A Disneylíada

Transcrição

A Disneylíada
Gogol Alexander
A Disneylíada
Uma história de duas cabeças
Ilustração provisória
Editora Vaga
_____________________________________________
Copyright Biblioteca Nacional Alexander Gomes
Título : A Disneylíada
Sub-título: Uma história de Duas Cabeças
Ilustração : Duca Mendes
Revisão: Vinícius Gonçalves
Reg prof : 0000000
Dados internacionais de publicação
Câmara Brasileira do Livro
Alexander, Gogol,1963 –
A Disneylíada
ISBN 0000000000000
1 – crônicas de viagem
2 – guia de viagem
2007
todos os direitos reservados
Editora Vaga
A Disneylíada
Para Manu
Apresentação
Este NÃO é apenas mais um guia de viagens. Vem
com a voz de autor estreante numa viagem pop, a Disney
da Flórida. Quase um diário de viagens. E ainda tem
comparações com a Ilíada, história famosa na Idade Antiga.
Se uma coisa tem a ver com a outra, aí, a decisão é do seu
ouvido, amigo leitor, querida leitora.
Mas também é um guia de viagens,
como todos os outros. Basta ficar na primeira parte do
livro, onde estão as listas de coisas para checar, ver e fazer
quanto se vai à DisneyWorld. Vamos nomear esta primeira
parte de Fast Lane, via rápida, que vai lhe ajudar a
enxergar bem naquelas terras distantes e cheias de nomes
estranhos, Orlando, Kissimee, Osceola, Tampa.
Se gostou da Fast Lane, querendo mais, estamos aí,
com um pouco de cultura clássica, universal. A Ilíada é um
poema épico-religioso, quinze mil versos, escrito por
Homero, um Aedos, um tipo de contador de histórias bem
popular no século VIII AC. Foi o primeiro poeta na história
do mundo a virar celebridade.
Ele escreveu ainda a Odisséia e várias outras
aventuras em verso, e as declamava em praças lotadas. Na
Ilíada, Homero narra uma guerra há 3,2 mil anos, entre os
Aqueus – antepassados dos gregos - e os Troianos, com a
participação mais do que especial de Zeus, Poséidon, Hera,
Tétis, Apolo, Afrodite e outras criaturas e deuses
mitológicos.
Exalta dois grandes guerreiros – Heitor e
Aquiles - e milhares de guerreiros menores. É o confronto
de duas culturas, um conflito iniciado muito antes da
guerra, por causa de uma fruta dourada durante um
casamento. O pomo da discórdia. Ação, intriga, sexo, amor,
perícia, ódio, batalhas, tramas surpreendentes ao final,
Hollywood à lá grega.
Por isso, leitores e leitoras, a Disneylíada,
uma quase paródia, uma história cruzada. Com certeza,
relata um esforço homérico para todos que fazem essa
aventura, pelo agrado dos nossos pequenos deuses, nossos
filhos. Meses de preparação para alguns dias de desfrute
mitológico. Quilômetros andados e horas discutidas por
autorizações, documentos, verificações de segurança,
consultas a amigos e parentes. Para se divertir num país
que, assim como Tróia, vive em guerra.
Porque também gosto de histórias e de
viagens coloquei outros assuntos. Um pouco das origens
de Disney e da Universal, dos personagens das notas de
dólar, as roller-coaster, montanhas-russas, história do
próprio turismo. Para que a leitura seja também uma
viagem no conhecimento, que nunca termina, assim como
o tempo.
Posso supor que um dia, quando Orlando for
descoberta por algum arqueólogo, daqui a três mil anos,
talvez seja tratada com o mesmo respeito e admiração que
hoje concedemos a Atenas e seus deuses. E pode ser
também que naquela época Homero fosse apenas uma
diversão de praça pública. Quem vai saber!
Fast Lane
Índice
Primeira saída: .......Antes da Viagem
Segunda saída: ........Polícia Federal
Terceira saída: ..........Agendamento On-line
Quarta saída : ...........Agências e empresas
Quinta saída : ..........Roteiro de compras
Sexta saída: ..............Preparativos da viagem
Sétima saída: ................Estudos Unidos
Oitava saída: ................Observações da Lei
Nona Saída: .................Comunicação
Décima Saída: ............. A Disneylíada
Primeira Saída : Antes da
Viagem
Internet:
buscas no Google, Yahoo, para conhecer os locais
buscas no ORKUT e Flickr , para fotos de viajantes
Palavras chaves : Walt Disney, DisneyParks, Magic Kingdom, MGM
Disney, Disney Downtown, Disney Resorts, Animal Kingdom,
Blizzard Beach, Typhoon Lagoon, Universal Parks, Wet’n Wild
Orlando, Seaworld, Miami, Orlando, Lake Buena Vista, International
Drive.
Locais :
Agências de Viagens e Revistas especializadas : gratuitamente nas
agências existem folhetos de viagem com pacotes de várias
operadoras para vários roteiros diferentes, em geral para Julho,
Outubro e Fevereiro. Nas bancas existem revistas de turismo com
matérias e fotos dos locais.
Amigos e parentes : quem já foi sempre tem uma dica de viagem
que você pode aproveitar, para o seu estilo de viajar. Também
consiga com eles referências de agências ou contatos de serviços em
Orlando, como guias ou Vans de Aluguel, caso você não queira ir
por uma agência.
Segunda Saída : Polícia Federal
Internet : http://www.dpf.gov.br/
No site também se pode fazer o cadastramento on-line
para passaporte, e imprimir a Guia de Recolhimento no valor de R$
89, 71 (abril de 2007) para dar entrada em qualquer das localidades
indicadas no site. As informações e o pagamento no Banco do Brasil
mais perto de você.
Locais :
Há representações em todo o país. As principais são :
Superintendência Regional do Rio de Janeiro
Endereço:
Av. Rodrigues Alves, 1 - 3º andar - Centro / CEP 20081-250
Fone:
(21) 2203-4000 / 2203-4008
Fax:
(21) 2253-3454
Superintendência Regional de São Paulo
R. Hugo D'Antola, 95 - Lapa de Baixo - São Paulo-SP / CEP 05038090
PABX:
(0xx-11) 3538-5000
Fax:
(0xx-11) 3538-6187
Superintendência Regional de Minas Gerais
Superintendente:
DPF Sônia Estela de Melo
Endereço:
Rua Nascimento Gurgel, n° 30 - Bairro Gutierrez - CEP 30430-340
Fone:
(0xx-31) 3330-5200
Fax:
(0xx-31) 3335-8832
Superintendência Regional do DPF no
Distrito Federal/DF
Endereço :
SAIS Quadra 7 - Lote 23 - Setor Policial Sul Brasília-DF / CEP 70610901
Fone:
(0xx-61) 3345-9500
(0xx-61) 3245-7401
Plantão: (0xx-61) 3345-9503
3245-7025 (TeleFax)
Recepção: (0xx-61) 3345-9501/02
Os documentos necessários para a solicitação do passaporte
(Fonte: Departamento da Polícia Federal )
•
Qualquer um documento de Identidade, para maiores de 12
anos, sendo que podem ser aceitos como documento de
identidade:
a) cédula de identidade expedida por Secretaria de Segurança
Pública;
b) carteira funcional expedida por órgão público, reconhecida por
lei federal como documento de identidade válido em todo território
nacional;
c) carteira de identidade expedida por comando militar, exministério militar, pelo Corpo de Bombeiros ou Polícia Militar;
d) passaporte brasileiro anterior;
e) carteira nacional de habilitação expedida pelo DETRAN (modelo
atual);
f) carteira de identidade expedida por órgão fiscalizador do
exercício de profissão regulamentada por lei;
g) carteira de trabalho e previdência social-CTPS.
OBS.: Carteira de Identidade Civil (RG) e Certidão de Casamento
com a devida averbação, se for o caso, para as pessoas que tiverem o
nome alterado em razão de casamento, separação ou
divórcio.Carteira de Identidade Civil (RG) ou Certidão de
Nascimento para os menores de 12 anos. O documento de
identidade apresentado poderá ser recusado se o tempo de
expedição e/ou o mau estado de conservação impossibilitarem a
identificação do requerente.
•
Título de Eleitor e comprovantes de que votou na última
eleição (dos dois turnos, se houve). Na falta dos
comprovantes, declaração da Justiça Eleitoral de que está
quite com as obrigações eleitorais, ou justificativa eleitoral.
•
Documento que comprove quitação com o serviço militar
obrigatório, para os requerentes do sexo masculino à partir
de 01 de janeiro do ano em que completam 19 anos até 31
de dezembro do ano em que completam 45 anos.
•
Certificado de Naturalização, para os Naturalizados.
•
Comprovante de pagamento da taxa em REAIS, por meio
da guia GRU (Guia de Recolhimento da União), que deverá
ser preenchida pela internet, sendo necessário o CPF do
requerente ou responsável, código da receita e da unidade
arrecadadora conforme tabela das receitas existente na
própria guia.
OBS: antes de efetivar o pagamento, verifique se a unidade
arrecadadora foi preenchida corretamente. Não é possível requerer
passaporte em unidade distinta daquela que constar na GRU.
•
Apresente o Passaporte anterior, quando houver (válido ou
não). A não apresentação deste, por qualquer motivo,
implica em pagamento da taxa em dobro.
•
Dê entrada na documentação com xerox não autenticadas
junto com a guia de recolhimento, as fotos, o formulário (
on-line ou impresso ) na unidade da PF mais próxima da
sua residência. Eles vão lhe dar um protocolo e uma data
para buscar o documento.
OBS. : Ainda no aeroporto, procurar a Polícia Federal para obter a
DST (Declaração de Saída Temporária), que registra os objetos que
serão levados na viagem, como máquinas fotográficas e filmadoras
Terceira Saída :
Agendamento para Visto On-line
Internet :
Sites oficiais
http://www.embaixada-americana.org.br/
informativo
http://www.consulados.com.br/consulados/usa.html
informativo
http://www.visto-eua.com.br/
site do agendamento
Sites com informações sobre visto e viagem
http://www.viajandoparaorlando.com/
http://www.conebraol.com.br/preparacao.htm
http://goflorida.about.com/
Locais :
Visto EUA :
Centro de Agendamento e Informações sobre Vistos
(55) 21-4004-4950.
Embaixada dos EUA
SES - Av. das Nações,
Quadra 801, Lote 03
70403-900 - Brasília, DF
Tel: (61) 3312-7000
Fax: (61) 3225-9136
Cons. Geral em São Paulo
Rua Henri Dunant, 500,
Chácara Santo Antônio,
São Paulo- SP, 04709-110
Tel: (11) 5186-7000
Fax: (11) 5186-7199
Cons. Geral no Rio de Janeiro
Av. Presidente Wilson, 147
Castelo
20030-020 - Rio de Janeiro, RJ
Tel: (21) 3823-2000
Fax: (21) 3823-2003
Consulado em Recife
Rua Gonçalves Maia, 163
Boa Vista 50070-060 - Recife, PE
Tel: (81) 3416-3050 Fax: (81) 3231-1906
Os documentos necessários para a obtenção do visto e da Entrada
nos EUA.
• o formulário DS-156 (versão eletrônica e versão não-
eletrônica, nos Consulados e Embaixada) e os maiores de 16
anos, o formulário DS-157 (versão não-eletrônica)
devidamente preenchidos.
• um passaporte válido por pelo menos seis meses a partir da
data de viagem;
• uma foto 5x7cm:
o a fotografia deverá ter sido tirada há no máximo seis
meses;
propicie uma visão completa da face do
solicitante, que não poderá estar olhando para baixo
ou para qualquer lado, sendo que a sua face deverá
cobrir 50% da área da foto. Observe-se que fotografias
com visão lateral ou angular não serão aceitas;
o que
• comprovante de pagamento da Taxa de Solicitação de Visto
de US$100,00 (no valor equivalente em reais), a qual deverá
ser paga com antecedência numa agência autorizada do
Citibank.
OBS.:
1- O funcionário do Citibank ao emitir o recibo de
pagamento da Taxa de Solicitação de Visto deverá
escrever o nome e o número do passaporte do
solicitante no recibo. Não deixe de atentar para esse
detalhe, pois os recibos emitidos sem o nome e o
número do passaporte do solicitante não serão aceitos.
2 - Todos os interessados devem evidenciar que possuem "fortes
vínculos" com o seu país de residência e pretendem, tão somente,
realizar uma visita temporária aos Estados Unidos. Tal comprovação
pode ser dar através de documentos como: carteira de trabalho,
declaração de imposto de renda, certidão de casamento ou de
nascimento, extratos bancários, documento de propriedade de
veículo, escrituras de propriedades, matrículasde colégios e
faculdades.
•
Formulário I-94:
Quando for desembarcar nos Estados
Unidos, os funcionários pedem os passaportes com o visto
americano anexados ao formulário "I-94". São dados
pessoais e da viagem, sem documentos pedidos
OBS.: Mantenha Formulário I-94 afixado em seu passaporte
durante a sua permanência até sua saída dos EUA. Se você
perder o Formulário I-94 deverá procurar o Departamento de
Segurança Interna (DHS)
•
Entrevista na Imigração, na chegada aos EUA : É um
balcão onde os funcionários da imigração possivelmente
ainda irão lhe indagar o motivo da sua viagem, sobre as
suas reservas de hotel,sua passagem de volta, dentre
outras perguntas .
Quarta Saída : Agências e Empresas Aéreas
Internet : com vôos e pacotes para Orlando ( todos têm conexão
Miami ou Dallas )
•
Empresas Aéreas :
todas tem serviço de reserva e
pagamento on-line, mas só recomendo para pesquisas de
preços.
www.aa.com.br
www.delta.com
www.tam.com.br
www.continental.com
www.copaair.com
•
Agências:
http://www.vamosparadisney.com.br/
http://www.grantur.com.br/
•
Outros sites de viagens :
http://hotels.bookit.com/
procure por
Quality Inn International Drive
http://www.frommers.com/
Locais :
Grantur
Agência Recomendada .
Av. Rio Branco 181, 32 andar - Centro - Rio de Janeiro
Tel: (55 21) 3262 7777 Fax: (55 21) 2524 1954.
American Airlines
Empresa Não-Recomendada
Endereços: r. Araújo, 216, 9º andar; av. Nações Unidas, 12.901 (hotel
Hilton); av. Ibirapuera, 2.927; al. Santos, 2.233, nível E1 (Hotel
Renaissance), São Paulo
Telefones: 0300-789-7778. SP: (0/xx/11) 4502-4000, 6445-3568 e 64453808
Delta Airlines
Endereço: r. Marquês de Itu, 61, 12º andar, cj. 121, São Paulo
Telefones (SP): (0/xx/11) 4003-2121 e 6445-3926
TAM
Endereço: av. Jurandir, 856, São Paulo
Telefones: 0800-5705700 e 4002-5700. Central de atendimento ao
surdo: 0800-555500. SP: (0/xx/11) 5582-8811
Continental
Endereço: r. da Consolação, 247, 13º andar, São Paulo
Telefones: 0800-7027500. SP: (0/xx/11) 2122-7500 e 6445-4208
Copa Airlines
Endereço: av. Paulista 1.337, 4º andar, São Paulo
Telefone (SP): (0/xx/11) 3549-2672
OBS.: Nunca marque uma passagem para os EUA sem obter o visto
primeiro.
OBS.2 Todas as empresas relacionadas com escritórios em São Paulo
têm representações no Aeroporto Antônio Carlos Jobim , no Rio de
Janeiro. A TAM, em outros aeroportos.
Quinta Saída : preparativos da viagem
Internet : as informações abaixo são de
www.viajandoparaorlando.com/
Roupas:
Não encha a mala de roupas ! renove o guarda-roupa, uma vez
que em Orlando você encontrará muitas lojas das mais variadas
marcas pela frente.
Leve roupas leves com as quais você se sinta confortável, pois caso
contrário irá se tornar muito desagradável a sua experiência nos
parques, pois não dá para descansar um minuto nas atrações e filas
respectivas.
IMPORTANTE : Em alguns parques é interessante que você
tenha em mãos uma mochila
com algumas roupas, pois algumas
atrações irão molhar para valer. Não se esqueça de observar a
temperatura de Orlando durante o período da sua estada para que
você possa melhor planejar a sua mala. O próximo tópico trata
exatamente sobre esse assunto.
Malas:
02 (duas) malas (despachadas), com no máximo 32 (trinta e dois)
quilos cada uma e tamanho máximo de 157cm (comprimento +
largura + altura)
01 mala de mão com no máximo 18 (dezoito) quilos que caiba
debaixo ou no compartimento acima do assento do avião, com
tamanho máximo de 114cm (comprimento + largura + altura).
OBS.:
Esses valores podem variar de acordo com a empresa aérea
contratada. Leve como bagagem de mão todos os artigos de valor
(equipamento eletrônico, dinheiro em espécie jóias, câmera, etc),
bem como aqueles de grande necessidade , como medicamentos,
chaves, etc).
Clima
No verão em Orlando o protetor solar torna-se um item de primeira
necessidade. Não deixe de se precaver, se estiver viajando com
crianças. Para melhor ilustrar, segue abaixo uma tabela com as
temperaturas (em graus Celsius) da cidade de Orlando ao longo do
ano:
MÊS
MÁXIMA
MAIO
JUNHO
JULHO
AGOSTO
31°
35°
37°
36°
MÍNIMA
19°
21°
22°
23°
Conversão de valores em Farenheit
- diminua 32; multiplique
por 5 e ÷ divida por 9.
Restrições de Segurança
Artigos proibidos na bagagem de mão :
Facas, canivetes, talheres que não sejam de plástico, tesouras,
perfuradores de gelo, navalhas, saca-rolhas, agulhas, seringas
(exceção: casos em que o passageiro possua autorização profissional
farmacêutica em seu nome), armas de brinquedo, tacos de bilhar ou
pólo, instrumentos desportivos (como raquetes e tacos de golfe),
atiradeiras, estilingues, isqueiros ou fósforos.
Artigos proibidos de ser transportados por avião :
Ccarga para isqueiro, fogos de artifício, sinais luminosos, explosivos,
combustíveis, tinta, alvejantes, amido em aerossol, inseticidas,
limpadores e solventes, aerossóis, tanques de butano, combustível
ou mergulho, tanques de propano, cartuchos de CO2, balsas autoinfláveis, armas de fogo, munições, pólvora, gás para defesa pessoal,
gás lacrimogêneo, spray de pimenta, gelo Seco, ferramentas que
utilizem gasolina para o seu funcionamento, baterias úmidas,
materiais radioativos, venenos, substâncias infecciosas, dentre
outras.
Sexta Saída : Roteiro de Compras
Internet :
Premium Outlet
www.premiumoutlets.com
Florida Mall
www.simon.com
PROMOÇÃO COMPRA ANTECIPADA
Prime One Out Let
www.primeoutlets.com
Mall At Millenia
www.mallatmillenia.com
Wal Mart
www.walmart.com
coloque o zip code 32789
Locais :
Procure os shoppings para roupas e tênis, e
Importadoras para perfumes, cremes, eletrônicos e jóias, na sua
cidade. Isso ajuda a ver os preços cobrados aqui de artigos que você
desejaria comprar lá, e já escolhe modelos e tamanhos. É uma boa
maneira de treinar as compras, porque na hora não há muito tempo
para buscar ofertas ou andar pelos shoppings
Questões Financeiras :
A cota oficial de compras do exterior vai até US$500,00 (quinhentos
dólares) por pessoa, com a "cota de isenção", que também se aplica
aos menores.
Acima desse limite, é cobrado um imposto de 50% ( Cinqüenta por
cento), sendo que se você não declarar o excesso, e a fiscalização lhe
pegar, irá pagar 50% (cinquenta por cento) do valor excedente. Para
o pagamento do imposto é necessário preencher o "Documento de
Arrecadação de Receitas Federais - DARF", em qualquer agência
bancária, inclusive em caixa eletrônico, quando disponível este
serviço.
Sair do país com mais de dez mil dólares necessita declaração
especial. Consulte com a Polícia Federal e Consulados.
Você também poderá trazer de Orlando sem pagar impostos: roupas
e outros artigos de vestuário, artigos de higiene, beleza ou
maquiagem e calçados, para uso próprio, em quantidade e qualidade
compatíveis com a duração e a finalidade da permanência no
exterior, bem como livros, folhetos e periódicos em papel.
Na volta, se faltou alguma coisa, pode comprar sem impostos nas
lojas do Duty Free Shop, mas os preços são mais caros que em
Orlando. Há isenção para um número limitado de artigos eletrônicos
no Free Shop, até 3 unidades. Bebidas, cosméticos e cigarros têm
limitações mais folgadas, até dez unidades.
Planilha de compras
Loja
Local
Sbarro
Belz
Outlet
Sbarro
Belz
Outlet
Typhoon Donuts
Disney
Parks
Amity Coke
Universal
Restaurantossaurus Disney
Parks
Walgreens
Japan Pavilion
Epcot
Green Tumb
Disney
Parks
Jurassic Fruit
Animal
Kingdom
Hard Rock
Universal
Mc Gurkus
Universal
Mc Gurkus
Casey Corner
Disney
Parks
Mickey Star
Disney
Parks
Origem
Pacific
sunwear
Champs sports
Mouse Gear
Local da
compra
Florida
mall
Florida
mall
Disney
Descrição
s\ taxa
c\taxa
Almoço com
Pepsi ( 1 )
Almoço ( 2 )
com Pepsi
Coca
8,18
8,71
10,67
11,36
2,50
2,50
Churros ( 2 )
Lanche ( 3 )
5,98
16,70
6,37
17,79
Lanche ( 1 )
Yakisoba
Milk shake
6,49
1,00
2,50
6,59
1,00
2,67
Churros
2,99
3,19
Mint guitarr
Coca
Almoço
Hot dog e
coca
Lembranças
3,50
4,78
16,18
21,55
3,73
5,10
17,24
22,96
17,50
18,64
Descrição
dos itens
Camisa
Valor
compra
19,50
Valor
total
20,77
Tênis
54,99
58,56
Ventilador
29,95
31,90
parks
Intern.
drive
Florida
Mall
Busch
Garden
Intern.
Drive
Perfumeland
JC Penney
Golden Scarab
Yes Brasil
Finish time
Florida
Mall
Disney
parks
Florida
Mall
Inter
drive
Emporium
complex
Victoria secret
Perfume land
Brasil
shampoos (
6)
Grill
84,40
89,89
19,99
21,99
bijouteria
6,99
7,48
Relógios,
ipod nano,
perfume e
óculos ( 8 )
Zuma dot
(?)
Glitter
367,92
391,83
9,94
10,58
9,50
10,12
100,
106,50
49,39
52,60
Cremes e
outros ( 12 )
Cremes e
shampoos (
4)
38
40
42
44
46
48
50
EUA
4
6
8
10
12
14
16
18
Europa
38
40
42
44
46
48
50
52
Blusas e suéteres Femininos
Brasil
38
40
42
44
46
48
50
EUA
6
8
10
12
14
16
18
Europa
40
42
44
46
48
50
52
Calçados Femininos
Brasil
35
36
37
38
39
EUA
3
4
5
6
7
8
9
10
11
Europa
34
35
36
37
38
39
40
41
44
Ternos Masculinos
Brasil
EUA
Europa
46
34
36
48
38
40
42
50
52
54
44
46
48
Camisas Masculina
Brasil
35
37
39
40
41
42
43
44
EUA
14
15
15,5
16
16,5
17
17,5
18
Europa
36
38
39
41
42
43
44
45
40
41
42
43
44
8,5
9
10
10,5
11
40
41
42
43
44
Calçados Masculinos
Brasil
39
EUA
7,5
Europa
39
8
9,5
TEMPERATURA
graus Cº
-2-15
-10
-5
0
5
10
15
20
25
30
35
40
graus Fº
-45
14
23
32
41
50
59
68
77
86
95
104
S, M, L, XL:
S (Small)
P (Pequeno)
M (Medium) M (Médio)
L (Large)
G (Grande)
XL (Extra Large)
GG (Extra Gran
Roupas infantis:
Brasil - Estados Unidos
2244668710
12
14
16+
3
5
6x
8
10
12
14
16+
Vestidos, saias e casacos femininos:
Brasil Estados Unidos
38
4
40
6
42
8
44
10
46
12
48
14
50
16
Blusas e malhas femininas:
Brasil Estados Unidos
38
6
40
8
42
10
44
12
46
14
48
16
50
18
Ternos masculinos:
Brasil Estados Unidos
46
36
48
40
50
44
52
46
54
48
OBS . :
Na Flórida, toda a mercadoria que você adquirir, além do preço da
tabela, tem 6,5 % (seis e meio por cento) de imposto, cobrados no
Caixa. Para comprar aparelhos eletrônicos e ou peças de grande
valor pague com um cartão de crédito internacional.
Nos parques é possível pagar desde a sua alimentação até fazer
compras utilizando o cartão e os Traveller's checks, vendidos no
Banco do Brasil, Safra e Caixa Econômica Federal. É um dinheiro
garantido, se você perder os Travellers, é reembolsado. Guarde o
contrato.
