Introdução ao Agronegócio - Economia, Administração e
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Introdução ao Agronegócio - Economia, Administração e
INTRODUÇÃO AO AGRONEGÓCIO Coodenador – Prof. Dr. Pedro Valentim Marques - Autores: Daniel Henrique Dario Capitani Daniel Y. Sonoda Jerônimo Alves dos Santos Pedro Valentim Marques PECEGE/ESALQ/USP 2011 1 1. INTRODUÇÃO AO AGRONEGÓCIO Jerônimo Alves dos Santos, Pedro Valentim Marques A agropecuária consiste em retirar o máximo de rendimento da planta/animal nas condições ideais de clima e solo, é a forma como o homem influencia o meio natural com manejo e técnicas para melhor desempenho e adaptação das culturas ao meio natural (DIEHL, 1989). Ela deve ser encarada como um fenômeno social que tem de se adaptar às condições ecológicas e sociais, tem como fundamento principal o domínio da diversidade, seja no enquadramento paisagístico, nos solos, no clima, no comportamento dos homens, no papel da agropecuária na economia global, na tecnologia disponível, no equipamento utilizado e no grau de utilização do potencial produtivo dos terrenos (BARROS, 1975). Em grande parte da existência do homem, a agropecuária foi encarada como uma atividade de subsistência com objetivo primário para a produção de alimentos. Recentemente foi introduzido a ideia da agropecuária como atividade econômica, ou seja, produção com lucro, dessa forma, houve uma acentuada mudança no seu propósito e aumento na dependência das energias fósseis para incrementar a produtividade, isso trouxe conseqüências como a poluição dos solos, das águas e dos alimentos e a problemática dos excedentes (MAZOYER e ROUDART , 2001).. No entanto, a sociedade começa a tender para uma agricultura como uma atividade ecológica, orientada para a produção de bem-estar. Ou seja, além de ser encarado como um produtor de alimentos e matérias-primas pode ser reconhecido como produtor de bens não transacionáveis e na defesa do ambiente, dos recursos naturais, na gestão do espaço rural e a preservação da paisagem (MAZOYER e ROUDART , 2001; ALMEIDA, 2004). 1.1 Evolução da agropecuária Caso o homem deixasse de utilizar os ecossistemas, esses tenderiam depressa ao estado da natureza quando o homem começou a utilizá-lo. No entanto 90% da 2 população deixariam de existir, pois a forma simples de alimentação (caça, pesca e colheita) não permitiria o sustento de mais de meio bilhão de homens. A única alternativa seria continuar cultivando o planeta, multiplicando plantas e animais. Dentre as milhares de espécies que evoluíram em mais de 3,5 bilhões de anos, o Homo sapiens sapiens, é uma das espécie mais recente, com cerca de 50 a 20 mil anos datados, há 10 mil anos pratica a agricultura e criação de gado (MAZOYER e ROUDART , 2001). Há cerca de 12.000 AC observam-se os primeiros indícios de atividade humana sobre espécies de vegetais e animais, e o desenvolvimento de comunidades que se mantiveram por esse tipo de atividade. Teve o seu início há cerca de 10 a 12 mil anos na região situada entre os rios Nilo, Tigre e Eufrates. O cultivo das plantas e da domesticação dos animais foi transmitido para Europa do oriente para o ocidente e chegado à Península Ibérica há cerca de quatro mil anos (ALMEIDA, 2004). A Agricultura moderna teve seu início nos séculos XVII e XIX na Europa, as mudanças tecnológicas, sociais e econômicas tiveram um importante papel na transição do feudalismo para o capitalismo. A nova configuração do conjunto das civilizações germânicas e romanas aproximou novas práticas agrícola com pecuária, o que tornaram essas atividades cada vez mais complementares. Nessa nova fase da humanidade houve umas das mais importantes transformações de bem estar com o fim da escassez de alimentos (VEIGA, 1991; MAZOYER e ROUDART , 2001). Na Europa a agricultura européia manteve-se praticamente estável até ao século XVIII. Com o pousio, alimentação baseada em hidratos de carbono e com produção de ovinos e caprinos. Esse processo iniciou-se na Holanda no século XVII e na Inglaterra no século XVIII com profundas alterações nas técnicas da produção agrícola (ALMEIDA, 2004). Com o crescimento populacional e a queda da fertilidade dos solos na Europa, teve-se como conseqüência a escassez de alimentos. Dessa forma, por volta dos séculos XVII e XIX, houve uma intensa adoção de sistemas de rotação de culturas com plantas forrageiras com integração da pecuária e agricultura. Esta fase é conhecida como “Primeira Revolução Agrícola” (MAZOYER e ROUDART , 2001; MONTOYA et al., 2002; PLANETA ORGANICO, 2010). 3 Entre os séculos XVI ao XIX, a primeira revolução agrícola baseada na substituição dos pousios pelas pradarias artificiais e no aumento do gado, teve como conseqüência o aumento da produtividade nos países temperados, além de ter nesse cenário o desenvolvimento da primeira revolução industrial. Com esse conjunto de transformação, no final do século XIX e no início do século XX a indústria contribuiu para a dinamização da agricultura, com produção de novos meios de transportes (caminhos de ferro, barcos a vapor) e novos materiais mecânicos de tração animal (semeadores, máquinas ceifeiras, ceifeiras-enfardadeiras) o que levou a agricultura à primeira crise de sobreprodução agrícola dos anos 1890 (MAZOYER e ROUDART , 2001). Com o aumento da produtividade, tiveram-se maiores disponibilidade de rendimento para a indústria têxtil, primeiramente lã e depois do algodão. Esse incremento de produtividade foi possível, com a mobilização do solo que exigia aperfeiçoamento nos aparelhos de aração (MAZOYER e ROUDART , 2001; ALMEIDA, 2004). Do final do século XIX ao início do século XX, os problemas de escassez crônica de alimentos na Europa ficaram mais graves, com intuito de resolver o problema de escassez, teve-se um amplo desenvolvimento científico e tecnológico, como os fertilizantes químicos, o melhoramento genético e as máquinas de motores à combustão. A partir do momento que a indústria passou a produzir e ser estrutura de base para certos insumos agrícolas houve rompimento com a prática de rotação de culturas e menor integração animal e vegetal. Com estas inovações houve substanciais rendimentos das culturas. Essas descobertas levaram a uma especialização dos agricultores, observou-se uma nova fase nos sistemas agropecuários, “Segunda Revolução Agrícola”, passa se então a ser chamada de Agricultura Industrial, Agricultura Convencional ou Agricultura Química (MAZOYER e ROUDART , 2001; MONTOYA et al., 2002; PLANETA ORGANICO, 2010). Essa revolução agrícola durante o século XX teve como principal característica a mecanização, os novos meios de produção agrícola (motores de explosão, elétricos, tratores e engenhos) grande mecanização, adubos minerais e produtos de tratamento, com novas variedades de plantas e de raças de animais adaptados ao meio de produção 4 industrial. A motorização dos transportes por meio de caminhões, caminhos de ferro, barcos e aviões tirou o isolamento de determinadas regiões agrícolas e permitiu trazer insumos e escoar os produtos de regiões distantes (MAZOYER e ROUDART , 2001). A Revolução Agrícola e a evolução dos conhecimentos técnicos e dos transportes ferroviários e marítimos tanto influenciou a Revolução Industrial como a indústria e estimulou a modernização da agricultura. Essas contribuições conferiram à agricultura o estímulo do mercado, além disso, teve-se como de extrema importância o apoio de órgãos governamentais; empresas produtoras de insumos; dos incentivo de organizações mundiais como o Banco Mundial, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), a Agência Americana para o Desenvolvimento Internacional (USAID) e a Agência das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação(FAO) (PLANETA ORGANICO, 2010). A partir da década de 60 esse modelo de agricultura implicou em conceitos agressivos aos ecossistemas com o desflorestamento, diminuição da biodiversidade, erosão e perda da fertilidade dos solos, contaminação da água, dos animais silvestres e dos agricultores por agrotóxicos. Essas conseqüências passaram a ser decorrências quase inerentes à produção agrícola. Mesmo assim, houve avanço da agricultura convencional, particularmente nos países em desenvolvimento, com o agravamento dos danos ambientais (EHLERS, 1993). Mesmo com as grandes revoluções na agricultura, não são todos que têm acesso as novas tecnologias. Cerca de 80% dos agricultores da África, 40 a 60% da América Latina e da Ásia continuam a trabalhar com utensílios manuais, 15 a 30% destes, dispõem de tração animal. A agricultura moderna está muito longe de ter conquistado o mundo (MAZOYER E ROUDART , 2001). 1.2 História da agricultura no Brasil No Brasil, antes da sua “descoberta”, as sociedades indígenas alimentavam-se, de peixes e crustáceos, mandioca, cará, milho, amendoim, feijão, abóbora e bata-doce e praticavam a caça de pequenos animais. Esta agricultura era praticada de forma bem rudimentar, pois utilizava a técnica da coivara (derrubada de mata e queimada para 5 limpar o solo para o plantio). Os índios domesticavam animais de pequeno porte como, por exemplo, porco do mato e capivara (SZMRECSÁNYI, 1936). Os colonizadores europeus, desde o século XVI, iniciaram o extrativismo das vegetações e florestas brasileiras como o pau-brasil. De 1500 a 1822, todas as terras brasileiras pertenciam a coroa portuguesa, que as doava ou cedia seu direito de uso a pessoas de sua confiança ou conveniência, visando a ocupação do território e a exploração agrícola. Portugal controlou a posse da terra, através da criação das capitanias e das sesmarias, que atendiam as suas necessidades de obtenção de lucro a partir da exportação de produtos agrícolas cultivados no sistema de plantation (como a cana-de-açúcar seguida pela pecuária extensiva, passando pelos ciclos do ouro, para chegar à exploração do café), ou seja, em grandes propriedades com monoculturas, escravistas e cuja produção era voltada a exportação (REGO e MARQUES, 2005). A agricultura brasileira, enquanto colônia de Portugal, nunca chegou a se constituir como um setor econômico, confundindo com o extrativismo e com atividades de outra natureza. Só começou a ser considerado um setor econômico diferenciado a partir da independência política e na formação no seu interior de uma economia de mercado (SZMRECSÁNYI, 1936; REGO e MARQUES, 2005). As civilizações que aqui instauraram no período colonial, não foram civilizações agrícolas, pois eram mais voltados para colonizadores além de escassez de mão de obra e obstáculos ambientais para a agricultura. As lavouras tinham caráter nômade e extrativista. A grande propriedade fundiária, a monocultura de exportação e trabalho escravo foram os três componentes fundamentais da organização social do Brasilcolônia. Padrões diversos só podiam ser encontrados em atividades marginais e subsidiarias (pecuárias extensivas dos sertões ou pequenas culturas de subsistência). A economia colonial era dominada pelo sistema de grande lavoura. As técnicas de cultivo eram tão primitivas como no início da colonização. A pecuária se desenvolvia em áreas distante das lavouras, nada existia em relação a práticas agrícolas mais complexas, como irrigação e seleção de variedades, além do beneficiamento de produtos agrícolas serem precários e primitivos. Os motivos do atraso tecnológico na agricultura não podem ser atribuídos a escravidão, mas à má qualidade do empresariado rural, baixo 6 nível cultural e técnico dos produtores rurais (SZMRECSÁNYI, 1936; REGO e MARQUES, 2005). As culturas de subsistência acabaram se especializando na produção de poucos gêneros e destinados praticamente a consumo local (mandioca, milho e o arroz) e alguns produtos podiam ser exportados como o fumo e a aguardente. A maioria dessas culturas era desenvolvida dentro dos domínios das grandes lavouras (nos engenhos, fazendas – eram auto-suficientes para alimentar seus proprietários e escravos). Mas havia casos em que possuíam homens livres que usavam essas terras em troca de favores, esses eram destituídos de qualquer capacidade de barganha ou iniciativa, eram paupérrimos, viviam em condições um pouco melhor que os escravos. De um modo geral, as culturas de subsistência nunca deixaram de ser atividades secundárias e subsidiárias em relação as grandes lavouras escravistas de exportação. Da mesma forma que as grandes lavouras de exportações, as culturas de subsistência eram praticadas em moldes extensivos, nunca chegando a constituir atividades especializadas, intensivas e permanentes. Ao mesmo tempo em que politicamente autônomo, o Brasil reforçou sua condição primário-exportadora, mantendo por muitos anos tanto a grande lavoura como o escravismo no cerne da sua organização social (SZMRECSÁNYI, 1936; REGO e MARQUES, 2005). Os ciclos econômicos no Brasil eram diretamente relacionados com extrativismo e monoculturas. Começando com o pau-brasil sua fase mais intensa da exploração vai do período pré-colonial até meados do século XVI. A extração era feita ao longo do litoral, do Rio Grande do Norte até o Rio de Janeiro, em sistema de arrendamento através de contratos entre o Estado e companhias particulares, que pagavam um quinto da extração ao governo português. Em 1605 a Coroa portuguesa regulamenta a exploração editando o Regimento do Pau-Brasil. Mas como a exploração foi desordenada chegou-se a quase extinção do produto (REGO e MARQUES, 2005; COELHO e GRANZIERA, 2009) O ciclo da cana-de-açúcar promoveu a ocupação da faixa litorânea do Nordeste. A cana, originária do sudeste da Ásia, era plantada pelos portugueses na ilha da Madeira desde meados do século XV. Introduzida no Brasil em 1532, expandiu-se rapidamente, em especial em Pernambuco e na Bahia. Esse ciclo caracterizou-se pela grande 7 propriedade, auto-suficiência das fazendas e pela utilização quase exclusiva da mão-deobra escrava (COELHO e GRANZIERA, 2009). O ciclo do ouro e dos diamantes no Brasil, começou pela descoberta dos bandeirantes no final do século XVII, deu origem a cidades como Ouro Preto, Mariana, Sabará e S. João Del Rei. Este ciclo foi caracterizado pela intensiva exploração, sem qualquer preocupação de sustentabilidade ou de desenvolvimento (REGO e MARQUES, 2005). O Ciclo do café refletiu-se na sua expansão geográfica. Difundiu-se pelo Vale do Paraíba, Sul de Minas, Espírito Santo, Campinas, Ribeirão Preto, Araraquara, norte do Paraná e Mato Grosso. Na década de 1820 o café ocupava o terceiro lugar (18%) na pauta das exportações do Brasil, atrás do açúcar e algodão, nas duas décadas seguintes passaria para o primeiro lugar (40%). Essa expansão deu origem a um novo ciclo de crescimento da economia primário-exportadora do país; isso fez deslocar o eixo da economia brasileira do Nordeste para o Sudeste e vincularam novos parceiros comerciais e financeiros em especial os EUA e criou bases para industrialização, um processo que acabaria levando a profundas mudanças. O café chegou a representar cerca de 70% das exportações brasileiras na década de 1920. Hoje, os principais produtores são Minas Gerais, São Paulo, Espírito Santo e Bahia (SZMRECSÁNYI, 1936; REGO e MARQUES, 2005). O cacau no Brasil começou a ser plantado ao invés de apenas coletado na floresta amazônica, com a decadência das plantações no Pará, devido o crescente interesse pela borracha, transferiu-se definitivamente para o sul da Bahia, os métodos do cultivo e beneficiamento dessa planta pouco mudaram. No sul da Bahia o cacau encontrou boas condições edafoclimáticas. Em 1783, a lavoura cacaueira já era importante na região de Ilhéus. A produção na Bahia firmou-se no século XIX, tornando-se um fator importante para o desenvolvimento regional e originando uma importante fase econômica denominado de ciclo do cacau (REGO e MARQUES, 2005). Entre a época da mineração e o advento do café, do final do século XVIII a meados de 1830, passada a euforia inicial da extração do ouro, começou a surgir áreas de agricultura e pecuária ao longo dos caminhos para os depósitos auríferos. Essas atividades passam a ser lucrativas por causa do crescimento demográfico. Algodão, 8 tabaco e cacau tornam-se os principais produtos agrícolas de exportação. Os maiores centros produtores de algodão surgem no Nordeste (Maranhão e Pernambuco), o tabaco funciona, ao longo do século XVII, como moeda de troca para aquisição de escravos nos mercados da costa africana (SZMRECSÁNYI, 1936; COELHO e GRANZIERA, 2009). Importantes progressos ocorreram em compensação na cultura algodoeira, com a introdução do algodão herbáceo e o início da sua produção em larga escala na província de São Paulo, teve um considerável impulso com a guerra civil dos EUA, na década de 1860, depois o algodão brasileiro perdeu acesso aos mercados externos devido a sua falta de competitividade, contudo com a sua repentina expansão ajudou a criar as bases para o surgimento de uma florescente indústria têxtil (SZMRECSÁNYI, 1936). As imigrações proporcionaram um grande avanço quantitativo e qualitativo para a agricultura brasileira, muito mais nas regiões afetadas por mudanças da escravidão para trabalhadores livres. Graças a esse novo regime expandiu outros cultivos e as mais diversas atividades agrícolas e não-agrícolas, foi a imigração que criou condições necessárias para o crescimento e a diversificação da economia (SZMRECSÁNYI, 1936). 2. AGRONEGÓCIO Dentro de qualquer país a atividade econômica é dividida em três setores, o primário, secundário e terciário. No setor primário encontram-se os produtos poucos processados, utilizam grande quantidade de trabalho e terra. No setor secundário encontram-se atividades que processam e/ou combinam produtos primários, nesse setor há grande uso do fator capital. No setor terciário define-se como o conjunto de atividades que prestam serviços, seja para ele mesmo ou para os outros setores da economia (BACHA, 2007). No entanto, a agricultura não pode ser abordada de maneira independente dos outros setores responsáveis por todas as atividades que garantam a produção, deve se considerar a atividade agrícola como parte de uma extensa rede de agentes econômicos que vai desde a produção de insumos, transformação industrial até armazenagem e distribuição de produtos agrícolas e derivados (BATALHA, 2001). 9 Como exemplo que diferencia os setores da economia e o agronegócio, tem-se o caso brasileiro. O Brasil sendo a oitava economia do mundo em 2009, com um Produto Interno Bruto – PIB de 1.572 bilhões de dólares, cerca de 2,7% do PIB mundial. Tem na economia uma grande participação do setor de serviços (setor terciário) com 68,53% do PIB, seguidos da indústria (setor secundário) com 25,40% e a agropecuária (setor primário) com 6,07%. No entanto ao se analisar o agronegócio, a sua participação ficou com 26,5% do PIB brasileiro (IBGE, 2010). Observa-se que nesses três setores existe uma intensa complementaridade entre eles. Dentro dessa forte relação surgem agrupamentos de novas atividades e subsetores que se confundem entre eles, através dessa inter-relação encontra-se o conceito de agronegócio. Esse conceito teve como ponto de partida pelos dos trabalhos de dois pesquisadores John David e Ray Goldberg da Universidade de Havard, eles criaram o conceito Agribusiness (agronegócio) como sendo a soma das operações de produção e distribuição de suprimentos agrícolas, das operações de produção nas unidades agrícolas, do armazenamento, processamento e distribuição dos produtos agrícolas e itens produzidos a partir deles (BATALHA, 2001). Durante a década de 60 surge na escola francesa a noção de analyse de filière que traduzida fica sendo cadeia de produção, isso se aplica a seqüência de atividades que transformam uma commodity em um produto para o consumo final. No entanto, esse conceito pode ser definido de diversas maneiras, ficando um termo vago ((BATALHA, 2001; MONTOYA et al, 2002). Ambos os conceitos realizam cortes verticais no sistema econômico a partir de determinado produto final ou parte de uma matéria prima de base para estudar sua lógica e funcionamento, ou seja, ambos abandonam a velha divisão em três setores (agricultura, indústria e serviço). Parte da noção de que a agricultura deve ser vista dentro de um sistema mais amplo, utilizam a noção sucessão de etapas produtivas, desde a produção de insumos até o produto acabado, destacam os aspectos dinâmicos do sistema. As diferenças dos conceitos são relativas na importância dada ao consumidor final como agente dinamizador da cadeia (BATALHA, 2001). 