KARATE 6.pmd

Transcrição

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Editorial
Editor
Luis Filipe Pereira
Relações publicas
Joaquim Fernandes
Colaboraram neste número:
L.P.K., Manuela Trindade,
Tozé Lopes, Leonardo Pereira,
Hugo Pereira, Ana Pinto, José Durães,
Samantha Mendes, Liliana Sousa,
AWIKP, Osvaldo Fernandez,
U.S.R.P., Luis Mauricio Costa.
Fotografia:
Luis Pereira, Fernando Castro,
U.S.R.P, AWIKP, Guliver, Rogério Braz
A.A.M.A., CK Maia, Hugo Pereira
Conselheiros técnicos
da redacção:
(por ordem alfabética)
Carlos Pereira 5º Dan
Shito-Ryu
Daniel Coelho 6º Dan
Shito-Ryu
Jaime Pereira 7º Dan
Goju-Ryu
João Dias 5º Dan
Shito-Ryu
Jorge Monteiro 6º Dan
Goju-Ryu
José Lezon 5º Dan Wado-Ryu
José Ramos 6º Dan Shotokan
Marcelo Azevedo 6º Dan
Como vão verificar, este número 6 da Karate Portugal
apresenta-se com ligeiras alterações relativamente
ao conteúdo editado. Isto é o reflexo das
informações, conselhos e criticas que os vários
interveniente do Karate Nacional nos vão fazendo, e
nesse sentido vamos tentando melhorar, mas só com
o contributo de todos os que desejarem uma revista
da especialidade em Portugal é que conseguiremos
atingir os objectivos. Alertamos as Associações e
Clubes ou até praticantes, que estamos abertos a
publicar as vossas notícias ou artigos referentes ao
Karate.
Em relação à nova época desportiva salientamos a
presença de Portugal no Campeonato do Mundo
no México, as acções de formação da Federação
em Kumite e Kata, e o 1º Estágio Internacional de
Lagos, com o Sensei Deogracias Medina 6º Dan.
Shukokai
Peté Pacheco 6º Dan Shotokan
Raúl Cerveira 5º Dan Shotokai
Vilaça Pinto 6º Dan Shotokan
Colaboradores Permanentes:
Alda Albuquerque
Antes de mais, quero desejar a todos um bom início
de época desportiva.
Neste número aconselhamos a ler o artigo,
Motivação e abandono da prática Desportiva, e a
entrevista do Sensei Vilaça Pinto, na qual relata a sua
estadia no Japão.
Oss
4º Dan Shotokan
Abel Figueiredo 4º Dan Goju-Ryu
Fernando David
4º Dan Shito Ryu
João Cabaço
3º Dan Shotokan
Impressão e acabamentos:
Clones Print - Indústria Gráfica
Rua Álvaro de Castelões, 385
4200.046 Porto - Tel. 225500612
Tiragem: 2.000 Exemplares
Depósito legal : 204627/03
A Karate Portugal é uma publicação trimestral,
dedicada a noticiar e reportar actividades de
Karate independentemente de escola ou estilo,
ficando a direcção da revista com a decisão
final sobre a publicação de artigos que não se
enquadrem na filiosofia da mesma. Os artigos
assinados são da inteira responsabilidade dos
autores.
É proibida qualquer reprodução ou cópia por
qualquer meio, sem o prévio consentimento do
editor por escrito.
Luis Filipe Pereira
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Estágio na Madeira com Sensei
Carlos Pereira 5º Dan Shito Ryu
5º CAMPEONATO
EUROPEU DE KARATE
E.G.K.F.
Representação da N.P.K.
e do C.K. Maia
Ficaram seleccionados para o 5º
Campeonato Europeu de Goju-Ryu da
E.G.K.F. que se realiza nos próximos dias
1 2 e 3 de Outubro em St. Polten na
Áustria, nos escalões de Juvenis a
Seniores, os seguintes atletas:
Da NPK: Em KATA Femininos Juvenis,
Ana Rodrigues e Francisca Silva,
Masculinos Juvenis, João Santos e
Tiago Ferreira, Juniores, Daniel Santos,
em KUMITE Femininos Juvenis,
Francisca Silva, Cadetes, Maria Melo,
Masculinos Juvenis, Ivan Tavares.
Do C.K. Maia: Em KUMITE Juvenis,
Ana Macedo e Ana Coelho, Cadetes,
Nuno soares, Miguel Ferreira, Ricardo
Gonçalves, Marlyn Azevedo e Renata
Ferreira, Juniores, Nuno Moreira, César
Romão e Diogo Gonçalves.
ACTIVIDADES DA AKRAM
Realizou-se no dia 18 de Setembro uma
Acção de Formação sobre as regras de
Kumite, esta acção foi aberta a todos
os Atletas, Treinadores e Técnicos de
Arbitragem filiados na AKRAM na
época em curso.
No Domingo, dia 19 de Setembro,
realizaram-se dois treinos de Selecção
da AKRAM, paralelamente foram
realizadas as avaliações práticas do
curso de Juiz de Kumite.
Ambas as actividades tiveram lugar no
Pavilhão do Clube Desportivo São
Roque
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O Clube Desportivo São Roque (CDSR)
organizou no passado mês de Julho nos
dias 9,10 e 11 na Madeira um estágio de
Karate que foi ministrado pelo Sensei
Carlos Pereira 5º Dan, responsável
máximo em Portugal pelo Mabuni ShitoRyu Karate-Do Portugal.
Este estágio foi aberto a todos os
praticantes de Karate, com o objectivo de
divulgar e aperfeiçoar o estilo Shito Ryu
na Madeira.
Sensei Carlos Pereira 5º Dan
Sumário
Pág. 6 .....Estágio Nacional C.P. K.
Póvoa do Varzim
Pág. 8 .....5º Torneio Internacional de Karate
Cidade da Amadora
Pág.8- Torneio Internacional
de Karate Cidade da Amadora
Pág. 11.....Estágio Internacional de Shiai-Kumite da LPK
com: Christophe Pinna
Pág. 12.....27º Estágio Internacional de Artes Marciais
da União Shito-Ryu Portugal
Pág. 13 ....Conseitos de Teruo Chinen
por: Leornardo Pereira
Pág. 14.....O verdadeiro significado do Cinto Negro
por: Fernando David
Pág.18 - Caderno técnico
Pág. 15 ....V Torneio de Karate Cidade da Quarteira
Pág. 17.....5º Estágio de Karate Porto 2004
com Sensei José Ramos
Pág. 18.....Caderno técnicos das Escolas
Shito-Ryu / Shotokan / Shukokai / Goju-Ryu
Pág. 22 ....Torneio de Karate
GDC Aguçadourense - UKA
22 - Torneio de Karate
GDC Aguçadourense - UKA
Pág. 24 ....35º Aniversário do C.P.K.
Pág. 25.....21º Estágio Internacional da W.I.K.F. - Espanha
Pág. 26 ...O Treino Real...
Por: José Augusto
Pág. 27.....Arbitragem por: Fernando David
Pág. 28.....Estágio Internacional de Shito-Ryu - Algarve
Pág. 29.....Entrevista ao Sensei Vilaça Pinto
Pág. 36 ....Motivação e abandono da prática desportiva
por: Luis Miguel Mauricio da Costa
Pág.29 - Entrevista Sensei Vilaça Pinto
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…”temos que fazer uma kata como se
estivéssemos a combater”…
O objectivo, segundo o Sensei, foi aprofundar o
nível técnico na forma de fazer o karate e na
forma de movimentação no karate. Pretendeu-se
evidenciar a forma correcta mas principalmente
os princípios que estão na base da eficácia e que
ligam as três facetas do Karate: o Kihon, a Kata
e finalmente, o Kumite. A forma de treinar os
Katas diferencia a simples associação de
movimentos e evidência a sua eficácia. Não
estamos a falar da parte coreográfica
propriamente dita, mas da verdade e da
realidade com que se treinam as Katas. Como
nos disse o Sensei, “temos que fazer uma kata
como se estivéssemos a combater”, com a mesma
intensidade e realidade. Se não for assim, o nosso
treino é uma fraude. Não passa de um conjunto
de movimentos que por si só não têm significado,
estaremos a praticar ginástica, não Karate.
Sensei Romulo Machado 5º Dan
Estágio Nacional C.P
C.P.K.
.K.
Póvoa do Varzim 17,18 19 de Julho
Realizou-se no passado mês de Julho nos dias 16, 17 e 18, o estágio
Nacional de Verão do C.P.K., que decorreu no excelente pavilhão
municipal da Póvoa do Varzim. Os treinos foram orientados pelos Sensei’s
Rómulo Machado (5º Dan) e Ivo Silva (4º Dan). A afluência de
participantes foi elevada essencialmente pelos Instrutores da
Associação.
Este estágio nacional revelou-se uma verdadeira surpresa. Quem já
conhece o Sensei Rómulo de outros treinos e estágios sabe da sua
preferência pelo Kumite, que é na sua opinião a verdadeira razão da
existência do karate. No entanto, fomos presenteados com treinos de
Kata.
A revista Karate Portugal teve a oportunidade de conversar
informalmente com o Sensei Rómulo Machado acerca do objectivo deste
estágio em particular.
Como já dissemos, o estágio teve uma forte componente de Kata,
orientada pelo Sensei Rómulo Machado, e uma componente de Kumite,
a cargo do Sensei Ivo Silva. As Katas aprofundadas foram, a Hanguetsu
e a Soshin, duas das Katas que evoluíram directamente do karate
tradicional de Okinawa.
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que funcionar em bloco. Quem treina
karate tem que fazer karate com atitude
e eficácia. Podemos não fazer todos
competição mas temos que fazer o
verdadeiro karate.
Sensei Ivo Silva 4º Dan
As duas Katas escolhidas são treinadas
nas posições hangetsu-dachi e sochindachi. Aqui está um dos motivos que
levou o Sensei a escolher estas Katas
em particular. São feitas em posições
muito mais próximas da nossa
movimentação natural e por isso mais
eficazes em situação de perigo real. A
curta distância é a que na realidade
pode ocorrer com mais frequência, daí a
necessidade de se treinar uma situação
de proximidade. No estágio fizeram-se
inclusivamente exercícios de Kumite
para se treinar algumas partes das
Katas, precisamente para os praticantes
perceberem a importância da procura
da eficácia num treino de kata, já que
como já dissemos, o Kihon a Kata e o
Kumite têm que estar obrigatoriamente
interligados entre si.
Segundo o Sensei há falhas grandes nos
praticantes, um pouco por culpa dos
treinadores que talvez não consigam
transmitir aos seus alunos este aspecto
do karate que é na verdade a razão da
sua existência, ou seja, a procura da
eficácia. Principalmente ao nível das
graduações mais baixas, o Sensei
observou que é preciso trabalhar muito.
Há falta de ligação entre movimentos.
Os praticantes estão a fazer ginástica
em vez de karate. Os movimentos têm
que ser fortes e compactos. O corpo tem
Muitos instrutores ensinam os
movimentos exteriores do karate, mas
isso é subverter uma situação. Por isso
são importantes os treinos de eficácia e
impacto. Sabemos que muita gente
gostaria de ver mais treinos “duros”, e
o Sensei concorda que eles devem existir
mas desde que foquem um determinado
aspecto. Não basta ser duro só por ser.
Tem sempre que se procurar com
objectividade a eficácia e a potência
final. Aliás, esses são sempre os
objectivos do Sensei. Como é sabido
prefere o Kumite mas tem vindo a
apreciar as Katas e a treiná-las como se
estivesse a combater. É esse treino que
provoca a evolução e a busca pela
perfeição. Assim faz-se karate.
Como conselho final ficam as palavras
do Sensei para todos os praticantes e
instrutores: “O karate faz-se com a
constante procura da essência do
karate, tendo como objectivo a eficácia.
Eu ensino as minhas Katas com ligação
à realidade, elas passam portanto pelo
Kumite que é o objectivo final, afinal o
karate existe por causa do combate”.
O Sensei Ivo Silva teve a sua principal
intervenção na parte de Kumite, tendo
na nossa opinião feito uma excelente
abordagem ao tema da eficácia. No
final os Instrutores mostraram-se
satisfeitos com o desenrrolar do estágio
e da maneira como foi conduzido.
No Domingo foram realizados exames
de graduação aos alunos das várias
escolas presentes.
BUSHIDO
Equipamentos
de Artes
Marciais
Tel. 22 4839199
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Torneio Internacional de Karate
Cidade da Amadora
“ ...excelentes provas dos atletas, Amílcar Ferreira e Marta Silva... “
Excelente actividade de Karate este
Torneio Internacional de Karate
Cidade da Amadora, são estas acções
que engrandecem a modalidade. As
equipas convidadas foram, uma
selecção de Espanha a selecção
nacional da F.N.K.P., a selecção do
C.P.K. e a equipa do Clube organizador,
a S.F.RA. Amadora.
Organizado no dia 26 de Junho, este
torneio teve lugar do Pavilhão da
Escola Básica2,3 Miguel Torga. As
provas tiveram início às 16.00 horas,
nos escalões Juniores individual e
equipa em Kumite, nos Femininos só
se realizaram provas de Kata
Individual.
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A Câmara Municipal da Amadora, a
F.N.K.P. e o C.P.K., tem vindo desde há
cinco anos consecutivos a apadrinhar
este Torneio Internacional, e com o
passar dos anos o apoio tem sido maior.
Esperemos que continuem a demonstrar
interesse em manter esse apoio, e
queremos aproveitar esta oportunidade
para lembrar a organização que devem
fazer mais publicidade, de maneira a
garantir a presença de mais público,
porque este Torneio merecia ter tido
muito mais assistência.
O torneio iniciou com as provas de Kata
feminino, com o desenrolar da prova a
atleta da selecção nacional Marta Silva
foi tendo vantagem sobre as oponentes
acabando por conseguir uma excelente
vitória.
No Kumite as coisas foram mais
disputadas, no primeiro encontro
confrontaram-se as equipas do C.P.K.
e a selecção espanhola, saindo
vencedora a equipa espanhola pela
diferença de dois pontos. No confronto
entre a equipa da Amadora e a selecção
Nacional, saiu vencedora a equipa da
selecção Nacional. Os combates foram
disputados com muita emoção e
empenho por parte dos atletas. Na final
encontraram-se a selecção Nacional e
a selecção de Espanha, saindo
vencedora a Espanha. Foi decidido
Resultados:
Kata Individual Feminino
1º Marta Silva – FNKP - Portugal
2º Ana Lourenço – FNKP - Portugal
3º Belén Martin – Castilla Y Leon
3º Maria Sanchéz – Castilla Y Leon
Kumite Individual Masculino Open
1º Amílcar Ferreira – FNKP - Portugal
2º Jorge Rodriguez – Castilla Y Leon
3º Hugo Lourenço – SFRA Amadora
3º Miguel Rodrigues – FNKP - Portugal
Kumite Equipas Masculino
1º Castilla Y Leon
2º FNKP – Portugal
3º CPK
3º SFRA Amadora
pela organização que as equipas dos terceiros
lugares combatessem entre si de maneira a que
os atletas ficassem com mais rodagem
competitiva, nesse confronto a selecção do
C.P.K. acabou por vencer a equipa da casa.
Na nossa opinião a ideia destes torneios é dar
mais rodagem aos atletas e não somente ter a
ideia fixa de que tem que se ganhar a todo o
custo. Acreditamos que essa ideia está errada
e devemos aproveitar estas actividades para
fazer rodar o mais possível os atletas.