Sétima Saída : Estudos Unidos,
ou como se comportar naquelas bandas de lá.
Internet :
http://pt.wikipedia.org
para leituras
www.googlemaps.com para ver de cima, do satélite
Palavras-chave : Turismo, Orlando, Flórida, Revolução
Americana, Dólares, Hollywood, Anahein, Califórnia, Disney,
Universal, Golfo do México, Lake Buena Vista, DisneyParks.
Locais :
•
Gorjeta: é esperado gorgetar com freqüência:
Carregadores de Mala = U$ 0,50 a U$ 1,00 por volume.
Motoristas de Táxi = 15% do valor da corrida.
Garçons = 15% a 20% do valor da conta.
•
Emergência: disque 911 em qualquer telefone, celular ou
público. .
•
Dinheiro: Procure levar a quantia que você entende
necessária para custear a sua alimentação, transporte,
ingressos e algum dinheiro para fazer as suas compras.
Distribua em dólares, travellers e limites do cartão. Leve
uns reais para a volta, nunca se sabe.
Não ande com todo o seu dinheiro no bolso, para
a sua segurança utilize o cofre do hotel e leve a chave com você.
Os nomes dados para as diversas moedas são os seguintes:
penny nickel dime
quarter half-dollar -
1 cent;
5 cents;
10 cents;
25 cents;
50 cents.
100 cents = um dólar
OBS.: As notas mais comuns são: US$1, US$2, US$5, US$10, US$20,
US$50 e US$100 dólares. Quando você utiliza notas acima de
US$50,00 os vendedores costumam utilizar uma caneta especial para
atestar a sua autenticidade.
Oitava Saída : Observações legais
mínimos.
e cuidados
Internet :
mantenha-se informado com procedimentos legais
sobre visto, imigração, consulte grupos sobre necessidades especiais,
como tradução de receitas médicas ou documentos de autorização
para menores.
No Gmail há um serviço de alerta por e-mail, você coloca as
palavras-chave e recebe notícias sobre o assunto da palavra, por ex.:
visto EUA, turismo Orlando, etc.
Locais :
Embarque:
No aeroporto chegue pelo menos 03 (duas) horas antes do horário
embarque. Assim você não corre o risco de perder o seu avião e terá
tempo, caso você esteja viajando com alguma empresa de turismo,
para encontrar com o seu guia ou grupo de viagem.
Tome muito cuidado no aeroporto com suas malas, bolsas e
principalmente com os seus documentos.
Procure o guichê da companhia aérea escolhida para levá-lo para
Orlando, já de posse da sua passagem e demais documentos para
que possa despachar a sua bagagem. Certifique-se de que lhe foram
entregues os documentos pertinentes a sua bagagem. Coloque
etiquetas e consulte serviço de seguros de bagagem com sua agência
ou na empresa aérea.
Não esqueça também de declarar os seus bens importados da sua
bagagem, junto à Alfândega, utilizando a Declaração de Saída
Temporária - DST, para assegurar o retorno desses bens ao Brasil
sem pagamento de impostos.
Nona saída : Comunicação
Internet :
Todos os sites e serviços on-line que você consultar
mande e-mails para as pessoas, espere respostas e faça contato.
Adicione os conhecidos ao seu MSN ou Google Talk, para saber
detalhes do lugar ou confirmar informações especiais. Tanto aqui
como nos EUA.
Freqüente grupos de discussão sobre viagens, Orlando,
Disney, busque palavras relacionadas no Google Groups, que elas
aparecem.
Locais :
Ligando para o Brasil:
BrasilDireto, é só discar o número de acesso ao serviço,
18003441055, ou 18002831055, ou 18008092292 ou 18007455521),
escolher o idioma, a Embratel oferece uma série de opções:
•
Ligações Automáticas, bastando teclar o código da cidade
brasileira e o
número do telefone;
•
Ligações com cartão telefônico, no qual você poderá utilizar o
Cartão Pré-Pago Embratel ou Cartão Pós-Pago AcesseFácil
da Embratel,Ligação com auxílio de operador.
Idioma:
No aeroporto:
Elevators ( elevêitor )
Stairs ( estérs )
Escalator ( escaleitor )
Customs ( igual à escrita )
Immigration ( igual )
Baggage Claim ( igual )
Exit ( igual )
Entrance ( igual )
Gate ( guêit )
Departures ( igual )
Arrivals ( igual )
Flight ( fláit )
Airline ( érláine )
Rest rooms ( igual )
Lost and found ( igual )
Cafeteria / coffee shop ( igual )
= elevadores
= escadas
= escada rolante
= alfândega
= imigração
= área de bagagem
= saída
= entrada
= portão de embarque
= partidas
= chegadas
= vôo
= Companhia de aviação
= banheiros
= achados e perdidos
= lanchonete
No hotel:
Front desk ( igual )
Check in ( igual )
Safe Box ( sêif box )
Bell captain béu quéptêin )
Operator ( operêitor )
Housekeeper ( igual )
Towel ( tóuél )
Blanket ( igual )
Pillow ( igual )
Toilet paper ( tóilét pêiper )
Soap ( sôup )
Swimming pool ( igual )
Lobby ( igual )
Floor ( igual )
Check out ( igual )
Check / bill ( igual )
Receipt ( recipi )
= recepção
= dar entrada no hotel
= cofre
= carregador de malas
= telefonista
= arrumadeira de quarto
= toalha
= cobertor
= travesseiro
= papel higiênico
= sabonete
= piscina
= saguão
= andar
= dar saída do hotel
= conta
= recibo
Dica: Um bom dicionário também é recomendável para sua
viagem. Atualmente existem alguns dicionários que contém frases
de uso corrente que com certeza irão facilitar a sua comunicação.
E a Décima saída : Disneylíada !
Internet : http://www.disneyliada.blogspot.com
o livro on-line
Locais :
Da próxima página em diante, você vive as
experiências de um viajante em Orlando e suas pesquisas
sobre cultura clássica e contemporânea.
A Disneylíada
Crônica da Viagem
Índice
Canto I
Canto II
Canto III
Canto IV
Canto V
Canto VI
Canto VII
Canto VIII
Canto IX
Canto X
Canto XI
Canto XII
Canto XIII
Canto XIV
Canto XV
Canto XVI
Canto XVII
Canto XVIII
Canto XIX
Canto XX
Canto XXI
Canto XXII
Canto XXIII
Canto XXIV
Fotos da Viagem
Agradecimentos
Bibliografia e Fontes
Canto I - O sonho de Elias
Garota eu vou pra Califórnia, viver a vida sobre as ondas “
Lulu Santos
Como
nasceu
a
Disneyworld?
Uma
oportunidade imobiliária surgida nos anos 60 do século XX,
quando boa parte do interior da Flórida era um pântano
infestado de alligators e no litoral, Daytona Beach, Fort
Lauderdale, Tampa e Miami se confirmavam como destinos
turísticos tropicais. Eram centenas de Convenções de
religiosos e empresários ou categorias profissionais, desde
os anos 20. Foi a primeira Era de Ouro Americana. A
Flórida era também o melhor caminho para as Ilhas da
América Central, para quem tinha um barco, uma classe
acima, portanto. A primeira parada deles sempre acontecia
na pequena pérola do Golfo do México, Key West .
Aí veio um artista e empreendedor bilionário, às
escondidas, comprou uma cidade inteira para construir
atrações de grande público e tornou a Flórida destino do
mundo. Chamava-se Elias. Walter Elias Disney. Nascido em
Chicago, em 1901, crescido e espancado pelo pai numa
fazenda em Marceline, Missouri. Morto em 1966, era mais
famoso do Jesus Cristo, que o John Lennon não nos ouça.
cccccccc
O grande estado da Flórida sempre teve uma vocação
natural muito forte para ser natureza mesmo. Não é uma
ilha, mas é banhada de mar por – quase - todos os lados.
Inclusive por dentro. Tem grandes, pequenas e minúsculas
lagoas doces, ligadas a pântanos e tem o imenso parque
florestal de Everglades, com o chão das ruas forrados de
irmãos do Wally, aquele jacaré do desenho animado de
Hanna & Barbera. Quando se vê do avião, parece
playmobil, milhas e milhas de chão organizado.
O clima tropical cheio de água favorece a vida animal
e a costa ainda é cheia de fauna marinha, fonte de vida
para os índios Seminoles, primeiros habitantes a serem
expulsos do local. A história da Flórida é de menina
abandonada que se fez por si mesma, mas com a ajuda de
um admirador estrangeiro no final.
Foi território espanhol do século XV até o século
XVII, quando passou para os Ingleses numa troca – vejam
só – por Havana, em Cuba. Correntes migratórias do Caribe
marcaram o território latino desde cedo. Há uma fábrica de
charutos Cubanos na Flórida com uns cem anos. Fidel é
coisa recente por lá.
Depois os ingleses perderam a guerra da
independência dos EUA, em 1776, usando a Flórida como
base operacional. Os americanos independentes trocaramna mais uma vez, pelo apoio dos espanhóis para a futura
nação. Em 1821 a Flórida deixou de ser imigrante ilegal e
passou a ser a estrela número 27 da Stars and Stripes, nome
artístico da Bandeira Americana. Mas a Flórida tem, por
ironia histórica, a mais antiga cidade americana, Saint
Augustine, fundada em 1569.
cccccccccccccccccccccccc
No século XX, a Flórida Índico-CaribenhaEspanhola de plantações, gado, mineração, turismo nas
praias, e dinossauros nos subsolos foi se extinguindo e
dando lugar a um estado mais norte-americano. Foi a
expansão multinacional dos EUA revertida para dentro.
Hoje concentra grandes atrações de turismo – com e sem
praias, aliás – e tecnologia das mais avançadas. Desde o
retrô futurista no Magic Kingdom, primeira obra do Disney,
até Cabo Canaveral, a estação de lançamentos de naves
espaciais da NASA, obra do Verner Von Braun, aquele
alemão que serviu ao Hitler enquanto os americanos não
chegavam até ele.
Disney e Von Braun trabalharam juntos. O cientista
alemão e o cineasta americano já possuíam em comum o
gosto pela leitura do mestre da ficção Julio Verne e ambos
criaram lá suas coisas com base naquelas descrições.
Disney criou filmes com foguetes, Von Braun, foguetes.
Mas no início da década de 50, o alemão entrou na folha
de pagamento do americano, o que era muito comum com
europeus naquela época de pós-guerra. Von Braun foi
consultor técnico na criação de um seriado Disney sobre
extra-terrestres, algo que nunca fez sucesso, por isso, nunca
achei o nome. Alguém se habilita?
cccccccccccccccccccccc
Então uma oportunidade imobiliária deve ter batido
na mesa de Walt, tendo ao lado seu irmão Roy e o amigo
Ub Iwerks. Vende-se Terrenos amplos na Flórida, clima
tropical, fartura de água, tudo tão barato que você nem
acredita. Ou seja, terrenos bem longe das cidades, na
baixada do interior mais quente, cheio de lagoas que
transbordam quando chove, e como chove na Flórida. A
mãe de Disney se chamava Flora. Protegia-o das surras.
Podia ser um sinal. Um empreendimento como aquele
imaginado por Disney seria bem recebido em qualquer
grande cidade americana.
Os três empresários olhavam os
anúncios da Flórida e viam o futuro do próximo parque,
depois do estrondoso sucesso do primeiro, que hoje soma
quase 500 milhões de visitas, noutra cidade transformada,
Anaheim, na Califórnia, do outro lado dos EUA. No melhor
estilo americano, Disney havia reunido seus funcionários
mais criativos no que chamou de Disney Imageneering,
uma fábrica de idéias. Daí nasceram os parques.
A DisneyLand, a Californiana, inaugurada em 1955,
era um pouco de Coney Island misturada com Hollywood,
a imensa janela para a fantasia. Coney Island é a terra das
primeiras roller coasters, no litoral do estado de Nova York.
Este parque foi a marca da expansão do pós-guerra no
terreiro dos Disney. Mas não era a primeira vez que
alguém iria turisticamente visitar um filme, participar da
experiência, com cenários e reprodução de emoções e
sentimentos.
A Universal Studios, em Hollywood, já dava seus
passeios com turistas desde 1912, eu acho. A MGM, a
United Artists, idem. Mas com Disney era a primeira vez
que alguém misturava isso com parques de diversão, roller
coasters e cobraria o valor de um almoço pela entrada.
Velocidade, giro, música, dança, luzes, água espirrando, e o
Mickey ali na sua frente. Qual criança no mundo, depois
de assistir Fantasia, ou qual adulto, desde Steamboat
Willie, não gostaria de ir à casa do rato ?
A Disney na Flórida começou no início dos
anos 60, com o nome de projeto X. Foram comprados 27
mil hectares, equivalente a tantos mil campos de futebol,
através de várias empresas, para não levantar a bola.
Quando o jornal Orlando Sentinel avisou que alguém ia
comprar o condado de Osceola quase inteiro, especulou-se
a vinda da Ford, da MacDonnel Douglas, da Hughes,
grandes fábricas de artefatos antigos como aviões e carros.
Houve alguma elevação de preços. Disney denunciou-se a
si mesmo como o grande comprador e os imóveis vizinhos
dispararam de preço. A indústria do futuro, Hollywood,
estava a caminho da Flórida, entertainment business. Até
os alligators comemoraram.
Walt Disney chegou a ver em vida as maquetes,
as primeiras obras, os projetos e os orçamentos, de 400
milhões de dólares, para gastar no que seria a Disneyworld.
Depois de sua morte, em 66, o projeto foi rebatizado de
Walt Disney World, mais conhecido por lá pelo nome de
Magic Kindgom, o primeiro dos seis parques Disney na
Flórida, inaugurado em 71. O irmão dele, Roy Disney,
inaugurou o parque e morreu um ano depois, dando fim à
Era Disney e início à era fantasma, sob a presidência do
sobrinho de Walt, Roy Edwards, que por pouco não
enterrou tudo com desmandos administrativos. A era
Disney Corporation só começou a levantar o império de
hoje, em 1984, sob a tutela dos administradores
profissionais Michael Eisner e Frank Wells .
As terras que abrigam o complexo Disney na
Flórida, enfim, ganharam status de cidade, Lake Buena
Vista. Disney pensou no particular como se faz infraestrutura de governo de primeiro mundo. Era um artista e
empreendedor nato, tipo Midas, mas sem a maldição do
ouro. A maldição de Disney foi outra.
ccccccccccccccccccccccccccccc
Midas foi um rei da mitologia grega, numa lenda que
ensina sobre a ambição desmedida, o perdão e a honra. Ele
ofereceu hospedagem, prazer e alegria a Sileno, o pai do
deus do prazer, Dionísio. Sileno havia se perdido depois de
uma bebedeira daquelas, promovida por Baco, Deus do
Vinho, naquelas noites intermináveis no Baixo Olimpo.
Pela cortesia, concedeu Dionísio a Midas a realização
de um desejo, a ser pago por Baco, responsável pelo
pileque de Sileno. Pediu Midas: quero que tudo quanto eu
toque se transforme em ouro. Contrariado pela escolha
imbecil, Baco aceitou e Midas saiu tocando tudo o que via
até que sentiu fome e sede e tudo que sua língua tocava,
virava ouro.
Ele não morreu de fome. Midas pediu perdão à
Baco, pelo olho grande, que muito mais contrariado,
concedeu de novo, e mandou que ele se lavasse no rio
Pactolo, na Grécia, que até hoje tem essas areias cor de
ouro. A história de Midas é posterior à Ilíada.
Midas terminou a vida distribuindo riquezas, assim
como Disney, que se foi aos 65 anos, de câncer, a maldição
que lhe coube, sem direito a perdão dos Deuses. Um
Herói Americano. Quando tentou se alistar para a Guerra,
já em 1918, foi rejeitado pela baixa idade. Inscreveu-se
então na Cruz Vermelha e foi assim mesmo, para dirigir
ambulâncias, com 16 anos.
Gostava do Brasil.
Conheceu Carmem Miranda,
ouvia o Bando da Lua e veio ao Rio uma vez, mostrar o Zé
Carioca. Dizem que colaborou com o senador MacCarthy
para expulsar comunistas de Hollywood, nos anos 40. Pode
ter sido. Se foi, pesa a balança a seu favor, por razões
óbvias, preservou a Disney da política destruidora de
imagens do Macarthismo. Filhos e netos dos comunistas
devem ter ido à Disney também. E agradecem a Deus por
isso.
Canto II - O sonho da minha filha
“Levava uma vida sossegada “ Rita Lee
A geração da minha mãe teve uma infância
sem muitas opções, aqui no Brasil da desigualdade
faraônica. Para aquelas crianças, um cachorro chamado Joli,
uma bicicleta Phillips, ir ao circo e viajar até Copacabana
estavam de bom tamanho. Não ter que trabalhar aos 14
anos já era um luxo. Mas gerações não são feitas por idade,
e sim por idéias e condições em comum, portanto a
geração de minha mãe na infância continua por aí, aos
milhões, off-Disney.
A minha geração, comparsas na exploração da
doce classe média apertada dos anos 70\80, já sonhava
muito com a Disney, os mais velhos desde a inauguração
em 71. Miami era mais perto e menos caro que a
Califórnia, para onde sempre foram os da classe acima,
desde 1955. Para mim o sonho acabou quando conheci
outros dois típicos produtos americanos, o jazz e a revista
Playboy. Minha Disneylândia imaginária se converteu em
algum lugar entre a Mansão de Hefner e o Harlem, em
Nova York. Disney virou coisa de criança. Eu tinha doze
anos.
Por favor, não confunda as coisas, não me
politize. Eu tenho minhas brasilidades, nasci fluminense,
conheço a Amazônia, morei no Recife, pulei Carnaval em
Olinda, componho em português. Mas a história aqui é
bem acima do Equador, por isso é justo recordar mais o
que vem lá dos nossos colonizadores culturais da
atualidade. Os Gringos.
Ccccccccccccccccc
A geração da minha filha cresceu com o
Mickey desde o primeiro banho. No auge da produção
corporativa multinacional, a holding que congrega todas as
empresas da Disney vale hoje 32 bilhões de dólares. Dá
pra comprar uns dois milhões de carros populares mais ou
menos, se algum idiota se propusesse a fazer a compra.
Do berço até os doze anos, então, viveu minha
filha cercada de referências: livros, histórias, filmes,
produtos, jogos, conjunto de cama, mesa e banho,
sanduíches, biscoitos, desenhos na TV, sites na Internet,
Disney na Disney, Disney na Pixar, Disney na Broadway.
Suspeito que isso só aumentou o seu desejo de ver a
Disney, que seria para ela uma grande soma visual. Daí,
um belo dia, papai quero ir à Disney, já estou ficando
grande, acho que sendo uma criança grande eu aproveito
como criança e como gente grande, não é mesmo ? Bela
resolução de paradoxo, minha filha, mas papai anda mais
duro que a pedra a qual Sísifo foi obrigado a rolar
eternamente.
Eis que entra a fada madrinha da vida da minha filha,
e de várias outras filhas de pais relapsos com economia,
ainda que ricamente ilustrados. A Avó dela tinha lá uns
dólares guardados. Vamos à Disney, finalmente. Arrancado
da minha obra interminável de produzir cultura pela
Internet, imerso que estava em leituras antigas e
composições novas, fui sacudido pelo vento da mais antiga
infância. Vamos conhecer o rato em pessoa.
Cccccccccccccccccccccccccccccccc
Desde já, um muito obrigado público a minha
mãe, que na mitologia grega se encaixa pela metade no
mito de Cassandra, filha de Príamo, rei de Tróia.
Cassandra era religiosa e desde cedo cultuava o Deus
Apolo, que se apaixonou por ela, dando-lhe o dom da
profecia. Como ela não o amou de volta, ele arremata o
dom com a maldição de que ninguém acreditaria nas falas
de Cassandra.
A metade que falta na semelhança entre Cassandra
e as profecias de minha mãe é que na segunda todos
acreditam. Para mim,Vovó Cassandra logo profetizou, ainda
em março, com a nossa viagem programada para julho: vá
logo fazer os passaportes para fazer o agendamento,
porque senão perde a oportunidade de ir em julho.
Fomos à PF em 07 de março, tiramos o passaporte
dia 2 de abril e agendamos no mesmo dia a entrevista para
o visto. Só tinha vaga para o dia 26 de junho, no consulado
americano de São Paulo. No Consulado do Rio, onde
vivemos, só havia data para 16 de julho, portanto,
Cassandra estava certa mais uma vez. Não daria tempo de
viajar antes das férias terminarem.
Assim começou realização da idéia Disney. Idéia que
é centelha divina concedida pelo titã Prometeu aos
homens, um mito bem mais antigo que a Ilíada ou que os
humanos. Faz parte da explicação dos gregos antigos para
a criação do mundo. Foi Prometeu quem roubou o fogo
do conhecimento dos deuses e entregou aos homens, que
eram criaturas escravas e sem sexo. Pandora foi a primeira
mulher, mas essa é outra história.
Canto III - Começa a Aventura
Mim quer tocar, mim gosta ganhar dinheiro,
Roger , Ultrage a Rigor.
Seria tão bom que no meu país, lá no litoral do
Espírito Santo ou no Planalto Central houvesse um parque
gigante. Seria a Terra do Saci Pererê, com a roller-coaster
da Cobra Anaconda. Ou o Parque Aquático do Boto Cor de
Rosa, com milhões de turistas brasileiros e alguns gringos.
Quem sabe uma ideologia à moda do Darcy Ribeiro, com o
espírito de Capitão Bandeira e Maurício de Souza, tornada
viável com personagens cotidianos, o Zé da Viola, ou o tio
da Mônica. Ou ainda uma indústria de filmes e atrações
para juntar a identidade brasileira à cultura geral da
humanidade. A celebração do sucesso coletivo nacional.
Sonhar não custa nada.
Pelo menos podia ter o Reino Encantado de Monteiro
Lobato. Minha filha já ficava satisfeita, eu acho.
Os primeiros recursos para se chegar à Disney são a
paciência e um financiamento de uma importância em
torno de 3 mil dólares por pessoa para quinze dias, sendo
doze ou treze dias em terra e os outros dias para os
aeroportos, as demoras de chegada e de saída. Só a
alimentação durante doze dias dá uns 600 dólares por
pessoa, no mínimo. A cota de compras com isenção de
imposto na volta é de 500 dólares cada um, mas eu somei
um trocado para compras abaixo do limite, naqueles três
mil dólares lá em cima.
A paciência você começa a gastar primeiro, mas
não vi ninguém desistindo por falta dela, talvez eu fosse o
candidato mais forte.
cccccccccccccccccccccccccccccccc
A primeira fila é da Polícia Federal, para tirar o
passaporte. Os postos localizados nas grandes capitais
recebem mais gente, nas cidades menores há convênios
com representações públicas, tipo Correios ou Delegacias,
mas isso acrescenta tempo ao processo do passaporte, livro
de viagens mais lido e publicado em todo o mundo.
A documentação é de praxe, você tem que provar
que você é você, seus números, suas origens, todos os
documentos que você guardou a vida toda e as cópias não
autenticadas (veja a Fast Lane). Aí paga uma taxa de R$
89,71 no Banco do Brasil ou CEF e eles te dão o livro verde
um mês depois. É bem bonito, achei caro, vale pelo poder,
depois que tiver outra peça burocrática, o visto americano
que autoriza você a chegar a qualquer aeroporto
americano. Entrar nos EUA é o passo seguinte, mas
depende da imigração americana gostar de você.
cccccccccccccccccccccccccccccc
Os americanos complicam mais, porém facilitam ao
extremo, uma vez que popularizaram a Internet e depois
colocaram um excelente site, Visto EUA, onde se pode
fazer o agendamento para a entrevista necessária para
obtenção do visto. Custa R$ 38, o acesso ao site. Você
ganha o direito de usar também um auxílio por telefone,
mas guarde o número do recibo deste pagamento, eles
pedem como senha para acessar o serviço telefônico. Eu
joguei fora, fiquei só pela Internet, e toda vez que batia
uma dúvida, não podia ligar.
Não vou jogar mais nada fora. Foi o primeiro mau
augúrio, como se chamava na Grécia Antiga um sinal do
destino para coisas por vir. No começo da Ilíada, o Rei de
Micenas, Agamenon, toma de Aquiles uma escrava,
chamada Briseida, porque o deus Apolo tinha tomado de
Agamenon a irmã dela, Criseida. Aquiles era seu maior
guerreiro, e Agamenon fica sem ele para começar a invasão
de Tróia no décimo ano da guerra. Para todos os outros
reis foi um erro de Agamenon, um mau augúrio.
Os Brasileiros complicam menos, mas erram mais.
Comparecemos com duas horas de antecedência a PF no
Rio, um dia sem chuva, que bom, porque a fila na área
externa não tem bancos nem proteção, fica numa avenida
que dá na famosa Praça Mauá. Depois entramos e
esperamos mais uma hora e uns 40 minutos e conferimos
um a um todos os três grupos de documentos, eu, minha
mulher, minha filha. É bom levar já separado por pessoa,
adianta a turma de lá.