10 Segundo Malassis (1969), a estrutura do agronegócio está dividida em três partes: parte anterior à produção rural ou montante do agronegócio; a produção rural e setores que recebem a produção dos produtores rurais ou jusante do agronegócio. O setor agropecuário como o restante das economias capitalistas, não tem função apenas de produzir, mas é preciso interagir com outros setores; com outros estabelecimentos agropecuários, intermediários comerciais ou industriais e para consumo final. As indústrias que compram ou recebe produtos agropecuários para transformá-los em produtos industrializados são denominadas em agroindústrias, fazem parte de vários ramos ou subsetores do setor industrial e juntamente com o setor agropecuário com as indústrias fornecedoras de insumos e equipamentos. Enquanto que os ramos dos produtores de insumos e equipamentos são definidos como indústria para a agricultura, os ramos propriamente agroindustriais constituem a chamada industria da agricultura (SZMRECSÁNYI, 1936; BACHA, 2007). O que é novo na agroindústria é também na produção industrial de insumos e equipamentos para a agricultura. Por industrialização da agricultura entende-se a adaptação dos processos produtivos da indústria de transformação aos processos produtivos do setor agropecuário. Foi no período de 1930 a 1970 que se completou a integração funcional dos setores agropecuários e industrial na economia brasileira. Como resultados dessa integração ambos tiveram desenvolvimento não apenas regional mais em níveis nacionais, diversificação da produção, crescimento agropecuário, maior migração rural-urbana, expansão da fronteira agrícola e aumento da produtividade (SZMRECSÁNYI, 1936). A partir dessa visão, é importante mensurar o agronegócio em 3 partes 1 (setores do agronegócio) para sua análise evolutiva . No entanto, ao se analisar o que significa fazer ou não parte do agronegócio dentro do setor industrial e comercial, observa-se limitações metodológicas para determinar a dimensão econômica desse conceito. Existem alguns trabalhos que abordam de diferentes formas esse conceito, ou seja, alguns trabalhos definem uma indústria e comercialização como parte do agronegócio se existe uma considerável participação do produto rural no valor total dos insumos utilizados na transformação; outros conceitos apresentam como à natureza do 1 Esses setores são: a indústria para a agricultura; agropecuária; e agroindústria-comercialização 11 processamento da matéria-prima oriunda do setor rural e, outros consideram a capacidade de investimento, inovação tecnológica, níveis de concentração de mercados e os impactos sobre o setor (MONTOYA e GUILHOTO, 2000). Segundo Furtuoso e Guilhoto (2000), cerca de 70% da produção agropecuária são utilizados em outros setores da economia, sendo que agroindústria e comercialização absorve, aproximadamente, 72% desse total. Esses são os segmentos que mais crescem no agronegócio, enquanto que a participação relativa da agropecuária e indústria para a agricultura tende a diminuir. O resultado é que o segmento de agroindústria e a comercialização são os que mais concentram renda no agronegócio. 2.1 Sistema agroindústrial (SAI) Segundo Batalha (2001), pode ser considerado o conjunto de atividades que concorrem para a produção de produtos agroindustriais, desde a produção de insumos (sementes, adubos, máquinas agrícolas etc.) até a chegada do produto final (queijo, biscoito, massa etc.) ao consumidor. Aproxima-se bastante do termo agronegócio2, pode ser visto como composição de seis conjuntos de atores (1) agricultura, pecuária e pesca; (2) indústrias agroalimentares; (3) distribuição agrícola e alimentar; (4) comércio internacional; (5) consumidor e (6) indústria e serviço de apoio. Na figura 1, encontra-se um exemplo de um SAI do agronegócio brasileiro do milho, observa-se todos os setores interagindo entre si, começando com “Fornecedores de Insumos, Máquinas e Equipamentos” até o segmento mais próximo do consumidor final “Distribuição e Varejo Nacional e Internacional” 2 São definições muito próximas, o que diferencia são os aspectos dinâmicos associados ao agronegócio 12 Figura 1 - Sistema Agroindustrial do Milho no Brasil Fonte: Adaptado de SOUZA et al.(1998). 2.2 Complexo agroindústrial Denomina-se complexo agroindustrial3 (CAI) ou agribusiness (agronegócio) o conjunto de atividades realizadas pela agropecuária e pelos setores diretamente a ela vinculados. Apresenta uma visão sistêmica da economia, como segmentos que fornecem insumos à agropecuária e segmentos que trabalham com a transformação industrial e distribuição dos produtos in natura ou transformados (BACHA, 2007). Dessa forma, tem como ponto de partida determinada matéria-prima de base (complexo de soja, complexo cana-de-açúcar, complexo café etc.), ou seja, é ditada pela matéria-prima que originou os diferentes processos industriais e comerciais que ela pode sofrer até se transformar em diferentes produtos finais. Portanto, formação de um complexo agroindustrial exige a participação de um conjunto de cadeias de produção, 3 Complexo agroindustrial pode se considerado como a definição limitada do agronegócio para determinada cultura; ex: “ Agronegócio da soja”. 13 cada uma delas associadas a um produto ou família de produtos (BATALHA, 2001). Na figura 2 observa-se um exemplo de complexo agroindustrial no Brasil. Figura 2 – Complexo Agroindustrial Citrícola Brasileiro Fonte: Adaptado de Paulilo (1999). 2.3 Cadeia de produção agroindustrial As complexas cadeias dos agronegócios são compostas por empresas fornecedoras de insumos, dos produtores, das indústrias processadoras e seus insumos (embalagens, aditivos), dos distribuidores (atacadistas, varejistas, restaurantes) e prestadores de serviços (transportadoras, bancos, certificadoras, estocadores, financeiras, operadores logísticos) visando a satisfazer o consumidor final (NEVES, 2005). Elas podem ser analisadas de uma escala macroeconômica (agregados econômicos) para uma escala microeconômica (unidades da base da economia), são consideradas como um sistema organizado de processo de fabricação e operações, ou 14 seja, cada operação só poderá ser executada quando a anterior estiver sendo concluída. Pode ser definida como conjugado de subsetores de produção que se relacionam com cumplicidade simultânea, são sucessões de operações de transformações dissociáveis, capazes de serem agregadas ou desagregadas de acordo com a necessidade da tecnologia e de resposta do mercado, são também consideradas como o conjunto de relações de comércio e financeiro, um fluxo de trocas de montante a jusante, ou seja, de fornecedor a cliente, assegurando as operações do sistema (ZUIN et al., 2006) Ela pode ser segmentada, em três macros segmentos: 1) Comercialização – empresas em contato com o cliente final da cadeia de produção e que viabilizam o consumo e o comércio dos produtos finais (supermercados, mercearias, restaurantes, logística etc.); 2) Industrialização – firmas responsáveis pela transformação de matérias-primas em produtos finais destinados ao consumidor (pode ser tanto uma família quanto outra firma); 3) Produção de matérias-primas – Firmas que fornecem as matérias primas iniciais para que as outras empresas avancem no processo de produção do produto final (agricultura, pecuária, pesca etc.). Segundo Batalha (2001) as principais utilizações para o conceito de cadeia agroindustrial são: 1) Cadeias de produção como ferramentas de análise e formulação de políticas públicas e privadas que busca identificar os elos fracos da cadeia de produção e incentivá-los através de uma política adequada, permite uma melhor coordenação entre os agentes envolvidos diretamente com as atividades da cadeia de produção. 2) Na definição de uma cadeia sobre a ótica técnica-econômica, como soma de todas as operações de produção e comercialização que foram necessárias para passar de uma ou várias matérias primas de base a um produto final. 3) A cadeia de produção como metodologia de análise da estratégia das firmas pode ser analisada como estratégia de maximização de lucro trabalhando nas duas pontas da cadeia (venda do produto – custo de produção), também são considerados os aspectos ambientais de sobrevivência da firma no meio concorrencial. É preciso observar às diversificações dentro dos setores as atividades existentes [as relações 15 comerciais diretas (clientes e fornecedores); relações comerciais indiretas (fluxo de compra e venda dos clientes e fornecedores); as relações tecnológicas (elemento base da construção da cadeia)]. Outra estratégia seria a penetração em uma cadeia de produção na qual a empresa está ausente, essa estratégia deve permitir-lhe influenciar a dinâmica concorrencial da cadeia de produção com objetivo de conseguir vantagens competitivas (uma das estratégias seria obter controle da cadeia de produção). 4) A cadeia de produção como espaço de análise das inovações tecnológicas tem como objetivo dinamizar a concorrência no interior de uma cadeia de produção, as operações técnicas podem ser classificadas segundo seu conteúdo tecnológico como: tecnologia de base (operações necessárias a atividade, porém sem impacto competitivo importante); tecnologias chaves (determinadas do ponto de vista concorrencial, estão associadas às operações chaves); tecnologias emergentes (ligadas a tecnologias importantes da evolução do sistema). Na figura 3, encontra-se um exemplo em disposição de duas cadeias de produção agroindustrial (CPA), observa-se a segmentação em 3 setores (Produção de matériasprimas, Industrialização e Comercialização) cada qual exigindo determinadas operações; dependendo do segmento, as operações podem interagir de forma complementar (operações 7 e 10) para suprir determinada demanda de matériaprima/serviços. Figura 3 – Sistema de Produção Composta por duas Cadeias de Produção Agroindustriais. Fonte: Adaptado de Batalha (1995). 16 2.4 Gestão de cadeias de suprimentos Segundo Zuin et al. (2006) as principal diferença entre cadeia de produção e cadeia de suprimentos, é que a primeira define somente as atividades envolvidas no processo de fabricação, e a segunda, além de englobar o primeiro conceito, amplia o conceito também para as atividades relacionadas à logística das unidades produtivas. As principais ideias sobre cadeia de suprimentos são: 1) É responsável por todo o esforço envolvido na produção e distribuição do produto final, do fornecedor do fornecedor ao cliente do cliente. Esse esforço é assegurado pelo planejamento, compras, fabricação e distribuição, além de abranger a gestão de fornecimento, a demanda, a compra de matérias-primas e de produtos intermediários, a fabricação e montagem, a gestão de estoques, a distribuição através de vários canais e a entrega ao cliente; 2) Conjunto de todas as atividades envolvidas com a movimentação de bens, desde as matérias-primas até o usuário final. Incluindo compras e aquisições, programação da produção, ordem de fabricação, inventário, transporte, armazenamento e serviços ao cliente. Dessa forma, com a necessidade de dar respostas mais rápidas e dinâmicas às oportunidades de negócios tona-se necessário a coordenação entre as atividades de produção e de distribuição desenvolvidas nas empresas ao longo de uma cadeia de produção. A gestão desse conjunto de etapas chama se de gestão de cadeias e suprimentos, a eficiência ao longo do canal de distribuição pode ser melhorada pelo compartilhamento de informação e do planejamento conjunto entre seus diversos agentes, com integração de todas as atividades da cadeia mediante melhoria nos relacionamentos entres seus diversos elos ou agentes, construindo vantagens competitivas sustentáveis (BATALHA, 2001; ZUIN et al., 2006). A busca dessa sintonia é exatamente o que a gestão de cadeias e suprimentos tem como objetivo. A grande questão enfrentada pelos varejos, indústrias e prestadores de serviços é como construir essa sintonia, aumentando a competitividade de toda a cadeia. A base conceitual da gestão de cadeias e suprimentos é composta por três elementos relacionados: a sua estrutura (elos envolvidos), os componentes de gestão 17 [planejamento e controle (estrutura de produtos); estrutura do trabalho (método de gestão); estrutura organizacional (estrutura de poder de liderança); estrutura de instalações para o fluxo de produtos (estrutura de riscos e recompensas); estrutura de instalações para o fluxo de informações (cultura e atitude)] e os processos de negócios (administração do relacionamento com clientes; administração do serviço ao cliente; administração da demanda; atendimento dos pedidos; administração do fluxo de produção; suprimentos; desenvolvimento e comercialização de produtos; canais de devolução) (BATALHA, 2001). Figura 4 – Exemplo de Gestão de Cadeias e Suprimentos Fonte: Elaborado pelos autores 18 3. IMPERFEIÇÕES DE MERCADO E INTEGRAÇÃO Segundo Vian e Pitelli (2005), as imperfeições de mercado são responsáveis por mudanças estruturais no comportamento das empresas/firmas. Podem-se encontrar características de mercado que define a maneira e a forma que uma empresa/firma deve atuar. Dependendo da estrutura/características de mercado (demanda, oferta, estrutura, conduta e desempenho) e da estrutura de produção (preços, custos, receitas, lucros), esse mercado pode ser de concorrência perfeita (número pulverizado de empresa/firma,), monopólios (uma só empresa/firma), oligopólios (poucas empresa/firma) e concorrência monopolística (empresa/firma atua no mercado diferenciando produtos). Dentro de cada uma dessas abordagens encontra-se o sistema de comercialização dos produtos agropecuários que são afetados por essas características de mercado, esse sistema é diferente para cada produto/empresa/firma/elo/cadeia, pois são as mudanças institucionais, tecnológicas e de hábitos de consumo que podem mudar o comportamento competitivo. Dessa forma, para analisar o desempenho dos mercados agropecuários é importante conhecer sua estrutura através de modelos econômicos que explicam seu comportamento (AGUIAR, 2000). Uma teoria que explica o processo de estratégias das firmas para otimizar a utilização dos recursos e buscar competitividade, é a economia dos custos de transações. Os custos de transações são custos associados à coleta de informações e estabelecimentos de contratos, ou seja, a empresa/firma poderia se organizar na busca de redução de custos (COASE, 1937). Através desse processo, surgem ferramentas e mudanças estruturais que auxiliam as empresas na tomadas de decisões, como viabilidade de diferentes formas de contratos entre empresas/firmas, bolsa de mercadorias e futuros, associações, cooperativas, integrações verticais e horizontais, diversificação na produção, escala de produção e diferenciação de produto (BLAIR, 1983; AGUIAR, 2000; MARQUES e MELLO, 1999). Uma das estratégias bastante utilizada pelas empresas/firmas agropecuárias é o processo de integração. No agronegócio é comum verificar empresa/firma com maior poder de barganha, mais organizada e com maior poder de mercado, ditar o 19 comportamento de uma determinada cadeia. Esse processo está diretamente relacionado com o custo de transação, ou seja, quando o custo de transação excede o preço recebido pelo produtor/vendedor, existe uma grande possibilidade de se integrar vertical ou horizontalmente com as outras empresas (BLAIR, 1983). Segundo Frei (2003) integração vertical é a execução de vários processos dos elos da cadeia por uma só empresa para estratégia competitiva da mesma. Os tipos de integração vertical podem ser: Parcial (realiza parte de uma atividade, mas depende de outro elo); quase-integração (contratos de longo prazo); integração a montante (a empresa realiza atividade que antes era do fornecedor); e integração vertical a jusante (a empresa realiza atividade que antes era do cliente). No caso de uma integração horizontal se estabelece quando é viável implantar cooperativas para aumentar o poder de barganha e redução de custos para os produtores; para clusters ou arranjos produtivos locais elos da cadeia com produtos similares na mesma região; nos investimento entre o setor produtivo e o de infra-estrutura de transporte e em parcerias de produção de empresas diferentes (ROSA, 2004). Ao estudar os conceitos do agronegócio é preciso entender todo o processo de sua formação como a evolução da agropecuária, modernização dos meios de produção, tecnologia e mudanças conjunturais e a partir daí entender as principais abordagens que auxiliam na sua análise. Esse conhecimento é importante para o desenvolvimento de estratégias e metodologias que auxiliam na tomada de decisões em cada elo da cadeia, na harmonia/sinergia de sua estrutura e nos elementos externos que afetam diretamente sua competitividade. 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABDALLAH, P.R. Atividade pesqueira no Brasil: política e evolução. Piracicaba, 1998. 137p. Tese (Doutorado) – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, 1998. ALMEIDA, D. P.F. Apontamentos de produção agrícola. Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa. Porto, 2004. 20 AGUIAR, D. R. D. Tendências da comercialização agrícola na virada do século. 2000, p. 219-244. 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A globalização forçou que muitos setores reduzissem seus custos, seja através de investimentos em novas tecnologias, seja em reestruturação dos procedimentos gerenciais adotados. Além disso, possibilitou que o comércio mundial se elevasse, com quedas de barreiras tarifárias entre países, principalmente no setor industrial. Em suma, 24 incentivou que os países investissem nos setores com maior vantagem competitiva, e que gerassem superávits no saldo da balança comercial, e consequentemente, maiores divisas. Entretanto, muitos países se mostraram resistentes à redução de barreiras tarifárias na agricultura, sobretudo países desenvolvidos, como EUA, Japão e União Européia, com a alegação de que a persistência de barreiras se dá com o intuito de garantir a segurança alimentar de sua população e sustentar práticas ambientalmente corretas no campo. Contudo, mesmo com algumas restrições ao comércio mundial de commodities o Brasil se destacou neste período. Ganhos de produtividade, redução de custos, maior independência de produtores e desenvolvimento de uma agroindústria integrada, impulsionaram o setor, mesmo com a redução de suportes do governo e elevadas taxas de juros, oriundas de uma política fiscal rígida, que por sua vez, desestimulava a aquisição de empréstimos ao mesmo tempo em que expunha os produtores a maiores riscos de preços4. De acordo com dados da Food and Agricultural Organization - FAO (2008), as exportações brasileiras de produtos agrícolas ganharam destaque no mercado mundial, sobretudo pelo baixo custo de produção, se comparados a outros países, e devido a menores oscilações de preços, dado um aumento no consumo interno e situação macroeconômica estável. O choque positivo nas exportações estimularam o aumento da produção agrícola brasileira, a qual foi superior a 100% entre 1990 e 2005 (IBGE, 2005). Algumas culturas se consolidaram como carro-chefe do agronegócio brasileiro, como a cana-deaçúcar, e outras tiveram um aumento expressivo, devido tanto ao aumento do comércio internacional, quanto ao maior consumo interno, como o caso da carne de frango. 4 Pois com a redução de suporte gorvernamental, muitos setores em que o governo garantia um preço mínimo, passaram a concorrer diretamente com preços de mercados, muitas vezes influenciados pelos preços das commodities no mercado internacional. 25 O Brasil ocupa atualmente posições de destaque na produção mundial de canade-açúcar, carne bovina, carne de frango, carne suína, laranja, café, soja, milho, algodão, leite, arroz e frutas tropicais, além do setor florestal (para produção de papel e celulose) e bio-energético (como os bio-combustíveis etanol e biodiesel), sendo um dos maiores produtores agrícolas do mundo, atrás de China, União Européia e EUA (FAO, 2008). Em termos de comércio internacional, o país se destaca na exportação das seguintes commodities: açúcar, etanol, carne bovina, carne de frango, carne suína, suco de laranja, café, soja, algodão e frutas tropicais, ficando aquém apenas dos EUA e União Européia. Vale salientar que a taxa de crescimento da produção e exportação agrícola brasileira tem permanecido acima da média mundial nas últimas décadas, e a expectativa é de que a participação brasileira aumente ainda mais no cenário internacional, por diversas razões. A primeira se dá pela gradual queda de barreiras tarifárias e sanitárias de países desenvolvidos, que necessitam reduzir o dispêndio com o protecionismo local, além de perder recentes “batalhas” na Organização Mundial do Comércio - OMC, a partir de pedidos de retaliações por parte de países que alegam desvios de comércio decorrentes do protecionismo de alguns países e blocos econômicos. Segundo, devido ao fato do Brasil possuir áreas agricultáveis ainda não aproveitadas, em áreas que hoje já foram incorporadas aos cinturões produtivos das regiões de fronteiras agrícolas. O terceiro ponto se refere ao avanço tecnológico, mecanização no campo, capitalização dos produtores e maior integração com a indústria e desenvolvimento de variedades adaptadas a condições climáticas diversas, assim como ocorreu com a expansão da soja no Centro-Oeste, a partir do meio da década de 1990. Por fim, esperase um crescimento considerável na economia brasileira nos próximos anos, de acordo com estimativas do Fundo Monetário Internacional - FMI, e Banco Central do Brasil BACEN, e consequentemente, um aumento no consumo e demanda por alimentos 26 processados, o que deve impulsionar a agropecuária local, ao mesmo tempo em que investirá em qualidade e produtos diferenciados, abrindo oportunidades de exportação destes produtos agregados a outros mercados, hoje abertos apenas às commodities innatura, ou seja, ao produto bruto. O agronegócio brasileiro desempenha, historicamente, importante papel desenvolvimentista em todas as regiões do país, cada qual com suas particularidades e características próprias. As áreas de fronteiras agrícolas estabelecidas ao longo do último século se destacam no cenário nacional, como a região Sul, na produção de grãos, suínos, aves e pecuária de corte, a região Centro-Oeste, na produção de grãos e pecuária, e recentemente suínos e aves, a região Nordeste, com a tecnificada produção de frutas no semi-árido, além da cana-de-açúcar no litoral, e a região Sudeste, com diversas culturas, entre elas a cana-de-açúcar, pecuária em geral, café, citricultura e grãos. 