento sustentável da economia brasileira, o qual, em princípio, deve estar associado à concepção e a implementação de nova onda de inovações tecnológicas e institucionais. Nesse sentido, deve-se privilegiar o potencial de crescimento dos segmentos produtivos que utilizam direta e indiretamente a nossa base de recursos naturais (o complexo do agronegócio, o complexo minero-metalúrgico-mecânico, etc.) e que têm se destacado no cenário global pela sua inequívoca capacidade de inovar para competir. Estes segmentos têm sido penalizados por um intervencionismo casuístico do governo que os tem desalentado. Do ponto de vista ideológico, a atual administração do Governo Federal precisa se conscientizar que a economia de mercado tem os seus imperativos e sua lógica interna de acumulação e que convive adequadamente com regulamentações localizadas setorialmente, desde que estas sejam consistentes Entrevista com Paulo Haddad tecnicamente, politicamente negociadas e institucionalmente legalizadas. Não há como a intervenção governamental ampliar o grau de incertezas dos empreendedores para além daquelas que são típicas da dinâmica dos próprios mercados. O governo não pode se transformar em um multiplicador de incertezas pelo fato de não dispor de determinação política para induzir que os interesses do velho paradigma se desestruturem a fim de que o novo paradigma possa nascer. M&S Qual a visão do senhor sobre os avanços da mineração brasileira no que se refere à adoção de práticas mais sustentáveis ao longo das duas últimas décadas? PH Constata-se, em geral, que a preocupação com as questões da sustentabilidade ambiental (poluição, mudança climática, extinção das espécies animais e vegetais, etc.) somente ganha prioridade em períodos de prosperidade recorrente. Governantes, dirigentes de empresas e os próprios cidadãos de um país somente incorporam estas questões nas suas agendas e em seus processos de planejamento estratégico a partir de um determinado patamar de sua renda, de sua receita operacional ou de sua riqueza acumulada. A partir desse patamar, passam a considerar com maior critério os trade-offs ou as escolhas conflitivas entre os objetivos do crescimento e da estabilidade de suas instituições, de um lado, e os da preservação, conservação e restauração do meio ambiente ou dos ecossistemas, do outro lado. Numa visão econômica contemporânea, estamos vivendo uma experiência de capitalismo natural onde o meio ambiente não é apenas um fator de produção menos importante, mas um envoltório contendo, provisionando e sustentando a economia. Sistemas empresariais mal concebidos ou mal estruturados, crescimento demográfico acelerado e padrões de consumo perdulários são apontados como causas primárias da perda do capital natural. O elemento diferenciador do capitalismo natural é a hipótese que está se criando uma nova revolução industrial a partir dos aumentos radicais na produtividade dos recursos naturais. Em tempos de crise e sem compreender os novos processos do progresso econômico futuro, governos tendem a desarticular políticas públicas ambientais em andamento; empresas irão tratar os impactos ambientais de seus projetos de capital como peças de enfeite em seus relatórios de marketing social; os cidadãos irão resistir às atitudes transformadoras de uma nova pedagogia ambientalista. No caso específico da atividade minerária, observa-se que as empresas mais destacadas têm assumido uma postura adequada em relação às práticas sustentáveis tanto na implantação quanto na operação de seus projetos de investimento. Este comportamento decorre dos efeitos conjugados e sinergéticos de uma atitude de responsabilidade social ampliada de seus dirigentes e de uma pressão crescente da opinião pública por maior regulamentação ambiental do setor. M&S Como o senhor vê a questão dos royalties da mineração pagos hoje no Brasil? Os municípios têm razão ao se verem pouco recompensados pela atividade minerária? PH Os municípios mineradores não se estruturaram politicamente para apresentar propostas de seu interesse na reformulação do sistema tributário na Constituição Federal de 1988. Têm razão em buscar atualmente maior participação na distribuição federativa dos tributos, taxas e contribuições para-fiscais gerados diretamente pelas atividades minerárias. Enquanto se espera por uma redefiniçao dos valores dos royalties da mineração que possam beneficiar os municípios de onde se extrai o capital natural, é fundamental que suas lideranças políticas e comunitárias formulem endogenamente uma estratégia de desenvolvimento local de longo prazo visando a diversificar a sua base produtiva. Há muitos preconceitos quanto às possibilidades de um município, cuja base econômica é a atividade de mineração, vivenciar um processo de desenvolvimento sustentável. Na verdade, em quase todos os municípios menos desenvolvidos do país onde está localizado um grande projeto de investimento de mineração, os benefícios socioeconômicos são muito expressivos. O salário médio na fase de operação do projeto chega a ser até cinco vezes superior ao salário médio que prevalecia na economia formal. A arrecadação tributária do município tende a se multiplicar por dez. O mercado de trabalho se dinamiza e se diversifica. Ocorre também uma modernização da sua infraestrutura econômica e social. A implementação de uma estratégia de desenvolvimento sustentável permite reduzir o sentimento regionalista de áreas e municípios do país na fronteira agrícola ou na fronteira mineral, que se sentem como mega-almoxarifados de recursos naturais, onde as regiões desenvolvidas vêm buscar os elos embrionários de suas poderosas cadeias produtivas. Há muitas experiências de políticas públicas que permitem, por meio de instrumentos fiscais e financeiros ou por meio de mecanismos de compras locais e de incentivos ao empreendedorismo, internalizar parte significativa do excedente econômico, viabilizado pela exploração dos recursos naturais, nas áreas em que se localizam. Assim, os maiores benefícios líquidos que a sociedade brasileira e os municípios mineradores podem extrair de sua base de recursos naturais ficam na dependência de seu comprometimento com as ações efetivas de um processo de planejamento estratégico de médio e de longo prazos. Podem abdicar deste comprometimento, adotar uma posição passiva e assistir a destruição predatória de seu capital natural, com graves consequências sobre as perspectivas de crescimento econômico e os interesses das futuras gerações do país. Ou podem construir endogenamente uma nova trajetória de desenvolvimento, onde os recursos naturais venham a se constituir em elementos pivotais de um novo ciclo de expansão que seja, de forma simultânea, economicamente eficiente, socialmente justo e ambientalmente sustentável. Revista Mineração & Sustentabilidade | Julho . Agosto de 2014 13 Especial Eleições 2014 Deserto de propostas Presidenciáveis dizem muito pouco sobre o que pretendem fazer para impulsionar a mineração brasileira; por outro lado, o setor tem uma série de demandas que, no mínimo, deveriam ser ouvidas 14 Eleições presidenciais são períodos férteis para o debate acerca de eixos de desenvolvimento do país. Mesmo que de forma precária, plataformas são colocadas na mesa, ideias são apresentadas, programas de governo são lançados. Porém, é notório que uma das atividades econômicas mais importantes do Brasil, a mineração, recorrentemente é posta em segundo plano na vitrine de propostas, nas entrevistas dos candidatos e nos embates televisivos. Soa como se a pauta mestra que rege a corrida pelo voto não comportasse a atividade minerária. 242 bilhões de vendas externas brasileiras no ano passado, o setor foi responsável por US$ 40 bilhões (16,5%), sendo que a balança comercial da mineração registrou saldo positivo 12,5 vezes maior que o resultado brasileiro no geral – US$ 31,9 bi x US$ 2,5 bi. Além disso, a cadeia da indústria de transformação mineral responde, direta e indiretamente, por cerca de dois milhões de postos de trabalho no país. São números que reforçam a prioridade de se planejar os rumos da atividade, quando mais em um momento de queda de expectativas. A mineração representa diretamente cerca de 5% do PIB nacional, com produção estimada em US$ 43 bilhões para 2014. Em matéria de investimentos, o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) projeto para o período 2014-2018 aportes no Brasil da ordem de US$ 53 bilhões, mesmo em um momento de adversidade. No campo das exportações, dos US$ Mineração & Sustentabilidade procurou todos os candidatos à presidência para colher as ideias que propõem para impulsionar o setor. O que se depreende, principalmente na análise dos dois postulantes melhor posicionados nas pesquisas, Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB), é o olhar voltado para o retrovisor. As respostas trilharam o caminho do “balanço”, Revista Mineração & Sustentabilidade | Julho . Agosto de 2014 Márcio Antunes ao invés de seguirem a trilha do planejamento para os próximos anos. Dos presidenciáveis procurados, apenas cinco enviaram algum tipo de resposta aos questionamentos. A mineração e o Brasil precisam de mais. Chama atenção ainda como as duas candidaturas proeminentes defendem e tentam capitalizar-se com o Novo Marco Regulatório da Mineração. Cabe o questionamento: já que as duas maiores forças políticas do país na atualidade creem que a nova regulamentação é positiva e que dará maior fôlego à atividade minerária, por que o texto permanece estacionado na Câmara dos Deputados há mais de um ano? Não seria o caso de se escantear a refrega oposição versus governo e colocar em primeira linha os interesses da República, direcionando as bases parlamentares para a discussão e apreciação do texto? Div ulg setoriais ainda estão em curso. Ainda não é possível detalhar e aprofundar as propostas para o setor”. O posicionamento enviado pela candidata ressalta ações desenvolvidas pelos governos Dilma e Lula, como o Plano Nacional de Mineração 2030, lançado em 2011, que “converteu-se em ferramenta estratégica para a formulação de políticas públicas e planejamento setorial”. A resposta agarra-se em números da produção e exportação da atividade mineral como sustentáculo do argumento. açã o Dilma Rousseff A assessoria de imprensa da candidata Dilma Roussef informou, por e-mail, que “as reuniões Di vu lga Aécio Neves manteve-se no patamar das generalidades e de sua atuação passada, sem adentrar o terreno das proposições. O tucano criticou a morosidade na apreciação do Novo Marco Regulatório da Mineração, “que irá conferir maior estabilidade e permitir a expansão da indústria do setor”. çã o A campanha de Aécio frisou a atuação do candidato enquanto governador de Minas Gerais e senador na construção da proposta do novo marco. “Durante sua gestão em Minas Gerais, o então governador Aécio Neves colaborou e apresentou diversas sugestões junto ao governo Aecio Neves Di A campanha de Dilma diz que o governo federal firmou convênio com o governo paraense para elaboração do Plano Nacional de Mineração do Estado do Pará 20132030, para desenvolver o setor no segundo maior produtor de bens minerais do Brasil. vu lga çã Eduardo Jorge o O postulante ao cargo presidencial pelo PV, Eduardo Jorge, esclarece que o primeiro ponto do programa de governo elaborado para a campanha é o desenvolvimento sustentável. “Não permitiremos que a extração se dê sem que se leve em consideração os impactos socioambientais causados e se comprometa com sua imediata remediação”. Eduardo Jorge afirma que exigirá a consulta a populações tradicionais atingidas pela mineração e defenderá condições de trabalho dignas, “pontos já previstos na legislação e que muitas vezes na prática não são cumpridos”. Além disso, o candidato diz acompanhar A mesma iniciativa será feita em conjunto com o governo do Maranhão até o final de 2014, afirmou a assessoria. Segundo o posicionamento da candidatura, Dilma deu andamento à discussão do Novo Marco Regulatório da Mineração, “arcabouço legal e institucional com instrumentos de gestão mais eficazes que estimularão a competitividade e o retorno mais justo dos resultados da mineração à sociedade brasileira”. O posicionamento dá destaque ainda para os investimentos em levantamentos geológicos e aerogeofísicos, executados pelo Serviço Geológico do Brasil. Desde 2004, teria sido aplicado o montante de R$ 1 bilhão, no âmbito do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). federal para a elaboração do novo marco. Como senador, liderou as discussões sobre o tema, inclusive com realização de audiência pública”, argumentou em nota. Aécio Neves destacou ainda que apresentou a proposta que corrige o valor da compensação financeira paga aos estados e municípios pela atividade mineradora (CFEM) e que estabelece que o ressarcimento seja feito com base no faturamento das empresas, e não mais no lucro. “O relatório (proposto por ele) teve sua aprovação impedida pela base aliada do governo do PT, que apresentou seu próprio projeto, mas não pautou a votação”, justificou a assessoria do presidenciável. a bancada do PV no Congresso Nacional, que, segundo ele, propôs a Emenda 287 ao texto do novo marco. A proposta veda o aproveitamento dos recursos minerais em áreas como territórios indígenas, quilombolas, unidades de conservação e sítios arqueológicos, dentre outras. Outro ponto levantado pelo candidato é a melhoria da infraestrutura e logística de escoamento da produção. “Nosso programa prevê a revitalização e a construção de novas ferrovias. Mais ainda, o enorme litoral do país aponta para a reativação do tráfego marítimo para o transporte de mercadorias para regiões mais distantes do país e a modernização dos portos”, elenca Eduardo Jorge. Revista Mineração & Sustentabilidade | Julho . Agosto de 2014 15 o açã ulg Div Luciana Genro A candidata do PSOL, Luciana Genro, defende posições como auditorias dos processos de privatização da Vale e da CSN. “Todos os indícios apontam que estas empresas foram vendidas por valores muito inferiores ao que realmente valiam e apenas o faturamento da Vale, no ano passado, demonstra isso”, afirma a candidata. Ela acrescenta que a volta dessas empresas para os braços do poder público viabilizaria “um planejamento mais democrático para o setor”. Luciana Genro propõe uma maior interferência do Estado na regulação e planejamento do mercado minerário, além da revisão do papel da mineração na estratégia de desenvolvimento nacional, com a “construção de um projeto soberano”. “Não podem ser as empresas a decidir em que ritmo o Brasil vai acabar com seus recursos minerais, isso deve ser fruto de um planejamento público e democrático”, defende. Segundo a candidata, o atual modelo da mineração reforça a tendência primário-exportadora da economia brasileira. “O minério de ferro se tornou um dos carros-chefes dessa tendência. Exportamos natureza e importamos tecnologia. Essa é uma relação muito desigual que reforça o papel subordinado do Brasil nas relações internacionais”, diz. No entanto, apesar das palavras que soam macias aos ouvidos da parcela do eleitorado de esquerda, não houve uma exposição sobre como essa mudança de paradigma seria feita. Agência Vale Di vu lga çã o 2) Exigência de seguro e garantias contra riscos ambientais e responsabilização, inclusive com extinção da concessão e/ou autorização, em caso de descumprimento das condicionantes socioambientais estabelecidas no licenciamento. 