Seria bom que os organizadores fizessem
competições de todos contra todos, isso sim,
seria a melhor solução. Tiraríamos certamente
melhor proveito no futuro.
Elegemos o Amílcar Ferreira como o melhor
atleta neste Torneio, por todos os combates
que realizou e pela excelente vitória nos
individuais. A ele os nossos parabéns.
A organização esteve com bom nível, não fosse
terem feito mal as contas quando solicitaram
os tatamis à Federação. Acabou por ter de se
fazer as provas só com 1 tatami, mas tirando
esta situação tudo o resto se desenrolou da
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melhor maneira, estando a
organização de parabéns pela
organização deste 5º Torneio
Internacional.
A equipa de arbitragem cumpriu bem
o seu papel, esteve a muito bom nível,
não fossem algumas situações de
controvérsia relativamente à forma
como alguns árbitros analisaram
certas situações, achamos que talvez
se deva ao facto dos nossos árbitros
necessitarem de mais experiência
internacional. Entendemos que a
Federação deveria investir mais no
campo da arbitragem.
Paralelamente a este torneio foi
realizado o 3º Estágio Internacional,
que teve como convidados os Sensei’s,
Takuo Arai 7º Dan, José Ramos 6º Dan
e Claúdio Fung 5º Dan.
Estágio de Competição da U
.S
.R.P
U.S
.S.R.P
.R.P.. em Almada
A UNIÃO SHITORYU PORTUGAL, realizou
no passado domingo, 13 de Setembro, o
primeiro evento desportivo da época
2004/2005, que decorreu em Almada nas
instalações do Complexo Municipal de
Desportos e para o qual foram
seleccionados os seus principais atletas.
A participação neste Estágio de
Competição serviu para a preparação dos
atletas que irão representar os seus clubes
durante esta época, nas disciplinas de
Kata (prova de técnica) e de Kumite
(prova de combate).
O Estagio foi dirigido na disciplina
de Kata pelo Director Técnico da USRP, o
J/Shihan Daniel Coelho, e pelo Jokyo
Daniel Morgado Coelho, na disciplina de
Kumite.
Este Estágio contou com a presença de
alguns dos clubes da USRP, nomeadamente
o Imortal Desportivo Clube (Albufeira), a
Escola de Artes Marciais, Desportos de
Combate e Cultura Oriental de Loulé, o
Yoshukan Portugal, o C.D.R.Quarteirense
(Quarteira), o C.F. “Os Armacenenses”
(Armação de Pêra), o Power Gym (São
Brás de Alportel), a Escola de Karate de
Salir, o Radical Gym (Costa da Caparica)
, o Irmanadora, o Centro Social de Pinhal
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de Frades e o Complexo Desportivo
Municipal de Almada.
Os atletas demonstraram um nível de
fair-play,
competitividade,
e
desempenho técnico bastante elevado,
o que promete mais uma época cheia
de resultados com mérito e distinção
por parte dos atletas e dos quadros
técnicos e directivos da União ShitoRyu
Portugal, como já vem sendo tradição
de épocas passadas.
Recordamos que na época passada os
atletas da USRP conseguiram lugares
de pódio nos campeonatos nacionais
e regionais de Karate, nomeadamente
4.Campeões Nacionais( Pedro Coelho
vencedor de 2 categorias, Daniel
Figueiras, André Gonçalves) e 9
Regionais( Pedro Coelho, Daniel
Figueiras, André Gonçalves, Sara
Paiva, Jamil Zarka, Rui Sousa Jr, João
Tiago, Tomas Coelho, Rudi Sousa, e 2
Vice Campeões Nacionais (Sara Paiva
e Rui Sousa Jr.
2º Estágio Internacional
Shiai-Kumite com Christophe Pinna
A L.P.K realizou no passado mês de Junho e referente à
época desportiva 2003/2004 o 2º Estagio Internacional
de Shiai-Kumite, orientado pelo Campeão do Mundo,
Christophe Pinna. Decorreu no Complexo Desportivo
de Alcabideche em Cascais e no Municipal do Canidelo
em Vila Nova de Gaia. Nele participaram 297 atletas
de varias Associações Nacionais: LPK; AAMA; UKA;
USRP; AKRAM; UKC; UKL; APK; APOGK; CPK;
APKS; LNKP; KCF.....etc. e contou com a presença
prestigiada do Presidente da Federação Nacional de
Karate Portugal, Mestre Raul Cerveira. Pelo êxito
alcançado e por todo um trabalho previamente
programado para o futuro, o próximo Estágio com
Cristophe Pinna, realizar-se-à em Abril de 2005.
Para um melhor conhecimento de Christophe Pinna
damos referencias:
4 x Campeão do Mundo
6 x Campeão de França
6 x Campeão da Europa
2 x Vencedor da Taça de França
2 x Vencedor da Taça do Mundo
Treinador e consultor de várias Selecções Nacionais
onde se destacam a Grécia, Irão, Seleccionador
Nacional do Qatar, Seleccionador Nacional de França
e representante de todos os Karatecas Mundiais junto
do Comité Olímpico Mundial....
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27º Estágio Internacional de Artes Marciais
Portugal 2004 da União Shito-Ryu Portugal
A União ShitoRyu Portugal
organizou o seu 27º Estágio
Internacional de Artes Marciais –
Portugal 2004, como já é habitual
nesta altura do ano.
O Estágio foi composto por 3
módulos distintos de formação,
divididos pelas cidades de Loulé,
Albufeira e Almada, com a
participação de mais de 300
praticantes nacionais e estrangeiros.
A orientação do 27º Estágio
Internacional de Artes Marciais
esteve a cargo dos mestres Shoko
Sato, 8º Dan e Director Técnico PanAmericano da Federação Mundial de
Karate ShitoRyu e Daniel Faísca
Coelho, 6º Dan, Director Técnico da
União ShitoRyu Portugal e
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representante nacional da
Federação Mundial do estilo. A parte
de Karate desportivo foi da
responsabilidade de Daniel
Morgado Coelho, 4º Dan, Director
Desportivo da USRP.
Este estágio teve os patrocínios e
apoios das Câmaras Municipais de
Albufeira e Loulé e das Juntas de
Freguesia de Albufeira, S. Sebastião
e S. Clemente (Loulé) e do Grupo
Hoteleiro Fernando Barata.
A cerimónia de encerramento do 27º
Estágio Internacional de Artes
Marciais foi assinalada pela entrega
de troféus aos 3 melhores
classificados de cada escalão no
ranking associativo da época 2003/
2004.
RESULTADOS RANKING
COMPETITIVO 2003/04
PRÉ-INF MASC
1º D. Castro
2º R. Mendonça
3º A. Correia
JUV MASC
1º P. Coelho
2º A. Gonçalves
3º D. Figueiras
INF MASC
1ºF. Costa
2º D. Barros
3º N. Melo
JUV FEM
1ª S. Paiva
2ª R. Melo
3ª C.Rodrigues
INF FEM
1ª D. André
CAD MASC
1º N.Almeida
2º P. Afonso
INIC MASC
1º T. Coelho
2º J. Costa
3º R. Mendonça
Mestre Teruo Chinen, ensinou-nos um conceito conhecido por Ichi Go Ichi E.
por: Leonardo Pereira
Mestre Teruo Chinen, ensinou-nos um
conceito conhecido por Ichi Go Ichi E,
que de forma superficial significa
essencialmente “uma vida uma
oportunidade / “um encontro, uma
oportunidade - um conceito
desconhecido para muitos Ocidentais,
acostumados como estão a terem várias
oportunidades para recomeçar de
novo, sem qualquer “ penalização ou
aprendizagem “. Ichi Go Ichi E, foi
popularizado por Li Naosuke num
tratado que ele escreveu no séc. XIX
intitulado “ Cha No Yu Ichi-e Sha “
para explicar o espírito inerente a uma
cerimónia de chá. Esta expressão
implica um conjunto de diferentes
interpretações, pensamentos e
raciocínios. Um desses pensamentos
remete-nos para uma única
oportunidade na vida quando
dispomos de todas as “ peças no
tabuleiro. Este pensamento parece-nos
ter surgido do Budismo Zen e do
conceito nele existente de viver em
meditação com a mente, completa de
todas as acções. Uma consciência
atenta a cada detalhe, a cada acção,
quer estejamos a arranjar o jardim,
preparar o pequeno-almoço, numa
cerimónia de chá ou executar um kata.
Ichi Go Ichi E, relembra-nos a antiga
máxima de Budo “ para uma vitória,
um gota de sangue “, cujo sentido nos
obriga a dizer adeus ao ego, vivendo
totalmente o momento, dado que é aí
que reside o sentido de viver ou morrer.
Nos duelos de sabre, os samurais
tinham primeiro que anular o seu
próprio EU, para conseguirem
desprender-se de sensações, obtendo
assim a concentração requerida para
o esforço necessário. A mais pequena
distracção ou hesitação na acção
representa a vida, daí que a
importância de cada respiração
(inspirar e expirar) seja única e
fundamental é o aqui e o agora, pois
poderá ser a última. A analogia que
Sensei Teruo Chinen faz, é a de que
sempre que nos despedimos da família
pela manhã para irmos para o “
emprego “, devemos estar preparados
para a possibilidade de não
regressarmos. Talvez seja o teu dia de
morrer num acidente de trânsito, ou
supõem, a tua mulher ou a tua filha.
Seriam as tuas acções e atenções
diferentes para elas se soubesses isso?
As pessoas de quem lemos hoje no jornal
que perderam a vida num acidente,
foram assassinadas ou sofreram um
ataque cardíaco provavelmente
acreditavam que chegavam a casa
nessa noite – elas dispunham de todo
o tempo do mundo para compensar os
seus familiares, para escreverem um
livro ou apreenderem piano. Daí que
Sensei nos tenha ensinado que ao
sairmos de casa para trabalharmos
devemos encarar a possibilidade de
não regressar, isso significa que ao
despedirmo-nos da nossa mulher
devemos faze-la sentir o quanto a
amamos; exprimindo e dizendo aos
nossos filhos o que eles significam para
nós, dizendo adeus à nossa casa e às
nossas “coisas”.
Diversas vezes Sensei Teruo Chinen nos
instruiu a executar o kata (método
ritualizado através do qual os segredos
da defesa pessoal são transmitidos de
geração em geração - um modelo / uma
forma) como se fosse a última
oportunidade; nas artes marciais
devemos cultivar um ichi go ichi e
permitindo-nos assim treinar com a
intensidade necessária. Mesmo com
dificuldade em imaginarmo-nos num
duelo de samurais, facilmente
entendemos e interiorizamos o
conceito se pensarmos que a qualquer
momento nos pode acontecer uma
tragédia que ponha termo à nossa vida.
O entendimento e significado das
ideias associadas ao conceito de
reencarnação, independentemente da
religião ou crença, não anulam esta
Ideia, pelo contrário, reforça-a, tendo
como base o crescimento interno e
patamares
superiores que devemos alcançar ( no aqui
e agora ) para vidas futuras. Capacitandome que poderá não haver outra hipótese,
o meu empenho no treino começa a ter
significado e valor “ os actos flúem em
harmonia de acordo com esta ideia “.
Encontro-me finalmente a treinar com um
espírito de alegria e apreciação devido ao
facto de entender o sentido de ichi go ichi
e. Estou assim a viver intensamente o
presente como única realidade que temos
( o aqui e agora ). Este conceito da
experiência que não pode ser repetida é
mais fácil de entender no Kumite que no
kata, mas estamos sempre a abordar a ideia
de que no mínimo devemos dar o máximo
de nós, como se fossemos neste preciso
momento deixar uma herança ou transmitir
um conhecimento último. Temos de ter em
atenção os pequenos pormenores no Dojo
- como entramos, como saudamos, como
está o nosso uniforme, como saímos,
etc..tudo próprio em Ichi go Ichi e , o
pormenor que pode fazer a diferença “ lá
fora “ e nos pode salvar a vida. Assim, a
próxima vez que fores para o Dojo, tenta
agir aplicando este conceito; melhor
ainda, tenta realizar os teus actos com essa
base nesse alicerce. Podes não notar a
diferença, mas os que te rodeiam vão notar,
incluindo o teu Mestre.
“ Observa o teu Sensei e apreende mais
que Karate “
Tradução e Interpretação
Leonardo Pereira
13
O Verdadeiro Significado do Cinto Negro
Por: Fernando David
Na história europeia, e especialmente
na história inglesa, um homem de
grande valor e dignidade, que se
destacava tanto no campo de batalha
como nas suas relações sociais, era
premiado com o título de cavalheiro.
Esta designação implicava a assunção
de ser um homem de honra e que possuía
um grande virtuosismo em combate. No
Japão, este tipo de homem era chamado
samurai, sendo objecto de grande
atenção e respeito.
Nessa época, tanto em Inglaterra como
no Japão vigorava o sistema feudal em
que os cavalheiros e os samurais eram
produtos puros, indispensáveis às
condições sociais em que se vivia,
situação que hoje em dia não tem razão
de ser. No entanto, o desejo de alcançar
um excelente nível numa Arte Marcial e
de autodisciplina, mantém-se.
Actualmente, a pessoa que se esforça
por aprender uma Arte Marcial, tenta
alcançar um nível de excelência, para
combater, quer seja em competição ou
numa outra qualquer situação. Não
obstante, na mesma medida em que
progride no seu treino, fica mais
consciente do impulso de se autodisciplinar, transformando-se numa
melhor pessoa, possuidora, não somente
de uma grande habilidade em combate,
mas também de dignidade e de honra.
Tradicionalmente, estes são os grandes
objectivos dos praticantes de Artes
Marciais.
O cinto negro é um reconhecimento
dado ao cavalheiro actual ou ao
moderno samurai, que sacrificou muitas
horas a disciplinar a sua mente e a
treinar o seu corpo, no sentido de
alcançar o máximo desenvolvimento
físico e mental possível. O cinto negro é
o símbolo do especialista.
O sistema de graduações foi
estabelecido com uma série de níveis,
para que os praticantes pudessem
avaliar o seu progresso. Assim, o
primeiro cinto negro – Shodan, a
primeira graduação, é o primeiro passo.
Shodan significa que o praticante
domina os fundamentos da arte, e está
agora preparado para receber um treino
mais avançado, e assim sucessivamente
obtendo o próximo Dan, indicativo do
seu progresso.
Esta escala de valores, provou a sua
eficácia como grande motivadora dos
praticantes, porém originou uma série
de problemas.
Em primeiro lugar, internacionalmente
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existe uma grande disparidade de
critérios, ou seja, mesmo dentro de uma
mesma organização, por vezes existe
disparidade de critérios. Um sistema
universal de graduações deveria ser
pensado e estar já normalizado e em
prática, da mesma forma que um
centímetro é igual a outro centímetro,
um Dan da organização X ou do país Y
deveria ser igual ao Dan da organização
A ou do país B.
È necessário também compreender que
se está a lidar com seres humanos, sendo
impossível estabelecer uma escala de
valores tão rígida.
O Judo e o Kendo têm regras
internacionais de avaliação, no entanto,
essas regras nasceram juntamente com
a respectiva arte.
O Karate tem várias escolas diferentes,
várias organizações dentro da mesma
escola, e cada uma possui o seu sistema
de avaliação.