6. ETAPAS DOS AGROPECUÁRIOS PRINCIPAIS SISTEMAS DE PRODUÇÃO 5 Respeitanto as peculiaridades de cada sistema agronômico de produção, pretende-se apresentar algumas características comuns de cultivo para familiarizar o leitor da ordem em que os eventos agrícolas ocorrem. Primeiramente, deve-se ter em mente que as etapas básicas das atividades agrícolas, em geral, se referem ao preparo do solo, plantio, manejo da cultura, colheita e pós colheita (secagem ou acondicionamento e armazenamento), até a comercialização das commodities, conforme figura 1. 5 Este tópico objetiva apenas dar a noção básica ao leitor sobre as principais etapas nos processos produtivos agrícolas e pecuários das principais commodities produzidas no Brasil. Para maior detalhamento, consultar trabalhos mencionados nas referências desta apostila, ou materiais específicos presentes em diversas bases de artigos, livros e teses da literatura nacional e internacional. 27 Figura 4 - Fluxograma generalizado dos sistemas produtivos agrícolas Fonte: Dados da pesquisa. Obviamente, cada cultura apresenta características peculiares a elas próprias, podendo haver etapas intermediárias adicionais às apresentadas6, ou mesmo diferenças quanto ao tipo de atividade, como por exemplo, se a cultura é sazonal (grãos), semi perene (cana de açúcar), perene (laranja). No caso de culturas perenes e semi perenes, adicionam-se ao processo a reforma da área cultivada após o término do ciclo ótimo de produção da cultura, a abertura de covas antes do plantio de mudas, entre outros. Em relação ao preparo do solo, pode-se considerar o plantio convencional, ou o plantio direto. No primeiro, há maior movimentação de solo (uso de grades e arados), enquanto no segundo, a implantação de novo ciclo da cultura é feito em solo pouco ou não-revolvido, e protegido por cobertura morta proveniente de restos culturais ou cobertura vegetal cultivadas para esta finalidade. No plantio de grãos, em geral7, utiliza-se a semeadora-adubadora, implemento que realiza a semeadura e a adubação no sulco de plantio numa mesma operação, tomando cuidado para não deixar a semente em contato direto com o fertilizante. 6 Como por exemplo, o caso do arroz irrigado, cuja irrigação é realizada após o manejo, alagando-se a área cultivada, e posteriormente, drenando-se esta área alagada para a colheita do ceral. 7 Como o caso das culturas graneleiras, como soja, milho, arroz e trigo. 28 Já na etapa de manejo, se dá o controle preventivo, cultural, mecânico e químico. O método preventivo pode ser feito através do uso de sementes de boa procedência. Como controle cultural, o espaçamento deve ser adequado de maneira a favorecer o fechamento e sombreamento do solo, aplicação de adubo em linha, adubação de cobertura e rotação de cultura. O controle mecânico é a capina da área, que pode ser feita manualmente ou através de cultivadores, arados e grades. O controle químico é o mais utilizado atualmente por produtores e se dá pela aplicação de herbicidas para combate de plantas daninhas. Além disso, a aplicação de fungicidas (combate a doenças fúngicas) e pesticidas (combate a insetos e ácaros) são realizadas, costumeiramente, nesta etapa. No que se refere a colheita, esta constitui uma importante etapa no processo produtivo agrícola. A colheita deve ser realizada no momento exato em que a planta atinge o estágio fenológico ideal, para que não haja perdas quantitativas e/ou qualitativas. Terminada a colheita, a produção deve ser transportada para os locais de beneficamento e armazenagem, a fim de que passem por processo de pós colheita, limpeza, secagem (grãos) ou seleção e embalagem (frutas), depois sejam armazenadas ou comercializadas. Conforme mencionado, outras atividades podem ser consideradas, dependendo do tipo de cultura. No caso do café, existe ainda a etapa de preparo, após a colheita, onde haverá a separação das impurezas, a maturação dos frutos, a eliminação da casca e secagem do fruto. Na citricultura e viticultura, existe ainda a etapa de beneficiamento da fruta que não irá para mesa, transformando as mesmas em sucos concentrados ou vinhos, respectivamente. Já o caso da orizicultura em sistema irrigado, há o alagamento das áreas de lavoura após o manejo e a drenagem anterior à colheita. No caso da triticultura, cotonicultura e cana de açúcar, verifica-se a necessidade da aplicação de maturadores. Na cotonicultura, ainda, existe a etapa de aplicação de desfolhantes, dessecantes e maturadores dias antes da colheita, além da destruição dos restos vegetais após a colheita (a fim de se evitar a proliferação de pragas e doenças). Ao considerar as principais atividades de criação animal no Brasil, ressaltam-se as etapas do processo anteriores ao início do ciclo produtivo, principalmente no que se refere ao confinamento. Estas atividades vão desde o cruzamento de espécies 29 selecionadas até o fornecimento de matrizes para produção. Outras etapas referentes à pecuária são o período de acompanhamento do crescimento dos animais e manejo, que se referem à alimentação dos mesmos, vacinação, estrutura física, ventilação e temperatura do local, entre outros. Após o ciclo de crescimento e abate, sucedido pela comercialização, deve-se ater à limpeza e desinfecção do local, até o período de produção do novo ciclo. Estas características são peculiares, principalmente, à suinocultura, avicultura e bovinocultura leiteira. Para maior elucidação, observa-se na figura 2, o fluxograma de produção da suinocultura. Figura 5 - Fluxograma do sistema produtivo de suínos Fonte: Dados da pesquisa. No caso de confinamento de bovinos para corte, adiciona-se ainda a etapa de adaptação e separação de lotes homogêneos por baia, respeitando-se o peso, raça e sexo dos bovinos. Além disso, novas etapas de pesagem dos animais são incluídas no processo. Já no caso do confinamento de bovinos leiteiros, incluem-se as etapas de ordenha e armazenagem do leite em condições apropriadas. No caso da ordenha, os animais são submetidos em média (à ordenha) duas vezes por dia, o que explica o fato do cuidado com o deslocamento mínimo dos animais ao longo do dia, evitando-se estresse do animal e otimizando o tempo para extração do leite . 30 7. DESCRIÇÃO DOS SETORES 6.1 Dados gerais da produção de café O café, produto de grande importância para agricultura brasileira, sobretudo no século XIX, é atualmente um dos itens mais tradicionais da pauta de exportação do agronegócio brasileiro. O Brasil se apresenta como o principal produtor mundial, com 34,5 milhões de sacas em 20098 (equivalente a 2,4 milhões de toneladas). Atualmente, a produção brasileira correspondente a aproximadamente 30% do volume total mundial produzido, sendo que seus principais concorrentes no mercado mundial estão muito aquém desse percentual de participação. Apesar disso, de acordo com dados fornecidos anualmente pelo IBGE, a produção de café brasileira decresceu a um patamar próximo de 30% na última década, onde chegou a alcançar entre 1998 a 2001, patamares de produção acima de 3,2 milhões de toneladas. É necessário salientar, entretanto, que o consumo de café no Brasil também está entre os maiores do mundo, atrás somente dos EUA. Atualmente o Brasil consume cerca de metade de sua produção, com o restante sendo destinados à exportação ou estocagem. Entretanto, destaca-se que este consumo interno tem crescido a uma taxa média de 4% ao ano, desde a última década, em detrimento a 1,5% ao ano na média 8 Contudo, deve-se prestar atenção ao fato de que a cafeicultura apresenta uma alteração significativa de produção de um ano para outro, em decorrência da bi anualidade da cultura. 31 mundial. Segundo relatório da FIESP (2008), este avanço tem sido obtido graças à consolidação dos mercados de cafés gourmet e especiais no país, algo já recorrente há algum tempo em países desenvolvidos e que se destacam pelo alto consumo per capita de café, como a Alemanha, França e Itália, e EUA. Com uma área cultivada acima de 2,3 milhões de hectares em 2009, o café é a 5ª cultura agrícola em uso de terras no Brasil, situando-se atrás apenas das culturas da soja, milho, cana-de-açúcar e arroz. Mais da metade da produção está concentrada no Estado de Minas Gerais. Além deste, São Paulo, Paraná, Espírito Santo e Bahia são os outros Estados com alguma representatividade do cultivo de café, sendo os três primeiros, historicamente tradicionais produtores de café, e o quarto, produtor recente e que vem ganhando espaço na cultura cafeeira desde a década de 1990. Outro ponto importante a se ressaltar é que a cultura do café gerou um valor de produção de aproximadamente R$ 8 bilhões ao ano nas últimas safras, o que ratifica sua importância econômica como um dos produtos agrícolas que mais geram divisas ao país, impactando positivamente no saldo da balança comercial do país. De acordo com o último Censo Agropecuário Brasileiro, realizado pelo IBGE (2007), a cultura cafeeira se dá em um total de 200.859 estabelecimentos produtores espalhados pelo país, com mais de 1,5 milhões de hectares de área colhida 9 . Na Tabela F F 1 pode-se observar que poucos são os estabelecimentos com mais de 500 hectares, ou seja, grandes propriedades, embora o café seja uma cultura com alta produtividade por hectare o que já classifica propriedades com 100 hectares como grandes. Se considerar os tais estabelecimentos com mais de 100 hectares, estes correspondem a 0,76% do total, porém correspondem a aproximadamente 21% da área colhida, 25,8% da produção, e 26,3% do valor da produção gerado pelo setor. 9 Nota: o último censo agropecuário foi divulgado em 2006, sendo seus dados, portanto, referentes a 2006. Ao longo do relatório será observado que os dados de produção, área colhida e valor da produção deste censo não será igual ao apresentado na última safra, em decorrência da defasagem de três anossafras entre os mesmos. Porém, é importante a ilustração dos dados do censo para se entender o perfil das propriedades rurais produtoras das diferentes commodities que aqui serão apresentadas. 32 Tabela 1 - Características gerais dos estabelecimentos cafeeiros no Brasil Tamanho da propriedade Estabelecimentos Produção (ton) Valor da produção (mil R$) Área colhida (ha) Produtor sem propriedade Maior de 0 a menos de 1 ha 22.400 35.971 0 44.879 1 119.636 80.497 37.611 De 1 a menos de 2 ha 32.804 68.799 206.172 52.669 De 2 a menos de 5 ha 60.689 253.417 823.779 222.224 De 5 a menos de 10 ha 24.324 220.911 917.728 192.373 De 10 a menos de 20 ha 13.028 230.533 881.588 199.747 De 20 a menos de 50 ha 7.726 336.521 1.427.560 259.477 De 50 a menos de 100 ha 2.395 247.112 1.045.238 178.674 De 100 a menos de 200 ha 1.057 218.022 830.236 157.535 De 200 a menos de 500 ha 415 198.383 828.189 123.092 50 200.859 71.142 1.889.719 276.013 7.356.140 43.186 1.547.085 De 500 ha e mais Total Fonte: IBGE, 2007 Mesmo com grande representatividade dos estabelecimentos com mais de 100 hectares sobre a área colhida, produção e valor da produção, o potencial da cadeia se encontra em médios produtores, inseridos entre as faixas de 10 a 100 hectares, os quais representam pouco mais de 11% dos estabelecimentos, e cerca de 45% do valor de produção do setor. É necessário observar, entretanto, que parte da produção está pulverizada de maneira semelhante entre os estratos de propriedades com mais de 2 hectares, ou seja, ao analisar-se qualquer projeto de investimento ou mapeamento deste mercado, deve-se considerar pequenos, médios e grandes produtores com a mesma atenção. Detalhando um pouco mais as características do setor cafeeiro no Brasil, e analisando a participação das principais regiões produtoras, vê-se que Minas Gerais tem uma grande importância no cenário nacional. A produção mineira representou em 2009, 50% da área colhida e produção, além de mais de 50% do valor de produção do café no Brasil, o que reforça o importante papel deste Estado nesta cultura. Vale ressaltar que a maior parte da produção mineira se dá com o café arábica, reconhecido pela melhor qualidade, e consequentemente, pelo maior valor de mercado. Além de Minas Gerais, o Espírito Santo mostra força neste setor, com cerca de 25% da produção em 2009, e 22% da área plantada. Diferentemente de Minas Gerais, a produção capixaba é basicamente de café conilon, o qual não tem o mesmo valor de mercado que o café arábica. 33 Outros Estados que possuem alguma representatividade na cultura cafeeira são São Paulo com 7,6%, Bahia com 7%, e Paraná com 3,6% aproximadamente da produção e área cultivada. Tanto para Minas Gerais, quanto para São Paulo, a grande representatividade do perfil de produtores está na faixa onde os estabelecimentos possuem de 20 a 500 hectares, caracterizando o perfil de médio a grande produtor, declinando em maior parte aos médios produtores, com até 100 hectares. Entretanto, Paraná e Espírito Santo concentram sua produção em estabelecimentos pequenos, com até 10 hectares, enquanto na Bahia, Estado que tem absorvido grande parte das novas áreas cafeeiras do Brasil, o perfil é de grande produtor, com mais de 100 hectares, indicando que por ser uma área nova, tem recebido investimento de produtores mais capitalizados. Analisando as grandes regiões produtoras de café no país, Minas Gerais e Espírito Santo, deve-se atentar a algumas micro-regiões geográficas que se destacam na produção. Em Minas Gerais três áreas destoam das demais, na ordem: o sul do Estado, sobretudo nas proximidades dos municípios de Varginha, São Sebastião do Paraíso, Guaxupé, Alfenas, Poços de Caldas, Passos, Piuí e Oliveira; o Triângulo Mineiro, incluindo Patrocínio, Araxá, Patos de Minas, Ituiutaba e Uberlândia; e o sudeste do Estado, próximos à divisa com Espírito Santo, onde se localizam Caratinga, Manhuaçu, Ponte Nova, São Lourenço e Viçosa. No Espírito Santo, a maior parte da produção está situada nas micro-regiões dos municípios de Alegre e Afonso Cláudio, próximos à divisa com o sudeste de Minas Gerais. Em suma, o desempenho da economia cafeeira brasileira tem se mantido em patamar elevado em parte pelo aumento do consumo doméstico acima da média mundial e pela diversificação desta demanda, e em outra, pelas conquistas de novos mercados no comércio mundial. Além disso, deve-se ressaltar a integração das ações do governo, produtores, cooperativas e indústrias, quanto às inovações produtivas, certificação da qualidade e programas de incentivo ao consumo, que sustentaram o setor ao cenário atual. 34 Figura 5 - Sistema Agroindustrial do Café no Brasil Fonte: Adaptado de SAES, M. S. S. et al. (1998). Bibliografia Recomendada CAMARGO. F.T. de. Crescimento e maturação do fruto do café (Coffea arabica L.) em sistema arborizado e em monocultivo. 2007. 42 p. Dissertação (Mestrado em Fitotecnia) - Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2007. CARVALHO, G.R. Avaliação de sistemas de produção de café na região sul de Minas Gerais: um modelo de análise de decisão. 2002. 68 p. Dissertação (Mestrado em Economia Aplicada) - Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2002. JESUS. J. de. Atributos do solo e da nutrição do cafeeiro em sistema agroflorestal e em monocultivo. 2008. 147 p. Tese (Doutorado em Fitotecnia) - Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2008. MALAVOLTA, E. Nutrição mineral e adubação do cafeeiro: colheitas econômicas máximas. São Paulo: Agronômica Ceres, 1993. 210 p. SAES, M. S. S.; JAYO, M.; NAKAZONE, D.; SILVEIRA, R. L. F. Competitividade no Agribusiness Brasileiro: Competitividade do Sistema Agroindustrial do Café. São Paulo. PENSA/FIA/FEA/USP. 1998. 35 6.2 Dados gerais da produção de cana-de-açúcar A cana-de-açúcar é um dos cultivos mais tradicionais do Brasil, desde os tempos de colônia e segue, atualmente, com um lugar de destaque entre os produtos agrícolas brasileiro, sendo o Brasil o maior produtor mundial deste produto, seguido da Índia. A cultura ocupou cerca de 9,6 milhões de hectares em 2009, o que a coloca como 3ª cultura mais cultivada no Brasil, atrás apenas da soja e do milho. Além disso, nos últimos quinze anos, as exportações brasileiras do complexo sucroalcooleiro (açúcar e álcool) foram significativamente expandidas. Resultado disso é o tamanho do valor desta produção, acima dos R$25 bilhões, resultado da colheita de 690 milhões de toneladas no referido ano-safra. Esta expansão da produção canavieira é refletida ao se analisar os números do volume de produção acumulado ano a ano. Na última década, a produção cresceu a um patamar médio de 7% ao ano, e um acumulado de 80% neste período (IBGE, 2010). Para melhor compreender o complexo sucroalcooleiro, é necessário analisar separadamente o açúcar, o álcool e a capacidade de co-geração de energia, os quais são 36 os principais produtos derivados da atividade canavieira, e que possuem características absolutamente distintas, embora seus problemas, desafios e potenciais sejam relacionados. De acordo com o censo agropecuário de 2006 (IBGE, 2007), existem quase 200 mil estabelecimentos produtores de cana-de-açúcar no Brasil. Embora a maior parte dos estabelecimentos produtores esteja na faixa entre 5 a 100 hectares, as poucas centenas de produtores com mais de 2.500 hectares representam algo em torno de 55% da quantidade produzida, e 50% da área colhida e valor da produção, mostrando uma alta concentração deste setor. Ao se considerar propriedades com mais de 100 hectares, algo em torno de 10% do total de estabelecimentos produtores, esta proporção salta para mais de 90% no volume, tanto para área colhida como para valor da produção, reiterando ainda mais a concentração do setor. Tabela 2 - Características gerais dos estabelecimentos canavieiros no Brasil Tamanho da propriedade Produtor sem propriedade Mais de 0 a menos de 0,1 ha Estabelecimentos Produção (ton) Valor da produção (mil R$) Área colhida (ha) 2.089 1.960 63.254 11.758 4.556 1.613 2.257 290 179 De 0,1 a menos de 0,2 ha 791 6.893 747 De 0,2 a menos de 0,5 ha 1.842 24.710 1.907 700 De 0,5 a menos de 1 ha 3.535 83.580 6.395 2.142 De 1 a menos de 2 ha 9.088 305.508 26.047 9.155 De 2 a menos de 3 ha 9.530 1.289.826 70.018 23.588 De 3 a menos de 4 ha 9.086 517.243 32.395 13.005 De 4 a menos de 5 ha 8.562 459.532 34.387 12.686 De 5 a menos de 10 ha 32.322 3.187.672 202.187 73.578 De 10 a menos de 20 ha 40.244 5.209.346 373.268 108.874 De 20 a menos de 50 ha 38.758 12.225.604 928.558 233.475 De 50 a menos de 100 ha 15.309 14.161.678 973.294 244.118 De 100 a menos de 200 ha 9.236 22.371.677 1.181.260 354.313 De 200 a menos de 500 ha 6.511 34.368.260 2.114.708 554.237 De 500 a menos de 1000 ha 2.187 30.062.974 1.415.162 447.425 De 1000 a menos de 2500 ha 1.126 46.392.606 2.212.252 657.213 669 192.845 213.423.037 384.165.158 10.127.367 19.706.121 2.840.416 5.577.651 De 2500 ha e mais Total Fonte: IBGE, 2007 Mesmo assim, é necessário considerar que este grupo (acima de 100 hectares) corresponde a quase 20 mil estabelecimentos produtores, o que acarreta em um considerável mercado potencial para investimento em novas tecnologias, maquinários e insumos agrícolas em geral. Ainda, salienta-se que a participação das usinas processadoras de açúcar e álcool na produção da cana-de-açúcar, arrendamento de terras 37 e relações contratuais com os produtores, abre um nicho de oportunidade ainda maior, na medida em que se negocia com grupos capitalizados. Ao se analisar os principais Estados