3) Justa indenização das comunidades afetadas direta e indiretamente pela atividade mineradora. Marina Silva Com a morte de Eduardo Campos, a vice Marina Silva, que é ambientalista e também carrega a bandeira do desenvolvimento sustentável, assume a cabeça de chapa e deixa claro que seguirá com o plano de governo elaborado pela campanha capitaneada pelo PSB. Por ironia, Campos, morto em um desastre aéreo em 13 de agosto, foi o único a enviar um rol de propostas um pouco mais elaboradas. 1) Correção dos royalties da mineração tendo como base o modelo aplicado ao petróleo, em percentuais sobre o faturamento bruto e participação especial. 16 Revista Mineração & Sustentabilidade | Julho . Agosto de 2014 4) Extinção do DNPM e criação da Agencia Nacional de Mineração, bem como do Conselho Nacional de Política da Mineral. 5) Realização de leilões públicos nas concessões das reservas minerais, porém com transparência e controle social, algo que não acontece satisfatoriamente no modelo de concessão do petróleo, gás e energia elétrica. 6) Salvaguardar o direito de lavra àqueles que investiram na exploração e desenvolvimento de sítios minerais economicamente viáveis, preservando o sistema de outorga de títulos minerários. 7) Consideração das condenações judiciais e administrativas por danos ambientais, sonegação de impostos e descumprimento de regras trabalhistas como critérios nas licitações. 8) Restrição da exploração mineral em terras indígenas e quilombolas, em áreas de proteção ambiental, regiões de mananciais de abastecimento de água para centros populacionais urbanos ou áreas de interesse histórico, arqueológico ou paisagístico. 9) Política de recursos hídricos específica para transporte e beneficiamento do minério, com cobrança pelo uso da água voltado para esse fim. Deserto de propostas O que o setor almeja? CNI Em 30 de julho, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou a “Agenda Setorial para a Política Industrial – Mapa Estratégico para a Indústria (2013-2022): Uma Agenda para a Competitividade”. O documento, além de reunir as demandas dos principais setores industriais do Brasil, traz um capítulo dedicado à mineração. Durante o lançamento, os três principais candidatos até então, Dilma Rousseff, Aécio Neves e Eduardo Campos, foram sabatinados e receberam o documento. Procurado pela reportagem, o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) informou estar alinhado com as propostas apresentadas pela CNI. Segundo a Confederação, a demanda gerada pelos investimentos previstos no setor minerário para os próximos anos tem potencial para alavancar o desenvolvimento da cadeia produtiva Já que os presidenciáveis são vagos ao apresentarem seus planos para a atividade minerária, Mineração & Sustentabilidade buscou reunir algumas das demandas mais urgentes do setor, atitude que já deveria ter sido tomada por aqueles que pretendem governar o país nos próximos quatro anos. do setor. “Uma política de estímulo ao adensamento da cadeia deve ter como base uma avaliação criteriosa das oportunidades de ampliação do conteúdo local, levando em consideração a competitividade do setor”, destaca o documento. Segundo a CNI, a proposta é realizar o mapeamento da cadeia de fornecedores de bens e serviços da mineração com o objetivo de identificar oportunidades para o aumento competitivo do conteúdo local. Outra ideia defendida no documento é o fortalecimento do DNPM. “Ao Departamento são destinados 10% do total dos recursos arrecadados com a Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM). No entanto, o governo vem contingenciando o orçamento do órgão, prejudicando o cumprimento da sua função legal de gerir o patrimônio mineral do país e, assim, desacelerando a realização das políticas públicas setoriais”, critica o texto da agenda setorial. José Paulo Lacerda Aécio Neves fala para a plateia de empresários Propostas da CNI • Aumentar a oferta doméstica de insumos para fabricação de fertilizantes; • Estimular a ampliação da capacidade nacional de produção de fosfato, potássio, corretivos agrícolas e micronutrientes nas fontes tradicionais e intensificar estudos buscando fontes alternativas de rochas que possuam concentrações relevantes de potássio ou fosfato; • Normatizar a adição de rochas e minerais para a remineralização dos solos que foram empobrecidos por processos naturais ou antrópicos; • Assegurar isonomia tributária para fertilizantes; • Sistema de licenciamento ambiental específico para o setor mineral; • Desenvolvimento da produção de rochas e minerais para fornecimento de matérias-primas para a construção; • Reduzir a carga tributária da “cesta básica da construção”, desonerando o ICMS da produção de matérias-primas minerais para a construção, que inclui agregados (areia e brita), calcários para cimento, argilas para cerâmica vermelha e de revestimento e alumínio; • Promover o planejamento da mineração nos municípios e/ou aglomerados urbanos, financiando estudos de ordenamento territorial para as diversas formas de uso do solo, especificamente para a mineração, bem como a realização de planos diretores municipais e de mineração, e o aprimoramento das legislações municipais e estaduais de modo a garantir a possibilidade legal de aproveitamento de áreas potencialmente produtoras desses minerais. Fonte: CNI 2014 Revista Mineração & Sustentabilidade | Julho . Agosto de 2014 17 Deserto de propostas ABPM Ponto de partida da atividade, a pesquisa mineral vive um cenário de incertezas e a expectativa da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa Mineral (ABPM) é pessimista para os próximos anos, segundo o presidente da entidade, Elmer Prata Salomão. Para o dirigente, dois fatores são críticos: o fim do ciclo de alta das commodities minerais, com consequente retração nos investimentos de risco nos principais mercados de capitais, e as incertezas quanto ao Novo Marco Regulatório. Segundo Salomão, a proposta aumenta custos e instala o monopólio sobre os recursos minerais, eliminando o protagonismo da iniciativa privada na exploração mineral. “É notória a paralisação das junior companies, grandes protagonistas das descobertas minerais recentes no país, principalmente nos últimos 10 anos, e que em sua maioria deixaram o país ou reduziram dramaticamente suas operações”, esclarece Salomão. O cenário internacional, cujos reflexos da crise econômica ainda são sentidos, inibem o aporte de recursos de risco para a exploração mineral. “As junior companies, que respondem por cerca de 60% dos investimentos no segmento no mundo, capitalizam-se nestes mercados. Porém, países como Austrália, EUA e Canadá estão retomando seus investimentos em razão da estabilidade política e legal, além da implantação de medidas de incentivo”, constata o presidente da ABPM. Elmer Salomão sugere que o Brasil crie mecanismos de incentivo à pesquisa mineral e adote normas para usar o mercado de capitais para estimular a pesquisa, compensando as dificuldades internacionais. “Ao invés disso, o governo propõe aumento da taxação e leis estatizantes, tornando o país ainda menos competitivo para os poucos investimentos disponíveis”, criticou. O presidente da ABPM aponta ainda dificuldades adicionais como a excessiva burocracia e infraestrutura deficiente. Elmer Salomão avalia que os presidenciáveis não possuem propostas concretas para dar novo ânimo ao setor. “As diretrizes 18 Revista Mineração & Sustentabilidade | Julho . Agosto de 2014 divulgadas pelos três principais candidatos à presidência passam inteiramente ao largo da questão mineral, inclusive a do candidato Aécio Neves, que é de Minas Gerais, o estado símbolo da mineração brasileira. Isto significa que mais uma vez a mineração estará distante das prioridades governamentais”, critica. Propostas da ABPM • Modernização do atual Código de Mineração, mantendo a segurança e continuidade jurídica dos títulos minerários vigentes, o direito de prioridade, e promovendo simplificação e redução da burocracia; • Limitação de restrições ambientais para atividades de pesquisa mineral; • Estruturação adequada de gestão pública, especialmente o DNPM e a CPRM, dando agilidade e eficácia na ação destes órgãos; • Implementação de políticas de fomento à exploração mineral; • Criação de mecanismos para capitalização de projetos de pesquisa mineral no país; • Adoção de normas para definição e divulgação de recursos e reservas minerais em padrões internacionais; • Títulos minerários passíveis de serem aceitos como garantia real de financiamento; • Incentivos fiscais à pesquisa mineral semelhantes ao Flow-trough-shares canadense; • Reforma tributária que contemple as demandas dos municípios exportadores, atualmente submetidos à lei Kandir; • Adoção de políticas de apoio à agregação de valor aos produtos minerais produzidos no país, através de incentivos à inovação e de remoção de barreiras tributárias; • Formação adequada de recursos humanos, incluindo capacitação profissional para o empreendedorismo; • Criação de cadeias auxiliares fornecedoras de serviços e equipamentos para o desenvolvimento da pesquisa mineral; • Fim do monopólio dos minerais radioativos. AMIG Enquanto o empresariado critica a sugestão de um Novo Marco da Mineração, a Associação dos Municípios Mineradores de Minas Gerais (Amig), defende a aprovação da proposta. A entidade avalia que o documento é um avanço por ter dado a oportunidade de as cidades mineradoras discutirem interesses e apresentarem propostas. “O setor produtivo anseia por uma legislação simples e ágil, menos burocratizada e que priorize os investimentos”, informou o presidente da entidade e prefeito de Mariana (MG), Celso Cota (PSDB). Cota afirma que os municípios mineradores manifestaram interesse em participar do processo de concessão da jazida que, segundo ele, deve ser mais participativo. O objetivo seria simplificar os procedimentos de licenciamento da lavra e distribuir uma parcela maior das riquezas extraídas. “O documento foi composto em consenso, com vários pontos sendo discutidos à exaustão. Todavia, há uma tendência centralizadora no governo central, que quer fixar as alíquotas da CFEM por decreto, o que deixa certa insegurança para os atores envolvidos. Vemos alguns avanços, como a modernização do DNPM, mas a demora na aprovação do novo ordenamento e as posições intransigentes do Governo Federal penalizam o setor e o Brasil”, avalia. A Amig considera que os candidatos à presidência não apresentaram propostas consistentes para o setor minerário. Para o presidente da Associação, a discussão da política minerária brasileira obrigatoriamente deve ter Minas Gerais e Pará à mesa como principais interlocutores. “Gostaríamos que um dos itens da pauta dos candidatos fosse ouvir a representação desses estados e formular uma proposta de governo de consenso”, completa. Revista Mineração & Sustentabilidade | Julho . Agosto de 2014 19 artigo Mineração e PD&I: carta aberta ao presidente da república do Brasil 2015 - 2018 Senhor Presidente, O Brasil, como Vossa Excelência bem sabe, tem na sua Mineração não só o alicerce do seu desenvolvimento sócio-econômico-ambiental - ou seja, do seu Desenvolvimento Sustentável -, como a atividade econômica que, historicamente, concretizou a estrutura do Estado - para o melhor controle de produção das minas, quando do Ciclo do Ouro - e é aquela que, no dizer de Paulo Pinheiro Chagas, foi a Mãe da Democracia no País: “A democracia no Brasil é filha da Mineração”. Por outro lado, nosso futuro - de curto, médio e longo prazos -, com destaque para a indispensável infraestrutura competitiva, da qual necessitamos dramaticamente! - depende, crucialmente, da oferta de bens minerais, o que só ocorrerá, evidentemente, se, além das jazidas e minas que já conhecemos, viermos a ter a competência de revelar novas. Para tanto, é evidente que em muito contribuirá conferirmos à pesquisa geológica - especialmente para fins de incentivos fiscais e financeiros - o status de PD&I, eis que, sem sombra de dúvida, ela é uma inovação tecnológica. “Mas, afinal, o que é inovação?”, perguntou VEJA ao físico Carlos Henrique de Brito Cruz, à época Diretor Científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), ex-Reitor da UNICAMP, que respondeu assim: “Uma empresa inova quando coloca no mercado, com êxito, produtos, serviços ou processos que não existiam anteriormente. Essa é uma inovação radical. É possível inovar também modificando 20 Revista Mineração & Sustentabilidade | Julho . Agosto de 2014 alguma característica de algo que já existe. Chamamos de inovação tecnológica aquela que se baseia no conhecimento científico para sua realização”². E o que é colocar uma jazida mineral no mercado, sabendo-se que antes de ter sido revelada sua existência ela era um produto que “não existia”? É exatamente o que o físico Carlos Henrique Brito Cruz define como “inovação radical”, ou seja, “a colocação no mercado, com êxito, de um produto (a jazida mineral) que não existia anteriormente (pelo menos para o mercado)” e cuja revelação teve como fundamento o conhecimento científico, como bem destaca o citado professor. Ora, a colocação de uma jazida mineral no mercado exige e pressupõe planejamento e realização, com êxito, de trabalhos embasados em diversas ciências, das quais a principal é a Geologia, que se correlaciona com outras, como nos lembra Arthur Holmes em seu livro Principles of Physical Geology, no qual explica que a Geologia - ou seja, o estudo da Terra tem a ver com: “(i) geologia histórica; (ii) paleogeografia: as mudanças sucessivas do relevo superficial durante o tempo geológico; (iii) estratigrafia: sucessão de rochas e fósseis durante o tempo geológico; (iv) mineralogia e petrografia; (v) geologia física: processos terrestres e seus resultados e a Terra em seu conjunto; (vi) geoquímica: distribuição e migração dos elementos, minerais, rochas e depósitos metálicos; (vii) paleontologia: fósseis; (viii) biologia: matéria viva; (ix) bioquímica; (x) química: matéria; (xii) física: energia; (xii) físico-química; (xiii) astrofísica; (xiv) astronomia: matéria no espaço celeste; (xv) cosmologia. A propósito, vocês já para- ram para pensar a complexidade que é, por exemplo, pesquisar petróleo, cubar a reserva porventura encontrada e extraí-lo a profundidades de 2.000 a 3.000m no fundo do mar e o quanto o êxito de tal empreitada depende de conhecimentos científicos e tecnológicos? É exatamente a complexidade de se descobrir jazidas minerais, estudá-las e, finalmente, comprovar sua existência, que faz com que seja dito que o risco na Mineração pode ser avaliado, por exemplo, pelo fato de que, em média, de cada mil afloramentos estudados resulta, no final, uma jazida, a qual, como sabemos, é uma anomalia geológica: ou seja, para se ter êxito e encontrar uma jazida é preciso, entre outros e especialmente, recursos humanos, financeiros, logística, ciência, inspiração e