Voltamos um mês depois, sem espera, fomos ao
guichê e apenas dois passaportes estavam prontos. O de
minha esposa não era encontrado. Mais meia hora. Sumiu o
protocolo. Vai ser feito outro passporte, que ficou pronto
uma hora depois que ela tirou novas fotos 5 x 7 e novas
cópias de documentos que instintivamente havíamos
levado. Tememos encontrar outra pessoa com o nome
dela fazendo coisa errada em algum lugar. Pelo menos o
número do passaporte vai ser outro.
Ficou essa dúvida e mais outra: se leva uma hora
para fazer, quando eles erram, porque leva um mês
quando eles acertam ? Vai entender!
Canto IV - A Ilíada On-Line
A verdade não rima “... Fátima Guedes
Depois de tirar o passaporte, pegue os
números e vá correndo agendar pela Internet, no site da
embaixada on–line, a entrevista para o visto, numa das
unidades do consulado americano. Com sorte, primeiro
bom augúrio, os consulados resolveram atender viajantes
de outras praças, neste ano de 2007. Por isso conseguimos
agendar em São Paulo. A Embaixada dos EUA fica em
Brasília, há consulados em Recife, Rio e São Paulo e
escritórios em Belo Horizonte, Fortaleza, Porto Alegre e
Salvador.
As informações preenchidas no site não
permitem erros, vão gerar um formulário eletrônico, DS156, que junto com seu irmão mais velho, o DS-157, serão
úteis na entrevista. Ou seja, entre várias vezes no site da
embaixada, leia cada assunto, para preencher certo. O DS157 pode ser impresso à partir do site também, mas tem
que ser preenchido em letra de fôrma. Você apenas
imprime o formulário em branco.
Comece a arrecadar documentos que
provem sua ligação com o Brasil, dívidas não servem. O
assunto imigrante nos EUA está mais esticado que baba no
precipício, por isso, eles pedem provas de que você tem
muitas razões para voltar. O paraíso está ficando cheio e
os moradores mais antigos reclamam constantemente da
concorrência desleal por empregos de baixa e média renda.
Leis de imigração e combate a ilegais são pauta diária dos
periódicos americanos, sejam jornais, revistas, boletins de
ocorrência, relatórios do congresso, redações de escola,
pichações de banheiro e no metrô de Nova York.
E ainda tem o problema de gente que explode no
meio da rua ou derruba aviões em nome da Fé e da
Liberdade. Depois do atentado das Torres Gêmeas em 11
de setembro de 2001 as medidas de segurança cresceram
em aeroportos, alfândegas, locais públicos que são
símbolos dos EUA e reúnam milhares de vítimas potenciais
em um pequeno espaço físico com estruturas que agravem
perdas. Ou seja, Disney. O povo americano mudou com
os visitantes, eu acho.
Para piorar, esse ano relatórios de segurança apontam
o crescimento da Al Quaeda, que realiza pequenos golpes
na Europa e anuncia um maior que o 11 de Setembro, nos
EUA. Será que esse pessoal não tem mais nada o que
fazer? Não tem filhos? Não tiveram infância? Ou a infância
foi na escola de homem-bomba? Vai saber!
Ccccccccccccccccccccccccc
Fato marcante também deste começo de 2007
foi a flutuação do preço do dólar, por superávit da balança
americana, eu acho. Por motivos que ninguém pode
entender, só os economistas e os bruxos, o dólar cai, cai,
cai. Segundo Leis da Economia, as filas para vistos para
Disney sobem, sobem, sobem. Enquanto escrevo essa
parte do livro, em junho, está o dólar por volta de R$ 1,90,
se bem que na hora de comprar no banco estão todos com
outros preços, as razões eu nem pergunto. Nas casas de
câmbio chegava a R$ 2,05 para compra e R$ 1,85 para
venda.
Eu soube antes de ir que na fila do visto a
média de atendimento em São Paulo subiu de 800 pessoas
para mil cabeças num dia. Pague antes a taxa de cem
dólares. O canhoto do recibo, com nome e número de
passaporte escritos no verso, é o documento mais
importante levando-se em conta a religião deles, o
capitalismo. Vamos então imaginar: US$ 100, por cabeça,
mil cabeças por dia, 22 mil no maior mês, umas 70 mil por
ano, levando em conta baixa temporada, dá quanto?
Embaixada americana é um negócio tão bom que eles
podiam vender representações, os franchising.
Se você pode gastar mais pela viagem, consegue ir
em dois meses, até menos: há despachantes para todos os
serviços inclusive para os consulados agilizarem grupos do
pessoal da classe de cima. Geralmente os mais ricos ou
mais gastadores andam com vistos atualizados, daí, vão até
amanhã se quiserem. Não que eu esteja com inveja, sou
apenas humano e observo o movimento de coisas, pessoas,
coisas nas pessoas, pessoas com suas coisas e pessoas com
suas pessoas. As coisas não possuem coisas.
cccccccccccccccccccccc
Foi assim o começo da Disneylíada, onde
enfrentamos
Burocraxion,
Semi-deus
dos
papiros
documentais. Vamos ao começo da Ilíada. O primeiro dos
24 cantos fala sobre uma divisão de espólios da invasão à
praia de Tróia pelos Aqueus. Como já contei, Agamenon,
Rei de Micenas, comandante dos Aqueus, fica com uma
escrava, Criseida, que era vestal de Apolo, deus do Sol e
deus das pragas. Ele castiga Agamenon com doenças. Não
nele, nas tropas. Por despeito, Agamenon afronta o semideus mais próximo, Aquiles, e pega a mulher desse
próximo, Briseida.
Interessante sugestão para filhas
gêmeas, Briseida e Criseida.
Os dois grandes generais e guerreiros se
desentendem. Aquiles pede a sua mãe, Tétis, que interceda
junto a Zeus para apoiar os Troianos. Helena, motivo da
guerra, a mais bela do mundo, já está em Tróia, nos braços
do veterano príncipe Paris. Mas essa é outra história dentro
da História.
Eu reconheço prezado leitor ou leitora que será
difícil relacionar um clássico antigo da cultura ocidental a
uma viagem internacional moderna. Colabore comigo,
portanto. Veja como uma promoção, afinal, são duas
histórias numa lida só. Prático e moderno. Coisa de
americano mesmo.
Canto V - Tróia : Cidade Murada
Nós vamo invadir sua praia “...
Roger, Ultrage a Rigor
Nos tempos antigos,
ia-se
à
Olimpíada, ao Coliseu Romano, ou aos Anfiteatros Gregos
como se vai hoje à Disney, ou Europa. O Coliseu, por
sinal, tinha lá suas intenções parecidas com os parques
temáticos. A estrutura na base da construção romana
permitia que a arena principal se enchesse de água, para
realização de batalhas navais, é um show ou não é? E o
que não falta em Orlando são anfiteatros, todos com palco
no centro, arquibancadas em meia-lua feitas com escadas,
igual em Atenas.
De Atenas saíam estradas para todo o mundo
conhecido, ou seja, Mar Mediterrâneo, Norte da África e
Oriente Médio. Daí pra cima o mundo virava outra coisa,
tribos na Europa. Dos Estados Unidos partem as maiores e
mais congestionadas rotas aéreas e marítimas. Visto do
espaço, é o lugar onde as cidades mais brilham, com
exceção talvez de Londres, Sidney ou Paris.
Tão grande que seus muros só podem
existir, portanto, no campo pessoal, um a um vigiado,
pesado, medido, controlado.
Mas tudo na maior
competência possível, educação de primeiro mundo. E no
primeiro contato com o território americano isso fica logo
evidente: a segurança prioritária, a organização para que a
fila ande, a simpatia com quem concorda.
No prédio USA do Rio, a transparência dos
vidros verdes acaba nos olhos verdes do militar que
observa as filas. Ninguém fala nada. Lá dentro não sei
dizer, eu fui a São Paulo.
cccccccccccccccccccccccc
Conferidas vinte vezes a documentação, toda original,
fotos, formulários, roupa ideal, material para esperar na fila,
fomos pela madrugada na Via Dutra de ônibus leito – um
sono só - um dia antes da entrevista, marcada para as duas
da tarde. Sabe como é, São Paulo = engarrafamento +
longas distâncias. Se fosse de avião, seria apagão+neblina=
aeroporto fechado. Como nada aconteceu, chegamos cedo
na fila do consulado, 7:30h, para esperar até às 14:30h na
rua, para entrar às 15:30, para sair às 16:30h. Todos muito
pontuais e educados, até na longa espera. Fazia um belo
dia de sol frio em São Paulo.
Em volta do prédio, que parece uma fábrica,
proliferam o comércio e serviços associados à fila e ao
processo de visto. Tem vendedores de vaga na fila,
estacionamentos com despachante incluído, uns bares com
sanduíches típicos para pouca fome e bolso cheio. Fica
numa parte feia do Morumbi, rua Henry Dunant, quem
diria, um pacifista, ainda por cima, suíço. Foi o presidente
da Convenção de Genebra, que formulou as leis de
proteção ao indivíduo durante uma guerra.
De manhã cedo vi muitos casacos e botas de couro,
bolsas Vuitton, odores de Chanel. Senhoras colocavam
lenços de seda sobre o jornal, para sentar no chão, em
plena calçada. Nas mesas sempre ocupadas dos bares,
adolescentes siderados chegavam com a aceitação do visto,
mas vi uma mulher muito bonita sair do prédio e chorava.
Um sujeito assustado chegou atrasado, dizendo-se
envolvido num acidente, perdeu a hora, tinha o boletim de
ocorrência. Teve que esperar o fim da fila, às 16:30h, mas
conseguiu.
O horário marcado no agendamento é só para
concentrar pessoas. Você não será atendido na hora que
marcou, portanto. Entramos no grupo, passamos por baias
onde atendentes nacionais e estagiários fazem o préatendimento e conferem se estamos com os documentos.
Depois tem cadeiras para esperar, o espaço lembra o que
seria o atendimento do INSS, se funcionasse. Fomos
chamados primeiro para colocar o dedo indicador numa
leitora ótica de digitais, coisa do FBI. Chegou a hora,
vamos até a funcionária americana num guichê de vidro,
que nem prisão, onde tem um telefone ao lado.
Esperamos ao todo nove horas, para
mostrar aquela penca de documentos, e então veio a
revelação. Com clientes da Disney eles são bastante
tolerantes. Depois do registro eletrônico e mostrar que
pelo menos tínhamos os documentos pedidos, ela não
conferiu rigorosamente nada além dos formulários DS e o
meu estava rasurado. A atendente americana perguntou
coisas como: vocês vão pela primeira vez ? Quem banca a
viagem ? Nem o Imposto de Renda a funcionária olhou.
Pudera, são milhares de pessoas com a mesma história,
mesmo destino, mesma cara de medo e cansaço, algumas
prontas a explodir por qualquer detalhe.
A atendente grampeou os formulários, ficou com
os passaportes, fechou nosso arquivo no computador, e
disse em português macarrônico, sio visto ésta apravado, el
próximo. Duraram exatos quatro minutos a entrevista
esperada por três meses, desde o agendamento.
Felizes e cansados, - sinto que vou
repetir muito isso - eu e minha mulher passamos à fase
seguinte, ainda dentro do consulado USA de Sampa.
Receber os passaportes. Só que eles vão pelos Correios, via
Sedex, obrigatoriamente. Deix’eu ver, mil, por dia, 70 mil
pessoas por ano, a R$ 22, cada Sedex, dá quanto a venda
casada?
A espera, portanto, só acaba três dias depois, de
volta ao Rio, imaginando se o porteiro vai vacilar ou o
carteiro vai ser roubado, sei lá, essas coisas que Cassandra
sempre diz.
ccccccccccccccccccccccccccccccccc
Com o livro de volta às mãos, o visto com
foto impresso em papel que imita dinheiro, você até pensa
que conseguiu alguma coisa realmente de valor. Mas ainda
falta um formulário, o I-94, distribuído dentro do avião, que
depois de preenchido é revisto e carimbado pelo oficial da
Alfândega americana e deve ser anexado ao passaporte.
Sem esse papel, você simplesmente não consegue “fugir”
nem do aeroporto dos EUA, vai ter que prestar contas ao
serviço de imigração, pode perder o avião na volta. Tudo
muito sério.
Esse oficial da Alfândega deve ser como porteiro
de boate famosa. Diz quem entra ou não, se a roupa
combina, essas coisas. Mas não tente suborná-lo ou ser
piadista. Lá nos EUA qualquer coisa fora do comum é
suspeita de terrorismo. Sério, muito sério.
Todos aconselham tirar cópias xerox coloridas,
ou escaneadas, plastificadas, das folhas principais do
passaporte, a que contém sua foto, suas informações e o
visto. É para andar por lá enquanto o passaporte
verdadeiro dorme tranqüilo no cofre do Hotel, com o I-94
vigilante ao seu lado.
Canto VI - Os Argonautas
O barco, meu coração não contenta.. “
Caetano
Terezinha de Jesus, veio à queda, foi ao chão,
acudiu três cavaleiros, todos de chapéu na mão. Encontrar
a agência de turismo ideal para sua conta bancária –
Terezinha - é mais ou menos isso, só que muitos cavaleiros
são paquerados por Terezinha antes de casar.
O
casamento é um contrato pouco lido e muito assinado,
naquela alegria toda que a eternidade promete. Quase
igual a Turismo. Portanto, conhecer e confiar são as
alianças da boa escolha.
A DisneyWorld não teria mundo no seu nome,
se fosse um destino nacional americano. Por isso, para nós,
o grupo mais importante a ser conhecido nesse processo
são os Heróis do Argos, nossos profissionais do
deslocamento. Argos era o navio de Jasão, outro herói
grego, muito citado na mitologia, porém não na Ilíada. No
seu navio só entravam heróis em busca de aventuras, e se
Jasão morreu de velho, então eram confiáveis os
argonautas deles.
Os nossos argonautas, da Disneylíada, são as
empresas de turismo e as aéreas. Elas fornecem todo mês o
número possível de visitantes, através do que é chamado
bloqueio de passagem. As operadoras de Turismo – o
atacado do negócio – e as agências de turismo – o varejo –
distribuem esse número de vagas para seus clientes. Acho
que eles equilibram isso tudo num cálculo só, para acertar
os vistos liberados ao número de quartos de hotel e
ingressos nos parques. Um negócio que hoje deve ser obra
de algum software do departamento de turismo de lá. iOrlando. Como já disse, mesmo em alta temporada, não
fica ninguém de pé no jogo das cadeiras. Só os muito
distraídos.
Você, viajante, deve marcar a passagem depois do
visto aprovado, senão corre o risco de perder dinheiro se o
visto for negado. Naquele período de espera entre o
agendamento e a entrevista, ou até antes de tudo, vá
levantar custos e tipos de viagem. Faça a escolha, mas não
reserve nada, nem dê nomes completos, alguns
apressadinhos pegam seu nome e marcam a passagem,
para garantir o bloqueio da passagem para suas agências.
Rubem Fonseca dizia em um de seus personagens mais
sarcásticos que viajar é conhecer idiotas que falam outra
língua. Pois o português é a primeira língua na qual você
vai encontrar os tipos, bem antes da viagem.
ccccccccccccccccccccccccccccccccccc
O que as agências basicamente fazem é
combinar seus bloqueios aéreos, que são médios ou ruins,
com hotéis, quase todos bons, roteiros de compras, bons e
ruins, parques, todos magníficos, e passeios noturnos, bons
e fenomenais. Então tem aquela excursão onde você vai
na cabine do capitão do Argos, a classe executiva, direto
para Miami, hotéis tipo resort com tudo incluído (All In)
dentro do complexo Disney, uma hora de entrada
antecipada nos parques Disney ( Magic Hours ), dois dias
inteiros de compras em Miami, estou falando de qualidade,
quantidade e preço. A viagem toda vai custar um carro
nacional, de luxo, por pessoa. Ou não.
Tem também a classe turística do Argos,
onde você voa mais apertado, com algumas excursões de
até 70 pessoas de uniforme e dois guias, talvez faça
algumas conexões distantes (Dallas) antes do destino,
talvez fique num quarto com estranhos, talvez ache tudo
isso fácil de resolver e viaje até melhor que o cara nervoso
da classe executiva. Ou não. Ou talvez.
O que importa é escolher logo entre várias
combinações para qualquer faixa de preço. Se você é bom
em buscas e orçamentos, pode encontrar a classe executiva
por preço de econômica. Afinal podem existir
oportunidades nas empresas com desistências antecipadas,
prêmios à venda, sei lá, vai saber!
Outro ponto fundamental. Você vai passar
quinze dias nas mãos dos guias, Os Doutores do Destino,
que têm grandes responsabilidades e grandes pressões.
Desde cedo converse para saber como eles gostam de
trabalhar, o que fazem melhor. E sobre pessoas que
viajaram, procure seus registros de fotos na Internet, dá pra
ver o tipo de hotel, o tamanho do grupo, número de guias,
qualidade dos padrões de roupa e equipamento. Ou entre
em contato mesmo com antigos clientes, vários, você tem
tempo.
Ccccccccccccccccccccccccc
Negociar é hábito dos árabes. E-mail,
invenção dos americanos. Use o e-mail para negociar com
todos. Isso te permite registrar o que foi combinado.
Informações erradas num bilhete aéreo podem custar R$
200, se o erro for seu. Geram infortúnios, como o efeito
borboleta. Diz o Zen Budismo, filosofia popular na China,
que no momento em que uma borboleta bate asas no
Oriente, ela desencadeia uma seqüência de eventos que vai
provocar um furacão na Flórida. E você vai para a Flórida!
Ajude para ser ajudado. Mesmo se tiver razões, mas sem email, nunca discuta com um representante do Destino antes
da viagem. Ele é um mestre onde você é um gafanhoto.
Pagar as agências só mediante contrato. A
saúde financeira da empresa deve ser observada, se você
for supersticioso. Há seguros para tudo, sai mais caro, se
você for prevenido. Tem as festivas, grandes grupos,
muitos adolescentes, se você for um deles. E tem as mais
diurnas, menos gente, mais mistura entre idades, menos
festa, é nessa que eu vou. Tenho quarto próprio, eu,
minha mulher, minha filha. Mas desconfio - Cassandra me
contou - que há os pequenos grupos, de uma dúzia na Van
particular, esses são mais discretos, não usam uniforme,
tem horários maleáveis. São os mais lentos. Talvez os
melhores.
Seja como for, uma vez acertados o contrato e os
primeiros pagamentos, vá para o roteiro de compras,
porque é preciso saber o que comprar para não perder
tempo em fazer listas lá nos shoppings. Procure produtos e
preços em locais já famosos de Orlando. Tudo graças à
invenção da Internet, que por efeito borboleta começou na
garagem de Steve Jobs e Stephen Wozniak, depois na
micro-empresa de Bill Gates, garagem também foi o
endereço da primeira produtora de Disney. Que por efeito
borboleta nos trouxe até aqui.
Canto VII - Bagagens à vista
“ vou voltar, sei que ainda vou voltar, para o meu lugar “
Sabiá, Tom Jobim e Chico Buarque
Nossa guia, RS, lembra Tia Augusta. Na minha
infância, a agência da Tia Augusta e os brinquedos Estrela
eram tudo de bom que vinha do céu de Papai Noel. Parque
de diversão era o Tivoli, na Lagoa, o Shangai na Penha,
isso no Rio de Janeiro. O Playcenter, o maior, era em São
Paulo.
Hoje tem o Beto Carrero lá em Santa Catarina e o
Hopi Hari, no interior de São Paulo, onde você paga de
pedágio nas estradas mais que o valor de uma entrada do
parque. No Ceará tem um baita parque aquático há vinte
anos, mas essa indústria de entretenimento físico-animalgravitacional parece não pegar forte no Brasil, ainda.
A reta final, como eu ia lhe dizendo, é
logística de batalha, antes do momento que o general grita:
atacar! A lógica então é pensar aqui tudo o que você vai
fazer lá. Desde o aeroporto na ida até o aeroporto na volta.
Vamos preparados para esperar, jogos de mão, um baralho,
um bom livro de viagens – Eça de Queiroz - remédios para
dor de cabeça, enjôo, desinterias, alergias, travesseiro de
ferradura, o escambau.
Combine três vezes com o guia como será o
embarque, é vital. O primeiro momento, primeira
impressão não pode ficar, sendo ruim ou boa. Em geral os
Doutores do Destino ficam com as passagens, reservas de
hotel e os ingressos dos parques, tudo pago antecipado em
quantas vezes você escolher. Veja bem, não é se meter no
trabalho do guia, é assisti-lo trabalhar e conferir sua parte
com ele.
RS anda devagar mas nem sempre, às vezes
desaparece rápido. Traz com ela toda a nossa vida nos
próximos quinze dias, as reservas de hotel, os ingressos
dos parques, tudo é distribuído na hora. Perder RS é perder
a viagem. Mas ao contrário, ela não perde ninguém de vista
no aeroporto e com total naturalidade, daquele tipo
advindo de grande experiência. Já é avó, foi vinte e seis
vezes à Disney, quatro delas à passeio com a família.
ccccccccccccccccccccccccccccc
O fiel da balança na hora de escolher e
montar a bagagem é de novo o conceito de segurança dos
americanos. Há listas detalhadas do que pode ser levado na
bagagem de mão e de despacho. Se você está com sua
busca na Internet, não esqueça de olhar a data da página,
se está atualizada. Depois pense na rotina de viagem, para
deixar as coisas mais necessárias à mão, menos as
restrições da empresa aérea. E para os dias da viagem,
lembre-se do clima, no nosso caso, quente e chuvoso,
portanto, roupas adequadas e capa de chuva, toalhas,
mudas de roupa. A Flórida em julho é mais ou menos
como Belém do Pará em Dezembro.
Como uma das atrações é comprar produtos
chineses, coreanos, franceses, italianos, japoneses e até
americanos, viaje com o mínimo possível de bagagem ms
leve bolsas extras, malas não custam pouco, por lá. Reserve
uma excursão que faça as compras logo no primeiro dia.
Assim você se abastece de tênis e roupas, um ou outro
objeto eletrônico, liberando você de incluí-los nas cotas de
compras. Você precisa declarar que leva equipamentos
importados caros como Lap-Top, câmeras poderosas e
equipamentos profissionais, tipo um tomógrafo portátil.
Mas não dê uma de esperto, não force nada, isso não ipode ! Lembre-se que eles ainda vão autorizar sua volta
através daquele formulário imperdível, o I-94. Qualquer
dado na sua ficha é uma pergunta a mais na Alfândega,
Customs, vai se acostumando.
Nossa bagagem foi assim: a guia nos deu –
junto com as mochilas e as camisas - uma lista do isso sim,
isso não. Remédios de tarja preta precisam de receita
traduzida por um tradutor oficial, demora até uma semana,
dependendo de quem você achou para o serviço, custa uns
R$ 40,. Pasta de dente só em tubo plástico e pequeno,
pentes com pontas de metal, nem pensar. Isqueiro, nem
pensar. (veja detalhes na Fast Lane )
Traga o resto em sacos transparentes, Zip Loc,
facilita a revista de bagagem. Qualquer objeto fora do
comum deve ser consultado antes, na empresa aérea, para
saber o procedimento correto, um nebulizador, por
exemplo. Discutir na hora do embarque não vai te adiantar
em nada e vai atrapalhar todo mundo.
Canto VIII : In Memorian
Esse capítulo é uma lembrança de que o turista
mais relaxado e o trabalhador mais apressado
quando vitimados em situações de vôo tornam-se
heróis. Nessa missão inventiva de voar quando não
se tem asas, de reforçar a curva do destino que levará
um dia a unificação final dos povos. Se vai ser bom
todos sermos iguais um dia, eu não sei, mas vai ser
com a ajuda dos aviões. E da Internet.
Neste momento que escrevo, ouço as terríveis
notícias de que derrubaram mais um avião lotado, da
TAM, com 199 vítimas fatais, num acidente pra lá de
previsto e anunciado. Seja lá de quem foi a culpa, um
acidente tão evidente é responsabilidade dos
administradores do sistema todo. A começar pelo
piloto da Democracia que regulamenta aeroportos e
vôos de seus eleitores.
Para os que se foram, que Deus os guie nessa
viagem até a luz.
Canto XIX O Ônibus Voador
Quem foi que foi, falou no boi voador
Manda prendê esse boi, seja esse boi o que for “...
Buarque
Chico
Aeroporto às seis horas da tarde, 19 de
julho, quinta-feira. O estacionamento um do Tom Jobim
está lotado, em parte tomado pela realização do Pan, o
Brasil estava em quinto na classificação dos Jogos que
orgulhavam todo dia o povo carioca, massacrado na sua
guerra civil. Eram as notícias que eu acompanhava além do
terrível acidente da TAM.
Chegamos cinco horas antes do embarque ao
aeroporto. Ficamos 30 minutos na fila do Banco do Brasil –
sinto que vou repetir muito isso – para trocar reais por
dólares e por travellers. É um tipo de cheque administrativo
que se perder te reembolsam e na volta você pode trocar
dólares que sobram pela melhor cotação. Guarde o
contrato de compra.