Quando o Karate alcançou uma
dimensão internacional, vários países
acolheram estilos diferentes, cada um
com as suas próprias regras, e isto
permitiu que alguns indivíduos, sem
escrúpulos, criassem as suas próprias
organizações, dando cintos negros a
praticantes não qualificados, isto no
intuito de obter benefícios económicos.
O resultado final é que muitos cintos
negros constituem um mau exemplo,
produzindo também uma má imagem da
Arte do Karate.
É opinião de muitos que, tal como
existem organizações de avaliação das
divisas no mercado internacional,
deveria haver também uma organização
que reavaliasse os cintos negros. No
entanto, isto seria certamente
impossível, dado que a lista de
candidatos seria do tamanho de uma
lista telefónica.
O público em geral não é conhecedor
dos diferentes sistemas de graduação, e
há muitas pessoas a ser enganadas ao
inscrever-se num dojo, cujo mestre lhes
dá um cinto negro passado um curto
período de treino, com óbvios objectivos
comerciais.
Esta atitude, não só é perigosa para o
praticante de Karate, mas também
degradante para todas as Artes Marciais.
Num dojo sério, obtém-se o cinto negro
passados cinco ou seis anos de treino
árduo, auferindo de uma instrução
competente.
Cada Karateca deveria saber que o cinto
negro, não é um presente, mas sim um
objectivo, um símbolo de realização de
um grande esforço, dentro de um sistema
de graduações de qualidade, de que
beneficia o praticante e o Karate em
geral.
Esta interpretação do valor do cinto
negro, deveria instilar um sentimento de
orgulho a quem recebe um Dan, através
de um treino rigoroso.
Os cavalheiros e samurais de outros
tempos, evitavam, por todos os meios,
cometer actos que pusessem em causa a
sua honra. Decerto que, os Sensei e os
cintos negros dos tempos modernos,
desejam ter uma atitude que não é
diferente daquela outra, que é o respeito
pela sua própria honra.
V Torneio de Karate - Cidade de Quarteira
Quarteira recebeu no passado dia
19 de Junho, o V Torneio de Karate
– Cidade de Quarteira, organizado
em conjunto pela União ShitoRyu
Portugal e pelo Clube Desportivo
e Recreativo Quarteirense.
O Torneio decorreu no Pavilhão
Gimnodesportivo da Escola
Secundária Dra. Laura Ayres de
Quarteira, e nele estiveram 150
atletas inscritos, para disputar a
última prova competitiva da época
2003/2004 da União ShitoRyu
Portugal.
Foram vários os clubes que
participaram neste Torneio,
nomeadamente
o
Imortal
Desportivo Clube (Albufeira), a
Escola de Desportos de Combate
de Loulé - Yoshukan Portugal, o
C.D.R. Quarteirense (Quarteira), o
C.F. “Os Armacenenses” (Armação
de Pêra), o Power Gym (São Brás
de Alportel), a Escola de Karate de
Salir, o Radical Gym (Costa da
Caparica), o Irmanadora Clube –
Costa da Caparica, o Centro Social
de Pinhal de Frades, a Escola de
Artes Marciais e Desportos de
Combate – Cidade de Almada, o
Karate Clube de Olhão, Centro de
Karate Capristano e Escola de
Karate de Paderne.
Este V Torneio de Karate – Cidade
de Quarteira teve o apoio da
Câmara Municipal de Loulé, da
Coca-Cola e do MacDonald’s de
Vilamoura.
Kata
Escalão Pré Infantil Misto
1º Francisco Ramos
2º Diogo Castro
3º João Santos
3º Ricardo Reves
Escalão Infantil Masculino
1º Francisco Costa
2º Gonçalo Vargues
3º Diogo Barros
3º Filipe Marques
Escalão Infantil Feminino
1º Inês Lopes
2º Denise André
3º Joana Afonso
Escalão Iniciados Masculino
1º Tomás Coelho
2º Rodrigo Mendonça
3º João Costa
3º Pedro Mateus
Escalão +14 anos Femininos
1º Sara Paiva
2º Catarina Rodrigues
3º Cíntia Dias
Escalão Juvenis Masculino
1º Pedro Coelho
2º André Gonçalves
3º Marco Peres
3º Daniel Figueiras
Escalão + 16 anos Masculinos
1º Nuno Almeida
2º Pedro Afonso
Kumite
Escalão Infantil Masculino
1º Ruben Forra
2º Nelson Nunes
3º Florent Barra
3º Milton Barros
Escalão Iniciados Masculino
1º Tomás Coelho
2º João Costa
2º Miguel Abreu
3º João Mário
Escalão Juvenis Masculino
1º Pedro Coelho
2º André Gonçalves
3º Rui Sousa
3º Flávio Simão
Escalão Juvenil Feminino
1º Sara Paiva
2º Cíntia Dias
3º Catarina Rodrigues
Escalão + 16 anos Masculino
1º Nuno Almeida
2º Pedro Afonso
15
CALENDÁRIO DE ACTIVIDADES DA F.N.K.P.
ÉPOCA 2004/2005
SETEMBRO
Dia 25 Sábado – I Campeonato Ibero-Americano
Gran Canária – Espanha
OUTUBRO
Dia 2 Sábado – Acção de Formação de Treinadores
(Shiai-Kumite) Local a designar.
Dia 3 Domingo – Reciclagem de Arbitragem - Local a
designar.
Dia 9 e 10, Sábado e Domingo – Curso/Acção Técnicos
de Arbitragem (Arbitro/Juiz Kumite) Local a designar.
Dia 16 e 17 - Curso/Acção Técnicos de Arbitragem
(Arbitro/Juiz Kata) Local a designar.
Dia 23 Sábado – Reciclagem de Arbitragem - Local a
designar.
Dia 30 a 1 Sábado a Segunda – 6º Curso de Treinadores
(TN1)/N2 – Parte A - Lagos
NOVEMBRO
Dia 6 Sábado – Campeonato Regional Cadetes e
Juniores – Sul – Portimão
Dia 7 Domingo – Campeonato Regional Cadetes e
Juniores – Centro/Sul – Local a designar.
Dia 13 Sábado – Campeonato Regional Cadetes e
Juniores – Norte – Local a designar.
Dia 13 Sábado – Campeonato Regional Cadetes e
Juniores – Madeira – Local a designar.
Dia 13 Sábado – Acção Nacional de Formadores –
Local a designar.
Dia 18 a 21 5ª a Domingo – Campeonato do Mundo
sénior – Monterrey – México
Dia 20 Sábado – Campeonato Regional Cadetes e
Juniores – Açores – Local a designar.
Dia 27 a 21 Sábado a 4ª – 6º Curso de Treinadores
(TN1)/N2 – Parte B - Lagos
DEZEMBRO
Dia 4 Sábado – Campeonato Regional Cadetes e
Juniores – Centro/Norte – Local a designar.
Dia 11 e 12 Sábado e Domingo – Campeonato
Nacional Cadetes e Juniores – Local a designar.
Dia 11 e 12 Sábado e Domingo – Acção de Formação
de Treinadores (Shiai-Kumite) – Local a designar.
JANEIRO
Dia 15 Sábado – Campeonato Regional
Açores – Local a designar.
Dia 15 Sábado – Campeonato Regional
Madeira – Local a designar.
Dia 22 Sábado – Campeonato Regional
Sul – Local a designar.
Dia 22 Sábado – Campeonato Regional
Norte – Local a designar.
Dia 29 Sábado – Campeonato Regional
Centro/Norte – Local a designar.
Seniores –
A Associação Portuguesa de Karate Shukokai desloca-se a Cape
Town (África do Sul) para participar no Campeonato do Mundo
de Karate Shukokai, que se realiza nos dias 8 e 9 de Outubro,
sendo a Delegação Portuguesa constituída por:
O Seleccionador Nacional: Sensei Marcelo Azevedo.
Os treinadores: Sensei Joaquim António; Sensei Carmindo Manuel
e Sensei Dinamérico Fernandes.
Os atletas: Nuno Dias; Bruno Catrau; Diogo Guincho; Tiago
Guincho; Pedro Seguro; Paulo Briosa; José Moreira e Dulce
Aguiar.
4º ESTÁGIO DE SHIAI-KUMITE
AÇORES 2004
Horta / Angra do Heroísmo / Ponta Delgada
Realiza-se nos dias 8, 9 e 10 de Outubro nos Açores um estágio de
Shiai-Kumite orientado pelo Sensei Luís Filipe Pereira treinador
da equipa do C.K.S.Porto. Este estágio vem no seguimento do
trabalho que vem sendo desenvolvido pela A.K.A. Associação de
Karate dos Açores, em prol do karate competitivo. Nesta 4ª edição
o Clube de Karate Shotokan do Porto foi o escolhido assim como a
sua equipa de competição. Atletas: Carlos Castro, Mariana Pinto,
Jorge Castro, Hugo Pereira, João Garvalho, Liliana Sousa, Ana
Pinto e Jorge Braz.
Seniores –
Seniores –
Seniores –
Seniores –
FEVEREIRO
Dia 5 a 8 Sábado a 3ª – 13º Curso de treinador
Monitor – Local a designar.
Dia 19 Sábado – Campeonato Nacional Seniores –
Local a designar.
16
PARTICIPAÇÃO DA A.P.K.S. NO
CAMPEONATO DO MUNDO SHUKOKAI
CAPE TOWN – AFRICA DO SUL
BUSHIDO
Equipamentos de
Artes Marciais
Tel. 22 4839199
5º Estágio de Karate Porto 2004
com Sensei José ramos 6º Dan
O 5º Estágio de Karate Shotokan do Porto
2004 orientado pelo Sensei José ramos 6º
Dan, realizou-se nos dias 23, 24 e 25 de
Julho no Pavilhão Gimno-desportivo
Municipal de Fânzeres em Gondomar.
O estágio do Porto desde a sua primeira
edição em 2000 não para de crescer. Só
para terem uma ideia, no primeiro estágio
estiveram presentes 80 atletas e neste já
vamos nas 200 participações. Podemos
considerar que o sucesso se deve ao facto
da entrega e dedicação da organização em
colaboração com os clubes da região do
Porto.
Estiveram presentes neste estágio os
seguintes clubes: Clube de Karate
Shotokan do Porto (clube organizador)
Secção de Karate do Boavista futebol
Clube, Clube de Karate Shotokan de Rio
Tinto, Clube de Karate a Pausa, Secção de
Karate das Piscinas Municipais de Rio
Tinto, Oshi Dojo, Centro de Karate da Sra.
Da Hora, Bodyland, A.M.S.H.O.L., Ginásio
Fisiforma, Ginásio Central, Ferroviários de
Guifões.
As classes de graduados aumentam de ano
para ano, treinaram cerca de 20 cintos
negros, é um número bastante bom, tendo
em conta que se trata de um estágio
regional.
O aperfeiçoamento técnico foi a principal
característica deste estágio, sendo os
treinos orientados nesse sentido, visto a
maioria dos participantes serem de
graduações mais baixas, mas isso não foi
motivo para que os treinos não fossem
atractivos e com uma excelente dinâmica.
No Domingo foram realizados exames de
graduação até 3º Kyu, foram muitos os
atletas propostos, cerca de 180, a tarefa
foi um pouco demorada mas conseguiu-se
cumprir os objectivos. Em relação ao nível
técnico apresentado pelos atletas foi
razoável, só os 4º Kyu é que não estavam
no nível pretendido, por esse motivo para
a maioria dos alunos propostos a exame
nesta graduação foi um insucesso.
No final do estágio organizou-se um
almoço de convívio, que se realizou no
restaurante “o Leme” em Matosinhos.
17
Caderno Técnico - Escola Goju-Ryu da (NKGRM) Núcleo Karate Goju-Ryu Matosinhos
Atletas: Paulo Dias 1º Dan
Nuno Ferreira 1º Dan
18
Treinador: Gualter Dias 5º Dan
Associação: NKGRM Clube: Secção da ADFA
Caderno Técnico - Escola Shotokan do (CPK) Centro Português de Karate
Atletas: Rogério Braz 2º Dan
Jorge Castro 1º Dan
Treinador: Luis Pereira 3º Dan
Associação: CPK
Clube: C.K.S. Porto
19
Caderno Técnico - Escola Shito Ryu da (MSK) Mabuni Shito-Ryu Karate-Do Portugal
Atletas: Mónica Silva 2º Dan
Manuel João Marques 1º Dan
20
Treinador: Sá e Silva 3º Dan
Associação: MSK Clube: Secção da AM Tripeira
Caderno Técnico - Escola Shukokai da (APKS) Associação Portuguesa Karate Shukokai
Atletas: Diogo Guincho 2º Dan
Tiago Guincho 2º Dan
Treinador: Carmindo Manuel 5º Dan
Associação: APKS Clube: Secção do CPN
21
TORNEIO DE KARATE
GDC AGUÇADOURENSE / UKA
Decorreu no sábado dia 31 de Julho mais um
torneio de karate infantil, enquadrado no plano
de promoção do karate na região pela UNIÃO
DE KARATE DO AVE. Este ultimo torneio da
época desportiva 2003/2004 foi organizado pelo
Grupo Desportivo e Cultural Aguçadourense.
Esta ultima etapa de promoção foi dedicada aos
escalões pré-infantil, infantil e iniciados. O GDC
Aguçadourense e o seu responsável pela secção
de karate, Vítor Poças, estão de parabéns pelo
excelente evento que organizou.
A prova decorreu no Pavilhão Municipal da
Póvoa de Varzim e contou com as seguintes
equipas: Academia de Ginástica, U D Beiriz, ACD
Matriz, C D Póvoa, A D Caxinas e Poça da Barca,
Ginásio Clube Vilacondense, Casa da Criança
de Vila do Conde, e o clube organizador o G D C
Aguçadourense.
A UKA já está a preparar a nova época desportiva,
calendarizando o plano de desenvolvimento da
modalidade para a época 2004/2005. Estes
torneios são fundamentais para captar novos
praticantes e dar um nível competitivo mais
apurado aos mais graduados.
22
Classificações:
Pré-infantil kata:
1º G C Vilacondense
2º Aguçadourense A
3º Casa da Criança
3º Aguçadourense B
Pré-infantil kumite:
1º G C Vilacondense
2º U D Beiriz
3º Aguçadourense A
3º Aguçadourense B
Infantil kata:
1º G C Vilacondense
2º U D Beiriz
3º Aguçadourense A
3º Aguçadourense B
Infantil kumite:
1º U D Beiriz
2º Aguçadourense A
3º G C Vilacondense
3º Aguçadourense B
Iniciado kata:
1ºAcademia de Ginástica
2º Aguçadourense
3º U D Beiriz
3º G C Vilacondense
Iniciado kumite:
1º G C Vilacondense
2º Aguçadourense
3º Academia de Ginástica
3º G D Poça da Barca
23
Actividades Fim da època
2003/2004 da U.K.A.
União de Karate do Ave
O Presidente do C.P.K. Sensei Romulo Machado e os dois Fundadores presentes, os Arq. Luis
Cunha e Arq. ????
35º Aniversário do C.P.K.
O C.P.K., Centro Português de
Karate, comemorou no passado dia
18 de Setembro o seu 35º
Aniversário. As comemorações
foram realizadas em Coimbra, e teve
o seguinte programa: Da parte da
manha realizou-se um treino,
orientado pelo Sensei José Ramos,
onde participaram cerca de 100
praticantes. Neste treino estiveram
presentes a maioria dos instrutores
do C.P.K. assim como alunos e
convidados de outras associações,
seguindo-se um almoço, que se
realizou no Hotel D. Luís em
Coimbra.