muita - mas muita mesmo!! - transpiração! Aliás, vale sempre lembrar, também, que a revelação de uma jazida mineral é o resultado positivo de uma pesquisa mineral, conceituada como tal no Código de Mineração (D.L 227, de 28 de fevereiro de 1967, Art. 14) como “a execução dos trabalhos necessários à definição da jazida, sua avaliação e a determinação da exequibilidade do seu aproveitamento econômico”, ou, mais detalhadamente (parágrafo 1º do Art. 18): “A pesquisa mineral compreende, entre outros, os seguintes trabalhos de campo e de laboratório: levantamentos geológicos pormenorizados da área a pesquisar, em escala conveniente, estudos dos afloramentos e suas correlações, levantamentos geofísicos e geoquímicos; aberturas de escavações visitáveis e execução de sondagens no corpo mineral; amostragens siste- máticas; análises físicas e químicas das amostras e dos testemunhos de sondagens; e ensaios de beneficiamento dos minérios ou das substâncias minerais úteis, para obtenção de concentrados de acordo com as especificações do mercado ou aproveitamento industrial”. Como a própria definição de jazida no Código de Mineração (Art. 4º) é “toda massa individualizada de substância mineral ou fóssil, aflorando à superfície ou existente no interior da terra, e que tenha valor econômico”, fica assim caracterizado ser a jazida um produto que só se coloca no mercado quando os estudos para a sua descoberta são coroados de êxito. Exposto todo o acima, verifica-se, claramente, que para um depósito mineral ser considerado jazida, deve ter valor econômico: temos assim, indubitavelmente, ser a jazida mineral uma inovação radical, como tal devendo ser por todos percebida e considerada. E ser uma inovação confere-lhe (à jazida mineral) atributos especiais que, a meu ver, atendem a todos os pré-requisitos da legislação de incentivos e estímulos à inovação, pois a revelação de uma jazida é uma inovação: e inovação de primeira grandeza, eis que disponibiliza para a sociedade produto(s) mineral(is), simplesmente essencial(is) à qualidade de vida almejada hoje por todos, como bem destaca o Banco Mundial ao afirmar “ser quase impossível imaginar a vida sem minerais, metais e compostos metálicos. Dos 92 elementos que ocorrem na natureza, 70 são metais: muitos são essenciais para a vida das plantas, dos animais e dos seres humanos. Estas substâncias fazem parte da atividade humana desde que pequenos pedaços de cobre foram martelados pela primeira vez e transformados em ferramentas simples. Atualmente, a sociedade precisa de minerais e metais para cada vez mais finalidades. Minerais industriais, como a mica, são componentes essenciais de materiais industriais avançados. A agricultura necessita de fertilizantes à base de minerais. A indústria depende dos metais para seu maquinário e de concreto para as fábricas necessárias à industrialização. Nenhuma aeronave, automóvel, computador ou aparelho elétrico funcionaria sem metais. O fornecimento de energia elétrica depende do cobre e do alumínio. O titânio é fundamental para motores de aeronaves. Um mundo sem o chip do silício, hoje, é inimaginável. Os metais continuarão a atender às necessidades das gerações futuras, através de novas aplicações nos setores de eletrônica, telecomunicações e aeroespacial”. E por que é importante para o País - e para todos nós da Mineração - que a descoberta de uma jazida mineral seja considerada inovação, ou PD&I? Por várias razões, como, por exemplo, a integração das empresas de mineração, universidades e instituições de pesquisa na denominada Lei de Inovação (Lei nº 10.973, de 02 de dezembro de 2004), cujos objetivos principais, vale lembrar, são: (i) estimular a construção de parcerias estratégicas e a cooperação entre universidades, institutos de pesquisa públicos e empresas privadas voltados para a realização de atividades de pesquisa e desenvolvimento, que tenham como meta a geração de inovações; (ii) incentivar a transferência para o setor privado de tecnologias geradas em instituições públicas de pesquisa; (iii) estimular a geração de inovações diretamente nas empresas nacionais. Outra razão, mais imediata e direta, é que, uma vez prevalente o conceito de jazida mineral como produto de inovação, fruto de ciência e tecnologia, a atividade de pesquisa mineral adquirirá, de imediato, outro status, inclusive no que respeita à sua valorização e à percepção, pela sociedade, não só da complexidade que é descobrir uma jazida de porte - especialmente no caso de depósitos minerais de classe internacional -, como do fato de que a pesquisa mineral e a própria Indústria Mineral, tem muita “tecnologia embarcada”! E, certamente, tal percepção resultará em a Mineração vir a ser melhor compreendida pela comunidade ambientalista, pois esta se concretizará de que a descoberta de uma jazida mineral é, cada dia mais, arte e ciência, bem como de que sua revelação aumenta e melhora o potencial de bem estar das pessoas, especialmente o daquelas que vivem na região onde o José Mendo Mizael de Souza Engenheiro de Minas e Metalurgista, EEUFMG, 1961. Ex-Aluno Honorário da Escola de Minas de Ouro Preto. Presidente da J.Mendo Consultoria Ltda. Fundador e Presidente do CEAMIN - Centro de Estudos Avançados em Mineração. Vice-Presidente da ACMinas - Associação Comercial e Empresarial de Minas e Presidente do Conselho Empresarial de Mineração e Siderurgia da Entidade. Coordenador, como Diretor do BDMG, em 1976, da fundação do Instituto Brasileiro de Mineração - IBRAM. Como representante do IBRAM, um dos 3 fundadores da ADIMB - Agência para o Desenvolvimento Tecnológico da Indústria Mineral Brasileira. Ex-Conselheiro do CETEM - Centro de Tecnologia Mineral do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. depósito mineral vier a ser revelado. Convido, pois, a todos os que concordarem com a visão acima - da jazida mineral como uma inovação tecnológica radical, ou seja, fruto de PD&I - que cerrem fileiras conosco na difusão e na defesa deste conceito. Ou seja, pesquisa geológica é PD&I pura! Este será o nosso grande passo. Sr. Presidente, vamos concretizá-lo! ² A essência deste texto, de minha autoria, foi publicada, originalmente, como “Coluna do Mendo”, na Revista Minérios &Mineralles de setembro/outubro de 2006. Revista Mineração & Sustentabilidade | Julho . Agosto de 2014 21 Política Mineral comunidade Mineração em Terras Indígenas Urgência engavetada Mineração: ameaça ou oportunidade para comunidades indígenas? Reuters Enquanto o projeto de lei que discute a mineração em terras indígenas não é aprovado, tribos sofrem com garimpeiros ilegais; texto se arrasta há 18 anos no Congresso Fransciny Alves Apesar das promessas de agilidade na tramitação do Projeto de Lei 1610/1996, que autoriza a mineração em terras indígenas, a matéria ainda permanece adormecida em alguma gaveta do Congresso Nacional. Enquanto nada é deci22 Revista Mineração & Sustentabilidade | Julho . Agosto de 2014 dido, crescem os requerimentos para a exploração em territórios de comunidades nativas e aumentam as ameaças às tribos vindas de garimpos ilegais. Ainda assim, a população indígena tem opiniões divididas sobre o tema. A Constituição Federal estabelece que a exploração de recursos minerais e hídricos em terras indígenas deve ser precedida por uma lei que estabeleça as condições para a atividade ser desenvolvida; autorização do Congresso Nacional; e Terras preciosas O DNPM contabilizou 665 requerimentos dentro da Terra Indígena Yanomami, que está compreendida entre Amazonas e Roraima. A área possui 9,6 milhões de hectares, maior território indígena demarcado do Brasil. De acordo com o Departamento, considerando toda extensão, a reserva é a que detém o maior número de manifestações de interesses para a exploração mineral. No local, vivem 25 mil índios. Garimpos ilegais na região são recorrentes. Em março deste ano, a operação ‘Korekorema’, focada no combate à garim- peiros clandestinos na terra Yanomami, destruiu 20 balsas, uma pista para pouso e decolagem de aviões e promoveu a retirada de 60 homens do local. A operação foi realizada pela Funai em parceria com as polícias Federal e Militar. Além da Yanomami, outras áreas estão na mira da mineração. A terra indígena Xikrin do Cateté, no Pará, tem 99% de sua área requerida para fins minerais, pois está localizada sobre uma grande jazida de ferro e cobre. Já a TI Waiãpi, no Amapá, tem quase 80% de seu território requerido, sobretudo para extração de ouro. Divulgação necessidade de se ouvir as comunidades nativas, que têm participação assegurada nos resultados da mineração. Desde que começou a tramitar na Câmara, em 1996, o projeto de autoria do senador Romero Jucá (PMDB - Roraima) engatinha em Brasília. O texto prevê a mineração em terras indígenas por meio de autorização do Congresso Nacional e com pagamento de royalties para os índios e para a Fundação Nacional do Índio (Funai). O PL gera polêmica, devido às desavenças entre as tribos e aos interesses das mineradoras. A principal preocupação de alguns povos indígenas se relaciona com os impactos socioambientais que a mineração pode trazer. Já as empresas acreditam que a pesquisa e a extração de minerais nobres, como ouro, diamante e nióbio - correspondem a interesses nacionais, sendo assim fundamentais para o crescimento do país. Por outro lado, há tribos que veem na mineração uma forma de garantir o sustento familiar. É o caso dos indígenas da região do Alto Rio Negro, no Amazonas, que chegaram a garimpar nas décadas de 1980 e 1990. Eles apostam em uma mineração controlada, operada às raias do artesanal e sustentável. Requerimentos De acordo com a Fundação Nacional do Índio (FUNAI), existem atualmente 462 terras reservas indígenas regularizadas, que representam 12,2% do território nacional. Até julho, foram recebidas pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) 4.607 manifestações de interesse de atividades de mineração que interferem total ou parcialmente em terras indígenas. Em 2014 foram registrados 47 requerimentos. Levantamento do Instituto Socioambiental (ISA) aponta que existem 32 terras indígenas cuja incidência de processos de requerimento minerário é superior a 90% do território, e outras 74 possuem mais de 50% de área requerida. O advogado do ISA, Raul do Valle, afirma que a situação deve ser levada em consideração pelo projeto. “Mesmo sem ter um marco legal que regule a atividade, existem muitos requerimentos incidentes sobre terras indígenas. Não é razoável que uma terra tenha mais da metade de seu território com exploração mineral. Isso deve ser coibido e regulado pela lei, quando ela existir”, defende. Para especialistas, o interesse de garimpeiros por essas áreas se dá por serem territórios relativamente extensos e remotos e que, por mais que pertençam à União, têm pouca proteção efetiva contra invasões. Além disso, as terras indígenas são ricas em minerais como ouro, cobre, chumbo, níquel, estanho e volframita. Raul do Vale assegura que apenas a aprovação da lei sobre a mineração em terras indígenas pouco acrescentará. “Para acabar com os garimpos ilegais é necessária a presença do Estado, com fiscalização e fomento de atividades econômicas sustentáveis. O que os povos indígenas precisam é de um novo marco legal que regule sua relação com o Estado Nacional”, argumenta o advogado. Ritmo Lento Com o intuito de aprovar o projeto em 2011, a Câmara dos Deputados repetiu a estratégia de 2007 e criou uma Comissão Especial para discutir o tema. Mas, assim como na legislatura anterior, a comissão deve trocar de membros no próximo ano. Ou seja, nada deve ser Revista Mineração & Sustentabilidade | Julho . Agosto de 2014 23 Urgência engavetada Garimpos ilegais, livres de qualquer fiscalização, representam uma ameaça às comunidades nativas frentedeacaopro-xingu.blogspot.com decido. Prova disso é que o projeto foi discutido pela última vez em 5 de novembro de 2013. Atualmente, o texto espera pelo parecer da relatoria da comissão que analisa o PL 1610. Segundo o site do relator do projeto, Edio Lopes (PMDB - Roraima), o texto com as novas adequações seria apresentado em junho deste ano, o que não ocorreu. Procurada, a assessoria de imprensa do parlamentar alegou que o deputado não poderia responder aos questionamentos devido à dificuldade de comunicação, uma vez que Lopes está envolvido com a campanha eleitoral no interior de Roraima. Prática Comum O presidente da Comissão de Direitos Difusos e Gestão Integrada do Território da OAB-MG, Henrique Augusto Mourão, explica que é comum que projetos de leis que envolvam questões ideológicas demorem mais no Congresso. “A Constituição estabelece que as terras ocupadas pelos índios são deles. Por isso, o uso das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nessas terras pertencem às tribos indígenas. Mas, ao mesmo tempo, a sociedade brasileira também tem direito de usufruir das riquezas que 24 Revista Mineração & Sustentabilidade | Julho . Agosto de 2014 estão no subsolo do país. Ainda mais quando se trata de um dos principais insumos do Brasil, que contribui diretamente para nossa economia. É por ser paradoxal e polêmica que a tramitação é mais difícil”, comenta Mourão. A Funai, órgão federal que estabelece e executa a política indigenista no Brasil, reconhece que não tem posição sobre o projeto. É importante ressaltar que o debate está presente no espaço público há anos. A assessoria de imprensa da Fundação limitou-se a dizer que será emitido um parecer caso o projeto vire lei. Incerteza Pessimista quanto ao consenso sobre os interesses das tribos indígenas e das mineradoras, Henrique Augusto Mourão afirma que o projeto de 1996 merece ter o texto restruturado. “Para que ocorra um acordo único entre os interessados, é preciso que haja adequação do texto, observando, por exemplo, o cenário econômico atual. É necessário deixar de lado a disputa de interesses políticos e econômicos. Caso contrário, nada sairá do papel”, conclui. Gustavo Lima O representante do ISA, Raul do Valle, afirma que, por mais que acreditem que o território indígena é mais relevante ao país como produtor de serviços ambientais do que de minérios para exportação, isso não significa que não se possa haver mineração dentro dessas áreas. “A mineração deve ocorrer apenas em casos muito excepcionais, com a plena concordância e participação dos índios, e cercada de todos os cuidados ambientais possíveis. É nesse contexto que qualquer projeto que pretende abrir as terras indígenas à mineração industrial deveria ser discutido. O projeto 1610, infelizmente, não vai nesse caminho”, explica. Edio Lopes não cumpriu a promessa de apresnetar em junho o projeto de lei sobre mineração em terras indígenas Revista Mineração & Sustentabilidade | Julho . Agosto de 2014 25 surpreenda-se Produção Mineração a céu aberto Gigante Americana Fransciny Alves A mina Bingham Canyon é a maior cava já feita pelo homem e desde 1906 produz cobre e outros minérios nos EUA Uma cava de quatro quilômetros de largura e 1,2 de profundidade, ocupando uma área de 7,7 quilômetros quadrados, dá a Bingham Canyon o título de mais profunda mina a céu aberto do mundo. Essa área de extração de cobre é considerada a maior escavação já feita pelo homem. Localizada a Sudoeste de Salt Lake City, em Utah, nos Estados Unidos, a mina pode ser vista facilmente pela Estação Espacial Internacional, que orbita numa distância entre 335 e 460 quilômetros da Terra. Em 1906 as escavações foram iniciadas no local. Ao longo do Século XX, a Bingham Canyon teve diferentes empresas como proprietárias, até que em 1989 a RTZ Corporation, atual Rio Tinto, adquiriu a mina. Devido aos números superlativos, o sítio minerário foi considerado, em 1966, um Marco Histórico Nacional dos Estados Unidos. A Rio Tinto Kennecott emprega diretamente 2,8 mil pessoas e outras 15 mil indiretamente. De acordo com um estudo econômico de 2011, da Universidade de Utah, nenhuma outra operação do setor privado no estado gerou mais produção, exportação, renda e emprego do que a Bingham Canyon. 