O embarque seria às onze da noite, ainda
jantamos um lanche, sinto que vou repetir isso também. O
grupo da excursão se reúne, outros grupos vão no mesmo
avião, nosso grupo de cariocas e fluminenses é o menor,
há muitos mineiros e gaúchos no Tom Jobim. Todos logo
se conhecem no nosso grupo, ficamos meio de fora.
Rapidamente já falam como velhos amigos. Os Mirmidões,
principalmente, que vamos chamar assim por um nome
grego a classe masculina mais atuante, adolescentes entre
13 e 17 anos. Há quase igual números de garotas, por ora,
as Vestais, que eram religiosas na Grécia Antiga. Há alguns
adultos no grupo, sorte nossa.
A primeira entrevista é na fila de despachar as malas
grandes, cada mala com identificação, nome do hotel e
cartão do seguro. A funcionária da AA veio com as
perguntas-padrão. Você carrega líquidos com mais de 50ml?
Deixou sua bagagem com alguém desconhecido? Carrega
algum pacote entregue por desconhecido? Ah sim, carrego,
era um sujeito alto, magro, com barba longa, turbante e
bengala.
Brincadeira. Na hora da entrevista foi: não,
não e não, senhora.
Depois não havia fila para a entrada da
Polícia Federal, com a ajuda da nossa guia, RS. É um dos
compromissos diários daquela profissão de Doutor Destino,
o guia de turismo. Evitar filas = ganhar tempo. Ganhar
tempo é nunca estar atrasado.
Com tempo sobrando fomos aquecer as pernas e
afiar os sentidos matemáticos nos preços de produtos no
Free Shop, uma loja como a Zona Franca de Manaus, com
menos taxação de impostos em produtos importados. Que
é barato para quem está no Brasil, mas é caro – mais ou
menos 20% - para quem está indo pros EUA. Comprar na
ida, só artigos de primeira necessidade, como garrafas de
whisky portáteis, jogos, etc.. Eles “lacram” os produtos com
a nota num saco plástico. Esses líquidos você pode levar
nos vôos. Ainda que as garrafas sejam de vidro.
ccccccccccccccccccccc
Tudo é alegria, tudo é vocação para
gentileza e sorrisos, até que você vê a sua cadeira no avião.
É um ônibus voador, bem pior que o Rio-São Paulo da Ita
que nós pegamos para tirar o visto. Será uma noite mal
dormida, nos intervalos aproveite para acompanhar a TV 14
polegadas que eles colocam a cada dez metros, se você
comprou bilhete bem na frente, pode ver uma tela bem
maior, não entendi, não faz sentido. Perto grande, longe
pequena. Não seria melhor o contrário ?
Na TV vejo um velho seriado, Wings, sobre um
aeroporto numa cidade do interior. Passa ainda um
programa com mapas, informações sobre o traçado do vôo,
onde estamos, há tantos mil pés de altura, uns oito
quilômetros, eu acho. Descobri que na costa da Flórida
tem uma ilha chamada Hollywood. Naquele momento,
cercado de estranhos e comissários cansados e desatentos,
sem dormir, dentro de uma lata de alumínio metida à besta,
era onde eu queria estar. Numa Ilha.
Uma opção é não viajar de noite, e perder um dia. E
também há a primeira classe, pelo quase triplo do preço e
todas as conveniências possíveis, numa poltrona digna do
ônibus Leito da Cometa, Flecha de Prata, que fazia a RioSão Paulo. Foi um veículo lendário, que para mim só teve
correspondente na aviação nos Caravelles e Concordes,
cada um no seu tempo. Tudo bem, eu gosto de hipérboles,
exageros, superlativos.
O Flecha e os aviões clássicos só não foram
melhores do que os trens prateados, O Santa Cruz e o Vera
Cruz, no vagão leito com cabines, para se dormir em
camas, ao lado o seu próprio banheiro. Aquilo sim era
viajar de madrugada. Ainda que demorasse 12 horas do Rio
a Belo Horizonte e 10 horas do Rio a São Paulo. E o
melhor é que às vezes demorava o dobro.
Canto X - Hello, Gringos !!
Mama put my guns on the ground
I can’t use them anymore
Bob Dylan
Amanhecer no céu norte-americano é novo. Olhar as
vastidões da civilização local animava muito, a dor da
viagem é passado, também é futuro. Dá até para sorrir na
saída do avião, depois do tormento.
Na
interminável
fome
de
sensações
e
conhecimento, vejo o novo lugar não como os outros já
invadidos e conquistados por hordas de turistas. Aqui eles
estão esperando você, sejam lá quantas legiões você
representa. É tudo huge, grande.
Olhar do alto é olhar um mapa ao vivo. Deve ser
fácil desenhar mapas hoje em dia na Flórida. Basta
fotografar e colocar os nomes por cima. Dizem que no
Google Maps é assim. Eu falo gógou méps, todo mundo me
corrige, é gúgou, não é gógol. Assim ganhei o apelido.
Gogol.
É realmente impressionante a quantidade de estradas,
terrenos cuidados, fazendas, matas separadas, lagos, muitos
lagos. Não se vê terra vazia, ou estrada pequena e sinuosa.
Tudo tem seu local. Está tudo arrumado.
ccccccccccccccccccccccccccccccccc
O Aeroporto de Miami, vou resumir numa placa. Tem
letras A, B, C, D, E, F, G e H, ainda estão construindo o
resto do alfabeto. Embaixo de cada letra, um valor de
tempo. A-12 minutos. C - 8 minutos. H - 17 minutos.
Depende de onde você saltou, são os minutos para andar –
com ajuda de esteiras - até aquele terminal. Olha, eu nem
lembro se tem terminal com a letra agá mesmo, mas já deu
para entender.
É huge, muito huge. Cabe uns seis aeroportos
nossos num deles. A empresa da gente, do ônibus voador,
tem um terminal só para seus clientes sofridos. Como o
próximo vôo era com eles de novo, não andamos nada.
Comprei meu primeiro café na Starbucks, um de-leite.
Paguei errada minha primeira conta, os tais seis e meio por
cento que não estão no cardápio, só na nota. A atendente
deu aquele olhar de putz, mais um ! .
Uma mala nossa havia desaparecido, uma
companheira de excursão havia despachado por nós para
Tampa, pensando que era dela, susto rápido, primeira
adrenalina e primeira nova amizade com história pra
contar. O nome dela é Ângela, viaja com o filho quase
médico e uma pequena filha, a caçula de oito anos, que
ora batizaremos de A Menor.
Dali para um vôo lépido e fagueiro, até
Tampa, um aeroporto menor, mas com trens elétricos que
ligam terminais de passageiros à entrada para os aviões. O
centro do Aeroporto tem uma altura interna de uns 30
metros, um teto oval, tudo em vidro e tubos de alumínio
ovais. É bem novo, diferente de Miami, que parece coisa
dos anos 80. A mala reapareceu.
ccccccccccccccccccccccc
Cansados e felizes, com a nova paisagem, nova
luz e novo cenário, ainda não vamos para o Hotel. Vamos
para o Wal-Mart, no ônibus que nos leva para Orlando,
onde ficam os parques, hotel e tudo mais. Essa parada no
supermercado é estratégica, precisa estar atento, ver e
comprar rápido, por ordem da excursão, não entendi a
pressa. Deve ser a tal intendência da guerra, o general dos
suprimentos e víveres. Esse, Homero não reservou lugar na
sua história, eu acho. Mas sem ele as galeras não se
moveriam dos portos.
Comprar nos EUA é um esporte, um pentatlo,
como nas Olimpíadas. É preciso ter boa pontaria, para
atingir logo a seção que você precisa, dentro de um
enorme salão com gôndolas cheias de coisas que você
nunca viu mas quer ver. Contam boas pernas para cumprir
mais depressa o caminho entre as sessões. Raciocínio
rápido ajuda nas contas, convertendo para o Real as
compras que você vai levar de volta ao Brasil.
Aquelas coisas que você vai consumir na
viagem nem adianta converter. Estratégia de ação é
fundamental, não vai dar tempo de passear entre as
gôndolas a procurar curiosidades. Vá direto no que precisa.
Nessa primeira seção de compras, no Wal-Mart, ficamos
ligados em produtos para consumir no Hotel, mas os
preços de eletrônicos são muito bons. Algumas pessoas da
excursão já saíram com i-pods na bolsa, até roupas. Eu
comprei um chapéu panamá de vaqueiro.
Nosso hotel tem frigobar e microondas,
vale a pena comprar víveres não-congelados, muito
gatorade, biscoitos e coisas para lanches rápidos, que
podem ser levados para os parques. RS só esqueceu de
avisar, antes, que o frigobar não tinha congelador, só
geladeira, eu comprei meu sorvete preferido em grande
quantidade. Para beber depois. Lições pequenas. Pior foi
almoçar no Mac Donald’s do local, cadê o Burguer King?
Mas nada comparado a um estranho episódio que vai ficar
sem explicação.
Eu fumo, às vezes até lamento por isso. Nos
EUA, você tem local para fumar e se fumar fora do local
alguém aparece do nada para lhe advertir. É certo como
água molha. Então fui para fora do supermercado, no local
indicado, quando passou um coupê branco, Lincoln, tipo
anos 80, com um sujeito muito mal encarado, de toquinha,
bigode e recém-saído da prisão, eu acho.
O cara me olhou como quem esperasse alguma
confirmação, eu instintivamente ajeitei meu novo chapéu
panamá de Caubói e o cara feia voltou. E eu olhei de novo!
Lembrei no meu cachorro, João, quando ficamos encarando
um ao outro para ver quem abaixa o olhar primeiro. Coisa
de matilhas.
Pensei também em Roberto Rodriguez e Tarantino.
Câmera lenta. O cara passa devagar, saca uma Glock 9 mm
e dispara quatro tiros num segundo. Tudo bem, exagero.
Ele foi embora. Mas o olhar não era de boa coisa, com
certeza. Depois terminei meu primeiro cigarro em terras
americanas. Carlton, do Brasil. O Ministério da Saúde
adverte. Fumar faz mal à saúde.
cccccccccccccccccccccccccccccccccc
Você caro leitor atento, minha leitora que nada deixa
passar, vocês devem estar pensando, cadê a parte da
revista no Aeroporto e a confirmação da entrada, o
formulário I-94 para o oficial da alfândega te carimbar o
passaporte? Claro, essa não podia ficar de fora, eu deixei
pro final do capítulo. Compreendeu? Para você memorizar
a cena.
É o momento mais tenso para alguns, os que estão,
por exemplo, devendo e não falaram nada. Não é o meu
caso.
Lembra de todos os formulários, documentos,
comprovantes de que você é você, tudo aquilo que
passamos juntos nos primeiros capítulos lá na PF? Servem
para esse exato momento. Porque on–line sua ficha já foi
investigada trocentas vezes e eles querem só ver pelo raioX algumas cores que indicam coisa proibidas.
Enquanto as bolsas passam, você tira os
sapatos, as coisas do bolso, tudo pros raios-X coloridos. E
de meias – não use as furadas – você passa por uma
máquina que assopra, um nariz eletrônico, para drogas e
explosivos. Quase igual aos bancos no Brasil distante,
quando apitam suas portas automáticas por excesso de
moedas.
Depois o oficial da alfândega nos sorriu
enquanto liberava o I-94 sem perguntar nada, tipo sou
gente boa mesmo. Atendeu a nós três, família toda e quase
sempre junta, já sei, vão para a Disney, né mesmo ? podem
entrar ! E gastem com se não estivessem em casa ! Não, isso
ele não disse. Fui eu mesmo que pensei, sim, senhor ou
sim, senhora.
Canto XI
A Terra da Mídia
Quantas vezes se leu, só essa semana,
Essa história contada assim por cima, “
Onze Fitas, Fátima Guedes
Como já acompanhamos no capítulo anterior, foi
longo o primeiro dia da viagem. Rio, Miami, Tampa,
Orlando, Supermercado, Hotel, tudo em 24 horas. Convem
um descanso, não é mesmo? Não, não é mesmo. Descanso
rima com a maioria das viagens menos a Disneylíada. É
agora que a guerra esquenta.
Chegamos do supermercado para a Internacional
Drive, a rua do Hotel, por volta das sete da tarde, hora de
Miami, onde anoitece lá pelas oito e meia. Já fui logo na
televisão, a minha janelinha para as besteiras do mundo, e
as besteiras que a mídia fala sobre o mundo. Não deu
tempo para muito, minha mulher e minha filha já me
chamavam para ir às compras, numa loja brasileira, Yes
Brasil, com jantar num restaurante brasileiro, o Camila’s.
Não entendi, vim de tão longe para fazer compras em
português e comer feijão com arroz ? Vai saber!
Desde a primeira compra guardei a nota, qualquer
compra. Depois terei uma planilha de gastos, no Excell.
Tantos dólares com comida nos parques, tantos artigos no
Shopping Tal. Mas os recibos mais importantes são aqueles
que você vai usar para comprovar sua cota de US$ 500,
principalmente se você ultrapassar a cota. Isso não é
proibido, o excedente é taxado em 50% e você paga ali na
alfândega no Brasil. Entenda-se por produtos de cota os
eletrônicos ou grandes quantidades de qualquer coisa,
cremes, perfumes, tênis. Há cotas individuais para
quantidades, até 20 perfumes, por exemplo, depois disso,
taxa.
Minha filha não resistiu aos preços do produto
número um de vendas do momento, i-pod nano, a US$
199, na Yes Brasil. A loja tem funcionários brasileiros e vive
cheia de excursões. Vende de tudo, algumas coisas são
baratas, outras não. Como era o primeiro dia, não comprei
muito. Só um perfume, enquanto minha mulher mergulhou
em cremes e shampoos, produtos que ela garante não
haver no Brasil com a mesma qualidade e preço. Eu só
percebi até agora dos shampoos e cremes que eles pesam
muito.
cccccccccccccccccccccccccccc
Na volta para o Hotel, quase onze horas, fui de
novo ver a janela acesa do quarto, mas não aquela que dá
vista para Orlando, do quinto andar. A outra janela acesa, a
tal da Televisão Americana.
Tem 32 canais, alguns abertos, outros fechados
para o Hotel, todos com seriados e muito jornalismo. Há
canais só sobre a Disney, outro que passa tudo da
Universal Estúdios. Canal de Golfe só com jogos, produtos
e anunciantes. Tudo 24 horas. Tem a PBS, o canal do
governo, que passa programas educativos com a mesma
qualidade de produção das outras. E boas audiências.
Tem a CNN, e a FOXNEWS, claro. A NBC e a
ABC, que passa num canal local chamado CW18. É onde
tem o Seinfeld, o Friends, aqueles seriados de humor onde
as pessoas são pagas para rirem quando acende uma luz
no estúdio, a clack, mas eu rio de graça porque são
humoristas e atores de competência e visível amor à
profissão. O Seinfeld recusou 100 milhões de dólares por
um ano de temporada do programa na TV, não é qualquer
um que faz isso nos EUA. Seria a décima-primeira, ele
largou para fazer mais shows em teatros e bares de
comédia, uma coisa deles lá, Stand-Up Comedy.
Dormi depois de meia-noite vendo a TV,
com o ar condicionado mais frio do mundo e a certeza de
que seria a noite mais rápida da minha vida. Não deu
outra: Cinco e cinqüenta da madrugada toca o telefone.
Ainda de noite. Quem será? Incêndio? Alguém passou mal e
pensam que eu consigo traduzir a bula do remédio? Será
que é sonho? Era a hora do super café da manhã com o
Mickey.
Putz ! Mas ainda é noite, esse rato não dorme!?
Canto XII - Onde tudo começou
It’s a Small World, after all “.
Canção da Disney.
Disneyworld, Uau! Para não dizer aquele
exclamativo que mexe com muita gente. Eu tenho um
amigo com grande imaginação para pensar as coisas da
realidade e ele, vascaíno saudável, freqüentador
domingueiro dos jogos do Maracanã e São Januário,
divulga uma certa teoria.
Quando você ouve aquele Úuuu nos estádios,
logo após uma jogada com perigo de gol, diz esse meu
amigo, que na verdade todos estão gritando um
xingamento, aquela expressão de duas palavras mais um
que no meio delas. A gente só ouve a parte mais forte, a
sílaba inicial onde os pulmões avançam com mais força e
energia. Úuuta que pariu.
Pois a Disneyworld é Úuuuta... Um prodígio de
construção e engenharia, botânica, física, química, essas
ciências todas e a maior parte no subsolo. Por cima não se
vê um poste de luz com fios. Só com luz ! O lago onde
vive o elefante tem água azul-piscina, do hipopótamo
também. É claro que não se pode entender tudo isso de
uma vez só, como a jogada pela grande área e o chute
rasteiro junto à trave. A sensação de queixo caído vai vindo
aos poucos.
cccccccccccccccccccccccc
Fomos para o café com Mickey no Hotel
Contemporâneo, ainda com gosto de travesseiro. Mr.
Mickey é um indivíduo ocupado e se desdobra em dezenas
de fantasias para cumprir uma lista interminável de tarefas
no seu reino encantado. Todos os contratados que vestem
aquele símbolo são treinados a fazer os mesmos gestos, as
mesmas inflexões do corpo de rato cabeçudo. Você está
sempre diante do mesmo Mickey.
O café da manhã deles tem tradição de muita
gordura, doces, pães, feijão com açúcar, e algumas frutas. É
isso mesmo que você leu, feijão com açúcar no breakfast.
Panquecas com calda de frutas não são interessantes como
nos filmes, mas o bacon com ovos é uma delícia. E no café
com Mickey, a Minnie e outros bonecos famosos, temos o
buffê reforçado de um dos vários hotéis dentro da área dos
parques, falaremos mais da geografia Disney daqui a
pouco. Tem um biscoito frito com a forma da cabeça do
Mickey, o logotipo das orelhas, tudo muito visual. Onde
você anda tem música, até ao ar livre, com artistas da
Disney.
Esse hotel é dos mais antigos e possui um formado
de pirâmide cortada, com uma área vazada no interior que
faz o hall de acesso ao restaurante ter o teto a uns 80
metros de altura. Dá vertigem ao contrário. Por dentro
deste mesmo salão, passa um trem elétrico futurista, que
leva os hóspedes até os parques servidos pelo trem. Um
colosso.
Depois seguimos para a abertura do primeiro parque,
às 9h da manhã, o Magic Kingdom, o primeiro da série de
seis parques e uns dez hotéis, mais um mini-golfe gigante,
tudo dentro do complexo Disney. Toda manhã às nove
horas as pessoas se concentram no pátio da abertura do
Kingdom, tem um show de boas vindas com a turma do
Mickey, que já é outro, mas é o mesmo, chegando no
trenzinho antiquado, “ à vapor “, que faz a volta no parque
que deu origem à tudo.
Os primeiros visitantes participam do
show, alguns metros acima do pátio onde já estão uns mil
visitantes esperando os portões do Magic Kingdom se
abrirem. É rápido, o show. Nunca vi tanto brilho em tantos
olhos de tantas crianças, só quando eu era criança e não
reparava nos brilhos dos olhos e ia ver o Papai Noel no
Maracanã. Aliás, Papai Noel não é da Disney, não? Tem
tudo a ver. Lembrei, é da Coca-Cola.
cccccccccccccccccccc
Abrem-se os portões, chegar cedo é ótimo,
apesar das duas noites mal dormidas. Quem chega cedo,
bebe água limpa, diz o ditado, os brinquedos estão vazios,
mas espera aí, aonde foram todos? Se eu perder a gente no
meio disso tudo que eu não conheço ainda? Quando no
alto a bandeira azul, flâmula tremulante com fitas
vermelhas e uma bolinha plástica na ponta sinaliza o futuro
de nós todos, seguir a bandeira e a guia, RS.
Estar solto num local desse tamanho é certeza
de perder tempo escolhendo demais e andando de menos.
É preciso um bom sargento para a tropa caminhar unida
em espírito e vontade. Contei uns vinte grupos iguais,
depois parei de contar. Bandeiras, nas guerras, são também
sinais de comunicação, embora eu nunca tenha ouvido
falar de uma bandeira tipo, “estamos perdidos “ ou “ vamos
ser massacrados “, não que não sejam úteis, mas estou me
perdendo nas comparações, me desculpem.
O parque tem divisões, todos têm, são parques
temáticos dentro dos parques maiores. As primeiras
emoções no Kingdom são comedidas, na AdventureLand. É
um passeio de barco por uma mata plantada, a água nem é
tão limpa, mas tem bonecos gigantes de elefantes e
hipopótamos com caixas de som bem potentes. Espirra
água do Elefante, tem um guia falando inglês que tenta
embarcar a gente na fantasia de um floresta tropical. Oh,
no, a Hippo will attack us ! o Hipopótamo vai nos atacar ! É
um descanso, mas para os Mirmidões e as Vestais é um
tédio, querem roller-coasters, adrenalina, emoção. Eu queria
deitar, mas não há espaço.
Da aventura florestal fomos para um futuro
infantil, um conjunto de prédios com seu próprio trenzinho
suspenso, e quase tudo é redondo, como nos Jetsons,
desenho do Hanna & Barbera, que, eu acho, não tem
parques na Flórida.
Filmes 3D são rápidos demais para dormir e à
essa altura já nem tinha mais sono. Só cansaço e impulso
dos Gatorades. Os Mirmidões vão mais fundo, tomam Red
Bull o dia todo. O 3D com Donald e o Mickey de Fantasia,
o Filme, é esplêndido. Um revival do filme com a mágica
científica dos óculos que filtram certas freqüências de luz,
eu acho. Você vê mesmo aquilo bem na sua frente e todos
vêm o mesmo, o que minha filha custou a acreditar, talvez
a posição dela fosse melhor, quem vai saber. Minha mulher
era a criança ao lado dela.
Eles não chamam de 3D. É 4D, porque a cadeira
balança, tem sopros no pescoço, água caindo do teto,
vários recursos para a pele participar do banquete de
sensações. Se Criseida estivesse lá, com certeza explicaria
aquilo tudo. Mágica de Hipnos, deus do sono, que ao
passar a mão à frente dos olhos de deuses e mortais,
controlava suas vidas. Como fazem os hipnotizadores
modernos.
ccccccccccccccccc
Do extenso cast de bonecos aparece, na área aberta,
entre os prédios da cidade sideral, o monstrinho Stitch, em
pessoa, de Lilo e Stitch, um filme que mistura Hawaii com
Espaço. Tem filas curtas para tirar fotos ao lado. Basta fazer
pose um pouco distante e já você tem uma foto também,
sem fila, RS não deixa.
Simuladores são de dois tipos, é minha a
classificação. O Tipo Um – T1 - é o que sacode uma sala
inteira, as cadeiras mexem e um filme numa imensa tela faz
você acreditar que cinema é mais do que diversão. Tem
laivos de realidade. O corpo eu acho que acredita e
influencia a mente, nos lances múltiplos e rapidamente
elétricos que acontecem dentro de nós e nas cadeiras.
Coisa dos nervos.
O simulador Tipo Dois – T2 - tem um carrinho que te
leva por cenários e paisagens em escala reduzida. Tem
ainda efeitos com bonecos, os animatronics, e com atores
vivos, você verá muitos deles. Os simuladores T2 variam
mais, de tamanho, convencimento e antiguidade. São mais,
digamos, racionais, menos empíricos.
O simulador do Peter Pan, T2, no Kingdom, é dos
mais antigos e menores. Bem racional. Você voa sobre a
casa da Wendy, e faz o caminho do Peter Pan para a Terra
do Nunca, lirismo infantil. Os shows também variam de
tamanho, alguns misturam cinema 3D com encenações,
outros são gigantes apresentações como a Shamú, no
Seaworld, ou o Indiana Jones e o show de dublés com
carros, na MGM.
ccccccccccccccccccccc
Abro um parágrafo caro leitor que já estava com
saudades do tempero mediterrâneo na salada que faço aqui
na Disneylíada. Os empíricos foram importantes filósofos
na Grécia e por eles tinham muita admiração os cidadãos
futuros da futura cidade de Roma. Ainda em Atenas, lá nas
praças, Ágoras, diziam os empíricos que se deve prestar
muita atenção aos sentidos, porque depende deles o que
vamos pensar como certo e errado. Agradar aos sentidos é
ter mais vida. Ou era algo parecido, pesquise, vai valer a
pena. Pois a Disney deve ser o fast-food da realidade para
um empírico. É um banho de loja nos sentidos, todos, até o
paladar. Mas esse fica por último.
O primeiro dia só não foi perfeito porque perfeição
entre humanos não existe. E também porque choveu, o
que impede a apresentação de uma Parada Elétrica no
Magic Kingdom, um desfile de carros alegóricos e pessoas
vestidas de iluminação, parecidas com as luzes de Natal
que decoram casas no fim de ano. E a tal queima de fogos
que fecha o dia, em todos os parques maiores. Na hora da
saída descobri para que serve a bolinha plástica no alto da
bandeira azul da guia RS Aquilo acende! Para você não se
perder de noite.
Quando chegamos ao Hotel, por volta das dez e
meia, pude ver outra queima de fogos no horizonte de
Orlando, de geografia infinitamente plana. Nesse primeiro
dia de parques, acumulados o cansaço e as observações,
minha cabeça parecia mesmo ter fogos de artifício a
explodirem no céu do meu crânio.