Nestas comemorações marcaram
presença os fundadores do C.P.K.
os Arqº. Luís Cunha e Arqº. Aragão.
Estiveram ainda representantes da
F.N.K.P. e de várias associações
nacionais.
A Revista Karate Portugal esteve
presente, e testemunhou a excelente
organização, tanto do treino como
do almoço que a actual Direcção
do C.P.K. nos proporcionou. A eles
os nossos parabéns.
A UKA terminou a época 2003/2004 com
um acampamento no Parque de
Campismo do Rio Alto. Esta actividade
foi organizada pelo Grupo Desportivo e
Cultural Aguçadourense. No dia 5 de
Agosto decorreu na escola primária da
Barranha
em Aguçadoura,
o
ultimo encontro
de
graduados
e treinadores da União de Karate do Ave.
Com estes eventos fica completo o ciclo
de actividades planeadas para esta
época. Assim, a UKA nesta época
desportiva, organizou 6 torneios, 2
estágios, 4 acções de formação, um curso
de arbitragem, bem como proporcionou
um sem número de treinos para os seus
atletas mais graduados e árbitros.
Os objectivos da Associação para este
ano, foram alcançados, tendo o número
de praticantes e clubes aumentado e a
qualidade dos seus atletas melhorado
substancialmente.
por: U.K.A.
União Shito Ryu Portugal apoia
o Karate em Moçambique
A União ShitoRyu Portugal,
associação nacional representante da
Federação Mundial de Karate ShitoRyu,
deslocou-se a Moçambique, entre 29 de
Junho e 4 de Julho, com o objectivo de
fomentar a prática do Karate.
A delegação técnica foi composta pelo
director técnico, Daniel Faísca Coelho,
e pelo director desportivo, Daniel
Morgado Coelho, que continuam assim
a manifestar o apoio que desde há alguns
anos a esta parte tem sido dado à
Associação Shito-Ryu de Moçambique.
As relações entre a União ShitoRyu
Portugal e a Associação Shito-Ryu de
Moçambique têm sido consolidadas
através do seu responsável, o mestre Luís
Sousa, que frequentemente se tem
deslocado a Loulé com o objectivo de
receber ensinamentos e apoio, no
sentido de Moçambique ser aceite na
federação mundial da modalidade.
Nesta deslocação foi organizado um
Estágio Internacional que se realizou em
Maputo e que contará também com a
presença do consagrado mestre japonês
Shoko Sato.
Por: Samantha Mendes
Gabinete de R. P. da União ShitoRyu Portugal
24
21º Estágio Internacional de Karate Wado-Ryu
da Wado International Karate-do Federation, em Espanha
“Em representação da AWIKP – Associação Wado Internacional Karate-do Portugal
estiveram presentes 14 atletas”
Entre os dias 16 e 20 de Agosto
decorreu o 21º Estágio Internacional
de Karate Wado-Ryu da Wado
International Karate-do Federation,
em Espanha, cuja orientação técnica
esteve a cargo do reconhecido mestre
japonês, Sensei Tatsuo Suzuki, 8º Dan
Hanshi e do representante espanhol
Wim Massee, 6º Dan, que tem mantido
com assinalável êxito a realização
deste evento.
Em representação da AWIKP –
Associação Wado Internacional
Karate-do Portugal estiveram
presentes 14 elementos, em conjunto
com praticantes de Espanha, França,
Inglaterra, Itália, Holanda, Suécia,
Noruega, Alemanha, Grécia, Perú,
Venezuela e Japão.
O estágio garantiu o desenvolvimento
e a sistematização de acções motoras
ofensivas/defensivas individuais e de
um contra um, tendo em vista o próximo
campeonato
da
Europa
da
especialidade que se realizará no
mesmo local, em Outubro.
Não podemos deixar de salientar a
especial presença dos Campeões do
Mundo e da Europa da FMK –
Federação Mundial de Karate e da
FEK – Federação Europeia de Karate,
Lino Gómez e Óscar Vasques, que nos
maravilharam num espectáculo
técnico-táctico notável concebendo
métodos e exercícios de treino
sensacionais.
No final do evento realizou-se um
Torneio Internacional, no qual os
Portugueses estiveram em bom plano,
conquistando vários lugares do pódio,
Elisabete Silva sagrou-se campeã
sénior em Kata, Fernando Ferreira foi
campeão sénior em kumite Open,
enquanto André Gonçalves arrecadou
o título de campeão de cadetes em
kumite; Joana Rodrigues e José Garcia
conquistaram o segundo e terceiro
lugares, respectivamente em kumite.
Por outro lado, nos próximos dias 1, 2
e 3 de Outubro realiza-se o
Campeonato da Europa de Karate
Wado-Ryu da WIKF, em Espanha, onde
participarão cerca de 30 elementos em
representação de Portugal. A
operacionalidade em competições oficiais
de defesa, a arma branca (Tanto-Dori) será
um dos momentos mais interessantes e
espectaculares do referido evento.
Por: AWIKP
O Sensei Tatsuo Suzuki com o grupo de atletas da AWIKP.
O Sensei Tatsuo Suzuki com um grupo de Instrutores.
25
O Treino Real...
por: José Augusto
Por que é tão importante praticar
técnicas e tácticas que já tenham sido
experimentadas numa luta real? Uma
razão óbvia é a certeza de que o nosso
treino será efectivo num confronto.
Mas quantas vezes é que a maioria das
pessoas tem que utilizar os seus
conhecimentos para se defender? Com
um pouco de sorte, nenhuma.
Então, porque empregamos tanto tempo
e tanta energia em praticar de uma
maneira real, quando seria muito mais
fácil simplesmente brincar com as
técnicas? Porque as lições que
aprendemos através do treino real
ajudam-nos a conhecer-nos a nós
próprios e ensinam-nos a agir de
maneira efectiva em cada dia da nossa
vida.
Há muita gente que aprende a filosofia
da vida através da prática das Artes
Marciais. O que acontece então se
alguém adoptar a filosofia de um
método de prática que não funciona
numa situação real? Se essa filosofia
não dá bons resultados em combate, a
pessoa que a seguir também não obterá
bons resultados no seu dia a dia.
Gostaria de compartilhar contigo,
amável praticante das artes do Budo,
algumas ideias que aprendi através do
duro treino e que constituíram um
verdadeiro impacto na minha vida.
A primeira é manter uma atitude mental
positiva, especialmente quando estamos
a passar por momentos muito difíceis.
Quando tudo corre bem é fácil estar
alegre, mas todos sabemos que a vida
nem sempre é um mar de rosas. Há muitos
anos atrás, o meu método de treino de
Artes Marciais consistia apenas em
praticar as técnicas com um parceiro
em frente, o qual realmente nunca me
oferecia resistência. A maior parte do
treino
consistia
em
repetir
detalhadamente
técnicas
e
combinações, e a prática do combate
era muito ligeira, pelo que nem sequer
na luta sentíamos muita oposição.
Quando comecei a participar em
competições percebi que as coisas eram
muito diferentes. Com o tempo mudei a
maneira de treinar. Fiz-me amigo de
alguns campeões de Free-Fighting e
com eles comecei a praticar duramente.
Dia após dia, acabava em posições
muito comprometidas e tinha pouco
êxito com a minha maneira de lutar.
26
Nestas circunstâncias resultava difícil
ser positivo. Conforme fui progredindo
no treino, percebi que podia manter uma
atitude positiva, inclusivamente estando
nas piores posições, e buscar
oportunidades que me permitissem
colocar em posições mais vantajosas. O
mesmo acontece na vida. Poderão
acontecer-nos coisas más, mas através
do treino poderemos desenvolver a
suficiente força para manter uma mente
positiva e encontrar a oportunidade de
sair do mau momento, em vez de nos
rendermos
às
circunstâncias
desfavoráveis.
Outro ponto importante é a persistência.
Através de um duro treino aprendemos
que nunca devemos desistir.
Inclusivamente quando parece que não
há esperança, enquanto continuarmos
a tentar, sempre existirá uma
possibilidade de saída. Quando estás no
chão e o teu adversário está sobre ti
dando-te socos, podes abandonar. Isto é
fácil de fazer mas, como todos sabemos,
a saída fácil raramente é a mais
beneficiosa. Depois de um prolongado e
adequado treino, saberás que podes ter
acesso a uma posição na qual os socos
não sejam tão fortes. Então ser-te-á
possível tratar de sair dessa posição, de
maneira a poder iniciar a tua própria
ofensiva. Se simplesmente atirares a
toalha, nunca aprenderás a situar-te
numa posição mais vantajosa. É igual
ao que se passa na vida. Claro está que
continuarão a chegar dificuldades, mas
se praticares as tuas Artes Marciais de
uma maneira correcta, saberás como
continuar a tentar, como aprender da
experiência e nunca, nunca te renderás.
Lembra-te que és o único que pode dizer
“rendo-me”. Com um treino apropriado,
jamais te renderás, por muito adversas
que sejam as circunstâncias.
São muitas as lições da vida que
podemos aprender por meio de um treino
duro e real, e cujo efeito na qualidade
da nossa vida e no nosso carácter é
prodigioso. Sentir-te-ás muito bem
contigo próprio quando souberes que
podes fazer frente a uma situação difícil
sem te renderes. O treino real dar-te-á a
necessária confiança para ganhar numa
luta e a segurança contigo próprio que
te levará a ser um triunfador em cada
dia da tua vida.
Sensei José Augusto, é Doutorado em Artes
Marciais pela Black Belts University e
Licenciado pela The Japan Karate Association,
sendo 5º Dan de Karate Shotokan, 3º Dan de
Aikido, 2º Dan de Judo e 1º Dan de Hapkido
A ARBITRAGEM
por: Fernando David
por: Fernando David
Porque é que arbitrar é complicado?
O acto de arbitrar traduz-se numa
avaliação técnica de um desempenho.
Assim, antes de mais, para se ser um bom
árbitro é necessário um estudo profundo
das regras e do funcionamento delas.
Que não se pense que, hoje em dia, basta
ler as regras de arbitragem em vigor e
pronto, já somos árbitros. Infelizmente não
é assim. A competição do Karate nos
nossos dias, é tão heterogénea, e produz
situações tão díspares que, para se ser um
bom árbitro é necessário, não só,
conhecer bem as regras de arbitragem,
mas também, apercebermo-nos do
processo de raciocínio que elas encerram,
e depois, a experiência. O treino e mais
treino...
O árbitro que não se encontre nas
melhores condições psicológicas para
arbitrar, não o deve fazer. No entanto, a
pressão da escassez de meios é tão grande,
que esta condição, a meu ver preciosa, é
relegada para segundo plano. Mas este
assunto já foi tratado em artigos
anteriores. Vamos desta vez por outros
caminhos....
E depois, já em plena actividade, o que
temos? A pressão dos seus colegas, do
Conselho de Arbitragem que espera que
todos façam o seu melhor, a pressão das
associações e clubes em competição, dos
treinadores, e por vezes dos próprios
atletas em competição. Para além disso,
espera-se que o árbitro, desempenhe o seu
papel, e bem, sem olhar a meios. Ou seja,
condições para estar, condições para
descansar (???), condições monetárias,
etc. Os árbitros são pagos, é verdade. E
no momento presente, salvo algumas
excepções, a tempo e horas. E pode até
pensar-se do seguinte modo; os árbitros
são pagos e nem que seja por cinco tostões
têm que fazer o seu trabalho e bem.
Permitam-me discordar. Neste momento,
os árbitros em actividade, não estão lá
porque lhes pagam. Estão lá, porque têm
um altíssimo sentido de responsabilidade.
A actividade de arbitragem na
competição de Karate não tem qualquer
incentivo. E o problema não é só dinheiro,
a meu ver é também carreira. Se queremos
que estas pessoas, que têm qualidade, se
mantenham em actividade, é necessário
fazer um esforço para arranjar maneira
de os incentivar, e incentivar os vindouros.
Senão.....
Senão, o que acontece é que acabam por
abandonar a actividade, como já
aconteceuA organização de provas de
Karate a tantos.
não é simples. É uma organização
complexa, que tem muitos quês e
porquês. A arbitragem, na minha
opinião, deveria participar de forma
consultiva na organização de provas.
É evidente que, se a organização for
boa, teremos uma boa prova, Mas, não
se torna menos evidente que, se
tivermos uma boa arbitragem, teremos
igualmente uma boa prova. A
contrario, não é de certo com uma má
arbitragem que teremos uma boa prova,
mesmo que a organização tenha sido
excelente.
O caderno de encargos das provas de
karate, está a tornar-se cada vez mais
pesado, o que é absolutamente natural.
Cada vez que se organiza uma
prova,quem a organiza pretende fazer
melhor do que foi feito na prova
anterior. E estamos a falar de provas
regionais. Quanto falamos de prova
nacional é um pouco mais complicado.
A meu ver, o nível organizativo das
provas nacionais, deve aproximarsecada vez mais das provas europeias,
Não de um momento para o outro, mas
a passos pequenos e seguros.
É aqui que se torna complicado jogar
com a arbitragem. Por um lado, temos
o custo da prova em si, e por outro lado
temos o custo da arbitragem que, no
seu global leva uma boa fatia do
orçamento. Assim, na minha opinião,
seria necessário incluir o custo da
arbitragem no custo global da prova,
fazendo parte do caderno de encargos.
De forma faseada, não de uma prova
para a outra. Teríamos então o
incentivo monetário adequado
assegurado.
Por tudo isto e muito mais, arbitrar é
complicado.
Fernando David 4º Dan
Presidente do Conselho de Arbitragem
da FNKP, Árbitro B de Kumite da EKF
27
Estágio Internacional de Karate Shito-Ryu do Algarve
com: Kyoshi Hidetoshi Nakahashi 8º Dan
Decorreu no fim-de-semana (3 e 4 de
Julho de 2004) mais um (VI) Estágio
Internacional de Karate Shito-Ryu do
Algarve, em Quarteira. O evento foi
organizado pela AAMA – Associação
de Artes Marciais do Algarve, a qual
tem a sua sede no complexo das
piscinas municipais em Loulé.
Contou entre outros, com a
participação de clubes e/ou
associações de Lisboa, Porto, Lagos,
Quarteira, Loulé, Almancil, Faro,
Albufeira, Montenegro, S. Brás do
Alportel e Andaluzia, num total de mais
de150 praticantes. A direcção Técnica
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do Estagio foi da responsabilidade do
Kyoshi Hidetoshi Nakahashi 8º Dan
Shito-Ryu, e responsável técnico para a
Europa do estilo, tendo sido coadjuvado
pelo Sensei José Bonixe 4º Dan Shito-Ryu
e director técnico da AAMA.
O evento decorreu dentro do horário
previsto tendo o Mestre H. Nakahashi
denotado a sua satisfação pelo
desenvolvimento técnico demonstrado
durante o estágio pelos participantes do
mesmo.
Procedeu-se na Sexta-Feira (2-7-2004)
antes do Inicio do Evento a Exames de
Graduação para Cintos negros na
graduação de 3º Dan (1), 2º Dan (5) e
1º Dan (9), num total de 16 examinados,
estando os mesmos de parabéns pela
graduação obtida durante o decorrer
do exame e do evento.