26 Revista Mineração & Sustentabilidade | Julho . Agosto de 2014 Desde que foi aberta, a mina produziu mais de 19 milhões de toneladas de cobre, volume suficiente para cunhar todas as moedas de 5, 10 e 25 centavos já fabricadas nos EUA. Ela foi uma das primeiras minas a céu aberto do país a utilizar pás mecânicas gigantes e caminhões caçamba para movimentar centenas de milhares de toneladas de minério por dia. Atualmente, Bingham Canyon é a segunda maior produtora de cobre dos EUA, responsável por 21% da produção norte-americana. O país é o quarto colocado no ranking mundial de extração do insumo, ficando atrás de Chile, China e Peru. Em 2013, os EUA produziram 1,2 milhões de toneladas de cobre, cinco vezes mais que o Brasil, que extraiu 261 mil toneladas. De acordo com a Rio Tinto, nesse período Kennecott contribuiu com 213,4 mil toneladas. Os principais clientes de cobre da mina de Utah são grandes fabricantes de tubos e fios. Foto: Alan Cressler Além de cobre, outros bens minerais são explorados no local. No último ano foram produzidas 192,3 mil onças de ouro, 2,2 mil onças de prata, 6,3 mil toneladas de molibdênio e 959 mil toneladas de ácido sulfúrico. Para o transporte de todo o material são usados caminhões que comportam 300 toneladas. Cada pneu dessas supermáquinas custa, em média, US$ 25 mil. mineração e outros US$ 100 milhões direcionados para a preservação da água subterrânea. Sustentabilidade Prejuízo A Rio Tinto Kennecoutt investiu cerca de US$ 400 milhões para modernizar as operações e recuperar os impactos ambientais resultantes da mineração. Desde 2008, a mina implantou o programa de redução ocioso, o que propiciou a redução de 35 mil toneladas de emissões de gases de efeito estufa, poupou 3,5 milhões de litros de combustível e economizou milhares de dólares nos custos de manutenção de transporte. Em 2013, um deslizamento soterrou 165 milhões de toneladas de minérios, um duro golpe para a saúde financeira de Bingham Canyon. O volume de detritos seria suficiente para enterrar o Central Park, em Nova York. O impacto foi detectado por gravímetros como um terremoto de grandes proporções, atingindo intensidade 5.1 na Escala Richter, que vai até nove pontos. Num primeiro momento as perdas calculadas foram de US$ 800 milhões, mas os prejuízos podem chegar perto dos US$ 2 bilhões. No mesmo período, Kennecott também gastou cerca de US$ 350 milhões no tratamento de resíduos de Por investir em tecnologia de cogeração, a mina conseguiu melhorar a eficiência de geração de energia em quase 80%. Com esse feito, recebeu do governo de Utah, em 2013, o Prêmio de Inovação. O incidente não fez vítimas, pois os trabalhadores foram alertados a tempo sobre uma falha em uma seção da cava. No acidente, menos de 10% dos equipamentos foram danificados, sendo que 16 peças de grande porte conseguiram ser recuperadas. As operações foram retomadas 48 horas depois nas áreas não afetadas, mas o trabalho de recuperação total do local continuará até o final de 2015. De acordo com a assessoria de imprensa da Bingham Canyon, o evento resultou na demissão de 200 funcionários. A empresa informou que foram tomadas todas as medidas para minimizar os impactos para os empregados, como incentivos para aposentadoria e possiblidade de ocupação de cargos alternativos. Visitas Desde 1992, o centro de visitantes da Bingham Canyon recebeu mais de três milhões de turistas, o que gerou US$ 2,8 milhões para as fundações mantidas pela Rio Tinto Kennecoutt. No entanto, devido ao acidente do ano passado, o local encontra-se fechado para visitas e não há previsão para retorno. Os interessados podem fazer um tour virtual pela mina no endereço riotintokennecott.com. futuro A Rio Tinto não revela quanto será investido em Kennecott nos próximos anos. No entanto, afirma que, mesmo com o prejuízo recente, pretende renovar os direitos de exploração até 2050. O contrato em vigência termina em 2019. A nova operação será feita por meio de uma combinação de mineração subterrânea e a céu aberto. Revista Mineração & Sustentabilidade | Julho . Agosto de 2014 27 Eventos Equipo Mining Feira de Expectativas Máquinas e equipamentos mais eficientes são atrativos em época de vacas magras para o setor de bens de capital e a mineração Márcio Antunes O Mega Space, espaço de eventos localizado em Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, recebeu em agosto a 12ª edição da Equipo Mining. O evento reúne fabricantes de equipamentos e máquinas na única feira de demonstração ao vivo de mineração e processamento mineral da América Latina. De acordo com os organizadores, projeções indicaram que R$ 400 milhões foram movimentados em negócios nos quatro dias de evento. Na edição 2014, a Equipo Mining ficou marcada pela demonstração de equipamentos que produzem mais com custos menores. O cenário econômico pelo qual passa a mineração, de retração e queda nos investimentos, levou os fabricantes a oferecerem produtos que façam o mesmo trabalho que duas ou três máquinas e que gastem menos com combustíveis. De acordo com o diretor-geral da feira, Joseph Young, a mineração se encontra no fim de uma curva decrescente. “Desde a crise financeira global, entre 2008 e 2009, empresários têm ocupado espaço permanentemente, onde há uma busca incessante da produtividade e menores custos dos equipamentos e novas tecnologias que a feira dispõe”, afirma. Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) durante a feria indicam a retomada do crescimento na China e a demanda interna por obras de infraestrutura. Segundo o instituto, tais reflexos contribuem para o aumento das expectativas para o setor, que deve receber até US$ 53,6 bilhões em investimentos nos próximos cinco anos. Quase metade (41,8%) deve ser aplicado em Minas Gerais. Para o presidente do IBRAM, do Sindiextra e vice-presidente da Fiemg, José Fernando Coura, apesar de o cenário atual ser de incertezas econômicas, com queda de preço das commodities e ajustes de projetos, o momento é propício para as empresas promoverem suas ações. “A Equipo Mining é importantíssima no ponto de vista de novidades em maquinários, pois estimula e promove negócios entre profissionais da rica cadeia produtiva da mineração”, avalia. Fotos: W. Tourinho 28 Revista Mineração & Sustentabilidade | Julho . Agosto de 2014 Mercado A baixa atividade do setor de bens de capital, que apresenta constantes quedas de vendas e faturamento na comparação com 2013, pode ser revertida. A previsão foi apresentada durante o evento pelo 1º vice-presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Equipamentos para Cimentos e Mineração (CSCM), da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Carlos Maurício Trubbianelli. Segundo o executivo, ainda é preciso enfrentar gargalos relevantes como a política de juros altos, o câmbio desfavorável e a alta carga tributária que minam o poder de investimento dos empresários. “Acreditamos em uma nova política industrial, essa é nossa maior demanda. E além da eficiência, inovação e qualidade de nossas máquinas, os empresários brasileiros são bons negociadores, pois sabem identificar problemas dos clientes e apontar soluções. A participação da Abimaq e de empresas do setor de mineração em eventos como o Equipo Mining é importantíssima para toda a cadeia produtiva”, aponta Trubbianelli. Segundo dados apresentados pelo representante da Abimaq, uma máquina produzida no Brasil em 2013 chegava a custar 37% a mais que similares feitas nos Estados Unidos e na Alemanha. Os fatores dessa diferença, de acordo com Trubbianelli, se devem ao conjunto de barreiras tributárias e econômicas. “As mudanças mais urgentes estão nos impostos não recuperáveis na cadeia produtiva, na logística, nos encargos sociais e trabalhistas e nos custos de regulamentação, de investimento e de energia”, explica. Houve mudança no arranjo das compras pelo setor de mineração de máquinas e equipamentos. De acordo com o último relatório conjuntural divulgado pela Abimaq, em 2008 a participação de bens importados no mercado brasileiro representava 51%. Hoje, esse índice saltou para 71%. Ainda segundo a entidade, a idade média do parque industrial nacional é de 17 anos enquanto que, em países desenvolvidos como a Alemanha, o uso estimado é de apenas cinco anos. A Abimaq defende que sejam implantados mecanismos de proteção ao setor, sobretudo para frear a invasão dos produtos chineses no mercado nacional, além de políticas de favorecimento às exportações. “Buscamos a restrição do mecanismo ex-tarifário, que garante a redução temporária da alíquota de importação quando não há a produção nacional, e que as licenças de importação não sejam automáticas”, expõe. Oportunidades A importância da feira para apresentação de novidades e concretização de negócios é reconhecido pelos pouco mais de 100 expositores presentes à edição 2014 da Equipo Mining. A Simplex, indústria de equipamentos para os mercados de mineração, siderurgia, cimento, fertilizantes e agregados, participa pela terceira vez da feira. Segundo o engenheiro de aplicação da companhia, Guilherme Lago, são oferecidos descontos de 5% a 10% para os contratos fechados durante a Equipo Mining. “Sabemos que vamos nos encontrar com nossos clientes. Aqui podemos demonstrar nossos equipamentos novos. Nossa fábrica fica em Lagoa Santa (a 36 quilômetros do evento) e podemos convidar nossos clientes para nos visitar aqui ou na própria sede de nossa empresa”, explica. A XCMG, fabricante de grandes equipamentos para a mineração e outros setores da indústria, com fábricas na China e em Pouso Alegre, no Sul de Minas Gerais, levou máquinas como a pá carregadeira LW 1200k, com disponibilização de test drives. Para a fábrica, mesmo em um ano difícil para o mercado, o evento oferece boas oportunidades de negócio consideráveis. “Fizemos bons contatos, não temos do que reclamar, mesmo em um ano atípico como este”, avaliou a coordenadora administrativa da empresa, Sandra Heliodora. A Scania também é veterana na Equipo Mining. A empresa participou de todas as edições da feira. Segundo o gerente da Concessionária Casa Scania Itaipu, Flávio Silva, a marca foca no atendimento ao cliente. “Costumo dizer que o caminhão é o coadjuvante. Temos uma estrutura de serviços, peças e atendimento especializado. Atender bem é a nossa única preocupação. O custo mais alto para o nosso cliente é ter o caminhão parado. Por isso oferecemos esse diferencial para que a máquina esteja em pleno funcionamento”, ressalta. No estande da empresa, de 400 metros quadrados, os visitantes conheceram três novos caminhões fora de estrada, um rodoviário e um motor industrial (DC13 74ª, que atua na faixa de 350 a 500 HPs), indicados ao segmento da mineração. Revista Mineração & Sustentabilidade | Julho . Agosto de 2014 29 Mercado Divulgação/Instituto Aço Brasil Aço Para esquentar os fornos Mercado enfrenta crise e siderúrgicas esperam por medidas de estímulo; cenário foi discutido durante o 25º Congresso Brasileiro do Aço Márcio Antunes A indústria nacional do aço vive momentos de agrura. Consumo interno em queda, exportações decrescentes e a baixa competitividade são o combustível que alimentam o derretimento de um setor que em 2003 representava 36% do PIB brasileiro e que hoje contribui com 13%. Os desafios e propostas para resgatar o seguimento deram o tom do 25º Congresso Brasileiro do Aço, evento promovido pelo Instituto Aço Brasil (IABr) em São Paulo entre 11 e 13 de agosto. O presidente do Conselho Diretor do IABr, Benjamin Mario Baptista, elencou como vilões o fraco crescimento da economia brasileira, que em 2014 não deve ultrapassar 1%, e o impacto da concorrência internacional, principalmente da China, cenário que afetará a balança comercial do setor. “O crescimento do PIB no ano passado ficou aquém das expectativas. E o cenário internacional tam30 Revista Mineração & Sustentabilidade | Julho . Agosto de 2014 bém não ajudou muito”, observou. O ano atípico marcado pela Copa do Mundo e pela corrida eleitoral contribui para os números ruins. Segundo o IABr , entre janeiro e julho as vendas internas registraram queda de 6% quando comparadas ao mesmo período de 2013 - 12,4 milhões de toneladas (mt) ante 13,2 mt. As exportações caíram 1,6%, encolhendo de 4,9 mt no ano passado para 4,8 mt em 2014. O consumo aparente interno também diminuiu, 3,1%, passando de 15,2 mt em 2013 para 14,8 mt. Já as importações registraram alta de 15,9% no primeiro semestre, saltando de 2,063 mt em 2013 para 4,8 mt. A retração do mercado fez com que a produção brasileira de aço recusasse 1% no período. A estimativa de produção para 2014, que previa aumento de 5,2%, agora aponta para uma queda de 2,5% - de 36 mt para 33,3 mt. Também houve inversão nas perspec- tivas para as vendas nacionais, que saíram de uma previsão de alta de 4,1% para uma retração de 4,9%. Excedente O excesso da produção mundial de aço foi o principal tema debatido pelo Congresso. Números divulgados pelo IABr mostram um excedente produtivo no mundo da ordem de 600 mt. Europa, Japão e, principalmente, a China, têm apresentado um apetite menor que o de outras épocas, o que contribui para o quadro. Deve-se considerar que as exportações amargarão em 2014 índices abaixo da média histórica, enquanto as importações seguem em alta, quadro que pressiona para baixo o uso da capacidade instalada no Brasil, atualmente inferior a 70%. O conselheiro do IABr e CEO da ArcelorMittal Aços Longos América Cen- tral e do Sul , Jefferson de Paula, explica que a rentabilidade da indústria siderúrgica desabou em todo o mundo. Dois fatores são destacados por Paula: queda estrutural da demanda aliada ao aumento da capacidade e o não fechamento de capacidade obsoleta por pressão governamental ou sindical. O executivo enxerga esse excesso como uma oportunidade para que o setor melhore a competitividade. “Somos bons para dentro, mas temos que melhorar ainda mais”, disse. O Diretor Executivo da Associação Brasileira da Indústria de Tubos e Acessórios de Metal (Abitam), José Adolfo Siqueira, defende o fechamento de usinas menos produtivas mundo afora, mantendo em funcionamento somente aquelas que são referência. Porém, ele mesmo faz o questionamento essencial: “Qual empresa aceitaria fechar sua usina em benefício do setor? Difícil que tomem essa decisão”. Apoio Estatal A busca pela competitividade