brasileiros produtores de cana-de-açúcar, nota-se que o Estado de São Paulo concentra mais de 60% do volume produzido e valor gerado, com Minas Gerais, Paraná, Alagoas e Pernambuco representando cada um, respectivamente, em torno de 8,5%, 8%, 4% e 3% da produção nacional. É necessário frisar, entretanto, que as características dos estabelecimentos produtores em todos os principais Estados na cultura canavieira, apresentam comportamento semelhante ao cenário observado nacionalmente, ou seja, em todos os Estados, destacam-se os grandes produtores, sobretudo aqueles com mais de 2.500 hectares. A produção paulista é presente na maior parte do interior do Estado, situada acima do Trópico de Capricórnio. São três as meso-regiões predominantes: Ribeirão Preto no norte e nordeste, Piracicaba no centro, e Araçatuba no noroeste e oeste paulista. Detalhando as principais micro-regiões produtoras pode-se apontar como destaque no primeiro grupo: Ribeirão Preto, Jaboticabal, São Joaquim da Barra, São José do Rio Preto, Catanduva e Barretos; no segundo grupo: Piracicaba, Limeira, Araraquara, São João da Boa Vista; e no terceiro grupo: Araçatuba, Bauru, Jaú, Lins, Birigui, Assis, Presidente Prudente, Adamantina e Ourinhos. A produção mineira é encontrada nas áreas próximas à região de Ribeirão Preto, sobretudo no Triângulo Mineiro, em Uberaba, Uberlândia, e Frutal, com crescimento cada vez acentuado em direção ao sul de Goiás. Já a produção paranaense é encontrada no norte daquele Estado, circundando as áreas que fazem divisa com sudoeste e oeste de São Paulo, onde se localizam Cornélio Procópio, Londrina, Paranavaí, Astorga e Cianorte. Nos Estados de Alagoas e Pernambuco, o cultivo da cana é muito próxima ao litoral, com destaque à região de São Miguel dos Campos, Maceió e Mata Alagoana, todos em Alagoas. Os Estados do Centro-Sul, especialmente São Paulo e Paraná possuem vantagem na produção tanto de etanol quanto de açúcar, estando então mais propensos a receberem maiores investimentos, em decorrência do grande aumento da demanda por 38 etanol, e da pressão no mercado internacional por combustíveis alternativos aos de origem fóssil, ous seja, de origem vegetal. Contudo, nota-se desde então, uma rápida expansão desta produção pelo Triângulo Mineiro, Goiás, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, os quais devem aumentar sua participação sobre o montante total produzido em escala nacional. Conclui-se que este é um setor de expressiva representatividade ao agronegócio brasileiro, ainda mais ao se considerar a tendência de maior expansão da cultura canavieira em antigas áreas de pastagens ou em substituição a outras culturas nos Estados mencionados. Um ponto importante a se considerar se dá em relação ao fato de que a partir de 2013, será erradicada de vez a queima da cana-de-açúcar no Estado de São Paulo, o que levará com que produtores de tradicionais regiões onde a colheita mecanizada é inviável na maioria das áreas (como Piracicaba-SP) adotem tecnologias eficientes para colheita da “cana verde”, que não seja manual, dado à expressiva queda de produtividade do trabalhador no corte desta cana, abrindo potencial de mercado para desenvolvimento decolhedoras menores, mais leves e adaptadas a maior declividade, ou mesmo, a uma maior expansão às áreas de cana-de-açúcar no Centro-Oeste brasileiro. Figura 5 - Sistema Agroindustrial da Cana-de-açúcar no Brasil Fonte: Adaptado de WAACK, R. S. et al. (1998). 39 Bibliografia recomendada ALVES, L.R.A. Transmissão de preços entre produtos do setor sucroalcooleiro do Estado de São Paulo. 2002. 107 p. Dissertação (Mestrado em Economia Aplicada) Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2002. CARUSO, R.C. Análise da oferta e demanda de açúcar no Estado de São Paulo. 2002. 79 p. Dissertação (Mestrado em Economia Aplicada) – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2002. MARQUES, P.V.; SONODA, D. Y. ; ZILIO, L. B. ; XAVIER, C. E. O. Custos de Produção de Cana-de-Açúcar, Açúcar e Etanol no Brasil - safra 2007/2008. PECEGE/ESALQ/USP, Piracicaba, 2009. 194 p. RIPOLI. C; VILLANOVA, N.A. Colheita mecanizada da cana-de-açúcar: novos desafios. Stab Açúcar, Álcool e Subprodutos, Piracicaba, 11(1):28-31, set./out. 1992. WAACK, R. S.; NEVES, M. F.; MORAES, S.; MARINO, M. K.; SZASZ, A. H. Competitividade no Agribusiness Brasileiro: Competitividade do Sistema Agroindustrial da Cana-de-Açúcar. São Paulo. PENSA/FIA/FEA/USP. 1998. 40 6.3 Dados gerais da produção de milho O Brasil possui uma característica que o diferencia dos demais países produtores de milho: a possibilidade de plantio de duas safras, no mesmo ano agrícola, sem a necessidade de irrigação (EMBRAPA, 2003). A primeira, e principal safra, é a de verão, seguida da safra de inverno, também chamada de safrinha. A safra de verão é plantada logo do início da temporada de chuvas (durante a primavera, na região tropical e subtropical), entre os meses de setembro a novembro. Já o plantio do milho safrinha varia de janeiro a abril, normalmente após a colheita da soja precoce, e se dá até o início da época de estiagem. Apesar do período mais seco ocasionar em menor produtividade do milho safrinha, este problema tem sido amenizado ao longo dos últimos anos, devido a investimentos em novas tecnologias, como cultivares mais adaptados. Nas últimas safras, em média, o milho de inverno correspondeu a cerca de 30% da produção total, com os outros 70% sendo colhidos do cultivo de milho verão (IBGE, 2010). A produção brasileira de milho é quase que completamente absorvida pelo mercado doméstico, sendo sua maior demanda pelo segmento de alimentação animal (rações). Eventualmente, ocorrem excedentes da produção para exportação ou aumentos de estoques, ou o contrário, sendo necessário importação para reposição dos estoques. Porém, de acordo com IBGE (2010), desde o início da década de 2000, a 41 produção de milho no país tem se estabelecido em um patamar mais elevado que o consumo doméstico, gerando excedentes exportáveis. Este impulso se ocasionou devido a elevação nos preços do milho, resultante do aumento da demanda mundial pelo cereal destinado à produção de etanol, principalmente nos EUA, maior produtor de etanol mundial, todo ele à base de milho. De acordo com USDA (2008), a produção norte-americana de etanol consumiu 81,3 milhões de toneladas de milho em 2007, e mais de 90 milhões de toneladas em 2008, o que mostra a elevada demanda por essa commodity para a produção de combustível, e explica as sucessivas altas no preço futuro de milho na Bolsa de Chicago - CME, desde 2006. Este fato, entre outros, refletiram no crescimento da produção de milho no Brasil nos últimos anos. Observou-se, a partir de dados de produção anual fornecidos pelo IBGE (2010), um crescimento médio de 8,2% ao ano, na última década, com um acumulado de 76% no período. Segundo grão mais produzido no Brasil, o cultivo do milho gera expressivo volume de produção, tendo alcançado nos últimos anos, mais de 50 milhões de toneladas. Em 2009, o volume produzido foi de pouco mais de 51 milhões de toneladas (34 milhões milho safra, e 17 milhões milho safrinha), utilizando-se de 14,2 milhões de hectares em todo o país. Esta é uma cultura heterogênea quando se trata de regiões produtoras. Embora os Estados produtores de grãos, como os do Sul, Centro-Oeste e Minas Gerais ocupem posição de destaque na cultura do milho, sua produção é encontrada em todo país, até devido a razão de ser quase toda consumida internamente, e ser um produto altamente utilizado na alimentação de animais, ou produção de alimentos destinados à população. De acordo com os dados do último censo agrícola do IBGE (2007)10, existem mais de 2 milhões de estabelecimentos agrícolas que produziam milho. A produção se aloca em propriedades de tamanho diversos, desde áreas com menos de 1 hectare (25% do total dos estabelecimentos) até com mais de 2.500 hectares. Apesar desta diversidade entre os estratos produtores, deve-se atentar que são os estabelecimentos que produzem a partir de 5 hectares que representam a maior parcela da produção e de seu valor gerado, com destaque aos produtores no estrato entre 20 a 50 10 Os dados do Censo Agrícola referem-se ao ano corrente de 2006. 42 hectares, além dos dois últimos estratos, que embora representem 0,4% do total de produtores, resultam em 22% da produção e de seu valor. Tabela 3- Características gerais dos estabelecimentos produtores de milho no Brasil Estabelecimentos Produção (ton) Valor da produção (mil R$) Área colhida (ha) Produtores sem propriedade Mais de 0 a menos de 0,1 ha 91.353 113.615 42.304 97.328 26.795 21.581 7.383 9.200 De 0,1 a menos de 0,2 ha 15.151 19.295 6.489 7.381 De 0,2 a menos de 0,5 ha 60.300 69.333 24.263 33.455 De 0,5 a menos de 1 ha 135.459 238.306 79.327 129.699 De 1 a menos de 2 ha 211.148 648.393 205.543 346.021 De 2 a menos de 3 ha 138.274 652.156 198.736 319.270 De 3 a menos de 4 ha 110.690 637.981 190.064 288.094 De 4 a menos de 5 ha 84.511 729.505 197.115 267.981 De 5 a menos de 10 ha 261.956 2.840.635 757.069 929.268 De 10 a menos de 20 ha 320.737 4.811.044 1.249.739 1.429.749 De 20 a menos de 50 ha 329.696 6.759.785 1.831.501 1.946.909 De 50 a menos de 100 ha 127.014 3.599.254 995.836 1.017.650 De 100 a menos de 200 ha 61.802 3.362.950 887.397 866.731 De 200 a menos de 500 ha 36.357 4.359.051 1.150.307 1.057.467 De 500 a menos de 1000 ha 11.201 3.973.411 1.020.161 876.279 De 1000 a menos de 2500 ha 5.562 4.508.992 1.181.037 982.263 2.116 2.030.122 4.936.513 42.281.800 1.338.371 11.362.642 1.119.617 11.724.362 Tamanho da propriedade De 2500 ha e mais Total Fonte: IBGE (2007) Conforme mencionado, a produção de milho, apesar de marcar presença em todo o território nacional, tende a ter maior representatividade a partir dos Estados do Sul, do Centro-Oeste, Minas Gerais e São Paulo, com o Paraná na 1ª posição deste ranking. A produção nestas localidades representam mais de 80% do total produzido no país. Ainda, ao se analisar a peculiaridade desta cultura em cada Estado destacado, nota-se que na maioria, segue-se a tendência geral observada para o setor em todo o país. Neste caso, a produção é diversificada em diferentes estratos, com destaque aos estratos entre 20 a 50 hectares. Entretanto, no Mato Grosso (2º maior produtor), o grande volume produzido é gerado nas grandes propriedades, com mais de algumas centenas de hectares. Em Minas Gerais e São Paulo, os estratos dos produtores acima de 100 hectares também são bastante relevantes ao total da produção e seu valor. A produção de milho no Paraná é significativa em diversas regiões do Estado. Primeiramente no oeste paranaense, sobretudo nas micro-regiões de Toledo, Cascavel e Foz do Iguaçu; outra região produtora é o sul do Estado, composto por cidades como Francisco Beltrão, Guarapuava, Ponta Grossa e arredores de Curitiba. Ainda, outras 43 micro-regiões situados ao norte e noroeste do Estado se destacam, como Campo Mourão, Goierê e Apucarana. Já em Mato Grosso, a produção é expressiva na região do Alto Teles Pires, no centro-norte do Estado, a qual engloba municípios como Lucas do Rio Verde, Sorriso, Nova Mutum e Tapurah. Outra grande área produtora é Parecis no cento do Estado, onde se localiza o município de Tangará da Serra. Ainda, Sinop, no norte, e Primavera do Leste e Rondonópolis, no sudeste mato-grossense, se destacam na produção de milho. Em Goiás, as áreas produtoras de milho são as mesmas de soja, assim como em Mato Grosso. O maior pólo produtor está situado no sudoeste do Estado, na região de Rio Verde. Ainda as regiões do Entorno de Brasília e de Meia Ponte apresentam produção relevante. No Rio Grande do Sul, destaca-se a produção no norte do Estado, em Erechim, Frederico Westphalen e Santa Rosa, esta mais a noroeste; no centro-norte, em Passo Fundo e Carazinho; e nordeste, em Vacaria e Guaporé. Vale ressaltar, entretanto, que assim como no Paraná, muitas outras regiões do Estado apresentam alguma produção relativa de milho. Já em Minas Gerais, deve-se atentar à produção do Triângulo Mineiro, mais especificamente em Uberaba, Araxá, Patrocínio, Uberlândia e Patos de Minas. A exceção do Triângulo Mineiro, apenas outras duas micro-regiões se destacam no cultivo de milho no restante do Estado: Unaí, no norte, e São João Del Rei no centro, sendo esta última, a maior região produtora mineira. Em São Paulo, o oeste do Estado é um centro produtor graneleiro, onde o milho se destaca em Itapeva, Ourinhos e Assis. Ainda, encontram-se cultivos expressivos em Batatais e São João da Boa Vista, no nordeste paulista. Em Santa Catarina, há um significativo pólo produtor no centro do Estado, que engloba as regiões de São Miguel do Oeste, Chapecó, Concórdia, Joaçaba e Canoinhas, as quais englobam o entremeio entre as áreas produtoras de milho do norte do Rio Grande do Sul e sul do Paraná. Por fim deve-se destacar a região de Dourados, em Mato Grosso do Sul, que representa boa parte da produção daquele Estado. 44 Assim, quando se analisa a cadeia produtiva do milho, devem-se relevar os Estados produtores do Centro-Sul, com bastante atenção ao que vem acontecendo no Estado de Mato Grosso, cuja produção cresce ano a ano e acompanha muito o crescimento da sojicultura local. A instalação de plantas industriais para abate de aves e suínos e as formações de clusters para a agroindústria da soja, além da crescente demanda por bio-combustíveis e etanol, podem elevar os preços de ambas as commodities. Desta forma, produtores capitalizados deverão aumentar seus investimentos em tecnologias diversas, desde o melhoramento de variedades, até máquinas agrícolas para atividades como preparo de solo, plantio e adubação, e colheita e pós-colheita. Figura 6 - Sistema Agroindustrial do Milho no Brasil Fonte: Adaptado de SOUZA et al.(1998). 45 Bibliografia recomendada CHIODI, L. Integração espacial no mercado brasileiro de milho. 2006. 89 p. Dissertação (Mestrado em Economia Aplicada) – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2006. GUIMARÃES, V.A. Análise do armazenamento de milho no Brasil com um modelo dinâmico de expectativas racionais. 2001. 136 p. Tese (Doutorado em Economia Aplicada) – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2001. RISSETO, V.V. Fluxos de produção e consumo de milho no sul e sudeste do Brasil. 2001. 102 p. Dissertação (Mestrado em Economia Aplicada) – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2001. EMPRESA BRASILEIRA DE AGROPECUÁRIA - EMBRAPA. REVISTA BRASILEIRA DE MILHO E SORGO - RBMS, Sete Lagoas. Disponível em: < http://rbms.cnpms.embrapa.br/index.php/ojs> SOUZA, L. L. S.; AZEVEDO, P. F.; SAES, M. S. VIEGAS, C. Competitividade no Agribusiness Brasileiro: Competitividade do Sistema Agroindustrial do Milho. São Paulo. PENSA/FIA/FEA/USP. 1998. 46 6.4 Dados gerais da produção de soja A soja é a principal cultura agrícola brasileira, em termos de volume de produção e de área cultivada. Além disso, é o principal produto de exportação do agronegócio brasileiro, através da soja em grão, farelo e óleo. O Brasil é o 2º produtor mundial desta commodity, atrás apenas dos Estados Unidos, com o qual tem alternado o 1º lugar nas exportações mundiais ao longo da última década (FAO, 2010). O consumo da soja no mercado interno é amplamente destinado à alimentação animal, na forma de farelo para as rações de aves, suínos e rebanhos leiteiros. Entretanto, a alimentação humana tem certa representatividade (porém discreta) a partir da utilização de óleo comestível. Também, outros produtos tem ganhado destaque, como bebidas e outros alimentos, principalmente aqueles com apelo por uma dieta saudável (FIESP, 2008). Outro ponto relevante é que a soja tem sido utilizada, nos últimos anos, como fonte de bio-energia. A conversão do óleo em combustível tem sido praticada em escala considerável, sobretudo a partir de 2008, quando tornou-se obrigatória a utilização de 2% de biodiesel em mistura com o diesel. Segundo FIESP (2008), a soja, a despeito dos elevados preços internacionais que reduzem sua viabilidade econômica para a produção de biodiesel, deve permanecer, no Brasil, como a principal matéria-prima para essa finalidade, uma vez que outras 47 culturas, que poderiam ser mais eficientes na produção de óleo, ainda não são capazes de atender parcela significativa da demanda interna, de cerca de 850 milhões de litros. Em relação à área plantada, esta representou 45% do total ocupado com grãos no Brasil, ou 21,7 milhões de hectares em 2009, tendo sido só nos últimos dez anos, expandida em mais de 9 milhões de hectares. Em termos quantitativos, a produção brasileira alcançou 57 milhões de toneladas na safra 2009, o que significa crescimento absoluto acima de 120% ao longo da última década, com uma média de crescimento superior a 8% ao ano (IBGE, 2010). Verifica-se assim, que o aumento do volume de produção foi 41,4% superior ao da área plantada, desde 1997, demonstrando significativo ganho de produtividade. Este ganho foi obtido através de investimentos em fatores tecnológicos, como a maior eficiência e utilização de defensivos e fertilizantes, mecanização, manejo e utilização de variedades melhoradas e específicas para as diferentes regiões produtoras. Principal cultura de grãos em termos de volume e valor da produção no país, a soja contribui com mais de R$20 bilhões de receitas geradas ao ano ao agronegócio brasileiro. Diferente do milho, esta cultura tende a gerar um valor agregado maior, além de sua produção ser mais concentrada ao longo do território nacional, localizando-se em algumas regiões específicas do Sul e Centro-Oeste. Em virtude dos ganhos de produtividade e desenvolvimento de novas variedades adaptadas ao cerrado, o mapa da produção brasileira de soja sofreu uma série de transformações no decorrer dos últimos 30 anos. A Região Sul, que detinha aproximadamente 90% da produção, foi perdendo importância em relação aos Estados da Região Centro-Oeste, que hoje participam com cerca de metade do total produzido. Originalmente, devido ao clima ameno nos Estados do Sul, o cultivo da soja no Brasil era predominante nesta região. Com avanços tecnológicos e genéticos em novas variedades, sua produção passou a ser massificada na região Centro-Oeste, e em menos de duas décadas, tornou o Mato Grosso em um grande produtor nacional e mundial. Observa-se no Brasil, um número considerável de estabelecimentos que produzem soja, em torno de 215.000 unidades, de acordo com o censo agropecuário de 2006 (IBGE, 2007). Uma parcela considerável destes produtores produzem em mais de 100 hectares (16,5%), e correspondem a mais de 80% da área colhida, volume 48 produzido e valor gerado. Somente os produtores com mais de 2.500 hectares respondem a mais de um quarto da produção nacional. Assim, existe um número considerável de produtores possivelmente de grande porte e capitalizados para altos investimentos em tecnologias, aquisições de maquinários agrícolas mais modernizados e expansão da área cultivada. Tabela 4 - Características gerais dos estabelecimentos produtores de soja no Brasil Estabelecimentos Produção (ton) Valor da produção (mil R$) Área colhida (ha) Produtores sem propriedade Mais de 0 a menos de 0,1 ha 235 23 2.349 42 1.126 36 1.000 36 De 0,1 a menos de 0,2 ha 10 136 54 40 De 0,2 a menos de 0,5 ha 31 74 30 29 De 0,5 a menos de 1 ha 182 993 427 348 3.038 Tamanho da propriedade De 1 a menos de 2 ha 885 7.990 3.252 De 2 a menos de 3 ha 2.454 23.232 10.043 8.866 De 3 a menos de 4 ha 3.324 50.360 19.708 19.611 De 4 a menos de 5 ha 4.977 137.400 271.008 45.101 De 5 a menos de 10 ha 26.862 489.544 207.693 203.090 De 10 a menos de 20 ha 56.607 1.347.646 574.524 586.246 De 20 a menos de 50 ha 62.101 2.858.815 1.210.146 1.221.120 De 50 a menos de 100 ha 22.783 2.402.882 1.036.915 997.452 De 100 a menos de 200 ha 13.107 3.039.898 1.299.301 1.211.314 De 200 a menos de 500 ha 11.359 5.451.651 2.340.150 2.163.739 De 500 a menos de 1000 ha 5.390 5.607.175 2.359.884 2.108.623 De 1000 a menos de 2500 ha 3.774 7.553.550 3.121.649 2.798.477 1.873 215.977 11.738.946 40.712.683 4.685.539 17.141.485 4.278.850 15.646.980 De 2500 ha e mais Total Fonte: IBGE, 2007 Como já citado, a produção de soja não é encontrada em todo território nacional, ao contrário do milho. Assim, os Estados de Mato Grosso, Paraná, Rio Grande do Sul, Goiás e Mato Grosso do Sul são os que têm maior representatividade no cenário nacional. Nos Estados do Centro-Oeste, o destaque fica por conta dos grandes produtores, enquanto nos demais, da Região Sul, produtores no estrato de até 100 hectares conseguem representar parcela significativa ao montante total da produção local. Quando se aumenta o olhar crítico sobre as regiões produtoras de soja no Mato Grosso, observa-se que são basicamente as mesmas que se destacam na produção de milho. Só a região do Alto Teles Pires (Sorriso, Lucas do Rio Verde, Nova Mutum, entre outros municípios) produz 10% de toda soja brasileira. Além dela, as micro- 49 regiões de Rondonópolis, Primavera do Leste, Sinop e Canarana (centro leste do Estado) destoam das demais no cultivo desta commodity. A mesma situação é observada no Paraná. As grandes regiões produtoras de milho são as principais na produção de soja, com destaque às do noroeste (Campo Mourão e Goierê), do oeste (Toledo e Cascavel) e do centro-sul paranaense (Ponta Grossa, Guarapuava e Prudentópolis). Já no Rio Grande do Sul, algumas regiões se repetem, e outras não muito relevantes na produção de milho, despontam com destaque no cultivo de soja. No primeiro caso, o centro-norte do Estado é expressivo na produção, nas micro-regiões de Santo Ângelo, Ijuí, Carazinho e Passo Fundo. Outras áreas, mais no centro do Estado, também apresentam alta produção, como Cruz Alta (maior região produtora do RS) e Santiago. Em Goiás, embora apenas o 4º maior produtor individual de soja do país, encontram-se regiões com elevado volume de soja produzido, como é o caso do sudoeste goiano, através do município de Rio Verde, responsável por 50% da soja produzida no Estado, e mais de 5% do volume produzido no país. Outras regiões também chamam a atenção, como o Entorno de Brasília (onde se situam Luziânia, Anápolis, Goianésia) e Meia Ponte, no sul do Estado, com destaque aos municípios de Itumbiara e Goiatuba. Outro Estado produtor de soja representativo para o país é o Mato Grosso do Sul. Neste Estado uma região se sobrepõe, com 60% da produção local, o que é o caso da micro-região de Dourados. Outras áreas produtoras mais modestas, porém significativas, são Alto Taquari, Campo Grande, Cassilândia e Iguatemi. Por fim, deve-se atentar a região de Barreiras, no oeste da Bahia, cuja produção graneleira têm crescido expressivamente nos últimos anos, com destaque para a soja. Sozinha, esta micro-região produz cerca de 85% da soja baiana. A cadeia agroindustrial da soja, portanto, tem apresentado alts taxas de cresimento em área, produção e produtividade, além de expressivo potencial para investimentos diversos. O número de médios e grandes produtores capazes de bancar volumosos investimentos é significativo. Deve-se atentar, porém, a um maior foco nos Estados citados acima, principalmente os do Centro-Oeste, em parte pelo perfil do 50 grande produtor, e em outra parte, pelo latente aumento da demanda deste cereal, pela formação de clusters das cadeias agroindustriais nestas regiões (como no Alto Teles Pires-MT e Rio Verde-GO), e pela questão da produção de biodiesel, lembrando que hoje no Brasil, diversos estudos apontam que apenas o biodiesel oriundo da soja é viável comercialmente, e são nos Estados do Centro-Oeste em que se localizam a maior parte das plantas produtoras deste combustível vegetal. Figura 7 - Sistema Agroindustrial da Soja no Brasil Fonte: Adaptado de LAZZARINI, S. G.; NUNES, R (1998). Bibliografia recomendada ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS INDÚSTRIAS DE ÓLEOS VEGETAIS ABIOVE. Informativo Abiove. São Paulo. Disponível em: <http://www.abiove.com.br>. ARANTES, N.E.; SOUZA, P.I.M. Cultura da soja nos cerrados. Piracicaba: POTAFOS, 1993. 535 p. EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA - EMBRAPA. Tecnologias de produção de soja - região central do Brasil. Londrina: Embrapa Soja: Embrapa Cerrados: Embrapa Agropecuária Oeste: ESALQ, 2002. 199 p. 51 EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA - EMBRAPA. Tecnologias de produção de soja. Londrina: Embrapa Soja, 2004. p. 171-218. LAZZARINI, S. G.; NUNES, R. Competitividade no Agribusiness Brasileiro: Competitividade do Sistema Agroindustrial da soja. São Paulo. PENSA/FIA/FEA/USP. 1998. 6.5 Dados Gerais da produção de arroz Um dos produtos de maior importância para a segurança alimentar da população brasileira, o arroz é quase que inteiramente destinado ao consumo humano, na forma de grão, isto é, o produto é apenas semi-beneficiado para o consumo humano direto, não sendo utilizado em larga escala na produção de alimentos industrializados, e tampouco na produção de ração animal. Outra peculiaridade desta cultura é a diferença no sistema de plantio: irrigado e de sequeiro. O primeiro é cultivado em áreas alagadas e demanda recursos hídricos em excesso, enquanto o segundo é cultivado em um sistema de plantio convencional, utilizando irrigação regular. O arroz produzido no sistema irrigado, preferido no consumo do brasileiro por apresentar melhor qualidade, representa cerca de 70% do total produzido no país (CONAB, 2009). 52 A produção nacional oscila não somente de acordo com variações climáticas que afetam a produtividade das áreas produtoras, mas também com a concorrência com outras culturas, principalmente nas áreas de arroz de sequeiro, que disputam espaço com culturas graneleiras como soja, milho, sorgo, entre outros. A demanda pelo grão, por ser quase que inteiramente destinado ao consumo humano e amplamente consumido pelos brasileiros é inelástica, porém não é suprida 100% pelo mercado nacional, o qual tem importado arroz dos países do Mercosul, de qualidade iguais ao arroz irrigado brasileiro. De acordo com o censo agropecuário do IBGE (2007), existem no Brasil cerca de 400 mil estabelecimentos agrícolas que produzem arroz, espalhados por todo o território nacional. A produção tem oscilado em torno de 11 a 13 milhões de toneladas por ano, na última década, dependendo das variações na oferta devido à oscilações dos preços internacionais, e variações climáticas (IBGE, 2010). Em 2009, o valor bruto gerado pela orizicultura foi de aproximadamente R$8 bilhões. A maior parte dos estabelecimentos orizícolas no país se localizam na faixa de até 100 hectares, e representam cerca de 30% do volume produzido e 25% do valor gerado pela produção. Contudo, são os produtores com mais de 100 hectares que se destacam pelo nível produzido e valor gerado. Somente o grupo com mais de 500 hectares (1,5% dos produtores), representam 44% do volume e valor da produção, utilizando-se de aproximadamente 32% da área colhida. Tabela 5 - Características gerais dos estabelecimentos produtores de arroz no Brasil Tamanho da propriedade Produtor sem propriedade Mais de 0 a menos de 0,1 ha Estabelecimentos Produção (ton) Valor da produção (mil R$) Área colhida (ha) 38.815 7.861 59.373 5.777 30.603 2.890 37.695 2.287 De 0,1 a menos de 0,2 ha 1.794 1.936 931 866 De 0,2 a menos de 0,5 ha 13.310 22.267 10.214 9.492 De 0,5 a menos de 1 ha 44.301 122.414 57.018 55.567 De 1 a menos de 2 ha 47.460 251.329 118.990 105.449 De 2 a menos de 3 ha 17.839 95.506 44.401 42.435 De 3 a menos de 4 ha 12.218 84.377 38.375 31.492 De 4 a menos de 5 ha 8.312 67.008 27.097 21.435 De 5 a menos de 10 ha 23.499 181.875 79.512 58.416 De 10 a menos de 20 ha 37.037 473.338 201.282 141.250 De 20 a menos de 50 ha 68.996 1.111.666 483.979 357.953 De 50 a menos de 100 ha 38.530 881.332 365.509 277.660 De 100 a menos de 200 ha 19.359 786.169 330.115 205.887 De 200 a menos de 500 ha 11.042 1.236.490 517.619 261.164 De 500 a menos de 1000 ha 3.543 1.284.287 535.989 233.110 De 1000 a menos de 2500 ha 1.916 1.358.401 608.626 266.719 796 396.628 1.423.712 9.447.257 576.995 4.030.145 300.710 2.409.587 De 2500 ha e mais Total 53 Fonte: IBGE, 2007 Embora cultivado em todo o Brasil, atualmente 70% do volume produzido na cultura orizícola se localiza nos Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, com destaque para o primeiro, que sozinho responde por 60% da produção do arroz brasileiro. São também estes dois Estados que produzem predominantemente no sistema irrigado, apresentando alta produtividade e consequentemente, gerando a maior parcela do faturamento deste setor. Também é nesta região em que se encontram a maior parte das indústrias beneficiadoras do arroz, que escoam o arroz descascado e beneficiado aos maiores centros consumidores do país, como a região Sudeste. Outras regiões produtoras de arroz, com alguma relevância, são Mato Grosso e Maranhão, que representam cerca de 5% do volume produzido no país, cada um. Analisando as características das propriedades nos principais Estados produtores observa-se a expressiva participação dos grandes produtores sobre o volume e valor da produção gerados no Rio Grande do Sul, em detrimento da irrisória participação de produtores pequenos sobre o total produzido. O mesmo se observa em Mato Grosso. Isso se deve, sobretudo, pelo fato da produção de arroz neste Estado ser feita em muitos casos na entressafra da soja, a qual já foi apresentada como uma cultura cultivada em grandes propriedades nesta região. Já para Santa Catarina e Maranhão, nota-se uma maior miscigenação nos perfis dos estabelecimentos produtores, predominando propriedades entre 10 a 50 hectares cultivados com arroz. As principais regiões produtoras de arroz no Rio Grande do Sul estão localizadas ao redor da Lagoa dos Patos, no centro-sul e sudoeste gaúcho, destacando-se as microregiões de Campanha Ocidental (Alegrete, Uruguaiana) no sudoeste; Campanha Central (São Gabriel, Santana do Livramento) e Campanha Meridional (Pelotas) no centro-sul; Osório no nordeste; Camaquã, Litoral Lagunar e Restinga Seca nos arredores da Lagoa dos Patos; e Santa Maria, Restinga Seca e Cachoeira do Sul no centro do Estado. Em Santa Catarina, destacam-se as regiões de Araranguá e Criciúma, no litoral Sul do Estado; Rios do Sul, na parte central de Santa Catarina; e Joinville, no litoral norte. Já no Mato Grosso, a produção é predominante na região de Sinop, ao norte do Estado. 54 Figura 8 - Sistema Agroindustrial do Arroz no Brasil Fonte: Adaptado de GIORDANO, S. R.; SPERS, E. E. (1998). Bibliografia recomendada ALMEIDA, P.N.A. Fontes de crescimento e sistema produtivo da orizicultura no Mato Grosso. 2004. 213 p. Dissertação (Mestrado em Economia Aplicada) – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2004. CAPITANI, D.H.D. Determinantes da demanda por importação de arroz do Mercosul pelo Brasil. 2009. 151 p. Dissertação (Mestrado em Economia Aplicada) – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2009. FERREIRA, C.M.; SOUSA, I.S.F. de; DEL VILLAR, P.M. (Ed.). Desenvolvimento tecnológico e dinâmica da produção de arroz de terras altas no Brasil. Santo Antônio de Goiás: Embrapa Arroz e Feijão, 2005a. 118 p. FERREIRA, C.M.; PINHEIRO, B.S.; SOUSA, I.S.F. de; MORAIS, O.P. Qualidade do arroz no Brasil: evolução e padronização. Santo Antônio de Goiás: Embrapa Arroz e Feijão, 2005b. 61 p. 55 GIORDANO, S. R.; SPERS, E. E. Competitividade no Agribusiness Brasileiro: Competitividade do Sistema Agroindustrial do Arroz. São Paulo. PENSA/FIA/FEA/USP. 1998. GOMES, A.S.; MAGALHÃES-JUNIOR, A.M. (Ed.) Arroz irrigado no Sul do Brasil. Pelotas: Embrapa Clima Temperado, 2004. 900p. 6.6 Dados gerais da produção de trigo O trigo é um dos produtos agrícolas mais consumidos em larga escala no Brasil, sobretudo para o consumo humano, através da produção de pães e bolos, e produtos industrializados em geral, como massas e biscoitos. Porém, ao contrário da maior parte das commodities agrícolas produzidas no Brasil, este cereal não é produzido em quantidade suficiente para abastecer o mercado doméstico, e consequentemente, leva o país a ser um relevante importador do produto. A redução dos suportes estatais à produção nacional concomitante a abertura do mercado em 1990, resultou em redução da produção doméstica, mesmo com investimentos para o desenvolvimento de novas variedades mais adaptadas às condições edafo-climáticas do Brasil (EMBRAPA, 2003). Assim, apesar dos investimentos em melhores técnicas produtivas observadas ao longo dos anos recentes, a produção tem correspondido por 20% a 50% do consumo doméstico, dependendo do ano, de acordo com dados da (FAO, 2008) e IBGE (2010). 56 Apesar de ser o produto agrícola mais importado pelo Brasil, dado sua alta demanda, muito através da utilização pela indústria alimentícia, o Brasil produz uma quantidade considerável de trigo, se comparado com outras culturas graneleiras do país. A produção se situou próxima a 5 milhões de toneladas no ano de 2009, ocupando uma área de 2,4 milhões de toneladas (IBGE, 2010). Neste ano, a triticultura gerou aproximadamente R$2 bilhões de receitas. Entretanto, é precipitado considerar a realidade do setor baseando-se apenas na safra mais recente, dado que a produção de trigo oscila muito ano a ano. Na década de 2000, por exemplo, a produção chegou a variar de 1,7 a 6,1 milhões de toneladas, dependendo principalemente das condições climáticas de um ano a outro (IBGE, 2010). Desta maneira, com tamanha limitação de áreas produtoras e altos riscos, seu cultivo é praticado por poucos produtores, se comparados com outras commodities, e sua área de produção é restrita às condições climáticas, limitada em áreas com clima subtropical, restringindo o cultivo de trigo se basicamente nos Estados do Sul do país. De acordo com o IBGE (2007), existem aproximadamente 35 mil produtores de trigo no Brasil, dos quais apenas uma quantidade insignificante pode ser associada aos micro e pequenos produtores. Além disso, os grandes produtores também não são os amiores produtores, predominando assim, a cultura em estabelecimentos de médio porte, entre 20 a 200 hectares. São estes produtores, somados aos produtores situados nos estratos até 2.500 hectares que correspondem a 90% do volume produzido no país. 57 Tabela 6 - Características gerais dos estabelecimentos produtores de trigo no Brasil Tamanho da propriedade Produtores sem propriedade Mais de 0 a menos de 0,1 ha De 0,1 a menos de 0,2 ha De 0,2 a menos de 0,5 ha De 0,5 a menos de 1 ha De 1 a menos de 2 ha De 2 a menos de 3 ha De 3 a menos de 4 ha De 4 a menos de 5 ha De 5 a menos de 10 ha De 10 a menos de 20 ha De 20 a menos de 50 ha De 50 a menos de 100 ha De 100 a menos de 200 ha De 200 a menos de 500 ha De 500 a menos de 1000 ha De 1000 a menos de 2500 ha De 2500 ha e mais Total Estabelecimentos Produção (ton) Valor da produção (mil R$) Área colhida (ha) 6 7 1 1 10 63 183 262 373 2.484 6.345 11.380 5.695 3.268 2.398 969 487 95 34.027 238 6 0 0 71 134 983 2.457 4.970 26.365 83.627 250.224 258.650 308.027 466.485 402.679 325.986 126.696 2.257.598 110 5 0 0 28 53 393 953 1.845 10.063 32.194 97.940 102.739 123.603 188.425 156.724 130.480 58.888 904.443 130 4 0 0 35 83 575 2.027 3.075 16.950 55.899 171.258 169.278 188.346 264.556 211.893 161.650 54.247 1.300.006 Fonte: IBGE, 2007 Embora a cultura do trigo no Brasil tenha observado avanços adaptativos à Região Centro-Oeste, com destaque para o Mato Grosso do Sul, sua produção é predominantemente na Região Sul. Entre os maiores produtores, Rio Grande do Sul e Paraná representam cerca de 90% de todo o volume, valor gerado e área colhida de trigo no país. As características dos estabelecimentos produtores nestes dois Estados são muito semelhantes às citadas anteriormente, com proporções semelhantes de importância para os estratos entre 20 a 2.500 hectares, englobando tanto médios, quanto grandes produtores. As maiores regiões produtoras do Paraná estão localizadas próximas a Londrina, Toledo e Guarapuava, situadas no norte, oeste e sul do Estado, respectivamente. Já no Rio Grande do Sul, o norte se destaca na produção, com as micro-regiões produtoras de Carazinho, Passo Fundo, Cruz Alta, Santo Ângelo, Vacaria e Santiago, todas grandes produtoras graneleiras de soja e milho, já mencionadas anteriormente. 58 Figura 9 - Sistema Agroindustrial do Trigo no Brasil Fonte: Adaptado de AZEVEDO et al. (1998). Bibliografia recomendada DARIO, G.J. Instruções sumárias para a cultura do trigo no Estado de São Paulo. Piracicaba: ESALQ, 1988. p. 9-14. MOTA, F.S. Clima, tecnologia e produtividade do trigo no Brasil. In: MOTA, F.S. Agrometeorologia do trigo no Brasil. Campinas, SP: Sociedade Brasileira de Agrometeorologia, 1989, p. 1-35. XXXV REUNIÃO DA COMISSÃO SUL-BRASILEIRA DE PESQUISA DE TRIGO. Indicações técnicas da Comissão Sul-Brasileira de Pesquisa de Trigo2003. Passo Fundo: Embrapa Trigo, 2004. 119p. AZEVEDO, P. F.; GIORDANO, S. R. BORRÁS, M. A. Competitividade no Agribusiness Brasileiro: Competitividade do Sistema Agroindustrial do Trigo. São Paulo. PENSA/FIA/FEA/USP. 1998. 59 6.7 Dados gerais da produção de feijão A produção de feijão no Brasil é caracterizada por apresentar pequenos e médios produtores em todo o país, com um avanço no número de grandes produtores nas últimas décadas. O feijão é cultivado em diversificados sistemas de produção e em todas as regiões brasileiras. Além disso, de acordo com Embrapa (2003), pode apresentar ciclos produtivos variando de 65 a 100 dias, o que o torna uma cultura apropriada para compor, desde sistemas agrícolas intensivos irrigados, altamente tecnificados, até aqueles com baixo uso tecnológico, principalmente de subsistência. Esta característica também propicia que sejam colhidas três safras ao longo do ano, na maior parte das áreas produtoras. Outro fator característico são as variações do tipo de feijão, de acordo com as preferências regionais, como o feijão preto, carioca, mulatinho, entre outros com menor aceitação. O consumo de feijão é altamente difundido em todo o país, principalmente como bem complementar ao arroz nas refeições diárias da população, apresentando-se como um importante item na segurança alimentar da população. Somando-se todos os tipos de feijão produzido nas três safras de 2009, o Brasil produziu mais de 3,5 milhões de toneladas. Este patamar de produção coloca o país ao lado da Índia, como os dois grandes produtores mundiais desta commodity. O total de área utilizada para o cultivo deste produto foi de 4,2 milhões de toneladas, e o valor gerado da produção foi de aproximadamente R$ 2,8 bilhões no último ano. 60 De acordo com o último recenseamento agropecuário brasileiro, existem aproximadamente 1,75 milhões de estabelecimentos produtores de feijão no país disseminados em diversos tamanhos de propriedades, principalmente naquelas com até 50 hectares, ou seja, pequenas e médias propriedades (IBGE, 2007). Da mesma forma, a produção é encontrada com proporções semelhantes em unidades produtoras com características diversas umas das outras, com ligeira concentração nos estratos entre 10 a 50 hectares. Contudo, produtores considerados grandes participam com uma relevante parcela do mercado, embora neste setor, não apresentem tamanha concentração como outros setores apresentados anteriormente. Os estabelecimentos produtores com mais de 100 hectares contribuem com cerca de um quarto de todo o volume e valor da produção nacional gerados pela cultura do feijão, conforme observado na Tabela 7. Tabela 7 - Características gerais dos estabelecimentos produtores de feijão no Brasil Estabelecimentos Produção (ton) Valor da produção (mil R$) Área colhida (ha) Produtores sem propriedade Mais de 0 a menos de 0,1 ha 86.744 31.659 29.349 83.740 25.018 5.757 5.133 9.273 De 0,1 a menos de 0,2 ha 16.926 6.358 5.231 9.239 De 0,2 a menos de 0,5 ha 66.942 27.781 22.441 46.301 Tamanho da propriedade De 0,5 a menos de 1 ha 134.097 86.221 67.306 170.344 De 1 a menos de 2 ha 219.680 206.632 160.846 385.375 De 2 a menos de 3 ha 142.588 180.551 143.736 321.653 De 3 a menos de 4 ha 111.634 181.924 142.529 315.371 De 4 a menos de 5 ha 77.855 133.810 103.163 220.494 De 5 a menos de 10 ha 221.031 388.065 298.890 634.671 De 10 a menos de 20 ha 236.219 470.623 361.443 706.510 De 20 a menos de 50 ha 233.492 551.936 441.609 826.558 De 50 a menos de 100 ha 86.899 286.758 232.284 398.016 De 100 a menos de 200 ha 37.837 182.489 149.785 226.278 De 200 a menos de 500 ha 20.231 210.708 174.753 201.858 De 500 a menos de 1000 ha 5.235 136.818 114.166 97.125 De 1000 a menos de 2500 ha 2.149 159.086 136.492 96.589 686 168.601 155.165 92.878 1.725.263 3.415.777 2.744.321 4.842.273 De 2500 ha e mais Total Fonte: IBGE, 2007 Assim como mencionado anteriormente, o cultivo de feijão é realizado em todo o território brasileiro, destacando-se em cada região, o tipo demandado pela população local. Os maiores Estados produtores, considerando o total de feijão produzido independente do tipo/variedade, são Paraná, Minas Gerais, Bahia e São Paulo, os quais 61 participam deste mercado com 22,3%, 17,1%, 9,7% e 9,3%, respectivamente, e se destacam no cenário nacional da produção desta commodity. Destes quatro Estados, observa-se que apenas Minas Gerais se destoa do padrão nacional de concentração da produção por estratos de estabelecimentos produtivos. A maior parte da produção mineira se dá em grandes propriedades, enquanto nos demais Estados, concentram-se em estabelecimentos pequenos e médios, variando de 2 a 50 hectares. A produção paranaense é observada em maior escala no sul e sudoeste do Estado, mais especificamente nas regiões de Ponta Grossa, Guarapuava, Piranga, Prudentópolis, Irati, União da Vitória, São Mateus do Sul, Curitiba, Cascavel e Francisco Beltrão. Na Bahia, as maiores áreas produtoras estão localizadas no centro-norte, em Euclides da Cunha, Itaberaba, Ribeira do Pombal, Jeremoabo e Serrinha, além de Juazeiro, no norte, Guanambi, no sul, e Barreiras, no oeste do Estado. Já a produção de Minas Gerais é expressiva no norte do Estado, em Unaí e Paracatu, e no Triângulo Mineiro, em Patrocínio e Patos de Minas. Dado o perfil dos estabelecimentos produtores (variando muito entre pequenos e médios produtores) e a pulverização da produção em diversas localidades, diferenciam a cultura do feijão de outras aqui apresentadas, como o caso das culturas de soja, milho, arroz e café, por exemplo. Porém, a característica de se ter três safras ao ano, na maior parte do país, refletem em uma maior homogeneidade nos produtores de feijão, bem como maior planejamento para o cultivo desta cultura nas diferentes épocas do ano. 62 Figura 10 - Sistema Agroindustrial do Feijão no Brasil Fonte: Adaptado de SPERS, E. E.; NASSAR, A. M.. (1998). Bibliografia recomendada FERREIRA, C.M. Comercialização de feijão no Brasil, 1990-99. 