De referir que o Kyoshi H. Nakahashi
desloca-se todos os anos duas vezes a
Portugal (Lisboa em Março/Abril e
Algarve em Julho), no intuito de
acompanhar os praticantes do estilo
Shito-Ryu que seguem directamente a
linha e os ensinamentos do Soke Kenei
Mabuni 10º Dan Shito-Ryu e filho do
fundador do estilo, Kenwa Mabuni.
Por: Oswaldo Fernandez
estava mais presente na Europa era
efectivamente o Sensei Kase, logo a
seguir fixou-se o Sensei Enoeda. Isto
passa-se cerca de dez anos antes de eu
me ter iniciado. Foram eles que, nessas
viagens que fizeram, e que, com as suas
influências sociais e o seu poder
económico, regressaram com uma série
de certificados e diplomas. Com muitas
dificuldades pois eles tinham já alguma
idade e não tinham hábitos
desportivos. Provavelmente tinham-se
reiniciado naquelas práticas já aos
quarenta e tal anos, no entanto foram
sempre muito honestos no que
pretendiam fazer.
Abriram a Academia de Budo e
começaram a receber algumas pessoas.
As primeiras que receberam foram o
Mário Rebola o Raul Cerveira, o Mário
Águas e o Gueifão. Eram estes que
davam as aulas. As minhas primeiras
aulas de karate foram dadas pelo
Mário Rebola, o meu primeiro
professor de Judo foi o Raul Cerveira,
o meu professor de culturismo foi o
Fragoso Fernandes e o professor de
Aikido era o mestre Georges
Stobbaerts. Começam entretanto a
chegar outras pessoas, entre elas está
o Arqº José Manuel Custódio, e é com
a sua chegada que a academia começa
a levar uma volta. Ele tinha uma visão
mais aberta do karate. Eu tinha na
altura 20 anos e era a pessoa mais
nova.
KP – Havia restrições para entrar na
Academia?
Entrevista
Sensei Vilaça Pinto 6º Dan
Nesta sexta edição da revista karate
Portugal decidimos entrevistar um
homem ligado ao início do karate
nacional, e que ainda hoje se encontra
em actividade.
Vilaça Pinto iniciou a sua prática do
karate na Academia de Budo de Lisboa
em 1966 com 20 anos de idade e
pertence às primeiras gerações de
karatecas em Portugal, e é considerado
um dos melhores Mestres do Karate
Nacional.
Karate Portugal – Sabemos que está
ligado ao início do aparecimento do
karate em Portugal, e gostávamos que
contasse, sobretudo a pensar nas novas
gerações, como se deu esse processo. No
fundo, gostávamos de dar a conhecer às
classes etárias mais jovens um pouco do
passado que eles desconhecem quase na
totalidade.
Sensei Vilaça Pinto - Eu sou realmente um
dos primeiros que ainda hoje estou em
actividade e que de certa maneira
influenciou o karate em Portugal, mas
antes de nós havia o Sr. Correia Pereira e
o Dr. Pires Martins, que tinham a Academia
de Budo em Lisboa. Como eles eram
adeptos das artes marciais decidiram fazer
uma série de viagens à Europa para
visitar alguns mestres aí radicados como
o Sensei Kase e outros. Na altura, quem
VP – Pediam algumas coisas como
certificado de registo criminal que ia
para a PIDE, mas não havia restrições
de ordem social, nem havia controlos
clínicos. Eu vinha da Guiné e não tive
restrições de qualquer espécie.
Um certo dia entra lá um senhor sulafricano, o John Clark, que era o
terror… Quando ele entrou, eu por
acaso estava lá, e perguntou se havia
karate. Naquela altura eu já era 1º
Kyu, dava as aulas de judo e algumas
de karate para principiantes.
Pergunta quem era o instrutor e eu
respondi que era eu. Ele tinha para aí
mais meio metro do que eu. Perguntou
se podia treinar ao que respondi
29
afirmativamente. Eu dei então o treino.
Ele foi aparecendo a mais alguns
treinos. O Rebola também dava os
treinos. Até que um dia no balneário
ele nos diz, sem ser arrogante, que nós
estávamos um bocadinho longe da
linha do karate. Ele era 1º Dan do Stan
Schmidt da África do Sul. Mostrou-nos
a caderneta da JKA e ficamos todos
muito impressionados. Nós então
pedimos-lhe para dar os treinos.
Começou a dar os treinos e cada vez
ficávamos mais espantados com as
coisas que ele fazia. Ele não era muito
perfeito tecnicamente mas para o que
nós fazíamos… Foi aí que nós
aprendemos o que era Kihon. Foi ele
que nos ensinou e nós acabamos por
nos render à evidência. Entretanto ele
era um bocado duro, e nós não
tínhamos tido nenhuma iniciação no
karate. Houve ali uma cisão pois
alguns diziam que ali é que estava a
verdade do Karate mas outros diziam
que não. Esta cisão foi produzida e
liderada pelo Arqº Custódio, e fez com
que passado pouco tempo aquele
grupo se dividisse. Desta divisão nasce
o Centro Português de Karate da
Parede, a Academia de Budo
permanece com o Raul Cerveira e com
o Rebola que se ligam ao mestre
Murakami. Os que saíram para o
Centro Português de Karate da Parede
acabam por estabelecer contactos com
o mestre Enoeda e ficamos ligados à
JKA por seu intermédio. No entanto
aquelas pessoas pertenciam quase
todas à sociedade da linha do Estoril.
E havia alguns como o Carlos Pereira,
que apesar de pertencer a uma
sociedade mais privilegiada, achavam
que o Karate devia estar nas massas.
Começa a convencer-nos a voltar para
Lisboa para abrir um Dojo, e acabamos
por o fazer na casa da Mocidade
Portuguesa. É quando aparece o
Ramos, o Peté e outros, e cria-se então
o Centro de Karate da Mocidade
Portuguesa. Foi então que nasceu
aquela rivalidade entre o que foi
durante muitos anos a ASKP e o CPK.
O CPK teve uma grande
preponderância na linha enquanto
que a plebe praticava na casa da
Mocidade. Mas nós tinhas centenas de
praticantes, quase não cabíamos no
ginásio, isto em 1969. É em 69 que
Portugal vai pela primeira vez com o
John Clark a Cristal Palace.
Entretanto o ministério da educação
cria a comissão directiva de artes
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marciais (CDAM), com o comandante
Fiadeiro, que era um homem muito
voluntarioso. Estes dois grupos
constituem-se em associações de
Shotokan, e o comandante Fiadeiro
começa a tentar juntar as duas associações
numa federação só para efeitos de
representação nacional. A partir daí
sucederam uma série de acontecimentos,
que é do conhecimento geral, os quais
deram origem aquilo que é o Karate
Nacional neste momento.
KP – Qual a sua opinião sobre a existência
de novas Associações lideradas por
mestres conceituados? A
VP – Com a morte do Sensei Funakoshi,
que não tinha estilo nenhum,
desenvolveram-se uma série de estilos que
tinham a ver com as características físicas
e com os gostos pessoais de cada um dos
seus discípulos. Essa é que é a grande
divisão. A forma como cada um dos estilos
conta a sua história está um bocadinho
enfatizada pelas suas tendências, e não
nos merece tanto crédito em termos de
análise histórica como deveria merecer.
Nós sabemos que é muito difícil falar disso
com isenção. O Sensei Egami e os seus
discípulos ainda hoje dizem que fazia
Shotokan e, no entanto, sendo ele o líder
da Shotokai, já que nos diversos países se
acabou por se identificar como Shotokai
mais pela mão do Sensei Murakami do que
por ele próprio, continua a dizer que é
Shotokan, não fazendo nem o Shotokan
que o Sensei Nakayama fazia, nem o
Shotokai que o Sensei Murakami fazia. O
Sensei Murakami é novo no meio disto
tudo. Sendo o homem que introduziu o
karate em Portugal é muito recente neste
percurso histórico. Em relação ao Sensei
Egami, acredito que ele tomou essa
posição para ter credibilidade perante os
sus discípulos. No fundo já vimos isso
muitas vezes. É que deste modo podemos
dizer que somos genuinamente
descendentes de uma determinada linha.
Isso foi o que fizeram os Sensei’s Egami,
Mabuni, Yamaguchi, Otsuka, e mais
recentemente os Sensei’s Kanazawa, Kase
e Enoeda, que terão estado poucas vezes
com o Sensei Funakoshi, apesar de terem
começado a praticar com ele. Os alunos
do Funakoshi pertencem a uma outra
geração à qual pertenceu por exemplo o
Sensei Nakayama. Os Sensei’s Kase e
Nishiyama estão mais próximo dessa
geração. Digamos que foram os que
apareceram imediatamente a seguir ao
Sensei Nakayama. Mas no entanto todos
eles eram “órfãos”, e todos eles criaram
organizações que por sua vez deram
origem a uma série de “órfãos”. Essa
tem sido a grande perdição do karate.
KP – Como foi a sua experiência no
Japão?
VP – Eu estive no Japão várias vezes e
as análises que faço dos meus períodos
lá são diversas. Vou começar por
contar a minha primeira ida.
Eu fui para o Japão porque perguntei
ao Sensei Kanazawa quando me
reprovou no exame de 1º Dan porque é
que o tinha feito. Ele disse que tinha
um Karate muito primitivo, precisava
de um bom instrutor. Ao perguntar
onde estavam os bons instrutores
respondeu que se encontravam no
Japão e perguntei então se podia ir
para lá. Ele disse então que nos podia
receber e orientar. Três meses depois,
eu mais o Peté e o Afonso estávamos de
partida para o Japão. O Peté e o Afonso
iam lá por uns tempos mas eu ia para
ficar. Entretanto, na verdade, nós
andávamos um pouco confusos entre o
Japão e o Tibete. Decidimos ir para o
Japão mas a pensar que se calhar o
Tibete era melhor. A vontade de
aprender as verdadeiras artes marciais
era tanta que nós lá nos decidimos a
ir. Fomos de automóvel, pela Sibéria,
carregados de medicamentos. Enfim, foi
uma verdadeira aventura em busca de
um ideal, hoje em dia não passa pela
cabeça de ninguém fazer uma viagem
daquelas de automóvel. Deixamos
tudo. O Afonso e o Peté estavam no
segundo ano da faculdade, eu deixei o
meu emprego. Quando comecei a dizer
queia para o Japão apareceram logo
muitos mais a dizer que também iam.
Mas acabamos por ir só os três. Eles os
dois não queriam ficar para sempre ao
contrário de mim. Entretanto, durante
a viagem tivemos um acidente, e em
Bruxelas fomos ter com o Sensei
Myasaki que já tinha estado em
Portugal para ver se nos podia ajudar.
Falamos-lhe do nosso objectivo mas
perguntámos se não deveríamos ir
antes para o Tibete. Ele lá nos disse
que nós não tínhamos quaisquer
conhecimentos do que se passava no
oriente. Como ele veio para o ocidente
tinha obviamente um outro
conhecimento da realidade. Nós líamos
as revistas e os livros e acreditávamos
em tudo, mas a realidade era bem
diferente. O Tibete era um país
demasiado pobre, havia muita fome e
miséria. A história das artes marciais
e dos templos não eram reais.
Acabamos então por nos decidir pelo
Japão. Trabalhamos em Bruxelas pois
tínhamos ficado sem automóvel e
precisávamos de conseguir dinheiro
para a viagem de avião. Quando
chegámos a Tóquio fomos ter à JKA.
Fomos recebidos pelo Takami que era
o secretário da JKA. Mostrámos o
cartão que o Sensei Kanazawa nos
tinha dado e dissemos que vínhamos
de Portugal. O Takami levou-nos a um
Coffe-shop. Tóquio na altura era uma
cidade desenvolvida à semelhança de
Nova Iorque e com um custo de vida
ainda mais elevado. Nós estávamos sem
dinheiro e, claro, cheios de fome da
viagem. O Takami achou aquilo um
pouco estranho e lá nos alertou que o
Japão era ainda mais caro do que
Nova Iorque. Pergunta logo a seguir
em que hotel estávamos. Nós não
estávamos em nenhum hotel e dissemos
que o Sensei Kanazawa nos daria sítio
onde dormir. O Takami começou a
estranhar a situação. Estávamos ali,
vindos de Portugal, sem dinheiro e sem
alojamento. O seu comportamento daí
para a frente foi completamente
diferente. Ele pagou e dirigiu-se para
a secretaria sem nos dirigir palavra e
nós lá o seguimos. Entretanto fomos
levados ao dojo do Sensei Nakayama
em Ebishu. O prédio onde ficava o dojo
pertencia ao Sensei Nakayama. O dojo
ficava na cave, no rés-do-chão havia
uns quartos, no quinto andar vivia o
Sensei Nakayama, no sexto vivia o
Sensei Kanazawa e o sétimo, que
também pertencia ao Sensei
Nakayama estava desabitado. O
Sensei Nakayama pertencia a um
estrato social elevado. Era filho de
boas famílias, professor universitário.
Tinha passado doze anos na China a
estudar filosofia oriental, era portanto
um homem culto. Quando chegamos ao
dojo do Sensei Nakayama este foi
informado da nossa presença e
recebeu-nos de uma forma totalmente
diferente. Até aqui tínhamos sido
tratados com algum desprezo e o Sensei
Nakayama foi muito atencioso
connosco. Estava muito admirado e
nós não fazíamos outra coisa senão
dizer Oss, Oss. Quando ele começava a
falar nós já estávamos a dizer Oss. Para
nós era inimaginável estar perante
aquele mestre e algum dia falar com
ele, e no entanto, ele estava ali à nossa
frente. Foi de uma abertura
extraordinária, ficámos cada um no seu
quartinho no rés-do-chão. Iam lá ao
dojo muitos instrutores uns para
treinar outros para dar as aulas porque o
Sensei Nakayama não dava lá aulas com
regularidade. No entanto, ele e o Sensei
Kanazawa começaram a ir aos treinos das
sete da manhã e durante algum tempo
tivemos os dois mestres a dar estas aulas.
Nós não sabíamos para onde nos virar.
Chegamos a combinar os três, por exemplo,
que eu fixava a primeira meia hora, o Peté
fixava a segunda e o Afonso a terceira,
para depois no quarto anotarmos os
esquemas todos. Isto demonstra o estado
primitivo em que nos encontrávamos. Em
vez de encararmos o treino no seu sentido
global em que aquilo que se faz é apenas
pormenor, estávamos agarrados ao
esquema o treino. Entretanto começamos
a ter uma boa relação com os outros
instrutores que eram pessoas bastante
simples. Ocidentais de “olhos redondos”
eram invulgares e começamos a sair com
eles. Íamos muitas vezes almoçar com eles
mas começou a tornar-se muito
aborrecido pois eles bebiam demasiado
sake, sendo inevitáveis as bebedeiras.
Arranjamos lá o nosso primeiro emprego
como barman numa cadeia de bares, os
Tokio Santuri, e trabalhávamos desde as
5 da tarde até às 11 da noite, mas acabamos
por mudar de emprego. O Afonso foi o
primeiro a sair e passou a vender na rua
anéis, pulseiras e coisas afins que fazia, e
passado algum tempo estávamos os três
na rua a vender já que dava mais dinheiro
e era um trabalho mais interessante. O
nosso tempo era então repartido pelos
treinos da manhã às sete horas, às dez e
meia tínhamos a JKA, e às nove da noite
tínhamos o Sensei Kanazawa. Nos
intervalos podíamos então dedicarmo-nos
à nossa actividade. Começamos a faltar a
alguns treinos, pois se íamos a uns treinos
já não íamos a outros e começamos a ficar
um pouco mal vistos. Eles queriam que
fossemos a todos os treinos, todos os dias,
mas era impossível de aguentar para nós.