torna-se mais insólita quando se tem como concorrente a China, país com políticas de investimento público em usinas. “O objetivo de uma usina chinesa é gerar emprego, e não obter lucro”, pontuou Benjamin Mario Baptista. “Existe uma parafernália de incentivos fiscais do governo chinês para levar esse aço para o planeta”, completou. A redução das compras internas chinesas, fruto de uma economia que não cresce como antes, gera uma perspectiva de aumento do excedente de aço. O país asiático buscará com ainda mais ímpeto mercados externos para desaguar o excesso, o que inclui o Brasil. Para fins de comparação, a produção anual brasileira representa apenas 16 dias de trabalho nas fábricas chinesas. O quadro é nocivo para Brasil. Segundo o presidente executivo do IABr, Marco Polo de Mello Lopes, a importação de mais de 9 mt de aço em 2013 fez com que o país deixasse de criar 200 mil postos de trabalho. Em 10 anos, as importações nacionais aumentaram 573%. Propostas Na visão Benjamin Mario Baptista e Marco Polo de Mello Lopes, algumas medidas poderiam ajudar na recuperação do setor, como revisão da carga tributária e adoção de um câmbio mais favorável às exportações. Os representantes do IABr defendem ainda que sejam implementadas políticas de defesa comercial, como o fim dos regimes especiais de importação, que estimulam a compra de aço estrangeiro. O Reintegra, programa federal que permite às empresas produtoras obterem valores especiais para ressarcir parcial ou integralmente resíduos tributários existentes na cadeia de produção, é outra aposta. “Queremos sensibilizar o governo para que reconstitua as taxas de compensação de fatores estruturais do mercado interno”, defendeu Lopes. Retomada Nos próximos meses, o Brasil tende a registrar crescimento na participação do comércio global de aço. A indústria nacional se volta para as exportações. Exemplo é a retomada do alto forno número 3 da ArcelorMittal Tubarão, voltado exclusivamente para o mercado externo, que em julho voltou a produzir. Benjamin Mario Baptista aposta em um cenário mais positivo no final de 2014. “Depois da Copa, o país voltou a trabalhar. A tendência é que os próximos meses sejam melhores que junho e julho. Em agosto e setembro é época das ordens de Natal”, prevê. Porém, para 2015, as projeções são de um cenário complicado, independente de quem vença as eleições. “Há vários problemas acumulados, entre eles as tarifas que foram represadas, como é o caso da energia elétrica, além da pressão inflacionária”, analisou Baptista. Repórter viajou a convite do Instituto Aço Brasil. Cabo de Guerra Na abertura do Congresso Brasileiro do Aço, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), não poupou críticas ao governo federal. Para ele, o Brasil “parou” no ciclo de reformas e colhe resultados do passado. “O grande problema é que o Brasil ficou caro antes de ficar rico”, sentenciou o governador. O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Benjamin Steinbruch, também fez duras críticas e abordou o tema recessão. “É uma situação crítica. Nunca vi um ano eleitoral com uma perspectiva de recessão tão forte quanto agora”, contextualizou o também presidente da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). Steinbruch voltou as baterias para a falta de “ouvidos” do governo Dilma. Entre os problemas da indústria, ele destacou atlas taxas de juros, grande restrição do crédito nos bancos e o clima de desestímulo aos investimentos. Em seguida, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Mauro Borges, defendeu a modernização do parque fabril para ajudar o setor siderúrgico a enfrentar o excedente da oferta de aço no mercado mundial. Além disso, citou programas federais como o Minha Casa, Minha Vida, grandes obras de infraestrutura e estímulos fiscais para a renovação da frota de veículos como políticas de estímulo ao consumo de aço. Borges ressaltou a necessidade de renovação do maquinário das usinas, que têm idade média de 17 anos, enquanto que em companhias asiáticas essa troca ocorre a cada sete ou oito anos. O ministro defendeu também o ciclo de investimentos em rodovias, ferrovias e no sistema aeroportuário a partir de concessões à iniciativa privada, obras que ampliarão a demanda interna por aço e reduzirão o déficit da infraestrutura nacional. Revista Mineração & Sustentabilidade | Julho . Agosto de 2014 31 internacional Austrália Mineração que rende prosperidade A mineração está presente em todo território australiano e é uma das responsáveis pela alta qualidade de vida do país A Austrália, terra dos corais e dos cangurus, das belas praias e dos desertos, dos animais exóticos e aborígenes, também é um dos principais países mineradores do mundo. Nos últimos 10 anos, a indústria mineral investiu mais de US$ 125 bilhões na nação da Oceania. Hoje, a atividade (incluindo o setor de petróleo e gás) é responsável por A 12ª economia do mundo tem 8% do PIB vinculado à extração de bens minerais 32 Revista Mineração & Sustentabilidade | Julho . Agosto de 2014 8% do PIB australiano, que é de US$ 1,4 trilhão, o que coloca a Austrália como a 12° economia do mundo, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI). Com área territorial pouco menor que a do Brasil, a Austrália tem 447 minas em atividade em todos estados e territórios. De acordo com Departamento de Geoci- Fransciny Alves ência da Austrália, as multinacionais BHP Billiton, Xstrata Glencore, MMG e Rio Tinto são as principais mineradoras do país, alcançando posições de destaque no setor também no contexto mundial. A descoberta e a exploração de enormes jazidas de bauxita no território australiano fizeram com que o país ocupasse, a A extração de bauxita é um dos destaques da mineração australiana Corrie Barklimore partir de 1980, o posto de maior produtor do minério no mundo, título que detém até hoje. Em 2013, a Austrália produziu 79 milhões de toneladas do mineral em cinco minas, 31% do total mundial. Mais de 80% da produção é exportada. Gove Weipa Economia Nos últimos anos, a indústria minerária australiana foi responsável por 20% do investimento empresarial no país e respondeu por 54% das exportações, com receita estimada em US$ 144 milhões em 2013. As commodities minerais representam cinco dos 10 principais produtos comercializados no mercado internacional pelo país. O setor também contribui com grandes cifras recolhidas na forma de impostos e royalties. A indústria minerária da Austrália realiza investimentos de US$ 35,2 bilhões ao ano. Somente em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) são aplicados US$ 4,2 milhões. Northern Territory Queensland Western Australia South Australia New South Wales Boddington Huntly Willowdale Victoria localização das Minas de bauxita da austrália Tasmania Ali AlNakheel Revista Mineração & Sustentabilidade | Julho . Agosto de 2014 33 O setor de mineração, equipamentos, tecnologia e serviços (METS) na Austrália é composto por empresas que fornecem suporte e soluções especializadas para a indústria. Em 2013, as METS somavam entre 1,2 mil e 1,5 mil empresas. Dessas, 84% são australianas e o restante de origem americana. O setor contribui, anualmente, com mais de US$ 90 bilhões para a economia do país, com vendas superiores a US$ 27 bilhões. Produção Diversificada A mineração australiana não se resume à bauxita. O país é o maior produtor mundial de diamantes e está entre os cinco maiores de minério de ferro, ouro, zinco, urânio, titânio, estanho, prata, manganês e carvão. Em menor escala, também produz cobre e níquel. Além de exportar as commodities, o país é um dos maiores fornecedores de tecnologias e serviços de mineração no mundo. Pesquisas do setor indicam que 60% dos softwares de mineração do mundo foram desenvolvidos por empresas australianas. Os principais compradores dessas tecnologias são EUA, Canadá, África do Sul, Indonésia e Chile. Territórios A Austrália Ocidental é o maior estado do país em área. As 205 minas em atividade o colocam também como o maior estado minerador. O solo da província, onde o ouro foi encontrado em 1890, também é abundante em outros minerais, como bauxita e minério de ferro. Entre 2012 e 2013, o estado contribui com 56,8%, ou US$ 105,6 bi, das vendas e receitas de serviços de mineração em todo país. A maior mina a céu aberto australiana, Super Pit, também fica na porção ocidental do território, na cidade de Kalgoorlie-Boulder. Com 1,6 quilômetro de largura, 3,6 quilômetros de comprimento e 600 metros de profundidade, a mina gerenciada pela Kalgoorlie Consolidated Gold Mines (KCGM) produz até 850 mil onças de ouro por ano. As operações da empresa foram iniciadas em 1989 e garantem ao país o posto de terceiro maior produtor de ouro do mundo, empregando 670 funcionários diretos. A previsão da empresa é de que a mina encerre suas atividades em 2017. Investimentos O Escritório de Recursos e Economia Energética (BREE, na sigla em inglês) divulgou relatório em abril de 2014 indicando que o país vivenciou nos últimos cinco anos uma aceleração dos investimentos. O valor dos projetos em andamento aumentou dez vezes na última década e o investimento anual subirá 66% em 2015, chegando aos US$ 83 bilhões. A elevação vem com grandes projetos de Gás Natural Liquefeito (GNL) em operação na Austrália Ocidental e em Queensland, além da expansão do centro de mineração Olympic Dam, quarto maior depósito de cobre do mundo e maior depósito conhecido de urânio do planeta. PRODUÇÃO DE MINERAIS NA AUSTRÁLIA Setor Energético A Austrália é rica em combustíveis. Porém, a demanda por energia aumenta à medida que a economia e a população crescem. O país guarda 46% do urânio, 6% do carvão e 2% do gás natural disponíveis no planeta. Em contraste, tem apenas 0,3% das reservas mundiais de petróleo. A Austrália produz 2,4% da energia total do planeta e se posiciona como um importante fornecedor para o mercado internacional, exportando mais de três quartos da produção, o que representa quase US$ 80 bilhões. Legislação Na Austrália não há uma legislação minerária nacional. Cada território é responsável pela regulamentação da exploração e produção mineral. Em estados onde a atividade é o carro-chefe, como a Austrália Ocidental e Queensland, as leis minerárias estão em constante revisão. No entanto, todos os governos têm quatro funções comuns em relação à legislação do setor mineral e de gás e petróleo. São elas: estabelecer o ambiente macroeconômico; procurar maneiras de eliminar ou reduzir os obstáculos para a competitividade da indústria; reduzir o risco comercial na exploração de geração e difusão de informação geocientífica a um custo razoável; e fornecer um 2013 (em toneladas) Carvão Metalúrgico Alumínio Alumina 1,75 milhões 78,9 Fonte: Escritório de Recursos e Economia Energética (BREE, na sigla em inglês) e Mineral Commodity Summaries 2014 34 milhões Revista Mineração & Sustentabilidade | Julho . Agosto de 2014 Bauxita 79 milhões 158,1 milhões Chumbo Carvão Térmico 238,7 milhões 63 milhões Cobre 970 mil Mineração que rende prosperidade Agência Vale quadro regulamentar para a exploração, desenvolvimento, aprovação de projetos, segurança e avaliação ambiental. Pela falta de uma legislação ampla, o Conselho de Minerais da Austrália (CMA) defende uma regulamentação uniformizada nacionalmente que trate da saúde e segurança ocupacionais. O Conselho estabeleceu algumas obrigações gerais, como proteção à segurança e saúde de todas as pessoas no local de trabalho, incluindo terceirizados; implementação de plano para identificar e gerenciar problemas de segurança e saúde; e concentração de esforços para o objetivo de dano zero. Com essa política, a indústria minerária do país registrou duas mortes em 2012 e nenhum acidente fatal em 2013. Mercado de Trabalho O setor minerário australiano emprega 187 mil pessoas diretamente. Segundo o governo federal, a cada emprego direto gerado pela mineração, outros cinco postos de trabalho são criados. Em algumas regiões a indústria de minerais é responsável por até 30% das vagas. O trabalhador australiano da mineração recebe, em média, salário de U$S 2,5 mil por semana, 66% a mais do que a média de todas as indústrias australianas. Porém, o país também vive o drama da falta de mão de obra qualificada. Em comunicado no mês de julho de 2014, o Departamento de Imigração divulgou um documento que lista quase 200 carreiras que atravessam escassez de pessoal. Entre elas, gerente de produção de mina, engenheiro de minas, engenheiro de petróleo e engenheiro geotécnico. Como o Canadá, a Austrália Estanho 18 mil Manganês 7,402 milhões Vale também investe em empreendimentos na Austrália Brasileira em solo australiano Com cerca de 900 empregados na Austrália, a Vale opera em Queensland, na mina subterrânea de Carborough Downs, que produz carvão metalúrgico e pulverizado, e na mina a céu aberto Issac Plains, na qual tem participação de 50% na extração de carvão metalúrgico e térmico. A empresa também mantinha atividades na mina de Integra Coal, na província de New South Wales, mas em maio de 2014 decidiu interromper a produção sob a justificativa de que o local não tem operação economicamente viável nas atuais condições de mercado. A Vale empreende outro projeto no país, o Belvedere, também no estado de Queensland. A empresa trabalha em uma mina subterrânea de carvão, com potencial de atingir capacidade de produção de 7 milhões de toneladas por ano de carvão metalúrgico. O Belvedere está em fase inicial de desenvolvimento, sujeito à aprovação do Conselho de Administração da Vale. oferece excelentes salários, mas apresenta déficit de capital humano. Para enfrentar esse cenário, o país investe em qualificação. Um em cada cin- Minério de Ferro Ouro 530 255 milhões Níquel 230 milhões co empregados da indústria mineral é graduado. A expectativa do governo é de que a mineração demande nos próximos quatro anos 18 mil profissionais qualificados. Urânio Prata 1,7 mil 9 mil Zinco 1,4 mil Revista Mineração & Sustentabilidade | Julho . Agosto de 2014 35 cidades minerárias Itabira Alma de Berço da maior produtora de minério de ferro do mundo, Itabira desenvolveu-se sustentada pela mineração Ívina Tomaz 36 Revista Mineração & Sustentabilidade | Julho . Agosto de 2014 Andre Fossati Itabira, a 107 quilômetros de Belo Horizonte, já ostentou o título de maior produtora de minério de ferro do Brasil. Até a descoberta de Carajás, a Mina Cauê era a principal fonte e o berço de exploração da Vale. Atualmente, a cidade que tem “oitenta por cento de ferro nas almas”, como definiu o ilustre filho Carlos Drummond de Andrade, lidera a extração nacional de esmeraldas. Segundo dados do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), o município é responsável por 93% da produção da gema no Brasil. A atividade extrativista é a grande responsável por movimentar a economia itabirana, que atualmente tenta diversificar o mercado local. De acordo com a prefeitura, em 2013 o município arrecadou R$ 498 mi- lhões. Só a Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerários (CFEM) foi responsável por R$ 125 milhões. Das 79,4 milhões de toneladas de minério de ferro produzidas pela Vale no segundo trimestre de 2014, o