Canto XIII Parque, Cinema e cansaço
Deus me meu mão de veludo pra fazer carícia
Deus me deu muita saudade e muita preguiça,
Deus me deu perna comprida e muita malícia,
Pra correr atrás de bola e fugir a polícia,
Um dia ainda sou notícia ....
Chico Buarque
Cinqüenta e quatro horas depois de sair do Rio, eu
era um homem cansado. Nada mais. Cansado num contraefeito de relaxamento de quem afastou-se de uma rotina de
pequenos afazeres repetidos e reconfigura o corpo e mente
para aquela nova e temporária realidade. Estamos em
Orlando para usar os parques, fazer compras e coletar
material para um livro. Nada mais. Estamos no terceiro dia
aqui, segundo dia de parques. Faltam doze para terminar a
viagem. Cansado, muito cansado.
Cansado também porque andar no calor cansa
muito. Anda-se até 5 km por dia em Orlando, eu calculo e
chuto. Quando eu fujo da rotina no Rio pedalo por cinco,
seis horas, com parada pro lanche. É uma necessidade de
não ver tela de computador por algumas horas inteiras, de
fugir da cadeira, da inércia física. U-Biker, tem na Internet.
Então no dia seguinte fico assim cansado mas fico quase
parado o dia todo. Aqui, não. É cansaço sem recuperação,
esse é o segundo guerreiro a enfrentar na nossa
Disneylíada. Cansaxion, o deus do esgotamento físico.
ccccccccccccccccccccc
Pelo menos foi um parque tranqüilo nesse dia, com
muitas passagens para quem gosta de cinemão, muita
atração onde ficamos sentados. A MGM Disney foi
inaugurada para expandir a linha de montagem das duas
empresas coligadas. Filmes da Pixar, mas também o
passado, com séries de televisão ou grandes filmes de
vendagem. Indiana Jones, ET, Guerra nas Estrelas, nota-se
Spielberg por toda a cena. Tem um show com pilotos
acrobatas em carros preparados onde ensinam os truques
dos filmes. Num teatro para umas 2 mil pessoas, eu acho,
acordei calculando mal hoje, dei várias topadas, lotei o café
de açúcar.
A arquitetura do parque é o passado futurista dos
anos 50, acho que chamam de estilo Miami da Califórnia.
Art Déco, sei lá. Tem uma reprodução da calçada da fama
do Teatro Chinês, de Los Angeles, Califórnia. O prédio
abriga um Simulador T2 gigante, com ator no nosso
carrinho que vai a narrar cenas de filmes de bang-bang,
com animatronics, os tais bonecos hidráulicos. Tem um
com a cara do Clint Eastwood com vontade de ir ao
banheiro. Depois você muda para um cenário de Múmia,
depois vai para os anos 30 de Chicago com tiros e tudo
mais. Como no cinema.
Mas antes de começar o passeio, tem uma fila
superlativa serpenteando uma sala igualmente grande onde
passa um filme curto em homenagem aos clássicos do
cinema. Por isso ninguém reclama das filas, nem eu,
apenas relembro. Metrópolis, Casablanca, Cantando na
chuva,..E o vento levou, Mari Poppins, Se meu fusca
falasse, ET, Terremoto, tudo que é deles, MGM e Disney.
Não tem Forrest Gump, por exemplo.
A roller-coaster do parque é a Rock ‘n Roller, que
dispara logo no início, e roda num prédio fechado, escuro,
com cartazes grandes em néons e tinta fluorescente, simula
uma ida a um show de rock, numa limusine ultra veloz.
Tem Aerosmith no tema. Fui três vezes seguida, na singleline. Já explico.
Todas os Parques lotam em julho, mas a capacidade
dos brinquedos e atrações às vezes chega a 40 pessoas de
uma vez num carro grande. Nos cinemas 3D, até 800 de
uma vez. A fila anda rápido, mas ainda tem o fast-pass,
uma senha que você pega antecipado, com um horário
marcado. Na hora que você chega, tem fila, mas bem
menor. De quebra, ainda colocam a opção single-line, uma
fila para solitários que podem ocupar qualquer vaga. Se o
brinquedo tem quatro vagas numa fila e aparecem três
pessoas querendo andar juntas, sobra uma. O organizador
do local então vai lá na fila single-line e pega alguém que
topa andar só. Vi apenas nos parques da Disney. Nos
parques da Universal Estudios tem fast-pass, mas é pago
por fora, eu já soube.
cccccccccccccccccccccc
O melhor brinquedo da Disney MGM, segundo as
deduções de minha filha – trem fantasma com elevador que
cai! – e as reações de minha mulher - nunca mais! – foi o
Hollywood Hotel. A obra de simulação começa desde
longe. O prédio de uns dez andares imita um hotel anos
30, abandonado depois de um incêndio, com jardins
opulentos, um ar de mistério proporcionado pelos
pulverizadores de água sobre as plantas na entrada, que
ameniza o calor também. Nas ante-salas do brinquedo, é
um espetáculo de cenografia de cinema, numa tv preto e
branco antiga você assiste o episódio do programa Twilight
Zone, Além da Imaginação, sobre a história do hotel,
enquanto a fila anda.
A fila vai até o subsolo, pegar o “elevador”. Vemos a
réplica de um sótão antigo, com tudo envelhecido,
misturado a peças velhas de verdade, quase não se vê a
diferença. No brinquedo você entra num carrinho para 50
pessoas dentro de um elevador numa ala do prédio. Sobe
e o carrinho sai andando pelos corredores onde fantasmas
projetados e jogos de cenografia iluminada criam um clima.
Então o carrinho-elevador chega a outro poço de elevador,
onde despenca e sobe rápido várias vezes. Para apavorar
geral, as portas da frente abrem para a rua, e você vê que
está a 30 ou 40 metros de altura, olhando os horizontes de
Orlando. Um barato.
cccccccccccc
Desprovido de musculatura, entregue a qualquer
proposta, fui no embalo, no dia quente de Orlando, uns 37
graus. Nem comer você consegue. Só Gatorade, picolé e
Coca-Cola. O final da MGM valeu a espera de uma hora na
platéia do anfiteatro, quase três mil pessoas fazendo a ola e
a maioria cantando “ sou brasileiro, com muito orgulho,
com muito amor”. Me emocionei. Mas lembrei do Bin
Laden, aquela gente toda reunida por ali pode dar alguma
idéia nele.
É um show conhecido pelo nome de Fantasmia,
onde o Mickey enfrenta forças do mal. Tem uma cobra,
símbolo bíblico do mal. Projeções de desenho animado
sobre cortinas de água pulverizada. Luz, cor, jatos
espirrando, música potente, fogos estratégicos, vários
personagens de Disney, fogo sobre água, tudo espetacular.
Quem consegue pensar em cansaço ? Quem consegue
pensar? E você vai querer mais, a essa altura já se viciou
em adrenalina, não vai querer largar. Ainda bem que faltam
doze dias.
ccccccccccccccccccccc
Nesta noite descobri um estranho efeito colateral da
adaptação do corpo à nova rotina, nova comida, novo
movimento físico, novo ar, novo tudo. Durante as noites
mal dormidas nascem sonhos notáveis.
Dobra o proveito de uma viagem tão cara. Eu teria
passeios reais de dia e virtuais à noite, em qualquer lugar
do meu desejo, sem custos adicionais. Vou encontrar
Oneiros, o mensageiro dos sonhos, Oneiros, funcionário do
Olimpo, que recebia direto de Zeus as ordens de sonhar
mensagens aos heróis, como Heitor e o Rei Agamenon.
Diferente de Hipnos, que controlava o sono.
Quando faltou Aquiles nas tropas, Agamenon
recebeu de Oneiros um sinal em sonhos para que atacasse
Tróia assim mesmo, à mando de Zeus. Foi vitorioso.
Consegue que seu irmão Menelau enfrente Paris e o
derrote, em mais um episódio da guerra entre homens e
deuses. Paris foi salvo por Afrodite, que o transmuta e
teletransporta para longe, como em Guerra Nas Estrelas.
Canto XIV - Big Orlando
Quando eu te encarei frente a frente, não vi o teu rosto “
Caetano Veloso
No quarto dia da viagem, Epcot Center, fiquei
no Hotel, dormi até tarde, tratei da roupa na lavanderia de
fichas, conversei mal em três idiomas, com hóspedes.
Dormi mais um pouco, fui à piscina, me ralei no fundo de
cimento pintado de azul, achei que era de fibra lisa. Depois
dormi ao sol, voltei pro quarto, vi mais TV e dormi mais
uma vez. Férias, é isso !
Andei na vizinhança, vi os carros e uma vida calma
sem muita gente na rua. Há calçadas, onde se pode andar
de bicicleta. Nos pontos dos ônibus tem várias placas que
não pesquei as funções, devem ser as linhas. Nenhum lixo
no chão. Nem caminhão de lixo, ou coletores grandes.
Apenas as lixeiras, em todo lugar.
Se você atravessa a rua na faixa, mesmo sem sinal,
eles param os carros, mesmo sem guarda. Fiz isso umas
quatro vezes, só para testar. Pensei que era sonho mas
como eu estava no controle há tanto tempo, não podia ser.
A cidade estava sendo invadida por 28 mil pessoas,
todas da religião luterana, que faziam uma convenção
nacional, como nos anos 20 do século passado. Vi centenas
de grupos andando, todos americanos do tipo muito louro,
muito sardento e muito gordo. Por favor, não me acuse de
usar a proficiência orgânica de um cidadão com ponto de
referência, mas eu anoto o que vejo. Eles sabem como
chegar à um infarto antes dos 40 anos. Foi o que me disse
um dos americanos que conheci, Edward, enquanto
conversávamos sobre a superioridade do hambúrguer
americano durante um lanche nos parques. Tenho uma
foto dele. Gordo e feliz.
Ccccccccccccccccccccccccccccccc
Minha filha foi ao Epcot Center, na lógica dela não se
vem à Orlando para ficar no Hotel. Na volta vibravam ela e
minha mulher, com mais um corolário de novidades e
sentimentos. Minha filha me contou maravilhas sobre o
parque que congrega representações de vários países, mais
algumas atrações como o Soarin’, um simulador T2 de asadelta ou o Test Crash, onde uma pista simula os testes de
carros nas fábricas, como se você fosse um boneco de
testes, crash test dumies, como eles chamam lá em Detroit.
Tem 3D com o filme Querida, Encolhi as Crianças. E
simuladores T1 que vai à Marte e outro que viaja pela
Terra, mesmo. Em torno de uma imensa lagoa estão as
representações do México, Noruega, China, Alemanha,
Itália, Japão, Marrocos, França, Reino Unido e Canadá.
Todos com sua culinária típica, minha filha e minha mulher
almoçaram no Japão e comeram pão na França.
Alguns países tem atrações, como o cinema 360 graus
no Canadá, filmes na Noruega e França, simulador de
viagem no México. T1, eu acho, elas não foram, estou
lendo no folheto do parque. Em português. Todos os
parques têm folhetos em seis ou sete línguas, inclusive o
árabe.
cccccccccccccccccccc
Só no quinto dia começamos a conhecer melhor o
povo da excursão. Desde o café da manhã do Hotel que
era sempre entre 7 e 7:30h, para estarmos juntos no ônibus
às 7:50h. Entre os garotos, os Mirmidões, destacava-se o
menor deles, de dez anos, porque em torno das
brincadeiras contra ele se reuniam os outros. Destino de
grumete, o aprendiz dos navios. O nome dele então vai ser
O Menor.
As meninas são todas simpáticas e tranqüilas, não
há histéricas falantes. Sorte nossa. Minha filha já se
apresenta como a tradutora do grupo das meninas.
Também se deu muito bem com A Menor, filha da Ângela,
que tem oito anos. Tem uma garota diferente, mais tímida,
porém muita risonha, basta olhar pra ela que ela
automaticamente ri. Entre os adultos há uma família, duas
irmãs vieram com os filhos, uma filha é a universitária, o
outro, um dos Mirmidões. Adultos é força de expressão, na
hora dos brinquedos, todos tínhamos 13 anos, no máximo.
O Hotel é simples e para nós, estreantes, bem
equipado. Camas grandes e macias, banheira com chuveiro
massageador. Água quente e fria numa torneira só. E você
pode beber a água da torneira, a do chuveiro não arrisquei.
Diariamente vi um carrinho do handyman nos corredores,
aquele sujeito que conserta tudo o tempo todo. Os
frigobares não congelam porque não foram feitos para isso.
Acredito que duas estrelas é justo com o estabelecimento.
Duas estrelas americanas, veja bem.
No Café da manhã tem aquele feijão com açúcar que
não provei nem por conta do apego a vocês leitores e
leitoras que vieram até aqui comigo. Sinto muito, não dava,
logo pela manhã comer algo forte demais estava na minha
lista do não pode.
Dá para fazer sanduíches com bagels, tipo uma
rosca de pão, mais o presunto fatia-gorda que eles regavam
nas prateleiras. Com exceção do bule de café, era tudo SelfService, ou selv-selv como diz um notório analfabeto que
eu conheço. Torradas normais e outras coisas conhecidas,
manteiga, queijo, melão, completavam a refeição mais
importante do dia.
Pois era no selv-selv que começaram nossas
conversas, com a maioria reclamando dos temperos, leite
ralo, café ralo, muita fritura, poucas frutas, pouco sono. Eu
comi muita torrada com ovos mexidos, o tal presunto
grandão, e sempre tinha uma banana fantástica, daquelas
que custam um dólar lá fora. A banana nos Estates tem um
cheiro mais forte, parece que foi aromatizada artificialmente
mas eu sei que isso é impossível. Ou não?
O Salão do restaurante é pequeno, tem fila, mas
chegaremos cedo todo dia, acho que não vai ter problema.
Grupos têm preferência, porque têm horários Há muitos
brasileiros no Hotel, até gente famosa, no Rio pelo menos.
Rômulo C. e Priscila N., ele o empresário, ela, a
apresentadora da F. 2000, uma empresa de produção
cultural especializada em bailes funk no Rio de Janeiro.
Estava em Orlando também o Henri C., ator de novelas,
mas estava em outro grupo e outro hotel, onde apresentaria
uma festa de quinze anos.
ccccccccccccccccccccc
Estávamos animados porque RS havia dito que
teríamos possibilidade de dormir na próxima atração. Um
paradoxo da adaptação. Animado para dormir. Eu ainda
não estava satisfeito com meu déficit de sono, ou não
estava adaptado a tanta caminhada. Era o dia do primeiro
parque aquático, Blizzard Beach, fica no complexo Disney
que vou explicar um pouco mais.
O que acontece hoje com Disney na Flórida é a
regra da concorrência produtiva. Desde que começou o
Magic Kingdom, em 71, legiões de concorrentes
apareceram. O primeiro dos grandes foi Anhausen Busch,
da família cervejeira Budweiser. Ele já possuía uma área de
trabalho voluntário para recuperar animais no que seria
mais tarde o SeaWorld em Orlando. Dele também é o
Busch Gardens, em Tampa, há 40 minutos de Orlando,
especializado em roller coasters, as maiores, mais atuais e
mais concorridas.
Além desses, veio a Universal Estudios, em 98, com
três grandes parques unificados a um grupo de hotéis, tudo
interligado pela imensa praça que é o City Walk, um
espaço de entrada grátis, uma espécie de ante-sala do
paraíso.
Por outro lado, o lado líquido, tem o Wet n’ Wild
pousado bem no centro de Orlando, que gravita perto do
nosso endereço temporário, a International Drive, a
avenida concentradora de hotéis e atrações. Tem uns 10
quilômetros, a avenida, não o Wet n’ Wild.
Fora os grandes parques, tem os pequenos.
No Horizonte do quinto andar do Hotel, vi um
balanço de uns 80 metros de altura, feito de braços de
metal em treliças que suportam por dois cabos um
bondinho tipo do Pão de Açúcar, para umas dez pessoas.
Ele balança, somente, mas vai a uns cem quilômetros por
hora. Eu calculei no chute a altura, o peso e a velocidade,
com a equação pendular básica que temos de cabeça.
Vi um anúncio de um kartódromo indoor com um ¾
de milha de circuito, dá mais de um quilômetro, imaginei a
velocidade no final da reta. Na frente do Hotel tinha um
prédio de arquitetura clássica, virado de cabeça para baixo.
Era um centro de diversões eletrônicas e uma Casa do
Terror, dessas que a gente vai andando e perde o chão, a
mulherada grita.
Cccccccccccccccccccccccccccccc
Mas o passeio que demos agora, eu e os seus olhos,
por Orlando, foi para localizar o complexo Disney, há
quinze minutos de ônibus, longe disso tudo aí que eu falei,
tudo o que é urbano. O complexo é uma área verde
prodigiosa – estou ficando sem adjetivos - que faria o
paisagista Burle Marx corar de vergonha quando o chamam
de gênio. No centro tem um lago imenso, todo cercado de
verde planejado, pinheiros, plantas diferentes no brilho e
na textura das folhas, coqueiros gordos e simétricos, não
sei botanizar.
Nas margens do lago estão alguns parques,
alguns hotéis, tudo interligado por barcas e o trem-bala.
Além de um serviço de ônibus grátis, o complemento para
ligações mais distantes do lago. Estão neste alcance outros
hotéis e outros parques menores como o Blizzard Beach.
Há ruas para o pessoal que trabalha, cenário vivo de
cinema americano futurista. Tudo original da prancheta de
Elias e seu grupo, que já previam todo o crescimento, eu
acho. O crescimento foi impulsionado pelos concorrentes,
na verdade é Disney contra todos. A Universal seria como
Agamenon, o rei dos invasores. Mas Tróia, aqui, descobriu
seu jeito americano de prosseguir.
Tem inclusive condomínios para quem quiser morar
na Disney. Deve ser caro, mas quanto mais dinheiro você
tem, mais barato as coisas ficam. Paradoxo da Injustiça
Social.
cccccccccccccccccccccccccccccccc
O Blizzard Beach já intriga no nome. Blizzard é
nevasca e Beach é praia. Toda a decoração remete a uma
montanha de neve, os quiosques são cabanas de
lenhadores, e por aí vai. Me contaram que no inverno o
parque funciona com água quente, mas se fizer abaixo de
10 graus centígrados, eles fecham, para evitar choques
térmicos.
Tem quedas quase verticais, tobogan, vários
escorregas diferentes, alguns são túneis fechados. Foi o
parque mais lotado, não consegui andar em quase nada,
até porque achei uma ótima espreguiçadeira embaixo de
uma árvore numa praia com areia e tudo. Dormi e sonhei
que estava dormindo muito bem. Como é bom dormir nas
férias.
Quando acordei minha mulher e minha filha estavam
pelo parque e fui procurá-las em vão. Voltei para uma
conversa com Ângela e uma nova personagem que surge
na nossa história, Lily, que até então eu não tinha visto,
nem no avião, nem no aeroporto, nem no Hotel.
Ela veio de Nova York, onde trabalha há um ano,
encontrar a filha, a menina tímida, que está na excursão.
Lily é uma brasileira à caminho do sonho americano. Foi
uma das melhores fontes para anotar comparações e
perguntas que simplesmente eu não poderia fazer aos
americanos, que conheci de oi, tudo bem, vocês comem
muita gordura por aqui ! essas coisas do trivial.
Ccccccccccccccccccccccc
O dia termina em compras no Florida Mall. Chove e
esfria, 22 graus. Andamos na rua entre uma loja grande,
Best Buy, só de eletrônicos e o shopping. Éramos aqueles
grupos de japoneses e suas máquina de fotografia. RS
bandeira à frente, olho vivo em todo mundo. Foi quando
joguei a toalha, desisti, vou para o Hotel. Fazer compras?
Shopping de Outlet? estou out . Mas não foi tão fácil assim
debandar da excursão e recordar o dia anterior, de folga.
Você, meu jovem de menor, minha jovem de menor,
que já adquiriu esse fenomenal hábito de ler qualquer
coisa, até esse livro, você precisa saber de uma coisa
importante sobre viagens à Disney.
A maioria dos freqüentadores de todos os parques
são como você. O que o coloca num paraíso de opções de
farra, emoção, amizades e até inimizade, o que é muito
comum na sua idade. Porém, mesmo com 17 anos, está nas
mãos dos Senhores do Destino. Não tem moleza como
essa, de pegar um táxi e se mandar para o Hotel. Ou seja,
vira criança de novo.
Duas vestais quiseram voltar também. Perdi quase
meia hora esperando o fim do drama, elas vão comigo ou
ficam no Shopping? Ficam, RS não abriu a guarda e deu um
ombro amigo para a menina chorar um pouquinho. Pode
parecer cruel mas é como numa batalha, foi o que falei
desde o início. Se abrir para um, todos vão querer
debandar e ir para a piscina do Hotel, relaxante mais que
necessário.
O que fazem as excursões para resolver tais
impasses? Reuniões, muitas, antes da viagem todos se
conhecem, eu nem sabia disso, por isso eles “ficaram
amigos” tão depressa no aeroporto, entendo agora.
Os pais, e os filhos que viajarão sem os pais, se
entendem antes da viagem sobre limites que a excursão
impõe. Dinheiro por exemplo. RS era um banco teen. E
toda noite ia fazer o balanço dos gastos porque senão tem
gente que estoura tudo em três dias. Dólares são lindos e
saborosos, como as coisas que eles compram. O Menor
comprou bolas de basquete, luvas de beisebol, bola de
futebol americano, mas não conhece ninguém que jogue.
cccccccccccccccccccccccccc
Desta vez as compras foram calmas, com tempo para
olhar, contaram minha mulher e minha fila. Elas voltaram
espantadas com tantas oportunidades de produtos com
qualidade e preço. Tem todas as marcas “importadas” que
você imagina, há uma loja da M&M com trocentas
variedades de chocolates, além de artigos de roupa e
lembranças da M&M. Havia uma loja da Disney, com os
mesmos artigos dos parques, porém mais em conta o
preço.
Um dos Mirmidões comprou uma cartola do
Chapeleiro Louco, de Alice no País das Maravilhas, muito
útil na excursão. De qualquer lugar poderíamos avistá-lo,
um ponto de referência, portanto. A menor coleciona
bichos de pelúcia, depois da viagem terá uma coleção e
tanto. Minha mulher comprou roupas para minha filha,
mas ainda não encontrou os tênis encomendados. Teremos
ainda uma visita a outro Shopping, Prime One, só de ponta
de estoque, com uma loja da Nike.
Canto XV As montanhas são russas mesmo.
“Ando meio desligado, eu nem sinto meus pés no chão ” Mutantes,
com Rita Lee
Estou numa casa antiga, em Olinda,
Pernambuco, salão de madeira, há uma festa, mas é dia. Lá
fora vejo um telão com um trecho de Shrek, o Ogro da
Disney Pixar. É um festival de cinema, espero a
apresentação do meu filme. Na casa tem muitas mulheres,
estão falando alto e rindo, eu falo com elas mas não me
enxergam. Eu ando num carrinho com trilhos no alto, com
um amigo que nunca tive. Reclamamos porque não passa o
filme que fizemos. Eu lembro que pode ser tudo um sonho,
porque festivais em Olinda não passam filmes da Disney.
Tento controlar o sonho e ir a uma joalheria, comprar jóias
por atacado e não pagar. Acordo. Ainda me sinto cansado.
Ter voltado de táxi ontem à tarde e debandar
do grupo foi a melhor coisa que fiz mas não foi o bastante.
Minha mulher e minha filha mais que aprovaram, sabem
das minhas limitações sociais durante as compras. Fiquei na
banheira até enrugar a pele nas pontas dos dedos. Depois,
cama e TV. O humor estava a zero grau.
Na Univision, espanhola, assisti a história de
Tiburón Negro, o mexicano Sérgio Jesus, campeão de nado
em mar aberto. Atravessou da Espanha ao Marrocos pelo
Mediterrâneo. Tiburón é tubarão em espanhol, ele só veste
preto e quando levanta o braço, fica parecido com aquela
ponta do tubarão fora d’água. O detalhe é que El Tiburón é
paraplégico. Como se respeita e incentiva os especiais por
aqui. Em cada canto, cada detalhe. Os parques têm vagas
nos shows, nos simuladores, nos brinquedos, inclusive em
algumas roller-coasters. E tem cadeiras de rodas para os
mais gordos ou mais velhos não andarem muito. Sim, eu
tentei, mas não deixaram.
Fiquei zapeando a TV. No Tourist Channel passa
propaganda dos advogados de causas turísticas: roubo de
malas, táxi que cobra errado, eles pegam qualquer caso. Se
eles estão na TV é porque ganham a maioria dos casos. Ou
não teriam como pagar os anúncios. Em Orlando um
restaurante chinês é assaltado, com tiros na saída, dois dias
depois foram presos os agressores. Jovens, hispânicos,
desempregados. É o padrão.
Cccccccccccccccccccccccccccccc
O dia de hoje começou às 6:30h mas depois do
café voltei para a TV. RS havia dito que haveria atraso com
o ônibus que nos levaria até Tampa, para o Busch Gardens.