Entretanto nós éramos quase exibidos
como uma coisa rara no Japão pois não
era comum encontrar lá ocidentais.
Saíamos com eles já que isso lhes dava
algum estatuto. Destas saídas resultava
uma chegada tardia ao alojamento para
descansar e para podermos fazer o nosso
artesanato que iríamos vender. Muitas das
vezes, no meio deste convívio, chegávamos
ao dojo pela noite fora mas os outros
instrutores decidiam ir treinar, e depois
do treino ainda íamos para a sauna. Estas
situações, que eram engraçadas no início,
tornaram-se aborrecidas e começamos a
criar alguns conflitos. A verdade é que
levávamos muita “porrada”, pois se havia
alguns que gostavam de nós e saíam
connosco, havia outros que tinham
ciúmes e nos treinos vingavam-se. Nós
começamos então a chegar mais tarde
aos treinos. As aulas eram muito duras.
Chegávamos ao treino e no
aquecimento já estávamos a levar
porrada. Depois fazíamos o Kihon, mas
isto significava fazer, por exemplo, 200
tsukis, 100 mae-gueri’s, 400
mawashigueri’s, ect. Depois fazíamos
Kumite, sempre a rodar, e só no fim se
fazia um kata ou dois. No fim do treino
ficávamos com o pressentimento de que
tínhamos escapado mais uma vez. Era
realmente muito duro. Quando agora
vocês me perguntam o que é que eu
penso do Japão naquela altura, eu
penso que não me mataram porque
não calhou. No meu exame para 3º Dan
fiquei inconsciente durante duas horas
com um mawashigeri que levei na
cabeça do Omura. O Omura, que tinha
feito dois anos antes exame comigo na
JKA para 2º Dan e tinha-me um ódio
mortal, pois tive a infelicidade de o
derrubar com ashi-barai e, quando ele
se levantou, ainda lhe dei mae-gueri.
Isso foi para ele uma desonra muito
grande, pois soou a humilhação.
Provavelmente a sua vontade seria ter
feito o arakiri. Entretanto vim a
Portugal, abrandei um pouco, mas ele
continuou a treinar. Passados dois
anos quando o encontro de novo no
meu exame para 3º Dan, o seu ritmo
era completamente diferente do meu.
Eu fiquei então inconsciente,
encostaram-me à parede, passado um
bocado foram-me buscar pois não tinha
feito a saudação, continuava no
entanto adormecido, tornaram-me a
encostar à parede e só acordei duas
horas depois. Podia ter morrido, como
aconteceu a outros. Sei de um caso de
um indivíduo que ao entrar para a
faculdade escolheu como opção
desportiva a prática do karate. No
Japão, pelo menos naquele tempo,
praticava-se uma modalidade
desportiva em qualquer curso superior.
Passado uns tempos ele chegou à
conclusão que queria abandonar o
karate. Não lhe permitem a saída, mas
como o seu pai era um homem influente,
conseguiu junto do reitor autorização
para a desistência e alteração da
modalidade desportiva. O instrutor era
o Tsujiama. Ele era um indivíduo
tenebroso, era temido por todos.
Prestavam-lhe homenagem não sei se
por ser muito bom Karateca ou se por
terem demasiado medo dele. A verdade
é que quando recebe a carta com a
31
autorização para o jovem desistir, ele
concorda mas diz que ele deveria fazer
um treino de despedida. Nesse último
treino ele foi agredido até à morte. Não
me lembro no entanto de ver qualquer
manifestação em relação ao sucedido
por parte da família. É uma sociedade
muito diferente da nossa. Quando eu
me vim embora foi de certo modo um
alívio, e quando lá voltei ficaram
admiradíssimos. Certamente pensaram
que tinha voltado para matar alguém,
quando na realidade só tinha voltado
para tentar perceber melhor tudo o que
se tinha passado comigo na minha
primeira estada lá. Mas se da primeira
vez as coisas foram más, da segunda
foram ainda piores.
Que análise posso agora fazer? Eu
abandonei uma vida abastada que
tinha pelo ideal das artes marciais.
Quando cheguei lá e vi como era, tive
uma desilusão muito grande. Eu tive
que digerir esta desilusão durante
muitos anos até a conseguir perceber
fora do efeito daquilo que sofri. Eu hoje
vejo tudo isto de uma forma
completamente diferente, não pela
negativa mas antes pela positiva.
Porque no fundo, o que existe é um
choque de culturas demasiado grande,
ao qual eu não me soube adaptar, e um
desconhecimento também da cultura
32
deles. Se eu tivesse um melhor
conhecimento da sua cultura, certamente
teria tirado maior proveito dos treinos e
do tempo em que lá estive. Continuo com
a convicção de que as artes marciais são
para os Japoneses, que em termos de artes
marciais temos muito a aprender com eles,
enquanto que na perspectiva do karate
para o corpo, para a saúde e equilíbrio
emocional eles não têm para nos dar. O
que eles têm para nos oferecer é um karate
mais virado para o espírito guerreiro e
para a coragem. É aqui que nasce uma
outra divisão do karate. O karate
desportivo e o karate tradicional. Não
digo marcial porque o verdadeiro karate
marcial acabou no século XV. Em relação
aos mestres Japoneses que vêm para o
ocidente, uns apresentam o tipo de
conhecimentos que os ocidentais querem,
de modo a cativá-los a entrarem na
sociedade de karate ocidental, outros
agem como se fossem donos da verdade e
não têm esse tipo de preocupação, obtendo
deste modo um menor êxito. Mas no fundo
eles são todos iguais. Os Japoneses são
um povo impersonificado, isto é, são um
povo em que a pessoa individualmente não
tem valor nenhum, só tem valor enquanto
membro de uma família. O Japonês não
reivindica os seus direitos pessoais, é o
grupo que vale para ele. O seu objectivo é
servir esse grupo. Ele individualmente
sabe que vale zero. Por isso eu digo
que é um povo em que individualmente
não têm personalidade. Hoje em dia eu
acho que eles são a ligação à
genuinidade das artes marciais e ao
karate verdadeiro. Claro que cada um
de nós tem de ser capaz de aproveitar
apenas o que interessa e que acha
razoável, enquanto instrutor, para
depois transmitir aos seus alunos. Quer
sigamos o caminho do karate
desportivo quer da linha tradicional,
o importante é dignificar a modalidade
com tolerância e nisso devemos ver o
que eles têm para nos mostrar. O Japão
nas competições desportivas a nível
internacional não ganha quase nada.
É quase tudo ganho pelos ocidentais,
talvez com a excepção das provas
femininas de kata. No entanto isso
para eles não é importante, pois eles
não vão mudar a sua forma de fazer
karate e de treinar só para ganharem
nas competições. Eles continuam com
a sua forma de fazer karate. Nós vemos
atletas ocidentais com prestações
muito artísticas, técnicas rápidas e bem
metidas, enquanto que vemos os
Japoneses a levar uma técnica como
se nada fosse e a continuar o combate
apesar de ter parado. O combate para
eles não termina ali, em teoria, o
combate para eles só acaba quando
um morre. Enquanto que nós
desenvolvemos as capacidades físicas
e técnicas, eles não se preocupam com
a qualidade e com as capacidades
físicas do ponto de vista científico ou
desportivo. Ali quem está é o samurai.
A competição é secundária. Não vale
a pena dizer que um karate é melhor
do que o outro. Devemos sim optar por
um ou por outro tipo de karate. Claro
que também não vale a pena dizer que
fazemos karate marcial. Este
desapareceu há 300 ou 400 anos. O
karate como arte marcial é uma ilusão.
No século XXI, este conceito não faz
sentido devido à existência de armas
de fogo por exemplo. Os verdadeiros
guerreiros foram os guerreiros que
manejavam a espada, a lança, os
shurikens, e uma série de outras armas.
Mas estes homens morriam
prematuramente, porque ou morriam
nos treinos ou morriam nas guerras, e
se não morriam nas guerras é porque
as tinham ganho, pois se perdessem
faziam arakiri pela sua honra. Eram
estes os conceitos de guerreiro e de
artes marciais. Mais tarde aparecem
os samurais que eram uma espécie de
guarda especial do Shogun. Claro que
tudo isto acabou. Nós podemos hoje
tentar tirar benefício desse espírito de
combatividade, mas não vale a pena
ter ilusões pois o karate marcial, assim
como qualquer outra arte marcial,
acabou. Nós podemos é ter um
entendimento da prática do ponto de
vista físico e intelectual e mental, fazer
uma certa conjugação desses valores
de maneira a tirarmos proveito disso e
a fazermos com que tenhamos uma
melhor qualidade de vida. Mas
atenção pois se os primeiros guerreiros
no Japão morriam por volta dos trinta
anos, os karatecas de hoje morrem mais
cedo para o karate. Quantos alunos já
deixaram o karate? Esta é uma reflexão
que devemos fazer. Eu estou mais
próximo dos japoneses hoje do que o
estava quando de lá vim. Eu fiquei
muito amigo do Sensei Abe que é o
nosso instrutor cá para Portugal e no
entanto quando lá estive ele só me
agredia. Mas é um homem muito
tradicional e com quem vale a pena
falar para percebermos o que se passa
dentro daquelas cabeças. Há muitas
coisas que no treino nós entenderíamos
melhor se os percebêssemos melhor a
eles. É essa experiência que falta à
maior parte dos jovens para que o
karate deixe de ser um conjunto de
gestos técnicos. Porque um combate
tem uma forte componente psicológica. Os
japoneses de facto não têm medo pois não
têm personalidade, no sentido em que
expliquei anteriormente. Só que não há
pior inimigo do que aquele que não tem
medo de morrer. São culturas muito
diferentes e nós temos muita dificuldade
em percebê-los só que assim estamos cada
vez mais longe as origens.
KP – Falando agora da situação
nacional… Já nos explicou que durante
um certo período abandonou o karate. A
que se deve esse abandono.
VP – Foi devido à Federação e à minha
associação, a ASKP. Eu fiz um esforço
muito grande para estar sempre ao lado
do Peté. Quando o Peté veio do Japão
disse-lhe para se juntar a nós. Trabalhamos
os dois só que ele trazia uma desvantagem
muito grande pois ele trazia consigo uma
mulher, que tinha demasiada influência
sobre ele e que queria mandar nele e em
mim. Tivemos por isso alguns conflitos.
Decidi portanto, ao fim de alguns anos,
sair para que não passasse os conflitos
para outras pessoas, evitando assim uma
divisão. Mas houve um conjunto de
factores que me fez abandonar, como a
vontade e o gosto que tive de voltar às
origens e um conflito com o Raul Cerveira.
Eu não abandonei verdadeiramente o
Karate pois continuava a treinar com o
meu irmão. O meu regresso associativo
deu-se quando algumas pessoas,
nomeadamente o Adélio, me contactaram
para que eu desse uns treinos, para ensinar
o que tanto nos custou a aprender. Mas
claro que para os praticantes de agora
aprenderem o que nós aprendemos no
Japão, teriam que passar pelo que nós
passamos. E foi assim que comecei a dar
treinos e estágios também a outras
associações. Depois, claro que todos
conversávamos sobre o futuro e decidimos
formar outra associação que englobasse
os vários Dojos em que estava envolvido.
Foi assim que se formou a Hoitsugan
Karate-Do de Portugal, e se deu o meu
regresso às lides associativas, ainda que
numa perspectiva e numa dimensão
completamente diferentes da do passado.
KP – Qual é a sua opinião sobre o estado
do Karate nacional em termos
desportivos?
VP – Sinceramente não estou muito por
dentro. Mas acho que o karate desportivo
deve estar como estão a saúde, o ensino, a
política, e como está tudo em Portugal.
Deve sofrer da mesma falta de estruturação
e de organização. Penso que os
Portugueses em relação aos outros
povos não são inferiores. Não têm é
meios para fazerem melhor. Acho que
Portugal tem tido alguns bons
resultados nas provas internacionais
mas se calhar podia ter tido melhores.
A pequena dimensão do nosso país no
confronto com países muito melhor
organizados do que nós faz com que
sejamos prejudicados por exemplo nas
decisões das arbitragens por que se
calhar nós não temos o peso na
arbitragem internacional que os outros
países têm. Se calhar a nossa federação
nacional não tem no panorama
internacional o mesmo peso e a mesma
força que têm as outras federações e
isso reflecte-se nos resultados
desportivos. O Karate enquanto
deporto não é diferente do futebol na
sua afirmação como desporto. Se
perguntássemos ao presidente da
federação de karate se ele gostava de
ter as mesmas verbas que tem o futebol
ele dizia que sim. É tudo uma questão
de meios financeiros que podem depois
gerar os meios técnicos e os resultados
desportivos. As pessoas que estão hoje
à frente do karate desportivo já não
transmitem o karate na sua totalidade
talvez por falta de conhecimento,
tirando os mais antigos como o José
Ramos que tem um conhecimento do
karate tanto tradicional como
desportivo numa perspectiva mais
científica. O que é um facto é que no
futuro, quem vai tomar conta do karate
são as novas gerações, com mais ou
menos conhecimentos científicos, mas
que se lhes perguntarmos quem é o
Funakoshi eles não sabem. Está a
perder-se a origem da modalidade já
que se fixa exclusivamente na área do
desporto. Basta ver que hoje em dia
num dojo os praticantes mais velhos
têm cerca de vinte anos e pouco saberá
de karate, enquanto que quando eu
comecei, era o mais novo e tinha vinte
anos. É uma pena. Eu pessoalmente não
conheço nenhum desporto ou
actividade física com as características
do karate. O karate tem três disciplinas
em que assenta como um todo: o Kihon,
o Kata e o kumite, ou seja, o Kihon, a
forma e a competição. Todos os outros
desportos se fazem na pura competição.
No entanto hoje em dia, na vertente
desportiva,
cada
vez
mais
oscompetidores que fazem kata não
fazem kumite e vice-versa. Isso é uma
perda para eles. O que está por detrás
disto é a formação do praticante na
33
perspectiva do karate poder ser muito
equilibrada, porque geralmente o
praticante que gosta dekata tem medo
de kumite, e o que gosta de kumite não
tem paciência para fazer kata. O
praticante ideal seria aquele que era
capaz de fazer as duas coisas e de te
êxito nas duas. Era sem dúvida mais
completo. Eu costumo dizer que o kata
nos condiciona a 100%, pois nós é que
temos de nos moldar ao kata. O ritmo,
a direcção, o kime, as técnicas, a
respiração etc., têm que ser os definidos
no kata, em oposição ao kumite que é
a espontaneidade, criatividade e
autonomia totais. A conjugação destas
duas facetas seria, no ponto de vista
da formação quer seja dos adultos,
quer das crianças, muito mais positiva.
A competição na perspectiva
exclusivamente desportiva rouba a
oportunidade deste “casamento” entre
estas duas vertentes. Mas não vale a
pena lutar contra isto pois não passam
de opções e temos que respeitar quem
segue o caminho desportivo e o
caminho tradicional. Não vale a pena
denegrir nenhuma das facetas, temos é
que preservá-las para que se possam
dar mais oportunidades às pessoas. No
entanto vejo que a vertente desportiva
acolhe mais adeptos pois tem outras
aliciantes. As pessoas vivem muito dos
estímulos exteriores.