município de Itabira respondeu por 8,4 milhões. No primeiro semestre, a cidade contribuiu com 16,2 milhões toneladas de minério, produção maior daquela apurada no mesmo período de 2013, quando o município foi responsável por 14,7 milhões de toneladas da commodity. A fim de torna-se menos dependente da atividade extrativista, Itabira mira a atração de novas indústrias e de empreendimentos ligados ao setor de serviços. A construção de dois dis- tritos industriais e a chegada de um campus da Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI) são alguns exemplos. Porém, dada a importância do setor minerário para o giro econômico, esse objetivo apresenta-se como um desafio a ser vencido no longo prazo. A própria chegada da UNIFEI à cidade dependeu da ajuda da Vale, que tem interesse em formar mão de obra qualificada para ser aproveitada em uma de suas principais operações. O acordo se de por meio de um Convênio Tecnológico de Cooperação Técnica e Financeira, no qual a prefeitura ficou responsável pela infraestrutura da unidade e a mineradora pelo fornecimento de equipamentos para montagem dos laboratórios. No campus de Itabira são ofertados nove cursos na área de engenharia e tecnologia. Revista Mineração & Sustentabilidade | Julho . Agosto de 2014 37 Infraestrutura e Desenvolvimento Humano DeFato Segundo dados do Atlas do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) 2013, do Programa de Desenvolvimento das Organizações das Nações Unidas (ONU), o IDHM de Itabira é de 0,756, número considerado alto de acordo com os critérios estabelecidos pela organização. O índice leva em conta as variáveis educação, longevidade e renda, e quanto mais próximo de 1 estiver, melhor. Itabira ocupa a 440ª posição no ranking de cidades mais desenvolvidas do Brasil, que tem 5.564 municípios. O município conta com outra universidade, onde são ofertados nove cursos de graduação, dois de graduação tecnológica e dois de pós-graduação, três instituições de ensino à distância, entre elas a Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), sete unidades de ensino técnico, 33 escolas municipais, 16 estaduais e 39 privadas. Vale Três Séculos de Mineração O potencial minerário de Itabira já chamava atenção em meados de 1700, quando o ouro foi descoberto na região, o que desencadeou fluxos migratórios de garimpeiros. Porém, o ouro exauriu-se pouco tempo depois do início da exploração. Até então, o minério de ferro era usado apenas para fabricação de instrumentos de usos domésticos, devido à proibição da produção de ferro pela Coroa Portuguesa. O Congresso Geológico Internacional de Estocolmo, realizado em 1910, representou uma mudança. Estudos apresentados no encontro indicavam que a região do Vale do Rio Doce apresentava grande potencial ferrífero. A partir daí, uma série de investidores de outros países viajaram ao Brasil para fazerem pesquisas e adquirir terrenos. A mineradora Itabira Iron Ore Company foi a primeira e se instalar na cidade. No entanto, devido ao cenário de guerras e à crise de 1929, muitos investimentos estrangeiros não chegaram a ser concretizados. Em 1942 foi criada a Vale do Rio Doce, a partir da junção entre a Companhia Brasileira de Mineração e Siderurgia S.A e a Itabira Mineração S.A. De acordo com a Vale, até 1968 a mineradora extraiu na cidade minérios com alto teor ferro, aproximadamente 68%. Em 1970 a empresa entrou em um segundo ciclo de exploração, no qual foram lavrados minérios de 40% a 60% de ferro, considerados de teor médio. Atualmente a Vale desenvolve o Projeto Itabiritos, que visa beneficiar minério com teor de até 40% de ferro, um aproveitamento de tratamento de matéria-prima mais pobre. Fazem parte do projeto os complexos Cauê, Conceição Itabiritos I e II, em Itabira, e Vargem Grande, em Nova Lima. Segundo a empresa, estão sendo investidos cerca de US$ 5,5 bilhões na execução do Projeto Itabiritos, previsto para ser concluído em 2015 e que expandirá a capacidade de produção da mineradora para 65 milhões de toneladas por ano. Além do minério de ferro e da esmeralda, o município também produz areia e gnaisse, bastante usados na construção civil. O gnaisse é consumido pela indústria na forma de brita ou em blocos maiores para calçamentos. 38 Revista Mineração & Sustentabilidade | Julho . Agosto de 2014 Alma de ferro A cidade é um polo regional da área de saúde e acolhe pacientes vindos de diversas cidades vizinhas. O município dispõe de dois hospitais e é atendido pelo Serviço do Atendimento Móvel de Urgência (SAMU). Há ainda uma policlínica que realiza atendimentos especializados, 29 equipes de profissionais do Programa Saúde da Família e três equipes do Núcleo de Apoio a Saúde da Família (NASF), um Centro de Especialidades Odontológicas (CEO), centros integrados voltados para o tratamento de hipertensão, diabetes, gestantes e crianças com baixo peso, além de dois centros de atenção psicossocial. Turismo Itabira integra o Circuito Estrada Real e oferece aos visitantes trilhas ecológicas e cachoeiras, sendo abraçada pela Serra do Espinhaço e pelo Parque Natural Municipal da Água Santa. Além das riquezas naturais, a cidade também herdou patrimônios culturais e mantém construções dos séculos XVIII e XIX. Muitos turistas chegam à cidade em função dos locais ligados ao poeta Carlos Drummond de Andrade, como a casa onde morou e a fazenda onde passou a infância. Realidade retratada em versos Além da atividade minerária, Itabira é conhecida por ser a cidade natal daquele que é considerado um dos maiores poetas do Brasil, Carlos Drummond de Andrade. Drummond nasceu em outubro de 1902. Filho de fazendeiros, retratou a cidade em diversas obras como Confidência do Itabirano e Montanha Pulverizada, no qual ele relata o sumiço de uma serra, “britada em bilhões de lascas, deslizando em correia transportadora”. Pontos turísticos ligados ao poeta despertam grande interesse, como a Fazenda do Pontal, onde Drummond passou parte da infância, o Memorial Carlos Drummond de Andrade, projetado por Oscar Niemayer, a casa de Drummond e a Fundação Carlos Drummond de Andrade, que reúne diversas obras e curiosidades ligadas ao poeta. De acordo com a bibliotecária do Memorial Carlos Drummond de Andrade, Jaqueline Veloso, a obra do autor deu visibilidade para cidade, além de ter deixado uma vasta herança cultural. Segundo Jaqueline, por meio da poesia Drummond relevou muito sobre o ambiente itabirano, a cultura, os moradores e a região. Th Macelan Itabira Raio-X Fundação: 9 de outubro 1848 População: 115.817 (IBGE/2013) Área: 1.253,704 (Km²) • Altitude: 779m Localização: Região Central de MG Distância até a capital: 107 km Municípios limítrofes: Bela Vista de Minas, Bom Jesus do Amparo, Itambé do Mato Dentro, Jaboticatubas, João Monlevade, Nova Era, Nova União, Santa Maria de Itabira, São Gonçalo do Rio Abaixo PIB per capita: R$ 43.300,39 (IBGE/2011) Clima: Tropical de Altitude Bioma: Cerrado e Mata Atlântica Revista Mineração & Sustentabilidade | Julho . Agosto de 2014 39 produto final Esmeralda Encanto Verde Explorada na Colômbia desde o ano 800, a esmeralda é uma das gemas mais raras e desejadas do mundo A esmeralda é considerada a mais nobre variação do berilo, uma das gemas mais raras e apreciadas pela humanidade. Com cor verde-grama, decorrente de concentrações de cromo, ferro ou vanádio, a esmeralda tem importante papel histórico, como no fortalecimento da Coroa Espanhola, que extraía das colônias sul-americanas essa riqueza. A formação de Minas Gerais foi desencadeada pela gema, visto que o bandeirante Fernão Dias rumou para o interior do estado com o intuito de encontrar Sabarabuçu, a lendária serra esmeraldina. Porém, no Brasil, a gema foi achada três séculos depois, na década de 1960. Segundo o Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos (IBGM), o Brasil é uma das principais províncias gemológicas do mundo, sendo produtor e exportador de diversas 40 Revista Mineração & Sustentabilidade | Julho . Agosto de 2014 pedras preciosas, entre elas a derivação nobre do berilo. Estima-se que o país seja responsável por um terço do volume de gemas do mundo. Ao lado da Colômbia e Zâmbia, o Brasil lidera o ranking de maiores produtores de esmeralda. pectativa em relação ao crescimento da produção, fragilizada pelos baixos investimentos no setor, por problemas ligados à questão ambiental e pelo garimpo ilegal. Segundo Sumário Mineral do Departamento Nacional de Produção Mineral, em 2012 o país produziu aproximadamente 115 quilos da gema, o que representou R$ 9,1 milhões. No entanto, a produção caiu na comparação 2011, quando foram extraídos 189 quilos, 36% a mais. De acordo com dados do IBGM, cerca de 80% da produção brasileira de gemas são destinadas à exportação. Segundo o instituto, os dividendos obtidos com as vendas externas devem crescer, principalmente de pedras lapidadas enviadas a países como China e Estados Unidos. Dos 115 quilos produzidos em 2012, 21% foram consumidos pelo mercado interno para atender a indústria joalheira. Em 2011, as vendas domésticas representaram 14,84% do total produzido. A tendência de aumento do consumo interno gera ex- Segundo dados do Sumário Mineral, em 2011, 85,16% do berilo produzido no Brasil em forma de esmeralda foram exportados para Índia (63,35%), Israel (15,75%), Hong Kong (5,70%) e EUA (14,84 %). Já em 2012, 71% foram destinados à exportação para países Exportações er al da st ou r.b lo gs po t.c om Liderança Mundial na l er az B Dí An dr és O professor de engenharia geológica da UFOP, Júlio César Mendes, afirma que um dos fatores que contribuem para a fama da esmeralda colombina é o pedigree da gema, descoberta pelos europeus em 1538. No entanto, os nativos americanos já a mineravam desde o ano 800. es m De acordo com dados do Consulado da Colômbia, o país é o maior produtor mundial de esmeralda. O Ministério de Minas e Energia aponta que em 2012 o país produziu 2.627.078,22 quilates da gema, o que corresponde a 525,4 quilos. Mendes afirma que apenas especialistas conseguem distinguir uma esmeralda colombiana das extraídas em outras partes do mundo, a partir das inclusões que cada gema apresenta. Ívina Tomaz como a Índia (52%), Israel (17%), Bélgica e Reino Unido (1% cada). Jazidas De acordo com Relatório Técnico de Diamantes e Gemas de Cor, elaborado pela J. Mendo Consultoria, a primeira jazida de esmeralda do Brasil foi encontrada em 1963, em Salininhas (BA). Hoje Minas Gerais concentra grande parte da produção nacional, principalmente no chamado Cinturão Esmeraldífero, que abrange desde o norte do município de Rio Casca, passando pelos municípios de Itabira e Nova Era, até o sul da cidade de Guanhães, todos na Região Central do estado. Nessa área estão as minas Belmont, Piteira, Canaã e o Garimpo da Capoeirana. Segundo o DNPM, o município de Itabira responde por 93% da produção nacional de esmeralda. Mina Chivor em Boyacá, na Colômbia Revista Mineração & Sustentabilidade | Julho . Agosto de 2014 41 Encanto Verde Baixo Investimento Ainda de acordo com o relatório, as jazidas pertencentes à área do Cinturão Esmeraldífero apresentam alta porcentagem de esmeraldas de boa qualidade na comparação com jazidas nacionais. Outros sítios de extração estão na Bahia, na Serra da Carnaíba e Campo Formoso, e em Campos Verdes, em Goiás. Preciosidade Segundo o professor de engenharia geológica da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Júlio César Mendes, fatores como a cor verde-grama, O Sumário Mineral 2012 mostra que, em 2011, as mineradoras de berílio e água marinha investiram R$ 650 mil em novos projetos. Já o Sumário Mineral 2013 atesta que não houve novos investimentos ou projetos desde então. Ainda de acordo com o documento, os empreendimentos minerários nas reservas de berílio na forma de esmeralda em Campos Verdes, em Goiás, estão paralisados devido ao baixo interesse de possíveis investidores. Problemas ambientais gerados pela extração também o peso e qualidade da lacontribuíram para a pidação contribuem para paralisação da a esmeralda ser considerada jazida. uma das gemas mais valiosas. Atualmente, o quilate da esmeralda pode alcançar os US$ 5 mil. O geólogo César Mendonça Ferreira explica que na região de Itabira e Nova Era, em Minas Gerais, são encontradas esmeraldas consideradas de qualidade superior e de grande tamanho. Ferreira acrescenta que hoje há a fabricação de esmeraldas sintéticas. As pedras detêm as mesmas proprieda- des físicas e químicas das esmeraldas naturais, mas são comercializadas por um valor bem menor. A esmeralda de laboratório pode ser diferenciada das naturais por meio de uma análise das inclusões que apresenta e pela transparência sob luz ultravioleta. Janeiro a Dezembro Exportação Brasileira de Pedras Lapidadas Rubis, Safiras e Esmeraldas Principais Países 2009 2010 2011 2012 2013 2013/2012 % 4.475 555 199 1.233 74 15 30 1.477 0 1.112 58 2 15 11 41 22 121 5.543 529 172 196 53 6 135 2.109 401 83 383 1 3 7 135 0 62 6.651 4.242 313 329 0 74 126 2.336 121 111 36 2 15 77 98 10 121 8.308 4.667 4.576 1.210 0 0 43 1.777 419 220 52 38 0 2 1 0 1 12.115 10.417 3.717 559 151 127 92 91 61 57 36 30 22 0 0 0 15 46 123 -19 -54 1.400 9.440 9.818 14.662 21.314 27.490 29 Estados Unidos Hong Kong França Alemanha Emirados Árabes Unidos Índia Itália Tailândia Bélgica China Suíça Canadá Reino Unido Japão Líbano Espanha Demais Países Subtotal 42 US$ mil Fonte: NCM Revista Mineração & Sustentabilidade | Julho . Agosto de 2014 114 -95 -85 -74 -31 -21 -100 -100 Revista Mineração & Sustentabilidade | Julho . Agosto de 2014 43 Sustentabilidade Vale/CSIRO Pesquisa Para salvar a colmeia Vale realiza estudo inédito no país para descobrir por que abelhas têm apresentado expectativa de vida duas vezes menor que o normal Márcio Antunes 44 Revista Mineração & Sustentabilidade | Julho . Agosto de 2014 Estudiosos afirmam que 70% das espécies vegetais do planeta sobrevivem graças ao trabalho de polinização das abelhas. Tamanha relevância levou a Vale a trazer para o Brasil uma pesquisa inédita que foca as abelhas Apis melífera, conhecida popularmente como abelha-europeia, para descobrir por que elas estão morrendo duas vezes mais rápido do que em épocas passadas. Até outubro, 400 espécimes que habitam o Pará receberão microssensores nos tórax que terão a função de registrar os hábitos e caminhos percorridos pelas operárias da natureza. O estudo também está em curso na Tasmânia, onde mais de 10 mil abelhas serão monitoradas até abril de 2015. Por aqui, a Vale iniciou os estudos em maio de 2014. “Numa segunda fase, continuaremos o trabalho por mais dois meses com a instalação de mais 400 sensores. Isto nos permitirá levar o estudo até o final de janeiro”, conta o professor Paulo de Souza, cientista líder do Escritório da Presidência da CSIRO, agência governamental da Austrália e parceira da Vale na pesquisa. O objetivo da equipe de Paulo de Souza é descobrir o que tem causado o Distúrbio de Colapso de Colônias (CDD, na sigla em inglês). Segundo a CSIRO, o problema, ainda pouco estudado, provocou nos EUA a morte de 35% desses insetos criados em cativeiro. Na Amazônia, segundo os pesquisadores, o CDD é menos grave, mas já há indícios de redução das