2001. 145 p. Dissertação (Mestrado em Economia Aplicada) – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2001. VIEIRA, C.; PAULA JÚNIOR, T. J. de; BORÉM, A. (Ed.). Feijão: aspectos gerais e cultura no Estado de Minas. Viçosa, MG: Universidade Federal de Viçosa, 1998. 596 p. SPERS, E. E.; NASSAR, A. M. Competitividade no Agribusiness Brasileiro: Competitividade do Sistema Agroindustrial do Feijão. São Paulo. PENSA/FIA/FEA/USP. 1998. 63 6.8 Dados gerais da produção de laranja A citricultura11 no Brasil é uma cultura produzida em larga escala, porém em poucas regiões, concentrando-se principalmente no interior de São Paulo. Seu subproduto de maior importância é o suco de laranja, sendo que a laranja de mesa, ou innatura, representa apenas uma menor parcela do valor total gerado por este setor, sobretudo no que tange às exportações. O Brasil é o maior produtor e exportador mundial de suco de laranja, e seu maior concorrente é os EUA, na figura do Estado da Flórida. A demanda por suco de laranja internacional e seus respectivos preços no mercado internacional são grandes fatores de influência ao investimento no setor no Brasil. A produção de laranja tem se mostrado constante, com baixa taxa de crescimento no volume produzido ao longo da última década, principalmente se comparada a outros setores agrícolas do país. A média observada foi de 1,3% ao ano, e um acumulado de 10% no período em questão (IBGE, 2010). Em 2009, a citricultura utilizou pouco menos de um milhão de hectares, produzindo 18,3 milhões de toneladas de frutos, o que representou para o Brasil cerca de R$ 6 bilhões, sendo que grande parte deste contingente foi resultado das exportações ao mercado externo. Isso mostra, conforme referido anteriormente, que o crescimento 11 Ressalta-se que a citricultura aborda a produção de outras frutas cítricas, como por exemplo, limão e tangerina. Entretanto, dado a pequena participação destas outras frutas em relação à produção de laranja no Brasil, deve-se atentar que os dados deste trabalho referem-se à produção de laranja. 64 desta cultura no país está profundamente atrelado às oscilações de oferta e demanda no mercado internacional. Contudo, os investimentos no setor também são alocados de acordo com “movimentações” de outras culturas, ou seja, a partir da concorrência por área de cultivo, como ocorre por exemplo com a expansão da cana-de-açúcar no interior paulista, que por muitas vezes avança em direção a áreas tradicionais de cultivo citrícola; além disso os investimentos no setor são dependentes das perspectivas dos produtores em relação a incidência de pragas e doenças nos pomares em anos anteriores a reforma do pomar, já que ao contrário de outras culturas agrícolas, a citricultura é uma cultura permanente, onde um pomar demora alguns anos para iniciar seu ciclo produtivo, e tem seu declínio de produção após 10 a 15 anos de vida, dependendo do manejo destinado à cultura. Destarte, o citricultor se expõe a diversos riscos e necessita de uma gestão eficiente de seus recursos, de forma a conter seus custos. Disso nasce a figura das cooperativas de produtores, e do interesse da indústria processadora em obter sua matéria-prima. Atualmente, alguns autores e agentes da cadeia têm discutido em respeito a investimentos em pesquisas relativas ao controle de pragas e incidência de doenças nos pomares, além de práticas tecnológicas que reduzam os custos ao citricultor. Nesse cenário, existe interessante relação entre a interface de investimentos em pesquisa e tecnologia relacionados à integração com produtores, cooperativas e indústrias beneficiadoras, facilitando não só a melhor utilização de recursos tecnológicos na colheita e pós-colheita, como a capitalização de produtores para o cultivo, aquisição de maquinários, entre outros, minimizando os custos de produção e aumentando a produtividade do campo. Outro ponto que se sobressalta como um cenário favorável ao aumento de mercado para a citricultura brasileira no comércio mundial, se trata da maior tecnificação e adequação dos sub-produtos às exigências sanitárias de grandes importadores. As quedas de barreiras fitossanitárias abrem maior espaço para as exportações brasileiras, e consequentemente, um maior número de produtores capitalizados adentrariam a este mercado, aumentando os investimentos no setor. 65 O cenário citricultor no Brasil mostra uma característica peculiar. Ao mesmo tempo em que existem 68.536 produtores no país, mais de dois terços possuem menos de 1 hectare cultivado. Em contrapartida, apenas 124 produtores (ou 0,2% do total) possuem mais de 500 hectares, representando 29% da produção e 18% do valor da produção nacional. Da mesma forma, menos de 1.000 produtores cultivam laranja em mais de 100 hectares, porém acenam com 60% da produção nacional e 41% do valor total gerado na citricultura, conforme pode-se observar na Tabela 8. Mesmo assim, deve-se atentar a participação relevante de produtores médios no setor, ou seja, com mais de 20 hectares, que correspondem a uma fatia importante do mercado, sobretudo no valor total gerado pela produção (IBGE, 2007). Tabela 8- Características gerais dos estabelecimentos citricultores no Brasil Tamanho da propriedade Estabelecimentos Produção (ton) Valor da produção (mil R$) Área colhida (ha) Produtor sem propriedade Maior de 0 a menos de 1 ha 12.763 25.148 0 213.176 1 184.068 69.526 19.296 De 1 a menos de 2 ha 10.322 231.894 186.516 18.151 De 2 a menos de 5 ha 8.688 325.494 296.904 32.560 De 5 a menos de 10 ha 3.752 486.693 256.667 33.157 De 10 a menos de 20 ha 3.092 695.487 349.029 51.245 De 20 a menos de 50 ha 2.708 1.417.353 689.934 97.562 De 50 a menos de 100 ha 1.096 1.422.221 547.772 85.126 De 100 a menos de 200 ha 525 1.572.302 563.615 79.089 De 200 a menos de 500 ha 318 1.949.730 432.903 99.941 124 68.536 3.376.370 11.690.719 743.449 4.250.858 152.797 738.450 De 500 ha e mais Total Fonte: IBGE, 2007 A concentração no mercado nacional se reflete ao analisar a participação das principais regiões produtoras. De acordo com IBGE (2010), o Estado de São Paulo produziu mais de 78% da produção nacional em 2009. Neste Estado, a maior parcela da produção e de seu valor foram gerados pelos grandes produtores, enquanto nas outras áreas que apresentam alguma importância no cenário nacional (embora reduzida), como Sergipe, Bahia e Minas Gerais (participando com aproximadamente 4,5% cada um), a concentração da produção se deu em pequenos estabelecimentos agrícolas, de até 5 hectares. 66 Apenas para situar as localidades produtoras de laranja no Estado de São Paulo, deve-se destinar atenção ao centro-norte do Estado, mais especificamente nas microregiões de Araraquara/São Carlos (incluindo Matão e Taquaritinga), Jaboticabal, Limeira/Mogi Mirim, Aguaí, Barretos, São José do Rio Preto e Bauru. Nestas regiões localizam-se também as grandes indústrias processadoras e exportadoras de suco de laranja do país. Figura 10 - Sistema Agroindustrial da Laranja no Brasil Fonte: Adaptado de NEVES, M, F.; et al. (2004). Bibliografia recomendada ARRUDA, S.T.; GHILARD, A.A.; PRATES, H.S. Caracterização das propriedades e dos pomares citrícolas do Estado de São Paulo. São Paulo: Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Estado de São Paulo, Instituto de Economia Agrícola, 1988. 26 p. (Relatório de Pesquisa, set. 1988). HASSE, G. A laranja no Brasil, 1500 a 1987. São Paulo: Coopercitrus Industrial, FRUTESP/Duprat & Iobe, 1987. 296 p. 67 NEVES, E.M. A competitividade da agroindústria citrícola brasileira: vantagens comparativas e o dilema das barreiras comerciais. Piracicaba: ESALQ/CNPq, 1996. 125 p. (Relatório de pesquisa). NEVES, M.F. Sistema agroindustrial citrícola: um exemplo da quase integraçãono agribusiness brasileiro. 1995. 116 p. Dissertação (Mestrado em Administração) – Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1995. 6.9 Dados gerais da produção de algodão Após passar por grave crise na década de 1980, decorrente de uma praga conhecida como Bicudo, o setor algodoeiro aumentou investimentos em tecnologia e novos cultivares, a partir de então, obtendo maiores ganhos em produtividade (FIESP, 2008). Até o início da década de 1990, a produção de brasileira concentrava-se nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste. Após esse período, aumentou-se significativamente a participação do algodão produzido nas áreas de cerrado, basicamente da região CentroOeste, principalmente em Mato Grosso e Bahia. O deslocamento da produção de algodão para a região dos cerrados, principalmente do Centro-Oeste, foi resultante das condições favoráveis para o desenvolvimento da cultura e da utilização de variedades adaptadas às condições edafoclimáticas locais, as quais com maior tolerância a doenças e com maior potencial produtivo. Soma-se a isso, a expressiva elevação dos preços internos no primeiro semestre de 1997, o estreito suprimento do produto no mercado interno e o estímulo dos 68 governos estaduais, através de programas especiais de incentivo à essa cultura (EMBRAPA, 2003). A adaptação das novas variedades de algodão ao cerrado contribuiu em muito ao aumento da produtividade brasileira, em menos de uma década. O aumento da produção e da produtividade alavancaram o setor, que passou por profunda reestruturação, profissionalizou-se, e hoje atende parcela relevante do mercado mundial. Atualmente, o Brasil é o 5º maior produtor mundial e tem conseguido obter excedentes significativos na produção, o que o coloca como exportador líquido do produto, ocupando a 6º posição como ofertante no mercado internacional. Para se ter uma idéia, a produção de algodão apresentou um crescimento médio de 18,6% ao ano na última década, com um aumento acumulado de mais de 200% (IBGE, 2010). No ano de 2009, a produção brasileira de algodão herbáceo situou-se próxima a 3 milhões de toneladas, cultivado em pouco mais de 810 mil hectares, e contribuindo com R$3,2 bilhões à economia do país. Neste caso, Mato Grosso e Bahia representaram 48% e 33% do volume produzido, respectivamente. De acordo com o último recenseamento agrícola do Brasil (IBGE, 2007), existem 13.290 estabelecimentos produtores de algodão em todo o território nacional, onde mais de 50% têm de 5 a 50 hectares. Entretanto, a maior parte da área colhida, do volume produzido e do valor gerado pela cotonicultura correspondem às grandes propriedades, com mais de 2.500 hectares. Consequência disso se dá que menos de 2% das propriedades produzem 70% do volume total e correspondem a 75% do valor gerado pela cotonicultura nacional, conforme se observa na Tabela 9. Tabela 9 - Características gerais dos estabelecimentos produtores de algodão no Brasil 69 Estabelecimentos Produção (ton) Valor da produção (mil R$) Área colhida (ha) 231 150 123 349 Mais de 0 a menos de 0,1 ha 29 5 4 7 De 0,1 a menos de 0,2 ha 14 5 5 9 De 0,2 a menos de 0,5 ha 104 66 99 72 De 0,5 a menos de 1 ha 447 575 603 477 De 1 a menos de 2 ha 943 800 646 1.074 De 2 a menos de 3 ha 995 1.304 1.030 1.564 De 3 a menos de 4 ha 932 1.904 1.744 1.949 De 4 a menos de 5 ha 753 2.271 1.895 1.965 De 5 a menos de 10 ha 2.227 6.307 5.252 6.437 De 10 a menos de 20 ha 2.691 8.593 7.303 8.422 De 20 a menos de 50 ha 2.137 12.463 10.570 9.930 De 50 a menos de 100 ha 725 7.678 7.544 4.915 De 100 a menos de 200 ha 326 21.772 17.177 13.189 De 200 a menos de 500 ha 225 30.369 39.092 13.397 De 500 a menos de 1000 ha 112 85.719 116.984 28.882 De 1000 a menos de 2500 ha 170 535.827 572.755 194.351 229 13.290 1.634.323 2.350.132 2.450.363 3.233.189 499.985 786.974 Tamanho da propriedade Produtor sem propriedade De 2500 ha e mais Total Fonte: IBGE, 2007 Considerando todas as propriedades com mais de 1000 hectares de área cultivada com algodão, nota-se que estas concentraram 92% da produção do país, o que permite concluir que a cotonicultura é uma atividade extremamente concentrada em grandes produtores, profissionalizados e tecnificados. Analisando os dois maiores Estados produtores nacionais, observa-se que tanto em Mato Grosso, como na Bahia, a produção é ainda mais concentrada nas propriedades com mais de 1000 hectares, com produção insignificante em áreas com menos de 100 hectares, sobretudo em Mato Grosso. Tanto a produção mato-grossense como a baiana se localizam nas mesmas grandes áreas produtoras de grãos, onde muitas vezes utiliza-se o algodão como cultivo de rotação de terra para soja e milho, ou mesmo cultivo tardio, após colheita da soja precoce. Estas regiões produtoras, em Mato Grosso, são na ordem: Primavera do Leste, Rondonópolis, Parecis, Canarana e Alto Teles Pires. Já na Bahia, a única região produtora em larga escala é a de Barreiras. Apesar de haver um pequeno número de produtores de algodão no Brasil, e ainda mais considerando a limitação da produção a poucas centenas de propriedades, concentradas em Mato Grosso e Bahia, estas propriedades são altamente modernizadas e tecnificadas, às quais receberam altos investimentos tecnológicos nos últimos 15 anos, 70 resultando em crescimento contínuo em produtividade, maior demanda por insumos, e maior foco nas exportações. Figura 10 - Sistema Agroindustrial do Algodão no Brasil Fonte: Adaptado de JAYO, M. NUNESJA, R. A (1998). Bibliografia recomendada ALVES, L.R.A. A reestruturação da cotonicultura no Brasil: fatores econômicos, institucionais e tecnológicos. 2006. 121 p. Tese (Doutorado em Economia Aplicada) Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2006. BELTRÃO, N.E.M.; AZEVEDO, D.M.P. (Ed.). O agronegócio do algodão no Brasil. 2.ed. Brasília: EMBRAPA Informação Tecnológica, 2008. 1.309 p. v.2. CHIAVEGATO, E.J. Efeito do ambiente e de cultivares nos componentes da produção nas características tecnológicas da fibra e do fio do algodão. 1995. 115 p. Tese (Doutorado em Fitotecnia) - Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 1995. COELHO, A.B. A cultura do algodão e a questão da integração entre preços internos e externos. Revista de Economia e Sociologia Rural. Brasília, v. 42, n. 1, p. 153-169, jan/mar, 2004. 71 JAYO, M. NUNESJA, R. A. Competitividade no Agribusiness Brasileiro: Competitividade do Sistema Agroindustrial do Algodão. São Paulo. PENSA/FIA/FEA/USP. 1998. SILVA, A.A. Caracteres morfológicos e produtivos do algodoeiro em diferentes configurações de semeadura. 2007. 80 p. Tese (Doutorado em Fitotecnia) - Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2007. 6.10 Dados gerais da produção de frangos Duas características principais devem ser levadas em conta, ao estudar a produção e o comércio da carne de frango: a primeira refere-se ao curto ciclo produtivo entre o nascimento da ave e seu abate, de apenas 40 dias. A segunda, comum a outras cadeias fornecedoras de carne e leite, é a influência da renda da população no consumo, especialmente em países em desenvolvimento. O continuado crescimento econômico mundial, que gerou reflexos positivos quanto ao poder de compra da população, e a incorporação de novos consumidores pelo mercado, vêm provocando um aumento da procura por proteína animal. O fato, aliado à rápida capacidade de resposta da produção de frango às oscilações de mercado, possibilitou a destacada performance do segmento, 72 que cresceu, em termos mundiais, a uma taxa média de 3,8% ao ano, desde 1997 (FIESP, 2008). A produção de carne de frango mundial atual é de aproximadamente 65 milhões de toneladas, de acordo com a FAO (2008), sendo que os Estados Unidos, China, Brasil e União Européia são os maiores produtores mundiais, nesta ordem, concentrando mais de 70% do volume total produzido. Somente o Brasil, terceiro maior produtor, apresentou um rápido crescimento nos últimos 15 anos e atualmente participa com mais de 15% da oferta de carne de frango mundial, muito próximo da produção chinesa. Este avanço é decorrente da grande demanda doméstica por carne de frango, sobretudo após o Plano Real, onde houve um incremento na produção interna de 9,2% ao ano, resultadando em um acréscimo acumulado em torno de 150%, entre 1994 a 2009 (IBGE, 2010). Além disso, um aumento no consumo global, concomitante a melhores técnicas de produção e fitossanidade, acarretaram em um crescimento de aproximadamente 6 pontos percentuais na participação brasileira no comércio internacional (exportações) de carne de frango, desde 1997 (FAO, 2008). No que se refere a estrutura produtiva nacional, esta tem como característica a integração entre a indústria e os produtores rurais. O sistema intgrado prevê para a indústria, basicamente, o fornecimento da genética (pintos de um dia), dos insumos, da tecnologia e de orientações ao produtor rural, ao qual cabe, por sua vez, prover as instalações para a criação e cuidado com relação aos animais. Esse sistema permite que os produtores rurais, inclusive os de pequeno porte, obtenham renda e permaneçam no campo (FIESP, 2008). Esta proximidade entre o produtor e a indústria possibilita ganhos de escala e garantia de melhor qualidade do produto final, uma vez que a indústria tem controle e conhecimento do processo. Assim, estas relações são fatores fundamentais em mercados extremamente competitivos, pois eliminam gargalos entre os diversos elos da cadeia (criação, abate e industrialização), possibilitando um ambiente favorável ao suprimento da demanda interna e ao avanço sob outros mercados (regiões). A produção de aves no Brasil é encontrada em todo o seu território, porém são nos Estados da Região Sul e São Paulo em que se encontram larga escala produtiva. Em 73 2009, cerca de 4,7 bilhões de cabeças de frango foram abatidas em todo o país, com 65% do volume concentrado nos Estados em questão (IBGE, 2010). Além destes, os Estados do Centro-Oeste e Minas Gerais apresentam um produção significativa, principalmente os primeiros, dado o tamanho da produção se comparada ao restrito mercado local, o que mostra que mesmo apesar da distância física com os grandes mercados consumidores e portos (para exportação), a produção no Centro-Oeste têm se mostrado, em parte, vantajosa, devido principalmente à abundante oferta local de insumos para ração, como soja e milho, o que barateia os custos de produção da avicultura. Da mesma maneira que no Centro-Oeste, as áreas com produção expressiva de aves no país são as mesmas áreas com alta produção graneleira, sobretudo soja e milho. Assim, deve-se observar as micro-regiões produtoras destes grãos, em cada Estado, pois são nelas em que estão instaladas as principais plantas abatedoras e indústrias processadoras de alimentos, que utilizam carne de frango. Entre estas regiões, deve-se atentar ao oeste, noroeste e sul paranaense, ao centro de Santa Catarina, a todo norte do Rio Grande do Sul, ao Triângulo Mineiro, ao oeste e sudoeste paulista, ao sul de Goiás e a micro-região de Alto Teles Pires em Mato Grosso, como principais áreas de produção avícola. Tabela 10 - Abate de frangos no Brasil, por Unidades da Federação, em 2009 Estado Frangos abatidos Participação Paraná 1.243.245.043 26,03% Santa Catarina 871.155.163 18,24% Rio Grande do Sul 758.951.412 15,89% São Paulo 659.382.378 13,81% Minas Gerais 363.219.401 7,60% Goiás 271.309.056 5,68% Mato Grosso 150.321.838 3,15% Mato Grosso do Sul 128.614.492 2,69% Outros 330.034.456 6,91% Brasil 4.776.233.239 100,00% Fonte: IBGE, 2010 74 Por outro lado, os principais agentes de produção e comercialização de carne de frango no Brasil, ainda estão predominantemente localizados na região Sul do País, ressaltando a tradição desta região na produção de aves, e eventualmente no Sudeste e Centro-Oeste. Em sua maioria, cooperativas e grandes indústrias abatedoras, atuam tanto na avicultura quanto suinocultura, e muitas das cooperativas também são importantes players na produção de milho e soja. Estes agentes estão costumeiramente associados a cooperativas, e possuem estreito elo de ligação com indústrias alimentícias no país, muitas delas de origem da referida região produtora. Estes elo de ligação permite além dos ganhos de escala, maior garantia de preço a ser recebido pelo produtor, acima de seus custos de produção, reduzindo os riscos do produtor. Também, é necessário salientar que existe uma forte migração de produtores e empresas interligadas ao setor às novas áreas de fronteira agrícola do Centro-Oeste, sobretudo nos bolsões produtores de grãos de Mato Grosso e sul de Goiás. Apenas nos últimos 5 anos, diversas grandes empresas do ramo alimentício instalaram plantas abatedoras de grande porte para suínos e aves em municípios de centro-norte do Estado de Mato Grosso, como Sorriso, Nova Mutum e Lucas do Rio Verde (na mencionada micro-região do Alto Teles-Pires, no centro do Estado). Além dessa região, Rio Verde no sul de Goiás passou por mesmo processo de investimentos no setor alimentício e de suínos e aves, a partir da segunda metade da década de 1990. 