KP – Esquecemo-nos de perguntar no
início mas vem muito a propósito no
seguimento da nossa conversa o porque
da sua vinda para o karate. Houve
algum desporto ou actividade física
antes do Karate?
VP – Houve sim. Posso dizer que houve
todas as actividades de um espírito
rebelde. Aliás, eu era conhecido aqui
na minha terra por Lúcifer. Eu fui uma
criança muito reguila. Com 16 anos
fui como voluntário para força aérea,
e quando acabei a recruta, a PIDE
chamou-me pois queriam saber porque
é que tinha escolhido a Guiné. Como
havia menos guerra em Angola ou
Moçambique desconfiaram. Eu queria
era guerra, aventura. Fui este espírito
que me fez enveredar por acaso pelo
karate. Um dia ia a passar pelas ruas
passei pela Academia de Budo, curioso
perguntei o que era aquilo e se me
poderia inscrever. Foi totalmente ao
acaso, poderia ter escolhido outra
coisa qualquer, mas inscrevi-me no
karate sem saber muito bem o que era.
A minha opção mais tarde em relação
34
ao Shotokan e ao Shotokai acabou por
ser feita mais pelas pessoas que seguiram
as linhas do que pelo estilo. No fundo o
estilo acaba por ser apenas um meio ou
uma via que nós percorremos na esperança
de encontrar algo de bom e útil para nós.
É assim que devemos encarar o karate,
independentemente do estilo.
KP – Houve alguém que o tenha
influenciado ou marcado como praticante,
como professor, ou como mestre?
VP – Bem, sei que não devemos rejeitar
a responsabilidade correndo o risco
de desapontar os mais jovens, mas para
mim, a apalavra mestre, que em certos
contextos do dia a dia tem um
significado pouco relevante, quando
ligada às artes marciais adquire um
significado que eu recuso aceitar que
me entendam como tal porque não
conheço nenhum mestre com a minha
idade, nem me reconheço a mim nesse
papel. De todos os homens que eu
conheci no Japão aquele a quem eu
chamo mestre foi o Sensei Nakayama.
Pela sua educação, pela sua
ponderação, pela sua capacidade de
compreender as pessoas. Pelo bem que
me fez apesar do reguila que eu lá fui.
Como instrutor o Sensei Kanazawa foi
um grande instrutor na perspectiva do
corpo e na perspectiva da exibição das
suas grandes capacidades. Enquanto
que o Sensei Nakayama nos punha a
fazer um kata no fim da aula e depois
de a observar como um todo nos
indicava um pormenorzito que eu nem
sabia que existia, o Sensei Kanazawa
corrigia defeitos técnicos. Para o
Sensei Nakayama o movimento tinha
que ser natural, enquanto que para o
Sensei Kanazawa interessava o ritmo,
a forma, a estética, sendo no entanto
um óptimo instrutor do ponto de vista
biomecânico. Havia depois outros
atletas, autênticas feras, que davam
“porrada” a toda a gente. Eles eram
fantásticos a combater, o seu controlo
era muito relativo e no entanto eles
nunca pestanejavam, nem quando
levavam com uma técnica. Saíam dum
combate com dignidade, sem ficarem
zangados com o outro, encaravam o
combate com muita seriedade. No meio
de todos eles sobressaía o que nunca
ficava magoado. O Oishi, foi o homem
com o timing mais aperfeiçoado que
eu já vi. Ele conseguia entrar e sair
sem ser atingido. Impressionou-me
também pela força e pelo poder o
Kawada. Eu sempre fui muito forte
fisicamente, aliás lá no Japão gozavam
comigo, diziam que era muito forte
porque tinha levado porrada e não
tinha morrido. A verdade é que eu
aguentava porque sempre trabalhei
muito bem a capacidade física
nomeadamente ao nível dos
abdominais. Mas do Kawada, eu
levava um tsuki e não aguentava com
ele. As suas técnicas tinham um poder
como eu não conhecia em mais
ninguém.
KP – Sem se restringir apenas ao
aspecto técnico, há alguma
personalidade do Karate mundial que
gostaria de destacar pela contribuição
que prestou ao Karate?
VP – Bem, eu penso que não.
Apareceram, cada um em seu tempo,
tantas individualidades, que ao fim ao
cabo são tão poucas, mas que realmente
marcaram a evolução do Karate, dentro
daquilo que se encontra e onde
estamos. Acho que não devo destacar
ninguém. Houve muitos instrutores de
grande valia, cada um importante
na sua fase, no seu tempo, que
contribuíram imenso para esta
modalidade, que não seria justo da minha
parte destacar alguém.
KP – Como é que gostaria de ver o nosso
Karate nacional?
VP – Gostaria de ver o nosso Karate de
uma maneira transparente e de igual para
igual para todos. Gostaria que todos
tivessem o mesmo acento numa federação
e que todos fossem aceites. É preciso mais
carinho para os praticantes e para os
atletas. É preciso recordar que são eles os
nossos embaixadores e que sofrem imenso
lá fora, muitas vezes sofrem pressões em
vez de serem mais acarinhados e mais
acompanhados. São eles que poderão
trazer os bons ou os maus ou os grandes
resultados de que Portugal precisa.
KP – Sem se restringir apenas ao aspecto
técnico, há alguma personalidade do
Karate mundial que gostaria de destacar
pela contribuição que prestou ao Karate?
VP – Bem, eu penso que não. Apareceram,
cada um em seu tempo, tantas
individualidades, que ao fim ao cabo são
tão poucas, mas que realmente marcaram
a evolução do Karate, dentro daquilo que
se encontra e onde estamos. Acho que não
devo destacar ninguém. Houve muitos
instrutores de grande valia, cada um
importante na sua fase, no seu tempo, que
contribuíram imenso para esta
modalidade, que não seria justo da minha
parte destacar alguém.
KP – Como é que gostaria de ver o nosso
Karate nacional?
VP – Gostaria de ver o nosso Karate de
uma maneira transparente e de igual para
igual para todos. Gostaria que todos
tivessem o mesmo acento numa federação
e que todos fossem aceites. É preciso mais
carinho para os praticantes e para os
atletas. É preciso recordar que são eles os
nossos embaixadores e que sofrem imenso
lá fora, muitas vezes sofrem pressões em
vez de serem mais acarinhados e mais
acompanhados. São eles que poderão
trazer os bons ou os maus ou os grandes
resultados de que Portugal precisa.
KP – Gostaria de dar algum concelho final
aos nossos jovens que ache importante?VP
– Agradeço desde já este vosso convite
para falar da minha experiência no Karate,
mas é evidente que gostaria, numa outra
oportunidade se possível, de falar
profundamente sobre a parte técnica
que é muito importante, quer em termos
de formação, quer em termos de
arbitragem, quer em termos de
graduações. É muito importante que
nós demos esse contributo a todos
aqueles que estão a reestruturar esta
modalidade, de modo a valorizar e
favorecer a todos aqueles que a
praticam. É que há muita coisa má e
que não devia neste momento existir.
Há muito descontentamento. É muito
importante que a nova geração agarre
o Karate com “unhas e dentes” pois
são eles o futuro da modalidade. Mas é
essencial que agarrem depressa porque
eles é que têm que ser os pilares daqui
para a frente para o desenvolvimento
e contributo desta modalidade. E
aqueles que tentam dificultar o
andamento desta modalidade devem
perceber que todos nós temos o nosso
tempo e que não seremos eternos. Mas
agora é bom que, para a nova geração,
com a nossa ajuda e o nosso
acompanhamento, se abra um leque
para todos de igual para igual e que
se leve esta modalidade com outro
sentido, com outra orientação, com
outro objectivo para que apareçam os
tais resultados que a própria tutela e
os próprios governos fiquem satisfeitos
e comecem a apoiar mais a
modalidade. Se continuamos com
divergências e outras coisas, se
continuamos a ostracisar algumas
pessoas não vamos evoluir pois nós
somos muito poucos. Para valorizarmos
e darmos o nosso contributo a esta
modalidade precisamos todos uns dos
outros.
Gostaria também de dizer às pessoas
que se mantenham no karate na
perspectiva de melhorarem o seu
próprio karate e o seu ensino de
karate. Esta força foram os antigos
Japoneses que me deram. O não deixar
que a idade nos limite. Nunca
deixando de ter em conta a idade, e
adequando o treino à idade, devemos
manter essa ideia de continuar a
treinar. Uma das descobertas mais
interessante que eu fiz foi o treino
individual. Este é de acto o verdadeiro
treino. Estamos em confronto connosco
próprios, estamos a falar connosco,
estamos a falar com alguém que não
podemos enganar. Depois é uma
questão de se programar o treino que
fazemos. Acabamos por aprender
sozinhos o que nunca aprendemos com
os mestres ou em grupo e acho que não
é preciso chegar a velho para
aprendermos disso.
35
MOTIVAÇÃO E ABANDONO DA PRÁTICA DESPORTIVA
Estudo realizado por: Luís Miguel Catita Maurício da Costa
O que os jovens têm para nos dizer e o que os
treinadores podem fazer?
E EM PORTUGAL SERÁ QUE É
DIFERENTE?...
A identificação das razões subjacentes à
Participação e ao Abandono da prática
desportiva, não obstante a pouca investigação
produzida até à data relativamente ao
Abandono, têm registado um crescente interesse
tanto a nível internacional, como a nível
nacional, não só no seio da comunidade
científica ligada à Psicologia do Desporto, como
também no seio da comunidade desportiva em
geral. Não admira assim que, segundo Fonseca
(2000), perguntas como; “Porque são alguns
atletas mais persistentes na prática desportiva
do que outros?”, “Porque deixam alguns atletas
de praticar desporto?”, “Porque seleccionam
os atletas determinadas modalidades para
praticarem em detrimento de outras?”, “Porque
razão alguns atletas praticam desporto com
uma intensidade diferente da dos seus colegas?”
etc. continuem a ser habitualmente formuladas
pelos diversos agentes intervenientes no
processo desportivo, sem que estes
compreendam de uma forma objectiva e
fundamentada a natureza do fenómeno.
Todavia, não obstante a investigação procurar
responder de uma forma mais profunda a estas
perguntas, debruçando-se sobre aspectos tão
importantes como as auto-percepções que o
atleta tem de si próprio (ex. sentir-se ou não
com competência para fazer bem um
determinado exercício) e sobre os objectivos
que persegue na sua prática (ex. prazer retirado
no treino por procurar melhorar dia a dia a
sua própria aprendizagem ou prazer sentido
por vencer ou ser melhor que os outros), os
fundamentos da vontade em praticar desporto
e das razões subjacentes ao abandono, são-nos
REVELADOS PELOS PRÓPRIOS JOVENS.
Cruz e col. (Cruz, 1996; Cruz, Costa,
Rodrigues & Ribeiro, 1988; Cruz & Costa,
1997) nas várias investigações realizadas
com jovens praticantes (Andebol e
Basquetebol), registaram como motivos o;
divertimento; desenvolvimento de
capacidades; a promoção da saúde e da
forma física; o gosto pelo espírito de grupo
e pela forma física e a amizade.
Também Fonseca e col. (1993, 1995) e
Serpa (1992) concluíram que os principais
motivos valorizados pelos jovens na sua
prática desportiva, estavam relacionados:
com a aprendizagem de novas competências
e a forma física, para além dos aspectos
afiliativos conducentes à realização
colectiva e ao divertimento.
Razões para a Prática Desportiva
Uma das primeiras investigações que levaram
à identificação das razões que motivavam os
jovens para a prática desportiva, foi conduzida
por Alderman & Wood (1976) com uma amostra
de jovens praticantes de Hóquei no Gelo. Os
resultados obtidos foram no sentido da
importância atribuída a aspectos como a
Afiliação (estar com amigos e fazer novos
amigos), o Desempenho (fazer qualquer coisa
bem feita) e a Activação (excitação
proporcionada pela modalidade).
Num
outro
estudo,
com
as
mesmascaracterísticas do anterior, os
jovensatletas para além dos motivos apontados
salientaram ainda o facto de procurarem:
Divertir-se, Estar em forma e ter experiências
de sucesso (Gould,Feltz,Horn, & Weiss, 1982).
À semelhança da América do Norte, também
em Itália os dados obtidos através de 2.598
atletas, por Buonomano, Cei & Mussino (1995)
parecem convergir no mesmo sentido
(divertimento, procura de ser saudável, os
amigos e desenvolvimento de competências
relacionadas com a modalidade) podendo-se
assim considerar que as razões apontadas são
o elo mais forte para a permanência dos jovens
na prática da sua modalidade.
36
SERÁ QUE OS JOVENS DO KARATE
PENSAM O MESMO QUE OS DAS
OUTRAS MODALIDADES?...
Num estudo realizado por Mota, Silva, Pinto
& Fonseca (1995) acerca dos motivos que
conduziam as pessoas à prática do KarateDo, os motivos que se evidenciaram como
os mais importantes para a generalidade
dos praticantes foram os relacionados com:
o bem estar físico e/ou psicológico – “manter
a forma física”, “preparação física”, “bem
estar psicológico” e “compensação do
stress profissional”; o prazer elicitado pela
prática do Karate-Do – “gosto da arte”,
“gosto da técnica” e “gosto do karate” e a
afiliação – “convívio manutenção” ou
“aquisição de novas amizades”.
Contrariamente, os motivos relacionados
com a defesa pessoal e a competição, foram
considerados como os menos importantes
(Mota, 1995). Analisando os resultados, de
uma forma geral, os motivos indicados
pelos Karatecas para praticarem a sua
modalidade foram ao encontro
dosresultados obtidos com outras
modalidades. Segundo Mota e col. (1995),
os motivos relacionados com o “prazer
elicitado pela prática do karate” tem
correspondência noutras investigações com
o divertimento, bem como a afiliação e o
bem estar físico/psicológico, que parece
também ser um dos motivos bem como dos
aspectos resultantes, da prática desportiva
(Fonseca & Fontainhas, 1993; Serpa, 1992).
PARECE ENTÃO HAVER UM PADRÃO
COMUM NOS MOTIVOS QUE LEVAM
JOVENS DE DIVERSOS LOCAIS DO
MUNDO A PRATICAR DESPORTO
MAS ENTÃO!?
Se os jovens enunciam tantos aspectos
positivos na sua prática desportiva, vendo
nela um lugar de excelência para muitas
das suas realizações pessoais, PORQUE
DECIDEM
ABANDONAR
A
MODALIDADE NA QUAL SE HAVIAM
ENVOLVIDO
COM
TANTO
ENTUSIASMO???
Razões para o Abandono Desportivo
Procurando explicar o fenómeno do
Abandono desportivo da prática da
Natação, por parte de jovens com idades
compreendidas entre os 10 e os 18 anos,
Gould, Feltz, Horn & Weiss, (1982)
obtiveram como respostas as seguintes
justificações: tinham outras coisas para
fazer, não se divertiam, queriam praticar
outro Desporto, pensavam que não eram
tão bons quanto desejariam, não gostavam
do treinador, a pressão envolvente, o
aborrecimento, e o treino era muito difícil.
Estes dados parecem assim convergir com
os obtidos por Feltz & Petlichkoff (1983) e
com os de Fry, Clements & Sefton (1981)
que para além dos indicados, apontaram
ainda a incompatibilidade com outras
actividades e problemas de organização
(horários pouco adequados) como causas
de Abandono desportivo.