colmeias. Impacto Estudos realizados pela ONG americana Xerxes Society, em parceria com a rede Whole Foods, identificou o impacto de uma possível extinção desses insetos no mundo. O resultado é alarmante segundo as entidades norte-americanas: perderíamos 52% dos produtos vendidos nos mercados mundiais, como banana, maçã ou repolho. A tese sustentada pelos pesquisadores é endossada pelo consultor em apicultura e professor titular da Universidade Federal de Santa Maria, Silvio Lengler. Segundo ele, mais de 50% das culturas dependem da polinização por insetos, sendo as abelhas responsáveis por mais de 70% desse número. “Na produção de mil toneladas de mel, as abelhas proporcionam com a polinização um incremento US$ 20 mil na produção de grãos, frutas e sementes. A redução de colmeias causaria redução dessa produção. Quando falo em sementes, me refiro às de plantas forrageiras para fornecimento de pastagem ao gado, equinos, etc”, explica. nia decide quando é preciso crescer a população ou mantê-la constante”, expõe. Souza afirma que a decisão de aumentar a população da colmeia pode resultar da disponibilidade de alimento, espaço e de condições ambientais favoráveis. “No inverno as colmeias diminuem em número, principalmente em regiões de clima mais frio, como no Sul da Austrália. Nosso objetivo é comparar esta dinâmica e a resposta das abelhas aos fatores de estresse. E observar como isso impacta na saúde da colmeia e no tempo de vida dos insetos”, explica. Tecnologia O microssensor usado no experimento tem 2,5 milímetros e pesa cinco miligramas. “A abelha pesa 105 miligramas, em média. É como se ela passasse a carregar uma mochila nas costas. Observamos que o chip reduz em um terço a capacidade dos insetos de transportar néctar e pólen, mas não os impede de trabalhar normalmente”, explica. Por conta do tamanho, o dispositivo não pode ser instalado em insetos menores, como mosquitos. A saída enconVale/CSIRO Polinização Comprometida As abelhas realizam a transferência de grãos de pólen, que são células reprodutivas masculinas, para o receptor feminino (estigma) da mesma flor, de flores da mesma planta ou para flores de outra planta da mesma espécie, processo chamado de polinização. Uma vez afetado, a capacidade de as plantas seguirem o ciclo geracional também é reduzida. Os passos das abelhas são monitorados pelo microssensor fixado no tórax Cientistas de várias partes do mundo têm observado um fenômeno: as abelhas saem de suas colmeias e não voltam. Perdidas e desorientadas, acabam morrendo. O motivo ainda é uma incógnita. Segundo Paulo de Souza, que também acumula o título de professor-visitante do Instituto Tecnológico Vale (ITV) em Belém (PA), as abelhas têm desaparecido ou morrido de um dia para o outro. Ele lembra que uma abelha operária vive cerca de dois meses e a abelha rainha por alguns anos. “Todos os dias nascem e morrem abelhas numa colmeia e a colôRevista Mineração & Sustentabilidade | Julho . Agosto de 2014 45 Para salvar a colmeia trada pela equipe de Paulo de Souza foi trabalhar no projeto de uma nova geração de microssensores. O formato obtido tem o tamanho de um grão de areia, ou seja, um décimo de milímetro. “Esses novos chips também serão capazes de gerar a sua própria energia de manutenção a partir do movimento do inseto. Este equipamento será testado no experimento que será desenvolvido na Amazônia”, informou a Vale. “Os novos microchips estão em fase de testes. Terão metade do tamanho dos chips atuais. A implantação será da mesma forma, por meio de colagem. No próximo ano deveremos ter o nosso primeiro sensor menor do que um milímetro. Em quatro anos queremos chegar a 0,1 milímetro e instalar o sensor com um spray”, completou Paulo de Souza. Willian Abreu Enquanto o novo microssensor segue em produção, as abelhas amazônicas continuam sob monitoramento com o equipamento atual, que tem memória de armazenamento de meio milhão de bytes, capacidade suficiente para guardar dados a cada segundo por quase Silvio Lengler diz que o uso indiscriminado de agrotóxicos pode ser uma das causas das mortes precoces das abelhas uma semana, uma antena wifi e uma bateria. “As informações sobre o movimento das abelhas captadas pelo chip são retransmitidas para uma série de antenas instaladas no entorno da colmeia, que, por sua vez, as transferem para um centro de controle. Com os Como funciona o microssensor? Colagem do sensor (3 alternativas) • As abelhas são levadas para uma geladeira por cinco minutos, a 5 graus centígrados. Durante esse tempo, as abelhas hibernam e o sensor é colado. Em poucos minutos fora da geladeira as abelhas acordam e são reinseridas ao campo. • Uma rede é utilizada para pressionar a abelha contra o favo e o sensor é colado. • Uma pessoa segura a abelha com as mãos, utilizando luvas, enquanto outro pesquisador cola o sensor. O método foi criado por apicultores paraenses e foi bem avaliado pela mineradora, que o levou para ser utilizado também em estudos na Austrália. Instalação das antenas na entrada das colmeias e em pontos por onde as abelhas podem passar • Desta maneira, o dado gravado no chip de cada abelha é registrado. A partir deste momento é possível saber quando cada abelha sai da colmeia e por quanto tempo fica fora. Os dados são verificados com a exposição a doses subletais de pesticidas (colocados no alimento onde ficam as antenas externas), além da avaliação do comportamento dos insetos em relação ao tempo e ao clima (temperatura, umidade relativa, insolação, ventos e chuva). Repetição do processo, quando são colocados entre 20 e 25 sensores por semana, em cada colmeia. A previsão da Vale é que, em outubro, este montante seja instalado diariamente 46 Revista Mineração & Sustentabilidade | Julho . Agos Agosto de 2014 dados coletados no campo, os pesquisadores constroem um modelo tridimensional da movimentação dos insetos que os permite estudar se eles estão agindo naturalmente ou se, por algum motivo, estão desorientados, não retornando às colmeias”, explicou a Vale. Muitas hipóteses, nenhuma certeza Os pesquisadores ainda não definiram uma causa para o Distúrbio de Colapso de Colônias. Porém, há algumas hipóteses, como ondas eletromagnéticas emitidas por redes de telefonia celular; mudanças climáticas; infestações de pragas como a varroa, ácaro que se alimenta do sangue das abelhas; disseminação de monoculturas (as abelhas preferem jardins com diversas espécies de flores); poluição atmosférica; técnicas utilizadas para aumentar a produção de mel (elas acabam estressadas e desorientadas); e uso excessivo de pesticidas em lavouras. Silvio Lengler acredita que a hipótese do uso de agrotóxicos e pesticidas pode ser o motivador da morte precoce dos insetos. “O que acontece é a falta de controle de agrotóxico. Logo, o ambiente rural está muito poluído. As abelhas que não morrem nesse ambiente migram para centros urbanos. Em Santa Maria (RS) coordenei o “SOS ABELHAS” por dois anos. Nesse período foram capturados 525 enxames e levados de volta ao meio rural. Eles fugiram de colmeias de apicultores”, conta. Ainda de acordo com Lengler, a ausência de uma política apícola no Brasil precisa ser revista e uma legislação específica precisa ser criada para barrar os excessos provocados pelo uso indevido de agrotóxicos. Uma visão comentada dos resíduos sólidos na mineração A mineração é a atividade destinada a pesquisar, descobrir, extrair e transformar os recursos minerais em benefícios econômicos e sociais. O setor mineral tem grande importância social e econômica para o país. Em 2013, respondeu por aproximadamente 3% do PIB industrial (SGMM/MME) e 17% das exportações brasileiras (IBRAM 2013). Os maiores avanços observados na gestão de resíduos da mineração correspondem à evolução e consolidação do arcabouço legal, crescente a partir do ano 2000, sobretudo à instituição da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS); à segurança de barragens de rejeitos; ao desenvolvimento de uma nova abordagem dos estudos e projetos de barragens; ao avanço tecnológico dos processos de beneficiamento de minério; e à incorporação dos princípios de sustentabilidade como uma nova visão de valor nas empresas. O aumento dos dispositivos legais implicou em mudança das práticas de gestão de barragens e de depósitos de estéril, até então adotadas pelas empresas de mineração. Estabeleceu-se com a necessidade de atendimento aos requisitos e exigências sobre os critérios de elaboração dos projetos, de operação da recuperação e fechamento dessas estruturas, além de permitir aos órgãos fiscalizadores mecanismos de controle, licenciamentos e autuações. Evandro Fiuza IBRAM / Divulgação artigo Cláudia Salles, gerente de Assuntos Ambientais do Instituto Brasileiro de Mineração – IBRAM Edmilson Rodrigues da Costa, coordenador de Geologia e Mineração do Instituto Brasileiro de Mineração – IBRAM Conforme estudo realizado pelo IBRAM denominado “Gestão para Sustentabilidade na Mineração: 20 anos de História”, publicado em 2012, as maiores mudanças na gestão das barragens de rejeitos após o ano de 2010 estão associadas aos avanços tecnológicos no processo de beneficiamento do minério que viabilizam a redução de áreas necessárias para a ampliação e implantação de novas barragens, bem como práticas para a redução dos volumes de rejeitos a serem nelas dispostos. passa pela eficiência no uso dos recursos, pelo aproveitamento, reprocessamento, reciclagem, destinação e/ou disposição final ambientalmente adequada. A eficiência no uso dos recursos e o desenvolvimento de tecnologias para o aproveitamento de resíduos são estratégicos. A capacitação técnica de mão-de-obra para a gestão dos resíduos, bem como o levantamento e gerenciamento de dados e as destinações adequadas ainda se configuram como desafios. Além disso, a definição de diretrizes, estratégias e metas dos Planos de Gerenciamento de Resíduos Sólidos da Mineração constitui uma importante variável no planejamento estratégico do tema. No que tange ao futuro da gestão de resíduos sólidos na mineração, é notória a necessidade de um olhar sistêmico sobre todo processo da mineração, desde sua concepção, ainda na fase da pesquisa mineral, até o seu fechamento. A compatibilidade da indústria mineral com os preceitos do desenvolvimento sustentável, no que se refere à gestão de seus resíduos, Os incentivos à inovação e ao desenvolvimento científico-tecnológico e à disseminação de práticas sustentáveis nos processos produtivos e nas cadeias de suprimento têm sido estratégicos para a transição a meios mais sustentáveis de produção, fazendo com que as empresas assumam o protagonismo na gestão integrada dos territórios. No que concerne à gestão de resíduos sólidos da mineração, o entendimento de sua relevância deverá nortear a visão estratégica de que este assunto pode e deve conjugar um rol de oportunidades de negócios sistêmicos, com uma nova perspectiva de atuação dos empreendimentos nos territórios e consequentemente na sociedade em geral. Neste sentido, o IBRAM vem fomentando a sustentabilidade como prática habitual do setor, entendendo o papel da mineração como transformadora dos padrões de qualidade de vida da sociedade. Esta transformação se dá a partir das boas práticas desenvolvidas dentro das próprias empresas, como também de ações que promovam a geração de benefícios, incremento de renda e a melhoria da vida das comunidades relacionadas, direta e indiretamente, com as atividades da mineração. Revista Mineração & Sustentabilidade | Julho . Agosto de 2014 47 inovação e tecnologia mineral A sustentabilidade na produção de terras raras: estratégia brasileira Marisa Nascimento, Engenheira Química, M.Sc. e D. Sc. em Engenharia Metalúrgica e de Materiais, Pesquisadora Associada do CETEM/MCTI e Coordenadora do Projeto de Terras Raras. As terras raras (TR) são consideradas materiais estratégicos nas atuais políticas do governo: Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (ENCTI/MCTI), Plano Nacional de Mineração 2030 (PNM-2030/ MME) e Plano Brasil Maior (PBM). Com as diretrizes globais em prol da sustentabilidade, a utilização das TR será indispensável e crescente nas tecnologias ditas “verdes”, algumas já estabelecidas, como turbinas eólicas, veículos híbridos e lâmpadas fluorescentes compactas. Quando se trata da sustentabilidade dessa cadeia produtiva fala-se de todo o ciclo de vida do referido produto ou prática. Ou seja, um produto “verde” não pode ter seus insumos produzidos em detrimento do bem-estar humano, mesmo que os malefícios da produção de insumos se localizem a milhares de quilômetros de distância. Assim, devemos assegurar que o abastecimento global de elementos de TR e sua cadeia produtiva ocorram sobre bases sustentáveis. A crescente demanda por TR põe em discussão os futuros custos de fornecimento. Eles também são uma preocupação devido à atual concentra48 Revista Mineração & Sustentabilidade | Julho . Agosto de 2014 ção geográfica da oferta e práticas ambientais de mineração e extração de TR inaceitáveis. Devemos garantir fornecimento contínuo de TR de forma sustentável A atual cadeia produtiva de TR sofre os efeitos de uma mineração com os problemas habituais no processamento de minérios de baixos teores, como a presença de elementos pesados e radionuclídeos nos rejeitos e nas águas residuárias, o uso intensivo de energia em processos como cominuição, ustulação, lixiviação e redução, além das emissões atmosférias de agentes poluidores. As consequências ambientais foram alguns dos motivos alegados pela China para as restrições às exportações de TR. Mesmo Mountain Pass, nos Estados Unidos, teve a sua parcela de problemas ambientais, na década de 1990, quando ocorrências de vazamento de águas residuais radioativas foram relatadas. Aprendendo com os exemplos mundiais, devemos garantir o forneci- mento contínuo de TR de uma forma sustentável, ou seja, economicamente viável e ambientalmente amigável. Para isso devemos implementar tecnologias eficientes para beneficiamento mineral, conduzindo à produção de concentrados com altos teores de TR e com minimização de rejeitos. Devemos definir técnicas em metalurgia extrativa que possibilitem a extração e separação de TR, leves e pesadas, para produção de óxidos puros, metais e ligas adequadas para utilização na indústria à jusante. As atividades de pesquisa do CETEM em TR estão materializadas na execução do projeto PROTERRARAS, que teve seu início em agosto de 2013. O projeto atende a uma demanda do MCTI, por meio do CT-Mineral, e o CNPq como agência, no valor de R$ 2 milhões, por dois anos. No âmbito desse projeto, o CETEM vem trabalhando no desenvolvimento de estudos de caracterização tecnológica e análises químicas e mineralógicas, no desenvolvimento de processos tecnológicos de beneficiamento mineral e de metalurgia extrativa de minérios de TR e na avaliação tecnológica dos potenciais de aproveitamento de fontes secundárias (resíduos e/ou rejeitos industriais). O objetivo é promover o desenvolvimento de tecnologia mineral para uma produção sustentável de produtos de TR, colaborando para o desenvolvimento de novos projetos no Brasil, criando condições para que esse conhecimento seja transferido