75 Figura 11 - Sistema Agroindustrial do Frango no Brasil Fonte: Adaptado de RODRIGUES, W; et al. (2009) e ZANATTA, A. F;. et al. (2002). Bibliografia recomendada ANUALPEC 2010. Anuário da pecuária brasileira. São Paulo: FNP, Consultoria e Agroinformativo, 2010. 360 p. CIOCCA, M.L.; CARDOSO, S.; FRANZOSI, R. Criação de aves em sistemas semiextensivos. Porto Alegre: Pallotti, 1995. 112 p. ENGLERT, S.I. Avicultura. Porto Alegre: Ed. Agropecuária, 1987. 288 p. RODRIGUES, W; et al. COMPETITIVIDADE DO SISTEMA AGROINDUSTRIAL DO FRANGO DE CORTE NO TOCANTINS: O CASO DA EMPRESA FRANGO NORTE. 47º Congresso SOBER- Porto Alegre - RS .2009. 19 pág. SILVA, I.J.O. Ambiência na produção de aves em clima tropical. Piracicaba: FUNEP, 2001. v.1, 200 p. ZILLI, J.B. Os fatores determinantes para a eficiência econômica dos produtores de frango de corte: uma análise estocástica. 2003. 139 p. Dissertação (Mestrado em 76 Economia Aplicada) – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2003. ZANATTA, A. F;. et al. Análise da competitividade da cadeia agroindustrial de carne de frango no Estado do Paraná. Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social, Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade e Grupo de Estudos e Pesquisas Agroindustriais da UFSCAR. – Curitiba: IPARDES,2002. 230 p. 6.11 Dados gerais da produção de suínos O esteriótipo de que a carne suína é uma carne pouco saudável e com alto colesterol contribuiu para prejudicar o crescimento deste setor no Brasil, no passado. Entretanto, com recentes estudos mostrando o contrário, o consumo doméstico por esta carne aumentou, assim como a estrutura produtiva do setor (FIESP, 2008). Os resultados satisfatórios vieram de ações voltadas ao desenvolvimento do mercado, tais como a profissionalização da atividade, que adotando o modelo de criação em confinamento, resultou em ganhos de escala; um maior foco nos aspectos de qualidade e sanidade; maiores investimentos em pesquisas e cruzamentos de animais, buscando adequação às preferências dos consumidores e diferenciando o produto final; a implantação de mecanismos de desenvolvimento limpos, como tratamento de resíduos; e os investimentos em marketing, entre outros. Embora o consumo de carne suína ainda seja muito inferior ao consumo de carne bovina e de frango, seu consumo per capita cresceu em torno de 4% ao ano na última 77 década, enquanto que o consumo de carne bovina teve um acréscimo menor 0,5% ao ano, no mesmo período. A produção nacional é em sua maior parte integrada, desde a criação dos animais ao processamento da carne, em sistema semelhante ao da produção de aves. Esta cresceu de forma sustentada, na média de 7,0% ao ano, no período 1997 a 2007, à frente do crescimento da carne bovina, na média de 4,7% ao ano, demonstrando o potencial de investimentos e crescimento do setor (IBGE, 2010). Este crescimento colocou o Brasil na 4ª posição, entre os maiores produtores mundiais desta carne, atrás de China, União Européia e EUA, embora muito aquém dos três primeiros, com pouco mais de 3% da produção global. Contudo, dado o maior crescimento da produção em relação ao consumo, o país tornou-se importante exportador mundial, participando com 9% do volume global exportado, atrás da União Européia, EUA e Canadá. Assim como na avicultura, a suinocultura é uma atividade pecuária presente em todo o território nacional, com destaque para os Estados da região Sul, além de Minas Gerais. A produção brasileira em 2009, atingiu cerca de 31 milhões de cabeças, sendo que 25 milhões são referentes aos Estados citados. A diferença que se nota em relação às características da avicultura, são as produções em alguns Estados do Nordeste, como Bahia, Piauí, Ceará e Maranhão, produções estas, voltadas ao consumo local, e em propriedades mais modestas que as encontradas nos confinamentos da região Sul. Tabela 11 - Abate de suínos no Brasil, por Unidades da Federação, em 2009 Estado Suínos abatidos Participação Santa Catarina 8.558.141 27,72% Rio Grande do Sul 6.950.411 22,51% Paraná 5.249.609 17,00% Minas Gerais 3.550.920 11,50% Goiás 1.717.981 5,56% São Paulo 1.624.501 5,26% Mato Grosso 1.516.641 4,91% Outros 1.707.521 5,53% Brasil 30.875.725 100,00% Fonte: IBGE, 2010 78 Também, nota-se uma relevância na produção dos Estados do Centro-Oeste, mas também, em escala modesta. Esta produção vem crescendo ao longo dos últimos anos, sobretudo em decorrência do crescimento expressivo na produção de grãos nesta região, que por sua vez levou à instalação de algumas plantas abatedoras de suínos e aves pertencentes a grandes indústrias alimentícias da região Sul, conforme discutido anteriormente. Outro ponto característico da suinocultura, é o papel das cooperativas que representam, em geral suinocultores e avicultores. Figura 12 - Sistema Agroindustrial de Suínos no Brasil Fonte: Adaptado de GARCIAS, M, P.; et al. (2002). Bibliografia recomendada ANUALPEC 2010. Anuário da pecuária brasileira. São Paulo: FNP, Consultoria e Agroinformativo, 2010. 360 p. BESEN, G. M. V;. et al. Análise da competitividade da cadeia agroindustrial de carne suína no Estado do Paraná / Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e 79 Social, Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade e Grupo de Estudos e Pesquisas Agroindustriais da UFSCAR. – Curitiba: IPARDES, 2002. 239 p. OLIVEIRA, C.G. de. Instalações e manejo para suinocultura empresarial. São Paulo: Ícone, 1997. 96 p. SILVA, I.J.O. Ambiência e qualidade na produção industrial de suínos. Piracicaba: FEALQ, 1999. 247 p. SOBESTIANSKY, J.; WENTZ, I.; SILVEIRA, P.R.S.; SESTI, L.A.C. Suinocultura intensiva. Brasília: EMBRAPA, 1998. 388 p. 6.12 Dados gerais da pecuária bovina de corte No escopo da pecuária bovina, as informações devem ser analisadas cuidadosamente para evitar erros de interpretação. Possuir o maior rebanho não significa, propriamente, ser o maior produtor de carne. Da mesma maneira, ser o maior produtor de carne não resulta em maior criação de riqueza e valor, pois depende do acesso aos melhores mercados consumidores e da capacidade de agregação de valor ao produto (FIESP, 2008). O Brasil, possuidor do 2º maior rebanho (18,7% do total mundial), situa-se na 2º posição do ranking dos países produtores de carnes (17,4%). E os Estados Unidos, possuidor do 4º maior rebanho (pouco mais da metade do número de animais do Brasil), 80 figura como o principal produtor de carne do planeta, com 12,0 milhões das 54,5 milhões de toneladas, produzidas em 2007 (FAO, 2008), graças à sua alta produtividade, derivada do sistema intensivo de criação, com abate de animais jovens engordados em regime de confinamento. É interessante observar o potencial de expansão da pecuária de corte no Brasil. Extensiva, em sua maior parte, a criação de bovinos possui um coeficiente médio de lotação de 1 animal por hectare de pastagem. Com um rebanho de aproximadamente 200 milhões de animais em 2009, a pecuária brasileira utilizou no geral (agregado pecuária de corte e leiteira) uma área rural de 180 milhões de hectares. A intensificação da atividade (na busca de maior produtividade) já é observada, uma vez que a produção nacional de carnes cresce a taxas superiores ao crescimento do rebanho, concomitante ao crescimento da lotação das pastagens, principalmente nas regiões onde as terras são mais valorizadas. Isto significa que tem aumentado os investimentos em tecnologia que possibilitam o aumento do número de gado por área, sem decrescer a produtividade. No que se refere ao número de gados abatidos, ou seja, destinado à produção de carne bovina, observa-se um relativo equilíbrio entre as principais regiões produtoras do país. Baseando-se em dados do IBGE (2009), é na região do Centro-Oeste onde se localiza a maior parte do rebanho nacional, e onde foram abatidos um terço dos gados destinados à produção nacional de carne. O Estado de Mato Grosso lidera o ranking, seguido de Mato Grosso do Sul, São Paulo, Goiás, Minas Gerais, Pará e Rondônia, sendo que estes dois últimos apresentaram grande expansão na pecuária extensiva nas últimas décadas, sobretudo próximos nas áreas de fronteira agrícola que se expandiram a partir do norte e noroeste de Mato Grosso e no próprio sul do Pará. 81 Tabela 12 - Abate de gados no Brasil, por Unidades da Federação, em 2009 Estado Gados abatidos Participação Mato Grosso 3.996.941 14,29% Mato Grosso do Sul 3.270.372 11,69% São Paulo 3.552.206 12,70% Goiás 2.538.203 9,07% Minas Gerais 2.472.853 8,84% Pará 2.107.357 7,53% Rondônia 1.804.866 6,45% Rio Grande do Sul 1.556.792 5,56% Paraná 1.208.514 4,32% Bahia 1.143.170 4,09% Outros 4.323.708 15,46% Brasil 27.974.982 100,00% Fonte: IBGE, 2009 Ao se estudar as características da pecuária bovina de corte, deve-se atentar ao fato desta ser uma cultura, em sua maior parte, extensiva, onde o gado passa a maior parte do tempo nos pastos, e não se demanda muitos tipos de etapas secundárias entre a cria e engorda dos animas. Porém, quando se fala de confinamentos, e dado os tamanhos de confinamentos de gados no país, observa-se, em grande parte, atividades secundárias que demandam maior mão-de-obra, como a cria, engorda, silagem de rações e alfafa para os animais, irrigação de pastagem, e utilização de maquinários deiversos, entre outros, o que acarreta em maior necessidade de um modelo de gestão planejado. 82 Figura 13 - Sistema Agroindustrial de carne bovina no Brasil Fonte: Adaptado de WIAZOWSKI (2000) Bibliografia recomendada ANUALPEC 2010. Anuário da pecuária brasileira. São Paulo: FNP, Consultoria e Agroinformativo, 2010. 360 p. BATALHA, M.O.; SILVA, C.A.B. (Org.). Estudo sobre a eficiência econômica e competitividade da cadeia agroindustrial da pecuária de corte no Brasil. São Paulo: CNI/SEBRAE/CNA, 2000. 398 p. CARVALHO, T.B. Estudo da elasticidade-renda da demanda de carne bovina, suína e de frango no Brasil. 2007. 88 p. Dissertação (Mestrado em Economia Aplicada) – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007. CRUZ, G.M. Produção de carne bovina utilizando confinamento. In: SIMPÓSIO SOBRE MANEJO E NUTRIÇÃO DO GADO DE CORTE, Goiânia, 2000. Anais. Goiânia: CBNA, 2000. p. 91-106. 83 PEREIRA, L.R.R. Integração especial no mercado brasileiro de boi gordo. 2005. 166 p. Tese (Doutorado em Economia Aplicada) - Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 2005. WIAZOWSKI, B. A.; CADEIA PRODUTIVA DE BOVINOS DE CORTE: UMA ANÁLISE SISTÊMICA DE SUA COMPETITIVIDADE. Trabalho de monografia apresentado ao Curso de Especialização em Gestão da Informação no Agronegócio da Universidade Federal de Juiz de Fora. São Paulo. 2002. 26 pág. 6.13 Dados gerais da pecuária bovina de leite 84 Além da pecuária de gado de corte, a produção de leite tem grande relevância à pecuária bovina brasileira. O leite e seus derivados são, em geral, produtos tradicionalmente destinados ao mercado doméstico. Atualmente, o Brasil possui o 3º maior rebanho de gado leiteiro do mundo, com cerca de 21 milhões de cabeças, que produzem mais de 25 bilhões de litros anuais de leite. O país ocupa a 6ª posição mundial na produção de leite, e também, o 3º posto dentre os maiores produtores de queijo, atrás somente da União Européia e EUA, os quais, em contrapartida, detêm 75% da produção mundial. Ainda, o Brasil possui posição de destaque na produção de manteiga e leite em pó (FAO, 2008). Mesmo com esta posição de destaque, a produtividade média do gado leiteiro no Brasil é inferior à média dos principais produtores mundiais. Nos últimos anos o país tem intensificado os investimentos em tecnologia e genética de raças produtoras, e tem se potencializado para um maior crescimento de produtividade nesta cadeia, com menores custos de produção (EMBRAPA, 2003). Um fato interessante se refere ao grande número de indústrias processadoras em todo o país, sobretudo nas grandes regiões produtoras. Em virtude de ser um produto com alto custo logístico, a tendência é que as indústrias processadoras encontrem-se próximas aos produtores e também ao mercado consumidor. Outra característica marcante da pecuária de leite se refere ao excessivo número de produtores, muito deles atuantes em estabelecimentos de agricultura familiar, com poucas cabeças produtoras. Em 2008, constatou-se que haviam aproximadamente 1,4 milhões de estabelecimentos produtores de gado leiteiro no Brasil, sendo que os estratos de estabelecimentos entre 5 a 50 cabeças de gado leiteiro representaram 66% do total de estabelecimentos, 44% do rebanho total, e 40% do volume produzido e valor gerado da produção, ilustrando bem a realidade desta cadeia, no que se refere à participação de pequenos produtores (IBGE, 2009). Em geral, estas também são pequenas propriedades (em tamanho físico), muitas delas com até 50 hectares, onde na maioria das vezes, o produtor tem outra atividade agrícola como fonte de renda. 85 Tabela 13 - Características gerais dos estabelecimentos produtores de leite no Brasil Grupo de cabeças De 1 a 2 Estabelecimentos Vacas ordenhadas Produção (mil litros) Valor da Produção (mil R$) 58.341 72.253 81.792 De 3 a 4 102.808 159.708 180.226 44.184 93.821 De 5 a 9 239.113 585.152 733.489 344.736 De 10 a 19 313.542 1.463.181 2.214.269 946.040 De 20 a 49 347.190 3.228.897 5.374.353 2.292.021 De 50 a 99 140.751 2.428.065 3.812.348 1.645.924 De 100 a 199 74.610 1.986.646 3.202.763 1.392.101 De 200 a 499 45.842 1.722.497 2.879.677 1.282.676 De 500 e mais 20.591 954.781 1.635.041 755.950 6.538 1.349.326 35.368 12.636.548 43.722 20.157.682 20.084 8.817.536 Estabelecimento sem bovinos Total Fonte: IBGE, 2009 Tabela 14 - Características gerais dos estabelecimentos produtores de leite no Brasil Produção (mil litros) Valor da Produção (mil R$) 63.279 179.443 294.131 131.979 De 1 a menos de 2 ha 96.835 356.527 648.284 275.128 De 2 a menos de 5 ha 230.474 1.128.361 2.119.274 896.348 De 5 a menos de 10 ha 184.479 1.189.006 2.126.261 914.536 De 10 a menos de 20 ha 188.614 1.584.501 2.496.108 1.085.964 De 20 a menos de 50 ha 199.945 2.507.502 3.711.481 1.594.395 De 50 a menos de 100 ha 89.445 1.726.486 2.627.352 1.135.049 De 100 a menos de 200 ha 51.409 1.337.063 2.103.422 924.361 De 200 a menos de 500 ha 33.943 1.093.918 1.719.215 769.322 De 500 e mais ha 16.385 620.187 939.890 428.014 194.518 1.349.326 913.554 12.636.548 1.372.263 20.157.682 662.440 8.817.536 Tamanho da propriedade Maior que 0 e menor que 1 ha Produtor sem área de pastagem Total Estabelecimentos Vacas ordenhadas Fonte: IBGE, 2009 Diferentemente de outros setores de produção animal, ou mesmo agrícolas, não se encontra neste setor, uma concentração de mercado entre os grandes produtores. Este fator é decorrente da massificação no número de produtores ao longo do território, conforme citado anteriormente. A atividade leiteira está presente em todas as regiões do País, porém com relevante concentração nos seis maiores produtores, com destaque para Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Goiás, São Paulo e Santa Catarina. O primeiro é responsável por aproximadamente um quarto da produção nacional, enquanto os demais participam com cerca de 6 a 8% do volume produzido no país, cada um. Quando se observa o perfil dos estabelecimentos produtores de leite em cada um destes Estados, nota-se que este segue padrão semelhante a média do país, como um todo, apresentando, porém, um ligeiro aumento no número de matrizes (vacas leiteiras) cuja maior parte da produção encontra-se nos estabelecimentos de 20 a 100 cabeças, 86 mas com maior participação dos grandes produtores, em detrimento de uma menor escala dos pequenos produtores. A produção mineira é uniformemente distribuída em praticamente todo o Estado, com diversas regiões produtoras expressivas. Destacam-se ali, a produção leiteira no Triângulo Mineiro (Uberlândia, Araxá, Patos de Minas, Frutal, Três Marias e Patrocínio), o centro-sul do Estado (Bom Despacho, Sete Lagoas, Aimoré, Divinópolis, São João Del Rei, Passos e Piuí), além de Governador Valadares (no leste), Juiz de Fora (zona da mata) e Unaí e Paracatu (norte). No Paraná a produção é concentrada na faixa sul e oeste do Estado, em Ponta Grossa, Toledo, Cascavel, Francisco Beltrão e Pato Branco, enquanto que no Rio Grande do Sul observa-se produção no centro e norte, mais especificamente em Santa Rosa, Três Passos, Frederico Westphalen, Erechim, Cerro Largo, Ijuí, Passo Fundo, Cruz Alta e Guaporé, além de Cachoeira do Sul. Figura 14 - Sistema Agroindustrial do leite no Brasil Fonte: Adaptado da Embrapa Gado de Leite (2005). 87 Bibliografia recomendada BRITO, A.S. de.; NOBRE, F.V.; FONSECA, J.R.R. (orgs.). Bovinocultura leiteira: informações técnicas e de gestão. Natal: SEBRAE/RN, 2009. 320 p. EMBRAPA GADO DE LEITE. Estatísticas do Leite. Disponível em: <http://www.cnpgl.embrapa.br>. Acesso em: 10. dez. 2005. PEIXOTO, A.M.; NORONHA, J.F.; ALCÂNTARA, J.M.; PETRI, M.A (orgs.). Bovinocultura leiteira: fundamentos da exploração racional. Piracicaba: FEALQ, 1993. PONCHIO, L.A. Produtividade, custo e lucro na produção de leite no Brasil. 68 p. 2006. Dissertação (Mestrado em Economia Aplicada) – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2006. SANTOS, D.F. Políticas macroeconômicas e seus efeitos sobre as importações de lácteos no Brasil. 2004. 121 p. Tese (Doutorado em Economia Aplicada) – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2004. SILVA, I.J.O. Ambiência na produção de leite. Piracicaba: FEALQ, 1999. 201 p. 88 6.14 Dados gerais da produção de frutas O Brasil é atualmente o terceiro maior produtor mundial de frutas, contribuindo com aproximadamente com 12,5% da produção total mundial. No entanto, a maior parte da produção destina-se ao mercado interno e apenas uma pequena parcela de 2% é comercializada no mercado internacional (MAPA, 2010). Um dos fatores para essa baixa participação se dá à qualidade do produto final, que muitas vezes não se adequam ao perfil demandado pelos consumidores estrangeiros, e aos padrões de qualidade exigidos pelos países importadores. Entre as razões para tal fato é o mau uso das técnicas de manejo do solo e da planta, falta de estrutura de armazenamento, logística, embalagens inadequadas e a própria desinformação do produtor. Apesar destes gargalos, segundo Embrapa (2003), o Brasil apresenta uma grande diversidade de climas e solos, o que acarreta em vantagem competitiva para produção de frutas de boa qualidade, além de uma variedade maior de espécies, de acordo com estas condições edafo-climáticas. É necessário salientar, porém, que a participação brasileira nas exportações mundiais de frutas têm crescido ano a ano, à medida que o país tem conseguido atender a padrões fitossanitários exigidos pelos maiores mercados importadores, como Japão, União Européia e EUA. Contudo, existe ainda um caminho extenso a percorrer, o qual permita adentrar densamente nestes mercados, rompendo com parte das barreiras sanitárias impostas. No que tange às características gerais dos fruticultores brasileiros, estes estão estabelecidos em alguns pólos produtivos, os quais se caracterizam pela baixa presença de capital, elevada especialização da mão-de-obra (apesar do pequeno número de trabalhadores formalmente qualificados) e onde as inovações tecnológicas são do tipo incremental, geralmente baseadas na difusão, aprendizado e adaptação (EMBRAPA, 2003). Desconsiderando a laranja, já mencionada anteriormente neste relatório, a produção de algumas frutas se destacam perante as demais, as quais: banana, maçã, uva (vinho e mesa) e melão (por seu caráter exportador). 