No CW18 dava que houve um acidente na I-4, a rodovia
expressa para o parque de hoje. Mas foram dois, um
guindaste que caiu do caminhão e um engavetamento, com
feridos socorridos por helicóptero, vi na Univision também.
As freeways têm cinco, seis faixas e áreas de escape.
Quando batem dois, batem todos.
Não se vê muitos carros na freeway fora da
velocidade média, que é alta, 100 km por hora. Parece que
foi ensaiado. Não se vê ninguém andando na beira da
pista, nenhum cachorro ou bicho atropelado como se vê no
Brasil. Por falar em bicho morto, por mim, só vi dois
mosquitos no Hotel e uma barata chinesa, mas foi num dos
parques, nem fica bem dizer o nome, era da Disney.
Nas rodovias, nada além de carros, caminhões,
ônibus, motos, bem poucas. Nenhum cachorro, morto ou
vivo. De madrugada deve ter um time de caçadores pela
rua, atrás dos bichos. Só pode ser. Vimos esquilos e muitas
aves nos parques, atrás da comida de gente. Esquilos
mordem.
O Busch Gardens tem muitos animais da África, é
também um zoológico. Porém os bichos que mais vimos
eram nomes de roller coaster: Scorpion, Cheeta, entre
outros. Sheikra não é um bicho mas é o bicho. A rollercoaster é a atração número um do parque, com uma
descida vertical e o carrinho com umas 40 pessoas a plenos
pulmões. Ainda pára na beirada da queda, antes de
despencar. Há desfibriladores nas atrações, aquele
equipamento de ressuscitar cardíacos, com choque elétrico.
Não fui da Sheikra, estava passando mal na hora, a
barriga embrulhada e o humor alterado. Acho que era
medo, então fui tomar uma pepsi gigante à conselho de RS,
potássio, ela disse. Quando você perde uma atração num
parque desses, adeus, não tem tempo para outra vez, se
sair do grupo pode atrasar a todos e nesse dia sairíamos
mais cedo para uma festa da agência em um show de
Piratas. Fiquei na vontade. Acho que vou ter que voltar
ano que vem só por causa da Sheikra.
cccccccccccccccccccccccccccc
Você, vivente que lê em português, deve estar meio
desagradado comigo, por tantas vezes repetir roller-coaster,
por que não montanha-russa? Ora, coisas de escritor que
pretende enriquecer a história principal, que é a nossa
Disneylíada. Então chegou a hora de chamar montanharussa pelo nome oficial dela entre nós brasileiros, assim
abro e fecho parênteses para falar deste meio de transporte
que vai de nada à lugar nenhum.
Foram mesmo os russos que inventaram a diversão,
nos arredores nevados de São Petersburgo. Isso foi na
mesma época que no Brasil ainda se tentava ensinar índio
a viver e trabalhar como europeu, ou seja, a descer do
paraíso tropical e ingressar no inferno das consciências
católicas. Entre 1530 e 1600.
Os russos não batizaram de montanha-russa a
brincadeira de descer em carrinhos por uma trilha de gelo,
com alguns plebeus a empurrar os carrinhos morro acima
para os nobres descerem de novo. Com a popularidade
crescente – os plebeus também queriam descer – vieram os
parques, chamados em russo de Tobogan. Em 1784 foi
desenvolvida a primeira montanha russa de madeira e
registrado o invento como trem gravitacional, na Rússia.
Foi muito usada em minas de carvão do mundo todo, para
carga e pessoal. Todos os trilhos iam de um lugar até outro,
e os carrinhos voltavam empurrados ou puxados à cavalo
pelo mesmo trilho.
Foram os franceses que popularizaram o nome
Montaigne Russe, ao construírem algumas em Paris, à partir
de 1812. Inclusive o primeiro looping, em 1846, chamado
de estrada de ferro centrífuga. Os americanos fecharam o
circuito. Por volta de 1884, Philip Hinkle, colocou um
motor à vapor o qual guindava por correntes os carrinhos
para o ponto mais alto, de onde se soltavam, A gravidade
faz o resto até a estação inicial. Batizou o invento de
monte-elevador, Lifting Mountain. Em 1885, Marcus
Thompson, outro gringo, registrou outra parecida, com o
nome de Roller Coaster. Cilindros na base é a tradução, os
tais cilindros mantinham o carrinho nos trilhos. Em 1912 o
sistema foi aperfeiçoado para o modelo de rodas atual,
chamado underfriction, com três cilindros em volta do
trilho. Até então muita gente já havia voado da montanharussa ao longo da história, alguns até sobreviveram para
contar a experiência.
Disney entrou no negócio em 1959, seus engenheiros
resolveram os dois maiores problemas das montanhasrussas antigas. Os trilhos sobre estruturas imensas de
madeira não permitiam muitas opções de curvas e os
carrinhos tremiam incrivelmente com o aumento da
velocidade. Até o dia da inauguração da Matterhorn
Bobsled, na Disney da Califórnia. Ela é feita em aço
tubular, modelo de sucesso até hoje, copiado às forras por
todos os parques do mundo. A Sheikra, do Busch Gardens,
assim como as outras maiores de lá, Montu, Scorpions e
Kumba, são tubulares. A sensação é a de voar agarrado ao
um trilho, as manobras em geral imitam um avião que faz
acrobacias. Um barato.
ccccccccccccccccccccccccccccccc
Busch Gardens tem ainda uma penca de atrações
que você não vai conhecer num dia só. O passeio, entre
animais, é dentro de um trem. As sete variedades de
decoração africana, um lado é o Egito, outro, o Marrocos,
mais à frente, Nairobi, tudo na competência técnica e visão
fantasiosa dos gringos. Os shows sobre cultura africana são
mais reais. E tem a degustação de cervejas da Budweiser
onde você compra um copo por uns 10 dólares e bebe o
dia todo. O filho de Ângela, o quase médico, foi o único
homem de maior que aproveitou. Estou sem beber,
infelizmente. Alguns mirmidões ficaram na vontade. RS não
deixa.
Ao voltarmos de Tampa para o Hotel, o quase
médico puxou a cantoria, pagode e funk que uniu mais
rápido a moçada. O motorista reclama, para eles é risco de
multa, se a polícia vê alguém de pé no ônibus na freeway.
Algumas meninas me contavam que pela manhã aconteceu
algo diferente. Minha mulher confirmou irritada, o que nela
traduz a verdade.
Elas estavam na entrada do Hotel tirando uma foto
coletiva, daquelas que demoram a arrumar, o que obrigou
um americano grande a esperar. Vamos batizá-lo Cerberry,
como em Cérbero, o cão dos infernos gregos. Teve que
esperar meio minuto, se muito. Não conseguiu. Cerberry
empurrou a porta, as garotas foram ao chão, ele saiu
praguejando alguma coisa que minha filha não entendeu
direito. Vou ficar de olho nos irritados, parecem fontes
reveladoras dos hábitos locais. Os maus hábitos, pelo
menos.
Canto XVI
Sonhos de uma Nação
Por mais terras que eu percorra
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá !
Hino da FEB na Segunda Grande Guerra
Chegamos ao canto XVI – dezesseis, eu facilito
– da Disneylíada. Eu precisava de um fator comum com a
obra de Homero, para abrir este capítulo especial, sobre o
SeaWorld. E vejam o que eu encontro: o capítulo quinze da
Ilíada é sobre Poséidon, Deus do Mar para os gregos.
Netuno, para os Romanos. Ora, o quinze é vizinho do
dezesseis. Já basta. O SeaWorld é puro mar, apesar de
estarmos a 80 quilômetros da costa da Flórida.
A Ilíada tem um prefácio recomendado, com as
ligações dos personagens, como naquelas propagandas das
novelas da Globo antes de entrarem no ar.
Começa com Helena, filha de Zeus com a mortal
Leda, esposa do rei de Esparta Tíndaro. Com essa filiação
tripla, veio a ser a mulher mais bonita da época, quando a
beleza era um poder de Estado. Todos os reis e príncipes
daqueles povos conhecidos por Aqueus, os formadores da
Grécia, desejavam casar com Helena. O pai mortal, com a
concordância do pai celeste e da mãe, decidiu que Helena
haveria de escolher, e todos concordariam e protegeriam
tal pacto.
Helena por obediência à mãe Leda, escolhe Menelau,
príncipe de Micenas e exilado em Esparta, junto com seu
irmão, Agamenon. Todos concordam, até Paris e Heitor,
príncipes de Tróia. Já vimos que as mulheres estão sempre
no centro das histórias gregas, de deusas a escravas.
Como no casamento de Tétis, filha de Zeus, com
Peleu, guerreiro mortal e já velho à essa altura. Foi neste
casamento que a deusa Éris, por não ter sido convidada,
enviou a Tétis o pomo da discórdia, uma maçã de ouro.
Nele estava escrito: à mais bela de todas as Deusas. Tétis
não era deusa, era ninfa. Na festa estavam as deusas Hera,
Atenas e Afrodite, para quem iria o pomo de ouro de Éris?
Zeus escolheu para decidir a parada um pastor de coração
puro que por ali soltava suas cabritas, porque o Olimpo é
campo aberto. O pastor era o disfarce de Páris, irmão de
Heitor, futuro príncipe de Tróia, dois dos cinqüenta filhos
de Príamo, inclusive um chamado Heleno.
As três deusas fizeram promessas à Páris. Hera
oferece poder sobre a natureza, Atenas a força invencível
para a guerra. Afrodite oferece o amor da mais bela mulher
do mundo. Ele escolheu o amor. Acontece que a mulher
mais bela àquela altura era Helena, casada com Menelau,
sob proteção de seu marido, Tíndaro.
A ninfa Tétis havia sido casada à força com o velho
Peleu porque havia uma profecia de que o filho de Tétis –
Aquiles - seria maior que o pai. Zeus e o irmão dele, o
deus do Mar Poséidon, disputavam Tétis mas correram ante
à profecia. Ninguém agüentaria alguém maior que Zeus ou
Poséidon.
Quando muitos anos depois Paris vai à Esparta em
visita diplomática para negociar territórios, ele se apaixona
imediatamente por Helena, que estava prometida à ele por
Afrodite desde o casamento de Tétis. Fogem para Tróia,
para confirmar a promessa de Afrodite. Helena já não era
nenhuma menina, nem Páris um garoto.
Aquiles sim era novo, robusto e matador. Chefiava
um comando destacado para as piores missões de guerra
da Tessália, os Mirmidões. Sua mãe Tétis o havia
mergulhado no rio das almas, o Estige. O segurou pelo
calcanhar para um banho de imersão mais completo. Todo
o corpo de Aquiles era imune a ferimentos, menos o tal
calcanhar. Estava confirmada a profecia, maior que o pai,
Peleu. Homero escreveu a história oitocentos anos antes de
Cristo, mas naquela época a guerra de Tróia já era antiga
para eles.
Menelau, o corno, incita o irmão, Rei Agamenon,
para aproveitar a fuga de Helena com Páris e atacar Tróia.
Os Espartanos eram os maiores guerreiros e reuniam
seguidores em toda aquela vizinhança, inclusive a Tessália,
terra de Aquiles. Tróia exercia influência no outro lado do
mar da Antiguidade, ali em frente à Atenas, uns quinhentos
quilômetros. Então juntam-se mil barcos para atravessar o
mar da Grécia para invadir Tróia. Aquiles é o primeiro a
chegar. Mas acontece aquele desentendimento dele com
Agamenon, no primeiro canto da Ilíada, sobre a Briseida,
sua irmã Criseida e o deus Apolo. Porque a Globo não
gosta de cultura clássica? Daria uma tremenda novela,
vocês não acham?
Tudo isso que eu contei foi para colocar o Poséidon
no seu reino marítimo do SeaWorld e na nossa Disneylíada.
Poseidon, que por despeito à Aquiles, vai defender os
Aqueus. Pede a Hipnos que faça Zeus dormir, para que os
troianos possam ser derrotados mesmo sem Aquiles. Esse é
o canto XV – o quinze – de que falamos lá em cima.
cccccccccccccccccccccccccccccc
Há muitas lembranças de guerra e pátria no
Seaworld. O parque tem uma torre com elevador
panorâmico a uns oitenta metros de altura. Na ponta da
torre, uma imensa bandeira do EUA. Às nove da manhã, o
parque abre e todos cantam o hino americano, chega a ser
engraçado, porque os visitantes são de vários países, alguns
árabes tiram o turbante para ouvir, parados.
Mas a maioria passa batido. Eu estava comprando
uma capa de chuva e não entendi à princípio porque a
senhora do caixa botou a mão no peito. Pensei que era
infarto, foi tão rápido o movimento. Então veio a letra da
música na caixa de som mais próxima, Oh, say! can you see
by the dawn's early light . Fiquei meio sem graça, mas tirei
meu chapéu de vaqueiro, já descosturado atrás e com
cheiro de chuva que secou na palha.
Naquele tempo distante da Ilíada o conceito de Pátria
era impossível, estavam saindo das tribos para criar uma
unidade cultural, com fundo comum, a aliança sobre a
vontade de Helena. Porém como os tribais espartanos, os
americanos são patrióticos também porque são grandes
guerreiros, acreditam no direito à guerra como fonte de
poder e garantia de segurança. No Seaworld vi as maiores
lembranças disso.
Antes do show da baleia Shamú, ele pedem aos
veteranos de guerra que se levantem. Sempre tem alguém
veterano, ou parente que perdeu um soldado na Guerra.
Nesse dia se levantaram uns quinze, de várias idades,
homens e mulheres. O parque deve saber, talvez entrem de
graça. Desde 1914 os americanos não ficam de fora de
nenhum conflito internacional de peso. E nos últimos 50
anos só perderam uma, a do Vietnã. Acho que no Iraque
estão perdendo também, os jornais e revistas não cansam
de repassar o assunto. Quando vamos sair do Iraque?
Pergunta a capa da Time desta semana, estamos em final
de julho. Em 2008, responde o Presidente Bush, que nada
tem a ver com o Busch da Budweiser.
Ccccccccccccccccccccccc
No Seaworld a atenção dos humanos é para com
bichos e não são os mitológicos. O segundo parque de
Anhausen Busch começou como centro de recuperação de
animais marinhos, que iam bater na costa da Flórida. Com
a chegada do modo Disney de diversão, progrediu para um
estágio que nem os gênios de Elias puderam imaginar. No
Seaworld os animais imitam gente, os cenários imitam
Hollywood e o público não imita nada, fica ali de queixo
caído. Eu não sabia que era possível adestrar um urubu.
Kraken é a montanha russa do Seaworld. Tubular,
com looping e torções em parafuso, além de um mergulho
no subsolo do parque a uns 50 km por hora. Artic
Expedition é um simulador T1 que te leva de helicóptero
ao Ártico. Fila grande, mais de uma hora. Na saída tem
aquários refrigerados onde você fica a um vidro de um
urso polar, baleias belugas pequenas e leões marinhos
gigantes. Os bichos parecem meio solitários, o urso ficava
repetindo o mesmo movimento, meio pancado da cabeça
aquele bicho. Na saída tem a lojinha de souvenirs, como
em todas as atrações de todos os parques. Entertainment
business, meu amigo, minha amiga.
Com RS a puxar o passo, conseguimos ver três shows
inesquecíveis. O Primeiro foi de golfinhos numa arena
aquário para uns 800 assistentes, com música e coreografia
da história de uma garotinha – adestradora mirim - que
descobre um novo mundo. Meio ingênuo, corky, como eles
dizem em inglês. Os golfinhos molham todo mundo Mas
no grande final, os adestradores soltam pássaros que
sobrevoam a platéia, então eu vi o tal urubu adestrado,
voando numa rota pré-determinada, mas acho que não era
urubu, não, era um condor. Quase igual.
Depois o show do Seymor, uma foca. Todo o palco,
com pequeno lago à frente, é formato de navio-pirata, por
onde se desenrola a história de uma lontra que rouba um
mapa do tesouro. Muito engraçado, o leão marinho é
enorme. Na entrada tem um pirata mímico orientando a fila
e fazendo piada com quem passa, o cara é muito bom.
E por fim a glória de Orlando, a maior celebridade
animal, com vocês, a baleia Shamú. É dela o maior
auditório do parque. O Shamu Stadium, tem os melhores
recursos de som e aquários. O show vai com um roteiro
que, como já contei, mexe com a pátria americana, seu
estilo reto de realizar os sonhos, garantir a liberdade, essas
coisas que justificam – para eles - as guerras. ]
Acho que a baleia sabe que é boa. Ela acredita na
personagem dela. É um bicho inteligente, sem dúvida,
ainda que não raciocine como nós. Agradece os aplausos,
ganha mais uns peixes, e sai lentamente, como se alguma
coisa ali estivesse acabando. E o público vai se retirando do
estádio, a metade dos espectadores totalmente molhados.
cccccccccccccccccccccc
Num enorme tanque ao ar livre, você pode alimentar
os bichos, por US$ 4, te dão três peixinhos para jogar às
focas. Mas o parque não tem o mais leve aroma de peixe,
como eles conseguem, na dá para entender. Todas as
atrações têm peixes para os adestradores alimentarem os
bichos durante os shows. Peixe sem odor, ou será que
estou perdendo os meus sentidos? Se eu fosse um empiríco
estaria em grandes problemas.
O dia termina em mares infestados de piratas falsos,
num show para a garotada. Escapei por pouco. É o
encontro de todos os viajantes da nossa agência, mas como
tenho me comportado muito bem, ganhei uma licença.
Minha filha contou que foi uma discoteca, e um jogo
dirigido por piratas num palco, não entendi muito bem.
Acho que não perdi nada.
Canto XVII
La Nouba
“ Que toda maravilha depende do conhecimento”
Branca, Gógol
No oitavo dia acordei benemérito como um rei
depois da vitória. Adaptado à nova rotina, acordei sozinho
minutos antes de RS ligar, como todas as manhãs, por volta
das 6:30h. O ar condicionado já estava sob meu inteiro
controle, descobri a potência correta para não gelar de
madrugada. No café da manhã distribuí muitos dólares de
caixinha.
O garçom preferido, Jean, é taitiano. Os motoristas de
táxi de Orlando também. Não falam muito, o funcionário
do cyber -Internet - no Hotel tentou me explicar algumas
coisas sobre o Haiti e Flórida, mas só pesquei que eles são
muitos por aqui, vieram de barco e todos moram em
Kissimee, cidade ao lado de Orlando.
Nossa excursão engordou, dos 28 participantes
iniciais para uns 70, com mais duas guias, e nos
encontramos pela segunda vez, nesse oitavo dia de
Disneylíada. Nossa agência distribui os grupos por datas,
mas aproveita o transporte quando coincide o parque a ser
visitado. Tem um sujeito da outra parte dando sinais de
irritado, mas nesse dia ele se controla, não tenho nada para
anotar.
Fomos ao Magic Kingdom por duas horas, deu tempo
de minha filha fotografar melhor a Mickey Toontown, com
modelos em escala natural das casas de desenhos animados
do Mickey, da Minnie, do Pateta, com jardins e autógrafos
dos bonecos. E voltamos à padaria com o croissant que
derrete na boca. Depois, barco e ônibus para chegar a
Disney Downtown, a parte mais nova do complexo Disney,
eu acho. Não tem montanha-russa, nem simuladores, é
diversão menos infantil, com mais opções de restaurantes,
compras, jogos eletrônicos, o Planet Hollywood. E o
melhor de tudo, La Nouba.
ccccccccccccccccccccc
A verdade é que neste oitavo dia, com parada rápida
no Magic Kingdom e o resto do dia e noite no Disney
Downtown, eu estava me sentindo novo, recobrado e bem
disposto. Mas só até depois do almoço. Porque congestão é
algo que começa quando se come muito e se aquece o
corpo, ao sol ou com movimento. Eu não cheguei a enrolar
a língua mas tive que deitar até o branco sumir do rosto, a
tonteira passar, e a fraqueza das pernas permitirem mais
caminhadas ao sol.
E a gente comeu muito e muito bem. Rain Forest é o
nome do restaurante logo na entrada da Disney
Downtown. O ambiente simula uma floresta tropical, tem
bonecos mecânicos de gorilas, no teto iluminam-se trovões.
A comida é slow-food, você marca uma hora para chegar e
quanto tempo vai ficar, para evitar filas. Comemos frango,
escalopes de carne e acompanhamentos, com talheres de
metal, num prato gigante. Algumas paredes são grandes
aquários, um local agradável de ficar. Foi quando eu saí
dali que veio o problema.
Me recobrei do quase apagão, num centro de jogos
eletrônicos, deitado no banco de um caminhão de
brinquedo. Levou uma meia hora para voltar a respirar
direito. RS recomendou água Perrier, que contém
magnésio. Depois uma Pepsi, potássio. Como eu estava
fora de perigo a excursão andou e foram para o Disney
Quest, um prédio com 4 andares de diversões eletrônicas,
perdi.
Mas não perdi La Nouba.
ccccccccccccccccccccc
Em uma hora e quarenta minutos entrei em contato
com um tipo de atração que desafia todos os sentidos e
emoções humanas resumidas. Espetáculo sem texto. Ou
seja, uma forma de expressar cultura num nível bem acima
da Disney ou Universal. Voltei a ser adulto por La Nouba.
Os canadenses são alvos constantes de piadas em
shows de tv e humor dos clubes Stand-ups americanos. Os
próprios canadenses fazem piadas de canadenses. Há
grandes atores canadenses, Jim Carrey, Yvone de Carlo, e
atores menores, como Mathew Perry, o Chandler Bing de
Friends. O Cirque de Soleil é canadense, acho que basta de
colaboração cultural para qualquer país se orgulhar. Tem
23 anos, foi de companhia meio hippie em 1984 à
produtora cultural hoje com cinco espetáculos simultâneos
pelo mundo, com integrantes de vários países. Em Las
Vegas tem um com música
dos Beatles. Deve ser
astrológico, desculpe o adjetivo, carência de vitamina A e
de superlativos.
O espetáculo La Nouba é fixo na Disney, está há uns
dez anos em cartaz e por isso teve a vantagem de se
adaptar até os limites da imaginação. Evolução é adaptação.
Todo o teatro para 1600 pessoas em formato arena é
dimensionado para aquele show. Nunca desmonta, nunca
entre em cartaz outra peça que vai ter outra regulagem de
luz, de som, de mecanismos que são centenas em grandes
espetáculos.
Por isso La Nouba tem tanto poder. O roteiro é
simples, para ser entendido sem palavras por qualquer
visitante do mundo. La Nouba é expressão francesa para
Aproveite ! Viva a festa !. Para vincular com nossa antiga
mãe Grécia, equivale à expressão Carpe Diem, aproveite o
dia. Mas tem uma história, de uma trupe que vai a uma
casa misteriosa, onde uma governanta encontra o seu
príncipe encantado, que veio com os artistas.
Daí vão desfilando atrações de circo, renovadas em
linguagem, engenhos e apresentação. Por não haver um
compromisso com textos, como no teatro, os sentidos das
pessoas e os sentimentos mais presentes e atentos acabam
atingidos pelo efeito Cirque de Soleil. O medo com o artista
no fio, lá no alto, ou o empilhador de cadeiras que tenta
chegar a um candelabro, dez metros acima do palco.
A graça das meninas chinesas com malabares de fio e
roldana, a magia de voar com o balé vertical. A surpresa
com os movimentos inesperados de artistas em camas
elásticas ao lado de paredes com janelas. Ora eles entram,
ora eles chegam ao topo do prédio cenográfico, você
nunca sabe, não tem material na sua cabeça para adivinhar
o que virá. Nem na minha, só na deles. La Nouba.
cccccccccccccccccccccccccccccccccccccc
O almoço pesado foi meu Cavalo de Tróia. Trojan Horse,
para os gringos. Trojan, para quem usa muito Internet é sinônimo
de problemas, um velho vírus de computador que insiste em
continuar na rede, infectando furtivamente por e-mail as
máquinas que travam ou dão mensagens erradas ao usuário. O
conceito de embutir alguma coisa ruim por dentro de outra boa
parece que nasceu mesmo na Guerra de Tróia, com o momento
em que os Aqueus abandonam o campo de batalha e deixam um
cavalo de madeira imenso, como oferenda a Poséidon, para que
cheguem bem de volta a suas casas.
Os Troianos receberam a oferenda para seu deus Apolo e
de noite os soldados aqueus saíram de dentro do cavalo, para
iniciar a conquista de Tróia. Curioso como o final da história não
está na Ilíada, que termina no canto XXIV – vinte e quatro – com
os funerais de Heitor, derrotado por Aquiles.
ccccccccccccccccccc
Pensava ainda no grande final da peça dos
canadenses, como o palco serve tão bem aos mecanismos
que surgem e somem da cena, me levaram pela mão até o
Planet Hollywood. Acordei na hora dos sanduíches no
prato, havia macarrão também mas sempre vinha carregado
na pimenta. O lugar é bizonho, mistura elementos de
cinema e quadrinhos, com rock, mas tudo exagerado, over
,como dizem os gringos . Demorou muito, queria deitar
logo na cama king-size do nosso quarto. E sonhar com La
Nouba.