TERÃO OS JOVENS PORTUGUESES
DIFERENTES MOTIVOS PARA
ABANDONAR?
Quanto à realidade nacional, Cruz e col.
(Cruz Costa & Viana, 1996; Cruz & Costa,
1997) concluíram que aqueles que tinham
posto termo ao seu envolvimento
competitivo, justificaram como: terem outras
coisas para fazer, motivos profissionais,
falta de tempo para a prática desportiva,
problemas de relacionamento com os
treinadores e dirigentes, percepção de falta
de competência e capacidade física para o
desempenho, e o facto de jogarem pouco
tempo.
PARECE ASSIM!?...
Que à semelhança da Participação, também as
razões que estão na base do Abandono
Desportivo, não se circunscrevem a uma só,
mas sim a um somatório destas (ex. falta de
divertimento, treino muito difícil, problemas com
o treinador, ter outras coisas que fazer, falta de
tempo etc.). Desta forma, a tomada de decisão
por parte do jovem em continuar envolvido ou
em Abandonar a sua prática desportiva, parece
assentar numa análise de custos/benefícios
sobre a sua modalidade. Ou seja se os benefícios
(ex. divertimento, as amizades, sentimentos de
sucesso etc.) forem para um determinado
indivíduo superior aos custos (falta de
divertimento, treinos monótonos, problemas
com o treinador, avaliações negativas feitas por
terceiros, baixa percepção de competência etc.)
ele vai manter-se em actividade. Se os custos
forem elevados comparativamente às
recompensas, provavelmente o sujeito irá
Abandonar, podendo este contudo, não ocorrer
imediatamente se não existirem outras
alternativas disponíveis (desportivas ou extradesportivas) no momento.
Contudo, não sendo o treinador enunciado pelos
jovens como o principal causador do seu
Abandono Desportivo, mas sim o facto de
“terem outras coisa que fazer”, a “falta de
divertimento” e a sua “mudança de interesses”;
algumas das razões apontadas pelos jovens não
deixam contudo de suscitar a nossa curiosidade
e merecer a nossa reflexão!
Ou seja, PORQUE...
...não se diverte o jovem com a sua prática?
...quer o jovem praticar outro desporto?
...acha o jovem o treino muito difícil?
...tem o jovem dificuldades de relacionamento
com o treinador?
...não se percepciona o jovem comocompetente
na prática da sua modalidade?
...Etc.
Embora estejamos cientes que existam aspectos
que escapam ao controlo do treinador (ex.
quando o jovem abandona devido às más notas
escolares porque os pais assim o obrigam), não
poderá o treinador arranjar solução para as
razões acima referidas?
ESPECULEMOS...
O jovem não se diverte com a sua prática porque
esta é muito monótona (treinos e exercícios muito
repetitivos)!?
- O jovem quer praticar outro desporto porque:
não se diverte devido ao que foi dito
anteriormente ou porque tem problemas de
relacionamento com os colegas e/ou treinador
e/ou dirigentes!?
O jovem acha o treino muito difícil porque os
objectivos estão desajustados ao seu nível de
aprendizagem (à sua maturidade física e
intelectual)!?
- O jovem não se percepciona como competente
porque aquilo que lhe é exigido está desajustado
à sua capacidade de aprendizagem e por isso
treinador e/ou colegas passam o tempo a avaliar
a sua prestação negativamente, sem realçar o
que de positivo ele faz!?
Etc.
ENTÃO, COMO PODERÃO GERIR OS
TREINADORES O PROCESSO DE
TREINO DE FORMA A EVITAR UM
MAIOR NÚMERO DE ABANDONOS
DA SUA MODALIDADE?
Um dos factores senão mesmo o mais
importante diz respeito ao estilo de liderança
exercido pelo treinador, nomeadamente
quanto à sua interacção com os atletas, que
se apresenta como um factor determinante
na forma em como as experiências
desportivas são encaradas por estes, que
lhe “confiam” o seu processo de
desenvolvimento com vista à realização dos
seus objectivos pessoais. Posto isto, se por
um lado existe um conjunto de variáveis
sobre as quais o treinador está limitado na
sua intervenção (ex. natureza biológica),
outras existem que poderão ser manipuladas
com o objectivo de elevar os níveis de
motivação para aparticipação, conduzindo
desta forma o jovem atleta a um maior
envolvimento e satisfação pessoal na sua
actividade desportiva. Dentro desta linha,
uma das variáveis mais importantes é o
COMPORTAMENTO DO PRÓPRIO
TREINADOR. Referindo-se à argumentação
de muitos jovens Robertson (1998), refere
que foram atitudes como a de gritarem com
os atletas, as críticas pelos erros cometidos,
que induziam nos jovens a percepção de
que o desporto “não é uma coisa alegre e
agradável”.
Também outros estudos conduzidos por
Weiss & Chaumeton (1992) referiram,
quando o estilo adoptado pelo treinador era
predominantemente crítico, este era
interiorizado pelos atletas como informação
acerca do seu valor pessoal. Levando a
uma perca de motivação para a
aprendizagem e para a própria actividade
desportiva.
Sobre este aspecto, Smith, Smoll et col.
(Smith, Smoll & Hunt, 1977; Smoll, Smith
& Curtis, 1978) e Barnett, Smoll & Smith,
(1992) revelaram que os treinadores que
se envolviam mais em comportamentos de
Encorajamento
e Instrução Técnica Contigente ao Erro
por Weiss & Chaumeton (1992) referiram,
quando o estilo adoptado pelo treinador era
predominantemente crítico, este era
interiorizado pelos atletas como informação
acerca do seu valor pessoal.
Levando a uma perca de motivação para a
aprendizagem e para a própria actividade
desportiva.
Sobre este aspecto, Smith, Smoll et col.
(Smith, Smoll & Hunt, 1977; Smoll, Smith
& Curtis, 1978) e Barnett, Smoll & Smith,
(1992) revelaram que os treinadores que
se envolviam mais em comportamentos de
Encorajamento e Instrução Técnica
Contigente ao Erro (ensinavam ou
demonstravam como corrigir, incentivando
o atleta a tentar novamente), Encorajamento
Geral
(encorajamento
dado
espontaneamente e não após um erro ou
insucesso),
Comunicação
Geral
(interacções com os atletas não
relacionadas com a modalidade, ex. brincar
sobre outros assuntos) Reforço Positivo
(reacção recompensadora dada verbal ou
não verbalmente, ex. Bom! ou fazer um sinal
de concordância com a cabeça) e menos em
comportamentos de Punição (reacção
negativa verbal ou não verbal, após um
erro ou insucesso. Ex. Quantas vezes já te
disse...), e Ignorar os Erros (ausência de
resposta face a um erro ou insucesso do
atleta – o atleta apercebe-se de que fez mal
e que o treinador viu, mas este ignora-o),
tinham atletas com uma elevada auto-estima
e atracção para a prática da modalidade.
Ainda no estudo realizado por Barnett,
Smoll & Smith, (1992) os resultados
evidenciaram que 95% dos jovens
pertencentes a treinadores que se
envolveram em comportamentos de Reforço
Positivo, Encorajamento e Instrução
Técnica Contingente ao Erro voltaram a
praticar a modalidade com
o mesmo treinador na época seguinte,
enquanto que aqueles cujos treinadores
adoptaram mais comportamentos de
Punição, só 74% voltaram à actividade na
época seguinte. Semelhantes conclusões
foram retiradas por Cruz (1997), em
Espanha, no decorrer de várias
investigações que fez com jovens atletas de
diferentes modalidades.Deste modo,
recorrendo aos trabalhos de Smith & Smoll
(1980) e Weiss (1991), Cujas investigações
e workshops com treinadores duram à mais
de 25 anos, Weinberg & Gould, (1995)
propõem algumas linhas orientadoras para
o treino de jovens, de forma a aumentar o
seu gosto pela prática desportiva e
consequentemente a sua filiação, por
oposição ao Abandono da mesma:
37
a) Focalizar o encorajamento através do que
os jovens fazem bem, e não sobre os erros que
cometem. No entanto, quando os jovens erram,
uma das técnicas mais utilizadas com um
elevado índice de sucesso na correcção de erros,
não diminuindo a auto-estima e a própria
motivação, designa-se por Técnica da Sandwich.
Assim:
Em 1º lugar, (fatia de cima) – deve ser
mencionado algo que o jovem tenha feito de
positivo, reduzindo assim a frustração pelo erro
cometido (ex. o deslocamento foi bom...)
Em 2º lugar, (no meio) - o feedback correctivo
(ex. ...mas na próxima vez tens que armar
melhor a perna…)
Em 3º lugar, (fatia de baixo) - encorajar
positivamente a repetição da técnica já corrigida
(ex. vamos lá, quero ver sair esse grande maegeri...).
b) Recompensar as pequenas coisas, como
forma de atingir objectivos maiores – por vezes
se estamos à espera que os jovens atletas
consigam execuções perfeitas, provavelmente
passaremos semanas ou meses sem que lhes
indiquemos algo de positivo que tenham feito.
Devemos recompensar sempre que possível as
aproximações ao gesto pretendido numa fase
inicial de aprendizagem como forma de
incentivo. Quando o gesto/técnica estiver
correctamente assimilado (a), deveremos
recompensar somente as melhores execuções.
c) Recompensar mais o esforço do que o
resultado – o verdadeiro sucesso é aquele que é
obtido através do esforço pela consecução do
objectivo. Há que reconhecer o esforço que o
jovem põe na procura do objectivo mesmo que
este não seja atingido, visto que o empenho
(mais empenho ou menos empenho) é algo que
depende do próprio, que o atleta pode controlar
(mais empenho ou menos empenho) e o
treinador pode exigir.
d) Honestidade – dizer ao jovem atleta que ele
fez um bom trabalho quando o próprio sabe
que não o fez, dá-lhe a entender que o treinador
só está a tentar que ele se sinta melhor. A falta
de honestidade reduz a credibilidade do
treinador. Há que reconhecer um mau
desempenho de uma forma não específica (ex.
braço à volta dos ombros), encorajando ao
mesmo tempo a tentar de novo a acção, após
esta ter sido corrigida.
e) Desenvolver expectativas realistas de acordo
com a idade e capacidade – “um jovem não é
um adulto em miniatura”, por vezes o padrão
pelo qual os jovens são avaliados acerca do
seu desempenho, corresponde ao padrão pelo
qual osadultos são avaliados. Há que
compreender este facto, e que em muitas das
vezes ao nível dos escalões de formação
a idade cronológica (ex. 12 anos de idade) não
segue a par com a idade biológica (nível de
maturidade física, psicológica, social etc.), pelo
que o treinador deverá ir ao encontro daquilo
que são as capacidades dos jovens, respeitando
os seu nível da maturação e os seus próprios
38
objectivos pessoais, em vez dos objectivos
do próprio treinador (que em muitas das
vezes não são coincidentes com os dos
jovens).
f) Manter os treinos estimulantes:
f’) Planear tarefas com muita actividade e
variedade de situações de aprendizagem,
de forma a aumentar a vontade em
participar. A capacidade de atenção/
concentração em jovens de tenra idade
(sensivelmente até aos 12 anos) é muito
instável, pelo que tarefas de elevada
duração e que obriguem a muitas repetições
dentro do mesmo padrão de movimento (ex.
a mesma técnica), para além de serem pouco
divertidas, vêm-se reduzida a sua eficácia
em
termos
de
aprendizagem/
aperfeiçoamento, visto o jovens terem uma
capacidade de atenção concentração
reduzidas (Ex. quando o jovem olha para o
lado durante a execução e/ou conversa com
o parceiro e/ou “parece que faz só por
fazer” com receio de uma reprimenda). HÁ
QUE INSERIR VARIEDADE DE
EXERCÍCIOS NA SESSÃO DE TREINO.
.f’’) Usar progressões adequadas, - há que
compreender que, qualquer técnica ou
acção necessita que sejam planeadas
Progressões para a Aprendizagem (ex.
pequenas acções que contribuem para a
realização do gesto pretendido) de forma a
facilitar o próprio processo de aquisição
técnica e a permitir que os jovens tenham
experiências de sucesso, ao sentirem que
tem capacidade para aprender. Por vezes
os jovens não conseguem assimilar logo a
habilidade técnica na sua totalidade, advindo
sentimentos de frustração, falta de
competência , e falta de motivação para
repetirem novamente a acção. Ao serem
construídos os pequenos passos que
conduzem à execução pretendida,
proporciona-se ao atleta o sucesso em cada
momento aumentando-se a sua motivação,
auto-estima e percepção de competência.
um almoço na pizzaria, um churrasco no
clube ou um almoço de comida chinesa no
próprio Dojo, trajados com o Kimono...
Podendo parecer pouco, em nossa opinião
a importância e o controlo de todos estes
aspectos assume um papel crucial no
processo de desenvolvimento do jovem
atleta. Se pensarmos que os pais dos nossos
atletas saem cedo para o trabalho e que
voltam para casa ao fim da tarde (hora em
que os filhos se encontram a treinar) e que
provavelmente só têm disponibilidade para
conviver com os filhos entre a hora do jantar
e a hora de deitar (aprox. 3h) depressa
concluiremos que o treinador passa quase
o mesmo tempo com os jovens do que os
seus próprios pais. A sua influência poderá
ser tanto mais significativa, consoante seja
o período de desenvolvimento pelo qual o
jovem esteja a passar, nomeadamente no
decorrer da adolescência na qual existe uma
tendência para haver um afastamento dos
progenitores na procura de novas amizades
e de novos padrões de comportamento com
os quais se identifiquem.
São em momentos tão importantes quanto
estes, que os comportamentos dos
treinadores podem modular as atitudes dos
jovens, promovendo a sua aproximação ou
o seu afastamento da modalidade. Neste
sentido, se a criança ou o jovem procuram
a prática desportiva como forma de
preencher as suas necessidades, sejam estas
de estimulação ou excitação proporcionadas
pela prática da modalidade ou de convívio
com os seus pares, a função de todos os
profissionais que a conduzem é a de
procurar que a mesma contribua para o
desenvolvimento global do jovem atleta
(físico, psíquico e social), tornando o
envolvimento desportivo em momentos
Alegres e Agradáveis.
Neste contexto O TREINADOR É UMA
PARTE INDISPENSÁVEL.
g) Ser divertido – não é só o processo de
planeamento do treino (ex. variedade de
práticas) que contribui para que cada aula
seja divertida. A empatia na relação
treinador atleta, nasce no entusiasmo que o
treinador põe em cada sessão e que contagia
o próprio jovem, tal como as brincadeiras
e piadas espontâneas que aumentam a
cumplicidade e os prendem a essa mesma
prática.
h) Afiliação - “estar com os amigos” e
“fazer novos amigos” são dois dos motivos
mais importantes enunciados pelos jovens,
que os mantém na prática desportiva da
sua modalidade. Por vezes incorporar
períodos de tempo antes e mesmo durante
(ex. intervalo para beber água) a prática
que lhes permitam trocar algumas palavras,
apresenta-se como algo extremamente
importante na consecução deste objectivo.
Outra estratégia poderá ser o patrocinar
eventos sociais fora da prática, como seja
Luís Miguel Catita Maurício da Costa
Licenciado em Desporto e Educação Física
pelo FMH-UTL, Mestre em Psicologia do
Desporto, Doutorando em Ciências do
Desporto, Formador da Federação
Portuguesa de Lutas Amadoras e da
Associação de Karate do Distrito de Setúbal,
2º Dan de Judo.

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