para aplicações práticas, bem como expandir a cooperação técnica-científica com outras instituições de C&T que atuam na cadeia de TR. Acreditamos que, em um futuro próximo, o Brasil produza elementos de TR de modo contínuo e sustentável para atender a demanda da indústria nacional e do exterior, criando novos postos de trabalho no país nos segmentos industriais dessa cadeia produtiva. Este artigo não representa necessariamente o ponto de vista do MCTI. Avaliação do Ciclo de Vida da produção de pelotas de minério de ferro da Samarco Francisco Mariano Rocha Lima • [email protected] Curtas Está em andamento no CETEM a pesquisa que objetiva aprofundar o conhecimento sobre os impactos ambientais da atividade de mineração e pelotização de minério de ferro brasileira, especificamente processos produtivos com potencial de alteração tecnológica para efeito da aplicação de sistemas de gestão ambiental e de tecnologias limpas de produção. Este estudo será efetuado mediante a utilização da metodologia de Avaliação de Ciclo de Vida (ACV) na produção de pelotas de minério de ferro, considerando os aspectos energéticos e ambientais, tendo como estudo de caso a Samarco Mineração. Este projeto tem o patrocínio da SCUP do MCTI e vai ao encontro dos interesses da empresa para testar a eco-eficiência de suas operações industriais, conferindo à sua produção de pelotas uma marca de sustentabilidade. CETEM amplia capacitação em processos biohidrometalúrgicos por meio de parcerias internacionais Ellen Cristine Giese • [email protected] Os processos biológicos representam uma alternativa sustentada aos processos tradicionais , em especial aqueles intensivamente consumidores de insumos e energia, e são cada vez mais utilizados nos atividades extrativas minerais. Da mesma forma, o seu emprego tem aumentado nos processos de tratamento de efluentes industriais e nos processos de remediação de solos contaminados. Para melhor compreender o comportamento dos micro-organismos, bem como aperfeiçoar o conhecimento em formação de biofilmes e de biocatalisadores, foram realizados estágios de aperfeiçoamento na Universidad Complutense de Madrid e na Universidad de Sevilha, em fevereiro e março deste ano. Os conhecimentos e as técnicas assimiladas durante o treinamento estão sendo aplicadas nas áreas de biolixiviação, bioxidação e biossolubilizaçãonos, projetos ora em curso no CETEM. Acordos de cooperação técnico-científicos foram assinados com essas universidades espanholas. Estudo darelação entre propriedades petrográficas e o processo de polimento de mármore Leonardo Luiz Lyrio da Silveira • [email protected] Pesquisadores do CETEM estão avaliando as relações entre as propriedades petrográficas e o processo de polimento de mármores. A realização do projeto intitulado Análise do polimento de rochas carbonáticas: relações entre as propriedades petrográficas e o processo de polimento, por pesquisadores do Núcleo Regional do CETEM no Espírito Santo, foi motivada pela escassez de trabalhos relacionados ao polimento desses materiais pétreos utilizados para revestimento. Diferentes situações operacionais, tais como vazão e temperatura da água, pressão do satélite de polimento sobre a rocha e outras combinações serão testadas em um Simulador de Polimento desenvolvido por Leonardo Silveira. Busca-se, assim, otimizar o controle operacional do processo em função do tipo de mármore a ser polido, o qual servirá como guia operacional para a indústria de beneficiamento de rochas ornamentais, de forma a reduzir custos e melhorar a qualidade de seus produtos. Revista Mineração & Sustentabilidade | Julho . Agosto de 2014 49 Comunidade Prêmio Reconhecer Estímulo para novas realidades Fotos: Divulgação Premiação da Vale chega à terceira edição com mais de R$ 170 mil distribuídos para trabalhos de desenvolvimento socioeconômico Márcio Antunes Em 2010, a Comunidade Quilombola Monte Alegre, localizada em Cachoeiro do Itapemirim, a 100 quilômetros de Vitória, capital do Espírito Santo, vivia uma realidade desalentadora, em que perspectivas de geração de emprego e renda praticamente inexistiam. Depois de uma guinada proporcionada pela cooperação e de vencer o Prêmio Reconhecer, da Vale, a comunidade atravessou a ponte da dependência do poder público para 50 Revista Mineração & Sustentabilidade | Julho . Agosto de 2014 se tornar fornecedora de alimentos à prefeitura, que destina os produtos a escolas públicas e entidades filantrópicas da cidade. “Primeiro, a administração municipal nos procurou para sugerir que passássemos a cultivar alimentos nos nossos quintais. Deu certo. Pouco tempo depois já estávamos presentes com nossos produtos na feira livre da cidade”, conta Leonardo Marcelino Ventura, presidente da Associação Quilombola de Monte Alegre. Antes do esperado, os quilombolas colheram outros frutos que brotaram da cooperação comunitária. “Fiquei sabendo que a Vale estava recebendo inscrições de projetos sociais, como o nosso, e que os 10 selecionados seriam premiados em dinheiro. Eu reuni o restante da diretoria da associação e decidimos inscrever nosso projeto de horta agroecológica”, recorda Ventura. Em 2012 a comunidade foi agraciada na primeira edição do Prêmio Reconhecer, que já contribuiu com o desenvolvimento de 10 projetos capixabas e sete do Pará. Em 2014, a ação premiará outras 10 iniciativas no Espírito Santo. A mineradora já investiu mais de R$ 175 mil em associações e entidades filantrópicas dos dois estados. Na edição deste ano, serão mais R$ 127,5 mil. O prêmio é realizado bianualmente. Ventura relembra o momento em que descobriu que o trabalho da comunidade estava selecionado entre os dez primeiros lugares, entre 47 inscritos naquela primeira edição. “Fomos para Vitória defender nosso projeto ante a comissão julgadora. Também tinha confiança que nosso trabalho sairia vencedor”, afirma. O esforço dos moradores de Monte Alegre foi recompensado com R$ 25 mil, quantia que contribuiu decisivamente para a continuidade do projeto. Representantes da Comunidade Monte Alegre comemoram a vitória no Prêmio Reconhecer Catalisador Segundo a Vale, o Prêmio Reconhecer é uma iniciativa que valoriza, estimula e viabiliza ações que promovam a inclusão social e contribuam para o desenvolvimento local. O gerente de Relações com Comunidade no Espírito Santo, Daniel Rocha Pereira, destaca que o prêmio funciona como um catalisador de boas práticas. “O Prê- mio Reconhecer é a materialização do respeito ao trabalho desenvolvido pelas organizações sociais, um trabalho de extrema importância no processo de desenvolvimento social do nosso país”, avalia Pereira. A mineradora acredita que os participantes do Reconhecer passam a enxergar a Vale como uma empresa que participa ativamente da vida da sociedade. “A Vale, como empresa so- autoestima recuperada O exemplo da Comunidade Quilombola Monte Alegre mostra como a autossuficiência interfere positivamente na autoestima dos moradores, algo que contribui decisivamente para o desenvolvimento socioeconômico. “Antes, muitos saíam da nossa comunidade. Depois que passamos a cultivar em nossas hortas, muitos voltaram para trabalhar no projeto”, conta Leonardo Ventura. A dependência crônica ficou na memória. Doações de cestas básicas pela prefeitura não são mais necessárias. Este empoderamento reaviva tradições e proporciona o retorno de importantes referências, como um time de futebol. “Decidimos que era Mobilização fez ressurgir o Monte Alegre Futebol Clube, que ganhou inclusive nova sede preciso resgatar uma antiga paixão dos moradores, o Monte Alegre Futebol Clube. Construímos a sede do time, com direito a vestiários, e fizemos uma espécie de memorial para preservar essa história”, orgulha-se o presidente da associação quilombola. Assim como na horta, em campo os resultados positivos também vieram. O Monte Alegre ganhou recentemente o Campeonato Distrital de Canguduru. Revista Mineração & Sustentabilidade | Julho . Agosto de 2014 51 Estímulo para novas realidades Como Funciona o reconhecer cialmente responsável, almeja apoiar e ser parceira em iniciativas que são desenvolvidas nos territórios onde temos atuação”, ressalta o gerente de Relações com Comunidade. Diálogo Daniel Rocha Pereira segue a linha do diálogo com as comunidades para construir uma relação de confiança e respeito mútuo. “Trabalhamos para ampliar nossas interferências positivas e ajustar nossas operações para sanar nossas interferências negativas. Assumimos nosso papel de contribuir no processo de desenvolvimento dos territórios onde estamos inseridos”, reforça Pereira. O gerente de Relacionamento com Comunidade reconhece que no mundo contemporâneo, sobretudo em atividades de grande escala como a mineração, não são admitidas empresas que pensam somente do muro para dentro. Pereira ressalta que é preciso entender as demandas sociais e considerá-las como importante input para gestão do negócio, algo tão fundamental quanto decidir sobre novos investimentos operacionais. O gerente da Vale, Daniel Rocha, acredita que a premiação catalisa boas práticas Segundo a Vale, podem se inscrever no Prêmio Reconhecer pessoas jurídicas privadas, sem fins lucrativos e legalmente constituídas. São exemplos associações, fundações, cooperativas, organizações da sociedade civil de interesse público (OSCIPs) e organizações sociais. Uma comissão técnica multidisciplinar, formada por representantes da mineradora e da Fundação Vale, avalia as iniciativas e faz a seleção das finalistas. Premiação do Reconhecer 2014 1º R$ 35.000,00 2º R$ 25.000,00 3º R$ 15.000,00 Alguns dos critérios avaliados são qualidades do projeto; foco de atuação social; características do projeto (inovação, impacto, escala e rede); capacidade de inserção social do beneficiado; envolvimento e integração com a comunidade; e autonomia financeira da iniciativa e reconhecimento. Os finalistas escolhem um representante para defender o projeto em 4º ao 10º R$ 7.500,00 uma apresentação. “Nesse momento, chamado de evento de premiação, as iniciativas participantes são classificadas e conhecemos as três melhores iniciativas, de acordo com os critérios observados”, explica Daniel Pereira. A edição 2014 já está com as inscrições encerradas. A previsão é que a divulgação dos finalistas ocorra em setembro. “Este ano escolhemos o tema Assistência à Criança e ao Adolescente. Há muitas entidades que trabalham com essa temática e que por meio de iniciativas voltadas para a educação, cultura, esporte, saúde e profissionalização têm contribuído fortemente para a promoção dos direitos das crianças e dos adolescentes”, explica o gerente de Relacionamento com Comunidade. Perfis de projetos do Prêmio Reconhecer Educação: Iniciativas que contribuam com a melhoria da qualidade do ensino e da aprendizagem. Cultura: Iniciativas que contribuam para ampliar o acesso de crianças e adolescentes às diversas linguagens e bens culturais. Esporte: Iniciativas que utilizam o esporte como ferramenta e fator de inclusão social, educação, cidadania, saúde e convivência das crianças e adolescentes. Saúde: Iniciativas que contribuam para a melhoria da qualidade de vida de crianças e adolescentes focadas na promoção da saúde, ações educativas e preventivas e ações de apoio e suporte às crianças e adolescentes que passam por tratamento de saúde. Profissionalização: Iniciativas que contribuam e atendam à necessidade de profissionalização, contribuindo para a formação da cidadania e a qualificação profissional do adolescente envolvido, observadas regras legais. 52 Revista Mineração & Sustentabilidade | Julho . Agosto de 2014 Revista Mineração & Sustentabilidade | Julho . Agosto de 2014 53 agenda 15 de Setembro de 2014 – 44º Seminário de Redução de Minério de Ferro e Matérias-Primas – Dayrell Hotel e Convenções – Belo Horizonte – MG 54 15 a 19 de setembro de 2014 – 10° Simpósio Nacional de Recuperação de Áreas Degradadas e Seminário Internacional de Engenharia Natural – Auditório Itaipu Binacional – Foz do Iguaçu – PR Visando à nova realidade das reservas de minério de ferro e carvão no mundo, o seminário irá discutir sobre os desafios que a mineração e siderurgia têm enfrentando diante esse cenário. O evento ainda irá tratar de assuntos como economia de energia, uso de combustíveis auxiliares e alternativos no setor, novas tecnologias de reciclagem e racionalização de custos operacionais e de investimento no campo. A décima edição do SINRAD irá discutir ações que visam desenvolver novos modelos para a recuperação de áreas impactadas pela mineração, urbanização, construção de estradas e atividades florestais e industriais. Juntamente com o simpósio, será realizado o Seminário Internacional de Engenharia Natural, que pretende promover debates sobre as várias técnicas ecologicamente corretas de bioengenharia de solos que são empregadas em regiões da Europa. www.abmbrasil.com.br www.sobrade.com.br 16 a 19 de setembro de 2014 – Metalurgia: Feira e Congresso Internacional de Tecnologia para Fundição, Forjaria, Alumínio & Serviços – Pavilhões da Expoville – Joinville – SC 21 a 26 de Setembro de 2014 – 47º Congresso Brasileiro de Geologia – Centro de Convenções da Bahia – Salvador – BA A feira irá apresentar avanços tecnológicos e novos produtos do setor metalúrgico. O evento é destinado a profissionais que atuam nas áreas de manutenção, vendas, compras, projetos de produtos, pesquisas e desenvolvimento do setor. A última edição da feira recebeu 450 empresas expositoras e 24 mil visitantes. O objetivo do evento é reunir a comunidade geológica e difundir os conhecimentos atuais das geociências por meio da divulgação da produção técnico-científica do setor. Além disso, o congresso pretende discutir questões políticas, turísticas, ambientais e de geração de oportunidades de negócios envolvendo a industrial mineral e petrolífera. www.metalurgia.com.br www.47cbg.com.br 24 e 25 de setembro de 2014 – VII Simpósio de Meio Ambiente – Universidade Federal de Viçosa (UFV) – Viçosa – MG 1 a 3 de outubro de 2014 – 9º Congresso Internacional de Bioenergia – Centro de Convenções Frei Caneca – São Paulo – SP A sétima edição do Simpósio tem o objetivo de proporcionar um debate sobre as principais mudanças que afetam o meio ambiente, com intuito de reduzir os impactos ambientais e gerar propostas viáveis à sustentabilidade do meio em que vivemos. O evento é destinado a empresários e dirigentes de empresas florestais e prestadoras de serviços, profissionais de entidades públicas de pesquisa, dirigentes do terceiro setor e ambientalistas. O propósito do congresso é discutir o aproveitamento racional da biomassa, dos resíduos da indústria e dos biocombustíveis/etanol e biodiesel. Além disso, o evento pretende estimular novos métodos, como fontes de energias alternativas. Juntamente ao congresso serão realizados vários eventos paralelos, como mostra e exposição e apresentação de cerca de 400 trabalhos técnicos. O evento pretende reunir mil congressistas. www.cbcn.org.br www.bioenergia.net.br Revista Mineração & Sustentabilidade | Julho . Agosto de 2014 Revista Mineração & Sustentabilidade | Julho . Agosto de 2014 55 56 Revista Mineração & Sustentabilidade | Julho . Agosto de 2014