Canto XVIII Folga nas férias
“A televisão me deixou burro, muito burro demais”
Televisão Titãs
Desisti da idéia de controlar sonhos, porque
esta noite tive uma tempestade no céu do crânio. Acho que
Oneiros passou a ver em mim, consciente nos sonhos, um
voraz espectador a ser alimentado. Assim que lembro que
estou sonhando, fico feliz, pronto para ingressar em alguma
espécie de aventura da minha escolha, mas então tudo
muda, esqueço desse poder, ou acordo. Mas essa noite
não. Foi além.
Vejo a esposa de um primo, que não tenho, ser
ressuscitada por ele, estavam em alguma casa grega, tinha
pilastras. Ela diz que toda a família planejou sua morte, eu
fico revoltado. Acho que estou numa platéia, mas não vi
ninguém. Depois recebo um dinheiro de RS e fico
preocupado em perdê-lo, vou a um banco e o caixa é o
Pedro Paulo Rangel, ator, que não vejo há décadas.
Na seqüência, esquilos me apontam um caminho
dentro de um parque, eu queria muito ver a atração que
eles indicam mas penso que esquilos não apontam. Sei que
sonho, tento voar mas estou pesado. Depois esqueço, estou
chegando a casa de um amigo, esse existe, é diretor de
teatro e planejamos um musical estilo Disney, cheio de
efeitos, o Pedro Paulo Rangel está lá de novo. O ator adora
a idéia. O diretor não.
Não acaba. Estou agora numa praia, parece nordeste,
há um prédio em construção, eu observo trabalhadores
inflarem um imenso balão, que vai erguer um carro
amarelo, de corrida. Na mesma construção, procuro
cigarros numa gaveta, os operários brigam comigo eu toco
suas cabeças e eles viram montes de cinzas. Tudo isso
passa devagar, é sempre dia, entendo que estou sonhando,
quero acordar mas não consigo. Tudo muito nítido. E
assustador.
Cccccccccccccccc
Quando acordei, resultado, estava cansado de novo.
Havia andado muito nos sonhos. O mal-humor resultante
me fez entender que um parque era como todos, hoje seria
o primeiro dia da Universal. Lembrei que haveria mais dois
dias para aquele parque, o que eu já sabia com certeza é
que não iria conhecer nem a metade.
Minha mulher insiste, já serão dois dias perdidos para
mim, faz um esforço, vai. Não deu, é um nó que vem na
cabeça desses que não desatam. Os argumentos para ficar
foram dormir até tarde, ver TV, piscina e recolher
anotações para o livro. Minha filha não demonstrou a
menor vontade de ficar, nenhum dia, até apelamos para
ficarmos os três e ver outras coisas. Ela dormiu nos ônibus,
dormiu nos parques, dormiu nas atrações, mas não perdeu
nada.
Ccccccccccccccccccccccccccc
Um antigo show da CBS, The Price is Right, vai
mudar de apresentador, Drew Carey, substitui Bob Barker,
veterano da TV que se aposenta. Drew é conhecido dos
canais a cabo no Brasil pelo show dele, Who line is this
anyway, de humor com improviso. The Price is Righ é um
dos quadros adaptados do SBT, onde as pessoas chutam
uns números. Qual a percentagem de ladrões no Congresso
Nacional ? 20%, 23 % , 97 % ? Acertou !
Com a TV nos EUA você entende que não há quase
nada de original na TV do Brasil, algumas cópias são
propositalmente mal feitas, para custar pouco, testar o
público. Um crime contra a criatividade nacional. Vai
entender. Será que alguma TV paga pela concessão?
Quando anunciam sua própria programação, ou suas
empresas, não deveriam pagar por isso, se é concessão e
não doação? Ver TV nos EUA não me responde nada disso,
acho que não existe resposta. Como cabeça de bacalhau e
mosca branca.
ccccccccccccccccccccccccccccc
Depois, o almoço de micro-ondas, no quarto, com
lasanha quase de carne, US$ 1, do Wallgreens. Um
supermercado de bairro em Orlando podia ser exemplar da
vida cotidiana deles. Pena que nesse caso é uma grande
loja de conveniência para turistas. Tudo embalado, milhares
de embalagens, centenas de opções de escolha, sanduíches
de máquinas, roupas, relógios. Mas o preço é alto para
esses artigos mais caros.
Instigado pela nova visita ao Wallgreens, ia voltar de
bloquinho na mão para anotar aquilo tudo. A timidez de
iniciante me limitou a anotar coisas na loja de
conveniência, bem menor, do hotel. Estava atrás de coisas
estranhas. Salada de frutas não tem caldo, pode ser só ali
naquela loja. Mas nas embalagens de batatas chips e alguns
biscoitos salgados vi sabores como churrasco com mel e
morango com queijo.
Loja de hotel é tudo igual, no mundo todo. Muito
caro. A mesma lasanha de um dólar no Wallgreens da
esquina custava cinco dólares no hotel. Uma cerveja Foster,
cinco dólares. Outra coisa que notei mas deve ser coisa de
hotel. Havia meia prateleira numa geladeira para frutas e
uma cesta de bananas e laranjas sobre o balcão. Uma
banana, um dólar. Mas eu contei duas gôndolas de
supermercado com mais de 40 tipos de chocolates, outras
duas com batata chips. Tem um saco de Doritos quase do
tamanho do meu braço.
Os atendentes estranharam o sujeito de bloco na mão
anotando preços há quase quinze minutos, mas não
chamaram o segurança. Também não responderam
nenhuma pergunta sobre fornecedores, quanto tempo fica
um sanduíche na geladeira ou como se livravam do lixo.
Com eles é tipo, thank you, sir , have a nice day , next .
Obrigado, senhor, tenha um bom dia, o próximo.
Quando elas chegaram à noite, falavam como duas
rádios paralelas. As maravilhas da Universal Studios,
Simulador do Homem Aranha. Montanha Russa com duas
vias no mesmo espaço, como um duelo de dragões. Uma
praça com lago e calçadas em volta. Eu quase me
arrependo de não ter ido ao primeiro dia de Universal
Studios. Mas amanhã tem mais.
Canto XIX O Vilão da Disney
My life it’s such a mess
Let’s have a Brahma
Chansong
Tom Jobim
Faltam três dias para acabar a viagem. Imerso na
vida de turista, sem trabalhar, diversão em quantidade além
da conta, dá para se acostumar e pensar em aposentadoria
precoce. Muitos aposentados nos EUA vêm para cá,
compram casas em condomínios e passam a vida entre a
piscina, a TV, o golf, o jogo de bridge. Uma parte deles vai
para os parques, à trabalho.
Nos parques da Disney, com exceção dos aquáticos,
vemos muitos idosos no atendimento. No Magic Kingdom é
evidente a preferência de cidadãos na casa dos 70 anos em
contato com o público. Até segurança eu vi. São
aposentados que retornam ao batente ganhando menos,
trabalham por evidente vontade de ocupar o tempo, e não
por dinheiro. São todos muito bem humorados. Quem não
ama o trabalho fica mal humorado em fazer algo
desagradável por tanto tempo. Convenhamos, oito horas
por dia é muito.
ccccccccccccccccccccc
No dia em que fui conhecer os parques da Universal
Studios estava com a sensação boa e ruim de que a viagem
mais intensa da minha vida estava para chegar ao fim.
Sensação boa de continuar a vida real, voltar às dívidas, às
promessas, aos caminhos para levar um pouco mais de
música a alguns poucos ouvidos brasileiros. A sensação
ruim é que vou deixar de viver num lugar onde tudo
funciona. Basta ter os dólares. Alguns milhares por mês.
Tudo dá certo.
O Tom Jobim definiu essa questão. Como todo
candidato a gênio, tornava simples o que parece
complicado, tanto em música quanto em comportamento
humano. O Maestro morou em Nova York. O porteiro do
seu prédio o chamava de Mr. Joe Bean, Jonas Feijão.
Então dizia o Feijão sobre Brasil e Estados Unidos:
Aqui nos Estates é bom, mas é uma merda. E no Brasil é
uma merda, mas é bom. Desculpe aí a palavra forte, você
que continua aqui, ao longo da história, já percebe que
forte também é a questão.
Acrescento a este gênio brasileiro a fala de outro
gênio, Van Gogh, pintor expressionista holandês, que viveu
muitos anos na França. Pátria, dizia ele, é onde vivemos e
realizamos nossos sonhos.
Cccccccccccccc
Pai, você tem que ir no Hulk, tem que ver o
simulador do Homem-Aranha, tem isso, tem aquilo! Minha
filha já delineava o novo dia de parques enquanto minha
mulher relatava os tamanhos a serem percorridos. E como
elas gostam muito de mim, lembraram que na Universal
tem uma coisa que eu procurava desde o início da viagem.
Forrest Gump.
A Universal tem história. Carl Laemmle era um
imigrante alemão que vendia gravatas em sua loja, no
Wincousin, estado do Nordeste Americano. Um dia foi ao
cinema em Chicago, estado vizinho do Illinois, um dia de
1905. Eram os Nickelodeons, cinema por um níquel.
Gostou tanto que decidiu ser o dono de uma sala daquelas.
Sete anos depois, estava fundada a Universal Studios,
porque depois de conseguir alguns teatros arrendados para
passar os filmes, Carl percebeu que havia mais lucro em
fazer os filmes.
A Universal hoje é a segunda mais antiga empresa de
cinema em Hollywood, a primeira é a Paramount. Foi da
Universal o primeiro grande estúdio, galpão de uns
quinhentos metros quadrados. Desde aquela época Carl
promovia a visita de turistas aos estúdios de sua empresa.
Quando a MGM passou à frente da Universal em 1925, a
empresa nunca mais foi a mesma. Até 1950, Carl insistiu em
manter a rede de cinemas, o que atrasou a evolução da
Universal como estúdio de cinema
Hoje a Universal Studios está em parte coligada a
rede de TV NBC. São propriedades de uma sociedade da
General Eletric com quase 80% e um grupo de água
mineral francês, Vivendi, com quase 20%. O resto está na
Bolsa de Valores, se você quiser pode ser sócio também.
Os parques pertencem portanto a uma empresa que vende
geradores de eletricidade, ideal para quem possui
montanhas-russas e cinemas.
cccccccccccccccccccccccccccccc
O dois grandes concorrentes em Orlando, Universal e
Disney, já estiveram juntos, em 1925. Um dos primeiros
produtos de Disney, ainda uma empresa pequena, foi o
desenho Oswald, The Lucky Rabbit, feito pelo amigo e
sócio de Disney, Ub Iwerks. Levaram para a Universal
produzir e distribuir. Dois anos depois, Carl Laemmle
achou que já podia fazer o desenho com seus animadores
e desfez o contrato com Disney. Ub foi convidado a ficar,
mais saiu com Disney.
Os dois então procuraram algo parecido para
continuarem em Hollywood, com animação. Encontraram
numa foto de Walt Disney, bem jovem. Ub havia
desenhado na moldura branca da foto, um esboço de um
rato com orelhas redondas, que seria um marinheiro. Era o
Mickey, de SteamBoat, Willie, a primeira animação do
roedor. Por tabela, a Universal ajudou os dois a chegarem
no ratinho de ouro.
Iweks foi amigo de Disney até o fim. Mas tentou por
doze anos – 1928 a 1940 - emplacar outros empregos e
também seu Iwerks Studio. Depois voltou para a Disney,
trabalhou em efeitos de pós-produção, fez o primeiro filme
que reunia atores e desenhos, terminou como responsável
pela equipe da Imageneering, que fazia os parques. Iwerks,
o pai do Mickey – Disney foi a mãe, o nutriu – morreu no
ano da inauguração da Disneyworld, 1971. Era americano
de Kansas City, descendente de alemães.
A Universal têm três parques, chamados de Ilhas.
Uma com montanhas-russas, uma com atrações de cinema
e shows, e a última misturada dos dois. A ligar tudo isso
tem um lago – todos os parques têm – onde acontece show
noturno com dublês e acrobatas em jetskis. Nas margens
do lago uma praça imensa, com atrações em bares e
restaurantes.
A NBA é uma casa de jogos e venda de produtos
para basquete. Há uma estátua de uns cinco metros de
altura, de um jogador que não conheço. O Hard Rock Café
é uma arena para milhares de pessoas onde acontecem
grandes shows. Tem ainda um restaurante com peças de
colecionadores de astros do rock, desde Ray Charles até
Green Day. Elvis está num vitral, como um deus.
Nos parques vimos simuladores tipo T1, Jimmy
Nêutron, e num simulador T2 aconteceu uma coisa
engraçada. Era o Exterminador do Futuro, que nos leva
para dentro da CyberDine, empresa onde, no filme, começa
a revolução das máquinas.
Antes de entrar na atração, num filme bem
marqueteiro, a CyberDine está vendendo o soldado do
futuro para nós, quando a mensagem é interrompida pelos
heróis do filme, os O’Connors, o filho e a mãe. Vamos
então a uma sala de cinema, no palco vários engenhos,
acho que vai ter teatro também. O filme é 3D, os atores
encenam uma revolta na Cyberdine, com tiros, motos no
palco, uma zoeira doida. Até que um raio cai lá fora, eu
acho, e tudo pára, as luzes acendem. É claro que 100% dos
presentes acharam que tudo fazia parte da trama.
Ficamos parados, uma voz ao microfone explicava a
interrupção por causa da chuva, mas todo mundo, ah, é
mesmo, e agora vem o quê, cadê o Exterminador? Ninguém
se mexeu. Precisou vir dois guardas com voz forte, mandar
todos se levantarem e saírem da atração.
Depois de um certo tempo comendo sanduíches,
você percebe outras coisas para provar. Quem gosta de
macarrão se faz por aqui, apesar da pimenta. Os churros
são deliciosos, grandes, mas não pesam e nem tem recheio.
Na praça da Universal descobrimos uma loja que vende
bolinhos de canela, parecidos com churros, muito bom. E o
Starbuck era bem em frente.
Nessa altura da praça tem o restaurante do BubbaGump, uma sociedade surgida no Forrest Gump, filme que
é uma pequena aula de história contemporânea sobre os
gringos. Resisti aos camarões fritos mas não resisti a um
boné, por quase 18 dólares. Cap, como eles chamam.
O pessoal da excursão também dá seus sinais de
cansaço, Uma das irmãs que trouxeram os filhos teve que
voltar outro dia para o Hotel mais cedo, se sentiu mal do
estômago. Um dos Mirmidões, também. A comida é difícil
de se adaptar, mas acho que tem a ver com o calor e o
cansaço. No ônibus todos dormem.
Ccccccccccccccccccccccccc
No Hotel, jantamos lasanha à bolonhesa e pizza de
caixa, do microwave oven. À noite, mais TV. Assistimos
Hanna Montana, uma série de humor com adolescentes
que cantam, no canal Disney. Minha filha entende uma
parte, eu completo para ela. Nunca vi minha filha tão
decidida, intensa, e sem pensar na vida. Essa idade é fogo,
nem uma coisa, nem outra, todos te dizendo que você vai
mudar logo. E você não muda!
Se minha filha está bem, estamos bem eu e minha
mulher. Saio para fumar um cigarro, dou de cara com a lua
cheia, um espetáculo inigualável por nenhum engenho
humano. A Lua por aqui parece maior, ou estamos mais
perto dela. Ao lado, na paisagem do quinto andar, fogos de
artifício explodem como todas as noites.
Canto XX Os deuses e os animais
“Ah, como é difícil tornar-se herói “”
Aldir Blanc e João Bosco
Desde o início da Disneylíada, em março,
minha filha relatava, a cada duas horas, a seqüência de
brinquedos que não iria perder. O elevador do Hotel do
Terror, como ela chamava o Hollywood Hotel, na Disney
MGM. O Magic Kingdom, e o Animal Kingdom. Quando
mudava a lista, qual fosse a mudança, o Animal Kingdom
estava lá.
Hoje é o dia do Animal Kingdom, o Busch Gardens
da Disney. Não sei quem copiou quem, desconfio que o
Busch Gardens é mais antigo, tem uma montanha-russa de
madeira, que me recusei a andar. Mas primeiro vamos no
Typhoon Lagoon, a Lagoa do Tufão, o segundo parque
aquático no complexo da Disney.
Fez sol, diferente do primeiro parque, o Blizzard
Beach. Porém a rápida lotação dos brinquedos é comum
entre os dois parques. Por isso sugeri a minha mulher e
minha filha irmos primeiro no mergulho com tubarões, que
me pareceu coisa demorada, criadora de filas. O problema
é que os bichos gostam de água muito fria, eram nove da
manhã. Corremos dali, não deu.
No alto de um monte artificial, no centro do
Typhoon, tem um barco cenográfico, lembrança de um
furação que passou por lá e criou uma cena real dessas.
Abaixo, uma piscina abrangente – estou apelando – com
ondas a cada minuto. Você ouve um barulho, tum, e lá
vem a onda. É meio metro de onda mas tem escola de surf
no parque. A água é azul e não tem cloro, acho que tem
zinco. O fundo é de cimento, rala o pé. Muita gente usa
sapatos de borracha alugados no parque, por higiene e
segurança, mas a grande maioria anda de chinelos e
sandálias. Não vi nenhum homem ou garoto de sunga,
nenhuma garota com biquíni cavadão, só calçolão. Minha
senhora, por favor, não me tome por libidinoso, ainda mais
num livro assim tão infanto-juvenil, mas é que vou à praia
no Rio de Janeiro, e a total inexistência de biquínis
brasileiros me pareceu outro mundo.
Aluga-se armários, dá para tomar banho, trocar de
roupa, e ir para outro parque. Lembre-se de levar uma
mochila bem equipada, sempre. Capas de chuva nessa
época são tão indispensáveis que destruímos duas de tanto
usar.
cccccccccccccccccccccccccccccccc
No complexo da Disney, vamos pegar os ônibus
deles. Essa demora nos deslocamentos é freqüente, todos
se jogam no chão, dormem mirmidões e vestais ao sol de
Parador. Numa dessas paradas, vimos as instalações de um
haras, com uns 40 cavalos. É parte de um hotel resort, Fort
Wilderness, ambiente rural. Não vi o hotel. Quem vai lá,
esquece celular e TV, pode viver como no Velho Oeste.
Com os confortos de hoje em dia, se quiser.
No Animal Kingdom, vamos direto para o restaurante
de sanduíche. Depois o passeio principal é entre os animais
de verdade. Eles drenaram uma grande área para ficar
semelhante ao deserto do Serenguetti, e trouxera girafas,
leões, rinoceronte, gado indiano, gnus, hipopótamos,
guepardos, tudo para a gente passear no meio deles.
Deve ter uns funcionários do parque escondidos
pelos matos para tocar os bichos para perto das trilhas, ou
deixam por lá os alimentos nos locais preferidos. Os bichos
chegam bem perto do carro, menos os felinos. Eles
simulam ainda que há caçadores no local, passamos por
uma cabana de camping e dentro de uma mala de um
Jeep tinha um animatronic de pequeno rinoceronte.
O Animal Kingdom têm lá suas divisões por países da
África e Índia, e suas montanhas-russas são fechadas. A que
tem uma queda d’água não fui, mas não perdi a maior,
Everest. Simula uma subida ao monte famoso do Tibet, e
tem o fato de que pára dentro de uma caverna, anda para
trás, um tanto rápido, e muda de trilho para completar o
circuito. Você vê um imenso boneco do Yeti, da lenda do
Pé-Grande.
Por falar em Pé Grande, dei uma topada na porta de
um restaurante, o dedão sangra. Vamos a um ambulatório,
eu e um dos garotos, que havia danificado o mesmo dedo,
o que leva mais topadas. Cinco minutos depois estamos
com band-aids que contém uma pomada meio anestésica.
Pensei na propaganda dos advogados para turistas, quem
sabe eu não ganhava outra viagem para o ano que vem?
Desisti, por gratidão a todas as emoções concedidas por
eles.
Cccccccccccccccccccccc
O Marrocos, norte da África, dentro do Animal
Kingdom, foi o mais perto que cheguei do cenário da
Ilíada, trecho do mar Mediterrâneo conhecido por Mar
Grego. Não há nenhuma referência aos gregos em toda a
viagem, nem o filme do Hércules eu vi. A Grécia hoje é
destino turístico cinco estrelas do mundo todo, dezenas de
transatlânticos pelas ilhotas entre Atenas e Anatólia.
Concorrência.
Na Ilíada estávamos no Canto XV quando Poséidon
pede a Hipnos que passe a mão na cara de Zeus, fazendoo dormir. Digamos que, em termos de futebol, o jogo
estava cinco a cinco e os melhores lances, no meu humilde
entender de Ilíada, foram nos Cantos III, XIX e XXII.
No canto três, Menelau duela com Paris, quem
sobrevivesse levava Helena para casa e a guerra acabaria
com um só morto. Isso era um hábito mostrado no filme
Tróia, logo no começo. Os generais poupavam
soldadoscom isso e não raro faziam aliados para saquear a
próxima nação juntos. Menelau vence, mas a deusa
Afrodite interfere, livra Paris do vexame de ser morto, e o
pacto para o fim da guerra se desmancha no ar.
O Canto dezenove é a virada da história. Aquiles
finalmente faz as pazes com Agamenon, depois que seu
amigo Pátroclo é morto por Heitor, que ainda leva a
armadura de Aquiles. Ele emprestara ao companheiro. Mas
no filme Tróia eles mudam tudo, criam um clima de que foi
Pátroclo quem teria saído às escondidas. Besteira, o filme é
muito ruim, salva-se o Brad Pitt, o Peter O’Toole e o Eric
Bania, respectivamente como Aquiles, Príamo e Heitor.
Eles nem consideraram a hipótese de colocar os deuses em
atuação. Por isso vamos deixar o filme de lado.
O canto vinte e dois é o duelo maior da história.
Quando uma cultura acaba com a outra, desfaz seu
manancial de qualidades. Diz Aquiles a Heitor antes da
luta: a caça não pode fazer tratos com o caçador. Aquiles
mata-o e nega o direito entre guerreiros de restituir o corpo
do derrotado para os funerais adequados. Cruel como um
deus. Acho que Homero determina ali o fim da história,
venceram os reinos mais fortes, que ficam do lado da
Grécia de hoje, perderam as tribos que ficavam do outro
lado, a Turquia. Homero era grego, quem vence conta a
história como lhe convêm.
Os últimos capítulos da Ilíada são os funerais de
Patróclo e de Heitor. O pai do guerreiro derrotado, Príamo,
vai à tenda de Aquiles, correndo o risco de nunca mais
voltar. Pede ao guerreiro Semi-deus que devolva o corpo
do filho Heitor, para os rituais. Aquiles, finalmente humano,
se emociona e concede o pedido, garantindo a volta de
Príamo aos muros até então intactos de Tróia. A morte de
Aquiles, por uma flecha envenenada de Páris, no calcanhar,
também está fora da Ilíada, é contada na Eneida, do poeta
romano Virgílio, muitos séculos depois. Assim como o
Cavalo de Tróia, artimanha de Ulisses para colocar
soldados dentro da cidade murada e com isso vencer a
guerra mais famosa da Antiguidade.
Canto XXI Começa a despedida
Tatoos of memories and dead skin on trial
The Time of Your Life Green Day
Converso com Lily, a brasileira que vive em
Nova York e acompanha a filha que veio do Brasil, a
menina tímida. Ela explica que os americanos em Nova
York são diferentes daqui, lá a concorrência é mais forte
por tudo, os táxis são disputados à tapa na rua, mas se
você tem força de trabalho e produz, sempre aparece
alguém para ajudar. Ela descansa na viagem mas não deixa
de ver os e-mails, organizar serviços para quem ficou no
seu lugar, nos pontos de venda que ela tem. Está a um ano
e meio, tem visto de trabalho.
A filha nem é tão tímida assim. Tem o hábito
de conferir a pintura dos olhos num pequeno espelho, a
cada hora, pelo menos. Quem descobriu primeiro foi a
menor, ficaram grandes amigas, e das Vestais também.
Quanto mais avança o conhecimento, mais conversas você
ouve. Já falam em saudade, em novos encontros.
Estivemos até agora quase quinze dias juntos,
na maratona de parques e compras, ônibus e esperas,
sempre juntos quase no mesmo passo. Imagino como seria
esticar uma excursão destas até o máximo, uns três meses
nessa rotina fora do comum. Como aquele sujeito que
passou um mês almoçando em cadeias de sanduíches, para
testar a resistência do organismo àquela dieta fast-food. Eu
endoidava com certeza, perderia os sentidos para a
realidade, numa dose excessiva de fantasia. A única coisa
boa seria conviver e conhecer melhor todos os novos
amigos da excursão. Cada ser humano é um parque cheio
de atrações.
De novo na Universal, dou uma fugida do grupo e
vou às montanhas russas do Hulk, setenta minutos de
espera, e as gêmeas Duel of Dragons, onde esperei quinze
minutos na primeira vez, vinte e cinco na segunda. E o
parque estava lotado. A Duel são duas montanhas russas
entrelaçadas, uma azul outra vermelha, os caminhos são
surpreendentes, com loopings torcidos no meio e quedas
laterais repentinas.