89 A produção de banana no Brasil em 2009 foi de 7,2 milhões de toneladas e gerou cerca de R$3,4 bilhões de reais (IBGE, 2010). Sua produção é amplamente difundida na maioria dos Estados brasileiros, com intuito de atender aos mercados locais. Os maiores produtores são Bahia e São Paulo, que juntos respondem com aproximadamente 35% da produção nacional. Outros Estados também apresentam certa relevância, como Santa Catarina, Pará, Minas Gerais, Ceará e Pernambuco. Nota-se assim, que o cultivo é representativo em todo território nacional, na maioria das vezes por pequenos e médios produtores, espalhados em diversas regiões produtivas dentro de seus Estados. Uma exceção é no Vale do Ribeira, em São Paulo, onde a bananicultura é uma das principais atividades econômicas da região, e apresenta grandes propriedades produtoras. Já a produção de maçã no Brasil situou-se em torno de 1,2 milhões de toneladas, em 2009, resultando em aproximadamente R$900 milhões de receita (IBGE, 2010). Diferentemente da banana, a produção de maçã é quase que completamente concentrada (96%) em dois Estados da região Sul: Santa Catarina e Rio Grande do Sul. O principal fator limitante desta concentração é o clima, já que estes Estados apresentam temperaturas amenas no inverno, e não possuem longos períodos de estiagem, com a pluviosidade distribuída mais uniformemente ao longo do ano (EMBRAPA, 2003). A produção de maçã em Santa Catarina se dá praticamente em duas regiões: Joaçaba e Campos de Lajes, nas regiões altas do centro-sul do Estado; enquanto no Rio Grande do Sul se localiza em Vacaria e Caxias do Sul, também nas áreas montanhosas no norte do Estado, e que fazem divisa com as regiões produtoras mencionadas em Santa Catarina. O perfil característico dos estabelecimentos produtores de maçã nas regiões mencionadas são de pouco menos de 3 mil produtores, onde a produção é heterogeneamente observada em diferentes estratos, que vão de 2 a 500 hectares. Entretanto, há um pequeno número de produtores com mais de 50 hectares (apenas algumas dezenas) e que correspondem a cerca de 35% da produção nacional. Vale ressaltar, que por ser uma cultura com alta produtividade, dificilmente encontram-se propriedades com mais de uma centena de hectares. 90 A produção de uva no Brasil em 2009 foi de 1,4 milhões de toneladas gerando em torno de R$ 1 bilhão em receitas. Há de considerar, porém, que parte de seu cultivo é destinado à produção de vinhos, e parte ao consumo in natura (conhecido como uva de mesa). Atualmente, aproximadamente 70% da uva colhida no Brasil é destinada para a produção de vinhos, enquanto os demais 30% vão para o consumo doméstico (IBGE, 2010). Há uma ligeira diferenciação nas características de propriedades destes dois sistemas de cultivo. Enquanto a produção de uva para vinho concentra-se em estabelecimentos produtores entre 2 a 20 hectares, no caso da uva de mesa, há uma maior heterogeneidade nos perfis de estabelecimentos, os quais variam de 2 a 500 hectares. Entretanto, neste segundo caso, apenas algumas dezenas de produtores possuem áreas cultivadas com mais de 50 hectares, o que mostra o recente crescimento da fruticultura, em especial no Vale do São Francisco, no Nordeste, conforme descrito abaixo. Desta forma, o cultivo da uva é encontrado basicamente em três regiões: no Sul, Sudeste e Nordeste do país, onde o primeiro se especializa na produção de uva para vinhos, e os demais no cultivo de uva para mesa. A produção da região Sul é quase inteiramente situada no Rio Grande do Sul, mais especificamente nas serras gaúchas, ao norte do Estado, e destina-se basicamente à produção de vinho, embora tenha uma certa representatividade (10%) no montante total da produção de uvas de mesa do país. Do total de uva produzido no país (vinho e mesa), mais de 70% se localiza no Rio Grande do Sul. Já a produção do Sudeste é representada por São Paulo, que cultiva uva em áreas próximas à região metropolitana de São Paulo, como nos municípios de São Roque, São Miguel Arcanjo e Jundiaí. Embora se encontre vinícolas nesta área, 90% do cultivo paulista é para uva de mesa. Mesmo assim, a representatividade da produção total de São Paulo neste setor contribui com menos de 10% da produção nacional. Enquanto isso, o Nordeste se caracteriza basicamente pela produção de uva de mesa (45% da produção deste tipo de uva no país), com destaque à produção irrigada do Vale do São Francisco, em pleno semi-árido, na divisa dos Estados da Bahia e Pernambuco, mais especificamente na região de Juazeiro e Petrolina. A fruticultura 91 nesta região iniciou-se de forma intensiva há pouco mais de uma década, com destaque ao cultivo de a uva de mesa, melão, entre outras. Esta produção utiliza-se de tecnologias avançadas no sistema de irrigação e variedades resistentes, desenvolvidas recentemente, de forma a tolerar ao clima árido e quente da região. Hoje, apenas com a produção de uva de mesa, Bahia e Pernambuco produzem aproximadamente 15% de toda uva colhida no Brasil. Em relação à produção de melão, vale destacar o potencial de conquista no mercado internacional que este setor vem alcançando ano a ano, colocando o Brasil no cenário de exportação de melão. Além da produção no Vale do São Francisco (28% do total), os grandes produtores são Rio Grande do Norte e Ceará, representando respectivamente, 41% e 28% do total da produção nacional (IBGE, 2010). Esta cultura apresenta um número razoável de produtores, em torno de 22 mil, porém pouco mais de 1000 produtores em todo o país, localizados em propriedades entre 100 a 2500 hectares, produzem 70% do volume total. Esta situação demonstra o perfil de grandes propriedades neste segmento. Entretanto, vale frisar que este setor ainda é pequeno se comparado aos demais aqui apresentando, gerando aproximadamente R$250 milhões em receitas anualmente. 92 Figura 15 - Sistema Agroindustrial de Frutas no Brasil Fonte: Bibliografia recomendada KUHN, G. B.; LOVATEL, J. L.; PREZOTTO, O. P.; RIVALDO, O. F. MANDELLI, F.; SÔNEGO, O. R. O cultivo da videira: informações básicas. 2. ed. Bento Gonçalves: EMBRAPA-CNPUV, 1996. 60 p. (EMBRAPA-CNPUV. Circular Técnica, 10). OLIVEIRA, L.A. de. A importância das normas internacionais para o comércio da fruticultura brasileira. 2005. Tese (Doutorado em Economia Aplicada) – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2005. 93 TERRA, M.M.; PIRES, E.J.P.; POMMER, C.V.; NOGUEIRA, N.A.M. (Coord.). Tecnologia para a produção de uva Itália na região noroeste do Estado de São Paulo. Campinas: CATI, 1998. 58 p. (Documento Técnico, 97). 6.15 Dados gerais da silvicultura O setor florestal brasileiro é tradicionalmente conhecido como grande gerador de divisas ao Brasil, empregando muitos trabalhadores e contribuindo com parcela significativa do PIB agropecuário nacional. Ainda, esta é uma atividade que envolve 94 muitos municípios brasileiros e tem um forte apelo social como atividade ambientalmente adequada para a conservação dos solos, dos animais e da água (MAPA, 2010). Este setor apresentou grande evolução a partir da década de 1970, com o estabelecimento de grandes indústrias produtoras de celulose, o que elevou o país a um grande exportador mundial de celulose, com alta tecnologia empregada nas pesquisas de variedades e manejo de reflorestamentos, além de redução gradativa nos custos de produção. Hoje, as exportações de celulose geram em torno de US$3 bilhões anuais de divisas ao Brasil (IBGE, 2010). No país, a exploração de florestas nativas ainda é recorrente, entretanto, a produção de pinus e eucalipto representam a maior parte do setor, e vem crescendo ano a ano. A produção de pinus é mais forte nos Estados do Sul: Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Já a produção de eucalipto se destaca nos Estados de São Paulo, Bahia Minas Gerais e Espírito Santo, onde também se localizam as maiores indústrias deste setor. Na Tabela 15 pode-se observar a participação dos principais Estados produtores de madeira em tora produzida na silvicultura brasileira, tanto por pinus, como por eucalipto. Observa-se assim forte concentração da produção nas regiões mencionadas, que concentram mais de 94% da produção nacional, em sua maior parte, destinada à produção de papel, ou de celulose para exportação e consumo doméstico (IBGE, 2009). Tabela 15 - Quantidade de madeira em tora produzida na silvicultura no Brasil, por Estado Estado Produção (Metros cúbicos) Participação São Paulo 23.167.289 22,88% Paraná 22.343.174 22,06% Santa Catarina 14.479.971 14,30% Bahia 12.126.280 11,98% Minas Gerais 9.204.741 9,09% Rio Grande do Sul 8.262.600 8,16% Espírito Santo 6.258.410 6,18% 5.419.435 101.261.900 5,35% 100,00% Outros Brasil 95 Fonte: IBGE, 2009 Em geral, as grandes indústrias detêm a maior parte dos reflorestamentos de eucalipto e pinus no Brasil, as quais são fazendas de grande porte, espalhadas em um raio médio de até 300 km da planta industrial (MAPA, 2010). Já os pequenos e médios produtores, usualmente arrendam sua produção às grandes indústrias de papel e celulose, ou usam a madeira para carvão vegetal, lenha ou outras atividades. Bibliografia recomendada ANTONANGELO, A. As inovações tecnológicas na silvicultura brasileira e seus impactos sobre a expansão desta atividade. Revista Brasileira de Economia. Rio de Janeiro, v. 52, n. 1, p. 207-230, 1998. INSTITUTO DE PESQUISAS E ESTUDOS FLORESTAIS - IPEF. Teses e dissertações. Disponível em: <http://www.ipef.br>. LEYTON, K. Dinâmica de florestas nativas em áreas de expansão de eucalipto no Estado de São Paulo. 2008. 80 p. Dissertação (Mestrado em Solos e Nutrição de Plantas) – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008. MONTEBELLO, A.E.S. Análise da evolução da indústria brasileira de celulose no período de 1980 a 2005. 2006. 114 p. Dissertação (Mestrado em Economia Aplicada) – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2006. ROMANELLI, T.L. Sustentabilidade energética de um sistema de produção da cultura de eucalipto. 2007. 121 p. Tese (Doutorado em Recursos Florestais) – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007. 96 Figura 6 - Ilustração esquemática da distribuição espacial dos principais recursos pesqueiros da costa brasileira. Fonte: Diagnóstico da pesca extrativa do Brasil. 6.16 Dados gerais sobre Pesca e Aquicultura A extensão do litoral do Brasil possui cerca de 8.500 quilômetros e uma Zona Economicamente Exclusiva - ZEE de 3,5 milhões de km². Estudos técnicos já realizados para uma faixa litorânea de até 200 metros de profundidade estimam um potencial anual de captura sustentável variando entre 1,4 e 1,7 milhão de toneladas, valor que ainda está aquém do volume atualmente capturado. A atividade pesqueira brasileira ocorre em águas marítimas, estuarinas e continentais, sendo divididas em pesca extrativa (extração do pescado como um recurso natural renovável) e não extrativa (o pescado é um produto cultivado, como a aqüicultura). Estima-se que o potencial hídrico do território brasileiro é de 5,3 milhões de hectares de água doce represada em grandes reservatórios naturais e artificiais. Associada às condições climáticas adequadas e disponibilidade de alimentos completos para piscicultura intensiva, permite uma expansão quase ilimitada da piscicultura em tanques-rede no país. O grande desafio é saber se a piscicultura é 97 capaz de competir em preço e qualidade, com a pesca extrativa e as demais fontes de proteína animal no mercado de alimentos (SONODA, 2002). O Brasil é o 27º produtor mundial de pescados e é responsável pela geração de aproximadamente 800 mil empregos diretos (IBGE, 2009). A produção de pescado estimada em 2006 foi de 1.050.808 toneladas, cujo valor corresponde a R$ 3.294.604.130,05. A pesca extrativa marinha representa 50,23%; a aqüicultura marítima, 7,66%; a pesca extrativa continental, 23,9%; e, a aqüicultura continental, 18,2%. Por outro lado, o consumo per capita anual de pescados no Brasil é de 6 kg/hab./ano, pode ser considerado baixo, pois segundo a FAO, este consumo deveria ser de no mínimo de 12 kg/hab./ano (Diagnóstico da pesca extrativa no Brasil). As políticas públicas para a atividade durante este período trouxeram reflexos no setor produtivo. A série histórica oficial disponível sobre a produção nacional de pescado, para o período de 1978 a 2007 mostra uma tendência de crescimento até 1986 (final dos incentivos fiscais), ano em que se atingiu 971,5 mil toneladas. A partir de então, registrou-se um continuo decréscimo, quando, em 1990, a produção foi de apenas 640,3 mil t. Os últimos anos da série apontam para uma tênue recuperação, sendo que em 1999 a produção atingiu um total de 744,6 mil t. Destaca-se que a recuperação da produção pesqueira deve-se ao incremento da produção continental, já que a oriunda do ambiente marítimo, mostrou uma tendência de estagnação. A produção de pescado está estabilizada em torno de 700 mil toneladas, em que 71% (500 mil toneladas) são de origem marinha. 98 Figura 7 - Brasil: evolução da produção pesqueira marítima, interior e aqüicultura, em milhares de toneladas, de 1978 a 2007. Fonte: Adaptado de 1978 a 1998 de Abdallah (1998) e Sonoda 2006. Nota: Dados de 1999 a 2007 atualizados com base nos dados de Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA (2007). Ao longo do seu extenso litoral, o Brasil apresenta uma grande diversidade de ambientes, o que está relacionado com as características das atividades pesqueiras. Em 2007, a produção brasileira de pescados foi um pouco superior à 1 milhão de toneladas e o principal estado produtor de pescados foi o Nordeste. A pesca extrativa representou cerca de 70% desta produção e os 30% restantes são referentes à aqüicultura. Tabela 16 - Regiões do país: produção de pescados, em toneladas, 2007. Pesca Extrativa Aqüicultura Região Total Marinha Continental Marinha Continental Norte 72.036,5 139.966,0 200,0 26.143,0 238.345,5 Nordeste 155.625,5 68.497,0 63.500,5 43.985,5 331.608,5 Sudeste 137.666,0 22.201,0 838,0 35.823,5 196.528,5 Sul 174.638,5 2.092,0 13.866,5 64.483,5 255.080,5 Centro-Oeste 0,0 10.454,0 0,0 40.209,0 50.663,0 Total 539.966,5 243.210,0 78.405,0 210.644,5 1.072.226,0 Fonte: IBAMA 2007. 99 Figura 1-- - Sistema Agroindustrial de Pesca no Brasil Fonte: Bibliografia Recomendada COLT, J.; MONTGOMERY, J.M. Aquaculture production systems. Journal of Animal Science, v.69, p.4183-4192, 1991. FAO. Statistics. http://www.fao.org/corp/statistics/en/ (20 out. 2010) J. E.P.CYRINO, E.C.URBINATI e N.CASTAGNOLLI, editores. Tópicos Especiais em Piscicultura de Água Doce Tropical Intensiva. São Paulo: TecArt, 2004. 533p. MARTIN, B.N.; SCORVO FILHO, J.D.; AYROSA, L.M.S. Custos e retornos na piscicultura em São Paulo. Informações Econômicas, v.25, n.1, p.9-47, 1995. PROENÇA, E.C.M.; BITTENCOURT, P.R.L. Manual de piscicultura tropical. Brasília: IBAMA, 1994. 342p. 100 SCORVO FILHO, J.D.; MARTIN, N.B.; AYROSA, L.M.S. Preços na piscicultura no Estado de São Paulo, 1995 e 1997. Informações Econômicas, v.29, n.3, p.1-10, 1999. 101 8. CONSIDERAÇÕES FINAIS Pôde-se constatar a partir da explanação dos dados estatísticos dos principais setores agrícolas e pecuários no Brasil, que estes apresentam, de forma geral, taxas de crescimento elevadas com perspectivas de manutenção deste ritmo acelerado nos próximos anos. Estima-se que o PIB do agronegócio no Brasil se aproxime a um terço do total de riquezas geradas no país (FIESP, 2008). Além disso, a participação de produtos agropecuários na pauta das exportações brasileiras contribuiu para os superávits recordes na balança comercial do país na última década. Contudo outros importantes fatores são apontados como impulsionadores da agropecuária e do agronegócio, e que vão além da simples magnitude do setor na economia do país. Assim, deve-se apontar outros fatores como propulsores da agropecuária brasileira, sob a ótica de um potencial latente de crescimento. A integração vertical das cadeias têm muitas vezes levado a uma modernização das mesmas. Se por um lado, em muitos casos, o produtor tem parte de sua produção garantida dado o rápido aumento na demanda por alimentos industrializados, que por sua vez aquece o setor agroindustrial, por outro, esta demanda exige qualidade na entrega do produto agrícola, o que faz com que produtor, cooperativas e instituições públicas e privadas busquem alternativas melhores e tecnologicamente avançadas para ganhos em produtividade e redução de custos produtivos. Assim, aumenta-se a demanda por mão-de-obra qualificada, inovações tecnológicas em variedades e processos produtivos, e tecnificação na aquisição de maquinários modernos, desde o manejo e preparo do solo, até o armazenamento do produto final. Outro fator que chama atenção são as formações de clusters de produção de algumas cadeias agroindustriais, e o avanço do cultivo nas áreas de fronteiras agrícolas mais recentes, como em algumas áreas do Centro-Oeste, Nordeste e Norte do país. O presente estudo verifica que muitas regiões em comum são grandes produtoras de diferentes commodities, independente destas regiões serem tradicionais na produção primária, ou áreas de recente fronteira agrícola. A região Sul do país apresenta-se como grande produtora de grãos, suínos e aves, leite, arroz, feijão, carne bovina, cana-de-açúcar, madeira e frutas (uva e maçã), 102 com destaque para o oeste e sudoeste paranaense, centro e litoral catarinense e a maior parte do Rio Grande do Sul, muitas vezes com culturas semelhantes, como caso de milho, trigo e soja, ou complementares, como outros grãos (arroz), e suínos e aves. Da mesma forma, o Sudeste mostra-se como uma região consolidada em diversas culturas, sobretudo na produção de cana-de-açúcar, laranja, café, leite, madeira, feijão e milho, além de destacar-se também, como produtor expressivo em culturas que são concentradas no Sul e Centro-Oeste, como por exemplo, suinocultura, avicultura, soja e fruticultura em geral, principalmente pelo fato de ser o grande mercado consumidor do país, e demandar regularmente essas commodities para abastecimento de seu mercado local. Todo o interior de São Paulo, Triângulo Mineiro, sul, sudeste e noroeste de Minas, e oeste capixaba são áreas com culturas estabelecidas, e com alta produção de diferentes culturas. Já o Centro-Oeste mostra-se como uma área em amplo crescimento, principalmente nos últimos 15 anos, com um grande avanço na produção graneleira, como soja e milho, além de algumas áreas com arroz e feijão. Ainda é uma das regiões onde se concentra a produção de algodão brasileira, e boa parte do rebanho de gado para corte. Outros sistemas produtivos têm se mostrado com alto potencial de crescimento nesta região, como a cana-de-açúcar, avançando pelo sul de Goiás e Mato Grosso do Sul, e suinocultura e avicultura, com a instalação de plantas abatedoras nas grandes regiões produtoras de soja e milho. Há de considerar também, o tamanho médio dos estabelecimentos produtores do Centro-Oeste, em geral, grandes propriedades, e maior que a média nacional, principalmente em suas principais culturas, como soja, milho e algodão. As principais áreas produtoras desta região são o sul e sudeste de Goiás, sul do Mato grosso do Sul, e sul, sudeste e centro-norte de Mato Grosso. No Nordeste brasileiro, encontram-se na maior parte, áreas com estabelecimentos produtores de pequeno porte e com produção diversificada, destinada na maior parte para abastecimento do mercado regional. Também, muitas destas culturas apresentam produtividade bem inferior à média nacional, e com produtos finais de menor qualidade. Entretanto, pode-se verificar áreas produtoras já estabelecidas, como da cana-de-açúcar, na faixa litorânea de Alagoas e Pernambuco, e áreas de rápido crescimento, sobretudo no oeste baiano (com soja, milho, algodão e café), Vale do São 103 Francisco (com fruticultura) e muito recentemente, observa-se movimentação em outras áreas de cerrado no sul do Piauí e Maranhão. Nas áreas de fronteira agrícola do oeste da Bahia, nota-se características de propriedades semelhantes às verificadas no CentroOeste brasileiro, de grandes estabelecimentos produtores, tecnificados, e com alta produtividade. Já o norte do país é pouco mencionado, dado que em sua maior parte encontra-se a floresta amazônica, área de pouca exploração agrícola. Porém, notam-se avanços na última década ao sul de Rondônia e Tocantins, com produção de grãos e pecuária extensiva, que avançaram pelas áreas de fronteira agrícola do norte de Mato Grosso e Goiás. Além disso, deve-se mencionar o sul do Pará, com um aumento expressivo na pecuária extensiva nos últimos anos. Este mapeamento macro sobre as principais atividades agropecuárias no Brasil, apontando as características de cada região produtora, seu tamanho de mercado atual, tendências e perspectivas, permite ao leitor uma melhor visualização da realidade do agronegócio brasileiro. Estes apontamentos possibilitam um maior conhecimento em relação a cada tipo de cultura, suas características individuais e principais regiões em que se localiza sua produção 104 105