Reencontrei o grupo nos simuladores T2, modelos
grandes. Fomos ao Terremoto e ao Tornado. Ambos são
sobre filmes de cataclismas, um perigo cotidiano dos
americanos. No Terremoto tem uma aula sobre os
terremotos em Los Angeles, durante a fila. Também
ensinam a fazer o cromaquei, um truque de cinema, numa
ante-sala. Pessoas da platéia vão ao palco e aparecem num
submarino em alto-mar. Depois entramos num carrinho que
imita o metrô. Ele pára numa estação e começa o
Terremoto. Bem realista.
No Tornado, a mesma coisa. Um vídeo mostra o
making off do filme, misturado a histórias reais. Prometem
nos fazer sentir a condição de estar próximo de um
tornado. No brinquedo estamos de pé no cenário do filme
Twister, quando o tornado chega à noite, por dentro de um
cinema drive-in e atinge a garagem onde os personagens
estão. È bastante vento, chuva, uns carros se movem, o
telhado cai, pega fogo no posto de gasolina, bem legal.
Por volta das quatro da tarde chove mais uma vez.
Choveu quase todos os dias, por uma hora ou duas no
máximo, com exceção de um dia que ficou nublado. O
calor é forte mas não faltam recursos para amenizá-lo.
Todos os parques têm grandes ventiladores que espirram
água, no interior das atrações, ar condicionado. Chapéus,
óculos e filtro-solares arrematam o resto do problema.
Apesar dos parques cheios, verão é uma época em que as
pessoas estão mais encantadas, mais dispostas à diversão.
Cansados e felizes, saímos pela esteira rolante do
complexo da Universal, nesse último dia de parques. Toca
Green Day no sistema de som, um verso me chama
atenção. I hope you had the time of your life. Espero que
você tenha aproveitado a sua vida. Combina. Tem gosto de
final da história.
Cccccccccccccccccccccc
Fim dos parques, começo da volta. Ainda vamos
nesse dia, à noite, fazer mais umas compras na tal Yes,
Brasil, mas ninguém está disposto a encarar o restaurante
Camila’s, acho que comemos o suficiente na Universal,
onde há bons restaurantes e lanches diferentes, como a loja
de bolinhos de canela.
Tiro de dentro das calças mais uma vez a bolsa
colada ao corpo, onde por toda a viagem guardei dinheiro,
cartões, cópias de passaporte, chave do cofre do hotel.
Presente de Vovó Cassandra. Entrego os últimos travellers a
minha mulher e minha filha e fico namorando as notas
verdes de dólar. Enquanto espero pelas duas nas últimas
compras, vejo que o dinheiro americano dá dicas da
história deles, suas crenças comuns.
cccccccccccccccccc
A nota de um dólar tem aquele selo de pirâmide com
inscrições em latim. Annuit coeptis, novus ordo seclorum.
Significa mais ou menos, concordamos com a nova ordem
que começa. Vem com a figura de George Washington, um
agrimensor que virou general na luta contra os Ingleses e
depois da
americano.
independência
foi
o primeiro presidente
Tem ainda o selo da águia, segura flechas numa pata
e um ramo de oliveira na outra. Guerra e Paz. No alto da
cabeça da águia, um símbolo interessante. São 13 estrelas –
os treze estados independentes – posicionadas em forma
de estrela de Davi. Símbolo dos Judeus. A pirâmide é
símbolo dos Maçons. Mistura produtiva.
Todas as notas são feitas de papel verde ou laranja,
com tinta verde e preta. As notas mais novas tem um
desenho mais limpo, sem tantos símbolos, ou margens com
desenhos barrocos, gongóricos, como as antigas. Mas em
compensação possuem mais selos de segurança, em
dourado, além de marcas d’água mais modernas.
Na nota de dois dólares, tem o Thomas Jefferson,
terceiro presidente americano, filósofo iluminista, arquiteto
e dono de terras. Mais um que lutou na independência. No
outro lado da nota, a cena da declaração da Independência
e quase os mesmos símbolos da única nota menor que ela,
a de um dólar.
A nota de cinco dólares traz Abrahan Lincoln sentado
num trono gigante, como no memorial dele, em
Washington. Tudo sustentado em colunas em mármore,
como nos templos dos deuses antigos. Parece a Acrópole
de Atenas. Por aqui gostam muito dele.
Lincoln foi o décimo-sexto presidente, o primeiro
eleito pelo Partido Republicano. Acho que ele colocou os
Estados Unidos no século XX, ainda em 1860, quando
venceu as eleições na firme promessa de libertar os
escravos de todo o país e torná-los cidadãos consumidores
e produtivos. Cumpriu a segunda metade. Mas teve que
aceitar a Guerra Civil, para isso.
Treze Estados do Sul, com economia fundada em
latifúndios com escravos, declararam a guerra, não
aceitaram a eleição de Lincoln. Foram quatro anos de
presidência e de guerra civil. 600 mil eleitores a menos,
dois terços soldados de ambos os lados. Inclusive o
presidente Lincoln, assassinado num teatro, por um oficial
do exército derrotado. Foi desse ódio da derrota que
nasceu a Ku Klux Klan, um grupo radical que executa
negros no sul dos EUA até hoje. Chegou a ter 20 milhões
de seguidores, mesmo banida como associação formal em
1870.
A nota de dez, Alexander Hamilton, legislador. A
nota de vinte, Andrew Jackson, sétimo presidente
americano, um dos fundadores do partido democrata. A
nota de cinqüenta, Ulisses Grant, o general que venceu a
guerra para Lincoln.
E chegamos a minha preferida. A nota de cem
dólares, com o sorridente inventor Benjamin Franklin,
cientista, geógrafo, incentivador dos Correios e Telégrafos,
pertencia a Sociedade Lunar. Todos participaram de
momentos históricos, todos estiveram em guerras. Há 350
bilhões de dólares em circulação, uns duzentos aqui
comigo.
Ccccccccccccccccccccccccccccccccccc
Sentados na calçada da loja brasileira, mirmidões e
vestais mostram fotos nas câmeras digitais e relembram as
histórias desde o início. Teve um que dormiu escondido
num parque mas foi encontrado. Alguém que caiu num
chafariz por causa do calor. Outro que testou uma máquina
de cortar cabelos na cabeça do Menor. Óculos, roupas e
aquela cartola de referência, perdidos. As dificuldades com
as moedas, com a comida, com a língua estrangeira, todos
concordam que deveriam ter estudado mais naqueles
cursos de inglês no Brasil. Todos concordam também que
foi tudo muito bom, vale qualquer esforço ou
aborrecimento. Já passa da meia-noite, hoje é o dia da
volta.
Canto XXII O dia da volta
“Pode ir armando o Coreto
e preparando aquele feijão preto,
eu tô voltando “
Chico Buarque
Não consigo parar de sonhar. Esta noite estou
numa favela que nunca vi, encontro artistas populares que
trabalham com couro e barro. Parecem personagens de um
livro de Sebastião Salgado. Um deles explica a invenção do
seu teleférico, onde vou andar. Tem uma cadeira só e voa
por sobre um canal. Quando olho para a ponte sobre o
canal, pessoas discutem e começam um tiroteio. Pulo do
teleférico e me escondo dentro de um barraco de zinco,
um depósito de material de construção. Fico preocupado se
os artistas fugiram também. Quando saio, não há mais nada
nem ninguém. Tudo é branco e com muita luz.
Acordei assim, no meio da noite. No bloco de notas
ao lado da cama, escrevo mais um sonho. Penso que estou
vivendo como um escritor de verdade, tomando notas no
meio da noite, com ganas de explicar por que nada no
mundo é banal ou transitório. Tudo está repleto de
significados, vive mais quem entende mais.
O sonho é mau augúrio, estou voltando para uma
guerra civil. Nos jornais daqui nada vi sobre isso, nem
sobre o Pan do Rio. Nem sobre o acidente da TAM. Essa
noite mal-dormida será como a próxima, dentro do boi
voador.
Cccccccccccccccccccccccccc
Conforme RS já explicava há dois dias, há regras para
seguir e facilitar a volta para casa, principalmente das
bagagens. Desde a manhã, todos têm que ficar de olho nas
bagagens, à partir do momento em que são colocadas fora
dos quartos, para os carregadores levarem.
De novo checamos vinte vezes. Cada bagagem a ser
despachada deve estar com selo de identificação e cartão
de seguro. Uma fita vermelha também ajuda a localizar
mais rápido sua mala na esteira do desembarque. Temos
uma bolsa à mais, que está lotada de compras. Pesa muito.
Pode dar problemas, mas não temos outra saída, não
compramos malas. Distribuímos as compras pelas malas a
serem despachadas, vestimos coisas novas e os i-pod foram
na mão. Não ultrapassamos a cota.
No último café da manhã distribuo mais dólares em
notas de um, um sacrifício aos deuses Burocraxion,
Conexius e Cansaxion. Vários garçons, algumas
arrumadeiras e um porteiro ganham mais uma foto do
Washington na carteira deles. São todos muito gratos e
eficientes, tem escrito thank you em vários lugares,
inclusive nos palitos de fósforos de papelão que eu pegava
todo dia na loja de (f)utilidades do Hotel.
Antes de sair tiro mais fotos do quinto andar do
Hotel, reparo que os telhados de Orlando são todos
decorados, não se vê caixa d’água, torre de elevador,
antena de TV, um cuidado de cenário para visitantes.
Enquanto saímos do Hotel, acompanhamos as malas e
conferimos o material que ficará em nossas mãos, bolsas
com passatempos, passaportes com o I-94 e dinheiro.
Temos quase mil fotos na máquina digital, e um dia inteiro
pela frente em ônibus, aeroportos e aviões para lembrar
dos quinze dias nesta cidade feita para encantar turistas de
qualquer idade, cultura ou religião.
ccccccccccccccccccccccccccccc
O ônibus segue para Tampa, há cinqüenta minutos.
São quase uma da tarde e pegaremos um vôo às quatro
para Miami. Na hora de despachar as malas, um susto,
como no início da viagem. Mas desta vez é por mala
demais e não de menos. O ajudante da agência me diz
que pela sua experiência minha bolsa de compras está
acima do peso, o que vai custar US$ 100, de excesso de
bagagem. Até colocar na balança, meu coração balança.
Não podia passar de 32 kg, deu 30,2 Kg. Salvo por um
quilo e oitocentas gramas. Se tivesse mais uns três
shampoos grandes, iriam custar bem caro.
Depois de tirar os sapatos de novo, ver as coisas no
raio-X, embarcamos para Miami quase seis da tarde, mas o
atraso não assusta RS que havia marcado o vôo de Miami
para o Brasil às onze da noite, o ônibus noturno da AA. No
vôo curto até Tampa, minha filha repara em duas
americanas que falam sem parar, eu reparo que minha filha
já se atreve a entender conversa dos outros, em inglês.
Os bancos do avião são muito próximos, é inevitável
acompanhar. Material para o fim da história. As Gringas
falam, como todo mundo, de família, trabalho, diversão,
como vêm as pessoas desconhecidas, como se relacionam
com as pessoas conhecidas, essas coisas. Tudo igual entre
pessoas do mundo todo, nas conversas que todos podem
ouvir.
Canto XXIII O comissário Stallone
“Nestas tortuosas trilhas, a viola me redime”
Paratodos
Chico Buarque
Desta vez o terminal em Miami não era o mesmo,
tivemos que andar algumas letras do alfabeto, do C ao E, se
não me engano, uns doze minutos. A tropa estava munida
de um certo espírito rebelde, talvez o cansaço de tanta
obediência à RS. Eu sei que três se perderam no caminho,
o local onde embarcaríamos não tinha opções de comida
depois das nove da noite, outros saíram depois, RS suou
um pouco ao final da viagem.
O menor também brilhou na ocasião. Vestido em
trajes de basquete de rua, com uma fivela imitando
diamantes com suas iniciais, RR, careca e de boné
invertido, teve seu bilhete para o Rio trocado de nome,
para Elisabeth. Foi o suficiente para um susto geral com
possível atraso e muita zoação com o moleque. Beth.
A menor carregava um imenso boneco de pelúcia da
Shamú e pulava de mão de mão entre os muitos amigos e
amigas que fez naturalmente. Essa menina tem estrela.
Numa das noites no hotel, por volta das onze, ela
desapareceu. Foi para um dos muitos quartos da garotada,
brincar e não avisou ao irmão e a mãe. Foram 20 minutos
de agonia para o irmão mais velho, a mãe e todos nós.
Voltou dormindo, no colo do irmão quase médico e quase
infartado. A santa inocência em pessoa.
No ponto de encontro do Terminal de Miami, local
de embarque do último vôo da viagem, concentram-se
outras excursões, uma delas de Minas Gerais com quase
oitenta pessoas. Falavam muito e alto, uma excitação de
quem começaria tudo de novo naquele instante, se assim
fosse possível. 90% adolescentes, grupo homogêneo.
Excursão festiva.
Foi quase assim que o turismo começou, com jovens
sedentos de aventura. Pelo menos nos tempos modernos. A
palavra turismo vem do inglês Grand Tour, a grande volta,
uma tradição entre alunos das Universidades de Oxford e
Cambridge, na Inglaterra. A Rainha Vitória bancava os
custos, os formandos, todos jovens, passavam de seis
meses a dois anos viajando pelo mundo, viagens que até
então eram hábitos de elite, de aventureiros ou de
religiosos.
O turismo de massa veio com os ingleses também,
um deles, Thomas Cook, organizou a primeira viagem de
um grupo pago. Ele alugou um trem para 570 pessoas irem
de Londres a uma palestra em Leicester, sobre os males do
álcool. Protestantes só vendem álcool, jamais tomam. A
Cook & Son tornou-se a primeira agência de viagens da
história. Criou o voucher, um bilhete de garantia para
hotéis e restaurantes. Seus concorrentes americanos, Wells
e Fargo, criaram o Traveller-check, numa empresa recém
inaugurada naquela época, uma tal de American Express.
Depois o turismo explodiu como cultura e fonte de
riquezas. Chegamos até Orlando, uma máquina de turismo
no tamanho das necessidades multinacionais dos
americanos. É indústria limpa, agregadora de pessoal e
difusora de cultura. Seria muito bom para o Brasil, se
alcançassemos o nível deles.
cccccccccccccccccccccccc
Mas o primeiro salto do turismo na história, para criar
na humanidade o hábito de viver temporariamente em
outras terras, outros ares, foi na Grécia, por volta do século
V A.C.
Os gregos, como vimos aqui, são resultado de vários
povos unidos por uma mitologia em comum. Cresceram
desse jeito, com língua comum, moeda comum. Mas
diferente dos outros povos, realizavam encontros gigantes,
as Olimpíadas, a cada quatro anos, com o objetivo de
celebrar a existência de Zeus e sua criação humana, em
vários sentidos, com os esportes, com as declamações, o
teatro, os banhos, os sacrifícios animais.
Os Romanos, herdeiros da filosofia e política dos
Gregos, deitaram estradas até a Inglaterra, Alemanha e
Espanha, então territórios de diferentes culturas, Celtas,
Bretãos, Gauleses. O turismo nunca mais parou de receber
suas facilidades, como estalagens, e o intinerarium,
primeiro mapa das estradas romanas.
Na Idade
Média foram as viagens À Terra Santa o grande fluxo
turístico e na Renascença, viajar, com os navegantes
portugueses, fez o mundo aumentar de tamanho.
Chegamos ao Iluminismo, pós Revolução Francesa, onde
viajar era símbolo de cultura científica e expedições de
aventura. Sob essa influência de lordes aventureiros, surgiu
o Grand Tour, dos universitários ingleses. E fechamos o
ciclo.
Ccccccccccccccccccccccccc
A volta no madrugadão da AA foi pior. O barulho da
garotada pão-de-queijo dentro do avião foi amplificado e a
total displicência com que foram tratados os reclamantes
pelos comissários deu o tom ácido do vôo. Havia um
comissário tão forte que não havia camisa no seu tamanho.
A camisa que ele usava estava prestes a explodir os botões.
Se aquele gigante levantasse a voz um pouquinho só, ao
pedir silêncio, todos se calariam no susto.
Tinha um americano bem na minha frente que não
parava de reclamar do barulho. Ele queria o melhor para
esposa, que estava doente. Os comissários diziam apenas
que não iam bancar as babás, se os guias da excursão
mineira não estavam fazendo isso, é porque devia ser
impossível. Eu fiz minha parte, pedi silêncio à garota no
banco de trás, com a voz forte e colocada, quase
assustador. Ela não falou mais, mas só durante uns dois
minutos.
Você, amigo leitor, querida leitora, jovens e jovens,
se você é mineiro ou mineira, não se sinta ofendido pela
crítica a esse grupo, por favor. O estado de espírito que vi
na lata voadora não é o Estado de Minas que eu conheço,
onde morei e aprendi o valor da música e das amizades.
Com tal barulho e tensão no ar, comissários em fim
de carreira, a poltrona dos insones, tentei assistir a mesma
série da TV, Wings, que vi no vôo de chegada, há quinze
dias. Era o mesmo episódio. Mas nem com o fone de
ouvido foi possível.
O silêncio das línguas cansadas só veio por volta das
duas da madrugada, tentei dormir de lado e sonhei.
Estávamos num ônibus, com RS na porta a entregar um por
um na sua casa, todos os amigos da excursão. Eu me sentia
feliz de ter acabado o tormento do avião, não via a hora de
chegar em casa.
Acordo e percebo que ainda faltam cinco horas de
viagem, compreendo melhor a necessidade de permanecer
nos sonhos, para que eles nos protejam da realidade
absurda que nos colocamos às vezes.
Canto XXIV O Brasil com S
“Minha alma canta,vejo o Rio de Janeiro”
Samba do Avião Tom e Vinícius
Quando amanhece o dia já estamos sobre o Brasil.
Antes que a barulhada recomece no avião, abro o livro que
tentei ler durante toda a viagem. Eça de Queiroz, contos.
Sem nenhuma preferência, escolho o primeiro conto, A
Perfeição. Mãe das coincidências ! Trata-se de Ulisses, um
dos generais da Ilíada.
Eça o colocou prisioneiro de uma deusa marinha,
Calipso. A deusa o nutre por oito anos, com todas as
benesses que um grande herói pode desejar, menos sair da
ilha de Ogígia, onde vive a deusa e sua corte. Ulisses é
prisioneiro da perfeição.
Lembro de tudo quanto foi perfeição ou pelo menos
intenção de ser perfeito na nossa viagem. É a busca
incessante dos americanos, talvez o resultado apenas de
uma necessidade comum aos povos do hemisfério Norte,
mais frio, mais desafiador à vida em geral. Eles não
escolheram ser daquele jeito, foi uma necessidade
climática. Hoje são prisioneiros de um sonho de perfeição.
Todos sonham, nem todos realizam.
É a sociedade dos que se encontraram naquele
país de clima rude, natureza rala, extremos e gigantismo
territorial e dela tiraram uma necessidade tamanha, em
proporção ao problema de viver por lá. E tinha que ser
rápido, ou não se vêem os filhos crescer, morreriam antes.
Por isso tanto respeito ao trabalho e a produção, e suas
manutenções. Mas também por isso, não se fala de outra
coisa.
Ulisses, farto da boa vida, encontra uma maneira de
fugir rezando aos deuses, cobrando dívidas de vitórias e
antigos sacrifícios. É atendido, Hermes visita Calipso com
ordens de Zeus de liberar o herói da Ilíada e da Odisséia.
Escreve o Eça ao final do conto:
- Quantos males te esperam, desgraçado, antes
ficasses, para toda imortalidade perfeita, na minha ilha, nos
meus braços perfeitos. Diz Calipso.Ulisses recuou, com um
brado magnífico.
- Oh, Deusa, o irreparável e supremo mal está na tua
perfeição!E através da vaga, fugiu, trepou sofregamente à
jangada, soltou vela, fendeu o mar, partiu para os
trabalhos, para as tormentas, para as misérias.
– Para as delícias das coisas imperfeitas!
Pois a delícia das coisas imperfeitas já pousava na
bandeja à minha frente. Um yogurte indecifrável, um café
da manhã com olhares de raiva e cansaço. Só mais uma
hora e pousaremos no Rio de Janeiro.
ccccccccccccccccccccccccc
Na saída do avião, o americano possesso deu um
chute numa das garotas da turma barulhenta do pão-de–
queijo. Eles foram à polícia, mas bastou alguns
depoimentos sobre a viagem para comprovar que o
americano foi até gentil com um só chute. Não deu em
nada. Estamos de volta ao Brasil.
Na fila da Polícia Federal esperamos quase uma hora
e meia, tudo bem, é a penúltima fila da viagem. Não há
entrevistas como na ida, nem revistas, como nos EUA. Ao
conferir nossos passaportes o oficial da Polícia Federal não
encontrou apenas um número para o nome de minha
mulher. Encontrou dois, lembram que lá no começo da
história ela teve que tirar de novo o passaporte?
Eu sabia que em algum lugar isso podia dar
encrenca. Ainda bem que foi aqui. O jovem oficial
recomendou que nos informássemos sobre o procedimento
correto com seus superiores, mas àquela hora da manhã
tudo que pedi foi, libera, aí, meu amigo! Ele liberou. Sem
custos. Obrigado.
Caro leitor, querida leitora, vamos falar do jeitinho
brasileiro, esse mecanismo absurdo que faz a maioria de nós
desrespeitar qualquer trato, em qualquer momento. Até os tratos
com a gente mesmo, as promessas de vida, sob a mais honrosa
das motivações, fiz pelos filhos, ou a mais fútil e cruel, o outro está
fazendo também. Num país imenso e com tal dimensão de
facilitação pessoal vai-se contra as regras que permitem a
melhoria de todos, ou pelo menos da maioria, como nos EUA.
Mas, meus amigos e amigas que chegaram até aqui, eu disse
isso tudo para mostrar até com mais firmeza - por que fui eu
mesmo que escrevi e li antes de vocês – o lado bom e mágico do
nosso jeitinho. É fazer de graça a um desconhecido o que você
poderia tranqüilamente estar cobrando uns reais a mais.
Quando eu saio de bicicleta e atravesso a minha cidade,
passo o dia com dois ou três reais no bolso, carrego meu isotônico
e depois encho de água nos botecos da vida. Ou peço regulagens
para Marcela, minha bike, que até já ganhou uns raios quebrados
e consertos de furo de pneus, de grátis. O jeitinho é a empatia dos
problemas em comum. É a simpatia nacional que fascina os
gringos e europeus.
E disso o Brasil está cheio, problemas em comum.
Arrisco até a dizer que acontece entre gente muito rica e muito
influente, que faz, aqui e ali, um favorecimento de classes, elege
um amigo para algum cargo influente. É tudo jeitinho também.
As conseqüências? É cada um por sua consciência de que ajudou
a pessoa certa, no momento exato que ela realmente precisava,
num evento que não prejudique a mais ninguém. Aí é que o
bicho pega, a maioria da população sempre se lasca. É o jeitão
brasileiro de andar.
cccccccccccccccccccccccccccccc
A caminho do último obstáculo, buscar as malas que
foram despachadas ainda em Tampa, procuro informações
sobre o Pan. O Brasil estava em quinto quando saímos,
terminou em terceiro, atrás dos EUA e de Cuba. Comentase que o bom resultado cubano se deve a um empréstimo
de Hugo Chavez, o presidente da Venezuela que sonha em
ser o novo Simon Bolívar, libertador das Américas. As
malas chegaram bem, Hugo Chavez que se dane.
Com o fim do Pan, volta a guerra civil carioca. O
acidente da TAM ganhou novas informações da mídia
sempre desinformada. Agora pode ser culpa do
equipamento, embora a pista ainda esteja entre os
suspeitos. Parece que a delícia das coisas imperfeitas não
funciona em aviação.
ccccccccccccccccccccccc
Recebemos as malas intactas, e um formulário, o
último, para declararmos o conteúdo das bagagens que
carregamos, se passa da cota, quanto passa. O formulário
era para ser entregue e preenchido calmamente dentro do
avião, mas não sei porque razão – fim de carreira – os
comissários não distribuíram para todos.
Já na saída para o saguão de desembarque do
aeroporto, a última fila. Se você mentiu e declarou não ter
nada, pode se dar bem, mas só recomendo para quem tem
nervos de aço. Há um botão que você aperta, se der verde,
você passa, se der vermelho, você vai ser revistado e suas
declarações conferidas. O meu foi vermelho, passaram pelo
raio-x e não deu nada. Eu havia dito a verdade.
cccccccccccccccc
Quinta-feira, 2 de Agosto, 9:15 da manhã. A viagem
acabou. Nos despedimos dos amigos de excursão com
promessas de nos vermos em breve, esticar um pouco a
convivência, quem sabe. Como o Destino faz força para
todas as coisas se separarem com o tempo, sinto que nunca
mais verei algumas daquelas pessoas.
Mas espero que não seja assim, se fizermos força no
sentido contrário. Também queria me despedir de vocês,
fiéis leitores e leitoras, que chegaram até aqui, no
penúltimo parágrafo da minha história de duas cabeças.

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